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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA AMANDA MARCELE DE OLIVEIRA ALMEIDA Estudo de mercado da adição de etanol e biodiesel no óleo diesel LORENA 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

AMANDA MARCELE DE OLIVEIRA ALMEIDA

Estudo de mercado da adição de etanol e biodiesel no óleo diesel

LORENA

2015

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AMANDA MARCELE DE OLIVEIRA ALMEIDA

Estudo de mercado da adição de etanol e biodiesel no óleo diesel

Monografia apresentada a Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de São

Paulo para obtenção do grau de Engenheira

Química.

Área de concentração: Engenharia Ambiental e

Tecnologia Química.

Orientador: Prof. Msc. Antônio Carlos da Silva.

LORENA

2015

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Almeida, Amanda Marcele de Oliveira Estudo de mercado da adição de etanol e biodieselno óleo diesel / Amanda Marcele de Oliveira Almeida;orientador Antonio Carlos da Silva. - Lorena, 2015. 50 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaIndustrial Química - Escola de Engenharia de Lorenada Universidade de São Paulo. 2015Orientador: Antonio Carlos da Silva

1. Adição de combustíveis no óleo diesel. 2. Etanol.3. Biodiesel. 4. Regulamentação ambiental de veículospesados. 5. Estudo de mercado de combustíveis. I.Título. II. Silva, Antonio Carlos da , orient.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe

Regina e ao meu falecido pai José.

Obrigada por me apoiarem a

estudar, a ajuda na escolha do

curso, e por todo suporte durante a

faculdade. Esta conquista também

é de vocês!

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AGRADECIMENTOS

Dedico essa monografia aos meus pais Regina Lúcia de Oliveira e José Carvalho

de Almeida (in memorian), agradeço por todo apoio e força que vocês me deram

ao longo do curso!

Dedico também à família e amigos, principalmente ao meu grande amigo Murilo

Brandão, que está comigo nessa jornada desde a 8a série, ajudando com os

simulados, provas de Cálculo, Cinética, Reatores e Controle de Processos

Químicos... Muito obrigada pela ajuda durante a caminhada!

A minha grande amiga Thatiany Monfredini, que me ajudou muito com esse

trabalho, com formatação e dicas para melhorá-lo, obrigada por tudo!

Agradeço ao apoio incondicional do meu namorado Luiz, que sempre me apoiou

nas semanas de provas, angústias e incertezas que surgiram ao longo do

caminho, você tornou tudo mais fácil. Obrigada!

Não posso me esquecer do grande amigo e ex chefe Fábio D’Legge, que fez

despertar em mim o interesse na área de combustíveis, e muito contribuiu com o

andamento desse trabalho. Muito obrigada pela oportunidade!

Por fim, dedico também aos meus professores, principalmente ao meu orientador

Antônio Carlos, muito obrigada pela ajuda e conselhos. Obrigada por acreditar ser

possível a realização desse sonho, pela paciência e dedicação durante as

aulas...Que Deus continue o iluminando cada vez mais!

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“Nada na vida deve ser temido,

somente compreendido. Agora é hora

de compreender mais para temer

menos.”

Marie Curie

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RESUMO

ALMEIDA, A. M. O. Estudo de mercado da adição de etanol e biodiesel no

óleo diesel. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia

Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2015.

Neste trabalho objetivou-se o estudo de mercado da adição de etanol e biodiesel

no óleo diesel, devido à necessidade de uma alternativa limpa e barata para

atender a requisitos e leis ambientais brasileiras, que estão cada vez mais

exigentes em relação a emissões de gases tóxicos e materiais particulados no

meio ambiente. Além disso, a crescente importação e dependência do óleo diesel

proveniente do exterior torna a economia brasileira suscetível as potenciais crises

do petróleo como ocorreu em 1973, onde o país viu os preços dos combustíveis

subir, culminando em 1975 com o Programa Nacional do Álcool, o Pró-Álcool,

criado para desafogar o mercado de abastecimento nacional. E com o atual

cenário de importações recordes dos derivados do petróleo, estudos e pesquisas

de instituições públicas e privadas com o intuito de utilizar combustíveis de origem

renovável adicionados ao óleo diesel, ou em alguns casos, substituindo

completamente o diesel, estão ganhando cada vez mais destaque. Com o estudo

e análise dos dados encontrados na literatura e principais portais sobre o assunto,

conclui-se que o mercado para a adição e substituição dos combustíveis fósseis,

utilizando principalmente o etanol e o biodiesel, tende a crescer nos próximos

anos, através de incentivos governamentais e de instituições privadas, visando

não somente o lado ambiental, mas também os ganhos econômicos e

desenvolvimento do Brasil.

Palavras-chave: óleo diesel, etanol, biodiesel, mistura diesel-etanol-biodiesel,

ônibus, caminhão.

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ABSTRACT

ALMEIDA, A. M. O. Market study by addition of etanol and biodiesel in diesel

oil. Monography (Essay of graduation in Chemical Engeneering) – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015.

The present work`s target is the market study by addition of ethanol and biodiesel

in diesel fuel, due to the need for a clean, cheap alternative to meet the

requirements of Brazilian environmental laws, which are increasingly rigorous

about the toxic gas emissions and particulates into the environment. In addition,

the increasing import dependency of diesel oil makes Brazilian economy

susceptible to potential oil crises as occurred in 1973, where the country saw

prices of fuels rise, culminating in 1975 with the National Alcohol Program, pro-

Alcohol, created to ease the domestic supply market. And with the current

scenario of record imports of petroleum, studies and research of public and private

institutions in order to use renewable fuels added to diesel fuel, or in some cases,

completely replacing diesel, are gaining more featured. After study and analysis of

the data found in the literature and major portals on the subject, it is concluded

that the market of the addition and replacement of fossil fuels, mainly using

ethanol and biodiesel, tends to grow in the coming years, through governmental

incentives and private institutions, not only targeting the environmental side, but

also economic gains and development of Brazil.

Key words: diesel oil, ethanol, biodiesel, diesel-ethanol-biodiesel blend, truck, bus.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Derivados produzidos a partir de um barril de petróleo. ................................................ 17

Figura 2 - Esquema de funcionamento do motor a Diesel de 4 tempos. ........................................ 19

Figura 3 - Propriedades do óleo diesel e sua função no motor. ...................................................... 20

Figura 4 - Reação de transesterificação. .......................................................................................... 21

Figura 5 - Diferenças da produção de açúcar, etanol e diesel de cana. ........................................... 24

Figura 6 - Gráfico relacionando consumo de combustível anual da frota 131xx............................. 26

Figura 7 - Gráfico relacionando rendimento energético anual da frota 131xx. .............................. 27

Figura 8 - Análises de óleo efetuadas para caminhões com 7% de álcool. ...................................... 27

Figura 9 - Análises de óleo efetuadas para caminhões utilizando diesel puro. ............................... 28

Figura 10 - Durabilidade de bicos injetores na frota 131xx. ............................................................ 28

Figura 11 - Durabilidade de bombas injetoras na frota 131xx. ........................................................ 28

Figura 12 – Análises de Cetano ........................................................................................................ 29

Figura 13 - Análise de viabilidade financeira ................................................................................... 30

Figura 14 - Consumo de combustível no transporte ........................................................................ 34

Figura 15 - Importações de derivados energéticos do petróleo. ..................................................... 35

Figura 16 - Evolução na Produção de etanol anidro. ....................................................................... 36

Figura 17 - Evolução na Produção de etanol hidratado. .................................................................. 36

Figura 18 - Evolução da produção de biodiesel no Brasil. ............................................................... 37

Figura 19 - Mapa da capacidade nominal para a produção de biodiesel e produção real. ............. 38

Figura 20 - Estratégia do PROCONVE para veículos pesados. .......................................................... 41

Figura 21 - Evolução dos limites de emissão para veículos pesados. .............................................. 42

Figura 22 - Resumo das fases dos estudos da adição de etanol no óleo diesel. ............................. 44

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 12

1.1. Justificativa ............................................................................................ 13

1.2. Objetivos ................................................................................................. 14

1.2.1. Objetivo geral ...................................................................................... 14

1.2.2. Objetivo específico ............................................................................. 14

1.3. Estrutura do trabalho ............................................................................. 14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 16

2.1. Óleo diesel .............................................................................................. 16

2.2. Motor diesel ............................................................................................ 17

2.2.1. Propriedades do óleo diesel e desempenho do motor ...................... 19

2.3. Biodiesel ................................................................................................. 21

2.4. Etanol ...................................................................................................... 22

2.4.1. Etanol Anidro ..................................................................................... 22

2.4.2. Etanol Hidratado ................................................................................ 23

2.5. Diesel de cana-de-açúcar ...................................................................... 23

2.6. Número de cetano .................................................................................. 24

2.7. Utilização de combustíveis alternativos ao óleo diesel ...................... 25

2.7.1. Aplicação nos caminhões de usinas alcooleiras ............................... 25

2.7.2. Aplicação nas frotas de ônibus urbanos ............................................ 30

2.8. Testes realizados no exterior ................................................................ 32

3. METODOLOGIA ......................................................................................... 33

3.1. Classificação da metodologia ............................................................... 33

3.2. Aplicação da Metodologia de pesquisa ............................................... 33

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 34

4.1. Mercado do óleo diesel ......................................................................... 34

4.2. Mercado dos biocombustíveis .............................................................. 35

4.2.1. Mercado do etanol anidro e etanol hidratado .................................... 35

4.2.2. Biodiesel ............................................................................................ 37

4.3. Legislação Brasileira ............................................................................. 39

4.3.1. Biodiesel ............................................................................................ 39

4.3.2. PROCONVE ...................................................................................... 40

4.3.3. O Estado e a cidade de São Paulo.................................................... 42

4.4. Desafios .................................................................................................. 43

4.4.1. Dificuldades e adaptações realizadas nos motores de caminhões e

ônibus .......................................................................................................... 43

4.5. Considerações finais ............................................................................. 44

5. CONCLUSÃO ............................................................................................. 46

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 47

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1. INTRODUÇÃO

O interesse brasileiro pela adição de etanol no diesel não é tão recente.

Desde a crise do Petróleo, quando houve um aumento expressivo do preço do

barril em 1973, e a queda mundial do preço do açúcar, estudou-se a possibilidade

de adição de etanol na gasolina. Em 1975 no Brasil, criou-se o Decreto do Pró

Álcool, que incentivava o estudo e desenvolvimento de motores movidos a álcool,

e dava suporte à criação e ampliação de usinas alcooleiras através de incentivos

fiscais e empréstimos para criação e modernização das usinas alcooleiras

(SOUZA; DANTAS, 2009).

Com esse cenário, vários centros de pesquisa iniciaram projetos para tentar

viabilizar essa adição de etanol também no diesel. No entanto, a mistura só era

viável com pequenas quantidades de etanol, já que a mistura formada tinha

grande tendência a separar fases (KOYKE et al, 2006).

Porém, com o fim da crise do petróleo em 1986 com o chamado

“contrachoque do petróleo”, onde os preços do barril caíram mais de 50%,

combinado com a escassez de recursos governamentais para financiar os

programas de investimento em energias alternativas em 1988, as pesquisas

visando à adição de combustíveis de origem renovável no diesel foram deixadas

de lado (SOUZA; DANTAS, 2009).

Contudo, o consumo e a demanda de combustível no Brasil vêm

aumentando, fazendo com que as importações dos derivados de petróleo

cresçam a cada ano. E pensando em aliviar essa dependência, o governo criou

incentivos para aumentar a produção de biodiesel e etanol, gerando mais

empregos e leis determinando a adição de porcentagem mínima deste no diesel.

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1.1. Justificativa

Como mencionado, as importações dos derivados de petróleo vem

aumentando a cada ano. Só em 2012, o Brasil importou 7.970,204 mil m³ de óleo

diesel, representando 29,3 % do total da importação de combustíveis energéticos

(ANP, 2013).

Essa alta demanda especificamente por óleo diesel tem por motivo o setor

de transportes (de pessoas, animais, fretes, equipamentos em geral, etc) o setor

agrícola (tratores e caminhões para escoar a produção do campo para cidades e

portos) e mover veículos com motores de ciclo diesel (FERREIRA, 2013).

Com a alta do dólar, e consequentemente a alta do preço do diesel

importado, tornou-se fundamental utilizarmos outros combustíveis para

diminuirmos o uso do combustível fóssil para equilibrarmos a balança econômica

e evitar o aumento da inflação.

Nesse cenário, a presente monografia visou estudar a adição de etanol e

biodiesel no óleo diesel, pois além do apelo ambiental por serem de origem de

fonte renovável, pode nos ajudar a cumprir as metas do PROCONVE e atender as

leis vigentes, que determinam a substituição parcial, e em alguns casos total, do

óleo diesel.

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1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo geral

O objetivo geral desse trabalho é avaliar o potencial do mercado para adição

de etanol e biodiesel no óleo diesel, através de pesquisa bibliográfica.

1.2.2. Objetivo específico

Os objetivos específicos são a avaliação do mercado de diesel, etanol e

biodiesel, abordando produção e disponibilidade no Brasil, e apontar tendências e

incentivos para a adição de combustíveis de origem não fóssil no óleo diesel.

1.3. Estrutura do trabalho

A presente monografia foi estruturada em 5 capítulos:

Capítulo 1- Introdução: abordagem histórica e atual sobre o tema,

justificativa e objetiva geral e específica do trabalho.

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Capítulo 2- Revisão Bibliográfica: apresentação de conceitos e

pesquisas sobre os combustíveis; funcionamento do motor diesel; emprego

da mistura em usinas e ônibus urbanos.

Capítulo 3- Metodologia: descrição do tipo de pesquisa adotada e da

metodologia utilizada.

Capítulo 4- Resultados e Discussões: apresentação do mercado do

etanol, biodiesel e diesel, comparando a capacidade de produção disponível

com a produção atual; abordagem das leis e incentivos governamentais;

apresentação dos desafios para a mistura e os progressos já realizados na

área.

Capítulo 5- Conclusão.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Óleo diesel

De acordo com a definição dada pela Petrobrás, o óleo diesel é uma fração

da destilação do petróleo, formado não só por compostos de carbono e

hidrogênio, mas também por baixas concentrações de enxofre, nitrogênio e

oxigênio. Possui odor forte e característico, volátil, é límpido, medianamente

tóxico, sem material em suspensão e inflamável (PORTAL PETROBRAS, 2014).

Recebeu este nome em homenagem ao engenheiro alemão Rudolf Diesel que

inventou um meio mecânico para explorar a reação química originada da mistura

de óleo e do oxigênio presente no ar (SZKLO; ULLER, 2008).

Um barril de petróleo, conforme a Figura 1 ,contem cerca de 158,98 litros, e

possui 36% em volume de óleo diesel (aproximadamente 57,2 litros)

(SINDICOMBUSTÍVEIS RESAN, 2005):

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Figura 1 - Derivados produzidos a partir de um barril de petróleo.

Fonte: SINDICOMBUSTÍVEIS RESAN, 2005.

Contudo, esse valor pode ter uma pequena variação de acordo com a

origem do petróleo usado.

2.2. Motor diesel

Para que possamos compreender as características que o óleo diesel deve

apresentar para obtermos altos valores de rendimento, primeiramente precisamos

conhecer o funcionamento do motor a diesel. Nesse trabalho vamos abordar o

motor a diesel de quatro tempos, pois é o motor movido a diesel mais empregado

no país.

Os motores de quatro tempos são assim denominados porque realizam o

ciclo em quatro cursos do pistão. O ciclo do motor é composto por quatro fases:

admissão (do ar), compressão (do ar), expansão (dos gases de combustão) e

escape (dos gases da combustão) (PEÇA, 2012).

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Primeiro Tempo: Admissão. O pistão se desloca do ponto morto superior

(PMS) para o ponto morto inferior (PMI). Neste curso ocorre a admissão somente

de ar no interior do cilindro. Durante a admissão a válvula de admissão está

aberta e a válvula de descarga está fechada. O volume de ar admitido é

denominado de volume de admissão. Esse volume de ar aspirado é sempre o

mesmo, sendo que a variação da potência é obtida pela variação do volume de

combustível injetado de acordo com a posição do acelerador (VARELLA, 2010).

Segundo Tempo: Compressão. No final do tempo de admissão, logo após o

êmbolo passar pela posição mais inferior do seu curso (PMI), a válvula de

admissão fecha-se, pelo que o êmbolo ao deslocar-se no seu curso ascendente,

inicia a compressão do ar. É o tempo de compressão (VARELLA, 2010).

Pouco antes do êmbolo atingir a posição mais superior do seu curso (PMS),

inicia-se a injeção de combustível. Durante a compressão a temperatura do ar

atinge aproximadamente 800°C, devido a diminuição do volume e aumento da

pressão. Nestas condições, bem como devido ao movimento de turbilhão do ar

gerado pela geometria da cabeça do êmbolo, o combustível é finamente

pulverizado, inflama-se assim que penetra no interior do motor (PEÇA, 2012).

Como resultado da combustão a pressão e a temperatura sobem ainda mais.

Terceiro Tempo: Expansão. O pistão se desloca do PMS para o PMI. Neste

curso ocorre a expansão da mistura ar-combustível. As válvulas de admissão e

descarga estão fechadas (PEÇA, 2012).

Durante a expansão, o pistão é acionado pela força de expansão dos gases

transformando a energia térmica em mecânica. A força vinda da expansão dos

gases é transmitida para a árvore de manivelas, através da biela, promovendo

assim o movimento de rotação do motor. A expansão é o único curso que

transforma energia. Parte da energia transformada é armazenada na árvore e no

volante do motor, sendo consumida durante os outros três cursos (VARELLA,

2010).

Quarto Tempo: Descarga. Pouco antes do êmbolo atingir o PMI, abre-se a

válvula de escape . Inicia-se o tempo de escape no qual o deslocamento

ascendente do êmbolo, expulsa os gases da combustão para o exterior do motor

(VARELLA, 2010):

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Na fase de escape, pouco antes do êmbolo atingir o PMS, abre-se a válvula

de admissão e mais um ciclo de 4 tempos se inicia (VARELLA, 2010; PEÇA,

2012).

Os 4 tempos - Admissão; compressão; expansão; escape, realizam-se

durante 2 voltas completas da cambota, ou seja em 4 cursos do êmbolo. A Figura

2 exemplifica o funcionamento de um motor com os quatro tempos:

Figura 2 - Esquema de funcionamento do motor a Diesel de 4 tempos.

Fonte: OLIVEIRA, 2014.

2.2.1. Propriedades do óleo diesel e desempenho do motor

Os motores a diesel são projetados para se obter o melhor desempenho de

acordo com a qualidade do combustível a ser utilizado (PORTAL BR

COMBUSTÍVEIS, 2014). A Figura 3 correlaciona cada propriedade com sua

função/efeito no funcionamento do motor a diesel:

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Figura 3 - Propriedades do óleo diesel e sua função no motor.

PROPRIEDADE O QUE É? O QUE AFETA?

Densidade Massa contida em determinado

volume

Potência, emissões e economia

de combustível

Viscosidade Tempo de escoamento do

combustível em capilar

padronizado

Atomização, lubrificação do

sistema de injeção

Destilação Faixa de temperatura de

vaporização à pressão atmosférica

Potência, fumaça, depósitos no

motor

Número de

cetanos

Qualidade de ignição Fumaça, partida a frio, ruído,

economia de combustível,

emissões

Teor de enxofre Enxofre total presente Desgaste de cilindros e anéis,

depósitos no motor, emissões

Resíduo de

carbono

Tendência à formação de

depósitos de carbono

Depósito de coque em partes

do motor

Estabilidade a

oxidação

Tendência à formação de borra,

goma, aderente e escurecimento

Estocagem, filtros, bicos

injetores, bomba injetora

Cinzas Conteúdo de material inorgânico

(teor elevado indica existência de

contaminação)

Acelera entupimento de filtros

Ponto de Fulgor Temperatura mais baixa na qual o

produto se vaporiza em

quantidade suficiente para formar

uma mistura inflamável com ar

Segurança, sistema de injeção

tamponamento

Corrosividade ao

cobre

Potencial de corrosividade dos

produtos face a presença de

enxofre e seus derivados

Vida útil dos tanques, linhas e

partes internas do motor

Ponto de

entupimento

Temperatura de início de

cristalização de parafinas

Entupimento de filtro,

escoamento do combustível

Água e

sedimentos

Contaminação com água e

impurezas

Entupimento de filtro, desgaste

de bomba, desgaste do bico

injetor, borra no tanque,

corrosão, combustão

Fonte: PORTAL BR COMBUSTÍVEIS, 2014.

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2.3. Biodiesel

O biodiesel é um combustível produzido a partir de óleos vegetais extraídos

de diversas matérias-primas, como palma, mamona, soja, girassol, dentre outras.

Também pode ser de origem animal (como gordura suína e bovina) e resíduos da

indústria alimentícia (óleos e gorduras). Por advir de fontes renováveis e ser

menos poluente ele é considerado ecologicamente correto (MORETTI, 2013).

O óleo vegetal extraído é formado por três moléculas de ácidos graxos

ligados a uma molécula de glicerina. É necessário retirar a glicerina, pois ela torna

o óleo mais denso e viscoso, e também, quando há a combustão imparcial da

glicerina é liberado um gás muito tóxico e carcinogênico, a acroleína. O processo

para separar a glicerina dos ácidos graxos chama-se transesterificação

(MORETTI, 2013), que é apresentada na Figura 4.

Figura 4 - Reação de transesterificação.

Fonte: FERRARI et al, 2005.

O biodiesel foi divulgado pela primeira vez por na Exposição Mundial de

Paris em 1900 por Rudolf Diesel, em que comparou a eficiência de dois motores

iguais, um movido a óleo de amendoim, e o outro movido a óleo derivado do

petróleo, mostrando que ambos possuíam o mesmo desempenho (PORTAL DO

BIODIESELBR, 2014).

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2.4. Etanol

O etanol, também conhecido como álcool etílico, é formado por átomos de

carbono, hidrogênio e oxigênio. No Brasil, devido a condições climáticas

favoráveis, é obtido principalmente através da fermentação do caldo de cana-de-

açúcar, mas em alguns países da Europa e Estados Unidos, é proveniente de

processos que usam milho, beterraba, batata etc (MORETTI, 2013).

Existem dois tipos de etanol usados como combustível: álcool etílico

hidratado e álcool etílico anidro. Segundo a resolução do órgão regulamentador

de combustíveis no Brasil, a ANP (Agência Nacional do Petroléo), ANP Nº 7, de 9

de fevereiro de 2011, o etanol hidratado deve ser utilizado em veículos

exclusivamente movidos a álcool e por veículos flex (movidos tanto por gasolina

quanto por álcool), e deve possuir uma aparência límpida e incolor. Já o etanol

anidro, é adicionado na gasolina comercializada no Brasil, e deve possuir corante

laranja, para que se possamos diferenciá-los.

2.4.1. Etanol Anidro

O etanol anidro, como seu próprio nome diz, é um álcool livre de água, e

segundo a ANP, deve possuir teor alcoólico no mínimo de 99,6% em volume. Este

combustível é adicionado a gasolina A, classificação da gasolina de maior grau de

pureza, para a formulação da gasolina C, e portanto, possui participação no

mercado de acordo com a produção e necessidade da gasolina C.

No Brasil, a gasolina vendida nos postos, que é do tipo C, desde 30 de maio

de 2013, passou de 20% para 25% de concentração de etanol anidro (ANP,

2013).

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2.4.2. Etanol Hidratado

O etanol hidratado é o combustível encontrado diretamente nos postos de

abastecimento, e é usado em veículos movidos a álcool e flex. De acordo com a

resolução ANP nº 7 de 9 de fevereiro de 2011, seu teor alcoólico deve estar entre

95,1 a 96% em volume.

A produção de etanol hidratado, ao contrário do álcool anidro, é realizada de

acordo com os preços praticados no mercado (ANP, 2013), pois em alguns casos

é mais lucrativo para o produtor de cana-de-açúcar se concentrar na produção de

açúcar, tanto o refinado para o mercado nacional, quanto o demerara para alguns

países, que ainda preferem fazer o refino em suas usinas. Essa dinâmica de

preços do açúcar faz com que a disponibilidade do etanol hidratado nas bombas

dos postos não esteja condicionada somente pela entressafra do campo.

2.5. Diesel de cana-de-açúcar

Uma pesquisa conduzida pela empresa americana Amyris vem ganhando

atenção e respeito no cenário internacional. Eles desenvolveram um processo

para obtenção do combustível denominado diesel de cana-de-açúcar, em que

através da modificação da levedura usada na fase de fermentação do mosto, é

produzido um hidrocarboneto ao invés de etanol (OLIVEIRA, 2008).

A Figura 5 apresenta um esquema simplificado do processo, mostrando as

principais diferenças entre a produção do etanol e do diesel de cana de açúcar:

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Figura 5 - Diferenças da produção de açúcar, etanol e diesel de cana.

Fonte: OLIVEIRA, 2008.

Contudo, o projeto ainda está em fase piloto e estuda-se tornar o

combustível economicamente viável, já que o litro custa em torno de R$9,00

(PORTAL NOVA CANA, 2014).

2.6. Número de cetano

São vários os desafios encontrados na adição do etanol ao óleo diesel,

dificuldades que vem sendo contornadas com mais estudo e pesquisa para

melhor emprego dessa mistura. Uma das principais preocupações é a redução do

índice de cetano (EGÚSQUIZA, 2011).

O número de cetanos mede a tendência do combustível entrar em ignição

espontaneamente. Em sua escala de referência, o maior valor equivale a maior

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qualidade do diesel, ou seja, quanto maior o NC do combustível, maior a

velocidade/rapidez da combustão (SZKLO; ULLER, 2008).

Devido a combustão do motor a diesel ocorrer através do contato do ar

quente com o combustível (LIU et al, 2010), precisamos obter altos valores de

NC, pois assim, irá queimar quase instantaneamente após injetado no cilindro ou

terá um curto atraso de ignição.

Os combustíveis para motores a diesel devem possuir um índice

compreendido entre 30 a 60 cetanos. Os combustíveis mais favoráveis são

aqueles cujo índice se situa entre 45 e 50 cetanos, que são encontrados nas

frações perto do querosene (SZKLO; ULLER, 2008).

O número de cetano é obtido através de um ensaio padronizado do

combustível em um motor mono-cilíndrico, onde se compara o seu atraso de

ignição em relação a um combustível padrão com número de cetano conhecido

(SZKLO; ULLER, 2008).

2.7. Utilização de combustíveis alternativos ao óleo diesel

2.7.1. Aplicação nos caminhões de usinas alcooleiras

Nas usinas alcooleiras há um grande dispêndio de óleo diesel nos

caminhões para o transporte da cana-de-açúcar da lavoura até a usina. Como

geralmente essas usinas possuem também a fabricação de etanol, os usineiros

costumam misturar o etanol no óleo diesel para reduzir os gastos com a compra

do óleo combustível, essa prática, quando informal, é conhecida com o nome

“rabo de galo” (PORTAL RAIZEN, 2014).

Em Catanduva, interior de São Paulo, há testes em andamento desde 1998

na usina Virgolino de Oliveira S/A Açúcar e Álcool, utilizando uma mistura de 7%

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m/m de etanol anidro com 93% de diesel. Para evitar a separação de fases, é

adicionado no tanque primeiramente o etanol anidro, e depois o óleo diesel

(KOYKE et al, 2006).

A grande preocupação era a perda energética, pois o etanol anidro possui

um poder calorífico de 5.596 kcal/L, e o diesel é de 9.252 kcal/L. Efetuando-se os

cálculos para a mistura de 7% de etanol anidro e 93% de diesel, tem-se que o

poder calorífico da mistura é de 8.996 kcal/L, sendo cerca de 3% inferior ao do

diesel puro (KOYKE et al, 2006).

Depois de várias safras, foi verificado que não houve mudanças

significativas nos caminhões que utilizavam o diesel puro dos que utilizavam a

mistura com etanol, e o grupo que dirige a Usina concordou em fazer apenas as

análises do óleo (viscosidade a 40ºC, ponto de fulgor e sólidos insolúveis)

(KOYKE et al, 2006). As Figura 6 até Figura 11 mostram as análises realizadas

durante a validação da mistura.

Figura 6 - Gráfico relacionando consumo de combustível anual da frota 131xx

Fonte: (KOYKE et al, 2006)

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Figura 7 - Gráfico relacionando rendimento energético anual da frota 131xx.

Fonte: (KOYKE et al, 2006).

Figura 8 - Análises de óleo efetuadas para caminhões com 7% de álcool.

Fonte: KOYKE et al, 2006.

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Figura 9 - Análises de óleo efetuadas para caminhões utilizando diesel puro.

Fonte: (KOYKE et al, 2006).

Figura 10 - Durabilidade de bicos injetores na frota 131xx.

Fonte: (KOYKE et al, 2006).

Figura 11 - Durabilidade de bombas injetoras na frota 131xx.

Fonte: (KOYKE et al, 2006).

Um estudo recente realizado por Moretti (2013) foi conduzido na

Universidade de Campinas (UNICAMP), onde foram analisados dois tipos de

composição para a mistura diesel, biodiesel e etanol, consistindo no óleo diesel

disponível nas bombas dos postos de combustível que já possui 5% de biodiesel,

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e adicionando de 2 a 3% de etanol anidro (pois verificou-se que o uso de etanol

hidratado formavam gotículas de água no recipiente) (MORETTI, 2013).

Alguns testes realizados comprovaram que a mistura proposta possui um

número de cetano próximo ao do óleo diesel, fazendo com que a combustão dos

motores permanecesse praticamente a mesma, como indica a Figura 12:

Figura 12 – Análises de Cetano

Fonte: Moretti, 2013.

Além das análises de cetano, foram conduzidos testes como lubricidade,

ponto de fulgor, pressão de vapor e estabilidade da mistura em baixas

temperaturas, para avaliar qual a melhor proporção de etanol na mistura em que

não seria necessário adicionar aditivos. Ao final do estudo, Moretti (2013) concluiu

que a melhor porcentagem adequada seria de 3% de etanol (MORETTI, 2013).

Após essa conclusão, Moretti (2013) fez uma análise de viabilidade

financeira, apresentada na Figura 13, para avaliar a economia que uma usina de

álcool com uma frota de 50 caminhões teria ao final de 5 anos, e chegou a um

valor de mais de 1 milhão e oitocentos mil reais (MORETTI, 2013).

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Figura 13 - Análise de viabilidade financeira

Fonte: Moretti, 2013.

2.7.2. Aplicação nas frotas de ônibus urbanos

Curitiba foi a capital pioneira no uso de combustíveis alternativos, a URBS

(Urbanização de Curitiba SA – empresa que controla o sistema de transporte

público da cidade de Curitiba) realizou testes de 1995 a 1998 em 5 ônibus

urbanos, utilizando 95% de etanol e 5% de aditivo. Em 1998 conduziu testes

utilizando a mistura B20 (80% diesel metropolitano e 20% de éster metílico de

soja). Já em 1999, utilizou em 20 ônibus municipais uma mistura denominada

MAD 8, que consiste em 89,4% de diesel, 8% álcool anidro e 2,6% de aditivo co-

solvente (a base de soja). Os testes na época foram muito satisfatórios,

apontando reduções em torno de 32% no índice de opacidade (PORTAL URBS

CURITIBA, 2014).

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Em julho de 2010 a SPtrans - a São Paulo Transporte, que é responsável

pela gestão do sistema de transporte público por ônibus em São Paulo- iniciou

testes em 3 ônibus da capital paulista movidos com uma nova mistura de

combustível: 90% diesel S50 (óleo diesel metropolitano, que possui valores mais

baixos de enxofre numa tentativa de reduzir as emissões de poluentes) e 10% de

diesel de cana-de-açúcar. Segundo a empresa que fabrica os caminhões, a alemã

Mercedes Benz, testes realizados com essa mistura resultaram na redução de 9%

nas emissões de materiais particulados (PORTAL SPTRANS, 2014), provando

ser uma nova alternativa para melhorar a qualidade do ar nos grandes centros

urbanos.

Com o sucesso dos testes, a utilização do diesel de cana foi estendida para

cerca de 300 ônibus. Esse número ficou limitado porque depende do sucesso da

produtora do combustível Amyris, que ainda estuda o melhor processo de

obtenção do mesmo em larga escala em custos competitivos. Em 2013, a frota foi

aumentada para cerca de 400 ônibus, e há planos para testes para utilização de

100% de diesel de cana, aumentando as parcerias com as montadoras de ônibus,

como a Volvo e a MAN (PORTAL NOVA CANA, 2014).

Já em 2011 no Rio de Janeiro, devido ao sucesso dos testes realizados em

São Paulo, foram iniciados testes utilizando a mistura de 30% de diesel de cana-

de-açúcar com 70% de diesel metropolitano S50 (B5), englobando cerca de 30

ônibus municipais (PORTAL MERCEDES-BENZ, 2014).

Com o êxito demonstrado em São Paulo e Rio de Janeiro, a fabricante

alemã Mercedes Benz deu mais um salto na utilização do diesel de cana,

colocando em circulação em São Paulo 100 ônibus movidos somente a diesel de

cana, fazendo parte da Ecofrota. Além disso, a empresa já apresenta resultados

sobre a utilização de diesel B20, atestando a eficácia em seus motores de

qualquer modelo e ano, destacando a redução de até 35% na emissão de

material particulado (PORTAL MERCEDES-BENZ, 2014).

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2.8. Testes realizados no exterior

Algumas empresas já veem conduzindo testes e fazendo adaptações em

seus motores em outros países, como a alemã MAN, que lançou na Europa um

protótipo de um caminhão movido a uma mistura de 55% de etanol no óleo diesel

(PORTAL RAIZEN, 2014).

Já a Japonesa Toyota, que se destacou com o lançamento mundial do

híbrido Prius (movido a eletricidade e também a gasolina), manifestou interesse

de investir no desenvolvimento de um modelo também movido a etanol aqui no

Brasil, caso o modelo venha a ser produzido também por aqui (PORTAL RAIZEN,

2014).

De acordo com a UNICA, União da Indústria de Cana-de-Açúcar, no final de

2013 cerca de 60 países já adotam algum tipo de mistura obrigatória de

biocombustíveis em combustíveis fósseis, mostrando que o uso de bicombustíveis

é uma tendência mundial (PORTAL UNICA, 2014).

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3. METODOLOGIA

3.1. Classificação da metodologia

Na presente monografia foi aplicada a metodologia revisão bibliográfica,

onde a pesquisa é conduzida, segundo Bento (2012), em fontes primárias (livros e

artigos científicos onde contêm trabalhos originais) e revisão e leitura de fontes

secundárias (textos que discutem e interpretam trabalhos de outros autores, para

obter uma visão geral e rápida do assunto) (BENTO, 2012).

A partir da pesquisa foi traçado um objetivo para delimitar o trabalho,

evitando estender e prolongar a base teórica. Com isso, foi possível obter uma

revisão mais concisa e não apresentar abordagens infrutíferas (BENTO, 2012).

3.2. Aplicação da Metodologia de pesquisa

Através da leitura de inúmeros artigos e trabalhos, para ter uma visão geral

sobre o tema, foi iniciada a busca por trabalhos e publicações de dados mais

atuais e de fontes confiáveis, como o próprio governo federal, que possui órgãos

reguladores de combustíveis como a Agência Nacional do Petróleo, que

disponibiliza dados comerciais de todos os combustíveis e biocombustíveis

utilizados em território nacional.

Após a fundamentação teórica redigida e com os dados comerciais em mãos,

foi iniciado o estudo mais aprofundado do mercado brasileiro, verificando

consumo e oferta dos combustíveis, e averiguando as tendências e causas que

levavam a dados discrepantes, como a queda da produção de etanol hidratado

em 2012, indo contra a tendência de aumento dos últimos anos.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Mercado do óleo diesel

O óleo diesel é de extrema importância para a economia Brasileira, uma vez

que o país possui um sistema de frete em sua maioria por transporte rodoviário, e

também, uma frota extensa de ônibus para passageiros com locomoções urbanas

e interestaduais (PORTAL RAIZEN, 2014), o que faz com que a demanda desse

combustível seja muito alta.

A Figura 14 apresenta um gráfico divulgado pelo Ministério de Minas e

Energia sobre o volume de combustível utilizado no transporte em 2012, em

tonelada equivalente de petróleo:

Figura 14 - Consumo de combustível no transporte

Fonte: EPE, 2013.

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Devido a alta demanda, como observado na Figura 14, o óleo diesel

representa quase 30% das importações de combustíveis energéticos,

comprovando a necessidade do Brasil possuir alternativas em caso de outra crise

do Petróleo ocorrer. Dados sobre importações de derivados de petróleo são

apresentados na Figura 15.

Figura 15 - Importações de derivados energéticos do petróleo.

Fonte: ANP, 2013.

Com a alta valorização do dólar, e com as importações do óleo diesel

crescendo a cada ano, podemos esperar alta dos preços nas bombas de

combustíveis pelo país, mesmo com a medida do governo em aumentar a

porcentagem de biodiesel, que veio para tentar segurar o aumento do valor final

para o consumidor.

4.2. Mercado dos biocombustíveis

4.2.1. Mercado do etanol anidro e etanol hidratado

Em 2012, a produção de etanol anidro teve um aumento de 11,4% em

relação a 2011, conforme Figura 16, totalizando um volume aproximadamente de

9,7 milhões de m³ (ANP, 2013).

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Figura 16 - Evolução na Produção de etanol anidro.

Fonte: ANP, 2013.

No mesmo ano, a produção de etanol hidratado caiu aproximadamente 2,5%

em relação a 2011, conforme Figura 17, totalizando um volume de 13,9 milhões

de m³ (ANP, 2013).

Figura 17 - Evolução na Produção de etanol hidratado.

Fonte: ANP, 2013.

O que causou essa discrepância entre a produção de etanol anidro e

hidratado foi a medida provisória criada para diminuir a porcentagem de etanol

na gasolina (redução de 25% para 20%), adotada para controlar a inflação dos

combustíveis, já que devido a problemas na lavoura no centro-sul causou a

diminuição da produção e consequentemente elevou os preços nas bombas,

forçando a interferência do governo. E especificamente naquele ano, foi mais

vantajosa a produção de açúcar do que o de etanol, alterando a

disponibilidade de álcool no mercado (ANP, 2013).

Contudo, o mercado da cana-de-açúcar já apresentou melhoras nos anos

seguintes, fazendo com que a porcentagem de etanol voltasse novamente

para 25% na gasolina.

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4.2.2. Biodiesel

Em 2012, a produção de biodiesel foi de aproximadamente 2,7 milhões de

m³, o que representou uma estagnação da produção em relação a 2011. Mas

segundo dados recentes divulgados pela ANP, em 2013 a produção de biodiesel

teve um aumento de quase 7,4% (ANP, 2014), impulsionado principalmente pelo

aumento da porcentagem de adição de biodiesel no óleo diesel. A demanda de

biodiesel é mostrada na Figura 18.

Figura 18 - Evolução da produção de biodiesel no Brasil.

Fonte: Adaptado ANP, 2014.

A produção de biodiesel do ano de 2012, como dito anteriormente, foi de

aproximadamente 2,7 milhões de m³, o que representa 36% da capacidade total

de produção do Brasil (ANP, 2013). O mapa que correlaciona a capacidade

nominal e produção real para o biodiesel é mostrado na Figura 19.

-

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Vo

lum

e d

e b

iod

iese

l (m

³)

Evolução da produção de biodiesel no Brasil

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Figura 19 - Mapa da capacidade nominal para a produção de biodiesel e produção real.

Fonte: ANP, 2013.

Esse cenário é devido principalmente pela falta de incentivos

governamentais, mas que já está mostrando sinais de mudanças em 2014 (ANP,

2014), com o aumento da porcentagem de biodiesel adicionado no diesel, que

passou de 5% para 7% (PORTAL GLOBO, 2014).

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39

Contudo, essa porcentagem poderá ser elevada nos próximos anos, levando

em conta a extensa capacidade nominal de produção do Brasil, que além de

reduzir as importações e gastos com o óleo diesel, podem gerar mais empregos

no campo e desenvolver e incentivar mais esse setor da economia.

4.3. Legislação Brasileira

4.3.1. Biodiesel

O biodiesel vem recebendo incentivos governamentais para a sua produção,

como isenção de IPI, leis obrigando sua adição no óleo diesel entre outros (ANP,

2013)

Em 20 de maio de 2005 foi publicado o decreto Nº 5.448, que autorizou a

adição de 2% de biodiesel no óleo diesel, que passou a ser denominada B2 (a

denominação B100 se refere a um combustível 100% de biodiesel). Depois, o

CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) tornou obrigatória a adição de

5% do biodiesel a partir de 1 de janeiro de 2010 (ANP, 2013).

Em 2014, foi assinada a medida provisória para aumentar a proporção de

biodiesel no óleo diesel para 6% a partir do dia 1 de julho de 2014, e essa mistura

seria elevada para 7% em novembro do mesmo ano. Esse aumento tem um dos

objetivos diminuir a importação do óleo diesel em 1,2 bilhões de litros ao ano, o

que significa que a Petrobrás deixará de gastar cerca de US$ 1 bilhão em

importações (PORTAL GLOBO, 2014).

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40

4.3.2. PROCONVE

Todo estudo para o desenvolvimento de combustíveis alternativos não é

somente pelo fator econômico e provável escassez dos derivados do petróleo,

mas também é movido pelas legislações ambientais vigentes, como o

PROCONVE.

O PROCONVE, o Programa de Controle de Poluição de Veículos, foi criado

em 1986 pelo Conselho Ambiental do Meio Ambiente (Conama), com o fim de

controlar a qualidade do ar em centros urbanos, e estabelece metas cada vez

mais rígidas para o controle das emissões de gases tóxicos por todos os veículos

automotores (MME, 2010).

Os veículos pesados foram classificados em duas categorias, os

automotores em geral com massa total máxima maior que 3856 kg, e veículos de

transporte de pessoas/cargas com massa maior que 2720kg. Verificou-se que

essas duas categorias são as principais emissoras de material particulado e

óxidos de nitrogênio (MME, 2010), e por isso verifica-se uma constante

preocupação em relação à elas.

A Figura 20 apresenta o resumo de cada etapa do PROCONVE para

veículos pesados (nesse trabalho não será citado os dados para veículos leves,

pois não faz parte do objetivo do mesmo):

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Figura 20 - Estratégia do PROCONVE para veículos pesados.

Fonte: MME, 2010.

O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) não exigiu legalmente a

redução das emissões gasosas para as fases P-1 e P-2, mas para o P-3 em

diante passou a ser obrigatório devido a Lei no 8.723 de 28 de outubro de 1993,

que deu autonomia para o CONAMA definir os limites e metas para o programa. A

Figura 21 demonstra a evolução dos limites de emissão para veículos pesados:

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Figura 21 - Evolução dos limites de emissão para veículos pesados.

Fonte: MME, 2010.

Nota-se que houve muito progresso desde a implementação do programa,

com reduções na faixa de 90% nas emissões de monóxido de carbono e 80% nas

emissões de óxidos de nitrogênio, mostrando a importância e sucesso do

PROCONVE.

4.3.3. O Estado e a cidade de São Paulo

Em 5 de junho de 2009 foi assinada a lei municipal nº 14.933, instituindo a

Política de Mudança do Clima no Munício de São Paulo. A lei definiu metas claras

e objetivas, como a meta progressiva de redução de no mínimo 10% a cada ano,

a partir de 2009 até 2018, da utilização de combustíveis fósseis em todos os

ônibus de transporte público da cidade, ou seja, em 2018 toda a frota deverá ser

movida 100% com combustíveis renováveis de origem não fóssil.

Nesse cenário, em 9 de novembro de 2009, o governador do estado de São

Paulo instituiu a lei nº 13.798 - Política Estadual de Mudanças Climáticas –

PEMC, que mostrou também a preocupação do estado em relação as mudanças

climáticas. A lei prevê a redução de 20% das emissões de gás carbônico, com

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base nas emissões de 2005, e também, estabeleceu a criação do Conselho

Estadual de Mudanças Climáticas, para ser responsável pela fiscalização e

execução da lei.

Essas duas principais medidas colocam o estado e a cidade de São Paulo

como destaque no esforço em combater e substituir os combustíveis de origem

fóssil, sendo protagonistas em testes e projetos de montadoras e centros de

pesquisas dos setores privados e públicos.

4.4. Desafios

4.4.1. Dificuldades e adaptações realizadas nos motores de caminhões e ônibus

Devido a baixa solubilidade do etanol no óleo diesel, alto calor latente de

vaporização do álcool, baixo índice de cetano do etanol (atrasando a ignição) e a

ausência de lubricidade do etanol (EGÚSQUIZA, 2011)., fizeram com que

algumas modificações se tornassem necessárias para o bom funcionamento dos

automotores.

Para que a adição fosse possível em alguns casos, modificações foram

realizadas nos motores ou sistema de injeção (EGÚSQUIZA, 2011). Em outros

casos, as modificações foram realizadas quimicamente (KOYKE et al, 2006). A

Figura 22 resume a evolução de cada fase desse estudo:

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Figura 22 - Resumo das fases dos estudos da adição de etanol no óleo diesel.

Substituição parcial através de misturas álcool-diesel;

Substituição parcial por meio de misturas álcool-diesel utilizando surfactantes (emulsões);

Substituição parcial pela dosagem do álcool no coletor de admissão (“fumigação”), com jato piloto diesel na câmara de combustão;

Substituição parcial pelo uso da dupla injeção (uma para o álcool e outra para o óleo diesel), liberando os combustíveis diretamente na câmara de combustão;

Substituição total através da conversão do motor do ciclo Diesel para o ciclo Otto (“ottolização”);

Substituição total pela aditivação dos álcoois como promovedores de ignição (para aumentar o número de cetano), além de lubrificantes e inibidores da corrosão.

Fonte: MME, 2010.

4.5. Considerações finais

O estudo sobre o mercado de adição de etanol em óleo diesel revelou que o

País ainda tem um potencial muito grande para expansão. Novos estudos estão

sendo conduzidos para adicionar o biodiesel na mistura para aumentar a

solubilidade do etanol, e que resolverá problemas como lubricidade, índice de

cetano e tempo de ignição.

Com os programas de incentivos governamentais para a produção de

biocombustíveis, o aumento da quantidade adicionada no biodiesel no óleo diesel;

a alta dependência da importação do combustível, e principalmente a forte

valorização do dólar, tornou-se fundamental para a economia do país o uso de

misturas no diesel.

Além das vantagens econômicas, não se pode deixar de lado os ganhos

ambientais, como a melhora da qualidade do ar. E com leis cada vez mais rígidas

para o controle de emissões e pressões de órgãos ambientais, tornam mandatória

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a adesão por parte das montadoras para desenvolverem e adaptarem motores

para serem movidos pela mistura etanol/diesel e etanol/diesel/biodiesel.

Verificou-se que a adição de etanol e biocombustíveis no óleo diesel é uma

tendência, que contribuirá não somente para movimentar a economia do país,

mas que auxiliará muito no combate a poluição das grandes cidades brasileiras.

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5. CONCLUSÃO

O estudo de mercado da presente monografia avaliou os aspectos gerais do

mercado consumidor, demanda e produção do óleo diesel, etanol e biodiesel,

fazendo desde uma conceituação básica de cada combustível até um estudo da

capacidade produtiva, abordagem regulatória e apresentação de dados que

revelam a necessidade de uma alternativa energética para equilibrar a economia

do país.Com isso, foi possível verificar que os objetivos, geral e específico,

estabelecidos no inicio do trabalho, foram alcançados.

Identificou-se que a utilização do etanol e de biocombustíveis é uma

estratégia da política governamental de combustíveis, para reduzir dependência

de importações que traz vantagens econômicas, além de contribuir para redução

de poluição atmosférica, que tem sido incorporada pela legislação ambiental

brasileira.

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