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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB PLANALTINA (FUP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL – PPG/MADER SABINE RUTH POPOV CARDOSO JUVENTUDE RURAL E PERSPECTIVAS DE NOVAS REALIDADES POR MEIO DE AÇÕES PRESENTES: EXPERIÊNCIA COM JOVENS DO ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural, linha de pesquisa Desenvolvimento Rural Sustentável e Sociobiodiversidade, Universidade de Brasília (UnB), Faculdade UnB Planaltina (FUP). Orientadora: Janaína Deane de Abreu Sá Diniz Brasília – DF 2015

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA (UNB) FACULDADE UNB PLANALTINA (FUP)

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO RURAL ndash PPGMADER

SABINE RUTH POPOV CARDOSO

JUVENTUDE RURAL E PERSPECTIVAS DE NOVAS REALIDADES POR MEIO DE ACcedilOtildeES PRESENTES EXPERIEcircNCIA COM JOVENS DO ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do Tiacutetulo de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural linha de pesquisa Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel e Sociobiodiversidade Universidade de Brasiacutelia (UnB) Faculdade UnB Planaltina (FUP)

Orientadora Janaiacutena Deane de Abreu Saacute Diniz

Brasiacutelia ndash DF

2015

Ficha catalograacutefica elaborada automaticamente com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

CC268jCardoso Sabine Ruth Popov Juventude rural e perspectivas de novasrealidades por meio de accedilotildees presentes Experiecircnciacom jovens do Assentamento Silvio Rodrigues SabineRuth Popov Cardoso orientador Janaiacutena Deane de AbreuSaacute Diniz -- Brasiacutelia 2015 125 p

Dissertaccedilatildeo (Mestrado - Mestrado em Meio Ambientee Desenvolvimento Rural) -- Universidade de Brasiacutelia2015

1 Juventude rural 2 Movimentos sociais 3Territoacuterio 4 Territorialidade 5 Autonomia IDiniz Janaiacutena Deane de Abreu Saacute orient II Tiacutetulo

4

Dedico este trabalho agrave juventude rural e sua forccedila em meio a caminhos ainda incertos

Nunca deixem de sonhar

5

AGRADECIMENTOS

Durante esses mais de dois anos de mestrado vi que a gratidatildeo natildeo parte de uma ajuda

apenas acadecircmica mas de onde jamais imaginei antes de ter minha sauacutede comprometida jaacute

nos uacuteltimos dias de elaboraccedilatildeo do texto final Por isso inicio meus agradecimentos a quem me

socorreu em um momento delicado de sauacutede Agrave equipe do Hospital Universitaacuterio de Brasiacutelia

que me atendeu prontamente e com todo o cuidado natildeo soacute meacutedico mas psicoloacutegico e

emocional diante de minha insistecircncia em querer meu computador para continuar e finalizar

meu trabalho Ateacute compreender que ficaria hospitalizada ainda um bom tempo Quando tive

um momento de desespero recebi de uma assistente social uma linda poesia de algueacutem que

passou por situaccedilatildeo semelhante com a descoberta no final de seu doutorado de um problema

de sauacutede que a fez mais forte

Agradeccedilo demais agrave equipe do Instituto de Cardiologia de Brasiacutelia que vendo meu

olhar assustado diante de uma UTI pocircde dar todo o apoio durante meu tratamento Ao carinho

de todos que atenderam a mim e a minha famiacutelia

Agradeccedilo agrave atenccedilatildeo dos servidores do MADER Aristides Jorivecirc e Inara sempre

atenciosos em minhas demandas

Agradeccedilo agrave minha orientadora Janaiacutena Diniz por ajudar em minha formaccedilatildeo estando

disponiacutevel sempre que eu solicitava buscando dar o apoio necessaacuterio Agradeccedilo agrave sua

atenccedilatildeo carinho paciecircncia e compreensatildeo de minhas limitaccedilotildees temporaacuterias de sauacutede

Agradeccedilo agraves professoras Mocircnica Molina e Maria de Assunccedilatildeo pela disponibilidade e

interesse ambas colaborando muito para meu conhecimento

Agradeccedilo ao apoio de amigas que com muito amor trouxeram um pouco de leveza ao

processo de escrita de trabalho Flavinha Didi Mirela

Didi agradeccedilo agrave sua presenccedila mais que indispensaacutevel em todas as minhas viagens de

campo lidando com a juventude rural como sujeitos novos para mim com minhas anguacutestias

diante de alguma limitaccedilatildeo com meu encantamento por estar ali Vocecirc mais que esteve

presente me deu forccedila livros e ldquotoquesrdquo sobre o teatro do oprimido e a cartografia social

Outra companhia de campo lindiacutessima e sempre pronta para um novo grupo focal a

quem agradeccedilo por estar em minha vida eacute a Mariaacute Meu coraccedilatildeo se encheu de amor com cada

pedido para participar da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo dos grupos focais com a curiosidade infinita

6

de lidar com o novo e parecer que sempre esteve ali Com todo o meu amor agradeccedilo ao

Joatildeo apoiando tanto o trabalho quanto a minha recuperaccedilatildeo para me superar e me refazer

com a possibilidade de tentar novamente com mais calma

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia com todo amor e gratidatildeo o carinho em todos os

momentos agrave minha matildee Angelika e meus irmatildeos Laruacute Louis Nany e Jean Ao carinho dos

sobrinhos e suas doces cartinhas Aos tios e agraves tias Ao meu pai como uma linda lembranccedila

Agradeccedilo a todos da Caravana da Luz pela oportunidade de conhecer o Assentamento

Siacutelvio Rodrigues vocecircs satildeo especiais

Agradeccedilo a Lelecirc e ao Edson pela pronta atenccedilatildeo e carinho

Agradeccedilo ao Gilberto por oferecer abrigo durante o trabalho de campo como quem

realmente faz com um amigo

Ao grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues por acreditarem na proposta da

pesquisa e serem dela sujeitos mostrando sua realidade e sonhos

E finalmente agradeccedilo a todas as boas energias que chegaram ateacute mim para que eu

pudesse estar aqui com uma batida diferente mais ritmada tanto com o coraccedilatildeo como com a

vida

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

24

Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

25

maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

27

Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

28

Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

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realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

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dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

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categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

48

os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

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multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

52

pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

58

O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

65

Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

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expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

REFEREcircNCIAS

ABRAMOVAY Miriam ESTEVES Luiz Carlos Gil Juventude juventudes pelos outros e

por elas mesmas In Juventudes outros olhares sobre a diversidade Brasiacutelia Ministeacuterio

da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade UNESCO

2009 p 21-56

ACSELRAD Henri COLI Luis Reacutegis Disputas cartograacuteficas e disputas territoriais In

ACSELRAD Henri (organizador)Cartografias Sociais e Territoacuterio Rio de Janeiro

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano

Regional 2008

ALVES Rubem A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir 7ed

Campinas SP Papirus 2004a

ALVES Rubem O desejo de ensinar e a arte de aprender Campinas Fundaccedilatildeo EDUCAR

DPaschoal 2004b

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115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 2: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

Ficha catalograacutefica elaborada automaticamente com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

CC268jCardoso Sabine Ruth Popov Juventude rural e perspectivas de novasrealidades por meio de accedilotildees presentes Experiecircnciacom jovens do Assentamento Silvio Rodrigues SabineRuth Popov Cardoso orientador Janaiacutena Deane de AbreuSaacute Diniz -- Brasiacutelia 2015 125 p

Dissertaccedilatildeo (Mestrado - Mestrado em Meio Ambientee Desenvolvimento Rural) -- Universidade de Brasiacutelia2015

1 Juventude rural 2 Movimentos sociais 3Territoacuterio 4 Territorialidade 5 Autonomia IDiniz Janaiacutena Deane de Abreu Saacute orient II Tiacutetulo

4

Dedico este trabalho agrave juventude rural e sua forccedila em meio a caminhos ainda incertos

Nunca deixem de sonhar

5

AGRADECIMENTOS

Durante esses mais de dois anos de mestrado vi que a gratidatildeo natildeo parte de uma ajuda

apenas acadecircmica mas de onde jamais imaginei antes de ter minha sauacutede comprometida jaacute

nos uacuteltimos dias de elaboraccedilatildeo do texto final Por isso inicio meus agradecimentos a quem me

socorreu em um momento delicado de sauacutede Agrave equipe do Hospital Universitaacuterio de Brasiacutelia

que me atendeu prontamente e com todo o cuidado natildeo soacute meacutedico mas psicoloacutegico e

emocional diante de minha insistecircncia em querer meu computador para continuar e finalizar

meu trabalho Ateacute compreender que ficaria hospitalizada ainda um bom tempo Quando tive

um momento de desespero recebi de uma assistente social uma linda poesia de algueacutem que

passou por situaccedilatildeo semelhante com a descoberta no final de seu doutorado de um problema

de sauacutede que a fez mais forte

Agradeccedilo demais agrave equipe do Instituto de Cardiologia de Brasiacutelia que vendo meu

olhar assustado diante de uma UTI pocircde dar todo o apoio durante meu tratamento Ao carinho

de todos que atenderam a mim e a minha famiacutelia

Agradeccedilo agrave atenccedilatildeo dos servidores do MADER Aristides Jorivecirc e Inara sempre

atenciosos em minhas demandas

Agradeccedilo agrave minha orientadora Janaiacutena Diniz por ajudar em minha formaccedilatildeo estando

disponiacutevel sempre que eu solicitava buscando dar o apoio necessaacuterio Agradeccedilo agrave sua

atenccedilatildeo carinho paciecircncia e compreensatildeo de minhas limitaccedilotildees temporaacuterias de sauacutede

Agradeccedilo agraves professoras Mocircnica Molina e Maria de Assunccedilatildeo pela disponibilidade e

interesse ambas colaborando muito para meu conhecimento

Agradeccedilo ao apoio de amigas que com muito amor trouxeram um pouco de leveza ao

processo de escrita de trabalho Flavinha Didi Mirela

Didi agradeccedilo agrave sua presenccedila mais que indispensaacutevel em todas as minhas viagens de

campo lidando com a juventude rural como sujeitos novos para mim com minhas anguacutestias

diante de alguma limitaccedilatildeo com meu encantamento por estar ali Vocecirc mais que esteve

presente me deu forccedila livros e ldquotoquesrdquo sobre o teatro do oprimido e a cartografia social

Outra companhia de campo lindiacutessima e sempre pronta para um novo grupo focal a

quem agradeccedilo por estar em minha vida eacute a Mariaacute Meu coraccedilatildeo se encheu de amor com cada

pedido para participar da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo dos grupos focais com a curiosidade infinita

6

de lidar com o novo e parecer que sempre esteve ali Com todo o meu amor agradeccedilo ao

Joatildeo apoiando tanto o trabalho quanto a minha recuperaccedilatildeo para me superar e me refazer

com a possibilidade de tentar novamente com mais calma

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia com todo amor e gratidatildeo o carinho em todos os

momentos agrave minha matildee Angelika e meus irmatildeos Laruacute Louis Nany e Jean Ao carinho dos

sobrinhos e suas doces cartinhas Aos tios e agraves tias Ao meu pai como uma linda lembranccedila

Agradeccedilo a todos da Caravana da Luz pela oportunidade de conhecer o Assentamento

Siacutelvio Rodrigues vocecircs satildeo especiais

Agradeccedilo a Lelecirc e ao Edson pela pronta atenccedilatildeo e carinho

Agradeccedilo ao Gilberto por oferecer abrigo durante o trabalho de campo como quem

realmente faz com um amigo

Ao grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues por acreditarem na proposta da

pesquisa e serem dela sujeitos mostrando sua realidade e sonhos

E finalmente agradeccedilo a todas as boas energias que chegaram ateacute mim para que eu

pudesse estar aqui com uma batida diferente mais ritmada tanto com o coraccedilatildeo como com a

vida

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

24

Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

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maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

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Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

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Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

28

Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

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do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

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A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

46

dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

48

os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

49

multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

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pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

58

O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

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Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

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115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 3: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

4

Dedico este trabalho agrave juventude rural e sua forccedila em meio a caminhos ainda incertos

Nunca deixem de sonhar

5

AGRADECIMENTOS

Durante esses mais de dois anos de mestrado vi que a gratidatildeo natildeo parte de uma ajuda

apenas acadecircmica mas de onde jamais imaginei antes de ter minha sauacutede comprometida jaacute

nos uacuteltimos dias de elaboraccedilatildeo do texto final Por isso inicio meus agradecimentos a quem me

socorreu em um momento delicado de sauacutede Agrave equipe do Hospital Universitaacuterio de Brasiacutelia

que me atendeu prontamente e com todo o cuidado natildeo soacute meacutedico mas psicoloacutegico e

emocional diante de minha insistecircncia em querer meu computador para continuar e finalizar

meu trabalho Ateacute compreender que ficaria hospitalizada ainda um bom tempo Quando tive

um momento de desespero recebi de uma assistente social uma linda poesia de algueacutem que

passou por situaccedilatildeo semelhante com a descoberta no final de seu doutorado de um problema

de sauacutede que a fez mais forte

Agradeccedilo demais agrave equipe do Instituto de Cardiologia de Brasiacutelia que vendo meu

olhar assustado diante de uma UTI pocircde dar todo o apoio durante meu tratamento Ao carinho

de todos que atenderam a mim e a minha famiacutelia

Agradeccedilo agrave atenccedilatildeo dos servidores do MADER Aristides Jorivecirc e Inara sempre

atenciosos em minhas demandas

Agradeccedilo agrave minha orientadora Janaiacutena Diniz por ajudar em minha formaccedilatildeo estando

disponiacutevel sempre que eu solicitava buscando dar o apoio necessaacuterio Agradeccedilo agrave sua

atenccedilatildeo carinho paciecircncia e compreensatildeo de minhas limitaccedilotildees temporaacuterias de sauacutede

Agradeccedilo agraves professoras Mocircnica Molina e Maria de Assunccedilatildeo pela disponibilidade e

interesse ambas colaborando muito para meu conhecimento

Agradeccedilo ao apoio de amigas que com muito amor trouxeram um pouco de leveza ao

processo de escrita de trabalho Flavinha Didi Mirela

Didi agradeccedilo agrave sua presenccedila mais que indispensaacutevel em todas as minhas viagens de

campo lidando com a juventude rural como sujeitos novos para mim com minhas anguacutestias

diante de alguma limitaccedilatildeo com meu encantamento por estar ali Vocecirc mais que esteve

presente me deu forccedila livros e ldquotoquesrdquo sobre o teatro do oprimido e a cartografia social

Outra companhia de campo lindiacutessima e sempre pronta para um novo grupo focal a

quem agradeccedilo por estar em minha vida eacute a Mariaacute Meu coraccedilatildeo se encheu de amor com cada

pedido para participar da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo dos grupos focais com a curiosidade infinita

6

de lidar com o novo e parecer que sempre esteve ali Com todo o meu amor agradeccedilo ao

Joatildeo apoiando tanto o trabalho quanto a minha recuperaccedilatildeo para me superar e me refazer

com a possibilidade de tentar novamente com mais calma

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia com todo amor e gratidatildeo o carinho em todos os

momentos agrave minha matildee Angelika e meus irmatildeos Laruacute Louis Nany e Jean Ao carinho dos

sobrinhos e suas doces cartinhas Aos tios e agraves tias Ao meu pai como uma linda lembranccedila

Agradeccedilo a todos da Caravana da Luz pela oportunidade de conhecer o Assentamento

Siacutelvio Rodrigues vocecircs satildeo especiais

Agradeccedilo a Lelecirc e ao Edson pela pronta atenccedilatildeo e carinho

Agradeccedilo ao Gilberto por oferecer abrigo durante o trabalho de campo como quem

realmente faz com um amigo

Ao grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues por acreditarem na proposta da

pesquisa e serem dela sujeitos mostrando sua realidade e sonhos

E finalmente agradeccedilo a todas as boas energias que chegaram ateacute mim para que eu

pudesse estar aqui com uma batida diferente mais ritmada tanto com o coraccedilatildeo como com a

vida

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

24

Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

25

maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

27

Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

28

Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

46

dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

48

os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

49

multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

52

pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

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O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

65

Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

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SAQUET Marcos Aurelio Abordagens e concepccedilotildees de territoacuterio 2ed Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010

SAQUET Marcos Aurelio Contribuiccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas para uma abordagem

territorial multidimensional em geografia agraacuteria In SAQUET Marcos Aurelio et al (orgs)

Territorialidades e diversidade nos campos e nas cidades latino-americanas e francesas

Satildeo Paulo Outras Expressotildees 2011

SILVA Vanda Jovens de um rural brasileiro Socializaccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

Caderno CEDES- Centro de Estudos Educaccedilatildeo amp Sociedade UNICAMP Campinas v 22 n

57 agosto2002 p 97-115

SILVA Adaiane Soares da CASTRO Carmen Verocircnica STHER Claacuteudia Isabel Almeida

Cleide de Faacutetima Luncks QUEIROZ Denise LOPES Joice Aparecida ANDRIOLI Liciane

TUNINI Sandro Joseacute PERETTI Tatiana In Como se formam os sujeitos do campo

idosos adultos jovens crianccedilas e educadores CALDART Roseli Salete PALUDO

Conceiccedilatildeo DOLL Johannes (orgs) Brasiacutelia PRONERA NEAD 2006 p 75-98

114

TEIXEIRA NETO Antocircnio A certidatildeo de nascimento de Goiaacutes uma cartografia histoacuterica da

Fronteira In SILVA Sandro Dutra e PIETRAFESA Jose Paulo FRANCO Jose Luiz

Andrade DRUMMOND Joseacute Augusto TAVARES Giovana Galvatildeo (organizadores)

Fronteira Cerrado sociedade e natureza no oeste do Brasil Goiacircnia Ed da PUC Goiaacutes

Graacutefica e Editora Ameacuterica 2013

VALADAtildeO Adriano da Costa Os nuacutecleos de base do MST e a construccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

agriacutecola Assentamento Contestado ndash Estado do Paranaacute Dissertaccedilatildeo apresentada ao

Programa do Mestrado em Ciecircncias Sociais da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Paranaacute 2005

WEISHEIMER Nilson Juventudes Rurais mapa de estudos recentes Brasiacutelia Estudos

NEAD Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio 2005

115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 4: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

5

AGRADECIMENTOS

Durante esses mais de dois anos de mestrado vi que a gratidatildeo natildeo parte de uma ajuda

apenas acadecircmica mas de onde jamais imaginei antes de ter minha sauacutede comprometida jaacute

nos uacuteltimos dias de elaboraccedilatildeo do texto final Por isso inicio meus agradecimentos a quem me

socorreu em um momento delicado de sauacutede Agrave equipe do Hospital Universitaacuterio de Brasiacutelia

que me atendeu prontamente e com todo o cuidado natildeo soacute meacutedico mas psicoloacutegico e

emocional diante de minha insistecircncia em querer meu computador para continuar e finalizar

meu trabalho Ateacute compreender que ficaria hospitalizada ainda um bom tempo Quando tive

um momento de desespero recebi de uma assistente social uma linda poesia de algueacutem que

passou por situaccedilatildeo semelhante com a descoberta no final de seu doutorado de um problema

de sauacutede que a fez mais forte

Agradeccedilo demais agrave equipe do Instituto de Cardiologia de Brasiacutelia que vendo meu

olhar assustado diante de uma UTI pocircde dar todo o apoio durante meu tratamento Ao carinho

de todos que atenderam a mim e a minha famiacutelia

Agradeccedilo agrave atenccedilatildeo dos servidores do MADER Aristides Jorivecirc e Inara sempre

atenciosos em minhas demandas

Agradeccedilo agrave minha orientadora Janaiacutena Diniz por ajudar em minha formaccedilatildeo estando

disponiacutevel sempre que eu solicitava buscando dar o apoio necessaacuterio Agradeccedilo agrave sua

atenccedilatildeo carinho paciecircncia e compreensatildeo de minhas limitaccedilotildees temporaacuterias de sauacutede

Agradeccedilo agraves professoras Mocircnica Molina e Maria de Assunccedilatildeo pela disponibilidade e

interesse ambas colaborando muito para meu conhecimento

Agradeccedilo ao apoio de amigas que com muito amor trouxeram um pouco de leveza ao

processo de escrita de trabalho Flavinha Didi Mirela

Didi agradeccedilo agrave sua presenccedila mais que indispensaacutevel em todas as minhas viagens de

campo lidando com a juventude rural como sujeitos novos para mim com minhas anguacutestias

diante de alguma limitaccedilatildeo com meu encantamento por estar ali Vocecirc mais que esteve

presente me deu forccedila livros e ldquotoquesrdquo sobre o teatro do oprimido e a cartografia social

Outra companhia de campo lindiacutessima e sempre pronta para um novo grupo focal a

quem agradeccedilo por estar em minha vida eacute a Mariaacute Meu coraccedilatildeo se encheu de amor com cada

pedido para participar da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo dos grupos focais com a curiosidade infinita

6

de lidar com o novo e parecer que sempre esteve ali Com todo o meu amor agradeccedilo ao

Joatildeo apoiando tanto o trabalho quanto a minha recuperaccedilatildeo para me superar e me refazer

com a possibilidade de tentar novamente com mais calma

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia com todo amor e gratidatildeo o carinho em todos os

momentos agrave minha matildee Angelika e meus irmatildeos Laruacute Louis Nany e Jean Ao carinho dos

sobrinhos e suas doces cartinhas Aos tios e agraves tias Ao meu pai como uma linda lembranccedila

Agradeccedilo a todos da Caravana da Luz pela oportunidade de conhecer o Assentamento

Siacutelvio Rodrigues vocecircs satildeo especiais

Agradeccedilo a Lelecirc e ao Edson pela pronta atenccedilatildeo e carinho

Agradeccedilo ao Gilberto por oferecer abrigo durante o trabalho de campo como quem

realmente faz com um amigo

Ao grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues por acreditarem na proposta da

pesquisa e serem dela sujeitos mostrando sua realidade e sonhos

E finalmente agradeccedilo a todas as boas energias que chegaram ateacute mim para que eu

pudesse estar aqui com uma batida diferente mais ritmada tanto com o coraccedilatildeo como com a

vida

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

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Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

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maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

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Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

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Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

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Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

46

dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

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os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

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multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

52

pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

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O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

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Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

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NEAD Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio 2005

115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 5: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

6

de lidar com o novo e parecer que sempre esteve ali Com todo o meu amor agradeccedilo ao

Joatildeo apoiando tanto o trabalho quanto a minha recuperaccedilatildeo para me superar e me refazer

com a possibilidade de tentar novamente com mais calma

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia com todo amor e gratidatildeo o carinho em todos os

momentos agrave minha matildee Angelika e meus irmatildeos Laruacute Louis Nany e Jean Ao carinho dos

sobrinhos e suas doces cartinhas Aos tios e agraves tias Ao meu pai como uma linda lembranccedila

Agradeccedilo a todos da Caravana da Luz pela oportunidade de conhecer o Assentamento

Siacutelvio Rodrigues vocecircs satildeo especiais

Agradeccedilo a Lelecirc e ao Edson pela pronta atenccedilatildeo e carinho

Agradeccedilo ao Gilberto por oferecer abrigo durante o trabalho de campo como quem

realmente faz com um amigo

Ao grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues por acreditarem na proposta da

pesquisa e serem dela sujeitos mostrando sua realidade e sonhos

E finalmente agradeccedilo a todas as boas energias que chegaram ateacute mim para que eu

pudesse estar aqui com uma batida diferente mais ritmada tanto com o coraccedilatildeo como com a

vida

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

24

Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

25

maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

27

Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

28

Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

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dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

48

os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

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multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

52

pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

58

O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

65

Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

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115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 6: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

7

Haacute um momento e um lugar no incessante

labor humano de mudanccedila do mundo em

que as visotildees alternativas por mais

fantaacutesticas que sejam oferecem a base

para moldar poderosas forccedilas poliacuteticas de

mudanccedilas Creio que nos encontramos

precisamente num desses momentos De

todo modo os sonhos utoacutepicos nunca

desaparecem por inteiro estando em vez

disso onipresentes como os significantes

ocultos dos nossos desejos Trazecirc-los agrave luz

a partir dos recessos ocultos de nossa

mente e fazer deles uma forccedila poliacutetica de

mudanccedila pode envolver o risco de

frustraccedilatildeo uacuteltima desses desejos Natildeo

obstante isso eacute sem duacutevida melhor que se

render ao utopismo degenerado do

neoliberalismo (e a todos os interesses

que criam uma imagem tatildeo negativa da

possibilidade) e viver no temor abjeto e

letaacutergico de exprimir e tentar pocircr em

praacutetica quaisquer desejos alternativos

David Harvey

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

22

No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

24

Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

25

maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

27

Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

28

Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

46

dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

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os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

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multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

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Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

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pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

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pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

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satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

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Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

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O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

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Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

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Projeto Caravana da Luz Blog de informaccedilotildees sobre as accedilotildees do projeto Disponiacutevel em httpprojetocaravanadaluzblogspotcombrsearchupdated-min=2013-01-01T000000-0800ampupdated-max=2014-01-01T000000-0800ampmax-results=20 Acesso em 10 de outubro de 2014

QUIVY Raymond CAMPENHOUDT Luc Van Manual de Investigaccedilatildeo em Ciecircncias

Sociais trajectos Traduccedilatildeo de MARQUES et al 2ed Lisboa 1998

RAMOS FILHO Eraldo da Silva Movimentos socioterritoriais a contrarreforma agraacuteria do Banco Mundial e o Combate agrave pobreza rural ndash os casos do MST CONTAG e MARAM subordinaccedilatildeo e resistecircncia camponesa Satildeo Paulo Buenos Aires Outras Expressotildees CLACSO 2013

113

REICHERT Claudete Bonatto WAGNER Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na

contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez

2007

RIBEIRO Renato Janine Poliacutetica e juventude o que fica da energia In NOVAES Regina

VANNUCHI Paulo (orgs) Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e

participaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 p19-33

SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Teacutecnica e tempo Razatildeo e emoccedilatildeo 2 Ed Satildeo

Paulo Editora Hucitec 1997 p 251-273

SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia

universal 13 Ed Rio de Janeiro Editora Record 2006

SANTOS Milton SILVEIRA Mariacutea Laura O Brasil territoacuterio e sociedade no iniacutecio do

seacuteculo XXI 17ed Rio de Janeiro Record 2013

SAQUET Marcos Aurelio As diferentes abordagens do territoacuterio e a apreensatildeo do movimento e da (i)materialidade Geosul Florianoacutepolis v22 n 43 p 55-76 janjun 2007

SAQUET Marcos Aurelio Abordagens e concepccedilotildees de territoacuterio 2ed Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2010

SAQUET Marcos Aurelio Contribuiccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas para uma abordagem

territorial multidimensional em geografia agraacuteria In SAQUET Marcos Aurelio et al (orgs)

Territorialidades e diversidade nos campos e nas cidades latino-americanas e francesas

Satildeo Paulo Outras Expressotildees 2011

SILVA Vanda Jovens de um rural brasileiro Socializaccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia

Caderno CEDES- Centro de Estudos Educaccedilatildeo amp Sociedade UNICAMP Campinas v 22 n

57 agosto2002 p 97-115

SILVA Adaiane Soares da CASTRO Carmen Verocircnica STHER Claacuteudia Isabel Almeida

Cleide de Faacutetima Luncks QUEIROZ Denise LOPES Joice Aparecida ANDRIOLI Liciane

TUNINI Sandro Joseacute PERETTI Tatiana In Como se formam os sujeitos do campo

idosos adultos jovens crianccedilas e educadores CALDART Roseli Salete PALUDO

Conceiccedilatildeo DOLL Johannes (orgs) Brasiacutelia PRONERA NEAD 2006 p 75-98

114

TEIXEIRA NETO Antocircnio A certidatildeo de nascimento de Goiaacutes uma cartografia histoacuterica da

Fronteira In SILVA Sandro Dutra e PIETRAFESA Jose Paulo FRANCO Jose Luiz

Andrade DRUMMOND Joseacute Augusto TAVARES Giovana Galvatildeo (organizadores)

Fronteira Cerrado sociedade e natureza no oeste do Brasil Goiacircnia Ed da PUC Goiaacutes

Graacutefica e Editora Ameacuterica 2013

VALADAtildeO Adriano da Costa Os nuacutecleos de base do MST e a construccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

agriacutecola Assentamento Contestado ndash Estado do Paranaacute Dissertaccedilatildeo apresentada ao

Programa do Mestrado em Ciecircncias Sociais da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Paranaacute 2005

WEISHEIMER Nilson Juventudes Rurais mapa de estudos recentes Brasiacutelia Estudos

NEAD Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio 2005

115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
Page 7: UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) FACULDADE UNB …repositorio.unb.br/bitstream/10482/19131/1/2015... · Você mais que esteve presente, me deu força, livros e “toques” sobre o

8

RESUMO

Partindo da problemaacutetica da negaccedilatildeo agrave juventude rural na escolha entre permanecer ou

viver na cidade com relaccedilatildeo agraves suas perspectivas em educaccedilatildeo lazer trabalho cultura e

identidade como elementos que compotildeem sua territorialidade esta pesquisa tem como

objetivo estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por autonomia

com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades O recorte espacial escolhido foi o assentamento

Silvio Rodrigues localizado no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes noroeste de Goiaacutes na

Chapada dos Veadeiros Inicialmente a escolha se deu como opccedilatildeo a partir da dificuldade em

encontrar um contexto de juventude rural organizada no Distrito Federal No entanto com o

conhecimento sobre o grupo de jovens se reestruturando no assentamento Silvio Rodrigues e

suas expectativas em accedilotildees e dinacircmicas foi aberta a possibilidade do estudo da juventude a

partir da metodologia escolhida e ferramentas estabelecidas em concordacircncia com o estudo a

partir do bioma Cerrado no estado de Goiaacutes territoacuterio com histoacuterico de ocupaccedilatildeo a partir da

Marcha para Oeste Para que seja possiacutevel chegar a resultados que apontem para uma

perspectiva de continuidade no campo da juventude rural por escolha o trabalho se orientou

para uma perspectiva de autonomia e constituiccedilatildeo de novas territorialidades Como

metodologia inicialmente foi realizada busca de dados como relatoacuterios projetos e estudos A

partir disso o grupo focal mostrou-se como teacutecnica e metodologia apropriada para o grupo de

jovens analisado que permitiu aleacutem de respostas a reflexatildeo sobre como a juventude rural

pode se compreender como categoria que eacute ao mesmo tempo homogecircnea mas que apresenta

grande diversidade como caracteriacutestica A formaccedilatildeo de grupos representativos da juventude

rural eacute de extrema importacircncia para sua afirmaccedilatildeo como categoria social em busca de direitos

e autonomia

Palavras-chave Juventude rural movimentos sociais territoacuterio territorialidade autonomia

9

ABSTRACT

Starting from the issue of denial of rural youth in the choice between staying in the

countryside or living in the city regarding their perspectives in education leisure work

culture and identity as elements that make up their territoriality this research aimed to study

the perspectives of continuity in countryside for a group of rural youth in a rural settlement

for the identification of resistance and search for autonomy with characterization of new

territorialities The spatial delimitation chosen was the settlement Silvio Rodrigues located in

the municipality of Alto Paraiacuteso de Goiaacutes in the Chapada dos Veadeiros Initially the choice

was an option from the difficulty in finding a context of rural youth organized in the Federal

District However with the knowledge that a youth group was restructuring in this settlement

with their expectations concerning activities and dynamics it was possible to do a study on

youth from the chosen methodology and tools established in accordance with the study from

the biome Cerrado in the state of Goiaacutes territory with history of occupation from the March to

the West To be able to get results which could point to a continuity perspective in the field of

rural youth by choice the work was oriented to the perspective of autonomy and

establishment of new territorialities The methodology was started with a search of data such

as reports projects and studies From this the focal group showed up as technical and

appropriate methodology for the youth group analyzed which allowed in addition to

answers the reflection on how rural youth can be understood as a category that is at the same

time homogeneous and presents great diversity as a characteristic The formation of groups

representing rural youth is of paramount importance to their claim as a social category for

rights and autonomy

Keywords Rural youth social movements territory territoriality autonomy

10

RESUMEN

A partir de la problemaacutetica de la negacioacuten de la juventude rural en la eleccioacuten entre

quedarse en el campo o que vivir en la ciudad con respecto a sus perspectivas en la

educacioacuten el oacutecio el trabajo la cultura y la identidad como elementos que componen su

territorialidad esta investigacioacuten tiene como objetivo estudiar las perspectivas de

continuidade em aacutembito de la juventud rural del asientamiento Silvio Rodrigues para la

identificacioacuten de la resistencia y la buacutesqueda de la autonomia con la caracterizacioacuten de

nuevas territorialidades El aacuterea espacial elegido fue el asentamiento Silvio Rodrigues

ubicado en el municipio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes el noroeste de Goiaacutes la Chapada dos

Veadeiros En un principio la eleccioacuten era uma opcioacuten en la dificultad de encontrar un

contexto de juventud rural organizada en el Distrito Federal Sin embargo con el

conocimiento del grupo de joacutevenes estaacute reestructurando el asentamiento Silvio Rodrigues y

sus expectativas en acciones y dinaacutemicas que se abrioacute la posibilidad de que el estudio de la

juventud con la metodologiacutea y las herramientas elegidas estabelecido de acuerdo con el

estudio del bioma Cerrado en el estado de Goiaacutes territoacuterio con histoacuterico de ocupacioacuten a

partir de la Marcha al Oeste Asiacute que es posible obtener los resultados que apuntan a una

perspectiva de la autonomia y estabelecer nuevas territorialidades La metodologia se realizoacute

inicialmente una buacutesqueda de datos tales como informes proyectos y estudios A partir de

esto el grupo de enfoque se presentoacute como metodologiacutea teacutecnica y apropriado para el grupo

de joacutevenes analizada lo que permitioacute ademaacutes de las respuestas la reflexioacuten sobre la juventud

rural de como se puede entender como una categoria que es a la vez el tiempo homogeacutenea

sino que presenta gran diversidad como una caracteriacutestica Laacute formacioacuten de grupos que

representan a la juventud rural es de suma importancia para su afirmacioacuten como una categoria

social que busca sus derechos y su autonomiacutea

Palabras clave Juventud rural movimientos sociales territoacuterio territorialidad autonomiacutea

11

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada do Veadeiros 58

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues 60

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues 63

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real 76

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal 77

Figura 3 Oficina de cartografia social 80

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues 81

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA 81

Figura 6 Floresta dos sons 83

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo 84

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica 86

Figura 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues 88

Figura 13 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores 89

Figura 14 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural 89

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APSR ndash Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues

CIFRATER ndash Cidade da Fraternidade

CONTAG ndash Confederaccedilatildeo dos Trabalhadores na Agricultura

CPT ndash Comissatildeo Pastoral da Terra

EHC ndash Educandaacuterio Humberto de Campos

EMATER ndash Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

EMBRAPA ndash Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria

FBB ndash Fundaccedilatildeo Banco do Brasil

FETRAF ndash Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

IASO ndash Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho

IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

INCRA ndash Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria

MAB ndash Movimento dos Atingidos por Barragens

MST ndash Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

NEAD ndash Nuacutecleo de Estudos Agraacuterios e Desenvolvimento Rural

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

OSCAL ndash Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz

OSCIP ndash Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico

PAA ndash Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

PAIS ndash Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel

PAJUR ndash Programa de Fortalecimento da Autonomia da Juventude Rural

14

PETROBRAacuteS ndash Petroacuteleo Brasileiro SA

PJR ndash Pastoral da Juventude Rural

PLANAPO ndash Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

PNAE ndash Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar

PNATER ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural

PNCF ndash Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

PNRA ndash Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria

PRONAF ndash Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RECIFRA ndash Florestadora e Reflorestadora Agropecuaacuteria

SAN ndash Seguranccedila Alimentar e Nutricional

SEAGRO ndash Secretaria de Agricultura de Goiaacutes

SENAR ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural

SNJ ndash Secretaria Nacional da Juventude

UnB ndash Universidade de Brasiacutelia

15

Sumaacuterio

INTRODUCcedilAtildeO 17

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA 23

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos 24

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes 27

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra 30

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO 34

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades 34

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo 41

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares 43

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos 46

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas 53

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES 57

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento 64

32 A escola 65

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios 68

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo 69

34 Sobre o grupo focal 71

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares 74

351 O teatro- imagem 75

352 A cartografia social 78

353 As dinacircmicas 82

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE 90

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro 90

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 101

16

REFEREcircNCIAS 107

APEcircNDICE A 115

APEcircNDICE B 117

ANEXO I 123

17

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como uma identidade desmembrada da juventude em si faz parte de uma

parcela da populaccedilatildeo jovem1 que eacute rica em significado com identidades plurais e que busca

seus direitos e quer escuta de sua voz A importacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a

uma busca maior por estudos para a categoria social analisada Eacute importante que haja maior

volume de estudos referentes agrave juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de

accedilotildees para o meio rural do paiacutes O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos

que mostram que para que a juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no

campo devem ser ouvidos sobre seus desejos em suas dificuldades e seus ideais de futuro

Isso natildeo deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como

construccedilatildeo social natildeo haacute limites reais para a juventude mas haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

as possibilidades de inserccedilatildeo social dos jovens estatildeo condicionadas aos recursos materiais e simboacutelicos que satildeo disponibilizados ao longo do seu processo de socializaccedilatildeo Esses recursos que as novas geraccedilotildees herdam das anteriores e sobre os quais promovem avaliaccedilotildees constituem as condiccedilotildees objetivas a partir das quais constroem suas trajetoacuterias pessoais Esses aspectos encontram-se intimamente ligados ao movimento dialeacutetico de produccedilatildeo-reproduccedilatildeo-transformaccedilatildeo social uma vez que haacute uma ambivalecircncia caracteriacutestica do vir-a ser intriacutenseca agrave condiccedilatildeo juvenil (WEISHEIMER 2005 p 26)

Quando buscamos resposta para a invisibilizaccedilatildeo da juventude rural enquanto

categoria social encontramos o histoacuterico de ocupaccedilatildeo rural no excludente e exclusivo Esta

forma de ocupaccedilatildeo ocorrida desde o seacuteculo XVI excluiacutea o indiviacuteduo que natildeo possuiacutea bens e

natildeo tinha poder poliacutetico A ocupaccedilatildeo passou a ser exclusiva a quem possuiacutea bens e poder

poliacutetico Esse processo contiacutenuo e resistente vem enfrentado lutas a partir de movimentos

sociais que em sua histoacuteria buscam romper com esta loacutegica de latifuacutendio e para isso satildeo

compostos de diversas categorias sociais representados por sujeitos em busca do que lhes foi

negado historicamente A juventude rural eacute aqui estudada enquanto categoria social com

1 De acordo com dados do Censo demograacutefico 2010 apresentados pela Secretaria Nacional da Juventude cerca

de 8 milhotildees de jovens entre 15 e 29 anos vivem em aacutereas rurais Destes mais de 2 milhotildees vivem abaixo da linha da miseacuteria Ainda entre 2000 e 2010 mais de 835 mil jovens se mudaram do campo para a cidade

18

direito agrave afirmaccedilatildeo de identidades e de autonomia como forma de resistecircncia Como

apropriaccedilatildeo de um territoacuterio caracterizado pela expropriaccedilatildeo

A partir de estudos envolvendo diversas disciplinas como geografia histoacuteria

sociologia antropologia filosofia psicologia e educaccedilatildeo foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da

juventude relacionada ao territoacuterio em uma perspectiva que pudesse gerar melhor

compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social Importante assinalar que o

assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo sobre a juventude rural

local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica poliacuteticas puacuteblicas e

continuidade no campo Na pesquisa sobre juventude rural inserimos breve conceitualizaccedilatildeo

acerca de territoacuterio e territorialidade por entender que como anaacutelise que parte de uma

formaccedilatildeo geograacutefica a compreensatildeo desses elementos e a forma como podemos compreendecirc-

los em uma realidade agraacuteria a partir de relaccedilotildees de poder mostra-se de extrema importacircncia

pois os processos envolvidos em relaccedilotildees de territorialidade estatildeo inseridos em aspectos

multidimensionais expostos no texto Quando afirmamos o propoacutesito de compreensatildeo de

perspectivas para a juventude rural em sua autonomia falamos em processos de afirmaccedilatildeo do

sujeito do campo no territoacuterio

Dado o avanccedilo dos conhecimentos sobre as tendecircncias migratoacuterias e a visatildeo dos jovens sobre a atividade agriacutecola parece importante a inversatildeo da questatildeo procurando examinar as condiccedilotildees que favorecem sua permanecircncia Neste sentido satildeo importantes os estudos que analisam o modo de vida as relaccedilotildees sociais as condiccedilotildees estruturais as oportunidades de lazer e acesso a atividades agriacutecolas e natildeo-agriacutecolas para jovens de ambos os sexos Dentro dessa perspectiva faltam estudos que particularizem as relaccedilotildees sociais em diferentes regiotildees do Brasil (BRUMER 2007 p 41)

A afirmaccedilatildeo de identidades a partir da juventude rural ocorre de forma complexa pois

natildeo haacute uma singularidade no processo de territorializaccedilatildeo destes sujeitos Um territoacuterio

mesmo composto por ideais semelhantes e por indiviacuteduos pertencentes a uma categoria

estabelecida socialmente possui em si a multidimensionalidade a partir de uma relaccedilatildeo com

o espaccedilo e com o tempo que natildeo se reproduz enquanto coacutepia mas enquanto diversidade

O territoacuterio eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e relacional constituiacuteda a partir das relaccedilotildees de poder multidimensionais articuladas em um sistema de redes mas apresentando singularidades compreendidas como identidade territoriais Cada territoacuterio exige portanto uma leitura singular de suas territorialidades e temporalidades e a tarefa que se impotildee aos geoacutegrafos e outros profissionais que adotam o conceito de territoacuterio consiste no aprofundamento dos estudos das abordagens para apreensatildeo da realidade (SANTOS 2011 p33)

19

Quando falamos sobre a autonomia palavra jaacute presente em programa de accedilatildeo

governamentais para a juventude rural inserimos seu significado semacircntico de origem grega2

como ldquoo mesmordquo ldquoele mesmordquo e ldquopor si mesmordquo junto agrave palavra nomos que significa

ldquocompartilhamentordquo ldquolei do compartilharrdquo ldquoinstituiccedilatildeordquo ldquousordquo ldquoleirdquo ldquoconvenccedilatildeordquo ou seja

como faculdade de se governar por si mesmo com emancipaccedilatildeo ou independecircncia

A autonomia disposta por Paulo Freire (1996) relaciona-se agrave identidade do educando

em processo a partir de meacutetodos educativos que levam a uma reelaboraccedilatildeo do educando a

partir do conhecimento de si Para ele a autonomia eacute uma construccedilatildeo que leva agrave liberdade a

partir de um contexto de transformaccedilatildeo de praacuteticas de opressatildeo em praacuteticas de liberdade A

palavra autonomia eacute compreendida por Reichert e Wagner (2007 p 408) como ldquoa capacidade

do sujeito decidir e agir por si mesmo com o pressuposto de que o desenvolvimento e a

aquisiccedilatildeo desta habilidade sofrem a influecircncia do contexto em que o jovem de desenvolverdquo

As autoras sugerem atenccedilatildeo com o contexto social para a construccedilatildeo de uma pretendida

autonomia como fator de grande influecircncia agrave sua construccedilatildeo entre jovens Tambeacutem com esta

preocupaccedilatildeo e como forma de intervir com elementos geradores de autonomia durante os

encontros deu-se a escolha do local de pesquisa

A escolha pelo recorte espacial se deu por diferentes motivaccedilotildees Para esta pesquisa

procurei um assentamento de reforma agraacuteria em localidade proacutexima a Brasiacutelia com a

discussatildeo acerca da juventude rural a partir de grupo de jovens formado na comunidade Meu

interesse inicial ocorreu com a participaccedilatildeo enquanto pesquisadora no Curso de Formaccedilatildeo

Agroecoloacutegica e Cidadatilde realizado pela UnB junto a Secretaria Nacional da Juventude nos

meses finais de 2013 A partir do trabalho de diagnoacutestico sobre a juventude rural em

assentamentos do Distrito Federal e Entorno pude ter contato com o tema de pesquisa ainda

pouco explorado pela academia Com o fim do trabalho de diagnoacutestico e do curso realizado

junto aos jovens tive despertado o interesse em realizar a pesquisa sobre juventude rural

Com um projeto jaacute iniciado sobre agroecologia em assentamentos de reforma agraacuteria optei

inicialmente por realizar pesquisa que possibilitasse discussatildeo com envolvimento na

juventude rural em agroecologia

Com dificuldades nesta busca a partir da oportunidade de um curso na Chapada dos

Veadeiros enxerguei uma possibilidade de encontrar a realidade que buscava no assentamento 2 Disposiccedilatildeo referente ao significado semacircntico encontrada em REICHERT Claudete Bonatto WAGNER

Adriana Consideraccedilotildees sobre a autonomia na contemporaneidade Estudos e pesquisa em psicologia UERJ RJ v 7 n 3 p 405-418 dez 2007

20

Silvio Rodrigues Meu contato inicial se deu com a participaccedilatildeo no Projeto Caravana da Luz

curso aberto agrave comunidade no assentamento com praacuteticas que envolviam formaccedilatildeo

complementar em permacultura a partir da bioconstruccedilatildeo e de noccedilotildees em agrofloresta Ainda

com dificuldades em encontrar um recorte espacial para a pesquisa apresentei o problema a

algumas pessoas da comunidade a fim de identificar a presenccedila de juventude rural

organizada Conversando com os instrutores do curso e alguns membros da comunidade

houve uma positiva receptividade quanto agrave proposta de pesquisa Pude ter o primeiro contato

com vaacuterias famiacutelias conhecendo um pouco daquela realidade aleacutem de conversar com

professores da escola local e moradores da Cidade da Fraternidade que apresentaram um

pouco do histoacuterico da comunidade com bastante preocupaccedilatildeo em me auxiliar na pesquisa

Com a confirmaccedilatildeo de que eu poderia ter uma primeira conversa com o grupo de jovens a

partir de uma lideranccedila comunitaacuteria jovem Marconey iniciei uma pesquisa de dados

secundaacuterios sobre o assentamento para logo iniciar o trabalho de campo

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues existe um grupo de

jovens que haacute dois anos se reuacutene tanto para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio

participaccedilatildeo em projetos quanto para discussatildeo sobre sua participaccedilatildeo em movimentos

sociais congressos e encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave

famiacutelia Esse grupo formado a partir de accedilotildees junto agrave Pastoral da Juventude Rural (PJR) apoacutes

trabalhos realizados em 2012 e 2013 voltou a se reunir em junho de 2014 com uma proposta

geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos

jovens do campo Esse tema gerou algumas implicaccedilotildees que seratildeo logo explicitadas

Acompanhando esse grupo durante seis meses foi proposta a anaacutelise de suas perspectivas de

continuidade no campo a partir do acompanhamento dos trabalhos juntos ao grupo de jovens

Coloquei assim como objetivo geral da pesquisa

Estudar as perspectivas de continuidade no campo da juventude rural do

Assentamento Silvio Rodrigues para a identificaccedilatildeo de resistecircncia e busca por

autonomia com caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades para a categoria social no

recorte espacial analisado

Os objetivos especiacuteficos satildeo

Discutir as categorias juventude e juventude rural de forma a gerar o debate

sobre a permanecircncia no campo a partir da resistecircncia ao contexto de

21

expropriaccedilatildeo ocasionado pelo histoacuterico agraacuterio no paiacutes gerando consequecircncias

agrave categoria social analisada

A partir de estudos sobre territoacuterio no contexto geograacutefico verificar como se

constroacutei a territorialidade entre jovens e como se datildeo as perspectivas de

continuidade apresentando reflexotildees sobre a permanecircncia da juventude rural

no campo

Apontar os desafios quanto a accedilotildees que abordem o(a) jovem rural como

categoria de anaacutelise que o diferencia da juventude urbana

Identificar as accedilotildees realizadas pela juventude rural no recorte espacial

analisado a partir da realidade local desejos e sonhos para o futuro realizando

uma anaacutelise de como essas accedilotildees podem implicar em maior visibilidade e

formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas para estes sujeitos

As questotildees postas nos objetivos partem de uma preocupaccedilatildeo acerca de estudos sobre

juventude rural e aleacutem disso uma preocupaccedilatildeo quanto agrave representaccedilatildeo atual dessa categoria

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Haacute grande argumentaccedilatildeo para a manutenccedilatildeo da juventude

rural no campo como parte de uma hereditariedade imposta como forma de garantir a

produccedilatildeo futura de alimentos No entanto esses argumentos natildeo satildeo definidores de uma

realidade que deveria ocorrer por meio da escolha dos sujeitos analisados com a definiccedilatildeo de

direitos accedilotildees e poliacuteticas voltadas agrave juventude rural e a real possibilidade de escolha sobre ser

do campo ou ser da cidade

Como a pretensatildeo de dissertar sobre o contexto agraacuterio com a juventude do campo

como sujeito envolvendo no tema a formaccedilatildeo de grupos de jovens como forma de resistecircncia

tambeacutem foi fundamental a observaccedilatildeo de buscas mais simboacutelicas como o simples fato de

assistirem a um filme juntos ou buscarem recursos para organizar uma festa Em meio a

muacuteltiplas accedilotildees sempre houve espaccedilo para a discussatildeo sobre o papel da juventude rural em

um assentamento de reforma agraacuteria e sobre como poderiam agir para chegar aos seus sonhos

o que foi de extrema importacircncia para o trabalho A participaccedilatildeo no grupo de jovens as

conversas com famiacutelias escola e lideranccedilas locais fizeram parte de momentos-chave para a

composiccedilatildeo da pesquisa A divisatildeo do trabalho se deu da seguinte forma

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No primeiro capiacutetulo - Agricultura e sujeitos do campo ndash contexto de uso da terra -

apresento um breve contexto da agricultura iniciando um histoacuterico sobre a formaccedilatildeo agraacuteria

no Brasil dando ecircnfase no tempo histoacuterico da marcha para Oeste e Revoluccedilatildeo Verde

apresentando os sujeitos envolvidos na dominaccedilatildeo da terra Em uma escala maior detalhamos

um pouco mais o contexto agraacuterio no estado de Goiaacutes inserido no bioma Cerrado e como este

se caracteriza como cenaacuterio que representa tanto uma enorme biodiversidade quanto um

acelerado processo de expansatildeo agropecuaacuteria e desterritorializaccedilatildeo de povos e tradiccedilotildees mas

com uma luta contiacutenua contra a dominaccedilatildeo do territoacuterio a partir de movimentos sociais

O segundo capiacutetulo ndash Juventude Juventude Rural e Territoacuterio apresenta uma

discussatildeo sobre a juventude como categoria social seu histoacuterico de resistecircncia conflitos e

busca por direitos Como objeto principal de discussatildeo exponho a juventude rural em suas

peculiaridades formaccedilatildeo poliacutetica e papel na questatildeo agraacuteria Como abertura de outras

perspectivas para a juventude rural e novas territorialidades tambeacutem eacute discutido o tema

territoacuterio Eacute traccedilado histoacuterico do assentamento formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo da juventude em

discussotildees possibilitando a anaacutelise sobre territoacuterio e territorialidades em seu caraacuteter

multidimensional

No terceiro capiacutetulo denominado Recorte espacial analisado ndash Assentamento Silvio

Rodrigues apresento inicialmente o histoacuterico de ocupaccedilatildeo do assentamento sua

caracterizaccedilatildeo e como ocorreu a formaccedilatildeo de jovens como grupo em busca de direitos Logo

descrevo o trabalho realizado com detalhamento da metodologia o grupo focal e das

ferramentas utilizadas como forma de comunicaccedilatildeo com a juventude discussatildeo sobre esta

enquanto categoria social e cumprimento dos objetivos da pesquisa

O quarto capiacutetulo O grupo focal accedilotildees e anaacutelise ndash apresenta os resultados gerados

pelas discussotildees no grupo focal e expressa como se deu a anaacutelise dos principais elementos

encontrados nas discussotildees entre pesquisadora e sujeitos de pesquisa a partir dos tempos

histoacutericos propostos passado presente e futuro com a perspectiva de reflexatildeo a partir de

histoacuterico de luta experiecircncias enquanto grupo e perspectiva de futuro a partir deste para a

juventude rural

Por uacuteltimo no capiacutetulo 5 as consideraccedilotildees finais ocorrem em um movimento de

reflexatildeo a partir tanto da anaacutelise teoacuterica sobre o tema como de um contexto de discussatildeo

coletiva ocorrida durante as reuniotildees de grupo focal junto agrave juventude rural do assentamento

23

1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA

Para melhor retratar a realidade do campo e bem caracterizar a juventude rural como

categoria social natildeo dissociada do territoacuterio com a constante interaccedilatildeo e modificaccedilatildeo deste

importante que realizemos um pequeno estudo de como se constroacutei historicamente e qual o

papel do sujeito do campo representado por jovens a partir de um histoacuterico agraacuterio A

importacircncia em conhecer o histoacuterico se daacute aleacutem de uma contextualizaccedilatildeo mas tambeacutem como

uma forma de compreender relaccedilotildees de poder certos conflitos expropriaccedilatildeo e resistecircncia

como elementos que representam ateacute o tempo presente a realidade agraacuteria do paiacutes e neste

estudo a realidade histoacuterica de uso da terra no bioma Cerrado

Quando falamos em agricultura3 estatildeo presentes interaccedilotildees entre a sociedade e o que

ocorre com ela A partir de uma relaccedilatildeo entre grupos humanos e a natureza houve profundas

transformaccedilotildees surgidas historicamente a partir da utilizaccedilatildeo da teacutecnica A agricultura se

modificou assim como as relaccedilotildees humanas marcando avanccedilos ao mesmo tempo em que se

procurava o aprofundamento dessas teacutecnicas alterando caracteriacutesticas naturais a partir de

inovaccedilotildees a partir de uma ciecircncia voltada para a modernizaccedilatildeo e para propagaccedilatildeo de seus

resultados de forma global modificando tanto a produccedilatildeo agriacutecola mundial quanto as relaccedilotildees

de vida nela presentes (SANTOS 2006)

No entanto essa modificaccedilatildeo com crescente mecanizaccedilatildeo e uso de tecnologias natildeo

levou a muitos agricultores o acesso aos meios de produccedilatildeo presentes nas denominadas

revoluccedilotildees agriacutecolas Isso os empobreceu pois eles natildeo puderam acompanhar o aumento de

rendimento e produtividade na terra resultado da modernizaccedilatildeo agriacutecola (MAZOYER

ROUDART 2010) Ao mesmo tempo em que essa modernizaccedilatildeo trazia benefiacutecios

econocircmicos iniciais tambeacutem desencadeou um processo de dependecircncia do agricultor para

garantia de sementes acesso a maquinaacuterios mercados enfim toda uma estrutura que passou a

transformar o alimento em mais um produto de mercado

3A agricultura tal qual se pode observar em um dado lugar e momento aparece em princiacutepio como um objeto ecoloacutegico e econocircmico complexo composto de um meio cultivado e de um conjunto de estabelecimentos agriacutecolas vizinhos que entretecircm e que exploram a fertilidade desse meio Levando mais longe o olhar pode-se observar que as formas de agricultura praticadas num dado momento variam de uma localidade a outra E se estende longamente a observaccedilatildeo num dado lugar constata-se que as formas de agricultura praticadas variam de uma eacutepoca a outra (MAZOYER ROUDART 2010 p 71)

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Como resultado temos uma contextualizaccedilatildeo do rural que obedece a uma loacutegica de

modernizaccedilatildeo crescente emigraccedilatildeo e pauperizaccedilatildeo de populaccedilotildees ao mesmo tempo em que a

produccedilatildeo rural estaacute aberta agrave expansatildeo do capitalismo tornando-se vulneraacutevel porque inibe

forccedilas de resistecircncia e necessita de forccedilas muito maiores que na cidade para negar sua

fragmentaccedilatildeo (SANTOS 2006) O histoacuterico agraacuterio inserido em uma realidade natildeo soacute da

modernizaccedilatildeo da agricultura mas a partir de modificaccedilotildees sociais econocircmicas e culturais a

ela relacionadas parte de um contexto poliacutetico de dominaccedilatildeo de territoacuterios e povos

fragmentando identidades enfraquecendo formas coletivas de praacuteticas de agricultura e

submetendo os sujeitos do campo a processos de expropriaccedilatildeo

11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos

O histoacuterico agraacuterio no Brasil possui uma trajetoacuteria de expropriaccedilatildeo e conflitos desde

que os portugueses dominaram o territoacuterio para exploraccedilatildeo de povos e recursos Esse processo

passou por diferentes fases todas com sujeitos lutando por liberdade e contra a opressatildeo

gerada pelo latifuacutendio Os conflitos no espaccedilo agraacuterio envolvem relaccedilotildees sociais

contraditoacuterias de cunho poliacutetico econocircmico social e cultural Satildeo elementos de poder sobre o

territoacuterio organizado hoje segundo regras capitalistas de dominaccedilatildeo e geraccedilatildeo de lucro

atraveacutes da produccedilatildeo nas grandes propriedades

A formaccedilatildeo agraacuteria no paiacutes se deu a partir da dominaccedilatildeo portuguesa de caraacuteter de

exploraccedilatildeo de recursos e habitantes nativos para geraccedilatildeo de produtos para a Coroa Jaacute a

amarraccedilatildeo do modo de organizaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio brasileiro teve origem a partir de 1530

com a efetiva ocupaccedilatildeo do territoacuterio e utilizaccedilatildeo da Lei das Sesmarias criada pela corte

portuguesa que regulava juridicamente a reparticcedilatildeo da propriedade fundiaacuteria Segundo essa

lei o acesso agrave terra deveria ser proporcional ao nuacutemero de escravos em propriedade de cada

senhor restringindo-se assim de direito a alguns poucos ficando excluiacuteda a maioria da

populaccedilatildeo (MOREIRA 1990) O processo de formaccedilatildeo territorial da propriedade da terra

explica os conflitos gerados a partir da colonizaccedilatildeo com a predominacircncia histoacuterica de

latifuacutendios e a expropriaccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo para satisfazer os fins da economia

agraacuteria capitalista sendo essa a causa do surgimento de lutas pela terra no Brasil

Em um histoacuterico mais recente natildeo ignorando o passado de conflitos pela terra houve

o avanccedilo da fronteira agriacutecola para o oeste e a nova caracterizaccedilatildeo dos latifuacutendios associado agrave

industrializaccedilatildeo e mecanizaccedilatildeo agriacutecola A Revoluccedilatildeo Verde a partir da segunda metade do

seacuteculo XX veio atraveacutes de maior tecnificaccedilatildeo da agricultura com grande utilizaccedilatildeo de

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maquinaacuterios e insumos como fertilizantes e defensivos quiacutemico-sinteacuteticos Isso surgiu de uma

demanda de mercado por produtos padronizados internacionalmente para consumo interno e

exportaccedilatildeo Fernandes (1999) afirma que a Revoluccedilatildeo Verde surgiu como um pacote

tecnoloacutegico gerador de conflitos sociais com a expulsatildeo do campo de grande quantidade de

camponeses aleacutem de problemas ambientais decorrentes de monocultivos e utilizaccedilatildeo de

insumos sem controle

A Revoluccedilatildeo Verde teve um desenvolvimento ampliado nos paiacuteses em

desenvolvimento sendo o Brasil um exemplo com grande utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos

representados por fertilizantes quiacutemicos e defensivos com alto poder de contaminaccedilatildeo de

aacutegua solos vegetaccedilatildeo animais e do ser humano Esses produtos tiveram seu uso a partir de

subsiacutedios do Estado aos agricultores que possuiacuteam a capacidade financeira de creacutedito e terras

para o desenvolvimento destas atividades Com isso os agricultores que natildeo puderam aderir

a este novo padratildeo de produccedilatildeo tiveram como consequecircncia a desvalorizaccedilatildeo de seus

produtos e perda de mercado Passaram a buscar trabalho nas grandes propriedades muitos

vendendo suas terras e perdendo o direito de produzir o proacuteprio alimento em uma clara

relaccedilatildeo de pauperizaccedilatildeo e expropriaccedilatildeo (MAZOYER ROUDART 2010)

A uniformizaccedilatildeo da agricultura para atender a um mercado com atenccedilatildeo agrave exportaccedilatildeo

a partir de produtos de alto valor comercial natildeo atende obrigatoriamente a uma necessidade

alimentar diversificada mas a uma especializaccedilatildeo local como a produccedilatildeo de frutas e soja no

Nordeste novas frentes agropecuaacuterias no Norte ou a especializaccedilatildeo produtiva em gratildeos no

Centro-Oeste Com isso pequenos agricultores que natildeo se adequam ou natildeo se subordinam ao

mercado acabam sendo excluiacutedos a partir da loacutegica de dominaccedilatildeo do espaccedilo agraacuterio

(SANTOS SILVEIRA 2013) Aleacutem disso os autores destacam

A criaccedilatildeo de um mercado unificado que interessa sobretudo agraves produccedilotildees hegemocircnicas leva agrave fragilizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas perifeacutericas ou marginais do ponto de vista do uso do capital e das tecnologias mais avanccediladas Os estabelecimentos agriacutecolas que natildeo puderam adotar as novas possibilidades teacutecnicas financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneraacuteveis agraves oscilaccedilotildees de preccedilo creacutedito e demanda e agraves novas formas organizacionais do trabalho o que frequentemente eacute fatal aos empresaacuterios isolados (SANTOS SILVEIRA 2013 p 121)

Natildeo falando ainda de uma pauperizaccedilatildeo jaacute declarada mas anunciando um processo de

dependecircncia do mercado Santos amp Silveira (2013) detalham novas divisotildees do territoacuterio dito

moderno a partir de seu uso intensivo mesmo com a uniformizaccedilatildeo e com a padronizaccedilatildeo a

partir de uma loacutegica de produccedilatildeo de mercado

26

Em um contexto de alto grau de expropriaccedilatildeo com histoacuterico fazendo parte da estrutura

agraacuteria do paiacutes a Revoluccedilatildeo Verde intensificou usos de territoacuterios cada vez mais

fragmentados Nesse mesmo periacuteodo e se caracterizando como confronto agrave realidade imposta

por um padratildeo de agricultura e distribuiccedilatildeo de terras excludente grupos passaram a se

organizar no meio rural brasileiro (OLIVEIRA 2001)

A partir da Teologia da Libertaccedilatildeo houve inspiraccedilatildeo agrave luta e comunidades passaram a

se organizar politicamente Na deacutecada de 1970 movimentos camponeses se organizaram pela

terra e pela reforma agraacuteria As lutas se fortaleciam conforme aumentava a expropriaccedilatildeo A

Igreja Catoacutelica passou a realizar trabalhos de alfabetizaccedilatildeo e politizaccedilatildeo de camponeses No

final da deacutecada com o intuito de uma luta maior contra o modo de produccedilatildeo capitalista teve

iniacutecio a organizaccedilatildeo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Na deacutecada de

1980 com a lentidatildeo por parte do Estado para desapropriar aacutereas passiacuteveis de assentamento o

MST intensificou ocupaccedilotildees como forma de pressionar o processo de reforma agraacuteria

Movimentos conservadores entraram em cena contra a reforma agraacuteria impedindo que ela se

realizasse Movimentos de repressatildeo aumentaram e a questatildeo agraacuteria era discutida e colocada

em pauta pelos governos que se seguiram na deacutecada de 1990 Forte conflito decorrente disso

foi o episoacutedio de Eldorado dos Carajaacutes com a morte de 19 sem-terra (FERNANDES 1999)

Estes movimentos denominados movimentos socioterritoriais4 representados no

Brasil principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra se fortaleceram

e se territorializaram por todo o paiacutes com a formaccedilatildeo de cooperativas de assentados

ampliando a discussatildeo sobre a questatildeo agraacuteria e dando autonomia a novas organizaccedilotildees de

luta pela reforma agraacuteria culminando hoje na formaccedilatildeo da juventude rural como categoria

social que luta por direitos comuns

Para essa categoria a conquista do territoacuterio eacute mais que a conquista da terra eacute o resgate

da identidade eacute movimento de resistecircncia de manutenccedilatildeovalorizaccedilatildeo da diversidade cultural

eacute a oportunidade de accedilotildees de busca por direitos negados por relaccedilotildees de expropriaccedilatildeo no

campo (OLIVEIRA 2001)

4 O conceito de movimentos socioterritoriais surgiu com reflexatildeo sobre os movimentos sociais a partir de uma leitura geograacutefica a leitura a partir do territoacuterio Os geoacutegrafos Bernardo Manccedilano Fernandes e Jean Yves Martin realizaram o primeiro esforccedilo teoacuterico entre 2000 e 2001 Em Fernandes (2005 p31) Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem espaccedilos poliacuteticos especializam-se e promovem espacialidades A construccedilatildeo de um tipo de territoacuterio significa quase sempre a destruiccedilatildeo de um outro tipo de territoacuterio de modo que a maior parte dos movimentos territoriais forma-se a partir dos processos de territorializaccedilatildeo e desterritorializaccedilatildeo

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Quando citamos os sujeitos do campo importante ressaltar que natildeo satildeo sujeitos

participantes de um mesmo ideal politico vindos de uma mesma cultura ou de uma mesma

regiatildeo do paiacutes Estes sujeitos natildeo possuem uniformidade a natildeo ser o fato de lutarem por um

territoacuterio negado a todos da mesma forma Os movimentos socioterritoriais surgem de forma a

unir indiviacuteduos representados por homens mulheres jovens crianccedilas com diferentes

sonhos culturas em busca de uma vida com autonomia em que

A terra representa um sonho para os camponeses expropriados quando o acesso a ela converte-se em acesso ao territoacuterio a terra tatildeo sonhada torna-se o meio que possibilita ampliar e materializar os sonhos da famiacutelia em diferentes planos dimensotildees e escalas temporais Para o campesinato o acesso agrave terra quando convertida em territoacuterio representa a materializaccedilatildeo da vida (RAMOS FILHO 2013 p 54)

A organizaccedilatildeo de indiviacuteduos em busca desse acesso agrave terra se daacute de forma plural Aleacutem

de ter como organizaccedilotildees diferentes representantes natildeo apenas do MST como os Sindicatos

dos Trabalhadores Rurais ndash STRs diferentes confederaccedilotildees e federaccedilotildees de trabalhadores

como CONTAG e FETRAF cooperativas e associaccedilotildees e representado a categoria aqui

estudada a PJR atuam no sentido de modificar a dinacircmica territorial Satildeo movimentos

territorializados porque lidam diretamente com o direito ao territoacuterio e agrave Reforma Agraacuteria

(LIMA 2005)

111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes

Voltando um pouco mais no tempo com a Marcha para Oeste5 final da deacutecada de

1930 eacute possiacutevel traccedilar modificaccedilotildees territoriais que caracterizam o histoacuterico de ocupaccedilatildeo no

estado de Goiaacutes Teixeira Neto (2013) afirma que em sua constituiccedilatildeo Goiaacutes teve como

caracteriacutestica o encolhimento de suas fronteiras a partir de uma expansatildeo desorganizada e

competitiva em uma loacutegica de produccedilatildeo agroindustrial voltada ao mercado nacional e

internacional As caracteriacutesticas de sua formaccedilatildeo foi uma raacutepida ocupaccedilatildeo ocorrida em menos

de 50 anos marcada por uma mobilidade espacial e populacional por meio da dominaccedilatildeo de

oligarquias que detinham e ainda detecircm o poder sobre o uso da terra a partir da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria e instabilidade de limites e fronteiras

5 A marcha para Oeste foi um movimento de interiorizaccedilatildeo do Brasil com o incentivo agrave ocupaccedilatildeo de lugares

denominados vazios populacionais Esse movimento de interiorizaccedilatildeo do Estado foi efetivado por Getuacutelio Vargas e representado principalmente pela criaccedilatildeo de colocircnias agriacutecolas com objetivo de produccedilatildeo alimentiacutecia em sua maior parte gratildeos e produccedilatildeo agropecuaacuteria para os centros urbanos emergentes Aleacutem disso tambeacutem tinha como finalidade a contenccedilatildeo de conflitos sociais que ocorriam agrave eacutepoca em outras regiotildees do paiacutes culminando na construccedilatildeo de Brasiacutelia como capital federal (PESSOA 1997)

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Campos e Silva (2013) em seus estudos sobre a fronteira goiana resgatam diversas

histoacuterias e documentos que caracterizaram o territoacuterio goiano em suas relaccedilotildees sociais e

cotidianas aleacutem de seu ambiente Esses relatos foram obtidos por viajantes naturistas

geoacutegrafos bandeirantes entre outros personagens e os documentos como jornais cartas e

relatoacuterios de documento apresentam informaccedilotildees sobre um territoacuterio que se coloca

historicamente a uma distacircncia enorme do resto do Brasil fiacutesica e simbolicamente por meio

da negaccedilatildeo agraves populaccedilotildees ao acesso agrave civilizaccedilatildeo e agraves suas vantagens

Quanto agrave forma de ocupaccedilatildeo de Goiaacutes esta se deu a partir da busca de ouro e a partir

da pecuaacuteria Com a produccedilatildeo de ouro natildeo prosperando como o esperado por seus

exploradores a pecuaacuteria passou a ser a base de ocupaccedilatildeo do territoacuterio no estado Essa nova

produccedilatildeo partindo do antes desocupado Goiaacutes permitiu sua comunicaccedilatildeo com outras regiotildees

principalmente a Sudeste com envio de gados para Minas Gerais ou Satildeo Paulo (CAMPOS E

SILVA 2013) No entanto essa comunicaccedilatildeo se dava apenas a partir de uma minoria de

proprietaacuterios que tinham poder de compra de terras e gado tinham a possibilidade econocircmica

e poliacutetica de realizar investimentos no estado

As questotildees agraacuterias e o processo de ocupaccedilatildeo territorial em Goiaacutes no seacuteculo XX tiveram como caracteriacutestica constante o impedimento ao acesso agrave propriedade traccedilo evidenciado pelos recursos e meios usados pelos grupos dominantes Para exercer esse impedimento usava-se uma legislaccedilatildeo impeditiva com excessivas exigecircncias burocraacuteticas de requisiccedilatildeo de terras levantamentos e demarcaccedilotildees dentre outros aleacutem do alto preccedilo do imoacutevel (CAMPOS E SILVA 2013 p 44)

A ocupaccedilatildeo de certas aacutereas do interior do paiacutes com grande relevacircncia o Estado de

Goiaacutes e Mato Grosso surgiu a partir da necessidade de mudanccedilas econocircmicas poliacuteticas e

sociais a partir de uma crise internacional natildeo superada que levou populaccedilotildees

desempregadas principalmente de cafeicultores a serem proprietaacuterias agriacutecolas nestas

denominadas frentes de expansatildeo multiplicando os estabelecimentos rurais de meacutedio porte a

partir da agricultura e da pecuaacuteria A partir da abertura de novas fronteiras rodoviaacuterias houve

a possibilidade de aumento de aacutereas de exploraccedilatildeo agropecuaacuteria ainda como uma

possibilidade principalmente com a fronteira Beleacutem-Brasiacutelia O surgimento de novos fluxos

de mercado a partir da abertura de estradas que levavam a Brasiacutelia ainda em construccedilatildeo

impulsionou a aquisiccedilatildeo de grandes propriedades como uma forma de garantia econocircmica em

um novo territoacuterio geralmente realizada por meio de frentes de expansatildeo (BERTRAN 1988)

Estas frentes de expansatildeo identificadas por Campos e Silva (2013) como Frente

Agriacutecola e Frente Agropecuaacuteria tiveram iniacutecio entre o final do seacuteculo XIX e primeira metade

29

do seacuteculo XX e basearam-se principalmente na produccedilatildeo agriacutecola de gratildeos e na criaccedilatildeo de

gado para comercializar em outros estados A ocupaccedilatildeo se dava em sua maioria por

apossamento de terras e natildeo por contratos de compra e venda como elemento de contribuiccedilatildeo

para um raacutepido crescimento da ocupaccedilatildeo rural no Estado de Goiaacutes como exposto por Bertran

(1988 p 119) com meacutedia de crescimento ultrapassando os nuacutemeros marcados para a meacutedia

do paiacutes

De 1940 a 1950 sua aacuterea rural expandiu-se em 25 4 (contra 174 para o Brasil)

De 1950 a 1960 acentua-se essa expansatildeo Goiaacutes atingindo 174 de crescimento de aacutereas

rurais enquanto a expansatildeo brasileira se fazia em torno de um modesto 76 na deacutecada Nos

anos de 1960 essas taxas comeccedilam a se aproximar (Goiaacutes 239 Brasil 172) embora no

periacuteodo 1970-1975 as taxas goianas voltem novamente a dobrar a meacutedia brasileira acelerando-

se em 21 nesse quinquecircnio contra 99 para o paiacutes (BERTRAN 1988 p 119)

Ao vermos a aceleraccedilatildeo ocorrida na deacutecada de 1970 jaacute podemos fazer a relaccedilatildeo com a

modernizaccedilatildeo da agricultura com novas frentes de expansatildeo a partir da pecuaacuteria extensiva e

da produccedilatildeo de gratildeos em grande escala Essa modernizaccedilatildeo apresenta-se a partir de um

padratildeo de financiamento estatal com garantia de creacutedito rural a baixas taxas de juros e acesso

faacutecil a maquinaacuterios e insumos com os agentes financiadores tendo como clientes os grandes

produtores Houve com isso um raacutepido crescimento e grandes rendimentos da fronteira

agriacutecola no Estado de Goiaacutes de forma contiacutenua Esse crescimento natildeo cessou e mesmo com

uma crise fiscal ocorrendo no paiacutes jaacute na deacutecada de 1980 a forma com que se deu a expansatildeo

da agricultura no estado de forma empresarial voltada agrave produccedilatildeo de gratildeos como milho e

soja e com as agroinduacutestrias em funcionamento e expansatildeo permitiu um contiacutenuo movimento

da fronteira agriacutecola mas de forma predatoacuteria repetindo o ocorrido no centro-sul do paiacutes

(HESPANHOL 2007)

Eacute importante pontuar que a forma de ocupaccedilatildeo de terra ocorreu a partir de uma

legislaccedilatildeo estatal com dizeres contraditoacuterios que da mesma forma que exigia a compra da

terra para sua ocupaccedilatildeo tambeacutem estabelecia diretrizes de ocupaccedilatildeo para aqueles que jaacute

detinham a posse da terra contribuindo de forma indireta mas ciente para a formaccedilatildeo de

latifuacutendios (CAMPOS E SILVA 2013) Para Maia (2013) as accedilotildees do Estado revelaram que

houve uma proposital ideia de dinamizaccedilatildeo de produccedilatildeo agriacutecola e agropecuaacuteria sendo a

ocupaccedilatildeo de Goiaacutes uma continuidade de ocupaccedilatildeo territorial visiacutevel na histoacuteria do paiacutes

30

A expansatildeo de aacutereas para exploraccedilatildeo agriacutecola no Estado de Goiaacutes se deu de forma

acelerada principalmente entre as deacutecadas de 1960 e 1970 Isso provocou acelerado impacto

ambiental De acordo com BERTRAN (1988 p 120) durante esse periacuteodo de tempo ldquoAs

aacutereas de cerrados e ldquopastos naturaisrdquo foram responsaacuteveis em Goiaacutes por mais de 55 dos

ganhos em expansatildeo rural contra cerca de 40 para o Brasilrdquo Essas aacutereas foram usadas

relata o autor principalmente para pastagens Como objetivo de grandes produtores as

pastagens se formaram com a derrubada de aacutervores com alguma forma de agricultura

ocorrendo quando conveniente acelerando o processo de destruiccedilatildeo ecossistecircmico O

desmatamento na regiatildeo se deu de forma tatildeo acelerada quanto seu raacutepido crescimento

econocircmico deixando a paisagem com um aspecto homogecircneo e com um verde sem vida

Como citado em Funes (2013 p 141 grifo do autor) ldquoOs cantos dos paacutessaros o coaxar dos

sapos e as ldquoterras cobertas por uma exuberante vegetaccedilatildeo mas inuacutetilrdquo vai cedendo lugar para

as grandes pastagens as lavouras extensivas locomotivas do agronegoacutecio A paisagem do

cerrado se transforma em outrasrdquo

Junto aos impactos ambientais apresentaram-se problemas sociais no campo

Enquanto a expansatildeo de grandes aacutereas contribuiu com o sucesso dos denominados

empresaacuterios rurais nas aacutereas de Cerrado populaccedilotildees natildeo possuidoras de terras passaram a

fazer parte da matildeo-de-obra de grandes fazendas ou migraram para as cidades proacuteximas que

estavam se constituindo como importantes polos urbanos como Goiacircnia Anaacutepolis e Brasiacutelia

ainda haacute pouco inaugurada para ocupar vagas de trabalhos basicamente domeacutesticos ou na

construccedilatildeo civil Satildeo essas populaccedilotildees que mais tarde se constituiratildeo como sujeitos em busca

de autonomia em busca de um territoacuterio negado para o resgate do trabalho rural e de suas

identidades fragmentadas sujeitos estes denominados sem terra (BERTRAN 1978 1988

PESSOA 1997)

12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra

Para que possamos realizar uma discussatildeo com atenccedilatildeo especial aos atores envolvidos

no histoacuterico de ocupaccedilatildeo do Cerrado compreendido neste estudo como uma crescente aacuterea de

produccedilatildeo eacute interessante natildeo desligar as accedilotildees dos sujeitos agrave natureza presente mas

compreender a complexidade que envolve homem-natureza em uma forte ligaccedilatildeo que natildeo

deve ser tomada de forma isolada Funes (2013) compreende a necessidade dessa relaccedilatildeo a

31

partir de um traccedilado histoacuterico sobre a ocupaccedilatildeo do cerrado especialmente a regiatildeo Centro-

Oeste O autor afirma ser indispensaacutevel fazer a associaccedilatildeo entre homem e natureza e

compreende que estes elementos satildeo indissociaacuteveis tanto em sua caracterizaccedilatildeo e

historicizaccedilatildeo quanto em seu comportamento alertando que ambos devem ser tratados em

conjunto

Com a denominaccedilatildeo jaacute comum de celeiro do paiacutes o cerrado brasileiro presente em

grande parte da regiatildeo Centro-Oeste do paiacutes eacute um bioma ainda carente de reconhecimento em

sua importacircncia natural e cultural onde em seu histoacuterico de ocupaccedilatildeo ldquoo agronegoacutecio e a

agroinduacutestria fazem girar a maacutequina do setor produtivo estruturado no latifuacutendio e

fundamentado na pecuaacuteria de corte na lavoura extensiva de algodatildeo cana-de-accediluacutecar (etanol)

e em especial da sojardquo (FUNES 2013 p 125) Essa caracterizaccedilatildeo rica em cifras geradas

mas pobre em valorizaccedilatildeo de suas riquezas naturais e das pessoas e culturas ali estabelecidas

contribui para a continuidade de uma estrutura baseada na exploraccedilatildeo da natureza e do

trabalho Eacute retirada a vegetaccedilatildeo original com consequente dispersatildeo e morte da fauna

homens satildeo colocados em condiccedilotildees de subordinados ou expulsos de suas terras para dar

lugar a padrotildees modernos de produccedilatildeo

Retomando o histoacuterico da Revoluccedilatildeo Verde com a continuidade da concentraccedilatildeo

fundiaacuteria prolongando-se com a utilizaccedilatildeo de tecnologias e mecanizaccedilatildeo no campo ocorreu

talvez em maior intensidade uma nova forma de dominaccedilatildeo do territoacuterio tecnificada e

modernizada intensificando a expropriaccedilatildeo de agricultores sem poder de compra de terras ou

com terras e poder aquisitivo insuficientes para confrontar os grandes empresaacuterios rurais Sem

uma perspectiva de continuidade de trabalho no campo a migraccedilatildeo para as cidades tornou-se

uma alternativa de sobrevivecircncia jaacute que era percebida como outra possibilidade nesse

contexto de exclusatildeo (OLIVEIRA 2001)

As dificuldades histoacutericas6 em contrapor um modelo de controle do territoacuterio baseado

em grandes propriedades agroexportadoras fez surgir e se fortalecerem no Brasil movimentos

em busca de territoacuterio para indiviacuteduos expropriados desterritorializados fragmentados em

suas culturas As accedilotildees destes movimentos ecoaram pelo paiacutes com adesatildeo de milhares de

6Como dificuldades histoacutericas expomos a concentraccedilatildeo fundiaacuteria no Brasil como processo histoacuterico instituiacutedo com o regime colonial portuguecircs de domiacutenio do territoacuterio com a ampliaccedilatildeo das capitanias hereditaacuterias e distribuiccedilatildeo de sesmarias a Lei de Terras de 1950 e as accedilotildees obtidas com a modernizaccedilatildeo conservadora com consequente inserccedilatildeo do paiacutes de forma subalterna no capitalismo internacional (RAMOS FILHO 2013)

32

pessoas exigindo terra como direito Na regiatildeo Centro-Oeste Estado de Goiaacutes e logo no

bioma Cerrado ocupaccedilotildees foram realizadas como forma de garantir terra para plantar criar

como forma de resgate principalmente com a organizaccedilatildeo do MST como representante

nacional da luta pela reforma agraacuteria mas com diversas organizaccedilotildees envolvidas Como

resultado houve diversas desapropriaccedilotildees de fazendas para a realizaccedilatildeo da dita reforma

agraacuteria nunca sem conflitos entre as partes envolvidas (OLIVEIRA 2001)

Com esse panorama conflitos e diversos sujeitos envolvidos buscou-se a

identificaccedilatildeo de categorias de luta Umas destas categorias a juventude rural mostra-se hoje

como possibilidade de renovaccedilatildeo dos movimentos necessitando ainda que sejam

estabelecidos direitos e accedilotildees para sua visibilidade tambeacutem como categoria poliacutetica A

juventude rural ainda sem esta denominaccedilatildeo sempre esteve no movimento mas somente na

deacutecada de 1980 passou a integrar as discussotildees nos movimentos a partir de uma construccedilatildeo

poliacutetica iniciada com a percepccedilatildeo da organizaccedilatildeo desta nos movimentos sociais (CASTRO et

al 2009)

A criaccedilatildeo da Pastoral da Juventude (PJR) em 1983 teve jaacute em sua formaccedilatildeo a

juventude rural na estrutura organizativa Ainda que um movimento natildeo muito visiacutevel dentre

os outros pocircde se fortalecer integrando-se na Via Campesina Brasil Outros movimentos jaacute

tiveram a juventude rural como categoria de luta poliacutetica e tambeacutem como membro

organizativo mas somente haacute pouco tempo apoacutes os anos 2000 estaacute havendo inserccedilatildeo

organizativa neste movimento como CONTAG MST e Movimento dos Atingidos por

Barragens a partir de perspectivas destes movimentos com o futuro de suas accedilotildees (CASTRO

et al 2009)

Um dos motivos para que houvesse maior mobilizaccedilatildeo de jovens rurais nos

movimentos sociais foi a dificuldade destes quanto ao acesso agrave terra Nos estudos de Castro

(2009) sobre eventos organizados por movimentos sociais constatou-se que a maioria morava

com os pais alguns outros membros da famiacutelia outros como empregados rurais Essa

realidade natildeo mudou de forma significativa apesar de algumas accedilotildees afirmativas a partir de

poliacuteticas puacuteblicas para facilitar a aquisiccedilatildeo de terras e a possibilidades de produccedilatildeo

Como forma de compreender melhor o contexto como aporte vindo da pesquisa de

campo realizada inserimos em meio agrave discussatildeo teoacuterica informaccedilotildees de um jovem

participante do grupo focal De acordo com ele a organizaccedilatildeo da juventude rural daacute-se ainda

33

de forma pouco integrada Haacute alguns grupos de jovens em assentamentos rurais ainda pouco

articulados principalmente devido agrave dificuldade de comunicaccedilatildeo entre seus representantes

Haacute somente dois representantes da PJR que participam de decisotildees no estado de Goiaacutes e satildeo

convidados a congressos como responsaacuteveis por comunicar seus grupos quanto agraves discussotildees

da Pastoral Contudo mesmo com alguns entraves os representantes locais da juventude

mostram-se atentos agraves decisotildees da categoria conhecem a histoacuteria dos movimentos sociais que

os apoiam e reconhecem que eacute necessaacuterio um fortalecimento poliacutetico em busca de visibilidade

politica Eacute necessaacuterio que essa categoria seja atendida em suas expectativas pois como bem

pontuam Castro et al (2009) ainda satildeo distantes as relaccedilotildees entre discurso e praacutetica neste

processo de reconhecimento da juventude rural como categoria diversa e como geraccedilatildeo

persistindo ainda conflitos a partir de diferentes contextos que natildeo devem levar a um discurso

uniformizador mas ressignificar e criar praacuteticas poliacuteticas

Enfim o contexto Cerrado de uso da Terra eacute um contexto de luta antiga e contiacutenua a

partir do embate constante com o agronegoacutecio em um territoacuterio dominado pelo latifuacutendio e

por interesses meramente econocircmicos Quando concentramos essa pesquisa a partir da

categoria social juventude rural esta natildeo se coloca apenas como de ordem social mas

principalmente territorial devido agrave sua luta ser tambeacutem e ao mesmo tempo em favor de um

territoacuterio apropriado em um Estado com histoacuterico de expropriaccedilatildeo e conflitos em um bioma

ameaccedilado em sua diversidade Nesse contexto seguimos com um referencial acerca da

juventude rural associada ao territoacuterio como natildeo pode deixar de ser a partir de diferentes

olhares procurando a compreensatildeo de como esta se identifica e o que busca para a formaccedilatildeo

de novas territorialidades

34

2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO

Buscamos aqui inicialmente fazer o diaacutelogo teoacuterico estabelecendo tanto semelhanccedilas

quanto limites conceituais a respeito de juventude e juventude rural Enquanto contribuiccedilatildeo no

entendimento no tema expomos uma discussatildeo que envolve a juventude rural em questotildees

como gecircnero histoacuterico de migraccedilatildeo para cidades e tratamento das diferenccedilas seguindo para

indispensaacutevel caracterizaccedilatildeo de territoacuterio e territorialidades enquanto afirmaccedilatildeo de

identidades e autonomia fazendo uma pequena discussatildeo sobre o estado da arte de poliacuteticas

afirmativas para a juventude rural Assim apresentamos parte da complexidade que envolve a

juventude rural inserida no contexto proposto

21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades

Para Ribeiro (2004) eacute importante assinalar que a caracterizaccedilatildeo de juventude como

categoria social eacute estabelecida para a contestaccedilatildeo do mundo apenas a partir da Revoluccedilatildeo

Francesa simbolizando a liberdade e o novo em oposiccedilatildeo agrave servidatildeo e ao antigo com

aspectos que surgem da possibilidade de um recomeccedilo poliacutetico e social A juventude passa a

ser caracterizada como um grupo com elementos comuns mas com suas peculiaridades Nesta

caracterizaccedilatildeo haacute diversas abordagens como a de que a juventude eacute uma fase da vida

composta por liberdade de busca e por poder de contestaccedilatildeo com constituiccedilatildeo esteacutetica de

elementos como corpo sauacutede e liberdade Como construccedilatildeo artificial o ideal de juventude

coloca-se com caracteriacutesticas tanto de melhor eacutepoca da vida em comparaccedilatildeo agrave infacircncia e agrave

velhice como tambeacutem de busca pelo novo e isso leva a um movimento criativo inerente a

esse ideal social

Jaacute enquanto definiccedilatildeo como um periacuteodo de transiccedilatildeo foi assumida apoacutes 1964 com a

Conferecircncia Internacional sobre Juventude ocorrida na cidade de Grenoble Franccedila Esta

definiccedilatildeo ocorre a partir de uma ideia de socializaccedilatildeo a partir do estabelecimento de

determinados papeacuteis sociais aleacutem de sua percepccedilatildeo ocorrer por meio de caracteriacutesticas

familiares educacionais e produtivas atestando um potencial de autonomia do sujeito a partir

de suas experiecircncias (ABRAMO 1994 apud WEISHEIMER 2005)

35

Para Kehl (2004 p 89) em uma definiccedilatildeo psicoloacutegica ldquoa juventude eacute um estado de

espiacuterito eacute um jeito do corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil do consumidor

uma faixa do mercado onde todos querem se incluirrdquo

Bourdieu (1983) em sua discussatildeo Juventude eacute apenas uma palavra qualifica a

juventude como uma construccedilatildeo social inserida na luta entre jovens e velhos de forma

complexa Afirma a evidecircncia de manipulaccedilatildeo quando eacute estabelecido um intervalo de idade

para a definiccedilatildeo de jovem o que falseia a homogeneidade imposta muitas vezes pela

categoria A juventude constitui em sua essecircncia a busca pelo novo em oposiccedilatildeo agrave velhice

como categoria social porque estes natildeo buscam mais o novo e satildeo muitas vezes contra quem

o faz ressaltando que essa oposiccedilatildeo natildeo eacute uma regra mas uma forma de se definir estas

categorias elaboradas socialmente

A juventude pode ser compreendida como o rompimento com as tradiccedilotildees por meio

de accedilotildees ditas revolucionaacuterias ou reformistas jaacute teorizadas pelos mais velhos mas com

potencial de execuccedilatildeo somente pela mocidade como ldquoagente revitalizanterdquo Essa

caracterizaccedilatildeo eacute compreendida por realizaccedilotildees de accedilotildees raacutepidas e busca pelo que eacute novo ou

pelo que pode ser modificado Para que haja uma sociedade dinacircmica com grande conteuacutedo

de mudanccedilas se faz necessaacuteria a presenccedila da juventude em accedilotildees tanto revolucionaacuterias quanto

reformistas A intermediaccedilatildeo da juventude em mudanccedilas eacute essencial porque possui reservas

de energias e jaacute conhecem os elementos existentes aleacutem do que pode ser passiacutevel de inovaccedilatildeo

(MANNHEIM 1968)

Como categoria social a juventude estaacute inserida em uma realidade social constituiacuteda

por vaacuterios grupos de forma heterogecircnea ao mesmo tempo em que se forma como categoria

social delimitada por faixa etaacuteria Essa constituiccedilatildeo carrega em si caracteriacutesticas simboacutelicas

histoacutericas materiais e poliacuteticas Em funccedilatildeo dessa constituiccedilatildeo da realidade haacute diferenccedilas nas

vivecircncias da juventude tanto simboacutelicas como concretas relacionadas agrave realidade financeira

educaccedilatildeo trabalho e lazer Essa forma de categoria heterogecircnea mas com caracteriacutesticas

comuns a partir de um ideal esteacutetico ou como elemento para servir ao mercado tambeacutem

mostra outros elementos relacionados a uma crise advinda da falta de poliacuteticas para a

juventude de forma generalizada Essa crise eacute vista de forma pessimista atraveacutes dos tempos e

com grande insatisfaccedilatildeo quanto agraves medidas tomadas para esse grupo (ABRAMOVAY

ESTEVES 2009)

36

Como categoria situada entre a infacircncia e o universo adulto entre a dependecircncia e a

autonomia a juventude eacute inserida historicamente em um contexto de inquietude com

escolhas maduras ou natildeo com poder ou sua falta em uma determinaccedilatildeo cultural de

transitoriedade imposta por limites que preveem uma uniformizaccedilatildeo e uma simplificaccedilatildeo

etaacuteria que natildeo ocorrem na realidade A juventude foi historicamente construiacuteda e identificada

em um universo conceitual natildeo delimitaacutevel juridicamente ou a partir de comportamentos

estabelecidos para determinada faixa etaacuteria mas a partir de muacuteltiplas perspectivas de sua

socializaccedilatildeo de seu papel simboacutelico e suas perspectivas sociais (LEVI SCHMITT 1996)

O que deve ser compreendido quando se pretende chegar a um conceito de juventude

eacute que haacute uma cultura um viver imbuiacutedo no discurso que natildeo deve de maneira alguma ser

antagocircnico a modos de viver de adultos ou de velhos Silva (2002 p 111) coloca muito bem a

questatildeo

As discussotildees em torno do conceito de cultura juvenil colocam em questatildeo os limites entre juventude e velhice o jovem e o adulto ou onde comeccedila um e outro Sendo assim trata-se de discutir natildeo o caraacuteter de antagonismo dessas culturas adulta e juvenil mas sim a sua complementaridade enquanto espelhos reflexos uma da outra ou ainda sua oposiccedilatildeo complementar

Quando historicamente Levi amp Schmitt (1996) relembram revoltas e revoluccedilotildees com

a linha de frente tendo jovens protagonistas procuram afirmar que em uma determinaccedilatildeo

cultural efecircmera em um tempo fugidio mas repleto de entusiasmo a formaccedilatildeo de modos de

pensar e agir em buscas e aprendizagens ocorrem em um tempo soacute e podem levar a ecircxitos ou

fracassos Para a presente pesquisa essa reflexatildeo eacute de extrema importacircncia porque insere

essa identificaccedilatildeo do ser jovem como construccedilatildeo histoacuterica a partir de expectativas presentes

em uma construccedilatildeo social que muitas vezes natildeo a representa Sua multiplicidade natildeo parte

somente de ganhar ou perder uma batalha mas de afirmaccedilatildeo de muacuteltiplas identidades e

consequentemente de natildeo previsatildeo de accedilotildees esperadas Quando partimos da definiccedilatildeo de

juventude para uma ideia de juventude rural essa multiplicidade se afirma e abrem-se novos

olhares e outras dimensotildees para a categoria enquanto sujeitos de pesquisa

A construccedilatildeo da juventude como uma etapa em formaccedilatildeo para a vida adulta eacute uma

construccedilatildeo moderna que existe para impor valores de transiccedilatildeo para a vida adulta ou seja

que identifica os e as jovens como seres inacabados e lhes impotildee uma racionalizaccedilatildeo e

individualizaccedilatildeo em uma separaccedilatildeo categoacuterica de formaccedilatildeo incompleta estabelecida

socialmente e que se mostra heterogecircnea conforme o grupo ao qual estaacute inserida (PAULO

2011)

37

A partir das colocaccedilotildees postas acima sejam elas com elementos da psicologia

histoacuteria sociologia antropologia ou educaccedilatildeo podemos perceber que muitas vezes a

juventude eacute vista como um ldquomeio do caminhordquo uma ldquoetapa inacabadardquo com delimitaccedilotildees de

comportamento ou accedilotildees esperados pela sociedade Quando algo natildeo ocorre conforme o

esperado para essa juventude haacute uma atenccedilatildeo maior para que ela natildeo seja desviada em sua

formaccedilatildeo traccedilada por outros sujeitos que a construiacuteram socialmente No entanto natildeo

perguntaram a ela qual sua proposta e como se identifica

Vale a pena lembrar que a fronteira que separa juventude e maturidade corresponde em todas as sociedades a um jogo de lutas e manipulaccedilotildees visto que as divisotildees entre idades satildeo arbitraacuterias e que a fronteira que separa a juventude e a velhice eacute um objeto de disputa que envolve a dimensatildeo das relaccedilotildees de poder Eacute importante destacar que como qualquer outra forma de classificaccedilatildeo suas fronteiras satildeo socialmente construiacutedas (WEISHEIMER 2005 p 22)

Convencionou-se definir a faixa etaacuteria para a juventude entre 15 e 29 anos no Estatuto

da Juventude (BRASIL Lei nordm 12852 de 5 de agosto de 2013) sendo que esta definiccedilatildeo seraacute

utilizada na pesquisa No entanto a definiccedilatildeo eacute apenas uma classificaccedilatildeo que foi se formando

historicamente a partir da caracterizaccedilatildeo da juventude e que pode ter contribuiacutedo ou natildeo para

a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas para a categoria Natildeo haacute uma imposiccedilatildeo de intervalo de idade para

que um indiviacuteduo seja identificado como jovem ou assim se identifique Essa construccedilatildeo da

juventude por faixa etaacuteria pode natildeo caracterizaacute-la como unidade pois sua identificaccedilatildeo deve-

se tambeacutem agrave identificaccedilatildeo do sujeito como pertencente a esse grupo ldquoA juventude torna-se

juventude tambeacutem por sua proacutepria representaccedilatildeo nas condiccedilotildees a que estaacute submetida Ou seja

tornar-se jovem acontece a partir das especificidades de cada jovem ou grupo de jovens na

relaccedilatildeo com outros sujeitosrdquo (SILVA et al 2006 p76)

Agora quando haacute a pretensatildeo de conceituar a juventude rural percebe-se que a

categoria ldquojuventuderdquo ou a ldquojovemrdquo ou o ldquojovemrdquo natildeo possui uma compreensatildeo uacutenica mas

leituras a partir de diferentes realidades O (a) jovem rural e o (a) jovem urbano(a) possuem

inicialmente a diferenccedila de localizaccedilatildeo no espaccedilo Em cada um desses espaccedilos haacute diferentes

formas de ser jovem As roupas as festas as muacutesicas as formas de manifestaccedilatildeo as

possibilidades de educaccedilatildeo e trabalho satildeo caracteriacutesticas que diferenciam jovens do campo e

jovens da cidade

Elas e eles vivem no campo tecircm como forma de subsistecircncia e identificaccedilatildeo a agricultura e constituem suas experiecircncias em diversos espaccedilos e relaccedilotildees socioculturais na famiacutelia na comunidade no trabalho da roccedila na escola no desejo de continuar os estudos no grupo de jovens na necessidade da independecircncia financeira e nos movimentos e organizaccedilotildees do campo (SILVA et al 2006)

38

A caracterizaccedilatildeo da juventude rural como uma identidade social pretende dar

visibilidade a parte da categoria que se manteve invisibilizada e distante das poliacuteticas por natildeo

ser atendida em sua singularidade agrave sua realidade como afirmam Freitas e Martins (2007 p

81)

Eacute importante considerar que perceber essa heterogeneidade juvenil no campo natildeo significa multifacetar a realidade social desconsiderando sua unidade Significa perceber como os jovens marcados por situaccedilotildees singulares conformam-sereagem agrave realidade histoacuterico-social em que se encontram inseridos

Importante mencionar que mesmo a identidade juventude rural possui caracteriacutesticas

culturais distintas e que deve ser atendida em seus direitos A juventude caracterizada nesta

pesquisa inicialmente referiu-se a populaccedilotildees da faixa etaacuteria compreendida entre 15 e 29 anos

estabelecida pelo Estatuto da Juventude que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria e

que possuem um histoacuterico de luta pela terra que as unifica na discussatildeo No entanto a

formaccedilatildeo do grupo focal acabou por ser constituiacutedo com a faixa etaacuteria entre 14 e 23 anos mas

natildeo restrito a essa faixa etaacuteria o que seraacute analisado mais agrave frente Importante informar que haacute

outras identidades de juventudes rurais natildeo presentes no recorte espacial estudado que natildeo

seratildeo tratadas no presente estudo como jovens ribeirinhos jovens quilombolas e jovens

indiacutegenas que com particularidades em suas vivecircncias carregam identidades uacutenicas que natildeo

devem ser aqui generalizadas mas reconhece-se a importacircncia da realizaccedilatildeo de pesquisas a

partir destes sujeitos

Como ponto em comum que caracteriza essa tatildeo heterogecircnea juventude rural estaacute a

identificaccedilatildeo com a agricultura as vivecircncias com a famiacutelia e com a comunidade as relaccedilotildees

de trabalho os estudos as possibilidades existentes nos grupos de jovens como movimento e

atuaccedilatildeo poliacutetica vividos com especificidade a partir de sua realidade da emergecircncia de accedilotildees

e de formas de organizaccedilatildeo Essa identificaccedilatildeo a partir das vivecircncias eacute muito importante para

que seja fortalecida a organizaccedilatildeo dasdos jovens para uma determinada accedilatildeo com a

pretensatildeo de que continuem no campo natildeo como uma imposiccedilatildeo mas como possibilidade de

escolha (CASTRO 2006)

Dentre os processos que afetam a juventude rural estatildeo dificuldades socioeconocircmicas

por ela enfrentadas os diferentes universos culturais a que essa juventude pertence e muito

importante a diminuiccedilatildeo de fronteiras entre rural e urbano sendo que este uacuteltimo seraacute

discutido mais a frente Nestes processos caracteriacutesticas como o ser o sentir e o representar

39

satildeo fundamentais para que a juventude seja compreendida de forma heterogecircnea para que

seja possiacutevel responder a questotildees de acircmbito sociocultural educacional e econocircmico tanto

em estudos acadecircmicos quanto na formulaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (SILVA

2002)

Esses processos afetam na verdade a juventude em si mas o propoacutesito de enfatizaacute-los

na juventude rural se deve agraves suas peculiaridades O mundo do trabalho eacute visto mais

precocemente pelo jovem e pela jovem rural o primeiro muitas vezes com a continuidade do

trabalho dos pais de forma a se caracterizar como uma sucessatildeo geracional do trabalho dos

pais na agricultura a segunda pelo trabalho domeacutestico e a expectativa dos pais de casamento

com a exclusatildeo feminina da atividade agriacutecola Com histoacuterico da juventude rural com pouca

ou nenhuma perspectiva de melhoria de vida no campo em termos econocircmicos e de

condiccedilotildees de trabalhos essa perspectiva se torna assustadora o que gera a busca de

alternativas possiacuteveis em seu universo que natildeo uma situaccedilatildeo de fragilidade econocircmica

(CARNEIRO 2007)

Salienta-se que devem ser discutidas outras possibilidades para a juventude rural para

que natildeo permaneccedila a ideia de que estes estatildeo sendo formados indiviacuteduos para abastecer de

alimentos a populaccedilatildeo das cidades mas sujeitos do campo que possam fazer a escolha entre

permanecer no campo ou ir para as cidades com poder de escolha e oportunidades nessas

realidades que se complementam e natildeo devem portanto se anular Assim como natildeo se deve

discutir a juventude rural como transformadora que iraacute realizar uma revoluccedilatildeo no meio rural

Para esses sujeitos haacute condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas limites de possibilidades que

devem ser considerados

A importacircncia de uma anaacutelise sobre as perspectivas para a juventude rural

apresentadas por ela se daacute neste trabalho especialmente por dois motivos O primeiro eacute a

presenccedila de pesquisas acadecircmicas que tomam a juventude rural por sujeito de relevante

importacircncia eacute a categoria social ligada agrave hereditariedade no campo e agrave continuidade de

tradiccedilotildees agriacutecolas passadas por suas famiacutelias O segundo motivo eacute a importacircncia do trabalho

coletivo como estrateacutegia poliacutetica de resistecircncia de populaccedilotildees pauperizadas pela expropriaccedilatildeo

negadas em sua identidade e em sua territorialidade Para isso a organizaccedilatildeo de grupos de

jovens para a compreensatildeo destes como portadores de direitos eacute de extrema importacircncia As

decisotildees se realizadas de forma coletiva tem o poder de gerar autonomia para os sujeitos do

campo e tem na juventude rural grande representatividade

40

No histoacuterico da juventude enquanto sujeito em assentamento de reforma agraacuteria foram

se constituindo alguns conceitos importantes para sua afirmaccedilatildeo Iniciamos com a juventude

enquanto participantes de novas ruralidades presentes no contexto agraacuterio brasileiro As

jovens e os jovens como categoria representante do universo rural em suas particularidades

tem sua identidade formada a partir de um entendimento desse rural

Rural eacute tudo o que eacute pertencente ou relativo ao ou proacuteprio do campo eacute o agriacutecola eacute relativo agrave vida campestre Ou ainda pode ser visto como a zona fora do periacutemetro urbano ou suburbano das grandes cidades na qual geralmente predominam as atividades agriacutecolas ou zona onde se situam pequenas cidades de vilegiatura que natildeo as de praia (MEDEIROS 2011 p 59)

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e para diversos

documentos publicados pelo poder puacuteblico o rural eacute compreendido como tudo aquilo que natildeo

eacute urbano O campo tem a definiccedilatildeo a partir da distacircncia de grandes centros da densidade

populacional e do tipo de produccedilatildeo sendo as mais citadas as produccedilotildees agriacutecola e a pecuaacuteria

Inserida neste contexto estaacute a ruralidade como uma construccedilatildeo social resultante de accedilotildees de

diferentes sujeitos em espaccedilos com construccedilatildeo social e cultural imbuiacutedos de caracteriacutesticas

herdadas eou adaptadas a partir de adaptaccedilotildees espaccedilo-temporais como algo que pertence ao

rural (MEDEIROS 2011)

As ruralidades existentes na agricultura familiar satildeo diversas mas esta representa de

forma homogeneizadora e assume-se ou natildeo como sinocircnimo de campesinato sendo ambos

ainda mas natildeo na totalidade representantes da resistecircncia ao capitalismo Candiotto (2011)

afirma a importacircncia do papel dos sujeitos envolvidos neste contexto A caracterizaccedilatildeo da

realidade rural seja ela impressa nas ruralidades ou na agricultura familiar depende de

escalas de intepretaccedilatildeo desde caracteriacutesticas comunitaacuterias agraves instituiccedilotildees agraves quais pertencem

sejam elas regionais ou em escala federal por exemplo

As ruralidades constituiacutedas a partir de realidades muacuteltiplas no campo na diversidade

levam em conta as especificidades e representaccedilotildees do espaccedilo rural como o territoacuterio

representado de forma material e imaterial por se considerar as especificidades e as

representaccedilotildees deste espaccedilo rural nos aspectos fiacutesicos (territoacuterio e seus siacutembolos) ao lugar

onde se vive (territorialidades identidades) e lugar de onde se vecirc e se vive o mundo Em

Medeiros (2011) compreende-se que a noccedilatildeo de rural com exclusatildeo da cultura de

conhecimentos e vivecircncias de seus sujeitos aleacutem de estar associada ao atraso natildeo cabe para

as transformaccedilotildees sociais e poliacuteticas as quais deve passar enquanto realidade complexa

41

Devem estar inseridos aiacute elementos que constituem as ruralidades necessaacuterias para a

valorizaccedilatildeo cultural e poliacutetica natildeo para uma nova reinvenccedilatildeo do rural enquanto novas

oportunidades econocircmicas

Neste movimento que surge a partir da caracterizaccedilatildeo de novas ruralidades no campo

estaacute uma caracteriacutestica organizativa da juventude rural que surge a partir de movimentos

sociais em uma busca de maior participaccedilatildeo em sua realidade com consequente modificaccedilatildeo

nos processos de decisatildeo em suas comunidades A abertura agrave mobilizaccedilatildeo de jovens em

organizaccedilatildeo de luta pelos direitos do campo eacute um grande avanccedilo na questatildeo posta de respeito

agrave diversidade (FERREIRA ALVES 2009) Os grupos jovens formados em diversos

movimentos sociais e socioterritoriais como o MST a Confederaccedilatildeo Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura ndash CONTAG a Via Campesina o Movimento dos Atingidos por

Barragens ndash MAB e a Comissatildeo Pastoral da Terra ndash CPT satildeo formas de contestaccedilatildeo a uma

representaccedilatildeo uacutenica por parte dos movimentos e isso traz maior sentido agrave formulaccedilatildeo de

poliacuteticas que atendam agrave juventude Nesta nova caracteriacutestica de movimentaccedilatildeo a organizaccedilatildeo

das jovens rurais enquanto grupo que busca sua afirmaccedilatildeo enquanto juventude e enquanto

mulher em uma perspectiva que nega uma exclusatildeo histoacuterica dentro de espaccedilos onde sempre

estiveram presentes exercendo trabalhos e reflexotildees invisibilizadas A conquista de accedilotildees

direcionadas a esta categoria mesmo que ainda apresentem falhas faz parte da caracterizaccedilatildeo

de uma ruralidade em busca de direitos com dizeres contraacuterios agrave expropriaccedilatildeo de direitos e

valores

22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo

Ao afirmarmos a necessidade de outras possibilidades para a juventude rural eacute

imprescindiacutevel assegurar que deve haver atenccedilatildeo quanto agraves especificidades de gecircnero na

juventude rural As condiccedilotildees histoacuterico-sociais impostas a essa categoria social foram se

organizando enquanto um espelho das relaccedilotildees de gecircnero constituiacutedas socialmente tendo se

estabelecido profunda desigualdade entre homens jovens e mulheres jovens do campo Ao

afirmar as desigualdades de gecircnero na juventude rural como relaccedilotildees que devem ser

trabalhadas em seu significado Lima et al (2006) sugerem que a educaccedilatildeo assim como a

presenccedila da discussatildeo de gecircnero nos movimentos sociais satildeo de grande importacircncia para o

equiliacutebrio dessas relaccedilotildees Verifica-se que nos movimentos sociais jaacute existe um trabalho que

busca o compartilhamento de accedilotildees entre homens e mulheres

42

Para as mulheres desde a infacircncia e com continuidade na juventude e vida adulta o

que ainda ocorre eacute a reproduccedilatildeo de relaccedilotildees de gecircnero com papeacuteis atribuiacutedos de forma

diferente para os jovens ou para as jovens coma desvalorizaccedilatildeo do papel da mulher em

diferentes contextos Diversos estudos apontados por Brumer (2007) ilustram uma realidade

de sucessatildeo geracional que nega as jovens o direitos de heranccedila agrave terra dos pais agricultores

sendo que esta terra eacute destinada como regra cultural a um filho homem Agraves jovens tambeacutem eacute

negado o aprendizado e a praacutetica na agricultura ficando sob sua responsabilidade o cuidado

com a casa perpetuando a relaccedilatildeo de controle sobre a mulher e uma negaccedilatildeo desta enquanto

sujeito

Como aponta pesquisa de Paulo (2011) o cuidado com a casa passa a fazer parte

tambeacutem das jovens que se casam e assumem um novo lar mas ainda com um papel de

auxiliares nas atividades sejam elas atividades domeacutesticas ou atividades na agricultura

Quando haacute melhores condiccedilotildees socioeconocircmicas em determinadas famiacutelias haacute possibilidades

e ateacute certo estiacutemulo para que as jovens estudem jaacute que o trabalho na agricultura natildeo tem

apoio da famiacutelia Isso lhes traz mais perspectivas de trabalho no futuro que ocorreraacute na

maioria das vezes longe do ambiente rural contribuindo com o fenocircmeno de masculinizaccedilatildeo

juntamente com o envelhecimento que se observa no campo

Dados do Censo demograacutefico 2010 apontam para a diferenccedila entre homens e mulheres

no campo Nas aacutereas rurais vivem 14 32 milhotildees de mulheres vivem e 1551 milhotildees de

homens Essa diferenccedila se daacute em grande parte devido aos motivos expressos acima Outro

importante dado estaacute tambeacutem relacionado ao acesso agrave propriedade pelas mulheres do campo

Enquanto em 82 das casas a responsabilidade legal estaacute com os homes apenas 18 destas

casas estatildeo sob a responsabilidades das mulheres influenciando o processo de escolha de

beneficiaacuterios da terra com a heranccedila esta ficando na maioria dos casos com os homens

(CASTRO et al 2013)

Quanto agrave sucessatildeo as relaccedilotildees de gecircnero devem ser trabalhadas em uma perspectiva

de redefiniccedilatildeo do papel da mulher na agricultura a partir de um diaacutelogo capaz de discorrer

sobre os temas geraccedilatildeo parentesco sociabilidade inseridos em relaccedilotildees conflituosas de

solidariedade subordinaccedilatildeo e autonomia (STROPASOLAS 2007) As relaccedilotildees patriarcais

estabelecidas em diversas famiacutelias acabam por ldquoafastarrdquo as jovens do desejo em permanecer

no campo O controle exercido pela autoridade familiar geralmente masculina resulta em seu

afastamento de espaccedilos de socializaccedilatildeo natildeo somente em festas mas em ambientes de decisatildeo

43

poliacutetica como movimentos sociais e grupos de jovens Esse controle social exercido sobre as

mulheres desde a infacircncia se traduz na juventude como uma forma de impossibilitaacute-las de

participar de espaccedilos de decisatildeo poliacutetica que atendam aos seus interesses e quebrem a

dominaccedilatildeo de gecircnero (CASTRO et al 2009)

Quando satildeo abertas possibilidades a essas jovens mulheres a partir de perspectivas

que se distinguem das possibilidades postas historicamente de casamento ou migraccedilatildeo haacute

consequentemente transformaccedilatildeo social e novos sonhos Ao participar de uma praacutetica social

seja em um movimento social ou alguma outra forma de organizaccedilatildeo coletiva haacute a

valorizaccedilatildeo de cultura de fazeres e de um novo projeto de vida (JANATA 2004) Essa

constituiccedilatildeo feminina como forma de contestaccedilatildeo de valores como forma de afirmaccedilatildeo de

identidade social mesmo com conflitos e contradiccedilotildees vem ocorrendo e se colocando como

afirmativa social cultural e poliacutetica para as mulheres

A importacircncia da organizaccedilatildeo da juventude rural estaacute se construindo historicamente

com a participaccedilatildeo e atuaccedilatildeo poliacutetica das jovens rurais ainda que como um embate de gecircnero

(CASTRO et al 2009) Mesmo com muito avanccedilo a conquistar as jovens rurais vecircm

ocupando certos espaccedilos de decisatildeo frente aos movimentos sociais mesmo preservando as

relaccedilotildees patriarcais nas famiacutelias Essas relaccedilotildees satildeo conflituosas e acabam se resolvendo com

a participaccedilatildeo das jovens nos espaccedilos de decisatildeo e posterior reconhecimento de seu papel

23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares

Quando os estudos sobre juventude rural relatam sua invisibilidade7 em diversos

aspectos verifica-se aleacutem da ignoracircncia dada a essa categoria social para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas representaccedilatildeo poliacutetica discussatildeo de direitos e oportunidades diferenciadas

tambeacutem devido a essa invisibilidade um sentimento de vergonha por parte de muitos jovens

como uma negaccedilatildeo a uma realidade de exclusatildeo social e a uma visatildeo estereotipada de

convivecircncia social (PAULO 2013) Para a autora

O sentimento de vergonha eacute perpassado tambeacutem por uma relaccedilatildeo de poder se constituindo como violecircncia simboacutelica norteadora das relaccedilotildees sociais cotidianas sendo assim para quem sofre um elemento de coerccedilatildeo e para quem expotildee como um elemento distintivo uma forma de se auto-classificar ao desclassificar o outro (PAULO 2013 p 8)

7 Sobre a invisibilidade da juventude rural estudos importantes satildeo (CARNEIRO 1998 SILVA 2002 STROPASOLAS 2007 CASTRO etal 2009)

44

Esse sentimento de vergonha ocorre juntamente ao desejo de se parecer o outro o

jovem da cidade como forma de pertencimento agravequele novo ambiente A proximidade com os

ambientes urbanos e seus diversos aspectos como acesso agrave educaccedilatildeo e ao lazer melhores

oportunidades de trabalho formas de se vestir e de se comportar socialmente passam a ser

objetivos em comum de alguns sujeitos representantes desta categoria social Objetivos que

mesmo incorporados por jovens rurais natildeo negam totalmente o desejo tambeacutem de manter

laccedilos com o ambiente rural

A partir de estudos sobre uma possiacutevel idealizaccedilatildeo do que representa o rural e o

urbano para jovens rurais Carneiro (1998) ressalta a dificuldade encontrada por eles em se

definir uma identidade que contemple seus desejos em se igualar a um ideal de vida urbano

mas que natildeo percam as caracteriacutesticas de sua origem a partir de uma identidade local A

autora cita entre os motivos para que os jovens desejem ir para a cidade o acesso ao trabalho

mas acima disso a possibilidade de se construir um projeto de vida O acesso ao lazer agrave

educaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo eacute incorporado em um ideal que surge a partir de uma perspectiva

de natildeo continuidade no campo e muitas vezes de natildeo retorno ao seu lugar de origem

principalmente jovens que puderam ter uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se adequa agrave

realidade rural

Historicamente haacute o desejo de jovens em sair do campo principalmente em natildeo dar

continuidade ao trabalho de seus pais na agricultura Brumer (2007) ao citar a migraccedilatildeo

contiacutenua de jovens que partem do campo para a cidade aponta como motivo os atrativos da

vida urbana Aleacutem da cidade como potencial de crescimento haacute a busca a partir do fator de

expulsatildeo do campo como as dificuldades encontradas no meio rural tanto as dificuldades

econocircmicas quanto as dificuldades relacionadas diretamente ao trabalho necessaacuterio agrave

atividade agriacutecola

Carneiro (2007) aponta como atrativos natildeo soacute bens materiais mas tambeacutem imateriais

em uma construccedilatildeo simboacutelica de oportunidades inexistentes no contexto rural Trabalhos

menos cansativos acesso ao lazer e agrave educaccedilatildeo como elementos que natildeo sigam

necessariamente a realidade do campo satildeo uma busca constante para jovens rurais que partem

para ambientes urbanos natildeo como negaccedilatildeo ao rural mas como complemento ao que lhes

falta Quando haacute o elemento de busca no urbano mas natildeo haacute a negaccedilatildeo do rural natildeo haacute um

padratildeo de vida da cidade sendo construiacutedo mas sim uma busca de complemento para uma

45

realidade rural com mais direitos para o jovem uma desconstruccedilatildeo de antagonismos entre o

rural e o urbano

Considerando por outro lado que o rural e o urbano natildeo satildeo universos opostos mas que se complementam estabelecendo entre si uma relaccedilatildeo diaacutetica natildeo se pode pensar todavia que esses sejam homogecircneos sendo uma das facetas da sua heterogeneidade mesmo nos pequenos municiacutepios a representaccedilatildeo de que a sua sede denominada oficialmente de cidade eacute o lugar do ldquomodernordquo do ldquosaberrdquo enquanto o rural fica nessa relaccedilatildeo como o lugar da tradiccedilatildeo sendo esta entendida como ldquoatrasordquo (PAULO 2013 p 14)

O chamado ldquoideal rurbanordquo passa a fazer parte de uma conquista dos jovens A

necessidade de busca de uma conquista pessoal alternada com o desejo de permanecircncia junto

agrave famiacutelia faz com que a jovem e o jovem busquem para sua satisfaccedilatildeo elementos que

abriguem em sua vida soacute o melhor mas de duas realidades distintas Este ideal no entanto

envolve conflitos que natildeo se generalizam para a categoria social satildeo pessoais mas se

identificam em sua busca Os conflitos familiares satildeo de grande importacircncia na escolha entre

essas duas realidades aleacutem de possibilidades de trabalho almejadas Mas soacute estes dois fatores

natildeo encerram a questatildeo Universos culturais distintos influenciando projetos de vida o desejo

na construccedilatildeo pessoal uma melhor situaccedilatildeo financeira satildeo questotildees que se colocam de

grande valor para a juventude rural aleacutem de famiacutelia e trabalho para sua decisatildeo entre estas

duas realidades (CARNEIRO 1998)

Haacute uma constante busca no que haacute de melhor no campo e na cidade mas esta escolha

natildeo surge apenas do desejo vem de condiccedilotildees impostas a uma realidade ainda pouco visiacutevel

Eacute certo que essa combinaccedilatildeo do ldquomelhor dos dois mundosrdquo natildeo depende exclusivamente da vontade do jovem ao contraacuterio depende primordialmente das condiccedilotildees materiais (acesso a bens e serviccedilos) do lugar onde mora como tambeacutem da possibilidade de realizar uma renda proacutepria ter um emprego que de preferecircncia possibilite tambeacutem a realizaccedilatildeo de um projeto profissional (CARNEIRO 2007 p 60)

Quando haacute a negaccedilatildeo de parte das caracteriacutesticas do rural esta natildeo se daacute por completo

porque natildeo haacute uma oposiccedilatildeo entre essas realidades mas sim haacute uma relaccedilatildeo de

complementaridade A juventude organizada parecendo ciente disso busca esse melhor

busca enfim o que um complementa no outro Mesmo quando haacute uma relaccedilatildeo de

superposiccedilatildeo de valores do urbano sobre o rural constituiacuteda culturalmente

Aleacutem da dependecircncia de condiccedilotildees que possam suprir materialmente as necessidades

do jovem rural relaccedilotildees imateriais ou simboacutelicas tambeacutem se fazem presentes nesta realidade

entre o rural e o urbano Quando um jovem pretende aleacutem de conhecer a cultura ser parte

46

dela ou pertencer a ela haacute um encontro simboacutelico de dois universos Essa aproximaccedilatildeo jaacute

ocorrida de forma material passa a ocorrer de forma imaterial ou simboacutelica Carneiro (1998

p 10) sugere que ldquodessa relaccedilatildeo ambiacutegua com os dois mundos resultaria a elaboraccedilatildeo de um

novo sistema cultural e de novas identidades sociais que merecem ser objeto de investigaccedilotildees

futurasrdquo A autora traz ainda a probabilidade de interferecircncia na vida individual do jovem

com o surgimento de conflitos pessoais entre motivos principalmente familiares para

permanecer no campo ou assumir o outro universo o urbano a partir de ideais individuais

O simbolismo que aparece na decisatildeo de um jovem a ir para a cidade traz em si uma

reelaboraccedilatildeo de olhares sobre o rural e o urbano em um processo de ldquoreelaboraccedilatildeo do sistema

de valores do localrdquo Haacute uma construccedilatildeo identitaacuteria nesse processo natildeo como processo de

unificaccedilatildeo cultural mas como afirmaccedilatildeo da heterogeneidade presente na juventude rural que

vai reapresentar seus valores em um novo ambiente e a partir daiacute transformaacute-los

(CARNEIRO 1998)

A partir do caraacuteter material e simboacutelico atribuiacutedo agraves diversas identidades da juventude

em especial ao que seraacute analisado no presente trabalho e estas identidades envolvendo como

aspecto material decisotildees entre o rural e o urbano e entre o rural e suas transformaccedilotildees

coloca-se como de extrema importacircncia um breve estudo sobre territoacuterio apresentado tambeacutem

em sua materialidade e em sua imaterialidade para melhor compreensatildeo da juventude rural

enquanto categoria social que envolve em si relaccedilotildees de poder tratadas aqui como relaccedilotildees

que caracterizam certa territorialidade

24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos

o territoacuterio pode ser concebido a partir da imbricaccedilatildeo de muacuteltiplas relaccedilotildees de poder do poder mais material das relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ao poder mais simboacutelico das relaccedilotildees de ordem mais estritamente cultural (HAESBAERT 2006 p 79)

Partindo desta concepccedilatildeo em que o territoacuterio eacute constituiacutedo em uma ldquorelaccedilatildeo entre

sociedade e natureza entre poliacutetica economia e cultura e entre materialidade e idealidaderdquo a

juventude poder entrar no discurso a partir de uma construccedilatildeo que envolve natildeo soacute uma

continuidade em um espaccedilo rural e suas caracteriacutesticas mas em relaccedilotildees de poder que

envolvem a exigecircncia de construccedilatildeo de poliacuteticas e accedilotildees para suas necessidades enquanto

47

categoria social constituiacuteda no territoacuterio e enquanto identidade imbuiacuteda de imaterialidades e

simbolismos

Essa construccedilatildeo de poder se daacute a partir da integraccedilatildeo de dimensotildees poliacuteticas sociais e

culturais como caracteriacutesticas territorializantes O territoacuterio estaacute inserido em uma significaccedilatildeo

de coesatildeo e identidade ordenamento poliacutetico e apropriaccedilatildeo Estaacute inscrito em uma noccedilatildeo de

espaccedilo organizada tanto de forma objetiva quanto subjetiva Essas formas objetivas ou

materiais e subjetivas ou imateriais determinam diferentes territorialidades Dessa forma as

chamadas territorialidades possuem uma concepccedilatildeo a partir de caracteriacutesticas do territoacuterio e

territorializaccedilatildeo e aleacutem disso como resultado e condicionantes destes (SAQUET 2010)

Para maior compreensatildeo das territorialidades que envolvem a juventude rural em sua

muacuteltipla formaccedilatildeo apresentamos breve histoacuterico sobre diferentes abordagens do territoacuterio

chegando ao papel ativo para essa categoria social O territoacuterio sendo uma construccedilatildeo e uma

apropriaccedilatildeo social de acordo com Saquet (2007) faz parte de relaccedilotildees que envolvem poder

que se daacute em muacuteltiplos campos como econocircmico poliacutetico cultural onde o homem estaacute

presente como ator na construccedilatildeo da territorialidade

Na Geografia Tradicional entendida no periacuteodo entre 1870 e 1950 haacute como privileacutegio

de conceitos a paisagem e a regiatildeo aplicados a uma visatildeo positivista O territoacuterio aiacute eacute

naturalizado e natildeo assume junto com o espaccedilo papel central na conceitualizaccedilatildeo geograacutefica

Na concepccedilatildeo gerada no iniacutecio do seacuteculo XIX o territoacuterio aparece como ldquoapropriaccedilatildeo

coletiva do espaccedilo por um grupordquo (CLAVAL 1999 p8) O territoacuterio eacute visto em sentido fiacutesico

e material envolvendo a busca por recursos aleacutem da presenccedila de uma ligaccedilatildeo emocional a

partir de culturas do homem com o espaccedilo Ele eacute inserido na geografia poliacutetica e passa a fazer

parte da estruturaccedilatildeo de um Estado envolvendo os temas estrateacutegicos de seguranccedila e de

fronteiras (CLAVAL 1999)

De acordo com Claval (1999) somente apoacutes a deacutecada de 1950 alguns autores como

Jean Gottmann e Robert Sack analisam o territoacuterio com uma conceituaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa para aleacutem do Estado natildeo tido apenas como elemento estrateacutegico e o colocam

como ligado ao mundo das ideias exercendo controle e conquistando a soberania sendo que

essa concepccedilatildeo jaacute havia sido teorizada anteriormente por Jean Bodin no seacuteculo XVI A partir

do materialismo histoacuterico e dialeacutetico entre 1960-1970 o territoacuterio passou por uma revisatildeo e

48

os estudos referentes ao seu conceito assim como agrave territorialidade foram intensificados com

utilizaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo desta conceitualizaccedilatildeo por filoacutesofos e cientistas sociais

Eacute nesse periacuteodo que haacute uma redescoberta desses conceitos mas diferentes abordagens

do conceito de territoacuterio e identidade satildeo sistematizadas nas deacutecadas subsequentes Ora o

territoacuterio eacute naturalizado ora assume dimensatildeo poliacutetica ora eacute ator em estrateacutegias de

dominaccedilatildeo sejam elas sociais poliacuteticas econocircmicas de certa aacuterea ou de ideais sempre

havendo em sua conceitualizaccedilatildeo relaccedilotildees de poder A partir da efervescecircncia de discussotildees a

respeito de territoacuterio e territorialidade autores passam a dar a esses termos uma concepccedilatildeo de

unidade de interaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural todas em complemento e

caracterizando o espaccedilo em sua diversidade e multiplicidade (SAQUET 2007)

A determinaccedilatildeo histoacuterica do processo de territorializaccedilatildeo estaacute na relaccedilatildeo constante das

dimensotildees sociais que envolvem sua formaccedilatildeo Dimensotildees que satildeo peculiares a cada lugar

que envolvem relaccedilotildees identitaacuterias de fixaccedilatildeo de grupos em determinadas aacutereas para fins

poliacuteticos econocircmicos culturais onde formas de vivecircncia satildeo estabelecidas compartilhadas

transformadas que natildeo cessam pois nesse processo siacutembolos ou imaterialidades satildeo criados

Quando haacute uma modificaccedilatildeo ou perda de territoacuterio haacute ao mesmo tempo uma

reterritorializaccedilatildeo pois o caraacuteter simboacutelico do territoacuterio natildeo se perde apenas se apresenta com

forma diferente mas com a mesma apropriaccedilatildeo simboacutelica A territorializaccedilatildeo ocorre com a

interaccedilatildeo sociedade-natureza e envolve diversas expectativas referentes agrave apropriaccedilatildeo e

pertencimento onde identidades satildeo estabelecidas

As diferentes dimensotildees satildeo e estatildeo relacionadas e por isso condicionam-se satildeo indissociaacuteveis e o reconhecimento dessa combinaccedilatildeo se faz necessaacuterio para tentarmos superar os limites impostos por cada concepccedilatildeo feita isoladamente o que remete a dicotomizaccedilatildeo na abordagem geograacutefica O processo de territorializaccedilatildeo eacute um movimento historicamente determinado eacute um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradiccedilotildees sociais sob as forccedilas econocircmicas poliacuteticas e culturais que determinam as diferentes territorialidades no tempo e no espaccedilo as proacuteprias des-territorialidades e as re-territorialidades Estes processos (des-re-territorializaccedilatildeo) satildeo concomitantes nos quais a natureza exterior ao homem eacute um dos componentes importantes (SAQUET 2007 p 69)

As relaccedilotildees de poder que compreendem a apropriaccedilatildeo do territoacuterio podem gerar

desterritorializaccedilotildees em um processo de perda da apropriaccedilatildeo do espaccedilo onde haacute

instabilidade e segregaccedilatildeo com a precarizaccedilatildeo de grupos de indiviacuteduos que satildeo

impossibilitados de apropriarem-se do territoacuterio material Nesse processo estaacute impressa a

49

multidimensionalidade do territoacuterio caracterizando as territorialidades formadas na relaccedilatildeo

entre os indiviacuteduos de forma reciacuteproca e uacutenica Saquet (2011) sinaliza um triplo sentido para

a territoriliadade como as relaccedilotildees sociais efetivadas a apropriaccedilatildeo e demarcaccedilatildeo de certo

espaccedilo e o caraacuteter de militacircncia poliacutetica para a transformaccedilatildeo da sociedade por meio de

temporalidades e arranjos espaciais Antes propotildee a seguinte definiccedilatildeo

A territorialidade eacute um fenocircmeno social que envolve indiviacuteduos que fazem parte de grupos interagidos entre si mediados pelo territoacuterio mediaccedilotildees que mudam no tempo e no espaccedilo Ao mesmo tempo a territorialidade natildeo depende somente do sistema territorial local mas tambeacutem de relaccedilotildees intersubjetivas existem redes locais de sujeitos que interligam o local com outros lugares do mundo e estatildeo em relaccedilatildeo com a natureza O agir social eacute local territorial e significa territorialidade (SAQUET 2010 p 115)

Saquet a partir de pensadores como Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari aleacutem de profunda

influecircncia de Giuseppe Dematteis apresenta uma reflexatildeo acerca de processos que levam agrave

reterritorializacatildeo e agrave caracterizaccedilatildeo de novas territorialidades sendo necessaacuterio para isso um

processo de desterritorializaccedilatildeo Guattari (1995) elabora um sentido filosoacutefico do processo

construtivo da desterritorializacatildeo que deve ocorrer de forma a permitir uma expressatildeo

subjetiva do territoacuterio que de forma consistente possa apresentar uma nova constituiccedilatildeo

territorial ou uma reterritorializaccedilatildeo O autor referindo-se ao poder de desterritorializaccedilatildeo

capitalista afirma que se este eacute realizado com a capacidade de singularizaccedilatildeo eacute capaz de se

apresentar sob a forma de uma reterritorializaccedilatildeo

Quando satildeo apresentados processos de reterritorializaccedilatildeo na verdade pode-se

apresentar o resgate de identidade apresentado por Guattari como um processo de

ressingularizaccedilatildeo Para a juventude rural com histoacuterico de participaccedilatildeo em movimentos

sociais a materialidade se daacute no direito a permanecer na terra de sua famiacutelia com

instrumentos e poliacuteticas que garantam que fiquem e a imaterialidade se daacute por sua cultura

identitaacuteria reafirmada Com o territoacuterio sendo constituiacutedo de forma material e imaterial ele

mostra a presenccedila constante da atuaccedilatildeo humana em sua composiccedilatildeo

A juventude embora esmagada nas relaccedilotildees econocircmicas dominantes que lhe conferem um lugar cada vez mais precaacuterio e mentalmente manipulada pela produccedilatildeo de subjetividade coletiva da miacutedia nem por isso deixa de desenvolver suas proacuteprias distacircncias de singularizaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave subjetividade normalizada (GUATTARI 1995 p 14)

50

Santos (2006 p 96) em uma clara definiccedilatildeo de territoacuterio e que bem se aplica aos

sujeitos envolvidos na pesquisa afirma que

O territoacuterio natildeo eacute apenas o resultado da superposiccedilatildeo de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem O territoacuterio eacute o chatildeo e mais a populaccedilatildeo isto eacute uma identidade o fato e o sentimento de pertencer agravequilo que nos pertence O territoacuterio eacute a base do trabalho da residecircncia das trocas materiais e espirituais e da vida sobre os quais ele influi Quando se fala em territoacuterio deve-se pois de logo entender que se estaacute falando em territoacuterio usado utilizado por uma dada populaccedilatildeo

Quanto agrave utilizaccedilatildeo do territoacuterio haacute um movimento constante inerente agrave constituiccedilatildeo

do territoacuterio em que natildeo haacute repouso haacute novas territorialidades e novas culturas o que

influencia na mudanccedila do homem Assim ocorre no movimento que gera a territorializaccedilatildeo a

partir de processo de desterritorializaccedilatildeo que mais tarde daraacute lugar ao novo como forma de

recuperaccedilatildeo ou resgate do que jaacute parecia perdido O movimento natildeo cessa no tempo ou no

espaccedilo mas estaacute sempre em movimento (SANTOS 1997)

Haesbaert (2006) ao afirmar como se daacute a interaccedilatildeo do poder para a territorializaccedilatildeo

que ocorre a partir de muacuteltiplas dimensotildees desde a mais poliacutetica ateacute a mais simboacutelica pode se

constituir com diferentes caracteriacutesticas Estas se formam com maior representaccedilatildeo material

por meio de apropriaccedilatildeo do espaccedilo e sua ordenaccedilatildeo ou a partir de outras formas com maior

representaccedilatildeo cultural ou simboacutelica por meio de identidades territoriais ou ambas

Territorializar-se desta forma significa criar mediaccedilotildees espaciais que nos proporcionem efetivo ldquopoderrdquo sobre nossa reproduccedilatildeo enquanto grupos sociais (para alguns tambeacutem enquanto indiviacuteduos) poder este que eacute sempre multiescalar e multidimensional material e imaterial de ldquodominaccedilatildeordquo e ldquoapropriaccedilatildeordquo ao mesmo tempo [] Para uns o territoacuterio eacute construiacutedo muito mais no sentido de aacuterea-abrigo e fonte de recursos a niacutevel dominantemente local para outros ele interessa enquanto articulador de conexotildees ou redes de caraacuteter global (HAESBAERT 2006 p 97)

Quando fazemos uma reflexatildeo a partir do poder envolvendo o territoacuterio seja ele

compreendido a niacutevel local ou global nos deparamos tambeacutem com a reflexatildeo sobre o

desenvolvimento envolvendo o territoacuterio A importacircncia que haacute no discurso acerca do

desenvolvimento estaacute aleacutem de accedilotildees e poliacuteticas que envolvam o progresso e suas melhorias

em qualidade de vida estaacute nas minuciosas relaccedilotildees de poder O territoacuterio especialmente o

territoacuterio rural exposto enquanto possibilidade de sucesso apresenta-se a partir de composiccedilatildeo

histoacuterico-poliacutetica envolta em um discurso de desenvolvimento que traz em si ausecircncia de

conflitos tecnologias avanccediladas com alto niacutevel de investimento financeiro Tudo isso com a

geraccedilatildeo de um grande vazio identitaacuterio compondo um verde esteacuteril que surge durante

processos de desterritorializaccedilatildeo de populaccedilotildees e suas culturas identidades e conhecimentos

tradicionais

51

Quando Goacutemez (2007) faz a des(construccedilatildeo) do desenvolvimento a partir de uma

perspectiva geograacutefica explicita suas ingronguecircncias e necessidade de superaccedilatildeo do que nele

foi historicamente construiacutedo O discurso histoacuterico que parte do desenvolvimento traz

elementos econocircmicos sociais poliacuteticos institucionais entre outros que se relacionam

institucionalmente como referecircncia e busca se estabelecer como verdade Os argumentos

utilizados como criacutetica ao desenvolvimento eacute que este enquanto continua com sua inserccedilatildeo

em planejamentos financiado e executado em seus planos traz uma verdade de aumento de

miseacuteria desiguladade desastres e opressotildees diversas Inserida neste elemento gerador de

discussatildeo estaacute a criacutetica ao desenvolvimento territorial rural

O territoacuterio do desenvolvimento territorial rural na verdade eacute uma categoria aplainada reduzida a instrumento teacutecnico de planejamento A multiplicidade de sentidos que o territoacuterio comporta e que o converte numa categoria analiacutetica rica e complexa uma categoria imprescindiacutevel para tentar compreender a natureza conflituosa da sociedade capitalista eacute problemaacutetica para a elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas O capital se reproduz com e sem conflito contudo a planificaccedilatildeo para o desenvolvimento leva embutida a consolidaccedilatildeo de certa ordem social o qual requer certa estabilidade Para traccedilar uma poliacutetica de desenvolvimento seria necessaacuterio (ou pelo menos desejaacutevel) esterilizar os conflitos que possam questionar a legitimidade e a absurda loacutegica capitalista O territoacutetio do desenvolvimento territorial estaacute cortado agrave medida das necessidades de controle social e reproduccedilatildeo capitalista (GOMEZ 2007 p 51)

Esta criacutetica ao desenvolvimento territorial pode estar refletida na construccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas isoladas e accedilotildees pontuais para a juventude rural enquanto categoria de

anaacutelise inserida no territoacuterio Como agente limitador da compreensatildeo social o

desenvolvimento imposto a esta ou a outras categorias sociais encontradas no territoacuterio rural

parece natildeo ser capaz de atender agrave complexa realidade agraacuteria O desenvolvimento e seus

desdobramentos discursivos devem ser debatidos a partir da reflexatildeo sobre sua histoacuterica

ineficiecircncia Pires (2007) em uma de discussatildeo sobre a relevacircncia territorial no discurso do

desenvolvimento apresenta uma perspectiva de reterritorializaccedilatildeo da produccedilatildeo que parece

homogeneizadora como uma ldquoreadaptaccedilatildeo agrave internacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocasrdquo

no entanto jaacute fazendo parte de um histoacuterico de globalizaccedilatildeo econocircmica e que conta com

espaccedilos homogecircneos e fragmentados em suas identidades

Apresentamos esta caracterizaccedilatildeo como forma de melhor representar a constituiccedilatildeo da

categoria social analisada Natildeo se trata aqui de expor uma argumentaccedilatildeo sobre maior

influecircncia de um territoacuterio coberto de objetividade ou um territoacuterio meramente simboacutelico Ou

ainda de iniciar um discurso infindo acerca do desenvolvimento Como os sujeitos da

52

pesquisa fazem parte de uma realidade de luta pela terra que traz em si forte simbolismo em

sua identidade a concepccedilatildeo de territoacuterio tratada aqui envolve o material e o simboacutelico com a

impossibilidade de uma anaacutelise fragmentada a partir do histoacuterico de expropriaccedilatildeo seguida de

apropriaccedilatildeo por meio de movimentos socioterritoriais trazendo como caraacuteter simboacutelico

muacuteltiplas identidades e caracterizando muacuteltiplas territorialidades

A territorialidade possui em sua constituiccedilatildeo uma multidimensionalidade caracterizada

por relaccedilotildees sociais por apropriaccedilatildeo ou demarcaccedilatildeo de determinados espaccedilos ou por

organizaccedilatildeo a partir de militacircncia a partir de um ideal de justiccedila social Essa constituiccedilatildeo do

territoacuterio ou esse movimento de territorialidade satildeo efetivados a partir de interaccedilatildeo que se

coloca de forma plural a partir de relaccedilotildees entre indiviacuteduos Na abordagem agraacuteria eacute

necessaacuteria a caracterizaccedilatildeo do sujeito neste caso a juventude rural do assentamento Silvio

Rodrigues Para Saquet (2007 2010) aleacutem de uma concepccedilatildeo acerca de territoacuterio eacute

importante assinalar como se daacute a apropriaccedilatildeo tanto material quanto simboacutelica do espaccedilo

teacutecnicas objetivos individuais e coletivos aleacutem de fatores que caracterizam identidades

relaccedilotildees de poder e trabalho formaccedilatildeo poliacutetica e histoacuterico formaccedilatildeo e constituiccedilatildeo de

associaccedilotildees de produtores ou formas coletivas de organizaccedilatildeo entre os sujeitos

Assim associar ao controle fiacutesico ou agrave dominaccedilatildeo ldquoobjetivardquo do espaccedilo uma apropriaccedilatildeo simboacutelica mais subjetiva implica discutir o territoacuterio enquanto espaccedilo simultaneamente dominado e apropriado ou seja sobre o qual se constroacutei natildeo apenas um controle fiacutesico mas tambeacutem laccedilos de identidade social Simplificadamente podemos dizer que enquanto a dominaccedilatildeo do espaccedilo por um grupo ou classe traz como consequecircncia um fortalecimento das desigualdades sociais a apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo de identidades territoriais resulta num fortalecimento das diferenccedilas entre os grupos o que por sua vez pode desencadear tanto uma segregaccedilatildeo maior quanto um diaacutelogo mais fecundo e enriquecedor (HAESBAERT 2009 p 121)

Esta juventude que conteacutem em si uma identidade proacutepria a partir de diversos fatores

materiais ou imateriais faz parte de uma estatiacutestica de migraccedilatildeo para as cidades a partir de

processos de desterritorializaccedilatildeo da destituiccedilatildeo de direitos enquanto indiviacuteduo e enquanto

categoria inserida nas relaccedilotildees sociais e do territoacuterio Como forma de reconhecimento desta

categoria as poliacuteticas puacuteblicas podem funcionar como uma afirmaccedilatildeo da juventude enquanto

sujeitos a inversatildeo de um processo de desterritorializaccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo como garantia de

autonomia Essas poliacuteticas devem ocorrer natildeo para dependecircncia financeira por meio de

financiamentos mal formulados ou a partir de tutela sobre determinadas accedilotildees mas com a

finalidade de ldquosuperar as desigualdades sociais poliacuteticas econocircmicas e culturais produzidas

53

pelo modelo de desenvolvimento rural brasileiro baseado no latifuacutendio no agronegoacutecio e na

concentraccedilatildeo de bens naturais comunsrdquo (GALINDO 2014 p 127)

Quando inserimos uma abordagem territorial na categoria de estudo juventude rural

buscamos identificar como se datildeo as relaccedilotildees de poder nesse territoacuterio a partir de sua

multidimensionalidade em busca de uma territorialidade a partir de igualdade de direitos a

partir do conhecimento de organizaccedilotildees coletivas que desejam um trabalho de ressignificaccedilatildeo

do territoacuterio que gere autonomia a partir da apropriaccedilatildeo Nesta abordagem a promoccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que permitam agrave juventude rural em suas especificidades o acesso integral

ao que ainda lhes falta pode contribuir de forma significativa com a autonomia da juventude

rural tanto de forma material quanto simboacutelica

25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas

Ao serem estabelecidas poliacuteticas puacuteblicas voltadas diretamente agrave juventude rural ou a

ela integradas eacute importante estarmos atentos ao caraacuteter multidimensional que a categoria

apresenta a partir de caracteriacutesticas eacutetnicas de gecircnero religiosas territoriais e de orientaccedilatildeo

afetivo-sexual Assim como jaacute haacute forte discussatildeo a respeito destas muacuteltiplas caracteriacutesticas haacute

tambeacutem uma tendecircncia que torna muitas das poliacuteticas homogecircneas altamente burocratizadas

e apresentando insuficiecircncias quanto agraves condiccedilotildees dos sujeitos de participarem de accedilotildees

propostas Eacute importante que seja dada atenccedilatildeo agrave diversidade aos debates em torno da

juventude rural de forma que esta seja atendida como categoria enquanto estrateacutegia mas

diversidade enquanto identidade como um desafio (GALINDO 2014)

Para Stropasolas (2014) o desfio estaacute na capacidade institucional de elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas a partir de reivindicaccedilotildees da juventude rural que possam levar a accedilotildees que

abranjam aspectos comuns agrave juventude rural Devem ser distinguidas as particularidades

comuns desta categoria social garantindo ao mesmo tempo na sua concepccedilatildeo os

instrumentos que contemplem as particularidades o reconhecimento e a valorizaccedilatildeo das

diferenccedilas a partir de uma desconstruccedilatildeo da noccedilatildeo de rural Segue-se assim um caminho que

contraria as concepccedilotildees surgidas a partir da loacutegica do agronegoacutecio gerada atraveacutes do lucro de

grandes empresas e da degradaccedilatildeo socioambiental concentraccedilatildeo de renda recursos e

propriedade da terra nos chamados territoacuterios rurais As consequecircncias vindas com essa loacutegica

54

satildeo a exclusatildeo de agricultores familiares camponeses e populaccedilotildees tradicionais

fragmentando suas identidades e privando-os de territoacuterios ricos em significados Nestes

grupos estatildeo jovens que a partir de suas particularidades satildeo caracterizados como jovens

rurais e que buscam representar e ser representados enquanto categoria para a elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que os atendam em suas caracteriacutesticas em comum mas sobretudo em sua

diversidade

Para Hespanhol (2007) eacute importante que as poliacuteticas puacuteblicas sejam capazes de

garantir natildeo soacute agraves populaccedilotildees da cidade mas agraves populaccedilotildees do campo a plena cidadania agrave

qual tem direito O acesso agrave educaccedilatildeo sauacutede habitaccedilatildeo saneamento transporte entre outros

serviccedilos puacuteblicos deve ser garantido pelo poder puacuteblico seja a partir da disponibilidade

destes serviccedilos no campo seja facilitando o acesso a tais serviccedilos na cidade mais proacutexima

Estas poliacuteticas devem ser implementadas de forma integrada e a partir das caracteriacutesticas

regionais da populaccedilatildeo Necessidades como assistecircncia teacutecnica de qualidade inserccedilatildeo de

produtos no mercado a partir de pequena escala a capacitaccedilatildeo gerencial e teacutecnica de

agricultores estiacutemulo agrave agregaccedilatildeo de valor aleacutem de apoio aos pequenos produtores para a

organizaccedilatildeo associativa satildeo expostas como essenciais para a melhoria da qualidade de vida

das populaccedilotildees do campo

Em outra perspectiva a partir de uma definiccedilatildeo com base no campesinato e na

negaccedilatildeo da agricultura com fins prioritariamente mercadoloacutegicos Bartra (2007 p 93) afirma

que a produccedilatildeo camponesa deve estar ldquocomprometida con la equidad social y el medio

ambienterdquo O autor fala de uma modernidade diferente com valores sociais e ambientais

superiores aos que satildeo estabelecidos pelo mercado e pela perspectiva de lucro Como

pressuposto desta outra modernidade estariam valores sociais culturais e ambientais

indicando que em processo produtivos jaacute estatildeo sendo incluiacutedos estes valores ainda como

ldquoexternalidadesrdquo natildeo ainda como princiacutepios Como cenaacuterio atual estatildeo agricultores ainda

marginalizados tanto pela economia como pela histoacuteria e pela tecnologia que servem a

interesses especiacuteficos de mercado

Inseridos nesta discussatildeo estatildeo os jovens como sujeitos e isso eacute importante destacar

jaacute que ao elaborar poliacuteticas puacuteblicas os gestores devem estar atentos agrave diversidade presente na

categoria e como esta diversidade eacute representada com a necessidade de investigaccedilatildeo da

estrutura que acaba por reunir modos de viver da cidade aos do campo (CARNEIRO 2007)

Com o reconhecimento desta nova estrutura social no campo deve-se ter atenccedilatildeo agraves

55

demandas muacuteltiplas para a juventude rural com a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

para uma modificaccedilatildeo real e integral da realidade de expropriaccedilatildeo vivida por estes sujeitos

A Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) afirma a criaccedilatildeo de uma pasta de Juventude

Rural surgida com o propoacutesito de promover accedilotildees para a juventude do campo para a

conquista de autonomia e emancipaccedilatildeo destes sujeitos Para isso a SNJ coordena um Grupo

de Trabalho Interministerial com participaccedilatildeo de sete ministeacuterios e com o objetivo de

apresentar uma Poliacutetica Nacional para a Juventude Rural Dentre as possibilidades de accedilatildeo

estatildeo integraccedilatildeo de poliacuteticas jaacute existentes aliada a outras accedilotildees para o fortalecimento da

juventude rural seguindo requisitos dispostos por estes sujeitos relacionados agrave agroecologia e

sustentabilidade (Portal Da Juventude8)

A juventude rural enquanto categoria eacute citada como beneficiaacuteria de diversas poliacuteticas

de acesso agrave terra creacuteditos e programas de educaccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional No entanto

accedilotildees mais direcionadas satildeo recentes A Poliacutetica Nacional de Reforma Agraacuteria ou PNRA

inclui em seu texto como beneficiaacuteria a juventude rural tanto a partir do Programa de Acesso

agrave Terra por reforma Agraacuteria como a partir do Programa Nacional de Creacutedito Fundiaacuterio

Ambos os programas de aquisiccedilatildeo de terra foram formulados inicialmente para um

atendimento natildeo diferenciado aos sujeitos requerentes da reforma agraacuteria No entanto a partir

de 2013 tanto a distribuiccedilatildeo de terra como a compra por meio de creacutedito apresentaram

modificaccedilotildees a partir do destaque dos programas tambeacutem para a juventude (CASTRO et al

2013)

Outros programas criados inicialmente de forma geral para agricultores familiares

posteriormente estabelecidos para diferentes categorias passaram a inserir a juventude rural

como beneficiaacuteria Em meados de 2014 foi lanccedilado o Programa de Fortalecimento da

Autonomia Econocircmica e Social da Juventude Rural (PAJUR) a partir de accedilotildees conjuntas com

outras instituiccedilotildees O PAJUR possui em seu discurso a formaccedilatildeo agroecoloacutegica e cidadatilde com

estiacutemulo agrave troca de experiecircncias ampliaccedilatildeo do acesso agraves poliacuteticas puacuteblicas e o

desenvolvimento de tecnologias sociais (Portal da Juventude) Estas accedilotildees tecircm como

finalidade servir de arcabouccedilo agrave elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica nacional voltadas agrave categoria jaacute

que somente a Poliacutetica Nacional de Juventude parece natildeo atender agraves especificidades inerentes

agrave realidade do campo

8 O Portal da Juventude traz informaccedilotildees sobre e para a juventude discussotildees sobre avanccedilos poliacuteticos

chamadas de projetos eventos e notiacutecias sobre a categoria Disponiacutevel em httpjuventudegovbr

56

Satildeo listados como accedilotildees da SNJ iniciadas em 2011 e que passaram a fazer parte do

PAJUR A Inclusatildeo Digital para os Jovens Rurais o edital de Articulaccedilatildeo de Grupos de

Economia Solidaacuteria o Curso de Formaccedilatildeo Agroecoloacutegica e Cidadatilde com Geraccedilatildeo de Renda

que integra as accedilotildees do Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica (Planapo) o

Programa Estaccedilatildeo Juventude Itinerante Rural e o Curso de Capacitaccedilatildeo de Jovem em

Agricultura Sustentaacutevel Gestatildeo e Inovaccedilatildeo Tecnoloacutegica

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF com a

linha PRONAF Jovens estabeleceu criteacuterios especiacuteficos para acesso ao creacutedito A poliacutetica

Nacional de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural ndash PNATER teve sua primeira accedilatildeo voltada

diretamente agrave juventude em 2012 Outras accedilotildees que de acordo com o Governo Federal

buscam abarcar diferentes necessidades do agricultor familiar e aleacutem disso inserir a

juventude rural no processo satildeo o Plano Nacional de Agroecologia e Produccedilatildeo Orgacircnica

(PLANAPO) lanccedilado como Plano Brasil Ecoloacutegico e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA) A inserccedilatildeo dos e das jovens nestas diferentes accedilotildees satildeo formas de garantia de

continuidade no campo a partir da criaccedilatildeo de oportunidades por meio de accedilotildees que visam a

soberania alimentar com base em uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel (MENEZES STROPASOLAS

BARCELLOS 2014)

As poliacuteticas citadas satildeo recentes muitas ainda se adaptando agrave realidade diversa da

juventude rural Como fator de impedimento a accedilotildees que atendam agrave complexidade da

juventude rural enquanto categoria estaacute a natildeo existecircncia de uma poliacutetica puacuteblica voltada

diretamente ao atendimento agrave juventude rural A juventude rural jaacute possui uma enorme

diversidade identitaacuteria encontrada em territoacuterios Dificulta a elaboraccedilatildeo de accedilotildees que atendam

em um soacute documento a juventude rural e a juventude urbana esta caracterizada por outras

identidades e territorialidades Uma poliacutetica puacuteblica nacional que atenda agraves peculiaridades da

juventude rural tanto em suas particularidades como em sua diversidade mostra-se como um

grande avanccedilo em efetivas accedilotildees para atendimento aos seus direitos

57

3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES

Para compor o contexto analisado eacute importante que se compreenda onde o

Assentamento Silvio Rodrigues estaacute inserido Para isso iniciamos a caracterizaccedilatildeo do lugar a

partir da Chapada dos Veadeiros seguido pela caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Alto Paraiacuteso de

Goiaacutes A Chapada dos Veadeiros com sua aacuterea de 2147560 km2 eacute considerada um dos

Territoacuterios da Cidadania9 Nela estatildeo oito municiacutepios goianos Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes Campos Belos Cavalcante Colinas do Sul Monte Alegre de Goiaacutes Nova

Roma e Teresina de Goiaacutes Sua populaccedilatildeo10 eacute de 62684 habitantes Nesse territoacuterio 20544

pessoas vivem na aacuterea rural em uma porcentagem de 3277 da populaccedilatildeo total Dessa

populaccedilatildeo rural 3347 satildeo agricultores familiares e haacute 1412 famiacutelias assentadas A chapada

estaacute na regiatildeo Nordeste de Goiaacutes considerada a regiatildeo mais pobre do Estado com 9623

pessoas em situaccedilatildeo de Extrema Pobreza Conta como atividade de maior geraccedilatildeo de riquezas

o turismo aleacutem de estarem ali vaacuterias Unidades de Conservaccedilatildeo e estar presente a Reserva da

Biosfera de Goiaz11

Como importante caracteriacutestica da Chapada dos Veadeiros estaacute a existecircncia de grandes

aacutereas preservadas voltadas agrave proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo da biodiversidade local o que compotildee

interessante oportunidade de projetos voltados agrave gestatildeo territorial com estrateacutegias de

conservaccedilatildeo e diminuiccedilatildeo dos impactos antroacutepicos ali causados Coloca-se como fator de

grande importacircncia o envolvimento da comunidade local nos processos de sensibilizaccedilatildeo e

mobilizaccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da biodiversidade aleacutem de fortalecer a cultura local Outro

elemento de grande importacircncia eacute a priorizaccedilatildeo de modelos de desenvolvimento com base na

conservaccedilatildeo da natureza natildeo na geraccedilatildeo de commodities (LIMA E FRANCO 2013)

9 ldquoO Territoacuterios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento econocircmicos e universalizar

programas baacutesicos de cidadania por meio de uma estrateacutegia de desenvolvimento territorial sustentaacutevel O Territoacuterio eacute formado por um conjunto de municiacutepios com mesma caracteriacutestica econocircmica e ambiental identidade e coesatildeo social cultural e geograacuteficardquo(Cartilha Territoacuterios da Cidadania 2009) Disponiacutevel em fileCUsersCasaDownloadspageflip-1868126-576-lt_Territrios_da_Cidadan-1714088pdf

10 Todos os dados numeacutericos referentes ao paraacutegrafo exposto foram obtidos do Sistema de Informaccedilotildees Territoriais Sistema de Desenvolvimento Territorial do Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) IBGE (2010) e INCRA (2010) Disponiacutevel em httpsitmdagovbrdownloadphpac=obterDadosBasampm=5205307

11 As reservas da biosfera criadas como instrumentos de conservaccedilatildeo de determinadas aacutereas tem como finalidade o uso sustentaacutevel de recursos naturais por meio da relaccedilatildeo entre as populaccedilotildees e o meio ambiente com a promoccedilatildeo de conhecimento praacuteticas e valores humanos sendo a Chapada dos Veadeiros inserida na Reserva da Biofera Goiaacutez pela Organizaccedilatildeo da Naccedilotildees Unidas - ONU

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O Mapa 1 apresenta a localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros com destaque para sua

inserccedilatildeo em Goiaacutes e proximidade com o Distrito Federal

Mapa 1 Localizaccedilatildeo da Chapada dos Veadeiros

Alto Paraiacuteso de Goiaacutes municiacutepio onde ocorreu a pesquisa estaacute localizado na GO-118

Foi assim denominada em 1963 dez anos apoacutes ser desmembrado do municiacutepio de Cavalcante

Conta com um nuacutemero populacional estimado em 2014 de 7328 habitantes em uma aacuterea de

2593905 Kmsup2

Encontra-se no municiacutepio jaacute no distrito de Satildeo Jorge o Parque Nacional da Chapada

dos Veadeiros criado por meio do Decreto Federal n 49875 de 11 de janeiro de 1961 com

uma aacuterea de 65514 ha sendo de grande importacircncia para a manutenccedilatildeo da vida de espeacutecies

de fauna e flora do Cerrado muitos em ameaccedila de extinccedilatildeo aleacutem dessa aacuterea ser de grande

importacircncia ambiental Outro elemento de grande importacircncia ambiental eacute o fato de o

municiacutepio fazer parte desde 2001 da Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental ndash APA de Pouso Alto criada

por meio do decreto do Estado de Goiaacutes n5419 de 01 de maio de 2001

59

Seu visual eacute marcado por elementos naturais como cachoeiras morro de chapadas

vales aleacutem de fauna e flora representativas e bastante diversificadas do bioma cerrado Estatildeo

instalados no municiacutepio cerca de 40 centros miacutesticos filosoacuteficos e religiosos o que junto agraves

buscas pelas caracteriacutesticas naturais confere a Alto Paraiacuteso uma grande movimentaccedilatildeo de

pessoas de todo o mundo em busca de elementos natildeo materiais o que garante grande

visibilidade turiacutestica

O municiacutepio tem como principal atividade econocircmica o ecoturismo aleacutem da pecuaacuteria

extensiva e exploraccedilatildeo agriacutecola principalmente de soja milho e feijatildeo O municiacutepio tem como

caracteriacutestica produtiva a grande concentraccedilatildeo de terras com as pequenas propriedades sendo

minoria em aacuterea e produccedilatildeo no municiacutepio Accedilotildees de reforma agraacuteria satildeo incipientes na regiatildeo

com a prevalecircncia de grandes propriedades para exploraccedilatildeo de elementos de valor econocircmico

invisibilisando accedilotildees presentes em pequenas comunidades

O assentamento Silvio Rodrigues criado pelo INCRA em 15 de fevereiro de 2004 por

meio da Portaria INCRASR-28TN10404 e objeto do presente estudo tem o acesso

localizado na Rodovia GO 118 ndash KM 148 ndash Fazenda Paraiacuteso entre as cidades de Alto Paraiacuteso

de Goiaacutes e Satildeo Joatildeo drsquoAlianccedila a uma distacircncia de cerca de 30 km de cada uma Vivem no

assentamento 120 famiacutelias ou 398 pessoas em parcelas com aacutereas que variam de 20 a 30

hectares em uma aacuterea total de 4061742 ha Deste total 7312 satildeo jovens entre 15 e 29 anos A

divisatildeo de atividades se daacute a partir de 10 nuacutecleos de base13 cada um com um coordenador

Aleacutem dos nuacutecleos familiares haacute ainda a divisatildeo em nuacutecleos de educaccedilatildeo sauacutede seguranccedila

cultura e meio ambiente para ajudar e encaminhar debates a partir de temas discutidos em

assembleias O Mapa 2 apresenta a localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues inserido

no municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

12 Contagem realizada durante entrevistas agraves famiacutelias por membros do projeto Caravana da Luz entre 2013 e

2014 13 Os nuacutecleos de base se constituiacuteram no MST como forma de organizaccedilatildeo coletiva a partir da divisatildeo das

famiacutelias em grupos com identidades entre si com fim de facilitar decisotildees coletivas sobre diferentes temas Esses nuacutecleos de acordo com o Movimento devem ser compostos por cerca de 10 famiacutelias cada um com um coordenador ou uma coordenadora responsaacutevel em tornar coletivas discussotildees sobre poliacutetica educaccedilatildeo cultura comunicaccedilatildeo sauacutede gecircnero meio ambiente produccedilatildeo e cooperaccedilatildeo (VALADAtildeO 2005)

60

Mapa 2 Localizaccedilatildeo do Assentamento Silvio Rodrigues

Por meio de organizaccedilatildeo do MST foi realizada a ocupaccedilatildeo da Fazenda Paraiacuteso que

ainda na deacutecada de 1950 havia sido incorporada ao patrimocircnio da Uniatildeo para servir de campo

experimental de sementes de trigo adaptadas com experimentos realizados pela Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (EMBRAPA) Em 1970 esses campos foram desativados

e a aacuterea cedida para a entidade denominada Cidade da Fraternidade de caraacuteter filantroacutepico e

religioso a partir da religiatildeo espiacuterita para o cuidado de crianccedilas abandonadas com abrigo e

educaccedilatildeo Em 2003 a Fazenda Paraiacuteso foi cedida ao INCRA com o fim de assentamento das

famiacutelias acampadas

Houve alguns conflitos com representantes da Cidade da Fraternidade - CIFRATER jaacute

que o termo de cessatildeo de uso que permitia a permanecircncia de moradores na aacuterea havia vencido

e natildeo fora renovado A partir de medidas judiciais chegou-se agrave decisatildeo de que as famiacutelias

seriam assentadas na aacuterea e a CIFRATER ali permaneceria como parte da aacuterea do

assentamento No entanto natildeo haacute conhecimento de decisatildeo judicial que declare que essa

decisatildeo foi de comum acordo entre as famiacutelias e a CIFRATER A escola existente na Cidade

da Fraternidade passou a aceitar matriacuteculas das crianccedilas do assentamento a partir de parceria

com o municiacutepio de Alto Paraiacuteso de Goiaacutes

61

Quanto agrave organizaccedilatildeo coletiva dos agricultores existem duas associaccedilotildees de

produtores sendo que a que abriga o maior nuacutemero de famiacutelias e agrave qual tivemos contato eacute a

Associaccedilatildeo dos Produtores do Assentamento Silvio Rodrigues ndash APSR fundada em treze de

fevereiro de 2009 O diretor presidente Marconey Correia da Silva estaacute inserido na categoria

pesquisada eacute um jovem de 21 anos morador do assentamento haacute sete anos e liacuteder do grupo de

jovens participantes da pesquisa Haacute cerca de dois anos lidera a APSR mas acompanha os

trabalhos dos associados desde sua fundaccedilatildeo e tem planos de a partir do trabalho coletivo

fazer com que o assentamento seja caracterizado como um nuacutecleo produtivo no municiacutepio A

associaccedilatildeo tem hoje 80 membros formalmente associados e tem como fim estruturar e

organizar a produccedilatildeo e beneficiamento de alimentos produzidos pelas famiacutelias A associaccedilatildeo

afirma que um grande desafio eacute o trabalho e a organizaccedilatildeo coletiva entre famiacutelias vindas de

lugares com diferentes culturas como Mato Grosso (MT) Minas Gerais (MG) Bahia (BA) e

Satildeo Paulo (SP)

Sobre a produccedilatildeo as principais atividades que geram renda para as famiacutelias satildeo a

horticultura e a bovinocultura leiteira Em menor escala utilizados principalmente para

subsistecircncia haacute plantios de arroz feijatildeo mandioca e milho Tambeacutem possuem algumas

variedades de frutas e coletam frutos do cerrado para a fabricaccedilatildeo de geleias quando natildeo para

alimentaccedilatildeo proacutepria

Como trabalho produtivo estaacute em curso o projeto denominado Projeto Lavoura

Comunitaacuteria com trabalhos junto aos agricultores financiado pela Secretaria de Agricultura

de Goiaacutes (SEAGRO ndash GO) via prefeitura municipal de Alto Paraiacuteso trabalho no qual jaacute

foram plantados coletivamente 25 hectares de arroz de sequeiro com 50 participantes por

meio da APSR

Tambeacutem com meio da APSR as famiacutelias do assentamento contam com a parceria da

Cooperativa Frutos do Paraiacuteso para comercializaccedilatildeo principalmente por meio do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos - PAA com 29 membros participantes e do Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar ndash PNAE realizando entrega de hortaliccedilas frutas patildees e doces em

escolas e instituiccedilotildees puacuteblicas de Alto Paraiacuteso Outras instituiccedilotildees atuantes no assentamento

que auxiliam no processo produtivo com prestaccedilatildeo de serviccedilos em assistecircncia teacutecnica e

extensatildeo rural satildeo a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Estado de Goiaacutes -

EMATER-GO e o Instituto Alvorada de Agroecologia de Sobradinho ndash IASO

62

Aleacutem do caraacuteter de estruturaccedilatildeo da produccedilatildeo a APSR realiza parcerias com fins de

capacitaccedilatildeo dos agricultores em diferentes cultivos produccedilatildeo de leite e seus derivados aleacutem

de promover a formaccedilatildeo em militacircncia poliacutetico-comunitaacuteria para representatividade em

decisotildees poliacuteticas Esses trabalhos acontecem em parceria com o Sindicato Rural de Alto

Paraiacuteso de Goiaacutes e os cursos satildeo fornecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Rural ndash

SENAR

Sobre a infraestrutura do assentamento mesmo com a criaccedilatildeo formalizada em 2003

soacute foi realizada instalaccedilatildeo de energia eleacutetrica apoacutes dez anos em novembro de 2013 Com isso

houve grande dificuldade na permanecircncia de muitas famiacutelias no assentamento pois

necessitavam de eletricidade para utilizaccedilatildeo de maacutequinas para beneficiamento e conservaccedilatildeo

de alguns alimentos Aleacutem disso com a dificuldade no acesso agrave agua para consumo e

produccedilatildeo havia a necessidade de bombeamento eleacutetrico para garantia de abastecimento agraves

famiacutelias Uma construccedilatildeo jaacute existente ainda quando a aacuterea era uma fazenda foi utilizada para

beneficiamento de alimentos e depois para abrigo de crianccedilas Essa aacuterea denominada

RECIFRA14 era o uacutenico espaccedilo onde as famiacutelias tinham acesso agrave energia eleacutetrica e onde

havia algumas construccedilotildees como galpatildeo curral e algumas casas de alvenaria utilizadas

durante o periacuteodo de acampamento como moradia e hoje como sede do assentamento onde

ocorrem reuniotildees e festas ainda de forma precaacuteria Em destaque no mapa 3 a RECIFRA e a

CIFRATER com atenccedilatildeo dos limites do assentamento para melhor representar o recorte

espacial analisado

14 RECIFRA Sede do assentamento Silvio Rodrigues Supotildee-se que a sigla signifique Florestadora e

Reflorestadora Agropecuaacuteria empresa ligada agrave Cidade da Fraternidade que realizava plantio de eucalipto na regiatildeo (Natildeo houve esclarecimento da comunidade quanto agrave origem da SIGLA)

63

Mapa 3 Detalhe do Assentamento Silvio Rodrigues

Com relaccedilatildeo a alguns aspectos ambientais relatados aacutereas de cultivo de eucaliptos

anterior agrave ocupaccedilatildeo dos sem-terra e aacutereas de pastos utilizadas para pecuaacuteria extensiva hoje

fazem parte de alguns lotes e apresentam problemas de grande degradaccedilatildeo ambiental Essa

situaccedilatildeo se coloca como barreira agrave transiccedilatildeo agroecoloacutegica exigindo mais trabalho e recursos

financeiros para uma praacutetica inversa agrave que vem ocorrendo historicamente

As fontes hiacutedricas do assentamento satildeo os cinco cursos d`aacutegua denominados Ribeiratildeo

Piccedilarratildeo Coacuterrego Paraiacuteso Coacuterrego Lagedo Coacuterrego Maria Inaacutecia e Coacuterrego Maromba

Alguns deles estatildeo com problemas de baixo niacutevel de aacutegua o que compromete o fornecimento

de aacutegua para uso das famiacutelias Isso ocorre devido ao processo de degradaccedilatildeo como

assoreamento e retirada de vegetaccedilatildeo de suas margens Alguns deles abastecem parte das

parcelas por captaccedilatildeo direta Haacute parcelas em que natildeo haacute fonte de aacutegua proacutexima onde satildeo

necessaacuterias alternativas para abastecimento de aacutegua como construccedilatildeo de poccedilos artesianos

barragens ou caixas drsquoaacutegua (ECOTECH 2006)

64

31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento

A partir do problema de acesso agrave aacutegua por diversas famiacutelias o iniacutecio de um projeto

denominado Caravana da Luz realizado pela Estaccedilatildeo Luz Espaccedilo Experimental de

Tecnologias Sociais Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico ndash OSCIP e de

Utilidade Puacuteblica Municipal localizada na cidade de Ribeiratildeo Preto ndash SP estaacute construindo

desde 2013 sistemas domeacutesticos de captaccedilatildeo de aacutegua de chuva por meio de cisternas de

ferrocimento aleacutem do tratamento bioloacutegico de aacuteguas cinzas e negras por meio de ciacuterculo de

bananeiras de fossa seacuteptica sistema de bombeamento de aacutegua com carneiro hidraacuteulico e

irrigaccedilatildeo por gotejamento Esse trabalho tem sido feito por meio de curso oferecido agraves

famiacutelias do assentamento em forma de mutiratildeo aleacutem de sua abertura a qualquer indiviacuteduo

interessado em conhecer o processo

As accedilotildees da Caravana da Luz realizadas com fundamentos na permacultura e

baseadas no desenvolvimento de tecnologias sociais ocorriam inicialmente de forma

voluntaacuteria com posterior incentivo financeiro por meio de patrociacutenio da PETROBRAacuteS Apoacutes

a finalizaccedilatildeo do projeto que deveraacute atender a 12 famiacutelias haacute planos de continuidade dessas

accedilotildees em forma de mutirotildees envolvendo na comunidade aqueles que jaacute participaram do curso

aleacutem da participaccedilatildeo aberta a qualquer pessoa que tenha interesse em acompanhar o trabalho

mas com a diferenccedila de que com a ausecircncia de patrociacutenio haveraacute uma taxa de inscriccedilatildeo para

cursistas que natildeo pertenccedilam agrave comunidade O pagamento serviraacute para a obtenccedilatildeo de material

para a construccedilatildeo dos sistemas citados

Outro elemento presente no assentamento que envolve a implantaccedilatildeo de tecnologias

sociais denominado Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel ndash PAIS financiado pela

Fundaccedilatildeo Banco do Brasil ndash FBB busca proporcionar agraves famiacutelias uma alimentaccedilatildeo

diversificada Com a distribuiccedilatildeo de kits para plantio de hortaliccedilas mudas frutiacuteferas e criaccedilatildeo

de animais a partir de base agroecoloacutegica esse trabalho tem contribuiacutedo para a produccedilatildeo de

alimentos a partir da natildeo utilizaccedilatildeo de agrotoacutexicos Ateacute o final de 2014 haviam sido

implantados cerca de 20 kits

Em caraacuteter de pesquisa e buscando a melhoria da qualidade alimentar e nutricional em

aacutereas rurais representando a Universidade de Brasiacutelia o Centro UnB Cerrado atua em duas

atividades a partir de uma abordagem de Seguranccedila Alimentar e Nutricional ndash SAN A

primeira atividade denominada Projetos Agricultores protagonistas de Seguranccedila Alimentar e

65

Nutricional - Produccedilatildeo e Abastecimento de Alimentos envolve diretamente jovens do

assentamento com accedilotildees de elaboraccedilatildeo de projeto de agricultura de base agroecoloacutegica

desenvolvimento de um Plano de Trabalho anual elaboraccedilatildeo de relatoacuterios semestrais

participaccedilatildeo de encontros coletivos e individuais (com cada famiacutelia participante) e execuccedilatildeo

dos projetos Como incentivo agrave participaccedilatildeo no projeto haacute disponibilidade de bolsas de

auxiacutelio agrave pesquisa aos jovens que passam a ter a possibilidade de execuccedilatildeo das accedilotildees

A segunda atividade denominada Projeto Cozinha Escola tem atuaccedilatildeo maior de

mulheres Muitas delas matildees de jovens que atuam de alguma forma com accedilotildees relativas ao

tema Este projeto trabalha com receitas a partir de uma alimentaccedilatildeo saudaacutevel como estrateacutegia

de superaccedilatildeo da pobreza Os projetos envolvem a participaccedilatildeo de 16 jovens e suas matildees

havendo ainda pouca participaccedilatildeo dos pais por trabalharem fora de suas parcelas ou ainda

natildeo se sentirem parte do projeto conforme relato de pesquisador do Centro UnB Cerrado

Como complemento das accedilotildees ocorridas em 2014 haacute um projeto com iniacutecio previsto para

2015 com curso voltado agrave juventude rural com duraccedilatildeo prevista de dois anos denominado

Agroecologia inovaccedilatildeo e sustentabilidade - ressignificando a relaccedilatildeo do jovem com o campo

Este projeto contaraacute com a participaccedilatildeo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues e outras

comunidades da regiatildeo

32 A escola

O Educandaacuterio Humberto de Campos- EHC denominaccedilatildeo da escola criada em 1966

localizada na Cidade da Fraternidade eacute uma Instituiccedilatildeo Filantroacutepica mantida pela

Organizaccedilatildeo Social Cristatilde-Espiacuterita Andreacute Luiz ndash OSCAL Antes com trabalhos voltados ao

acolhimento de crianccedilas desamparadas atendia agrave demanda de estudantes de 1a a 4a seacuterie do

ensino fundamental Com a ocupaccedilatildeo da aacuterea a partir de organizaccedilatildeo do MST e com a

proximidade da escola houve a necessidade de aumento da oferta de vagas da educaccedilatildeo

infantil ao ensino meacutedio para atender aos filhos das famiacutelias sem-terra

Atualmente a escola tem a maioria dos estudantes matriculados representados pelos

filhos dessas famiacutelias assentadas em um total de 189 alunos 16 professores e 05 servidores

Do total de alunos 123 estatildeo na educaccedilatildeo infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental

50 estatildeo nos anos finais do ensino fundamental e 16 estatildeo no ensino meacutedio No grupo focal

66

formado para esta pesquisa participaram alguns estudantes do ensino meacutedio e apenas uma

estudante dos anos finais do ensino fundamental aleacutem de jovens que jaacute estudaram no

educandaacuterio

As instalaccedilotildees da escola satildeo compostas por um preacutedio principal um preacutedio anexo e

um centro social que contam aleacutem das salas de aula e salas administrativas com sala

multiuso cozinha copa banheiros feminino e masculino banheiros para funcionaacuterios paacutetio-

refeitoacuterio quadra coberta e quadra aberta e parque infantil Haacute como recurso didaacutetico

televisor aparelho de DVD aparelho de som retroprojetor computador mimeoacutegrafo

copiadora jogos pedagoacutegicos e livros disponiacuteveis aos alunos

Considera-se de grande importacircncia a caracterizaccedilatildeo da escola natildeo soacute por seu

histoacuterico mas por suas atuais transformaccedilotildees atuais a partir de maior diaacutelogo entre alunos e

professores Esse diaacutelogo vem sendo estabelecido por meio de uma proposta de gestatildeo escolar

democraacutetica com consequente expectativa entre crianccedilas e jovens A possibilidade de diaacutelogo

se daacute devido agraves transformaccedilotildees ocorridas no espaccedilo escolar onde o aluno passa a ser o centro

do aprendizado Essa perspectiva que vem sendo construiacuteda surgiu de diferentes exemplos de

escolas democraacuteticas entre elas a Escola da Ponte

Escola da ponte um uacutenico espaccedilo partilhado por todos sem separaccedilatildeo por turmas sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o iniacutecio de outra A liccedilatildeo social todos partilham de um mesmo mundo Pequenos e grandes satildeo companheiros numa mesma aventura Todos se ajudam Natildeo haacute competiccedilatildeo Haacute cooperaccedilatildeo Ao ritmo da vida os saberes da vida natildeo seguem programas Satildeo as crianccedilas que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer agraves regras Pois o espaccedilo da escola tem de ser como o espaccedilo do jogo para ser divertido e fazer sentido tem de ter regras A vida social depende de que cada um abra matildeo de sua vontade naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva E assim vatildeo as crianccedilas aprendendo as regras de convivecircncia democraacutetica sem que elas constem de um programa (ALVES 2004a p 1)

A Escola da Ponte foi criada em Portugal na deacutecada de 1970 pelo educador Joseacute

Francisco de Almeida Pacheco Enquanto idealizador da proposta por meio da observaccedilatildeo do

cotidiano escolar a partir de uma educaccedilatildeo tradicional voltada ao ensino de conteuacutedo iniciou

um processo de transformaccedilatildeo da escola As transformaccedilotildees partiram de um diaacutelogo inicial

envolvendo toda a comunidade escolar em que os alunos puderam manifestar suas ideias com

respeito agrave escola Com isso as series foram abolidas assim como o ensino restrito agrave sala de

aula A divisatildeo passou a se dar em nuacutecleos - nuacutecleo de iniciaccedilatildeo nuacutecleo de consolidaccedilatildeo e

nuacutecleo de aprofundamento Alves (2004b) detalha suas impressotildees sobre a escola da ponte

67

como uma nova forma de ver a educaccedilatildeo como uma experiecircncia uacutenica de autonomia do

estudante e liberdade de aprendizado Na escola do assentamento estaacute havendo a busca de

elementos que gerem autonomia partindo de uma maior interaccedilatildeo na comunidade escolar

para a gestatildeo do aprendizado

Exemplos de escola da ponte no Brasil tiveram iniacutecio em Satildeo Paulo Em Alto Paraiacuteso

natildeo haacute conhecimento de exemplos de escola da ponte O EHC ainda natildeo se caracteriza como

uma escola da ponte o que ocorre eacute um esforccedilo inicial de alguns professores em transformar

o ambiente escolar para facilitar o aprendizado na escola contando com o diaacutelogo com os

estudantes Essa modificaccedilatildeo jaacute conta com aulas entrevista em que haacute espaccedilos de diaacutelogo

para que estudantes possam expor como desejam que ocorram a aulas possibilidade de

diferentes formas de avaliaccedilatildeo assim como aulas natildeo exclusivamente nas salas de aula

Como outro exemplo de transformaccedilotildees para a democratizaccedilatildeo de accedilotildees na escola foi

realizado no ano de 2013 uma experiecircncia junto aos estudantes denominada Nas Ondas do

Raacutedio Por meio de projeto apresentado agrave comunidade escolar foram realizadas oficinas de

formaccedilatildeo em radialismo comunicaccedilatildeo e educomunicaccedilatildeo com o objetivo de funcionamento

de uma raacutedio na escola com posterior alcance em todo o assentamento

A proposta pedagoacutegica da escola elaborada em 2013 e em modificaccedilatildeo para o ano

letivo de 2015 apresenta accedilotildees que devem ocorrer de forma coletiva entre alunos professores

e funcionaacuterios a partir de constante diaacutelogo Ainda no documento a accedilotildees propostas refletem

tentativa de adequaccedilatildeo agrave realidade do campo como projeto de plantio coletivo de hortas a

abordagem educacional a partir dela e conhecimento de alguns professores sobre a realidade

do campo Haacute elementos de diaacutelogo diretamente relacionados agrave escola da ponte Para

contribuir com essas novas perspectivas em educaccedilatildeo em meados de 2014 o educador Joseacute

Pacheco foi convidado a realizar uma visita agrave escola e expor sua experiecircncia aos professores e

estudantes apoiando as mudanccedilas jaacute iniciadas Percebe-se que essas transformaccedilotildees que vem

ocorrendo no EHC satildeo de extrema importacircncia A escola ainda siacutembolo de relaccedilotildees

autoritaacuterias ocorridas na sociedade e que objetifica o estudante como depoacutesito de conteuacutedo

tem tirado o interesse destes pelo ambiente escolar e pela forma como se daacute a educaccedilatildeo

No iniacutecio de um planejamento de mudanccedilas profundas haacute grande expectativa por

parte dos educadores e jaacute desperta curiosidade nos estudantes do assentamento Natildeo haacute nesta

68

escola nenhum educador com formaccedilatildeo a partir da educaccedilatildeo do campo15 No entanto em

algumas conversas esteve presente a necessidade e a importacircncia de uma formaccedilatildeo docente

que possa compreender a realidade do campo e interagir com os estudantes a partir de uma

perspectiva de escolha

33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios

A pesquisa parte de uma realidade local com elementos concretos que surgem do

conhecimento de accedilotildees de um grupo de jovens formado em um assentamento de reforma

agraacuteria A partir desse universo concreto buscou-se compreender o conjunto de relaccedilotildees que

expressam processos gerais que ocorrem com a juventude rural e como se daacute sua

territorialidade Como meacutetodo utilizado para a pesquisa foi adotada abordagem qualitativa na

modalidade de recorte espacial no assentamento Silvio Rodrigues

A partir do primeiro encontro com o grupo foi composta a caracterizaccedilatildeo inicial da

juventude rural naquele recorte com elementos textuais sobre a juventude rural enquanto

sujeito compreendido no territoacuterio Tanto o primeiro contato com a comunidade quanto a

busca textual por meio de literatura acadecircmica documentos oficiais e esboccedilos de projetos

locais contribuiacuteram para o enriquecimento da pesquisa No entanto a anaacutelise pocircde se

completar somente com a utilizaccedilatildeo do grupo focal Aleacutem de meacutetodo e teacutecnica de pesquisa o

grupo focal trouxe a possibilidade de aproximaccedilatildeo entre a pesquisa acadecircmica e a realidade

do campo como uma troca como foi elaborado e posteriormente detalhado

Este uacuteltimo foi elemento de grande importacircncia para o estudo Gomes (2005) define o

grupo focal como teacutecnica de coleta de dados e como meacutetodo formado com o propoacutesito de

qualificar as informaccedilotildees desejadas para a pesquisa com um nuacutemero limitado de indiviacuteduos

envolvidos em accedilotildees pertinentes ao tema da pesquisa e dispostos a discutir suas vivecircncias de

forma flexiacutevel e aberta contribuindo para o processo investigativo Para complementar as

atividades necessaacuterias agrave anaacutelise qualitativa aleacutem da realizaccedilatildeo dos encontros do grupo focal

houve coleta de dados por meio de diaacutelogos informais e utilizaccedilatildeo de caderno de anotaccedilotildees

Para Quivy e Campenhoudt (1998) essas accedilotildees em conjunto constituem uma boa

oportunidade de considerar os elementos da pesquisa de forma conexa

15 Importante e recente entrevista da professora Mocircnica Molina sobre a Educaccedilatildeo do Campo como

possibilidade de preencher falhas na formaccedilatildeo de professores que atuam em escolas rurais estaacute presente em httprevistaescolaabrilcombrpoliticas-publicasentrevista-monica-molina-especialista-educacao-campo-732775shtml aleacutem de outras publicaccedilotildees de sua autoria sobre o tema

69

34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo

Ao realizar estudos sobre as territorialidades envolvidas em assentamentos de reforma

agraacuteria e mais precisamente no recorte espacial escolhido para a pesquisa busca-se a

compreensatildeo do local como correspondecircncia do todo em suas particularidades e de acordo

com tempo e espaccedilo envolvidos A territorialidade aqui compreende a multiplicidade de cada

indiviacuteduo na categoria social analisada a juventude rural assim como a unidade do grupo de

jovens na busca por autonomia

A construccedilatildeo de anaacutelises a partir da categoria social apresentada neste trabalho ocorre

ainda de forma tiacutemida tanto na academia quanto na formulaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas A

juventude rural como um desmembramento da juventude faz parte de uma parcela cada vez

menor mas significativa e com identidades plurais que buscam seus direitos e querem escuta

em sua voz Sua territorialidade ocorre a partir do que a eles falta como jovens e como

comunidade rural Eacute uma territorialidade marcada por resistecircncia existente a partir de um

histoacuterico familiar de participaccedilatildeo em movimentos sociais e busca pelo direito agrave terra e ao

alimento (FERREIRA amp ALVES 2009)

A relevacircncia do estudo se daacute inicialmente devido a uma busca maior por estudos para

a categoria social analisada Eacute importante que haja maior nuacutemero de estudos referentes agrave

juventude rural de grande importacircncia para a modificaccedilatildeo de accedilotildees para o meio rural do paiacutes

O envelhecimento e a masculinizaccedilatildeo do campo satildeo fatos que mostram que para que a

juventude tenha o desejo e a oportunidade de continuar no campo deve ser ouvida Isso natildeo

deve ocorrer para o isolamento de mais uma categoria fechada em si pois como construccedilatildeo

social natildeo haacute limites reais para a juventude No entanto haacute peculiaridades que podem ser

identificadas para melhores e mais efetivas accedilotildees

Nesta pesquisa realizada no assentamento Silvio Rodrigues um grupo com cerca de

15 jovens se reuacutene haacute dois anos para decisotildees sobre trabalhos coletivos plantio participaccedilatildeo

em projetos discussatildeo sobre inserccedilatildeo em movimentos sociais viagens a congressos e

encontros temaacuteticos aleacutem de questotildees relacionadas agrave educaccedilatildeo e agrave famiacutelia Esse grupo

atualmente apoiado pela Pastoral da Juventude Rural apoacutes alguns meses sem encontros

70

voltou a se reunir em 2014 com uma proposta geral de execuccedilatildeo de projetos produtivos a

partir do desejo de geraccedilatildeo de renda das e dos jovens do campo

Durante reuniatildeo do Grupo de Jovens do Assentamento Silvio Rodrigues no dia 29 de

maio de 2014 sete jovens se apresentaram com interesse em participar do grupo focal A

proposta de trabalho foi explanada e houve a oportunidade do primeiro contato com o grupo

para planejamento de datas e accedilotildees Aleacutem disso durante a apresentaccedilatildeo do grupo de jovens

foi possiacutevel obter informaccedilotildees iniciais sobre a organizaccedilatildeo da juventude rural local

Foi realizado o planejamento anual das reuniotildees do grupo de jovens para definiccedilatildeo de

atividades como participaccedilatildeo em eventos com o tema juventude rural agroecologia e luta

pela terra Houve relato da experiecircncia dos jovens com implantaccedilatildeo de hortas galinheiro

curso de agroecologia e participaccedilatildeo em congressos e cursos curso de fotografia A pesquisa

procurou estabelecer datas para o grupo focal que natildeo entrassem em conflito com o

planejamento interno do grupo

A partir de tais informaccedilotildees expostas decidimos trabalhar no grupo focal impressotildees

dos jovens quanto ao tempo presente com elementos do passado para a culminacircncia com as

perspectivas de futuro Tivemos como fim compreender o histoacuterico da juventude que

compunha o grupo somando ainda ferramentas que natildeo entrassem em conflito com a

metodologia jaacute enunciada de grupo focal No encontro inicial foi trabalhado o tempo passado

nos encontros subsequentes foram trabalhados os temas presente e futuro e finalizando nos

uacuteltimos dois encontros apenas perspectivas de futuro sempre a partir de accedilotildees no grupo

focal

Como as leituras sobre juventude rural apontaram para a necessidade de accedilotildees mais

dinacircmicas na coleta de dados e como necessidade social de trabalhos coletivos essas

ferramentas complementares ao grupo focal puderam enriquecer os diaacutelogos de forma mais

dinacircmica As reuniotildees natildeo aconteceram apenas com fim de levantamento de dados mas

tambeacutem como elemento de reflexatildeo para trabalhos futuros com juventude rural Foram

utilizadas accedilotildees do teatro do oprimido dinacircmicas e jogos dinacircmicas de grupo jaacute propostas

para trabalhos com grupo focal e utilizaccedilatildeo da cartografia social como expressatildeo coletiva da

territorialidade

71

34 Sobre o grupo focal

Antes de detalhar como o trabalho foi realizado eacute importante explorar um pouco o

grupo focal enquanto meacutetodo e enquanto ferramenta de pesquisa Como no grupo de jovens

do assentamento Silvio Rodrigues jaacute havia uma discussatildeo relacionada agrave juventude rural e agraves

suas possibilidades de accedilatildeo a pesquisa procurou adequar seus objetivos a um meacutetodo natildeo

individual em busca de uma generalizaccedilatildeo possiacutevel da juventude rural no recorte espacial

analisado

Antoni et al (2001) citam as vantagens na utilizaccedilatildeo de grupos focais para

compreender comportamentos coletivos A primeira das vantagens eacute a possibilidade de troca

de experiecircncia entre os participantes o que gera conhecimento sobre o outro e comparaccedilatildeo de

visotildees distintas a partir de um mesmo tema abordado Ressalta ainda a interaccedilatildeo como fator

que melhor identifica a compreensatildeo acerca de um grupo focal Para Gatti (2012) na escolha

do grupo focal eacute importante que haja a discussatildeo de um tema comum e que os participantes jaacute

conheccedilam esse tema de modo que a discussatildeo poderaacute ocorrer a partir de elementos vindos de

experiecircncias particulares que funcionem como aporte agrave pesquisa

Para melhor compreensatildeo sobre grupos focais Gomes (2005 p 41) contribui

afirmando que ldquoo grupo focal eacute constituiacutedo por um conjunto de pessoas selecionadas e

reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema que eacute objeto da pesquisa a

partir de suas experiecircncias pessoaisrdquo A autora afirma que a origem de grupos focais como

teacutecnica estaacute na psiquiatria a partir de adaptaccedilatildeo oriunda de entrevistas natildeo direcionadas

realizadas em grupo tendo sido historicamente adaptada para outros contextos e amplamente

utilizada para pesquisas publicitaacuterias com literatura conhecida desde a deacutecada de 1920 Para

pesquisas socioloacutegicas foi utilizada a partir da deacutecada de 1940 com diversas formas de

utilizaccedilatildeo como teacutecnica de coleta de dados desde entatildeo A utilizaccedilatildeo em ciecircncias humanas

ocorreu a partir da deacutecada de 1980 com uso intensificado e adaptaccedilotildees para fins acadecircmicos

especialmente em pesquisas qualitativas

A importacircncia do grupo focal para a pesquisa se deu por trazer importantes

possibilidades de verificar informaccedilotildees a partir de posicionamento coletivo sobre determinado

tema ou sobre temas diversos inseridos na discussatildeo sobre a juventude rural Natildeo eacute

obrigatoacuterio um consenso a partir de uma ideia mas a facilidade de exposiccedilatildeo de vaacuterios

indiviacuteduos em um mesmo ambiente tempo e dentro de um histoacuterico comum de vivecircncia

72

Gatti (2012) afirma que em um contexto de interaccedilatildeo criado em um grupo focal pode-se

chegar a muacuteltiplos pontos de vista a partir de um encaminhamento de loacutegicas e emoccedilotildees sobre

um tema o que facilita a captaccedilatildeo de informaccedilotildees com mais representatividade ainda que natildeo

haja consenso sobre determinado tema

Para a pesquisa com a juventude rural o grupo focal foi importante para a

pesquisadora como forma de compreensatildeo coletiva a respeito de conteuacutedos relacionados agrave

categoria tanto ideoloacutegicos quanto emocionais e infere-se que para o grupo de jovens a

importacircncia se deu tambeacutem para o estabelecimento de momentos de discussatildeo e melhor

entrosamento no grupo durante o processo de captaccedilatildeo de muacuteltiplos significados enquanto

sujeitos inseridos em uma realidade coletiva Gatti (2002 p 11) enfatiza a importacircncia dessa

teacutecnica

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construccedilatildeo da realidade por determinados grupos sociais compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado A pesquisa com grupos focais aleacutem de ajudar na obtenccedilatildeo de perspectivas diferentes sobre uma mesma questatildeo permite tambeacutem a compreensatildeo de ideias partilhadas por pessoas no dia a dia e dos modos pelos quais os indiviacuteduos satildeo influenciados pelos outros

Dias (2000) descreve o processo que ocorre durante a formaccedilatildeo de grupos focais como

teacutecnica A composiccedilatildeo de um grupo focal deve ter iniacutecio com a participaccedilatildeo de entre 6 a 10

pessoas que possam a partir de seleccedilatildeo apresentar caracteriacutesticas semelhantes para a

discussatildeo e aleacutem disso disponibilidade e interesse em compartilhar percepccedilotildees sentimentos

atitudes e ideias sobre um determinado tema

Tanto o nuacutemero de participantes como a seleccedilatildeo destes deve ocorrer de forma a

contribuir com a interaccedilatildeo dentro do grupo O processo deve ocorrer de forma organizada e

com estiacutemulos agrave contribuiccedilatildeo de todos Para isso satildeo sugeridas as dinacircmicas de grupo Antes

de detalhar as dinacircmicas seguiremos com o detalhamento do grupo Ainda com a

contribuiccedilatildeo de Dias (2000) apoacutes a constituiccedilatildeo dos grupos seguem as reuniotildees com

duraccedilatildeo de cerca de duas horas com a participaccedilatildeo de um moderador que na pesquisa

acadecircmica pode ser o proacuteprio pesquisador O moderador deve ter um planejamento das

reuniotildees jaacute detalhado com objetivos e um guia de discussatildeo Este deve servir de aporte agrave

discussatildeo e natildeo deve ser utilizado como entrevista O moderador seraacute um facilitador de

discussatildeo sem realizar no entanto intervenccedilotildees quanto aos pontos de vista relacionados ao

73

tema Deveraacute apenas redirecionar a discussatildeo em caso de dispersatildeo eou dificuldades na

exposiccedilatildeo dos pontos de vista dos participantes

Aleacutem disso diversos autores apontam para a importacircncia na escolha do local das

reuniotildees Este deve ser um lugar calmo com miacutenimas intervenccedilotildees externas e que chamem os

participantes agrave discussatildeo Geralmente busca-se um local com caracteriacutesticas que contenham

alguma identidade com o grupo e faz-se a disposiccedilatildeo dos participantes em grupo Gatti (2012)

chama a atenccedilatildeo para esse momento inicial que deve ocorrer com a anuecircncia dos

participantes tanto a escolha do local e disposiccedilatildeo do grupo quanto com a explicitaccedilatildeo de

como seratildeo os encontros com seus objetivos claros tempo de cada encontro nuacutemero de

reuniotildees necessaacuterias agrave pesquisa formas de registro como caderno de anotaccedilotildees

possibilidades de registro fotograacutefico aacuteudio ou audiovisual sempre com a permissatildeo do

grupo

De forma geral o grupo focal tem como objetivo a geraccedilatildeo de ideias e a obtenccedilatildeo de

opiniotildees que natildeo devem ser necessariamente consensuais entre os participantes Deve ocorrer

a participaccedilatildeo e o encontro de ideias sem perguntas diretivas A promoccedilatildeo da discussatildeo se daacute

a partir do moderador que age de forma passiva apenas centrando a discussatildeo a partir do

tema apresentado (DIAS 2000)

Como siacutentese que bem identifica a teacutecnica para a utilizaccedilatildeo em ciecircncias sociais e

humanas Gatti (2012 p11) afirma que o trabalho com grupos focais

[] permite compreender praacuteticas cotidianas accedilotildees e reaccedilotildees a fatos e eventos comportamentos e atitudes constituindo-se uma teacutecnica importante para o conhecimento das representaccedilotildees percepccedilotildees crenccedilas haacutebitos valores restriccedilotildees preconceitos linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questatildeo por pessoas que partilham alguns traccedilos em comum relevantes para o estudo do problema visado

Com muito cuidado e respeito ao grupo eacute possiacutevel sair de respostas simplistas e

aprofundar o debate sempre de forma coletiva e com a identificaccedilatildeo de pontos polecircmicos ou

de impasse

Seguindo esses passos os objetivos do grupo focal foram apresentados ao grupo de

jovens para que ideias e adaptaccedilotildees fossem discutidas Foi exposto planejamento inicial

posteriormente detalhado Foi realizada uma reuniatildeo para apresentaccedilatildeo da pesquisa e do

grupo de jovens e seis encontros do grupo focal Aleacutem desses encontros houve uma

intervenccedilatildeo com o tema da pesquisa no I Encontro Estadual da Juventude Rural no

assentamento entre os dias 12 e 14 de setembro de 2014 organizado pelo MST Todos os

74

encontros ocorreram no assentamento sendo que quatro ocorreram na RECIFRA e trecircs em

casas de familiares de jovens do grupo

O grupo focal foi escolhido como meacutetodo e ferramenta de pesquisa a partir da

informaccedilatildeo de que o grupo de jovens estava se reestruturando e voltando agraves suas discussotildees

com necessidade de atividades e dinacircmicas para garantia de participaccedilatildeo dos jovens Com

essa questatildeo posta foram pesquisados alguns meacutetodos participativos e optou-se inicialmente

por entrevistas semiestruturadas No entanto de caraacuteter individual estas pouco contribuiriam

para o debate do grupo O grupo focal foi escolhido e explanado como melhor opccedilatildeo tanto

para o debate do grupo de jovens quanto para a as informaccedilotildees de pesquisa Foram propostos

encontros quinzenais com temas sugeridos pela pesquisadora sempre com a preocupaccedilatildeo de

serem aprovados pelos participantes com duraccedilatildeo aproximada de 2 horas por encontro A

pesquisadora atuou nos encontros como moderadora Entrevistas e encontros foram gravados

Houve posterior degravaccedilatildeo e verificaccedilatildeo dos dados coletados por meio de anaacutelise de

conteuacutedo

35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares

A busca por teacutecnicas complementares ao grupo focal que pudessem envolver de forma

participativa o grupo de jovens do assentamento Silvio Rodrigues levou-nos ao encontro de

quatro praacuteticas que muito enriqueceram a relaccedilatildeo jovem-pesquisador oferecendo a

possibilidade de um trabalho com resultado tanto para a pesquisa quanto para o grupo de

jovens A utilizaccedilatildeo de jogos e exerciacutecios a partir do teatro do oprimido elementos de

cartografia social dinacircmicas de grupo e exposiccedilatildeo de material audiovisual foi aleacutem do

cumprimento dos objetivos da pesquisa uma forma de contribuir para novos elementos de

discussatildeo para o grupo de jovens Ocorreu como forma de troca a partir da convergecircncia dos

objetivos de pesquisa e objetivos dessa juventude componente do estudo

Referente agrave interaccedilatildeo em um grupo Gatti (2012) assinala que jaacute compreendendo a

percepccedilatildeo sobre grupo focal por outros autores quando o pesquisador percebe inicialmente

uma inibiccedilatildeo do grupo em iniciar uma conversa sem intermeacutedio constante tem a liberdade de

escolha de teacutecnicas que facilitem a interaccedilatildeo Essas teacutecnicas devem conter em si ligaccedilatildeo com

o tema de pesquisa e com seus sujeitos Elas trazem diversas possibilidades para o surgimento

de caminhos proacuteprios para a discussatildeo com o pesquisador sempre atento em cumprir os

objetivos da pesquisa

75

351 O teatro- imagem

A partir do conhecimento de trabalhos com Teatro do Oprimido16 em movimentos

sociais foi possiacutevel a percepccedilatildeo de sua importacircncia como teacutecnica complementar de grupo

focal junto ao grupo de jovens As miacutesticas muito utilizadas pelo MST e pela Via Campesina

estavam presentes na memoacuteria dos jovens como siacutembolo de discussatildeo poliacutetica vivenciada

pelos adultos Nessa forma de representaccedilatildeo accedilotildees do teatro do Oprimido satildeo utilizadas

constantemente No entanto a praacutetica natildeo era comum para os jovens e as jovens do

assentamento apenas um jovem demonstrou conhecimento sobre a praacutetica Aleacutem da utilizaccedilatildeo

no grupo focal houve algumas conversas sobre a origem e importacircncia poliacutetica dessa forma

de teatro

O teatro como accedilatildeo poliacutetica pode ser uma arma de liberaccedilatildeo e que deve ser utilizado

com objetivo de luta contra a dominaccedilatildeo No teatro do oprimido o espectador deve ter

capacidade de accedilatildeo e ser dela sujeito Assim como os atores tem o poder de intervir na cena e

modificaacute-la Ele funciona como uma arma contra o pensamento das classes dominantes que

separa ator de espectador e teatro da poliacutetica (BOAL 1991)

Inicialmente para a composiccedilatildeo de um dos encontros do grupo focal foi utilizada a

teacutecnica de teatro-imagem que consiste na montagem de uma cena estaacutetica que contemple uma

situaccedilatildeo de opressatildeo o tempo presente com a posterior construccedilatildeo de outra imagem que

contemple uma situaccedilatildeo ideal ou sem opressatildeo para os envolvidos

Eacute representada por parte de um grupo (atores) enquanto outra parte (puacuteblico ou

especta-actor) assiste a cena e natildeo concordando com a representaccedilatildeo pode modificaacute-la ateacute

estar satisfeito Essa accedilatildeo pode ocorrer por qualquer representante do grupo as modificaccedilotildees

devem contemplar o tema e ser consenso entre as partes Com a imagem finalizada o grupo

chega a uma imagem denominada real que representa a opressatildeo Apoacutes essa construccedilatildeo todo

grupo deve formar uma nova imagem agora denominada imagem ideal que represente a

superaccedilatildeo dos problemas ou o sonho buscado para o futuro (BOAL 2008) Aleacutem do teatro-

imagem foram utilizados na pesquisa elementos presentes no Arsenal17 do Teatro do

16 O Teatro do Oprimido eacute um sistema de exerciacutecios fiacutesicos jogos esteacuteticos teacutecnicas de imagem e

improvisaccedilotildees especiais que tem por objetivo resgatar desenvolver e redimensionar essa vocaccedilatildeo humana tornando a atividade teatral um instrumento eficaz na compreensatildeo e na busca de soluccedilotildees para problemas sociais e interpessoais (BOAL 2002 p 28)

17 O Arsenal do Teatro do Oprimido satildeo jogos e exerciacutecios utilizados para compor a expressatildeo corporal do ator

76

Oprimido que compuseram dinacircmicas durante o grupo focal Esses jogos e exerciacutecio foram

de extrema importacircncia para a interaccedilatildeo tanto entre jovens como entre jovens e pesquisadora

Como detalhamento da atividade a composiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo de Teatro-

Imagem a partir dos princiacutepios jaacute expostos do Teatro do Oprimido ocorreu com fim de

reflexatildeo Seis jovens presentes elaboraram uma cena com a representaccedilatildeo de uma imagem

real e presente Um jovem foi o espectador da cena com a funccedilatildeo de modificaacute-la caso natildeo

representasse o que os outros queriam demonstrar Na primeira cena a imagem real

representada teve como tema o trabalho em um retrato de jovens trabalhando na roccedila

plantando e colhendo alguns com expressatildeo de cansaccedilo (Figura1) A segunda cena a ideal

foi a composiccedilatildeo de uma cena com o grupo de jovens praticando esportes danccedilando com

expressatildeo de leveza e um uacuteltimo jovem inserido na cena realizando um trabalho com uma

prancheta de gestatildeo de seu espaccedilo com o olhar ao horizonte como que projetando sonhos

(Figura 2)

Figura 1 Representaccedilatildeo do teatro- imagem A imagem real

Autoria Sabine Popov

Isso gera uma reflexatildeo sobre suas accedilotildees a partir da reflexatildeo sobre si e facilitaccedilatildeo em passar a mensagem durante a praacutetica de teatro (BOAL 2008)

77

Figura 2 Representaccedilatildeo do teatro-imagem A imagem ideal

Autoria Sabine Popov

Esse trabalho ocorreu para suscitar a reflexatildeo sobre accedilotildees presentes e perspectiva de

futuro enquanto categoria social utilizando a palavras chave o real e o ideal Apoacutes a

construccedilatildeo das imagens pocircde-se ter um debate mais aprofundado sobre o tema

De forma consensual estabelecida rapidamente o grupo compocircs a cena real

representando o trabalho constante com a terra ali representado pelo plantio e colheita O

trabalho como algo vivenciado muitas vezes desde a infacircncia pocircs-se na cena como opressatildeo

devido a carecircncia de outras experiecircncias para a juventude rural no tempo presente Jaacute como

representaccedilatildeo do ideal a imagem posta abriu outras possibilidades que natildeo negaram o

trabalho mas ressignificaram a relaccedilatildeo com este O trabalho como abertura a possibilidades

de planejamento representado por MC S mostrou a abertura a outras formas de accedilatildeo no

campo com o planejamento sendo siacutembolo de futuro Aleacutem do trabalho e com a mesma

importacircncia o lazer foi posto por meio de representaccedilatildeo de esportes e pela danccedila Jaacute

inicialmente percebemos como o ideal que natildeo necessariamente deve estar apenas em um

plano futuro mas como uma mudanccedila postura em diversos trabalhos com teatro-imagem

representa a multiplicidade e a diversidade de accedilotildees Natildeo nega o elemento visto antes como

78

objeto de opressatildeo mas lhe tira de sua unicidade tirana e traz outro significado de

pertencimento

M C S Eu quis colocar como ideal o trabalho com planejamento e com o olhar para o horizonte com os projetos produtivos A gente tambeacutem planejar o que quer para o nosso lote e para o assentamento

352 A cartografia social

Outra teacutecnica utilizada em um dos encontros do grupo focal jaacute conhecida por parte

dos jovens participantes foi o mapeamento participativo para construir com o grupo noccedilotildees de

cartografia social18 uma vez que o tempo de pesquisa natildeo permitiu um aprimoramento das

teacutecnicas utilizadas Decidiu-se pela utilizaccedilatildeo do mapeamento no uacuteltimo encontro do grupo jaacute

com a discussatildeo enriquecida por meio da interaccedilatildeo no grupo focal A proposta em meio agraves

memoacuterias do que havia sido discutido nos encontros anteriores foi construir um ideal de

assentamento para a juventude rural ali presente

A cartografia social surgiu como conceito no Brasil no iniacutecio da deacutecada de 1990 a

partir de projeto denominado Nova Cartografia Social da Amazocircnia coordenado pelo

professor Alfredo Wagner Berno de Almeida professor da Universidade do Estado do

Amazonas As accedilotildees do projeto contaram com a elaboraccedilatildeo de mapas que pudessem

representar o conhecimento tradicional e coletivo da terra natildeo associados diretamente a

limites exatos do territoacuterio mas ao seu uso coletivo (GORAYEB amp MEIRELES 2014)

A ideia de um mapeamento participativo partiu da necessidade de construccedilatildeo de uma

metodologia cartograacutefica que Acselrad (2008) aponta como proposta que pode ldquodar agrave

palavrardquo populaccedilotildees ainda natildeo atendidas em seus direitos e ideais Com os trabalhos de

mapeamento sendo historicamente realizados pelo Estado e por detentores de poder poliacutetico

sua ocorrecircncia de forma participativa pode levar agrave afirmaccedilatildeo de identidades

O esforccedilo em trabalhar o mapeamento participativo no grupo focal aleacutem de uma

teacutecnica auxiliar buscou levar ao grupo mais uma ferramenta de accedilatildeo poliacutetica pretendida pela

18 Gorayeb amp Meireles (2014) em uma perspectiva da cartografia social dizem que uma comunidade pode

construir mapas de forma participativa apoacutes breve conceituaccedilatildeo de cartografia realizando um diagnoacutestico que a identifica a partir de elementos presentes e para sua caracterizaccedilatildeo identitaacuteria com posterior elaboraccedilatildeo de mapa participativo com perspectivas de futuro como ideal para essa comunidade Esses trabalhos satildeo muitas vezes realizados para a afirmaccedilatildeo do territoacuterio em assentamentos de reforma agraacuteria comunidade quilombola e ribeirinhas

79

categoria social estudada A partir de leitura de trabalhos com cartografia social junto a

comunidades tradicionais a escolha pelo trabalho junto agrave juventude rural tambeacutem teve o

mesmo propoacutesito de conhecimento do territoacuterio para apropriaccedilatildeo proteccedilatildeo de suas riquezas e

conhecimento comunitaacuterio para a democratizaccedilatildeo do uso do territoacuterio e que Acselrad (2008

p 40) pontua

Para clarificar o sentido dos esforccedilos realizados em nome de uma democratizaccedilatildeo cartograacutefica caberaacute sempre perguntar qual eacute a accedilatildeo poliacutetica que o gesto cartograacutefico serve efetivamente de suporte Esta accedilatildeo poliacutetica teraacute em permanecircncia que ser esclarecida nos termos das linguagens representacionais das teacutecnicas de representaccedilatildeo e dos usos dos resultados assim como da trama soacutecio-territorial concreta sobre a qual ela se realiza O meacutetodo utilizado na cartografia social que pocircde atender aos objetivos da pesquisa ao mesmo tempo em que apresentava a ferramenta ao grupo de jovens foi o denominado foto-mapa

A construccedilatildeo deste mapa eacute caracterizada por impressotildees de fotografias aeacutereas

(adaptadas aqui como impressotildees de imagens de sateacutelite) que podem ser utilizadas por uma

comunidade para que sejam delineados ou estabelecidos usos da terra e outras caracteriacutesticas

em transparecircncia sobrepostas no foto-mapa (ACSELRAD 2008) Como proposta para o

grupo focal do assentamento utilizamos resultados de encontros anteriores e sugerimos que

fossem delineados projetos futuros de uso em aacutereas comunitaacuterias do assentamento O grupo

complementou os desenhos com projetos futuros pessoais a serem realizados nas parcelas de

alguns deles Utilizamos como material papel vegetal sobreposto a uma imagem recente do

Google Earth laacutepis grafite e laacutepis de cor

Buscamos com esta ferramenta e segundo afirmaccedilatildeo de Acselrad (2008) associar o

trabalho com mapeamento participativo agrave democratizaccedilatildeo do territoacuterio e introduzir o tema

junto agrave juventude participante da pesquisa Seguem imagens (Figuras 3 4 e 5) que mostram a

realizaccedilatildeo da oficina e seus resultados

80

Figura 3 Oficina de cartografia social

Autoria Sabine Popov

81

Figura 4 Resultado da oficina ndash perspectivas de futuro no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Sabine Popov

Figura 5 Detalhe para perspectivas de futuro na RECIFRA

Autoria Sabine Popov

82

Observamos que a composiccedilatildeo das perspectivas se deu ainda de forma preliminar com

o planejamento realizado em grande parte para a aacuterea comum das famiacutelias Natildeo foi possiacutevel

um maior detalhamento referente agraves outras aacutereas do assentamento devido ao caraacuteter de oficina

com duraccedilatildeo em apenas um encontro No entanto importante observar que os e as jovens ali

presentes puderam devido a um sentimento de pertencimento elaborar de forma coletiva

planos elaborados de acordo com suas perspectivas enquanto grupo

Com a oficina de cartografia social foi possiacutevel observar a importacircncia dada agrave aacuterea

sede do assentamento a RECIFRA como espaccedilo de uso coletivo com perspectivas de

muacuteltiplas atividades para todos Na figura 4 satildeo destaque campos de futebol e uma cachoeira

para lazer Destaca-se na figura 5 a reforma da plenaacuteria jaacute existente mas necessitando de

reformas exposta como ldquopalcordquo Aleacutem de planos futuros como construccedilatildeo de biblioteca

agroinduacutestria posto de sauacutede igrejas de duas diferentes religiotildees haacute atividades em aacuterea de

agrofloresta estabelecida coletivamente

353 As dinacircmicas

Uso da linguagem visual Como teacutecnica de conhecimento pessoal e local houve uma

apresentaccedilatildeo do grupo por meio de desenhos Deveriam ser inseridos nos desenhos aspectos

de passado presente e perspectiva de futuro para a juventude do assentamento Foi realizada

uma divisatildeo do grupo em duplas em que um indiviacuteduo dessa dupla fez o desenho a partir da

apresentaccedilatildeo do outro Para facilitar essa accedilatildeo e cumprir parte dos objetivos do grupo foram

disponibilizadas as palavras-chave juventude assentamento Silvio Rodrigues passado

memoacuteria presente futuro e sonhos No final desse momento houve a apresentaccedilatildeo do

desenho de cada um por seu parceiro e uma discussatildeo final sobre o que foi abordado A

linguagem visual foi utilizada inicialmente como recurso com a identificaccedilatildeo no grupo de

pessoas com baixa escolaridade e consequente dificuldade na linguagem escrita

Floresta dos sons A teacutecnica apresentada em exerciacutecios e jogos do Teatro do Oprimido

consiste na natildeo utilizaccedilatildeo do sentido da visatildeo para o desenvolvimento dos outros sentidos

com intuito de gerar reflexatildeo em conjunto em alternacircncia de papeacuteis desempenhada no grupo

O grupo se divide em duplas um parceiro seraacute o cego e o outro o guia Este emite sons de um

animal onde um seraacute ndash gato cachorro passarinho ou qualquer outro ndash enquanto seu parceiro

83

escuta com atenccedilatildeo Entatildeo os cegos fecham os olhos e os guias ao mesmo tempo comeccedilam

a fazer seus sons que devem ser seguidos pelos cegos Quando o guia para de fazer sons o

cego tambeacutem deve parar O guia eacute responsaacutevel pela seguranccedila do parceiro (cego) e deve parar

de fazer sons se o seu cego estiver prestes e esbarrar em outro ou bater em algum objeto O

guia deve mudar constantemente de posiccedilatildeo Se o cego segue os sons com facilidade o guia

deve manter-se o mais distante possiacutevel com a voz quase inaudiacutevel O cego deve se

concentrar somente no seu som mesmo se ao seu lado tiver vaacuterios outros O exerciacutecio tem

como objetivo despertar a estimular a funccedilatildeo seletiva da audiccedilatildeo (BOAL 1991)

Essa dinacircmica permitiu o despertar da atenccedilatildeo e da noccedilatildeo de responsabilidade dos

jovens enquanto grupo No entanto como foi a primeira dinacircmica realizada19 a floresta dos

sons permitiu interaccedilatildeo entre participantes e moderadora de forma ainda tiacutemida (Figura 6)

mas sem prejuiacutezo para a continuidade das discussotildees

Figura 6 Floresta dos sons

Autoria Dayana Aguiar

Roleta magneacutetica Nesta atividade20 composta por uma roleta construiacuteda de forma

artesanal utilizando iacutematildes como indicadores de palavras-tema eacute proposto que um participante

19 As dinacircmicas natildeo devem seguir necessariamente uma ordem cronoloacutegica para utilizaccedilatildeo em trabalhos

semelhantes a este Satildeo dinacircmicas utilizadas ora no teatro do oprimido ora como forma de sensibilizaccedilatildeo para o pensamento coletivo e reflexatildeo criacutetica a partir de determinada realidade

20 Atividade proposta pelo professor Evandro Veras graduado com especializaccedilatildeo em matemaacutetica pela UFPI Adaptada para o presente trabalho Disponiacutevel em httpprofessorphardalblogspotcombrsearchlabelJogos20Reciclados

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inicie a discussatildeo a partir da palavra indicada pelo iacutematilde sempre com o moderador respeitando

a negaccedilatildeo de fala sobre determinado tema A partir da primeira fala os outros participantes

continuam a discussatildeo ateacute que se esgotem elementos relacionados agrave palavra da vez

Figura 7 Roleta magneacutetica ndash utilizaccedilatildeo de palavras-chave para discussatildeo

Autoria Dayana Aguiar

Durante um dos encontros do grupo focal iniciou-se uma discussatildeo a partir das palavras-

chave juventude rural assentamento de reforma agraacuteria Alto Paraiacuteso e Chapada dos

Veadeiros como contexto inicial A partir deste contexto cada participante pocircde girar a roleta

para o sorteio de uma nova palavra Das 22 palavras contidas na roleta foram sorteadas 7

uma por cada membro presente comunidade coletivo identidade oportunidade educaccedilatildeo

futuro e trabalho As resultantes da discussatildeo a partir dessa dinacircmica seratildeo expostas no

capiacutetulo 4 com fim de anaacutelise em conjunto com as demais praacuteticas e dinacircmicas

Dinacircmica dos quatro movimentos21 A dinacircmica dos quatro movimentos faz parte de

exerciacutecios de concentraccedilatildeo teatral e tem como objetivo a interaccedilatildeo entre um grupo a partir da

atenccedilatildeo dada aos movimentos em um determinado espaccedilo em uma loacutegica temporal de

atenccedilatildeo muacutetua Nesta atividade os participantes ficam em ciacuterculo junto a um moderador O

moderador explica que todos devem estar preparados aos movimentos propostos Satildeo

21 Esta dinacircmica foi utilizada em oficina realizada por Marcela Farfan Recchia licenciada em Artes Dramaacuteticas

e com grande conhecimento em Teatro do Oprimido participando de diversas atividades junto ao Centro de Teatro do Oprimido ndash CTO no Rio de Janeiro ndash RJ

85

expostos quatro movimentos de braccedilo acompanhados de sons denominados YAPS

HONDON OPA e TORO22 Inicialmente eacute realizado o Yaps Neste um participante inicia o

movimento e o proacuteximo de qualquer lado escolhido deve passar este movimento sempre

com atenccedilatildeo para natildeo se antecipar ou natildeo atrasar a accedilatildeo O movimento eacute seguido ateacute ter iniacutecio

o proacuteximo Hondon em que a um novo movimento de braccedilo deve haver inversatildeo do sentido

inicial O Opa eacute o terceiro movimento que ao ser realizado deve ocorrer a intercalaccedilatildeo de

movimentos pelos participantes Por uacuteltimo o toro eacute um movimento final de elevaccedilatildeo dos

braccedilos em que os participantes devem estar atentos pois neste o primeiro participante que

finalizar o movimento deveraacute reiniciar todo o exerciacutecio a partir de qualquer dos outros

movimentos

Dinacircmica do chocolate23 eacute uma dinacircmica de grupo que busca a reflexatildeo sobre a

organizaccedilatildeo coletiva Para essa dinacircmica satildeo necessaacuterios bombons e uma superfiacutecie da altura

de uma mesa A primeira turma recebe a ordem de um moderador de ficar com as matildeos para

traacutes e sob nenhuma hipoacutetese pode sair dessa posiccedilatildeo A segunda turma se posiciona logo atraacutes

de cada pessoa da primeira turma A primeira turma deveraacute tentar abrir a embalagem do

bombom sem as matildeos O moderador observa o que ocorre Como geralmente a primeira

turma natildeo consegue realizar a accedilatildeo sem ajuda o moderador pergunta se algueacutem tem a soluccedilatildeo

para o problema A dinacircmica eacute concluiacuteda com a discussatildeo a respeito do trabalho coletivo com

o moderador indicando a presenccedila da segunda turma que poderia ter auxiliado a primeira

turma em um trabalho coletivo

Elaboraccedilatildeo coletiva de poemas Nesta dinacircmica cada participante deve elaborar um

poema a partir de tema proposto pelo moderador Com os poemas nas matildeos forma-se um

ciacuterculo mas com todos os participantes de costas e de olhos fechados Isso se daacute com o

propoacutesito de que a leitura se decirc sem que os participantes ouvintes identifiquem a autoria do

texto lido minimizando a inibiccedilatildeo do leitor Apoacutes esta accedilatildeo os participantes escolhem o texto

que melhor descreve o tema sugerido pelo moderador e este seraacute comentado por todos

22 Denominaccedilotildees de sons utilizados para a atividade proposta com origem dos nomes desconhecida 23 Tanto a dinacircmica do chocolate como a elaboraccedilatildeo coletiva de poemas e a dinacircmica das matildeos satildeo trabalhos jaacute

popularizados em atividades de sensibilizaccedilatildeo para trabalhos coletivos e resoluccedilatildeo de problemas com origem desconhecida pela pesquisadora

86

Figura 8 Leitura de poemas durante dinacircmica

Autoria Sabine Popov

Para o grupo focal do assentamento Silvio Rodrigues houve uma adaptaccedilatildeo sugerida pelos

participantes O tema relacionado agrave juventude rural enquanto temporalidade foi o presente e

enquanto espaccedilo foi o Assentamento Silvio Rodrigues Cada participante confeccionou um

poema Logo apoacutes todos se reuniram para a leitura O diferencial ocorreu com a finalizaccedilatildeo

da leitura em que os participantes decidiram natildeo selecionar o melhor texto mas a partir de

todos os textos elaborados selecionar trechos para composiccedilatildeo de um uacutenico poema O poema

elaborado de forma coletiva estaacute abaixo exposto Os demais poemas compostos como forma

de inspiraccedilatildeo agrave escrita coletiva encontram-se no apecircndice da presente pesquisa e embora natildeo

tenham sua anaacutelise aqui podem ser incorporados a outros trabalhos a partir de anaacutelise do

discurso enquanto praacutetica de pesquisa devido agrave sua importacircncia ideoloacutegica

Fazer o que sempre mandam mas isso pra mim eacute pouco

Todos os jovens merecem saber que todos tem o direito de vencer

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

87

Juventude pode perder a batalha mas nunca a guerra

Os melhores momentos satildeo os que passamos juntos

Plantar e colher

Observamos que a seleccedilatildeo de versos aponta para a busca por autonomia e por resistecircncia

aos processos de desterritorializaccedilatildeo que ocorre com inuacutemeros sujeitos do campo No ldquofazer o

que sempre mandamrdquo surge com a falta de confianccedila que os adultos tratam a juventude

Quando esta apresenta ideias quanto agrave geraccedilatildeo de renda possibilidades e estudo e trabalho

coletivo muitas vezes os adultos responsaacuteveis por esta juventude restringe suas accedilotildees Aleacutem

de divergecircncias representadas pela faixa etaacuteria a juventude presente no grupo como

representante da juventude rural busca ser ouvida em seus planos As palavras ldquodireitordquo

ldquovencerrdquo ldquoguerrardquo sinalizam siacutembolos do grupo no que denominam resistecircncia a partir dos

movimentos sociais Direito agrave escolha coloca-se como de grande valor agrave escolha em ir

embora ou ficar natildeo devido agraves carecircncias econocircmicas sociais culturais ou educacionais mas

a um sonho de cada indiviacuteduo Vencer e guerra aparecem como uma luta por garantia de seus

territoacuterios de sua identidade enquanto categoria social enquanto uma territorialidade

construiacuteda a partir de apropriaccedilatildeo coletiva natildeo dominaccedilatildeo do que eacute coletivo

Dinacircmica das matildeos A dinacircmica das matildeos ocorre em dois momentos No primeiro cada

participante deve recortar em papel o formato de uma de suas matildeos para responder agrave questatildeo -

O que suas matildeos jaacute fizeram - No segundo momento em um papel com uma matildeo grande

desenhada os participantes deveratildeo para responder agrave questatildeo - O que suas matildeos podem

fazer - Por meio de palavras ou desenho os participantes tem a possibilidade de recordar

accedilotildees e refletir sobre outras de forma coletiva Esta dinacircmica foi proposta como forma de

sensibilizaccedilatildeo da juventude rural para a possibilidade de accedilotildees de autonomia a partir das

questotildees citadas com fim de reflexatildeo sobre accedilotildees coletivas e luta por direitos Expostos nas

figuras 9 10 11 e 12 o resultado gerado a partir de discussatildeo coletiva foi a reflexatildeo sobre as

praacuteticas ainda invisibilizadas da juventude e as possibilidades de sua valorizaccedilatildeo

88

Figuras 9 10 11 e 12 Dinacircmica das matildeos realizada durante o acampamento regional da juventude rural de Goiaacutes no assentamento Silvio Rodrigues

Autoria Dayana Aguiar

Para as matildeos confeccionadas de forma individual accedilotildees em comum como plantei colhi

corte estudei escrevi identificaram suas accedilotildees cotidianas Outras como lutei e ocupei

apareceram nas matildeos confeccionadas por jovens jaacute inseridos em movimentos sociais Jaacute na

matildeo confeccionada por todos os jovens participantes apareceram accedilotildees como trabalho em

grupo sonhar junto realizar mutirotildees trabalhar de forma cooperativa conscientizar e lutar

Exibiccedilatildeo de material audiovisual Como forma de iniciar algumas discussotildees foi

apresentado material audiovisual relacionado aos temas trabalhados As figuras a seguir

representam dois destes momentos com a exibiccedilatildeo do documentaacuterio A ilha das flores e da

seacuterie de discussotildees apresentadas na programaccedilatildeo do canal Futura denominada Diz aiacute

juventude rural ambas exibiccedilotildees ilustradas nas figuras 13 e 14

89

Figura 10 Exibiccedilatildeo de material audiovisual ndash A Ilha das Flores

Autoria Dayana Aguiar

Figura 11 Exibiccedilatildeo de material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Autoria Dayana Aguiar

90

4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE

Como resultado do encontro inicial com o grupo de jovens do assentamento Silvio

Rodrigues aleacutem dos seis grupos focais houve a possibilidade de realizar uma anaacutelise das

expectativas da juventude rural naquele contexto a partir de perspectivas de continuidade no

campo relatadas em outros momentos em situaccedilotildees informais Pudemos identificar elementos

de resistecircncia e de busca por autonomia com um esboccedilo de accedilotildees para novas territorialidades

Diversos elementos foram trabalhados como pontos identificados de relevacircncia para a

juventude rural Entre diversos pontos que envolvem discussotildees sobre a juventude educaccedilatildeo

comunicaccedilatildeo lazer trabalho e coletividade se destacaram nas atividades realizadas

Os temas inicialmente identificados como de maior relevacircncia e que tiveram mais

elementos geradores de debate foram educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O tema terra e meio ambiente

teve pouca relevacircncia mas foi discutida a noccedilatildeo de pertencimento da juventude com o acesso

agrave terra e o contato com a natureza proporcionado em um ambiente rural Os temas poliacutetica e

gecircnero natildeo foram abordados pelos jovens e decidimos continuar observando como isso se

colocaria nos encontros seguintes Houve algumas pontuaccedilotildees isoladas mas sem continuidade

quando citaacutevamos os dois temas de discussatildeo

41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro

Inicialmente de forma livre cada jovem pocircde falar sobre o tema em que estaria mais

familiarizado a partir de sua realidade fazendo breve resgate de sua histoacuteria no assentamento

Nos dois primeiros encontros houve pouca conversa entre jovens e pesquisadoras O uso das

dinacircmicas para que o grupo pudesse se sentir mais agrave vontade para a discussatildeo aleacutem do uso de

documentaacuterios relacionados ao tema auxiliaram na participaccedilatildeo de todos durante os trabalhos

com o grupo focal Apoacutes esse periacuteodo seguiram-se ricos trabalhos A discussatildeo sobre os

direitos da juventude rural as poliacuteticas oferecidas agrave categoria social e a necessidade de

formaccedilatildeo de grupos para fortalecimento deram-se como temas para a permanecircncia da

juventude no campo como resistecircncia

Durante os encontros com a utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo houve a

discussatildeo sobre a juventude rural utilizando os tempos histoacutericos passado presente e futuro

Os elementos apontados do passado foram bastante pessoais como infacircncia de alguns na

91

cidade e de outros entre assentamento e cidade A escola foi demonstrada como elemento de

importacircncia mas que para alguns natildeo foi possiacutevel uma continuidade nos estudos por

diferentes motivos No presente foram apontados famiacutelia escola e lazer como elementos de

grande importacircncia para a juventude Mesmo os que haviam deixado os estudos apontam para

o desejo de volta agrave escola No tempo presente tambeacutem apontaram para a dificuldade em seguir

com o grupo de jovens do assentamento pois muitos dos que participavam das reuniotildees e

accedilotildees do grupo no ano de 2013 se mudaram para a cidade para trabalhar ou se casaram e natildeo

se interessavam mais pelas decisotildees do grupo

Em relaccedilatildeo ao presente foram identificados pontos favoraacuteveis e natildeo favoraacuteveis agrave

decisatildeo dos jovens em permanecer no assentamento Os pontos que se mostraram natildeo

favoraacuteveis foram o individualismo que natildeo permitia o trabalho coletivo a accedilotildees do grupo de

jovens a falta de infraestrutura adequada para reuniotildees falta de local destinado ao

beneficiamento e armazenamento de alimentos lazer e festas a falta de comunicaccedilatildeo (acesso

agrave internet e telefone) a distacircncia da cidade e a falta de transporte Colocou-se como elemento

simboacutelico a acomodaccedilatildeo da juventude com comentaacuterios sobre os jovens do assentamento natildeo

buscarem seus direitos e natildeo trabalharem coletivamente Os pontos que se mostraram

favoraacuteveis no tempo presente para o grupo foram a expectativa de melhoria na participaccedilatildeo de

projetos nas accedilotildees da associaccedilatildeo a persistecircncia das famiacutelias com o trabalho diaacuterio poucas

ocorrecircncias de violecircncia e possibilidade de desfrutar da natureza

Com relaccedilatildeo ao tempo futuro os desenhos levaram a uma discussatildeo inicial com

relaccedilatildeo agraves dificuldades em permanecer no assentamento Educaccedilatildeo e trabalho foram os pontos

de maior relevacircncia para a necessidade futura de migrarem para a cidade Como motivos de

permanecircncia pontos em comum entre os participantes do grupo como a tranquilidade do

campo a natureza e a famiacutelia se mostraram como favoraacuteveis Outro motivo de permanecircncia eacute

a esperanccedila coletiva de que haja opccedilotildees de acesso agrave universidade em um futuro proacuteximo Para

a decisatildeo em ficar identificamos razotildees concretas como a proximidade da famiacutelia a

possibilidade de plantar e colher e a moradia sem custo Os participantes dos encontros do

grupo focal colocaram em evidecircncia a importacircncia das razotildees simboacutelicas para o jovem

permanecer no campo como a possibilidade de enxergar melhor as estrelas o silecircncio e a

tranquilidade da noite a vizinhanccedila acolhedora e a humildade das pessoas

Relacionados diretamente aos temas trabalho e comunidade as relaccedilotildees no

assentamento Silvio Rodrigues contecircm em seu histoacuterico uma caracterizaccedilatildeo enquanto

92

acampamento diferente da caracterizaccedilatildeo enquanto assentamento confirmando uma situaccedilatildeo

encontrada em outros assentamentos jaacute visitados pela pesquisadora Quando acampamento a

presenccedila de trabalhos coletivos ocorriam de forma contiacutenua por meio de mutirotildees plantio

colheita cuidados com as crianccedilas e decisotildees sobre a organizaccedilatildeo comunitaacuteria Quando se

tornou assentamento e houve a divisatildeo das parcelas ou dos lotes para cada famiacutelia natildeo

ocorreu a continuidade de diversos trabalhos coletivos Mesmo com a presenccedila de aacutereas de

uso coletivo os trabalhos passaram em sua maior parte a ocorrer de forma individual cada

famiacutelia buscou realizar trabalhos em seu lote Natildeo houve uma negaccedilatildeo ao coletivo mas uma

nova caracterizaccedilatildeo dos trabalhos de acordo com a divisatildeo do espaccedilo realizada

Mesmo com esse histoacuterico sempre haacute algum elemento presente caracterizando o

trabalho coletivo muitas vezes realizado para o plantio de gratildeos como milho arroz e feijatildeo

em que durante a colheita eacute realizada divisatildeo entre as famiacutelias MCS jovem que

acompanha toda a organizaccedilatildeo comunitaacuteria faz sua observaccedilatildeo e verifica que mesmo a

comunidade se reunindo para diversos trabalhos principalmente relacionados agrave agricultura a

juventude natildeo se encontra ali natildeo haacute convite agrave sua participaccedilatildeo Contribuindo com argumento

G afirma

Comunidade eacute o coletivo eacute onde as pessoas se encontram Silvio Rodrigues eacute uma comunidade Alto Paraiacuteso eacute uma comunidade e Satildeo Jorge eacute outra comunidade Entatildeo o que eacute que estaacute sendo a comunidade qual a experiecircncia da comunidade Soacute tem rivalidade Eu acho que tipo assim tem muitas pessoas que querem fazer melhorar a comunidade Soacute que por falta de organizaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo as pessoas natildeo conseguem fazer

Quanto agrave comunidade e ao processo coletivo de organizaccedilatildeo comunitaacuteria

M C S Hoje a comunidade natildeo inclui a juventude rural ateacute porque os jovens tambeacutem natildeo se colocam dentro da comunidade Para muitos jovem eacute aquele que fica em casa os bem jovens de 16 ou 17 anos e natildeo participa de nenhuma atividade da comunidade Podemos formar a comunidade onde o jovem esteja inserido contagiando mais pessoas mas com o jovem construindo

Nessa discussatildeo a juventude diferencia o trabalho de sua comunidade com o trabalho

coletivo e afirma que a comunidade natildeo necessariamente realiza um trabalho coletivo e isso

caracteriza sua comunidade a partir do trabalho individual Quando nos encontros o tema

trabalho era discutido havia grande diferenccedila na opiniatildeo das jovens e dos jovens O trabalho

rural para muitas jovens eacute um trabalho muito pesado e sem garantia de renda Algumas jovens

natildeo queriam permanecer no campo mesmo se fossem oferecidas oportunidades relacionadas

93

ao trabalho rural Trabalhos natildeo relacionados agrave agricultura satildeo por muitas jovens mais

desejados

MCS Coletivo eacute o que se tem dentro das comunidades ou natildeo A pessoa pode viver em comunidade mas natildeo fazer as coisas em comunidade pode ser uma comunidade e um morar perto do outro mas sem conversa A comunidade pode ou natildeo ser coletiva O pessoal pode viver em uma comunidade e natildeo viver trabalhando junto

O sentido de coletividade foi posto como elemento de grande relevacircncia pelo grupo O

trabalho realizado de forma coletiva como exposto na fala de M C S eacute mais que a formaccedilatildeo

comunitaacuteria no assentamento O coletivo eacute uma construccedilatildeo de accedilotildees e ideais que se

complementam em um grupo

S R No individual fica mais difiacutecil no coletivo daacute pra fazer mais coisas Se a gente faz o trabalho junto daacute mais certo A agrofloresta os trabalhos na RECIFRA se fosse mais gente trabalhando junto ia ter mais resultado

Quando questionados sobre o que dificultava o trabalho coletivo todos concordaram

que haacute muito individualismo que eacute muito difiacutecil trabalhar em grupo e que mesmo na

realidade dos adultos o trabalho coletivo gerava conflitos Jaacute quanto ao trabalho em si e sua

representaccedilatildeo na sociedade o grupo indicou que este natildeo deveria ser tatildeo cansativo e tatildeo

dispendioso de tempo para a juventude

S R Eu acho que se tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ajudar nas oportunidades de trabalho Porque com lazer a gente podia trabalhar ia ficar mais faacutecil

O que se pocircde concluir foi que o trabalho natildeo parece ser o maior empecilho agrave decisatildeo

destes e destas jovens entre ficar no campo ou ir para a cidade Ocorre que a falta de

oportunidades de trabalho com melhor renda que recebida por seus familiares acaba

influenciando mais em sua decisatildeo que o proacuteprio trabalho em sua exigecircncia de dedicaccedilatildeo em

esforccedilo como ocorre na agricultura como afirma K V

Eu acho que as pessoas saem daqui muitas porque natildeo gostam de morar na roccedila mas eu acho que eacute falta de oportunidade Na cidade existe a possibilidade da gente fazer uma coisa Eacute uma chance Coisa que a gente natildeo tem muito aqui trabalho faculdade Porque natildeo tem muitas coisas pra fazer natildeo tem lugar pra sair o uacutenico que tem todo mundo jaacute conhece natildeo tem graccedila Penso tambeacutem na oportunidade de fazer faculdade ganhar melhor

94

Continuando a conversa perguntamos como algueacutem do assentamento continuaria

proacuteximo agrave sua realidade mesmo tendo uma formaccedilatildeo profissional que natildeo se caracteriza

como trabalho rural novamente G responde

Tem aiacute muita gente querendo aposentar tendo que contratar advogado de fora O cara de fora ainda pega um monte de dinheiro dele (do agricultor) Se tivesse um advogado aqui jaacute ia conhecer a pessoa ia ajudar Se tivesse um advogado aqui dentro ele ia conhecer a realidade ia estar dentro do problema Agora vou contratar uma pessoa laacute de Brasiacutelia pra resolver meu problema Ele nunca vai saber resolver vocecirc natildeo tem informaccedilatildeo deles e vocecirc natildeo vai conseguir passar de forma clara seu problema pra eles Se fosse uma pessoa aqui de dentro ia estar dentro do problema

Essa fala representa bem a caracterizaccedilatildeo de territorialidade em sua forma material e

imaterial construiacuteda pelos sujeitos do campo a partir natildeo soacute da apropriaccedilatildeo material do

territoacuterio mas com a inserccedilatildeo de formas de trabalhos com indiviacuteduos que conhecem a

realidade do campo e de assentamentos de reforma agraacuteria simbolizando o fortalecimento de

identidades diversificando a atuaccedilatildeo no campo e desconstruindo o rural com outras

possibilidades que natildeo somente lidar diretamente com o plantio mas tambeacutem colhendo

direitos afirmaccedilatildeo autonomia A diversificaccedilatildeo de oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho satildeo

de grande importacircncia para a reflexatildeo da juventude rural em sua escolha entre o rural e o

urbano

Durante os encontros outro tema de muita relevacircncia nas discussotildees foi a educaccedilatildeo a

escola e suas mudanccedilas atuais Quanto agrave educaccedilatildeo todos concordaram que era um tema

importante e que poderia muito bem ser abordado juntamente aos temas comunidade e

coletivo trabalho com a perspectiva de autonomia Quanto agrave escola e suas atuais mudanccedilas a

partir de exemplos de accedilotildees nas escolas democraacuteticas foi dito que

SH A escola mudou mas ainda natildeo taacute bom A parte de conteuacutedo de mateacuteria eacute bom vocecirc aprende Tem essas outras coisas que tem a ver alimentaccedilatildeo daacute pra conversar Esse ano eles tatildeo tentando fazer diferente os alunos que escolhem como seraacute dada a mateacuteria Esse semestre taacute bem difiacutecil taacute confuso eles ainda natildeo estatildeo fazendo tudo dessa forma mas taacute indo

Eacute importante relatar a percepccedilatildeo acerca dessas modificaccedilotildees jaacute que nas denominadas

escolas democraacuteticas o fato de o aluno percebecirc-las e delas fazer parte eacute um avanccedilo muito

importante Quando SH relata que ainda estaacute ldquobem difiacutecil confuso mas taacute indordquo haacute uma

percepccedilatildeo quanto agraves mudanccedilas em seu papel como aluno Vecirc-se no discurso dos e das jovens

do grupo que essa dificuldade maior estaacute principalmente quando agora os alunos escolhem

como seraacute dada determinada disciplina entre outras mudanccedilas de caraacuteter dialoacutegico Essa

liberdade eacute elemento novo na experiecircncia escolar destes e destas jovens que parecem natildeo

95

estar ainda preparados para decidir e eacute assim que deve ocorrer com estiacutemulos iniciais a

processos de decisatildeo Na realidade do grupo identifica-se a constituiccedilatildeo de um processo

inicial de busca por autonomia na escola

Ningueacutem eacute autocircnomo primeiro para depois decidir A autonomia vai se constituindo na experiecircncia de vaacuterias inuacutemeras decisotildees que vatildeo sendo tomadas A autonomia enquanto amadurecimento do ser para si eacute processo Eacute vir a ser Eacute neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiecircncias estimuladoras da decisatildeo e da responsabilidade vale dizer em experiecircncias respeitosas de liberdade (FREIRE 1999 p120)

O processo de abertura ao diaacutelogo entre estudantes e professores eacute avaliado como

positivo e importante para a autonomia dos e das estudantes Alguns participantes sugeriram

que para facilitar esse diaacutelogo haja dinacircmicas de grupo constantes que estimulem a

interaccedilatildeo aleacutem de disponibilizaccedilatildeo de material audiovisual para visualizaccedilatildeo e discussatildeo G

afirma que muitas vezes a mudanccedila natildeo viraacute do professor mas do posicionamento dos

estudantes com relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedila que este estudante deveraacute sempre se fazer

ouvir Apesar das modificaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo da escola o grupo identificou

problemas na infraestrutura da escola que comprometem a qualidade do ensino como a falta

de laboratoacuterios para as praacuteticas em quiacutemica fiacutesica e biologia

Jaacute fora da realidade da escola envolvendo o assentamento outro tema discutido foi

comunicaccedilatildeo Para a juventude rural e neste recorte espacial como exemplo a comunicaccedilatildeo eacute

extremamente importante tanto para sua formaccedilatildeo educacional como para inuacutemeras accedilotildees

que se tornam possiacutevel com uma estrutura de comunicaccedilatildeo eficiente No assentamento Siacutelvio

Rodrigues haacute dificuldade para o uso de internet e telefone O equipamento instalado de

recepccedilatildeo de sinal telefocircnico natildeo atende a todas as famiacutelias e possui sinal muitas vezes

intermitente Quando falamos sobre conhecimento de poliacuteticas puacuteblicas e acesso agraves

informaccedilotildees sobre estas muitos desconheciam apesar da divulgaccedilatildeo via internet

Ao questionarmos como se daacute a elaboraccedilatildeo de projetos que envolvem a juventude

rural por meio da disponibilizaccedilatildeo de editais o grupo afirmou que a dificuldade no acesso agrave

internet natildeo permite que conheccedilam o edital em tempo de elaborar uma proposta dentro do

prazo de envio da documentaccedilatildeo24 O acesso agrave internet se daacute somente a quem tem condiccedilotildees

financeiras de instalar uma antena de captaccedilatildeo de sinal Como alternativa a esta carecircncia

24 Durante o periacuteodo de pesquisa tive acesso a dois editais de projeto com o tema juventude rural e encaminhei

a proposta a um dos jovens por meio de rede social Quando tivemos um encontro soubemos que natildeo havia mais tempo de inscrever o grupo no projeto e confirmamos o problema

96

quase todos que precisam desse acesso recorrem a alguma lan house em Alto Paraiacuteso No

entanto outras dificuldades como a distacircncia e a falta de transporte acabam por impedir o

acesso agrave comunicaccedilatildeo e desestimular a juventude a procurar alternativas em sua decisatildeo de

permanecer no campo

Aleacutem disso como elemento de grande importacircncia impotildeem-se ao jovem urbano uma

relaccedilatildeo com tempo diferente da relaccedilatildeo de tempo com o jovem rural Natildeo procurando uma

generalizaccedilatildeo mas apenas desejando ressaltar as diferenccedilas vemos que o tempo urbano eacute o

agora eacute a inserccedilatildeo tecnoloacutegica imediata eacute a capacitaccedilatildeo imediata assim como o uso do

espaccedilo em um movimento que identifica seus sujeitos em um mundo globalizado em que

tudo deve ocorrer de forma imediata O tempo rural eacute diferente o agora rural eacute outro natildeo estaacute

inserido o imediato mas o cultivo do que viraacute amanhatilde eacute um tempo que natildeo usufrui a

globalizaccedilatildeo como eacute dada ou imposta natildeo eacute um tempo concomitante ao tempo urbano

Acreditamos ser importante essa compreensatildeo porque quando satildeo elaboradas accedilotildees

puacuteblicas para a juventude como a disponibilidade de poliacuteticas puacuteblicas ou formas de

capacitaccedilatildeo o tempo para que haja uma accedilatildeo seraacute outro assim como os meios para a busca

desses elementos seratildeo obtidos em um tempo diferente A forma com que estes sujeitos

(rurais) utilizam o tempo a partir de sua localidade eacute diferente de como aqueles sujeitos

(urbanos) utilizam esse mesmo tempo podendo afirmar que haacute uma coexistecircncia entre eles

(SANTOS 1997)

Quanto ao futuro quase todo o grupo teve uma visatildeo otimista com prosperidade e

trabalho coletivo com comunicaccedilatildeo auxiliando na educaccedilatildeo e no trabalho Um participante

do grupo natildeo concordou e acredita que natildeo haacute expectativas com a juventude que somente o

trabalho com as crianccedilas poderaacute levar a um futuro melhor

S H Tem pessoas que querem ficar no assentamento mas aiacute tinha que ter uma faculdade aqui perto que nem o G falou Tem jovens tambeacutem que querem estudar fora natildeo querem ficar aqui que eacute a maior parte e eacute o que eu lembro Ter algo disso aqui eacute uma oportunidade para o jovem ficar aqui dentro Acho que muitos querem ficar mas natildeo tem faculdade

Quando o acesso agrave universidade foi colocado como elemento de relevacircncia para a decisatildeo

sobre a permanecircncia no campo houve algumas reflexotildees como a que segue

97

M C S A perspectiva de futuro vocecircs falaram a gente queria fazer faculdade Eu to fazendo faculdade e o G tambeacutem taacute Pra uma perspectiva de futuro se 10 pessoas daqui se formarem na faculdade vai melhorar seraacute Seraacute que eacute soacute isso Seraacute que eacute soacute a faculdade Falam que natildeo tem oportunidade e vatildeo embora E as oportunidades dos projetos

Percebemos que a expectativa da juventude quanto ao acesso ao ensino superior eacute de

extrema relevacircncia A ausecircncia ou a distacircncia de alguma universidade proacutexima ao

assentamento parece ser um fator decisivo quanto agrave permanecircncia no campo A universidade

mais proacutexima eacute a UnB mas a comunicaccedilatildeo quanto agraves formas de inserccedilatildeo disponibilidades de

cursos e distanciamento ainda relevante da realidade do campo se tornam obstaacuteculos

empecilhos na busca pela educaccedilatildeo superior Uma forma de acesso possiacutevel agrave universidade

como afirmou M C S eacute a educaccedilatildeo agrave distacircncia Este jovem citou seu exemplo sendo

recentemente aprovado no curso superior de Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EAD) da UnB e

atualmente buscando adaptar seu tempo de estudo ao trabalho na agricultura no grupo de

jovens e em suas obrigaccedilotildees na associaccedilatildeo Mas observa que mesmo com essa facilidade no

acesso ao ensino superior faz falta a internet para a maioria das e dos jovens

Outro elemento abordado foi o lazer como elemento que faz grande falta agrave juventude

Os participantes afirmaram que o lazer era limitado agraves festas organizadas pela comunidade os

banhos de cachoeira e a praacutetica de esportes limitada ao futebol organizado uma vez por

semana quando a quadra coberta da CIFRATER eacute liberada ao uso da comunidade

Perguntamos como o lazer influenciava na decisatildeo sobre a permanecircncia das e dos jovens no

assentamento

Todos concordaram que estavam ldquona idaderdquo de se divertirem e que ali no assentamento

natildeo havia essa possibilidade SR detalhou melhor a importacircncia do lazer ldquoEu acho que se

tivesse mais oportunidade de lazer isso jaacute ia ajudar nas oportunidades de trabalho Porque

com lazer a gente podia trabalhar melhor ia ficar mais faacutecilrdquo O lazer eacute visto por este jovem

em concordacircncia com os demais como elemento que faz grande falta quando comparado agraves

oportunidades de lazer existentes na cidade Muitos citaram que se divertem melhor durante

as feacuterias porque tem a oportunidade de viajar para casa de parentes onde tem oportunidade

de ir ao cinema festas urbanas zooloacutegico e parques

Quando abordamos o tema identidade em diversos encontros para a percepccedilatildeo da

juventude rural enquanto sujeito com caracteriacutesticas formadoras de identidade houve diversos

apontamentos Inicialmente houve uma tentativa de conceituar

98

G A identidade eacute o que identifica a pessoa A identidade dela pode ser gostar e trabalhar no coletivo Vamos supor minha identidade eacute trabalhar no coletivo entatildeo eu vou querer que as pessoas perto de mim trabalhem natildeo necessariamente fazendo a mesma coisa mas seguindo um mesmo ideal aqui dentro do assentamento Se criar uma identidade coletiva pode mudar muita coisa

Em continuidade partiu-se para a compreensatildeo da juventude como uma identidade

coletiva com necessidade de trabalhos conjuntos e diaacutelogo

S R Se todo mundo se reunir e ver o que os outros precisam e vocecirc pensar igual tem que falar pra poder ajudar a comunidade no coletivo

Para a discussatildeo acerca da identidade da juventude rural ali reunida diversos

elementos do grupo focal contribuiacuteram para a compreensatildeo da importacircncia do trabalho

coletivo do diaacutelogo e da troca de conhecimentos sobre poliacuteticas puacuteblicas eventos poliacuteticos e

estudos sobre a categoria Quanto agrave participaccedilatildeo em grupo de decisatildeo como a associaccedilatildeo

SH declara que ldquoEu acho que natildeo temos voz na associaccedilatildeo e nas reuniotildees da comunidade e

acho tambeacutem que o grupo tem pouca forccedila de vontaderdquo

Como forma de resistecircncia e afirmaccedilatildeo de identidade quando questionados sobre a

afirmaccedilatildeo enquanto jovem

M C S Quando eu estou nos espaccedilos eu nem me identifico como jovem porque o jovem eacute reconhecido como irresponsaacutevel imaturo

A identidade aiacute deve ser trabalhada tambeacutem enquanto expressatildeo de territorialidade

como uma apropriaccedilatildeo a partir da compreensatildeo de sua importacircncia enquanto indiviacuteduo e

enquanto coletivo O espaccedilo em que a juventude rural natildeo se reconhece eacute um espaccedilo que

intimida e que dificulta sua afirmaccedilatildeo e a torna simbolicamente invisibilizada mesmo

estando fisicamente presente

42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha

A relaccedilatildeo com a cidade passa a ser uma fuga tanto da invisibilidade com adultos natildeo

permitindo sua participaccedilatildeo nas decisotildees familiares e comunitaacuterias quanto da falta de

expectativas no meio rural expectativas essas muacuteltiplas relacionadas diretamente ao trabalho

e agrave educaccedilatildeo

99

Natildeo eacute exagero dizer que os jovens rurais brasileiros natildeo gozam do direito agrave cidadania quando se trata de admiti-los como sujeitos ou atores poliacuteticos com direito a participar das decisotildees que afetam sua vida e seu futuro Aleacutem disso da perspectiva dos direitos sociais mesmo os mais elementares essa juventude convive com situaccedilotildees de natildeo-reconhecimento preconceito marginalidade e exclusatildeo [] invisibilidade e migraccedilatildeo parecem fortalecer-se mutuamente criando um ciacuterculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural (WEISHEIMER 2005 p8)

Essas perspectivas traduzem-se para a juventude rural com a discussatildeo sobre

oportunidades negadas pela falta de poliacuteticas especiacuteficas para essa categoria social No grupo

focal o assunto foi bem explorado tanto na discussatildeo quanto na exposiccedilatildeo de material

audiovisual e na explanaccedilatildeo de possibilidades de trabalho e educaccedilatildeo ainda limitados agrave

formaccedilatildeo teacutecnica em agricultura e pecuaacuteria como bem expressa G

Porque tambeacutem uma coisa natildeo eacute soacute do campo ou soacute da cidade eu posso ter um advogado que trabalha no campo que nem aqui no assentamento ou uma coisa pra fazer fora tipo um projeto um advogado daqui fazer Ou um meacutedico se aqui tivesse um postinho Agora dizer que um desses eacute soacute de fora e agronomia eacute soacute do campo natildeo eacute por que essa ligaccedilatildeo entre campo e cidade eacute muito viva

O jovem expressa uma reflexatildeo a partir da realidade do campo imposta

historicamente O desejo por novas territorialidades se expressa em sua fala pela apropriaccedilatildeo

dos postos de trabalho pelo atendimento agrave comunidade e pela caracterizaccedilatildeo muacuteltipla do

campo que natildeo restrita a apenas uma forma de trabalho mas com trabalhos que se

complementam abrem oportunidades tambeacutem agrave juventude e trazem a afirmaccedilatildeo de

identidades

Ao mesmo tempo em que satildeo expostas as contradiccedilotildees entre rural e urbano ou campo

e cidade quando satildeo abordados os temas oportunidades em educaccedilatildeo e trabalho os e as

participantes do grupo focal buscam trazer agrave discussatildeo elementos que aproximem os dois

mundos mesmo que natildeo apenas elementos concretos e presentes mas elementos futuros

como o mesmo tratamento em relaccedilatildeo ao que eacute oferecido aos jovens da cidade Para a maioria

dos participantes haacute formas de contribuir para que optem em permanecer no campo mas

lamentam que essa contribuiccedilatildeo em educaccedilatildeo e trabalho no campo venha quando jaacute natildeo teratildeo

mais paciecircncia por esperar

G Oportunidade de estudo no assentamento eacute importante Eu queria continuar dentro do assentamento mas fiquei longe de tudo aiacute tem que ir pra Brasiacutelia ou Anaacutepolis e ficar fechadinho numa escola Houve uma oportunidade mas tive que ir laacute pro Rio Grande do Sul fazer natildeo tinha essa oportunidade aqui no Estado Se todos jovens que se formar no ensino

100

meacutedio e todo ano ele se empenhar pra criar oportunidade aqui dentro mesmo que seja soacute um curso de capacitaccedilatildeo curso teacutecnico ia ser importante porque estimularia os jovens a ficar aqui mesmo Quem formou deve ter dois ou trecircs que continuou depois da escola Poderia ser aqui Oportunidade de emprego na agricultura ou outra coisa pra levar seu conhecimento no campo

Sobre oportunidades de emprego houve discordacircncia quanto agrave sua carecircncia

demonstrando a cobranccedila de muitos jovens quanto agrave participaccedilatildeo em projetos jaacute existentes no

assentamento com objetivo de geraccedilatildeo de renda

M C S Oportunidade de emprego eacute a gente que cria Exemplo eu precisei sair do campo pra gerar emprego aqui Como exemplo a horta da S H que jaacute vende e gera renda sem ela sair daqui

Nova discordacircncia entre os participantes quanto ao trabalho e a renda gerada

K mexer com horta natildeo eacute bom porque tem que passar um tempatildeo plantando e colhendo pra levar pra laacute (para a feira) e depois ganhar uma mixaria

Diversos pontos conflitantes foram apontadas sobre as oportunidades existentes e a

relaccedilatildeo juventudetrabalho sinalizando a diversidade de ideias sobre como os e as jovens

poderiam ter para continuar no campo caso assim desejasse A quantidade de tempo gasta

com o trabalho sinalizado na discussatildeo como a horta o desgaste fiacutesico ou o valor monetaacuterio

de determinados trabalhos colocaram-se como elementos de grande importacircncia Sinalizando

e finalizando a discussatildeo foram reunidos durante a pesquisa comentaacuterios de jovens do

assentamento em diferentes momentos sobre a emergecircncia em estabelecer accedilotildees para a

escolha futura da juventude rural entre ficar no campo ou viver na cidade natildeo para a

imposiccedilatildeo presente na negaccedilatildeo de direitos

ldquoAqui faltam oportunidadesrdquo

ldquoExistem muito mais poliacuteticas para a juventude urbanardquo

ldquoA diferenccedila entre a gente e a juventude urbana eacute que eles tecircm reconhecimento oportunidadesrdquo

ldquoQueremos conhecer agroecologia pra poder falar sobre elardquo

ldquoQueremos internet pra poder conhecer nossos direitos porque o movimento fala pra gente lutar mas ningueacutem fala pra como faz isso que tem aquela poliacutetica que tem aquele projetordquo

101

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando comeccedilamos a pesquisa junto ao grupo de jovens confirmamos o que diversos

estudos jaacute apontavam Como um recorte da categoria juventude rural encontramos a

representaccedilatildeo de negaccedilatildeo de direitos tanto sociais quanto poliacuteticos ao percebermos que

mesmo entre a juventude e os adultos do assentamento havia uma natildeo aceitaccedilatildeo quanto agrave

participaccedilatildeo destes enquanto sujeitos poliacuteticos Eacute claro que com exceccedilotildees e com uma breve

argumentaccedilatildeo sobre Essa negaccedilatildeo dos adultos em reconhecer o potencial de atuaccedilatildeo poliacutetica

nada mais parece que a continuidade do que foi dado como perspectiva a estes adultos

enquanto eram jovens A exclusatildeo de espaccedilos de discussatildeo tambeacutem era negada em outras

geraccedilotildees como um espelho das relaccedilotildees sociais estabelecidas para a juventude No entanto

ao perceberem isso haacute uma maior possibilidade da juventude presente lutar por relaccedilotildees

sociais estabelecidas natildeo para ela mas por ela enquanto participante de processos de decisatildeo

Foi possiacutevel mesmo com algumas limitaccedilotildees levantar problemas e demandas junto agrave

juventude rural do assentamento Silvio Rodrigues Ao estabelecermos com o grupo recortes

temporais a partir de histoacuterias que remetiam ao tempo passado seguindo para o tempo

presente e futuro em cada grupo focal conseguimos reunir elementos histoacutericos do

assentamento demandas presentes e perspectivas futuras

Para o tempo passado houve relatos da constituiccedilatildeo do assentamento e infacircncia na

escola mas pouco sobre trabalhos junto agrave juventude O que obtivemos de dados do

assentamento em sua constituiccedilatildeo partiu do resgate de histoacuterias contadas pelos familiares das

e dos jovens jaacute que a maior parte do grupo participante da pesquisa era ainda crianccedila na

eacutepoca O resgate foi uma grande contribuiccedilatildeo para caracterizamos o assentamento desde a

ocupaccedilatildeo com histoacuterico de conflitos na CIFRATER conquistas da associaccedilatildeo e a necessidade

de muitos jovens em viver na cidade muitos em busca de trabalho A volta de outros jovens

como forccedila e como incentivos ao grupo em continuar as reuniotildees e trabalho tambeacutem contou

como um importante elemento gerador discussatildeo Aiacute jaacute pudemos identificar a constituiccedilatildeo de

novas territorialidade com sujeitos em resistecircncia agrave expropriaccedilatildeo e agrave fragmentaccedilatildeo de

identidades Com a ocupaccedilatildeo representando processo de reterritorializaccedilatildeo de forma material

e simboacutelica A exigecircncia pelo uso do espaccedilo escolar jaacute existente a associaccedilatildeo ativa e a recente

formaccedilatildeo do grupo de jovens em busca de visibilidade exibe uma comunidade ativa

102

Para o tempo presente inicialmente encontramos um grupo em reestruturaccedilatildeo ainda

com a presenccedila intermitente de alguns jovens com certa desconfianccedila quanto agrave proposta da

pesquisa Compreendendo as necessidades de diaacutelogo acerca do presente para a juventude no

contexto apresentado a realidade do grupo as ausecircncias e resistecircncias foi possiacutevel exercitar

junto a eles o auto-reconhecimento enquanto categoria e traccedilar proposiccedilotildees reais para

discussatildeo Neste tempo presente estava posta como realidade a escola para a maioria O EHC

em sua proposta de mudanccedila de postura na comunicaccedilatildeo entre alunos e professores jaacute estava

chamando atenccedilatildeo em sua mudanccedila A abertura ao diaacutelogo em uma escola causou

estranhamento no grupo mas tambeacutem certo entusiasmo com a possibilidade do novo Os

projetos produtivos estabelecidos como accedilotildees junto agrave UnB Cerrado tambeacutem estiveram

durante a pesquisa ocorrendo de forma constante Em meio a conversas percebemos que a

maior parte dos projetos produtivos no grupo natildeo atende agraves perspectivas das jovens do

assentamento

Entre as atividades estavam o plantio de quintais agroflorestais com a

complementaccedilatildeo de criaccedilatildeo de aves construccedilatildeo de viveiros A maior parte das jovens

participantes da pesquisa natildeo mostrou entusiasmo com estas atividades relacionando o

trabalho a grande esforccedilo fiacutesico com pouco retorno financeiro Neste momento houve

embate pois algumas jovens jaacute envolvidas nas accedilotildees junto agrave UnB Cerrado afirmaram ser

positiva a accedilatildeo para mulheres e que se trabalhassem como coletivo demandaria menor

esforccedilo Como gecircnero este foi o uacutenico momento de relevante discussatildeo jaacute que natildeo

encontramos abertura para o debate do tema Enquanto identidade foi possiacutevel perceber a

organizaccedilatildeo coletiva do grupo representante da juventude do assentamento para as festas e

para o acampamento regional da juventude rural liderado por uma jovem do assentamento

inserida no MST O tempo presente mostrou-se um tempo de experiecircncias educativas na

escola nos projetos produtivos e no debate junto ao MST

Para o futuro houve a identificaccedilatildeo positiva de envolvimento em movimentos sociais e

novos projetos produtivos e culturais para o assentamento A possibilidade de realizar eventos

para a juventude as modificaccedilotildees na escola e alguns elementos gerados do debate ocorrido

durante a pesquisa levaram agrave juventude a um olhar mais atencioso quanto agrave necessidade de

organizaccedilatildeo Como elemento negativo ocorreu a possibilidade de migraccedilatildeo de grande parte

das e dos jovens presentes no grupo focal devido agraves carecircncias citadas neste trabalho natildeo

devido agrave escolha pessoal Compreendeu-se que mesmo organizados natildeo era esperada para

103

um futuro proacuteximo uma real modificaccedilatildeo em oportunidades para a escolha da juventude rural

em ficar

Algumas limitaccedilotildees se fizeram presentes durante a execuccedilatildeo da pesquisa Com uma

perspectiva inicial da participaccedilatildeo de cerca de 15 jovens havia a possibilidade de formaccedilatildeo de

dois grupos focais tanto para maior participaccedilatildeo dos presentes quanto para encontrar

elementos divergentes e semelhantes em grupos formados por uma soacute categoria No entanto

com o relato de migraccedilatildeo para as cidades como alguns jovens que terminaram o ensino

meacutedio e partiram em busca de trabalho ou se casaram ou ainda natildeo tinham interesse na

proposta de pesquisa tivemos a participaccedilatildeo nos encontros de sete jovens com outros jovens

participando ocasionalmente das reuniotildees Natildeo houve com isso a formaccedilatildeo de mais de um

grupo focal impossibilitando a identificaccedilatildeo de elementos de divergecircncia entre grupos

formados por jovens No entanto ressalta-se que aleacutem de permitir o encontro de importantes

elementos de discussatildeo para a pesquisa este nuacutemero de participantes estaacute dentro do sugerido

para trabalhos com grupos focais

Outra limitaccedilatildeo foi o tempo de pesquisa tempo este imposto pela academia que muitas

vezes natildeo condiz com o tempo real necessaacuterio agrave realizaccedilatildeo de trabalhos e pesquisas Com a

dificuldade inicial em encontrar um grupo de jovens no DF e entorno com histoacuterico de

organizaccedilatildeo e discussatildeo o tempo de realizaccedilatildeo da pesquisa no recorte utilizado ficou

limitado Apenas 6 meses para conhecer o assentamento seu histoacuterico reunir dados de

constituiccedilatildeo desde o acampamento entraves sucesso lutas conhecer o histoacuterico da juventude

no local relaccedilotildees coma escola trabalho lazer e cultura junto a um quadro heterogecircneo de

accedilotildees para o grupo focal pode ter prejudicado o tempo de anaacutelise de conteuacutedo natildeo

possibilitando uma maior reflexatildeo

A falta de comunicaccedilatildeo tambeacutem se apresentou como obstaacuteculo ao cumprimento do

cronograma de campo A dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o grupo por meio telefocircnico ou

internet limitava o nuacutemero de participantes no grupo focal muitas vezes por desconhecimento

dos horaacuterios ou localizaccedilatildeo dos encontros que acabavam sendo adiados de acordo com a

agenda de reuniotildees e festividades do assentamento Houve o nuacutemero de encontros previstos

mas algumas viagens com poucos resultados gerados pelos desencontros

Enquanto ecircxito de pesquisa a utilizaccedilatildeo das dinacircmicas auxiliou o iniacutecio dos diaacutelogos

como uma forma de deixar o grupo mais agrave vontade para conversar Todas as dinacircmicas

104

buscaram incentivar a consciecircncia coletiva tanto para a execuccedilatildeo do grupo focal quanto para

outros trabalhos envolvendo o grupo de jovens Os trabalhos com teatro do oprimido

utilizado na pesquisa permitiu a sensibilizaccedilatildeo quanto agrave categoria juventude rural se

identificando enquanto sujeito em busca de perspectivas de direito e natildeo a negaccedilatildeo histoacuterica

O teatro imagem trabalhando o real e o ideal mostrou-se de grande importacircncia para o grupo

nos dois momentos enquanto e realidade e demonstraccedilatildeo de trabalho e realidade e enquanto

sonho e perspectiva enquanto objetivo de futuro com demonstraccedilatildeo de lazer e perspectivas de

estudo e trabalho A cartografia social embora natildeo tenhamos conseguido finalizar as

projeccedilotildees de futuro expostas no papel pocircde transcrever como as jovens e os jovens do

assentamento percebem sua realidade e projetam o futuro Como grupo possuem semelhanccedila

quanto ao desejo de produccedilatildeo em bases agroecoloacutegicas mas aleacutem disso projetam espaccedilos de

lazer e trabalho em uma perspectiva simboacutelica mas como forma de apropriaccedilatildeo do territoacuterio

O grupo focal enquanto meacutetodo de comunicaccedilatildeo com a juventude rural para a busca de

dados e para ajudar a revelar identidades ainda conhecidas mostrou-se de grande importacircncia

para a obtenccedilatildeo dos resultados buscados e cumprimentos dos objetivos propostos A

possibilidade de se utilizar muacuteltiplas ferramentas trazidas por uma proposta aberta ao diaacutelogo

e buscando este diaacutelogo de forma mais luacutedica muito contribuiu para a comunicaccedilatildeo entre

pesquisadora e jovens Foi possiacutevel perceber que a recepccedilatildeo aos jogos dinacircmicas exibiccedilatildeo de

audiovisual oficinas de teatro do oprimido e mapeamento participativo foi positiva O diaacutelogo

foi se enriquecendo e a participaccedilatildeo ainda que ocorrendo de forma um pouco tiacutemida foi de

grande relevacircncia para a pesquisa Acreditamos tambeacutem que a pesquisa atuou na afirmaccedilatildeo da

identidade do grupo de jovens do assentamento que poderatildeo utilizar os materiais

apresentados no grupo focal para continuidade de seus encontros e discussotildees O grupo focal

enquanto ferramenta que traz outras formas de comunicaccedilatildeo e discussatildeo mostra-se como

elementos de grande importacircncia no uso em comunidades tanto para seu conhecimento

quanto para possibilitar novas ferramentas e dinacircmicas que podem ser utilizadas em praacuteticas e

reflexotildees de cunho poliacutetico

Como perspectiva de continuidade da juventude rural no campo eacute de extrema importacircncia

que haja formas de organizaccedilatildeo com ferramentas de reflexatildeo e oportunidades de discussatildeo

Para que esta tenha visibilidade como categoria social o caminho deve ser trilhado com

oportunidades muacuteltiplas aqui discutidas e jaacute mencionadas em outros estudos sobre juventude

rural Os jovens ou as jovens que vivem em assentamentos de reforma agraacuteria natildeo deveriam

105

ser responsabilizados pela negaccedilatildeo a direitos Deveriam ter a possibilidade de constituiccedilatildeo de

novas territorialidades mesmo que estas territorialidade natildeo se dessem no campo mas que

fossem geradas pela escolha As territorialidades devem ser construiacutedas pela oportunidade do

diaacutelogo e pela riqueza dos resultados gerados Se natildeo abrimos esta possibilidade soacute nos resta

a dominaccedilatildeo

Ainda com algumas lacunas a serem preenchidas em pesquisas posteriores foi de grande

satisfaccedilatildeo acadecircmica e pessoal a busca por elementos que pudessem trazer outras

perspectivas para a juventude rural que natildeo a de migraccedilatildeo para a cidade propostas por elas

enquanto sujeito de pesquisa A abertura ao diaacutelogo possibilitada pela metodologia

apresentada foi de grande importacircncia para dar voz a uma categoria com histoacuterico de negaccedilatildeo

discriminaccedilatildeo e preconceito

A partir de estudos multidisciplinares foi possiacutevel chegar a uma anaacutelise da juventude e do

territoacuterio para uma melhor compreensatildeo de processos gerais para essa categoria social

Importante assinalar que o assentamento escolhido para a pesquisa possui histoacuterica discussatildeo

sobre a juventude rural local a partir de suas expectativas em identidade formaccedilatildeo poliacutetica

poliacuteticas puacuteblicas e continuidade no campo Foi de grande importacircncia a pesquisa ter sido

realizada de forma participativa pois aleacutem da integraccedilatildeo entre os participantes do grupo de

jovens houve a oportunidade de contato entre pesquisadoras e comunidade Aleacutem do contato

no grupo e com alguns de seus familiares houve a possibilidade de conhecer membros da

associaccedilatildeo professores da escola e outros pesquisadores Procuramos aproximar a relaccedilatildeo

pesquisadoras-jovens por meio das dinacircmicas e conhecimento de sua realidade de busca por

elementos que os auxiliem em sua visibilidade como categoria social

Quando expomos a autonomia como elemento a ser alcanccedilado para a juventude rural

trazemos um elemento que deve estar disponiacutevel a cada indiviacuteduo As jovens e os jovens

enquanto indiviacuteduos precisam traccedilar sua caminhada a partir da disponibilidade de poliacuteticas e

accedilotildees a eles e a elas destinadas natildeo a partir da escassez destas poliacuteticas Podem com isso

fazer a escolha ainda negada entre ficar no campo ou partir para a cidade Ainda a falta eacute o

que leva agrave escolha desta categoria em partir A falta de oportunidades em educaccedilatildeo em

trabalho em lazer comunicaccedilatildeo transporte entre tantos elementos que se resumem em natildeo

estar ali ou em ser precaacuterios quando estatildeo A busca natildeo eacute por um pouco a cada manifestaccedilatildeo a

cada carta poliacutetica ou a cada dez anos de estatiacutestica de migraccedilatildeo A busca eacute urgente e por uma

plenitude de direitos

106

A juventude rural a partir dos movimentos sociais se organizando e enfrentando a

negaccedilatildeo aos seus direitos possui uma forccedila que natildeo teriam sem uma forma coletiva de luta

Mesmo ainda que de forma incompleta eacute nos movimentos sociais que a voz da juventude

enquanto categoria eacute ouvida Por aiacute eacute possiacutevel de forma coletiva discutir como se impor

enquanto grupo como podem exigir seus direitos como podem exercer estes mesmos direitos

e como compreender sua importacircncia social e territorial A juventude rural organizada pode se

afirmar enquanto identidade e enquanto diversidade Pode e deve atuar na elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas revelando a si e a todos suas culturas desejos necessidades e formas de

autonomia Pode porque eacute um direito da juventude natildeo ser invisiacutevel Deve porque eacute uma

necessidade da juventude ser vista e ser acolhida em suas identidades em seus territoacuterios

107

REFEREcircNCIAS

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WEISHEIMER Nilson Juventudes Rurais mapa de estudos recentes Brasiacutelia Estudos

NEAD Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio 2005

115

APEcircNDICE A

GUIA DE CAMPO E PLANEJAMENTO PARA O GRUPO FOCAL

Sabine Ruth Popov Cardoso ndash mestranda em meio ambiente e desenvolvimento rural

1ordm encontro ndash Conversa com lideranccedilas da juventude e comunidade interessados em

conhecer o projeto

Conversa inicial com professores da escola

Material maacutequina fotograacutefica

2ordm encontro - Conhecendo a juventude do assentamento Siacutelvio Rodrigues com dinacircmica

circular Conversa sobre terra agricultura educaccedilatildeo cultura poliacutetica e meio ambiente

Apresentaccedilatildeo pessoal da pesquisadora Exibiccedilatildeo de material audiovisual

Uso de desenhos para demonstrar aspectos do passado presente e perspectiva de futuro da

juventude do assentamento

Materiais necessaacuterios tinta guache papel sulfite pinceacuteis projetor computador

3ordm encontro ndash dinacircmica com temas relacionados ao local Assentamento Alto Paraiacuteso

Chapada dos Veadeiros Cerrado O territoacuterio como resistecircncia

Dinacircmica floresta dos sons

Material audiovisual Diz aiacute Juventude Rural

Roleta magneacutetica selecionar palavras chave para sortear e iniciar discussatildeo a partir dos

encontros anteriores A discussatildeo deve ocorrer a partir de palavras com todos em ciacuterculo

comentando sobre o tema

Material gravador caderno de anotaccedilotildees maacutequina fotograacutefica roleta magneacutetica montada

computador projetor caixas de som

116

4ordm encontro Participaccedilatildeo no Acampamento Estadual da Juventude Rural

Registro de imagens e realizaccedilatildeo da dinacircmica das matildeos

Materiais Maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees papel caneta tesoura fita adesiva

5ordm encontro ndash Identificaccedilatildeo dos problemas que levam a juventude rural a sair do campo e

procurar a cidade Sair ou ficar Razotildees para ficar razotildees para sair

Dinacircmica do chocolate para o trabalho coletivo

Debate sobre accedilotildees coletivas

Visita agraves aacutereas de lazer utilizadas pela juventude do assentamento

Materiais Maacutequina fotograacutefica cadernos de anotaccedilotildees gravador chocolates

6ordm encontro Elaboraccedilatildeo de poemas e trabalho com teatro do oprimido

Discussatildeo sobre o presente Reflexatildeo sobre o futuro perspectivas dos e das jovens

Composiccedilatildeo do teatro-imagem a imagem real e a imagem ideal

Materiais cartolina canetas maacutequina fotograacutefica gravador caderno de anotaccedilotildees

7ordm encontro Trabalho com mapas (mapa de projetos futuros mapa dos sonhos) a partir de

oficina em cartografia social Elaboraccedilatildeo de mapa participativo

Identificaccedilatildeo da juventude desejos oportunidades prioridades entre os jovens e as jovens

Materiais papel tamanho A1 papel vegetal papel impresso com imagem de sateacutelite laacutepis

HB laacutepis de cor maacutequina fotograacutefica caderno de anotaccedilotildees gravador

117

APEcircNDICE B

Algumas imagens ndash A Juventude Rural no Assentamento Silvio Rodrigues

Desenhos representando aspectos negativos e positivos no tempo presente

Mesa de representaccedilatildeo Pastoral da Juventude Rural

118

Conversa com a juventude de Goiaacutes e DF Acampamento Regional da Juventude Rural

Alguns problemas Acampamento Regional da Juventude Rural

119

Conversa com representantes do MST Acampamento Regional da Juventude Rural

Momento de descontraccedilatildeo sem deixar a bola cair

120

Futebol em frente a RECIFRA

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

121

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

Oficinas Acampamento Regional da Juventude Rural

122

Momentos de pesquisa a roleta magneacutetica

Matildeos em desenho Cartografia social

Autoria das fotos Dayana Aguiar e Sabine Popov

123

ANEXO I

Poemas elaborados pelos e pelas jovens durante os encontros do grupo focal

Marconey Correia da Silva ndash 21 anos

Em um mundo de rimas

Nos encontramos no descompasso

Incertos se seguimos agrave risca

Ou seguimos nossos passos

O certo eacute ser esperto

Fazer o que sempre mandam

Mas isso pra mim eacute pouco

Se o mundo me acha louco

A vida eacute melhor assim

Verde alegria vida

Ateacute no orvalho do capim

Shamuel Rodrigues ndash 16 anos

Na juventude rural natildeo tem nenhum mal

Soacute diversatildeo e alegria

Tambeacutem com horas de agonia

124

E sempre vendo o lado bom da vida

O lado dos sorrisos

O lado dos abraccedilos

O lado da felicidade

O lado da liberdade

Sthefanie Heloiacutesa ndash 17 anos

Todos os jovens merecem saber

Que todos tem o direito de vencer

E eacute no movimento do Siacutelvio Rodrigues

Que os jovens lutam para valer

Seguimos em frente

Sem olhar para traacutes

E pros direitos do MST

A juventude sempre busca mais

Kelly Vieira ndash 17 anos

Somos a juventude

Somos a voz desse lugar

Pelo MST

Os jovens estatildeo dispostos a manifestar

125

Lutar

Vencer

Perder a batalha mas natildeo perder a guerra

Marcelo M Teodoro ndash 24 anos

Aqui eacute bom

Dia de quinta-feira

A gente revecirc os amigos

E joga bola

Tem dia ruim

Que a gente natildeo vecirc ningueacutem

  • INTRODUCcedilAtildeO
  • 1 AGRICULTURA E SUJEITOS DO CAMPO ndash CONTEXTO DE USO DA TERRA
    • 11 Breve contexto da agricultura no Brasil sujeitos envolvidos
      • 111 Aproximando o contexto O Estado de Goiaacutes
        • 12 Movimentos sociais e juventude rural no contexto Cerrado de uso da terra
          • 2 JUVENTUDE JUVENTUDE RURAL E TERRITOacuteRIO
            • 21 Juventude e juventude rural suas peculiaridades
            • 22 Juventude e gecircnero especificidades em questatildeo
            • 23 O campo e a cidade ndash territoacuterios antagocircnicos ou complementares
            • 24 Territoacuterios de significados jovens rurais como sujeitos
            • 25 Diversidade e poliacuteticas puacuteblicas
              • 3 RECORTE ESPACIAL ANALISADO ndash ASSENTAMENTO SILVIO RODRIGUES
                • 31 Praacuteticas sociais presentes no assentamento
                • 32 A escola
                • 33 Informaccedilotildees sobre a realidade local - estudos e dados secundaacuterios
                • 34 A juventude do assentamento Silvio Rodrigues e a escolha do meacutetodo
                • 34 Sobre o grupo focal
                • 35 A utilizaccedilatildeo das teacutecnicas complementares
                  • 351 O teatro- imagem
                  • 352 A cartografia social
                  • 353 As dinacircmicas
                      • 4 O GRUPO FOCAL ACcedilOtildeES E ANAacuteLISE
                        • 41 Resultados a partir dos tempos histoacutericos passado presente e futuro
                        • 42 Entre o rural e o urbano quais as implicaccedilotildees na escolha
                          • 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • APEcircNDICE A
                          • APEcircNDICE B
                          • ANEXO I
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