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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. [Recensão a] MARVIN MEYER - THE NAG HAMMADI SCRIPTURES: The International Edition Autor(es): Souza, Aláya Dullius de Publicado por: Annablume Clássica URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24545 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1984-249X_3_15 Accessed : 27-Jul-2021 23:21:25 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

Universidade de Coimbra - THE NAG HAMMADI ......região de Nag Hammadi, Alto Egito, que Muhammad Ali avistou um vaso contendo ao todo 13 códices de papiro, num total de 52 textos

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Page 1: Universidade de Coimbra - THE NAG HAMMADI ......região de Nag Hammadi, Alto Egito, que Muhammad Ali avistou um vaso contendo ao todo 13 códices de papiro, num total de 52 textos

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

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EDITORIALGabriele CornelliJonatas R. Alvares

ARTIGOSCaio Graco e sua Relação com os Equites (Século II a.C.): breve Análise da Interpretação de Apiano de Alexandra (Século II d.C.)Alice Maria de SouzaAs Representações de Poder no Governo de Adriano Segundo Dion Cássio e a História AugustaAmérico Henrique Marquez do CoutoAs Origens da Medicina Romana na História Natural, de Plínio o VelhoAna Thereza Basílio VieiraA Fronteira Oriental do Mundo Helenístico: as Fontes Escritas Sobre o Ambiente Construído e a Sociedade nas Cidades Gregas da Região Bactro-GandharianaCibele Elisa Viegas AldrovandiNotas Sobre Galeno, a Noção de Saúde e o Debate Médico-Filosófi co Sobre a CausalidadeFlávio Fontenelle LoqueAmizade e Comunicação: aproximações entre Karl Jaspers e AristótelesGerson BreaMikhail Bakhtin e a Cultura Grega AntigaJoão Vianney Cavalcanti NutoSócrates Contra a Educação Sofística no ProtágorasJosé Lourenço Pereira da Silva

Os Primórdios da Prosa GregaKatsuko KoikeA Cidade Etimologizada: os Sentidos Acerca do Espaço Urbano nas Etymologiae deIsidoro de SevilhaLuciano César Garcia PintoConsiderações Sobre a Permanência de Formas Clássicas em Igrejas PaleocristãsRegina Helena RezendeA Imagem Ambígua da Música em Homero e HesíodoRoosevelt Araújo da Rocha JúniorUma Suspeita: acerca da Suposta Hierarquia entre Metafísica e Política no Pensamento de PlatãoWanderson Flor do NascimentoO papel da Clemência Senequiana na Narrativa dos Annales de Publius Cornelius TacitusYgor Klain BelchiorFábio Faversani

RESENHAMarvin Meyer. The Nag Hammadi Scriptures: the International Edition. New York, Harper One, 2007, 844 p. ISBN 978-0-06-052378-7Aláya Dullius de SouzaAngele Kremer Marietti (Sous La Direction de). Auguste Comte. La Science, La Societe. Paris, França: L’Harmattan, 2009, 219 pp. ISBN 978-2-296-08587-9.Lelita Oliveira Benoit

3 jul.2009

issn 2179-4960

3 jul.2009

issn 2179-4960

3ju

l.200

9

R E V I S T A

ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT

ARCHAI JOURNAL: ON THE ORIGINS OF WESTERN THOUGHT

issn 2179-4960issn 2179-4960

C L Á S S I C A

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jul.2009

resenha

MARVIN MEYER. THE NAGHAMMADI SCRIPTURES: The

International Edition. New York,Harper One, 2007, 844 p.

Resenha de Aláya Dullius de Souza*

Ao invés de fertilizante, camponês egípcio

encontra jarro contendo uma das maiores

descobertas do século XX, e o troca por cigarros

e algumas frutas. Foi em 1945, nas encostas da

região de Nag Hammadi, Alto Egito, que

Muhammad Ali avistou um vaso contendo ao todo

13 códices de papiro, num total de 52 textos (mais

de 1300 fólios), datando entre o ano 60 d.C. ao

ano 350 d.C. aproximadamente. Esses textos,

originalmente escritos em grego e traduzidos para

o copta, foram salvos para a posteridade

provavelmente por monges do mosteiro de São

Pacômio, que os esconderam nas cavernas de

Jabal al-Tarif quando em 367 d.C Athanasius de

Alexandria ordenou que uma lista de textos que

circulavam na época fossem destruídos.

Infelizmente algumas das folhas de papiro não

escaparam da destruição quando a mãe do

camponês usou uma parte da recente descoberta

para acender seu fogão à lenha.

Pode-se dizer que são alguns dos mais

notáveis textos inéditos que vieram à tona no

último século, jogando uma nova luz ao que foi o

pensamento filosófico e religioso na antiguidade.

Esses códices são uma fonte de material para o

estudo do Cristianismo, do Neoplatonismo, do

Hermetismo, dos Sethianos e Valentinianos.

* Mestranda do

Programa de Pós-

Graduação em

Filosofia da

Universidade de

Brasília.

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O volume editado por Marvin Meyer no ano

de 2007 é o resultado de um esforço conjunto de

três equipes de estudiosos que no passado já

haviam publicado versões da Biblioteca de Nag

Hammadi em inglês, francês e alemão. Essas três

equipes se reuniram por diversas vezes no Institute

for Antiquity and Christianity, em Claremont,

California, e tornaram possível essa nova tradução

da descoberta. É por esse motivo que é chamada

de “The International Edition”.

James M. Robinson representou a equipe

do Coptic Gnostic Library Project do Institute for

Antiquity and Christianity da Universidade de

Claremont. Wolf-Peter Funk foi o representante

da equipe da Berliner Arbeitskreis für koptisch-

gnostische Schriften da Faculdade de Teologia de

Humboldt, Alemanha. E Paul Hubert Poirier

representou a equipe franco-canadense do Institut

d’études Anciennes da Faculdade de Teologia e

Ciências Religiosas na Universidade de Laval, no

Québec.

As traduções já publicadas por esses três

grupos separadamente foram consultadas para

formar essa nova edição. Foi feito um estudo

minucioso tornando essa edição internacional um

resultado magnífico de uma nova fase nos estudos

da Biblioteca de Nag Hammadi. Além disso, foram

incluídos não só os textos presentes na descoberta

de 1945, mas também o material do Códice de

Berlim, descoberto anteriormente em 1896,

contendo: Atos de Pedro, Evangelho de Maria,

Apócrifo de João e Sabedoria de Jesus Cristo. Todos

os quatro possuindo características que os ligam

à maior descoberta. Também foram inclusos nessa

nova edição o material do Códice Tchacos,

descoberto mais recentemente em 1978. Nele se

encontram o Evangelho de Judas, o Livro de

Allogenes e duas cartas atribuídas a Pedro e Felipe.

A introdução da obra foi redigida por Marvin

Meyer e pela historiadora Elaine Pagels, ambos

nomes bastante conhecidos para aqueles que

estudam os gnósticos e a história do cristianismo.

Uma das coisas que difere essa edição das

anteriores é que a tradução foi feita de modo a

apresentar um inglês mais inteligível,

contemporâneo, permitindo assim uma melhor

compreensão do texto. Não se trata de uma edição

crítica do copta. São apresentadas traduções, e

não equivalências léxicas. As equipes estavam

mais preocupadas em comunicar o sentido em

inglês ao invés de meramente reproduzir cada

traço gramatical do texto copta. Nessa edição,

diferente das anteriores, não é dada a numeração

das linhas do manuscrito original, apenas suas

páginas são referidas, pois, como já foi dito, não

se trata de uma edição de manuscritos coptas,

mas de uma publicação de textos em inglês

devidamente antecedidos de ótimas introduções

que os contextualizam.

Os vários textos de Nag Hammadi e dos

Códices Tchacos e Berlim não formam um conteúdo

homogêneo, há diferenças substanciais em relação

aos pontos de vista filosóficos e teológicos. Isto

torna as introduções individuais a cada um deles

bastante úteis. Além disso, no fim da obra há

quatro artigos que elucidam melhor a contextua-

lização desse material.

Marvin Meyer aborda, em seu artigo, o

cristianismo de Tomé na Síria, que posteriormente

vai influenciar a formação do Maniqueísmo. Dentre

as obras ligadas à Escola de Tomé podemos citar

o próprio Evangelho de Tomé, bem como o Livro

de Tomé e Diálogos do Salvador.

Já John D. Turner explica a questão dos

Sethianos. Alguns dos textos ligados a essa Escola

de Pensamento, como o Apócrifo de João (Livro

Secreto de João), Natureza dos Arcontes, Evangelho

dos Egípcios, Três Estelas de Seth, Pensamento de

Norea, Zostrianos, Allogenes e outros, apresentam

uma linguagem bastante próxima da platônica e

refletem um pouco da filosofia neoplatônica. Um

fato curioso é que o primeiro tratado do códice

VI de Nag Hammadi é um trecho da República de

Platão. Outro fato digno de nota é que Porfírio

atesta que versões de Zostrianos e Allogenes

circulavam entre os membros da Escola de Plotino

em Roma, entre 240-265 d.C. Algumas das críticas

de Plotino a certas características do pensamento

gnóstico se referem justamente ao Zostrianos, que

é citado na Enéada II. Contudo, não se pode negar

que Zostrianos se utiliza de uma teologia negativa

que parece se originar de um comentário médio-

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platônico sobre o Parmênides de Platão, que

também pode ter influenciado as idéias presentes

em Allogenes e no Apócrifo de João. Além do mais,

há características do tratado Marsanes que o possa

ligar ao ensinamento neoplatônico de Jâmblico e

Theodoro de Asine no fim do terceiro século.

O terceiro artigo, escrito por Einar

Thomassen, aborda a Escola de Valentino, fundada

em torno de 140 d.C. e atacada por Irineu de

Lyon em seu Contra as Heresias e também por

Hipólito. Alguns dos textos que se destacam são:

Evangelho da Verdade, Tratado Tripartite,

Evangelho de Felipe, Tratado da Ressurreição e

outros. A Escola Valentiniana pressupõe a

ontologia da filosofia grega, em particular as

teorias monísticas dos neopitagóricos, de que tudo

deriva de um primeiro e único princípio. Assim

como os neoplatônicos, os valentinianos tentam

reconciliar a unidade e a pluralidade através de

uma teoria de emanação e restauração. Valentino

foi bastante influente em sua época, e Tertuliano,

outro conhecido padre da Igreja Romana em

formação, chegou a comentar que Valentino era

um candidato ao posto de Bispo de Roma.

Por fim há o artigo de Jean-Pierre Mahé

que trata de como há fortes elementos do

Hermetismo Egípcio em alguns dos textos da

Biblioteca de Nag Hammadi. Segundo ele, a Prece

de Ação de Graças, o Discurso sobre a Oitava e a

Nona e o Asclepius se aproximam do conteúdo do

Corpus Hermeticum.

Apesar de haver uma quantidade signifi-

cativa de heterogeneidade no material publicado

na The Nag Hammadi Scriptures podemos destacar

alguns temas freqüentes, como por exemplo a

questão do Uno, da Mônada, do Pleroma, o que

são os vícios, mitos sobre a origem do mundo,

como a alma cai na matéria, os vários níveis de

manifestação, o que ocorre com a alma após a

morte, regras de conduta, os mistérios, etc.

Obviamente também há bastante material

relacionado a Jesus e ao cristianismo em si.

É certo de que por mais de dois séculos

esses manuscritos circularam livremente pelas

regiões do Egito, Oriente Médio, Magna Grécia e

Roma (e há relatos de que algumas cópias tenham

chegado até mesmo à Gália). Tendo isto em conta

não podemos ignorar a relevância histórica deles

na formação do pensamento na antiguidade.

Essa nova edição viabilizada por Marvin

Meyer nos convida a reconsiderar nossa herança

religiosa e cultural e traz mais informação sobre

o que foi o pensamento nos primeiros séculos

da era cristã. Apesar da publicação dessa

descoberta ter sido atrasada por uma série de

empecilhos, hoje, mais de dezesseis séculos

depois, podemos ter acesso a esse material e

tirarmos nossas próprias conclusões acerca de

seus temas. Ainda que alguns desses textos

estejam envoltos em roupagem religiosa, muitos

deles apresentam temas bastante pertinentes

ao estudo da filosofia.