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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS Laís Taguchi Possari Distorções em Aço SAE 5160 Submetido a Diferentes Tratamentos Térmicos São Carlos 2017

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

Laís Taguchi Possari

Distorções em Aço SAE 5160 Submetido a Diferentes Tratamentos Térmicos

São Carlos

2017

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LAÍS TAGUCHI POSSARI

Distorções em Aço SAE 5160 Submetido a Diferentes Tratamentos Térmicos

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de Materiais e Manufatura, da

Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Lauralice de Campos

Franceschini Canale

São Carlos

2017

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,

POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Possari, Laís Taguchi

P856d Distorções em Aço SAE 5160 Submetido a Diferentes

Tratamentos Térmicos / Laís Taguchi Possari;

orientadora Lauralice de Campos Franceschini Canale.

São Carlos, 2017.

Monografia (Graduação em Engenharia de Materiais e

Manufatura) -- Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo, 2017.

1. têmpera. 2. têmpera intensiva. 3. distorção

dimensional. 4. tratamento térmico. 5. fluido de

resfriamento. I. Título.

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AGRADECIMENTOS

À orientadora deste trabalho, Prof.ª Lauralice de Campos Franceschini Canale, pela

oportunidade e por todos os aprendizados, tanto no laboratório como na sala de aula.

Ao doutorando Luigi Mazzucco por toda ajuda na condução deste trabalho.

Aos técnicos do departamento de Engenharia de Materiais pelo auxílio e atenção.

Ao professor Alessandro Roger Rodrigues por ceder seu tempo e equipamento para

que eu fizesse minhas medidas.

À empresa Rassini NHK por ceder o material utilizado neste trabalho.

Aos meus pais por terem me dado todo apoio e forças para perseguir meus desejos.

Ao alojamento estudantil por dar, antes de qualquer coisa, a chance de estar aqui.

Ao Garra São Carlos Rugby Feminino por me ensinar a resistir.

A todos que contribuíram direta e indiretamente para a conclusão deste trabalho.

.

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RESUMO

POSSAR, L. T. Distorções em Aço SAE 5160 Submetido a Diferentes Tratamentos

Térmicos. 2017. XX f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.

Estudos demonstram que, em contraste com a têmpera convencional, a têmpera

intensiva promove melhores propriedades mecânicas, assim como a redução no potencial de

distorções dimensionais e de formação de trincas, devido às altas tensões compressivas

obtidas na superfície da peça. Para conduzir o processo de têmpera intensiva são necessárias

elevadas taxas de velocidade de resfriamento, alcançadas com o uso de fluidos de

resfriamento com severidade H>6. Este projeto consiste em submeter corpos de prova do aço

mola SAE 5160 a diferentes tratamentos térmicos e verificar os efeitos do tratamento sobre as

propriedades de dureza, resistência ao impacto e distorções dimensionais.

Palavras-chave: tratamento térmico, têmpera, têmpera intensiva, distorção dimensional.

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ABSTRACT

POSSARI, L. T. Dimensional Distortion in SAE 5160 Steel Submitted to Different

Heat Treatment Cycles. 2017. XX f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) –

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.

Previous studies have shown that the intensive quench, when compared to the

conventional quench, leads to better mechanical properties, such as hardness and

toughness and reducing crack formation and dimensional distortions. This is due to the

compressive stresses which are introduced in the surface of the part. In order to achieve

the intensive quench it is necessary very high cooling rates and quenching medium with H

values higher than 6. This work compares conventional quenching and intensive

quenching in terms of dimensional distortions and mechanical properties including

hardness and toughness of the SAE 5160 .

Keywords: heat treatment, quench, intensive quench, dimensional distortion.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1–Diagrama TRC para o aço SAE

5160.............................................................................................................................................6

Figura 2 – Curva de resfriamento e taxa de resfriamento e cada um dos estágios de

resfriamento na têmpera..............................................................................................................7

Figura 3 – Desenho de um corpo de prova Navy C-ring

modificado................................................................................................................................10

Figura 4 – Probabilidade de formação de trincas em função da taxa de

resfriamento..............................................................................................................................11

Figura 5 – Gráfico de tensão em função do tempo para diferentes condições de

têmpera.....................................................................................................................................13

Figura 6 – Difração de raio-x por um cristal............................................................................14

Figura 7 – Sistema de têmpera intensiva..................................................................................15

Figura 8 – Barras de aço 5160 antes de qualquer tratamento..................................................16

Figura 9 – Barras de 5160 após recozimento...........................................................................17

Figura 10 – do corpo de prova C-ring utilizado no ensaio de distorção

dimensional...............................................................................................................................18

Figura 11 – Desenho técnico do corpo de prova Charpy utilizado no ensaio de tenacidade ao

impacto.....................................................................................................................................18

Figura 12 – Caixa de carvão usada para evitar a descarbonetação do aço durante a

austenitização...........................................................................................................................18

Figura 13 – Cilindro e Charpy com amarração para auxiliar no banho de

resfriamento..............................................................................................................................19

Figura 14 – C-rings com amarração para auxiliar no banho de

resfriamento..............................................................................................................................19

Figura 15 – Corpos de prova trincados.....................................................................................20

Figura 16 – Corpo de prova C-rings recém-retirados do tambor de nitrogênio líquido após

12h............................................................................................................................................22

Figura 17a – Micrografia transversal do aço 5160 como recebido...........................................23

Figura 17b – Micrografia longitudinal do aço 5160 como recebido.........................................23

Figura 18 – Micrografia transversal do aço SAE 5160 recozido..............................................23

Figura 19 – Micrografia do núcleo da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional

seguida de revenido..................................................................................................................23

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Figura 20 – Micrografia da superfície da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional

seguida de revenido..................................................................................................................24

Figura 21 – Micrografia do núcleo da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional

seguida de revenido e criogenia...............................................................................................24

Figura 22 – Micrografia da superfície da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional

seguida de revenido e crigenia..................................................................................................25

Figura 23 – Volume de austenita retida em função do teor de carbono de aços resfriados

rapidamente..............................................................................................................................26

Figura 24 – : Micrografias do núcleo da amostra submetida à têmpera

intensiva....................................................................................................................................27

Figura 25 – Micrografia da amostra submetida à têmpera intensiva tirada nas vizinhanças da

superfície do corpo de

prova..........................................................................................................................................27

Figura 26 – Micrografia do núcleo da amostra submetida à têmpera intensiva seguida de

revenido....................................................................................................................................29

Figura 27 – Micrografia da amostra submetida à têmpera intensiva seguida de revenido tirada

nas vizinhanças da superfície do corpo de

prova.........................................................................................................................................30

Figura 28 – Tabela de dureza em função do teor de carbono e percentual de

martensita..................................................................................................................................33

Figura 29 – do corpo de prova C-ring e indicação das medidas tiradas no

ensaio........................................................................................................................................34

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composição do aço SAE 5160 recebido.................................................................15

Tabela 2 - Dureza média dos charpys a cada etapa dos ciclos térmicos

efetuados...................................................................................................................................31

Tabela 3 – Dureza média dos cilindros a cada etapa dos ciclos térmicos

efetuados...................................................................................................................................31

Tabela 4 – Valores de desvio padrão para o gráfico de dureza

transversal.................................................................................................................................32

Tabela 5 – Resultados médios do ensaio de impacto Charpy...................................................30

Tabela 6 – Registro das variações médias nas dimensões dos C-rings.....................................31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 4

2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 4

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................... 5

3.1 Têmpera Convencional e Revenido............................................................................ 5

3.2 Tratamento Criogênico ou Subzero............................................................................. 8

3.3 Distorções Dimensionais ............................................................................................ 8

3.4 Têmpera Intensiva ...................................................................................................... 11

3.5 Tensões Residuais ....................................................................................................... 12

4 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................... 14

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 20

5.1 Metalografia................................................................................................................ 22

5.2 Dureza Sperficial Longitudinal................................................................................... 29

5.3 Dureza Transversal – Curva em U.............................................................................. 31

5.4 Resistência ao Impacto ............................................................................................... 32

5.2 Distorção Dimensional ............................................................................................... 33

6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 34

7 REFERÊNCIAS............................................................................................................ 35

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1 Introdução

Aços mola são amplamente utilizados na fabricação de componentes de suspensões na

indústria automobilística e aeronáutica, tal aplicação exige do material elevada resistência à

fadiga e à fratura. Na produção destes componentes, a têmpera é um tratamento térmico muito

utilizado como técnica para aumentar a dureza e resistência exigidas. A tenacidade e

resistência ao choque são garantidas pelo tratamento de revenido, normalmente feito após a

têmpera.

No processo de têmpera, porém, o componente tratado poderá sofrer distorção

dimensional ou até mesmo fratura, devido às altas tensões geradas pelo gradiente térmico e

pelas transformações metalúrgicas. Se estas tensões excederem o limite de escoamento do

material, o corpo sofrerá distorção dimensional e, se excederem a tensão de ruptura, o mesmo

irá trincar (TOTTEN; HOWES, 1997).

Tensões residuais são aquelas que residem num corpo em equilíbrio após este tipo de

tratamento. Geralmente são consideradas prejudiciais ao desempenho e vida útil de peças

submetidas a algum carregamento externo, porém elas podem ser introduzidas

intencionalmente para obtenção de melhores propriedades mecânicas, como no caso da

têmpera intensiva, por exemplo, onde são introduzidas tensões compressivas na superfície do

componente, inibindo a formação e propagação de trincas e diminuindo o potencial de

distorção dimensional (WITHERS; BHADESHIA, 2001).

A resistência à fadiga e ao impacto também são propriedades intimamente

relacionadas à presença de tensões residuais compressivas, o que torna a têmpera intensiva

uma opção relevante entre os tratamentos térmicos de metais.

Para conduzir o processo de têmpera intensiva são necessárias elevadas taxas de

velocidade de resfriamento, alcançadas com o uso de fluidos de resfriamento com altos

valores de severidade (H>6). (TOTTEN, 2002)

2 Objetivos

Este estudo visa comparar as propriedades de tenacidade ao impacto, dureza e

distorções dimensionais resultantes de diferentes ciclos de tratamentos térmicos

envolvendo a têmpera intensiva e tratamentos térmicos convencionais de têmpera,

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revenido e criogenia.

O estudo será conduzido em aço SAE 5160, é utilizado na fabricação de molas, eixos

automotivos, pinos e lâminas de corte. Tais aplicações exigem do material alta dureza,

tenacidade e precisão dimensional.

3 Revisão Bibliográfica

3.1 Têmpera Convencional e Revenido

A têmpera é um tratamento térmico amplamente utilizado para a melhoria das

propriedades de resistência mecânica e dureza dos aços, essa melhora deve-se à formação de

uma fase metaestável de alta dureza chamada martensita. O processo de têmpera convencional

consiste no aquecimento de um componente de aço até sua temperatura de austenitização e,

em seguida, bruscamente resfriado. O resfriamento deve ser rápido o suficiente para que a

austenita não sofra transformações intermediárias como a perlita ou bainita, o que causaria

uma diminuição da dureza. A velocidade de resfriamento é definida pelo diagrama TRC do

aço. A figura 1 mostra o diagrama TRC para o aço SAE 5160, no qual é possível observar os

campos de formação de perlita e bainita, que devem ser evitados para a maximização da

dureza. A linha horizontal Mi indica a temperatura de início da transformação martensítica,

que no caso do aço SAE 5160 é em torno de 280ºC. A curva de resfriamento deve, portanto,

cruzar zona de formação da martensita sem adentrar a zona de formação de perlita e bainita

(SANTOS, 2010).

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Figura 1: Diagrama TRC para o aço SAE 5160. (ATKINS, 1977)

A têmpera em meio líquido ocorre em três estágios: num primeiro momento, há a

formação de um filme de vapor em torno da peça e o resfriamento ocorre através da condução

e radiação de calor. Em seguida, esse filme começa a se romper, provocando a nucleação de

bolhas e o fluido entra em contato com a peça, gerando alta velocidade de trocas de calor. Por

fim, a ebulição do líquido cessa e este entra em contato com toda a superfície da peça, que

resfria então mais lentamente, por convecção. (TOTTEN, 2002) A figura 2 ilustra os

mecanismos descritos, bem como as curvas temperatura x tempo e taxa de resfriamento x

temperatura.

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Figura 2: Curva de resfriamento e taxa de resfriamento e cada um dos estágios de resfriamento na têmpera.

(TOTTEN; BATES; CLINTON, 1993)

As propriedades obtidas dependem da severidade do meio de resfriamento, assim

como da temperabilidade do aço a ser tratado, que é caracterizada pelo diagrama TRC (figura

1). Uma consulta ao diagrama permitirá que sejam adequadamente escolhidas a velocidade e

o meio de resfriamento para a obtenção dos resultados desejados.

Dentre os meios fluidos de resfriamento pode-se citar: óleos, água, soluções salinas ou

poliméricas, entre outros. Eles são escolhidos conforme a sua capacidade de extração de calor.

Devido às tensões térmicas geradas e às tensões de transformação da austenita para

martensita, o material submetido ao tratamento se torna extremamente duro, porém frágil.

Para garantir maior tenacidade e melhores propriedades mecânicas, é necessário submeter à

peça a um novo tratamento térmico: o revenido.

O revenido visa à eliminação de tensões internas e acerto da dureza para uma dada

aplicação. Consiste na elevação em temperaturas subcríticas e mantida nessa condição por um

dado tempo, determinado conforme as propriedades desejadas.

O banho criogênico feito normalmente com nitrogênio líquido também é utilizado

após a têmpera ou revenido e tem o intuito principal de transformar a austenita retida em

martensita. (TOTTEN, 2007). Em aços cujo teor de carbono é elevado, o início e término da

formação da martensita acontecem em temperaturas proporcionalmente mais baixas e a

transformação total da austenita pode se dar a temperaturas abaixo de zero. Nesse caso é

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necessário um resfriamento subzero a fim de evitar a presença de austenita não transformada

na microestrutura da peça. (SILVA; MEI, 2008)

3.2 Resfriamento Criogênico ou Subzero

Nos tratamentos térmicos de têmpera convencional é desejável que a austenita se

transforme completamente em martensita, o que nem sempre ocorrerá na prática. O processo

de transformação martensítica tem início em uma dada temperatura Mi e final em Mf, tais

temperatura variam amplamente de acordo com a natureza do aço, Mf pode ser elevada, pouco

acima da temperatura ambiente ou até mesmo abaixo de zero. Tratamentos subzero são,

portanto, utilizados para evitar a presença de austenita e aumentar o percentual de martensita

no aço tratado e melhorar assim ainda mais suas propriedades mecânicas. Esse tipo de

tratamento, geralmente, não é feito antes do revenido, pois a transição imediata a baixas

temperaturas após a têmpera pode causar trincas nas peças, apesar de tal procedimento

apresentar máxima transformação da austenita retida. (CARLSON, 1991)

É importante destacar, também, que a austenita retida pode se transformar em

martensita durante o funcionamento da peça, acarretando alterações volumétricas e até mesmo

fratura da mesma. Com o tratamento sub-zero ou criogênico, grande parte da austenita retida

será convertida em martensita, garantindo maior estabilidade dimensional e vida útil do

componente. (SILVA; FRANCO; MACHADO; EZUGWU; SOUZA, 2006)

O tratamento criogênico permite que as moléculas se realinhem e formem uma

estrutura mais uniforme, elevando as propriedades mecânicas e, simultaneamente, aliviando

tensões. (BRYSON, 1999) Sabe-se que em aços altamente temperáveis, como o aço SAE

5160, o volume de austenita retida resultante da têmpera é muito pequeno, porém o

tratamento criogênico pode melhorar as propriedades do aço através do condicionamento da

martensita: quando submetida a temperaturas muito baixas, a matensita contrai e explusa

átomos de carbono formando precipitados coerentes.

3.3 Distorções Dimensionais

São consideradas distorções dimensionais todas as mudanças irreversíveis nas

dimensões de uma peça tratada termicamente Estas distorções podem ser caracterizadas

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por mudanças volumétricas e lineares ou na forma da peça, como alterações nas relações

angulares e lineares ou curvaturas. Em geral, ambas estão presentes ao final dos

tratamentos térmicos. (YOSHIDA, 2012a)

O processo de têmpera tem como consequência natural a expansão do aço tratado

devido à transformação martensítica que o material sofre, acarretando distorções

dimensionais na peça, que dificilmente podem ser totalmente evitadas. (YOSHIDA, 2012a)

Quando provenientes de tratamentos térmicos, as distorções dimensionais possuem

três componentes: variação volumétrica da peça devido ao aumento do volume específico

do aço, deformação do formato e empenamento. (NAKHIMOV; BRON, 1996)

As distorções dimensionais englobam duas diferentes classes: as evitáveis, que são

subdivididas em distorções internas e externas ao tratamento; e as inevitáveis, que podem ser

de causas térmicas ou metalúrgicas. Deve-se ressaltar, porém, que o termo “evitável” não

significa que elas sejam completamente eliminadas. (YOSHIDA, 2012a)

As distorções evitáveis externas ao tratamento térmico são fatores externos ao

tratamento térmico que causam distorções consideradas evitáveis, relacionadas à seleção do

aço, anisotropia do mesmo, tensões de usinagem e conformação e de outros processos.

(YOSHIDA, 2012b)

Aquelas evitáveis internas ao tratamento térmico são consideradas intrínsecas ao

processo de têmpera. Como, por exemplo, a seleção do equipamento e dispositivos de carga e

do ciclo térmico mais adequado. Na escolha do equipamento é necessário avaliar a

homogeneidade térmica do equipamento e da peça. O tempo do processo deve ser controlado

também, pois o aquecimento pode contribuir para a ocorrência de distorções e, além disso,

altas taxas de resfriamentos causam maiores distorções dimensionais. (YOSHIDA, 2012c)

As distorções inevitáveis ocorrem independente do tratamento térmico, da natureza do

aço e das técnicas e equipamentos utilizados. São classificadas em: de causa térmica e de

causa metalúrgica.

Nas causas térmicas, o fenômeno da dilatação ocorre no aquecimento de qualquer

material e, na prática, nunca é totalmente homogêneo. Por outro lado, o meio de resfriamento

no processo de têmpera também é um fator que causa distorções inevitáveis, devido aos

gradientes de temperatura entre a superfície e núcleo da peça, portanto, quanto mais severo o

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fluido de resfriamento, maior a intensidade das distorções. (YOSHIDA, 2012d)

O processo de têmpera é associado à transformação de fases e, cada transformação é

associada uma alteração volumétrica devido a diferentes arranjos atômicos que ocorrem nas

transformações. Essas variações originam campos de tensões e, dessa maneira, ocorrem

distorções na peça final, que variam em magnitude devido ao efeito da taxa de resfriamento e

diferença de massa e geometria entre partes distintas da peça. Essas são consideradas causas

metalúrgicas. (YOSHIDA, 2012e)

Existem várias maneiras de mensurar distorções e trincas. Normalmente isso é feito

pelo uso de barras sólidas, pratos com furos, C-rings, Navy C-rings, discos entalhados,

finnnedtubes e outros. (TOTTEN; BATES; CLINTON, 1993)

Um dos métodos mais antigos e utilizados é a utilização de C-rings. A figura 3

mostra o desenho de um Navy C-ring modificado.

Figura 3: Desenho de um corpo de prova Navy C-ring modificado.

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As medidas são avaliadas antes e depois do tratamento térmico. Variações no

diâmetro da amostra indicam as mudanças de volume no processo de endurecimento do

aço, enquanto a largura dos entalhes reflete a magnitude das tensões residuais. (FRENCH,

1930)

3.4 Têmpera Intensiva

Sabe-se que altas taxa de resfriamento aumentam a probabilidade da ocorrência de

trincas e distorções na peça tratada. Porém estudos do Dr. Nicolai I. Kobasko mostram que a

partir de uma determinada velocidade de resfriamento o potencial de trincas diminui

exponencialmente, como mostrado na figura 4. As altas taxas de resfriamento necessárias são

obtidas com condições de resfriamento que promovam valores de severidade de têmpera (H

Grossman) maiores que 6. (TOTTEN, 2002)

Figura 4: Probabilidade de formação de trincas em função da taxa de resfriamento. (CHIQUETI, 2009)

As melhores propriedades obtidas pelo resfriamento extremamente rápido são

explicadas pela formação de altas tensões compressivas na superfície do componente, que

inibem a propagação das trincas. Para que essas tensões sejam obtidas, deve-se submeter a

peça à um resfriamento extremamente rápido e uniforme, fazendo com que aconteça a

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transformação martensítica apenas numa camada uniforme da superfície e então o tratamento

é interrompido, dessa maneira a austenita presente no interior será resfriada lentamente,

favorecendo difusão e as transformações intermediárias do aço: perlita, ferrita e bainita. Logo,

como o volume da martensita é maior do que da perlita, ferrita e bainita, são criadas tensões

compressivas superficiais no material.

Embora existam três diferentes técnicas nomeadas como têmpera intensiva, somente o

método chamado de IQ3 (têmpera intensiva 3) será usado no presente trabalho. Este método

consiste numa única etapa na qual se deve submeter a peça à altas taxas de resfriamento, tão

intensas que deverão suprimir os estágios de nucleação de bolhas e de formação do filme de

vapor e, também, o resfriamento deverá ser uniforme ao longo de toda a superfície do

componente. Em seguida, a têmpera é interrompida no momento em que a camada

martensítica atingir uma profundidade que corresponde a valores de tensões compressivas

ótimas. (TOTTEN, 2002) (CANALE; KOBASKO; TOTTEN, 2007)

3.5 Tensões Residuais

Tensões residuais são aquelas provenientes de deformações mecânicas,

transformações metalúrgicas e gradientes heterogêneos de temperatura. Elas permanecem no

componente mesmo que este não seja solicitado com esforços externos e podem prejudicar o

desempenho do material, sua resistência à fadiga e a vida útil do componente quando

submetido a algum tipo de carregamento, mas as tensões residuais também podem ser

introduzidas propositalmente visando à melhoria das propriedades mecânicas, neste caso,

deseja-se que sejam compressivas.

No processo de têmpera, as tensões são desenvolvidas a partir das variações

volumétricas associadas à transição de fase de austenita para martensita, que neste caso é de

expansão. (TOTTEN; BATES; CLINTON, 1993) (TODINOV; KNOTT ; STRANGWOOD,

1996)

No caso da têmpera intensiva, as tensões residuais geradas são normalmente de grande

magnitude e do tipo compressiva, o que contribui para o aumento da vida em fadiga de

componentes tratados desta maneira.

A figura 5 ilustra a evolução dos valores de tensões para os casos de: têmpera

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intensiva com parada no momento em que se obtém maior tensão superficial compressiva

(Curva I), têmpera intensiva com resfriamento “completo” (Curva II) e têmpera convencional

(Curva III). Nota-se que a criação de tensões residuais compressivas na superfície no processo

de têmpera intensiva contrasta com a têmpera convencional, na qual as tensões residuais

finais na superfície são de tração. Isso acontece porque na têmpera convencional a

temperatura do núcleo e da superfície não são tão diferentes perto da temperatura Mi, fazendo

com que no momento em que o núcleo se transforma e expande, o mesmo se torna maior do

que era antes, tracionando a superfície e favorecendo a formação de trincas. No caso da

têmpera intensiva, o núcleo se transforma em fases intermediárias que possuem volume

menor que a martensita formada na superfície, gerando assim as tensões compressivas

superficiais. (CANALE; KOBASKO; TOTTEN, 2007a) (CANALE; KOBASKO; TOTTEN,

2007b)

Figura 5: Gráfico de tensão em função do tempo para diferentes condições de têmpera. (ARONOV, 2002)

Desta maneira é importante que as tensões residuais sejam avaliadas na situação pós-

tratamento térmico, de maneira a se verificar a influência do ciclo térmico nesse aspecto.

Existem muitos métodos para a sua caracterização como, por exemplo, o método da

curvatura, holedrilling (perfuração), difração de elétrons, raios-x ou nêutrons. Para a seleção

da metodologia deve ser considerado o tipo de tensão que se deseja reconhecer e com qual

alcance e acuracidade.

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Entretanto, um dos métodos mais utilizados é a difração de raios-x. Este método

consiste na análise da variação da distância interplanar de uma família cristalográfica por

meio da difração de raios-x de comprimento λ que incide e reflete na amostra com um ângulo

θ no reticulado cristalino, no qual a distância entre os planos é d. A difração de raios-x no

cristal é descrita pela Equação de Bragg, onde n é a ordem do reflexo:

𝑛λ = 2d sin 𝜃

A figura 6 esquematiza a difração de um feixe de raios-x por um cristal.

Figura 6: Difração de raio-x por um cristal (PADILHA, 2000)

Com o auxílio da Equação de Bragg, as distâncias d são registradas em função do seno

quadrático do ângulo de rotação da amostra (Ψ). Esses dados, graficamente, gerarão uma reta,

da qual é calculado o coeficiente angular (m) e, com ele, é possível estimar a tensão por meio

da seguinte equação, onde E é o módulo de elasticidade e ν, o coeficiente de Poisson:

𝜎 =𝐸𝑚

1 + 𝜈

As medidas de tensão residual obtidas neste trabalho não foram conclusivas e

precisariam ser revistas para que a ocorrência de têmpera intensiva nos corpos de prova

tratados fosse comprovada.

4 Materiais e Métodos

O aço utilizado foi o SAE 5160 cedido pela empresa Rassini NHK. Desse material

foram confeccionados 16 corpos de prova cilíndricos para ensaios de dureza e metalografia,

16 corpos de prova do tipo Charpy para o ensaio de tenacidade ao impacto e 12 corpos de

prova C-rings para o ensaio de distorção dimensional. A composição do material utilizado

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era a seguinte:

Tabela 1: Composição do aço SAE 5160 recebido.

C % Mo % V % Sb %

0.53 0.06 0.12 0.0013

Si % Ni % W % B %

0.32 0.14 0.02 0.0008

Mn % Al % Sn % N %

1.02 0.005 0.015 0.009

P % Cu % As % Pb %

0.014 0.21 0.019 0.001

S % Nb % Zn % Mg %

0.015 0.004 0.002 0.0003

Cr % Ca % Co % Te %

1.14 0.0003 0.012 0.0005

Como meio de resfriamento foi utilizado o óleo da marca Houghton, tipo Quench G e

para a têmpera intensiva foi utilizado solução aquosa de nitrito de sódio a 9% no sistema de

têmpera intensiva desenvolvido no departamento de Engenharia de Mateirias e Manufatura.

Possui bomba DAB, modelo KPF 30/16M, com potência nominal de 0,5 HP, capacidade de

circulação de 0,6 a 2,16 m³/h e capacidade de armazenamento de 60 litros. O sistema pode

ser observado na figura 7.

Figura 7: Sistema de têmpera intensiva. No detalhe, by-pass para controle de fluxo.

Para a austenitização do aço foi utilizado o forno da marca EDG modelo FI-2 e a

temperatura foi de 915ᵒ C.

As medidas de dureza foram feitas com o sistema de medição de dureza da marca

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16

Leco, modelo RT-240.

As medidas de distorção foram feitas com o auxílio de um projetor de perfil Nikon,

modelo V-20a e contador digital micrometral Nikon, modelo SC-112, disponibilizado pelo

Laboratório de Metrologia do Departamento de Engenharia Mecânica de Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

A análise metalográfica foi realizada com auxílio de um microscópio óptico Zeiss,

modelo AxioScope A1 acoplado a uma câmera Zeiss, modelo AxioCamICc 5.

O ensaio de tenacidade ao impacto foi feito com uma máquina de ensaio Charpy da

marca InstronWolpert, modelo PW30.

Primeiramente foi necessária a obtenção dos aços para a confecção dos corpos de

prova feitos a partir de um feixe de molas.

Por se tratar de peças forjadas de difícil usinagem, elas foram recozidas no

Departamento de Engenharia de Materiais.

Para realizar o recozimento, devido ao forno não ser de atmosfera controlada, o

material foi colocado em uma caixa com carvão, evitando assim a descarbonetação do aço. O

tratamento foi realizado a 880ᵒ C e resfriado dentro do próprio forno.

A figura 8 apresenta a barra inicial e o pedaço cortado de aço SAE 5160 que foi

submetido ao processo de recozimento. A figura 9 apresenta as barras após o recozimento.

Figura 8: Barras de aço 5160 antes de qualquer tratamento.

Figura 9: Barras de 5160 após recozimento.

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De maneira a documentar as microestruturas do aço SAE 5160 antes e após o

tratamento térmico de recozimento, foram feitas análises metalográficas. Para tal, as barras

foram cortadas transversal e longitudinalmente. Cada um dos fragmentos foi embutido em

resina. As amostras foram lixadas primeiramente em uma lixadeira elétrica número 80 e, em

seguida, lixadas manual e gradativamente com lixas 120, 220, 320, 400, 600, 1200, 2000 da

3M e Norton, polidas com óxido de cromo, limpas, e atacadas com nital a 2%.

Parte do material recozido foi mandado à ferramentaria do Departamento de

Engenharia Mecânica de Escola de Engenharia de São Carlos para que os corpos de prova

para testes de impacto e tensão residual fossem confeccionados. O restante foi levado à

empresa de ferramentaria FESC (São Carlos) para que os corpos de prova do tipo c-ring

fossem usinados, pois por possuírem uma geometria muito complexa e necessidade de baixa

tolerância dimensional, não puderam ser usinados com equipamentos disponíveis no campus.

Os corpos de prova cilíndricos para medidas de tensão residual apresentaram 20mm

de diâmetro e 150mm de comprimento. As figuras 10 e 11 apresentam os corpos de provas

utilizados neste estudo.

Figura 10: Desenho técnico do corpo de prova C-ring utilizado no ensaio de distorção dimensional.

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Figura 11: Desenho técnico do corpo de prova Charpy utilizado no ensaio de tenacidade ao impacto.

Para o tratamento térmico de têmpera também foi utilizada a mesma técnica de caixa

com carvão a fim de evitar a descarbonetação dos mesmos. De modo a facilitar o manuseio

dos corpos de prova com a tenaz, foram feitas amarrações com arame. As figuras 12, 13 e 14

ilustram o procedimento.

Figura 12: Caixa de carvão usada para evitar a descarbonetação do aço durante o aquecimento do mesmo até a

temperatura de austenitização.

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Figura 13: Cilindro e Charpy com amarração para auxiliar no banho de resfriamento.

Figura 14: C-rings com amarração para auxiliar no banho de resfriamento.

Na execução de todos os tratamentos de têmpera, os corpos de provas foram

aquecidos a 915ᵒC, embora a temperatura do aço SAE 5160 seja de 845ᵒC (ASM, 1981),

para garantir a austenitização total e homogênea do aço.

De início, foram feitas tentativas de se determinar os melhores parâmetros para os

tratamentos térmicos usando algumas amostras cilíndricas. Nos primeiros tratamentos, os

corpos de prova Charpy permaneceram na temperatura de austenitização por mais quarenta

minutos e os cilindros e C-rings por uma hora.

Nos tratamentos de têmpera convencional, os corpos de prova depois de

austenitizados foram mergulhados em óleo Quench G da Houghton a 60ºC.

No caso da têmpera intensiva, os corpos de prova foram resfriados em uma solução

de nitrito de sódio a 9% contida no dispositivo de têmpera intensiva. Os tempos de

permanência do banho foram estimados com base na espessura dos corpos de prova e nos

resultados do trabalho de Luigi Albano (ALBANO, 2009). Para os Charpys foram utilizados

os tempo de dois segundos, para cilindros cinco segundos e C-rings, três segundos. Em

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seguida, os mesmos foram retirados do banho e resfriados ao ar.

Após as têmperas convencionais e intensivas, foram realizados tratamentos de

revenido a 550ᵒC, nos cilindros e c-rings por uma hora e nos charpys por quarenta minutos.

Para a definição dos parâmetros adequados, corpos de prova cilíndricos foram

temperados e revenidos e, após os tratamentos, suas durezas superficiais foram medidas.

Essas amostras apresentaram trincas na segunda tentativa de têmpera, figura 15. Isso

aconteceu porque os corpos de prova apresentavam endentações que atuaram como

concentradores de tensões.

Os corpos de prova com endentações foram reutilizados após a primeira tentativa de

têmpera convencional. Na segunda tentativa, foram obtidas durezas médias de 55,8 HRC e,

mas após o revenido, a dureza abaixou para 36 HRC, valor de dureza que está fora da faixa

especificada para este tipo de aço. Isso aconteceu, pois os corpos de prova foram expostos

por tempo demais ao tratamento de revenimento. Os novos tratamentos foram feitos, então,

com austenitização a 915° C durante duas horas, resfriamento em óleo Quench G a 60ºC e

revenido a 500°C por quinze minutos.

Em novos corpos de prova cilíndricos e nos demais foram, então, utilizados esses

novos parâmetros de têmpera e revenido para as demais amostras: austenitizaçãoa 915ºC e

permanência nesta temperatura por duas horas para cilindros e C-rings e 40 minutos para os

Charpys e revenimento a 500ºC por quinze minutos.

Figura 15: Corpos de prova trincados.

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Após o revenimento, alguns dos corpos de prova convencionalmente temperados

foram submetidos a um tratamento de criogenia durante doze horas. A figura 16 mostra os

corpos de prova recém-retirados do banho de nitrogênio líquido.

Figura 16: Corpo de prova C-rings recém-retirados do tambor de nitrogênio líquido após 12h.

A cada etapa de cada condição de tratamento foram registradas as durezas

longitudinalmente, em pontos distintos ao longo da extensão de cada corpo de prova.

5 Resultados e discussão

As figuras 17 e 18 ilustram as microestruturas obtidas antes e após o tratamento

térmico de recozimento, transversal e longitudinalmente.

Figura 17: a) Micrografia transversal do aço 5160 como recebido. b) Micrografia longitudinal do aço 5160 como

recebido.

As figuras 17a e 17b mostram que não há bandeamento da estrutura e que ela é

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composta por perlita fina com áreas de ferrita.

Figura 18: Micrografia transversal do aço SAE 5160 recozido.

É possível observar claramente a mudança na microestrutura do aço após o

recozimento, com uma certa esferoidização da perlita, o que por certo refletirá numa melhor

condição de usinagem.

Foram feitos quatro ciclos térmicos diferentes: têmpera convencional seguida de

revenimento, têmpera convencional seguida de revenimento e criogenia, têmpera intensiva e

têmpera intensiva seguida revenimento.

5.1 Metalografia

As figuras 19 a 22 apresentam as micrografias das amostras submetidas à têmpera

convencional seguida de revenido e têmpera convencional seguida de revenido e criogenia.

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23

Figura 19: Micrografia do núcleo da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional seguida de revenido.

Figura 20: Micrografia da superfície da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional seguida de

revenido.

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Figura 21: Micrografia do núcleo da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional seguida de revenido e

criogenia.

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Figura 22: Micrografia da superfície da amostra cilíndrica submetida à têmpera convencional seguida de

revenido e crigenia.

.

Comparando as duas situações, não se percebe alterações significativas, pois devido ao

material de estudo possuir alto teor de carbono (0,6%), provavelmente o percentual de

austenita retida foi baixo. Não foi possível identificar as regiões de austenita retida, porém,

como mostra o gráfico da figura 23, a quantia estimada de austenita retida em aços desta

natureza é de cerca de 5% apenas. (COSTA; SILVA; MEI, 2006)

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Figura 23: Volume de austenita retida em função do teor de carbono de aços resfriados rapidamente. (SILVA;

MEI, 2008)

Percebe-se, também, que a região da superfície do corpo de prova possui uma

microestrutura mais clara que pode ser decorrente de descarbonetação.

Seguem as micrografias das amostras tratadas com têmpera intensiva, do centro do

corpo de prova e da superfície, figuras 24 a 27.

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27

Figura 24: Micrografias do núcleo da amostra submetida à têmpera intensiva

Figura 25: Micrografia da amostra submetida à têmpera intensiva tirada nas vizinhanças da superfície do corpo

de prova.

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Comparando as micrografias da região da superfície e núcleo do corpo de prova,

percebe-se a presença martensita no interior da amostra. Esta situação mostra que devido o

tempo de permanência no banho pode ter sido muito longo e não foi possível obter um núcleo

composto por ferrita e perlita, como desejado. Existem regiões mais escuras que poderiam ser

bainita superior. Em situações que a velocidade de resfriamento é alta, porém não o suficiente

para atingir a formação de martensita, pode-se observar a formação de bainita e perlita fina.

Um ataque que colore as fases diferencialmente permitiria afirmar se há bainita e perlita fina

de fato, seria possível também detectar a presença de austenita retida (COLPAERT, 2008).

Para assumir que a situação de têmpera intensiva foi atingida, seria necessário comprovar a

formação de tensões residuais compressivas na superfície dos corpos de prova.

Os tempos de submersão na têmpera intensiva têm sido continuamente estudados,

porém ainda não totalmente dominados. Existem fórmulas matemáticas para chegar ao tempo

ideal baseadas em conceitos de transferência de calor, porém essas fórmulas não levam em

conta a temperabilidade do aço que, neste caso, é bastante alta, facilitando a formação da

martensita.

As figuras abaixo mostram as micrografias das amostras temperadas intensivamente e

revenidas em seguida.

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Figura 26: Micrografia do núcleo da amostra submetida à têmpera intensiva seguida de revenido.

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Figura 27: Micrografia da amostra submetida à têmpera intensiva seguida de revenido tirada nas vizinhanças da

superfície do corpo de prova.

Uma comparação entre as micrografias das amostras submetidas aos ciclos de têmpera

intensiva com e sem revenido posterior permite verificar o refinamento das agulhas de

martensita, reduzindo a concentração de tensões e fragilidade do aço, maior homogeneidade e

um aumento discreto das áreas mais escuras, o que sugere a precipitação de carbonetos.

5.2 Dureza Superficial Longitudinal

Após cada tratamento, foram registradas as durezas superficiais em escala Rockwell

C longitudinalmente ao longo da extensão dos corpos de provas para a verificação da

uniformidade do tratamento.

Seguem as tabelas com os valores obtidos.

Tabela 2: Dureza média dos corpos de prova Charpys a cada etapa dos ciclos térmicos efetuados.

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Charpys

Tratamento Dureza Média (HRC) Desvio Padrão (HRC)

Têmpera convencional 58,55 4,38

Têmpera convencional+Revenido 35,5 2,85

Têmpera convencional+Revenido+Criogenia 35,7 1,35

Têmpera intensiva 58,4 0,97

Têmpera intensiva + Revenido 34,1 1

Tabela 3: Dureza média dos corpos de prova cilíndricos a cada etapa dos ciclos térmicos efetuados.

Cilindros

Tratamento Dureza Média (HRC) Desvio Padrão (HRC)

Têmpera Convencional 63,95 2,23

Têmpera Convencional+Revenido 45,4 3,43

Têmpera convencional+Revenido+Criogenia 49,6 1,93

Têmpera intensiva 46,25 3,74

Têmpera intensiva + Revenido 36,5 2,11

Verifica-se que a criogenia teve pouca influência sobre a dureza superficial do aço.

Novamente, deve-se ressaltar que o aço 5160 possui alta temperabilidade e, quando resfriado

rapidamente até a temperatura ambiente, o teor de austenita retida dificilmente ultrapassará

5% (SILVA; MEI, 2008).

Comparando os tratamentos de têmpera convencional e intensiva, percebe-se que os

valores de dureza obtidos com a têmpera intensiva não foram sequer superiores aos da

têmpera convencional. Percebe-se, porém, que os valores de dureza dos cilindros após a

têmpera intensiva se equiparam aos valores obtidos com têmpera convencional seguida de

revenido, o que sugere que o calor que emana do núcleo do corpo de prova no processo de

têmpera intensiva pode ter causado um auto revenimento na martensita da superfície.

As durezas dos corpos de prova Charpy, em todas as situações, foram baixas. Talvez

o tempo de permanência dentro do forno durante a austenitização deveria ter sido mais

longo.

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5.3 Dureza transversal –Curva em U

O gráfico a seguir esboça o comportamento da dureza obtida ao longo da seção

transversal dos corpos de prova.

Gráfico 1: Curvas em U para cada ciclo térmico.

Tabela 4: Valores de desvio padrão para o gráfico de dureza transversal.

Desvio padrão (HRC)

TC+Revenido TC+Revenido+Criogenia IQ IQ+Revenido

-10 0,95 0,78 2,84 0,37

0 1,20 0,08 3,11 0,48

10 0,88 0,81 3,13 0,43

Observando os gráficos e valores de desvio padrão, percebe-se que, exceto pela curva

de têmpera convencional seguida de revenido e criogenia, as amostras não apresentaram

valores menores de dureza no núcleo como esperado. Isto pode refletir o fato de que as

medidas foram tiradas nas amostras utilizadas também no ensaio de metalografia, que foram

cortadas da extremidade do corpo de prova e entrou em contato com o fluido de resfriamento

antes do restante do corpo de prova.

Pelos valores de desvio padrão, nota-se que o tratamento de têmpera intensiva foi o

que gerou propriedades mais heterogêneas tanto no núcleo quanto na superfície.

30

35

40

45

50

55

60

-10 -5 0 5 10

Du

reza

(H

RC

)

Distância do centro (mm)

TC+Revenido

TC+Revenido+Criogenia

IQ

IQ+Revenido

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A estrutura de perlita e ferrita no interior do corpo de prova esperada na têmpera

intensiva provavelmente não ocorreu, mas outras fases como a bainita podem estar presente.

Como mostra a figura 27, para valores de dureza de 52 a 58 HRC em aços temperados com

0,6% de carbono, pode-se ter aproximadamente até 90% de martensita.

Figura 28: Tabela de dureza em função do teor de carbono e percentual de martensita. (TOTTEN; BATES;

CLINTON, 1993)

5.4 Resistência ao impacto

Segue a tabela com os resultados obtidos.

Tabela 5: Resultados médios do ensaio de impacto Charpy.

Tratamento Energia média (J) Desvio

padrão

Têmpera Convencional+ Revenido 13,75 3,1

Têmpera Convencional+ Revenido+ Criogenia 10,75 0,96

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Têmpera Intesiva 2,25 0,5

Têmpera intensiva +Revenido 8 0,96

Entre as têmperas intensivas, percebe-se um aumento significativo da tenacidade

após o revenimento, enquanto entre as têmperas convencionais, nota-se que houve uma leve

fragilização do material após o tratamento criogênico, provavelmente devido ao resfriamento

intenso do aço e transformação da austenita retida em martensita sem revenimento posterior

da martensita fresca, que apesar de estar presente em pouca quantidade, cerca de 5%

(SILVA; MEI; 2008), que, como observado anteriormente, não foi suficiente para alterações

significativas de dureza, porém sua presença pode ter sido responsável pela fragilização do

aço, indicando que um novo revenido poderia ser feito.

No caso do tratamento de têmpera intensiva, foi observada martensita em toda a

extensão dos corpos de prova, levando a elevados valores de dureza e, pela ausência do

revenido, foi a situação de maior fragilidade.

5.5 Distorção dimensional

Segue a tabela com as dimensões dos C-rings após usinagem, pós-tratamentos

térmicos e a diferença entre estes. Sendo que chamamos de GAP a abertura entre os dois

diâmetros do C-ring e De o diâmetro externo.

Figura 29: Desenho do corpo de prova C-ring e indicação das medidas tiradas no ensaio.

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Tabela 6: Registro das variações médias nas dimensões dos C-rings.

Tratamento Δ GAP

(mm)

Desvio padrão

Δ GAP (mm)

Δ De

(mm)

Desvio padrão

Δ GAP (mm)

Têmpera Convencional +

Revenido 0,154 0,052 0,048 0,027

Têmpera Convencional +

Revenido + Criogenia 0,142 0,011 0,019 0,021

Têmpera Intensiva -0,045 0,057 0,213 0,043

Têmpera Intensiva + Revenido -0,212 0,104 0,128 0,093

Ao avaliar os resultados do teste de distorção observa-se um comportamento similar

ao esperado nas situações de têmpera intensiva, uma vez que a transformação martensítica

envolve uma expansão volumétrica do material e quanto mais severo o resfriamento, maior o

valor de Δ De. A têmpera intensiva acarretou uma mudança em De maior do que os demais

tratamentos.

Ao analisar as alterações na dimensão do GAP, que indica a magnitude das tensões

residuais, pode-se dizer que de fato a têmpera convencional gerou na superfície do corpo de

prova tensões residuais de tração, enquanto o tratamento de têmpera intensiva introduziu

tensões compressivas. É importante destacar também que o tratamento de têmpera intensiva

sem revenido acarretou distorções muito pequenas no tamanho do GAP.

6 Conclusão

Os parâmetros escolhidos para a têmpera intensiva levaram à formação de grande

quantidade de martensita tanto no centro como na superfície dos corpos de prova com

possibilidade de formação de bainita. Não é possível afirmar então que a situação de têmpera

foi atingida, para isso seria necessário verificar que foram obtidas tensões residuais

compressivas. Verificou-se, porém, que de fato os resultados das distorções dimensionais são

melhores no caso da têmpera intensiva.

Analisando as durezas superficiais, observa-se que o banho criogênico praticamente

não tem influencia no aço SAE 5160, pois devido à sua alta temperabilidade um quantia

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muito baixa de austenita retida fica presente na estrutura do aço, o banho criogênico não tem

grande impacto na dureza do material.

O desempenho em impacto dos corpos de prova submetidos ao banho criogênico foi

ligeiramente negativo com relação à têmpera convencional e revenido, indicando que não há

vantagens no seu uso dentro dos parâmetros de tempo utilizados no trabalho. No caso da

têmpera intensiva, percebe-se que o material tornou-se extremamente frágil. O núcleo de

perlita e cementita provavelmente faria com que a resistência do aço aumentasse.

7 Referências Bibliográficas

ALBANO, L.L.M. (2012). Estudo Comparativo das Propriedades Mecânicas do Aço

AISI 5160 Submetidos à Têmpera Convencional e Têmpera Intensiva. 2012. 83 f.

Dissertação (Mestrado em Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia de São

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