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Universidade do Minho Instituto de Educação outubro de 2015 "De mãos dadas com o Livro" - Promoção da Linguagem Oral e da Literacia Emergente com crianças de etnia cigana e com crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos Ana Paula Dias Pereira "De mãos dadas com o Livro" - Promoção da Linguagem Oral e da Literacia Emergente com crianças de etnia cigana e com crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos UMinho|2015 Ana Paula Dias Pereira

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Universidade do MinhoInstituto de Educação

outubro de 2015

"De mãos dadas com o Livro" - Promoção da Linguagem Oral e da Literacia Emergente com crianças de etnia cigana e com crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos

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Ana Paula Dias Pereira

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Ana Paula Dias Pereira

outubro de 2015

"De mãos dadas com o Livro" - Promoção da Linguagem Oral e da Literacia Emergente com crianças de etnia cigana e com crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos

Universidade do MinhoInstituto de Educação

Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Fernanda Leopoldina Parente Viana

Dissertação de MestradoMestrado em Estudos da Criança Área de Especialização em Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias

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iii

AGRADECIMENTOS

______________________________________________________________________

Terminada mais uma etapa é o momento de lembrar todos aqueles que, com a

sua presença, contribuíram para que esta dissertação fosse concretizada. E por isso

começo por agradecer à Professora Fernanda Leopoldina o apoio, a colaboração, a

disponibilidade e o incentivo que manifestou e que foram um impulso valioso para que

este processo acontecesse. Sem o seu contributo esta dissertação não teria sido possível.

Ao Agrupamento de Escolas André Soares e ao Agrupamento de Escolas de

Nogueira que autorizaram a realização de um estudo empírico e ao Centro Social e

Paroquial de Santo Adrião que se disponibilizou desde o início para apoiar o seu

desenvolvimento.

Às escolas, em especial aos professores e funcionários, pela porta aberta todos

os dias, pelas conversas, pelos desafios e pela partilha.

À educadora Tucha e à educadora Conceição o meu reconhecimento amigo por

terem aceite o desafio e terem sido exaustivas no desenvolvimento deste projeto.

Obrigada por todos as experiências que não hesitaram em promover.

Um agradecimento muito especial a todas as crianças por serem quem são e por

darem desde o início as mãos aos desafios lançados. Este é um projeto que também é

delas.

Um quinto agradecimento é especialmente endereçado à doutora Bárbara do

projeto T3tris, à doutora Marta da Bragahabit, ao enfermeiro Fernando e ao Daniel,

mediador do projeto T3tris, pela recetividade que desde o início demonstraram em

participar e contribuir para que o estudo empírico fosse enriquecido com os seus

contributos preciosos. À doutora Mariana pela ajuda preciosa na avaliação das crianças.

E à Filipa pela amizade refletida em mobilizar recursos necessários ao desenvolvimento

desta dissertação.

Finalmente, o mais sentido agradecimento à minha família. Ao meu marido, pelo

apoio, presença e estímulo na concretização dos meus objetivos. À minha avó por

sempre me fazer sentir uma neta muito especial. À minha querida mãe por estar sempre

aqui. À minha filha Maria e ao meu filho João por estarem na minha vida e me fazerem

acreditar que vale a pena seguir em frente.

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Promoção da Linguagem Oral e Literacia Emergente com crianças de etnia cigana e

com crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos

______________________________________________________________________

Ana Paula Dias Pereira

Mestrado em Estudos da Criança, Área de Especialização em Intervenção Psicossocial

com Crianças, Jovens e Famílias.

Universidade do Minho, 2015

RESUMO

Há crianças em idade pré-escolar em risco de fracassar na aprendizagem da

leitura e da escrita por não desenvolverem um conjunto de competências de linguagem

oral e literacia emergente.

O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial, a adequação e o

impacto de um programa de promoção da linguagem oral e da literacia emergente junto

de um grupo de crianças de etnia cigana e de outras crianças provenientes de contextos

socioeconómicos desfavorecidos, em idade pré-escolar. Face ao objetivo proposto foi

desenvolvido um estudo de grupo único com pré e pós-teste.

O programa foi desenvolvido partir de um conjunto de 12 livros de literatura

para a infância e implementado ao longo de 35 sessões diárias, durante o último

trimestre de atividades letivas.

Os resultados mostram que o programa teve efeitos positivos e estatisticamente

significativos no desenvolvimento de competências facilitadoras da aprendizagem da

leitura e da escrita.

Palavras-chave: Literacia emergente, Linguagem oral, Intervenção, Crianças ciganas.

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Promoting Oral Language and Literacy Emergent with Roma Children and other

preschool children from lower socioeconomic backgrounds.

______________________________________________________________________

Ana Paula Dias Pereira

Master in Child Studies, Specialisation in Psychosocial Intervention with Children,

Youth and Families.

University of Minho, 2015

ABSTRACT

Many preschool children are at risk of falling behind on their ability to learn

how to read and write because of inadequate oral language and emergent literacy skills.

This study aims to evaluate the potential, the adequacy and the impact of

promoting oral language and emergent literacy in a group of Roma children and other

preschool children from lower socioeconomic backgrounds. Given the aim a quasi-

experimental study was developed for one group with a pretest posttest design.

The program was developed from a set of 12 children’s books and implemented

during 35 daily sessions over the last quarter of the school year.

The results show the program had a positive and statistically significant impact

on the ability to learn how to read and write.

Keywords: Emergente literacy, Oral language, Intervention, Roma children.

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ÍNDICE

Introdução ...................................................................................................................... 9

Capítulo I: A Literacia emergente, o papel dos contextos de socialização da criança e a

promoção de competências facilitadoras da aprendizagem da leitura e da escrita

1. Literacia emergente: um processo que começa cedo.................................................. 12

1.1. Literacia emergente: definição do conceito .............................................................. 13

1.2. O papel do contexto familiar na literacia emergente ............................................... 16

1.3. O papel do jardim de infância na literacia emergente .............................................. 21

2. Promoção da linguagem oral e da literacia emergente ............................................... 31

a)Linguagem Oral ................................................................................................................. 31

b)Conhecimentos prévios sobre a leitura e escrita ........................................................... 35

c)Motivação para ler ............................................................................................................ 36

Capítulo II: O programa "de mãos dadas com o livro" - promoção da Linguagem Oral e

da Literacia Emergente com Crianças de Etnia Cigana e com Crianças provenientes de

Contextos socioeconómicos desfavorecidos

1.Questões da investigação ............................................................................................. 39

2. Racional do programa ................................................................................................. 48

3. Descrição do programa “De mãos dadas com o livro” ............................................... 52

4. Estratégias de implementação ................................................................................... 57

5. Materiais ..................................................................................................................... 59

Capítulo III: Método

1. Introdução ao método ................................................................................................ 62

2. Objetivos e hipóteses do estudo ................................................................................. 63

3. Participantes ............................................................................................................... 65

4. Instrumentos .............................................................................................................. 67

Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven - MPCR (Raven, 1947) ...... 67

Teste de Identificação de Competências Linguísticas - TICL (Viana, 2004) ......... 67

5. Procedimentos ............................................................................................................ 68

6. Resultados e análises estatísticas ................................................................................ 69

7. Discussão dos resultados ........................................................................................... 72

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vii

Reflexão final ............................................................................................................... 85

Limitações .................................................................................................................... 90

Referências bibliográficas ............................................................................................ 92

Anexos

Anexo A: Planos do programa ..................................................................................... 125

A Violeta não sabe falar! .......................................................................................... 125

A Ovelhinha que veio para o jantar .......................................................................... 128

O Coelhinho Afonso .................................................................................................. 132

O Nabo Gigante ........................................................................................................ 136

Caracol ..................................................................................................................... 139

Os Ovos Misteriosos ................................................................................................. 142

Os Três Terríveis Porquinhos ................................................................................... 144

A Filha do Grufalão .................................................................................................. 146

A Toupeira que queria saber quem lhe fizeram aquilo na cabeça ........................... 149

Não, David! ............................................................................................................... 152

O casamento da Gata ............................................................................................... 154

Se eu fosse muito alto ................................................................................................ 157

A História do Ciganinho Chico ................................................................................ 160

Anexo B: Lista de livros pré-selecionados ................................................................... 161

Anexo C: Autorização dos Agrupamentos de Escolas para a realização do estudo

empírico ........................................................................................................................ 162

Anexo D: Autorização dos pais com consentimento informado .................................. 164

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viii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição das crianças por estabelecimento de ensino, sexo e etnia. ........ 66

Tabela 2. Distribuição dos Pais em função das variáveis sexo e nível de escolaridade 66

Tabela 3. Estatísticas descritivas do TICL nos dois momentos de avaliação ................ 69

Tabela 4. Comparação do nível de mestria no TICL com os resultados obtidos na 1ª

aplicação ......................................................................................................................... 70

ÍNDICE DE QUADROS/FIGURAS

Quadro 1. Lista de Obras Selecionadas ......................................................................... 60

Figura 1. Design do estudo único, com pré e pós teste adaptado de MacMillan e

Schumacher (1997, 2001) ............................................................................................... 62

Figura 2. Dramatização da história "A ovelhinha que veio para o jantar" nos dois

contextos de implementação do Projeto. ........................................................................ 75

Figura 3. Leitura voluntária das crianças ciganas durante a hora de recreio ................. 76

Figura 4. Registos de escrita inventada ......................................................................... 77

Figura 5. Exemplo de uma atividade criada a partir do interesse espontâneo das

crianças em brincar com as rimas ................................................................................... 79

Figura 6. Dramatização da história “ O coelhinho Afonso” no bairro do Picoto .......... 82

Figura 7. Vinda do enfermeiro Fernando à escola Nogueira da Silva........................... 84

Figura 8. Bandeira cigana elaborada com a ajuda do mediador cigano ........................ 84

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INTRODUÇÃO

______________________________________________________________________

Um projeto "remete frequentemente para um planeamento

de ações de modo a ser alcançado um resultado específico,

num dado período de tempo e de acordo com os meios

(humanos e materiais) estabelecidos" (Neves & Lima,

2009, p. 33)

Cada vez mais se reconhecem as potencialidades da competência literácita para a

realização integral da pessoa seja ao nível da comunicação, do acesso ao conhecimento

ou da participação na vida social. A utilização bem-sucedida da informação escrita nos

diversos domínios da vida pessoal, social e profissional tornou-se uma exigência para a

pessoa em sociedade e um desafio para algumas minorias que por questões pessoais,

sociais e culturais percorrem desde cedo trilhos de insucesso. De acordo com a

investigação esses trilhos têm alicerce nas parcas competências, ou na falta delas, em

idades precoces, essenciais ao sucesso da aprendizagem da leitura e escrita.

Sobre o sucesso da utilização da escrita, a investigação apresenta um ciclo de

desenvolvimento. Basicamente, aqueles que mais vivem com a linguagem escrita

(leitura/escrita) são os que mais gostam de o fazer e quanto mais agradáveis são esses

momentos mais são procurados experiências que envolvam a linguagem escrita. Viana e

Martins (2009), numa abordagem à motivação que conduz à aquisição de hábitos de

leitura, afirmam que o primeiro requisito para se gostar de ler é ler sem esforço. A

prática de ler sem esforço requer o desenvolvimento de um conjunto de competências

assentes numa boa dose de motivação para que perante eventuais dificuldades a criança

não desista.

Para melhor promovermos o desenvolvimento de um conjunto de competências

essenciais à linguagem escrita é necessário ter presentes duas assunções. Primeiro, “a

linguagem oral com que a criança chega à escola é a base da linguagem escrita com que

passará a confrontar-se” (Sim-Sim, 1998, p. 31). As competências de análise da

linguagem oral não nascem connosco mas desenvolvem-se de forma explícita e focada.

O problema reside quando os contextos mais imediatos de vida da criança não

promovem experiências que levam ao seu desenvolvimento. Quando assim acontece a

criança é confrontada com a aprendizagem da leitura e da escrita de modo

descontextualizado, enviesando-se todo o processo porque "exigir competências de

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análise da língua escrita sem as trabalhar ao nível oral é uma aberração” (Viana, 2006a,

p. 49). Segundo, há um tempo em que a criança está preparada para retirar as maiores

vantagens que o meio proporciona (Sim-Sim, Silva, & Nunes, 2008). E, tal como

afirmam Viana e Martins (2009) "se a criança viver num ambiente em que a leitura e a

escrita estão presentes nas atividades quotidianas [...] terão mais oportunidades de

desenvolver hipóteses sobre o funcionamento da língua e de realizar aprendizagens..."

(pp.19-20).

O que temos vindo a notar é que em complemento à necessidade de desenvolver

competências literácitas na população portuguesa em geral, há populações que, devido

às suas características, apresentam riscos elevados em termos de desempenho

académico e, consequentemente, de exclusão social. A população cigana tem sido uma

população marginalizada em termos de iniciativas específicas com vista à sua inclusão,

e por isso, apesar dos esforços levadas a cabo por diversas instituições públicas e

privadas para a inclusão dos ciganos por inerência ao estatuto de minoria étnica

(Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas, 2012), o que se

verifica é que persistem nos ciganos elevadas taxas de analfabetismo, dificuldades de

inclusão escolar e elevadas taxas de absentismo. Como consequência da incapacidade

de utilizar de forma bem-sucedida a informação escrita nos diversos domínios da vida

pessoal, profissional e social, advém um conjunto de problemáticas que levam os

ciganos à exclusão social. Apesar de a educação ser fundamental para a capacitação dos

ciganos, um conjunto de outras variáveis entre as quais as situações de duplo vínculo

derivadas das mensagens contraditórias entre a escola e a família, colocam a criança

cigana em situação de vulnerabilidade pessoal, escolar e social (Abajo Alcade, 2004).

A reflexão sobre as assunções anteriores motivaram-nos a desenhar um projeto

de promoção da linguagem oral e da literacia emergente, a implementar em jardins de

infância frequentados por crianças oriundas da comunidade cigana. Nesta dissertação

será apresentado o projeto desenvolvido e os resultados da sua implementação.

Em termos de estrutura, esta dissertação está organizada em III partes. Na

primeira parte apresentamos uma síntese da revisão teórica que orientou a definição dos

objetivos teóricos e empíricos desta tese. Esta revisão contempla: a definição do

conceito de literacia emergente, visando apresentar uma perspetiva de desenvolvimento

do constructo e uma descrição dos conhecimentos, competências e atitudes que ele

contempla; a sistematização dos estudos que enfatizam o papel dos contextos de

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11

socialização da criança, incidindo nas práticas educativas que têm um impacto positivo

na aprendizagem da leitura e da escrita e; a descrição das competências que são

facilitadoras dessa aprendizagem. Esta descrição foi organizada a partir dos três grupos

de variáveis que Viana (2006b) identificou como aquelas que estão na estão na base de

uma aprendizagem da leitura e escrita bem-sucedida: a linguagem oral, os

conhecimentos prévios sobre a linguagem escrita e, a motivação para ler.

As assunções que constituem o racional do programa, intitulado "De mãos dadas

com o livro", são apresentadas na segunda parte. Neste capítulo a incidência recai num

conjunto de aspetos sobre a intervenção junto de crianças em risco que constituem um

desafio ao desenho do programa, e sobre um conjunto de considerações a tomar durante

o desenvolvimento do programa, nomeadamente um conjunto de estratégias de

implementação e de procedimentos metodológicos. Essas estratégias e procedimentos

contextualizam a descrição dos materiais.

Com este estudo pretendemos avaliar o potencial, a adequação e o impacto das

atividades implementadas no programa "De mãos dadas com o livro", para o

desenvolvimento da linguagem oral e da literacia emergente junto de uma população

que regista taxas elevadas de insucesso e de abandono escolares. O método é

apresentado na terceira parte.

Para terminar retomamos a reflexão em torno de um conjunto de questões sobre

a intervenção junto de crianças em risco, explorando algumas estratégias de promoção

da linguagem oral e da literacia emergente em crianças de etnia cigana, numa ótica de

desenvolvimento transacional. Concluímos a dissertação com uma análise sobre as

limitações da presente investigação.

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12

CAPÍTULO I

A LITERACIA EMERGENTE, O PAPEL DOS CONTEXTOS DE

SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA E A PROMOÇÃO DE COMPETÊNCIAS

FACILITADORAS DA APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA

“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não

se pretende para a vida, é a própria vida.” (John Dewey)

______________________________________________________________________

1. LITERACIA EMERGENTE: UM PROCESSO QUE COMEÇA CEDO

Quando se reflete sobre a educação da criança deve-se pensar no presente e no

futuro, mas sem esquecer o passado de que a criança é portadora. Vygotsky (1977)

afirmou que “a aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da

criança tem uma pré-história” (p. 39). Por exemplo, antes de ingressar no 1.º ciclo,

altura em que se exige à criança que rapidamente aprenda a ler e escrever, ela deve já

ter-se apropriado de conhecimentos e competências específicas da sociedade onde está

imersa, nomeadamente os que estão relacionados com a leitura e com a escrita, para se

tornar num “indivíduo capaz de funcionar adequadamente como cidadão, consumidor e

produtor, compreendendo as mudanças do mundo e os seus efeitos em cada um de nós”

(Viana & Teixeira, 2002, p. 9).

Durante décadas pensou-se que a aprendizagem da leitura e da escrita começava

com o ingresso na escolaridade (Cruz, 2011; Dickinson, Pierre & Pettengill, 2004;

Fernandes, 2005). A alfabetização era concebida como algo que começava com a

entrada no 1.º ciclo, sendo os anos pré-escolares destinados ao desenvolvimento

emocional e social da criança (Dickinson, et al. 2004). Embora reconhecendo o valor do

desenvolvimento socio-emocional da criança, a investigação desenvolvida nas últimas

décadas mostrou que a aprendizagem da leitura se inicia bem antes do seu ensino formal

(por exemplo, Adams, 1994; Viana & Teixeira, 2002; Viana, 2002a). Como consta no

programa e metas curriculares de português do Ensino Básico (Buescu, Morais, Rocha,

& Magalhães, 2015), à chegada ao 1º ciclo as crianças têm já um repertório de

conhecimentos sobre a linguagem escrita. Na verdade, a criança em idade pré-escolar

participa em situações em que linguagem escrita está presente, o que lhe permite

desenvolver algumas ideias sobre o que é ler e escrever (M.E., 1997), levantar hipóteses

sobre o seu funcionamento, atender a aspetos como a direccionalidade e as suas funções

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13

e desenvolver competências como a consciência fonológica ou o princípio alfabético

(Viana & Martins, 2009).

Numa revisão efetuada por Viana e Teixeira (2002), o trabalho de Huey (1908) é

considerado pioneiro para a tomada de consciência sobre a importância das experiências

vividas antes da escolarização formal para as aprendizagens posteriores. No decurso do

século XX foram inúmeros os estudos empíricos e conceptualizações teóricas sobre as

competências que exercem um papel facilitador na aprendizagem da leitura e escrita

(por exemplo, Cabell, Justice, Konold, & McGinty, 2011; Lonigan, Purpura, Wilson,

Walker, & Menchetti, 2013; Murray & Harrison, 2011; Viana, & Teixeira, 2002;

Whitehurst e Lonigan, 1998).

1.1. LITERACIA EMERGENTE: DEFINIÇÃO DO CONCEITO

Ao falarmos em literacia emergente estamos perante uma nova perspetiva de

abordagem ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita que contempla um

conjunto de comportamentos específicos que a criança exibe e que mostram que está a

construir conhecimentos sobre a linguagem escrita. Estes conhecimentos são traduzidos,

por exemplo, na capacidade para interpretar e tratar informação, de ler a realidade, as

imagens, de saber para que serve a escrita ou de levantar hipóteses sobre o seu

funcionamento (M.E., 1997). Whitehurst e Lonigan (1998) definem literacia emergente

como "the skills, knowledge and attitudes that are presumed to be developmental

precursors to conventional forms of reading and writing" (p. 849).

O uso da palavra "emergente" na expressão "literacia emergente" tem subjacente

uma perspetiva de desenvolvimento. Em muitos trabalhos de síntese sobre o assunto

entende-se que até meados do século XX a abordagem à aprendizagem da linguagem

escrita se baseava no conceito de prontidão para a leitura (por exemplo, Cruz, 2011;

Fernandes, 2005; Viana & Teixeira, 2002; Whitehurst & Lonigan, 2001), o qual tinha

subjacente a noção de que a criança só poderia aceder à leitura e à escrita quando

alcançasse um determinado nível de conhecimentos e/ou de maturação cognitiva. A

aprendizagem da linguagem escrita só deveria ocorrer quando a criança estivesse pronta

para ela. Assim sendo, a preparação para a leitura e para a escrita assentava num treino

de competências de cariz percetivo e motor (Viana & Teixeira, 2002), sendo

desconsideradas as atividades relacionadas com a leitura e a escrita e com as

propriedades fonológicas da linguagem oral (Fernandes, 2005).

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14

De acordo com Viana (2006a) o paradigma mudou a partir da década de 70 do

século XX, quando a investigação mostrou que o que diferenciava os bons dos maus

leitores eram diferenças ao nível do conhecimento linguístico e do seu processamento, e

não competências de cariz percetivo e motor. Ainda segundo esta autora, esta

descoberta alterou o rumo da investigação, cujo foco começou a incidir na identificação

das bases linguísticas necessárias à aprendizagem da leitura, tendo o conceito de

prontidão para a leitura dado lugar ao de literacia emergente.

O conceito de literacia emergente tem vindo a ser descrito de forma pouco

consensual na literatura. Dos estudos analisados, verifica-se que o conceito engloba um

conjunto de comportamentos, competências, conhecimentos e atitudes tidos como

percursores do desenvolvimento das formas convencionais da leitura e da escrita,

atribuindo-se, contudo, particular ênfase à consciência fonológica, aos conhecimentos

sobre o impresso e às competências de linguagem oral (Girard & Girolametto, 2013;

Leal, Peixoto, Silva, & Cadima, 2006; Mason & Stewart, 1990; Whitehurst & Lonigan,

1998).

Mason e Stewart (1990) propõem um modelo que inclui na literacia emergente

quatro componentes: a) Conceitos e funções da literacia, b) Escrita e composição; c)

Conhecimento das letras e palavras e, c) Compreensão do discurso e das palavras. Os

conceitos e funções da literacia incluem comportamentos tais como o conhecimento das

crianças sobre o ato de leitura e sobre as suas regras (por exemplo, ler as palavras e não

as imagens, ler da esquerda para a direita e de cima para baixo), a compreensão que têm

sobre as funções dos materiais impressos (por exemplo, usar jornais e revistas), a

perceção sobre o que é aprender a ler, as encenações que fazem sobre a leitura de livros

de histórias familiares e o reconhecimento de palavras impressas que lhe são familiares.

A componente escrita e composição inclui a escrita de palavras e frases e a composição

de histórias. A componente compreensão do discurso e das palavras supõe que a

criança tenha conhecimentos específicos sobre literacia tais como o conhecimento das

letras, sobre as regras de correspondência fonema-grafema e o reconhecimento de

palavras. Incluiu ainda competências metalinguísticas, como a capacidade de manipular

os sons das palavras designada consciência fonológica. O último componente

compreensão auditiva e das palavras supõe a capacidade de recontar histórias,

compreender a narrativa e definir e categorizar palavras.

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15

Whitehurst e Lonigan (1998) propõem um modelo de literacia emergente que

mais tarde é adotado em muitos estudos empíricos (por exemplo, Cabell, et al., 2011;

Girard & Girolametto, 2013). Trata-se de um modelo que postula que as competências

de literacia emergente se organizam em dois domínios distintos, embora

interrelacionados: a) o domínio das competências inside-outside, que traduziremos por

competências “de dentro para fora” e b) o domínio das competências outside-inside,

que traduziremos por competências “de fora para dentro”. O domínio “de dentro para

fora”, onde encontramos informação intrínseca às palavras, inclui competências como a

consciência fonológica e a correspondência fonema-grafema. São competências que

requerem que a criança conheça as regras da "tradução" do impresso para a produção

oral, no sentido de transformar os sinais gráficos em cadeias sonoras. Mas as crianças

podem ter bons níveis destas competências e não terem a capacidade de extrair

significado daquilo que leem. São as competências de “fora para dentro”, exteriores às

palavras, tais como o vocabulário, a semântica, a sintaxe, o conhecimento do impresso e

o conhecimento concetual sobre o assunto do texto, que permitem à criança extrair

significado da leitura.

Sénéchal e colaboradores (2001) propõem uma abordagem alternativa às

definições de literacia emergente apresentadas por Whitehurst e Lonigan (1998) e

Mason and Stewart (1990). Para estes autores literacia emergente é diferente de

linguagem oral e de competências metalinguísticas e inclui duas componentes distintas

mas interrelacionadas: a) conhecimento conceptual (por exemplo, funções do impresso)

e, b) conhecimentos processuais precoces sobre a leitura e escrita (por exemplo, escrita

inventada). Estas componentes desempenham diferentes papéis no desenvolvimento

literácito e têm diferentes relações com a linguagem oral e com as competências

metalinguísticas. Por exemplo, o conhecimento conceptual da criança desempenha um

papel importante no conhecimento processual emergente, e está ainda estreitamente

relacionado com a linguagem oral. Já o conhecimento processual emergente

desempenha um importante papel no desempenho da consciência fonológica e na

aprendizagem da leitura.

Atualmente assiste-se a um novo enfoque nos conhecimentos pré-literácitos que

envolvem o que as crianças sabem sobre leitura e sobre a escrita antes de aprenderem a

ler e a escrever. Nas definições anteriores há um conjunto de competências que só se

atingem com a aprendizagem formal da linguagem escrita. Por outro, não sendo

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consensual em que domínio encaixa a linguagem oral no âmbito das competências

essenciais à aprendizagem da leitura e escrita, é relativamente aceite que no processo de

aprendizagem a linguagem oral e a linguagem escrita se relacionam explicitamente e

desde muito cedo.

Viana (2002b), na fundamentação teórica do programa "Melhor Falar para

Melhor Ler", afirma ter sido importante demonstrar "que não seria necessário uma

educação pré-escolar «escolarizante» para se promover o desenvolvimento de

competências (e de apetências) para a leitura e para a escrita" (p. 43). Para Gomes e

Santos (2005) "a literacia emergente enfatiza precisamente esta aquisição natural de

competências, de capacidades, de conhecimentos e de atitudes, incentivando o gosto

pelos livros, o interesse pela linguagem escrita e o estabelecimento de interações

positivas entre crianças e adultos" (p. 9).

1.2. O PAPEL DO CONTEXTO FAMILIAR NA LITERACIA

EMERGENTE

Enquanto a aquisição da linguagem oral está associada ao património genético

da criança, a aprendizagem da leitura e da escrita é fortemente condicionada pelo

contexto em que a criança vive (Chomsky, 1976). As experiências antes da

escolarização formal, nomeadamente as que permitam que se envolvam em atividades

recíprocas com adultos significativos têm um papel determinante no desenvolvimento

em geral e no desenvolvimento da linguagem oral e da literacia emergente em

particular. A aprendizagem formal do código escrito envolve um conjunto de

mecanismos linguísticos, cognitivos e afetivos que o tornam um processo complexo e

altamente dependente dos contextos mais imediatos de socialização da criança

(Braunger & Lewis, 2006; Haney & Hill, 2004; Lindee & Goldstein, 2004; Lonigan et

al., 2013; Murray & Harrison, 2011; Dobbs-Oates, Kaderavek, Guo, & Justice, 2011)

A família e o jardim de infância são contextos privilegiados para promover o

desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos relacionados com a linguagem oral

e a abordagem à escrita. A criança ouve falar, fala e é motivada para falar (Lentin,

1981). Se a criança vê ler e escrever tem mais probabilidades de levantar hipóteses

sobre as funções e funcionamento da língua escrita. Sem aprender formalmente a ler

aprende "sobre" a leitura e, além das funções e direccionalidade, aprende também que

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para ler e escrever são necessários uns signos especiais, as letras e que a escrita perpetua

a oralidade, tornando-se cada vez mais curiosa sobre esta forma de representar o mundo

e a linguagem.

Quanto mais estimulante for o ambiente linguístico e mais ricas forem as

vivências e trocas comunicativas, mais desafios são colocados à criança e maiores são

as possibilidades de desenvolvimento cognitivo, linguístico e emocional (Sim-Sim,

1998; Sim-Sim, Silva, & Nunes, 2008; Viana, 2002a).

Em função das experiências precoces que viveram, há crianças que rapidamente

interiorizam o sentido da linguagem escrita e desenvolvem o desejo de vir a ler e a

escrever; há crianças que, não encontrando ocasiões para participar de modo prazeroso

em situações em que a linguagem escrita tenha um papel de relevo, chegam à escola

sem interiorizar um conjunto de saberes e de vivências e sem desenvolverem o desejo

de aprender a ler e a escrever. Se a criança está motivada para aprender a ler e escrever

será mais persistente perante as dificuldades que eventualmente possa experimentar, já

que aprender a ler e escrever é um processo complexo e exigente (Viana & Martins,

2009). O contexto familiar e o jardim de infância são determinantes para promover

essas experiências precoces, para promover o desenvolvimento de um projeto de leitor

no qual a criança atribui sentido à leitura.

Em virtude do importante papel atribuído ao ambiente familiar na promoção da

literacia emergente, já muito demonstrado por um amplo conjunto de estudos (por

exemplo, Baker, Scher, & Mackler, 1997; Cruz, 2011; Lonigan, et al., 2013; Morgan &

Goldstein, 2004; Whitehurst, et al., 1988) têm sido desenvolvidos programas de

capacitação para os pais. Uma das estratégias de capacitação consiste em ensinar aos

pais o uso a linguagem descontextualizada nas trocas comunicativas com os seus filhos.

A linguagem descontextualizada é usada em inúmeras formas de discurso em contexto

formal, na sala de aula e envolve o uso de verbos cognitivos (por exemplo, pensar,

saber, acreditar), a definição de palavras e a elaboração de narrativas coerentes, tarefas

associadas à competência na leitura. Muitas das dificuldades que as crianças encontram

ao nível da leitura está relacionada com as dificuldades em usar a linguagem

descontextualizada, raramente usada nas trocas comunicativas que se estabelecem com

a criança em contextos informais.

Whitehurst e colaboradores (1988) desenharam um programa de leitura

dialógica para otimizar os resultados da leitura efetuada pelos pais aos filhos. Este

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programa foi implementado junto de um grupo (grupo experimental), tendo o estudo

considerado também um grupo de controlo. Os pais do grupo experimental foram

treinados para colocar questões aos filhos, a fazer expansões sintáticas e semânticas, a

encorajar os filhos a falar sobre as ilustrações do livro e a aprender mais sobre a

história. Além disso, foram treinados a ajustar a sua intervenção por “andaimes”,

inicialmente com perguntas relativamente simples, por exemplo sobre as ilustrações,

passando depois para questões que exigiam descrever relações, intenções das

personagens, estados emocionais ou enredos e a interligar dimensões da história com as

suas próprias experiências. Os pais do grupo de controlo foram convidados a ler para os

filhos na forma habitual. Foram realizadas gravações das sessões de leitura feitas em

casa por todas as famílias. As gravações permitiram verificar que os pais do grupo

experimental mostraram resultados superiores aos do grupo de controlo nas medidas de

linguagem expressiva dirigidas às crianças e que as crianças do grupo experimental

usaram mais frases e menos palavras isoladas. Num estudo de follow-up, 9 meses

depois, as diferenças entre os grupos mantinham-se.

Morgan & Goldstein (2004) desenvolveram um estudo com mães provenientes

de contextos socioeconómicos desfavorecidos para avaliarem os efeitos de uma

intervenção desenhada com o objetivo de promover o uso da linguagem

descontextualizada durante a leitura de histórias aos filhos. Tinham como objetivo

avaliar se essas mães eram suscetíveis a usar, depois de instruídas, estratégias de

linguagem descontextualizada e avaliar também o impacto do uso dessas estratégias nas

competências de linguagem descontextualizada das crianças. De acordo com os autores,

as mães provenientes desses contextos fazem um uso limitado da linguagem

descontextualizada nas interações que estabelecem com os seus filhos, focando-se

particularmente na rotulagem e na descrição. Consequentemente, as crianças

demonstram dificuldades nas tarefas relacionadas com o discurso, tais como fazer

expansões e definições, recontar histórias e relatar narrativas pessoais. Verificou-se que,

após a participação no programa, as mães aumentaram o uso da linguagem

descontextualizada durante a leitura de histórias para os filhos e que estes, pela

exposição a modelos de linguagem descontextualizada, apresentaram também

progressos a este nível.

A atitude do adulto, ouvinte ativo que coloca questões, adiciona informação e

incentiva a criança a aumentar o detalhe das descrições sobre o conteúdo do livro, é

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determinante para a promoção do desenvolvimento linguístico em geral e da literacia

emergente em particular (por exemplo, Philips & Lonigan, 2009; Pollard-Durodola et

al., 2011; Whitehurst et al., 1988).

Haney & Hill (2004) avaliaram a relação entre um conjunto atividades de

literacia que os pais promoviam para os filhos e os resultados específicos na literacia

emergente dessas crianças. Os resultados apontam para a existência de uma relação

significativa entre as atividades desenvolvidas pelos pais e os resultados ao nível das

competências de literacia emergente. Por exemplo, as crianças que experimentaram

atividades relacionadas com o impresso obtiveram pontuações significativamente

superiores às das crianças que não receberam qualquer tipo de estimulação, quer nas

conceções sobre o impresso, quer nas competências precoces de descodificação.

Bingham (2007), numa amostra constituída por 60 mães com filhos de idades

compreendidas entre os 3 e 4 anos, avaliou a relação entre as conceções das mães sobre

a literacia, os ambientes de literacia familiar, a qualidade das interações em torno da

leitura e o desenvolvimento de competências de literacia emergente. Os resultados

demonstraram que as conceções das mães estavam relacionadas com a qualidade dos

ambientes de literacia familiar e com a qualidade das interações em torno da leitura de

histórias. Por sua vez, a qualidade dos ambientes de literacia familiar e as interações que

se estabeleciam na leitura de histórias estavam relacionadas com o desenvolvimento de

competências de literacia emergente. Os resultados deste estudo realçam a importância

de trabalhar com as famílias, especialmente as que estão expostas a mais fatores de

risco: pobreza, imigração, falantes de línguas diferentes da de escolarização, minorias

étnicas, entre outros (Dickinson et al., 2004; Haney & Hill, 2004; Morgan & Goldstein,

2004). Estes fatores explicam, por sua vez, um menor envolvimento em atividades em

torno da leitura e em rotinas menos estimulantes do ponto de vista linguístico

(DeTemple & Tabors, 1995) com influência na qualidade da apropriação que a criança

faz da leitura e da escrita (Morgan & Goldstein, 2004).

Certas competências literácitas estão particularmente dependentes de

determinados tipos de experiências. Por exemplo, ambientes que enfatizam a leitura

partilhada dos livros promovem mais a linguagem oral da criança, enquanto ambientes

de reflexão e de instrução explícita estão diretamente relacionadas com competências

relacionadas com o código (Lonigan, Allan, & Lerner, 2011; Philips & Lonigan, 2009;

Sénéchal, LeFreve, Thomas, & Daley, 1998). Ambientes promotores de experiências

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agradáveis em torno do livro e da reflexão sobre a língua incrementam o interesse por

parte da criança em saber o que é a leitura e para que serve. Este interesse pode torná-la

mais resiliente no processo exigente de aprendizagem. A motivação para aprender a ler

por sua vez conduz a mais tempo de leitura, levando ao desenvolvimento de mais

competências literácitas. Quanto mais competente a criança se sentir, mais vontade terá

de passar tempo com o livro (Kempe, Eriksson-Gustavsson, & Samuelsson, 2011).

Sabemos também que o potencial para a aquisição da linguagem oral é baseado

na biologia humana mas que precisa dos ambientes sociais para ser realizado, pelo que

não é de estranhar a estreita relação entre o domínio da linguagem oral e a

aprendizagem da leitura, amplamente demonstrada pela investigação (Hoff, 2003a;

2003b; Hoff, 2006; Hoff, Laursen, & Tardif, 2002). As mães de contextos favorecidos

falam mais com os seus filhos e eliciam conversas com mais frequência do que as mães

de contextos desfavorecidos. Além disso, as conversas das mães de estratos

socioeconómicos mais desfavorecidos são, com mais frequência, iniciadas com o

propósito de dirigir o comportamento dos filhos e não tanto de expandir as suas

produções (Hoff et al., 2002). Há, entre estes dois grupos de mães, diferenças na

quantidade, na riqueza lexical e na complexidade das frases e por conseguinte

observaram-se diferenças na linguagem expressiva das crianças dos dois grupos. O

estudo de Hoff e colaboradores (2002) mostrou que as crianças que ouviram enunciados

mais longos e com um vocabulário mais rico desenvolveram mais rapidamente a sua

linguagem expressiva do que as crianças que ouviram enunciados mais curtos. A

pobreza parece influenciar negativamente a qualidade das interações linguísticas

(Cabell, et al., 2011) e os bons contextos parecem facilitar a construção de um percurso

académico de sucesso. Stanovich (1986) chamou a este fenómeno "Efeito de Mateus",

que quer dizer que os ricos tendem a ficar mais ricos e os pobres a ficar mais pobres.

Este conceito é recorrentemente usado na literatura para descrever o fosso cada vez

mais acentuado entre os bons e os maus leitores ao longo do tempo.

Apesar da estabilidade verificada nas trajetórias académicas das crianças e de ser

relativamente consensual que as crianças de contextos desfavorecidos constituem um

grupo homogéneo em risco de falhar na aprendizagem formal da leitura e da escrita,

estudos relativamente recentes sugerem diferenças individuais consideráveis entre essas

crianças nas suas competências de literacia emergente (Cabell, et al., 2011; Philips &

Lonigan, 2009). Cabell e colaboradores (2011), por exemplo, estudaram a variabilidade

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das competências de literacia emergente em crianças em idade pré-escolar, matriculadas

em programas de educação especial e provenientes de contextos socioeconómicos

desfavorecidos, com o objetivo de contribuir para a compreensão da heterogeneidade

das competências literácitas. De acordo com os autores o grupo de crianças proveniente

de meios socioeconómicos mais desfavorecidos não é homogéneo, verificando-se uma

complexa variabilidade individual entre as crianças consideradas em risco de fracasso

académico. Os autores sublinham que foi avaliado um conjunto de variáveis (linguagem

oral, conhecimentos sobre o impresso e consciência fonológica) com alto valor preditivo

para a realização académica e que tais variáveis são passíveis de mudança por meio da

intervenção e influenciadas pelos contextos de desenvolvimento das crianças, mormente

casa e escola. A frequência da educação pré-escolar, a qualidade do ambiente educativo,

a formação de professores e a intervenção ao nível da literacia emergente são variáveis

que tendem a influenciar as competências literácitas das crianças e potencialmente a

estreitar o fosso entre aquelas que estão em risco e aquelas que não estão em risco de

falhar na aprendizagem da linguagem formal (Cabell et al., 2011). A frequência da

educação pré-escolar de qualidade parece, por isso, fazer a diferença (Lonigan et al.

2013; Mol & Bus, 2011; Sénechal, LeFreve, Thomas, & Daley, 1998; Sim-Sim, Silva,

& Nunes, 2008; Viana & Martins, 2009).

1.3. O PAPEL DO JARDIM DE INFÂNCIA NA LITERACIA

EMERGENTE

Em 1997 foram publicadas em Portugal, pelo Ministério da Educação,

Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (OCEPE), fruto da importância

atribuída aos contextos de educação pré-escolar para o sucesso escolar e social da

criança. Pode dizer-se também que houve uma tentativa de rotura com a perspetiva

convencional sobre o desenvolvimento da literacia, desafiando os agentes educativos

para o reconhecimento da importância de aceder à linguagem escrita em idade pré-

escolar (Dionísio & Pereira, 2006). É durante esta faixa etária que as crianças

desenvolvem um conjunto de conhecimentos que irão mobilizar, mais tarde, na

construção do conhecimento literácito. A facilidade que terão em fazê-lo no 1.º ano de

escolaridade é condicionada pelas experiências vividas na educação pré-escolar (Cruz,

2011; Fernandes, 2005; Kendeou, Broek, White, & Lynch, 2009; Teale & Sulzby, 1989;

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Vellutino & Scanlon; 1987). Por exemplo, os resultados do estudo de Vellutino e

Scanlon (1987) mostram, por um lado, que os bons leitores no 1.º ciclo tinham

frequentado contextos de educação pré-escolar onde se implementavam mais atividades

de consciência fonológica e de escrita emergente. Por outro lado, também as crianças

em risco de fracassar na aprendizagem da leitura e escrita e que beneficiaram de uma

abordagem explícita e sistemática da linguagem e literacia emergente, se revelaram

bons leitores no 1.º ciclo.

Neste processo parece ser fundamental a intencionalidade educativa do adulto

para criar experiências de sensibilização fonológica e de sensibilização para o impresso.

O termo emergente é entendido como o desenvolvimento de competências que já

existem e que precisam de contextos que promovam, facilitem e forneçam experiências

e oportunidades de participação em atividades linguísticas e de leitura e de escrita

emergentes (Dionísio & Pereira, 2006). Tal como afirmam as autoras "a ênfase é

colocada na diversidade de situações que devem ser criadas para permitir às crianças

contextos de diálogo e de interação, assim como para motivar o seu interesse em

comunicar as próprias experiências" (p. 7).

Porém, a promoção do conhecimento relativamente à vertente escrita da língua

foi, durante muito tempo, desvalorizada pelos educadores de infância, o que se traduzia

num número muito escasso de atividades que visavam a promoção da literacia

emergente de modo organizado e intencional (Fernandes, 2005). É reconhecido nos dias

hoje que há competências de manipulação da linguagem que se desenvolvem

naturalmente, como as que estão relacionadas com as rimas e com as sílabas, mas há

outras que requerem um trabalho explícito e intencional como a capacidade de

manipular palavras e de perceber o que é a escrita (Dionísio & Pereira, 2006; Ferreiro &

Teberosky, 1980; Viana, 2002a).

Com a publicação das OCEPE começamos a ver reforçada a importância de

promover atividades que favorecessem a emergência de competências de literacia

emergente. Todavia, registaram-se dificuldades, por parte dos profissionais, em

operacionalizar as propostas nelas incluídas. Roskos, Christie e Richgels (2003, pp. 2-4)

descrevem um conjunto de estratégias que ajudam à concretização das OCEPE:

a) Interações linguísticas entre a criança e o educador, nas quais a primeira é

estimulada a falar com o segundo e com os amigos em grande e pequenos

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grupos, a usar palavras novas e pouco usuais nos discursos que desenvolve, a

pormenorizar e descrever os seus comentários com construções frásicas mais

complexas, a discutir temas cognitivamente desafiantes sobre o conhecimento

do mundo e a refletir sobre a linguagem como um objeto;

b) A leitura em voz alta, pelo menos uma vez por dia de histórias, poemas e textos

informativos, usando estratégias para a exploração do texto antes, durante e após

a leitura, dando uma especial atenção à leitura de histórias que a criança já

conhece e que aumentam a probabilidade de querer ler sozinha;

c) Atividades de consciência fonológica que aumentam a consciência da criança

sobre os sons da língua, envolvendo por exemplo a exploração de rimas,

aliterações através de jogos e da audição de histórias, poemas e canções;

d) Atividades sobre o impresso de modo a envolver as crianças com materiais que

levam à identificação das letras do alfabeto, em especial o nome das letras que

têm significado pessoal para a criança tal como as letras do seu nome;

e) Atividade de promoção da leitura emergente, incentivando a criança a ler vários

suportes de material impresso. Para isso é preciso é fundamental equipar a sala

com uma área da biblioteca bem apetrechada de livros e de outros materiais e,

fazer leituras repetidas dos livros preferidos das crianças para que fiquem

familiarizadas e motivadas a ler sozinhas;

f) Atividades de escrita emergente, encorajando a criança a usar formas emergentes

de escrita. O educador deve estar sensível à organização da sala em espaços

adequados, à existência de materiais e à criação de tempos para atividades de

escrita funcional por parte do adulto e de exploração livre por parte da criança;

g) Experiências partilhadas do livro, com livros em vários formatos, apontando

com o dedo à medida que se lê para que a criança desenvolva um conjunto de

conceções sobre o impresso, como conceitos do livro (capa, contracapa, título,

páginas), distinção entre ilustração e texto e direcionalidade da escrita;

h) Atividades integradas no conteúdo da história. O grande objetivo é que a partir

da história a criança desenvolva projetos onde use a literacia emergente para

aprender sobre o mundo.

Devido à preocupação crescente em promover competências essenciais ao futuro

sucesso académico e social da criança tem-se salvaguardado a necessidade de criar

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contextos de qualidade e práticas educativas que se traduzam em ganhos para a criança.

Em Portugal a Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC)

publicou, em 2008, duas brochuras, Linguagem e Comunicação no Jardim de Infância e

A Descoberta da Escrita, que visaram ajudar os profissionais de educação de infância a

"promover práticas intencionais e sistemáticas de estimulação do desenvolvimento da

linguagem e enfatizar a necessidade da continuidade de aprendizagens no domínio da

língua entre a educação de infância e a sala de aula no 1.º ciclo da Educação Básica"

(Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008, p. 7). Estas publicações oficiais, que incluem

informação teórica e exemplos de atividades práticas, são um referencial comum para a

criação de condições favoráveis ao sucesso escolar. Em 2010, no âmbito da Estratégia

Global de Desenvolvimento do Currículo Nacional, foram publicadas as Metas de

Aprendizagem para a Educação Pré-escolar (MAEPE) para que os educadores de

infância pudessem "planear processos, estratégias e modos de progressão para que todas

as crianças possam ter realizado essas aprendizagens antes de entrarem para o 1º ciclo"

(p. 1). Espera-se, à luz deste documento, que, no final da educação pré-escolar haja, por

parte das crianças, a mobilização de um conjunto de conhecimentos linguísticos

considerados determinantes para a futura aprendizagem da linguagem escrita e sucesso

escolar, em especial a capacidade de interação verbal, a consciência fonológica e a

manifestação de comportamentos emergentes de leitura e de escrita.

No âmbito da interação verbal a criança deverá ser capaz, no final da educação

pré-escolar, de, por exemplo, compreender informação transmitida oralmente, de

questionar para obter informação, relatar e recriar experiências, recontar narrativas que

ouviu ler, explorar o som e o significado de novas palavras e recitar poemas, rimas e

canções.

Ao nível da consciência fonológica, as metas enfatizam a produção de rimas e de

aliterações, a capacidade de segmentação e reconstrução silábicas, a identificação de

palavras que começam e terminam com a mesma sílaba, a capacidade de suprimir e

acrescentar sílabas e ainda de isolar e contar palavras em frases.

Relativamente aos comportamentos emergentes de leitura e escrita as metas

enfatizam, por um lado a capacidade de reconhecer e escrever algumas palavras, como

por exemplo, escrever algumas palavras familiares, identificar onde começa e termina

uma palavra e produzir a escrita silábica e, por outro, a capacidade conhecer as

convenções gráficas, pegar corretamente num livro, identificar os elementos

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paratextuais do livro, conhecer o sentido direcional da escrita, saber que as letras

"representam" os sons da fala (princípio alfabético) e distinguir letras de números

(Ministério da Educação, 2010). Estamos assim perante uma perspetiva de literacia

emergente que reforça um conjunto de conhecimentos antes ensino formal, promovidos

de forma lúdica mas intencional, com impacto no futuro sucesso pessoal e social da

criança.

A investigação nacional tem também produzido documentos que orientam o

desenvolvimento de práticas educativas de qualidade na educação de infância,

nomeadamente no que concerne ao desenvolvimento da linguagem e literacia. Em 2002

foi publicado a segunda edição do programa, Melhor Falar para Melhor Ler (Viana,

2002b), cuja implementação foi, inclusivamente, anterior à publicação das OCEPE. Este

foi o primeiro programa nacional de literacia emergente, integrado num estudo

longitudinal que acompanhou as crianças até ao final do 1.º ano do 1.º ciclo do Ensino

Básico. Pela via dos afetos e através da leitura de histórias "pela voz dos outros" propõe

um conjunto de atividades que estimulam o desenvolvimento das competências

linguísticas que a investigação mostra estarem mais relacionadas com a aprendizagem

da leitura e da escrita em línguas de escrita alfabética: conhecimento lexical,

conhecimento morfossintático, memória auditiva para material verbal e, capacidade de

refletir sobre a língua. O programa foi avaliado, tendo sido encontradas diferenças

estatisticamente significativas (p <.005) nos resultados das crianças dos dois jardins de

infância que implementaram o programa, entre o início e o final do mesmo,

sublinhando-se a tendência para um aumento dos resultados das crianças proveniente

dos meios mais desfavorecidos (p. 67). Inspirado neste estudo e noutros que a partir

dele foram sendo desenvolvidos, em 2014 foi publicado um programa cujo título “Falar,

Ler e Escrever. Propostas integradoras para Jardim de Infância” (Viana & Ribeiro,

2014) é revelador da necessidade de integrar três áreas importantes para a literacia

emergente.

Apesar da existência de um referencial comum para a educação pré-escolar, as

experiências das crianças com a linguagem escrita em idade pré-escolar continuam

distintas dependendo da instituição que as crianças frequentam. O estudo de Pinto

(2012) veio confirmar que há um conjunto de variáveis relacionadas com o ambiente

educativo que condicionam as experiências proporcionadas às crianças e que podem ter

impacto na aprendizagem inicial da leitura e escrita, em especial a intencionalidade e o

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carácter sistemático e formal das práticas e ainda os modelos educativos adotados pelos

educadores de infância.

Os modelos educativos assentam em referenciais teóricos e orientam o educador

na estruturação, planificação, implementação e avaliação do processo de ensino e de

aprendizagem. Em Portugal têm grande implementação três grandes modelos

curriculares: o Método João de Deus, o Modelo Curricular High/Scope e o Movimento

da Escola Moderna.

O Método João de Deus tem uma forma muito própria de promover um conjunto

de competências de linguagem e literacia emergente. João de Deus foi inovador ao

considerar que a primeira forma de promover aprendizagens é pela via da linguagem

oral. Em 1876 publicou a Cartilha Maternal e defendeu a iniciação precoce à leitura e

escrita para que as crianças mais novas aprendessem desde cedo regras e construíssem

conhecimentos sobre a linguagem escrita (Ruivo, 2006). A instrução direta é um

processo que, tal como afirma Ruivo (2006), começa cedo "com a visão das letras,

seguindo-se os sons correspondentes, a leitura de palavras e a pronunciação destas como

entidades globais com significado próprio" (p. 4). Ainda de acordo com a autora, a

criança que frequenta os jardins de infância João de Deus desenvolve o vocabulário e a

construção frásica de uma forma lúdica na interação verbal com o educador. O educador

faz diariamente o registo das aprendizagens de cada criança no sentido de individualizar

e adequar as propostas de atividade ao seu ritmo. Em todo o processo há a preocupação

de a estimular a ser analista da linguagem, explicitando as regras que aprendeu e

autocorrigindo-se. Em vez de se usarem frases soltas são dadas às crianças palavras para

serem exploradas e usadas de modo contextualizado no seu mundo e nos interesses.

Pretende-se, acima de tudo, que a leitura se torne um exercício mental de imenso valor e

que, de forma lúdica, a criança aceda ao código linguístico.

No modelo Curricular High/Scope o papel do adulto é menos diretivo e mais

centrado na preparação do espaço, materiais e experiências. Privilegia-se a

aprendizagem pela ação, através da experiência para construir conhecimento e dar

sentido ao mundo (Oliveira-Formosinho, 1996). Para mobilizar essa aprendizagem o

espaço deve estar organizado em áreas de interesse, apetrechadas com materiais

rotulados através do desenho e da escrita, colocados ao acesso das crianças. Uma dessas

áreas é a Área dos Livros e da Escrita, na qual as crianças no tempo de Planear-Fazer-

Rever observam e exploram ficheiros de imagens, álbuns de fotografias, livros variados,

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revistas e jornais, sozinhas, com os pares ou com o adulto que lê em voz alta; fazem o

reconto com as suas próprias palavras e expandem a atividade se o desejarem com os

materiais de escrita que estão disponíveis na Área das Expressões, espacialmente muito

próxima da Área da Biblioteca.

A forma como se vão apropriando do espaço depende dos grandes tempos da

rotina diária. É nos Tempos de Grande Grupo que o educador propõe atividades que vão

ao encontro dos interesses e necessidades das crianças, mobilizando os valores do

currículo. Em grande grupo, adultos e crianças iniciam atividades planificadas que

permitem o envolvimento nas grandes experiências chave para a educação pré-escolar.

E no âmbito da Linguagem e Literacia exploram um conjunto de competências

metalinguísticas e tornam explícito o conhecimento implícito da língua.

De acordo com Hohmann & Weikart (2007) as experiências chave da

Linguagem e Literacia iniciam-se quando as crianças:

Falam com os outros de experiências que tenham significado pessoal;

Descrevem objetos, acontecimentos, e relações;

Tiram prazer da linguagem: ouvindo histórias e poemas e inventando histórias e

rimas;

Escrevem de diversas formas: desenhando, garatujando, formando grafismos,

soletrando de forma inventiva, utilizando formas convencionais de escrita;

Leem de diversas formas, histórias, sinais, símbolos;

Ditam histórias.

Procura-se vincular a ideia de que o processo de aprendizagem é tanto mais

adequado quanto mais centrado nos interesses e na voz das crianças, sem que contudo

se torne permisso e imprevisível pois "as competências de linguagem expandem-se

quando são oferecidas às crianças oportunidades ricas para usar a linguagem e a

comunicação escrita com prazer" (High/Scope Educational Research Foudation, 1992,

p. 26).

O Movimento da Escola Moderna (MEM), ancorado nas propostas de Freinet

(1996), de Vygotsky (1977, 2000) e de Bruner (1976) sobre o desenvolvimento e a

aprendizagem apresenta como finalidades: a) a iniciação às práticas democráticas; b) a

reinstituição dos valores e das significações sociais e; c) a reconstrução cooperada da

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cultura (Niza, 1996). E, por isso, o Tempo e o Espaço estão organizados de modo a

favorecer a "iniciação às práticas de cooperação e de solidariedade da vivência

democrática" (Leandro, 2008, p. 2). Procura-se criar uma dinâmica social favorável à

apropriação de competências que são mobilizadas mais tarde. Desde cedo é estimulado

o uso da fala, do desenho e da escrita como formas de concretizar a dimensão social das

aprendizagens sendo assegurados espaços parecidos o mais possível com os espaços

sociais reais, distribuídos à volta da sala, destinados ao trabalho coletivo onde exploram

materiais e se desenvolvem atividades. As atividades começam e terminam com

circuitos dialógicos de comunicação, ao longo dos vários momentos do dia, graças aos

quais se façam os planos de trabalho, se estruturem e avaliam projetos e, se partilham

saberes (Leandro, 2008; Marchão, 2012; Niza, 1996). O educador MEM ouve o que a

criança tem para dizer, ajuda-a a comunicar com o grupo e a descentrar-se da sua

perspetiva, valoriza-a, desafia-a a colocar as suas experiências individuais no contexto

de grupo.

Há dois espaços nas salas MEM criados com o objetivo de promover

explicitamente experiências de linguagem oral e de emergência da literacia na criança: a

biblioteca e a oficina da escrita. A biblioteca é apetrechada com impressos variados, uns

convencionais outros produzidos pelas crianças na Oficina da Escrita sobre os temas

que lhes despertam interesse. Os livros estão acessíveis para serem lidos e para

oferecerem informação sobre os projetos que estão a desenvolver. Graças aos

inventários que se realizam nas salas MEM as crianças selecionam livros e fazem a sua

catalogação por temas. Os inventários são registados em cartazes com letras bem

visíveis, onde consta o que existe em determinada oficina e o que precisam e querem lá

ter. Na Oficina da Escrita, estimuladas pelo educador e pela existência de materiais

variados, as crianças fazem tentativas de reprodução da escrita.

Afixados nas paredes da sala existem ainda vários instrumentos de pilotagem

que são reguladores das aprendizagens, promotores do desenvolvimento psicológico e

sociomoral das crianças, e verdadeiras oficinas de promoção da linguagem oral e da

escrita. O Diário de Grupo, por exemplo, é usado para registar as ocorrências da vida de

cada criança e do grupo. Nele a criança e o grupo fazem o registo de incidentes diários,

criando condições que, dia após dia, convidam a levantar hipóteses sobre a

funcionalidade da escrita e a dar sentido pessoal e social ao ato de ler e de escrever

(Garcia, 2010; Folque, 1999).

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Comum a todos os modelos é a tomada de consciência de que o educador deve

exercer um papel ativo no processo de ensino aprendizagem. Deve valorizar a

participação da criança, ouvindo-a e encorajando a comunicar, a expressar-se livremente

e a desenvolver o espírito crítico. Nas práticas educativas diárias é fundamental que

ajude a criança a apropriar-se da escrita, enquanto representação da linguagem oral,

inicialmente com os seus próprios rabiscos e, mais tarde, graças ao estímulo do meio e

às hipóteses que vai formulando, atendendo às formas gráficas convencionais. O

educador deve promover um clima de comunicação em que ele próprio seja um modelo

que forneça ocasiões que motivem ao diálogo, para que a criança vá dominando a

linguagem, alargando o seu vocabulário, construindo frases progressivamente mais

complexas, e se vá apropriando progressivamente das diferentes funções da linguagem e

adequando a sua comunicação a situações diversas (Kupcha-Szrom, 2011; Ministério da

Educação, 1997; Trehearne, 2003).

Um ano depois da publicação das OCEPE, a International Reading Association

(IRA) e a Nacional Association for the Education of Young Children, em 1998, através

do documento Learning to Read and Write: Developmentally Appropriate Practices for

Young Children enfatizam a necessidade de práticas planeadas atendendo aos interesses,

necessidades e idade das crianças e que sejam fundamentadas na investigação e em

evidências empíricas sobre a apropriação que a criança faz da linguagem e da literacia.

As conceções e atitudes do educador face a essa apropriação podem fazer uma grande

diferença em todo o processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

A publicação de Kennedy e colaboradores (2012) compila os resultados de um

conjunto de estudos com abordagens eficazes na promoção da leitura entre os 3 e 8 anos

de idade. De acordo com os autores, os resultados mostram que: a) uma abordagem

explícita à linguagem oral melhora os desempenhos das crianças ao nível do

conhecimento lexical e sintático, da consciência fonológica e das conceções sobre o

impresso; b) as crianças mais jovens, dos vários grupos socioeconómicos, são as que

mais beneficiam das intervenções e, c) promover um conjunto de processos cognitivos a

partir da leitura, como recontar, localizar partes da história, interpretar e criticar é uma

tarefa eficaz na promoção da literacia emergente. Ainda de acordo com os autores, os

professores devem criar momentos envolventes e motivadores em torno da leitura que

incluam textos que vão ao encontro dos gostos e interesses das crianças e que sejam

selecionados por elas.

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A ação do educador tem ainda implicações no desenvolvimento literácito da

criança por vias mais indiretas. Num estudo realizado por Dobbs-Oates e colaboradores

(2011), realizado com crianças e respetivos educadores de infância que desenvolviam

atividades no âmbito de programas desenhados para uma população em risco, procurou-

se investigar a relação entre as estratégias de disciplina dos educadores de infância, a

orientação das crianças para a tarefa e o desenvolvimento da linguagem e de

competências de literacia emergente. Os autores concluíram que o desenvolvimento da

linguagem e da literacia emergente em idade pré-escolar pode acontecer com diferentes

abordagens, mas que depende das estratégias de disciplina e de gestão dos

comportamentos por parte dos educadores de infância e da orientação das crianças para

a tarefa. Nas salas bem geridas as crianças com forte orientação para a tarefa

aprenderam muito mais nos domínios da linguagem e literacia emergente. Contudo,

apesar desta correlação, as crianças com menor orientação para a tarefa evidenciaram

um desenvolvimento da linguagem mais pobre independentemente da gestão do

comportamento feito da sala de aula. Isto sugere que colocar as crianças em salas de

elevada qualidade pode não ser uma intervenção suficiente se as crianças não tiverem

orientação para a tarefa. Os autores invocam as pesquisas desenvolvidas no âmbito do

modelo transacional sobre o desenvolvimento das crianças para concluir que o

comportamento da criança e o comportamento do adulto têm contributos bidirecionais e

interativos.

A lado da dimensão social da literacia emergente, outras dimensões como a

comportamental, a emocional e a cognitiva são críticas para a aprendizagem bem-

sucedida da leitura e da escrita. Poder-se-á considerar na dimensão comportamental o

grau de investimento da criança no processo de desenvolvimento literácito incluindo o

nível de esforço, concentração e persistência. Na dimensão emocional, as respostas

afetivas da criança às atividades e experiências proporcionadas podem variar de entre

respostas positivas (quando se demonstra interessada, curiosa, feliz), a respostas

negativas (quando demonstra tédio, ansiedade, alienação…). Na dimensão cognitiva

elementos como a motivação e estratégias metacognitivas para sustentar o esforço

necessário à aprendizagem são também variáveis a considerar (Kennedy, et al., 2012).

Sameroff e Chandler (1975) consideram que o impacto dos fatores biológicos e

sociais é mútuo e sofre mudanças ao longo do tempo. Para os autores a criança modifica

o seu ambiente e, por sua vez, é modificada pelo ambiente onde vive (Sameroff &

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Chandler, 1975). Esta perspetiva do desenvolvimento humano trouxe grandes

contributos para o campo da intervenção na medida em que se a mudança de um

comportamento é resultado de um conjunto de transações complexas, uma intervenção

com vista à mudança do comportamento da criança deverá ser também ambiental

(Serrano, 2007).

2. PROMOÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E DA LITERACIA

EMERGENTE

A aprendizagem da leitura e da escrita começa bem antes de se aprender

formalmente a ler e escrever e há um conjunto de competências que são facilitadoras

dessa aprendizagem (por exemplo, Cabell et al. 2011; Lonigan, Allan, & Lerner, 2011;

Lonigan, et al., 2013; Viana, 2006b; Whitehurst e Lonigan, 1998). De acordo com

Viana (2006b, 2014) e Foorman e colaboradores (2002) há três grupos de variáveis que

estão na base de uma aprendizagem da leitura e escrita bem-sucedida: a) a linguagem

oral; b) conhecimentos prévios sobre a linguagem escrita e; c) a motivação para ler.

a) Linguagem Oral

A linguagem é um fator de desenvolvimento humano e o seu domínio é essencial

para o bom desempenho em sociedade, seja para expressar quem somos, para trocar

informações e experiências, conhecer e organizar a realidade, formatar pensamentos e

até aceder a poder ou reclamar direitos. A linguagem oral, a leitura e a escrita são

práticas sociais de inquestionável valor, mas nem todos conseguem realizar com

sucesso a aprendizagem das duas últimas. Talvez porque, ao contrário da linguagem

oral, a vertente escrita da língua não se adquira naturalmente. Pelo contrário, requer uma

aprendizagem explícita e formal. Uns conseguem, sem grande esforço, aceder à leitura e

à escrita, enquanto outros, devido a fatores intrapessoais, interpessoais e contextuais

(Citoler & Sanz, 1993) experimentam grandes dificuldades.

No âmbito do paradigma da literacia emergente há, porém, um conjunto de bases

percursoras das formas convencionais de leitura e escrita (Whitehurst & Lonigan,

1998), as quais devem ser exploradas na criança desde as idades mais precoces,

nomeadamente as que estão relacionadas com o conhecimento linguístico e o seu

processamento. A linguagem oral parece desempenhar um papel muito importante na

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aprendizagem da leitura e escrita, enquadrando-se entre as variáveis com maior valor

preditivo para o seu sucesso. Em Viana (2002a) destacam-se quatro dimensões da

linguagem oral com esse valor: a) o conhecimento lexical; b) o conhecimento

morfossintático; c) a memória auditiva para material verbal e; d) a capacidade de refletir

sobre a língua.

O conhecimento lexical é uma das bases linguísticas mais importantes a

desenvolver durante o período pré-escolar (Foorman et al., 2002; Nation et al., 2004;

Ouellette, 2006; Verhoeven & Leeuwe, 2008; Viana, 2002a; Viana, 2006a; Whitehurst

& Lonigan, 1998). Para Viana (2006a) há duas grandes razões que conferem

importância ao conhecimento lexical enquanto competência necessária à aprendizagem

formal da vertente escrita da língua. Por um lado conhecer uma palavra que se vai ler

facilita o acesso à forma fonológica dessa palavra, por outro, facilita a compreensão do

que é lido.

O estatuto socioeconómico parece ser uma variável com impacto substancial no

desenvolvimento lexical (Morgan & Goldstein, 2004; Orçan & Çiçekler, 2012). As

crianças provenientes de contextos desfavorecidos demonstram mais dificuldades em

tarefas relacionadas com o discurso, tais como fazer explanações e definições formais,

recontar histórias, relatar acontecimentos pessoais e produzir narrativas coerentes. As

crianças com um vocabulário mais alargado apresentam maior facilidade na aquisição

de novas palavras do que as crianças que têm vocabulários mais limitados (Fernandes,

2005). Parece haver correlação entre as experiências das crianças em idade pré-escolar,

as suas competências linguísticas e o modo como posteriormente se relacionam com a

escola, tornando-se essa correlação positiva quando são promovidas interações e

capacitados os contextos nos quais a criança interage e com os quais a criança

estabelece ligações diretas (Dickinson & Tabors, 1991; Morgan & Goldstein, 2004).

As palavras são instrumentos básicos da linguagem e a aquisição de novos

vocábulos ocorre durante a participação em interações sociais e linguísticas (Lentin,

1981; Pinker, 1994; Sim-Sim, 1998). Lentin (1981) considera ser fundamental falar à

criança, deixá-la falar e fazê-la falar para promovermos o uso ativo da linguagem. O

período que precede à entrada na escola é um período particularmente sensível para a

expansão lexical, pelo que os contextos em que as crianças se movem são de capital

importância (Sim-Sim, 1998).

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A dimensão lexical é importante, mas não suficiente para o domínio de uma

língua. É necessário também saber como as palavras se podem organizar para formar

estruturas compreensíveis (Correa, 2004; Viana, 2006a, 2006b; Wong Fillmore &

Valadez, 1986). Wong Fillmore e Valadez (1986) sublinham que a compreensão da

leitura envolve muito mais do que a leitura de palavras individuais. Para ler um texto a

criança precisa de aplicar o conhecimento da língua em geral e o conhecimento da

língua implica o conhecimento da morfossintaxe (Gabriele, Troseth, Martohardjono, &

Otheguy, 2009; Viana, 2006b). A criança precisa, assim, de ter um bom domínio

morfossintático para saber que combinações são permitidas e possíveis na sua língua

(Viana, 2006b).

A memória auditiva para material verbal é uma competência que desempenha

um importante papel na aprendizagem da leitura e escrita. Esta competência traduz-se

na capacidade armazenar a informação transmitida através da linguagem pelo período

de tempo necessário ao seu processamento e extração de sentido. Ao nível da leitura a

memória auditiva ajuda a criança a reter a informação transmitida nas frases pelo tempo

necessário para que perceba o sentido do texto (Viana 2004; 2006b). Falhas ao nível da

memória auditiva para material verbal podem originar falhas ao nível da aprendizagem

da leitura e da escrita (Capellini, Germano, & Cardoso, 2008).

A capacidade de refletir sobre a língua é outra capacidade que contribui para o

desempenho bem-sucedido na leitura e na escrita. Dentro deste grupo de competências

tem sido atribuída grande importância à consciência fonológica. A identificação dos

sons que integram as palavras é uma das competências que a investigação tem mostrado

estar fortemente correlacionada com a aprendizagem da leitura, na medida em que a

aprendizagem da leitura nas línguas de escrita alfabética assenta na correspondência

entre sons e letras.

Muitos estudos têm vindo a conceptualizar e a analisar os contributos da

consciência fonológica para a aprendizagem da leitura e da escrita (Cabell et al., 2011;

Girard & Girolametto, 2013; Haney & Hill, 2004; Juel, 1988; Mason & Stewart, 1990;

Plaza & Cohen, 2003; 2004; Sénéchal et al., 2001; Whitehurst & Lonigan, 1998; Wood

& Terrell, 1998). Por sua vez, o domínio da leitura e da escrita é considerado

fundamental para outras áreas do currículo, entre as quais a matemática e as ciências

(Savage, Carless, & Ferraro, 2007).

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Na literatura encontramos diversidade nas definições de consciência fonológica.

Por exemplo, no estudo de Whitehurst & Lonigan (1998) a consciência fonológica é

conceptualizada como fazendo parte do domínio de competências inside-out da literacia

emergente. Neste domínio encontramos informação intrínseca às palavras e

competências que requerem que a criança conheça as regras da tradução do impresso

para a produção oral, no sentido de descodificar os sinais gráficos em cadeias sonoras.

Em Mason & Stewart (1990) a consciência fonológica é apresentada como uma

competência específica que, constituindo um dos quatro componentes que integram o

construto de literacia emergente – o conhecimento das letras e palavras – é tida como

competência metalinguística que supõe a capacidade de manipular os sons das palavras.

Há aspetos da consciência fonológica que antecedem e facilitam a aprendizagem

da leitura e há outros, mais complexos, que se desenvolvem com essa aprendizagem.

Isto é, por um lado a consciência fonológica promove a aprendizagem da escrita e, por

outro, a leitura e a escrita promovem a consciência fonológica, particularmente a

consciência fonémica. Sobre os níveis de consciência fonológica que facilitam o sucesso

na leitura e na escrita a literatura refere que a consciência silábica em particular a

capacidade de segmentação e manipulação silábica é essencial, sendo, por isso,

fundamental que esteja consolidada à entrada para a escola (Adams, 1994; Sim-Sim,

1998; Viana, 2006b).

As crianças que vivem em contextos socioeconómicos desfavorecidos

apresentam, no geral, níveis inferiores de sensibilidade à estrutura fonológica da língua

e, consequentemente défices nos níveis de desempenho de leitura quando comparadas

com crianças provenientes de contextos menos desfavorecidos (Bowey, 1995; Gamelas,

Leal, Alves, & Grego, 2003). No entanto, vários outros estudos têm vindo a demonstrar

que a consciência fonológica pode ser trabalhada por intermédio de tarefas

intencionalmente planificadas para o efeito (Adams, 2001; Lonigan, et al. 2013; Stahl,

2001). O estudo de Lonigan e colaboradores (2013), desenvolvido com crianças pré-

escolares em risco de fracassar na aprendizagem da leitura e da escrita, demonstrou uma

clara vantagem das crianças que participaram em atividades de instrução explícita e

focada de consciência fonológica. E, tal como os autores sugerem, é digno de nota o

facto de os efeitos obtidos serem resultado de não mais do que 20 minutos diários de

atividades de instrução focalizada.

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O papel da consciência morfológica na aprendizagem da leitura e da escrita tem

vindo a resgatar um crescente interesse na investigação (Carlisle, 1995, 1996, 2000;

Mota, 2008, 2009; Mota, Aníbal & Lima, 2008). Entende-se por consciência

morfológica a capacidade de refletir sobre o processo de formação de palavras e

manipular intencionalmente a estrutura morfológica da língua (Carlisle, 2000; Viana,

2006b).

Sabe-se também que a consciência sintática tem uma relação significativa com a

aprendizagem da leitura e escrita (Copovilla, Copovilla & Soares, 2004; Demond &

Gombert, 1996; Demond, 1997; Turnmer, Nesdale, & Wright, 1987). Por consciência

sintática entende-se a capacidade para refletir e manipular mentalmente a estrutura

gramatical da língua (Bublitz, 2010). Um dos primeiros estudos a incidir na sua relação

com as habilidades de leitura foi desenvolvido na década de 80, do século XX, por

Turnmer, Nesdale e Wright (1987). De acordo com os resultados deste estudo as

crianças mais novas e que eram boas leitoras obtiveram melhores resultados nas tarefas

de consciência sintática do que as crianças mais velhas, os maus leitores. Estudos

subsequentes conferiram algum suporte empírico à hipótese de que a consciência

sintática influencia tanto o desempenho das crianças em tarefas de descodificação como

em tarefas de compreensão leitora (Craig, Connor, & Washington, 2003; Gabriele,

Troseth, Martohardjono, & Otheguy, 2009; Plaza, 2001; Plaza & Cohen, 2003, 2004;

Rego & Bryant, 1993; Rego, 1995; Turnmer, Herriman, & Nesdale, 1988). A

consciência sintática facilita o uso de pistas semântico-sintáticas, facilita o

reconhecimento de palavras perante dificuldades na descodificação e, sobretudo, a

compreensão dos textos e extração de sentido.

b) Conhecimentos prévios sobre a leitura e escrita

Se a criança aprende a falar ouvindo falar e falando, aprende a ler ouvindo ler e

lendo (Mata, 2008; Viana, 2002a; Viana, 2006b). São as experiências com o impresso

que alavancam, na criança, a curiosidade de saber o que é o impresso, como funciona e

para que serve, preparando caminhos que facilitam a entrada na complexa atividade de

aprender a ler e a escrever.

Em contacto com a escrita compreendem que o que falam se pode escrever, que

a escrita perpetua a oralidade e que tem regras próprias. Em contexto de questionamento

sobre a escrita as crianças começam a criar as suas próprias escritas que, apesar de

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inicialmente não se regerem pelas regras convencionais, são de extrema importância em

todo processo e apropriação, pois refletem o modo como a criança se está a apropriar da

linguagem escrita (Alves Martins & Silva, 2001; Mata, 2008; Vasconcelos Horta &

Alves Martins, 2011). É pelo princípio alfabético, ou seja, pela compreensão de que as

letras "representam" os sons da fala, que a criança acede à leitura e à escrita (Viana

2006a).

O processo de apropriação do princípio alfabético desenvolve-se por níveis

(Mata, 2008; Teberosky, 2000), partindo de um nível em que a criança não estabelece

relações entre a linguagem oral e a escrita até um nível em que todos os sons são

codificados (Horta, 2012). Tal como afirma Mata (2008) "consoante as oportunidades

para interagir, brincar e refletir sobre a escrita, as crianças vão progredindo nas suas

concetualizações" (p. 39), resolvendo os conflitos cognitivos que surgem da interação

com o impresso.

A primeira hipótese reveladora do relacionamento entre o oral e o escrito é

designada hipótese silábica. Silábica porque a criança identifica as sílabas e faz

corresponder a cada sílaba uma letra ou pseudo letra. Nesta altura, e muito graças aos

estímulos que o meio ofereceu, a criança já ultrapassou a fase da indiferenciação entre

desenho e escrita e a hipótese de que para transmitir significado ou ser lida uma palavra

deve ter um número igual ou superior a três letras (princípio da quantidade mínima) que

têm de ser diferentes (princípio da variedade). Percebeu ainda que a extensão das

cadeias gráficas nada tem a ver com as propriedades dos objetos que representam

(hipótese do referente) mas com o tempo que as palavras demoram a ser ditas (Batista,

Viana & Barbeiro, 2011). Outros níveis de apropriação da escrita se seguem mas, de

acordo com Baptista e colaboradores "a hipótese silábica é suficiente e resolve uma

grande parte dos problemas das crianças que querem escrever. Chegada a este nível de

conhecimento sobre o impresso, a atenção da criança que quer fazer um registo escrito

passa a dirigir-se, de um modo mais sistemático, para os sons das palavras" (p. 29).

c) Motivação para ler

Paralelamente a todos os conflitos cognitivos que o contacto com o impresso

desencadeia, as crianças que desde cedo se envolvem na utilização da linguagem escrita

e que veem outros a ler e a escrever têm mais probabilidades de cultivar a vontade de

participar em acontecimentos de leitura e escrita (Mata, 2008; Viana, 2006b). As essas

interações agradáveis em torno da palavra escrita levam a criança a atribuir valor e

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importância à leitura e a desenvolver um projeto pessoal de leitor (Mata, 2008; Viana &

Martins, 2009), aspetos extremamente importantes na motivação para ler (Viana,

2006b).

Uma das formas mais eficazes de criar experiências de leitura agradáveis e de

desenvolver atitudes positivas face à leitura é através da leitura de histórias. Se, por um

lado, esta atividade permite o desenvolvimento da linguagem oral pela riqueza

linguística que proporciona (Lonigan et al. 2013; Sénéchal & LeFevre, 2001), por outro

lado é também uma forma privilegiada de envolver as crianças não leitoras na leitura e

de as captar pela via dos afetos para o ato de ler e escrever. Daí as enormes

potencialidades que esta atividade possui a nível linguístico, cognitivo e afetivo

(Morais, 2007). É uma atividade que deve ser desenvolvida com regularidade para

permitir uma multiplicidade de interpretações sobre o texto, essencial para desenvolver

na criança atitudes reflexivas e novos conhecimentos sobre a realidade (Pereira, 2002).

O livro é uma porta aberta para o conhecimento do mundo, mas é também uma

porta para o conhecimento do leitor ouvinte. Para Mata (2008), o potencial da leitura de

histórias decorre de um conjunto de aspetos que resultam das vivências que ocorrem

durante o momento de leitura. É essencial, de acordo com a autora, a) proporcionar

oportunidades para ouvir leitura fluente, não só para facilitar a compreensão do texto

mas também para despertar o interesse da criança pela atividade; b) fornecer modelos de

leitores envolvidos, pela transmissão de gosto pela leitura demonstrando à criança como

e para que se lê; c) alargar experiências, a partir do potencial imensurável e

diversificado do livro para o mundo, atendendo aos interesses e necessidades da criança;

d) desenvolver a curiosidade pelo mundo, a partir de um conjunto de estratégias desde o

momento que antecede a leitura ao momento posterior de exploração de modo a

despertar o interesse e curiosidade da criança; e) aprender comportamentos de leitor, a

partir das atitudes do adulto face à leitura que mais tarde a criança imitará de modo cada

vez mais sistemático; f) apoiar no desenvolvimento de conceitos sobre a escrita, de

forma lúdica mas intencional (pp. 77-80).

Um tópico de interesse sobre o livro diz respeito à sua seleção. O livro tem de

seduzir o leitor, de modo a que este retire prazer na descoberta e extração de sentido

(Martins, 2009). Os critérios de seleção terão de atender aos gostos, aos interesses e ao

background da criança. Mas há outros aspetos relacionados com a adequação aos quais

é preciso atender: a) a competência linguística, b) a competência textual e, c) o

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conhecimento do mundo, sendo que "se houver uma conjugação favorável destes três

fatores a motivação para a leitura crescerá de forma exponencial" (Viana & Martins, p.

35).

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CAPÍTULO II

O PROGRAMA "DE MÃOS DADAS COM O LIVRO":

promoção da Linguagem Oral e da Literacia Emergente com Crianças de Etnia

Cigana e com Crianças provenientes de Contextos socioeconómicos desfavorecidos

"Os nossos conhecimentos constroem-se com o apoio de

quadros teóricos e metodológicos, lentamente elaborados,

que constituem um campo pelo menos parcialmente

estruturado, e esses conhecimentos são apoiados por uma

observação dos factos concretos" (Quivy & Campenhoudt,

1998, p. 20).

_____________________________________________________________________

1. QUESTÕES DA INVESTIGAÇÃO

Uma das questões de investigação que colocou desafios e motivou ao

desenvolvimento deste estudo relaciona-se com o facto de a educação ser apontada

como uma estratégia para a inclusão dos ciganos, no entanto a relação dos ciganos com

a escola é pautada por um afastamento que resulta em elevadas taxas de absentismo,

fraco índice de aproveitamento escolar e elevadas taxas de retenção.

Dos estudos analisados sobre populações em risco, nomeadamente sobre

minorias étnicas, os estudos sobre a população cigana são datados essencialmente a

partir dos finais do século XX e início do século XXI (Caré, 2010; Casa-Nova, 1999,

2001, 2002, 2004, 2005, 2006, 2008; Casanova, García-Linares, Torre & Carpio, 2005,

Cortesão, Stoer, Casa-Nova, & Trindade, 2005; Montenegro, 2012). Sobre os trabalhos,

pontuais, produzidos antes desse tempo Casa-Nova (2009) afirma que “embora sejam

trabalhos que revelam alguma curiosidade científica sobre o tema, não se constituíram

em trabalhos que efetivamente contribuíssem para o conhecimento e compreensão dos

processos de produção e reprodução cultural do grupo cigano” (p. 16). Uma possível

explicação para a escassa produção científica é a imagem negativa que a comunidade

cigana tem na restante sociedade. Geralmente a população cigana é encaixada num

grupo social desfavorecido com manifestações comunicativas problemáticas cujos

estilos de vida são determinados por normas morais instaladas pela tradição

(Smith,1997). Casa-Nova (2009) elenca um conjunto de hipóteses para a ausência

prolongada de investigação por parte dos académicos na área das Ciências Sociais

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(p.19), inclusive o reduzido prestígio desta temática junto dos cientistas sociais, com

grande dificuldade em estabelecer uma rutura com o senso comum e, a dificuldade em

aceder ao campo de investigação, com resultado na produção de conhecimentos

superficiais e estereotipados.

Os ciganos constituem um grupo étnico com um processo identitário singular,

definido historicamente, que os torna uma comunidade distinta de outros grupos da

sociedade devido às suas características culturais: a língua, a religião, os costumes, o

vestuário, a tradição (Castro, 2010; Monteiro, 2009). Estes traços distintivos separam-

nos da sociedade maioritária com quem partilham o mesmo macrossistema político e

económico. Além da língua, vestuário e tradições, a etnia cigana é ainda caracterizada

por numerosos êxodos muitas vezes ditados pelas leis de cada país. A lei portuguesa até

1974, por exemplo, impedia que as comunidades ciganas permanecessem mais do que

24 horas no mesmo local. Esta situação deveria ter sido alterada no pós 25 de abril com

a implementação do sistema democrático e a proclamação da igualdade nos direitos de

cidadania, contudo e tal como afirmam Magano e Mendes (2014, a referir Mendes, 2007

& Lopes e Fresnillo, 1995) "de forma recorrente, não só o senso comum, mas também

as instituições oficiais, continuam a classificá-los como «nómadas», acusando-os de

parasitismo social e económico, atribuindo-lhes comportamentos destrutivos do

´edifício social` ” (p. 17).

Em termos de políticas sociais temos assistido em Portugal àquilo que se designa

de tentativas de inclusão das comunidades ciganas levadas a cabo por instituições

públicas e privadas (Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas,

2012), muito no âmbito de um conjunto de iniciativas pouco específicas, na grande

maioria não direcionadas para a população cigana. Do conjunto de medidas criadas para

a integração das diversas minorias étnicas e, por inerência, da minoria cigana, destacam-

se: a) a criação em 1995 do ACIME - Alto Comissariado para a Imigração e Minorias

Étnicas - cuja designação foi alterada em 2007 para ACIDI - Alto Comissariado para a

Imigração e Diálogo Intercultural (Decreto-Lei n.º 167/2007, de 3 de maio), agora

designado de ACM - Alto Comissariado para as Migrações (Decreto-Lei n.º 31/2014, de

27 de fevereiro; b) o programa TEIP - Territórios Educativos de Intervenção Prioritária

- em vigor desde 1996, atualmente na sua terceira edição desde 2012, criado para

promover o sucesso educativo e combater o absentismo e abandono escolar precoce em

contextos sociais degradados ou marginalizados que, de acordo com a avaliação de

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impactos escolares e sociais em sete territórios educativos de intervenção prioritária

(Ministério de Educação, 2011) conseguiu uma redução importante dos índices de

abandono e de indisciplina em paralelo à melhoria das aprendizagens; c) a criação em

1999 do programa PIEF - Programa Integrado de Educação e Formação - alterado em

2012 para Programa de Apoio e Qualificação da Medida PIEF - Programa Integrado de

Educação e Formação (PAQPIEF), criado pelo Ministério da Educação e pelo

Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social com objetivo de proporcionar uma

nova oportunidade aos menores em risco de exclusão social por abandono escolar ou

exploração laboral para completarem a escolaridade obrigatória e conseguirem

certificação escolar e profissional (Diário da República, 1.ª série, n.º 171, 4 de setembro

de 2012); d) o Programa Escolhas criado em 2001 pela Presidência do Conselho de

Ministros e pelo ACIDI com o objetivo de promover a inclusão social das crianças e

jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos. Atualmente vai

na 5ª geração que finda a 31 de dezembro de 2015 e tem estabelecido protocolos com

consórcios de 113 projetos locais de inclusão social em meios mais vulneráveis, dos

quais 85 abrangem crianças e jovens ciganos (Magano & Mendes, 2014). Importa saber

que os impactos da 4ª geração incluem 9,776 reintegrações em escola, formação e

emprego de jovens anteriormente desocupados e 86,7% de sucesso escolar global no

ano letivo de 2011/2012.

Medidas específicas para a população cigana são essencialmente: a) a criação,

em 1996 pelo atual ACM, do Grupo de Trabalho para a igualdade e inserção dos

ciganos, considerada como a primeira medida implementada em Portugal para

“assegurar que os portugueses de origem cigana fossem reconhecidos como cidadãos”

(António Guterres citado por Casa-Nova, 2009, p. 23); b) a criação do Gabinete de

Apoio às Comunidades Ciganas (GACI) pelo ACIDI, em 2006, cuja missão se estrutura

em torno do diálogo intercultural, da promoção da educação, cultura e cidadania e do

apoio à capacitação (Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas,

2013-2020); b) a criação do Projeto Mediadores Municipais, em 2009, em consequência

de algumas experiências positivas com consultores ciganos desenvolvidas pelo GACI.

Os mediadores têm lugar em diversos municípios do país a fim de estabelecer uma

mediação entre as comunidades ciganas e a restante população; e c) a Estratégia

Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas (ENICC), em 2013, no contexto

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de um conjunto de orientações europeias, assente em cinco áreas prioritárias, entre as

quais a educação e o emprego.

Os estudos revelam que, apesar do conjunto de políticas sociais com vista à

integração das comunidades ciganas, permanecem ainda falta de oportunidades,

comportamentos de intolerância social e a falta de poder económico que subtilmente

segregaram e marginalizaram a etnia cigana, colocando-a num patamar de dificuldade

em aceder ao exercício de uma cidadania plena (Pinto, 2000; Plano Nacional para a

Inclusão, 2008-2010). Estamos perante um conjunto de políticas que na sua maioria são

pautadas por atuações pouco ou nada focadas nas especificidades dos ciganos,

estereotipando formas de atuação e negligenciando as potencialidades da diferença.

Talvez seja importante considerar que nas várias formas de atuação social a promoção

da igualdade deva assentar na diferenciação.

A educação, ao lado do emprego, é apontada como uma das áreas mais

carenciadas para a qual é imprescindível um impulso acrescido com vista à promoção

do empowerment das comunidades ciganas (Almeida, 2010; Estratégia Nacional para a

Integração das Comunidades Ciganas, 2012). No entanto, a relação dos ciganos com a

escola é pautada por um afastamento secular que ultrapassa as fronteiras de um país

(Casa-Nova, 2006). O resultado são as elevadas taxas de absentismo (Casa-Nova, 2006;

Observatório Sociodemográfico das Comunidades Ciganas, 2010) que culminam em

grande medida num fraco índice de aproveitamento escolar. No estudo de Casa-Nova

(2006) as elevadas taxas de retenção nos anos de 2001/02 e 2004/05 deveram-se,

essencialmente, ao elevado absentismo escolar e não às eventuais dificuldades de

aprendizagem. Em 122 alunos ciganos matriculados em 2001/02 no 1.º ciclo, 68 (56%)

ficaram retidos, dos quais 58 (85,3%) por absentismo (p. 6). Os números dizem ainda

que a taxa de retenção por absentismo aumentou nos anos letivos seguintes.

A etnia cigana é a minoria étnica que mantém mais crianças fora da escola

(Pereira Bastos, 2007). Com a aplicação da medida social Rendimento Mínimo

Garantido, atual Rendimento Social de Inserção, a presença das crianças ciganas

assumiu maiores proporções na escola portuguesa devido à obrigatoriedade em

frequentar esse contexto como condição para o apoio social (Caré, 2010). No entanto a

obrigatoriedade, por si só, não promove a frequência e o sucesso escolar. De acordo

com a investigação (Casa-Nova, 2006; Cortesão, et al. 2005; Liégeois, 2001) estamos

perante dois mundos estruturalmente distintos, um que valoriza o que se transmite

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oralmente e o saber que advém das atividades quotidianas, garantia da vida social e

cultural do povo, e outro, maioritário, que sublinha o saber letrado e erudito, transmitido

pela escrita e consolidado no pensamento abstrato. O encontro de ambos no contexto

escola gera diferenciação em termos de papéis que a criança é convidada a desempenhar

(Casa-Nova, 2006). Há mesmo, de acordo com Liégeois (2001), um desfasamento entre

a pedagogia utilizada na escola e a pedagogia utilizada na família, sendo que a entrada

da criança cigana para escola é sinónimo de rutura com os seus modos de vida e com os

modos de ser Cigano. O resultado poderá ser um choque cultural que provoca

desorientação na criança devido à incapacidade de responder adaptativamente às

mensagens contraditórias de ambos os contextos, pesando mais para a família a lógica

do discurso, pois o valor da família para os ciganos é inquestionável (Mischi, 2011;

Guerra, 2012) e a escola, sem expectativas em relação aos alunos ciganos e repleta de

falsas representações, aumenta ainda mais o fosso instalado. Da experiência inadaptada

da criança cigana com a escola resultam um conjunto de estratégias de coping, entra as

mais comuns, luta: resistência e atitudes deliberadas de desafio à autoridade; voo,

afastamento e ausência por longos períodos da escola; jogo branco, usado pelos ciganos

para camuflarem as suas tradições (Derrington, 2007).

Quando as famílias de etnia cigana aceitam a escolarização, muito devido à

recente consciência de que as alterações no mundo de trabalho exigem educação

literácita para poderem encontrar emprego, o intervalo de tempo dedicado à escola é

muito reduzido, havendo uma mentalidade orientada em grande medida para a obtenção

do 4.º ano (Pereira Bastos, 2007), numa perspetiva que valoriza unicamente um

conjunto de aspetos práticos e a aprendizagem da leitura, escrita e de alguns cálculos

matemáticos (Dias, Alves, Valente & Aires, 2006). A frequência de contextos de

educação pré-escolar é ainda mais improvável devido ao estatuto de bebé que a criança

cigana tem, até muito tarde. Com a sua entrada tardia no contexto de educação formal

perde experiências de socialização e de aprendizagem de um conjunto de competências

nomeadamente competências cognitivas e de linguagem e literacia emergente que

promovem o sucesso da aprendizagem posterior (Santos, 2006).

Nesta questão sobre a educação das crianças ciganas e percursos associados,

convém considerar que "não se pode explicar de um modo simplista, esteriotipado y

unilateral - «Som más ignorantes; Las familias de clase social baja tienen menos visión

de futuro, son menos capaces de proponerse objetivos a largo plazo; Valoran menos la

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educación, Se da una excesiva discrepancia entre los valores de la escuela y los de su

entorno familiar...» " (Abajo Alcade, 2004, p. 101). O insucesso deve-se, acima de tudo,

ao mal-estar que a criança cigana vive, fruto do duplo vínculo que Abajo Alcade (2004),

convocando Gregory (1992), definiu como uma situação em que a criança é alvo

simultaneamente de mensagens contraditórias de uma pessoa ou grupo de pessoas,

tornando-se incapaz de encontrar uma lógica na mensagem e de responder

adaptativamente, acabando por desvincular-se, pois interiorizou a ideia de que seja qual

for a situação acabará sempre por fracassar. Naturalmente existem fatores culturais e

sócio económicos que condicionam as vivências das crianças na escola, no entanto

Abajo Alcade (2004) pretende alertar para a necessidade de ultrapassar o determinismo

sociológico que marca de modo muito visível a etnia cigana.

O aprender fazendo que alguns modelos curriculares valorizam para uma

educação de qualidade da criança, um saber que aponta para a vida ativa, para a

aprendizagem pela ação, para práticas concretas, que são úteis, parece ser uma

estratégia para cativar as crianças ciganas a frequentarem a escola, pois é a elas que é

muitas vezes atribuído o poder de decisão de ir, ou não à escola, tornando-se claro que

deverá ser a partir delas que as estratégias devem perspetivar impactos. A partir do

estudo acima referido de Casa-Nova (2006), podemos questionar-nos sobre as razões do

absentismo que está na origem da maioria das retenções. Por que razão (razões) as

crianças ciganas não vão à escola? O que é que lá se trata que não as cativa? Quando se

pretende travar as elevadas taxas de absentismo não será porventura mais fácil

promover a vinda das crianças ciganas à escola se as mesmas se identificarem com os

conteúdos abordados, se o currículo valorizar a aprendizagem ativa, o saber concreto e

ainda respeitar a necessária diferenciação pedagógica? O insucesso gera abandono, ao

contrário, experiências bem-sucedidas tendem a ser repetidas.

Em 1996, por Despacho, foram criados e implementados currículos alternativos

(Despacho nº 22/SEEI/96, de 19 de junho), com vista ao combate do abandono e

insucesso escolares. Mas esses currículos, de acordo com Casa-Nova (2002, 2004)

levaram a que os alunos referenciados não fossem integrados mas inseridos no sistema

educativo. A própria designação alternativo acarreta em si uma ideia de subalternidade

em relação ao currículo padrão. A mesma autora considera as potencialidades de

currículos equivalentes em vez de alternativos numa perspetiva de reconhecimento das

diferenças e de igualitarização do sucesso académico. Um currículo equivalente

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constrói-se, por exemplo, através da consagração em lei do ensino nas escolas da língua

materna dos alunos imigrantes e provenientes de minorias étnicas. No caso dos ciganos,

a mistura do Romani, a língua cigana, com o Caló, o dialeto dos ciganos da Península

Ibérica, e com o do português é muitas vezes objeto de interpretações erradas sobre o

desempenho linguístico das crianças ciganas, desvirtuando as potencialidades do seu

desempenho. Uma vez mal considerada esta possibilidade, nomeadamente no D.L

6/ME/2001, poderá revelar-se interessante, no quadro de novas políticas orientadas para

o reconhecimento e respeito pelas diferenças culturais e para a promoção do sucesso

académico, que os governantes portugueses refletiam sobre as potencialidades do ensino

da língua materna, possivelmente concretizando as potencialidades do bilinguismo na

escola pública e garantindo outras condições para a promoção do sucesso educativo

destas comunidades.

Outra das questões de investigação deste estudo é que, do ponto de vista do

desenvolvimento, a promoção de competências deve começar cedo, em idade pré-

escolar, altura em que as crianças podem verdadeiramente beneficiar de intervenções de

qualidade por estarem num tempo crítico de desenvolvimento. No entanto, os projetos

de intervenção comunitária com vista à inclusão escolar destinam-se essencialmente a

crianças que frequentam o 1.º ciclo de escolaridade.

É em idade pré-escolar que as crianças devem desenvolver um conjunto de

conhecimentos que irão mobilizar, mais tarde, na construção do conhecimento literácito

e a facilidade que terão em fazê-lo, no 1.º ano de escolaridade, é condicionada pelas

experiências vividas na educação pré-escolar (por exemplo, Cruz, 2011; Fernandes,

2005; Kendeou, Broek, White, & Lynch, 2009; Vellutino & Scanlon; 1987). São as

crianças provenientes de contextos mais desfavorecidos do ponto de vista

socioeconómico que são as mais vulneráveis devido, em grande medida, às parcas

experiências de vida que têm. No entanto, podem ter percursos de vida de sucesso se

beneficiarem de intervenções de qualidade em momentos críticos do seu

desenvolvimento (Cabell, et al, 2011; Lonigan, et al. 2013; Mol & Bus, 2011; Sénéchal,

LeFevre, Thomas, & Daley, 1998; Sim-Sim, Silva, & Nunes, 2008; Viana & Martins,

2009).

Estas questões de investigação criaram o desafio de desenhar um projeto de

intervenção que começou a ser imaginado na sequência de um pequeno estudo

exploratório desenvolvido com a colaboração dos técnicos do projeto T3tris e do

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sistema itinerante brag@brinca. O projeto t3tris é um dos 110 projetos de âmbito

nacional, integrados no Programa Escolhas, com vista à inclusão social das crianças e

dos jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, em particular,

os descendentes de imigrantes e de minorias étnicas (Resolução do Conselho de

Ministros n.º 68/2012). São projetos de intervenção comunitária, na sua maioria junto

das comunidades ciganas de Norte a Sul de Portugal, em cinco áreas estratégicas de

intervenção, uma das quais a inclusão escolar. Admitem nesta área ações de combate ao

abandono escolar precoce, de promoção do sucesso escolar e, de corresponsabilização

das famílias (ibidem), mas os participantes diretos são crianças e jovens com idades

compreendidas entre os 6 e os 24 anos, em situações reveladoras de vulnerabilidade

social (Despacho normativo n.º 17/201), negligenciando-se a necessidade de intervir

mais cedo, ainda em idade pré-escolar, numa ótica de promoção e prevenção.

No âmbito particular de ação do projeto T3tris, são cada vez mais as crianças em

idade pré-escolar a procurar o sistema itinerante para interagirem com as pessoas e os

materiais. Esta afluência cria, junto dos técnicos, a necessidade de conhecer quais as

competências a promover, essenciais à futura e tão desejada inclusão escolar na idade

em que a criança pode retirar as maiores vantagens da intervenção. De acordo com a

National Strategy to Improve Literacy and Numeracy among Children and Young

People 2011-2020 um dos aspetos fundamentais a considerar é "greater attention to the

development of literacy in preschool / early care settings, including increased standards

for caregivers in these settings" (Kennedy, et al., 2012).

Faria de todo sentido, deste modo, desenhar uma intervenção para essas crianças

pré-escolares que frequentam o sistema itenerante brag@brinca, indo ao encontro delas

e dos seus mundos de vida, numa perspetiva de promoção de competências essenciais

ao futuro sucesso académico. No entanto, as elevadas taxas de absentismo e abandono

escolares, altamente explicáveis pelo mal-estar que a criança cigana vive na escola,

alertam-nos para a necessidade de desenhar intervenções capazes de agir ao nível da

criação de vínculos afetivos e efetivos (Abajo Alcade, 2004). Por exemplo, desafiando a

escola a ir ao encontro da criança cigana e da sua cultura, através da valorização dos

seus pontos fortes, dissipando o receio de discriminação, de desrespeito e

estigmatização, de modo a que a interação com a escola não seja sinónimo de perda da

identidade cultural do povo cigano.

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Em Portugal, dentro no paradigma do novo quadro da UE para as estratégias

nacionais de integração dos ciganos até 2020, adotado pela Comissão Europeia, com

vista a práticas efetivas nos vários Estados-Membros, têm sido aprovados programas de

intervenção junto destas populações. Por exemplo, com vista à inclusão social de

crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos, muitas delas de

etnia cigana, o Programa Partis da Fundação Calouste Gulbenkian foi criado para

apoiar projetos que tenham como finalidade promover a integração social através da arte

- música, fotografia, teatro, dança e circo - de grupos distintos que geralmente não

interagem. Contudo, os projetos que têm sido financiados pelo Partis abrangem várias

faixas etárias mas não têm contemplado a idade pré-escolar.

A nível Europeu, o Projeto SEDRIN (School Education for Roma Integration)

foi desenhado com o objetivo de ajudar as crianças ciganas a completarem o ensino

primário, combatendo as elevadas taxas de abandono escolar precoce, pois um dos

grandes obstáculos ao sucesso académico que a literatura descreve é a dificuldade da

criança cigana se integrar no contexto escolar (Abajo Alcade, 2004; Liégeois, 2001).

Para promover o sucesso das crianças ciganas apostam na formação das mães, treinadas

durante vários workshops para preparem os filhos para a escola, desde a idade pré-

escolar até aos primeiros anos de escolaridade. Ao nível da idade pré-escolar a ação das

mães passa por informar as crianças sobre o que é a escola, desmistificando muito do

que se diz sobre a mesma. De acordo com o referencial do projeto "mesmo sendo uma

prioridade reconhecida, pouco foi feito até agora relativamente à educação pré-escolar

das crianças ciganas e à luta contra o abandono precoce." Consta-se que as crianças

continuam em casa, junto das suas famílias, atrasando a integração num novo contexto

de educação, sem socializarem com outras crianças, sem explorarem uma multiplicidade

de materiais, sem criar vínculos com pessoas não ciganas, sem ganharem confiança em

relação à escola e sem desenvolverem um conjunto de competências importantes para a

integração social e para o sucesso da etapa subsequente (1.º ciclo).

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2. RACIONAL DO PROGRAMA

A definição dos objetivos e o desenho deste estudo foram realizados tendo em

conta um conjunto de assunções sobre o desenvolvimento da literacia emergente em

crianças em risco, resultantes da revisão teórica compilada nos tópicos do capítulo

anterior:

a) A educação é apontada como a área de intervenção mais necessária para aceder

ao exercício de uma cidadania plena e uma das áreas mais carenciadas no quadro

da realidade de vida cigana (Almeida, 2010; Mendes e Magano, 2014; PNAI,

2008-2010; Pinto, 2000). Apesar das inúmeras políticas sociais para as minorias

étnicas em geral (Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades

Ciganas, 2012) permanecem, talvez devido à falta de medidas específicas para a

população cigana, dificuldades desta aceder ao emprego, de obter poder

económico e de concretizar a inclusão social. As elevadas taxas de absentismo e

de insucesso escolar alertam-nos para a necessidade de intervenções menos

universalistas, que se foquem na criança e nos seus sistemas de vida mais

imediatos, criando condições que favoreçam respostas adaptativas através da

promoção de um conjunto de fatores que Guerra (2012) designou fatores

facilitadores da continuidade dos ciganos na escola (pp. 16-18). Interações

centradas nos pontos fortes de cada criança, na valorização e respeito pessoal e

intercultural; currículos que planifiquem a partir dos interesses e das

necessidades das crianças, com base em saberes que apontam para a vida ativa,

para a aprendizagem pela ação, para práticas concretas às quais atribuem

interesse; valorização por parte da escola dos contextos de vida da criança,

propondo a sua participação com o que de mais bem sabem fazer para que se

sintam integrados, respeitados e se gere o que Abajo Alcade (2004) designou de

vínculo afetivo e efetivo (p. 103), necessário a um percurso educativo bem-

sucedido. Tal como refere o autor " la adaptación escolar y las posibilidades de

éxito y continuidad escolar de los niños de minorías culturales (y de cualquier

ninõ, en general) son deudoras del clima de acogida y valoración que perciban

a lo largo de su escolarización..." (p. 109). Estas práticas assumem-se como

fatores facilitadores da continuidade na escola pois promovem experiências de

socialização e de aprendizagem de um conjunto de competências fundamentais

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para o sucesso educativo. Desde muito cedo é possível promover o

desenvolvimento da criança, em geral, e linguístico, em particular, de uma forma

lúdica e intencional, tornando a aprendizagem interessante e estimulante para a

criança, muito além dos sistemas de fichas e da transmissão unilateral de

conhecimentos, ao mesmo tempo que se prepara caminho para o desejado

sucesso académico.

b) Uma das variáveis mais fortemente correlacionadas com o sucesso académico

nos primeiros anos de escolaridade é a aprendizagem bem-sucedida da leitura e

escrita. Se diminuirmos o insucesso em leitura, diminuímos o insucesso em geral

(Lopes, 2010). Mas a aprendizagem da leitura e da escrita começam bem antes

de se aprender formalmente a ler e escrever e há um conjunto de competências

que são facilitadoras dessa aprendizagem (Cabell et al. 2011; Lonigan, et al.

2013; Whitehurst & Lonigan, 1998; Viana, 2006a, 2006b). Neste estudo

colocamos ênfase nas competências que Foorman e colaboradores (2002) e

Viana (2006b) consideraram como as que têm mais impacto numa aprendizagem

bem-sucedida da linguagem escrita nos primeiros anos de escolaridade: a) a

linguagem oral; b) conhecimentos prévios sobre a linguagem escrita e; c) a

motivação para ler.

c) As dimensões da linguagem mais fortemente correlacionadas com a

aprendizagem da leitura são o conhecimento lexical (por exemplo, Ouellette,

2006; Whitehurst & Lonigan, 1998; Verhoeven & Leeuwe, 2008; Viana, 2006a),

o conhecimento morfossintático, (Correa, 2004; Wong Fillmore, & Valadez,

1986; Viana, 2006a, 2006b), a memória auditiva (por exemplo, Capellini,

Germano, & Cardoso, 2008; Viana 2004; 2006b) e a capacidade para refletir

sobre a língua (por exemplo, Bublitz, 2010; Carlisse, 1996, 2000; Cabell, et al.,

2011; Girard & Girolametto, 2013; Haney & Hill, 2004; Plaza & Cohen, 2003,

2004). Alguns estudos têm sido desenvolvidos para avaliar o impacto de

intervenções que promovem unicamente a consciência fonológica e de

intervenções que combinam a consciência fonológica com outras competências

relacionadas com a linguagem (por exemplo, Bus & Van IJzendoorn, 1999;

Lonigan et al. 2013). Os resultados do estudo de Bus & Van IJzendoorn (1999)

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eliciam a conclusão de que os programas que treinam a consciência fonológica

em simultâneo a outras competências são mais eficazes do que aqueles que

treinam unicamente a consciência fonológica.

d) O estatuto socioeconómico é uma variável com impacto substancial no

desenvolvimento dos padrões iniciais de literacia que serão significativos da

literacia subsequente (Gamelas, et al., 2003; Morgan & Goldstein, 2004; Murray

& Harrison, 2011; Orçan & Çiçekler, 2012). Parece haver correlação entre as

experiências das crianças em idade pré-escolar, as suas competências

linguísticas e o modo como posteriormente se relacionam com a escola mas essa

correlação tende a tornar-se positiva quando são promovidas experiências em

torno da linguagem e capacitados os contextos nos quais a criança interage e

com os quais a criança estabelece ligações diretas (Dickinson & Tabors, 1991;

Morgan & Goldstein, 2004). Com efeito, a frequência na educação pré-escolar, a

qualidade do ambiente educativo, a formação de professores e intervenções de

linguagem oral e literacia emergente influenciam as competências das crianças e

potencialmente estreitam o fosso entre aquelas que estão em risco e aquelas que

não estão em risco de falhar na aprendizagem da linguagem formal (Cabell, et

al., 2011; Lonigan, et al., 2013).

e) Um dos meios mais eficazes para promover competências linguísticas e de

literacia emergente é a leitura de histórias (Cruz, 2011; Lonigan, et al. 2013;

Whitehurst & Lonigan, 1998; Viana, 2006a). A partir da interação com o

impresso as crianças vão evoluindo nas suas concetualizações e resolvendo

conflitos cognitivos sobre a escrita (Mata, 2008), descobrem o prazer da leitura

(M.E, 1997), atribuem valor a práticas em redor da palavra escrita e

desenvolvem um projeto pessoal de leitor (Mata, 2008; Viana & Martins, 2009)

e consoante as oportunidades para brincar e refletir sobre a língua vão-se

apropriando do princípio alfabético sem o qual não conseguem aceder à escrita

(Alves Martins & Silva, 2001; Mata, 2008; Vasconcelos, Horta, & Alves

Martins, 2011).

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f) Para que o livro integre a capacidade de seduzir o leitor de modo a que retire

prazer na descoberta e extração de sentido é preciso atender a critérios de

seleção que consideram os gostos, interesses e o background da criança. É

fundamental considerá-los para motivar a criança pela via dos afetos para o livro

e para a prática da leitura. Captada a atenção da criança para a narrativa é mais

fácil levá-la, de modo contextualizado, a refletir sobre a língua. O livro que

conta uma história em prosa ou em verso é um mediador da promoção da

linguagem oral e da literacia emergente através de práticas explícitas e

intencionais, sendo por isso fundamental que em paralelo aos critérios de seleção

que atendem à dimensão afetiva se atendam, de acordo com Viana e Martins

(2009), a critérios relacionados com: a) a competência linguística, b) a

competência textual e, c) ao conhecimento do mundo. Essas práticas desenhadas

com intencionalidade pedagógica fazem a diferença em contextos de maior

vulnerabilidade social. As crianças pré-escolares em risco de fracassar na

aprendizagem da leitura e da escrita podem desenvolver um conjunto de

competências quando participam em atividades de instrução explícita e focada

que vão além daquelas que são promovidas pelo currículo tradicional (Lonigan,

2013). Fazê-lo em idade pré-escolar é necessário por ser uma idade crítica por a

criança estar preparada para retirar as maiores vantagens que o meio proporciona

ao nível da linguagem oral e literacia emergente (Sim-Sim, Silva, & Nunes,

2008).

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3. DESCRIÇÃO DO PROGRAMA "DE MÃOS DADAS COM O LIVRO"

As atividades planificadas para o programa (Anexo A) foram inspiradas num

conjunto de publicações e materiais científico-pedagógicos, nomeadamente os

publicados no âmbito do PNEP - Programa Nacional do Ensino do Português (Duarte,

2008; Freitas, Alves e Costa, 2007; Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008; Mata, 2008), que

oferecem não só conhecimentos científicos sobre o desenvolvimento da linguagem oral

e escrita, mas também um conjunto de conhecimentos didáticos, promotores de práticas

intencionais e sistemáticas no jardim de infância e no 1.º ciclo do EB. Fora do âmbito

do PNEP merecem referência os relatórios elaborados pelo National Council for

Curriculum and Assessment nomeadamente Towards and Integrated Language

Curriculum in Early Childhood and Primary Education, 3-12 years, (Duibhir &

Cummins, 2012); Literacy in Early Childhood and Primary Education, 3-8 years

(Kennedy et al, 2012); e Oral Language in Early Childhood and Primary Education, 3-

8 years (Shiel et al, 2012). Estes relatórios compilam informação teórica sobre um

conjunto de políticas e de investigações no campo da linguagem oral e literacia

emergente e destacam um conjunto de práticas que podem ser implementadas em

contextos de promoção da linguagem e da literacia emergente.

O programa desenvolvido por Adams e colaboradores (2006) e que tem como

principal objetivo a promoção da consciência fonológica em crianças em idade pré-

escolar foi também de inspiração para o programa "De mãos dadas com o livro". Adams

e colaboradores propõem um conjunto de atividades desenhadas segundo um grau de

complexidade crescente: a) jogos de escuta; b) jogos de rimas; c) consciência das

palavras e frases; d) consciência silábica; e) introdução de fonemas iniciais e finais; f)

consciência fonémica; g) introduzindo letras e a escrita. A avaliação deste programa é

feita pela aplicação de seis subtestes: 1) a identificação de rimas, 2) contando com

sílabas, 3) combinando fonemas iniciais, 4) contando fonemas, 5) comparando o

tamanho das palavras e, 6) representando fonema com letras.

Uma das linhas mestras deste projeto era a de o livro estar sempre presente,

mesmo nas saídas ao exterior, como um companheiro, para que todos vissem onde

tinham origem as nossas atividades, ou quando a introdução à história era feita através

de fantoches ou de dramatizações. Além disso pretendíamos não "investir apenas na

narrativa oral sem que as crianças cheguem a perceber que o texto que ouviram tem

origem num livro" (Viana e Martins, 2009, p. 29). Para além da preferência constante

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do livro foi elaborado conjunto de ficheiros de sons e de imagens que enriqueciam a

história. Dado que as tecnologias da informação e comunicação são recursos

pedagógicos que geram motivação e concentração nas crianças (Flewitt, et al., 2014),

pois "são meios de transmissão do saber e da cultura que a criança vê como lúdicos e

aceita com prazer" (M.E, 1997), foram também convocadas para este projeto.

Cada história selecionada pelas crianças foi alvo de uma planificação partilhada

entre o investigador e o educador titular. O objetivo era que se criasse um projeto para

aquelas crianças e que fosse o projeto daquela sala. Definimos, por isso, uma data de

início e de fim do projeto, mas a exploração de cada história dependeria das respostas

das crianças às propostas apresentadas. Esta abordagem insere-se noutras já

implementadas, como por exemplo em Melhor Falar para Melhor Ler (2002), no qual

não existia um número de sessões pré-determinado para cada história. A adoção desta

abordagem constitui" um contributo para que os educadores de infância [pudessem]

aperfeiçoar a planificação das atividades e avaliar o desempenho linguístico das

crianças de uma forma mais abrangente, integrada e, por isso mesmo, menos intuitiva"

(Dionísio e Pereira, 2006). Tal como referem Gonçalves, Viana e Dionísio (2007) "o

ponto de chegada estava nas mãos das crianças" (p. 22). O importante era que os

objetivos do programa não fossem perdidos de vista, ou seja, que as atividades

permitissem desenvolver o conhecimento lexical, o conhecimento morfossintático, a

memória auditiva e a reflexão sobre a língua.

Cada história foi sempre lida em voz alta para cativar a criança para a leitura

pela via dos afetos (Viana, 2002). O contexto para a leitura era variado, ora interior, ora

exterior, mas sempre num ambiente calmo e silencioso.

Muitos autores têm vindo a propor procedimentos metodológicos para a leitura

de histórias. Neste projeto adotamos aqueles que foram apresentados por Mcgee (1998),

Neuman e Bredekamp (2000) e por Viana e Ribeiro (2014). Em todos eles se verifica a

existência de três momentos chave:

a) Momento de pré-leitura, no qual o educador explora os elementos paratextuais

do livro, lê o título, promove reflexões em torno das ilustrações da capa e por

vezes da contracapa e motiva as crianças a levantar hipóteses sobre o que irá

acontecer na história e a justificar tais expectativas. As atividades que antecedem

o momento da leitura podem incluir pequenos jogos em torno das personagens

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ou das palavras que aparecem na capa do livro, a visita de uma personagem da

história na pele de uma pessoa, de um fantoche… Na verdade, "além de ativar

conhecimentos prévios, as atividades prévias à leitura têm, sobretudo, de

motivar, de seduzir e de dirigir a atenção" (Viana & Ribeiro, 2014, p. 51).

b) Momento de leitura feita em voz alta com o objetivo de levar a criança a

construir sentido(s), confrontando-a com o seu conteúdo de modo a que fale

sobre determinados acontecimentos e de modo a que faça previsões, intratextuais

ou extratextuais sobre o que poderá acontecer. Durante a leitura "o educador

mostra às crianças o que está a ler, parando em momentos críticos para pedir às

crianças que façam previsões sobre o que vai acontecer" (Dionísio e Pereira,

2006). A leitura pode ser feita pelo educador ou por convidados (no âmbito deste

projeto, por exemplo, o enfermeiro ou um amigo cigano). O livro é o recurso

privilegiado para aceder à leitura, mas previu-se o recurso à projeção de imagens

da história para que as crianças possam acompanhar a leitura pelas ilustrações

enquanto ouvem a palavra. Captando a atenção da criança através de vários

sentidos procuraremos minimizar eventuais distrações durante a leitura e

preparar caminho para a "intertextualidade e o processamento híbrido dos textos

e das imagens" (Viana & Ribeiro, 2014).

c) Momento de pós-leitura, no qual a criança é motivada a recontar a história pelas

suas próprias palavras, a ordenar acontecimentos e a nomear e analisar as

personagens. Mas é ainda o momento em que, a partir da história, se exploram

explicitamente um conjunto de competências linguísticas e de literacia

emergente.

Enquadrados na abordagem de Whitehurst e Lonigan (1998) e Viana (2002) o

momento de pós-leitura será iniciado com uma proposta de leitura partilhada do livro no

qual o educador deixe de ser aquele que lê e a criança aquela que ouve, ou seja,

pretende-se que o educador e as crianças recontem a história, através de um conjunto de

questões orientadoras para falar sobre as personagens, as ações e o enredo. Esta prática

partilhada da leitura é reconhecida como um dos meios mais eficazes para promover

competências cognitivas e também linguísticas em crianças em risco ao nível do

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vocabulário recetivo e expressivo, da linguagem descontextualizada, da complexidade

sintática e ainda de competências narrativas orais (Vally, 2012). Com frequência

recorre-se a esta prática durante a leitura integral, perturbando a apreensão do sentido

global do texto.

Nas atividades de compreensão da leitura foram incluídas ainda a identificação

de palavras novas, difíceis ou engraçadas e a descoberta o seu significado. A expansão

do léxico da criança é uma das bases linguísticas mais importantes a desenvolver

durante o período pré-escolar (Foorman, et al., 2002; Nation, et al., 2004; Ouellette,

2006; Sénéchal & LeFevre, 2002; Whitehurst & Lonigan, 1998, 2001; Verhoeven &

Leeuwe, 2008; Viana, 2002; Viana, 2006b) e a sua promoção torna-se ainda mais

necessária em ambientes cujas dificuldades em tarefas relacionadas com o discurso são

evidentes - fazer explanações, definições formais, recontar histórias, relatar

acontecimentos pessoais e produzir narrativas coerentes estão descritas na investigação

(Goswami, 2001; Morgan & Goldstein, 2004; Orçan & Çiçekler, 2012). A pesquisa ao

dicionário é, por isso, uma atividade a incluir.

Apesar de o livro se apresentar neste programa como um recurso privilegiado

para aceder à leitura e à escrita, é muito importante que a criança contacte com diversos

tipos de impresso, como "dicionários, enciclopédias, e também jornais, revistas, etc.

Dispor de uma grande variedade de textos e formas de escrita é uma maneira de ir

aprendendo as suas diferentes funções" (M.E, 1997, p. 70). A curiosidade é uma boa

forma de promover a motivação e a aprendizagem, pelo que as crianças serão motivadas

para fazer inferências de significado a partir dos contextos e a perguntar. As respostas

serão registadas pelo educador e mais tarde compiladas num placard de palavras novas.

Com as palavras novas as crianças serão convidadas a construir frases engraçadas que

serão revisitadas em momentos posteriores. Uma abordagem explícita e intencional ao

léxico é muito importante para promover o seu desenvolvimento em crianças

provenientes de meios mais desfavorecidos (Lubliner & Smetana, 2005).

Todo o processo até ao registo do significado da palavra passa por uma

sequência de fases que Viana e Ribeiro (2014) sintetizaram da seguinte forma: "i)

seleção da palavra; ii) convite à formulação de hipóteses sobre potenciais significados a

partir de pistas contextuais e/ou dos conhecimentos das crianças; iii) procura do

sinónimo em dicionários ou na Internet; iv) seleção do significado mais adequado ao

contexto" (p. 57).

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Ver o educador escrever e verbalizar aquilo que escreve é uma atividade valiosa

para a criança pré-escolar e está associada a contextos promotores da literacia

emergente. Esta prática promove, por exemplo, o acesso a um conjunto de

"conhecimentos e conceitos relativos à linguagem escrita, à linguagem oral e relativos

ao modo como a primeira transcreve a segunda" (Silva, 2004, p. 187-8). E, como

sabemos, as oportunidades que se criam para a criança pré-escolar aceder a esses

conhecimentos, ou a falta delas, estão na base das diferenças interindividuais no

momento de aquisição da literacia.

A escrita é transversal a todo este projeto. Como veremos na descrição das

atividades, avançaremos em cada contexto com muitas propostas de escrita. Essas

propostas em termos de concretização prática correspondem às sugestões de Viana e

Ribeiro (2014). De acordo com as autoras "a escrita por parte da educadora deve ser

acompanhada de verbalização, segmentando as palavras em sílabas à medida que as

escreve […] criando condições para que as crianças percebam que a escrita «transcreve»

a linguagem oral." (p. 60). Não se pretende introduzir a aprendizagem da leitura e da

escrita simulando o ingresso no ensino primário. Ler e escrever formalmente tem o seu

tempo. Procurar-se-á, sim, criar situações promotoras da emergência de

comportamentos pró-literácitos.

Ainda uma palavra em relação à escrita. O educador deverá escrever mas

também criar condições para que a criança escreva. A escrita inventada, atividade que

tem grandes potencialidades em termos de desenvolvimento de competências literácitas

(Adams, 1994; Treiman, 1998), integrou o programa "De mãos dadas com o livro",

cumprindo objetivos claros: permitir às crianças que se familiarizem com o código

escrito, que percebam para que serve ler e escrever, motivar para a imitação de letras,

ajudar à compreensão da estrutura segmental da linguagem escrita, das normas de

codificação escrita e das funções da escrita" (Viana & Ribeiro, 2014, p. 60).

Às atividades de compreensão leitora seguem-se atividades de consciência

linguística nos domínios morfossintático e fonológico. As interações em torno da

linguagem oral e da escrita são muito importantes mas não são suficientes. Para

promover a literacia emergente é também preciso levar a criança a refletir sobre a

língua. Esta necessidade torna-se ainda mais visível em crianças oriundas de contextos

em que a leitura e a escrita não integrem o seu quotidiano (Bowey, 1995; Lonigan, et

al., 2013).

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Cada história lida deveria ser ponto de partida para novas experiências e

aprendizagens. No congresso Internacional de Promoção da Leitura da Fundação

Calouste Gulbenkian (2009) Formar Leitores para Ler o Mundo o orador Pep Duran

centrou a sua participação em falar sobre contar os contos que leiam o mundo. Esta

perspetiva de partir das histórias para o mundo é geradora de novas vivências e fazem

associar ao livro e à leitura momentos agradáveis que se devem repetir no tempo. Sair

da escola em direção à comunidade e explorar, descobrir, conversar sobre, encontrar

novas respostas para, viver novas experiências. Isto tudo são atividades fundamentais

para a aprendizagem posterior da leitura e da escrita pois na verdade, tal como refere

Freire (1989) " o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da

linguagem escrita, mas […] se antecipa e se alonga na inteligência do mundo" (p. 9). No

âmbito deste projeto temos como objetivo explorar, em cada contexto, em função dos

recursos existentes e dos interesses daquele grupo de crianças, as outras possíveis

aprendizagens que o livro promove.

4. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

O Programa "De mãos dadas com o livro" é um programa destinado a crianças

em idade pré-escolar (4-6 anos), provenientes de contextos socioeconómicos de risco,

com vista à promoção da linguagem oral e literacia emergente. A sequência da sua

implementação integra um conjunto de etapas que passaremos a apresentar:

Apresentação do projeto, em linhas gerais, aos educadores e às crianças.

Para tal será levada para as salas uma mala recheada com 25 livros de

literatura para a infância, previamente selecionados atendendo à dimensão

afetiva que potencialmente integram mas também à competência linguística,

textual e ao conhecimento do mundo que permitem explorar (Viana &

Martins, 2009). As crianças serão convidadas a explorá-la, após a sua

apresentação, efetuada de modo a que procurem saber mais sobre o que lhes

pode contar. Mundos das cores, dos cheiros, das sensações, das emoções, das

palavras, dos afetos...porque o objetivo é que as crianças desenvolvam uma

relação afetiva com a leitura e com a escrita. Finalmente as crianças são

convidadas a escolher alguns desses recursos, democraticamente, para serem

lidos.

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Apresentação do projeto aos pais mas pela voz das crianças. Serão as

crianças a "escrever" uma carta aos pais, falando do projeto que irão

desenvolver. O nosso objetivo é que as crianças se apropriem do mesmo, que

o sintam como "seu", da "sua" família, da "sua" educadora.

Seleção, com as crianças, dos livros a integrar no programa. Cada criança

selecionará, num conjunto de livros pré-selecionados (anexo B), os livros que

deseja explorar. Apesar de as escolhas das crianças serem efetuadas sobre um

conjunto de livros previamente selecionados, haverá a possibilidade de

integrar outros que venham a ser considerados em função do desenrolar das

atividades.

Planificação das atividades em conjunto com os educadores de infância. Há

um conjunto de variáveis que condicionam as experiências proporcionadas às

crianças e que podem ter impacto tanto no seu desejo de regressar à escola

como no desenvolvimento de competências. Essas variáveis incluem a

intencionalidade e o carácter sistemático e formal das práticas educativas que,

por seu lado, estão dependentes das conceções que os educadores de infância

têm sobre o papel do contexto de educação formal e das competências que lá

se devem desenvolver, em particular das conceções sobre o desenvolvimento

da linguagem oral e da literacia emergente (Fernandes, 2005).

A partir dos livros selecionados serão elaborados os planos de atividades

partilhando, entre investigador e educador de infância, conhecimentos e

pontos de vista, sempre considerando o interesse da criança e as competências

que se pretendem desenvolver. A planificação conjunta permitirá que as

atividades sejam contextualizadas no projeto educativo. Como sabemos, é

difícil contrariar "a natureza etnocêntrica dos currículos [...] feitos à medida

dos alunos não ciganos, brancos, da classe média urbana" (Guerra, 2012, p.

11). No programa "De mãos das com o livro" a planificação das atividades

teve sempre presente a realidade cultural dos destinatários.

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Promoção de interações positivas entre a escola e a família e as crianças de

etnia cigana e outras crianças e adultos não ciganos: As intervenções

desenhadas para promover a inclusão social da criança cigana devem atender

a um conjunto fatores facilitadores da continuidade dos ciganos na escola

(Guerra, 2012) que podem resultar em vidas ciganas bem-sucedidas em

termos académicos e sociais (Antunes, 2008). As expectativas positivas agem

como facilitadores da continuidade na escola face às situações de duplo

vínculo (Abajo Alcade, 2004). Valorizar a existência de familiares e amigos

próximos que são casos de sucesso e que são figuras de referência é

fundamental para maximizar o bem-estar sócio emocional da criança e para

mudar as suas perspetivas em relação à escola (Montenegro, 2012). O

mediador do T3tris é um dos exemplos de ciganos com percursos de sucesso,

pelo que foi, desde o início, assegurada a sua participação.

É fundamental ainda que a escola chame os pais, não para os recriminar

mas para partilharem os seus saberes e é importante que a comunidade vá à

escola. Mas é também importante que a escola vá à comunidade.

5. MATERIAIS

Como foi dito anteriormente, o livro constitui o recurso por excelência do

programa "De mãos dadas com o livro". Uma das primeiras preocupações foi a de que

os livros a selecionar tivessem potencial para seduzir os leitores, de modo a que estes

pudessem retirar prazer na descoberta e extração de sentido (Martins, 2009). Os critérios

de seleção terão de atender aos gostos, aos interesses e ao background da criança. Mas

há outros aspetos relacionados com a adequação aos quais é preciso atender: a) a

competência linguística, b) a competência textual e, c) o conhecimento do mundo,

sendo que "se houver uma conjugação favorável destes três fatores a motivação para a

leitura crescerá de forma exponencial (Viana & Martins, p. 35).

Como sabemos ler é uma atividade de sedução e o livro deve seduzir-nos para

termos vontade de descobri-lo. Tal como afirmam Viana e Martins a atenção e a

persistência serão maiores perante textos que despertem curiosidade e sejam adequados

ao nível da compreensão.

Paralelamente à seleção dos livros procedeu-se ao levantamento de recursos

existentes nas escolas mas também nas famílias, no sentido de identificar que histórias

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da tradição oral, provérbios, rimas e canções faziam parte do repertório familiar deste

grupo. Este levantamento foi efetuado com a colaboração dos técnicos que dinamizam

as atividades no autocarro brag@brinca junto das comunidades ciganas.

No Quadro 1. apresentam-se as obras que foram selecionadas com as crianças

para integrar o programa "De mãos dadas com o livro".

Quadro 1. Lista de Obras Selecionadas

LIVROS PARA A INFÂNCIA

Título da obra Autor(es) Editor Ano

A Violeta não sabe falar AgatheHennig &

DidierDufresne Zero a Oito 2009

A Ovelhinha que veio para o jantar Steve Smallman Dinalivro 2009

O Coelhinho Afonso Luísa Ducla Soares &

Danuta Civilização Editora 2011

O Nabo Gigante Alexis Tolstoi & Niamh

Sharkey Livros Horizonte 2005

O Bicho Caracol Companhia de musica

teatral

Enciclopédia da Música

com o Bicho s/d

Os Ovos Misteriosos Luísa Ducla Soares &

Manuela Bacelar Edições Afrontamento 2010

Os Três Terríveis Porquinhos Liz Pichon Editora Educação

Nacional 2008

A Filha do Grufalão Julia Donaldson

& Axel Scheffler Verbo 2004

Não, David! David Shannon Everest Editora 2007

O casamento da Gata Luísa Ducla Soares &

Pedro Leitão Terramar 2008

A Toupeira que queria saber quem

lhe fizeram aquilo na cabeça

Werner Holzwarth & Wolf

Erlbruch Kalandraka 2008

Se eu fosse muito alto António Mota & André

Letria Edições Gailivro 2006

Foram ainda construídos ficheiros digitais, unicamente para usar com as crianças

em contexto de sala. Estes ficheiros foram elaborados a partir da digitalização dos livros

selecionados e de um conjunto de músicas clássicas. Para cada livro foram selecionadas

músicas adequadas ao enredo e às diferentes partes da história que as crianças ouviam

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enquanto acompanhavam a leitura pela visualização das imagens projetadas. As músicas

são da autoria de Bizet, Rossini, Bach, Strauss, Schubert e Wagner, cujas obras de

grande utilidade para explorar com crianças estão compiladas na coleção Grandes

Compositores II, publicada pelo jornal Expresso, com texto de Isabel Zambujal e Maria

Pedro (2011). Era nosso objetivo criar recursos para promover a atenção das crianças

durante o momento de leitura, por um lado para a fruição da história, e por outro, para

se criarem condições favoráveis ao momento de pós-leitura.

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62

CAPÍTULO III

MÉTODO

"Nas deambulações pelo mundo das interrogações e das

dúvidas, uma pergunta se nos coloca com alguma

pertinência: por que razão quase sempre se relaciona a

Investigação-Ação com a escola, professores, estudantes,

enfim, com temáticas cujo denominador comum é a

educação" (Coutinho et al., 2009, p. 2).

______________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO AO MÉTODO

A fim de atingir os objetivos propostos nesta dissertação, foi desenvolvido um

estudo quase experimental de grupo único. Neste capítulo será apresentado o método

utilizado.

O estudo que foi desenvolvido é, como referimos, um estudo de grupo único,

com pré e pós-teste. Os autores MacMillan e Schumacher (1997, 2001) visualizam este

tipo de estudo através do seguinte diagrama:

Figura 1. Design do estudo único, com pré e pós teste adaptado de MacMillan e Schumacher (1997,

2001)

A simbologia - A - corresponde ao grupo que participa na investigação, que

neste estudo corresponde ao grupo de crianças alvo da intervenção. Este grupo de

sujeitos foi avaliado através da aplicação de um pré-teste (O1) e de um pós-teste (O2),

antes e depois, respetivamente, da aplicação do programa "De mãos dadas com o livro".

O resultado deste tipo de investigação é a avaliação da mudança ocorrida no

sujeito, entre a aplicação do pré-teste e a aplicação do pós-teste. Por haver ameaças à

garantia da validade interna, nomeadamente por não haver grupo de controlo, este

estudo deve ser usado na investigação apenas quando determinado tipo de condições

minimizem o impacto das ameaças, como por exemplo, o uso de instrumentos de

A O1 X O2

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confiança e intervalos de tempo curtos entre os dois tempos de avaliação (MacMillan &

Schumacher, 2001).

O que nos levou a selecionar o estudo do grupo único com pré e pós-teste foi a

natureza da amostra em estudo. O número de crianças ciganas a frequentar a educação

pré-escolar é muito reduzido e a sua assiduidade bastante irregular, criando a

impossibilidade de encontrar, num estudo desta natureza, um grupo de controlo

(Tuckman, 2002).

Com o objetivo de minimizar o impacto das ameaças selecionamos uma prova

screening, validada para a população portuguesa (Viana, 2002), já implementada

noutros estudos cuja amostra foi constituída por crianças pré-escolares portuguesas,

provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos (Correia, 2011; Faria, 2009;

Viana, 2002). O intervalo de tempo entre o pré e o pós-teste foi também reduzido, dado

que os dois momentos de avaliação ocorreram no mesmo trimestre de atividades letivas.

2. OBJETIVOS E HIPÓTESES DO ESTUDO

Pretendemos, com este estudo, avaliar o potencial, a adequação e o impacto das

atividades implementadas no programa "De mãos dadas com o livro", para o

desenvolvimento da linguagem oral e da literacia emergente junto de uma população

que regista taxas elevadas de insucesso e de abandono escolares.

Objetivos gerais

Junto das crianças

a) Desenvolver um conjunto de competências de linguagem oral fundamentais à

aprendizagem da leitura e escrita, a saber: conhecimento lexical,

conhecimento morfossintático, memória auditiva e reflexão sobre a língua;

b) Promover o gosto pela leitura e a curiosidade acerca do material impresso

com a finalidade de mediar a construção de um projeto pessoal leitor e

desenvolver um conjunto de conhecimentos acerca da linguagem escrita;

c) Promover a vivência de novas experiências e desenvolver novos

conhecimentos do mundo, a partir do livro de literatura infantil.

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Junto das famílias

A intervenção bem-sucedida junto das crianças pode potenciar os efeitos junto

da família. Assim sendo, este projeto tem também como objetivos levar as famílias a:

a) Valorizar o contexto de educação pré-escolar enquanto palco onde as crianças

desenvolvem novos conhecimentos sobre o mundo sem deixar de valorizar a

sua própria cultura;

b) Promover o desenvolvimento de sentimentos de confiança face à escola.

Junto dos educadores

A intervenção bem-sucedida junto das crianças é enriquecida pela criação de

sinergias entre os diversos agentes educativos, pelo que este projeto visou também

atingir, junto dos Educadores, os seguintes objetivos:

a) Fomentar a partilha de estratégias de planificação e de dinamização de

atividades sensíveis às competências de linguagem oral e de literacia

emergente de uma população que regista, neste domínio, grandes fragilidades;

b) Promover a valorização dos recursos familiares e comunitários existentes,

criando interações saudáveis e com impacto no desenvolvimento da criança.

Junto das comunidades

A intervenção bem-sucedida junto das crianças é também enriquecida pela

criação de sinergias entre a comunidade mais alargada, de modo que este projeto

procurou ainda atingir, junto da comunidade, os seguintes objetivos:

a) Promover a interação de elementos da comunidade alargada com as

crianças de etnia cigana e com as crianças provenientes de contextos

socioeconómicos desfavorecidos, através de atividades que promovam

experiências positivas e agradáveis.

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Objetivos específicos

Os objetivos específicos devem ser "sempre enunciados em termos

comportamentais para que se possa saber o que exatamente se pretende" (Sanches,

2005, p. 138). Neste estudo os objetivos comtemplam: i) O Conhecimento Lexical; ii) O

Conhecimento Morfossintático; iii) A Memória Auditiva para Material Verbal e ; iv) A

Capacidade para Refletir sobre a Língua.

Hipóteses

A partir das questões e dos objetivos de investigação que orientam este estudo

apresentamos as seguintes hipóteses:

H1: As crianças ciganas apresentam um desenvolvimento linguístico inferior ao

das outras crianças, ainda que estas últimas possam ser provenientes de meios

socioeconómicos desfavorecidos;

H2: As crianças de etnia cigana, à semelhança das crianças provenientes de

contextos socioeconómicos desfavorecidos desenvolvem um conjunto de competências

de linguagem oral e literacia emergente, quando participam em atividades de instrução

explícita e focada.

3. PARTICIPANTES

Participaram neste estudo 20 crianças (n = 20) com idades que variam entre os 4

anos e 5 meses e os 6 anos e 2 meses de idade. A média de idades era de 5 anos e 4

meses (DP = 6,70). As crianças de 5 e 6 anos estavam a poucos meses de ingressar na

aprendizagem formal da leitura e da escrita.

Inicialmente pretendia-se uma amostra constituída apenas por crianças de etnia

cigana a frequentar contextos de educação pré-escolar. Todavia, tal não foi possível,

pois são poucas as que, apesar do número de inscrições, frequentam este nível

educativo. O processo de amostragem consistiu na seleção prévia de contextos

educativos na cidade de Braga frequentados por crianças de etnia cigana. Foram

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selecionadas duas escolas que, além de serem frequentadas por crianças de etnia cigana,

recebem também crianças provenientes de outras minorias, essencialmente oriundas de

meios socioculturais desfavorecidos.

Tabela 1. Distribuição das crianças por estabelecimento de ensino, sexo e etnia.

Escola A Escola B

Sexo/Etnia Cigano Não cigano Cigano Não cigano

Feminino 2 0 0 10

Masculino 2 0 0 6

Procedendo à análise das variáveis Profissão e Habilitações Académicas dos pais

das crianças que foram alvo de intervenção, como se pode verificar através da análise da

Tabela 2. as habilitações situam-se maioritariamente ao nível do 9º ano de escolaridade.

Tabela 2. Distribuição dos Pais em função das variáveis sexo e nível de escolaridade

Verifica-se que cerca de 50% de pais possuem habilitações ao nível do 9.º ano

de escolaridade. Estas habilitações não correspondem, todavia, a um percurso regular de

ensino, sendo essencialmente resultantes de programas de certificação de competências

do tipo “Novas Oportunidades” e/ou de formações profissionais que concedem

equivalência ao 9º ano de escolaridade. Os encarregados de educação que possuem

frequência de Ensino Superior (15 % dos pais e 10 % das mães) são encarregados de

educação de crianças que não pertencem a qualquer minoria étnica. Já os pais cuja

Sexo dos

Encarregados de

Educação/Pais

Nível de

escolaridade N %

Feminino 1º ciclo 4 20,0

9º Ano 10 50,0

12º Ano 4 20,0

Ensino Superior 2 10,0

Masculino 1º ciclo 4 20,0

9º ano 10 50,0

12º ano 3 15,0

Ensino Superior 3 15,0

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escolaridade se situa ao nível do 4º ano de escolaridade são os pais das crianças de etnia

cigana.

No que concerne à ocupação profissional, apenas 45% dos pais e 50% das mães

se encontra empregado. 15% de ambos os pais não refere qualquer profissão e 15% dos

pais estão aposentados por invalidez.

4. INSTRUMENTOS

Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven - MPCR (Raven, 1947)

O teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven é um teste de avaliação

da inteligência não-verbal (Brites, 2009, p. 79.). O conteúdo colorido e acessível deste

teste faz dele um instrumento com grandes potencialidades para ser aplicado em idade

pré-escolar em todas as crianças mas especialmente naquelas que possam apresentar

limitações ao nível do uso da linguagem, como é o caso de crianças provenientes de

minorias étnicas.

O teste é constituído por 36 itens, distribuídos por 3 séries - A, Ab, B - e cada

série constituída por 12 itens. Cada um dos itens é constituído por uma forma

geométrica que tem uma parte em falta e por seis hipóteses de resposta, uma das quais

correta. Cada item avaliado com 1 ponto, se a resposta da criança for correta, ou 0

pontos, se a resposta da criança for errada. A pontuação máxima é portanto de 36

pontos.

Teste de Identificação de Competências Linguísticas - TICL (Viana, 2004)

Atendendo aos objetivo específicos deste estudo aplicamos o Teste de

Identificação de Competências Linguísticas - TICL (Viana, 2004). O TICL é uma prova

de Linguagem Expressiva que avalia um conjunto de competências facilitadoras da

aprendizagem da leitura e da escrita. Está organizado em quatro partes:

Parte I: Conhecimento lexical, constituída por 64 itens designadamente, a)

Nomeação de partes do corpo; b) Nomeação de objetos; c) Identificação de verbos que

definem ações; d) Nomeação de elementos pertencentes a determinado campo

semântico; e) Explicitação de funções; f) Utilização de locativos; g) Nomeação de

cores; h) Explicitação de opostos;

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Parte II: Regras morfológicas, constituída por 27 itens designadamente, i)

Concordância género-número; j) Pretérito perfeito; l) Plurais; m) Graus de adjetivos; n)

Compreensão de estruturas complexas;

Parte III: Memória auditiva para material verbal: constituída por 19 itens

designadamente, o) Repetição de pseudopalavras, palavras, frases e cumprimento de

ordens; p) Sequencialização da narrativa;

Parte IV: Reflexão sobre a língua, constituída por 24 itens designadamente, q)

Avaliação da correção sintática dos enunciados; r) Segmentação de frases em palavras e

de palavras em sílabas; s) Identificação auditiva de sílabas iniciais e finais.

A pontuação máxima deste teste é de 134 pontos, sendo atribuído a cada item 1

ponto se a resposta da criança estiver certa e 0 pontos se a resposta estiver errada.

Lembramos que esta prova foi validada para ser utlizada com crianças de idades

compreendidas entre os 4 e os 6 anos, mas pode ser utilizada com crianças mais velhas

desde que se suspeite de dificuldades ao nível das competências por ele avaliadas.

5. PROCEDIMENTOS

Depois de obtermos uma resposta favorável da Direção Geral de Educação para

a implementação deste estudo (autorização nº 0099300009), procedemos ao pedido de

autorização junto dos agrupamentos de escolas (anexo C), seguido da autorização dos

pais através do respetivo Consentimento Informado (anexo D).

A avaliação das crianças ocorreu em dois grandes momentos, antes e após a

intervenção. No primeiro momento procedeu-se à aplicação do TICL e das MPCR. O

teste das MPCR foi aplicado por um psicólogo que se deslocou aos contextos de

educação pré-escolar.

Os testes foram aplicados individualmente nos respetivos contextos educativos.

Após a avaliação inicial das crianças, que decorreu no início do mês de março,

procedeu-se à implementação do programa "De mãos dadas com o livro", durante dos

meses de março, abril e maio, com sessões diárias de 30 minutos e com interrupções nas

pausas letivas. No total realizaram-se 35 sessões.

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6. RESULTADOS E ANÁLISES ESTATÍSTICAS

A apresentação e análise dos resultados incidem nas hipóteses deste estudo. Os

resultados relativos ao desempenho inicial das crianças, antes de ser implementado o

programa, foram analisados a fim de se verificar a existência de diferenças entre os

desempenhos das crianças ciganas e das crianças não ciganas no TICL. A comparação

entre grupos foi realizada com o recurso ao test-t para amostras independentes.

A segunda hipótese pretendia avaliar as mudanças no desempenho das crianças

após a aplicação do programa de intervenção. Recorreu-se ao test-t para amostras

emparelhadas para avaliar a evolução das crianças e calculou-se a correlação de Pearson

quando se pretendia avaliar em que medida o desempenho das crianças no TICL 1 e no

TICL 2 se apresentavam relacionados.

As análises estatísticas foram efectuadas com recurso ao programa IBM SPSS -

Statistical Package for Social Sciences, Statistics 22.

Resultados

Os resultados no teste das Matrizes Progressivas de Raven foram, para todas as

crianças, iguais ou superiores ao percentil 50, pelo que se considerou excluída a

hipótese de défices cognitivos.

Na Tabela 3. são apresentados os resultados do TICL no pré e no pós-teste.

Tabela 3. Estatísticas descritivas do TICL nos dois momentos de avaliação

M DP Amp. Assim. Curt.

CL M1

M2

48,8

59,35

9,65

3,66

42

10

-1.411

-.276

3.288

-1348

CM M1

M2

18,80

23,70

4,40

2,57

16

7

-1.007

-.348

.362

.1,657

MA M1

M2

12,80

16,25

3,20

2,35

12

8

.414

-1,000

-.369

-.144

RL M1

M2

14,30

21,45

4,01

2,98

14

8

-.271

-.831

-.813

-.845

Total

M1

M2

94,7

120,75

19,0

10,472

73,00

32

-.799

-.539

,816

-1,309

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Os resultados no Teste de Identificação de Competências Linguísticas

apresentam uma distribuição normal, quer no momento 1, no pré-teste, (Kolmogorov-

Smirnov, p = .14; Shapiro-Wilks, p = . 93), quer no momento 2, no pós-teste

(Kolmogorov-Smirnov, p = .19; Shapiro-Wilks, p = . 87). Tratando-se de um teste de

screening não seria esperada uma distribuição normal. Ela resulta, provavelmente, do

facto de as crianças da amostra não se encontrarem dentro da faixa etária para a qual a

prova foi concebida.

Comparando o desempenho das crianças na primeira aplicação do TICL (pré

teste) com os níveis de mestria propostos no manual do mesmo, verifica-se a existência

de diferenças estatisticamente significativas t(19) = -2,89, p = .009 quer para os

resultados no TICL considerados como um todo, quer em cada uma das subescalas

(Tabela 4.).

Tabela 4. Comparação do nível de mestria no TICL com os resultados obtidos na 1ª aplicação

Legenda. CL: Conhecimento Lexical; CM: Conhecimento Morfossintático; MA: Memória Auditiva; RL: Reflexão

sobre a Língua.

A fim de avaliarmos as mudanças no desempenho das crianças após a aplicação

do programa de intervenção procedeu-se a um test t para amostras emparelhadas. Os

resultados indicam a existência de diferenças significativas após a intervenção, t (19) = -

9,507, p <.001.

Os desempenhos das crianças no primeiro momento de aplicação são

significativamente inferiores aos desempenhos obtidos no segundo momento de

aplicação, em todas as subescalas: Conhecimento Lexical, t (19) = - 6,513 p <.001;

Conhecimento Morfossintático, t (19) = -7.00, p <.001; Memória Auditiva, t (19) = -

7.00, p <.001; Reflexão sobre a Língua, t (19) = -10.097, p <.001.

Dada a natureza inicial deste estudo, revela-se pertinente averiguar se as médias

das crianças ciganas diferem estatisticamente das médias das outras crianças, nos dois

TICL CL CM MA RL Total

Nível de

Mestria 51 22 15 19 107

Média na 1ª

Aplicação 48,8 18,8 12,8 14,3 94,7

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momentos de avaliação. A partir do teste t para amostras independentes verifica-se que

há diferenças estatisticamente significativas entre as crianças ciganas e as crianças não

ciganas em ambos os momentos, e que as diferenças encontradas no primeiro momento

de aplicação do TICL, t (18) = -2, 704, p =, 015, se mantém no segundo momento, t

(18) = -2,545, p = ,020. Ou seja, apesar do grupo de crianças ciganas ter alcançado, no

segundo momento, os níveis de mestria preconizados para as diferentes subescalas do

TICL na segunda aplicação, ainda assim terminam o pré-escolar com desempenhos

inferiores aos das restantes crianças. À semelhança do que aconteceu no estudo de

Viana (2002), as crianças que conseguiram piores desempenhos na primeira aplicação

da prova, apesar de terem melhorado bastante, foram as que na sua maioria continuaram

a manter um desempenho inferior na 2ª aplicação, o que aponta para alguma

estabilidade dos resultados.

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7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As crianças ciganas versus as crianças não ciganas e o seu desempenho linguístico

antes do programa:

A primeira hipótese deste estudo teve como objetivo analisar se as crianças

ciganas apresentam um desenvolvimento linguístico inferior ao de outras crianças, na

sua maioria provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos. Os resultados

apontam para diferenças estatisticamente significativas, colocando as crianças de etnia

cigana em níveis inferiores aos das crianças provenientes de meios socio culturais

desfavorecidos. O desempenho inicial no TICL, para todas as crianças, ficou aquém do

nível de mestria esperado para a idade (Viana, 2002). Estes resultados assemelham-se

aos obtidos noutros estudos com crianças oriundas de meios muito desfavorecidos ou de

minorias (Correia, 2011; Costa, 2012; Faria, 2009; Viana, 2002). Os resultados obtidos

pelas crianças ciganas são semelhantes aos encontrados no estudo de Correia (2011),

efetuado com crianças institucionalizadas. Confirmando o que se verificou na revisão da

literatura, as crianças de etnia cigana estavam em situação de grande risco em termos de

aprendizagens escolares.

As crianças ciganas versus as crianças não ciganas e o seu desempenho

linguístico no final do programa:

A segunda hipótese deste estudo foi a de que as crianças de etnia cigana, à

semelhança das crianças provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos

desenvolvem um conjunto de competências de linguagem oral e de literacia emergente,

quando participam em atividades de instrução explícita e focada.

Tal como já foi referido, os desempenhos iniciais das crianças ficavam abaixo

dos níveis desejados mesmo nos itens considerados mais fáceis (Viana, 2002). O

Conhecimento lexical, por exemplo, é uma das bases linguísticas mais importantes a

desenvolver durante o período pré-escolar (Foorman, et al., 2002; Nation, et al., 2004;

Ouellette, 2006; Sénéchal & LeFevre, 2002; Verhoeven & Leeuwe, 2008; Viana, 2002;

Viana, 2006; Whitehurst & Lonigan, 1998; 2001), e na qual as crianças provenientes de

contextos mais desfavorecidos apresentam grandes fragilidades (Bautista, 1993;

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Fernandes, 2005). Os resultados deste estudo mostram que a maior parte das crianças

conseguiu no pré-teste níveis de desempenho abaixo do esperado para a idade na

subescala Conhecimento Lexical, sendo as crianças de etnia cigana as que mais se

afastavam, em termos de desempenho, da norma.

Os resultados no TICL no final da aplicação do programa mostraram que após

uma intervenção sistemática e dirigida as crianças ciganas evoluíram em todas as áreas

avaliadas por esta prova. Mesmo na subescala em que geralmente os resultados estão

extremamente dependentes da estimulação do meio, a Reflexão sobre a Língua, os

resultados obtidos são muito satisfatórios.

As competências de análise da língua, avaliadas pelos itens da subescala

Reflexão sobre a Língua, estão altamente correlacionadas com a aprendizagem da

leitura e da escrita. As crianças provenientes de meios socioeconómicos mais

desfavorecidos apresentam níveis inferiores de reflexão sobre a língua (por exemplo,

Bowey, 1995; Gamelas, Leal, Alves, & Grego, 2003), mas a investigação tem

demonstrado que estas competências podem ser trabalhada por intermédio de tarefas

intencionalmente planificadas para o efeito (Adams, 2001; Lonigan, et al. 2013; Stahl,

2001). Os resultados obtidos corroboram os de Viana (2002) e os de Gonçalves, Viana e

Ribeiro, (2007) que, embora não incluindo na amostra crianças ciganas, mostram que a

intervenção sistemática visando a promoção de competências facilitadoras da

aprendizagem da leitura e da escrita produz efeitos.

A mudança nos desempenhos contraria o determinismo sociológico dos padrões

de literacia emergente (Cabell, et al., 2011; Lonigan, et al., 2013). Apesar de se registar

alguma estabilidade nas trajetórias das crianças, o estudo mostrou que é possível

contrariar o fenómeno que Stanovich (1986) designou "Efeito de Mateus". Isto é, “os

ricos ficaram mais ricos…mas os pobres também ficaram mais ricos”.

É cada vez mais importante identificar as variáveis que estão relacionadas com o

sucesso da aprendizagem formal, principalmente quando as crianças estão em risco de

fracassar nesse sucesso. Muitas das opções tomadas no âmbito deste projeto foram

sensíveis às variáveis que Cabell e colaboradores (2011) identificaram como aquelas

que mais contribuem para estreitar o fosso entre as crianças que estão em risco e aquelas

que não estão em risco de falhar na aprendizagem formal da leitura e da escrita. A

frequência no pré-escolar, a qualidade do ambiente educativo, a formação de

professores e a intervenção ao nível da literacia emergente justificam, por exemplo, o

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facto de privilegiarmos contextos de educação pré-escolar para implementar o projeto, o

facto de planificarmos em conjunto com os educadores de infância, de partilharmos

fundamentos teóricos e opções metodológicas, ou o facto de desenvolvermos atividades

que, inspiradas na literatura e programas já implementados, incidissem nas várias

competências linguísticas e da emergência da literacia.

O TICL tem como principal objetivo "contribuir para a identificação precoce de

crianças em risco de apresentarem dificuldades no acesso à leitura e à escrita e/ou

clarificar áreas onde se justificam a introdução de opções curriculares diferenciadas,

face às necessidades apresentadas pela crianças" (Viana, 2002, p. 210). Esta prova é

sensível às variáveis linguísticas fortemente correlacionadas com o sucesso da leitura e

escrita e, por isso, apresenta-se como uma ferramenta para o educador de infância. Por

um lado, permite-lhe avaliar os desempenhos das crianças em domínios cruciais da

linguagem - conhecimento lexical, conhecimento morfossintático, memória auditiva

para material verbal e, capacidade para refletir sobre a linguagem - e por outro, dá-lhe

pistas e sugere atividades a desenvolver nesses vários domínios para a idade pré-escolar.

Justifica-se, por isso, a seleção desta prova para este estudo. No entanto, além dos

resultados positivos encontrados, é importante considerar outro tipo de resultados. A

presença diária nos contextos de implementação do projeto, os registos e as conversas

frequentes com os educadores de infância permitem-nos apresentar alguns indicadores

de pequenas mudanças nas atitudes dos diversos atores implicados do projeto: as

crianças, os pais, os educadores e alguns elementos da comunidade educativa. Nesta

análise centrar-nos-emos, essencialmente, nas mudanças ocorridas junto da sub amostra

oriunda da comunidade cigana.

Maior interesse por atividades em torno do livro e da leitura:

O produto das nossas primeiras atividades com as crianças em torno do livro

contribuiu para associar o livro a momentos agradáveis. Por exemplo, a primeira

experiência com a história "A ovelhinha que veio para o jantar" foi apresentada às

crianças através de uma dramatização, com as personagens vestidas a rigor. O modo

como a apresentação foi preparada, com a colaboração dos educadores das salas, levou

a que o livro despertasse, talvez pela primeira vez, a vontade de descobrir aquilo que ele

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nos “queria” contar, pois o lobo partilhou com as crianças que a sua história estava

dentro daquele livro.

Figura 2. Dramatização da história "A ovelhinha que veio para o jantar" nos dois contextos de

implementação do Projeto.

Pouco depois desta primeira experiência, o produto de um conjunto de

atividades resultou na ida das crianças ciganas a outro jardim de infância para

apresentar a história: " O Coelhinho Afonso", de Luísa Ducla Soares. Foi a primeira vez

que estas crianças saíram das fronteiras da sala para interagir com crianças não ciganas,

por “força” de uma história de literatura infantil. "Então e se fôssemos contar esta

história a outros meninos, como fez a personagem do lobo na história da ovelhinha?" foi

a pergunta chave para desenhar, pintar, criar cenários, escolher músicas, explorar vozes

das diferentes personagens, aumentar o repertório de palavras, desenvolver estruturas

frásicas mais complexas… O livro permitiu-nos criar novas experiências. Foi, disseram-

nos na outra escola depois da apresentação da dramatização, uma surpresa. Digno de

nota é o facto de, depois da dramatização muito bem-sucedida, a atividade terminar com

toda a comunidade educativa a dançar uma música cigana, após a partilha das crianças

ciganas de alguns passos básicos e engraçados. Como refere Bravo (2014), "as

representações sociais negativas que a cultura dominante tem da etnia cigana associadas

a alguma falta de conhecimento sobre esta” (p. 17) contribuem para a inadaptação das

crianças ciganas à escola. Esta experiência de partilha é, em nosso entender, um claro

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da contribuição do programa para que as comunidades clarifiquem a sua visão face

às etnias e desenvolvam interações favoráveis ao bem-estar em sociedade. O sucesso

da primeira apresentação abriu caminho para outras, desta vez às famílias.

O livro conseguiu entrar neste projeto pela porta principal porque, na verdade,

era promotor de grandes experiências. E pedidos do tipo: "lê-me este livro", "conta-me

esta história" e perguntas, tais como, "como se chama este livro", "o que está aqui

escrito?", "onde está o nome dele [de uma determinada personagem]?", são pequenos

indicadores do interesse manifestado pelo livro e pela leitura. Esse interesse foi

particularmente visível num dos dias de implementação de atividades no jardim de

infância das crianças ciganas, quando foi levada uma mala cheia de livros. A chegada ao

contexto coincidiu com a hora do recreio, altura em que as crianças do pré-escolar

estavam a brincar pelo parque com as crianças do 1.º ciclo e o resultado da chegada da

mala foi muitas leituras voluntárias pelo recreio, com pequenos grupos de crianças do

pré-escolar a ouvir uma história que pediam aos amigos do 1.º ciclo que lhes contassem.

Figura 3. Leitura voluntária das crianças ciganas durante a hora de recreio

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O interesse manifestado pelas crianças em explorar o livro e a leitura permite-

nos considerar que o programa permitiu promover o gosto pela leitura e a curiosidade

pela escrita com a finalidade de mediar a construção de um projeto pessoal leitor e

desenvolver um conjunto de conhecimentos acerca da linguagem escrita. Note-se,

neste caso particular, a influência das crianças mais velhas, do 1.º ciclo, na promoção

desse gosto pela leitura e na construção de um projeto pessoal de leitor.

Maior interesse por atividades de escrita e desenvolvimento de um conjunto de

conhecimentos acerca da linguagem escrita:

O objetivo de promover, na criança, o gosto pela leitura e a curiosidade pela

escrita com a finalidade de mediar a construção de um projeto pessoal leitor e de

desenvolver um conjunto de conhecimentos acerca da linguagem escrita foi atingido.

1 2

Figura 4. Registos de escrita inventada

Na figura 4. apresentam-se dois registos de escrita inventada realizados pela

mesma criança, de 5 anos, em dois momentos distintos de implementação do programa.

O primeiro antes da implementação do programa e, o segundo, dois meses depois, isto

é, no final da implementação.

Para analisar como a criança se estava a apropriar do sistema de escrita pedimos

que nos dissesse como achava que se escreviam determinadas palavras (Viana, Batista

& Ribeiro, 2008). Tomando como exemplos os pedidos efetuados no estudo destes

autores, pedimos à criança, em ambos os momentos, que escrevesse, como imaginasse,

as palavras: «gato», «gata», «gatinho» e «formiga». O raciocínio que a criança revela no

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final do programa, bastante além da primeira marca distintiva entre o desenho e a escrita

(imagem 1), traduz uma descoberta que facilita "a iniciação ao ensino formal da leitura

e da escrita […] pois, em resultado do caminho já percorrido, as letras não são, de forma

alguma, entidades abstratas" (Viana, Batista & Ribeiro, 2008, p. 30).

Ainda sobre o objetivo que constitui ponto de reflexão, nomeadamente o de

mediar a construção de um projeto pessoal leitor, as respostas das crianças à pergunta

"gostavas de aprender a ler e a escrever?", tais como: " gostava, para ser professora", "

… para trabalhar", " … para contar histórias aos meus pais.", " …para ser estudante",

demonstram que estamos perante projetos de leitura diversificados, reveladores de

muito tipo de motivações.

Quando falamos no livro enfatizamos essencialmente o objeto livro, impresso,

palpável que as crianças possam pegar e explorar. Mas o uso de outros suportes, além

do impresso, particularmente o uso de suportes digitais, é uma opção pedagógica cada

vez mais atual (Blanchard & Moore, 2010; Korat & Shamir, 2007 e 2008; Moody,

2010). No âmbito deste projeto complementámos o uso de ambos os suportes e

verificámos que o suporte impresso permite manter o interesse de manusear e de

explorar os livros, e o suporte digital permite reforçar este interesse, atendendo às

características multissensoriais das novas tecnologias que despertam curiosidade, a

atenção e o interesse pelas atividades de leitura e exploração de histórias.

Catalisando a atenção e o interesse das crianças com o apoio às tecnologias de

informação e comunicação (TIC) foi possível, no âmbito deste projeto promover

variadíssimos momentos de comunicação, de uso da linguagem, de partilha de ideias e

de descoberta de novos conhecimentos (Amante, 2007a, 2007b; Lee & O'Rourke, 2006;

Plowman & Stephen, 2003, 2006; Santos, 2012; Turbill, 2001). Por exemplo, com a

elaboração de um e-book, tal como aconteceu neste estudo, com apoio do investigador,

do educador e do professor bibliotecário, ou por exemplo, com a elaboração da prenda

para o dia da mãe, uma prenda diferente para as mães de etnia cigana. Muitos estudos

incidiram no uso das TIC para a promoção da linguagem oral e literacia emergente

tendo obtido resultados que apontam para ganhos em termos cognitivos e afetivos nas

crianças (Lewin, 2000). De referir que em nenhuma das salas em estudo havia um

computador, e que um dos maiores interesses das crianças que frequentavam o sistema

itinerante Brag@brinca era exatamente a exploração das novas tecnologias, ainda que

esse acesso ficasse limitado às crianças mais velhas.

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Maior interesse por atividades que envolve a descoberta de rimas:

O gosto em produzir rimas foi, talvez, uma das maiores revelações durante o

programa. A qualquer altura uma palavra era usada para fazer rimas. Um exemplo

prático foi o que aconteceu na história "Os Ovos Misteriosos", de Luísa Ducla Soares e

de Manuela Bacelar, das edições Afrontamento. Apesar de não estar prevista a

exploração de rimas, a passagem "és ladrão, és ladrão, vou prender-te na prisão!"

despoletou um conjunto de expansões. As crianças agarraram esta rima de tal modo

que, a partir dela, foram criadas novas atividades.

Figura 5. Exemplo de uma atividade criada a partir do interesse espontâneo das crianças em

brincar com as rimas

Maior interesse em descobrir palavras novas e aplicá-las nas suas produções:

A exploração de uma palavra nova geralmente envolvia a descoberta do seu

significado e a construção de frases onde estivesse incluída. Inicialmente eram os

adultos quem motivava, fora do contexto de exploração do léxico, em atividades lúdicas

e brincadeiras, a aplicação da palavra nova a outras situações. Com algum tempo de

programa, as crianças iniciavam voluntariamente essas tentativas. Ilocuções como "a

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terra está salpicada de pedras", "o Ricardo está enfumecido [enfurecido] " são pequenos

exemplos do interesse em descobrir novos vocábulos e aplicá-los a novas produções.

Aumento do interesse dos pais pelas atividades desenvolvidas no jardim de infância

Refletindo agora sobre os efeitos do programa junto das famílias, avaliamos o

seu interesse pelas vezes em que aceitaram colaborar nas propostas de atividade

lançadas no âmbito do mesmo.

Os pais das crianças não ciganas eram frequentemente convidados a ir à escola

para ver apresentações dos filhos e, no geral, marcavam presença. Todavia esta não era

a realidade a que se assistia por parte das famílias ciganas. A primeira estratégia para

promover a participação dos pais ciganos no âmbito deste projeto foi através de um

convite para irem à escola, desta vez não para falar na avaliação dos filhos, tema que, de

resto, tinha pouca adesão por parte dos pais, mas para verem o filme surpresa que os

filhos prepararam para o Dia da Mãe. Esta participação resultou acima de tudo na sua

presença e vinda à escola, com o objetivo de estabelecer um primeiro contacto em torno

de interações positivas e agradáveis. Mais uma vez as crianças estavam envolvidas

ativamente no processo de preparação. Tínhamos explorado uma história que promoveu

a imaginação por intermédio de muitos afetos. Além disso parecia de todo oportuno tal

como ilustra o testemunho da educadora que de seguida apresentamos:

" É importante que eles sejam convidados a vir cá por um motivo que não seja só

por causa da avaliação dos filhos".

Para concretizar a atividade foi proposto o convite às mães para tirar uma

fotografia, no contexto escolar, na qual mães e filhos demonstrassem carinho, à

semelhança daquilo que tinha acontecido numa história que as crianças tinham ouvido.

Para além da fotografia foram efetuadas gravações das crianças com mensagens

construídas a partir da frase " A minha mãe é…". As gravações foram compiladas,

juntamente com as fotografias, num filme que as mães foram convidadas a vir assistir à

escola. No dia da visualização do filme as mães ciganas estavam todas presentes e

vieram também alguns pais.

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No final do encontro em grupo cada um deu a sua a opinião sobre a atividade. O

feedback foi importante para percebermos os ajustes a fazer e alternativas a considerar

para dar continuidade ao projeto. Um pai cigano que estava presente rematou a

atividade com a sua opinião sobre este processo:

"Tenho uma reclamação a fazer! Por que é que no Dia do Pai não fizeram

assim?"

Este contacto mais direto com os pais e famílias, que foi mote para outras

experiências partilhadas ao longo deste projeto, a atitude que pais e crianças

demonstraram e o modo como as crianças ciganas se envolveram nas atividades nas

quais se implicavam, principalmente naquelas que envolviam a participação das

famílias, a presença de tradições e a vivência de novas experiências, mostram-nos que

"o educador deve ser capaz de identificar com rigor o «mosaico cultural» que o rodeia e

conhecer, com a profundidade possível, os traços culturais e identitários das crianças

com quem trabalha, isto é, deve procurar ultrapassar os estereótipos frequentemente

folclorizantes do senso comum." (Marques & Borges, 2012, p. 99).

Na planificação da ida a outro jardim de infância apresentar a dramatização da

história "O coelhinho Afonso" um problema foi equacionado. O dia mais apropriado em

termos de receção por parte da outra instituição coincidia com um dia de feira para a

família de uma das crianças, o que significava que essa criança faltaria nesse dia para

acompanhar os pais. O problema foi colocado aos pais e o dia de saída só ficou

confirmado depois de recebermos um feedback positivo por parte da família da criança

e da própria criança. O interesse da criança em ir era visível e estamos em crer que a

família se apercebeu desse interesse porque no dia, um dia que para ela era na maior

parte das vezes dia de feira, a criança foi trazida à escola no início da manhã para

dramatizar o papel principal da história. Assegurar (e solicitar) o apoio dos pais para

que a atividade se concretizasse mostrou que o educador deve valorizar os pontos

fortes da cultura cigana, ou seja, deve reconhecer e valorizar o facto de os ciganos

respeitarem bastante os desejos das crianças.

Os pais ciganos também participaram na planificação da nossa ida ao bairro do

Picoto para as crianças apresentarem a dramatização de uma história. Foi por intermédio

dos pais que as portas do bairro se abriram e foram eles que divulgaram aos habitantes

do bairro a nossa ida. Foram ainda eles que escolheram um sítio no bairro onde

pudéssemos ser vistos por todos os habitantes.

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No dia lá estávamos, as crianças, os cenários, os alunos do 1º ciclo e professores

da escola, alguns convidados e os habitantes do bairro. Mais uma vez o livro criou uma

ponte entre a escola e a comunidade cigana. As expectativas foram ultrapassadas. O

comentário de um membro da comunidade educativa (não cigano), aquando da

apresentação do projeto "De mãos dadas com o livro" - "não deveríeis sonhar alto para

a queda não ser grande" – é revelador de um conjunto de estereótipos que ainda

persistem. A realidade mostrou que, afinal, as famílias ciganas estavam dispostas a

apoiar outras iniciativas, desde que as “suas” crianças fossem as protagonistas. Ao

romper com algumas barreiras que estavam enraizadas na comunidade, acreditamos que

o programa contribuiu para desenvolver, no educador, o sentimento de capacitação na

educação responsável de crianças provenientes de meios socioeconómicos

desfavorecidos.

Figura 6. Dramatização da história “ O coelhinho Afonso” no bairro do Picoto

Outra proposta de atividade aconteceu na sequência da exploração da história

"Se eu fosse muito alto", de António Mota e André Letria, Edições Gailivro. O convite à

imaginação que a história provoca levou as crianças ciganas a pensar no que aconteceria

se fossem muito altas. As respostas das crianças foram registadas no placar e cada

criança selecionou a sua frase preferida. Foi a partir dessa frase, registada em letras bem

visíveis no cabeçalho de um cartaz, que as crianças fizeram com os seus pais uma

ilustração sugestiva. No final da atividade fomos recebendo o feedback dos pais e

recolhendo alguns comentários que demonstram a possibilidade de colaborar com a

escola para a educação dos seus filhos. O comentário "pr'a fazer isto já me pode chamar

mais vezes a vir à escola!" mostra que, afinal, o envolvimento é possível.

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Estes apontamentos que fomos deixando ao longo desta análise são indicadores,

não negligenciáveis, do aumento da participação dos pais nas atividades propostas pela

escola para a educação dos filhos e levam-nos a considerar que o programa contribuiu

para que as famílias valorizassem o contexto de educação pré-escolar enquanto palco

onde as crianças desenvolvem novos conhecimentos sobre o mundo sem deixar de

valorizar a sua própria cultura, e para que desenvolvessem o sentimento de confiança

face à escola na promoção de um conjunto de competências que ajudem os seus

filhos.

Maior interesse do educador de infância em promover atividades de promoção

da linguagem oral e literacia emergente:

Ao pensarmos no desenho de um programa de promoção da linguagem oral e

literacia emergente em crianças ciganas e não ciganas, provenientes de contextos

socioeconómicos desfavorecidos, era ponto assente que ele deveria ser integrador,

respeitador das OCEPE e passível de ser replicado por qualquer educador. A “vida” dos

guiões e dos recursos materiais que foram sendo construídos para a implementação das

atividades do programa não terminou com a sua finalização. No ano letivo seguinte o

programa "De mãos dadas com o livro" foi “incorporado” nas atividades de sala, com

um novo grupo de crianças. Pensamos, deste modo, que o programa continua a

contribuir para a promoção de competências de linguagem oral e de literacia

emergente em idade pré-escolar junto de uma população que regista, neste domínio,

grandes fragilidades.

Aumento do interesse da comunidade pela educação das crianças, no geral, e

das crianças ciganas, em particular:

Além dos apontamentos já elencados, o comentário do enfermeiro Fernando,

convidado a partilhar os seus conhecimentos com as crianças no contexto de exploração

da história "Não, David!", torna explícito um conjunto de crenças: "há muitos recursos

na comunidade que podem ser mobilizados para a educação destas crianças e que na

maior parte das vezes estão esquecidos ou são completamente ignorados".

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Figura 7. Vinda do enfermeiro Fernando à escola Nogueira da Silva

Numa ótica semelhante, a conversa do mediador do projeto T3tris com as

crianças ciganas, no contexto de exploração da história "O Ciganinho Chico, de Bruno

Kalon Gonçalves e Tiago Moleano Gomes, do Centro de Estudos Ciganos, sobre a

importância de aceder à leitura e à escrita para se agir em sociedade (para ser jogador

de futebol, para tirar a carta de condução, para ser um cigano informado) foi um

testemunho, na primeira pessoa, do que é possível mudar. O mediador, sendo cigano, é

ouvido e reconhecido dentro das comunidades e fala na primeira pessoa da sua cultura e

tradição, das dificuldades de inserção social e das potencialidades de desenvolver

competências literácitas na sociedade atual para promover essa mesma inserção. O facto

de a exploração deste conto ter terminado com a pintura da bandeira cigana, que foi

colocada no hall de entrada da escola, mostrou a valorização da cultura cigana. Esta

valorização abre portas para a aceitação de “normas “ da cultura não cigana como, por

exemplo, a frequência escolar ou a proibição do casamento enquanto crianças.

Figura 8. Bandeira cigana elaborada com a ajuda do mediador cigano

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REFLEXÃO FINAL

______________________________________________________________________

Chegou o momento de sintetizar as linhas orientadoras desta dissertação e de

expor algumas conclusões.

Tomando como impulso as assunções que a investigação coloca em relação à

educação das crianças ciganas em particular, nomeadamente as dificuldades em

provocar impacto por intermédio de intervenções desenhadas para a promoção de

competências, geralmente competências que são promovidas em idade escolar,

desenhamos uma intervenção para implementar antes do ingresso das crianças na

escolarização formal, com vista à promoção de um conjunto de competências que estão

emergentes nesta faixa etária e que são percursoras do sucesso da aprendizagem formal

da leitura e da escrita. Pensamos numa intervenção que não procurava incidir no

problema mas que tinha como objetivo contribuir para a sua prevenção. A idade pré-

escolar é uma idade crítica para trabalhar competências que preparam caminho para a

etapa seguinte. Em acréscimo, um pequeno estudo de campo desenvolvido com a

colaboração dos técnicos do projeto T3tris levou-nos a refletir sobre a necessidade de

pensar em intervenções intencionais junto das crianças desta idade. São cada vez mais

as crianças em idade pré-escolar a frequentar o sistema itinerante brag@brinca, ainda

que este projeto esteja pensado para crianças do 1.º ciclo do ensino básico, criando-se a

necessidade de um enfoque mais intencional junto deste nova população, com

necessidades e interesses próprios.

Teríamos, à luz do exposto, uma amostra selecionada e um contexto de

intervenção. No entanto, a investigação colocou-nos outros desafios: a) a etnia cigana é

a minoria étnica que mantém mais crianças fora da escola (Pereira Bastos, 2007); b) a

relação dos ciganos com a escola é pautada por um afastamento secular que ultrapassa

as fronteiras de um país (Casa-Nova, 2006); c) o resultado são as elevadas taxas de

absentismo (Casa-Nova, 2006, 2009; Observatório Sociodemográfico das Comunidades

Ciganas, 2010) que culminam em grande medida num fraco índice de aproveitamento

escolar; d) a obrigatoriedade por si só não promove a frequência e o sucesso escolar; e)

com a entrada tardia no contexto de educação formal as crianças ciganas perdem

experiências de socialização e de aprendizagem de um conjunto de competências

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nomeadamente competências cognitivas e de linguagem e literacia emergente que

promovem o sucesso da aprendizagem posterior (Santos, 2006).

Tornou-se explícita a necessidade de pensar numa intervenção a implementar

nos jardins de infância, em interação com os pais e com as famílias, também porque a

criança não vive num mundo isolado. A criança modifica o seu ambiente e, por sua vez,

é modificada pelo ambiente que ajudou a criar (Sameroff & Chandler, 1975). Mas

apesar do seu número considerável, são poucas as crianças ciganas que frequentam a

educação pré-escolar. Com o apoio dos técnicos da Bragahabit fizemos o levantamento

das escolas que são frequentadas por crianças ciganas, na cidade de Braga, e o que

verificamos foi que em idade pré-escolar, apesar das inscrições, a frequência é muito

reduzida, mesmo nas escolas onde há um elevado número de crianças ciganas a

frequentar o 1.º ciclo. Por esse motivo foram selecionados dois jardins de infância, um

frequentado maioritariamente por crianças ciganas e outro por crianças que, não sendo

ciganas, são na sua maioria provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos.

Esta heterogeneidade poderia ser rica em termos de estudo.

O número de crianças ciganas consideradas para este estudo acabou por revelar-

se, deste modo, bastante reduzido, podendo levantar algumas questões em relação à

ênfase atribuída à temática em estudo, desde já pela redação do título desta dissertação,

cuja incidência recai primeiramente nas crianças de etnia cigana apesar de serem as

restantes crianças, provenientes de outros contextos socioeconómicos desfavorecidos, as

que constituem a maior parte da amostra em estudo. Quando a temática são os ciganos

ainda se assiste a uma marginalidade do conhecimento produzido, negligenciando-se,

entre outros, “o seu potencial heurístico no cruzamento com outras áreas de

conhecimento dentro das Ciências Sociais, nomeadamente no que diz respeito à relação

estabelecida com a escola pública” (Casa-Nova, 2009, p. 24). Tomamos como objetivo

tornar visível esta temática através do cruzamento de duas áreas de conhecimento com

vista a potencializar benefícios mútuos, fazendo deste modo todo o sentido salvaguardar

o direito à visibilidade positiva das crianças de etnia cigana, evitando que ficassem

camufladas mais uma vez como uma minoria dentro da outras minorias.

A avaliação inicial mostrou-nos que as crianças ciganas estavam em risco de

fracassar na aprendizagem da leitura e da escrita mas, mais além, revelou que as

restantes crianças também apresentavam desempenhos que as colocavam em risco de

fracassar nessa mesma aprendizagem. A criança em risco é a imagem de alguém que

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fica por desenvolver e, talvez mais do que isso, que fica por viver interações alargadas e

continuadas com adultos significativos (Blair, 2002, citado por Katz, 2006). Quando se

enfatiza a promoção de um conjunto de competências essenciais ao futuro sucesso

académico não se pretende uma educação pré-escolar escolarizada que antecipa a

aprendizagem formal e delega para último plano o processo de aprendizagem ativa da

criança sobre o qual ela própria tem um papel primordial. O que se pretende é que a

criança viva experiências para falar sobre elas, partilhe atividades para refletir sobre a

língua, contacte com o impresso para levantar hipóteses sobre as suas funções, tire

prazer desse contacto para desenvolver um projeto pessoal leitor. Tal como afirmam

Dionísio e Pereira (2006) "a ênfase é colocada na diversidade de situações que devem

ser criadas para permitir às crianças contextos de diálogo e de interação, assim como

para motivar o seu interesse" (p. 7). A investigação tem mostrado que estas experiências

permitem incidir nas dimensões cognitiva, linguística e emocional (Sim-Sim, 1998;

Sim-Sim, Silva, & Nunes, 2008) que são as dimensões necessárias ao sucesso pessoal,

educativo e social da criança, na maioria raras para as crianças provenientes de meios

mais socioeconómicos e culturais desfavorecidos (Braunger & Lewis, 2006; Haney &

Hill, 2004; Lindee & Goldstein, 2004; Lonigan, et al., 2013; Moreira & Ribeiro, 2009;

Murray & Harrison, 2011; Oates, et al., 2011).

Retomamos agora as questões que outrora fizemos. Por que é que as crianças

ciganas não vão à escola? O que é que lá se trata que não as cativa? Quando se

pretende travar as elevadas taxas de absentismo não será porventura mais fácil

promover a vinda das crianças ciganas à escola se as mesmas se identificarem com os

conteúdos abordados, se o currículo valorizar a aprendizagem ativa, o saber concreto e

ainda respeitar a necessária diferenciação pedagógica? A tentativa de resposta a estas

questões tem sido mote para muitos estudos mas instalam ainda a necessidade de não

parar na procura de novas respostas. Invocamos o pensamento de Papert (1993) sobre as

experiências de aprendizagem. De acordo com o autor os grandes momentos de

aprendizagem ocorrem quando há envolvimento ativo do sujeito na planificação das

ações, e de modo muito especial quando essas ações são significativas para o sujeito e

para o seu grupo.

Sobre a frequência na educação pré-escolar, a literatura refere que se for uma

educação pré-escolar de qualidade pode fazer a diferença (Lonigan, et al. 2013; Mol &

Bus, 2011; Sénéchal, et al., 1998; Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008; Viana & Martins,

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2009). Mas a questão da qualidade é pertinente principalmente quando é efetiva a

tomada de conhecimento de que a etnia cigana continua a ser a minoria étnica que

mantém mais crianças fora da escola (Pereira Bastos, 2007), e que os ciganos continuam

a ser o grupo étnico com maiores fragilidades económicas, sociais e educacionais

(Magano e Mendes, 2014). A literatura tem sido exaustiva na identificação das causas.

Por agora importa considerar o "que pode a escola oferecer de aliciante, importante ou

estimulante que justifique a presença assídua e pontual, ao cumprimento de horários em

espaços fechados, a pessoas que trabalham ao ar livre ao ritmo de feiras mercados e

festas?" (Bravo, 2014).

O currículo, desenvolvido no respeito pela diversidade cultural, deve ser

construído atendendo ao público a que se destina. E os livros, as histórias, as imagens,

com temas que interessam às crianças, "isentos de imagens tipificadas da diversidade

humana passíveis, por isso de fazer despontar preconceitos raciais ou étnicos" (Marques

& Borges, 2012, p. 87), permitem abordar a diversidade cultural e promover uma

educação inter/multicultural em idade pré-escolar, desencadeando interações positivas,

situações de jogo, vontade de descobrir, de pesquisar, de reinventar dinâmicas, espaços

e materiais. A escola tem o papel de romper com as fronteiras das conotações e sair dos

seus muros para criar e partilhar momentos, eventualmente em torno do livro, para

testemunhar que na escola se faz, que as crianças fazem e que o que se faz é agradável e

produz resultados. Esta é uma dimensão essencial a reter e a reflexão de Cruz (2011) é

ilustrativa daquilo que queremos concluir: "a tónica no desenvolvimento das

competências de literacia emergente não se justifica apenas pela sua relação com o

sucesso escolar, é um objetivo em si mesma, devendo ser enquadrada no âmbito mais

geral do próprio desenvolvimento literácito" (p. 201). Por isso, quando falamos

constantemente no sucesso da aprendizagem da leitura e da escrita queremos vincular a

ideia de que é fundamental estar atento e sensível aos interesses emergentes das

crianças, criando experiências que são oportunidades de aprendizagem, e que parece

fazer mais sentido pensar em intervenções também sensíveis aos tempos ótimos de

desenvolvimento de um determinado tipo de competências. Promover competências

tardias em idades que a criança deveria trabalhar outras dimensões da aprendizagem

pode tornar o processo de aprendizagem pouco atrativo. Ou seja, seria importante que

começasse a haver maior sensibilidade para a idade pré-escolar e que os projetos

desenvolvidos a nível nacional abrissem o leque de atividades às faixas etárias mais

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novas, sob o risco de começar um pouco tarde na criação de experiências e na promoção

de competências. Procura-se um novo modelo de Escola, assente num paradigma de

promoção, uma légua além do paradigma da resolução de problemas.

No final do programa os resultados apontam para mudanças significativas nos

desempenhos linguísticos das crianças avaliados pelo TICL. As crianças ciganas

conseguiram níveis de mestria nas diversas subescalas da prova, embora mantivessem

as suas posições relativas no grupo estudado.

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LIMITAÇÕES

______________________________________________________________________

Uma das limitações que pode ser apontada a este estudo diz respeito ao uso de

um único instrumento de avaliação da linguagem. Tal como já temos vindo a referir o

uso do TICL está justificado, não só pelas potencialidades que suporta para a avaliação

de um conjunto de competências altamente correlacionadas com a aprendizagem da

leitura e da escrita, mas também pelas possibilidades de uso, nomeadamente por poder

ser usado por profissionais de educação como os educadores de infância. Contudo, os

incentivos facultados às crianças desde o início do programa para escreverem, em

situações de jogo e de brincadeira, e a descoberta de algumas evoluções interessantes ao

longo de dois meses de intervenção, levou-nos a considerar ter perdido uma ferramenta

complementar de avaliação que seria constituída pelos registos de escrita inventada.

Poderão ainda levantar-se outras limitações relativas à avaliação das crianças ciganas

com o recurso a uma prova estandardizada, cruzando esta questão com as reflexões que

fomos fazendo ao longo da revisão da literatura, as quais sublinhavam o carácter pouco

específico e universalista das medidas adotadas para estudar e intervir junto dos

ciganos. O TICL tem sido usado em vários estudos com crianças oriundas de meios

desfavorecidos ou de minorias (Correia, 2011; Costa, 2012; Faria, 2009; Viana, 2002),

apesar de não ter historial junto das populações ciganas, em muito devido à

marginalização desta temática, ao desconhecimento ou à negligência de intervenções

precoces, e devido às causas que Casa-Nova (2009) aponta como justificativas da

ausência de investigação por parte dos académicos na área das Ciências Sociais. Apesar

das suas potencialidades e da sua adequação, traduzida em termos de resultados,

importa não negligenciar a ideia de uma avaliação fragilizada pela pouca especificidade,

intrínseca à natureza deste estudo preliminar.

O desempenho inicial no TICL, para todas as crianças, ficou aquém do nível de

mestria esperado para a idade (Viana, 2002). Estes resultados assemelham-se aos

obtidos noutros estudos com crianças oriundas de meios muito desfavorecidos ou de

minorias Os resultados obtidos pelas crianças ciganas são semelhantes aos encontrados

no estudo de Correia (2011), efetuado com crianças institucionalizadas. Confirmando o

que se verificou na revisão da literatura, as crianças de etnia cigana estavam em situação

de grande risco em termos de aprendizagens escolares.

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Outra limitação a apontar neste estudo tem a ver com o número muito limitado

de crianças ciganas que constituíram a amostra. O estudo foi pensado para crianças

ciganas mas constrangimentos de determinada limitaram a representatividade desta

etnia na amostra.

Merece ainda consideração um aspeto relacionado com a intervenção junto das

famílias. A abordagem inicial de auscultar as famílias ciganas, no sentido de perceber

quais as tradições da sua cultura (histórias do povo cigano, danças, músicas) que

poderíamos aproveitar para trabalhar em contexto de educação pré-escolar, parece ter

provocado algum receio de exposição social, demonstrado na dificuldade em apresentar

essas histórias, danças e músicas para serem trabalhadas no âmbito do programa "De

mãos dadas com o livro". Por conseguinte planearam-se outros momentos, na tentativa

de promover interações positivas e agradáveis entre a escola e os pais, que não

propunham diretamente atividades destes com os filhos em torno do livro e da leitura,

ainda que decorressem na sequência da sua exploração. É sabido que os ambientes de

literacia familiar e a qualidade das interações em torno da leitura têm grande impacto

nas competências de literacia emergente (Bingham, 2007), sendo que esta deve ser uma

dimensão a explorar nos programas de promoção de competências facilitadoras da

aprendizagem da leitura e da escrita em crianças em idade pré-escolar e que são

sensíveis às transações do desenvolvimento.

Por último, quando se desenha um programa desta natureza a implementar nas

escolas é importante considerar que a aprendizagem da criança nunca parte do zero e

que é altamente influenciada pelo meio. No âmbito do programa "De mãos dadas com o

Livro" o pré-teste permitiu avaliar as competências iniciais das crianças, em particular

das crianças de etnia cigana e das crianças que não eram de etnia cigana. Contudo, além

da condição étnica, estas crianças frequentavam contextos diversos, com dinâmicas

também diferentes. Há um conjunto de variáveis relacionadas com o ambiente

educativo, nomeadamente as rotinas criadas para promover a linguagem oral e a

literacia emergente, que devem ser equacionadas por condicionarem as experiências

proporcionadas às crianças e por terem impacto no desenvolvimento de competências

de linguagem oral e de literacia emergente. Estas variáveis devem ser sistematicamente

avaliadas (Pinto, 2012).

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ANEXOS

Anexo A: Planos do programa

A Violeta não sabe falar! (AgatheHennig e DidierDufresne: Zero a Oito)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro (Título, autores,

editora); levar as crianças a falar sobre o conteúdo do livro a partir da capa e contracapa

Leitura: Leitura da história em voz alta com o recurso ao livro e à projeção das

ilustrações com o acompanhamento de músicas alusivas ao enredo.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Como é que se chama a história que foi contada?

E: Ao sair de casa a Violeta disse: “hoje é um gande dia!”. Porque é que era um

grande dia para a violeta?

E: Qual foi o primeiro animal que a Violeta encontrou pelo caminho?

E: O que é que a Violeta disse que ia fazer na escola?

E: Quando o professor Hilário perguntou “qual é a cor do sol?” a Violeta

respondeu que era amaguelo!”. Que comentário é que os outros fizeram quando

ouviram a Violeta Falar?

E: Se fossem a Violeta como é que se sentiriam?

E: Entretanto a Violeta foi para casa e tomou uma decisão. Qual foi?

E: No dia seguinte o professor Hilário perguntou “qual é a cor do sol quando se

põe?”. O que é que aconteceu quando ele fez essa pergunta?

E: A partir desse dia a Carlota esperava sempre pela Violeta no portão. O que é

que a Carlota dizia à Violeta quando a via?

E: O que é ser um grande amigo? (Registar as respostas das crianças num cartaz

de modo a que as crianças vejam transcrever a sua oralidade para a escrita)

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2. Conhecimento Lexical

Explicar as frases: “Hoje é um grande dia”; “ Gritar em coro”; “Fugir a Sete

pés”.

Palavras Novas: Organizar três pequenos grupos, com material de registo, para

sair da sala e perguntar às pessoas qual o significado da palavra Serpentear (as

crianças são motivadas a perguntar, veem registar e contactam com perpetuidade

da escrita). Na sala os três grupos reúnem-se e partilham os registos ideias. É

efetuado o registo, num cartaz, das melhores definições da palavra. Com o novo

vocábulo formam-se frases.

3. Conhecimento morfossintático

E: A serpente serpenteia. E se fossem duas serpentes, como é que eu dizia?

E: O caracol anda devagar. E se fossem dois como é que eu dizia?

E: O professor estava na escola. E se fossem dois, dizia..

E: O cão gosta de ossos. E se fossem dois?

E: As meninas estão a comer. E se fosse uma, como é que eu dizia?

E: As serpentes vão à escola. Se fosse só uma dizia…

E: Os lápis estão na caixa. E se fosse só um lápis, como ficava a frase?

4. Reflexão sobre a Língua

E: Quais são as personagens da nossa história? (Depois das crianças enumerarem

as personagens da história, propor brincar com o nome de cada uma numa

sequência de fases:

Segmentar as palavras em sílabas com batimentos de palmas (serpente;

escorpião; dromedário; lagarto; raposa; boi; formiga; gato) e contar as sílabas

de cada uma;

Fazer conjuntos com as palavras que têm apenas uma sílaba; que têm duas

sílabas; que têm três sílabas e que têm quatro sílabas.

Promover a reflexão sobre o tamanho das palavras e o que representam: as

palavras maiores são as que demoram mais tempo a serem ditas.

E: A Violeta e a Carlota são duas serpentes (pronunciar a palavra Serpente

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dando ênfase ao som S). Agora vamos olhar para as imagens e procurar aquelas

que têm um nome que começam pelo som /s/:

Imagens retiradas da Internet

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A Ovelhinha que veio para o jantar (Steve Smallman: Dinalivro)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro (Título, autores,

editora); levar as crianças a falar sobre o conteúdo do livro a partir da capa e contracapa.

Leitura: Leitura da história em voz alta com o recurso ao livro e à projeção das

ilustrações com o acompanhamento de músicas alusivas ao enredo.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Quem são as personagens desta história?

E: De que é que se queixava o lobo?

E: De seguida bate alguém à porta? Porque é que o lobo deixou a ovelhinha

entrar.

E: A ovelhinha vinha cheia de frio. O que é que o lobo fez quando viu a

ovelhinha a tremer de frio?

E: Porque é que a ovelhinha ficou com soluços?

E: O lobo pegou na ovelhinha ao colo para lhe passarem os soluços. Como é que

se sentiu o lobo por ter a ovelhinha no colo?

E: O lobo pensou em comer a ovelhinha. O que é que aconteceu quando e

preparava para a comer?

E: O que é que aconteceu ao lobo quando expulsou a ovelhinha de casa?

2. Conhecimento Lexical

Adjetivos:

E: Como é que era o lobo? (Caracterização física e psicológica): O educador

desenha a imagem do lobo, em tamanho grande, e regista as palavras que as

crianças disserem. Para a caracterização fisica o educador recorre à imagem;

para a caracterização psicológica leva as crianças a pensarem nas ações do lobo

ao longo da história.

Opostos:

E: O lobo sentiu-se feliz com a ovelhinha no seu colo. O contrário de feliz é...

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Outras palavras: rápido/lento; triste/contente; grande/pequeno.

Imagens retiradas da Internet

Palavras Difíceis:

E: O lobo queria fazer um ensopado de borrego. O que é um ensopado?

Outras palavras: escuridão; matreiro; recheado; devorar; contagioso;

suplicava, (procurar no dicionário/sair à rua e perguntar às pessoas o

significado das palavras; fazer o registo das respostas; formar frases com as

palavras novas).

Explicar as frases: "Já lhe crescia água na boca"; "Até posso ficar com o

coração partido" (explorar as frases a partir de situações do quotidiano das

crianças).

3. Conhecimento morfossintático

Géneros das palavras:

E: A ovelhinha deu um grande beijo ao lobo. O lobo é macho. Quem é a fêmea

do lobo? (loba). Se a ovelhinha desse antes um beijo à fêmea, como ficava a

frase? A ovelhinha…

Esta é a história dos 3 porquinhos. E se em vez de serem machos fossem

fêmeas, como ficava a frase? Esta é…

Aquela casa é das galinhas. E se em vez de serem fêmeas fossem machos?

Aquela casa…

4. Reflexão sobre a Língua

Sílabas

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Segmentar palavras em sílabas, acompanhando a segmentação com

batimentos de palmas: formiga; boi; mosca; girafa; ovelha; menino;

contagioso; matreiro.

Depois do batimento de algumas das palavras anteriores recorrer-se-á, para

tornar a atividade mais dinâmica, a um conjunto de imagens existente na sala e

convidar-se-ão as crianças a retirar uma imagem escondida e a bater palmas

para as sílabas da imagem que lhe calhou. Cada palavra é escrita no quadro, de

modo que todas as crianças vejam escrever, e à frente é também registado o

número de sílabas correspondente. No final promove-se uma reflexão sobre o

tamanho das palavras. Esta atividade permite que a criança se vá apercebendo

que as palavras maiores são as que demoram mais tempo a serem ditas.

Rimas

E: Quando a ovelhinha foi para a floresta o lobo ficou a pensar. Pensar rima

com andar, e com...

E: Matreiro rima com certeiro e com (açucareiro; toalheiro; bombeiro...)

E: Feliz rima com chafariz e com (nariz, giz, imperatriz, cicatriz; raiz, verniz...)

Explicar às crianças que uma palavra rima com outra quando ambas têm o

mesmo som final.

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Imagens retiradas da Internet

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O Coelhinho Afonso (Luísa Ducla Soares, Danuta, Civilização Editora)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro.

E: O Título da História é "O Coelhinho Afonso". Por que é que acham que a

história se chama assim? (Para promover as ideias das crianças recorrer às imagens das

guardas e da contracapa).

Leitura: Leitura da história em voz alta com o recurso ao livro e à projeção das

ilustrações com o acompanhamento de músicas alusivas ao enredo.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Porque é que o coelhinho não conseguia encontrar um amigo para brincar?

E: Se vocês fossem o pombo-correio, que solução arranjariam para poder

brincar com o coelho?

E: Por que razão o coelhinho Afonso e a Coelhinha branca ficaram amigos para

sempre.

2. Conhecimento Lexical

Explicar as frases: "campo salpicado de flores".

Palavra nova: Salpicado

Construir frases com a palavra nova;

Fazer o registo (as crianças veem ler e escrever; as crianças contactam com

as funcionalidades da escrita, veem perpetuar a oralidade e veem registadas as

suas produções).

3. Conhecimento morfossintático

Plurais

E: O pombo da história arrulha assim… (imitar o som do pombo). Um pombo

arrulha, dois pombos...

E: A serpente assobia. Uma serpente assobia, duas serpentes...

E: O cão ladra. E se fossem dois dizíamos

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Descoberta de omissões de palavras na frase

E: vou dizer duas frases. Na segunda frase há uma palavra que eu não vou dizer

e vocês vão descobrir qual é:

E: Os peixes do lago não sabem saltar.

E: Os peixes do lago sabem saltar.

Escrever as duas frases do quadro, contar as palavras de cada frase e refletir

sobre a diferença entre ambas.

4. Reflexão sobre a Língua

A educadora diz a quadra convidando a criança a identificar a palavras que

terminam com o mesmo som.

E: Quando o coelhinho encontrou o pombo disse-lhe:

"eu sou o coelhinho

de orelhas no ... (ar)

queres brincar comigo

correr e.... (saltar)."

E: O pombo respondeu

"os pombos-correio

não sabem... (saltar)

vem tu coelhinho

comigo..." (voar)."

E: saltar rima com voar... e com...

As palavras que rimam são escritas no quadro para as crianças verem

escrever e se aperceberam das funcionalidades da escrita.

Continuamos a rimar

De três palavras dadas perguntar à criança quais são as que rimam: Dançar/

Carro/ Brincar; Correr/Andar/Beber; Cadeira/Banco/Bandeira; Caracol/

Folha/Farol; Cambalhota/sapato/bota; Abelha/Telha/Formiga.

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Imagens retiradas da Internet

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5. Desenvolvimento de outras competências…

Dramatização do conto;

Elaboração de uma prenda para o Dia da Mãe:

E: O coelhinho ficou a gostar muito da coelhinha branca. Nós também temos

muitas pessoas que gostam de nós e de quem nós gostamos…

Promover uma pequena conversa em torno deste assunto com a finalidade

de planificar uma atividade para o dia da mãe. Um dos objetivos principais

desta atividade é trazer as mães à escola por motivos agradáveis. Para tal é

necessário que cada mãe tire uma fotografia carinhosa com o seu filho (a

fotografia é tirada na escola pelo educador). As fotografias serão o mote para

que as crianças descrevam as suas mães e falem dos sentimentos que os unem.

Com o recurso ao gravador as vozes das crianças serão registadas. O resultado

será um filme com as fotografias acompanhadas pelas dedicatórias de cada

criança.

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O Nabo Gigante (Alexis Tolstoi, Niamh Sharkey, Livros Horizonte)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro (Título, autores,

editora); levar as crianças a falar sobre o conteúdo do livro a partir da capa e contracapa.

Leitura: Leitura da história em voz alta com o recurso ao livro e à projeção das

ilustrações com o acompanhamento de músicas alusivas ao enredo.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Quais são as personagens da história?

E: Como é que era a casa do velhinho e da velhinha?

E: O que é que eles decidiram fazer numa bela manhã de primavera?

E: Quando é que os legumes ficaram maduros?

E: Havia um legume que era diferente dos outros, qual era? Por que é que era

diferente.

E: Como é que o velhinho fez para colher o nabo gigante?

E: Como é que era a vaca da quinta do velhinho?

E: Depois de o velhinho chamar a grande vaca castanha e de não serem capazes

de puxar o nabo, quem é que foram chamar?

E: Como é que eram os porcos da quinta?

E: O que é que aconteceu ao nabo quando os três gatos pretos ajudaram a puxar

e içar?

E: Depois chamaram as quatro galinhas sarapintadas e os cinco gansos brancos

e nem assim o nabo se mexeu. O que é que fez a velhinha?

E: O que é que aconteceu quando o nabo saiu da terra?

E: Apesar de o ratinho ser pequenino conseguiram puxar o nabo com a sua

ajuda. Porque é que só conseguiram tirar o nabo da terra com a ajuda do

ratinho?

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2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: suculentas; leira; içar; ofegantes (registar no quadro das

palavras novas)

Consultar o dicionário para pesquisar o significado;

Fazer frases com as palavras novas.

Caracterização da casa do velho e da velhinha

E: A casa do velhinho e da velhinha era velha e torta. O que é que podemos

dizer mais sobre a casa?

Registar as respostas das crianças num cartaz com a casa previamente

desenhada. No final da caracterização propor às crianças que pintem o cartaz

para se fazer um puzzle.

3. Conhecimento Morfossintático

Transformar as frases

E: O velhinho chamou três gatos pretos. E se chamasse só um, como é que

dizíamos? Chamou...

E: Chamaram quatro galinhas sarapintadas. E se chamassem só uma, como é

que dizíamos? Chamou...

4. Reflexão sobre a Língua

Segmentação de frases em palavras

E: O velhinho e a velhinha tinham seis canários amarelos (exemplificar,

batendo uma palma por cada palavra - seis canários amarelos.)

E: Vamos bater uma palma por cada palavra que dissermos:

cinco gansos brancos

quatro galinhas sarapintadas

três gatos pretos

dois porcos barrigudos

uma grande vaca castanha

Segmentar palavras em sílabas

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Brancos, galinhas, sarapintadas, porcos, barrigudos, vaca.

Organizar as palavras desarrumadas:

Gatos/Pretos/Três; Galinhas/Quatro/Sarapintadas; Brancos/Gansos/Cinco

Para organizar a frase é preciso tantas crianças quantas as palavras nela

existentes para se fazer corresponder a cada criança uma palavra. As crianças

devem "ordenar-se" para fazerem a frase com sentido.

5. Desenvolvimento de outras competências…

Visita à Quinta Pedagógica;

Foi identificado previamente o interesse em ir à quinta pedagógica. Lá as

crianças poderão contactar com animais, plantas e dinâmicas de uma quinta

real. É fundamental promover novas experiências para que as crianças possam

falar sobre elas.

Sementeiras na escola;

O espaço exterior da escola convida, nesta altura de primavera, à criação de

espaços que as crianças possam cuidar. Será escolhido em conjunto com as

crianças um local para fazermos algumas sementeiras. Estas sementeiras

necessitam de cuidados diários que devem ser assegurados pelas crianças, com

o apoio do educador. A germinação das sementes e o seu crescimento serão

uma oportunidade para promover um conjunto de aprendizagens ao nível das

várias áreas de conteúdo (OCEPE), desde da formação pessoal e social, às

expressões e comunicação.

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Caracol (Companhia de musica teatral, Enciclopédia da Música com o Bicho)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro (Título, autores,

editora); levar as crianças a falar sobre o conteúdo do livro a partir da capa e

contracapa.

Leitura: Apresentação do conto rimado a cantar, com percussão do tambor.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Quem é a personagem principal da história?

E: Para onde está virada a casa do caracol?

E: E como é que é a casa do caracol?

E: O que é que acontece quando o caracol sai à rua?

E: O caracol queria casar mas tinha um problema. Qual era?

E: Como era o projeto da casa que o arquiteto fez?

E: O que é que aconteceu quando o caracol contratou o empreiteiro?

E. O que é que aconteceu ao caracol?

2. Conhecimento Lexical

Palavra nova: "assoalhada"

Pesquisa no dicionário do significado para palavra e registo no cartaz

3. Conhecimento Morfossintático

E: O caracol tem uma casa. E se fossem dois…

E: O arquiteto fez o projeto. E se fossem dois…

4. Memória Auditiva

Descobrir a palavra intrusa

E: Eu vou cantar a canção do caracol, mas vou fazer algumas partidas. Quando

perceberem que o que eu disser não está certo dizem ERRADO.

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A casa do caracol,

está virada para a LUA (o sol)!

Só tem uma assoalhada,

mas nunca fica molhada.

E: Qual fica melhor Sol ou Lua? Por que é que fica melhor Sol?

Sempre em casa nunca baza,

sai à rua e leva o TELHADO (a casa)!

Tudo o que o caracol faz,

faz com a casa sempre atrás.

O caracol quer casar,

mas está difícil de arranjar:

uma casa para os dois,

e para os que hão de vir AMANHÃ (depois)!

Contratou um arquiteto,

que lhe fez logo um DESENHO (projeto)!

Em espiral não, tudo em reto,

desde o chão até ao TELHADO (teto)!

Foi falar com um empreiteiro,

que levou logo dinheiro.

Demoliu a casa velha,

não ficou nem uma JANELA (telha)!

5. Reflexão sobre a Língua

Segmentação de frases em palavras e organizar as palavras desarrumadas:

E: "A casa do caracol", quantas palavras tem esta frase?

E: Vamos precisar do mesmo número de meninos para começar esta atividade.

Faz-se corresponder a cada criança uma palavra. As crianças devem

"ordenar-se" para fazerem a frase com sentido.

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Outras frases: "só tem uma assoalhada"; "contratou um arquiteto"; " demoliu

a casa velha".

6. Expressão e Comunicação com o recurso às TIC

Este conto cantado foi apresentado às crianças a partir de uma adivinha: "Qual é

a coisa, qual é ela, tem uma casa sem janela, anda às voltas no quintal, tem pauzinhos e

gosta do sol?". A partir desta adivinha será proposto às crianças que pesquisem e

descubram, em casa com a ajuda dos pais, novas adivinhas. Será proposto aos pais que

façam o registo para que as crianças vejam escrever e vivam um momento prazeroso em

torno da escrita e será proposto às crianças que façam a ilustração da adivinha, para

mais tarde ser feito na sala um e-book com a ajuda do professor bibliotecário.

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Os Ovos Misteriosos (Luísa Ducla Soares, Manuela Bacelar, Edições Afrontamento)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração do

significado da palavra misteriosos e inferir sobre o conteúdo da história.

Leitura: Leitura em voz alta do texto do livro, apoiada pela projeção de imagens

e musicas sugestivas

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Os ovos da galinha eram misteriosos? Porquê?

E: Como é que começa a história?

E: O que é que a galinha fez quando chegou à mata?

E: Por que é que teve de ir buscar comida antes de começar a chocar?

(Exploração de algumas diferenças entre animais domésticos e animais

selvagens)

E: O que é que aconteceu quando a galinha chegou ao ninho? Quantos ovos

havia no ninho da galinha?

E: Como é que se sentia a galinha quando se aninhou no ninho?

E: O que disse a perdiz à galinha quando viu tantos filhos diferentes?

E: E o que aconteceria na história se a galinha não tivesse filhos tão diferentes?

2. Conhecimento Lexical

Explorar a expressão "Quente como uma botija";

Criar novas expressões que façam comparações engraçadas;

Registar num cartaz as expressões das crianças;

Palavras novas

E: No início da história a galinha cacarejou "Já pus 1000 ovos, podia ser mãe

de mil filhos, mas não tenho nenhum por causa da gente gulosa". As galinhas

cacarejam. E a serpente?

A partir de algumas personagens da história explorar os nomes das "falas"

de outros animais:

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E: Era uma vez uma galinha que tinha uma serpente; a serpente assobia, o

pombo arrulha, e o mocho pia; ruge o leão, uiva o lobo e ladra o cão.

Cada criança escolhe um dos animais. A educadora repete a lengalenga e

cada criança produz a fala relativa à sua personagem. Numa segunda fase a

educadora omite a nomeação da fala dos animais, ouvindo as crianças nomeá-

la.

Depois de explorada a lengalenga faz-se o seu registo num cartaz e

substituem-se os nomes dos animais por desenhos feitos pelas crianças.

3. Conhecimento Morfossintático

E: A galinha fez um ninho com folhas secas, palhas, penugem. O ninho era

lindo, redondo e confortável. E se fossem dois, como ficava a frase?

4. Reflexão sobre a Língua

Reconstrução silábica

Palavras: a-ves-truz; ga-li-nha; chim-pan-zé; ser-pen-te (O educador diz as

palavras tipo robô e as crianças reconstroem).

Rimas

E: Quem é que disse à galinha para não ligar aos outros e só gostar do seu filho

pinto? (Perdiz)

A partir do ficheiro de imagens das palavras que rimam, usado na história

"A Ovelhinha que veio para o jantar", pedir às crianças que descubram as

palavras que têm o mesmo nome que rime perdiz.

Segmentar a frase em palavras

E: O ninho era lindo, redondo e confortável. Vamos descobrir quantas palavras

tem esta frase?

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Os Três Terríveis Porquinhos (Liz Pichon, Editora Educação Nacional)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro; exploração do

título e da ilustração da capa:

E: Quem é que está na capa deste livro?

E: Como é o lobo?

E: Parece ser um lobo igual ao das outras histórias?

E: O título da história é...

E: O que é ser terrível?

E: Estes porquinhos parecem terríveis?

Observação das guardas do livro. As imagens dos porquinhos nas guardas,

no início e no final do livro, remetem para mudanças. Promover a reflexão das

crianças sobre possíveis enredos que levam à mudança dos três terríveis

porquinhos.

Leitura: Leitura, em voz alta, apoiada pela projeção de imagens e músicas

sugestivas.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Afinal os três porquinhos eram terríveis? Porquê?

E: Como era a casa do primeiro terrível porquinho?

E: O porquinho não fez a casa bem feita? Porquê?

E: Quem é que apareceu para ajudar o porquinho?

E: Como era o lobo? (na caracterização do lobo promover a identificação da

sua profissão).

2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: enfurecido

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Jogo do nomes coletivos:

Explorar o significado dos nomes coletivos: manada, bando, enxame,

formigueiro, alcateia (ficheiro de imagens, anexo I e ficheiro com sons de

animais).

As crianças formam grupos e cada grupo escolhe um dos nomes coletivos.

Quando a educadora nomear cada um deles, cada grupo de crianças representa

(com vozes e gestos) o nome coletivo que escolheu. Numa segunda fase é a

educadora quem nomeia os animais e as crianças quem dizem o respetivo

nome.

Fazer o registo num cartaz das palavras coletivas que aprendemos.

3. Conhecimento Morfossintático

Plurais

E: Três terríveis porquinhos. E se fosse só um porquinho, como é que dizia a

frase?

E: Era um lobo muito simpático. E se fossem dois?

E: Aquela casa está um perigo. E se fossem duas?

E: Uma capoeira confortável. E se fossem duas?

4. Reflexão sobre a Língua

Descobrir palavras dentro de outras

E: A palavra galinha quantas sílabas tem? O que fica se na palavra galinha eu

retirar a sílaba -ga?

Outras palavras a explorar: soldado; irmão; sapato; sacola; fivela; tubarão.

5. Múltiplas Expressões

Uma vez promovida a reflexão sobre a profissão do lobo, promover a

reflexão em torno da profissão que cada criança quer ter quando for mais

crescida.

Cantar a canção D. Anica e acrescentar à versão comum da canção, a

profissão que cada criança nomeou (usar adereços que representem cada

profissão. Mimar as profissões à medida que se canta).

Dramatização do Conto.

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A Filha do Grufalão (Julia Donaldson & Axel Scheffler, Verbo)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração do

título e da ilustração da capa

Leitura: Leitura em voz alta do texto do livro, apoiada pela projeção de imagens

e musicas sugestivas.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Quem são as personagens da história?

E: E qual é a personagem principal?

E: O que é que o Grufalão disse à filha para não fazer?

E: E a filha do Grufalão fez o que o pai lhe tinha dito?

E: O que é que ela foi fazer à floresta?

E: Como era o grande rato mauzão?

E: Como é que se sentia a filha do grufalão quando entrou na floresta escura?

E: Qual foi a primeira pista que encontrou?

E: A cobra disse à filha do grufalão que o grande rato mauzão estava "ali ao

lado a comer grufalão assado". Mas a filha do grufalão continuou o seu

caminho. Quem é que ela encontrou depois?

E: Por que é que a filha do grufalão dizia: " A mim não me hão de assustar".

E: E por que é que a filha do grufalão pensou que a coruja era o grande rato

mauzão? E a serpente, o que tinha igual ao grande rato mauzão?

E: Quando a filha do Grufalão estava quase a desistir aparece outra

personagem. Qual foi?

E: Por que é que o ratinho parecia um grande rato mauzão?

2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: medonho; interminável.

Explicar a frase: "os olhos parecem lagos de fogo".

3. Conhecimento morfossintático

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Verbos - Pretérito perfeito (com o recurso às ilustrações da história)

E: Aqui está o grufalão a dormir, mas aqui ela já…(dormiu).

E: Aqui o grufalão está a pegar na filha ao colo, mas aqui ele já… (pegou).

E: Aqui a filha do grufalão está a procurar o rato mauzão, mas aqui ela já

(procurou).

E: Aqui o ratinho está a subir a uma árvore, mas aqui ele já… (subiu).

E: Aqui a filha do grufalão está a fugir, mas aqui ela já… (fugiu).

4. Memória Auditiva

Descobrir o intruso

E: As personagens da história gostam muito de rimar. Eu vou falar como o

grufalão. Vejam se estou a falar, tal e qual, como ele:

…Os olhos parecem lagos de fogo horríveis, e os bigodes mais duros que

arame são engraçados (terríveis);

… Tu não és rato?/Não, mas ele está aqui ao pé a comer grufalão feito de

batata (puré);

… O grande rato mauzão! Ele existe afinal. O ratinho subiu ao ramo e pôs-

se a fazer brincadeiras (sinal).

Comparar frases

E: O Grufalão tem uma filha.

E: O Grufalão não tem uma filha.

E: Qual é a palavra que eu não disse?

E: A cobra assobia alto.

E: A cobra assobia muito alto.

E: Qual é a palavra que eu não disse?

5. Reflexão sobre a Língua

Rimas

Descobrir palavras que rimam com puré. Substituição da palavra puré na

frase por outras que rimem.

Descobrir palavras que rimam com Sinal. Substituição da palavra sinal na

frase por outras que rimem.

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Pares de palavras curtas e compridas

E: Uma das personagens da nossa história é "grufalão" e outra é "cobra". Qual

é a palavra maior, cobra ou grufalão?

Introduzir o ficheiro de imagens para prosseguir com a atividade. As

crianças terão de avaliar qual o animal que tem o nome maior, a fim de

distinguir significado de significante.

Convidar as crianças a bater palmas marcando as sílabas de cada palavra

para refletirem sobre qual é a palavra maior e a palavra menor;

Depois da reflexão sobre o tamanho das palavras ao nível do oral, mostrar a

sua representação escrita;

Sugerir às crianças que pensem em palavras muito grandes (uma forma de

procurar é através da observação da natureza ou de imagens).

Imagens retiradas da Internet

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A Toupeira que queria saber quem lhe fizeram aquilo na cabeça (Werner Holzwarth

& Wolf Erlbruch, Kalandraka)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração do

título e da ilustração da capa.

Leitura: Leitura em voz alta do texto do livro, apoiada pela projeção de imagens

e musicas sugestivas.

Pós-leitura:

1. Exploração da História

E: Qual é o título da história?

E: O que era aquilo que a toupeira tinha na cabeça?

E: E quem é que lhe fez aquilo na cabeça?

E: Como é que a toupeira descobriu quem lhe fizera aquilo na cabeça?

E: Por que é que foram as moscas a descobrir que foi o cão Bernardo que fez

aquilo à toupeira?

E: Quem foi o primeiro animal a quem a toupeira fez a pergunta? E o último?

E: Onde é que costumam andar as toupeiras?

E: Acham que o cão Bernardo viu a toupeira quando ela fez um buraco na terra?

E: Quando o cão Bernardo estava a dormir a toupeira subiu à casota e fez-lhe

cocó na cabeça. Acham que a toupeira fez bem?

2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: ruminar e prado.

Nomeação dos vários sentimentos da toupeira ao longo da história

E: Como é que se sentiu a toupeira quando o Bernardo lhe fez cocó em cima da

cabeça?

Sentimentos da toupeira: zangada, assustada, admirada, preocupada, enjoada,

curiosa, alegre, contente, feliz

Propor às crianças que mimem os vários sentimentos.

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3. Conhecimento morfossintático

Plurais

E: O cão estava a dormir. E se fossem dois como é que ficava a frase?

E: A toupeira estava zangada. E se fossem duas?

E: As moscas gostava de cocó. E se fosse só uma?

4. Reflexão sobre a Língua

Segmentar palavras em sílabas

E: Vamos dizer o nome dos animais da história como se fossemos um robô e

contar quantas sílabas tem cada palavra:

Toupeira, cavalo, pombo, vaca, mosca, cão.

Segmentar as frases em palavras

E: Aquilo era redondo e castanho. Vamos descobrir quantas palavras tem esta

frase?

Outras frases: "quem terá feito isto na minha cabeça?"; "A vaca estava a

ruminar"

Rimas

E: A personagem principal da história é a toupeira. Toupeira rima com…

(cadeira, cabeleireira, brincadeira…).

E: A toupeira ficou assustada quando sentiu o cocó a cair na cabeça. Assustada

rima com… (zangada, admirada, molhada, engraçada…).

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Imagens retiradas da Internet

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Não, David! (David Shannon, Everest Editora)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração da

ilustração da capa, sem desvendar o título.

Leitura: Apresentação da história apenas com o recurso às ilustrações e a

músicas que promovem a imaginação do enredo (uma vez que este livro é um álbum e

que não apresenta palavras para contar a história, em vez da leitura, será proposto às

crianças que criem a sua própria história a partir das ilustrações, a ser mais tarde

transformada num livro digital).

Pós-leitura

1. Exploração da História

E: Que título podemos dar a esta história?

E: O título original desta história é: "Não, David!". Porque será que o título

escolhido para a história é "Não, David!"?

E: Esta história é parecida com as outras histórias que já lemos?

Propor às crianças a criação da sua própria história a partir das ilustrações do

livro. As crianças devem ser gravadas a contar a sua história para, num momento

posterior, se integrar as gravações das crianças num livro digital. À medida que

as crianças vão contanto a sua história o educador deve fazer o registo no quadro

para que as crianças vejam escrever.

2. Conhecimento do Mundo

A planificação desta atividade contou com a colaboração do enfermeiro

Fernando. Esta participação foi previamente assegurada com o objetivo de se

criar experiências novas e agradáveis com outras pessoas da comunidade. Na

planificação refletiu-se sobre o modo como seria apresentada a sua vinda às

crianças. Ao ouvir a bater à porta a educadora vai ver quem é. O enfermeiro

Fernando saúda as crianças e questiona se está na sala um menino que se

magoou e que precisa da sua ajuda, porque lhe tinham ligado a pedir ajuda.

Contempla-se a possibilidade de visitar as outras salas com as crianças à procura

do menino. O conhecimento prévio da história por parte do enfermeiro permitirá

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o recurso a partes da história para levar as crianças a identificarem o David da

história, por exemplo, "Conhecem algum menino que subiu a uma cadeira para

chegar às bolachas do armário e caiu? E também começou a jogar basebol na

sala, partiu a jarra e apanhou os vidros com a mão?".

O enfermeiro Fernando levará a sua mala de primeiros socorros para as

crianças explorarem, com o objetivo de desenvolver atividades práticas com as

crianças, não só a partir desses materiais como também de materiais do

quotidiano das crianças muito úteis em situações de perigo. Essas atividades

foram pensadas para se explorarem atitudes e ações que provocam acidentes e

atitudes e ações que os previnem. As crianças tomarão o lugar de enfermeiro e

serão motivadas à resolução de problemas. O objetivo desta atividade é

desmistificar o medo da bata branca num ambiente prático que promova uma

boa relação entre o enfermeiro e a criança.

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O casamento da Gata (Luísa Ducla Soares & Pedro Leitão, Terramar)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração do

título e da ilustração da capa.

E: Com quem é que a gata se irá casar?

E: Olhem para a cara da gata. Como é que parece que ela se está a sentir?

E: Porque será que ela está com um ar triste e desanimado?

E: Quem serão os convidados para o casamento?

Leitura: Conto da história com recurso ao livro e à projeção de imagens da

história.

Pós-leitura

1. Exploração da História

E: Por que é que o dom gato queria casar a filhinha?

E: Quem é que apareceu para noivo?

E: Como é que sentiu a gata ao ver o noivo?

E: Quem se ofereceu para ser padrinho?

E: Já tinham noiva, noivo e padrinhos para o casamento. Quem é que chamaram

de seguida?

E: Acham bem ter-se chamado a mosca para cozinheira? Porquê?

E: A aranha foi convidada a participar no casamento. Qual foi a sua tarefa?

E: Para embelezar o casamento convidaram os grilos e as borboletas. O que é

que iam fazer os grilos? E as borboletas?

E: O melro também foi chamado. Qual foi a tarefa que lhe deram?

E: O que é que aconteceu quando o cortejo ia pelo campus fora?

E: O que fez a gatinha perante tal confusão?

E: Acham que esta história teve um final feliz? Porquê?

2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: apadrinhar; léu

Construir frases com a palavra nova;

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Fazer o registo (as crianças veem ler e escrever; as crianças contactam com as

funcionalidades da escrita, veem perpetuar a oralidade e veem registadas as suas

produções).

Nomes coletivos

E: Neste casamento havia uma orquestra. O que é uma orquestra?

A partir do ficheiro de imagens o educador deve relembrar as palavras

coletivas já trabalhadas e introduz as palavras novas: cortejo; abecedário.

Fazer o registo no cartaz dos nomes coletivos.

Imagens retiradas da Internet

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3. Conhecimento morfossintático

Plurais

E: Era um belo gato malhado. E se fossem dois, como ficava a frase?

E: As borboletas eram as bailarinas. E se fosse só uma, como ficava a frase?

E: O cortejo ia pelo campus fora. E se fossem dois?

Verbos (pretérito perfeito)

E: No início da história a gatinha ia-se casar. No final da história a gatinha não

se… (casou);

E: O melro foi chamando para celebrar o casamento. Mas, como não houve

casamento, o melro não… (celebrou).

4. Reflexão sobre a Língua

Palavras que rimam com cozinheira

E: As moscas da história eram as cozinheiras. Vamos descobrir palavras que

rimem com cozinheira (por exemplo, cabeleireira, costureira, enfermeira,

padeira).

Jogo das Rimas (ficheiros de imagens com palavras que rimam usados na

exploração das histórias "A Ovelhinha que veio para o jantar" e "O Coelhinho

Afonso").

As crianças são convidadas a formar grupos. Em sacos (um por grupo) são

colocados cartões com palavras escritas e as respetivas ilustrações. A tarefa de

cada grupo é, a partir de uma palavra dada, descobrir dentro do saco todos os

cartões que têm palavras que rimam com… À medida que vão terminando a

atividade os grupos dizem rima.

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Se eu fosse muito alto (António Mota & André Letria, Edições Gailivro)

Pré-leitura: Apresentação dos elementos paratextuais do livro. Exploração do

título e da ilustração da capa

Leitura: Conto da história com recurso ao livro e à projeção de imagens e

ficheiros de sons adequados às ações das personagens na história.

Pós-leitura

1. Exploração da História

E: O que faria a personagem da história se fosse muito alta?

E: A personagem da história se fosse muito alta encontrava um navio que o

levasse para o país dos seus sonhos? Se vocês pudessem ir para o sítio de sonho,

um sítio mágico, o que escolheriam?

E: A personagem da história se fosse muito alta também pegava nos cabritinhos

perdidos nas montanhas e que levava-os para junto das mães que perderam a

vontade de pastar. Por que é que as mães que tinham perdido a vontade de

pastar?

E: Que mais coisas poderíamos fazer ou ver se fossemos muito altos?

Registar as respostas das crianças no placard para as crianças verem escrever

e se aperceberem das funcionalidades da escrita.

2. Conhecimento Lexical

Palavras novas: pastar, multidão.

Registar a palavra pastar no cartaz das palavras novas e a palavra multidão no

cartaz das palavras coletivas.

3. Conhecimento morfossintático

Plurais

E: Se a personagem fosse muito alta até podia tirar um balão triste da chaminé.

E se fossem dois podia tirar dois...

E: Um sino gigante. Dois...

E: Um avião perto de mim. Dois...

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E: Um menino sozinho. Dois...

Registar as frases no placard. Fazer a ilustração dos Plurais.

4. Reflexão sobre a Língua

Formar palavras

E: A personagem da história se fosse muito alta colhia com as mãos os frutos das

árvores mais altas da terra. Se visse uma laranjeira que frutos é que colhia?

- laranja + eira = laranjeira

E: E se visse uma pêra qual seria a árvore?

- Pêra + eira = pereira

E: E se colhesse pinhas, qual seria a árvore que via?

- pinha + eiro = pinheiro

E: E se tivesse visto diospireiros, qual era a árvore?

- Diospiro + eiro = diospireiro

Escrever no quadro os nomes das árvores para que as crianças vejam

escrever.

É importante refletir sobre a formação destas palavras mas também dar

exemplos que contrariam a regra extraída, por exemplo, as uvas, as bolotas.

Descobrir palavras

E: E agora vamos fazer o contrário. Sabemos o nome da árvore e temos que

descobrir que fruto é que ela dá. Que fruto é que dá a bananeira?

Identificar quantas sílabas tem a palavra. Omitir as duas últimas sílabas.

Outras palavas: Tangerineira, Cerejeira…

Também aqui é importante refletir sobre exemplos que contrariam a regra

extraída, por exemplo, oliveira.

Reconstrução silábica

O educador deve dizer as palavras à robô e propor às crianças que

descobram outras palavras nestas.

Palavras a explorar: ar+mar; ar+pão, li+mão, li+mar, li+sol.

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Registar as palavras num cartaz e pedir às crianças que ilustrem as palavras

descobertas.

Imagens retiradas da Internet

5. Expressão Plástica

Propor às crianças que façam um desenho relativo a uma das coisas que se

propuseram fazer se fossem muitas altas.

Convidar os pais a virem à escola ilustrar COM os filhos o desenho que

estes fizeram subordinado ao título "Se eu fosse muito alto". O convite será

feito oralmente por cada criança aos pais, quando estes vierem à escola buscar

os filhos. As crianças devem ser motivadas a falar e a usar a linguagem para a

resolução de problemas, no seu dia a dia.

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A História do Ciganinho Chico (Bruno Kalon Gonçalves & Tiago Moleano Gomes;

Centro de Estudos Ciganos)

Este recurso de literatura infantil apresenta a história e cultura do povo cigano

muito numa ótica de promoção do saber sobre as suas origens e percursos ao longo dos

séculos mas também de valorização e de respeito pela cultura cigana. Neste sentido foi

endereçado o convite aos técnicos do projeto T3tris e ao seu mediador, pessoas que têm

algum ascendente junto das comunidades ciganas dos bairros da cidade de Braga. O

mediador, sendo cigano, é ouvido e reconhecido dentro das comunidades e fala na

primeira pessoa da sua cultura e tradição, das dificuldades de inserção social e das

potencialidades de desenvolver competências literácitas na sociedade atual para

promover essa mesma inserção. Será o mediador e outro cigano amigo quem contarão,

dramatizando, a História do Ciganinho Chico. Ao momento do conto seguir-se-á a

exploração da história e uma reflexão partilhada sobre a importância de aceder à leitura

e escrita para agir em sociedade, para ser jogador de futebol, para tirar a carta de

condução, para ser um cigano informado. A atividade será concluída com a pintura da

bandeira cigana.

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Anexo B: Lista de livros pré-selecionados

LISTA DE OBRAS SELECIONADAS

Título da obra Autor(es) Editor Ano

A Filha do Grufalão Julia Donaldson

& Axel Scheffler Verbo 2004

A gata Tareca e outros poemas

levados da breca Luísa Ducla Soares & Fedra Santos Porto Editora 2013

A Ovelhinha que veio para o jantar Steve Smallman Dinalivro 2009

A Toupeira que queria saber quem

lhe fizera aquilo na cabeça Werner Holzwarth & Wolf Erlbruch Kalandraka 2008

A Violeta não sabe falar AgatheHennig & DidierDufresne Zero a Oito 2009

A zanga das letras comadres Carlos Nuno Granja & Raquel Costa Opera Omnia s/d

Corre Corre Cabacinha Eva Mejuto & André Letria OQO 2006

Frederico Leo Lionni Kalandraka 2009

O Fulano do F Luísa Ducla Soares & Raquel

Pinheiro Editora Civilização 2013

Mais uma ovelha Mij Kelly &

Russell Ayto Livros Horizonte 2005

Não, David! David Shannon Everest Editora 2007

O Bicho Caracol Companhia de musica teatral Enciclopédia da Música

com o Bicho s/d

O casamento da Gata Luísa Ducla Soares & Pedro Leitão Terramar 2008

Os Ciganos Sophia de Mello Breyner Anderson

& Danuta Wojciechowska Porto Editora 2013

O Coelhinho Afonso Luísa Ducla Soares & Danuta Civilização Editora 2011

O Jaime e as Bolotas Tim Bowley & Inés Vilpi Kalamdraka 2005

O Lobo Culto Pascal Biet Ambar 2008

O Nabo Gigante Alexis Tolstoi & Niamh Sharkey Livros Horizonte 2005

Os Ovos Misteriosos Luísa Ducla Soares & Manuela

Bacelar Edições Afrontamento 2010

O Sapo encontra um amigo Max Velthuijs Caminho 2002

O Sapo encontra um tesouro Max Velthuijs Caminho 2009

O Sapo tem medo Max Velthuijs Caminho 2003

Os Três Terríveis Porquinhos Liz Pichon Editora Educação

Nacional 2008

Poemas da Mentira e da Verdade Luísa Ducla Soares & Ana Cristina

Inácio Livros Horizonte 2010

Se eu fosse muito alto António Mota & André Letria Edições Gailivro 2006

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Anexo C: Autorização dos Agrupamentos de Escolas para a realização do estudo

empírico

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Anexo D: Autorização dos pais com consentimento informado