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Universidade de Lisboa Instituto Politécnico de Lisboa Faculdade de Medicina Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa Tratamento cirúrgico da obesidade Avaliação do estado nutricional e alteração de micronutrientes Doralene Adelaide Silva Alves Da Cruz Orientadores: Profª. Doutora Zélia da Conceição da Costa Coelho Santos Profº. Doutor Lino Jorge de Jesus Mendes Relatório de Estágio especialmente para obtenção do grau de Mestre em Nutrição Clínica Lisboa, 2016

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Universidade de Lisboa Instituto Politécnico de Lisboa

Faculdade de Medicina Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

Tratamento cirúrgico da obesidade

Avaliação do estado nutricional e alteração de micronutrientes

Doralene Adelaide Silva Alves Da Cruz

Orientadores: Profª. Doutora Zélia da Conceição da Costa Coelho Santos

Profº. Doutor Lino Jorge de Jesus Mendes

Relatório de Estágio especialmente para obtenção do grau de Mestre

em Nutrição Clínica

Lisboa, 2016

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“ A impressão desta dissertação foi aprovada pelo Conselho Científico da

Faculdade de Medicina de Lisboa em reunião de 20 de Setembro de 2016”

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Universidade de Lisboa Instituto Politécnico de Lisboa

Faculdade de Medicina Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

Tratamento cirúrgico da obesidade

Avaliação do estado nutricional e alteração de micronutrientes

Doralene Adelaide Silva Alves Da Cruz

Orientadores: Profª. Doutora Zélia da Conceição da Costa Coelho Santos

Profº. Doutor Lino Jorge de Jesus Mendes

Relatório de Estágio especialmente para obtenção do grau de Mestre

em Nutrição Clínica

Lisboa, 2016

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iv

Agradecimentos

À minha orientadora e ao meu co-orientador, pela orientação, dedicação, apoio, partilha de

sabedoria durante todo o meu estágio.

Ao Hospital Egas Moniz (HEM) por me ter integrado e a todos os profissionais e pacientes

pela possibilidade de aplicar, exercitar e desenvolver os meus conhecimentos.

Aos meus pais, ao restante da minha família e meus amigos pelo companheirismo e apoio a

vários níveis ao longo desses dois anos de mestrado.

A todos que de uma forma directa ou indirectamente fizeram parte deste projecto e ajudaram-

me ao longo da minha vida académica.

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v

Índice

Agradecimentos ....................................................................................................................................... iv

Índice de gráficos .................................................................................................................................... vi

Índice de tabelas ..................................................................................................................................... vii

Índice de figuras .................................................................................................................................... viii

Lista de abreviaturas ................................................................................................................................ ix

Parte A ..................................................................................................................................................... 1

Resumo .................................................................................................................................................... 1

Abstract ................................................................................................................................................... 2

Nota prévia .............................................................................................................................................. 3

2. Introdução ........................................................................................................................................ 4

3. Objectivos de estágios ................................................................................................................... 10

3.1. Objectivos gerais ................................................................................................................... 10

3.2. Objectivos específicos ........................................................................................................... 10

4. Caracterização do estágio .............................................................................................................. 11

3.1. Local, duração e orientação ........................................................................................................ 11

5. Atividades realizadas ..................................................................................................................... 12

5.1. Internamento .......................................................................................................................... 12

5.2. Consulta externa de Nutrição - TCO ..................................................................................... 16

5.3. Consultas de grupo de TCO .................................................................................................. 20

6. Competências adquiridas ............................................................................................................... 21

7. Análise Critica e conclusão ........................................................................................................... 22

8. Referências bibliográficas ............................................................................................................. 24

Parte B ................................................................................................................................................... 27

Resumo .................................................................................................................................................. 27

Abstract ................................................................................................................................................. 29

1. Introdução ...................................................................................................................................... 31

2. Objectivos ...................................................................................................................................... 33

2. Metodologia................................................................................................................................... 34

1. Resultados ..................................................................................................................................... 38

2. Discussão dos resultados ............................................................................................................... 43

3. Conclusão ...................................................................................................................................... 46

4. Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 47

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Índice de gráficos

Gráfico 1 – Distribuição dos doentes segundo o sexo ............................................................. 13

Gráfico 2 – Distribuição dos doentes segundo os diferentes serviços ..................................... 13

Gráfico 3 – Distribuição dos doentes segundo a identificação de risco ................................... 14

Gráfico 4 – Distribuição dos doentes segundo os principais motivos de internamento ........... 15

Gráfico 5 – Distribuição dos utentes segundo o tipo de consulta ............................................ 17

Gráfico 6 – Distribuição do utente segundo o sexo ................................................................. 17

Gráfico 7 – Distribuição dos utentes quanto à prática de atividade física ............................... 18

Gráfico 8 – Distribuição dos utentes quanto os tipos de padrões alimentares ......................... 19

Gráfico 9 – Distribuição dos utentes quanto a realização e o tipo de cirurgia ......................... 19

Gráfico 10 – Comportamento do IMC ao longo do tempo e de acordo com os métodos

cirúrgicos .................................................................................................................................. 39

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Índice de tabelas

Tabela 1 – Caracterização dos doentes quanto à idade ............................................................ 14

Tabela 2 – Caracterização dos doentes quanto ao IMC ........................................................... 14

Tabela 3 – Distribuição dos doentes em risco nutricional segundo os serviços de internamento

.................................................................................................................................................. 15

Tabela 4 – Distribuição dos doentes segundo a atividade realizada ........................................ 16

Tabela 5 – Caracterização dos utentes quanto à idade ............................................................. 18

Tabela 6 – Caracterização dos utentes quanto ao IMC ............................................................ 18

Tabela 7 – Classificação dos utentes quanto o Perímetro de cintura ....................................... 18

Tabela 8 – Avaliação antropométrica no pré-operatório, 1 ano, 2 anos e 3 anos pós-operatório

.................................................................................................................................................. 38

Tabela 9 – Média da percentagem de excesso de peso perdido segundo os métodos em

avaliação ................................................................................................................................... 39

Tabela 10 – Média dos valores do consumo de energia, macro e micronutrientes no pré-

operatório e três anos pós-operatório ....................................................................................... 41

Tabela 11 – Valores do consumo da suplementação de acordo com os métodos cirúrgicos ... 42

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Índice de figuras

Ilustração 1 – Fluxograma da metodologia do estudo .............................................................. 37

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Lista de abreviaturas

BGA – Banda Gástrica Ajustável

CHLO – Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental

DHC – Doença Hepática Crónica

SND – Serviço de nutrição e dietética

DRI – Referência para Ingestão Dietética

HBV – Vírus Hepatite B

HC – Hidratos de Carbono

HCV – Vírus Hepatite C

HEM – Hospital Egas Moniz

HPV – Vírus do Papiloma Humano

NRS 2002 – Nutritirional Risk Screening 2002

OMS – Organização Mundial de Saúde

RYGB – Roux-en-Y Gastric Bypass

SG – Sleeve Gástrico

SGA – Subjective Global Assessment

SND – Serviço de Nutrição e Dietética

SPSS –- Statistical Package for the Social Sciences

TCO – Tratamento Cirúrgico de Obesidade

HTA – Hemorragia do tracto gastrointestinal

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Parte A

Resumo

A desnutrição associada à doença crónica é ao mesmo tempo causa e efeito da própria doença.

Se por um lado a doença pode ser causa de desnutrição, por outro lado a desnutrição pode ser

responsável pelo aparecimento e agravamento da doença. A identificação do risco nutricional,

avaliar o grau de desnutrição, e determinar o suporte nutricional são aspectos fundamentais no

TCO, nas fases pré e pós operatórias. Existem diferentes instrumentos que têm sido

desenvolvidos no âmbito do tratamento cirúrgico da obesidade e são, aplicados diariamente

nos hospitais pelos profissionais de nutrição em âmbito de consulta de nutrição e dietética e

internamento, nas diferentes fases do tratamento.

No presente trabalho em âmbito de internamento foram observados 111 doentes de diferentes

serviços, no qual foi aplicado 75 NRS e 19 SGA para a identificação de risco nutricional, e

29% desses doentes encontravam em risco de nutrição. Foram realizados 99 monitorizações

54 ensinos e 103 personalizações. Em consultas externas de TCO foram realizadas 61

consultas, 20% primeiras consultas e 80% consultas de seguimento. Durante as consultas foi

realizado identificação de risco nutricional e avaliação do estado nutricional. Perante a

anamnese e padrão alimentar, era indicado um possível método cirúrgico à equipa

multidisciplinar de TCO e elaborado um plano alimentar de acordo com o seu perfil

nutricional.

Conclusão: Com a prestação de cuidados nutricionais e intervenção do nutricionista, tenta-se

evitar ou reverter a desnutrição, evitar ou melhorar a deterioração da função física e mental do

doente, reduzir o número ou a gravidade das complicações da doença e/ou do seu tratamento,

reduzir o tempo de convalescença, melhorar a evolução clínica do doente e encurtar o tempo

de internamento e com isso reduzir o consumo de recursos e os custos, tanto em regime de

internamento como ambulatório, actuando desde a prevenção, convalescença e recuperação.

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2

Abstract

The malnutrition associated to the chronic disease is at the same time cause and consequence

of the disease. The disease is the cause for malnutrition, and the malnutrition is responsible

for the disease’s appearance and aggravation. The identification of the nutritional risk,

evaluation of the malnutrition degree, and identification of nutritional support are

fundamental aspects to obesity surgical treatment, during pre and post-surgery. There have

been developed several instruments to aid obesity surgical treatment, which are applied daily

in hospitals by nutrition professionals during nutrition and dietetics appointments, in the

different phases of treatment.

During hospitalization 111 patients from different services were observed, in which 75 NRS

AND 19 SGA were applied to identify nutritional risk, and 29% of these patients presented

nutritional risk. There were performed 99 monitoring, 54 teachings, and 103 personalization.

During external appointments for obesity surgical treatment 61 appointments occurred, 20%

appointments at first and 80% appointments next. During appointments identification of

nutritional risk and evaluation of the nutritional state were performed. According to

anamnesis and eating habits, a surgical method and an eating plan according to the patients

profile was indicated.

Conclusion: With nutrition and the intervention of a nutritionist, there is an attempt at

avoiding or reverting malnutrition, avoid or improve the deterioration of the physical or

mental condition of the patient, reduce the number of or seriousness of the disease’s or

treatment’s complications, reduce the convalescence period, improve the patient’s clinical

evolution and shorten the hospitalization period and therefor reducing the cost and resource

consumption.

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Nota prévia

Este trabalho consiste no relatório de estágio do Mestrado em Nutrição Clinica, realizado no

Serviço de Nutrição e Dietética do Centro Hospital Lisboa Ocidental - Hospital Egas Moniz

(CHLO-HEM), promovido pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e pela

Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa.

O mestrado com parte teórica e prática constitui uma aquisição de conhecimentos na área de

Nutrição Clínica, prevendo uma maior especialização na intervenção junto a pacientes no

contexto clínico.

Durante o estágio tive a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos durante o

mestrado e de aprender com a experiência dos profissionais que acompanharam-me e que

fazem parte desta instituição.

Com este relatório pretendo caracterizar a instituição que me acolheu e fazer uma descrição

das atividades desenvolvidas ao longo do estágio curricular, em que foi possível associar a

sabedoria teórica a sabedoria prática.

O meu estágio curricular teve como principal área de actuação a Nutrição Clínica, em que tive

oportunidade de participar em atividades, como por exemplo, nos serviços de internamento,

nas especialidades de gastroenterologia, cirurgia, medicina, entre as neurociências e consultas

externas de Tratamento Cirúrgico de Obesidade (TCO), desenvolvidas pela equipa de nutrição

em meio hospitalar.

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2. Introdução

Em ambiente hospitalar é muito frequente encontrar doentes com o estado nutricional

comprometido e este, pode ter influência nas taxas de morbidade e mortalidade(1)

.

A desnutrição associada à doença está diretamente relacionada com graves consequências

físicas e psicossociais para o doente, aumentando significativamente, não só a morbilidade e a

mortalidade(2)

, como também o tempo de internamento do doente e os custos com os cuidados

de saúde hospitalares(3)

. A desnutrição associada à doença é ao mesmo tempo causa e efeito

de doença. Se por um lado a doença pode ser causa de desnutrição, por outro lado a

desnutrição pode ser responsável pelo aparecimento e agravamento da doença(2)

.

No internamento, durante o meu estágio, tive a oportunidade de aplicar os meus

conhecimentos sobre nutrição e relacionar com diferentes patologias, tais como:

Doença Hepática Crónica – A Doença Hepática Crónica (DHC) é uma das maiores causas

de morbilidade e mortalidade global. A sua prevalência difere de continente para continente,

atingindo aproximadamente 300 milhões de pessoas em China, 29 milhões em União

Europeia e mais de 8 milhões em Austrália(4)

. Esta patologia tem diferentes e múltiplas

causas, nomeadamente, infecciosa, tóxica, metabólica e hereditárias, tornando difícil a sua

prevenção e controlo. As principais etiologias da DHC incluem doença hepática alcoólica,

infecções com HBV e HCV, esteatohepatite não alcoólico, hemocromatose, doença Wilson(5)

,

deficiência de alfa 1 anti tripsina, carcinoma hepatocelular, cirrose(6)

, hepatite crónica auto-

imune(5)

. Independentemente da etiologia, a maior parte da morbilidade e mortalidade por

DHC ocorre em indivíduos com cirrose, que estão em risco de desenvolver complicações, tais

como, ascite, encefalopatia hepática, varizes hemorrágicas e cancro hepático. Estes indivíduos

devem seguir algumas restrições alimentares, medicamentos, teste de laboratório visitas

clinicas. Além disso, os doentes com cirrose descompensada sofrem de complicações

debilitantes com impacto na qualidade de vida individual e nas atividades de vida diárias(4)

.

Estudos verificaram que pessoas diagnosticadas com DHC têm uma má compreensão das

causas, susceptibilidades, prevenção e atitudes relacionadas com a doença. Também têm uma

falta de conhecimento adequado sobre os factores de risco, sintomas e outras informações

importantes, necessárias para auto gerir a doença(4,5)

.

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Pancreatite – é uma alteração inflamatória prevalente do pâncreas associada a uma elevada

taxa de morbilidade e mortalidade e com um peso socioeconómico mundial significativo. A

pancreatite pode ser aguda e crónica(7)

. A pancreatite aguda é uma das doenças

gastrointestinais mais comum que necessidade de uma hospitalização aguda mundialmente(8)

.

A sua incidência vem aumentando mundialmente, com incidência anual de 13-45 casos por

100.000 pessoas(9)

. A sua taxa de mortalidade é de 30% em casos graves(8)

. As principais

causas da pancreatite aguda são os cálculos biliares e consumo excessivo de álcool. É

importante distinguir as causas para haver uma adequada intervenção(9)

. Os cálculos biliares

são a principal causa de pancreatite aguda, juntamente com factores associados a doenças

biliares e coledocolitíase, tais como, obesidade e hipertrigliceridemia(7)

. A pancreatite aguda

manifesta-se através de dores abdominais, náuseas e vómitos biliosos, tendo como principais

complicações, as complicações locais e sistémicas, ascite e necrose pancreática(9)

. A

pancreatite crónica baseia-se em danos nas células acinar pancreáticas, que começam a

libertar enzimas pancreáticos sintetizados no interstício, desencadeando assim a inflamação.

Leva à substituição progressiva do parênquima pancreático por tecido fibroso. É menos

prevalente que a pancreatite aguda, com uma taxa de prevalência anual de 5-12 casos por

100.000 pessoas. Está associada principalmente a toxicidade provocada com o consumo

excessivo do álcool, espectro endócrino crónico e insuficiência pancreática crónica,

manifestando-se em desnutrição, diabetes mellitus, deficiências, custos médicos e perda da

qualidade de vida(7)

.

Doença diverticular – é uma lesão benigna do tracto gastrointestinal bastante comum(10)

, que

tem aumentado na sociedade Ocidental. Afecta 5-25% dos indivíduos com 50 anos e 60% nos

com 80 anos. A doença diverticular, na maioria das vezes é assintomática, com uma baixa

incidência de complicações durante a vida dos doentes. É uma das maiores causas de

admissão hospitalar (11)

. A complicação mais frequente da doença diverticular é a diverticulite

aguda(12)

, com uma ocorrência de 1- 4,3% nos pacientes com doença diverticular(11)

. A

diverticulite aguda é classificada em diverticulite aguda com complicações e diverticulite

aguda sem complicações. A maioria dos episódios de diverticulite aguda é a sem

complicações, diagnosticada através da inflamação da parede do intestino, divertículos e/ou

encalhe do tecido mole da gordura pericólica(11)

, enquanto, a com complicações está associada

com abcesso, fístula, obstrução e perfuração intestinal, estenose e hemorragia diverticular(12)

.

O tratamento da diverticulite aguda sem complicações passa por hospitalização, repouso

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intestinal, fluido intravenosos, substituição de electrólitos e antibioterapia(11)

. A diverticulite

aguda com complicações pode requerer intervenção cirúrgica(12)

.

Doença de Chron – É uma das principais doenças crónica do tracto gastrointestinal, de

etiologia desconhecida, caracterizada por inflamação granulomatosa não caseosa do tracto

gastrointestinal(13)

, com um aumento de incidência e prevalência nos países em

desenvolvimento(14)

, 0,007 – 0,27%(15)

. A doença de Chron pode afectar todo o tracto

intestinal, da boca até o ânus, com sintomas tais como, dor abdominal, febre, vómito, diarreia,

sangramento rectal, anorexia e letargia(14,15)

. Manifestações extra intestinais, sendo a mais

comum as cutâneas, podem ocorrer em 6 – 40% dos doentes. Algumas dessas manifestações

estão relacionadas com a atividade da doença de Chron, enquanto outras são

independentes(13)

. Devido a estas manifestações, a doença de Chron tem um impacto

significativo na qualidade de vida e na carga pessoal dos doentes, através do mau estar

psicossocial, com consequências de grande impacto nos relacionamentos, na vida sexual, na

redução da capacidade de trabalho, a curto e longo prazo, interrupção do trabalho, restrições

do tempo de lazer, além disso representa um enorme fardo sobre os recursos de cuidados de

saúde e na economia dos doentes(14,15)

.

Colecistite – é uma inflamação da vesicula biliar, podendo desenvolver-se de forma aguda,

associada a litíase biliar, ou sem litíase biliar, que é menos frequente. Normalmente, mais de

80%, os doentes com litíase biliar não tem sintomas, ou seja são assintomáticos. A colecistite

aguda ocorre predominantemente como uma complicação da litíase biliar e desenvolve-se,

normalmente, em doentes com litíase biliar sintomático, correspondendo a 1 - 3% dos doentes

com litíase biliar. É caracterizada por dor no quadrante superior direito, febre e leucocitose

associada a inflamação da vesícula biliar. Vários estudos têm demonstrado que a litíase biliar

é um problema de saúde importante nos países desenvolvidos e é uma das principais causas

de hospitalização relacionadas com doenças gastrointestinais. O tratamento da colecistite

aguda é essencialmente a cirurgia(16)

. A colecistectomia laparoscópica é considerada a cirurgia

standart para a litíase biliar sintomático(17)

. Contudo o grau de inflamação e as condições do

paciente com as suas co morbilidades contribuem para indicar a melhor opção terapêutica

para cada doente. Alguns estudos mostram que o tratamento precoce reduz o tempo total de

internamento e diminui as complicações ou taxa de conversão(18)

.

Neoplasia – neoplasia é o desenvolvimento rápido de células anormais que crescem para

além dos seus limites habituais e que podem invadir partes adjacentes do corpo e se

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disseminam para outros órgãos. Este processo é chamado de metástase, sendo esta a principal

causa de morte por neoplasia. A neoplasia é o maior problema de saúde pública, pode ter

consequências graves para a saúde e é uma das principais causas de morte. Os tipos de

neoplasia mais comum nos homens são: pulmão, próstata, colo-rectal, estômago e fígado,

enquanto na mulher os mais comuns são: mama, colo-rectal, pulmão, colo uterino e estômago.

A neoplasia tem como principais factores de risco, uso de tabaco, uso de álcool, dieta não

saudável, inatividade física sendo o tabaco o mais importante, causando cerca de 20% das

mortes por neoplasia global e 70% de neoplasia do pulmão e algumas infecções virais

crónicas, como o HBV/HCV e HPV são causadores de 20% das mortes por neoplasia em

países de desenvolvimento baixo e médio. As principais regiões afectadas por este problema

de saúde são a África, Ásia, América Central e do Sul. Estas regiões são responsáveis por

mais de 70% das mortes por neoplasia no mundo. Mais de 30% das neoplasias podem ser

evitados, se forem alterados ou evitados os principais factores de risco. A taxa de mortalidade

por neoplasias pode ser reduzida, se forem diagnosticadas e tratadas precocemente(19)

.

Diabetes mellitus tipo 2 – diabetes mellitus é uma doença metabólica, caracterizada por uma

hiperglicemia, que resulta da deficiência na secreção de insulina, na sua acção ou em

ambas(20)

. Diabetes Mellitus tipo 2, conhecida por diabetes insulino-resistente não

dependente, é responsável por 90 – 95% de todas as diabetes. Este tipo de diabetes é comum

em indivíduos com resistência a insulina e normalmente tem deficiência relativa de insulina.

Estes indivíduos, inicialmente e muitas vezes ao longo da vida, não precisam de tratamentos

com insulina para sobreviverem(21)

. Tem-se verificado, em todas as regiões do mundo, um

aumento da prevalência da diabetes mellitus tipo 2, devido a diversas causas (22)

. Embora as

etiologias específicas são desconhecidas, a destruição das células β auto-imunes não ocorre e

os pacientes não têm qualquer das outras causas conhecidas da diabetes. A maioria dos

doentes tem excesso de peso ou são obesos. Os que não têm excesso de peso ou obesidade,

pelo critério da Organização Mundial de Saúde (OMS), podem ter maior percentagem de

gordura corporal distribuída na região abdominal. O excesso de peso, por si só, causa um

certo grau de resistência a insulina(21)

. O risco de desenvolver este tipo de diabetes aumenta

com a idade, obesidade e inatividade física(20,21)

. A diabetes tipo 2 tem complicações

classificadas como microvasculares e macrovasculares, que resultam em retinopatia,

nefropatia, neuropatia, doença cardíaca coronária, doença vascular cerebral, doenças

vasculares periféricas. Também é conhecido por afectar, directa ou indirectamente, outros

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sistemas, incluindo o músculo-esquelético, hepático e digestivos, bem como o funcionamento

cognitivo e de saúde mental e está cada vez mais associada a diversos tipos de cancro(22)

.

Obesidade – A obesidade (IMC ≥ 30 Kg/m2) é definida pela OMS como uma acumulação de

gordura excessiva que apresenta um risco para a saúde(23)

. A prevalência do excesso de peso e

obesidade em adultos tem aumentado mundialmente. Em 2014, 39% da população mundial

tinha excesso de peso (39,6 nas mulheres e 38,5 nos homens) e 12,9% eram obesos (15,2%

nas mulheres e 10,7% nos homens)(24)

. A obesidade tem como principais factores de risco,

factores genéticos, alimentação desequilibrada, inatividade física, ambientais e

socioeconómicos(25,26)

. A obesidade está ainda relacionada com menor número de refeição por

dia, comer fora de hora e com elevada frequência, consumo de fast food, que está associada a

maior ingestão energética, gorduras saturadas, consumo de bebidas açucaradas e baixa

ingestão de frutas, vegetais e leite(27)

. A obesidade, especialmente a mórbida (IMC ≥ 40) é

conhecida como um forte factor de risco para várias doenças, como doenças crónicas não

transmissíveis, insuficiência respiratória, alguns tipos de neoplasia, e morte prematura(28)

.

Atualmente, para o tratamento e controle da obesidade estão disponíveis diversos tratamentos:

dietas (low calorie diet e very low calorie), programas de atividade física, medicamentos e

psicoterapia(28)

. No entanto, a cirurgia bariátrica é o melhor tratamento para atingir e manter

uma perda de peso sustentável a longo prazo para indivíduos com obesidade classe II (IMC

≥35 kg/m2), classe III (IMC ≥40 kg/ m

2) e para indivíduos cujo tratamento clássico de perda

de peso não foi eficaz. Também foi considerada o melhor tratamento para obesidade classe II

e III quando ocorre comorbilidades(29)

.

Os procedimentos cirúrgicos podem ser divididos em: cirurgia restritiva que inclui o sleeve

gástrico e a banda gástrica ajustável por laparoscopia, em que se reduz a ingestão oral

limitando o volume gástrico, produzindo a saciedade precoce e deixando o canal alimentar

intacto, minimizando assim os riscos de complicações metabólicas; cirurgia restritiva - mal

absortiva que inclui o bypass gástrico Roux-en-Y (considerado o gold standart), que envolve

mecanismos restritivos criando um pequeno reservatório gástrico que promove a saciedade

precoce levando a uma diminuição da ingestão e envolve mecanismos de má absorção; e

cirurgia mal absortiva que inclui a derivação biliopancreatico com ou sem duodenal switch

que reduz o tamanho do estômago e cria condições fisiológicas de má absorção(29, 30)

.

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Contudo, padrões alimentares como a compulsão alimentar, sweet eating, nigth eating,

nibbling, grazing, eating syndrome e perda de controlo alimentar, podem influenciar os

resultados da cirurgia bariátrica, aumentando o peso ou ter menor perda de peso(31)

.

Embora a obesidade mórbida seja uma doença de excesso de macronutrientes, muitos doentes

com obesidade têm défice de micronutrientes, ou seja trata-se de malnutrição(32)

. Muitos

desses défices de micronutrientes já existem antes do TCO, mas também estão associados aos

procedimentos que parecem ser mais eficazes na perda de peso, como o sleeve gástrico e o

bypass gástrico. Os principais micronutrientes em défice pós-cirurgia são o ferro, a vitamina

B12, ácido fólico, vitamina D e o cálcio(33)

. É essencial que o cirurgião trabalhe em equipa

multidisciplinar, que inclua diversas especialidades como: nutrição, psicologia,

endocrinologia, entre outras, para que juntos possam tentar evitar o reganho de peso e

aparecimento de défices nutricionais(34)

.

A implementação de um adequado suporte nutricional, deve ser considerado o método mais

adequado para prevenir défices nutricionais. No entanto, em doentes submetidos a cirurgia

bariátrica existe alguns factores (restrição de capacidade gástrica, intolerância a alimentos e

exclusão do estômago e intestino do trânsito alimentar) justificam a suplementação. Todos os

doentes submetidos ao bypass gástrico devem ser suplementados com polivitamínicos/

minerais que sejam o mais complexo possível, incluindo vitaminas lipossolúveis e

minerais(35,36)

.

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10

3. Objectivos de estágios

3.1. Objectivos gerais

Os objectivos gerais estabelecidos para o presente estágio foram os seguintes:

Consolidar e aprofundar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do mestrado

em nutrição clínica;

Contactar com a realidade profissional e integração na vida profissional;

Adquirir prática nutricional no seguimento de doentes internados;

Integrar e compreender a importância de uma equipa pluridisciplinar;

Adquirir sentido de responsabilidade, ganhar autonomia e segurança na prática

profissional;

Num contexto da nutrição clínica foram definidos objectivos identificados no item 3.2.

3.2. Objectivos específicos

Os objectivos específicos estabelecidos para o presente estágio foram definidos tendo como

tópicos:

Desenvolver capacidades de identificação de risco nutricional e de avaliação de estado

nutricional;

Desenvolver capacidades de administração de suportes nutricionais per os e artificiais

em doentes internados;

Assistir e realizar consultas de nutrição em doentes no ambulatório;

Caracterizar o estado nutricional dos doentes com a obesidade mórbida;

Caracterizar o padrão nutricional dos doentes submetidos a tratamento cirúrgico da

obesidade nomeadamente de macro e micronutrientes:

o Avaliar o aporte nutricional de ferro, ácido fólico, vitamina D e cálcio oral pré

e pós cirurgia;

o Caracterizar a suplementação nutricional;

o Caracterizar a evolução ponderal.

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11

4. Caracterização do estágio

3.1. Local, duração e orientação

O estágio foi realizado no Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do Centro Hospitalar de

Lisboa Ocidental EPE – Hospital Egas Moniz (CHLO - HEM) sob a orientação da Dra. Zélia

Santos, responsável pelo serviço de Nutrição e Dietética, e coorientada pelo Prof. Lino

Mendes, professor coordenador da Área Científica de Dietética da ESTeSL e docente do

mestrado de nutrição clínica.

O estágio teve a duração de 800 horas, com uma carga semanal de 35 horas, tendo iniciado no

dia 18 de Janeiro de 2016 e terminado no dia 13 de Maio de 2016.

O CHLO – HEM, localizado no Centro de Lisboa, foi constituído em 2005. Este Centro tem

como missão prioritária a prestação de Cuidados de Saúde Especializados à população da

Zona Ocidental de Lisboa e Oeiras, onde o seu maior empenho tem sido, manter a prestação

assistencial com qualidade em todas as áreas clinicas, a par de uma política de ajustamento

económico e financeiro que possibilite a sustentabilidade da instituição. Dispõe dos seguintes

Serviços: Cardiologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Endocrinologia, Medicina Interna,

Neurocirurgia, Gastrenterologia, Neurologia, Neurotraumatologia, Oftalmologia, ORL,

Ortopedia, Pneumologia, Unidade Cuidados Intensivos Médicos, Unidade de Cuidados

Intensivos NT, Unidade de doença Infecto-contagiosa e Urologia. Dispõe ainda por 13 salas

operatórias e diferenciados meios de diagnóstico e terapêutica, para além das consultas

externas.

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5. Atividades realizadas

5.1. Internamento

O SND, onde realizei o estágio, dá apoio clinico diário a todos os serviços de internamento de

HEM integrado no CHLO, bem como diariamente são realizadas consultas de nutrição e

dietética de apoio às diferentes especialidades médicas, em regime de ambulatório.

Durante o meu estágio tive oportunidade de avaliar utentes em diferentes serviços de

internamento, nomeadamente, nas especialidades de gastrenterologia, medicina interna,

endocrinologia, cirurgia geral, neurologia e psiquiatria, desenvolvidas pela equipa de nutrição

em meio hospitalar.

No internamento o serviço de nutrição tem um papel muito importante que consiste na

sistematização da informação clinica de todos os utentes em internamento, nomeadamente o

motivo de internamento, os antecedentes pessoais, os dados bioquímicos, os parâmetros

antropométricos, quando inseridos no processo. Após este levantamento procede-se as visitas

regulares aos doentes de forma a identificar e avaliar o estado nutricional dos utentes e

realizar a respectiva avaliação antropométrica para interpretação e categorização dos

resultados, personalizar o plano alimentar sempre que for possível, tendo em conta a patologia

e a história nutricional do utente e aferir o grau de satisfação destes.

Durante o estágio foram observados 111 doentes no internamento, no qual 65 (59%) era do

sexo masculino e 46 (41%) do sexo feminino (Gráfico 1). Dos doentes observados 19 estavam

no serviço de Gastrenterologia, 5 no de Medicina, 7 no de Endocrinologia, 53 no de Cirurgia

Geral, 18 no serviço de Neurologia e 9 no de Psiquiatria (Gráfico 2).

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A média das idades dos doentes no internamento foi de 64 anos (dp ± 17,85) (Tabela 1).

Verificou-se que, em média, os doentes têm excesso de peso com um IMC de 25,75 Kg/m2

(dp ± 4,76) (Tabela 2).

0

10

20

30

40

50

60

70

Masculino Feminino

65

46

19 5

7

53

18 9

Gastrenterologia

Medicina

Endocrinologia

Cirúrgia Geral

Neurológia

Psiquiatria

Gráfico 2 – Distribuição dos doentes segundo os diferentes serviços

Gráfico 1 – Distribuição dos doentes segundo o sexo

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Média Desvio

padrão

Máximo Mínimo

Idade 64 17,85 92 32

Tabela 1 – Caracterização dos doentes quanto à idade

Tabela 2 – Caracterização dos doentes quanto ao IMC

Durante o acompanhamento dos doentes no internamento foi feita a identificação de risco

nutricional e para tal foi usado dois instrumentos de identificação de risco, o NRS e o SGA.

Foi aplicado o NRS (n= 75) para identificação de risco nutricional, no qual 53 doentes

estavam sem risco nutricional e 22 estava em risco nutricional. Foi aplicado o SGA (n=19)

para avaliação nutricional (Gráfico 3). O SGA foi aplicado para verificar o grau de

desnutrição. Este instrumento só foi utilizado em doente com risco nutricional e serviu como

um complemento ao NRS.

Gráfico 3 – Distribuição dos doentes segundo a identificação de risco

Na tabela 3 está distribuído o número de doentes em risco nutricional segundo o serviço em

que se encontra internado. Dos doentes avaliados, observou-se que o serviço com maior

número de doentes em risco nutricional é o serviço de cirurgia geral (n=7).

0

10

20

30

40

50

60

Sem risco Com risco

53

22 19

NRS 75

SGA 19

Média Máximo Mínimo Desvio

padrão

IMC 25,75 39,79 14,73 4,76

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Tabela 3 – Distribuição dos doentes em risco nutricional segundo os serviços de internamento

No gráfico 4 estão representados alguns exemplos dos principais motivos de internamento

dos doentes. Verifica-se, no contexto analisado, que os principais motivos de internamento

são a Colecistite aguda (n=8) a as neoplasias (n=8), seguida da diverticulite aguda (n=7).

De acordo com o estado clinico, a patologia e as necessidades do doente, foi prescrita a

terapêutica clinica, onde se inclui o tipo de dieta. Após a prescrição da dieta, tive a

oportunidade de seguir utentes para determinar as necessidades nutricionais, avaliar estado

nutricional, supervisionar e adequar os planos alimentares e avaliar a satisfação dos doentes

em relação à alimentação, personalizando as dietas de acordo com as necessidades

nutricionais e energéticas do doente e suas preferências alimentares. Realizei diariamente a

sua monitorização e tive ainda oportunidade de realizar os ensinos da dieta aos doentes que

tinham a alta prescrita (Tabela 4).

0123456789

Serviços Risco nutricional

Gastrenterologia 4

Endocrinologia 4

Medicina 4

Neurologia 3

Psiquiatria 0

Cirurgia Geral 7

Gráfico 4 – Distribuição dos doentes segundo os principais motivos de internamento

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Tabela 4 – Distribuição dos doentes segundo a atividade realizada

5.2. Consulta externa de Nutrição - TCO

Existe dois tipos de consulta de nutrição, a primeira consulta e a consulta de seguimento. Na

primeira consulta eram recolhidos dados do doente, dados pessoais, história alimentar, que

inclui a realização do recordatório alimentar das últimas 24 horas (Recall 24h), antecedentes

pessoais, dados antropométricos (peso, altura e perímetro de cintura), prática de atividade

física e ingestão hídrica. Nesta consulta avalia-se o perfil nutricional dos doentes para ter uma

perspectiva de qual método cirúrgico indicado para o tratamento da obesidade. Depois de ter

essas informações, era feita o aconselhamento nutricional e prescrito um plano alimentar

individualizado adequado as necessidades nutricionais e energéticas do doente e as suas

preferências alimentares. Explica-se ao utente qual seria o melhor método de confecção, os

alimentos a evitar, frisava-se a importância da prática da atividade física e explicava-se as

regras do pré e pós-operatório.

Nas consultas de nutrição de seguimento é recomendado analisar, calcular o Recall 24h,

discutir e debater com o candidato a TCO de forma a formular e esquematizar novo plano

alimentar. Com o doente são analisadas diferentes estratégias de atuação incentivando a perda

ponderal pré-operatório para desenvolver com doente competências de seguir uma

alimentação adequada às suas necessidades energéticas pré e pós-operatório, atividade física e

morbilidade associada. Ou seja, as consultas de seguimento têm como objectivo monitorizar o

estado nutricional e verificar a adesão ao cumprimento de plano alimentar, assim como os

resultados obtidos com o mesmo, reforçando a motivação, esclarecendo eventuais dúvidas e

alterar o plano, sempre que é necessário.

Durante o estágio realizei no total de 61 consultas, das quais 20% (n=12) primeiras consultas

e 80% (n=49) consultas de seguimento (Gráfico 6). A maioria dos doentes observados nas

consultas, 77% (n=47) era do sexo feminino e os restantes 23% (n=14) do sexo masculino

(Gráfico 5).

Personalização 103

Monitorização 99

Ensino dieta 54

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Gráfico 5 - Distribuição dos doentes segundo o tipo de consulta

Gráfico 6 – Distribuição do doente segundo o sexo

A média das idades dos doentes foi de 45 anos (dp±12,95) (Tabela 5). Em relação aos

parâmetros antropométricos, a média do IMC foi de 37,9 Kg/m2 (dp±7,45) (Tabela 6) e a

média do perímetro de cintura foi de 112,1 (dp±16,95) (Tabela 7).

14

47

Sexo

Masculino

Feminino

0

10

20

30

40

50

Primeira consulta Consulta de seguimento

12

49

Tipo de consulta

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Média DP Máximo Mínimo

Idade 45 12,95 68 13

Tabela 5 – Caracterização dos doentes quanto à idade

Tabela 6 – Caracterização dos doentes quanto ao IMC

Média Desvio

Padrão

Máximo Mínimo

Perímetro de

cintura

112,1 16,95 140 71

Tabela 7 – Classificação dos doentes quanto o Perímetro de cintura

No que diz respeito à atividade física, verificou-se que 44% (n=27) dos doentes praticam

algum tipo de atividade física, nomeadamente, caminhada, ginásio, enquanto a maioria 56%

(n=34) não praticavam qualquer tipo de atividade física (Gráfico 7).

Gráfico 7 – Distribuição dos doentes quanto à prática de atividade física

Foram também, determinadas os padrões alimentares dos doentes para que fosse possível

indicar o melhor método cirúrgico no qual o utente pudesse beneficiar. No gráfico 8 está

representado os padrões alimentares dos doentes seguidos nas consultas de nutrição. Durante

as consultas foram observados doentes pré e pós cirúrgicos. No gráfico 9 está representado o

27

34

Atividade física

Sim

Não

Média Desvio

Padrão

Máximo Mínimo

IMC 37,9 7,45 57,8 23,7

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19

número de doentes que já realizaram cirurgia, o tipo de cirurgia e os que ainda não realizaram

a cirurgia bariátrica.

Gráfico 8 – Distribuição dos doentes quanto os tipos de padrões alimentares

Gráfico 9 – Distribuição dos doentes quanto a realização e o tipo de cirurgia

17

6 19

3 1

3 3

3

Padrão alimentar

Volume e sweet eater

Volume e snack eater

Volume eater

Sweet eater

Volume, sweet e night

eaterVolume, sweet e snack

eaterSnack eater

Snack e sweet eater

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Sleeve Gástrico

Bypass Gátrico

Banda Gástrica

Balão Intragástrico

Sem cirúrgia

Realização de Cirúgia

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5.3. Consultas de grupo de TCO

Durante o meu estágio, participei em duas consultas de grupo de TCO. Nestas consultas

estavam presentes uma psicóloga, uma nutricionista e utentes do pré e pós-operatório.

Durante essas consultas eram explicados as regras do pré e pós-operatório, os benefícios de

cada método cirúrgico, as consequências do não cumprimento das regras do pós-operatório e

havia trocas de experiências entre os doentes.

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6. Competências adquiridas

Ao longo do estágio adquiri um conjunto de competências em nutrição clínica,

nomeadamente:

- Competências adquiridas nas consultas externas e consultas de grupo de TCO

Tive a oportunidade de acompanhar consultas externas de nutrição de TCO e adquiri

competências em termos de avaliação do padrão alimentar de cada doente submetido a

TCO, aconselhamentos para pré e pós-operatório, indicações das técnicas cirúrgicas

com base na avaliação nutricional, desenvolvi capacidades de integração de uma equipa

pluridisciplinar e verifiquei que para doentes em programa de TCO é muito importante

serem seguidos por uma equipa pluridisciplinar, porque muitas vezes existem problemas

para além da dieta, que causam a obesidade mórbida.

- Competências adquiridas no internamento

Durante o internamento adquiri competências em termos de avaliação de risco,

avaliação do estado nutricional, suporte nutricional per os e artificial, implementação de

planos nutricionais tendo em conta a patologia base, o motivo de internamento e os

hábitos alimentares do doente.

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7. Análise Critica e conclusão

Durante o estágio verifiquei que tinha lacunas em relação a prática em ambiente hospitalar. O

estágio em contexto profissional permitiu colmatar, aplicar e consolidar as competências

teóricas adquiridas ao longo do mestrado.

No internamento, tive oportunidade de observar, que dos doentes que foram feitos

identificações de risco (n=75) 29% encontravam-se em risco de desnutrição, sendo que não

estão incluídos os doentes de TCO. A desnutrição está associada à patologia e é muito

frequente no ambiente hospitalar. A desnutrição relacionada com a doença atinge 15-60% dos

doentes no momento da admissão hospitalar, tratando-se de uma condição altamente

prevalente em unidades de cuidados de saúde. (37)

O risco nutricional é dependente do estado nutricional atual e do risco de compromisso do

estado presente, devido ao aumento das exigências causadas pelo stress metabólico da

condição clínica subjacente. Os portadores de doenças crónicas e os doentes idosos são mais

susceptíveis a risco nutricional que os outros doentes(37)

.

Os instrumentos de identificação do risco nutricional usados durante o estágio foram o NRS e

este foi complementado com o SGA. A ESPEN recomenda um rastreio nutricional simples e

rápido, a realizar no momento da admissão hospitalar, de modo a identificar os doentes em

risco nutricional(37)

.

A nutrição tem um papel muito importante na recuperação dos doentes, sendo que a doença e

a nutrição são mutuamente influenciadas na medida em que a doença pode originar

desnutrição e a desnutrição pode atuar negativamente na doença e no grau de satisfação dos

doentes internados. Com a nutrição tenta-se evitar ou reverter a desnutrição, evitar ou

melhorar a deterioração da função física e mental do doente, reduzir o número ou a gravidade

das complicações da doença e/ou do seu tratamento, reduzir o tempo de convalescença,

melhorar a evolução clínica do doente e encurtar o tempo de internamento e com isso reduzir

o consumo de recursos e os custos(37)

.

Durante as consultas externas de nutrição de TCO, verifiquei que de acordo com o padrão

alimentar do doente era recomendado o tipo de cirurgia que beneficiava o doente. Esta

avaliação era feita não só pelo nutricionista, mas também pelo psicólogo e endocrinologista,

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ou seja, estes doentes são seguidos por uma equipa multidisciplinar e para a realização da

cirurgia, tem que ter o parecer de todos os profissionais de saúde envolvidos nesta área.

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37. Alexandra M, Pereira C. Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. 2013.

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Parte B

Resumo

O excesso de peso e obesidade têm sido uns dos maiores problemas de saúde pública a nível

mundial. Atualmente existe diversos tratamentos para a obesidade, sendo que a cirurgia

bariátrica é considerado o melhor tratamento. O método restritivo - mal absortivo (Roux-en-Y

Gastric Bypass) é considerado o golden standart, mas são realizados métodos restritivos

(Sleeve Gástrico e Banda Gástrica Ajustável), dependendo da situação clinica, do padrão

alimentar do doente e determinação da equipa multidisciplinar de TCO. Contudo, este

tratamento pode provocar défices de nutrientes no pós-operatório, resultado das alterações do

tracto gastrointestinal, como a redução da capacidade gástrica e alterações na absorção dos

nutrientes. A suplementação de vitaminas e minerais deve ser considerada para prevenir

défices nutricionais, devido a alterações fisiológicas que não permite que os doentes consigam

suprimir as suas necessidades nutricionais apenas com a alimentação. Os principais objectivos

deste estudo é avaliar o estado nutricional dos doentes, verificar a alteração de

micronutrientes e verificar se há uma adequada suplementação para prevenir défices

nutricionais.

Método: O estudo foi realizado inicialmente com 144 doentes submetidos a cirurgia bariátrica

em que foi realizado avaliação nutricional no pré-operatório, 1 ano, 2 anos e 3 anos pós-

operatório. De seguida foi avaliado o consumo alimentar através do Recall 24h dos doentes na

fase pré-operatório e até 3 anos pós-operatório, onde foi avaliado especificamente os

micronutrientes (ferro, vitamina D, vitamina B12, cálcio e ácido fólico). Estes foram

comparados com as referências de consumo dietético (DRI) e ainda foi avaliado a toma de

suplementação.

Resultados: Houve diferenças significativas (p<0,05) entre o excesso de peso perdido em

todos os momentos de avaliação (59,5± 18,9 vs 60,2 ± 19,6 vs 59,7 ± 20,0), sendo que a

maior % de excesso de peso perdido foi observada no método mal absortivo, contudo não

houve diferenças significativas entre os métodos. Ao avaliar a suplementação, verificou-se

que 3 anos pós-operatório, 26 doentes que foram submetidos ao método mal absortivo

realizavam suplementação e 1 não realizava, sendo que, no método restritivo apenas 14

realizavam a suplementação e 35 não realizam. Foi verificada diminuição significativa

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(p<0,05) do consumo dos micronutrientes com excepção do cálcio no método restritivo e no

método mal absortivo houve uma diminuição significativa no consumo de todos os

micronutrientes.

Conclusão: A cirurgia bariátrica é um tratamento eficaz na perda de peso, contudo é comum

haver défices de micronutrientes após a realização da cirurgia. Para prevenir esses défices é

necessário implementar um bom suporte nutricional e monitoriza-lo e suplementar sempre

que necessário.

Palavras-chaves: Cirurgia bariátrica, défice nutricional, défice de micronutrientes, ingestão

dietética, excesso de peso perdido.

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Abstract

Obesity and overweight are some of the biggest problems of public health in a world level.

Nowadays there are several treatments for obesity; however bariatric surgery is considered the

best treatment. The Roux-en-Y gastric bypass is considered the golden standard, restrictive

methods, such as Sleeve gastrectomy and Laparoscopic adjustable gastric banding, are also

performed depending of the clinical situation, the patient’s eating habits, and the obesity’s

surgical treatment multidisciplinary team determination. However this treatment can provoke

nutrients deficit on the post-surgery, the result of alterations of the gastrointestinal tract, such

as the decrease of gastric capacity and alterations of nutrients absorption. Vitamins and

minerals supplementation must be considered to prevent nutritional deficit, due to physiologic

alterations that doesn’t allow the patient to suppress nutritional need just through

alimentation. The primary objective of this study is to evaluate the nutritional state of the

patient, verify the alterations of micronutrients and verify if there is an adequate

supplementation to prevent nutritional deficit.

Method: The study was initially done with 144 patients that were submitted to bariatric

surgery and then were evaluated post-surgery, then again a year later, two years later, and

three years later. Next the patients’ food consumption was evaluated through 24h Recall

during pre-surgery period and up to 3 years post-surgery, when the micronutrients were

specifically evaluated ( iron, vitamin D, vitamin B12, calcium and folic acid). These were

then compared to the DRI and the supplementation consumption was also evaluated.

Results: There were significant differences (p<0,05) between the amount of weight lost all

through evaluation (59,5± 18,9 vs 60,2 ± 19,6 vs 59,7 ± 20,0), the biggest % of weight loss

was observed during the Roux-en-Y gastric bypass method, however there were no significant

differences between the methods. After examining supplementation, it was verified that 3

years post-surgery, 26 patients that went through Roux-en-Y gastric bypass method were

going through supplementation while one wasn’t, however, of the patients that went through

the restrictive methods only 14 were going through supplementation while 35 weren’t. It was

verified significant decrease (p<0,05) in the consumption of micronutrients with the exception

of calcium in the restrictive methods, in the Roux-en-Y gastric bypass method there was a

significant decrease in the consumption of all micronutrients.

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Conclusion: Bariatric surgery is an efficient treatment for weight loss, however it is common

for micronutrients deficit to occur post-surgery. To prevent this deficit it is necessary to

implement and monitor a good nutritional support and supplement when necessary.

Key words: bariatric surgery; nutritional deficit; micronutrients deficit; dietetic ingestion;

weight loss excess.

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1. Introdução

O excesso de peso e obesidade têm sido uns dos maiores problemas de saúde pública a nível

mundial(1)

. A prevalência dessas doenças tem aumentado mundialmente, sendo que em 2014,

a Europa era o segundo continente com maior taxa de prevalência de excesso de peso, 58,6%

(54,9 nas mulheres e 62,6% nos homens) e de obesidade, 23% (24,5% nas mulheres e 21,5%

nos homens). Nesse mesmo ano, em Portugal, verificou-se uma prevalência de excesso de

peso de 55,6 % (50,2% em mulheres e 61,4% em homens) e de obesidade era de 20,1%

(20,3% nas mulheres e 19,8% nos homens)(2)

.

Para o tratamento de obesidade existem diversas formas para o controlo e tratamento da

obesidade, sendo que a cirurgia bariátrica é considerada o melhor tratamento para atingir e

manter a perda de peso sustentável a longo prazo para indivíduos com obesidade classe II

(IMC ≥35 kg/m2), classe III (IMC ≥40 kg/ m

2) e para indivíduos cujo tratamento clássico de

perda de peso não foi eficaz. Também foi considerada o melhor tratamento para obesidade

classe II e III quando ocorre comorbilidades(3)

.

Os procedimentos cirúrgicos podem ser divididos em: cirurgia restritiva que inclui o sleeve

gástrico e a banda gástrica ajustável por laparoscopia, em que se reduz a ingestão oral

limitando o volume gástrico, produzindo a saciedade precoce e deixando o canal alimentar

intacto, minimizando assim os riscos de complicações metabólicas; cirurgia restritiva - mal

absortiva que inclui o bypass gástrico Roux-en-Y (considerado o gold standart), que envolve

mecanismos restritivos criando um pequeno reservatório gástrico que promove a saciedade

precoce levando a uma diminuição da ingestão e envolve mecanismos de má absorção; e

cirurgia mal absortiva que inclui a derivação biliopancreatico com ou sem duodenal switch

que reduz o tamanho do estômago e cria condições fisiológicas de má absorção(4)

. A

recomendação da cirurgia bariátrica tem um protocolo específico por ser causa de associação

elevada com o risco nutricional, relacionado com o aumento do comprimento do intestino

delgado(5)

. Como tal é essencial que o cirurgião trabalhe em equipa multidisciplinar, que

inclua diversas especialidades como: nutrição, psicologia, endocrinologia, entre outras(4)

. A

escolha do melhor procedimento bariátrico depende dos objectivos individuais da terapêutica

a ser instituída e da avaliação da equipa multidisciplinar(4)

.

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A perda de peso pós cirurgia pode ser analisada através do cálculo da percentagem de excesso

de peso perdido(6)

. Perda de peso, normalmente é maior em procedimentos restritivos – mal

absortivos e mal absortivos(7)

. Contudo, estes procedimentos também estão associados a

algumas complicações metabólicas, tais como défice de macro e micronutrientes,

nomeadamente, ferro, ácido fólico, vitamina D, cálcio e vitamina B12(8)

.

Våge et al.(9)

, demonstrou que, o procedimento cirúrgico, sleeve gástrico, era eficaz na perda

de peso, contudo, verificaram que este procedimento estava associado a défices de

micronutrientes, como o ferro e a vitamina D.

Mercachita et al. (7)

, verificou que é comum haver défice de vitamina B12, ferro, cálcio e

ácido fólico no bypass gástrico Roux-en-Y após 1 e 2 anos de cirurgia.

A deficiência de ferro é frequente em doentes submetidos a cirurgia bariátrica,

particularmente em mulheres em idade fértil, podendo chegar a cerca de 51% de mulheres

com défice de ferro no período pós – operatório(4, 10)

.

Alguns estudos reportaram défices de vitamina D/ cálcio, quer em doentes que realizaram o

método restritivo, quer nos que realizaram método mal absortivo. Em um estudo feito por

Pugnale et al. e outro feito por Giusli et al., foram seguidos mulheres no pré menopausa

submetidas a banda gástrica, pós cirurgia 1 e 2 anos, e foi encontrado um decréscimo não

significativo de vitamina D e cálcio. Contudo foi observado um aumento da remodelação

óssea, ou seja uma diminuição da densidade da massa óssea e diminuição da concentração

mineral óssea e sabe-se que doenças ósseas estão relacionadas com baixo consumo de

vitamina D e cálcio(10)

.

Os métodos restritivos e mal absortivos envolvem mecanismos restritivos e alteram a

fisiologia gastrointestinal, contribuindo assim para uma saciedade precoce e reduzindo a

ingestão alimentar em termos de quantidade(7,11)

.

A implementação de um adequado suporte nutricional, deve ser considerado o método mais

adequado para prevenir défices nutricionais nas diferentes fases, no pré e pós cirúrgico. No

entanto, em doentes submetidos a cirurgia bariátrica existe alguns factores (restrição de

capacidade gástrica, intolerância a alimentos e exclusão, em parte do estômago e alteração do

transito intestinal) justificam a suplementação. Todos os doentes submetidos ao bypass

gástrico e ao sleeve gástrico devem ser suplementados com polivitamínicos/minerais que

sejam o mais específico e completo possível, incluindo vitaminas lipossolúveis e

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minerais(3,12)

. Nas mulheres em idade fértil há uma maior necessidade de ferro, por isso é

necessário que a suplementação de ferro seja superior ao da população em geral para que se

possa conseguir fornecer a DRI(10)

.

A suplementação oral nem sempre suprime as necessidades, então é necessário fazer a

suplementação através de outras vias. No caso da vitamina B12 pode-se fazer a

suplementação através de injecção intramuscular, sprays nasais e sublingual(10)

. Pode-se

administrar-se o ferro via oral e doses intravenosas de hidróxido de ferro – sacarose, sempre

que se justifica(3)

.

É importante perceber que muitos doentes com obesidade mórbida são conhecidos por terem

deficiências de micronutrientes, embora a obesidade é uma doença de excesso de

macronutrientes, ou seja, trata-se de um estado nutricional de malnutrição.

Se não for detectada e tratada, estas deficiências de micronutrientes preexistentes, a gestão da

cirurgia bariátrica tornar-se-á ainda mais difícil no pós-operatório(13)

.

2. Objectivos

Caracterizar a evolução ponderal e alteração de micronutrientes dos doentes submetidos a

Tratamento cirúrgico da obesidade.

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2. Metodologia

População

Neste trabalho foi realizado um estudo analítico e observacional longitudinal retrospectivo,

em que a população deste estudo foram doentes com um IMC ≥ 40 ou IMC ≥ 35 com

morbilidade associada, categorizado como obesidade segundo OMS, que realizaram TCO,

num centro de tratamento cirúrgico de obesidade de referência. Os dados foram recolhidos de

fichas de nutrição e de processos clínicos dos doentes da entidade hospitalar pública onde foi

realizado o estudo.

Avaliação antropométrica

Os parâmetros usados para a avaliação antropométrica foram a altura (em metro), peso (em

quilograma), cálculo do IMC segundo a fórmula proposta por Quetelet (em quilograma/metro

quadrado)(14).

O peso e a altura foram avaliados de acordo com os critérios definidos pela Direcção Geral da

Saúde (DGS)(15)

. Para avaliar a perda de peso, % de excesso de peso perdido, foi calculada

usando a fórmula de Deitel et al.(7)

: %EPP = [(peso pré-operativo – peso actual)/(peso pré-

operativo – peso ideal)×100].

Avaliação da ingestão

A categorização da ingestão dos micronutrientes em estudo (vitamina B12, vitamina D, ferro,

ácido fólico e cálcio) foi no pré-operatório e 3 anos pós-operatório e foram classificados de

acordo com os valores de referências da ingestão dietética (DRI)(16)

. A escolha dos

micronutrientes para análise foi de acordo com a frequência de défices nutricionais desses

micronutrientes pós cirurgia(4,10,17)

e a existência de dados bioquímicos referentes a estes

micronutrientes nas fases inumeradas (n=76).

O método usado para estimar a ingestão alimentar foi o Recall 24h e contabilização deste,

aplicado por um nutricionista. É um método recordatório subjectivo, retrospectivo e consiste

na descrição e quantificação da ingestão de alimentos e bebidas consumidos 24h antes da

consulta(18)

. Nesta avaliação foi analisada a energia, macronutrientes e micronutrientes em

estudo. Para calcular as necessidades energéticas, primeiro foi feito o cálculo do metabolismo

basal através da fórmula de Mifflin-St Jeor(19)

, e foi usada o peso ajustado na fórmula(20)

. Para

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obter a necessidade energética, multiplicou-se o metabolismo basal pelo factor de atividade

física. A atividade física foi caracterizada através da recolha das fichas clínicas do utente,

nomeadamente da consulta de nutrição e dietética, tendo sido caracterizada em sim ou não.

Foi considerado que não realiza se o doente não pratica nenhum tipo de exercício físico e

durante as suas atividades não tem um tempo superior ou igual 10 minuto, tendo sido

considerado que realiza atividade física se o doente fazia mais de 10 minutos, tendo sido

seguida as recomendações da OMS: Atividade física ≥ 150 minutos/semana ou 30

minutos/dia(21)

. A ingestão de micronutrientes foi comparada com os DRI’s.

Procedimentos cirúrgicos

Banda Gástrica Ajustável – a banda gástrica ajustável serve para reduzir a ingestão alimentar,

através da implantação de uma pequena banda à volta da parte superior do estômago. O

cirurgião pode ajustar a banda de acordo com as necessidades do doente(22)

.

Bypass Gástrico Roux-en-Y – o bypass gástrico não só restringe a ingestão alimentar, mas

também diminui a absorção dos alimentos. A ingestão alimentar é limitada por uma pequena

bolsa semelhante ao que é criada na banda gástrica ajustável(22)

. A má absorção é devido à

exclusão de um pequeno segmento intestinal do trânsito alimentar, resultando em um

segmento do intestino delgado entre o estômago e a anastomose jejuno-jejunal(7)

.

Sleeve Gástrico – o sleeve gástrico é um procedimento cirúrgico restritivo, ou seja é retirada

uma boa parte do estômago durante a cirurgia, o que pode provocar uma diminuição da

secreção da hormona do apetite, a grelina, provocando assim, a diminuição da ingestão

alimentar(22)

.

Análise estatística

O programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 22, foi usado para

fazer a análise estatística dos dados. Foi feita uma análise descritiva (média, desvio padrão,

mínimo e máximo) para descrever o comportamento das variáveis quantitativas e tabelas de

frequências para as variáveis qualitativas. Para comparar o peso, o IMC e a % de excesso de

peso perdido nos vários momentos com os métodos cirúrgicos foi utilizado um modelo linear

generalizado, nomeadamente a ANOVA de medições repetidas mista. Para verificar a

influência do tempo e do tempo vs cirurgia utilizou-se o teste de Mauchly para verificar a

esfericidade. Não verificada a esfericidade utilizou-se o Teste de Huynh-Feldt. Para comparar

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a % de excesso de peso perdido com os métodos cirúrgicos, método restritivo e método mal

absortivo, utilizou-se o teste de igualdade de comparações múltiplas (Teste de Turkey).

Para comparar a dieta (quer análise de macro, quer análise de micronutrientes) com os

métodos utilizou-se o teste de Wilcoxon, porque não foi verificada o pressuposto da

normalidade. Em relação a comparação da dieta com o género e o tipo de cirurgia foi utilizado

o teste de Mann-Whitney U, uma vez que há uma grande discrepância entre o número de

indivíduos do sexo feminino e do sexo masculino. Foi feita uma análise da diferença de

consumo pré cirurgia e pós cirurgia comparando os métodos entre si, para isso foi utilizado o

teste de Mann-Whitney U.

Para analisar a associação entre a suplementação e os métodos cirúrgicos foi utilizado o teste

Q-Quadrado.

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Processos clínicos das consultas de

TCO

144 Processos clínicos

seleccionados

. IMC pré-operatório ≥ 40 kg/m2

ou

≥ 35 com morbilidade associada

. ≥ 18 Idade ≤ 65

. Período pós-operatório ≤ 3 anos

Avaliação antropométrica

. Peso

. Altura

. % excesso de peso

Avaliação da ingestão

alimentar

Suplementação

.Energia

. Macronutrientes

. Micronutrientes (B12,

D, cálcio, ferro e ácido

fólico

Verificar o consumo de

suplementação

76 Processos clínicos

seleccionados para um segundo

estudo

Excluidos (n=68)

. Pós-operatório:

<3 anos

Avaliação da ingestão

alimentar

Suplementação

.Energia

. Macronutrientes

. Micronutrientes (B12,

D, cálcio, ferro e ácido

fólico

Verificar o consumo de

suplementação

Pré-operatório (n= 144)

1 ano pós-operatório (n=144)

2 anos pós-operatório (n= 117)

3 anos pós-operatório (n=76)

Ilustração 1 – Fluxograma

da metodologia do estudo

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1. Resultados

De 144 doentes do pré-operatório, 144 foi avaliação de 1 ano follow-up pós-operatório, 117

follow-up 2 anos pós-operatório e 76 follow-up de 3 anos pós-operatório. Este estudo inicial

incluiu 144 doentes, 17,4% (n=25) masculino e 82,6% (n=119) feminino. Destes 144 doentes

54,2% (n=78) realizaram método restritivo (sleeve gástrico e banda gástrica ajustável), e

45,8% (n=66) método mal absortivo (bypass gástrico Roux-en-Y). Os valores das variáveis da

antropometria estão descritos na tabela 8.

Avaliação antropométrica

Quando comparado o IMC nos 4 momentos, foi verificado uma diminuição significativa

(p=0,000) em todos os momentos de avaliação (tabela 8) e quando comparado IMC tendo em

conta o método de cirurgia, observou-se que no método restritivo o IMC é superior, ou seja,

reduz menos rapidamente (gráfico 10). Comparando a % de excesso de peso perdido nos 3

momentos pós cirurgia foram verificadas diferenças significativas entre todos os momentos

de avaliação, e quanto aos métodos não foi verificada diferenças significativas entre os

métodos. Em todos os momentos foi observado maior percentagem de excesso de peso

perdido no método mal absortivo (tabela 9).

Variáveis p value Pré cirurgia

(n=144)

1 ano pós

cirurgia (n=144)

2 anos pós

cirurgia

(n=117)

3 anos pós

cirurgia (n=76)

Peso (kg)

M ± DP [min; max]

p=0,000 114,6 ± 18,3

[78;196]

81,2 ± 15,4

[47,1;138]

80,1 ± 14,4

[48;116,4]

79,6 ± 13,4

[42,5;116,4]

IMC (Kg/m2)

M ± DP [min; max]

p=0,000 43,0 ± 5,6

[31,9;69,4]

31 ± 5,1

[20,5;48,9]

30,2 ± 5,0

[18,8;45,0]

30,2 ± 4,7

[19,1;42,8]

% Excesso de peso

perdido

M ± DP

p=0,000 ---------- 59,5± 18,9

60,2 ± 19,6 59,7 ± 20,0

Tabela 8 – Avaliação antropométrica no pré-operatório, 1 ano, 2 anos e 3 anos pós-operatório

Atividade física

Ao avaliar a atividade física verificou-se que dos 114 doentes, 54,9% (n=79) dos doentes

praticavam qualquer tipo de atividade física e que 45,1% (n=65) não praticavam exercício

físico.

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Evolução ponderal

Do momento T1 (pré cirurgia) para o momento T4 (3 anos pós cirurgia) houve uma

diminuição significativa do IMC (p=0,000), T1 (43,0 ± 5,6) e T4 (30,2 ± 4,7), sendo que o

método restritivo mostra um IMC superior, ou seja reduz menos rapidamente (gráfico 10).

Gráfico 10 – Comportamento do IMC ao longo do tempo e de acordo com os métodos cirúrgicos

Em relação a % de excesso de peso perdido, observou-se uma diminuição significativa

(p=0,000) do momento T1 para o momento T4 (3 anos pós cirurgia) em ambos os métodos,

sendo que não houve diferenças significativas entre os métodos (tabela 9).

Tabela 9 – Média da percentagem de excesso de peso perdido segundo os métodos em avaliação

Variável

1 ano pós-operatório

(n=144)

2 anos pós-operatório

(n=117)

3 anos pós-operatório

(n=76)

Método

restritivo

Método mal

absortivo

Método

restritivo

Método mal

absortivo

Método

restritivo

Método mal

absortivo

% Excesso de

peso [M ± DP]

55,7 ± 18,6 63,9 ± 18,3 55,6 ± 19,0 62,4 ± 20,4 55,4 ± 17,9 64,5 ± 18,5

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Ingestão nutricional

Ao comparar o momento T1 e o momento T4 verificou-se uma diferença significativa,

diminuição do consumo de todos os macros e micronutrientes (p <0,05), com excepção do

cálcio (p>0,005), no método restritivo. No método mal absortivo verificou-se uma diminuição

significativa do consumo de todos os nutrientes (p <0,05). Ao comparar a diferenças (pré-

operatório / pós-operatório) dos macro e micronutrientes entre os métodos, não foi verificada

diferenças significativas da redução de consumo quer dos macros, quer dos micronutrientes

(p>0,05).

Em relação aos géneros, não se verificou diferenças significativas da redução significativa do

consumo, quer dos macros, quer dos micronutrientes entre géneros (p> 0,05) quer no método

restritivo, quer no mal absortivo. Do momento T1 para T4 houve uma diminuição do

consumo total de valor energético, apesar de não ser significativa. Os valores médios do

consumo de energia e dos macros e micronutrientes obtidos neste estudo estão apresentados

na tabela 10. Quando analisado o consumo de proteína, verificou-se que em média no pós-

operatório (71.7 ± 19,5) consumia-se o valor recomendado, sendo que não foi encontrada

diferenças significativas do seu consumo entre os géneros, mas houve diferenças

significativas do seu consumo nos métodos.

Em relação a vitamina B12 e ao ácido fólico, também foi encontrado os mesmos resultados

anteriores, diminuição não significativa no consumo, sendo que em média, os doentes

cumpriram a DRI da vitamina B12. Em relação ao ácido fólico não cumpriram a DRI.

Foi observada uma diminuição no consumo do ferro nos momentos T1 e T4 em ambos os

sexos, sendo que o sexo masculino cumpriu a DRI e o sexo feminino não cumpriu a DRI.

Verificou-se uma diminuição do consumo de vitamina D do momento T1 para o T4, quer no

sexo masculino, quer no sexo feminino. Ambos os doentes não cumpriram a DRI de vitamina

D.

Não foi encontrada diferenças significativas no consumo de cálcio, contudo foi observada

uma diminuição no seu consumo, sendo que não foram cumpridas a DRI.

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Tabela 10 – Média dos valores do consumo de energia, macro e micronutrientes no pré-operatório e três anos

pós-operatório

a Estes valores poderão ser influenciados pela toma da suplementação

Variáveis

Género Total

Masculino Feminino Média Desvio

Padrão Média Desvio

Padrão

DRI Média Desvio

Padrão

DRI

Energia pré-operatório

(Kcal/dia)

3176,5 331,0 2687,2 394,1 2770,9 424,6

Energia pós-operatório

(Kcal/dia)

1449,1 410,1 1183,0 172,0 1228,5 248,1

Proteína pré-operatório

(g/dia)

174,6 32,0 0,8 -

1g/kg/dia

168,1 37,8 0,8 -

1g/kg/dia

169,2 36,8

Proteína pós-operatório

(g/dia)

79,2 28,2 1 –

1,5g/Kg/dia

70,2 17,0 1 –

1,5g/kg/dia

71,7 19,5

Lípidos pré-operatório

(g/dia)

135,8 23,0 111,1 30,4 115,3 30,6

Lípidos pós-operatório

(g/dia)

41,8 23,9 30,6 11,7 32,5 14,9

HC pré-operatório

(g/dia)

281,5 72,9 248,4 57,6 254,1 61,2

HC pós-operatório

(g/dia)

188,8 40,8 156,7 30,1 162,2 34,1

Vitamina D pré-

operatório (µg)a

4,8 2,0 15 4,9 3,2 15 4,9 3,0

Vitamina D pós-

operatório (µg)a

1,6 1,4 3,3 4,3 3,0 4,0

Ferro pré-operatório

(mg)a

16,2 3,6 8 13,3 3,1 8-18 13,8 3,4

Ferro pós-operatório

(mg)a

8,6 2,0 6,8 2,0 7,1 2,1

Vitamina B12 pré-

operatório (µg)a

6,8 3,5

2,4

6,7 3,2

2,4

6,7 3,2

Vitamina B12 pós-

operatório (µg)a

3,2 1,3 3,2 2,8 3,2 2,6

Cálcio pré-operatório

(mg)a

911,5 405,8 1000-1200 881,1 397,2 1000-1200 886,3 396,1

Cálcio pós-operatório

(mg)a

853,5 162,1 735,6 227,7 755,8 221,5

Ácido Fólico pré-

operatório (µg)a

260,1 123,0 400 265,6 94,9 400 264,6 99,3

Ácido Fólico pós-

operatório (µg)a

196,8 73,0 199,3 71,0 198,9 70,9

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42

Avaliação da suplementação

A suplementação no pré-operatório não é contante, ou seja, os doentes não realizavam a

suplementação. Ao fim de 3 anos pós-operatório, verificou-se que houve uma associação

significativa entre o tipo de cirurgia e a suplementação (X2

1= 32,026, p=0,000), verificando-se

que o método restritivo está associado a não realização da suplementação, sendo que, o

método mal absortivo está associado a realização da suplementação (Φ= - 0,649, p=0,000)

(tabela 11).

Suplementação

Pós-operatório

Total

Sim Não

Método

cirúrgico

Restritivo 14 35 49

Mal

absortivo

26 1 27

Total 40 36 76 Tabela 11 – Valores do consumo da suplementação de acordo com os métodos cirúrgicos

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2. Discussão dos resultados

Para considerar que a cirurgia bariátrica teve sucesso na perda de peso, é preciso ter perdido

no mínimo 50% do excesso de peso inicial e mantê-lo ao longo do tempo(23)

. O sucesso da

cirurgia ocorre entre 18 e 24 meses(23,24)

. Após a cirurgia bariátrica é possível haver um

reganho do peso que foi perdido(24)

.

Neste estudo, a média da % de excesso de peso perdido no final do terceiro ano pós-

operatório foi de (59,7 ± 20,0), dos quais 55,4% realizaram o método restritivo (sleeve

gástrico e banda gástrica ajustável) e 64,5% realizaram o método mal absortivo (Roux-en-Y

bypass gástrico) sendo inferiores aos valores obtidos por Carlin et al.(25)

. Outros estudos

também encontraram uma percentagem de excesso de peso superior à encontrada neste estudo

no momento T4(11,26)

. No momento T3 foi observada uma média de % de excesso de peso

perdido de 55,6 ± 19,0 no método restritivo e 62,4 ± 20,4 no método mal absortivo, inferiores

aos valores obtidos em outros estudos(7,11,25)

. Os valores obtidos no momento T2 nesse estudo

foram de 55,7 ± 18,6 no método restritivo e 63,9 ± 18,3 no método mal absortivo, sendo estes

valores inferiores Carlin et al. (60% SG; 69 RYGB e 34% BGA)(25)

e superiores dos valores

obtidos por Lee et al. (41.4 ±11.6 RYGB; 26.7 ± 27.6 SG e 16.1 ± 15.9 BGA)(27)

. Os valores

da percentagem de excesso de peso perdido estão dentro dos valores referências(23)

. De acordo

com a literatura e segundo os resultados obtidos nesse estudo, a % de excesso de peso perdido

é superior no método mal absortivo no que o restritivo, embora esta diferença não seja

significativa(23,27)

. Apesar dos óptimos resultados observados após a cirurgia bariátrica,

segundo a literatura e este estudo verifica-se que após os 2 anos de cirurgia pode ocorrer o

reganho de peso(26,28)

. Esse reganho de peso pode ser prevenido se houver um contacto com

uma equipa multidisciplinar, uma mudança do estilo de vida como, a prática de exercício

físico e alimentação equilibrada(28)

. Alguns autores apontam como causas do reganho de peso,

a abcessão da prática de exercício físico regular, adaptação gastrointestinal verificada no

segundo ano pós-operatório, selecção incorrecta dos alimentos e a distensão do reservatório

gástrico(23,28,29)

.

A média do consumo energético no T4 (1228,5 ± 248,1) encontra-se dentro dos valores

citados pela literatura(30)

. Em relação a proteína, os valores médios do momento T4

encontrados nesse estudo, descritos na tabela 10, estão dentro dos valores médios de consumo

diário, 60-80g/dia indicados por alguns estudos(10)

. Neste estudo houve uma diminuição do

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consumo de proteína do momento T1 para T4, sendo que está diminuição foi significativa

entre os métodos e não significativa entre os géneros. Défice de proteína pode ocorrer após a

cirurgia bariátrica, contudo está défice pode ser prevenida com um bom aporte proteico pré

cirúrgico e com a suplementação proteica no pós cirúrgico(12)

.

O défice nutricional é muito comum após a realização da cirurgia bariátrica e está relacionado

com a mal absorção induzida pela modificação do tracto gastrointestinal e por vezes, devido a

baixa adesão do doente ao tratamento(4)

. Um dos principais aspectos da malnutrição em

indivíduos obesos é inicialmente ter um pobre estado nutricional, ou seja tem um consumo

elevado de calorias, associado com alteração do consumo de micronutrientes, consumo de

alimentos com baixa qualidade nutricional, alimentos processados, ricos em lípidos e hidratos

de carbono simples(4,31)

.

No que se refere ao défice de vitamina B12 é comum após a realização do RYGB e do SG

devido a restrição alimentar, diminuição da secreção do ácido e diminuição da produção do

factor intrínseco(10)

. Alguns estudos verificaram défices de vitamina B12 ao fim 1 ano e 2

anos pós-operatório, quer no método restritivo, quer no método mal absortivo(7,32,33)

. Contudo,

ao fim de 3 anos pós-operatório, método restritivo, Zarshenas et al não observaram défice de

vitamina B12, resultados semelhantes aos deste estudo, enquando que Handzlik-Orlik

verificou que 3 anos pós-operatório houve défice de vitamina B12 no método mal absortivo.

Relativamente ao défice de ácido fólico também é bastante comum, tanto no pré como no pós-

operatório, embora no pós-operatório seja menos comum que o défice de vitamina B12.

Défice de ácido fólico geralmente ocorre devido a diminuição da ingestão de alimentos ricos

neste micronutrientes e devido a negligência do consumo da suplementação(10)

. Neste estudo,

verificou-se que em ambos os sexos, não se cumpriam a DRI, défice de ácido fólico, resultado

encontrado em outros estudos(5,12)

. Deve-se ter atenção, em especial, as mulheres em idade

fértil que queiram engravidar, devido a complicações neural do feto, provocadas pelo défice

de ácido fólico, sendo que as suas necessidades são maiores que as da população geral,

necessitando de 600µg/dia para prevenir défices desse micronutriente(4)

.

No que diz respeito ao défice de ferro, é frequente em pacientes submetidos a cirurgia

bariátrica, particularmente em mulheres em idade fértil, podendo chegar a cerca de 51% de

mulheres com défice de ferro no período pós – operatório(4,5)

. Entre 2003 e 2005, mais de

50000 mulheres com idade compreendida ente 18 – 45 anos realizaram procedimentos

cirúrgicos bariátricos anualmente(34)

. No presente estudo, foi verificado que as mulheres

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consumiam o ferro em menor quantidade que os homens, sendo que o sexo feminino não

cumpria a DRI e o sexo masculino cumpriam. Em média (7,1 ± 2,1), no pós-operatório,

verificou-se que havia uma prevalência de défice de ferro, resultado semelhança ao de outro

estudo(35)

. Este défice é devido a 3 factores: diminuição da capacidade do trato gastrointestinal

de reduzir Fe3+

para absorver mais Fe2+

, redução da ingestão alimentar e intolerância a carnes

vermelhas, e, redução da absorção de ferro devido ao desvio do duodeno e jejuno proximal,

principalmente em doentes submetidos a RYGB(4)

.

Quanto ao défice de vitamina D, está relacionado com a diminuição do consumo de alimentos

ricos em cálcio e vitamina D e alterações na absorção desse micronutriente resultado do

procedimento cirúrgico(10)

. Os resultados deste estudo mostraram que, quer no momento T1,

que no momento T4, houve um baixo consumo de vitamina D em ambos os sexos e métodos.

A média do consumo de vitamina D no momento T1 e momento T4, 4,9 ± 3,0 e 3,0 ±4,0

respectivamente, foi inferior aos valores de DRI. Em alguns estudos, também foram

encontrados resultados semelhantes aos deste estudo(4,11,36)

. Défice de vitamina D provoca

problemas ósseos, como a perda da densidade mineral óssea, osteoporose. Estudo demonstrou

que mulheres em premenopausa têm perda da densidade óssea e da densidade mineral óssea,

podendo estas complicações estarem relacionadas com défice de vitamina D(10)

.

O défice de cálcio pode estar relacionado com a redução da ingestão alimentar, redução da

produção do ácido no reservatório gástrico e redução da absorção(5,10)

. O consumo de cálcio,

média 755,8± 221,5, foi inferior ao recomendado, em ambos os sexos, em ambos os métodos

e em todos os momentos de avaliação, tendo outros estudos verificado a mesma situação(12)

.

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3. Conclusão

A cirurgia bariátrica tem demonstrado ser um tratamento eficaz para a perda de peso para os

indivíduos com obesidade severa. Contudo, este tratamento provoca défices nutricionais,

associadas a perda de peso e as complicações metabólicas resultantes do procedimento

cirúrgico. É muito importante detectar esses défices precocemente para que se possa corrigir.

Uma das formas para prevenir défices nutricionais, é implementar um adequado suporte

nutricional, recomendar a suplementação, sempre que necessário, monitorizar os valores

analíticos e ter sempre em atenção o consumo nutrição desses doentes. Deve-se ter em

atenção as mulheres em idade fértil, para que se possa prevenir défices de micronutrientes tais

como ferro e ácido fólico que estão relacionados com complicações maternal e fetal. Esses

doentes devem ser acompanhados pela equipa multidisciplinar para que se tente evitar o

reganho de peso que pode acontecer após 2 anos de cirurgia.

É necessário realizar mais estudos que permitam estabelecer de um modo formal guidelines

para o tratamento nutricional, nomeadamente sobre vitaminas e minerais, após a realização da

cirurgia bariátrica.

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