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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
DANO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO
ROSEMÉRI STANDKE VIANNA
Itajaí (SC), maio de 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CEJURS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
DANO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO
ROSEMÉRI STANDKE VIANNA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. Wanderley Godoy Junior
Itajaí (SC), maio de 2007
Meus Agradecimentos:
A Deus, porque sem Ele nada somos e nada
podemos;
Ao Professor Orientador Wanderley Godoy
Junior, pela ajuda, atenção e liberdade
que me dispensou durante a elaboração
deste trabalho;
Às minhas amigas, Aline da Costa, Anne
Elise Maes da Rocha e Jerusa Hoffmann
com quem compartilhei conhecimentos,
alegrias e angústias, que muitas vezes
tomaram conta de mim nesta fase de
minha vida acadêmica;
Agradeço a todos os professores desta
Universidade pelos conhecimentos
jurídicos e sociais a mim transmitidos e a
todos os que contribuíram de alguma
forma para a minha formação jurídica e
cívica;
3
Este trabalho dedico:
A meus pais por todo conforto, incentivo e
apoio, pelo acolhimento e compreensão
nesta fase tão difícil de minha vida.
Ao meu esposo Gilson Alcântara Vianna,
pela compreensão e companheirismo nesta
fase da minha vida;
4
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí (SC), 02 de julho de 2007.
Roseméri Standke Vianna Graduando
5
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Roseméri
Standke Vianna, sob o título DANO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO, foi
submetida em 02 de julho de 2007 à Banca Examinadora composta pelos
seguintes Professores: Msc. Wanderley Godoy Junior (Orientador e Presidente da
Banca), Msc. José Silvio Wolf (Membro) e Silvio Noel de Oliveira Jr. (Membro) e
aprovada com a nota 10,00 (dez).
Itajaí (SC), 02 de Julho de 2007.
Prof. MSc. Wanderley Godoy Junior Orientador e Presidente da Banca
Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
6
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CCB Código Civil Brasileiro
CEJURS Centro de Ciências Jurídicas e Sociais
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
DJPR Diário da Justiça do Paraná
DJSC Diário da Justiça de Santa Catarina
EC Emenda Constitucional
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
OAB/SC Ordem dos Advogados do Brasil Seção de Santa Catarina
STF Supremo Tribunal Federal
TJ Tribunal de Justiça
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
7
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Direito do Trabalho:
É um ramo da ciência jurídica, constituído em unidade orgânica e doutrinária, que
visa regular e proteger o trabalho como atividade profissional, bem como as
relações coletivas e os conflitos que dele resultam, tendo por finalidade
preponderante a cobertura dos riscos sociais e que estão sujeitos os que vivem
do trabalho profissional.
Contrato de trabalho:
O acordo tácito ou expresso, correspondente á relação de emprego, ou ainda, o
negócio jurídico pelo qual uma pessoa física se obriga, mediante o pagamento de
uma contraprestação, a prestar trabalho não-eventual em proveito de outra
pessoa física ou jurídica a quem fica juridicamente subordinado.
Contrato:
Caio Mário da Silva Pereira, (Pereira, 1990), propaga que "contrato é um acordo
de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar,
transferir, conservar ou modificar direitos".1
Relação de Emprego:
Segundo a lei trabalhista, relação de emprego é o contrato individual de trabalho,
ou seja, o acordo tácito ou expresso.
1 http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/13580
8
Dano:
É uma lesão ao patrimônio entendido como conjunto de relações jurídicas de uma
pessoa, apreciáveis em dinheiro, porém tal juízo pode situar-se no âmbito
puramente patrimonial, ou em âmbito moral.
Patrimônio Ideal:
Aquele que abrange as relações que não econômicas, mas que tuteladas pelo
direito.
Patrimônio Material:
Aquele que abrange as relações de conteúdo econômico.
Reparação:
É um meio de recuperar direitos humanos e liberdades fundamentais prejudicados
pelos processos, sendo que é do devedor a obrigação de indenizar, a equidade
como elemento capaz de afetar o montante da indenização, dano material e dano
moral e a correção monetária.
Moral:
É um conjunto de regras de comportamento ou costumes das pessoas e da
sociedade, com intuito de respeito e dignidade, quer para grupo ou pessoa
determinada.
Dano moral:
Espécie de agravo constituída pela violação de algum dos direitos inerentes à
personalidade, não tem referência econômica, tendo como resultado a dor, o
sofrimento angústia da vitima e a vergonha.
9
Dano imaterial:
É aquele que não produz conseqüências prejudiciais no patrimônio do ofendido.
Dano material ou patrimonial:
É aquele que causa e perda ou a deterioração parcial ou total a do patrimônio da
vítima.
Direitos personalíssimos:
Bens de foro íntimo da pessoa, coma a honra, a liberdade, a intimidade e
imagem.
Justiça do Trabalho:
É a justiça especializada para processar e julgar as ações oriundas da relação de
trabalho.
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................... XII
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4
DO DIREITO DO TRABALHO E DO DANO MORAL: HISTÓRICO E CONCEITOS. ..................................................................................... 4
1.1 CONCEITO DO DIREITO DO TRABALHO......................................................4
1.2 HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO.....................................................6
1.3 CONCEITO DE DANO....................................................................................13
1.4 CONCEITO DE DANO MORAL......................................................................16
1.5 HISTÓRICO DO DANO MORAL ....................................................................20
CAPÍTULO 2 .............................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. DO DANO MORAL NO DIREITO DO TRABALHO............................25 2.1 CLASSIFICAÇÃO DO DANO MORAL...........................................................25
2.2 FASE PRÉ-CONTRATUAL ............................................................................27
2.3 FASE CONTRATUAL ........................................................................................30
2.4 MOMENTO DA EXTINÇÃO DA RELAÇÃO DE EMPREGO..........................33
2.5 FASE PÓS –CONTRATUAL ..........................................................................34
2.6 REPARABILIDADE DO DANO MORAL ........................................................35
2.7 FORMAS DE REPARAÇÃO DO DANO MORAL TRABALHISTA ................41
2.7.1 PECUNIÁRIA ...................................................................................................41
2.7.1.1 Sistemas tarifário e aberto .....................................................................42
2.7.2 CRITÉRIOS DE QUANTIFICAÇÃO...........................................................................45
2.7.2.1 Arbitramento............................................................................................45
2.7.2.2 Analogia ...................................................................................................47
2.7.2.3 Outras previsões legais de critérios de fixação do valor ....................49
2.7.3 ALGUMAS PALAVRAS SOBRE O BOM SENSO DO JULGADOR ................................50
2.7.4 ATESTATÓRIA.................................................................................................51
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 53 DO DANOMORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO............................53
xi
3.1 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO............................................53
3.2 COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO ...............................58
3.3 O ARTIGO 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ...........................................61
3.4 COMPETÊNCIA NA FASE CONTRATUAL DO TRABALHO........................67
3.5 INDENIZAÇÃO DO VALOR DA “COMPENSAÇÃO” POR DANO MORAL TRABALHISTA.....................................................................................................67
3.6 ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO ..............................................................................69
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 78
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 81
RESUMO
Este trabalho monografia visa analisar no campo trabalhista
a competência para processar e julgar os danos morais e a reparabilidade dos
danos morais oriundos da relação empregatícia, considerando o direito que erigiu
do texto constitucional, destacando ainda a especial dimensão que o direito do
trabalho confere à tutela da personalidade do trabalhador, não havendo, pois,
como negar a aplicação das disposições constitucionais com relação à reparação
do dano moral trabalhista. Os objetivos específicos foram os seguintes: a)
conceituar dano; b) identificar as características do dano moral; c) analisar a
competência da justiça do trabalho; d) Identificar os aspectos legais de aplicação
do dano no direito do trabalho, isto, fundamentado na legislação e no
entendimento doutrinário predominante. A Monografia é composta de três
capítulos que tratam do direito do trabalho e do dano moral, dano moral no direito
do trabalho e dano moral na justiça do trabalho.
INTRODUÇÃO
Configuram o objeto de estudo da presente Monografia a
competência para processar e julgar a reparação do dano moral oriundo da
relação trabalhista, considerando as garantias do texto constitucional.
A reparação dos danos causados por atos ilícitos, está
presente desde antes de Cristo, fazendo parte de códigos como o Código de
Hamurabi e o Código de Manu.
Primeiramente tinha caráter punição física ao agressor, mas
com o passar dos séculos esta concepção foi evoluindo, passando a ter uma
punição pecuniária pelos danos causados a terceiros.
Entretanto o dano que desde os códigos antigos e até
mesmo no direito moderno era aceito e passível de reparação era de natureza
eminentemente material.
A reparação do dano de ordem moral foi ao longo do tempo
objeto de fervorosas discussões doutrinárias, entre aqueles que defendiam sua
reparação e aqueles que consideravam inadmissível ou até mesmo moral.
Felizmente no Brasil, diante da nova ordem constitucional
que consagrou a defesa dos direitos da personalidade a nível de garantia
fundamental, dedicando os incisos V e X do art. 5º à tutela desses direitos, nossa
jurisprudência evoluiu no sentido de não deixar mais aquele que teve um prejuízo
de cunho moral sem reparação, sob o pretexto de que não é possível auferir
monetariamente a dor moral de uma pessoa.
O objetivo institucional é o de produzir a presente
Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade
do Vale do Itajaí.
O objetivo investigatório geral é o de pesquisar e descrever
a competência para processar e julgar os danos morais oriundos das relações
empregatícias, além de analisar a reparabilidade desses danos.
2
Os objetivos específicos são os seguintes: a) conceituar
dano; b) identificar as características do dano moral; c) analisar a competência da
justiça do trabalho; d) Identificar os aspectos legais de aplicação do dano no
direito do trabalho, isto, fundamentado na legislação e no entendimento
doutrinário predominante.
A pesquisa enfrentou o desafio de três problemas e
respectivas hipóteses, conforme abaixo destacado.
Primeiro problema: É cabível a reparação de danos morais
provenientes das relações de trabalho?
Hipótese: O dano integra a lide trabalhista, quando surge no
contexto da ralação trabalhista, quando esta relação é causa ou oportunidade
para o surgimento da lesão caracterizadora do dano moral, indiferente se
imediatamente antes, durante ou após a vigência do contrato de trabalho.
Segundo problema: É passível a fixação do quantum da
reparação?
Hipótese: À sua extensão limitada a prejuízos que atingiram
o seu foro íntimo, sem maiores proporções danosas no campo material, atento,
ainda, ao fato de que a pecúnia doloris tem caráter exemplar e expiatório, o juiz
deferirá o pedido de indenização por dano moral, fixando o valor em quantia
razoável, certo de que a dor moral jamais pode ser ressarcida convenientemente
por bens materiais.
Terceiro problema: É competente a Justiça do Trabalho para
julgar tais dissídios?
Hipótese: Diante dessa situação, ainda permanece a justiça
comum para apreciar essa natureza?
Na investigação e no relato é adotado o método dedutivo.
A presente Monografia divide-se em três capítulos.
O primeiro capítulo conceitua e define o direito do trabalho e
o dano moral, especificando seus pressupostos, apresentando também o histórico
3
do direito do trabalho e do dano moral.
O segundo capítulo cuida do dano moral no direito do
trabalho, tratando da sua classificação, fases e suas formas de reparação através
da quantificação do valor econômico a ser reposto ao ofendido, demonstrando
também, as formas adotadas para a reparação do dano moral trabalhista e
critérios para sua quantificação.
O terceiro capítulo apresenta a competência trabalhista para
julgamento de tais lides, assunto este que já foi campo de vasta controvérsia
doutrinária e jurisprudencial. Ainda neste capítulo, aspectos jurisprudencial do
TRT da 12ª região, bem como, a elaboração de nossa CFRB/88, com bases nesta
evolução com a Emenda Constitucional 45, conferindo em seu artigo 114 a
competência trabalhista para julgamento destes dissídios.
Além daquelas categorias e respectivos conceitos
operacionais, apresentados no rol das categorias, outras constam no decorrer da
monografia.
A área de concentração restringe-se ao "Direito e
Sociedade". A linha de pesquisa é "Direito do Trabalho".
CAPÍTULO 1
DO DIREITO DO TRABALHO E DO DANO MORAL: HISTÓRICO E CONCEITOS.
1.1 CONCEITO DO DIREITO DO TRABALHO
A expressão Direito do Trabalho é na verdade um ramo da
ciência jurídica, constituído em unidade orgânica e doutrinária, que visa regular e
proteger o trabalho como atividade profissional, bem como as relações coletivas e
os conflitos que dele resultam, tendo por finalidade preponderante a cobertura dos
riscos sociais a que estão sujeitos os que vivem do trabalho profissional, por isso
alguns doutrinadores incluem a Previdência Social em seu conteúdo.
Os conceitos poderão se reunir em três categorias,
intituladas de subjetivas, objetivas e mistas.
Os conceitos subjetivistas, em geral, realça, a condição do
empregado como o economicamente fraco na relação jurídica.
Assim conceitua Cesarino Junior2, “Direito do trabalho é o
sistema jurídico de proteção aos economicamente fracos”.
Já os que definem o Direito do Trabalho consoante a
corrente objetivista tomam como referência a prestação de trabalho subordinado,
objeto do contrato de trabalho.
Neste sentido tem-se Donato3, “Direito do trabalho é o
conjunto de princípios de normas jurídicas que regem a prestação de trabalho
subordinado ou a ele similar, bem como as relações e os riscos que dela se
originam”.
2 CESARINO JUNIOR, A.F. Direito social. São Paulo: LTr, 1980, p. 54. 3 DONATO, Messias. Curso de direito do trabalho. 3. ed., São Paulo: Saraiva, 1979. p. 4-5.
5
Para Martins4, “direito do trabalho é o conjunto de princípios,
regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações
análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao
trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são destinadas.”
Já para Giusti5, “o direito do trabalho, dentro de um conceito
bastante simplificado, consiste no conjunto de normas jurídicas incidentes sobre
as relações de trabalho subordinado, bem como as relações análogas, com o fito
de tutelar a prestação do trabalho, considerando as condições sociais.”
Segundo Martins Filho6:
o direito do trabalho é o ramo do Direito que disciplina as relações de
emprego, tanto individuais como coletivas. Evolui conforme a maior
conscientização sobre os benefícios que podem ser conferidos ao
trabalhador, como força produtiva, sem comprometimento do nível
econômico, que depende, igualmente, do estímulo ao investimento
(capital).
Por fim, pode-se definir com o conceito misto, cujas
definições harmonizam os sujeitos do contrato de trabalho com o seu objeto, que
é a prestação de serviço subordinado.
Veja-se: Perez7 “direito do trabalho é o conjunto de
princípios e normas que regulam as relações entre empregados e empregadores
e de ambos com o Estado, para efeitos de proteção e tutela do trabalho.”
Moraes Filho8, na mesma linha, conceitua-o como o
“conjunto de princípios e normas jurídicas que regulam as relações jurídicas
oriundas da prestação de serviço subordinado e outro aspecto das pessoas que o
exercem”. 4 MARTINS, Sergio Pinto. Fundamentos de direito do trabalho. 5 ed., São Paulo: Atlas, 2005. p.
24. 5 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Sumário de direito do trabalho e processo do trabalho.
p. 9. 6 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do
trabalho. 12 ed., São Paulo: Saraiva, 2004. p. 7. 7 PEREZ, Botija Eugenio. Curso de derecho del trabajo. 6 ed. Madrid: Tecnos, 1960. p. 4. 8 MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1971. p. 17.
6
Para Belmonte9 “o direito do trabalho é um conjunto de
normas e princípios destinados a regular as relações de emprego, relações de
trabalho definidas em lei e as relações coletivas de trabalho.”
Não importa se possuem categorias diferentes, sejam elas:
subjetivistas, objetivista ou mistas, o importante é que a finalidade do Direito do
Trabalho é igual em todas as categorias. Assim, o Direito do Trabalho tem por
fundamento melhorar as condições físicas e sociais dos trabalhadores, permitindo
que o trabalhador possa prestar seus serviços em um ambiente salubre, e através
de seu salário proporcionar uma vida digna para sua família e também
desempenhar o seu papel na sociedade.
1.2 HISTÓRICO DO DIREITO DO TRABALHO
No Brasil, de 1500 até 1888, o primeiro registro de direito do
trabalho foi em 1830, que foi uma lei que regulou o contrato sobre prestação de
serviços dirigida a brasileiros e estrangeiros. Em 1837 surge uma normativa de
contratos de prestação de serviços entre colonos dispondo sobre justa causa de
ambas as partes. Em 1850 surge o Código Comercial, no qual continha preceitos
indicativo de aviso prévio.
De 1888 até a Revolução de 1930, tivemos o surgimento de
alguns diplomas legislativos de maior relevância como o de 1903, com a lei sobre
sindicalização dos profissionais da agricultura, a de 1907 com a lei sobre
sindicalização dos trabalhadores urbanos, a de 1916 com o Código Civil trazendo
um capítulo sobre locação de serviços, assim, regulamentando a prestação de
serviços de trabalhadores, a de 1919 com a lei sobre acidente de trabalho, a de
1923 com a lei Elói Chaves, que disciplinava a estabilidade no emprego aos
ferroviários com 10 ou mais anos de serviço no mesmo empregador, mais tarde
instituiu as outras categorias. Em 1930 cria-se o Ministério do Trabalho, esse
sendo então o marco do aparecimento do Direito do Trabalho Brasileiro
apresentado pela doutrina.
9 BELMONTE, Alexandre Agra. Danos morais no direito do trabalho 2 ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002. p. 93.
7
A partir desse momento, o movimento em defesa do
trabalhador tem sua origem mais remota nas Corporações de Oficio das cidades
medievais que eram a associação de artesão que regulamentavam toda a
atividade, com controle de preços, salários, quantidades produzidas e
especificações das mercadorias, evitando os abusos que poderiam advir da livre
concorrência.
A Revolução Industrial transformação dos antigos métodos
de produção artesanal para as novas técnicas de mecanização e especialização
em linha de produção, fez eclodir a questão social que era o embate entre o
capital e o trabalho, pelo liberalismo econômico, caberia às forças do mercado
ditar o que seria devido ao empresário e ao trabalhador.
Segundo Giglio10:
A Revolução Industrial determinou profundas mudanças nas condições
de trabalho. A utilização de máquinas que faziam, como o tear, o serviço
de vários trabalhadores causou o desemprego em massa. O aumento da
oferta de mão-de-obra, diante da pequena procura por trabalhadores,
acarretou o aviltamento dos salários. O grande lucro propiciado pelas
máquinas trouxe como conseqüência a concentração de riquezas nas
mãos dos poucos empresários e o empobrecimento generalizado da
população.
O liberalismo econômico exacerbado degenerou um
capitalismo selvagem, no qual tinha a exploração do trabalho pelo capital, com
jornada de 14 horas de trabalho, nas piores condições, em busca do aumento de
lucro das empresas, cujos rebentos forma o movimento sindicalista que era uma
associação dos trabalhadores como meio principal de defesa de seus direitos e o
movimento comunista que era a coletivização dos meios de produção e dirigismo
estatal da economia.
No princípio, o movimento sindical foi considerado ilegal, e
as associações de trabalhadores, criminosas. Posteriormente, a união de
trabalhadores em defesa de seus interesses tornou-se lícita e foi o que
impulsionou o Estado a intervir na luta travada entre o capital e o trabalho,
10 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 10.
8
legislando sobre os direitos dos trabalhadores.11
O Direito do Trabalho surgiu, assim, da luta dos
trabalhadores pelo reconhecimento da dignidade do trabalho humano, das
condições em que se deve desenvolver e o que lhe corresponde em termos de
retribuição pelo esforço produtivo.12
A primeira Constituição a tratar de Direito do Trabalho foi a
de 1934, garantindo a liberdade sindical, isonomia salarial, salário mínimo,
jornada de oito horas de trabalho, proteção do trabalho das mulheres e menores,
repouso semanal, férias anuais remuneradas (§ 1º do art. 121).
A Constituição de 1937 tinha conteúdo corporativista,
inspirado na Constituição polonesa. O próprio artigo 140 da referida carta era
claro no sentido de que a Economia era organizada em corporações,
consideradas órgãos do Estado, exercendo função delegada de poder público.
Instituiu o sindicato único, imposto por lei, vinculado ao Estado. Foi criado o
imposto sindical, e o Estado tinha parte dessa arrecadação. Estabeleceu-se a
competência normativa dos tribunais do trabalho, tendo como objetivo principal
evitar o entendimento direto entre trabalhadores e empregadores.
A greve foi considerada recurso anti-social, nocivo ao
trabalho e ao capital e incompatível com os interesses da produção nacional.
Em 1943 surge o mais importe diploma para a disciplina
trabalhista, que é a Consolidação das Leis do Trabalho. A CLT não é um código,
apenas reúne as normas já existentes de forma sistematizada.
A Constituição de 1946 prevê a participação dos lucros,
repouso semanal remunerado, estabilidade, direito a grave, entre outros direitos.
Finalmente a Constituição de 1988 trata de direitos
trabalhistas nos artigos 7º a 11 conforme destaca-se a seguir:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
11 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_67/Artigos/Art_Min_Ives.htm. 12 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_67/Artigos/Art_Min_Ives.htm.
9
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem
justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de
atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com
moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no
valor da aposentadoria;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção
dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa,
conforme definido em lei;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de
baixa renda nos termos da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a
10
redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
(vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a
mais do que o salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres
ou perigosas, na forma da lei;
XXIV - aposentadoria;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento
até seis anos de idade em creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador,
sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em
dolo ou culpa;
11
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho,
com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de
critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e
critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual
ou entre os profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores
de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo
na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
empregatício permanente e o trabalhador avulso.
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores
domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII,
XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social.
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de
sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder
Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na
mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou
empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um
Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas;
12
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de
categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do
sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas
de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do
registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e,
se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo
se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização
de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as
condições que a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores
decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que
devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores
nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais
ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada
a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de
promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
Observa-se que a Constituição Federal de 1988, é muito
importante para o Direito do Trabalho, garantindo e assegurando aos
trabalhadores direitos nunca previstos antes.
13
1.3 CONCEITO DE DANO
Dano é elemento da responsabilidade civil e pressuposto da
reparação. A responsabilidade civil possui dois fundamentos, a culpa e o risco e
como elementos: a ação ou omissão, o dano e o nexo de causalidade a uni-los. O
efeito da responsabilidade civil vem a ser a reparação, natural ou pecuniária.
A responsabilidade civil encontra seu embasamento legal no
Código Civil, art. 186, 187 e 927:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Os ensinamentos de Dias13, em sua conceituada obra sobre
a responsabilidade civil, defini o dano juridicamente dizendo “que é ele o prejuízo
sofrido pelo sujeito de direitos em conseqüência da violação destes por fato
alheio”.
Para Carmo14 "dano é lesão ao patrimônio entendido como
conjunto de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro. Porém, tal
prejuízo pode situar-se no âmbito puramente patrimonial, ou em âmbito moral".
13 DIAS, José Aguiar. Da responsabilidade civil. 7 ed. Vol II. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p.
794/795. 14 CARMO, Júlio Bernardo do. O dano moral e sua reparação no âmbito do direito civil e do
trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região; Vol.25, n. 54; jul; 1994. p. 67 a 115
14
Segundo Oliveira15 dano é "um desequilíbrio sofrido pelo
sujeito de direito, pessoa física ou jurídica, atingida no patrimônio ou na moral em
conseqüência da violação de norma jurídica por fato ou ato alheio”.
Já o entendimento de Belmonte16 “dano é o prejuízo
causado a bem jurídico de determinado sujeito do direito ou de coletividade, por
ação ou omissão imputável a outrem.”
Alvim citado por Florindo17 nos ensina que “o termo dano,
em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o
dano moral; mas, em sentido estrito, dano é a lesão do patrimônio; e patrimônio é
o conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro”.
Em sentido amplo, a definição de dano por De Plácido e
Silva18:
Dano. Derivado do latim dannum, genericamente significa todo mal ou
ofensa que tenha uma pessoa causado a outrem, da qual possa resultar
uma deterioração ou destruição à coisa dele ou um prejuízo a seu
patrimônio. Possui assim o sentido econômico de diminuição ocorrida ao
patrimônio de alguém, por ato ou fato estranho à sua vontade.
Varela19 ensina que:
O dano é a perda in natura que o lesado sofreu, em conseqüência de
certos fatos, nos interesses (materiais, espirituais ou morais) que o
direito violado ou a norma infringida visam tutelar. É a lesão causada no
interesse juridicamente tutelado, que reveste as mais das vezes a forma
de destruição, subtração ou deterioração de certa coisa, material ou
incorpórea.
Desta forma, verifica-se que o dano pode ocorrer tanto no
15 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Do dano moral. Revista de Direito do Trabalho; vol. N. 01,
jan: 1998. 24 a 32. 16 BELMONTE, Alexandre Agra. Danos morais no direito do trabalho. p. 24. 17 FLORINDO, Valdir. Dano moral e o direito do trabalho. Ampl. São Paulo: LTr, 1999, 3 ed.
P.19. 18 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 20ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 238. 19 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. 7 ed. Vol I, Coimbra: Livraria
Almendina, 1993. p. 592.
15
âmbito patrimonial quanto moral, mas deverá decorrer de uma ação ilícita do
agente causador.
A palavra patrimônio, durante muito tempo, referiu-se
exclusivamente ao conjunto das relações de conteúdo econômico, das quais fazia
parte o titular desse patrimônio, ocasionando a expressão dano patrimonial, que
significava tão-somente a aferição da diferença entre o patrimônio do prejudicado,
existente após a atuação lesiva do causador do dano, e o patrimônio que deveria
existir, não fosse tal atuação lesiva.
Ocorre que o conceito do termo patrimônio vem sendo
ampliado, por isso que se tem entendido que são englobadas não apenas aquelas
relações de conteúdo econômico, mas também relações imateriais das quais o
homem participa. Ou seja, o homem também é o centro de uma série de valores,
de bens ideais irradiados a partir da personalidade humana, tais como a honra, a
imagem, a privacidade, a reputação, etc., que embora não tenham qualquer
conteúdo econômico, são também tutelados pelo direito. E esses bens imateriais
também integram o patrimônio, ao lado daquele já mencionado conjunto de
relações de conteúdo econômico.
Portanto, ao lado de um patrimônio material (no sentido de
conter um valor econômico), existe também um patrimônio imaterial, ou ideal,
que se refere às relações extrapatrimoniais ligadas estritamente à
personalidade humana, e dentro dessa visão mostra-se mais adequado que dano
é toda ofensa a um bem juridicamente tutelado, sendo irrelevante se esse bem
apresenta ou não conteúdo econômico.
As principais diferenças entre essas duas espécies de
patrimônios podem ser facilmente sistematizadas:
a) o patrimônio material abrange as relações de conteúdo
econômico, enquanto o patrimônio ideal abrange as relações que não apresentam
esse conteúdo econômico, mas que são também tuteladas pelo direito;
b) o dano ao patrimônio material causa um prejuízo
econômico, que pode ser quantificado em termos materiais, enquanto que o dano
ao patrimônio ideal causa dor, angústia, aflição, frustração, humilhação, e outras
agruras que são internas a quem sofre o dano, atingindo a esfera espiritual da
16
vítima;
c) nem todas as pessoas humanas são titulares de um
patrimônio material, enquanto que todos os seres humanos, sem qualquer
exceção, são titulares de um patrimônio moral.
1.4 CONCEITO DE DANO MORAL
Dano Moral, é aquele que não tem referência econômica,
que não pode ser contabilizado, tendo como resultado a dor, o sofrimento, a
angustia da vitima, a vergonha, em decorrência de qualquer ato praticado por
outra pessoa.
Contudo, não é só a dor, angustia ou vergonha que
caracterizam o dano moral, por conseguinte a obrigação de indenizar, mas é
preciso que a mágoa causada, além de ser de forma sentimental em sua
consideração pessoal ou social, deverá ser também em decorrência natural do
fato gerador.
Para Brebbia20, dano moral é "uma espécie de agravo
constituída pela violação de algum dos direitos inerentes à personalidade".
Nesse diapasão, preleciona Cahali21:
Dano moral, portanto, é a dor resultante da violação de um bem
juridicamente tutelado, sem repercussão patrimonial. Seja dor física —
dor-sensação, como a denomina Carpenter — nascida de uma lesão
material; seja a dor moral — dor-sentimento, de causa imaterial.
Segundo Silva22: “dano moral é aquele que causa lesão não-
patrimonial a pessoa, física ou jurídica, como v.g., os decorrentes das ofensas à
honra, ao decoro, às crenças internas, à liberdade, à vida, à integridade corporal,
20 BREBBIA, Roberto. El dano moral. Buenos Aires; Ed. Bibliográfica Argentina; In: Revista do
Tribunal Superior do Trabalho. Vol. 65, n 1, out/dez, Porto Alegre/RS: Síntese, 1999. p. 69. 21 CAHALI, Yussef Said. Dano e indenização. 3 ed. São Paulo: RT, 2005. p.7. 22 SILVA, Wilson Melo da. Dano moral e sua reparação. 3 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1983. p.
01.
17
à paz interior”.
Para Savatier citado por Pereira23, dano moral:
é qualquer sofrimento humano que não é causado por uma perda
pecuniária, e abrange todo atentado à reputação da vítima, à sua
autoridade legitima, ao seu pudor, à sua segurança e tranqüilidade, ao
seu amor próprio estético, à integridade de sua inteligência, a suas
afeições, etc.
Segundo Diniz24, "dano moral vem a ser a lesão de
interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato
lesivo"
Em outra definição, segundo Castelo25, "os danos morais
são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos de sua
personalidade".
Conforme Arraes26 "... o dano puramente moral, mais
tecnicamente chamado dano imaterial, é aquele que não produz conseqüências
prejudiciais no patrimônio do ofendido".
No entendimento de Carmo27 "dano moral são lesões
sofridas pela pessoa natural em seu patrimônio ideal" entendido este como "em
contraposição a patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja
suscetível de valor econômico".
Infere-se, portanto, que o dano moral, na envergadura de
princípios éticos e morais que norteiam nossa sociedade, atinge violações a
direitos não patrimoniais, a exemplo da honra, da auto-estima, da imagem, da
23 Traité de La Responsabilité Civile, vol.II, nº 525, in Caio Mario da Silva Pereira,
Responsabilidade Civil, Editora Forense, RJ, 1989. 24 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 81. 25 CASTELO, Jorge Pinheiro. Do dano moral trabalhista. Revista do Tribunal Regional do
Trabalho da 16ª Região; Vol. 3, n.1; jul; 1994. p. 66 a 71. 26 ARRAES, Antônio Getúlio Rodrigues. Danos morais e a justiça do trabalho. LTR Suplemento
Trabalhista; Vol. 32, n. 129; 1996. p. 719 a 721. 27 CARMO, Júlio Bernardo do. O dano moral e sua reparação no âmbito do direito civil e do
trabalho.. p. 67.
18
privacidade, da integridade psíquica, do nome etc.
Por conseguinte, o dano moral pode ser caracterizado como
todo aquele que resulta de uma ofensa que atinge os valores abstratos humanos
e que tem como causa impulsiva uma ação ou omissão, não estribada em
exercício regular de um direito, em que o agente produz um prejuízo ou transgride
direito de outrem, por dolo ou culpa.
Com relação ao dano moral decorrente do direito do trabalho
pode-se dizer que é aquele que surge nas relações de emprego, podendo ser
tanto por parte do empregado como do empregador, ocorrendo antes, durante ou
depois do vínculo empregatício, ou seja, do contrato de trabalho.
O contrato de trabalho é um acordo de vontades, tendo
como objetivo a produção de efeitos jurídicos, geram direitos e obrigações e
impõe aos contratantes inúmeros comportamentos, por isso, empregado e
empregador devem se respeitar mutuamente.
Enquanto se discutia no direito comum a possibilidade de
reparação econômica do dano exclusivamente moral, a Consolidação das Leis do
Trabalho, desde a sua promulgação, já contemplava o dano moral e a sua
reparação pelo empregado ou pelo empregador, em decorrência da ruptura do
contrato de trabalho pela prática de ato lesivo da honra ou da boa fama nos
artigos 482, letras “j” e “k”, e 483, letra “e”, mediante o pagamento ou
desoneração de pagamento das indenizações correspondentes ao distrato do
pacto laboral motivado por essa justa causa.
Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho
pelo empregador:
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em
caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra e boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o
empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa,
própria ou de outrem;
Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato e
pleitear a devida indenização quando:
19
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de
sua família, ato lesivo da honra e boa fama.
Segundo esse entendimento o advogado Floriano28 afirma
"na vida em sociedade, estamos sempre sujeitos a causar um dano ou então a
sofrê-lo. Na relação de emprego, a questão não é diferente ".
Sobre essa mesma corrente doutrinária, Süssekind29
pontifica que:
o quotidiano do contrato de trabalho, com o relacionamento pessoal
entre o empregado e o empregador, ou aqueles a quem este delegou o
poder de comando, possibilita, sem dúvida, o desrespeito dos direitos da
personalidade por parte dos contratantes. De ambas as partes – convém
enfatizar ...
Como já relacionado anteriormente, em uma relação de
emprego, tanto o empregador como o empregado estão sujeitos a sofrer ou
causar dano um ao outro, esse dano poderá ser moral ou material, no caso do
dano moral é quando a reputação e a dignidade da pessoa são violados por atos
abusivos e conforme o nosso ordenamento jurídico aquele que causar o dano
deverá rapara-lo.
Confirmando tal posicionamento, Sanches30 como
complemento afirma que:
no cotidiano laboral, empregado e empregador, como tais, podem ser
agentes ativos ou passivos de ilícitos dos quais derive a obrigação de
reparar o dano. Há, em tese, uma potencial igualdade dos sujeitos das
relações de trabalho em causar lesões com repercussão, inclusive, na
esfera moral, embora o mais comum seja o empregado figurar no pólo
passivo da conduta danosa .
28 FLORIANO, Valdir. Tutela da personalidade do trabalhador. 2 ed., LTr Editora, São Paulo:
1996. p. 595. 29 SUSSEKIND, Arnaldo; Dano moral na relação de emprego. Revista Forense; Vol. 91, n. 332;
out/dez; 1995 p. 3 - 7 30 SANCHES, Gislene A; Dano moral e suas implicações no direito do trabalho. São Paulo:
LTr, 1997. p. 65.
20
Acrescentando, o juiz Vidigal31 assevera que: "... não só a
pessoa física do empregado ou do empregador pode ser alvo de dano moral, pois
a pessoa jurídica, quando sob esta forma se constituir o empregador, também
poderá sofrer lesão desta natureza, por isso que ela é dotada de valores éticos".
Deste modo, resta configurado o dano moral, no âmbito
trabalhista, quando a reputação, a dignidade e o decoro são violados por atos
abusivos ou acusações infundadas dos contratantes.
1.5 HISTÓRICO DO DANO MORAL
Diferentemente do dano, que desde os primórdios teve o
mesmo significado, a moral varia de acordo com o tempo e o espaço, isto é, em
consonância com a época histórica e com a estrutura política, social e econômica
vigente.
Os primeiros relatos que tem-se sobre o dano moral e sua
reparabilidade vieram com o Código de Hamurabi que vigorou no século XXII
antes de Cristo. O Rei Hamurabi, igualmente conhecido por Kamo-Rabi, monarca
da Babilônia, mostrando preocupação para com seu povo criou o código
conhecido como: “Código de Hamurabi” com 282 dispositivos legais que tinha
como principio a garantia do oprimido e do mais fraco.
A reparação criada neste código era a regra de “olho por
olho, dente por dente”, ou seja, aquele que causasse mal a alguém era obrigado
pelas forças do rei a sofrer o mesmo mal.
Assim temos os parágrafos 196, 197 e 200 do código, que
proclamavam:
§ 196. Se um awilum destruir um olho de um (outro) awilum, destruirão
seu olho. (awilum indicava a classe social da época).
31 VIDIGAL, Márcio Flávio Salem; A reparação do dano moral na órbita do Direito do Trabalho.
In: O que há de novo em direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1997. p. 39.
21
No caso do artigo em questão, se o ofensor e o ofendido
pertencessem a mesma classe social, que neste caso era formada por homens
livres, deveria ser aplicada a pena de “olho por olho”.
§ 197. Se quebrou o osso de um awilum: quebrarão o seu osso.
Endente-se que qualquer lesão corporal feita pelo agressor
seria também indenizada com outra lesão corporal.
§ 200. Se um awilum arrancou um dente de um awilum igual a ele
arrancarão o seu dente.
Assim exaltando a pena “dente por dente”.
Porém, o Código também previa uma prestação pecuniária
para certos tipos de danos causados à pessoa, sendo assim, a vítima se
satisfazia ao ver parte do patrimônio do ofensor diminuir. Era uma satisfação
compensatória e uma das primeiras manifestações de pagamento em dinheiro na
reparação do dano moral. É o que diz os parágrafos 209, 211 e 212 do Código de
Humarubi.
§ 209. Se um homem livre (awilum) ferir o filho de outro homem livre
(awilum) e, em conseqüência disso, lhe sobrevier um aborto, pagar-lhe-á
10 ciclos de prata pelo aborto.
Esse pagamento também ocorria por dano causado por um
awilum a um muskenun, que era de uma classe social inferior, mas a reparação
era bem inferior, demonstrando assim a discriminação social que na época já era
muito comum.
§ 211. Se pela agressão fez, a filha de um Muskenun expelir o (fruto) de
seu seio: Pesará cinco ciclos de prata.
Neste parágrafo fica mais claro que o valor pago pelo aborto
sofrido a um muskenun era de cinco ciclos a menos que o aborto causado a um
awilum.
§ 212. Se essa mulher morrer, ele pesará meia mina de prata.
22
Segundo Reis32, “essa ‘compensação econômica’ consistia,
na realidade, em uma penalidade cuja finalidade primordial era a de coibir os
abusos de violência e reprimir o sentimento de vingança.”
Concomitantemente ao Código de Hamurábi, tínhamos
também o Código de Manu, no qual regia os cidadãos indianos.
Para Florindo33 “o Código de Manu demonstrou profundo e
indiscutível avanço em relação ao de Hamurabi, visto que tratava a reparabilidade
do dano em pecúnia, muito diferente deste que ainda trazia a lesão reparada por
outra lesão de igual valor.”
Tem-se ainda, a Lei das XII tábuas (inicio do século IV
depois de Cristo) no qual preveu a indenização por danos morais em sentido
genérico.
Tábua VII, § 2º. Se alguém causa um dano premeditadamente, que o
repare.
A questão do Dano Moral também está sugerido em alguns
trechos do nosso livro sagrado no Antigo e Novo Testamento, posto que o
reconhecimento e a conseqüente reparação do dano é de ordem moral.
No Velho Testamento tributava-se grande respeito no que
diz respeito à honra, sendo que o castigado não poderia divorciar-se, para que
não ocorresse falácia de “má fama sobre uma virgem de Israel”.
Então vejamos a afirmativa de Tamar em “II Samuel” (13:11-
13):
11 E chegando-lhes, para que comesse, pegou dela, e disse-lhe: Vem,
deita-te comigo, irmã minha. 12 Porém ela lhe disse: Não irmão meu,
não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal loucura.
13 Porque, aonde iria eu com a minha vergonha? E tu serias como um
dos loucos de Israel. Agora, pois, peço-te que fales ao rei, porque não
me negará a ti.
32 REIS, Clayton. Dano moral. 3 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 10. 33 FLORIANO, Valdir. Dano moral e o direito do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 36.
23
Veja-se, a respeito, outro trecho específico de reparação
pecuniária de dano moral sofrido em “Deuteronômio” (22: 28-29):
28 Se um homem encontrar uma moça virgem não desposada e,
pegando nela, deitar-se com ela, e forem apanhados, 29 o homem que
dela abusou dará ao pai da jovem cinqüenta ciclos de prata, e, porquanto
a humilhou, ela ficará sendo sua mulher; não a poderá repudiar por todos
os seus dias.
Como pode-se observar, a reparação do dano moral naquela
época chegava a ponto de o pai da moça ser indenizado e ao homem ter que se
casar com a moça na qual o abusou e ainda não poderia divorcia-se.
Já o Alcorão quando trata do adultério refere-se ao dano de
natureza moral, não permitindo ao adultero um novo casamento, a não ser com
uma adultera ou uma idólatra.
Os danos morais também eram conhecidos no Egito, na
China, na Grécia, em Roma, na Itália, na França, e em muitas outras civilizações
mais antigas.
O Código Civil de 1916 não tem relatos com o termo “dano
moral”, em seu art. 159, apenas usava a expressão de reparar o dano causado
pelo ofensor, sendo assim, poderia significar dano patrimonial ou dano moral,
ficando muito genérico.
O Supremo Tribunal Federal não aceitava a tese de
reparabilidade do dano moral e ainda entendia que não acumularia o dano moral
e o material, sendo que um estaria incluído no outro.34
No Brasil o dano moral ficou mais claro e especifico através
da Constituição de 1988, através do art. 1º, inciso III que determina um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil, que se constitui num Estado
Democrático de Direito, é a dignidade da pessoa humana. E uma das formas de
se assegurar à dignidade da pessoal humana é reparar e preservar a imagem da
pessoa. O inciso V, do art. 5º, assegura o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem. O inciso X do
34 STF, 2ª T, RE 97.672-8, j. 3.9.1982, Rel. Min. Moreira Alves, DJU 10.12.1982, p. 12.793.
24
mesmo artigo declara que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação.35
Pode-se dizer que com a Constituição de 1988 veio também
a distinção do dano moral e dano material, podendo então ser cumulativos.
Com o novo Código Civil de 2002, ficou evidente a admissão
do dano moral, conforme podemos observar em seu art. 186 “aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
35 ALENCAR, Eduardo Fornazari. A prescrição do dano moral decorrente de acidente do
trabalho. São Paulo: LTr, 2004. p. 26.
25
CAPÍTULO 2
DO DANO MORAL NO DIREITO DO TRABALHO.
2.1 CLASSIFICAÇÃO DO DANO MORAL
Não se firmou ainda uma divisão clássica dos tipos de danos
morais. Sendo assim, transcreve-se algumas espécies de danos sugeridas pelos
doutrinadores.
Reale36 distingue o dano moral objetivo do dano moral
subjetivo:
o primeiro atinge a dimensão moral da pessoa no meio social em que
vive, envolvendo o (dano) de sua imagem. O dano moral subjetivo que
se correlaciona com o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, em
sua intimidade psíquica, sujeita à dor ou sofrimento intransferíveis
porque ligados a valores de seu ser subjetivo, que o ilícito veio
penosamente subverter, exigindo inequívoca reparação.
Diniz37 distingue os danos morais diretos dos indiretos:
podemos dizer que o dano moral direto consiste na lesão a um interesse
que visa à satisfação de um bem extrapatrimonial contido nos direitos da
personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra,
a intimidade, o decoro a imagem) ou aos atributos da pessoa (como o
nome, a capacidade, o estado de família). E o dano moral indireto
consiste, por sua vez, na lesão a um interesse tendente à satisfação de
bens jurídicos patrimoniais, que produz menoscabo a um bem
extrapatrimonial. Um exemplo é a perda de coisa com valor afetivo.
36 TEIXEIRA FILHO, Apud. O dano moral no direito do trabalho. São Paulo: Revista LTr nº 9,
vol. 9, p. 1.170. 37 DINIZ, Maria helena. A responsabilidade civil por dano moral. Revista Literária de Direito –
Janeiro/fevereiro de 1996, Ano II, numero 9.
26
Como ressalta Araujo38:
São comuns as referências doutrinárias e jurisprudenciais a danos morais
indiretos: “estes existiram como prolongamentos relativamente às pessoas
lesadas, do fato que para elas ocasionou o dano moral. Prolongamentos
que, para a vitima, representariam, também, prejuízo de ordem
patrimonial aliado ao prejuízo moral”. Exemplifica com o caso da pessoa
que, sob os efeitos de pesada calúnia de que haja sido alvo, torna-se, por
determinado lapso de tempo, sem capacidade alguma para gerir
negócios, de cuja cuidadosa direção tirava avultados lucros. Nessa
hipótese, gerou dano patrimonial o afastamento da gestão dos
empreendimentos. Mas conclui que, em conjunturas como as sugeridas,
bem como em quaisquer outras assemelhadas, não existe qualquer dano
moral indireto: “Existe – isso sim – o dano moral originário. E, no seu
desdobramento, coisa bem diversa, a saber: um dano patrimonial, dano
esse que, de resto, não se liga ao dano moral, do qual é independente e
separado.
Sob a análise de França39, os danos podem ser classificados
em: a) dano econômico direito (dano material); b) dano econômico indireto (dano
material, por meio de dano moral); c) danos nos valores ideais (aqueles que nem
direta, nem indiretamente, atingem valores econômicos, ou seja, dano moral ou
dano moral puro). Daí parte para as conclusões de que: os efeitos finais do dano
podem ser patrimoniais, morais, ou patrimoniais e morais; o aspecto moral do
dano não se desnatura se, concomitantemente, também houver danos
patrimoniais; o dano moral não deixa de ser puro, quanto ao aspecto moral, a
despeito da convergência de algum aspecto patrimonial, ainda que
economicamente mais relevante; em tais hipóteses, indenizam-se tanto o dano
moral como o patrimonial.
Conforme Bittar40”...são puros os danos que se exaurem nas
lesões a certos aspectos da personalidade, enquanto os reflexos constituem
efeitos ou extrapolações de atentados ao patrimônio ou aos demais elementos
materiais do acervo jurídico lesado... Existem danos diretos e indiretos, ou puros e
38 ARAUJO, Maria José Fontenelle Barreira, O dano moral e sua identificação. Revista da
Faculdade de Direito, Fortaleza, 30: jul.-dez., 1989. 39 FRANÇA, Limongi Rubens. Reparação do dano moral. Revista dos Tribunais, vol. 631, p. 31. 40 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil dos Danos Morais, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1992.
27
reflexos, consoante se manifestem como conseqüências imediatas ou mediatas
do fato lesivo: assim, de um dano sobre a personalidade podem advir reflexos
patrimoniais e vice-versa, tanto na órbita da contratualidade, como na
extracontratualidade. Pode, ademais, haver concomitância de danos de um
mesmo fato, diante das funções várias que exercem os bens a serviço das
pessoas e os próprios objetivos em cada uma visados. Dizem-se, por fim,
subjetivos ou objetivos os danos morais, quando se circunscrevem à esfera íntima
ou valorativa do lesado, ou se projetam no circulo de seu relacionamento familiar
ou social; por outras palavras, conforme se atinja a esfera subjetiva ou de
relações do interessado”. Acrescenta, por fim, sem comum a interpenetração
entre danos morais e patrimoniais, porque desses últimos podem resultar
satisfações morais e vice-versa.
2.2 FASE PRÉ-CONTRATUAL
Esta fase refere-se ao período de contratação, ou seja, das
primeiras conversações entre o empregador, ou através de seus prepostos e o
candidato à vaga de emprego, ocorrendo, portanto antes à assinatura do contrato
de trabalho, abrangendo todo o processo de seleção do empregado.
O dano moral pode decorrer, inclusive, de eventual
publicidade dada de laudos e pareceres obtidos na avaliação de candidatos a
emprego por meio de aplicação de testes psicológicos e entrevistas, até mesmo a
promessa de contratação não concretizada pode sobrevir o dano moral.
O processo de seleção de empregados, que abrange tanto
candidatos de um emprego como trabalhadores que objetivam uma ascensão
interna pode ser levado a efeito por variadas formas: solicitação de dados
pessoais, análise de curriculum vitae, entrevistas, questionários, prova
grafológica, exames médicos e psicotécnico. Tais processos de escolha devem
cingir-se às informações necessárias, com razoabilidade e pertinência ao fim
colimado: a contratação do empregado ou sua promoção.
A prova grafalógica é, em tese, demolidora da tutela à
intimidade. Este teste, parte da escrita do candidato, visa despir sua dignidade,
28
mostrar através de uma fórmula o caráter, a personalidade da pessoa. Sua
invasão na intimidade é evidente. E a lesão ao direito não está no vazamento do
resultado da prova, mas na aplicação do teste em si, já que a recusa do
pretendente ao emprego de submeter-se aos desígnios da grafologia tolherá a
possibilidade de sua contratação41.
Teixeira Filho42, a propósito, afirma que:
neste processo deve-se perquirir sobre a experiência pregressa do
empregado, sua capacitação profissional e condições de saúde para
desempenhar o cargo, dados pessoais comuns (filiação, naturalidade,
data de nascimento, estado civil, filhos, etc), na comprovação de
regularidade da inscrição perante o órgão fiscalizador da profissão,
quando for o caso, dentre outras com esse escopo. O debordamento
desse espectro pode fazer tabula rasa do direito à intimidade.
Apesar de reconhecida a possibilidade de existência de
dano (moral ou material) na fase pré-contratual, polêmica é a aceitação da
competência da Justiça do Trabalho para apreciar pleitos referentes a este
período.
Ensina Mascaro43 que:
(...) problemas surgem quando há contrato escrito para início futuro da relação de emprego e esta não começa na data aprazada por oposição do empregador que, supervenientemente, desinteressou-se do empregado. A lei não resolve a questão. Se resultarem prejuízos ao empregado, que contava com o emprego e se desfez de outras obrigações em função do ajuste com o novo empregador, o empregado terá direito às reparações que serão cíveis de acordo com o princípio da indenização por danos. A competência para apreciar a questão será da Justiça do Trabalho em face do disposto no art. 114 da Constituição Federal ao atribuir-lhe poderes para resolver controvérsias oriundas das relações de emprego.
Outro problema que pode surgir é o do trabalhador que vem prestando serviços sob a forma de teste. É preciso distinguir situações. Não há 41 TEIXEIRA FILHO. João de Lima. O dano moral no direito do trabalho. In Trabalho & Doutrina,
nº 10, São Paulo: Saraiva, set/96. p. 36. 42 Idem, ibidem. p. 28. 43 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Iniciação ao Direito do Trabalho. 22 ed., São Paulo: LTr,
1996. p. 209/210.
29
que se falar em teste quando alguém prolongadamente trabalha para uma empresa mediante remuneração e com os mesmos deveres dos empregados da mesma função ao lado dos quais é colocado subordinadamente. O teste, como prática de serviço, deve ser evitado. Testar é verificar aptidões e para isso há o contrato de experiência.
A promessa de contrato também pode obrigar o empregador, não em termos trabalhistas, mas também com base no mesmo princípio acima referido, da reparação de danos civis.
No mesmo sentido é o entendimento de Malta44, para quem
os "litígios decorrentes de pré-contratos de trabalho ou da chamada fase pré-
contratual da relação de emprego entram na competência da Justiça do
Trabalho", podendo o autor "cumular o pedido de reconhecimento da existência
do contrato com o de seu cumprimento".
Há entendimentos que somente por exceção é que se deve
reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para o dano moral ou material
pré-contratual.
O período das tratativas para a eventual formação de um
contrato de trabalho, ainda que possa estar propenso à ocorrência de danos
morais, não deve estar sob a competência da Justiça do Trabalho pelo argumento
dogmático de que inexiste, neste momento, a qualificação jurídica necessária dos
sujeitos, qual seja, a condição de empregadores e empregados.
Excetuado, contudo, a hipótese de existir realmente um pré-
contrato para a formação de uma relação de emprego, pelo fato de que, nessa
hipótese, o contrato preliminar tem por objeto a constituição de uma fonte de
obrigações trabalhistas.
Em outros casos, como as lesões decorrentes de atos
discriminatórios ou argüição sobre opiniões pessoais, em que inexiste contratos
preliminares, a competência deve ser, logicamente, da Justiça estadual comum,
se não adveio efetivamente uma relação de emprego após as tratativas.
44 MALTA, Christovão Piragibe Tostes, Prática do processo trabalhista. 24 ed., São Paulo: LTr,
1993. p. 318.
30
Corroborando este posicionamento, veja-se o seguinte
arresto jurisprudencial:
Danos morais. Incompetência da Justiça do Trabalho. A recusa da admissão, mesmo repetida, por ex-empregador, não justifica a competência da Justiça do Trabalho, para apreciar o pedido de ‘danos morais’, sob o argumento de existência de um ‘pré-contrato’. Inocorrendo a figura mencionada na doutrina e, por isso mesmo, qualquer relação de trabalho ou de emprego com as reclamadas, a matéria não se encontra dentro da competência da Justiça do Trabalho, senão da Justiça Comum, para o processo e julgamento da questão. Exceção de incompetência julgada improcedente em primeira instância e mantida no juízo ad quem. Recurso do reclamante a que se nega provimento. (TRT
9ª Reg., 2ª T., RO 5.193/90, Rel. Juiz José Montenegro Antero, j. 25-7-1991, DJPR 06/09/91, p. 148.)
É preciso salientar, entretanto, que afastamos da
competência da Justiça do Trabalho somente o dano ocorrido numa fase de
negociações para a eventual constituição de uma relação de emprego, que não
chega, portanto, a se concretizar.
Essa situação é completamente diferente da hipótese, por
exemplo, do empregador que admite uma trabalhadora, sob a condição de que
esta se esterilize. Nesse caso, o dano foi perpetrado em função da relação de
emprego constituída, sendo a data formal de admissão (a registrada na C.T.P.S.)
irrelevante, pois a contratação já estava concretizada.
2.3 FASE CONTRATUAL
O dano moral pode ainda ser infligido na fase contratual e o
é quando o empregador deixa de cumprir certas obrigações derivadas do contrato
do trabalho, como as de higiene, saúde e de segurança do trabalho e de respeito
à personalidade e dignidade do trabalhador.
Ao longo da contratualidade pode surgir violações de direitos
inerentes à personalidade do contratante, podendo ser através de calúnia, injúria
e difamação, ou por outras situações.
Prevendo o cometimento de dano moral trabalhista pelo
31
patrão, e sua reparação, judiciosamente ensina Délio Maranhão citado por Silva45
que:
As obrigações acessórias do empregador, e que estão
previstas na lei, referem-se, de um modo geral, à prevenção dos danos que o
empregado possa sofrer tanto física como moralmente pela execução do trabalho;
à assistência e indenização quando tais danos ocorrem; às férias anuais para o
restabelecimento das energias despendidas no curso da prestação, etc.
O empregador tem ainda, a obrigação de dar trabalho e
possibilitar ao empregado a execução normal de sua prestação, proporcionando-
lhe os meios adequados para isso. E, acima de tudo, tem o empregador a
obrigação de respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade
absoluta de pessoa humana. São obrigações que decorrem do princípio geral da
execução de boa-fé do contrato, que, como está na base da disciplina contratual.
A obrigação de respeito à personalidade moral do
empregado resulta não só do principio de boa-fé como do dever de previsão, que
é, na definição do Krotoschin, citado em Livellara “a obrigação do patrão de tomar
as medidas adequadas, conforme as condições especiais do trabalho, para evitar
que o trabalhador sofra danos em sua pessoa ou em seus bens”46.
Oportuno mencionar um acórdão do Tribunal de Apelações
do Trabalho de 1º Turno de Montividéu, em cuja ementa se lê:
Em nosso direito positivo, o dano moral é suscetível de reparação. Para
isto dever-se-à ter lesionado um interesse não patrimonial, a este dano
há de ser produzido por um ato ilícito.
Além do pagamento do salário, o empregador tem outras
obrigações que, em sua maioria, resguardam bens extrapatrimoniais do
trabalhador, como, por exemplo, honra, dignidade, integridade física, etc. Assim,
por exemplo, a obrigação de proporcionar tarefas acordes com a categoria
profissional e o dever de dar trabalho, especialmente quando o não desempenho
45 SILVA Luiz de Pinho Pedreira da, A reparação do dano moral no direito do trabalho. São
Paulo: LTr, 2004.p. 41. 46 LIVELLARA Carlos Alberto. Derecho de lãs relaciones individuales. A. VASQUEZ VIALARD
(diretor). Tratado de derecho del trabajo. Buenos Aires: Astrea, l982, tomo 3, p. 712.
32
das tarefas afete moralmente o trabalhador.
O dever de previsão consiste na obrigação do patrão de
tomas todas as medidas adequadas para evitar que o trabalhador sofra dano em
sua pessoa ou em seus bens47
Existe a prática do dano moral também em situações onde o
empregador deixa o trabalhador inativo, de forma a humilhá-lo perante seus
colegas. Uma das formas mais humilhantes é não dar trabalho, mas exigir que o
empregado compareça diariamente ao local de trabalho no seu horário normal.
Assim, destaca-se a jurisprudência brasileira:
Caracteriza-se a ocorrência de dano moral, de obrigatória reparação, a
denegação, como pena, de serviços ao trabalhador, ainda se sob
percepção salarial. A situação parasitária é condenada vexatória, em si
mesma, independente de achincalhes de terceiros. Hipóteses em que,
cabente indenização de cunho reparatório e dissuasório (TRT 15ª
Região, Rela. Juíza Cecília Fernandes Álvares Leite) 48.
Outro julgado que vê dano moral na atitude do empregador
de negar trabalho ao empregado é o seguinte:
Ato do empregador no sentido de impossibilitar o exercício de tarefas
pelo empregado, continuamente, é incompatível à natureza do contrato
de trabalho. A decorrência inequívoca é a caracterização do dano moral,
constituindo ato lesivo com evidentes prejuízos, conflitando, por
conseguinte, com o principio expresso no art. 468 da CLT (TST, 1ª T.,
Rel. Min. Prates de Macedo)49.
O dano moral também pode se configurar quando o
empregador desloca o empregado para atividades menos nobres que as
desempenhava, com o propósito de diminuir o empregado, colocando em
situação vexatória perante seus colegas de trabalho.
A prática persistente e contumaz do empregador de
humilhar, chacotear, debochar, e de fazer gracejos à pessoa do empregado,
47 Revista de Derecho Laboral. Montevidéu: tomo 34, n. 161, janeiro-março 1991, p. 154-161. 48 SILVA Luiz de Pinho Pedreira da, A reparação do dano moral no direito do trabalho. 43. 49 SILVA Luiz de Pinho Pedreira da, A reparação do dano moral no direito do trabalho. p. 43.
33
denegrindo a imagem do ofendido no meio em que convive, também pode
configurar em dano moral.
Chaves50, nos ensina que:
a intenção de caçoar, quando evidente das circunstâncias do fato,
elimina a aptidão ofensiva das palavras ou atos. É bem de ver que não
devem ser excedidos certos limites. As pilhérias chamadas de mau
gosto, sujeitando a pessoa do ridículo e à galhofa, não se coadunam
com uma intenção inocente. Não é admissível que, por amor às pilhérias,
se tolere que alguém se divirta ou faça divertir à custa de reputação ou
decoro alheio. Uma coisa é gracejar, outra é ridicularizar. O ridículo é
uma arma terrível. Uma piada malévola pode destruir toda uma
reputação.
Neste sentido temos o seguinte julgado:
DANO MORAL – Hipótese em que o departamento de vendas da
empresa instituiu, através de seu supervisor certas “brincadeiras” que
importavam em ridicularização e humilhação dos vendedores que não
atingissem as metas estabelecidas. A sujeição dos empregados a esta
situação, tornada pública nas dependências da reclamada, não apenas
entre os demais funcionários, mas também entre alguns clientes,
configura evidente dano moral, que deve ser reparado. Sentença de
procedência que se confirma neste grau de jurisdição. TRT 4ª R – Ac.
00494.901/97-7 RORA – 1ª T – Relª. Juíza Maria Inês Cunha Dornelles –
Julg. Em 06.09.2000 – DOERS 09.10.2000.
Desta forma, ridicularizar funcionários, através de gestos,
palavras até mesmo brincadeiras mediante outras pessoas gera o dano moral.
2.4 MOMENTO DA EXTINÇÃO DA RELAÇÃO DE EMPREGO
O caráter abusivo da despedida imediata pode causar
diversas condições humilhantes e vexatórias em que ela se processou, podendo
vir comprometer a reputação do empregado, não apenas no seio da empresa,
mas da própria comunidade em que vive. 50 CHAVES, Antonio. Direitos da personalidade e dano moral. Seleções Jurídicas, ADV, Ed.
COAD, n. 6/95. p. 5.
34
O ordenamento jurídico, através da CLT no seu art. 482 e as
alíneas f, k, e l, autoriza o empregador a rescindir o contrato de trabalho sem ônus
para o empregador, mas se não restar provado em juízo a justa causa, o
empregador deverá pagar ao empregado as indenizações trabalhistas e a
compensação por dano moral, ambas decorrentes da infundada imputação.
Pedreira51 assevera que “ a imputação mentirosa que cause
atentado à honra do empregado constituirá por esse fato uma falta caracterizada
que compromete a responsabilidade do empregador que agiu com espírito de
malícia ou pelo menos com uma leviandade censurável”.
Neste caso, é inquestionável que se trata logicamente de um
momento em que ainda vige o vínculo empregatício, sendo da competência da
Justiça do Trabalho os pleitos de reparação dos danos ocorridos nesta etapa final
do contrato de emprego.
2.5 FASE PÓS –CONTRATUAL
A situação é um pouco mais complexa quando se trata de
lesões perpretadas em uma fase pós-contratual, algum tempo depois do término
da relação de emprego.
Ainda que sujeita-se a tomar posição diversa da assumida
por alguns dos mais brilhantes doutrinadores nacionais, entende-se que o dano
moral ocorrido em fase pós-contratual stricto sensu (ou seja, depois do término da
relação de emprego) não deve estar sob a competência da Justiça do Trabalho.
Isso porque a condição de empregador e de empregado já
estará há muito dissolvida pelo transcurso do tempo, sendo o ato lesivo à honra
(de qualquer dos sujeitos da antiga relação de trabalhado) praticado não mais em
função da qualificação jurídica decorrente da relação de emprego, mas sim com o
objetivo danoso específico em relação ao patrimônio moral do ex-empregado
como pessoa e cidadão, não se justificando trazer-se a competência para a
51 PEDREIRA, Pinho. A reparação do dano moral no direito do trabalho. v. 55. São Paulo: LTr,
1995. p. 561.
35
apreciação de tais atos para a Justiça Laboral.
Mesmo assim, tem-se entendimento jurisprudencial da
Justiça do Trabalho, no caso do empregador dar informações desabonatórias e
inverídicas a alguém que pretente contratá-lo.
INDENIZAÇÃO POR ATO ILICITO. QUANDO SE JUSTIFICA SEU
DEFERIMENTO. Caso em que o empregado, rescindido o seu contrato de
trabalho, encontra dificuldade na obtenção do novo emprego em virtude
das informações desabonatórias fornecidas por escrito pela reclamada à
empresa na qual o reclamante buscou nova colocação no mercado de
trabalho. Hipótese em que a reclamada, questionada da veracidade de
suas informações nada comprovou a respeito. Quando tem incidência a
regra do art. 159 do CC. Pretensão do empregado a que se dá acolhida
(TRT – 4ª Reg. – Ac. 1º T., RO – 4649/88, julgado em 09.08.89, Rel. Juiz
Antonio Salgado Martins).
Portanto, o empregador que prestar informações
desabonatórias da conduta pessoal e profissional de seu antigo empregado,
configurando lesão à honra deste, estará praticando o dano moral e arcará com a
devida indenização.
2.6 REPARABILIDADE DO DANO MORAL
Para a reparação, não é necessário qualquer prejuízo
material basta apenas à existência do dano com a devida comprovação.
O problema mais sério levantado pela admissão da
reparabilidade do dano moral está na quantificação do valor econômico a ser
reposto ao ofendido.
Quando se trata de dano material, calcula-se exatamente o
desfalque sofrido no patrimônio da vítima e a indenização consistirá no seu exato
montante.
Mas quando o caso é de dano moral, a apuração do
quantum indenizatório se complica, porque o bem lesado (a honra, o sentimento,
o nome, etc.) não se mede pelos padrões monetários, ou seja, não tem dimensão
36
econômica ou patrimonial.
Cabe assim ao prudente arbítrio dos juízes e à força criativa
da doutrina e jurisprudência a instituição de critérios e parâmetros que haverão de
presidir as indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na
espécie, não se torne expressão de puro arbítrio, já que tal se transformaria numa
quebra total de princípios básicos do Estado Democrático de Direito, tais como,
por exemplo, o princípio da legalidade e o princípio da isonomia.
Diniz52 esclarece que:
grande é o papel do magistrado, na reparação do dano moral,
competindo, a seu prudente arbítrio, examinar cada caso, ponderando os
elementos probatórios e medindo as circunstâncias, preferindo o
desagravo direito ou compensação não econômica à pecuniária sempre
que possível ou se não houver riscos de novos danos.
Oliveira53 destaca que “não se pode conceber a reparação
do sofrimento (físico ou moral) por dinheiro. As coisas da mente e do espírito não
desaparecem com essa facilidade.”
Todavia, inobstante o valor pecuniário não ser suficiente
para eliminar o sofrimento moral, serve ele para advertir o causador e servir de
exemplo à comunidade, além de uma compensação parcial para a vítima.
Ressalta-se que, com a Constituição da República de 1988,
a reparabilidade do dano moral, para Soares Levada54 “passou a ter natureza
indenizatória e, portanto, não apenas compensatória do prejuízo moral sofrido
pela vítima.”
Sendo assim, o valor pretendido ou arbitrado deverá
considerar variados aspectos, notadamente a condição social e financeira dos
envolvidos, sem desprezar gravidade do dano e a intenção do causador.
52 Citado in SANTOS, Oséias de Jesus do. Reparação do dano moral. Campinas: Julex, 1998. p.
25. 53 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Do dano moral. p. 24. 54 LEVADA, Cláudio Antonio Soares. Liquidação dos danos morais. Campinas: Copola Livros,
1995. p. 81.
37
Para fins dos valores, diz Bittar55 que “são conferidos amplos
poderes ao juiz para a definição da forma e da extensão da reparação cabível.”
Em razão de tais poderes, Reis56 informa que:
o melhor critério é o de confiar no arbítrio dos juizes, para a fixação do
quantum indenizatório. Afinal, o magistrado, no seu mister diário de
julgar e valer-se dos elementos aleatórios que o processo lhe oferece e,
ainda, valendo-se do seu bom senso e sentido de equidade, é quem
determina o cumprimento da lei, procurando sempre estabelecer o
equilíbrio social, rompido pela ação de agentes, na prática dos atos
ilícitos.
Na mesma direção, preleciona, Santos57 que:
se nas decisões de Direito material encontramos razoáveis graus de
liberdade relativamente ao arbítrio do juiz, na formação de seu
convencimento, cremos que nas lides de dano moral esse arbítrio deva
ser ainda maior pelo elevado nível de subjetivismo intrínseco na própria
configuração dos danos extrapatrimoniais.
A reparação do dano moral deve seguir um processo idôneo,
que busque para o ofendido um "equivalente adequado". Lição segundo a qual
não se pretende que a indenização fundada na dor moral "seja sem limite". Aliás,
à reparação será sempre, sem nenhuma dúvida, inferior ao prejuízo experimentado, mas, de outra parte, quem atribuísse demasiada importância a esta reparação de ordem inferior se mostraria mais preocupado com a idéia de lucro do que mesmo com a injúria às suas afeições; pareceria especular sobre sua dor e seria evidentemente chocante a condenação cuja cifra favorecesse tal coisa. (Aguiar Dias, Da Responsabilidade Civil, 9ª ed., Rio, Forense, 1994, vol. II, pág. 740, nota 63)
Uma vez que nenhuma possibilidade há de medir pelo
dinheiro um sofrimento puramente moral, Pereira58 recomenda que faça um jogo
55 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. p. 254 56 REIS, Clayton. Dano moral. 22 p. 57 SANTOS, Enoque Ribeiro dos. O dano moral na dispensa do empregado. São Paulo: LTr,
1998. 84 p. 58 PEREIRA, Caio Mário da Silva; Instituições de Direito Civil. 8 ed., Rio de Janeiro: Forense,
1986, vol. II, nº 176, pág. 235
38
duplo de noções:
a) de um lado, a idéia de punição do infrator, que não pode
ofender em vão a esfera jurídica alheia;
b) de outro lado, proporcionar à vítima uma compensação
pelo dano suportado, pondo-lhe o ofensor nas mãos uma soma que não é o
pretium doloris".
E se em qualquer caso se dá à vítima uma reparação de damno vitando, e não de lucro capiendo, mais que nunca há de estar presente a
preocupação de conter a reparação dentro do razoável, para que jamais se converta em fonte de enriquecimento.
Se de um lado se aplica uma punição àquele que causa
dano moral a outrem, e é por isso que se tem de levar em conta a sua capacidade
patrimonial para medir a extensão da pena civil imposta; de outro lado, tem-se de
levar em conta a situação e o estado do ofendido, para medir a reparação em
face de suas condições pessoais e sociais.
Se a indenização não tem o propósito de enriquecê-lo, tem-
se que lhe atribuir aquilo que, no seu estado, seja necessário para proporcionar-
lhe apenas a obtenção de satisfações equivalentes ao que perdeu.
Coerentemente com o que se acaba de expor, o
ressarcimento da lesão aos bens que integram o âmbito estritamente pessoal da
esfera jurídica do sujeito de direito, dá-se por via satisfativa sujeita ao critério
eqüitativo do Juiz .
Giustina59, aponta três correntes doutrinárias: a negativista,
a restritivista, a afirmativista, no que se refere a reparabilidade do dano moral.
A teoria negativista consiste em negar a reparação do dano
moral de maneira absoluta, sendo apontadas pelos doutrinadores as seguintes
razões:
59 DELLA GIUSTINA, Beatriz; A reparação do dano moral decorrente da relação de trabalho.
Gênesis: revista de direito do trabalho; Vol 6, n 34; out 1995, p 427 a 432.
39
Impossibilidade do estabelecimento do preço da dor;
Imoralidade em atribuir uma compensação pecuniária para a
dor moral;
Impossibilidade da verificação dos reflexos negativos
acarretados para cada pessoa, face a subjetividade dos mesmos;
Inexistência de parâmetros de medição desses reflexos;
Impossibilidade de prova dos danos morais;
Arbitrariedade do estabelecimento do quantum da
reparação.
A teoria restritiva, mista ou intermediária pretende ver
reparáveis somente os casos previstos em lei, não considerando o dano
puramente moral. Assim argumentam esgrimindo os arts. 953, 954 do CC, que
assim prevêem. Nesta teoria o lesado do dano moral terá ressarcimento apenas
quando houver prejuízo econômico, ou seja, somente quando o dano moral sofre
reflexo patrimonial.
Os afirmativistas refutam as duas correntes precedentes.
Para estes a reparação não constitui um pretium doloris. Não visam a devolução
ao status quo ante, o que, pela natureza do dano, é, no mais das vezes,
impossível. Ao contrário, a indenização constitui, de um lado, mera compensação,
de outro, sanção, relativamente ao autor da lesão. As "impossibilidades" ou
dificuldades apontadas pela corrente negativista e restritivista constituem mero
reconhecimento das peculiaridades das quais vai se revestir o problema da
liquidação do dano moral.
Tal entendimento, por fim, decorreria tão somente da
exegese literal do art. 186 do CC, o qual não distingue espécie de dano, impondo
a reparação indistintamente a qualquer ato lesivo praticado. Não cabe perquirir,
quando o assunto é reconhecer sua indenizabilidade, da natureza específica do
dano, basta evidenciar-se sua efetiva ocorrência.
Por fim, importa reconhecer que, sob o aspecto do direito
positivo, a reparabilidade do dano moral é hoje incontroversa ex vi do disposto na
40
Constituição Federal de 1988, art. 5º, V e X:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Encontra-se na doutrina alguns precedentes legais de
reconhecimento do dano moral e da possibilidade de sua indenização ainda
anteriores a atual ordem constitucional. É caso da Lei de Imprensa (5.250/67), do
próprio Código Civil, arts. 953 e 954, Código Eleitoral (Lei 4.737/65), e da CLT,
art. 482, letras j e k e 483, letra e.
Ainda seguindo esta corrente para fugir aos cálculos
arbitrários, no caso de indenização por dano moral nas relações de consumo,
Tupinambá Miguel Castro do Nascimento sugere o recurso à analogia, com base
no art. 4º da Lei de Introdução. Uma vez que o Código do Consumidor não cuidou
de apontar qualquer critério, poder-se-ia lançar mão dos dados constantes do
Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei nº 4.117, de 27.08.1962), onde
existem cálculos reparatórios organizados em função de certos números de
salários mínimos (Responsabilidade civil no Código do Consumidor, Rio, Aide,
1991, nº 15, pág. 102). Esse recurso à solução analógica com as regras da Lei de
Telecomunicações e da Lei de Imprensa tem sido adotado, também, pela
jurisprudência (1º TACivSP, Ap. 516.041/8, in RT 698/104).
A reparação não compreende uma "avaliação da dor em
dinheiro", representa apenas uma forma de tutelar em bem não-patrimonial que
foi violado. A indenização é feita, então, como maneira de substituir um bem
jurídico por outro.
Coerentemente com o que se acaba de expor, o
ressarcimento da lesão aos bens que integram o âmbito estritamente pessoal da
esfera jurídica do sujeito de direito, dá-se por via satisfativa sujeita ao critério
41
eqüitativo do Juiz .
2.7 FORMAS DE REPARAÇÃO DO DANO MORAL TRABALHISTA
Analisemos, neste tópico, algumas das formas e modos de
reparação do dano moral trabalhista.
2.7.1 Pecuniária
Conforme observa Teixeira Filho60:
Não há negar que a compensação pecuniária domina nas condenações judiciais, seja por influxos do cenário econômico, antes instável e agora em fase de estabilização, seja pela maior liberdade do Juiz em fixar o quantum debeatur. Deve fazê-lo embanhado em prudência e norteado
por algumas premissas, tais como: a extensão do fato inquinado (número de pessoas atingidas, de assistentes ou de conhecedoras por efeito de repercussão); permanência temporal (o sofrimento é efêmero, pode ser atenuado ou tende a se prolongar no tempo por razão plausível); intensidade (o ato ilícito foi venial ou grave, doloso ou culposo); antecedentes do agente (a reincidência do infrator deve agravar a reparação a ser prestada ao ofendido); situação econômica do ofensor e razoabilidade do valor.
Dois são os sistemas que a dogmática jurídica oferece para
a reparação pecuniária dos danos morais: o sistema tarifário e o sistema aberto.
No primeiro caso, há uma predeterminação, legal ou
jurisprudencial, do valor da indenização, aplicando o Juiz a regra a cada caso
concreto, observando o limite do valor estabelecido em cada situação. Segundo
informa Costa61, é o que ocorre nos Estados Unidos da América do Norte.
Já pelo sistema aberto, atribui-se ao Juiz a competência
para fixar o quantum subjetivamente correspondente à reparação/compensação
da lesão, sendo este o sistema adotado no Brasil.
60 TEIXEIRA FILHO, João de Lima. O dano moral no direito do trabalho. p. 1171. 61 COSTA, Orlando Teixeira da. Da ação trabalhista sobre o dano moral; p. 68.
42
2.7.1.1 Sistemas tarifário e aberto
Face a não ser o dano moral quantificável pecuniariamente,
surge a necessidade de desenvolvimento de critérios para sua adequada
liquidação.
Ressaltam dois sistemas: o tarifário e o aberto, como
informa Orlando Costa62:
Pelo sistema tarifário, há uma predeterminação do valor da indenização.
O Juiz apenas o aplica a cada caso concreto, observando o limite do
valor estabelecido para cada situação. É como se procede nos Estados
Unidos da América do Norte. Pelo sistema Aberto, atribui-se ao Juiz a
competência para fixar o quantum subjetivamente correspondente à
satisfação da lesão. É o sistema adotado em nosso país.
O quantum indenizatório tem um duplo caráter, ou seja,
satisfativo-punitivo. Satisfativo porque visa a compensar o sofrimento da vítima, e
punitivo porque visa a desestimular a prática de atos lesivos à honra, à imagem,
etc. das pessoas.
No âmbito do Direito do Trabalho, a fim de reparar o dano
moral sofrido pelo empregado, têm alguns julgados perfilhado o estatuído nos
artigos 477 e 478, ambos da CLT. O primeiro estabelece que "... o direito de haver
do empregador uma indenização, paga na base da maior remuneração que tenha
percebido na mesma empresa". O segundo estabelece que "a indenização devida
pela rescisão de contrato por prazo indeterminado será de 1 (um) mês de
remuneração por ano de serviço efetivo, ou por ano e fração igual ou superior a 6
(seis) meses".
Esse critério é injusto, uma vez que privilegia o empregado
mais antigo em detrimento do mais novo. Este, inclusive, a teor do § 1o do art.
478, não teria direito a nenhuma indenização se o seu tempo de trabalho na
empresa fosse inferior a um ano.
A indenização tarifária trabalhista - busca promover o
62 COSTA, Orlando Teixeira da. Da ação trabalhista sobre dano moral. p. 66/67.
43
ressarcimento de um dano específico: a perda do emprego pelo empregado,
fundando-se em “responsabilidade objetiva pelo empregador”. Há uma
predeterminação do valor da indenização. O Juiz apenas o aplica a cada caso
concreto, observando o limite do valor estabelecido para cada situação.
Já a indenização civil por dano moral trabalhista - deriva de
dano distinto da simples perda do emprego, através da violação a direitos
personalíssimos tutelados pela ordem jurídica, ainda que o empregador haja
ocasionado o dano de forma conexa ou concomitante com a despedida do
empregado.
A situação patrimonial de quem vai pagar a indenização
também costuma ser levada em conta e é muito importante na hipótese em que o
acionante é o empregador e o acionado é o empregado (hipossuficiente).
Tendo em vista que o dano moral se encontra disciplinado
no direito material civil, e em atenção ao que dispõe o art. 8o parágrafo único, da
CLT, não há falar em limites para a indenização.
A situação patrimonial do agente do ato danoso sempre
deve ser considerada, para que não se venha a impor uma condenação em
pecúnia a quem pouco obtém para garantir para si e para a sua família um nível
condigno de vida.
No Brasil, a compensação adicional à reparação, em
pecúnia, será sempre exigível, pois a Constituição da República assegura, em
todo e qualquer caso de dano moral, uma indenização.
Pedreira63, ao analisar o problema da reparação do dano
moral trabalhista após a despedida injuriosa, faz extensa e percuciente análise de
legislação comparada (Itália, Argentina, Bélgica, França, Suíça e Brasil) no que se
refere à reparação tarifária frente a indenização aberta do dano moral. Afasta a
confusão que se possa fazer entre indenização por antigüidade (verbas
rescisórias) e indenização por dano moral. Afasta também a confusão que se faz
entre indenização pela despedida sem justa causa e a indenização pelo dano
63 PEDREIRA, Luiz de Pinho. A reparação do dano moral no direito do trabalho. Vol. 55, São
Paulo: LTr, maio/91. p. 559.
44
moral. Para o caso Brasileiro, conclui:
(...) a reparação do dano extrapatrimonial é, hoje, no Brasil imposição constitucional e que dessa imposição não está excetuado o Direito do Trabalho ... No tocante ao período pós-contratual as indenizações tarifadas (indenização de antigüidade e pela ruptura e injustificada do contrato de trabalho) não cobrem dano moral algum, pois o dano moral só passou a ser reparável no Brasil depois da vigência da Constituição de 1988.
Os que pugnam pelo sistema aberto indicam critérios
embasados em dois princípios fundamentais:
Primeiramente a indenização deve constituir compensação
adequada do dano efetivamente sofrido;
Em segundo lugar deve impor ao autor do dano sanção
capaz de inibir novas investidas contra o direito personalíssimo alheio.
Vejamos o seguinte arresto jurisprudencial a respeito:
Assim, tal verba paga em dinheiro deve representar para a vítima uma satisfação, igualmente moral ou, que seja, psicológica, capaz de neutralizar ou "anestesiar" em alguma parte o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que tampouco signifique um enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir, no causador do mal, impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado. Trata-se então de uma estimação prudencial.(TJSP, Apelação 113.190-1, relator Walter Moraes)
Na Doutrina:
Assim, atento à sua extensão limitada a prejuízos que atingiram o seu foro íntimo, sem maiores proporções danosas no campo material, atento, ainda, ao fato de que a pecunia doloris tem caráter exemplar e expiatório, como ensinava Ripert, o Juiz deferirá o pedido de indenização por dano moral, fixando o seu valor em quantia razoável, certo de que a dor moral jamais pode ser ressarcida convenientemente por bens materiais. (Antonio Getúlio Rodrigues Arraes)
O arbitramento para aferir em pecúnia a lesão do dano moral deverá fazer âncora na razoabilidade, levando-se em conta fatores outros tais como as seqüelas psíquicas impostas à vítima bem assim a posse material do agressor (...) nem tão grande que e converta em fonte de
45
enriquecimento, nem tão pequena que e torne inexpressiva. (Caio Mário da Silva Pereira, Instituições, Ed. Forense, Rio, 1972)
Em cada caso deve fazer expressa referência à sua própria experiência, o que não obsta em certas circunstâncias, possa utilizar algumas pautas objetivas, tais como a intensidade dos efeitos, tempo em que se projetou o agravo, prazo de internamento, seqüelas que provocam uma deterioração na vida de relação, tipo de tratamento a que teve de ser submetida a vítima. (Pinho Pedreira )
O sistema aberto é o sistema adotado no Brasil. Neste
sistema, portanto, fica ao arbítrio do Juiz a fixação do quantum, sendo que deverá
pautar sua decisão em critérios que levem em consideração aspectos envolvendo
o caso concreto.
2.7.2 Critérios de quantificação
Com relação aos critérios de quantificação, Antonio
Chaves64 relaciona:
deverá levar em conta a posição social e econômica de cada uma das
partes, o transtorno sofrido e a situação a que ficou reduzida a vítima, a
repercussão negativa em suas atividades, mas, atente-se,
principalmente, à necessidade de se dar um caráter punitivo e
premonitório à leviandade e à malícia do requerido.
2.7.2.1 Arbitramento
Quanto ao ressarcimento dos danos morais, ensina Reale65
que se trata de um "domínio em que não se pode deixar de conferir ampla
discricionariedade ao magistrado que examina os fatos em sua concretitude”.
Dispõe o artigo 944 do Código Civil, referente à
"indenização", que a indenização mede-se pela extensão do dano, onde, havendo
excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
reduzir, eqüitativamente, a indenização. 64 CHAVES, Antonio. Responsabilidade civil. atualização em matéria de responsabilidade por
danos morais. Revista Jurídica, n. 231, jan. 97. p. 12-30. 65 REALE, Miguel; O dano moral no direito brasileiro. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1992, p.
25/26.
46
A doutrina nacional tem reconhecido a importância deste
dispositivo, lembrando Dias66 que:
Não é razão para não indenizar, e assim beneficiar o responsável, o fato de não ser possível estabelecer equivalente exato, porque, em matéria de dano moral, o arbitrário é até da essência das coisas, observando, inclusive, que o arbitramento, de sua parte, é, por excelência, o critério de indenizar o dano moral, aliás, o único possível, em face da impossibilidade de avaliar matematicamente o pretium doloris.
A liquidação por arbitramento pode ser precedida sem a
prova pericial quando o Juiz, investindo-se na condição de árbitro, deverá fixar a
quantia que considere razoável para compensar o dano sofrido. Para isso, pode o
magistrado valer-se de quaisquer parâmetros sugeridos pelas partes ou, mesmo,
adotados de acordo com sua consciência e noção de eqüidade, entendida esta na
visão aristotélica de "justiça no caso concreto".
Nesse sentido, ensina Monteiro67 que:
inexiste, de fato, qualquer elemento que permita equacionar com
rigorosa exatidão o dano moral, fixando-o numa soma em dinheiro. Mas
será sempre possível arbitrar um quantum, maior ou menor, tendo em
vista o grau de culpa e a condição social do ofendido.
Sobre a matéria, existem em nosso ordenamento jurídico
brasileiro, diversas hipóteses legais de decisão por eqüidade.
Entre elas, pode-se elencar, por exemplo, a previsão do art.
20 do Código de Processo Civil, no que diz respeito à fixação de honorários nas
causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, nas em que não houver
condenação ou em que for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções,
embargadas ou não, em que se delega ao prudente arbítrio do julgador a
estipulação do quantum debeatur.
Claríssima, ainda, é a hipótese do art. 1.109 do Código de
Processo Civil, dizendo que, nos procedimentos de jurisdição voluntária, o "Juiz
66 DIAS, José de Aguiar, Da responsabilidade civil. 9 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1994, vol. II,
nota 63 p. 739 67 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil – Direito da Obrigações. 26 ed.,
São Paulo: Saraiva, 1993. p. 414.
47
decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar
critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar
mais conveniente ou oportuna".
Em todos estes casos, é facultado expressamente que o
julgador possa valer-se de seus próprios critérios de justiça, quando vai decidir,
não estando adstrito às regras, parâmetros ou métodos de interpretação pré-
estabelecidos.
Conforme ensina Ferraz68:
Juízo por eqüidade, na falta de norma positiva, é o recurso a uma espécie de intuição, no concreto, das exigências da justiça enquanto igualdade proporcional. O intérprete deve, porém, sempre buscar uma racionalização desta intuição, mediante uma análise das considerações práticas dos efeitos presumíveis das soluções encontradas, o que exige juízos empíricos e de valor, os quais aparecem fundidos na expressão juízo por eqüidade.
Dessa forma, protegidos pela ampla liberdade do Juiz para
fixar o quantum condenatório já na decisão cognitiva que reconheceu o dano
moral. Saliente-se, inclusive, que se o valor arbitrado for considerado insatisfatório
ou excessivo, as partes poderão expor sua irresignação a uma instância superior,
revisora da decisão prolatada, por força do duplo grau de jurisdição.
2.7.2.2 Analogia
Em pesquisa jurisprudencial verifica-se, em diversos
acórdãos, a fixação analógica, como parâmetro para a quantificação da
compensação pelo dano moral, do critério original de indenização pela despedida
imotivada, contido no art. 478 consolidado.
Com efeito, dispõe o referido dispositivo, in verbis:
Art. 478. A indenização devida pela rescisão de contrato por prazo
indeterminado será de um mês de remuneração por ano de serviço efetivo, ou por ano e fração igual ou superior a seis meses.
68 FERRAZ JR, Tércio Sampaio, Introdução ao estudo do direto. 2 ed., 2 triagem, São Paulo,
Editora Atlas, 1996 p. 304.
48
§ 1º. O primeiro ano de duração do contrato por prazo indeterminado é
considerado como período de experiência, e, antes que se complete, nenhuma indenização será devida.
§ 2º. Se o salário for pago por dia, o cálculo da indenização terá por base
20 (vinte) dias (obs.: o parâmetro atual é de 30 dias)
§ 3º. Se pago por hora, a indenização apurar-se-á na base de 200 (duzentas) horas por mês (obs.: o parâmetro atual é de 220 horas)
§ 4º. Para os empregados que trabalhem à comissão ou que tenham
direito a percentagens, a indenização será calculada pela média das comissões ou percentagens percebidas nos últimos 12 (doze) meses de serviço.
§ 5º. Para os empregados que trabalhem por tarefa ou serviço feito, a
indenização será calculada na base média do tempo costumeiramente gasto pelo interessado para realização de seu serviço, calculando-se o valor do que seria feito durante trinta dias.
Valendo-se desse parâmetro, verifique-se este acórdão,
relatado pelo ilustre magistrado e jurista paraense Franco Filho:
I. IMPROBIDADE - A improbidade deve ser provada de modo insusceptível de dúvidas, dado seus graves reflexos, inclusive na vida privada do trabalhador. Recurso patronal a que se nega provimento.
II. DANO MORAL. COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO.
1. É competente a Justiça do Trabalho para apreciar demandas envolvendo indenização por dano moral decorrente de relação de emprego.
2. A indenização por dano moral, à falta de norma específica que disponha sobre os critérios para sua fixação, deve ser calculada adotando-se, por analogia, a regra da indenização por tempo de serviço.
3. O seu valor deve ser igual à maior remuneração mensal do trabalhador multiplicada pelo número de anos ou fração igual ou superior a seis meses de serviço prestado. (TRT 8ª Reg., 4ª T., Ac. TRT RO nº. 3795/96, Rel. Juiz Georgenor de Sousa Franco Filho)
Primeiramente, ressalte-se que a analogia está
expressamente prevista no texto da Consolidação das Leis Trabalhista como
forma de integração do ordenamento jurídico, conforme se infere da redação do
seu art. 8º.
49
Em segundo lugar, o fato de ser um critério previsto na
própria legislação laboral facilitará, sem qualquer dúvida, sua aceitação nos
pretórios trabalhistas, notadamente nos setores mais conservadores,
tradicionalmente arredios à utilização de critérios estranhos ao Direito do Trabalho
positivado.
Por fim, a simplicidade desta forma de quantificação, que
fixa uma importância razoável em função do tempo de serviço do empregado, traz
a segurança necessária para o julgador cauteloso, evitando-se abusos
generalizáveis de fixação de indenizações milionárias.
2.7.2.3 Outras previsões legais de critérios de fixação do valor
Para a fixação do valor da indenização, pode o Juiz,
aplicando também a analogia, valer-se de algumas outras previsões legais de
critérios para a quantificação da reparação do dano moral.
Entre eles o art. 84 do Código Nacional de
Telecomunicações (Lei nº 4.117/63), que prevê que "na estimação do dano moral,
o Juiz terá em conta notadamente a posição social ou política do ofensor,
intensidade do ânimo de ofender, a gravidade e a repercussão da ofensa".
O art. 53 da Lei de Imprensa (Lei nº. 5.250/67), por sua vez,
estabelece que:
Art. 53. No arbitramento da indenização em reparação de dano moral, o
Juiz terá em conta, notadamente:
I - a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e
repercussão da ofensa e a posição social e política do ofendido;
II - a intensidade do dolo ou o grau da culpa do responsável, sua situação econômica e sua condenação anterior em ação criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação;
III - a retratação espontânea e cabal, antes da propositura da ação penal ou civel, a publicação ou transmissão da resposta ou pedido de retificação, nos prazos previstos na lei e independentemente de
50
intervenção judicial, e a extensão da reparação por esse meio obtido pelo ofendido.
Todos estes critérios podem ser utilizados pelo Juiz do
Trabalho, de forma supletiva, para arbitrar a compensação pecuniária
correspondente ao dano moral verificado, de forma a proporcionar uma
condenação o mais próxima possível do ideal de Justiça no caso concreto.
O autor, em sua petição inicial, pode sugerir ao órgão
julgador uma importância que considere razoável para a compensação do dano
moral sofrido, justificando os parâmetros que o levaram a propor esse valor.
Desta forma, o magistrado poderá vislumbrar objetivamente,
quando da sentença de cognição, alguns parâmetros médios para a quantificação
do julgado, isso quando já não for conveniente prolatar a decisão líquida, o que
agilizará e muito a prestação jurisdicional.
2.7.3 Algumas palavras sobre o bom senso do julgador
A indenização por dano moral deve ter justamente a função
compensatória, o que implica dever sua estipulação limitar-se a padrões
razoáveis, não podendo se constituir numa "premiação" ao lesado.
A natureza sancionadora não pode justificar, a título de
supostamente aplicar-se uma "punição exemplar", que o acionante veja a
indenização como um "prêmio de loteria", "baú da felicidade" ou "poupança
compulsória" obtida às custas do lesante.
A inobservância dessas recomendações de cautela somente
fará desprestigiar o Poder Judiciário Trabalhista, bem como gerar a criação de
uma "indústria de litigiosidade sobre a honra alheia", algo condenável jurídica,
ética e moralmente.
Nas palavras de Teixeira Filho69:
69 TEIXEIRA FILHO, João de Lima; O dano moral no direito do trabalho. p. 1172.
51
Precisamente porque sua função é satisfatória, descabe estipular a indenização como forma de ‘punição exemplar’, supostamente inibidora de reincidências ou modo de eficaz advertência a terceiros para que não incidam em práticas símiles. Os juízes hão que agir com extremo comedimento para que o Juidiciário não se transforme, como nos Estados Unidos, num desaguadouro de aventuras judiciais à busca de uma sorte grande fabricada por meio dos chamados punitive damages e suas exarcebadamente polpudas e excêntricas indenizações.
Desta forma, deve o julgador valer do seu bom senso,
limitando-se a valores razoáveis de indenização, não constituindo em prêmios ao
lesado, cumprindo assim a sua função satisfatória.
2.7.4 Atestatória
É o patrimônio do lesante que responde por seus atos, não
se podendo exigir a sua submissão pessoal à vontade do lesado.
Segundo Floriano70,
Uma vez verificado o dano moral e seus graves reflexos na vida do trabalhador, não basta a indenização in pecúnia pelo dano, mister também se faz a entrega da carta de boa referência, posto que a pecúnia tem efeito meramente compensatório, haja vista que não é possível voltar ao status quo ante, sendo que os efeitos do dano continuarão a
existir, ainda que de forma diminuída, acompanhando o trabalhador durante toda a sua existência, razão por que a concessão de referida carta terá como visão principal o futuro. Essa acompanhará o trabalhador por todos os seus dias, servindo de passaporte para obtenção de novo emprego.
Entretanto, obrigar alguém a emitir uma declaração de
vontade, como é o caso da carta de boa referência, sem haver uma previsão
específica desta obrigação no campo do Direito Material, parece uma violência
contra o empregador, ainda que este tenha ensejado realmente o dano moral.
A própria sentença declaratória da inexistência dos atos
imputados pelo empregador, bem como de condenação deste na reparação do
dano moral ocorrido, vale muito mais como atestado de idoneidade, em função da
70 FLORIANO, Valdir; Dano moral e o direito do trabalho. 2 ed., LTr, São Paulo: 1996. p.150.
52
chancela judicial, do que uma simples carta de referência expedida pelo
empregador.
53
CAPÍTULO 3
DANO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO
3.1 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
A Justiça do Trabalho, segundo Nascimento:71
é uma justiça especial, com organização própria no Poder Judiciário,
competente para conhecer questões trabalhistas, integrados na
organização judiciária comum, e, igualmente, estruturas administrativas
que funcionam nos moldes jurisdicionais por força de lei que lhes confere
poderes decisórios para lides trabalhistas.
Ferreira Filho72 considera que:
a justiça do trabalho é, como a eleitoral, uma criação da Segunda
República”...”Sua criação atende à necessidade de se prever em bases
flexíveis e menos formais uma justiça voltada às relações de Trabalho,
ao mesmo tempo que à de organizá-la, levando-se em conta os
conhecimentos especializados indispensáveis para a sua
administração... Caracteriza-se ainda a justiça do trabalho pela
conciliação que deve preferir aos julgamentos para pôr termo aos litígios.
Visa, assim, a contribuir para a paz social.”
Sabidamente contrato de trabalho é de natureza bilateral,
sendo entendido como uma obrigação de índole laboral, que numa visão simplista
e consolidada, tem seus contornos ressaltados em dois polos. De um lado, a
responsabilidade de o empregado contratado ceder sua força de trabalho nas
condições ajustadas e do outro, ao empregador, de pagar-lhe salários.
O art. 442 da CLT define o contrato de trabalho como sendo:
"o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego", ou "o
71 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 17. ed. São Paulo:
Saraiva, 1997. p. 668. 72 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 21. ED. São Paulo:
1994. p. 322.
54
negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga, mediante o
pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar trabalho não-eventual em
proveito de outra pessoa física ou jurídica (empregador) a quem fica juridicamente
subordinado".
O local da prestação do labor não influencia na
caracterização do reconhecimento do vínculo empregatício eis que inexiste
distinção entre o trabalho prestado no estabelecimento do empregador e o
realizado fora do estabelecimento, como por exemplo o executado no domicílio do
empregado: "Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do
empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja
caracterizada a relação de emprego" (CLT, art. 6).
O contrato de trabalho é nitidamente marcado pela
onerosidade, comutatividade das prestações (continuidade), verificando-se como
requisito essencial a presença da contraprestação salarial em troca da prestação
de um trabalho não eventual, sendo que para a caracterização do contrato de
trabalho deve-se examinar a presença ou não dos seus requisitos constituidores,
como a pessoalidade, a não eventualidade, a onerosidade.
Maranhão73 define o contrato de emprego (stricto sensu),
como sendo o "negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado) se
obriga, mediante o pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar
trabalho não eventual em proveito de outra pessoa, física ou jurídica
(empregador), a quem fica juridicamente subordinada".
Assim, diante da evolução de um mundo novo
economicamente globalizado e com o conseqüente reconhecimento da
despersonificação da figura do empregador, não se faz, mais, na atualidade,
necessário e fundamental a exigência do exame da presença do requisito
subordinação jurídica do empregado prevista na parte final do art. 442 da CLT.
A realidade econômica para a qual foi formatada a redação
da parte final do art. 442 da CLT sofreu alteração, não se tratando mais de uma
economia setorizada, localizada, em grande parte até familiar, onde a presença
73 MARANHÃO, Délio. Instituições de direito do trabalho; 111 ed., Ed. LTr, São Paulo: 1991,
vol. 1. p. 23.
55
do empregador era preponderante.
Na consolidação de um mercado único então perseguido
pelas Nações, com a quebra das respectivas fronteiras, atualmente grande parte
dos empregados, mormente das grandes empresas, sequer conhecem a figura de
seu empregador.
Os objetivos então buscados é o do aumento da produção,
da melhoria da qualidade, da redução dos custos, o da alta produtividade. O
constituinte de 1.988, percebendo todas essas alterações mundiais e as novas
exigências nacionais, dotou o País de um instrumento jurídico da mais relevante
importância, a Carta Política da Nação (a constituição cidadã) - à qual todas as
leis nacionais estão subordinadas – trazendo como fundamentos do Estado a
cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (art.
1º,II, III e IV ) e objetivando a construção de uma sociedade livre, justa e solidária,
concentra seus esforços no sentido da prevalência social contra o mero interesse
particular de lucro do capital (art. 5º, inciso XXIII e 170, inciso III), garantindo-se
com isso a busca do desenvolvimento nacional, da erradicação da pobreza e a
marginalização, da redução paulatina das desigualdades sociais e regionais,
visando à promoção do bem comum, sem preconceitos de origem, raça, idade ou
quaisquer outras formas (art. 3º, I, II, III e IV ). Como decorrência da adoção
desses novos objetivos sociais nacionais, o constituinte de 1.988 erigiu o contrato
de trabalho, emprestando-lhe o status constitucional, elevando-o à categoria de
direito fundamental, como se extrai do exame do artigo 7º (incisos IV, V, VI, VII,
X).
Com os avanços da economia mundialmente globalizada e
diante dos novos direitos sociais constitucionalmente assegurados, certo que o
contrato de trabalho teve ampliado seus contornos, impondo-se aos
empregadores novas responsabilidades, além das de pagar salário. É que a partir
da CF/88, o legislador constituinte, a par dos direitos fundamentais e sociais aos
trabalhadores assegurados no art. 5º e 7º, elegeu o meio ambiente (art. 225) à
categoria de bem de uso comum do povo. A necessidade social da comunidade
de ter a garantia de seus membros protegida dos infortúnios ocasionados pelos
riscos ambientais, foi atendida, com a proteção do trabalhador contra o dano à
saúde ou integridade física prevista pelo art. 7º, inciso XXII (redução dos riscos
56
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança),
ampliando-se a responsabilidade patronal a oferecer ao trabalhador um local de
trabalho sadio, onde haja inclusive respeito à dignidade da pessoa humana, à sua
personalidade à própria honra. Desrespeitando o empregador suas novas
responsabilidades sociais decorrentes do contrato de trabalho responderá por seu
ato, mesmo omissivo, pelos danos ocasionados ao empregado, quer o decorrente
de lesão à honra, dano moral (art. 5º, inciso X da CF), como o decorrente de dolo
ou culpa do empregador no infortúnio acidentário, art. 7º, inciso XXVIII (seguro
contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a
que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa). Assim, não incorrendo
em culpa e ou dolo, a responsabilidade pela indenização resultante do infortúnio é
da previdência (responsabilidade objetiva), mas em se tratando de haver incorrido
o empregador em culpa e ou dolo, sem prejuízo do direito da indenização a cargo
da previdência, tem o trabalhador direito à indenização a cargo de seu
empregador, além da garantia estabilitária acidentária prevista no art. 118 Lei
8.213/91, de um ano, após a cessação do auxílio-doença acidentário,
independentemente de percepção de auxílio-acidente.
A competência da Justiça do Trabalho para apreciar o pleito
do dano moral, afirma-se pelo fato de o dano ter sido causado em decorrência da
relação de emprego, por um dos sujeitos do contrato.
Para Pedreira74 “a competência para ações de perdas e
danos é da Justiça do Trabalho sempre que o dano sofrido por uma das partes
(empregado ou empregador) fosse estritamente derivado dessa mesma relação”.
Seguindo a mesma linha, Sussekind75, a respeito do assunto
na redação antiga do art. 114 da CF:
O art. 114 da CF não exige que o direito questionado ou a norma legal a
ser aplicada pertençam ao campo do Direito do Trabalho. O fundamental
é que o litígio derive da relação de emprego (dissídio entre trabalhador e
o respectivo empregador) ou de relação de trabalho, mas nessa segunda
hipótese, quando a competência da Justiça do Trabalho for prevista em
74 PEDREIRA, Pinho. Tutela da personalidade do trabalhador. LTr, São Paulo: v. 59, n. 5, maio
1995 p. 238-245. 75 SÜSSEKIND, Arnaldo Lopes. Tutela da personalidade do trabalhador. LTr. São Paulo: v. 59,
n. 5, maio 1995 p. 595-598.
57
lei.
Importante salientar que nem toda a lide existente entre
empregado e empregador será de competência da justiça do trabalho, pois as
relações jurídicas ou os fatos nos quais eles se envolvam podem não dizer
respeito ao vínculo empregatício.
Diante deste tema controvertido, Dalazem76 se pronunciou
da seguinte maneira:
O que dita a competência material da Justiça do Trabalho é a qualidade
jurídica ostentada pelos sujeitos do conflito intersubjetivo de interesses:
empregado e empregador. Se ambos comparecem a Juízo como tais,
inafastável a competência dos órgãos desse ramo especializado do
Poder Judiciário nacional, independentemente de perquirir-se a fonte
formal do Direito que ampara a pretensão formulada. Vale dizer: a
circunstância de o pedido alicerçar-se em norma de Direito Civil, em si e
por si, não em o condão de afastar a competência da Justiça do
Trabalho se a lide assenta na relação de emprego, ou dela decorre.
Como decorrência do que dispõe o art. 114 da CF mesmo
antes da Emenda Constitucional nº 45, já tínhamos jurisprudência determinando
que o dano moral é de competência da Justiça do Trabalho.
Neste sentido a jurisprudência predominante, inclusive do
próprio STF:
COMPETÊNCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONDIÇÕES DE
TRABALHO. Tendo a ação civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho, e portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho" (STF, Rel. Min. Marco Aurélio, RE 206220/MG, decisão publicada no DJ da União em data de 17/09/99 e tendo transitado em julgado a decisão, os autos foram baixados à 4ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora/MG pela Guia 5388).
Na mesma linha de raciocínio adotado pelo STF, a Justiça
Obreira reiteradamente tem decidido que a competência para apreciar e julgar
76 Citado in PEDREIRA, Luiz de Pinho. A reparação do dano moral no direito do trabalho. Ltr,
São Paulo: v. 55, n. 5, maio 1991. p. 552-559.
58
ações acidentárias e ou de dano moral decorrentes de relação de trabalho é da
Justiça do Trabalho, como se vê, por exemplo, de um de seus julgados:
DANO MORAL E MATERIAL – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO – Com o advento da atual Carta Magna, a matéria referente ao dano moral e material, está respaldada pelas disposições contidas no artigo 5º, V e X, em particular na Justiça do Trabalho. A argumentação mais freqüente encontrada na doutrina e na jurisprudência pátria é de que, em se tratando de ofensa à moral do empregado ou do empregador, desde que oriunda do contrato de trabalho, é competente esta Justiça Especializada para dirimir tal conflito (inteligência do art. 114/CF), TRT 23ª R. – RO 2911/98 – (Ac. TP. nº 1600/99) – Rel. Juiz Antônio Melnec (decisão publicada no DJMT em 15.07.1999 – pág. 29).
A questão da competência para conhecer do dano moral
oriundo da relação trabalhista, se da Justiça Comum ou Trabalhista era campo de
vasta controvérsia. Alinhavam-se os autores entre os que:
1-acolhem a tese da incompetência absoluta; ou a tese da
admissibilidade da competência da Justiça Especializada condicionando-a à
edição de lei formal estendendo a competência, ou ao menos a que não haja lei
excluindo-a;
2-pugnam pela competência irrestrita da Justiça Trabalhista
para conhecer do dano moral, sempre que relacionado ao vínculo empregatício
ou trabalhista;
Boa parte da celeuma gira em torno da exegese do art. 114
da Constituição Federal de 1988, o qual estabelece a competência da Justiça
Trabalhista.
3.2 COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO
A competência em razão da matéria, diz a respeito das
questões que poderá ser apreciada na Justiça do Trabalho.
Existem vários sistemas jurídicos relacionado com a
competência material da Justiça do Trabalho.
59
Para Nascimento77 “não há uniformidade de soluções na
legislação processual trabalhista dos diferentes países. O tema pode ser
analisado sob o ângulo dos setores do direito do trabalho, dos tipos de relações
jurídicas e, especialmente, dos dissídios individuais e coletivos.”
A Justiça do Trabalho tem ampla competência para julgar
lides em decorrência do dano moral, por ser oriundo do contrato de trabalho.
Neste diapasão tem-se o entendimento de Martins78:
É preciso fazer distinção do dano moral ocorrido, para os fins inclusive
de se verificar a competência da Justiça do Trabalho. Se a afirmação é
feita a pessoa civil, a competência seria da Justiça Comum. Se a
afirmação é decorrente do contrato e, por exemplo, foi proveniente da
dispensa do trabalhador, estamos diante da competência da Justiça do
Trabalho.
Na vigente ordem constitucional brasileira, a competência
material da Justiça do Trabalho é estabelecida pelo art. 114 da Constituição
Federal de 1988, com nova redação pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004
que dispõe:
Art. 114. Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
77 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22 ed. Saraiva,
São Paulo: 2007. p. 199. 78 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 27 ed. Atlas, São Paulo: 2007. p.
118.
60
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.
Segundo as melhores interpretações sistemáticas do texto
constitucional, é essa, sem sombra de qualquer dúvida, o preceito normativo
básico referente à Competência Material da Justiça do Trabalho.
Leciona Couto79:
o art. 114 da CF/88 assegura que todas as controvérsias decorrentes da
relação de trabalho, são da competência da Justiça do Trabalho, onde
figuram empregado e empregador, assim, se o dano moral for causado
pelo empregador, nessa condição e a empregado seu, nas mesmas
condições, é o quanto basta para atrair a competência da justiça
Especializada. Assim, a ofensa moral do chefe ao subordinado em
momento de lazer no clube da empresa, fora do ambiente e local de
trabalho, a competência seria da Justiça Comum, porque neste caso,
não se confrontam empregado e empregador, mas cidadãos comuns e
não foi causado em decorrência do contrato de trabalho.
79 COUTO, Osmair. Indenização por danos morais no direito do trabalho. justiça competente.
Revista LTr. 55. São Paulo: LTr, v. 60, n. 4, abr. 1996. p. 461-471.
61
3.3 O ARTIGO 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Até o ano de 2004 os negativistas afirmam ser, o dano moral
e a responsabilidade civil, matéria afeita ao Direito Civil, assim sendo, entendem
que a causa de pedir e o pedido da ação que requer condenação em danos
morais decorrem de um ilícito civil, razão pela qual falece competência à Justiça
Trabalhista, competindo à Comum deles conhecer. Não integraria este tipo de lide
a esfera de competência da Justiça Laboral, assim como dela não integra, por
exemplo, o ilícito penal que eventualmente possa acompanhar uma causa
trabalhista. Nem mesmo o permissivo expresso em "outras controvérsias" teria o
condão de atrair o dano moral para a esfera da Justiça Especializada.
Entre os negativistas está Oliveira80:
A competência prevista no art. 114 da Constituição Federal, não cuida da discussão sobre dano, restringindo-se à relação de emprego e, na forma da lei, outras controvérsias. E como bem diz o professor Hugo Gueiros Bernardes (cit.) ´o art. 114 da Constituição não trata nem de dano material nem de dano moral, mas de normas que regem a relação de emprego, daí não ser possível dele extrair competência diversa, até porque a competência expansiva ou residual é a da Justiça Comum.
A respaldar esse entendimento, existe uma variada
jurisprudência dos Tribunais de Justiça, dos Tribunais Regionais do Trabalho e do
Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL – CONFLITO DE COMPETÊNCIA – Ação ordinária de indenização por danos morais e materiais. I – Pedido indenizatório, por danos materiais e morais resultante de lesão pela prática de ato ilícito, imputado a empregado, na constância da relação empregatícia, que culminou em sua dispensa por justa causa. Matéria que não se sujeita à CLT. II – A jurisprudência do STJ firmou entendimento no sentido de que a causa petendi e o pedido demarcam
a natureza da tutela jurisdicional pretendida, definindo-lhe a competência. III – Conflito conhecido para declarar-se competente o Juízo Comum, suscitado. (STJ, CC 3.931, 1992, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ 22/3/93, pag. 4501)
80 OLIVEIRA, Francisco Antonio de; Do Dano Moral. p. 24 a 32.
62
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. TRABALHISTA. Ação de Indenização
de Dano Moral. A ação de indenização de dano moral, promovida pelo empregado contra seu ex-empregador, é da competência do Juízo Comum. (STJ, CC 12.718, 1995, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ, 05/6/95, pag. 16.613)
Não se pode falar em competência da Justiça do Trabalho para a apreciação de danos morais sem que também se lhe dê competência para responsabilidade civil por danos materiais, culposos ou dolosos. Mesmo porque esta última está muito mais ligada ao contrato de trabalho, já que, obrigatoriamente, ocorrerá durante a vigência do contrato, enquanto que o dano moral poderá ocorrer após o término do contrato (conseqüências reflexas). E nesse raciocínio, teríamos de trazer para a competência trabalhista também a infortunística e os ‘crimes envolvendo o contrato de trabalho. (TRT – 2ª Reg. RO 02950030739, Ac. 5ª T. 19.389/96, 9/4/96, Rel. Juiz Francisco Antonio de Oliveira)
Data maxima venia, as conseqüências elocubradas pelo Juiz
no arresto acima se afiguram demasiadamente exageradas. Obviamente a Justiça
Trabalhista não é contemplada com competência para matéria criminal, não se
podendo dizer o mesmo quando a seara é cível. Ora, o Direito Civil, por expressa
determinação legal (art. 8º, parágrafo único, CLT), é fonte subsidiária do Direito do
Trabalho.
Ressalte-se, entretanto, a despeito da jurisprudência acima
apontada negando competência a Justiça Trabalhista, não ser essa, como
destaca-se adiante, a posição do Supremo Tribunal Federal, intérprete máximo
das questões competenciais constitucionais.
Segundo entendimento de Leão81 "verificando não haver lei
alguma que exclua dessas outras controvérsias a questão do dano moral, a
Justiça Obreira pode e deve proferir em seus julgados a condenação também na
verba relativa ao dano moral".
Diverge frontalmente desse posicionamento Carmo82 e
81 LEÃO, Antonio Carlos Amaral. A questão do dano moral na Justiça do Trabalho. Revista dos
Tribunais, São Paulo: Vol 83, n 701; mar; 1994. p.248 a 249. 82 CARMO, Júlio Bernardo do. O dano moral e sua reparação no âmbito do Direito Civil e do
Trabalho. . p. 67 a 115.
63
Vitelli83, que considera esse raciocínio feito às avessas, afirmam ao contrário que:
(...) é exatamente a ausência de norma no plano ordinário que afasta das ‘outras controvérsias’ previstas na Constituição Federal a competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pedidos de ressarcimento de danos morais e materiais, haja vista que essas questões são de índole civil e só uma lei expressa poderia carreá-las para a esfera laboral, quando efetivamente afloram dentro do contexto da relação empregatícia (...) de nada adianta falar em ‘expansionismo do Direito do Trabalho’, se lei ordinária não atribuir competência à Justiça do Trabalho.
(...) a única forma de atribuir-se competência para esta Justiça, nas ações em que se pretender a reparação de dano moral, será, necessariamente, de lege ferenda, porque se trata de outra controvérsia oriunda da relação de trabalho e aí só na forma da lei.
Leão84, Freire85, assumindo o posicionamento acima,
entendem que a lei ordinária a conferir tal competência já existe, sendo própria
CLT em seu art. 652, IV "apreciar os demais dissídios concernentes ao contrato
individual de trabalho", bem como nos arts. 482, "j" e "k", 483, "e", que
reconhecem como ensejadores da resolução do contrato de trabalho a conduta
violadora de direitos de personalidade.
(...) competindo à Justiça do Trabalho julgar ‘na forma da lei outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho. Portanto, se a própria Lei Constitucional garante o direito ao dano moral, e se a própria CLT garante também a reparação quando ocorrer ao empregado prejuízo sem razão de uma violação a direitos a sua honra e boa fama, porque não pode haver o julgamento quanto à verba do dano moral constitucionalmente garantido?
(...) somos levados à conclusão de que é descabida a restrição de alguns que são contrários a indenização por danos morais no processo trabalhista, tendo em vista que a CLT não é omissa, porém, incompleta, vindo a Constituição da República a completá-la, onde acreditamos na acolhida da tese com limitações, pois o texto consolidado e o
83 VITELLI, Eliana Pedroso. A indenização do dano moral e as multileituras do art. 114 da CF;
Abr. Revista de Direito do Trabalho; Vol. 61, n. 64; abril; 1997. p. 503 a 508. 84 LEÃO, Antonio Carlos Amaral. A questão do dano moral na Justiça do Trabalho. Revista dos
Tribunais, São Paulo: Vol 83, n 701; mar; 1994. p. 248 a 249. 85 FREIRE, Fernando B. Dano moral: ação de indenização na Justiça do Trabalho. Revista
LTR Legislação do Trabalho e Previdência Social; Vol 57, n 7; jul; 1993. p. 836.
64
constitucional se referem em linguagem positiva e excluidora de quaisquer dúvidas.
Entendem, portanto, os autores acima, que a CLT,
recepcionada pela Constituição vigente, supre a demanda pela legalidade, que
tais autores consideram necessária para a validade da atribuição constitucional de
competência sob exame.
Outros afirmativistas, no entanto, passam ao largo dessa
discussão, pois vêem a competência para conhecer do dano moral deferida no
comando permissivo da primeira parte do artigo: “conciliar e julgar os dissídios
individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores". Vez que entendem o
dissídio oriundo do dano moral como integrante dissídio entre trabalhadores e
empregadores. Para estes, não se reconhece outro limite à interpretação do
artigo, senão a imposição do nexo causal entre o dano moral e a relação de
trabalho. Por outras palavras, o limite da competência da Justiça Laboral seria a
necessidade de que o dissídio decorrente do dano moral seja oriundo da relação
de trabalho. Em assim sendo, não há que se cogitar de competência de Justiça
outra que não a trabalhista, nada importando que a responsabilidade civil que
embasa a matéria seja disciplina atinente ao Direito Comum, ainda mais por ser
fonte subsidiária do Direito do Trabalho, ex vi do comando insculpido no art. 8º,
parágrafo único da CLT. Vejamos o posicionamento de Pedreira86 e Sussekind87:
O art. 114 da CF atribui competência à Justiça do Trabalho para conciliar e julgar ‘os dissídios individuais entre trabalhadores e empregadores’, entre os quais, não se pode negar, figuram os decorrentes de dano extrapatrimonial, sofrido pelo empregado em qualquer das fases: pré-contratual, contratual e pós-contratual.
A norma do art. 114 não exige que o direito questionado ou a norma legal a ser aplicada pertençam ao campo do Direito do Trabalho. O fundamento é que o litígio derive da relação de emprego (dissídio entre trabalhador e o respectivo empregador) ou de relação de trabalho (envolve tanto a de emprego, como a de prestação de serviços do trabalhador avulso e do autônomo) mas, nessa segunda hipótese, quando a competência da Justiça do Trabalho for prevista em lei
86 SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da; A reparação do dano moral no Direito do Trabalho. p 552
a 559. 87 SUSSEKIND, Arnaldo. Dano moral na relação de emprego. p. 3 a 7.
65
Vê-se que Sussekind interpretou com rigorismo formal as
expressões "empregadores" e "de trabalho", presentes no artigo. Reconhece, de
qualquer forma, a competência da Justiça Laboral, apenas condicionando-a, no
caso da "relação de trabalho", à previsão legal.
À determinação da competência da Justiça do Trabalho não importa que dependa a solução da lide de questões de direito civil, mas sim, no caso que a promessa de contratar, cujo alegado conteúdo é fundamento do pedido, tenha sido feita em razão da relação de emprego, inserindo-se no contrato de trabalho". (STF, CJ 6.959-6, Relator Min. Sepúlveda Pertence)
No raciocínio adotado pelo STF, a Justiça Obreira
reiteradamente tem decidido que a competência para apreciar e julgar ações
acidentárias e ou de dano moral decorrentes de relação de trabalho é da Justiça
do Trabalho, como se vê, por exemplo, de um de seus julgados:
DANO MORAL E MATERIAL – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO – Com o advento da atual Carta Magna, a matéria referente
ao dano moral e material, está respaldada pelas disposições contidas no artigo 5º, V e X, em particular na Justiça do Trabalho. A argumentação mais freqüente encontrada na doutrina e na jurisprudência pátria é de que, em se tratando de ofensa à moral do empregado ou do empregador, desde que oriunda do contrato de trabalho, é competente esta Justiça Especializada para dirimir tal conflito (inteligência do art. 114/CF), TRT 23ª R. – RO 2911/98 – (Ac. TP. nº 1600/99) – Rel. Juiz Antônio Melnec (decisão publicada no DJMT em 15.07.1999 – pág. 29).
A posição do STF é seguida por diversa decisões, tanto dos
Tribunais Superiores, quanto dos Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais de
Justiça, a título de exemplo:
A Justiça do Trabalho é competente para reconhecer e julgar o pedido de indenização por danos decorrentes da relação de emprego que existiu entre as partes. (Ac. TRT da 3ª Região, 7/2/94, Juiz Rel. Aroldo Plínio Gonçalves, LTr, nº 58, 1994, p. 433)
Dano moral, indenização. Competência da Justiça do Trabalho. A indenização de dano moral desde que ocorrrente na relação de emprego, embora de natureza civil, é da competência da Justiça do Trabalho (TRT 9ªR, Rel. Juiz Pedro Ribeiro Tavares, DJ do Paraná, 14/8/92)
A competência rationae materiae decorre da natureza
66
jurídica da questão controvertida que, por sua vez é fixada pelo pedido e pela
causa de pedir. Se o conteúdo que fundamenta o pedido, decorre da relação de
emprego, a competência será da Justiça Trabalhista. A questão que realmente se
coloca é saber se, e quando, podemos entender o incidente de dano moral como
integrante dos conflitos de natureza trabalhista. É saber se o dano moral decorre
da relação contratual trabalhista.
Segundo entendimento de Teixeira Filho88 e Costa89:
Destarte, a competência da Justiça do Trabalho para apreciar pleitos de danos morais não se estabelece linearmente. Est modus in rebus.
Depende, como visto, da situação jurídica em que se encontra o trabalhador (período pré-contratual, em curso de execução ou extinta a relação) e do nexo de causa e efeito da lesão perpetrada com o vínculo de emprego ou de trabalho.
Não conheço nenhuma decisão judicial declarando descaber competência à Justiça do Trabalho para apreciar controvérsias sobre dano moral. O que existe é uma jurisprudência assentindo que certos atos danosos, praticados em determinado contexto, são da competência da jurisdição civil ou da jurisdição trabalhista, conforme a raiz obrigacional de onde se originaram... se o pedido decorrer ou tiver como origem o contrato de trabalho, a competência para julgar o caso será da Justiça do trabalho e não da Justiça Comum.
Ainda no entendimento de Silva90
A doutrina vem se inclinando de modo claramente predominante no sentido de entender que a Justiça do Trabalho é a Justiça competente para o exame (instrução, conciliação, julgamento) dos pedidos de reparação ou de indenização por danos morais, sempre que os fatos alegados e que as alegações feitas disserem respeito às relações de trabalho, vale dizer, às relações entre empregados e empregador e que decorram diretamente ou indiretamente da existência de um contrato de trabalho ou de um vínculo de emprego.
Desta forma a justiça do trabalho é a justiça ideal para o
trato de tais questões, em virtude de ser gratuita e das discussões desta matéria
já estarem sendo discutidas na maioria dos casos, além de representar economia
88 TEIXEIRA FILHO, João de Lima. O dano moral no direito do trabalho. p. 25 a 46. 89 COSTA, Orlando Teixeira da. Da ação trabalhista sobre o dano moral. p. 18 a 22. 90 SILVA, Floriano Corrêa Vaz da. Dano moral e o direito do trabalho. Revista de Direito do
Trabalho; Vol 62, n 01, Jan ; 1998. p. 15 a 23.
67
e celeridade processual incalculável.
Com a nova redação do inciso VI do art. 114 da CF, através da Emenda Constitucional nº 45, dispõe que é competente a Justiça do Trabalho para conciliar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho, assim, diminuiu a dúvida de competência com relação ao dano moral trabalhista.
Sendo que de agora em diante ficou claro que a Justiça do Trabalho é o órgão Judiciário competente para processar e julgar danos morais decorrentes da relação de emprego.
3.4 COMPETÊNCIA NA FASE CONTRATUAL DO TRABALHO
Mesmo reconhecendo a competência da Justiça do Trabalho
para julgamento de pedido de indenização por dano moral decorrente da relação
de emprego, é preciso se fixar o que seja efetivamente uma lesão decorrente da
relação de emprego, pois não podemos esquecer que existem hipóteses de
danos morais nas fases pré contratual, contratual (aqui incluída o momento da
extinção do contrato de emprego) e pós-contratual.
Na fase contratual, existem situações que podem gerar
danos morais, como; rebaixamento funcional; assédio sexual; revista pessoal;
violação de e-mail; humilhação.
Nesta fase já está constituída a relação de emprego, sendo
portanto, reconhecida a competência da Justiça do Trabalho para apreciação de
pleito de reparação de dano moral, inexiste qualquer dúvida quanto às lesões
ocorridas durante a execução do contrato de trabalho, ao contrário do que ocorre
com as demais fases.
3.5 INDENIZAÇÃO DO VALOR DA “COMPENSAÇÃO” POR DANO MORAL
TRABALHISTA
Partindo-se da premissa que é possível a indenização
pecuniária do dano moral sofrido, surge outra discussão, não menos importante.
68
Diante das lacunas do sistema legal positivo como proceder o juiz ao prestar a
sua função jurisprudencial?
É evidente que a quantificação do valor que tem por objetivo
a compensação da dor da pessoa, requeira por parte do julgador grande bom-
senso, sendo que sua fixação deve-se moderar na lógica do razoável a fim de se
evitar indenizações enriquecedoras.
O fundamento para a indenização em decorrência do dano é
na restauração da moral. Como, todavia, indenizar em dinheiro algo que é
inviolável, a dignidade e a honra.
Veja-se um exemplo de fixação do valor da indenização na
jurisprudência selecionada:
Acórdão: 20000416368 -data de publicação: 22/08/2000 juiz relator:
Sérgio Pinto Martins ementa: DANO MORAL - Fixação do valor da
indenização. A reclamante teve decepados vários dedos de sua mão por
colocá-la dentro da máquina de moer carne. O empregador tem culpa “in
vigilando”, em relação aos seus funcionários, sendo que a reclamada
não demonstrou fiscalizá-los sobre as suas atividades, além do que não
deu instruções aos trabalhadores sobre o funcionamento da máquina de
moer carne. Houve, portanto, negligência da reclamada, sendo aplicável
o artigo 1.523 do C.C. o artigo 84 do Código Brasileiro de
Telecomunicações não pode ser aplicado ao caso dos autos, pois não se
está discutindo a matéria a ele inerente. A indenização por dano moral
dever ser fixada com base no artigo 1.553, que determina que o será por
arbitramento. O valor estabelecido na sentença é excessivo para a
fixação da importância a ser paga de indenização por dano moral (R$
151.000,00). o dano moral é difícil de ser aferido, pois depende de
questão subjetiva da pessoa. Entretanto, deve ser sopesada a
necessidade da pessoa, mas a também a possibilidade financeira da
empresa, aplicando-se por analogia, o artigo 400 do C.C. Assim, fixa-se
a indenização em R$ 10.000,00, que é razoável para a reclamante
receber e para a empresa pagá-la.
Destaca-se que nesta jurisprudência foi mencionado o artigo
1523 e 1553 do CC anterior, sendo que o novo CC não têm dispositivo legal
correspondente a estes artigos.
A fixação do dano moral é muito complexa e difícil. De
69
qualquer maneira, a Constituição assegura uma indenização e é assim que se
procede, oferecendo ao lesado uma compensação econômica.
Na fixação do valor, o julgador normalmente subordina-se a
alguns parâmetros procedimentais, considerando a extensão espiritual do dano, a
imagem do lesado e a do que lesou, a intenção do autor do dano danoso, como
meio de ponderar o mais objetivamente possível direitos ligados à intimidade, à
vida privada, à honra e à imagem das pessoas.
A situação patrimonial de quem vai pagar a indenização
também costuma ser levada em conta e é muito importante na hipótese em que o
acionante é o empregador e o acionado é o empregado.
A dificuldade em avaliar o dano moral, não podem ser
considerados como fatores impeditivos para o pagamento de indenização, pois na
verdade existe o dano e este deve ser reparado.
Na verdade, o dano moral não será indenizável, mas
compensável, pois é impossível eliminar o efeito do agravo ou sofrimento à
pessoa por meio do pagamento em dinheiro.
3.6 ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS DO TRIBUNAL REGIONAL DO
TRABALHO DA 12ª REGIÃO
Segue abaixo, algumas posições do Egrégio Tribunal
Regional do Trabalho da Décima Segunda Região – Estado de Santa Catarina –
referente à matéria e exclusivamente no sentido de ser competente a Justiça do
Trabalho, a saber:
Compete à Justiça do Trabalho, consoante norma fixada no artigo 114, in
fine, da Constituição Federal, processar e julgar ação que vise à
indenização por danos morais decorrentes da controvérsia gerada por
ocasião da rescisão do contrato de trabalho. (Acórdão 010868/98 – 3ª
Turma – TRT/SC – Juíza Ione Ramos) – (DJSC de 06.11.1998).
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. Uma vez que é sim decorrente da
relação de trabalho havida entro os litigantes, a indenização por dano
70
moral encontra-se, indubitavelmente inserta no preconizado pelo art. 114
da Constituição da República, sendo da Justiça do Trabalho a
competência para processá-la e julgá-la. Muito embora nessas situações
sejam aplicáveis disposições do Código Civil, não está impedido o Juízo
Trabalhista de aplicar as normas de direito comum na exata medida em
que este, sendo subsidiário do Direito do Trabalho, passa a integrá-lo.
Ora, se o dano patrimonial sofrido pelo empregado, inequivocadamente,
figura entre os dissídios abrigados pela Justiça Obreira, resulta
insustentável a tese de serem os danos extrapatrimoniais de
competência da justiça Comum. De fato, é a própria relação de emprego
que consubstancia a vis atractiva da competência desta Justiça
Especializada, no caso do prejuízo por dano moral doloso ou culposo ao
empregado pelo empregador (Acórdão 011624/98 – 3ª Turma – Juíza
Agueda M. L. Pereira) – (DJSC de 20.11.1998).
DANO MORAL. JUDICIÁRIO TRABALHISTA. COMPETÊNCIA. Sendo
o sustentado dano moral produzido no curso da contratualidade e em
decorrência da relação de emprego, de natureza civil, indubitável é a
competência do judiciário trabalhista para apreciação da lide, dentro do
disposto no artigo 114 da Constituição Federal (Acórdão 010343/98 – 2ª
Turma – Juiz Amarildo Carlos de Lima) – (DJSC de 22.10.1998).
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Ainda
que de natureza civil o suporte jurídico da indenização por dano moral, é
desta Justiça Especializada a competência para apreciar a matéria
quando o conflito envolve sujeitos protegidos pelo Direito do Trabalho.
(Acórdão 1370/2005 - Juíza Maria Aparecida Caitano) – (DJSC em
15.02.2005).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. A Justiça do Trabalho, nos termos do
art. 114 da CF/1988, é competente para julgar lide que envolve pedido
de indenização por danos morais sofrido em decorrência do
cancelamento de financiamento para aquisição de casa própria que fez o
reclamante perante o reclamado, na condição de empregado, pois se
encontra intrinsicamente vinculado ao contrato de trabalho. (Acórdão
6261/2004 - Juiz Dilnei Ângelo Biléssimo) – (DJSC em 17.06.2004).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. Segundo o disposto no art. 114 da
Constituição Federal, a Justiça do Trabalho detém competência para
apreciar o conflito entre empregado e empregador que objetiva a
reparação de dano moral decorrente do contrato de trabalho, ainda que
71
tenha respaldo em norma de Direito Civil. (Acórdão 2597/2003 - Juiz
Gracio R. B. Petrone) – (DJSC em 17.03.2003).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. Segundo o disposto no art. 114 da
Constituição Federal, a Justiça do Trabalho detém competência para
apreciar o conflito entre empregado e empregador que objetiva a
reparação de dano moral decorrente do contrato de trabalho, ainda que
tenha respaldo em norma de Direito Civil. (Acórdão 13378/2002 - Juiz
Dilnei Ângelo Biléssimo) – (DJSC em 28.11.2002).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. Segundo o disposto no art. 114 da
Constituição Federal, a Justiça do Trabalho detém competência para
apreciar o conflito entre empregado e empregador que objetiva a
reparação de dano moral decorrente do contrato de trabalho, ainda que
tenha respaldo em norma de Direito Civil. (Acórdão 928/2002 - Juiz
Dilnei Ângelo Biléssimo) – (DJSC em 25.01.2002).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. A Justiça do Trabalho, nos termos do
art. 114 da Constituição Federal, determina a competência desta Justiça
Especializada para o julgamento de outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no
cumprimento de suas próprias sentenças. Logo, a Justiça do Trabalho é
competente para julgar as causas relativas a dano moral. (Acórdão
12331/2001 - Juiz Dilnei Ângelo Biléssimo) – (DJSC em 29.11.2001).
COMPETÊNCIA. DANO MORAL. A Justiça do Trabalho nos termos do
art. 114 da Constituição Federal determina a competência desta Justiça
Especializada para julgamento de outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no
cumprimento de suas próprias sentenças. Logo, é competente para
julgamento de causas relativas ao dano moral. (Acórdão 10557/2000 -
Juiz Dilnei Ângelo Biléssimo) – (DJSC em 08.11.2000).
ACIDENTE DO TRABALHO. DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTIGO 114.
A Justiça do Trabalho é competente para julgar pedido de dano moral
oriundo da relação de trabalho, nos termos do artigo 114 da Constituição
Federal. (Acórdão 10462/2006 - Juiz Roberto Basilone Leite - Publicado
no DJ/SC em 04-08-2006).
72
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, nos exatos termos do art. 114 da CF.
(Acórdão 9103/2006 - Juíza Teresa Regina Cotosky - Publicado no
DJ/SC em 14-07-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, nos exatos termos do art. 114 da CF.
(Acórdão 7706/2006 - Juíza Teresa Regina Cotosky - Publicado no
DJ/SC em 20-06-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. É da Justiça do Trabalho a
competência para processar e julgar feito que contenha pretensão
indenizatória por danos morais conexos ao contrato de trabalho
(exegese do art. 114, VI, da Constituição Federal). (Acórdão 7553/2006 -
Juiz Geraldo José Balbinot - Publicado no DJ/SC em 16-06-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, nos exatos termos do art. 114 da CF.
(Acórdão 6740/2006 - Juíza Teresa Regina Cotosky - Publicado no
DJ/SC em 01-06-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, mesmo quando este deriva de acidente
do trabalho. (Acórdão 6603/2006 - Juíza Teresa Regina Cotosky -
Publicado no DJ/SC em 31-05-2006)
DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO. A Emenda Constitucional nº 45, de 2004,
deu nova redação ao art. 114 da Constituição da República,
acrescentando de forma clara e expressa a competência da Justiça do
Trabalho para processar e julgar as "ações de indenização por dano
moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho" (inc. VI). Assim,
para a verificação da competência da Justiça do Trabalho não se exige
que o direito questionado ou a norma a ser aplicada pertençam ao ramo
especializado do Direito do Trabalho, mas sim que o conflito de
interesses tenha como substrato a relação de trabalho. (Acórdão
73
5709/2006 - Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no DJ/SC em 17-05-
2006)
DANOS MORAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
Após a promulgação da Constituição de 1988, é inarredável a conclusão
de que os litígios que envolvem indenizações por danos materiais e/ou
morais postuladas pelo acidentado em face do empregador competem à
Justiça do Trabalho. Nesse sentido dispõem as Súmulas nºs 736 e 392
do STF e do TST, respectivamente, que estabelecem que as ações que
tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas
relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores são de
competência da Justiça do Trabalho. Dessarte, não há como situar a
obrigação do empregador de fornecer as condições e os equipamentos
necessários à segurança e à saúde do empregado fora do contexto da
relação contratual, já que a necessidade da observância de tais regras
decorre diretamente da efetivação do vínculo de emprego e de seu
desenvolvimento pelas partes. (Acórdão 5169/2006 - Juíza Viviane
Colucci - Publicado no DJ/SC em 04-05-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Após a
promulgação da Constituição de 1988, é indubitável a competência da
Justiça Trabalhista para o julgamento das ações de indenização por
danos morais e patrimoniais decorrentes da relação de trabalho, estando
respaldada inclusive pela jurisprudência consolidada na Súmula nº 392
do TST. (Acórdão 4877/2006 - Juíza Viviane Colucci - Publicado no
DJ/SC em 27-04-2006)
COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ACIDENTE DO
TRABALHO. Estando o pleito relativo à indenização de dano moral
diretamente vinculado à relação de trabalho havida entre as partes,
incide à hipótese o entendimento consagrado na Orientação
Jurisprudencial nº 327 do c. TST, assim expresso: "Dano moral.
Competência da Justiça do Trabalho - DJ. 09-12-2003 - Parágrafo único
do art. 168 do Regimento Interno do TST - Nos termos do art. 114 da
CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias
referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação
de trabalho". (Acórdão 3768/2006 - Juíza Ligia M. Teixeira Gouvêa -
Publicado no DJ/SC em 29-03-2006)
74
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO. É da Justiça do Trabalho a competência para processar e
julgar pedido de indenização por danos morais decorrentes da relação
de trabalho. (Acórdão 2793/2006 - Juíza Ione Ramos - Publicado no
DJ/SC em 09-03-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, nos exatos termos do art. 114 da CF.
(Acórdão 2714/2006 - Juíza Teresa Regina Cotosky - Publicado no
DJ/SC em 09-03-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos
termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para
dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando
decorrente da relação de trabalho (Súmula nº 392 do TST). (Acórdão
2679/2006 - Juiz Marcos Vinicio Zanchetta - Publicado no DJ/SC em 08-
03-2006)
DANOS MORAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
Após a promulgação da Constituição de 1988, é inarredável a conclusão
de que os litígios que envolvem indenizações por danos materiais e/ou
morais postuladas pelo acidentado em face do empregador competem à
Justiça do Trabalho. Nesse sentido dispõem as Súmulas nºs 736 e 392
do STF e do TST, respectivamente, que estabelecem que as ações que
tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas
relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores são de
competência da Justiça do Trabalho. Dessarte, não há como se situar a
obrigação do empregador de fornecer as condições e os equipamentos
necessários à segurança e à saúde do empregado fora do contexto da
relação contratual, já que a necessidade da observância de tais regras
decorre diretamente da efetivação do vínculo de emprego e de seu
desenvolvimento pelas partes. (Acórdão 2247/2006 - Juíza Viviane
Colucci - Publicado no DJ/SC em 24-02-2006)
COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ACIDENTE DO
TRABALHO. Estando o pleito relativo à indenização de dano moral
diretamente vinculado à relação de trabalho havida entre as partes,
incide à hipótese o entendimento consagrado na Orientação
Jurisprudencial nº 327 do c. TST, assim expresso: "Dano moral.
75
Competência da Justiça do Trabalho - DJ. 09-12-2003 - Parágrafo único
do art. 168 do Regimento Interno do TST - Nos termos do art. 114 da
CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias
referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação
de trabalho". (Acórdão 1249/2006 - Juíza Ligia M. Teixeira Gouvêa -
Publicado no DJ/SC em 01-02-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
Conforme a Súmula nº 392 do TST, a Justiça do Trabalho é competente
para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral,
quando decorrente da relação de trabalho. (Acórdão 1057/2006 - Juíza
Lourdes Dreyer - Publicado no DJ/SC em 30-01-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Ainda
que de natureza civil o suporte jurídico da indenização por dano moral, é
desta Justiça Especializada a competência para apreciar a matéria
quando o conflito envolve sujeitos protegidos pelo Direito do Trabalho.
(Acórdão 633/2006 - Juíza Maria Aparecida Caitano - Publicado no
DJ/SC em 20-01-2006)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. A Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a ocorrência de dano moral relacionado ao contrato de
trabalho havido entre as partes, mesmo quando este deriva de acidente
do trabalho. (Acórdão 14980/2005 - Juíza Teresa Regina Cotosky -
Publicado no DJ/SC em 14-12-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
Conforme a Orientação Jurisprudencial nº 327 da SDI-I do TST, a Justiça
do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à
indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho.
(Acórdão 14590/2005 - Juíza Lourdes Dreyer - Publicado no DJ/SC em
07-12-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos
termos do disposto no art. 114 da Constituição Federal, a Justiça do
Trabalho é competente para processar e julgar demanda envolvendo
pleito de pagamento da indenização por danos morais. A Justiça Comum
Estadual detém competência para o processamento das demandas que
envolvem o ressarcimento dos danos de natureza tarifada que visam a
compensar o que o empregado deixou de receber em termos de salário,
76
cuja responsabilização do INSS é objetiva. Em razão da presunção
absoluta da existência de culpa, a responsabilidade objetiva do Órgão
Previdenciário pelo adimplemento das prestações por acidente do
trabalho baseia-se na relação de causalidade entre a ação e o dano e
funda-se no risco criado pela própria atividade exercida pela empresa
beneficiária do serviço e segurada obrigatória da Previdência Social.
(Acórdão 13699/2005 - Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no DJ/SC
em 24-11-2005)
DANOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A Justiça do Trabalho é
competente para processar e julgar pleito de pagamento de indenização
por danos decorrentes de acidente de trabalho (art. 114, inc. VI, da
Constituição Federal, redação dada pela Emenda Constitucional nº 45).
(Acórdão 13391/2005 - Juiz Marcus Pina Mugnaini - Publicado no DJ/SC
em 16-11-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos
termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para
dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando
decorrente da relação de trabalho. (Súmula nº 392 do TST) (Acórdão
12306/2005 - Juiz Marcos Vinicio Zanchetta - Publicado no DJ/SC em
06-10-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O art.
114 da Constituição da República, com a nova redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 08-12-2004, dispõe, em seu inciso VI,
que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as
ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho. Pode-se dizer, assim, que é da competência desta
Justiça Especializada a análise do fato danoso ocorrido após o
rompimento contratual, se ele se originou de ato relacionado ao vínculo
de emprego mantido anteriormente entre as partes. (Acórdão
10501/2005 - Juíza Gisele P. Alexandrino - Publicado no DJ/SC em 29-
08-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA. É da Justiça Estadual a competência
para processar e julgar ação de indenização por danos morais, materiais
e estéticos decorrentes de acidente de trabalho ou doença profissional
ou do trabalho a ele equiparada, nos termos do disposto nos artigos 114
77
e 109, inciso I, da Constituição Federal; artigo 643, parágrafo 2º, da CLT;
artigo 129, inciso II, da Lei nº 8.213/91 e na Súmula nº 15 do STJ.
Entendimento reiterado pelo STJ em inúmeras decisões proferidas em
conflitos de competência e consagrado pelo STF em julgamentos
ocorridos após a promulgação da Emenda Constitucional nº 45, de 08-
12-2004 (RE 438.639-9/MG e Ag. Reg. no RE 441.038-9/MG). (Acórdão
8666/2005 - Juíza Denise Zanin - Publicado no DJ/SC em 14-07-2005)
DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Ainda
que de natureza civil o suporte Jurídico da indenização por dano moral, é
desta Justiça Especializada a competência para apreciar a matéria
quando o conflito envolve sujeitos protegidos pelo Direito do Trabalho.
(Acórdão 6811/2005 - Juíza Maria Aparecida Caitano - Publicado no
DJ/SC em 15-06-2005)
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO. Em face do disposto no art. 114 da Constituição Federal, a
Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à
indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho
(Orientação Jurisprudencial nº 327 da SDI-I do TST). (Acórdão
4479/2005 - Juiz Garibaldi T. P. Ferreira - Publicado no DJ/SC em 29-04-
2005)
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. O art. 114 da Constituição da República dispõe que a
Justiça do Trabalho é competente para conciliar e julgar os dissídios
individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, bem como
outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, dentre as quais
pode ser incluído o pedido de indenização por danos morais decorrente
de situações ocorridas no âmbito do trabalho. (Acórdão 3964/2005 -
Juíza Gisele P. Alexandrino - Publicado no DJ/SC em 19-04-2005)
As jurisprudências acima confirmam que mesmo antes da
Emenda Constitucional nº 45, na qual veio para firmar a competência da Justiça
do Trabalho, os processos provenientes de dano moral no vínculo empregatício é
de competência da Justiça do Trabalho.
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De um modo geral, ficou exposto no conteúdo dos três
capítulos, que este assunto é relativamente novo, ganhou maior proteção com a
CRFB/88, quando em seu artigo 5º,V e X, assegurou a proteção aos direitos
personalíssimos da pessoa e o direito a indenização à violação destes, garantindo
desta forma, um dos fundamentos do país, que é a dignidade da pessoa humana.
Direitos estes que não se restringem, atingindo todas as áreas da sociedade,
inclusive o campo do Direito do Trabalho, que é social por excelência, garantido
umas de suas finalidades que é a de assegurar o respeito à dignidade do
trabalhador, dando proteção aos direitos personalíssimos deste.
Fundamentado no efeito da investigação, consta no primeiro
capítulo o histórico do dano, além de toda espécie de dano que é elemento de
responsabilidade civil e pressuposto de reparação, encontrando seus
embasamentos legal no Código Civil, nos artigos 186, 187 e 927. O dano moral,
conceituado com espécie de agravo constituída pela violação de algum dos
direitos inerentes à personalidade, desta forma é pressuposto de reparação. A
CLT em sua promulgação, já contemplava o dano moral e sua reparação em
decorrência da ruptura do contrato de trabalho, pela prática de atos lesivos
mediante os pagamentos correspondentes ao distrato do contrato de trabalho
motivada por esta justa causa. Desta forma advém que os direitos imaterias não
são afetados somente na esfera civil, mas inclusive nas relações laborais, em
virtude do caráter pessoal, subordinado e duradouro oriundo destes contratos.
Desta forma com a proteção aos direitos personalíssimos advinda do texto
constitucional, junto da afinidade finalística do Direito do Trabalho, é um dos
elementos justificadores da atração do tema do dano moral para sua esfera. A
proteção à dignidade do trabalhador faz parte do conteúdo necessário ao contrato
de trabalho, havendo assim a proteção aos direitos personalíssimos no Direito do
Trabalho, tendo a cabimento desta forma o dano moral.
O relato contido no capítulo segundo, evidenciou a
classificação e a reparabilidade do dano moral, que tem como um de seus
grandes problema sua quantificação em valor econômico a ser reposto ao
79
ofendido. A apuração do quantum indenizatório se complica porque o bem lesado
não se mede monetariamente, ou seja, não tem dimensão econômica ou
patrimonial. Cabe desta forma ao prudente arbítrio do juiz e a força criativa da
doutrina e jurisprudência a instituição de critérios e parâmetros que haverão de
presidir as indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na
espécie, não se torne expressão de puro arbítrio, quebrando os princípios básicos
de Estado Democrático, como o da legalidade e o da isonomia.
No terceiro capítulo como decorrência do que dispõe o artigo
114 CFRB/88, através da Emenda Constitucional nº 45, definiu que a
competência para processar e julgar as ações oriundas da relação do trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direita e
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Restando
configurada sua competência em seu inciso VI as ações de indenização por dano
moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho.
Abaixo segue os dois mencionados problemas, as
respectivas hipóteses e análises das hipóteses de acordo com o resultado da
pesquisa.
Primeiro problema: É cabível a reparação de danos morais
provenientes das relações de trabalho?
Hipótese: O dano integra a lide trabalhista, quando surge no
contexto da ralação trabalhista, quando esta relação é causa ou oportunidade
para o surgimento da lesão caracterizadora do dano moral, indiferente se
imediatamente antes, durante ou após a vigência do contrato de trabalho.
Análise da hipótese: A hipótese restou confirmada com base
na fundamentação legal e no entendimento doutrinário, predominantes, expostos
no decorrer dos capítulos desta monografia.
Segundo problema: É passível a fixação do quantum da
reparação?
Hipótese: À sua extensão limitada a prejuízos que atingiram
o seu foro íntimo, sem maiores proporções danosas no campo material, atento,
ainda, ao fato de que a pecúnia doloris tem caráter exemplar e expiatório, o juiz
80
deferirá o pedido de indenização por dano moral, fixando o valor em quantia
razoável, certo de que a dor moral jamais pode ser ressarcida convenientemente
por bens materiais.
Análise da hipótese: A hipótese restou confirmada uma vez
que com base na fundamentação legal e no entendimento doutrinário,
predominantes, expostos no decorrer dos capítulos desta monografia.
Terceiro problema: É competente a Justiça do Trabalho para
julgar tais dissídios?
Hipótese: Diante dessa situação ainda permanece a justiça
comum para apreciar essa natureza?
Análise da hipótese: A hipótese restou confirmada com base
na fundamentação legal e no entendimento doutrinário, predominantes, além da
Emenda Contitucional nº 45 esclarecer e determinar a competência da Justiça do
Trabalho expostos no decorrer dos capítulos desta monografia.
Enfim, este trabalho atingiu o seu propósito de aprofundar o
conhecimento sobre o tema para o início da pretendida atividade profissional. Mas
tem a plena convicção de estar apenas no início de uma longa caminhada de
estudos; porém, conta com a adesão de outros pesquisadores, imbuídos do
propósito de aprofundar a análise e o debate interpretativo das regras do direito
trabalhista, visando a construção de um sistema jurídico mais justo e capaz de
evitar conflitos entre as pessoas.
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