79
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA A importância da cutia Dasyprocta azarae como hospedeiro intermediário do carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP Ribeirão Preto, SP Vinicius Alberici Roberto Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas RIBEIRÃO PRETO SP 2013

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

  • Upload
    hathu

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

A importância da cutia Dasyprocta azarae como hospedeiro intermediário do

carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP – Ribeirão Preto, SP

Vinicius Alberici Roberto

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a

obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas

RIBEIRÃO PRETO – SP

2013

Page 2: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

A importância da cutia Dasyprocta azarae como hospedeiro intermediário do

carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP – Ribeirão Preto, SP

Vinicius Alberici Roberto

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo, como parte das exigências para a

obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas

Orientador: Dr. Carlos Alberto Perez

RIBEIRÃO PRETO – SP

2013

Page 3: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

“C'est même des hypothèses simples qu'il faut le plus se

défier, parce que ce sont celles qui ont le plus

de chances de passer inaperçues”

Jules Henri Poincaré

Thermodynamique, 1892

Page 4: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Agradecimentos

Ao Dr. Carlos Alberto Perez, por contribuir inigualavelmente para minha

formação acadêmica, profissional e pessoal; pelos saberes comigo compartilhados, pelo

respeito, reconhecimento e companheirismo, sou grato.

À Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo pela bolsa de

Iniciação Científica concedida.

À Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, que me acolheu

nos últimos cinco anos e me ofereceu incontáveis oportunidades de desenvolvimento e

lembranças das mais importantes.

À Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto, pelo suporte dado à equipe

durante a realização dos trabalhos, especialmente ao Prof. Dr. José Moacir Marin,

prefeito quando os trabalhos se iniciaram; Prof. Dr. Wagner Eustáquio Paiva Avelar,

vice-prefeito; Prof. Dr. Osvaldo Luiz Bezzon, atual prefeito; bem como à Alexandra

Lacerda dos Santos Soares, Selma Lúcia de Carvalho, Luci Aparecida Ferreira

Castrechini e Alessandra Bagatim Alves.

À Seção de Transportes, pela disposição e pelo comprometimento em nos

atender da melhor forma possível durante os trabalhos, em especial: Fátima Aparecida

Lúcio Júlio, Maria Antônia Contart Campinas, Ahmad Sarkis Kanaan, Carlos Roberto

Simão, Christovão Inácio dos Santos, José Joaquim de Araújo, José Luiz Paul Júnior,

José Márcio Zanetti, Nelson Luiz de Assis, Thiago Luiz David Pereira e Zélio Carlos da

Silva.

À Seção de Parques e Jardins, pela colaboração, em especial: Paulo Roberto

Barbosa, Dalton Aparecido Mataruco, Sérgio Donizete Rodrigues, Geraldo Avelar, José

Rodrigues, Sebastião de Oliveira, Pedro da Silva, Flávio Carvalho, Paulo Ozório, José

Festucci, Maurício Balatori, Geraldo Precinotto, Luiz Flávio Barucci e Helen Rosangela

Forni.

À Seção de Oficinas, pela confecção dos materiais utilizados nesta pesquisa.

Ao Médico Veterinário Helder Tambellini, pelo apoio imprescindível na

obtenção de dados e por disponibilizar o Biotério Central da USP-RP para manutenção

dos animais em cativeiro.

Page 5: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Ao Dr. Hertz Figueiredo dos Santos pelo empréstimo de materiais utilizados

para captura dos animais e por nos atender prontamente sempre que solicitado.

Ao Me. Gilberto Sabino-Santos Jr., pelo apoio na implementação dos métodos

de coleta, processamento e armazenamento de material biológico coletado em campo

para posterior análise laboratorial.

Aos colegas do NEC – Núcleo de Estudos do Carrapato-estrela de Ribeirão

Preto – André Bordinassi Medina, Daiane Arruda de Almeida Dupim e Felipe Trevisan

Ortiz, afinal, somos uma equipe.

Aos meus pais, Edvaldo Targa Roberto e Lizete Carmem Alberici Roberto, por

terem me dado toda a estrutura física e psíquica necessárias à minha caminhada; por

terem sido o alicerce sobre o qual eu me construí e por serem o reflexo no qual me

espelho; pela educação que me deram e pelo amor com que me criaram, sou e serei

sempre grato.

Ao meu irmão, Thiago Alberici Roberto, por nunca ter deixado de discutir

comigo sobre a vida, o universo e tudo mais.

À minha namorada, Marina Almeida Martinelli, pelo carinho, paciência e

amizade; por ter preenchido a minha vida com alegria e por ter acreditado em mim

quando eu mesmo não acreditava; por me amar e me deixar amá-la como eu amo.

À XXT e a seus ilustres moradores, residentes ou não, que tantas vezes me

receberam e fizeram desta a minha segunda casa.

À 45ª turma da Biologia – USP-RP, a gente tem tudo pra dar certo!

Page 6: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Lista de Abreviaturas

CA: comprimento da cauda

CC: comprimento cabeça-corpo

DP: desvio-padrão

ED: Educação Física

EEFERP: Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto

ESALQ: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

E.U.A.: Estados Unidos da América

FFCLRP: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

FMB: Febre Maculosa Brasileira

IC: intervalo de confiança

m.a.: milhões de anos

MC: massa corporal

MT: Mata do Museu

MUS: Música

n: número de animais

NEC: Núcleo de Estudos do Carrapato-estrela de Ribeirão Preto

O: comprimento da orelha interna

PCARP: Prefeitura do campus de Ribeirão Preto

PÉ: comprimento da pata posterior com unha

USP-RP: Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto

UTM: Universal Transversa de Mercator

Page 7: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Lista de Figuras

Figura 1. Distribuição conhecida de Amblyomma cajennense nas regiões Neártica e

Neotropical, baseada em revisão literária e de coleções da Argentina e do Brasil. Os

registros na América do Norte incluem E.U.A. (Texas e Flórida) e México; na América

Central incluem Belize, Nicarágua, Guatemala, Costa Rica, Panamá, El Salvador,

Honduras, Cuba, Jamaica, Trinidad e Tobago e outras Pequenas Antilhas; na América

do Sul incluem Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Peru,

Bolívia, Brasil, Paraguai e Argentina. Os registros com pontos mais claros no mapa

(Uruguai e sul do Brasil) são apontados como identificações errôneas. Adaptado de

Estrada-Peña et al. (2004). ............................................................................................. 10

Figura 2. Distribuição conhecida de Amblyomma dubitatum na América do Sul (pontos

escuros). Os números representam províncias biogeográficas definidas por Morrone

(2006): (15) Amapa; (21) Pantanal; (24) Cerrado; (25) Chaco; (26) Pampa; (28)

Brazilian Atlantic Forest; (29) Parana Forest; (30) Araucaria angustifolia Forest.

Adaptado de Nava et al. (2010). ..................................................................................... 11

Figura 3. Dinâmica sazonal de Amblyomma cajennense de vida livre no sudeste

brasileiro. Notar o maior número de formas imaturas (larvas e ninfas) na estação seca

(abril a setembro) e o maior número de adultos na estação chuvosa (outubro a março).

Fonte: Labruna (2000). ................................................................................................... 12

Figura 4. Imagem de satélite do campus da USP de Ribeirão Preto. Fonte: Google

Earth (2012). ................................................................................................................... 30

Figura 5. Armadilha do tipo Tomahawk, iscada com atrativo alimentar e armada em

local de captura, no campus da USP - Ribeirão Preto. .................................................. 33

Figura 6. Localização das armadilhas do tipo Tomahawk utilizadas na captura de

indivíduos da espécie D. azarae no campus da USP – Ribeirão Preto. ED = Educação

Física, MUS = Música, MT = Mata do Museu. Fonte: Google Earth (2012). ............... 34

Figura 7. Procedimentos realizados em Biotério com os animais capturados da espécie

Dasyprocta azarae no campus da USP-RP. A) Contenção manual do animal realizada

dentro da gaiola metálica com o auxílio de uma tábua de madeira; B) Manipulação do

animal após aplicação do anestésico, com a utilização de luvas de raspa de couro; C)

Marcação do animal com brinco de identificação numerado na orelha direita, com o

auxílio de um alicate apropriado; D) Retirada de 1ml de sangue do animal, por punção

cardíaca. Data das fotografias: A) 04/06/2012; B) 01/06/2012; C) 11/12/2012; D)

04/06/2012. ..................................................................................................................... 37

Figura 8. Manutenção dos animais no Biotério Central. A) Gaiola metálica coberta com

pano preto para evitar o estresse do animal; B) Bandeja removível contendo maravalha

para acomodar os carrapatos que se desprendem naturalmente após o ingurgitamento e

fita adesiva nas laterais para impedir sua fuga; C) Cutia dentro de gaiola contendo frutos

e vasilhames com água; D) Cutia sendo liberada no mesmo local de captura, após uma

semana em biotério. Data das fotografias: A) 01/06/2012; B) 05/12/2012; C)

04/06/2012; D) 06/06/2012. ........................................................................................... 38

Page 8: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Figura 9. A) Carrapatos acondicionados em Eppendorf com chumaço de algodão

umedecido com água; B) Estufa com temperatura e umidades medidas por higrômetro

digital. Laboratório do Núcleo de Estudos do Carrapato-estrela de Ribeirão Preto....... 39

Page 9: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Lista de Tabelas

Tabela 1. Classificação dos hospedeiros e sua relação com os parasitas. Adaptado de

Croll (1968). ................................................................................................................... 14

Tabela 2. Especificidade carrapato-hospedeiro. Adaptado de Hoogstraal e Aeschlimann

(1982). ............................................................................................................................ 16

Tabela 3. Parasitismo por Amblyomma cajennense em espécies de animais domésticos

e silvestres (nomes populares). Adaptado de Rohr (1909), Robinson (1926) e Aragão

(1936). ............................................................................................................................ 18

Tabela 4. Coordenadas geográficas (UTM) dos pontos de instalação das armadilhas do

tipo Tomahawk utilizadas na captura de indivíduos da espécie Dasyprocta azarae

(cutia) no campus da USP – Ribeirão Preto. ED = Educação Física, MUS = Música, MT

= Mata do Museu, EEFERP = Escola de Educação Física e Esportes de Ribeirão Preto,

FFCLRP = Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto.. .................... 35

Tabela 5. Data e local de captura de cada indivíduo da espécie Dasyprocta azarae no

campus da USP-RP, de janeiro de 2012 a janeiro de 2013. Grupo A = coletas realizadas

no período de larvas do carrapato-estrela; Grupo B = coletas realizadas no término do

período de ninfas do carrapato-estrela, Grupo C = coletas realizadas o período de

adultos do carrapato-estrela. ........................................................................................... 41

Tabela 6. Dados biométricos dos animais capturados da espécie D. azarae. CC -

Comprimento cabeça-corpo, CA – comprimento da cauda. PÉ - comprimento da pata

posterior com unha, O - comprimento da orelha interna, MC – Massa corporal, DP –

desvio-padrão; n – número de animais amostrados; IC – intervalo de confiança. ......... 42

Tabela 7. Número de carrapatos (larvas, ninfas e adultos) por cutia capturada no

campus da USP-RP. ........................................................................................................ 43

Tabela 8. Índices de infestação por larvas de carrapatos-estrela (Amblyomma spp.) em

cutias (D. azarae) capturadas no campus da USP-RP, segundo Margolis et al., 1982 e

Bush et al., 1989. n – número de indivíduos. ................................................................. 44

Tabela 9. Índices de infestação por ninfas de carrapatos-estrela (Amblyomma spp.) em

cutias (D. a azarae) capturadas no campus da USP-RP, segundo Margolis et al., 1982 e

Bush et al., 1989. n – número de indivíduos. ................................................................. 44

Tabela 10. Índices de infestação por estádios imaturos (larvas e ninfas) de carrapatos-

estrela (Amblyomma spp.) em cutias (D. azarae) capturadas no campus da USP-RP,

segundo Margolis et al., 1982 e Bush et al., 1989. n – número de indivíduos............... 44

Tabela 11. Larvas e ninfas identificadas, após ecdise, para cada animal capturado. .... 46

Page 10: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Tabela 12. Dados biométricos dos animais capturados da espécie D. azarae e

comparação com os obtidos por Iack-Ximenes (1999). CC - Comprimento cabeça-

corpo, CA – comprimento da cauda. PÉ - comprimento da pata posterior com unha, O -

comprimento da orelha interna, MC – Massa corporal, n = número de animais

amostrados. ..................................................................................................................... 50

Page 11: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

Sumário

Resumo ............................................................................................................................ 1

1. Introdução ................................................................................................................... 2

2. Revisão Bibliográfica .................................................................................................. 5

2.1. Caracterização geral dos carrapatos ...................................................................... 5

2.2. Biologia do carrapato-estrela Amblyomma spp. ................................................... 7

2.2.1. Distribuição geográfica de A. cajennense e A. dubitatum .............................. 9

2.2.2. Dinâmica sazonal de A. cajennense e A. dubitatum ..................................... 12

2.2.3. Especificidade parasitária ............................................................................. 14

2.2.4. Amblyomma cajennense e seus hospedeiros ................................................. 18

2.2.5. Amblyomma dubitatum e seus hospedeiros .................................................. 22

2.3. Biologia do gênero Dasyprocta Illiger, 1811 ...................................................... 23

2.4. Parasitismo em Dasyprocta Illiger, 1811 ............................................................ 26

2.5. Hospedeiros reservatórios e amplificadores de R. rickettsii ................................ 28

3. Objetivos .................................................................................................................... 29

3.1. Objetivo geral ...................................................................................................... 29

3.2. Objetivos específicos ........................................................................................... 29

4. Material e Métodos ................................................................................................... 30

4.1. Caracterização da área de estudo ......................................................................... 30

4.2. Delineamento amostral ........................................................................................ 32

4.3. Captura dos animais ............................................................................................ 33

4.4. Contenção química e biometria ........................................................................... 36

4.5. Manutenção em biotério e soltura dos animais ................................................... 38

4.6. Identificação dos ectoparasitos ............................................................................ 39

4.7. Análise dos dados ................................................................................................ 40

5. Resultados ................................................................................................................. 41

5.1. Captura e biometria ............................................................................................. 41

5.2. Prevalência, intensidade e abundância de parasitismo por Amblyomma spp. ..... 43

5.3. Identificação das espécies de Amblyomma spp. .................................................. 46

6. Discussão ................................................................................................................... 47

7. Conclusões ................................................................................................................. 57

8. Referências Bibliográficas ....................................................................................... 58

Page 12: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

1

Resumo

Este estudo teve como objetivo identificar o potencial de parasitismo de Amblyomma

spp. (carrapatos-estrela) em indivíduos da espécie Dasyprocta azarae (cutia) no campus

da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto. Entre os meses de janeiro de 2012 e

janeiro de 2013 foram realizadas coletas acompanhando a sazonalidade do carrapato-

estrela. Os animais capturados foram mantidos em biotério e os seus carrapatos

contados e identificados. Foram avaliadas a prevalência, intensidade média, intensidade

máxima e abundância média de infestação por Amblyomma spp. Todos os indivíduos

capturados (n=12) apresentaram-se parasitados por estádios imaturos de Amblyomma

spp, totalizando 1690 larvas e 665 ninfas de carrapatos-estrela. A prevalência de

infestação de 100% sugere forte relação entre o ambiente ocupado pelas cutias e pelos

carrapatos. A intensidade e abundância médias de infestação foram 234,80 ± 256,01,

com intensidade máxima de 707 carrapatos em um único animal. Foram encontradas

apenas formas imaturas (larvas e ninfas) de carrapatos, o que corrobora a hipótese da

espécie de cutia estudada ser hospedeira secundária de Ambylomma cajennense, espécie

que representou a maior porcentagem de parasitismo (99,14%), quando comparada a

Amblyomma dubitatum (0,86%). A relação de parasitismo entre o carrapato-estrela e as

cutias pode ser um indicativo de desequilíbrio ambiental no campus da USP-RP.

Palavras-chave: parasitologia, carrapato-estrela, Amblyomma, cutia, Dasyprocta

azarae, hospedeiro secundário.

Page 13: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

2

1. Introdução

Parasitas estão presentes em quaisquer populações naturais e são essenciais ao

equilíbrio de suas comunidades (CROLL, 1968). Carrapatos são ectoparasitas que

dependem da presença de uma ou mais espécies de vertebrados para se estabelecer em

um ecossistema, mas apenas a presença dos hospedeiros não é suficiente, pois fatores

abióticos determinam sua sobrevivência e desenvolvimento no ambiente (ESTRADA-

PEÑA et al., 2004). Mudanças ambientais podem afetar populações de hospedeiros e

parasitas, criando novas relações de parasitismo ou alterando e até extinguindo relações

já existentes; desta forma, o estudo da fauna de ectoparasitos de uma região pode

indicar modificações no ambiente em uma escala temporal (LABRUNA et al., 2002b).

Um dos efeitos mais significativos da fragmentação e degradação de ambientes

naturais é a alteração na composição da fauna ao longo do tempo; enquanto algumas

espécies são extintas localmente, outras colonizam o fragmento e passam a fazer parte

de sua biota (JORDANO et al., 2006), pois as espécies afetadas podem responder de

diferentes maneiras à fragmentação (ROBINSON et al., 1992). Fatores como a

homogeneização da oferta de alimentos e de habitat são geralmente negativos para a

fauna, causando declínio de suas populações; contrariamente, algumas alterações podem

levar ao favorecimento de determinadas espécies: a substituição de ambientes naturais

por paisagens agropastoris pode favorecer o aumento populacional de espécies

sinantrópicas com alta capacidade reprodutiva, pouca exigência quanto ao habitat e de

dieta generalista como as capivaras e os gambás (PINTO, 2003; FERRAZ et al., 2006).

A capivara, Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766), por exemplo,

expandiu sua presença em muitas áreas naturais antropizadas, provavelmente devido a

algumas de suas características, como o curto período de gestação, fácil adaptação em

habitats alterados e dieta generalista, além da ausência de predadores naturais e da

proibição de caça (QUEIROGAS, 2010). O mesmo autor afirma que as modificações

ambientais de origem antrópica beneficiaram não apenas os animais capazes de se

adaptar a áreas modificadas, mas também seus parasitos. No interior do estado de São

Paulo, capivaras são abundantes em áreas endêmicas para a Febre Maculosa Brasileira

(FMB), uma doença transmitida ao homem pela picada de carrapatos do gênero

Amblyomma (Acari: Ixodidae), notadamente Amblyomma cajennense Fabricius, 1787,

Page 14: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

3

espécie conhecida popularmente por carrapato-estrela e vetor da Rickettsia rickettsii

(Wolbach, 1919), a bactéria causadora da FMB.

É crescente a preocupação com doenças emergentes que surgem a partir do

contato entre a vida selvagem, os animais domésticos e o homem (LAFFERTY, 1997).

Carrapatos são reconhecidamente transmissores de agentes biológicos (e.g. vírus,

bactérias e protozoários) e para entender a ecologia das zoonoses por eles transmitidas é

necessário investigar a interação entre patógenos, vetores e hospedeiros (PAULASKAS

et al., 2009). Entretanto, segundo Bossi et al. (2002), a maioria dos estudos sobre

ectoparasitas incluem inventários, descrições taxonômicas e relatos de associações entre

parasitas e seus hospedeiros, mas poucos avaliam as interações sob uma abordagem

ecológica.

As infestações de carrapatos-estrela em dois campi da Universidade de São

Paulo, na ESALQ em Piracicaba e, mais recentemente, em Ribeirão Preto, são exemplos

de desequilíbrios ambientais resultantes dos processos supracitados, decorrentes da

atividade humana. O município de Ribeirão Preto, particularmente, sofreu grande

alteração em sua paisagem natural, marcada pela degradação e fragmentação das áreas

florestais, notadamente devido aos ciclos econômicos do café e da cana-de-açúcar no

século passado e, mais recentemente, à expansão urbana (KOTCHETKOFF-

HENRIQUES, 2003).

Como relata Perez (2007), a partir da realização do diagnóstico ambiental do

campus “Luiz de Queiroz” foi possível identificar um conjunto de indicadores que

classificam determinadas áreas como de alto risco para infestação pelo carrapato-estrela,

tais como: histórico de reclamações de picadas de carrapatos pelos frequentadores do

campus; proximidade de locais de pesquisa e trabalho a matas ciliares; corpos d‟água e

alimento em abundância para os hospedeiros e relatos de observação de capivaras e

gambás. Dessa forma, verifica-se que o campus de Ribeirão Preto da Universidade de

São Paulo encontra-se em uma área propícia para a proliferação do carrapato-estrela,

pois atende às características acima citadas, conforme corroborado por Ortiz (2012).

Visando prevenir problemas de saúde pública, faz-se necessário identificar os

hospedeiros primários e secundários do carrapato-estrela em áreas endêmicas para

FMB, visto que eles podem ser utilizados como indicadores biológicos dos níveis de

infestação no ambiente (PEREZ, 2008). Este estudo foi realizado com o objetivo de

Page 15: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

4

identificar a importância da espécie Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823 (cutia) na

manutenção do ciclo de vida do carrapato-estrela e na dispersão de seus estádios

imaturos no ambiente. As informações obtidas poderão elucidar o papel das cutias na

epidemiologia da FMB e os impactos das modificações ambientais nas relações

estabelecidas entre a comunidade de mamíferos hospedeiros e o carrapato-estrela no

campus da USP-RP.

Page 16: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

5

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Caracterização geral dos carrapatos

Carrapatos são artrópodes ectoparasitas que se alimentam, em todas as fases pós-

embrionárias, de sangue, linfa e/ou restos tissulares presentes na pele de animais

vertebrados (VIEIRA et al., 2004). Apresentam características morfológicas distintas,

como a presença de hipostômio e quelíceras denticulados, órgão de Haller e placas

espiraculares (BARROS-BATTESTI et al., 2006). São de grande importância médico-

veterinária, por serem vetores de arbovírus, bactérias e protozoários (BAKER, 1999),

além de causarem injúrias aos hospedeiros pela introdução de toxinas, e por poderem

provocar irritação e infecção nos locais em que se fixam (FLECHTMANN, 1975). São

ácaros incapazes de locomoção a grandes distâncias, mas podem ser transportados por

seus hospedeiros, o que, aliado a elevadas taxas reprodutivas, os torna organismos com

alta capacidade de dispersão nos mais variados ambientes (RHOR, 1909).

A revisão mais recente da sistemática dos carrapatos foi realizada por

Guglielmone et al. (2010). Segundo estes autores, são reconhecidas atualmente 896

espécies de carrapatos, divididas em três famílias: Argasidae (193 spp.), Ixodidae (702

spp.) e Nuttalliellidae (1 spp.). No Brasil, existem 61 espécies de carrapatos, sobretudo

da família Ixodidae, representada na região Neotropical pelos gêneros Amblyomma,

Dermacentor, Haemaphysalis, Ixodes e Rhipicephalus (BARROS-BATTESTI et al.,

2006).

Segundo Nava et al. (2009), a origem dos carrapatos é incerta, devido à escassez

de registros fósseis, os mais antigos datando do retáceo m dio m a . As

hipóteses correntes na literatura baseiam-se em evidências (morfológicas, ecológicas e

biogeográficas) obtidas a partir das espécies atuais, variando entre os períodos

Paleozóico superior e Mesozóico inferior 3 a 2 m a , embora alguns autores

sugiram origens mais remotas, no Devoniano (OLIVER, 1989), ou mais recentes, no

Cretáceo (KLOMPEN et al., 1996). Mans et al. (2011) encontraram indivíduos da

espécie Nuttalliella namaqua Bedford, 1931, única representante da família

Nuttalliellidae, na África do Sul; dada à posição basal desta família em relação às

demais, eles sugerem que as linhagens ancestrais de carrapatos originaram-se na região,

antiga Gondwana, no Permiano médio (260-270 m.a.), como parasitas de terapsídeos

(ancestrais de mamíferos). De acordo com os autores, a diversificação de vertebrados e

Page 17: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

6

diápsidos após o evento de extinção em massa do Permo-Triássico (251 m.a.) ocorreu

paralelamente aos eventos de especiação que originaram a maioria das espécies de

carrapatos.

A caracterização dos carrapatos ixodídeos aqui apresentada baseia-se em

Barros-Battesti et al. (2006): os indivíduos da família Ixodidae apresentam um ciclo de

vida constituído por um estádio inativo (ovo) e três estádios móveis e hematófagos

(larva, ninfa e adulto). As larvas são hexápodes e as ninfas e os adultos são octópodes,

sendo facilmente distinguíveis pelo tamanho. Os machos possuem um escudo

esclerotizado que cobre toda a região dorsal, razão pela qual os ixodídeos são chamados

de “carrapatos duros”, diferentemente dos argasídeos, que por não possuírem escudo

são chamados de “carrapatos moles” Os ixodídeos alimentam-se durante vários dias

sobre o hospedeiro, período denominado de repasto sanguíneo, após o qual descem ao

solo e sofrem a ecdise. A maioria das espécies de carrapatos ixodídeos é trioxena, pois

completa o ciclo de vida em três hospedeiros, não necessariamente da mesma espécie.

Após a cópula e repasto, a fêmea desce do hospedeiro e põe milhares de ovos no solo,

morrendo em seguida, enquanto o macho permanece no hospedeiro e copula com várias

fêmeas.

Page 18: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

7

2.2. Biologia do carrapato-estrela Amblyomma spp.

O gênero Amblyomma Koch, 1844 possui 130 espécies válidas

(GUGLIELMONE et al., 2010), sendo que 45 espécies são endêmicas da região

Neotropical (VOLTZIT, 2007) e 33 ocorrem no Brasil (BARROS-BATTESTI et al.,

2006), constituindo assim o gênero com maior número de espécies de carrapato no país.

Pela ornamentação característica dos machos, as espécies do gênero Amblyomma

são comumente chamadas de “carrapatos-estrela”, sendo que os mais frequentemente

encontrados no interior do estado de São Paulo são Amblyomma cajennense (Fabricius,

1787) e Amblyomma dubitatum Neumann, 1899. Segundo Guglielmone et al. (2010),

Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) é a espécie tipo do gênero Amblyomma Koch,

1844, embora os autores comentem sobre a hipótese de que ela comporte um complexo

de espécies crípticas1. A espécie A. dubitatum Neumann, 1899 é frequentemente citada

como seu sinônimo-júnior, Amblyomma cooperi Nuttall and Warburton, 1908.

A. cajennense é considerada de grande relevância para a saúde pública no Brasil,

por ser importante vetor da bactéria R. rickettsii, agente etiológico da Febre Maculosa

Brasileira (FMB) (HORTA et al., 2009), enquanto A. dubitatum parece desempenhar

um papel secundário na epidemiologia da FMB, tendo sido isolada, a partir de um

exemplar desta espécie parasitando capivaras, uma riquétsia do grupo da febre maculosa

numa área endêmica para FMB em Pedreira, SP (LEMOS et al., 1996). Além disso, A.

dubitatum é um potencial vetor de Rickettsia parkeri e Rickettsia bellii em áreas

endêmicas para FMB (LABRUNA et al., 2004) e recentemente foi relatado o

parasitismo de imaturos e adultos dessa espécie no homem (LABRUNA et al., 2007).

A espécie A. cajennense é notadamente mais abordada na literatura e será tratada

aqui com maiores detalhes. Seu ciclo de vida pode ser resumido da seguinte maneira, de

acordo com os trabalhos de Rohr (1909) e Guglielmone et al. (2006):

Em geral, são necessários 30 a 40 dias de incubação dos ovos em temperatura

ambiente para o início da eclosão das larvas, que se estende por cerca de 20 dias;

temperaturas extremas (0ºC e 30ºC) estão fora da faixa ideal de incubação dos ovos. As

larvas apresentam uma cor pardo-amarelada e formam aglomerados em pontas de capim

1 Espécies crípticas podem ser definidas como populações naturais reprodutivamente isoladas, mas

morfologicamente semelhantes ou idênticas (MAYR, 1977)

Page 19: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

8

e gravetos à espera de hospedeiros; quando um animal toca o local a maioria sobe e,

após 3 a 7 dias de repasto sanguíneo, as larvas se desprendem e abrigam-se no solo dos

ambientes visitados pelo hospedeiro, onde ocorre a ecdise, que pode levar de 4 a 8

semanas. Após a mesma as ninfas sobem em um novo hospedeiro, no qual se alimentam

por 5 a 7 dias, retornando ao solo após o repasto e sofrendo nova ecdise, podendo

demorar de 4 a 8 semanas até que se tornem adultos.

Os adultos sobem em um novo hospedeiro após o endurecimento da cutícula e a

cópula ocorre sobre o hospedeiro. As fêmeas alimentam-se por 7 a 10 dias, em um

processo denominado ingurgitamento, e ao desprenderem-se do hospedeiro elas descem

ao solo e põem mais de 7.000 ovos, durante aproximadamente 25 dias. Alguns dias após

o término da oviposição a fêmea morre, enquanto os machos podem permanecer no

hospedeiro por várias semanas, podendo copular com outras fêmeas.

Rechav et al. (1997) relatam que os machos de A. cajennense produzem um

feromônio de agregação enquanto se alimentam, capaz de atrair ninfas e adultos de

ambos os sexos, o que torna o hospedeiro mais atrativo para outros carrapatos da mesma

espécie, podendo assim favorecer o sucesso reprodutivo dos machos.

Page 20: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

9

2.2.1. Distribuição geográfica de A. cajennense e A. dubitatum

Estrada-Peña et al. (2004) revisaram 1277 registros de ocorrência de A.

cajennense nas regiões Neártica e Neotropical, a partir de dados publicados na literatura

e de coleções da Argentina e do Brasil, com base nos quais propuseram um novo mapa

de distribuição geográfica para a espécie (Figura 1). Segundo os autores, a distribuição

de A. cajennense nas Américas parece limitar-se ao norte (27ºN) e ao sul (29ºS),

sobretudo devido a baixas temperaturas e diferentes padrões sazonais de precipitação.

No Brasil, a maioria dos registros do carrapato-estrela provém de zonas com

temperaturas médias anuais de 20ºC (18-26ºC); as baixas temperaturas restringem o

estabelecimento de populações no sul do país.

Semelhante distribuição foi encontrada por Labruna et al. (2005); os autores

revisaram o parasitismo por Amblyomma spp. em Carnivora e elaboraram um mapa de

distribuição geográfica, de acordo com os biomas brasileiros, para cinco espécies do

gênero – Amblyomma ovale, Amblyomma tigrinum, Amblyomma aureolatum,

Amblyomma parvum e Amblyomma cajennense. A espécie A. cajennense teve a maioria

dos registros nos biomas da região central do país, Cerrado e Pantanal, mas também em

alguns trechos degradados de Floresta Atlântica.

Nava et al. (2010) revisaram os registros de ocorrência de A. dubitatum com

base em dados publicados na literatura e coleções na Argentina, Brasil e Uruguai,

resultando em um mapa de distribuição da espécie nas províncias biogeográficas da

América do Sul, definidas por Morrone (2006) (Figura 2). A espécie apresenta a

maioria dos registros no nordeste da Argentina, sudeste do Brasil, leste do Paraguai e

parte do norte do Uruguai, notadamente nas províncias Pampa, Chaco, Cerrado, Floresta

Atlântica e Floresta de Araucárias. Os autores apontam ainda que a distribuição de A.

dubitatum é mais restrita do que a de seu principal hospedeiro, a capivara (H.

hydrochaeris), o que sugere que fatores ambientais (e.g. clima e vegetação), além da

presença de hospedeiros, influenciam na distribuição geográfica desse ácaro, tal como

verificado para três outras espécies do gênero, entre elas A. cajennense (ESTRADA-

PEÑA et al., 2004).

Page 21: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

10

Figura 1. Distribuição conhecida de Amblyomma cajennense nas regiões Neártica e Neotropical, baseada

em revisão literária e de coleções da Argentina e do Brasil. Os registros na América do Norte

incluem E.U.A. (Texas e Flórida) e México; na América Central incluem Belize, Nicarágua,

Guatemala, Costa Rica, Panamá, El Salvador, Honduras, Cuba, Jamaica, Trinidad e Tobago e

outras Pequenas Antilhas; na América do Sul incluem Colômbia, Venezuela, Guiana,

Suriname, Guiana Francesa, Peru, Bolívia, Brasil, Paraguai e Argentina. Os registros com

pontos mais claros no mapa (Uruguai e sul do Brasil) são apontados como identificações

errôneas. Adaptado de Estrada-Peña et al. (2004).

Page 22: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

11

Figura 2. Distribuição conhecida de Amblyomma dubitatum na América do Sul (pontos escuros). Os

números representam províncias biogeográficas definidas por Morrone (2006): (15) Amapa;

(21) Pantanal; (24) Cerrado; (25) Chaco; (26) Pampa; (28) Brazilian Atlantic Forest; (29)

Parana Forest; (30) Araucaria angustifolia Forest. Adaptado de Nava et al. (2010).

Page 23: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

12

2.2.2. Dinâmica sazonal de A. cajennense e A. dubitatum

A hipótese de que certas estações do ano sejam especialmente favoráveis a

determinados estádios do carrapato-estrela vem sendo discutida na literatura há décadas.

Aragão (1936) notou que nas estações secas e frias o carrapato-estrela A. cajennense

tornava-se praga no Brasil, sobretudo suas formas imaturas (larvas e ninfas).

Recentemente, diversos estudos sobre a dinâmica sazonal desta espécie foram

realizados no Rio de Janeiro (SERRA-FREIRE, 1982 apud OLIVEIRA et al., 2000),

em Minas Gerais (OLIVEIRA et al., 2000) e em São Paulo (LABRUNA, 2000;

LABRUNA et al., 2002a) e demonstraram que os estádios de vida-livre de A.

cajennense apresentam uma geração por ano, com predominância de imaturos (larvas e

ninfas) nas estações secas e frias (outono/inverno) e de adultos nas estações quentes e

chuvosas (primavera/verão) (Figura 3).

Figura 3. Dinâmica sazonal de Amblyomma cajennense de vida livre no sudeste brasileiro. Notar o maior

número de formas imaturas (larvas e ninfas) na estação seca (abril a setembro) e o maior

número de adultos na estação chuvosa (outubro a março). Fonte: Labruna (2000).

Labruna et al., 2003 atribuíram este padrão sazonal à diapausa comportamental2

das larvas no período que antecede o início da estação seca, garantindo assim que os

adultos entrem em atividade durante o período quente e chuvoso, com condições

climáticas favoráveis à postura e incubação dos ovos e ao desenvolvimento da cobertura

2 Diapausa comportamental pode ser definida como “ausência de comportamento de busca por

hospedeiros (BELOZEROV, 1982 apud LABRUNA et al., 2003).

Page 24: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

13

vegetal, que protege ovos e larvas da dessecação. Segundo os autores, é provável que o

início e o término da diapausa sejam controlados, respectivamente, pela maior ou menor

incidência solar diária, como já demonstrado para insetos (NETO et al., 1976).

Os estudos realizados por Souza et al. (2006) em São Paulo e Guedes e Leite

(2008) em Minas Gerais sugerem diferenças entre a dinâmica sazonal de A. cajennense

e de A. dubitatum. Adultos desta espécie tiveram aumento populacional a partir de

agosto, antes do relatado na literatura para A. cajennense, com declínio a partir de

março-abril. Quanto aos estádios imaturos, observou-se a presença de larvas e ninfas

entre outubro e março, período em que as larvas de A. cajennense encontram-se, em

princípio, em diapausa comportamental, o que levou os autores a considerarem tais

imaturos como pertencentes à espécie A. dubitatum.

Embora estes estudos tenham mostrado resultados que indicam um padrão

sazonal diferenciado para as duas espécies, com prolongamento da disponibilidade de

estádios de A. dubitatum em relação à população de A. cajennense, não foram

encontradas formas imaturas em alguns períodos do ano, o que poderia sugerir a

ocorrência de diapausa comportamental em larvas não alimentadas para as duas

espécies de carrapatos estudadas.

Page 25: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

14

2.2.3. Especificidade parasitária

Rohr (1909) classificou os hospedeiros de ixodídeos como habituais e acidentais,

justificando essa divisão como uma maneira de mostrar que os nomes comumente dados

aos carrapatos (e.g. carrapato de boi, carrapato de cão, carrapato de coelho) constituem

designações impróprias; para o autor, hospedeiro habitual é a espécie frequentemente

parasitada pelo carrapato, enquanto o acidental é o hospedeiro parasitado quando o

carrapato não encontra seu hospedeiro habitual, devido às condições ambientais.

Croll (1968) classificou os hospedeiros em quatro categorias: definitivos

(primários), intermediários (secundários), paratênicos e vetores (Tabela 1). Hospedeiros

paratênicos, embora sejam parasitados por formas infestantes (imaturas), tornando-as

disponíveis para hospedeiros definitivos (primários), não devem ser confundidos com

hospedeiros intermediários (secundários), pois nestes há desenvolvimento do parasita,

sendo, portanto, essenciais ao seu ciclo de vida.

Tabela 1. Classificação dos hospedeiros e sua relação com os parasitas. Adaptado de Croll (1968).

Hospedeiro Estádio do

parasita Necessidade Papel no ciclo de vida

Definitivo

(primário) Adulto Essencial

Desenvolvimento e maturação

sexual

Intermediário

(secundário) Imaturo Essencial Desenvolvimento e transmissão

Paratênico Imaturo “Ecológica” “Ecológico”

Vetor Imaturo Essencial Transmissão

Para que ocorra o estabelecimento de uma população de carrapatos trioxenos em

um determinado ambiente é necessária tanto a presença dos hospedeiros primários, que

satisfazem as condições necessárias para a reprodução dos indivíduos adultos, quanto a

dos hospedeiros secundários, preferencialmente parasitados por formas imaturas

(BARROS-BATTESTI et al., 2006).

Aragão (1936) notou que algumas espécies do gênero Amblyomma apresentavam

um “parasitismo muito disseminado” ou um “ecletismo no parasitismo” das fases

imaturas, enquanto outras espécies parasitavam, especialmente durante a fase adulta,

grupos restritos de animais. O autor apontou também que nos animais parasitados por

Page 26: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

15

carrapatos existe predominância de determinada fase do desenvolvimento (larva, ninfa

ou adulto) sobre as demais, denominando este fenômeno como “predileção parasitária”

e atribuindo-a à época do ano e à biologia do carrapato.

Hoogstraal e Aeschlimann (1982) definem “especificidade parasita-hospedeiro”

como uma associação entre uma espécie de carrapato e outra de vertebrado (ou grupo de

espécies de vertebrados), que seja essencial para a reprodução e sobrevivência das

populações do carrapato. Segundo os autores, vertebrados que apresentam

comportamentos gregários e associados a locais de descanso e reprodução são

geralmente parasitados por carrapatos com maior grau de especificidade, enquanto

vertebrados errantes, com grandes áreas de vida e baixas densidades populacionais são

em geral parasitados por carrapatos com médio a baixo grau de especificidade. Foram

definidas seis categorias de especificidade parasitária, variando de estritamente

específica a generalista (Tabela 2).

Segundo Croll (1968), o grau de especificidade de um parasita é diretamente

proporcional às suas demandas fisiológicas, de tal maneira que estas devem ser supridas

pelo hospedeiro. Baer (1951), entretanto, afirma que a ausência de parasitismo por

determinada espécie pode ter causas ecológicas, pelo simples fato do hospedeiro não ter

entrado em contato com estádios infestantes; o autor defende o uso criterioso da

expressão “imunidade natural”, já que um hospedeiro não infestado não

necessariamente possui anticorpos que o protejam de determinado parasita, podendo ser

parasitado ao entrar em contato com este. Gaafar et al. (1985) vê a baixa especificidade

de parasitismo das formas imaturas como uma vantagem evolutiva, que confere às

formas infestantes a capacidade de completarem seu desenvolvimento em mais de um

hospedeiro.

Page 27: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

16

Tabela 2. Especificidade carrapato-hospedeiro. Adaptado de Hoogstraal e Aeschlimann (1982).

CATEGORIAS DE ESPECIFICIDADE TAXA

Total-Estrita (Strict-Total)

Adultos e imaturos (larvas e ninfas) são

estritamente específicos para um grupo limitado de

hospedeiros.

ARGASIDAE

Todos os gêneros

IXODIDAE

Aponomma e Boophilus3, Margaropus

Total-Moderada (Moderate-Total)

Adultos e imaturos (larvas e ninfas) são

estritamente específicos para um grupo não tão

limitado de hospedeiros (dados disponíveis são

frequentemente imprecisos).

ARGASIDAE

Ornithodoros

IXODIDAE

Ixodes, Amblyomma, Rhipicephalus

Estágio-Estágio-Estrita (Strict-Stage-Stage)

Adultos e imaturos são isoladamente específicos

para diferentes grupos limitados de hospedeiros.

IXODIDAE

Ixodes, Amblyomma, Hyalomma,

Dermacentor, Nosomma, Rhipicephalus

Estágio-Estágio-Estrita/Moderada

(Strict-Moderate-Stage-Stage)

a) Adultos são estritamente específicos para

determinado grupo de hospedeiros; imaturos são

moderadamente específicos para um grupo

diferente de hospedeiros.

IXODIDAE

b) Imaturos são estritamente específicos para

determinado grupo de hospedeiros; adultos são

moderadamente específicos para um grupo

diferente de hospedeiros.

Estágio-Estágio-Moderada

(Moderate-Stage-Stage)

Adultos e imaturos são moderadamente específicos

para diferentes grupos limitados de hospedeiros. IXODIDAE

Indeterminada (Nonparticular)

Adultos e imaturos são generalistas quanto aos

hospedeiros. IXODIDAE

3 Trabalhos taxonômicos recentes não consideram estes gêneros válidos. Algumas espécies do gênero

Aponomma foram posicionadas em Bothriocroton e as demais no gênero Amblyomma. Já o gênero

Boophilus foi classificado como sinônimo de Rhipicephalus (Guglielmone et al., 2010).

Page 28: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

17

Ainda de acordo com Hoogstraal e Aeschlimann (1982), a maioria dos

carrapatos ixodídeos apresenta certo grau de especificidade; embora o gênero

Amblyomma seja classificado como de especificidade total-moderada e estágio-estágio-

estrita, A. cajennense pertence à categoria “indeterminada”, ou seja, é pouco específico.

Lopes et al. (1998) analisou a especificidade de A. cajennense em seis diferentes

espécies de animais domésticos – coelho (Oryctolagus cuniculus), rato (Rattus

norvegicus), galinha (Gallus gallus domesticus), pato (Anas platyrhynchus), codorna

(Coturnix coturnix) e pomba (Streptopelia decorata). Cada potencial hospedeiro foi

infestado com uma carga de larvas (n=500), ninfas (n=150) ou adultos (cinco machos,

cinco fêmeas), de modo que para cada espécie doméstica houvesse animais infestados

com apenas uma das fases de desenvolvimento dos carrapatos. Os coelhos apresentaram

as maiores intensidades de parasitismo por larvas e ninfas, mas apenas cinco fêmeas

parcialmente ingurgitadas foram obtidas de dois desses animais; destas, apenas duas

produziram ovos, não viáveis.

O estudo demonstrou que A. cajennense apresenta menor especificidade nos

estádios imaturos, sobretudo nas larvas, e que nenhuma das espécies domésticas

analisadas é capaz de sustentar o ciclo de vida do carrapato-estrela, embora possam ser

importantes na dispersão de larvas e ninfas em áreas infestadas.

A baixa especificidade dos estádios imaturos de A. cajennense, embora necessite

ser confirmada em mais estudos, pode ser uma explicação do alto potencial de

sobrevivência e da vasta distribuição geográfica da espécie, condizendo com resultados

de diversos estudos que apontam o carrapato-estrela como a espécie mais encontrada

sob a forma de vida-livre no ambiente (CANÇADO, 2008; PEREZ, 2007;

OGRZEWALSKA, 2009), oferecendo os maiores riscos de disseminação de patógenos,

tanto para animais domésticos quanto para o homem.

Page 29: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

18

2.2.4. Amblyomma cajennense e seus hospedeiros

O primeiro registro sistematizado na literatura sobre os hospedeiros dos

carrapatos ixodídeos no Brasil foi realizado por Rohr (1909). Segundo o autor, os

mamíferos são os vertebrados mais frequentemente parasitados pelos ixodídeos,

seguidos pelas aves, os “r pteis” e raramente os anfíbios Dentre as ordens de

mamíferos conhecidas, apenas cetáceos e pinípedes não apresentam registro de

parasitismo por carrapatos. Os hospedeiros registrados por Rohr (1909) para A.

cajennense incluem tanto animais domésticos como silvestres, além do homem.

Robinson (1926) e Aragão (1936) confirmam o amplo parasitismo de A. cajennense,

acrescentando outros registros (Tabela 3).

Tabela 3. Parasitismo por Amblyomma cajennense em espécies de animais domésticos e silvestres

(nomes populares). Adaptado de Rohr (1909), Robinson (1926) e Aragão (1936).

Hospedeiros de Amblyomma cajennense

Domésticos Silvestres

Rohr

(1909)

cavalo, boi, cão, porco,

carneiro, cabra, coelho

veado, porco-do-mato, cachorro do mato, anta,

capivara, cutia, tamanduá-bandeira, quati, tatu

Robinson

(1926)

cavalo, boi, cão, porco,

carneiro, coelho

veado, cateto, cachorro do mato, anta, capivara,

tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, quati, tatu, sapo

Aragão

(1936)

cavalo, boi, cão, porco,

carneiro, cabra, coelho,

gato, codorna, peru,

galinha

veado mateiro, veado catingueiro, cervo, porco-do-

mato, cachorro do mato, cutia, tamanduá-bandeira,

tamanduá-mirim, quati, tatu, coelho do mato, sagui,

onça-pintada, onça-parda, gato do mato, paca,

morcego, guariba, macaco, porco-espinho, mocó,

seriema, cobra, lagarto

Estrada-Peña et al. (2004), após uma revisão da literatura sobre os hospedeiros

de A. cajennense, concluiram que a espécie é generalista – com relatos de parasitismo

por adultos e imaturos em diversas ordens de mamíferos silvestres, dentre elas:

Didelphimorphia (Didelphidae), Cingulata (Dasypodidae), Pilosa (Myrmecophagidae),

Carnivora (Canidae e Procyonidae), Perissodactyla (Tapiridae), Artiodacytla

(Tayassuidae e Cervidae), além de animais domésticos (cavalo, gado e cachorro). Os

autores citam a presença de estádios imaturos em diversas famílias de roedores

(Caviidae, Muridae, Dasyproctidae, Chinchillidae, Capromyidae e Echimyidae), além

de aves passeriformes, que parecem ser hospedeiros secundários, contribuindo para

Page 30: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

19

dispersar formas imaturas, mas não adultos. Alguns dos principais trabalhos revisados

por Estrada-Peña et al (2004) serão detalhados a seguir:

Labruna et al. (2002b) relatam parasitismo por A. cajennense em nove espécies

de mamíferos de diferentes ordens (Pilosa, Primates, Carnivora, Artiodactyla e

Rodentia); com exceção de Myrmecophaga tridactyla (Pilosa) e Pecari tajacu

(Artiodactyla), espécies em que foram encontrados adultos, todos os demais

hospedeiros abrigavam apenas estádios imaturos (larvas e ninfas) do carrapato estrela.

Os autores acreditam que a abundância de infestação por A. cajennense em uma

variedade de animais silvestres pode estar relacionada à disponibilidade de hospedeiros

primários (cavalos, gado, anta, capivara, porco-do-mato) no ambiente, bem como às

condições ambientais favoráveis aos estádios de vida-livre do carrapato.

Labruna et al. (2005) realizaram uma revisão dos carrapatos parasitas de

carnívoros silvestres no Brasil e encontraram A. cajennense em dez espécies,

distribuídas nas famílias Felidae (4 spp.), Canidae (4 spp.) e Procyonidade (2 spp.). A.

cajennense foi a segunda espécie mais comum entre hospedeiros da ordem Carnivora,

sendo a maioria dos registros de fases imaturas (larvas e ninfas), o que, segundo os

autores, confirma a baixa especificidade dos estádios imaturos deste carrapato.

Vários trabalhos relatam parasitismo por formas adultas de A. cajennense em M.

tridactyla (tamanduá-bandeira), na Serra da Canastra (MG) (BOTELHO et al., 1989),

no Parque Nacional das Emas (GO) (BECHARA et al., 2002) e no Pantanal sul-mato-

grossense (MARTINS et al., 2004). Em geral a infestação é baixa e associada com

outras espécies do gênero, como A. calcaratum e A. nodosum – espécies encontradas em

sua fase adulta quase que exclusivamente em tamanduás – ou A. parvum, carrapato

encontrado em várias espécies de hospedeiros, inclusive humanos.

Nos estudos realizados no Pantanal sul-mato-grossense por Bechara et al. (2000)

e Pereira et al. (2000) A. cajennense foi a espécie de carrapato mais encontrada em

animais silvestres – Blastocerus dichotomus (cervo-do-pantanal), Mazama gouazoubira

(veado-catingueiro), Nasua nasua (quati), M. tridactyla (tamanduá-bandeira),

Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim), H. hydrochaeris (capivara), além de animais

domésticos como o cavalo, gado e cão. Ito et al. (1998) relatam a presença de ninfas e

adultos de A. cajennense em P. tajacu (cateto) e Tayassu pecari (queixada), atribuindo a

Page 31: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

20

disseminação desta espécie de carrapato no Pantanal sul-mato-grossense ao contato de

animais domésticos infestados com animais silvestres. Semelhante conclusão é tomada

por Szabó et al. (2003), pois o autor considera os cavalos e outros hospedeiros

primários como fonte de infestação de A. cajennense para a espécie B. dichotomus

(cervo-do-pantanal).

Entre os mais amplos trabalhos realizados no Pantanal sul-mato-grossense figura

o de Cançado (2008), que encontrou adultos de A. cajennense parasitando Sus scrofa

(porco-monteiro). Segundo o autor, os valores de prevalência e intensidades

encontrados, associados à alta taxa de sobrevivência de larvas eclodidas a partir de ovos

das fêmeas ingurgitadas coletadas sugerem que o porco-monteiro é um importante

hospedeiro e amplificador para o carrapato-estrela na região estudada. Nesse mesmo

trabalho foram encontrados adultos e imaturos de A. cajennense nas seguintes espécies:

Canis familiaris (cão doméstico), Cerdocyon thous (cachorro-do-mato), Procyon

cancrivorus (mão-pelada), Leopardus pardalis (jaguatirica), N. nasua (quati),

Ozotoceros bezoarticus (veado-campeiro), D. azarae (cutia), Trichomys sp. (rabudo), T.

pecari (queixada), P. tajacu (cateto), M. tridactyla (tamanduá-bandeira), T. tetradactyla

(tamanduá-mirim), tatu (Dasypodidae), além de animais domésticos como bovinos e

cavalos, e também o homem. O autor indica também outras espécies registradas no

Pantanal com parasitismo por A. cajennense, tais como Panthera onca (onça-pintada),

Puma concolor (suçuarana), M. gouazoubira (veado-catingueiro), B. dichotomus

(cervo-do-pantanal), H. hydrochaeris (capivara), Tapirus terrestres (anta) e ouriço.

Relatos de parasitismo por carrapatos em pequenos roedores são vastos na

literatura (LINARDI et al., 1991a; LINARDI et al., 1991b; LINARDI et al., 1991c;

BARROS-BATTESTI et al., 1998; BITTENCOURT; ROCHA, 2003), mas a

dificuldade na identificação de estádios imaturos leva os autores a classificarem os

carrapatos coletados apenas como pertencentes ao gênero Amblyomma. Salvo estes

casos, a ocorrência de formas imaturas de A. cajennense tem sido reportada em algumas

espécies de roedores das famílias Cricetidae – Akodon arviculoides e Zygodontomys

lasiurus (=Necromys lasiurus), Oryzomys utiaritensis (=Olygoryzomys nigripes) e

Oxymycterus roberti (LINARDI et al., 1987); Oryzomys russatus (=Euryoryzomys

russatus) e Nectomys squamipes (BOSSI et al., 2002); Oryzomys megacephalus

(=Hylaeamys megacephalus) (REIS et al., 2008) – Echimyidae – Proechimys iheringi

Page 32: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

21

(=Trinomys iheringi) (BOSSI et al., 2002) e Caviidae – Galea musteloides

(GUGLIELMONE; NAVA, 2010), este último relato na Bolívia.

Perez et al. (2008) reportaram parasitismo por adultos de A. cajennense em H.

hydrochaeris (capivara) e por imaturos (larvas e ninfas) em Didelphis albiventris

(gambá-de-orelha-branca), além de 13 espécies de aves parasitadas por larvas e ninfas

de Amblyomma spp., com destaque para Coragyps atratus (urubu), que apresentou

maior prevalência e intensidade de infestação por carrapatos deste gênero dentre as

aves.

Rojas et al. (1999) reportou pela primeira vez o parasitismo de formas imaturas

de A. cajennense em 28 espécies de pássaros da ordem Passeriformes. Entretanto,

Ogrzewalska (2009) considera os resultados obtidos neste trabalho duvidosos, pois a

identificação dos carrapatos foi realizada apenas por comparação morfológica. A autora

encontrou estádios imaturos de A. cajennense em apenas seis espécies de aves, com

maior prevalência em Não-Passeriformes do que em Passeriformes, em um ambiente

com grande abundância deste carrapato, o que a levou a concluir que A. cajennense

exibe certa restrição quanto ao parasitismo em aves.

Page 33: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

22

2.2.5. Amblyomma dubitatum e seus hospedeiros

São poucos os relatos de parasitismo por esta espécie, muitos dos quais se

referem ao seu sinônimo-júnior A. cooperi. É reconhecida por vários autores quanto à

preferência de estádios imaturos e adultos pela capivara H. hydrochaeris (ARAGÃO,

1936; ROBINSON, 1926; EVANS et al., 2000; LABRUNA et al., 2002; PEREZ et al.,

2008; NAVA et al., 2010), considerada como o seu principal hospedeiro primário.

Nava et al. (2010) realizaram uma revisão de literatura do parasitismo por A.

dubitatum e encontraram relatos de estádios imaturos e adultos nas seguintes espécies:

T. terrestris (anta), M. gouazoubira (veado-catingueiro), T. pecari (queixada), S. scrofa

(javali), C. thous (cachorro-do-mato), Myocastor coypus (ratão-do-banhado), Allouata

caraya (bugio-preto), Glossophaga soricina (morcego-beija-flor), além de gado,

cavalos e homem. Larvas e ninfas também foram coletadas nas espécies: D. albiventris

(gambá-de-orelha-branca), Didelphis aurita (gambá-de-orelha-preta), Lagostomus

maximus (viscacha) e em Lundomys molitor e Scapteromys tumidus (roedores

cricetídeos); também há registro de uma ninfa em Rhea americana (ema).

Estudos devem ser feitos com objetivo de avaliar se tais espécies são relevantes

para o ciclo de vida de A. dubitatum ou se são apenas hospedeiros acidentais ou

paratênicos para o carrapato.

Page 34: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

23

2.3. Biologia do gênero Dasyprocta Illiger, 1811

Rodentia Bowdich, 1821 é a ordem mais ampla dentre os mamíferos viventes,

com 33 famílias, 481 gêneros e 2.277 espécies válidas reconhecidas até 2005, que

representam cerca de 42% da biodiversidade de espécies de mamíferos do mundo

(CARLETON; MUSSER, 2005). No Brasil são descritos 74 gêneros e 238 espécies

(REIS et al., 2010). Os roedores diferenciam-se dos demais mamíferos pela capacidade

de roer os alimentos, conferida por uma dentição específica composta de um único par

de incisivos (superiores e inferiores) com crescimento contínuo, mas caninos ausentes,

formando-se um grande espaço vazio (diastema) entre os incisivos e os pré-molares

(EISENBERG; REDFORD, 1999; NOWAK, 1999).

As cutias são roedores da família Dasyproctidae Bonaparte, 1838, pertencentes

ao gênero Dasyprocta Illiger, 1811. Embora a família forme um grupo monofilético,

com dois únicos gêneros, Dasyprocta Illiger, 1811 e Myoprocta Thomas, 1903,

claramente distinguíveis entre si pela morfologia e utilização de habitat, as relações

filogenéticas inter-específicas e supra-específicas não estão bem estabelecidas,

sobretudo devido à grande variabilidade cromática das pelagens (OJASTI, 1972). Os

registros fósseis de Dasyproctidae remontam ao Eoceno (55 m.a.), sendo considerados

os registros mais antigos de roedores histricognatos na América do Sul (WYSS et al,

1993).

Atualmente são reconhecidas 11 espécies válidas dentro do gênero Dasyprocta,

cinco das quais ocorrem no Brasil: D. azarae, D. fuliginosa, D. leporina, D.

prymnolopha e D. punctata (WOODS; KILPATRICK, 2005). Entretanto, a taxonomia

do gênero é controversa. Iack-Ximenes (1999) realizou a mais recente revisão

taxonômica da família Dasyproctidade e, a partir da análise de 1214 espécimens (peles e

crânios), reconheceu dozes espécies do gênero Dasyprocta no Brasil, distribuídas em

três grupos – azarae, cristata e leporina – com base no tipo e na saturação dos pêlos da

garupa4.

4 Nos Dasyproctidae, a garupa é tanto um campo tricogenético (hipertricose ou aumento significativo no

comprimento dos pêlos), quanto cromogenético (área pigmentada), por isso denominada por Iack-

Ximenes (1999) como campo tricocromogenético,

Page 35: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

24

O grupo azarae é caracterizado por uma garupa com pêlo aguti – padrão

homogêneo de faixas intercaladas de eumelanina (pigmento marrom escuro) e

feomelanina (pigmento avermelhado). É representado apenas por uma espécie, D.

azarae, cuja distribuição está associada a regiões de matas decíduas e semidecíduas,

ocorrendo da região Centro-Oeste ao sul do Brasil (Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais,

São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

O grupo cristata é caracterizado por uma garupa negra, cujos pêlos são

eumelânicos com faixa subterminal ou terminal de feomelanina. É representado por

quatro espécies, D. cristata, D. nigriclunis e duas não descritas – Dasyprocta sp.1 e

Dasyprocta sp.2. Ocorre no oeste do país (Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul), e ao leste, no interior da Bahia e Goiás, em floresta ombrófila,

zona de contato com savana e savana estépica florestada.

O grupo leporina é caracterizado por uma garupa alaranjada, composta por pêlos

aguti modificados saturados de feomelanina. É representado pelas espécies D. aguti, D.

aurea, D. catrinae, D. croconota, D. leporina, D. prymnolopha e a não descrita

Dasyprocta sp.3. Distribui-se por toda a costa do país até o norte de São Paulo, restrito

na região amazônica à margem direita do rio Madeira e à margem esquerda do rio

Negro, e associada à floresta ombrófila.

Os animais do gênero Dasyprocta são descritos como de tamanho muito grande

entre os roedores, com dorso posterior longo e fortemente curvado, membros anteriores

menores que os posteriores, patas anteriores com quatro dígitos e posteriores com três e

cauda vestigial nua; possuem incisivos com coloração alaranjada, olhos relativamente

pequenos, orelhas curtas, quatro pares de mamas e coloração da pelagem do dorso

posterior (garupa) variando nas diferentes espécies, podendo ser oliváceo-agrisalhada,

amarelo-alaranjada, laranja-avermelhada, castanho-escura ou até preta (BONVICINO et

al. 2008; ROSSANEIS et al., 2010).

As cutias são animais cursoriais de habitat terrestre, que pode variar entre

florestas pluviais, florestas semidecíduas, cerrados e até caatingas, geralmente com

distribuição associada a cursos de água (EMMONS; FEER, 1997; BONVICINO et al.,

2008). São diurnas, com maior atividade associada ao início da manhã e final da tarde,

porém, em ambientes perturbados (e.g. caça) podem apresentar atividade noturna

(DEUTSCH; PUGLIA, 1988). Vivem em pares monogâmicos, atingindo a maturidade

sexual aos seis meses; a gestação dura de 105 a 120 dias, podendo ocorrer até duas

Page 36: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

25

gestações por ano, com o número de filhotes variando de um a três (ROSSANEIS et al.,

2010).

As cutias possuem uma dieta baseada em frutos e sementes e apresentam um

comportamento escavador (scatter-hoarding) de enterrar sementes e outros itens

alimentares em pequenas quantidades em diversos locais e procurá-los no futuro,

principalmente durante períodos de escassez de alimentos (SMYTHE, 1978). Tal

comportamento evita a competição intra e interespecífica por recursos alimentares, além

de propiciar a dispersão de sementes de grande porte de árvores neotropicais, já que

nem todas as sementes enterradas são recuperadas (SANTOS, 2005; JORGE, 2007).

As cutias podem ser consideradas espécies cinegéticas, pois são facilmente

caçadas e possuem carne muito apreciada (SMYTHE, 1978). Embora nenhuma das

espécies que ocorrem no Brasil esteja ameaçada5, a espécie D. aguti é considerada

“Quase ameaçada” no Estado de São Paulo6, o que é questionável já que a distribuição

desta espécie está associada à região amazônica. A espécie D. azarae é colocada na

categoria Dados deficientes na Lista Vermelha da IUCN, devido à incerteza

taxonômica, porém suspeita-se que ela seja uma espécie ameaçada (CATZEFLIS et al.,

2012).

5 Instrução Normativa MMA nº 03, de 27 de maio de 2003.

6 Decreto Estadual nº 56.031 de 20 de Julho de 2010.

Page 37: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

26

2.4. Parasitismo em Dasyprocta Illiger, 1811

De forma geral, há pouca informação na literatura sobre o parasitismo em

Dasyprocta. Macedo (2008) informa que a fauna parasitológica de Dasyprocta tem sido

investigada na região amazônica, mas que para outras regiões do país ainda há poucos

estudos, a maioria consistindo em análises coproparasitológicas.

Segundo Durette-Desset et al. (2006), doze espécies de nematódeos

gastrointestinais já foram registrados parasitando cutias das espécies D. leporina, D.

fuliginosa e D. azarae, mas recentemente tais helmintos foram observados também em

D. prymnolopha (MACEDO, 2008), e novas espécies têm sido descritas

(GONÇALVES et al., 2007). Baas et al. (1976) apud Brown-Uddenberg et al. (2004)

citam o parasitismo por cestódeos gastrointestinais em D. punctata e D. azarae. Já a

maior parte dos relatos de parasitismo por protozoários provém de D. leporina

(MENDONÇA et al., 2006, LAINSON et al., 2007, REGINATTO et al., 2008).

Sabe-se que algumas espécies do gênero participam como reservatórios e

hospedeiros intermediários de endoparasitas, como Trypanosoma cruzi (RIBEIRO;

BARRETO, 1977), Leishmania (Leishmania) amazonenses (BASANO et al., 2004),

Babesia sp. e filarídeos (THOISY et al., 2000).

Quanto aos ectoparasitos, existe relato de parasitismo em Dasyprocta sp. por

pulgas (Siphonaptera) dos gêneros Rhopalopsyllus e Polygenis (LINARDI;

GUIMARÃES, 2000) e piolhos (Phthiraptera) do gênero Gyropus (KELLOGG, 1914).

Cucchi-Stefanoni et al. (2008) registraram a morte de duas cutias (D. mexicana)

mantidas em cativeiro, provocada por anemia decorrente de severas infestações por

pulgas do gênero Echidnophaga, causadoras de lesões cutâneas e dermatite em

roedores.

Rohr (1909) cita a espécie D. aguti como hospedeira para as seguintes espécies

de carrapatos: Ixodes fuscipes, Haemaphysalis proxima7, A. brasiliense e A. cajennense.

Aragão (1936) cita a espécie D. aguti como hospedeira para Ixodes fuscipes e relata um

fato curioso: a confusão entre as fases imaturas ou “micuins” do carrapato-estrela A.

cajennense e do ácaro, Trombicula brasiliensis (=Tetranychus molestissimus), chamado

7 Segundo Guglielmone et al. (2010), esta espécie é um sinônimo-júnior de Haemaphysalis

leporipalustris (Packard, 1869).

Page 38: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

27

pelos franceses de “pou d‟Agouti” piolho de cutia , justamente por parasitar

abundantemente as cutias. Robinson (1926), por sua vez, lista as espécies D. aguti e D.

croconata como hospedeiras de A. brasiliense e A. scutatum, respectivamente.

Estrada-Peña et al., 2004 indicam a família Dasyproctidae como possíveis

hospedeiros do carrapato-estrela A. cajennense; em estudo recente realizado no Pantanal

sul-mato-grossense, Cançado (2008) encontrou ninfas e adultos das espécies A.

cajennense e A. parvum em D. azarae.

Page 39: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

28

2.5. Hospedeiros reservatórios e amplificadores de R. rickettsii

Diversos animais silvestres, além de animais domesticados, são apontados como

hospedeiros do carrapato-estrela. Alguns destes hospedeiros também são identificados

como reservatórios e amplificadores da R. rickettsii, como as capivaras (TRAVASSOS;

VALLEJO-FREIRE, 1942a, b; SOUZA et al., 2009) e os gambás (MOREIRA;

MAGALHÃES, 1935; HORTA et al., 2009),. Isto porque, embora a bactéria seja

transmitida hereditariamente entre gerações sucessivas de uma população de carrapatos,

apenas este mecanismo não é suficiente para mantê-la ativa ao longo do tempo, uma vez

que também é patogênica para o carrapato vetor (NIEBYLSKI et al., 1999; LABRUNA

et al., 2008; LABRUNA et al., 2011). O hospedeiro amplificador mantém a bactéria em

níveis altos em sua corrente sanguínea por alguns dias ou semanas, garantindo que

novos carrapatos se infectem e amplificando a infecção pela bactéria na população.

Labruna (2006) define cinco principais pré-requisitos para uma espécie tornar-se

um importante reservatório e amplificador de R. rickettsii. São eles: ser abundante na

área endêmica, ser um bom hospedeiro do carrapato vetor, ser suscetível à infecção por

R. rickettsii, manter a bactéria circulante e ter alta taxa de renovação populacional.

Segundo Schmidt e Ostfeld (2004), hospedeiros podem variar significativamente

quanto à competência como reservatórios de patógenos. Para explicar o papel ecológico

da comunidade de hospedeiros na transmissão de doenças transmitidas por vetores,

estes autores cunharam o termo “efeito de diluição”: a presença de hospedeiros com

baixa competência de infectar vetores dilui o efeito dos reservatórios altamente

competentes. Como resultado, a probabilidade do vetor parasitar um hospedeiro

reservatório e infectar-se com o patógeno aumenta, bem como o risco de transmissão da

doença naquele local.

Page 40: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

29

3. Objetivos

3.1. Objetivo geral

Identificar a fauna de carrapatos associada aos indivíduos da espécie Dasyprocta

azarae (cutia) capturados no campus da USP-RP;

3.2. Objetivos específicos

Avaliar prevalência, intensidade (média e máxima) e abundância média de

infestação por Amblyomma spp. (carrapato-estrela) nos indivíduos da espécie

Dasyprocta azarae (cutia) capturados;

Testar a seguinte hipótese: a espécie Dasyprocta azarae (cutia) é um hospedeiro

secundário de Amblyomma spp. (carrapato-estrela).

Page 41: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

30

4. Material e Métodos

4.1. Caracterização da área de estudo

O estudo foi realizado no campus da Universidade de São Paulo de Ribeirão

Preto (Figura 4). O município é situado no nordeste do Estado de São Paulo, inserido

em sua maioria na Bacia Hidrográfica do rio Pardo e, em menor extensão, do Mogi-

Guaçu. As informações a seguir foram extraídas de Kotchetkoff-Henriques (2003):

Ribeirão Preto apresenta altitude que varia de 500 a 800 metros, com verão chuvoso e

inverno seco, enquadrando-se na categoria Aw, segundo a classificação climática de

Köppen-Geiger; no período de 1981 a 2002 a temperatura média anual foi de 22,6ºC,

enquanto que no período de 1937 a 2002 as médias anuais da precipitação

pluviométrica e da umidade relativa do ar foram, respectivamente, 1467,9 mm e

71,82%.

Figura 4. Imagem de satélite do campus da USP de Ribeirão Preto. Fonte: Google Earth (2012).

O campus da USP-RP está localizado no terreno da antiga Fazenda Monte

Alegre, propriedade de Francisco Schimidt, o “Rei do af ”, e ocupa uma área de

aproximadamente 585 hectares dentro do perímetro urbano do município de Ribeirão

Preto (ZAIDAN, 2006). O campus recebe água dos córregos Laureano e Monte

Alegre, que nascem no próprio município, abrigando ainda um lago artificial e quatro

nascentes (Plano ambiental do campus da USP-RP, 2007).

Page 42: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

31

Devido aos plantios de café e cana-de-açúcar, a vegetação existente no campus

não é remanescente de mata primária (MARQUES, 2007); de acordo com o que consta

no Plano ambiental do campus da USP-RP (2007), ocorrem no campus pequenas

extensões de matas secundárias em estágio de sucessão inicial ou avançado, com

espécies nativas e exóticas, além de bosques de composições variadas. Merece

destaque a “Floresta da USP”, área de 75 ha que resultou de um projeto de

reflorestamento com base em 80 espécies florestais nativas, iniciado em 1998 por uma

parceria entre a PCARP – Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto – e a FFCLRP –

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – com o apoio de

entidades governamentais e não governamentais. Há ainda no campus um fragmento

de mata secundária (Mata do Museu) em que ocorreu regeneração natural da

vegetação, além de plantio de espécies nativas e exóticas para pomar, viveiro de

mudas e ornamentação (ESTEVES, 2006; MARQUES, 2007).

Page 43: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

32

4.2. Delineamento amostral

O estudo foi realizado entre os meses de janeiro de 2012 e janeiro de 2013.

Como um dos objetivos foi testar a hipótese da espécie D. azarae (cutia) ser parasitada

apenas por estádios imaturos de Amblyomma spp., as coletas acompanharam a

sazonalidade da espécie de carrapato-estrela com maior representatividade no campus

da USP-RP – A. cajennense (ORTIZ, 2012). A fim de garantir um número

significativo de animais capturados (prováveis hospedeiros) para cada período

correspondente ao pico de atividade dos estádios de desenvolvimento do ácaro, foram

definidos três períodos de coleta:

I. Março a junho de 2012 (maior atividade de larvas)

II. Julho a outubro de 2012 (maior atividade de ninfas)

III. Novembro de 2012 a janeiro de 2013 (maior atividade de adultos)

O período de janeiro a fevereiro de 2012 foi reservado para o preparo do

material necessário à execução das coletas.

Page 44: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

33

4.3. Captura dos animais

Os animais foram capturados utilizando-se armadilhas do tipo Tomahawk –

gaiolas de arame galvanizado com um sistema de desarme automático e suporte para

iscas suspensas (frutas), de dimensões iguais a 77cm de comprimento x 32cm de

largura x 35cm de altura (Figura 5). As capturas foram realizadas mediante Licença

Sisbio/ICMBio nº 19838-2.

Figura 5. Armadilha do tipo Tomahawk, iscada com atrativo alimentar e armada em local de captura,

no campus da USP - Ribeirão Preto.

Os pontos de instalação das armadilhas foram georreferenciados utilizando-se

aparelho de sistema de posicionamento global portátil (GPSMAP® 60CSx, Garmin,

E.U.A.) e podem ser observados na Figura 6. As coordenadas geográficas destes

pontos são apresentadas na Tabela 4.

O presente trabalho não teve como objetivo comparar diferentes áreas de

amostragem quanto ao sucesso de captura ou quanto aos índices de infestação por

carrapatos-estrela. Desta forma, o esforço de coleta entre as áreas não foi igualado.

Page 45: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

34

Figura 6. Localização das armadilhas do tipo Tomahawk utilizadas na captura de indivíduos da espécie

D. azarae no campus da USP – Ribeirão Preto. ED = Educação Física, MUS = Música, MT =

Mata do Museu. Fonte: Google Earth (2012).

As armadilhas foram distribuídas em áreas que atendessem obrigatoriamente a

três critérios: (a) provável ocorrência dos hospedeiros, (b) provável infestação por

carrapatos-estrela e (c) ausência atividades de controle para carrapatos-estrela.

Para satisfazer o primeiro critério foram considerados relatos de visualização

de cutias por funcionários ou moradores do campus, além da fitofisionomia da área,

proximidade de corpo d‟água e presença de recursos alimentares e.g. árvores

frutíferas). Tais informações foram obtidas a partir de visitas a campo, previamente à

instalação das armadilhas, por meio de entrevistas com funcionários e moradores, além

de busca por vestígios (frutos e sementes consumidos, pegadas e fezes) dos animais.

As visitas foram realizadas preferencialmente no horário de forrageio da espécie, a fim

de facilitar a observação de indivíduos.

Para atender ao segundo critério foram priorizadas as áreas próximas às matas

ciliares dos córregos Laureano e Monte Alegre, visto que nessas áreas foram

encontrados altos níveis de infestação pelo carrapato-estrela (ORTIZ, 2012). A Área 3

– Mata do Museu (Figura 6) foi escolhida mesmo sendo relativamente distante de

corpos d‟água e, portanto, menos sujeita a infestação por carrapato-estrela, por

apresentar outras condições favoráveis a presença de cutias.

Page 46: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

35

Contudo, ao decorrer da primeira campanha verificou-se um elevado número

de furtos de armadilhas nas margens do lago, fato que, somado ao início do tratamento

de matas ciliares com carrapaticida em meados de agosto de 2012, resultou na

exclusão desta área dos locais de amostragem de hospedeiros. A área “Floresta da

USP” tamb m foi excluída da amostragem, pois embora satisfizesse plenamente o

terceiro critério, apresentava restrições quanto aos demais (poucos relatos de

visualização de animais e baixa infestação por carrapatos-estrela). Além disso, a

presença constante de seres humanos no local não só aumentava a probabilidade de

furto de armadilhas, o que ocorreu na área mais de uma vez, mas também representava

uma ameaça aos animais por ventura capturados. Após o roubo de uma das

armadilhas instaladas na Área 1 (EEFERP), em junho de 2012, as coletas foram

interrompidas e a área foi excluída da amostragem nos meses seguintes.

Tabela 4. Coordenadas geográficas (UTM) dos pontos de instalação das armadilhas do tipo Tomahawk

utilizadas na captura de indivíduos da espécie Dasyprocta azarae (cutia) no campus da USP

– Ribeirão Preto. ED = Educação Física, MUS = Música, MT = Mata do Museu, EEFERP =

Escola de Educação Física e Esportes de Ribeirão Preto, FFCLRP = Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Ribeirão Preto.

Armadilha Local Coordenadas geográficas (UTM 23K)

ED 1 Área 1 (EEFERP)

203948.00 m E 7655876.00 m S

ED 2 203695.00 m E 7655798.00 m S

MUS 1

Área 2 (Música - FFCLRP)

204192.00 m E 7655966.00 m S

MUS 2 204137.00 m E 7655939.00 m S

MUS 3 204115.00 m E 7655954.00 m S

MT 1

Área 3 (Mata do Museu)

204051.00 m E 7656120.00 m S

MT 2 203999.00 m E 7656167.00 m S

MT 3 203979.00 m E 7656169.00 m S

As armadilhas foram cevadas – com atrativo alimentar, mas desarmadas – por

uma semana antes da coleta e, após esse período, foram armadas e vistoriadas duas

vezes ao dia, às 7h30 e às 13h. Este horário coincide com o período de forrageio das

cutias, que é diurno (SMYTHE, 1978; EMMONS; FEER, 1997). Como atrativos

alimentares foram utilizados diferentes frutos (abacate, banana, manga e mamão).

Para minimizar o estresse e possível óbito do animal durante as manipulações,

após a captura as armadilhas foram cobertas com panos de tecido preto a fim de

impedir que os animais observassem o ambiente externo, conferindo condições de

penumbra ideais para o transporte dos mesmos até o Biotério Central da USP-RP.

Page 47: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

36

4.4. Contenção química e biometria

A contenção química teve como objetivo facilitar a manipulação dos animais e

inibir a dor durante a realização dos procedimentos. Para tal, aplicou-se via

intramuscular uma associação de cloridrato de cetamina (10-21mg/kg) e cloridrato de

xilazina (1mg/kg) com seringas descartáveis de 3ml (0,70x25mm), cujo efeito sedativo

anestésico é eficaz, sendo comumente utilizada em roedores, particularmente em

cutias (SANTOS, 2005; MACEDO, 2008; CID, 2011). Para garantir uma aplicação

segura dos anestésicos, os animais foram contidos manualmente dentro de gaiola

metálica utilizando-se um aparador de madeira a fim de permitir a ação do médico

veterinário (Figura 7, A).

Após o animal ser sedado, este era posicionado em decúbito lateral em uma

mesa metálica previamente higienizada para a realização dos demais procedimentos.

Luvas de raspa de couro foram utilizadas para garantir a segurança durante a

manipulação dos animais (Figura 7, B). A biometria foi feita de acordo com as

medidas adotadas por Bonvicino et al. (2008) (comprimento cabeça-corpo,

comprimento da cauda, comprimento da pata posterior com unha, comprimento da

orelha interna e massa corporal). Os animais tiveram o sexo identificado e foram

marcados com brincos de identificação numerados, para o reconhecimento em caso de

recaptura (Figura 7, C), de acordo com Mangini e Nicola (2006). Amostras de tecido

sanguíneo foram retiradas por punção cardíaca (Figura 7, D), com seringas

descartáveis de 1ml (0,38x13mm), para posterior análise sorológica visando detectar a

presença de R. rickettsii. Por fim, os animais foram examinados quanto à fixação dos

carrapatos no corpo.

Após o término dos procedimentos os animais foram devolvidos às gaiolas

(cobertas com panos pretos para reduzir a incidência de luz e, consequentemente, o

estresse dos animais) e monitorados até que se observasse a plena recuperação das

funções fisiológicas normais (alimentação/excreção). O tempo total dos procedimentos

(da aplicação do anestésico até a recuperação total do animal) foi de,

aproximadamente, 30 minutos.

Page 48: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

37

Figura 7. Procedimentos realizados em Biotério com os animais capturados da espécie Dasyprocta

azarae no campus da USP-RP. A) Contenção manual do animal realizada dentro da gaiola

metálica com o auxílio de uma tábua de madeira; B) Manipulação do animal após aplicação

do anestésico, com a utilização de luvas de raspa de couro; C) Marcação do animal com

brinco de identificação numerado na orelha direita, com o auxílio de um alicate apropriado;

D) Retirada de 1ml de sangue do animal, por punção cardíaca. Data das fotografias: A)

04/06/2012; B) 01/06/2012; C) 11/12/2012; D) 04/06/2012.

Page 49: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

38

4.5. Manutenção em biotério e soltura dos animais

Os animais com ectoparasitos fixados foram mantidos por sete dias em gaiolas

metálicas de 100cm de comprimento, 60cm de largura e 60cm de altura, providas de

bandeja removível na parte inferior contendo maravalha (Figura 8, A e B) para

acomodar os carrapatos ingurgitados que naturalmente se desprendessem dos

hospedeiros. Os parâmetros luminosidade, temperatura, ventilação e umidade do ar

não foram controlados, permanecendo os naturais; a alimentação foi à vontade, com

pelo menos três variedades de frutos da época e, quando possível, de ocorrência no

campus da USP-RP (e.g. jatobá, abacate, manga, mamão, banana, goiaba); também foi

oferecida água, não filtrada, à vontade. Diariamente as gaiolas foram higienizadas e o

alimento e a água repostos (Figura 8, C). Após uma semana de permanência no

biotério, os animais foram soltos no mesmo ponto em que foram capturados (Figura

8, D).

Figura 8. Manutenção dos animais no Biotério Central. A) Gaiola metálica coberta com pano preto para

evitar o estresse do animal; B) Bandeja removível contendo maravalha para acomodar os

carrapatos que se desprendem naturalmente após o ingurgitamento e fita adesiva nas laterais

para impedir sua fuga; C) Cutia dentro de gaiola contendo frutos e vasilhames com água; D)

Cutia sendo liberada no mesmo local de captura, após uma semana em biotério. Data das

fotografias: A) 01/06/2012; B) 05/12/2012; C) 04/06/2012; D) 06/06/2012.

Page 50: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

39

4.6. Identificação dos ectoparasitos

Os carrapatos que se desprenderam foram contados e acondicionados

adequadamente em microtubos plásticos tipo Eppendorf tampados com chumaço de

algodão ligeiramente umedecido com água (Figura 9, A) e mantidos em estufa

equipada de termo-higrômetro digital (Figura 9, B) com o objetivo de monitorar as

condições ideais de temperatura (27 ± 2ºC) e umidade relativa (75 ± 5%) para

favorecer a ecdise dos carrapatos.

Figura 9. A) Carrapatos acondicionados em Eppendorf com chumaço de algodão umedecido com água;

B) Estufa com temperatura e umidades medidas por higrômetro digital. Laboratório do

Núcleo de Estudos do Carrapato-estrela de Ribeirão Preto.

Posteriormente, procedeu-se à identificação dos ectoparasitas em lupa

estereoscópica; os adultos foram identificados a partir da chave dicotômica proposta

por Onofrio et al. (2006), enquanto que a identificação das ninfas seguiu a chave

dicotômica proposta por Martins (2009).

Page 51: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

40

4.7. Análise dos dados

Os dados obtidos após a manutenção dos animais em cativeiro foram

analisados de acordo com parâmetros de prevalência, intensidade média, intensidade

máxima, e abundância média, de acordo com Margolis et al. (1982) e Bush et al.

(1997):

Prevalência (%): Número de hospedeiros infestados / Número total de

hospedeiros examinados;

Intensidade Média: Número total de ectoparasitas / Número de hospedeiros

infestados;

Intensidade Máxima: Número total de ectoparasitas no hospedeiro mais

infestado;

Abundância Média: Número total de ectoparasitas / Número total de

hospedeiros.

Para efetuar a análise dos índices de infestação, os animais capturados foram

divididos em três grupos – A, B e C. O grupo A correspondeu aos animais capturados

no período de março a junho de 2012 (maior atividade de larvas do carrapato-estrela);

o grupo B correspondeu aos animais capturados no período de julho a setembro de

2012 (maior atividade de ninfas do carrapato-estrela), e o grupo C correspondeu aos

animais capturados no período de novembro de 2012 a janeiro de 2013 (maior

atividade de adultos do carrapato-estrela).

Para comparar os valores médios de larvas e ninfas obtidas em relação a todos

os animais coletados utilizou-se o teste U de Mann-Whitney, teste não paramétrico

para amostras independentes, por se tratar de uma comparação entre dois grupos

(larvas e ninfas) com valores que não apresentam distribuição normal.

Já a comparação entre os índices de infestação dos Grupos A, B e C foi feita

utilizando-se o teste Kruskal-Wallis, teste não paramétrico para amostras

independentes, por se tratar de uma comparação entre três grupos com valores que

também não apresentam distribuição normal. A comparação grupo a grupo foi feita

pelo Método de Dunn, teste post hoc de comparações múltiplas que considera grupos

com tamanho (n) diferentes.

Page 52: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

41

5. Resultados

5.1. Captura e biometria

Foram capturados 12 animais, oito deles próximos ao Departamento de Música

da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), três na

Mata do Museu e um próximo à Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão

Preto (EEFERP); as coordenadas geográficas dos locais de captura, bem como as datas

de captura podem ser observadas na Tabela 5.

Foram capturados cinco animais no período de maior atividade de larvas

(Grupo A), dois no término do período de maior atividade de ninfas e início de

atividade de adultos (Grupo B) e cinco no período de maior atividade de adultos

(Grupo C) de carrapato-estrela Amblyomma spp. Não houve recapturas.

Devido a problemas de logística, falta de pessoal na equipe e roubo de

armadilhas, não houve coletas entre os meses de julho e setembro de 2012, de forma

que as coletas durante o período de ninfas (Grupo B) ficaram restritas ao mês de

outubro de 2012.

Tabela 5. Data e local de captura de cada indivíduo da espécie Dasyprocta azarae no campus da USP-

RP, de janeiro de 2012 a janeiro de 2013. Grupo A = coletas realizadas no período de larvas

do carrapato-estrela; Grupo B = coletas realizadas no término do período de ninfas do

carrapato-estrela, Grupo C = coletas realizadas o período de adultos do carrapato-estrela.

Grupo Animal Data de captura Local de captura Coordenadas geográficas

(UTM 23K)

A

1º Março de 2012 EEFERP 203695 m E, 7655798 m S

2º Maio de 2012 Mata do Museu 204051 m E, 7656120 m S

3º Maio de 2012 Música (FFCLRP) 204192 m E, 7655966 m S

4º Junho de 2012 Música (FFCLRP) 204192 m E, 7655966 m S

5º Junho de 2012 Mata do Museu 204051 m E, 7656120 m S

B

6º Outubro de 2012 Música (FFCLRP) 204115 m E, 7655955 m S

7º Outubro de 2012 Música (FFCLRP) 204138 m E, 7655940 m S

Page 53: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

42

Grupo Animal Data de captura Local de captura Coordenadas geográficas

(UTM 23K)

C

8º Dezembro de 2012 Música (FFCLRP) 204115 m E, 7655955 m S

9º Dezembro de 2012 Mata do Museu 204051 m E, 7656120 m S

10º Dezembro de 2012 Música (FFCLRP) 204115 m E, 7655955 m S

11º Dezembro de 2012 Música (FFCLRP) 204138 m E, 7655940 m S

12º Janeiro de 2013 Música (FFCLRP) 204138 m E, 7655940 m S

Dos 12 animais capturados, apenas dez puderam ser mantidos em biotério,

sendo dois machos e oito fêmeas. Devido a um atraso na confecção e entrega das

gaiolas, o 1º animal capturado foi solto no mesmo dia da captura. O 5º animal foi

encontrado morto na armadilha, sem os membros posteriores e parte da região pélvica,

provavelmente vítima de ataque de um ou mais cães ferais que habitam o campus. O

11º animal capturado escapou da gaiola no penúltimo dia de manutenção no biotério, o

que impossibilitou a realização de procedimentos de biometria, mas não impediu a

utilização dos dados referentes à infestação por carrapato-estrela. Os valores médios

dos dados obtidos com a biometria, bem como as medidas de dispersão a eles

associadas (desvios-padrão, coeficiente de variação e intervalos de confiança a 95%)

podem ser observados na Tabela 6. Todos os indivíduos capturados foram

identificados como pertencentes à espécie Dasyprocta azarae.

Tabela 6. Dados biométricos dos animais capturados da espécie D. azarae. CC - Comprimento cabeça-

corpo, CA – comprimento da cauda. PÉ - comprimento da pata posterior com unha, O -

comprimento da orelha interna, MC – Massa corporal, DP – desvio-padrão; n – número de

animais amostrados; IC – intervalo de confiança.

Média (n) DP

Coeficiente de

Variação

IC 95%

(inferior)

IC 95%

(superior)

CC (mm) 481,64 (11) 85,36 18% 431,19 532,08

CA (mm) 23,20 (10) 4,96 21% 20,12 26,28

PÉ (mm) 111,70 (10) 8,88 8% 105,19 116,21

O (mm) 38,82 (11) 8,61 22% 33,73 43,91

MC (g) 3019,00 (10) 1160,10 38% 2299,96 3738,04

Page 54: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

43

5.2. Prevalência, intensidade e abundância de parasitismo por Amblyomma spp.

Todos os animais capturados (n=12) apresentaram-se parasitados por estádios

imaturos de Amblyomma spp.; o número de carrapatos encontrados em cada animal

pode ser visualizado na Tabela 7. Nos casos em que o animal não pode ser mantido

em biotério (n=2), foram contabilizados apenas os carrapatos visivelmente fixados ao

corpo do animal, sobretudo nas regiões nuas (e.g. ventre, orelhas); por estes números

não serem fiéis representantes da situação real de infestação, eles não foram utilizados

no cálculo dos índices de infestação.

Tabela 7. Número de carrapatos (larvas, ninfas e adultos) por cutia capturada no campus da USP-RP.

Estádio de desenvolvimento dos

carrapatos

Grupo Animal Larvas Ninfas Total

A

1º 6 0 6

2º 705 2 707

3º 186 1 187

4º 535 6 541

5º 0 1 1

B 6º 61 163 224

7º 76 428 504

C

8º 7 12 19

9º 9 4 13

10º 17 4 21

11º 35 41 76

12º 53 3 56

Total 1690 665 2355

A partir destes valores foram calculadas a prevalência, intensidade média,

intensidade máxima e abundância média de infestação por larvas e ninfas do

carrapato-estrela Amblyomma spp. para cada grupo de animais (A, B e C) capturados e

mantidos em Biotério (Tabelas 8 a 10).

Page 55: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

44

Tabela 8. Índices de infestação por larvas de carrapatos-estrela (Amblyomma spp.) em cutias (D.

azarae) capturadas no campus da USP-RP, segundo Margolis et al., 1982 e Bush et al., 1989. n –

número de indivíduos.

Grupo (n) Prevalência¹

(%)

Intensidade

Média²

Intensidade

Máxima³

Abundância

Média4

A (3) 100,00 475,33 ± 264,56 705,00 475,33 ± 264,56

B (2) 100,00 68,50 ± 10,60 76,00 68,50 ± 10,60

C (5) 100,00 24,20 ± 19,52 53,00 24,20 ± 19,52

Total (10) 100,00 168,40 ± 246,80 705,00 168,40 ± 246,80

¹ Número de hospedeiros infestados/ Número total de hospedeiros examinados;

² Número total de carrapatos (larvas)/ Número de hospedeiros infestados;

³ Número total de carrapatos (larvas) no hospedeiro mais infestado; 4 Número total de carrapatos (larvas)/ Número total de hospedeiros examinados

Tabela 9. Índices de infestação por ninfas de carrapatos-estrela (Amblyomma spp.) em cutias (D. a

azarae) capturadas no campus da USP-RP, segundo Margolis et al., 1982 e Bush et al., 1989. n –

número de indivíduos.

Grupo (n) Prevalência¹

(%)

Intensidade

Média²

Intensidade

Máxima³

Abundância

Média4

A (3) 100,00 3,00 ± 2,65 6,00 3,00 ± 2,65

B (2) 100,00 295,50 ± 187,38 428,00 295,50 ± 187,38

C (5) 100,00 12,80 ± 16,18 41,00 12,80 ± 16,18

Total (10) 100,00 66,40 ± 136,45 428,00 66,40 ± 136,45

¹ Número de hospedeiros infestados/ Número total de hospedeiros examinados;

² Número total de carrapatos (ninfas)/ Número de hospedeiros infestados;

³ Número total de carrapatos (ninfas) no hospedeiro mais infestado; 4 Número total de carrapatos (ninfas)/ Número total de hospedeiros examinados

Tabela 10. Índices de infestação por estádios imaturos (larvas e ninfas) de carrapatos-estrela

(Amblyomma spp.) em cutias (D. azarae) capturadas no campus da USP-RP, segundo Margolis et al.,

1982 e Bush et al., 1989. n – número de indivíduos.

Grupo (n) Prevalência¹

(%)

Intensidade

Média²

Intensidade

Máxima³

Abundância

Média4

A (3) 3(100) 478,33 ± 265,60 707 478,33 ± 265,60

B (2) 2(100) 364,00 ± 197,99 504 364,00 ± 197,99

C (5) 5(100) 37,00 ± 27,56 76 37,00 ± 27,56

Total (10) 10(100) 234,80 ± 256,01 707 234,80 ± 256,01

¹ Número de hospedeiros infestados/ Número total de hospedeiros examinados;

² Número total de carrapatos (larvas e ninfas)/ Número de hospedeiros infestados;

³ Número total de carrapatos (larvas e ninfas) no hospedeiro mais infestado; 4 Número total de carrapatos (larvas e ninfas)/ Número total de hospedeiros examinados

Page 56: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

45

Foi constatada diferença estatisticamente significativa pelo teste U de Mann-

Whitney entre os valores médios de larvas e ninfas obtidas em relação a todos os

animais coletados (Tabela 7) (T = 76,000, p = 0,031).

Também foi constatada diferença estatisticamente significativa pelo teste de

Kruskal-Wallis entre os valores de intensidade e abundância médias de infestação por

larvas de Amblyomma spp. dos três grupos (Tabela 8) (H2 = 7,636, p = 0,022), mas a

comparação grupo a grupo feita pelo Método de Dunn (teste post hoc) resultou em

diferença estatisticamente significativa apenas entre os Grupos A e C (Q = 2,714, p <

0,05).

Não foi constatada diferença estatisticamente significativa pelo teste de

Kruskal-Wallis entre os valores de intensidade e abundância médias de infestação por

ninfas (Tabela 9) (H2 = 5,576, p = 0,062), nem por imaturos de Amblyomma spp, ou

seja, larvas e ninfas somadas (Tabela 10) (H2 = 4,684, p = 0,096).

Page 57: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

46

5.3. Identificação das espécies de Amblyomma spp.

Foram identificados 566 carrapatos adultos e 246 ninfas, provenientes,

respectivamente, de 665 ninfas e 1690 larvas que sofreram ecdise em laboratório,

representando assim percentuais de 85,11% de ninfas e 14,56% de larvas. Foi

verificada a mortalidade de 99 ninfas (14,89%) e 1444 (85,44%) larvas antes de

atingirem o próximo estádio de desenvolvimento, o que dificultou a identificação,

sendo contabilizadas apenas como pertencentes ao gênero Amblyomma.

A Tabela 11 indica o número de adultos e ninfas das duas espécies

encontradas – A. cajennense e A. dubitatum – para cada cutia capturada.

Tabela 11. Larvas e ninfas identificadas, após ecdise, para cada animal capturado.

Larvas Ninfas

Grupo Animal A. cajennense A. dubitatum A. cajennense A. dubitatum

A

2º 108 0 2 0

3º 59 0 0 1

4º 64 0 2 0

B 6º 6 0 125 1

7º 2 0 379 1

C

8º 0 0 11 0

9º 0 0 3 0

10º 0 0 4 0

11º 2 0 33 3

12º 4 1 1 0

Total 245 (99,6%) 1 (0,4%) 560 (98,9%) 6 (1,1%)

Os carrapatos encontrados no 1º e 5º animais capturados foram identificados

como Amblyomma spp. Verificou-se que a espécie mais comumente encontrada, tanto

de larva quanto de ninfa, foi A. cajennense, com 99,6% e 98,9%, respectivamente,

sendo que A. dubitatum representou apenas 0,4% das larvas 1,1% das ninfas

identificadas. A porcentagem total de imaturos de A. cajennense foi de 99,14%,

enquanto A. dubitatum totalizou 0,86%.

Page 58: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

47

6. Discussão

A escassez de estudos semelhantes na literatura dificultou inicialmente a

definição dos períodos de amostragem. Em geral, publicações sobre carrapatos e seus

hospedeiros resultam de avaliações de parasitismo em humanos (GUGLIELMONE et

al., 2006), animais domésticos (LABRUNA et al., 2002a) ou animais silvestres

coletados com diferentes propósitos, tais como resgate de fauna (SZABÓ et al., 2003)

e inspeções veterinárias em zoológicos (DANTAS-TORRES et al., 2010) ou núcleos

de reabilitação de fauna silvestre (BRUM et al., 2003), nos quais a avaliação de

parasitismo nem sempre é o objetivo principal do estudo.

Nos casos em que o objetivo principal é avaliar o parasitismo de determinado

táxon, em geral são escolhidos táxons abrangentes, por exemplo, estudos de

parasitismo por carrapatos em aves (ROJAS et al., 1999, ARZUA et al., 2003) ou

pequenos mamíferos (LINARDI et al., 1987; LINARDI et al., 1991a; LINARDI et al.,

1991b; LINARDI et al., 1991c; BARROS-BATTESTI et al., 1998; BOSSI et al.,

2002; BITTENCOURT; ROCHA, 2003; REIS et al., 2008). Outros trabalhos visam

identificar a fauna de ectoparasitas associada a uma ou mais espécies em determinada

região, por exemplo, o Pantanal sul-mato-grossense (ITO et al., 1998; PEREIRA et

al., 2000; CANÇADO, 2008).

Em todos esses casos não há intenção por parte dos autores de classificar as

espécies analisadas como hospedeiros primários ou secundários dos carrapatos.

Mesmo estudos com foco em determinado gênero ou espécie de hospedeiro

(BECHARA et al., 2000; BECHARA et al., 2002; MARTINS et al., 2004; SILVA et

al., 2006) em geral realizam coletas sem considerar a sazonalidade do parasita – ao

longo do ano ou concentradas em determinada estação, não sendo possível comparar

propriamente os índices de parasitismo por estádios imaturos ou adultos do parasita.

Tendo em vista os objetivos deste estudo, optou-se por realizar coletas de

acordo com a sazonalidade de A. cajennense, buscando assim garantir um número

significativo de animais capturados para cada período correspondente ao pico de

atividade de larvas, ninfas e adultos do carrapato-estrela. Entretanto, a lacuna na

amostragem no período de julho a setembro de 2012 impediu que o número de animais

obtido fosse os mesmo para cada período de coleta, de maneira que apenas dois

animais foram capturados no 2º período (ninfas), em comparação a cinco capturados

Page 59: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

48

no 1º (larvas) e outros cinco capturados no 3º períodos (adultos). Além disso, apenas

três animais capturados no primeiro período puderam ser mantidos em biotério. Como

resultado, o tamanho das amostras de cada período ficou muito reduzido, o que gerou

ruídos na análise estatística dos índices de infestação, como explanado posteriormente.

Embora não haja estudos populacionais de D. azarae no campus da USP-RP, o

presente trabalho figura como um importante indicativo quanto às áreas de ocorrência

desta espécie, cabendo a futuras pesquisas investigar a densidade populacional e o

esforço apropriado de coleta.

As áreas de coleta mostraram-se adequadas ao objetivo do estudo, visto que,

por serem utilizadas por capivaras para o pastejo, as matas ciliares são favoráveis ao

desenvolvimento do carrapato estrela (VIEIRA et al., 2004), hipótese corroborada para

o campus da USP-RP por Ortiz (2012) e também para o campus “Luiz de Queiroz”

por Perez (2007). É provável que cutias que habitem a “Floresta da USP” ou outra área

do campus com menores níveis de infestação pelo carrapato-estrela não sejam

parasitadas ou apresentem menores intensidades de infestação; coletas nessas áreas

devem ser realizadas a fim de verificar esta possibilidade.

Apesar da área 2 (Mata do Museu) não se tratar de mata ciliar, três animais

foram capturados. Frequentemente via-se as cutias atravessando o espaço entre as

Áreas 2 e 3 (Música), local que conta com a presença de duas espécies de árvores

frutíferas provavelmente de alta relevância na dieta de D. azarae – o jatobá Hymenaea

courbaril e o abacateiro Persea americana –, tendo em vista estudos realizados com

outras espécies do mesmo gênero, como o de Orsini (2011) para D. prymnolopha e o

de Santos (2005) para D. leporina. Desta forma, os animais que frequentam a Área 2

provavelmente infestam-se de carrapatos-estrela quando forrageiam na mata ciliar da

Área 3, pois são muito próximas.

Quanto ao horário de coleta, embora inicialmente as armadilhas também

ficassem armadas no período vespertino/noturno, após dois incidentes envolvendo

cães ferais e que resultaram na morte de dois animais (uma cutia e um gambá)

capturados, limitou-se o horário de coleta para o período matutino. Cães ferais podem

ser responsáveis por afugentar e predar várias espécies de mamíferos de pequeno e

médio porte (GALETTI; SAZIMA, 2006) e, ao formarem matilhas, podem predar

inclusive mamíferos de grande porte (RODRIGUES, 2002). Ademais, a pressão de

Page 60: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

49

predação exercida por cães ferais representa uma ameaça para a biodiversidade em

geral, já que possuem grandes densidades populacionais em comparação com outros

carnívoros (PASCHOAL, 2008). Campos (2004) estimou o consumo de mamíferos

por cães no campus “Luiz de Queiroz” entre 16,76 e 25,42kg/indivíduo/ano, e por

gatos entre 2,01 e 2,95kg/indivíduo/ano. Segundo o autor, a predação de animais

silvestres por cães e gatos errantes compromete as populações já existentes em baixas

densidades; a análise da dieta desses animais mostrou que mamíferos são os segundo

grupo mais consumido (25,15% para cães e 20,51% para gatos).

Todas as cutias foram identificadas como pertencentes à espécie Dasyprocta

azarae, distinguível das demais espécies do gênero pelo padrão de coloração de cor

olivácea e garupa acinzentada (EMMONS; FEER, 1997); o que está de acordo com a

distribuição desta espécie, associada a regiões de matas decíduas e semidecíduas,

ocorrendo da região Centro-Oeste ao sul do Brasil, incluindo São Paulo (IACK-

XIMENES, 1999). Embora De Vivo et al. (2011) aponte também a ocorrência de D.

leporina no Estado de São Paulo, segundo Iack-Ximenes (1999) a distribuição deste

táxon é associada à Floresta Ombrófila, restrita ao leste dos estados do Rio de Janeiro

e Pernambuco, e à região Amazônica.

Os dados biométricos obtidos indicam uma amostra relativamente heterogênea,

com desvios-padrão e intervalos de confiança altos, sugerindo alta variabilidade entre

as medidas, o que provavelmente resultou do pequeno número de indivíduos

coletados. Os coeficientes de variação, ou seja, o quanto os desvios-padrão

representam das respectivas médias foram próximos a 20%, exceto pelos valores de

massa corpórea (CV=38%), que provavelmente tiveram maior variabilidade pela

presença de uma fêmea prenhe (1º animal). Este resultado é importante, pois pode ser

indicativo de uma população saudável, com adultos se reproduzindo.

Entretanto, houve certa dificuldade em estabelecer critérios quanto aos pontos

delimitadores das medidas de comprimento, notadamente do corpo-cabeça e da orelha;

de tal forma que é provável haver medições com algum erro, prejudicando a

comparação com outros estudos. Segundo Iack-Ximenes (1999), a grande

variabilidade no modo de tomar as medidas corpóreas entre os coletores torna este tipo

de informação menos preciso quando comparado a medidas cranianas, por exemplo.

Além disto, as medidas foram tomadas por membros diferentes da equipe, às vezes

Page 61: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

50

com instrumentos de medida imprecisos, e nenhuma categoria etária foi utilizada; a

medição de indivíduos imaturos pode ter contribuído para explicar as diferenças

encontradas com o trabalho de Iack-Ximenes (1999) (Tabela 12). De qualquer forma,

os valores de biometria estão próximos dos descritos para a espécie, o que contribuiu

para a identificação.

Tabela 12. Dados biométricos dos animais capturados da espécie D. azarae e comparação com os

obtidos por Iack-Ximenes (1999). CC - Comprimento cabeça-corpo, CA – comprimento da

cauda. PÉ - comprimento da pata posterior com unha, O - comprimento da orelha interna,

MC – Massa corporal, n = número de animais amostrados.

Valor mínimo- máximo (n)

Presente estudo Iack-Ximenes (1999)

CC (mm) 330-600 (11) 428-580 (12)

CA (mm) 18-29 (10) 10-35 (17)

PÉ (mm) 90-122 (10) 101-110 (10)

O (mm) 20-55 (11) 25-45 (12)

MC (g) 900-4800 (10) 2350-3460 (12)

A diferença estatística encontrada entre os valores médios de larvas e ninfas

obtidas em relação a todos os animais coletados indica que as larvas provavelmente

provocam maiores níveis de infestação em cutias do que as ninfas, o que é evidenciado

pelos valores de infestação máxima, tendo sido encontradas 705 larvas em um único

animal no período de larvas (Grupo A) em comparação a 428 ninfas em um único

animal no período de ninfas (Grupo B). Contudo, seria necessário um maior número

de animais coletados em cada período para assegurar-se desta afirmação.

Como 100% dos animais examinados mostraram-se infestados por Amblyomma

spp., a intensidade e a abundância médias de infestação foram as mesmas. A diferença

estatística observada entre os valores de intensidade e abundância médias de infestação

por larvas entre os três grupos, particularmente entre o Grupo A e o Grupo C,

corrobora a presença de mais larvas no campo no período da primeira coleta (Grupo

A), em relação aos demais períodos (Grupos B e C). Já a ausência de diferença

estatisticamente significativa entre os valores de intensidade e abundância médias de

infestação por ninfas entre os três grupos se deveu provavelmente ao pequeno “n”

amostral dos grupos, pois a presença de ninfas no período de coleta do grupo B está

bem descrita na literatura e foi verificada em campo pela equipe de trabalho.

Page 62: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

51

Estes resultados refletem a sazonalidade do carrapato-estrela no ambiente, que

afeta diretamente a infestação nos hospedeiros, de forma que estes são mais

intensamente parasitados pelos estádios de desenvolvimento mais ativos no ambiente.

Este padrão sazonal é fortemente relacionado a fatores climáticos como incidência

solar, temperatura, umidade relativa do ar e precipitação, que são maiores no período

de maior atividade de adultos e menores no período de maior atividade de larvas e

ninfas. Embora alguns trabalhos já tenham demonstrado esta relação em animais

domésticos, como em cavalos (LABRUNA et al., 2002a), este é o primeiro registro de

sazonalidade de carrapato-estrela em um animal silvestre, a cutia.

Quanto aos parâmetros de infestação, o estudo realizado por Cançado (2008)

no Pantanal foi o único encontrado na literatura que avaliou prevalência e abundância

de parasitismo em cutias; entretanto, o número de animais coletados por este autor foi

três vezes menor (n=4). Embora a prevalência de parasitismo por estádios imaturos de

Amblyomma spp. no presente estudo tenha sido idêntica à encontrada por Cançado

(2008), o número total de imaturos foi consideravelmente maior no presente estudo,

totalizando 2355 larvas e ninfas (abundância média 235 imaturos/cutia), comparadas

a apenas 13 ninfas (abundância média 3 ninfas/cutia), observadas por Cançado

(2008). Este valor muito provavelmente está subestimado, pois o autor não manteve os

animais em biotério, examinando-os a procura de carrapatos somente durante a captura

e liberando-os em seguida.

A prevalência de infestação encontrada no presente estudo foi superior à

relatada para gambás da espécie D. albiventris capturados no campus “Luiz de

Queiroz” e submetidos à semelhante metodologia de manutenção em biotério

(ADRIANO et al., 2007; PEREZ et al., 2008). A prevalência de parasitismo por

Amblyomma spp. em gambás (n=26) foi de 80,76%. Em ambos os estudos foram

encontrados apenas os estádios imaturos (larvas e ninfas) parasitando os animais.

Rojas et al., (1999) apresentou dados sobre o parasitismo de A. cajennense em

aves, com 15% de prevalência de imaturos em Passeriformes e 0% de prevalência em

não Passeriformes. Segundo os autores, a explicação reside no fato de que existe uma

variação no nível de infestação por Amblyomma spp., que depende da ecologia e do

comportamento do hospedeiro. No estudo em particular, os não passeriformes eram

representados majoritariamente por beija-flores, cujo comportamento de forrageio

Page 63: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

52

(busca por néctar) não oferece possibilidade de encontro com carrapatos, em oposição

aos Passeriformes, cujo forrageio dá-se muitas vezes no solo, aumentando assim a

probabilidade de tais encontros.

Esta hipótese, somada à influência do habitat na seleção do hospedeiro pelo

ectoparasito (PAROLA; RAOULT, 2001) poderia explicar a diferença observada na

prevalência de infestação por Amblyomma spp. em gambás e em cutias; estas são

roedores que ocupam predominantemente ambientes florestais (EMMONS; FEER,

1997) e estão permanentemente em contato com o solo, enquanto que os gambás são

mamíferos altamente sinantrópicos, que se adaptam facilmente a ambientes

antropizados, rurais ou urbanos, mas que utilizam árvores como esconderijo

(ADRIANO et al., 2007), não permanecendo, portanto, sujeitos constantemente à

infestação por carrapato-estrela.

A intensidade e abundância médias de imaturos de Amblyomma spp. em cutias

também foram superiores às relatadas em gambás. Como alguns gambás não se

apresentaram infestados, a intensidade média foi superior à abundância média (167,14

e 135); em cutias os valores foram iguais (234,8). Por outro lado, a intensidade

máxima foi maior em gambás, totalizando 916 imaturos (larvas e ninfas) no indivíduo

mais infestado. Esta diferença pode ter ocorrido devido ao maior índice de infestação

por carrapato-estrela no campus da ESALQ (PEREZ, 2007) em comparação com o da

USP-RP (ORTIZ, 2012).

Embora o presente estudo seja o único realizado com hospedeiros no campus

da USP-RP, devem ser priorizadas comparações em situações idênticas ou

semelhantes de infestação pelo carrapato-estrela, pois a prevalência de infestação é

resultado das interações estabelecidas entre hospedeiros e parasitas, as quais dependem

intrinsecamente das condições ambientais do habitat compartilhado entre eles,

variando de acordo com o recorte espaço-temporal. Por outro lado, deve ser evitada a

comparação dos valores de intensidade (média e máxima) e abundância média com

estudos que não apresentem metodologia de manutenção dos indivíduos em biotério,

pois tais valores são sempre subestimados.

Apenas 14,56% das larvas ingurgitadas obtidas sofreram ecdise e se

transformaram em ninfas. Isto pode ser explicado pela baixa eficiência da estufa

Page 64: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

53

utilizada quanto ao controle das condições ideais de temperatura e umidade relativa

que favorecem a ecdise dos estádios imaturos. Mesmo assim, a maioria das ninfas

(84,21%) sofreu ecdise e se transformou em adultos. Esta diferença poderia estar

relacionada a uma possível maior sensibilidade das larvas às flutuações climáticas –

segundo Randolph e Craine (1995), apenas cerca de 10% das larvas de Ixodes ricinus

sobrevive na natureza, sendo que as ninfas apresentam taxa de sobrevivência de 20%.

A presença de A. cajennense e A. dubitatum em cutias foi um resultado

esperado, visto que são as duas espécies de carrapato-estrela encontradas no campus

da USP-RP (ORTIZ, 2012). A espécie com maior percentual de parasitismo, tanto de

larvas quanto de ninfas, foi A. cajennense, o que confirma a baixa especificidade dos

imaturos (LOPES et al., 1998, ESTRADA-PEÑA et al., 2004) e sugere D. azarae

como um possível hospedeiro secundário para esta espécie de carrapato-estrela no

campus da USP-RP. Semelhante situação foi relatada por Perez (2007) para mamíferos

hospedeiros no campus “Luiz de Queiroz”, em que gambás apresentaram-se

parasitados por imaturos das mesmas espécies, com maior proporção de A. cajennense.

Entretanto, as cutias mostraram-se impróprias para o parasitismo por adultos de

carrapato-estrela; embora indivíduos tenham sido coletados em plena sazonalidade de

adultos de A. cajennense, estes não foram encontrados parasitando-os. A maior

especificidade dos adultos de A. cajennense pode ser explicada pela hipótese de suas

demandas metabólicas serem maiores do que as das fases imaturas e, portanto,

supridas apenas por grandes mamíferos como a anta, o cavalo e a capivara. Embora a

especificidade possa estar relacionada às demandas metabólicas dos parasitas

(CROLL, 1968), não foram encontrados estudos que testassem esta hipótese para o

carrapato-estrela.

Apesar dos resultados obtidos indicarem que as cutias preencham apenas os

requisitos fisiológicos necessários ao desenvolvimento das fases imaturas, Cançado

(2008) encontrou indivíduos adultos das espécies A. cajennense e A. parvum em cutias

capturadas no Pantanal. Infelizmente, o autor não comenta se os adultos coletados

estavam ingurgitados e se suas progênies tiveram sucesso, o que seria necessário para

sugerir a cutia como um hospedeiro primário para as espécies encontradas.

Page 65: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

54

Embora já existissem relatos de parasitismo por A. cajennense em cutias

(ROHR, 1909; CANÇADO, 2008), o presente estudo fornece o primeiro registro de

parasitismo por A. dubitatum. Esta espécie foi muito pouco representativa, com apenas

sete indivíduos (1 larva, 6 ninfas). Embora a revisão realizada por Nava et al. (2010)

aponte diversas espécies parasitadas por este carrapato, faltam elementos para

classificá-las como hospedeiros primários ou secundários, essenciais ao ciclo de vida.

Devido à escassez de informações na literatura, não é possível realizar muitas

inferências sobre a relação de parasitismo estabelecida entre A. dubitatum e D. azarae

no campus da USP-RP.

Quanto ao potencial de participação das cutias na epidemiologia da FMB, este

estudo indica a espécie D. azarae como um bom hospedeiro para o carrapato vetor A.

cajennense, satisfazendo apenas segunda condição definida por Labruna (2006). Desta

forma, outros estudos – ecológicos, populacionais, imunológicos – devem ser

realizados com o objetivo de averiguar os demais pré-requisitos, quais sejam: ser

abundante na área endêmica, ter alta taxa de renovação populacional, ser suscetível à

infecção por R. rickettsii e manter a bactéria circulante.

Embora amostras de tecido sanguíneo tenham sido colhidas para análises

sorológicas visando detectar a presença de R rickettsii, estas ainda não foram

realizadas pelo laboratório responsável. Estudos imunológicos são importantes para

poder afirmar se a ausência de parasitismo por determinada espécie de carrapato é

justificada pela presença de anticorpos – “imunidade natural” – ou se tem causas

ecológicas, como apontado por Baer (1951).

Mesmo que as cutias não sejam reservatórios competentes de R. rickettsii, elas

podem estar envolvidas na epidemiologia da FMB, por meio do “efeito diluição”, tal

como proposto por Schmidt e Ostfeld (2004). Allan et al. (2003) relatam os impactos

da diminuição deste efeito no aumento do risco de transmissão da Doença de Lyme,

borreliose cujo agente etiológico é uma bactéria (Borrelia burgdorferi), transmitida

pelo carrapato Ixodes scapularis. Os estádios imaturos deste vetor alimentam-se em

uma variedade de mamíferos hospedeiros, entre eles um roedor silvestre generalista

(Peromyscus leucopus), que é o reservatório mais competente para B. burgdorferi.

Recentemente, as atividades humanas fragmentaram a paisagem florestal do nordeste

dos E.U.A., reduzindo a riqueza da mastofauna e provocando um aumento da

Page 66: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

55

densidade populacional de P. leucopus. A redução na disponibilidade de reservatórios

incompetentes em pequenos fragmentos aumentou a probabilidade dos carrapatos

infestarem-se com a bactéria, aumentando também o risco de transmissão da doença.

De forma semelhante, as cutias poderiam estar cumprindo uma função ecológica

importante no campus da USP-RP, sendo que o decréscimo populacional da espécie

poderia contribuir para que o “efeito diluição” fosse reduzido, aumentando a

probabilidade dos carrapatos-estrela se infectarem com R. rickettsii em reservatórios

competentes (e.g. capivaras e gambás) e, consequentemente, o risco de transmissão da

doença para os frequentadores do campus.

A riqueza/diversidade da comunidade de hospedeiros pode estar relacionada

não só à transmissão de patógenos, mas também ao grau de infestação por carrapatos.

Ogrzewalska (2009), por exemplo, encontrou uma relação inversa entre a

riqueza/diversidade de aves e a prevalência de carrapatos da espécie A. nodosum em

um estudo realizado no Pontal do Paranapanema (SP). A autora atribuiu esta relação

aos efeitos da fragmentação florestal na comunidade de hospedeiros, de forma que em

ambientes alterados certas espécies generalistas e tolerantes são favorecidas, em

detrimento de outras espécies que só sobrevivem em ambientes conservados;

dependendo da sensibilidade do hospedeiro, a fragmentação pode atuar aumentando ou

diminuindo os níveis de infestação pelos parasitas. A escassez de estudos sobre a

comunidade faunística do campus da USP-RP impede que sejam feitas comparações

com outros ambientes.

Outro fator que pode influenciar a relação entre parasitas e seus hospedeiros é

o compartilhamento de habitat entre animais domésticos e silvestres ou entre presas e

predadores. Labruna et al. (2005) encontraram Rhipicephalus microplus parasitando

sete espécies da ordem Carnivora, o que não indica necessariamente que todas sejam

hospedeiros para este carrapato, já que elas convivem no ambiente do hospedeiro

primário de R. microplus (gado), atuando inclusive como predadores, no caso de P.

onca e P.concolor (CHEIDA et al., 2011). A abundância de animais domésticos (cães

e gatos) no campus da USP-RP pode estar alterando as relações de parasitismo entre

carrapatos, hospedeiros silvestres e patógenos causadores de zoonoses.

Os resultados aqui apresentados indicam as cutias como importantes

hospedeiros secundários de A. cajennense. Entretanto, em ambientes com menores

Page 67: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

56

níveis de infestação pelo carrapato-estrela essa relação pode ser menos intensa ou até

inexistente. Fatores como a presença de hospedeiros primários e de animais

domésticos, bem como a antropização, a fragmentação de habitat e a diversidade da

comunidade de hospedeiros secundários podem influenciar significativamente a

relação de parasitismo entre as cutias e os carrapatos. Embora as cutias não satisfaçam

todas as condições definidas por aro e O‟Doherty 999 para serem tomadas como

espécies indicadoras, a relação de parasitismo entre elas e os carrapatos pode ser

utilizada como um forte indicativo da saúde dos ecossistemas no campus da USP-RP.

Ademais, estudos devem ser realizados buscando compreender como o parasitismo

por carrapatos-estrela afeta a população de cutias no ambiente, pois o estudo de

ectoparasitas em animais silvestres é essencial para verificar os potenciais impactos do

parasitismo na conservação da vida selvagem (DANTAS-TORRES et al., 2010).

Page 68: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

57

7. Conclusões

- Foram identificadas duas espécies de carrapatos-estrela parasitando cutias no campus

da USP-RP: Amblyomma cajennense e Amblyomma dubitatum, representando,

respectivamente, 99,14% e 0,86% do total de carrapatos coletados;

- Foram encontradas apenas formas imaturas (larvas e ninfas) de carrapatos, o que

reforça a hipótese da espécie de cutia estudada ser hospedeira secundária de

Ambylomma cajennense no campus da USP-RP;

- Este estudo consiste no primeiro registro de parasitismo por Amblyomma dubitatum

em Dasyprocta azarae;

- A prevalência de infestação por Amblyomma spp. observada em doze indivíduos da

espécie Dasyprocta azarae coletados foi elevada (100%), o que sugere forte relação

entre o ambiente ocupado pelas cutias e pelos carrapatos no campus da USP-RP.

- A intensidade e abundância médias de infestação por Amblyomma spp. foram de

234,80 ± 256,01, com intensidade máxima de 707 imaturos (larvas e ninfas) em um

único indivíduo da espécie Dasyprocta azarae.

Page 69: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

58

8. Referências Bibliográficas

ADRIANO, L.R.; PEREZ, C.A.; CARVALHO, V.H.B.; BALESTRIN, D.C.;

ALMEIDA, A.F. 2007. Parasitismo de Didelphis albiventris (lund, 1840), pelo

carrapato-estrela Amblyomma spp Acari:Ixodidae no ampus “Luiz de Queiroz”

/USP - Piracicaba/SP. In: VIII Congresso de Ecologia do Brasil, 2007. Anais.

Caxambu.

ALLAN, B.F.; KEESING, F.; OSTFELD, R. S. 2003. Effects of habitat fragmentation

on Lyme disease risk. Conservation Biology 17:267–272.

ARAGÃO, H.B. 1936. Ixodidas brasileiros e de alguns paizes limitrophes. Memórias

do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.31, n. 4, p. 759-846.

ARZUA, M.; M.A.N. SILVA; K.M. FAMADAS; L. BEATI; D.M. BARROS-

BATTESTI. 2003. Amblyomma aureolatumand Ixodes auritulus (Acari: Ixodidae) on

birds in southern Brazil, with notes on their ecology. Experimental and Applied

Acarology, Netherlands, 31: 283-296.

BAAS, E.J.; POTKAY, S.; BACHER, J.D., 1976. The Agouti (Dasyprocta sp.) in

Biomedical Research and Captivity. Laboratory Animal Science. Vol. 26. No. 5.

Pp. 788-796.

BAER, J.G. 1951. Ecology of animal parasites. The University of Illinois Press,

Urbana.

BAKER, A.S., 1999. Mites and ticks of domestic animals. An identification guide

and information source. The Natural History Museum. London. The Stationery Office,

240 p.

BARROS-BATESTI, D.M.; ARZUA, M.; BECHARA, G.H. 2006. Carrapatos de

Importância Médico-Veterinária da Região Neotropical: Um guia ilustrado para

identificação de espécies. Vox/ICTTD-3. São Paulo: Instituto Butantan, 2006. 223 p.

BARROS-BATTESTI, D.M.; ARZUA, M.; LINARDI, P.M.; BOTELHO, J.R.;

SBALQUEIRO, I. J. 1998. Interrelationship between ectoparasites and wild rodents

from Tijucas do Sul, state of Paraná, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz 93: 719-725.

BASANO, S.A.; CAMARGO, L.M.A., 2004. Leishmaniose tegumentar americana.

Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, n.3, p. 328-337.

BECHARA, G.H.; SZABÓ, M.P.J.; DUARTE, J.M.B. 2000. Ticks associated with

wild animals in the Nhecolandia Pantanal, Brazil. Ann. N.Y. Acad. Sci. 916:289-297.

BECHARA, G.H.; SZABÓ, M.P.J.; FILHO, W.V.A.; BECHARA, J.N.; PEREIRA,

R.J.G.; GARCIA, J.E.; PEREIRA, M.C., 2002. Ticks associated with armadillo

(Euphractus sexcinctus) and anteater (Myermecophaga tridactyla) of Emas National

Park, State of Goias, Brazil. Ann. N.Y. Acad. Sci. 969:290-293.

BELOZEROV, V.N. 1982. Diapause and biological rhythms in ticks. In:

OBENCHAIN, F.D.; GALUN, R. (Eds.). Physiology of ticks, Pergamon, Oxford,

1982. p. 469-500.

Page 70: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

59

BITTENCOURT, E.B.; ROCHA, C.F.D. 2003. Host-ectoparasite specificity in a small

mammals community in an área of Atlantic Rain Forest (Ilha Grande, State of Rio de

Janeiro), Southeastern Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.98, n.6,

p.793-798.

BONVICINO, C.R.; OLIVEIRA, J.A.; D'ANDREA, P.S., 2008. Guia de Roedores

do Brasil, com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos. Centro Pan-

Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS. Rio de Janeiro, 120 p.

BOSSI, D.E.P.; LINHARES, A.X.; BERGALLO, H.G. 2002. Parasitic arthropods of

some wild rodents from Juréia-Itatins Ecological Station, state of São Paulo, Brazil.

Mem Inst Oswaldo Cruz, vol. 97, no. 7, p. 959-963.

BOTELHO, J.R.; LINARDI, P.M.; DA ENCARNAÇÃO, C.D., 1989. Interrelações

entre Acari Ixodidae e hospedeiros edentata da Serra da Canastra, Minas Gerais,

Brasil. Mem Inst Oswaldo Cruz 84: 61-64.

BROWN-UDDENBERG, R. C., GARCIA, G. W., BAPTISTE, Q. S., COUNAND,

T.; ADOGWA, A.O.; SAMPSON, T. 2004. The Agouti (Dasyprocta leporina, D.

Aguti) Booklet and Producers' Manual. Champs Fleurs, Trinidad: GWG

Publications.

BRUM, J.G.W.; VALENTE, A.L.S.; ALBANO, A.P.; COIMBRA, M.A.C.;

GREQUE, G.C., 2003. Ixodidae de mamíferos silvestres atendidos no Núcleo de

Reabilitação da Fauna Silvestre, UFPEL. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.70, n.2, p.211-

212, abri/jun.

BUSH, A.O.; LAFFERTY, K.D.; LOTZ, J.M.; SHOSTAK, A.W., 1997. Parasitology

meets ecology on its own terms: Margolis et al revisited. J Parasitol 83: 575-583.

CAMPOS, C.B. 2004. Impacto de cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus)

errantes sobre a fauna silvestre em ambiente peri-urbano. Dissertação de

Mestrado em Ecologia de Agroecossistemas Escola Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 55 p.

CANÇADO, P. H. D. 2008. Carrapatos de animais silvestres e domésticos no

pantanal sul mato-grossense (sub-região da Nhecolândia): espécies, hospedeiros e

infestações em áreas com diferentes manejos. Tese de Doutorado, Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 65 p.

CARLETON; MUSSER, 2005. Carleton, Michael D. and Musser, Guy G. 2005. Order

Rodentia. In: Wilson, Don E. and Reeder, D. M., Mammal Species of the World,

Third Edition. The Johns Hopkins University Press, pp.745-752.

CARO, T.M.; O'DOHERTY, G. 1999. On the Use of Surrogate Species in

Conservation Biology. Conservation Biology, Vol. 13, No. 4, pp. 805-814.

CATZEFLIS, F., PATTON J., PERCEQUILLO, A., BONVICINO, C.; WEKSLER,

M. 2008. Dasyprocta azarae. In: IUCN 2012. IUCN Red List of Threatened Species.

Version 2012.2. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 30 April 2013.

CHEIDA, C. C.; NAKANO-OLIVEIRA, E.; FUSCO-COSTA, R.; ROCHA-

MENDES, F.; QUADROS, J. Ordem Carnivora. In: REIS, N.R.; PERACCHI, A.L.;

Page 71: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

60

PEDRO, W.A.; LIMA, I.P. (Eds.) Mamíferos do Brasil, 2 ed., Londrina, 2011. p.

235-288.

CID, B. 2011. Reintrodução da cutia-vermelha (Dasyprocta leporina) no Parque

Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, RJ): avaliação dos procedimentos,

determinação do sucesso em curto prazo e caracterização dos padrões

espaciais. Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Ecologia,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 133 p.

CROLL, N.A. 1968. Ecology of parasites. 2ª ed. Harvard University Press. Cambrige,

Masssachusetts.

CUCCHI-STEFANONI, K.; JUAN-SALLÉS, C.; PARÁS, A.; GARNER, M.M.,

2008. Fatal anemia and dermatitis in captive agoutis (Dasyprocta mexicana) infested

with Echidnophaga fleas. Veterinary Parasitology 155: 336-339.

DANTAS-TORRES, F.; FERREIRA, D.R.A.; DE MELO, L.M.; LIMA, P.C.P.;

SIQUEIRA, D.B.; RAMEH-DE-ALBUQUERQUE, L.C.; DE MELO, A.V.; RAMOS,

J.A., 2010. Ticks on captive and free-living wild animals in northeastern Brazil. Exp

Appl Acarol 50:181-189.

DE VIVO, M., CARMIGNOTOO, A.P., GREGORIN, R., HINGST-ZAHER, E.,

IACK-XIMENES, G.E., MIRETZKI, M., PERCEQUILLO, A.R., ROLLO., M.M.,

ROSSI, R.V.; TADDEI, V.A. 2011. Checklist dos mamíferos do Estado de São

Paulo, Brasil. Biota Neotropica, vol.11, no. 1a.

DEUTSCH, L.A.; PUGLIA, L.R.R. 1988. Os Animais Silvestres: Proteção, Doenças

e Manejo. Rio de Janeiro: Editora Globo, 191p.

DURETTE-DESSET, M.C.; GONÇALVES, A.Q.; PINTO, R.M. 2006.

Trichostrongylina (Nematoda, Heligmosomoidea) coparasites in Dasyprocta

fuliginosa Wagler (Rodentia, Dasyproctidae) from Brazil, with the re-

establishment of the genus Avellaria Freitas & Lent and the description of two new

species. Revista Brasileira de Zoologia, v. 23, n. 2, p. 509- 519.

EISENBERG, J.F.; REDFORD, K.H. 1999. Mammals of the Neotropics. v.3. The

Central Neotropics: Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. The University of Chicago

Press, Chicago.

EMMONS, L.H.; FEER, F. 1997. Neotropical Rainforest mammals: a field guide.

Chicago, University of Chicago Press, 2nd ed., p. II-307.

ESTEVES, S. de M. 2006. Comunidade de árvores e arbustos de um fragmento

secundário de mata estacional semidecídua – “Mata do Museu”, campus da USP

de Ribeirão Preto. Monografia. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, São

Paulo. 44p.

ESTRADA-PEÑA, A.; GUGLIELMONE, A.A.; MANGOLD, A.J., 2004. The

distribution and ecological „preferences‟ of the tick Amblyomma cajennense (Acari:

Ixodidae), an ectoparasite of humans and other mammals in the Americas. Annals of

Tropical Medicine and Parasitology, London, v. 98, n. 3, p. 283-292.

Page 72: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

61

EVANS, D.E.; MARTINS, J.R.; GUGLIELMONE, A.A., 2000. A review of the ticks

(Acari: Ixodidae) of Brazil, their hosts and geographic distribution. The state of Rio

Grande do Sul, Southern Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. v.95, p. 453-470.

FERRAZ, K.M.P.M.B.; LECHEVALIER, M.A.; COUTO, H.T.Z.; VERDADE, L.M.

2003. Damage caused by capybaras in a corn field. Scientia Agricola, Piracicaba,

v.60, n.1, p.191-194.

FLECHTMANN, C.H.W., 1975. Elementos de Acarologia. São Paulo, Nobel, 344 p.

GAAFAR, S.M; HOWARD, W.E.; MARSH, R.E. (Eds), 1985. Parasites, Pests and

Predators. Netherlands: Elsevier Sci. Publ. Co., Amsterdam, 1985, 575p. In:

SORENSEN-NEIMANN, A.; TRIBE, D.E. World Animal Science. Subseries B:

Disciplinary approach. Elsevier Science Publishers B.V., Amsterdam.

GALETTI, M.; SAZIMA, I. 2006. Impacto de cães ferais em um fragmento urbano de

Floresta Atlântica no sudeste do Brasil. Natureza & Conservação v.4, p.58-63.

GONÇALVES, A.Q.; PINTO, R.M.; DURETTE-DESSET, M. C. 2007. Parasitism of

two zoonotic reservoirs Dasyprocta leporina and D. fuliginosa (Rodentia) from

Amazonas, with Trichostrongylina nematodes (Heligmonellidae): description of a

new genus and a new species. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de

Janeiro, v.102, n.6, p.763- 768.

GUEDES, E.; LEITE, R.C. 2008. Dinâmica sazonal de estádios de vida livre de

Amblyomma cajennense e Amblyomma dubitatum (ACARI: IXODIDAE) numa área

endêmica para febre maculosa, na região de Coronel Pacheco, Minas Gerais. Rev.

Bras. Parasitol. Vet., 17, Supl. 1, 78-82.

GUGLIELMONE, A.A.; NAVA, S. 2010. Rodents of the subfamily Caviinae

(Hystricognathi, Caviidae) as hosts for hard ticks (Acari: Ixodidae). Mastozoologia

Neotropical, 17 (2): 279-286.

GUGLIELMONE, A.A.; ROBBINS, R.G.; APANASKEVICH, D.A.; PETNEY, T.N.;

ESTRADA-PEÑA, A.; HORAK, I.G.; SHAO, R.; BARKER, S.C. 2010. The

Argasidae, Ixodidae and Nuttalliellidae (Acari: Ixodida) of the world: a list of valid

species names. Zootaxa, 2528, p. 1-28.

GUGLIELMONE, A.A.; SZABÓ, M.P.J.; MARTINS, J.R.S.; ESTRADA-PEÑA, A.,

2006. Diversidade e importância de carrapatos na sanidade animal. In: BARROS-

BATTESTI, D; ARZUA, M.; BECHARA, G.H. (Org.). Carrapatos de Importância

Médico-Veterinária da Região Neotropical. São Paulo: ICTTD - Instituto Butantan,

2006. p. 115-138.

HOOGSTRAAL, H.; AESCHLIMANN, A. 1982. Tick–host specificity. Bulletin de

la Société Entomologique Suisse, 55, 5–32.

HORTA, M.C.; PINTER, A; SOUZA, C.E.; JOPPERT, A.M.; YAI, L.E.O.;

LABRUNA, M.B.; SCHUMAKER, T.T.S. 2009. Rickettsia infection in opossums

(Didelphis spp.) in São Paulo State, Brazil. In: International Conference on

Rickettsiae and Rickettsial diseases, 4. 2005. Logroño, Espanha. Anais. Logroño:

p.166.

Page 73: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

62

IACK-XIMENES, G.E. 1999. Sistemática da família Dasyproctidae Bonaparte,

1838 (Rodentia, Hystricognathi) no Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade

de São Paulo, São Paulo, 429 p.

ITO, F.H.; VASCONCELLOS, S.A.; BERNARDI, F.; NASCIMENTO, A.A.;

LABRUNA, M.B.; ARANTES, I.G. 1998. Evidência sorológica de brucelose e

leptospirose e parasitismo por ixodídeos em animais silvestres do pantanal Sul-Mato-

Grossense. ARS Veterinária, v.14, n.3, p.302-310.

JORDANO P.; GALETTI, M.; PIZO, M.A.; SILVA, W.R. 2006. Ligando Frugivoria e

Dispersão de sementes à biologia da conservação. p. 411-436. In: DUARTE, C.F.;

BERGALLO, H.G.; DOS SANTOS, M.A.; VA, A.E. (eds). Biologia da conservação:

essências. Editorial Rima, São Paulo, Brasil.

JORGE, M. L. S. P. 2007. Scatter-hoarding behavior of two amazonian rodents:

theory and application in forest fragments. Thesis of Doctor of Philosophy in

Biological Sciences. University of Illinois, Chicago.

KELLOGG, V.L. 1914. Ectoparasites of Mammals. The American Naturalist, Vol.

48, No. 569, pp. 257-279.

KLOMPEN, J.S.H; BLACK IV, W.C.; KEIRANS, J.E.; OLIVER JR, J.H. 1996.

Evolution of ticks. Annu. Ver. Entomol. 41:141-161.

KOTCHETKOFF-HENRIQUES, O. 2003. Caracterizaçao da vegetação natural em

Ribeirao Preto, SP – Bases para conservação. 2003. 221p. Tese de Doutorado

(Biologia Comparada) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,

Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

LABRUNA, M.B., 2000. Aspectos da biologia e epidemiologia dos carrapatos de

equinos no Estado de São Paulo. 2000. 76p. Tese (Doutorado em Epidemiologia

Experimental Aplicada e Zoonoses) – Universidade de São Paulo, São Paulo.

LABRUNA, M.B.; AMAKU, M.; METZNER, J.A.; PINTER, A.; FERREIRA, F.,

2003. Larval Behavioral Diapause Regulates Life Cycle of Amblyomma cajennense in

Southeast Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 40, n. 2, p. 170-178.

LABRUNA, M.B. 2006. Epidemiologia da febre maculosa no Brasil e nas Américas.

In: Simpósio Brasileiro de Acarologia, I, 2006. Viçosa, MG. Anais: p 63-78.

LABRUNA, M.B.; JORGE, R.S.P.; SANA, D.A.; JÁCOMO, A.T.A.;

KASHIVAKURA, C. K.; FURTADO, M.M.; FERRO, C.; PEREZ, S.A.; SILVEIRA,

L.; SANTOS , T.S.; MARQUES, S.R.; MORATO, R.G.; NAVA, A.; ADANIA, C.

H.; TEIXEIRA, R.H.F.; GOMES, A.A.B.; CONFORTI, V.A.; AZEVEDO, F.C.C.;

PRADA, C.S.; SILVA, J.C.R.; BATISTA, A.F.; MARVULO, M.F.V.; MORATO,

R.L.G.; ALHO, C.J.R.; PINTER, A.; FERREIRA, P.M.; FERREIRA, F.; BARROS-

BATTESTI, D.M. 2005. Ticks (Acari: Ixodida) on wild carnivores in

Brazil. Experimental and Applied Acarology 36:1-2, 149-163.

LABRUNA, M.B.; KASAI, N.; FERREIRA, F.; FACCINI, J.L.H.; GENNARI, S.M.

2002a. Seasonal dynamics of ticks (Acari: Ixodidae) on horses in the state of São

Paulo, Brazil. Veterinary Parasitology 105: 65-77.

Page 74: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

63

LABRUNA, M.B.; OGRZEWALSKA, M.; MARTINS, T.F.; PINTER, A.; HORTA,

M.C. 2008. Comparative Susceptibility of Larval Stages of Amblyomma aureolatum,

Amblyomma cajennense, and Rhipicephalus sanguineus to Infection by Rickettsia

rickettsii. Journal of Medical Entomology, v. 45, n. 6, p. 1156-1159.

LABRUNA, M.B.; OGRZEWALSKA, M.; SOARES, J.F.; MARTINS, T.F.;

SOARES, H.S.; MORAES-FILHO, J.; NIERI-BASTOS, F.A.; ALMEIDA, A.P.;

PINTER, A. 2011. Experimental Infection of Amblyomma aureolatum Ticks with

Rickettsia rickettsii. Emerging Infectious Diseases, v. 17, n. 5, p. 829-834.

LABRUNA, M.B.; PAULA, C.D.; LIMA, T.F.; SANA, D.A. 2002b. Ticks (Acari:

Ixodidae) on wild animals from the Porto-Primavera hydroelectric power station area,

Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 97: 1133–1136.

LABRUNA, M.B; WHITWORTH, T.; HORTA, M.C.; BOUYER, D.H.; MCBRIDE,

J.; PINTER, A.; POPOV, V.; GENNARI, S.M.; WALKER, D.H. 2004. Rickettsia

species infecting Amblyomma cooperi ticks from an area in the State of S„o Paulo,

Brazil, where Brazilian spotted fever is endemic. J Clin Microbiol 42: 90-98.

LAFFERTY, K.D. 1997. Environmental Parasitology: What can Parasites tell us about

Human Impacts on the Environment? Parasitology Today, vol. 13, no. 7.

LAINSON, R.; CARNEIRO, L.A.; SILVEIRA, F.T. 2007. Observations on Eimeria

species of Dasyprocta leporina (Linnaeus, 1758) (Rodentia: Dasyproctidae) from the

state of Pará, North Brazil. 2007. Mem Inst Oswaldo Cruz, 102 (2): 183-189.

LINARDI, P.M.; BOTELHO, J.R.; RAFAEL, J.A., 1991b. Ectoparasitos de pequenos

mamíferos da Ilha de Maracá, Roraima, Brasil. II. Interação entre ectoparasitos e

hospedeiros. Acta Amazonica 21: 141-150.

LINARDI, P.M.; BOTELHO, J.R.; RAFAEL. J.A.; VALLE, C.M.C.; CUNHA, A.;

MACHADO, P.A.R., 1991a. Ectoparasitos de pequenos mamíferos da ilha de Maracá,

Roraima, Brasil. I. Ectoparasitofauna, registros geográficos e de hospedeiros. Acta

Amazonica 21: 131-140.

LINARDI, P.M.; BOTELHO, J.R.; XIMENEZ, A.; PADOVANI, C.R., 1991c. Notes

on ectoparasites of some small mammals from Santa Catarina state, Brazil. J Med

Entomol 28: 183-185.

LINARDI, P.M.; GUIMARÃES, L.R., 2000. Sifonápteros do Brasil. 1 ed. São Paulo:

Museu de Zoologia USP/FAPESP, 2000.291 p.

LINARDI, P.M.; TEIXEIRA, V.P.; BOTELHO, J.R.; RIBEIRO, L.S., 1987.

Ectoparasitos de roedores em ambientes silvestres do município de Juíz de Fora,

Minas Gerais. Mem Inst Oswaldo Cruz 82: 137-139.

LOPES, C.M.L.; LEITE, R.C.; LABRUNA, M.B.; OLIVEIRA, P.R; BORGES,

L.M.F.; RODRIGUES, Z.B.; CARVALHO, H.A; FREITAS, C.M.V.; JÚNIOR,

C.R.V. 1998. Host Specificity of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari:

Ixodidae) with Comments on the Drop-off Rhythm. Memórias do Instituto Oswaldo

Cruz, Rio de Janeiro, v. 93, n. 3, p. 347-351.

Page 75: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

64

MACEDO, E. L. 2008. Nematódeos parasitos de cutias (Dasyprocta sp.) no

município de Teresina – PI. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de

Minas Gerais, Belo Horizonte, 74 p.

MANGINI, P.R.; NICOLA, P.A. 2006. Captura e marcação de animais silvestres. In:

CULLEN JR., L.; VALLADARES-PADUA, C. RUDRAN, R. (orgs). Métodos de

estudos em biologia da conservação e manejo da vida silvestre. 2ª ed. Curitiba: Ed.

Universidade Federal do Paraná.

MANS, B.J.; KLERK, D.; PIENAAR, R.; LATIF, A.A. 2011. Nuttalliella namaqua:

A Living Fossil and Closest Relative to the Ancestral Tick Lineage: Implications for

the Evolution of Blood-Feeding in Ticks. PLoS ONE v. 6, n. 8.

MARGOLIS, L.; ESCH, G.W.; HOLMES, J.C.; KURIS, A.M.; SCHAD, G.A. 1982.

The use of ecological terms in parasitology (Report of an Ad Hoc Committee of the

American Society of Parasitologist). Journal of Parasitology, v. 68, n. 1, p.131-133.

MARQUES, E. M., 2007. História de um fragmento secundário de floresta

estacional semidecídua – “Mata do Museu”, campus da USP Ribeirão Preto.

Monografia. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, São Paulo. 66p.

MARTINS, J.R.; MEDRI, I.M.; OLIVEIRA, C.M.; GUGLIELMONE, A., 2004.

Ocorrência de carrapatos em tamanduá-bandeira (Myermecophaga tridactyla) e

tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) na região do Pantanal Sul Mato-Grossense,

Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n.1, p.293-295.

MARTINS, T.F, 2009. Descrição e redescrição morfológica do estágio ninfal e

chave taxonômica para ninfas de carrapatos do gênero Amblyomma (Acari:

Ixodidae) que ocorrem no Brasil. Dissertação de Mestrado (Ciências) – Faculdade

de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. 101p.

MAYR, E. 1977. Populações, espécies e evolução. 1977. Editora da Universidade de

São Paulo.

MENDONÇA, I.L.; ALMEIDA, M.M.; CONDE JÚNIOR, A. M.; CAVALCANTE,

R.R.; MOURA, S. G.; CARVALHO, M.A.M. 2006. Análise coproparasitológica de

cutias (Dasyprocta sp.) criadas em cativeiro. Ciência Animal Brasileira, v. 7, n. 3, p.

285 – 288.

MOREIRA, J.A.; MAGALHÃES, O. 1935. Typho Exanthematico em Minas Geraes.

Brasil Médico, n. 21, p. 465-470.

MORRONE, J. 2006. Biogeographic Areas and Transition Zones of Latin America

and The Caribbean Islands Based on Panbiogeographic and Cladistic Analyses of the

Entomofauna. Annu. Ver. Entomol. 51:467-94.

NAVA, S.; GUGLIELMONE, A.A.; MANGOLD, A.J. 2009. Overview of systematics

and evolution of ticks. Frontiers in Bioscience, 14: 2587-2877.

NAVA, S.; VENZAL, J.M.; LABRUNA, M.B.; MASTROPAOLO, M.; GONZÁLEZ,

E.M.; MANGOLD, A.J.; GUGLIELMONE, A.A. 2010. Hosts, distribution and

genetic divergence (16S rDNA) of Amblyomma dubitatum (Acari: Ixodidae). Exp.

Appl. Acarol. 51: 335-351.

Page 76: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

65

NETO, S. S.; NAKANO, O.; BARBIN, D.; NOVA, N.A.V. 1976. Manual de

Ecologia dos Insetos. Edição Ceres XV. Editora Agronômica Ceres LTDA.

Piracicaba, São Paulo, Brasil.

NIEBYLSKI, M.L.; PEACOCK, M.G.; SCHWAN, T.G. 1999. Lethal Effect of

Rickettsia rickettsii on Its Tick Vector (Dermacentor andersoni). Applied and

Environmental Microbiology, v. 5, n. 2, p. 773-778.

OGRZEWALSKA, M.H. 2009. Efeito da fragmentação florestal na infestação por

carrapatos (Acari: Ixodidae) em aves e infecção de carrapatos por Rickettsia spp.

no Pontal do Paranapanema, SP. Tese de Doutorado. Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia. Universidade de São Paulo, São Paulo.

OLIVEIRA, P.R.; BORGES, L.M.F.; LOPES, C.M.L.; LEITE, R.C, 2000. Population

dynamics of the free-living stages of Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari:

Ixodidae) on pastures of Pedro Leopoldo, Minas Gerais State, Brazil. Veterinary

Parasitology, v. 92, p. 295-301.

OLIVER, J.H. 1989. Biology and systematics of ticks (Acari: Ixodida). Ann Rev Ecol

Syst 20: 397-430.

ONOFRIO, V. C.; LABRUNA, M. B.; PINTER, A.; GIACOMIN, F. G.; BARROS-

BATTESTI, D. M. 2006. Comentários e chaves para as espécies do

gênero Amblyomma, p.53-113. In: BARROS-BATTESTI, D. M.; ARZUA, M.;

BECHARA, G. H. (eds). Carrapatos de importância médico-veterinária da Região

Neotropical: um guia ilustrado para a identificação de espécies. São Paulo,

Vox/ICTTD-3/Butantan, 223p.

ORSINI, V. S., 2011. Dieta de Dasyprocta prymnolopha na área do Museu de

História Natural e Jardim Botânico da UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais. Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Biológicas da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais. 38p. Belo Horizonte.

ORTIZ, F. T., 2012. Diagnóstico ambiental visando a vigilância acarológica e

manejo do carrapato-estrela (Amblyomma sp.) (Acari: Ixodidae), vetor da febre

maculosa no campus da USP- Ribeirão Preto. 2012. 59 p. Monografia para a

obtenção do título de Bacharel em Ciências Biológicas. Faculdade de filosofia

Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

PAROLA, P.; RAOULT, D. 2001. Ticks and Tickborne Bacterial Diseases in

Humans: an Emerging Infectious Threat. Clinical Infectious Diseases, v. 32, p. 897-

928.

PASCHOAL, A.M.O., 2008. Predadores em fragmentos de Mata Atlântica: estudo

de caso na RPPN Feliciano Miguel Abdala, Caratinga,Minas Gerais. Dissertação

de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte,

Minas Gerais. 70p.

PAULASKAS, A.; RADZIJEVSKAJA J.; ROSEF, O.; TURCINAVICIENE, J.;

AMBRASIENE, D. 2009. Infestation of mice and voles with Ixodes ricinus ticks in

Lithuania and Norway. Estonian Journal of Ecology, 58, 2, 112-125.

Page 77: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

66

PEREIRA, M.C.; SZABÓ, M.P.J.; BECHARA, G.H.; MATUSHIMA, E.R.;

DUARTE, J.M.B.; RECHAV, Y.; FIELDEN, L; KEIRANS, J.E. 2000. Ticks

(Acari:Ixodidae) associated with wild animals in the pantanal region of Brazil.

Journal of Medical Entomology, v.37, n.6, p.979-983.

PEREZ, C.A, 2007. Bioecologia e manejo do carrapato-estrela Amblyomma

cajennense (Fabricius) (Acari:Ixodidae), vetor da Febre Maculosa Brasileira. 2007. 177p. Tese de Doutorado (Conservação de Ecossitemas Florestais) – Escola

Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba

PEREZ, C.A.; ALMEIDA, A.F.DE; ALMEIDA, A.; CARVALHO, V.H.B.DE;

BALESTRIN, D. DO C.; GUIMARÃES, M.S.; COSTA, J.C.; RAMOS, L.A.;

ARRUDA-SANTOS, A.D.; MÁXIMO-ESPÍNDOLA,C.P.; BARROS-BATTESTI,

D.M. 2008. Carrapatos do Gênero Amblyomma (Acari: Ixodidae) e suas relações com

os hospedeiros em área endêmica para febre maculosa no Estado de São Paulo.

Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 17, n. 4, p. 210-217.

PINTO, G.R.M. 2003. Contagem de fezes como índice de abundância de capivaras

(Hydrochaeris hydrochaeris). Dissertação de Mestrado. Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz” Piracicaba.

Plano Ambiental do Campus da USP de Ribeirão Preto: princípios, diretrizes e

normas. 2007. Universidade de São Paulo. Prefeitura do Campus Administrativo da

USP de Ribeirão Preto.

QUEIROGAS, V.L. 2010. Capivaras (Rodentia) e carrapatos (Acari: Ixodidae):

alterações ecológicas e a interação do hospedeiro e parasita em áreas urbanas.

Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 57 p.

RANDOLPH S.E.; CRAINE N.G. 1995. General framework for comparative

quantitative studies on tranmission of tick-borne disease using Lyme borreliosis in

Europa as an example. J. Med. Entomol. 32(6):765-777.

RECHAV, Y.; GOLDBERG, M.; FIELDEN, L.J, 1997. Evidence for Attachment

Pheromones in the Cayenne Tick. Journal of Medical Entomology, v. 34, n. 2, p.

234-237.

REGINATTO, A.R.; FARRET, M.H.; FANFA, V.R.; DA SILVA, A.S.; MONTEIRO,

S.G. 2008. Infecção por Giardia spp. e Cystoisopora spp. em capivara e cutia no sul

do Brasil. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias 103: 565-566.

REIS, F.S.; BARROS, M.C.; FRAGA, E.C.; PENHA, T.A.; TEIXEIRA, W.C.;

SANTOS, A.C.G.; GUERRA, R.M.S.N. 2008. Ectoparasitos de pequenos mamíferos

silvestres de áreas adjacentes ao rio Itapecuru e área de preservação ambiental do

Inhamum, Estado do Maranhão, Brasil. Rev. Bras. Parasitol. Vet., 17, Supl. 1, 69-74.

REIS, N. R.; PERACCHI, A.L.; FREGONEZI, M. N.; ROSSANEIS, B. K. (orgs),

2010. Mamíferos do Brasil – Guia de Identificação. 1ª ed. – Rio de Janeiro:

Technical Books.

RHOR, C.J., 1909. Estudos sobre Ixódidas do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto

Oswaldo Cruz; Gomes & Irmão, 1909. 220 p.

Page 78: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

67

RIBEIRO, R. D.; BARRETO, M. P. 1977. Estudos sobre reservatórios e vectores

silvestres do Trypanosoma cruzi. LXIV: Infecção natural da cutia, Dasyprocta aguti

(Linnaeus, 1766) pelo T.cruzi. Revista Brasileira de Biologia, v. 37, n.2, p.233-239.

ROBINSON, G.R.; HOLT, R.D.; GAINES, M.S.; HAMBURG, S.P.; JOHNSON,

M.L.; FITCH, H.S.; MARTINKO, E.A. 1992. Diverse and Contrasting Effects of

Habitat Fragmentation. Science, vol. 257, p.453-584.

ROBINSON, L.E. 1926. The genus Amblyomma. In: NUTTAL, G.H.F.;

WARBURTON, C.; ROBINSON, L.E. Part IV, Vol. II. TICKS: A Monograph of

the Ixodoidea. Cambridge University Press. London: Fetter Lane, E.C.4.

RODRIGUES, F.H.G., 2002. Biologia e Conservação do lobo-guará na Estação

Ecológica de Águas Emendadas, DF. Tese de doutorado. Universidade Estadual de

Campinas, São Paulo. 105p.

ROJAS, R.; MARINI, M.A.; COUTINHO, M.T.Z., 1999. Wild Birds as Hosts of

Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) (Acari: Ixodidae). Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 94, n. 3, p. 315-322.

ROSSANEIS, B.K.; FREGONEZI, M.N; SILVEIRA, G.; REIS, N.R. Ordem Rodentia

In: REIS, N. R.; PERACCHI, A.L.; FREGONEZI, M. N.; ROSSANEIS, B. K. (orgs),

2010. Mamíferos do Brasil – Guia de Identificação. 1ª ed. – Rio de Janeiro:

Technical Books.

SANTOS, E. F. 2005. Ecologia da cutia Dasyproca leporina (Linnaeus, 1758) em

um fragmento florestal urbano em Campinas – SP. Tese de Doutorado,

Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 72 p.

SCHIMIDT, A.K.; OSTFELD, R.S. 2004. Biodiversity and the dilution effect in

disease ecology. Ecology, v.82, n.3, p.411-424.

SERRA-FREIRE, N.M., 1982. Epidemiologia de Amblyomma cajennense: Ocorrência

estacional e comportamento dos estádios não parasitários em pastagens do estado do

Rio de Janeiro. Arquivo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, v. 5, p.

187–193.

SILVA, M.K.; SILVA, A.S.; ZANETTE, R.A.; CONRADO, A.C.; MONTEIRO, S.G.

2006. Parasitismo por Amblyomma fuscum (Acarina: Ixodidae) em Tupinambis

teguixin no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Estud. Biol., v. 28, n. 65, p. 123-

125.

SMYTHE, N. 1978. The Natural History of the Central American Agouti (Dasyprocta

punctata). Smithsonian Contributions to Zoology, Number 257, 52 p.

SOUZA, C.E.; MORAES-FILHO, J.; OGRZEWALSKA, M.; UCHOA, F.C.;

HORTA, M.C.; SOUZA, S.S.L.; BORBA, R.C.M.; LABRUNA, M.B. 2009.

Experimental Infection of capybaras Hydrochoerus hydrochaeris by Rickettsia

rickettsii and evaluation of the transmission of the infection to ticks Amblyomma

cajennense. Veterinary Parasitology, v. 161, p. 116-121.

Page 79: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ... - tcc.sc.usp… · carrapato-estrela Amblyomma spp. no campus da USP ... por me amar e me deixar amá-la como eu amo. À XXT e a seus ilustres

68

SOUZA, S.S.A.L.; SOUZA, C.E.; NETO, E.J.R.; PRADO, A.P. 2006. Dinâmica

Sazonal de carrapatos (Acari: Ixodidae) na mata ciliar de uma área endêmica para

febre maculosa na região de Campinas, São Paulo, Brasil. Ciência Rural, v.36, n.3,

p.887-891.

SZABÓ, M.P.J.; LABRUNA, M.B.; PEREIRA, M.C.; DUARTE, J.M.B. 2003. Ticks

(Acari: Ixodidae) on Wild Marsh-Deer (Blastocerus dichotomus) from Southeast

Brazil: Infestations Before and After Habitat Loss. J. Med. Entomol. 40 (3): 268-274.

THOISY, B.; MICHEL, J.C.; VOGEL, I.; VIÉ, J.C. 200. A survey of hemoparasite

infections in free- ranging mammals and reptiles in French Guiana. Journal of

Parasitology, v.86, n. 5, p. 1035 – 1040.

TRAVASSOS, J.; VALLEJO-FREIRE, A. 1942a. Comportamento de alguns cavídeos

(Cavia aperea e Hydrocoerus capybara) às inoculações experimentais do vírus da

febre maculosa. Possibilidade desses cavídeos representarem o papel de depositários

transitórios do vírus na natureza. Memórias do Instituto Butantã, v.15, p.73-86.

TRAVASSOS, J.; VALLEJO, A. 1942b. Possibilidade de Amblyomma cajennense se

infetar em Hydrochoerus capybara experimentalmente inoculado com o vírus da febre

maculosa. Memórias do Instituto Butantan, v. 15, p, 87-90.

VIEIRA, A.M.L.; SOUZA, C.E.; LABRUNA, M.B.; MAYO, R.C.; SOUZA, S.S.L.;

CAMARGO-NEVES, V.L.F. 2004. Manual de Vigilância Acarológica. São Paulo:

A Secretaria; Imprensa Oficial, São Paulo, 62p.

VOLTZIT, O.V. 2007. A review of neotropical Amblyomma species (Acari: Ixodidae).

Acarina 15 (1): 3-134.

WOODS, C.A.; KILPATRICK, C.W. Infraorder Hystricognathi. In: WILSON,

D.A.M.; REEDER, D.A. (Ed.) Mammal Species of the World. A Taxonomic and

Geographic Reference. 3 ed., v. 2. [S.l.]: JHU Press, 2005.

ZAIDAN, R. 2006. Memórias de Monte Alegre: as histórias do campus da USP de

Ribeirão Preto. São Paulo: USP/CCS – Coordenadoria de Comunicação Social. 245p.