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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE … · Leonor, tia Marcia e tia Tita (todas em outro plano, mas muito presentes), além de meu marido Gabriel e meus filhos amados

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS III

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, CULTURA E TERRITÓRIOS SEMIÁRIDOS

ADRIANA MARIA SANTOS DE ALMEIDA CAMPANA

LIVRO DE IMAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUAZEIRO/BA

JUAZEIRO-BA 2019

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS III PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, CULTURA E TERRITÓRIOS

SEMIÁRIDOS

ADRIANA MARIA SANTOS DE ALMEIDA CAMPANA

LIVRO DE IMAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUAZEIRO/BA

Dissertação apresentada ao Departamento de Ciências Humanas, Universidade do Estado da Bahia, Campus III, para obtenção do título de Mestre em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos.

Linha de Pesquisa: Letramento e Comunicação Intercultural

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos

JUAZEIRO-BA

2019

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Campana, Adriana Maria Santos de Almeida

C185L Livro de imagem na Educação Infantil em Jua-

zeiro/ BA. / Adriana Maria Santos de Almeida Campana. – Juazeiro, 2019.

159 fl. il.

Orientadora: Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos

Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiàridos) - Universi-

dade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. PPGESA. Campus III.

2019.

Bibliografia

1. Livros e leitura 2. Livro de imagem 3. Cultura 4. Educação de crianças 5. Semi-

árido I. Vasconcelos, Flávia Maria de Brito Pedrosa II. Universidade do Estado da Ba-

hia. Departamento de Ciências Humanas

CDD 028.5

1. Livros e leitura 2. Livro de imagem 3. Cultura 4. Educação de crianças 5. Semi-

àrido I. Vasconcelos, Flávia Maria de Brito Pedrosa II. Universidade do Estado da Ba-

hia. Departamento de Ciências Humanas

CDD 028.5

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DEDICATÓRIA

Numa tentativa de homenagear pessoas que participaram da minha narrativa de vida dedico esse trabalho a minha mãe, Lucila, vó Leonor, tia Marcia e tia Tita (todas em outro plano, mas muito presentes), além de meu marido Gabriel e meus filhos amados Pedro e Isabela. Pra vocês a dedicatória imagética, pois palavras, nesse momento, já não são necessárias. Contei com a ajuda da design gráfica Evely Rayane Ramos, que colocou em desenho, sentimentos oralizados.

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AGRADECIMENTOS

No finalzinho deste caminhar, lembranças me veem à mente, transbordando um

enorme sentimento de gratidão. Pelos meus filhos Pedro e Isabela, por serem tão

especiais. Não pedirei desculpas pelos momentos que não consegui dar conta

daquilo que me propus e deixei de atendê-los. Mas saibam que hoje eu sou uma

mãe muito melhor. Ao meu amor da vida, Gabriel, que sonhou junto, torceu junto,

segurou minha mão em vários momentos e sempre acreditou na minha vitória. Sei

que não sou mais como há dois anos, mas também sei que você se orgulha da

mulher que me tornei. À minha amiga Edilane, minha “grande” incentivadora

acadêmica, por acreditar em mim mais que eu mesma e por compartilhar comigo

momentos de aflição e de alegria. Estendo esse agradecimento ao meu amigo

Andrea, pelas conversas e pizzas nas noites de domingo. À minha família de um

modo geral, que torceu, mesmo de longe, por cada momento dessa trajetória. Em

especial à minha comadre e tia Maguiga, tia Regina, a melhor contadora de histórias

do mundo e tia Leninha. À minha orientadora Flávia, que acreditou em mim como

primeira orientanda e tanto me ensinou nesses dois anos de caminhada. Suas

palavras de incentivo estarão sempre guardadas no meu coração. À minha

professora e membro da banca Carla Paiva, pela generosidade e pelo cuidado

afetivo que demonstras por mim, por perceber desde o início a pertinência do meu

tema e ser um dos meus maiores exemplos. Ao professor Erinaldo Nascimento, que

nos deu a honra de participar como membro externo da banca e compartilhar tantos

ensinamentos conosco. Tem aqui uma fã. Aos amigos do PPGESA da turma de

2017, que vivenciaram tantos momentos comigo, meu eterno carinho. Aos

professores do programa, em especial professor Edmerson, que nos mostra na

prática o que é ser professor. Meu eterno respeito. A todos os funcionários que

sempre estavam por perto. As gestoras e professoras das escolas por onde passei.

Saibam que vocês me ensinaram muito. Aos amigos que vibraram positivamente

pelo meu sucesso, em especial às amigas Willany, Marcia Guena, Ceres, por tantos

papos bons. Ao amigo Samuca pela inspiração imagética do nosso Semiárido. Às

crianças que hoje considero parte da minha família: Giulia, Icaro, Caio, Serena e

Senghor e às crianças de todas as escolas por onde passei. Aprendo a cada dia

com vocês. Mais uma vez, obrigada!

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A arte continua viva, pois não mataram o seu poder criativo! A arte continua sendo um antídoto para muitos processos que promovem a ocultação do

real e a limitação do pensar, do sentir, do ver, do ser; A arte é um antídoto para a falta de sentido e insensibilidade presente no mundo;

A arte é um antídoto para a indiferença; A arte é um antídoto para a intolerância dos que se dizem tolerantes;

A arte é um antídoto para a esquizofrenia do conhecimento que se julga totalitário e nega a sabedoria do saber;

A arte é um antídoto para a indecência de uma educação que nega o ser na sua mais profunda subjetividade e diferença;

A arte é um antídoto para as verdades insofismáveis, que negam quaisquer aproximações com os saberes da tradição dos contextos;

A arte é um antídoto para a superação da descontextualização da vida, dos contextos e da educação;

Que a arte possa permear a escola, o cotidiano, o mundo da insensibilidade! (REIS, 2018)

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RESUMO

A presente investigação visou problematizar o uso do livro de imagem como recurso pedagógico na Educação Infantil de Juazeiro/BA, atentando para uma perspectiva contextualizada do Semiárido juazeirense. Para tanto, buscou-se descrever os livros de imagem das salas da Educação Infantil da EMEI Nailde de Sousa Costa e Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José, ambas em Juazeiro/BA, assim como analisar as potencialidades do uso do livro de imagem nesse segmento do município, possibilitando uma perspectiva contextualizada de educação para o Semiárido. Um caminho seguido a partir da aproximação de autores como Reis (2009) e Martins (2004), referendando uma Educação Contextualizada para o Semiárido, possibilitando uma leitura a partir das experiências das crianças. Além disso, apropriou-se dos conceitos de Camargo (1985), Castanha (2008) e Spengler (2017) que explicitaram sobre o livro de imagem, assim como de Hernandez (2000; 2007) e Nascimento (2011; 2013; 2015) que abordam a Cultura Visual no viés da pesquisa e da reflexão da imagem e compreensão do que esta representa. A pesquisa utilizou-se de abordagem qualitativa, com objetivo exploratório. Na pesquisa de campo entrevistas semiestruturadas com professores, gestores e coordenadores das duas escolas, além de observações. Notou-se que o livro de imagem pode ser utilizado, embasado nos pilares da Educação da Cultura Visual e Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido. Além disso, fatores limitantes como: formação do professor, currículo, projeto político pedagógico das escolas influenciam diretamente no processo de leitura da imagen e construção da identidade da criança a partir do seu contexto na Educação Infantil.

Palavras-chave: Livros e leitura. Livro de imagem. Cultura. Educação de Criança.

Semiárido.

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RESUMEN

La presente investigación pretende problematizar el uso del libro de imagen como recurso pedagógico en la Educación Infantil de Juazeiro / BA, atentando hacia una perspectiva contextualizada del Semiárido juazeirense. Para ello, se buscó describir los libros de imagen de las salas de la Educación Infantil de la EMEI Nailde de Sousa Costa y Escuela Municipal Rural de Tiempo Integral São José, ambas en Juazeiro / BA, así como analizar las potencialidades del uso del libro de imagen en ese el segmento del municipio, posibilitando una perspectiva contextualizada de educación para el Semiárido. Un camino seguido a partir de la aproximación de autores como Reyes (2009) y Martins (2004), refrendando una Educación Contextualizada para el Semiárido, posibilitando una lectura a partir de las experiencias de los niños. En el caso de Camerún (1985), Castanha (2008) y Spengler (2017) que explicitaron sobre el libro de imagen, así como de Hernández (2000; 2007) y Nacimiento (2011; 2013; 2015) se abordan la Cultura Visual en el sesgo de la investigación y de la reflexión de la imagen y comprensión de lo que ésta representa. La investigación se utilizó de abordaje cualitativo, con objetivo exploratorio. En la investigación de campo entrevistas semiestructuradas con profesores, gestores y coordinadores de las dos escuelas, además de observaciones. Se notó que el libro de imagen puede ser utilizado, basado en los pilares de la Educación de la Cultura Visual y Educación Contextualizada para Convivencia con el Semiárido. Además, factores limitantes como: formación del profesor, currículo, proyecto político pedagógico de las escuelas influencian directamente en el proceso de lectura de la imagen y construcción de la identidad del niño a partir de su contexto en la Educación Infantil.

Palabras clave: Libros y lectura. Libro de imagen. Cultura. Educación Infantil. Semiárido.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Coleção disquinhos em CD ......................................................................... 17

Figura 2 Álbuns de figurinhas com nome .................................................................. 18

Figura 3 Estrutura do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil .......... 26

Figura 4 Recorte do livro de imagem O vôo da Asa Branca...................................... 39

Figura 5 Imagem página livro Flicts ........................................................................... 47

Figura 6 Esquema de direitos de aprendizagens e desenvolvimento e campos de experiências .............................................................................................................. 52

Figura 7 Sequência da narrativa visual de Miú e Zuzu .............................................. 58

Figura 8- Práticas de Leitura para Educação Infantil ................................................. 59

Figura 9 – Locus da pesquisa – Semiárido Juazeirense ........................................... 64

Figura 10 Vista frontal Escola Rural de Tempo Integral São José ............................ 69

Figura 11 Imagem satélite entorno Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José ........................................................................................................................... 70

Figura 12 Vista frontal EMEI Nailde de Sousa Costa ................................................ 71

Figura 13 Imagem satélite entorno EMEI Nailde de Souza Costa............................. 71

Figura 14 Parque infantil das escolas visitadas ......................................................... 73

Figura 15 Casinha de madeira da EMEI ................................................................... 74

Figura 16 Quadro de registro de acompanhamento de leitura em Junho ................. 75

Figura 17 Sala de leitura (Biblioteca) da Escola Rural de Tempo Integral ................ 76

Figura 18 Caminho metodológico da pesquisa ......................................................... 81

Figura 19 Cartaz elaborado pela sala do Infantil V EMEI Nailde de Sousa Costa .... 93

Figura 20 Cartaz elaborado pela sala Infantil IV EMEI Nailde de Sousa Costa ........ 93

Figura 21 Desenhos dos estudantes da classe do Infantil V (EMEI) ......................... 94

Figura 22 Atividade para colorir animais do Semiárido ............................................. 97

Figura 23 Fotografia de um preá ............................................................................... 97

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Figura 24 Fotografia de um tatu ................................................................................ 98

Figura 25 Fotografia de um calango .......................................................................... 98

Figura 26 Paredes externas salas EMEI ................................................................. 100

Figura 27 Leitura de imagem em sala de aula ........................................................ 101

Figura 28 Recorte de página do livro didático com texto inserido ........................... 102

Figura 29 Atividade do livro didático Infantil V ......................................................... 103

Figura 30 Imagens em paredes de sala de aula ..................................................... 104

Figura 31 Sala de leitura ......................................................................................... 105

Figura 32 Livro didático utilizado na Educação Infantil V ........................................ 106

Figura 33 Um dos desenhos relacionados à livraria ................................................ 107

Figura 34 Capa do livro indicado pela entrevistada Maroca como livro de imagem 108

Figura 35 Recorte de página do livro Dez Sacizinhos ............................................. 108

Figura 36 Recorte do livro de imagem A bola dourada com possibilidades variadas de proposições ........................................................................................................ 115

Figura 37 Livro de imagem A visita. com possibilidade para refletir medo/ família/ moradia ................................................................................................................... 117

Figura 38 Tela como exemplo de expressão de sentimentos ................................. 118

Figura 39 Livro de imagem Bem me quero bem me querem com possibilidade para refletir amizade/diversidade/cidade/ ........................................................................ 119

Figura 40 Óleo sobre Tela O barco (Igor Jardim). do Catálogo da Associação dos artistas pintores com as bocas e os pés ................................................................. 119

Figura 41 Livro de imagem Que planeta é esse? com possibilidade para refletir poluição/contexto/ ................................................................................................... 121

Figura 42 Livro de imagem Mas será que nasceria a macieira? com possibilidade para refletir cidade/campo/desenvolvimento/tempo ................................................ 121

Figura 43 Livro de imagem O menino, o jabuti e o menino com possibilidade para refletir morte/cidade/amizade .................................................................................. 122

Figura 44 Livro de imagem com possibilidades para refletir problemas sociais/poluição ....................................................................................................... 123

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Figura 45 Livro de imagem Onda com possibilidade para refletir contexto/brincar/água .............................................................................................. 124

Figura 46 Livro de imagem Mar de sonhos com possibilidade para refletir contexto/brincar/água .............................................................................................. 124

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Teses e dissertações encontradas no repositório da CAPES. ................... 30

Tabela 2 - Teses e dissertações encontradas no repositório BDTD/IBICT. .............. 33

Tabela 3 Teses e dissertações encontradas no repositório da UFRGS LUME. ........ 34

Tabela 4 Objetivos de aprendizagem e conhecimento para a Educação Infantil ...... 53

Tabela 5 Características comparativas das escolas visitadas................................... 72

Tabela 6 Identificação das professoras entrevistadas ............................................... 78

Tabela 7 Identificação das gestoras entrevistadas .................................................... 78

Tabela 8 Identificação da coordenadora entrevistada ............................................... 78

Tabela 9 - Livros de imagem na Escola Integral Rural São José .............................. 83

Tabela 10 - Livros de imagem na sala do Infantil III EMEI Nailde Costa ................... 85

Tabela 11 - Livros de imagem na sala do Infantil IV EMEI Nailde Costa .................. 86

Tabela 12 - Livros de imagem na sala do Infantil V EMEI Nailde Costa ................... 87

Tabela 13 - Quadro categoria conhecimento sobre o livro de imagem ..................... 89

Tabela 14 – Quadro referente à categoria concepção do Semiárido ........................ 92

Tabela 15 Quadro referente à subcategoria diálogo com elementos semiárido,

escolas e estudantes ................................................................................................. 95

Tabela 16 - Quadro referentes à categoria eixo Artes Visuais na Educação Infantil . 99

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LISTA DE SIGLAS

BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CNE - Conselho Nacional de Educação

DCNEI – Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil

ECCSA – Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido

ECV – Educação da Cultura Visual

EJA - Educação de Jovens e Adultos

EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil

EMRTI - Escola Municipal Rural de Tempo Integral

INSEA – International Society For Education Through Art

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola

RCNEI - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

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SUMÁRIO

1 POR ONDE ANDEI ATÉ AQUI ..................................................................... 15

2 ABRINDO OS OLHOS PARA LEITURA DE IMAGENS NO SEMIÁRIDO JUAZEIRENSE .......................................................................................................... 22

2.1 CONTRIBUIÇÕES DE OUTROS CONTEXTOS E OLHARES SOBRE O LIVRO DE IMAGEM .............................................................................................. 28

2.2 DIVERSOS OLHARES PARA O SEMIÁRIDO JUAZEIRENSE ................... 36

3 OS MEANDROS DO LIVRO DE IMAGEM E DA CULTURA VISUAL .......... 43

3.1 NARRATIVA HISTÓRICA SOBRE O LIVRO DE IMAGEM .......................... 44

3.2 A CULTURA VISUAL NA ESCOLA .............................................................. 49

3.3 LEITURA DO LIVRO DE IMAGEM............................................................... 56

4 PASSOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 63

4.1 PEGADAS MARGEANDO O RIO ................................................................ 64

4.2 OBSERVANDO AS ESCOLAS .................................................................... 68

4.3 CONVERSANDO COM NOSSOS SUJEITOS ............................................. 76

5 POR UMA EDUCAÇÃO INFANTIL VISÍVEL E DIZÍVEL NAS ESCOLAS JUAZEIRENSES ....................................................................................................... 82

5.1 IMERSÃO NOS LIVROS DE IMAGEM OBSERVADOS .............................. 83

5.2 OUVINDO E REFLETINDO A PARTIR DO CONTEXTO E DA PRÁTICA ... 88

5.3 UMA ESCUTA SENSÍVEL POSSIBILITANDO REFLEXÕES .................... 103

5.4 POSSIBILIDADES DE LEITURAS A PARTIR DO CHÃO DA ESCOLA..... 113

6 FRUTOS COLHIDOS ................................................................................. 126

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 131

REFERÊNCIAS IMAGÉTICAS ................................................................................ 141

ANEXOS ................................................................................................................. 148

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1 POR ONDE ANDEI ATÉ AQUI

Para iniciar esta narrativa trazemos a imagem de pássaros,

sobrevoando os céus do Semiárido juazeirense, em trânsito, sempre

num recomeçar o caminho para novos voos, rumo a objetivos

próprios. Nessa perspectiva que pensamos o nosso caminho, com

histórias passadas, experiências vividas, mas um eterno recomeçar

(CAMPANA).

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Histórias e vivências do passado nos trazem até aqui, nesse sentido, opto neste

capítulo por me apresentar, para que cada linha deste trabalho seja entendida de

forma contextual e possam ser percebidas as conexões que são realizadas com

tantos outros sujeitos em minha formação.

Propondo uma reflexão, ancorada em Ramos (2011, p.30), que descreve sua

narrativa histórica imagética para que “possamos compartilhar formas de pensar

visualmente e contar outras tantas narrativas”, trago a minha narrativa de vida a

partir de imagens das minhas memórias infantis.

Minha infância foi cercada pela literatura infantil e as imagens desses livros estão

guardadas na memória até hoje. Filha de pai português e mãe brasileira, professora,

amantes da literatura de um modo geral, fui estimulada desde cedo à leitura de

histórias infantis e a tê-las como hábito prazeroso. Os clássicos como “Cinderela”,

“Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho” sempre vinham de um livro grosso, com

capa escura, que repousava na estante de mogno da biblioteca da casa do meu avô.

Algumas obras de Monteiro Lobato, contados pela minha mãe, avó, tias e tantas

professoras, emaranhavam-se nos contos da minha infância e davam vida à minha

imaginação.

Lembro-me de ouvir algumas histórias, em minha vitrola portátil laranja. Eram da

Coleção Disquinho. Recordo da “Formiguinha e a neve”, “Festa no céu”, “O lobo e os

três cabritinhos”, “O soldadinho de chumbo”, “A cigarra e a formiga”. Ouvia com a

capa ilustrada bem segura nas mãos. Compostas e adaptadas por João de Barro e

orquestradas por Radamés Gnattali, cada uma dessas histórias representava uma

cor diferente de disco. Mais tarde, pude adquiri-los em CDs, também coloridos, como

registrado na Figura 1.

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Figura 1 Coleção disquinhos em CD

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Também gostava de ler gibis, principalmente, “Turma da Mônica” e os que

continham personagens da Disney, como Tio Patinhas, que eram vendidos em

bancas de jornal. Os gibis me davam a liberdade de entender imagens e não

precisar sempre decifrar os códigos escritos para compreensão, assim como alguns

álbuns de “figurinhas” (figura 2), que guardo até hoje e seus cobiçados envelopes,

com imagens de personagens dos filmes e desenhos da época. Nesse sentido,

suspeito que as “figurinhas”, na infância, agiram em meu aprendizado, estimulando a

leitura dos livros ou vice-versa.

Convém destacar que dentre as memórias aqui recortadas, encontro a lembrança de

algumas poucas ilustrações em branco e preto de um livro de literatura infantil que

tinha do Pinóquio. Achei aquele desenho um pouco apagado, resolvi pintá-lo. Hoje,

interpreto que ao colorir a imagem, pude destacar uma representação que me

permitiu construir uma leitura visual com maior significado, pois as cores faziam

parte do meu universo de criança e a autonomia da autoria estimulava meus

sentidos.

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Figura 2 Álbuns de figurinhas com nome

Fonte: Arquivo da pesquisadora

A Literatura Infantil, com o tempo, foi se tornando uma parte que considero

importante da minha história e dos meus filhos. O mercado editorial cresceu, a

quantidade de títulos, autores e ilustradores igualmente e o hábito de colocar o

dedinho nas ilustrações como leitor foi mais uma vez experimentado por mim, agora

com os dedinhos dos meus filhos.

Como mãe, na busca por livros infantis, encontrei alguns que continham apenas

imagens, ou seja, narrativas imagéticas e esses eram os preferidos na hora de ler.

Talvez pela ausência de obrigação da leitura de textos escritos, ou pela

possibilidade maior de imaginar. Fato é que os livros de imagem tomaram conta das

estantes dos meus filhos, que mesmo sem estarem alfabetizados na leitura e escrita

das palavras, possuíam o hábito de ler imagens. Cabe ressaltar que muitas vezes eu

tinha dificuldade em contar histórias com livros de imagens e percebia que as

crianças eram mais livres na narração, não possuíam regras de textos escritos,

deixavam se levar pelos elementos da narrativa visual.

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Na construção contínua que me encontro, como pesquisadora, e observando meus

filhos e seus avanços na leitura, autoestima, autonomia e sentidos apurados para

compreender uma imagem, fui cada vez mais me interessando pelo livro de imagem

como possibilidade para as crianças da Educação Infantil. Na experiência com meus

filhos, fui compreendendo a importância da educação do olhar fazer parte dos

saberes das crianças, desde os anos iniciais.

Na Universidade do Estado da Bahia, na graduação do curso de Pedagogia, resgatei

a importância da leitura de imagem com a professora Antonilde, em uma aula que

estimulou nossa percepção a partir da leitura do livro Ida e Volta (MACHADO, 1969).

Tive a curiosidade de pesquisar essa temática diante das minhas inquietações,

quando percebi, no Estágio Supervisionado, a ausência de livros de imagem nas

salas de crianças com cinco anos.

Apesar das professoras das salas de Educação Infantil, observadas no Estágio

Supervisionado, entenderem a importância da leitura de imagem, já que constava tal

especificação na proposta do componente Artes Visuais, não acreditavam na

necessidade do livro de imagem para um estímulo do pensar e fazer crítico/reflexivo,

por possuírem uma visão única da leitura, focada na aquisição e decifração da

palavra escrita para alfabetização1.

Essa pesquisa com livro de imagem na Educação Infantil resultou no Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC) “Livro de imagem: um convite ao olhar e à percepção da

criança da Educação Infantil”, defendido em dezembro de 2014 (CAMPANA, 2014),

no curso de Licenciatura em Pedagogia da UNEB. Nesse trabalho, pude notar em

um estudo de caso, a importância do livro de imagem em uma sala de Educação

Infantil V. Como parte das conclusões dessa experiência, observei aspectos como o

estímulo à leitura, desenvolvimento da imaginação, criatividade, oralidade,

sequência narrativa e autoestima, surgindo uma inquietação para a continuidade da

investigação.

1 Tanto o TCC como esta dissertação entendem alfabetização como um processo que visa

desenvolver “capacidade de expressar-se e compreender, e tanto a capacidade verbal quanto a visual pode ser aprendida por todos. E deve sê-lo” (DONDIS, 1991, p.230)

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Posso inferir que com essa investigação, pude visualizar a possibilidade do

desenvolvimento de uma proposta pedagógica que auxiliasse na prática dos

professores para a leitura de imagens na rede municipal de Juazeiro, pensando no

(re)conhecimento de possibilidades do livro de imagem nas salas de Educação

Infantil pelos professores. Entendo que uma proposta fechada didaticamente, tal

como um receituário pedagógico, poderia limitar a leitura do livro de imagem e

afunilar possibilidades, ao invés de ampliá-las.

Destarte, logo após a finalização do Curso de Pedagogia em 2015, pensando num

maior aprofundamento da pesquisa, tive a oportunidade de cursar duas disciplinas

como estudante especial, no Programa de Pós Graduação Mestrado em Educação,

Cultura e Territórios Semiáridos – PPGESA da UNEB. Uma delas, Letramento e

Cultura Visual, trouxe um entendimento da importância da problematização da

imagem no contexto do Semiárido juazeirense. Assim, percebi que o livro de

imagem também poderia trazer elementos para uma leitura crítica/reflexiva das

imagens que são apresentadas nesse território.

Outro registro importante nessa perspectiva foi a experiência da utilização do livro de

imagens com uma senhora da Educação de Jovens e Adultos - EJA em uma

abordagem psicopedagógica de leitura, relatado no artigo “Arte/educação

contextualizada em práxis: livro de imagem, psicopedagogia e educação de jovens e

adultos” (CAMPANA e VASCONCELOS, 2017). Nesse caso, o livro de imagem foi

utilizado como recurso pedagógico para facilitação da construção da leitura e da

oralidade, propondo uma ruptura com a proposta engessada da leitura como

decodificação de texto escrito, sendo possível perceber a importância da leitura de

imagens numa perspectiva da aprendizagem critica e reflexiva.

Mais tarde, já atuando como professora, no estágio docente, tive a necessidade de

ouvir as memórias imagéticas de minhas estudantes do curso de Pedagogia da

UNEB. Mas ao perguntar quais as primeiras imagens da literatura que elas se

lembravam, poucas traziam tais memórias. “Meu pé de Laranja Lima” e “O Pequeno

Príncipe” foram citados em algum momento. “A Turma da Mônica” e “Sítio do Pica

Pau Amarelo” em outro. E mais uma vez reflito qual a importância que nós, pais e

professores, damos às imagens e aos livros, aos espaços de literatura no contexto

infantil.

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Todas as experiências citadas na minha narrativa abriram portas para uma

abordagem de pesquisa de maior amplitude, com a preocupação em problematizar o

uso do livro de imagem como recurso pedagógico na Educação Infantil de

Juazeiro/BA, atentando para uma perspectiva contextualizada do Semiárido, por

entender a imagem como um caminho para a reflexão crítica do próprio contexto e

identidade da criança.

Nesse sentido, compreensões do Semiárido juazeirense também serão

oportunizadas, nesta dissertação, por imagens cedidas pelo fotógrafo regional

Samuel Moraes, que possui uma sensibilidade que considero admirável de registro

das paisagens semiaridenses. Intencionamos o texto visual, ao longo do trabalho,

não como um documento, mas gerando sentido para narrativa dos lugares trilhados

nesta investigação. Assim, tais imagens não constarão na lista das ilustrações, pois

são consideradas parte integrante da pesquisa e também o texto em si.

.

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2 ABRINDO OS OLHOS PARA LEITURA DE IMAGENS NO SEMIÁRIDO

JUAZEIRENSE

O abrir da janela permite avistar aquele que corta o Semiárido juazeirense e integra culturas, sujeitos, crenças, sonhos. Não pretendemos nos limitar a espaços únicos, mas abrir as nossas janelas dos olhos e da mente para perceber o outro, o diverso, o distante (CAMPANA).

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Este capítulo, Abrindo os olhos para a leitura de imagens no semiárido juazeirense,

propõe introduzir a problemática da pesquisa, trazendo estudos e percepções de

outros pesquisadores sobre o livro de imagem e a representação imagética do

Semiárido juazeirense. Por fim, indicamos o problema da pesquisa, objetivo geral,

objetivos específicos, além da estruturação dos capítulos deste trabalho.

Ao pensar em livro de imagem, não podemos deixar de discorrer sobre imagens e a

partir de que percepção teórica que nos ancoramos nessa investigação. Assim,

corroboramos com Manguel (2001, p.20-21) e seu entendimento de que,

[...] estamos todos refletidos de algum modo nas numerosas e distintas imagens que nos rodeiam, uma vez que elas já são parte daquilo que somos: imagens que criamos e imagens que emolduramos; imagens que compomos fisicamente, à mão, e imagens que se formam espontaneamente na imaginação; imagens de rostos, árvores, prédios, nuvens, paisagens, instrumentos, água, fogo, e imagens daquelas imagens – pintadas, esculpidas, encenadas, fotografadas, impressas, filmadas. Quer descubramos nessas imagens circundantes lembranças desbotadas de uma beleza que, em outros tempos, foi nossa (como sugeriu Platão), quer elas exijam de nós uma interpretação nova e original, por meio de todas as possibilidades que nossa linguagem tenha a oferecer (como Salomão intuiu), somos essencialmente criaturas de imagens, de figuras.

Igualmente, intuímos nossa sociedade bombardeada por uma profusão delas, sejam

em livros, fotografias, jornais, revistas, publicidade, televisão, cinema, internet e, por

conseguinte, a sua leitura acaba por parecer instintiva. Hernandez (2000), quando

se refere à palavra “bombardeio” de imagens, aponta uma preocupação com a

recepção ingênua da imagem pela sociedade.

A cultura imagética é evidente nas relações sociais e tal como na leitura verbal, faz-

se necessário que as crianças apropriem-se dela desde pequenas (CASTANHA,

2008), para que não a recebam sem a criticidade necessária. De tal modo, como

ressalta Hernandez (2007), ajudá-los a ler, na contemporaneidade, vai além de

ensiná-los a ver o óbvio, cabendo ao professor facilitar a construção de experiências

críticas e fazê-los refletir sobre suas identidades e contexto sócio histórico. Dessa

maneira, o referido autor compreende que Cultura Visual é uma forma de discurso

que ultrapassa ”o que é visto” e propõe perceber “quem o vê”, a maneira de se ver e

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de ver o mundo. Corroborando com Hernandez (2011), Nunes (2010, p.46) aponta a

Educação da Cultura Visual como aquela que,

[...] rompe com as barreiras de uma Educação Tradicional, pois propõe diferentes olhares e interpretações sobre as mais diversificadas situações. Usa e problematiza as temáticas e os objetos do cotidiano, porque acredita que os sentidos atribuídos a esses não são únicos e sim mutáveis. [...] Porém, sua ênfase está em transcender verdades vigentes através de constantes questionamentos, e legitimar ações pedagógicas que possam tornar-se significativas aos estudantes.

Notamos que Educação da Cultura Visual dialoga com a Educação Contextualizada

para Convivência com o Semiárido, pela proposição de quebra do discurso

hegemônico, colonizador, com a necessária produção de outra racionalidade, ligada

a questões contemporâneas.

Dialogando com a Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido,

Reis (2011) entende pontos essenciais para se pensar um currículo que não siga o

curso da reprodução hegemônica e perceba o contexto invisibilizado dessas

minorias, ou seja,

É preciso que o currículo se constitua num campo de insurgências e transgressões epistemológicas, possibilitando a comunicação dos saberes locais com os saberes globais como estratégia de ampliar a concepção de mundo desses sujeitos acerca do contexto em que vivem na tessitura do cotidiano, para que assim possam melhor conhecer o seu mundo a partir das suas próprias e de outras referencias, outras realidades, criando novas maneiras e formas de atuar sobre ele. (REIS, 2011, p 104)

Nessa perspectiva, a Educação contextualizada propõe a necessidade da

descolonização dos currículos únicos, descontextualizados à medida que dialogam

com uma pequena parte da população. A relação da educação com o contexto dos

sujeitos deve ir além de perceber elementos visíveis do local e trabalhar com eles

em sala de aula (MARTINS, 2006, REIS, 2008). Esta investigação coaduna com

esse pensamento, pois também interpreta que,

O contexto, então, não é apenas físico e objetivo. Nem é fixo. Ele compreende regimes de signos, materiais invisíveis, móveis, componentes de subjetividades.[...] o contexto também não diz respeito somente ao local, à dimensão territorial que nomeamos como o “aqui”, como a “nossa realidade”, sempre vinculada a um

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lugar, [...] contexto encera, além disso, o próprio dilema das identidades e os materiais semiótico que as compõem. (MARTINS, 2006, p.44)

Assim, cabe ressaltar que contextualizar não propõe isolar saberes, mas ampliá-los

(MARTINS, 2006), desde questões, das vivências, das identidades locais, construir

as próprias histórias, as suas narrativas, sem reproduzi-las com uma concepção

idealizada do próprio contexto. Nesse entendimento a Educação Contextualizada

para Convivência com o Semiárido e a Educação da Cultura Visual seguem o

mesmo direcionamento de um repensar o que está posto e “questionar as

interpretações existentes, atentando para as condições históricas que contribuíram

para tornar uma determinada afirmação aceitável” (NASCIMENTO, 2011, p.213).

E é neste sentido que a questão da “convivência com o semiárido” se liga a questões maiores, mais amplas; se abre para que incluamos aí a questão da convivência humana em termos mais amplos e mais complexos. As questões de gênero, as relações entre as gerações, as questões étnicas e éticas; questões como o aumento da violência [...] Enfim, o fato de estarmos no semiárido atingidos por todos os episódios mundiais: os ambientais e especialmente os políticos, tudo isto deve ser lançado para o âmbito da “convivência”. E isto tudo também constitui o contexto do presente, quando as questões mundiais também resplandecem no nosso cotidiano mais particular. A “educação para convivência com o semiárido” passa pela escolarização de temas locais tomados em sua amplitude, implicando, não em tratar estes temas como temas prontos [...]. Trata-se de agregar novos saberes a estes temas. (MARTINS, 2006, p.61)

Considerando tais pontos tão relevantes da Educação da Cultura Visual e Educação

Contextualizada para convivência com o Semiárido, podemos pautar o Ensino das

Artes, que contempla dança, música, teatro além das Artes Visuais, pela mesma

proposta de reflexão crítica de imagens, com a possibilidade de uma nova

racionalidade para a Educação. Tochetto e Felisberto (2017) em seu trabalho

discutem a finalidade do ensino das Artes na Educação Infantil e destacam funções

claras, entendendo que,

A Arte permite à criança compreender o ambiente que vive, reconhecendo os objetos e formas que estão ao seu redor, a ampliar o conhecimento sobre outras culturas, exercitando a observação crítica de sua própria realidade; a se relacionar, interagir e se posicionar de maneira crítica diante de seus problemas e de sua realidade. (p.12). (grifo nosso)

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Nesse mesmo entendimento, Frange (2005, p.111) descreve o Ensino das Artes

como possibilidade singular de estar no mundo e percebê-lo.

O Ensino das Artes procura dar a ver, tornar competente o professor para sentir, ver, olhar, perceber, descobrir, discutir, refletir, pensar, interpretar, escrever, e fazer associações advindas da própria imagem, e ler a manifestação textual para que os alunos possam sentir, ver, olhar, perceber, descobrir, discutir, interpretar, escrever e fazer associações advindas da própria imagem, e ler essa manifestação, assim como as imagens que estão no mundo à espera de um sentido enquanto construção outra significativamente como situação de interlocução e de experiência sensível e cognitiva

Apesar da relevância desse olhar para o Ensino das Artes e do Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), documento utilizado até o ano

de 2017 para o planejamento diário da Educação Infantil objetivar o conhecimento

de mundo e a integração das Artes Visuais com outros eixos como: Matemática,

Linguagem oral e escrita e Natureza e sociedade, além de Música e Movimento, na

prática da sala de aula (Figura 3), estes eixos são fragmentados e os professores

tendem a dividir dias e horários, como acontece com as disciplinas no Ensino Médio,

por exemplo.

Figura 3 Estrutura do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil

Fonte: BRASIL, RCNEI. V.2, p.71, 1998.

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Essa divisão limita tempos e espaços da criança na Educação Infantil e restringe as

percepções críticas e diálogos de linguagens que os eixos poderiam possibilitar.

Além disso, o entendimento de que a identidade e autonomia da criança se separa

do conhecimento de mundo da mesma, numa fase da vida que não há ainda a

divisão na práxis da criança, entre conteúdos, tornando tudo conhecimento nas

experiências da sala de aula.

Esse mesmo documento, em seu volume três (BRASIL, 1998, p.87) aponta que “a

produção teórica e a prática pedagógica em Artes Visuais tem demonstrado um

certo descompasso”, ainda hoje, nas salas de Educação Infantil, não sendo

pensadas na perspectiva dos Estudos da Cultura Visual, que oportuniza a

contextualização com a realidade dos discentes (HERNANDEZ, 2010).

Nessa perspectiva, o livro de imagem, aquele que conta “histórias através da

linguagem visual, de imagens que falam” (COELHO, 2000, p.161), pode se constituir

em um material interessante para se trabalhar a construção de uma nova

racionalidade dentro das escolas, desde a Educação Infantil, que, segundo o artigo

29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), número 9394/

1996,

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (LDBEN, 2005, p.17).

Contudo, para utilizá-los, os professores devem estar atentos à suas possibilidades,

bem como, no nosso entendimento, estarem apoiados nas propostas de Hernandez

(2000), ao uso contextualizado e crítico/reflexivo desse recurso pedagógico.

Dessa forma, tal como Coelho (2000) e Spengler (2017), entendemos que os livros

de imagens diferem daqueles com ilustração, no qual autor e ilustrador caminham

num diálogo contínuo. No livro de imagem, cada cena tende a ser autônoma em si

mesma, ou seja, não há necessidade da existência das palavras para auxílio da

leitura.

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Isso significa que aqueles que leem as imagens, sem nenhum texto escrito,

referendando-as, devem tentar compreendê-las, usando seus próprios mecanismos

internos de leitura, assim como as vivências construídas em seus caminhos de

aprendizagem. Esses mecanismos de construção da leitura visual podem ser

aguçados por professores, atuando como mediadores do processo de

ensino/aprendizagem, à medida que levam os estudantes a reflexões e olhares

críticos, partindo de suas leituras a partir de seus contextos de vida. Isso é percebido

nas palavras de Frange (2005, p.108),

A significação nasce do embate entre o visto, o visivo e as visibilidades que se dão a ver, a partir de um estudo aprofundado entre o que se vê, o vidente, o visível e as estratégias que articulam esse discurso no seu dizer e no se mostrar a si mesmo. A mediação pressupõe a construção de percursos gerativos de sentido, que possam gerar, gestar e construir sentidos. A mediação é reoperar, a partir da percepção, compreensão e uma “quase pintura outra”, as relações propostas pelo artista numa pintura por ele assinada (o exemplo é de uma pintura, mas poderá ser de outra manifestação visual, inclusive as da arte contemporâneas, como as obras efêmeras e as instalações).

Nesse aspecto e pensando nos mediadores em sala de aula, nos embasamos em

Hernandez (2007, p.60) quando propõe quatro grupos de objetivos para trabalhar a

Cultura Visual em sala de aula:

I)Experienciais (o que vou aprender a partir de mim mesmo?), II) Conceituais (sobre o que vamos pensar?), III) Relacionais (Que conexões vamos explorar e propor?), IV) De aplicação prática (o que vamos fazer com tudo isso?).

Por conseguinte, para pensar nas potencialidades da imagem enquanto recurso

pedagógico, iniciamos esta pesquisa na busca de olhares diversificados a partir de

leituras sobre o livro de imagem em pesquisas no âmbito de mestrado e de

doutorado, considerando o entendimento de outros contextos e possibilidades

variadas de diálogos.

2.1 CONTRIBUIÇÕES DE OUTROS CONTEXTOS E OLHARES SOBRE O

LIVRO DE IMAGEM

No intuito de pesquisar estudos que discorressem sobre o livro de imagem,

buscamos através do Centro de Documentação e Informação (CDI), Luiz Henrique

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Dias Tavares, teses e dissertações de alguns programas de Pós-Graduação da

UNEB como: Programa de Pós-Graduação em Gestão e Tecnologia Aplicadas à

Educação (GESTEC), Programa de Pós-Graduação em Educação e

Contemporaneidade (PPGEDUC), Programa de Pós-Graduação em Educação de

Jovens e Adultos (MPEJA). Também realizamos pesquisas no site do Programa de

Pós-Graduação em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA). Em

nenhuma dessas foram localizadas teses ou dissertações realizadas no âmbito da

pós-graduação, abordando a temática do livro de imagem.

Além dos repositórios vinculados aos programas de Pós Graduação da UNEB,

realizamos buscas de teses e dissertações na página da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em 05 de dezembro de

2017 e foram encontradas 18 teses e dissertações com o descritor “livro de

imagem”. Dessas, apenas 15 se relacionavam com o objeto da nossa pesquisa.

Seus títulos, bem como autores, ano de defesa, escopo e instituição de pesquisa

estão descritos na Tabela 1.

Na busca contínua por outros possíveis trabalhos relacionados ao livro de imagem,

adentramos na página da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

(BDTD), vinculada ao IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

Tecnologia), citada por Spengler (2017), em sua tese de doutoramento. Empregando

o mesmo descritor dos repositórios anteriores, “livro de imagem”, foram encontrados

apenas quatro trabalhos diferentes dos listados na Tabela 1, da CAPES, que se

encontram descritos na Tabela 2.

Além daqueles citados e demonstrados nas tabelas 1 e 2, tentando encontrar algum

trabalho ausente nas procuras anteriores, nos deparamos com o Repositório Digital

Lume, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e dois registros de teses e

dissertações com o descritor “livro de imagem” foram encontrados e descritos na

Tabela 3.

Organizamos essas três tabelas, modelo visto em outras dissertações (SPENGLER,

2017), para melhor visualização dos títulos, autores, locais de pesquisa do livro de

imagem, escopo e ano da defesa de cada uma. As teses e dissertações em negrito

são aquelas que se repetiram nas buscas realizadas anteriormente.

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Tabela 1 Teses e dissertações encontradas no repositório da CAPES.

Título Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

O livro-de-imagem: um

(pre)texto para contar histórias

Maria Tereza Pereira Breves

Apenas título encontrado

Universidade Federal de São

Carlos

Dissertação 1996

Entoação e sentido na

leitura de livro de imagem:

estudo de caso da produção oral infantil

Maria de Lourdes da

Costa Soares Almeida

Descrever estratégias

utilizadas na produção de sentido pelo leitor e pelo

ouvinte durante a leitura do livro

de imagem.

Universidade Católica de

Pernambuco

Dissertação 2004

Livro de imagem:

aprender a ver para aprender a

ler'

Aline Caldas Cunha

Investigar, a partir do livro

de imagem, os tipos de textos

orais produzidos

pelas crianças da Educação

Infantil

Universidade Federal de

Pernambuco

Dissertação 2005

Livro de imagem:

possibilidades de leitura estética'

Tânia Sayuri Ida Mathias

Discutir o livro de imagem como via de

acesso à possível fruição estética a partir de dois títulos de livros de

imagens

Programa de Pós Graduação em Educação Universidade

Estadual Paulista

Dissertação 2005

Livros de Imagens e Formação Literária e primeiro

segmento do Ensino

Fundamental

Nina Ulup Discutir a contribuição

que o livro de imagem pode

oferecer para a formação literária e

imagética de crianças de 6 a

11 anos

Universidade Federal do Rio

de Janeiro

Dissertação 2007

Narrativas de crianças de três a quatro anos produzidas a

Alba da Rosa Vieira

Analisar os processos ostensivo-

inferenciais em

Universidade do Sul de Santa

Catarina

Dissertação 2009

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Título Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

partir da ordenação de gravuras de

uma história de um livro de imagens:

análise com base na teoria da Relevância

narrativas de crianças de três a quatros anos

de idade produzidas a

partir da ordenação de gravuras de

uma história de um livro de imagem.

Narrativas visuais:

múltiplos olhares, leituras

plurais'

Nelma Pimenta

Cruz

Investigar possibilidades de leitura da

narrativa imagética com crianças da 4ª série, a partir

de um mediador

Universidade de Santa Cruz do

Sul

Dissertação 2009

Lendo imagens: um passeio de ida e volta pelo livro de Juarez

Machado

Maria Laura Pozzobon Spengler

Refletir como os leitores de

diferentes níveis de ensino se

apropriam do livro de imagem Ida e Volta de

Juarez Machado

Universidade do Sul de Santa

Catarina

Dissertação 2010

A narrativa visual em livros

no Brasil: histórico e

leituras analíticas

Maria Lúcia Costa

Contextualizar e analisar a

narrativa visual na literatura

infantil e juvenil

Universidade da Região de Joinville

Dissertação 2011

Livro de Imagem e Palhaço Mímico:

Narrativas sem palavras?

Estudo sobre a construção

narrativa por imagem'

Miguel Santos de Carvalho

Analisar o livro de imagem a

partir da relação entre ilustração e

artes cênicas, na ausência do

texto verbal

Pontifícia Universidade

Católica do Rio De Janeiro

Dissertação 2012

Leitura mediada do livro de imagem no

Marília Forgearini

Nunes

Observar como a leitura de

imagem pode

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Tese 2013

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Título Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

ensino fundamental:

letramento visual,

interação e sentido

ser abordada para um

letramento visual a partir

de três livros de imagem

O livro de imagem como

base para produções orais

e escritas de crianças do

ensino fundamental

Vera Lucia Fellipin dos

Santos

Compreender como crianças

do 3º Ano produzem

textos orais e escritos a partir

do livro de imagem

Universidade de São Paulo

Dissertação 2015

Leitura literária da narrativa

visual na Educação

Infantil

Fabiana Lazzari

Lorenzet

Investigar como crianças da Educação

Infantil leem narrativas

visuais presentes em

acervos do PNBE 2014

Universidade de Caxias do Sul

Dissertação 2016

Processos de criação e leitura

de livros de imagem:

interlocuções entre artistas e

crianças

Hanna Talita

Gonçalves Pereira de

Araújo

Investigar processos de interlocução

entre autores e crianças

leitoras do livro de imagem

Universidade Estadual de Campinas

Tese 2016

O livro de imagem: análise

estética do PNBE 2014

Maria Marília Menon

Analisar a estética do livros de

imagem do PNBE 2014

para Educação Infantil e

possibilidade de leitura estética

Universidade do Vale do Itajaí

Dissertação 2016

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Como podemos perceber, a tabela 1, com teses e dissertações encontradas no

repositório da CAPES a partir do descritor “livro de imagem”, possui 15 trabalhos.

Desses, apenas 2 foram realizados no Nordeste brasileiro (ALMEIDA, 2004;

CUNHA, 2005), mas não se referem à particularidades da leitura em seu contexto.

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Tabela 2 - Teses e dissertações encontradas no repositório BDTD/IBICT.

Titulo Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

Livro de imagem:

aprender a ver para aprender a

ler

Aline Caldas Cunha

Universidade Federal de

Pernambuco

Dissertação 2005

Livro de imagem:

possibilidades de leitura estética

Tânia Sayuri Ida Mathias

Universidade Estadual Paulista

Dissertação 2005

Leitura de imagens na

literatura infantil: desafios e

perspectivas na era da

informação

Liliane Bernardes Carneiro

Perceber concepções de

leitura de imagem e produção imagética

Universidade de Brasília

Dissertação 2008

Imagens e enigmas na

literatura para crianças

Pedro Luís Campos Sagae

Compreender a relação entre

palavras e imagens na

literatura infantil em diferentes

épocas

Universidade de São Paulo

Tese 2008

Livros de imagem: três

artistas narram seus processos

de criação

Hanna Talita Gonçalves Pereira de

Araújo

Observar processo

criativo de três autores de livro

de imagem

Universidade Estadual de Campinas

Dissertação 2010

Leitura mediada do livro de imagem no

ensino fundamental:

letramento visual,

interação e sentido

Marília Forgearini

Nunes

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Tese 2013

O livro de imagem como

base para produções orais

e escritas de crianças do

ensino fundamental

Vera Lucia Fellipin dos

Santos

Universidade de São Paulo

Dissertação 2015

Alçando voos Maria Laura Analisar os Universidade Tese

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Titulo Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

entre livros de imagem

Pozzobon Spengler

livros de imagem do

PNBE percebendo-os

como sensibilizadores

do olhar

Federal de Santa Catarina

2017

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Na tabela 2, com teses e dissertações do repositório BDTD/IBICT, foram

encontrados quatro trabalhos inéditos com o descritor “livro de imagem”, porém

nenhum deles originário de universidades nordestinas. Um dos trabalhos que

embasaram nossa investigação foi o de doutoramento de Spengler (2017), que

delineou 59 livros de imagem que compuseram os acervos do Programa Nacional

Biblioteca da Escola (PNBE) para Educação Infantil nas edições 2008, 2010, 2012 e

2014.

Intuímos que os 16% de livros de imagem, como mencionado por Spengler (2017),

comparados ao total de títulos adquiridos nesses anos, propõem um avanço da

literatura imagética no que se relaciona às políticas públicas para a Educação

Infantil. Cabe saber se a existência dos livros de imagem nas escolas trazem

possibilidades às crianças no que diz respeito a uma diversidade de práticas e

interpretações críticas, como propõe a Educação da Cultura Visual.

Tabela 3 Teses e dissertações encontradas no repositório da UFRGS LUME.

Título Autor Escopo Instituição Tipo/Ano

Literatura infantil: uma abordagem das qualidades

sensíveis e inteligíveis da

leitura imagética na escol

Neiva Senaide

Petry Panozzo

Discutir a leitura do livro de

imagem a partir da perspectiva da semiótica,

gerando efeitos e sentidos

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Dissertação 2001

A resistência da imagem : uma

análise discursiva dos processos de

leitura e escrita

Carolina Fernandes

Investigar o funcionamento

do processo discursivo de

interpretação da imagem em

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Tese 2013

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de textos visuais sequência a partir dos gestos de

leitura e de escrita.

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A partir das buscas nos referidos sites, foram encontradas, ao todo, 21 dissertações

e teses defendidas desde 1996 com o descritor livro de imagem. Dessas, pudemos

constatar que apenas uma dissertação é originária da Universidade de Brasília

(UnB), Centro-Oeste do Brasil, identificada na Tabela 2; e duas são da região

Nordeste, uma da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a outra

Universidade Católica de Pernambuco, ambas descritas nas tabelas 1 e 2. As

demais, como podemos observar nas três tabelas, estão localizadas entre as

regiões Sul e Sudeste. Portanto, pode-se considerar o livro de imagem como um

gênero ainda pouco estudado, principalmente, fora dessa região. Também

chamamos atenção para a data das dissertações. Almeida defendeu sua dissertação

em 2004 (vide Tabela 1 e 2) e Cunha em 2005 (vide Tabela 1 e 2). Esse dado nos

mostra que as pesquisas nessa área, na região Nordeste, foram cessadas há no

mínimo 10 anos atrás.

Percebemos ainda entre as dissertações e teses descritas, que apenas quatro dão

um maior enfoque para o livro de imagem na Educação Infantil (CUNHA, 2005 –

Tabela 1 e 2; VIEIRA, 2009 – Tabela 1; LAZZARI, 2016 – Tabela 1; SPENGLER,

2017 – Tabela 1). O foco na oralidade (ALMEIDA, 2004 – Tabela 1), produção de

textos orais (CUNHA, 2005 – Tabela 1, SANTOS, 2015 – Tabela 1, CARNEIRO,

2008 – Tabela 2), construção de narrativas (VIEIRA, 2009 – Tabela 1) e como se dá

a leitura de imagem (FERNANDES, 2013 – Tabela 3; SPENGLER, 2010 – Tabela 1)

permeiam muitas das teses e dissertações encontradas. Outro ponto recorrente nos

trabalhos pesquisados é a análise do livro de imagem em uma perspectiva estética

(MATHIAS, 2005; MENON, 2016), ambos descritos na Tabela 1 ou relacionada à

semiótica (PANOZZO, 2001- Tabela 3). O processo de criação dos autores de livros

de imagem, na perspectiva das Artes Visuais foi contemplado por Araújo (2010),

como observamos na Tabela 2, assim como a relação entre autores/ ilustradores e

leitores (ARAÚJO, 2016 – Tabela 1).

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A partir desses estudos, podemos intuir que a presente pesquisa possui um caráter

inédito, relacionando a leitura de imagem no contexto do Semiárido juazeirense e

intencionando a necessidade de uma educação crítica e reflexiva desde a Educação

Infantil, embasada na Educação da Cultura Visual. Entendemos que partindo das

imagens as crianças podem refletir sobre seus contextos para se sentirem

pertencentes a ele, pensando e discutindo sobre suas particularidades e não

aceitando um discurso único e externo do seu próprio lugar, com imagens ou

elementos que não lhes representam.

Essa investigação preocupa-se em trazer possibilidades de leitura do livro de

imagem a partir do contexto da criança, embasada na Educação da Cultura Visual e

Educação Contextualizada para Convivência com Semiárido. Assim, professores e

crianças da Educação Infantil poderão refletir criticamente a partir das imagens que

lhe são apresentadas, problematizando-as.

2.2 DIVERSOS OLHARES PARA O SEMIÁRIDO JUAZEIRENSE

Diferentes pesquisas nos deram subsídios para nos aprofundarmos sobre a

percepção da representação do Semiárido a partir das imagens. Destacamos “O

sertão que a TV não vê: o jornalismo contextualizado com o semiárido brasileiro” de

Fabiola Moura Reis Santos, (2016), realizada em nível de Mestrado no PPGESA-

UNEB, como importante fonte de reflexão entre Semiárido Nordestino e a Cultura

Visual, auxiliando-nos em questões que movem esta investigação, como a quebra

de paradigmas quanto à visão estereotipada do Semiárido como representação

comunicacional única. Santos (2016) propõe outras visibilidades, dizibilidades e

saberes sobre o Semiárido a partir de programas jornalísticos.

Outro trabalho importante para esta pesquisa foi “Fotografia e educação: outros

olhares sobre a representação social do Semiárido juazeirense”, de Lorena Santiago

Simas (2017), também no PPGESA - UNEB. Simas (2017) colabora com esta

pesquisa a partir da sua preocupação com o olhar sensível e crítico dos estudantes

sobre as imagens do Semiárido juazeirense ao enfatizar a heterogeneidade da

região (urbana e rural) mostrando diversos cenários a partir da imagem fotográfica.

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Dessa forma, pontuamos esses dois trabalhos por ultrapassarem a simples ação do

ver, quebrando paradigmas e refletindo sobre estereótipos a partir do Semiárido.

Entendemos a importância da reflexão crítica sobre as imagens diante das

interpretações que a leitura visual proporciona, para possibilitar a percepção da

história das pessoas, suas identidades diversas e o contexto das mesmas.

O viés citado é percebido no debate de Lins, Sousa e Pereira (2006), quando

intencionam a construção de um livro didático para que as crianças tenham a

oportunidade de trabalhar a partir de uma visão maior do Semiárido. Assim, cremos

necessária a prática da leitura da imagem, contemplando olhares amplificados e

contextualizadores, que possibilitem outras significações além da “narrativa

hegemônica que deixa de fora a realidade do Semiárido” (MARTINS, 2006, p.40).

Nesse aspecto, intencionamos a produção de outra racionalidade, que dialogue com

a realidade das pessoas, de maneira crítica e reflexiva, valorizando suas culturas e

lugares. Por essa razão, procuramos nos apoiar em autores que nos fazem pensar o

mundo e a nós mesmos numa perspectiva diferenciada, de quebra de visões

padronizadas e hegemônicas. Entre eles e elas estão principalmente Martins (2004)

e Reis (2009), no que diz respeito à Educação Contextualizada para Convivência

com o Semiárido; Castanha (2008), Camargo(1995) e Spengler (2017), relacionados

ao livro de imagem; Hernandez (2000, 2007) e Nascimento (2011, 2013 e 2015)

embasando a Educação da Cultura Visual; Manguel (2002) e Fittipaldi (2008) na

perspectiva da leitura da imagem narrativa, entre outros tantos detalhados nas

referências.

Nessa intencionalidade está a necessidade de entendimento do Semiárido como

lugar dessa investigação, com suas características físicas e climáticas sim, mas

também com particularidades culturais. Assim, ao falarmos de Semiárido nos

referimos a uma região que abrange 1.262 municípios nos estados do Piauí, Rio

Grande do Norte, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e uma pequena

parte de Minas Gerais (SUDENE, 2017), ou seja, é um

[...] território de grande diversidade de paisagens, de povos e suas manifestações simbólico-culturais e místicas, definindo-o por contextos peculiares, que lhe criam múltiplos semiáridos. Certamente definir toda essa riqueza apenas pela presença da seca é

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desconsiderar essa pluralidade (SCHISTEK e CARVALHO, 2011, p. 20).

Diante do exposto, nesse trabalho apontamos a cidade de Juazeiro, no estado da

Bahia, como espaço de construção do lugar da investigação, um lugar rural e

urbano, onde os sujeitos vivem e dele extraem seu sustento, produzem suas

identidades e estabelecem seus sonhos (MALVEZZI, 2009). Nos fixamos à Juazeiro,

Norte da Bahia, com o objetivo de compreender particularidades deste contexto

vivenciado pelos professores e estudantes, nas escolas visitadas. Entendemos a

importância de suas reflexões a partir das experiências vividas nesse lugar,

fundamentada nos Estudos da Cultura Visual (HERNANDEZ, 2000, 2007).

Nesse aspecto, caracterizando o chão de nossa pesquisa, pontuamos que Juazeiro

está localizado à margem direita do Rio São Francisco e possui uma população

predominantemente urbana, com 160.775 pessoas. Apenas 19% de sua população,

37190 pessoas, vivem na zona rural (IBGE, 2010) e suas 134 escolas de Educação

Infantil estão distribuídas entre sede e interior. Além da sede, Juazeiro possui alguns

distritos em seu município como Abóbora, Pinhões, Maniçoba, Itamotinga,

Massaroca, Juremal, Carnaíba e Junco. Destacamos Itamotinga, com 20.995

habitantes (IBGE, 2010), a maior população fora da sede e local de uma das escolas

escolhidas nesta pesquisa.

Como citado anteriormente, essa delimitação geográfica é apenas uma tentativa de

nortear sobre o lugar da nossa pesquisa, apesar de percebermos as interações de

dimensões, material e imaterial, funcional e simbólica (HAESBAERT, 2007), rural e

urbana perpassando linhas imaginárias da geografia física. Sua vegetação, solo,

clima e precipitações irregulares, são permeados por pessoas, cheiros, sabores e

vozes, que diferem da visão estereotipada e una que é reproduzida.

Na paisagem urbana, o olhar pairando com atenção aos detalhes, observamos o Rio

São Francisco, a brincadeira de gude2 no chão de terra batida e a moça limpando o

2 Jogo infantil com bolinhas de vidro

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Cari3. A carroça com o burro passa levando a mudança da família na mesma rua dos

carros do ano. O porco habita o quintal da casa, amigo do cão e do gato na cerca do

vizinho. Continuamos as trilhas desse olhar com atenção, na paisagem rural as

crianças chegam na escola de moto, segurando seus celulares, algumas vezes

caminhonetes. Também podemos perceber a forte presença do rio. Rural e urbano

se misturam nas imagens do dia a dia e o Semiárido mostra-se diverso.

Portanto, Santos (2016) e Simas (2017), além de outros autores que nos ancoram

nessa pesquisa como Albuquerque Jr (2009), abordam que certas particularidades

não são impressas nas imagens do Semiárido, que é quase sempre apontado com

uma representação rural, de seca, solo estéril, miséria e pessoas fatigadas. É o que

podemos perceber na imagem do livro de imagem O voo da asa branca, na figura 4.

Figura 4 Recorte do livro de imagem O vôo da Asa Branca

Fonte: SOUD, Rogério. O voo da asa branca. São Paulo: Prumo,2012.(p.4-5)

Alguns teóricos apontam que escritores da Geração de Trinta (1926) como José Lins

do Rego, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz, entre outros, no afã de trazer em

suas obras um discurso político e social, como forma de denúncia das condições da

3 Peixe de água doce, característico do Rio São Francisco, de coloração escura.

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região Nordeste, ajudaram a cristalizar a imagem de um contexto de miséria. Surge

assim uma narrativa imagético-discursiva sobre um lugar estéril, onde meio e

sujeitos eram pensados como fatores determinantes para o atraso da sociedade e

da cultura (ALBUQUERQUE Jr, 2009).

Neste aspecto, com a intencionalidade de captação de verbas, a elite nordestina se

aproveita do “discurso da seca” (CASTRO, 1992; ALBUQUERQUE Jr, 2009) e

atravessa décadas da história, até chegar aos dias de hoje trazendo a

universalização da imagem, não só do Nordeste, mas do Semiárido e do sertão,

lugar, que frequenta o imaginário das pessoas, e que induz a compreensões a partir

da literatura de Euclides da Cunha, ou seja, rural, seco, estéril, pobre.

Como assinala Paiva (2006), existem signos que estão associados ao povo ou a

natureza nordestina, semiaridense ou sertaneja e a partir dos meios de comunicação

ocorre sua reprodução e cristalização. A autora aponta como esses signos a

violência; a paisagem sertaneja, colocada sempre como inóspita, rude e que acaba

por produzir pessoas dessa forma; o cangaço, a religiosidade, o retirante, o

vaqueiro, entre outros. A partir desses, sujeitos são vistos, quando vistos, de

maneira deturpada e estereotipada, como rudes, sujeitos de um único contexto que

acreditamos ser multiplicado em paisagens, em belezas, em culturas diversas, em

muitos semiáridos, “formado por chapadas, vales e planaltos, serras, dunas e brejos”

(SCHISTEK e CARVALHO, 2011, p.51), pelo rural e pelo urbano, com uma

pluralidade de culturas que traçam a história de toda uma gente invisibilizada.

Por conseguinte, entendemos que o Semiárido ainda é visto e narrado de maneira

única, ligada ao clima, à “falta de chuva” e à paisagem exclusivamente rural. As

referências imagéticas, muitas vezes não fazem sentido para quem vive nesse

espaço, mas são propagadas de forma hegemônica na TV, jornais, revistas, livros

didáticos e paradidáticos. O poder imagético visível nas mídias representa os

estereótipos de negatividade e a natureza hostil, feia, seca, com homens humildes

de pé no chão, atingindo o imaginário das pessoas.

O discurso da estereotipia é um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala arrogante, uma linguagem que leva à estabilidade acrítica, é fruto de uma voz segura e autossuficiente que se arroga o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras. O estereótipo nasce de uma caracterização grosseira e indiscriminada do grupo estranho,

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em que as multiplicidades e as diferenças individuais são apagadas, em nome de semelhanças superficiais do grupo. (ALBUQUERQUE Jr, 2009, p. 30)

Com essa pesquisa intentamos possibilidades de reflexão e nova produção de

sentido da imagem e implicação do olhar nos aspectos culturais e questões

identitárias que tem estado presente nas produções visuais de meios de

comunicação em massa e nos livros didáticos e paradidáticos, afetando os modos

de ver e influenciando leituras visuais específicas.

Neste sentido, compartilhamos do pensamento de que a leitura imagética, por meio

da Educação da Cultura Visual, aquela que tem por finalidade “ajudar a inocular

desconfianças nas verdades transmitidas pelas imagens” (NASCIMENTO, 2011,

p.214) deve permear a educação das crianças, propondo reflexões e posturas

críticas diante da leitura do mundo. Elucidaremos com maior profundidade aspectos

conceituais específicos da Educação da Cultura Visual e da imagem na Educação

Infantil adiante.

Por conseguinte, sinalizamos o problema dessa investigação:

De que maneira os livros de imagem vem sendo usados como recurso pedagógico

na Educação Infantil das escolas públicas de Juazeiro, Bahia, numa perspectiva

contextualizada do Semiárido juazeirense?

Temos como nosso objetivo geral: problematizar o uso do livro de imagem como

recurso pedagógico na Educação Infantil de Juazeiro/BA, atentando para as

relações entre o contexto do Semiárido juazeirense e a Educação da Cultura Visual.

Por conseguinte, pontuamos os seguintes objetivos específicos:

1- Compreender o livro de imagem enquanto recurso pedagógico na Educação

Infantil;

2- Descrever os livros de imagem das salas da Educação Infantil da EMEI Nailde

de Sousa Costa e Escola Municipal Rural De Tempo Integral São Jose,

ambas em Juazeiro/BA;

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3- Analisar as potencialidades do uso do livro de imagem na Educação Infantil

de Juazeiro/BA, propondo compartrilhamentos na perspectiva da Educação

contextualizada para o Semiárido juazeirense.

Para tal, a dissertação discorre com a seguinte estruturação:

O capítulo 1: Por onde andei até aqui propõe a contextualização do tema a partir

das vivências da autora.

O capítulo 2 Abrindo os olhos para leitura proporciona um entendimento inicial da

pesquisa e um diálogo com pesquisas realizadas em outros contextos e a partir do

Semiárido.

O capítulo 3 – Meandros do livro de imagem e da Cultura Visual permite um

despertar sobre histórico da ilustração e do livro de imagem, aproxima-se da escola

na compreensão da Educação da Cultura Visual na Educação Infantil e a

importância da leitura critica/reflexiva das imagens na contemporaneidade,

compreendendo, por fim, com auxilio dos autores, o que é um livro de imagem.

No Capítulo 4: Passos Metodológicos é descrito o caminho metodológico em que a

pesquisa foi costurada para melhor possibilidade de respostas às nossas

indagações.

No Capítulo 5: Por uma Educação Infantil visível e dizível nas escolas de

Juazeiro/BA apresenta janelas para leituras do livro de imagem e a necessidade de

perceber o contexto das crianças da Educação Infantil de Juazeiro/BA, com

características próprias semiaridenses e traçar possibilidades para refletir sobre as

potencialidades do uso do livro de imagem na Educação Infantil de Juazeiro/BA.

Por fim, em Frutos colhidos, assim como inicio com minha história, finalizarei com

as experiências, aprendizagens do processo de pesquisa e considerações

crítico/reflexivas da investigação.

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3 OS MEANDROS DO LIVRO DE IMAGEM E DA CULTURA VISUAL

Nesse capítulo trago a beleza florida e rosada do Semiárido, como imagem provocativa àqueles que acreditam na visão hegemônica da seca e do solo estéril. Proponho refletirmos uma das muitas belezas e possibilidades do locus da nossa pesquisa (CAMPANA)

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Nesse capítulo, Os meandros do livro de imagem e da cultura visual, caminhamos

no sentido de situar o livro de imagem a partir de acontecimentos históricos, além de

direcionar o olhar para a Cultura Visual nas escolas contemporâneas.

3.1 NARRATIVA HISTÓRICA SOBRE O LIVRO DE IMAGEM

Percorrendo os caminhos do pensar o livro de imagem na Educação Infantil diante

dos pressupostos de uma contextualização do Semiárido juazeirense, entendemos

ser necessário perpassar por um recorte que abarque uma narrativa histórica da

ilustração, a qual tem influência direta com o aparecimento no campo editorial, dos

primeiros livros de imagem.

Cronologicamente, uma discussão sobre a relação da criança com as imagens pode

ser encontrada em meados dos anos 1930, na França, com Père Castor, educador,

orientador pedagógico e livreiro, idealizador e pioneiro do álbum de figuras, livros

indicados para as crianças, com histórias norteadas pelas imagens. Apontamos

neste período, o diálogo dos estudos da Pedagogia com a Psicologia no

entendimento de que,

[...] a partir de pesquisas provaram que a linguagem das imagens era um dos mediadores mais eficazes para estabelecer relações de prazer, de descoberta ou de conhecimento entre a criança e o mundo das formas- seres e coisas – que a rodeiam e que ela mal começa a explorar. (COELHO, 2000, p.186)

Todavia, a apropriação da leitura de imagens num contexto mais amplo, é bem

anterior a essa data. As imagens aparecem como voz de vários povos e culturas;

seja “em paredes de cavernas, pintadas em afrescos, esculpidas em mármore,

madeira ou pedras.” (CASTANHA, 2008, p. 141). Há muitos outros exemplos nos

quais o elemento pictórico foi apontado enquanto imagens não só como uma

referência de sentido, mas atuando nos sujeitos em sociedade enquanto produção

de significado, como nos indígenas, por exemplo.

Ainda no século IV, São Nilo, fundador de um Mosteiro perto de Ancara, visionava a

leitura do Velho e Novo Testamento pelos seus fiéis, imaginando sequências de

imagens nas paredes, o que indicara uma narrativa com possibilidade de

ensinamentos da história bíblica aos seguidores iletrados (MANGUEL, 1997). Pode-

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se inferir que no século XIII, as imagens bíblicas que haviam sido pintadas nas

paredes dos locais sagrados foram trocadas pela novidade da arte dos vitrais e em

madeira com as mesmas narrativas. Um século mais tarde, a ideia de São Nilo saiu

das paredes e foi formatada para livros, a Bíblia Pauperum ou “bíblia dos pobres”.

Eram como livros enormes, expostos nas igrejas da Idade Média, com figuras que

forneciam uma referência para os sermões ou preces dos padres. De tal modo,

No final do século XIV, esses livros de imagens já tinham se tornado muito populares e assim continuaram pelo restante da Idade Média, em vários formatos: volumes de desenhos de página inteira, miniaturas meticulosas, gravuras em madeira e, finalmente, no século XV, com os impressos. O primeiro desses volumes que possuímos, data de 1462 (MANGUEL, 1997, p.80).

No mesmo século, adentrando pela literatura, no caminho histórico das ilustrações,

apontamos para o ano de 1498, a obra “Isopete” historiado, versão das Fábulas de

Êsopo (RAMOS, 2011), um dos primeiros livros impressos, inicialmente para o

público adulto. Ramos (2011) também se refere à ilustrações feitas por Johannes

Geiler vom Kayserberg, em 1511, da história da “Cinderella”.

Importante ressaltar, nesse histórico, a obra “Orbis sensualium Pictus”, considerado

o primeiro livro didático ilustrado e a primeira cartilha do mundo cristão ocidental,

obra idealizada por Jan Amos Comenius (1592-1670), professor, que em 1658, com

sua experiência, considerou a importância da imagem na aprendizagem das

crianças (RAMOS, 2011).

No século XVII, “Os contos da mamãe Gansa” (1691-1697), de Charles Perrault;

trouxeram um pouco de Arte ao público infantil. No século seguinte, Rodrigues

(2011) destaca o surgimento dos chapbooks, impressos em folha única, dobrada em

12 ou 16 páginas, com uma xilogravura emoldurada no centro, indicando a capa.

Desde este momento as ilustrações começaram a fazer parte das capas dos livros

infantis, ampliando posteriormente para o público adulto até os dias de hoje.

Tomando como referência a Inglaterra, a partir do século XIX, a literatura infanto-

juvenil encadeada à ilustração, sofreu um aumento significativo em títulos e

publicações. Isto se deu devido alguns fatores históricos e sociais da época, dentre

eles, o desenvolvimento industrial e comercial, mudanças nos processos

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educacionais das crianças e fatores econômicos da população. Os livros com

ilustrações começaram a ser reproduzidos em grande escala e foram se

popularizando. A comercialização, oportunizada pela facilidade de transporte de

mercadorias, facilitou a propagação dessas obras pela Europa e Américas

(OLIVEIRA, 2008).

Igualmente nesse momento, a partir de uma nova concepção de família burguesa da

Europa (ARIÈS, 2011), a criança passa a representar um novo papel na sociedade,

motivando o aparecimento de objetos específicos para ela como brinquedos, livros,

bem como pesquisas no ramo da ciência, destacando a Psicologia Infantil (LAJOLO;

ZILBERMAN, 2007).

Além da influência conceitual e histórica nos aspectos industrial e educacional,

nessa ocasião, surge uma nova classe de trabalhadores assalariados que

reivindicavam uma leitura específica aos seus filhos (OLIVEIRA, 2008). Assim, a

coleção de Père Castor, citada anteriormente, com origem francesa, pôde

ultrapassar fronteiras e o livro infantil, repleto de ilustrações foi difundido pela

Europa.

Aos poucos, os ilustradores deste gênero começaram a ganhar protagonismo, com a

necessidade de compreender a obra como um todo e dialogar com as palavras.

Nessa percepção da necessidade de autonomia das crianças, crendo que o livro

infantil era formado por variadas linguagens e que as crianças deviam explorá-las,

foram permitindo que as ilustrações deixassem a problemática fluir e aos poucos

perceberam que as imagens poderiam narrar.

No Brasil, apesar de décadas mais tarde, a expansão da literatura infanto-juvenil e

ilustrações também tiveram influência histórica e social. Acreditavam que a imagem

seria capaz de tocar as crianças de maneira mais eficaz e prazerosa. Monteiro

Lobato percebeu esta necessidade desde a década de 1930 quando considerou a

reformulação da obra “A Menina do nariz arrebitado”, nascendo “Reinações de

Narizinho”, crítica aos problemas sociais brasileiros, com ilustrações presentes até

hoje nos exemplares de livrarias (CADERMATORI, 1986).

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Na década de 1970, o interesse da classe média por livros havia aumentado e os

investimentos para Educação Básica, bem como a ação pedagógica dentro deste

segmento, com a Literatura Infantil como destaque (CADERMATORI, 1987). Além

disso, escritores brasileiros começaram a ter maior interesse pela literatura infantil,

trazendo para as páginas dos livros indicados para crianças, toda a insatisfação com

os problemas sociais do momento.

Em função da censura militar, muitas das cabeças pensantes e criativas da época – não podendo expor suas ideias de forma a não serem boicotadas – passaram a escrever literatura infantil e juvenil (considerada um gênero menor e por isso ignorada pela censura), nela colocando seu protesto e suas propostas. Nasceram assim os reizinhos mandões de Ruth Rocha, os exilados políticos e suas histórias de Ana Maria Machado, os desestabilizadores do poder constituído, em Lygia Bojunga, o aprendizado dos filhos de exilados, em suas peregrinações, sustos e correspondências de Werner (CAGNETI, 2009, p. 36).

Uma das cabeças criativas dessa época foi o jornalista, desenhista e escritor Ziraldo,

que lançou “Flicts” (1969), narrando a história de uma cor sem graça ao meio de

muitas cores mais bonitas e existentes nos objetos do mundo. Flicts (1969) expressa

uma narrativa imagética em seu enredo, mesmo que não seja exclusiva. Seu projeto

foi inovador e entendemos este título como um dos precursores do livro de imagem

no Brasil.

Figura 5 Imagem página livro Flicts

Fonte: Ziraldo. Flicts (1969)

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Nesta mesma época surge, no Brasil, o livro de imagem, com o aumento do

mercado editorial e com a difusão das ideias escola-novistas4 vindas da Europa.

“Destinado a facilitar o processo educacional, desde suas primeiras horas”

(COELHO, 2000, p.188). Sendo assim, Camargo (1995, p.19) relata sobre o primeiro

livro de imagem brasileiro. Expõe que,

Em 1969, Juarez Machado desenhou nosso primeiro livro só de imagens brasileiro: Ida e Volta que só foi publicado em 1975, primeiro em uma coedição Holanda/Alemanha; em seguida França, Holanda, Itália e finalmente em 1976, Brasil, pela Primor.

Apesar da resistência inicial, descrita nas palavras de Camargo (IDEM), nos anos de

1980, alguns ilustradores/autores se destacaram na autoria de livros de imagem

como: Eva Furnari com “Bruxinha Atrapalhada” (1982), “Amendoim” (1983), “Filo e

Marieta” (1983); Regina Rennó com “Que planeta é esse?”(1987) e Ângela Lago

com o premiado “Outra vez” (1985). Tais autoras, as quais tiveram vários outros

livros de imagem publicados e premiados em anos seguintes, buscaram ouvir a voz

das crianças, com suas narrativas imagéticas que traziam personagens mágicas,

engraçadas, mas que também discutiam temas sociais.

A partir de então, percebemos um crescimento no número de títulos de livros de

imagem. Prova disso são os lançamentos e premiações que ocorrem anualmente,

no Brasil e outros países, com a categoria livro de imagens. Entre elas destaca-se a

premiação da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil (FNLIJ) que a partir de

1982, quando foi laureado o livro de imagem ”Ida e Volta” (1982) de Juarez

Machado, contempla a cada ano, com algumas exceções nos anos de 1997, 1999,

2000, 2004, o melhor livro de imagem do ano (CASTANHA, 2008).

Apesar desse crescimento na quantidade de publicações, devemos lembrar que o

acesso às livrarias infelizmente é restrito à maioria das crianças brasileiras, seja pela

limitação do poder aquisitivo, seja pela ausência de livrarias na grande maioria das

cidades do Brasil. Nessa perspectiva, entendemos a importância do Programa

4 Movimento de educadores europeus e norte-americanos, organizado em fins do século XIX, que

propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e questionava a passividade na qual a criança estava condenada pela escola tradicional. Teve seus fundamentos ligados aos avanços científicos da Biologia e da Psicologia. O ensino da música, do desenho e, principalmente, da literatura eram fundamentais para cultivar nas crianças e nos jovens, bons sentimentos.

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Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), desenvolvido desde 1997 e finalizado em

2015, o qual teve por objetivo promover o incentivo à leitura por meio da distribuição

de obras de literatura, de pesquisa e de referência, tanto para estudantes, como

para professores. Segundo o Ministério da Educação –MEC,

O programa divide-se em três ações: PNBE Literário, que avalia e distribui as obras literárias, cujos acervos literários são compostos por textos em prosa (novelas, contos, crônica, memórias, biografias e teatro), em verso (poemas, cantigas, parlendas, adivinhas), livros de imagens e livros de história em quadrinhos; o PNBE Periódicos, que avalia e distribui periódicos de conteúdo didático e metodológico para as escolas da educação infantil, ensino fundamental e médio e o PNBE do Professor, que tem por objetivo apoiar a prática pedagógica dos professores da educação básica e também da Educação de Jovens e Adultos por meio da avaliação e distribuição de obras de cunho teórico e metodológico.(MEC, 2015)

Entretanto, como podemos perceber a partir de 2016 os avanços nesta área

sofreram muitos retrocessos. Um deles foi a paralisação do PNBE, causando uma

diminuição no acervo de livros paradidáticos nas escolas públicas de todo país.

Outro retrocesso que podemos pontuar aconteceu em 2018, no 60º Prêmio Jabuti,

uma das maiores premiações na área literária no Brasil. Ao invés de dar

continuidade à algumas categorias antes premiadas separadamente, visto suas

especificidades, uniram-nas sem refletir sobre os muitos estudos acadêmicos da

área. É o caso da literatura infantil e juvenil, que viraram uma só e do autor do livro

de imagem, que agora está na mesma categoria de ilustrador, mesmo com

proposições tão distintas entre a ilustração, que dialoga com a palavra e a imagem,

autônoma em si.

Nesse aspecto, entendemos o livro de imagem como partícipe da história da

literatura e da ilustração. Cabe aos sujeitos envolvidos com a educação entendê-lo,

assim como sugere a Educação da Cultura Visual, como um recurso de

problematização das diversas leituras e uma possibilidade de questionar as relações

de poder existentes ao longo dos tempos.

3.2 A CULTURA VISUAL NA ESCOLA

A sociedade contemporânea nos mostra um aumento nas relações dos sujeitos com

as imagens. Internet, televisão, outdoor, revistas, livros didáticos, grafites, painéis

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escolares, entre outras tantas produções. A respeito das mídias digitais, Duncum

(2011, p.17) entende que, “essa tecnologia tem proporcionado uma proliferação de

imagem que revolucionou por completo, aparentemente em um piscar de olhos,

nossa paisagem visual.” Sendo assim, podemos supor que as crianças devam ser

estimuladas, no processo de escolarização, a refletir tais imagens, com

posicionamento crítico e com percepção de suas identidades. Neste aspecto, Kellner

(1995, p. 109) intenciona uma leitura crítica de imagens nas escolas e propõe que

aprendamos,

[...] a ler essas imagens, essas formas culturais fascinantes e sedutivas cujo impacto massivo sobre nossas vidas apenas começamos a compreender. A educação certamente deveria prestar atenção a essa nova cultura, tentando desenvolver uma pedagogia crítica que estivesse preocupada com a leitura de imagens.

Tal pedagogia crítica almejada por Kellner (1995) possibilitaria a quebra de

discursos hegemônicos, construídos historicamente e que normalmente não

conversam com as identidades minoritárias, mas reproduzem pensamentos que já

estão aprofundados tradicionalmente na sociedade. Imagens que não estão para

serem refletidas, mas para serem aceitas. Imagens que parecem ser a única

maneira de representação deste ou daquele grupo social.

Dessa maneira, a escola tem como caminho a reconfiguração da sua conduta de

reprodutora e a preocupação em discutir e questionar sobre relatos hegemônicos e

cheios de estereótipos que segundo Pereira (2010, p.213),

[...] desenham um tipo particular de estrutura de saber e, para isso, constroem jogos de verdades que anulam as percepções identitárias e, por conseguinte, as alteridades, ao mesmo tempo em que fantasiam outras identidades plausíveis centradas nos modelos dominantes.

Entende-se, por conseguinte, que a leitura das imagens se constrói a partir do

sujeito e de como ele está inserido e representado no mundo. Diferentemente de

mostrar o que está óbvio numa imagem, é necessário ensinar às crianças desde

cedo a ler imagens analisando, avaliando, interpretando a partir do seu contexto.

A Cultura Visual refere-se a uma diversidade de práticas e interpretações críticas em

torno das relações subjetivas (HERNANDEZ, 2000) e por esse motivo, é um

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conhecimento a ser considerado na construção da leitura e consequentemente nos

livros de imagem, e se torna importante quando abordamos o contexto do Semiárido

e o que ele representa para os estudantes.

Do ponto de vista dessa investigação, interpreta-se que a Educação da Cultura

Visual na escola, faz-se necessário por também ir na contra mão de um discurso

homogenizante, percebendo os vieses da imagem e questionando que histórias e

que reflexões, através e acerca da Arte/Educação ainda estão silenciados diante da

Educação no Semiárido (VASCONCELOS, 2016).

Nessa perspectiva, o papel do professor é fundamental, com formação e na

construção de experiências que sejam capazes de possibilitar a leitura crítica das

crianças a partir da Educação Infantil, pois “as produções visuais estão saturadas de

visões de um mundo “universal”, de concepções de sujeito, moldando modos de ver,

criando formas de olhar e perceber.” (HORN, 2010, p.196) e o livro de imagem pode

ser uma possibilidade que potencializa o trabalho pedagógico, indo além de um

letramento, específico, mas compartilhando múltiplas leituras, enriquecendo o

processo de ensino/aprendizagem.

Pensando nos aspectos normativos que norteiam o planejamento dos professores

da Educação Infantil, diferentemente do RCNEI, já explicitado no capítulo 2, a nova

versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil propõe

em seu texto inicial, a

[...] superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida (BRASIL, 2017, p.8).

Podemos perceber a BNCC como uma normativa, apesar de verticalmente imposta,

bastante flexível no que diz respeito a possibilidades de construção da prática

pedagógica, que é desenvolvida/experenciada, embasada nos objetivos de

aprendizagem e desenvolvimento, relacionados com os direitos e campos de

experiências para cada faixa etária.

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Esses direitos de aprendizagem e desenvolvimento foram pautados nas interações e

brincadeiras, eixos estruturantes das práticas pedagógicas, anteriormente

determinados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI),

resolução CNE/CEB n° 5/2009 em seu artigo 9°e segundo a normativa,

[...] asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BRASIL, 2017)

Já os campos de experiência, “[…] constituem um arranjo curricular que acolhe as

situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus

saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio

cultural”. (BRASIL, 2017).

Figura 6 Esquema de direitos de aprendizagens e desenvolvimento e campos de experiências

Fonte: Plataforma Educacional

Nessa articulação, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para a

Educação Infantil se constituem em uma possibilidade de currículo flexível, pensado

com maior “autonomia” pelas escolas de Educação Infantil, permitindo a afirmação

de suas diversidades e singularidades, valorização dos sujeitos, da cultura e dos

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lugares (como identidades), além de abrir-se para uma aprendizagem

contextualizada, na qual a BNCC pode servir como referência.

Nesse sentido, partindo dos campos de experiência, são apresentados os objetivos

de aprendizagem e conhecimento para a Educação Infantil, divididos em subgrupos

etários. Montamos uma tabela simplificada, do campo de experiência Corpo, Gestos

e Movimentos com as idades trabalhadas nessa pesquisa, para melhor

compreensão. Importante esclarecer que o código alfanumérico a frente dos

objetivos indicam: EI – Educação Infantil; 01, 02 ou 03 – faixa etária das crianças (na

tabela trago apenas as duas faixas da pesquisa); CG – Corpo, Gestos (campo de

experiência) e 01, 02, 03, 04, 05 (posição sequencial dos objetivos de aprendizagem

e conhecimento).

Tabela 4 Objetivos de aprendizagem e conhecimento para a Educação Infantil

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS”

Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)

Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)

(EI02CG01) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no cuidado de si e nos jogos e brincadeiras.

(EI03CG01) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música.

(EI02CG02) Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas.

(EI03CG02) Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades.

(EI02CG03) Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações.

(EI03CG03) Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música.

(EI02CG04) Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo.

(EI03CG04) Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência.

(EI02CG05) Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros.

(EI03CG05) Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas.

Fonte: Elaboração da pesquisadora

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Nessa intencionalidade, as Artes podem e devem ser contempladas em muitas das

interações, como por exemplo, o campo de experiência Traços, sons, cores e

formas, que entende a necessidade de “conviver com diferentes manifestações

artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição

escolar” (BRASIL, 2017, p. 38) ou Corpo, gestos e movimentos indicando, como

observado na tabela acima, o uso de atividades artísticas em alguns de seus

objetivos.

Apesar de entendermos atividades artísticas pontuais na maioria dos campos de

experiências, nos deparamos com a ausência da leitura de imagens nos objetivos

registrados nos respectivos campos. Destacamos o campo Escuta, fala, pensamento

e imaginação como único na abordagem de possibilidades vagas de leitura de

imagem que são:

(EI03EF03) Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas; (EI03EF07) Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e/ou de leitura; (EI03EF08) Selecionar livros e textos de gêneros conhecidos para a leitura de um adulto e/ou para sua própria leitura (partindo de seu repertório sobre esses textos, como a recuperação pela memória, pela leitura das ilustrações etc, BNCCEI, 2017).

Identificamos nos objetivos acima uma tendência para a leitura da palavra escrita, de

livros e/ou gêneros textuais com ilustrações e a possibilidade de leitura dessas

ilustrações ou desenhos gráficos pelas crianças, mas em nenhum momento

percebemos a imagem como foco principal.

Seguindo o entendimento de que o currículo a partir da BNCC deve ser planejado

por cada instituição de ensino, os professores de Educação Infantil, gestores e

coordenadores devem estar atentos e preparados para questões importantes no

aspecto das Artes e Artes Visuais, para que não ocorram práticas de reprodução.

Essa necessidade já havia sido prevista em 2006, quando a disciplina de

Arte/Educação se tornou indispensável nos cursos de Licenciatura em Pedagogia

(CNE, 2006, p.2). Tal documento deixa claro que:

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O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a [...] VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano.

Dessa forma, com tal demanda para o ensino de Artes na Educação Infantil, os

cursos de Pedagogia por todo o Brasil foram se adequando e pesquisadores como

Martins (2015) e Barbosa (1991) ressaltando a importância e necessidade da Arte

na área, atribuindo a ela um caminho de transformações, apesar de acreditar que

este caminho seja longo para tais ações se fortalecerem na prática das escolas.

Portanto, podemos inferir que em muitos casos as disciplinas oferecidas

obrigatoriamente nos cursos de Pedagogia nem sempre contemplam o fazer

pedagógico do professor pedagogo que deve ministrar Artes na Educação Infantil.

Pesquisa recente, “El pedagogo egresado de universidades de Bahía y su actuación

en la enseñanza de las Artes en la Educación Infantil” (VASCONCELOS, 2018),

apresentada no Congresso Regional Latinoamericano InSEA (Chile), mostra a

amplitude das ementas do componente Arte/Educação apenas nos Campi das

Universidades do Estado da Bahia (UNEB) e a fragilidade dos egressos desses

cursos para o ensino das Artes.

Por intermédio de um trabalho sobre formação inicial nos Institutos de Ensino

Superior do Estado de Pernambuco, Vidal (2011) se depara com professores

formadores que se aproximam de uma “formação que não estimula a criticidade, a

percepção do sujeito e da cultura que o circunda, além de negligenciarem a reflexão

sobre os fundamentos do Ensino da Arte.” (p.184).

Desse modo, as salas de Educação Infantil e seus corredores, como descrevem

Pereira (2010) e Nascimento (2015), encontram-se cheios de imagens

estereotipadas, infantilizadas, com rostos dóceis e obedientes, formas arredondadas

que não fogem de personagens de desenho animado, bonecos e bonecas de

emborrachado ou animais com carinha de gente sorrindo, como um “mundo

encantado”. (NASCIMENTO et al, 2015, p. 273). Sendo assim, os professores

reproduzem tais imagens sem as problematizar ou sem a leitura crítica que

possivelmente advém de uma ausência ou dificuldade de estudo na sua formação

inicial.

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3.3 LEITURA DO LIVRO DE IMAGEM

Após uma narrativa histórica sobre o aparecimento do livro de imagem no Brasil e

seu entendimento a partir da Cultura Visual nas escolas de Educação Infantil,

trazemos autores que dialogam sobre o livro de imagem, suas particularidades e

especificidades.

Neste caso, no panorama dos estudos na área da leitura imagética, podemos dizer

que um dos primeiros autores a conceituar livro de imagem foi Camargo (1995, p.70)

definindo-os como “livros sem texto. As imagens é que contam a história”. Apesar de

ser relevante referência neste estudo, discordo de Camargo (1985) quando

menciona “livros sem textos”, sendo ao nosso ver, uma relação equivocada ao texto

escrito. Pois textos são “orais, auditivos, visuais, escritos, corporais, como aqueles

que circulam os saberes” (HERNÁNDEZ; 2007 p.24).

Além de Camargo (1985), outros autores trazem nomenclaturas diversas para livro

de imagem, com algumas diferenças em seus conceitos. Van der Liden (2011)

intitula “livro ilustrado” aqueles que possuem predomínio da imagem, mesmo com

algumas palavras aparentes; Lee (2012) entende haver diferença entre os livros

ilustrados, com palavras e o livro-imagem, com ideias expressas apenas com

imagens, Ramos (2011) refere-se a livro-imagem aquele exclusivamente de

imagens, Coelho (2000) faz menção ao álbum de figuras de Paul Faucher, com

predomínio absoluto da imagem, Castanha (2008) descreve que livros de imagem

são livros sem texto assim como Abramovich (1989) que os enuncia com histórias

sem texto.

De tal modo, como dito introdutoriamente, para esta pesquisa, é utilizada a

designação livro de imagem para aqueles livros com a narrativa exclusivamente

imagética, sem a palavra escrita. Entendemos a imagem como um texto e

consequentemente o livro de imagem como uma narrativa, com personagens, ação

e tempo. Muitas vezes não se tem propriedade para leitura, ora por nunca ter tido a

oportunidade, ora por achar tal leitura automática ou ainda por nunca ter aprendido

ler imagens.

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Porém, ao falar de narrativa imagética, precisamos deixar claro o que entendemos

por narrativa e nos apoiamos em Fittipaldi (2008) para tal. Embora toda imagem

tenha alguma história para contar, elaborar, fabular ou fantasiar, ela está fixa em um

espaço, estática, com suas figuras, cores, formas. A partir do momento em que

percebemos um acontecimento em movimento, ou seja, a partir da ação do tempo

nessa imagem, a narrativa se faz presente.

Se ao olharmos uma imagem podemos perceber o acontecimento em ação, o estado representado, uma ou mais personagens “em devir”, podemos imaginar também um (ou mais) “antes” e um (ou mais) “depois”. E isso é narração (FITTIPALDI, 2008, p.103).

Conseguimos descrever uma única imagem como narrativa, mas precisamos de

elementos sequenciais para leitura dessa história. Assim, transpomos o livro de

imagem como aquele onde as imagens aparecem contando uma história, aliando

personagens, acontecimentos e passagem de tempo. Pois com essas imagens

sequenciadas ele,

[...] não é um mero livrinho para crianças que não sabem ler. Segundo a experiência de cada um e das perguntas que cada leitor faz às imagens, ele pode se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem significar um alargamento do campo de consciência: de nós mesmos, de nosso meio, de nossa cultura e do entrelaçamento da nossa com outras culturas, no tempo e no espaço. (CAMARGO, 1995, p.70)

Portanto, a narrativa visual, no livro de imagem, é direcionada por um fio condutor

que liga uma imagem a outra e faz a história acontecer. Esse fio depende muito do

autor que, não possuindo palavras para suas ilustrações, detém a responsabilidade

de traduzir ideias e percepções da narrativa única e exclusivamente imagética. Muito

comum em um livro de imagem algum elemento estar presente em toda a história,

possibilitando o entendimento da sequência. Passagens de tempo também são

bastante observados. Trazemos na figura 7 um exemplo de sequencia imagética

para percepção dos elementos que transmitem movimento como a feitura do tricot e

sua posterior colocação no gato. Tais elementos se comportam como uma ligação

entre imagens.

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Figura 7 Sequência da narrativa visual de Miú e Zuzu

Fonte: FUNARI, Eva. Bruxinha Zuzu e gato Miú. Moderna, 2010. (p.4)

Nesse exemplo, percebemos a complexidade de um livro de imagens, tanto de

criação das imagens pelo autor/ilustrador5 quanto pela possibilidade de leitura das

mesmas. Acreditar que o livro de imagem é indicado apenas para crianças que

ainda não decodificam o sistema alfabético é um outro equívoco muito comum e faz

com que na prática, a ausência da leitura da narrativa imagética, traga prejuízos no

cotidiano, inclusive ao leitor adulto ao ter dificuldades na leitura e interpretação

visual.

Nesse sentido, Van der Liden (2011), aborda o preconceito existente em relação à

leitura de imagem e reitera a necessidade da aprendizagem para tal compreensão,

uma vez que,

As imagens, cujo alcance é sem dúvida universal, não exigem menos do ato de leitura. Nisso talvez resida um mal entendido crucial. [...], a imagem requer atenção, conhecimento de seus respectivos códigos e uma verdadeira interpretação (p.8).

5 O termo traz o entendimento de que no livro de imagem o autor é o ilustrador,

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De tal modo, no que diz respeito à leitura de imagens, a própria palavra leitura na

perspectiva da imagem não é bem aceita por alguns grupos, por acreditarem na

leitura relacionada à decodificação da palavra escrita. Às vezes esta decodificação

aborda um sentido maior, mas sempre ligado ao texto escrito. Um exemplo dessa

limitação são os Parâmetros Curriculares Nacionais Língua Portuguesa (1997, p.41),

onde a palavra leitura difere do entendimento desse trabalho, destacando que,

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua: características do gênero, do portador do sistema de escrita, etc.

Contudo, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil-RCNEI (1998,

p.140, v. 3), quando, na abordagem de Práticas de Leitura, um dos itens cita

“Participação em situações que as crianças leiam, ainda que não façam de maneira

convencional.”, como trazemos na figura abaixo. Um pouco diferenciada das demais

práticas citadas, que abordam a leitura verbal, a leitura de imagem pode ser

pensada como possibilidade neste momento. A utilização da expressão “maneira

convencional”, onde pensamos expressar a leitura da palavra escrita, nos mostra

que a leitura imagética ainda tem algumas barreiras a desconstruir.

Figura 8- Práticas de Leitura para Educação Infantil

Fonte: BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, v.3, p. 140-141. 1998.

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Na BNCC (2017), a leitura de imagens não está expressa em nenhum dos campos

de experiência, sendo a palavra leitura sempre relacionada à importância da palavra

escrita. Muitas vezes propõe a literatura infanto-juvenil com esse objetivo.

Na contramão desse entendimento dos currículos nacionais, que se apresenta num

viés restrito e hegemônico, este trabalho entende leitura como um “processo de

compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que

linguagem” (MARTINS, 2007, p.30). Nesse sentido, percebemos que,

É o leitor que lê o sentido; é o leitor que confere ao objeto, lugar ou acontecimento uma certa legibilidade possível, ou que a reconhece neles. É o leitor que deve atribuir significado a um sistema de signos e depois decifrá-lo. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender (MANGUEL, 1997, p.19).

Portanto, nossa investigação está ancorada em Manguel (1997), que entende a

flexibilidade da leitura a partir das experiências do leitor, em Freire (1988) que

compreende que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, e em Hernandez

(2007), assim como Frange (2005), que sinalizam a diversidade de textos, não

apenas a palavra escrita, mas orais, auditivos, visuais, corporais, imagéticos,

sincréticos. Dessa maneira, trazemos a leitura como polissêmica, um

entrelaçamento de ideias verbais e não verbais. Entendemos a leitura na mesma

direção de Ramos (2011, p. 34):

[...] é forma de perceber, mas não se trata do gesto maquinal de colocar os olhos em algo rapidamente. Refere-se ao ato de, a partir dos olhos, examinar, avaliar, correlacionar, pensar o que está sendo visto. Aprender a olhar significa sair do gesto primário de captar algo com os olhos, que é uma atividade física, e passar para o outro estágio, aquele em que, a partir de muitos exercícios mentais, observamos e compreendemos o examinado. Esse debruçar-se sobre o que os olhos captam provocará análises e, o mais produtivo, provavelmente ativará a capacidade de inventar. Olhar, portanto, é uma soma que inclui o físico, o psicológico, a percepção e a criação.

Destarte, não se trata de ler certo ou errado ou aprender a ler de maneira mecânica,

de uma maneira única, com regras e passos sequenciais, como na leitura de

palavras. O texto imagético nem sempre é linear como o texto verbal, nem sempre é

de fácil leitura; o entendimento das imagens é relativizado a partir das considerações

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pessoais do leitor. Nesse aspecto, Faria (2010, p.48), em “Como usar a literatura

infantil na sala de aula”, percebe que a leitura da narrativa imagética requer atenção

e racionalidade para o entendimento do “desenrolar da história”, mas não podemos

nos limitar em uma decodificação de elementos, pois, como relata Frange (2005, p.

109), se essa leitura for “considerada somente como possuidora de um código e de

uma decodificação específica a ser decifrada, a arte fica numa patamar quase

“codificista”, deixando escapar as relações entre a expressão e os conteúdos nelas

inscritos”, enformando a leitura e a Arte.

Desse modo, o professor precisa compreender como se dá essa leitura, com

liberdade de imaginação, interpretação, de entendimentos a partir das vivências do

leitor. Os professores devem perceber que os livros de imagem, na grande parte das

vezes,

[...] são a primeira introdução da criança à arte e à literatura [ ]. Dar a ela livros ilustrados crus, estereotipados é abrir o caminho para tudo o mais que é cru e estereotipado [...] mesmo que as crianças nem sempre apreciem o melhor quando o veem, elas não terão nenhuma chance de aprecia-lo se não o virem. (HUNT, 2010, p. 242-243)

Nesse aspecto, Abramovich (1998), faz considerações sobre a importância de

crianças com um olhar múltiplo, amplo, pensando e enxergando o mundo de formas

diversas. E expressa a importância do livro de imagem como recurso para que não

formemos “míopes mentais” (p.33).

Sendo assim, consideramos importante estimular a leitura de imagens no ambiente

escolar o mais cedo possível, desde a Educação Infantil, ampliando assim a

imaginação, a criatividade e permitindo que as crianças ampliem seu repertório

argumentativo (CAMPANA, 2014). É importante “dar ênfase à leitura de imagem que

parta da criança e das conexões por ela propostas, as quais serão aprofundadas na

construção de percursos geradores de sentidos para a significação.” (FRANGE,

2005, p.109)

Para isso, é interessante que professores sejam preparados para leitura visual, para

que as crianças consigam se desvincular do pensamento único de leitura de

palavras escritas e possam partir para uma leitura critica e reflexiva do que ainda

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não está dito, proporcionando momentos onde as crianças possuam não apenas

voz, mas também vez.

Por essa razão, a atenção à essa temática e, especialmente à área de Artes e

Educação da Cultura Visual nos currículos das licenciaturas em Pedagogia, faz-se

essencial diante das visões e compreensões ampliadas que as visualidades

suscitam às crianças, potencializadas na mediação crítico/reflexiva do professor no

ambiente escolar.

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4 PASSOS METODOLÓGICOS

Pelas estradas do Semiárido seguimos na direção das escolas e do conhecimento. Percebemos esta caatinga tão particular, verdinha depois da chuva inesperada. Na maioria das vezes a estrada rumo ao interior e de retorno à sede nos transmite a beleza da paisagem local e possibilita tantas das reflexões aqui registradas (CAMPANA).

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4.1 PEGADAS MARGEANDO O RIO

Este capítulo propõe traçar o caminho dessa investigação e pontuar procedimentos

utilizados na construção do conhecimento desta pesquisa. Descrevemos o percurso

investigativo com as observações realizadas na Pesquisa de Campo, além das falas

das professoras, gestoras e coordenadora nas entrevistas semiestruturadas. Ao

final, trazemos um esquema que nos parece elucidativo, apontando uma visão

global da caminhada. Nesse sentido, consideramos relevante iniciarmos com uma

foto aérea posicional das duas escolas, lócus da pesquisa, que se distanciam por 70

Km.

Figura 9 – Locus da pesquisa – Semiárido Juazeirense

Fonte: Google Earth

Entendemos, que essa caminhada margeia o rio, nas escolas escolhidas e nas

escritas deste trabalho. Isso porque, assim como demonstrado acima (figura 9), as

duas instituições ficam no caminho do Rio São Francisco, que exerce bastante

influência para a cidade de Juazeiro, seja por suas lendas, pela sua economia ou

pelo prazer de sua presença. Nesse aspecto, a pesquisa se configura,

[ ] uma atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tive sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática (MINAYO, 2015, p.16)

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Dessa maneira, do conjunto de experiências narradas no primeiro capítulo,

destacamos as seguintes como maiores impulsionadoras:

1. A percepção não somente como educadora, mas também como mãe de que

o livro de imagem pode elevar a autoestima de uma criança que ainda não

decodifica símbolos alfabéticos;

2. O aumento na produção/publicação de inúmeros livros de imagem

disponibilizados no mercado editorial;

3. O olhar atento construído desde a pesquisa do TCC no Estágio

Supervisionado no curso de Pedagogia em perceber que o livro de imagem

não estava sendo considerado no processo formativo dos professores e a

inquietação para estudá-lo enquanto possibilidade na Educação Infantil e

4. A reflexão sobre o livro de imagem, realizada na disciplina especial do

PPGESA, Letramento e Cultura Visual, para além das possibilidades de

desenvolvimento da imaginação, criatividade, oralidade, sequência narrativa e

autoestima, mas uma maneira de refletir criticamente sobre o contexto das

crianças em sala de aula.

Assim sendo, fazemos um recorte para a construção desta pesquisa num processo

constituído de possibilidades de olhares, idas e vindas, dúvidas, questionamentos e

aprendizagens sobre o livro de imagem e seus leitores, a partir dos fundamentos da

Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido e da Educação da

Cultura Visual.

Para tal, nos apropriamos de uma abordagem qualitativa, “explorando diferentes

opiniões e representações” (GOMES, 2015, p.79) sobre o livro de imagem e o

contexto do Semiárido juazeirense, no propósito de investigar como esses livros vêm

sendo usados na Educação Infantil das escolas públicas municipais de Juazeiro,

Bahia, atentando que a pesquisa qualitativa,

[...] trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO, 2015, p.21)

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Entendemos, pelo viés qualitativo da pesquisa (PIRES, 2012), a importância do leitor

no seu contexto, suas experiências, suas vivências e a leitura do livro de imagem.

Buscamos compreender melhor a relação deste com o Semiárido juazeirense, para

tanto ancoramo-nos em Lakatos e Marconi (2003, p.48) e na perspectiva de que a

pesquisa qualitativa “preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo o comportamento humano, fornecendo uma análise mais detalhada

sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento”, aspectos

fundamentais nesta pesquisa.

No mesmo entendimento desses autores, Richardson (1999, p. 14) aponta a

pesquisa qualitativa como aquela que permite “estudar coisas em seu cenário

natural, tentando compreender ou interpretar fenômenos em termos dos significados

que as pessoas trazem para elas”. Essa compreensão também embasa a presente

pesquisa, que se aproxima dos sujeitos nas escolas de Educação Infantil de

Juazeiro/BA, intencionando compreender de que maneira os livros de imagem vem

sendo usados, lançando luz a problemáticas que frequentemente são invisíveis na

hegemonia do currículo e práticas dominantes da educação formal (BOGDAN e

BIKLEN, 1994).

Ademais, privilegiamos uma abordagem qualitativa, por ressaltar a importância das

imagens como fonte direta de dados e o ambiente natural, lugar em que as pessoas

dão sentido às suas vidas (IDEM). De tal modo, sem nenhuma referência ao livro de

imagem no Semiárido juazeirense em buscas realizadas, assim como observado e

descrito no capítulo 2, recorremos à pesquisa exploratória para “proporcionar visão

geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato” (GIL, 2008, p.27), a qual

“tem como objetivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,

tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis

para estudos posteriores”. (GIL, 2008, p.27).

Nesse sentido, intencionamos uma melhor compreensão do tema, na perspectiva da

Educação da Cultura Visual e Educação Contextualizada para Convivência com o

Semiárido. Nesse contexto, partimos da pesquisa exploratória como busca de

maiores esclarecimentos sobre o livro de imagem e sua utilização em salas de

Educação Infantil, tendo a necessidade de procedimentos técnicos específicos

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como: a pesquisa bibliográfica num primeiro momento e num segundo momento a

pesquisa de campo.

Num contínuo caminho investigativo, a pesquisa bibliográfica neste trabalho foi

utilizada no sentido de levantar “referências teóricas já analisadas, e publicadas por

meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites”

(FONSECA, 2002, p. 32). Ela nos forneceu todo o embasamento teórico para

entendimentos e relações investigadas. Pudemos adquirir maiores informações de

estudos anteriores sobre o tema em teses, dissertações ou artigos, mapeando os

locais que vem sendo realizadas pesquisas afins, com dados que nos pareceram

relevantes.

Do mesmo modo, a pesquisa de campo fez-se fundamental, à medida que contribuiu

para compreender de que maneira os livros de imagem vem sendo usados como

recurso pedagógico na Educação Infantil das escolas públicas de Juazeiro, Bahia.

Optamos também pela pesquisa de campo por se mostrar propícia para uma

percepção geral da relação de sujeitos, contexto e livro de imagem. Lakatos e

Marconi (2003, p.186) definem:

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.

Minayo (2015, p.26), por sua vez, ressalta a importância dessa fase para a pesquisa

social, entendendo-a como uma etapa central para o conhecimento da realidade e

composta por “instrumentos de observação, entrevistas ou outras modalidades de

comunicação e interlocução com os pesquisados, levantamento de material

documental e outros”.

Dessa maneira, a pesquisa de campo e a coleta de dados (FONSECA, 2002) se deu

em duas escolas: Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Nailde de Sousa

Costa e Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José. A primeira foi lócus do

Trabalho de Conclusão de Curso “Livro de imagem: um convite ao olhar e à

percepção da criança da Educação Infantil” (CAMPANA, 2014), com professoras

diferentes das atuais, mas a mesma gestão, além de estar localizada na sede de

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Juazeiro. A segunda foi escolhida por ser a primeira escola municipal de tempo

integral do interior do município e apresentar inicialmente uma proposta pedagógica

de Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido. Utilizamos duas

escolas, uma na sede e outra no interior, para possibilitar uma maior amplitude de

entendimento do problema, além de intencionarmos uma análise comparativa por

contraste-aprofundamento (PIRES, 2012).

4.2 OBSERVANDO AS ESCOLAS

Na pesquisa de campo, buscamos compreender o nosso problema no contexto das

escolas e salas de Educação Infantil, observando a existência ou não de livros de

imagem nas salas de aula e na prática das professoras, além do reconhecimento

inicial do campo de pesquisa. Nossa investigação teve, desde o início e de acordo

com o já exposto, a intencionalidade de pisar no chão da escola, entender práticas e

valores, observar, registrar, pensar de dentro dos espaços.

Desse modo, na primeira semana, em ambas as escolas, tivemos por meta observar

como se davam as aulas, o mecanismo das leituras na Educação Infantil, horários,

como eram utilizadas as bibliotecas, se haviam livros em sala de aula, que gêneros

eram apreciados pelas professoras na hora da contação, quais livros eram

escolhidos pelos estudantes, conteúdo do livro didático, entre outras observações

consideradas momentaneamente importantes e descritas no caderno de bordo.

Essas observações também serviam como auxiliares para o tópico guia das

entrevistas. Trago-as em 1ª pessoa por acreditar que as experiências vividas são

individuais e únicas, começando pela Escola Municipal Rural de Tempo Integral São

José, registrada na foto a seguir (Figura 10).

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Figura 10 Vista frontal Escola Rural de Tempo Integral São José

Fonte: Arquivo da pesquisadora

No dia 11 de junho de 2018 cheguei à instituição com o ônibus dos professores da

Secretaria da Educação de Juazeiro/BA. Demorou cerca de 40 minutos de viagem,

poucos de caminhada e lá estava ela. Linda escola, grandiosa, com um jardim de

palmeiras, uma pimenteira repleta de frutos e um terraço circular na frente das salas

de aula, aonde o vento chegava com vontade de refrescar os corpinhos das crianças

que saiam do ônibus, vindos de Curaçá, cidade vizinha à Juazeiro e muito perto de

Itamotinga, local da escola. Outras crianças chegavam a pé, de moto, bicicleta.

Soubemos depois que vinham dos projetos irrigados onde pais e mães trabalham.

Ficamos sabendo que o jardim frontal da escola, bem como algumas fruteiras em

sua lateral, foram plantadas pelas professoras que na época de sua inauguração

lecionavam. A imagem aérea do entorno está registrada na figura 11, onde podemos

observar uma área com plantações, que fazem parte dos projetos irrigados. Os pais

e mães dos alunos dessa escola, em sua maioria, trabalham nesses projetos.

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Figura 11 Imagem satélite entorno Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José

Fonte: Google Earth (OUTUBRO, 2018)

A impressão inicial, com cheiro de bem estar e acolhimento, perdurou por três

semanas, toda a estadia da pesquisa. Professoras, gestora e funcionários em geral

se tornaram partes importantes do trabalho de campo, não medindo esforços para

contribuir com o que fosse possível. Inicialmente nos comprometemos a observar as

aulas, didática das professoras, experiência em sala, práticas da escola e a

existência de livros de imagem. Depois de algumas percepções, partimos para as

entrevistas, sempre norteada a partir do tópico-guia, construído depois das

observações.

Após a estadia na Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José, no dia 25 de

julho de 2018, parti para a permanência na EMEI Nailde de Souza Costa (Figura 12).

A experiência de três semanas na EMEI foi igualmente acolhedora. Professoras,

gestora, coordenadora e funcionários foram muito receptivos, o que facilitou o

entendimento sobre algumas questões da investigação, como a formação dos

professores, experiência em sala de aula, prática de ensino de Artes, proposições de

atividades comemorativas, utilização do parque infantil e tantas outras observações

do dia a dia escolar que traziam algumas possibilidades de reflexões sobre nossas

questões de pesquisa.

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Figura 12 Vista frontal EMEI Nailde de Sousa Costa

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Assim como na Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José, na EMEI Nailde

de Sousa Costa, também achamos relevante compartilhar a imagem da vista aérea

do entorno da escola, como na figura abaixo (Figura 13). Assim, podemos refletir

sobre algumas diferenças ou semelhanças de seus entornos.

Figura 13 Imagem satélite entorno EMEI Nailde de Souza Costa

Fonte: Google Earth (OUTUBRO, 2018)

As imagens aéreas nos mostram particularidades de cada lócus. Enquanto a Escola

Municipal Rural de Tempo Integral São José nos mostra um entorno agrícola, na

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EMEI Nailde de Souza Costa observamos aspectos urbanos (Figura 13). Partindo

dessa diferença, localização, elaboramos uma tabela com informações observadas

em campo sobre o lócus da investigação, caracterizando as duas escolas quanto à

quantidade de salas de aula, biblioteca, banheiros, chuveiros, cantina, estudantes,

funcionários e diretor.

Tabela 5 Características comparativas das escolas visitadas

ESCOLA EMEI Nailde de Sousa Costa Escola Municipal Rural de

Tempo Integral São José

LOCALIZAÇÃO Travessa Alecrim Dourado, quadra C, S/N Novo Encontro Juazeiro/ BA

Projeto NH4 Itamotinga Juazeiro/BA

SEDE INTERIOR

QUANTIDADE SALAS 8 (todas de Educação Infantil) 8 (3 de Educação Infantil)

SALA DE LEITURA SIM SIM

ESTUDANTES 280 (42 integral; 120 manhã;

120 vespertino)

170 integral (71 na

Educação Infantil)

FUNCIONÁRIOS 34 24

CANTINA SIM SIM

BANHEIRO 8 2

CHUVEIRO 3 NÃO POSSUI

PARQUE INFANTIL SIM SIM

RECREIO NÃO SIM

LANCHE SIM SIM

INAUGURAÇÃO FEVEREIRO/2013 JULHO/2016

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Podemos notar pela tabela 5 que a Escola Municipal de Tempo Integral São José

possui, além da Educação Infantil, salas do fundamental I (1º ao 5º ANO) e a EMEI

Nailde de Sousa Costa apenas Educação Infantil (INFANTIL II, III, IV, V). Apenas

essa característica já propõe grande diferença na dinâmica das duas instituições.

Uma das limitações da Escola Municipal de Tempo Integral é a falta de chuveiro, o

que impossibilita o banho das crianças menores que ficam integralmente na escola,

diferentemente do que acontece na EMEI Nailde de Sousa Costa.

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Figura 14 Parque infantil das escolas visitadas

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Apesar das duas escolas possuírem parque, como registrado nas imagens da figura

14 e lanche em horários pré-estabelecidos, o recreio não acontece na instituição da

sede. Um direito da criança de brincar, que não é respeitado, por falta de recreador,

por medo de ferimentos, por imposição de regras adultocêntricas ou pela ideia da

necessidade de calma e silêncio nos espaços escolares. Fato é que o brincar é

limitado a uma vez por semana, por trinta minutos, caso a criança tenha se

comportado de acordo com as normas de cada professora.

Nesse aspecto, outra observação que consideramos relevante é a presença de duas

casinhas de madeira no pátio da EMEI, como demonstrado na figura 15, com

armários, geladeira, fogão e utensílios. Essas permaneciam fechadas para

momentos esporádicos de exclusivo uso e brincadeira das meninas. Segundo as

professoras os meninos são muito agitados e é melhor que brinquem de bola.

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Figura 15 Casinha de madeira da EMEI

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Outra perspectiva que nos pareceu relevante foi a dos quadros de leitura, tabelas,

impressas pela Secretaria da Educação de Juazeiro/BA, que ficam nas paredes das

salas de aula, indicando os livros semanais lidos pelas crianças ou pela professora.

Em anos anteriores, eram anotados os títulos dos livros que ficavam nas salas e no

momento que a criança os liam, registravam sua apreciação àquela leitura. Dessa

maneira, o que havia no quadro eram os livros e não os nomes das crianças, como

atualmente. Conforme observação, em um determinado dia, a professora, depois da

leitura de um livro escolhido aleatoriamente por ela, perguntou às crianças quem

havia gostado. Estas levantavam a mão como num impulso divertido e a professora

pintava os quadradinhos de verde, o que compromete a percepção individual da

criança. Podemos notar no quadro de leitura de uma das salas observadas (vide

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Figura 16) que esse procedimento não ocorria com regularidade, visto que nossa

observação ocorreu na metade do ano e apenas uma semana está no registro.

Figura 16 Quadro de registro de acompanhamento de leitura em Junho

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Também foram observados os livros de imagem que estavam em sala de aula ou na

biblioteca, espaço registrado na Figura 17. Cabe ressaltar que na Escola Municipal

Rural de Tempo Integral São José, não haviam livros em sala de aula, assim, as

professoras os escolhiam na biblioteca previamente e os levavam para sala, um por

vez. Na EMEI esta prática diferia, uma vez que cada sala possuía uma boa

quantidade de livros para que os estudantes escolhessem nos momentos de leitura,

ora deles, ora das professoras.

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Figura 17 Sala de leitura (Biblioteca) da Escola Rural de Tempo Integral

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Assim, os livros de imagem encontrados nos espaços de observação foram descritos

e suas páginas digitalizadas para descrição e análise de dados. Elaboramos

quadros (Tabelas 9, 10, 11 e 12), no capítulo 5, com os respectivos títulos de livros

de imagem encontrados, seja na biblioteca, no caso da Escola Rural, ou nas salas

do Infantil III, IV e V vespertino, salas das professoras previamente entrevistadas.

4.3 CONVERSANDO COM NOSSOS SUJEITOS

Além das observações, foram realizadas entrevistas semiestruturadas “técnica

qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e

experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada.”

(DUARTE, 2008, p. 62), para percepção do entendimento dos sujeitos da pesquisa

sobre o livro de imagem, sobre o contexto do Semiárido juazeirense, além da prática

na sala de aula e na escola. Essas foram realizadas a partir das observações

prévias para que norteassem o tópico-guia (BAUER e GASKELL, 2002), roteiro

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planejado como um esqueleto, de modo que não houvesse esquecimentos ou que

fosse possível contemplar as questões em sua totalidade e com maior flexibilidade,

garantindo o foco da pesquisa.

O uso da entrevista parte da inferência de que a práxis do professor, gestor ou

coordenador, suas crenças, valores e seus entendimentos quanto à realidade

podem “fornecer informação contextual valiosa para ajudar explicar achados

específicos” (BAUER e GASKELL, 2002, p.65). Por essa razão, foram entrevistadas

individualmente três professoras da Educação Infantil de cada escola (Infantil III,

Infantil IV e Infantil V), por entendermos que a compreensão de cada uma sobre o

tema é própria e de extrema importância. Em uma das escolas só possuíam três

salas de Educação Infantil, sendo assim, na outra escola, escolhemos

aleatoriamente e igualmente três salas de Educação Infantil com crianças de mesma

faixa etária. Também foram entrevistadas, além das seis professoras, as gestoras

das duas escolas e a coordenadora de uma delas, sendo que a outra coordenadora

estava em licença maternidade, por entendermos a importância das suas

compreensões e práticas para a construção da lógica de suas escolas.

As próprias professoras, gestoras e coordenadora determinaram o momento mais

propício para as entrevistas, que duravam em média uma hora, sempre tentando

deixá-las bastante descontraídas. Algumas foram realizadas no turno oposto às

aulas, outras na hora de descanso das crianças, quando estavam com as auxiliares;

algumas preferiam sair mais tarde da escola.

Desse modo, a partir das entrevistas, realizadas nas duas instituições, pude ter

maior clareza das percepções individuais das colaboradoras. Para maior discrição,

identificamos as professoras com nomes femininos de livros do autor e ilustrador

André Neves. Depois de muito pensar, optamos por homenageá-lo por tanta

dedicação direcionada principalmente à categoria livro de imagem. As gestoras e

coordenadora entrevistadas também foram renomeadas com nomes fictícios de

personagens de livros do autor e ilustrador referendado. No quadro abaixo trazemos,

além dos nomes que serão observados pelo trabalho como um todo, um pouquinho

de cada professora no aspecto da formação, descritos e coletados a partir de

questões presentes nos Apêndices 2, 3 e 4 desse trabalho escrito.

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Tabela 6 Identificação das professoras entrevistadas

NOME

FORMAÇÃO

IDADE

EXPERIÊNCIA COM

EDUCAÇÃO

CARMELA PEDAGOGIA 38 14

MALVINA PEDAGOGIA 36 9

MARGARIDA PEDAGOGIA 34 11

SEBASTIANA SEM FORMAÇÃO SUPERIOR

36 3

SEVERINA PEDAGOGIA 47 28

SOFIA PEDAGOGIA 35 11

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Tabela 7 Identificação das gestoras entrevistadas

NOME FORMAÇÃO IDADE EXPERIÊNCIA COM EDUCAÇÃO

MANU PEDAGOGIA 38 18

MILA PEDAGOGIA 53 32

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Tabela 8 Identificação da coordenadora entrevistada

NOME FORMAÇÃO IDADE EXPERIÊNCIA

COM EDUCAÇÃO

MAROCA PEDAGOGIA 37 15

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Nas entrevistas, foi utilizado gravador digital para que não houvesse esquecimento

das respostas na transcrição dos dados. Em toda pesquisa de campo foram

utilizadas as notas de campo “relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê,

experiencia e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um

estudo qualitativo.” (BOGDAN e BIKLEN, 1991, p.150). Entendemos notas de

campo, além de registros escritos, imagens fotografadas para melhor entendimento

da realidade. Assim, trazemos alguns desses registros imagéticos também como

parte da construção e da reflexão das experiências.

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Partindo da coleta dos dados de campo, com observação, entrevistas

semiestruturadas, notas de campo, seguimos o caminho desta pesquisa com a

leitura destes dados. As entrevistas foram transcritas em sua totalidade e analisadas

por intencionarmos compreender os sentidos estabelecidos pelas falas dos sujeitos

que perpassam as atitudes. Pensando nisso, trouxemos registros fotográficos a

partir das observações, ao longo do trabalho, possibilitando maior entendimento

além do conteúdo vocalizado. Após a leitura e pré-avaliação dos dados transcritos,

os mesmos foram fragmentados em categorias, levando em conta os objetivos da

pesquisa, entendendo o discurso como uma construção linguística atrelada a um

contexto social, com possibilidades de interpretação (GOMES, 2015).

Para descrição dos livros encontrados nas escolas e elaboração das tabelas 9,10,

11 e 12 nos apropriamos de Manguel (2002), que aborda a leitura da imagem como

Narrativa, “atribuindo a elas o caráter temporal da narrativa. Ampliamos o que é

limitado por uma moldura para um antes e um depois.” (MANGUEL, 2002, p. 27).

Dessa forma, as imagens são narradas e consideradas como parte de um

acontecimento anterior e posterior. Assim como Manguel (2002), Fittipaldi (2008)

também propõe a narratividade da imagem com elementos como ação,

representação do contexto e personagens. Sendo assim, tentando enxergar as

questões que esta investigação se debruça, expomos tal estrutura a seguir, no

próximo capítulo, com os títulos dos livros de imagem encontrados nas escolas

visitadas, respectivos autores e uma descrição que se limita à pesquisadora e

dialoga com estes três elementos, ação, contexto (relacionado ao espaço) e

personagens.

Destacamos a importância de frisar que a descrição dos livros de imagens nas

respectivas tabelas com a descrição dos livros de imagem observados está

relacionada ao olhar da pesquisadora, visto nosso entendimento de que a imagem

possui múltiplas leituras e essas se originam da vivência/experiência de cada sujeito.

Portanto, o livro de imagem propõe essa leitura particular de sua narrativa. Assim,

não poderíamos apresentar um resumo único, mas sim um acontecimento

percebido.

Depois da nossa ida às escolas, observações, conversas, reflexões e envolvimentos

registrados aqui, podemos perceber a pesquisa se desenhando. Não em sequência

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e num único sentido, em linha reta, mas num eterno repensar o que já caminhamos.

A insegurança inicial dá lugar às incertezas; o que já deveria estar claro vai abrindo

mais janelas acortinadas e mais dúvidas. Não somos os artistas principais, somos

coadjuvantes de um trabalho que parece ter vida própria, movimento próprio, que

esclarece e obscurece a medida que traz possibilidades e porquês. Tentemos

aventurar-nos (NASCIMENTO, 2013) e adiante redesenho nesse trilhar investigativo

momentos e reflexões.

Em seguida, no processo de pensar e construir esta investigação, elaboramos um

esquema gráfico (Figura 17). A imagem que ele configura, foi relida durante nossos

questionamentos e inquietações como um apoio à organização do percurso.

Entendemos que a imagem representada nesse esquema gráfico atuou não

somente no processo de sistematização desta pesquisa, mas foi colaboradora para

um norteamento da escrita sobre a investigação. Tornou-se, por conseguinte,

instrumento metodológico que repercutiu nos processos e caminhos que iam sendo

delineados e construídos durante as experiências com a temática e os sujeitos

pedagógicos envolvidos.

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ABORDAGEM QUALITATIVA

PESQUISA EXPLORATÓRIA

Pesquisa Bibliográfica

Pesquisa de campo

Referências bibliográficas

Referências imagéticas

Observação

e imagens

Entrevistas com tópico

guia

Descrição dos livros de imagem

EMEI Nailde de Sousa Costa

Escola Municipal Rural De Tempo Integral São Jose

Professoras; Coordenadora; Gestoras da Educação Infantil

Analisar as potencialidades do uso do livro de imagem na Educação Infantil de Juazeiro/BA, propondo compar-trilhamentos na perspectiva da Educação

contextualizada para o Semiárido juazeirense.

Fonte: Elaboração da pesquisadora

Figura 18 Caminho metodológico da pesquisa

ANÁLISE DADOS

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5 POR UMA EDUCAÇÃO INFANTIL VISÍVEL E DIZÍVEL NAS ESCOLAS

JUAZEIRENSES

No pensar de novas possibilidades para a leitura de imagem no Semiárido juazeirense, trazemos uma imagem da praça da Mônica. Um dos símbolos da cidade de Juazeiro, intencionamos com essa imagem uma quebra do discurso único sobre o Semiárido, visto na maioria das vezes como rural e repleto de cactáceas. Nesse capítulo iremos propor novas vizibilidades e dizibilidades para esse lugar (CAMPANA).

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Este capítulo inicia com a descrição dos livros de imagem encontrados nas

observações nas instituições. Em seguida propõe a transcrição de algumas das falas

das professoras e a sua articulação com o contexto e prática das/nas escolas. Por

fim, propõe um maior aprofundamento das observações de livros de imagem,

contexto, práticas, imagens registradas e das falas das professoras, a partir dos

teóricos visitados. Para interpretação dos dados e análise das potencialidades do

uso do livro de imagem na Educação Infantil de Juazeiro/BA, na perspectiva da

Educação contextualizada para o Semiárido juazeirense, intencionamos articular as

observações realizadas na pesquisa de campo e as falas dos professores, nos

ancorando em teóricos visitados ao longo da investigação e propostas de compar-

trilhamentos, embasadas nas conceituações poéticas de Frange (2014).

5.1 IMERSÃO NOS LIVROS DE IMAGEM OBSERVADOS

Intuímos que a construção de uma tabela poderia facilitar a percepção dos livros de

imagem encontrados nas escolas. Nessas listamos os acontecimentos percebidos

pela pesquisadora. Optamos por este título e não resumo, ou apenas

acontecimentos, por estarmos falando sobre livro de imagem e entendermos que

cada leitura é única e deriva da experiência do leitor. Escolhemos, portanto,

descrever a narrativa trazendo personagens, ação e contexto, como sugere Fittipaldi

(2008), mas atentando para que essa é a nossa leitura da narrativa, permitindo

assim outras possibilidades. Alguns títulos estão em negrito para ressaltar a

especificidade da indicação pelo PNBE para Educação Infantil, questão que será

discutida posteriormente.

Tabela 9 - Livros de imagem na Escola Integral Rural São José

TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

1. A bola dourada Nicole de Cock Menina ganha uma bola dourada de Natal, a perde, brincando e a bola vai viajando variados lugares pelo mundo.

2. A visita – PNBE 2014 Lúcia Hiratsuka A família do menino recebe uma visita de um homem em casa e ele fica desconfiado, até perceber uma aptidão do visitante.

3. Bárbaro Renato Moriconi Um menino guerreiro desafia vários monstros, até que se entristece com algo inusitado.

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4. Brinquedos – PNBE 2010

André Neves Um casal de crianças joga no lixo seus brinquedos que são encontrados por outras crianças no lixão, que passam a brincar com eles.

5. Calma camaleão – PNBE 2014

Laurent Cardon Um camaleão percebe que pode ter outras formas e resolve fazer amigos. Basta encostar-se.

6. Cena de Rua Angela Lago Menino vende frutas na rua e vivencia medos e indiferenças da paisagem urbana

7. Do outro lado da rua Cris Eich Três meninos brincam na rua com peteca e com bola, mas estas caem dentro de um portão do outro lado da rua e apesar do medo, vão busca-las.

8. É o bicho! Jean Claude R Alphen A partir de formas geométricas e de cores, um bicho vai aparecendo.

9. O gato e a pedra Fernando Pires A menina usou a tinta para pintar uma pedra e esta criou vida e forma.

10. O guloso Lilian Sypriano, Claudio Martins

Um rato que gosta muito de queijo, não consegue colocar um pedaço muito grande em sua toca. Mas ele tem uma ideia, comer o queijo antes de entrar na toca.

11. O lanche Vanessa Pezoto Uma menina, um gato e um cachorro, todos na bicicleta, aproveitam o caminho agradável até a padaria.

12. O ratinho e os opostos – PNBE 2010

Monique Félix Dois ratinhos diferentes iniciam roendo a página do livro e vão encontrando elementos e paisagens distintas.

13. O tapete voador Caulos Um menino, ao ler um livro, embarca em um tapete voador com seu cão e revê personagens de conhecidas histórias infantis ou acontecimentos mundiais.

14. Onda – PNBE 2010 Suzy Lee Uma menina destemida foi para a praia. Neste cenário de experimentações, gaivotas a acompanham.

15. Os feitiços do vizinho Sonia Junqueira Mariângela Hadad

Um vizinho esconde um segredo e crianças e adultos ficavam amedrontados. Mas o segredo foi apreciado por todos que moravam perto da praça.

16. Os três porquinhos Mariana Massarani A história clássica do Lobo e os três porquinhos, com um final surpreendente.

17. Píccolo e Nuvola Emilio Urberuaga Uma nuvem e um pássaro se perdem e tentam reencontrar seus pares.

18. Voa pipa voa - PNBE 2014

Regina Rennó Um menino se muda para uma rua onde não haviam crianças brincando. Até ele ter uma ideia, soltar pipa.

19. Zoo Jesús Gabán Cada página dupla um animal vai aparecendo em destaque com outros vários no segundo plano do habitat demonstrado

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20. Os pássaros Germano Zullo, Albertine

Um motorista de uma caminhonete solta vários pássaros, mas um não vai, apesar de sua insistência. E no momento que o motorista acha que o pássaro voou, vários outros pássaros voltam para resgatar o homem.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Notamos como descrito na tabela acima, que o acervo de livros de imagem do

PNBE para Educação Infanti na Escola Municipal Rural somam seis: A visita (2014),

Calma camaleão (2014), Brinquedos (2010), O ratinho e os opostos (2010), Onda

(2010) e Voa pipa voa (2014). Além desses haviam outros livros de imagem do

PNBE, com indicações para outras idades. A escola possui em sua biblioteca todos

os livros de literatura, sem distinção de faixa etária. Sendo assim, os livros do PNBE,

com indicação para Educação Infantil, ficam junto com os outros que não são

específicos para Educação Infantil. Nas salas de Educação Infantil não haviam livros

e as professoras levavam aleatoriamente as crianças para leituras livres ou

escolhiam um livro para ler na sala de aula.

Tabela 10 - Livros de imagem na sala do Infantil III EMEI Nailde Costa

TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

1. A nova aventura do ratinho

Monique Félix Preso dentro de um livro, o ratinho rói uma página e constrói um barquinho.

2. Bem me quero bem me querem - PNBE 2010

Regina Rennó Cinco crianças se unem e caminham até um hospital. Ao chegarem, uma bela e agradável surpresa, o nascimento de um bebê.

3. Nerina: a ovelha negra - PNBE 2014

Michele Iacocca A ovelha de cor diferente das outras é expulsa. Mas apesar disso, no final, não consegue se vingar.

4. O encontro - PNBE 2010

Michele Iacocca A procura apressada de um cachorro até que encontra o menino.

5. O menino, o jabuti e o menino - PNBE 2010

Marcelo Pacheco O jabuti segue o menino pela vida toda, até ficar velho e morrer. E o jabuti continua seguindo outro menino.

6. O piquenique de Nique e Pique- PNBE 2012

Mauricio Veneza O piquenique de um casal de ratos num lugar singular.

7. O ratinho e o vento Monique Félix O ratinho, dentro das páginas do livro, vai tentando se proteger do vento e passa por muitas aventuras, até que tem uma ideia.

8. Pela porta do coração Regina Rennó O menino tenta entrar na casa coração com flores e até estrela.

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TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

9. Quando os tam-tans fazem tum-tum- PNBE 2014

Ivan Zigg Um palhaço que mesmo fazendo muita gente rir tem que pensar rápido para não correr perigo com certa plateia.

10. Que planeta é esse? Regina Rennó Um passarinho consegue ver das nuvens a poluição da Terra e resolve fazer alguma coisa.

11. Um+um+um+todos - PNBE 2014

Anna Maria Göbel A tentativa de colher uma planta, um a um da casa, acaba, quando conseguem, por revelar uma surpresa agradável.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Diferentemente da escola municipal rural, na EMEI os livros ficam expostos na sala,

para alunos e professoras. Cada sala foi contemplada com os livros do PNBE,

possuindo um acervo próprio. Apesar da quantidade de livros de imagem descrita

nas tabelas, as professoras relataram um número ínfimo de aquisições de livros de

imagem pela escola.

Tabela 11 - Livros de imagem na sala do Infantil IV EMEI Nailde Costa

TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

1. A visita - PNBE 2014 Lúcia Hiratsuka A família do menino recebe uma visita de um homem em casa e ele fica desconfiado, até perceber uma aptidão do visitante.

2. Bocejo - PNBE 2014 Ilan Brenman e

Renato Moriconi

Personagens conhecidas, página após página vão contaminando o próximo com seu bocejo.

3. Mar de sonhos - PNBE 2014

Dennis Nolan Uma menina constrói um castelo de areia que é destruído pela água do mar. De noite, uma família enfrenta aventuras no mar, até chegar em terra firme. No dia seguinte a história se repete.

4. Mas será que nasceria a macieira

Alê Abreu O crescimento de uma macieira, a passagem do tempo e a urbanização são trazidos na relação de uma menina com seu suposto pai.

5. O gato e a árvore - PNBE 2014

Rogério Coelho O gato planta e cuida de uma árvore que fica enorme e nela ele pode se divertir muito.

6. O leão e o camundongo - PNBE 2012

Jerry Pinkney Um leão desiste de comer o ratinho e este por sua vez, ao passar do tempo, salva o leão das redes no meio da floresta.

7. O ratinho e o vento Monique Félix O ratinho, dentro das páginas do livro, vai tentando se proteger do vento e passa por muitas aventuras, até que tem a ideia de voar.

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TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

8. Que planeta é esse? Regina Rennó Um passarinho consegue ver das nuvens a poluição da Terra e resolve fazer alguma coisa.

9. Voa pipa voa - PNBE 2014

Regina Rennó Um menino se muda para uma rua onde não haviam crianças brincando. Até ele ter uma ideia, soltar pipa.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Além dos livros do PNBE, a Secretaria da Educação, ao final de 2014, comprou

alguns títulos como A nova aventura do ratinho, O ratinho e o vento, Pela porta do

coração, Que planeta é esse? E Mas será que nasceria a mascieira?. Intuimos que

alguns dos livros existentes na EMEI podem ter sofrido danos ou perdas nesses 5

anos.

Na sala das crianças do Infantil IV na EMEI Nailde de Sousa Costa, estes nove livros

de imagem ficam acomodados junto com vários outros infantis, em uma caixa

grande de papelão, sendo manuseados em alguns momentos do dia. Nos dias em

que participei das aulas nessa sala, tais livros não foram utilizados, inclusive para

contar histórias.

A professora observada utiliza uma dinâmica de leitura em que as crianças levam

uma sacolinha com três livros para casa e trazem dois dias depois, intencionando o

estímulo à leitura e diversidade de títulos. Nas observações, não encontramos

nenhuma sacolinha com livros de imagem.

Tabela 12 - Livros de imagem na sala do Infantil V EMEI Nailde Costa

TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

1. A nova aventura do ratinho

Monique Félix Preso dentro de um livro, o ratinho para navegar rói uma página e constrói um barquinho.

2. A visita - PNBE 2014 Lúcia Hiratsuka A família do menino recebe uma visita de um homem em casa e ele fica desconfiado

3. Branca - PNBE 2012 Rosinha Campos A ovelha tenta de todas as maneiras realizar seu sonho: voar.

4. Lá vem o homem do saco - PNBE 2014

Regina Rennó Um homem com um saco nas costas faz com que todas as crianças fiquem curiosas e surpresas, depois que descobrem o conteúdo do saco.

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TÍTULOS AUTORES ACONTECIMENTOS PERCEBIDOS PELA

PESQUISADORA

5. Ladrão de galinhas - PNBE 2014

Béatrice

Rodriguez

Uma raposa sequestra uma galinha. Seus amigos, depois de muito procurarem, acham seu esconderijo e descobrem que não era um sequestro.

6. Mar de sonhos - PNBE 2014

Dennis Nolan Uma menina constrói um castelo de areia que é destruído pela água do mar. De noite, uma família enfrenta aventuras no mar, até chegar em terra firme. No dia seguinte a história se repete.

7. O gato e a árvore - PNBE 2014

Rogério Coelho O gato planta e cuida de uma árvore que fica enorme e nela ele pode se divertir muito.

8. O peralta- PNBE 2012 Jefferson Galbino Um cão faz muitas traquinagens durante o dia todo.

9. Sabor da maça Regina Rennó Um passarinho desenterra seu baú do tesouro, mas o furtam e quando ele percebe, uma coisa impressionante acontece. Ele só estava com vontade de comer maça.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Na sala do Infantil V os livros de imagem pouco são utilizados. As professoras

entendem a necessidade das palavras para alfabetização das crianças. No momento

de ler histórias para as crianças, estes são descartados. Observamos também que o

livro didático utilizado pela rede municipal para o Infantil V não problematizam

imagens nem dialogam com livros de imagem distribuídos pelo governo federal.

5.2 OUVINDO E REFLETINDO A PARTIR DO CONTEXTO E DA PRÁTICA

Compartilhamos recortes das entrevistas com as professoras, coordenadora e

gestoras em formato de quadros, para que posteriormente, seus discursos sejam

melhor analisados. Intencionamos, nessa análise, perceber para além do que está

dito e escrito, assim, trazemos algumas das observações feitas em campo e

registradas pela câmera de um celular com autorização dos atores da pesquisa,

além das notas de campo.

As categorias escolhidas para uma análise das falas dos sujeitos, que contemplam

as questões iniciais são: 1) conhecimento sobre o livro de imagem, 2) concepção de

semiárido e 3) eixo Artes Visuais na Educação Infantil. A partir das categorias

exploramos subcategorias como o diálogo sobre o semiárido com as crianças em

sala de aula, que serão descritas nos respectivos quadros expositivos.

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Partindo desse entendimento, iniciamos descrevendo na tabela 13 as falas sobre a

compreensão das professoras sobre o livro de imagem.

Tabela 13 - Quadro categoria conhecimento sobre o livro de imagem

PROFESSORAS

RESPOSTAS

SEVERINA

Eu conheço a leitura de imagem e eu até trabalho com eles só que eu não lembro nenhum nome de livro de imagem.

SOFIA

Tem um lá na minha sala agora. Estou sem saber se é... É o Ratinho da cidade, da fazenda, que eles gostam muito. Tem o da bruxa, mas não é só imagem. Mas esse do ratinho eles amam, é só imagem.

SEBASTIANA

Assim, esses livros de imagens vieram chegar agora na escola. Geralmente é poucos, passa a leitura bota pra refazer reconto do que eles estão vendo o que vão fazer ali, o que estão entendendo, e eles vão dizendo...

MARGARIDA

Sim, trabalho. Não lembro os títulos.

CARMELA

Conhecer eu conheço agora assim pra mim lembrar, dos títulos... Porque, assim, a gente não trabalha muito porque eu mesmo não tenho costume de trabalhar com imagens, com o livro de imagens.

MALVINA

Conheço vários livros imagens porém não tem memória nenhum, nenhum autor. Trabalhei acho que uns dois de Ruth Rocha.

Fonte: Elaborada da pesquisadora

Pudemos perceber pelas respostas acima que apesar das professoras relatarem

conhecimento quanto ao livro de imagem, apenas uma delas, Sofia, conseguiu

identificar o livro a partir de suas imagens. As demais não conseguiram trazer

elementos de alguma história que, por ventura, leram com as crianças. Nenhuma

das entrevistadas citou títulos ou autores de livros que por ventura tivessem

trabalhado em sala de aula.

Podemos inferir o pouco conhecimento das professoras sobre o livro de imagem e o

não aprofundamento em suas leituras. Nas respostas percebe-se uma ausência de

mediação em sala de aula com livros de imagem, além do receio em relatar o

desconhecimento quanto ao gênero. Apesar de muitos dos livros serem de 2014,

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uma das professoras relatou ser novidade na escola. “Assim, esses livros de

imagens vieram chegar agora na escola. Geralmente é poucos...”(SEBASTIANA).

As gestoras, igualmente identificadas com nomes dados a personagens do autor e

ilustrador André Neves, também relataram não lembrar títulos ou autores, mas

citaram algumas poucas narrativas vagamente lembradas.

Na escola a gente tem vários, lá na sala de leitura, temos vários livros de imagem. Agora que eu recordo... livro de imagem.... recordar... não me recordo não...Tem muitos títulos aí né? Os meninos folheiam; principalmente os meninos da educação infantil eles gostam. Não só na EI, até a gente mesmo, a gente viaja, né? (MANU)

A outra gestora, Mila, também não se lembrou de títulos ou autores de livros de

imagem. Apenas citou algum elemento como uma flor amarela que lembrava em

algum livro que já havia lido. Recordou também de um livro do Chapeuzinho

Vermelho só de imagem e pude perceber que ela falava de “Cabelinho Vermelho e o

lobo bobo”, de Silvana de Menezes (2011). As gestoras, apesar de mostrarem

conhecimento com o gênero e relatarem possibilidades como desenvolver a

imaginação, não conseguiram lembrar-se de nenhum título.

Nas entrevistas, pude perceber ainda que algumas professoras trabalham com as

crianças de Educação Infantil questionando as ilustrações dos livros escolhidos para

o dia a dia da sala de aula, como no caso da professora Sofia

Às vezes eu leio, vou passando a imagem e vou criando a história. E depois eu peço pra eles, aí cada um vai dizer uma história diferente. Uns dizem que o ratinho está roendo a parede. Outro já diz: - Oxe, foi não, ele pegou a parede e se embrulhou. Aí cada um, eles usam a imaginação e vão embora. Às vezes ainda ficam passando o dedinho como se estivesse escrito. Eles ficam lá:-Ele estava assim, e pegou o lençol e se embrulhou.... Como se tivesse letra. Acho isso tão interessante. É engraçado isso.... [...] O que você está passando este dedo ai? Está escrito, tia! Está escrito. Mesmo sem saber ler aprofundado eles já sabem que existe a escrita.

Outras professoras também quiseram relatar como que acontece a leitura do livro de

imagem em sala de aula. Neste aspecto, o questionamento sobre a narrativa é

bastante parecido: o que as crianças estão vendo naquela imagem.

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Conforme eu via a imagem, de acordo com a minha imaginação eu ia lendo pra eles. Porque a história quem faz sou eu, de acordo com as imagens que são apresentados. (MALVINA)

Malvina nos revela que as histórias lidas para as crianças a partir do livro de imagem

partem de suas vivências e não dos entendimentos das crianças, indo na contramão

da Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido e da Educação da

Cultura Visual, que propõem, como objetivo experiencial, o aprendizado a partir de si

(HERNANDEZ, 2007).

Vou passando e eles vão dizendo o que eles estão vendo, pra ver até onde a imaginação, até porque tem umas lá que tipo, que nem abre a boca. Então eu faço a rodinha com eles, eu sento com eles, aí vou, passo o livro. O que que tá vendo? O que ele tá fazendo? Aí eles vão dizendo...Tem uns que até falam alguma coisa, a imaginação vai longe...tem outros que são menos... (SEBASTIANA)

Sebastiana nos mostra que a leitura de imagens está engessada a perguntas e

respostas do que está vendo, sem reflexões que ampliem olhares e interpretações

sobre as diversificadas situações (NUNES, 2010).

Eu pego o livro, mostro aos alunos, chamo atenção deles pra capa. Pra dizer o que tem na capa, se tem algum personagem, o que tem, a cor, se for uma criança, está o rosto. O que será que tem nesse livro? O que vai acontecer? Por que? Aí viro a página e vou mostrando. E vou fazendo perguntas, para que eles aprendam a se expressar e contar histórias (MARGARIDA).

Margarida, em suas falas, aborda a importância do livro de imagem para oralidade

das crianças da Educação Infantil. Importante aspecto de sua percepção, mas

bastante simplista quando pensado nas variadas possibilidades do livro de imagem.

Nessa perspectiva, as professoras não percebem uma limitação provável para

leitura de um livro de imagem ou da necessidade de uma formação para tal proposta

da Educação Infantil. Relacionam tal ponto como falta de prática ou costume

(CARMELA). Entendem a leitura de imagem como um eterno perguntar e responder.

Neste aspecto, citamos a investigação documental (VASCONCELOS, 2018) que

propõe compreender a construção didática específica dos egressos dos cursos de

Pedagogia Licenciatura para o ensino de Artes na Educação Infantil no estado da

Bahia, levando em conta componentes curriculares que tem relação com o ensino

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das Artes e ementários. Verificamos que os componentes relacionados a Artes

Visuais se restringem a um ou dois e estes não ensinam pedagogos a ensinarem

artes e suas especificidades.

A partir de uma concepção nossa, da leitura de mundo e do contexto vivenciado,

provocamos as entrevistadas a pensar sobre o Semiárido lido por elas. O que é

Semiárido para você? O que você imagina Semiárido? Transcrevemos trechos de

suas falas a seguir, na Tabela 14.

Tabela 14 – Quadro referente à categoria concepção do Semiárido

PROFESSORAS

RESPOSTAS

SEVERINA

A caatinga, a seca mesmo, a palma, o xique-xique. Ele é um pouco esquecido mas é importante que seja resgatado.

SOFIA

A nossa região. Tem muitas riquezas, que o povo também só gosta de falar a parte seca. Por exemplo, este mês a gente trabalhou foi muito, a gente trabalhou os cactos, a gente trabalhou as riquezas daqui que são as áreas irrigadas, as plantações de manga, inclusive a gente fez uma exposição na quinta feira passada.

SEBASTIANA

É muita coisa....Em relação ao SA a gente vai ver a situação do que a gente passa, do que a gente vive. Tem muitas coisas assim que a gente sabe que tá numa situação aqui que o negócio tá feio, o planeta tá em perigo mesmo. Tem a questão do desmatamento que tá havendo...

MARGARIDA

A natureza, o ambiente que a gente convive.

CARMELA

Lembra a caatinga, lembra a seca. Já vem trazendo nossa problemática da seca. O povo mesmo do nordeste, que vive nesse lugar.

MALVINA

Seca, fome, vento, sol

Fonte: Elaborada da pesquisadora

Compreendemos leituras reduzidas sobre natureza e vegetação quando falamos de

Semiárido, ainda que por vezes tenham considerado riquezas (SOFIA), no caso dos

projetos de irrigação, desconsiderando culturas, pessoas, folclores, sabores... O

discurso estereotipado de Semiárido está presente na maioria dos professores

ouvidos, mesmo os que vivem na zona urbana. Essa visão está presente na

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mediação da prática de confecção dos cartazes, como observado nas figuras 19 e

20.

Figura 19 Cartaz elaborado pela sala do Infantil V

EMEI Nailde de Sousa Costa

Fonte: Arquivos da pesquisadora

Tais cartazes nos revelam a produção imagética de um semiárido rural, ainda que

na escola da sede de Juazeiro. Os olhares são distanciados e dessa maneira,

intuimos, que as crianças não se sentem pertencentes ao contexto pouco

aprofundado. Percebemos essa dinâmica, de um semiárido entendido distante, nas

salas das escolas visitadas. Como referendado por Simas (2017) o semiárido é

majoritariamente urbano, mas tal percepção fica coberta pelo véu da reprodução

simplista.

Essa figura do sertanejo valente e resistente que vive em um ambiente hostil e miserável foi impregnada na imaginação das pessoas que desconhecem essa realidade. Esse discurso foi disseminado, se tornando comum, criando a representação social atual do sertão, do Semiárido e do Nordeste como um todo a partir de parte de elementos que compõem essa área, escamoteando uma diversidade de tipos de flora e fauna, bem como populações com economias e ocupações diferenciadas, onde a área urbana que corresponde a 62% do território parece não existir, pois se ressalta apenas os 38% de área rural (IBGE, 2010), tratando-a ainda como desprezível. (SIMAS, 2017, p.83)

O discurso do Semiárido único, com cactos e palmas envolve as atrizes das escolas,

seja a rural ou a sede, ambas, como já relatado na imagem da vista aérea, perto do

Figura 20 Cartaz elaborado pela sala

Infantil IV EMEI Nailde de Sousa Costa

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Rio São Francisco. Mas essa visão da seca, reproduzida pelas professoras, muitas

vezes sem reflexões ou problematizações, não impede a leitura de mundo dos

estudantes e a autonomia dos próprios desenhos (Figura 21) nos mostram os seus

semiáridos com o rio, vegetação, os personagens do folclore e a alegria da sua

gente, demonstrado a seguir, nas imagens da EMEI Nailde de Sousa Costa.

Figura 21 Desenhos dos estudantes da classe do Infantil V (EMEI)

Fonte: Arquivo da pesquisadora

A identidade da gestora Manu também ficou bastante marcada em suas falas e

percepções sobre Semiárido. A emoção foi um ponto perceptível nessa conversa.

É a vida nossa. É o nosso contexto. É onde nós estamos inseridos. Antigamente as pessoas iam dizer, é a seca, é o mandacaru, mas...e tudo isso é o semiárido. Mas o Semiárido é a nossa vida, é onde a gente está aqui e eu não me vejo fora daqui, dessa realidade. Eu sou daqui, eu sou filha daqui e não é daqui só daqui. Meu pai é criador, ele cria caprinos, ele cria bovino, ele quer como todos os outros, porque bovino não é do contexto do semiárido, mas eles criam, ele tem roça, ele fala fazenda mesmo, ele tem muita terra, mas as terras improdutivas, mas que ele cria na área de sequeiro. Então, o semiárido é vida. Amo tudo isso. Não tem nada melhor que a caatinga, principalmente quando chove. É lindo, esse contexto. A seca, o cinza, mesmo o cinza, o cinza é mágico. Porque você vê o cinza, mas você sabe que quando cair a chuvinha ele nasce, é vida. Porque ele não está morto. Pra mim o semiárido é vida, vida mesmo. Porque a gente não pode negar as nossas raízes.(MANU)

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Apesar desse entendimento sobre o Semiárido da gestora, as professoras seguem

uma certa limitação. Perceber a compreensão das professoras nos instigou a saber

como essas escolas traziam os elementos locais para dentro da sala de aula e como

acontecia o diálogo com as crianças. Tais falas estão relatadas na tabela 15, a

seguir.

Tabela 15 Quadro referente à subcategoria diálogo com elementos Semiárido, escolas e

estudantes

PROFESSORAS

RESPOSTAS

SEVERINA

Eu acho que seria muito importante abordar, através de livros, através de atividades...Essa semana mesmo que foi aniversário da nossa cidade, Juazeiro, a gente abordou muito isso, a questão das frutas da região, da caatinga, da palma...a gente falou muito sobre esta questão. Teve alguns cartazes aqui na escola, eu não fiz por causa do livro mas é muito importante abordar isso.

SOFIA

A gente trouxe palma. Eles dizem:-Ah! Na casa da minha vó tem essa planta, tia. Ah! Lá na roça não sei de quem tem isso aqui, que eu furei meu dedo. [...]. –Tia, lá na casa de minha mãe, minha mãe dá isso aí pra vaca comer. A gente sempre faz isso. Dependendo da sequencia a gente sempre trabalha primeiro daqui regional e depois a gente bota alguma coisa nacional e acaba entrando outras coisas também porque pinguim, estes bichos, estas coisas eles gostam, acabam assistindo no filme. [...] Teve uma vez que queriam botar não sei o que foi, não sei se foi aquele urso, eu sei que foi uma confusão, e a gente acabou trocando pelo bode e foi uma coisa riquíssima que a gente acabou entrando na cabra, o leite da cabra, o queijo, não sei de que. É outra coisa. A gente tem que usar as coisas daqui.

SEBASTIANA

Eu sempre procuro mostrar pra eles -Olha, isso não é assim, é assim. Vamos fazer isso aqui, aí tipo assim, pega aquela planta aí, aquela planta pode arrancar? Não. Isso aqui quer dizer o que? Porque tem relação o SA, pra mim, o negócio está feio, porque nossa situação é pesada, e procura falar sobre racionamento de água, o que faz mal, o que não faz, as plantas que a gente não pode arrancar de forma alguma, que a gente tem que replantar, que faz falta, a beira do rio esta devastada e isso esta trazendo muitos problemas pra gente. É mais na conversa. Olha, não pode arrancar isso. Por que? O que acontece? Por que não está chovendo? Pode derramar água por aí?

MARGARIDA

Eu falo da plantação, do que os pais usam, o que eles plantam nas roças, que este plantio vai pra Juazeiro e de lá vendem fora, a exportação. O uso do alimento que muitos usam pra ter uma comida dentro de casa, o cuidado, a fruta da região...Tanto é que a gente já fez um picnic aqui na sala e eles disseram que eu tenho que fazer de novo(risos). Que a gente traz diversas frutas e diz o que produz, o que cada pai tem na roça ou o que eles fazem..

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PROFESSORAS

RESPOSTAS

CARMELA

A gente procura se aproximar bastante da realidade deles, dentro das necessidades deles. Digamos, dentro do projeto junino, a gente trouxe o SA, trouxe a vivencia deles e mostrou outras vivências. Fez um paralelo dos produtos que saem do SA e vão para outros estados.

MALVINA

Nós estamos trabalhando semiárido e ai eu pedi pra que eles trouxessem atividade pra casa as plantas da caatinga E depois pedi pra trazer os animais que vivem na caatinga e sempre associo o Semiárido com alguma coisa que tenha envolvida nesse cenário

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

Interessante notar pela Tabela 15 que a professora Malvina trouxe a abordagem dos

projetos irrigados, representando o Semiárido conhecido pelas crianças da sua

turma, mas outras insistiram na representatividade da seca, vegetação da caatinga e

animais. Uma das limitações apontadas por Severina foi o tempo relacionado à

necessidade de cumprir o conteúdo do livro didático adotado pela rede de Educação

do Município de Juazeiro.

Entendemos ainda elementos pontuais do Semiárido, abordados em sala de aula.

Ora a palma, ora o juazeiro, algumas vezes o bode e outras a falta da água. Ocorre

uma tentativa de diálogo com a realidade que as professoras entendem ser o lugar

das crianças. Mas a partir disso não há produção de um novo conhecimento. Mais

uma vez o Semiárido juazeirense e seus elementos são abordados de maneira

simplista, não considerando o urbano, por exemplo.

Muitas vezes, no afã de trazer elementos do Semiárido, as professoras deslocam o

entendimento de um contexto amplo e diversificado, como na atividade abaixo

(FIGURA 22). Além de limitar os animais do Semiárido, não trazem a beleza das

espécies, dificultando o entendimento e o olhar das crianças. Também verificamos

nessa atividade a necessidade da escrita em muitos momentos na escola.

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Figura 22 Atividade para colorir animais do Semiárido

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Trouxemos imagens reais dos animais propostos pela professora a fim de refletir a

necessidade de colocar a criança em contato com o real, para oportunizar reflexões

em suas leituras posteriores.

Figura 23 Fotografia de um preá

Fonte: riquezaculturaldacaatinga.blogspot.com

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Figura 24 Fotografia de um tatu

Fonte: Tim Zurowski

Figura 25 Fotografia de um calango

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/calango

Portanto, na perspectiva de compreender a importância da leitura de imagem e

como ou quando ela poderia acontecer na sala de aula, abordamos nas entrevistas

o ensino das Artes Visuais, com o intuito de saber como era trabalhado esse eixo na

Educação Infantil e se consideravam a leitura de imagem na proposta da sala de

aula. Obtivemos então as respostas das professoras entrevistadas e descritas na

tabela 16.

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Tabela 16 - Quadro referentes à categoria eixo Artes Visuais na Educação Infantil

PROFESSORAS

RESPOSTAS

SEVERINA Na verdade assim, é mais lúdica e oralmente. A gente faz o cartaz coletivo.

SOFIA Em artes a gente tem que usar sempre pintura, tinta. Às vezes a gente inventa também. A gente trabalha com barro. A gente trabalha muito com essas coisas, reciclagem. No município também tem o projeto de musicalização, a gente confecciona com eles os instrumentos. [...] Bota eles pra pintar, pra colar, aquela coisa toda. A gente faz com massinha também.

SEBASTIANA Faz a pintura, pintura de dedo, monta cartaz

MARGARIDA A gente trabalha com recorte e colagem, leitura de imagens também...

CARMELA A gente trabalha com uma diversidade de materiais, né? Muito desenho...Depois de uma história a gente traz para um desenho, pra uma maquete. Procura trazer alguns materiais diferentes, texturas diferentes, massa de modelar, tinta guache. Como não tem renda, a gente procura reaproveitar os materiais que tem. Os desenhos são bem presentes nas aulas de artes.

MALVINA Eu sempre trabalho arte seguido de música Sempre trago a música tipo-Vamos falar sobre os animais da caatinga. Já baixei uma música do youtube que fala do calango, do preá, do tatu e depois eu coloco os animais que estão envolvidos na música eu imprimo a figura e peço para eles colorirem da forma que é. Sempre apresento um vídeo antes para que eles conheçam sobre animal estudado. Só trabalho artes ou atividade pintada na folha ou no cartaz.

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

Podemos compreender a partir das respostas acima que a maioria das professoras

entendem Artes Visuais como um fazer manual, ora colorir, ora pintar, ora recortar e

colar ou montar cartazes. Margarida citou a leitura de imagens no eixo Artes Visuais.

Já havia indicado que lia para as crianças.

Eu pego o livro, mostro aos alunos, chamo atenção deles pra capa. Pra dizer o que tem na capa, se tem algum personagem, o que tem, a cor, se for uma criança, está o rosto. O que será que tem nesse livro? O que vai acontecer? Por que? Aí viro a página e vou mostrando. E vou fazendo perguntas, para que eles aprendam a se expressar e contar histórias (MARGARIDA).

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100

Carmela pontuou o uso de materiais diferentes como guache e massinha de

modelar, indicado por Sofia igualmente. Duas professoras falaram em usar tintas e

fazer pintura com dedo, Sebastiana e Sofia, e apesar de não relatarem, pude

perceber nas paredes da escola assinaturas de artistas visuais, como demonstra a

figura 26.

Figura 26 Paredes externas salas EMEI

Fonte: Arquivos da pesquisadora

Tais registros nos mostram a liberdade de crianças que trazem a arte como forma de

expressão, que abordam elementos da construção de suas identidades, como

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brinquedos, rio, crianças e brincadeiras. A Arte está latente nas crianças,

possibilitando

[...] compreender o ambiente que vive, reconhecendo os objetos e formas que estão ao seu redor, a ampliar o conhecimento sobre outras culturas, exercitando a observação crítica de sua própria realidade; a se relacionar, interagir e se posicionar de maneira crítica diante de seus problemas e de sua realidade. (TOCHETTO E FELISBERTO, 2017, p.12).

Também observamos, em ambas as escolas, o direcionamento para o conteúdo do

livro didático adotado pela Prefeitura de Juazeiro para crianças do Infantil V. Apesar

das professoras não citarem o trabalho de leitura de imagem a partir das atividades

do livro, nas observações realizadas podemos notar a ênfase do mesmo a autores

brasileiros, como Di Cavalcanti, Tarsilla do Amaral, entre outros, como demonstrado

na Figura 26.

Figura 27 Leitura de imagem em sala de aula

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Mas no enunciado de uma tela de Di Cavalcanti observamos a palavra aprecie. Tal

indicação não remete a uma perspectiva crítica. Apreciar é como se dissesse: “Olha

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que lindo, goste, ame!” Além de imagens de telas de artistas brasileiros o livro

didático nos mostra uma grande quantidade de indicações de gêneros textuais em

suas páginas. São recortes de livros com indicação de autores e possibilidades de

trabalho. O que nos parece salutar, não fosse a perceptível desvalorização do objeto

livro, com seu formato diferenciado a cada título ou suas páginas mais grossas, suas

ilustrações com cores características, sua capa dura... Trechos e resumos fazem

parte do material didático das crianças, como ilustrado na Figura 28, o que acaba

por prejudicar o manuseio do próprio livro infantil pela criança. Uma lógica de que o

mesmo pode ser substituível pela impressão de algumas linhas e imagens.

Acreditamos em uma perda para o leitor e uma secundarização dos paradidáticos

em relação ao livro didático.

Figura 28 Recorte de página do livro didático com texto inserido

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Outro aspecto que podemos constatar sobre o livro didático é sua proposição à

leitura de obras de pintores conhecidos, como Tarsila do Amaral, sem um diálogo

com a realidade das crianças. Os exercícios do livro são realizados mecanicamente,

sem reflexão, sem a leitura necessária, sem a percepção das professoras sobre a

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necessidade da leitura de imagens. Dessa maneira, como ouvimos nos relatos, o

Ensino das Artes fica reduzido ao desenhar, colar, ouvir música e dançar. No caso

da tela “A Gare”, de Tarsila do Amaral, registrado abaixo, na Figura 29, como

proposta do livro didático, as crianças ficaram sem saber que aquela imagem

representava uma estação de trem, meio de transporte inexistente na região, mas de

possível conhecimento.

Figura 29 Atividade do livro didático Infantil V

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Partindo das observações nas instituições e de relatos das entrevistas com os

sujeitos dessa investigação, pretendemos aprofundar um pouco mais nas

percepções de campo, a partir dos teóricos que ancoram este trabalho e das

percepções mais amplificadas a partir daqui.

5.3 UMA ESCUTA SENSÍVEL POSSIBILITANDO REFLEXÕES

Inicialmente, nos preocupamos com a leitura crítica das crianças desde a Educação

Infantil, entendendo assim como Hernandez (2007) a importância dessas lerem além

do óbvio. Podemos perceber nas falas das professoras em nossas observações a

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ausência de reflexões sobre contextos e identidades a partir da leitura de imagem na

sala de aula. Não notamos a inserção da Educação da Cultura Visual na prática

desses professores, com objetivos que partem da criança, do seu lugar, que

proponha um pensar diferente (HERNANDEZ, 2007).

Eu pego o livro, mostro aos alunos, chamo atenção deles pra capa. Pra dizer o que tem na capa, se tem algum personagem, o que tem, a cor, se for uma criança, está o rosto. O que será que tem nesse livro? O que vai acontecer? Por que? Aí viro a pagina e vou mostrando. E vou fazendo perguntas, para que eles aprendam a se expressar e contar histórias (MARGARIDA). [...] você sai mostrando a imagem e começa a criar um texto coletivo com eles e fica bem interessante. Eu gostei (CARMELA).

Da mesma forma, as imagens das salas, em material emborrachado, como

identificado na Figura 30, ou nas cópias das atividades para pintura, limitam-se a

meninos, meninas e bichinhos, repletos de estereótipos e carinhas felizes. Imagens

estilizadas de um mundo encanta/dor (NASCIMENTO et al, 2015).

Figura 30 Imagens em paredes de sala de aula

Fonte: Arquivo da pesquisadora

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Como indicado anteriormente, a Escola Rural de Tempo Integral não possui livros

infantis dentro das salas de Educação Infantil, limitando as escolhas e manipulação

diárias. Porém, ao mesmo tempo, proporcionam idas periódicas à sala de leitura

(Figura 31), o que amplia a variedade de livros para escolha dessas crianças,

inclusive de imagem. Cabe ressaltar que não há regras quanto à idade/livro infantil

na sala de leitura. Os estudantes escolhem aqueles livros que chamam sua atenção,

o que consideramos salutar, corroborando com Hunt (2010, p.242), quando entende

que “[...] não deveríamos limitar as crianças; mas, da mesma forma, para não as

limitar, precisamos de certa avaliação sobre aquilo para que as estamos liberando”.

Entendemos, portanto, que a diversidade de livros remete a possibilidades de

apreciação e escolha crítica, porém o papel desse professor na sala de leitura deve

ir além de uma simples observação.

Figura 31 Sala de leitura

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Num determinado dia, ouvindo a leitura de “Cachinhos Dourados”, pude perceber a

intensidade da voz romantizada da professora Carmela ao falar do cabelo da

personagem que era como ouro. Ou como seus olhos pareciam duas pedras azuis.

Entoava características que não se pareciam em nada com cada uma das crianças

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que ouviam a história. E se o cabelo loiro era cor de ouro, um metal tão nobre, qual

seria a referência para cabelos negros? E olhos castanhos? Não perguntei tais

questões para professora. Minha observação não era participante...mas penso que

se voltasse atrás na pesquisa teria feito.

Figura 32 Livro didático utilizado na Educação Infantil V

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Podemos notar que muitas vezes as crianças, embasadas no livro didático (Figura

32), tinham que desenhar elementos que elas não estavam familiarizadas e isso não

era discutido ou trazido para realidade. Certo dia, nas páginas do livro didático,

pedia que as crianças desenhassem uma livraria, estabelecimento que não existe

em Itamotinga, subdistrito de Juazeiro, local da Escola Rural. Ao final da aula foi

escolhido o melhor desenho de uma livraria, sem critérios pré-estabelecidos. Por

acaso, uma professora da escola entrou na sala e a responsável pela classe pediu

que ela escolhesse o desenho mais bonito. E assim, um dentre os 25 estudantes foi

eleito. Abaixo, na Figura 33, um dos desenhos da turma.

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Figura 33 Um dos desenhos relacionados à livraria

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Sendo assim, partindo da possibilidade de uma leitura crítica6, passamos à tentativa

da compreensão de entendimento do livro de imagem por parte das professoras,

coordenadora e gestoras. Percebemos que algumas das entrevistadas não têm

explicito em sua mente o que é livro de imagem (COELHO, 2000; SPENGLER,

2015), como percebido nos recortes das falas da Tabela 13, entendendo, muitas

vezes, ser aquele com muitas ilustrações, além do texto escrito.

[...] eu não lembro nenhum nome (SEVERINA) [...] Tem um lá na minha sala agora...estou sem saber se é...(SOFIA) [...] Não lembro os títulos. (MARGARIDA) [...] Agora, assim, pra me lembrar...Porque, assim, a gente não trabalha muito (CARMELA) [...] trabalhei uns dois de Ruth Rocha7 (MALVINA)

Também notamos que a coordenadora Maroca não tem clareza sobre o que é leitura

de imagens ou como ela se dá em sala de aula. Citou o livro “Os Dez Sacizinhos”

(Figura 34 e 35) de Tatiana Belinky como exemplo de livro de imagem e afirmou

que,

6 Se fundamenta na pluralidade de perspectivas de análise (HERNANDEZ, 2007)

7 Não encontramos nenhum título de imagens da escritora Ruth Rocha.

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[...] as professoras trabalham com livro de imagem diariamente. É muito (ênfase) importante para trabalhar diversos aspectos, tanto a imaginação quanto a criatividade (MAROCA).

Figura 34 Capa do livro indicado pela entrevistada Maroca como livro de imagem

Fonte: Belinky, Tatiana. Dez sacizinhos. São Paulo: Paulinas, 2007. (capa).

Figura 35 Recorte de página do livro Dez Sacizinhos

Fonte: Belinky, Tatiana. Dez sacizinhos. São Paulo: Paulinas, 2007. (p. 5)

Intuímos essa inexperiência pela ínfima quantidade de trabalhos e pesquisas sobre

este gênero, como demonstrado no capítulo 2, inclusive no que diz respeito ao livro

de imagem e sua relação com a Cultura Visual. Nesse aspecto, intrigamo-nos, pois,

apesar do livro de imagem ser um gênero já consolidado no mercado editorial, com

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prêmios importantes como Jabuti, as pesquisas acadêmicas não acompanham essa

evolução.

Outra questão e que norteia intimamente esta investigação é a dificuldade que

muitos professores possuem para trabalhá-lo em sala de aula, principalmente,

quando relacionado com contexto da criança e embasados na Educação da Cultura

Visual. Fica nítida a leitura como questionamento de personagens e não de fatos,

acontecimentos ou contextos.

[...] passo a leitura, boto pra refazer reconto do que eles estão vendo, o que vão fazer ali, o que estão entendendo, e eles vão dizendo...(SEBASTIANA) [...] aí viro a pagina e vou mostrando. E vou fazendo perguntas, para que eles aprendam a se expressar e contar histórias.(MARGARIDA)

Notamos, que a quantidade de títulos existentes nas escolas é importante, mas o

entendimento de cada narrativa a fundo para uma relação com o contexto da criança

é fundamental. Planejar e ler previamente são indispensáveis para a leitura do livro

de imagem e de qualquer outro levado para sala de aula. Muitas vezes os livros, de

imagem ou não, foram escolhidos no exato momento da leitura. Em nenhum dos

dias, em nenhuma das escolas, observamos contações com livros de imagem.

Igualmente, nas observações realizadas, bem como nas respostas das entrevistadas

intuimos que os livros de imagem não estão sendo utilizados com objetivo crítico

almejado por Kellner (1995), impossibilitando a quebra de discursos hegemônicos e

engessados socialmente. Nem tão pouco, assistimos mediações reflexivas de leitura

de imagem. Ainda, nas aulas que trabalham com as Artes Visuais, a leitura de

imagens segue de maneira mecânica e direcionada a elementos específicos àquela

leitura. Nesse sentido, Frange (2005) ressalta a importância da leitura de imagens e

expõe ser fundamental a presença de um mediador nessa construção de sentidos.

É necessário adensarmos os percursos para a leitura de imagens, tanto na Arte quanto no Ensino da Arte, quer seja na escola ou no museu, nos ateliês ou nas exposições. O professor poderá ser um provocador de inquietudes e um aguçador de curiosidades entre perguntas e respostas para perguntas outras, o que vai muito além da constatação, da verificação e de certificação (FRANGE, 2005, p.110)

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Normativas como Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI),

adotado pelas professoras para o planejamento mensal, divide eixos, aulas e acaba

por não contemplar a necessidade das variadas linguagens das crianças. Nesse

caso, a leitura está ligada à palavra escrita, deixando as Artes Visuais em segundo

plano de importância, como percebemos no dia a dia.

Já a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) supera tal fragmentação, mas deixa

questões do currículo das Artes em aberto para que o professor e gestores as

contemplem. O que torna a área refém da formação inicial desse professor, que

como discutimos anteriormente, apesar de ser o único responsável pelas Artes nas

salas de Educação Infantil, fica refém de um componente curricular universitário

obrigatório por lei, mas que não contempla todas as especificidades das Artes e no

caso dessa pesquisadora pedagoga, não ensina a ensinar. Intuímos que esse

entendimento também perpassa pela necessidade de disciplinas que abranjam o

trabalho educativo em Artes no curso de Pedagogia (MARTINS, 2015), assim, a

formação também passa a ser um ponto nefrálgico na perspectiva da leitura de

imagens.

Nas salas do Infantil V, também notamos a importância dada à escrita e à leitura de

palavras. Fato é que na sacola da leitura, onde as crianças levavam dois livros para

casa, em nenhuma delas havia um único livro de imagem, mesmo com tantos títulos

em sala. Assim, percebemos que o conceito de leitura seguido pelas professoras e

pela escola está restrito à decodificação da escrita, como no RCNEI e na BNCC,

diferentemente desta pesquisa que entende a leitura embasada em Martins (2007),

Freire (1988), Manguel (1997) e outros tantos que a consideram como forma de

perceber particularidades e o todo.

A compreensão do Semiárido juazeirense e a realidade das crianças (TOCHETTO e

FELISBERTO, 2017) não é sequer intencionada. Adentrando na reflexão crítica da

imagem do Semiárido juazeirense, verificamos, na maioria dos discursos, um olhar

unificado para a vegetação e seus animais, muitas vezes como se esse contexto

não representasse o seu próprio lugar. O poder imagético da mídia chega atingir os

moradores da região do Semiárido juazeirense, que não se dão conta do próprio

lugar, como se fosse distante.

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[...] Quando falo de semiárido me vem a cabeça a caatinga, a seca mesmo, a palma, o xique-xique. Ele é um pouco esquecido mas é importante que seja resgatado.[...] uma imagem rústica, seca, um pouco acabada.(SEVERINA) Quando eu falo de semiárido me vem à cabeça seca, fome, vento, sol (MALVINA)

Diante desse panorama, Albuquerque Jr (2009) fala do discurso repetitivo, onde as

diferenças são apagadas. E essas diferenças são trazidas em poucas falas, que

pontuam os projetos irrigados como elementos do Semiárido,

Eu falo da plantação, do que os pais usam, o que eles plantam nas roças, que este plantio vai pra Juazeiro e de lá vendem fora, a exportação. O uso do alimento que muitos usam pra ter uma comida dentro de casa, o cuidado, a fruta da região...Tanto é que a gente já fez um picnic aqui na sala [...] a gente traz diversas frutas e diz o que produz, o que cada pai tem na roça ou o que eles fazem. (MARGARIDA)

Além dos sonhos dos homens e das mulheres desse lugar,

Eu vou falar de Semiárido. Quando eu falo de semiárido, o que lhe vem a cabeça. É a vida nossa. É o nosso contexto. É onde nós estamos inseridos. Antigamente as pessoas iam dizer, é a seca, é o mandacaru, mas...e tudo isso É o semiárido. Mas o semiárido é a nossa vida, é onde a gente está aqui e eu não me vejo fora daqui, dessa realidade. Eu sou daqui, eu sou filha daqui. (MANU)

Assim, para estas poucas pessoas o Semiárido juazeirense é visto como um lugar

onde os sujeitos extraem seu sustento, estabelecem seus sonhos (MALVEZZI,

2009).

Importante ressaltar que as professoras enxergam o Semiárido juazeirense como

zona rural, diferentemente das imagens registradas no decorrer das páginas desse

trabalho. Em nenhuma das respostas o semiárido urbano foi considerado, com suas

paisagens, pessoas, monumentos históricos, rio. Esse semiárido está representado

no imaginário das professoras com signos (PAIVA, 2006) como a palma, o bode, o

cacto, a falta de água. que são cristalizados e reproduzidos nas salas de aula.

A representação unívoca de tais elementos não dialoga com a Educação

Contextualizada para Convivência com o Semiárido (RESAB, 2008) que possui

como fundamentos a valorização dos sujeitos, cultura e lugar; participação crítica,

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reflexiva e autônoma; produção de outra racionalidade, diálogo com a realidade e

combate ao ensino descontextualizado. Esses pilares se relacionam com a

Educação da Cultura Visual (HERNANDEZ, 2007) que considera a aprendizagem a

partir da própria realidade, possibilitando, na prática das crianças, o rompimento com

as narrativas dominantes da educação.

Porém, em sala de aula, observamos sujeitos, cultura e lugar desassociados. Como

se o lugar e a cultura não fizessem parte daqueles estudantes ou daquela escola. As

indicações de Semiárido eram, na maioria das vezes, como se falassem de outro

lugar. A dicotomia (HERNANDEZ, 2011) do rural e do urbano, do estudante e do

professor, da escrita e da leitura, tudo fragmentado em caixas hermeticamente

fechadas, não conseguem dialogar com as próprias vivências dos estudantes, que

ouso dizer, não são vistos.

Nesse aspecto, percebemos que livros de imagem remete não estão sendo

considerados para essa leitura crítica, que parte do contexto das crianças, mas

apenas como um objeto de estímulo de leitura. Sua mediação é bastante limitada,

não havendo contação de histórias a partir desses, nem problematizações.

Entendemos que a diversidade de livros de imagem remete a possibilidades de

leitura visual com apreciação e escolha crítica. Para tal, as professoras deveriam

conhecer aqueles livros da sala de leitura e de suas salas, visando um melhor

planejamento de aula e para que possam trazer questionamentos que não sejam

óbvios, abordando temas como diversidade, contextos, gênero, etnia, sociedade,

meio ambiente e tantos outros que possam estimular os estudantes para uma

perspectiva de olhar crítico e reflexivo.

Entender o livro infantil (tanto o de imagem como os com texto alfabético) apenas

como gatilho para uma alfabetização silábica é empobrecer a leitura enquanto

possibilidade de perceber o mundo que está em sua volta e de se perceber esse

mundo como sendo seu. Precisamos desconstruir certas narrativas dominantes da

educação, como sugere Hernandez (2007). Entender a necessidade de experiências

de aprendizagens. Nesse entendimento, os professores possuem um papel

importante, de

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[...] questionadores e organizadores de experiências de aprendizagem que propiciem aos alunos questionamentos, que os convidem a assumir desafios fazendo perguntas que os levem a imaginar respostas possíveis para elas. Não como um caminho preestabelecido e predeterminado. [...] delineando-se propostas das quais eles participem efetivamente e por meio das quais possam narrar trechos de sua própria história”(HERNANDEZ, 2007, p. 60).

Diante do exposto, interpretamos que para ler um livro de imagem não precisamos

de um manual pré-estabelecido para professores colocarem em prática tais

propostas, mas ações Compar-trilhadas (FRANGE, 2014), ou seja, descrever,

analisar e “construir a partir das características observadas e apreendidas da

manifestação textual uma rede de traços pertinentes cujas relações façam sentido”

(FRANGE, 2005, p.111), na intencionalidade de se trabalhar a “pluralidade de

perspectivas de análise em relação aos objetos e sujeitos da cultura visual”

(HERNANDEZ, 2007, p.79), com embasamento em alguns dos livros de imagem

observados nas escolas.

Desse modo, o sentido desse compar-trilhamento se dá a partir de questões

delineadas nesse trabalho, como possibilidades de leitura dos livros de imagem,

ancoradas nos pilares da Educação para Convivência com o Semiárido e da

Educação da Cultura Visual, descritos a seguir:

1- Diálogo com a realidade, a partir dos próprios estudantes;

2- Valorização dos sujeitos, cultura e lugar;

3- Participação crítica, reflexiva e autônoma;

4- Combate ao ensino descontextualizado e

5- Produção de outra racionalidade, com proposições a partir da mesma.

Destarte, propomos alguns títulos encontrados nas escolas e descritos nas tabelas

9, 10, 11 e 12 e tentaremos dar sentido a suas visibilidades articulando o estudo que

nos debruçamos até aqui.

5.4 POSSIBILIDADES DE LEITURAS A PARTIR DO CHÃO DA ESCOLA

Na perspectiva de traçar possibilidades para a leitura do livro de imagem em sala de

aula, propomos não partir de temas específicos, escolhidos pelo professor, mas

apresentar alguns livros para que os próprios estudantes suscitem seu tema, temas

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ou eixo-norteador de preferência ou estímulo e para que possamos assim considerar

seus saberes prévios, sem uma enxurrada de perguntas, dando maior liberdade a

leitura do livro de imagem. No decorrer do processo de leitura será possível

perceber as vivências e experiências daquele ou daqueles estudantes, direcionando

o caminho das redes que se abrirão a partir da leitura do texto visual.

Entendemos, assim como FRANGE (2005), que fotografias, desenhos, filmes,

músicas, danças fazem parte da rede de compar-trilhamento para ampliação da

reflexão dos estudantes e do repertório imagético que podemos nos ater a partir da

leitura do livro de imagens.

Trazemos inicialmente, como exemplo, um livro de contexto aparentemente

antagônico ao semiárido juazeirense, “A Bola Dourada”, de Nicole de Cock,

registrado na tabela 9 e representado na Figura 36. As paisagens podem não se

assemelhar as imagens vivenciadas diariamente pelas crianças semiaridenses, mas

esse conhecimento ou desconhecimento pode ser expresso por eles no momento da

leitura. Cabe ao professor perceber o diálogo e a intencionalidade da criança ou

pontuar elementos que possam facilitar essa relação.

O professor ou professora deve fazer com que a criança se permita perceber o que

tem na imagem além do obvio. Mas essa leitura é realizada aos poucos. Como se

trata de um livro de imagens, com uma sequência narrativa, a criança,

provavelmente, vai querer chegar ao fim da história de maneira rápida.

Na intencionalidade inicial de descrição, deixaremos a leitura fluir, com os elementos

que as crianças destacarem do texto, sem problematizações mais complexas.

Podemos perguntar o que estão vendo, o que está na imagem, o que está

acontecendo e deixamos a imaginação da criança trabalhar. Temos como

possibilidades a leitura individual, ou seja, apenas uma criança segurando o livro e

contando para turma, ao mesmo tempo que mostra as imagens ou uma contação

coletiva, com as crianças falando suas leituras a medida que o professor ou

professora vai passando as páginas. Para tal, este deve fazer o elo de ligação das

leituras, costurando a narrativa.

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Este livro de imagem, A bola dourada (Figura 36), narra a história de uma menina

que ganha uma bola dourada de Natal e ao perde-la, a bola vai viajando pelo

mundo, lugares diferentes com pessoas e animais diversos. Importante perceber

que a sequência narrativa se dá através da bola, que está em todas as cenas.

Figura 36 Recorte do livro de imagem A bola dourada com possibilidades variadas de

proposições

Fonte: COCK, Nicole. A bola dourada. São Paulo: FTD, 2009. (p.6-13)

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Depois da história lida (descrita), podemos partir para uma análise das imagens e

entender o que mais chama atenção dos estudantes na narrativa: a neve, os

animais, a bola dourada, o navio, a água...Muitas possibilidades de começar a

análise mais aprofundada da narrativa imagética e perguntar às crianças questões

que vão além do que eles podem ver ou ser descrito. Considerações mais profundas

a partir do que as crianças podem perceber como: caracterização da fauna local,

relação com a flora, características ambientais, quantidade de pessoas na

paisagem, objetos perdidos, possibilidades de lugares diferentes...Nesse aspecto

propomos compar-trilhar os sentidos das imagens a partir da ECV e da ECCSA.

Assim, inicialmente propomos um diálogo com a realidade, costurando a conexão

entre o local e o global, o Semiárido juazeirense vivido por cada criança e o mundo

expresso nas imagens.

Uma visita ao Parque zoobotânico da caatinga, localizado na cidade de

Petrolina/PE, seria interessante para que as crianças observassem alguns animais

da sua região, mas que nem sempre conhecem, pela diversidade do Semiárido.

Essa proposta, a partir do livro de imagem, intenciona relacionar os animais em

diferentes contextos e estimular a percepção da criança para características dos

espaços. Além disso, é importante conhecer as belezas do Semiárido juazeirense,

urbano ou rural, valorizando-as. Para maior percepção das imagens, uma atividade

fotográfica e uma exposição de fotos seria um direcionamento interessante como

prática pedagógica, entendendo a fotografia com uma intencionalidade de refletir a

partir do tema e nova maneira de ver e se perceber no mundo, além da possibilidade

de trazer maior aprofundamento desse assunto.

Nessa intencionalidade, poderíamos também nos fixar em uma das várias imagens

do livro. Trabalhar os animais mais próximos das crianças. Seria interessante que

elas falassem sobre os seus animais de estimação, os que já conhecem, os que

estão na imagem mas que não conhecem, aqueles que já viram pessoalmente ou

não, comparar com os animais das fotografias, perceber o lugar que eles vivem,

contemplando todos os pilares da nossa proposta, baseada na ECV e ECCSA.

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Figura 37 Livro de imagem A visita. com possibilidade para refletir medo/ família/ moradia

Fonte: HIRATSUKA, Lúcia. A visita. São Paulo: DCL, 2014.(p. 14-15)

No caso do livro de imagem A Visita (Figura 37), percebemos pela leitura que a

família do menino recebe uma visita de um homem aparentemente desconhecido

em casa e ele fica bastante desconfiado, até perceber que o visitante possui certa

aptidão que o encanta. Dessa maneira, a narrativa mostra o medo que a criança,

mesmo dentro de sua casa, possui de um estranho. Tais elementos podem trazer a

tona muitas reflexões ou receios que os pequenos guardam por não terem coragem

de falar. Podemos abordar assédio moral, bullying, violência, medo, tristeza. Mais

uma vez num diálogo com a realidade das crianças do Semiárido.

Desse modo, poderíamos extravasar tais sentimentos com tintas e pincéis, “pintando

os sentimentos” e trocando experiências particulares e diversas entre as crianças,

fazendo com que essa expressão seja valorizada a medida que se torna uma

exposição. Trazer para sala de aula algumas telas que possam representar

determinados sentimentos também pode ampliar a sensibilidade da criança, além do

repertório artístico, cultural e crítico relacionado aos próprios sentimentos.

Mostramos como exemplo nessa proposição a tela expressionista de Edvard Munch

(1863-1944), “O Grito” (FIGURA 38), para que os estudantes possam reconhecer

certos sentimentos expressos ou servir de referência para que eles mesmos tragam

os seus sentimentos na pintura.

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Figura 38 Tela como exemplo de expressão de sentimentos

Fonte: O Grito- Edvard Munch (1863-1944)/ Munch Museum

Mais uma vez intencionamos o combate ao ensino que foge do contexto do

estudante e propomos uma outra racionalidade, que as faça repensar nos seus

sentimentos e possam ressignificá-los a partir da sua exteriorização e da sua

expressão.

Pensamos em outro livro de imagem que também poderia trazer eixos ou temas

para reflexões das crianças é o Bem me quero, bem me querem (Figura 39), de

Regina Rennó. No caso dessa narrativa, cinco crianças, uma a uma, se encontram e

seguem até um hospital. Esses companheiros têm diferenças físicas aparentes, o

que podem suscitar questões, sobre o nosso corpo, nossa cor, nossas limitações.

Temas também perceptíveis em crianças do Semiárido juazeirense. E de acordo

com tais questões e análise das imagens, planejamos algumas teias de sentidos.

Inicialmente trazendo como proposta o entendimento das limitações de cada um,

explorando respostas com o que cada um considera ruim como próprias

características físicas e porquê. Depois perguntando a um colega uma característica

boa que supera esta ruim e em seguida ao próprio estudante algo que ele goste em

si, intencionando perceber que todos, na realidade tem limitações e virtudes em um

ou outro aspecto.

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Figura 39 Livro de imagem Bem me quero bem me querem com possibilidade para refletir

amizade/diversidade/cidade/

Fonte: RENNÓ, Regina. Bem me quero bem me querem. Belo Horizonte: Compor, 2009 (p.6-7)

Assim, pensamos na apresentação das obras (figura 40) que compõem o acervo da

Associação dos artistas pintores com as bocas e os pés8, após a exposição de um

vídeo, jornalístico falando sobre a associação, ou uma conversa com algum artista

do grupo, valorizando exemplos de pessoas que ultrapassam limitações.

Figura 40 Óleo sobre Tela O barco (Igor Jardim). do Catálogo da Associação dos artistas

pintores com as bocas e os pés

Fonte: http://www.apbp.com.br/galeria/

8 Sociedade internacional onde os seus integrantes aprenderam a desenhar e pintar sustentando o

pincel com a boca ou com os dedos dos pés, por terem perdido o uso das mãos.

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Mais uma vez, enredando a partir dessa perspectiva e intencionando uma

participação crítica das mesmas, as crianças poderiam destacar aspectos limitantes

ao livre acesso de um cadeirante na sala de aula e na escola, por exemplo. Verificar

a presença de rampas, banheiros adaptados, portas largas, espaços amplos para a

cadeira de rodas podem ser trazidos para discussão e mais uma vez a mudança do

olhar e a produção de outra racionalidade é intencionada. Se tiver algum cadeirante,

entrevista-lo para compreender suas dificuldades de locomoção. Este trabalho a

partir do livro de imagem, poderia possibilitar a produção de outra racionalidade aos

estudantes dessas escolas, fazendo com que os alunos reflitam possibilidades

nunca antes pensadas e belezas nunca antes percebidas.

Outra oportunidade de trabalho seriam os projetos, possibilitando a leitura de

diversos títulos juntos e podendo relacioná-los, também, com o tema do projeto em

questão. Nessa possibilidade, pensamos que as crianças poderiam suscitar o tema

poluição, lixo, sustentabilidade, preservação do meio ambiente, desenvolvimento,

entre outros. Trazemos uma série de livros de imagem como “Que planeta é esse?”

(RENNÓ); “Mas será que nasceria a macieira?” (KELLEN); “O menino, o jabuti e o

menino” (PACHECO); “Brinquedos” (NEVES), “Onda” (LEE) e “Mar de Sonhos”

(NOLAN), todos encontrados nas escolas e representados abaixo (Figura 41, 42, 43

e 44) que poderiam fazer parte das práticas de leitura dos professores.

No livro “Que planeta é esse?” (RENNÓ), na figura 41, observamos um passarinho

que consegue avistar das nuvens a poluição da Terra e resolve solucionar o

problema. Podemos abordar as causas e consequências da poluição, na história e

na nossa cidade, bairro, lugar. Elaborar um final para história, pensar em outras

possibilidades e o que aconteceria se estas acontecessem.

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Figura 41 Livro de imagem Que planeta é esse? com possibilidade para refletir

poluição/contexto/

Fonte: RENNÓ, Regina. Que planeta é esse? São Paulo: FTD, 1997. (p.12-13)

Outro título possível para trabalhar na perspectiva de projetos seria “Mas será que

nasceria a macieira?” de Alê Abreu e Priscila Kellen., representado abaixo, na figura

42.

Figura 42 Livro de imagem Mas será que nasceria a macieira? com possibilidade para refletir

cidade/campo/desenvolvimento/tempo

Fonte: ABREU, Ale; KELLEN, Priscila. Mas será que nasceria a macieira? São Paulo: FTD, 2010. (p.

30-31)

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Observamos o crescimento de uma macieira, demonstrando a passagem do tempo

da narrativa visual. Assim a urbanização é trazida na relação de uma menina com

seu suposto pai. Podemos trabalhar a interrelação da cidade e do campo, o tempo,

história da família e a reflexão sobre as consequências do desenvolvimento.

Apontando mais um livro para trabalhar o projeto acima descrito, “O menino, o jabuti

e o menino” de Marcelo Pacheco, representado na figura 43, nos aponta, assim

como o anterior, uma passagem de tempo. Além do desenvolvimento e aumento de

carros e prédios, este título aborda a velhice e a morte. Um menino é seguido pelo

jabuti por toda vida, até ficar velho e morrer. E o jabuti continua a seguir outro

menino.

Figura 43 Livro de imagem O menino, o jabuti e o menino com possibilidade para refletir

morte/cidade/amizade

Fonte: PACHECO, Marcelo. O menino, o jabuti e o menino. São Paulo: Panda Books, 2010. (p. 17-

18)

Intencionando outra proposta no trabalho com o projeto, indicamos o livro de

imagem “Brinquedos” (NEVES), representado na Figura 44. Um casal de crianças

joga no lixo seus brinquedos que são encontrados por outras crianças no lixão,

podendo-se discutir importantes problemas sociais além da poluição, como

desemprego, desigualdade social, falta de moradia.

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Figura 44 Livro de imagem com possibilidades para refletir problemas sociais/poluição

Fonte: NEVES, André. Brinquedos. São Paulo: Ed. Ave-Maria, 2004. (p.16-17)

Nesse momento, como parte de um projeto interdisciplinar a partir dos livros e de

suas análises, poderíamos também fazer uma caminhada pela beira do Rio São

Francisco, verificando a presença de lixo, se há lançamento de esgoto, se estão

respeitando a faixa exigida por lei como preservação ambiental. Filmar essa

expedição para produção de um filme para a escola também traria uma maior

conscientização para os pares dos estudantes. Um passeio de barco um pouco mais

longe da margem do centro, com todas as belezas do rio, traria uma comparação e

uma percepção das belezas locais. Pesquisar fotografias antigas da cidade traria

uma maior reflexão sobre a necessidade de preservação do local.

Muitos livros podem ser relacionados entre si pelas crianças. Podemos unir alguns

livros que tenham abordagens parecidas com possibilidades de comparação. Por

exemplo, “Onda” e “Mar de sonhos” (Figura 45 e 46), ou outros tantos que trazem

elementos parecidos. Em experiência, relatada em Campana (2014), transcrevemos

a leitura de crianças a partir do livro de imagem “Onda”, onde o rio São Francisco

era o eixo norteador. Ao perguntar sobre o movimento do rio em comparação ao

mar, as crianças contam que ao passar do jet ski, a onda era enorme. Tinha até que

pegar os chinelos, senão o rio levava. Esta resposta nos mostra o quanto a

realidade das crianças influencia na leitura das imagens e respectivamente dos

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livros de imagem. Não podemos nos fixar em um tema como se não tivesse a

polissemia do olhar a partir das nossas vivências.

Figura 45 Livro de imagem Onda com possibilidade para refletir contexto/brincar/água

Fonte: LEE, Suzy. Onda. São Paulo: Cosac Naify, 2008 (p. 17-18)

Nesse sentido que indicamos possibilidades para trabalhar mais livros para

determinados temas, para olhares multiplicados e reflexões amplas, intencionando

reflexões de imagens, diálogo com a realidade das crianças, valorização dos

contextos e de seus sujeitos para produção de outra maneira de olhar.

Figura 46 Livro de imagem Mar de sonhos com possibilidade para refletir

contexto/brincar/água

Fonte: NOLAN, Denis. Mar de sonhos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. (p. 32-33)

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Lembramos ainda que devemos permitir que os estudantes conheçam o autor do

livro escolhido. Quando não for possível sua visita pessoalmente, podemos optar por

sua fotografia, ou mesmo uma conversa ao vivo pelo celular, para sabermos onde

vive, quantos anos tem, que outros livros possuem. Assim, o autor vai se

aproximando cada vez mais das crianças e essas irão fazendo as relações das suas

obras, possibilitando também questões ao autor, a partir da leitura.

Entendemos que os livros exemplificados aqui não são específicos de um ou outro

tema. Os conteúdos imagéticos se entrelaçam e possibilitam inúmeras conexões a

partir do mesmo livro de imagem e do Semiárido juazeirense. Assim sendo,

inevitavelmente, devem partir dos saberes dos estudantes, sendo interessante um

estímulo para a percepção de elementos e possibilidades de visão. Pensando em

todas as propostas, não se trata de fechar a leitura na ideia do Semiárido

homogêneo, mas pelo contrário,

[...] então não é isolar, é ampliar, é expandir. É tecer redes de saberes que se vinculam visceralmente às nossas condições particulares de vida, sem, no entanto, se encerrarem nelas. [...] fazer, com que as histórias negadas possam ser contadas, faladas, descritas e escritas. Devolver a voz aos que a tiveram usurpada, reprimida, negada. (MARTINS, 2006, p.63)

Entendemos que as crianças do Semiárido não podem limitar-se aos conhecimentos

fixos, estereotipados e limitados que tentam impor para elas, mas a partir do seu

contexto olhar o mundo, visita-lo e trazer questões que modifiquem percepções

simplistas.

Tais possibilidades não foram realizadas na prática com as crianças das salas

observadas, mas nelas, assim como no local das escolas, pensamos na integridade

da proposta. Isso foi possível devido à experiência de sala de aula, o que permitiu

possibilidades prováveis de serem aceitas pelos professores e professoras.

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6 FRUTOS COLHIDOS

Parto da reflexão desde nosso caminho trilhado e das considerações que nos parecem pertinentes, com uma foto de uma colheita. Não é de uvas, nem de melão, ou de cactáceas que tanto representam nossa região pelo Brasil por anos. Como dissemos por todo nosso caminhar, o Semiárido juazeirense é diverso. E com essa imagem deixamos em aberto outras e novas possibilidades de investigação a partir da Cultura Visual, pois entendemos que a pesquisa não encerra aqui (CAMPANA).

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Essa investigação propôs problematizar o uso do livro de imagem como recurso

pedagógico na Educação Infantil de Juazeiro/BA, atentando para as relações entre o

contexto do Semiárido juazeirense e a Educação da Cultura Visual. Foi construída a

partir da abordagem qualitativa, com objetivo exploratório. Dessa forma, coube, além

de descrever os livros de imagem existentes nas salas da EMEI Nailde de Sousa

Costa e Escola Municipal Rural de Tempo Integral São José, ambas no Semiárido

juazeirense; compreender o processo de leitura de imagens e observar vivências no

contexto escolar. Além disso, as conversas com professoras, gestoras e

coordenadora trouxeram melhor compreensão para as práticas experienciadas no

local. Para coleta de dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas com

professores, gestores e coordenadores das escolas, além de registros fotográficos e

um diário de campo que facilitou a reflexão sobre as observações e entrevistas.

De tal modo, abordamos a polissemia da leitura, como um entrelaçamento de ideias

verbais e não verbais, dialogando com a flexibilidade da mesma a partir das

experiências do leitor. Isso porque compreendemos que a leitura de mundo precede

a leitura da palavra e para tal contamos com uma diversidade de textos, não apenas

a palavra escrita, mas orais, auditivos, visuais, corporais e imagéticos.

Partindo das leituras e reflexões aqui realizadas e pensando no uso do livro de

imagem na Educação Infantil de Juazeiro/BA, pontuamos um diálogo coeso entre a

Educação para Convivência com o Semiárido e a Educação da Cultura Visual,

traçando um caminho didático de compar-trilhamento para possibilidades de leitura

dos livros de imagem existentes na sala de aula e biblioteca das escolas do

Semiárido juazeirense. Pelas razões enunciadas, consideramos relevantes para

essa proposta, após descrição dos livros, tais pilares de coesão:

Diálogo com a realidade, a partir dos próprios estudantes;

Valorização dos sujeitos, cultura e lugar;

Participação crítica, reflexiva e autônoma;

Combate ao ensino descontextualizado e

Produção de outra racionalidade, com proposições a partir da mesma.

Dessa forma, os estudantes propõem o eixo-norteador ou tema, trazem suas

questões e a partir dessas as professoras estimulam o pensamento crítico/reflexivo,

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buscando valorizar a cultura e identidade dessa criança, intencionando uma outra

racionalidade. Aspiramos, nesse sentido, uma quebra no discurso uniformizado e

verticalizado, dentro de sala de aulas com crianças silenciadas. Assim, entendemos

que possibilidades de leitura do livro de imagem abrem espaços para as crianças se

perceberem em seu contexto e a partir das suas indagações emitirem voz e

questionarem vez. Intencionamos flexibilizar posturas negadas até então,

trabalhamos com imagens que podem e devem ser lidas por crianças de todos os

contextos, mas com a devida reflexão crítica e auxilio do professor para tal.

Nessa proposição, podemos inferir:

O livro de imagem pode ser utilizado, embasado nos pilares da Educação da

Cultura Visual e da Educação Contextualizada para Convivência com o

Semiárido como exemplos propostos;

Percebemos um aumento significativo de títulos de livro de imagens desde a

pesquisa de TCC (2014), além de temas diversificados;

Apesar da existência de um amplo acervo de livros de imagem, sua gama de

possibilidades não está sendo considerada;

O livro de imagem, material existente em sala de aula, se constitui em uma

possibilidade de trabalhar o eixo Artes além da Educação da Cultura Visual.

Embasados na Educação da Cultura Visual e na Educação Contextualizada

para Convivência com o Semiárido entendemos o livro de imagem como um

recurso pedagógico importante não só para estímulo à leitura, oralidade,

imaginação, criatividade e sequência narrativa, mas para problematização de

imagens e possibilidade de rupturas das relações hegemônicas;

O eixo Artes Visuais presente na Educação Infantil não contempla a leitura de

imagens numa perspectiva crítica de leitura a partir dos estudantes;

Limitantes como formação do professor, currículo, projeto político pedagógico

das escolas influenciam diretamente no processo de construção da imagem

e identidade da criança a partir da Educação Infantil;

O olhar dos professores para o Semiárido juazeirense limita reflexões sobre o

contexto;

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Importante a percepção do Semiárido como urbano, como nas imagens dos

livros de imagem das escolas, para que as crianças e professoras se sintam

inseridas nesse contexto e fortaleçam suas identidades.

Nos sensibilizamos com o Ensino das Artes na Educação Infantil, notando o

despreparo dos professores das crianças de 0 a 6 anos. Tal inferência parte da

minha experiência enquanto pedagoga e da constatação de que a formação inicial

tem fragilidades quanto ao Ensino das Artes de um modo geral, incluindo as Artes

Visuais e o aspecto da leitura de imagens. Sinalizo a necessidade de pensar na

possibilidade de reformulação e ampliação de disciplinas na área para a formação

qualitativa e crítico/reflexiva de pedagogos que se tornem arte/educadores,

pensando sempre no desenvolvimento integral das crianças das nossas escolas,

principalmente no espectro da rede pública.

Pretendemos, com esse estudo chamar a atenção para a leitura de imagens na

Educação Infantil das escolas de Juazeiro/BA e suas possibilidades na

aprendizagem crítica e reflexiva das crianças; seja no ensino das Artes e seus

enredamentos ou transversaalizado, sem fragmentações, como demonstrado nas

proposições.

Caminhamos pelas bases da Educação da Cultura Visual e da Educação

Contextualizada para Convivência com o Semiárido, percebendo a importância da

em refletir sobre as identidades e compreender o que a imagem representa,

percebendo a pesquisa numa perspectiva da Arte/Educação contextualizada,

entendendo que o fazer educativo não pode ignorar as imagens que o cercam. Cabe

a nós, professores, que mediamos o processo educativo, construir uma leitura da

imagem ampliada, em que o compar-trilhamento seja espaço de experiência de um

saber e um fazer qualitativo da Arte/Educação contextualizada no Semiárido.

E ao escrever essas linhas, pensando nesse processo e na sua possível conclusão

momentânea, surge a audácia de algumas palavras com certa melodia poética.

Penso ser a sensibilidade da Arte. Não ousei abafá-la.

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A menina nasceu e abriu seus olhos

Pode ver, mas não conseguiu olhar

Visão fragmentada, limitada, acondicionada

Saiu do seu lugar, conheceu pessoas, consolidou diálogos

Pulou da caixa, tirou a venda, cortou a faixa,

Desconstruiu e reconstruiu, se permitiu

A aprender, a rever, a ler

Lugares, pessoas, a Arte a parte

Tantos encantadores, tantos professores

O tempo passou, a menina cresceu e percebeu

Que para viver é necessário entender

Assim como diz o poeta

Que o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê

Vamos transver nosso mundo

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RENNÓ, Regina. Que planeta é esse? São Paulo: FTD, 1997.

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RENNÓ, Regina. Voa Pipa, voa. Belo Horizonte: Lê, 2011.

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APÊNDICES

APÊNDICE 1 – TÓPICO GUIA PARA PROFESSORES

APÊNDICE 2 – TÓPICO GUIA PARA COORDENADORES

APÊNDICE 3– TÓPICO GUIA PARA GESTORES

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APÊNDICE 1 - TÓPICO GUIA PARA PROFESSORES:

IDENTIFICAÇÃO DO (A) PROFESSOR (A):

Nome:

Idade: sexo:

e-mail:

Endereço:

Formação:

Instituição de formação: Ano conclusão:...........

Experiência com Educação:..........anos

Experiência com Educação Infantil:..........anos

QUESTÕES NORTEADORAS PARA A ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

a) A leitura de imagens faz parte do cotidiano escolar?

b) Você conhece o livro de imagem?

c) Já trabalha ou trabalhou com livro de imagem em sala de aula

d) Quando se fala “Semiárido” que imagem lhe vem à mente?

e) Você considera importante trabalhar imagens do Semiárido na Educação

Infantil?

f) O território Semiárido é abordado de alguma forma em suas aulas?

g) Como acontece o eixo Artes na sua sala?

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APÊNDICE 2 - TÓPICO GUIA PARA COORDENADORES:

IDENTIFICAÇÃO DO (A) COORDENADOR (A):

Nome:

Idade: sexo:

e-mail:

Endereço:

Formação:

Instituição de formação: Ano conclusão:

Experiência com Educação:

Experiência com Educação Infantil:

QUESTÕES NORTEADORAS PARA A ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

a) Você conhece algum livro de imagem?

b) Os professores trabalham com livros de imagem em suas salas? Você

considera importante?

c) Como acontece a escolha dos livros de leitura para as crianças aqui na

escola?

d) Quando se fala Semiárido que imagem lhe vem à mente?

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APÊNDICE 3 - TÓPICO GUIA PARA GESTORES (AS):

IDENTIFICAÇÃO DO (A) GESTOR (A):

Nome:

Idade: sexo:

e-mail:

Endereço:

Formação:

Instituição de formação: Ano conclusão:

Experiência com Educação:

Experiência com Educação Infantil:

QUESTÕES NORTEADORAS PARA A ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE

a) Você conhece algum livro de imagem?

b) Como acontece a escolha dos livros de leitura para as crianças aqui na

escola?

c) As escolhas dos livros partem da escola ou da Prefeitura de Juazeiro/BA?

d) Os livros possuem temática contextualizada com o Semiárido? Vocês

possuem essa preocupação?

e) Quando se fala Semiárido que imagem lhe vem à mente?

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ANEXOS

ANEXO 1 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ ÉTICA DA PESQUISA

ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

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ANEXO 1 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ ÉTICA DA PESQUISA

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ANEXO 2- TERMO DE CONCENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CAMPUS III

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO,

CULTURA E TERRITÓRIOS SEMIÁRIDOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ESTA PESQUISA SEGUIRÁ OS CRITÉRIOS DA ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS CONFORME RESOLUÇÃO NO

466/12 DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE.

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do Participante: _____________________________________________________

Documento de Identidade no: ______________Sexo: F ( ) M ( )

Data de Nascimento: ___/____/____ Telefone: ( )_______________

Endereço:_____________________________________________Complemento:__________

Bairro: ________________Cidade: ________________CEP: _____________

II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA:

1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: O L I V R O D E I M A G E M E

A C O N T E X T U A L I Z A Ç Ã O D O E N O S E M IÁ R I D O N A

E D U C A Ç Ã O IN F A N T I L D E J U A Z E IR O / B A

2. PESQUISADOR(A) RESPONSÁVEL: ADRIANA MARIA SANTOS DE

ALMEIDA CAMPANA

Cargo/Função: P e s q u i s a d o r / d i s c e n t e

III - EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PARTICIPANTE SOBRE A

PESQUISA:

3. O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) para participar da pesquisa:, O

LIVRO DE IMAGEM E A CONTEXTUALIZAÇÃO DO/NO SEMIÁRIDO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL DE JUAZEIRO/BA de responsabilidade da pesquisadora Adriana

Maria Santos de Almeida Campana, discente da Universidade do Estado da Bahia que tem

como objetivo primário investigar o uso do livro de imagem na Educação Infantil de

Juazeiro/BA como recurso didático, possibilitando uma perspectiva contextualizada do/no

semiárido, visando o desenvolvimento de um roteiro de leitura do livro de imagem numa

perspectiva contextualizada do/no semiárido que pode auxiliar os professores da Educação

Infantil da rede pública de Juazeiro, intencionando rever discursos hegemônicos,

naturalizados e/ou estereotipados como o do semiárido seco, bem como potencializar a

formação crítica/reflexiva das crianças, preparando-as para a cultura visual presente em nossa

sociedade. Caso aceite o Senhor(a) será entrevistado e utilizaremos gravador digital para

facilitar a memorização dos diálogos. Devido a coleta de informações o senhor poderá sentir-

se desconfortável. Sua participação é voluntária e não haverá nenhum gasto ou remuneração

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resultante dela. Garantimos que sua identidade será tratada com sigilo e portanto o Sr(a) não

será identificado. Caso queira (a) senhor(a) poderá, a qualquer momento, desistir de participar

e retirar sua autorização. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com a

pesquisadora ou com a instituição.. Quaisquer dúvidas que o (a) senhor(a) apresentar serão

esclarecidas pela pesquisadora e o senhor(a) caso queira poderá entrar em contato também

com o Comitê de Ética da Universidade do Estado da Bahia. Esclareço ainda que de acordo

com as leis brasileiras o Sr. (a) tem direito a indenização caso seja prejudicado por esta

pesquisa. O (a) senhor (a) receberá uma cópia deste termo onde consta o contato dos

pesquisadores, que poderão tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a

qualquer momento.

V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS

RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO

EM CASO DE DÚVIDAS

PESQUISADOR(A) RESPONSÁVEL: Adriana Maria Santos de Almeida Campana

Endereço:Av. Almirante Custódio de Melo, S/N Condomínio Terra de Sonhos -Country

Club -Juazeiro- BA .Telefone: .(74) 9 99911605, E-mail: [email protected]

Comitê de Ética em Pesquisa- CEP/UNEB Rua Silveira Martins, 2555, Cabula. Salvador-

BA. CEP: 41.150-000. Tel.: 71 3117-2445 e-mail: [email protected]

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP SEPN 510 NORTE, BLOCO A 1º

SUBSOLO, Edifício Ex-INAN - Unidade II - Ministério da Saúde CEP: 70750-521 - Brasília-

DF

V. CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Declaro que, após ter sido devidamente esclarecido pelo pesquisador (a) sobre os objetivos

benefícios da pesquisa e riscos de minha participação na pesquisa, O LIVRO DE IMAGEM E

A CONTEXTUALIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO COMO RECURSO DIDÁTICO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL DE JUAZEIRO/BA e ter entendido o que me foi explicado,

concordo em participar sob livre e espontânea vontade, como voluntário consinto que os

resultados obtidos sejam apresentados e publicados em eventos e artigos científicos desde que

a minha identificação não seja realizada e assinarei este documento em duas vias sendo uma

destinada ao pesquisador e outra a via que a mim.

Juazeiro, ______ de _________________ de 2018.

_____________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_________________________________ _______________________________

Assinatura do pesquisador discente Assinatura do professor responsável

(orientando) (orientador)

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