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Universidade de Lisboa
Faculdade de Letras
Departamento de Literaturas Românicas
Estratégias por Correspondência
Uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Anexo
Pedro António Freire Santos de Sena-Lino
Doutoramento no Ramo de
Estudos de Literatura e de Cultura
Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa
2012
2 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Universidade de Lisboa
Faculdade de Letras
Departamento de Literaturas Românicas
Estratégias por Correspondência
Uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Anexo
Pedro António Freire Santos de Sena-Lino
Tese orientada pela
Professora Doutora Vanda Anastácio,
especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor em
Estudos de Literatura e de Cultura
Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa
2012
3 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Í NDI CE Apresentação ................................................................................................................ 6
A Edição .................................................................................................................. 6 O aparato crítico .................................................................................................. 8 Critérios .............................................................................................................. 9
Relação Total de Testemunhos .................................................................................... 16 Descrição Codicológica .............................................................................................. 17 I. Cartas de Feliciana de Milão ............................................................................. 28
1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»......................................... 28 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 28 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 28 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 31
Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado .................................. 32 1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para umas Sortes de Palácio............................................................................... 32 1.2. Papel que ia com esta carta .................................................................... 33 1.3. Primeira reposta ..................................................................................... 34 1.4. Segunda carta para Dona Feliciana......................................................... 35 1.5. Segunda Reposta.................................................................................... 36 1.6. Carta terceira para D. Feliciana .............................................................. 37 1.7. Reposta de D. Feliciana ......................................................................... 38 1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha .................................... 40
2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades .......................... 42 2.A. Carta da Devolução ...................................................................................... 42
a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 42 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 44 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 45
Carta da Devolução – texto fixado ......................................................................... 50 2.B. Resposta de D. Maria das Saudades ............................................................. 53
a) Identificação de Testemunhos.................................................................... 53 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 54 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 56
Resposta de D. Maria das Saudades – texto fixado ................................................. 59 3. Carta das Veias ............................................................................................ 62
a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 62
4 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 63 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 64
Carta das Veias – texto fixado ................................................................................ 66 4. As Cartas de Aranha ..................................................................................... 69 4.A. «Estive para principiar» (Carta Primeira) .................................................... 69
a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 69 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 69 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 70 Primeira Carta de Aranha – Texto fixado .......................................................... 71
4.B. «Tem tão obtusos os órgãos do cérebro» (Carta Segunda) ............................ 73 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 73 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 73 Segunda Carta de Aranha - texto fixado ........................................................... 74
5. Carta de Pedro de Quadros e Resposta de Feliciana de Milão ...................... 78 5.A. Carta de Pedro de Quadros .......................................................................... 78
a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 78 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 78 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 79 Carta de Pedro de Quadros a D. Feliciana de Milão – texto fixado ................... 82
5.B. Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros .................................... 85 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 85 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 85 Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros – texto fixado ................... 86
6. Carta da Deposição ...................................................................................... 92 a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 92 b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 94 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 96
Carta da Deposição – texto fixado ....................................................................... 101 7. Carta Suposta e Carta da Refutação ........................................................... 105 7.A. Carta Suposta ............................................................................................. 105
a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 105 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 106 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 107
Carta Suposta – texto fixado ................................................................................ 109 7.B. Carta da Refutação ..................................................................................... 114
a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 114
5 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 114 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 116
Carta da Refutação – texto fixado ........................................................................ 118 8. Carta de Respostas Amorosas ..................................................................... 122
a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 122 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 123 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 124 Carta Respostas Amorosas – texto fixado ........................................................ 127
9. Correspondência com o Duque de Cadaval ................................................ 150 a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 150 Carta Nº1......................................................................................................... 151 Carta Nº2 Resposta do Duque para D. Feliciana .............................................. 152 Carta Nº3 Carta do Duque para D. Feliciana .................................................... 153 Carta Nº 4........................................................................................................ 154 Carta Nº 5........................................................................................................ 155 Carta Nº6......................................................................................................... 156
II. Outros textos de Feliciana de Milão ................................................................. 157 1. “Licença da Censura” ................................................................................. 157
a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 157 b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 158 c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 159 «Licença da Censura» - texto fixado ................................................................ 161
6 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Apresentação
A edição crítica das cartas de Feliciana de Milão apresenta-se nas páginas
seguintes. A sua ordenação é cronológica, feita a partir de uma cronologia deduzida de
acordo com os dados disponíveis1. Na Descrição de Testemunhos, poderão ser
encontradas, esquematicamente, informações sobre as versões de cada uma das Cartas e
as relações que estas estabelecem entre si, bem como a sua descrição codicológica.
Também se incluem a relação de testemunhos para cada carta e os resultados da
collatio. Uma nota particular quanto à edição da Carta Respostas Amorosas: esta é
seguida, no presente volume, por uma versão que contém as perguntas com outras
respostas em verso.
Inclui-se ainda a transcrição do único testemunho conservado das Cartas de
Feliciana ao Duque de Cadaval e respostas deste. Sublinhe-se ainda que os testemunhos
da Correspondência de Feliciana ao Duque de Cadaval se encontram em mau estado;
disponibilizados apenas em microfilme pelos serviços da BNF, não nos foi possível
consultar o original. Assim, muitos passos do texto correspondem a leituras
conjecturais.
Depois das Cartas, edita-se aqui o texto das Licenças da Censura, publicado no
volume dos Inigmas de Soror Juana Inés de la Cruz.
Os Textos de autoria duvidosa ou apócrifos foram colocados no Apêndice, com
excepção da Carta Suposta, já que Feliciana lhe respondeu directamente, como fez com
as cartas de Pedro de Quadros.
A Edição
Foi efectuada uma pesquisa da tradição nos principais arquivos de Bibliotecas
nacionais e europeias, que se revelou extensa, dado muitos dos testemunhos
manuscritos das Cartas de Feliciana de Milão terem sido transcritos por copistas sem
indicação de autoria, nem por vezes, sequer de temática.
Procedeu-se depois à transcrição de todos os testemunhos, na grande maioria
manuscritos. Como indicámos na Relação Geral de Testemunhos, encontraram-se
1 Veja-se a dissertação, Introdução, subcapítulo ii.
7 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
algumas versões impressas totais e parciais – tendo sido apenas estas últimas
desconsideradas (já que se tratam de citações ou transcrições parcelares, efectuadas nos
séculos XIX e XX, retiradas de cópias de versões manuscritas conservadas2). As versões
impressas, como indicado, correspondiam, na sua maioria, a cópias de versões
manuscritas. Foi efectuada, em seguida, uma colação a todos estes testemunhos. Os
possíveis autógrafos foram sujeitos à mesma operação, tal como os alógrafos.
Não havendo uma edição impressa da totalidade das cartas, mas sim uma
quantidade apreciável de manuscritos, a selecção do texto-base seguiu a teoria do
melhor manuscrito de Joseph Bédier3. Sublinhe-se ainda que a utilização do método de
Lachmann não nos pareceu o mais ajustado para a edição em causa, já que as muitas
reproduções e complexas relações estabelecidas entre os testemunhos tornariam muito
difícil a reconstituição de uma versão próxima do original. Porém, e apenas como o
objectivo de procurar representar graficamente as «detalhadas relações estabelecidas
entre as várias versões4», optámos por apresentar, após a relação de testemunhos, uma
representação gráfica da relação entre testemunhos, esclarecedor da tradição
conservada. A presença de «erros intencionais5», devidos aos copistas, validou esta
opção. Reforcem-se as reservas6 em relação a esta representação que, perante o tipo de
documentos que constituem o corpus (e tendo em conta as formas de reprodução destas
cartas), se pode revelar incompleto. Assim sendo, procurámos suprir estas limitações
através da explicação da relação existente entre os testemunhos, versão a versão, e do
estabelecimento de famílias entre as várias versões.
Nos casos das Cartas de Aranha, bem como na Carta de Pedro de Quadros e
respectiva Resposta, procedeu-se a uma única apresentação quer de representação
gráfica da relação entre os testemunhos, quer da sua justificação, aí justificada.
Quanto à emmendatio, partilhamos a concepção expressa por James Thorpe7
sobre a “impropriedade” de intervenção do editor no texto-base (mesmo tendo em conta
um corpus de correspondência, com as suas características específicas de reprodução).
2 Foram porém indicadas na relação de testemunhos prévia a cada Carta. 3 cf. Le Lai de l’ombre, publié par Joseph Bédier, Fribourg, Imprimerie et Librairie de L’oeuvre de Saint-Paul, 1890 4 James Thorpe, Principles of Textual Criticism, San Marino, California, The Huntington Library, 1972, pg. 113 5 James Thorpe, op. cit., pgs. 112 6 cf. James Thorpe, op. cit., pgs. 114-115; Miguel Ángel Pérez Priego, Introducción General a la Edición del Texto Literario, Madrid, Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2001, pgs. 21-30 7 James Thorpe, op. cit., pgs. 189-191
8 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Assim sendo, limitámo-nos à emmendatio do texto-base de forma rara e esporádica,
sempre indicada em nota de rodapé, e apenas nos casos em que esta apresentava: a)
lições decorrentes de erros evidentes do copista, sobretudo devido a discurso interior,
difracção, haplografia, ou homoioteleuton; b) quando o texto-base apresentava uma
lição sustentada por um único testemunho, revelando o conjunto ou a maioria das outras
versões, um lição mais clara ou contextual. A grande quantidade de versões disponíveis
das cartas impôs-nos a fixação dos referidos critérios. Dada quer a extensão do corpus,
quer a variedade de de testemunhos, foi nossa opção dar conta das variantes no aparato,
e não num texto global, prévio à edição.
Procurámos encontrar definições de todas as ocorrências vocabulares a partir do
Dicionário mais completo e adequado, próximo da época de escrita de Feliciana de
Milão, o Vocabulário de Raphaël Bluteau8; um dos factores para esta escolha foi,
precisamente, a presença do vocabulário do jogo de cartas, fulcral para a compreensão
da obra da religiosa de Odivelas. Na ausência de entradas para algumas ocorrências, as
referências foram pesquisadas no Dicionário de Moraes e Silva9. Do mesmo modo, no
tocante às citações (bastante frequentes) procurámos identificá-las10, e corrigimos o
original servindo-nos de textos fixados, ou na sua ausência, das primeiras versões
impressas das obras. Todas estas referências estão marcadas em nota.
O aparato crítico
Foi estabelecido um aparato crítico, que pode ser encontrado no final de cada
carta, identificado e organizado numericamente, com indicação da versão a que
correspondem (enunciada pela sigla, de acordo com o Quadro de Relação de
Testemunhos, constante da "Apresentação").
8 Raphaël Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatómico, arquitectónico, bélico, botânico, brasílico, cómico, crítico, químico, dogmático, dialéctico, dendrológico, ecclesiástico, etimológico, económico, florífero, forense, frutífero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portugueses, e latinos, pelo padre D. Raphael Bluteau, Coimbra, no Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, 10 vols. 9 António Moraes Silva, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 10ª Edição, 10 vols.,1949, 10 Quanto à Carta Respostas Amorosas, não nos foi possível identificar todas as citações efectuadas por Feliciana. Muitas delas estão transcritas de forma pouco legível, corrigidas pelos copistas, ou copiadas com erros visíveis (como é o caso do verso de Ariosto, que não tem uma lição legível). Reforce-se que muitas vezes estas citações são retiradas de manuscritos, por sua vez cópias de outros, e em muitos casos de poemas que são falsamente atribuídos aos seus autores. Por outro lado, quer Nieves Baranda, quer Bouza Álvarez têm destacado a existência de livros de citações utilizados pelos autores, como já referido anteriormente.
9 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Em segundo lugar, embora representado previamente a este aparato crítico,
estabeleceu-se um conjunto de Notas, organizado alfabeticamente, onde se procurou
registar:
1) a indicação das ocorrências em que a junção de palavras contribui
para a criação de ambiguidades de sentido (“culpado” que pode
designar “culpa do” ou “culpado”), e onde, por este motivo,
mantivemos a ocorrência original.
2) a justificação das emendas que tivermos efectuado.
3) os problemas do suporte, como manchas, tinta repassada, entre outros.
4) em casos muito pontuais, algumas notas sobre os manuscritos das
versões secundárias que aclarem passos menos claros no texto-base.
5) a correcção de citações através de textos fixados criticamente, ou, na
sua ausência, das suas primeiras edições.
6) notas vocabulares e histórico-literárias; nos casos em que se revelou
necessário, apresentamos também referências e contextos das citações
efectuadas por Feliciana.
Critérios
Tendo em consideração a variedade linguística dos textos aqui apresentados, e a
difícil leitura provocada pelo estado de alguns dos testemunhos, procedemos, não sem
reservas, a algumas operações de actualização do texto-base, que identificaremos
seguidamente. Dados os diversos factores que contribuiem para a especificidade
linguística do século XVII, o estabelecimento de critérios de actualização demasiado
conservadores pareceu-nos desservir o propósito de divulgação e compreensão do texto.
Note-se, porém, que as intervenções efectuadas surgem apenas no texto-base, e
não nas variantes. Esta nossa opção prende-se, sobretudo, com a numerosa e diversa
informação que, no nosso entender, se perderia com a actualização das variantes, a
saber: compreensão de erros de cópia que esclarecem a escolha das versões apógrafas a
partir das quais foram executados alguns testemunhos, e até, as relações que se
estabelecem entre elas; a compreensão, não apenas em termos de sintaxe, mas sobretudo
de sentido, de algumas variantes intencionais; e, entre muitos outros aspectos, a directa
e preciosa informação relativa a passos menos claros no texto. Um exemplo
representativo que sustenta as nossas afirmações é o do passo – incompreendido por
10 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
catorze dos dezasseis copistas dos testemunhos sobreviventes da Carta da Devolução -
«bruxuleie muito devagar»; as variantes desta lição oscilam entre a representação de um
espaço em branco, a «por chulo, debuxe», «burlece», «burlente, bulla», «burxelie».
Como se depreende, a normalização das variantes não permitiria claramente identificar
as relações de transmissão entre os testemunhos.
Identificamos em seguida as operações de actualização efectuadas no texto-base.
Vogais
1. Representação dos hiatos
Como nota Paul Teyssier11, os hiatos (realização de «duas vogais contíguas»)
encontravam-se já resolvidos nos finais do século XV, embora as grafias prosseguissem
algumas representações «arcaicas»). Assim, normalizámos a representação das vogais
nasais, quando pré-consonânticas, e não em fim de palavra, seguidas de m e n, a saber:
«segũda» para «segunda», «vẽsellas» por «vencê-las». Quando em posição final,
representámo-la segundo o uso actual: «bõ» para «bom» (muito pouco frequentes);
«hũa», «hua» ou «huma» para «uma»12. Quanto às vogais orais (quer pré quer pós-
tónicas), normalizámos a sua representação («molher» para «mulher»), colocando a
semivogal i segundo a regra actual nas realizações dos hiatos finais –eo e -ea («correo»
para «correio», «Idea» ou «Idéa» para «ideia»), muitas vezes em substituição da
semivogal y («alheyo» por «alheio»). Sublinhe-se que alguns testemunhos apresentam
ainda claramente a grafia de alguns hiatos, como «a a-acçaõ» ou «bruxulee». Quanto ao
caso particular dos ditongos, algumas especificações:
1.1. Ditongos orais. Não são infrequentes as representações do hiato, como nos
casos «mao», ou a já referida «idea». É referido por alguns estudos
gramaticais da época que a sua pronunciação já deveria ser fechada13, pelo
que normalizámos as suas ocorrências: ae para ai («maes» para «mais»,
«sinaes» para «sinais»); ao para au («mao» para «mau», ou «augouro» por
11 Paul Teyssier, História da Língua Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa, 1984, pgs. 40-45 12 Note-se que, quer Ivo Castro (Curso de História da Língua Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1993), quer Paul Teyssier defendem que «permanecerão ainda na língua algumas sequências de vogais em hiato que serão eliminadas posteriormente: ũa (escrito em geral hũa), feminino de um passará a uma.» (Paul Teyssier, op. cit., pg. 45). Mesmo com estas ressalvas quanto a estas realizações, decidimos pela normalização destas ocorrências como o fizemos pelas já referidas, critério aliás utilizado por outros editores para textos da mesma época (Margarida Vieira Mendes, por exemplo, mantém a grafia ũa dado o copy-text do texto impresso das Rimas – Rouen, Maurry, 1646 – o manter como opção tipográfica). 13 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57-58, citando D. Luís Caetano de Lima e Luís António Verney.
11 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
«agoiro») ou «ão» («devocao», «devoçao», «devoçam» para «devoção14»).
No caso das sequências vocálicas que representam ditongos novos a partir do
século XIV-XV (oe, ee, eo), são frequentes grafias alternantes ou
arcaizantes: «meo» por «meu», «cruees» (ou mesmo «crueles», interessante
uso de castelhanismo para resolver a indeterminação vocálica) por «cruéis».
Teyssier nota igualmente que os hiatos eo e ea «serão suprimidos pelo
aparecimento de um iode, donde –eio, -eia15». Porém, no caso das
terminações de palavras terminadas em –eo (como “Ceo”, “receo” ou
“Deos”), manteve-se a grafia; sublinhem-se a este propósito as reservas que
Paul Teyssier levanta quanto a e e o em posição final átona («não há, nos
séculos XVI e XVII, nenhum testemunho de gramático ou ortógrafo que
indique para as vogais escritas –e e –o outra realização fonética que não
[e ] e [o ]16»).
1.2. Ditongos Nasais. Estes reflectem as sequências ã-o, ã-e, õ-e, como apontam Paul
Teyssier e Celso Cunha17. Nos casos dos dois primeiros ditongos, as grafias
presentes nos testemunhos já muito frequentemente se aproximam da grafia
actual («maõ» por «mão», embora seja frequente no plural a realização «maons»
por «mãos», ou «may» por «mãe»), no tocante ao ditongo õ-e é muito frequente
encontrarmos uma irresolução ou hesitação gráfica: «ocasioens» por «ocasiões»,
«acçoens» por «acções». Regularizámos todos estes casos de acordo com a
norma actual.
1.3. Uma nota ainda para o fenómeno de monotongação de ou, processo que muitos
linguistas reconhecem ter-se manifestado já no século XVII18; assim,
representamos «poco» por «pouco», seguindo a norma actual; a excepção da
terminação –eo já foi referida. Note-se que se manteve a grafia da terceira pessoa
do plural do presente do indicativo («tem»), já que se trata de um traço de
pronúncia que se mantém até ao século XVIII.
2. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que
correspondem a sons vocálicos: y com valor de i («may» por «mãe»; «muy» por
14 Note-se que a muito frequente representação «aõ» no corpus dá já indicação da realização deste hiato. 15 Paul Teyssier, op. cit., pg. 45. 16 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57 17 Celso Cunha, «Valor das grafias –eu e –eo do século XIII ao século XVI, in Estudos Portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno Picchio, Lisboa, Difel, 1990, pg. 913-927. 18 Paul Teyssier, op. cit., pg. 52; Ivo Castro, op. cit., pgs. 249-259
12 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
«mui», «freyra» por «freira»); nos raros casos de y com valor de e, como marca
de castelhanismo, muitas vezes haplográfico devido a citações próximas em
castelhano, como «sofrer y calar»); j para i («ajnda» por «ainda»; «jmfundiraõ»
por «infundiram».
3. Manteve-se o uso de apóstrofes, quer em caso de elisão, quer em caso de
contracção de vogais.
Consoantes
4. Quanto à representação das sibilantes predorsodental surda /s/ (como em
«posso» e «poço») ou da predorsodental sonora /z/ («cozer» e «coser»), objecto
de discussão dos gramáticos no final do século XVI19, pelas numerosas grafias
com ç e ss («paçado», «fasso», «reçucitar» ou «reçussitar»), seguiu-se a norma
actual. Normalizou-se a representação do grafema ç segundo a norma actual.
5. Regularização da representação das fricativas de acordo com a norma actual, nas
ocorrências: das palatais surdas x, z, ch ou s («feichar» por «fechar»); das
velares, mesmo do grupo –oct para –oi («nocte» para «noite); das alveolares
(«dosse» por «doce»); da palatal sonora, de acordo com as regras actuais
(«Magestade» por «Majestade»); da labiodental sonora f («esphera» por
«esfera»).
6. Quanto às oclusivas velares, foram alteradas as grafias segundo a norma actual
(«nunqua» por «nunca», «Archivo» por «Arquivo»).
7. Regularização da representação de z intervocálico por s, segundo a norma actual
(«dezejo» por «desejo», «azas» por «asas»).
8. Normalização das grafias etimológicas e pseudo-etimológicas (frequentemente
através do uso dos grupos ph, th, ch para as palavras de origem grega):
«triumphaes» por «triunfais» ou «Achilles» por «Aquiles». Outras
representações de usos não reflectidos na pronúncia do Português foram
igualmente normalizadas: «sancta» por «santa» e «sciencia» por «ciência».
9. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que
correspondem a sons consonânticos: de i por j («iogo» por «jogo»); de v por u
(«uinha» por «vinha»).
10. No que diz respeito às oscilações ortográficas e polimorfismo:
19 cf. Paul Teyssier, op. cit., pg. 50, citando a Ortographia de Pero de Magalhães de Gândavo de 1574.
13 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
- manutenção de ocorrências que correspondem a realizações alternantes como
«quasi» ou «quase» ou «noute» e «noite», ou «tromento» ou «tormento»,
«preguntas» ou «perguntas», «despois» ou «depois», «disbarate» e «disparate»;
contribuiu para justificar o facto de se encontrarem registadas as duas formas no
Vocabulário de Bluteau.
- manutenção das formas «rezão» por «razão», «assi» e «assim», que correspondem
a traços de pronúncia da época.
- do mesmo modo, manutenção da grafia das formas «mi» e «mim», ou «necedade»
por «necessidade», que segundo afirmou Margarida Vieira Mendes, pode «corresponder
a uma influência castelhana, típica nas realizações20» de Feliciana.
- Ainda sobre este ponto, uma referência à frequente presença de castelhanismos (e
de lusismos) na linguagem destes textos. Como exemplos: «coronista» (por «cronista»),
«despois», «reposta», «em fim», «em quanto», «por ventura», «hade» (representação da
preposição «de» conectada ao verbo haver, eliminando-se assim o uso de hífen).
Reforce-se que em textos onde a presença de citações castelhanas é mais frequente,
como a Carta Respostas Amorosas, este tipo de realizações são-no também –
testemunho quer da língua literária da época, quer do que Teyssier defende ser um
«lusismo do castelhano de Portugal»21. Ainda sobre este ponto, sublinhemos que não
efectuámos quaisquer alterações aos textos em castelhano, pelos mesmos motivos
apontados, e sobretudo por se tratar apenas de citações.
11. Eliminação de consoantes dobradas (, , , , entre outras) em
posição medial («callar» por «calar», «occasiaõ por «ocasião», «immensidade»
por «imensidade», «desattenção» por «desatenção»); reforce-se a já referida
regularização do uso de segundo a norma actual.
12. Actualização, de acordo com a norma actual dos grupos em posição média como
«Assumpção» (para «Assunção»).
13. Por não ter valor fonético, normalizámos o uso de h («he» e «hé» por «é»,
«orizonte» por «horizonte»).
14. Manteve-se a oscilação entre v e b («varalha» por «baralha»), por corresponder a
um uso corrente na época, em muitas regiões.
20 cf. Margarida Vieira Mendes, ibidem, pgs. 32-34. 21 Paul Teyssier, op. cit., pg. 37.
14 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Morfologia
15. Quanto a alterações morfológicas: separação de palavras segundo a norma actual
(«écousa»); quando esta se mostrou redutora de vários sentidos do texto,
colocámo-lo em nota («culpado», que pode designar «culpa do» ou «culpado»);
normalização das interjeições («o» para «oh»), excepto em casos indicadores de
pronúncia popular («Arrelá»);
16. Foram desenvolvidas as abreviaturas, com excepção de formas de tratamento
como Vossa Mercê («Vossa Merçê», «Vossa Mercê». «V. Mce.») para «V.M.»,
bem como de «V. Exª» ou «V.Exçia.» para «V. E.», e de «Vª Sia.» ou «V.Sria»
para «V.S.».
17. Regularização do uso dos acentos, e da utilização do hífen como separação de
enclíses e mesóclises, ou traço de união. Note-se ainda que foram também
efectuadas as substituições de / representando parêntesis, ou de = representando
um travessão.
18. Foram colocadas em itálico de expressões latinas, ou citações noutros idiomas,
frequentemente marcados nos manuscritos a sublinhado e/ ou com espaçamento
alargado entre caracteres.
19. Correcção de lapsos evidentes.
Foram efectuadas mínimas alterações à pontuação, nos casos em que o cotejo nos
revelou incidências de pontuação que indicavam fim de frase, ou marcação de orações
ou enumerações (sobretudo na Correspondência com Influência das Estrelas). Estas
operações foram maioritariamente de adição (de vírgulas e pontos finais), com quatro
excepções pontuais de eliminação, quando o texto-base apresentava vírgulas entre
sujeito e predicado). Procurámos respeitar as pausas do discurso (tendo em conta a
«disposição sintagmática numérica própria22» de Feliciana de Milão), respeitar a
individualidade do estilo (que se faz vincar através de numerosas opções semânticas e
sintáticas), e manter as possíveis «indicações para a leitura em voz alta23», procurando
22 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem. 23 Cf. Vanda Anastácio, Visões de Glória (Uma Introdução à Poesia de Pêro de Andrade Caminha), Lisboa, FCG/ JNICT, 1998, vol. II, pg. CXXXIV.
15 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
não introduzir leituras forçadas – como, aliás, tem sido efectuado por vários editores de
textos da época24.
24 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem; Francisco Topa, op. cit., ibidem; Maria de Lurdes Correia Fernandes (ed.), Carta de Guia de Casados, pgs. 43-46. Permita-se-nos a este propósito sublinhar a afirmação de Walter Greg sobre a actualização da pontuação: «Just as the language of an Elizabethan author is better represented by his own spelling than by ours, so the flow of his thought is often more easily indicated by the loosely rethorical punctuation of his own day than by our more logical system» (cit. por James Thorpe, op. cit., pg. 135).
16 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Relação Total de Testemunhos Apresentamos em seguida a listagem de todos os testemunhos encontrados das
obras de Feliciana de Milão; no lado esquerdo indicamos a designação do testemunho, a
partir de sigla relativa ao Fundo ou Biblioteca em que se encontra, seguido de um
numeral. Os testemunhos encontram-se ordenados da seguinte forma: Manuscritos,
Fundos Próprios, Códices, Impressos.
Do lado direito, em “Cota”, poderá encontrar-se a referência bibliográfica a que
“Testemunho” se refere. No início de cada carta, em “Relação de Testemunhos”,
poderão também ser encontradas as restantes indicações bibliográficas de cada
testemunho.
Testemunho Cota
ACL1 Mss. 383 Azul ANTT1 Misc. Mss. 1073 ANTT2 Misc. Mss. 2073 ANTT3 MF. 1369 [Ms. Livraria 1071]
BA1 Cod. 49-III-52 BA2 Cod. 49-III-62 BA3 Cod. 51-II-40 BA4 Cod. 51-XII-27
BGUC1 Mss. 325 BGUC2 Mss. 359 BGUC3 Mss. 398 BGUC4 Mss. 555 BGUC5 Mss. 602 BGUC6 Mss. 1553 BGUC7 Mss. 3254 BGUC8 Misc. Mss. 146
BL1 Add. Mss. 15194 BL2 Add. Mss. 15201 BL3 Add. Mss. 20844
BNF1 Mss. Port. 28 BNP1 Mss. 35, 11º BNP2 Mss. 72, 1º BNP3 Mss. 249, 26º BNP4 PBA 69 BNP5 PBA 129 BNP6 Cod. 127 BNP7 Cod. 349 BNP8 Cod. 510
17 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BNP9 Cod. 589 BNP10 Cod. 3229 BNP11 Cod. 3273 BNP12 Cod. 8594 BNP13 Cod. 8609 BNP14 Cod. 8611 BNP15 Cod. 9611 BNP16 Cod. 12932 BNP17 Cod. 13305 BNP18 BR. 6186 BNP19 L. 40435 P. BNP20 L. 53339 P. BNP21 MF. 1483 BPE1 CV 1_9 BPE2 CV 1_13 BPE3 CXII 1_1 BPE4 CXII 2_21 BPE5 CXIV 1_7 BPE6 CXXX 1_17 BPE7 CXXX 1_18
BPMP1 Mss. 127 BPMP2 Mss. 841 BSG1 Mss. Port. 651
Descrição Codicológica
ACL
ACL1 [Ms. 383 Azul]
4º, 205 x 154 mm., «inumeradas + 284 fls. de texto numeradas a tinta + 1 fl. em branco
numeradas a tinta.
[Proza. Obras varias] / [por diversos autores] .− [S.l., s.d.] .− 1 fl. em branco inumerado
+ 1 fl. [rosto do 1º ms.]
CÓDICE [Cópias]. Encadernação em inteira de pele manchada, com motivos a ouro na
lombada. O título figura no rótulo. Faltam os fls. 285, 286 e 287. Ex-libris do Marquês
de Angeja25.»
25 Catálogo de Manuscritos da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa – Série Azul, Lisboa, Academia das Ciências, pg. 141
18 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
ANTT
ANTT 1 [Miscelânea Manuscrita 1073]
4º, 200 x 154 mm, encadernação pasta de papel forrada a carneira, com reforço a
pergaminho; capa e lombada em couro em mau estado (surge numeração no verso da
contracapa, fol. «294», o que pode indicar surpressão de fols. ou reproveitamento de
uma capa anterior); 271 fols. (fols. 263 a 271 em branco); copista único («Mendonça»,
indicado no Índice na pag. 1), século XVII. Volume em mau estado.
«Obras Varias»
ANTT2 [Miscelânea Manuscrita 2073]
4º, 230 x 160 mm, encadernação do século XX (pasta de papel e tecido), copista único,
com correcções pela própria mão, século XVIII (As Cartas de Feliciana surgem
numeradas pelo copista.
«Collecçaõ de varias Cartas Moraes, Politicas, Discretas, Jocozas, e Jocoserias.
Compostas por differentes Authores Portuguezes. Tomo 1º e 2º», reclames na folha de
rosto (ANTT sec. XIX e sec. XX).
II + 474 fols. + II, Índice na fol. 1
ANTT3 [Mf 1369, Manuscrito da Livraria Nº 1071]
4º, 220 x 145 mm, encadernação em couro e pasta de papel, capa e lombada em couro
com letras a ouro, vários copistas, sec. XVII, II + 608 pgs. + II, Índice em fol. 603-608.
«Vários manuscritos, T. II»
BA
BA1 [Cod. 49-III-52]
208 mm x 145 mm, sem encadernação original, nova lombada em carneira com
moldura dourada [255 mm x 185], não colada ao miolo, copista único, século XVII
«Obras varias poeticas. 1º Titulo: Desengano à vida humana, e ponderação feita a uma
Casa de Ossos. Com 292 fols26.»
BA2 [Cod. 49-III-62] 26 Apud catalogo Mss Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols
19 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
205 mm x 145 mm, lombada em pele e pasta de papel, lombada a ouro «Miscel.
Poetic.». copista único, século XVIII
«Tomo 8º Collecção Poetica de varias obras, em diversos metros que vagam
manuscritas de differentes Autores adquiridas, postas na ordem em que vão neste
volume, e nelle assim escritas, por António Correia Vianna. Lisboa 1783. Com 238
pgs27» numeradas. Reclame na 1ª página
BA3 [Cod. 51-II-40]
205 mm x 145 mm, lombada em couro e ouro [«Collec. Prozáic»], encadernação em
couro e pasta de papel, III + 432 pags. numeradas + III. Reclame na 1ª página
Miscelânea, Índice nas últimas páginas, s/ título
BA4 [Cod. 51-XII-27]
165 mm x 225 mm, encadernação a couro e pasta de papel, lombada a ouro «Vida e
Morte de D. Affonso 6º de Portugal», V + 199 pags. + III numeradas
Diversas notas manuscritas na contracapa, entre as quais uma do punho de Manuel
Bernardes Branco: «Este livro é um amontado de mentiras e de infames falsidades!
Causam Nojo! A. A. M. Bernandes Branco »
BGUC28
BGUC1 [Ms. 325]
205 x 145 mm, I + 182 pgs + IV, Encadernação em pergaminho, vários copistas, letra
do século XVII
«Papeis Varios»
BGUC2 [Ms. 359]
«203 x 150 mm. 321 fols. numeradas mais 4 fols. de guarda, mais 1 fl. de rosto, mais 6
fols. inumerados com um índice, mais 1 fl. inumerada e inaproveitada», «Volume
cartonado», Vários copistas, século. XVII
27 Apud Catálogo de Manuscritos da Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols. 28 Citações referentes aos manuscritos da BGUC, cf. Catálogo de Manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, BGUC, 1935-1945
20 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
«Versos & Coriosidades colhidas de Diferentes Authores».
BGUC3 [Ms. 398].
«Volume medindo 225 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira com 4 nervos na
lombada. Lê-se, entre o 1º e o 2º nervos: Obras Poeticas. 296 fols. inums, mais 3 fols. de
guarda», vários copistas, século XVII
BGUC4 [Ms. 555]
«Volume medindo 309x210 mm. Encadernação inteira de carneira, com 5 nervos na
lombada; 4 fols. de guarda; 534 fols. numeradas mas nem todas aproveitadas; seguem-
se 44 fols. em branco; no final, vem um índice alfabético de todas as composições.»
«Colecção de Varias Poesias em Português e Castelhano»
BGUC5 [Ms. 602].
233 x 220 mm. Encadernação em pergaminho, 314 fols. + I. fols. apensos, numeração e
encadernação em pergaminho, posterior. Vários copistas e várias mãos, originais e
cópias.
«Papeis Politicos. T. 1º» Indicação em índice, fol. 1 (parcial): Conde da Hericeira.
BGUC6 [Ms. 1553]
«Volume, medindo 206 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira, 1 fol. de guarda, 2
fols. inumerados, 275 fols., mais 2 fols. de guarda.»
«Papeis Varios»
BGUC7 [Ms. 3254]
205 x 150 mm, II + 200 fols. + XXII. Encadernação em pergaminho, vários copistas,
século XVIII»
«Papeis Varios»
BGUC8 [Misc. Mss. 146]
205 x 145 mm, I + 182 pgs, encadernação em pergaminho, vários copistas, letra do
século XVII
«Miscellanea»
21 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BL
BL1 [Ms Add 15194]
340 mm x 241 mm, 372 fol., encadernação em couro, copista único, século XVIII-XIX
«Papeis Politicos», Tomo II
fol 1: ‘Da Livra. do Dezor. Mathias Pinheiro Preztemte. da do Dezor. João Tavares de
Abreu» , Índice no final
«Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos séculos
17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes tem um
índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias
Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram
comprados no leilão do espólio do poeta Southey29.»
BL2 [Ms Add.15201]
340 mm x 240 mm, II+383 fol.+II, encadernação em couro, copista único, século XVIII
Índice no final
«Papeis Politicos, Tomo IX»
«Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos
séculoulos 17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes
tem um índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias
Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram
comprados no leilão do espólio do poeta Southey30.»
BL3 [Ms Add. 20844]
212 mm x 152 mm, 177 fol., encadernado em pele, copista único, século. XVII
«Cópias de vários papéis relativos a negócios de estado e em especial às negociações
diplomáticas de Portugal com as cortes de Inglaterra e de França. Um vol. in-fº de 373
fol. século XVII31. »
29 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 30 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 31 Conde de Tovar, Catálogo dos manuscritos portugueses ou relativos a Portugal existentes no Museu Britânico, Lisboa, Academia das Ciências, 1932, pg. 51
22 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BNF
BNF1 [Ms Portugais, Nº 28]32
340 x 240 mm., 381 páginas, encadernação em pergaminho, séculos. XVII-XVIII
BNP
BNP: Fontes Manuscritas
BNP1 [Mss 35, Nº11]
210 mm x 105 mm, caderno, 3 f f/v., reclame nas páginas de rosto (fol. 1 com dois
reclames, selo BNP século XVIII, selo BNP século. XX em todas), copista único,
século XVII. Marca de água fols. interiores, século XVII
BNP2 [Mss. 72, 1º]
210 mm x 105 mm, caderno, I + 17 pags. + I, vários copistas, correcções a várias mãos,
século. XVII (interior), século. XIX (capa manuscrita). Volume compósito com várias
numerações e indícios de páginas arrancadas a outros cod., reclame (Selo BNP século.
XX) em todas as pags (f/v), capa manuscrita. Marca de água fols. interiores, século
XVII
«Cartas várias de D. Feliciana de Milão, religiosa do Convento de Odivelas a uma sua
amiga.»
BNP3 [Mss 249. 26º]
212 mm x 157 mm, caderno, I + 9 pgs. + I, letra do século XVII com traços de
emulação século XVI, Copista único, cópia limpa
«Respostas de D. Felicianna Maria de Milão, Religiosa no Mosteyro de Odivellas. A
umas perguntas amantes»
BNP4 [Colecção Pombalina, Nº 69]
32 Os serviços da BNF não nos autorizaram a consulta do Códice, apenas do Microfilme. As indicações do volume que apontamos são retiradas do catálogo online disponível em www.bnf.fr
23 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
4º, 212 x 157 mm, II + 226 fol. + XI com índice encadernado em pergaminho, capa e
lombada em couro, copista único, século XVIII, correcções a outra mão, tinta repassada,
falhas frequentes no suporte
«Epistolas familiares, ou cartas missivas escritas por varios auctores. Parte I – No Anno
1726»
BNP5 [Colecção Pombalina, Nº 129]
224 mm x 155 mm, Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 268 fols. + IV
numeradas, Índice na folha de rosto, copista único, letra do século XVII
«Papeis Varios»
BNP6 [Cod. 127]
4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 270 fol + III, encadernação em couro
«Colecçam de escriptos sebastianistas em prosa e verso. Titulo «Ilha Encoberta»
lombada do volume – Letras do século. XVII e XVIII. Tem índice em fol. solta. Há
n’este vol. muitas paginas da letra de Manuel Caetano de Sousa33»
BNP7 [Cod. 349]
4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 133 fol + III, encadernação em pergaminho, copista único
“Fastigimnia”.
BNP 8 [Cod. 510]
4º, 210 x 151 mm; II + 239 fols + II (f. 62 suprimida), encadernação em pasta de papel e
cabedal, copista único.
Na lombada: «Memoria de Sucessos. Memorial de Notícias»
Folha de rosto: «Archivo e Novalario de varias coriosidades, manuscriptas, em proza,
de varios auctores. Em Lisboa, 26 de Agosto de 696 annos. He de Manuel de Almeida.»
BNP 9 [Cod. 589]
4º de 93 fols., encadernado em couro, vários copistas, séculos. XVII-XVIII (XIX?),
correcções a várias mãos. Mau estado
33 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896
24 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Miscellanea. «Colleção de curiosidades historicas e litterarias, prosa e verso, dos século
XVII e XVIII; enigmas, agudezas, anedoctas, desenhos, etc. (…) Falta a fl. numerada,
8t.34»
BNP10 [Cod. 3229]
210 mm x 160 mm, II + 66 fols. numeradas + 4 fols. branco, lombada em couro,
encadernação em cartão, copista único, século XVIII
Inigmas. Oferecidos à la discreta inteligência de la soberana Assemblêa de la casa del
prazer por su mas rendida, y aficionada Soror Joana Ignes de la Cruz Decima Musa.
Lisboa. En la oficina del mas reverente impressor de la magestuosa veneracion a costa
de un licito intertenimiento. 1695. Contodas las facultades, que puede tener un
rendimiento, que no llega a tocar la necedad de licenciozo»
«Inigmas «Do Pe. António Ribeiro35»
BNP11 [Cod. 3273]
212 mm x 159 mm, II + 54 fols. numeradas + 3 fols. acr., lombada em couro,
encadernação em cartão (posterior), vários copistas, acrescentos e notas a várias mãos
«Sonetos Italianos», na lombada em couro, encadernação em cartão
«Sonetos de Castela e suas Respostas», na folha de rosto
Volume compósito, com originais e cópias
BNP12 [Cod. 8594]
205 mm x 150 mm, I + 181 pgs + I, lombada em couro, encadernação em cartão, copista
único, assinatura na última folha de guarda, «António José Saldanha»
«Flores poeticas lidas e tiradas de varios poetas insignes (…)».
BNP13 [Cod. 8609]
204 x 151 mm, I +198 fols. numerados, lombada em couro, encadernação em cartão,
letra do século XVII, vários copistas
«Miscellanea litteraria. Assumptos galantes e burlescos, freiraticos, etc. Prosa e Versos.
Comprado a Carlos Ferreira Borges, em 190336.» Índice no verso da folha de guarda.
34 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896 35 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896
25 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BNP14 [Cod. 8611]
224 mm x 155 mm. Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 261 fols + IV
numeradas, Índice na folha de rosto, vários copistas, acrescentos e correcções a outras
mãos, letra do século XVII (possivelmente também XVIII)
«Papeis Varios, manuscriptos 8»
BNP15 [Cod. 9611]
240 x 180 mm, Encadernação em pergaminho, volume compósito, conteúdo com
dimensões e suportes variados, vários copistas, acrescentos a várias mãos, século XVII-
XVIII.
Miscelânea com 20 expoentes, sem numeração total (só intra-exponencial).
BNP16 [Cod. 12932]
208 mm x 151 mm, I+178 f.+I, encadernado em pergaminho, copista único, capa e
lombada em couro, vários copistas, século XVII
(“escrito por D. Francisco Mascarenhas, 1 Conde Coculim”).
BNP17 [Códice Nº 13305]
212 mm x 152 mm, 177 f., encadernado em pele com ferros gravadas a ouro na
lombada, copista único, século XVII
Rótulo: "Obras varias.T. VIII", 21 cm., antigo possuidor Marquês de Sá da Bandeira
(1795-1876), copista único
BNP, Fontes Impressas
BNP 18 [BR. 6186]
210 mm x 151 mm, II + 699 pags + II, papel, cosido à mão
Anti-catastrophe. História verdadeira da vida e dos succesos d’El-Rey D. Affonso 6º de
Portugal e Algarves. Escripta em Lingoa Hespanhola por um Official das tropas de
Portugal, que o acompanhou na sua fortuna e na sua desgraça. Tradusida em
Portuguez o mais fielmente que possivel foi. Porto, Typ. Rua Formosa, 1845, pg. 696-
698 36 José António Moniz, Descrição de Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896
26 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BNP19 [L. 40435 P.]
Alberto Pimentel, O Capote do Snr. Braz, Porto/ Braga, Livraria Internacional de E.
Chardron, 1877
BNP20 [L. 53339 P.]
202 mm x 150 mm, papel, cosido à mão, 3 vols.
Camilo Castelo Branco, A Caveira da Martyr: Romance Histórico, Lisboa, s.n., 1884
BNP21 [MF 1483]
210mm, papel, cosido à mão37, 312 pgs.
A.C. Borges de Figueiredo, O Mosteiro de Odivellas – Casos de Reis e Memórias de
Freiras, Lisboa, Livraria Ferreira, 1889
BPE
BPE1 [CV 1_9]
210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, V + 200 fols + V numeradas, letra do
séculos XVII-XVIII
BPE2 [CV 1_13]
210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, 495 pags. numeradas, copista único,
letra do séc. XVII
in Obras varias curiozas manuscriptas – Primeiro Tomo, e he de Prozas, anno de 1716
BPE3 [CXII 1_1]
212 mm x 151 mm. Encadernação em pasta de papel, 275 pags. numeradas, vários
copistas, letra do século XVII. Tinta repassada.
BPE4 [CXII 2_21]
300 mm x 157 mm. Encadernação em carneira, IV + 65 fols., Índice (incompleto, na
última página), vários copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII
37 O livro encontra-se em mau estado e é apenas consultável em microfilme. As informações do volume são as constantes do catálogo da BNP.
27 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
BPE5 [CXIV 1_7]
224 mm x 155 mm. Encadernação em pergaminho, II + 414 fols. numeradas, copista
único, letra do século XVII (possivelmente também século XVIII)
BPE6 [CXXX 1_17]
210 mm x 152 mm. Encadernação em carneira, III + 415 pags. + XV numeradas, vários
copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII. Tinta repassada.
BPE7 [CXXX 1_18]
200 mm. x 153 mm. Encadernação em carneira, 266 fols., letra do século XVII
(possivelmente também XVIII)
BPMP
BPMP1
341 mm x 242 mm, II+323 fol.+IV, encadernação em pergaminho, vários copistas,
século XVIII.
Miscelânea
BPMP2
340 mm x 240 mm, II+383 fol., encadernação em pergaminho (volume compósito
encadernado posteriormente?), copista único, século XVIII, vários copistas, anotações a
várias mãos
BSG
BSG1 [BSG, Ms. Portugais, 651]
206 x155 mm. Encadernação em carneira, 1 fol. de guarda, 125 fols., a. i. in 4º, 192
«Vida e Morte de D. Afonso VI (…) Anno de 1774»
28 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
I. Cartas de Feliciana de Milão
1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»
Esta Correspondência é composta de diversas partes, que apresentaremos em
seguida com a numeração utilizada para as designar :
1.1. Carta de Inês Antónia de Távora escrita a Feliciana, convidando-a para umas
Sortes de Palácio, incipit «Minha Senhora uma Religiosa».
1.2. «Papel que hia com esta carta», incipit «De lugar não maes alto»
1.3. Resposta de D. Feliciana Maria, incipit «Pois a mim me parece»
1.4. Segunda carta para D. Feliciana, incipit «Minha Senhora delira»
1.5. Resposta de D. Feliciana, incipit «Como podia eu buscala»
1.6. Carta para D. Feliciana, incipit «Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M.
passando o tromento de perceguida».
1.7. Resposta de D. Feliciana, incipit «Esta Senhora Lucrecia»
1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha, incipit «Minha Senhora uma
Freira não sei donde»
a) Identificação dos Testemunhos
[ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol. 327 v.-336
[BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol. 23-24
[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.
[BNP4] BNP Pombalina 69, fol. 158
b) Relação de Testemunhos
Texto Base
Cartas Nºs 1.3 e 1.5: [BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol 23-24
Cartas Nºs 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.8: [ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol.
327 v.-336
29 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Versões Secundárias
[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.
[BNP4] BNP Pombalina 69, f. 158
Trata-se de uma versão incompleta, possivelmente um rascunho autógrafo,
contendo apenas duas das sete cartas desta Correspondência. Nas restantes cinco cartas
que a completam, foi utilizado como texto-base o alógrafo que se apresenta como o
melhor manuscrito na ausência de BGUC5, como detalharemos em seguida: [ANTT2]
ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, f. 327v.-336. Assim sendo, o texto-base para as
cartas 1.3 e 1.5 desta Correspondência com Influência das Estrelas é o estabelecido a
partir do testemunho BGUC5; quanto às cartas 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.7, o texto-base é o de
ANTT2.
Reforce-se que em relação ao testemunho parcial BGUC5, este se encontra
muito rasurado, oferecendo dificuldades de leitura. A presença de vários passos
ilegíveis, sobretudo na carta 1.5, marcadas pelos sinais † e , deve-se sobretudo a
rasuras em curso que confirmam a sua natureza de rascunho. O que se prova pelo
confronto com outras versões, uma vez que os passos marcados com a referida
sinalização em BGUC5 não se encontram preenchidos de forma diferente nos outros
testemunhos.
Dado o exposto, foi necessária maior intervenção em termos de pontuação, na
colocação de vírgulas e de pontos finais; no original, as primeiras são frequentemente
omissas, e o fim de período por vezes marcado com recurso a uma maiúscula (como
exemplo: «emque me tinha a duvida e o dia Mas em qual»).
No tocante à versão ANTT2, esta acompanha BGUC5, mas alguns erros
separativos que ocorrem em relação a BGUC5 revelam contaminação por outra versão
(vejam-se as lições «Ursa», «desprovirme», para além de omissões). Quando varia em
relação a BGUC5, é acompanhada por BNP2. Daqui pode concluir-se que dependem de
um testemunho comum, e é possível que o copista de BNP2 tenha tido conhecimento de
ANTT2.
Quanto à versão BNP2, apresenta em relação a ANTT2 os seguintes erros
separativos:
30 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
- apresenta supressões (sobretudo nas cartas desta correspondência, Nºs 1.2, 1.3, 1.5) –
como «inculca», «provar (a candura)».
- correcções e emendas;
- não compreende alguns passos do texto (Carta 1.3: propõe a lição «Ursa» por «vossa»
ou «horror»; «desprovir-me» por «espavorir-me»);
- indica contaminação por outra versão (apontada na representação gráfica como versão
w).
- na Carta 1.2 (Papel) contém supressões e leituras irróneas, o que pode naturalmente
dever-se ao facto de o suporte ser um papel, que corria de mão em mão, como o título
indica.
Trata-se de um testemunho com mais apógrafos do que BGUC5, como o acrescento
em entrelinha superior «na obrigação», entre outros dados, confirma.
Quanto à versão BNP4, esta apresenta regularmente lições que se constituem como
erros separativos, a saber:
- supressões: na Carta 1.6, omite «remato minha Senhora com dizer, foi carta de
jogar»); oferece más leituras frequentes, que se devem também ao mau estado do
suporte. Por estes dois motivos indicámos z. Depende de BGUC5, por leitura de passos
que BNP2 e ANTT2 não conseguem esclarecer.
Uma nota final para o facto de, apesar de ser um conjunto de cartas e não um
texto único, os resultados do cotejo carta a carta apontarem sempre para as mesmas
conclusões. O que indica a manutenção deste conjunto e a sua transmissão desde o
estabelecimento do original – de que BGUC5 é rascunho provável.
31 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos
[O]
O’ (BGUC5)
x y w ANTT2 z BNP2 BNP4
32 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado
1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para
umas Sortes de Palácio
Minha Senhora, uma Religiosa, que sonhou desvanecimentos com um és, não és de
memória, recorda com um esfregar de olhos de quererá, ou não quererá V.M. dar-lhe
ajuda de custo para uma Sortea que não terá1 partilhas na fé, quando as consinta no
ganho. E porque lisonjeie mais a V.M. com as notícias, que com a companhia, me
manda dizer-lhe2, que as Sortes se previnem em3 CorteRealb, por mandado da
Sereníssima Senhora Infante4, e se depositam na mão de D. Maria de Noronha, para que
juntos os cabedais das aventureiras da fortuna nesta Palestrac da Sorte, se dêem os
prémioss a quem se contentar de aceitá-los por acaso5. Esta é a notícia para que V.M.
possa encaminhar a tenção6,d , quando queira suprir-lhe as faltas que7 leva. São de tostão
as Sortes, e de subido8 preço9 a fortuna com que nasci para obedecer a V.M. como
cativa sua.
Soror Influência das Estrelas [fol. 328 v.]
33 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.2. Papel que ia com esta carta
De lugar não mais alto que dos abismos, nem para10 mais baixo assento, que as
Estrelas, sobe a11 ser resplendor um pensamento, que havia baixado a ser fúria, não com
voos de Ícaro desvanecido, sim com12 sagacidade de Dédalo remontado; porque não
precipita a elevação13 quem para o14 sublime leva bem azadae a inculca15f que busca.
Senhora D. Feliciana Maria, desprezaria a16 fortuna17 vendo-se18 tão sem nenhuma
quem a chama, que nem19 para esperar a Sorte se vê com cabedais, e neste Nada de
esperanças, sirva para o Todo20 da fé de prémio a tenção, quando para a tenção não
poder haver prémio; mas porque se não falte ao comum do estilo, acrescente a Senhora
D. Feliciana os cabedais no preço de uma sorte, e deixemos pobre de vozes o Mote, de
quem a meio dizer suspira21
Nada – Tudo. [fol. 329]
34 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.3. Primeira reposta
Pois a mi me parece minha Senhora que ainda não despertou essa Religiosa do
sonho de que fui eu22 o agouro pelo mal acordados que vejo na sua fantasia os
desvanecimentos com as dúvidas quando para justificá-los e vencê-las lhe sobrara um
abrir de olhos, V.M. lhe diga por fazer-me favor que hartog vingada23 fico da sua
curiosidade no mal que lhe24 logra por que ainda que eu quisera pôr-me mui de
Odivelas, não sobera falar crespo, que se o liso lhe serve aqui me tem para servi-la tão
prezada de que mede lugar em Palácio ao seu lado, que ainda conhecendo de
examinação esta Carta que como de Guia, se me inculca, deponho o perigo do Crédito
pelo Crédito da Companhia, e posto que acho pouca e fraca cousa o meu discurso para
encher e atar os distantíssimos termos deste nada a esse25 tudo tais brios me infundiram
as suas ordens que desprezando o Risco, Nada temo aspiro a tudo, e assim o direi a D.
Maria de Noronha para que veja de que sorte26 deve premiar esta ousadia e será mui de
propósito por que nas divinas disposições não há acasos e quando se perca o prezoh
lograrei27 a vaidade de que se conheça o valor que devo a influência das estrelas apesar
do horror28 com que intentaram espavorir-me29 as fúrias e os abismos, natural ou
afectada30 defensa31 desses celestes e mágicos encantos e V.M. por quem † me †32
soaram as vozes do oráculo deve oferecer-lhe † como vítimas cujos33 fumos sobem aos
seos pés o *provar34 a candura e a fineza dum afecto que se † sacrifica às suas aras e se
sujeita as suas disposições.
35 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.4. Segunda carta para Dona Feliciana
Minha Senhora. Delira com as porfias, quem não acerta no caminho das
experiências. A primeira que fiz para pôr esse papel nas mãos de V.M., foi tão mal
sucedida, como todas as que intenta a minha fortuna, fazendo que se transformem em
azares no fruto, as que foram esperanças na cultura35; porém como a fé se não sujeita
aos acidentes de uma Roda instável, quiçá que entre36 um voltar37 de precipícios38 a páre
em39 altura em que encontre a V.M. a temeridade de quem a busca, para que lhe dê
ajuda de custo neste pouco de possuir40, e nada de dizer. Em a primeira [fol. 330 v.]
Carta dizia já a V.M., que se se ofendesse da Companhia, não deixaria de agradar-se41
do lugar, em que se previnem as sortes em Corte Real, determinadas por mandado da
Sereníssima Senhora Infante, e juntas na mão de D. Maria de Noronha, onde V.M. pôde
remeter o que determinar nesta petição de uma Religiosa minha Companheira, que o
será sempre na obrigação42 de confessar-se, como eu, muito de V.M.,
Soror Influência das Estrelas
36 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.5. Segunda Reposta
Como podia eu podia eu buscá-la a V.M., minha Senhora43, se ignorava o lugar em
que a44 acharia? A Via Láctea que é o conhecido Caminho das Estrelas fica mui
desviado da minha esfera, e quem me trouxe a sua Carta de V.M. deu tão má conta do
caduceoi e dos Talaresj que não soube declarar por onde lhe chegaria a reposta, que logo
fiz e a todas luzes inútil, se V.M. com este seu o favor não viera a ilustrar-me segundo o
conhecimento tirando-me das trevas em que me tinha a dúvida e o dia. Mas em qual
melhor que no dos martelos me soaria uma memória de V.M. Serão minha Senhora,
duas as sortes, e muitas as obrigações que me tem as seus pés de V.M. – se lhe dever45
a fortuna de ocupar-me em seu serviço.46
37 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.6. Carta terceira para D. Feliciana
Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M. passando o tromento de perseguida, em
vingança de desconhecer-me! Não me siga pela Via Láctea, que estrada47 de Santiago é
só para as Peregrinas; nem me chame pelo caduceo, que a estas48 varinhas de Condão
nunca devi49 a sabedoria, e se vi nelas as asas para que me voassem as esperanças,
foram de serpentes; Talares de um correio fundido em Deos, bem me podiam guiar
fortunas a um pensamento, que teve50 ser em V.M.; mas V.M. manda-me descobrir por
Espias, que umas me são inimigas, outras51 nunca me foram afeiçoadas; [fol. 332] e não
quero aparecer em outrem, quando52 desapareço em V.M. Faça minha Senhora
Conselho de Estado nas suas memórias, e se há Secretário fiel para memória, lá me
achará secreta no meu estado, sendo a mesma, que V.M. chamou algum dia para o
mesmo, com que neste dia me foge53. De Guia não foi a minha Carta porque não trouxe
a de V.M. às minhas mãos. De exame, não podia ser, por que no dia em que os Deuses
competirãok Ciências54, perdeu-se o mais afoito. Carta de tocar, ni porpienso, pois essa
memória de V.M. está tão de olvido para mim. Carta de conta, muito menos, porque não
tinha muita conta meter-me eu em algarismos com V.M. De crença não foi a Carta, pois
está V.M. inda agora duvidando-me. Com que a excluímos carta de favor; e fugindo de
que seja de excomunhão [fol. 332 v.], remato minha Senhora com dizer, foi carta de
jogar55, e vendo eu, que a desatenção de V.M. me respondia.
Es figura, y no es ganancia,
y assi la descartan56 todosl.
me resolvo a meter na baralha57 dos desenganos, tão nada para as presunções, como
para os rendimentos tudo.
Fiel Cativa de V.M. S. g. Cda.
Soror Influência das Estrelas
38 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.7. Reposta de D. Feliciana
Esta Senhora Lucrécia (que a quem encobre o seu nome, posso eu dar58 o que me
parecer) [fol. 332 v.] no es sino como se toma.m Que importa, que V.M. lhe chame ao
seu favor, meu tromento, se eu o estimo tão diferentemente, que ainda quisera mais
apertado o trato? Se V.M. se pôs tanto ao longe, como podia divizá-la? Busquei-a pela
mesma via59, porque V.M. quis dar a entender, que me buscava60: se foi estratagema
militar tomar o nome dos enimigos, eu não soube a contrassenha, nem costumo a61
duvidar o que me dizem pessoas tão nobres como as Estrelas; e se62 os sábios as
dominam, quem como aquelas duas, a que V.M. chama sentinelas, poderia dar-me razão
de V.M.? Mas se é destreza desmentir as Espias, e V.M. intentou63 lograr o pequeno
triunfo de embaraçar-me, e confundir-me os discursos, eu lho dou de barato, seja V.M.
quem quer que for ou quem não quer que fosse64; que a mim me basta que seja uma
discreta que me [fol. 333 v.] fala, e uma entendida que me ouve. Engane-me V.M. que
lhe preste, que estimarei que lhe aproveite, e aqui me achará V.M. da parte de sua
cautela, sem fazer nenhuma diligência por conhecê-la, que é amável a vida, e dizem que
tem pena de morte a quem se descobre a Visão Beatífica. E se esta conformidade
parecer grosseria65, perdoe-me66 V.M., que não sei com quem falo; porque o obséquio
de ignorá-la, me há de dever67 V.M. até que mais não possa, ainda que me lembra de
certo encontro68, que se me faz69 sorte, e me deixou de gloriosa memória, imprimindo
nela uma figura celeste, que provavelmente se compôs dessas Estrelas da sua esfera de
V.M., mas como isto são fantasias, que não fazem fé, nem seguram a Esperança,
perderá V.M. o feitio aos seus milagres, se aceitando os meus votos me não sinalar o
Templo em que devo [fol. 334] oferecer-lhos; por que tornai70 lá, que não é minha, é
jogo de meninas71. Vamos ao dar72 cartas.
Senhora, beijo-lhe a mão a V.M., e com boa mão começo, porque não
passassem73 de oito estas, que V.M. reparte, com que livro de arrenegada, e subo-a a
parceira, com cujas leis me conformo74, seguindo seu ditame de V.M., bem que por
diversas razões creio, que nem de Guia75, nem de Exame foi a carta, visto que me não
constituiu Peregrina, nem me achou destra. Nem de Tocar pareceo, porque lhe
antecedeo o ruído76, e77 o feitiço, antecipando à fama o que determinava o pacto. De
conta, menos, bem que de companhia, porque logrando a aprovação, mentiu o contrato.
De crença78, em nenhum caso podia com um fingimento à flor do rosto, que também
39 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
tem cara a79 Escritura; os rifães80, a81desdisse no82 que me negou; e se o fazer parecer83
uma cousa tão perdida, como eu lhe podia dar forças de Excomunhão? Como84 nas
cartas de [fol. 334 v.] V.M. não cabem censuras, lhe não serve o título; nem o de jogar
se acomoda a uma carta com que nenhuma outra faz vaza, e só nisto diferimos
totalmente, por que em nenhum modo consinto que V.M. se vá à baralha com tanto
jogo. E85 se é preciso que aquela Carta fosse mais que de nomes para a minha confiança,
mandadeira para a minha obediência, de Éditos86 para o desafio, de pago87 para
satisfazer-me, de Alforria para despedir-me, de Encomenda para enriquecer-me; Só de
Marear a conheço, tanto pelo que tem de Astrolábio, como por que mostrando-me o
Norte que sigo88, me ensinou o porto89, e me advertiu o perigo. Prosiga-lhe V.M., se
quiser, a metáfora, que nesse Oceano bem há por onde correr, que eu não90 tenho tenção
de passar das colunas de Hércules, por que me não acho com forças para mais trabalhos,
nem dobrar aquele fatal cabo, a cuja vista os mais expertos Pilotos dão em calma; até
[fol. 335] que V.M. me diga para que pode prestar: De Esperança, y de cuidado poca
vela, y mucho remo? Acabo forçado, e bone voglie me ofereço a V.M. para servi-la em
todas as caravanas91 que quiser.
Feliciana92.
40 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha
Minha Senhora uma Freira não sei donde, da parte de não sei quem, me manda a
V.M., e eu lhe perdoo o que me engana, pelo que me facilita. Diz-me, que na mão de
V.M. se depositam93 os preços de umas sortes, que por ordem da Senhora Infante se
determinam e creio que deve prometer em algum conflito de94 vaidade amparar95 uma
confiança orfã, porque escolheo a minha para dar-lhe parte nas suas Letras, e nas suas
Armas, e como são as de Portugal, me animo a adargarn delas, e contrastar a fortuna,
apesar de tantas experiências. No Mote me entalou o seu Engenho com um Nada Tudo,
e o meu como é tudo Nada, vendo-se nestes apertos, se me foi por esses ares. V.M. o
patrocine, e me desculpe com a Influência das Estrelas, que me põem a seus pés, e
desde96 que nasci me sujeitou às suas obediências. D. Violante beija as mãos a V.M., e
diz, que se não dou os ouvidos aos gritos de quem intenta desconfiá-la97, se intenta
introduzir na partilha do seu favor.
Mote
Por Influência das Estrelas
Nada temo, aspiro a Tudo. [fol. 335 v.]
a «Sortes: Tirar o bilhete das sortes. (…) Nas que hoje se permittem para algum bem publico, se mete uma certa quantia de dinheyro, com hum mote a arbitrio da pessoa, & se o bilhete, que se tira, vem negro, se ganha mais, ou menos, segundo o numero, que se confronta com o do livro das sortes.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol VI, pg. 771-773. b Corte-Real: Paço que servia de residência a alguns membros da família real. Começou por ser o Palácio de residência de D. Afonso VI, depois de D. Pedro. Situava-se nas traseiras do Paço da Ribeira, situado perto do actual Terreiro do Paço (cf. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI, Lisboa, Círculo de Leitores, 2002, pgs. 71-102). c «Palestra: Deriva-se do Grego Pali, que quer dizer Luta. (…) Usamos no Portuguez do vocabulo Palestra, quando queremos significar geralmente o lugar, em que se exercita alguma arte liberal, ou tambem alguma virtude.» Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. VI, pg. 198-199. d Bluteau aponta vários significados para tenção: «vontade, intento»; «parecer»; «tenção nas Tarjas, ou Escudos dos Principes, ou Particulares. É o escudo ou desenho, que cada um tem, para emprender cousas altas»; «o significado symbolico de hua cousa» (op. cit., vol. VIII , pgs. 92-93). Note-se que pode ser utilizada como um aumentativo de «tença» («renda» ou «esperar socorro», idem, ibidem). e «Asada»: No contexto, «azada», com asas. Não encontrámos no Dicionário de Bluteau o vocábulo, mas pode deduzir-se o seu significado; a variante «azeda» não cabimento contextual. Pode igualmente tratar-se de um erro de cópia de duas versões, que é possível determinar sempre que detemos informação do testemunho BGUC5. f «Inculca: deriva-se do verbo Latino Inculcare, que he repetir muytas vezes o mesmo. Fazer inculca de alguem he representar o prestimo delle, para este, ou a quelle efeito. (…) A inculca do seu conselho. (…)
41 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
Deitar inculcas, para saber alguma cousa. (…) Deitãose inculcas para saber da sua vida, das suas acçoens.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. IV, pg. 99 g «Harto»: «O que é forte, robusto, farto, grosso. Muito, assaz, bastante». (Cf. Antonio Houaiss, Dicionario Electronico Houaiss de Literatura Portuguesa, versão 3.0, S. Paulo, Editora Objectiva, 2009. O contexto é «bastante vingada», «fartamente vingada». Emenda do texto-base a partir da lição «harto vingada» [BNP2, BNP4, ANTT2]. h Manteve-se a grafia original, por poder significar «preço» ou «prezo» . i Trata-se dos atributos da figura mitológica de Mercúrio, assim definidos por Bluteau: «Caducêo de Mercurio. Assim se chamava a vara, que Mercurio recebeo de Apollo, em troco da lyra de sette cordas. Ornàrão os Egypcios esta vara com duas serpentes, das quaes uma era macho, & outra femea, & que enroscadas vinhão a bejarse pela parte superior, formando huma especie de arco; & à figura das serpentes foram acrescentados os Talares. Segundo os Mythologicos, fundase este mysterioso ornato, em que achando Mercurio duas cobras, que brigavão entre si rijamente, lançára entre ellas a sua vara, que apartou a briga, & dalli em diante foy tomada por symbolo da paz, & da concordia. Por isso derivão alguns esta palavra Caduceo do Verbo Latino, Cadere, que val o mesmo, que cahir, porque segundo a Fabula tinha virtude para dar fim a todo o genero de contendas. E por esta razão os Feciaes, ou Arautos, que os Romanos mandavão para annunciar pazes, levavão o Caduceo, em final de que havião de cahir as maquinas bellicas, & com ellas as violências da guerra; & estes taes erão chamados Caduceatores. (…)». Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. II, pg. 33-34 j Assim define Bluteau as asas de Mercúrio: «Talares de Mercurio. As Azas, que (segundo os Poetas), pegava Mercurio aos calcanhares, para dar mais depressa as embayxadas das fabulosas Deidades.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. VIII, pg. 20 Erro que indica provável mudança de folio na versão que BNP4 reproduz. k Manteve-se a grafia original já que a frase pode designar um evento no passado, no futuro ou hipotético. l Sublinhado no original. Tratar-se-á de uma citação, que não nos foi possível identificar, bem como a seguinte nesta carta «poca vela y mucho remo». m Citação não identificada. n «Adargar-se: Cobrirse com adarga para se reparar dos golpes do inimigo.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. I, pg 120. 1 tem BNP2; 2 dizer BNP4; 3 com BNP4; 4 Infanta BNP4; 5 alcar BNP4; 6 atenção BNP2, BNP4; 7 hua BNP4; 8 subito BNP2; 9 preso BNP4; 10 omite ANTT2; 11 *so *beaser BNP4; 12 como BNP4; 13 achenação BNP4; 14 se BNP4; 15 omite BNP2, incuria BNP4; 16 omite desprezaria a BNP2; 17 ainda BNP2; 18 que BNP2 ; 19 em BNP2; 20 lodo BNP4; 21 suspiras BNP4; 22 eu fui BNP2, BNP4, ANTT2; 23 *ar o *vingada BGUC5; 24 se lhe BNP2, BNP4, ANTT2; 25 a esse BNP2, e esse BNP4, ANTT2; 26 omite BNP2; 27 lagrimas BNP4 ; 28 Ursa BNP2, ANTT2 vossa BNP4; 29 desprovirme BNP2, ANTT2, despavorirme BNP4; 30 afeitada ANTT2; 31 diferença BNP4; 32 me BNP4, ANTT2; 33 de cujos BNP2, BNP4, ANTT2; 34 omite BNP2, BNP4, ANTT2; 35 costura BNP4; 36[↑entre] BGUC5; 37 voltear BNP2, BNP4; 38 precipios BNP4; 39 aparecom BNP4; 40 *depressuir BNP4; 41 agradarse BNP2; 42 [↑ na obrigação] BNP2; 43 minha senhora, buscala a VM, BNP2; 44 se BNP4, [↑a] ANTT2; 45 omite se lhe dever BNP4; 46 Ve. BNP2, Ve. Feliciana ANTT2; 47 a estrada BNP4; 48 estas BNP4; 49 deue BNP4; 50 deve BNP4; 51 e outras BNP4; 52 quando quando BNP4; 53 fogue BNP4; 54 com Ciências BNP2; 55 omite remato minha Senhora com dizer, foy carta de jogar, BNP4; 56 destartan BNP4; 57 na talha BNP4; 58 cuidar BNP2; 59 teis BNP4; 60 descaua BNP4; 61 omite BNP2; 62 se só BNP2 ; 63 intenta BNP2, BNP4; 64 faça BNP4; 65 grosseira BNP2, grossaria BNP4; 66 perdoe BNP4; 67 ver BNP4; 68 omite ANTT2; 69 fez BNP4;70 tornais BNP4; 71 mininos BNP4 ; 72 dar das BNP4; 73 *paressem BNP4 ; 74 conforme BNP4; 75 dia BNP4; 76 olvido BNP4; 77 omite BNP4; 78 lesensa BNP4; 79 de BNP4; 80 omite os rifães BNP2; 81 que BNP2; 82 o BNP4; 83 aparecer BNP2; 84 *com BNP4; 85 omite E BNP4; 86 devitos BNP4; 87 paga BNP4 ; 88 digo BNP4 ; 89 perto BNP2 ; 90 omite BNP4 ; 91 *Oraccanas BNP4 ; 92 omite BNP4; 93 sogeitão BNP4; 94 e vaidade BNP4; 95 comparar BNP4; 96 das de BNP4; 97 desconfialha BNP4
42 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão
Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão
2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades
2.A. Carta da Devolução
a) Identificação dos Testemunhos
[ACL1] ACL Mss 383 azul, fol. 276-277
«Carta que D. Feliciana Maria de Milão Religiosa em o Convento de Odivelas
escreveo a Maria das Saudades Religiosa em o Convento de Via Longa na ocasião em
que deixada a primeira, com a segunda se entretinha El-Rei Dom Afonso 6º»
[ANTT2] ANTT, Misc. Mss 2073, fol. 313
«Carta 9ª de D. Feliciana Maria de Milão, Religiosa do Convento de Odivelas, a
D. Maria das Saudades, que de