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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da homeostase intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii Murilo Solano Dias RIBEIRÃO PRETO-SP 2015 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Imunologia Básica e Aplicada.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE ...iba.fmrp.usp.br/sites/default/files/defesas/dissertacoes/... · Imunologia Básica e Aplicada da Faculdade de Medicina de Ribeirão

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA

Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da homeostase

intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii

Murilo Solano Dias

RIBEIRÃO PRETO-SP

2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo como parte das

exigências para obtenção do título de Mestre em

Ciências. Área de Concentração: Imunologia

Básica e Aplicada.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA

Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da homeostase

intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii.

Murilo Solano Dias

Nome do Orientador: Prof. Dr. João Santana da Silva

RIBEIRÃO PRETO-SP

2015

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo como parte das

exigências para obtenção do título de Mestre em

Ciências. Área de Concentração: Imunologia

Básica e Aplicada.

FOLHA DE APROVAÇÃO Nome: SOLANO DIAS, Murilo Título: Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da homeostase intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii . Aprovado em: ___/___/___

Banca Examinadora Prof. Dr.: João Santana Silva Instituição: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP Julgamento: __________________Assinatura:___________ Prof. Dr.: Angelica Thomaz Vieira Instituição: Instituto de Ciências Biológicas - UFMG Julgamento: __________________Assinatura:___________ Prof. Dr.: Ademilson Panunto Castelo Instituição: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP Julgamento: __________________Assinatura:___________

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências

Autorizo a divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional

ou eletrônico para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.

Solano Dias, M.

Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da

homeostase intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii.90p: iL ; 30cm

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Imunologia Básica e Aplicada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo como parte das exigências para obtenção do título

de Mestre em Ciências.

Orientador: João Santana da Silva

1.Células T reguladoras. 2. Toxoplasma gondii . 3.Microbiota Intestinal. 4. Inflamação Intestinal. 5. Receptores da Imunidade Inata.

Dedicatória...

Aos meus pais, Silvia Cristina Solano Dias e Irios Aparecido Dias pelo apoio

incondicional e fundamental para meu desenvolvimento pessoal e intelectual. A eles, meu

muito obrigado.

Agradecimentos

Ao Professor Dr. João Santana da Silva, pelos ensinamentos, orientação e por sempre

proporcionar aos seus alunos o melhor, dentro do possível. Ao senhor, toda minha

admiração.

À Dra. Denise Morais da Fonseca, pela excelente orientação e por todos os ensinamentos

técnicos, científicos e pessoais. A ela devo todas as oportunidades que me surgiram nos

quatro anos (iniciação científica e mestrado) dedicados à Imunologia. Meus mais sinceros

agradecimentos.

À Dra. Maria do Carmo de Souza e à Dra. Gabriela Gonçalves Oliveira pela parceria

científica, amizade e carinho quase maternal.

Ao grande amigo Msc. Rodrigo Pereira de Almeida Rodrigues, pessoa brilhante e que esteve

presente na execução da maioria dos experimentos realizados durante este trabalho. Muito

obrigado.

À Msc. Marcela Davoli Ferreira, pela imensa ajuda prestada no desenvolvimento desse

trabalho e também pela amizade. Muito obrigado.

À grande amiga cubana, Malena Martinez, pela amizade sem igual e pela imensa ajuda

prestada na fase final de conclusão desse trabalho! Muchas gracias!

Aos amigos de laboratório, Jéssica Lobo (eterna caloura), Larissa Marfori, Gretel Rodriguez,

Havier Ricardo Rubio Peña, Pedro Alexandre Sampaio, Verônica Saltarelli, Mariana

Thomaz, Msc. Alynne Karen e Dra. Carla Duque Lopes, pelo companheirismo na ciência e

na amizade. Muito obrigado por tudo!

Aos demais companheiros de laboratório, Msc. Laís Sacramento, Mikael Haruro, Ketelut-

Carneiro, Msc. Gustavo Quirino, Dra. Sandra, Msc. Maria Cláudia Silva, Msc. Frederico

Ribeiro, Dr. Giuliano Bonfá, Dra. Grace Kely da Silva, Dra. Daniela Carlos e Dra. Luciana

Benevides, por toda ajuda prestada.

Aos funcionários Wander Cosme Ribeiro, Cristiane Milanezi, Denise Ferraz, Rubilan

Quioneiro, Edinelson, Ana Cristine e Júlio Anselmo Siqueira, pela eficiência e destreza nos

serviços prestados.

Aos demais docentes do Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada, em

especial, à Professora Dra. Vânia Luiza Deperon Bonato e Professora Dra. Beatriz Ferreira,

pelos ensinamentos durante o desenvolvimento do Projeto de Extensão Jovem Imunologista.

À Dra Yasmine Belkaid, pela oportunidade de estágio no Laboratório de Doenças

Parasitárias (NIH/Bethesda/EUA).

Aos colegas do Laboratório de Doenças Parasitárias (NIH/Bethesda/EUA), em especial

Mike Askenase, Seong Ji Han, Samira Tamoutounour e Timoty Hand, pela ajuda científica e

amizade.

Às secretárias do Professor João, do passado e do presente, em especial, Isadora Lima e

Letícia Alves Ferreira, pela ajuda indispensável com assuntos burocráticos.

Aos amigos de graduação sempre presentes, em especial, Rafael Gil de Castro, Luanne

Caires Cruz Souza, Sophia Araujo do Val da Silva e Carolina Corrocher.

Aos docentes do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da

Universidade de São Paulo, pela formação científica inicial.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo financiamento

deste trabalho - Processos 2013/15123-0; 2014/03249-2.

APOIO E SUPORTE FINANCEIRO

Este projeto foi desenvolvido no Laboratório de Imunoparasitologia, coordenado pelo

Professor João Santana da Silva - Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade

de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo. Parte do projeto também foi

desenvolvido no Laboratório de Doenças Parasitárias, coordenado pela Dra Yasmine Belkaid

- National Institute of Alergy and Infeccious Diseases - National Institutes of Health,

Bethesda, EUA, com apoio das seguintes agências de fomento e instituições:

- Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) – Processos

2013/15123-0; 2014/03249-2; 2012/14524-9.

- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Processo 477751/2010-

5

"Happy is the person who is able to discern the causes of things."

(Virgil 37 A.C.)

SUMÁRIO

Lista de figuras........................................................................................................................12

Lista de Abreviações e símbolos.............................................................................................13

Resumo....................................................................................................................................15

Abstract...................................................................................................................................16

1 - INTRODUÇÃO................................................................................................................18

2 - OBJETIVOS......................................................................................................................28

2.1 - Objetivos gerais..............................................................................................................28

2.2 - Objetivos específicos......................................................................................................28

3 - MATERIAL E MÉTODOS...............................................................................................30

3.1- Animais............................................................................................................................30

3.2- Parasito e infecção...........................................................................................................30

3.3- Obtenção e purificação de anticorpo monoclonal contra CD25......................................31

3.4- Diferenciação de Macrófagos e de Células Dendríticas..................................................32

3.5- Preparo das amostras de macerado intestinal...................................................................33

3.6- Detecção de citocinas por ensaio imunoenzimático........................................................33

3.7- Avaliação da translocação bacteriana..............................................................................34

3.8- Extração de células da Lâmina Própria intestinal............................................................34

3.9- Marcações de moléculas de superfície e intranucleares para citometria de fluxo...........35

3.10- Extração de RNA e reação por qPCR............................................................................35

3.11-Tratamento dos camundongos para depleção da flora intestinal....................................37

3.12- Detecção de células produtoras de citocinas por citometria de fluxo............................37

3.13 – Análise Histopatológica...............................................................................................38

3.14- Análise de citometria de fluxo.......................................................................................39

3.15- Análises estatísticas dos resultados................................................................................41

4 – RESULTADOS.................................................................................................................43

4.1- Resposta imune adaptativa após infecção oral por T. gondii...........................................43

4.2 - Papel de IL-6 na patogênese da doença inflamatória induzida no intestino de animais

infectados com T. gondii.........................................................................................................45

4.3-Produção in vitro de IL-6 por células dendríticas e macrófagos em resposta a T.

gondii.......................................................................................................................................47

4.4-Translocação de bactérias da microbiota intestinal e produção diferencial de IL-6 entre

camundongos resistentes e susceptíveis..................................................................................48

4.5-Neutrófilos e monócitos inflamatórios são majoritariamente parasitados durante infecção

por T. gondii............................................................................................................................51

4.6-Produção de IL-6 por neutrófilos e monócitos inflamatórios in vivo durante infecção por

T. gondii..................................................................................................................................52

4.7 Contribuição de células dendríticas para produção de IL-6 durante infecção por T.

gondii.......................................................................................................................................56

4.8 A via da molécula adaptadora Myd88 está associada à produção de IL-6 após infecção

por T. gondii............................................................................................................................58

4.9 O colapso de células Treg durante a infecção por T. gondii não é dependente do

reconhecimento do parasito por receptores da via de TLR, NOD1 e NOD2..........................60

4.10 Translocação de bactérias da microbiota intestinal em camundongos deficientes para

Myd88, TLR2, TLR4 e TLR9.................................................................................................62

4.11 Receptores TLR11 e TLR12 não influenciam no colapso de Tregs durante infecção por

T. gondii..................................................................................................................................64

4.12 Envolvimento da microbiota intestinal na produção de IL-6 e inflamação tecidual

durante a infecção por T. gondii..............................................................................................67

5- DISCUSSAO......................................................................................................................72

6 - CONCLUSÃO...................................................................................................................82

7 – REFERÊNCIAS................................................................................................................84

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Caracterização das populações de linfócitos T CD4+ durante infecção oral por T.

gondii.......................................................................................................................................44

Figura 2: Papel IL-6 durante a infecção com T. gondii.. ....................................................... 46

Figura 3: Produção de IL-6 por células dendríticas e macrófagos ........................................ 48

Figura 4: Translocação de bactérias da microbiota intestinal e produção de citocinas entre

camundongos resistentes e susceptíveis ................................................................................. 50

Figura 5: Populações de células parasitadas durante infecção por T.gondii.. ....................... 52

Figura 6: Dot plot representativo das populações de monócitos inflamatórios, neutrófilos e células produtoras de IL-6 durante a infecção por T. gondii...................................................53

Figura 7: Produção de IL-6 por monócitos inflamatórios durante a infecção por T. gondii...

................................................................................................................................................ 54

Figura 8: Produção de IL-6 por neutrófilos durante a infecção por T.

gondii.......................................................................................................................................55

Figura 9: Avaliação das subpopulações de células dendríticas, APCs e produção de IL-6

durante a infecção oral por T.gondii. ...................................................................................... 57

Figura 10: Rastreamento de receptores da imunidade inata possivelmente envolvidos na via

de produção da citocina IL-6 por macrófagos ........................................................................ 59

Figura 11: Rastreamento de receptores da imunidade inata possivelmente envolvidos na via

de produção da citocina IL-6 por células dendríticas ............................................................. 60

Figura 12: Avaliação do papel receptores da imunidade inata no colapso de Tregs e

produção de IL-6..................................................................................................................... 61

Figura 13: Avaliação da translocação de bactérias da microbiota intestinal e análise de

sobrevivência em animais selvagens e deficientes em receptores TLRs durante infecção por

T.gondii. .................................................................................................................................. 63

Figura 14: Avaliação da população de Tregs e da resposta imunológica durante infecção

oral por T. gondi em camundongos deficientes para TLR11 e 12.......................................... 65

Figura 15: Relação entre translocação da microbiota intestinal e produção de IL-6 em

camundongos susceptíveis. ..................................................................................................... 68

Figura 16: Papel da microbiota na inflamação intestinal mediante infecção por T.gondii..................................................................................................................................70

13

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

APC do inglês, Antigen-presenting cells, “Células apresentadoras de antígeno”

CD do inglês, Cluster of differentiation, “Cluster de diferenciação”

cDNA do inglês, Complementary DNA, “DNA complementar”

DNA do inglês, Deoxyribonucleic Acid, “Ácido Desoxirribonucleico”.

DPI Dias pós-infecção

ELISA do inglês, Enzyme-Linked Immunosorbent Assay, “Ensaio imunoenzimático

de fase sólida”

Foxp3 Fator de transcrição forkhead Box P3

H&E/HE Hematoxilina e Eosina

IFN Interferon

IL- Interleucina

iNOS do inglês Inducible Nitric Oxide Synthase, “Óxido nítrico sintase

induzível”.

i.p Intraperitoneal

KO do inglês, knockout, “nocaute”.

ME-49 Cepa de baixa virulência de T. gondii tipo II

NK do inglês, Natural Killer cell, “Célula Naturalmente citotóxica”.

NO do inglês, Nitric oxide, “Óxido Nítrico”.

PBS do inglês, Phosphate buffered saline, “Solução salina isotônica tamponada

com fosfato”.

PMA do inglês, Phorbol 12-myristate 13-acetate, “12-O- tetradecanoilforbol-13-

acetato ou acetate de miristato de forbol”

qPCR do inglês, Real-time quantitative polymerase chain reaction, “Reação em

Cadeia da Polimerase quantitativa em Tempo Real”

14

RFP do inglês, Red fluorescent protein, “Proteína Vermelho Fluorescente”

RPMI Meio de cultura celular 1640

SBF Soro Bovino Fetal

TGF- do inglês, Transforming growth factor, “Fator de crescimento e

transformação”

TNFdo inglês, Tumor necrosis factor α, “Fator de necrose tumoral”

Tregs Células T reguladoras

UFC Unidades formadoras de colônias

WT do inglês Wild type, “Tipo Selvagem”

15

SOLANO-DIAS, M. Contribuição da microbiota para o colapso dos mecanismos reguladores da homeostase intestinal pós-infecção por Toxoplasma gondii. Dissertação de mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, 2015, 89 pg.

RESUMO

Neste trabalho, nós avaliamos a influência da microbiota intestinal na produção diferencial da citocina IL-6 e a consequente redução das células T reguladoras (Tregs) durante a inflamação intestinal induzida por Toxoplasma gondii. Nesse contexto, sítios de alta exposição antigênica, como o trato gastrointestinal desenvolvem mecanismos sofisticados de manutenção da homeostase imunológica tecidual. Quando tais mecanismos falham, a tolerância imunológica local é quebrada e ocorre o desenvolvimento de lesão tecidual, resultando em um conjunto de doenças conhecidas como doenças inflamatórias intestinais. O modelo murino de infecção oral por T. gondii

tem sido utilizado para o estudo da patogênese de tais doenças. O protozoário induz inflamação intestinal em camundongos susceptíveis C57BL/6, que sucumbem durante a fase aguda da infecção devido à indução de uma forte resposta Th1 dirigida contra o parasito e também contra componentes da microbiota intestinal. Por outro lado, animais da linhagem BALB/c são resistentes à doença. Nossos dados demonstram que a progressão dessa resposta inflamatória em camundongos susceptíveis está associada à redução da frequência de Tregs. Animais C57BL/6 apresentam maior produção de IL-6 em relação a camundongos BALB/c. Este fenômeno está associado ao colapso das Tregs, visto que animais C57BL/6 deficientes para a produção de IL-6 são resistentes à infecção pelo parasito. Tais resultados sugerem que o aumento da produção de IL-6 durante a infecção por T. gondii influencia negativamente a manutenção de células Treg, favorecendo o desenvolvimento da inflamação intestinal. Nesse sentido, observamos que durante a infecção, ocorre a translocação de bactérias da microbiota intestinal em paralelo à produção de citocinas como IL-12, IL-10 e IL-6 de maneira exacerbada nos animais susceptíveis C57BL/6. A produção de IL-6 é desencadeada tanto pelo parasito quanto por produtos da microbiota, visto que macrófagos e células dendríticas produzem IL-6 in vitro em resposta a antígenos do parasito e da microbiota. In vivo, verificamos que as populações majoritariamente infectadas pelo parasito são populações de neutrófilos e monócitos inflamatórios, as quais também atuam de maneira preponderante na produção diferencial de IL-6. Curiosamente, monócitos inflamatórios e neutrófilos não parasitados, mas provenientes de animais infectados, produzem quantidades maiores de IL-6 quando comparadas às células infectadas pelo parasito, reforçando o papel de produtos microbianos no desencadeamento da inflamação intestinal. Desse modo, receptores NOD1, NOD2 e TLR2, TLR4, TLR9 e especificamente TLR11 e TLR12, associados ao reconhecimento inato de T. gondii, não estão envolvidos na produção diferencial de IL-6 e redução das populações de Tregs. Paralelamente, a depleção da microbiota intestinal leva à recuperação da população de Tregs nos animais susceptíveis, além de diminuir os níveis de IL-6 secretados. Em conjunto, os dados demonstram que a microbiota intestinal, juntamente com o parasito, colabora para a produção diferencial de IL-6 e para o consequente comprometimento de Tregs em animais susceptíveis.

16

SOLANO-DIAS, M. “The microbiota-induced IL-6 production mediates Treg impairment during Toxoplasma gondii infection”. Dissertation, School of Medicine of Ribeirão Preto, University of São Paulo, Ribeirão Preto SP, 2015, 89 pg.

ABSTRACT

During this work, we evaluated the influence of microbiota in the IL-6 differential production and the Treg impairment during gut inflammation induced by T. gondii infection. In this context, sites of high antigenic exposure, such as the gastrointestinal tract requires sophisticated mechanisms for maintaining the tissue immune homeostasis. When such mechanisms fail, the local immune tolerance is broken and tissue injury may develop, resulting in the development of inflammatory intestinal disorders. The murine model of oral infection with T. gondii has been used to study the pathogenesis of such diseases. The C57BL/6 susceptible mice succumb during the acute phase of infection due to a strong Th1 response against the parasite and also against components of gut microbiota. On the other hand, BALB/c mice are resistant to T. gondii oral infection. Our data demonstrate that the progression of the inflammatory response in susceptible mice is associated to the impairment of regulatory T cells (Tregs). C57BL/6 mice produced high levels of IL-6 as compared to BALB/c mice. This phenomenon is associated with the collapse of Tregs, since IL-6-deficient C57BL/6 mice are resistant to infection, suggesting that the increased IL-6 production during T. gondii infection leads to Treg collapse. Accordingly, gut bacteria translocates from the gut to mesenteric lymph nodes during the infection. In parallel, we observed the over production of IL-12, IL-10, IL-6 in C57BL/6 mice. Indeed, in vitro experiments showed that bone marrow-derived macrophages and dendritic cells produced high levels of IL-6 after stimulation with the parasite or microbiota antigens. In vivo, during T. gondii infection, the major cell population infected by T. gondii was not only macrophages, but also, neutrophils and inflammatory monocytes, which produce high amounts of IL-6. Interestingly, after in vivo infection, bystander uninfected inflammatory monocytes and neutrophils are the major IL-6-producing population when compared to the parasite-infected cells. These data suggests that during T. gondii infection, these cell population might be primed other antigens rather than the parasite, such as the microbiota products. In agreement, NOD1, NOD2, TLR2, TLR4, TL9, TLR11 and TLR12 receptors, which are involved in parasite recognition, were not involved in Treg collapse and IL-6 over production. In this context, when the gut microbiota is depleted with antibiotics, the Tregs are restored and the IL-6 production is reduced. Taken together, the data show that during T. gondii

infection, the gut microbiota collaborates for the IL-6 production and Treg collapse.

17

1111---- IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

18

1- INTRODUÇÃO

As respostas imunológicas adaptativas são mediadas por eventos envolvendo a

interação entre células efetoras, auxiliares e moléculas expressas e/ou secretadas por

essas células, direcionamento para os padrões de resposta especializada, como um

resultado da diferenciação de linfócitos T em células Th1, Th2, Th9, Th17 e Th22

(Mosmann, Cherwinski et al. 1986; Veldhoen, Hocking et al. 2006; Veldhoen,

Uyttenhove et al. 2008; Eyerich, Eyerich et al. 2009). Existem ainda subtipos de

linfócitos responsáveis pelo controle das respostas imunológicas como as células T

reguladoras (Tregs). Tais células, denominadas inicialmente como T supressoras são

linfócitos inibidores da reposta imunológica Inicialmente, as Tregs foram caracterizadas

pela expressão de moléculas de superfície, como a cadeia α do receptor de IL-2 (CD25),

essencial para sua diferenciação e sobrevida. Em modelo murino, a identificação das

Tregs tem sido feita pela expressão do fator de transcrição Foxp3 (do inglês, forkhead

transcription factor) (Hori, Nomura et al. 2003). Vários subtipos de Tregs têm sido

descritos com base na sua origem, indução e mecanismos efetores as quais são subdivididas

em células Tregs tímicas e Tregs periféricas (Abbas, Benoist et al. 2013). As primeiras

emergem do timo com fenótipo supressor enquanto que as Tregs periféricas diferenciam-se

na periferia a partir de células T convencionais após a exposição aos antígenos e a sinais

como citocinas reguladoras (IL-10 e TGF-β)

A capacidade das Tregs em controlar respostas imunológicas é derivada de

vários mecanismos supressores, os quais incluem a privação de outras populações

celulares em obter IL-2 do microambiente tecidual através da captura de IL-2 por CD25

(Sakaguchi, Sakaguchi et al. 1995) e a secreção de citocinas reguladoras, como IL-10

(Hawrylowicz and O'Garra 2005), IL-35 (Collison, Workman et al. 2007) e TGF-β

(Joetham, Takeda et al. 2007). Também são capazes de promover a lise celular por meio

19

da liberação de grânulos de granzima e perforina (Gondek, Lu et al. 2005). Podem

ainda modular a função ou maturação de células dendríticas através da interação

dependente de CTLA-4 (Oderup, Cederbom et al. 2006). As Tregs também podem

exercer seus mecanismos supressores através da expressão das ectoenzimas CD39 e

CD73, as quais clivam ATP em adenosina e suprimem as células efetoras através do

receptor da adenosina 2A (A2AR) (Borsellino, Kleinewietfeld et al. 2007; Deaglio,

Dwyer et al. 2007).

A efetuação de uma resposta adequada pelas Tregs é essencial em sítios de alta

exposição antigênica, como o trato gastrointestinal. A importância dessas células nesse

sítio é notória em fenômenos como o da tolerância oral, situação em que ocorre

ausência de resposta imunológica local e sistêmica contra um determinado antígeno, a

qual pode ser induzida por administração oral de antígenos inócuos, como antígenos

alimentares. Esse mesmo processo também regula respostas para bactérias comensais do

intestino e está associado à prevenção de desordens intestinais, tais como alergia

alimentar, doença celíaca, e doenças inflamatórias do intestino. Populações

especializadas de células dendríticas atuam na indução da tolerância imunológica. Nesse

contexto, células dendríticas induzem Tregs, as quais se expandem na região da lâmina

própria intestinal e atuam na inibição de hipersensibilidade contra antígenos inócuos

(Pabst and Mowat 2012).

Na mucosa intestinal, o sistema imunológico é capaz de estabelecer uma

complexa relação com a microbiota residente. Normalmente esta relação é não

patogênica, havendo assim manutenção da homeostase local. No entanto, em

determinados casos, bactérias comensais podem ativar a imunidade inata e adaptativa

levando ao desenvolvimento de respostas contra antígenos alimentares e comensais

(Elson and Cong 2012). Consequentemente pode haver o desenvolvimento de processos

20

inflamatórios conhecidos como “Doenças Inflamatórias Intestinais” (Inflammatory

Bowel Diseases -IBDs), sendo a doença de Crohn e colite ulcerativa os tipos mais

comuns (Brugman and Nieuwenhuis 2010; Hooper, Littman et al. 2012).

As IBDs são caracterizadas por resposta imunológicas crônicas que afetam

diferentes porções do trato gastrointestinal. Durante a fase inflamatória, a progressão de

uma IBD resulta no aumento acentuado de linfócitos e monócitos ativados, sendo que

nas áreas afetadas, é tipicamente observada a ocorrência de hiperplasia linfoide, edema

submucoso, lesões ulcerativas e fibrose (Brugman and Nieuwenhuis 2010).

Experimentalmente são descritos vários modelos de indução de colite que

demonstram a importância de Tregs na homeostase intestinal e no desenvolvimento das

IBDs. O principal modelo se baseia na transferência de células T efetoras CD4+

CD45RBhigh para animais linfopênicos, como camunodongos deficientes para enzima

RAG (do inglês, Recombination-Activating Genes) e camundongos SCID (do inglês,

Severe combined immunodeficiency) (Coombes, Robinson et al. 2005; Kanai,

Kawamura et al. 2006). A ausência de células Tregs dentre as células TCD4+

CD45RBhigh transferidas para esses animais está associada ao desenvolvimento da

inflamação intestinal. Nesse sentido, a transferência de Tregs juntamente com células

efetoras TCD4+ CD45RBhigh previne o desenvolvimento de colite, demonstrando assim

a importância das Tregs na regulação do desenvolvimento de processos inflamatórios na

mucosa intestinal (Yu, Saruta et al. 2007; Reardon, Wang et al. 2008).

No contexto da mucosa intestinal, é possível que a invasão de microrganismos

possa causar a quebra da tolerância contra a microbiota comensal, além de modificações

na frequência das populações de bactérias residentes, ou seja, disbiose intestinal (Raetz,

Hwang et al. 2013) e consequentemente, induzir um padrão de inflamação semelhante

ao que ocorre durante as IBDs. Desse modo, diferentes patógenos podem ser utilizados

21

como modelo na indução de inflamação intestinal, como o protozoário Toxoplasma

gondii. (Liesenfeld 2002).

Experimentalmente, diferentes linhagens de camundongos respondem de modo

distinto à infecção por esse parasito, sendo, portanto resistentes ou susceptíveis

(Johnson 1984). Dessa forma, ao se inocular 100 cistos da cepa ME-49 de T. gondii em

camundongos da linhagem C57BL/6, observa-se mortalidade desses animais após sete

dias de infecção, ao passo que camundongos BALB/c progridem para a fase crônica da

doença (Liesenfeld 2002).

No que se refere à fase aguda, a infecção oral leva ao desenvolvimento de

inflamação intestinal nos camundongos susceptíveis (C57BL/6), causada pela quebra da

tolerância à microbiota do intestino delgado (Heimesaat, Bereswill et al. 2006).

Camundongos C57BL/6 germ free (deficientes da microbiota intestinal), são resistentes

ao desenvolvimento dessa resposta inflamatória após infecção por T. gondii (Raetz,

Hwang et al. 2013). Por outro lado, animais C57BL/6 que possuem microbiota

desenvolvem a doença, a qual é caracterizada pelo desenvolvimento de necrose grave

no íleo, local no qual as vilosidades intestinais e mucosas tornam-se seriamente

comprometidas, ao passo que camundongos BALB/c não apresentam tais alterações

(Liesenfeld, Kosek et al. 1996). Dessa forma, a microbiota assume um papel crucial na

inflamação intestinal durante a infecção por T.gondii.

A patogênese da doença intestinal induzida pelo parasito está associada à

capacidade da infecção por T. gondii em modular fortemente a resposta imunológica

adaptativa, induzindo uma intensa resposta de padrão Th1 na lâmina própria, que se

caracteriza pela alta produção de IFN-γ por linfócitos TCD4+ e TCD8+ (Khan, Smith et

al. 1988). No entanto, deve-se ressaltar que a produção de IFN-γ é essencial para a

eliminação do parasita, visto que animais deficientes para a produção dessa citocina

22

sucumbem à infecção. Assim, a exacerbação da resposta Th1 é o fator associado ao

desenvolvimento da inflamação intestinal durante a infecção por T.gondii (Liesenfeld,

Kosek et al. 1996).

Durante a toxoplasmose experimental, a resposta imunológica inicia-se pela

ativação de células apresentadoras de antígenos (APCs), localizadas no sítio da infecção

(lâmina própria) que migram para os órgãos linfoides onde ativam células TCD4+ que

passam a produzir IFN-γ (Gazzinelli, Wysocka et al. 1994). IFN-γ juntamente com

TNF-α (do inglês, tumor necrosis fator) levam à ativação de fagócitos como

macrófagos e monócitos inflamatórios, os quais produzem altos níveis de intermediários

reativos de oxigênio, fator essencial para o controle do parasito (Kasper, Courret et al.

2004). A interação de taquizoítos com receptores da imunidade inata induz a produção

de IL-12, TNF-α e outras citocinas pró-inflamatórias por esses fagócitos. A citocina IL-

12 produzida pelas células da imunidade inata leva à diferenciação de linfócitos Th1

(Sher, Denkers et al. 1995). Ainda durante a infecção por T. gondii, ocorre a produção

de IFN-γ pelas células NK (do inglês, natural killers) (Sher, Oswald et al. 1993).

Para que ocorra a produção de IL-12 por meio de mecanismos associados à

imunidade inata, durante a toxoplasmose, há a necessidade de o parasito ser reconhecido

por receptores do hospedeiro. Desse modo, os TLRs (do inglês, Toll-Like Receptors)

tem um papel importante no processo. Assim, camundongos deficientes para a molécula

adaptadora MyD88 (do inglês, myeloid differentiation factor-88), necessária durante a

sinalização da maioria dos TLRs, são susceptíveis à fase aguda da toxoplasmose, pois

apresentam falha na produção de IL-12 e IFN-γ e consequentemente não sobrevivem à

infecção pela cepa ME-49 de T. gondii (Scanga, Aliberti et al. 2002).

Existem TLRs específicos implicados na resposta imunológica durante a

infecção com T. gondii, incluindo os TLR2, TLR4, TLR9, TLR11 e TLR12. TLR11 e

23

TLR12 estão envolvidos no reconhecimento e resposta a profilina (Yarovinsky, Zhang

et al. 2005; Jenkins, Tuo et al. 2010), enquanto TLR2 e TLR4 reconhecem glicosil

inositol fosfolipídios (GPIs) presentes na superfície do parasito (Debierre-Grockiego,

Campos et al. 2007). Além disso, em decorrência da infecção oral por T. gondii,

antígenos bacterianos do intestino ativam TLR2, TLR3 e TLR9 o que contribui para o

desenvolvimento da resposta imune Th1 (Benson, de Jongh et al. 2010). Nesse

contexto, camundongos deficientes para TLR2 sucumbem apenas quando infectados

com altas cargas do parasito (Scanga, Aliberti et al. 2002).

O receptor intracelular TLR11, tem um importante papel durante a infecção

induzida por T. gondii. Ele interage com UNC93B1, proteína residente no retículo

endoplasmático, a qual é essencial para o reconhecimento do parasito por células

dendríticas, via interação TLR11 (Pifer, Benson et al. 2011). Essa interação leva à

produção de IL-12 via sinalização por MyD88 (Pifer, Benson et al. 2011). Desse modo,

tais animais são capazes de sobreviver à fase aguda da doença, apresentando, porém,

elevado número de cistos cerebrais e resistência prejudicada durante a fase crônica

(Yarovinsky, Zhang et al. 2005). Além de TLR11, TLR12 também está implicado no

reconhecimento de profilina e e indulççao da produção de IL-12 e IFN-γ. Recentemente

relatou-se que homodímeros de TLR-12 ou heterodímeros de TLR-12/11 também são

capazes de reconhecer profilina associada à T. gondii e induzir assim, a produção de IL-

12 e IFN-γ (Koblansky, Jankovic et al. 2013).

Os receptores da família NLR (do inglês, NOD-like receptor) também são

importantes sinalizadores da imunidade inata e atuam no reconhecimento de PAMPS

(do inglês, pathogen-associated molecular pattern) intracelulares. Membros dessa

família, os receptores NOD1 e NOD2 reconhecem fragmentos de peptideoglicano de

bactérias. Desse modo, o ácido γ-D-glutamil-meso-diaminopimélico, característico de

24

bactérias Gram negativas estimula a sinalização por NOD1 (Girardin, Boneca et al.

2003). Já NOD2 é ativado por MDP (do inglês, muramyl dipeptide), um constituinte do

peptideoglicano presente tanto em bactérias Gram positivas quanto Gram negativas

(Girardin, Boneca et al. 2003). O papel dos NLR durante a infecção experimental por T.

gondii é controverso. Inicialmente foi demonstrado por Shaw e colaboradores (2009)

que o receptor NOD2 tem importante papel na defesa do hospedeiro contra o parasito.

Nesse trabalho, foi verificado que camundongos deficientes de NOD2 apresentam baixa

produção de IL-2 associada a pouca proliferação de células T auxiliares (Shaw, Reimer

et al. 2009). Em contrapartida, Caetano e colaboradores (2011) afirmam que NOD2 não

possui papel importante na defesa contra T. gondii, uma vez que animais deficientes em

NOD foram capazes de induzir resposta Th1 durante a infecção pelo parasito (Caetano,

Biswas et al. 2011).

Durante as respostas imunológicas nas regiões das mucosas intestinais, subtipos

de células dendríticas desempenham importante papel no combate às infecções e na

regulação e indução da resposta imunológica adaptativa. Entre os subtipos existentes,

ocorrem duas subpopulações principais de células dendríticas migratórias, ambas

caracterizadas pela expressão do marcador CD103 e diferenciadas pela expressão ou

não de CD11b, havendo portanto, células CD103+CD11b+ e CD103+CD11b-

(Grainger, Askenase et al. 2014). As células CD103+CD11b+ estão presentes em

tecidos mucosos não linfoides como a lâmina própria e possuem a capacidade de migrar

para o linfonodo mesentérico após a captura do antígeno (Varol, Vallon-Eberhard et al.

2009). Já as células CD103+CD11b- estão presentes em abundância nas placas de Peyer

e em folículos linfoides (Wang, Kim et al. 2005). No microambiente da mucosa

intestinal existe ainda uma população de APCs derivadas de monócitos e outros

precursores e que não expressam CD103, mas expressam CD11b (Bogunovic, Ginhoux

25

et al. 2009). Essa subpopulação contém células dendríticas e macrófagos, que podem ser

identificados pela expressão do receptor de quimiocina CX3CR1, ao contrário das

células dendríticas (Bogunovic, Ginhoux et al. 2009). No contexto das respostas

imunológicas da mucosa intestinal, as células CD103-CD11b+ estão relacionadas à

produção de IL-12 e indução do padrão Th1 de resposta (Merad et al, 2013; Denning et

al, 2011; Cerovic et al, 2013). Já as células CD103+CD11b+ e CD103+CD11b- são

importantes na manutenção da homeostase e tolerância intestinal (Coombes et al, 2007;

Grainger et al, 2014). Essas células migram para os linfonodos mesentéricos,

metabolizando ácido retinóico e TGF-β e participam da indução de células T

reguladoras. Desse modo, animais deficientes para IRF4, importante para o

desenvolvimento e manutenção das células CD103+CD11b+, apresentam falhas na

indução de tolerância oral, devido à redução de células Tregs. As células dendríticas

CD103+CD11b+ também atuam na produção de IL-6 e IL-23, e assim induzem células

do padrão Th17 no intestino (Kinnebrew, Buffie et al. 2012; Persson, Uronen-Hansson

et al. 2013).

A infecção oral por T. gondii é capaz de levar a um desbalanço na regulação da

resposta imunológica da mucosa intestinal por diferentes vias: induzindo recrutamento

de populações de células inflamatórias, alterando o balanço de subpopulações de células

dendríticas ou ainda, modulando a função e sobrevida das células Treg. Desse modo,

dados do nosso grupo e da literatura demonstram a redução significativa do número e da

função supressora da população de células Treg na placa de Peyer, linfonodo

mesentérico e lâmina própria de camundongo susceptível C57BL/6 (Oldenhove,

Bouladoux et al. 2009). O colapso da população de Tregs durante a infecção é um dos

fenômenos determinantes para a susceptibilidade à doença. Oldenhove e colaboradores

26

(2009) mostraram que tal fenômeno está associado à diminuição da disponibilidade de

IL-2 que ocorre no microambiente intestinal após a infecção pelo parasito (Oldenhove,

Bouladoux et al. 2009; Benson, Murray et al. 2012). Outras citocinas como IL-6

também podem exercer influência negativa na atividade das células Treg (Fujimoto,

Nakano et al. 2011). Desse modo, a atividade de Tregs periféricas fica prejudicada em

camundongos que produzem quantidades relativamente altas de IL-6 (Fujimoto, Nakano

et al. 2011). A citocina IL-6 também pode atuar na modificação do fenótipo das células

Tregs, inativando a expressão do gene Foxp3 em células Treg tímicas, resultando assim

na perda da capacidade supressora dessas células, e até mesmo na induzindo conversão

de Tregs em outras populações celulares (Kastner, Dwyer et al. 2010).

De uma maneira geral, a resposta inflamatória induzida pela interação do

parasito ou de componentes da microbiota com receptores da imunidade inata pode

colaborar tanto para o controle do parasito, quanto para a patogênese da doença

inflamatória intestinal.

Portanto, desvendar as vias de sinalização da imunidade inata envolvidas na

potencialização da produção da citocina IL-6 e comprometimento das Tregs, bem como

os mecanismos envolvidos no controle de manutenção das Tregs em sítios de alta

exposição antigênica durante a infecção por T. gondii, torna-se importante para o

entendimento geral das reposta imunológicas em mucosas.

27

28

2222---- OBJETIVOSOBJETIVOSOBJETIVOSOBJETIVOS

2 - OBJETIVOS

Objetivo geral

Determinar o papel da produção de IL-6 induzida via receptores da imunidade

inata sobre os mecanismos envolvidos na manutenção da população de células Treg

durante a inflamação intestinal desenvolvida após infecção por T. gondii.

Objetivos específicos

1) Caracterizar a dinâmica de produção de IL-6 e a disbiose da microbiota intestinal

em camundongos resistentes (BALB/c) e susceptíveis (C57BL/6) à infecção por T.

gondii e que apresentam manutenção ou eliminação de células Treg durante a

progressão da doença. Paralelamente, identificar se existe correlação entre

produção de IL-6 e redução de Tregs no intestino dos animais.

2) Identificar as células responsáveis pela produção de IL-6 durante a infecção in vitro

e in vivo por T. gondii em camundongos C57BL/6.

3) Determinar os mecanismos envolvidos na produção de IL-6 por macrófagos,

monócitos e células dendríticas: identificar os receptores da imunidade inata

envolvidos na produção de IL-6 induzida pelo parasito in vitro e in vivo.

29

3333---- MATERIAL E MATERIAL E MATERIAL E MATERIAL E MÉTODOSMÉTODOSMÉTODOSMÉTODOS

30

3- MATERIAL E MÉTODOS

3.1- Animais

Foram utilizados camundongos selvagens da linhagem BALB/c e C57BL/6, e

destituídos dos genes de RIP2 (RIP2-/-), NOD1 (NOD1-/-) e 2 (NOD2-/-), TLR2 (TLR2-

/-), 4 (TLR 4-/-), 9 (TLR 9-/-), 11/12 (TLR11/12-/-) e MyD88 (MyD88-/-), cujo

background era C57BL/6. Os animais tinham entre 6 e 8 semanas de idade, sendo os

selvagens obtidos do Biotério Central do Câmpus da USP de Ribeirão Preto e os

deficientes do Biotério de Animais Especiais da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto (FMRP-USP). Foram mantidos no biotério do Departamento de Bioquímica e

Imunologia da FMRP-USP em estantes micro-isoladoras, providas de ar filtrado, com

livre acesso à água e ração, previamente esterilizados. Os camundongos TLR11/12-/-

foram doados pelo Dr. Alan Sher (National Institutes of Health - NIH, Bethesda, EUA),

e mantidos no biotério de camundongos do NIH. Todos os experimentos foram

desenvolvidos de acordo com os Princípios Éticos na Experimentação Animal adotado

pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) – Protocolo para Uso de

Animais em Experimentação n°105/2013.

3.2- Parasito e infecção

Para a manutenção da cepa ME-49 selvagem ou RFP (do inglês, Red Fluoresent

Protein) de T. gondii, camundongos C57BL/6 foram inoculados com 10 cistos do

parasito no peritônio. Os cistos foram obtidos a partir do macerado de cérebro coletado

de animais com 30 a 60 dias de infecção, quantificados em microscópio de luz ou de

fluorescência (no caso da cepa ME-49 RFP) e diluídos para uma concentração de 20

cistos/200 µL de solução salina tamponada com fosfato a 10 mM PBS (do inglês,

31

Phosphate Buffered Saline). A infecção foi realizada pela inoculação de 200 µL por

gavagem.

3.3- Obtenção e purificação de anticorpo monoclonal contra CD25

Para obtenção do anticorpo contra a molécula de superfície CD25, células do

hibridoma PC61 foram cultivadas em meio RPMI (1640-Medium, Sigma, St. Louis,

EUA) completo com 5% de soro bovino fetal - SBF (GIBCO, Grand Island, USA), 1%

de L-glutamina, Sigma, St. Louis, 1% de penicilina -10,000 Unidades/mL,

estreptomicina 10000μg/mL, GIBCO, Grand Island, USA). Uma vez confluentes nas

garrafas de cultura, as células foram coletadas e 2,5 × 106 células foram inoculadas no

peritônio de camundongos nude da linhagem BALB/c, previamente tratados com 500

µL de óleo mineral. Dez dias após o inóculo do hibridoma, foi coletado o líquido

ascítico do peritônio dos camundongos. Após coletar o líquido ascítico, este foi

centrifugado por 10 minutos, 332 × g, 4ºC, para retirada das hemácias. O líquido foi

então congelado a -20ºC e mantido nessas condições até a realização do protocolo de

precipitação de proteínas para a obtenção dos anticorpos monoclonais contra CD25.

As amostras de líquido ascítico foram descongeladas e centrifugadas por 20

minutos, 332 × g, 4ºC, e toda a camada de lipídeos presente no sobrenadante foi

descartada. A amostra então foi incubada a 56ºC por 45 minutos para inativação de

proteínas do complemento. Ao líquido ascítico foi adicionada lentamente por

gotejamento a solução saturada de sulfato de amônio [(NH4)2SO4], num volume

suficiente para que a amostra ficasse com saturação final de 45%, segundo a fórmula

abaixo indicada:

Volume de sulfato de amônio saturado = 1 (Saturação Final – Saturação Inicial)

Volume de líquido ascítico 1 – Saturação Final

32

A solução permaneceu em agitação por 30 minutos no gelo e então foi incubada

a 4ºC permanecendo nesta temperatura até o dia seguinte, quando a amostra foi

novamente centrifugada por 30 minutos, a 332 × g, 4ºC O sobrenadante foi descartado e

o material precipitado foi diluído em 20 mL de PBS. A amostra então foi colocada em

sacos de membranas semipermeáveis, os quais permaneceram embebidos em 2L de

PBS (trocados por três vezes ao dia), sob agitação a 4ºC para realização do processo de

diálise. A comprovação da presença do anticorpo contra CD25 foi feita por meio de gel

de poliacrilamida SDS PAGE.

3.4- Diferenciação de Macrófagos e de Células Dendríticas

Para a obtenção de macrófagos, as células da medula óssea foram extraídas do

fêmur de camundongos C57BL/6, BALB/c e de nocautes e foram cultivadas na

presença de meio RPMI (Sigma) contendo 10% de SBF e 30% de sobrenadante de

cultura de células L929 (LCCM) em placas de Petri (BD Optilux, Franklin Lakes, EUA)

e incubadas a 37ºC em uma atmosfera de 5% de CO2 por 7 dias. Para a obtenção de

células dendríticas, as células da medula óssea foram cultivadas na presença de 10 mL

de meio RMPI completo contendo 10% de SBF, 1% de L-Glutamina e 1% de penicilina

e 20 μg/mL de GM-CSF (Pepro-Tech, Rocky Hill, EUA), em placas de Petri e incubadas

a 37ºC em uma atmosfera de 5% de CO2 por 7 dias.

As células diferenciadas foram infectadas ou não com 1 taquizoíto de T. gondii

para cada 10 células ou estimulados ou não com 10 µg/ml de STAg (do inglês, Soluble

T.gondii antigen) ou 10 µg/ml de lisado de Escherichia coli.

33

3.5- Preparo das amostras de macerado intestinal

Para avaliar a presença de citocinas no sítio da infecção por T. gondii, o intestino

delgado de camundongos infectados ou não foi coletado e incluído em 2 mL de inibidor

de protease (CompleteTM, Roche, Alemanha) e congelado imediatamente em nitrogênio

líquido. As amostras foram mantidas congeladas a -70°C até o processamento. Para o

processamento, as amostras foram descongeladas a 4°C e trituradas com homogenizador

mecânico. As amostras foram centrifugadas a 500xg, 4°C e o sobrenadante foi

armazenado a -70°C até a dosagem das citocinas.

3.6- Detecção de citocinas por ensaio imunoenzimático

As concentrações das citocinas IL-6, IL-10, e IL-12 foram mensuradas no

macerado intestinal e a citocina IL-6 no sobrenadante de macrófagos e células

dendríticas diferenciados a partir de medula óssea pelo método de ensaio

imunoenzimático (ELISA). As reações foram feitas seguindo as instruções do

fabricante, Duoset R&D (Minneapolis, EUA) e OpTEIA, BD Bioscience (San Diego,

EUA). Placas de poliestireno de 96 poços (Costar, Corning, EUA) foram sensibilizadas

com anticorpos de captura e incubadas overnight a 4°C. Após a incubação, as placas

foram lavadas com PBS/Tween 0,05% em lavadora automática (Immunowash157, Bio-

Rad Lab, EUA). Foi feito o bloqueio dos sítios inespecíficos na placa com tampão

indicado pelo fabricante (BSA a 1% em PBS). Posteriormente, as amostras e a curva

padrão da reação (50 µL/poço) foram adicionadas, seguido de um tempo de 2 horas de

incubação. Após incubação, adicionou-se o anticorpo de detecção biotinilado e a

peroxidase. Após a etapa de lavagem foi adicionado a peroxidase como substrato e o

indicador de reação tetrametilbenzidina (TMB, KPL, Gaithersburg, EUA). A reação foi

finalizada pela adição de H2SO2 2N e a densidade óptica das amostras determinadas a

34

450 nm em leitor de placa (EMax, Molecular Devices Corporation®, Sunnyvale, EUA).

Os resultados da leitura da densidade óptica das amostras foram interpolados na curva

padrão para a obtenção da concentração final da citocina.

3.7- Avaliação da translocação bacteriana

Para extração das bactérias possivelmente translocadas para baço e linfonodos

mesentéricos, foi feito macerado desses órgãos utilizando-se o êmbolo de uma seringa

de 3 mL e Cell Strainer (BD-Falcon, One River Front Plaza, EUA) e ressuspendendo-se

o material extraído em 1 mL de PBS estéril. Posteriormente, duas alíquotas (10 µL e

100 µL) da suspensão celular foram espalhadas ágar BHI (Brain Heart Infusion) e

acondicionadas em estufa a 37°C por 48 horas para a contagem das unidades

formadoras de colônia.

3.8- Extração de células da lâmina própria intestinal

As células da lâmina própria foram extraídas a partir da digestão do intestino

delgado coletado de camundongos infectados ou não com 20 cistos de T. gondii. Para

tal, foram removidas as placas de Peyer intestinais e as fezes. Posteriormente, os

intestinos foram fragmentados em segmentos de 2 centímetros e incubados sob

agitação, a 37°C, em 20 mL de meio RPMI contendo 3% de SBF, 5 mM de EDTA e

0,145 mg/mL de DTT (Dithiotheitol, Gaithersbug, USA), por 20 minutos. Após

incubação, os fragmentos foram agitados em meio RPMI incompleto (contendo 2 mM

de EDTA) e passados em peneira de metal por 3 vezes (descartando-se a cada vez o

meio) para a remoção dos linfócitos intra-epiteliais. Em seguida, os segmentos foram

fragmentados e transferidos para 3 mL de meio RPMI incompleto contendo 0,05% de

DNAse (Sigma, St. Louis, EUA), 0,2 mg/mL de Liberase TL (Roche, Indianápolis,

35

EUA) e incubados sob agitação, a 37°C, por 30 minutos. Na sequência, foram

adicionados 20 mL de meio RPMI completo contendo 3% de SFB para inibir a

atividade das enzimas de digestão. O material foi transferido para Cell Strainner de 70

µm e macerado. Após centrifugação (332 × g, 4°C, 10 minutos), o sobrenadante foi

descartado e adicionado 10 mL de meio RPMI completo contendo 3% de SBF, sendo o

material transferido e filtrado em Cell Strainer de 40 µm e centrifugado. O

sobrenadante foi descartado e as células ressuspensas em 1 mL de meio RPMI completo

contendo 5% de SBF e contadas.

3.9- Marcações de moléculas de superfície e intranucleares para citometria de

fluxo

As células obtidas a partir do linfonodo mesentérico e lâmina própria foram

marcadas com anticorpos monoclonais conjugados a fluorocromos para identificação

celular através de citometria de fluxo. Para marcação de moléculas de superfície celular,

1 × 106 células do linfonodo mesentérico ou da lâmina própria foram incubadas por 30

minutos em solução contendo 10% de soro de coelho inativado e anticorpos

monoclonais conjugados a fluorocromos, de acordo com a marcação desejada e

incubados por 30 minutos no escuro.

Para a marcação de moléculas intracelulares, como fator de transcrição, as células

obtidas dos órgãos de interesse foram fixadas e permeabilizadas com o auxílio dos

tampões providos pelo kit comercial (Foxp3/Transcription Factor

Fixation/Permeabilization Concentrate and Diluent e-Bioscience). Após

permeabilização, as células foram incubadas por 1 hora em solução contendo 10% de

soro de coelho inativado e anticorpos monoclonais conjugados a fluorocromos para

marcação intracelular e de superfície. Posteriormente, as células foram lavadas com

36

PBS. Para análise de citometria, foram adquiridos de 200.000 a 1.000.000 eventos de

cada amostra em citômetro de fluxo Canto II (BD – Biosciences) ou Fortesa (BD –

Biosciences). Para análise das populações de células T reguladoras utilizamos os

anticorpos anti-CD3 (clone 1452C11-BD- Biosciences), anti-CD4 (clone RM4-4-BD-

Biosciences), Foxp3 (clone MF23-BD-Bioscience). Os dados foram analisados com

auxílio do software FlowJo (TreeStar).

3.10- Extração de RNA e reação por qPCR

Para a análise da expressão gênica das citocinas IL-6 foi utilizada a reação em cadeia

da polimerase quantitativa em tempo real (qPCR, quantitative polymerase chain

reaction), foi feito o máster mix utilizando-se: SYBR Green (Promega, Madison, EUA),

IL-6 foward e IL-6 reverse em água livre de nuclease. A leitura foi feita por meio do

equipamento GeneAmp7700 (Applied Biosystems, EUA). Para tal, foram coletadas

amostras dos segmentos intestinais (duodeno, jejuno e íleo) de camundongos selvagens

e deficientes para os seguintes receptores da imunidade: NOD1, NOD2, Myd88, TLR2,

TLR4 e TLR9, infectados ou não. As amostras foram armazenadas e trituradas em

reagente de Trizol (Invitrogen, Carlsbad, EUA) e o RNA foi extraído utilizando-se kit

comercial “Total Isolation System” (Promega, Madison, EUA), de acordo com as

recomendações do fabricante. Após isolamento do RNA das amostras, foi sintetizado o

cDNA pela reação da enzima transcriptase reversa, de acordo com as recomendações do

kit “High Capacity cDNA Reverse Transcriptio Kit” (Applied Biosystems, Foster City,

EUA) . O cDNA foi construído a partir de 1µg do RNA obtido. Após a quantificação do

cDNA, a expressão dos genes de interesse foram determinadas por qPCR com as

seguintes condições de ciclagem: 2 minutos a 50°C, 10 minutos a 95°C e quarenta

ciclos de 15 segundos a 95°C e 1 minuto a 60°C e um último ciclo de vinte minutos

37

com temperatura crescente de 60° a 95°C. Os resultados foram analisados com base no

valor de CT (CT, do inglês, cycle threshold) ou ponto de corte, que compreende o

número de ciclos onde a amplificação atinge um limiar de detecção permitindo a análise

quantitativa do gene alvo. A expressão relativa do gene alvo foi estimada pela fórmula

2-∆∆CT onde o ∆CT = CT do gene alvo - CT do gene endógeno (β-actina) e o ∆∆ct =

∆CT da amostra - ∆CT da amostra controle.

3.11-Tratamento dos camundongos para depleção da microbiota intestinal

A depleção das bactérias da microbiota intestinal foi realizada como

previamente descrito (Hand, Dos Santos et al. 2012). De forma resumida, foi

administrada diariamente aos camundongos a seguinte combinação de antibióticos: 5

mg de trissulfato de neomicina (Sigma), 2,5 mg de vancomicina (Sigma), 5 mg de

metronidazol 5 mg/dia (Sigma) e 5 mg de ampicilina sódica (Sigma). A combinação de

antibióticos foi diluída em 200 μL de água por animal, a qual foi administrada via

gavage oral por 30 dias.

3.12- Detecção de células produtoras de citocinas por citometria de fluxo

Células dos linfonodos mesentéricos e lâmina própria foram isoladas e

cultivadas em meio RPMI 1640 suplementado com 5% de SBF, 1% de penicilina /

estreptomicina, HEPES (Sigma), 1% de L-glutamina (Sigma, St Louis, EUA),

aminoácidos não essenciais (GIBCO, Grand Sland EUA), e 50 mM de β-

mercaptoetanol na presença de 500 ng / mL de ionomicina (Sigma, St Louis, EUA), 50

ng / mL de forbol 12-myristrate 13 acetato (PMA - Sigma, St Louis, EUA) e 1 µg / mL

de Stop Golgi (TM - BD – Biociences, San Diego, EUA). Depois de 4 horas, as células

foram coletadas e marcadas para moléculas de superfície. Após a marcação de

38

superfície, as membranas celulares foram permeabilizadas para a marcação de citocinas

intracelulares. Para tal, as células estimuladas foram coletadas e primeiramente fixadas

com tampão de fixação (PBS / paraformoldeído 2%) por 10 minutos a temperatura

ambiente. Após esta etapa, as células foram lavadas com tampão (1% de SBF em PBS)

e, posteriormente, ressuspensas em 1 mL de tampão de permeabilização (SFB a 1%,

azida sódica a 0,1%, saponina a 0,5% em PBS). As células foram então centrifugadas,

lavadas novamente com tampão de permeabilização e ressuspensas em tampão de

bloqueio (tampão de permeabilização com 10% de soro de coelho inativado) e com

solução contendo anticorpos monoclonais conjugados a fluorocromos específicos para

as citocinas. Após incubação por 1 hora, as células foram novamente lavadas, e a

produção de citocinas por cada subtipo celular foi avaliada por citometria de fluxo. Para

a marcação de citocinas produzidas por monócitos, macrófagos e células dendríticas, as

amostras foram cultivadas por 2 horas na presença de Stop Golgi (TM - BD –

Biociences, San Diego, EUA), e as células foram marcadas com anticorpos

monoclonais específicos para CD11b (clone M1/70- BD -Biosciences), CD11c (clone

N418- BD - Biosciences), Ly6C (clone HK1.4- BD - Biosciences), Ly6G (clone RB6-

8C5-BD-Biosciences), moléculas do MHC classe II (clone M5/114.15.2 -BD -

Biosciences), CD103 (clone 2E7- BD - Biosciences), permeabilizadas e marcadas para

as citocinas, IL-6 (clone MP5-20F3- BD - Biosciences) e IL-12 (clone C15.6 - BD -

Biosciences). Para a marcação de IFN-γ produzidos por células TCD4, utilizamos

anticorpos monoclonais específicos para: CD3 (clone 1452C11-BD- Biosciences), CD4

(clone RM4-4-BD- Biosciences) e IFN-γ (clone XMG1.2 - BD - Biosciences).

39

3.13 – Análise Histopatológica

Para observação da morfologia e alterações histológicas no intestino dos animais

infectados e não infectados, segmentos do intestino delgado foram coletados após o 8°

dia de infecção. O intestino foi seccionado em três partes: duodeno, jejuno e íleo. O

tecido coletado foi fixado em formol 10% tamponado com fosfato dissódico de potássio

(Na2PO4) e fosfato monossódico hidratado (NaH2PO4H2O) e após 18 a 24h de fixação,

os tecidos foram submetidos à bateria de desidratação com o uso de concentrações

crescentes de álcool e posteriormente xilol. Os fragmentos foram incluídos em parafina

e cortes de 5 μm de espessura dos tecidos foram obtidos com o auxílio de um

micrótomo (Leica, Nussloch, Alemanha). Os cortes foram dispostos em lâminas e

depois incubados a 60°C para fixação em estufa (overnight), para inicio do processo de

retirada de parafina. Em seguida as lâminas foram passadas em xilol e reidratadas com

concentrações decrescentes de álcool (99% - 70%). Os cortes foram então corados com

hematoxilina e eosina.

3.14- Análise de citometria de fluxo.

As análises das populações celulares envolvidas na resposta imunológica durante

infecção por T. gondii foram feitas utilizando o software FlowJo V10. A determinação

dos tipos celulares foi baseada na marcação por anticorpos conjugados a fluorocromos.

Desse modo, após aquisição das amostras por meio do citômetro de fluxo, foi excluída,

por meio de parâmetros baseados em área (FSC-A) e altura (FSC-H), os dados

referentes à fragmentos de células mortas e grumos de células que possam de alguma

maneira interferir na análise. As análises relacionadas à expressão de Foxp3 (células

Treg) e IFN-γ (células Th1) foram feitas em relação às populações de linfócitos, as

quais foram delimitadas baseadas nos parâmetros de tamanho por granulosidade (FSC-

40

A/SSC-A), sendo tal população caracterizada por pequeno tamanho e pouca

granulosidade. Dentro da população de linfócitos, analisou-se a expressão das moléculas

CD3 e CD4, delimitando-se as células CD3+CD4+. Dentro dessas células duplo

positivas, analisou-se a expressão do fator de transcrição Foxp3 e da citocina IFN-γ,

obtendo-se uma porcentagem relativa à população CD3+CD4+ e um número baseado no

total de células extraídas dos órgãos coletados (lâmina própria intestinal e linfonodo

mesentérico) .

Com relação às análises de monócitos inflamatórios e neutrófilos, após a

exclusão dos detritos, delimitou-se uma população de células com maior tamanho e

maior granulosidade. Dentro dessa população analisou-se as células expressando as

moléculas de superfície Ly6C e CD11b, delimitando-se uma população nas células

duplo positivas (Ly6C+CD11b+). Dentro dessa população, analisou-se a expressão das

moléculas de MHC de classe II e Ly6G. As células MHCII+ Ly6G- foram delimitadas

como monócitos inflamatórios. Já a população MHCII-Ly6G+ foi delimitada como

neutrófilo. Também se analisou as populações de células apresentadoras de antígenos

(APCs). Essas células foram marcadas a partir da expressão das molécuças do MHC de

classe II e CD11c dentro da população de granulócitos, delimitando-se uma gate nas

células duplo positivas (MHCII+CD11c+). Dentro dessa população, analisou-se a

expressão das moléculas CD11b e CD103. A partir dessas moléculas pôde-se

estabelecer 3 populações celulares, sendo elas as células dendríticas CD103+CD11b-,

CD103+CD11b+ e APCs CD103-CD11b+, que contém tanto macrófagos intestinais,

quanto células dendríticas. Dentro de cada uma dessas populações, analisou-se a

produção das citocina IL-6, obtendo-se uma porcentagem relativa à produção dessas

citocinas por cada uma dessas populações e um número baseado no total de células

extraídas dos órgãos coletados (lâmina própria intestinal ou linfonodo mesentérico). A

41

produção de IL-6 por células infectadas ou não foi avaliada de acordo com a produção

de IL-6 em células RFP+ (infectadas) e RFP-(não infectadas).

3.15- Análises estatísticas dos resultados

Os dados foram expressos a partir da média ± desvio padrão e comparados

usando-se análise de variância (ANOVA) seguida pelo teste de Tukey em experimentos

com mais de dois grupos. No caso de experimentos com apenas dois grupos

experimentais, foi utilizado a análise com teste t de Student (não-pareado). O software

utilizado foi o Prisma 5.0 (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA). Os testes

Mantel-Cox e qui-quadrado foram utilizados para comparar a taxa de sobrevivência dos

grupos experimentais.

42

4444---- RESULTADOSRESULTADOSRESULTADOSRESULTADOS

43

4-RESULTADOS

4.1- Resposta imune adaptativa após infecção oral por T. gondii. Inicialmente, avaliamos a população de células Treg e o padrão de resposta

imunológica durante a fase aguda da infecção oral por T. gondii. Para tal, camundongos

C57BL/6 foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 e após 8 dias de infecção, as

populações de células T CD4+ expressando os fatores de transcrição Foxp3, T-bet e

GATA3 foram identificadas em células da lâmina própria do intestino delgado por

citometria de fluxo. Quando comparamos animais infectados com os controles não

infectados, observamos que no sítio da infecção houve uma redução do número total de

células Treg (Figura 1A), bem como o estabelecimento de um padrão de resposta Th1,

determinado pelo aumento do número absoluto de células T CD4+T-bet+ e de células T

CD4+ produtoras de IFN-γ (Figura 1B). Também verificamos redução do número

absoluto de células T CD4+ produtoras de IL-17 (Figura 1A, 1B) e de Tregs

expressando o fator de transcrição GATA3 no sítio infeccioso (Figura 1C). Portanto, a

infecção por T. gondii induz ativação de células Th1 e colapso das células Treg em

camundongos susceptíveis.

44

Figura 1: Caracterização das populações de linfócitos T CD4+ durante infecção oral por T. gondii.

Camundongos C57BL/6 foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. Oito dias após

infecção, o número absoluto da população de células T CD4+TCRβ+expressando os fatores de transcrição

Foxp3, T-bet e GATA3, bem como as células T CD4+TCRβ+ produtoras de IFN-γ e IL-17 foram avaliadas

na lâmina própria do intestino delgado por citometria de fluxo. (A) As populações de células Tregs e Th1

foram identificada pela expressão Foxp3 e T-bet, respectivamente em células Thy1.2+TCRβ+CD4+ . (B) A

produção IFN-γ e IL-17 foi avaliada dentro da população de células Thy1.2+TCRβ+CD4+. (C) A

população de células Foxp3+GATA3+ foi avaliada dentro da população de células Thy1.2+TCRβ+CD4+ .

Dados representados como ± desvio padrão da média. Os resultados foram obtidos com 4 animais por

grupo em dois experimentos independentes.* P < 0,05

0

1

2

3

4

7.5

15.0 F

oxp3

+C

D4

+(x

10

4)

*

0

5

10

15

Tb

et+

CD

4+ (

x10

4)

*

0

20

40

60

80

% I

FN

TC

+T

hy1.1

+C

D4

+

*

0

5

10

15

20

40

80

% I

L-1

7

TC

+T

hy1

.1+C

D4

+

*

0

1

23

15

GA

TA

3+

Foxp3

+C

D4

+(x

10

4)

*

A

B

CNão infectado

8 dias pós-infecção

45

4.2- Papel de IL-6 na patogênese da doença inflamatória induzida no intestino de

animais infectados com T. gondii

Uma vez observado o impacto da infecção com o parasito T. gondii sobre as

células Tregs no sítio infeccioso, buscamos analisar quais citocinas poderiam estar

envolvidas no comprometimento da regulação da resposta imunológica durante o curso

da doença. Como a citocina IL-6 possui atividade e exerce influência sobre as células

Treg (Kastner, Dwyer et al. 2010; Fujimoto, Nakano et al. 2011), analisamos se essa

citocina estaria sendo produzida diferencialmente entre camundongos resistentes e

susceptíveis, uma vez que dados de nosso grupo demonstraram que camundongos

resistentes não apresentam colapso de Tregs (Fonseca, 2015, comunicação pessoal). Os

resultados mostraram que existe um aumento significativo na produção de IL-6 em

camundongos susceptíveis C57BL/6, quando comparados aos animais resistentes,

BALB/c (Figura 2A). Paralelamente, também verificamos que animais C57BL/6

deficientes para a produção de IL-6 (IL-6-/-) são resistentes à infecção por T. gondii e

apresentam um aumento significativo da frequência de Tregs no intestino em relação

aos animais C57BL/6 capazes de produzir IL-6 (Figuras 2B e 2C). Também

constatamos que animais IL-6-/- tornam-se susceptíveis à infecção por T. gondii

mediante depleção das células Tregs por meio de tratamento com anticorpo monoclonal

contra CD25 (Figura 2C).

46

Figura 2: Papel IL-6 durante a infecção com T. gondii. (A) Detecção de IL-6 no

homogenato de intestino delgado de camundongos BALB/c e C57BL/6 infectados com 40 cistos de T.

gondii, 8 dias após a infecção. (B) Detecção de células Treg nos linfonodos mesentéricos de animais

C57BL/6 ou IL-6-/- infectados com T. gondii, 8 dias após a infecção. (C) Sobrevida de animais C57BL/6

ou IL-6-/- infectados com 40 cistos de T. gondii e previamente tratados ou não com 1mg de anticorpo

contra CD25 (PC61) dois dias antes da infecção por T. gondii. Os resultados foram obtidos com 4 animais

por grupo em dois experimentos independentes. Resultado representado ± desvio padrão da média. *

P<0.05.

Esses resultados sugerem que a produção de IL-6 está associada ao colapso de

células Treg e à susceptibilidade em camundongos C57BL/6 mediante infecção por

T.gondii.

47

4.3-Produção in vitro de IL-6 por células dendríticas e macrófagos em

resposta a T. gondii

Com o objetivo de avaliar a capacidade do parasito em induzir a produção de IL-

6 por macrófagos e células dendríticas, realizamos inicialmente um ensaio in vitro. Para

tal, células dendríticas e macrófagos diferenciados a partir de precursores da medula

óssea de camundongos BALB/c e C57BL/6 foram infectados com taquizoítos da cepa

ME-49 de T. gondii (1 parasito: 10 células) ou estimulados com 10 μg/mL de STAg.

Células não infectadas ou estimuladas com lisado de E. coli, foram utilizadas como

controle experimental negativo e positivo, respectivamente. Detectamos produção

significativa de IL-6 tanto por células dendríticas quanto por macrófagos, de ambas

linhagens de camundongos quando infectados com taquizoítos (Figura 3A). É

importante notar que antígenos do parasito também foram capazes de induzir a

produção de IL-6, visto que macrófagos e células dendríticas estimulados com STAg

produziram quantidades significativas de IL-6 em relação às células não estimuladas

(Figura 3B). Por fim, estímulos derivados de bactérias presentes na microbiota intestinal

também foram capazes de estimular a produção de IL-6, uma vez que macrófagos e

células dendríticas estimulados com lisado de E. coli produziram quantidades

significativas de IL-6 em relação às células não estimuladas (Figura 3C).

48

12 24 12 24 12 24 12 24 0

20

40

60

BALB/c C57BL6

Taquizoíto (1:10)

MeioTaquizoíto (1:10)

Meio

**

*

**

*

horas

IL-6

(ng

/mL

)

12 24 12 24 12 24 12 240

2

4

6

8

10

**

*

**

BALB/c C57BL6

Taquizoíto (1:10)

MeioTaquizoíto (1:10)

Meio

horas

IL-6

(ng

/mL

)

12 24 12 24 12 24 12 240

20

40

60

80

BALB/c C57BL6

STAGMeioSTAGsMeio

horas

**

**

IL-6

(ng/

mL

)

12 24 12 24 12 24 12 24 0

5

10

15

BALB/c C57BL6

STAGMeioSTAGMeio

horas

**

**

IL-6

(ng

/mL

)

12 24 12 24 12 24 12 240

10

20

30

40

50

BALB/c C57BL6

E. coliMeioE. coliMeio

**

*

**

horas

IL-6

(ng

/mL

)

12 24 12 24 12 24 12 240

5

10

15

20

**

*

**

*

*

BALB/c C57BL6

E. coliMeioE. coliMeio

horas

IL-6

(ng/

mL

)

Células Dendríticas MacrófagosA

B

C

49

Figura 3: Produção de IL-6 por células dendríticas e macrófagos. Células dendríticas e macrófagos

foram diferenciadas a partir de precursores da medula óssea de camundongos BALB/c e C57BL/6 e

infectadas ou não com taquizoítos de T. gondii (A) ou estimulados ou não com 10 µg/ml de STAg (B) ou

com 10 µg/ml de lisado de E. coli (C). A produção de IL-6 foi detectada por ELISA, 12 e 24 horas após a

infecção, conforme indicado no eixo X. Os resultados foram obtidos com 4 duplicatas por grupo.* P <

0,05.

De maneira interessante é válido ressaltar que macrófagos derivados de

camundongos susceptíveis produziram quantidades significativamente maiores de IL-6

em relação aos camundongos resistentes. Já o mesmo não aconteceu em relação às

células dendríticas derivadas da medula óssea de camundongos resistentes, as quais

produzem quantidades significativamente maiores de IL-6 em relação aos animais

susceptíveis.

4.4-Translocação de bactérias da microbiota intestinal e produção diferencial de

IL-6 entre camundongos resistentes e susceptíveis

Com o intuito de detectar fatores diferenciais que promovem a inflamação

intestinal e colapso de células Treg em animais susceptíveis, avaliamos a produção de

citocinas inflamatórias e a translocação bacteriana após a infecção por T. gondii em

camundongos C57BL/6 e BALB/c. Não constatamos translocação de bactérias para os

linfonodos mesentéricos de camundongos BALB/c após a infecção pelo parasito (Figura

4A). No entanto, a translocação bacteriana ocorreu nos linfonodos mesentéricos de

camundongos C57BL/6 infectados (Figura 4A). Paralelamente, verificamos um

aumento significativo da produção de IL-6 e IL-12 no intestino dos camundongos

C57BL/6 no oitavo dia de infecção em relação aos animais não infectados e a

camundongos BALB/c (Figura 2B e 2C). Também avaliamos a produção de IL-10 no

homogenato intestinal de ambas as linhagens de camundongos. A produção de IL-10

50

atingiu o pico de produção durante o oitavo dia após infecção nos animais susceptíveis

(Figura 4E). Portanto, esses resultados mostram que, in vivo, camundongos susceptíveis

C57BL/6 são mais propensos à produção local de IL-6 e translocação de bactérias

intestinais.

Figura 4: Translocação de bactérias da microbiota intestinal e produção de citocinas entre

camundongos resistentes e susceptíveis. Camundongos BALB/c e C57BL/6 foram infectados ou não

pela via oral com 20 cistos de T. gondii (ME-49), nos dias indicados no eixo X das figuras. Foram

avaliadas as unidades formadoras de colônia (UFC) translocadas para os linfonodos mesentéricos de

camundongos BALB/c e C57BL/6 através da cultura de homogenato tecidual (A). Paralelamente, 0, 2, 5 e

8 dias após a infecção foi realizada a detecção da produção de IL-6 (B), IL-12p40 (C), IL-10 (D) no

0 2 5 8 0 2 5 8 0

50

100

150

200

250 *

*

*

BALB/c C57BL/6

Dias pós-infecção

IL-6

(pg/

g de

teci

do)

0 2 5 8 0 2 5 80

1

2

3

BALB/c C57BL/6

Dias pós-infecção

*

**

IL-1

2 p4

0 (p

g/m

g de

teci

do)

0 2 5 8 0 2 5 80.0

0.2

0.4

0.6

BALB/c C57BL/6

Dias pós-infecção

*

**

IL-1

0 (p

g/m

g de

teci

do)

A B

C D

0 2 5 8 0 2 5 80

2

4

6

8

BALB/c C57BL/6

Dias pós-infecção

#

UFC

(Log

2)

51

homogenato intestinal dos animais BALB/c e C57BL/6. Os resultados foram obtidos com 4 animais por

grupo em dois experimentos independentes. Resultado representado como ± desvio padrão da média. *

P<0.05.

4.5-Neutrófilos e monócitos inflamatórios são majoritariamente parasitados

durante infecção por T. gondii

A fim de determinar os fatores envolvidos na indução de IL-6 em animais

susceptíveis, inicialmente avaliamos quais populações celulares são majoritariamente

parasitadas durante a infecção por T.gondii. Para tal, camundongos C57BL/6 foram

infectados com 20 cistos da cepa ME-49 (RFP) e o fenótipo das células infectadas pelo

parasito foi avaliado por citometria de fluxo. Verificamos que as populações

preferencialmente parasitadas durante a infecção por T. gondii são as populações de

monócitos inflamatórios e neutrófilos (Figura 5).

M

onóc

itos

Neutró

filos

CD11c+

MHCII+

F480+

CD64+

Outras

0

10

20

30

40

*

**

*

**

*

% c

élul

as in

fect

adas

(M

E49

)

52

Figura 5: Populações de células parasitadas durante infecção por T.gondii. Camundongos C57BL/6

foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 (RFP) de T. gondii. Oito dias após infecção, a frequência

de macrófagos (F480+CD64+), células dendríticas (CD11c+MHCII+), neutrófilos (Ly6G+MHCII-) e

monócitos inflamatórios (Ly6G-MHCII+) foi analisada dentro da população celular parasitada por T.

gondii (RFP+). Os resultados foram obtidos com 4 animais por grupo. Resultado representado como ±

desvio padrão da média. * P<0.05.

4.6-Produção de IL-6 por neutrófilos e monócitos inflamatórios in vivo durante

infecção por T. gondii.

Tendo-se em vista o aumento da produção de IL-6 mediante infecção por T.

gondii em paralelo à translocação de bactérias da microbiota intestinal, e parasitismo

predominante de monócitos inflamatórios e neutrófilos, avaliamos a produção de IL-6

por essas populações celulares. Para tal, camundongos susceptíveis foram infectados ou

não com a cepa ME-49 RFP e a produção da citocina IL-6 foi avaliada ex vivo em

monócitos inflamatórios e neutrófilos, na lâmina própria intestinal (Figura 6).

53

Figura 6: Countor plot representativo das populações de monócitos inflamatórios, neutrófilos e

células produtoras de IL-6 durante a infecção por T. gondii. Camundongos C57BL/6 foram infectados

ou não com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii. Oito dias após infecção, o número absoluto e a

frequência da população de monócitos inflamatórios, neutrófilos, bem como a produção de IL-6 por

monócitos parasitados (RFP+) ou não (RFP-) foram avaliados na lâmina própria do intestino delgado. Para

identificação dos monócitos inflamatórios, foi utilizada a expressão de MHC II dentro da população de

células Ly6ChiCD11b+. Para identificação dos neutrófilos, foi utilizada a expressão de Ly6G dentro da

população de células Ly6ChiCD11b+.

ME-49

IL-6

MHCII

Ly6G

CD11b

ME-49

IL-6

MHCII

Ly

6G

CD11b

Não infectado

8 dias pós-infecção

Ly6C

Ly6C

ME-49

IL-6

ME-49

IL-6

ME-49

54

Um aumento significativo no número de monócitos inflamatórios foi observado

no sítio infeccioso, em camundongos C57BL/6 em relação aos animais não infectados

(Figura 7A). Podemos notar que tanto monócitos inflamatórios parasitados (RFP+)

como monócitos não parasitados (RFP-) produziram quantidades significativamente

maiores de IL-6 durante a infecção em relação às células infectadas (Figura 7B).

Figura 7: Produção de IL-6 por monócitos inflamatórios durante a infecção por T. gondii.

Camundongos C57BL/6 foram infectados ou não com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii. Oito

dias após infecção, o número absoluto e a frequência da população de monócitos inflamatórios (A), bem

como a produção de IL-6 (B) por monócitos parasitados (RFP+) ou não (RFP-) foram avaliados na lâmina

própria do intestino delgado. Para identificação dos monócitos inflamatórios, foi utilizada a expressão de

MHC II dentro da população de células Ly6ChiCD11b+. Os resultados foram obtidos com 4 animais por

grupo em dois experimentos independentes. Resultado representado como ± desvio padrão da média. *

P<0.05.

Da mesma forma, avaliamos a população de neutrófilos e a produção de IL-6 por

essas células durante a infecção por T. gondii. Nesse contexto, um aumento significativo

0

20

40

60

80

100

%L

y6G

- MH

CII

+

(CD

11b+

Ly6

C+

)

*

0

5

10

15L

y6G

- MH

CII

+

CD

11b+

Ly6

C+(x

106 ) **

0

20

40

60

% IL

-6+

Ly6

G- M

HC

II+

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

IL-6

+

Ly6

G- M

HC

II+

(x10

6 )

***

0

1

2

3

4

%IL

-6+M

E49

+

Ly6

G- M

HC

II+

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20IL

-6+M

E49

+

Ly6

G- M

MH

CII

+(x

106 )

Monócito Inflamatório

RFP- RFP+

A

B

Não infectado

8 dias pós-infecção

55

no número de neutrófilos (CD11b+Ly6C+MHCII-Ly6G+) foi observado no sítio

infeccioso de camundongos C57BL/6 em relação aos animais não infectados (Figura

8A). Assim como nos monócitos inflamatórios, tanto neutrófilos parasitados (RFP+)

como células não parasitadas (RFP-) produzem quantidades significativamente maiores

de IL-6 durante a infecção (Figura 8B).

Figura 8: Produção de IL-6 por neutrófilos durante a infecção por T. gondii. Camundongos C57BL/6

foram infectados ou não com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii. Oito dias após infecção, o

número absoluto e a frequência da população de neutrófilos (B), bem como a produção de IL-6 por

neutrófilos (B) parasitados (RFP+) ou não (RFP-) foram avaliados na lâmina própria do intestino delgado.

Para identificação dos neutrófilos, foi utilizada a expressão de Ly6G dentro da população de células

Ly6ChiCD11b+. Os resultados foram obtidos com 4 animais por grupo em dois experimentos

independentes. Resultado representado como ± desvio padrão da média. * P<0.05.

É interessante ressaltar que a quantidade de IL-6 produzida por macrófagos e

neutrófilos não parasitados (RFP-) durante a infecção por T. gondii é majoritariamente

0

5

10

15

20

% L

y6G

+M

HC

II-

(CD

11b+

Ly6

C+)

*

0

5

10

15

*

Ly6

G+M

HC

II-

CD

11b+

Ly6

C+

(x10

6 )

0

10

20

30

40

% IL

-6+

Ly6

G+M

HC

II-

0

10

20

30

40

IL-6

+

Ly6

G+M

HC

II- (x

104 ) *

0

5

10

15

%IL

-6+

ME4

9+L

y6G

+M

HC

II- *

**

0

2

4

6

8

10IL

-6+M

E49

+

Ly6

G+M

MH

CII

- (x10

4 ) *

Neutrófilos

RFP- RFP+

A

B

Não infectado

8 dias pós-infecção

56

maior em porcentagem e número absolutos quando comparados às mesmas populações

celulares parasitadas (RFP+), sugerindo que produtos da microbiota translocada

poderiam participar da indução de IL-6 por essas células (Figura 7B e Figura 8B).

4.7 Contribuição de células dendríticas para produção de IL-6 durante infecção por T. gondii

A produção de IL-6 também foi avaliada nas diferentes subpopulações de células

apresentadoras de antígenos. Para tal, camundongos C57BL/6 foram infectados ou não

com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii e a produção de IL-6 foi avaliada nas

populações celulares CD11c+MHCII+ que expressavam CD103 e/ou CD11b. Desse

modo, podem-se estabelecer as seguintes populações celulares: C103+CD11b-,

CD103+CD11b+ e CD103-CD11b+. Em relação às células CD103+CD11b-, foi possível

observar um aumento significativo do número total dessa população na lâmina própria

intestinal em relação aos animais não infectados (Figura 9A). Já a frequência de células

CD103+CD11b+, encontrava-se diminuída após a infecção (Figura 9B). Mediante a

infecção por T. gondii, ocorreu um aumento no número absoluto de células CD103-

CD11b+ em relação aos animais não infectados (Figura 9C).

57

Figura 9: Avaliação das subpopulações de células dendríticas e produção de IL-6 durante a infecção por T. gondii. Camundongos C57BL/6 foram infectados ou não com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii pela via oral. Oito dias após a infecção, a frequência e o número absoluto das populações de células dendríticas CD103+CD11b- (A), CD103+CD11b+ (B) e CD103-CD11b+ (C), foram avaliadas na lâmina própria do intestino delgado. As subpopulações de células dendríticas foram identificadas pela expressão de CD103 e/ou CD11b em células CD11c+MHCII+. A produção de IL-6 foi avaliada dentro das populações celulares parasitadas (RFP+) ou não (RFP-), colocadas em cultura por 2,5 horas em meio acrescido com inibidor de transporte intracelular. Resultado representado como ± desvio padrão da média. P < 0,05.

0

2

4

6

8

10C

D10

3+C

D11

b-

CD

11c+

MH

CII

+ (x

104 ) *

0

5

10

15

IL-6

+C

D10

3+C

D11

b-

CD

11c+

MH

CII

+ (

x104 )

*

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

IL-6

+ M

E49

+C

D10

3+C

D11

b-

CD

11c+

MH

CII

+(x

103 ) *

0

10

20

30

40

50

%C

D10

3+C

D11

b+

(CD

11c+

MH

CII

+)

*

0

2

4

6

8

IL

-6 +

CD

103+

CD

11b+

CD

11c+

MH

CII

+(x

104 )

*

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

IL-6

+M

E49

+C

D10

3+C

D11

b+

CD

11c+

MH

CII

+(x

104 ) *

0

2

4

6

CD

103- C

D11

b+

CD

11c+

MH

CII

+(x

105 ) *

0.0

0.5

1.0

1.5

IL-6

+C

D10

3- CD

11b+

CD

11c+

MH

CII

+(x

104) *

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

IL-6

+M

E49

+C

D10

3- CD

11b+

CD

11c+

MH

CII

+(x

104 ) *

CD103+

CD11b-

CD103+

CD11b+

CD103-

CD11b+

A

B

C

RFP+RFP-

Não infectado

8 dias pós-infecção

58

Em relação à produção de IL-6, as três populações celulares provenientes de

camundongos infectados apresentaram aumento do número absoluto de células

parasitadas (RFP+) ou não (RFP-) atuando na produção de IL-6 (Figura 8), embora a

célula não infectadas (RFP-) produzam quantidades maiores de IL-6 em relação às

células parasitadas (RFP+).

4.8 A via da molécula adaptadora MyD88 está associada à produção de IL-6 após

infecção por T. gondii

Uma vez estabelecido que as populações de monócitos inflamatórios e

neutrófilos estão envolvidas na produção local de IL-6 em camundongos susceptíveis,

procuramos identificar qual via da imunidade inata poderia mediar a indução dessa

citocina e se tal indução seria dependente do reconhecimento do parasito ou não. Para

tal, diferenciamos macrófagos e células dendríticas da medula óssea de camundongos

C57BL/6 e de camundongos deficientes na expressão de receptores da imunidade inata

e moléculas sinalizadoras envolvidas no reconhecimento de T. gondii. Desse modo,

foram utilizados camundongos deficientes para a expressão de NOD1, NOD2 e MyD88

(mesmo background genético de camundongos C57BL/6). As células diferenciadas

foram infectadas in vitro com taquizoítos de T. gondii ou estimuladas com STAg ou

lisado de E. coli para a detecção da produção de IL-6 nos sobrenadantes de cultura.

Concentrações semelhantes de IL-6 foram detectadas nos sobrenadantes de cultura de

macrófagos e células dendríticas diferenciadas a partir de células provenientes de

camundongos WT, NOD1-/-, NOD2-/- (Figuras 10 e 11). No entanto, tanto macrófagos,

quanto células dendríticas derivadas de animais MyD88-/- foram incapazes de secretar

IL-6 após a infecção in vitro com taquizoítos de T. gondii. Tais resultados mostram que

a produção de IL-6 induzida pelo parasito tanto em macrófagos, quanto em células

59

dendríticas diferenciadas a partir de precursores da medula óssea é dependente de

sinalização via MyD88.

Figura 10- Rastreamento de receptores da imunidade inata envolvidos na via de produção de IL-6.

Macrófagos foram diferenciados a partir da medula óssea de camundongos C57BL/6 e camundongos

deficientes para os receptores NOD1, NOD2 e MyD88 e infectados ou não com 1 taquizoíto de T. gondii

para cada 10 células (A) ou estimulados ou não com 10 µg/ml de STAg (B) ou 10 µg/ml de lisado de E.

coli (C). A produção de IL-6 foi detectada por ELISA, 12 horas após a infecção. Os resultados foram

obtidos com 4 replicatas por grupo. Resultado representado como ± desvio padrão da média.* P < 0,05.

0

5000

10000

15000 *

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

IL-6

(pg/

mL

)

0

1000

2000

3000

4000

5000

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

*

IL-6

(pg/

mL

)

0

2000

4000

6000

8000

10000

*

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

IL-6

(pg

/mL

)

MeioEstímulo

Taquizoíto STAG

E. coli

60

Figura 11- Rastreamento de receptores da imunidade inata envolvidos na via de produção de IL-6.

Células dendríticas foram diferenciadas a partir da medula óssea de camundongos WT C57BL/6 e

camundongos deficientes para os receptores NOD1, NOD2 e MyD88, os quais foram infectadas ou não

com 1 taquizoíto de T. gondii para cada 10 células(A) e estimuladas ou não com 10µ/mL de STAg (B)

ou 10µ/mL de lisado de E. coli (C). A produção de IL-6 foi detectada por ELISA, 12 horas após a

infecção. Os resultados foram obtidos com 4 replicatas por grupo. Resultado representado como ± desvio

padrão da média.* P < 0,05.

4.9 O colapso de células Treg durante a infecção por T. gondii não é dependente do

reconhecimento do parasito por receptores da via de TLR, NOD1 e NOD2

Uma vez estabelecida a via pela qual a produção de IL-6 é induzida pelo parasito

in vitro, avaliamos se tais receptores estariam envolvidos no colapso das células Treg

que ocorre in vivo após a infecção pelo parasito. Para tal, camundongos selvagens e

deficientes para os receptores NOD1, NOD2, TLR2, TLR4 e TLR9 foram infectados

com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. Oito dias após infecção, o número absoluto

0

10000

20000

30000

40000

50000

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

*

IL-6

(pg/

mL

)

0

20000

40000

60000

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

*

IL-6

(pg

/mL

)0

5000

10000

15000

WT NOD1-/-Myd88-/- NOD2-/-

*

IL-6

(pg/

mL

)

Taquizoíto STAG

E.coli

Meio

Estímulo

61

de Tregs foi avaliado no linfonodo mesentérico (Figura 12A e 12B). Também avaliamos

a expressão relativa de mRNA para IL-6 no intestino delgado desses animais. Como

resultado, observamos que nenhum dos receptores estudados estavam envolvidos no

colapso de Tregs, uma vez que mediante infecção, tais camundongos não apresentaram

WT ni

WT in

f

NOD1-/-

inf

NOD2-/-

inf

TLR2-/-

inf

TLR9-/-

inf

0

20

40

60 #

Foxp

3+C

D3+

CD

4+

(x10

4 )

ni inf inf-/-

TLR4

0

1

2

3

4

5

Foxp

3+C

D3+

CD

4+

(x10

5 )

**

WT ni

WT in

f

NOD1-/-

inf

NOD2-/-

inf

TLR2-/-

inf

TLR9-/-

inf

0

10

20

30

40

*

***

IL-6

RN

Am

expr

essã

o re

lativ

a ( β

-act

in)

A

B

C

62

Figura 12- Avaliação do papel receptores da imunidade inata no colapso de Tregs e produção de

IL-6. Camundongos C57BL/6, NOD-/-,NOD2-/-,TLR2-/-,TLR4-/- ,TLR9-/- e RIP2-/- foram infectados com

20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. A) e B) Oito dias após infecção, o número absoluto da população

de células CD3+CD4+ expressando o fator de transcrição Foxp3, foi avaliado no linfonodo mesentérico.

C) Oito dias após infecção, a expressão relativa de mRNA para IL-6 foi avaliada no intestino delgado. Os

resultados foram obtidos com 4 animais por grupo. Resultado representado como ± desvio padrão da

média.* P < 0,05. # P < 0,05 em relação aos demais grupos.

diferença no número absoluto de Tregs em relação ao camundongo selvagem infectado

(Figuras 12A, 12B). Paralelamente e de acordo com a nossa hipótese de que a produção

local de IL-6 exerce um papel relevante para o colapso das células Treg, os

camundongos deficiente para NOD1, NOD2, TLR2 e TLR9 não apresentaram alteração

na expressão de mRNA para IL-6 em relação aos camundongos selvagens infectados

(Figura 12C). Portanto, esses resultados demonstram que, mesmo na ausência de

receptores envolvidos no reconhecimento do parasito in vitro, observa-se produção

acentuada de IL-6 e colapso de Tregs.

4.10 Translocação de bactérias da microbiota intestinal em camundongos

deficientes para MyD88, TLR2, TLR4 e TLR9

Como constatamos que alguns dos receptores que podem atuar no

reconhecimento do parasito não estão envolvidos no colapso de Tregs e na produção

diferencial de IL-6 após a infecção por T. gondii, avaliamos a ocorrência ou não de

translocação de bactérias da microbiota intestinal para o linfonodo mesentérico em

63

Figura 13: Avaliação da translocação de bactérias da microbiota intestinal e análise de

sobrevivência em animais selvagens e deficientes em receptores TLRs durante infecção por T.

gondii. Camundongos C57BL/6, Myd88-/-,TLR2-/-,TLR4-/- ,TLR9-/- foram infectados com 20 cistos da

cepa ME-49 de T. gondii. A) 8 dias após infecção, foram analisadas as unidades formadoras de colônia

translocadas no linfonodo mesentérico e a taxa de sobrevivência de camundongos selvagens e TLR2-/- (B)

e TLR4-/- (C). Os resultados foram obtidos em dois experimentos independentes com 3 animais por grupo

para análise da translocação da microbiota e 8 animais por grupo para análise da taxa de sobrevivência.

Resultado representado como ± desvio padrão da média.* P < 0,05.

camundongos selvagens e camundongos MyD88-/-, TLR2-/-, TLR4-/- e TLR9-/-.

Verificamos que houve translocação bacteriana para o linfonodo mesentérico de

camundongos selvagens e deficientes para MyD88, TLR2, e TLR9, mas não em animais

deficientes para TLR4 (Figura 13A). Como TLR-2 e TLR4 reconhecem GPIs presentes

na superfície do parasito(Debierre-Grockiego, Campos et al. 2007), avaliamos se a

64

ausência desses receptores teria algum impacto na taxa de sobrevivência de

camundongos susceptíveis mediante a infecção por T. gondii. Não observamos

diferenças nas taxas de sobrevida em camundongos deficientes para os receptores TLR2

e TLR4 (Figuras 13B, 13C) em relação ao camundongo selvagem infectado. Portanto o

reconhecimento do parasito por si só não é determinante na susceptibilidade mediante a

infecção por T.gondii.

4.11- Receptores TLR11 e TLR12 não influenciam no colapso de Tregs durante

infecção por T. gondii.

Até o momento, os dados coletados não demonstraram papel efetivo dos

receptores NOD1, NOD2, TLR2, TLR4 e TLR9 no colapso de Tregs e produção

diferencial de IL-6. Embora tais receptores tenham importância em diferentes aspectos

da resposta imunológica contra T. gondii, não reconhecem exclusivamente o parasito.

Nesse sentido, investigamos se receptores específicos para T. gondii estariam

envolvidos no colapso de Tregs e na produção diferencial de IL-6. Para tal,

camundongos selvagens e duplo deficientes para os receptores TLR11 e TLR12 foram

infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. Oito dias após infecção, a carga

parasitária, o número absoluto de Tregs, células TCD4+T-bet+ e Tregs expressando o

fator de transcrição GATA3, bem como a produção diferencial de IL-6 por monócitos e

neutrófilos foram avaliados na lâmina própria intestinal (Figura 14).

65

Figura 14: Avaliação da população de Tregs e da resposta imunológica durante infecção oral por T.

gondii em camundongos deficientes para TLR11 e TLR12. Camundongos C57BL/6 e deficientes para

TLR11 e 12 foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 RFP de T. gondii. Oito dias após infecção, o

número absoluto da população de células T TCRβ+CD4+ expressando os fatores de transcrição Foxp, T-

bet e GATA3 foi avaliado na lâmina própria do intestino delgado. (A) e (B) A população de células Tregs

e Th1 foi identificada pela expressão de Foxp3 e T-bet, respectivamente em células Thy1.2+ TCRβ+CD4+

C) A população de células Tregs Foxp3+GATA3+ foi avaliada dentro da população de células Thy1.2+

TCRβ+CD4+ . D) A população de monócitos inflamatórios bem como a produção de IL-6 por essas

células foi avaliada na lamina própria intestinal. Para identificação dos monócitos inflamatórios, foi

utilizada a expressão de MHC II dentro da população de células Ly6ChiCD11b+ E) Para análise do

parasitismo, foi avaliada o total de células infectadas (RFP+) pela cepa ME-49 RFP de T. gondii. Os

resultados foram obtidos com 4 animais por grupo. Resultado representado como média ± erro. * P<0.05.

0

2

4

6

Fox

p3+C

D4+

(x10

4 ) **

0

5

10

15 *

Tbe

t+C

D4+

(x1

04 )

*

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

Gat

a3+Fo

xp3+

CD

4+ **

0.0

0.5

1.0

1.5

ME

49+

(x10

6 )0

5

10

15

Ly6

G- M

HC

II+

CD

11b+

Ly6

C+(x

106 )

***

*

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

IL-6

+

Ly6

G- M

HC

II+

(x10

6 )

***

**

A B C

ED Monócito inflamatório

WT Não infectado

WT - 8 dias pós-infecção

TLR11/12 - 8 dias pós-infecção

66

Os resultados demonstraram que os camundongos deficientes para os receptores

TLR11 e 12 não apresentam diferenças nas populações de Tregs e na expressão de

GATA3 pelas Tregs quando comparados aos animais selvagens durante infecção por T.

gondii. Portanto, TLR11 e 12 não estão envolvidos no colapso de Tregs e na expressão

de GATA3 por esta população celular (Figura 14A e 14C). No entanto, foi possível

observar nos animais deficientes para os receptores TLR11 e 12 uma redução

significativa no número absoluto de células expressando o fator de transcrição T-bet

(Figura 14B) quando comparados aos animais selvagens, durante infecção por T. gondii.

Também observamos um menor número absoluto de monócitos inflamatórios e de

produção de IL-6 por essas células (Figura 14D). Entretanto, a produção de IL-6 por

animais nocautes infectados ainda foi significativamente maior em relação aos animais

WT não infectados. Não notamos diferença em relação à carga parasitária de

camundongos deficientes para TLR11 e 12 e animais selvagens (Figura 14E). Desse

modo, é possível inferir que, embora não estejam envolvidos no colapso de Tregs,

TLR11 e TLR12 são importantes no reconhecimento do parasito e geração de resposta

Th1 (Andrade, Souza Mdo et al. 2013) e que o parasito pode atuar na indução de IL-6 in

vivo. No entanto, essa citocina é produzida de forma diferencial em relação aos

camundongos selvagens não infectados, o que nos leva supor que componentes da

microbiota é que estariam majoritariamente envolvidos na produção de IL-6 e colapso

de Tregs.

67

4.12 Envolvimento da microbiota intestinal na produção de IL-6 e inflamação

tecidual durante a infecção por T. gondii.

Os dados coletados indicam que a produção de IL-6 e o colapso de Tregs em

camundongos susceptíveis não são completamente dependentes do reconhecimento do

parasito por receptores da imunidade inata, sugerindo que tal fenômeno estaria

associado à detecção de bactérias da microbiota intestinal translocadas durante a

infecção. A fim de testar a validade desta hipótese, camundongos susceptíveis foram

tratados com coquetel de antibióticos (ampicilina, metronidazol, neomicina e

vancomicina) previamente à exposição ao parasito. Após 30 dias de tratamento, os

camundongos foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii e após 8 dias

de infecção, o número absoluto de Tregs foi avaliado na lâmina própria e no linfonodo

mesentérico de camundongos susceptíveis (Figura 15A e B). Também foi avaliada a

produção de IL-6 no homogenato intestinal de camundongos susceptíveis (Figura 15C),

além da população de monócitos inflamatórios (Figura 15D), bem como a produção de

IL-6 por essas células (figura 15E).

68

Figura 15: Papel da microbiota no colapso de células Treg e e produção de IL-6 em camundongos

susceptíveis. Camundongos C57BL/6 foram tratados por 30 dias com coquetel de antibióticos

(ampicilina, metronidazol, neomicina e vancomicina) e infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T.

gondii. Oito dias após infecção, a população de Tregs foi avaliada na lâmina própria (A) e no linfonodo

mesentérico (B), bem como a produção de IL-6 no homogenato intestinal (C). A frequência da população

de monócitos inflamatórios (D), bem como a produção de IL-6 por essa população celular (E) foi

analisado por citometria de fluxo em relação ao total de eventos adquiridos. Resultado representado

como ± desvio padrão da média.* P < 0,05.

Observamos que camundongos infectados e tratados com antibióticos não

apresentaram colapso de Tregs em relação aos camundongos infectados. Dessa forma, a

depleção da microbiota intestinal foi capaz de impedir o colapso de Tregs no intestino

(Figura 15A) e no linfonodo mesentérico (Figura 15B) de camundongos susceptíveis

durante a infecção por T. gondii. Também podemos notar que camundongos infectados

+ +0

2

4

6

Tot

al C

elul

as (

x104 )

Foxp

3+

(CD

3+C

D4+

)

- +

20cATB

*

- + +0

1

2

3

4

5

Tot

al C

elul

as (

x105 )

Foxp

3+

(CD

3+C

D4+

)

- +

20cATB -

**

+ +0

500

1000

1500

2000

2500 *

IL-6

(pg

/g d

e te

cido

)

- +

20cATB

- + +0

2

4

6

- +

20cATB -

**

%M

HC

II+C

D11

b+L

y6C

+

- + +0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

- +

20cATB -

**

%IL

-6

MH

CII

+C

D11

b+L

y6C

+

A B C

D E

69

e tratados com o coquetel de antibióticos apresentaram menor concentração de IL-6 no

homogenato intestinal quando comparados aos animais infectados por T. gondii e que

não receberam antibiótico (Figura 15C). Soma-se a isso uma menor porcentagem de

monócitos inflamatórios e produção de IL-6 por essas células nos linfonodos

mesentéricos dos animais infectados e tratados com antibióticos em relação aos animais

infectados e não tratados (Figura 15D e 15E). Em conjunto, esses dados sugerem que a

microbiota intestinal tem importante papel na indução da produção exacerbada de IL-6,

a qual impacta na manutenção das populações de Tregs durante a infecção oral por T.

gondii.

Também avaliamos a influência da microbiota na lesão tecidual do intestino

delgado durante a infecção por T. gondii. Para tal, camundongos susceptíveis foram

tratados com coquetel de antibióticos. Após 30 dias de tratamento, os camundongos

foram infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. 8 dias após infecção, a

região do íleo do intestino delgado de animais tratados ou não foi coletada para análise

histopatológica (Figura 16).

Como é classicamente descrito (Liesenfeld 2002), camundongos C57BL/6

desenvolveram uma intensa inflamação intestinal mediante infecção por T. gondii,

principalmente nas regiões distais do intestino delgado, como no Íleo (Figura 16).

70

Figura 16: Papel da microbiota na inflamação intestinal mediante infecção por T.gondii.

Camundongos C57BL/6 foram tratados ou não por 30 dias com coquetel de antibióticos (ampicilina,

metronidazol, neomicina e vancomicina) e infectados com 20 cistos da cepa ME-49 de T. gondii. Oito

dias pós-infecção, porções do Íleo foram coletadas, processadas e cortes histológicos foram corados com

Hematoxilina e Eosina. Fotomicrografias representativas dos diferentes grupos experimentais (Barra =

100 μm).

.

Essa inflamação foi caracterizada pela migração de células mononucleares e

neutrófilos para a lâmina própria, com presença de focos de necrose e perda da estrutura

do epitélio intestinal, durante a fase aguda da infecção por T. gondii. Após a depleção da

microbiota intestinal, ocorreu uma diminuição acentuada na inflamação intestinal dos

camundongos C57BL/6 infectados e tratados com o coquetel de antibióticos quando

comparados aos animais infectados e não tratados (Figura 16).

Não infectado Infectado

Infectado + ATB

71

5555---- DISCDISCDISCDISCUSSÃOUSSÃOUSSÃOUSSÃO

72

5- DISCUSSÃO Nesse trabalho demonstramos que a inflamação intestinal observada durante a

infecção por T. gondii está relacionada à translocação de bactérias comensais do

intestino, produção diferencial de IL-6 e consequente colapso de Tregs.

Ao infectar as células do hospedeiro murino, o parasito intracelular T. gondii

interage intimamente com o sistema imunológico levando a uma série de condições

patológicas relacionadas à virulência da cepa, à via de infecção e à carga parasitária.

Nesse sentido, a infecção por T. gondii é bastante útil como modelo de encefalite,

inflamação ocular, infecção congênita (Subauste 2012) e no caso deste trabalho, como

modelo no estudo da inflamação e imunologia da mucosa intestinal. Dessa forma, dados

da literatura (Liesenfeld 2002) e de nosso grupo demonstraram que a infecção oral por

T. gondii é capaz de induzir inflamação intensa no intestino delgado de camundongos

C57BL/6, que são susceptíveis à infecção. Nesses animais, esse processo inflamatório é

acompanhado de intensa resposta Th1, o que pode ser verificado pelo aumento da

expressão de Tbet, aumento da produção de IL-12 presente no homogenato intestinal e

produção de IFN-γ por células T CD4+ (Liesenfeld 2002) em paralelo à diminuição das

populações de Tregs (Oldenhove, Bouladoux et al. 2009). É válido ressaltar que o

desenvolvimento de resposta Th1 é importante no controle do parasito, sendo a

exacerbação da resposta o motivo maior do desenvolvimento da inflamação intestinal.

Nesse sentido, foi demonstrado recentemente que células T e células NK são capazes de

produzir IFN-γ na ausência de T-bet e controlar a replicação do parasito no sítio

infeccioso. No entanto, em sítios secundários de infecção, esse controle falha devido à

73

falha migração de células T específicas contra o parasito (Harms Pritchard, Hall et al.

2015).

O comprometimento das células Tregs durante processos infecciosos e

inflamatórios tem sido associado ao desenvolvimento de doenças autoimunes e doenças

inflamatórias, evidenciando sua importância no controle dessas doenças (Vignali,

Collison et al. 2008). No contexto da inflamação intestinal induzida por T. gondii,

grandes esforços tem sido feitos a fim de desvendar os mecanismos associados ao

comprometimento de Tregs. Nesse sentido, Oldenhove e colaboradores (2009)

mostraram que a diminuição da disponibilidade de IL-2 no microambiente intestinal

após a infecção pelo parasito está associada ao comprometimento das Tregs

(Oldenhove, Bouladoux et al. 2009; Benson, Murray et al. 2012). Paralelamente, as

células Tregs dos animais infectados passam a expressar T-bet e secretar IFN-γ em

consequência do microambiente inflamatório assumindo assim, um fenótipo efetor

(Oldenhove, Bouladoux et al. 2009). Dados do nosso grupo mostram ainda que as Tregs

reminiscentes nos animais susceptíveis infectados com T. gondii apresentam um

comprometimento significativo na sua capacidade supressora (Fonseca, 2015,

comunicação pessoal). Nesse contexto, acreditamos que essas Tregs funcionalmente

comprometidas contribuam para a progressão da doença inflamatória intestinal durante

a infecção por T. gondii no animal susceptível. De fato, quando realizamos a depleção

de Tregs em camundongos resistentes, esses animais tornam-se susceptíveis à doença e

apresentam menor sobrevida e maior lesão tecidual no intestino delgado. De maneira

complementar, a transferência adotiva de Tregs para camundongos susceptíveis

C57BL/6 aumenta a sobrevida desses animais (Fonseca, 2015, comunicação pessoal).

74

O acúmulo e sobrevivência de células Treg no ambiente inflamatório está

relacionado à expressão de fatores de transcrição (Yu, Sharma et al. 2015). Dentre eles,

GATA3 e T-bet tem sua expressão regulada de maneira transitória nas Tregs, estando

sob influência das citocinas presentes no microambiente celular (Yu, Sharma et al.

2015). A ausência concomitante desses fatores está relacionada ao desenvolvimento de

doenças autoimunes devido ao aumento na expressão de RORγt e diminuição na

expressão de Foxp3 nas Tregs (Yu, Sharma et al. 2015). Nesse ambiente inflamatório,

GATA3, o qual tem sua expressão nas Tregs diminuída durante a infecção por T.

gondii, assume papel importante na fisiologia dessas células, principalmente em tecidos

de barreira como pele e mucosa intestinal. Sua expressão está associada ao acúmulo de

Tregs em sítios infecciosos e à expressão de Foxp3 por essas células (Wohlfert,

Grainger et al. 2011).

A fim de entendermos os outros fatores associados à diminuição de Tregs no

contexto da infecção por T. gondii, investigamos o papel da citocina pró-inflamatória

IL-6, a qual é relatado ter influência na atividade/plasticidade das células Treg

(Fujimoto, Nakano et al. 2011). Nesse sentido, é descrito que a função supressora de

células Treg periféricas fica prejudicada em camundongos que produzem quantidades

relativamente altas de IL-6 (Fujimoto, Nakano et al. 2011). A citocina IL-6 atuaria ainda

na modificação do fenótipo das células Treg, inativando a expressão do gene Foxp3 em

Tregs naturais, resultando na perda da capacidade supressora dessas células, e até

mesmo induzindo a conversão de Tregs em outras populações celulares (Kastner,

Dwyer et al. 2010). Nesse contexto, dados do grupo demonstraram que em culturas de

células de baço derivadas de camundongos C57BL/6, infectadas com taquizoítos de T.

gondii e tratadas com a citocina IL-6 recombinante, apresentaram uma redução bastante

acentuada na frequência das células Treg quando comparada com as culturas infectadas

75

e não tratadas (Fonseca, 2015, comunicação pessoal). É importante ressaltar que, o

efeito de IL-6 sobre a redução das Tregs ocorre apenas na presença do parasito, sendo

que o tratamento com IL-6 recombinante na ausência de infecção, não acarreta em

alteração na população de Tregs. Dessa forma, além da IL-6 o parasito pode induzir

outros mediadores ou ativar moléculas da imunidade inata que atuariam em sinergia

com essa citocina exercendo um efeito deletério sobre as Tregs.

Assim, supomos que IL-6 é capaz de potencializar a redução da frequência de

Tregs induzida por T. gondii. Soma-se a isso o fato de que camundongos deficientes

para a produção de IL-6 (background C57BL/6) são resistentes à infecção por T. gondii,

possuindo inclusive, uma quantidade maior de células Treg quando comparados aos

camundongos susceptíveis. Assim, quando depletamos as células Treg dos

camundongos IL-6-/-, estes se tornaram susceptíveis. A mortalidade dos camundongos

associada à alta produção de IL-6 também pode estar relacionada ao fato de que essa

citocina é capaz de aumentar a replicação intracelular de T. gondii em macrófagos,

favorecendo assim a progressão da inflamação tecidual e amplificando o colapso das

células Treg (Beaman, Hunter et al. 1994).

O papel dos micro-organismos comensais que habitam regiões como pele, trato

gastro intestinal e outros sítios mucosos tem sido evidenciado, principalmente no

contexto da indução de Tregs por bactérias. Em condições naturais, bactérias presentes

na microbiota intestinal secretam ácidos graxos de cadeia curta, derivados da

fermentação de fibras alimentares. Esses ácidos graxos, sendo o butirato o principal

deles, atuam na indução de células Tregs na região da lâmina própria do cólon intestinal

(Arpaia, Campbell et al. 2013). A microbiota intestinal é capaz ainda de atuar na

educação pós-tímica, uma vez que é observada a presença Tregs com TCR específico

76

para antígenos microbianos no contexto da mucosa intestinal, evento importante na

indução da tolerância do sistema imunológico a esses organismos (Lathrop, Bloom et al.

2011). No entanto, condições patológicas podem alterar a dinâmica protetora conferida

pelos organismos comensais, levando a uma modificação na composição populacional

da comunidade microbiana no trato gastrointestinal, e à translocação dessa microbiota

para locais secundários, como linfonodo mesentérico, baço e fígado (Hand, Dos Santos

et al. 2012). Nesse contexto, Hand e colaboradores (2012) mostraram que camundongos

infectados pela via oral com cistos de T. gondii desenvolvem uma inflamação intestinal

grave e um desbalanço na população da microbiota bacteriana comensal do intestino,

levando à diferenciação de células T específicas homeostáticas para componentes da

microbiota em células efetoras inflamatórias (Hand, Dos Santos et al. 2012). Sendo

assim, a disbiose, observada durante a infecção por T. gondii está associada à destruição

de células de Paneth, importantes na produção de peptídeos antimicrobianos que

controlam a diversidade populacional da microbiota. A perda dessas células leva à

expansão de bactérias da família das Enterobacteriaceae (Gram-negativas), fenômeno

estritamente associado ao desenvolvimento da inflamação intestinal induzida pelo

parasito, uma vez que camundongos germ-free (do inglês, livres de micro-organismos)

não apresentam essa inflamação intestinal (Raetz, Hwang et al. 2013). Todos esses

dados previamente descritos demonstram o profundo impacto da infecção por T. gondii

na dinâmica do sistema imunológico no sítio infeccioso e a relação dessas alterações

com a microbiota comensal residente. Nesse contexto, a hipótese de que o colapso

observado nas células Tregs estaria intimamente associado à translocação de bactérias

da microbiota intestinal parece bastante razoável, uma vez que a translocação da

microbiota intestinal é observada apenas no pico da fase aguda em animais susceptíveis

e ocorre em paralelo ao pico da produção de citocinas como IL-12, IL-10, IL-6 e ao

77

colapso de Tregs. A produção de IL-10 nos animais susceptíveis é reflexo do aumento

da inflamação tecidual relacionada ao controle da resposta inflamatória. Embora não

seja suficiente para impedir a progressão da inflamação tecidual em camundongos

C57BL/6, a deficiência na produção de IL-10 torna os animais significativamente

susceptíveis à infecção pelo parasito (Gazzinelli, Wysocka et al. 1996). Assumindo a

citocina IL-6 como determinante na redução das células Tregs, verificamos que tanto o

parasito em si quanto produtos microbianos são capazes de induzir a produção de IL-6

in vitro por macrófagos e células dendríticas derivadas de medula óssea de

camundongos resistentes e susceptíveis.

Na infecção intestinal por T. gondii foi demonstrado que neutrófilos e os

monócitos inflamatórios apresentam um papel importante na regulação da inflamação,

atuando na contenção de bactérias comensais (Dunay, Fuchs et al. 2010; Dunay and

Sibley 2010; Grainger, Wohlfert et al. 2013). Os monócitos inflamatórios possuem

importante papel na regulação da homeostase intestinal. Num contexto de inflamação,

em modelos de colite induzida por DSS (sulfate sodium salt), essas células são capazes

de induzir a produção de IL-6 e IL-23, mediante aumento da expressão de TLR2 e

NOD2, o que os tornam mais sensíveis aos produtos da microbiota (Zigmond, Varol et

al. 2012). Durante a infecção por T.gondii, o monócito inflamatório também pode

apresentar papel regulador através da produção de mediadores como prostaglandina E2

(PGE2) e IL-10 em resposta a organismos comensais (Grainger, Wohlfert et al. 2013).

PGE2 atua sobre neutrófilos, inibindo a ação destes e controlando a patogênese da

doença (Grainger, Wohlfert et al. 2013). Essas células são importantes no controle do

parasito e em modelos de infecção crônica por T. gondii, é demostrado que o

recrutamento de monócitos inflamatórios em resposta à profilina (ligante de TLR11/12)

é capaz de tornar camundongos resistentes à coinfecção de outros microorganismos,

78

como L. monocytogenes mediante produção de IFN-γ (Neal and Knoll 2014). Já os

neutrófilos possuem um papel variado podendo, tanto contribuir com o aumento da

lesão tecidual através da produção de TNF-α e de citocinas inflamatórias (Fournier and

Parkos 2012), quanto conter a disseminação de bactérias ao evitar o contato destas com

o epitélio intestinal (Molloy, Grainger et al. 2013). Nossos dados demonstram que

monócitos inflamatórios e neutrófilos estariam contribuindo significativamente com a

exacerbação da resposta inflamatória mediante infecção por T. gondii. Durante a fase

aguda da infecção, ambas as populações são bastante recrutadas para a lâmina própria

intestinal, sendo as subpopulações mais infectadas pelo parasito. Essas populações

produzem quantidades significativamente altas da citocina IL-6. Na lâmina própria

Intestinal, subpopulações de células dendríticas atuam de maneira importante na

homeostase. Dentre as populações, observamos que além de produzirem quantidades

exacerbadas de IL-6, subpopulações com células CD103+CD11b+, importantes para a

indução de Tregs, encontram-se diminuídas após a infecção (Denning, Wang et al.

2007). Já a subpopulação de células CD103-CD11b+, dentre as quais é possível

encontrar, macrófagos, identificados pela expressão do receptor de quimiocina CX3CR1

(Bogunovic, Ginhoux et al. 2009) encontra-se aumentada. É importante destacar que a

produção de IL-6 por células dendríticas pode exercer uma influência mais acentuada

sobre as populações de Treg dos órgãos linfóides drenantes em relação a lâmina Própria,

visto que após ativação, tais células migram para os linfonodos drenantes.

Nesse contexto, a produção diferencial de IL-6 parece estar relacionada à via dos

receptores TLRs, uma vez que macrófagos e células dendríticas derivadas da medula

óssea de camundongos deficientes para a moléculas adaptadora MyD88 tem a produção

dessa citocina prejudicada. Quando testamos in vivo a relação de receptores mais

relacionados ao reconhecimento do parasito como TLR2, TLR4, TLR9, TLR11 e

79

TLR12, com o colapso de Tregs e produção de IL-6, não obtivemos resultados que

demonstrassem que uma dessas vias estivesse associada ao colapso das células Tregs.

Em conjunto, esses dados reforçam a hipótese de que a microbiota intestinal estaria

relacionada à exacerbação da inflamação intestinal durante a infecção experimental por

T. gondii. De fato, quando avaliamos a translocação bacteriana em camundongos

deficientes para TLR2, TLR4 e TLR9, observamos a ocorrência de translocação em

camundongos deficientes para TLR2 e TLR9. Durante a infecção por T. gondii, é

demonstrado que nos camundongos deficientes para o receptor TLR4, a população de E.

coli aumenta no íleo. No entanto, esses animais teriam a resistência à infecção

aumentada em decorrência do não reconhecimento das bactérias intestinais na ausência

de TLR4. Desse modo, ocorre menor produção de IFN-γ e óxido nítrico (NO) na região

terminal do íleo. Esses dados divergem de nossos resultados, uma vez que, embora não

apresentem translocação da microbiota intestinal durante a infecção por T. gondii, os

animais deficientes para o receptor TLR4 sucumbem à infecção ainda na fase aguda. Já

o receptor TLR9 não está envolvido na inflamação intestinal desencadeada durante a

infecção por T. gondii, uma vez que a patogênese observada nos animais deficientes

para TLR9 apresentam ileíte comparável aos animais selvagens infectados, havendo, no

entanto, maior produção de IFN-γ e maior carga parasitária (Bereswill, Kuhl et al.

2014). Nesse sentido, nossos dados demonstram que os animais deficientes para o

receptor TLR9 apresentam redução da população de Tregs comparável aos animais

selvagens, além de altos níveis de RNAm para IL-6 no intestino delgado.

Os dados demonstram que o reconhecimento da microbiota intestinal está mais

relacionado à produção diferencial de IL-6 e colapso de Tregs. Isso é reforçado pelo não

envolvimento dos receptores TLR11 e TLR12, específicos no reconhecimento da

profilina de T. gondii e desenvolvimento de resposta Th1 contra T. gondii (Raetz,

80

Kibardin et al. 2013). Outro dado que reforça a hipótese é a produção de IL-6 em maior

quantidade por monócitos inflamatórios e neutrófilos não infectados durante a infecção

por T. gondii. Assim, monócitos inflamatórios e neutrófilos seriam sensibilizados em

resposta às bactérias translocadas durante a fase aguda da infecção por T. gondii. Nesse

sentido, a depleção da microbiota intestinal, mediante tratamento com antibióticos de

amplo espectro leva à recuperação da população de Tregs nos animais susceptíveis,

além de diminuir os níveis de IL-6 secretados. A depleção da microbiota mediante

tratamento com antibióticos inibe ainda a patogênese tecidual observada nos animais

susceptíveis durante a infecção por T. gondii.

Portanto, a utilização da infecção experimental por T. gondii como modelo para

estudo de fenômenos associados às respostas imunológicas de mucosa é bastante válida.

Assim, utilizando-se dessa abordagem, pudemos demonstrar que o parasito é capaz de

induzir inflamação intestinal exacerbada devido à perda dos mecanismos reguladores da

resposta imune tecidual, mais especificamente, do intestino delgado. Isso leva à

produção diferencial de IL-6 em resposta não somente ao parasito, mas à microbiota

translocada, e ao consequente colapso das células Treg no sítio de infecção e órgãos

linfoides associados. Dessa forma, o modelo contribui para o entendimento dos

mecanismos envolvidos no desenvolvimento de grande diversidade de doenças

inflamatórias intestinais associadas à quebra da tolerância contra organismos comensais.

81

6666---- CONCLUSÃOCONCLUSÃOCONCLUSÃOCONCLUSÃO

82

6 – CONCLUSÃO

Os dados gerados durante o trabalho permitem concluir que a microbiota possui

importante papel na mediação da redução da população das células Tregs no contexto

da infecção oral por T.gondii. Bactérias comensais translocadas do intestino delgado

após a infecção estimulam a produção de IL-6 por monócitos inflamatórios e neutrófilos

não parasitados. Desse modo a infecção por T. gondii, ao desencadear a translocação da

microbiota intestinal, induz a produção exacerbada de IL-6 e a consequente redução das

células Tregs.

83

7777----REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

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