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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar: das concepções às práticas do Educador de Infância Maria João Oliveira Fonseca Dissertação MESTRADO EM EDUCAÇÃO Área de Especialização em Supervisão e Orientação da Prática Profissional 2012

UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

A Avaliação no Ensino Pré Escolar: das concepções às práticas do Educador de Infância

Maria João Oliveira Fonseca

Dissertação

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Supervisão e Orientação da Prática Profissional

2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE

LISBOA

A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

das concepções às práticas do Educador de Infância

Maria João Oliveira Fonseca

Dissertação Orientada pelo Prof. Doutor Pedro Guilherme Rocha dos Reis

CICLO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Supervisão e Orientação da Prática Profissional

2012

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor Pedro Guilherme Rocha dos Reis, pela sua orientação que

tanto enriqueceu o meu saber. Pela confiança depositada nas minhas capacidades,

encorajando-me a chegar ao fim desta caminhada tão difícil.

A todos os Professores de Mestrado que contribuíram para a concretização deste

meu estudo e me incentivaram a continuar nesta tarefa tão fascinante de ser

educadora.

Aos colegas de Mestrado, pelo desafio que me lançavam sempre que queriam

saber coisas do pré escolar, na reflexão e partilha de saberes.

Aos Diretores da IPSS onde realizei a investigação, que autorizaram a

realização deste estudo e que disponibilizaram toda a consulta de documentos.

Às três colegas educadoras participantes neste estudo que permitiram a recolha

da informação e a abertura para colaborarem comigo sempre que solicitei.

Uma palavra de carinho às crianças que têm passado por mim e me ajudado a

construir a educadora que hoje sou, com uma necessidade constante de aprender mais,

motivando as suas aprendizagens e crescendo como profissional. Pelo entusiasmo, a

alegria com que me brindaram todos os dias, fazendo-me renascer nos momentos de

cansaço.

À minha mãe que sempre acreditou que eu era capaz e sempre teve uma palavra

amiga e um gesto doce e de ajuda para comigo.

À minha irmã, por me ter incentivado para esta caminhada, aos seus dois filhos

maravilhosos, André e António, que com o seu afeto e carinho me deram força para

não desistir.

Ao meu marido pelo carinho e pela paciência que teve nos meus momentos de

cansaço e de ausência.

A toda a família e amigos que tiveram muita paciência, apoiando-me nas horas

cruciais, ajudando-me a enfrentar os desafios.

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Resumo

Considerando a relevância da prática avaliativa na educação pré escolar, a

presente investigação pretendeu estudar como três educadoras de uma Instituição de

solidariedade social entendem e operacionalizam nas suas práticas pedagógicas o

conceito de avaliação neste nível de ensino.

Devido à natureza do estudo e das questões da investigação, optámos por um

estudo de caso de cariz interpretativo, através de uma abordagem qualitativa, baseada

em entrevistas e análise documental.

Mediante a análise de conteúdo podemos afirmar que as três educadoras

participantes no estudo utilizam a avaliação formativa na sua vertente de diagnóstico

e fazem algumas referências à função reguladora da avaliação. Apresentam a

avaliação que praticam como um forte contributo para a reformulação das suas

práticas pedagógicas. Consideram relevante a participação das crianças na sua

avaliação bem como a implicação da família no processo.

As três educadoras valorizam a comunicação como um aspeto importante da

avaliação pois consideram que através desta se podem obter informações importantes

à compreensão das necessidades e dos interesses das crianças, facilitando uma

aprendizagem mais significativa. Com a discussão em grupo, a criança questiona-se e

questiona os seus pares e, em conjunto, encontram a solução para os seus problemas.

Embora existam documentos de avaliação aprovados pela direção da escola,

estes não têm um carácter obrigatório, acabando por não ser utilizados nem adaptados

pelas educadoras que acabam por não aproveitar convenientemente as potencialidades

da avaliação nas suas diferentes vertentes.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação na educação, Educação de Infância, Avaliação na

Educação Pré Escolar, como avaliar e para quê avaliar.

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Abstract Considering the importance of the evaluation practice in the preschool

education, this research aims to study how three different teachers of a Social

solidarity Institution understand and operationalize in their pedagogical methods the

concept of evaluation in this level of education.

Due to the nature of the study and the specifics of this investigation, we chose a

case study of interpretive nature, through a qualitative approach, based on interviews

and documentary analysis.

Through content analysis we can say that the three preschool teachers who were

part of this study use formative assessment on its diagnosis strand and use some

references to the evaluation regulatory function. They present the evaluation

practicing as a strong contribution to the reformulation of their teaching practices and

consider relevant children’s participation in their assessment as well as the

engagement of the family in the process.

The three preschool teachers value the communication as an important aspect of

the evaluation process, since they consider that through this they can achieve

important information that leads to the perception of the children’s needs and

interests, making a more meaningful learning. Through the group discussion, the

children asks more questions to themselves and to their peers and together find the

solution for their problems

Although there are many documents certified by the school principal, they are

not considered mandatory, eventually not used nor adapted by the teachers who end

up not taking advantage of the potential of the evaluation practice in its different

aspects.

Key Words: Evaluation in Education, Childhood Education, Preschool Education

Evaluation, How to perform an evaluation and what for.

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Índice   Agradecimentos  ..........................................................................................................................  5  Resumo  ..........................................................................................................................................  7    

Capitulo  I  ...............................................................................................................................  1  Introdução  ....................................................................................................................................  1  Definição  do  problema  ..........................................................................................................................  3  Organização  do  estudo  ..........................................................................................................................  4  

Capitulo  II  .............................................................................................................................  5  Enquadramento  teórico  ...........................................................................................................  5  A  Avaliação  em  educação  .....................................................................................................................  5  Avaliação  sumativa  e  formativa  ....................................................................................................................  7  Avaliação  Reguladora  .....................................................................................................................................  11  Avaliação  como  um  Processo  reflexivo  ..................................................................................................  15  

A  Avaliação  no  Pré  escolar  ................................................................................................................  19  Enquadramento  normativo  da  avaliação  no  Ensino  Pré  escolar  .................................................  23  Um  breve  olhar  sobre  as  OCEPE  ................................................................................................................  29  A  Observação  na  Avaliação  ..........................................................................................................................  34  

Capitulo  III  .........................................................................................................................  37  Metodologia  ...............................................................................................................................  37  Contexto  e  Participantes  do  estudo  ..............................................................................................  38  Opções  metodológicas  ........................................................................................................................  41  Métodos  de  recolha  de  dados  ..........................................................................................................  43  Análise  documental  .........................................................................................................................................  44  Entrevista  ............................................................................................................................................................  44  

Metodologia  de  tratamento  de  dados  ..........................................................................................  46  Fases  do  estudo  .....................................................................................................................................  48  

Capitulo  IV  .........................................................................................................................  51  Apresentação  e  discussão  dos  resultados  .......................................................................  51  

Análise  dos  dados  .............................................................................................................................................  51  Discussão  dos  resultados  ..................................................................................................................  89  Concepção  de  avaliação  das  educadoras  ................................................................................................  89  A  avaliação  praticada  pelas  educadoras:  finalidades  e  objetivos  ................................................  90  Processo  de  avaliação  na  educação  pré  escolar  ..................................................................................  96  Contribuição  da  avaliação  no  desenvolvimento  profissional  ....................................................  102  

Capitulo  VI  ......................................................................................................................  105  Considerações  Finais  ............................................................................................................  105  

Questões  do  estudo  ......................................................................................................................................  105  Proposta  de  desafios  ....................................................................................................................................  107  Limitações  do  Estudo  ..................................................................................................................................  108  Impacto  no  desenvolvimento  pessoal  e  profissional  .....................................................................  109  Proposta  para  futuros  estudos  ................................................................................................................  110  

Bibliografia  ....................................................................................................................  113  Anexos  .............................................................................................................................  119  Anexo  1  ......................................................................................................................................  121  Anexo  2  ......................................................................................................................................  123  

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Lista de Abreviaturas de Siglas

DGIDC – Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular

EPE - Educação Pré Escolar

JI - Jardim de Infância

ME - Ministério da Educação

MEM - Movimento Escola Moderna

NEE - Necessidades Educativas Especiais

Obs. - Observação

OCEPE - Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

PCT - Projeto Curricular Turma

PE - Projeto Educativo

PCJI – Projeto Curricular de Jardim de Infância

PEI – Plano Educativo Individual

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Capitulo I

Introdução

A avaliação no ensino pré escolar surge como um factor importante no

processo ensino/aprendizagem..

Educadores e professores sentem um grande desafio ao “olharem” as suas

crianças e serem capazes de compreender o desenvolvimento das suas aprendizagens,

conquistas e crescimento. É urgente trabalhar para uma maior e melhor capacidade de

avaliar, numa perspetiva justa que permita ajudar a aumentar as aprendizagens feitas

pelas crianças. A desenvolver profissionalmente o docente, o currículo, o ambiente e a

instituição para a qual o docente trabalha. Avaliar pode contribuir para uma melhor

adaptação e reorganização das práticas pedagógicas dos educadores.

No pré escolar a avaliação assume um carácter formativo, por se tratar de um

procedimento contínuo e interpretativo. A criança é o principal interveniente que vai

construindo o seu próprio Ser e Saber, vai percebendo as suas dificuldades e as suas

conquistas, agindo para pensar e compreender. Todo este processo contribui para o

seu desenvolvimento.

Envolver a criança no processo de avaliação permite-lhe dar significado às

suas aprendizagens. Dessa forma, a criança passa a ser o elemento ativo que toma

consciência do seu percurso e resolve as suas dificuldades, tornando-se um ser

autónomo construtor do seu Ser e Saber. Permite ainda, em diálogo e confronto de

ideias com os seus pares, resolver problemas, encontrar soluções, ultrapassar

dificuldades e assim construir noções da realidade. Simultaneamente é promovida a

construção da democracia participada, preparando a criança para a inserção na

comunidade. Neste processo de debate de ideias a criança constrói situações de

aprendizagem preponderantes para o seu desenvolvimento.

Avaliar no pré escolar é um ato pedagógico que requer a colaboração de todos

os intervenientes, implicando que o educador tenha conhecimentos específicos para

desenvolver estratégias apropriadas a cada criança e, consequentemente, ao grupo.

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A avaliação é considerada muito importante como reguladora da atividade

educativa, pois é através da avaliação e análise da prática que se pode reformular e

reorientar as práticas educativas e assim a melhorar a qualidade das aprendizagens.

Da observação surge a recolha de diferenciada informação que permite ao

educador, após reflexão, reajustar o seu trabalho tendo em conta a evolução de cada

criança e do grupo. Observar, planear, agir, avaliar, refletir e restruturar fazem parte

da atividade profissional do educador. “...será preciso também ter capacidade de

planejar e avaliar os processos e a forma como cada uma das crianças vai

progredindo no seu desenvolvimento global” (Zabalza, 2008, 54).

Toda a recolha de informações obtidas pelo educador, quer através de

observações quer de outro tipo de registos, deve ser partilhada. Educador e parceiros

são conhecedores do todo o contexto e em partilha aferem e discutem as

aprendizagens, com o intuito de melhorar todo o processo educativo. A qualidade das

interações estabelecidas ao longo de todo este processo reflete-se diretamente na

qualidade no jardim de infância e influi no sucesso da criança, assumindo um papel

relevante na avaliação.

A família vem reforçar e apoiar a recolha de dados relevantes para a avaliação.

Embora seja um dos intervenientes mais importantes neste processo, o contacto

estabelecido entre os educadores e as famílias ainda assume uma natureza informal.

Muitas das vezes é estabelecido unicamente através de conversas que surgem nos

pequenos momentos de encontro no dia a dia, quando levam a criança à escola ou

quando a vão buscar. Deveria ser dada uma maior relevância à participação das

famílias neste processo, pois é através delas que o educador tem o primeiro contacto/

conhecimento da criança. É na primeira entrevista, com os pais, que o educador retira

dados importantes para o conhecimento da criança.

O ambiente educativo é preponderante, pois reflete uma intencionalidade

pedagógica subjacente às oportunidades criadas às crianças, tendo em conta os seus

interesses e motivações. A organização do ambiente educativo não tem

necessariamente de ser rígido, podendo ser ajustado ao longo do ano letivo. Deve, de

igual forma, ser sujeito a avaliação e, se necessário, novamente restruturado para ir ao

encontro das necessidades do grupo, “A reflexão permanente sobre a funcionalidade

adequação do espaço e as potencialidades educativas dos materiais permite que a

sua organização vá sendo modificada de acordo com as necessidades e evolução do

grupo” (OCEPE, 1997, 38).

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Só há bem pouco tempo é que os educadores começaram a atribuir alguma

importância à avaliação das crianças do pré escolar, talvez porque o próprio

Ministério da Educação (ME) começou a dar outro enfoque a este nível de ensino e à

avaliação. O ME lançou alguns documentos de bastante importância que vieram

valorizar este nível de ensino, ao mesmo tempo que promoveram a avaliação. Todo

este processo foi providenciado aos educadores através de documentos oficiais sendo

alguns: a Lei Quadro do Ensino Pré Escolar: lei n.º5/97 de 10 de fevereiro, que

consagra o ordenamento jurídico do ensino pré escolar; as Orientações Curriculares

para a Educação Pré Escolar (OCEPE) - Despacho no 5220/97, de 4 de Agosto;

decreto lei n.º241/2001, de 30 de agosto, que aborda o perfil específico de

desempenho profissional do educador de infância e do professor do 1º ciclo, e

algumas circulares elucidativas tais como: n.º717/DSDC/DEPEB/2007 – “Gestão do

currículo no pré-escolar; n.º4/DGIDC/DSDC/2011 - avaliação na educação pré

escolar.”

Todos estes documentos, de certa forma, espelham a importância da dimensão

pedagógica que tem sido atribuída a este nível de ensino.

Após a publicação dos referidos documentos, as avaliações passaram a

assumir uma maior importância pois até aqui não eram efectuadas de forma

sistemática e/ou com algum rigor não existindo a exigência de pedir aos educadores

as avaliações das crianças. Os educadores começam agora a estar mais atentos e

despertos para a importância da avaliação no pré escolar.

Por tudo o que foi referido, este estudo assume especial relevância ao procurar

estudar as concepções e as práticas de um grupo de educadores sobre a avaliação em

contexto pré escolar.

Definição do problema Sendo a temática da avaliação bastante discutida e dada a sua relevância para

uma educação de qualidade, importa compreender quais as concepções dos

educadores sobre a avaliação e qual o eventual impacto, dessas concepções, na prática

educativa do pré escolar. Desta forma, este estudo focar-se-á na seguinte questão:

Quais as concepções e as práticas de avaliação de um grupo de Educadores no

ensino pré-escolar?

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Deste problema emergiram algumas questões que irão conduzir a investigação:

• Que concepções têm os educadores sobre a avaliação?

• Como que finalidades os educadores realizam a avaliação?

• Quais as práticas avaliativas realizadas pelas educadoras?

• Poderá a avaliação ajudar a adequar o processo educativo e reformular

práticas?

Organização do estudo

Para além do capítulo introdutório, o estudo apresentado está organizado em

mais quatro capítulos.

No que diz respeito ao enquadramento teórico do trabalho, segundo capítulo,

uma primeira parte dá uma panorâmica geral do que se entende por avaliação em

educação, apresenta e situa o leitor ao nível dos conceitos de avaliação formativa,

sumativa e reguladora. A revisão da literatura foca ainda a avaliação como processo

reflexivo. No mesmo capítulo é feita uma abordagem à avaliação no pré escolar e

enunciado o seu enquadramento normativo. É apresentado um breve olhar sobre as

OCEPE (Orientações curriculares para o Ensino Pré Escolar) e aborda a observação

na avaliação.

No terceiro capítulo é apresentado o processo metodológico usado para este

estudo, com a respetiva fundamentação teórica das opções efetuadas. Relembra a

questão de investigação, as questões emergentes da questão principal, faz referência à

teoria em que se fundamentam as opções e processos metodológicos utilizados para a

recolha de dados e respectiva análise. É feita a caracterização do contexto do estudo –

da instituição, das educadoras e das crianças.

O quarto capítulo apresenta, discute e integra todas as informações recolhidas

com a descrição dos resultados do estudo de caso.

O último capítulo diz respeito às considerações finais e a sugestões para

possíveis investigações que possam surgir futuramente.

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Capitulo II

Enquadramento teórico

A Avaliação em educação

A avaliação ainda é encarada, frequentemente, como um ato com propósitos

exclusivamente quantitativos e mensuráveis. Contudo, é importante refletir numa

outra perspectiva de avaliação, tendo em conta que avaliar comporta uma atitude de

grande responsabilidade, com valores éticos e morais. Dalben (2005) refere que o

“julgar”, o “comparar”, isto é, “o avaliar”, são situações que já fazem parte do nosso

dia a dia, seja através de atos refletidos de uma forma informal ou de uma forma mais

formal quando existe necessidade de tomar decisões. Torna-se urgente repensarmos

nas nossas práticas e na forma como encaramos o ato de avaliar, quer seja em relação

aos nossos alunos quer em relação às nossas práticas propriamente ditas.

Segundo Leonor Santos (2010), não existem estudos estruturados sobre a

história da avaliação. No seu entender a prática da avaliação está diretamente

relacionada com a própria aprendizagem, ou seja, quando surge uma

impreterivelmente a outra está associada. A avaliação teve sempre o intuito de

procurar entender se aquele que aprendia teria a capacidade de pôr em prática essas

mesmas aprendizagens. A autora refere que a partir do Séc. XVIII a

institucionalização do ensino promoveu a noção de que tudo é mensurável e só assim

credível, associando-se o conceito de avaliação à “medição” do saber. Assim, seria

possível decidir o futuro académico e profissional dos alunos com base nas suas

avaliações.

Domingues Fernandes (2008) refere que no Séc. XX, uma das formas de

decidir o futuro dos alunos e/ou encaminhá-los para percursos académicos e

profissionais foi a criação dos exames. Refere ainda que estes exames, na altura,

vieram ocupar um lugar muito importante em todo o processo de avaliação, tornando-

se essenciais para definir políticas de seleção.

Santos (2010) refere que a meados dos anos sessenta do Séc. XX, surgem

novas perspetivas na educação. Com o aparecer do construtivismo é fomentada a ideia

de que o individuo constrói o seu próprio desenvolvimento com base na interação

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com os outros e o meio, dando maior relevância ao contexto como promotor de

alterações na formação do individuo. É nestas interações que o sujeito se vai

apropriando de novas aprendizagens, conhecimentos e ações, pois permite-lhe

compreender o que o rodeia.

Pode dizer-se que é no processo, na relação e interação com o meio e os outros,

que o indivíduo concretiza as aprendizagens e realiza a sua construção pessoal e

reconstrução das representações sociais. Segundo Santos (2010), ao citar Coll e

Martin (2001), o ensino ganha um formato organizacional onde são fomentadas

situações facilitadoras destas interações, que permitem promover aprendizagens,

defendendo que estas mesmas aprendizagens não são lineares: não constituem um

estado exato onde se consegue chegar, mas antes transitório. Neste sentido, tendo em

conta que a apreciação é necessária, o que se torna mais importante no processo de

avaliação é antes o significado da medida e não tanto o resultado dessa medida. A

mesma autora afirma que a avaliação “(i) acontece num contexto relacional (ii)

através de um contexto interpessoal (iii) inscrito num determinado contexto marcado

por um sistema de valores e de procedimentos. Não é um mero gesto de medida, mas

uma prática complexa socialmente construída ao serviço de determinadas finalidades

que enformam certos valores.” (idem, 2010, 9)

Tendo em conta o que acima foi referido, o ato de avaliar passa por um

processo de comunicação que implica uma relação e linguagem. É então essencial que

os intervenientes do processo, ainda que a comunicação possa não ser totalmente

eficaz, utilizem um “código partilhado e inteligível, marcado pela clareza” (Santos,

2010, 8). Num contexto escolar - onde avaliar surge de um pedido feito pelo professor

ao aluno, tendo este de executar uma determinada produção -o intervalo de tempo que

decorre entre o pedido efectuado pelo professor e a execução do produto por parte do

aluno, existe todo um processo de comunicação e interação. São criadas estratégias

para que quem executa entenda corretamente aquilo que lhe está a ser pedido,

existindo assim um quadro de interação social. O impacto nos resultados avaliados,

pode estar diretamente relacionado com a instabilidade das características destas

relações. Relações e comunicações bem estabelecidas permitem que o aluno tenha a

real percepção do que lhe é pedido, colocando questões quando não percebe,

promovendo um ambiente de compreensão, o que faz com que consiga concretizar a

sua produção de acordo com o que lhe foi solicitado. Relações/interações com pouca

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comunicação não permitem que o aluno tenha o mesmo entendimento do que lhe é

pedido. Logo toda essa envolvência terá impacto nos juízos finais da avaliação.

Segundo Domingos Fernandes (2008), a avaliação continua a ter falhas na

concretização de práticas de ensino e aprendizagem por forma a contribuir para o

desenvolvimento das competências por parte dos indivíduos. Continuam a existir

modelos de avaliação, que apenas contribuem para que o aluno reproduza em

determinado momento tudo aquilo que supostamente lhe foi transmitido. Considera

ainda que este tipo de modelos promove consideravelmente a atribuição de

classificações, descurando o essencial que é perceber/analisar o que os alunos sabem e

fazem, quais as suas dificuldades, para que posteriormente se possa apoiar a sua

recuperação. O mesmo autor considera que, nos nossos dias, ainda não é possível

certificar que o fundamental no processo de avaliação seja compreender qual o

desenvolvimento do processo de pensamento dos alunos perante um problema e/ou

uma dificuldade na vida real. Defende que a avaliação deveria ser um processo em

que o próprio individuo pudesse melhorar aprendizagens, aprender com compreensão,

ser mais autónomo, responsável na sua autoavaliação e capaz de assumir

responsabilidades.

Avaliação sumativa e formativa

Segundo Perrenoud (2008) existem duas formas de avaliar, uma que serve

como seleção e outra mais voltada para a aprendizagem. A primeira assume uma

vertente mais tradicional e está diretamente ligada às classificações e/ou comparações

entre alunos. Na sua opinião a quantificação da nota, neste método mais tradicional,

onde a avaliação se torna um acumular de sucessos ou insucessos dos trabalhos

avaliados do aluno, serve para alertar o mesmo e a família para o fracasso ou êxito

que este poderá vir a ter no final do ciclo de avaliação. Considera ainda que o

acumular de avaliações não é o “puro reflexo da realidade”. Dentro do mesmo método

de avaliação existe ainda a certificação que, no seu entender, não especifica o

processo de como o aluno atingiu o seu saber mas antes, assegura que o aluno sabe na

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maioria do que era suposto ter como saber, permitindo-lhe transitar para um novo

ciclo e/ou aceder ao mercado de trabalho.

A segunda forma de avaliação a que se refere Perrenout (2008, 15), adopta

uma vertente de aprendizagem onde a avaliação é formativa, ou seja, a maneira de

“regular a acção pedagógica” é feita através das aprendizagens individuais

promovendo uma intervenção diferenciada. Para o autor, este tipo de avaliação

permite um combate ao fracasso e à desigualdade. Na sua perspectiva, vivemos num

período de transição entre as “duas lógicas” (2008, 18), embora a avaliação

formativa tenha ganho maior importância e tendência para se desenvolver, no sentido

de criar uma avaliação “menos selectiva e mais integrada à acção pedagógica

quotidiana.” (2008,18)

Estrela e Nóvoa (1999) apresentam-nos o aluno e o professor como parte

integrante e ativa no processo de avaliação formativa. Para estes autores a

aprendizagem não é linear, é feita de uma forma construtiva onde todos os

intervenientes têm a sua importância na concretização das aprendizagens. Reforçam a

ideia de Perrenoud quanto à necessidade de “romper com a norma da equidade

formal que rege a avaliação certificativa” (Estrela e Novoa, 1999, 174).

Roldão apresenta a avaliação formativa como forma de “identificar, explicar,

e regular as dificuldades surgidas e remediá-las, inflectindo para outra estratégia de

construção da mesma noção, ou percepção de uma mesma situação por outra via, ...”

(Roldão, 2003, 43). No seu entender os momentos de avaliação sumativa,

complementam e fazem parte da avaliação formativa por permitirem efetuar um

balanço de todos os momentos avaliados, por forma a perceber se os objectivos

pretendidos foram atingidos. Considera que não é suficiente perceber se a criança

ficou a “saber” determinado conteúdo, mas sim o que compreendeu, como fez para

compreender, como pode aplicar e concretizar o seu conhecimento.

Para Eugenia Correia (2004) a finalidade da educação é a aprendizagem, tendo

a avaliação um carácter formador. Assim, a avaliação assume um papel preponderante

na recolha de informação útil sobre a criança, permite ainda uma adaptação e

reformulação no que concerne ao processo de ensino e de aprendizagem. No seu

entender “É componente integrante do currículo e do processo de desenvolvimento.”.

(2004, 15). A autora refere que (1) a avaliação deve contemplar “de modo equilibrado

os diferentes tópicos de ensino e o leque de competências essenciais e gerais

expressas no currículo nacional” (2004, 21); (2) deve ser parte integrante do processo

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ensino aprendizagem onde os dados recolhidos durante a mesma devem permitir

regulação do processo; (3) deve basear-se em informação diversificada e significativa;

(4) os seus métodos e instrumentos devem estar de “acordo com o tipo de informação

que se pretende obter”; (5) deve ser formativa; (6) deve permitir a revelação daquilo

que o aluno supostamente sabe fazer, os seus saberes e saberes-fazer; (7) os seus

critérios devem ser revelados a todos os intervenientes do processo; (8) deve ser

partilhada e negociada, uma vez que todos os intervenientes fazem parte deste

processo (criança, professores, família e outros técnico).

Segundo Santos (2010), a avaliação sumativa e a avaliação formativa

constituem uma prática dos nossos dias que tem vindo a sofrer algumas alterações,

sendo que a primeira adopta o papel de balanço e a segunda é entendida como

reguladora da aprendizagem. Segundo a autora a avaliação formativa tem como

objectivo principal perceber até que ponto o aluno, face a uma proposta do professor,

aprendeu o que era pedido e colocou essa aprendizagem em prática. Assim, o

professor pretende perceber o funcionamento cognitivo do aluno para poder intervir

de forma adequada relativamente às suas dificuldades e sucessos.

Domingues Fernandes (2008, 16) refere que anos de investigação “evidenciam

claramente que a utilização sistemática e regular de práticas de avaliação formativa

melhoram de forma muito significativa as aprendizagens das crianças e dos jovens e,

consequentemente, a qualidade geral do sistema educativo.”

Para Àlverez Méndez (2002,33) o objectivo da avaliação está sustentada numa

atitude de conhecimento “O conhecimento deve ser o referente teórico que dá sentido

global ao processo de avaliar. Este pode variar de acordo com a percepção teórica

que guia a avaliação. Aqui está o sentido e o significado da avaliação e, como

substrato, o da educação.”

Hadji (2001, 20) afirma que a “avaliação torna-se formativa na medida em

que se inscreve num projeto educativo específico, o de favorecer o desenvolvimento

daquele que aprende, deixando de lado qualquer outra preocupação”. O mesmo

autor considera o ato de informar uma das principais características da avaliação

formativa, segundo ele “A partir do momento em que informa, ela é formativa”.

Ferreira (2007) caracteriza a avaliação formativa como aquela que se preocupa

com o processo ensino-aprendizagem e não com os resultados obtidos, que deve ter

em conta a recolha contínua de informação para que o professor perceba as

necessidades dos alunos ao mesmo tempo que lhe promove novos desafios. Segundo

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Ferreira (2007) esta avaliação tem algumas funções que passam pela: (a) informação

de todos os intervenientes do processo, o autor refere-se ao professor, alunos e pais;

(b) o “feedback informativo” que permite perceber qual a evolução do processo

ensino-aprendizagem; (c) e “função regulação de ensino e aprendizagens” que

possibilita perceber as dificuldades e as conquistas no percurso das aprendizagens de

cada aluno. Os erros cometidos por parte do aluno, durante o percurso, não são

penalizadores pois, para além de serem considerados normais, devem servir de análise

e de exploração durante o processo para que o professor possa adequar a sua ação.

Para que as práticas se tornem justas é necessário que todos os sujeitos

intervenientes tenham consciência da sua relevância e do seu papel. No âmbito do

desempenho escolar é necessário que a avaliação esteja voltada para o papel de cada

um na sociedade e de como se promove uma cidadania. Os valores e regras não

podem ser postos de parte quando se trata de formação de indivíduos.

A avaliação formativa deve ser contínua, referindo Ferreira (2007) como

sendo uma das principais características e diferenças em relação à avaliação sumativa.

Esta última é realizada no final do processo e serve para medir resultados de forma

quantitativa, classificativa de forma a certificar e selecionar alunos. É apresentada

com uma nota, uma classificação/graduação em determinada escala que precisa a

produtividade dos alunos e serve de base para balanços pontuais e finais, ordenando

classificatoriamente os alunos.

Por outro lado, Ferreira (2007), afirma que a avaliação formativa assume uma

continuidade no tempo. Valoriza a recolha contínua de informações sobre o ensino-

aprendizagem, promove a informação e adequação contínua das estratégias a utilizar

ao longo de todo o processo. Dá relevância à avaliação de diagnóstico como

promotora de conhecimento do professor sobre os seus alunos, as suas dificuldades e

necessidades permitindo ao profissional perceber até que ponto o aluno

assimilou/apoderou a aprendizagem e está preparado para iniciar uma nova. Este tipo

de avaliação permite ainda que o professor tenha conhecimento de cada aluno e do

seu grupo, para que possa promover aprendizagens, planificando de acordo com as

necessidades do grupo e de cada aluno, criando objetivos e atividades promotoras de

aprendizagens significativas.

Page 25: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

11

Avaliação Reguladora

“Na mente humana, toda a regulação, em última instância, só

pode ser auto-regulação, (...) toda a acção educativa só pode

estimular o autodesenvolvimento, a auto-aprendizagem, a auto-

regulação de um sujeito, modificando seu meio, entrando em

interação com ele.”(Perrenoud 2008, 96)

Perrenoud (2008) acredita que o próprio indivíduo tem capacidade de entender

e orientar os seus próprios projetos e progressos, encontrar soluções para os seus

problemas e ultrapassar as dificuldades que lhe vão surgindo. Neste sentido, quando

fala de aprendizagens, o autor defende que só quando estas se tornam um desafio, um

desejo de aprender por parte do aluno é que ele se torna um participante ativo no

processo, fazendo a sua autorregulação, ou seja, o aluno tem de ter vontade e sentir

desejo de saber/aprender. A comunicação é determinante na avaliação reguladora.

Promove situações de troca e confronto de ideias, interação, tomada de decisões que

os alunos possam e saibam explicar, justificar e argumentar as suas

opiniões/ideias/decisões. Neste sentido a situação de aprendizagem não é inteiramente

da responsabilidade do professor. Os alunos passam a ser ativos na sua própria

aprendizagem que passa a ser um desafio onde, através do debate e discussão de

ideias, encontram estratégias de resolução dos seus problemas. O professor ganha um

papel de orientador do que é produzido pelos alunos “(...), apostando na

comunicação espontânea como fonte maior de regulação das aprendizagens, se assim

se preferir, como principal estímulo e uma auto-regulação intensiva” (Perrenoud,

2008, 100)

O professor assume um papel importante ao intervir na regulação das

aprendizagens na medida em que se pretende favorecer e optimizar as aprendizagens

por parte dos alunos. Ao mesmo tempo ajuda e clarifica as ideias dos mesmos, pois o

professor, à partida, é o detentor de maior conhecimento.

Ainda neste processo de regulação na avaliação a organização do espaço e

tempo, a criação de hábitos e normas de trabalho tomam relevância pois devem

favorecer uma prática participativa, comunicativa, cooperante e diferenciada.

Page 26: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

12

Fernandes e Leite (2002), à semelhança de Perrenoud, defendem que tem de

existir interesse e desejo de saber por parte do aluno para que haja aprendizagem. No

entanto é necessário que o professor tenha consciência de que não existe

aprendizagem apenas a partir de uma dinâmica espontânea do aluno para com o seu

próprio desenvolvimento. Nesse sentido o professor reforça o seu papel de

orientador/estimulador.

Fernandes e Leite (2002) entendem que deve existir um contrato entre

professor e aluno para que se sintam responsáveis no desenvolvimento de situações

autónomas de aprendizagem, onde todos os critérios de avaliação são definidos em

conjunto, num ambiente favorável “(...) ao desenvolvimento de competências de

aprendizagens autónoma” (idem, 55). A avaliação como reguladora tem de ser

entendida na dimensão do aluno, das práticas, dos instrumentos e do clima de

aprendizagem. Os autores referem que na dimensão das práticas e dos instrumentos

encontramos a autoavaliação como “processo de apropriação e de gestão dos

critérios de avaliação”(idem,55). Na dimensão do clima de aprendizagens só existe

autorregulação quando o aluno utiliza a comunicação e a resolução de problemas com

vista a ultrapassá-los.

Para Pérez Gómez (1994) é muito importante que exista no processo de

avaliação um tempo e um espaço para que o aluno possa refletir sobre o que realiza e

a forma como conseguiu realizar, construindo conhecimento e aprendizagens. Este

refletir sobre o processo ensino aprendizagem remete-nos para a autoavaliação. Na

autoavaliação o aluno torna-se um participante ativo na medida em que reflete e pensa

sobre o que fez, porque fez, quais as suas dificuldades, os seus êxitos e o caminho que

percorreu. Nesta perspetiva gere o seu trabalho e o seu progresso, Ferreira (2005, 108)

citando Simão (2005 a, 273) define autoavaliação como sendo um “olhar crítico

consciente sobre o que faz, enquanto se faz e/ou depois de se ter feito”.

Santos (2010) refere-se à autoavaliação como estando esta inerente à avaliação

reguladora. Afirma que a autoavaliação não se apresenta naturalmente no aluno como

algo que faz parte do nosso ser por natureza. Neste sentido, terá o professor de

promover espaço, ambiente para que o aluno desenvolva esta capacidade.

Segundo Santos (2010) a avaliação reguladora surge da melhoria e evolução

da avaliação formativa no seu significado. O aluno passa a desempenhar o papel

principal e o professor a ser um promotor na construção de contextos que permitam as

aprendizagens aos alunos, tendo em conta a diversidade e as necessidades de cada um.

Page 27: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

13

A avaliação formativa passa a ser “(...) um processo de acompanhamento e regulação

do ensino e da aprendizagem. O seu objectivo é acima de tudo ajudar a compreender

o funcionamento cognitivo do aluno face a uma dada situação proposta para se poder

intervir de forma adequada.” (2010, 12). É na pratica diária que o professor deve

estar atento a todos os sinais do aluno, compreende-los e atuar de acordo com a

situação, deve ainda promover momentos e situações onde o aluno possa fazer a sua

autorregulação tornando-se cada vez mais autónomo.

A aplicação da avaliação reguladora por parte do professor é bastante exigente

pois obriga o professor a manter-se permanentemente atento a toda a informação dada

pelos alunos, para recolher exatamente os dados que lhe são necessários para

determinar com precisão quando e como deve agir. Muitas vezes esse processo é

efectuado no momento imediato o que pressupõe que comportamento gere ação em

conformidade, logo diferenciada. Entenda-se diferenciada como, agir com cada aluno

como ser único, próprio, com as suas especificidades.

Maria do Céu Roldão (2003, 41) entende que avaliar é “um conjunto de

processos que visam o acompanhamento regulador de qualquer aprendizagem

pretendida, e que incorporam por isso mesmo a verificação da sua consecução.”

Encara esta realidade com o apoio de materiais que permitam o acompanhamento do

processo de maneira a ser compreendido e por sua vez adaptado e reestruturado no

“sentido desejado”.

Segundo Santos (2010, 12) a prática da avaliação formativa deve tornar-se

reguladora,

“... não basta que as práticas ocorram no quotidiano da sala de aula para

que sejam formativas ou reguladoras. É mais do que isso. É necessário que a

avaliação: (I) se dirija ao aluno, (II) seja parte integrante do processo ensino

aprendizagem, (III)permita que os objectivos da aprendizagem sejam

conhecidos e apropriados pelo professor e pelos alunos,(IV) tenha por

enfoque tanto os resultados como os processos, (V) seja propiciadora da

compreensão e reflexão dos processos de aprendizagem dos alunos, quer por

parte do professor que por eles próprios, (VI) incentive a auto-confiança dos

alunos na aprendizagem, e (VII) desenvolva uma postura reflexiva a partir

dos dados recolhidos dos diferentes actores envolvidos no processo, de modo

que todos compreendam o que estão a fazer e porquê.”

Page 28: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

14

Segundo Ferreira (2007, 98) a “regulação está intrinsecamente ligada à

avaliação formativa”, tornando-se intencional regula e contribui para o

desenvolvimento das aprendizagens.

Para Santos (2010) não se pode falar em avaliação sem se aludir aos critérios

de avaliação. Neste sentido, na avaliação reguladora a comunicação entre

aluno/professor, ou seja o momento criado entre ambos para discussão/comunicação,

é considerado um elemento do critério de avaliação. Este momento, onde

supostamente é exprimido o que é importante num determinado momento depende

muito “do contexto e da construção que se vai realizando com os alunos” (idem

2010,36) não existe como algo fixo/constante é um critério transitório que caminha

para o progresso da e na aprendizagem. Ou seja, existem necessariamente opções a

tomar no que respeita à importância de determinada aprendizagem pois “aquilo que

poderia ser importante num dado momento deixa de o ser noutro porque, por

exemplo, o aluno já aprendeu. Há então que virar a atenção do aluno para outro

aspecto da aprendizagem.”(idem 2010, 36).

É muito importante que os alunos “conheçam e se apropriem dos critérios de

avaliação.” (Santos, 2010, 37). A tomada de consciência e de apropriação dos

critérios de avaliação estabelecidos nem sempre é fácil. Não basta que o professor

informe os alunos é necessário perceber se o que foi explicado foi apreendido pelo

próprio aluno. Neste sentido a autora apresenta-nos algumas estratégias que o

professor pode utilizar para reduzir as dificuldades referidas: (1) deve negociar os

critérios para que o aluno se sinta incluído no processo; (2) pode exemplificar

ilustrando com outros trabalhos existentes para que o aluno no momento tenha uma

ideia do que lhe é pedido; (3) proporcionar a análise/discussão de trabalhos; (4)

promover a coavaliação entre pares e a autoavaliação. Se o aluno conhecer e entender

o que lhe é pedido, desenvolvendo a capacidade de intervir de forma

propositada/intencional e justificada, então existe regulação das suas aprendizagens.

Em jeito de resumo, para esta autora, não faz sentido falar de avaliação

reguladora sem a associar à evolução do significado de avaliação formativa uma vez

que esta última passa a “ser vista como um processo de acompanhamento e regulação

do ensino e aprendizagem.” (idem 2010, 12). Neste sentido a autora apresenta-nos um

quadro bastante elucidativo desta evolução onde nos mostra como era a avaliação

formativa e como é vista na atualidade remetendo-nos esta última para as práticas de

uma avaliação reguladora. Seguidamente é apresentado esse mesmo quadro.

Page 29: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

15

Avaliação formativa Antes Actualidade

Função Contribuir para a aprendizagem

(consecução dos objectivos)

Contribuir para a aprendizagem

(mudança estável feita pelo

próprio)

Papel do professor Perito e decisor Interveniente e proponente

Papel do aluno Executor Interveniente e proponente

Natureza Sobretudo retroactivo (após) Sobretudo interactiva (durante)

Práticas Teste formativo Questionamento, escrita

avaliativa, negociação de

critérios de avaliação, auto-

avaliação, co-avaliação

Acções decorrentes Ajudas normalizadas Ajudas diferenciadas

Quadro 1- evolução do conceito de avaliação formativa

(Santos, 2010, 11)

Podemos então considerar que, apesar de diferentes conceitos de avaliação,

todos eles convergem para um processo de aprendizagem onde alunos e professores

são intervenientes ativos, onde a prática de avaliação ocorre por meio de relações

pedagógicas com objectivos, atitudes e saberes dos envolvidos, bem como toda a

intencionalidade pedagógica subjacente. A avaliação não pode ser relacionada só

entre professores e alunos, mas como um todo, uma instituição ativa que envolve

todos os intervenientes, incluindo as famílias.

Avaliação como um Processo reflexivo

A avaliação também constitui um processo reflexivo de desenvolvimento

pessoal e profissional do professor. Ao refletir na sua prática (e sobre a sua prática), o

professor está a fazer a sua autoavaliação e simultaneamente a promover boas práticas

que podem desencadear uma melhor relação no processo ensino/aprendizagem.

Shön (1991) considera que bons profissionais são aqueles que refletem e

aprendem com as suas experiências na prática profissional. Para este autor o ato

reflexivo traduz-se na existência de uma reflexão na ação e sobre a ação. Na primeira

está subjacente uma reflexão durante a ação, onde existe um conhecimento

Page 30: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

16

espontâneo. Zeichner (1993) acrescenta à teoria de Shön que, ao tomar consciência

deste saber tácito, examiná-lo, criticá-lo e analisá-lo, existe prática reflexiva. Este

autor diz-nos ainda que estamos constantemente a criar saber e que a prática do

professor é o resultado de uma ou mais teorias que devem ser valorizadas. O que

importa saber é, de que forma essa prática da teoria do professor é usada para o

processo ensino aprendizagem. Para Zeichner (1993), a prática reflete a teoria e a

teoria também é edificada através da prática. O profissional da educação que esteja

em constante questionamento e na procura de estratégias diversificadas vai em

simultâneo construindo teorias que justifiquem a sua própria ação. Não há atitudes ao

acaso, tudo vai sendo construído à medida das sucessivas reflexões que existem no

processo reflexivo.

Para Fernsten e Fernsten (2005, 305) existe “um diálogo interno antes,

durante e depois de um desempenho”, promovendo uma relação entre a própria

compreensão e a ação que se transforma no ato reflexivo.

É importante salientar que um professor quando pratica o ato reflexivo se

depara com uma interpretação que ele faz do meio que o envolve. Essa informação é

captada e por sua vez são feitas estruturas mentais que levam a ter determinado

procedimento, sendo que este último tem tendência a melhorar. Segundo Korthagen

(2001), podemos identificar inicialmente, uma ação da qual retiramos informação e

fazemos uma interpretação do real, e ao olhar para trás sobre a ação, vamos

questionar-nos e analisar a mesma. Depois é o tomar consciência e criar métodos

alternativos à ação que vai gerar uma nova ação. Em todo este processo as ações não

se repetem e tendem a melhorar, tornando-se uma espiral de procedimentos que leva

ao desenvolvimento profissional, facilitando a adaptação das estratégias e melhorando

a ação – Modelo ALACT que Korthagen (2001, p. 44) designou de ALACT “Action,

Looking back on the action, Awareness of essential aspects, Creating alternative

methods of action and Trial”.

Ao olhar para trás e desenvolver as suas práticas profissionais o professor está

a fazer a sua autoavaliação, no sentido de crescer e melhorar as suas práticas.

Compreender uma situação em foco e perceber onde está o erro é, sem dúvida, uma

mais-valia para a aprendizagem, revela a ideia e a representação que o próprio fez

sobre a mesma. O objectivo é de autocorreção, na medida em que esse mesmo erro é

ultrapassado. Assim, a autoavaliação torna-se um processo consciente sobre o que se

faz e como se faz, tal como é referido por Shön (1991).

Page 31: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

17

Importa considerar que estas práticas reflexivas devem ser integradas num

determinado contexto, ou seja, para que uma autoavaliação seja justa e produtiva

deverá ser partilhada. Com o tomar consciência dos erros cometidos irão surgir novas

estratégias que podem ser soluções, não só para um caso mas para outros semelhantes.

Os professores não devem recear a partilha das suas angústias, medos ou erros,

pois é na troca de saberes que nos enriquecemos. Dewey (1997) refere-nos que um

bom profissional deve ter três atitudes: abertura de espírito, sinceridade e

responsabilidade. Abertura de espírito: na medida em que está desperto para ouvir

mais do que uma opinião, admite o seu erro e não descansa enquanto não descobre a

causa do erro/conflito. Responsabilidade: pois deve ter uma ponderação cuidadosa das

consequências dos seus atos, deve questionar-se. Por último a sinceridade: vai

conjugar as duas primeiras tornando-se responsável pela sua própria prática reflexiva,

autoavaliando-se.

O professor ao refletir sobre um conjunto de coisas está, de certa forma, a

pensar sobre elas, e o pensamento torna-se analítico na medida em que está a tentar

resolver um determinado problema. É no reconhecimento de um problema e da

necessidade de o resolver que existe reflexão. Neste sentido o professor olha para trás

e tenta perceber as suas ações analisando o que se passou.

Dewey (citado por Zeichner e Liston, 1996, 9) define a ação reflexiva “como

aquela que envolve consideração de qualquer crença ou prática de modo activo,

persistente e cuidadoso, à luz das razões que a apoiam e as consequências a que a

mesma conduz”, admitindo que a reflexão “não consiste numa série de passos ou

procedimentos a serem usados pelos professores”, antes deve ser entendida como

“um modo holístico de conhecer e responder aos problemas, uma maneira de estar

como professor” (Idem).

A prática reflexiva desenvolvida por parte do professor começa a tomar forma

uma vez que ele vai adaptando e reajustando a sua prática, tendo em conta as novas

mudanças que implementa na sua forma de trabalhar, no currículo que preconiza. O

professor considera sempre em primeiro lugar o aluno como ser único e individual e o

contexto em que se realiza a sua prática pedagógica. Sendo o professor um gestor do

currículo, pode e deve adequá-lo às necessidades das realidades locais da sua

população escolar. Os sucessos e insucessos que existem nas escolas, não se devem

Page 32: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

18

apenas a factores exteriores ao contexto escolar, mas também a aspectos relacionados

com a própria organização do sistema e do currículo.

Na escola de hoje deve estar contextualizada a prática reflexiva não

individualizada, aquela que é feita para além do próprio professor, que tem em conta a

articulação com os seus pares e o próprio contexto social onde se realiza a sua prática.

Este tipo de reflexão torna-se fundamental para inovar a prática pedagógica e até para

realizar “mudanças” no sentido de tornar o currículo mais flexível. Zeichner (1993,

25-26) diz-nos que na prática reflexiva o professor “… está tanto virado para dentro,

para a sua própria prática, como para fora, para as condições sociais nas quais se

situa essa prática” deve ser dado ao professor “… tendência democrática e

emancipatória e a importância dada às decisões do professor…”. Segundo este autor

deve existir um “… compromisso com a reflexão enquanto prática social, … nas

quais os professores apoiam e sustentam o crescimento uns dos outros.” (IDEM 25-

26).

Page 33: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

19

A Avaliação no Pré escolar

A dificuldade relacionada com o conceito de avaliação e as práticas de

avaliação na educação pré-escolar, remetem para a necessidade da “clarificação do

que é e para que serve a avaliação das aprendizagens no âmbito da educação de

infância, ou seja, para as finalidades desta avaliação” (Oliveira-Formosinho, 2002,

146).

Godoi (2005) afirma que a avaliação pode ser uma vantagem para a criança,

pois considera que, sendo a observação um dos métodos mais utilizados para a

avaliação em jardim de infância, o mesmo permite ao educador conhecer os interesses

das crianças, refletir sobre o seu trabalho, alterá-lo e melhorá-lo. Assim, a avaliação

no jardim de infância, para Godoi (2005) é mais do que conhecer a criança, passa

também pelo aperfeiçoamento do educador como profissional da educação.

Zabalza (2008) fala-nos da atenção individualizada que deve ser dada à criança

e como essa atenção nos permite conhece-la melhor, “É o momento de linguagem

pessoal, de reconstruir com elas os procedimentos de ação, de orientar o seu

trabalho e dar-lhe pistas novas, de apoiá-la na aquisição de habilidades ou condutas

muito específicas, etc” (2008, 53). No pré escolar, não podemos dissociar a avaliação

do processo de aprendizagem com vista a ir ao encontro de cada criança, promovendo

uma pedagogia diferenciada sempre que for possível, “A atenção individualizada está

na base da cultura da diversidade. É justamente com um estilo de trabalho que

atenda individualmente as crianças que poderão ser realizadas experiências de

integração” (2008,53).

Zabalza (2008) fala-nos que na prática profissional é muito importante a recolha

de dados para que se possa ter uma visão geral da criança, perceber as conquistas e as

dificuldades e a partir desses dados e das interpretações realizadas adaptar as práticas.

“A própria lógica da coleta de dados exige que os problemas sejam detalhados e

isolados adequadamente. Isso facilita a sua concretização e compreensão assim como

a possibilidade de apresentar propostas de solução para as mesmas.” (2008, 58).

Este autor remete-nos ainda para a observação enquanto método avaliativo no ensino

pré escolar, pois na observação o educador retira informações que lhe permitem

melhorar a sua prática para promover novas ações e aprendizagens por parte da

criança.

Page 34: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

20

Estas mesmas observações e a interpretação retirada permite ao educador

planear a sua prática sendo a criança o centro de todo o processo, “o centro da ação

educativa é a criança” (Zabalza,2008, 149).

Carmén Pilré (2009) afirma que a avaliação passa por determinado processo

que envolve: (I) o conteúdo da avaliação, que no fundo define o que se quer avaliar (o

processo ensino/aprendizagem; a prática pedagógica e o desenvolvimento das

capacidades das crianças); (II) o objetivo, que define para quê avaliar (assinalar as

diferentes capacidades que se vão alcançando; adaptar/orientar as medidas de

reforço/adaptações curriculares necessárias; melhorar a atividade educativa); (III) as

características, como avaliar (avaliação contínua e formativa sem carácter

classificativo); (IV) o tempo, quando avaliar (inicial, contínua e final); (V) as técnicas

com que se vai avaliar (observação, registos, entrevistas, trabalhos,...); (VI) as

consequências, que estão relacionadas com a utilidade da avaliação e que apontam

para uma reformulação/adaptação da prática pedagógica, ajustando o processo

ensino/aprendizagem.

Pilré (2008) considera ainda relevante que o educador, ao avaliar, tem de ter

em conta determinados aspectos: (I) o processo ensino, nomeadamente a organização

da sala, a relação educador/aluno, relação com os pais, a diversidade das crianças

como seres únicos, cooperação com os outros docentes e o aproveitamento que faz

dos recursos existentes; (II) o processo de aprendizagem, como se desenvolvem e

como é feita a assimilação dos conteúdos; (III) o projeto curricular elaborado, tendo

os seus conteúdos de ir ao encontro das características das crianças, adoptar medidas

específicas para as crianças com necessidades educativas especiais; (IV) apresentar

coerência na metodologia aplicada e nos materiais curriculares e didáticos utilizados;

(V) o contexto na comunidade, que passa por compreender as características da

comunidade, da criança em consonância com o meio que a envolve, as características

familiares e socioculturais das crianças.

É necessário entender que a avaliação no pré escolar toma forma através de

todos os seus intervenientes. Não poderá ser esquecido que, sendo a avaliação de

carácter holístico, toda a comunidade educativa e o contexto educativo devem ser

intervenientes neste processo, ou seja, não poderá ser considerada a avaliação sem

contemplar o educador, a criança, a equipa, os encarregados de educação, os colegas

do departamento do pré escolar, os docentes do ensino especial e o órgão de gestão.

Page 35: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

21

As crianças são, sem dúvida, os intervenientes principais na medida em que

neste tipo de avaliação devem ser participantes ativos em todo o processo, onde

refletem sobre a sua própria aprendizagem.

A equipa que surge também como um dos intervenientes no processo de

avaliação e aqui podem ser considerados docentes, auxiliares e outros técnicos, ou

seja, todos aqueles que contactam com a criança diretamente e que podem fornecer

dados relevantes para a avaliação; O próprio departamento de ensino pré escolar que,

com a partilha de informação entre os seus pares, promove a qualidade de resposta

educativa. Os docentes do ensino especial têm também um papel relevante pois

participam na elaboração e implementação do PEI do aluno (Projeto Educativo

Individual).

Para avaliar, o educador tem de ter em conta as diferentes áreas de conteúdo que

estão presentes nas OCEPE, as Metas de Aprendizagem emanadas pelo Ministério da

Educação (ME), o Projeto Educativo do Agrupamento de Escola (PE), o Projeto de

Jardim de Infância (PJI) e o Projeto Curricular de Turma (PCT). A avaliação na

educação de infância assume-se como um aspecto importante para o desenvolvimento

das aprendizagens da criança, tornando-se um dos pontos mais importantes de

reflexão por parte do educador.

A avaliação das crianças é da total responsabilidade do educador titular de sala,

a quem compete definir a metodologia de avaliação a adaptar, tendo em conta as suas

concepções e opções metodológicas, considerando que este tem capacidade de

articular os procedimentos e estratégias de avaliação adoptadas com os conteúdos do

currículo.

A participação dos pais e/ou encarregados de educação no processo de

avaliação promove um maior conhecimento do educador para com a criança, ao

mesmo tempo que se estabelece uma relação e atuação entre a escola e a família. Por

fim, mas não menos importante, surge como interveniente o órgão de gestão que gere

e coordena os recursos educativos existentes na escola.

Na articulação de todos estes interveniente podemos entender, tal como

Eugénia Correia (2004, 33) afirma que “As decisões colectivas, com base na

informação partilhada, (...) assumindo os vários intervenientes na acção educativa

(alunos, professores, família, técnicos dos serviços especializados) compromissos

comuns e contribuindo colectivamente para um projecto também comum (...)”,

Page 36: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

22

permite avaliar numa perspetiva de troca de informações onde existe um maior e

melhor conhecimento do aluno e facilita o traçar da trajetória da sua evolução.

A avaliação para este nível etário recorre a uma dimensão formativa, assente

num processo continuado no tempo, de cariz interpretativo, voltado para o processo e

não para os resultados, onde a criança se torna o principal agente da aprendizagem

tomando consciência das suas conquistas e dificuldades. Embora maioritariamente

formativa, a avaliação no pré escolar também assume uma componente sumativa na

medida em que preconiza fichas e registos de observação, que permitem ao educador

registar se a criança atingiu ou não os objetivos propostos.

É importante referir que no ensino pré escolar existem dois tipos de avaliação:

avaliação de diagnóstico e a avaliação formativa, tal com é referido no documento

DGIDC: “Avaliação - Procedimentos e práticas organizativas e pedagógicas na

avaliação da educação pré escolar”. A primeira dá ao educador uma percepção da

situação do aluno naquele momento, permitindo a caracterização do grupo de alunos.

Esta avaliação facilita a percepção dos conhecimentos que cada criança tem, o que já

sabe e/ou é capaz de fazer, quais os seus interesses e necessidades, o seu contexto

familiar e sociocultural. Por norma é feita no início do ano letivo e permite ao

educador concretizar de forma geral a caracterização da turma, dando-lhe bases para

adaptar o seu projeto curricular de sala, tendo em conta os princípios acima

inumerados. Esta mesma avaliação pode ser feita em qualquer outra altura do ano,

para que o educador possa fazer um novo balanço das aprendizagens da criança e do

grupo de forma geral. Este tipo de situação permite reformular e criar novas

estratégias para atingir as metas propostas, melhorar o projeto curricular de turma,

facilitar a integração de todas as crianças no contexto educativo e, se necessário, fazer

a diferenciação pedagógica. A segunda é feita durante o ano com a recolha dos

trabalhos realizados pelas crianças e com as observações feitas pelo educador ao

longo do tempo.

Page 37: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

23

Enquadramento normativo da avaliação no Ensino Pré escolar

Durante os últimos anos, diversos documentos vieram reforçar a relevância da

avaliação no ensino pré-escolar. Neste sentido a nível legislativo, podemos considerar

a Lei Quadro-Lei n.º 5/97 de 10 de Fevereiro, Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Julho,

o Despacho n.º 522/97 (OCEPE), o Decreto-Lei n.º 241/2001 de 30 de Agosto,

Despacho nº 11120-A/2010 de 6 de Julho e a circular n.º:4/DGIDC/DSDC/2011.

À presente data, e como suporte legal do ensino pré escolar, existe a Lei-

Quadro - Lei n.º 5/97 de 10 de Fevereiro. Esta mesma Lei enuncia os princípios gerais

pedagógicos para o ensino pré-escolar e apresenta a Educação Pré-Escolar como “a

primeira etapa da educação básica, no processo de educação ao longo da vida...”, no

artigo 2.º, do capítulo II. No artigo 20.º o Estado assume que “definirá critérios de

avaliação da qualidade dos serviços prestados em todas as modalidades de Educação

Pré-Escolar”.

A Lei-Quadro dá enfoque à família como agente ativo no processo de

avaliação no seu artigo 4.º - Participação da família - referindo que “No âmbito da

educação pré-escolar cabe, designadamente, aos pais e encarregados de educação:

b) Desenvolver uma relação de cooperação com os agentes educativos numa

perspectiva formativa”.

Existe ainda o Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Julho, que “estabelece o

Regime Jurídico do Desenvolvimento e Expansão da Educação Pré-Escolar e define o

respectivo sistema de organização e financiamento” e apresenta-nos no artigo 16.º

ponto 1 - Avaliação – “Os critérios de avaliação dos estabelecimentos de educação

pré-escolar considerarão entre outros:

a) A eficácia das respostas educativas e sócio-educativas de apoio ao desenvolvimento equilibrado da criança;

b) A qualidade pedagógica do funcionamento dos estabelecimentos de educação pré-escolar, designadamente no domínio do desenvolvimento das orientações curriculares;

c) A qualidade técnica das infra-estruturas, dos espaços educativos e sócio-educativos, dos equipamentos e dos serviços prestados às crianças pelo estabelecimento de educação pré-escolar”.

O Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto, aprova os Perfis Específicos de

Desempenho Profissional do Educador de Infância e do Professor do 1.º ciclo do

Page 38: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

24

ensino básico. Assim, esta lei no Anexo n.º1, II ponto 3 alinha e), vem reforçar a

importância da avaliação no pré-escolar numa perspectiva formativa, “avalia, numa

perspectiva formativa, a sua intervenção, o ambiente e os processos educativos

adoptados, bem como o desenvolvimento e as aprendizagens de cada criança e do

grupo”.

A Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC) do

Ministério da Educação dá a conhecer um documento que está online e é dirigido aos

Agrupamentos: “Procedimentos e Práticas Organizativas e Pedagógicas na Avaliação

da Educação Pré-Escolar”. O mesmo documento sugere que se deve ter em conta a

avaliação como um elemento regulador da prática educativa. Esta entidade reconhece

que a “educação pré-escolar tem especificidades às quais não se adequam todas as

práticas e formas avaliativas utilizadas tradicionalmente noutros níveis de ensino”.

Assume ainda que, tratando-se a avaliação nesta faixa etária de um mecanismo na sua

maioria interpretativo, preocupada com todo o processo em si e não apenas com o

resultado, é notoriamente um processo de avaliação formativa. Sendo o Ensino pré-

escolar a primeira etapa de aprendizagem da criança no ambiente escolar, importa

assegurar que esta tenha condições de se desenvolver gradualmente, adquirindo

condições de aprendizagem promotoras de sucesso a quando da passagem para a

etapa seguinte.

O documento anteriormente referido da DGIDC, refere que “a avaliação é um

elemento integrante e regulador da prática educativa em cada nível de educação e de

ensino, esta implica necessariamente a adopção de princípios e procedimentos de

avaliação, de acordo com a especificidade de cada nível. Assim, a educação Pré-

Escolar tem especificidades às quais não se adequam todas as práticas e formas

avaliativas utilizadas tradicionalmente noutros níveis de ensino”.

É importante salientar o papel do educador no que refere ao ato avaliativo,

tendo em conta a valorização de um ato pedagógico demarcado pela diversidade de

estratégias que devem ter em conta o contexto do grupo e de cada criança como ser

único. Segundo o documento da DGIDC (2009) compete então ao educador:

• “Conceber e desenvolver o respectivo currículo, através da planificação, da organização e da

avaliação do ambiente educativo, bem como das actividades e projectos curriculares com

vista à construção de aprendizagens integradas (Perfil Específico de Desempenho do

Educador de Infância, Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto).

Page 39: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

25

• Avaliar, numa perspectiva formativa, a sua intervenção, o ambiente e os processos

educativos, bem como o desenvolvimento e as aprendizagens de cada criança e do grupo

(Perfil Específico de Desempenho do Educador de Infância, Decreto-Lein.º241/2001 de 30 de

Agosto)

• Estabelecer de acordo com o seu projecto pedagógico/curricular, os critérios que o vão

orientar na avaliação tanto dos processos como dos resultados.

• Utilizar técnicas e instrumentos de observação e registo diversificados que possibilitem

sistematizar e organizar a informação recolhida (registos de observação, portefólios,

questionários, entrevistas, cadernetas informativas…), permitindo “ver” a criança sob vários

ângulos de modo a poder acompanhar a evolução das suas aprendizagens, ao mesmo tempo

que vai fornecendo ao educador elementos concretos para a reflexão e adequação da sua

intervenção educativa.

• Escolher e dosear a utilização de técnicas e instrumentos de observação e registo, tendo em

atenção as características de cada criança, as suas necessidades e interesses, bem como os

contextos em que desenvolve as práticas. Considerando que a avaliação é realizada em

contexto, qualquer momento de interacção, qualquer tarefa realizada pode permitir ao

educador a recolha de informação sobre a criança e o grupo.

• Comunicar aos pais e encarregados de educação, bem como aos educadores/professores o

que as crianças sabem e são capazes de fazer, através de uma informação global escrita das

aprendizagens mais significativas de cada criança, realçando o seu percurso, evolução e

progressos.” (DGIDC, 2009)

Pode considerar-se que a avaliação faz todo o sentido no ensino pré-escolar e que

a própria entidade reguladora do ensino, Ministério da Educação, valoriza este

procedimento numa perspectiva formativa, sendo prova disso os documentos

anteriormente referidos.

Recentemente saiu a circular n.º: 4/DGIDC/DSDC/2011, a mesma refere que as

principais normativas relativas à educação de infância estão consagradas no Despacho

n.º 522/97 de agosto (Orientações Curriculares para a Educação Pré Escolar –

OCPEP) e no ofício circular nº 17/DSDC/DEPEB/2007, de 17 outubro da DGIDC

(Gestão do Currículo na Educação Pré-escolar). As orientações contidas nestes

documentos articulam com o perfil do educador que está consagrado no Decreto-Lei n.

241/2001 de 30 de Agosto bem como com as metas de aprendizagem estabelecidas

para o ensino pré escolar.

Tendo em conta a circular n.º: 4/DGDIDC/DSD/2011 (2011, 3) a avaliação tem a

finalidade de:

Page 40: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

26

• “contribuir para a adequação das práticas, tendo por base uma recolha

sistemática de informação que permita ao educador regular a actividade

educativa, tomar decisões, planear a acção;

• reflectir sobre os efeitos da acção educativa, a partir da observação de cada

criança e do grupo de modo a estabelecer a progressão das aprendizagens;

• recolher dados para monitorizar a eficácia das medidas educativas definidas

no Programa Educativo Individual (PEI)I;

• promover e acompanhar processos de aprendizagem, tendo em conta a

realidade do grupo e de cada criança, favorecendo o desenvolvimento das

suas competências e desempenhos, de modo a contribuir para o

desenvolvimento de todas e da cada uma;

• envolver a criança num processo de análise e de construção conjunta, que lhe

permita, enquanto protagonista da sua aprendizagem, tomar consciência dos

progressos e das dificuldades que vai tendo e como as vai ultrapassando;

• conhecer a criança e o seu contexto, numa perspectiva holística, o que

implica desenvolver processos de reflexão, partilha de informação e aferição

entre os vários intervenientes – pais, equipa e outros profissionais – tendo em

vista a adequação do processo educativo.”

Ainda na Circular n.º: 4/DGDIDC/DSD/2011 (2011, 1) a avaliação no pré

escolar assume-se como avaliação formativa, sendo que deve ser contínua e

interpretativa permitindo à criança a construção das suas próprias aprendizagens,

compreendendo as suas conquistas, tendo consciência das suas dificuldades ao mesmo

tempo que as vai ultrapassando. “A avaliação formativa é um processo integrado que

implica o desenvolvimento de estratégias de intervenção adequadas às características

de cada criança e do grupo, incide preferencialmente sobre os processos, entendidos

numa perspectiva de construção progressiva das aprendizagens e de regulação da

acção.”

A Circular n.º 4/DGDIDC/DSD/2011 (2011) considera que, sendo a avaliação

contínua, deve considerar todos os registos que o educador possa ter e que lhe

permitam perceber os progressos realizados pelos seus alunos. Estes registos podem

ser elaborados de forma descritiva e ou narrativa, sendo o ponto fulcral dos mesmos o

modo como a criança aprende, como resolve os problemas, como interpreta toda a

Page 41: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

27

informação e como constrói o seu saber. O educador durante todo este processo tem

de considerar as características individuais da criança, a idade, a articulação com as

diferentes áreas de conteúdo, tendo sempre presente que a criança é o principal

protagonista da sua própria aprendizagem.

Segundo o documento “Avaliação: Práticas organizativas e pedagógicas na

avaliação do pré-escolar,” (Ministério da Educação, 2009) devem existir diferentes

procedimentos no ato de avaliar. Estes podem ser: observação; entrevistas;

abordagens narrativas; fotografias; gravações de áudio e vídeo; registos de

autoavaliação; portefólios construídos com as crianças; questionários a crianças, pais

ou outros parceiros educativos; entre outros. Considera que é na diversidade da

recolha de dados informativos das aprendizagens das crianças que permite ao

educador ter uma maior percepção de cada aluno e do grupo em geral permitindo uma

reflexão e ajuste da sua prática pedagógica.

O Decreto-lei nº 241/2001 de 30 de Agosto, que diz respeito ao: Perfil

especifico de desempenho profissional do educador de infância e do professor do 1º

ciclo do ensino básico, reforça a avaliação formativa, na medida em que defende que

o educador deve avaliar numa “(...) perspetiva formativa, a sua intervenção, o

ambiente e os processos educativos adoptados(...)” (Decreto-lei nº 24 ponto II, nº 3

alinha e). Ao avaliar os processos e os efeitos o educador toma “consciência da acção

para adequar o processo educativo às necessidades da criança e do grupo e à sua

evolução” (OCEPE, 1997, 27). O mesmo Decreto confere importância ao educador,

pois aprova um perfil específico de desempenho profissional; define o seu papel na

concepção e desenvolvimento curricular; explicita o seu papel no desenvolvimento de

um currículo integrado no âmbito da expressão e comunicação e do conhecimento do

mundo.

Com o intuito das crianças poderem realizar as aprendizagens necessárias para a

entrada no 1º Ciclo do Ensino Básico surgiu a necessidade de criar metas de

aprendizagem onde existem itens que permitem aos educadores o planeamento de

processos, estratégias e modos de progressão adequados às aprendizagens dos seus

alunos.

O Ministério da Educação, através do documento “Metas de Aprendizagem” (o

projeto Metas de Aprendizagem insere-se na Estratégia Global de Desenvolvimento

Page 42: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

28

do Currículo Nacional que visa assegurar uma educação de qualidade e melhores

resultados escolares nos diferentes níveis educativos), estabeleceu as metas para o

ensino pré escolar. Desta forma ficam especificados quais os objetivos a atingir neste

nível de ensino, de forma a promover e facilitar o sucesso e a transição do pré escolar

para o 1º Ciclo do Ensino Básico. O documento referido “contribui para esclarecer e

explicitar as condições favoráveis para o sucesso escolar” indicadas nas Orientações

Curriculares para a Educação Pré-Escolar. “Estas metas facultam um referencial

comum que será útil aos educadores de infância para planearem processos,

estratégias e modos de progressão de forma a que, ao entrarem para o 1.º ciclo,

todas as crianças possam ter realizado as aprendizagens, que são fundamentais para

a continuidade do seu percurso educativo.

Sendo essas aprendizagens definidas para cada área de conteúdo, sublinha-se

que, na prática dos jardins-de-infância, se deve procurar sempre privilegiar o

desenvolvimento da criança e a construção articulada do saber, numa abordagem

integrada e globalizante das diferentes áreas.” (Ministério da Educação, DGIDC

Metas de Aprendizagem Educação Pré Escolar 2012, 1). Cada área de conteúdo tem

definidas as aprendizagens que devem ser alcançadas, tendo em conta que deverá ser

feita de forma globalizante, promovendo simultaneamente o desenvolvimento da

criança e a construção do seu saber.

Segundo o Despacho n.º 11120-A/2010 de 6 de julho devem existir três dias

dedicados à avaliação no pré escolar, que coincidem obrigatoriamente com os

períodos estipulados para os outros níveis de ensino. Estes momentos são

considerados de todo relevantes pois permitem a passagem de informação sobre as

aprendizagens e progressos das crianças, a sequencialidade e continuidade educativa

promotoras da articulação curricular, que neste caso será entre os educadores os

docentes do 1º Ciclo do Ensino Básico. Esta situação deve ser repetida no final de

cada período. No último período acresce ainda a articulação com o 1º ano do 1º Ciclo

do Ensino Básico a quando da transição das crianças do pré escolar para o ensino

obrigatório, a preparação do ano letivo seguinte, e sempre que necessário a realização

do relatório circunstanciado definido no artigo n.º13 do DL n. 3/2008.

Page 43: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

29

Um breve olhar sobre as OCEPE

As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE) (1997),

vieram, de certa forma, valorizar a intencionalidade da ação educativa, fomentar a

organização da componente educativa e pretendem contribuir para a melhoria da

qualidade neste nível de ensino. Tendo como base a Lei Quadro da Educação Pré

Escolar, surge como um documento que junta e reflete aquilo que é suposto a

educação pré escolar proporcionar às crianças.

Este documento destina-se aos educadores de infância, docentes que

leccionam com crianças de idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos. O mesmo faz

referencia à Lei Quadro da Educação Pré Escolar (I), explica os fundamentos e a

organização das orientações curriculares (II), dá orientações gerais para o educador

(III). No que se refere ao ponto (I) relembra na lei quais os objetivos gerais

pedagógicos para a educação pré escolar. No ponto (II) reconhece o

“desenvolvimento e a aprendizagem como vertentes indissociáveis”, o

“reconhecimento da criança como sujeito do processo educativo”, a “construção

articulada do saber” e a “exigência de resposta a todas as crianças”. O ponto (III)

afirma que o desenvolvimento curricular é da responsabilidade do educador e que este

deve ter em conta: os objetivos gerais enunciados na Lei Quadro; a organização do

ambiente educativo; as áreas de conteúdo que são referências importantes para o

planeamento e avaliação nas situações de aprendizagem; a continuidade educativa e a

“intencionalidade educativa – que decorre do processo reflexivo de observação,

planeamento, acção e avaliação desenvolvido pelo educador, de forma a adequar a

sua prática às necessidades da criança”.

As orientações focam um conjunto de princípios que apoiam e orientam a

atividade educativa e pedagógica dos educadores. No que concerne à avaliação as

OCPEP (1997, 27) referem no Capítulo I – Orientações globais para o educador

“avaliar o processo e os efeitos, implica tomar consciência da acção para adequar o

processo educativo às necessidades das crianças e do grupo e à sua evolução. A

avaliação realizada com as crianças é uma actividade educativa, constituindo

também uma base de avaliação para o educador. A sua reflexão, a partir dos efeitos

que vai observando, possibilita-lhe estabelecer a progressão das aprendizagens a

desenvolver com cada criança. Neste sentido, a avaliação é suporte do planeamento.”

Page 44: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

30

As Orientações Curriculares, tal como o nome indica, orientam a prática

pedagógica do educador e ajudam a compreender os objectivos deste nível de ensino.

Ajudam o educador a desenvolver o seu trabalho (observar, planear, agir, avaliar,

comunicar e articular), apoiam as suas decisões no sentido de encaminhar de forma

correta o processo educativo a desenvolver com o seu grupo de crianças. Não são um

programa rigoroso a ser cumprido, mas sim uma linha orientadora para o educador

permitindo-lhe um leque diversificado de opções educativas.

As OCEPE (1997, 14) assentam no seguinte:

-“o desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociáveis;

- o reconhecimento da criança como sujeito do processo educativo - que

significa partir do que a criança já sabe e valorizar os seus saberes como fundamento

de novas aprendizagens;

- a construção articulada do saber – o que implica que a diferentes áreas a

contemplar não deveram ser vistas como compartimentos estanques, mas abordadas

de uma forma globalizante e integrada;

- a exigência de resposta a todas as crianças – o que pressupõe uma

pedagogia diferenciada, centrada na cooperação, em que cada criança beneficia do

processo educativo desenvolvido em grupo.”.

Todos os dados recolhidos pelo educador devem ser sujeitos a uma

interpretação e análise adequada, de forma a que o educador tenha uma percepção das

aprendizagens dos seus alunos. Quando reflete e toma decisões partindo das

observações e da recolha dos dados, o educador tem uma maior noção daquilo que

pode ou não exigir de cada aluno, o que lhe permite adequar e estabelecer a evolução

das aprendizagens a desenvolver com cada criança e com o grupo convergindo para o

seu desenvolvimento.

O desenvolvimento curricular, a cargo do educador, terá em conta:

“- os objectivos gerais – enunciados na Lei Quadro da Educação Pré-escolar

(...); a organização do ambiente educativo – como suporte do trabalho curricular e

da sua intencionalidade. (..);

- as áreas de conteúdo - que constituem as referencias gerais a considerar no

planeamento e avaliação das situações e oportunidades e aprendizagem. (...) área da

Formação Pessoal e Sócia, Área da Expressão e Comunicação(...), área do

Conhecimento do Mundo; a continuidade educativa – (...);

Page 45: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

31

- a intencionalidade educativa (...).”(OCPEP,14)

Avaliar o processo e os efeitos é “tomar consciência da acção para adequar o

processo educativo às necessidades das crianças e do grupo e à sua evolução. A

avaliação realizada com as crianças é uma actividade educativa, constituindo

também uma base de avaliação para o educador. A sua reflexão, a partir dos efeitos

que vai observando, possibilita-lhe estabelecer a progressão das aprendizagens a

desenvolver com cada criança. Neste sentido, a avaliação é suporte do planeamento”

(OCEPE, 1997, 27). O educador tem um papel relevante neste processo na medida em

que reflete sobre a sua ação, valores, intenções e adequações às necessidades da

criança. Esta reflexão é anterior à ação, quando planeia, e posterior à ação quando

toma consciência do processo e dos seus efeitos. Quando avalia o processo, o

educador tem a noção de que as oportunidades criadas às crianças lhes permitiram

estimular o desenvolvimento, a curiosidade e desejo de saber mais. Ao avaliar os

efeitos, o educador vai aferir se o ensino pré escolar teve significado para a criança,

ou seja, se contribuiu para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Permite ainda

tomar consciência de todo o processo educativo e da sua implicação no progresso das

crianças. Esta intencionalidade educativa determinada caracteriza a ação deste

profissional.

Há ainda a salientar a importância do ambiente familiar e sociocultural da

criança, a forma como o ambiente educativo está organizado e a intencionalidade

pedagógica pois estes são factores importantes para todo o processo de avaliação.

A organização do ambiente educativo, segundo OCPEPE (1997, 31) deve “ser

facilitador do desenvolvimento e da aprendizagem da criança” deve ter em conta

“diferentes níveis em interacção” assente no processo dinâmico de desenvolvimento

do indivíduo tendo em conta as relações que se estabelecem entre indivíduo/meio e

meio/indivíduo. A organização do grupo espaço e tempo deve permitir o trabalho

entre pares e pequenos grupos por forma a promover a aprendizagem cooperada, a

aprendizagem democrática onde o educador permite ao grupo situações diversificadas

de conhecimento e respeito pelo outro. A participação das crianças na elaboração das

normas e regras permite a vivência em grupo de uma forma mais democrática. A

resolução de conflitos com base no confronto de diferentes opiniões onde o educador

fomenta a negociação e a oportunidade de todos colaborarem. O mesmo documento

defende que devem existir momentos onde o educador permite a participação da

Page 46: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

32

criança no planeamento e avaliação.

O ambiente educativo toma uma relevância na avaliação pois deve ser promotor

das aprendizagens, e como este é organizado tendo em conta o grupo de crianças, vai

ao encontro das necessidades e interesses do grupo. O educador deve ter em conta (1)

a qualidade e diversidade dos materiais que propõem; (2) a organização e gestão do

tempo letivo; (3) a organização do espaço e recursos educativos; (4) as condições de

segurança do espaço, promovendo ambientes segurizantes (5) deve considerar as

interações adulto/criança e criança/criança e (6) promover as relações entre escola e

família.

Na organização do espaço “os espaços de educação pré-escolar podem ser

diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão

dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender”

(OCEPE, 1997,37), deve promover a autonomia e a responsabilização. O

equipamento e material deve ser escolhido de acordo com as necessidades do grupo e

do seu projeto pedagógico.

A organização do tempo deve promover uma rotina que permita à criança criar

referências temporais que lhe façam sentido. Espaço e tempo estão interligados, a sua

articulação deve estar adaptada às características do grupo e às necessidades de cada

criança, “Porque a organização do grupo, do espaço e do tempo constituem o suporte

do desenvolvimento curricular, importa que o educador reflicta sobre as

potencialidades educativas que oferece, ou seja, que planeie esta organização e

avalie o modo como contribui para a educação das crianças, introduzindo os

ajustamentos e correcções necessários.” (OCEPE, 1997,41)

Nas OCPEPE a família assume um papel importante e portanto há que

considerar boas relações família/instituição. Ambas contribuem para a educação e

desenvolvimento da criança, devendo a família conhecer, escolher e contribuir no

processo. A família, tal como outros parceiros da escola e/ou membros da

comunidade contribuem com os seus “saberes” e enriquecem situações de

aprendizagem, podendo mesmo vir a participar em situações educativas. “O

envolvimento dos pais e outros parceiros educativos constitui um processo que se vai

construindo. Encontrar os meios mais adequados de promover a sua participação

implica uma reflexão por parte do educador e da equipa sobre o nível e formas de

participação desejáveis e as iniciativas a desenvolver, num processo que vai sendo

corrigido e ajustado de acordo com a avaliação realizada” (idem 1997, 46).

Page 47: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

33

Neste documento de bastante importância para o ensino pré escolar existe ainda

uma abordagem às diferentes áreas de trabalho neste nível de ensino, designadas por

áreas de conteúdo. Estas são consideradas como “âmbitos de saber, com uma

estrutura própria e com pertinência sócio-cultural, que incluem diferentes tipos de

aprendizagem, não apenas conhecimento, mas também atitudes e saber-fazer” (idem

1997,47). Assim, surgem três grandes áreas de conteúdo: a área da formação pessoal e

social, a área das expressões e comunicação e a área do conhecimento do mundo.

Todas elas implicam a realização de atividades e ações onde é permitido à criança

estabelecer relações consigo, com os outros e com o meio que a rodeia, num processo

que significa pensar, compreender e apreender. Partindo daquilo que a criança

conhece e estimulando o desejo de querer saber, fazer, experimentar e transformar, ela

é levada a ações que serão progressivamente mais complexas estimulando o seu

desenvolvimento, favorecendo a sua formação como individuo autónomo, solidário,

livre inserido numa sociedade.

É defendida a continuidade educativa como processo que a criança já iniciou na

família, com diferentes trajetórias e culturas. Este processo educativo deve ter

continuidade no ensino pré-escolar, dai toda a relevância da criação de boas relações

entre família/escola e vice-versa. A mesma continuidade deve ser dada a quando da

entrada da criança para o 1º ciclo do ensino básico. Neste sentido deve existir abertura

e diálogo entre profissionais dos diferentes níveis de ensino e ambos devem ter

consciência, compreender e conhecer o que comporta cada nível de ensino para que a

transição da criança seja facilitada. Qualquer mudança, neste caso de ambiente

educativo, comporta necessariamente uma adaptação quer ao espaço físico bem com

às novas exigências que lhe são pedidas. Em todo este processo não se deve descurar

que cada criança, como ser único, tem um percurso individual com ritmos,

dificuldades e objetivos diferentes e que deve ser respeitada tendo em conta a

diferenciação pedagógica e igualdade de oportunidades.

As OCEPE (1997,90) referem que “A promoção do sucesso educativo implica

a necessidade de algumas referências sobre as expectativas sociais quanto ao que as

crianças devem saber num determinado momento da sua evolução.” Neste sentido

são distinguidas “três tipos de condições: as que dizem respeito ao comportamento

da criança no grupo, as que implicam determinadas aquisições (...) e as que se

relacionam com atitudes.” (idem 1997, 90). Ainda dentro desta temática e para

fortalecer e enriquecer essas mesma condições o Ministério da Educação, através do

Page 48: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

34

documento “Metas de Aprendizagem” veio focar a sua intencionalidade educativa,

dando relevância a que este nível de ensino garanta à criança uma preparação e

contacto com meios, instrumentos e culturas que lhe serão úteis para a sua

aprendizagem ao longo da vida. Que as experiências que lhe são proporcionadas lhe

permitam tirar todo o proveito durante o processo de aprendizagem.

Importa salientar que as OCEPE, a “Lei Quadro da Educação Pré Escolar”, o

“Perfil Especifico do Desempenho do Educador de Infância” e mais recentemente as

“Metas de Aprendizagem para o Ensino pré escolar” contribuíram para a divulgação

do tema e da sua importância num contexto tão próprio como é o desta faixa etária.

A Observação na Avaliação

Desde a mais tenra idade que o ser humano aprende a observar e aprende ao

observar. Algumas destas capacidades nascem connosco e vão se desenvolvendo à

medida que se treinam. Ao observar, o Ser Humano identifica situações, questiona-se,

reflete, avalia e conclui.

No contexto escolar, e mais especificamente ao nível do ensino pré escolar, é

necessário que o docente/educador se mantenha atento e observador no sentido de

apreender a realidade que o rodeia e promover situações futuras. Através da

observação o educador consegue compreender o desenvolvimento da criança e avaliar

o seu progresso ao longo do tempo. Para que isso aconteça esta observação e

consequente avaliação deve ser rigorosa e bem estruturada. Segundo Zabalza (1987)

qualquer situação, instrumento, procedimento ou recurso que seja utilizado para se

obter informação sobre a aprendizagem, constitui uma técnica de avaliação. No

entanto, este autor considera a observação como aquela que melhor se ajusta ao nível

do ensino pré-escolar.

Um educador que seja exigente com o seu trabalho, numa perspectiva de

crescimento e melhoria da sua prática, tendo como objectivo principal promover o

desenvolvimento da criança, por norma é um educador observador. Segundo Nabuco

(2000) o educador terá uma compreensão de todo o processo ensino aprendizagem

quando, no seu método de trabalho, consegue realizar observações cuidadas e

Page 49: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

35

estruturadas. Ao observar, o educador terá uma percepção mais realista do

desenvolvimento de cada criança, percebendo e entendendo o desenvolvimento da

mesma em diversos aspectos e áreas. Permite-lhe ainda perceber como a criança

realiza determinadas ações e interações. Tendo em conta estes aspectos o educador

através da observação/avaliação poderá ajudar a criança a melhorar as suas

aprendizagens. É certo que uma só observação da criança não é suficiente, não

representa toda a realidade mas apenas um momento, serão necessárias mais

observações para que se possam tirar conclusões/avaliar. Por outro lado a criança não

se pode aperceber de que está a ser observada pois isso promoverá alterações no seu

comportamento.

Para Nabuco (2000), algumas das capacidades de observação são inerentes ao

nosso Ser. Estas aptidões, ao serem treinadas e trabalhadas, permitem uma maior

objectividade a quando da identificação de algumas questões e/ou problemas que

possam surgir. Em paralelo é criada uma ideia mais realista dos comportamentos e

acontecimentos que nos rodeiam, “registar e tirar conclusões, fazer ligações, teorizar

e consequentemente avaliar. Todas estas etapas fazem parte de um ciclo de

descobertas de cada observador.” (Nabuco, 2000, 82).

Segundo Segundo Nabuco (s/d, 6) a observação tem de ter objectivos bem

definidos e só tem lugar se for treinada e efectuada com precisão. Afirma ainda que

“Foi através da observação que em grande parte se desenvolveu o estudo da criança.”

Para Parente (2004, 41) é muito importante que o educador registe as

observações que faz de forma a poderem ser consultadas sempre que necessário. Para

esta autora “registar envolve o registo escrito ou outra qualquer forma de notação do

que está a ser observado.”

Consoante os objectivos a que se destina a observação, assim se deve adoptar

o instrumento de observação mais apropriado a ser utilizado. Cada educador fará o

seu percurso pessoal.

Para Parente (2004) existem muitas outras formas de recolher informações

sobre o desenvolvimento da criança e processo ensino/aprendizagem que não passam

só pela observação. Esta ideia é fundamentada por outro autores como Gullo (1994),

McAfee e Legon (1997), também referido por Parente (2004), que referem a recolha e

colectânea de trabalhos efectuados pelas crianças em contexto escolar num

instrumento bastante válido para o educador ter a percepção das aprendizagens e

dificuldades das crianças. Nabuco (2000) refere que existem diferentes métodos

Page 50: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

36

utilizados na observação, que passam pelo: método de narrativa em que é registado

por escrito o que está a ser observado para depois analisar; e outros métodos que

recorrem ao auxilio de gravadores, vídeos, fotografias e o reunir de trabalhos

realizados pelas crianças.

Parente (2004), defende ainda que toda a informação recolhida através dos

pais e/ou encarregados de educação são uma fonte de bastante valor pois podem

fornecer detalhes sobre a criança e sobre alguns aspectos positivos do seu

desenvolvimento, pode ainda fornecer informações sobre algumas necessidades que a

criança pode sentir em casa ou na sociedade.

Tal como é enunciado por Harms (1990, citado por Nabuco 2000, 6) é

permitido aos educadores avaliar “mas é só pela observação directa que se pode

avaliar a implementação do programa, as interacções interpessoais e a adequação

do meio ambiente físico”.

Importa salientar que a criança deve ser parte integrante de todo este processo,

devendo ser envolvida no processo de avaliação.

Page 51: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

37

Capitulo III

Metodologia

Este capítulo pretende apresenta e fundamenta as opções metodológicas

adoptadas pelo investigador de acordo com o tema desta investigação. Trata-se de

uma investigação interpretativa do tipo qualitativo que recorre ao estudo de um caso

especifico.

A questão do presente estudo prende-se com a necessidade de perceber que

concepções e praticas de avaliação tem o Educador no ensino pré-escolar.

A investigação foi organizado em torno de algumas questões que se

levantaram tornando-se estas importantes para a tomada de decisões por parte do

investigador:

o Que concepções têm as educadoras sobre a avaliação?

o Com que finalidades as educadoras realizam a avaliação?

o Quais as práticas avaliativas realizadas pelas educadoras?

o Poderá a avaliação ajudar a adequar o processo educativo e reformular

práticas?

Neste sentido, ao realizar o desenho da investigação, foram considerados os

seguintes objectivos: perceber que conceitos têm as educadoras sobre avaliação (I);

entender de que forma o seu discurso é compatível com as suas práticas avaliativas

(II); compreender qual a sua intencionalidade (III) e perceber se essa avaliação

interfere na sua prática educativa e no seu desenvolvimento profissional (IV).

Esta investigação torna-se relevante na medida em que nos leva a refletir até

que ponto os educadores participantes no estudo têm conhecimento do conceito e das

potencialidades da avaliação para educação das crianças e para o seu desenvolvimento

pessoal e profissional.

Page 52: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

38

Contexto e Participantes do estudo

Esta investigação foi realizada numa Instituição de Solidariedade Social no

Distrito de Setúbal por se encontrar perto da residência do investigador. Este facto

torna-se facilitador em termos logísticos, nomeadamente no que concerne à

deslocação e rentabilização de tempo por parte do investigador, tal como é sugerido

por Bogdan e Biklen (1994) ao afirmarem que é necessário manter uma fonte de

dados acessível para que o investigador possa entrar e sair do campo de observação

sem qualquer dificuldade.

Este tipo de investigação requer alguns cuidados a quando da seleção dos seus

participantes, tendo esta decisão sido bastante reflectida especialmente levando em

conta a riqueza de casos no que respeita a informação dada. A escolha dos

participantes assentou assim nos seguintes vectores: a) numa instituição com a

valência de jardim de infância, sendo este um contexto especifico e conhecido para o

investigador; b) de fácil aproximação em relação à Direção da escola e às educadoras

que participaram no estudo; c) estando estas a trabalhar no mesmo polo da instituição.

Trata-se de um jardim de infância situado na margem sul do Tejo, no distrito

de Setúbal. Este jardim é constituído por 8 salas de jardim de infância divididas por

dois polos distintos. A instituição no seu todo integra crianças entre os 5 meses e os

10 anos de idade. Para além da valência de jardim de infância, comporta ainda a

valência de creche, creche familiar, coordenada por uma educadora de infância, as

atividades de tempos livres coordenada por uma animadora sociocultural e o refeitório

sociocultural coordenado por uma psicóloga. Esta instituição é de solidariedade social

e está inserida num meio sócio económico desfavorecido. Grande parte das famílias é

proveniente de países africanos de expressão portuguesa. Na generalidade exercem a

suas profissões nos sectores: construção civil, serviços públicos e privados e a

serviços de limpeza, existe ainda um valor considerável de encarregados de educação

que se encontram desempregados. A população escolar que frequenta esta instituição

é proveniente do meio.

Esta instituição é dirigida pela paróquia local, é uma Instituição de

Solidariedade Social (IPSS) e subsidiada pelo Ministério da Segurança Social. Está

dividida em dois polos: um provisório e pré fabricado e o outro construído de raiz

para o efeito. Os espaços exteriores compreendem alguns jardins e material para

Page 53: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

39

motricidade global, a sua frequência por parte das crianças está dividida por faixas

etárias. No polo do espaço exterior do edifício pré fabricado existe uma horta que foi

construída pelas crianças e pelos adultos da instituição. Para melhor compreensão

apresenta-se o seguinte quadro.

Polo 1 do jardim de infância Polo 2 do jardim de infância

Horário de funcionamento

7h00 às 19H00 7h00 às 19h00

Componente letiva 9h00 às 12h00 e das 14h00 às

16h00

9h00 às 12h00 e das 14h00 às

16h00

Construção De raiz Pré fabricado

Estado de conservação bom mau

Composição dos edifícios Salas de atividades: 10

Gabinetes:4

Secretaria: 1

Ginásio:1

Casas de banho para crianças: 6

Casas de banho para adultos:4

Refeitório: 1

Salas de atividades:5

Gabinetes: 1

Secretaria:0

Ginásio:0

Casas de banho para criança: 2

Casas de banho para adultos: 2

Refeitório: 1

Espaço interior Amplo, boa exposição solar,

arejado. Mobiliário e material

adequado às suas funções.

Amplo, boa exposição solar,

arejado. Mobiliário e material

antigo e algum em mau estado,

mas adequado às suas funções.

Espaço exterior Não existe zona coberta

Toda a zona é descoberta e

pavimentada

Tem material para a motricidade

global

Não tem horta

Tem árvores

Não existe zona coberta

Toda a zona é descoberta e uma

parte é jardinada e a outra tem

areia

Não tem material para a

motricidade global

Tem horta

Tem árvores

Pessoal docente e não docente Diretor pedagógico

Coordenador de JI

Coordenador de Creche família

Animadora sócio cultural

Psicóloga

7 educadoras

5 educadoras

10 auxiliares de ação educativa

1 cozinheira

1 ajudante de cozinha

1 senhora da limpeza

Page 54: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

40

14 Auxiliares de ação educativa

1 cozinheiro

2 ajudantes de cozinha

2 secretaria

1 motorista

3 senhoras de limpeza

Importa referir que os recursos existentes no polo um, que é a sede da

Instituição, são para usufruto dos dois polos sendo exemplo disso o ginásio, a

secretaria e alguns recursos humanos como a coordenadora do jardim de infância,

diretora pedagógica e o motorista que sempre que necessário se deslocam ao polo

dois.

Os participantes do estudo são educadoras de infância e estão efetivas neste

jardim de infância. O seu anonimato será salvaguardado por razões éticas e a sua

identificação será feita por nomes escolhidas aleatoriamente, que serão então:

educadora Anabela, educadora Rosário e a educadora Pilar.

Importa relembrar que esta investigação só pôde ser realizada após

consentimento por parte da direção da instituição e respetivo consentimento por parte

das educadoras intervenientes.

A Anabela tem onze anos de serviço e trabalha na instituição desde que

terminou o seu curso de educadora, onde fez também os respectivos estágios

profissionais. É educadora efetiva da IPSS tendo já trabalhado nos dois polos desta

escola. A educadora demonstrou disponibilidade e abertura para participar na

investigação mostrando-se agradada no final da entrevista. Apresentou o seu espaço

educativo e demonstrou boa vontade para fazer o registo fotográfico. No final do ano

facultou ao investigador dois dossiers de trabalho dos seus alunos.

Rosário tem quatro anos de serviço, dos quais dez meses foram a trabalhar

num jardim de infância particular e o restante tempo nesta instituição. Começou por

substituir uma colega ausente por motivos de saúde e acabou por ficar na instituição

até à presente data. Neste momento já faz parte dos quadros da IPSS onde foi

realizada esta investigação.

A Pilar tem dezassete anos de serviço durante os quais teve outras

experiencias profissionais fora da instituição onde foi feita a investigação. Antes de

trabalhar na IPSS iniciou-se numa instituição particular. Durante a sua formação

Page 55: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

41

académica Pilar fez quatro anos de estagio na instituição onde hoje trabalha e é

efetiva. Demonstrou uma grande disponibilidade em participar no estudo quer ao

nível da execução da entrevista como ao nível de dialogo e apresentação da sua sala.

No decorrer da entrevista, revelou-se contudo pouco à vontade tendo o investigador

de esclarecer bem as perguntas e acabando por ter respostas muito breves e diretas,

logo com pouco desenvolvimento.

Importa salientar que as três educadoras consideram que a organização do

ambiente educativo deve ser tão flexível quanto as necessidades da criança, podendo

ser adaptado e /ou reajustado para beneficio das aprendizagens do grupo.

Opções metodológicas

Estamos perante um estudo de caso com uma abordagem qualitativa, onde o

investigador assume o papel principal na recolha de dados obtidos no seu ambiente

natural. É utilizada a lógica da descoberta, sendo o objectivo principal o de

compreender/descobrir o Significado de determinada situação/experiência, na

tentativa de estudar todas as partes e compreender o Todo. O Mundo é tido em conta

como algo que se transforma na interação existente entre este último e o sujeito. As

concepções das pessoas perante determinada realidade, fenómeno ou situação, são o

mais importante neste estudo. O seu conhecimento, aquilo em que acreditam são os

alicerces para o investigador perceber as percepções dos sujeitos.

Segundo Merrien (1988), um estudo de caso interpretativo tem como

característica o facto de ser particularista, ou seja, único, que se posiciona numa

situação própria e específica com intuito de descobrir e compreender o fenómeno, o

particular. É descritivo, pois pretende descrever o caso, interpretar o fenómeno ou a

pessoa em estudo. Normalmente esta descrição é espessa, atendendo à complexidade

que constitui o caso e à necessidade de o retratar de forma literal e completa, de o

descrever com pormenor desde o contexto aos sentimentos e emoções dos

intervenientes. O estudo de caso interpretativo é indutivo, sendo que neste tipo de

investigação parte-se de hipóteses, podendo estas ser alteradas, modificadas (não são

estanques) e podem eventualmente surgir novas hipóteses no decorrer da investigação.

É heurístico uma vez que pretende evidenciar elementos característicos do caso em

Page 56: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

42

estudo, por forma a esclarecer e compreender o fenómeno, promovendo novas

descobertas. Olson (cit in Merrien 1988) diz-nos que a qualidade heurística do estudo

de caso pode explicar, discutir, avaliar, sintetizar e concluir.

Para Merrien (1988) o estudo de caso deve ser holístico na medida em que

pretende “esgotar” todo o caso.. Este tipo de estudos envolvem o Ser, logo torna-se

muito complexo abarcar a sua totalidade e esgotar-se o conhecimento, principalmente

por se tratar de um ser humano.

Podemos então dizer que para além de elucidar, compreender e desenvolver

teorias acerca do fenómeno observado, o estudo de caso, segundo vários autores, é

uma forma de explicar, proporcionar conhecimento, analisar e avaliar

Neste sentido este estudo pretende facultar uma maior proximidade para com

o contexto estudado, focando o seu interesse nas concepções de avaliação do

educador, na sua prática educativa e refletiva convergindo para a avaliação das

aprendizagens no pré escolar e da importância das mesmas.

A dimensão subjetiva é própria de um estudo desta natureza, pois o objectivo

é conhecer, compreender e aprofundar os conceitos, pensamentos e convicções dos

educadores que de certa forma influenciam o seu ser/estar e o seu estilo de trabalho. A

coerência e fiabilidade deste estudo são asseguradas pelos procedimentos

metodológicos. Segundo Stake (2009, 60) “A subjectividade não é considerada como

uma imperfeição a precisar de ser eliminada, mas como um elemento essencial de

compreensão.”

Neste tipo de investigação é importante considerar a necessidade da

diversidade na recolha de dados, onde o investigador, segundo Merrian (1988), é

encarado como “o instrumento principal para a recolha e análise de dados… é

sensível ao contexto e é capaz de adaptar as técnicas que usa às circunstâncias.”.

Tratando-se de um ser humano terá sempre maior flexibilidade de ajustamento, para

que o seu trabalho decorra da melhor maneira para a compreensão do fenómeno em

estudo.

A experiência do investigador é fulcral para perceber e reconhecer boas fontes

de dados e conscientemente analisar a veracidade das suas interpretações. Ele quer

perceber a realidade, como ela é de facto, vista e vivida pelos seus intervenientes e

compreender o pensamento subjetivo dos mesmos tal como é referido por Bogdan e

Biklen (1994).

Page 57: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

43

O estudo de caso pretende “entender” um fenómeno único com sentido na

descoberta e compreensão, convergindo para uma análise profunda de uma unidade

de estudo, onde o processo é mais importante que o produto. A grande preocupação é

compreender o significado de determinada experiência, ou seja, perceber o modo

como o indivíduo entende determinada situação, como a vive e como a interpreta.

Assim, o significado está fixado na experiência e saberes do indivíduo, onde existe

uma procura do significado: do sujeito; da situação; do fenómeno; do comportamento.

Métodos de recolha de dados

Neste tipo de estudo deve existir uma diversidade de fontes de evidências de

forma a investigar-se o mesmo fenómeno segundo diferentes ângulos. As conclusões

serão válidas na medida em que as inferências retiradas das diferentes fontes de dados

convergem para as mesmas conclusões.

Ao longo do estudo deve-se construir uma base de dados que pode ser feita

através do registo em forma de notas, documentos, narrativas e descrições dos

momentos observados. Esta base de dados é fulcral pois permite que outros

investigadores possam consultá-la e perceber/inferir o mesmo em relação ao caso

estudado. O investigador deve encadear as evidências do seu estudo de maneira a que

o leitor consiga perceber o encadeamento das questões que legitimam o estudo até à

conclusão final.

Para verificar a validade do estudo devem ser triangulados todos os dados

recolhidos. A triangulação surge como forma de tornar a investigação rigorosa,

devendo existir várias fontes de evidências a fornecerem várias avaliações do mesmo

fenómeno, garantindo a validade da investigação. Segundo Stake (2007), a

triangulação metodológica é a mais reconhecida na medida em que é utilizado mais

do que um método para a recolha de dados, tais como a observação, o questionamento

e análise documental.

Neste estudo foram utilizadas diferentes técnicas para a recolha de dados: a

análise documental, as entrevistas e os registos fotográficos..

Page 58: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

44

Análise documental

A análise documental surge como uma forma de obter informação em

documentos que sejam relevantes ao estudo de caso. Nesta investigação a análise

documental, incidirá no Projeto Educativo de Escola (PEE), no Plano Curricular de

Turma (PCT), , nas planificações das educadoras e nos documentos/trabalhos

produzidos por si e pelas crianças ao longo do ano.

O objectivo da análise documental é consolidar informações obtidas em outras

fontes tal como nos é sugerido por Yin (2005). Através deste processo o investigador

consegue encontrar novas questões e/ou valorizar informações, e entender a

perspectiva da avaliação, tendo em conta toda a comunidade escolar (uma vez que o

Projeto Educativo da Escola é feito colaborativamente entre os educadores e os

diretores da escola). Desta forma o investigador poderá entender de que maneira a

instituição valoriza o processo de avaliação no ensino pré-escolar. Este tipo de

documentos, tal como é referido por Bogdan e Biklen (1994, 181) revela informações

“… acerca da cadeia de comando oficial e das regras e regulamentos oficiais.” que

nos permitem perceber de que forma as práticas de avaliação foram incentivadas ou

motivadas naquela instituição.

Entrevista

No estudo de caso a entrevista torna-se uma fonte rica para a percepção do

verdadeiro sentir do entrevistado, tal como nos sugerem Wernner e Schoepftle (1987)

citado por Lessard-Hérbert, Goyette e Boutin (2005, 160) “ a técnica da entrevista …

é necessária quando se trata de recolher dados válidos sobre as crenças, as opiniões e

as ideias dos sujeitos…” A entrevista surge como forma de recolha de dados onde o

objectivo central está em perceber como o entrevistado analisa/interpreta determinado

aspecto de um assunto. Segundo Stake (2007) e Yin (2003), as entrevistas são um

instrumento a utilizar nos estudos de caso, particularmente importantes para podermos

ter acesso a relatos na 1ª pessoa.

Bogdan e Biklen (1994, 137) encontraram uma forma simples mas muito clara

de aconselhar o investigador remetendo-o para a importância de escutar o sujeito e

Page 59: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

45

encarar “… cada palavra como se ela fosse potencialmente desvendar o mistério que

é o modo de cada sujeito olhar o mundo.”

Neste estudo foram realizadas entrevistas «semi-estruturadas», o que equivale

na prática a deixar o entrevistado com liberdade para, mais do que responder a

perguntas, discorrer sobre temas em que, naturalmente, irá fornecer a informação

desejada. Tendo em conta que a entrevista é intencional e visa um objectivo (ou um

conjunto de objectivos), o entrevistador deve munir-se previamente de um guião, isto

é, um documento no qual estejam listados os pontos mais importantes sobre os quais

se quer ouvir o entrevistado. Deve ainda permitir ao entrevistado fazer qualquer tipo

de observação/comentário e incentivar a explorar mais um ou outro tema de maior

interesse que o próprio tenha iniciado. Para Bogdan e Biklen (1994, 135), “Neste tipo

de entrevista, o sujeito desempenha um papel crucial na definição do conteúdo da

entrevista e na condução do estudo.”

Neste estudo a entrevista foi aplicada a mais do que um sujeito, o que permite

compreender e adquirir dados comparáveis entre os entrevistados. É importante que o

entrevistado se sinta à vontade e confiante para falar livremente sem sentir inibição de

espécie alguma. É necessário ter alguns cuidados com o ambiente e local onde a

entrevista vai ser realizada bem como a primeira abordagem feita pelo investigador,

salvaguardando sempre o anonimato e o respeito pelo sujeito.

As entrevistas embora agendadas serão realizadas consoante a disponibilidade

das educadoras e em consonância com a rotina da instituição para não prejudicar o

funcionamento da mesma, bem como o bem estar das crianças.

Ao longo da investigação foram realizadas três entrevistas, uma a cada uma

das educadoras. A primeira parte, teve uma abordagem com um carácter mais geral

onde se pretendeu perceber quais a concepções que cada educadora tem sobre a

avaliação no pré-escolar. A segunda parte, permitiu esmiuçar a forma como cada uma

faz essa avaliação em sala de aula, e de que forma a avaliação interfere na sua prática

e no seu desenvolvimento profissional.

Page 60: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

46

Metodologia de tratamento de dados

“Um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em

constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» extremamente

diversificados.”

Bardin (2009,60)

Os dados retirados através das diferentes fontes foram submetidos a uma

análise de conteúdo. A análise de conteúdo é uma metodologia de análise de textos,

onde o investigador constrói o saber com base na análise do “discurso” e terá de ter

bem presente, a utilização de métodos de análise que impliquem processos técnicos

precisos. Toda a informação recolhida deve ser tratada de forma metódica, com

preocupação de rigor e de profundidade.

Tem como principal objectivo atingir a interpretação intensa/profunda

procurando extrair sentido dos textos tornando-se numa técnica de descrição

objectiva. Para tal é necessário que a análise de conteúdo seja: precisa; sistemática e

quantificável. Assim, exige uma definição precisa das categorias de análise para que

diferentes investigadores as possam utilizar, atingindo os mesmos resultados. Todo o

conteúdo deve ser analisado metodicamente contemplando todas as categorias

significativas. A quantificação é um suporte que alcança informações objectivas

acerca das características do conteúdo.

Segundo Bardin (2009) existem técnicas de análise de conteúdo, podendo

estas serem a análise temática e a categorial. A primeira tem como objectivo principal

a análise por temas/assuntos, onde o procedimento passa pela organização e leitura do

texto, identificação da expressão mais importante que possa traduzir a ideia chave,

perceber como é que as frases escolhidas estão relacionadas e quais as palavras-chave

do discurso. Ao interpretar os resultados é utilizado um discurso próprio tendo em

conta as palavras-chave. Na análise, o discurso é como que desmembrado e na

interpretação volta-se a unir. Uma das desvantagens deste método é que o facto de

aparecer uma palavra muitas vezes, nem sempre é sinónimo de que esta seja

relevante.

A análise categorial, “pretende tomar em consideração a totalidade de um

«texto», passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a

frequência de presença (ou ausência) de itens de sentido” (Bardin, 2009, 38-39).

Page 61: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

47

Como o próprio nome indica, a análise é feita através de categorias, sendo que estas

têm de estar de acordo com as questões de investigação e o texto deve ser visto na sua

globalidade. Inicialmente é realizada uma “leitura flutuante” para depois selecionar o

“CORPUS” da investigação onde se encontra o essencial do documento, aquilo que

vai ser trabalhado. Depois são identificados os “objectivos/hipóteses” seguindo-se a

“categorização” e por último a “interpretação dos resultados”.

Ao escolher as categorias o investigador deve ter em conta que estas devem

ser claramente formuladas e adaptadas ao problema e conteúdo do estudo, tendo como

principais características o facto de serem: homogéneas; exaustivas; exclusivas,

objectivas e pertinentes.

Neste estudo está contemplada a análise categorial e foi feita a categorização

com base no corpo teórico do trabalho e nos objetivos do estudo. Assim surgem ao

todo quatro grandes categorias:

A categoria 1) Concepções de avaliação: diz respeito à forma como o

educador (na sua entrevista e no seu PCT) e/ou a instituição (no PJI e no PE) vêm e

definem o conceito de avaliação.

A categoria de 2) Quem Avalia: identifica, quer para o educador quer para a

própria instituição, quem são os intervenientes no processo de avaliação neste

contexto especifico. É de referir que na análise de conteúdo das entrevistas houve

necessidade de criar as subcategorias: criança; educador e encarregado de

educação/família para que de melhor forma o investigador conseguisse analisar com

fiabilidade quem as educadoras consideram como intervenientes no processo de

avaliação. Nestas subcategorias são incluídas as afirmações proferidas pelas

educadoras.

A categoria 3) Como avalia: pretende demonstrar que estratégias são

utilizadas e praticadas pelas educadoras e/ou instituição quanto à forma de avaliar, ou

seja, como/de que forma é feita e/ou introduzida na prática pedagógica a avaliação no

pré escolar.

A ultima categoria 4) Para quê avaliar: remete para uma grande parte do corpo

teórico, pois diz respeito à forma como o educador e a instituição entendem para que

deve ser feita a avaliação e com que propósito. Neste sentido houve necessidade de se

criarem três subcategorias: a) avaliação formativa; b) avaliação sumativa; e c)

avaliação reguladora. Estas subcategorias englobam as afirmações dos participantes

do estudo, que caracterizam os diferentes tipos de avaliação preconizados nas

Page 62: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

48

entrevistas e nos diferentes documentos analisados, bem como as crenças, valores e

sentimentos dos educadores para com o efeito da prática da avaliação no jardim de

infância. Permite ainda entender de que forma a direção preconiza a avaliação na vida

do jardim de infância.

Fases do estudo

O primeiro momento para a realização deste estudo foi sem dúvida a escolha do

tema tendo em conta a pertinência do tema, o interesse e a motivação do investigador.

Partindo deste ponto foi realizada a investigação bibliográfica através de várias

leituras de diferentes obras selecionadas e de diferentes autores, na qual foi permitido

focar todos os sentidos para a problemática a estudar, com o intuito de assumir uma

atitude crítica entre aquilo que é absorvido das leituras e o que existe na realidade do

contexto estudado, promovendo uma atitude construtiva de possíveis realidades.

Depois de estar bem definidas as questões do estudo, bem como os objetivos,

foi importante perceber qual o tipo de metodologia a adoptar para seguidamente se

proceder à recolha de dados. Seguidamente à recolha de dados procedeu-se a analise

de conteúdo das entrevistas e dos documentos recolhidos para o efeito.

Posteriormente e após análise e estudo foi realizada esta dissertação.

Importa salientar que do conjunto de etapas anteriormente expostas existiram

alguns cuidados ao nível das relações estabelecidas com o contexto e os participantes

do estudo, por forma a garantir as questões de carácter ético e deontológico que

qualquer investigação tem de respeitar.

As abordagens realizadas aos participantes do estudo foram inicialmente por

telefone e depois, com uma apresentação de uma carta explicativa dos objetivos do

estudo, numa reunião com a direção da escola, assegurando sempre o anonimato quer

da instituição quer das educadoras participantes. Foi então permitida a realização do

estudo neste contexto especifico.

Após esta situação foram marcadas as entrevistas com as educadoras que

assentiram a utilização da mesma e das suas citações, para que fosse possível ao

investigador integrar as citações contextualizando-as na dissertação. Foi sempre

respeitado o anonimato das educadores, tendo havido o cuidado de utilizar nomes

Page 63: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

49

fictícios na execução da dissertação.

Por conveniência das participantes as entrevistas foram realizadas na própria

instituição onde as educadoras trabalham . Foram feitas individualmente num curto

espaço de tempo entre cada uma delas, evitando ao máximo a comunicação do

conteúdo das entrevistas entre as educadoras.

A cumplicidade e à vontade do investigador para com este nível de ensino bem

como para com a instituição em causa, facilitou a abordagem aos participantes e o

desenvolvimento do diálogo estabelecido.

Page 64: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

50

Page 65: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

51

Capitulo IV

Apresentação e discussão dos resultados

Este estudo tem como principal objectivo perceber as concepções e as práticas

de avaliação dos educadores de infância. Num sentido mais particular, entender de

que forma as concepções de avaliação dos educadores estão visíveis no seu trabalho

em sala de aula.

Importa examinar todos os dados recolhidos e fazer uma análise interpretativa

dos resultados obtidos, tendo em atenção as dimensões do estudo.

A apresentação dos resultados desenvolve-se situando o leitor na apresentação

das educadoras participantes do estudo.

Neste capítulo a discussão dos resultados e a análise dos dados recolhidos

foram organizados em quatro grandes vertentes: as concepções dos educadores sobre

a avaliação; quem avalia; como avalia e para quê avaliar.

Assim, a apresentação dos resultados desenvolve-se em três secções para cada

educadora:

• Que concepções de avaliação tem a educadora?

• A educadora e a sua visão de quem deve fazer a avaliação e como ela é feita

na sua sala de aula

• Para quê avaliar? A visão de cada educadora

Ainda neste capítulo são apresentados os casos síntese de cada educadora tendo

em conta os pontos acima referidos, sendo posteriormente feita a discussão dos casos

estudados relacionando-os com a teoria estudada e apresentada no Capítulo II desta

investigação.

Análise dos dados

Anabela  e  a  sua  prática  

Até à data da entrevista tinha onze anos de serviço sempre praticados na mesma

instituição, onde também estagiou durante a sua formação inicial. Esta educadora é

Page 66: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

52

responsável por um grupo constituído por 24 crianças, sendo que 14 são do sexo

masculino e 10 do sexo feminino. As idades situam-se entre os 3 e os 4 anos.

A maioria dos pais trabalha por contra de outrem, em atividades ligadas à

construção civil, aos serviços públicos e privados e a serviços de limpeza. Existem 5

situações de desemprego.

No que concerne as habilitações literárias dos pais, as mães evidenciam percursos

escolares mais elevados, no entanto a maioria situa-se abaixo da escolaridade

obrigatória. Existem quatro pais com o grau de Licenciatura.

A idade média dos pais situa-se nos 37 anos e das mães nos 33 anos.

Das 24 crianças que compõem o grupo, 22 transitaram do ano letivo anterior, uma

transitou do polo um para o polo dois da instituição e outra frequenta pela 1a vez o

jardim de infância.

O ambiente educativo foi organizado por áreas sendo estas: área do jogo

simbólico (casinha), área da biblioteca, área dos jogos e puzzles, área das construções

e garagem, área da expressão plástica e a área da escrita, tendo ainda a área de

reunião, comunicação, planeamento, avaliação (centro da sala). Cada área encontra-se

identificada através de um registo escrito e gráfico (nome da área, objectivos

pedagógicos, levantamento de materiais existentes).

Existem ainda vários espaços compostos por placardes de esferovite, dentro e fora

da sala, que servem para o educador expor os trabalhos da criança.

Na organização do tempo a educadora Anabela optou por estrutura-lo da seguinte

forma: 2º Feira 3º Feira 4º Feira 5º Feira 6º Feira Acolhimento/planear

Acolhimento/planear

Acolhimento/planear

Acolhimento/planear

Acolhimento/planear

Trabalho em pequeno grupo/

atividade orientada

Atividades de escolha livre

Atividades de escolha livre

Trabalho em pequeno grupo/

atividade orientada

Atividades de escolha livre

Higiene/ lanche/ atividades de

exterior

Higiene/ lanche/ atividades de

exterior

Higiene/ lanche/ atividades de

exterior

Higiene/ lanche/ atividades de

exterior

Higiene/ lanche/ atividades de

exterior Atividades de escolha livre

Trabalho em grupo/ atividade orientada

Trabalho em grupo/ atividade orientada

Atividades de escolha livre

Trabalho em grupo/ atividade orientada

Higiene/ Almoço Higiene/ Almoço Higiene/ Almoço Higiene/ Almoço Higiene/ Almoço

Atividades de exterior

Atividades de exterior

Atividades de exterior

Atividades de exterior

Atividades de exterior

“Está na hora dos Livros”

“Está na hora dos Livros”

“Está na hora dos Livros”

“Está na hora dos Livros”

Planear

Expressão Musical/ “Pequenos “Dia da Família”

Page 67: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

53

Dramática cientistas” “Cozinha

Pedagógica”

Atividades de escolha livre

Expressão físico-motora

Passeios pela comunidade

Avaliação do dia Avaliação do dia Avaliação do dia Avaliação do dia Avaliação do dia

As suas intenções, tendo em conta a avaliação de diagnóstico do grupo, são

apresentadas pelas áreas de conteúdo que sugerem as OCEPE e que a educadora

Anabela apresenta no seu projeto curricular de turma.

Concepções de avaliação

Quando interpelada sobre a temática da avaliação no pré escolar Anabela

afirma que “avaliação tem a ver (...), com o desenvolvimento das crianças, com as

interações que eles fazem”(entrevista A pg.1). Entende-se que a sua ideia de avaliar é

sem duvida perceber a evolução da criança e tem em conta todas as comunicações que

a criança, como individuo, estabelece no sistema onde está inserida. Indo ao encontro

daquilo que Santos (2010) defende, que uma avaliação é reguladora quando a esta

está subjacente a comunicação.

A educadora afirma que avaliar é também analisar comportamentos “neste

momento fazemos avaliação de comportamentos” ( entrevista A pg.1), “Isso em

termos de comportamento, em termos de avaliação do desenvolvimento de cada

criança...”( entrevista A pg.2).

No seu entender, avaliar, é uma prática que não está assumidamente

reconhecida, que ainda é feita de uma forma pouco organizada e pouco

consciencializada quando nos diz que, “...acaba por não se notar tanto, se calhar não

lhe damos aquele…em pré-escolar, pelo menos eu falo por mim, não tenho tão

incutido, agora vou avaliar, ou vou…pronto” (entrevista A pg.1). No entanto

reconhece e tem plena consciência de que é necessário avaliar “...precisamos de

avaliar... é muito importante.” (entrevista A pg1) .

Anabela encara a observação com relevância para a avaliação, chegando a

definir que avaliar “é observar” (entrevista R pg.1). A observação, tal com é

entendida por Nabuco (2000) é a principal ferramenta do educador para perceber o

desenvolvimento da criança e de como ela realiza as interações e ações. Neste sentido

é compreensível quando Anabela refere que “...agora tem é que ser uma avaliação

que não se note muito, assim muito suave, que não seja…que os meninos não tenham

essa percepção que estamos mesmo…” (entrevista A pg.1) porque se a criança

Page 68: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

54

percebe que está a ser observada pode facilmente alterar o seu comportamento e

portanto, fazer com que a avaliação por parte do educador não seja correta.

A mesma educadora entende que o conceito de avaliar está subjacente à

alteração da prática pedagógica, pois no seu ponto de vista “…é para isso que serve a

avaliação para mim, para alterar a prática” (entrevista A pg. 3).

Salienta ainda que a avaliação não pode ser vista isoladamente entre

educador/criança pois não concebe que a família não faça parte de todo o processo

envolvendo-a sempre que possível “...nós temos abertura para os pais virem

conversar connosco sempre que quiserem...” (entrevista A pg. 4). Embora neste

sentido não seja uma situação formal de avaliação mas sim uma situação de troca de

informação informal “… e normalmente os pais participam bastante, e diariamente

vamo-nos encontrando muito, acho que há uma grande troca entre os pais.”

(entrevista A pg.4). Anabela aqui não reflete sobre o que foi exposto no capitulo

anterior, considerando que a necessidade de avaliar com e para a família deve deixar

de ser ao acaso e tomar “expressão”.

Apesar de apresentar a relação família/educador usando palavras como:

“diariamente” e “troca”, na mesma entrevista mostra estratégias e fala-nos de

instrumentos de trabalho que promovem a interação da família, de uma forma mais

responsável, participativa e ativa. “...eles também escrevem, não é só se concordam

ou não concordam, é se querem acrescentar, porque muitas vezes os meninos aqui

fazem umas coisas e em casa fazem outras, e é importante ficar no registo a opinião

dos pais…”( entrevista A pg. 3). A educadora Anabela dá total importância à opinião

dos pais e à troca de saberes como relevante para a sua prática avaliativa.

Embora Anabela comtemple a avaliação no seu projeto curricular de turma,

não se encontram no documento referências explicitas às concepções de avaliação.

Concepções sobre os intervenientes e as metodologias de avaliação

Quando se fala em avaliar em sala de aula somos remetidos quase

imediatamente para os intervenientes desse processo. Anabela refere-se com

frequência à avaliação feita em grupo na sala de aula. Entende o grupo como as

crianças e o próprio educador de infância, “... e depois nós vamos em grupo falar

sobre isso e avaliar” (entrevista A pg. 1). Neste sentido a educadora considera o

dialogo e a comunicação entre educador /criança, criança/criança uma forma de

avaliar e discutir ideias, “…, eles próprios vão dizendo…”( entrevista A pg.3).

Page 69: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

55

Por outro lado, também considera importante estar individualmente com cada

aluno pois isso dá-lhe conhecimento do que deve ser explorado/trabalhado com cada

um, “…, e depois muitas vezes tenho que fazer sozinho com cada um para ver certo

tipo de…de conteúdos” (entrevista A pg. 2). Essa sua avaliação individual é também

encarada como um meio de encaminhar a criança, orientar, ajudar no processo de

aprendizagem. Anabela diz, “..., e tive necessidade pelo positivo de

influenciar,..”(entrevista A pg 2.).

Envolve a criança no processo de avaliação e entende que esta tem de ter um

papel ativo e conhecedor do processo, “…, porque eles têm perfeita consciência...”

(entrevista A pg. 2). Uma criança só pode tomar consciência de algo se for envolvida

e lhe derem a conhecer o que se passa, criando oportunidades de dialogo, troca de

ideias, duvidas e saberes, “…acho muito importante eles participarem porque eles

próprios sabem,…”. (entrevista A pg. 2).

A fotografia nº1 dá-nos um exemplo de uma avaliação feita pela criança com

o apoio da educadora Anabela no registo escrito. Esta avaliação tem em conta o que a

criança acha que já aprendeu, o que gostou de aprender, o que não gostou e também o

que gostava de aprender no futuro.

Foto n.º 1: Registo escrito de uma avaliação feita

pela criança com apoio do educador.

Anabela foca a avaliação na criança e promove a sua própria avaliação “a

auto-avaliação do alcance da aprendizagem será incentivada; será estimulada a

pesquisa e a resolução de problemas; a perspectiva de que as crianças aprendem

activamente;...” (PCT pg. 9).

Page 70: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

56

A criança é vista, não apenas como aquela que tem de realizar aprendizagem,

mas também como detentora de conhecimento e da sua própria cultura. A criança traz

muita informação e saberes com ela e cabe ao educador retirar todos os dados

possíveis dessa informação para promover novas aprendizagens.

Reforça que, como educadora, tem autonomia para fazer a avaliação do seu

grupo de crianças com o apoio de grelhas e, embora existam grelhas de avaliação da

própria instituição, Anabel sente necessidade de as adequar “…se eu achar

necessidade e tenho…pedi autorização e tenho essa autonomia, posso alterar, e

alguns por exemplo são escritos tenho a grelha e escrevo eu, outros pesquisei e

construi eu, um ou dois diferentes, é consoante o grupo.” (Entrevista A pg. 4). Este

testemunho demonstra que o educador tem liberdade de adaptar a avaliação que

pratica ao seu grupo de crianças, tendo em conta as características de cada uma e do

grupo no seu geral. Anabela informa que essas grelhas de registo foram elaboradas

pelo corpo docente da escola ,

“ENT – E quem é que elaborou esse documento? Enta – Foram elaborados pelas Educadoras. ENT – Um grupo? Enta – Um Corpo Docente,… Temos uns elaborados pelo Corpo Docente

todo,...” (entrevista A pg. 4)

o que se depreende ter havido discussão e entendimento quanto à construção das

mesmas. Mesmo assim, Anabela sente necessidade de as alterar, adaptando-as ao seu

grupo. Anabela considera este registos como um instrumento de avaliação.

Entende o trabalho de equipa como sendo muito importante e valoriza a

participação de todos os intervenientes, “Para a construção progressiva do nosso

projecto pedagógico daremos prioridade à participação e partilha do poder e à

decisão conjunta na procura de novos saberes.” (PCT pg. 24), “Desenvolveremos

momentos de reflexão entre educadora e auxiliares e educadora e os restantes

docentes e criaremos momentos de trabalho em equipa, sempre no sentido do

desenvolvimento pessoal e profissional, com efeitos na educação das nossas crianças,

e da procura de respostas mais adequadas às crianças e às família.” (PCT pg. 25)

A Anabela encara a família e a ajuda da família como crucial para a avaliação,

“... eu trabalho muito com os pais, e eu acho que é muito importante que essa

avaliação seja feita em conjunto...” (entrevista A pg. 3). Entende a família e a escola

como intervenientes no processo e valoriza a avaliação em conjunto. Entende que a

Page 71: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

57

criança traz aprendizagens que foram adquiridas em contexto familiar e é importante

que a educadora tome conhecimento delas, isso só é possível se a família for

considerada interveniente neste processo. “A observação de cada criança e do grupo

para conhecer..., o conhecimento do contexto familiar e do meio em que as crianças

vivem,...” (PCT ag. 27), “Por outro lado, estabelecemos conversas formais e

informais com alguns Pais, especificamente nas situações que entendemos necessitar

de mais informação ou de uma melhor articulação em termos de intervenção.” ( PCT

pg. 4).

Anabela defende que criança/família/escola e comunidade têm de estar

presentes e envolvidas no processo, “Estas nossas opções foram (e vão sendo)

partilhadas com os Pais, desde a primeira reunião, por entendermos serem nossos

parceiros. Em relação às famílias e comunidade defendemos o seu envolvimento na

vida quotidiana do contexto do jardim-de-infância e um trabalho cooperativo.” (PCT

pg. 8)

Percebendo no seu discurso e no seu PCT quais os intervenientes do processo

de avaliação do pré escolar, importa perceber como é que a Anabela faz essa

avaliação e que instrumentos utiliza.

Anabela entende que a avaliação deve ser diária “...avaliação tem a ver com o

dia-a-dia,...” (entrevista A pg. 1), “Nas nossas avaliações diárias.” (entrevista A pg

3.), realizada com as crianças no seu espaço, no seu ambiente de sala de aula com o

apoio delas e com a discussão e sugestões de novas estratégias, “...vou avaliando

diariamente como corre com eles,...” (entrevista A pg. 1). Aponta o diálogo, a

comunicação e os registos como estratégias de avaliação “...é feito diariamente

através de registos, através de conversas,...” (entrevista A pg. 1).

Aponta a observação como instrumento de avaliação “…diariamente se avalia,

porque vamos sempre observando o grupo e depois temos momentos durante o dia

que reunimos e falamos sobre o que se fez, …” (entrevista A pg. 2), o mesmo é visível

no seu projeto curricular de turma, “A observação de cada criança e do grupo para

conhecer as suas capacidades, interesses, dificuldades,...” (PCT. 27).

Faz parte do seu método de trabalho recorrer à avaliação de diagnóstico.

Embora não tenha um instrumento especifico para o fazer, esta avaliação está

comtemplada no PCT e é feita com base na observação, “O diagnóstico que a seguir

se apresenta resultou da observação do grupo de crianças e de cada uma em

particular. Não utilizámos instrumentos específicos de avaliação diagnóstica.

Page 72: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

58

Privilegiámos as situações em interacção, em contexto de sala e a observação atenta

do comportamento das crianças, bem como, dos seus desempenhos nas actividades ou

tarefas propostas.” (PCT pg. 4)

Partindo da avaliação de diagnóstico e tendo em conta “As produções, as

narrativas das crianças sobre e/ou durante as mesmas e os registos de observação

que fomos recolhendo constituem um dos nossos dados.” (PCT pg. 4), define as suas

opções educativas tendo em conta a articulação com o projeto educativo da instituição,

“Partimos da análise diagnóstica realizada, das grandes opções educativas definidas

no PE e do tema do Projecto Curricular da Instituição para este ano lectivo. “Educar

Hoje… Viver com a Saúde”, para uma tomada de decisão quanto ao que vamos

privilegiar na nossa intervenção educativa com/para este grupo de crianças.” (PCT

pg. 7).

Percebendo, através do diálogo e da comunicação, o que correu bem ou mal

com as crianças, a educadora dá mote para, em conjunto, organizarem o tempo e

planificarem a semana. Ao avaliarem a semana em questão podem planear, em

negociação, novas atividades e aprendizagens tendo em conta os desejos das crianças,

“… e normalmente diariamente falamos sobre como é que correu o dia, o que é que

fizemos, nós fazemos também a agenda semanal...” (entrevista A pg. 2) Ao dialogar

com as crianças, observar e registar o que se passa o educadora consegue avaliar,

“Pretendemos partir da observação como base do planeamento e da avaliação.”

(PCT pg. 27).

Existe negociação que provem da comunicação estabelecida entre todos com o

intuito de melhorar e crescer, assim Anabela dá-nos o exemplo,“…neste momento

fazemos avaliação de comportamentos, porque o grupo era muito instável, até sobre

isso avaliámos em grupo, em conservas de grupo, em registos. Temos uns critérios

agora que é umas grelhas de estrelas, mas depois tu podes ir ver e registar,...”

(entrevista A pg. 1).

Do dialogo, da comunicação e da avaliação em grupo surgiu o mealheiro das

estrelinhas onde crianças e educador estabeleceram critérios de avaliação para a

referida atividade. Esta atividade tinha como objectivo avaliar comportamentos, tal

como é sugerido na fotografia nº 2 e nº 3 da educadora Anabela. “...se eles

cumprissem isso recebiam umas estrelinhas, e têm mealheiros e vão guardando e à

sexta-feira, e depois foi negociado os prémios que têm os meninos que conseguirem

atingir várias estrelinhas. Isso é à sexta-feira, nós vamos contabilizar as estrelinhas,

Page 73: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

59

ver como correu e depois trocam as estrelinhas por prémios, ou não, consoante. Isso

em termos de comportamentos,...” (entrevista A pg. 1 e 2)

Fotografia n.º 2: Mealheiro das estrelas Fotografia n.º 3: Sistema de créditos para o

mealheiro das estrelas.

.

A educadora organizou a rotina diária do seu grupo de forma a criar momentos

/tempos de comunicação e negociação como meio para avaliar, “Existem ainda

tempos de reunião (para dar os bons dias, conversar, planear, partilhar, avaliar), que

fazem parte da rotina diária. Porém, sempre que se entender necessário, fazemos

pausas para resolver problemas, conflitos ou para negociar. (PCT pg. 9)

Anabela entende a rotina, a organização do espaço e dos materiais como forma

de fazer a avaliação: “...potenciamos um ambiente organizado com recursos a

instrumentos de regulação e de monitorização, em que as crianças terão um papel

activo na organização e tomada de decisão sobre as suas escolhas, tarefas e uma

responsabilidade social sobre as suas acções;...” (PCT pg. 9)

Entende a organização do ambiente educativo por áreas tal como é referido

nas OCEPE, considerando um espaço para poder fazer o planeamento e a avaliação,

“ A sala de actividades divide-se em várias áreas. Consideramos alguns espaços

permanentes, porque entendemos que são desafiadores e adequados às crianças em

idade pré-escolar. (…) temos ainda a área de reunião, comunicação, planeamento,

avaliação (centro da sala). Cada área encontra-se identificada, através de um registo

escrito e gráfico (nome da área, objectivos pedagógicos, levantamento de materiais

Page 74: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

60

existentes).” (PCT pg. 10). Todos estes materiais estão expostos, inclusivamente os

registos e os trabalhos, assim a criança pode criar o sentimento de que o que faz é

valorizado e partilhado para que todos possam ver, tomar partido e conhecimento,

“Existem vários espaços de exposição. No corredor encontram-se 5 placares,

destinados a expor os trabalhos que vamos desenvolvendo.” (PCT pg. 10)

Anabela refere ainda que utiliza como instrumento de avaliação os registos

escritos que permitem avaliar as atividades das crianças. Assim a educadora apoia-se

naquilo que as crianças dizem, regista o que gostam e/ou não gostam de fazer, com

base na comunicação, “...vou fazendo registos através de registos escritos de tudo o

que eles dizem, normalmente tenho muito esse hábito, das atividades e do que eles

vão dizendo...” (entrevista A pg. 2). Ao mesmo tempo incentiva a abordagem à escrita

na medida em que os motiva a escrever “como sabem” e ao avaliarem o que sentem,

tal como sugere a fotografia n.º 4.

Foto 4: Mapa de registo do que gostei e não gostei de fazer

A educadora considera como instrumentos de avaliação todos os registos que

vai efetuando da e com a criança, ao mesmo tempo que os organiza em dossiers.

“Organizar os registos de observação e evidências de aprendizagem em dossiês

próprios;” (PCT pg. 26 ). Encontra no portefólio uma forma de organizar esses

mesmos registos. “Deste portefólio constarão registos de observação diversos

(desenhos, pinturas, registos escritos, fotografias, …) seleccionados segundo critérios

estabelecidos com as crianças.” (PCT pg. 28).

Identifica o portefólio como uma forma de perceber a evolução das

aprendizagens dos seus alunos e de reflexão sobre o seu trabalho e a sua prática

pedagógica, “Relativamente à avaliação do desenvolvimento e das aprendizagens de

Page 75: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

61

cada criança e do grupo, vamos estabelecer de acordo com o nosso projecto

pedagógico/curricular um processo de avaliação por portefólio, por permitir

conhecer a criança sob vários ângulos de modo acompanhar a evolução das suas

aprendizagens, ao mesmo tempo que nos fornece elementos concretos para a reflexão

e adequação da nossa acção educativa.” (PCT pg. 27).

No seu projeto curricular de turma fala-nos de instrumentos de monitorização

“Encontram-se vários instrumentos de pilotagem, regulação e organização do grupo

(mapa das presenças, calendário, mapa das idades, mapa do tempo, registo das áreas,

mapa das tarefas, mapa dos nomes ou outros que forem surgindo). (PCT pg.10), que

são visíveis na sua sala de aula através das fotografias n.ºs 5; 6 e 7.

Foto n.º5: Calendário do Tempo

Foto n.º 6: Registo da escolha das áreas

Foto n.º 7: Identificação das áreas e regras de comportamento com o apoio e registo

das crianças.

Utiliza também os mapas do tempo e das presenças que os ajuda a fazer uma

avaliação da meteorologia diária e perceber quantos meninos faltam no dia. Ao

Page 76: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

62

avaliar diariamente estas situações, a educadora Anabela, fomenta o sentido crítico e

observador por parte da criança e prepara-a para todo o processo de ensino

aprendizagem. Como pode ser observado através da fotografia n.º 8.

Foto n.º 8: Mapa do Tempo.

A fotografia n.º 9 mostra-nos o sentido de planear. Cada criança tem o livre

arbítrio de escolher uma tarefa ao seu gosto para desenvolver ao longo da semana.

Essa tarefa depois é avaliada no final da semana pelo próprio e, em conjunto com os

seus pares, tem oportunidade de dizer se gostou ou não de realizar a tarefa e porquê.

Foto n.º 9: Mapa de tarefas.

A educadora Anabela recorre regularmente aos mapas de registo como

instrumento e refere-o no seu projeto curricular de turma, “Alguns instrumentos de

monitorização e de regulação implementados (ex., mapa das tarefas, mapa das

presenças, calendário, mapa das idades, placard das regras da sala, registos das

áreas, mapa do tempo), também se revelaram de uma grande importância.” (PCT pg.

5). O mesmo é sentido no seu discurso durante a sua entrevista, “Há outros, há os

mapas, tenho vários mapas que também vamos…sei lá…eles têm registos das áreas

que fazem, que também avaliamos todos os meses, se brincaram em quantas áreas,

quantas vezes brincaram, se brincaram mais nestas, há várias coisas, …” (entrevista

Page 77: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

63

A pg. 2), aqui avalia no final de cada mês, com as crianças, qual a sua área de

preferência em sala de aula. Tenta perceber porquê e tenta promover outras propostas

de trabalho para que a criança se motive a ir para uma área que não tenha escolhido

no mês anterior. Também podemos observar esse registo na fotografia n.º 10.

Foto n.º 10: Registo da escolha de áreas.

Anabela considera importante o seu trabalho individual, que se baseia em

registos de grelhas que a ajudam a fazer uma avaliação da criança “.., há certos tipos

de trabalhos específicos, que nós, que eu vou tentando fazer...”( entrevista A pg. 1),

“...tenho umas grelhas próprias,...” (entrevista A pg. 2), “…, mas tenho algumas

grelhas de ajuda. “ ( entrevista A pg. 2).

Refere ainda que o projeto educativo tem grelhas de registo de avaliação do

desenvolvimento da criança, “...: o projeto educativo fala sobre os registos de

desenvolvimento, contempla...” (entrevista A pg. 2), e da satisfação dos encarregados

de educação sobre a instituição através de inquéritos, “...e nesse projeto educativo foi

feito um levantamento também, foram feitos inquéritos aos pais sobre o

funcionamento da Instituição.” (entrevista A pg. 2).

Defende uma pedagogia organizada, “Gostamos de uma pedagogia

organizada e estruturada em torno de pequenos projectos, que têm como suporte a

actividade lúdica característica destas faixas etárias, que se articulam entre si e que

permitem múltiplas possibilidades de apoio à aprendizagem e de resposta às

necessidades individuais.” ( PCT pg. 7).

Considerando a família um interveniente do processo de avaliação, Anabela

refere como faz essa avaliação, “… fazemos através de reuniões, apresentamos os

trimestres e normalmente no final é feita sempre uma avaliação, e no final do ano

também com os pais, os próprios pais escrevem e avaliam o desenvolvimento dos seus

filhos” (entrevista A pg. 3)

Page 78: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

64

Fundamenta a importância da família participar mesmo no processo de

avaliação dando a sua opinião, “…pais têm um bocadinho, têm um bocadinho no

registo de observação para eles também escreverem,…” (entrevista A pg. 3). Refere

que existem grelhas de avaliação que são entregues aos pais, “(...), mas

trimestralmente há um que é entregue.” ( entrevista A pg 3.)

Para além das grelhas de observação, que são entregues aos pais, aponta as

reuniões, o dialogo e as conversas diárias que vai mantendo com alguns pais como

forma de avaliação, “Temos abertura para os pais virem conversar…” (entrevista A

pg.4), “…eu acho muito importante no início do ano as três reuniões, e depois temos

as festinhas de vez em quando…” (entrevista A pg.4), “…diariamente vamo-nos

encontrando muito, acho que há uma grande troca entre os pais.”, ( entrevista A pg.

4).

No seu PCT entende “...que esta relação organizacional, que implica

colectivamente os pais, se deve estabelecer através da sua participação: No projecto

pedagógico/curricular do grupo; Em actividades do Plano Anual de Actividades.”

(PCT pg. 25) e estabelece formas de envolver a família no processo : “ Disponibilizar

uma hora por semana para o atendimento formal e individualizado aos pais e

encarregados de educação; Promover a implicação e participação dos pais na

concepção dos projectos e na sua implementação (abertura a sugestões, propostas e

implicação no seu desenvolvimento); Estabelecer redes de ligação entre os pais e

encarregados de educação e o Jardim-de-Infância (recados/pedidos de colaboração

escritos pelas crianças ou educadora; divulgação nos placares, do plano de

operacionalização do projecto curricular; informação/exposição actualizada dos

registos das situações de aprendizagem…). (PCT pg. 26)

Para Quê avaliar? A visão de Anabela

A educadora Anabela vê a avaliação como uma forma de negociação, “..., e

depois foi negociado...” (entrevista A pg. 1) como vimos no ponto anterior, onde a

negociação é entendida entre criança/educador e criança/criança.

Entende que é um processo continuo “…, é um processo contínuo que dá para o

próximo ano e que acho que é muito positive,…” (entrevista A pg.

3)”...registos...trimestrais...” ( entrevista A pg 4.), existindo uma continuidade no

tempo, tal como é enunciado pelo Ministério da Educação. A educadora reforça o que

pensa no seu projeto curricular de turma, “Trimestralmente será elaborado um

Page 79: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

65

relatório escrito acompanhado de registos e produções. No final do ano lectivo será

elaborado um relatório que sintetizará as actividades desenvolvidas, os recursos

mobilizados e os resultados.” (PCT Anabel pg. 28).

O projeto curricular de turma como ferramenta principal da pratica educativa

do educador tem de refletir as suas orientações pedagógicas., no entender de Anabela

“Resulta das preocupações por nós sentidas e do diagnóstico efectuado através da

observação que fazemos das crianças” (PCT pg. 1)

Noutra vertente entende que avaliar serve para “... para ver o que é que os

meninos já sabem, o que é que não sabem,...” ( entrevista A pg. 1) e se as crianças

fizeram aquisições, aprendizagens “…de conteúdos, se eles já têm adquiridos ou não,

…” (entrevista A pg. 2).

Aponta sempre a importância da criança no processo de avaliação como sendo

“O objectivo é que eles tenham a noção do que é que é preciso melhorar, e das

relações, e o que é que queremos aprender mais ou fazer mais juntos.” (entrevista A

pg. 2), a tomada de consciência por parte da criança para a necessidade de avaliar é

importante para que esta perceba onde pode melhorar “...eles próprios sabem, não sei,

ficam mais…tentam mudar mais, ficam mais envolvidos no processo educativo e

depois as coisas fluem mais facilmente.” (entrevista A pg. 2).

A criança é o principal interveniente do processo de avaliação ensino/

aprendizagem por forma a promover o seu desenvolvimento, “…, e depois isto é um

processo de evolução, se eles melhorarem naqueles comportamentos que eles

acharam que na altura estavam maus, depois podemos avançar para outros que

continuam a correr mal e riscar aqueles,…” (entrevista A pg. 3). A importância de

serem capazes de assumir as conquistas e as dificuldades, “…, eles próprios vão

dizendo que já conseguem, que não conseguem, em conversas…” (entrevista A pg. 3)

Avaliar pela comunicação serve para cada um, em grande grupo ou

individualmente com o educador, perceber o que correu bem ou mal e porquê, para

mais uma vez ajustar as aprendizagens. “… falamos sobre o que se fez, o que é que

cada um fez, como é que correu, se correu menos bem porque eles próprios têm essa

noção,…” (entrevista A pg. 2), “...se o que tínhamos planeado foi feito, se não foi

feito porque é que não foi feito” (entrevista A pg. 2) Defende que a avaliação com as

crianças tem o objectivo de ajudar a planear “A avaliação com as crianças e a auto-

avaliação, também nos servirão de referencia e suporte durante o planeamento. (PCT

pg.27)

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66

Anabela demonstra ser uma profissional que se preocupa com o seu

desenvolvimento como educadora, no sentido de melhorar a sua prática pedagógica.

Refere que a avaliação também serve “..., o que é que é necessário eu mudar no meu

trabalho para eles chegarem lá” (entrevista A pg.1). Ou seja, considera que deve

ajustar a sua prática no sentido de promover melhoria nas aprendizagens por parte das

crianças, “…vou avaliando também o meu trabalho, vou tentando mudar a prática e

tentando melhorar, tentando ver onde é que estão ainda algumas dificuldades,

algumas coisas que correm menos bem, e tentando melhorar e mudar.” (entrevista A

pg. 3).

Para Anabela “Avaliar o processo e os efeitos permite-nos tomar consciência

da nossa acção e adequar o processo educativo às necessidades de cada criança e à

sua evolução.” (PCT pg. 27). Permite ainda reconhecer as “principais dificuldades e

possibilidades; efeitos/impactos das acções nas crianças, nas nossas práticas

pessoais e profissionais; participação/adesão das crianças.” (PCT pg. 28).

Não entende a prática pedagógica como fixa, assumindo um currículo fixo.

Mostra ser uma educadora flexível que considera que avaliar é mais do que perceber

as crianças, o seu desenvolvimento e ajuda-las no processo ensino aprendizagem, é

também crescer como profissional. “Para poder alterar a prática, melhorar, para

poder se calhar voltar atrás nalgumas coisas que não correram tão bem,

para…pronto, precisamos de avaliar,...” (entrevista A pg. 1), “..., até para eu ter

noção se o trabalho que estou a fazer se avança ou não avança, se está a surtir

resultados ou não.” (entrevista A pg 1.)

Anabela dá-nos exemplo disso na sua entrevista, “Enta – Altero a minha

prática?

ENT – Exato.

Enta – Sim, sim. Alterámos, até porque alterámos a rotina e tudo porque tivemos que

arranjar mais uma tarde para reunir sobre isso, foi alterada a prática sim, ao

avaliar…” (entrevista A pg....).

Avalia com a família porque quer entender a sua opinião sobre o processo

ensino/aprendizagem. Não importa só se concordam ou não com o que está a ser

desenvolvido mas realça a importância de considerar as ideias das família, “...eles

também escreverem, não é só se concordam ou não concordam, é se querem

acrescentar, porque muitas vezes os meninos aqui fazem umas coisas e em casa fazem

outras, e é importante ficar no registo a opinião dos pais…” (entrevista A pg.3 e 4),

Page 81: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

67

“Os pais têm um bocadinho, têm um bocadinho no registo de observação para eles

também escreverem, (…),” (entrevista A pg. 3), “...principalmente o do final do ano

normalmente tem um rectângulo que é a observação dos pais, para escreverem, não é

só para assinarem em como tomaram conhecimento.” (entrevista A pg. 4).

Considera que todo os trabalhos realizados com as famílias são fonte de

conhecimento para poder agir e estabelecer a sua prática pedagógica, “Por outro lado,

estabelecemos conversas formais e informais com alguns Pais, especificamente nas

situações que entendemos necessitar de mais informação ou de uma melhor

articulação em termos de intervenção. São estes elementos que nos ajudam a

identificar os interesses e necessidades e a estabelecer as nossas opções educativas e

intenções de trabalho para este ano lectivo.” (PCT pg. 4).

Valoriza a avaliação com os pais para que estes se sintam mais integrados na

vida do jardim de infância e tenham noção do que podem e devem avaliar nos seus

filhos. Esta articulação permite ainda que os pais percebam o tipo de trabalho que é

desenvolvido no jardim de infância e promove o desenvolvimento das aprendizagens

nas crianças. Com estas noções os pais tomam conhecimento do que os seus filhos

conseguem ou não fazer e quais as aprendizagens dentro de um tema ou área de

conteúdo, “...participam, não é só na avaliação mas participam no dia-a-dia do

Jardim de Infância, o que acabam por poder facilitar a avaliação deles, eu acho. Têm

mais noção do trabalho que é feito, estão mais integrados, estão mais à vontade, e eu

acho que evoluímos todos o que é muito bom.” (entrevista A pg.4). Avaliar para

crescer é um pouco o lema da educadora Anabela.

Quando se refere ao projeto educativo do jardim de infância, Anabela diz “…,

está descriminado que é avaliado diariamente, o que é os momentos de avaliação,

quais são os materiais que eu utilizo para isso, acho que está lá descrito também .

(entrevista R pg. 2).

Rosário  e  a  sua  prática  

Até à data da entrevista tinha quatro anos de serviço, dez meses numa

instituição particular e o restante tempo na instituição onde decorreu a investigação. A

educadora está efetiva no seu local de trabalho.

Page 82: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

68

O grupo é constituído por 25 crianças, sendo que 13 são do sexo masculino e

12 são do sexo feminino, todas na faixa etária dos 4 anos. Na sua maioria as crianças

vêm da sala de creche desta mesma instituição. Cinco crianças da sala apresentam

Necessidades Educativas Especiais (NEE), quatro já usufruem de apoio especializado

pela equipa de Intervenção Precoce e uma está em fase de avaliação.

Todas as crianças do grupo residem nas imediações do Jardim de Infância,

apenas uma vive mais afastada.

Tal como no grupo anterior, a maioria dos pais trabalham por conta de outrem,

em atividades profissionais ligadas aos serviços, à hotelaria , à industria, à construção

civil e limpeza. Alguns pais encontram-se a trabalhar no estrangeiro e vêm a casa

trimestralmente. Apenas 4 mães e 3 pais se encontram desempregados.

No que respeita às habilitações literárias a maioria situa-se na escolaridade

obrigatória.

A idade média dos pais é de 35 anos e a das mães é de 33.

A educadora organizou o ambiente educativo da sua sala por áreas: área da

Expressão plástica; área dos jogos de mesa; área da biblioteca; área das construções e

garagem e área da casinha; o cantinho da natureza e a área da escrita. A educadora

refere que todos os materiais estão ao alcance das crianças para que possam usar e

arrumar sempre que necessário. Também tem placardes onde coloca em exposição os

trabalhos das crianças divididos por temas: o placar das -Regras da Sala, o placar dos

- Desenhos Livres, o placard - As Nossas Canções, o placard do - Projeto Curricular e

o placard com - Os Recados da Sala.

Na organização do tempo a educadora Rosário optou por estrutura-lo da

seguinte forma: 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira

Acolhimento Planear

Acolhimento Planear

Acolhimento Planear

Acolhimento Planear

Acolhimento Planear

Atividades orientadas

individuais / pequeno grupo/

Atividades escolha livre

Atividades orientadas

individuais / pequeno grupo/

Atividades escolha livre

Atividades orientadas

individuais / pequeno grupo/

Atividades escolha livre

Atividades orientadas

individuais / pequeno grupo/

Atividades escolha livre

Atividades orientadas

individuais / pequeno grupo/

Atividades escolha livre

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Recordar Recordar Recordar Recordar Recordar

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Page 83: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

69

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

“A Hora do Conto” “A Hora do Conto” “A Hora do Conto” “A Hora do Conto” Planear

“Tarde da Família”

“Brincar às Experiências”/

“Cozinheiros de Palmo e Meio”

Jogos de Expressão Motora

Expressão Musical/ Expressão Dramática

Passeios pela comunidade

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Entrega à família Entrega à família Entrega à família Entrega à família Entrega à família

As suas intenções, tendo em conta a avaliação de diagnóstico do grupo, são

apresentadas pelas áreas de conteúdo que sugerem as OCEPE e que a educadora

apresenta no seu projeto curricular de turma.

Concepções de avaliação

Rosário afirma que avaliar é observar e tal como referimos no capitulo

anterior no ponto – Observação na avaliação - ao observar, o educador tem uma noção

próxima do real sobre o desenvolvimento de cada criança, “Avaliar é observar,

basicamente é aquilo que eles fazem, que eles são capazes de fazer, tem a ver com o

planeamento…”( entrevista R pag.1).

No seu entender avaliar é ainda planificar, é planear a prática pedagógica.

Rosário encara a planificação do seu trabalho como um ato avaliativo, não explica o

porquê o que não deixa clarificada a sua ideia. Refere-se ao conceito de avaliar como

uma forma de perceber as capacidades das crianças, numa perspectiva de conseguir

ou não realizar determinada atividade/tarefa e/ou trabalho, “Avaliar basicamente é eu

ver o que é que eles são capazes ou não são de fazer, depois isso está inerente a

várias outras coisas, ...” (entrevista R pg. 1).

Considera a avaliação por idades, onde é suposto a criança adquirir

determinadas competências, “O que é que eu avalio, as competências básicas

relacionadas com a faixa etária, neste momento eu estou com três anos,...”

(entrevista R pg. 2). Demostra que o educador tem conhecimento que são esperadas

atitudes, conhecimentos e capacidades diferentes para idades distintas. Vê cada

criança como um ser único, indo ao encontro do que é disposto na Lei Quadro nos

Page 84: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

70

objectivos gerais pedagógicos definidos para a educação pré escolar na alinha d)

“ Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas

características individuais...”.

Por outro lado, Rosário, fala-nos de avaliar competências e remete-nos paras

as novas “metas de aprendizagem” sugeridas pelo Ministério da Educação. Estas

“facultam um referencial comum que será útil aos educadores de infância, para

planearem processos, estratégias e modos de progressão de forma a que, ao entrarem

para o 1.º ciclo, todas as crianças possam ter realizado as aprendizagens, que são

fundamentais para a continuidade do seu percurso educativo.”. Santos (2012)

apresenta a avaliação de competências como sendo “sobretudo entendido como um

processo regulador da vivência dos alunos durante as referidas experiências de

aprendizagem. Assim, falamos de um processo intencional e continuado, que vai

acontecendo no dia-a-dia da sala de aula e que é marcado por um conjunto de

orientações...” ( Santos 2012.8).

A educadora declara que para ela, avaliar é “... para os conhecer também,

para saber o que é que eles gostam mais, o que é que eles gostam menos…”

(entrevista R pg. 3). Neste sentido, encara a avaliação numa perspectiva de

conhecimento do educadora para com a criança, como forma de perceber os saberes,

gostos e desejos que a criança tem.

No seu projeto curricular de turma (PCT) a educadora Rosário tem um ponto

referente à avaliação mas não demonstra a sua concepção. Na sua entrevista refere

que avaliação não está comtemplada no projeto curricular do jardim de infância, o que

demonstra desconhecimento sobre o documento. Este ultimo informa o leitor no

Ponto X (do referido documento) sobre os procedimentos para a avaliação, sendo que

o educador tem um papel relevante na execução de alguns relatórios. Esta situação

remete-nos para a importância dada ao educador em todo o processo de avaliação,

devendo este estar devidamente informado, tal como enunciado nas OCEPE onde o

envolvimento educador, crianças, docentes, família, parceiros educativos “...constitui

um processo que se vai construindo. (...) que vai sendo corrigido e ajustado de

acordo com a avaliação realizada.” (1997.46).

Concepções sobre os intervenientes e as metodologias de avaliação

A educadora Rosário vê como intervenientes no processo de avaliação a

criança, o educador e alguns parceiros.

Page 85: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

71

Considera importante a participação das crianças na avaliação quando afirma

“ENT – (…) achas importante a participação delas no processo de avaliação. Enta –

Sim.” (entrevista R pg. 3) e encara as comunicações, o dialogo como uma fonte de

dados para a avaliação. Perceber o que as crianças mais gostaram de fazer,

“…recordar, o que é que eles fizeram, se é assim alguma coisa de diferente o que é

que eles gostaram mais de fazer…”(entrevista R pg. 3), “… e eles dizem o que é que

gostaram mais e o que é que não gostaram, desenhos…” (entrevista R pg.3) remete-

nos para a importância do desejo da criança em aprender. Segundo Perrneud (2008)

só quando a criança tem motivação para a aprendizagem é que ela efetivamente

acontece. Rosário menciona a autoavaliação, “A avaliação com as crianças e a auto-

avaliação...” ( PCT pg. 9) como uma estratégia de avaliação que utiliza em sala de

aula.

Os momentos de avaliação acontecem na sala de aula e num momento

especifico, que a educadora considera ser durante a organização da rotina diária da

sala de aula, “…cada criança arruma o seu cartão e senta-se novamente no espaço

central da sala para avaliação…” (PCT pg. 9).

Vê o educador como interveniente no processo de avaliação e afirma que faz

os registos individuais “– Observação e registos individuais que eu às vezes faço.”

(entrevista R pg. 2).

Ao afirmar que é a equipa do corpo docente que elabora esses mesmo registos

de avaliação, entende os docentes da instituição como parceiros. Ao que tudo indica,

os mesmos documentos, não parecem ser de preenchimento obrigatório, “ENT – (...),

esses registos trimestrais são feitos por ti?

Rosário – Não. Normalmente nós temos uns da Instituição, …

Rosário – Existem, são da Instituição, é a Coordenadora que os dá para nós

fazermos, mas eu às vezes não faço igual.

ENT – Quem é que elaborou esse documento?

Rosário – Foi a equipa de Educadoras, a equipa docente” (entrevista R pg. 4)

Rosário entende a família como interveniente no processo de avaliação no pré

escolar, “Pretende-se estabelecer diversos tipos de contactos com os pais ou

encarregados de educação. Estes contactos podem ser formais ou informais, em

situações espontâneas no dia-a-dia da sala, em reuniões trimestrais, em situações de

partilha de saberes, ou por qualquer motivo e previamente marcado com a educadora.

Page 86: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

72

Solicita-se também a colaboração dos pais em pequenos “trabalhos de casa”

propostos para realizarem com os educandos.” (PCT pg. 15).

Tendo em conta os intervenientes do processo de avaliação, considerados por

Rosário, importa perceber como é que ela faz a avaliação no pré escolar, que

instrumentos utiliza e como põem em prática as suas concepções de avaliação.

Rosário afirma que existem os registos de avaliação individuais que têm uma

periocidade no tempo e existem outros que ela faz aleatoriamente. Utiliza a

observação como recolha de dados para o preenchimento desses mesmo registos,

“Tem os registos trimestrais que nós fazemos todos os anos de acordo com a faixa

etária, e depois tem a ver com a observação e com alguns registos individuais que eu

às vezes faço” (entrevista R pg. 1), “Observação e registos individuais que eu às

vezes faço” (entrevista R pg. 2).

Encontra na sua rotina diária momentos de observação onde tem a

possibilidade de avaliar, “No dia-a-dia através de observação daquilo que eles fazem,

das dificuldades que eles demonstram, …” (entrevista R pg. 2). Utiliza os registos

escritos obtidos no dialogo de avaliação que mantem com a criança, para perceber de

que forma estas estão a concretizar as aprendizagens, “Com eles faço no final da

manhã faço sempre o recordar, o que é que eles fizeram, se é assim alguma coisa de

diferente o que é que eles gostaram mais de fazer, fazemos os registo, por exemplo

agora dos passeios fizeram os registos dos passeios, fizemos escrito, e eles fizeram

individual, fazemos às vezes registos conjuntos, colectivos,...” (entrevista R pg. 3).

No seu projeto curricular de turma encontramos também a observação das

crianças, que é realizada em momentos de interação que a criança mantem com os

seus pares e/ou quando realiza determinados trabalhos/tarefas, “Este levantamento de

interesses e necessidades foi feito através da observação do grupo de crianças em

situações de interacção, observando o seu comportamento e desempenho nas tarefas

e actividades propostas.” (PCT pg. 4)

Foca o diálogo e a negociação como forma de avaliar e melhorar

comportamentos em sala de aula “… eu tento pô-los um bocadinho a pensar como é

que podemos fazer para que não haja tanto barulho, (...). Então conversámos sobre

isso e aí o meu objectivo foi tentar chegar, que eles percebessem que se calhar a

música não estava a ajudar e então decidimos tirar a música por uns tempos para ver

se a coisa melhora, e agora os últimos tempos temos estado a trabalhar sempre sem

música e realmente está um bocadinho melhor.” (entrevista R pg. 4).

Page 87: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

73

No seu PCT refere a avaliação de diagnóstico, “Para este projecto tivemos

como base o diagnóstico do grupo,...” (PCT pg. 11), como instrumento de recolha de

dados para a execução do seu projeto e plano de trabalho, “Partindo da análise

diagnóstica realizada, das grandes opções educativas definidas no Projecto

Educativo e no Projecto Curricular de Escola (...), decidimos na sala 03 centrar o

trabalho em torno do corpo da criança.” (PCT pg. 6), “Pretendemos partir da

observação como base do planeamento e da avaliação.” (PCT pg. 16).

Tal como Anabela, Rosário considera importante uma resposta adequada a

cada criança, para que esta possa adquirir aprendizagens, “Privilegiamos uma

pedagogia organizada e estruturada em torno de miniprojectos, que permitem

múltiplas possibilidades de apoio à aprendizagem e de resposta às necessidades

individuais.” (PCT pg. 7).

No seu PCT menciona como é feita a apreciação do mesmo. Esta apreciação

torna-se importante para a avaliação das crianças uma vez que é neste documento que

se encontra a sua metodologia de trabalho. Ao avaliar o seu PCT o educador fica com

noção se está ou não a promover aprendizagens significativas para o seu grupo.

Rosário refere como essa avaliação é feita “Trimestralmente será elaborado um

relatório de avaliação do projecto e no final do ano será elaborado outro que

sintetizará todas as actividades desenvolvidas, os recursos utilizados e os efeitos.”

(PCT pg. 16).

Entende a organização do espaço e a organização da rotina diária como

instrumento importante para a avaliação, pois ambas a seu ver, devem ser flexíveis e

adaptadas às necessidades e interesses das crianças, “A organização do espaço e

materiais da sala é flexível e faz-se de acordo com as necessidades e evolução do

grupo, pelo que pode sofrer alterações no decorrer do ano lectivo.” (PCT pg. 9).

Assim como a rotina, “A distribuição do tempo em sala faz-se de um modo

estruturado e flexível ao mesmo tempo. (…) Convém lembrar que podem sempre

surgir alterações negociadas com as crianças e que nada é estanque no trabalho que

se desenvolve em Jardim de Infância.” (PCT pg. 9).

Rosário encontrou na sua prática educativa um momento e um espaço exato

para fazer a avaliação, “Depois de tudo arrumado, cada criança(...) senta-se

novamente no espaço central da sala para avaliação do trabalho realizado e dos

comportamentos observados. (PCT pg. 9).

Page 88: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

74

Valoriza a autoavaliação como instrumento de avaliação e todos os registos

feitos ao longo do ano pela criança. Esses registos são organizados em portefólio,

“Cada criança terá o seu portfólio para que possamos ver o desenvolvimento e

evolução das aprendizagens de cada criança. Este portfólio conterá todos os

trabalhos desenvolvidos pela criança, registos de observação, fotos...” (PCT pg. 16).

Para quê avaliar? A visão de Rosário

Para Rosário o objetivo da avaliação é perceber se as crianças do seu grupo

atingiram determinadas capacidades, “O objectivo é que eles sejam capazes de fazer.”

(entrevista R pg. 2), “…verificar se eles têm as noções adquiridas,…” (entrevista R

pg. 2). O seu trabalho assenta “… uma pedagogia diferenciada, centrada na

cooperação, que inclua todas as crianças, aceite as diferenças, apoie a aprendizagem

e responda às necessidades individuais. (PCT pg.7).

A criança avalia quando tem de tomar opções, resolver problemas e/ou

conflitos que lhe vão surgindo. Ao tomar partido de determinada realidade ou

comportamento a acriança está a avaliar, “(...) crianças vão adquirindo um papel

activo crescente na organização e tomada de decisão sobre as suas escolhas e tarefas,

uma responsabilidade social crescente sobre as suas acções, será incentivada a

resolução de problemas...” (PCT pg.7)

Demonstra alguma continuidade no tempo quando nos revela que faz uma

avaliação do seu projeto, sendo “Trimestralmente será elaborado um relatório de

avaliação do projecto (…)” (PCT pg. 16), e também é feita uma avaliação que é

entregue aos encarregados de educação, “Trimestralmente serão entregues aos pais

registos de observação e no final do ano levarão todos os trabalhos para casa.”

(PCT pg. 16). A avaliação também serve para dar informação do desenvolvimento

dos educados à sua família, “ENT – OK. E porque é que entregam esse documento às

famílias?

Rosário – Para as famílias saberem a evolução dos filhos” (entrevista R pg. 4).

A avaliação é para Rosário uma forma de definir o percurso do seu trabalho e

de perceber quais as propostas que deve fazer às crianças, “Para quê? Para saber que

caminhos é que havemos seguir com eles, o que é que faz falta trabalhar mais, o que

é que eles precisam mais, o que é que eles já sabem, acho que é isso.” (entrevista R

pg. 1). Entende que da sua avaliação devem nascer práticas diferenciadas tendo em

conta as características de cada criança “Umas vezes é mais dirigidas para uns,

Page 89: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

75

outras vezes é mais dirigidas para outros, às vezes há trabalho individual porque

tenho meninos com necessidades educativas que precisam mais de apoio,...”

(entrevista R pg. 2), ao mesmo tempo que tem como preocupação os interesses das

crianças, “Se calhar eu tentar arranjar atividades que vão ao encontro daquilo que

eles querem fazer mais.” (entrevista R pg. 3).

No seu projeto curricular de turma considera que a avaliação permite

alterações sendo estas discutidas com as crianças “…alterações negociadas com as

crianças...” (PCTpg. 10) .

Rosário entende o processo de observação como uma forma de avaliar e

conhecer a criança,   “A observação é fundamental para conhecer cada criança e o

grupo, conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades. (PCT pg.16). Encara

ainda a criança como principal interveniente e nesse sentido dá-lhe oportunidade e

cria momentos onde, “As crianças são envolvidas em todos os processos de

organização da sala e experiências de aprendizagem.” (PCT pg.16) e entende que “A

avaliação com as crianças e a auto-avaliação também nos servirão de referência e

suporte ao nosso planeamento.” (PCT pg. 16).

Encara a comunicação e o dialogo como uma forma de avaliar, que lhe

permite entender os interesses da criança. “Se a gente não quer saber o que é que eles

têm para dizer em relação a uma coisa, nunca vamos chegar àquilo que eles

realmente querem aprender...” (entrevista R pg. 3).

Para Rosário avaliar serve para alterar a prática pedagógica do educador,

“quando eu sinto que alguma criança não está a gostar do que está a fazer, eu tento

perceber o que é que ela não gosta, o que é que se está a passar, e se calhar tentar

não fazer, ...” (entrevista R pg.3), “vou vendo as necessidades que eles têm, vou

verificando, e depois a partir daí vou reformulando as atividades consoante aquilo

que eu acho que eles precisam mais” (entrevista R pg. 2).

Ao avaliar e reformular a sua prática, Rosário tem necessidade também de

fazer novas planificações, planear o seu trabalho de acordo com as repostas que as

crianças lhes vão dando, “... uma delas é a planificação, a nossa organização do

trabalho, a reflexão que nós fazemos a partir daquilo que nós vimos neles…”

(entrevista R pg.1), “…eu faço a minha planificação mensal, todos os meses faço a

planificação, depois todas as semanas faço uma planificação semanal,… (entrevista

R pg. 2).

Page 90: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

76

O seu PCT “… identifica algumas linhas orientadoras da nossa intervenção

educativa, explica os modelos e processos a utilizar no seu desenvolvimento e termina

com os critérios de avaliação que vamos utilizar. (PCT pg. 2), sendo que “Esta

avaliação centrar-se-á nos processos e resultados, tentando identificar: as principais

dificuldades e possibilidades, efeitos/impactos das acções nas crianças, nas nossas

prácticas pessoais e profissionais; participação das crianças e recomendações.”

(PCT pg.16)

Reforça a avaliação como prática reflexiva quando no seu PCT explica que

“Avaliar o processo e os efeitos permite-nos tomar consciência das nossas acções e

adequar o processo educativo às necessidades de cada criança e do grupo e à sua

evolução”. (PCT pg. 16).

Mostra que na sua prática pedagógica considera todas as áreas de conteúdo tal

como é indicado nas OCEPE. “Pretendemos proporcionar o maior número possível

de experiências gratificantes e provocadoras de novas aprendizagens no âmbito da

Área de Expressão a Comunicação, da Área do Conhecimento do Mundo e da Área

de Formação Pessoal e Social,…” (PCT pg. 11).

Avaliar com a família permite a Rosário ter um conhecimento mais alargado

da criança, “Sim, sim, a troca de informações é valiosíssima, e até mesmo para nós os

conhecermos melhor, porque aquilo que eles fazem em casa às vezes não tem nada a

ver com aquilo que eles fazem aqui, ou vice versa” (entrevista R pg. 4). Por outro

lado essas mesmas informações, fornecidas pela família, permitem uma adequação do

processo educativo, “O conhecimento do contexto familiar e do meio em que as

crianças vivem são práticas facilitadoras deste conhecimento, que promovem uma

diferenciação no processo educativo.” (PCT pg. 15).

Para que a família esteja sempre envolvida a educadora alerta-a para aquilo que

considera importante ao mesmo tempo que obtém informações para a avaliação da

criança, “Tentar alertá-los às vezes para o comportamento deles, outras vezes para

os trabalhos nos placares, para as coisinhas que eles fazem, para as evoluções.”

(entrevista R pg. 4).

Page 91: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

77

 Pilar  e  a  sua  prática  

Até à data da entrevista tinha dezassete anos de serviço praticados em duas

instituições diferentes, uma particular e a outra a IPSS objecto deste estudo.

Esta educadora é responsável por um grupo constituído por 25 crianças, sendo que

11 são do sexo masculino e 13 do sexo feminino com idade de 5 anos.

Os pais trabalham nos concelhos de Seixal, Almada e Lisboa. Existem 4 situações

de desemprego. No seu projeto curricular de turma (PCT) a educadora não faz

referencia às habilitações literárias dos encarregados de educação.

O ambiente educativo foi organizado por áreas sendo estas : área da casa; área da

garagem; área das construções; área dos jogos; área dos livros, área da escrita; área da

expressão plástica.

Na organização do tempo a educadora Pilar optou por estrutura-lo da seguinte

forma: 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira

Acolhimento/ preenchimento dos

mapas/ reunião de grupo/ definir projetos a realizar nas áreas

Acolhimento/ preenchimento dos

mapas/ reunião de grupo/ definir projetos a realizar nas áreas

Acolhimento/ preenchimento dos

mapas/ reunião de grupo/ definir projetos a realizar nas áreas

Acolhimento/ preenchimento dos

mapas/ reunião de grupo/ definir projetos a realizar nas áreas

Acolhimento/ preenchimento dos

mapas/ reunião de grupo/ definir projetos a realizar nas áreas

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Tempo de arrumar Tempo de arrumar Tempo de arrumar Tempo de arrumar Tempo de arrumar

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior

Atividades de Exterior

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Higiene Almoço

Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Atividades nas áreas Desenvolver projetos

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Higiene Lanche

Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior Atividades de Exterior

Segundo a educadora os objetivos específicos a implementar na sua sala de

jardim de infância passam por acreditar que a criança deve conhecer-se a si própria;

saber estar em relação com os outros e saber interagir com a família e o meio

ambiente. Enfoca as áreas de conteúdo das OCEPE nomeadamente a área da

Page 92: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

78

expressão e comunicação, que cruza o domínio da matemática, domínio da linguagem

oral com abordagem à escrita

Concepções de avaliação

Pilar revelou alguma dificuldade em descrever o que entendia por avaliação.

Apesar do ambiente da entrevista ser propicio à partilha de informação e do educador

estar à vontade com o entrevistado, efetivamente este ultimo não se revelou muito

esclarecedor quanto ao seu conceito de avaliação. Pilar referiu “Quando se fala em

avaliação tem a ver com as etapas de cada criança atingidas ou não, objectivos que

nós nos propomos para eles, e se estes foram ou não atingidos e para nós termos uma

visão dos procedimentos que nós para com eles temos, e se eles aderem ou não,

portanto uma avaliação de tudo isso.” (entrevista P pg.1). Por um lado refere a

avaliação como ver/verificar se as “etapas” foram atingidas, mas deixa-nos duvidas,

que etapas? O que entende por etapa? Depois menciona os “objectivos que nós nos

propomos para com eles”, quem são “o nós”? Educadores? Educadores e crianças?

Educadores, crianças e pais? Equipa docente? E que objectivos?

Ao analisar esta entrevista o investigador não consegue ficar com uma ideia

precisa da concepção de avaliação por parte de Pilar.

O mesmo facto se vem a constatar na análise do seu projeto curricular de

turma. Neste documento está contemplada avaliação e as formas de avaliação mas não

demonstra as suas concepções sobre o tema. O que nos leva a considerar se: avalia

por achar importante ou porque, de certa forma, lhe é sugerido no projeto curricular

de jardim de infância.

Concepções sobre os intervenientes e as metodologias de avaliação

Ao avaliar é forçosamente necessário pensar em quem são os intervenientes

deste processo. Pilar na sua entrevista menciona as crianças, o educador e a família

como participantes no processo ensino/aprendizagem, consequentemente no processo

de avaliação. Apresenta a criança como participante na avaliação “…fazemos a

avaliação com eles.” (entrevista P pg. 2), “Mas têm de participar.” ( entrevista P pg.

3), “Elas têm de interagir.” (entrevista P pg.3) e refere no seu PCT que “É

importante que esta avaliação seja feita com as crianças, sendo deste modo uma

actividade educativa, funcionando como mais uma forma de avaliação” (PCT pg. 38).

Page 93: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

79

Valoriza a autoavaliação como forma de a criança participar no processo de

avaliação. “Elas avaliarem-se a elas próprias.” (entrevista P pg.3).

Evidencia o educador como sendo aquele que interpreta e percebe de que

forma as crianças estão a adquirir as aprendizagens “… e eu avalio quem esteve com

atenção, quem teve a percepção do que é que se passou na história ou não,…”

(entrevista P pg.2), “... para nós podermos avaliar e observar qual a evolução que a

criança está a ter,... ( entrevista P pg.4).

Pilar entende que a avaliação não pode ser encarada como sendo apenas uma

tarefa do educador, “O educador deve partilhar com os outros adultos, auxiliares de

acção educativa, pais e restante equipa, a evolução da criança e do grupo,... “ (PCT

pg. 38).

O corpo docente também participa na avaliação uma vez que foi em equipa

que foram definidas as grelhas de avaliação que são utilizadas por Pilar “ENT – OK.

Quem é que fez esses registos de observação?

Pilar – As Educadoras, o corpo Docente” (entrevista P pg.1).

A família é vista como um dos principais intervenientes. Pilar entende que

“Ambos somos elementos participativos na educação dos filhos” (entrevista P. pg.4).

Encontra nas reuniões o momento onde família e escola estabelecem relações para se

inteirarem e participarem na avaliação de seus educandos, “...daí se fazerem as tais

reuniões por trimestre para eles estarem a par e portanto estarem dentro dessa

avaliação também, e em conjunto nós falarmos da criança.” (entrevista P pg.4).

Demostra flexibilidade quanto ao estreitamento dessas mesmas relações e entende que,

sempre que necessário, devem ser “...pontuais, reuniões pontuais também, não tem

que necessariamente ser nessas.” (entrevista P pg.4).

Depois de compreendermos quais os intervenientes no processo de avaliação,

importa perceber como é que Pilar faz essa mesma avaliação. Na sua entrevista

podemos constatar que entende que a avaliação deve ser feita no dia a dia, “A

avaliação é feita diariamente.” (entrevista P pg. 2 ) e encontra as situações de

avaliação “Nos momentos de grande grupo, da roda, em pequeno grupo, nas

atividades em trabalhos individuais. Nós diariamente fazemos essa observação e

fazemos a avaliação com eles, e fazem-se registos. (entrevista P pg. 2).

Pilar encontra na observação uma fonte de informação muito rica para poder

avaliar as crianças, “Para decidir o que é mais importante e relevante, propomo-nos a

observar as crianças, procurando assim situações que apresentem potencialidade

Page 94: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

80

educativa.” (PCT pg. 6). No fundo valoriza a avaliação de diagnóstico como ponto de

partida na adequação do processo educativo, valorizando os saberes de cada criança

como ser único, as suas aprendizagens e o seu contexto familiar. “O educador deve

primeiro observar cada criança e o grupo tendo em conta: o contexto familiar e o

meio em que a criança está inserida, conhecendo as capacidades, os interesses e

dificuldades de cada uma, de forma a elaborar e adequar o processo educativo, às

necessidades de quase todos e de cada criança em particular.” (PCT pg. 38).

Na sua observação tem ainda em conta as que as crianças fazem em sala de

aula, “As actividades que fazemos na sala.(…) Pinturas, o desenho, desenho gráfico,

as colagens, os recortes, todas essas actividades de expressão plástica, os momentos

nas áreas de construções, da casinha, na leitura, na área da escrita, todos esses

momentos eu vou fazendo também diariamente a minha observação para poder

avaliar como é que eles estão em cada área, o tempo que eles estão em cada uma

delas.” ( entrevista P pg. 2 e 3). Utiliza a observação como recurso de percepção da

evolução das aprendizagens das crianças “A observação de cada criança e do grupo

para conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades..”. (PCT pg. 40).

Quando Pilar é questionada sobre a forma “como e para quê?” identifica as

dificuldades e os sucessos das crianças, responde-nos que o faz “Pela observação, e

pela prática com estes.” (entrevista P pg.1), “ENT – Achas importante identificar o

sucesso e as dificuldades das crianças? Pilar – Sim, para poder melhorar estes”

(entrevista P pg.1)

Tal como é referido nas OCPEP, a Pilar também considera as áreas de

conteúdo como uma forma, não só de organizar o seu trabalho como é perceptível no

seu PCT, mas também de avaliação, “Sim, a avaliação é feita por áreas. (…)

Conteúdo” (entrevista P pg. 2).

Utiliza a comunicação como um meio de avaliação “ENT – E utilizas esse

diálogo como uma forma de avaliação, é isso? Pilar – Em determinados objectivos

que eu pretenda atingir com eles.” (entrevista P pg. 2). Valoriza o dialogo e a

comunicação no grupo e em grupo como estratégia “…e nós falamos entre todos…”

(entrevista P pg.2), entendida como uma partilha de informação onde o educador

pode retirar dados e perceber até que ponto a criança atingiu ou não os objectivos

inicialmente propostos. Existe “...partilha de poder entre nós e as crianças.” (PCT pg.

7), mas não se fica a perceber se Pilar negoceia ou não esses objetivos e se são

estabelecidos os critérios dessa mesma avaliação coma as crianças.

Page 95: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

81

Entende que a observação deve ter uma continuidade no tempo, “…

trimestralmente por registos de observação.” (entrevista P pg. 1), “ ... as

informações vão sendo registadas...” (PCT pg. 7). Referindo-se ao PCT o

entrevistador pergunta, “De que forma é que está contemplada a avaliação? Pilar –

Por trimestre também e por esses ditos registos de observação.” (entrevista P pg. 1).

Informa-nos ainda de que o mesmo registo que é feito pelo educador é entregue às

famílias no final de cada período, “ENT –(…)Existe algum documento de avaliação

que seja entregue às famílias? Pilar– Existe o registo de observação. ENT – Que é

feito por ti na tua sala? Pilar – Por mim, por mim.” (entrevista P pg. 4), “ENT – E é

esse mesmo registo que tu entregas às famílias? Pilar – É. Um por trimestre.”

(entrevista P pg. 4).

Entende a família como participante no processo de avaliação e identifica os

momentos de reuniões e de conversas pontuais como um momento para troca de

informações. “Os pais têm oportunidade de trocar impressões com as educadoras ...”

(PCT pg. 35). No seu PCT menciona como é feito o estreitamento de relações, “... no

contacto que é feito no período de acolhimento ou na entrega das crianças; com

placardes que expõem informações diversas (...); com exposição nas salas de

produções das crianças, de registos fotográficos; através de reuniões de pais que se

realizam trimestralmente; (...) através da participação dos pais que programam e

realizam uma actividade na sala,...sempre que solicitem para um atendimento

individual.” (PCT pg. 36), “... sempre que os pais necessitarem, nós estamos cá para

poder ajudá-los nesse sentido, e se nós também precisarmos da ajuda deles é o

mesmo.” (entrevista P pg. 5), “E diariamente nós também falamos com os pais, como

é que a criança esteve, o que é que fez, alguma preocupação que nós tenhamos

diariamente também, ou os pais, vice-versa.” (entrevista P pg. 5).

Pilar valoriza a rotina e o espaço como promotoras de aprendizagens tendo

sempre em conta os interesses das crianças em particular, e do grupo em geral. “O

educador planeia o processo educativo tendo em conta os conhecimentos que tem de

cada um e do grupo: proporciona um ambiente estimulante para o seu

desenvolvimento; facultando aprendizagens significativas e diversificadas,

organizando o espaço educativo promovendo a igualdade de oportunidades.” ( PCT

pg. 38)

No seu pensar, o planeamento do espaço pode promover na criança o desejo

de aprender e a curiosidade por saber mais, “Ao planear o espaço educativo, o

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82

educador possibilita que a criança explore o espaço, utilize os materiais, interaja

com os seus pares e com os adultos, propondo-lhe desafios que a interessam e

estimulem, desenvolvendo a sua auto-estima...” (PCT pg. 38).

Para quê avaliar? A visão de Pilar

A educadora Pilar vê a avaliação como meio de ajustar o processo educativo

ao grupo de crianças, “...de forma a elaborar e adequar o processo educativo, às

necessidades de quase todos e de cada criança em particular.”(PCT pg.38). Para a

educadora avaliar serve para perceber se “…,objectivos que nós nos propomos para

eles, e se estes foram ou não atingidos…” (entrevista P pg.1), “… para nós termos

uma visão dos procedimentos que nós para com eles temos, e se eles aderem ou

não,…” (entrevista P pg. 1)

Avaliar serve para o educador perceber o nível das crianças no que respeita às

dificuldades e aptidões, “As atitudes…as aptidões destes para, mais ou menos, as

dificuldades, e o que eles já têm também adquirido, porque isso é importante.”

(entrevista P pg.2).

Promove a avaliação com as crianças para que estas se sintam parte integrante

do processo e porque valoriza as interações que se estabelecem, “Elas têm que

interagir. (...), “Porque as actividades na sala, todas elas são um circuito em que

todos temos que interagir, é um trabalho de equipa,…” (entrevista P pg.3), “...

pretendo que elas atinjam os objectivos propostos, e se elas não participarem não

poderão atingir esse objectivos, não é?, não estão a interagir.” (entrevista P pg.3).

Sem dúvida que a interação no processo de avaliação, é o mais importante para Pilar

“E para elas serem avaliadas, elas têm que interagir, senão eu não posso avaliá-las.”

(entrevista P pg.3). Este facto é bem visível no seu PCT por considerar que “São as

próprias crianças, que ao fazerem parte do processo, interagem com outras crianças

e com outros adultos da instituição e/ou comunidade (...) que contribuirão certamente

para alargar conhecimentos estabelecendo trocas e interacções...” (PCT pg. 7).

Relacionando a avaliação com o processo ensino aprendizagem, Pilar encara as

interações que a crianças estabelece como promotora do seu desenvolvimento, “As

interacções entre as crianças permitem o desenvolvimento de competências pro-

sociais onde existem momentos de partilha, entreajuda, de confiança...” (PCT pg. 15),

“..., num contexto de interacções sociais alargadas com outras crianças e adultos,

Page 97: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

83

permite que cada criança construa o seu desenvolvimento e aprendizagem...” (PCT

pg.33).

Acredita ainda que as aprendizagens feitas pela criança terão maior

significado se ela fizer parte integrante do processo, “Aprender, fazendo e

experimentando.” (PCT pg.5), ... e as crianças, apercebendo-se do que aprenderam,

expressam ou não o desejo de saber mais.” ( PCT pg. 7). Para que o processo

educativo vá ao encontro das espectativas da criança, Pilar entende que esta deve

participar na planificação e estar integrada no processo de avaliação, “Todo o

processo de planeamento e o que se pretende é então partilhado com as mesma.”

(PCT pg.7). “O processo educativo tem de ser centrado na criança e partir das suas

necessidades e dos seus interesses ajudando-a no seu desenvolvimento, estamos

simultaneamente a contribuir para a sua aprendizagem.” (PCT pg. 18).

Encarando a criança como a principal interveniente, Pilar defende que esta

deve criar os seus próprios saberes, no sentido do desenvolvimento pessoal. “A partir

da aprendizagem pela acção, a criança constrói o seu conhecimento através da

iniciativa pessoal e do seu desejo de explorar, questionando sobre tudo o que lhe

provoca curiosidade e procurando respostas para a resolução dos seus problemas.”

(PCT pg.19).

Estando a criança envolvida em todo o ambiente e rotina que lhe é

proporcionada então, “O espaço educativo, conjuntamente com o equipamento e os

materiais ali existentes, proporciona à criança uma aprendizagem através das suas

próprias acções.” (PCT pg. 27). Mais uma vez a interação é valorizada na avaliação.

Não só entendida como interação com os outros mas também com o espaço, os

materiais e a forma como estes estão organizados. Neste sentido, avaliar também

serve para reorganizar espaços e rotinas para que estes possam promover

aprendizagens significativas para as crianças. “A organização da sala vai influenciar

e condicionar as escolhas das crianças, competindo ao educadora estruturar o

espaço de forma a proporcionar-lhes momentos e experiencias estimulantes e

enriquecedoras.” (PCT pg.25).

Segundo Pilar a organização do espaço está inteiramente ligada às intenções

pedagógicas, “a organização e a utilização dos espaços são reflexo das intenções

educativas e da dinâmica do grupo.” (PCT pg. 26). Portanto, o educador deve

interrogar-se “sobre a função e finalidades educativas dos materiais, de modo a

planear e fundamentar as razões dessa organização. A reflexão permanente sobre a

Page 98: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

84

funcionalidade do espaço permite que a sua organização vá sendo modificada de

acordo com as necessidades e evolução do grupo.” (PCT pg. 26). Não esquecendo a

importância dada ao desejo de aprender por parte da criança, Pilar diz-nos que “O

importante é que os espaços se tornem desafiadores para as crianças,...” (PCT

pg.26) e valoriza a sua participação na organização do espaço “deveremos também ter

em conta que estas participem na sua organização, bem como na tomada de decisões

sobre mudanças a realizar”.( PCT pg. 26). Entende ainda, tal como nas OCEPE que

o espaço não deve ser estanque, mas sim adaptado aos interesses e necessidades do

grupo “Ao longo do ano poderá ser necessário mudar a sala, quer modificando as

áreas, quer acrescentando alguma ou retirando outra. Assim, as áreas podem ser

alteradas desde que se denote existirem outros interesses ou se verifique que é

benéfico para o grupo. (PCT pg. 31).

Valoriza na sua rotina diária um momento para que a criança possa planear,

executar o que planeou e depois avaliar se correu bem ou não e porquê, “A rotina

deve contemplar o processo planear-fazer-rever, assim a criança transmite ao adulto

o que deseja fazer, realiza o seu projecto e reflecte sobre o que fez, fazendo nascer na

criança sentido de responsabilidade pessoal, em que o adulto apenas conduz o

processo.”(PCT pg. 20). As crianças fazem aprendizagem quando “expõem o que

sabem sobre o assunto, colocam questões e recolhem informação, de modo a alargar

os seus conhecimentos.” (PCT pg. 6).

Pilar entende que a avaliação serve ainda para adequar a sua prática e valoriza

a reflexão como forma de desenvolvimento profissional, “ENT – Pronto, seja como

for, achas importante fazer avaliação no pré-escolar? Pilar– Acho. ENT – Porquê?

Ou melhor, para quê? Pilar – Para nós nos orientarmos também e sabermos o que

corrigir ou não.” (entrevista P pg.1). Considera que ao poder melhorar a sua prática

pedagógica de acordo com a avaliação que faz, permite-lhe ir ao encontro dos

objetivos estabelecidos “… como eu tinha dito no início, poder mudar as estratégias

para melhorar para que eles possam mais facilmente atingir os objectivos propostos.”

(entrevista P pg.3), “...uma reflexão de forma a poder ser alterado quando necessário,

e consequentemente, melhorado.” (PCT pg.39).

Entende que a avaliação serve também para ajudar a planear o trabalho no

sentido do desenvolvimento do grupo de crianças. “Ao avaliar, o educadora adequa

planeamentos futuros às necessidades e evoluções do grupo.” (PCT pg. 38). A

reflexão sobre a ação permite ao educador reformular e ajustar a sua prática

Page 99: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

85

promovendo aprendizagens por parte das crianças “ O educador deve reflectir sobre a

sua acção e a forma como a adequa às necessidades das crianças, bem como aos

valores que lhe estão subjacentes.” (PCT pg. 40), “Esta avaliação permite ao

Educador ir corrigindo e adequando o processo educativo à evolução das crianças,...”

(PCT Pg. 40).

O educador assume um papel muito importante no processo. Primeiro passa

por observador, “O educador deve ter portanto um papel de observador atento, para

que possa conhecer bem as crianças e os seus interesses e capacidades, para definir

as suas estratégias de acção.” (PCT pg. 18), “fundamental observar as crianças,

estando atentos às reacções e propostas para se tirar partido de situações que

apresentam potencialidades educativas.” (PCT pg...), para depois assumir o papel de

mediador e orientador da prática educativa, “Ao educador compete guiar as crianças

e ajuda-las a descobrir a realidade e o mundo exterior, apoia-las na resolução de

conflitos e a lidar com os seus sentimentos. Este estilo de interacção permite à

criança..., decidir a direcção e o conteúdos da conversa e experimentar uma partilha

verdadeira no diálogo.” (PCT pg. 18). Ao mediar e orientar na direção dos interesses,

necessidades e desejos das crianças, o educador promove aprendizagens por parte das

mesmas, “O processo educativo tem de ser centrado na criança e partir das suas

necessidades e dos seus interesses ajudando-a no seu desenvolvimento, estamos

simultaneamente a contribuir para a sua aprendizagem.” (PCT pg. 18).

Pilar considera o papel do educador importante e trabalhoso na medida em que

“Cabe, então, a nós enquanto educadores, a difícil mas construtiva tarefa de

partilhar os interesses e saberes de cada criança para os “aumentar” e diversificar,

impulsionando novos interesses e fomentando a curiosidade e o desejo de aprende.”

(PCT pg. 3), “(...) promover a melhor orientação e encaminhamento da criança.”

(PCT pg. 5) “Facilitar o acesso ao conhecimento das potencialidades e dos limites,

ajudando a criança a ter uma imagem positiva de si mesma.” (PCT pg. 5).

Reforça a importância dada ao educador, “Funcionamos como mediadores na

procura de conhecimentos, registando o que se vai fazendo e sistematizando o que se

foi aprendendo.” (PCT pg.7) e às relações que este estabelece com as crianças “As

interacções entre adulto e as crianças deverão ser positivas, na qual o educador

estabelece relações verdadeiras, apoia as suas brincadeiras e adopta uma

abordagem de resolução dos problemas do conflito social...” (PCT pg. 19).

Page 100: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

86

Referindo-se a todo o trabalho desenvolvido com as crianças em jardim de

infância, a educadora afirma que deve ser realizada “uma avaliação do processo, de

forma a saber se foi estimulado o desenvolvimento de todas as crianças e de cada

uma, se alargaram os seus interesses e desejo de aprender.” (PCT pg. 40).

Pilar vê a família como interveniente do processo de avaliação. Acredita que

não basta o educador ser um bom observador, é necessário também que envolva a

família pois a criança já traz de casa uma cultura que lhe é muito própria. “O

educador não é detentor de todo o conhecimento, mas em conjunto com a família

podem ajudar-se mutuamente na educação da mesma criança.” (PCT pg. 35), “e o

conhecimento do contexto familiar e do meio em que as crianças vivem serão práticas

que temos de empreender para melhor compreender as características das crianças e

adequarmos (diferenciarmos) o processo educativo às suas necessidades.” (PCT pg.

40).

Como educadora entende que na sua prática educativa deve evolver e valorizar

a família, “Com este projecto pretendo que a família tenha um papel mais activo,

participando em várias actividades, podendo desta forma estabelecermos um vínculo

mais forte Instituição/Família. O processo educativo não está de modo algum

concluído se não incluir nele um trabalho conjunto com pais. (PCT pg. 35). Para Pilar

um dos objectivos da participação das famílias no jardim de infância é acreditar que

quanto mais fortes forem estas relações maior percepção as famílias têm do

desenvolvimento dos seus filhos “Ao inteirarem-se da vida no jardim-de-infância, os

pais têm oportunidade de observar a forma como o seu filho se desenvolve e os

progressos que faz.” (PCT pg. 35). Na sua entrevista também nos refere a

importância de que os pais sejam conhecedores desses progressos, “Que os pais

tenham também conhecimento, e que estejam a par dessa avaliação.” (entrevista P

pg.4).

No que diz respeito aos registos de observação, Pilar entende que têm o

objectivo de “Esse documento serve para nós termos registada a evolução da criança

connosco, para nós podermos avaliar e observar qual a evolução que a criança está

a ter, ou não,...” (entrevista P pg. 4), ou seja fornecem uma ideia geral da evolução

das crianças, no que se refere ás aprendizagens nas diferentes áreas de conteúdo.

Page 101: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

87

Projeto Educativo da Instituição e Projeto Curricular do Jardim de Infância

No projeto educativo da instituição (PE) onde decorreu o estudo e do projeto

curricular de jardim de infância (PCJI), não se pode retirar uma ideia exata de qual o

conceito de avaliação preconizado. No entanto, há uma frase no PE que nos sugere

qual a opinião do que é avaliar, “Parte do pressuposto de que, em educação, os

progressos da aprendizagem amadurecem muito lentamente, não se manifestam de

maneira imediata. Por conseguinte, é necessário relativizar a avaliação como medida

de um produto, importa mais o prosseguimento do processo.” (PE pg. 15). Neste

sentido entende-se que esta instituição valoriza mais o processo de aprendizagem feito

pelas crianças e não o produto final que possa surgir.

No PE a avaliação é feita com a família sendo-lhe atribuído um momento de

avaliação através do preenchimento de inquéritos. Tal como é referido por Anabela na

sua entrevista “…, e nesse projeto educativo foi feito um levantamento também, foram

feitos inquéritos aos pais sobre o funcionamento da Instituição,…” (entrevista A pg.

2), e confirmada pela análise desses mesmos inquéritos que se encontra no projeto

educativo da instituição.

O educador assume também um papel na avaliação onde lhe é dada autonomia

na preparação e execução do seu trabalho, “No trabalho com as crianças, a

instituição deixa ao critério de cada Educadora a escolha do plano curricular de sala,

que deve ser elaborado com a participação dos diversos intervenientes como: a

equipa, as crianças, as famílias e a comunidade.” (PE pg. 24). O PCT de cada

educadora deve demonstrar a forma de avaliação que vai utilizar com o seu grupo de

crianças.

A execução dos registos de observação é apresentada com abertura, tal como

nos refere a educadora Anabela quando da realização dos registos de observação “…,

até porque temos muita abertura para poder fazer os registos,… (entrevista A pg. 3)

“…, mas depois cada Educador tem a abertura para…temos que fazer, tem que haver

registo, mas não há obrigatoriedade de…não há um registo “standardizado”…

(entrevista A pg. 3) “…eu faço aquele que e adapta melhor ao meu grupo,…”

(entrevista A pg.3). Estes registos de avaliação são referidos no projeto educativo da

instituição, “Será de promover uma eficaz avaliação/observação, tendo em atenção

os critérios que abrangem as fichas designadas para este fim e que contemplam as

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88

relações da criança com os diversos parceiros intervenientes no processo educativo.”

(PE pg. 21).

No PE o educador assume um papel importante na medida em que “O docente

é um mediador no processo de ensino-aprendizagem. Compete-lhe programar,

orientar, organizar, proporcionar recursos e animar as diferentes actividades

realizadas pelas crianças, não é um mero instrutor, nem um simples avaliador. Ele

apoia a criança a relacionar os novos conhecimentos com os anteriores, deixando

que esta controle todo o processo.” (PE pg. 14).

Como avaliar é entendido ainda no PCJI “..., prevê-se que no final de cada

semestre e no final do projecto em cada ano da sua realização, existam momentos

diferenciados de avaliação.” (PCJI pg. 34). Esses momentos de avaliação

“diagnóstica: no inicio do ano; no final de cada semestre com fichas de observação

de cada criança; no final de cada semestre do ano lectivo 2009/20010 uma avaliação

do projeto e das actividades propostas; no final do ano lectivo com elaboração de um

relatório elaborado por cada coordenador de valência; no final do ano lectivo a

elaboração de um relatório de cada sala, onde sejam agregadas fichas significativas

de trabalhos realizados pelas crianças...” (PCJI pg. 34).

O PCJI refere ainda que devem existir outros momentos de avaliação tais

como as reuniões, “serão realizadas reuniões ao longo do desenvolvimento do

projecto, quer com as famílias, quer com toda a equipa técnica, ...” (PCJI pg. 35).

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Discussão dos resultados

Importa agora fazer uma articulação com a analise obtida e o enquadramento

teórico deste trabalho.

Concepção de avaliação das educadoras

Neste estudo não se pode afirmar que as três educadoras tenham uma ideia

bem definida sobre o conceito de avaliação. Abrangem-no de uma forma muito geral,

consideram-no importante mas não explicam muito bem qual a sua importância.

Anabela refere que avaliar é avaliar comportamentos, indo ao encontro da Lei

Quadro nos seus objectivos na alinha d) pois ao avaliar os comportamentos o

educador percebe até que ponto as aprendizagens foram significativas e diversificadas,

por forma a estimular o desenvolvimento da criança. Valoriza bastante a comunicação

e o dialogo. Remetendo-nos para um tipo de avaliação reguladora, tal como nos refere

Santos quando nos fala da relação aluno/professor, onde é possível estabelecer

critérios de avaliação. “Deste portefólio constarão registos de observação diversos

(desenhos, pinturas, registos escritos, fotografias, …) seleccionados segundo critérios

estabelecidos com as crianças.” (PCT A pg. 28 )

Para Anabela avaliar permite-lhe ainda “identificar: dificuldades e

possibilidades ; Efeitos/impactos das acções nas crianças, nas nossas práticas

pessoais e profissionais; Participação/adesão das crianças.” (PCT A pg. 28), que

como nos refere Pilré (2009) avaliar permite adaptar novas medidas e melhorar a

atividade educativa.

Para Anabela e Rosário avaliar é observar, tal como Nabuco (2000), que

defende que observação é muito importante mas que deve ser bem estruturada para

que permita ao educador ter uma visão mais real da crianças.

Avaliar é em parceria educador/equipa/criança /família. Para Pilré (2009) a

avaliação passa por diferentes processos. O contexto e a comunidade fazem parte de

um desses processos onde o educador tem de entender a criança inserida numa

comunidade com uma cultura própria – a família. Neste sentido as três educadoras

cruzam a sua forma de trabalhar. Valorizam a família não só como aquela a quem

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90

transmitem as avaliações das crianças, mas também como participantes nesse

processo e em toda atividade de jardim de infância. Eugénia Correia (2004) também

afirma que a avaliação deve ser partilhada.

Rosário acrescenta que avaliar é planificar e planear. Considera que ao avaliar

surgem planificações de trabalho que vão ao encontro dos interesses das crianças uma

vez que elas participam na sua execução. Entende a criança como um ser único com

as suas características e portanto a pedagogia deve ser diferenciada, “Pretendemos

uma pedagogia diferenciada, centrada na cooperação, que inclua todas as crianças,

aceite as diferenças, apoie a aprendizagem e responda às necessidades individuais.”

(PCT pg.7).

Rosário avalia por competências, e Santos (2003, 8) fala-nos das competências

“... concluímos que avaliar competências é sobretudo entendido como um processo

regulador da vivência dos alunos durante as referidas experiências de

aprendizagem.”.

Pilar não nos define o seu conceito de avaliação nem na entrevista nem na

análise do seu PCT assim leva-nos a considerar que nem todas as educadoras têm uma

definição concreta do que é avaliar.

A avaliação praticada pelas educadoras: finalidades e objetivos

Avaliação  sumativa  

Não sendo o tipo de avaliação mais valorizado e trabalhado por Anabela, ela

está preconizada no seu trabalho. Anabela entende que a avaliação serve para que o

educador tenha a noção do que as crianças apreenderam e se já têm os conteúdos

adquiridos. Esta sua forma de sentir é sem duvida uma característica da avaliação

sumativa na medida em que está preocupada com os resultados. Tal com é enunciado

por Perrnoud (2008) e exposto no Capitulo II, referindo-se a este tipo de avaliação

como sendo uma de suas características a classificação e comparação entre os alunos.

Rosário também nos remete para a avaliação sumativa quando refere no seu

PCT que é feita uma avaliação trimestral e que esta é entregue aos pais bem como

todos os trabalhos executados pelas crianças. Segundo Perrnoud (2008, 12) “ A

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91

avaliação tem a função, quando se dirige à família, (...). Ela alerta contra o fracasso

que se anuncia ou, ao contrário, tranquiliza, (...)”.

Pilar entende que através da avaliação tem a percepção se os objectivos

propostos para as crianças foram ou não atingidos, verifica se as crianças sabem ou

não e se têm as noções adquiridas. Para Leite e Fernandes (2002,44) que, numa

síntese comparativa entre avaliação sumativa e formativa, afirmam que a finalidade

da primeira é “classificar um aluno no final do período (...), favorecer a existência de

sínteses e de relações de conhecimento; situar o aluno face a uma meta definida”.

Pilar Refere ainda que é importante os pais terem noção e conhecimento da

avaliação que é feita às crianças. As fichas de registo de observação que estão no

PCJI e que são entregues aos pais no final de cada período, são de carácter sumativo

porque lhes é atribuída um classificação de: adquirido, não adquirido e em aquisição.

Esta classificação dá a conhecer às famílias, tal como alude Pernnoud (2008), prepara

a família para os fracassos e /ou conquistas do seu educando e são ainda

“instrumentos e procedimento de avaliação final, realizado segundo uma estrutura de

síntese.” (Leite e Fernandes, 2002,44).

Avaliação  Formativa  

A Avaliação formativa é sem duvida aquela que é preconizada pelas três

educadoras. Tanto Anabela como Pilar valorizam a avaliação de diagnóstico, “O

educador deve primeiro observar cada criança e o grupo tendo em conta: o contexto

familiar e o meio em que a criança está inserida, conhecendo as capacidades, os

interesses e dificuldades de cada uma, de forma a elaborar e adequar o processo

educativo, às necessidades de quase todos e de cada criança em particular.” (PCT

Pilar pg. 38).

Anabela, remete-nos para uma avaliação de diagnóstico e a partir desta

promove aprendizagens essenciais para a faixa etária com que trabalha. A circular 4

/DGIDC/DSDC/2011 refere que a avaliação de diagnóstico, “tem em vista a

caracterização do grupo e de cada criança. Com esta avaliação pretende-se conhecer

o que cada criança e o grupo já sabem e são capazes de fazer, as suas necessidades e

interesses…”. Leite e Fernandes (2002) afirmam que uma das finalidades da

avaliação de diagnóstico é obter dados relevantes sobre os conhecimentos das

crianças e os seus interesses. Ferreira (2007, 25) defende que “É através da avaliação

Page 106: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

92

diagnóstica que se conhece, o melhor possível, as características dos alunos da

turma,...”, também as educadora entendem que esta forma de avaliar lhes permite,

não só conhecer a criança/grupo, como também serve para adequarem a sua atividade

pedagógica e preparar atividades adaptadas ao seu grupo de crianças com o objetivo

de promover aprendizagens significativas.

A circular anteriormente referida, afirma que este tipo de avaliação pode

decorrer em qualquer altura do ano mas deve, em articulação coma avaliação

formativa, promover “ adopção de estratégias de diferenciação pedagógica,

contribuindo também para a elaboração, adequação e reformulação do projecto

curricular de grupo e ainda para facilitar a integração da criança no contexto

educativo”. (2011, 4) “A elaboração deste diagnóstico é uma condição importante

para a regulação das aprendizagens dos alunos,(...)” (Ferreira, 2007,105).

Anabela e Rosário valorizam a reflexão e avaliação centradas no processo de

aprendizagem, “O objectivo é que eles sejam capazes de fazer.” (entrevista Rosário

pg. 2). Anabela entende a negociação da avaliação como importante e considera, tal

como Rosário, que a avaliação é um processo continuo com registos trimestrais,

“Trimestralmente será elaborado um relatório de avaliação do projeto (…)” (PCT

Rosário pg. 16), sendo a continuidade uma das características da avaliação formativa.

Avaliação  Reguladora  

É notória a relação do discurso e da prática das educadoras com uma prática

de avaliação reguladora. Anabela e Rosário defendem que partem da criança como

principal interveniente e que tem desejo de aprender, consideram-na única, com

características próprias e acreditam numa pedagogia diferenciada. Para Perrenoud

(2000), esta pedagogia defende uma abordagem centrada na criança e no seu percurso

de aprendizagem, tendo em conta que se deve adequar a prática pedagógica às

necessidades e interesses da criança. Importa salientar, tal como é defendido por

Santos (2010,13) que este ensino não se entende como “individualizado”, embora

tenha de partir da individualização de cada aluno, a prática pedagógica decorrente é

“diversa”.

Anabela refere-se às crianças como sendo cooperantes, fazem sugestões e

aderem com prazer às experiências de aprendizagem, “A co-avaliação entre pares é

um outro processo de regulação que oferece igualmente potencialidades. É um

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93

processo simultaneamente externo e interno ao sujeito. Implica outros, mas envolve

igualmente o próprio.” Santos (2002,2)

Um dos grandes objectivos desta avaliação, tal como enunciado no capitulo

anterior, é de facto perceber até que ponto a criança tem desejo de aprender. Partindo

desse ponto, tal como Anabela diz, as crianças ficam mais envolvidas e o processo

educativo decorre de forma positiva e fluida.

A criança sabe o que quer aprender, discutem sobre situações que querem

aprofundar e/ou conhecer. Para Anabela e Rosário as crianças negoceiam e participam

ativamente no seu processo de aprendizagem tornando-se esta mais significativa. Tal

com é enunciado na Lei nº 5/97 de 10 de Fevereiro Lei Quadro da educação pré

escolar no capitulo IV ,Princípios gerais pedagógicos, Artigo 10º, Objectivos da

educação pré-escolar, alinha d):“Estimular o desenvolvimento global de cada criança,

no respeito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que

favoreçam aprendizagens significativas e diversificadas;”

Para as educadoras do estudo a própria criança vai adquirindo a noção do que

consegue ou não fazer, tentando ultrapassar obstáculos e resolvendo os seus próprios

problemas. Esta ideia também está preconizada nas OCEPE (1997, 78) “Neste

processo de resolução de problemas não se trata de apoias as soluções consideradas

correctas, mas estimular as razões da solução, de forma a fomentar o

desenvolvimento do raciocínio e do espírito-crítico.”,“ A resolução de problemas

constitui uma situação de aprendizagem que deverá atravessar...”

A educadora Rosário realça a importância do papel ativo da criança na

organização e tomada de decisões. O envolvimento da mesma na organização do

espaço e na participação de experiencias de aprendizagem permitem “...escolher,

preferir, a tomar decisões e a encontrar critério e razões para as suas escolhas e

decisões.” (OCEPE,1997,53) o que lhe permite criar uma maior autonomia. Pilar

acrescenta que a criança aprende agindo/experimentando, questionando-se,

procurando soluções. Errar toma importância neste processo como forma de crescer,

a criança não deve ser penalizada por cometer erro. “Quando nos colocamos numa

pespectiva de avaliação reguladora, o erro não pode deixar de ser entendido como

inerente ao processo de aprendizagem, como algo que acontece aqueles que

aprendem,...”, (Santos, 2010, 62), “ (...) deve ser dada oportunidade ao aluno para

ser ele próprio a identificar o erro e a corrigi-lo.” (idem, 2010,64).

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94

O educador é visto como orientador, tal como se refere Pilar “A rotina deve

contemplar o processo planear-fazer-rever, assim a criança transmite ao adulto o

que deseja fazer, realiza o seu projecto e reflecte sobre o que fez, fazendo nascer na

criança sentido de responsabilidade pessoal, em que o adulto apenas conduz o

processo.” (PCT Pilar pg. 20).

As três educadoras valorizam a importância da autoavaliação. Incluem-na na

rotina diária do grupo de crianças, dando-lhes voz e permitindo que, ao se

autoavaliarem, percebam onde podem melhorar, no sentido de criar aprendizagens

significativas. Pilar encara a autoavaliação como suporte ao planeamento, tendo em

conta a motivação da criança e os seus interesses.

Pilar apresenta-nos uma abordagem da avaliação vista numa perspetiva das

interações que a criança estabelece e da importância que estas têm para todo o

processo de avaliação. Interações essas que a criança cria com os seus pares, com os

educadores e com outros intervenientes. No seu entender essas interações dão-lhe

conhecimentos e promovem desenvolvimento de competências indo ao encontro do

que Santos afirma (2002, 2) “Reconhecendo a interacção social como um recurso

fundamental na construção do conhecimento, é através de situações de comunicação,

que os alunos em interacção são colocados(...). Situações que levem os alunos a

apoiar os outros e a receber ajuda dos pares constituem experiências ricas na

reestruturação dos seus próprios conhecimentos, na regulação das suas

aprendizagens, e no desenvolvimento da responsabilidade e da autonomia.” Santos

(2002,2) reforça a ideia ao citar Perrnout (199,99) “em situações de confronto, de

troca, de interacção, de decisão, que os forcem a explicar, a justificar, a argumentar,

expor ideias, dar ou receber informações para tomar decisões, planear ou dividir o

trabalho, obter recursos”.

A interação de aluno/professor permite a este último perceber como é que as

aprendizagens do aluno foram realizadas. “É através da interacção entre aluno e

professor que se torna possível conhecer os raciocínios, as estratégias utilizadas no

processo de aprendizagem, as suas dificuldades, os seus problemas e as suas causas,,

(...), compreender o processo de aprendizagem do aluno levando-o a

consciencializar-se desse processo” (Ferreira, 2007,82). Neste sentido, através da

comunicação estabelecida é possível ter acesso a informações que, não só ajudam o

professor na avaliação, como ajudam a criança a perceber de que forma faz as

aprendizagens.

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95

Pilar defende que a criança aprende a experimentar e que, ao fomentar as

interações também como forma de partilha e negociação, promove concordância e

envolvimento da criança no planeamento.

A criança é o centro de todo o processo educativo, parte das suas necessidades

e interesses para estimular as aprendizagens, “... é sempre o aluno que é o foco da

atenção. São as suas capacidades, interesses, necessidades, espectativas iniciais, é o

seu ritmo de trabalho e o seu percurso de aprendizagem, são os resultados obtidos

nesse mesmo processo que são objecto de avaliação.” (Ferreira, 2007, 16).

Em suma as três educadoras focam os três tipos de avaliação mas a avaliação

formativa é sem duvida a que predomina nas suas práticas pedagógicas e naquilo que

defendem como promotora de aprendizagens. Vão ao encontro do que é pedido pelo

Ministério da Educação pois este define que no pré escolar deve ser praticada a

avaliação formativa. Entendem ainda a avaliação com diferentes intervenientes, não

sendo o professor o único interveniente no processo, e na planificação, organização e

propostas de atividades para com os alunos.

A três educadoras sentem uma ampla necessidade de cooperação entre alunos,

professores e família na “tomada de decisões didáticas” tal como nos enumera

Ferreira (2007,78). Assenta na diversidade da recolha de dados considerando o que

pretende avaliar. O mesmo autor, ao citar Perrenoud (1996,14), fala-nos que no meio

escolar existe a necessidade de praticar uma “avaliação intuitiva/informal”, que por

norma é realizada diariamente mas não é estruturada, por conseguinte não é

planificada nem realizada com suporte de instrumentos de recolha de dados. Essa

avaliação intuitiva/informal, embora seja considerada mais subjetiva é no entanto

aquela que mais facilmente encaminha a metodologia aplicada pelo professor e isso é

perceptível nas educadoras deste estudo.

As três educadoras cruzam a avaliação reguladora que segundo Santos (2010)

nos esclarece que este tipo de avaliação não é mais do que uma atualização da

avaliação formativa, cruzando-se estas em alguns pontos. Ou seja, existe regulação na

avaliação formativa, onde o professor assume um papel que promove o desencadear

de aprendizagens por parte da criança ao mesmo tempo que lhe permite criar

estratégias de autorregulação.

Page 110: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

96

Processo de avaliação na educação pré escolar

Como  faz  o  educadora  a  avaliação  

Ao avaliar no ensino pré escolar a organização do espaço e do tempo estão

necessariamente ligadas. No estudo apresentado as três educadoras valorizam estas

duas vertentes. Consideram a organização do espaço tendo em conta as áreas de

conteúdo das OCEPE e do Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto, Anexo 1, II,

ponto 2, alinha a) “Organiza o espaço e os materiais, concebendo-os como recursos

para o desenvolvimento curricular, de modo a proporcionar às crianças experiências

educativas integradas;”.

As educadoras organizam o espaço por áreas, “A sala de actividades divide-se

em várias áreas. Consideramos alguns espaços permanentes, porque entendemos que

são desafiadores e adequados às crianças em idade pré-escolar. (…)” (PCT Anabela

pg. 10), O importante é que os espaços se tornem desafiadores para as crianças,...”

(PCT Pilar pg.26).

As OCEPE declaram que “A reflexão permanente sobre a funcionalidade e

adequação do espaço e as potencialidades educativas dos materiais permite que a

sua organização vá sendo modificada de acordo com as necessidades e avaliação do

Grupo.” (pg.38). Neste sentido o educador terá que ir avaliando a organização do

espaço e dos materiais para que estes se adaptem às necessidades das crianças, tal

como defendem as educadoras “A sala de actividades transforma-se no local onde se

organiza e regista o saber, pelo que deverá ser um sistema flexível, vivo e em

mudança.” (PCT Anabela pg. 10), “A organização do espaço e materiais da sala é

flexível e faz-se de acordo com as necessidades e evolução do grupo, pelo que pode

sofrer alterações no decorrer do ano lectivo.” (PCT Rosário pg.9), “Assim, a

organização e a utilização dos espaços são reflexo das intenções educativas e da

dinâmica do grupo.” (PCT Pilar pg. 26), “Cabe então a Nós educadores,

interrogarmo-nos sobre a função e finalidades educativas dos materiais, de modo a

planear e fundamentar as razões dessa organização. A reflexão permanente sobre a

funcionalidade do espaço permite que a sua organização vá sendo modificada de

acordo com as necessidades e evolução do grupo.” (PCT Pilar pg. 26).

A organização do espaço e do tempo está relacionada com a natureza do grupo,

atende às suas características e necessidades. Rosário e Pilar afirmam que é

Page 111: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

97

importante a criança fazer parte do processo de organização da sala “...estando o

espaço organizado para ser utilizado pelas crianças, deveremos também ter em conta

que estas participem na sua organização, bem como na tomada de decisões sobre

mudanças a realizar.” (PCT Pilar pg. 26), tornando-se assim mais significativo para

a criança.

As educadoras Anabela e Rosário reforçam que existe uma área central onde

são promovidas as comunicações, “...temos ainda a área de reunião, comunicação,

planeamento, avaliação (centro da sala). Cada área encontra-se identificada, através

de um registo escrito e gráfico (nome da área, objectivos pedagógicos, levantamento

de materiais existentes).” (PCT Anabela pg. 10) o que nos remete para Santos (2010)

que apresenta o diálogo/comunicação como um dos alicerces para a avaliação. É

através da comunicação que também se estabelecem os critérios de avaliação e existe

negociação.

Santos (2002, 3) explica-nos que “a apropriação dos critérios de avaliação

da tarefa é condição necessária para desenvolver a auto-regulação. Neste sentido o

professor deve esclarecer quais os critérios de avaliação antes da criança iniciar a sua

atividade, eventualmente pode ilustrar com exemplos e até mesmo negociar esses

critérios com as crianças. Só assim poderá fazer, posteriormente, uma avaliação mais

fidedigna do processo de realização da tarefa e do seu resultado. A mesma autora

encara a negociação dos critérios entre professores e alunos como uma forma dos

alunos se coresponsabilizarem no processo de avaliação, ao mesmo tempo que se

apropriam facilmente desses critério uma vez que também foram definidos por eles

como avaliados (Santos, 2002, 3). Santos defende que o “critério é temporário e

evolutivo” (2008, 36) no sentido em que muda à medida das necessidades e das

aprendizagens das crianças.

A educadora Anabela valoriza alguns materiais que utiliza como suporte à sua

avaliação em sala de aula, “Encontram-se vários instrumentos de pilotagem,

regulação e organização do grupo (mapa das presenças, calendário, mapa das

idades, mapa do tempo, registo das áreas, mapa das tarefas, mapa dos nomes ou

outros que forem surgindo).” (PCT Anabela pg. 10). Utiliza muitos mapas e muitos

registos que lhe permitem posteriormente fazer uma avaliação do processo de

aprendizagens das crianças, “...potenciamos um ambiente organizado com recursos a

instrumentos de regulação e de monitorização, (PCT Anabela pg 8.), como é notório

nas fotografias 4; 5; 9 e 10 já apresentadas e na n.º 11 (outro exemplo de registo de

Page 112: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

98

atividade). Ou seja, é na diversidade da recolha de dados que lhe permite obter

informações mais ricas e fidedignas para poder avaliar, “É importante a

diversificação dos instrumentos de recolha de dados, tendo em conta o que se quer

avaliar o tipo de informações que se pretende obter e as decisões a tomar.” (Ferreira,

2007, 79).

Foto n.º 11: Registos de atividade e passeios, o que gostaram e não gostaram

Anabela através dos registos que faz com as crianças observa e identifica

dificuldades, necessidades, interesses, espectativas ao mesmo tempo que se

confrontam com a realidade tal como se pode perceber na fotografia n.º12 onde é feito

o registo da experiencia “Flutua ou não Flutua na água?”.

Foto 12 : Registo de uma experiência

No exemplo da fotografia acima indicada, a educadora estabelece primeiro

uma interação/comunicação com a criança para que esta pense no que poderá

acontecer com determinado objecto, depois a criança regista o que aconteceu e

seguidamente é confrontada com as duas vertentes. Este processo faz com que a

criança se aproprie das aprendizagens ao mesmo tempo que se autoavalia e

autorregula. Ainda como exemplo temos as fotografias 13; 14 e 15 da educadora

Anabela, que nos mostram outro tipo de registos (passeio ao ecomuseu, à descoberta

dos bichos, sopa de legumes, projeto pequenos cientistas).

Page 113: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

99

Foto n.º 13: Registo de uma atividade de intercâmbio com outras instituições.

Foto n.º 14 : Registo da atividade na área do conhecimento do mundo.

Foto 15 : Registo de atividade na área das

ciências/conhecimento do mundo

As três educadoras consideram a autoavaliação como um método de avaliar.

Este processo é entendido quando o sujeito, neste caso a criança faz a sua própria

avaliação, “A auto-avaliação é um processo de metacognição, entendido como um

processo mental interno através do qual o próprio toma consciência dos diferentes

momentos e aspectos da sua actividade cognitiva”. (Santos, 2002,2). Neste processo a

criança vai construindo e regulando os seus pensamentos e aprendizagens. É

importante relembrar que a criança não nasce com este conhecimento e com a aptidão

para se autoavaliar. Cabe ao educador/professor ajudar a criar nesta aprendizagem

promovendo os momentos facilitadores para o desenvolvimento da autoavaliação para

que o aluno aos poucos se torne mais autónomo. Santos (2002, 2) define este processo

como “Auto-avaliação reguladora” pois é o educador que ajuda, orienta/regula o

Page 114: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

100

aluno nesse processo de reflexão sobre o seu trabalho. Assim, o aluno vai colocando

questões que o ajudam a desenvolver-se e a promover desenvolvimento no seus pares.

Importa referir que as educadoras do estudo não conseguem conceber a

avaliação sem a observação, embora defendam a sua importância, elas não

demonstram faze-lo com precisão e com recurso a materiais pré definidos, tal como é

defendido por diferentes autores no corpo teórico deste trabalho. Para as educadoras

não existe uma altura especifica para fazer observação. Fazem quando conseguem no

seu dia a dia e sempre que têm de preencher os registos de observação no final de

cada período, “... de facto a observação directa, como a conversação, é uma

actividade que o professor utiliza cada dia em cada aula de um modo espontâneo e

intuitivo. (...) Cada professor faz permanentemente apreciações com base em factos

ou intuições,... Tomar consciência do valor formativo destas valorizações a que,

genericamente, chamamos informais é caminhar no sentido da recuperação da sua

potencialidade formativa.2 (Mendéz, 2001, 113-115).

Para Anabela avaliar é observar e cria momentos no dia para reunir e avaliar

“Privilegiámos as situações em interacção, em contexto de sala e a observação

atenta do comportamento das crianças, bem como, dos seus desempenhos nas

actividades ou tarefas propostas” (PCT, Anabela pg. 4). Embora não referia nenhum

instrumento concreto para a observação como método de avaliação, ela fá-lo enquanto

as crianças desenvolvem as suas atividades, “A observação da realização da tarefa é

importante, porque implica o aluno na aprendizagem, na qual vai mobilizar os seus

recursos cognitivos, afectivos, psicomotores com vista à sua resolução.” (Ferreira,

2007, 1329).

Rosário afirma que “A observação é fundamental para conhecer cada criança

e o grupo, conhecer as suas capacidades, interesses e dificuldades.” (PCT, Rosário,

16) e tal como Anabel observa o que as crianças fazem no seu dia a dia em sala de

aula. Fala-nos também dos registos de observação que faz trimestralmente, no fim de

cada período e que para o seu preenchimento se baseia na observação das crianças.

Pliar acrescenta que “propomo-nos a observar as crianças, procurando assim

situações que apresentem potencialidade educativa.” (PCT, Pilar, pg. 6) e que o

educador tem o “... papel de observador atento para que possa conhecer bem as

crianças e os seus interesses e capacidades, para definir as suas estratégias de acção.”

(PCT Pilar, pg. 18). Afirma que ao observar a criança nas suas tarefas lhe permite

“planear para o dia seguinte” (PCT, Pilar, pg. 20).

Page 115: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

101

Anabela e Rosário apresentam-nos o portfólio como um instrumento de

avaliação (fotografia 17 do anexo 6 ). É de salientar que este instrumento de avaliação

permite ao aluno refletir sobre o que fez, o que aprendeu, quais as suas dificuldades e

necessidades e desenvolve a sua capacidade de autoavaliar. O portfólio não é o

acumular de todos os trabalhos /tarefas realizadas pela criança, deve comtemplar

apenas trabalhos representativos, tendo em conta os objetivos estabelecidos para a

execução do portfólio, “… o caso do portfólio ou dossier do aluno, onde se inclui não

a totalidade dos produtos realizados pelo aluno (…), mas sim uma selecção de

produtos significativos para o aluno, significativos do ponto de vista cognitivo ou

afectivo, ilustrativos daquilo que num dado momento já é capaz de fazer, …” (Santos,

2002, 4).

Foto 17: Dossier de trabalhos selecionados/ Portfólio de um aluno da

educadora Anabela

O portfólio ainda favorece momentos de interação e comunicação entre

professor/ aluno. Este instrumento de avaliação torna-se enriquecedor na medida em

que o aluno aumenta a sua capacidade de intervenção, autoavaliação e

responsabilidade. Segundo Santos (2002, 4) a autoavaliação regulada (com o apoio do

professor) é uma base importante para regular as aprendizagens, “A actividade

metacognitiva do aluno acontece quando ele toma consciência dos seus erros e da

sua maneira de se confrontar com os obstáculos. Cabe ao professor construir

contextos favoráveis para que tal aconteça.” Esta afirmação vai ao encontro do que

foi enunciado no capitulo II por Perrnoud (2008, 96) “...toda a acção educativa só

pode estimular o autodesenvolvimento, a auto-aprendizagem, a auto-regulação de um

sujeito, modificando o seu meio, entrando em interação com ele.”

Page 116: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

102

Contribuição da avaliação no desenvolvimento profissional

 

Processo  reflexivo,  prática  reflexiva  e  a  sua  intencionalidade  educativa  

A educadora Anabela considera a avaliação importante por lhe permitir alterar

a prática no sentido de melhorar e ir ao encontro das necessidades das crianças.

Realça ainda que lhe possibilita perceber se a sua prática pedagógica está ou não a ter

resultados perante as aprendizagens por parte das crianças.

Anabela demonstra ser uma educadora muito flexível e que gosta de avaliar o

seu trabalho. Refere várias vezes na sua entrevista que avaliar é importante para

melhorar, mudar e encontrar estratégias de trabalho que permitam evoluir. Afirma que

há pequenos projetos que surgem pela necessidade de melhorar o que nos remete para

uma prática reflexiva na ação e sobre a ação, “Houve outros que foram surgindo este

ano, por exemplo isto das estrelas não está no projecto, vai estar agora. Não está

escrito no projecto porque eu no início do ano ainda não tinha feito e nem tinha

pensado fazer, e foi uma coisa que surgiu agora, tinha pensado colocar agora porque

o projecto é aberto, agora no final da avaliação deste trimestre referir que foi

introduzido mais esse instrumento de trabalho.” (entrevista A pg. 2). Zaichner (1993,

20) fala-nos da prática reflexiva e diz que a reflexão pode ocorrer antes, depois e

durante a ação “enquadrando e resolvendo problemas in loco”.

Perante esta situação podemos afirmar que a prática reflexiva de Anabel

interfere no seu desenvolvimento profissional. Ela é uma educadora que

manifestamente acredita na avaliação como promotora da adequação de todo o

processo educativo. Assim o seu desenvolvimento profissional está intrinsecamente

ligado, uma vez que ao alterar a sua prática isso a obriga a refletir e a encontrar

estratégias de melhoria, remetendo-nos para a prática reflexiva referida por Korthagen

(2001), modelo ALACT, que contem cinco fases. Numa 1ª fase existe a ação; na 2ª

fase há o olhar para traz, para a ação; na 3ª fase existe a consciência de determinados

aspetos; na 4ª fase há a necessidade de criar novas estratégias/métodos alternativos à

ação e por ultimo a 5ª fase onde existe uma nova tentativa/nova ação. Este modelo

leva-nos a uma evolução de crescimento em espiral, numa perspectiva do

desenvolvimento profissional do educador.

A mesma educadora afirma ainda que avaliar permite-lhe identificar “-

Efeitos/impactos das acções nas crianças, nas nossas práticas pessoais e

Page 117: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

103

profissionais;” ( PCT Anabela pg. 28) tal como também é sentido por Rosário no seu

PCT.

Rosário apresenta-nos a avaliação como prática reflexiva no seu trabalho na

medida em que altera a sua prática para melhorar. Aponta a sua reflexão com base

naquilo que observa das crianças “... a reflexão que nós fazemos a partir daquilo que

nós vimos neles…” (entrevista Rosário pg.1). Rosário faz uma reflexão sobre a ação

tal como é sugerido por Shon (2000) existindo ensino reflexivo com base no processo

de reflexão na ação e na interação professor/aluno. É um “olhar” para ação, analisar e

reorganizar, e isso acontece quando a educadora observa que algo não esta a correr

bem, procura perceber porquê, “reflete” e tenta encontrar uma nova solução, uma

estratégia alternativa para melhorar a sua prática e ir ao encontro das crianças,

“...quando eu sinto que alguma criança não está a gostar do que está a fazer, eu

tento perceber o que é que ela não gosta, o que é que se está a passar, e se calhar

tentar não fazer...” (entrevista Rosário pg. 3).

Rosário, tal como Anabela, reformula a sua prática tendo em conta os

interesses e necessidades das crianças “...vou vendo as necessidades que eles têm, vou

verificando, e depois a partir daí vou reformulando as atividades consoante aquilo

que eu acho que eles precisam mais.” (entrevista Rosário, pg. 2).

Pilar acha importante a avaliação “– Para nós nos orientarmos também e

sabermos o que corrigir ou não.” (entrevista Pilar pg. 1). Quando fala em corrigir

remete-nos para melhorar a sua prática e ir ao encontro, tal como Anabela e Rosário,

das necessidades das crianças “… como eu tinha dito no início, poder mudar as

estratégias para melhorar para que eles possam mais facilmente atingir os objectivos

propostos.” (entrevista Pilar pg. 3). Acredita na avaliação como um caminho para

melhorar a sua prática “O educador deve reflectir sobre a sua acção...” (PCT Pilar

pg. 40), que consequentemente promove o seu desenvolvimento profissional pois

Pilar fala-nos em adequar o processo educativo. Para adequar, melhorar, o educador

tem de refletir sobre a sua prática e sobre as estratégias utilizadas, reformulá-las e é

em todo este processo que se dá o desenvolvimento profissional .

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104

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105

Capitulo VI

Considerações Finais

A avaliação remete-nos sem duvida algum para uma melhoria e transformação

do ser humano. Promove a diversidade de aprendizagens ao mesmo tempo que

provoca e questiona ao nível do desenvolvimento intelectual e moral permitindo a

construção do nosso ser e a própria Humanização. Este pensamento dá inicio a este

capítulo e conduz-nos para as respostas às questões inicias do estudo.

Questões do estudo

• Que concepções têm os educadores sobre a avaliação?

No discurso das entrevistadas e na análise documental, embora seja

consensual a relevância da avaliação o conceito não é bem definido por todas elas.

Existe sim um entender da sua importância mas esta é vivida na prática de cada uma

de forma diferente. Entende-se ainda que existe pouco conhecimento teórico e

legislativo sobre o tema.

• Como que finalidades os educadores realizam a avaliação?

Encontra-se no seu discurso e/ou documentos analisados referencias aos três

tipos de avaliação preconizados no enquadramento teórico desta dissertação.

Apresentam uma avaliação sumativa na medida em que são realizados registos e

fichas de observação, que são entregues aos pais com o objecto de estes ficarem

informados sobre as competências adquiridas pelos seus educandos.

A avaliação formativa toma bastante relevância para estas três educadoras.

Elas assumem a importância de uma avaliação contínua, e por isso fazem uma

avaliação trimestral. O carácter formativa é notório no discurso por acreditarem que

cada criança é um ser único com interesses, saberes e dificuldades diferentes. É ainda

feita uma avaliação de diagnóstico que ajuda a caracterizar o grupo. Acreditam na

importância de diferentes intervenientes em todo o processo

A avaliação reguladora também está preconizada no sentir e nas práticas de

Anabel, Pilar e Rosário, na medida em que é referida a coavaliação entre pares.

Page 120: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

106

Realçam o papel ativo da criança na sua avaliação, na organização e tomada de

decisões. O educador assume o papel preferencial de orientador estimulando nas

crianças a resolução de problemas de forma a incentivar e despertar o raciocínio e o

espírito- crítico. Valorizam bastante a autoavaliação na medida em que quando a

criança reflete obre si, as suas tarefas e atitudes ela consegue mais facilmente

entender quais as suas dificuldade e aprendizagens.

• Quais as práticas avaliativas realizadas pelas educadoras?

Para esta questão pode-se encontrar, nos documentos analisados, alguns

procedimentos e/ou estratégias utilizadas para a o processo de avaliação nas suas

práticas. Assim, de forma geral pode-se afirmar que as educadoras valorizam bastante

a organização do espaço e do tempo; a comunicação; a utilização de diferentes formas

de registos como mapas; a autoavaliação; a observação e a construção do portefólio.

• Poderá a avaliação ajudar a adequar o processo educativo e reformular

projetos práticas?

Ao considerar a quarta e ultima questão do estudo pode-se afirmar que as

educadoras consideram a avaliação como promotora de práticas mais adequadas e

adaptadas às necessidades das crianças.

Consideram a reflexão sobre as sua práticas como uma mais valia para o seu

desenvolvimento profissional. Entendem a mudança como um caminho para reajustar

o trabalho indo ao encontro das necessidades e interesses das crianças. Desta forma

obrigam-se a refletir sobre o que correu bem ou mal duramente o seu trabalho e isso

permite melhorar determinados aspetos. Esta espiral ganha um sentido ascendente no

caminho do desenvolvimento profissional.

As três educadoras consideram importante refletir sobre o seu trabalho no

entanto não se regem por um forma ou regra especifica. Tanto o fazem em sala de

aula no momento da ação como á posteriori individualmente ou em reuniões de

educadoras.

De forma geral, as educadoras demonstram sentir necessidade de promover a

avaliação nas suas práticas, ao mesmo tempo que revelam insegurança e pouco à

vontade para com a realização da mesma na sua prática pedagógica.

Page 121: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

107

Importa salientar o valor da instituição como promotora e entidade que

supervisiona o ato educativo e avaliativo. Neste sentido a IPSS estudada não é

esclarecedora quanto ao processo de avaliação preconizado na instituição, pois não

define concretamente o papel desta dentro da mesma. Os documentos analisados e

fornecidos pela direção do estabelecimento não fazem qualquer menção à legislação,

o que revela falta de conhecimento em relação a esta matéria.

Proposta de desafios

Alguns dos grande desafios que se podem colocar aos intervenientes deste

estudo de caso passam por promover, de forma colaborativa: (1) o aprofundar do

conhecimento do conceito de avaliação no pré escolar, quer ao nível teórico bem

como legislativo; (2) realizar e definir um conjunto de estratégias para a prática de

avaliação; (3) promover uma avaliação sistémica com carácter formativo; (4) órgão de

gestão com uma metodologia mais organizada tendo os seus documentos de ser mais

explícitos ao nível dos objectivos e da forma de avaliação dos mesmos; (5)

comtemplar no PE um capitulo onde se entenda bem qual a forma de avaliação

preconizada pela instituição, para com os objetivos e princípios emanados pelo órgão

de gestão.

Se tentarmos ser ainda um pouco mais ambiciosos podemos refletir sobre a

importância da formação no âmbito da avaliação no pré escolar. O órgão de gestão da

escola poderia proporcionar aos seus docentes planos de formação nesta área para que,

em cooperação, existisse um eixo de ligação entre todas as práticas de avaliação

preconizadas nesta instituição. Não é generalizar nem promover a ideia de todos

terem de fazer igual, mas sim abrir portas, fornecer momentos privilegiados para o

debate/discussão da importância da avaliação para um ensino de qualidade. Seria

importante a direção assumir um papel de supervisão na área de avaliação e

implementação da mesma nas práticas pedagógicas dos educadores da sua instituição.

Parece evidente a necessidade de criar instrumentos de observação, com que

todas as educadoras se identifiquem, que lhes permita fazer um registo estruturado

que dê visibilidade (o mais próximo do real) ao educador do desenvolvimento da

criança.

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108

Tendo em conta os intervenientes no processo de avaliação, as educadoras do

estudo referem a importância dos encarregados de educação/família e preconizam

algumas formas de isso acontecer, no entanto este processo ainda assume um papel

informal. Parece então que este ponto ainda se encontra num estado embrionário pois,

é considerada a sua relevância, no entanto a forma de concretização está apenas

representada na transmissão dos resultados de avaliação (fichas entregues aos pais) e

na troca verbal de informações informais que acontecem no dia a dia.

As educadoras consideram a criança como o principal agente da avaliação e

assumem o seu papel como reguladoras e orientadoras no processo de ensino

aprendizagem. Valorizam a autoavaliação que é preconizada nas suas salas de aula, há

a salientar a educadora Anabela que identifica o portfólio como uma estratégia de

avaliação que suscita a participação da criança na sua autoavaliação, na reflexão do

seu trabalho favorecendo a responsabilidade e a autorregulação. É de realçar a

importância que se dá à comunicação/diálogo entre educador/criança e a criança e os

seus pares, tal como é enunciado por Leonor Santos (2010), com vista a estabelecer

desde cedo critérios de avaliação justos e entendidos pelas crianças.

Focam ainda a importância da discussão e entreajuda do corpo docente como

uma mais valia e consideram as colegas como intervenientes no processo, embora

numa escala reduzida tendo em conta toda a análise dos dados

Entende-se ainda que seria pertinente a atualização de informação ao nível da

legislação, quer por parte da direção da escola quer pelas próprias educadoras.

E este estudo confirma a necessidade da existência de formação especifica na

área de avaliação, observação, e instrumentos para o processo de avaliação. Esta

formação deve ser realizada numa perspetiva de formação e desenvolvimento

profissional.

Limitações do Estudo

As limitações deste estudo devem-se ao facto de ter sido realizado numa

realidade muito particular e o número de participantes do estudo ser reduzido.

Há ainda a considerar a falta de experiência do investigador, tendo este sido o

seu primeiro trabalho de investigação com estas dimensões.

Page 123: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

109

A recolha de dados embora seja diversificada revelou-se pouco enriquecedora

uma vez que a instituição escolhida não comtempla os seus documentos devidamente

concluídos.

A opção de análise de dados: análise de conteúdo, é um processo

relativamente complexo que também exige alguma prática e capacidade de sintetizar

que só se consegue após muitas leituras e muitas dificuldades ultrapassadas.

A dificuldade em manter a investigação num período de curto espaço de

tempo, por razões pessoais e profissionais do investigador, veio a revelar-se como

uma das limitações do estudo.

Impacto no desenvolvimento pessoal e profissional

Apesar das diferentes limitações apresentadas, este estudo revelou-se para o

investigador como uma grande etapa de desenvolvimento ao nível pessoal e

profissional. Por não saber bem a onde lhe levava este nascer agitado de ideias que se

foram levantando ao longo do seu percurso académico, foi necessário fazer uma

paragem para refletir e organizar o caminho a percorrer. Neste sentido o Eu

profissional e o Eu investigador tiveram alguma dificuldade em se dissociar por esta

ser uma realidade tão próxima, as ideias, concepções, crenças e vivências estarem

muito presentes ao mesmo tempo que fervilhavam e borbulhavam questões com ansia

de reposta.

Existe plena consciência que após ler e escrever estas ultimas linhas o

investigador, se voltasse ao inicio do trabalho teria outros conhecimentos, outra visão

e/ou outras formas de questionar, não por encontrar controvérsias mas antes por

surgirem outras vivências outras formas de estar e agir.

O estudo desenvolvido representou sem duvida alguma um valor acrescentado,

quer ao nível pessoal como profissional, para o investigador.

É um tema recente para o nível de ensino estudado e ainda pouco preconizado nas

escolas fora da rede pública.

Foi muito importante definir o enquadramento teórico pois ajudou a esclarecer

uma área de conhecimento que contribuiu para contextualizar e aprofundar o

conhecimento do investigador, preparando-o para futuros problemas que pudessem

surgir ao longo da investigação.

Page 124: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

110

O decorrer do estudo contribuiu para a compreensão das dificuldades e dos

constrangimentos dos educadores em definir e assumir o papel preponderante da

avaliação no ensino pré escolar.

Permitiu perceber quais os mecanismos e estratégias que os educadores usam

como forma de avaliação. Permitiu ainda entender que nos seus Saberes e no seu

diálogo simples existe muito conhecimento subjacente.

Sem duvida alguma que o próprio conceito de avaliação entendido pelo

investigador no inicio do trabalho foi acrescido de mais valor e conhecimento,

revelando-se surpreendentemente rico e diferente do seu conceito inicial.

A prática reflexiva e o seu papel no desenvolvimento profissional tornou-se

um tema bastante importante para o investigador na medida em que também ele teve

uma atitude reflexiva com intuito de melhorar, não só no papel de investigador como

também na sua prática profissional.

O percurso não se encontra finalizado, esta foi apenas uma porta aberta entre

muitas que se poderão abrir. Impera no investigador o querer saber mais e o querer

responder a muitas perguntas que vão surgindo pois prevalece sempre a necessidade

de saber mais.

Ao olhar para trás no tempo, e ao refletir em todo o processo desta

investigação, não se pode ser o mesmo. Houve crescimento e desenvolvimento

pessoal e profissional. E quando se volta o rosto para a frente e se pensa no futuro,

não será mais igual, mas antes um reconhecer de que o que aqui foi estudado e

investigado terá precursão também na prática pedagógica. Docente mais atento,

versátil e empreendedor é o que este jovem investigador quer Ser.

Proposta para futuros estudos

Com este estudo levantam-se então algumas linhas orientadoras possíveis de

serem estudas futuramente:

• Considerando os resultados obtidos, aferir se educadores em contextos

diferentes (ensino privado e particular) estão em sintonia no conceito/processo

de avaliação e como o praticam;

Page 125: UNIVERSIDADE DE LISBOA A Avaliação no Ensino Pré Escolar:

111

• Aferir de que forma a legislação é ou não implementada e que

vantagens/desvantagens tem, qual a sua funcionalidade com vista a promover

um ensino de qualidade;

• A necessidade de realizar formação em contexto como promotora de boas

práticas;

• Investigar a necessidade de criar redes de apoio e suporte organizacional de

promoção da avaliação neste nível de ensino;

• Investigar a articulação que existe entre o formação inicial e a entrada na rede

profissional: apoio e supervisão de práticas avaliativas;

• Estudar/analisar documentação e instrumentos de observação do

desenvolvimento de competências das crianças, que possam ser promotores de

práticas pedagógicas avaliativas formativas.

Acreditando que estas linhas orientadoras para futuras investigações possam ser

um espaço de reflexão, conhecimento e enriquecimento na perspetiva dos docentes se

tornarem também eles mais participantes e conhecedores da avaliação no pré escolar.

Promover o reconhecimento deste nível de ensino e a importância da avaliação como

processo de aprendizagem desde a mais tenra idade.

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Legislação Consultada Decreto-Lei n.º 5/97 de 10 de Fevereiro - Lei Quadro da Educação Pré-Escolar Decreto- Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro. (promover a igualdade de oportunidades, valorizar a educação e promover a melhoria da qualidade do ensino). Decreto-Lei n.º 147/97, de 11 de Julho, (estabelece o Regime Jurídico do Desenvolvimento e Expansão da Educação Pré-Escolar e define o respectivo sistema de organização e financiamento). Decreto-Lei n.º 241/2001, de 30 de Agosto. (Aprova os perfis específicos de desempenho profissional do educador de infância e do 1º ciclo do ensino básico) Anexon.º1, II, e) Circular n.:4/DGDIDC/DSD/2011 (2011, 3): Avaliação na educação pré escolar. Ministério da educação DGIDC Despacho n.º 522/97 4 de Agosto, (define as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar). Despacho nº 11120-A/2010 de 6 de Julho , (Define os parâmetros gerais relativos à organização do ano escolar nos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário e determina que as datas previstas para o início e termo dos períodos lectivos, interrupção das atividades lectivas, momentos de avaliação e classificação, realização de exames e de outras provas constem de despacho anual do Ministro da Educação).

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Anexos

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Anexo 1

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Maria João Fonseca

Av. Carlos Oliveira nº28 3ºFrt

2840-215 Seixal

Exmo. Sr. Vice-presidente do

Centro de Assistência Paroquial de

Amora / Instituição de

Solidariedade Social

Dr. António Figueiredo

Sendo a educação pré-escolar uma das valências da instituição que preside e tendo eu

também feito parte dessa grande instituição da qual guardo uma grande saudade,

venho solicitar-lhe autorização para que, junto de três das educadoras da sua

instituição possa desenvolver uma investigação, no âmbito da minha tese de Mestrado

em Supervisão e Avaliação da Prática Profissional.

Desta forma o meu trabalho focar-se-á em compreender quais as concepções e

práticas de avaliação que tem um Educador no ensino pré-escolar, contribuindo para

uma maior e melhor compreensão do trabalho desenvolvido pelas colegas educadoras

na valência de jardim-de-infância.

Com a vossa ajuda poderei elaborar a minha tese, recorrendo a algumas entrevistas às

educadoras e análise documental. Importa ainda referir que será mantido o anonimato

da instituição das educadoras e das crianças.

Certa de que o meu pedido será correspondido, subscrevo-me com elevada

consideração.

Atentamente

Maria João O. Fonseca

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Anexo 2

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Guião da entrevista Identificação Conceito de avaliação Objectivos especifico:

• Compreender que concepção tem o educador sobre a avaliação no ensino pré-escolar

• Identificar se o entrevistado faz algum tipo de avaliação no pré-escolar Práticas de avaliação Objectivo específicos:

• Identificar que tipos de estratégias são utilizados para fazer uma avaliação • Compreender qual a sua intencionalidade educativa ao praticar a avaliação • Perceber se a avaliação interfere na sua prática pedagógica

Participação das crianças Objectivo específico: Perceber se existe, no processo de avaliação algum tipo de envolvimento por parte do avaliado Participação dos Encarregados de educação na avaliação Objectivo específico:

• Compreender se existe, no processo de avaliação, algum tipo de envolvimento dos encarregados de educação.

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Guião da entrevista Identificação

1. Quantos anos tem de serviço? 2. Qual o seu percurso profissional?

Conceito de avaliação

1. O que entende por avaliação? 2. Acha importante fazer avaliação das crianças no pré-escolar? Se sim, para

quê? 3. O projecto educativo da escola contempla a avaliação das crianças do pré-

escolar? Como? 4. Acha que, o que valoriza nas aprendizagens das crianças, está representado na

forma de avaliação do projecto educativo de escola? 5. E o seu projecto pedagógico contempla a avaliação das crianças do seu grupo?

De que forma? 6. Acha importante identificar os sucessos/dificuldades das crianças?

Como faz e para quê? Práticas de avaliação

1. O que avalia? 2. Quais os seus objectivos ao avaliar? 3. Como e quando avalia? 4. Qual a utilidade dessa avaliação? 5. Que procedimentos/ instrumentos utiliza para fazer a avaliação? 6. Acha que a avaliação das crianças pode contribuir para melhorar as

aprendizagens das mesmas? Se sim, de que forma? Um exemplo

7. Acha que a avaliação das crianças pode promover alterações na sua prática pedagógica? Pode dar exemplos?

Participação das crianças

1. Acha importante a participação das crianças no processo de avaliação? Se sim, explique de que forma e qual o objectivo.

2. Se não, porquê? Participação dos Encarregados de educação na avaliação

1. Acha importante a participação dos Encarregados de educação no processo de avaliação dos seus educandos? Se sim, explique de que forma e qual o objectivo?

2. Existe algum documento de avaliação que seja entregue aos familiares?

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Se sim, qual é? Quem o elaborou? Para que serve esse documento? Porque é entregue aos familiares?

Se não, porque razão? 3. Acha importante para o processo de avaliação a troca de informações com os

pais? Se sim, que tipo de comunicações existem? Como faz e com que objectivo o faz?