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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de Literaturas Românicas Estratégias por Correspondência Uma leitura da obra de Feliciana de Milão Anexo Pedro António Freire Santos de Sena-Lino Doutoramento no Ramo de Estudos de Literatura e de Cultura Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa 2012

Universidade de Lisboa...2 Foram porém indicadas na relação de testemunhos prévia a cada Carta. 3 cf. Le Lai de l’ombre, publié par Joseph Bédier, Fribourg, Imprimerie et Librairie

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  • Universidade de Lisboa

    Faculdade de Letras

    Departamento de Literaturas Românicas

    Estratégias por Correspondência

    Uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Anexo

    Pedro António Freire Santos de Sena-Lino

    Doutoramento no Ramo de

    Estudos de Literatura e de Cultura

    Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa

    2012

  • 2 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Universidade de Lisboa

    Faculdade de Letras

    Departamento de Literaturas Românicas

    Estratégias por Correspondência

    Uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Anexo

    Pedro António Freire Santos de Sena-Lino

    Tese orientada pela

    Professora Doutora Vanda Anastácio,

    especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor em

    Estudos de Literatura e de Cultura

    Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa

    2012

  • 3 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Í NDI CE Apresentação ................................................................................................................ 6

    A Edição .................................................................................................................. 6 O aparato crítico .................................................................................................. 8 Critérios .............................................................................................................. 9

    Relação Total de Testemunhos .................................................................................... 16 Descrição Codicológica .............................................................................................. 17 I. Cartas de Feliciana de Milão ............................................................................. 28

    1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»......................................... 28 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 28 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 28 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 31

    Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado .................................. 32 1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para umas Sortes de Palácio............................................................................... 32 1.2. Papel que ia com esta carta .................................................................... 33 1.3. Primeira reposta ..................................................................................... 34 1.4. Segunda carta para Dona Feliciana......................................................... 35 1.5. Segunda Reposta.................................................................................... 36 1.6. Carta terceira para D. Feliciana .............................................................. 37 1.7. Reposta de D. Feliciana ......................................................................... 38 1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha .................................... 40

    2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades .......................... 42 2.A. Carta da Devolução ...................................................................................... 42

    a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 42 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 44 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 45

    Carta da Devolução – texto fixado ......................................................................... 50 2.B. Resposta de D. Maria das Saudades ............................................................. 53

    a) Identificação de Testemunhos.................................................................... 53 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 54 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 56

    Resposta de D. Maria das Saudades – texto fixado ................................................. 59 3. Carta das Veias ............................................................................................ 62

    a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 62

  • 4 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 63 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 64

    Carta das Veias – texto fixado ................................................................................ 66 4. As Cartas de Aranha ..................................................................................... 69 4.A. «Estive para principiar» (Carta Primeira) .................................................... 69

    a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 69 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 69 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 70 Primeira Carta de Aranha – Texto fixado .......................................................... 71

    4.B. «Tem tão obtusos os órgãos do cérebro» (Carta Segunda) ............................ 73 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 73 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 73 Segunda Carta de Aranha - texto fixado ........................................................... 74

    5. Carta de Pedro de Quadros e Resposta de Feliciana de Milão ...................... 78 5.A. Carta de Pedro de Quadros .......................................................................... 78

    a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 78 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 78 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 79 Carta de Pedro de Quadros a D. Feliciana de Milão – texto fixado ................... 82

    5.B. Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros .................................... 85 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 85 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 85 Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros – texto fixado ................... 86

    6. Carta da Deposição ...................................................................................... 92 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 92 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 94 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 96

    Carta da Deposição – texto fixado ....................................................................... 101 7. Carta Suposta e Carta da Refutação ........................................................... 105 7.A. Carta Suposta ............................................................................................. 105

    a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 105 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 106 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 107

    Carta Suposta – texto fixado ................................................................................ 109 7.B. Carta da Refutação ..................................................................................... 114

    a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 114

  • 5 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 114 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 116

    Carta da Refutação – texto fixado ........................................................................ 118 8. Carta de Respostas Amorosas ..................................................................... 122

    a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 122 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 123 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 124 Carta Respostas Amorosas – texto fixado ........................................................ 127

    9. Correspondência com o Duque de Cadaval ................................................ 150 a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 150 Carta Nº1......................................................................................................... 151 Carta Nº2 Resposta do Duque para D. Feliciana .............................................. 152 Carta Nº3 Carta do Duque para D. Feliciana .................................................... 153 Carta Nº 4........................................................................................................ 154 Carta Nº 5........................................................................................................ 155 Carta Nº6......................................................................................................... 156

    II. Outros textos de Feliciana de Milão ................................................................. 157 1. “Licença da Censura” ................................................................................. 157

    a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 157 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 158 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 159 «Licença da Censura» - texto fixado ................................................................ 161

  • 6 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Apresentação

    A edição crítica das cartas de Feliciana de Milão apresenta-se nas páginas

    seguintes. A sua ordenação é cronológica, feita a partir de uma cronologia deduzida de

    acordo com os dados disponíveis1. Na Descrição de Testemunhos, poderão ser

    encontradas, esquematicamente, informações sobre as versões de cada uma das Cartas e

    as relações que estas estabelecem entre si, bem como a sua descrição codicológica.

    Também se incluem a relação de testemunhos para cada carta e os resultados da

    collatio. Uma nota particular quanto à edição da Carta Respostas Amorosas: esta é

    seguida, no presente volume, por uma versão que contém as perguntas com outras

    respostas em verso.

    Inclui-se ainda a transcrição do único testemunho conservado das Cartas de

    Feliciana ao Duque de Cadaval e respostas deste. Sublinhe-se ainda que os testemunhos

    da Correspondência de Feliciana ao Duque de Cadaval se encontram em mau estado;

    disponibilizados apenas em microfilme pelos serviços da BNF, não nos foi possível

    consultar o original. Assim, muitos passos do texto correspondem a leituras

    conjecturais.

    Depois das Cartas, edita-se aqui o texto das Licenças da Censura, publicado no

    volume dos Inigmas de Soror Juana Inés de la Cruz.

    Os Textos de autoria duvidosa ou apócrifos foram colocados no Apêndice, com

    excepção da Carta Suposta, já que Feliciana lhe respondeu directamente, como fez com

    as cartas de Pedro de Quadros.

    A Edição

    Foi efectuada uma pesquisa da tradição nos principais arquivos de Bibliotecas

    nacionais e europeias, que se revelou extensa, dado muitos dos testemunhos

    manuscritos das Cartas de Feliciana de Milão terem sido transcritos por copistas sem

    indicação de autoria, nem por vezes, sequer de temática.

    Procedeu-se depois à transcrição de todos os testemunhos, na grande maioria

    manuscritos. Como indicámos na Relação Geral de Testemunhos, encontraram-se

    1 Veja-se a dissertação, Introdução, subcapítulo ii.

  • 7 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    algumas versões impressas totais e parciais – tendo sido apenas estas últimas

    desconsideradas (já que se tratam de citações ou transcrições parcelares, efectuadas nos

    séculos XIX e XX, retiradas de cópias de versões manuscritas conservadas2). As versões

    impressas, como indicado, correspondiam, na sua maioria, a cópias de versões

    manuscritas. Foi efectuada, em seguida, uma colação a todos estes testemunhos. Os

    possíveis autógrafos foram sujeitos à mesma operação, tal como os alógrafos.

    Não havendo uma edição impressa da totalidade das cartas, mas sim uma

    quantidade apreciável de manuscritos, a selecção do texto-base seguiu a teoria do

    melhor manuscrito de Joseph Bédier3. Sublinhe-se ainda que a utilização do método de

    Lachmann não nos pareceu o mais ajustado para a edição em causa, já que as muitas

    reproduções e complexas relações estabelecidas entre os testemunhos tornariam muito

    difícil a reconstituição de uma versão próxima do original. Porém, e apenas como o

    objectivo de procurar representar graficamente as «detalhadas relações estabelecidas

    entre as várias versões4», optámos por apresentar, após a relação de testemunhos, uma

    representação gráfica da relação entre testemunhos, esclarecedor da tradição

    conservada. A presença de «erros intencionais5», devidos aos copistas, validou esta

    opção. Reforcem-se as reservas6 em relação a esta representação que, perante o tipo de

    documentos que constituem o corpus (e tendo em conta as formas de reprodução destas

    cartas), se pode revelar incompleto. Assim sendo, procurámos suprir estas limitações

    através da explicação da relação existente entre os testemunhos, versão a versão, e do

    estabelecimento de famílias entre as várias versões.

    Nos casos das Cartas de Aranha, bem como na Carta de Pedro de Quadros e

    respectiva Resposta, procedeu-se a uma única apresentação quer de representação

    gráfica da relação entre os testemunhos, quer da sua justificação, aí justificada.

    Quanto à emmendatio, partilhamos a concepção expressa por James Thorpe7

    sobre a “impropriedade” de intervenção do editor no texto-base (mesmo tendo em conta

    um corpus de correspondência, com as suas características específicas de reprodução).

    2 Foram porém indicadas na relação de testemunhos prévia a cada Carta. 3 cf. Le Lai de l’ombre, publié par Joseph Bédier, Fribourg, Imprimerie et Librairie de L’oeuvre de Saint-Paul, 1890 4 James Thorpe, Principles of Textual Criticism, San Marino, California, The Huntington Library, 1972, pg. 113 5 James Thorpe, op. cit., pgs. 112 6 cf. James Thorpe, op. cit., pgs. 114-115; Miguel Ángel Pérez Priego, Introducción General a la Edición del Texto Literario, Madrid, Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2001, pgs. 21-30 7 James Thorpe, op. cit., pgs. 189-191

  • 8 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Assim sendo, limitámo-nos à emmendatio do texto-base de forma rara e esporádica,

    sempre indicada em nota de rodapé, e apenas nos casos em que esta apresentava: a)

    lições decorrentes de erros evidentes do copista, sobretudo devido a discurso interior,

    difracção, haplografia, ou homoioteleuton; b) quando o texto-base apresentava uma

    lição sustentada por um único testemunho, revelando o conjunto ou a maioria das outras

    versões, um lição mais clara ou contextual. A grande quantidade de versões disponíveis

    das cartas impôs-nos a fixação dos referidos critérios. Dada quer a extensão do corpus,

    quer a variedade de de testemunhos, foi nossa opção dar conta das variantes no aparato,

    e não num texto global, prévio à edição.

    Procurámos encontrar definições de todas as ocorrências vocabulares a partir do

    Dicionário mais completo e adequado, próximo da época de escrita de Feliciana de

    Milão, o Vocabulário de Raphaël Bluteau8; um dos factores para esta escolha foi,

    precisamente, a presença do vocabulário do jogo de cartas, fulcral para a compreensão

    da obra da religiosa de Odivelas. Na ausência de entradas para algumas ocorrências, as

    referências foram pesquisadas no Dicionário de Moraes e Silva9. Do mesmo modo, no

    tocante às citações (bastante frequentes) procurámos identificá-las10, e corrigimos o

    original servindo-nos de textos fixados, ou na sua ausência, das primeiras versões

    impressas das obras. Todas estas referências estão marcadas em nota.

    O aparato crítico

    Foi estabelecido um aparato crítico, que pode ser encontrado no final de cada

    carta, identificado e organizado numericamente, com indicação da versão a que

    correspondem (enunciada pela sigla, de acordo com o Quadro de Relação de

    Testemunhos, constante da "Apresentação").

    8 Raphaël Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatómico, arquitectónico, bélico, botânico, brasílico, cómico, crítico, químico, dogmático, dialéctico, dendrológico, ecclesiástico, etimológico, económico, florífero, forense, frutífero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portugueses, e latinos, pelo padre D. Raphael Bluteau, Coimbra, no Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, 10 vols. 9 António Moraes Silva, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 10ª Edição, 10 vols.,1949, 10 Quanto à Carta Respostas Amorosas, não nos foi possível identificar todas as citações efectuadas por Feliciana. Muitas delas estão transcritas de forma pouco legível, corrigidas pelos copistas, ou copiadas com erros visíveis (como é o caso do verso de Ariosto, que não tem uma lição legível). Reforce-se que muitas vezes estas citações são retiradas de manuscritos, por sua vez cópias de outros, e em muitos casos de poemas que são falsamente atribuídos aos seus autores. Por outro lado, quer Nieves Baranda, quer Bouza Álvarez têm destacado a existência de livros de citações utilizados pelos autores, como já referido anteriormente.

  • 9 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Em segundo lugar, embora representado previamente a este aparato crítico,

    estabeleceu-se um conjunto de Notas, organizado alfabeticamente, onde se procurou

    registar:

    1) a indicação das ocorrências em que a junção de palavras contribui

    para a criação de ambiguidades de sentido (“culpado” que pode

    designar “culpa do” ou “culpado”), e onde, por este motivo,

    mantivemos a ocorrência original.

    2) a justificação das emendas que tivermos efectuado.

    3) os problemas do suporte, como manchas, tinta repassada, entre outros.

    4) em casos muito pontuais, algumas notas sobre os manuscritos das

    versões secundárias que aclarem passos menos claros no texto-base.

    5) a correcção de citações através de textos fixados criticamente, ou, na

    sua ausência, das suas primeiras edições.

    6) notas vocabulares e histórico-literárias; nos casos em que se revelou

    necessário, apresentamos também referências e contextos das citações

    efectuadas por Feliciana.

    Critérios

    Tendo em consideração a variedade linguística dos textos aqui apresentados, e a

    difícil leitura provocada pelo estado de alguns dos testemunhos, procedemos, não sem

    reservas, a algumas operações de actualização do texto-base, que identificaremos

    seguidamente. Dados os diversos factores que contribuiem para a especificidade

    linguística do século XVII, o estabelecimento de critérios de actualização demasiado

    conservadores pareceu-nos desservir o propósito de divulgação e compreensão do texto.

    Note-se, porém, que as intervenções efectuadas surgem apenas no texto-base, e

    não nas variantes. Esta nossa opção prende-se, sobretudo, com a numerosa e diversa

    informação que, no nosso entender, se perderia com a actualização das variantes, a

    saber: compreensão de erros de cópia que esclarecem a escolha das versões apógrafas a

    partir das quais foram executados alguns testemunhos, e até, as relações que se

    estabelecem entre elas; a compreensão, não apenas em termos de sintaxe, mas sobretudo

    de sentido, de algumas variantes intencionais; e, entre muitos outros aspectos, a directa

    e preciosa informação relativa a passos menos claros no texto. Um exemplo

    representativo que sustenta as nossas afirmações é o do passo – incompreendido por

  • 10 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    catorze dos dezasseis copistas dos testemunhos sobreviventes da Carta da Devolução -

    «bruxuleie muito devagar»; as variantes desta lição oscilam entre a representação de um

    espaço em branco, a «por chulo, debuxe», «burlece», «burlente, bulla», «burxelie».

    Como se depreende, a normalização das variantes não permitiria claramente identificar

    as relações de transmissão entre os testemunhos.

    Identificamos em seguida as operações de actualização efectuadas no texto-base.

    Vogais

    1. Representação dos hiatos

    Como nota Paul Teyssier11, os hiatos (realização de «duas vogais contíguas»)

    encontravam-se já resolvidos nos finais do século XV, embora as grafias prosseguissem

    algumas representações «arcaicas»). Assim, normalizámos a representação das vogais

    nasais, quando pré-consonânticas, e não em fim de palavra, seguidas de m e n, a saber:

    «segũda» para «segunda», «vẽsellas» por «vencê-las». Quando em posição final,

    representámo-la segundo o uso actual: «bõ» para «bom» (muito pouco frequentes);

    «hũa», «hua» ou «huma» para «uma»12. Quanto às vogais orais (quer pré quer pós-

    tónicas), normalizámos a sua representação («molher» para «mulher»), colocando a

    semivogal i segundo a regra actual nas realizações dos hiatos finais –eo e -ea («correo»

    para «correio», «Idea» ou «Idéa» para «ideia»), muitas vezes em substituição da

    semivogal y («alheyo» por «alheio»). Sublinhe-se que alguns testemunhos apresentam

    ainda claramente a grafia de alguns hiatos, como «a a-acçaõ» ou «bruxulee». Quanto ao

    caso particular dos ditongos, algumas especificações:

    1.1. Ditongos orais. Não são infrequentes as representações do hiato, como nos

    casos «mao», ou a já referida «idea». É referido por alguns estudos

    gramaticais da época que a sua pronunciação já deveria ser fechada13, pelo

    que normalizámos as suas ocorrências: ae para ai («maes» para «mais»,

    «sinaes» para «sinais»); ao para au («mao» para «mau», ou «augouro» por

    11 Paul Teyssier, História da Língua Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa, 1984, pgs. 40-45 12 Note-se que, quer Ivo Castro (Curso de História da Língua Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1993), quer Paul Teyssier defendem que «permanecerão ainda na língua algumas sequências de vogais em hiato que serão eliminadas posteriormente: ũa (escrito em geral hũa), feminino de um passará a uma.» (Paul Teyssier, op. cit., pg. 45). Mesmo com estas ressalvas quanto a estas realizações, decidimos pela normalização destas ocorrências como o fizemos pelas já referidas, critério aliás utilizado por outros editores para textos da mesma época (Margarida Vieira Mendes, por exemplo, mantém a grafia ũa dado o copy-text do texto impresso das Rimas – Rouen, Maurry, 1646 – o manter como opção tipográfica). 13 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57-58, citando D. Luís Caetano de Lima e Luís António Verney.

  • 11 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    «agoiro») ou «ão» («devocao», «devoçao», «devoçam» para «devoção14»).

    No caso das sequências vocálicas que representam ditongos novos a partir do

    século XIV-XV (oe, ee, eo), são frequentes grafias alternantes ou

    arcaizantes: «meo» por «meu», «cruees» (ou mesmo «crueles», interessante

    uso de castelhanismo para resolver a indeterminação vocálica) por «cruéis».

    Teyssier nota igualmente que os hiatos eo e ea «serão suprimidos pelo

    aparecimento de um iode, donde –eio, -eia15». Porém, no caso das

    terminações de palavras terminadas em –eo (como “Ceo”, “receo” ou

    “Deos”), manteve-se a grafia; sublinhem-se a este propósito as reservas que

    Paul Teyssier levanta quanto a e e o em posição final átona («não há, nos

    séculos XVI e XVII, nenhum testemunho de gramático ou ortógrafo que

    indique para as vogais escritas –e e –o outra realização fonética que não

    [e ] e [o ]16»).

    1.2. Ditongos Nasais. Estes reflectem as sequências ã-o, ã-e, õ-e, como apontam Paul

    Teyssier e Celso Cunha17. Nos casos dos dois primeiros ditongos, as grafias

    presentes nos testemunhos já muito frequentemente se aproximam da grafia

    actual («maõ» por «mão», embora seja frequente no plural a realização «maons»

    por «mãos», ou «may» por «mãe»), no tocante ao ditongo õ-e é muito frequente

    encontrarmos uma irresolução ou hesitação gráfica: «ocasioens» por «ocasiões»,

    «acçoens» por «acções». Regularizámos todos estes casos de acordo com a

    norma actual.

    1.3. Uma nota ainda para o fenómeno de monotongação de ou, processo que muitos

    linguistas reconhecem ter-se manifestado já no século XVII18; assim,

    representamos «poco» por «pouco», seguindo a norma actual; a excepção da

    terminação –eo já foi referida. Note-se que se manteve a grafia da terceira pessoa

    do plural do presente do indicativo («tem»), já que se trata de um traço de

    pronúncia que se mantém até ao século XVIII.

    2. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que

    correspondem a sons vocálicos: y com valor de i («may» por «mãe»; «muy» por

    14 Note-se que a muito frequente representação «aõ» no corpus dá já indicação da realização deste hiato. 15 Paul Teyssier, op. cit., pg. 45. 16 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57 17 Celso Cunha, «Valor das grafias –eu e –eo do século XIII ao século XVI, in Estudos Portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno Picchio, Lisboa, Difel, 1990, pg. 913-927. 18 Paul Teyssier, op. cit., pg. 52; Ivo Castro, op. cit., pgs. 249-259

  • 12 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    «mui», «freyra» por «freira»); nos raros casos de y com valor de e, como marca

    de castelhanismo, muitas vezes haplográfico devido a citações próximas em

    castelhano, como «sofrer y calar»); j para i («ajnda» por «ainda»; «jmfundiraõ»

    por «infundiram».

    3. Manteve-se o uso de apóstrofes, quer em caso de elisão, quer em caso de

    contracção de vogais.

    Consoantes

    4. Quanto à representação das sibilantes predorsodental surda /s/ (como em

    «posso» e «poço») ou da predorsodental sonora /z/ («cozer» e «coser»), objecto

    de discussão dos gramáticos no final do século XVI19, pelas numerosas grafias

    com ç e ss («paçado», «fasso», «reçucitar» ou «reçussitar»), seguiu-se a norma

    actual. Normalizou-se a representação do grafema ç segundo a norma actual.

    5. Regularização da representação das fricativas de acordo com a norma actual, nas

    ocorrências: das palatais surdas x, z, ch ou s («feichar» por «fechar»); das

    velares, mesmo do grupo –oct para –oi («nocte» para «noite); das alveolares

    («dosse» por «doce»); da palatal sonora, de acordo com as regras actuais

    («Magestade» por «Majestade»); da labiodental sonora f («esphera» por

    «esfera»).

    6. Quanto às oclusivas velares, foram alteradas as grafias segundo a norma actual

    («nunqua» por «nunca», «Archivo» por «Arquivo»).

    7. Regularização da representação de z intervocálico por s, segundo a norma actual

    («dezejo» por «desejo», «azas» por «asas»).

    8. Normalização das grafias etimológicas e pseudo-etimológicas (frequentemente

    através do uso dos grupos ph, th, ch para as palavras de origem grega):

    «triumphaes» por «triunfais» ou «Achilles» por «Aquiles». Outras

    representações de usos não reflectidos na pronúncia do Português foram

    igualmente normalizadas: «sancta» por «santa» e «sciencia» por «ciência».

    9. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que

    correspondem a sons consonânticos: de i por j («iogo» por «jogo»); de v por u

    («uinha» por «vinha»).

    10. No que diz respeito às oscilações ortográficas e polimorfismo:

    19 cf. Paul Teyssier, op. cit., pg. 50, citando a Ortographia de Pero de Magalhães de Gândavo de 1574.

  • 13 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    - manutenção de ocorrências que correspondem a realizações alternantes como

    «quasi» ou «quase» ou «noute» e «noite», ou «tromento» ou «tormento»,

    «preguntas» ou «perguntas», «despois» ou «depois», «disbarate» e «disparate»;

    contribuiu para justificar o facto de se encontrarem registadas as duas formas no

    Vocabulário de Bluteau.

    - manutenção das formas «rezão» por «razão», «assi» e «assim», que correspondem

    a traços de pronúncia da época.

    - do mesmo modo, manutenção da grafia das formas «mi» e «mim», ou «necedade»

    por «necessidade», que segundo afirmou Margarida Vieira Mendes, pode «corresponder

    a uma influência castelhana, típica nas realizações20» de Feliciana.

    - Ainda sobre este ponto, uma referência à frequente presença de castelhanismos (e

    de lusismos) na linguagem destes textos. Como exemplos: «coronista» (por «cronista»),

    «despois», «reposta», «em fim», «em quanto», «por ventura», «hade» (representação da

    preposição «de» conectada ao verbo haver, eliminando-se assim o uso de hífen).

    Reforce-se que em textos onde a presença de citações castelhanas é mais frequente,

    como a Carta Respostas Amorosas, este tipo de realizações são-no também –

    testemunho quer da língua literária da época, quer do que Teyssier defende ser um

    «lusismo do castelhano de Portugal»21. Ainda sobre este ponto, sublinhemos que não

    efectuámos quaisquer alterações aos textos em castelhano, pelos mesmos motivos

    apontados, e sobretudo por se tratar apenas de citações.

    11. Eliminação de consoantes dobradas (, , , , entre outras) em

    posição medial («callar» por «calar», «occasiaõ por «ocasião», «immensidade»

    por «imensidade», «desattenção» por «desatenção»); reforce-se a já referida

    regularização do uso de segundo a norma actual.

    12. Actualização, de acordo com a norma actual dos grupos em posição média como

    «Assumpção» (para «Assunção»).

    13. Por não ter valor fonético, normalizámos o uso de h («he» e «hé» por «é»,

    «orizonte» por «horizonte»).

    14. Manteve-se a oscilação entre v e b («varalha» por «baralha»), por corresponder a

    um uso corrente na época, em muitas regiões.

    20 cf. Margarida Vieira Mendes, ibidem, pgs. 32-34. 21 Paul Teyssier, op. cit., pg. 37.

  • 14 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Morfologia

    15. Quanto a alterações morfológicas: separação de palavras segundo a norma actual

    («écousa»); quando esta se mostrou redutora de vários sentidos do texto,

    colocámo-lo em nota («culpado», que pode designar «culpa do» ou «culpado»);

    normalização das interjeições («o» para «oh»), excepto em casos indicadores de

    pronúncia popular («Arrelá»);

    16. Foram desenvolvidas as abreviaturas, com excepção de formas de tratamento

    como Vossa Mercê («Vossa Merçê», «Vossa Mercê». «V. Mce.») para «V.M.»,

    bem como de «V. Exª» ou «V.Exçia.» para «V. E.», e de «Vª Sia.» ou «V.Sria»

    para «V.S.».

    17. Regularização do uso dos acentos, e da utilização do hífen como separação de

    enclíses e mesóclises, ou traço de união. Note-se ainda que foram também

    efectuadas as substituições de / representando parêntesis, ou de = representando

    um travessão.

    18. Foram colocadas em itálico de expressões latinas, ou citações noutros idiomas,

    frequentemente marcados nos manuscritos a sublinhado e/ ou com espaçamento

    alargado entre caracteres.

    19. Correcção de lapsos evidentes.

    Foram efectuadas mínimas alterações à pontuação, nos casos em que o cotejo nos

    revelou incidências de pontuação que indicavam fim de frase, ou marcação de orações

    ou enumerações (sobretudo na Correspondência com Influência das Estrelas). Estas

    operações foram maioritariamente de adição (de vírgulas e pontos finais), com quatro

    excepções pontuais de eliminação, quando o texto-base apresentava vírgulas entre

    sujeito e predicado). Procurámos respeitar as pausas do discurso (tendo em conta a

    «disposição sintagmática numérica própria22» de Feliciana de Milão), respeitar a

    individualidade do estilo (que se faz vincar através de numerosas opções semânticas e

    sintáticas), e manter as possíveis «indicações para a leitura em voz alta23», procurando

    22 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem. 23 Cf. Vanda Anastácio, Visões de Glória (Uma Introdução à Poesia de Pêro de Andrade Caminha), Lisboa, FCG/ JNICT, 1998, vol. II, pg. CXXXIV.

  • 15 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    não introduzir leituras forçadas – como, aliás, tem sido efectuado por vários editores de

    textos da época24.

    24 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem; Francisco Topa, op. cit., ibidem; Maria de Lurdes Correia Fernandes (ed.), Carta de Guia de Casados, pgs. 43-46. Permita-se-nos a este propósito sublinhar a afirmação de Walter Greg sobre a actualização da pontuação: «Just as the language of an Elizabethan author is better represented by his own spelling than by ours, so the flow of his thought is often more easily indicated by the loosely rethorical punctuation of his own day than by our more logical system» (cit. por James Thorpe, op. cit., pg. 135).

  • 16 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Relação Total de Testemunhos Apresentamos em seguida a listagem de todos os testemunhos encontrados das

    obras de Feliciana de Milão; no lado esquerdo indicamos a designação do testemunho, a

    partir de sigla relativa ao Fundo ou Biblioteca em que se encontra, seguido de um

    numeral. Os testemunhos encontram-se ordenados da seguinte forma: Manuscritos,

    Fundos Próprios, Códices, Impressos.

    Do lado direito, em “Cota”, poderá encontrar-se a referência bibliográfica a que

    “Testemunho” se refere. No início de cada carta, em “Relação de Testemunhos”,

    poderão também ser encontradas as restantes indicações bibliográficas de cada

    testemunho.

    Testemunho Cota

    ACL1 Mss. 383 Azul ANTT1 Misc. Mss. 1073 ANTT2 Misc. Mss. 2073 ANTT3 MF. 1369 [Ms. Livraria 1071]

    BA1 Cod. 49-III-52 BA2 Cod. 49-III-62 BA3 Cod. 51-II-40 BA4 Cod. 51-XII-27

    BGUC1 Mss. 325 BGUC2 Mss. 359 BGUC3 Mss. 398 BGUC4 Mss. 555 BGUC5 Mss. 602 BGUC6 Mss. 1553 BGUC7 Mss. 3254 BGUC8 Misc. Mss. 146

    BL1 Add. Mss. 15194 BL2 Add. Mss. 15201 BL3 Add. Mss. 20844

    BNF1 Mss. Port. 28 BNP1 Mss. 35, 11º BNP2 Mss. 72, 1º BNP3 Mss. 249, 26º BNP4 PBA 69 BNP5 PBA 129 BNP6 Cod. 127 BNP7 Cod. 349 BNP8 Cod. 510

  • 17 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BNP9 Cod. 589 BNP10 Cod. 3229 BNP11 Cod. 3273 BNP12 Cod. 8594 BNP13 Cod. 8609 BNP14 Cod. 8611 BNP15 Cod. 9611 BNP16 Cod. 12932 BNP17 Cod. 13305 BNP18 BR. 6186 BNP19 L. 40435 P. BNP20 L. 53339 P. BNP21 MF. 1483 BPE1 CV 1_9 BPE2 CV 1_13 BPE3 CXII 1_1 BPE4 CXII 2_21 BPE5 CXIV 1_7 BPE6 CXXX 1_17 BPE7 CXXX 1_18

    BPMP1 Mss. 127 BPMP2 Mss. 841 BSG1 Mss. Port. 651

    Descrição Codicológica

    ACL

    ACL1 [Ms. 383 Azul]

    4º, 205 x 154 mm., «inumeradas + 284 fls. de texto numeradas a tinta + 1 fl. em branco

    numeradas a tinta.

    [Proza. Obras varias] / [por diversos autores] .− [S.l., s.d.] .− 1 fl. em branco inumerado

    + 1 fl. [rosto do 1º ms.]

    CÓDICE [Cópias]. Encadernação em inteira de pele manchada, com motivos a ouro na

    lombada. O título figura no rótulo. Faltam os fls. 285, 286 e 287. Ex-libris do Marquês

    de Angeja25.»

    25 Catálogo de Manuscritos da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa – Série Azul, Lisboa, Academia das Ciências, pg. 141

  • 18 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    ANTT

    ANTT 1 [Miscelânea Manuscrita 1073]

    4º, 200 x 154 mm, encadernação pasta de papel forrada a carneira, com reforço a

    pergaminho; capa e lombada em couro em mau estado (surge numeração no verso da

    contracapa, fol. «294», o que pode indicar surpressão de fols. ou reproveitamento de

    uma capa anterior); 271 fols. (fols. 263 a 271 em branco); copista único («Mendonça»,

    indicado no Índice na pag. 1), século XVII. Volume em mau estado.

    «Obras Varias»

    ANTT2 [Miscelânea Manuscrita 2073]

    4º, 230 x 160 mm, encadernação do século XX (pasta de papel e tecido), copista único,

    com correcções pela própria mão, século XVIII (As Cartas de Feliciana surgem

    numeradas pelo copista.

    «Collecçaõ de varias Cartas Moraes, Politicas, Discretas, Jocozas, e Jocoserias.

    Compostas por differentes Authores Portuguezes. Tomo 1º e 2º», reclames na folha de

    rosto (ANTT sec. XIX e sec. XX).

    II + 474 fols. + II, Índice na fol. 1

    ANTT3 [Mf 1369, Manuscrito da Livraria Nº 1071]

    4º, 220 x 145 mm, encadernação em couro e pasta de papel, capa e lombada em couro

    com letras a ouro, vários copistas, sec. XVII, II + 608 pgs. + II, Índice em fol. 603-608.

    «Vários manuscritos, T. II»

    BA

    BA1 [Cod. 49-III-52]

    208 mm x 145 mm, sem encadernação original, nova lombada em carneira com

    moldura dourada [255 mm x 185], não colada ao miolo, copista único, século XVII

    «Obras varias poeticas. 1º Titulo: Desengano à vida humana, e ponderação feita a uma

    Casa de Ossos. Com 292 fols26.»

    BA2 [Cod. 49-III-62] 26 Apud catalogo Mss Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols

  • 19 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    205 mm x 145 mm, lombada em pele e pasta de papel, lombada a ouro «Miscel.

    Poetic.». copista único, século XVIII

    «Tomo 8º Collecção Poetica de varias obras, em diversos metros que vagam

    manuscritas de differentes Autores adquiridas, postas na ordem em que vão neste

    volume, e nelle assim escritas, por António Correia Vianna. Lisboa 1783. Com 238

    pgs27» numeradas. Reclame na 1ª página

    BA3 [Cod. 51-II-40]

    205 mm x 145 mm, lombada em couro e ouro [«Collec. Prozáic»], encadernação em

    couro e pasta de papel, III + 432 pags. numeradas + III. Reclame na 1ª página

    Miscelânea, Índice nas últimas páginas, s/ título

    BA4 [Cod. 51-XII-27]

    165 mm x 225 mm, encadernação a couro e pasta de papel, lombada a ouro «Vida e

    Morte de D. Affonso 6º de Portugal», V + 199 pags. + III numeradas

    Diversas notas manuscritas na contracapa, entre as quais uma do punho de Manuel

    Bernardes Branco: «Este livro é um amontado de mentiras e de infames falsidades!

    Causam Nojo! A. A. M. Bernandes Branco »

    BGUC28

    BGUC1 [Ms. 325]

    205 x 145 mm, I + 182 pgs + IV, Encadernação em pergaminho, vários copistas, letra

    do século XVII

    «Papeis Varios»

    BGUC2 [Ms. 359]

    «203 x 150 mm. 321 fols. numeradas mais 4 fols. de guarda, mais 1 fl. de rosto, mais 6

    fols. inumerados com um índice, mais 1 fl. inumerada e inaproveitada», «Volume

    cartonado», Vários copistas, século. XVII

    27 Apud Catálogo de Manuscritos da Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols. 28 Citações referentes aos manuscritos da BGUC, cf. Catálogo de Manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, BGUC, 1935-1945

  • 20 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    «Versos & Coriosidades colhidas de Diferentes Authores».

    BGUC3 [Ms. 398].

    «Volume medindo 225 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira com 4 nervos na

    lombada. Lê-se, entre o 1º e o 2º nervos: Obras Poeticas. 296 fols. inums, mais 3 fols. de

    guarda», vários copistas, século XVII

    BGUC4 [Ms. 555]

    «Volume medindo 309x210 mm. Encadernação inteira de carneira, com 5 nervos na

    lombada; 4 fols. de guarda; 534 fols. numeradas mas nem todas aproveitadas; seguem-

    se 44 fols. em branco; no final, vem um índice alfabético de todas as composições.»

    «Colecção de Varias Poesias em Português e Castelhano»

    BGUC5 [Ms. 602].

    233 x 220 mm. Encadernação em pergaminho, 314 fols. + I. fols. apensos, numeração e

    encadernação em pergaminho, posterior. Vários copistas e várias mãos, originais e

    cópias.

    «Papeis Politicos. T. 1º» Indicação em índice, fol. 1 (parcial): Conde da Hericeira.

    BGUC6 [Ms. 1553]

    «Volume, medindo 206 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira, 1 fol. de guarda, 2

    fols. inumerados, 275 fols., mais 2 fols. de guarda.»

    «Papeis Varios»

    BGUC7 [Ms. 3254]

    205 x 150 mm, II + 200 fols. + XXII. Encadernação em pergaminho, vários copistas,

    século XVIII»

    «Papeis Varios»

    BGUC8 [Misc. Mss. 146]

    205 x 145 mm, I + 182 pgs, encadernação em pergaminho, vários copistas, letra do

    século XVII

    «Miscellanea»

  • 21 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BL

    BL1 [Ms Add 15194]

    340 mm x 241 mm, 372 fol., encadernação em couro, copista único, século XVIII-XIX

    «Papeis Politicos», Tomo II

    fol 1: ‘Da Livra. do Dezor. Mathias Pinheiro Preztemte. da do Dezor. João Tavares de

    Abreu» , Índice no final

    «Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos séculos

    17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes tem um

    índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias

    Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram

    comprados no leilão do espólio do poeta Southey29.»

    BL2 [Ms Add.15201]

    340 mm x 240 mm, II+383 fol.+II, encadernação em couro, copista único, século XVIII

    Índice no final

    «Papeis Politicos, Tomo IX»

    «Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos

    séculoulos 17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes

    tem um índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias

    Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram

    comprados no leilão do espólio do poeta Southey30.»

    BL3 [Ms Add. 20844]

    212 mm x 152 mm, 177 fol., encadernado em pele, copista único, século. XVII

    «Cópias de vários papéis relativos a negócios de estado e em especial às negociações

    diplomáticas de Portugal com as cortes de Inglaterra e de França. Um vol. in-fº de 373

    fol. século XVII31. »

    29 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 30 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 31 Conde de Tovar, Catálogo dos manuscritos portugueses ou relativos a Portugal existentes no Museu Britânico, Lisboa, Academia das Ciências, 1932, pg. 51

  • 22 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BNF

    BNF1 [Ms Portugais, Nº 28]32

    340 x 240 mm., 381 páginas, encadernação em pergaminho, séculos. XVII-XVIII

    BNP

    BNP: Fontes Manuscritas

    BNP1 [Mss 35, Nº11]

    210 mm x 105 mm, caderno, 3 f f/v., reclame nas páginas de rosto (fol. 1 com dois

    reclames, selo BNP século XVIII, selo BNP século. XX em todas), copista único,

    século XVII. Marca de água fols. interiores, século XVII

    BNP2 [Mss. 72, 1º]

    210 mm x 105 mm, caderno, I + 17 pags. + I, vários copistas, correcções a várias mãos,

    século. XVII (interior), século. XIX (capa manuscrita). Volume compósito com várias

    numerações e indícios de páginas arrancadas a outros cod., reclame (Selo BNP século.

    XX) em todas as pags (f/v), capa manuscrita. Marca de água fols. interiores, século

    XVII

    «Cartas várias de D. Feliciana de Milão, religiosa do Convento de Odivelas a uma sua

    amiga.»

    BNP3 [Mss 249. 26º]

    212 mm x 157 mm, caderno, I + 9 pgs. + I, letra do século XVII com traços de

    emulação século XVI, Copista único, cópia limpa

    «Respostas de D. Felicianna Maria de Milão, Religiosa no Mosteyro de Odivellas. A

    umas perguntas amantes»

    BNP4 [Colecção Pombalina, Nº 69]

    32 Os serviços da BNF não nos autorizaram a consulta do Códice, apenas do Microfilme. As indicações do volume que apontamos são retiradas do catálogo online disponível em www.bnf.fr

  • 23 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    4º, 212 x 157 mm, II + 226 fol. + XI com índice encadernado em pergaminho, capa e

    lombada em couro, copista único, século XVIII, correcções a outra mão, tinta repassada,

    falhas frequentes no suporte

    «Epistolas familiares, ou cartas missivas escritas por varios auctores. Parte I – No Anno

    1726»

    BNP5 [Colecção Pombalina, Nº 129]

    224 mm x 155 mm, Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 268 fols. + IV

    numeradas, Índice na folha de rosto, copista único, letra do século XVII

    «Papeis Varios»

    BNP6 [Cod. 127]

    4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 270 fol + III, encadernação em couro

    «Colecçam de escriptos sebastianistas em prosa e verso. Titulo «Ilha Encoberta»

    lombada do volume – Letras do século. XVII e XVIII. Tem índice em fol. solta. Há

    n’este vol. muitas paginas da letra de Manuel Caetano de Sousa33»

    BNP7 [Cod. 349]

    4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 133 fol + III, encadernação em pergaminho, copista único

    “Fastigimnia”.

    BNP 8 [Cod. 510]

    4º, 210 x 151 mm; II + 239 fols + II (f. 62 suprimida), encadernação em pasta de papel e

    cabedal, copista único.

    Na lombada: «Memoria de Sucessos. Memorial de Notícias»

    Folha de rosto: «Archivo e Novalario de varias coriosidades, manuscriptas, em proza,

    de varios auctores. Em Lisboa, 26 de Agosto de 696 annos. He de Manuel de Almeida.»

    BNP 9 [Cod. 589]

    4º de 93 fols., encadernado em couro, vários copistas, séculos. XVII-XVIII (XIX?),

    correcções a várias mãos. Mau estado

    33 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

  • 24 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Miscellanea. «Colleção de curiosidades historicas e litterarias, prosa e verso, dos século

    XVII e XVIII; enigmas, agudezas, anedoctas, desenhos, etc. (…) Falta a fl. numerada,

    8t.34»

    BNP10 [Cod. 3229]

    210 mm x 160 mm, II + 66 fols. numeradas + 4 fols. branco, lombada em couro,

    encadernação em cartão, copista único, século XVIII

    Inigmas. Oferecidos à la discreta inteligência de la soberana Assemblêa de la casa del

    prazer por su mas rendida, y aficionada Soror Joana Ignes de la Cruz Decima Musa.

    Lisboa. En la oficina del mas reverente impressor de la magestuosa veneracion a costa

    de un licito intertenimiento. 1695. Contodas las facultades, que puede tener un

    rendimiento, que no llega a tocar la necedad de licenciozo»

    «Inigmas «Do Pe. António Ribeiro35»

    BNP11 [Cod. 3273]

    212 mm x 159 mm, II + 54 fols. numeradas + 3 fols. acr., lombada em couro,

    encadernação em cartão (posterior), vários copistas, acrescentos e notas a várias mãos

    «Sonetos Italianos», na lombada em couro, encadernação em cartão

    «Sonetos de Castela e suas Respostas», na folha de rosto

    Volume compósito, com originais e cópias

    BNP12 [Cod. 8594]

    205 mm x 150 mm, I + 181 pgs + I, lombada em couro, encadernação em cartão, copista

    único, assinatura na última folha de guarda, «António José Saldanha»

    «Flores poeticas lidas e tiradas de varios poetas insignes (…)».

    BNP13 [Cod. 8609]

    204 x 151 mm, I +198 fols. numerados, lombada em couro, encadernação em cartão,

    letra do século XVII, vários copistas

    «Miscellanea litteraria. Assumptos galantes e burlescos, freiraticos, etc. Prosa e Versos.

    Comprado a Carlos Ferreira Borges, em 190336.» Índice no verso da folha de guarda.

    34 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896 35 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

  • 25 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BNP14 [Cod. 8611]

    224 mm x 155 mm. Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 261 fols + IV

    numeradas, Índice na folha de rosto, vários copistas, acrescentos e correcções a outras

    mãos, letra do século XVII (possivelmente também XVIII)

    «Papeis Varios, manuscriptos 8»

    BNP15 [Cod. 9611]

    240 x 180 mm, Encadernação em pergaminho, volume compósito, conteúdo com

    dimensões e suportes variados, vários copistas, acrescentos a várias mãos, século XVII-

    XVIII.

    Miscelânea com 20 expoentes, sem numeração total (só intra-exponencial).

    BNP16 [Cod. 12932]

    208 mm x 151 mm, I+178 f.+I, encadernado em pergaminho, copista único, capa e

    lombada em couro, vários copistas, século XVII

    (“escrito por D. Francisco Mascarenhas, 1 Conde Coculim”).

    BNP17 [Códice Nº 13305]

    212 mm x 152 mm, 177 f., encadernado em pele com ferros gravadas a ouro na

    lombada, copista único, século XVII

    Rótulo: "Obras varias.T. VIII", 21 cm., antigo possuidor Marquês de Sá da Bandeira

    (1795-1876), copista único

    BNP, Fontes Impressas

    BNP 18 [BR. 6186]

    210 mm x 151 mm, II + 699 pags + II, papel, cosido à mão

    Anti-catastrophe. História verdadeira da vida e dos succesos d’El-Rey D. Affonso 6º de

    Portugal e Algarves. Escripta em Lingoa Hespanhola por um Official das tropas de

    Portugal, que o acompanhou na sua fortuna e na sua desgraça. Tradusida em

    Portuguez o mais fielmente que possivel foi. Porto, Typ. Rua Formosa, 1845, pg. 696-

    698 36 José António Moniz, Descrição de Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

  • 26 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BNP19 [L. 40435 P.]

    Alberto Pimentel, O Capote do Snr. Braz, Porto/ Braga, Livraria Internacional de E.

    Chardron, 1877

    BNP20 [L. 53339 P.]

    202 mm x 150 mm, papel, cosido à mão, 3 vols.

    Camilo Castelo Branco, A Caveira da Martyr: Romance Histórico, Lisboa, s.n., 1884

    BNP21 [MF 1483]

    210mm, papel, cosido à mão37, 312 pgs.

    A.C. Borges de Figueiredo, O Mosteiro de Odivellas – Casos de Reis e Memórias de

    Freiras, Lisboa, Livraria Ferreira, 1889

    BPE

    BPE1 [CV 1_9]

    210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, V + 200 fols + V numeradas, letra do

    séculos XVII-XVIII

    BPE2 [CV 1_13]

    210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, 495 pags. numeradas, copista único,

    letra do séc. XVII

    in Obras varias curiozas manuscriptas – Primeiro Tomo, e he de Prozas, anno de 1716

    BPE3 [CXII 1_1]

    212 mm x 151 mm. Encadernação em pasta de papel, 275 pags. numeradas, vários

    copistas, letra do século XVII. Tinta repassada.

    BPE4 [CXII 2_21]

    300 mm x 157 mm. Encadernação em carneira, IV + 65 fols., Índice (incompleto, na

    última página), vários copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII

    37 O livro encontra-se em mau estado e é apenas consultável em microfilme. As informações do volume são as constantes do catálogo da BNP.

  • 27 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    BPE5 [CXIV 1_7]

    224 mm x 155 mm. Encadernação em pergaminho, II + 414 fols. numeradas, copista

    único, letra do século XVII (possivelmente também século XVIII)

    BPE6 [CXXX 1_17]

    210 mm x 152 mm. Encadernação em carneira, III + 415 pags. + XV numeradas, vários

    copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII. Tinta repassada.

    BPE7 [CXXX 1_18]

    200 mm. x 153 mm. Encadernação em carneira, 266 fols., letra do século XVII

    (possivelmente também XVIII)

    BPMP

    BPMP1

    341 mm x 242 mm, II+323 fol.+IV, encadernação em pergaminho, vários copistas,

    século XVIII.

    Miscelânea

    BPMP2

    340 mm x 240 mm, II+383 fol., encadernação em pergaminho (volume compósito

    encadernado posteriormente?), copista único, século XVIII, vários copistas, anotações a

    várias mãos

    BSG

    BSG1 [BSG, Ms. Portugais, 651]

    206 x155 mm. Encadernação em carneira, 1 fol. de guarda, 125 fols., a. i. in 4º, 192

    «Vida e Morte de D. Afonso VI (…) Anno de 1774»

  • 28 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    I. Cartas de Feliciana de Milão

    1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»

    Esta Correspondência é composta de diversas partes, que apresentaremos em

    seguida com a numeração utilizada para as designar :

    1.1. Carta de Inês Antónia de Távora escrita a Feliciana, convidando-a para umas

    Sortes de Palácio, incipit «Minha Senhora uma Religiosa».

    1.2. «Papel que hia com esta carta», incipit «De lugar não maes alto»

    1.3. Resposta de D. Feliciana Maria, incipit «Pois a mim me parece»

    1.4. Segunda carta para D. Feliciana, incipit «Minha Senhora delira»

    1.5. Resposta de D. Feliciana, incipit «Como podia eu buscala»

    1.6. Carta para D. Feliciana, incipit «Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M.

    passando o tromento de perceguida».

    1.7. Resposta de D. Feliciana, incipit «Esta Senhora Lucrecia»

    1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha, incipit «Minha Senhora uma

    Freira não sei donde»

    a) Identificação dos Testemunhos

    [ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol. 327 v.-336

    [BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol. 23-24

    [BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.

    [BNP4] BNP Pombalina 69, fol. 158

    b) Relação de Testemunhos

    Texto Base

    Cartas Nºs 1.3 e 1.5: [BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol 23-24

    Cartas Nºs 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.8: [ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol.

    327 v.-336

  • 29 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Versões Secundárias

    [BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.

    [BNP4] BNP Pombalina 69, f. 158

    Trata-se de uma versão incompleta, possivelmente um rascunho autógrafo,

    contendo apenas duas das sete cartas desta Correspondência. Nas restantes cinco cartas

    que a completam, foi utilizado como texto-base o alógrafo que se apresenta como o

    melhor manuscrito na ausência de BGUC5, como detalharemos em seguida: [ANTT2]

    ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, f. 327v.-336. Assim sendo, o texto-base para as

    cartas 1.3 e 1.5 desta Correspondência com Influência das Estrelas é o estabelecido a

    partir do testemunho BGUC5; quanto às cartas 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.7, o texto-base é o de

    ANTT2.

    Reforce-se que em relação ao testemunho parcial BGUC5, este se encontra

    muito rasurado, oferecendo dificuldades de leitura. A presença de vários passos

    ilegíveis, sobretudo na carta 1.5, marcadas pelos sinais † e , deve-se sobretudo a

    rasuras em curso que confirmam a sua natureza de rascunho. O que se prova pelo

    confronto com outras versões, uma vez que os passos marcados com a referida

    sinalização em BGUC5 não se encontram preenchidos de forma diferente nos outros

    testemunhos.

    Dado o exposto, foi necessária maior intervenção em termos de pontuação, na

    colocação de vírgulas e de pontos finais; no original, as primeiras são frequentemente

    omissas, e o fim de período por vezes marcado com recurso a uma maiúscula (como

    exemplo: «emque me tinha a duvida e o dia Mas em qual»).

    No tocante à versão ANTT2, esta acompanha BGUC5, mas alguns erros

    separativos que ocorrem em relação a BGUC5 revelam contaminação por outra versão

    (vejam-se as lições «Ursa», «desprovirme», para além de omissões). Quando varia em

    relação a BGUC5, é acompanhada por BNP2. Daqui pode concluir-se que dependem de

    um testemunho comum, e é possível que o copista de BNP2 tenha tido conhecimento de

    ANTT2.

    Quanto à versão BNP2, apresenta em relação a ANTT2 os seguintes erros

    separativos:

  • 30 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    - apresenta supressões (sobretudo nas cartas desta correspondência, Nºs 1.2, 1.3, 1.5) –

    como «inculca», «provar (a candura)».

    - correcções e emendas;

    - não compreende alguns passos do texto (Carta 1.3: propõe a lição «Ursa» por «vossa»

    ou «horror»; «desprovir-me» por «espavorir-me»);

    - indica contaminação por outra versão (apontada na representação gráfica como versão

    w).

    - na Carta 1.2 (Papel) contém supressões e leituras irróneas, o que pode naturalmente

    dever-se ao facto de o suporte ser um papel, que corria de mão em mão, como o título

    indica.

    Trata-se de um testemunho com mais apógrafos do que BGUC5, como o acrescento

    em entrelinha superior «na obrigação», entre outros dados, confirma.

    Quanto à versão BNP4, esta apresenta regularmente lições que se constituem como

    erros separativos, a saber:

    - supressões: na Carta 1.6, omite «remato minha Senhora com dizer, foi carta de

    jogar»); oferece más leituras frequentes, que se devem também ao mau estado do

    suporte. Por estes dois motivos indicámos z. Depende de BGUC5, por leitura de passos

    que BNP2 e ANTT2 não conseguem esclarecer.

    Uma nota final para o facto de, apesar de ser um conjunto de cartas e não um

    texto único, os resultados do cotejo carta a carta apontarem sempre para as mesmas

    conclusões. O que indica a manutenção deste conjunto e a sua transmissão desde o

    estabelecimento do original – de que BGUC5 é rascunho provável.

  • 31 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

    [O]

    O’ (BGUC5)

    x y w ANTT2 z BNP2 BNP4

  • 32 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado

    1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para

    umas Sortes de Palácio

    Minha Senhora, uma Religiosa, que sonhou desvanecimentos com um és, não és de

    memória, recorda com um esfregar de olhos de quererá, ou não quererá V.M. dar-lhe

    ajuda de custo para uma Sortea que não terá1 partilhas na fé, quando as consinta no

    ganho. E porque lisonjeie mais a V.M. com as notícias, que com a companhia, me

    manda dizer-lhe2, que as Sortes se previnem em3 CorteRealb, por mandado da

    Sereníssima Senhora Infante4, e se depositam na mão de D. Maria de Noronha, para que

    juntos os cabedais das aventureiras da fortuna nesta Palestrac da Sorte, se dêem os

    prémioss a quem se contentar de aceitá-los por acaso5. Esta é a notícia para que V.M.

    possa encaminhar a tenção6,d , quando queira suprir-lhe as faltas que7 leva. São de tostão

    as Sortes, e de subido8 preço9 a fortuna com que nasci para obedecer a V.M. como

    cativa sua.

    Soror Influência das Estrelas [fol. 328 v.]

  • 33 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.2. Papel que ia com esta carta

    De lugar não mais alto que dos abismos, nem para10 mais baixo assento, que as

    Estrelas, sobe a11 ser resplendor um pensamento, que havia baixado a ser fúria, não com

    voos de Ícaro desvanecido, sim com12 sagacidade de Dédalo remontado; porque não

    precipita a elevação13 quem para o14 sublime leva bem azadae a inculca15f que busca.

    Senhora D. Feliciana Maria, desprezaria a16 fortuna17 vendo-se18 tão sem nenhuma

    quem a chama, que nem19 para esperar a Sorte se vê com cabedais, e neste Nada de

    esperanças, sirva para o Todo20 da fé de prémio a tenção, quando para a tenção não

    poder haver prémio; mas porque se não falte ao comum do estilo, acrescente a Senhora

    D. Feliciana os cabedais no preço de uma sorte, e deixemos pobre de vozes o Mote, de

    quem a meio dizer suspira21

    Nada – Tudo. [fol. 329]

  • 34 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.3. Primeira reposta

    Pois a mi me parece minha Senhora que ainda não despertou essa Religiosa do

    sonho de que fui eu22 o agouro pelo mal acordados que vejo na sua fantasia os

    desvanecimentos com as dúvidas quando para justificá-los e vencê-las lhe sobrara um

    abrir de olhos, V.M. lhe diga por fazer-me favor que hartog vingada23 fico da sua

    curiosidade no mal que lhe24 logra por que ainda que eu quisera pôr-me mui de

    Odivelas, não sobera falar crespo, que se o liso lhe serve aqui me tem para servi-la tão

    prezada de que mede lugar em Palácio ao seu lado, que ainda conhecendo de

    examinação esta Carta que como de Guia, se me inculca, deponho o perigo do Crédito

    pelo Crédito da Companhia, e posto que acho pouca e fraca cousa o meu discurso para

    encher e atar os distantíssimos termos deste nada a esse25 tudo tais brios me infundiram

    as suas ordens que desprezando o Risco, Nada temo aspiro a tudo, e assim o direi a D.

    Maria de Noronha para que veja de que sorte26 deve premiar esta ousadia e será mui de

    propósito por que nas divinas disposições não há acasos e quando se perca o prezoh

    lograrei27 a vaidade de que se conheça o valor que devo a influência das estrelas apesar

    do horror28 com que intentaram espavorir-me29 as fúrias e os abismos, natural ou

    afectada30 defensa31 desses celestes e mágicos encantos e V.M. por quem † me †32

    soaram as vozes do oráculo deve oferecer-lhe † como vítimas cujos33 fumos sobem aos

    seos pés o *provar34 a candura e a fineza dum afecto que se † sacrifica às suas aras e se

    sujeita as suas disposições.

  • 35 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.4. Segunda carta para Dona Feliciana

    Minha Senhora. Delira com as porfias, quem não acerta no caminho das

    experiências. A primeira que fiz para pôr esse papel nas mãos de V.M., foi tão mal

    sucedida, como todas as que intenta a minha fortuna, fazendo que se transformem em

    azares no fruto, as que foram esperanças na cultura35; porém como a fé se não sujeita

    aos acidentes de uma Roda instável, quiçá que entre36 um voltar37 de precipícios38 a páre

    em39 altura em que encontre a V.M. a temeridade de quem a busca, para que lhe dê

    ajuda de custo neste pouco de possuir40, e nada de dizer. Em a primeira [fol. 330 v.]

    Carta dizia já a V.M., que se se ofendesse da Companhia, não deixaria de agradar-se41

    do lugar, em que se previnem as sortes em Corte Real, determinadas por mandado da

    Sereníssima Senhora Infante, e juntas na mão de D. Maria de Noronha, onde V.M. pôde

    remeter o que determinar nesta petição de uma Religiosa minha Companheira, que o

    será sempre na obrigação42 de confessar-se, como eu, muito de V.M.,

    Soror Influência das Estrelas

  • 36 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.5. Segunda Reposta

    Como podia eu podia eu buscá-la a V.M., minha Senhora43, se ignorava o lugar em

    que a44 acharia? A Via Láctea que é o conhecido Caminho das Estrelas fica mui

    desviado da minha esfera, e quem me trouxe a sua Carta de V.M. deu tão má conta do

    caduceoi e dos Talaresj que não soube declarar por onde lhe chegaria a reposta, que logo

    fiz e a todas luzes inútil, se V.M. com este seu o favor não viera a ilustrar-me segundo o

    conhecimento tirando-me das trevas em que me tinha a dúvida e o dia. Mas em qual

    melhor que no dos martelos me soaria uma memória de V.M. Serão minha Senhora,

    duas as sortes, e muitas as obrigações que me tem as seus pés de V.M. – se lhe dever45

    a fortuna de ocupar-me em seu serviço.46

  • 37 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.6. Carta terceira para D. Feliciana

    Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M. passando o tromento de perseguida, em

    vingança de desconhecer-me! Não me siga pela Via Láctea, que estrada47 de Santiago é

    só para as Peregrinas; nem me chame pelo caduceo, que a estas48 varinhas de Condão

    nunca devi49 a sabedoria, e se vi nelas as asas para que me voassem as esperanças,

    foram de serpentes; Talares de um correio fundido em Deos, bem me podiam guiar

    fortunas a um pensamento, que teve50 ser em V.M.; mas V.M. manda-me descobrir por

    Espias, que umas me são inimigas, outras51 nunca me foram afeiçoadas; [fol. 332] e não

    quero aparecer em outrem, quando52 desapareço em V.M. Faça minha Senhora

    Conselho de Estado nas suas memórias, e se há Secretário fiel para memória, lá me

    achará secreta no meu estado, sendo a mesma, que V.M. chamou algum dia para o

    mesmo, com que neste dia me foge53. De Guia não foi a minha Carta porque não trouxe

    a de V.M. às minhas mãos. De exame, não podia ser, por que no dia em que os Deuses

    competirãok Ciências54, perdeu-se o mais afoito. Carta de tocar, ni porpienso, pois essa

    memória de V.M. está tão de olvido para mim. Carta de conta, muito menos, porque não

    tinha muita conta meter-me eu em algarismos com V.M. De crença não foi a Carta, pois

    está V.M. inda agora duvidando-me. Com que a excluímos carta de favor; e fugindo de

    que seja de excomunhão [fol. 332 v.], remato minha Senhora com dizer, foi carta de

    jogar55, e vendo eu, que a desatenção de V.M. me respondia.

    Es figura, y no es ganancia,

    y assi la descartan56 todosl.

    me resolvo a meter na baralha57 dos desenganos, tão nada para as presunções, como

    para os rendimentos tudo.

    Fiel Cativa de V.M. S. g. Cda.

    Soror Influência das Estrelas

  • 38 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.7. Reposta de D. Feliciana

    Esta Senhora Lucrécia (que a quem encobre o seu nome, posso eu dar58 o que me

    parecer) [fol. 332 v.] no es sino como se toma.m Que importa, que V.M. lhe chame ao

    seu favor, meu tromento, se eu o estimo tão diferentemente, que ainda quisera mais

    apertado o trato? Se V.M. se pôs tanto ao longe, como podia divizá-la? Busquei-a pela

    mesma via59, porque V.M. quis dar a entender, que me buscava60: se foi estratagema

    militar tomar o nome dos enimigos, eu não soube a contrassenha, nem costumo a61

    duvidar o que me dizem pessoas tão nobres como as Estrelas; e se62 os sábios as

    dominam, quem como aquelas duas, a que V.M. chama sentinelas, poderia dar-me razão

    de V.M.? Mas se é destreza desmentir as Espias, e V.M. intentou63 lograr o pequeno

    triunfo de embaraçar-me, e confundir-me os discursos, eu lho dou de barato, seja V.M.

    quem quer que for ou quem não quer que fosse64; que a mim me basta que seja uma

    discreta que me [fol. 333 v.] fala, e uma entendida que me ouve. Engane-me V.M. que

    lhe preste, que estimarei que lhe aproveite, e aqui me achará V.M. da parte de sua

    cautela, sem fazer nenhuma diligência por conhecê-la, que é amável a vida, e dizem que

    tem pena de morte a quem se descobre a Visão Beatífica. E se esta conformidade

    parecer grosseria65, perdoe-me66 V.M., que não sei com quem falo; porque o obséquio

    de ignorá-la, me há de dever67 V.M. até que mais não possa, ainda que me lembra de

    certo encontro68, que se me faz69 sorte, e me deixou de gloriosa memória, imprimindo

    nela uma figura celeste, que provavelmente se compôs dessas Estrelas da sua esfera de

    V.M., mas como isto são fantasias, que não fazem fé, nem seguram a Esperança,

    perderá V.M. o feitio aos seus milagres, se aceitando os meus votos me não sinalar o

    Templo em que devo [fol. 334] oferecer-lhos; por que tornai70 lá, que não é minha, é

    jogo de meninas71. Vamos ao dar72 cartas.

    Senhora, beijo-lhe a mão a V.M., e com boa mão começo, porque não

    passassem73 de oito estas, que V.M. reparte, com que livro de arrenegada, e subo-a a

    parceira, com cujas leis me conformo74, seguindo seu ditame de V.M., bem que por

    diversas razões creio, que nem de Guia75, nem de Exame foi a carta, visto que me não

    constituiu Peregrina, nem me achou destra. Nem de Tocar pareceo, porque lhe

    antecedeo o ruído76, e77 o feitiço, antecipando à fama o que determinava o pacto. De

    conta, menos, bem que de companhia, porque logrando a aprovação, mentiu o contrato.

    De crença78, em nenhum caso podia com um fingimento à flor do rosto, que também

  • 39 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    tem cara a79 Escritura; os rifães80, a81desdisse no82 que me negou; e se o fazer parecer83

    uma cousa tão perdida, como eu lhe podia dar forças de Excomunhão? Como84 nas

    cartas de [fol. 334 v.] V.M. não cabem censuras, lhe não serve o título; nem o de jogar

    se acomoda a uma carta com que nenhuma outra faz vaza, e só nisto diferimos

    totalmente, por que em nenhum modo consinto que V.M. se vá à baralha com tanto

    jogo. E85 se é preciso que aquela Carta fosse mais que de nomes para a minha confiança,

    mandadeira para a minha obediência, de Éditos86 para o desafio, de pago87 para

    satisfazer-me, de Alforria para despedir-me, de Encomenda para enriquecer-me; Só de

    Marear a conheço, tanto pelo que tem de Astrolábio, como por que mostrando-me o

    Norte que sigo88, me ensinou o porto89, e me advertiu o perigo. Prosiga-lhe V.M., se

    quiser, a metáfora, que nesse Oceano bem há por onde correr, que eu não90 tenho tenção

    de passar das colunas de Hércules, por que me não acho com forças para mais trabalhos,

    nem dobrar aquele fatal cabo, a cuja vista os mais expertos Pilotos dão em calma; até

    [fol. 335] que V.M. me diga para que pode prestar: De Esperança, y de cuidado poca

    vela, y mucho remo? Acabo forçado, e bone voglie me ofereço a V.M. para servi-la em

    todas as caravanas91 que quiser.

    Feliciana92.

  • 40 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha

    Minha Senhora uma Freira não sei donde, da parte de não sei quem, me manda a

    V.M., e eu lhe perdoo o que me engana, pelo que me facilita. Diz-me, que na mão de

    V.M. se depositam93 os preços de umas sortes, que por ordem da Senhora Infante se

    determinam e creio que deve prometer em algum conflito de94 vaidade amparar95 uma

    confiança orfã, porque escolheo a minha para dar-lhe parte nas suas Letras, e nas suas

    Armas, e como são as de Portugal, me animo a adargarn delas, e contrastar a fortuna,

    apesar de tantas experiências. No Mote me entalou o seu Engenho com um Nada Tudo,

    e o meu como é tudo Nada, vendo-se nestes apertos, se me foi por esses ares. V.M. o

    patrocine, e me desculpe com a Influência das Estrelas, que me põem a seus pés, e

    desde96 que nasci me sujeitou às suas obediências. D. Violante beija as mãos a V.M., e

    diz, que se não dou os ouvidos aos gritos de quem intenta desconfiá-la97, se intenta

    introduzir na partilha do seu favor.

    Mote

    Por Influência das Estrelas

    Nada temo, aspiro a Tudo. [fol. 335 v.]

    a «Sortes: Tirar o bilhete das sortes. (…) Nas que hoje se permittem para algum bem publico, se mete uma certa quantia de dinheyro, com hum mote a arbitrio da pessoa, & se o bilhete, que se tira, vem negro, se ganha mais, ou menos, segundo o numero, que se confronta com o do livro das sortes.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol VI, pg. 771-773. b Corte-Real: Paço que servia de residência a alguns membros da família real. Começou por ser o Palácio de residência de D. Afonso VI, depois de D. Pedro. Situava-se nas traseiras do Paço da Ribeira, situado perto do actual Terreiro do Paço (cf. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI, Lisboa, Círculo de Leitores, 2002, pgs. 71-102). c «Palestra: Deriva-se do Grego Pali, que quer dizer Luta. (…) Usamos no Portuguez do vocabulo Palestra, quando queremos significar geralmente o lugar, em que se exercita alguma arte liberal, ou tambem alguma virtude.» Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. VI, pg. 198-199. d Bluteau aponta vários significados para tenção: «vontade, intento»; «parecer»; «tenção nas Tarjas, ou Escudos dos Principes, ou Particulares. É o escudo ou desenho, que cada um tem, para emprender cousas altas»; «o significado symbolico de hua cousa» (op. cit., vol. VIII , pgs. 92-93). Note-se que pode ser utilizada como um aumentativo de «tença» («renda» ou «esperar socorro», idem, ibidem). e «Asada»: No contexto, «azada», com asas. Não encontrámos no Dicionário de Bluteau o vocábulo, mas pode deduzir-se o seu significado; a variante «azeda» não cabimento contextual. Pode igualmente tratar-se de um erro de cópia de duas versões, que é possível determinar sempre que detemos informação do testemunho BGUC5. f «Inculca: deriva-se do verbo Latino Inculcare, que he repetir muytas vezes o mesmo. Fazer inculca de alguem he representar o prestimo delle, para este, ou a quelle efeito. (…) A inculca do seu conselho. (…)

  • 41 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    Deitar inculcas, para saber alguma cousa. (…) Deitãose inculcas para saber da sua vida, das suas acçoens.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. IV, pg. 99 g «Harto»: «O que é forte, robusto, farto, grosso. Muito, assaz, bastante». (Cf. Antonio Houaiss, Dicionario Electronico Houaiss de Literatura Portuguesa, versão 3.0, S. Paulo, Editora Objectiva, 2009. O contexto é «bastante vingada», «fartamente vingada». Emenda do texto-base a partir da lição «harto vingada» [BNP2, BNP4, ANTT2]. h Manteve-se a grafia original, por poder significar «preço» ou «prezo» . i Trata-se dos atributos da figura mitológica de Mercúrio, assim definidos por Bluteau: «Caducêo de Mercurio. Assim se chamava a vara, que Mercurio recebeo de Apollo, em troco da lyra de sette cordas. Ornàrão os Egypcios esta vara com duas serpentes, das quaes uma era macho, & outra femea, & que enroscadas vinhão a bejarse pela parte superior, formando huma especie de arco; & à figura das serpentes foram acrescentados os Talares. Segundo os Mythologicos, fundase este mysterioso ornato, em que achando Mercurio duas cobras, que brigavão entre si rijamente, lançára entre ellas a sua vara, que apartou a briga, & dalli em diante foy tomada por symbolo da paz, & da concordia. Por isso derivão alguns esta palavra Caduceo do Verbo Latino, Cadere, que val o mesmo, que cahir, porque segundo a Fabula tinha virtude para dar fim a todo o genero de contendas. E por esta razão os Feciaes, ou Arautos, que os Romanos mandavão para annunciar pazes, levavão o Caduceo, em final de que havião de cahir as maquinas bellicas, & com ellas as violências da guerra; & estes taes erão chamados Caduceatores. (…)». Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. II, pg. 33-34 j Assim define Bluteau as asas de Mercúrio: «Talares de Mercurio. As Azas, que (segundo os Poetas), pegava Mercurio aos calcanhares, para dar mais depressa as embayxadas das fabulosas Deidades.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. VIII, pg. 20 Erro que indica provável mudança de folio na versão que BNP4 reproduz. k Manteve-se a grafia original já que a frase pode designar um evento no passado, no futuro ou hipotético. l Sublinhado no original. Tratar-se-á de uma citação, que não nos foi possível identificar, bem como a seguinte nesta carta «poca vela y mucho remo». m Citação não identificada. n «Adargar-se: Cobrirse com adarga para se reparar dos golpes do inimigo.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. I, pg 120. 1 tem BNP2; 2 dizer BNP4; 3 com BNP4; 4 Infanta BNP4; 5 alcar BNP4; 6 atenção BNP2, BNP4; 7 hua BNP4; 8 subito BNP2; 9 preso BNP4; 10 omite ANTT2; 11 *so *beaser BNP4; 12 como BNP4; 13 achenação BNP4; 14 se BNP4; 15 omite BNP2, incuria BNP4; 16 omite desprezaria a BNP2; 17 ainda BNP2; 18 que BNP2 ; 19 em BNP2; 20 lodo BNP4; 21 suspiras BNP4; 22 eu fui BNP2, BNP4, ANTT2; 23 *ar o *vingada BGUC5; 24 se lhe BNP2, BNP4, ANTT2; 25 a esse BNP2, e esse BNP4, ANTT2; 26 omite BNP2; 27 lagrimas BNP4 ; 28 Ursa BNP2, ANTT2 vossa BNP4; 29 desprovirme BNP2, ANTT2, despavorirme BNP4; 30 afeitada ANTT2; 31 diferença BNP4; 32 me BNP4, ANTT2; 33 de cujos BNP2, BNP4, ANTT2; 34 omite BNP2, BNP4, ANTT2; 35 costura BNP4; 36[↑entre] BGUC5; 37 voltear BNP2, BNP4; 38 precipios BNP4; 39 aparecom BNP4; 40 *depressuir BNP4; 41 agradarse BNP2; 42 [↑ na obrigação] BNP2; 43 minha senhora, buscala a VM, BNP2; 44 se BNP4, [↑a] ANTT2; 45 omite se lhe dever BNP4; 46 Ve. BNP2, Ve. Feliciana ANTT2; 47 a estrada BNP4; 48 estas BNP4; 49 deue BNP4; 50 deve BNP4; 51 e outras BNP4; 52 quando quando BNP4; 53 fogue BNP4; 54 com Ciências BNP2; 55 omite remato minha Senhora com dizer, foy carta de jogar, BNP4; 56 destartan BNP4; 57 na talha BNP4; 58 cuidar BNP2; 59 teis BNP4; 60 descaua BNP4; 61 omite BNP2; 62 se só BNP2 ; 63 intenta BNP2, BNP4; 64 faça BNP4; 65 grosseira BNP2, grossaria BNP4; 66 perdoe BNP4; 67 ver BNP4; 68 omite ANTT2; 69 fez BNP4;70 tornais BNP4; 71 mininos BNP4 ; 72 dar das BNP4; 73 *paressem BNP4 ; 74 conforme BNP4; 75 dia BNP4; 76 olvido BNP4; 77 omite BNP4; 78 lesensa BNP4; 79 de BNP4; 80 omite os rifães BNP2; 81 que BNP2; 82 o BNP4; 83 aparecer BNP2; 84 *com BNP4; 85 omite E BNP4; 86 devitos BNP4; 87 paga BNP4 ; 88 digo BNP4 ; 89 perto BNP2 ; 90 omite BNP4 ; 91 *Oraccanas BNP4 ; 92 omite BNP4; 93 sogeitão BNP4; 94 e vaidade BNP4; 95 comparar BNP4; 96 das de BNP4; 97 desconfialha BNP4

  • 42 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

    Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

    2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades

    2.A. Carta da Devolução

    a) Identificação dos Testemunhos

    [ACL1] ACL Mss 383 azul, fol. 276-277

    «Carta que D. Feliciana Maria de Milão Religiosa em o Convento de Odivelas

    escreveo a Maria das Saudades Religiosa em o Convento de Via Longa na ocasião em

    que deixada a primeira, com a segunda se entretinha El-Rei Dom Afonso 6º»

    [ANTT2] ANTT, Misc. Mss 2073, fol. 313

    «Carta 9ª de D. Feliciana Maria de Milão, Religiosa do Convento de Odivelas, a

    D. Maria das Saudades, que de