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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS
LARISSA ROMANELLO
Estudos das enzimas adenosina kinase isoforma 1, hipoxantina-guanina
fosforibosiltransferase isoformas 1, 2 e 3, adenilsuccinato liase,
adenilsuccinato sintetase de Schistosoma mansoni
São Carlos 2016
LARISSA ROMANELLO
Estudos das enzimas adenosina kinase isoforma 1, hipoxantina-guanina
fosforibosiltransferase isoformas 1, 2 e 3, adenilsuccinato liase,
adenilsuccinato sintetase de Schistosoma mansoni
Versão Original
São Carlos 2016
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Física do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutora em Ciências. Área de concentração: Física Aplicada Opção: Física Biomolecular Orientador: Prof. Dr. Humberto D´Muniz Pereira
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTETRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO PARAFINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica revisada pelo Serviço de Biblioteca e Informação do IFSC, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Romanello, Larissa Estudos das enzimas adenosina kinase isoforma 1,hipoxantina-guanina fosforibosiltransferaseisoformas 1, 2 e 3, adenilsuccinato liase,adenilsuccinato sintetase de Schistosoma mansoni. /Larissa Romanello; orientador Humberto D`MunizPereira -- São Carlos, 2016. 160 p.
Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação emFísica Biomolecular) -- Instituto de Física de SãoCarlos, Universidade de São Paulo, 2016.
1. Schistosoma mansoni. 2. Via de salvação depurinas. 3. Hipoxantina-Guanina. 4.Fosforibosiltransferase. 5. Adenilsuccinato Liase.I. Pereira, Humberto D`Muniz, orient. II. Título.
FOLHA DE APROVAÇÃO
Larissa Romanello
Tese apresentada ao Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Ciências. Área de Concentração: Física Aplicada - Opção: Física Biomolecular.
Aprovado(a) em: 03/06/2016
Comissão Julgadora Dr(a). Humberto D'Muniz Pereira
Instituição: (IFSC/USP)
Dr(a). Andrea Soares da Costa Fuentes
Instituição: (UFSCar/São Carlos)
Dr(a). Carlos Henrique Inacio Ramos
Instituição: (UNICAMP/Campinas)
Dr(a). Ariel Mariano Silber
Instituição: (ICB/USP)
Dr(a). Richard John Ward
Instituição: (FFCLRP/USP)
Dedicado à minha mãe Vera Aparecida Horvatte, meu maior
exemplo de vida, de força, de espiritualidade e de amor.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Humberto pelos anos de convivência e aprendizado constante. Que na
ausência do meu pai, ao longo desses anos foi minha referência como tal. Gratidão por me
dizer “sim” em 2008 e sempre acreditar no meu trabalho. Todo o crescimento pessoal e
profissional nesse período, assim como as conquistas materiais são frutos dessa confiança e
companheirismo. Você é e sempre será pra mim uma grande referência como profissional e
orientador.
À Deus pela presença constante em meu viver. Por me proporcionar experiências e pessoas
grandiosas ao longo dessa jornada.
À minha amada mãe Vera e minhas queridas irmãs Karen e Vanessa pelo suporte familiar e
apoio incondicional.
Ao meu companheiro Rafa (Bonito) por me ensinar sobre o amor na mais pura essência. Por
todo suporte emocional e por tornar a minha vida mais completa e feliz todos os dias. Eu não
teria conseguido sem você.
Aos queridos irmãos que a generosidade da vida me proporcionou Tati, Renan, Tiago e
Serginho.
Às tchubis Aline, Fá e Josi por sempre me lembrarem como é maravilhoso ser rodeada de
pessoas tão iluminadas.
Às negas Daia e Lívia por tão especial amizade desde meu primeiro dia na USP.
Aos meus amigos da Bio 05, que muito além de amigos, são uma grande família.
Ao amigo Alexandre Cassago por toda paciência e ensinamentos na minha iniciação na
ciência.
Aos colaboradores do projeto José Brandão-Neto, Louise Bird, Joanne Nettleship, Ray
Owens, Yamini Reddivari, Dr. Ricardo De Marco, Vitor Hugo Balasco Serrão e Ana Elisa
Zeraik.
Aos professores do LBest Dr. Richard Charles Garratt, Dr. Otávio Henrique Thiemann e Dr.
Eduardo Horjales.
Aos amigos do LBest: Bianca, Michel, Taty, Túlio, Gabi, Fer, Paola, Alan, Matheus, Naty,
Tomás, Diego, Juliana, Marília, Ivan e Suzana e todos os outros que tive a oportunidade de
conviver ao longo desses anos.
Aos queridos amigos que passaram pelo lab Maycou, Malu, Bachega, Ivani e Gustavo pelos
maravilhosos dias de convivência e tão valiosa amizade.
Ao amigo Angelo Fragelli, que como proprietário da Orion Bartenders me deu grande suporte
no início no doutorado sem bolsa.
Aos amigos do centro espírita Murilo, Nicole, Alex, Bianca, Diogo, Victor e Erik.
À todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse sonho.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro.
“Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno
grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar
qualquer coisa, pois...
A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor.”
CHICO XAVIER
RESUMO
ROMANELLO, L. Estudos das enzimas adenosina kinase isoforma 1, hipoxantina-
guanina fosforibosiltransferase isoformas 1, 2 e 3, adenilsuccinato liase, adenilsuccinato
sintetase de Schistosoma mansoni. 2016. 160 p. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto de
Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2016.
O Schistosoma mansoni, parasita responsável pela esquistossomose (barriga d’água), doença
que afeta cerca de 300 milhões de pessoas em todo mundo, não possui a via de síntese de
purinas, dependendo integralmente da via de salvação de purinas para seu suprimento dessas
bases. Uma vez que a terapia se resume a administração de um único fármaco, o praziquantel,
diversos casos de resistência do parasita a esse medicamento foram reportadas, sendo assim
esta via tem sido citada como alvo potencial para o desenvolvimento de novos fármacos
contra a doença. As enzimas adenosina kinase (AK), hipoxantina-guanina
fosforibosiltransferase (HGPRT), adenilsuccinato liase (ADSL) e adenilsuccinato sintetase
(ADSS) são enzimas chave desta via. Este trabalho faz parte de um projeto maior que visa a
obtenção de todas as estruturas das enzimas envolvidas na via de salvação de purinas de
Schistosoma mansoni. O cDNA correspondente às enzimas foi amplificado e clonado no vetor
de expressão pOPIN; as enzimas AK isoforma 1, HGPRT isoforma 1 e ADSL foram
expressas em E. coli Lemo21(DE3) e HGPRT isoforma 3 em E. coli B834(DE3); purificadas
em coluna de cobalto agarose por afinidade, concentradas e cristalizadas no kit de
cristalização Morpheus (Molecular Dimensions) no Oxford Protein Production Facility
(OPPF) em Harwell – UK. As coletas de dados por difração de raio-X foram realizadas no
Síncrotron Diamond Light Source (DLS) - UK. Foram coletadas duas estruturas de ADSL, a
2.36Ǻ de resolução em complexo com AMP e 2.14Ǻ na forma Apo. A análise das estruturas
revelou uma estrutura tetramérica bastante conservada entre as ADSLs, sendo este estado de
oligomerização requerido, uma vez que resíduos de três das quatro subunidades compõem o
sítio ativo. Apesar do sítio ativo ser altamente conservado entre SmADSL e ADSL humana, a
interface dimérica dessas enzimas tem se apresentado suficientemente distintas, o que pode
representar um potencial alvo para o desenvolvimento de um inibidor. O ensaio de atividade
enzimática de ADSL revelou uma reação endotérmica, indicando que a contribuição da
entropia relacionada a grande quantidade de moléculas de água presentes no sítio ativo é
importante para a reação cinética. Após diversos experimentos de otimização dos cristais de
HGPRT1 e aproximadamente 200 cristais testados, foi obtida uma estrutura em complexo
com IMP a 2.8Ǻ de resolução. A análise da estrutura revelou uma estrutura tetramérica.
Apesar das subunidades não compartilharem o sítio ativo, este estado de oligomerização é
requerido, uma vez que resíduos que compõem o sítio ativo também estão envolvidos em
interações na interface dimérica, orientando o resíduo invariável Arg206 na direção do sítio
ativo. Foram identificadas quatro mutações na região do sítio ativo entre SmHGPRT e
HGPRT humana: Ile149Met, Pro176Arg, Val189Ile e Arg192Lys. Desta forma, a obtenção
das estruturas contribui para o entendimento bioquímico desta via essencial para o parasita e
de como este pode ser seletivamente privado de recursos.
Palavras-chave: Schistosoma mansoni. Via de salvação de purinas. Hipoxantina-Guanina.
Fosforibosiltransferase. Adenilsuccinato Liase.
ABSTRACT
ROMANELLO, L. Studies of adenosine kinase isoform 1, hypoxanthine-guanine
phosphoribosyltransferase isoforms 1, 2 and 3, adenylosuccinate lyase, adenylosuccinate
synthetase enzymes from Schistosoma mansoni. 2016. 160 p. Tese (Doutorado em
Ciências) - Instituto de Física de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2016.
Schistosoma mansoni is the parasite responsible for schistosomiasis, disease that affects about
300 million people worldwide, and does not have the purine “de novo” pathway, depending
entirely on the purine salvage pathway to supply its demands on purines. Currently, both
direct treatment and most disease control initiatives, rely on chemotherapy using a single
drug, praziquantel. Concerns over the possibility of resistance developing to praziquantel, has
stimulated efforts to develop new drugs for the treatment of schistosomiasis. The purine
salvage pathway has been reported as a potential target for developing new drugs against
schistosomiasis. Adenosine kinase (AK), hypoxanthine-guanine phosphoribosyltransferase
(HGPRT), adenylosuccinate lyase (ADSL), adenylosuccinate synthetase (ADSS) are key
enzymes in this pathway. This work is part of a larger project aimed at obtaining all the
structures of enzymes involved in purine salvage pathway of Schistosoma mansoni. The
cDNA corresponding to the enzymes was amplified and cloned in vector pOPIN, AK isoform
1, HGPRT isoform 1 and ADSL were expressed in E. coli Lemo 21 (DE3) and HGPRT
isoform 3 in E. coli B834(DE3); purified in cobalt agarose column, concentrated and
crystallized in several conditions of the Morpheus (Molecular Dimensions) crystallization kit
at the Oxford Protein Production Facility (OPPF) in Harwell – UK. The data collection by x-
ray diffraction were performed at Diamond Light Source – UK. Two ADSL structures were
obtained, ADSL in complex with AMP at 2.36Ǻ resolution and ADSL Apo form at 2.14Ǻ.
The analysis revealed a tetrameric structure highly conserved between ADSLs, and this
oligomerization state is required since residues three of the four subunits comprise the active
site. Despite the active site being highly conserved between human ADSL and SmADSL, the
dimeric interface of these enzymes it has been shown sufficiently distinct, which may
represent a potential target for the development of an inhibitor. The ADSL enzymatic activity
assay showed an endothermic reaction, indicating the contribution of the entropy related to
the large quantity of water molecules present in the active site is important for the reaction
kinetics. After several optimization experiments of HGPRT1 crystals and about 200 crystals
tested was obtained a structure in complex with IMP at 2.8Ǻ resolution. The structure analysis
revealed a tetrameric structure. Despite the subunits do not share the active site, this
oligomerization state is required, since residues that make up the active site are also involved
in interactions in dimeric interface, guiding the invariable residue Arg206 toward the active
site. Four mutations were identified in the region of the active site between SmHGPRT and
human HGPRT: Ile149Met, Pro176Arg, Val189Ile e Arg192Lys. These structures increase
the important structural information available about the Schistosoma mansoni purine salvage
pathway and how it can be selectively private resources.
Keywords: Schistosoma mansoni. Purine salvage pathway. Hypoxanthine-guanine
phosphoribosyltransferase. Adenylosuccinate lyase.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Levantamento dos países endêmicos para esquistossomose em 2014................... 32
Figura 2 - Ciclo de vida do Schistosoma. Ovos são eliminados nas fezes ou urina, em
condições ideais há eclosão dos ovos e liberação de miracídios, que nadam
e penetram em hospedeiros intermediários específicos (moluscos). Os
estágios no caramujo incluem duas gerações de esporocistos e a produção
de cercárias. Após liberadas do caramujo, as cercárias infectantes nadam e
penetram na pele do hospedeiro humano, perdem sua cauda, passando a ser
esquistossômulo. (, ) Os esquistossômulos migram através de diversos
tecidos para se instalarem as veias. Os vermes adultos nos seres humanos
residem nas vênulas mesentéricas em várias localizações, que parecem ser
específicas para cada espécie. As fêmeas (com tamanho de 7 a 20 mm,
macho um pouco menor) depositam ovos em pequenas vênulas do sistema
portal e perivesical. Os ovos são movidos progressivamente para o lúmen do
intestino (S. mansoni e S. japonicum) e da bexiga e ureteres (S.
haematobium), e são eliminados com as fezes ou urina, respectivamente. ........... 33
Figura 3 - Origem dos átomos do anel de purinas (via de novo). .......................................... 35
Figura 4 - Esquema das vias de conversão de adenosina em nucleotídeos em S.
mansoni. ADA - adenosina desaminase, PNP - purina nucleosídeo
fosforilase, HGPRT - hipoxantina guanina fosforibosiltransferase, APRT -
adenina fosforibosiltransferase, AK - adenosina kinase, ADK - adenilato
kinase, NDPK - nucleosídeo difosfato kinase, MTAP - metiltioadenosina
fosforilase, ADSL - adenilosuccinato liase, ADSS - adenilosuccinato
sintase, IMPDH - inosina-5'-fosfato desidrogenase, GMPS - guanilato
sintase, GK - guanilato kinase. Em destaque com contorno vermelho as
enzimas alvo de estudo deste projeto, e as estruturas das enzimas já
resolvidas por nosso grupo de pesquisa. ................................................................ 36
Figura 5 - Estrutura cristalográfica da enzima adenosina kinase de Schistosoma
mansoni em modelo de fitas. Pode ser observada a ligação de uma molécula
de adenosina e uma de AMP na estrutura. ............................................................. 40
Figura 6 - Análise do nível de expressão de RNAms da via de salvação de purinas por
PCR em tempo real. O número de cópias dos genes foi normalizado para a
tubulina pela divisão do número de cópia de cada gene pelo número de
cópias de tubulina em cada reação de cDNA. Um nível de expressão de um
indica que o nível de expressão é equivalente à tubulina. Adenilosuccinato
liase – barra branca; adenina fosforibosiltransferase – barra preta;
hipoxantina-guanina fosforibosiltransferase – barra cinza. ................................... 43
Figura 7 - Segundo passo do procedimento de purificação do produto de amplificação
de cDNA por PCR utilizando o sistema de purificação por interação
magnética. .............................................................................................................. 48
Figura 8 - Esquema da construção dos vetores pOPIN, cedidos pelo grupo OPPF................ 49
Figura 9 - Análise da expressão-teste das enzimas em E.coli Lemo21(DE3) no meio de
cultura Power BrothTM
em gel SDS-PAGE. Padrão de preso molecular.
ADSS – pOPIN S3C, TRX, E, F e M (A1. B1, C1, D1 e E1
respectivamente). IMPDH – pOPIN S3C, TRX, E, F e M (F1, G1, H1, A2 e
B2 respectivamente). ADSL - pOPIN S3C, TRX, E, F e M (C2, D2, E2, F2
e G2 respectivamente). HGPRT short -pOPIN S3C, TRX, E, F (H2, A3, B3
e C3). HGPRT 148820 -pOPIN S3C, TRX, E, F (D3, E3, F3 e G3). HGPRT
168500-pOPIN S3C, TRX, E, F (H3, A4, B4, C4). PNP2 - pOPIN S3C, M
eTRX (D4, E4 e F4). NDPK -pOPIN S3C, TRX, E e F (G4, H4, A5, B5).
AK1 - pOPINF e S3C (C5 e D5). GMPS- pOPIN S3C, TRX, E, F e M (H5,
A6, B6, C6, D6). GK - pOPIN S3C, TRX, E e F (E6, F6, G6 e H6). .................... 52
Figura 10 - Análise da expressão-teste em gel SDS-PAGE, do lado esquerdo, expressão
em E.coli Lemo21(DE3) e indução com IPTG; do lado direito, expressão
em E.coli Lemo21 (DE3) em meio de auto indução ONEX. Padrão de preso
molecular. ADA – pOPINE, F, S3C, TRX, e M (C7, D7, E7, F7, G7).
NDPK short– pOPINE, F, S3C, TRX, e M (H7, A8, B8, C8, D8). NDPK
large– pOPINE, F, S3C, TRX, e M (E8, F8, G8, H8, A9). IMPDH short–
pOPINE, F, S3C, TRX, e M (B9, C9, D9, E9, F9). IMPDH large– pOPINE,
F, S3C, TRX, e M (G9, H9, A10, B10, C10). ADSS– pOPINE, F, S3C,
TRX, e M (D10, E10, F10, G10, H10). Esta sequência se repete no teste de
expressão utilizando o meio de auto indução ONEX. ............................................ 54
Figura 11 - Análise da purificação das enzimas AK1 e HGPRT1 em gel de
poliacrilamida 15%. Poço 1: Marcador de peso molecular. Poço 2 - 7.
Enzima AK1 (42KDa). Poço 9 - 17: Enzima HGPRT1 (24 kDa). ........................ 56
Figura 12 - Análise da purificação da enzima HGPRT3 em gel de poliacrilamida 15%.
Poço 1: Marcador de peso molecular. Poço 6 - 18. Enzima HGPRT3 (24
kDa). ....................................................................................................................... 56
Figura 13 - Análise da purificação da enzima ADSL em gel de poliacrilamida 15%.
Poço 1: Marcador de peso molecular. Poço 2, 3 e 4: Lavado. Poço 5 - 8.
Enzima ADSL (54.5 kDa). ..................................................................................... 57
Figura 14 - Cristais de HGPRT1 à 2,5mg/mL de proteína incubada com IMP à 18ºC na
condição A4 do kit Morpheus. ............................................................................... 62
Figura 15 - Análise da purificação da enzima HGPRT1SeMet em gel de poliacrilamida
15%. Poço 1: Marcador de peso molecular. Poço 2. Expressão da enzima.
Poço 3: Eluato. Poço 4: Lavado. Poço 5 e 6: Eluição da enzima (24kDa). ........... 64
Figura 16 - Cristais de HGPRT1 com selenometionina na condição de cristalização B3
do Bloco 1. ............................................................................................................. 68
Figura 17 - Cristal de ADSL da condição E12 do kit de cristalização Morpheus (30mM
de etilenos glicóis, 120mM de Tris base/bicina pH8.5, 12.5% de MPD,
PEG1000 e PEG3350). .......................................................................................... 69
Figura 18 - Mapa de densidade eletrônica (Fo-Fc) para o AMP no sítio ativo da ASDL
de S.mansoni. O sítio ativo é formado pela participação de três das quatro
subunidades da enzima. ......................................................................................... 72
Figura 19 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a
estrutura ADSL-AMP. A região representada em vermelho corresponde à
região mais favorável para os valores dos ângulos, a região amarelo escuro é
a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por
triângulos. .............................................................................................................. 74
Figura 20 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a
estrutura ADSL-Apo. A região representada em vermelho corresponde à
região mais favorável para os valores dos ângulos, a região amarelo escuro é
a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por
triângulos. .............................................................................................................. 75
Figura 21 - Estrutura de ADSL de S. mansoni (monômero) é composta por 3 domínios:
domínio I (vermelho), domínio II (azul) e domínio III (amarelo). ........................ 76
Figura 22 - Estrutura secundária de SmADSL em complexo com AMP em função da
sequência de aminoácidos. As fitas β são representadas por setas rosas, as α-
hélices por espirais roxas com a respectiva numeração em cima (H1,
H2...H25), as 2 folhas β são classificadas como A e B, sendo essas letras
colocadas acima das fitas identificando a qual folha pertencem. Os
símbolos: β - beta turn, γ - gamma turn e - beta hairpin. .................................. 77
Figura 23 - Topologia de ADSL-AMP. As fitas β são representadas por setas rosa, as α-
hélices em tubos vermelhos e os loops em azul. O N-terminal é indicado
pela letra N e o C-terminal pela letra C. ................................................................ 78
Figura 24 - Alinhamento de ADSL humana e de Schistosoma mansoni. A primeira linha
corresponde à estrutura secundária formada, a segunda linha a sequência de
aminoácidos de ADSL de S. mansoni e a terceira linha de ADSL humana.
Os resíduos brancos grifados em vermelho são conservados nas duas
estruturas, os em vermelho grifados em branco são os resíduos não
conservados, porém similares. ............................................................................... 80
Figura 25 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de
aminoácidos de ADSL de S. mansoni e ADSL humana. A. Regiões
conservadas destacadas em vermelho. B. Resíduos idênticos entre ambas
destacados em pink. ............................................................................................... 81
Figura 26 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de
aminoácidos de ADSL de S. mansoni com todas as ADSLs depositadas no
PDB. Regiões conservadas destacadas em degradê de vermelho a branco,
da mais conservada a não conservada respectivamente. Resíduos idênticos
entre as estruturas destacados em pink. .................................................................. 82
Figura 27 - Estrutura dimérica de SmADSL em complexo com AMP (preto)
(subunidade A: verde, subunidade B: vermelho). .................................................. 83
Figura 28 - Estrutura tetramérica de SmADSL em complexo com AMP (preto)
(subunidade A: verde, B: vermelho, C: amarelo, D: azul). .................................... 84
Figura 29 - Sobreposição do monômero da ADSL-AMP (vermelho) com os monômeros
da ADSL-APO (azul). A maior diferença é observado no domino III, que
possui orientação diferente em A e é parcialmente desordenado em B. ................ 85
Figura 30 - Sobreposição dos tetrâmeros da S. mansoni em complexo com AMP
(vermelho) e APO (azul) o RMSd é de 1.14Å. ...................................................... 86
Figura 31 - Sobreposição das estruturas de ADSL de S.mansoni (monômero) em
vermelho e ADSL humana em amarelo. AMP em preto. RMSd = 0,589Å. .......... 87
Figura 32 - Sobreposição das ADSL de S. mansoni (ADSL-AMP vermelho), (APO-
azul) contra a ADSL humana em complexo com AMP (amarelo). ....................... 88
Figura 33 - Participação de três das quatro subunidades da enzima SmADSL em
complexo com AMP na formação do sítio ativo. ................................................... 89
Figura 34 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) do ligante AMP no sítio ativo
de SmADSL. ........................................................................................................... 90
Figura 35 - Modelo esquemático para a ligação da AMP no sítio ativo da ADSL de S.
mansoni. ................................................................................................................. 91
Figura 36 - Loop correspondente a sequência de aminoácidos de 281 à 293 na
SmADSL-AMP correspondente à região conservada considerada a
assinatura das enzimas da superfamília de β-eliminação na região do sítio
ativo. ....................................................................................................................... 92
Figura 37 - Loop correspondente a sequência de aminoácidos de 281 à 293 na
SmADSL-Apo correspondente à região conservada considerada a assinatura
das enzimas da superfamília de β-eliminação na região do sítio ativo. ................. 93
Figura 38 - Sobreposição dos loops de ADSL-AMP (amarelo) e ADSL-Apo (verde)
onde a conformação da Arg291 e Lys290 difere entre ambos. .............................. 94
Figura 39 - Sobreposição dos sítios de ligação ao AMP nas ADSLs de S mansoni
(Branco-AMP e amarelo-APO) e humana (magenta). .......................................... 95
Figura 40 - ADSL catalisa a clivagem de adenilsuccinato (ADS) em AMP e Fumarato......... 96
Figura 41 - Esquema geral mostrando a clivagem de adesnilosuccinato (SAMP) pela
enzima ADSL. Os 5 passos envolvidos são: (1) Abstração de um próton pela
base catalítica (B) do átomo CB do grupo succínico; (2) estabilização do
carbânion intermediário formado; (3) protonação de N1 ou N6 da porção do
AMP pelo ácido catalítico; (4) clivagem da ligação de Cα-N entre AMP e o
grupo succínico; e (5) liberação dos produtos AMP e fumarato. .......................... 97
Figura 42 - Posicionamento estrutural em SmADSL dos resíduos identificados cujas
mutações implicam na deficiência severa de ADSL em humanos e
consequentemente retardo mental em pacientes. ................................................. 100
Figura 43 - Posicionamento do resíduo Lys241 em SmADSL na interface dimérica A-B. ... 101
Figura 44 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) entre os resíduos Lys241A
com Thr256B, Asp176B e Asn252B em SmADSL. ............................................ 102
Figura 45 - Posicionamento do resíduo Arg298 em SmADSL na interface B-C. .................. 103
Figura 46 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) entre os resíduos Arg298B,
Ile480B, Glu75C, Arg14B e uma molécula de água como mediadora em
SmADSL. ............................................................................................................. 104
Figura 47 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de ADS. ................................ 106
Figura 48 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de SAICAR. ......................... 106
Figura 49 - Moléculas de água (esferas vermelhas) presentes em um dos quatro sítios
ativos da estrutura SmADSL-Apo. ...................................................................... 107
Figura 50 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de AICAR. ........................... 108
Figura 51 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de fumarato/AICAR. ΔH
~0 – sem reação. .................................................................................................. 108
Figura 52 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de AMP. ............................... 109
Figura 53 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de Fumarato. ΔH ~0 –
sem reação. .......................................................................................................... 109
Figura 54 - Cinética enzimática de SmADSL para ADS. ....................................................... 110
Figura 55 - Cinética enzimática de SmADSL para SAICAR. ................................................. 111
Figura 56 - Esquerda: Cristais de HGPRT1 à 2,5mg/mL de proteína incubada a 18ºC na
condição A4 do kit Morpheus. Direita: Cristal em loop, coletado à 2,8Å de
resolução por difração de raio-X. ......................................................................... 114
Figura 57 - Mapa de densidade eletrônica fo-fc na região do sítio ativo das quatro
subunidades (A, B, C e D) da enzima HGPRT1 de S. mansoni. É possível
observar a densidade correspondente ao ligante IMP. ......................................... 116
Figura 58 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a
estrutura HGPRT-IMP. A região representada em vermelho corresponde à
região mais favorável para os valores dos ângulos, a região amarelo escuro é
a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por
triângulos. ............................................................................................................. 118
Figura 59 - Estrutura de HGPRT de S. mansoni (monômero) é composta por 2
domínios: domínio Hood (vermelho), domínio Core (azul). ............................... 119
Figura 60 - Estrutura secundária de SmHGPRT em complexo com IMP em função da
sequência de aminoácidos. As fitas β são representadas por setas rosas, as α-
hélices por espirais roxas com a respectiva numeração em cima (H1,
H2...H25), as 2 folhas β são classificadas como A e B, sendo essas letras
colocadas acima das fitas identificando a qual folha pertecem. Os símbolos:
β - beta turn, γ - gamma turn e - beta hairpin. ................................................. 120
Figura 61 - Topologia de SmHGPRT-IMP gerada pelo PDB sum. As fitas β são
representadas por setas rosa, as α-hélices em tubos vermelhos e os loops em
azul. O N-terminal é indicado pela letra N e o C-terminal pela letra C. .............. 121
Figura 62 - Alinhamento de HGPRT humana (1HMP) e de Schistosoma mansoni em
função da estrutura secundária. Os resíduos brancos grifados em vermelho
são conservados nas duas estruturas, os em vermelho grifados em branco
são os resíduos não conservados, porém similares. A quarta linha
corresponde a exposição dos resíduos ao solvente, em azul escuro os mais
expostos, azul claro podem estar expostos e branco hidrofóbicos. ...................... 122
Figura 63 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de
aminoácidos de HGPRT de S. mansoni e HGPRT humana. A. Regiões
conservadas destacadas em vermelho. B. Resíduos idênticos entre ambas
destacados em pink. ............................................................................................. 123
Figura 64 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de
aminoácidos de HGPRT de S. mansoni com todas as HGPRTs depositadas
no PDB. Regiões conservadas destacadas em degradê de vermelho a
branco, da mais conservada a não conservada respectivamente. Resíduos
idênticos entre as estruturas destacados em pink. ................................................ 124
Figura 65 - Estrutura tetramérica de SmAHGPRT em complexo com IMP (preto)
(subunidade A: amarelo, B: magenta, C: azul, D: verde). ................................... 126
Figura 66 - Sobreposição das quatro subunidades da estrutura tetramérica de HGPRT. A
– vermelho, B – amarelo, C- azul e D verde. ...................................................... 127
Figura 67 - Sobreposição das estruturas de HGPRT de S.mansoni (monômero) em
vermelho e ADSL humana em amarelo. RMSd = 1,154 Å. ................................ 128
Figura 68 - Localização do sítio ativo na interface dos domínios “core” (azul) e “hood”
(vermelho) e compreende 4 loops, I – IV. ........................................................... 129
Figura 69 - Loop I correspondente aos resíduos de 73 à 78 (VLKGGF) localizados entre
a fita β2 e a hélice α4 do domínio core. ............................................................... 130
Figura 70 - Loop II correspondente aos resíduos 107 à 134 entre as fitas β3 e β4 do
domínio core. ....................................................................................................... 131
Figura 71 - Loop III correspondente aos resíduos de 141 à 146 (DIIDTG) entre as fitas
β4 e hélice α5 no domínio core. ........................................................................... 132
Figura 72 - Loop IV correspondente aos resíduos de 190 à 211 no domínio hood. ............... 132
Figura 73 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) do ligante IMP no sítio ativo
de SmHGPRT....................................................................................................... 133
Figura 74 - Modelo esquemático para a ligação da IMP no sítio ativo da SmHGPRT. ......... 134
Figura 75 - Sobreposição dos sítios de ligação do IMP na HGPRT de S. mansoni (verde)
e humana (branco). .............................................................................................. 135
Figura 76 - Posicionamento e conformação dos resíduos Lys75 e Pro176 em SmHGPRT
(verde) e seus correspondentes Lys68 e Arg169 em HGPRT humana
(branco). ............................................................................................................... 136
Figura 77 - Esquema da reação catalisada pela enzima HGPRT. .......................................... 136
Figura 78 - Mecanismo de reação enzimática da HGPRT. 1- Apoenzima com PRPP
entrando no sítio ativo. Os loops II, III e III´ na conformação aberta. 2-
Complexo PRPP-Mg ligado e Lys79 adota a conformação cis peptídeo. As
interações do PPi do PRPP, loop I e loop IV aproximam o domínio hood do
domínio core. Loop III ordenado ao redor do 5´fosfato e guanina entra no
sítio ativo. 3- Bolsão de ligação à guanina é fechado e ordenado ao redor da
base. Loop III fechado permite que o loop III´ se feche colocando Arg182
entre Asp150 e Asp197 completando a ligação dos domínios hood e core. 4-
Loop II se fecha colocando o resíduo Tyr118 em posição de ligação de
hidrogênio com o fosfato 5´ permitindo a transferência fosforibosil. 5- Loop
I e IV são abertos e PPi sai do sítio ativo. Lys79 do loop I retorna a
conFiguração trans e o loop II é aberto. 6- Loop III´ e III se abrem e liberam
GMP e HGPRT retoma a forma apoenzima. ....................................................... 140
Figura 79 - Ligação do resíduo Lys75B do loop I com Val103A em SmHGPRT. ................. 142
Figura 80 - Interação entre os resíduos Lys75B do loop I com Val103A, Asp207B com
três moléculas de água e Glu89A, este com Lys79B em SmHGPRT. ................. 143
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Identidade sequencial entre homólogos da HGPRT. ............................................. 40
Tabela 2 - Construções realizadas na primeira etapa. ............................................................. 49
Tabela 3 - Construção realizada na segunda etapa. ................................................................ 49
Tabela 4 - Resultado sumarizado dos testes de expressão das enzimas. ................................ 53
Tabela 5 - Resultado sumarizado do segundo teste de expressão da enzima ADSS. ............. 54
Tabela 6 - Enzimas e suas respetivas construções, meio de cultura, método de indução
e volume escolhidos para expressão em larga escala. ........................................... 54
Tabela 7 - Ligantes e kits de cristalização utilizados para testes de cristalização das
enzimas. ................................................................................................................. 59
Tabela 8 - Cristais obtidos para as enzimas do projeto. .......................................................... 60
Tabela 9 - Condições de cristalização do kit Morpheus utilizadas para “screening” ............. 65
Tabela 10 - Estatísticas da coleta de dados e refinamento para os cristais de ADSL. ............. 70
Tabela 11 - Análise da geometria de ADSL gerada pelo programa MOLPROBITY. (78) ..... 73
Tabela 12 - Comparação dos resíduos entre a ADSL humana nativa, ADSL humana
mutada e SmADSL que foram identificados cujas mutações implicam na
deficiência severa de ADSL em humanos e consequentemente retardo
mental em pacientes. .............................................................................................. 99
Tabela 13 - Valores dos parâmetros da cinética enzimática de SmADSL para ADS. ............ 110
Tabela 14 - Valores dos parâmetros da cinética enzimática de SmADSL para SAICAR. ..... 111
Tabela 15 - Estatísticas da coleta de dados e refinamento para os cristais de HGPRT1. ....... 114
Tabela 16 - Análise da geometria de HGPRT gerada pelo programa MOLPROBITY.
(78) ....................................................................................................................... 117
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADA- adenosina desaminase
ADK - adenilato kinase
ADSL - adenilosuccinato liase
ADSS - adenilosuccinato sintase
AICAR - aminoimidazol carboxamida ribosídeo
AK - adenosina kinase
AMP – adenosina monofosfato
AMPc – adenosina monofosfato cíclico
AP - adenosina fosforilase
APRT- adenina fosforibosiltransferase
ATP – adenosina trifosfato
BRENDA – BRaunschweig ENzyme DAtabase
cDNA – ácido desoxirribonucleico codificante
DLS - Diamond Light Source
DNA – ácido desoxirribonucleico
DO – densidade óptica
EST – expressed sequence tag
FAD – Flavina adenina dinucleotídeo
FMR – fumarato
GDP - Guanosina difosfato
GK - guanilato kinase
GMP - Guanosina monofosfato
GMPc – Guanosina trifosfato cíclico
GMPS - guanilato sintase
GTP – Guanosina trifosfato
HGPRT- hipoxantina guanina fosforibosiltransferase
HGXPRT - hipoxantina guanina xantina fosforibosiltransferase
IFSC – Instituto de Física de São Carlos
IMP – inosina monofosfato
IMPDH - inosina-5'-fosfato desidrogenase
IPTG – isopropyl-beta-D-thiogalactopyranoside
ITC - calorimetria de titulação isotérmica
kDa – kilodaltons
MBP - maltose
mg – miligrama
mM – milimolar
MPD – 2-Methyl-2,4-pentanediol
MTAP - metiltioadenosina fosforilase
NAD – nicotinamida adenina dinucleotídeo
NDPK - nucleosídeo difosfato kinase
nL – nanolitro
OMS – Organização Mundial da Saúde
OPPF - Oxford Protein Production Facility
PCR – Reação em cadeia da polimerase
PDB – Protein data bank
PEG – polietilenoglicol
PNP- purina nucleosídeo fosforilase
PRPP - 5-fosforribosil-1-pirofosfato
PZQ – Praziquantel
RMSd – root-mean-square deviation
RNA – ácido ribonucléico
RNAi - ácido ribonucleico de interferência
RNAm – ácido ribonucleico mensageiro
RPKM - reads per kilobase per million
rpm – rotação por minuto
S-Ado - succiniladenosina
SAICAR - succinilaminoimidazol carboxamida ribosídeo
SDS-PAGE - sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel electrophoresis
TRX - Tiorredoxina
UDP – uridina difosfato
μg – micrograma
μL – microlitro
μM – micromolar
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ........................................................................................................................... 31
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 31
1.1 Esquistossomose .............................................................................................................................. 31
1.1.1 Ciclo de vida do Schistosoma mansoni ........................................................................................ 32
1.1.2 Tratamento ................................................................................................................................... 33
1.2 Metabolismo de nucleotídeos ......................................................................................................... 34
1.2.1 Metabolismo de Purinas em Schistosoma mansoni ...................................................................... 35
1.3 Enzimas alvos do estudo ................................................................................................................ 38
1.3.1 Adenosina Kinase (AK) ............................................................................................................... 39
1.3.2 Hipoxantina-guanina fosforibosiltransferase (HGPRT) ............................................................... 40
1.3.3 Adenilsuccinato Sintetase (ADSS) ............................................................................................... 42
1.3.4 Adenilsuccinato Liase (ADSL) .................................................................................................... 42
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................... 45
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 45
2.1 Geral ................................................................................................................................................. 45
2.2 Específicos ....................................................................................................................................... 45
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................... 47
3 PRODUÇÃO DAS ENZIMAS RECOMBINANTES .......................................................... 47
3.1 Amplificação dos genes de interesse ................................................................................................ 47
3.2 Purificação do produto de PCR ........................................................................................................ 47
3.3 Ligação do produto de PCR em vetores pOPIN e transformação de células de propagação ........... 48
3.4 Escolha das colônias e transformação de células de expressão ........................................................ 50
3.5 Teste de expressão e purificação das enzimas .................................................................................. 51
3.6 Expressão e purificação das proteínas em larga escala .................................................................... 55
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................... 59
4 ENSAIOS DE CRISTALIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS CRISTAIS .............................. 59
4.1 Ensaios de Cristalização ................................................................................................................... 59
4.2 Coleta de dados e otimização dos cristais ........................................................................................ 61
4.2.1 Variação de concentração da enzima e temperatura..................................................................... 62
4.2.2 Expressão e purificação de HGPRT com selenometionina .......................................................... 63
CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................... 69
5 ESTRUTURA CRISTALOGRÁFICA E CINÉTICA ENZIMÁTICA DE ADSL de
Schistosoma mansoni .......................................................................................................... 69
5.1 Coleta de dados, processamento, resolução e refinamento de dados de difração de raios-X .......... 69
5.2 Validação das estruturas .................................................................................................................. 72
5.3 Análise das estruturas tridimensionais obtidas de ADSL de Schistosoma mansoni ........................ 76
5.3.1 Estrutura secundária, topologia e regiões conservadas ................................................................. 76
5.3.2 Enovelamento ............................................................................................................................... 82
5.3.3 O sítio ativo .................................................................................................................................. 88
5.3.4 Mecanismo catalítico .................................................................................................................... 95
5.4 Determinação de parâmetros cinéticos da enzima ADSL de Schistosoma mansoni através de
calorimetria de titulação isotérmica (ITC) ................................................................................... 105
CAPÍTULO 6 ......................................................................................................................... 113
6 ESTRUTURA CRISTALOGRÁFICA DE HGPRT isoforma 1 de Schistosoma mansoni 113
6.1 Coleta de dados, processamento, resolução e refinamento de dados de difração de raios-X ........ 113
6.2 Validação da estrutura ................................................................................................................... 116
6.3 Análise da estrutura tridimensional obtida de HGPRT de Schistosoma mansoni ......................... 119
6.3.1 Estrutura secundária, topologia e regiões conservadas ............................................................... 119
6.3.2 Enovelamento ............................................................................................................................. 124
6.3.3 O sítio ativo ................................................................................................................................ 129
6.3.4 Mecanismo catalítico .................................................................................................................. 136
CAPÍTULO 7 ......................................................................................................................... 145
7 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................................. 145
7.1 Conclusões ..................................................................................................................................... 145
7.2 Perspectivas Futuras ...................................................................................................................... 146
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 149
31
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Esquistossomose
A esquistossomose, popularmente conhecida como barriga d’água, é uma doença
parasitária crônica, debilitante e, em alguns casos fatal. Afeta indivíduos principalmente em
áreas rurais, sendo endêmica em países tropicais e subtropicais. Nestes países ela constitui um
dos principais problemas de saúde pública e está associada diretamente às condições
socioeconômicas da população, uma vez que a transmissão da doença ocorre pela utilização
de água contaminada com a forma infectante do parasita. (1)
É uma das doenças mais negligenciadas do mundo, a segunda em importância mundial
atrás da Malária (2), sendo esquistossomose o nome coletivo para a infecção causada por uma
das cinco espécies do platelminto trematodo do gênero Schistosoma, na qual o Schistosoma
mansoni é o único predominante na América e um dos mais predominantes na África. (3)
Atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 700 milhões
de pessoas em todo o mundo estão em áreas de risco para a esquistossomose. O índice de
mortalidade atinge mais de 200.000 pessoas por ano e inclui hepatomegalia, esplenomegalia,
fibrose hepática e ascite. (1,3-4) A doença é associada com uma morbidade crônica e
debilitante que manifesta suas consequências num déficit cognitivo, cansaço e redução do
crescimento. (5-6)
Dos 78 países considerados endêmicos para esquistossomose (Figura 1), apenas 52
países recebem quimioterapia preventiva. O número total de pessoas infectadas que
necessitavam de quimioterapia a nível global em 2014 foi de 258,9 milhões, dos quais 123,3
milhões eram crianças em idade escolar. Os dados reportados em 2014 mostram que pouco
mais de 61 milhões de pessoas receberam quimioterapia preventiva para a esquistossomose, o
que é equivalente a uma cobertura global de apenas 20,8%. (1)
32
Figura 1 - Levantamento dos países endêmicos para esquistossomose em 2014.
Fonte: WHO ...(1)
1.1.1 Ciclo de vida do Schistosoma mansoni
O S. mansoni possui um ciclo de vida heteroxênico (Figura 2), que se alterna entre
dois hospedeiros distintos: hospedeiro intermediário representado principalmente pelo
caramujo do gênero Biomphalaria (B. glabrata no Brasil), onde ocorre a reprodução
assexuada e o hospedeiro definitivo vertebrado, representado pelo homem, onde ocorre a fase
sexuada da reprodução. (7)
A infecção tem início quando o indivíduo se expõe à água contaminada com a forma
larval (cercária) liberada pelo caramujo. As cercárias penetram ativamente na pele, perdem a
cauda e se transformam em vermes imaturos (esquistossômulos). Esses vermes migram para o
sistema sanguíneo ou linfático e chegam aos pulmões onde passam para o sistema porta intra-
hepático e atingem a maturidade sexual. Os machos e fêmeas vivem acasalados e migram até
as veias mesentéricas inferiores onde ocorre a oviposição. Os ovos eliminados nas fezes
eclodem em contato com a água liberando o miracídio, que penetra o caramujo se
transformando em esporocistos que dão origem às cercárias, reiniciando o ciclo. Uma parte
dos ovos liberados pelos vermes adultos se aloja na mucosa intestinal e posteriormente nos
capilares do sistema porta levando a formação de granulomas ou provocam hemorragias e
ulcerações durante a sua passagem para a luz intestinal. (7)
33
Figura 2 - Ciclo de vida do Schistosoma. Ovos são eliminados nas fezes ou urina, em condições ideais há
eclosão dos ovos e liberação de miracídios, que nadam e penetram em hospedeiros intermediários
específicos (moluscos). Os estágios no caramujo incluem duas gerações de esporocistos e a
produção de cercárias. Após liberadas do caramujo, as cercárias infectantes nadam e penetram na
pele do hospedeiro humano, perdem sua cauda, passando a ser esquistossômulo. ( , ) Os
esquistossômulos migram através de diversos tecidos para se instalarem as veias. Os vermes
adultos nos seres humanos residem nas vênulas mesentéricas em várias localizações, que parecem ser
específicas para cada espécie. As fêmeas (com tamanho de 7 a 20 mm, macho um pouco menor)
depositam ovos em pequenas vênulas do sistema portal e perivesical. Os ovos são movidos
progressivamente para o lúmen do intestino (S. mansoni e S. japonicum) e da bexiga e ureteres (S.
haematobium), e são eliminados com as fezes ou urina, respectivamente.
Fonte: CDC...(131)
1.1.2 Tratamento
Na ausência de uma vacina, de um eficiente controle do vetor e de saneamento básico,
o tratamento e controle da esquistossomose residem em um único fármaco, o praziquantel
(PZQ). O principal problema com o PZQ é que é praticamente inativo contra
esquistossômulos imaturos, nos quais a atividade só é alcançada cerca de 6 a 8 semanas após a
34
infecção. (3) Além disto, o extensivo uso do PZQ por mais de 30 anos, especialmente em
programas de administração de medicamentos em massa, levanta sérias preocupações sobre o
desenvolvimento de resistência ao medicamento. Essa preocupação levou a um renovado
interesse científico na investigação de novos medicamentos, incluindo a identificação de
potenciais alvos moleculares. (8)
Várias comunicações com indicativos da falha no tratamento com PZQ têm sido
ultimamente reportadas. (6,8-15) A detecção de falha de um tratamento é frequentemente o
primeiro indicativo do fim da vida efetiva de um fármaco. Além de que não é
estrategicamente eficaz depender deste único agente para o controle sustentado da
esquistossomose. Idealmente, uma gama de opções de tratamento e controle deveria ser
disponível, de preferência incluindo o uso de diferentes classes de fármacos a fim de evitar o
desenvolvimento de resistência, e que atuassem em todos os estágios de vida do parasita para
um tratamento efetivo. (16) Dentro desse contexto surge a necessidade da busca de novos
alvos para o desenvolvimento de fármacos contra a esquistossomose.
1.2 Metabolismo de nucleotídeos
Os nucleotídeos são moléculas constituídas por uma base nitrogenada púrica (A ou G)
ou pirimídica (C, T, ou U), uma ribose e um grupamento fosfato, as quais desempenham uma
variedade de importantes papéis em todas as células de todos os organismos vivos. São
precursores de DNA e RNA, sendo inclusive carregadores essenciais da energia química -
função especialmente atribuída ao ATP e, em uma menor extensão, ao GTP. Além disso, são
componentes dos cofatores NAD, FAD, S-adenosilmetionina e coenzima A, bem como de
intermediários biosintéticos ativados, tais como UDP-glicose. Também são precursores de
moléculas sinalizadoras na célula, tais como AMPc e GMPc. (17)
Os conjuntos (pools) de nucleotídeos são geralmente pequenos nas células, perfazendo
aproximadamente 1% ou menos das quantidades requeridas para síntese do DNA. Portanto, a
síntese de nucleotídeos precisa ocorrer paralelamente à síntese de ácidos nucléicos, podendo
inclusive ser um fator limitante dos processos celulares de replicação e transcrição. (17)
Considerando a importância desses processos para as células em divisão, agentes que
inibem a síntese de nucleotídeos têm se tornado de grande importância para a medicina atual.
Dois tipos de vias levam à síntese de nucleotídeos nos seres vivos: via de síntese de
novo e via de salvação. A via de novo para biossíntese de purinas e pirimidinas são idênticas
35
em praticamente todos os organismos vivos e têm como precursores metabólicos
aminoácidos, ribose 5-fosfato, CO2 e NH3. As bases livres não são intermediários utilizados
pela via de síntese de novo, pois as bases não são sintetizadas previamente ao seu
acoplamento à ribose, mas sim, acopladas ao grupo 5-fosfo-ribosil do nucleotídeo (Figura 3).
A via de salvação, no entanto, utiliza as bases livres e nucleosídeos liberados da quebra de
ácidos nucléicos. Ambos os tipos de via são importantes para o metabolismo celular. (17)
Figura 3 - Origem dos átomos do anel de purinas (via de novo).
Fonte: LEHNINGER; NELSON; COX. (17)
1.2.1 Metabolismo de Purinas em Schistosoma mansoni
A produção de ovos é o aspecto mais significante do parasitismo e a maior causa da
patologia da esquistossomose. A estimativa da produção de ovos fertilizados pelo parasita é
de centenas de ovos por dia. Acredita-se que esta fecundidade persista por anos,
representando um exemplo notável de capacidade biosintética altamente especializada, que
obviamente requer um ativo metabolismo de nucleotídeos de purina, tanto como fonte de
energia (ATP) como para o suprimento de bases de purina nas sínteses de DNA e RNA. (18)
Em uma série de artigos entre os anos de 1972 a 1983, Senft e colaboradores (19-25)
elucidaram a via de salvação de purinas em S. mansoni. Inicialmente foi demonstrada uma
rápida incorporação de adenina em nucleotídeos e a não incorporação de 14
C-glicina e 14
C-
glicose no anel púrico. (25) Evidenciando uma grande dependência de um suprimento externo
de bases pré-formadas para a síntese de nucleotídeos, bem como provando a perda da via de
novo de síntese de purinas. Estes resultados foram confirmados em esquistossômulos por
Dovey e colaboradores. (26) Deste modo, o S. mansoni ao contrário do seu hospedeiro
humano, não possui a via biosintética de purinas de novo e depende integralmente da via de
36
salvação para seu requerimento dessas bases. (21-22) Sendo assim, esta via tem sido citada
como um potencial alvo para o desenvolvimento de novos fármacos.
Na Figura 4 observa-se o esquema da via de salvação de adenosina do parasita, onde as
enzimas AK2, ADK, PNP, AP (MTAP) são representadas também pelas respectivas
estruturas tridimensionais, todas estas determinadas em nosso grupo de pesquisa. As enzimas
alvo deste trabalho: AK1, HGPRTs, ADSS e ADSL são destacadas por contorno em
vermelho.
Figura 4 - Esquema das vias de conversão de adenosina em nucleotídeos em S. mansoni. ADA - adenosina
desaminase, PNP - purina nucleosídeo fosforilase, HGPRT - hipoxantina guanina
fosforibosiltransferase, APRT - adenina fosforibosiltransferase, AK - adenosina kinase, ADK -
adenilato kinase, NDPK - nucleosídeo difosfato kinase, MTAP - metiltioadenosina fosforilase, ADSL
- adenilosuccinato liase, ADSS - adenilosuccinato sintase, IMPDH - inosina-5'-fosfato desidrogenase,
GMPS - guanilato sintase, GK - guanilato kinase. Em destaque com contorno vermelho as enzimas
alvo de estudo deste projeto, e as estruturas das enzimas já resolvidas por nosso grupo de pesquisa.
Fonte: Elaborada pela autora.
Senft e colaboradores (22) estudando a deposição de adenosina em S. mansoni,
sugeriram que a via preferencial utilizada para o anabolismo de S. mansoni seria utilizando as
enzimas adenosina fosforilase (AP) e adenina fosforibosiltransferase (APRT). Os mesmos
autores (22-23) identificaram várias enzimas da via de salvação em extratos de S. mansoni,
entre elas fosforibosiltransferases, quinases, difosfoquinase, desaminases, e uma fosforilase.
Stegman e colaboradores (24) demonstraram que a adenosina pode ser processada por
dois mecanismos, uma via direta utilizando a enzima adenosina kinase que produz
37
diretamente AMP, e a via indireta: adenosina -> inosina -> hipoxantina -> IMP -> AMP,
sendo que a via indireta é muito mais ativa que a via direta utilizando a kinase.
Extratos de S. mansoni convertem mais da metade da adenosina utilizada como
substrato, convertendo-a para inosina e hipoxantina in vitro, utilizando as enzimas adenosina
desaminase (ADA) e purina nucleosídeo fosforilase (PNP), hipoxantina guanina
fosforibosiltransferase (HGPRT), adenilosuccinato sintase (ADSS) e adenilosuccinato liase
(ADSL). (19-20)
Quando vermes intactos de S. mansoni são incubados com hipoxantina -8-14
C,
quantidades substanciais de AMP e GMP são sintetizados, indicando a presença das enzimas
ADSS, ADSL, IMPDH e GMPS. (22)
Uma parte da adenosina é clivada em adenina via adenosina fosforilase (a enzima
responsável por esta atividade é a metiltioadenosina fosforilase - MTAP - Pereira e
colaboradores, dados ainda não publicados), quando PRPP (5-fosforribosil-1-pirofosfato) está
presente, com posterior formação de AMP pela fosforibosilação da adenina pela enzima
APRT. (19) Miech e colaboradores (27) reportaram que extratos e o vômito de S. mansoni
possuem uma atividade enzimática que catalisa a fosforólise de adenosina produzindo adenina
e ribose-1-fosfato, e que esta atividade é devido à enzima adenosina fosforilase. Esta atividade
é inteiramente separada da enzima purina nucleosídeo fosforilase, fato confirmado por nossos
experimentos. (28-29)
Uma das vantagens da via de salvação é o fato de que a via de novo requer grande
quantidade de energia para síntese de bases púricas. Com relação à via de salvação de purinas
vale ressaltar que ao contrário da biossíntese de purinas, que é idêntica em todas as células, a
via de salvação é diversa em características e distribuição.
Buscas no Genoma Paulista do S. mansoni (30), baseado em ESTs, e mais
recentemente nos estudos de genoma e transcriptoma do parasita realizados por Protasio e
colaboradores (31) confirmaram a presença de RNAm das enzimas relatadas por Senft;
Crabtree. (20) Recentemente foi sequenciado o genoma do S. mansoni pelo Sanger Center na
Inglaterra (32), onde foram encontrados os genes correspondentes a todas as enzimas da via,
sendo que algumas possuem mais de uma isoforma (duas para AK, três pra HGPRT, duas
para PNP), confirmando os trabalhos de identificação das enzimas da via de salvação
realizados por Senft e colaboradores. (19,25,27)
Durante a identificação das enzimas da via de salvação de purinas em extratos livre
nas células (22) foi observado que a degradação de adenosina continuava presente no meio,
mesmo após a remoção dos vermes, sugerindo que durante a incubação os vermes liberam
38
enzimas ativas do catabolismo de adenosina, e que algumas enzimas relacionadas com o
metabolismo de purinas são frouxamente ligadas às superfícies interna ou externa do parasita.
Estes autores predisseram que enzimas do metabolismo de purina podem gerar respostas do
sistema imune do hospedeiro e que estas enzimas podem ser úteis como sondas de
imunodiagnóstico para a detecção de vermes vivos no paciente. (21)
Desde os experimentos de Senft e colaboradores, escassa literatura é encontrada sobre
as enzimas da via de salvação de purinas. Com relação à estrutura destas enzimas apenas
artigos produzidos em nosso grupo sobre PNP (28-29,33-34), ADK (35) e AK (36) estão
disponíveis.
Um artigo que chama atenção é um artigo que apresenta as análises da estrutura do
gene e expressão do RNAm da ADSL (37), no qual foi realizado o estudo por PCR em tempo
real da expressão das enzimas HGPRT, APRT e ADSL em cercária, esquistossômulos,
vermes adultos machos e fêmeas. Foi observado que a fêmea possui o dobro do nível de
expressão da ADSL em comparação ao macho, indicando uma possível função fêmea
específica (38). Hoffmann relata que outras enzimas da via de salvação de purinas devem ser
estudadas para a avaliação da ligação a sexo específico. (38)
1.3 Enzimas alvos do estudo
Este projeto faz parte de um projeto mais abrangente que visa à obtenção da
estrutura tridimensional de todas as enzimas da via de salvação de purinas e síntese de
pirimidinas do parasita Schistosoma mansoni. Apesar da importância global que a
esquistossomose tem, existem poucos estudos sobre as vias metabólicas do parasita. O
entendimento bioquímico deste é de vital importância para a identificação de novos alvos para
o desenvolvimento racional de fármacos. Por este motivo, são estudadas todas as enzimas da
via, uma vez que estas são expressas de forma distinta no parasita ao longo do seu ciclo de
vida. No site GeneDB (http://www.genedb.org/Homepage) é possível encontrar os valores de
RPKM (reads per kilobase per million) (39) que quantifica a expressão de genes em cercárias,
esquistossômulos e vermes adultos. Permitindo a identificação de possíveis alvos terapeuticos
em diferentes estágios de vida do parasita.
39
1.3.1 Adenosina Kinase (AK)
Uma das enzimas centrais da via de salvação é a adenosina kinase (E.C. 2.7.1.20), que
catalisa a fosforilação de adenosina para adenosina monofosfato (AMP) utilizando ATP ou
GTP como doadores de fosfato. (40)
No genoma do Schistosoma mansoni foram identificadas duas isoformas da enzima
adenosina kinase. As duas sequências Smp_008360 (AK2) e Smp_008400 (AK1) contendo
352 aminoácidos possuem 79% de identidade sequencial.
Quando alinhadas individualmente as sequências da AK com seu homólogo humano a
identidade sequencial é de 34 e 33% respectivamente.
Senft; Crabtree (21); relatam que os análogos de nucleotídeos 2-floroadenosina e 7-
deazaadenosina são rapidamente incorporados no pool de nucleotídeos do S. mansoni.
Nenhum destes análogos são substratos das enzimas adenosina desaminase e purina
nucleosídeo fosforilase. Desta forma a conversão destes análogos as suas correspondentes
bases, seguida da fosforibosilação gerando seus nucleotídeos não é realizada. Portanto a
fosforilação direta mediada pela adenosina kinase é a rota do anabolismo de 2-floroadenosina
e 7-deazaadenosina. Estes autores foram os primeiros a identificar a presença da enzima AK
no parasita. Dovey e colaboradores (26) identificaram baixos níveis de atividade para enzima
AK, ambos autores acima citados realizaram seus estudos com extratos de S. mansoni.
Durante o desenvolvimento do meu mestrado, a enzima recombinante AK2 foi
amplificada, clonada, expressa, purificada e cristalizada. Foram obtidas e analisadas cinco
estruturas tridimensionais com os diferentes ligantes: AMP, adenosina, 7-deazaadenosina
(tubercidina) e 2-fluoroadenosina, cujos PDBs correspondentes são: 3VAS, 3VAQ, 3UQ9,
3UQ6 e 4DC3. (36)
Nesse trabalho, através da análise estrutural da enzima foi possível explicar a
incorporação seletiva de análogos de adenosina de AK de Schistosoma em comparação com a
AK humana observada por El Kouni e Cha na década de 80.
El Kouni e Cha (18) testaram a incorporação de nove análogos de adenosina: 5'-deoxi-
5'-iodo-2-fluoroadenosina, tubercidina, nebularina, toiocamicina, sangivamicina, 3'-
deoxisangivamicina, 9-deazaadenosina, 7,9-dideaza-7-tiaadenosina e 1-metiformicina, no
verme adulto intacto e demonstraram que o S. mansoni poderia incorporar seis desses
compostos no pool de nucleotídeos, exceto: sangivamicina, 3'-deoxisangivamicina e 1-
metiformicina, em contraste com os outros análogos de adenosina testados. Fato esse que em
nosso trabalho pôde ser atribuído ao tamanho do grupo inserido na posição 7 no lugar do
40
nitrogênio da base nitrogenada. Por ser muito volumoso este grupo provavelmente se chocaria
com o resíduo Thr136 que está ligado ao N7 da molécula de adenosina com distância de
2.82Å.
Figura 5 - Estrutura cristalográfica da enzima adenosina kinase de Schistosoma mansoni em modelo de fitas.
Pode ser observada a ligação de uma molécula de adenosina e uma de AMP na estrutura.
Fonte: Elaborada pela autora.
1.3.2 Hipoxantina-guanina fosforibosiltransferase (HGPRT)
A HGPRT (E.C 2.4.2.8) é codificada por um gene essencial do parasita. Catalisa a
fosforibosilação reversível de hipoxantina e guanina para IMP ou GMP respectivamente. No
genoma de S. mansoni foram encontrados três genes homólogos para a HGPRT (Smp_148820
– 227 aminoácidos, Smp_168500 – 228 aminoácidos, Smp_103560 – 249 aminoácidos). A
tabela 1 mostra a identidade sequencial entre elas.
Tabela 1 - Identidade sequencial entre homólogos da HGPRT.
HGPRT Identidade Sequêncial
Smp_148820 Smp_168500 – 46%
Smp_168500 Smp_103560 – 46%
Smp_103560 Smp_148820 – 39%
Fonte: Elaborada pela autora
Quando alinhadas as 3 sequências com seu correspondente humano (PDB 2JBH) essa
identidade é de 32% para Smp_148820, 38% para Smp_168500 e de 45% para Smp_103560.
41
Em humanos a completa ou quase completa deficiência da enzima HGPRT resulta em
uma doença chamada Síndrome de Lesch-Nyhan (42), caracterizada pela superprodução e
acúmulo de ácido úrico, chamada hiperuricemia. Os sintomas são graves e consistem
basicamente em retardos psicomotores (43). Os devastadores efeitos dessa síndrome ilustram
a importância da via de salvação. O cérebro é especialmente dependente dessa via, o que pode
explicar os danos ao sistema nervoso central em crianças portadoras da síndrome.
Já quando a deficiência da HGPRT é parcial, a doença por manifestar sintomas mais
leves, como formação e depósito de cristais nas articulações e no rim, é chamada de gota ou
Síndrome de Kelley-Seegmille. (44-45)
Hipoxantina e guanina surgem constantemente da quebra de ácidos nucléicos. Na
ausência de HGPRT, os níveis de PRPP aumentam e purinas são, portanto mais produzidas
pela via de novo, resultando no acúmulo de ácido úrico devido à redução do resgate de
hipoxantina e guanina para produção de IMP e GMP. (46)
Diferentemente das outras enzimas da via de salvação de purinas, vários estudos já
foram realizados utilizando a HGPRT de S. mansoni. (47-49) Esta proteína já foi expressa em
E. coli anteriormente por outros pesquisadores na década passada. (50)
Em 2008 estudos utilizando a técnica de RNAi reforçaram a importância desta enzima
para a sobrevivência do parasita. Pequenos RNAs interferentes (RNAis) foram produzidos
contra HGPRT, injetados em camundongos infectados, cujo número de vermes foi contado
seis dias após a injeção. O número total de parasitas foi reduzido em aproximadamente 27%
após o tratamento. (51)
Apesar da existência de vários estudos com a HGPRT, até o presente momento não se
conhecia sua estrutura tridimensional, a qual era buscada por pesquisadores há mais de 20
anos.
Durante o desenvolvimento do meu mestrado foi possível amplificar, clonar, expressar
e purificar a enzima recombinante HGPRT Smp_103560. Bem como realizar ensaios de
cristalização, sem sucesso. Novos estudos computacionais foram realizados pelo Prof. Dr.
Ricardo de Marco analisando a sequência codificadora da enzima e identificou-se que a
sequência do banco de dados, que foi previamente utilizada, possuía um éxon de 18
aminoácidos a mais no N-terminal. Novos primers foram desenhados para reinício dos
estudos com essa enzima, aqui apresentados.
42
1.3.3 Adenilsuccinato Sintetase (ADSS)
Adenilsuccinato sintetase (IMP: aspartato ligase (GMP) E.C. 3.3.4.4) é a responsável pelo
primeiro dos dois passos da conversão de IMP em AMP (52), catalisa a seguinte reação:
Mg2+
IMP + GTP + aspartato adenilsuccinato + GDP + Pi
Somente uma isoforma foi identificada no genoma do parasita que codifica uma
proteína com 433 aminoácidos, esta quando alinhada com sua correspondente humana (PDB
2V40) de 459 aminoácidos possui 54% de identidade.
Existem diversas estruturas dessa enzima depositadas no PDB, inclusive de E. coli
com o inibidor hadacidina (N-formylhydroxyamino-acetic acid), análogo estrutural do ácido
aspártico, além de estudos e descrição dos efeitos inibitórios de derivados deste. (53-62).
1.3.4 Adenilsuccinato Liase (ADSL)
Adenilsuccinato liase (ADSL, E.C. 4.3.2.2) é uma enzima que atua em duas vias de
metabolismo de purinas. Na via de síntese catalisa a conversão de succinilaminoimidazol
carboxamida ribosídeo (SAICAR) em aminoimidazol carboxamida ribosídeo (AICAR). (63)
Já na via de salvação de purinas, que é o alvo de nosso estudo, esta enzima é responsável pelo
segundo dos dois passos de conversão de IMP em AMP. (64) Responsável pela seguinte
reação:
Adenilsuccinato Fumarato + AMP (65).
No parasita essa enzima possui 480 aminoácidos (54.5 kDa), o alinhamento com a
enzima humana (PDB 2J91) que possui 503 aminoácidos demonstra que estas possuem 55%
de identidade sequencial.
Diversos estudos foram realizados com a enzima humana pelo fato de sua deficiência
estar relacionada a retardo mental e autismo (63,65-68) devido ao acúmulo das succinil-
purinas; succinilaminoimidazol carboxamida (SAICA-ribosídeo) e succiniladenosina (S-
Ado), no fluido cérebro-espinhal e urina. Dados sugerem que a lesão genética da ADSL
determina a proporção de sua atividade com S-AMP e com SAICAR, que por sua vez
determina a proporção S-Ado/SAICa-ribosídeo e o estado mental do paciente. (68)
43
Foulk e colaboradores estudaram a estrutura do gene de ADSL de S.mansoni, os
níveis de expressão de RNAm, a predição da estrutura tridimensional e o potencial terapêutico
da enzima. Estes pesquisadores demonstraram que os níveis de RNAms expressos de ADSL e
HGPRT são mais baixos em esquistossômulos e cercárias do que em vermes adultos.
Sugerindo que o nível de expressão desses genes é regulado e fornece evidências mais
contundentes a trabalhos anteriores, onde Dovey e colaboradores (26) concluíram que
esquistossômulos obtém a maior parte de AMP via APRT através da via de salvação de
purinas e Senft e colaboradores (25) demonstraram que vermes adultos de S. mansoni
incorporaram uma quantidade significativa de adenosina marcada em AMP por meio de IMP.
O que implicaria em algum grau de regulação da expressão gênica na via de salvação de
purinas.
Além de ser regulada positivamente em adultos, foi demonstrado que os níveis de
expressão de RNAm de ADSL são mais elevados em fêmeas do que em machos. Também foi
demonstrado um aumento de 2,5 vezes na atividade enzimática nas fêmeas em comparação
com vermes machos. (37) Sendo assim, ADSL parece estar regulada positivamente nas
fêmeas quanto em comparação com as outras fases do ciclo de vida examinada.
Figura 6 - Análise do nível de expressão de RNAms da via de salvação de purinas por PCR em tempo real. O
número de cópias dos genes foi normalizado para a tubulina pela divisão do número de cópia de cada
gene pelo número de cópias de tubulina em cada reação de cDNA. Um nível de expressão de um
indica que o nível de expressão é equivalente à tubulina. Adenilosuccinato liase – barra branca;
adenina fosforibosiltransferase – barra preta; hipoxantina-guanina fosforibosiltransferase – barra
cinza.
Fonte: FOULK et al. (37)
44
Duas explicações são possíveis para esta regulação positiva da expressão de RNAm
e atividade de adenilossuccinato liase: (1) fêmeas necessitam de um maior número de
nucleótidos para a síntese de DNA associados com a produção de ovos e (2) as fêmeas são
mais dependentes da via de salvação mediada adenilosuccinato liase- AMP que os machos.
(37)
No entanto, a falta de um aumento correspondente nos níveis de RNAms de HGPRT
e APRT em fêmeas indica que ADSL tem uma regulação específica, em vez de ser parte de
uma supra regulação de RNAm geral na síntese de nucleotídeos ou mesmo na regulação
positiva das outras enzimas da via de salvação de purinas na produção de AMP mediada por
ADSL. Uma explicação alternativa para o aumento da produção de RNAm de ADSL é que
esta está sendo usado para fins além da produção de AMP. (37)
45
CAPÍTULO 2
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Realizar a clonagem, expressão, purificação, caracterização bioquímica, teste de atividade e
determinar a estrutura tridimensional das enzimas adenosina kinase 1 (AK), hipoxantina-
guanina fosforibosiltransferase 1, 2 e 3 (HGPRT), adenilsuccinato sintetase (ADSS) e
adenilsuccinato liase (ADSL) de Schistosoma mansoni.
2.2 Específicos
1. Amplificação, clonagem, expressão heteróloga em E. coli e purificação das enzimas
recombinantes.
2. Testes de cristalização das enzimas com diferentes substratos e/ou inibidores.
3. Experimentos de difração de raios-X com os cristais obtidos.
4. Resolução e refinamento das estruturas.
5. Teste de atividade enzimática e determinação das constantes catalíticas das enzimas com
estrutura tridimensional obtida.
6. Publicação dos resultados.
46
]
47
CAPÍTULO 3
3 PRODUÇÃO DAS ENZIMAS RECOMBINANTES
3.1 Amplificação dos genes de interesse
Os experimentos de amplificação, clonagem, transformação em bactérias, testes de
expressão e cristalização das enzimas AK1, HGPRT 1 (Smp_103560) ou HGPRT_short,
HGPRT 2 (Smp_148820) e HGPRT 3 (Smp_168500), ADSL e ADSS foram realizados nas
instalações do laboratório da Oxford Protein Production Facility (OPPF) em Harwell -
Inglaterra. A utilização do OPPF é uma colaboração do Dr. Humberto Pereira com o
pesquisador do síncrotron inglês Diamond Light Source (DLS), José Brandão-Neto.
Junto à equipe do OPPF os genes sintéticos foram amplificados por PCR, utilizando-
se a enzima PhusionTM
Flash High-Fidelity. A reação foi feita em termociclador, sendo o
anelamento a 60oC por 5 minutos e a extensão, a 72
oC por 1 minuto (1 minuto/kbp). Após a
reação completa, confirmou-se a amplificação das 6 enzimas por eletroforese em gel de
agarose 1,25% corado com SYBR®
Safe DNA Stain (Invitrogen).
3.2 Purificação do produto de PCR
Uma vez verificada a qualidade do produto da reação e PCR em gel de agarose, fez-se
a purificação do produto em 2 etapas:
1- Incubando o produto do PCR a 37ºC por 1 hora com a enzima DpnI que cliva DNA
metilado.
2- Sistema de purificação por interação magnética “Agencourt AMPure XP (Beckman
Coulter)” seguindo as instruções do fabricante. 90 uL desta solução são adicionados a solução
de cada poço da placa, tornando-a marrom bem escura. Então a placa é inserida sobre uma
placa contendo ímãs. As moléculas de cDNA que interagiram com as partículas magnéticas se
acoplam próximo ao ímã tornando a solução transparente novamente. Esta solução é retirada
do poço e este é lavado com etanol 70% por 2 vezes (Figura 7). Para eluição do cDNA, 30 uL
de água são adicionados aos poços ressuspendendo o produto acoplado ao ímã. Novamente a
placa é inserida na placa magnética e a solução transparente é coletada.
48
Figura 7 - Segundo passo do procedimento de purificação do produto de amplificação de cDNA por PCR
utilizando o sistema de purificação por interação magnética.
Fonte: Elaborada pela autora.
3.3 Ligação do produto de PCR em vetores pOPIN e transformação de células de
propagação
Após confirmada através de análise em gel de agarose a purificação do produto de
amplificação, os insertos foram ligados aos vetores. O OPPF emprega uma família de vetores
chamados pOPIN que são derivados do vetor pTriEx2, que permite a expressão em múltiplos
hospedeiros (E. coli, células de mamíferos e de insetos) e a ligação direta de produtos de PCR
(69). Todos os vetores possuem um sítio para clivagem da proteína de interesse da sua fusão
com a protease 3C (Figura 8). Os vetores escolhidos foram: pOPINS3C que produz uma
proteína em fusão com Histag-SUMO, pOPINTRX- Histag-thioredoxina., pOPINE - histag
no C-terminal, pOPINF- N-histag e pOPINM N-his-MBP.
49
Figura 8 - Esquema da construção dos vetores pOPIN, cedidos pelo grupo OPPF.
Fonte: Elaborada pela autora.
A construção dos vetores para expressão das proteínas foi feita em duas etapas. Na
primeira etapa, foram feitas as construções listadas na Tabela 2 e na segunda etapa, foi feita a
construção listada na Tabela 3.
Tabela 2 - Construções realizadas na primeira etapa.
Gene aa_N aa_C Vetores
AK1 2 345 pOPINF e pOPINS3C
HGPRT1 2 227 pOINTRX, pOPINF,pOPINE e pOPINS3C
HGPRT2 2 227 pOINTRX, pOPINF,pOPINE e pOPINS3C
HGPRT3 2 228 pOINTRX, pOPINF,pOPINE e pOPINS3C
ADSS 2 433 pOINTRX, pOPINF, pOPINE, pOPINS3C e pOPINM
ADSL 2 480 pOINTRX, pOPINF, pOPINE, pOPINS3C e pOPINM Fonte: Elaborada pela autora
Tabela 3 - Construção realizada na segunda etapa.
Gene aa_N aa_C Vetores
ADSS 21 433 pOINTRX, pOPINF, pOPINE, pOPINS3C e pOPINM
Fonte: Elaborada pela autora
50
Os insertos foram inseridos nos vetores através da enzima In-Fusion. Em uma placa de
PCR foi adicionado 100 ng do vetor linearizado, acrescentou-se de 10 a 250 ng de produto de
PCR purificado e ajustou-se o volume com água. 10 μl dessa solução foram transferidos para
o kit In-Fusion®
HD Cloning Kits (Clontech) contendo a enzima In-Fusion liofilizada. A
placa foi mantida a 42oC por 30 minutos.
Após a ligação do inserto, os vetores foram utilizados para transformar bactérias de
propagação competentes E.coli OmniMax® II (Invitrogen). As células foram mantidas por 30
minutos no gelo na presença do vetor ligado ao inserto, posteriormente foram submetidas a
um choque térmico (30 segundos a 42oC e retornadas imediatamente ao gelo). Após o choque
térmico foi adicionado 300 μL de meio SOC-Invitrogen (sem antibiótico), e então as células
foram incubadas a 37oC por uma hora a 125 rpm.
Terminado o período de incubação, as bactérias foram plaqueadas em LB ágar
contendo 50 mg/mL de carbenicilina, 20% de X-Gal e 0,5 mM de IPTG. Este processo foi
realizado em duplicata, onde uma das placas recebeu 25 µL do meio contendo as bactérias e a
outra 5 µL. As placas foram incubadas a 37ºC “overnight”.
3.4 Escolha das colônias e transformação de células de expressão
Observou-se nas placas o crescimento de colônias isoladas brancas e azuis. Colônias
azuis são derivadas de bactérias não recombinantes e por isso foram escolhidas duas colônias
brancas para cada construção. Essas colônias foram transferidas para blocos (ABgene AB-
0932) que continham 1,2 mL de meio Power BrothTM
suplementado com 50 mg/mL de
carbenicilina. Os blocos foram vedados com adesivo poroso (ABgene AB-0718) e mantidos a
37ºC “overnight” sob agitação.
No dia seguinte, a cultura dos blocos foi centrifugada e submetida à extração de DNA
plasmidial usando o sistema robotizado The Onyx. Para confirmar a presença do inserto no
vetor, foi realizado um PCR com a enzima PhusionTM
Flash High-Fidelity usando primers
específicos para os vetores pOPIN. A reação foi feita em termociclador, sendo que a
temperatura de anelamento foi 60ºC por 30 segundos e a temperatura de extensão foi 68ºC por
2 minutos (2 minutos por kbp).
O produto da reação foi analisado em gel de agarose 1,5% corado com SYBR®Safe
DNA Stain (Invitrogen). Após confirmação do inserto nos vetores, esse produto de ligação foi
utilizado para transformar bactérias de expressão competentes: E.coli B834(DE3) e E.coli
Lemo21(DE3), utilizando o mesmo processo descrito anteriormente. Terminado o período de
51
incubação, as bactérias foram plaqueadas em LB ágar contendo 50 mg/mL de carbenicilina,
35 mg/mL de clorafenicol, 20% de X-Gal e 0,5 mM de IPTG. Este processo também foi
realizado em duplicata. As placas foram incubadas a 37ºC “overnight”.
3.5 Teste de expressão e purificação das enzimas
Observou-se novamente o crescimento de colônias isoladas brancas e azuis. Uma
colônia branca por construção foi escolhida a fim de se fazer um pré-inóculo, visando à
expressão das enzimas. Os testes de expressão foram realizados em pequena escala e por isso
as colônias escolhidas foram transferidas para blocos (ABgene AB-0932) que continham 0,7
mL de meio Power BrothTM
suplementado com 50 mg/mL de carbenicilina e 35 mg/mL de
clorafenicol. Os blocos foram vedados com adesivo poroso (ABgene AB-0718) e mantidos a
37ºC “overnight” sob agitação de 240 rpm.
No dia seguinte, 250 μL da cultura foram utilizados para produção de um estoque
glicerinado que foi armazenado a -80ºC, outros 250 μL foram transferidos para blocos
similares que continham 3 mL de meio de cultura Power BrothTM
suplementado com os
antibióticos apropriados citados anteriormente. Os blocos foram novamente vedados com
adesivo poroso e mantidos sob agitação de 240 rpm a 37ºC de 3 a 5 horas, tempo necessário
para que a densidade óptica (D.O.) a 595 nm fosse de aproximadamente 0,5. Neste ponto a
temperatura das culturas foi reduzida a 20ºC e então foi feita a indução da expressão com 1
mM de IPTG. As culturas foram mantidas “overnight” (~18 horas) sob agitação de 225 rpm a
20ºC.
Foram realizados também testes de expressão para as enzimas utilizando o meio de
autoindução Overnight ExpressTM
(ONEX) Instant TB medium (Novagen®
). O processo
utilizado foi o mesmo descrito para o meio de cultura Power BrothTM
excetuando-se apenas a
etapa de indução.
Após a expressão-teste os blocos foram centrifugados a 6000g por 10 minutos. O
sobrenadante foi descartado e o precipitado, ressuspendido em 210 μL de tampão de lise (50
mM Tris, 500mM NaCl, 30mM imidazol e 0,2% Tween com pH ajustado para 8,0)
suplementado com uma alíquota (~1 mg/mL) de inibidores de protease e uma alíquota de
DNAse tipo I (~400 U/mL). A solução foi homogeneizada e mantida sob agitação a 1000 rpm
por 30 minutos. Os blocos foram novamente centrifugados a 5000g por 30 minutos a 4ºC. O
sobrenadante foi aplicado no Biorobotic 8000 (Qiagem), que realiza a purificação das
52
proteínas em placas de forma automatizada. A purificação da expressão teste foi analisada em
SDS-PAGE.
Analisando o resultado dos testes de expressão das enzimas após protocolo de
purificação foi constatado que a melhor cepa de bactéria para a expressão da maioria das
enzimas foi a E. coli Lemo21(DE3) em meio de cultura Power BrothTM com expressão
induzida por IPTG, portanto, este sistema foi utilizado para a expressão das enzimas em larga
escala. Somente para a enzima HGPRT3 foi utilizada a cepa E. coli B834(DE3). Na Figura 9
pode-se observar o resultado do teste de expressão em SDS-PAGE da primeira rodada de
construções (juntamente com o teste de expressão de outras enzimas do projeto mais
abrangente ao qual este faz parte).
Figura 9 - Análise da expressão-teste das enzimas em E.coli Lemo21(DE3) no meio de cultura Power BrothTM
em gel SDS-PAGE. Padrão de preso molecular. ADSS – pOPIN S3C, TRX, E, F e M (A1. B1, C1, D1
e E1 respectivamente). IMPDH – pOPIN S3C, TRX, E, F e M (F1, G1, H1, A2 e B2
respectivamente). ADSL - pOPIN S3C, TRX, E, F e M (C2, D2, E2, F2 e G2 respectivamente).
HGPRT short -pOPIN S3C, TRX, E, F (H2, A3, B3 e C3). HGPRT 148820 -pOPIN S3C, TRX, E, F
(D3, E3, F3 e G3). HGPRT 168500-pOPIN S3C, TRX, E, F (H3, A4, B4, C4). PNP2 - pOPIN S3C,
M eTRX (D4, E4 e F4). NDPK -pOPIN S3C, TRX, E e F (G4, H4, A5, B5). AK1 - pOPINF e S3C
(C5 e D5). GMPS- pOPIN S3C, TRX, E, F e M (H5, A6, B6, C6, D6). GK - pOPIN S3C, TRX, E e F
(E6, F6, G6 e H6).
Fonte: Elaborada pela autora.
A tabela 4 apresenta o resultado sumarizado da análise do padrão de expressão,
apresentado no gel, para todas as construções que foram realizadas. Para a análise dos testes
de expressão, adotando a seguinte simbologia: + corresponde a um rendimento de 0,1 a 1
mg/litro de cultura; ++ Rendimento de 1 a 5 mg/litro de cultura; +++ > 5 mg/litro de cultura, (
) usado para delimitar baixos limites. Ex. +(+) espera-se rendimento mais próximo de 1 do
que 5; MBP - Apenas a proteína de ligação de maltose foi expressa; SUMO - Apenas a
proteína Sumo foi expressa, TRX - Apenas a proteína Tiorredoxina foi expressa.
53
Tabela 4 - Resultado sumarizado dos testes de expressão das enzimas.
PCR199 Expressão
Poço Nome do Gene aa_N aa_C OPPF
N°. Vetor
Verificação do PCR
B_IPTG L_IPTG B_ONEX L_ONEX
A01 ADSS 2 433 11273 S3C
B01 ADSS 2 433 11274 TRX
C01 ADSS 2 433 11270 E
D01 ADSS 2 433 11271 F (+)
E01 ADSS 2 433 11272 M (+)
C02 ADSL 2 480 11283 S3C +(+) +++
D02 ADSL 2 480 11284 TRX +++
E02 ADSL 2 480 11280 E ++ +++
F02 ADSL 2 480 11281 F +(+) +++
G02 ADSL 2 480 11282 M ++ +(+) +(+) +
H02 HGPRT1 2 227 11287 S3C +++ + +(+)
A03 HGPRT1 2 227 11288 TRX (+) +
B03 HGPRT1 2 227 11285 E ++ +(+)
C03 HGPRT1 2 227 11286 F +++ +++ (+)
D03 HGPRT2 2 227 11291 S3C + (+) (+)?
E03 HGPRT2 2 227 11292 TRX + +
F03 HGPRT2 2 227 11289 E
G03 HGPRT2 2 227 11290 F
H03 HGPRT3 2 228 11295 S3C ++ (+) (+) +(+)
A04 HGPRT3 2 228 11296 TRX + (+)
B04 HGPRT3 2 228 11293 E +
C04 HGPRT3 2 228 11294 F (+)
C05 AK1 2 345 11304 F + ++
D05 AK1 2 345 11305 S3C +
Fonte: Elaborada pela autora
O resultado do teste de expressão foi satisfatório (++ ou +++) para as enzimas ADSL,
HGPRT1 e HGPRT3. As enzimas AK1 e HGPRT2 apresentaram baixa expressão (somente
+) e ADSS não apresentou expressão satisfatória.
Portanto, na segunda etapa foi realizado um novo teste de expressão utilizando a
construção de ADSS compreendendo os resíduos 21-433.
Na segunda rodada foi utilizada a linhagem de E. coli Lemo 21(DE3) em meio de
cultura Power BrothTM com indução por IPTG e o meio de cultura auto indutor ONEX. Como
pode ser observado na Figura 10 (juntamente com análise do teste de expressão de outras
enzimas do projeto) e na Tabela 5 com o sumário da expressão.
54
Figura 10 - Análise da expressão-teste em gel SDS-PAGE, do lado esquerdo, expressão em E.coli Lemo21(DE3)
e indução com IPTG; do lado direito, expressão em E.coli Lemo21 (DE3) em meio de auto indução
ONEX. Padrão de preso molecular. ADA – pOPINE, F, S3C, TRX, e M (C7, D7, E7, F7, G7).
NDPK short– pOPINE, F, S3C, TRX, e M (H7, A8, B8, C8, D8). NDPK large– pOPINE, F, S3C,
TRX, e M (E8, F8, G8, H8, A9). IMPDH short– pOPINE, F, S3C, TRX, e M (B9, C9, D9, E9, F9).
IMPDH large– pOPINE, F, S3C, TRX, e M (G9, H9, A10, B10, C10). ADSS– pOPINE, F, S3C,
TRX, e M (D10, E10, F10, G10, H10). Esta sequência se repete no teste de expressão utilizando o
meio de auto indução ONEX.
Fonte: Elaborada pela autora.
Tabela 5 - Resultado sumarizado do segundo teste de expressão da enzima ADSS.
Poço
Nome do gene aa_N aa_C Vetor OPPF No. Verificação
do PCR L21_IPTG L21_ONEX
D10 ADSS 21 433 E 13546
E10 ADSS 21 433 F 13547
F10 ADSS 21 433 S3C 13548
SUMO
G10 ADSS 21 433 TRX 13550
TRX
H10 ADSS 21 433 M 13549
MBP (+)? MBP
Fonte: Elaborada pela autora
Conforme observado na análise do gel e tabela não houve expressão solúvel para
ADSS.
Para a expressão em larga escala das enzimas ADSL, AK1, HGPRT1, HGPRT2 e
HGPRT3 foram escolhidas as construções destacadas em vermelho na tabela 4 apresentadas
na Tabela 6. O volume do meio de cultura foi ajustado de acordo com a efetividade
apresentada no teste de expressão.
Tabela 6 - Enzimas e suas respetivas construções, meio de cultura, método de indução e volume escolhidos para
expressão em larga escala.
Enzima Nº OPPF Cepa de E.coli Vetor Meio/Indução Volume
ADSL 11281 Lemo 21(DE3) F Power Broth+IPTG 1 L
HGPRT1 11286 Lemo 21(DE3) F Power Broth+IPTG 1 L
HGPRT2 11291 Lemo 21(DE3) S3C Power Broth+IPTG 4 L
HGPRT3 11295 B834(DE3) S3C Power Broth+IPTG 4 L
AK1 11304 Lemo 21(DE3) F Power Broth+IPTG 4 L
Fonte: Elaborada pela autora
55
Na expressão em larga escala ADSL, HGPRT1, HGPRT3 e AK1 foram expressas e
purificadas satisfatoriamente. Não sendo observada expressão para a enzima HGPRT2.
3.6 Expressão e purificação das proteínas em larga escala
Na expressão em larga escala, para o crescimento dos pré-inóculos foi utilizado o
glicerinado de bactérias previamente estocado em -80ºC. Foram crescidos 20 mL de pré-
inóculo para cada 1L de expressão, em meio Power BrothTM
. Os meios foram suplementados
com os antibióticos carbenicilina e clorafenicol, mantidos “overnight” sob agitação a 37ºC.
Posteriormente realizou-se os experimentos de expressão das enzimas em volumes que
variaram de 1 a 4L ajustados de acordo com o rendimento obtido nos testes. A expressão
aconteceu sempre sob agitação a 20ºC “overnight”.
Para a purificação as células foram centrifugadas e ressuspendidas em tampão de lise
(30 mL para cada 10 gramas de pellet) e imediatamente aplicadas no ÄktaXpress, um sistema
automatizado de purificação e análise de proteínas recombinantes em larga escala que realiza
a purificação baseado na técnica de cromatografia. A purificação foi feita primeiramente em
coluna de níquel (Tampão lavagem: 50 mM Tris, 500mM NaCl, 50mM imidazol e 0,2%
Tween com pH ajustado para 8,0 e Tampão de eluição: 50 mM Tris, 500mM NaCl, 200mM
imidazol e 0,2% Tween com pH ajustado para 8,0) e automaticamente aplicada em uma
coluna de gel filtração (coluna His-Gel Filtration S200). As frações foram coletadas para
posterior análise em gel SDS-PAGE.
Em seguida as proteínas foram concentradas em concentrador MWCO e submetidas à
clivagem com 0,5 mg/mL da protease 3C (Humanrhinovirus 3C protease – GE) para a
retirada da cauda de histidinas. Após a clivagem, as proteínas foram submetidas à uma
segunda purificação, que se deu manualmente em coluna His-Trap, a fração coletada foi
novamente aplicada em gel SDS-PAGE e analisada.
Analisados os resultados e determinado o protocolo de expressão e purificação das
enzimas, este foi reproduzido nas dependências do laboratório de Cristalografia no IFSC/USP
com algumas adaptações sem comprometer a qualidade da amostra obtida. No protocolo de
expressão, o antibiótico carbenicilina foi substituído por ampicilina em mesma concentração.
Para o procedimento de purificação os tampões foram modificados visando estabilizar as
enzimas purificadas, uma vez que estas precipitaram durante o processo de concentração com
os tampões originais utilizados no OPPF. Inicialmente as bactérias foram lisadas em tampão
de lise (50mM Tris, 500mM NaCl, 30mM imidazol, 5mM β-mercaptoetanol e 10% de
56
glicerol com pH ajustado para 7,4) através de sonicação e a purificação da enzima foi
realizada em um único passo utilizando coluna de afinidade de Cobalto Agarose (tampão
lavagem: 50 mM Tris, 500mM NaCl, 50mM imidazol, 5 mM β-mercaptoetanol e 10% de
glicerol com pH ajustado para 7,4 e Tampão de eluição: 50 mM Tris, 500mM NaCl, 200mM
imidazol, 5 mM β-mercaptoetanol e 10% de glicerol com pH ajustado para 7,4).
O resultado da análise de purificação de AK1 e HGPRT1 é possível ser observado na
Figura 11, HGPRT3 na Figura 12 e ADSL na Figura 13.
Figura 11 - Análise da purificação das enzimas AK1 e HGPRT1 em gel de poliacrilamida 15%. Poço 1:
Marcador de peso molecular. Poço 2 - 7. Enzima AK1 (42KDa). Poço 9 - 17: Enzima HGPRT1
(24 kDa).
Fonte: Elaborada pela autora.
Figura 12 - Análise da purificação da enzima HGPRT3 em gel de poliacrilamida 15%. Poço 1: Marcador de peso
molecular. Poço 6 - 18. Enzima HGPRT3 (24 kDa).
Fonte: Elaborada pela autora.
57
Figura 13 - Análise da purificação da enzima ADSL em gel de poliacrilamida 15%. Poço 1: Marcador de peso
molecular. Poço 2, 3 e 4: Lavado. Poço 5 - 8. Enzima ADSL (54.5 kDa).
Fonte: Elaborada pela autora.
Puras e concentradas as enzimas foram submetidas a ensaios de cristalização.
58
59
CAPÍTULO 4
4 ENSAIOS DE CRISTALIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS CRISTAIS
4.1 Ensaios de Cristalização
Os experimentos de cristalização e co-cristalização foram realizados em placas greiner
de 96 poços utilizando 100nL de solução de proteína por poço (9.6µL por placa) para o
screening de condições de cristalização utilizando o sistema Cartesian Microsys.
Para experimentos de co-cristalização foram selecionados ligantes naturais das
enzimas, bem como possíveis inibidores, como, por exemplo, análogos de ATP para a enzima
AK1. A proteína e os ligantes foram incubados em gelo por no mínimo 30 minutos. Foram
realizados os seguintes screenings para cada proteína, conforme apresentado na tabela 7.
Tabela 7 - Ligantes e kits de cristalização utilizados para testes de cristalização das enzimas.
Enzima Ligante (mM) Kits de Cristalização
ADSL Apo, AMP (5), Ácido Fumárico (2) Adenilsuccinato
(2)
Morpheus, JCSG+,
Index e Wizzard I e II
HGPRT 1
e 3
Apo, Hipoxantina (5), Guanina (5), PRPP (5), IMP
(5), GMP (5)
Morpheus, JCSG+ e
Index
AK1 Apo, Adenosina (5), AMP (5), ATP (2), AMP-
PNP*(2), ATPα5* (2), ApCpp*(2), AppCp*(2),
AppNHp*(2)
Morpheus e JCSG+
*análogos de ATP não hidrolisáveis Fonte: Elaborada pela autora
Os cristais resultantes destes ensaios podem ser observados na Tabela 8. Foram
obtidos cristais para as enzimas ADSL, AK1 e HGPRTs em diversas condições do kit de
cristalização Morpheus (70) que apresentou excelentes resultados com as enzimas testadas.
Centenas de cristais foram congelados para a coleta de dados no DLS.
60
Tabela 8 - Cristais obtidos para as enzimas do projeto.
Proteína Ensaio Kits de
Cristalização
Cristais obtidos
ADSL
AMP Morpheus
APO Morpheus
AK1
ADO Morpheus
APO Morpheus
ApCpp Morpheus
AppNHp Morpheus
continua
61
continuação
ATP Morpheus
ATPS Morpheus
HGPRT
GMP Morpheus
IMP Morpheus
Fonte: Elaborada pela autora
4.2 Coleta de dados e otimização dos cristais
A primeira coleta de dados foi realizada testando os cristais obtidos e congelados no
OPPF. Os cristais das HGPRTs e AK1 difrataram pobremente, sendo difícil obter um
conjunto abaixo de 3.2Å. No caso dos cristais de HGPRT, estes possuem ~30m em sua
maior dimensão o que tornou esta coleta de dados muito desafiadora, os cristais sofreram um
severo dano por radiação durante a coleta. Portanto, a utilização das linhas do DLS foi de
fundamental importância para a obtenção dos resultados aqui apresentados.
Cristais da ADSL foram testados, na sua grande maioria em forma de placas. Estas
placas difrataram pobremente, em torno de 6-7 angstroms de resolução. Um cristal em forma
de agulha obtida na condição E12 do kit de cristalização Morpheus (30mM de etileno glicóis,
120mM de Tris base/bicina pH8.5 12.5% de MPD, PEG1000 e P3350), crescido na presença
de 2mM de AMP difratou a 2,36Å de resolução.
62
Nas duas coletas posteriores, os cristais de ADSL e HGPRT1 obtidos no Brasil foram
congelados e enviados para a coleta de dados via FEDEX. Já os cristais de AK1 e HGPRT3
não foram reproduzidos nas instalações do nosso laboratório.
Na segunda coleta de dados, foram obtidos diversos conjuntos de HGPRT1 na região
de 3Ǻ de resolução, mas nenhum cristal com resolução adequada para resolução da estrutura.
Sendo assim, para a terceira coleta de dados, houve um grande esforço na tentativa de
otimizar os cristais visando a obtenção de uma estrutura com resolução mais alta em relação
às obtidas. A otimização dos cristais incluiu experimentos de (1) variação de concentração da
enzima incubada em diferentes temperaturas, (2) expressão e purificação de HGPRT com
selenometionina e (3) “screening” das condições de cristalização incubadas em diferentes
temperaturas.
4.2.1 Variação de concentração da enzima e temperatura
Foram testadas 3 diferentes concentrações de enzima: 2,5 mg/mL, 3 mg/ml e 5 mg/mL
incubadas em três temperaturas: 4ºC, 10ºC e 18ºC. Os experimentos foram realizados com a
enzima Apo e incubada com os ligantes: hipoxantina, guanina, PRPP, GMP e IMP, entretanto,
somente na presença do ligante IMP foi possível observar o crescimento dos cristais.
Figura 14 - Cristais de HGPRT1 à 2,5mg/mL de proteína incubada com IMP à 18ºC na condição A4 do kit
Morpheus.
Fonte: Elaborada pela autora.
63
4.2.2 Expressão e purificação de HGPRT com selenometionina
A enzima foi expressa em M9 meio mínimo suplementado com selenometionina
seguindo o seguinte protocolo:
Solução de sais M9 – 5x
Em 800 ml de água foi adicionado:
- 34,07gr Na2HPO4
- 15g KH2PO4
- 2,5g NaCl
- 5g NH4Cl
A solução foi agitada até completa dissolução dos sais e o pH ajustado para 7.4.
O volume foi completado para 1000ml com água destilada e a solução esterilizada em
autoclave.
M9 Meio Mínimo
Foram autoclavados 780 ml de água deionizada em 4 frascos utilizados para expressão
de proteínas. Após frios, foram adicionados em cada frasco:
- 200 ml da Solução de sais M9 – 5x
- 20 ml de glucose 20% (esterilizada através de filtragem)
- 2 ml de 1M MgSO4 (esterilizada através de filtragem)
- 100 μl de 1M CaCl2 (esterilizada através de filtragem)
Os meios de cultura foram suplementados com antibiótico ampicilina e clorafenicol.
Foram retirados 200 ml de cada frasco para a preparação dos pré-inóculos em frascos
previamente esterilizados em autoclave. Os 4 pré-inóculos cresceram sob agitação à 37ºC
“overnight”.
Após crescidos, os pré-inóculos foram inoculados nos frascos contendo meio mínimo,
estes permaneceram sob agitação de 150 rpm à 37ºC até que a densidade óptica (DO) fosse
igual ou superior a 0,6. Diferente do protocolo original, cuja DO era atingida após 4 horas de
crescimento celular, nesse caso levou-se 6 horas.
64
Nesse momento foi adicionado um mix de aminoácidos para inibir a síntese de
metionina e suplementar selenometionina.
Mix de aminoácidos:
- 100mg Lisina (K), Fenilalanina (F) e Treonina (T)
- 50mg Isoleucina (I), Leucina (L) e Valina (V)
- 60mg SelenoMetionina (SeMet)
Por litro.
Os meios permaneceram sob agitação por 15 minutos para homogeneização dos
aminoácidos. Posteriormente, a temperatura do agitador foi ajustada para 20ºC e a expressão
induzida com 1mM de IPTG. Esta seguiu o protocolo original cuja enzima é expressa
“overnight”.
O protocolo de purificação também foi mantido conforme o original, utilizando coluna
de Cobalto Agarose para purificação por afinidade.
O resultado da purificação foi analisado em gel de poliacrilamida 15%, conforme
Figura 15.
Figura 15 - Análise da purificação da enzima HGPRT1SeMet em gel de poliacrilamida 15%. Poço 1: Marcador
de peso molecular. Poço 2. Expressão da enzima. Poço 3: Eluato. Poço 4: Lavado. Poço 5 e 6:
Eluição da enzima (24kDa).
Fonte: Elaborada pela autora.
65
4.3 “Screening” das condições de cristalização em diferentes temperaturas
A HGPRT1SeMet e HGPRT1 nativa puras foram submetidas à testes de cristalização
utilizando o kit a qual a enzima nativa cristaliza, o kit de cristalização Morpheus.
Identificadas as melhores condições de cristalização da enzima (Tabela 9), estas tiveram o
valor de pH e concentração de precipitantes variados, visando melhorar os cristais da enzima
que são bastante pequenos (~30μm na sua maior dimensão) portanto de difícil manuseio e
difração.
Tabela 9 - Condições de cristalização do kit Morpheus utilizadas para “screening”
Poço Mix de precipitantes Mix de aditivos Tampão
A1 10% PEG 20.000, 20% PEG MME
550
0,03M cátions
divalentes
0,1M MES/imidazol
pH 6,5
A4 12.5% PEG 1000, 12.5% PEG 3350,
12.5% MPD
0,03M cátions
divalentes
0,1M MES/imidazol
pH 6,5
A5 10% PEG 20.000, 20% PEG MME
550
0,03M cátions
divalentes
0,1M MOPS/HEPES
pH 7,5
A8 12.5% PEG 1000, 12.5% PEG 3350,
12.5% MPD
0,03M cátions
divalentes
0,1M MOPS/HEPES
pH 7,5
A9 10% PEG 20.000, 20% PEG MME
550
0,03M cátions
divalentes
0,1M Bis/Tris base
pH 8,5
A12 12.5% PEG 1000, 12.5% PEG 3350,
12.5% MPD
0,03M cátions
divalentes
0,1M Bis/Tris base
pH 8,5 Fonte: Elaborada pela autora
Para as otimizações foram utilizados 4 blocos de soluções contendo 96 poços cada.
Cada bloco de soluções foi utilizado para teste de cristalização através de gotas sentadas
também em placas de 96 poços utilizando robô de cristalização.
Dois blocos foram utilizados para o grupo de precipitantes 10% PEG 20.000 e 20%
PEG MME 550, cuja variação foi:
- PEG MME 550: 20%, 18%, 16% e 14%,
- PEG 20.000: 10%, 8%, 6% e 4%.
- MES/imidazol: pH 6.3, 6.5, 6.7 e 6.9,
- MOPS/HEPES: pH 7.3, 7.5, 7.7 e 7.9,
- Bis/Tris base: pH 8.3, 8.5, 8.7 e 8.9
66
As combinações foram as seguintes:
- Bloco 1:
Colunas (1 – 12): Variação de tampão e pH
Linhas (A – H): Concentração de precipitante (%)
1
6.3
2
6.5
3
6.7
4
6.9
5
7.3
6
7.5
7
7.7
8
7.9
9
8.3
10
8.5
11
8.7
12
8.9
A 20 x 10
B 20 x 8
C 20 x 6
D 20 x 4
E 18 x 10
F 18 x 8
G 18 x 6
H 18 x 4
- Bloco 2:
Colunas (1 – 12): Variação de tampão e pH
Linhas (A – H): Concentração de precipitante (%)
1
6.3
2
6.5
3
6.7
4
6.9
5
7.3
6
7.5
7
7.7
8
7.9
9
8.3
10
8.5
11
8.7
12
8.9
A 16 x 10
B 16 x 8
C 16 x 6
D 16 x 4
E 14 x 10
F 14 x 8
G 14 x 6
H 14 x 4
67
Os outros 2 blocos foram utilizados para o grupo de precipitantes: 12.5% PEG 1000,
12.5% PEG 3350 e 12.5% MPD. A variação do pH foi a mesma dos blocos anteriores e a dos
precipitantes:
- PEG 1000: 12.5%, 10% e 7.5%,
- PEG 3350: 12,5% ,10% e 7,5%,
- MPD: 12,5%, 10% e 7,5%.
- Bloco 3:
Colunas (1 – 12): Variação de tampão e pH
Linhas (A – H): Concentração de precipitante (%)
1
6.3
2
6.5
3
6.7
4
6.9
5
7.3
6
7.5
7
7.7
8
7.9
9
8.3
10
8.5
11
8.7
12
8.9
A 12.5 x 12.5 x 12.5
B 12.5 x 12.5 x 10
C 12.5 x 10 x 12.5
D 10 x 12.5 x 12.5
E 10 x 10 x 10
F 10 x 10 x 12.5
G 10 x 12.5 x 10
H 12.5 x 10 x 10
- Bloco 4:
Colunas (1 – 12): Variação de tampão e pH
Linhas (A – H): Concentração de precipitante (%)
1
6.3
2
6.5
3
6.7
4
6.9
5
7.3
6
7.5
7
7.7
8
7.9
9
8.3
10
8.5
11
8.7
12
8.9
A 12.5 x 12.5 x 12.5
B 12.5 x 12.5 x 7.5
C 12.5 x 7.5 x 12.5
D 7.5 x 12.5 x 12.5
E 7.5 x 7.5 x 7.5
68
F 7.5 x 7.5 x 12.5
G 7.5 x 12.5 x 7.5
H 12.5 x 7.5 x 7.5
Os cristais, ainda muito pequenos, aparecem em cerca de 3 dias (Figura 16).
Figura 16 - Cristais de HGPRT1 com selenometionina na condição de cristalização B3 do Bloco 1.
Fonte: Elaborada pela autora.
Após vários experimentos de otimização dos cristais, a análise das gotas revelou que
estes ainda possuíam ~30μm na sua maior dimensão. Sendo assim, entre 150 e 200 cristais de
HGPRT1 foram testados e na terceira coleta de dados foi possível obter uma estrutura inédita
de HGPRT1 abaixo de 3Ǻ, esta contém 2,5mg/mL de proteína incubada a 18ºC na condição
A4 do kit Morpheus.
Nessa mesma coleta de dados foi possível obter outra estrutura de ADSL na forma
Apo com resolução de 2,14Ǻ.
De todos os cristais testados nas três coletas de dados, foram obtidos 30 conjuntos de
dados de HGPRT1 entre 5.24Ǻ e 2.8Ǻ; 4 conjuntos de dados de AK1 (provenientes somente
da primeira coleta de dados, uma vez que os cristais obtidos nas instalações do OPPF ainda
não foram reproduzidos) entre 4.49Ǻ e 3.44Ǻ; 12 conjuntos de dados de ADSL entre 3.64Ǻ e
2.14Ǻ.
69
CAPÍTULO 5
5 ESTRUTURA CRISTALOGRÁFICA E CINÉTICA ENZIMÁTICA DE
ADSL de Schistosoma mansoni
5.1 Coleta de dados, processamento, resolução e refinamento de dados de difração de
raios-X
Foram obtidos dois conjuntos de dados de ADSL, o primeiro complexo binário
ADSL-AMP à 2.36Å de resolução coletado na linha de luz I02 no DLS crescido na condição
E12 do kit de cristalização Morpheus (30mM de etilenos glicóis, 120mM de Tris base/bicina
pH8.5, 12.5% de MPD, PEG1000 e PEG3350). O segundo conjunto de dados coletado na
linha I04-01, ADSL na forma Apo à 2.14Å de resolução crescido na condição F2 (0,12M de
monossacarídeos, 0,1M de MES/imidazol pH6.5, 30% de etileno glicol e PEG8000).
Figura 17 - Cristal de ADSL da condição E12 do kit de cristalização Morpheus (30mM de etilenos glicóis,
120mM de Tris base/bicina pH8.5, 12.5% de MPD, PEG1000 e PEG3350).
Fonte: Elaborada pela autora.
Os parâmetros da coleta de dados e refinamento das duas estruturas podem ser
visualizados na Tabela 10.
70
Tabela 10 - Estatísticas da coleta de dados e refinamento para os cristais de ADSL.
Coleta de Dados ADSL - AMP ADSL - APO
Grupo Espacial I222 P21212
Dimensão da célula (Å) a, b, c. 70.50, 73.06, 180.35 76.16, 82.63, 163.78
Ângulos da célula (º) α = β = γ = 90 α = β = γ = 90
Detector PILATUS 6M PILATUS 2M
Fonte de Raio-X DLS I02 DLS I04-1
Comprimento de onda (Å) 0.9795 0.9200
Resolução (Å) 35.23 - 2.36 (2.49 - 2.36)* 58.16 - 2.14 (2.20 - 2.14)*
Redundância 5.4 (5.6)* 7.2 (7.1)*
Rpim (%)** 6.2 (29.7)* 5.2 (29.8)*
CC (1/2) 0.987 (0.730)* 0.996 (0.701)*
Completeza (%) 99.8 (98.2)* 99.8 (99.9)*
Reflexões totais 105164 (15589)* 414384 (29958)*
Reflexões únicas 19416 (2774)* 57766 (4219)*
I / σ(I) 8.5 (2.6)* 10.4 (2.6)*
Parâmetros Refinamento
Reflexões usadas refinamento 19399 57730
R (%)*** 19.16 22.24
RFree(%)*** 23.12 25.57
No. átomos proteína 3735 6871
No. átomos ligante 23 -
Erro coordenada (ML baseado) (Å) 0.27 0.28
Erro de fase (o) 23.58 24.85
Clashscore 5.83 5.24
RMSD da geometria ideal****
r.m.s. distância ligações (Å) 0.002 0.002
r.m.s. ângulos de ligação (°) 0.544 0.493
PDB ID 5EYT 5EYV
Fonte: Elaborada pela autora
*Valores entre parênteses referem-se aos valores da mais alta resolução.
**Rpim = ∑hkl[1/(N(hkl) - 1)]1/2 ∑i|Ii (hkl) – (I(hkl))|/∑hkl∑iIi (hkl)
***R = ∑ ||Fo| - |Fc|| / ∑ |Fo| onde |Fc| é a amplitude do fator de estrutura calculado do modelo e |Fo| é a amplitude do fator de estrutura
obervado do modelo. Rfree é calculado com base em 5% do conjunto de reflexões que não é utilizado durante o refinamento (71).
****RMSD "root mean square deviation", desvio quadrático médio do conjunto de parâmetros de estereoquímica ideal (72).
71
A primeira estrutura foi resolvida por substituição molecular utilizando o programa
Phaser (73) tendo ADSL humana em complexo com AMP (PDB 2J91) como modelo de
busca, a identidade sequencial entre a ADSL humana e de S. mansoni é de 57%. Conforme
observado na tabela, o cristal pertence ao grupo espacial I222 e possui apenas uma molécula
por unidade assimétrica.
Após a resolução da estrutura, o modelo resultante foi submetido a um ciclo
automático de construção do modelo utilizando o programa wARP/ARP (74). Após o ciclo
automático de refinamento vários ciclos de construção manual do modelo e refinamento
foram realizados utilizando o programa Coot (75) e Phenix. (76)
Analisando os mapas de densidade eletrônica da primeira estrutura coletada, nota-se a
presença de ligante na região do sítio ativo da molécula de ADSL presente na unidade
assimétrica, este foi identificado como sendo uma molécula de AMP (Figura 18).
72
Figura 18 - Mapa de densidade eletrônica (Fo-Fc) para o AMP no sítio ativo da ASDL de S.mansoni. O sítio
ativo é formado pela participação de três das quatro subunidades da enzima.
Fonte: Elaborada pela autora.
O AMP foi adicionado manualmente e as águas com o auxílio do programa Phenix.
A estrutura da forma APO também foi resolvida pelo mesmo processo de substituição
molecular e teve como modelo de busca a estrutura da ADSL com AMP previamente
refinada. A estrutura da ADSL APO possui dois monômeros na unidade assimétrica do grupo
espacial P21212.
5.2 Validação das estruturas
Os modelos tridimensionais de ADSL obtidos após o completo refinamento foram
73
validados de três formas: primeiro avaliando-se o valor do Rwork e Rfree obtidos ao final do
refinamento, que correspondem a Rwork = 0.1916 e Rfree = 0.2312 para ADSL-AMP e a Rwork =
0.2224 e Rfree = 0.2557 para ADSL Apo. Valores considerados coerentes e adequados em
relação ao valor da resolução obtida (77).
A segunda, foi a avaliação da geometria da proteína através do programa
MOLPROBITY (78). O resultado pode ser visualizado na tabela 11.
Tabela 11 - Análise da geometria de ADSL gerada pelo programa MOLPROBITY. (78)
Parâmetro analisado ADSL-AMP ADSL-Apo Parâmetros
referenciais (ideal)
Rotâmeros ruins 2.46% 2.46% <0.3%
Desvio Cβ >0.25Å 0 0 0
Resíduos com ligações
ruins
0% 0% 0%
Resíduos com ângulos
ruins
0% 0.02% <0.1%
Fonte: Elaborada pela autora
Apesar da estrutura de ADSL Apo apresentar uma resolução melhor que o complexo
ADSL-AMP, o refinamento manual exigiu maior empenho devido a falta de densidade
eletrônica clara em diversas regiões. Ambas estruturas apresentam o número de “rotâmeros
ruins” acima do padrão de referência considerado ideal. ADSL-Apo apresentou uma
porcentagem de resíduos com “ângulos ruins” maior que ADSL-AMP. Entretanto, esta,
apesar de não ideal em alguns parâmetros analisados, é a melhor geometria alcançada após o
refinamento das estruturas. Estando em um padrão aceitável.
A terceira forma de validação utilizada foi a avaliação dos ângulos diédricos Φ (phi)
versus Ψ (psi) dos aminoácidos da estrutura no diagrama de Ramachandran gerado pelo
programa Procheck. (79) O resultado do gráfico de Ramachandran gerado pode ser
visualizado na Figura 19 para a estrutura de ADSL-AMP e Figura 20 para a estrutura de
ADSL-Apo.
74
Figura 19 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a estrutura ADSL-AMP. A
região representada em vermelho corresponde à região mais favorável para os valores dos ângulos, a
região amarelo escuro é a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por triângulos.
Fonte: Elaborada pela autora
Na estrutura de ADSL-AMP é possível observar que os resíduos em regiões mais
favoráveis (vermelho) correspondem a 92.8%, adicionalmente permitida (amarelo escuro) a
6.9%, generosamente permitida (amarelo claro) a 0,2% não permitida a 0%.
75
Figura 20 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a estrutura ADSL-Apo. A
região representada em vermelho corresponde à região mais favorável para os valores dos ângulos, a
região amarelo escuro é a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por triângulos.
Fonte: Elaborada pela autora
Na estrutura de ADSL-Apo os resíduos em regiões mais favoráveis (vermelho)
correspondem a 91%, adicionalmente permitida (amarelo escuro) a 8.5%, generosamente
permitida (amarelo claro) 0.5% e não permitida a 0%.
Baseado na análise de 118 estruturas com resolução em torno de 2Å e R-factor
próximo de 20%, é de esperar que um modelo de boa qualidade tenha mais de 90% de
resíduos nas regiões mais favorecidas. (79)
A partir dos métodos utilizados para a validação do modelo podemos considerá-los
confiáveis para a análise da estrutura tridimensional da enzima ADSL de Schistosoma
mansoni.
76
5.3 Análise das estruturas tridimensionais obtidas de ADSL de Schistosoma mansoni
5.3.1 Estrutura secundária, topologia e regiões conservadas
A subunidade de ADSL é quase completamente composta por α-hélices. Pode ser
dividida em três domínios (Figura 21) que se combinam para formar uma estrutura alongada.
Os domínios I e III são encontrados nas extremidades do feixe helicoidal longo formado pelo
domínio II. O domínio I ou N-terminal compreende os resíduos de 1 – 101, o qual é formado
por 7 hélices (α1 – α7).
O domínio II ou central, consistindo dos resíduos 102 – 358 que formam um feixe
helicoidal alongado montado por α8 até α15, bem como uma curta folha beta formada por 2
fitas antiparalelas (β1 , β2) posicionadas entre α8 e α9. O domínio III ou C-terminal
compreende 9 hélices (α16 – α 25) construídas dos resíduos 359 – 480.
Figura 21 - Estrutura de ADSL de S. mansoni (monômero) é composta por 3 domínios: domínio I (vermelho),
domínio II (azul) e domínio III (amarelo).
Fonte: Elaborada pela autora.
Domínio III
C-terminal
Domínio II
Central
Domínio I
N-terminal
AMP
77
A estrutura secundária em função da sequencia de aminoácidos da ADSL em
complexo com AMP e a topologia da estrutura podem ser visualizadas nas Figuras 22 e 23.
Figura 22 - Estrutura secundária de SmADSL em complexo com AMP em função da sequência de aminoácidos.
As fitas β são representadas por setas rosas, as α-hélices por espirais roxas com a respectiva
numeração em cima (H1, H2...H25), as 2 folhas β são classificadas como A e B, sendo essas letras
colocadas acima das fitas identificando a qual folha pertencem. Os símbolos: β - beta turn, γ -
gamma turn e - beta hairpin.
Fonte: Elaborada pela autora.
78
A análise de estrutura secundária de ADSL-AMP gerada pelo programa PROMOTIF
mostrou que 17 resíduos de aminoácidos (3,6%) estão em fitas β, 289 (61,2%) em α-hélices,
18 (3,8%) em hélices 3-10, 148 (31,4%) em outros, totalizando 472 aminoácidos. A estrutura
possui: 2 folhas β antiparalelas, 2 beta hairpins, 1 beta bulge, 4 fitas β, 25 α-hélices, 44
interações hélice-hélice, 25 β-turns e 4 gama-turns.
Figura 23 - Topologia de ADSL-AMP. As fitas β são representadas por setas rosa, as α-hélices em tubos
vermelhos e os loops em azul. O N-terminal é indicado pela letra N e o C-terminal pela letra C.
Fonte: Elaborada pela autora.
A análise de estrutura secundária de ADSL-Apo gerada pelo programa PROMOTIF
79
mostrou que 17 resíduos de aminoácidos (3,6%) estão em fitas β, 296 (63,5%) em α-hélices,
17 (3,6%) em hélices 3-10, 136 (29,2%) em outros, totalizando 466 aminoácidos. A estrutura
possui: 2 folhas β antiparalelas, 2 beta hairpins, 1 beta bulge, 4 fitas β, 26 α-hélices, 62
interações hélice-hélice, 23 β-turns e 7 gama-turns.
O alinhamento da sequência de aminoácidos de ADSL de Schistosoma mansoni com a
correspondente humana pode ser visualizado na Figura 24.
80
Figura 24 - Alinhamento de ADSL humana e de Schistosoma mansoni. A primeira linha corresponde à estrutura
secundária formada, a segunda linha a sequência de aminoácidos de ADSL de S. mansoni e a
terceira linha de ADSL humana. Os resíduos brancos grifados em vermelho são conservados nas
duas estruturas, os em vermelho grifados em branco são os resíduos não conservados, porém
similares.
Fonte: Elaborada pela autora.
81
O alinhamento da sequência de aminoácidos de ADSL com sua correspondente
humana revelou longas regiões extremamente conservadas entre ambas. Na região dos
resíduos 281 – 293 é possível observar que a sequência assinatura Q*GSS*MP*K*NP
comum a todos os membros da superfamília de β-eliminação (64) é exatamente igual na
ADSL de S. mansoni e humana. As regiões conservadas podem ser observadas na estrutura
apresentada Figura 25. Em A. essas regiões estão destacadas em vermelho, em B é possível
observar os 261 resíduos idênticos entre ambas destacados em pink.
Figura 25 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de aminoácidos de ADSL de S.
mansoni e ADSL humana. A. Regiões conservadas destacadas em vermelho. B. Resíduos idênticos
entre ambas destacados em pink.
Fonte: Elaborada pela autora.
Já a análise do alinhamento da sequência de aminoácidos com todas as outras enzimas
depositadas no PDB revelou similaridade nos domínios I e II com outras espécies. Na Figura
26 é possível observar a análise dos resíduos conservados e idênticos entre ADSL de S.
mansoni (SmADSL) com todas as ADSLs depositadas no PDB. O degrade de vermelho a
branco, passando por tons de rosa indica o grau de conservação dessas regiões, sendo
vermelho mais conservado e branco não conservado. Destacados em pink estão os 5
aminoácidos que são idênticos em todas as ADSLs analisadas: Ala157, Gly198, Pro288,
Lys290 e Asn292.
A B
82
Figura 26 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de aminoácidos de ADSL de S.
mansoni com todas as ADSLs depositadas no PDB. Regiões conservadas destacadas em degradê de
vermelho a branco, da mais conservada a não conservada respectivamente. Resíduos idênticos entre
as estruturas destacados em pink.
Fonte: Elaborada pela autora.
5.3.2 Enovelamento
Atualmente (além das estruturas de S. mansoni aqui descritas) existem 23 estruturas de
ADSLs depositadas no banco de dados PDB que correspondem a 15 organismos diferentes:
Thermotoga maritima (2) (64), Pyrobaculum aerophilum (1) (81), Bacillus subtilis (1) (81),
Caenorhabditis elegans (1), Plasmodium Vivax (2) (82), Humano (4) (83), Bacillus anthracis
(1), Escherichia coli (4) (84), Legionella pneumophila (1), Staphylococcus aureus (1) (85),
Francisella tularensis (1), Trypanosoma Brucei (1), Mycobacterium smegmatis (1) (86),
Leishmania donovani (1), Salmonella typhimurium. (1)
Experimentos de “Dynamic light scattering” (DLS) indicaram que em amostras
frescas de ADSL concentradas a 1 mg/mL existem 2 espécies em solução, sendo de
aproximadamente 8% dímeros e 92% tetrâmeros. Em amostras congeladas há uma semana
essa relação era de 15% dímeros e 85% tetrâmeros na mesma concentração.
83
Alterações no estado multimérico entre dímeros e tetrâmeros de ADSLs foram
previamente reportadas. A enzima de Bacillus subtilis é descrita como dimérica em sua
maioria quando a concentração da proteína é baixa (0.1 mg/ml). No entanto, quando a
concentração de proteína aumenta, as espécies tetraméricas tornam-se o mais abundantes. (87)
O dímero de ADSL pode ser visualizado na Figura 27 e o tetrâmero na Figura 28.
Figura 27 - Estrutura dimérica de SmADSL em complexo com AMP (preto) (subunidade A: verde, subunidade
B: vermelho).
Fonte: Elaborada pela autora.
84
Figura 28 - Estrutura tetramérica de SmADSL em complexo com AMP (preto) (subunidade A: verde, B:
vermelho, C: amarelo, D: azul).
Fonte: Elaborada pela autora.
AMP
Vista Superior
Vista Frontal
85
É observado que estruturas cristalográficas de ortólogos também revelaram a formação
de tetrâmeros. Esta é descrita como a estrutura funcional da enzima, uma vez que o tetrâmero
contém 4 sítios ativos e cada um deles é formado por regiões de 3 diferentes subunidades.
(82,85-86)
Sobrepondo as estruturas ADSL em complexo com AMP (vermelho) contra a ADSL
APO (azul) obtêm-se o valor de RMSd de 1.3Å (quando sobreposto os monômeros A) e de
0.28Å (quando sobreposto o monômero B) (Figura 29). A diferença mais significativa é
observada no domino III, que possui orientação diferente em A e é parcialmente desordenado
em B.
Figura 29 - Sobreposição do monômero da ADSL-AMP (vermelho) com os monômeros da ADSL-APO (azul).
A maior diferença é observado no domino III, que possui orientação diferente em A e é parcialmente
desordenado em B.
Fonte: Elaborada pela autora.
Quando sobrepostos os tetrâmeros de ADSL-AMP e ADSL-APO o RMSd foi de
1.14Å (Figura 30).
A B
86
Figura 30 - Sobreposição dos tetrâmeros da S. mansoni em complexo com AMP (vermelho) e APO (azul) o
RMSd é de 1.14Å.
Fonte: Elaborada pela autora.
Sobrepondo a estrutura de SmADSL com a estrutura da ADSL humana (Figura 31) é
possível observar que seu enovelamento é bastante similar, apresentando somente uma
diferença na orientação do domínio III entre as duas estruturas. É reportado que a estrutura do
core, referente ao domínio II da enzima é altamente conservado entre os membros da
superfamília de β-eliminação, enquanto os domínios I e III podem mudar significativamente.
(64)
87
Figura 31 - Sobreposição das estruturas de ADSL de S.mansoni (monômero) em vermelho e ADSL humana em
amarelo. AMP em preto. RMSd = 0,589Å.
Fonte: Elaborada pela autora.
Quando comparados os tetrâmeros da SmADSL com a ADSL humana em complexo
com AMP o RMSd é de 1.43Å para o complexo com AMP e de 1.46Å para a estrutura APO.
(Figura 32).
Domínio III
88
Figura 32 - Sobreposição das ADSL de S. mansoni (ADSL-AMP vermelho), (APO- azul) contra a ADSL
humana em complexo com AMP (amarelo).
Fonte: Elaborada pela autora.
5.3.3 O sítio ativo
Conforme descrito anteriormente, o sítio ativo da ADSL, assim como das outras
ADSLs depositadas no banco de dados, é formado por resíduos provenientes de três das
quatro subunidades que compõe a estrutura catalítica da enzima (Figura 33).
89
Figura 33 - Participação de três das quatro subunidades da enzima SmADSL em complexo com AMP na
formação do sítio ativo.
Fonte: Elaborada pela autora.
Na estrutura de SmADSL em complexo com AMP, o fosfato do AMP faz ligação de
hidrogênio com Arg14C, Tyr15C, Arg298C, Ser329A, Arg333A e uma molécula de água.
90
O O2 da ribose faz ligação de hidrogênio com o grupo carbonila da Arg79A e O3 faz
ligação de hidrogênio com o grupo carbonila da Arg79A, com o grupo amina da Asp81A e
uma molécula de água.
O N1 da adenina faz ligação de hidrogênio com Ser106A e uma molécula de água. N6
da adenina com Gln236A.
Figura 34 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) do ligante AMP no sítio ativo de SmADSL.
Fonte: Elaborada pela autora.
Um modelo esquemático da ligação do AMP no sitio ativo da SmADSL foi gerado
através do programa Ligplot + pode ser visualizado na Figura 35.
91
Figura 35 - Modelo esquemático para a ligação da AMP no sítio ativo da ADSL de S. mansoni.
Fonte: Elaborada pela autora.
O maior número de ligações de hidrogênio ocorre entre a ASDL e o grupo fosfato do
AMP.
A sequência de aminoácidos de 281 à 293 na SmADSL correspondente à região
conservada considerada a assinatura das enzimas da superfamília de β-eliminação, é uma
região de loop que circunda o sítio ativo.
92
Na estrutura SmADSL em complexo com AMP, esta região é uma região difusa, não
sendo observada densidade eletrônica clara para os resíduos 281QIGSSA286. Somente são
observados os resíduos 287MPYKRNP293 (Figura 36). Nesse loop encontram-se três, dos
cinco resíduos (Pro288, Lys290 e Asn292) invariáveis encontrados em todas as ADSLs
depositadas no PDB.
Figura 36 - Loop correspondente a sequência de aminoácidos de 281 à 293 na SmADSL-AMP correspondente à
região conservada considerada a assinatura das enzimas da superfamília de β-eliminação na região
do sítio ativo.
Fonte: Elaborada pela autora.
O resíduo Lys80 está representado na Figura como referência para ligação da
sequência da cadeia cuja densidade eletrônica não foi possível observar.
Fyfe e colaboradores (85) descrevem essa região da estrutura de ADSL de
Staphylococcus aureus como uma parte do sítio ativo formada por um loop móvel, uma vez
que a densidade eletrônica nessa região também se apresentou de forma difusa. Corroborando
com esses dados na ADSL de E.coli (EcADSL) esse loop é desordenado na estrutura Apo,
mas a presença de um ligante induz a reorganização parcial do loop para perto do sítio de
ligação. (84)
Assim como em EcADSL, na estrutura SmADSL Apo esta região é ainda mais difusa,
onde são observados somente os resíduos Lys290, Arg291, Asn292 e Pro293 (Figura 37).
Sugerindo que a presença do ligante gere certa estabilidade ao local.
93
Figura 37 - Loop correspondente a sequência de aminoácidos de 281 à 293 na SmADSL-Apo correspondente à
região conservada considerada a assinatura das enzimas da superfamília de β-eliminação na região
do sítio ativo.
Fonte: Elaborada pela autora.
É possível observar através da sobreposição dos loops (Figura 38), que conformação
da cadeia lateral do resíduo Arg291 difere entre ambos. Na estrutura em complexo com AMP,
Arg291 aponta para baixo e para fora do sítio ativo enquanto que na estrutura Apo a cadeia
lateral aponta para dentro do sítio ativo. A continuação do loop pela ligação da Lys290 mostra
que na ADSL-AMP, o loop se afasta mais do sítio ativo em relação à ADSL-Apo. Essa
diferença sugere que existe uma adaptação do loop ao volume do ligante presente no sítio
ativo.
94
Figura 38 - Sobreposição dos loops de ADSL-AMP (amarelo) e ADSL-Apo (verde) onde a conformação da
Arg291 e Lys290 difere entre ambos.
Fonte: Elaborada pela autora.
Através da comparação dos sítios ativos das estruturas da SmADSL e da ADSL
humana (Figura 39), é possível observar que estrutura de ligação de AMP no sítio ativo de S.
mansoni é bastante similar ao complexo de ADSL humana com AMP. Um alto grau de
conservação ao redor do sítio de ligação e ativo é observado em todas ADSLs, sugerindo que
o mecanismo enzimático é estritamente conservado.
O sítio de ligação ao AMP é totalmente conservado entre as ADSLs humana e de S.
mansoni. A conformação das cadeias laterais é bastante similar entre os complexos com
AMP, entretanto quando comparamos os complexos com AMP com a estrutura APO se
observa diferentes conformações para a cadeia lateral especialmente para os resíduos Arg79 e
His80.
95
Figura 39 - Sobreposição dos sítios de ligação ao AMP nas ADSLs de S mansoni (Branco-AMP e amarelo-APO)
e humana (magenta).
Fonte: Elaborada pela autora.
Além dos resíduos que fazem ligação de hidrogênio com a molécula de AMP, os
resíduos conservados da região do loop, outros resíduos que merecem atenção na descrição do
sítio ativo são os resíduos catalíticos.
A identificação da base catalítica de ADSLs tem sido um extenso debate. (81,84-
86,88) Os resíduos catalíticos seguem uma reação ácido-base geral, envolvendo dois grupos
separados para função de ácido e base catalíticos. (88)
5.3.4 Mecanismo catalítico
ADSL catalisa a clivagem de adenilsuccinato (ADS) através de um mecanismo ácido-
base geral envolvendo a β-eliminação de fumarato.
96
Figura 40 - ADSL catalisa a clivagem de adenilsuccinato (ADS) em AMP e Fumarato.
Fonte: FYFE et al. (85)
A base catalítica está envolvida na abstração de um próton (Figura 41, passo 1),
seguido da protonação do ácido catalítico (Figura 41 , passo 3).
A reação tem início com a abstração do próton do Cβ do substrato pela base geral,
resultando na formação de um carbânion intermediário. O intermediário é estabilizado por
formas de ressonância do acil-carboxilato, que transporta duas cargas negativas no seu grupo
δ-carboxílico (Figura 41, passo 2). Subseqüente doação de prótons pelo ácido catalítico para o
átomo N1 ou N6 do substrato resulta na clivagem da ligação de Cα-N (Figura 41, passo 4) e
liberação do produto (Figura 41, passo 5). A reação prossegue através de um mecanismo de
uni-bi com fumarato deixando o sítio ativo antes do AMP. (84)
Adenilosuccinato
ADSL
AMP Fumarato
97
Figura 41 - Esquema geral mostrando a clivagem de adesnilosuccinato (SAMP) pela enzima ADSL. Os 5 passos
envolvidos são: (1) Abstração de um próton pela base catalítica (B) do átomo CB do grupo
succínico; (2) estabilização do carbânion intermediário formado; (3) protonação de N1 ou N6 da
porção do AMP pelo ácido catalítico; (4) clivagem da ligação de Cα-N entre AMP e o grupo
succínico; e (5) liberação dos produtos AMP e fumarato.
Fonte: TSAI et al. (84)
A estereoquímica trans da reação sugere que dois grupos separados participam das
etapas de abstração e doação de prótons. (89) Conforme descrito anteriormente, ainda não
existe consenso de quais são os resíduos que atuam como ácido e base catalíticos no sítio
ativo de ADSLs.
Nos primeiros estudos realizados em 1999 (90), ensaios de atividade envolvendo a
enzima ADSL de B. subtilis sugeriram que os resíduos His68 e His141 são respectivamente
ácido e base geral nessa reação (His80 e His153 em SmADSL). Foulk e colaboradores no
estudo da estrutura do gene da enzima sugeriram que estes mesmos resíduos deveriam ser
também os resíduos catalíticos em SmADSL devido a conservação exata em sua sequência.
(37)
1. Abstração do próton 2. Estabilização do carbânion
intermediário por ressonância
3. Protonação dos átomos N1 ou N6
4. Clivagem ligação Cα-N
4. Liberação do produto
98
Posteriormente, estudos estruturais de ADSL de T. marítima complementaram esses
dados bioquímicos, permitindo a construção manual de um modelo para o substrato ligado,
evidenciando a participação de His68 e His141 na catálise e dos resíduos Gln212, Asn270 e
Glu275 na orientação do substrato. (81)
Mais tarde em 2007 (84), foi proposto que o resíduo His153 ou uma molécula de água
funcionariam como ácido e Ser284 como base (resíduos correspondentes em SmADSL). Estes
estudos propuseram que uma vez que a serina conservada está posicionada no loop móvel
perto do sítio ativo, esta pode abstrair o próton do substrato, ajudando a criar o carbânion
intermediário. A histidina seria o doador de próton de N6 para suportar a quebra da ligação C-
N. A colocação da adenina no sítio ativo em relação a histidina sugere que é improvável que a
protonação de N1 ocorre durante a catálise.
Em um estudo mais recente com ADSL de Staphylococcus aureus realizado em
2010 (85) foi proposto que o resíduo His153 e Lys290 (resíduos correspondentes em
SmADSL) são os resíduos ácido e base respectivamente.
Mutagênese da lisina equivalente em ADSL de B. subtilis diminuiu
significativamente a atividade da enzima. (91)
Ainda mais recentemente em 2014 (86), a primeira estrutura de ADSL apo com o loop
móvel, conservado na região do sítio ativo, ordenado foi reportada. Essa ADSL de
Mycobacterium smegmatis sugere que His153, Lys290 e Ser284 são os resíduos mais
prováveis para as funções de ácido e base catalíticos.
5.3.5 Interface dimérica, estabilidade estrutural e o potencial para desenvolvimento de
inibidores
Fyfe e colaboradores (85) em seus estudos da estrutura de ADSL de Staphylococcus
aureus em complexo com AMP, ficaram intrigados com duas observações. A primeira, que o
tetrâmero (ou dímero de dímeros) é requerido para a produção da enzima funcional, uma vez
que os resíduos de três subunidades são requeridos para a formação do sítio ativo. Em
segundo lugar, há menos conservação da sequência entre os resíduos de ADSLs envolvidas na
montagem da estrutura quaternária do que aqueles em torno dos sítios ativos que são
extremamente conservados. A partir dessas observações, decidiram considerar a interface do
dímero como um potencial alvo para desenvolvimento de novos fármacos baseados na
estrutura da enzima.
99
Este ponto de vista é bastante interessante e reforçado por pesquisas que
identificaram onze mutações pontuais que causam a deficiência de ADSL em humanos e
consequentemente retardo mental, sendo que algumas dessas mutações influenciam a
estabilidade do tetrâmero. (66)
Comparando os resíduos da ADSL humana nativa e a forma inativa, quando mutada,
com os resíduos correspondentes em SmADSL (tabela 12), foi mostrado que sete de onze
desses resíduos são exatamente conservados com respeito ao grupo funcional da cadeia lateral
em relação a enzima nativa. Sugerindo que esses resíduos também são importantes para
SmADSL. (37) O posicionamento dos onze resíduos na estrutura trimensional pode ser
observado na Figura 42.
Tabela 12 - Comparação dos resíduos entre a ADSL humana nativa, ADSL humana mutada e SmADSL que
foram identificados cujas mutações implicam na deficiência severa de ADSL em humanos e
consequentemente retardo mental em pacientes.
ADSL humana ADSL humana
mutante
ADSL Schistosoma
mansoni
M26 L26 M20
I72 V72 V66
P100 A100 P94
R141 W141 R135
R190 Q190 K184
K246 R246 K241
R303 C303 R298
S395 R395 A390
D422 Y422 S418
R426 H426 K422
S438 P438 S434
Fonte: FOULK et al. (37)
No entanto, o resíduo V66 é equivalente ao resíduo encontrado na enzima humana
mutada e os resíduos A390 e S418 não são conservadas em relação ao grupo funcional da sua
cadeia lateral. Isto sugere que esses resíduos podem ser menos importantes para a estrutura e
função de SmADSL ou que a estrutura da enzima humana e de S.mansoni alcançam sua
estrutura e estabilidade de uma forma diferente. (37)
100
Figura 42 - Posicionamento estrutural em SmADSL dos resíduos identificados cujas mutações implicam na
deficiência severa de ADSL em humanos e consequentemente retardo mental em pacientes.
Fonte: Elaborada pela autora.
A mutação de Lys246 (Lys241 em SmADSL – Figura 43) para ácido glutâmico na
enzima humana situa-se na interface dimérica A-B ou na interface C-D e resulta numa
proteína predominantemente monomérica com atividade enzimática insignificante. (92)
101
Figura 43 - Posicionamento do resíduo Lys241 em SmADSL na interface dimérica A-B.
Fonte: Elaborada pela autora.
Na estrutura SmADSL, o resíduo Lys241 da cadeia A faz uma ligação de hidrogênio
com o resíduo Thr256, duas ligações com Asp176 e duas com Asn252 da cadeia B (Figura
44).
102
Figura 44 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) entre os resíduos Lys241A com Thr256B, Asp176B e
Asn252B em SmADSL.
Fonte: Elaborada pela autora.
A mutação de Arg303 (Arg298 em SmADSL – Figura 45) para cisteína na enzima
humana situa-se na interface B-C ou na interface A-D na formação do tetrâmero. A
importância do resíduo equivalente na estabilidade tetramérica e atividade da enzima, em
ADSL de Bacillus subtilis foi demonstrada através de experimentos de mutação sítio dirigida.
(93)
Posteriormente, Ray e colaboradores (83) realizaram estudos termodinâmicos e
enzimáticos dessa mutação na enzima humana e observaram a perda de cooperatividade por
causa da mutação R303C devido à remoção de ligações de hidrogênio com um dos três
monômeros que compreendem o sítio ativo. Curiosamente, perceberam que ao contrário de
outras mutações que conduzem a deficiência de ADSL, essa mutação afetaria mais
significativamente a capacidade da enzima para catalisar a conversão de ADS do que a de
SAICAR aos seus respectivos produtos.
103
Figura 45 - Posicionamento do resíduo Arg298 em SmADSL na interface B-C.
Fonte: Elaborada pela autora.
Na estrutura SmADSL, o resíduo Arg298 da cadeia B interage com a cadeia C
mediado por uma ligação de hidrogênio com o resíduo Ile480B ligado à uma molécula de
água que Glu75 da cadeia C também faz ligação. Glu75C faz uma ligação de hidrogênio com
o resíduo Arg14B que se liga na mesma molécula de água que Ile480B e Glu75C (Figura 46).
104
Figura 46 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) entre os resíduos Arg298B, Ile480B, Glu75C, Arg14B
e uma molécula de água como mediadora em SmADSL.
Fonte: Elaborada pela autora.
Outras mutações dos resíduos que não se encontram na interface dimérica ou
tetramérica também foram relatadas como sendo importantes na estabilidade estrutural da
enzima. Polenchar e colaboradores (87,93) realizaram experimentos de mutação sítio dirigida
em ADSL de Bacillus subtilis correspondente à outras três mutações descritas (M26L,
R141W, S395R) para a severa deficiência de ADSL em humanos. Esses pesquisadores
demonstraram a importância desses resíduos na estabilidade da estrutura quaternária da
enzima.
Ter como alvo a forma transiente de interações proteína-proteína ou a interface de
conjuntos oligoméricos por métodos de busca baseados em estrutura para encontrar inibidores
apresenta um desafio significativo. Os fatores de complicação incluem o elevado grau de
especificidade e as grandes áreas de interacções envolvidas na formação do complexo. (94)
No entanto, ADSL existe em formas diméricas e tetraméricas, com a atividade da
enzima restrita à forma tetramérica. Por conseguinte, a prevenção da formação ou
desestabilização do tetrâmero proporciona uma via para a inibição da enzima.
É importante lembrar que a ADSL humana está envolvida em duas reações diferentes
na via de síntese de purinas: a eliminação de fumarato de 50-phosphoribosyl-4-
(Nsuccinocarboxamide)-5-aminoimidazole e de adenilsuccinato. Em contraste, em
Schistosoma, somente a via de salvação de purinas é ativa, portanto, a SmADSL está
105
envolvida somente na conversão de adenilsuccinato em AMP. Essas diferentes funções
bioquímicas podem ter resultado na evolução de diferenças estruturais entre parasita e
hospedeiro. Sendo assim, estas diferenças podem conduzir ao desenvolvimento de fármacos
anti-esquistossomose baseados na inibição seletivade SmADSL. (37)
5.4 Determinação de parâmetros cinéticos da enzima ADSL de Schistosoma mansoni
através de calorimetria de titulação isotérmica (ITC)
Os ensaios enzimáticos de ADSL foram realizados em colaboração com o aluno de
doutorado do nosso grupo, Vitor Hugo Balasco Serrão.
Experimentos de calorimetria de titulação isotérmica (ITC) foram implementados
conforme descrito por Todd e Gomez, (95) para investigar a cinética enzimática dos dois
substratos: ADS e SAICAR, bem como a classificação “liase” de SmADSL, ou seja,
investigar a formação de ADS através de AMP e fumarato e a formação de SAICAR a partir
de AICAR e fumarato. Os experimentos de titulação foram realizados utilizando um
calorímetro VP-ITC – Microcal. (96)
Inicialmente, uma injeção única, em concentração saturante de substrato, foi realizada
para determinar a entalpia molar aparente (ΔHapp). Neste experimento, 500 nM de ADSL,
preparada em tampão contendo 20mM NaH2PO4, 200mM NaCl e 1mM MgCl2, foi colocada
na cela do microcalorimetro (Microcal) a temperatura constante de 25° C. Na seringa, 300 µl
de ADS (1mM) foram carregados usando o mesmo tampão. Para proceder com a
determinação do ΔHapp, foi realizada uma única injeção de 20 µL de substrato e monitorada a
troca de calor por 1200 segundos. Após subtrair o calor de diluição de ADS, previamente
observado ao titular o mesmo volume de ADS em tampão, foi possível obter a entalpia molar
aparente (ΔHapp) (Figura 47). O mesmo procedimento foi utilizado para a reação com
SAICAR usando 11,2 µM em seringa (Figura 48).
106
ADS → AMP + Fumarato
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
HADS
= + 8991.34625 cal/mol
µca
l/se
c
Time (s)
DeltaH
ADS dilution
DeltaHnorm
Figura 47 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de ADS.
Fonte: Elaborada pela autora
SAICAR → AICAR + Fumarato
0 500 1000 1500 2000
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
µca
l/se
c
Time (s)
HSAICAR
SAICAR dilution
H SAICAR
norm
HSAICAR
= 4711.8 cal/mol
Figura 48 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de SAICAR.
Fonte: Elaborada pela autora
107
Como pode ser observado nas Figuras 44 e 45, a atividade enzimática de ADSL
revelou uma reação endotérmica com reação de troca de entalpia de ΔHADS = +8,9 kcal/mol e
ΔHSAICAR = +4.7 kcal/mol.
Como é necessário ΔG < 0 para que as reações biológicas sejam
termodinamicamente favoráveis, a observação de ΔH > 0 indica que um sistema endotérmico,
na qual a contribuição da entropia é fundamental para que a reação seja favorável. Essa
elevada contribuição entrópica pode estar relacionada com a grande quantidade de moléculas
de água (aproximadamente 40) presentes no sítio ativo (Figura 49).
Figura 49 - Moléculas de água (esferas vermelhas) presentes em um dos quatro sítios ativos da estrutura
SmADSL-Apo.
Fonte: Elaborada pela autora.
Este ensaio foi também utilizado para medir a troca de calor dos produtos (AICAR +
fumarato e AMP + fumarato, respectivamente) a fim de verificar se a enzima é ativa para a
formação de ADS e SAICAR. Foram utilizados 1 mM de cada combinação carregado na
seringa para a realização do experimentos de injeção única.
Uma única injeção também foi usada para determinar a classificação “liase” de
SmADSL, em outras palavras, a conversão de ADS ou SAICAR em AMP / Fumarato e
AICAR / fumarato, respectivamente, não é reversível pela SmADSL . Esta condição “liase”
108
foi demonstrada pela determinação de entalpia molar aparente, resultando em valores
próximos de valores de calor de diluição anteriores medidos nas mesmas condições
experimentais (ΔH ~ 0 kcal/mol), portanto, sem atividade enzimática mensurável nessas
condições experimentais.
AICAR + Fumarato → SAICAR
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-5,0x10-1
-4,0x10-1
-3,0x10-1
-2,0x10-1
-1,0x10-1
0,0
1,0x10-1
2,0x10-1
3,0x10-1
4,0x10-1
5,0x10-1
µcal/se
c
Time (s)
HAICAR
AICAR dilution
HAICAR norm
Figura 50 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de AICAR.
Fonte: Elaborada pela autora
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
µcal/se
c
Time (s)
HFumarate/AICAR
Fumarate dilution
HFumarate/AICAR norm
Figura 51 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de fumarato/AICAR. ΔH ~0 – sem reação.
Fonte: Elaborada pela autora
109
AMP + Fumarato → ADS
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
-0,7
-0,6
-0,5
-0,4
-0,3
-0,2
-0,1
0,0
0,1
µca
l/se
c
Time (s)
HAMP
HAMP norm
AMP dilution
Figura 52 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de AMP.
Fonte: Elaborada pela autora
0 200 400 600 800 1000 1200
-5,0x10-1
-4,0x10-1
-3,0x10-1
-2,0x10-1
-1,0x10-1
0,0
1,0x10-1
2,0x10-1
3,0x10-1
4,0x10-1
5,0x10-1
µca
l/se
c
Time (s)
HFumarate
Fumarate dilution
HFumarate norm
Figura 53 - Determinação da entalpia molar aparente (ΔHapp) de Fumarato. ΔH ~0 – sem reação.
Fonte: Elaborada pela autora
Para a determinação da cinética de ADS, a seringa foi carregada com 1mM de ADS e
a cela com 50 nM de SmADSL utilizando o mesmo tampão como descrito anteriormente. O
substrato foi titulada por 17 injeções de 4 µL. Para analisar o segundo substrato, 18 injeções
de 4 µL de SAICAR (11,2 µM) foram tituladas usando as mesmas condições previamente
110
estabelecidas. Estes experimentos foram realizados a temperatura constante (25° C) e uma
velocidade de agitação de 300 rpm. Os resultados foram processados utilizando o software
Origin 7.0 associada ao microcalorímetro, e a integral da curva obtida reflete a variação de
calor no sistema. Essa metodologia de múltiplas injeções foi utilizada para determinar a
cinética enzimática em função da quantidade de substrato, a qual é possível, ajustar através de
uma função de Michaelis-Menten.
0,0 1,0x10-2
2,0x10-2
3,0x10-2
4,0x10-2
5,0x10-2
0,0
5,0x10-6
1,0x10-5
1,5x10-5
2,0x10-5
2,5x10-5
0 1000 2000 3000 4000 5000
0.0
2.0x10-1
4.0x10-1
P(µ
ca
l/se
c)
Time (s)
Data: ADSkinetic_R
Model: M2 Substrate Only
Chi^2/DoF = 1.323E-12
KcatA
0.730 ±0.038
KmA
0.0172 ±0.0023
H 8991
Rate
(m
illim
ole
s/l/s
ec)
[S] (mM)
Figura 54 - Cinética enzimática de SmADSL para ADS.
Fonte: Elaborada pela autora
Tabela 13 - Valores dos parâmetros da cinética enzimática de SmADSL para ADS.
ΔH (kcal/mol) KM (µM) kcat (s-1) Kcat/KM (µMs)-1
ADS +8991.2 ± 0.2 17.2 ± 2.3 0.73 ± 0.04 0,042 ± 0,006 Fonte: Elaborada pela autora
111
0,0 2,0x10-3
4,0x10-3
6,0x10-3
0
1x10-5
2x10-5
3x10-5
4x10-5
5x10-5
Data: SAICARKine_R
Model: M2 Substrate Only
Chi^2/DoF = 3.279E-12
KcatA
1.81 ±0.25
KmA
0.00527 ±0.0012
H -4712
Ra
te (
mill
imo
les/l/s
ec)
[S] (mM)
Figura 55 - Cinética enzimática de SmADSL para SAICAR.
Fonte: Elaborada pela autora
Tabela 14 - Valores dos parâmetros da cinética enzimática de SmADSL para SAICAR.
ΔH (kcal/mol) KM (µM) kcat (s-1) Kcat/KM (µMs)-1
SAICAR 4712.8 ± 1.3 5.27 ± 1.2 1.8 ± 0.3 0,3 ± 0,1 Fonte: Elaborada pela autora
Conforme observado nas Figuras 51 e 52 e tabelas 13 e 14, estes experimentos
determinaram os valores de KM = (17.2 ± 2.3) µM e kcat = (0.73 ± 0.04) s-1
para o substrato
ADS e KM = (5.27 ± 1.2) µM e kcat = (1.8 ± 0.3) s-1
para o substrato SAICAR.
O banco de dados BRENDA não apresenta qualquer valor desta enzima para
Schistosoma sp.
Em comparação com a enzima humana (HsADSL), a SmADSL apresenta um valor de
KM 10 vezes maior (1.46 µM) para ADS e apresenta valores compatíveis com a enzima
mutada nos resíduos I62D e D69E de Bacillus subtilis (BsADSL), mutação a qual foi
responsável pela mudança nos valores de Km de 2.1 µM para 17.7 µM de ADS. I62 e D69
correspondem respectivamente à E74 e D81 em SmADSL. Ambos encontrados em região de
hélice α no domínio I.
112
O valor kcat é único, onde a correspondência mais próxima é com a enzima mutante
BsADSL S94A (1.14 s-1
). A única enzima de tipo selvagem, que apresenta valores de kcat é a
BsADSL (1.74 s-1
).
O valor do KM para SAICAR apresentado é de HsADSL (1.74 µM) e é próximo ao
valor de SmADSL para este substrato. Infelizmente, não existem outras referências usando
este substrato para comparação das propriedades enzimáticas.
O banco de dados BRENDA não contém valores de kcat para HsADSL,
consequentemente, não é possível estabelecer uma relação de kcat/KM.
113
CAPÍTULO 6
6 ESTRUTURA CRISTALOGRÁFICA DE HGPRT isoforma 1 de
Schistosoma mansoni
6.1 Coleta de dados, processamento, resolução e refinamento de dados de difração de
raios-X
A estrutura de HGPRT de S. mansoni foi buscada por mais de 20 anos por diversos
pesquisadores em diferentes grupos de pesquisa, dentre estes, durante 8 anos em nosso grupo.
A obtenção da estrutura dessa enzima representou um enorme desafio em diferentes etapas do
processo. À princípio os experimentos de amplificação, clonagem, expressão, purificação e
teste de cristalização foram realizados utilizando a sequência completa codificadora da
enzima depositada no banco de dados. Após extensas tentativas de cristalizá-la sem sucesso,
novos estudos de bioinformática identificaram que essa sequência do banco de dados possuía
um éxon de 18 aminoácidos a mais no N-terminal. A nova sequência foi amplificada, clonada,
expressa, purificada (Capítulo 3) e foi possível obter cristais dessa enzima (Capítulo 4).
Entretanto, os cristais obtidos são muito pequenos, frágeis e difícil manuseio, alcançando em
torno de 30μm em sua maior dimensão. Diversos experimentos de otimização dos cristais
foram realizados (Capítulo 4) e não foi possível obter cristais maiores.
Nos últimos 4 anos de pesquisa foram congelados aproximadamente 200 cristais que
foram submetidos à 4 coletas de dados no Síncrotron inglês Diamond Light Source (DLS). Na
terceira coleta de dados foi obtido um único conjunto de dados de HGPRT1 com resolução
abaixo de 3Å, o complexo binário HGPRT-IMP à 2.8Å de resolução coletado na linha de luz
I04-1 do DSL. O cristal contém 2,5 mg/mL de proteína incubada a 18ºC na condição A4 do
kit Morpheus (12.5% PEG 1000, 12.5% PEG 3350, 12.5% MPD 0.03M de cátions
divalentes, 0.1M MES/imidazol pH 6.5) (Figura 56).
114
Figura 56 - Esquerda: Cristais de HGPRT1 à 2,5mg/mL de proteína incubada a 18ºC na condição A4 do kit
Morpheus. Direita: Cristal em loop, coletado à 2,8Å de resolução por difração de raio-X.
Fonte: Elaborada pela autora.
Os parâmetros de coleta de dados e refinamento da estrutura pode ser visualizados na
Tabela 15.
Tabela 15 - Estatísticas da coleta de dados e refinamento para os cristais de HGPRT1.
Coleta de dados HGPRT - IMP
Grupo Espacial P212121
Dimensão da célula (Å) a, b, c. 59.95 117.96 139.37
Ângulos da célula (º) α = β = γ = 90
Detector PILATUS 2M
Fonte Raio-X DLS I04-1
Comprimento de onda (Å) 0.9200
Resolução (Å) 60.0 - 2.8 (2.95 - 2.8)*
Multiplicidade 3.8 (3.8)*
Rpim (%)** 6.3 (54.1)*
CC (1/2) 0.996 (0.605)*
Completeza (%) 98.0 (99.2)*
Reflexões Totais 92655 (13365)*
Reflexões únicas 24452 (3562)*
I / σ (I) 8.9 (1.4)*
Parâmetros Refinamento
Reflexões usadas refinamento 24416
R (%)*** 23.17
continua
115
Tabela 16 - Estatísticas da coleta de dados e refinamento para os cristais de HGPRT1.
continuação
Parâmetros Refinamento
RFree(%)*** 29.00
No. átomos proteína 5604
No. átomos ligante 92
B (Å2) 61.56
Erro coordenada (ML baseado) (Å) 0.50
Erro de fase (o) 30.56
Clashscore 7.09
RMSD geometria ideal****
r.m.s. distância ligações (Å) 0.002
r.m.s. ângulos de ligação (°) 0.544
PDB ID 5IPF
Fonte: Elaborada pela autora.
*Valores entre parênteses referem-se aos valores da mais alta resolução.
**Rpim = ∑hkl[1/(N(hkl) - 1)]1/2
∑i|Ii (hkl) – (I(hkl))|/∑hkl∑iIi (hkl)
***R = ∑ ||Fo| - |Fc|| / ∑ |Fo| onde |Fc| é a amplitude do fator de estrutura calculado do modelo e |Fo| é a
amplitude do fator de estrutura obervado do modelo. Rfree é calculado com base em 5% do conjunto de reflexões
que não é utilizado durante o refinamento (71).
****RMSD "root mean square deviation", desvio quadrático médio do conjunto de parâmetros de
estereoquímica ideal. (72)
A estrutura foi resolvida por substituição molecular utilizando o programa Phaser (73)
tendo HGPRT humana (PDB 1HMP) como modelo de busca, a identidade sequencial entre a
HGPRT humana e de S. mansoni é de 49%. Conforme observado na tabela, o cristal pertence
ao grupo espacial P212121 com 4 monômeros na unidade assimétrica.
Devido à baixa resolução da estrutura coletada, o refinamento foi bastante desafiador e
de difícil interpretação em diversas regiões do mapa de densidade eletrônica. Vários ciclos de
refinamento e construção manual do modelo foram realizados utilizando o programa Coot
(75) e Phenix. (76) Foram utilizados os parâmetros para construção manual do modelo: NCS
Ghosts Coordinates, NCS Maps e NCS Restraints; e para o refinamento: bulk solvent
correction, anisotropic scaling of the data, coordinate refinement, ADP refinement e
refinement of occupancies.
Analisando os mapas de densidade eletrônica da estrutura coletada é possível observar
116
a presença de ligante na região do sítio ativo da molécula de HGPRT presente na unidade
assimétrica, este foi identificado como sendo uma molécula de IMP (Figura 57), o qual a
enzima foi incubada para a cristalização, uma vez que durante nossos ensaios observamos que
esta só cristalizava na presença do ligante IMP.
Figura 57 - Mapa de densidade eletrônica fo-fc na região do sítio ativo das quatro subunidades (A, B, C e D) da
enzima HGPRT1 de S. mansoni. É possível observar a densidade correspondente ao ligante IMP.
Fonte: Elaborada pela autora.
O IMP foi adicionado manualmente e as águas com o auxílio dos programas Phenix e
Coot.
6.2 Validação da estrutura
Após completamente refinado, o modelo tridimensional de HGPRT1 foi validado de
três formas: primeiro avaliando-se o valor do Rwork e Rfree obtidos ao final do refinamento, que
correspondem a Rwork = 0.2317 e Rfree = 0.2900. Valores coerentes e considerados adequados
em relação ao valor da resolução obtida. (77)
A
D C
B
117
A segunda, foi a avaliação da geometria da proteína através do programa
MOLPROBITY (78). Cujo resultado pode ser visualizado na tabela 3.
Tabela 17 - Análise da geometria de HGPRT gerada pelo programa MOLPROBITY. (78)
Parâmetro analisado HGPRT-AMP Parâmetros
referenciais (ideal)
Rotâmeros ruins 2.62% < 0.3%
Desvio Cβ >0.25Å 0 0
Resíduos com ligações ruins 0% 0%
Resíduos com ângulos ruins 0.01% < 0.1%
Fonte: Elaborada pela autora
É possível observar na tabela a porcentagem de “rotâmeros ruins” exceder o valor
considerado ideal. Entretanto, todos esses rotâmeros foram criteriosamente checados ao
longo do refinamento manual. Diversas regiões possuem densidade eletrônica difusa e nas
regiões com densidade eletrônica clara é possível observar que estes rotâmeros encontram-se
na conformação considerada menos adequada nas quatro cadeias. Apesar de não ideal nesse
parâmetro analisado, é a melhor geometria alcançada após o refinamento da estrutura.
Estando em um padrão aceitável.
A terceira forma de validação utilizada foi a avaliação dos ângulos diédricos Φ (phi)
versus Ψ (psi) dos aminoácidos da estrutura no diagrama de Ramachandran gerado pelo
programa Procheck. (79) O resultado do gráfico de Ramachandran gerado pode ser
visualizado na Figura 59 para a estrutura de HGPRT-IMP.
118
Figura 58 - Diagrama de Ramachandran com a distribuição dos ângulos diedros para a estrutura HGPRT-IMP. A
região representada em vermelho corresponde à região mais favorável para os valores dos ângulos, a
região amarelo escuro é a adicionalmente permitida, amarelo claro é a generosamente permitida e a
região em branco é a região não permitida. As glicinas são representadas por triângulos.
Fonte: Elaborada pela autora.
Os resíduos em regiões mais favoráveis (vermelho) correspondem a 88.9%,
adicionalmente permitida (amarelo escuro) a 10.9%, generosamente permitida (amarelo claro)
a 0,1% não permitida a 0,1%.
A partir dos métodos utilizados para a validação em função da resolução obtida do
modelo podemos considerá-lo confiáveis para a análise da estrutura tridimensional da enzima
HGPRT.
119
6.3 Análise da estrutura tridimensional obtida de HGPRT de Schistosoma mansoni
6.3.1 Estrutura secundária, topologia e regiões conservadas
A subunidade de HGPRT é composta por α-hélices e folhas β. Pode ser dividida em
dois domínios (Figura 60). O domínio altamente conservado entre as HGPRTs chamado de
“core” é composto por 4 fitas paralelas (β2, β3, β4 e β5) formando uma folha β flanqueada
por 3 α-hélices (α3, α4 e α5), o qual liga o substrato primário PRPP. (97) Compreende os
resíduos 41 – 173 formando uma estrutura chamada de “doubly wound α/β sheet” (98), com
hélices de ambos os lados da folha β. Esse domínio também compreende o loop II, o qual
apresenta uma região desornada sem densidade eletrônica para os resíduos de 108 – 122.
O segundo domínio, localizado acima do domínio “core” é chamado domínio
“hood”, este é composto por 4 pequenas fitas β (β1, β6, β7 e β8), divididas em 2 folhas, sendo
uma paralela e outra antiparalela, 3 pequenas α-hélices (α1, α2 e α6) e várias conexões de
longos loops. Compreende os resíduos 8 – 40 e 174 – 224.
Figura 59 - Estrutura de HGPRT de S. mansoni (monômero) é composta por 2 domínios: domínio Hood
(vermelho), domínio Core (azul).
Fonte: Elaborada pela autora.
A estrutura secundária em função da sequência de aminoácidos da HGPRT em
complexo com IMP e a topologia da estrutura podem ser visualizadas nas Figuras 61 e 62.
Loop II desordenado
IMP
Domínio “Core”
Domínio “Hood”
120
Figura 60 - Estrutura secundária de SmHGPRT em complexo com IMP em função da sequência de aminoácidos.
As fitas β são representadas por setas rosas, as α-hélices por espirais roxas com a respectiva
numeração em cima (H1, H2...H25), as 2 folhas β são classificadas como A e B, sendo essas letras
colocadas acima das fitas identificando a qual folha pertecem. Os símbolos: β - beta turn, γ -
gamma turn e - beta hairpin.
Fonte: Elaborada pela autora.
A análise de estrutura secundária gerada pelo programa PROMOTIF mostrou que 51
resíduos de aminoácidos (25,4%) estão em fitas β, 53 (26,4%) em α-hélices, 6 (3%) em
hélices 3-10, 91 (45,3%) em outros, totalizando 201 aminoácidos (201 nas cadeias A e B, 186
na C e 189 na D). A estrutura possui: 2 folhas β paralelas, 2 beta-alfa-beta, 1 beta hairpins, 4
beta bulges, 8 fitas β, 6 α-hélices, 7 interações hélice-hélice, 20 β-turns e 2 gama-turns.
121
Figura 61 - Topologia de SmHGPRT-IMP gerada pelo PDB sum. As fitas β são representadas por setas rosa, as
α-hélices em tubos vermelhos e os loops em azul. O N-terminal é indicado pela letra N e o C-
terminal pela letra C.
Fonte: Elaborada pela autora.
122
Figura 62 - Alinhamento de HGPRT humana (1HMP) e de Schistosoma mansoni em função da estrutura
secundária. Os resíduos brancos grifados em vermelho são conservados nas duas estruturas, os em
vermelho grifados em branco são os resíduos não conservados, porém similares. A quarta linha
corresponde a exposição dos resíduos ao solvente, em azul escuro os mais expostos, azul claro
podem estar expostos e branco hidrofóbicos.
Fonte: Elaborada pela autora.
O alinhamento da sequência de aminoácidos de SmHGPRT com sua correspondente
humana revelou longas regiões extremamente conservadas entre ambas. Principalmente nas
regiões entre β3 e α2, β5, β6, β7, β8 e β9. As regiões conservadas podem ser observadas na
estrutura apresentada na Figura 64. Em A. essas regiões estão destacadas em vermelho, em B
é possível observar os resíduos idênticos entre ambas destacados em pink.
123
Figura 63 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de aminoácidos de HGPRT de
S. mansoni e HGPRT humana. A. Regiões conservadas destacadas em vermelho. B. Resíduos
idênticos entre ambas destacados em pink.
Fonte: Elaborada pela autora.
Já a análise do alinhamento da sequência de aminoácidos com todas as outras enzimas
depositadas no PDB revelou alta similaridade com outras espécies. Na Figura 65 é possível
observar que diversas regiões, principalmente a que circunda o sítio ativo são bastante
conservadas. O degrade de vermelho a branco, passando por tons de rosa indica o grau de
conservação dessas regiões, sendo vermelho mais conservado e branco não conservado.
Destacados em pink estão os 10 aminoácidos que são idênticos em todas as HGPRTs
depositadas no PDB: Leu74, Gly76, Leu84, Glu140, Asp141, Thr148, Lys172, Gly196,
Asp200 e Arg206.
A B
124
Figura 64 - Análise das regiões conservadas à partir do alinhamento da sequência de aminoácidos de HGPRT de
S. mansoni com todas as HGPRTs depositadas no PDB. Regiões conservadas destacadas em
degradê de vermelho a branco, da mais conservada a não conservada respectivamente. Resíduos
idênticos entre as estruturas destacados em pink.
Fonte: Elaborada pela autora.
6.3.2 Enovelamento
Atualmente (além da estrutura de S. mansoni aqui descrita) existem 48 estruturas de
HGPRTs depositadas no banco de dados PDB que correspondem a 10 organismos diferentes:
Humano (18) (99-107), Trypanosoma Cruzi (9) (108-113), Mycobacterium tubrculosis (4)
(114), Toxoplasma gondii (3) (115), Escherichia coli (3) (116), Thermus thermophilus (3)
(117), Caldanaerobacter subterraneus (3) (97,118), Saccharomyces cerevisiae (3) (119),
Leishmania tarentolae (1) (120), Tritrichomonas foetus (1). (121)
Canyuk e colaboradores em 2003 (113) destacam que enzimas que salvam 6-
oxopurinas, incluindo as (HGPRTs), são potenciais alvos para o desenvolvimento de
fármacos no tratamento de doenças causadas por parasitas. Por esse motivo, um grande
número de estruturas cristalográficas de HGPRTs são reportadas.
Alterações no estado multimérico entre dímeros e tetrâmeros de HGPRTs foram
previamente reportadas. A estrutura de Thermus thermophilus, assim como de Toxoplasma
gondii é descrita como tetramérica (97). HGPRT humana existe como dímero e tetrâmero em
solução, dependendo do pH e da força iônica (122) e foi cristalizada como um tetrâmero,
125
como várias outras HGPRTs (99). A enzima de Trypanosoma Cruzi cristalizou como um
dímero (108), mas foi reportada como monômero em solução na forma apo e como um
dímero quando PRPP está ligado (123), essa estrutura assim como de T. foetus, a qual é
dimérica na estrutura cristalográfica, perderam regiões correspondentes à parte do N-terminal
em que na HGPRT humana essa sequência se mostrou importante na contribuição de
interações tetramérica (99).
A estrutura de SmHGPRT aqui descrita cristalizou como um tetrâmero e esse estado
oligomérico foi confirmado através de experimentos de gel filtração. O tetrâmero de
SmHGPRT pode ser visualizado na Figura 66.
126
Vista Frontal
Vista Superior
Figura 65 - Estrutura tetramérica de SmAHGPRT em complexo com IMP (preto) (subunidade A: amarelo, B:
magenta, C: azul, D: verde).
Fonte: Elaborada pela autora.
IMP
IMP
127
Sobrepondo as quatro subunidades da HGPRT obtêm-se os valores de RMSd de A-B
= 0.304Å, A-C = 0.448Å, A-D = 0.315Å, B-C = 0.336Å, B-D = 0.336Å e C-D = 0.387Å. A
diferença mais significativa é observada na região do loop II móvel, onde a cadeia A
(vermelho) apresenta uma densidade eletrônica clara para um maior número de resíduos em
relação às cadeias B (amarelo), C (azul) e D (verde).
Figura 66 - Sobreposição das quatro subunidades da estrutura tetramérica de HGPRT. A – vermelho, B –
amarelo, C- azul e D verde.
Fonte: Elaborada pela autora.
A sobreposição da estrutura de SmHGPRT com a estrutura da HGPRT humana (RMSd
é de 1.154Å) (Figura 67) revelou que o perfil do enovelamento, dividida em dois domínios, é
bastante similar. Entretanto, existem diversos pontos entre as estruturas que não se sobrepõem
completamente e apresentam grandes diferenças na orientação e composição da estrutura
secundária. Por exemplo, as fitas β são mais alongadas na estrutura humana e o loop II
apresenta-se completamente ordenado.
Loop II desordenado
128
Figura 67 - Sobreposição das estruturas de HGPRT de S.mansoni (monômero) em vermelho e ADSL humana em
amarelo. RMSd = 1,154 Å.
Fonte: Elaborada pela autora.
129
6.3.3 O sítio ativo
O sítio ativo de SmHGPRT, assim como de suas ortólogas, está localizado na interface
dos domínios “core” e “hood” e compreende 4 loops, I – IV (Figura 68).
Figura 68 - Localização do sítio ativo na interface dos domínios “core” (azul) e “hood” (vermelho) e compreende
4 loops, I – IV.
Fonte: Elaborada pela autora.
O loop I (Figura 69) corresponde aos resíduos de 73 à 78 (VLKGGF) localizados
entre a fita β2 e a hélice α4, que fazem parte do motivo α/β/α no domínio core. Nesse loop em
diversas estruturas foi verificada a ligação peptídica na conFiguração cis, para o resíduo
Leu74. (108,111,116,120-121) Tem-se atribuído um significado estrutural e funcional para
esta ligação. (111)
I
VI
I
I
III
II
Sítio Ativo
130
Figura 69 - Loop I correspondente aos resíduos de 73 à 78 (VLKGGF) localizados entre a fita β2 e a hélice α4 do
domínio core.
Fonte: Elaborada pela autora.
O loop II (Figura 70) corresponde aos resíduos 107 à 134 localizados entre as fitas
β3 e β4 do motivo α/β/α do domínio core. Este loop foi caracterizado como flexível
previamente em outras estruturas (99,108,121,124), não está completamente ordenado, por
ausência de densidade eletrônica para os resíduos de 108 à 124. Foi observado que o sítio
ativo nessas estruturas encontra-se aberto para a ligação de substrato ou liberação do produto.
Sendo assim, para explicar o fechamento do sítio ativo, uma conformação fechada desse loop
flexível foi levantada como hipótese para essa enzima. (99)
Devido à importância para o entendimento do mecanismo catalítico, a estrutura com
o sítio ativo fechado foi por muito tempo buscada. Posteriormente, essa hipótese foi
confirmada na estrutura de HGPRT de T. cruzi onde as duas subunidades diferem
principalmente na conformação do "loop flexível" (loop II) e revelaram duas novas
visualizações de sítio ativo da HGPRT no complexo ternário, uma aberta e exposta solvente e
a outra fechada para o solvente. (111) Na conformação fechada são observadas interações
entre o loop II com o PRPP e com íons metálicos (Mg2+
) hidratados.
Na estrutura de SmHGPRT o loop II apresentar-se de forma desordenada como
observado na maioria das estruturas que apresentam conformação aberta, podendo ser
atribuído ao fato da estrutura conter uma molécula do produto de reação (IMP) ligada no sítio
ativo.
131
Figura 70 - Loop II correspondente aos resíduos 107 à 134 entre as fitas β3 e β4 do domínio core.
Fonte: Elaborada pela autora.
O loop III (Figura 71) compreende os resíduos de 141 à 146 (DIIDTG) entre as fitas
β4 e hélice α5, também no domínio core. Na estrutura cristalográfica de SmHGPRT este loop
está bem definido.
Todas as estruturas de HGPRT apresentam no loop III um Asp141 invariável
(SmHGPRT). Estudos com mutante desse resíduo em T. cruzi confirmaram que esse resíduo
atua na catálise, mas não é requerido como base geral nessa posição, como era proposto
previamente para a HGPRT humana. (112)
132
Figura 71 - Loop III correspondente aos resíduos de 141 à 146 (DIIDTG) entre as fitas β4 e hélice α5 no domínio
core.
Fonte: Elaborada pela autora.
O loop IV (Figura 72) é o único dos 4 que pertence ao domínio hood, é o maior dos
quatro e compreende os resíduos de 190 à 211. Nesse loop é encontrado o resíduo aromático
Phe193 que participa do sítio ativo com interação “π-π stacking” com o anel aromático da
base purina. Em diversas estruturas este loop contém uma pequena fita β no interior. Esta fita
está envolvida na ligação da base purina no sítio ativo. (120)
Figura 72 - Loop IV correspondente aos resíduos de 190 à 211 no domínio hood.
Fonte: Elaborada pela autora.
133
Na estrutura de SmHGPRT em complexo com IMP, o fosfato do IMP faz ligação de
hidrogênio com Asp144, Thr145, Gly146 e Lys147 do loop III, Thr148 da hélice α5 e uma
molécula de água.
O O2 da ribose faz duas ligações de hidrogênio com Asp141 do loop III e com duas
moléculas de água. O3 faz ligação de hidrogênio com uma das moléculas de água que O2
liga.
A interação do Asp141 do loop III com o ligante pode ser observada nas estruturas de
T. cruzi, E. coli, humana e de T. gondii, onde a cadeira lateral aponta para o sítio ativo. No
entanto, a cadeia lateral do Asp141 aponta para fora do sítio ativo e não interage com o
ligante na estrutura de L. tarentolae, P. falciparum, T, foetus e humana em complexo com
GMP. (120)
O N1 da hipoxantina faz ligação de hidrogênio com Val194 do loop IV e o N6 da
hipoxantina com Val194 e Lys172.
É possível observar que o loop III é o maior responsável por ancorar o IMP no sítio
ativo através de ligações de hidrogênio. A maior parte dos contatos ocorre entre a SmHGPRT
e o grupo fosfato do IMP.
Figura 73 - Ligações de hidrogênio (pontilhado amarelo) do ligante IMP no sítio ativo de SmHGPRT.
Fonte: Elaborada pela autora.
Um modelo esquemático da ligação do IMP no sitio ativo da SmHGPRT foi gerado
através do programa Ligplot + pode ser visualizado na Figura 74.
134
Figura 74 - Modelo esquemático para a ligação da IMP no sítio ativo da SmHGPRT.
Fonte: Elaborada pela autora.
Em algumas estruturas de HGPRT foi relatada a presença do íon magnésio (Mg+2
) na
região do sítio ativo (101,102,108,125). Embora esse íon estivesse presente no tampão de
diálise da proteína e no kit de cristalização Morpheus, não foi observada a presença de Mg+2
no sítio ativo de SmHGPRT.
Quando sobrepostas as regiões correspondentes ao sítio ativo da SmHGPRT e humana
(Figura 75) um alto grau de conservação ao redor do sítio de ligação e ativo é observado.
Destacam-se quatro mutações entre ambas Ile149 (SmHGPRT) por Met142 (HGPRT
humana), Pro176 por Arg169, Val189 por Ile182 e Arg192 por Lys185.
135
Figura 75 - Sobreposição dos sítios de ligação do IMP na HGPRT de S. mansoni (verde) e humana (branco).
Fonte: Elaborada pela autora.
Dentre as quatro mutações encontradas na região do sítio ativo, três delas I149M,
V189I e R192K encontram-se em regiões cuja cadeia principal é sopreponível. A mutação
P176R encontra-se em uma região de loop que apresenta grande diferença conformacional
entre a enzima humana e a de S. mansoni. Na HGPRT humana esse loop encontra-se em uma
conformação mais fechada em torno do sítio em relação à SmHGPRT e a cadeia lateral do
resíduo Arg 169 aponta para dentro do sítio ativo, enquanto seu correspondente Pro 176
encontra-se mais distal (Figura 76).
Dentre os resíduos conservados, são observadas diferenças na conformação da cadeia
lateral do resíduo Lys75 que aponta para fora do sítio ativo, enquanto a cadeia lateral do
resíduo Lys68 da HGPRT humana aponta para dentro do sítio (Figura 76). Esses resíduos
compõem o loop I.
136
Figura 76 - Posicionamento e conformação dos resíduos Lys75 e Pro176 em SmHGPRT (verde) e seus
correspondentes Lys68 e Arg169 em HGPRT humana (branco).
Fonte: Elaborada pela autora.
6.3.4 Mecanismo catalítico
A HGPRT catalisa a reação reversível de transferência do grupo 5-fosforribosil do a-
D-fosforribosil-1-pirofosfato (PRPP) para o N9 da base (hipoxantina ou guanina) para a
formação do nucleotídeo de inosina-5-monofosfato (IMP) ou guanosina-5-monofosfato
(GMP) (Figura 77).
Figura 77 - Esquema da reação catalisada pela enzima HGPRT.
Fonte: FOCIA et al. (108)
Yuan e colaboradores (48) em seus estudos cinéticos da SmHGPRT identificaram que
o mecanismo de reação é bi-bi ordenado, o qual os substratos se ligam à enzima e os produtos
são liberados em uma ordem definida. Primeiro ocorre a ligação de PRPP-Mg2+
seguido das
137
bases purina. Os produtos são liberados na sequência PPi-Mg, seguido de GMP-Mg ou IMP-
Mg.
Héroux e colaboradores (115) baseados em análises de estruturas de HGPRT de
diversos organismos construíram o mecanismo de reação enzimática (Figura 78). Foram
utilizadas estruturas em diferentes formas de cristalização, na forma apo (121,126), na
presença dos substratos PRPP, hipoxantina e guanina (102,108,127) e na presença dos
produtos IMP, GMP e PPi (99,101,115,121,125,128). A descrição desses autores é baseada na
estrutura da enzima HGPRT de Toxoplasma gondii. São propostos dez principais passos,
transcritos por Monzani. (129)
Passo 1: Na apoenzima os resíduos Glu146, Asp147 e Asp206 em T. gondii (Glu140,
Asp141 e Asp200 em S. mansoni) que se ligarão aos íons Mg2+
e coordenam as moléculas de
água estão em posição e orientação corretas para a ligação do complexo PRPP-Mg. É
proposto que o íon Mg2+
se ligue primeiro, antes do PRPP (111). Neste momento, Leu78 e
Lys79 (Leu74 e Lys75) adotam uma conformação cis, concomitantemente à ligação de PRPP.
O loop III e o N-terminal da hélice G ajustam sua conformação para a ligação ao fosfato 5´ do
PRPP. Para que a ligação da base purina aconteça, é necessário o deslocamento da cadeia
principal do resíduo Ile200 (Val194) e das cadeias laterais dos resíduos Ile148, Lys178 e
Trp199 (Ile142, Lys172 e Phe193) aproximando o domínio hood da base purina.
Passo 2: Após a ligação do PRPP são formadas ligações de hidrogênio e uma grande
rede de pontes salinas na parte inferior do sítio ativo. Nessa região, o loop I, do domínio core,
e o loop IV, do domínio hood, fecham juntos esssa região do sítio ativo. Os íons Mg
posicionam o PPi na geometria necessária para occorer a transferência do fosforibosil. Não
existe interação entre o PRPP e a parte superior do sítio ativo do domínio hood, nesse
momento, essa região ainda está aberta, os resíduos Lys178 e Trp199 (Lys172 e Phe193) e a
fita-β 9 adotam conformações encontradas na apoenzima.
Passo 3: A ligação do fosfato 5´do PRPP torna o loop III ordenado, com o resíduo
Ile148 (Ile142) posicionado no bolsão de ligação da purina. Com isso, o Asp150 (Asp144) é
direcionado ao Asp197 (Asn191), servindo dessa forma, como uma base no sítio ativo.
Passo 4: Com a ligação da purina, o domínio hood se fecha completamente sobre o
domínio core. Os resíduos Trp199 e Ile200 (Phe193 e Val194) assumem suas posições,
simultaneamente com a entrada da purina no bolsão de ligação, ou após o loop III´ estar
completamente ordenado com a cadeia lateral do resíduo Arg182 (Pro176) direcionado aos
resíduos Asp150 e Asp197 (Asp144 e Asn191), formando uma dupla ponte salina forte que
fecha o domínio hood sobre o domínio core.
138
Passo 5: O loop II se fecha sobre o anel da ribose e o fosfato 5´, fazendo interações
entre os resíduos conservados Ser117 e Tyr118 (Ser110 e Tyr111) e o grupo fosfato 5´
(101,111,127) O fechamento do loop II é o passo final que precede a transferência do
fosforibosil. Com o loop II na conformação fechada são realizadas ligações de hidrogênio
adicionais ao PPi do PRPP e esse movimento força os substratos se aproximarem um do outro
até que eles atravessem o estado de transição.
Passo 6: As interações que ocorrem entre HGPRT e o PPi diferem entre as estruturas
de HGPRT. A mudança na posição do fosfato 5´ da ribose e o PPi antes e depois da
transferência do fosforibosil altera e enfraquece as interações entre o loop II e os produtos da
reação, permitindo o retorno do loop II para a conformação aberta.
Passo 7: O PPi é expelido do sítio ativo, sendo ajudado, em parte, pela energética
favorável, acompanhando o retorno de peptídio na forma cis para trans.
Passo 8: Quando o PPi deixa o sítio ativo, ocorre a perda da rede de ligações de
hidrogênio que liga os domínios hood e core na parte inferior do sítio ativo, enfraquecendo o
vínculo da ligação entre os dois domínios. A perda do PPi também enfraquece as interações
do loop IV, especialmente Asp206 (Asp200) com a porção C2-N3 do anel da purina. O
domínio hood começa a perder contato com a base purina, puxando a fita β9 e o Trp199
(Phe193) para longe da base. Nessa etapa, o nucleotídeo ainda está fortemente ligado por
ligações de hidrogênio com a enzima, pois são encontrados valores baixos para o fator de
temperatura do anel purina e do grupo fosfato, o GMP apresenta alta constante de dissociação
e o loop III´ ainda está fechado. Eventualmente, as interações entre os resíduos Arg182 no
loop III´, Asp150 e Asp197 (Asp144 e Asp191) são quebradas, e o loop III´ retorna à sua
posição aberta.
Passo 9: Neste momento com o loop III´ aberto, o loop III está livre para ser
desordenado na saída do fosfato 5´. Após a saída do nucleotídeo, a enzima HGPRT retorna ao
estado conformacional de apoenzima. A exigência desses 3 passos sequenciais para a
liberação do nucleotídeo, isto é, a abertura do domínio hood, a abertura dos loops III´ e III,
explica por que esse passo é limitante no mecanismo de reação da HGPRT. Segundo (128), a
liberação do nucleotídeo (NMP) no complexo enzima-nucleotídeo é mais vagarosa que a
liberação do PPi.
Passo 10: O passo determinante da reação envolve vários passos elementares, como
mudanças conformacionais da enzima, no NMP e sua dissociação. As mudanças
conformacionais na enzima são especificamente movimentos dos loops do sítio ativo e a
alteração na conexão espacial entre os domínios hood e core. Na análise das estruturas em
139
complexo ternário, o loop II adquire conformação aberta para a liberação do NMP, podendo
ser o movimento do loop II o passo elementar mais vagaroso na reação da HGPRT. No
entanto, na estrutura da HGPRT-XMP-PPi-Mg de T. gondii o loop II é observado também na
conformação aberta, o que indica que o passo limitante da reação está em algum passo
subsequente à liberação do nucleotídeo do sítio ativo, podendo ser a abertura do domínio
hood, a abertura do loop III`, a abertura do loop III, a mudança conformacional do NMP, a
dissociação do NMP ou algumas combinações desses passos.
140
Figura 78 - Mecanismo de reação enzimática da HGPRT. 1- Apoenzima com PRPP entrando no sítio ativo. Os
loops II, III e III´ na conformação aberta. 2- Complexo PRPP-Mg ligado e Lys79 adota a
conformação cis peptídeo. As interações do PPi do PRPP, loop I e loop IV aproximam o domínio
hood do domínio core. Loop III ordenado ao redor do 5´fosfato e guanina entra no sítio ativo. 3-
Bolsão de ligação à guanina é fechado e ordenado ao redor da base. Loop III fechado permite que o
loop III´ se feche colocando Arg182 entre Asp150 e Asp197 completando a ligação dos domínios
hood e core. 4- Loop II se fecha colocando o resíduo Tyr118 em posição de ligação de hidrogênio
com o fosfato 5´ permitindo a transferência fosforibosil. 5- Loop I e IV são abertos e PPi sai do sítio
ativo. Lys79 do loop I retorna a conFiguração trans e o loop II é aberto. 6- Loop III´ e III se abrem e
liberam GMP e HGPRT retoma a forma apoenzima.
Fonte: HEROUX et al. (115)
141
6.3.5 Interface dimérica e influência na composição do sítio ativo de HGPRT
Na enzima ADSL previamente descrita, faz-se necessário a formação da estrutura
tetramérica para que ocorra a atividade catalítica, uma vez que três das quatro subunidades
compõem o sítio ativo. Entretanto, na enzima HGPRT não há uma razão explícita para o
requerimento de uma estrutura dimérica ou tetramérica cataliticamente ativa, uma vez que as
subunidades não compartilham os sítios ativos, pois estes se encontram bem separados da
interface do dímero e tetrâmero. (111)
Estudos da HGXPRT de Plasmodium falciparum mostraram que uma mutação na
interface da estrutura quaternária resulta em uma diminuição significativa da eficiência
catalítica. (130)
Outros estudos realizados com mutantes da enzima HGPRT de Trypanosoma cruzi
também indicaram que o loop I do sítio ativo, o qual participa da interface dimérica da enzima
tem profunda influência na eficiência enzimática. (113)
A cadeia lateral da Lys75 (S. mansoni) do loop I da cadeia B faz interação com a
cadeia principal da Val 103 da subunidade oposta A. Essa ligação de hidrogênio faz com que
o resíduo invariável Arg206 fique orientado no sítio ativo (Figura 79), na posição correta para
interação com o PRPP ou PPi. Essa conformação desses resíduos pode ser observada nas
estruturas de HGPRT de L. tarentolae, T. gondii, P. falciparum, E. coli, T. cruzi e humana.
(113,129)
142
Figura 79 - Ligação do resíduo Lys75B do loop I com Val103A em SmHGPRT.
Fonte: Elaborada pela autora.
O loop IV também apresenta diversos resíduos na interface dimérica em todas as
HGPRTs depositadas no banco de dados. O loop IV é um dos loops que compõem o sítio
ativo. Em SmHGPRT o resíduo Asp207B está envolvido com interações de hidrogênio nessa
interface com três moléculas de água e o resíduo Glu89A (Figura 80). O fato de vários
resíduos próximos ao sítio ativo do loop I e do loop IV participarem tanto da dimerização
quanto da composição do sítio ativo, pode justificar a atividade da enzima HGPRT na forma
dimérica e tetramérica. (113,129)
143
Figura 80 - Interação entre os resíduos Lys75B do loop I com Val103A, Asp207B com três moléculas de água e
Glu89A, este com Lys79B em SmHGPRT.
Fonte: Elaborada pela autora.
144
145
CAPÍTULO 7
7 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS
7.1 Conclusões
O sistema de expressão utilizando os vetores pOPIN em células de E. coli Lemo21
(DE3) para AK1, ADSL, HGPRT 1 e células de E.coli B834(DE3) para HGPRT 3 em meio
de cultura Power Broth, proporcionou um grande rendimento na produção das proteínas
recombinantes.
O método de purificação por afinidade estabelecido em um único passo, utilizando
resina de cobalto agarose foi eficiente, sendo obtidas proteínas com alto grau de pureza.
Cristais das enzimas AK1, ADSL, HGPRT 1 e 3 foram obtidos em diversas condições
do kit de cristalização Morpheus. Entretanto, cristais de AK1 e HGPRT3 difrataram
pobremente e não foram reproduzidos nas dependências do LBest.
Foram obtidas duas estruturas de SmADSL, uma na forma Apo coletada à 2.14Å de
resolução e outra em complexo com AMP coletada à 2.36Å. A estrutura apresenta o
enovelamento e estado de oligomerização conservados em relação às enzimas ortólogas. O
estado tetramérico é requerido para a funcionalidade da enzima, uma vez que resíduos de três
das quatro subunidades participam da formação do sítio ativo.
O sítio ativo é altamente conservado entre as espécies, inclusive a região
correspondente a um loop flexível na região do sítio ativo. Esse alto grau de conservação do
sítio ativo dificulta a identificação de potentes inibidores espécie-específico no
desenvolvimento de novos agentes terapêuticos. Em contraste, a interface dimérica dessas
enzimas tem se apresentado suficientemente distinta em comparação à ortóloga humana, o
que pode representar um potencial alvo para o desenvolvimento de um inibidor. No entanto, é
reconhecido que existe uma grande dificuldade em adotar essa abordagem.
O ensaio de atividade enzimática de SmADSL revelou uma reação endotérmica, com
reação de troca de entalpia de ΔHADS = +8,9 kcal/mol e ΔHSAICAR = +4.7 kcal/mol obtidos em
condições de saturação. Esse ΔH > 0 indica que no sistema endotérmico a contribuição da
entropia é importante para a reação cinética. Essa elevada contribuição da entropia
possivelmente está relacionada com a grande quantidade de moléculas de água presentes no
146
sítio ativo. Os valores obtidos foram de KM = (17.2 ± 2.3) µM e kcat = (0.73 ± 0.04) s-1
para o
substrato ADS e KM = (5.27 ± 1.2) µM e kcat = (1.8 ± 0.3) s-1
para o substrato SAICAR.
Após experimentos de otimização e mais de 200 cristais testados, foi possível obter
uma estrutura de SmHGPRT em complexo com IMP, cujo cristal crescido na condição A4 do
kit Morpheus difratou à 2.8Å de resolução. A estrutura apresenta o enovelamento e estado de
oligomerização dimérico e tetramérico conservados em relação às enzimas ortólogas. Apesar
das subunidades não compartilharem o sítio ativo, este estado de oligomerização é requerido
para a funcionalidade da enzima, uma vez que resíduos do loop I e loop IV que compõem o
sítio ativo também estão envolvidos em interações na interface dimérica. A ligação de
Lys75B (loop I) com Val103A orienta o resíduo invariável entre HGPRTs Arg206B (loop IV)
na direção do sítio ativo para a ligação do PRPP.
O sítio ativo é conservado entre as espécies, situado na interface dos domínios hood e
core, composto por quatro loops (I, II, III e IV). Foram identificadas quatro mutações na
região do sítio entre SmHGPRT e HGPRT humana: Ile149Met, Pro176Arg, Val189Ile e
Arg192Lys. A mutação Pro176Arg encontra-se em uma região de loop em conformação mais
fechada na HGPRT humana em relação à SmHGPRT. A cadeia lateral do resíduo Arg169
aponta para dentro do sítio ativo, enquanto seu correspondente em SmHGPRT Pro176
encontra-se mais distal.
O loop II em SmHGPRT encontra-se desordenado, assim como em outras HGPRTs
depositadas no banco de dados, essa desordem é comumente observada uma vez que esse loop
é móvel. O movimento dos loops na região do sítio ativo é essencial para o mecanismo
catalítico descrito como bi-bi ordenado.
7.2 Perspectivas Futuras
- ADSS
Novas análises de bioinformática da sequência codificadora da enzima. Testes de
amplificação, clonagem, expressão, purificação e cristalização.
- HGPRT 2
Nova amplificação e clonagem em diferentes vetores de expressão. Testes de expressão,
purificação, cristalização e atividade.
147
- HGPRT3 e AK1
Ensaios de “Differential Scanning Fluorimetry (DSF)” para identificação de tampões e
aditivos que estabilizem as enzimas e não comprometam a reprodução dos cristais obtidos no
kit de cristalização Morpheus. Coleta de dados, resolução e análise das estruturas
tridimensionais tendo como modelo de busca as enzimas AK2 e HGPRT1 previamente
resolvidas em nosso grupo de pesquisa. Teste de atividade enzimática.
- ADSL
Experimentos de mutação sítio dirigida de resíduos pontuais da interface dimérica e
tetramérica da enzima, visando a identificação de resíduos essenciais para a manutenção do
estado de oligomerização requerido para a atividade enzimática.
- HGPRT1
Experimentos de mutação sítio dirigida de resíduos mutados em relação à enzima humana no
sítio ativo e na interface dimérica e tetramérica da enzima, visando a identificação de resíduos
essenciais para a manutenção do estado de oligomerização requerido e atividade enzimática.
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