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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO VICTOR RAMOS JENSEN DA VALIDADE DO CONTRATO DE CESSÃO DE DIREITOS ECONÔMICOS DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL SOB A ÓTICA DA INDETERMINAÇÃO DO OBJETO DO NEGÓCIO JURÍDICO Orientador: Professor Doutor Gustavo Assed Ferreira Ribeirão Preto 2016

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO

VICTOR RAMOS JENSEN

DA VALIDADE DO CONTRATO DE CESSÃO DE DIREITOS

ECONÔMICOS DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL SOB A ÓTICA DA

INDETERMINAÇÃO DO OBJETO DO NEGÓCIO JURÍDICO

Orientador: Professor Doutor Gustavo Assed Ferreira

Ribeirão Preto

2016

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VICTOR RAMOS JENSEN

DA VALIDADE DO CONTRATO DE CESSÃO DE DIREITOS

ECONÔMICOS DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL SOB A ÓTICA DA

INDETERMINAÇÃO DO OBJETO DO NEGÓCIO JURÍDICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Direito Público da Faculdade de

Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São

Paulo como requisito parcial para obtenção do título

de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo Assed Ferreira

Ribeirão Preto

2016

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

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Nome: JENSEN, Victor Ramos

Título: Da validade do contrato de cessão de direitos econômicos do atleta profissional de

futebol sob a ótica da indeterminação do objeto do negócio jurídico

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca

examinadora da Faculdade de Direito de Ribeirão

Preto da Universidade de São Paulo como requisito

parcial para a obtenção de título de Bacharel em

Direito.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: _________________________ Assinatura: _________________________

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: __________________________ Assinatura: ________________________

Prof.(a) Dr.(a) ________________________ Instituição: ________________________

Julgamento: __________________________ Assinatura: ________________________

Ribeirão Preto, _____ de _____________________ de 2016.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo a análise dos contratos de cessão de

direitos econômicos de atletas profissionais de futebol a terceiros, analisando o seu

tratamento durante o curso da história da legislação desportiva no Brasil. Buscou-se em

doutrina e jurisprudência o entendimento do referido assunto, usando como base a teoria

do negócio jurídico, na qual se analisa o negócio no plano da existência, da validade e da

eficácia. O contrato de cessão de direitos econômicos aos chamados third-part ownership

é uma espécie de contrato de recente surgimento, uma vez que passou a ser a alternativa

para, após o fim da “Era do Passe”, obter lucros com base em negociações de atletas. O

tratamento do assunto pela entidade máxima do futebol, a FIFA, apenas ocorreu muito

recentemente, o que torna o entendimento do assunto extremamente controverso e

polêmico.

Palavras-chave: sports law. Pelé Law. Economic Rights. Federative Rights.

Theory of Legal Business. Terms of Validity. Contract of assignment of economic rights

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ABSTRACT

The present work aims at the analysis of professional football athletes

economic rights transfer contracts to third parties, analyzing their treatment during the

course sports legislation history in Brazil. Sought in the understanding of doctrine and

jurisprudence referred to subject, using as a basis the theory of legal business, in which is

analyzed the terms on the existence, validity and effectiveness. The economic rights

transfer contract to the so-called third-part ownerships is a species of recent contract

creation, since it became the alternative to, after the age of “Passe", profit based on

athletes negotiations. The subject treatment by FIFA only occurred very recently, which

makes the subject understanding extremely contentious and controversial.

Key words: Sports law. Law “Pelé”. Principle of the Effective Occupation.

Regulations on Status and Transfer of Players. Sports Labor Law. Sporting Just Cause.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11

1. Teoria do Negócio Jurídico ....................................................................................... 13

1.1. Ato, fato e negócio jurídico ......................................................................................... 13

1.2. Definição e classificação de negócio jurídico ............................................................. 14

1.3. Existência e validade do negócio jurídico ................................................................... 16

1.3.1. Do objeto do negócio jurídico ..................................................................................... 18

1.4. Invalidade do negócio jurídico .................................................................................... 20

1.5. Indeterminabilidade do Objeto (Código Civil, art. 166, II) ......................................... 22

2. Evolução da Legislação de Direito Desportivo ........................................................ 25

2.1. Primórdios do tratamento legal do Desporto ............................................................... 25

2.2. Lei nº 6.354/76 – Lei do Passe: conceito e natureza jurídica do instituto do “Passe” . 25

2.3. Desporto na Constituição Brasileira de 1988 .............................................................. 29

2.4. Lei Zico (Lei 8.672/93) ............................................................................................... 30

2.5. Lei Pelé (Lei nº 9.615/98) e a cláusula penal .............................................................. 31

2.6. Lei nº 12.395, de 17 de março de 2011 ....................................................................... 34

3. Direitos Federativos e Direitos Econômicos do atleta profissional de futebol ..... 39

3.1. Direitos Federativos..................................................................................................... 39

3.2. Direitos Econômicos ................................................................................................... 40

4. Da cessão parcial dos direitos econômicos do atleta profissional de futebol a

terceiros .................................................................................................................................. 43

4.1. Os terceiros (TPO) para o Sistema FIFA..................................................................... 47

5. Da validade dos contratos de cessão de direitos econômicos do atleta profissional

de futebol a terceiros sob a ótica jurisprudencial ............................................................... 49

6. Conclusão ................................................................................................................... 53

7. Referências Bibliográficas ........................................................................................ 55

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como enfoque assunto cuja produção científica ainda é

muito precária no Brasil: o direito desportivo, especificamente no que concerne ao

contrato de cessão de direitos econômicos de atletas a terceiros, prática cada vez mais

comum no universo futebolístico brasileiro.

É de conhecimento geral que a esmagadora maioria das agremiações esportivas

brasileiras não conseguiria sobreviver, financeiramente falando, apenas com as fontes

habituais de renda, quais sejam: bilheteria, direitos de transmissão de partidas, patrocínios

estampados nos uniformes ou em setores dos estádios, dentre outras. Dessa maneira,

mostra-se crucial a negociação de atletas com outros clubes, ou, nos casos que serão aqui

estudados, com terceiros.

Por tal razão nota-se a proliferação, no Brasil e no resto do mundo, dos chamados

“fundos de investimentos”, os quais visam à compra dos direitos econômicos incidentes

sobre o vínculo trabalhista de um atleta de futebol. O interesse é justificável: o chamado

“mercado da bola” está cada vez mais supervalorizado, com transferências nacionais e

internacionais em valores astronômicos, negociações essas noticiadas diariamente pela

mídia especializada.

Analisando a situação sob este prisma, vislumbra-se uma situação favorável tanto

para os tais fundos de investimentos, quanto para os clubes: o clube vende uma parcela

dos direitos econômicos ao fundo por um valor determinado, e, em caso de uma

negociação no futuro, o fundo recuperaria o investimento feito, além de um vultoso lucro.

Esses contratos são firmados no modelo chamado de “parceria”.

O presente trabalho pretende analisar a validade dos referidos contratos de cessão

de direitos econômicos, analisando-os sob o prisma da teoria do negócio jurídico, tendo

em vista a já existente jurisprudência em julgá-los nulos.

Para isso, será estudada a teoria do negócio jurídico, baseando-se na ideia do

saudoso Antônio Junqueira de Azevedo, de que o exame do negócio jurídico deve se dar

em três planos: o da existência, da validade e da sua eficácia1.

Posteriormente, será feito um panorama histórico da legislação desportiva no

Brasil. Neste momento serão elucidadas, principalmente, as alterações sofridas na

legislação desportiva após a promulgação da Lei 9615/98, a famigerada Lei Pelé, que deu

1 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª ed. atual. de

acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, pág. V.

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fim a chamada “Era do Passe”. O surgimento dos chamados direitos federativos e

econômicos também será abordado, demonstrando as diferenças existentes entre eles,

tema este tão mal divulgado e explicado pela imprensa esportiva. Neste momento,

explicaremos de maneira mais aprofundada o funcionamento da divisão dos direitos

econômicos dos atletas profissionais (e de base) do futebol brasileiro. Ainda, será

colocada em pauta a Circular nº 1464 da FIFA de 2014, na qual proíbe a chamada third-

part ownership de direitos econômicos (TPO), ou seja, a participação de terceiros

proprietários de direitos econômicos nas negociações de atletas e seus reflexos no futebol

brasileiro.

Por fim, o contrato de cessão de direitos econômicos terá sua existência e validade

posta em análise, sob uma jurisprudencial.

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1. Teoria do Negócio Jurídico

1.1. Ato, fato e negócio jurídico

As relações existentes na vida social, em sua maioria, são do interesse das

Ciências Jurídicas, que, por sua vez, as interpretam como fenômenos que dão origem às

relações jurídicas.

As relações jurídicas tem sua origem nos chamados fatos jurídicos, quais sejam:

acontecimentos naturais, também conhecidos como fatos jurídicos stricto sensu, ou

voluntários, os chamados atos jurídicos. Por qualquer razão que seja, esses fatos tem

relevância para o sistema jurídico, e por isso são abordados em estudo. Uma vez ocorrido

um fato jurídico qualquer, este desencadeará uma reação que atingirá o universo jurídico

em um ou mais pontos, levando a um processo de identificação do fato ocorrido, a

chamada exegese, para que, assim, os direitos e deveres provocados por ele possam ser

identificados.

Contudo, nem todo fato necessariamente tem relevância jurídica. Para isto, deve

haver a hipótese de incidência, ou seja, é necessário que exista uma prévia previsão legal

no ordenamento jurídico, de forma que sempre existirá uma maneira de identifica-lo

como tal, portanto.

Antes de adentrarmos o negócio jurídico em sua espécie, faz-se mister frisar que,

no grande grupo dos fatos jurídicos, encontram-se inseridos os atos jurídicos, dos quais

derivam os negócios jurídicos.

Atos jurídicos nada mais são que atos humanos, dos quais a voluntariedade

mostra-se como elemento constituinte mínimo deste, uma vez que o Direito atribui efeitos

a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2.

Porém, para que a relevância ao Direito seja identificada, é necessária que a

mesma seletividade dos fatos seja utilizada nos atos jurídicos. A voluntariedade, a

intenção e a finalidade são características essenciais para que sejam classificados como

atos jurídicos. No que concerne a esta separação, versa Emílio Betti:

2 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: teoria geral. v. 2: ações e fatos jurídicos. 3ªed. São Paulo;

Saraiva, 2010, pág. 12.

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Na realidade, a distinção entre atos e fatos jurídicos só tem sentido na

medida em que tome por base o modo como a ordem jurídica considera

e valoriza determinado fato. Se a ordem jurídica toma em consideração

o comportamento do homem em si mesmo, e, ao atribuir-lhe efeitos

jurídicos, valoriza a consciência que, habitualmente, o acompanha, e a

vontade que, normalmente, o determina, o fato deverá qualificar-se

como ato jurídico. Mas deverá, pelo contrário, qualificar-se como fato,

quando o direito tem em conta o fenômeno natural como tal,

prescindido da eventual concorrência da vontade: ou então quando ele

considera, realmente, a ação do homem sobre a natureza exterior, mas ,

ao fazê-lo, não valora tanto o ato humano em si mesmo, quanto o

resultado de fato que ele tem em vista: quer dizer, a modificação

objetiva que ele provoca no estado de coisas preexistente. 3

1.2. Definição e classificação de negócio jurídico

Uma vez que já conceituamos e diferenciamos atos, fatos e negócios jurídicos,

adentraremos mais profundamente neste último, objeto desta pesquisa. Ubaldo Miranda o

define como sendo uma declaração de vontade, muito mais que apenas uma manifestação

de vontade4.

Como visto, a identificação do negócio jurídico se dá por meio da declaração de

vontade que as partes envolvidas na relação negocial expressam. Isto porque, o negócio

jurídico estará, necessariamente, ligado a um ato volitivo, do qual é possível identificar

uma ou mais declarações de vontade, nas quais o ordenamento denunciará os efeitos

decorrentes das vontades declaradas, buscando a estabilização das relações desejadas

pelas referidas partes.

Sem prejuízo, para que seja possível identificar qual negócio jurídico deverá ser

celebrado, o legislador optou por defini-lo baseando-se na vontade declarada da parte, e

não na vontade íntima. E justamente na vontade declarada desta parte que vale análise da

diferença entre ato e negócio jurídico.

Renan Lotufo leciona a referida distinção da seguinte maneira:

Ato jurídico e negócio jurídico são manifestações de vontade, mas diferem

quanto à estrutura, à função e aos respectivos efeitos. Quanto à estrutura,

3 BETTI, Emilio. Teoria geral do negócio jurídico. Tradução: Servanda Editora. Campinas, SP: Servanda

Editora, 2008, pág. 30. 4 MIRANDA, Custódio da Piedade Ubaldino, Teoria geral do negócio jurídico. 2ª ed. São Paulo: Atlas,

2009, pág. 7.

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enquanto nos atos jurídicos temos uma ação e uma vontade simples, nos

negócios jurídicos temos uma ação e uma vontade qualificada, que é produzir

um efeito jurídico determinado, vontade caracterizada pela sua finalidade

específica, que é a constituição, modificação ou extinção de direitos. 5.

Como visto, é justamente na manifestação da vontade que encontramos a

qualificação citada por Lotufo, pois será ela que produzirá efeitos no ordenamento

jurídico. Na declaração negocial, a qualificação da vontade é fruto de reconhecimento

social, por aceitar os seus resultados, tendo em vista a licitude do negócio celebrado.

Novamente, o saudoso Antônio Junqueira de Azevedo versa:

sendo a declaração de vontade um ato que, em virtude das circunstâncias em

que se produz, é visto socialmente como dirigido à produção de efeitos

jurídicos, o direito segue a visão social e encobre aquele ato com seu próprio

manto, atribuindo-lhe normalmente (isto é, respeitados os pressupostos da

existência, validade e eficácia) os efeitos que foram manifestados como

queridos. Tais efeitos são imputados à declaração em correspondência com os

manifestados como queridos. 6

Como podemos notar, o negócio jurídico, por meio da declaração nele expressada,

é reconhecido pelo sistema jurídico, abandonando, assim, a ótica da vontade interna do

agente.

O negócio jurídico, quando lícito, será interpretado de acordo com sua finalidade

para a sociedade, para que, dessa forma, o a produção dos efeitos seja analisado, bem

como seus resultados. Claro, sempre de acordo com a norma jurídico que rege a essência

existencial do negócio.

Neste caso, para que o negócio jurídico seja reconhecidamente pleno, deve ser

desencadeado a partir de um ato jurídico lícito. Embora um ato ilícito possa,

excepcionalmente, ser reconhecido como negócio jurídico, por não ser aceito

socialmente, a de ser reconhecida a nulidade do referido ato.

Em linhas gerais, é possível classificar o negócio jurídico das seguintes formas:

5 LOTUFO, Renan. Código civil comentado: parte geral (arts. 1º a 232) vol. 1 – 2ª ed. atual. São Paulo:

Saraiva, 2004, pág. 271. 6 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª ed. atual. de

acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, pág. 19.

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i. quanto ao número de declarantes: unilateral, bilateral e plurilateral;

ii. quanto à onerosidade: gratuitos e onerosos;

iii. quanto à forma: formais/solenes e livres/não formais;

iv. quanto ao momento de produção de efeitos: inter vivos e causa mortis;

v. quanto à existência: principais e acessórios;

vi. quanto ao conteúdo: patrimoniais e extrapatrimoniais;

vii. quanto à eficácia: constitutivos (eficácia com efeito ex nunc) e declaratórios

(eficácia com efeitos ex tunc).

Para o presente estudo, o contrato de cessão de direitos econômicos a terceiros

trata-se de um negócio bilateral (as partes são a agremiação esportiva e o “agente

esportivo”), oneroso (o negócio se dá pela venda de parte ou totalidade dos direitos

econômicos), livre (não existe um rito predeterminado para o negócio), inter vivos,

patrimonial e constitutivo.

1.3. Existência e validade do negócio jurídico

Passada a conceituação do negócio jurídico, passemos a análise dos elementos

essências para a configuração de um negócio jurídico, quais sejam: a existência, a

validade e a eficácia. Esses são os planos elementares para qualquer negócio jurídico.

Quando é notada a incidência de normas jurídicas sobre qualquer fato jurídico, é

verificada a existência do referido negócio. Azevedo7, brilhantemente, define o plano da

existência da seguinte maneira: “Quando acontece, no mundo real, aquilo que estava

previsto na norma, esta cai sobre o fato, qualificando-o como jurídico; tem ele, então,

existência jurídica.”.

Contudo, para que se sustente a existência do negócio no plano jurídico, faz-se

necessário o preenchimento de certos elementos. Em uma análise clássica, temos como

elementos gerais a forma, o objeto e as circunstâncias negociais. Além desses, Azevedo8

7 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª ed. atual. de

acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, pág. 23. 8 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª ed. atual. de

acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, pág. 33.

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ainda aponta os chamados elementos extrínsecos, quando refere-se ao tempo, ao lugar e

ao agente.

Simplificando, pode-se dizer que a declaração de vontade, a idoneidade do objeto

e a finalidade negocial são condições para a existência do negócio jurídico em análise.

A declaração da vontade, como já elucidado anteriormente nesse trabalho, é um

dos pressupostos elementares para existência do ato, pelo fato de que, na ausência dela,

não existe a exteriorização da manifestação de vontade. Nisto, Caio Mário da Silva

Pereira leciona:

a vontade interna ou real é que traz a força jurígena, mas é a sua

exteriorização pela declaração que a torna conhecida, o que permite dizer que

a produção de efeitos é um resultado da vontade mas que esta não basta sem a

manifestação exterior.9

A finalidade negocial refere-se à vontade das partes em extinguir, modificar,

conservar ou adquirir alguma determinada situação jurídica. Já quanto à idoneidade do

objeto refere-se aos requisitos qualidades do objeto em questão, previamente definidos

pelas partes.

Uma vez que o ato jurídico existe, passemos ao cerne da presente pesquisa, a

validade do ato jurídico. Neste plano, é feita a análise dos requisitos de validade do ato

jurídico, verificando se este possuem as condições necessárias para que a finalidade do

negócio seja alcançada. Essas condições, no cenário jurídico, estão elencadas no artigo

104 do Código Civil de 2002.

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I – agente capaz;

II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III – forme prescrita ou não defesa de lei10

.

9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito Civil. 19ªed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. v.1,

págs. 307/308. 10

BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em 30/08/2016.

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Daremos enfoque especial ao inciso II do referido artigo, que trata do objeto do

negócio jurídico, por ser o ponto central da discussão acerca da validade dos contratos em

estudo.

1.3.1. Do objeto do negócio jurídico

Inicialmente, faz-se mister a apresentação da definição de objeto jurídico dada por

Emílio Betti, lembrada por Miranda, qual seja: “toda a matéria sobre a qual incide a

regulamentação das partes, os interesses que, segundo a ordem social, possam ser

regulados diretamente, por ação dos próprios interessados, nas suas relações

recíprocas”11

.

No que tange ao estudo do objeto, pressupõe-se sua existência em todo negócio

celebrado, por tratar-se da utilidade física ou ideal em razão da qual giram os interesses

das partes, conforme assinalam Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Stolze Gagliano12

. Vale

ressaltar que o objeto deverá apresentar-se sob a forma lícita, possível e determinada.

Entende-se como lícito aquele objeto jurídico que não atenta contra a lei, a moral

ou os bons costumes. A classificação acerca da moralidade costuma ser problemática, por

tratar-se de um julgamento de valor. Contudo, quando considerado imoral, é comum nos

tribunais a aplicação do princípio de que ninguém pode valer-se se sua própria torpeza,

visão compartilhada pelo legislador, que, no art. 150 do CC/2002, reprimiu o dolo ou a

torpeza bilateral13

.

Quanto à possibilidade do objeto, mostra-se mais didático verificarmos os casos

em que ele é impossível. Caso não configurada a impossibilidade, obviamente, o objeto é

possível. A impossibilidade do objeto do negócio jurídico pode se dar de duas maneiras:

i. Impossibilidade física: é aquela que emana de leis físicas ou naturais. Deve

ser absoluta, ou seja, atingir a todos, indistintamente, ou, grosso modo,

erga omnes. Vale destacar que a impossibilidade relativa, que atinge

apenas o devedor, não constitui obstáculo ao negócio jurídico14

;

11

MIRANDA, Custodio da Piedade Ubaldino, op. cit., pág. 53 12

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Parte

Geral. Volume I. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 370. 13

BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em 30/08/2016: Art. 150. Se ambas as

partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 14

BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> Acesso em 30/08/2016: Art. 106. A

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ii. Impossibilidade jurídica: se dá quando o ordenamento jurídico proíbe,

expressamente, negócios referentes a determinado objeto, como herança de

pessoa viva15

.

Finalmente, o último requisito constante em lei referente ao objeto se refere à sua

determinação. O legislador definiu que o objeto deverá, necessariamente, ser determinado

ou determinável (indeterminação relativa ou suscetível de determinação futura). A

inclusão de objetos determináveis na letra da lei remete ao Direito Romano, que à sua

época já regulava a possibilidade de compra de coisa futura esperada, a chamada emptio

rei speratae.

A causa do negócio jurídico está diretamente associada ao objeto. Para

compreendermos isso, é relevante lembrarmos as três teorias que surgiram para explica-

lo:

i. Subjetivista: explica-se pela motivação do agente contratante;

ii. Objetivista: explica-se pela finalidade do negócio jurídico. É a função

desenvolvida pelo todo do negócio;

iii. Ecléticas: trata-se da fusão das anteriores. A causalidade circunstancial é a

motivação típica do negócio, da qual haverá integração indissociável com

a vontade do agente.

No cenário atual, seguimos os pensamentos de Ascensão acerca do assunto, que,

mesmo tratando da legislação portuguesa, mostra-se completamente aplicável ao contexto

brasileiro, in verbis:

A questão da causa é uma questão técnica. Mas por trás da questão técnica

está uma questão ideológica.

As correntes anticausalistas exprimem uma ordem formalista, hoje em grande

relevo com a onipotência do mercado e o relativismo dominante. O que é

necessário é que o sistema funcione, seja à custa do que for.

As correntes causalistas estão associadas a uma intenção de controle objetivo

e de intervenção social. São menos liberais e não aceitam a tutela do tráfego

impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de

realizada a condição a que ele estiver subordinado. 15 Idem: Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

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como um valor absoluto. Esta é ainda, apesar dos brilhantes tecnocratas que

pululam na vida pública, a orientação na doutrina portuguesa.16

Por fim, Antônio Junqueira de Azevedo justifica razão pela qual analisa-se a causa

dos negócio jurídicos, litteris:

Embora não sirva para determinar o regime jurídico a que obedece o negócio,

nem por isso se há de dizer que a causa é juridicamente irrelevante. Muito pelo

contrário, à semelhança da vontade, que também não é elemento do negócio,

mas é extraordinariamente importante para sua validade e eficácia, também a

causa não age no plano de existência, mas sim, conforme se trate de causa

pressuposta ou de causa final, age, ou no plano da validade, ou no plano da

eficácia.17

1.4. Invalidade do negócio jurídico

O Código Civil de 2002, em seu Livro III, mais especificamente no Capítulo V

deste, sob a nomenclatura de “Da Invalidade do Negócio Jurídico”, disciplina em 19

artigos acerca das questões atinentes à anulabilidade e nulidade. Na codificação

anterior18

, o mesmo capítulo foi nomeado como “Das Nulidades”, a qual foi substituída

por nomenclatura mais moderna e adequada ao atual cenário do direito brasileiro.

Como já elucidado anteriormente neste excerto, a perfeita emissão da vontade,

bem como o cumprimento das normas legais são requisitos para que o negócio jurídico

seja válido, bem como eficiente19

. As imperfeições são plenamente possíveis, variando

daquelas plenamente sanáveis até as impossíveis de serem corrigidas. As consequências

para o negócio são variadas, de acordo com as peculiaridades encontradas, bem como em

relação ao grau da imperfeição. 20

Visto isso, os negócios jurídicos imperfeitos podem ser classificados como:

i. Inexistentes: trata-se de negócios jurídicos incompletos, aqueles que não

congregam todos os elementos essenciais para o seu simples surgimento

16

ASCENSÃO, José de Oliveira. op. cit. pág. 257. 17

AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª ed. atual. de

acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2002, pág. 152. 18

BRASIL, Lei nº 3.071, de 1º de Janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Disponível

em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm> Acesso em 30/08/2016 19

MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Defeitos do Negócio Jurídico. São Paulo: LTr, 2005, pág. 34 20

MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Defeitos do Negócio Jurídico. São Paulo: LTr, 2005, pág. 34.

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21

no âmbito jurídico (causa, objeto, consentimento, etc.), da qual decorre a

não produção de qualquer efeito;

ii. Nulos: são aqueles que, mesmo congregando os supracitados elementos

essenciais, foram praticados sem a devida observância da lei, bem como

quando ocorre lesão à moral e aos bons costumes. Por isso, o próprio

ordenamento reconhece sua existência, contudo não produzirá qualquer

efeito;

iii. Anuláveis: nestes, existem problemas acerca da manifestação da vontade,

seja por ter sido exarada por relativamente incapaz, eivada de vício do

consentimento ou voltada para prejudicar alguém21

. Estes permanecem

produzindo efeitos até o momento em que forem nulificados pela

provocação da parte interessada.

O art. 166 do Código Civil traz o rol das situações nas quais temos a configuração

de um negócio nulo, senão vejamos:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua

validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar

sanção.

A nulidade consiste em um estado do negócio que ingressou no mundo jurídico

descumprindo requisitos de validade considerados essenciais, de interesse social e ordem

21

Idem.

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22

pública, conforme leciona Zeno Veloso22

. Em caso de violação destes, a lei define a

nulidade como sanção ao ato.

O art. 166 supra está diretamente relacionado ao art. 104 do mesmo Código, no

qual são mencionados os requisitos de validade23

. Como bem lembrado por Veloso,

Augusto Teixeira de Freitas leciona que “se a violação não fosse possível, a lei seria

inútil.” 24

. De fato, impossível o controle do descumprimento, da desobediência ou das

transgressão dos preceitos apresentados. Contudo, a desordem social seria

instantaneamente instalada caso não existisse qualquer sanção ou castigo para aquele

ofender a norma25

.

Sucintamente explicado o fenômeno da invalidade do negócio jurídico, passemos,

agora, ao estudo do inciso II do art. 166 do CC/2002, que considera nulo o negócio

quando o objeto do mesmo for ilícito, impossível ou indeterminável. Vale ressaltar que

esta nulidade é condizente com outros códigos internacionais, como, por exemplo, o

português, que considera nulo o negócio cujo objeto for impossível legal ou fisicamente,

contrário à lei ou indeterminável26

.

Contudo, daremos enfoque à indeterminabilidade do objeto, ponto crucial do

presente estudo.

1.5. Indeterminabilidade do Objeto (Código Civil, art. 166, II)

O legislador adotou como causa de nulidade a chamada indeterminabilidade do

objeto, ou seja, quando é impossível que o objeto do negócio seja identificado. Tendo em

vista que consta em lei que o objeto deve ser indeterminável, entende-se que esta

22

VELOSO, Zeno. Invalidade do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade. 2ª ed. – Belo Horizonte: Del

Rey, 2005, pág. 35. 23

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei. 24

TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Consolidação das leis civis. 1896. In: VELOSO, Zeno. op. cit., pág.

37. 25

VELOSO, Zeno, op. cit., pág. 37. 26

ARTIGO 280º (Requisitos do objecto negocial)

1. É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legamente impossível, contrário à lei ou

indeterminável. Disponível em < http://www.stj.pt/ficheiros/fpstjptlp/portugal_codigocivil.pdf>. Acesso em

01/09/2016.

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23

indeterminação, necessariamente, deverá ser absoluta a fim de que se acarrete a nulidade.

Caso haja qualquer possibilidade de determinação, o negócio jurídico deverá ser

considerado válido. Dessa maneira, a indeterminação relativa não constitui causa de

invalidade do ato27

.

Nesse sentido, vemos que a lei não exige que o objeto seja sempre determinado.

Nas obrigações de dar coisa incerta, tratadas nos arts. 243 a 246 do CC/200228

, por

exemplo, temos a caracterização da referida indeterminação relativa. Assim, é possível

que o objeto do negócio seja indeterminado, contanto que ele seja determinável29

. Ainda

que o atual formato da legislação faça expressa menção à necessidade de

determinabilidade do objeto, Veloso ressalta as lições de J. M. Leoni Lopes de Oliveira,

nas quais recorda que mesmo não requerendo a determinabilidade do objeto em seu texto,

o Código Civil de 1916 admite que o objeto seja indeterminado, desde que possa se

determinar, como visto na regulamentação das obrigações atinentes às coisas incertas30

.

Feita a breve explanação acerca do objeto do negócio jurídico, passemos ao estudo

mais específico referente ao Direito Desportivo. O tema da nulidade dos negócios será

retomado em momento oportuno.

27

MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da validade. 7ª ed. rev. e atual. de acordo

com a Lei de Recuperação de Empresas e Falência. São Paulo: Saraiva, 2006, pág. 118 28

Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o

contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a

melhor.

Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.

Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força

maior ou caso fortuito. 29

VELOSO, Zeno. op. cit. pág. 69. 30

OLIVEIRA, J. M. Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. In: VELOSO, Zeno. op. cit. pág.

69.

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24

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25

2. Evolução da Legislação de Direito Desportivo

2.1. Primórdios do tratamento legal do Desporto

Durante o curso da história do Brasil, não foram poucas as legislações que

trataram do desporto nacional, das quais se destaca o Decreto-Lei nº 3.199/41. Como é

sabido, o Brasil passava pela política ditatorial do Estado Novo de Vargas à época da lei.

Mesmo assim, o respeitável jurista João Lyra Filho conseguiu editar o referido decreto,

criando normas gerais de estruturação do desporto brasileiro.

Tendo em vista a referenciada política autoritária do Estado Novo, tínhamos um

controle em âmbito nacional das agremiações esportivas. O controle atingia não só a

participação de equipes brasileiras em competições internacionais, mas também a

possibilidade de equipes estrangeiras participarem de partidas com agremiações

brasileiras em território nacional. Contudo, o que realmente se destaca no referido decreto

foi a reestruturação do desporto no Brasil, a partir da criação do Conselho Nacional de

Desportos31

.

Com o caminhar da História, os valores da sociedade mudaram, o cenário político

do Brasil transformou-se, e, com isso, a legislação desportiva tornou-se mais rica. Desta

evolução, destacamos a Lei 6.257/51, a Lei 6.354/76, assim como os Decretos 81.102 e

82.877, ambos de 1977, que ajudaram na complementação do regramento desportivo

nacional32

. Destas, daremos destaque para a Lei 6.354/76, a famigerada “Lei do Passe”.

2.2. Lei nº 6.354/76 – Lei do Passe: conceito e natureza jurídica do

instituto do “Passe”

Mesmo que o passe não esteja mais em vigor no ordenamento jurídico do Brasil,

seu estudo segue de extrema importância. O entendimento deste instituto é indispensável

31

BRASIL, Decreto-Lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos

em todo o país. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-

1946/Del3199.htm> Acesso em 30/08/2016 32

SILVEIRA, Mauro Lima. Alguns comentários sobre a Lei 9.615/98. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n.

51, 1 out. 2001. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/2178>. Acesso em: 30/08/2016.

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26

para a compreensão dos fundamentos norteadores da criação das cláusulas

compensatórias e indenizatórias desportivas, ambas decorrentes do fim do passe33

.

Da mesma maneira que é inegável o papel decisivo do passe no desencadeamento

de discussões entre clubes e atletas, a qual levou às alterações futuras da legislação

esportiva nacional.

Para evitar o assédio dos grandes clubes europeus sobre os atletas brasileiros, por

meio de propostas financeiras muito vantajosas, os clubes valiam-se do instituto do Passe,

o qual não garantia apenas uma compensação pecuniária decorrente da “venda” do atleta,

mas principalmente por garantir a continuidade da formação de atletas nas chamadas

categorias de base34

.

O instituto teve sua definição positivada na Lei nº 6.354/76, mais especificamente

em seu art. 11, que preceitua:

Art . 11 Entende-se por passe a importância devida por um empregador a

outro, pela cessão do atleta durante a vigência do contrato ou depois de seu

término, observadas as normas desportivas pertinentes.35

No mesmo diploma, em seu art. 1336

, delegou ao Conselho Nacional de Desportos

a competência para fixar os parâmetros que definem o “passe”. O CND, por sua vez,

editou a Resolução nº 10/1986, na qual, em seu art. 2º, completou o conceito do passe,

delimitando-o como “indenização pelos investimentos efetuados na formação dos

atletas”.

Dessa forma, “Passe” é o valor devido por um empregador (agremiação esportiva

“adquirente” do atleta) a outro (agremiação “cedente”) pela cessão do atleta durante a

vigência do contrato de prestação de serviços ou após seu encerramento, o qual servirá

para reparar os investimentos dispensados na formação do atleta negociado.

33

VEIGA, Maurício de Figueiredo Corrêa da. A evolução do futebol e das normas que o regulamentam:

aspectos trabalhistas-desportivos. São Paulo: LTr, 2013, pág. 147. 34

Idem. 35

BRASIL, Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976. Dispõe sobre as relações de trabalho do atleta

profissional de futebol e dá outras providências. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6354impressao.htm>. Acesso em 01/09/2016. 36

Art . 13 Na cessão do atleta, poderá o empregador cedente exigir do empregador cessionário o pagamento

do passe estipulado de acordo com as normas desportivas, segundo os limites e as condições estabelecidas

pelo Conselho Nacional de Desportos. (Revogado pela Lei nº 9.615, de 1998).

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27

O pagamento do passe só deixava de ser necessário em duas hipóteses:

i. quando ocorria o encerramento das atividades esportivas do clube37

;

ii. após dez anos de serviço efetivo prestado ao clube, o atleta atingisse a

idade de 32 (trinta e dois) anos38

.

Como já exposto, a questão que gerava grande revolta, especialmente dos atletas

de futebol, era referente à partícula do art. 11, que dizia respeito à vinculação destes ao

clube mesmo depois de encerrado o vínculo empregatício39

. Dessa forma, quando da

transferência de um atleta de um clube para outro, fazia-se necessária a expedição de um

documento que assegurasse que o atleta encontra-se livre de qualquer vínculo contratual,

e, dessa maneira, apto a adquirir condição de jogo em outra agremiação, o chamado

“atestado liberatório” 40

.

Logo, o atleta dependia da liberação de seu clube anterior para que pudesse assinar

um novo contrato de trabalho, uma vez que, sem o pagamento de seu passe, o tal atestado

não poderia ser emitido.

O valor do passe não possuía nenhuma limitação legislativa, contudo, era

garantido ao atleta o recebimento de uma parte (15%) do valor pago, a não ser que o

atleta tenha dado causa ao rompimento do contrato em vigor ou se já tiver recebido

quantia a esse título nos últimos 30 meses. Esse direito gerou discussão quando do

advento da Lei Pelé, sob a alegação de supressão de direito do atleta. Contudo, a

argumentação não prospera, uma vez que o atleta não pode ser transferido sem sua

anuência, tendo a possibilidade de negociar o valor que receberá no momento da

transferência41

.

37

BRASIL, Lei nº 6.354, de 2 de setembro de 1976. Dispõe sobre as relações de trabalho do atleta

profissional de futebol e dá outras providências. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6354impressao.htm>. Acesso em 01/09/2016: Art. 17 -

Ocorrendo, por qualquer motivo, previsto em lei, a dissolução do empregador, o contrato será considerado

extinto, considerando-se o atleta com passe livre. 38

Idem: Art . 26 Terá passe livre, ao fim do contrato, o atleta que, ao atingir 32 (trinta e dois) anos de idade,

tiver prestado 10 (dez) anos de serviço efetivo ao seu último empregador. 39

SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Direito desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editora, 2014, pág. 115. 40

Idem. 41

BRASIL, Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras

providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615Compilada.htm>. Acesso

em 01/09/2016: Art. 38 - Qualquer cessão ou transferência de atleta profissional ou não-profissional

depende de sua formal e expressa anuência.

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Mesmo com o fato de o passe figurar nos ordenamentos de inúmeros países, sua

existência passou a ser contestada nas décadas de 1970 e 1980, uma vez que, quando os

não raros desentendimentos entre atletas e dirigentes ocorriam, aqueles eram colocados na

famosa “geladeira”, ficando impossibilitados de se transferirem, principalmente quando o

valor arbitrado a título de passe era elevado.

A principal crítica apontada era a da redução do atleta ao status de coisa. O passe

submetia o atleta às deliberações soberanas do clube, que decidia seu futuro baseando-se

apenas em critérios financeiros, como assevera Marco Antônio Betine de Almeida42

.

Nesse sentido, Luciano Brustolini Guerra43

ressalta que, pelo fato do passe tratar-

se de compensação pecuniária que um clube pagava a outro para que a transferência

ocorresse, a grande maioria dos clubes transformava a venda de passes em sua principal

fonte de renda, um verdadeiro capital ativo.

A compreensão acima foi corroborada por decisão do Tribunal Regional do

Trabalho da 3ª Região, que autorizou a penhora do Passe, senão vejamos:

PENHORA - PASSE - VALIDADE - Tendo em vista ser o contrato do jogador

anterior à Lei Pelé, a penhora efetuada, sobre o passe do mesmo, deve ser

considerada válida, posto não ser o referido passe, livre. (TRT-3 - AP: 572603

00250-2001-008-03-00-3, Relator: Paulo Roberto Sifuentes Costa, Terceira

Turma, Data de Publicação: 15/11/2003 DJMG . Página 2. Boletim: Sim.)

Não podemos nos esquecer do caso do atleta belga Jean Marc Bosman, o famoso

caso Bosman, o qual desencadeou a abolição do passe na Europa na década de 1990.

Bosman fez valer as regras da Comunidade Europeia referentes a livre circulação de

trabalhadores, meio pelo qual obteve autorização para transferir-se para o USL

Dunkerque, da França, sem que o clube precisasse realizar o pagamento de seu passe.

Contudo, a extinção do instituto no cenário europeu não foi suficiente para que

também se extinguisse no Brasil, mesmo com o advento da Lei nº 8.672 de 1993, que

42

ALMEIDA, Marco Antônio Betine. Discussão sobre as mudanças na legislação desportiva brasileira:

caso do futebol e Lei do Passe. Disponível em <http://www.efdeportes.com/efd111/legislacao-desportiva-

brasileira-caso-do-futebol-e-a-lei-do-passe.htm>. Acesso em 02/09/2016. 43

GUERRA, Luciano Brustolini. Consectários da extinção do passe no futebol brasileiro. Disponível

em: <https://jus.com.br/artigos/4434>. Acesso em 02/09/2016.

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29

ficou conhecida como “Lei Zico”. O entendimento que prevaleceu é citado por Álvaro

Melo Filho, in verbis:

“Não raro é o clube que faz a fama do atleta, educando-o, burilando as suas

virtudes praticamente inatas e sua própria personalidade. Tudo isso pode e

deve ter uma correspondência patrimonial, que se traduz afinal de contas, no

direito, que ambos os contratantes possuem, de plena certeza da segurança do

vínculo que os prende, manifestado num contrato por prazo determinado.” 44

.

2.3. Desporto na Constituição Brasileira de 1988

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o desporto ganhou o status

constitucional à luz do art. 217, no qual encontram-se condensados os postulados

constituintes da estrutura legislativa desportiva nacional.

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-

formais, como direito de cada um, observados:

I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a

sua organização e funcionamento;

II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto

educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;

III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-

profissional;

IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.

§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às

competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva,

regulada em lei.

§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da

instauração do processo, para proferir decisão final.

§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.45

.

44

MELO FILHO, Álvaro. O desporto na ordem jurídico-constitucional brasileira. São Paulo: Malheiros Editores, 1995, pág. 153. 45

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 01/09/2016.

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30

Como vemos, passou a ser dever do Estado o fomento esportivo, bem como a

garantia da autonomia esportiva das entidades, sejam elas de administração ou de prática

do esporte. Além disso, cabe ao Estado, também, o reconhecimento da Justiça Desportiva.

Todos esses passaram a ser os princípios constitucionais do desporto46

.

O princípio da autonomia desportiva destaca-se por impor limites ao Legislativo

no que concerne à elaboração de legislação atinente ao esporte. Na esfera do Poder

Executivo, o princípio estabelece o parâmetro delimitador de sua discricionariedade, e,

referente ao Judiciário, deu parâmetros para a interpretação do ordenamento jus-

desportivo. Vale ressaltar que, tendo sido consagrada, como cláusula pétrea47

da lei

desportiva, a autonomia de funcionamento e organização dos entes desportivos, atingiu-se

o objetivo de preservação do desporto nacional.

2.4. Lei Zico (Lei 8.672/93)

Passados cinco anos da elevação do esporte ao patamar constitucional, temos a

promulgação da Lei nº 8.672, em 6 de julho de 1993. Com ela, tivemos a (tardia)

modernização da legislação desportiva. A chamada “Lei Zico” estabeleceu normas gerais

sobre o esporte, estas com regimento mais democrático. Nela, também, temos a

positivação do que ficou conhecido como “filosofia da permissividade”, mas sempre se

valendo dos princípios constitucionais da autonomia desportiva e da liberdade de

associação48

.

Álvaro Melo Filho, que contribuiu para a edição da referida lei, leciona acerca dos

inovadores aspectos presentes nela, in verbis:

Com a ‘Lei Zico’ o conceito de desporto, antes adstrito e centrado apenas no

rendimento, foi ampliado para compreender o desporto na escola e o desporto

de participação e lazer; a Justiça Desportiva ganhou uma estruturação mais

consistente; facultou-se o clube profissional transformar-se, constituir-se ou

46

MELO FILHO, Álvaro. Futebol brasileiro e seu arcabouço jurídico. Migalhas. Disponível em:

<http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=26148>. Acesso em 01/09/2016. 47

Cláusulas pétreas são limitações materiais ao poder de reforma da constituição de um Estado. Em outras

palavras, são dispositivos que não podem ter alteração, nem mesmo por meio de emenda, tendentes a abolir

as normas constitucionais relativas às matérias por elas definidas. 48

BRASIL. Lei nº 8.672, de 6 de julho de 1993. Institui normas gerais sobre desportos e dá outras

providências. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8672impressao.htm>. Acesso em 01/09/2016.

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31

contratar sociedade comercial; em síntese, reduziu-se drasticamente a

interferência do Estado fortalecendo a iniciativa privada e o exercício da

autonomia no âmbito desportivo, exemplificada, ainda, pela extinção do velho

Conselho Nacional de Desportos, criado no Estado Novo e que nunca perdeu o

estigma de órgão burocratizado, com atuação cartorial e policialesca no

sistema desportivo, além de cumular funções normativas, executivas e

judiciais. Ou seja, removeu-se com a ‘Lei Zico’ todo o entulho autoritário

desportivo, munindo-se de instrumentos legais que visavam a facilitar a

operacionalidade e funcionalidade do ordenamento jurídico-desportivo, onde a

proibição cedeu lugar à indução. 49

.

Visto isso, notamos que a “Lei Zico” modernizou o cenário desportivo nacional,

diminuindo a burocracia no esporte e abrindo a possibilidade de uma maior autonomia

das entidades desportivas para com o Estado.

2.5. Lei Pelé (Lei nº 9.615/98) e a cláusula penal

Em 1998, mais precisamente em 24 de março, foi sancionada a Lei nº 9.615, que

ficou nacionalmente conhecida como “Lei Pelé”. Com ela, desapareceu por completo a

distinção entre os vínculos trabalhista e esportivo, passando a vigorar apenas o primeiro.

Criou-se, em contrapartida à extinção do Passe, a chamada cláusula penal, que é imposta

ao atleta que rescindir o seu contrato antes de seu término. Essa alteração está retratada na

decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região abaixo:

EMENTA: ATLETA PROFISSIONAL. RESCISÃO DO CONTRATO DE

TRABALHO. CLÁUSULA PENAL. A cláusula penal, prevista no art. 28 da

Lei 9.615/98 (Lei Pelé), tem como objetivo compensar os clubes pelo fim do

instituto do "passe", que visava resguardar a entidade desportiva quanto aos

investimentos realizados na contratação do atleta, conflitando com o direito do

trabalhador ao livre exercício da profissão, uma vez que o jogador ficava

obrigatoriamente vinculado ao titular do passe, ou seja, a agremiação

desportiva, e somente poderia se transferir para outro clube mediante a

negociação do seu passe, independentemente da vigência, ou não, do contrato

de trabalho. Assim, o caput do art. 28 da Lei nº 9.615/98, ao estabelecer a

cláusula penal para os casos de descumprimento, rompimento ou rescisão

contratual, dirige-se somente ao atleta profissional, eis que sua finalidade é

resguardar a entidade desportiva no caso de ruptura antecipada do contrato de

trabalho, em virtude dos elevados investimentos que são efetuados para a

49

MELO FILHO, Álvaro. op. cit.

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32

prática dos esportes profissionais competitivos. Portanto tal penalidade é

direcionada apenas ao atleta, não se confundindo com as hipóteses de

rompimento ou rescisão unilateral e indireta do contrato de trabalho, em razão

de mora salarial ou da ausência de recolhimento do FGTS pela entidade

desportiva, que fica obrigada apenas ao pagamento do disposto no art. 479 da

CLT, conforme disciplina o art. 31 da Lei Pelé. Recurso desprovido no aspecto.

(TRT 3ª Região - Quinta Turma – Processo:00573-2009-091-03-00-5 RO

Recurso Ordinário - Rel. Desembargadora Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida

DEJT 09/11/2009).

Contudo, o fim da chamada “Era do Passe” não diminuiu os embates existentes

entre atletas profissionais e clubes de futebol. Como resultados, tivemos mudanças

introduzidas pela Lei nº 9.981/2000, pela Medida Provisória nº 2.141/2001, pela Lei nº

10.672/2003, e, finalmente, pela Lei nº 12.395/201150

.

A primeira citada merece especial destaque por ter conferido o direito de ajuste

livre da cláusula penal pelos contratantes, observado o teto de cem vezes o montante da

remuneração atual pactuada entre as partes51

. Essa regra admite exceção para os casos dos

atletas cuja remuneração não ultrapasse dez salários-mínimos, situação na qual a cláusula

não pode exceder dez vezes a remuneração anual pactuada ou a metade do valor restante

a ser pago no contrato, devendo prevalecer o menor52

.

O montante definido a título de cláusula penal passou a sofrer reduções anuais ao

longo do contrato de trabalho, exceto nos casos de transferências internacionais.

A Lei nº 9.981/2000 estabeleceu que a extinção do passe somente produziria

efeitos a partir de 26 de março de 2011. Dessa maneira, a regra do passe livre dos atletas

só passou a vigorar à partir da referida data.

50

VEIGA, Maurício de Figueiredo Corrêa da. A evolução do futebol e das normas que o regulamentam:

aspectos trabalhistas-desportivos. São Paulo: LTr, 2013, pág. 154. 51

O art. 28, §3º da Lei Pelé passou a vigorar com a seguinte redação: “O valor da cláusula penal a que se

refere o caput deste artigo será livremente estabelecido pelos contratantes até o limite máximo de cem vezes

o montante da remuneração anual pactuada.” 52

O art. 28, §6º da Lei Pelé passou a vigorar com a seguinte redação: “Na hipótese prevista no §3º, quando

se tratar de atletas profissionais que recebam até dez salários-mínimos mensais, o montante da cláusula

penal fica limitado a dez vezes o valor da remuneração anual pactuada ou a metade do valor restante do

contrato, aplicando-se o que for menor.”

Page 35: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE … · INTRODUÇÃO O presente estudo ... a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2. ... 2 ASCENSÃO, José de

33

A MP nº 2.141/2001 criou as chamadas indenizações de formação e de promoção,

dando nova redação ao art. 28, §2º, bem como ao art. 29, §3º, incisos I e II da Lei Pelé,

litteris:

Art. 28. [...]

§ 2º O vínculo desportivo do atleta com a entidade contratante tem natureza

acessória ao respectivo vínculo empregatício, dissolvendo-se, para todos os

efeitos legais, com o término da vigência do contrato de trabalho, salvo na

hipótese prevista no § 3o, inciso II, do art. 29 desta Lei.

[...] (NR)

Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de

assinar com este, a partir de dezesseis anos de idade, o primeiro contrato de

trabalho profissional, cujo prazo não poderá ser superior a cinco anos.

§ 3º Apenas a entidade de prática desportiva formadora que,

comprovadamente, firmar o primeiro contrato de trabalho com o atleta por ela

profissionalizado, terá direito de exigir, do novo empregador, indenização de:

I - formação, quando da cessão do atleta durante a vigência do primeiro

contrato, que não poderá exceder a duzentas vezes o montante da remuneração

anual, vedada a cobrança cumulativa de cláusula penal;

II - promoção, quando de nova contratação do atleta, no prazo de seis meses

após o término do primeiro contrato, que não poderá exceder a cento e

cinqüenta vezes o montante da remuneração anual, desde que a entidade

formadora permaneça pagando salários ao atleta enquanto não firmado o

novo vínculo contratual.53

.

Por fim, a Lei nº 10.672/2003 preocupou-se em alterar o disposto no art. 29 da Lei

Pelé para acrescentar a indenização por formação de atletas não profissionais menores de

21 (vinte e um) anos.

Agora, passemos à lei que foi um verdadeiro divisor de águas no tratamento do

direito desportivo perante o ordenamento jurídico nacional, por ter revogado por

completo a Lei 6.354/76, a “Lei do Passe”.

53

BRASIL, Medida Provisória nº 2.141, de 23 de março de 2001. Altera dispositivos da Lei nº 9.615, de 24

de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas_2001/2141.htm>. Acesso em 02/09/2016.

Page 36: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE … · INTRODUÇÃO O presente estudo ... a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2. ... 2 ASCENSÃO, José de

34

2.6. Lei nº 12.395, de 17 de março de 2011

A Lei Pelé segue como principal fonte do ordenamento jurídico desportivo-

trabalhista, contudo, sofreu algumas modificações quando da publicação da Lei nº

12.395/2011. Mas, o maior avanço trazido com o advento da referida lei foi a total

revogação da Lei nº 6.354 de 1976, a chamada “Lei do Passe”.

Dentre as alterações impostas à Lei Pelé, destacamos a extinção da cláusula penal

de multa indenizatória, que foi substituída por duas cláusulas: a indenizatória esportiva e

a compensatória esportiva. Dessa maneira, percebe-se notável alteração de redação do

conteúdo da Lei 9.615/98 ocorreu em seu art. 28, que passou a versar:

Art. 28. A atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração

pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade

de prática desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente:

I - cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de

prática desportiva à qual está vinculado o atleta, nas seguintes hipóteses:

a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira,

durante a vigência do contrato especial de trabalho desportivo; ou

b) por ocasião do retorno do atleta às atividades profissionais em outra

entidade de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses; e

II - cláusula compensatória desportiva, devida pela entidade de prática

desportiva ao atleta, nas hipóteses dos incisos III a V do § 5o.

§ 1º O valor da cláusula indenizatória desportiva a que se refere o inciso I do

caput deste artigo será livremente pactuado pelas partes e expressamente

quantificado no instrumento contratual:

I - até o limite máximo de 2.000 (duas mil) vezes o valor médio do salário

contratual, para as transferências nacionais; e

II - sem qualquer limitação, para as transferências internacionais.

§ 2º São solidariamente responsáveis pelo pagamento da cláusula

indenizatória desportiva de que trata o inciso I do caput deste artigo o atleta e

a nova entidade de prática desportiva empregadora.

§ 3º O valor da cláusula compensatória desportiva a que se refere o inciso II

do caput deste artigo será livremente pactuado entre as partes e formalizado

no contrato especial de trabalho desportivo, observando-se, como limite

Page 37: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE … · INTRODUÇÃO O presente estudo ... a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2. ... 2 ASCENSÃO, José de

35

máximo, 400 (quatrocentas) vezes o valor do salário mensal no momento da

rescisão e, como limite mínimo, o valor total de salários mensais a que teria

direito o atleta até o término do referido contrato. 54.

Interpretando o instrumento normativo supra, entendemos por cláusula

indenizatória desportiva a verba devida exclusivamente pelo atleta ao seu clube em duas

hipóteses: caso se transfira para qualquer outro, seja do Brasil ou do exterior ou, se no

prazo de 30 (trinta) meses, o atleta vinculado a um clube retomar as atividades esportivas

em outra agremiação55

.

Destacamos, ainda, o inciso I do referido artigo, por ser um dos pontos chave para

o presente estudo. O legislador preocupou-se em definir que a referida cláusula

indenizatória é devida exclusivamente à agremiação esportiva, no caso do universo

futebolístico, os clubes. Dito isso, desde 2011 já existia uma preocupação dos legisladores

desportivo-trabalhistas nacionais em excluir a participação de terceiros nas relações de

trabalho entre atleta-clube. O assunto é abordado pela própria FIFA em seu Regulamento

de Transferências, no art. 17.2, ao estabelecer que a indenização obtida a título de

indenização não pode ser paga a terceiros, mas somente ao clube titular de tal direito.

Outra alteração que merece destaque refere-se ao fato de que, a partir deste

momento, a obrigação de pagamento da cláusula indenizatória passa a ser solidária entre

o atleta e o clube adquirente, seu novo empregador, que passou a ser corresponsável pelo

referido pagamento56

. O mesmo artigo do Regulamento de Transferências da FIFA

supracitado também define essa responsabilidade solidária.

A cláusula compensatória desportiva, por sua vez, trata da situação oposta à

geradora da cláusula indenizatória: naquela, quem enseja o fim do contrato é o clube no

qual o atleta exerce seu labor. Este, quando for demitido injustificadamente, a conhecida

dispensa sem justa causa do direito trabalhista, terá direito ao recebimento de um valor,

que tem como piso a totalidade dos salários que o atleta teria direito até o encerramento

do vínculo, e como valor máximo o montante de 400 (quatrocentas) vezes o valor do

54

BRASIL, Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras

providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615Compilada.htm>. Acesso

em 01/09/2016. 55

SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Direito desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editora, 2014, pág. 119. 56

Idem.

Page 38: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE … · INTRODUÇÃO O presente estudo ... a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2. ... 2 ASCENSÃO, José de

36

salário quando da dispensa imotivada. Com isso, deixou-se de aplicar o disposto no art.

479 da Consolidação das Leis do Trabalho57

.

Mesmo com os referidos avanços, ainda existem críticas à redação apresentada

pela legislação. O principal alvo destas críticas diz respeito a falta de observância da

isonomia entre as partes, uma vez que, quando a rescisão do contrato é ensejada pelo

atleta, o valor devido ao clube pode chegar a 2.000 (duas mil) vezes o salário médio dos

atletas profissionais, enquanto que para o clube o valor máximo da indenização é de 400

(quatrocentas) vezes o salário no momento da dispensa. Outra crítica recorrente diz

respeito ao não atendimento da função social dos contratos, uma vez que existe evidente

desproporcionalidade dos benefícios das partes. Há quem diga, também, que este

dispositivo fere o § 4º do art. 173 da Carta Magna, uma vez que existe exige que, em

qualquer negócio jurídico, não exista “abuso de poder econômico que vise à dominação

dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.”.

Por fim, mesmo não existindo qualquer limite para a fixação da cláusula

indenizatória para transferências internacionais, ressalta-se que os clubes devem sempre

partir de parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade. Além disso, é importante

atentar-se aos padrões internacionais já traçados pela FIFA. Um exemplo dessa, grosso

modo, limitação indireta é o caso da polêmica transferência de Ronaldinho Gaúcho do

Grêmio/RS para o Paris Saint Germain, da França. À época, o clube gaúcho pretendia

receber, com a negociação, o montante de 85 (oitenta e cinco) milhões de dólares.

Contudo, a indenização foi reduzida para “apenas” cinco milhões de dólares58

, menos de

6% da pretensão inicial.

Feito a análise dos avanços da legislação desportiva no país, passemos ao estudo

de outros dois institutos muito comentados na mídia esportiva nos últimos tempos: os

direitos econômicos e direitos federativos dos atletas profissionais de futebol. Não apenas

possuem nomenclaturas distintas, mas também possuem definição, origem e efeitos

jurídicos bastante diversos. Essa distinção carece de capítulo em específico, pelo fato dos

57

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.

Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452compilado.htm> Acesso em

03/09/2016: Art. 479 - Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que, sem justa causa,

despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a remuneração a que

teria direito até o termo do contrato. 58

MELO FILHO, Álvaro. Nova lei Pelé: avanços e impactos. Rio de Janeiro: Maquinária, 2011. Pag. 119.

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contratos de cessão de direitos econômicos serem o foco da discussão proposta neste

excerto.

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39

3. Direitos Federativos e Direitos Econômicos do atleta profissional

de futebol Após toda a polêmica discussão no mundo do futebol, principalmente após o fim

da chamada ‘Era do Passe”, principalmente por parte dos clubes, que tinham em seus

atletas seu maior “patrimônio”, o esporte se adequou à nova realidade. Para proteger-se,

os clubes passaram a investir em contratos de maior duração, uma vez que, em caso de

rescisão, fariam “jus” ao recebimento de exorbitantes valores. Essa situação desencadeia

a manutenção de bons jogadores no cenário brasileiro, além de enriquecimento dos clubes

quando as transferências (principalmente internacionais) ocorriam.

Neste meio tempo, deu-se uma espécie de divisão do direito que o clube possui

sobre os serviços do atleta. A divisão se deu em dois institutos: os direitos federativos e

direitos econômicos. Por não existir expressa definição no ordenamento, tampouco é de

amplo conhecimento e divulgação suas definições, por muitas vezes os institutos são

confundidos. Neste momento, trataremos justamente da conceituação destes institutos, tão

importantes para o cenário atual do futebol no Brasil e no mundo.

3.1. Direitos Federativos

Como visto nos aspectos legais apresentados no segundo capítulo deste estudo,

verifica-se que diversos direitos passaram a emanar do vínculo de trabalho entre clube e

atleta. Inclusive, diferentemente de como ocorria no passado, findado o contrato de

trabalho, o atleta passou a ser livre para assinar um novo contrato com qualquer outra

agremiação. O vínculo desportivo jogador-clube, portanto, passou a ser acessório do

contrato de trabalho. Quando este se extingue, o mesmo ocorre com aquele59

.

Dentre esse referenciados direitos decorrentes do vínculo de trabalho, temos o

chamado Direito Federativo. Este instituto refere-se ao direito do clube em registrar o

contrato de trabalho, e, consequentemente, o vínculo desportivo, do atleta perante

entidade competente de administração esportiva60

. Destacamos que o vínculo desportivo

59

SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Direito desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editora, 2014, pág. 135. 60

SANTORO, Luiz Felipe Guimarães. “Direitos Econômicos” dos atletas profissionais de futebol. In:

OLIVEIRA, Leonardo Andreotti Paulo de (Coord). Direito do Trabalho e Desporto – São Paulo: Quartier

Latin, 2014, pág. 191.

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decorre do registro do contrato junto à entidade. Assim, o registro do contrato garante que

o clube empregador se torne o titular dos direitos federativos daquele atleta61

.

Disso, a primeira conclusão que se tira é de que os direitos federativos são

indivisíveis, bem como não podem ser parcialmente cedidos à outro clube. Da mesma

forma, apenas entidades esportivas podem ser titulares desse direito. Sempre os direitos

federativos serão, em sua integralidade, do clube com o qual o atleta tiver contrato de

trabalho em vigência, inclusive no caso de empréstimo entre clubes. Ou seja, quando

houver um empréstimo de jogador de um clube a outro, o clube cessionário passará a ser

o titular dos direitos federativos do atleta. Isso, no entanto, não compromete a titularidade

dos direitos econômicos do clube cedente62

.

Explicado o instituto dos direitos federativos do atleta, passemos ao seu reflexo

financeiro no futebol e tema principal do presente excerto: os direitos econômicos do

atleta profissional de futebol.

3.2. Direitos Econômicos

Como já explicado na abordagem da cláusula indenizatória, quando um atleta se

transfere para outro clube (ou seja, ocorre a cessão de seus direitos federativos) enquanto

o contrato atual está vigorando, quando onerosa, trará ao clube cedente uma compensação

financeira63

. Nesse contexto, temos o surgimento dos chamados direitos econômicos do

atleta profissional de futebol como a receita que virá a ser auferida pelo clube no caso de

cessão onerosa dos direitos federativos do atleta a outro clube.

Sobre o assunto, discorre Melo Filho:

Os federativos são exclusivos do clube cuja titularidade não pode ser cedida

ou comercializada. De outra parte, a expectativa econômica dos direitos

federativos, que pode ser comercializada, nominadas no jargão desportivo

como direitos econômicos ou financeiros, é fruto de investimentos de risco

empresarial. Tipificam-se como expectativa de direito e categorizam-se como

relação comercial. Trata-se de usual solução encontrada para viabilizar a

contratação de atletas antevendo lucro numa eventual ‘venda’ ou cessão de

61

Idem. 62

Idem. 63

Idem, pág. 192.

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41

benefícios futuros (onde se permite o ‘fatiamento’ ou ‘compartilhamento’ entre

coproprietários diversos). 64

.

A principal diferença apontada na passagem apresentada entre os direitos

federativos e econômicos é a possibilidade de cessão parcial deste último a terceiros pelos

clubes. E é exatamente esta possibilidade, extremamente controversa, que será posta em

tela no capítulo a seguir. Passaremos a analisar o tratamento desta possibilidade de

divisão dos direitos econômicos no ordenamento jurídico nacional e internacional.

64

MELO FILHO, Álvaro. Investidores e Comercialização de Atletas na Lex Esportiva Brasileira.

Cuadernos de Derecho Desportivo nº13/14. Editora Ad Hoc, 2011, p. 255.

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43

4. Da cessão parcial dos direitos econômicos do atleta profissional de

futebol a terceiros

Como já abordado no capítulo anterior, os direitos econômicos diferenciam-se dos

direitos federativos em dois aspectos: a possibilidade de sua cessão parcial, bem como a

possibilidade de titularidade por parte de pessoas físicas ou jurídicas, estas não

necessariamente devendo ser agremiações esportivas. Uma empresa pode ser proprietária

de parte dos direitos econômicos de um atleta, por exemplo.

Nesta negociação, o terceiro paga um valor ao clube, definido previamente entre

eles, a fim de obter parte da receita obtida numa futura transferência do atleta em questão.

Dessa maneira, o clube mantem o atleta em seu elenco, bem como obtém recursos

financeiros no ato da cessão65

. No momento da efetiva transferência do jogador a outro

clube, o terceiro recebe o percentual previamente adquirido proporcionalmente ao

montante que o clube de origem do atleta recebeu a título de cláusula indenizatória.

O já citado Regulamento de Transferências da FIFA, em seu art. 18 BIS, proíbe

terceiros de interferirem nas questões trabalhistas, bem como nas transferências de atletas.

Este artigo foi instituído neste diploma em 2008 e importado para o direito brasileiro pela

Lei nº 12.395/2011, acrescentando o art. 27-B à Lei Pelé. Nele, não existe impedimento

de aquisição de direitos econômicos por terceiros. Contudo, é claro a determinação de que

cabe ao clube proprietário dos direitos federativos a definição do valor a ser recebido,

bem como o momento da transferência. Litteris:

Art. 27-B. São nulas de pleno direito as cláusulas de contratos firmados entre

as entidades de prática desportiva e terceiros, ou entre estes e atletas, que

possam intervir ou influenciar nas transferências de atletas ou, ainda, que

interfiram no desempenho do atleta ou da entidade de prática desportiva,

exceto quando objeto de acordo ou convenção coletiva de trabalho. 66

.

A Lei nº 12.395/2011 também introduziu o art. seguinte, que, em seu inciso II,

reforça esse pensamento em relação aos agentes e empresários:

65

Idem. 66

BRASIL, Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras

providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615Compilada.htm>. Acesso

em 01/09/2016.

Page 46: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE … · INTRODUÇÃO O presente estudo ... a esta postura, como bem frisa José de Oliveira Ascensão2. ... 2 ASCENSÃO, José de

44

Art. 27-C. São nulos de pleno direito os contratos firmados pelo atleta ou por

seu representante legal com agente desportivo, pessoa física ou jurídica, bem

como as cláusulas contratuais ou de instrumentos procuratórios que:

[...]

II - impliquem vinculação ou exigência de receita total ou parcial exclusiva da

entidade de prática desportiva, decorrente de transferência nacional ou

internacional de atleta, em vista da exclusividade de que trata o inciso I do art.

28; 67

Melo Filho68

versa da seguinte maneira acerca do supramencionado art. 18 BIS do

Regulamento de Transferências da FIFA:

O artigo 18-BIS do RETJ da FIFA não veda a cotitularidade ou a cessão a

terceiros dos direitos econômicos sobre os direitos federativos de determinado

jogador em troca de uma contraprestação econômica. E, nesse tocante, é

palmar a validez e juridicidade desse negócio jurídico, posto que a proibição

refere-se à influência de terceiro cessionário em assuntos de natureza

trabalhista do jogador ou sua atividade desportiva no clube.

Resumindo, entendemos por “direito econômico” a legitima comercialização de

uma expectativa patrimonial de venda de um atleta dentro de um determinado período de

tempo. Dessa forma, inevitável a especulação como característica, uma vez que os fundos

de investimentos que adquirem tais direitos desejam o maior retorno possível, que

depende diretamente do desenvolvimento do atleta.

A titularidade de direitos econômicos por terceiros, chamada em âmbito

internacional de third-part ownership (TPO), nada mais é do um verdadeiro investimento

a médio/longo prazo: existe a despesa inicial, que, teoricamente, será utilizada pelo clube

cedente para a formação e desenvolvimento do atleta, para, num futuro, o investidor obter

uma parcela de eventual transferência no futuro. Obviamente, o desejo é de que o

percentual auferido com a transferência seja maior que o valor investido no passado.

67

BRASIL, Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras

providências. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9615Compilada.htm>. Acesso

em 01/09/2016. 68

MELO FILHO, Álvaro. Investidores e Comercialização de Atletas na Lex Esportiva Brasileira.

Cuadernos de Derecho Desportivo nº13/14. Editora Ad Hoc, 2011, p. 255.

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45

Por se pautar em uma possível transferência, a operação é considerada de risco,

pois, caso o contrato de trabalho chegue ao seu fim, o clube cedente dos direitos

econômicos deixa de ser titular de seus direitos federativos. Como vigora o “passe livre”,

o atleta tem a possibilidade de firmar novo contrato de trabalho com qualquer outro clube.

Feito isso, deixa de estar vinculado ao clube originário, e, consequentemente, o

adquirente de seus direitos econômicos no passado deixa de possuir qualquer direito sobre

o atleta.

Por ser um assunto extremamente controverso, as federações nacionais e a FIFA

ainda não possuem um posicionamento uniforme acerca do assunto. Contudo, já existem

algumas visões bastante claras definidas acerca do assunto, como é o caso da Inglaterra,

que baniu completamente a figura do TPO do futebol nacional após o famoso caso Tevez-

Mascherano, que gerou uma multa recorde ao clube local West Ham United. Da mesma

forma é tratado o assunto na França, que, em seu art. 221 da Charte Du Football

Professionnel, veda o clube de estipular contratos com pessoas físicas ou jurídicas, que,

forma direta ou indireta, levem estes terceiros a aquisição de direitos econômicos de

atletas no esporte local.

A posição da FIFA tem se mostrado alinhada à linha de pensamento apresentada

pelos países citados. O art. 18-BIS, já citado, já demonstra tal posicionamento, ao denotar

que os interesses esportivos devem se sobrepor a quaisquer outros, inclusive

financeiros69

.

Porém, foi com a Circular 1464/2014 que a FIFA posicionou-se definitivamente.

Nela, restou expressa a proibição a clubes e atletas de firmarem contratos que concedam o

direito a terceiros de participar de valor de transferência, seja parcial ou totalmente70

.

Ainda, o art. 18ter deixa clara a vedação de contratos versarem sobre direitos que

se relacionam a futuros registros ou em relação ao seus valores, in verbis:

18ter Propriedade dos direitos econômicos de jogadores por parte de terceiros

1.1 Nenhum clube ou jogador poderá assinar um contrato com um terceiro

que conceda a este terceiro o direito de participar, parcial ou totalmente,

69

MARCONDES, Luiz Fernando Aleixo. O Sistema FIFA e os “direitos econômicos” sobre jogadores de

futebol. In: OLIVEIRA, Leonardo Andreotti Paulo de (Coord). Direito do Trabalho e Desporto – Volume II

– São Paulo: Quartier Latin, 2015, pág. 321. 70

Idem.

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46

do valor de uma futura transferência de um jogador de um clube a outroou

que lhe outorgue direitos relacionados com futuras inscrições/registros ou

com o valor de futuras inscrições/registros

2. A proibição de que trata o §1º entrará em vigor em 1º de maio de 2015.

O dispositivo também definiu que os contratos firmados antes da data constante

no § 2º seguem válidos, porém impôs limites, bem como os contratos firmados antes do

início da vigência da referida norma71

.

A partir das orientações trazidas pela FIFA, a CBF editou o Regulamento

Nacional de Registro e Transferência de Atleta de Futebol, o RNRTAF72

. Nele, mais

especificamente nos artigos 8º, 10 e 65, a questão atinente aos direitos econômicos é

tratada. O artigo 8º, inclusive, já traz, em seu parágrafo único, o tratamento da questão de

cessão dos direitos a terceiros, bem como a justificativa para a existência da cláusula

indenizatória desportiva, usando o princípio do cumprimento obrigatório do contrato para

isso:

Art. 8º - A cláusula indenizatória desportiva ajustada entre atleta e clube se

destina a atender aos princípios de cumprimento obrigatório do contrato e

pagamento de indenização em caso de rescisão sem causa justificada (Art. 17.1

e 2 do Regulamento sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA) e

submete-se às seguintes diretrizes fixadas na legislação nacional:

[...]

Parágrafo Único - A cláusula indenizatória desportiva é devida exclusivamente

ao clube pelo qual o atleta estava registrado, não sendo reconhecido o ajuste

que implique vinculação ou exigência de receita total ou parcial dela

decorrente em favor de terceiros. (grifo nosso)

No mesmo sentido, versa o art. 10, ao expressar que é proibido que qualquer

contrato que conceda a terceiros poderes para interferir nas questões trabalhistas-

71

MARCONDES, Luiz Fernando Aleixo. O Sistema FIFA e os “direitos econômicos” sobre jogadores de

futebol. In: OLIVEIRA, Leonardo Andreotti Paulo de (Coord). Direito do Trabalho e Desporto – Volume II

– São Paulo: Quartier Latin, 2015, pág. 322. 72

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Regulamento Nacional de Registro e Transferência

de Atletas de Futebol. Disponível em < http://cdn.cbf.com.br/content/201603/20160314131641_0.pdf> .

Acesso em 03/09/2016.

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desportivas sejam firmados, fazendo alusão ao Regulamento de Transferências da FIFA e

à Lei Pelé:

Art. 10 - Nenhum clube poderá ajustar ou firmar um contrato que permita a

qualquer das partes, ou a terceiros, assumir uma posição em razão da qual

influa em assuntos laborais e de transferências comprometendo a

independência, a política ou a atuação desportiva do clube, em obediência ao

Art. 18bis do Regulamento sobre o Estatuto e Transferência de Jogadores da

FIFA e ao Art. 27-B da Lei n. 9.615/98.

Parágrafo Único - Por força do Art. 18ter do Regulamento sobre o Estatuto e

Transferência de Jogadores da FIFA, é vedado que o terceiro referido no

caput deste artigo obtenha o direito de participar, parcial ou integralmente, de

um valor de transferência pagável em razão da futura transferência dos

direitos de registro de um atleta de um clube para outro.

Já o artigo 65 é mais taxativo, ao excluir qualquer pessoa que não o clube e o

atleta dos direitos de indenização. “Art. 65 - Somente clubes e atletas têm direito a

indenizações pecuniárias definidas neste Regulamento.”. Aqui, nota-se que o dispositivo

abarca não apenas a cláusula indenizatória, como também a compensatória esportiva,

devida pelo clube ao atleta em caso de dispensa imotivada73

.

4.1. Os terceiros (TPO) para o Sistema FIFA

Feita a análise dos limites impostos, faz-se necessário a conceituação exata dos

chamados terceiros para o direito desportivo. A noção de terceiro não é absoluta, sendo,

portanto, relativa. Pode-se dizer que uma pessoa, seja física ou jurídica, é terceira em

relação a alguém ou a alguma situação e em vista de determinados efeitos74

. Dessa

maneira, a condição de terceiro é casuística.

Portanto, qualquer que seja a pessoa não inserida no eixo clube cedente-atleta-

clube adquirente é considerado um terceiro. Isso se dá pelo fato dessa pessoa não figurar

como empregador ou empregado no contrato de trabalho, tampouco como agremiação

desportiva que passará a deter os direitos federativos do atleta. Por essa lógica, os agentes

e fundos de investimentos são considerados terceiros na relação.

73

MARCONDES, Luiz Fernando Aleixo. O Sistema FIFA e os “direitos econômicos” sobre jogadores de

futebol. In: OLIVEIRA, Leonardo Andreotti Paulo de (Coord). Direito do Trabalho e Desporto – Volume II

– São Paulo: Quartier Latin, 2015, pág. 324. 74

SANTOS JUNIOR, Eduardo. Da responsabilidade civil de terceiro por lesão do direito de crédito,

Portugal: Editora Almedina, 2003, pág. 447.

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Infere-se que, para a FIFA, o contrato que deve servir de parâmetro para análise da

condição de terceiro é o da transferência, e não o contrato de trabalho. Neste contrato

civil, no qual o atleta não é necessariamente parte, temos a disposição de como a se dará a

rescisão do contrato de trabalho original, normalmente onerosa. Feito isso, estará aberta a

possibilidade de celebração de novo contrato laboral, desta vez junto ao novo clube.

Resumidamente, para a FIFA, quando falamos de “direitos econômicos”, todo e

qualquer ente que não os clubes cedentes e cessionários é considerado terceiro, e,

portanto, passa a sofrer as imposições legais de seus regulamentos.

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5. Da validade dos contratos de cessão de direitos econômicos do

atleta profissional de futebol a terceiros sob a ótica jurisprudencial

Feitas as conceituações necessárias, bem como estudadas as determinações da

FIFA e da CBF acerca da cessão de direitos econômicos a terceiros, passemos à análise

da motivação do presente excerto: a análise da validade dos referidos contratos na justiça

nacional.

E, tendo em vista a praticamente inexistente produção científica acerca do assunto,

seja por se tratar de um assunto muito atual, seja pelo desinteresse acadêmico, faremos o

referido estudo baseado nos julgados já existentes, mesmo estes não sendo dos tribunais

superiores do sistema judiciário brasileiro.

Dessa forma, utilizaremos como base o acórdão referente ao processo TJ-MG

1.0024.06.271453-0/001(1), brilhantemente relatado pelo Desembargador Tárcisio

Martins Costa, que, ao julgar o recurso apresentado pelo atleta Rafael Martiniano de

Miranda Moura, o atacante Rafael Moura, popularmente conhecido no âmbito

futebolístico como “He-Man”. O atacante ajuizou ação de rescisão contratual perante a

21ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte em face da empresa EMS S/A, que

adquiriu parte de seus direitos econômicos quando ainda atuava pelo Vitória Esporte

Clube. Em 1ª instância foi reconhecida a validade do contrato, mantendo o atleta

vinculado à empresa detentora de seus direitos econômicos.

Rafael Moura, inconformado com a decisão, recorreu ao Tribunal de Justiça de

Minas Gerais, alegando que o negócio jurídico firmado com a empresa era nulo, tendo em

vista a ausência de determinação do objeto e a impossibilidade de determinação do termo

“direito econômico”. Tese essa que, se acolhida, ensejaria a rescisão do contrato.

Trazemos a ementa do acórdão:

EMENTA: DIREITO DESPORTIVO - CONTRATO DE CESSÃO DE

DIREITOS ECONÔMICOS DE JOGADOR PROFISSIONAL DE FUTEBOL -

NEGÓCIO JURÍDICO - REQUISITOS DE VALIDADE - OBJETO

INDETERMINADO E INDETERMINÁVEL - DECLARAÇÃO DE NULIDADE

- CABIMENTO - RESTITUIÇÃO AO STATUS QUO ANTE - DEVOLUÇÃO

DE PARCELAS RECEBIDAS - RECURSO PROVIDO.

- O art. 104, do NCCB, enumera os requisitos de validade de um negócio

jurídico, dentre os quais se encontra o "objeto determinado ou determinável".

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- A mera referência a "direitos econômicos", sem a consequente vinculação

do negócio jurídico a um contrato de trabalho entre o jogador de futebol e um

clube, ou mesmo a uma determinada temporada ou campeonato, afasta por

completo a possibilidade de se determinar o objeto da avença celebrada,

incidindo, pois, o disposto no art. 166, II, do NCCB pelo qual "é nulo o

negócio jurídico quando for indeterminável o seu objeto", notadamente se

analisado o contrato em consonância com os usos e costumes do lugar de sua

celebração (art. 113 do NCCB), e com as peculiaridades do Direito

Desportivo. (grifo nosso).

Ao longo do voto, o relator discorreu sobre direitos federativos e econômicos,

definindo o último como sendo receita gerada com eventual transferência do atleta, bem

como da figura do terceiro na relação jurídica em tela, assuntos estes já abordados neste

excerto, fazendo-se desnecessária a apresentação da íntegra do voto. Contudo, certos

pontos merecem destaque para motivar a decisão.

Em certa passagem, o relator asseverou:

(...) a extinção do passe, obviamente, livrou os atletas profissionais daquilo

que mais os afligiam, posto que culminou com a absoluta submissão dos

jogadores aos mandos e desmandos do clube de futebol em que atuavam. A

mera referência a ‘direitos econômicos’, sem a consequente vinculação do

negócio jurídico a um contrato de trabalho entre o jogador e um clube, ou

mesmo a uma determinada temporada ou campeonato, afasta por completo a

possibilidade de se determinar o objeto da avença.

O ponto principal da discussão é que, o referido contrato de cessão foi assinado

três dias após o atacante firmar contrato de trabalho com o Vitória Esporte Clube em

2004, que, no caso, era o detentor de seus direitos federativos, e por isso, jamais poderia

ter sido negociado sem a anuência do clube baiano.

Em outro momento, é reconhecido pela própria empresa que “o contrato não tem

prazo de vigência ‘eterna’ e nem poderia ter, porque, tão logo ocorresse uma inevitável

cessão definitiva dos direitos econômicos do Requerente para qualquer outro clube ou

empresa, o contrato estaria resolvido (...)”. Contudo, mesmo tendo se transferido para

diversos clubes durante esse ínterim, Rafael Moura seguiu vinculado a empresa ré no

processo.

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Dito isso, mostra-se que é impossível determinar o que seria o chamado “direito

econômico” cedido no referido contrato, tampouco o seu valor correspondente. Isto posto,

verifica-se a necessidade de aplicação do art. 104 do CC/2002, que, dentre os requisitos

para validade de um negócio jurídico, coloca “objeto determinado ou determinável” 75

.

Sobre isso, versou o relator:

É inolvidável que, no caso em julgamento, não houve a individualização do

objeto, assim como não foi adotado qualquer critério a ser subsequentemente

observado entre os contratantes.

(...)

Incide, portanto, a meu aviso, o disposto no art. 166, II, do NCCB, pelo qual "é

nulo o negócio jurídico quando for indeterminável o seu objeto", notadamente

se analisado o contrato em consonância com os usos e costumes do lugar de

sua celebração (art. 113 do NCCB), e com as peculiaridades do Direito

Desportivo.

De mais a mais, mesmo que, por hipótese, se entendesse tratar de objeto

determinável, é latente a possibilidade do jogador rescindir o pacto unilateral

e imotivadamente, pena de ficar subjulgado, até o término de sua carreira, à

apelada, a evidenciar inadmissível relação assimétrica de poder, sem qualquer

contributo para o seu eventual sucesso.

Para justificar o entendimento apresentado, o desembargador invocou os

ensinamentos do já citado Álvaro Melo Filho, in verbis:

Com a extinção do ‘passe’ (art. 28, § 2º da Lei nº 9.615/98) surgiu um outro

personagem, o agente/empresário ou "o terceiro homem", na expressão de

Leal Amado, que ganhou um protagonismo crescente nas relações

atleta/clube, não raro aproveitando-se da ingenuidade/incompetência destes

atores para enriquecer à sua custa, em um país em que o futebol afigura-se

como sonho e saída única para milhares de atletas. Com efeito, são visíveis os

laços de dominação e dependência que tais agentes/empresários têm com os

atletas, a ponto de assinalar-se que o ‘passe’ que era dos clubes transformou-

se na ‘posse’ dos empresários.

75

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

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De fato, na perspectiva dos atletas houve apenas uma mudança de ‘feitor’ ou

‘simples troca de amos do outrora todo-poderoso clube transitar-se-ia para o

todo-poderoso empresário’. Por isso torna-se ingente e urgente obstacular a

ação predatória dos agentes e empresários desportivos (...). Vale dizer, sem

dar o mais mínimo contributo à formação de atletas ou fazendo apenas

investimento especulativo, os empresários e ‘atravessadores desportivos’,

usam instrumentos contratuais e procuratórios que malferem postulados e

princípios jurídicos, ’escravizam’ e vinculam promissores atletas para a vida

desportiva futura, além de ‘apropriarem-se’ de receitas exclusivas e privativas

dos clubes, que, como consequência, acabam inibindo o reinvestimento nas

categorias de base. 76

.

Com isso, o relator deu provimento ao recurso apresentado pelo atacante,

retornado ao status quo anterior ao firmamento do contrato em questão, que foi

considerado nulo de pleno direito.

O desembargador José Antônio Braga, a quem coube a revisão do recurso, votou

favoravelmente à reforma da decisão, da qual destacamos a seguinte passagem:

Não há uma única cláusula dispondo sobre obrigações da cessionária para

com o cedente, o tempo de duração do pacto, etc.

Argumenta a parte apelada que custeou tratamento médico-hospitalar do

apelante; entretanto, não há uma única nota fiscal de prestação de serviços

(médico ou hospitalar) ou mesmo nota fiscal de aquisição de medicamentos.

Para o Revisor, a obrigação noticiada inexistiu, pois todos os documentos de

fls. 94/98 são extraídos em nome do apelante e sem qualquer recibo firmado

para a apelada.

Certo é que o patrimônio imaterial do apelante (sua habilidade futebolística)

está escravizada, financeira e economicamente, em mãos da apelada.

Por fim, considerou que “A eternidade do contrato e a ausência de especificidade

relativamente ao termo direitos econômicos maculam o contrato, razão pela qual há de

ser considerado nulo.”

76

MELO FILHO, Álvaro. Direito Desportivo, Aspectos Teóricos e Práticos, São Paulo: IOB Thomson,

2006, p. 124.

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6. Conclusão

Em suma, vimos que o contrato de cessão de direitos econômicos a terceiros vem

ganhando relevância nos últimos anos, tanto no âmbito nacional quanto no internacional.

Por tratar-se de um negócio jurídico, como qualquer outro contrato, são oponíveis

a ele todos os requisitos e pressupostos legais da teoria do negócio jurídico, ainda mais

pelo fato de, corriqueiramente, tratar de valores exorbitantes.

Além do impacto financeiro, o referido contrato influencia na relação trabalhista

do atleta de futebol com o seu clube, o que torna de suma importância que o tema passe a

figurar mais nas discussões jurisprudenciais e doutrinárias. Contudo, a FIFA, a CBF e os

tribunais regionais do Brasil vem mostrando uma consonância em seus entendimentos,

tentando mitigar a presença do third-part ownership do cenário esportivo.

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