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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS ANDRÉ PERROUD PALMA Avaliação da eficiência de tecnologia alternativa de saneamento rural no Assentamento Nova São Carlos (SP) São Carlos 2018

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …...65,5% para a população rural. Já o sistema de rede de coleta de esgoto atende a apenas 59,1% dos brasileiros, enquanto na

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

ANDRÉ PERROUD PALMA

Avaliação da eficiência de tecnologia alternativa de saneamento rural no

Assentamento Nova São Carlos (SP)

São Carlos

2018

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ANDRÉ PERROUD PALMA

Avaliação da eficiência de tecnologia alternativa de saneamento rural no

Assentamento Nova São Carlos (SP)

Monografia apresentada ao curso de graduação

em Engenharia Ambiental da Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de

São Paulo

Orientador: Prof. Dr. Davi Gasparini Fernandes

Cunha

Coorientador: Me. Fellipe Henrique Martins

Moutinho

VERSÃO CORRIGIDA

São Carlos

2018

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos assentados, por terem sido receptivos e possibilitado

que essa pesquisa fosse feita.

Ao GEISA, que foi a porta de entrada para a discussão sobre impacto social e

tecnologias sociais na minha vida, além de ter sido essencial na minha conscientização e

sensibilização a realidades distantes a minha.

A Associação Veracidade, responsável pelo trabalho de construção das fossas no

assentamento, em especial à Aline Zaffani pelas dicas e orientações que ajudaram muito

nesse estudo.

Ao professor Davi Gasparini, por ter me orientado e por todo o apoio durante as

coletas no assentamento, tornando possível essa pesquisa.

Ao pessoal do BIOTACE, que me ajudou muito durante as análises. Em especial

ao Fellipe Moutinho, que me acompanhou e ajudou durante toda a pesquisa, sendo sua

ajuda e paciência essenciais no desenvolvimento desse trabalho.

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RESUMO

PALMA, A. P (2018). Avaliação da eficiência de tecnologia alternativa de

saneamento rural no Assentamento Nova São Carlos (SP). Monografia (Trabalho de

Conclusão de Curso) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,

São Carlos, 2018.

O Brasil apresenta uma falta de cobertura de sistemas de saneamento básico a

considerável parcela de sua população. De acordo com a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE (2015), aproximadamente 14,6% da população

brasileira não possuíam cobertura de rede de distribuição de água, sendo este valor de

65,5% para a população rural. Já o sistema de rede de coleta de esgoto atende a apenas

59,1% dos brasileiros, enquanto na zona rural apenas 5,5% possuem tal serviço. Além

disso, 10,2% da população rural não possui nenhum tipo de tratamento de esgoto em

suas residências, demonstrando a importância das tecnologias sociais descentralizadas

nesse contexto. O objetivo desse trabalho foi aprofundar o estudo relativo ao modelo de

tratamento de águas negras Fossa Séptica Econômica, avaliando sua eficiência de

remoção de Demanda Bioquímica de Oxigênio, nutrientes e coliformes. Foi também

feita uma análise comparativa entre esse modelo de fossa com a Fossa Biodigestora da

EMBRAPA. Foram feitas três coletas em três diferentes fossas no Assentamento Nova

São Carlos/SP, cujos resultados das análises foram bem variados no decorrer das

coletas. Os valores de maior eficiência de remoção desses parâmetros foram de 52,0%

de remoção de DBO, 31,8% de redução da concentração de Fósforo Total, 88,3% de

redução da concentração de NTK, e os valores mínimos encontrados de coliformes

totais e E. coli no efluente de saída das fossas foram 1x105 e 3,9x104 UFC 100 mL-1,

respectivamente. Em linhas gerais, a eficiência das Fossas Sépticas Econômicas foi

inferior à da Fossa Biodigestora da EMBRAPA em estudo realizado na mesma região.

Esse resultado aponta uma instabilidade no funcionamento das fossas estudadas no

tratamento dos parâmetros analisados e a necessidade de estudos mais aprofundados

para que seja melhor compreendida a eficiência dessa tecnologia.

Palavras-chave: Saneamento rural, tratamento descentralizado de esgoto, Fossa Séptica

Econômica.

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ABSTRACT

PALMA, A. P (2018). Evaluation of the efficiency of alternative technology for

sanitation in the rural settlement. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) –

Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2018.

Brazil presents a lack of coverage of basic sanitation systems to a considerable

part of its population. According to the IBGE National Household Sample Survey

(PNAD) (2015), approximately 14.6% of the Brazilian population did not have a water

distribution network coverage, which is 65.5% for the rural population. The sewage

collection system serves only 59.1% of Brazilians, while in rural areas only 5.5% have

such a service. In addition, 10.2% of the rural population does not have any type of

sewage treatment in their homes, showing the importance of decentralized social

technologies in this context. The objective of this work was to deepen the study on the

black water treatment cesspit model Economic Septic Tank, evaluating its efficiency of

removal of Biochemical Oxygen Demand, nutrients and coliforms. A comparative

analysis was also made between this model and the EMBRAPA septic biodigestor tank.

Three samples collection were made in three different cesspits in the Settlement Nova

São Carlos/SP, whose results of the analyzes were very varied during the samples

collection. The highest efficiency values of removal of these parameters were 52.0% of

BOD removal, 31.8% decrease in total phosphorus concentration, 88.3% decrease in

TKN concentration, and minimum values of total and total coliforms E. coli in the

outlet effluent from the cesspits were 1x105 and 3.9x104, respectively. In general terms,

the efficiency of the Economic Septic Fosses was lower than that of the EMBRAPA

septic biodigestor tank in a study carried out in the same region. This result points to an

instability in the functioning of the studied cesspits in the treatment of the parameters

analyzed and the need for further studies to better understand the efficiency of this

technology.

Keywords: Rural sanitation, decentralized sewage treatment, Economic Septic Tank.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Porcentagem de domicílios do Brasil que contam com rede de abastecimento de água

..................................................................................................................................................... 28

Figura 2 - Porcentagem de domicílios do Brasil que contam com sistema de coleta e tratamento

de esgoto...................................................................................................................................... 29

Figura 3 - Esquema do sistema de Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA, destacando a

válvula de retenção (1), as chaminés de alívio (2), as curvas de 90º (3), o “T” de inspeção (4), as

caixas d’água de 1.000 L (5 e 6) e o registro (7) ......................................................................... 37

Figura 4 - Esquema do sistema de Fossa Séptica Econômica com modificações em relação ao

modelo original ........................................................................................................................... 41

Figura 5 - Esquema do assentamento rural Nova São Carlos, com marcação dos três lotes onde

foram feitas as coletas de amostras das fossas ............................................................................ 45

Figura 6 - A) Primeira bombona com excesso de sólidos no Lote 2 (26/02/18); B) Saída de fossa

ao ar livre no Lote 1 (26/02/18) .................................................................................................. 51

Figura 7 - A) Fossas enterradas no Lote 3 (07/06/18); B) Vazamento da primeira bombona da

fossa no Lote 1 (07/06/18) .......................................................................................................... 51

Figura 8 – A) Particularidade na bombona de saída da fossa do Lote 1 (27/09/18); B)

Particularidade na bombona de saída da fossa do Lote 2 (27/09/18) .......................................... 51

Figura 9 – Valores representativos de DBO das fossas nas três coletas realizadas ..................... 54

Figura 10 – Concentrações de Fósforo Total das fossas nas três coletas realizadas Outlier ....... 56

Figura 11 – Concentrações de NTK das fossas nas três coletas realizadas ................................. 58

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Ocorrências típicas de microrganismos patogênicos e microrganismos indicadores

em ............................................................................................................................... 32

Quadro 2 - Características típicas em águas cinzas com faixas esperadas de parâmetros de

interesse sanitário .......................................................................................................... 34

Quadro 3 - Características típicas em águas negras com faixas esperadas de parâmetros de

interesse sanitário .......................................................................................................... 35

Quadro 4 – Comparação entre tipos de fossas utilizadas para saneamento ............................ 39

Quadro 5 – Coordenadas do lotes onde foram realizadas as coletas de efluente de Fossas

Sépticas Econômicas ..................................................................................................... 44

Quadro 6 – Características gerais das fossas de cada lote .................................................... 49

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Principais doenças relacionadas à água contaminada com os respectivos agentes

etiológicos, sintomas e fontes de contaminação ................................................................. 33

Tabela 2 - Média de eficiência de remoção de DBO, E. coli, coliformes totais, fósforo total e

NTK das fossas biodigestoras analisadas ......................................................................... 39

Tabela 3 – Valores de DBO média de entrada e saída das fossas dos três lotes com seus

respectivos Desvios Padrões (DP), além das eficiências de remoção de DBO do sistema ........ 53

Tabela 4 – Concentrações de Fósforo Total com seus respectivos Desvios Padrões (DP) e

eficiência de remoção das fossas ..................................................................................... 55

Tabela 5– Concentrações de NTK médio com seus respectivos Desvios Padrões (DP) e

eficiência de remoção das fossas ..................................................................................... 57

Tabela 6 – Coliformes totais e E. coli em amostras das fossas ............................................. 59

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 21

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 23

2.1. Objetivo Geral ................................................................................................ 23

2.2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 23

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 25

3.1. Saneamento e Saúde Pública ............................................................................ 25

3.2. Saneamento básico no Brasil ............................................................................ 26

3.3. Saneamento básico na zona rural ....................................................................... 27

3.4. Tecnologias sociais para tratamento descentralizado de esgoto ............................. 29

3.5. Esgoto doméstico ............................................................................................ 31

3.6. Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA ......................................................... 36

3.7. Fossa Séptica Econômica ................................................................................. 39

4. METODOLOGIA ............................................................................................... 43

4.1. Área de estudo ................................................................................................ 43

4.2. Atividades de campo ....................................................................................... 44

4.3. Processamento das amostras ............................................................................. 46

4.3.1. DBO5,20 ...................................................................................................... 46

4.3.2. Fósforo Total .............................................................................................. 46

4.3.3. Nitrogênio total Kjeldahl (NTK) .................................................................... 47

4.3.4. Escherichia coli e coliformes totais ................................................................ 47

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 49

5.1. Detalhamento das fossas .................................................................................. 49

5.2. DBO5,20 .......................................................................................................... 52

5.3. Fósforo Total .................................................................................................. 54

5.3.1. Nitrogênio total Kjeldahl (NTK) .................................................................... 56

5.4. E. coli e coliformes totais ................................................................................ 58

5.5. Variação de valores de eficiência ...................................................................... 60

6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 63

7. RECOMENDAÇÕES ......................................................................................... 65

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 67

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1. INTRODUÇÃO

O saneamento básico inseguro ou inexistente ainda consiste em um desafio

mundial, sendo responsável, direta e indiretamente, pela mortalidade de milhões de

pessoas todo ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017), cerca de 4,5

bilhões de pessoas no mundo não possuíam saneamento seguro, sendo que 2,1 bilhões

dessas pessoas não possuíam acesso seguro à água potável no ano de 2015, e 892

milhões de pessoas ainda praticavam defecação a céu aberto naquele mesmo ano. Esse

quadro está associado a inúmeras doenças, sendo relatados milhões de casos de

mortalidade relacionados à falta de saneamento, principalmente em países

subdesenvolvidos, representando uma das maiores causas de mortalidade infantil no

mundo (OMS, 2017b).

No Brasil, o saneamento básico não ocorre de maneira plena, apresentando grande

defasagem na cobertura de serviços, como nos de abastecimento de água e coleta de

esgoto. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE

realizada em 2015, cerca de 14,6% da população brasileira não possuíam cobertura de

rede de distribuição de água e 40,9% não possuíam rede coletora de esgoto. Além disso,

os serviços prestados de saneamento básico nem sempre ocorrem de forma adequada,

sendo observados inúmeros casos de distribuição de água fora dos padrões de qualidade,

assim como baixo índice de tratamento das águas residuais coletadas (TEIXEIRA,

2014; SOUZA, 2014). Doenças diarreicas são consequências da falta de cobertura

desses serviços, o que, juntamente com outras doenças relacionadas à falta de

saneamento, leva a uma despesa estimada anual de 2,141 bilhões de reais para o Sistema

Único de Saúde (SUS) com consultas médicas e internações hospitalares (TEIXEIRA,

2014).

Na zona rural, essa situação se mostra ainda mais crítica. Segundo o PNAD (2015),

cerca de 65,5% da população rural do Brasil realizavam captação de água de fontes

alternativas, potencialmente inadequadas ao consumo, enquanto apenas 5,5% dos

domicílios da zona rural possuíam sistema de coleta de esgoto. Em vista à melhoria

dessa situação, os sistemas convencionais centralizados de saneamento apresentam

dificuldades, como os elevados custos de construção, operação e manutenção, além da

necessidade de mão de obra especializada (GREBEL et al., 2013; JORSARAEI et al.,

2014; ZAHARIA, 2017). As tecnologias sociais descentralizadas podem se caracterizar

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como uma eficiente alternativa por conta de seu baixo custo, maior acessibilidade e

facilidade de instalação, além da possibilidade de manutenção pela própria população

beneficiada (BARBIER, 2008).

Entre as tecnologias sociais de tratamento de efluentes descentralizados, destaca-se

a Fossa Séptica Biodigestora modelo EMBRAPA, que consiste no tratamento de águas

negras por meio da digestão anaeróbia, voltado para o tratamento de efluente doméstico

na zona rural (EMBRAPA, 2013). Em relação às demais fossas, esse modelo apresenta

menor risco de contaminação, além de possibilitar o uso do efluente como

biofertilizante. Seu valor de instalação de R$1.500,00 (EMBRAPA, 2013), apesar de

relativamente baixo, consiste em uma barreira para sua implementação em populações

em situação de extrema pobreza.

Outra alternativa é a Fossa Séptica Econômica, desenvolvida por técnicos da

Prefeitura de Pindamonhangaba (SP), que, apesar de não possibilitar o uso de efluentes

como biofertilizante, mostra-se expressivamente mais econômica que as fossas do

modelo da EMBRAPA, seguindo os mesmos princípios de funcionamento, através da

digestão anaeróbia e sedimentação de material sólido mais grosseiro. Atualmente,

existem oito Fossas Sépticas Econômicas em funcionamento no Assentamento Nova

São Carlos, no município de São Carlos/SP, sem que haja o monitoramento da

eficiência dessas fossas.

Por conta da falta de estudos relacionados a esse modelo, pesquisas aprofundadas

se fazem extremamente necessárias na avaliação da eficiência da tecnologia em relação

à remoção de matéria orgânica, nutrientes e organismos patogênicos. Este trabalho visa

então colaborar para o estudo do funcionamento das Fossas Sépticas Econômicas,

auxiliando pesquisas futuras que possam afirmar sobre a eficiência dessa tecnologia.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a eficiência de sistemas de fossas sépticas

econômicas no tratamento de efluentes domésticos do Assentamento Nova São Carlos,

em São Carlos (SP), aprofundando o estudo relativo a esse modelo de tecnologia

descentralizada para o tratamento de águas negras.

2.2. Objetivos Específicos

• Avaliar a eficiência de remoção de Demanda Bioquímica de Oxigênio,

nutrientes e patógenos das Fossas Sépticas Econômicas em diferentes períodos;

• Comparar a Fossa Biodigestora da EMBRAPA com a Fossa Séptica Econômica

em relação à eficiência de remoção dos parâmetros analisados nesse estudo;

• Estabelecer preliminarmente uma relação entre aspectos de

manutenção/operação das Fossas Sépticas Econômicas e sua eficiência de

remoção dos parâmetros avaliados;

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Saneamento e Saúde Pública

A implementação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário

possui efeitos de longo prazo mais expressivos sobre a saúde do que os efeitos

relacionados a intervenções tradicionais da medicina, conferindo ao saneamento um

efeito positivo multiplicador (BRISCOE, 1987). Além disso, o saneamento ambiental

possui uma abrangência ainda maior sobre a questão da saúde, incluindo fatores

socioeconômicos diretos e indiretos (CVJETANOVIC, 1986). Ainda segundo o autor,

existe uma relação de retroalimentação nos investimentos relacionados ao saneamento,

na qual os benefícios desses investimentos, como melhoria da nutrição, higiene pessoal

e interrupção da transmissão de doenças relacionadas com a água, propiciam o

desenvolvimento econômico, o qual pode ser empregado para a manutenção e expansão

das ações de saneamento.

No relatório do Programa de Monitoramento Conjunto da Organização Mundial da

Saúde (OMS), foi reportado que 844 milhões de pessoas não possuíam acesso a serviço

de abastecimento de água potável no ano de 2015. Entretanto, mesmo para a população

que possui acesso a serviços de saneamento, muitas vezes esses serviços não garantem o

fornecimento seguro de água potável. Dessa forma, uma significativa parcela da

população mundial enfrenta problemas relacionados à falta ou má gestão do saneamento

básico e suas consequências diretas e indiretas na qualidade de vida dessas pessoas.

A falta de saneamento está relacionada a inúmeras doenças, como diarreia,

infecções por helmintos transmitidos pelo solo, esquistossomose e tracoma, as quais

podem ser evitadas com medidas de higiene e saneamento adequadas (OMS, 2016). Em

um estudo realizado pela Global Burden of Disease Study publicado pela The Lancet

Infectious Diseases Journal, estima-se que 1,31 milhão de mortes foram causadas

apenas por doenças diarreicas em 2015, incluindo quase 500 mil casos de mortalidade

infantil. A taxa de mortalidade infantil (TMI) está relacionada com o nível de saúde e

desenvolvimento socioeconômico do país (OLIVEIRA, 2008). Segundo a autora, na

região nordeste do Brasil, a falta de saneamento básico continua a ser um fator relevante

para as elevadas TMI’s, apresentando valor ainda mais expressivo nas camadas sociais

de menor renda.

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Em relação a questões econômicas, de acordo com a Organização Mundial da

Saúde, por conta do impacto da falta de saneamento na qualidade de vida da população,

o investimento em serviços de saneamento se mostra extremamente vantajoso

economicamente. Estima-se um retorno de aproximadamente 4,3 dólares para cada

dólar investido nesses serviços, por conta da economia em serviços de saúde, aumento

da produtividade no trabalho, entre outros aspectos, relativa à prevenção de doenças

relacionadas à falta de saneamento.

3.2. Saneamento básico no Brasil

Saneamento básico é definido, segundo a Lei Nacional de Saneamento Básico (Lei

Federal Nº 11.445/2007), como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações

operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e

manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana. A mesma lei assume como meta a

universalização do acesso do saneamento básico, sendo realizado de formas adequadas à

saúde pública e à preservação do meio ambiente. Com isso, o saneamento básico

consiste em um direito social, assim como uma série de outros direitos constitucionais

como saúde, moradia e alimentação, cabendo ao poder público provê-lo em todo o

território brasileiro.

As porcentagens relativas à cobertura de saneamento no Brasil não levam em

consideração se estes serviços são realizados de forma inadequada e insegura. As

estatísticas oficiais normalmente consideram apenas se existe o serviço de saneamento,

independentemente da qualidade do serviço prestado (TEIXEIRA, 2014).

No trabalho realizado por Barcellos (2005), a poluição da água é tratada não só

como uma causa agravante da saúde, mas também como um resultado de processos

sociais e ambientais. Além disso, a ocorrência de doenças infecciosas está intimamente

ligada à expansão econômica e sua consequente degradação ambiental (CEDDIA, et al.,

2013).

Segundo Teixeira (2014), durante o período de 2001 a 2009, as doenças

relacionadas ao saneamento básico inadequado foram responsáveis por,

aproximadamente, 13 mil óbitos por ano, representando 1,3% das mortalidades no

período. Os maiores números de casos notificados de doenças de notificação

compulsória associadas à falta ou deficiência de saneamento básico nesse período foram

de dengue, hepatite, esquistossomose e leptospirose. Por ano, ocorreram em média 466

mil consultas de doenças de notificação compulsória e 758 mil internações hospitalares

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entre 2001 e 2009, que levaram a uma despesa total de 2,141 bilhões de reais para o

Sistema Único de Saúde (SUS) com consultas médicas e internações hospitalares. Neste

mesmo período, uma média de 3,3% do gasto total do SUS com internações hospitalares

ocorreu devido a internações por doenças relacionadas ao saneamento básico

inadequado no Brasil, sendo que, de 2001 para 2009, os valores absolutos pagos pelas

internações cresceram em 141,4%.

Os resultados do estudo de Souza (2014) mostram que o aumento percentual nos

níveis de saneamento refletem em quedas de maior magnitude percentual no número de

hospitalizações. Isso indica que os investimentos na área da saúde têm repercussões na

prevenção de surtos, já que a cobertura dos serviços de abastecimento de água no meio

urbano e a melhoria da qualidade da água apresentaram-se como os principais

determinantes dos níveis de morbidade. Com isso, investimentos que promovam a

melhoria do saneamento básico podem reduzir os níveis de mortalidades.

3.3. Saneamento básico na zona rural

Os serviços de saneamento básico nas áreas urbanas e rurais são muito destoantes no

mundo todo, com uma cobertura e qualidade muito inferiores na zona rural. Em 2015,

das 159 milhões de pessoas que não possuíam nenhum tipo de serviço de abastecimento

de água e que contavam com fontes de água superficiais com elevado risco para a saúde

(como rios, lagos e canais de irrigação), 147 milhões viviam em área rural, enquanto

nove a cada dez pessoas que praticavam defecação a céu aberto viviam em área rural

(OMS, 2017a).

Em 2010, a população da zona rural representava 15,6% dos 190.755.799 brasileiros

e, apesar de ser um percentual pequeno, esse número se torna relevante em termos de

população absoluta, uma vez que ela apresenta elevado déficit na cobertura de serviços

de saneamento básico (IBGE, 2010). De acordo com a PNAD (2015) e conforme

apresentado na Figura 1, apenas 34,5% das residências da zona rural possuem cobertura

de rede de distribuição de água. Em contraste, as porcentagens de atendimento do

serviço de cobertura de abastecimento de água é de 93,9% dos domicílios localizados na

área urbana. Além disso, 65,5% da população rural do Brasil realiza captação de água

de fontes alternativas, potencialmente inadequadas ao consumo. Isso se deve ao fato de

que, no meio rural, as principais fontes de abastecimento de água são provenientes de

poços rasos e nascentes, sendo fontes bastante suscetíveis à contaminação (AMARAL,

2003).

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Figura 1 – Porcentagem de domicílios do Brasil que contam com rede de abastecimento de água

Fonte: Adaptado de IBGE – PNAD/2015

Já em relação à coleta e tratamento de esgoto, a zona rural apresenta dados ainda

mais preocupantes. Segundo a PNAD (2015) e conforme demonstrado na Figura 2,

apenas 5,5% dos domicílios da zona rural possuem sistema de coleta de esgoto, outros

33,3% possuem fossas sépticas, 43,7%, utilizam fossas rudimentares e 7,3% utilizam-se

de outras alternativas. Vale apontar que as fossas rudimentares consistem, basicamente,

em uma escavação no solo sem impermeabilização e, assim como as soluções

alternativas, como valas e despejo de esgoto bruto nos cursos d’água, são soluções

inadequadas e oferecem potencial risco à saúde da população. Os outros 10,2% não

possuem alternativas de esgotamento sanitário. Essas formas de disposição de esgoto

culminam na contaminação do solo e lençol freático, relacionada a diversas doenças que

podem acometer os habitantes do local, por meio do contato com o solo e água

contaminados.

Entre as comunidades que compõem a zona rural, os assentamentos rurais

constituem uma parcela significativa, com cerca de 1,35 milhões de assentados em todo

o Brasil (INCRA, 2016). Bergamasco e Norder (1996) definem assentamentos rurais

como a criação de novas unidades de produção agrícola a partir de políticas

governamentais, buscando assim o reordenamento do uso da terra em benefício de

trabalhadores rurais sem terra ou com pouco acesso à terra. Em 2015, o número de

assentamentos totalizava 7 mil, distribuídos em 48 milhões de hectares com sua maioria

situada na Amazônia (INCRA, 2015).

85,4

93,9

34,5

0

20

40

60

80

100

Total Urbana Rural

%

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Figura 2 - Porcentagem de domicílios do Brasil que contam com sistema de coleta e tratamento de esgoto

Fonte: Adaptado de IBGE – PNAD/2015

Segundo a revista Retratos de Assentamentos (2016), o acesso à terra pelos

assentados deve ser parte de um conjunto de políticas para o meio rural que incluam o

acesso a recursos naturais, não só à terra como também à água; acesso aos mercados,

capacitação, financiamento e infraestrutura básica, como estradas, luz, saneamento

básico, saúde, educação, entre outras. Porém, observa-se uma inexistência em muitos

assentamentos do Brasil de infraestrutura básica. Sendo assim, essas condições

comprometem a qualidade de vida dos assentados, já que muitas famílias não

conseguem satisfazer suas necessidades básicas. Por conta disso, muitas delas recorrem

a fontes de água inseguras, compondo parte de todo o quadro de déficit de saneamento

básico seguro encontrado na zona rural brasileira.

De acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB, 2013),

diferentemente do saneamento na zona urbana, o saneamento rural requer uma

abordagem própria e distinta, tanto na dimensão tecnológica quanto na gestão e relação

com a comunidade, apontando que propostas tecnologias sociais se adequam à realidade

de seus habitantes.

3.4. Tecnologias sociais para tratamento descentralizado de esgoto

No tratamento de águas residuais, as soluções coletivas e centralizadas continuam

sendo utilizadas predominantemente, contando com um alto custo de construção,

operação e manutenção. Esse alto custo implica desafios de implementação e operação

em locais com menor disponibilidade de recursos financeiros. Então, os sistemas

descentralizados de tratamento de águas residuais são uma importante alternativa, na

59,1

21,514,7

2,8 1,9

68,1

19,6

9,8

2,0 0,65,5

33,3

43,7

7,3 10,2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Rede coletora Fossa séptica Fossa rudimentar Outro Sem solução

%

Total Urbana Rural

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medida em que são sistemas mais simples e econômicos, buscando necessidades

energéticas e de manutenção mínimas, contrapondo-se aos sistemas centralizados, os

quais necessitam de maiores investimentos (GREBEL et al., 2013; JORSARAEI et al.,

2014; ZAHARIA, 2017).

Os sistemas centralizados de tratamento de esgoto costumam lidar com volumes de

águas residuais para grandes comunidades, utilizando equipamentos hidráulicos,

sistemas de bombeamento, várias rotas de acesso, entre outros, longe da fonte de

geração de esgoto. Já os sistemas descentralizados coletam, tratam e descartam o esgoto

individualmente, muitas vezes reutilizando-o localmente ou nas proximidades

(KOHLER et al., 2016; MASSOUD et al., 2009; TCHOBANOGLOUS et al., 2004), o

que contribui para uma maior flexibilidade na gestão. Do ponto de vista ambiental e

econômico, é vantajoso realizar o tratamento de águas residuais o mais próximo

possível da sua fonte, diminuindo a necessidade de um sistema de coleta extenso, sendo

frequentemente caro (ZAHARIA, 2017).

Ho (2005) e Kohler et al. (2016) acrescentam que os sistemas descentralizados de

tratamento de águas residuais reduzem o risco de problemas e falhas futuros, permitindo

também a seleção de tecnologias de tratamento mais adequadas às especificidades

locais, contribuindo para sua flexibilidade, acessibilidade financeira, sustentabilidade e

aceitação social.

Em termos de processos de tratamento de esgoto, estudos apontam a importância de

pesquisas relacionadas a alternativas de tratamento. Entre elas, temos o

desenvolvimento de novos estilos de banheiros (ANAND, 2014), a coleta separada de

fontes das águas residuais domésticas (BDOUR et al., 2009) e tecnologias de

tratamento de diferentes tipos de águas residuais (águas cinzas, negras e amarelas) (MO,

2013).

Sendo assim, e levando-se em conta o fato das comunidades rurais e tradicionais

apresentarem uma diversidade cultural e de costumes diferenciados, o saneamento da

zona rural necessita de um estudo de tecnologias sociais que respeitem os modos de

vida de seus habitantes (COSTA, 2014).

O conceito de tecnologia social abrange o desenvolvimento de produtos, técnicas e

metodologias replicáveis que contribuam para a transformação social da comunidade

em que se aplica. Para isso, é fundamental que a tecnologia seja simples e de baixo

custo, o que a torna acessível. A tecnologia deve contar também com uma fácil

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instalação e manutenção possíveis de serem realizadas pela própria população

beneficiada e ser eficaz, cumprindo seu propósito técnico (BARBIER, 2008).

A aplicação de tecnologias sociais na melhoria do saneamento ambiental da zona

rural é uma alternativa eficiente, sendo necessário fazer a escolha da tecnologia mais

compatível com a realidade da comunidade e das características do efluente a ser

tratado.

3.5. Esgoto doméstico

Esgoto doméstico tem majoritariamente origem em residências, edifícios comerciais

ou qualquer construção que possua banheiros, lavanderias e cozinhas. Os efluentes

domésticos são compostos, essencialmente, por águas utilizadas para banho, de urina,

fezes, papel, restos de alimentos, sabonetes, detergentes e águas de lavagem (JORDÃO

& PESSOA, 2005).

Os organismos que causam contaminação de seres humanos por contato com esgoto

sanitário são as bactérias, os vírus entéricos ou parasitas intestinais (protozoários e

helmintos). Estes organismos patogênicos estão presentes em grande quantidade e

diversidade no esgoto sanitário, relacionando-se com a quantidade de indivíduos

infectados na população e a densidade de organismos patogênicos nos excrementos

desses indivíduos. Assim como os demais parâmetros físico-químicos utilizados na

caracterização de esgotos sanitários, a incidência de organismos patogênicos varia em

função do tempo, sendo os períodos de ocorrência de epidemias relacionados à água

marcados por uma maior densidade desses organismos (GONÇALVES et al., 2003).

As faixas de densidades dos principais e mais frequentes organismos patogênicos e

microrganismos indicadores presentes no esgoto sanitário são apresentados no Quadro

1. Na medida em que estes organismos ameaçam a saúde humana, sendo agentes

transmissores de doenças infecciosas, a grande quantidade presente no esgoto bruto

mostra a necessidade de processos de desinfecção no tratamento de efluentes

domiciliares. Já os microrganismos indicadores, apesar de normalmente não causarem

doenças, estão associados à presença de patógenos, sendo utilizados na avaliação de

eficiência do tratamento na remoção ou inativação de patógenos, entre outras situações.

Destacam-se os coliformes fecais como microrganismos indicadores.

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Quadro 1 - Ocorrências típicas de microrganismos patogênicos e microrganismos indicadores em

esgotos brutos

Microrganismo Contribuição per

capita (org hab-1 d-1)

Concentração

(org 100 mL-1)

Bactérias

Coliformes totais 109 a 1012 106 a 1010

Coliformes fecais 108 a 1011 106 a 109

Escherichia coli 108 a 1011 106 a 109

Salmonellae spp. 105 a 106 102 a 103

Estreptococos fecais 108 a 109 105 a 106

Pseudomonas aeruginosa 104 a 105 101 a 102

Protozoários

Cistos de Giardia sp. 105 a 107 102 a 104

Oocistos de Cryptosporidium spp. 104 a 105 101 a 102

Helmintos

Ovos de helmintos 104 a 106 101 a 103

Vírus

Vírus 105 a 107 102 a 104

Fonte: GONÇALVES et al. (2003)

As enfermidades relacionadas ao déficit de saneamento podem ser divididas em

quatro categorias: enfermidades de veiculação hídrica, na qual a contaminação se dá

pela ingestão direta da água, enfermidades de transmissão durante práticas de higiene

pessoal, enfermidades relacionadas ao contato com água contaminada e enfermidades

através de vetores cujo ciclo de vida é dependente da água. Muitas dessas doenças

apresentam a diarreia como um de seus principais sintomas, como apresentado na

Tabela 1.

Estudos, como o realizado por Lopes (2012), mostram a relação entre saneamento

básico e doenças de transmissão feco-oral. Foi observada uma redução de 52% na

incidência de hepatite na Bahia após um aumento da cobertura de serviços de

saneamento. Na Região Metropolitana de Porto Alegre/RS, entre os anos 2010 e 2014

foi registrada a ocorrência de 13.929 internações por doenças relacionadas ao

saneamento ambiental inadequado (DRSAI), sendo que 93,7% relacionaram-se às

doenças de transmissão feco-oral e com letalidade hospitalar de 2,2%. Dessas doenças,

destacam-se cólera, febre tifoide e gastroenterite (SIQUEIRA, 2017).

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Tabela 1 - Principais doenças relacionadas à água contaminada com os respectivos agentes etiológicos,

sintomas e fontes de contaminação

Doença Agente Etiológico Sintomas Fontes de

contaminação

Febre tifóide e

paratifóide

Salmonella typhi

Salmonella paratyphi A e

B

Diarreia e febre elevada Fezes humanas

Disenteria Bacilar Shigella dysenteriae Diarreia Fezes humanas

Disenteria amebiana Entamoeba histolytica Diarreia, abscessos no fígado

e intestino delgado Fezes humanas

Cólera Vibrio cholerae Diarreia e desidratação Fezes humanas e

águas costeiras

Giardíase Giardia alamblia Diarreia, náusea, indigestão e

flatulência

Fezes humanas e

de animais

Hepatite A e B Vírus da hepatite A e B Febre e icterícia Fezes humanas

Poliomielite Vírus da poliomielite Paralisia Fezes humanas

Criptosporidiose

Cryptosporidium

Parvum

Cryptosporidium muris

Diarreia, anorexia, dor

intestinal, náusea, indigestão

e flatulência

Fezes humanas e

de animais

Gastroenterite

Escherichia coli

Campylobacter jejuni

Yersinia enterocolitica

Aeromonas hydrophila

Rotavírus

Outros vírus entéricos

Diarreia Fezes humanas

Fonte: Adaptado de LOTFI (2016) apud GONÇALVES et al., (2003)

Em função da diversidade de compostos e organismos no esgoto doméstico, é

vantajosa, para fins de tratamento, sua divisão em dois grupos: águas cinzas e águas

negras. As águas cinzas são compostas basicamente por água provenientes de chuveiros,

tanques, lavatórios e máquinas de lavar roupa, decorrentes do uso de sabão ou produtos

similares para lavagem do corpo, de roupas ou de limpeza geral (RIDDERSTOLPE,

2004). Segundo Friedler et al. (2005), as águas cinzas compõem grande parte do

volume do efluente doméstico, variando de 60-70% do volume total.

Em estudo realizado por Bazzarella (2005), foram analisadas as características

típicas encontradas em águas cinzas domésticas, como demonstrado na Quadro 2.

Quando comparadas às águas negras, as águas cinzas apresentam baixo índice de

matéria orgânica, medido pela DBO, e baixo índice de bactérias patogênicas, medido

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pelos coliformes totais. Ainda assim, apresenta risco de contaminação e altos índices de

turbidez, sólidos totais e Fósforo Total (RAMPELOTTO, 2014).

Quadro 2 - Características típicas em águas cinzas com faixas esperadas de parâmetros de interesse

sanitário

Parâmetro Faixa

Coliformes totais (105 NMP 100 mL-1) 0,29 - 1,3

E. coli (105 NMP 100 mL-1) 0,101 - 1,3

Oxigênio dissolvido (mg L-1) 5,5 - 7,6

Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg L-1) 425 - 725

Demanda Química de Oxigênio (mg L-1) 190 - 1331

pH 5,99 - 7,58

Turbidez (NTU) 90 - 289

Condutividade elétrica (μS/cm) 307 - 600

Sólidos suspensos totais (mg L-1) 70 - 220

Sólidos totais (mg L-1) 686 - 4691

Nitrogênio Amoniacal (mg L-1) 0,9 - 4,1

Nitrogênio total Kjeldahl (mg L-1) 2,3 - 11,2

Nitrito (mg L-1) 0,00 - 0,19

Nitrato (mg L-1) 0,19 - 0,98

Fósforo Total (mg L-1) 1,1 - 13,2

Sulfeto (mg L-1) 0,06 - 0,22

Sulfato (mg L-1) 121,1 - 377,3

Fonte: Adaptado de BAZZARELLA (2005)

Já águas negras são os efluentes provenientes dos vasos sanitários, sendo assim, são

compostos por fezes, urina e papel higiênico. Alguns autores consideram as águas

resíduárias de cozinha como águas negras, por conta de sua elevada concentração de

sólidos em suspensão, compostos graxos, óleos e gorduras (GONÇALVES et al., 2006).

Apesar do volume de águas negras produzido ser muito menor do que o volume de

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águas cinzas, as águas negras apresentam concentração muito maiores de patógenos e

nutrientes (GALBIATI, 2009).

Rebêlo (2011) realizou a análise de diferentes parâmetros em águas negras, como

apresentado no Quadro 3. Como os valores obtidos de DBO e DQO do estudo

divergiram consideravelmente dos valores encontrados na literatura, estão apresentadas

as concentrações obtidas em estudo por Panikkar et al. (2003, apud Rebêlo, 2011). As

águas negras apresentam faixas superiores em quase todos os parâmetros quando

comparadas às águas cinzas. Destacam-se a DBO e presença de coliformes totais e

termotolerantes das águas negras, apontando uma necessidade de adoção de métodos de

tratamento de matéria orgânica e remoção ou inativação de patógenos.

Quadro 3 - Características típicas em águas negras com faixas esperadas de parâmetros de interesse

sanitário

Parâmetro Faixa

Coliformes Totais (105 UFC 100 mL-1) 03 - 63

Coliformes Termotolerantes (105 UFC 100 mL-1) 06 - 22

Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg L-1) 2000 – 3000*

Demanda Química de Oxigênio (mg L-1) 2000 – 6000*

pH 6,8 - 7,8

Turbidez (UNT) 131,0 - 446,0

Cor Aparente (UC) 227,8 - 826,4

Condutividade (μS cm-1) 438 - 1440

Sólidos sedimentáveis (mL L-1) 1,0 - 5,0

Sólidos Voláteis (mg L-1) 90,0 - 700,0

Sólidos Fixos (mg L-1) 60,0 - 402,0

Nitrogênio Amoniacal (mg L-1) 9,4 - 74,2

Fósforo Total (mg L-1) 0,8 - 11,2

Fonte: Adaptado de REBÊLO (2011)

* PANIKKAR et al.(2003) apud REBÊLO (2011)

É importante considerar que a separação das águas cinzas e negras muitas vezes

oferecem um desafio para as tecnologias de tratamento de efluente. Em domicílios que

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já possuem a mistura desses dois tipos de efluentes a construção de um sistema que trate

apenas um dos tipos resultará em gastos extras para as adaptações hidráulicas.

Uma tecnologia frequentemente aplicada no Brasil é a Fossa Séptica Biodigestora,

responsável pelo tratamento das águas negras, além de outras tecnologias que

necessitam de estudos aprofundados sobre seu funcionamento, como a Fossa Séptica

Econômica.

3.6. Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA

A Fossa Séptica Biodigestora modelo EMBRAPA é um sistema de tratamento

descentralizado de águas negras, voltado para o tratamento de efluente doméstico na

zona rural, e foi desenvolvida nos anos 2000 pelo pesquisador da EMBRAPA

Instrumentação Antônio Pereira de Novaes.

O tratamento do efluente doméstico ocorre por meio da digestão anaeróbia realizada

com auxílio de microrganismos presentes no esterco bovino ou de outros animais, sendo

introduzidos mensalmente no sistema 10 L de esterco fresco misturados com água

(GALINDO, 2010).

Esse sistema é exclusivo para águas negras, pois os sabões e detergentes presentes

em águas cinzas têm o potencial de eliminar ou prejudicar o desenvolvimento das

bactérias responsáveis pela digestão anaeróbia, comprometendo o funcionamento do

sistema (NOVAES et al, 2002).

O sistema possui três caixas d’água de plástico, com volume de 1.000 L cada,

interligadas por tubos e conexões de PVC de 100 mm, formando um conjunto que é

conectado ao vaso sanitário, recebendo assim a descarga que transita pelas caixas por

ação da gravidade. Esse sistema possui capacidade de tratamento de efluentes de uma

residência com até sete moradores (OTENIO, 2014).

Todas as caixas devem ser enterradas no solo, com as tampas pintadas de preto, para

favorecer a absorção de radiação e para que ocorra um aumento na temperatura. Para

garantir o desenvolvimento das bactérias anaeróbias responsáveis pelo tratamento, as

tampas devem ser vedadas, impedindo o resfriamento e entrada de oxigênio no sistema.

Porém, por conta da produção de gases na digestão anaeróbia, é necessária a instalação

de duas válvulas de alívio para a liberação dos gases. Os processos de biodigestão e

fermentação ocorrem nas duas primeiras caixas, sendo eliminado cerca de 70% dos

microrganismos na primeira caixa e 30% na segunda caixa. Dos microrganismos

eliminados, destacam-se coliformes totais, coliformes termotolerantes, helmintos e

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Escherichia coli (SOARES, 2016; LOTFI, 2016). Já a terceira caixa serve como

armazenamento para o biofertilizante, que poderá ser utilizado na agricultura

(EMBRAPA, 2010).

A Figura 3 ilustra o esquema da fossa, apontando elementos que compõem o

sistema, como: a válvula de retenção, que pode ser utilizada como estrutura para

inoculação das bactérias contidas no esterco; as chaminés de alívio, responsáveis pela

eliminação dos gases produzidos da digestão anaeróbia; as curvas de 90º, responsáveis

pela conexão dos tubos PVC; o “T” de inspeção, responsável pela inspeção de eventuais

entupimentos; as caixas de 1.000 L, onde ocorre o tratamento e armazenamento do

biofertilizante; e registro, no qual é retirado o efluente.

Figura 3 - Esquema do sistema de Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA, destacando a válvula

de retenção (1), as chaminés de alívio (2), as curvas de 90º (3), o “T” de inspeção (4), as caixas

d’água de 1.000 L (5 e 6) e o registro (7)

Fonte: NOVAES (2001) apud EMBRAPA (2010)

Assim, além de promover o saneamento rural, a Fossa Séptica Biodigestora também

é responsável pela geração de um biofertilizante com potencial de aumentar a

produtividade agrícola, na medida em que contem nutrientes e matéria orgânica

importantes para o desenvolvimento das plantas, possibilitando a diminuição do uso de

fertilizantes químicos (FAUSTINO, 2007). Em um estudo realizado por Valeriano

(2017) foi observado que o uso do biofertilizante de Fossa Séptica Biodigestora

promove uma melhora na qualidade do solo em culturas de milho, resultando em um

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aumento da produtividade em grãos. Neste estudo, foi realizado um teste comparativo

entre a aplicação via solo de NPK mineral, efluente + PK mineral, PK mineral, apenas

efluente e uma cultura controle sem adubação, apresentando uma produtividade média

de: 76,5 sacas/ha, 69,2 sacas/ha, 51,5 sacas/ha, 47,0 sacas/ha e 34,1 sacas/ha

respectivamente. Além de apresentar um aumento na produtividade quando comparada

à cultura controle, os resultados sugerem que o biofertilizante pode ser utilizado

substituindo o uso de nitrogênio sintético, já que os tratamentos NPK e Efluente + PK

tiveram pequena diferença na produtividade em grãos.

A Fossa Séptica Biodigestora destaca-se em relação às demais fossas, como as

fossas rudimentar (escavada diretamente no solo, não possuindo revestimentos) e

séptica (revestida de cimento ou alvenaria), apresentando uma maior segurança no

tratamento de efluentes na medida em que oferece menor risco de contaminação. Isso se

deve ao fato da Fossa Séptica Biodigestora apresentar características como a vedação

hermética, evitando a proliferação de vetores e contaminação das águas superficiais e

subterrâneas. Além disso, destaca-se por promover a reciclagem de dejetos, na medida

em que gera um biofertilizante com potencial de uso agrícola. Porém, diferentemente

das outras fossas, a Fossa Séptica Biodigestora não realiza o tratamento de águas cinzas,

sendo necessárias outras tecnologias para este fim. O Quadro 4 apresenta uma síntese de

comparação entre diferentes aspectos de três diferentes fossas: fossa rudimentar, fossa

séptica (convencional) e Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA.

Em estudo realizado por Lotfi (2016) nos assentamentos rurais Nova São Carlos e

Santa Helena da cidade de São Carlos, foram avaliadas as eficiências de remoção de

DBO, E. coli, coliformes totais, fósforo total e nitrogênio total em sete Fossas Sépticas

da EMBRAPA com tempo de funcionamento de 4 meses a 1 ano e 6 meses. A Tabela 2

apresenta as médias de eficiência de remoção dos parâmetros analisados. Vale ressaltar

que quatro das sete fossas não apresentaram nenhuma remoção de nitrogênio total,

sendo a média de eficiência das três fossas com remoção quantificável.

Segundo a EMBRAPA (2013), o custo médio de instalação desse sistema é de R$

1.500,00. Embora esse valor seja relativamente baixo em relação ao serviço prestado,

encontra-se pouco acessível para parcela da população de baixa renda. Existem outras

alternativas ainda pouco estudadas, como a Fossa Séptica Econômica, que busca prover

o mesmo serviço com um custo ainda mais reduzido.

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Quadro 4 – Comparação entre tipos de fossas utilizadas para saneamento

Fossa

rudimentar

Fossa

séptica

Fossa

Séptica

Biodigestora

Possibilita de contaminação de águas

superficiais Sim Não Não

Possibilita de contaminação de águas

subterrâneas Sim Não Não

Gera efluente passível de reúso Não Não Sim

Realiza o tratamento de águas cinzas e negras Sim Sim Não

Propicia proliferação de vetores Sim Sim Não

Possui vedação hermética Não Não Sim

Fonte: Adaptado de DA SILVA (2011) apud COSTA & GUILHOTO (2014).

Tabela 2 - Média de eficiência de remoção de DBO, E. coli, coliformes totais, fósforo total e NTK das

fossas biodigestoras analisadas

Parâmetros Remoção (%)

DBO 73,2

E. coli 98,1

Coliformes totais 96,1

Fósforo total 37,0

NTK 43,0

Fonte: Adaptado de LOTFI (2016)

3.7. Fossa Séptica Econômica

A Fossa Séptica Econômica foi desenvolvida por técnicos da Prefeitura de

Pindamonhangaba (SP), e possui aplicações em outras cidades como Caratinga e Sabará

no estado de Minas Gerais (LUCCA, 2015).

Segundo a Prefeitura de Pindamonhangaba, a tecnologia surgiu após a necessidade

do município de resolver problemas de saneamento básico da população de baixa renda,

a qual não possui sistema de coleta de esgoto. Com isso, a Fossa Séptica Econômica

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mostrou-se como uma alternativa para a falta de saneamento, apresentando um custo de

instalação de aproximadamente R$150,00, expressivamente mais econômica que os

demais modelos de fossa comumente utilizados.

O sistema de Fossa Séptica Econômica, implementado pela Prefeitura Municipal de

Caratinga (MG), consiste num conjunto de três tambores plásticos de 200 litros semi-

enterrados em sequência e com tampa rosqueada. Segundo Costa (2013), o sistema é

responsável pela eliminação de mais de 80% dos resíduos orgânicos e patogênicos.

Diferentemente do modelo da EMBRAPA, a Fossa Séptica Econômica gera resíduos

sedimentado (lodo) no fundo dos tambores, fazendo com que, ao longo do tempo, o

sistema perca sua eficiência. Estima-se que a limpeza e destinação do lodo à aterro

sanitário deve ser feita a cada sete anos.

Apesar disso, o tratamento de efluente doméstico realizado por este modelo de fossa

segue os mesmos princípios de uma fossa de alvenaria convencional, através

inicialmente da sedimentação do material sólido mais grosseiro, seguido de processos

anaeróbios de biodigestão das águas negras e necessitando do inoculo de esterco

bovino.

A Figura 4 ilustra o esquema de construção da Fossa Séptica Econômica realizado

pelo projeto Caravana da Luz em Ribeirão Preto. Nesse projeto, foram realizadas

adaptações, como a adição de mais um tambor, por ter sido considerada uma família de

cinco indivíduos e a interligação deste sistema ao círculo de bananeiras, eliminando a

necessidade de uma vala de infiltração. Assim, observa-se que nesse modelo de fossa

séptica não há a produção de biofertilizante quando comparado ao modelo da

EMBRAPA.

Diante da importância das tecnologias sociais de tratamento de esgoto no Brasil, por

conta da falta de cobertura principalmente na zona rural do sistema de coleta de esgoto,

o estudo e desenvolvimento de novas tecnologias acessíveis se mostra indispensável na

reversão desse quadro. A Fossa Séptica Econômica é um modelo que está sendo

utilizado em diversas cidades no Brasil, podendo ser uma importante alternativa aos

métodos de saneamento descentralizados convencionais

Apesar do baixo custo de construção, nota-se que ainda faltam muito estudos

relativos não só à eficiência dessa tecnologia, como também das diferenças de

funcionamento desse modelo de fossa em relação aos modelos convencionais.

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Figura 4 - Esquema do sistema de Fossa Séptica Econômica com modificações em relação ao modelo

original

Fonte: Adaptado de PROJETO CARAVANA DA LUZ (2014)

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4. METODOLOGIA

4.1. Área de estudo

A presente pesquisa realizou coleta e análise de amostras de Fossas Sépticas

Econômicas situadas na comunidade rural localizada no Assentamento Nova São

Carlos, São Carlos/SP.

O assentamento, reconhecido oficialmente em julho de 2008, encontra-se sob

responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Localiza-se em áreas do antigo Horto de São Carlos, com quase toda sua extensão

dentro da bacia hidrográfica do Ribeirão do Feijão, o principal manancial de

abastecimento da cidade de São Carlos. Anteriormente ao estabelecimento do

assentamento, o histórico recente de uso era de silvicultura de eucalipto, que foi

parcialmente ou totalmente suprimido pelas próprias famílias que residem no local a

partir da ocupação de cada lote. Possuindo aproximadamente 954 hectares, o

assentamento está dividido em 82 lotes destinados à ocupação que variam de 5,1 a 7,6

ha, sendo que aproximadamente 3,8 ha da área total são reservados à área comunitária,

cerca de 7 hectares constituem Áreas de Preservação Permanente (APPs) e 314 hectares

averbados como Reserva Legal.

A população de assentados caracteriza-se, em sua maioria, por pessoas que já

moraram e/ou trabalharam no campo anteriormente, o que demonstra conhecimento e

habilidade de manejo para produção agrícola dos assentados. Em 2013, encontravam-se

82 famílias no assentamento, sendo que a maior parte destas é oriunda da cidade de São

Carlos (BERNARDINO, 2013). Porém, ainda segundo a autora, é possível afirmar que

ocorreu um adensamento populacional no assentamento, sendo que cada lote, que

deveria ser ocupado por apenas uma família, é ocupado, em média, por três famílias.

Ciente da atual situação do Assentamento Nova São Carlos em relação ao

saneamento básico, em maio de 2016, o Grupo de Estudos e Intervenções

Socioambientais (GEISA) do campus São Carlos da Universidade de São Paulo realizou

a construção de uma Fossa Séptica Econômica em um lote do assentamento, que se

encontra em funcionamento até o atual momento. Além disso, em 2017 a Associação

Veracidade da cidade de São Carlos realizou a construção de mais sete Fossas Sépticas

Econômicas, através de projeto vencedor do edital 2016 do Fundo Nacional de

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Solidariedade. Assim, o Assentamento Nova São Carlos conta, atualmente, com oito

Fossas Sépticas Econômicas.

As fossas analisadas nesse estudo foram construídas no projeto desenvolvido pela

Associação Veracidade, possuindo tempo de instalação aproximado entre 8 e 11 meses

da data da primeira coleta realizada nesse estudo. Por isso, será admitido que qualquer

diferença no tempo de instalação das fossas não será significativa.

4.2. Atividades de campo

A fim de uma maior compreensão do funcionamento das fossas, foram levantadas

informações que influenciam o funcionamento das mesmas a partir de entrevistas. As

informações levantadas foram: número de moradores no lote (que utilizam o vaso

sanitário conectado à fossa), presença de entrada de ar no sistema, ocorrência de

vazamentos das fossas, quantidade e frequência de aplicação de esterco bovino nas

fossas e o uso de água sanitária na lavagem dos vasos sanitários conectados às fossas.

Foram realizadas três coletas, nas datas 26/02/18 (segunda-feira), 07/06/18 (quinta-

feira) e 27/09/18 (quinta-feira), nas Fossas Sépticas Econômicas construídas em três

lotes do assentamento (Figura 5), cujas coordenadas estão representadas no Quadro 5. A

escolha dos lotes foi feita de acordo com a disponibilidade dos moradores nas datas das

coletas. As coletas foram realizadas diretamente nas fossas, com amostras no segundo e

último tambor, buscando uma análise de entrada e de saída do esgoto. A coleta do

esgoto bruto nessas fossas não é possível sem que sejam realizadas modificações nas

instalações hidráulicas das casas.

Quadro 5 – Coordenadas dos lotes onde foram realizadas as coletas de efluente de Fossas Sépticas

Econômicas

Lotes Latitude Longitude

1 22°04'33.2" sul 47°52'15.8" oeste

2 22°05'06.8" sul 47°51'44.2" oeste

3 22°04'57.0" sul 47°53'02.1" oeste

Fonte: Elaboração própria

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Figura 5 - Esquema do assentamento rural Nova São Carlos, com marcação dos três lotes onde foram

feitas as coletas de amostras das fossas

Fonte: Adaptado de INCRA (2010) apud Bernardino (2013)

Além disso, em todas as coletas, o efluente nas primeiras bombonas encontrava-se

com elevada concentração de sólidos. Então, as amostras coletadas no segundo tambor

de cada fossa, apesar de já terem sofrido tratamento, foram consideradas como amostras

de esgoto bruto neste estudo. Na coleta do dia 07/06/18, não foi possível coletar amostra

da última bombona do Lote 2 pelo fato do efluente estar muito sólido, sendo feita a

análise da segunda bombona (entrada) e terceira bombona (saída).

Foram utilizadas garrafas plásticas de 500 mL para a realização das coletas. As

amostras foram armazenadas em caixas de isopor com gelo durante o transporte até o

laboratório de Biotoxicologia de Águas Continentais e Efluentes (BIOTACE), sendo

preservadas no freezer até o momento de sua análise. Entretanto, as amostras para a

análise de DBO e coliformes foram utilizadas imediatamente, não necessitando do uso

de refrigeração.

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4.3. Processamento das amostras

Os métodos para análise laboratoriais foram realizados de acordo com as

recomendações do livro Standard Methods for the Examination of Water and

Wastewater (APHA), 21ª edição, de 2005. Na primeira bateria de análises, foi realizado

um maior número de diluições para que fossem encontrados os intervalos adequados

para a análise de cada parâmetro. Além disso, foi observada a necessidade de retirar

larvas e sementes com pinças para que não influenciassem nas análises.

4.3.1. DBO5,20

Na determinação da DBO5,20 das amostras foi empregado o método descrito em

APHA (2005) sob o código 5210 B (Teste de DBO de 5 dias), consistindo na aferição

das concentrações de oxigênio dissolvido antes e após um período de incubação,

possibilitando a determinação da DBO5,20 de cada amostra.

Foram feitas diluições de 1:150 para que os valores obtidos encontrassem na

faixa confiável de leitura do oxímetro (modelo DM-4/Digimed®), sendo 2 mg L-1 o

valor mínimo detectado.

No cálculo dos valores de DBO5,20 foi utilizada a equação (1):

𝐷𝐵𝑂 (mg L-1) = (𝑂𝐷𝑓 − 𝑂𝐷𝑖) ∗ 𝑓 (1)

Sendo:

ODf = Oxigênio dissolvido após incubação de 5 dias (mg L-1);

ODi = Oxigênio dissolvido inicial (mg L-1);

f = fator de diluição = 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑓𝑟𝑎𝑠𝑐𝑜.

4.3.2. Fósforo Total

Para a análise do fósforo total, foi utilizado o método descrito em APHA (2005)

sob o código 4500-P B. A análise foi dividida em duas partes principais: digestão da

amostra, possibilitando a oxidação e liberação do fósforo associado à matéria orgânica

como ortofosfato; e a leitura da concentração de ortofosfato com o uso de

espectrofotômetro.

As amostras utilizadas nessas análises foram diluídas de 1:500 para que os

resultados respeitassem o limite de máximo de 250 µg L-1 da curva do

espectrofotômetro (modelo DR4000/Hach®). O limite de detecção calculado no

laboratório para este método é de 2 µg L-1.

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4.3.3. Nitrogênio total Kjeldahl (NTK)

Na determinação do NTK, foi utilizado o método de digestão, destilação e

titulação descrito em APHA (2005) sob o código 4500-Norg C. As amostras foram

diluídas de 1:2 e lidas no equipamento AutoKjeldahl Unit K-370/Buchi®. O ácido

sulfúrico e sulfato de cobre foram utilizados para digestão do nitrogênio da amostra,

convertendo-o a sulfato de amônio. A destilação resultou na liberação da amônia, que

foi posteriormente titulada com ácido sulfúrico com normalidade conhecida,

possibilitando-se assim determinar o valor de NTK nas amostras.

Na obtenção dos valores de concentração de NTK nas amostras, foi utilizada a

equação (3):

𝑚𝑔 𝑁𝑇𝐾 L-1 =(𝑉−𝐵)∗14∗1000∗𝑁

𝑣 (3)

Sendo:

V: Volume de Ácido Sulfúrico gasto na titulação da amostra (mL);

B: Volume de Ácido Sulfúrico gasto na titulação do branco (mL);

N: Normalidade do Ácido Sulfúrico Titulante;

v: volume de amostra colocada no frasco (mL)

4.3.4. Escherichia coli e coliformes totais

Na determinação de Escherichia coli e coliformes totais nas amostras, foram

utilizados os métodos descritos em APHA (2005), sob os códigos 9222 B e 9222 D,

respectivamente. O procedimento foi realizado com base na diluição seriada das

amostras brutas utilizando balões volumétricos antes da filtração para possibilitar a

contagem das colônias (quantidade próximas a faixa de 20 a 60 colônias por placa). As

diluições utilizadas para as análises foram: 1:105, 1:106, 1:107 e 1:108.

Posteriormente, as amostras foram filtradas a vácuo em membranas de nitrato de

celulose com 0,45 µm de porosidade (modelo AG 37070/Sartorius®). Em seguida, as

membranas foram colocadas em meios de cultura sólidos (Chromocult® Coliform

Agar) e incubadas em estufa a 36 ± 1 ºC por 24 h. Por fim, as unidades formadoras de

colônia (UFC) foram contadas.

O número total de UFC foi calculado a partir da média das diferentes diluições de

cada amostra. Porém, alguns resultados foram desconsiderados por motivos diversos,

como crescimento irregular das colônias nas placas e valores muito distantes das demais

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diluições. Sendo assim, o valor total de colônias da cor azuis mais vermelhas resultou

nos coliformes totais, e o valor total de colônias azuis resultou nas E. coli.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Detalhamento das fossas

No Quadro 6 estão condensadas algumas das informações específicas de cada lote,

como número de moradores no lote, se existe algum aspecto construtivo que permite a

entrada de ar no sistema e a presença de possíveis vazamentos.

Quadro 6 – Características gerais das fossas de cada lote

Lote Número de

moradores

Entrada de ar no

sistema Vazamento

1 2 Sim Sim

2 4* Sim Não

3 4 Sim Não

* com até 11 visitas em finais de semana

Fonte: Elaboração própria.

Em todos os lotes o uso da fossa é constante, ou seja, os moradores utilizam

diariamente o vaso sanitário que alimenta a fossa. Essa informação é importante, pois o

funcionamento das fossas depende de seu uso frequente, já que a utilização das fossas

esporadicamente pode causar a morte dos microrganismos responsáveis pelo tratamento

anaeróbio (EMBRAPA, 2017).

Como mencionado no item 4. Metodologia, em todos os lotes o efluente da

primeira bombona encontrava-se no estado sólido (Figura 6 A), o que impossibilitou a

coleta e análise nessa bombona, sendo então feita a análise nas segundas e quartas

bombonas. Com isso, apesar de ser considerado nesse estudo como efluente bruto,

possivelmente o efluente coletado já passou por um processo de tratamento. Nos três

lotes as fossas apresentavam algum problema de construção e/ou manutenção que

possibilita a entrada de ar no sistema, como chaminés de alívio quebradas e saída de

efluente em contato direto com o ar (Figura 6 B). Por se tratar de um sistema anaeróbio,

a presença de ar interfere no funcionamento do sistema.

As respostas obtidas nas entrevistas com os moradores sobre a aplicação de esterco

bovino e uso de água sanitária para a limpeza dos vasos sanitários foram inconclusivas.

As informações de frequência e quantidade de esterco aplicado variaram em cada

entrevista e, em relação à água sanitária, os moradores não souberam afirmar se este

produto está sendo utilizado na limpeza dos vasos. Isso apresenta um empecilho na

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discussão dos resultados, já que ambos aspectos possuem influência na atividade

microbiana das fossas.

O Lote 1 possui a metade dos moradores dos outros lotes, sendo identificado

vazamento na primeira bombona (Figura 7 A). Isso pode ocasionar tanto a entrada de

material e ar no sistema quanto saída de líquidos das fossas, tornando mais denso o

efluente. O Lote 2 conta com uma frequente sobrecarga do sistema nos finais de

semana, já que as Fossas Sépticas Econômicas com quatro bombonas são projetadas

para famílias em torno de cinco pessoas. A presença de até 11 visitas no Lote 2 aos

finais de semana pode ter influência nos resultados obtidos na primeira coleta

(26/02/18), que foi realizada na segunda-feira imediatamente posterior a um final de

semana. Além disso, na segunda coleta do Lote 2, o efluente da quarta bombona

também estava muito sólido, sendo feita a coleta da terceira bombona como efluente de

saída.

Já o Lote 3 não estava aplicando esterco nos meses que antecederam a última

coleta, além de apresentar tanto saída de fossa ao ar livre quanto as chaminés de alívio

quebradas (Figura 7 B), possibilitando uma maior entrada de ar no sistema. Outra

particularidade encontrada foi o fato da fossa do Lote 3 encontrar-se enterrada e com

possível entrada de terra nas bombonas. No período da terceira coleta, foi observado

que a quarta bombona da fossa não estava rosqueada. Durante a conversa com os

moradores, foi informado que as crianças do lote às vezes abrem a fossa, o que também

pode resultar em maior entrada de terra no sistema e os resultados dos parâmetros

analisados podem ter sofrido interferência por conta disso.

Por fim, algumas fossas apresentaram características visuais que não puderam ser

analisadas nesse estudo, como películas superficiais que aparentam ser de gordura

(Figura 8). Toda essa divergência de aspectos construtivos, de manutenção e de uso

entre cada uma das fossas em estudo, somada às diferenças nesses aspectos ao modelo

de Fossa Séptica Econômica desenvolvidas em outros projetos, oferece um desafio na

análise dos resultados.

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Figura 6 - A) Primeira bombona com excesso de sólidos no Lote 2 (26/02/18); B) Saída de fossa ao ar

livre no Lote 1 (26/02/18)

Fonte: Autoria própria

Figura 7 - A) Fossas enterradas no Lote 3 (07/06/18); B) Vazamento da primeira bombona da fossa no

Lote 1 (07/06/18)

Fonte: Autoria própria

Figura 8 – A) Particularidade na bombona de saída da fossa do Lote 1 (27/09/18); B) Particularidade na

bombona de saída da fossa do Lote 2 (27/09/18)

Fonte: Autoria própria

A) B)

A) B)

A) B)

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5.2. DBO5,20

Em alguns casos, como em análises das fossas do Lote 2 (07/06/18) e do Lote 3

(07/06/18 e 27/09/18), não houve remoção da DBO. A porcentagem de remoção da

DBO variou entre 28-52% no Lote 1, 44-47% no Lote 2 e 52% no Lote 3 (Tabela 3).

Todos os valores de entrada (representando o esgoto bruto) tiveram valores

inferiores aos encontrados por Panikkar et al. (2003). Isso pode ser explicado pelo fato

das amostras de entrada de esgoto, por serem da segunda bombona, já terem sofrido um

processo de tratamento nas fossas.

A fossa do Lote 1 demonstrou redução da DBO nas três coletas com uma redução

de eficiência no decorrer do período de estudo. Na fossa do Lote 2 observa-se que a

eficiência de remoção de DBO na primeira e terceira coleta foram semelhantes. Embora

na segunda coleta o sistema não tenha apresentado remoção de DBO, a amostra de saída

corresponde ao efluente da terceira bombona, podendo ter influência nos resultados

encontrados.

Já no Lote 3, a fossa apresentou uma queda na eficiência de remoção de DBO no

decorrer do estudo. Uma das possíveis causas é a entrada de sólidos nas bombonas,

especialmente no período da terceira coleta, possuindo também a maior variação de

DBO entre as fossas analisadas (Figura 9).

As fossas não obtiveram a eficiência de 80% de remoção de DBO esperada em

Fossas Sépticas Econômicas levantada por Costa (2013). Ainda assim, em estudo

realizado por Postigo (2017) com Fossa Séptica Econômica no assentamento Horto

Aimorés, no município de Pederneiras/SP, a eficiência de remoção da fossa foi de

47,6%. Porém, o autor aponta como possíveis causas dessa menor eficiência de

remoção de DBO o fato de que, além do DBO inicial corresponder ao efluente da

primeira bombona com decomposição em andamento, a coleta ter sido realizada apenas

60 dias após a construção da fossa. Isso está relacionado à atividade microbiana, a qual

pode se intensificar após um maior período de funcionamento da fossa.

Nenhuma fossa apresentou uma eficiência de remoção de DBO igual ou superior à

encontrada no estudo de Lotfi (2016) com Fossas Biodigestoras da EMBRAPA,

sugerindo que, além de todas as variáveis discutidas nesse estudo, o tempo de detenção

hidráulica da Fossa Séptica Econômica, inferior ao da fossa da EMBRAPA, pode ser

responsável por uma menor eficiência de remoção de DBO. Para essa comparação, foi

estimado o tempo de detenção hidráulico da Fossa Séptica Econômica e da Fossa

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Biodigestora da EMBRAPA. Considerando uma mesma frequência do uso de descargas

e um mesmo volume de água por descarga, a razão entre os tempos de detenção

hidráulica se dá na diferença de volume útil de tratamento somado de cada

compartimento das fossas. Apesar de ser uma estimativa com limitações, indica um

tempo de detenção hidráulico das Fossas Biodigestoras da EMBRAPA 2,5 vezes maior

do que das Fossas Sépticas Econômicas.

Tabela 3 – Valores de DBO média de entrada e saída das fossas dos três lotes com seus respectivos

Desvios Padrões (DP), além das porcentagens da redução da DBO do sistema

Coleta Amostra

DBO (mg L-1) Redução da DBO

(%) Média ± DP

Lote 1

26/fev/18

Entrada 600 ± 0

52 Saída 288 ± 4

07/jun/18 Entrada 832 ± 4

30 Saída 586 ± 21

27/set/18 Entrada 849 ± 41

28 Saída 614 ± 115

Lote 2

26/fev/18 Entrada 760 ± 71

47 Saída 400 ± 7

07/jun/18 Entrada 506 ± 12

* Saída 699 ± 126

27/set/18 Entrada 676 ± 127

44 Saída 379 ± 132

Lote 3

26/fev/18 Entrada 795 ± 21

52 Saída 385 ± 0

07/jun/18 Entrada 838 ± 11

* Saída 846 ± 55

27/set/18 Entrada 630,2

* Saída 753 ± 11

* Não foi observada diminuição da DBO nessa análise

Fonte: Elaboração própria

Comparando os valores de remoção de DBO das fossas analisadas com os padrões

de lançamento estabelecidos pela CONAMA 430/2011, que estabelece uma remoção

mínima de 60% de DBO para o lançamento em corpos d’água de esgoto tratado,

nenhuma das fossas apresentou uma eficiência de remoção satisfatória. Apesar do

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efluente final das fossas não serem descartados em corpos d’água, tal comparação se

mostra como referência para o tratamento de efluentes.

Figura 9 – Valores representativos de DBO das fossas nas três coletas realizadas

Outlier Média T máximo _l_ mínimo

Fonte: Elaboração própria

5.3. Fósforo Total

Os valores de remoção de Fósforo Total pelas fossas, representados na Tabela 4,

mostraram uma grande variação entre as fossas e as três coletas.

Todas as fossas demonstraram um aumento da concentração de Fósforo Total de

entrada no decorrer das coletas, sendo também significativamente superiores aos valores

encontrados na literatura. Isso pode ser explicado por características específicas dos

usuários das fossas. No estudo de Lotfi (2016), realizado no mesmo assentamento rural

(onde se esperam hábitos similares entre os moradores), as faixas de concentrações de

entrada nas fossas estudadas também foram significativamente superiores às

concentrações encontradas no estudo de Panikkar (2003) para águas negras,

encontrando-se em uma faixa de 33,7 a 91,2 mg L-1. Entretanto, as sete fossas

analisadas no estudo de Lotfi (2016) tiveram remoção de fósforo, enquanto mais da

metade das análises nesse estudo tiveram aumento na concentração de fósforo.

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A única fossa que teve aumento em todas as coletas da concentração de Fósforo

Total foi a fossa do Lote 3 (Figura 10). A possível entrada de sedimento nas fossas pode

estar associada a essa discrepância quando comparada às outras duas fossas estudadas.

Tabela 4 – Concentrações de Fósforo Total com seus respectivos Desvios Padrões (DP) e eficiência de

remoção das fossas

Coleta Amostra

Fósforo Total (mg L-1) Eficiência de

remoção (%) Média ± DP

Lote 1

26/fev/18

Entrada 17,4 ± 0,9

20,1 Saída 13,9 ± 2,0

07/jun/18 Entrada 36,9 ± 1,1

* Saída 44,9 ± 0,7

27/set/18 Entrada 69,7 ± 0,0

5,3 Saída 66,0 ± 0,0

Lote 2

26/fev/18 Entrada 30,6 ± 6,6

31,8 Saída 20,9 ± 0,9

07/jun/18 Entrada 47,8 ± 1,2

* Saída 49,5 ± 1,8

27/set/18 Entrada 74,6 ± 4,7

6,7 Saída 69,6 ± 3,1

Lote 3

26/fev/18 Entrada 34,8 ± 12,3

* Saída 48,7 ± 2,8

07/jun/18 Entrada 43,1 ± 0,5

* Saída 64,7 ± 8,3

27/set/18 Entrada 56,8 ± 2,8

* Saída 72,7 ± 4,8

* Não foi observada uma remoção de Fósforo Total nessa análise

Fonte: Elaboração própria

A análise realizada contabiliza todo fósforo presente nas amostras. Como o

tratamento anaeróbio é responsável pela transformação dos compostos de fósforo em

partículas mais simples, diferenças nas concentrações de entrada e saída das fossas

indicam possíveis interações com o lodo e mudanças nas formas de fósforo (i.e.,

dissolvida e particulada). Assim, uma redução das concentrações de fósforo total no

decorrer das bombonas sugere a imobilização de fósforo no lodo do sistema na forma

particulada, enquanto o aumento das concentrações pode sugerir a solubilização desse

nutriente para o meio líquido.

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Figura 10 – Concentrações de Fósforo Total das fossas nas três coletas realizadas

Outlier Média T máximo _l_ mínimo

Fonte: Elaboração própria

5.3.1. Nitrogênio total Kjeldahl (NTK)

A maior parte das análises demonstrou um aumento de concentração de NTK da

entrada para a saída dos sistemas de fossas (Tabela 5). Além disso, em uma análise

comparativa entre as concentrações de NTK nesse estudo e nas análises de Lotfi (2016)

podemos ver concentrações maiores nas Fossas Sépticas Econômicas, com considerável

parte acima dos 300 mg L-1 (Figura 11). As concentrações também encontram-se acima

das encontradas em estudo realizado por Faustino (2007) com Fossas Biodigestoras da

EMBRAPA, com concentração de NTK do efluente de saída de 287 mg L-1. O efluente

de saída também está em desacordo com os padrões de lançamento estabelecidos pela

CONAMA 430/2011 para lançamento em corpos d’água de esgoto tratado, apontando

para uma concentração máxima de 20 mg L-1 de nitrogênio amoniacal. Apesar da

análise de NTK englobar outras formas de nitrogênio além do amoniacal, é de se

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esperar uma concentração de nitrogênio amoniacal superior ao padrão de lançamento

por conta da alta concentração de NTK.

Tabela 5– Concentrações de NTK médio com seus respectivos Desvios Padrões (DP) e eficiência de

remoção das fossas

Coleta Amostra

NTK (mg L-1) Eficiência de

remoção (%) Média ± DP

Lote 1

26/fev/18

Entrada 1057,3

88,3 Saída 123,9 ± 2,3

07/jun/18 Entrada 421,5 ± 9,3

8,7 Saída 384,8 ± 47,3

27/set/18 Entrada 348,4 ± 11,9

* Saída 374,6 ± 11,8

Lote 2

26/fev/18 Entrada 297,4 ± 0,0

23,3 Saída 228,0 ± 74,8

07/jun/18 Entrada 334,4 ± 16,8

* Saída 353,0 ± 2,5

27/set/18 Entrada 352,8 ± 7,3

* Saída 418,2 ± 1,3

Lote 3

26/fev/18 Entrada 674,0 ± 4,7

23,2 Saída 517,1 ± 109,8

07/jun/18 Entrada 322,9 ± 44,3

* Saída 459,2 ± 19,3

27/set/18 Entrada 266,9 ± 10,6

* Saída 378,1 ± 13,4

* Não foi observada uma remoção de NTK nessa análise

Fonte: Elaboração própria

A análise de NTK não considera todo o nitrogênio do sistema, não avaliando a

presença de nitrato e nitrito nas amostras. Apesar da formação de nitrato e nitrito estar

associada à digestão aeróbia, é possível que isso esteja ocorrendo no sistema, já que

existe entrada de ar por falhas de construção e manutenção. Assim, é difícil tomar

conclusões a partir apenas da análise de NTK, pois a diminuição da concentração NTK

de algumas amostras pode significar tanto formação de lodo quanto conversão em

nitrito e nitrato dos compostos nitrogenados.

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Figura 11 – Concentrações de NTK das fossas nas três coletas realizadas

Outlier Média T máximo _l_ mínimo

Fonte: Elaboração própria

5.4. E. coli e coliformes totais

As amostras de entrada das fossas apresentaram quantidades de coliformes totais

acima da faixa de esgoto doméstico encontrada no estudo de Panikkar (2003), com

exceção da fossa do Lote 2. Vale lembrar que as amostras de entrada analisadas,

coletadas nas segundas bombonas, já passaram por um processo de tratamento e,

consequentemente, espera-se que tenham valores de coliformes menores que as do

efluente bruto.

Todas as fossas apresentaram redução de coliformes totais e E. coli no decorrer do

sistema (Tabela 6). No entanto, os valores absolutos de coliformes totais e E. coli

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obtidos nas saídas das fossas ainda indicam elevada contribuição de patógenos, sendo o

efluente impróprio até mesmo para fins de reuso agrícola, os quais admitem valores

máximos de 103 NMP 100mL-1 (GONÇALVES, 2003). Com isso, as Fossas Sépticas

Econômicas, nas condições de construção e manutenção avaliadas, não atendem aos

requisitos de patógenos para reuso agrícola. O reuso agrícola de efluentes induz uma

preocupação de contaminação por organismos patogênicos. Baumgartner (2007)

realizou estudo de irrigação utilizando mudas de alface com efluente de lagoa de

estabilização de dejetos suínos a partir de gotejamento, evitando o contato direto do

efluente com a cultura. O efluente foi diluído de 1:65, sendo aplicado 7 mm ao dia. Em

análise microbiológica das folhas, todas as réplicas apresentaram valores superiores a

2,4x104 NMP g-1 de coliformes fecais, demonstrando que, mesmo não entrando em

contato direto com a parte vegetativa, é possível ocorrer a contaminação de vegetais no

reuso agrícola de águas residuais.

Em relação ao reuso agrícola, a Fossa Biodigestora da EMBRAPA apresenta

grande vantagem em sua aplicação na zona rural, reduzindo a necessidade de insumos

agrícolas de agricultores. Em estudo realizado por Novaes (2002), foi retirada

mensalmente amostras do efluente de saída de uma Fossa Biodigestora da EMBRAPA,

revelando um número de coliformes totais de 1,1x103 UFC 100 mL-1 em todas as

análises, muito próximo ao máximo admitido para reuso agrícola.

Tabela 6 – Coliformes totais e E. coli em amostras das fossas

Coleta Amostra Coliformes totais

(UFC 100 mL-1)

E. coli

(UFC 100 mL-1)

Lote 1

26/fev/18 Entrada 5,8x108 1,2x107

Saída 6,1x105 4,4x104

07/jun/18 Entrada 8,0x108 2,0x108

Saída 5,0x106 2,0x106

27/set/18 Entrada 1,3x107 3,8x106

Saída 5,0x106 1,0x106

Lote 2

26/fev/18 Entrada 5,2x106 2,2x105

Saída 2,0x105 3,9x104

07/jun/18 Entrada 8,0x106 5,0x106

Saída 2,0x106 1,0x106

27/set/18 Entrada 1,4x106 2,0x105

Saída 1,0x105 1,0x105

Lote 3 26/fev/18 Entrada 6,2x108 8,0x106

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Saída 9,4x106 1,0x 105

07/jun/18 Entrada 4,2x107 8,0x106

Saída 2,9x106 9,0x105

27/set/18 Entrada 1,8x108 1,3x107

Saída 7,0x106 1,8x106

Fonte: Elaboração própria

Além disso, os valores de patógenos nas saídas das fossas foram, de modo geral,

maiores que os valores encontrados no estudo de Lotfi (2016), cujas quantidades de

coliformes totais foram na faixa de 3x103 e 4,3x105 UFC 100 mL-1 e de E.coli foram na

faixa de 5x10² e 2,1x105 UFC 100 mL-1.

5.5. Variação de valores de eficiência

Diversos fatores podem justificar a grande variação dos resultados obtidos nas

análises. Um ponto levantado nesse estudo é que está havendo uma entrada de ar no

sistema muito maior que a esperada. Por tratar-se de um tratamento anaeróbio, a

presença de oxigênio é um impeditivo para a atividade microbiana e funcionamento das

fossas. Sendo assim, são necessárias reparações nas fossas pra evitar a entrada de ar no

sistema tanto nas saídas quanto pelas chaminés de alívio no Lote 3.

Em relação à operação do sistema, o uso e manutenção das fossas por parte das

famílias pode ter influenciado os resultados obtidos. Além da inconstância da aplicação

de esterco bovino nas fossas, é incerto o uso de água sanitária na limpeza dos vasos

sanitários. Esse produto, por ser um agente desinfetante, pode ocasionar prejuízos

significativos à ação dos microrganismos responsáveis pelo tratamento do efluente e,

consequentemente, ao funcionamento da tecnologia. A importância da operação correta

de sistemas de tratamento de efluente é evidenciada em uma pesquisa realizada na

Bélgica que avaliou 23 sistemas de tratamento de águas residuais por meio da análise de

efluente e questionários sobre a manutenção dos sistemas. Nesse estudo, 52% não

cumpriram os padrões legais de qualidade da água (DBO, DQO e sólidos suspensos),

devido principalmente à falta de manutenção adequada (MOELANTS et al., 2008).

Além dos aspectos de uso e manutenção já levantados, existem fatores

intervenientes que não foram avaliados nesse estudo. Segundo Barcelos (2009), alguns

dos principais fatores intervenientes no tratamento anaeróbio: temperatura, pH, e

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alcalinidade. Dentre estes, a temperatura é um dos mais relevantes, já que influencia na

atividade metabólica da população microbiana e no equilíbrio iônico e solubilidade dos

substratos. Enquanto isso, alterações bruscas no pH afetam consideravelmente a

atividade das bactérias metanogênicas, além de ter influência na atividade enzimática e

na concentração de toxicidade de vários compostos (BORGES, 2003). A alcalinidade

atua na manutenção do pH dentro da faixa de 6,6 e 7,6 requerida pela população

metanogênica (BARCELOS, 2009).

Um estudo que aborde esses parâmetros pode levar a melhores conclusões em

relação às possíveis causas dessa variação de valores de eficiência das fossas no

decorrer do tempo. Com isso, é possível sugerir adaptações de manutenção e/ou

construção da fossa que possam torná-la mais estável.

Outro fator importante a ser analisado é o tempo de detenção hidráulico dessas

fossas. O sistema conta com quatro bombonas de 200 L, enquanto a Fossa Biodigestora

da EMBRAPA conta com duas caixa d’água de 1.000 L e uma caixa d’água de mesmo

volume para armazenamento do efluente tratado. Sendo assim, o sistema de Fossa

Séptica Econômica possui um volume muito inferior ao do modelo da EMBRAPA, a

qual conta ainda com um número maior de pesquisas e aplicações. Isso pode justificar a

grande instabilidade das fossas analisadas nessa pesquisa e eventos como o entupimento

da bombona de saída do Lote 2 na coleta do dia 07/06/18 em função do elevado

conteúdo de sólidos grosseiros.

Neste estudo foi apontada uma vulnerabilidade a variações de eficiência de

tratamento nos parâmetros analisados da Fossa Séptica Econômica que podem estar

relacionados a aspectos de manutenção ou a aspectos intrínsecos da tecnologia. Por

mais que o sistema tenha significativa vantagem de custo em relação a outras

tecnologias de tratamento de efluente domiciliar, é necessário ressalva na aplicação

dessa tecnologia antes de serem realizados mais estudos sobre seu funcionamento.

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6. CONCLUSÃO

O atual sistema de saneamento básico no Brasil, em especial na zona rural, não

atende a população em sua totalidade. Na zona rural, inserida em um cenário de baixa

cobertura de serviços de saneamento, a aplicação de tecnologias sociais descentralizadas

é uma alternativa viável, por conta de seu baixo custo, maior acessibilidade e facilidade

de instalação e manutenção. Dentre as tecnologias de saneamento descentralizadas já

implementadas no território brasileiro, a Fossa Séptica Econômica constitui uma

tecnologia de baixo custo quando comparada a demais tecnologias de tratamento de

águas negras.

Neste estudo, foram avaliados parâmetros como DBO, Fósforo Total, NTK,

coliformes totais e E. coli. Em relação a esses parâmetros, os resultados encontrados

evidenciaram uma eficiência das Fossas Sépticas Econômicas inferior à da Fossa

Biodigestora da EMBRAPA em estudo realizado na mesma região. Além disso, os

resultados indicam uma série de questionamentos em relação à eficiência dessa

tecnologia na remoção desses parâmetros, havendo uma discrepância dos resultados nos

três períodos de coleta. Foi constatado também que na fossa do Lote 2, a qual possui o

maior número de usuários, foi observado um aumento visível na quantidade de sólidos e

entupimento na última bombona, o que não se manteve até a terceira coleta. Isso indica

uma instabilidade do sistema, com grande variação na eficiência de tratamento do

efluente nos parâmetros analisados.

Entretanto, como esse estudo apontou muitas irregularidades na construção e

manutenção das fossas, são necessários estudos mais aprofundados para que seja melhor

compreendida a eficiência dessa tecnologia. Apesar de ser um sistema mais econômico

em relação a outros modelos de tratamento de efluente doméstico, a análise de um

maior número de fossas com maior conformidade com o modelo de Fossa Séptica

Econômica e em um maior período de tempo poderá esclarecer certas limitações

observadas para as fossas que foram encontradas nesse estudo.

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7. RECOMENDAÇÕES

Em relação às análises laboratoriais, observou-se nesse estudo que retirar larvas e

sementes com pinças se faz necessária para evitar que influenciem as análises.

Um estudo com um número maior de análises por fossa e com um maior número de

fossas poderá trazer resultados mais conclusivos e com uma maior riqueza de detalhes.

Com isso, torna-se mais fácil descobrir as causas de variação na eficiência das fossas.

Alguns parâmetros que poderiam auxiliar nessa análise são os fatores intervenientes

no tratamento anaeróbio, como temperatura e pH, pois os mesmos possuem influência

no funcionamento das fossas. Além disso, a análise da remoção de nitrogênio teria sido

mais completa se as concentrações de nitrito e nitrato fossem quantificadas.

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