UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ALESSANDRA DE FATIMA GIACOMET MELLO PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO: A COLABORAÇÃO DOCENTE COMO PROCESSO, A APRENDIZAGEM E A INCLUSÃO ESCOLAR COMO PROPÓSITO Itajaí/SC 2019

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ALESSANDRA DE FATIMA ... · apoio, pelo suporte e por aguentarem minhas ausências (de corpo e às vezes de mente). À Universidade do Vale do Itajaí,

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ALESSANDRA DE FATIMA GIACOMET MELLO

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO: A COLABORAÇÃO DOCENTE COMO PROCESSO, A APRENDIZAGEM E A

INCLUSÃO ESCOLAR COMO PROPÓSITO

Itajaí/SC 2019

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE

Curso de Doutorado em Educação

ALESSANDRA DE FATIMA GIACOMET MELLO

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO: A COLABORAÇÃO DOCENTE COMO PROCESSO, A APRENDIZAGEM E A

INCLUSÃO ESCOLAR COMO PROPÓSITO

Tese apresentada ao colegiado do PPGE como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Educação – área de concentração: Educação – Linha de Pesquisa: Políticas para Educação Básica e Superior. Orientadora: Prof.ª Dr.a Regina Célia Linhares Hostins.

Itajaí/SC

2019

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Dedico este trabalho

a cada uma e a todas as pessoas que passaram por mim

e pela minha vida, deixando um pouco de si comigo

e levando um pouco também. Pois,

se somos o resultado de nossas relações sociais, hoje aqui estou devido a elas.

O que hoje conheço (da vida, do mundo, do amor, da maternidade,

da amizade, do companheirismo, da colaboração, do “estamos juntos”, das letras, do ensinar e do aprender)

também devo a elas. A todas elas!

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AGRADECIMENTOS

Reconheço e valorizo cada cota de participação de todos os que me cercaram e colaboraram comigo nestes três anos de idas e vindas para o curso do Doutorado. Expresso

toda minha gratidão e reconhecimento àqueles que possibilitaram e, também, foram

responsáveis pelas transformações, pelas aprendizagens, pelo crescimento e pelas mudanças que me permitiram chegar a este ponto: a materialização de um desejo que me

instigou desde sempre, o doutoramento em minha área de formação e atuação, a Educação, meu imensurável MUITO OBRIGADA:

Aos meus amados Elio e Alexa, esposo extraordinário e filha “maravilinda”, pelo apoio, pelo suporte e por aguentarem minhas ausências (de corpo e às vezes de mente).

À Universidade do Vale do Itajaí, em especial ao Programa de Pós-Graduação em Educação, na pessoa da Prof.a Dr.a Valéria Silva Ferreira, sua coordenadora, por possibilitar

transformar meu maior desejo em realidade.

À minha Orientadora, Prof.a Dr.a Regina Célia Linhares Hostins, pessoa e profissional a quem, desde a entrevista para ingresso no Programa de Doutorado, aprendi a admirar e a reverenciar. Um ícone para minha jornada no campo da pesquisa e da atuação na Educação

Especial. Minha eterna gratidão!

Aos professores participantes desta pesquisa, pela colaboração, pelas aprendizagens, por me permitirem tê-los como “melhores sujeitos” de uma pesquisa.

Às professoras Dr.a Enicéia Gonçalves Mendes, Dr.a Aliciene Fusca Machado

Cordeiro e Dr.a Valéria Silva Ferreira, pelas contribuições na construção deste trabalho e pela gentileza em fazerem parte desse momento único para mim. Uma honra tê-las como

avaliadoras do meu estudo.

À CAPES, pelo financiamento de meus estudos.

À SEED-PR, pela licença concedida para o doutoramento e pela autorização para realização da pesquisa junto aos professores de rede pública paranaense de educação.

Aos professores do PPGE, a quem tive o prazer e a honra de cursar suas disciplinas, pelas contribuições na construção de meus conhecimentos.

Aos colegas de turma, aos colegas de Grupo de Pesquisa, aos colegas de horas de estudo, pelas aprendizagens além dos livros, textos e pesquisas.

Aos muitos Amigos que fiz, em especial aos mais próximos: (por ordem de chegada) Karine Morais e Valéria Trentin (para sempre “ninjas”!); Isaura Longo (obrigada também

pelo acolhimento, literalmente...); Fernanda Souza, Margarete Belli, Rudnei Martins e Olívia Rochadel, companheiros de estudo e de jornada, pelos laços de amizade os quais espero que

se fortaleçam e se mantenham após esse tempo juntos. Por vocês eu agradeço a quem (Deus, Destino, Cosmos, todos...) os colocou no mesmo lugar e tempo que eu nestes últimos

três anos, me dando o privilégio de conhecê-los e poder fazê-los meus amigos.

A Prof.a Dr.a Zita Lago, a quem admiro, respeito e cultivo amor filial. Agradeço cada experiência compartilhada, cada ensinamento e contributo em minha jornada pessoal e

acadêmica.

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Algo nos incomoda, nos inquieta e nos encaminha para o desafio de penetrarmos na tal

espiral sem fim, tentando, por um lado, nos livrarmos de visões maniqueístas do mundo e,

por outro, nelas mergulharmos para as questionar. Penso mesmo que uma pesquisa tem como horizonte último novas indagações, novas

perguntas, novas espirais. Lígia Assumpção Amaral

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RESUMO

Este estudo está vinculado à linha de pesquisa Políticas de Educação Básica e Superior e ao grupo de pesquisa Observatório de Políticas Educacionais, do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Vale do Itajaí. A pesquisa teve por objetivo desenvolver um protocolo de construção colaborativa do Plano Educacional Individualizado (PEI) como instrumento potencializador da aprendizagem de estudantes com deficiência na escola regular. Sustentada na tese de que um PEI, construído de forma colaborativa entre professores do ensino comum e da Educação Especial, se constitui em instrumento efetivo de potencialização da aprendizagem de estudantes com deficiência na escola regular, a pesquisa teve como referencial analítico a abordagem histórico-cultural, na perspectiva de Vigotski e autores que discutem o trabalho colaborativo, a aprendizagem mediada, a inclusão escolar e a avaliação da aprendizagem. De caráter qualitativo, a pesquisa do tipo formação, como unidade da pesquisa colaborativa, permitiu a pesquisadora atuar, ao mesmo tempo, nos campos da pesquisa e da formação docente. Essa abordagem foi conduzida de modo a produzir saberes e referenciais teóricos que subsidiassem a investigação dos processos de ensino e aprendizagem de estudante com deficiência nos espaços da sala de ensino comum e do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e a consequente construção co-participativa de um protocolo de PEI. Participaram do processo de investigação duas pedagogas, três professores atuantes no AEE e nove professores dos anos finais do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual do município de Pato Branco, Paraná. A formação compreendeu 24 horas presenciais e seis a distância, totalizando 30 horas. O protocolo do PEI foi construído pelos participantes e pesquisadora, ratificado após aplicação no espaço de sala de aula e do AEE – pelo período de um trimestre letivo – e resultou na co-produção de um documento orientador como apoio e guia aos futuros usuários do instrumento. O processo de investigação escolhido possibilitou o estudo das práticas existentes no âmbito do ensino comum e do AEE, com a criação de um modelo de protocolo colaborativo de planejamento e a sua consequente validação após a elaboração e um período de experimentação pelos professores envolvidos nos procedimentos prévios da pesquisa, junto a uma estudante com deficiência em contexto real de ensino, corroborando os resultados obtidos. O processo de construção do protocolo evidenciou 15 “pistas” para elaboração de um PEI que se entrelaçam ativamente, tendo como liame principal a proposta pedagógica do ensino colaborativo baseada em critérios orientadores dessa construção que surgiram no decorrer da investigação. Palavras-chave: Plano Educacional Individualizado. Trabalho Colaborativo. Mediação. Educação Inclusiva. Educação Especial.

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ABSTRACT This study is linked to the line of research Policies of Basic and Higher Education, and the research group Education Policies Observatory, of the Graduate Program in Education, University of Vale do Itajaí. The research aimed to develop a protocol for collaborative construction of the Individualized Educational Plan (IEP), as a tool to enhance the learning of students with disabilities in the regular school. Based on the thesis that an IEP, constructed in a collaborative way through cooperation between the regular teachers and the Special Education teachers, is an effective tool to enhance the learning of students with disabilities in the regular school, the research looked to the historical-cultural approach for its analytical framework, from the perspective of Vygotsky and other authors that discuss collaborative work, mediated learning, school inclusion, and learning assessment. As a qualitative training research, as a collaborative research unit, it enabled the researcher to impact the fields of research and teacher education simultaneously. The purpose of this approach was to produce theoretical knowledge and references that would support the investigation of the teaching and learning processes of students with disabilities in the regular classroom and in the teaching spaces of the Specialized Educational Services (SES), and the consequent construction of an IEP protocol. Two educational coordinators, three teachers working in the SES, and nine teachers of the final grades of Elementary School of a state public school in the municipality of Pato Branco, Paraná, Brazil, participated in the research. The training consisted of twenty-four hours of face-to-face sessions plus six hours of distance learning. The IEP protocol was constructed by the participants and the researcher, and was validated after application in the regular classroom and the SES over one academic term. This resulted in the co-production of a document that will support and guide future users of the instrument. The investigation process chosen enabled investigation of the practices that exist within the SES, the creation of a collaborative planning protocol model and its subsequent validation, and a period of experimentation by the teachers involved in the previous research procedures, together with a student with disability in a real teaching context, which corroborated the results obtained. The process of construction of the protocol evidenced 15 "tracks" for the elaboration of an IEP that are actively interlinked, with the main link between them being the pedagogical proposal of collaborative teaching based on the guiding criteria of the construction that emerged during the investigation.

Keywords: Individualized Educational Plan. Collaborative work. Mediation. Inclusive education. Special education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa .................................. 26

Figura 2– Desenho metodológico da pesquisa ......................................................... 27

Figura 3 – Eixos da formação .................................................................................... 43

Figura 4 – Detalhamento do Eixo 1 – Diagnóstico .................................................... 44

Figura 5 – Detalhamento do Eixo 2 – análise crítica ................................................. 49

Figura 6 – Síntese das reflexões do grupo de participantes no Eixo 2 da pesquisa-formação ................................................................................................................... 54

Figura 7 – Detalhamento do Eixo 3 – Proposição ..................................................... 55

Figura 8 - Competências necessárias para atuar na Educação ou na Educação Especial segundo os participantes da pesquisa ........................................................ 66

Figura 9 – Passos da entrada em campo antes da realização da pesquisa.............. 68

Figura 10 – Delineamento do estudo e etapas de coleta de dados ........................... 70

Figura 11 – Plano de AEE recomendado pela Orientação No 010/2017 do Departamento de Educação Especial – DEE do estado do Paraná .......................... 84

Figura 12 – Plano de Atendimento Educacional Especializado da SRM da escola participante da pesquisa............................................................................................ 87

Figura 13 – Primeira parte do PAEE da escola: dados de identificação ................... 91

Figura 14 – Segunda parte do PAEE da escola: caracterização do aluno ................ 93

Figura 15 – Terceira parte do PAEE da escola: proposta de atendimento ................ 94

Figura 16 – Sinais de envolvimento da criança na aprendizagem segundo a Escala de Envolvimento de Leuven .................................................................................... 114

Figura 17 – Síntese das descobertas a partir da dinâmica “Faz-de-conta” ............. 149

Figura 18 – “Ensinamentos” que ficam após conhecer melhor a estudante com deficiência ............................................................................................................... 151

Figura 19 – Cabeçalho institucional e Seção I do PEI - Identificação ..................... 169

Figura 20 – Seção II do PEI – Expectativas/contribuições da família ..................... 172

Figura 21 – Seção III do PEI - Caracterização da aprendizagem ............................ 174

Figura 22 – Seção IV do PEI – Plano de Trabalho Colaborativo ............................. 176

Figura 23 – Seção V do PEI – Envolvimento do aluno no Processo de Aprendizagem ................................................................................................................................ 180

Figura 24 – Seção VI do PEI – Parecer do ano letivo ............................................. 181

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Figura 25 – Campo final - Observação .................................................................... 183

Figura 26 – Campo final - Aquiescência .................................................................. 184

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Cronograma da formação ....................................................................... 41

Quadro 2 – Características dos sujeitos participantes da pesquisa .......................... 64

Quadro 3 – Categorias de análise surgidas a posteriori à análise dos dados ........... 75

Quadro 4 – Correspondência dos Elementos do PAEE das SRM paranaenses às Tendências Curriculares de Mendes, Tannús-Valadão e Milanesi (2016) ................ 90

Quadro 5 – PEI adaptado por Sassaki (1999) ........................................................... 98

Quadro 6 – Níveis de Planejamento do PEI segundo Pletsch e Glat (2013) ........... 100

Quadro 7 – Componentes básicos do PEI segundo Pletsch e Glat (2013) ............ 101

Quadro 8 – Inventário de habilidades escolares (PLETSCH, 2010) ........................ 101

Quadro 9 – Primeira parte do modelo de PDI – Roteiro de Avaliação (POKER et al., 2013) ....................................................................................................................... 104

Quadro 10 – Segunda parte do Modelo de PDI - Plano Pedagógico Especializado – PPE (POKER et al., 2013)....................................................................................... 105

Quadro 11 – Tópicos que os modelos analisados não contemplam em comparação ao PAEE instituído na escola participante ............................................................... 106

Quadro 12 – Tópicos que o PAEE instituído na escola participante não contempla em comparação aos modelos analisados ............................................................... 107

Quadro 13 – Sinais e indicadores de Envolvimento – Escala de Leuven adaptada por Oliveira-Formosinho e Araújo (2004) ...................................................................... 115

Quadro 14 – Níveis da Escala de Envolvimento segundo Laevers (2014) .............. 116

Quadro 15 - Dissertações e teses produzidas no período de 2013-2017 sobre práticas pedagógicas no AEE e relações existentes entre ensino comum e Educação Especial em contexto de inclusão ........................................................................... 216

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LISTA DE SIGLAS

AEE Atendimento Educacional Especializado

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEB Câmara de Educação Básica

CEE Conselho Estadual de Educação

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CNE Conselho Nacional de Educação

DEEIN Departamento de Educação Especial e Inclusão

DI Deficiência Intelectual

EB Educação Básica

EJA Educação de Jovens e Adultos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IEP The Individual Education Program

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

NCC Northern California Coalition for Parent Training and Information

OBEDUC Observatório da Educação

ONEESP Observatório Nacional de Educação Especial

PAEE Plano de Atendimento Educacional Especializado

PDEI Plano de Desenvolvimento Educacional Individualizado

PDI Plano de Desenvolvimento Individual

PEI Plano Educacional Individualizado

PNEEPEI Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação

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SEED Secretaria de Estado da Educação

SERE Sistema Estadual de Registro Escolar

SRM Sala de Recursos Multifuncionais

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TEA Transtorno do Espectro Autista

UFFRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UFSCar Universidade Federal de São Carlos

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

2 CAMINHO METODOLÓGICO: AS TRILHAS, OS CAMINHANTES E A DIREÇÃO DA PESQUISA .......................................................................................................... 30

2.1 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA ..................................................... 30

2.1.1 A pesquisa qualitativa ....................................................................................... 39

2.1.1.1 A PESQUISA-FORMAÇÃO ................................................................................... 41

2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................. 60

2.2.1 O município de realização ................................................................................ 60

2.2.2 Escola participante ........................................................................................... 61

2.2.3 Os participantes da pesquisa ........................................................................... 62

2.2.4 A escolha da estudante referência para a pesquisa ......................................... 66

2.3 ENTRADA NO CAMPO DE PESQUISA .............................................................. 68

2.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS .............................. 69

2.4.1 A coleta de dados ............................................................................................. 70

2.4.1.1 BASE LEGAL DO TRABALHO COM PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL

ESPECIALIZADO ........................................................................................................... 71

2.4.2 A análise dos dados ......................................................................................... 72

3 PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: MEDIAÇÕES COMPARTILHADAS EM BUSCA DE NOVAS PERSPECTIVAS PARA UM PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO ....................................................................... 77

3.1 O PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA POLÍTICA DE INCLUSÃO DO PARANÁ: DISCUSSÕES COMPARTILHADAS ........................ 78

3.2 OUTRAS POSSIBILIDADES DE MODELOS ..................................................... 96

4 NOSSA ALUNA COM DEFICIÊNCIA: O ENCONTRO DE OLHARES DOCENTES ................................................................................................................................ 109

4.1 A OBSERVAÇÃO DA ALUNA NA SALA COMUM E NO AEE: O OLHAR DA PESQUISADORA .................................................................................................... 118

4.1.1 Como Joana se coloca no grupo e interage com colegas .............................. 119

4.1.2 Como se dá a interação Joana x professores x Joana ................................... 123

4.1.3 Como Joana lida com o conhecimento e se envolve nas atividades ............. 129

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4.2 A OBSERVAÇÃO DA ALUNA NA SALA COMUM E NO AEE: O OLHAR DOS DOCENTES ............................................................................................................ 134

4.2.1 Como os professores veem Joana no grupo .................................................. 135

4.2.2 Como se dá a interação entre a aluna e seus professores ............................ 137

4.2.3 As relações de Joana com o conhecimento e seu envolvimento nas atividades ................................................................................................................................ 139

4.3 O ENCONTRO DOS OLHARES: A JOANA QUE ENCONTRAMOS – OS INSIGHTS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PLANO COMPARTILHADO .............. 145

5 PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO: A MATERIALIZAÇÃO DA COLABORAÇÃO .................................................................................................... 155

5.1 DESIGN DO INSTRUMENTO: PISTAS, INSIGHTS E REFERENCIAIS ........... 157

5.2 A CONSTRUÇÃO COLABORATIVA DO PROTOCOLO ................................... 166

5.3 EXPERIMENTAÇÃO DO PROTOCOLO: A TESTAGEM EM SALA DE AULA COMUM E NO AEE................................................................................................. 185

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 194

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 202

APÊNDICES ........................................................................................................... 214

ANEXOS ................................................................................................................. 270

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1 INTRODUÇÃO

Como professora de Educação Especial na escola regular, há mais de duas

décadas, vários aspectos que envolvem o ensino e a aprendizagem de estudantes

com deficiência me inquietam. Um deles era realizar o Plano de Atendimento

Educacional Especializado (PAEE) isoladamente, sem contato ou

participação/colaboração dos professores do ensino regular e/ou equipe pedagógica

e, portanto, sem considerar as necessidades de aprendizagem durante o percurso de

escolarização do estudante no ensino comum. Além disso, vivenciar também que os

professores não vinham até mim para saber como meu trabalho ou o plano de

atendimento da Sala de Recursos Multifuncionais poderia contribuir com suas práticas

junto aos nossos estudantes.

Como pedagoga1 de escola pública de Ensino Fundamental e Médio, em que

vários estudantes com deficiência se encontram matriculados, minhas inquietações

cingem as práticas pedagógicas dos professores de disciplinas com os referidos

estudantes, pois tenho presenciado e vivenciado situações em que professores do

ensino comum, aflitos por não saberem como trabalhar ou atender às necessidades

educacionais desses estudantes, acabam por relegá-los a um espaço nem sempre

pleno de aprendizagem (BATISTA; TACCA, 2011) na sala de aula.

Apesar de políticas públicas de Educação Especial e de Inclusão virem desde

o início dos anos de 1990, propalando os direitos das pessoas com deficiência à

educação, o fato de saber que tais direitos não vêm sendo respeitados e seguidos

como se apregoam nas letras dessas leis é que me estimularam e me motivaram a

realizar estudos e pesquisas na área, com vistas a elucidar esta e outras questões

vinculadas ao tema. Para tanto, retomei os estudos agora em nível de Doutoramento,

optando por uma linha de pesquisa que me permitisse construir e aprofundar

conhecimentos em minha área de formação inicial (a Pedagogia). Ressalto que os

estudos realizados quando do curso de Mestrado em Educação e minha atuação

profissional (coordenação pedagógica e docência na Educação Especial) já

apontaram nessa direção, o que me permitiu aprofundar o olhar. Já nos estudos

aprofundados no doutoramento, refinei áreas de interesse de estudo para um tema

1 No estado do Paraná, o papel de coordenação pedagógica, orientador educacional ou supervisor escolar é desempenhado unicamente pelo “professor pedagogo”, conforme Lei Complementar No 103 de 2004, e Edital Nº 10/2007 – GS/SEED.

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que implicasse, dentre tantos problemas circundantes no tocante à Educação Especial

e Inclusiva, a questão da aprendizagem de estudantes com deficiência, destacando a

relevância de pesquisar sobre o Plano Educacional Individualizado (PEI) como

instrumento de escolarização desses estudantes. Mais notadamente, busquei

aprofundar os estudos sobre esse tema, de forma a ampliar os conhecimentos que

corroborassem ou refutassem a tese de que um plano educacional individualizado

(PEI), construído de forma colaborativa entre professores do ensino comum e

da Educação Especial, se constitui em instrumento efetivo de potencialização

da aprendizagem de estudantes com deficiência na escola regular.

As primeiras reflexões para a estruturação do que pretendia investigar

remeteram-me aos fundamentos do pensamento materialista-histórico, o qual afirma

que todos os fenômenos sociais devem ser analisados dentro de seu historicismo, no

contexto da vida social e material produzida pelo homem (MARX; ENGELS, 2007).

Assim, planejar esta pesquisa transitou obrigatoriamente pela busca e pelo estudo de

políticas norteadoras instituídas oficialmente no Brasil, principalmente no estado do

Paraná, bem como sobre produções científicas e estudos já produzidos sobre o tema

a ser investigado.

Iniciei, dessa forma, pelo resgate dos aspectos legais da inclusão escolar, de

modo a analisar e rever o que dizem os principais documentos norteadores a respeito

do tema. Além disso, busquei e elaborei levantamento e seleção de pesquisas

científicas, estudos e obras sobre os temas relevantes e circundantes ao estudo do

PEI como instrumento de escolarização.

Tomei como ponto de partida a década de 1990, período em que as políticas

de Educação Inclusiva começaram a ser discutidas e propagadas internacionalmente

devido às demandas de organizações e de movimentos sociais em defesa dos direitos

humanos, entre outros fatores relevantes (SILVA; HOSTINS; MENDES, 2016).

A partir dessa década, especialmente a partir da Conferência Mundial de

Educação para Todos2 (1990), robustecida nos anos 2000, as políticas educacionais

nacionais têm reafirmado o compromisso com o respeito à diversidade e à percepção

de deficiência como condição humana. Com isso, tem-se impulsionado a construção

2 Tal Conferência aconteceu entre 5 e 9 de março de 1990 em Jomtien, Tailândia, e aprovou a Declaração Mundial de Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, estabelecendo metas e compromissos, junto aos países signatários, da oferta de educação para todas as crianças, jovens e adultos, independentemente de idade, de gênero, de credo, de etnia ou de classe social.

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de sistemas de ensino mais justos e inclusivos. Com base nessa dimensão, a inclusão

escolar começou a ter solidez e a aparecer na escrita das leis brasileiras.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) No 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, como lei máxima da educação brasileira, prevê, em seu Artigo 58,

que o alunado da Educação Especial deveria ser atendido “[...] preferencialmente na

rede regular de ensino [...]” (BRASIL, 1996, p. 27833). A partir daí, mesmo mantendo

a perspectiva facultativa (devido à expressão preferencialmente), fortalecem-se as

políticas educacionais que prescrevem a inclusão de todos os estudantes (com e sem

deficiência) nos sistemas de ensino, então denominados como sistemas educacionais

inclusivos.

Atualmente, as diretrizes orientadoras da Educação Inclusiva, no país, advêm

da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(PNEEPEI) de 2008 (BRASIL, 2008), a qual anuncia como objetivo “[...] o acesso, a

participação e a aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares” (BRASIL,

2008, p. 10).

Tal política orienta os sistemas de ensino para a promoção de respostas às

necessidades educacionais específicas dos estudantes, assim como dispõe sobre a

natureza e o oferecimento do Atendimento Educacional Especializado (AEE) - como

serviço de apoio à escolarização dos estudantes da Educação Especial. A PNEEPEI

afirma que o AEE “[...] tem como função identificar, elaborar e organizar recursos

pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação

dos estudantes, considerando suas necessidades específicas” (BRASIL, 2008, p. 11),

assim como suas atividades devem ser diferenciadas daquelas realizadas na sala de

aula comum, de modo a complementar ou suplementar a formação dos estudantes,

devendo sua proposta pedagógica estar articulada à proposta pedagógica do ensino

comum. Por outro lado, fica evidente, no texto, o aspecto de atendimento do estudante

em ambiente especializado, separado do ensino comum, como apoio ao seu processo

de escolarização que deve acontecer, obrigatoriamente, no ensino comum.

Está também entre as orientações da PNEEPEI (BRASIL, 2008), a necessidade

de Estados e Municípios garantirem sistemas educacionais inclusivos com o

atendimento das necessidades específicas desse público no ensino regular e no AEE.

Com a finalidade de orientar tais sistemas sobre a organização das escolas quanto à

oferta e ao funcionamento do AEE, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou

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a Resolução CNE/CEB No 4, de 2 de outubro de 2009, que institui as Diretrizes

Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica,

prevendo, entre outros, sua institucionalização no projeto pedagógico da escola e a

elaboração e a execução do plano de AEE (BRASIL, 2009). Já, quanto ao atendimento

de tais necessidades no ensino comum, não fica explícito em nenhum documento

legal quais diretrizes operacionais a escola ou o professor devem seguir para realizar

uma prática pedagógica efetivamente inclusiva.

Apesar de instituir as diretrizes, tal Resolução dispõe de forma muito tênue o

trabalho colaborativo entre ensino comum e especializado como forma de eliminação

das barreiras à aprendizagem e ao desenvolvimento do estudante, haja vista o

disposto em seu Art. 9º, que trata da elaboração e da execução do PAEE , o qual deve

ser elaborado pelo professor do AEE “[...] em articulação com os demais professores

do ensino regular [...]” (BRASIL, 2009, p. 17). Nota-se que o termo utilizado é

“articulação”, que, segundo o dicionário Houaiss (2011), tem sentido de “junção de

duas partes” (HOUAISS, 2011, p. 85); diferentemente do que se busca que é a

colaboração, que, de acordo com o mesmo dicionário, tem sentido de “cooperação”,

de “ajudar com participação”, de “contribuição” (HOUAISS, 2011, p. 205). É nesse viés

que situamos o objeto desta pesquisa: o Plano Educacional Individualizado (PEI)

construído colaborativamente.

O estado do Paraná, lócus de realização desta pesquisa, possui políticas de

inclusão escolar com algumas singularidades em relação a outros estados brasileiros.

Contudo, no que se refere ao AEE, orienta-se pelo prescrito nos referenciais legais de

âmbito federal, o qual afirma que: “[...] a regra é que o alunado da Educação Especial

deve estar matriculado na rede regular de ensino, com os apoios especializados

disponibilizados para seu processo de aprendizagem” (PARANÁ, 2009, p. 8). Assim,

as diretrizes e as orientações expostas nas políticas e nos documentos estaduais

norteadores voltam-se ao atendimento das necessidades educacionais especiais no

AEE em trabalho conjunto e interligado entre professores do ensino comum e

especializado de forma que, teoricamente, se concretize interdisciplinarmente na

aprendizagem do estudante (PARANÁ, 2009), como prescrito nos documentos

federais (BRASIL, 2008, 2009). Entretanto, ainda em ambiente apartado e com

propostas pedagógicas elaboradas separadamente entre ensino comum e

especializado.

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No que tange a esse propalado trabalho conjunto, interligado e colaborativo,

assegurado nas letras das Leis, mas não materializado intramuros da escola,

entendemos que o planejamento individualizado se destaca como uma das

possibilidades dessa materialização com a diferenciação do trabalho pedagógico junto

a estudantes com deficiência.

No Paraná, o plano de AEE segue as diretrizes da Deliberação No 2, de 2016,

do Conselho Estadual de Educação (CEE) e a Instrução Nº 7/20163 da Secretaria de

Estado da Educação, que institui as orientações de implementação e organização dos

AEE nas escolas, orientando, também, a materialização do plano de AEE (PAEE).

As políticas concernentes ao tema em tela discorrem sobre a individualização

do planejamento no AEE e a ele se referem com o termo de Plano de Atendimento

Educacional Especializado (PAEE) (BRASIL, 2009, 2015; PARANÁ, 2016a, 2016b,

2018), que toma diferentes nomenclaturas de acordo com o entendimento da rede de

ensino, do sistema educacional ou da escola em que é aplicado, ou conforme o foco

de pesquisas científicas que tratam do tema (TANNÚS-VALADÃO 2010, 2013;

PLETSCH; GLAT, 2012; POKER et al., 2013; TANNÚS-VALADÃO; MENDES, 2014;

CAMPOS, 2016). Todavia, entendemos que os Planos de Atendimento Educacional

Especializado objetivam igualmente o desenvolvimento de estratégias pedagógicas

personalizadas e compatíveis às necessidades específicas do estudante.

Vale ressaltarmos, no tocante ao tema, a fala de Tannús-Valadão (2013), ao

afirmar que:

[...] a referência de planejamento para o público-alvo da educação especial na legislação brasileira é feita pelo plano de AEE, na resolução 4 de Brasil (2009). Esse plano se refere apenas às ações do aluno da SRM e não está relacionado a todo o percurso escolar do estudante como prevê uma proposta de PEI. (TANNÚS-VALADÃO, 2013, p. 52).

Para fins desta pesquisa, optamos pelo termo Plano Educacional

Individualizado (PEI) quando os estudos se referiam ao planejamento educacional em

situações que extrapolassem os espaços da Sala de Recursos Multifuncionais, ou

seja, estavam relacionados ao percurso escolar do estudante no ensino comum ou

situações de colaboração e interação entre este e a Educação Especial. Mantivemos,

3 Essa Instrução Normativa foi revogada pela Instrução Nº 9, de 23 de abril de 2018 (BRASIL, 2018d), que tem os mesmos fins, mas com algumas alterações, como a inclusão de estudantes com transtornos funcionais específicos como público-alvo da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM). A partir dessa data, a nova Instrução passou a ser o referencial para os estudos e as investigações.

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assim, o termo Plano de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) quando fazia

referência especificamente à ação pedagógica da/na SRM.

Isso posto, voltamos nosso olhar para o fato de que o PEI, entendido como

instrumento de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento, se caracteriza

como dispositivo valioso para a aprendizagem no percurso de escolarização do

estudante com deficiência e elemento fulcral na solidificação da inclusão a partir das

práticas escolares. Consideramos que, no modelo inclusivo de educação, assentado

em políticas educacionais que reafirmam o compromisso com o respeito à diversidade

humana e que tira do estudante o foco da incapacidade de aprender, o contexto

educacional deve apresentar-se de forma dinâmica, assim como o planejamento de

atividades deve estar assentado nas possibilidades e nas potencialidades do

estudante, configurando-se como estratégia positiva para o seu aprendizado.

Surge daí a necessidade de que as escolas se “re”organizem para o

atendimento dos estudantes com deficiência de forma colaborativa e interligada no

ensino comum e no AEE, para que lhes sejam asseguradas as condições de acesso,

de permanência e de aprendizagem. Nesse sentido, emerge a necessidade de

transformação das práticas escolares, em especial das práticas pedagógicas que

reconheçam o papel do ensino comum como ambiente heterogêneo necessário às

práticas pedagógicas inclusivas. É necessário considerar, portanto, que

[...] as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os estudantes. (BRASIL, 2008, p. 11).

Dessa forma, as possibilidades de escolarização e de aprendizagem dos

estudantes com deficiência, mais do que serem ofertadas no AEE e nas salas de aula

de ensino comum, precisam estar pautadas em propostas educacionais que

considerem as especificidades de cada estudante, com ações contextualizadas e

voltadas à busca de alternativas para aqueles que apresentam alguma necessidade

específica em seu aprender (CAMPOS, 2015).

Embora a PNEEPEI (BRASIL, 2008) já preconize em seus objetivos a garantia

de Atendimento Educacional Especializado como resposta da escola às necessidades

educacionais de seus estudantes, em seu texto a referida política não faz referência

explícita sobre um PEI que sirva à escolarização do estudante, tanto na classe comum

quanto no AEE. Não faz referência a um plano que transite entre a classe comum e

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no AEE e priorize a colaboração entre os professores dessas duas modalidades de

oferta de ensino com vistas a aprendizagem integral do estudante.

Como afirma Tannús-Valadão (2010), ainda não há dispositivos legais sobre a

implementação do PEI em nosso país, nem mesmo há “[...] propostas de legislação

ou de documentos oficiais no Brasil que garantam o direito de cada estudante com

deficiência de ter o seu PEI” (TANNÚS-VALADÃO, 2010, p. 31). Embora algumas

pesquisas já apontem para sua importância na aprendizagem e acompanhamento da

escolarização desses estudantes (GLAT; VIANNA; REDIG, 2012; TANNÚS-

VALADÃO, 2013; PLETSCH; GLAT, 2013; MAGALHÃES; CUNHA; SILVA, L. C. da,

2013; CAMPOS, 2016).

É de extrema importância deixar claro (para melhor entendimento do que

intencionamos e o caminho que percorremos para a realização desta pesquisa) o

porquê de buscarmos, na legislação normatizadora do Plano de AEE (PAEE), o ponto

de partida para a pesquisa e o desenvolvimento da investigação com o PEI.

Segundo orientações da Resolução No 4/2009 (BRASIL, 2009), o PAEE faz

parte das atribuições do professor de AEE para executar o seu trabalho pedagógico

com o estudante ali matriculado, assim como prevê a “[...] identificação das

necessidades educacionais específicas dos estudantes, definição dos recursos

necessários e das atividades a serem desenvolvidas [...]” (BRASIL, 2009, p. 17). Na

mesma direção, as diretrizes da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED)

orientam que “[...] o planejamento das intervenções pedagógicas a serem

desenvolvidas na SRM deve estar de acordo com o projeto político pedagógico da

escola (e) expectativas de aprendizagem do ano de matrícula do estudante [...]”

(PARANÁ, 2017, p. 4), assim como indica a relevância de envolver os professores do

ensino comum, equipe pedagógica e professor da SRM em sua elaboração e

reelaboração. Trata-se, segundo a Orientação No 010/2017, de “[...] um instrumento

importante para que o professor da SRM e ensino comum planejem, replanejem e

acompanhem a trajetória percorrida pelo estudante” (PARANÁ, 2017, p. 4).

Destarte, é relevante destacar que iniciamos o percurso desta pesquisa pelo

estudo do PAEE, para então encaminhar os estudos para a temática do PEI, que, de

acordo com Glat, Vianna e Redig (2012), consiste em um

[...] registro avaliativo escrito, formulado em equipe, que busca as respostas educativas mais adequadas para as necessidades específicas apresentadas em processos de escolarização de estudantes que exigem caminhos alternativos para sua aprendizagem. (GLAT; VIANNA; REDIG, 2012, p. 84).

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Esses percursos indicaram-nos caminhos que acreditamos poderem ser

trilhados se ensino comum e AEE atuarem colaborativamente na escolarização

desses estudantes e que sejam desenvolvidos a partir de um planejamento que

respeite os diferentes ritmos e modos de aprender de cada um dos estudantes. E,

também, possam favorecer sua aprendizagem e acompanhar seu percurso de

escolarização para além do período letivo em que iniciou.

O encaminhamento e as correções de percursos e caminhos foram sendo

reforçados com base no estudo e na análise dos documentos oficiais, leituras,

discussões e estudos realizados no Grupo de Pesquisa Observatório de Políticas

Educacionais, do qual participamos e temos acompanhado as pesquisas do

Observatório da Educação (OBEDUC/Capes): A escolarização de alunos com

deficiência intelectual: políticas públicas, processos cognitivos e avaliação da

aprendizagem. Seus objetivos consistem em analisar as práticas culturais de

escolarização de estudantes com deficiência intelectual (DI), o que nos permitiu

constatar a complexidade que é o processo de aprendizagem e de escolarização de

estudantes com deficiência, pois, apesar da inclusão escolar desses estudantes já vir

acontecendo desde a década de 1990 em nosso país, como afirmam Pletsch e Glat

(2012), os professores continuam seguindo a proposta didática tradicional que

desconsidera a diversidade da turma e as especificidades de cada estudante.

Diante dessa constatação e com o intuito de verificarmos como a problemática

que propomos vem sendo investigada em diferentes meios de divulgação científica,

assim como para validar a proposição deste estudo, buscamos por pesquisas de Pós-

Graduação no Brasil que dissertassem sobre a escolarização e as relações entre

ensino regular e Educação Especial no contexto da inclusão escolar, notadamente

aqueles estudos que tomassem como objeto de investigação o PEI para estudantes

com deficiência matriculados nas classes comuns. Nessa busca, utilizamos o banco

de dados da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro

de Informação em Ciências e Tecnologia (IBICT) e do Catálogo de Teses e

Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES). Para a definição do período de busca, adotei como critério as pesquisas

realizadas entre os anos de 2013 (quatro anos após a promulgação da Resolução

CNE/CEB nº 4/2009) e 2017.

Para a realização das buscas, empregamos como descritores: inclusão escolar,

deficiência intelectual, atendimento educacional especializado, plano de atendimento

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educacional especializado e prática pedagógica. Os bancos de dados consultados

têm disponibilizado, entre os anos de 2013 e 2017, 1.245 pesquisas, entre teses e

dissertações, que envolvem o Atendimento Educacional Especializado e a deficiência

intelectual, das quais 556 se apresentam com o foco na escolarização e na prática

pedagógica para o estudante com deficiência intelectual no AEE.

A partir das 556 pesquisas encontradas que abordavam a escolarização e a

prática pedagógica para o estudante com deficiência intelectual no AEE, a busca por

pesquisas correlatas ao nosso tema deu-se pela leitura e pela análise dos resumos.

Após essa leitura e análise sistemática, foram selecionados, para leitura integral, 13

dissertações e três teses que, considerando o tema de pesquisa, a metodologia

utilizada e os resultados encontrados, de alguma forma se relacionavam com nosso

objeto de estudo. Isso permitiu que duas pesquisas (dissertações) fossem excluídas

da seleção, haja visto que não se alinhavam ao nosso interesse de pesquisa. Desse

modo, permaneceram 11 dissertações e três teses que poderiam contribuir de alguma

forma com nossas reflexões ou se articulavam e se aproximavam da temática,

atendendo diretamente ao nosso interesse: a prática pedagógica no AEE e as

relações existentes entre ensino comum e Educação Especial no contexto da inclusão

escolar para estudantes com deficiência intelectual matriculados no ensino comum.

Com base na análise dessas 14 pesquisas, observamos que, no período

investigado, as dissertações e as teses defendidas estão concentradas, em sua

maioria, na região sudeste do país, distribuídas em instituições como a Universidade

Federal de São Carlos (UFSCar) (seis trabalhos), a Universidade Estadual Paulista

(UNESP) (um trabalho) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ) (um

trabalho). Os demais estão distribuídos em estados como o Ceará (dois trabalhos),

Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná (um trabalho em cada estado) e Brasília (um

trabalho).

De maneira geral, todas as pesquisas estudadas tiveram como foco a

abordagem qualitativa, porém uma delas se definiu como abordagem mista

(qualitativa e quantitativa). Além disso, o estudo de casos e a pesquisa colaborativa

foram as mais recorrentes.

Os temas das pesquisas analisadas incorreram, basicamente, sobre: a) o

coensino como estratégia de escolarização; b) o processo de ensino e aprendizagem;

c) a Sala de Recursos Multifuncionais; d) a prática pedagógica do professor do

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estudante público-alvo da educação especial; e) o Planejamento Educacional

Individualizado (PEI).

O coensino apareceu nos objetivos de pesquisas que abordaram a definição

do papel do professor de Educação Especial (ZERBATO, 2014), a construção de

propostas de colaboração desse professor com o professor do ensino comum

(VILARONGA, 2014) e a importância da formação de ambos para a efetivação do

coensino ou ensino colaborativo como serviço de apoio à escolarização de estudantes

público-alvo da Educação Especial no contexto da classe comum (LAGO, 2014;

MENDES, M. T. da S. 2016).

O processo de ensino e aprendizagem de estudantes com deficiência foi

objetivo de duas pesquisas analisadas: na sala de recursos pela dimensão do

computador como recurso pedagógico (SALOMÃO, 2013), e na sala de recursos e

sala de aula regular pela dimensão da avaliação da aprendizagem (MACHADO, R. S.,

2013).

A Sala de Recursos Multifuncionais foi objeto de estudo de quatro pesquisas.

A preocupação com sua forma de funcionamento se constituiu como eixo de

semelhança entre elas. Os temas das referidas pesquisas focam a: investigação sobre

a linguagem expressa nos documentos norteadores e orientadores de sua

implantação, portanto, a intencionalidade dos documentos oficiais na concepção de

desenvolvimento humano (PERTILLE, 2013); contribuição para a inclusão e o

desenvolvimento das potencialidades de seus estudantes (SOUSA, 2013); traduções

da política do programa de implantação das salas de recursos (MALHEIRO, 2013); e

recursos e objetos de aprendizagem disponibilizados na SRM como apoio ao trabalho

pedagógico (OMODEI, 2013).

Por sua vez, a centralidade das pesquisas em que os objetivos se voltavam à

prática pedagógica compreendeu o estudo das práticas dos professores do AEE sob

a dimensão da organização física e pedagógica da SRM, importando as funções, as

concepções e as ações do professor do AEE (OLIVEIRA NETA, 2013; ARARUNA,

2013).

Já as políticas do PEI constituíram-se em objeto de estudos em duas

pesquisas. Uma delas tratou do desenvolvimento, da implantação e da avaliação de

um programa de formação de professores de Educação Especial em que o foco era a

elaboração e a implementação do PEI por professores de estudantes público-alvo da

Educação Especial (TANNÚS-VALADÃO, 2013). A outra pesquisa objetivou a

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elaboração e a implementação do PEI sob a perspectiva do trabalho colaborativo

(CAMPOS, 2016).

Posteriormente a essa seleção, foi possível observarmos que nenhum dos

trabalhos abordou diretamente a construção coletiva de um protocolo de PEI entre

professores de disciplinas dos anos finais do Ensino Fundamental, equipe pedagógica

e professores do AEE. As informações gerais dessas 14 pesquisas encontram-se

compartilhadas no Apêndice A deste estudo.

Cabe ressaltarmos, novamente, que estamos cientes de que possam existir

outras pesquisas que envolvam a temática em discussão, pois selecionamos os

estudos que abarcam a prática pedagógica no AEE e as relações existentes entre

ensino comum e Educação Especial no contexto da inclusão escolar para estudantes

com deficiência matriculados no ensino comum, sob a perspectiva do PEI e do ensino

colaborativo como instrumentos para efetivação da aprendizagem desses estudantes.

As pesquisas selecionadas permitiram compreender as diferentes percepções e os

percursos adotados pelos pesquisadores, que revelam os avanços decorrentes da

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008)

assim como apontam carências e possibilidades para a escolarização de estudantes

com deficiência.

O cenário posto por tais carências e possibilidades suscitaram novas

inquietações que permitiram definir e aprofundar o percurso, o assentamento da

questão norteadora e o foco desta pesquisa, definindo-a então a partir da indagação

chave: Como se estrutura um protocolo de construção do Plano Educacional

Individualizado (PEI) que faculte a colaboração de professores do ensino

comum e especializado e potencialize a aprendizagem de estudantes com

deficiência na escola regular?

Definida a questão chave, para fins de detalhamento sobre o que pretendíamos

desenvolver como linhas de investigação, detalhamos as seguintes questões

secundárias:

ü Como se configura o PAEE aplicado na escola contexto do estudo e qual sua

articulação com as diretrizes da Política de Educação Inclusiva no Estado do

Paraná?

ü Quais os instrumentos, os recursos e os procedimentos que possibilitam o

trabalho colaborativo entre os professores envolvidos com a escolarização de

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estudantes com deficiência na escola regular e que potencialize a

aprendizagem desses estudantes?

ü Quais elementos constitutivos de um PEI facultam o trabalho colaborativo entre

professores do ensino comum e da Educação Especial e potencializam a

aprendizagem de estudantes com deficiência na escola regular?

Para fundamentar os caminhos da investigação proposta, que nos levariam à

busca das respostas sobre os questionamentos estabelecidos, definimos os objetivos

geral e específicos em relação direta com as questões chave e específicas, os quais

ficaram delimitados como mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.

Assim, com a definição da direção a ser tomada pela pesquisa, empreendemos

os passos para a sua realização, definindo o desenho metodológico conforme

apresentado na Figura 2, o qual será melhor detalhado no capítulo da metodologia.

Desenvolver um protocolo de construção colaborativa do Plano Educacional Individualizado (PEI) como instrumento potencializador da aprendizagem de

estudantes com deficiência na escola regular.

Analisar o modelo de Plano de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) aplicado na escola objeto de estudo e sua dinâmica de elaboração,

constituição e articulações com as orientações da Política de Educação Inclusiva do Estado do Paraná.

Aplicar instrumentos, recursos e procedimentos diferenciados de planejamento e avaliação pedagógica do estudante com deficiência como forma de

enriquecimento do protocolo do PEI, em atividade colaborativa entre equipe pedagógica, professores do ensino comum e do AEE.

Definir o protocolo de PEI com base nos instrumentos, nos recursos e nos procedimentos validados no processo de investigação.

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Figura 2– Desenho metodológico da pesquisa

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.

A pesquisa-formação, como ilustrado na Figura 2, foi escolhida para a

realização da coleta de dados pela possibilidade da inter-relação entre pesquisadora

e participantes, fazendo com que os conhecimentos produzidos de forma

coparticipativa e as discussões advindas dessa formação dessem sustentação e

material para a análise de conteúdo. A escolha da abordagem histórico cultural deu-

se por permitir a análise do processo.

A coprodução do conhecimento entre os participantes da pesquisa permitiu a

criação colaborativa de um instrumento singular de planejamento da prática

pedagógica (ou seja, um protocolo de plano educacional individualizado - PEI) por

equipe pedagógica, professores do ensino comum e da Educação Especial para o

estudante com deficiência. Como resultado e diferenciando-se dos estudos

identificados na revisão sistemática da literatura existente e acessível, o processo de

investigação escolhido possibilitou o estudo das práticas existentes no âmbito do AEE,

com a criação de um modelo de protocolo colaborativo de planejamento e a sua

consequente legitimação após a elaboração e um período de experimentação pelos

professores envolvidos nos procedimentos prévios da pesquisa, junto a uma

estudante com deficiência em contexto real de ensino, corroborando os resultados

obtidos.

O Protocolo foi disponibilizado via compartilhamento digital para

experimentação pelos professores participantes da pesquisa e envolvidos com a

estudante tomada como referência para a pesquisa, pelo período de um trimestre

letivo. Durante esse período, os partícipes tiveram acesso ao protocolo elaborado e

Córpus de análise Referencial epistemológico

-documentos legais

- registros escritos

- discussões da formação

os

s s s s s s s s s s s s s s s s s s s s s s

eseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseseses ção

Análise de conteúdo (BARDIN,

1977; FRANCO,

2008)

Pesquisa formação

sa ão

inter-relação entre pes-

quisadora e participan-

tes

ququpapa

co-produ-ção do

conheci-mento

- Abordagem Histórico-cultural

Vygotski (1997, 1998, 2004, 2007)

Tipo de Pesquisa

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puderam municiá-lo com as informações solicitadas, constituindo-o como plano

individualizado a partir do registro de expectativas, de realizações, de habilidades e

de potencialidades expressas pela estudante tomada como referência. Os professores

das disciplinas, da sala de recursos, o professor de apoio educacional especializado

e a pedagoga que acompanharam a turma em que a aluna estava matriculada

preencheram o PEI em ambiente virtual compartilhado4, de forma a materializar a

proposição do referido instrumento.

Nesse período de experimentação, os professores participantes puderam

analisar a positividade da aplicabilidade e da efetividade do instrumento, assim como

as possibilidades de sua contribuição como apoio ao trabalho colaborativo entre os

professores e para a aprendizagem da aluna tomada como referência e modelo para

uma situação de ensino de estudante com deficiência em sala de aula de ensino

comum, que foi, de fato, o cenário para a realização da pesquisa.

Para melhor apresentação e entendimento do processo de pesquisa, dos

achados na coleta e análise dos dados e de seus resultados, este estudo compreende,

além desta introdução, mais cinco capítulos que, interligados, possibilitaram o

conhecimento e novas reflexões sobre a importância do PEI como instrumento

colaborativo de planejamento e avaliação da aprendizagem de estudantes com

deficiência na escola regular.

No Capítulo 2, que trata da metodologia empregada na pesquisa, descrevemos

os passos empreendidos na investigação, iniciando com a abordagem teórico-

metodológica adotada no estudo, o contexto no qual este se desenvolveu, os

participantes e os procedimentos de coleta, organização e análise dos dados.

No Capítulo 3, tratamos do Plano de Atendimento Educacional Especializado

da SRM adotado pela escola participante a partir de discussões compartilhadas com

os participantes da pesquisa e à luz das orientações legais sobre o tema e do estudo

de três modelos de PEI, a fim de proceder a análise comparativa entre as estruturas,

dinâmicas e as finalidades. Tratamos do PAEE como referência para a constituição

do PEI como instrumento de apoio à prática pedagógica.

No capítulo 4, as discussões envolvem o olhar das práticas e para as práticas

de escolarização realizadas pelos professores participantes junto à aluna tomada

4 O Protocolo, criado pela pesquisadora, foi disponibilizado no Google drive com acesso para todos os participantes da pesquisa, compartilhado via e-mail com cada um dos professores envolvidos exclusivamente para os fins da pesquisa.

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como referência e modelo para o estudo a partir dos pressupostos de Vygotski5 (1997,

2004, 2007) e Vigotski (1998), como possibilidades de mudança desse(s) olhar(es).

Tais discussões emergentes das atividades da pesquisa-formação trouxeram o estofo

necessário para a análise do conteúdo (FRANCO, 2008; BARDIN, 1977) dos dados

coletados.

O Capítulo 5 caracteriza-se como um dos mais relevantes do nosso estudo,

pois é nele que apresentamos o instrumento objeto-fim da pesquisa. Nele, expomos

o protocolo do PEI como o instrumento elaborado em coprodução com os participantes

da pesquisa, ilustrando-o com a empiria que corrobora a tese proposta. Integram,

ainda, esse capítulo os resultados da ratificação do Protocolo elaborado pelos

partícipes da pesquisa após um período de experimentação junto à aluna tomada

como referência e modelo para a investigação.

Nas considerações finais, apresentamos as descobertas que se se revelaram

na pesquisa, bem como as possibilidades de benefícios que um instrumento de

planejamento educacional individualizado pode trazer para a comunidade escolar.

Ressaltamos as contribuições possíveis para a potencialização da aprendizagem do

estudante com deficiência em contexto de inclusão escolar.

Encerramos este relato do percurso de estudos e de investigações com as

referências bibliográficas e documentais que permitiram o estofo teórico ao estudo, os

apêndices nos quais se encontram informações suplementares ao relato, o Protocolo

de PEI elaborado na pesquisa-formação e o Guia de preenchimento do PEI que

também emergiu na pesquisa-formação como ferramenta de apoio aos professores

para esse preenchimento.

5 O sobrenome do autor aparece escrito de diferentes maneiras na literatura. Neste estudo, optei pela grafia conforme a obra utilizada.

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2 CAMINHO METODOLÓGICO: AS TRILHAS, OS CAMINHANTES E A DIREÇÃO DA PESQUISA

[...] o pensamento torna-se real para o outro ao ser enunciado por meio da palavra.

Ocorre que, esse outro, não é unicamente o outro no imediato [...] a palavra

sempre vai mais longe [...].

Hilda Maria Martins Bandeira (2016, p. 69).

Os procedimentos metodológicos constituem-se em momento determinante de

um processo de pesquisa e podem caracterizar todo um modo de fazer, do qual

depende o sucesso do trabalho empreendido. Assim sendo, a abordagem teórico-

metodológica, a contextualização da pesquisa, a entrada no campo de pesquisa, os

procedimentos de coleta e análise dos dados e a reestruturação do relato da tese

compõem o caminho trilhado neste capítulo.

2.1 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA

Para percorrer o caminho proposto, optamos pela direção da pesquisa

qualitativa, uma vez que a proposta de investigação consistiu em pesquisa

colaborativa do tipo pesquisa-formação. Integram, esta seção, os caminhos do

percurso: o detalhamento da pesquisa qualitativa e a sua contextualização. Na

contextualização da pesquisa, apresentamos o município de sua realização, a escola

participante, os sujeitos da pesquisa e a escolha da estudante tomada como

referência para as investigações.

O referencial epistemológico deste estudo está ancorado na abordagem

histórico-cultural, mais precisamente nos estudos de Vigotski sobre a aprendizagem

e o desenvolvimento humanos. Desde a escolha do tipo de pesquisa – a qualitativa,

ancoramos o aporte teórico em Vigotski que, ao realizar seus estudos, interagia com

os participantes da pesquisa, a fim de entender os processos de desenvolvimento e

as transformações que ocorriam no decorrer da investigação (OLIVEIRA, M. K. de,

1997). Segundo Vigotski:

A procura de um método torna-se um dos problemas mais importantes de todo empreendimento para a compreensão das formas caracteristicamente humanas de atividade psicológica. Nesse caso, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, instrumento e resultado do estudo. (VYGOTSKI, 2007, p. 69).

Sobre o método que se escolhe para a realização da pesquisa, o autor afirma

que “[...] a criação de novos métodos, adequados a novas maneiras de colocar os

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problemas, requer mais do que uma simples modificação dos métodos previamente

aceitos [...]” (VYGOTSKI, 2007, p. 59). Ao concordarmos com isso é que pretendemos

um estudo que visasse contribuir com o processo de escolarização, portanto com o

ensino e a aprendizagem de estudantes com deficiência no Ensino Fundamental.

Vigotski, por meio da perspectiva histórico-cultural, permite um olhar

diferenciado não somente sobre o método de pesquisa na perspectiva qualitativa

como também sobre as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento, valendo

esse olhar igualmente para a aprendizagem e o desenvolvimento das pessoas com

deficiência. A sua preocupação com as formas de agir diante do funcionamento do

desenvolvimento da criança com deficiência já estava expressa na obra Fundamentos

da Defectologia (VYGOTSKI, 1997), deixando clara a necessidade de estudos nessa

área.

Esse estudioso demarca, em suas pesquisas, uma clara postura e defesa da

não segregação da criança com deficiência, afirmando que:

Aunque los niños mentalmente retrasados estudien más prolongadamente, aunque aprendan menos que los niños normales, aunque, por último, se les enseñe de otro modo, aplicando métodos y procedimientos especiales, adaptados a las características específicas de su estado, deben estudiar lo mismo que todos los demás niños, recibir la misma preparación para la vida futura, para que después participen en ella [...]. (VYGOTSKI, 1997, p. 149).

O autor esclarece, em seus estudos sobre a defectologia, o papel e a

importância da interação dos sujeitos para a formação do pensamento, entre outros

conceitos de extrema relevância para o entendimento do desenvolvimento humano.

Vigotski defende e enfatiza a construção histórica e cultural dos processos

psicológicos superiores como memória, percepção, atenção e pensamento, os quais

se desenvolvem nas relações estabelecidas com o meio, com o outro e mediadas por

elementos internos (signos) e externos (instrumentos) (VYGOTSKI, 1997). Para

Vygotski (2007), é tarefa da escola vencer o defeito apresentado pela criança e é

preciso ter em conta o que ela sabe, mas, principalmente, até que ponto ela é capaz

de compreender.

Para um melhor entendimento da relação da teoria vigotskiana como

fundamentação epistemológica desta tese, é possível assim sintetizá-la:

ü A relação ensino-aprendizagem tem um caráter dialético; destarte o estudante

deve ter sua historicidade considerada em todos os aspectos de sua

escolarização.

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ü O desenvolvimento cultural da criança acontece desde o nascimento pelo

entrelaçamento dos aspectos naturais com os processos culturais que dão

origem às funções psicológicas superiores resultantes do contato com o

ambiente social e mediado por outras pessoas (VYGOTSKY, 2003).

ü Os avanços no desenvolvimento resultam de um processo de encadeamento

interno e externo de mudanças que impulsionam a reestruturação das

necessidades do homem com o meio (VYGOTSKI, 2007).

ü A aprendizagem sempre se antepõe ao desenvolvimento, porém deve ser

combinada de alguma maneira com o nível de desenvolvimento da criança

(VYGOTSKI, 2007).

ü Vygotski (2007) fala em pelo menos dois níveis de desenvolvimento:

a) Nível de desenvolvimento real, que pode ser explicitado como nível de

desenvolvimento em que a criança já é capaz de solucionar problemas

sozinha, sem ajuda de outra pessoa. Trata-se do nível em que ela já tem

amadurecidas funções psicológicas superiores necessárias à resolução

com autonomia de determinadas atividades.

b) Nível de desenvolvimento potencial, que é o nível de desenvolvimento que

a criança necessita de orientação, ajuda ou mediação de um adulto ou a

colaboração de um colega para solucionar problemas. Trata-se de etapa

anterior ao desenvolvimento real.

ü A zona de desenvolvimento proximal (ZDP), um dos conceitos de Vigotski mais

difundidos no campo da educação, neste estudo passa a ser chamado de zona

de desenvolvimento iminente (PRESTES, 2010, 173)6 que segundo o próprio

autor “[...] define as funções ainda não amadurecidas, mas que encontram-se

em processo de amadurecimento, as funções que amadurecerão amanhã, que

estão hoje em estado embrionário. ” (VIGOTSKI, 2004, p. 379, apud PRESTES,

2010, p. 173).

6 A professora Dr.a Zoia Ribeiro Prestes, em sua tese de Doutorado intitulada Quando não é quase a mesma coisa – Análise de traduções de Lev Semionovitch Vigotski no Brasil: repercussões no campo educacional (PRESTES, 2010), afirma que a tradução que mais se aproxima de zona blijaichego razvitia para o português brasileiro se define como zona de desenvolvimento iminente. Uma leitura mais aprofundada sobre o tema pode ser encontrada no capítulo V- Quando não é a mesma coisa de sua tese, mais especificamente no subtítulo: Afinal que zona é essa? em que faz uma análise ímpar deste conceito para Vigotski.

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Reportando-se aos estudos de Vigotski, Martins (2010) explica que

[...] a tarefa essencial da escola é assegurar todos os investimentos, tendo em vista desenvolver no aluno aquilo que lhe falta para a consolidação das funções psicointelectuais superiores. Para tanto, defenderá um planejamento de ensino que articule rigorosamente forma e conteúdo [...]. (MARTINS, 2010, p. 58).

São esses estudos e o pensamento de Vigotski – de que a educação é a

influência premeditada, organizada e prolongada do desenvolvimento do indivíduo

(VIGOTSKI, 2003) e, portanto, exige, como afirma Martins (2010), “[...] conhecimentos

sobre quem é o indivíduo que se educa e a que fins atende a educação” (MARTINS,

2010, p. 49) – que respaldam a escolha da abordagem vigotskiana para

fundamentação da pesquisa em tela.

Tendo em vista que foram foco de debates e reflexões, na pesquisa-formação

empreendida, os princípios sobre elaboração de conceitos, mediação e colaboração

ou trabalho colaborativo entre professores e a avaliação da aprendizagem, a

perspectiva teórico-metodológica de Vigotski apresentou-se como concepção

especialmente significativa para o desenvolvimento do estudo. Em vista disso, e por

considerarmos a natureza social e mediada da aprendizagem, reiteramos tais

conceitos desenvolvidos por Vygotsky (2003), Vygotski (1993, 1997, 2004, 2007,

2011), Vigotski (1998, 2001, 2003) e seus colaboradores, os quais deram suporte ao

percurso teórico desta pesquisa e serão brevemente apresentados a seguir.

A Elaboração conceitual é uma das formas superiores de ação consciente do

sujeito. Está baseada nos processos psicológicos superiores da criança, com ou sem

deficiência, e se desenvolve em três fases caracterizadas pela aplicação da palavra

que pode assumir a função do conceito e pode também servir como instrumento de

compreensão, antes mesmo de o sujeito apropriar-se totalmente do conceito

(VIGOTSKI, 1998).

A elaboração de conceitos passa da associação desorganizada ou sincrética

(fase dos amontoados), que a criança inicialmente faz de objetos isoladamente ou

agrupando-o sem uma lógica sob o significado de uma palavra, para uma fase

seguinte (fase do pensamento por complexos), em que a criança os agrupa com base

em alguma característica de associações que estabelece entre eles, para então

passar para o conceito propriamente dito (fase dos conceitos potenciais). De acordo

com Vigotski (1998), a criança inicialmente constrói conceitos cotidianos ou

espontâneos que são aqueles desenvolvidos a partir das experiências diárias, por

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intermédio de enlaces reais-imediatos, mais concretos, estabelecidos com o meio.

Depois, ao entrar na escola, constrói os conceitos científicos em decorrência das

experiências pedagógicas, de forma consciente, estabelecendo relações mentais ou

lógico-verbais para sua elaboração. Vygotski (1993) afirma que:

O desenvolvimento do conceito científico de caráter social se produz nas condições do processo de ensino, que constitui uma forma singular de cooperação sistemática entre o pedagogo e a criança. Durante o desenvolvimento desta cooperação amadurecem as funções psíquicas superiores da criança com a ajuda e participação do adulto. No campo que nos interessa, este encontra sua expressão na crescente relatividade do pensamento causal e no fato de que o pensamento científico na criança avança até alcançar um nível de voluntariedade, nível que é produto das condições de ensino. A singular cooperação entre criança e adulto é um aspecto crucial do processo de ensino, juntamente com os conhecimentos que são transmitidos à criança segundo um determinado sistema. (VYGOTSKI, 1993, p. 183, grifos do autor).

Nesse processo, dois aspectos são essenciais: o uso da palavra entendida

como instrumento de apropriação do conceito e da mediação entre o adulto que detém

o conceito científico e a criança, que passará a deter tais conceitos a partir da

interação com o adulto; e a qualidade das interações e das mediações realizadas

como determinantes da qualidade dos conceitos que se constroem.

No tocante às descobertas dos estudos vigotskianos sobre desenvolvimento

dos processos psicológicos que resultam na elaboração conceitual, Vigotski (1998)

não define idade ou fase da infância como determinantes do nível ou qualidade dos

conceitos elaborados. O estudioso resume que

[...] o desenvolvimento dos processos que finalmente resultam na formação de conceitos começa na fase mais precoce da infância, mas as funções intelectuais que, numa combinação específica, formam a base psicológica do processo da formação de conceitos amadurece, se configura e se desenvolve somente na puberdade. Antes dessa idade, encontramos determinadas formações intelectuais que realizam funções semelhantes àquelas dos conceitos verdadeiros, ainda por surgir. No que diz respeito à composição, estrutura e operação, esses equivalentes funcionais dos conceitos têm, para com os conceitos verdadeiros [...] (um) prolongado processo de desenvolvimento entre o estágio mais inicial e o estágio final. (VIGOTSKI, 1998, p. 72).

Mendes, Hoepers e Amaral (2015), em pesquisa realizada no âmbito do

Observatório de Educação (OBEDUC), que teve como objetivo analisar como se dá o

processo de aprendizagem de conceitos científicos sob a perspectiva de Vigotski em

alunos com deficiência intelectual matriculados nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, concluem que o desenvolvimento do processo de elaboração conceitual

nessas crianças é complexo, havendo predominância das experiências concretas,

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porém “[...] existe a capacidade da elaboração de conceitos científicos. A criança

consegue utilizar um conceito de forma abstrata, compreendendo e utilizando a

palavra no seu vocabulário, realizando operações mentais” (MENDES; HOEPERS;

AMARAL, 2015, p. 86).

O mesmo estudo enfatiza, ainda, a importância de outro princípio de Vigotski

que se fez crucial na fundamentação epistemológica da pesquisa ora apresentada: a

mediação. Esta, nos pressupostos vigotskianos, é considerada como um dos

elementos constitutivos da formação humana.

Para Vygotsky (2003), a mediação dá-se por meio de dois tipos de mediadores

com características bem diferentes: instrumentos e signos, e só é possível por meio

dos sistemas simbólicos que representam a realidade.

Por meio do instrumento, ou ferramenta, nas palavras de Vigotski, “[...] el

hombre influye sobre el objeto de su actividad la herramienta está dirigida hacia fuera:

debe provocar unos u otros cambios en el objeto. Es el medio de la actividad exterior

del hombre, orientado a modificar la naturaleza” (VYGOTSKY, 2003, p. 62). Nesse

sentido, evidencia-se a importância do produto da pesquisa aqui empreendida, uma

vez que sua natureza comunga desse princípio, e o protocolo do PEI elaborado se

caracteriza também como um instrumento de mediação da aprendizagem

Em relação ao signo como elemento de mediação, Vigotski declara que:

El signo no modifica nada en el objeto de la operación psicológica: es el medio de que se vale el hombre para influir psicológicamente, bien en su propia conducta, bien en la de los demás; es un medio para su actividad interior, dirigida a dominar el propio ser humano: el signo está orientado hacia dentro. (VYGOTSKY, 2003, p. 62).

O principal signo usado como mediador no ambiente escolar é a linguagem,

que mereceu de Vigotski e seus colaboradores extensos e profundos estudos7.

A mediação, de acordo com Vygotsky, “[...] é fundamental para o

desenvolvimento das funções psicológicas superiores distinguindo o homem dos

outros animais. [...] é um processo essencial para tornar possível atividades

psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo” (OLIVEIRA,

M. K. de, 1997, p. 33).

7 Para leitura mais aprofundada a respeito, consultar Vygotsky (2003); Vigotski (1998); Vigotskii, Luria e Leontiev (2010); Luria e Yudovich (1985).

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Apesar das divergências (ou diferenças?) de natureza da atividade dos dois

elementos mediadores supracitados e apresentados, Vigotski conclui que é preciso

levar em conta o nexo real entre essas duas atividades:

El dominio de la naturaleza y el dominio de la conducta están recíprocamente relacionados, como la transformación de la naturaleza por el hombre implica también la transformación de su propia naturaleza. [...] La aplicación de medios auxiliares y el paso a la actividad mediadora reconstruye de raíz toda la operación psíquica a semejanza de cómo la aplicación de las herramientas modifica la actividad natural de los órganos y amplia infinitamente el sistema de actividad de las funciones psíquicas. (VYGOTSKY, 2003, p. 62).

Percebe-se, dessa maneira, que a mediação tomada como processo de

intervenção de um elemento intermediário em uma relação (OLIVEIRA, M. K. de,

1997), quer seja com um elemento externo, como um instrumento, quer seja com um

elemento interno, como o signo/linguagem, neste estudo, remete à significância da

colaboração no protocolo de PEI elaborado e ao seu papel como instrumento na

realização de conexões entre sujeito e conhecimento.

Esse pensamento respalda a importância do professor como mediador (que

usa ferramentas e interage pelos signos) no processo de aprendizagem de estudantes

com deficiência. Para Vigotski, o professor, como detentor do conhecimento de um

conceito, realiza, por meio de sua ação pedagógica, a mediação entre o conceito e a

sua aquisição pela criança (VYGOTSKI, 2007).

A colaboração define-se como outro princípio da abordagem histórico-cultural

que concede suporte epistemológico à pesquisa em tela. Vigotski afirma que a

colaboração é: “Uno de los factores centrales del desarollo cultural infantil [...]

(VYGOTSKI, 1997, p. 293), fonte desse desenvolvimento e determinante do nível e

qualidade do desenvolvimento das funções psíquicas superiores (VIGOTSKI, 2001, p.

335).

Dessa forma, esta pesquisa enfatiza a importância das práticas culturais de

colaboração e interação nos contextos educacionais (coletivos), pois a colaboração

envolve uma atitude mediada (interação) entre sujeitos em relação a seu objeto.

Destacamos, com igual importância, a coletividade, também crucial para a

compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento na abordagem histórico-

cultural.

Vigotski afirma que formas inferiores de colaboração, como as propiciadas em

ambientes segregativos e que não oferecem possibilidades de avanço em seus níveis

de desenvolvimento e de conduta social, determinam um desenvolvimento incompleto

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do aspecto social do comportamento e das funções psíquicas superiores, que se

estruturam no curso desse desenvolvimento (VYGOTSKI, 1997).

Com alicerce no conceito de que as interações e as mediações propiciadas na

coletividade pela colaboração são determinantes para o resultado do desenvolvimento

do sujeito, transpomos, nesta pesquisa, o sentido de colaboração como fator de

desenvolvimento e, em similitude, do desenvolvimento do trabalho pedagógico, devido

à colaboração entre os professores da educação comum e especial.

O trabalho colaborativo, pela perspectiva histórico-cultural, também encontra

fundamento na ideia de que atividades de planejamento, de ensino e de avaliação,

realizadas conjuntamente, oferecem vantagens que não seriam possíveis quando

realizadas individualmente (VIGOTSKI, 1998). Trata-se da articulação de saberes e

da combinação de habilidades entre os professores das duas esferas (MARIN;

BRAUN, 2013, p. 53). Sob essa perspectiva, na prática pedagógica, os professores

“[...] compartilham as decisões tomadas e são responsáveis pela qualidade do que é

produzido em conjunto, conforme suas possibilidades e interesses” (DAMIANI, 2008,

p. 214).

Logo, as relações decorrentes do trabalho colaborativo entre professores

permitem o desenvolvimento e o compartilhamento de conhecimentos e experiências,

que, segundo Nono e Mizukami (2001), favorecem o desenvolvimento da destreza na

análise crítica, na resolução de problemas e na tomada de decisões. Reiteramos,

assim, a sua importância para a transformação das práticas pedagógicas atuais com

vistas a inclusão dos estudantes com deficiência no ensino regular.

Para resumir, em analogia à ideia de que com “[...] o auxílio de uma outra

pessoa, toda criança pode fazer mais do que faria sozinha [...]” (VIGOTSKI, 1998, p.

129), acredita-se que, com o auxílio de outro(s) professor(es), todo professor pode

fazer pela criança com deficiência e pelos demais também, mais do que faria sozinho.

Nesse processo de trabalhar colaborativamente, usando a mediação como

ferramenta e tencionando o avanço dos níveis de desenvolvimento potencial e real do

estudante com deficiência, faz-se basilar a avaliação da aprendizagem – outro

elemento fulcral para a compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento,

consoante aos pressupostos vigotskianos. Vygotski (2007, p. 102) anuncia que “[...] o

bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento” e, para isso,

o processo avaliativo caracteriza-se como elemento precípuo.

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A escola, via de regra, trabalha com o conhecimento real dos estudantes e,

assim sendo, avalia meramente o conhecimento retrospectivo. Uma vez que Vigotski

enfatiza a importância da ZDP para a aprendizagem e destaca o papel da mediação

e da colaboração no processo de aquisição de conceitos, ele defende, dessa forma,

a avaliação dialética, que se expressa por meio da reorganização constante dos

conceitos em uma dada estrutura conceitual, em que é possível analisarem-se

avanços e retrocessos na aprendizagem e no desenvolvimento (VIGOTSKI, 1998;

2007). A esse respeito, Vieira e Sforni (2010), referindo-se às contribuições de

Vigotski, declaram que a avaliação é necessária para verificar se o sujeito estabeleceu

relações com outros conceitos na apropriação de um conceito determinado.

Sendo sempre uma síntese cuja base é a análise, pois “[...] para poder efetivar

sua apreciação devem analisar e relacionar as dimensões do conteúdo aprendido à

sua visão inicial a fim de realizar sua síntese” (GASPARIN, 2011, p. 1981), a avaliação

na abordagem histórico-cultural precisa reestruturar-se na escola inclusiva. O autor

sustenta que

[...] as formas de avaliação, na linha de pensamento da pedagogia histórico-crítica, não se referem apenas aos educandos, mas envolvem também o professor que, continuamente, é avaliado e faz avaliação dos alunos. Por outra parte, tornou-se claro que o processo pedagógico se inicia pela avaliação e não pelo ensino, dando origem a um novo processo metodológico de trabalho docente-discente: avaliação, ensino-aprendizagem, avaliação. (GASPARIN, 2011, p. 1973).

Depreende-se, a partir dessa breve interpretação a respeito da avaliação na

perspectiva defendida por Vigotski, que a natureza e a qualidade das relações

(pessoais e pedagógicas) entre professor e estudante ajudam a determinar o tipo de

avaliação que se realiza com alunos com deficiência.

Aqueles que se propõem a realizar sua prática pedagógica a partir da visão de

que o “[...] nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental

retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o

desenvolvimento mental prospectivamente” (VYGOTSKI, 2007, p.98), são capazes de

realizar uma avaliação que privilegie o processo de aquisição de conceitos e de

conhecimentos pelo estudante, em detrimento daquela avaliação que apenas verifica,

afere uma nota ou conceito do nível de desenvolvimento real que o estudante já tinha.

São capazes, assim, de acompanhar mais justamente os avanços do estudante ao

longo do seu percurso de escolarização.

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2.1.1 A pesquisa qualitativa

Para a realização desta pesquisa, foram definidas as premissas da abordagem

qualitativa e, como proposta de investigação, a pesquisa colaborativa. A pesquisa

qualitativa, segundo Stake (2011, p. 21), baseia-se “[...] principalmente na percepção

e na compreensão humana [...]” e tem como características ser “[...] interpretativa,

experiencial, situacional e personalística” (STAKE, 2011, p. 25), características que

fundamentam a opção por tais determinações metodológicas.

Essa escolha para fundamentar os percursos metodológicos no presente

estudo deu-se em função de um levantamento preliminar junto a um grupo de

professores e equipe pedagógica. Buscamos desvelar suas experiências de ensino

junto a estudantes com deficiência e, ao interpretarmos seus conhecimentos e suas

práticas cotidianas, detectamos aspectos fundamentais que embasaram a intenção

inicial de construirmos juntos uma alternativa que potencializasse a aprendizagem dos

estudantes.

A condição de pesquisa qualitativa foi escolhida por ajustar-se às intenções da

investigação em que se buscou abordar o fenômeno social estudado, como declara

Barbour (2009, p. 12), “lá fora”, em contexto não especializado de pesquisa como um

laboratório e por meio da análise de experiências, exame de interações e

comunicações e da investigação da forma como as pessoas constroem o mundo à

sua volta.

Esse “lá fora” constituiu-se no espaço natural em que acontece o fenômeno

estudado, nesse caso, a prática pedagógica de professores desenvolvida com

estudantes com deficiência em uma escola pública paranaense. Interessou-nos

investigar as ações, os conhecimentos e as práticas dos professores que atuam no

ensino comum e dos professores do ensino especializado. O intuito foi apurar como

esses sujeitos constroem suas relações e como ocorrem seus olhares e fazeres sobre

e no processo de aprendizagem dos estudantes público-alvo da Educação Especial.

Com embasamento em Barbour (2009), destacamos sua consideração

pertinente ao asseverar que:

A pesquisa qualitativa se abstém de estabelecer um conceito bem definido daquilo que se estuda e de formular hipóteses no início para depois testá-las. Em vez disso, os conceitos (ou hipóteses, se forem usadas) são desenvolvidos e refinados no processo de pesquisa. (BARBOUR, 2009, p. 13).

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Corroborando a opção pela pesquisa qualitativa colaborativa, a pesquisadora

considera fundamental essa opção pois lhe permitiu uma atuação concomitante nos

campos da pesquisa e da formação, imbricados na inter-relação entre os

participantes. Conforme propõe Bandeira (2016a), a colaboração no campo da

pesquisa tem o sentido de “[...] pensar-agir para criar possibilidades de

compartilhamento das ideias, percepções, representações e concepções, com o

propósito de criar condições de questionar, negociar e reelaborar” (BANDEIRA,

2016a, p. 25).

Nesse sentido, assevera a pesquisadora que a proposição da pesquisa

colaborativa favorece os objetivos propostos para o estudo, pois os professores

participantes, que são também “[...] sujeitos da história que constroem no

desenvolvimento da atividade docente [...]” (FERREIRA; IBIAPINA, 2011, p. 122), no

decorrer do processo investigativo, enriqueceram a pesquisa com contribuições,

conhecimentos e práticas que também subsidiaram os debates, as reflexões e as

análises sobre o PEI para estudantes com deficiência inseridos em classes de ensino

comum. Consideramos que o trabalho prático foi desenvolvido, mais especificamente,

sobre o desempenho de uma estudante com deficiência, discente em comum a todo

o grupo e tomada como referência e parâmetro para estudos, discussões, reflexões e

atividades na pesquisa.

Ibiapina, Bandeira e Araújo (2016, p. 34) afirmam que a pesquisa colaborativa

tenta solucionar problemas e proporcionar aos professores informações que permitam

a transformação da cultura docente. Dessa forma, a escolha para realizar a pesquisa

por meio de procedimentos de formação continuada dos professores participantes, no

que tange aos assuntos subjacentes ao tema de pesquisa em co-produção dos

saberes, na perspectiva da pesquisa-formação, foi privilegiada. Como unidade da

pesquisa colaborativa, Bandeira (2016b) destaca:

De modo particular, a investigação colaborativa privilegia a unidade pesquisa-formação, cujo traço mediador é a reflexão crítica que, partindo das necessidades existenciais dos participantes, cria as condições para trazer à tona as contradições, desencadeando conflitos, preocupações, dificuldades e, em decorrência, possibilidades são geradas no movimento interdependente de pesquisa-formação [...]. (BANDEIRA, 2016b, p. 66).

Durante todo o processo da formação, os professores inseridos como sujeitos

participantes da pesquisa-formação contribuíram com relatos e discussões sobre suas

práticas, suas vivências e seus conhecimentos. Eles constantemente levantaram

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questionamentos, trocaram informações e dados, instigando o debate, as análises e

as reflexões sobre o planejamento e a aprendizagem do estudante com deficiência

em suas turmas. Dessa forma, eles colaboraram para o delineamento e a construção

do instrumento desígnio da pesquisa, o PEI.

2.1.1.1 A PESQUISA-FORMAÇÃO

A pesquisa-formação, como unidade da pesquisa colaborativa, permitiu a

pesquisadora atuar, ao mesmo tempo, nos campos da pesquisa e da formação

docente. Bandeira assevera que, na pesquisa colaborativa,

[...] diagnosticamos necessidades sócio-históricas, filosóficas, psicológicas, entre outras, e criamos as condições para manifestações dos conflitos, das contradições e, por meio da colaboração e da reflexão crítica, privilegiando a zona de confronto, nas quais crenças e concepções são desestabilizadas. Em decorrência, possibilidades são geradas na reelaboração do pensamento-ação. (BANDEIRA, 2016b, p. 65).

A pesquisa-formação foi planificada e estruturada com a definição dos temas

de estudo em coerência com o objeto de investigação. Os temas foram destacados

em eixos norteadores das discussões, ilustrados na Figura 3 mais adiante, e de acordo

com o cronograma de formação apresentado no Quadro 1 que segue. Nele,

apresentamos os eixos e as datas dos encontros de cada um e da experimentação do

instrumento.

Os encontros aconteceram em salas do colégio participante da pesquisa,

sempre no período da manhã, que era o turno de trabalho dos professores, além de

ser o turno de aulas da turma em que foi escolhida uma estudante para referência

para as investigações.

Quadro 1 - Cronograma da formação

EIXO DA FORMAÇÃO ENCONTROS

ORDEM DATA

Eixo 1 – Diagnóstico 1º 14/11/2017

2º 17/11/2017

Eixo 2 – Análise crítica 3º 21/11/2017

4º 29/11/2017

Eixo 3 – Proposição 5º 11/12/2017

6º 19/12/2017

Encontro para confirmar a validade o instrumento 12/07/2018

Fonte: Elaborado pela autora com base na programação e na realização da formação.

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A pesquisa-formação foi organizada em seis encontros presenciais de quatro

horas e outras seis horas de estudos a distância. Houve a realização de atividades

práticas na sala de aula, nas disciplinas de responsabilidade de cada um dos

professores8 e nas quais a estudante tomada como referência para o estudo estava

matriculada. Tais estudos e atividades tinham o propósito de produzir saberes e

referenciais teórico-metodológicos que subsidiassem a investigação dos processos de

ensino e aprendizagem da estudante com deficiência tomada como referência, tanto

na sala de ensino comum como no AEE, e que possibilitassem a construção co-

participativa do protocolo de PEI, a partir de práticas colaborativas entre participantes

da pesquisa e a pesquisadora.

As atividades a distância constituíram-se em: leitura de textos selecionados

para cada uma das etapas9; atividade de Observação de uma aula de cada disciplina

e do AEE, com registro na Escala Leuven de Avaliação do Nível de Envolvimento da

criança na Atividade10 (LAEVERS, 2014), adaptada para tal fim e que, doravante, será

sempre mencionada como Escala de Envolvimento, no momento do Diagnóstico;

leitura de textos sobre os temas em questão no momento da Análise crítica; e leitura

e preparação para a estruturação do modelo de PEI no momento da Proposição.

O trabalho proposto para a formação envolveu três momentos distintos, que se

nutrem mutuamente: diagnóstico, análise crítica da situação e ação/decisão

(BOTERF, 1999). Na Figura 3, sintetizamos os eixos da formação.

8 Para fins de objetividade na escrita, todas as vezes que os textos desse relato se referirem aos professores participantes da pesquisa, estará se referindo a todo o grupo, ou seja, professores do ensino comum participantes, professora de SRM e professores de apoio educacional especializado participantes e pedagogas (coordenadoras pedagógicas) participantes. 9 Os textos foram estudados em três momentos, antecedendo o encontro inicial de cada etapa. Eles se encontram referenciados mais adiante, ao detalharmos cada um deles. 10 A Escala de envolvimento é constituída por uma lista de nove sinais característicos do envolvimento: concentração, energia, complexidade e criatividade, expressão facial e postura, persistência, precisão, tempo de reação, comentários verbais e satisfação; e por uma escala de cinco pontos que mensuram o envolvimento do nível 1 ao nível 5, sendo 1 para o menor nível, ou ausência, de envolvimento, e 5 para o maior nível, ou envolvimento total, na atividade.

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Figura 3 – Eixos da formação

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.

Simbolicamente, as engrenagens postas na Figura 3 representam o

encadeamento dos eixos para estruturação crescente dos tópicos e dos

conhecimentos trabalhados na formação com vistas ao alcance do objetivo principal:

a elaboração colaborativa do Protocolo de um PEI como instrumento de

potencializador da aprendizagem de estudantes com deficiência.

Desse modo, para a etapa do diagnóstico, consideramos a seguinte questão:

O que nós conhecemos sobre nossa estudante com deficiência? Na etapa da análise

crítica, indagamos: Quais os instrumentos que existem para avaliá-la? Qual a análise

crítica que podemos fazer do plano de atendimento educacional existente? Quais as

possibilidades de redimensionarmos o olhar sobre a aprendizagem? Finalmente, na

etapa da proposição, a questão norteadora foi: Que conceitos, critérios e práticas

devem ser levados em conta na construção mediada e colaborativa de um instrumento

comum, que contemple tanto o processo quanto o resultado da aprendizagem da

estudante?

Essas questões, descritas na sequência, definiram o processo de produção do

PEI e foram alimentadas pelo estudo de referenciais teóricos, notadamente de

pesquisas realizadas sobre os temas em debate, conforme explicitado na Introdução

desta tese. Foram utilizados instrumentos de observação da aprendizagem, com

destaque para a aplicação da Escala Leuven de Avaliação do Nível de Envolvimento

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da criança na Atividade (LAEVERS, 2014) e desenvolvimento de atividades práticas

nas salas de aula.

Detalhamos, a seguir, o roteiro de discussão pautado nos três momentos

anteriormente citados e que se constituem nos três eixos da formação: diagnóstico,

análise crítica e proposição. Iniciamos com a pergunta norteadora, apresentadas

anteriormente, e, em seguida, esmiuçamos cada encontro da formação de cada eixo.

Começamos, assim, com o detalhamento do Eixo 1 – diagnóstico (Figura 4).

EIXO 1 - DIAGNÓSTICO

Figura 4 – Detalhamento do Eixo 1 – Diagnóstico

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.

· O diagnóstico: o que conhecemos sobre nossa estudante com

deficiência?

Não há como falarmos em aprendizagem sem estabelecermos estreita relação

com o planejamento da ação pedagógica. É o planejamento que orienta a ação

docente. É a partir dele que propomos os caminhos que pretendemos que o estudante

percorra.

Com base nesse pressuposto, e após a leitura dos textos selecionados11 para

esta etapa, professores e pesquisadores se colocaram a conhecer a estudante com

11 a) HOSTINS, Regina Celia Linhares; SILVA, Cristiane da; ALVES, Adriana Gomes. Coletividade, colaboração e experiência: pressupostos para a inclusão escolar e a aprendizagem de alunos com deficiência intelectual. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 17, p. 159-176, 2016. b) SILVA, Cristiane da; HOSTINS, Regina Célia Linhares; MENDES, Regina da Silva. O lugar do Atendimento Educacional Especializado nas práticas culturais de escolarização em contextos de inclusão escolar. Revista Linhas, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 10-29, set./dez. 2016.

Eixo 1 - Diagnóstico

Identificar o que os professores conhecem sobre a estudante com

deficiência.

Mapear as principais neces-sidades da estudante a partir da

observação realizada.

Conhecer a relação entre profes-sores do ensino regular e do AEE.

Experiências e Relação Ensino Regular e Especializado

Aplicação da Escala de Envolvimento; PADLET

Estudos presenciais e a distância

Observação e discussão sobre:

Aluno com Def.

e a classe

Relação Prof. do Ensino

Regular e AEE

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quem trabalhavam. Foi preciso que professores do ensino comum e da Educação

Especial discutissem suas visões sobre Joana12 e identificassem outras formas de

olhar sobre ela. No que é atribuível à aprendizagem do estudante com deficiência no

contexto da escola comum, Freitas (2013, p. 81) considera que “[...] muitas crianças e

adolescentes são recebidos como se estivessem desprovidos completamente de algo

que é essência da pessoa, ou seja, sua condição de sujeito aprendente”.

Ao entenderem que os estudantes com deficiência que entram na sala comum

apresentam uma história de possibilidades, a primeira etapa do processo de

discussão do instrumento comum de avaliação foi descobrir que histórias esses

sujeitos têm. Para isso, no primeiro eixo da formação voltado ao diagnóstico, as

discussões centraram-se sobre o modo como a estudante tomada como referência e

parâmetro para os estudos se colocava nos grupos escolares a que pertencia, como

interagia com professores e colegas, como os professores e colegas interagiam com

ela, como lidava com o conhecimento, o que demonstrava conhecer e qual seu nível

de envolvimento nas atividades. Essas discussões buscavam ainda mapear as

principais necessidades da estudante e conhecer o nível de interação entre os

professores do ensino comum e da Educação Especial.

Desse modo, o foco foi conhecer juntos a estudante tomada como referência

da pesquisa e identificada, neste relato, como Joana, assim como chegar a um

entendimento sobre o que ela conhecia e o modo como aprendia. Nessa experiência

conjunta, professores aproximaram-se do conhecimento sobre a estudante e dos

percursos que fazia para aprender.

Ao aplicarmos a Escala de Envolvimento (LAEVERS, 2014), adaptada para a

pesquisa, os professores perceberam os níveis de envolvimento de Joana em

diferentes atividades. As discussões sobre o diagnóstico possibilitaram aos

professores uma reflexão sobre as diferentes manifestações da estudante na sala de

aula comum e na sala do AEE. Por esse motivo, a partir do observado, a formação foi

direcionada, ao pensar e ao agir dos professores em relação à estudante com

deficiência. Nesse momento, todos os professores, juntos, do ensino comum e da

Educação Especial, passaram a olhar Joana e, também, seus demais estudantes sob

outra perspectiva. Eles refletiram sobre suas práticas e seus posicionamentos em

12 Joana é um nome fictício dado à estudante tomada como referência para as investigações da pesquisa. A estudante será assim identificada por questões éticas.

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diferentes contextos, sobre o processo de ensino e aprendizagem nesses espaços e

sobre possibilidades outras de avaliação de seus estudantes.

· Detalhamento dos encontros do Eixo 1

O encontro iniciou com as boas-vindas e agradecimento pela presença e pela

participação de todos pela pesquisadora. Passamos, então, a uma apresentação

informal de cada participante e à apresentação da programação e da metodologia da

formação.

Foi explicado aos participantes que a estudante com deficiência, que, nesta

pesquisa e em seus relatos seria chamada de Joana por questões éticas, serviu como

referência para a escolha dos participantes da pesquisa. Foi explanado que ela estaria

vinculada a todo o processo de formação apenas como referência e modelo/parâmetro

das características de uma estudante com deficiência; assim, os estudos e as

investigações da pesquisa não seriam sobre esta estudante, mas ela seria um ponto

de partida para as reflexões de como acontece a aprendizagem e como podemos

direcionar as estratégias de ensino, aprendizagem e avaliação de estudantes com

deficiência.

Após esse esclarecimento, foi apresentado ao grupo o perfil dos participantes,

desvelado pelo questionário respondido anteriormente por todos. Seguindo adiante,

os objetivos e os propósitos da pesquisa foram apresentados para que todos

pudessem, então, começar as atividades programadas para o encontro e as reflexões

a partir dos textos que todos já haviam lido previamente.

Assim sendo, este primeiro encontro teve como objetivo identificar o que os

professores conheciam da estudante tomada como referência e modelo para o estudo

partindo da sua observação. Eles refletiram, então, sobre as seguintes questões:

a) Como a estudante se coloca no grupo?

b) Como interage com colegas e professores?

c) Como os colegas e os professores interagem com ela?

d) Como ela lida com o conhecimento?

e) O que ela demonstra conhecer?

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f) Qual o nível de envolvimento nas atividades?

Para encaminhar as discussões e as reflexões, foi usado como recurso o

aplicativo Padlet13, que permitiu serem realizados os registros das opiniões e das

respostas das questões “a” a “e” de cada participante, concomitantemente às

reflexões no coletivo.

Após um breve intervalo, o foco das discussões ainda foi o perfil de Joana e

como ela se apresentava nas aulas de cada disciplina e na Sala de Recursos

Multifuncionais, a partir da questão “f” de reflexão para o encontro. O recurso

orientador das discussões e das reflexões, nesse momento da formação, foi a Escala

de Envolvimento (LAEVERS, 2014), que todos os participantes tiveram acesso

previamente para observação de Joana durante suas aulas, com o devido registro dos

níveis de envolvimento da estudante em sua aprendizagem nas aulas observadas.

Para a atividade, os participantes reuniram-se em duplas, discutiram e

sintetizaram suas observações em uma ficha da Escala de Envolvimento adaptada

para esta pesquisa e elaborada para esse fim (Apêndice B). A socialização dos

achados da observação pelo grupo ficou programada para o encontro seguinte.

De acordo com o combinado e proposto no início da pesquisa, os resultados

das discussões do primeiro encontro foram sintetizados e apresentados a todos para

avaliação e retomada do tema de discussão no primeiro momento do encontro para

sua finalização.

As discussões e a socialização das observações sobre os níveis de

envolvimento de Joana em sua aprendizagem foram socializadas por disciplina.

Nesse sentido, a pesquisadora também realizou a observação da estudante em uma

13 Padlet trata-se de “[...] um site da Internet que permite que você colabore com outros usuários, fornecendo textos, fotos, links e outros conteúdos. Cada espaço colaborativo é chamado de ‘mural’, podendo ser usado como um quadro de avisos particular. Professores e empresas utilizam o Padlet para encorajar conversas criativas multimídia e brainstorming. (WIKIHOW, 2017, n.p., grifos do autor). “A linha de raciocínio no uso do padlet se aproxima do modo de utilização da enciclopédia livre – wikipedia, que se aproxima da ferramenta wiki, ferramenta utilizada na plataforma moodle, locus de desenvolvimento da modalidade de educação a distância”. (SILVA; DUARTE, 2018, p. 7, grifos dos autores).

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aula de cada disciplina e pelo tempo referente a duas aulas na Sala de Recursos

Multifuncionais. A pesquisadora, por meio dos registros de sua observação no mural

do Padlet, socializou, juntamente ao professor de cada disciplina, os achados de suas

observações, preenchendo o quadro da Escala de Envolvimento com os sinais e os

níveis de envolvimento de Joana na aprendizagem nos momentos observados. Essa

atividade esteve voltada ao segundo objetivo do eixo Diagnóstico que foi mapear as

principais necessidades da estudante a partir da observação realizada.

Encerradas as reflexões sobre o envolvimento da estudante em sua própria

aprendizagem, as discussões e as reflexões do encontro se voltaram para o terceiro

objetivo do eixo Diagnóstico, ou seja, conhecer a relação entre professores do ensino

regular e do AEE.

A partir da leitura dos textos desta etapa e já realizada antes do primeiro

encontro, as reflexões sobre a relação entre professores do ensino regular e

professores do AEE foram se dando no grande grupo de forma síncrona, com o

objetivo de relacionar essas reflexões com as respostas no Padlet das seguintes

questões de discussão:

a) Em que aspecto o trabalho do professor do ensino regular contribui para o seu

trabalho?

b) Em que aspecto o trabalho do professor da SRM contribui para o seu trabalho?

c) Em que aspecto o trabalho do Professor de Apoio Educacional Especializado

contribui para o seu trabalho?

d) Nomeie momentos importantes em que haja interação entre vocês.

As reflexões, nesse momento, deram-se em torno da relação entre os

professores do ensino comum e do especializado, tendo como eixo para as

discussões a coletividade, o trabalho colaborativo e a mediação.

Na sequência, foi realizado um intervalo e, no retorno, as discussões foram

conduzidas pela pesquisadora para as Políticas de Educação Especial. Foi

apresentado para o grupo as legislações nacionais e estaduais que orientam o

trabalho pedagógico do AEE, o planejamento e a própria inclusão escolar. Para o

encontro seguinte, os professores tinham como tarefa elaborar slides com uma

síntese dos textos lidos, agregando o que consideravam relevante nos textos legais

apresentados e para releitura em casa. A seguir, tratamos do detalhamento do Eixo 2

– análise crítica (Figura 5).

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EIXO 2 – ANÁLISE CRÍTICA

Figura 5 – Detalhamento do Eixo 2 – análise crítica

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa

· Quais as possibilidades de redimensionar o olhar sobre a aprendizagem?

No segundo momento da formação, o foco da discussão e dos estudos

concentrou-se em três eixos: a) a crítica ao modelo instituído de PAEE; b) as

pesquisas sobre outras possibilidades de Plano de Atendimento Educacional; c) as

experiências que movimentam o olhar sobre a aprendizagem.

A análise do Plano de Atendimento Educacional Especializado utilizado no AEE

serviu como referência para que os participantes observassem o modelo instituído,

seus elementos e sua constituição. Nessa atividade, os professores participantes

foram divididos em três grupos menores para que pudessem observar, analisar,

criticar e conversar entre si sobre o PAEE que tinham em mãos. Na divisão dos

grupos, atentou-se para que os professores com formação ou experiência em

Educação Especial ficassem em grupos diferentes, a fim de coordenarem as

discussões junto aos professores do ensino comum de cada grupo.

Para esse exercício de análise do modelo instituído, os professores tiveram

acesso a três outros modelos de PEI (Quadros 6 a 11 do capítulo 3), frutos de

pesquisas publicadas. Esses modelos são apresentados e sua análise está melhor

aprofundada no córpus do capítulo 3 deste estudo, que se compõe, especificamente,

dessa análise. Foi realizada uma análise comparativa desses modelos para identificar

elementos comuns e elementos diferenciados que poderiam vir a fazer parte do

Eixo 2 - Análise crítica

- Analisar a legislação, modelos e pesquisas sobre PAEE e PEI.

- Refinar ideias sobre o trabalho com a estudante.

PAEE: Fundamentos legais, pesquisas e práticas

-Atividade colaborativa;

-Análise de PEIs

- Estudos presenciais e a distância

Observação e discussão sobre:

AEE e Escolari-

zação

Trabalho colaborativo

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modelo a ser construído, com o intuito de melhorar sua funcionalidade e sua

constituição.

Após os encontros voltados à análise do PAEE vigente e da sua crítica, foi

proposto aos professores que realizassem, com Joana, uma atividade de

dramatização em que ela, juntamente a um grupo de estudantes, simulasse alguma

situação cotidiana. Essa atividade teve como propósito levar o grupo de professores

a perceber a necessidade de movimentar e redefinir seus olhares sobre a

aprendizagem. Com o mesmo intuito, foi realizada uma atividade de jogo, denominado

“Base 3”, que exigia a elaboração de conceitos matemáticos de potenciação. Por meio

dessa experiência, os professores puderam perceber que uma mesma atividade gera

modos diferenciados de pensar, de elaborar conceitualmente e de demonstrar o que

aprendeu. A esse respeito, Sforni (2004) afirma que:

Cada sujeito em particular, ao apropriar-se dos instrumentos e signos criados socialmente, reproduz, em nível individual, as formas histórico-sociais da atividade. A apropriação inicial está vinculada à participação do indivíduo na coletividade onde aquele instrumento ou signo é socialmente significativo. Por meio do processo de interiorização a realização da atividade que era coletiva e externa, converte-se em individual, e os meios de sua organização, em internos. (SFORNI, 2004, p. 88).

As experiências que mesclaram a análise crítica de um instrumento de

avaliação (aliada ao estudo e à discussão de pesquisas sobre diferentes tipos de

instrumentos), a aplicação de atividades colaborativas de dramatização com os

estudantes e a vivência pessoal de experiências coletivas de elaboração de conceitos

por meio de um jogo foram profícuas no sentido de movimentar e redirecionar o olhar

dos professores sobre as aprendizagens de seus estudantes, notadamente da

estudante com deficiência que se moldou como referência para os estudos e

atividades da pesquisa. O principal objetivo, nessa etapa, era estudar, refletir,

observar e viver experiências coletivas de colaboração e de análise crítica do ensino

e aprendizagem.

· Detalhamento dos encontros do Eixo 2

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O encontro começou com a retomada do assunto do encontro anterior e

fechamento com tópicos sobre a legislação que embasa a inclusão escolar do público-

alvo. Foi realizada, então, a socialização dos slides preparados pelos professores

sobre os textos lidos e os textos legais estudados no encontro. Após análise da

legislação, iniciada no segundo encontro e concluída nele, as atividades continuaram

para o atingimento do objetivo: analisar a legislação, modelos e pesquisas sobre

PAEE.

Nessa etapa, as discussões foram norteadas pela leitura prévia de dois textos14

e pelas seguintes questões:

a) O que você conhece sobre legislação que embasa a inclusão escolar do

público-alvo da Educação Especial?

b) Um dos aspectos que se evidenciam na legislação é a necessidade de

articulação entre sala regular e AEE. Como acontece e como você avalia isso

na sua escola?

c) A PNEEPEI foi implementada em 2008. São 9 anos. Você já leu ou participou

de algum evento ou leu ou participou de pesquisa de avaliação dessa política?

d) Mendes R. da S. (2016) e Rabelo (2012) indicam que a Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, na prática, requer

repensar a atuação do AEE na relação com a escolarização dos estudantes

com DI. Como você avalia esse posicionamento e como pensa que essa

questão poderia se resolver na prática em sua escola?

Das reflexões advindas da leitura dos textos, emergiram considerações dos

professores participantes sobre as traduções das políticas no âmbito da sala de aula

e que, após as mediações e as reflexões, foram registradas em forma de síntese

coletiva.

Ao direcionar o foco do encontro para o segundo objetivo, que era refinar ideias

sobre o trabalho com a estudante, foi solicitado ao grupo que se subdividisse em três

grupos menores e que, tendo na sala três professoras de Educação Especial, cada

uma delas ficasse em um grupo diferente para dar seguimento à atividade, a qual

14 a) BRAUN, Patricia; MARIN, Márcia. Ensino colaborativo: uma possibilidade do Atendimento Educacional Especializado. Revista Linhas, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 193-215, set./dez. 2016. b) MENDES, Eniceia Gonçalves; TÁNNUS-VALADÃO, Gabriela; MILANESI, Josiani Beltrami. Atendimento educacional especializado para estudante com deficiência intelectual: os diferentes discursos dos professores especializados sobre o que e como ensinar. Revista Linhas, Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 45-67, set./dez. 2016.

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consistia na leitura e na análise de modelos de planos de atendimento educacional

especializado para análise comparativa entre os elementos estruturantes e a dinâmica

de uso entre o PAEE instituído na escola e o outro modelo existente

Cada grupo ficou com o modelo do PAEE instituído no estado do Paraná para

as escolas públicas e um outro modelo de plano educacional já validado por

pesquisas. O objetivo foi observar e analisar os aspectos estruturantes e os elementos

que eram ou não eram contemplados em cada modelo recebido. As análises

comparativas de cada grupo foram registradas por seus componentes em planilha

elaborada pela pesquisadora para esse fim e que se encontra no Apêndice C desta

pesquisa.

A análise comparativa e as discussões em grupo perduraram até o meio da

manhã. Após o intervalo, foi realizada a socialização das observações de cada grupo

com seus achados registrados na planilha elaborada para a atividade, para servirem

de material de apoio na futura elaboração do protocolo proposto como parte da

formação. As análises da atividade e os modelos analisados fazem parte, como já

mencionado anteriormente, do córpus do terceiro capítulo deste estudo.

Como compromisso para o próximo encontro, foi proposto aos professores que

realizassem uma atividade de faz-de-conta em grupo, envolvendo Joana. Essa

atividade teve por objetivo simular uma situação real em que Joana participasse e

assumisse o papel de sujeito na atividade, de modo a expressar-se por intermédio da

dramatização para que os professores pudessem observar como Joana se envolve,

participa e se expressa. O objetivo foi levá-los a movimentar seus olhares sobre a

forma como ela aprendera.

O grupo planejou como seria a dramatização a ser realizada com os estudantes

da turma em que Joana estava matriculada. A professora de português ficou

responsável por organizar a dramatização e escolher os estudantes que fariam parte.

A professora de apoio educacional especializado de Joana ajudou com a

memorização de suas falas e sua participação. Os demais professores organizar-se-

iam em seus horários para estarem presentes no momento da realização. A

pesquisadora foi avisada com antecedência para também estar presente.

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O encontro iniciou com a retomada do assunto do encontro anterior para a

realização da avaliação das discussões e das reflexões realizadas, conectando-as aos

textos já estudados e ao cerne da análise crítica da prática pedagógica que se realiza

com estudantes com deficiência. Ainda com o foco no objetivo – refinar ideias sobre o

trabalho com a estudante –, as reflexões voltaram-se à atividade de dramatização que

foi realizada com Joana.

Devido ao tempo escasso para a sua realização (era período de final de ano

letivo em que os professores se apressavam em realizar e corrigir as avaliações finais

para fechamento de notas e resultados), o grupo optou e organizou-se para realizar

uma única atividade de dramatização em horário que o máximo de participantes da

formação pudessem estar presentes e observar o desempenho de Joana.

Esta atividade teve como finalidade deixar emergir, no grupo, situações reais

em que Joana agiria e reagiria autonomamente, de modo a demonstrar seus níveis

de envolvimento, de capacidade de interação e de reação, e os caminhos que faz para

aprender.

Nas discussões e nas reflexões sobre essa atividade, os professores

participantes tiveram a oportunidade de associar os conhecimentos adquiridos nos

textos com o desempenho da estudante na dramatização e refletir sobre suas práticas

pedagógicas com estudantes público-alvo da Educação Especial.

Na sequência, a pesquisadora encaminhou uma nova atividade que levasse à

reflexão do trabalho com estudantes com deficiência. Foi proposto, ao grupo, que

novamente se subdividissem em grupos de três para realizarem o jogo Base 315, cuja

meta era que os professores percebessem que cada indivíduo tem uma forma de

pensar, de operar e de registrar o que pensou; assim, permite-se “[...] identificar, de

imediato, processos de elaboração conceitual dos sujeitos” (HOSTINS; JORDÃO,

2014, p. 11).

15 Base 3 é um jogo variante do jogo Base 10, em que: “A cada três círculos vermelhos troca-se por um quadrado azul; a cada três quadrados azuis troca-se por um triângulo verde, a cada três triângulos verdes troca-se pelo retângulo branco e se ganha o jogo” (HOSTINS; JORDÃO, 2014, p. 11).

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Após a vivência do jogo, discussão e reflexão sobre as possibilidades de sua

aplicação com todos os estudantes da turma, sem distinções, foram realizadas

mediações sobre os conceitos e os procedimentos mobilizados. Todos os resultados

registrados deram base para as análises e a discussão sobre práticas pedagógicas

junto a estudantes com deficiência. Os registros permitiram ainda que cada professor

fosse capaz de perceber as diferenças de construção do pensamento, do

conhecimento e da estruturação do registro feito pelos componentes do mesmo grupo

e dos demais grupos. Aflorou, assim, a percepção de que cada um aprende de um

jeito.

Durante todo o encontro, as mediações realizadas pela pesquisadora eram

associadas ao objetivo principal da formação, a fim de que os participantes fossem,

aos poucos, tecendo ideias e conhecimentos para a estruturação do Protocolo de PEI.

Após a mediação com a catarse das dificuldades enfrentadas por todos em

suas práxis, e que afloraram após a desacomodação de pensamentos e de condutas

causada pelos conhecimentos adquiridos até então, na formação, retomou-se o uso

do Padlet para registro das sínteses dos dois encontros do segundo eixo, com a

finalidade de elaborar um painel coletivo sobre o refinamento de ideias sobre a prática

pedagógica com estudantes com deficiência (Figura 6).

Figura 6 – Síntese das reflexões do grupo de participantes no Eixo 2 da pesquisa-formação

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

A seguir, o detalhamento do Eixo 3 – proposição e seus objetivos (Figura 7).

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EIXO 3 – PROPOSIÇÃO

Figura 7 – Detalhamento do Eixo 3 – Proposição

Fonte: Elaborada pela autora para fins de pesquisa.

· Que conceitos, critérios e práticas devem ser levados em conta na

construção mediada e colaborativa de um instrumento comum de

avaliação?

Após discussão e análise de quatro modelos de Planos de AEE, cujas

nomenclaturas variavam de acordo com autores e natureza de estudos, estruturou-se

coletivamente o Protocolo do Plano Educacional Individualizado pelos professores do

ensino regular e especial. Mais do que ser elaborado coletivamente, trata-se de um

instrumento mediado e colaborativo em que professores observam, registram,

descrevem, planejam e avaliam a aprendizagem do estudante como um todo, sem

compartimentar seus avanços e suas aprendizagens por disciplinas ou áreas.

Após essa etapa de formação, apresentou-se aos professores a proposta de

experimentação do PEI por eles elaborado, o que foi aceito pelo grupo. O

instrumento/protocolo foi disponibilizado em um serviço de armazenamento e

sincronização de arquivos na internet de forma que todos os participantes da pesquisa

pudessem acedê-lo a qualquer tempo e lugar.

A experiência com o instrumento de escolarização com a própria estudante

tomada como referência teve como objetivo experimentá-lo e avaliá-lo, assim como

avaliar a sua efetividade e a sua contribuição na aprendizagem da estudante.

Uma vez que essa etapa ocorreu em período letivo seguinte ao da formação

continuada, seis novos professores passaram a ser docentes da estudante. A esses

Eixo 3 - Proposição

- Elaborar um PEI colaborativo e

mediado.

PEI: Colaboração e mediação como novas possibilidades

- Elaboração do PEI

- Estudos presenciais e a distância

Observação e discussão sobre:

Elaboração conceitual

Mediação

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professores foi feito o convite para participação desta etapa da pesquisa, cabendo-

lhes experimentá-lo como documento institucional e, após o período determinado,

avaliá-lo juntamente aos demais, porém somente quatro deles aceitaram participar da

pesquisa.

O encontro para a avaliação do instrumento ocorreu após o período de um

trimestre letivo, já no ano seguinte e no próprio colégio. As reflexões e a avaliação

realizada pelos professores foram devidamente registradas em áudio, transcritas, e

fazem parte do capítulo 5 deste estudo.

· Detalhamento dos encontros do Eixo 3

Como nos demais, o quinto encontro iniciou-se com o resgate das principais

reflexões dos encontros anteriores mediadas pela pesquisadora a fim de proceder à

avaliação do que foi visto até o momento, para então introduzir o objetivo do eixo 3

que era: elaborar um protocolo de Plano Educacional Individualizado (PEI), que

tivesse como base o trabalho colaborativo, a mediação e a elaboração conceitual.

A partir dessa rememoração, a pesquisadora trouxe, para o grupo, o livro de

Louis Raths que apresenta a teoria de “Ensinar a pensar” (RATHS et al., 1977). É um

livro clássico da área da didática que expõe formas de ensinar o professor a ensinar

as crianças a pensarem. O livro trata sobre as operações do pensamento que são

também formas de chegar à elaboração conceitual, ao pensamento científico para

estudantes de diferentes níveis cognitivos.

As discussões tiveram base, além do livro de Raths et al. (1977), textos

selecionados16 para este e para o próximo encontro, e como start as seguintes

questões:

16 a) HOSTINS, Regina Célia Linhares; JORDÃO, Suelen Garay Figueiredo. Política de inclusão escolar e práticas curriculares de elaboração conceitual de alunos público-alvo da Educação Especial. Arquivos Analíticos de Políticas Educativas [online], v. 23, n. 28, p. 1-23, 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.14507/epaa.v23.1661. b) OLIVEIRA, Mariana Corrêa Pitanga de; ARAUJO, Daniele Francisco; COSTA LIMA, Marcela Francis; PLETSCH, Márcia Denise. Elaboração e apropriação conceitual na escolarização de alunos com deficiência intelectual. In: PLETSCH, Márcia Denise; MENDES, Geovana Mendonça Lunardi; HOSTINS, Regina Célia Linhares. (Orgs.). A Escolarização de alunos com deficiência intelectual: políticas, práticas e processos cognitivos. São Carlos: Marquezine & Manzini: ABPEE, 2015. p. 55-70.

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a) Que aspectos precisam ser incorporados a um PEI com base no pressuposto

do ensino colaborativo?

b) O que é para você a mediação e como ela pode acontecer?

c) A elaboração conceitual é uma das possibilidades de trabalhar de forma

articulada a aprendizagem dos estudantes. O que você conhece sobre isso e

como ela acontece?

d) Com base nos estudos e nas discussões realizadas, como você estruturaria um

PEI?

Após a retomada e a conexão com os conteúdos abordados anteriormente, a

pesquisadora introduziu a proposta de elaboração do PEI. Retomou, a partir das

reflexões durante os quatro primeiros encontros, quais as características que o plano

a ser elaborado deveria privilegiar:

ü Ser um plano individualizado.

ü Não se tratar apenas de um instrumento de planejamento do que viria a ser ou

seria trabalhado. Trata-se de um plano em que devem constar o que se planeja

para ser realizado, como um plano que registre o que já se fez e que deu

resultados para que assim sirva a outro professor como parâmetro, sugestão,

apoio ou recurso de ensino em sua disciplina.

ü Acompanhar o percurso de escolarização do estudante sem tempo limite para

fechamento ou conclusão.

ü Identificar o que pode ser trabalhado com o estudante a partir de suas

habilidades e potencialidades.

ü Registrar quais as expectativas de aprendizagem que os professores têm para

o estudante.

ü Ter registrado o que o estudante já sabe, a fim de permitir que todos saibam

seu nível de aprendizagem como recurso para as avaliações.

ü Deixar claro que o parâmetro para avaliação da evolução do estudante é

unicamente a sua própria evolução.

ü Trazer as melhores maneiras de trabalhar-se com o estudante; os tipos de

atividades a que ele responde melhor.

ü Considerando as contribuições dadas pelo grupo sobre a realidade nas escolas

públicas paranaenses, de que a família se faz mais ausente do que presente

no processo de ensino-aprendizagem de seus filhos, é preciso que conste, no

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mínimo, o registro das expectativas da família para aprendizagem do

estudante.

ü Ter um formato em que o trabalho colaborativo entre professores do ensino

regular e do especializado possam estar em co-participação em seu

preenchimento, a qualquer tempo e lugar.

A elaboração do protocolo teve, como ponto de partida, a estrutura e a

apresentação do PAEE da Sala de Recursos Multifuncionais, como referência e

diretriz. A partir desse modelo, os professores foram fazendo as inferências que

julgavam necessárias, colocando, retirando e modificando cada item e elemento que

consideravam necessário. As discussões sobre cada item ou elemento foram

mediadas pela pesquisadora e por reflexões contundentes sobre se construir um

instrumento exequível e que se resultasse acessível a todos.

O tempo destinado ao encontro não foi suficiente para a conclusão da

estruturação do novo instrumento, ficando, como atividade para o próximo, fazerem

uma revisitação ao que já tinha sido elaborado, avaliando-o e realizando anotações

sobre o que consideravam que ainda precisava constar nos itens a serem

estruturados.

Ao iniciar o encontro, a pesquisadora agradeceu mais uma vez a

disponibilidade do grupo em participar da formação, pois estava ciente dos

compromissos de todas na última semana de aula do ano letivo.

Ao retomarmos o protocolo em construção, algumas participantes trouxeram

materiais de apoio para a sua elaboração – materiais de uso em suas práticas e que

poderiam auxiliar no direcionamento de itens a constar no protocolo.

Durante as discussões, as reflexões e a elaboração, surgiu uma preocupação

que foi de consenso do grupo: como os professores novos e que não receberam a

formação saberiam como preencher e usar o PEI a seu favor? Desse questionamento

surgiu, então, a sugestão acatada pelo grupo de que houvesse uma espécie de guia

com instruções, com orientações do que deveria ser observado pelos professores no

preenchimento do protocolo.

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Com o protocolo elaborado (Apêndice D), os professores municiaram a

pesquisadora com material e referências do que poderia constar no guia a ser

elaborado, ficando essa tarefa a encargo da pesquisadora. Após conversa com a

direção do colégio durante o intervalo da formação, para solicitação de autorização do

uso do protocolo em formato experimental para a confirmação de sua validade,

decidiu-se, com o grupo, que o guia estaria pronto, disponível e compartilhado com o

grupo no primeiro dia letivo do ano seguinte, para que ele fosse usado desde o

começo das aulas com a estudante Joana que serviu de referência para esta

pesquisa. Ficou definido que o período de experimentação seria o primeiro trimestre

letivo e que a pesquisadora viria até o colégio para conversação sobre o PEI e a

pesquisa com os professores que seriam novos docentes da estudante e que não

participaram da formação.

O encontro terminou com a elaboração do protocolo concluída e um sentimento

de satisfação de todos pelo resultado. A pesquisadora agradeceu a todos pela

colaboração e pelas aprendizagens, reconhecendo o mérito do grupo na realização

da pesquisa. Todos os participantes foram presenteados com o livro A escolarização

de alunos com deficiência intelectual: políticas, práticas e processos cognitivos,

organizado por Pletsch, Mendes e Hostins (2015), as quais apresentam pesquisas a

partir da investigação colaborativa e coletiva.

· DETALHAMENTO DO ENCONTRO PARA CONFIRMAR A VALIDADE DO

INSTRUMENTO ELABORADO (12/07/2018)

Para a confirmação da validade do instrumento após o período de

experimentação (o primeiro trimestre letivo de 2018), foi realizado um encontro com

os participantes da pesquisa em data acessível a maioria deles. Estiveram presentes

11 dos 14 participantes da pesquisa.

A pesquisadora começou com as boas vindas e agradecimento por mais essa

disponibilidade de todos em participarem. Como o tempo disponível era de apenas

uma hora, foi lembrado a todos que era preciso ter objetividade nas discussões e

reflexões, de forma que todo o instrumento e, também, o processo de aprendizagem

da estudante tomada como referência para a pesquisa e para o preenchimento do PEI

fosse avaliado nesse período.

As questões que nortearam as reflexões para confirmação da validade foram:

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a) O formato e a estrutura do Protocolo elaborado se apresentam de maneira

otimizada, viável e acessível a todos?

b) O PEI servirá como um recurso, um apoio ao processo de ensino do professor

ou será apenas mais um “papel a ser preenchido”?

c) O protocolo se traduziu, nesse tempo de experimentação, em um instrumento

potencializador da aprendizagem da estudante tomada como referência?

d) Foi possível constatar avanços em sua aprendizagem com o uso do PEI?

A partir dessas questões, foram revisitados cada um dos itens do protocolo a

fim de se confirmar, ou não, seus enunciados, a disposição de itens e possíveis

alterações que o grupo julgasse necessárias para sua otimização. Ao final das

adequações, o grupo pronunciou-se sobre a validade do instrumento e do papel que

ele poderia representar para a prática pedagógica com os alunos com deficiência em

turmas de ensino comum. O encontro foi encerrado com a expectativa de que o

protocolo viesse a se tornar um instrumento de apoio a todos ao final da pesquisa. O

aprofundamento sobre a experimentação do instrumento constitui-se em parte do

corpus do capítulo 5 deste estudo e, portanto, será apresentado e analisado com mais

detalhamentos na sequência do presente relato.

2.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

Pesquisar a prática pedagógica de professores em atuação pressupõe, além

da reflexão crítica, a inter-relação entre pesquisador e sujeitos. Portanto,

considerando-se que a pesquisa buscou o pensar-agir-refletir (BANDEIRA, 2016a) de

docentes em suas práticas pedagógicas sobre a atuação de uma estudante com

deficiência, seu campo de realização deu-se em um colégio da Rede Pública Estadual

do Paraná, possibilitando a inter-relação necessária entre os atores do processo de

uma pesquisa-formação. Dessa forma, esta subseção discorre sobre o palco em que

se desenvolveu o estudo, seus sujeitos e os procedimentos de coleta e análise dos

dados.

2.2.1 O município de realização

A cidade de Pato Branco, localizada ao sudoeste do estado do Paraná,

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), tem uma

população estimada de 80.710 habitantes. Conta com escolas públicas e particulares

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da Educação Infantil ao Ensino Superior, porém a Educação de Jovens e Adultos

(EJA) era ofertada apenas na Rede Pública Estadual. Como em todo o estado do

Paraná, a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental pertencem ao

sistema público municipal, e o Estado é o mantenedor dos anos finais do Ensino

Fundamental, do Ensino Médio e do Ensino Profissionalizante.

A Rede Municipal de Educação atingiu a média de 7.1 no Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2015, situando-se em 1º lugar no

IDEB do Paraná entre as cidades de médio porte (população entre 50 e 100 mil

habitantes) e em 10º lugar no estado como um todo (INEP, 2016). Já a Rede Estadual

de Educação teve 4.8 como média no mesmo ano (INEP, 2016).

No momento da pesquisa, o município contava com 14 escolas públicas

estaduais de Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Profissionalizante e EJA, e 366

turmas de ensino comum com 8.273 matrículas (PARANÁ, 2018a). Todas as escolas

ofertavam o AEE, com um total de 87 turmas e 303 matrículas (PARANÁ, 2018b).

O município de Pato Branco, no Paraná, foi escolhido para a realização da

pesquisa por ser o município de atuação da pesquisadora e por apresentar uma

experiência consolidada no AEE, a qual requeria, no momento da pesquisa,

avaliações para redimensionamentos pedagógicos necessários, especialmente a

partir do ponto de vista dos professores do ensino comum e do AEE, no tocante à

escolarização de estudantes com deficiência.

2.2.2 Escola participante

O Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira, Ensino Fundamental e Médio,

é o colégio mais antigo de Pato Branco. Foi fundado em 1941 e inaugurado em 3 de

abril de 1943, com 90 alunos, e passou a existir oficialmente por meio do Decreto Nº

1948, de 18 de maio de 1943, como Grupo Escolar Professor Agostinho Pereira.

O Colégio atua nos turnos matutino, vespertino e noturno, oferecendo Ensino

Fundamental, fase II, ou seja, do 6º ao 9º ano, e Ensino Médio. No período noturno, a

instituição oferta somente o Ensino Médio. Iniciou o ano letivo de 2018 com 42 turmas

de ensino comum com 1.186 matrículas, duas salas de recursos multifuncionais Tipo

I – com 33 matrículas, e mais quatro professores de AEE, sendo dois deles docentes

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nas SRM, um como Professor de Apoio Educacional Especializado17 e um intérprete

de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS (PARANÁ, 2018c).

A Educação Especial passou a fazer parte das modalidades ofertadas no

referido colégio em 1988, com uma classe especial para alunos com deficiência

mental. Para acompanhar as mudanças na legislação, o AEE passou a ser ofertado

como Sala de Recursos Multifuncionais para estudantes com deficiência intelectual,

deficiência física neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos

funcionais específicos.

Por ser um colégio situado na área central da cidade de Pato Branco, destaca-

se como um dos maiores, recebendo estudantes oriundos de outros bairros. Na

demanda por procura de matrículas, a escola recebe muitos estudantes com

deficiência ou necessidades especiais, fazendo parte de seu perfil o atendimento a

diversas áreas da Educação Especial. Em contrapartida, a rotatividade de professores

é marcante, dificultando a continuidade ou a manutenção de práticas pedagógicas

com os estudantes com deficiência, a exemplo de muitas escolas de nossa realidade.

Contudo, há um grupo expressivo de professores do quadro permanente de

docentes desse colégio que dão suporte à implementação de práticas, como a

proposta por esta pesquisa, voltadas ao melhoramento da práxis desses profissionais

e que amparam os profissionais novos ou temporários na escola em suas práticas

pedagógicas com os estudantes com deficiência.

2.2.3 Os participantes da pesquisa

Participaram da pesquisa 14 professores da Rede Pública Estadual

paranaense, atuantes no Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira – Ensino

Fundamental e Médio, situado em Pato Branco-Paraná. Desses 14 participantes, 10

colaboraram desde o começo, participando da formação, e outros quatro ingressaram

na etapa de avaliação do instrumento, como será melhor explicitado na sequência.

17 De acordo com a Instrução Normativa N.º 001/2016 – SEED/SUED-PR, Professor de Apoio Educacional Especializado é um profissional com habilitação comprovada para atuar nas instituições de ensino da Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos, da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, para atender aos estudantes com diagnóstico médico de Transtorno do Espectro Autista, com comprovada necessidade relacionada à sua condição de funcionalidade para a escolarização e não relacionada à condição de deficiência, sendo agente de mediação do aprendizado e escolarização.

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Dos 14 participantes da pesquisa, nove eram docentes das disciplinas da matriz

curricular de uma mesma turma do Ensino Fundamental, duas eram pedagogas e três

eram docentes de Educação Especial. A escolha dos participantes deu-se a partir do

seguinte critério: ser professor de estudante com deficiência em uma turma do ensino

comum e frequentando o AEE, além de demonstrar interesse em participar da

pesquisa.

A definição do número de participantes deveu-se ao propósito de trabalhar com

o PEI de forma colaborativa entre professores do ensino regular e AEE que tivessem

um estudante com deficiência em uma de suas turmas de docência, ou seja, que fosse

estudante em comum entre ensino comum e especializado, pois era intento da

pesquisa dialogar com o conhecimento dos professores fruto das relações de ensino-

aprendizagem que tinham com seu(s) estudante(s) com deficiência.

Nesse sentido, escolheu-se, juntamente aos professores do AEE do colégio

mencionado, uma estudante com deficiência que apresentasse significativas

dificuldades na aprendizagem para que servisse como referência para a escolha dos

participantes. Após a verificação de que a referida estudante se encaixava nos

critérios para referenciar a escolha dos participantes da pesquisa e, por conseguinte,

os estudos da formação e coleta de dados, procedeu-se o convite para participar da

pesquisa aos seus professores.

O convite para a participação na pesquisa foi realizado individualmente, pela

pesquisadora. Inicialmente com a professora da Sala de Recursos Multifuncionais

(SRM) em que foi selecionada a estudante que assentou como referência e parâmetro

para o estudo e, em seguida, aos professores do ensino comum, pedagoga

(coordenadora pedagógica) e professora de apoio educacional especializado da

referida estudante. Todos foram consultados pessoalmente, em seus horários de

hora-atividade ou “janela” entre aulas sobre sua disponibilidade e interesse em

participar da pesquisa. Nesse momento, também foram apresentados os objetivos, a

metodologia e os procedimentos da pesquisa pretendida a cada um dos convidados.

Na sequência, foi-lhes entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) (Apêndice E) para leitura e ciência dos preceitos éticos que regem a pesquisa.

Aceitaram o convite sete professores das seguintes disciplinas: Português,

Geografia, História, Matemática, Arte, Ciências e Educação Física, além da pedagoga

e das duas professoras de Educação Especial, constituindo um grupo de dez

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participantes da pesquisa-formação e da construção do instrumento de escolarização,

o Protocolo de PEI, objeto principal do estudo.

Uma vez que a pesquisa iniciou no período letivo de 2017 e seguiu em 2018,

Joana, a estudante tomada como referência para a pesquisa, avançou de série, tendo

então algumas mudanças no quadro de seus professores. Nesse momento, o convite

para participar da pesquisa estendeu-se aos “novos professores” da referida

estudante. Assim sendo, ingressaram, na segunda fase, que é a da experimentação

do instrumento, mais dois professores das disciplinas de Inglês e Geografia, a nova

pedagoga (coordenadora pedagógica) da turma em que Joana estava matriculada e

o novo professor de apoio educacional especializado que lhe acompanharia. Estava

assim formado o grupo dos 14 partícipes da pesquisa.

A fim de conhecer melhor quem eram os participantes da pesquisa, foi entregue

a cada um deles um questionário com questões abertas (Apêndice F) para

levantamento de informações e do perfil. Suas respostas foram compiladas e

organizadas para apresentação neste relato.

Para manter sigilo sobre as informações coletadas no decorrer do estudo,

optou-se por identificar os professores participantes por meio de códigos, sendo “P”

para professor, seguido das letras iniciais de sua disciplina de atuação e, nos casos

em que havia mais de um professor para a mesma área de atuação, após as iniciais

da disciplina, incluiu-se números a partir do 1 (um). O Quadro 2, descreve as

características dos participantes do estudo.

Quadro 2 – Características dos sujeitos participantes da pesquisa

Símbolo do Participante

Gênero Idade Área de atuação Graduação ou

Especialização na área de atuação

Tempo de atuação

(em anos)

PP1 F 57 Pedagoga Graduação e

especialização 20

PLP F 53 Língua Portuguesa Graduação e

Especialização 28

PG1 F 42 Geografia Graduação 6

PHI F 42 História Graduação e

especialização 17

PSRM F 47 Sala de Recursos

Multifuncionais Especialização 28

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PMA F 48 Matemática Graduação e

especialização 16

PEE1 F 62 Professora de Apoio

Educacional Especializado Especialização 42

PAR F 28 Arte Graduação e

especialização 6

PCI F 50 Ciências Graduação e

especialização 27

PEF F 48 Educação Física Graduação e

especialização 21

PIN F 40 Inglês Graduação e

especialização 21

PP2 F 43 Pedagoga Graduação 13

PG2 M 45 Geografia Graduação e

especialização 10

PEE2 M 40 Professor de Apoio

Educacional Especializado Especialização 15

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa.

Conforme o Quadro 2 todos os professores das disciplinas possuíam

Graduação em sua área de atuação e apenas dois não tinham a especialização em

sua área. Já os professores que tinham Graduação em áreas diferentes da sua área

de atuação eram os professores de Educação Especial, mas suas especializações

concerniam a áreas específicas para essa atuação. O grupo de professores

caracterizava-se como um grupo experiente em que a grande maioria (85%) possuía

mais de 10 anos de docência e faixa etária média de 46 anos.

Sobre o perfil profissiográfico para trabalhar com Educação ou Educação

Especial, a pergunta era: “Quais competências docentes você considera necessárias

para atuar na Educação e/ou na Educação Especial?”. Foi possível identificar nas

respostas dadas pelos participantes as seguintes competências: saber ouvir, ter

pensamento crítico, dialogar, estar atualizado, ser pesquisador, autonomia intelectual,

qualificação, comprometimento, competência, respeito às identidades, conhecer o

contexto, diálogo e organização. A Figura 8 ilustra essa categoria.

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Figura 8 - Competências necessárias para atuar na Educação ou na Educação Especial segundo os participantes da pesquisa

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados coletados a partir do questionário respondido

pelos participantes da pesquisa para levantamento do perfil do grupo.

Ao realizarmos a análise das respostas a todas as perguntas do questionário,

foi possível concluirmos que o grupo é experiente com uma média de tempo na

educação superior a 19 anos e com formação em sua área de atuação.

2.2.4 A escolha da estudante referência para a pesquisa

Ao projetarmos a pesquisa, como já mencionado anteriormente, pensamos

como critério de seleção dos sujeitos que fariam parte da investigação a escolha de

um estudante que apresentasse significativas dificuldades na aprendizagem e, por

conta disso, tivesse histórico e documento comprobatório de deficiência, além de estar

matriculado e frequentando o AEE.

Após o primeiro contato com o Colégio participante e com a devida autorização

de seus gestores, a pesquisadora conversou com as duas professoras das salas de

recursos multifuncionais da escola para se realizar uma triagem entre os estudantes

matriculados em suas turmas. Uma vez que todos eles contavam, nesse momento de

triagem, com avaliação psicoeducacional de ingresso na SRM, a escolha deu-se por

uma estudante matriculada no sexto ano do Ensino Fundamental (EF) que, além de

sérias dificuldades de aprendizagem apontadas por seus professores do ensino

comum e pela equipe pedagógica, contava com histórico de deficiência e participação

no AEE em anos anteriores.

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Foi determinante, na seleção da referida estudante para servir como referência

para escolha dos sujeitos a serem convidados para participar da pesquisa e, também,

para moldar-se como referência para os estudos e atividades da pesquisa, o fato de

ela já vir da escola anterior (anos iniciais) com diagnóstico clínico18 de “Deficiência

Intelectual Leve associada ao Transtorno do Espectro Autista Leve” (PALOMBIT,

2017, p. 1). De acordo com a legislação paranaense, o diagnóstico de Transtorno do

Espectro Autista (TEA) permite que o estudante tenha, em seu auxílio, um Professor

de Apoio Educacional Especializado para:

Atuar de forma colaborativa com os professores das diferentes disciplinas, para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso do estudante ao currículo e sua interação com os colegas, desde a promoção de condições de acessibilidade no contexto escolar até as modificações mais significativas na organização da sala de aula, dos materiais e recursos pedagógicos utilizados pelo estudante e pelo professor. (PARANÁ, 2016c, p. 4).

Assim sendo, ainda seria possível convidar, para a participação na pesquisa, o

Professor de AEE que acompanhava a aluna, pois este deveria ser professor de

Educação Especial, já que, no Paraná, esse atendimento é também um serviço de

AEE.

A estudante, que, por questões éticas, está identificada em todos os momentos

desta pesquisa como Joana, iniciou o sexto ano em 2017 sem histórico de

reprovações, mas, de acordo com o Plano de AEE elaborado pela professora da SRM,

se caracterizava como uma aluna que

[...] apresenta defasagem significativa de aprendizagem, encontrando-se na fase de alfabetização. Memória, atenção, concentração, motricidade fina, linguagem e raciocínio lógico (organização do pensamento abstrato) restritos em relação à idade e turma que se encontra. [...] é uma criança tranquila, tímida. Quando conhece o ambiente sente-se à vontade, comunicando-se e compartilhando objetos com os alunos da SRM. Precisa de atenção e auxílio em todas as atividades, demonstrando insegurança na realização das mesmas. (PALOMBIT, 2017, p. 1).

No momento da pesquisa, Joana estava com 12 anos de idade e frequentava,

como já dito, o sexto ano do Ensino Fundamental no turno da manhã e a SRM duas

vezes por semana no período da tarde. Era seu primeiro ano frequentando esse

colégio19 e contava com professor de AEE desde as primeiras semanas, pois veio com

18 É importante ressaltar que este diagnóstico foi dado por médico neurologista e transcrito no PAEE para fins pedagógicos, uma vez que, no Paraná, os alunos de SRM precisam de um laudo com especialista da área investigada para matrícula e ingresso na turma. 19 As escolas e os colégios públicos estaduais paranaenses ofertam os anos finais do Ensino Fundamental, ou seja, a partir do sexto ano e os ensinos médio, profissionalizante e EJA desses níveis,

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as indicações da escola anterior de que fazia parte do público-alvo da Educação

Especial.

2.3 ENTRADA NO CAMPO DE PESQUISA

Após definido o objeto de estudo e o tipo de pesquisa pretendido, passamos

aos procedimentos formais para a realização da pesquisa. O primeiro passo foi a ida

a campo antes de iniciar o trabalho de investigação em si que, de acordo com Minayo

(2000, p. 103), “[...] permite o fluir da rede de relações e possíveis correções já iniciais

dos instrumentos de coletas de dados”. Dessa forma, os passos seguidos em campo,

antes mesmo da realização da pesquisa, deram-se conforme apresentado na Figura

9.

Figura 9 – Passos da entrada em campo antes da realização da pesquisa

Fonte: Elaborada pela autora com base nas anotações do diário de campo.

estando a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental sob reponsabilidade dos sistemas municipais de educação.

Primeiro contato com a Chefia do Núcleo Regional de Educação para apresentação da intenção de pesquisa e solicitação de autorização para a sua realização em uma escola da rede pública estadual.

Primeiro contato com a Direção do Colégio Agostinho Pereira para solicitar autorização para realização da pesquisa e com professoras do AEE para seleção do aluno com DI para ser referência do estudo.

Primeiros contatos para apresentação do projeto e seus propósitos e convite aos professores da aluna referência para participarem da pesquisa.

Postagem do Projeto de Pesquisa na Plataforma Brasil para aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, da Universidade do Vale do Itajaí -UNIVALI.

Encaminhamento do Protocolado a SEED-PR para solicitar autorização da realização da pesquisa em unidade vinculada à Secretaria de Estado da Educação.

ncia

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69

Após essa etapa de ida a campo antes da realização da pesquisa propriamente

dita, aguardamos pela aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres

Humanos, da Universidade do Vale do Itajaí – CEP/UNIVALI, o que se deu pelo

Parecer Consubstanciado do CEP Nº 2.311.680, de 13 de outubro de 2017 (Anexo A),

para a sua realização.

De posse do Parecer de aprovação do CEP, protocolamos, na Secretaria de

Estado da Educação do Paraná, o processo de solicitação de autorização para

realização da pesquisa junto aos professores participantes do estudo em seu local e

período de trabalho, que foi autorizado pela Superintendência da Educação daquela

Secretaria pelo Protocolo Nº 14.880.266-1 (Anexo B). Essa autorização permitiu um

diferencial para a adesão e a participação de todos os participantes, que foi o fato de

a SEED ter permitido que a formação se desse em horário/período de trabalho em

que todos estavam na escola, autorizando que os professores saíssem de sala de

aula para a participação, inclusive as representantes da equipe pedagógica e os

professores que também tivessem aulas em outras escolas nos dias marcados para

a formação. Dessa forma, a pesquisadora apresentou-se à direção de todas escolas

em que os participantes eram docentes, para informar da participação de seu(s)

professores na pesquisa e entregar a cópia da autorização da SEED dispensando o

professor para participar da formação.

As datas e os horários foram organizados de maneira que todos os sujeitos

convidados pudessem participar. Aos que estariam em outra escola no dia marcado,

foi providenciada declaração de participação que justificasse sua ausência no local de

trabalho.

Os encontros aconteceram entre os meses de novembro e dezembro de 2017,

e o encontro para confirmação da validade do instrumento deu-se em julho de 2018,

pois o período de experimentação foi de um trimestre letivo – da metade de fevereiro

até o final de maio de 2018, conforme cronograma apresentado anteriormente.

2.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Stake (2011, p. 102) afirma que “[...] o método para coleta de dados é escolhido

para se adequar à questão de pesquisa e ao estilo de investigação que os

pesquisadores preferem usar”. Assim sendo, a presente pesquisa utilizou mais de um

procedimento para coleta de dados.

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70

Para a apresentar o contexto legal do PAEE, procedemos à reflexão sobre os

documentos (legais e institucionais) que dão o aporte a sua implementação. Desse

modo, um questionário foi elaborado com perguntas de categoria para levantamento

de dados de sua vivência e com questões abertas sobre os conhecimentos e os

posicionamentos dos participantes acerca do tema da pesquisa. O questionário foi

preenchido por todos os sujeitos e permitiu delinear o seu perfil.

Seguindo indicações de Stake (2011, p. 107), de que “[...] a primeira

responsabilidade do pesquisador é saber qual é o acontecimento, enxergá-lo, ouvi-lo,

tentar compreendê-lo”, utilizamos gravador de áudio, câmera de vídeos e diário de

anotações para registrar as discussões, os diálogos, as reflexões e as contribuições

dos participantes advindas das atividades da formação. Após os momentos de

formação, todo o conteúdo gravado em áudio e vídeo foi rigorosamente transcrito para

posterior análise. Usamos, ainda, como ferramentas para registro escrito dos

participantes, o Padlet, as apresentações gráficas por meio de dispositivos elaborados

em atividades da formação continuada e as anotações pessoais da pesquisadora e,

também, as dos participantes.

2.4.1 A coleta de dados

Todo o estudo envolveu três etapas de coleta de dados: a etapa pré-formação

continuada dos professores, a etapa da formação e a etapa pós-formação, como

ilustrado na Figura 10.

Figura 10 – Delineamento do estudo e etapas de coleta de dados

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

Pré-formação

•Encaminhamento dos procedimentos éticos.

•Caracterização do município e colégio lócus da pesquisa.

•Caracterização dos professores e de seu pensar sobre o tema.

•Caracterização da base legal do PAEE.

Formação

•Desenvolvimento e realização da formação continuada.

•Elaboração coletiva do Plano Educacional Individualizado.

Pós-formação

•Avaliação da formação.

•Avaliação e validação do Plano Educacional Individualizado construído colaborativa-mente.

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A etapa de pré-formação caracterizou-se pelas ações da pesquisadora antes

da entrada propriamente dita em campo. Nessa etapa, deu-se a coleta das

formalizações e das autorizações éticas e institucionais, dos dados necessários ao

entendimento do lócus da pesquisa e da documentação legal que respalda o Plano

de Atendimento Educacional Especializado como instrumento potencializador da

aprendizagem do estudante com deficiência.

A etapa da Formação Continuada, sendo a principal da pesquisa, envolveu a

maior parcela dos dados coletados, que se caracterizaram pelo conteúdo dos

diálogos, pelas discussões e pelas reflexões advindas dos encontros e, também, pelas

atividades realizadas pelos professores participantes durante esse período. Para tal,

foram usados como recursos de registro dessa coleta: gravação em áudio e vídeo,

Padlet, registros escritos e Escala de Envolvimento adaptada.

A etapa pós-formação teve a coleta de dados advindos do encontro de

avaliação da experimentação do instrumento elaborado, ou seja, o protocolo de PEI,

após o período de disponibilização, preenchimento e experimentação pelos

professores participantes durante o período de um trimestre letivo.

Em todos os passos empreendidos, os dados coletados foram sendo

organizados e compilados para a devida análise de conteúdo e estruturação dos

textos, conforme retratamos a seguir.

2.4.1.1 BASE LEGAL DO TRABALHO COM PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL

ESPECIALIZADO

Para a contextualização e reflexão sobre a base legal e instituída do PAEE,

foram estudadas as Políticas de Educação Especial e Inclusiva do Governo Federal e

do Governo do Paraná, assim como as Leis e os documentos que tratam do AEE e

do PAEE também nessas duas esferas de governo. Fizeram parte do conjunto de

documentos:

a) a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008);

b) a Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009 (BRASIL, 2009), que institui diretrizes

operacionais para o AEE;

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c) o Decreto Nº 7.611, de 17 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), que dispõe

sobre a Educação Especial, o atendimento educacional especializado e dá outras

providências;

d) a Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015), que institui a Lei Brasileira

de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência);

e) as Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a construção de currículos

inclusivos (PARANÁ, 2006);

f) a Política Estadual de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão (PARANÁ,

2009);

g) a Deliberação Nº 02, de 15 de setembro de 2016, do Conselho Estadual de

Educação do Paraná (PARANÁ, 2016a), que dispõe sobre as normas para a

modalidade Educação Especial no sistema estadual de ensino;

h) a Instrução Normativa Nº 07, de 17 de outubro de 2016 (PARANÁ, 2016b), que

estabelece critérios para o AEE em SRM de deficiência intelectual, deficiência

física neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos

funcionais específicos nas instituições que ofertam Educação Básica na rede

pública estadual de ensino;

i) o PAEE de uma estudante com deficiência do Colégio onde se realizou a

pesquisa;

j) outros instrumentos diferenciados de avaliação desse público, a saber:

- O Plano Individualizado de Educação (PEI), adaptado por Romeu Kazumi

Sassaki (1999) de The individual education program (IEP) NCC – Northern

California Coalition for Parent Training and Information (s/d).

- O inventário de habilidades escolares de Pletsch (2010), juntamente aos

componentes básicos e aos níveis de planejamento do Plano Educacional

Individualizado (PEI) apresentados por Pletsch e Glat (2013, p. 26-31).

- O Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) apresentado por Poker et al. (2013,

p. 25-30; 34-37).

2.4.2 A Análise dos dados

A análise dos dados configura-se em um dos momentos mais importantes da

pesquisa. Ela se constitui em processo de acentuada atenção do pesquisador,

exigindo que se debruce sobre todos os dados coletados, de modo a prepará-los e

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categorizá-los para proceder às interpretações e às análises devidas e possíveis do

material obtido para, então, definir os percursos da pesquisa.

No caso da pesquisa-formação, como ora empreendida, a quantidade de dados

coletados mostra-se sempre no volume e na proporção da duração da formação e do

tamanho do grupo participante, visto que é dele que emergirá a maior parte do teor

dos dados a serem analisados. Esses dados chegam em estado bruto, precisando ser

processados para facilitar sua compreensão e se conseguir chegar a níveis mais

aprofundados dos fenômenos, como se pretende em uma pesquisa qualitativa.

Lüdke e André (1986, p. 45) consideram que “[...] analisar os dados qualitativos

significa ‘trabalhar’ todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de

observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e demais

informações possíveis”. Dessarte, optamos pela Análise de Conteúdo proposta por

Franco (2008) e Bardin (1977) como procedimento de análise e tratamento dos dados

coletados.

Franco (2008) assevera que a análise de conteúdo tem na mensagem seu

ponto de partida, “[...] seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa,

documental ou diretamente provocada [...] e [...] está necessariamente vinculada [às]

condições contextuais de seus produtores” (FRANCO, 2008, p. 12). Dessa forma, para

a análise e o tratamento de dados, foram considerados como materiais de análise os

documentos legais, o questionário, os registros/as transcrições das gravações de

áudio e vídeo das discussões e as reflexões provenientes da formação continuada, os

registros das atividades realizadas pelos professores participantes e os registros em

diário de anotações da pesquisadora.

Reconhecendo e concordando com o papel ativo do sujeito na produção do

conhecimento, conforme postula Franco (2008) em relação à importância de uma

abordagem metodológica crítica como procedimento de pesquisa, como é o caso da

pesquisa-formação realizada, a análise e a interpretação dos dados constituem-se em

passos para o efetivo caminhar na realização de uma sólida análise de conteúdo.

Para que essa análise e interpretação se dessem de forma consistente, a

transcrição do registro em áudio e vídeo de todos os encontros da formação deu-se

no sentido de “[...] interpretar os sentidos e os significados da prática formativa e

pedagógica do professor em situação de colaboração” (BASTOS; SANTOS, 2016, p.

311). Assim, cada encontro da formação foi filmado por câmera fixa em que

procuramos enquadrar todos os participantes a fim de que pudéssemos localizar

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visualmente cada sujeito durante as discussões, com o intuito de auxiliar, também,

nas transcrições e como forma de confirmação da fidedignidade das falas. As

transcrições foram impressas para que, lidas, relidas e estudadas pudessem ser

categorizadas e preparadas para as análises, já que se constituíram como a maior

fonte dos dados coletados.

O questionário aplicado junto aos professores participantes foi o primeiro

material de análise colhido. Seus dados foram interpretados e analisados ainda antes

da formação, e os resultados de sua análise foram apresentados aos participantes no

primeiro encontro da formação. Já os documentos legais, que fizeram parte do

conteúdo da formação, foram analisados no corpo das transcrições dos encontros e,

dessa forma, fez parte dos dados organizados no conjunto dos dados da formação.

A análise de conteúdo requer que se descubra aquilo que tem relevância

teórica entre todo o teor das mensagens emergidas; no caso desta pesquisa, nas

discussões, nas reflexões e nas atividades da formação continuada. Trata-se de

interpretar o conteúdo “latente” (FRANCO, 2008, p. 16) da mensagem, sendo um

processo no qual a contextualização deve ser considerada como requisito principal

para garantir a relevância dos sentidos atribuídos às mensagens e permitindo

inferências sobre os resultados fiéis e significativos do material coletado. Segundo

Bardin (1977), tais inferências são possíveis após a realização das etapas de pré-

análise, descrição analítica e interpretação inferencial.

A primeira fase, a de pré-análise, consiste na organização do material quanto

às técnicas empregadas para a coleta das informações. Nessa fase, realizamos as

primeiras leituras e os contatos com os documentos e textos sobre o tema a ser

investigado. Também procedemos à elaboração e ao ordenamento das ideias

principais para a pesquisa.

A fase de descrição analítica, de acordo com Bardin (1977, p. 39), refere-se à

“[...] enumeração das características do texto, resumida após o tratamento” do

material que já passou pela pré-análise. Trata-se da fase de exploração do material,

para codificá-lo, classificá-lo e categorizá-lo (BARDIN, 1977). Trata de transformar o

amontoado de dados em córpus de análise.

Nessa etapa de exploração do material, transcrevemos as falas coletadas nos

encontros da pesquisa-formação, já identificando as informações que se repetiam e

sobressaíam. Como a pesquisa empreendida concerne em pesquisa colaborativa, os

resultados de cada encontro eram retomados e discutidos no decorrer dos encontros,

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ressignificando os dados em um processo compartilhado e coparticipativo. Foi esse

processo que possibilitou a definição a posteriori das categorias de análise.

As categorias de análise emanaram do proposto nos três eixos norteadores da

pesquisa-formação, já referidos na Figura 3 (página 43), após um processo de leituras,

releituras e anotações do material obtido pela transcrição dos encontros da pesquisa-

formação e de diversas consultas aos referenciais teóricos adotados. Foi nesse

processo que algumas falas dos professores foram se mostrando mais frequentes, e,

por isso, sendo destacadas, condensadas e classificadas de forma a identificarmos o

que havia de comum nessas falas. Estas foram, então, agrupadas por categorias de

análise, resultando no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Categorias de análise surgidas a posteriori à análise dos dados

Eixos da formação Categorias de análise

1

- Perfil dos participantes. - Conhecer a estudante com deficiência. - Envolvimento na aprendizagem. - Relação entre professores do ensino comum e especializado. - Coletividade. - Colaboração. - Mediação.

2

- A letra das leis e a sua tradução na escola. - A prática pedagógica com estudantes com deficiência. - A movimentação do olhar que se tem para o estudante com deficiência. - O modelo de PAEE instituído na escola. - Modelos de PEI trazidos para a formação.

3 - Trabalho colaborativo. - Elaboração conceitual. - Elementos do instrumento/protocolo construído colaborativamente.

Encontro para avaliação da

experimentação

- Validade do protocolo como instrumento de escolarização. - Avaliação se o PEI serviu à aprendizagem da estudante.

Fonte: Elaborado pela autora para fins de pesquisa.

A fase de interpretação inferencial é entendida por Bardin (1977) como a

significação concedida às características do texto. Nessa fase, a análise de conteúdo,

como método, permite que o pesquisador realize interpretações/inferências sobre os

resultados fiéis e significativos do material coletado. Intenciona-se, segundo Triviños

(1987), desvendar o conteúdo manifesto dos documentos, aprofundando-o com o

desvelamento do conteúdo latente, de modo qualitativo e dinâmico, isto é, tornar os

resultados significativos e válidos. Para que isso acontecesse, procedemos à releitura

constante do material transcrito em busca de novos excertos, palavras e frases que

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pudessem assegurar e sustentar as inferências no teor das categorias de análise.

Assim, o referencial teórico deu sustentação ao material empírico compilado.

Dessa forma, os autores que deram sustentação e estofo à análise dos dados

foram: Vygotski (1997, 2004, 2007); Vigotski (1998); Vygotsky, Leontiev e Luria

(1998); Oliveira, M. K. de (1997); Nono e Mizukami (2001); Cruz, Mascaro e

Nascimento (2011); Tannús-Valadão (2010, 2013); Vianna, Pletsch e Mascaro (2011);

Glat e Pletsch (2012, 2013); Imbernón (2010); Hostins, Silva e Alves (2016); Marin e

Braun (2013); Mendes, E. G. (2006); Mendes, Almeida e Toyoda (2011); Sforni (2004);

e Vilaronga e Mendes (2014).

Como pesquisa qualitativa, foi possível, por meio da análise do conteúdo

emergido, estabelecer uma relação entre as partes do estudo, como afirma Triviños

(1987) a respeito de pesquisas dessa natureza. A pesquisa, diz ele, “[...] se

desenvolve em interação dinâmica retroalimentando-se, reformulando-se

constantemente” (TRIVIÑOS, 1987, p. 132). Da mesma forma, Lüdke e André (1986,

p. 52) apontam que “[...] o importante é manter uma atitude flexível e aberta, admitindo

que outras interpretações podem ser sugeridas, discutidas e igualmente aceitas”. Isso

permitiu que o caminho para o objetivo principal estabelecido fosse trilhado com a

participação, as sugestões e as discussões de todos os sujeitos, valorando ainda mais

o instrumento que emergiu desse processo.

No capítulo a seguir, apresentamos as reflexões realizadas pelos participantes

a partir do estudo dos primeiros conhecimentos sobre o PAEE instituído pelas políticas

públicas paranaenses e, dessa forma, instituído no Colégio participante e outras

possibilidades de planejamento individualizado. Desvelamos as primeiras reflexões do

grupo sobre outras possibilidades de trabalho pedagógico com estudantes com

deficiência, as primeiras reflexões que permitirão, junto aos demais capítulos e ao

longo deste relato de tese, confirmar os pressupostos inicialmente projetados para a

pesquisa.

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3 PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: MEDIAÇÕES COMPARTILHADAS EM BUSCA DE NOVAS PERSPECTIVAS PARA UM PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO

O salutar é não estacionar no já pensado e proposto, mas superar, construir novos

olhares e proposições, criar e projetar diferentes e infinitas possibilidades de

intervenções, pois as pessoas são únicas e repletas de potencialidades.

Lázara Cristina da Silva (2013, p. 8)

As discussões realizadas, neste capítulo, objetivam refletir sobre as diferentes

dimensões que envolvem a elaboração do PAEE, a partir das orientações da política

paranaense, e direcionar o enfoque para as reflexões provenientes da pesquisa-

formação que dá forma a esta pesquisa. Essas reflexões são decorrentes do estudo

das ideias de Vygotski (1997, 2004, 2007) e Vigotski (1998), como parte da pesquisa-

formação, e das atividades de confrontação e análise do modelo de PAEE instituído

no Colégio no qual se deu a pesquisa, com modelos de PEI já validados e

experimentados, trazidos à formação pela pesquisadora.

Sobre o PAEE elaborado a partir do disposto em documentos legais, Tannús-

Valadão (2013) afirma que

[...] o plano do AEE previsto nos documentos oficiais brasileiros tende para um modelo de planejamento [...] centrado nas necessidades de organização e funcionamento da SRM e não, necessariamente, nas individualidades dos alunos, que passam a maior parte do tempo na classe comum [...]. (TANNÚS-VALADÃO, 2013, p. 53).

De fato, tal afirmativa retrata uma verdade em muitos contextos, porém cabe

ressaltar que, neste momento da pesquisa, o foco do estudo do PAEE, como

instrumento de planejamento e avaliação da SRM, volta-se à busca do objetivo desta

etapa da pesquisa-formação que é a análise do modelo de PAEE aplicado na escola

objeto de estudo, sua dinâmica e suas articulações com as políticas e práticas locais.

Isso porque esse PAEE serviu de base e referência para que os sujeitos da pesquisa

atuantes do ensino comum tivessem contato, conhecimento e compreensão do que

seja, como se estrutura e a que serve um planejamento individual para estudantes

com deficiência.

Considerando que o PEI como instrumento pedagógico no ensino comum não

tem respaldo legal (TANNÚS-VALADÃO, 2010, 2013; TANNÚS-VALADÃO;

MENDES, 2018), o plano do AEE pôde, para fins desta pesquisa, ser tomado como

um modelo de planejamento individualizado a ser analisado, criticado, contestado e

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ressignificado para a prática pedagógica com estudantes com deficiência no ensino

comum.

Já, nas reflexões provenientes da análise do modelo de PAEE adotado na

escola participante da pesquisa e dos PEI adotados como “outros modelos” de

possibilidades de planejamento individualizado, despontaram as primeiras pistas para

a elaboração do instrumento/protocolo que se projetava com o grupo. Para assinalar

a presença dessas “pistas”, foram criados ícones com a finalidade de facilitar sua

visualização no transcorrer deste e dos próximos capítulos, com o intuito de ilustrar o

percurso realizado para o alcance dos objetivos da pesquisa.

3.1 O PLANO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NA POLÍTICA DE INCLUSÃO DO PARANÁ: DISCUSSÕES COMPARTILHADAS

Ao orientar os sistemas de ensino para a promoção das respostas da Escola

às necessidades educacionais dos estudantes com deficiência, as políticas

acenam, entre outros, para a atuação articulada entre Educação Especial

e ensino comum no atendimento desses estudantes, pressupondo a

importância de práticas colaborativas. O papel da referida atuação

articulada aparece claramente em documentos orientadores das

políticas federais e, também, paranaenses, no âmbito da atuação do

professor de AEE, objetivando a sua prática nesse serviço

especializado, haja vista o disposto na Resolução No 4/2009, do Ministério da

Educação, que institui as diretrizes operacionais para o AEE, quando, em seu Artigo

9º, acentua que a “[...] elaboração e a execução do plano de AEE são de competência

dos professores que atuam na Sala de Recursos Multifuncionais ou centros de AEE,

em articulação com os demais professores do ensino comum [...]” (BRASIL, 2009, p.

2). Apesar do disposto nesse artigo referir-se especificamente às atribuições do

professor de SRM sobre a elaboração de seu planejamento nesse ambiente – sem

fazer menção como deva ser a articulação e a colaboração entre os professores das

duas modalidades para o planejamento individualizado de tais estudantes no ensino

comum –, para esta pesquisa, enfoca-se no planejamento educacional individualizado

como uma dessas práticas com maior possibilidade de efetivação, uma vez que sua

implementação não demanda alterações em políticas instituídas.

No Paraná, o disposto na Resolução No 4/2009 (BRASIL, 2009) encontra-se

retratado na Deliberação No 02/2016, do Conselho Estadual de Educação (CEE)

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(PARANÁ, 2016a), e desdobrado em orientações para a prática na Instrução No

07/2016, da Secretaria de Estado da Educação (PARANÁ, 2016b), vigente no início e

em boa parte desta pesquisa, sendo revogada pela Instrução No 09, de 23 de abril de

2018 (PARANÁ, 2018), que veio a substituí-la.

A Deliberação No 02/2016 (PARANÁ 2016a), que dispõe sobre as normas para

a modalidade de Educação Especial no sistema estadual de ensino do Paraná, ao

tratar da inclusão de estudantes com deficiência no ensino regular, no artigo 15,

preconiza que:

§ 2º Os professores especializados mencionados no parágrafo anterior devem orientar e trabalhar em sintonia com os professores da classe regular e atender os estudantes, bem como proceder às orientações necessárias aos demais membros da comunidade escolar. (PARANÁ, 2016a, p. 10).

E, logo adiante, prevê o PAEE como elemento necessário à organização do

AEE, no qual deve haver identificação da deficiência ou especificidade do estudante,

a definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas

(PARANÁ, 2016a, p. 14). Em seu Capítulo VIII, sobre formação e atribuições dos

professores da Educação Especial, encontra-se a única alusão ao trabalho articulado

e colaborativo entre os professores da Educação Especial e do ensino regular, quando

trata, no artigo 33, das incumbências do professor especializado, colocando que lhe

cabe:

[...] IV – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade da sala de aula, bem como em outros ambientes da escola; V – orientar os demais professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo estudante; [...] VII – estabelecer articulação com os demais professores da instituição de ensino, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovam a participação dos estudantes nas atividades escolares em geral. (PARANÁ, 2016a, p. 18-19).

Podemos perceber que não há, nas diretrizes proclamadas nesse documento,

um enfoque significativo ao trabalho colaborativo entre professores da Educação

Especial junto aos professores do ensino comum. O que se verifica, apesar de o

documento ser norteador da Educação Especial e não da inclusão no ensino regular,

é que cabe ao professor do AEE estabelecer as relações pedagógicas necessárias

junto aos professores da sala comum.

Em relação ao trabalho “em sintonia” entre os professores, citado no

documento anterior, os professores participantes da pesquisa, que são também

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sujeitos da prática pedagógica em questão, afirmam que, na realidade vivida, a

sintonia referida não acontece. Nas palavras de uma das participantes: “Tem muito o

que se melhorar. A gente não consegue” (PSRM). De forma geral, o grupo consensua

com essa posição e afirma que “[...] é preciso ter um ajuste” (PG1) nas práticas dos

envolvidos.

O estabelecimento ou melhoria da sintonia entre os professores

do AEE e ensino comum advém da articulação das ações pedagógicas

destes, notadamente da articulação entre o planejamento dessas

ações. Tannús-Valadão e Mendes (2014) afirmam que isso

[...] envolveria a participação de todos os envolvidos na educação dessa criança, incluindo não apenas o professor especializado, mas também o professor do ensino comum, a família e todos os profissionais necessários para responder as necessidades particulares de cada criança. (TANNÚS-VALADÃO; MENDES, 2014, p. 5).

Marin e Braun (2013) afirmam que,

[...] dificilmente, um único docente será capaz de buscar respostas educativas e organizar adequadamente o trabalho pedagógico. [...]. Professores não devem trabalhar sozinhos, mas em equipes, de modo que possam construir propostas com objetivos comuns para garantir a escolarização de todos os alunos. (MARIN; BRAUN, 2013, p. 58).

O reconhecimento, pelos professores, tanto do ensino comum quanto da

Educação Especial, de que não há a referida sintonia entre a atuação dos dois grupos

reafirma uma necessidade e se assinala como indício que deve ser

considerado no protocolo de PEI final a ser elaborado: o trabalho articulado

e colaborativo entre os professores da Educação Especial

e do ensino comum.

Ao retomarmos ao que declaram as políticas em estudo,

percebemos que tanto na Resolução No 4/2009 quanto na Deliberação

No 02/2016, ainda não há mais detalhes sobre o contorno, a configuração que um

Plano de AEE deve ter, porém fica explícito que se trata de instrumento pedagógico

para o trabalho do/no AEE, não fazendo menção ou relação ao seu uso no ensino

comum, haja vista que todas as diretrizes legais o definem como Plano do AEE.

Uma vez que oficialmente só existe o Plano do Atendimento Educacional

Especializado, para este estudo, as leituras e as pesquisas sobre o tema recaíram

sobre pesquisas e textos análogos ao plano de AEE e ao PEI para dar argumentação

e fundamentação aos dados coletados e aos propostos pela pesquisa. Assim, várias

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pesquisas que tratam da problemática, ao abordarem o tema do planejamento

individualizado, o enfocam com uma nominação específica ao que cada pesquisa

propõe, como será possível verificar com os diferentes nomes20 de Plano que surgem

no decorrer deste capítulo.

Tannús-Valadão (2010) afirma que a falta de dispositivos legais no Brasil e, por

consequência, a falta de subsídios para a elaboração de um plano

educacional talhado individualmente deixam uma lacuna que

explicaria parte dos problemas de efetivação de práticas de inclusão

escolar em nossa realidade.

Para Pletsch e Glat (2013), que já realizaram diversas pesquisas na área de

planejamento educacional, “[...] o trabalho pedagógico na escola contemporânea tem

exigido dos professores novas estratégias e propostas curriculares para

garantir processos de ensino e aprendizagem que atendam às

especificidades e às diferenças apresentadas pelos alunos” (PLETSCH;

GLAT, 2013, p. 18). As autoras afirmam, além disso, que o pouco

conhecimento dos professores a respeito de como desenvolver propostas que atinjam

as metas de aprendizagem é uma “fragilidade constante” (PLETSCH; GLAT, 2013, p.

22), a qual foi observada em suas investigações sobre o tema.

O órgão gestor da educação pública estadual paranaense, nesta direção, por

meio de sua Superintendência de Educação, expediu, em outubro de 2016, a

Instrução Nº 07/2016 (PARANÁ, 2016b), que estabelecia detalhadamente os critérios

para o AEE em SRM para os alunos com deficiência intelectual, deficiência física

neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais

específicos. O documento detalha e especifica as instruções de: 1) definição do AEE;

2) objetivos; 3) público a ser atendido; 4) avaliação para ingresso na SRM; 5) critérios

para organização funcional; 6) critérios para organização pedagógica da SRM; 7)

eixos de realização do trabalho pedagógico; 8) atribuições do professor de SRM; e 9)

critérios para solicitação de autorização, renovação e cessação da SRM. Tais

instruções explicitam em pormenores as dimensões de funcionamento e trabalho

pedagógico a ser realizado nas SRM.

20 PEI – Plano Educacional Individualizado: Sassaki (1999), Tannús-Valadão (2010, 2013), Glat, Vianna e Redig (2012), Pletsch e Glat (2013); PDEI – Plano de Desenvolvimento Educacional Individualizado: Pletsch e Glat (2012); PDI – Plano de Desenvolvimento Individual: Poker et al. (2013); PEI – Planejamento Educacional Individualizado: Tannús-Valadão e Mendes (2014); Campos (2016).

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Em seu item 6, sobre os critérios para a organização pedagógica da SRM, está

previsto o PAEE da seguinte forma:

6.1 Plano de Atendimento Educacional Especializado – (este documento deverá ser elaborado pelo professor especialista em educação especial quando do ingresso do estudante na Sala de Recursos Multifuncionais, e realimentado após cada conselho de classe, conforme orientações técnicas da SEED/DEE). a) É uma proposta de intervenção pedagógica elaborada a partir das informações da avaliação pedagógica (potencialidades, possibilidades, capacidades e necessidades), conforme expectativas de aprendizagem prevista para o ano de matrícula do estudante no ensino comum, contendo objetivos, ações/atividades, período de duração, resultados esperados, de acordo com as orientações pedagógicas da SEED/DEE. b) O Plano de Atendimento Educacional Especializado deve estar contemplado no Projeto Político-Pedagógico da escola. c) A elaboração do Plano de Atendimento Educacional Especializado deve envolver o professor da Sala de Recursos Multifuncionais, professores das diferentes disciplinas, mediado pela equipe pedagógica e quando necessário por profissionais que acompanham o desenvolvimento do estudante (profissionais externos à Instituição de Ensino). (PARANÁ, 2016b, p. 8-9, grifos do autor).

É possível observar que tais orientações delineiam alguns dos elementos que

devem constituir o PAEE da SRM. A partir desse documento, e dos anteriormente

citados, é possível identificar outras características que devem fazer parte do PAEE

das escolas públicas paranaenses, de acordo com suas diretrizes legais:

- Replanejamentos e tomadas de decisões devem acontecer sempre que necessário

após cada Conselho de Classe.

- As estratégias metodológicas devem atender às necessidades educacionais do

estudante no turno da escolarização.

- O trabalho colaborativo entre professor da SRM e professores das diferentes

disciplinas deve ser mediado pela equipe pedagógica.

- O trabalho pedagógico deve pautar-se em duas frentes: a alfabetização para os

não alfabetizados ou em processo de alfabetização; e, para os alfabetizados,

trabalhar conteúdos que permitam o acesso ao currículo do ensino comum com

base nas expectativas de aprendizagem do ano de matrícula.

- Utilização de metodologias e de estratégias diferenciadas com o objetivo

de desenvolver a autonomia, a independência e a valorização do aluno.

- Trabalho colaborativo com família ou responsáveis.

Contudo, ao discutirmos, com os sujeitos da pesquisa, sobre as

orientações anteriores específicas para a elaboração do PAEE, há concordância de

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que houve evolução na observação do estudante para seu planejamento, mas “[...] o

embate maior é a colocação dessa legislação com o contexto” (participante PSRM),

pois a ausência de exigência legal de um Plano que extrapole as práticas curriculares

na SRM, ou seja, um PEI, ainda “[...] revela certa despreocupação com o percurso e

resultado do processo de escolarização desses alunos” (TANNÚS-VALADÃO;

MENDES, 2014, p. 13).

Entendemos que o PEI se trata, outrossim, de uma prática curricular que não

pode estar desvinculada das demais práticas curriculares da escola, pois, na

perspectiva da abordagem histórico-cultural, se expressa como “[...] produto de um

processo de objetivação da cultura, e do compartilhamento das ações individuais”

(LUNARDI-MENDES, 2008, p. 118) e, portanto, se define por uma prática coletiva,

histórica e cultural pensada a partir do contexto do sujeito para quem e com quem se

planeja.

As “orientações técnicas da SEED/DEE” (PARANÁ, 2016b, p. 8) para

elaboração do PAEE da SRM, conforme descrito no primeiro parágrafo do item 6 da

Instrução No 07/2016, estão, até o momento, contidas unicamente na Orientação Nº

010/2017 do Departamento de Educação Especial (DEE), que orienta quanto ao

registro de matrícula no sistema SERE21 e Registro de Classe, mais especificamente

no Anexo C dessa orientação e que segue reproduzido na Figura 11. Entretanto,

chamamos atenção para o fato de que essas orientações chegaram muito após o

início do ano letivo em que se deu a coleta de dados e, portanto, a elaboração do

PAEE 2017 da aluna referência do estudo já havia sido feito pela professora da SRM

em modelo anterior, seguindo as orientações vigentes no período de planejamento do

início do ano letivo.

21 O Sistema Estadual de Registro Escolar (SERE) é um “Sistema de Informações” desenvolvido com a finalidade principal de racionalizar as atividades burocráticas da secretaria da escola. O SERE é utilizado por todas as escolas estaduais, praticamente pela totalidade das escolas municipais e muitas escolas privadas do Estado do Paraná.

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Figura 11 – Plano de AEE recomendado pela Orientação No 010/2017 do Departamento de Educação Especial – DEE do estado do Paraná

Fonte: Anexo C da Orientação 010/2017 – DEE enviado a todos os colégios com SRM.

Este rápido exame realizado sobre o que propõem as principais diretrizes

paranaenses sobre o Plano de AEE faz-se necessário para que se possa situar o

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ponto de partida dos estudos e da formação realizada, bem como o porquê da

manutenção de alguns de seus elementos na propositura do instrumento/protocolo

que se quis construir, pois, como bem afirmam Pletsch e Glat (2013, p. 19), “[...] no

que diz respeito às diretrizes oficiais, não há dúvida de que temos avançado

enormemente nos últimos anos”, mas a educação inclusiva ainda “[...] demanda a

reorganização do cotidiano e a ressignificação da cultura escolar” (PLETSCH; GLAT,

2013, p. 19). Reorganização e ressignificação que passam, obrigatoriamente, também

pelo conhecimento de quem é o estudante alvo da ação que se planeja e

quais as possibilidades de atuação legalmente permitidas.

Evidencia-se novamente que não há, em nenhum dos quatro

documentos legais ora aludidos, a saber: a Resolução No 4/2009, a

Deliberação No 02/2016, a Instrução No 07/2016 e a Orientação No 010/2017 do DEE;

e em pesquisas visitadas para este estudo (TANNÚS-VALADÃO, 2010, 2013;

ARARUNA, 2013; OLIVEIRA NETA, 2013; PLETSCH; GLAT, 2013), a

abordagem do Plano de Atendimento Educacional Especializado como

instrumento, recurso ou estratégia de escolarização do estudante com

deficiência para além da SRM, de modo a ultrapassar os “muros” do

ambiente especializado e transitar pelo ensino comum. Reside então, nesse trânsito,

o diferencial da pesquisa que aqui se relata.

Nesse mesmo sentido, Tannús-Valadão (2010) assevera que “[...]

o Plano de AEE parece prever apenas o que deverá acontecer na sala

de recursos ou na instituição especializada, mas não o que deverá

acontecer na classe comum. Portanto, parece faltar uma articulação

entre o planejamento de ensino comum e o AEE [...]” (TANNÚS-VALADÃO, 2010, p.

33), demonstrando que a recomendação dos órgãos e dos documentos oficiais sobre

o PAEE se restringem ao planejamento das atividades no ambiente especializado.

Corroborando com a afirmativa de que o PAEE é uma “exclusividade” das

práticas pedagógicas do AEE, além do fato de estar descrito nos documentos legais,

como dito anteriormente, como “plano de AEE” (BRASIL, 2009), Araruna (2013), em

seu estudo sobre a prática pedagógica de professoras de Sala de Recursos

Multifuncionais em escolas públicas de Fortaleza, reitera essa afirmativa ao dizer que

“[...] as funções do professor do AEE perpassam pela elaboração do plano de

atendimento, além de outras competências. O que será definido no plano determinará

como se realizarão os atendimentos ao aluno na SRM” (ARARUNA, 2013, p. 168).

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A partir das determinações do órgão gestor da Educação Especial pública

estadual paranaense (Deliberação No 02/2016 e Instrução No 07/2016) para a

constituição do Plano de AEE, a pesquisa-formação proposta para a coleta de dados

desta investigação tomou como instrumento de análise o PAEE de um colégio da

referida rede, mais especificamente do colégio participante da pesquisa. Como já

mencionado anteriormente, em modelo que antecedeu o proposto pela orientação No

010/2017, porém vigente no período letivo em que se realizou a coleta de dados, uma

vez que a coleta se deu antes de sua publicação.

A análise crítica do referido PAEE teve como objetivo levar os professores a

conhecerem melhor a aluna Joana pois, como afirmam Magalhães, Cunha e Silva

(2013, p. 45), “[...] a necessidade individual do aluno constitui a base para a

elaboração do plano”. Ao observarem os elementos constitutivos do Plano, também é

possível fazer uma auto-análise de suas práticas e saberes docentes, “[...] pensar a

prática e sobre a prática” (GESSER, 2011, p. 23). Pletsch e Glat (2013), nessa direção,

afirmam que um Plano Educacional Individualizado, ou PEI como é designado pelas

autoras em suas pesquisas, “[...] oferece parâmetros mais claros a serem atingidos

com cada aluno, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas

curriculares” (PLETSCH; GLAT 2013, p. 22). Além disso, migrar o que se conhece do

aluno para esse instrumento é também ampliar suas possibilidades de aprendizagem.

Na sequência, a Figura 12 apresenta o modelo de PAEE utilizado pelo colégio

participante da pesquisa no período de coleta de dados e que serviu de parâmetro

para as análises na pesquisa-formação.

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Figura 12 – Plano de Atendimento Educacional Especializado da SRM da escola participante da pesquisa

Fonte: Plano de AEE vigente na SRM da escola participante da pesquisa no momento da coleta de dados.

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Observar, estudar e analisar o plano do AEE instituído, comparando-o a outros

PEI validados ou vigentes em outras realidades, fez-se essencial nesse momento da

pesquisa, pois permitiu aos participantes pensarem sobre o que conhecem da aluna

com deficiência, refletindo se o que está posto nos modelos ajustam-se a um modelo

que se quer como potencializador de sua aprendizagem.

O Plano de AEE da escola está, de certa forma, estruturado em três partes: 1)

os dados de identificação em que aparecem os dados do estudante, da turma em que

está matriculado no ensino comum e o nome do professor; 2) o campo “características

do aluno”, em que devem ser preenchidas as dificuldades e as potencialidades do

aluno, que representam as suas habilidades para a aprendizagem em seus aspectos

afetivos, sociais, cognitivos, acadêmicos, linguagem e psicomotores; e

3) o campo de “proposta de atendimento”, em que o professor

preenche com os objetivos, o plano de ação/atividades, os resultados

esperados e os obtidos para o período de duração. Há, ainda, espaço

para observações.

É relevante destacar que há uma nota de rodapé explicativa no modelo de

protocolo analisado em que consta que o referido documento “Poderá ser adaptado

ou modificado de acordo com a experiência do professor” (PAEE do Colégio

participante da pesquisa, p. 1). Dessa forma, a apresentação gráfica pode variar de

acordo com as habilidades e o modo de pensar do professor que organiza o PAEE,

desde que contemple os itens prescritos no documento orientador. Pertile (2014),

sobre o PAEE em documentos legais, chama atenção para a “[...] redução da atividade

de ensino, bem como à omissão completa do trabalho com conteúdos escolares”

(PERTILE, 2014, p. 80). É possível depreender que essa situação pode ocorrer de

diferentes maneiras e dimensões em cada AEE, já que, como fica explícito na referida

nota de rodapé, a experiência do professor é determinante para a configuração de

cada Plano.

Mendes, Tannús-Valadão e Milanesi (2016) realizaram, dentro do contexto de

pesquisas do Projeto Observatório Nacional de Educação Especial (ONEESP), um

estudo sobre o que os professores de SRM fazem de especial ou diferente no ensino

desses estudantes. Dos resultados desse estudo, as pesquisadoras sintetizaram oito

famílias de categorias denominadas como “tendências curriculares” (MENDES;

TANNÚS-VALADÃO, MILANESI, 2016, p. 54) que se diferenciam de acordo com a

ênfase dada no ensino de diferentes conteúdos, a saber: 1) Promoção da autonomia;

es

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2) Promoção da motivação; 3) Treino instrumental; 4) Ensino de currículo padrão; 5)

Ensino de currículo adaptado; 6) Treino de prontidão ou preparação; 7) Alfabetização

e letramento; e 8)Treino compensatório. Ao olharmos para o todo do PAEE analisado

e recorrendo às tendências curriculares encontradas por Mendes, Tannús-Valadão e

Milanesi (2016), é possível visualizarmos com quais tendências o PAEE paranaense

afina-se.

O grifo na expressão quais tendências assenta-se ao fato de que, como as

citadas autoras argumentam ao se reportarem aos resultados de sua pesquisa, que

compatibiliza ao que esta pesquisadora e, também, professora de educação percebeu

ao explorar o modelo de PAEE em questão, a prática pedagógica pretendida não se

identifica com apenas uma tendência curricular, pois

[...] algumas variações, para além das tradicionais abordagens curriculares para o ensino de indivíduos com DI, parecem da própria (in)definição dos documentos orientadores do MEC sobre como deve ser o AEE para estudantes com DI. [...] Esses discursos do MEC, de certa forma, reforçam essa tendência de se pensar que na SRM não se deve ter como objetivo trabalhar conteúdos curriculares, mas sim as “habilidades” necessárias para acessar o currículo. (MENDES; TANNÚS-VALADÃO; MILANESI, 2016, p. 65).

Já, no que concerne às orientações da política estadual, diferenciada em

alguns pontos, mas seguidora das orientações do MEC, a Instrução No 07/2016

(PARANÁ, 2016b) define os critérios para organização pedagógica do AEE.

Subjacente a esses critérios, estão as tendências curriculares adotadas na ação

pedagógica.

É possível considerar que o fato do PAEE solicitar ao professor que caracterize

dificuldades e potencialidades do estudante nos aspectos assinalados como afetivos,

sociais, cognitivos, acadêmicos, da linguagem e psicomotores, há uma priorização de

algumas tendências curriculares categorizadas por Mendes, Tannús-Valadão e

Milanesi (2016), conforme é possível visualizar no Quadro 4 a seguir.

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Quadro 4 – Correspondência dos Elementos do PAEE das SRM paranaenses às Tendências Curriculares de Mendes, Tannús-Valadão e Milanesi (2016)

Tendências curriculares Elemento do PAEE que demonstra a priorização

da tendência

- Promoção da autonomia. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o desenvolvimento de autonomia; [...] fazem referência à necessidade de um currículo funcional para ensinar habilidades práticas que possam ser aplicadas no dia a dia do aluno com DI, ao desenvolvimento de habilidades de socialização [...]” (p. 55).

Aspectos afetivos

Aspectos sociais

- Promoção da motivação. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o desenvolvimento da motivação do aluno, alegando necessidade de aumentar a autoestima e o engajamento, e assim justificam o uso de atividades lúdicas e recreativas com seus alunos com DI [...]” (p. 55).

Ausente no PAEE

- Treino instrumental. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o ensino do uso de recursos tecnológicos em si sem referência aos objetivos pedagógicos dos mesmos, e seus relatos se referem, por exemplo, ao ensino do uso do computador, navegação na internet, uso de dispositivos de acesso ao computador (mouses e teclados adaptados, telas sensíveis ao toque, etc.), de softwares pedagógicos ou específicos de acessibilidade para estudantes com deficiência (por exemplo, leitores de texto, de ampliação, de tradução em libras, de tecnologia assistiva, de comunicação alternativa), ou de jogos adaptados ou pedagógicos [...]” (p. 55).

Ausente no PAEE

- Ensino de currículo padrão. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o ensino do conteúdo padrão da classe comum e fazem referências, por exemplo, às matérias do currículo tradicional (português, matemática, artes, ciências, etc.), evidenciando oferta de reforço escolar para promover acesso ao currículo padrão.” (p. 55).

Aspectos cognitivos

Aspectos acadêmicos

- Ensino de currículo adaptado. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o ensino do currículo com adequações, adaptações ou ajustes de conteúdo (redução ou simplificação), nas atividades (como, por exemplo, simplificação), com recursos pedagógicos diferenciados ou mudanças de estratégias de ensino [...]” (p. 55).

Aspectos cognitivos

Aspectos acadêmicos

Aspectos da linguagem

- Treino de prontidão ou preparação. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar o ensino de habilidades que, supostamente, irão preparar para a alfabetização [...], utilizam conteúdo curricular [...] com tarefas, por exemplo, psicomotoras específicas [...] para preparar para a escrita, ou de discriminação audiovisual para preparar para a alfabetização, etc.” (p. 56).

Aspectos psicomotores

- Alfabetização e letramento. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar atividades de letramento e alfabetização com foco específico na aquisição da leitura e/ou da escrita” (p. 56).

Aspectos acadêmicos

Aspectos da linguagem

- Treino compensatório. “Quando os professores dizem enfatizar, ou priorizar atividades que visem o treino de habilidades, supostamente deficitárias, nos alunos com DI, e que visem compensar a limitação intelectual, e recorrem a tarefas cognitivas, motoras, de atenção e concentração, de discriminação, raciocínio lógico, ou quando reportam genericamente ao treino em habilidades cognitivas superiores” (p. 56).

Aspectos cognitivos

Fonte: Adaptado pela autora de Mendes, Tannús-Valadão e Milanesi (2016, p. 55-56).

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É perceptível, pelo que demonstra o Quadro 4, que o PAEE não prioriza ou

estabelece relação com as tendências Promoção da motivação e Treino instrumental

junto ao segmento “Características do Aluno”, assim como as tendências Ensino de

currículo padrão e Ensino de currículo adaptado podem ser relacionadas, mas não

pontualmente aos Aspectos Cognitivos e Aspectos da Linguagem do PAEE. Todavia,

todas as tendências podem ser abordadas e até enfatizadas nas práticas, visto que

os campos de preenchimento para a “Proposta de atendimento”:

- [...] não indicam quais são o teor e os aspectos que podem ser abrangidos. (Participante PHI).

Thiciane Pieczarka (s/d.) destaca que o foco do trabalho do professor do AEE

“[...] deve estar em um novo enfoque das dimensões do currículo, sendo essa a

principal barreira na efetivação do sucesso da aprendizagem” (PIECZARKA, s/d., p.

3).

Um olhar detalhado para as partes que compõem o PAEE possibilita uma

análise crítica de sua constituição. A primeira parte do PAEE da escola, visível na

Figura 13, está direcionada aos dados institucionais, aos dados do aluno e do

professor que, subentende-se, seja da SRM uma vez que é de sua competência a

elaboração do Plano.

Figura 13 – Primeira parte do PAEE da escola: dados de identificação

Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coligidos.

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No cabeçalho do PAEE, que neste estudo é destacado como primeira parte,

apresentam-se os campos para identificação da escola e do estudante de forma

simples, escassa e insatisfatória para o que se espera, que são as informações de

identificação pessoal e escolar do aluno.

Considerando que os documentos legais não fazem menção sobre a natureza

ou especificidade das informações pessoais e/ou escolares do estudante necessárias

para a composição do PAEE, os campos obrigatórios, pelo modelo orientador

disponibilizado pelo órgão gestor da Educação Especial paranaense, vêm a ser as

mais sucintas possíveis:

- Pede apenas o nome da escola, do aluno e do professor da SRM. Não dá pra saber quase nada de quem é esse aluno! (Participante PP1).

Entendemos que, nesse campo, muitas informações poderiam ser coletadas,

as quais permitiriam ao professor conhecer um pouco mais da história do estudante e

dos contextos pessoal e escolar do qual ele faz parte, pois, reconhecendo a criança

como sujeito histórico e cultural (VIGOTSKI, 1998; VYGOTSKI, 2007), conhecer sua

história e seu meio fornecem, certamente, explicações sobre seus percursos e níveis

de aprendizagem.

Esse campo consistiria um local apropriado para informar, como sugere Poker,

et al. (2013, p. 23), “[...] dados familiares que são importantes para contextualizar a

situação do aluno, na família, bem como a sua situação social e econômica”, para

abordar “[...] a trajetória escolar do aluno, informação fundamental para o professor

conhecer as experiências já vividas, as oportunidades que o aluno já teve e, também,

a maneira como a escola está respondendo às suas necessidades” (POKER et al.,

2013, p. 23). Contudo, essa janela fica aberta uma vez que, como já apontado

anteriormente, cada professor tem a liberdade de adaptar ou modificar o PAEE de

acordo com sua experiência.

O campo Características do Aluno, que, neste estudo, chamamos de segunda

parte do PAEE, permite o levantamento e a coleta de informações que caracterizam

o desenvolvimento do estudante, com o registro de suas potencialidades e

dificuldades em cada aspecto citado, como demonstra a Figura 14 a seguir.

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Figura 14 – Segunda parte do PAEE da escola: caracterização do aluno

Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coligidos.

Como é possível perceber na Figura 14, o item “Características do aluno”

constitui-se em um registro avaliativo das dificuldades e das potencialidades do

estudante, fundamentando a elaboração da proposta de atendimento. Entretanto, para

se alcançar esse propósito, é importante

[...] que seja feita uma avaliação compreensiva do nível de desenvolvimento e aprendizagem do aluno, considerando o que ele já sabe para que se possa determinar suas necessidades educacionais específicas, com base nas quais será elaborado o plano. (GLAT; VIANNA; REDIG, 2012, p. 84-85).

Especificamente sobre o PAEE instituído, um dos professores participantes da

pesquisa de um dos grupos que fez a análise desse instrumento ressaltou que, ao que

se refere à função dos campos “dificuldades” e “potencialidades”, é possível

exemplificar com o seguinte excerto das reflexões:

- [...] como uma dificuldade de ele (o aluno a quem o plano se destina) se socializar, uma timidez que ele tem, então a potencialidade para que ele desenvolva isso, socialização, atividade em grupo, brincadeiras em grupo, você pode colocar no plano de ação. (Participante PG1).

Já outro grupo salientou a importância dos aspectos psicomotores, o qual

consideraram

- [...] importantíssimo no caso da Joana [...]. (Participantes PH, PSRM e PPEF).

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O grupo acrescentou, ainda, que as informações para municiar os campos de

caracterização do estudante advêm da

- [...] ficha de referência22 e demais anexos23 [...], então todas as fichas são lidas pela gente e levadas em consideração para os próximos encaminhamentos. (Participantes PH, PSRM e PPEF).

É importante registrarmos que esse levantamento de informações pertinentes

às dificuldades e às potencialidades do estudante acerca dos aspectos elencados tem

como função, como bem afirmam Pletsch e Glat (2013, p. 24-25), “[...] facilitar a

tomada de decisão sobre quais recursos e adaptações curriculares deverão ser

orquestrados, pois permitem o conhecimento não só das dificuldades, mas também

das possibilidades dos alunos”.

Dessa forma, o que denominamos de terceira parte do PAEE analisado

constitui-se em subsídio, indicativo para a elaboração e a programação da parte

seguinte: a proposta de atendimento, retratada na Figura 15.

Figura 15 – Terceira parte do PAEE da escola: proposta de atendimento

Fonte: Elaborada pela autora a partir dos dados coligidos.

22 Ficha de Referência Pedagógica (PARANÁ, 2012) contém a descrição dos aspectos observados pelos professores das disciplinas em relação aos conhecimentos acadêmicos e estratégias de aprendizagem do aluno. 23 Anexos do documento Subsídios para Avaliação Psicoeducacional no Contexto Escolar - Orientações Pedagógicas, da SEED/DEEIN – Paraná (PARANÁ, 2012), trata-se de uma relação de nove anexos distintos a cada área da avaliação psicoeducacional a ser realizada com o aluno com algum tipo de dificuldade na aprendizagem para comprovação ou refutação de necessidade de atendimento educacional especial.

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A terceira parte do PAEE, como pode ser verificada na Figura 15, compõe-se

da Proposta de atendimento do estudante a quem se planeja. Trata-se do

planejamento das ações e das práticas pedagógicas, a partir do levantamento

construído sobre as dificuldades e as potencialidades para a aprendizagem que se

encontram registrados na segunda parte do PAEE.

Pieczarka (s/d) destaca alguns aspectos da dimensão curricular no AEE do

estado paranaense. A autora afirma que “[...] é necessário repensar o planejamento a

partir de seus objetivos, metodologias e estratégias facilitadoras da aprendizagem, já

conhecendo as características dos estudantes” (PIECZARKA, s./d., p. 3).

Na disposição dos componentes dessa parte do PAEE, os “objetivos”, como

em qualquer outro Plano de atendimento individualizado visto nas pesquisas sobre o

tema e já relacionadas anteriormente, diz respeito ao porquê e para que eles

aprendem. Os objetivos estão diretamente relacionados, segundo a participante

PEE1:

- [...] aos resultados esperados, ou às expectativas que se tem em mente para o estudante. (Participante PEE1).

No instrumento analisado, o campo dos “Objetivos” é designado ao registro das

metas que se estabeleceu para serem atingidas no período letivo a que o Plano de

destina.

Observando essa dimensão do planejamento sob a perspectiva inclusiva, o quanto mais próximo da realidade o objetivo estiver, mais facilmente ele será alcançado. Isso quer dizer que ao traçar os objetivos de aprendizagem, o professor precisa ter clareza do conhecimento que seus estudantes já possuem para, a partir desses conhecimentos, alcançarem os objetivos propostos. (PIECZARKA, s.d., p. 4-5).

Assim, há que se ter cuidado no estabelecimento dos objetivos de

aprendizagem do estudante. A participante PSRM da pesquisa, como professora de

sala de recursos, narra a esse respeito que

- [...] revisa os objetivos constantemente, se está alcançando ou não [...]. (Participante PSRM).

O campo “Plano de ação/atividades” destina-se à forma como a prática

pedagógica será apresentada. Esse PAEE diz respeito à organização da metodologia,

das atividades, dos recursos e, também, dos conteúdos que serão planejados e

trabalhados. Diz a participante PLP da pesquisa que

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- Se é coisa que a gente faz, então está dentro do plano de ação. (Participante PLP).

“Período de duração” nada mais é do que o registro do período para o qual se

está realizando o Plano. Comumente, esse período divide-se em unidades de tempo

que compõem o ano letivo. “Resultados esperados” trata-se de campo destinado ao

registro das expectativas que se tem para o estudante ao final do período

letivo; está relacionado diretamente aos objetivos que foram

estabelecidos.

- Aqui nós registramos aquilo que a gente espera que o aluno seja capaz de fazer até o final do ano. Tem que ser sempre algo além do que ele já faz hoje. Muitas vezes conversamos com as professoras deles pra saber o que elas também querem. Aí adaptamos àquilo que se encaixe com o que imaginamos que ele consiga fazer. (Participante PSRM).

Já os “Resultados obtidos” refere-se ao campo a ser preenchido no final do

período ou quando se observam evoluções na aprendizagem e no desenvolvimento

do estudante.

- Esse campo só é preenchido após o conselho de classe do final do ano, quando já sabemos o resultado final: se o aluno foi aprovado ou reprovado e então descrevemos o porquê o aluno obteve esse resultado. Se reprovou, o que o levou a isso e se foi aprovado, isso foi resultado do que além de sua evolução? (Participante PEE1).

Uma vez que todos os participantes analisaram o Plano posto em exercício, as

conclusões são similares como finaliza uma das participantes:

- [...] dentro desse plano de ação o nosso (modelo de PAEE do estado do Paraná) dá para você fazer muita coisa, para você trabalhar. Ele deixa você fazer isso. (Participante PG1).

Entretanto, quando comparado aos outros modelos trazidos pela pesquisadora,

a percepção de que algumas áreas ou tópicos estão ausentes das possibilidades

permitidas pelo formato posto se revelam, como será possível observar mais adiante

ao detalharmos a análise de cada plano.

3.2 OUTRAS POSSIBILIDADES DE MODELOS

A segunda parte do PAEE, a Proposta de Atendimento, destinada ao

planejamento da ação pedagógica prevista nos documentos legais, volta-

se aos objetivos que se quer para o estudante no período determinado e,

principalmente, ao registro das atividades propostas para o alcance

desses objetivos, no campo Plano de ação.

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Participantes da pesquisa observaram que, apesar de alguns itens, quando

comparados a outros Planos Educacionais Individualizados, não estarem

contemplados no PAEE do estado do Paraná, podem ser levados em conta e

atendidos dentro do campo Plano de Ação, pois, como afirmou a participante PG1

anteriormente, nesse campo “[...] dá para encaixar muita coisa para trabalhar [...]”. O

grupo dessa mesma participante observou que, nesse campo, é possível

“[...] o registro de qualquer tipo de atividade, todas as disciplinas”

(Participantes PP1, PLP e PG1).

Com essa amplitude de possibilidade de registro das estratégias a

serem planejadas para o estudante, abre-se um leque que não direciona e não

especifica se há sistematização para as intervenções propostas e como deve ser essa

sistematização. Nesse sentido, a participante PSRM, que é professora de Educação

Especial, relata que, “[...] na hora que a gente organiza, o foco principal é o Português

e a Matemática, mas a gente leva em consideração as outras disciplinas [...]”

(Participante PSRM). Depreendemos, então, que o campo Plano de Ação acaba por

abranger o planejamento das intervenções pedagógicas propostas, as atividades, os

recursos, as adaptações, as flexibilizações e outros componentes que cada professor

entenda necessário à aprendizagem do estudante para quem se está planejando.

Juntamente à entrega de vias do PAEE utilizadas pela Escola (Figura 13),

procedeu-se à entrega de cópia de modelo distinto já validado em estudo científico ou

outra realidade escolar para cada grupo. Para o Grupo 1, foi entregue o modelo de

Plano Educacional Individualizado (PEI), adaptado por Romeu Kazumi Sassaki (1999)

de um modelo americano - Individual Education Program (IEP)24 (TANNÚS-

VALADÃO, 2010; SKRTIC, 2014). Sassaki apresentou e disponibilizou essa

adaptação de um modelo americano para o Programa Educação Inclusiva: Direito à

Diversidade, do Ministério da Educação (1999), do qual ele foi docente.

De acordo com Tannús-Valadão (2010), que investigou a realidade de quatro

países sobre o tema, entre eles os Estados Unidos, Individual Education Program

(IEP) “[...] são os termos técnicos daquele país para o conceito de planejamento

educacional individualizado” (TANNÚS-VALADÃO, 2010, p. 61), havendo vários

modelos.

24 The Individual Education Program (IEP), manual compilado pela Northern California Coalition for Parent Training and Information (NCC).

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O Quadro 5 demonstra os componentes e a estruturação do modelo de

Sassaki, analisado pelo Grupo 1.

Quadro 5 – PEI adaptado por Sassaki (1999)25

Fonte: The Individual Education Program (IEP), manual compilado pela Northern California Coalition for Parent Training and Information (NCC). Adaptado por Sassaki (1999).

Ao comparar os componentes de ambos os planos, o Grupo 1 registrou como

relevante que:

- [...] há uma equipe de elaboração; - enquanto o nosso (PAEE da escola) fala em “aspectos”, este fala em

“habilidades”; - o registro é de aspetos positivos do aluno: “facilidades” que ele apresenta;

‘situações significativas’; “habilidades’”. - prevê que é preciso planejar a metodologia e os recursos que serão usados. - a avaliação é descritiva com o registro de situações significativas no

desenvolvimento do aluno. (Participantes PEE1, PA e PC, aspas das participantes).

É possível percebermos que as participantes exploraram as possibilidades de

registro e planejamento que esse modelo traz a partir de um enfoque nas habilidades

e nos avanços do estudante. Afirmamos, assim, que esse modelo de PEI está em

alinhamento com um dos princípios do PEI que é o atendimento das singularidades

25 O PEI originalmente apresentado por Sassaki (1999) está disposto em seis páginas, sendo uma para cada habilidade. Aqui apresentamos uma versão condensada, mas com todos os itens na íntegra para fins de organização gráfica harmoniosa do texto.

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educacionais do aluno e a consideração das especificidades do processo educacional

(PLETSCH; GLAT, 2013).

Por atendimento das singularidades do estudante, nesse modelo de PEI

reporta-se ao fato de ele prever o registro de seis diferentes áreas de habilidades

individuais do aluno, assim como o levantamento de facilidades que ele apresenta

para compreender o conteúdo de cada área de habilidade (SASSAKI, 1999).

O Grupo 2 encarregou-se da análise e da comparação do PAEE instituído na

escola com o modelo de Plano Educacional Individualizado (PEI) apresentado por

Pletsch e Glat (2013, p. 26 a 29), que, embora não seja apresentado em forma de

formulário como o PAEE vigente, as autoras o trazem a partir de uma relação de

componentes básicos para a elaboração, acompanhado de um quadro com os “Níveis

de planejamento do PEI” (Quadro 6) e outro com os “Componentes básicos

do PEI” (Quadro 7). Como as autoras propõem que o PEI seja uma

alternativa que ofereça parâmetros a serem atingidos por cada estudante,

foi entregue juntamente a ele o “Inventário de habilidades escolares”

(Quadro 8), de autoria de Pletsch (2010), e apresentado por Pletsch e Glat (2013)

como um instrumento para avaliar e conhecer o nível de desenvolvimento escolar do

estudante, pois consideram uma das dimensões necessárias para a composição do

PEI.

Pletsch e Glat (2013), que pesquisam na área desde 2009, apresentam o PEI,

partindo de um enfoque propositivo como “[...] estratégia para contemplar a

diversidade do alunado presente, hoje, em nossas escolas e, principalmente, como

resposta educativa aos casos de alunos com deficiência [...]” (PLETSCH; GLAT, 2013,

p. 18).

As autoras enfatizam a importância da avaliação como fundamentação para a

elaboração de metas para estudantes com necessidades especiais, tornando-se um

componente essencial no sistema educativo (PLETSCH; GLAT, 2013). Por isso, elas

sugerem três níveis de planejamento (Quadro 6) para a elaboração do PEI analisado

pelo grupo: Identificação, Avaliação e Intervenção. A partir desse axioma, indicam

componentes básicos (Quadro 7) de um PEI e ressaltam a ideia de que é

fundamental que ele seja “[...] elaborado de forma colaborativa entre os

professores especialistas de suporte e os regentes da turma comum [...]”

(PLETSCH; GLAT, 2013, p. 32). Assim, juntamente ao Inventário de

habilidades de autoria de Pletsch (2010) (Quadro 8), as autoras propõem as diretrizes

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para a elaboração de um PEI, o qual foi analisado pelo grupo de participantes em seu

conjunto.

Assim sendo, os Quadros 6, 7 e 8, como já apontamos, reproduzem os quadros

e o inventário de habilidades, respectivamente, analisados pelo segundo grupo.

Ressaltamos que tais quadros e inventários foram, assim como o modelo anterior de

Sassaki (1999) e o que virá a seguir, de Poker et al. (2013), adaptados para a

apresentação e a organização gráfica neste estudo, porém podem ser encontrados

com todos os itens e versão na íntegra em Pletsch e Glat (2013).

Quadro 6 – Níveis de Planejamento do PEI segundo Pletsch e Glat (2013)

Fonte: Adaptado de Pletsch e Glat (2013, p. 26).

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Quadro 7 – Componentes básicos do PEI segundo Pletsch e Glat (2013)

Fonte: Adaptado de Pletsch e Glat (2013, p. 27).

Quadro 8 – Inventário de habilidades escolares (PLETSCH, 2010)

Fonte: Adaptado de Pletsch e Glat (2013, p. 28-31).

O segundo grupo, na análise das diretrizes propostas por Pletsch e Glat (2013)

e ilustradas nos Quadros 6, 7 e 8, anteriormente apresentados, assinala como

elementos do PEI analisado e que merecem destaque que:

- [...] contempla três níveis de planejamento (identificação, avaliação e intervenção. - [...] professor do ensino comum e do AEE planejam em conjunto.

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- [...] há anuência parental (sobre o que foi planejado para o aluno). - [...] inventário de habilidades (escolares) em português e matemática. (Participantes PSRM, PHI e PEF).

O grupo reflete que há várias semelhanças de meios e fins com o modelo em

uso na escola, uma vez que documentos secundários como as Fichas de Referência26

não fazem parte especificamente do PEI, mas assemelham-se ao inventário de

habilidades escolares analisado. A esse respeito, a participante PSRM afirma:

- [...] o inventário de habilidades [...] que nós temos como as fichas de referência, os anexos, [...] são lidas pela gente e levadas em consideração para os próximos encaminhamentos. (Participante PSRM).

O Grupo 2 destaca ainda o fato de, nesse PEI, o professor do ensino

comum e do atendimento educacional planejarem juntos. São as

primeiras pistas do trabalho colaborativo entre os professores das duas

esferas e que Zerbato (2014), em sua pesquisa sobre o papel do

professor de Educação Especial, na proposta do coensino, relata que este vem sendo

adotado em vários países e se configurando em um dos mais promissores serviços

de apoio para favorecer a aprendizagem de estudantes com deficiência no ensino

comum. O trabalho colaborativo também se configura como tema de relevância nesta

pesquisa, sendo abordado mais profundamente no próximo capítulo.

O Grupo 3 analisou o PAEE da escola e o modelo apresentado por Poker et al.

(2013, p. 25 a 30; 34 a 37), o qual os autores denominam como Plano de

Desenvolvimento Individual (PDI). Segundo as autoras desse PDI, trata-se “[...] de um

documento que pretende orientar a organização do trabalho pedagógico realizado

pelo professor do AEE. [...] constitui-se em um roteiro de avaliação e

intervenção pedagógica para alunos que frequentam a SRM” (POKER et

al., 2013, p. 12). Essa proposta de planejamento individual foi desenvolvida

em parceria pela UNESP com o Ministério da Educação (MEC) durante

Curso de Especialização em AEE, na modalidade a distância entre 2010 e 2011.

O PDI é constituído por duas partes: a primeira define-se por um roteiro de

avaliação, e a segunda por roteiro para elaboração da intervenção pedagógica,

chamada pelas autoras de Plano Pedagógico Especializado. Segundo as

26 Ficha de referência são formulários com questões de diferentes áreas do desenvolvimento e do conhecimento disciplinar que os professores do ensino comum respondem sobre o aluno para o municionamento de informações para avaliação psicoeducacional de ingresso no AEE e que servem também ao professor de AEE para programar suas intervenções.

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pesquisadoras, a avaliação tem papel fundamental no oferecimento de

uma educação inclusiva de qualidade pois

[...] uma avaliação detalhada das competências de aprendizagem, capaz de coletar dados sobre as dificuldades do aluno, no que tange aos processos cognitivos subjacentes aos diferentes conteúdos, bem como aos aspectos sociais, familiares, emocionais e escolares, é que permite, de fato, planejar estratégias pedagógicas individualizadas, para promover o seu desenvolvimento. (POKER et al., 2013, p. 22).

A segunda parte do PDI forma-se pelo plano de intervenção pedagógica, ou

Plano Pedagógico Especializado (PPE) a ser desenvolvido na SRM. Sua

elaboração, de acordo com as autoras, tem como base os dados registrados

na primeira parte e

[...] deve enfocar, além de proposições para o atendimento pedagógico do aluno, considerando seu potencial de aprendizagem, propostas de ações necessárias para atender as suas necessidades educacionais especiais no âmbito da escola, da sala de aula, da família e dos serviços de apoio. (POKER et al., 2013, p. 12).

Dessa forma, a propositura das autoras é que o PDI seja um mecanismo

dinâmico, passível de revisões e adaptações para ajustar-se às

necessidades da escola, do professor e, principalmente, às

necessidades educacionais reais de cada estudante.

Os Quadros 9 e 10 representam o modelo de PDI (POKER et al.,

2013) analisado pelo Grupo 3.

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Quadro 9 – Primeira parte do modelo de PDI – Roteiro de Avaliação (POKER et al., 2013)

Fonte: Adaptado de Poker et al. (2013, p. 25-30).

A primeira parte do plano analisado, como podemos perceber no Quadro

anterior (Quadro 9) requer, segundo o grupo que o analisou:

- [...] informações sobre: ações já necessárias já existentes e ações que precisam ser desenvolvidas na escola, na sala de aula, na família e na saúde. (Participantes PP1, PG1 e PLP).

E, na segunda parte (Quadro 10), a seguir, as informações requeridas

relacionam-se ao trabalho da Sala de Recursos Multifuncional propriamente dito.

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Quadro 10 – Segunda parte do Modelo de PDI - Plano Pedagógico Especializado – PPE (POKER et al., 2013)

Fonte: Adaptado de Poker et al. (2013, p. 34-37).

De posse desse PDI, o grupo realizou observações comparativas com o PAEE

da escola e concluíram que o PDI (Quadros 9 e 10):

- [...] utiliza outra linguagem, mas ele contempla [...]. (Participante PLP).

Segundo o grupo, os aspectos que caracterizam o estudante estão descritos

no campo “Características do aluno” do PAEE. A participante ainda afirma que:

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- A gente tem que ler, para pensar, para ver onde se encaixa na verdade, mas a gente analisou e viu que também estão presentes todos esses aspectos. (Participante PLP).

O grupo registrou ainda como relevantes: a) o fato de a primeira parte ser

preenchida pelos professores do regular e da SRM; b) as informações familiares e

escolares do estudante serem mais completas do que no PAEE; c) a

primeira parte ser semelhante a anamnese que os professores da SRM

da escola fazem com a mãe do estudante como parte do processo de

avaliação para ingresso no AEE. Além disso, considerando o que os

outros grupos já comentaram sobre o Plano de Ação do PAEE instituído, o grupo

afirmou que:

- a segunda parte é um plano de ação em que os itens a serem trabalhados estão bem especificados. (Participante PG1).

Percebemos, pelas observações do grupo, que há muitas semelhanças entre

os dois modelos, porém o PDI é mais específico em alguns itens. Já, sobre

a estruturação dos componentes do PDI, “Avaliação e intervenção passam

a se relacionar diretamente” (POKER et al., 2013, p. 22).

Contudo, durante a atividade de análise dos modelos, muitos aspectos que

continham em um modelo não eram encontrados no PAEE da escola em análise e

vice-versa. Para melhor visualização desses dados, organizamos os Quadros 11 e 12

com as informações que emergiram em cada grupo e que se apresentam a seguir.

Quadro 11 – Tópicos que os modelos analisados não contemplam em comparação ao PAEE

instituído na escola participante

Modelo analisado Não contempla em relação ao PAEE da escola

PEI adaptado por Sassaki (1999)

- Aspectos afetivos. - Resultados esperados.

PEI sugerido por Pletsch e Glat (2013)

- Aspectos psicomotores. - Aspectos afetivos. - Resultados esperados.

PDI apresentado por POKER et al. (2013) - Resultados esperados.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados coletados.

Esse quadro permite observar que os aspectos afetivos não são contemplados

em dois dos modelos. O que se percebe é que ambos os modelos se direcionam para

a intervenção especificamente pedagógica, estão voltados ao atendimento das

necessidades educacionais do estudante. Já o tópico “resultados esperados” não

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aparece em nenhum dos três modelos, embora, no PEI sugerido por Pletsch e Glat

(2013), haja o tópico de objetivos gerais como “[...] conjunto de metas educacionais

anuais a serem atingidas nas diferentes áreas curriculares” (PLETSCH; GLAT, 2013,

p. 27) e se assemelhe ao que se entende que sejam os “resultados esperados”

constantes no PAEE da escola participante da pesquisa.

Quadro 12 – Tópicos que o PAEE instituído na escola participante não contempla em comparação aos modelos analisados

Modelo analisado PAEE não contempla em comparação ao modelo

PEI adaptado por Sassaki (1999)

- Habilidades de recreação e lazer. - Habilidades pré-profissionais e profissionais. - Habilidades da vida diária.

PEI sugerido por Pletsch e Glat (2013)

- Sistema de transição (para sair da escola – vida adulta). - Previsão de participação do estudante nas avaliações padronizadas. - Planejamento conjunto entre AEE e ensino comum. - Anuência parental para o que foi planejado para o aluno.

PDI apresentado por POKER et al. (2013)

- A frequência semanal. - Outros profissionais envolvidos. - Orientações a serem realizadas pelo professor do AEE.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados coletados.

Ao examinarmos o PAEE da escola, comparando-o aos outros modelos, é

possível constatarmos que vários componentes não são contemplados, mas que

poderiam fazer parte dele. Esses componentes tornam-se, assim, “pistas” para o

plano colaborativo emergente desta pesquisa. Destacamos, por conseguinte, nesse

momento, o planejamento conjunto, o envolvimento de outros profissionais (equipe

pedagógica e gestora), as orientações do professor de AEE, dimensões

que entendemos ser do trabalho colaborativo. Merece destaque ainda a

anuência da família para o que se planeja para o estudante.

Ao final das atividades de análise dos referidos PAEE,

PEI e PDI, é possível destacar que todos eles têm grande preocupação

com a identificação das necessidades educativas como forma de avaliar

o potencial do estudante e, então, planejar estratégias de intervenção pedagógica que

interfiram diretamente no processo de ensino e aprendizagem do estudante. Como

afirmam Magalhães, Cunha e Silva (2013, p. 46), torna-se “[...] um mapa valioso para

o professor”.

Uma vez que, como afirma Vigotski (1998) e Vygotski (2007), a forma como

acontece a interação entre o indivíduo e o mundo interfere diretamente no seu

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desenvolvimento emocional e cognitivo, o Planejamento Individualizado, em suas

diferentes denominações, constitui-se em instrumento de interação mediada entre o

professor e o estudante, ou mediação da aprendizagem, que, ao considerar a

singularidade daquele para quem se planeja, alavanca o potencial

cognitivo que está para ser construído.

A mediação da aprendizagem pelo professor, segundo Magalhães,

Cunha e Silva (2013, p. 38), estimula “[...] as funções cognitivas ainda

não consolidadas, promovendo a apreensão dos conceitos e conteúdos que estão a

um passo de ser adquiridos com autonomia pelo aluno”.

A análise do Plano em uso na escola e de outros modelos por grupos formados

por professores do ensino comum e da Educação Especial permitiu o

compartilhamento de opiniões, de compreensões e de mediações que possibilitaram

o descortinamento de novas possibilidades de práticas pedagógicas a partir do

trabalho colaborativo para o planejamento educacional personalizado de estudantes

com deficiência em contexto de inclusão, como afirmam as participantes PLP e PSRM

ao concluir o encontro da formação que tratava das análises dos planos:

- [...] estão saindo situações bem interessantes para conseguir desenvolver um trabalho melhor com ela (a aluna Joana). (Participante PLP).

- Vejo muitos pontos para a gente discutir, para a gente conversar e achar caminhos... (Participante PSRM).

As palavras das participantes PLP e PSRM sugerem que já foram dados os

primeiros passos no caminho da colaboração como processo em busca da

aprendizagem e da inclusão escolar da estudante com deficiência tomada como

referência para a pesquisa. Nessa direção, o capítulo seguinte apresenta os dados

referentes ao diagnóstico de quem é essa estudante a partir do olhar da pesquisadora,

dos professores e como esses olhares se entrelaçaram nessa descoberta.

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4 NOSSA ALUNA COM DEFICIÊNCIA: O ENCONTRO DE OLHARES DOCENTES

La calidad de los aprendizajes que logran los alumnos está en

gran parte influenciado por la calidad de los procesos que

ocurren en el aula, […]. Gran parte de lo que ocurre en un aula

depende de lo que piensan y hacen los maestros.

Juan Casassus (2003, p. 125)

Na busca pela mudança e pelo redirecionamento do olhar que professores e

equipe pedagógica têm sobre o estudante com deficiência, seu processo de ensino e

aprendizagem e, igualmente, na procura do movimento desse olhar provocado por

fundamentos da perspectiva histórico-cultural de Vigotski (1998, 2001, 2003), Vygotski

(1993, 1997, 2004, 2007, 2011) e Vygotsky (2003), este capítulo intenta descortinar e

analisar o exercício desse redirecionamento a partir dos conhecimentos propiciados

pela pesquisa formação. Buscamos descortinar e analisar o conhecimento que

professores e equipe pedagógica têm sobre a estudante com deficiência tomada como

referência e parâmetro para a pesquisa, assim como conhecer de que forma equipe

pedagógica, professores de disciplinas e da Educação Especial desta estudante se

relacionam entre si.

O exercício de olhar para as práticas de escolarização realizadas pelos

professores participantes da pesquisa junto à estudante Joana foi realizado pelos

próprios professores a partir de atividades e da observação de situações vivenciadas

pelo grupo, assim como pelo estudo de textos científicos concernentes às temáticas

em questão, de modo a possibilitar discussões e reflexões que se traduziram nas

análises apresentadas neste capítulo. Vale lembrarmos que Joana, foco das

dinâmicas realizadas na pesquisa, se caracterizou apenas como referência para a

escolha dos sujeitos do estudo e como modelo para as situações de ensino propostas

como atividades da pesquisa formação, não sendo ela o objeto de investigação.

Na época da pesquisa, como já mencionamos anteriormente, Joana, uma

menina diagnosticada com deficiência intelectual e Transtorno do Espectro do

Autismo (TEA), estava com 12 anos de idade e frequentava uma sala de aula de 6º

ano com 25 alunos. Joana, segundo relatos dos professores, no período de realização

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da pesquisa, era uma estudante com muitas dificuldades na aprendizagem e ainda

consolidando o processo de alfabetização, conforme relatos a seguir27:

- É que ela gruda as palavras, sozinha ela faz um amontoado tremendo. [...]. Não existe construção de frases. (PLP).

- E ela tem muitas omissões de letras. Então, às vezes, a gente também não consegue ler. [...] a dificuldade dela também é a interpretação. (PSRM).

Joana foi matriculada no colégio no início de 2017, egressa do 5º ano realizado

em uma escola da Rede Municipal, sem histórico de reprovações, na qual já

frequentava Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) e contava com Professor de

Apoio Educacional Especializado28, acompanhando-lhe, ou Professor de Apoio, como

passa a ser adotado neste estudo.

Rememorado quem era a estudante que valeu como guia para a escolha dos

sujeitos e para os estudos e investigações, voltamos, neste capítulo, para a análise

dos episódios da formação que tratavam de identificar o que os professores

conheciam dessa estudante, quais suas principais necessidades de aprendizagem e

como era a relação entre os professores de Joana.

Nesta etapa da pesquisa, o objetivo era construir um olhar conjunto sobre a

estudante para que os sujeitos conhecessem melhor quem era essa

estudante tomada como referência e o que ela poderia vir-a-ser.

Procurou-se levá-los a compreenderem as atitudes, os

comportamentos, o envolvimento, os ritmos e os percursos da

aprendizagem de Joana, a fim de que pudessem perceber a diversidade de alunos

que se encontram presentes em suas salas de aula.

Conhecer o estudante com quem se trabalha é condição necessária para a

efetividade da prática pedagógica na escola inclusiva. Mendonça e Miller (2010)

afirmam que conhecer o aluno

[...] em sua concreticidade não se limita ao conhecimento do que ele é, mas também ao conhecimento do que ele pode vir a ser, e este conhecimento exige um claro posicionamento em favor de algumas possibilidades desse vir-

27 Os textos de anotações do diário de notas de campo, transcrição de videogravações e dos murais do Padlet serão grafados na mesma fonte do corpo do texto, porém em itálico e com o mesmo espaçamento das citações a fim de dar destaque ao seu conteúdo. 28 De acordo com a Deliberação No 02/2016, do Conselho Estadual de Educação do estado do Paraná, o Professor de Apoio Educacional Especializado é também uma das formas de AEE disponibilizadas aos estudantes público-alvo da Educação Especial, porém apenas àqueles diagnosticados com TEA, sendo esse o motivo de Joana ter um professor lhe acompanhando, e não o diagnóstico de DI.

co

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a-ser e consequentemente, contra outras. (MENDONÇA; MILLER, 2010, p. 49-50).

Em suas pesquisas sobre a defectologia29 Vigotski assevera que as leis que regem o

desenvolvimento da criança, quer seja com deficiência, quer seja sem deficiência, são

as mesmas (VYGOTSKI, 1997, p. 133). O autor esclarece que

[…] las leyes que rigen el desarrollo, tanto del niño anormal como del normal, son en lo fundamental las mismas, así como las leyes que gobiernan la actividad vital siguen siendo las mismas si son normales o patológicas las condiciones de funcionamiento de cualquier órgano o del organismo en su conjunto. (VYGOTSKI, 1997, p. 213).

Com esse posicionamento, Vygotski (1997) argumenta que o objetivo da

educação do estudante com deficiência deve ser o mesmo que para estudantes sem

deficiência: o desenvolvimento cultural das funções psíquicas (ou intelectuais)

superiores30.

Entende o autor citado que o desenvolvimento das funções psíquicas

superiores da criança com deficiência ocorre pelo seu desenvolvimento social, no

processo de inter-relação e colaboração com o meio (VYGOTSKI, 1997, p. 214), ou

seja, na participação em atividades compartilhadas com outros, na internalização de

práticas sociais específicas, na interação com os grupos e contextos sociais que

participa.

Entendendo a escola como um microcosmo social em que as relações de

ensino produzem práticas educativas e, por conseguinte, sociais e específicas, a

educação do estudante com deficiência não deve limitar possibilidades de vir-a-ser

desses sujeitos. Por isso, a importância, neste estudo, em conhecer a estudante a

quem “se ensina”, para só depois disso avançar para o alinhamento do PEI como

instrumento de planejamento e de organização da prática pedagógica que põe em

evidência o potencial de aprendizagem de estudantes com deficiência.

Considerando que a educação é a influência premeditada, organizada e

prolongada no desenvolvimento do indivíduo (VIGOTSKI, 2003), em que conhecer o

aluno se faz condição sine qua non para a construção de relações e formas de

mediação voltadas às especificidades de cada estudante, a etapa da formação voltada

29 Defectologia: “ciência geral da deficiência, com caráter de um sistema, que integrava, numa unidade, os aspectos neurobiológicos, psicológicos, sociais e educativos na análise das deficiências” (PADILHA, 2005, p. 22). 30 Martins (2010, p. 48) explica que, para Vigotski, “[...] as funções intelectuais superiores são aquelas cujas características principais são a consciência refletida e o controle deliberado [...] na psicologia tradicional se denominam atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, etc.”.

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ao diagnóstico foi direcionada para três perspectivas de olhar sobre a estudante

Joana: a) o olhar da pesquisadora na sala de aula; b) o olhar dos docentes em suas

aulas e ambiente escolar; e c) o encontro dos olhares da pesquisadora e dos

professores. Essas perspectivas foram investigadas mais a fundo na etapa de coleta

de dados e compõem a estrutura deste capítulo da tese.

Para o levantamento de dados que substanciassem a investigação nessa

etapa, foram usados recursos valiosos como:

a) O Padlet, que, como já mencionado no capítulo da Metodologia, se trata

de

[...] um recurso para construção de mural virtual, on-line, colaborativo e gratuito. O recurso possibilita aos usuários curtir, comentar e avaliar as postagens de materiais publicados no mural, além de compartilhar com demais usuários para visualização ou edição [...]. (SILVA; LIMA, 2018, p. 3).

A aquisição do conhecimento, como afirma Vygotski (2007), ocorre na interação

do sujeito com o meio. Dessa forma, o Padlet foi escolhido como recurso apropriado

ao que se pretendia usar como estratégia diferenciada de formação e interação. Uma

vez que teve como objetivo permitir que todos os participantes compartilhassem seus

pensamentos e ideias sobre determinado assunto e vissem as respostas dos demais

em tempo real, de forma a possibilitar o fortalecimento na argumentação e na reflexão

sobre opiniões a respeito do tema em questão, o Padlet, devido a sua característica

de “[...] interação entre os participantes e o aprendizado através da troca de

conhecimento numa situação real” (COELHO, s.d., p. 11), foi adotado

apropriadamente aos propósitos desta investigação. Assim como pelo fato de o

software possibilitar que os murais (páginas virtuais) elaborados possam ser

armazenados em formato PDF, permitindo a impressão das inserções e do material

produzido, contribuindo no trabalho de análise de conteúdo dos dados coletados.

Sobre o uso do referido software como recurso tecnológico de colaboração e

aprendizagem, Silva e Lima (2018) argumentam que: “Ferramentas como o Padlet,

que apresentam características colaborativas, permitem a interação dos sujeitos

difundindo ideias, cultura, democratizando as informações e aprendendo em um

contexto diferente [...] da tradicional sala de aula” (SILVA; LIMA, 2018, p. 3).

Nas etapas em que o Padlet foi utilizado como espaço colaborativo e de

interação na realização das atividades da formação, a pesquisadora criou,

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antecipadamente, uma conta no site do Padlet31, com o intuito de elaborar os murais

específicos para cada atividade que se pretendia usar a ferramenta. Foi solicitado,

portanto, que cada participante trouxesse para os encontros um dispositivo de

smartphone, tablet ou notebook para acesso ao Padlet.

Com tais dispositivos pessoais conectados à rede de internet, e com acesso a

uma versão gratuita e disponível do Padlet, proporcionou-se aos sujeitos um ambiente

em que todos pudessem participar de forma síncrona na construção colaborativa do

conhecimento em tela, podendo acessar, interagir com os demais e fazer comentários

(SILVA; DUARTE, 2018, p. 6). Foi criado um ambiente de interação pessoal e virtual

em que os professores participantes da pesquisa criaram oportunidades de diálogo,

de mediação, de colaboração, de troca e de construção de conhecimentos, de forma

a materializar a ambiência social apropriada aos preceitos vigotskianos de um bom

ambiente de aprendizagem.

b) A Escala de Envolvimento de Leuven de Avaliação do Nível de

Envolvimento da Criança na Atividade (LAEVERS, 2014), ou como adotado neste

estudo, a Escala de Envolvimento, foi adaptada (Apêndice B) para realizar a coleta de

informações sobre o envolvimento de Joana em atividades escolares.

Ferre Laevers (2014), ao tratar dos fundamentos da educação experiencial,

mais especificamente da importância do envolvimento como critério de avaliação da

qualidade do contexto educacional, argumenta que o envolvimento se constitui em

“[...] um dos indicadores mais diretos e confiáveis de aprendizagem significativa”

(LAEVERS, 2014, p. 159). O autor assevera que:

Envolvimento é o que observamos quando as crianças estão intensamente engajadas em uma atividade. [...] não é um estado de entusiasmo facilmente atingido por qualquer entretenimento. [...] significa que há atividade mental intensa, que a pessoa está agindo no limite de suas capacidades, com um fluxo de energia que provém de fontes intrínsecas. (LAEVERS, 2014, p. 159-160).

Afirma, ademais, que o envolvimento “[...] não está ligado a tipos específicos

de comportamento nem a níveis específicos de desenvolvimento” (LAEVERS, 2014,

p. 158); por isso, a ferramenta que usou para medir o envolvimento em seu estudo foi

baseada e adaptada por ele da escala original The Leuven Involvement Scale for

Young Children – LIS-YC, que pode ser aplicada em grupos de bebês, crianças,

adolescentes ou adultos (LAEVERS, 2014). A citada ferramenta é constituída por dois

31 Disponível em: www.padlet.com. Acesso em: 10 jan. 2019.

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componentes: uma lista com nove sinais indicadores do comportamento de

envolvimento da criança na aprendizagem e uma escala de cinco pontos com os níveis

de atividade mental da criança na aprendizagem.

Oliveira-Formosinho e Araújo (2004), em relato de pesquisa sobre o

envolvimento como forma de monitorização de processos de aprendizagens da

criança e que também faz referência aos estudos de Laevers com a Escala de

Envolvimento, adaptaram da escala original de Leuven, a qual citam, como

apresentado na Figura 16, os nove sinais de envolvimento:

Figura 16 – Sinais de envolvimento da criança na aprendizagem segundo a Escala de

Envolvimento de Leuven

Fonte: Elaborada pela autora com base em Oliveira-Formosinho e Araújo (2004).

As referidas autoras afirmam que só ocorre o envolvimento se as atividades

estiverem no limite da capacidade da criança, ou seja, ela precisa operar suas funções

psíquicas na zona de desenvolvimento iminente. As atividades não devem ser,

portanto, fáceis ou difíceis demais. As características de cada indicador de

comportamento do envolvimento no momento que a criança realiza atividades

apresentam-se transcritas no Quadro 13.

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Quadro 13 – Sinais e indicadores de Envolvimento – Escala de Leuven adaptada por Oliveira-Formosinho e Araújo (2004)

Sinais Indicadores

Concentração

A criança focaliza a sua atenção ao círculo limitado da sua actividade. Apenas estímulos intensos podem distraí-la. Um ponto importante de referência para o observador são os movimentos oculares da criança, ou seja, os olhos estão fixos no material, nas mãos ou vagueiam ocasional ou permanentemente?

Energia

A energia física está envolvida nas actividades motoras. Podemos mesmo observar o nível de transpiração como uma medida do envolvimento. Noutras actividades, outros componentes físicos podem reter a nossa atenção como falar alto ou pressionar algum material com força. A energia mental pode tornar-se evidente no zelo colocado na acção ou, mais abstractamente, no esforço (mental) evidenciado na face. Isto pode ser acompanhado por sinais como ruborização ou transpiração.

Complexidade e criatividade

A criança aplica livremente e num grau acentuado capacidades cognitivas e outras. Como resultado, o seu comportamento ultrapassa a noção de comportamento rotineiro – a criança envolvida encontra-se a realizar no seu máximo. A complexidade envolve com muita frequência a criatividade: a criança adiciona um toque individual à actividade, produz algo de novo, mostra algo não inteiramente predizível, algo de pessoal, sendo que aquilo que realiza promove o desenvolvimento da sua criatividade.

Expressão facial e postura

Os sinais não-verbais são uma grande ajuda quando se avalia o nível de envolvimento. Por exemplo, é possível distinguir entre olhos que “vagueiam de um ponto para o outro” de um “olhar intenso”. Quando histórias são contadas, sentimentos e humor podem ser inferidos a partir da face da criança. A postura global pode revelar alta concentração ou aborrecimento. Mesmo quando as crianças são observadas apenas por trás, pode avaliar-se o nível de (não) envolvimento.

Persistência

Quando concentrada, a criança dirige toda a sua atenção e energia para um ponto. A persistência refere-se à extensão dessa concentração. A criança que se envolve não abandona facilmente a actividade. Ela pretende obter uma sensação de satisfação experienciada com uma actividade intensa e está preparada para realizar todos os esforços necessários a fim de manter essa actividade. As actividades que suscitam envolvimento tendem a estender-se (de acordo com a idade e níveis de desenvolvimento) e a serem revisitadas.

Precisão

A criança envolvida dá especial atenção ao seu trabalho, é susceptível aos detalhes e mostra precisão nas suas acções. As crianças não envolvidas tendem a realizar o seu trabalho “à pressa”, sendo negligentes. Nas actividades verbalmente orientadas como contar histórias, comunicações em actividades de grupo como o tempo de círculo, os detalhes escapam ao seu reconhecimento (exs.: palavras casuais, gestos).

Tempo de reação

A criança envolvida está alerta e rapidamente responde a estímulos (ela “salta” para a acção), demonstrando motivação. O envolvimento é mais do que uma reacção inicial; de facto, a criança reage a novos estímulos que surgem no decurso da acção.

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Sinais Indicadores

Comentários verbais

As crianças explicitam, por vezes, o seu envolvimento nas actividades através de comentários espontâneos (ex.: “Eu gosto disto! Posso fazer outra vez?”). Elas podem ainda indicar mais implicitamente que as actividades lhes interessam, fazendo descrições entusiastas acerca do que estão/estiveram a fazer; elas não conseguem refrear a sua necessidade de pôr em palavras o que estão a experimentar, a descobrir.

Satisfação

As actividades que possuem a qualidade de envolvimento induzem, a maior parte das vezes, um sentimento de “satisfação”. A fonte deste sen-timento pode variar, mas deve sempre implicar uma resposta a estímulos e exploração. Este sentimento de satisfação é com frequência implícito, mas, por vezes, podemos reconhecê-lo quando uma criança olha com grande satisfação para o seu trabalho, tocando-o, mostrando-o, etc.

Fonte: Elaborado pela autora. Transcrito de Oliveira-Formosinho e Araújo (2004, p. 86-87).

Os sinais/indicadores, apresentados no Quadro 13, permitem examinar se a

criança está realmente envolvida na experiência de aprendizagem.

O segundo componente da Escala de Envolvimento são os níveis de

envolvimento, também apresentados por Oliveira-Formosinho e Araújo (2004) e

Laevers (2014), sintetizados no Quadro 14. Os níveis de envolvimento são indicados

de acordo com o grau de atividade mental da criança durante a execução de uma

tarefa.

Quadro 14 – Níveis da Escala de Envolvimento segundo Laevers (2014)

Níveis Atividade mental da criança

1 Sem atividade. A criança está mentalmente ausente. Se qualquer ação for observada, será meramente uma repetição estereotipada dos movimentos mais elementares.

2 A criança desenvolve ações com diversas interrupções.

3

A criança desenvolve atividade, mas sem envolvimento. Apesar de a criança estar participando de uma atividade (por exemplo, ouvindo uma estória; brincando com argila, massinha ou areia; interagindo com outras pessoas; escrevendo; lendo; terminando uma tarefa qualquer; etc.), ela não demonstra concentração, motivação ou prazer na atividade. Em muitos casos, a criança está apenas presente nas atividades de rotina.

4 A criança apresenta momentos de atividade mental intensa.

5

A criança apresenta atividade intensa contínua. Há engajamento total expresso pela concentração e absorção absoluta pela atividade. Qualquer perturbação ou interrupção seria encarada como um frustrante rompimento de um processo que estava sendo executado suavemente.

Fonte: Elaborado pela autora. Transcrito de Laevers (2014, p. 160-161).

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A escolha da Escala de Envolvimento para observação da estudante tomada

como referência deu-se pelo fato de essa ferramenta já ter sua eficiência comprovada

junto à aprendizagem de alunos com deficiência, como apontam as pesquisas de

Cathcart (2011), Mendes R. da S. (2016) e Silva, C. da (2016), entre outras realizadas

no Grupo de Pesquisa Observatório de Políticas Educacionais da UNIVALI, do qual

esta pesquisadora faz parte, e mais recentemente por Lima e Pletsch (2018).

Além disso, outro fator determinante para a escolha dessa Escala como recurso

para a observação da estudante foi que, como apregoam Oliveira-Formosinho e

Araújo (2004), ela se mostra “[...] um instrumento útil para a regulação dos processos

de ensino-aprendizagem, isto é, para avaliação formativa” e “[...] uma forma óptima

de monitorização de processos/aprendizagens e de os investigar” (OLIVEIRA-

FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p. 91-92). Acrescente-se BASTANTE eficaz para a

observação e a prática pedagógica que reconheça e valorize aquilo que o estudante

com deficiência é capaz de fazer com autonomia e o que faz com ajuda.

c) Jogo do Faz-de-conta. Vygotski (2007), ao afirmar que “[...] elementos das

situações imaginárias constituirão, automaticamente, uma parte da atmosfera

emocional do próprio brinquedo” e que “[...] a situação imaginária de qualquer forma

de brinquedo já contém regras de comportamento” (VYGOTSKI, 2007, p. 110), remete

ao brincar o que é realmente verdadeiro; fazer de conta é ser o que se pensa ser, da

forma como se pensa que deve ser. Mostra, assim, comportamentos nem sempre

visíveis em situações diárias.

Tomamos emprestadas as palavras de Padilha (2005) sobre instrumentos

simbólicos: a dramatização trata de “[...] colocar-se no lugar do outro e de si mesmo,

interpretando-se como personagem ou interpretando outro personagem, realizando

ações que não realizaria de outra forma” (PADILHA, 2005, p. 184). Ao referir-se ao

que diz Vigotski, a autora complementa que “[...] é uma reprodução do real [...] e sendo

um aspecto do brincar [...] é a criação de uma nova relação entre [...] o pensamento e

situações reais” (PADILHA, 2005, p. 184).

Por enfatizar a similitude de tudo que está ligado ao conceito que a criança tem

do que está a representar, passa-se a entender as regras de comportamento do que

está representando. Dessa forma, na pesquisa, o jogo de faz-de-conta surgiu com o

propósito de que as crianças envolvidas se expressassem sob essas regras, trazendo

à tona, aos olhos dos professores, situações reais que não seriam percebidas por eles

em vivências cotidianas. “O que na vida real passa despercebido pela criança torna-

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se uma regra de comportamento no brinquedo” (VYGOTSKI, 2007, p. 111). Assim

sendo, na pesquisa em tela, o jogo de faz-de-conta foi proposto com o intuito de servir

como recurso para que os professores pudessem observar como Joana se colocava

no grupo e perante o grupo de sala de aula, ao representar, junto aos colegas, uma

situação comum na classe.

Os três recursos supra descritos foram sendo lançados, conforme a que se

propunham no decorrer da coleta de dados e na medida em que era possível

incorporá-los à metodologia de ação do primeiro eixo da formação, voltado à

observação de Joana e às relações com o conhecimento e seus professores do ensino

comum e especializado.

O local das observações foi o colégio participante da pesquisa, no município de

Pato Branco, Paraná, e Joana foi observada pelo tempo de uma aula em cada uma

das disciplinas por seus respectivos professores. Pela pedagoga/coordenadora

pedagógica e pela professora de Apoio Educacional Especializado, a observação deu-

se em uma aula de disciplina de livre escolha. A professora de sala de recursos

também observou a estudante em uma aula segundo seu cronograma de

atendimentos. Já a pesquisadora realizou observações da estudante em uma aula de

cada disciplina e um atendimento na SRM. O período de observações concentrou-se

entre a primeira e a segunda semana do mês de novembro de 2017. Essa atividade

fez parte da etapa de formação a distância da pesquisa formação e que, junto à leitura

de textos, antecedeu o primeiro encontro da formação.

4.1 A OBSERVAÇÃO DA ALUNA NA SALA COMUM E NO AEE: O OLHAR DA PESQUISADORA

Com o intuito de conhecer e saber mais informações e dados sobre Joana, a

estudante tomada como referência para a pesquisa e, consequentemente, para as

atividades da formação que levariam à elaboração do protocolo de Planejamento

Educacional Individualizado (PEI), optou-se pela observação da estudante em seus

contextos de escolarização. Constituiu-se em foco da observação, para a

pesquisadora, a coleta de dados que trouxessem informações e material para o

diagnóstico de quem era essa estudante com deficiência. Para tal, optou-se em

realizar a observação não participante a fim de não interferir (ou interferir o menos

possível) no ambiente observado. Por isso, os registros deram-se no diário de notas

de campo da pesquisadora e em formulário da Escala de Envolvimento adaptada para

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esta pesquisa (Apêndice B). Não foram usados recursos como gravadores de áudio

ou vídeo a fim de não tirar a naturalidade das situações que estavam sendo

investigadas e, também, por conta de complicações éticas, uma vez que era

necessário a autorização dos pais de todos os alunos da sala para. Para observar a

estudante sem constranger ou interferir no ambiente e no comportamento da classe,

foi informado a todos que a pesquisadora estaria na sala observando a turma como

um todo e que essa ação se tratava de uma “tarefa” para os seus estudos.

Uma vez que o objetivo das observações era construir um olhar conjunto sobre

a aluna, a partir das perspectivas dos olhares da pesquisadora, dos docentes e do

encontro desses olhares, o cerne das observações foram aqueles propostos como

tópicos das discussões no Eixo 1 – Diagnóstico da formação, quais sejam:

ü Como a estudante se coloca no grupo.

ü Como interage com colegas e professores.

ü Como colegas e professores interagem com ela.

ü Como lida com o conhecimento.

ü O que demonstra conhecer e o que não.

ü Qual o nível de envolvimento nas atividades.

4.1.1 Como Joana se coloca no grupo e interage com colegas

Desde o primeiro contato com Joana, foi possível perceber que era uma menina

quieta e de poucas palavras. Observou-se a estudante nos ambientes da Sala de

Recursos Multifuncionais (SRM) e de sala de aula do ensino comum - sua classe de

sexto ano. O primeiro fato observado foi que Joana se portava de forma diferenciada

nos dois grupos e isso nos remeteu ao pronunciamento de Vygotski (1997) de que a

limitação de uma função particular não leva, obrigatoriamente, a uma limitação do

desenvolvimento humano.

Na Sala de Recursos Multifuncionais, Joana colocava-se e agia de forma mais

segura e autônoma conforme é possível perceber nos excertos da observação

realizada nesse ambiente, durante a realização de uma atividade que consistia em um

jogo de tabuleiro e que, segundo a professora, tinha como propósito “trabalhar o

raciocínio” (PSRM) dos estudantes.

- [...] Durante toda a atividade [...] conversou um pouco com os colegas sobre o jogo [...] tomou iniciativa para separar algumas (peças do jogo). [...]. Avisou

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a professora quando terminaram. [...] sempre observando a atividade da sua colega. (Diário de notas de campo da pesquisadora).

- Enquanto a professora orientava outro aluno, Joana conversava com a colega sobre outros assuntos. (Diário de notas de campo da pesquisadora).

O período observado na SRM foi dividido em dois momentos pela professora.

O primeiro com uma atividade de jogo de tabuleiro entre os quatro alunos que estavam

no atendimento; e o outro em que a professora dividiu o grupo para atividades mais

individualizadas. Nesse momento, Joana e uma colega, a quem chamaremos de

Cris32, estavam trabalhando juntas. Nos dois momentos da aula observados, Joana

agia com mais desinibição e vivacidade, conversava e fazia observações sobre as

atividades em que participava. Não chegou a se sobressair como liderança ou

destaque do grupo, mas também não passou o tempo todo isolada dos demais,

fazendo interações com todos.

Desses momentos observados na SRM, registrou-se que:

“Em ambiente com menos alunos, Joana demonstra estar mais segura e desenvolta. Em atividade em dupla, interagiu bem com a colega (que é a mesma que tem amizade no ensino regular). Teve iniciativa em realizar as tarefas que lhe eram propostas, apesar de estar sempre de olho em como a colega fazia o dela (como que o tomando como parâmetro). Quando em grupo maior (4), participou da atividade, porém a interação foi menor”. (Mural do Padlet “Meu olhar sobre a aluna Joana”).

Percebeu-se que a estudante estava à vontade no grupo da SRM que era um

grupo menor, e que, no momento da observação, era formado por quatro estudantes:

Joana, um menino aparentando quase a mesma idade que ela, outro um pouco mais

velho, estudante do Ensino Médio e Cris, sua colega na turma do sexto ano no ensino

comum.

No grupo da sala de aula comum, Joana apresentou-se de maneira diferente

do que no grupo da SRM. Nas dez situações observadas no ensino comum, que foram

uma aula de cada disciplina e no intervalo entre aulas, a estudante colocou-se como

uma estudante quieta, com mínimas iniciativas para interagir com colegas, que fala

pouquíssimo, e, quando o fez, foi apenas com professores e com a colega Cris, que

se sentava logo atrás dela na fileira de carteiras. Os fragmentos de anotações da

pesquisadora, em algumas disciplinas, apontam:

32 Nome fictício dado à aluna por questões éticas. Cris é colega de Joana na SRM e na turma do sexto ano no ensino comum.

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- Durante a atividade não verbalizou nenhuma palavra. Sentada de lado em sua carteira se vira para olhar e acompanhar o que a colega de trás está fazendo, mas não conversa com ela. (aula de Arte).

- Durante a aula, a expressão facial de Joana pouco muda [...], permanece em silêncio. (aula de Geografia).

- Há bastante conversa na sala, mas ela não direciona a atenção para algo ou alguém específico. [...] a aluna parece estar alheia aos acontecimentos. Se manteve calada durante todo o tempo desta aula. (aula de Matemática em que a professora não estava e a turma ficou com a Pedagoga).

- [...] está realizando a atividade, porém se mantém quieta [...]. (aula de Português).

Nas aulas de Educação Física e Arte, que foram as disciplinas com atividades

mais práticas, a estudante mostrou-se, inicialmente, mais apática para a participação

nas atividades solicitadas, mas, em seguida, se portou mais ativamente, como pode

se observar nos excertos que seguem:

- A professora pediu que se posicionassem em cinco filas. Joana ficou onde estava, aguardando que os demais se organizassem. [...]. Enquanto aguardava, se manteve na fila, conversando um pouco em tom baixo com a colega que está atrás dela (Cris) [...]. Joana cumpriu com o esperado (para a realização da atividade). (aula de Educação Física).

- Ao perceber que a professora está colando a base dos fantoches para os alunos, Joana levanta e leva o seu até ela. Ao voltar para a carteira [...], olha seu trabalho com satisfação [...], observa seu fantoche e arruma os objetos escolares que estão sobre sua carteira, ordenando-os. (aula de Arte).

Por outro lado, nas disciplinas que lhe exigiam mais empenho cognitivo, com

atividades mais teóricas e escritas, Joana colocou-se, em todas as aulas observadas,

de forma apática e desinteressada em interagir. Não demonstrou interesse em

aprender. Sobre a forma como se coloca no grupo e interage com os colegas, nesses

momentos ficaram latentes os seguintes comportamentos:

- [...] seus olhos permanecem na Professora de Apoio Pedagógico Especializado, mas vagueiam com frequência. (aula de História).

- Dá a entender que “faz porque tem que fazer”; não deixa transparecer interesse. (aula de Geografia).

- [...] Nesta aula está mais desmotivada que nas anteriores. (aula de Ensino Religioso).

- [...] passou o restante da aula copiando o enunciado do primeiro exercício de forma lenta e com pouca concentração, não sobrando tempo para sua resolução. (aula de Ciências).

- A pedagoga está conversando com todos e a aluna parece alheia aos acontecimentos. (aula de Matemática em que a professora não estava e a turma ficou com a Pedagoga).

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No período observado pela pesquisadora, a aluna Joana apresentou-se com

postura de retraimento e poucas iniciativas para interação, comunicação e

participação nas aulas. Colocava-se no grupo de forma quieta, com algumas

vacilações para tomar iniciativa em realizar e participar das atividades, mas realizava

algumas e tinha iniciativas em outras. Vygotski (2007) enfatiza a importância da

convivência e das interações sociais, ressaltando o papel que tais interações têm para

o desenvolvimento humano. Isso nos leva a crer que tipos diferentes de relações

sociais ocasionam diferentes níveis de aprendizagem.

De forma geral, o olhar da pesquisadora sobre como a estudante se

apresentava e interagia com colegas da turma do sexto ano é de que Joana:

- Tem dificuldades em se entrosar com o grande grupo, tendo escolhido apenas uma colega para interagir e ter laços de amizade. [...] com esta amiga tem iniciativa, conversa e interage.

- Em momentos de “ociosidade” em que o grupo confraterniza, Joana permanece reservada e sem interagir, “na sua”.

- Percebi que ela não está integrada ao grande grupo; está em sala, mas pouco participa do que acontece nela, no que diz respeito ao grupo de alunos.

“Apenas a colega Cris interage mais naturalmente com Joana, sendo que as duas já tem uma boa amizade”. (Mural do Padlet “Meu olhar sobre a aluna Joana”).

Os colegas pouco interagiram com Joana. Apenas a aluna Cris teve mais de

uma iniciativa de interação com a estudante e demonstrou terem um vínculo recíproco.

As duas conversavam mais na SRM e na aula de Educação Física, na qual “se

escolheram” como grupo no momento de atividade livre/recreativa para jogar vôlei

juntas.

Uma vez que na disciplina de Arte Joana não havia concluído a atividade da

aula anterior, a professora solicitou que outras duas estudantes a auxiliassem na

conclusão da atividade prática que era montar as partes de um boneco de papel

articulado com amarrações. As duas estudantes atenderam a professora

prontamente, porém não conversaram com Joana enquanto faziam a atividade por ela

em sua carteira. Não era trabalho colaborativo entre elas, pois Joana não participou

da atividade, ao contrário: apenas observou as colegas fazerem a sua atividade.

Complementaram a atividade por ela, conversando entre si, como se Joana não

estivesse ali, como se percebe nessa passagem:

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- Enquanto as colegas amarram as partes articuladas do boneco e conversam entre si, Joana está sorridente e interage com elas através do olhar. Não fala nada durante a atividade. Está mais interessada nas colegas e no que conversam do que em sua atividade. Já as meninas também não trocam nenhuma palavra com Joana. (aula de Arte).

Mesmo nos momentos de ociosidade, como nos intervalos entre aulas,

naqueles minutinhos em que os alunos ficam sem professor até que o docente da aula

seguinte adentre a sala, Joana não interagiu ou se socializou com os colegas. Em

todo o período de observação nas aulas do ensino comum, em apenas dois episódios,

colegas, além da estudante Cris, interagiram com Joana. Um foi nessa mesma aula

de Arte, em que uma colega veio até sua carteira ver o boneco de Joana que “lhe

mostra sorrindo” (registro da pesquisadora na observação da aula de Arte), porém

nenhuma das duas faz qualquer comentário. E outro na aula de Educação Física,

quando, em determinado momento, a estudante teve dificuldades em realizar o

exercício solicitado pela professora e “uma colega de equipe veio para ajudá-la”

(registro da pesquisadora na observação da aula de Educação Física).

Diante dessas observações, depreendemos que Joana se porta de maneira

diferente nos grupos de SRM e de sala comum. Na sala comum, suas interações são

menores, quase nulas, ficando a parte do grupo. Já na SRM, o grupo é sempre menor

e lhe dá mais espaço e oportunidades para interagir e suas interações são maiores.

Vygotski (1997), em sua obra sobre defectologia, já exprime essa situação ao

dizer que as dificuldades que a criança com deficiência experimenta em uma atividade

coletiva, em ambiente coletivo (como os de sala de aula), são as causas do

subdesenvolvimento das funções psíquicas superiores, causando limitações

cognitivas.

4.1.2 Como se dá a interação Joana x professores x Joana

Vygotski (2007), em seus estudos sobre o desenvolvimento humano e o

funcionamento psicológico, traz como cerne de suas pesquisas a ideia de que é no

contato e na relação com a cultura - com o mundo social e natural - que nos

constituímos e construímos saberes. Essa relação é sempre mediada por “[...] um

terceiro ‘elemento’ que possibilite a interação entre os ‘termos’ de uma relação”

(SIRGADO, 1991, p. 38, grifos do autor). Esse elemento é sempre instrumento, signo

ou o outro que nos constitui. Essas considerações ressaltam o objetivo de observar-

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se com atenção as relações entre a estudante com deficiência tomada como

referência para esta pesquisa e seus professores.

Após a observação de Joana nos contextos da SRM e da turma do sexto ano,

foi possível inferir que as interações da estudante com seus professores assemelham-

se às interações com os colegas: na SRM sente-se mais à vontade para participar,

interagir e conversar com a professora do que com os professores das disciplinas.

Contudo, é preciso destacarmos que houve interações de Joana com os professores

do ensino comum.

Alguns trechos da observação realizada pela pesquisadora enquanto Joana

realizava uma atividade em dupla com sua colega Cris na SRM foram assim

registrados:

- Ao ser questionada, a estudante [...], em algumas vezes, respondeu prontamente e, em outras, hesitou. Fez perguntas à professora interagindo com ela. [...], avisou a professora quando terminaram. (atendimento da SRM).

- Está o tempo todo sorridente [...]. Tem o mesmo riso ao mostrar seu trabalho (uma casa de blocos lógicos) para a professora e ao alterá-lo nervosamente quando a professora pergunta o que é. (atendimento da SRM).

Nesses momentos, foi possível perceber que Joana tem iniciativas para

conversar com a professora. A postura da professora perante Joana também

contribuía para que a aluna se sentisse mais à vontade no grupo, pois se colocava ao

seu lado, instigava-lhe a pensar, orientava sobre possibilidades de realizar a atividade,

conversava com ela:

- A professora vai até a aluna, espera que ela faça suas jogadas e então lhe pergunta se não viu mais nenhuma possibilidade de jogadas. Ao que a aluna diz que terminou a jogada, a professora vai sugerindo alternativas para que a aluna procure na mesa possibilidades de encaixe de suas peças. O tempo todo a professora conversou com aluna, estimulando-a a responder.

- Na sequência, a professora joga dominó de blocos lógicos com Joana e outra aluna. (atendimento da SRM).

Aqui fica clara a importância da mediação sustentada na ideia da possibilidade

e não de limitação de desempenho da estudante, realizada pela professora. Nessa

direção, Fontana (2005) afirma que:

Na mediação do/pelo outro revestida de gestos, atos e palavras (signos) a criança vai integrando-se, ativamente, às formas de atividade consolidadas (e emergentes) de sua cultura, num processo em que pensamento e linguagem articulam-se dinamicamente. (FONTANA, 2005, p. 15).

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Já no que concerne às interações da estudante com os professores das

disciplinas do ensino comum, observou-se que Joana

- Com os professores é mais retraída, com poucas iniciativas de interação, porém é capaz de fazê-las, e faz. (Mural do Padlet “Meu olhar sobre a aluna Joana”).

O que se notou nas observações das aulas de disciplinas é que Joana se porta

mais passivamente, aguardando a iniciativa dos professores em estabelecer “contato”

com ela. Durante o período de observação, a estudante não iniciou conversa com

seus professores, e apenas duas vezes foi até as professoras para mostrar sua

atividade. Uma na aula de Arte, já relatado anteriormente, e outra na aula de História,

mas em nenhuma das duas vezes ela iniciou diálogo com as professoras. Apenas

mostrou o que havia feito. Também não foi observada iniciativas ou início de diálogo

com colegas durante as observações.

Conclusivamente, foi possível perceber que os professores do ensino comum

“enxergam” Joana na sala e buscam, de forma imediata ou previamente pensada,

encaminhar sua aprendizagem, como é possível perceber nos excertos das

observações das aulas a seguir:

- A professora passa na carteira avaliando a atividade [...]. (aula de Arte).

- Com dificuldade em entender a ordem um pouco mais elaborada [...], Joana teve dificuldades em fazê-la e a professora chegou junto da aluna para passar as mesmas orientações que passou ao grupo como um todo. (aula de Educação Física).

- Para esta aluna, a professora veio até a carteira e solicitou que faça os exercícios 2 e 3, copiando enunciado e respostas no caderno. Os demais deverão realizar todos. [...] veio até a carteira e demonstrou para a aluna como realizar um deles. (aula de Ciências).

- A professora estagiária veio até a carteira de Joana e explicou-lhe, indicando o “caminho” de algumas respostas. [...]. A professora regente veio e sentou-se ao seu lado, auxiliando-a na resolução da atividade. (aula de Inglês).

- A professora [...] passou o título do assunto no quadro para que Joana pudesse copiar, depois continuou ditando o conteúdo. Veio até a carteira e indicou no livro um trecho do conteúdo que a aluna deveria copiar. (aula de Geografia).

- A professora está recontando a história do livro que todos leram para continuarem a resenha. Faz questionamentos à Joana para incentivá-la a participar. (aula de Português).

Foi possível perceber que os professores procuravam interagir com Joana,

embora em certas situações ficassem visíveis atitudes que se deviam pela presença

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da pesquisadora na sala, pois não traziam sinais de planejamento ou organização da

atividade para atendimento de necessidades da estudante.

Merecem atenção as observações sobre a relação entre Joana e a sua

Professora de Apoio Educacional Especializado. Foi combinado com a direção da

escola e a própria Professora de Apoio que ela não participaria das aulas em que a

pesquisadora estivesse realizando as observações para que fosse possível observar

como Joana se colocava no grupo e com professores. As duas primeiras aulas

observadas (Ensino Religioso e História) antecederam esse acordo. E foi pelo que

presenciou nessas duas aulas que a pesquisadora fez o pedido de observar a aluna

sem a presença da Professora de Apoio Educacional Especializado na sala.

Na aula de Ensino Religioso, o professor retomou o assunto da aula anterior e

conversou com os alunos sobre os temas do filme assistido naquela aula. De uma

forma mais genérica, assim se deram as interações entre a professora de Apoio

Educacional Especializado e Joana:

- Joana está com a Professora de Apoio Educacional Especializado ao seu lado que está copiando o calendário de avaliações na agenda da aluna. Como o conteúdo do quadro é um texto e está escrito em letra cursiva33, a Professora de Apoio transcreve-o no caderno da aluna e, ao mesmo tempo, lhe pede para ler o que está no quadro acompanhando a sua leitura. Porém também copiou no caderno em letra cursiva. Ao mesmo tempo que o professor faz questionamentos de forma generalizada à turma (sobre o conteúdo), a Professora de Apoio dirige as mesmas perguntas à Joana instigando-a a participar do assunto mesmo que só entre elas34. [...] a estudante pegou o livro que havia levado para ler e mostrou à Professora de Apoio que questionou se ela conseguiu lê-lo e ela lhe respondeu que sim. A professora perguntou sobre o que era e a aluna lhe contou. (aula de Ensino Religioso).

Na aula seguinte, disciplina de História, a professora da disciplina principiou

fazendo um desenho no quadro (o tema era “sistema de castas”). Professora de Apoio

e a estudante referência assim se portam nessa aula:

- A professora de Apoio Educacional Especializado orienta a estudante a seguir o desenho que a professora passa no quadro e copia no caderno da aluna as duas questões solicitadas pela professora para serem respondidas por Joana. Enquanto a professora copia, a aluna conversa com a colega de trás. Devido a conversa da turma, a pesquisadora não consegue ouvir como a professora de apoio orienta a aluna a responder. Seus olhos estão fixos na Professora de Apoio, porém vagueiam pela sala ocasionalmente. A aluna está dispersa e a professora de apoio chama a sua atenção para o caderno;

33 Joana ainda tem dificuldades em copiar/transcrever em letra cursiva. O mesmo ainda se dá com a leitura nesse estilo de letra. 34 A professora de Apoio Educacional Especializado fazia as perguntas em tom baixo, em uma conversa só entre elas, de forma que não fosse preciso Joana responder alto e para que todos, inclusive o professor, pudessem ouvir.

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passa a auxiliá-la na escrita das respostas. A aluna não tem iniciativa, aguarda que a Professora de Apoio lhe diga o quê, como e onde estão as respostas. A professora de Apoio localiza as respostas no livro e dita-as para que Joana as escreva. Nesse momento, a aluna pergunta que letra que vai em determinada palavra, aguardando que a Professora de Apoio lhe dê a resposta. A Professora de Apoio saiu da sala antes de terminar a aula e orientou para que aluna continuasse a atividade (passar o lápis de cor sobre o "esqueleto de castas" que ela havia feito como os demais). Joana realizou o que lhe foi solicitado. Ao concluir, levantou para mostrar à professora que olhou a atividade e explicou o que deveria ser incluído na resposta e onde incluir. A aluna voltou para sua carteira e não fez o que a professora orientou. (aula de História).

Por esse extrato do observado nas duas aulas é possível perceber que Joana

habituou-se a aguardar as iniciativas da Professora de Apoio na escrita e na resolução

de atividades.

Esse posicionamento da estudante perante seu processo de aprendizagem

remete-nos, imediatamente, ao fato de estar claro que Joana é fruto de relações de

ensino em que o foco é o déficit, a limitação de seu desenvolvimento, pois o quadro

que se apresentou anteriormente é oposto ao anunciado por Vigotski (2007) como um

bom ensino. A transformação desse quadro é um dos componentes da mudança de

olhar do professor para os alunos com deficiência que se pretendeu com a pesquisa-

formação e a elaboração do instrumento proposto como meta desta pesquisa.

Após essas duas aulas, como já afirmado anteriormente, as observações

passaram a ser em aulas sem a presença da Professora de Apoio para que se

pudesse observar como estudantes e professores interagiam e se relacionavam com

Joana sem a interferência desse elemento que, aparentemente, trazia para a aluna

acomodação com seu processo de ensino-aprendizagem.

Nessa vertente de pensamento, Batista e Tacca (2011) afirmam que

A concepção dos professores sobre as crianças que apresentam certas peculiaridades e o julgamento que fazem de sua capacidade de aprender tende a transformar o que originalmente é uma característica particular de funcionamento intelectual em deficiência. (BATISTA; TACCA, 2011, p. 149-150).

Professores e Joana, pelo que se depreendeu durante os momentos

observados pela pesquisadora, relacionam-se e colocam-se em uma posição muito

comum em escolas que têm alunos com deficiência em suas turmas regulares:

professores fazem tentativas de realizar um ensino apropriado para o atendimento das

necessidades da estudante, e não de desenvolvimento de suas potencialidades e

possibilidades de avanços, e, em contrapartida, a estudante coloca-se em uma zona

de conforto que não chame atenção para suas reais dificuldades.

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Trata-se de tentativas de prática pedagógica inclusiva, mas que não fazem

grandes e reais reestruturações em seus modos de direcionar os elementos

constitutivos da aula – metodologia, recursos, avaliação – e de forma a atender o

potencial da estudante para aprender. Professores ainda mantêm sua aula no nível

do desenvolvimento real da aluna sem lançarem atividades desafiadoras para ela.

Assegura Vigotski que:

Um ensino orientado até uma etapa de desenvolvimento já realizado é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento geral da criança, não é capaz de dirigir o processo de desenvolvimento, mas vai atrás dele. [...] o desenvolvimento das funções psicointelectuais superiores na criança, dessas funções especificamente humanas, formadas no decurso da história do gênero humano, é um processo absolutamente único. (VIGOTSKII, 2010, p. 114).

Engessados nessa prática que se limita ao que o aluno faz porque “é só isso

que consegue fazer”, não realizam um planejamento adequado às possibilidades de

aprendizagem da estudante e não sabem aproveitar potentes elementos de apoio que

têm a seu dispor: a Professora de Apoio e a professora de Sala de Recursos

Multifuncionais, para conduzirem um ensino colaborativo e significativo para a aluna,

a partir das atividades que ela precisa de ajuda para realizar.

Joana se posiciona como sujeito passivo em seu processo de aprendizagem,

aguardando que lhe digam o que fazer. Assim, pouco interage com os professores e

colegas e, consequentemente, pouco se desenvolve. O desenvolvimento das

formas/funções psíquicas superiores, diz Vygotski (2011), “[...] acontece sob pressão

da necessidade; se a criança não tiver necessidade de pensar, ela nunca irá pensar”

(VYGOTSKI, 2011, p. 866).

Contudo, esse comportamento da estudante em nada colabora com sua

aprendizagem. Ao contrário, Vygotski (1997) defende que ambientes heterogêneos

como a sala de aula são os mais propícios à aprendizagem de crianças com

deficiência, mas, como afirmam Lima e Pletsch (2018), ao se referirem aos

pressupostos de Vigotski em pesquisa que realizaram sobre o tema,

[...] faz-se necessário oferecer estratégias e mediações pedagógicas sistematizadas e planejadas para que os alunos com deficiência intelectual não só participem, mas interajam com os colegas e construam conceitos científicos necessários para o seu desenvolvimento social. (LIMA; PLETSCH, 2018, p. 886).

Conclui-se, com isso, que é necessário – e urgente - a escola e seus agentes

pedagógicos envolvidos com essa estudante repensarem a forma como vem

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acontecendo a dinâmica de escolarização da estudante com deficiência e os

contextos em que ela está inserida. Nesse sentido, apontamos para o uso do PEI

como estratégia para a superação do cenário posto.

4.1.3 Como Joana lida com o conhecimento e se envolve nas atividades

Vigotski discorre em vários momentos de seus estudos que o conhecimento é

construído a partir das relações sociais/culturais que a criança estabelece em sua

convivência com o outro. O autor afirma que a escola tem papel singular nessa

jornada, pois é nela que o saber sistematizado, historicamente construído, se constitui

em ingrediente principal da aprendizagem escolar e, consequentemente, do

desenvolvimento humano (VYGOTSKI, 1993, 2007, 2011; VIGOTSKI, 1998, 2003;

VYGOTSKY, 2003).

Vygotski (2011) é categórico em afirmar que a criança com deficiência é tão

capaz de aprender quanto uma criança sem deficiência. Para o autor, a diferença,

sinteticamente, está em que a criança sem deficiência aprende por caminhos diretos

e “[...] o único caminho para a educação da criança anormal [...] consiste na criação

de caminhos indiretos de desenvolvimento onde este resulta impossível por caminhos

diretos” (VYGOTSKI, 2011, p. 868). Por caminho direto da aprendizagem, de acordo

com o autor, podemos entender quando a criança consegue dar conta de uma tarefa

com uma resposta natural, por uma ação imediata; quando reage diretamente para

responder a uma ação. Já o caminho indireto se faz quando uma “[...] situação

apresenta exigências tais, que a resposta primitiva revela-se insatisfatória”

(VYGOTSKI, 2011, p. 865). Surge quando, “[...] pelo caminho direto, a resposta é

dificultada, ou seja, quando as necessidades de adaptação que se colocam diante da

criança excedem suas possibilidades [...]” (VYGOTSKI, 2011, p. 865).

Por meio da observação dos caminhos postos para Joana trilhar sua

aprendizagem, a pesquisadora percebeu que a dicotomia entre a construção do

conhecimento no AEE e na sala de ensino comum ainda é grande. Na SRM, embora

os objetivos educacionais não sejam curriculares, o envolvimento e a lida

com o conhecimento, no caso de Joana, são maiores do que na sala de

ensino comum. Isso não quer dizer que aconteça por “caminhos diretos”,

como bem diz Vygotski (2011). O que se observou foi que na SRM a criação de

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caminhos indiretos de desenvolvimento cultural acontecia mais do que na sala de aula

do ensino comum - até porque esse é um dos fins do AEE.

Nas aulas do ensino comum, o que se observou foi que Joana, apesar de se

apresentar mais reservada e com poucas iniciativas, demonstra interesse em

aprender; preocupa-se em fazer o que lhe é solicitado. Embora isso não fique latente

em todas as aulas observadas, houve momentos que comprovam o fato, como pode

se ver nos excertos a seguir:

- O exercício consistia em ir de um lado ao outro da quadra quicando a bola de basquete com a mão direita e voltar quicando com a mão esquerda. Joana cumpriu com o esperado. [...]. A atividade agora é quicar a bola baixa e em frente. Joana conseguiu fazê-lo só que indo de costas. (aula de Educação Física).

- A aluna está ouvindo a exposição da professora que abre o livro para mostrar uma figura na página X. Nesse momento, a aluna procura a mesma página no seu livro. A professora diz o número da página e a aluna confere com os olhos (o que mostra que conhece o número dito, no caso o 185). [...]. A aluna copiou sozinha os passos para o relatório no caderno. [...]. A professora retomou um exemplo da aula anterior fazendo um questionamento a Joana que soube responder. Ao explicar qual lado de uma caixa de fósforo tem contato de superfície maior com a carteira, Joana demonstrou dificuldade de resolução, porém, quando o solicitado foi saber qual o lado deixar em contato para demonstrar maior pressão sobre uma superfície, a aluna acertou, deixando o menor lado da caixa em contato com a carteira. (aula de Ciências).

- Voltou a copiar a lista de palavras que foi passada no quadro e não havia terminado. Demonstra persistência em continuar/concluir a cópia do que está no quadro. (aula de Inglês).

- Joana conseguiu transcrever da letra cursiva usada no quadro pela professora para caixa alta no seu caderno. (aula de Geografia).

- A aluna realizou o que lhe foi solicitado. Ao concluir levantou para mostrar para a professora que olhou a atividade e leu as respostas feitas. (aula de História).

- [...] está seguindo a professora com olhar demonstrando interesse no que ela está falando. (aula de Português).

- [...] a Professora de Apoio questionou se ela conseguiu lê-lo [o livro da biblioteca que levou para casa] e ela lhe respondeu que sim. A professora perguntou sobre o que era e a aluna lhe contou.

É perceptível que a aluna se posiciona de diferentes maneiras diante do

conhecimento disciplinar. Certamente isso se deva também pela forma com que cada

professor lida com ela e como encaminha seu processo de ensino aprendizagem, ou

seja, as estratégias, os tipos de atividades, o diálogo que estabelecem (ou não), a

atenção que lhe dedicam.

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De uma forma geral, é possível depreender, a partir das observações

realizadas, que Joana assim lida com o conhecimento:

- Joana se coloca em posição passiva em sua aprendizagem, aguardando que essa professora tenha as iniciativas de condução das atividades, tanto para escrita quanto para resolução e reflexão de conteúdo.

- Na ausência da sua Professora de Apoio, é capaz de “perseguir” sua aprendizagem, tomando a iniciativa e fazendo tentativas de participação nas aulas e na resolução de atividades, embora seus resultados sejam bem aquém do esperado.

- É mais participativa em aulas práticas como Educação Física e Arte.

- Demonstrando um certo grau de esforço quando está sem a Professora de Apoio. Na sua presença, o interesse e a motivação parecem decrescer, contando sempre com esta professora para conduzi-la. (Mural do Padlet “Meu olhar sobre a aluna Joana”).

De forma abrangente, a estudante tem dificuldades para lidar com o

conhecimento, pois, como mencionado em momento anterior, os caminhos postos

para sua aprendizagem não lhe trazem desafios e, consequentemente, não lhe

proporcionam avanços que seriam possíveis se o direcionamento das práticas

pedagógicas, fossem mais atrativas e desafiadoras.

É possível perceber que a estudante tem muitas dificuldades em acompanhar

o currículo escolar do ano/série em que se encontra, pois, como observado pela

pesquisadora,

- [...] é uma aluna em período de consolidação da alfabetização. Não escreve bem e não lê bem quando comparada a alunos de mesma idade e experiência.

- Em aulas mais teóricas, expositivas e escritas, se revelam suas grandes dificuldades, pois aparenta não ter conceitos científicos elementares das disciplinas, lhe falta organização do material e do pensamento. (Mural do Padlet “Meu olhar sobre a aluna Joana”).

Ficou evidente que a estudante tem um bom potencial para aprender; contudo,

o resultado de seu percurso de escolarização no qual essas potencialidades não

foram privilegiadas criaram uma lacuna considerável entre as expectativas para um

aluno de sexto ano e seu nível real de aprendizado. Assim sendo, constatou-se que a

estudante se coloca mais ativamente frente ao conhecimento e à aprendizagem na

SRM, como é possível notar no fragmento a seguir da observação realizada:

- Joana participa envolvida. Acompanha as jogadas dos demais, na sua vez observa onde pode pôr suas peças. [...] tomou a iniciativa para separar algumas (peças do jogo de blocos lógicos), separando-as pelos critérios solicitados. (atendimento da SRM)

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Do mesmo modo, seu envolvimento com as atividades é maior na SRM. Com

o uso da Escala de Envolvimento, foi possível mensurar que, nas atividades

observadas, a estudante alcançou o nível máximo de envolvimento (nível 5), pois se

manteve absorvida na atividade, com os olhos focados na sua execução,

depreendendo energia, realizando a atividade ao máximo, adicionando toques

pessoais e produzindo além, persistiu na atividade dando toda a atenção do momento

a ela. Além disso, a estudante estava motivada, realizou comentários verbais e, o mais

importante, demonstrou satisfação com seu desempenho e resultado.

Na transcrição das videogravações da socialização dos momentos de

observação na SRM, a pesquisadora os registrou do seguinte modo:

- [...] na atividade com blocos lógicos eu também senti ela com um pouco mais de iniciativa para participar e também achei que o envolvimento dela alcançou o nível 5. Não que ela tenha feito com perfeição ou totalmente certo, mas ela se envolveu na atividade: escolheu peças, juntou. Era para fazer, criar, uma figura, um desenho com os blocos lógicos. E ela fez. Fez o desenho simples de uma casa. Ao mesmo tempo que fazia, observava que peças a colega colocava no dela, para ver se precisava colocar mais alguma ou não no seu. Quando a professora veio e sentou ao seu lado, rapidamente ela puxou mais uma peça na sua figura, sorrindo. A preocupação era que estivesse satisfatório para a professora o que ela estava fazendo. Depois, na sequência, (a atividade) era um dominó de blocos lógicos onde as peças deveriam se encaixar com pelo menos 1 critério de igualdade. Lembrando que os critérios de igualdade dos blocos lógicos são sempre 4, então no jogo tinha que ser 1 ou mais desses 4 critérios. Joana teve um pouco de dificuldades. No começo ela não compreendeu o que deveria fazer. A professora, que se sentou para jogar com as alunas, orientou-as e, em cada vez que as meninas faziam suas jogadas, a professora oralizava o porquê cada uma estava colocando aquela peça. Nesse momento, Joana estava atenta, porque a professora colocava e falava: - “olha estou colocando essa peça, aqui ao lado desse círculo amarelo estou colocando esse retângulo, o que tem de igualdade é a cor, então esses dois são amarelos e podem ficar juntos”. Na primeira ou na segunda rodada, Joana teve um pouco mais de dificuldade. Mas, depois de observar qual era o critério de igualdade da Cris e também o da professora, ela conseguiu fazer. (Transcrição da socialização da observação em SRM).

Com relação ao envolvimento da estudante nas atividades das disciplinas, a

pesquisadora observou que, em Educação Física e Arte, seu envolvimento chegou a

um nível 4, que é quando há atividade com momentos intensos de envolvimento e

este é expresso por sinais (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004). Durante a

execução das atividades, Joana manteve a atenção e a concentração nas atividades

por tempo razoável. Colocou zelo e esforço nas atividades, embora houvesse também

insegurança na execução, não empregando energia na ação. Na atividade de Arte,

não houve criatividade e nem persistência, mas sua expressão era de alegria. Já, em

Educação Física, usou criatividade (indo de costas para poder realizar os movimentos

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solicitados) e foi persistente, embora não tenha demonstrado sentimentos ou humor

na execução. Em ambas as atividades, estava alerta e focada por momentos, mas

não reagia imediatamente ao que lhe era solicitado, assim como não fez comentários

verbais durante a execução e perante os resultados da atividade.

Já seu envolvimento nas demais disciplinas decresceu em relação ao nível das

disciplinas anteriormente citadas. Ficou entre 2 e 3, pois não se manteve

continuamente envolvida, mas com mínimos sinais reais de envolvimento (OLIVEIRA-

FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004)

Em seu favor, Joana teve sempre o fato de manter a concentração quando se

propunha a fazer uma atividade. Não se distraía facilmente com estímulos externos.

Entretanto, a execução das tarefas era realizada de forma displicente: não empregava

energia, realizando-as de qualquer forma. Ao contrário, muitas vezes apenas

“copiava” as atividades sem tentar resolvê-las, pois, como já aludido, aguardava que

outros mostrassem ou revelassem a resposta para então copiar.

A falta de criatividade e a expressão facial foram indícios mais visíveis do pouco

envolvimento de Joana com as atividades teóricas observadas nas disciplinas,

podendo se afirmar que atingiu o nível 2 de envolvimento nessas atividades. Sua

expressão facial era sempre a mesma. Até mesmo quando mantinha o olhar mais

tempo em uma professora ou objeto, não era possível definir a natureza desse olhar,

assim como nos momentos seguintes mudava para um olhar vago e disperso da aula.

A escrita desalinhada, disforme e com pressa, assim como exercícios sem resolução

caracterizaram a maioria das atividades teóricas durante o período de observação.

Quase todas as ações e as atividades de Joana aparentavam um fazer

automático, inconsciente e obrigatório. Todavia, há de ressaltarmos que um único

episódio de uso da criatividade foi observado durante os dez momentos de

intervenção: na disciplina de português, cuja atividade era a produção coletiva da

resenha de um livro e a sua transcrição do quadro para o caderno, Joana copiou cada

frase do texto com uma cor diferente, o que então permitiu estimar seu envolvimento

entre os níveis 2 e 3.

Isso posto, cabe ressaltarmos que, após a observação dos contextos de

aprendizagem em que a estudante referência está inserida, constatando como se

relaciona com o conhecimento, com colegas, com professores, o que demonstra

conhecer e como se envolve com sua aprendizagem, inquietações surgiram na

pesquisadora. Contudo, foram inquietações que vieram ratificar a escolha do tema de

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pesquisa, pois demonstraram a fragilidade do trabalho pedagógico desenvolvido com

estudantes com deficiência em nossas escolas públicas paranaenses. Inquietações

que manifestaram insights para a elaboração do protocolo de PEI que se objetiva na

etapa seguinte da formação e que, após o olhar dos professores orientado pelos olhos

da Escala de Envolvimento aos já anunciados cernes de observação realizados pela

pesquisadora - os tópicos da discussão do Eixo 1 - sejam reconhecidos ou

descartados como indícios válidos para a referida elaboração.

4.2 A OBSERVAÇÃO DA ALUNA NA SALA COMUM E NO AEE: O OLHAR DOS DOCENTES

Tendo em vista que os participantes da pesquisa eram docentes da estudante

referência e a pedagoga era a coordenadora pedagógica da turma em que Joana

estava matriculada, compreendeu-se que essa etapa de observação dispensaria

apresentações da estudante a seus observadores.

A atividade de observação deu-se de forma sistemática, com o uso de dois

instrumentos:

a) um roteiro com as questões norteadoras do Eixo 1 de discussão, apresentado

anteriormente e novamente aqui referenciado, a saber:

ü Como a estudante se coloca no grupo?

ü Como interage com colegas e professores?

ü Como os colegas e professores interagem com ela?

ü Como lida com o conhecimento?

ü O que demonstra conhecer?

b) A Escala de Envolvimento, entregue antecipadamente a cada participante para que

pudessem realizar o registro de suas observações, focava na seguinte questão do

mesmo Eixo:

ü Qual o nível de envolvimento nas atividades?

Após a realização da observação da estudante com deficiência em uma de

suas aulas, em que os professores, a pedagoga, a professora de Apoio Educacional

Especializado e a professora de SRM realizaram anotações pessoais dos aspectos

observados, foram para o primeiro encontro da formação com elementos e

informações suficientes para embasar as discussões propostas para o Eixo 1.

Os resultados das observações realizadas pelos docentes foram registrados

com o auxílio do Padlet, durante encontro da formação, em que, de forma síncrona,

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as discussões fomentavam reflexões sobre a estudante com deficiência e seu

envolvimento no processo de aprendizagem. Todo o conteúdo das observações

socializadas foi registrado em vídeo e, assim como as inserções no Padlet, foram

devidamente transcritos e serviram de apoio à elaboração do capítulo em tela.

4.2.1 Como os professores veem Joana no grupo

Como sinalizado anteriormente, a observação pelos professores deu-se em

suas aulas, o que permitiu que pudessem ver, ouvir e ter contato mais direto com o

sujeito observado, coletando, dessa forma, informações em situações reais e

colocando em evidência dados que um observador de fora provavelmente não

conseguiria.

Sobre o modo como Joana se coloca no grupo e como acontece a interação

entre ela e os colegas, as observações dos professores envolvidos são convergentes.

Sobre como se coloca no grupo de estudantes da sua turma, foi consenso entre os

professores das disciplinas e, também, do AEE que Joana é uma aluna tímida, pouco

comunicativa e de poucas interações, como se pode notar nos seguintes excertos

retirados do mural do Padlet intitulado “Perfil da aluna referência do estudo”35:

- Ela é muito tímida, quase não se comunica. Na sala, ela não conversa com ninguém. (PHI).

- É muito reservada, mesmo sendo chamada nos grupos, ela não interage. (PP1).

- Às vezes tímida. Demora para interagir. Conforme vai passando o tempo consegue fazer suas colocações. (PSRM).

- Se depender dela não puxa conversa com ninguém. Eu percebi isso. (PLP).

- Não levanta da carteira para nada durante a aula. (PG1).

A professora de SRM concordou com as demais que a aluna era tímida e de

poucas interações, mas lembrou as colegas que

- Ela demora, mas assim, ela começa a conversar quando a atividade é em conjunto. (PSRM).

Ao observarem como a estudante e os colegas se relacionam, as inferências

realizadas ratificam, com suas palavras, a fragilidade dessa relação. Vigotski (2001)

alerta que as dificuldades no engajamento e na participação da criança com

35 Nesta etapa, como foi usado o dispositivo móvel e pessoal com acesso à internet, nem todos os presentes conseguiram fazer seus registros.

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deficiência em atividades coletivas causam o subdesenvolvimento das funções

psíquicas superiores. Destaca-se assim, a importância de a escola priorizar a

aprendizagem colaborativa e a mediação entre pares.

Nos registros no Padlet, as inferências sobre a qualidade das interações de

Joana com os colegas são curtas e objetivas:

- Pouquíssima interação; quando interage, fala baixo. (PMA).

- Não interage. Fala se induzida ou questionada. (PLP).

- Somente interage com a colega de trás de sua carteira. Com os demais da turma, ela não interage. (PHI).

- Muito pouco participativa. Fica quieta. (PP1).

- Ela tem dificuldades para interagir. É muito quieta. Nem mesmo quando não tem professor na sala, ela não interage com os colegas. (PAR).

- Demora para ficar à vontade. Fala sempre baixo. Amizades restritas. (SRM).

Sobre o comportamento dos colegas em relação à aluna, os professores

registraram no Padlet que:

- Os colegas respeitam seu modo de ser. (PLP).

- Como não há interação da parte da aluna, geralmente é deixada de lado. (PP1).

- Eles deixam ela de lado, ignoram, não conversam com ela. (PHI).

Ainda durante a socialização e o registro dessas observações, surgiram

colocações como:

- Infelizmente ela acaba sendo esquecida naquele tumulto da sala, porque a sala é bem... (PMA).

- É engraçado porque eles também não conversam mais com ela. (PHI).

- Ela pediu para a mãe para sair desse colégio. (PP1).

Vygotski (2007), diz que “[...] processos internos de desenvolvimento são

capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente

e quando em cooperação com seus companheiros” (VYGOTSKI, 2007, p. 103). A

lembrança desse pressuposto evidencia uma das “pistas” para o protocolo a ser

elaborado: a cooperação.

Contudo, a professora da SRM manifesta um olhar mais positivo para a

estudante. Tanto é que uma das professoras pergunta a ela:

- PSRM, na sala com você ela conversa com as outras amiguinhas? (PHI).

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- Sim. Ela demora. (PSRM).

- Porque na sala ela não conversa com ninguém. Eles não se aproximam dela. (PHI).

- Ela demora, mas assim... ela começa a conversar quando a atividade é em conjunto. Como eu trabalho muito individual, tem momentos em que realmente um não vai conversar com o outro, mas em atividades que eu consigo colocar todos, ela conversa. Mas ela é tímida. (PSRM).

Acreditamos que a professora do AEE tenha esse olhar diferenciado dos

demais para a estudante devido à natureza de sua relação com ela, uma vez que o

trabalho pedagógico no AEE se dá por cronograma e em atendimentos

individualizados ou pequenos grupos, além, é claro, de ser sua função “[...] identificar,

elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e

estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos [...]” (BRASIL,

2009, p. 3). Por conta disso, na generalidade, os professores de AEE acabam sendo

sempre mais próximos e, por conseguinte, conhecendo melhor seus alunos.

Depreende-se dessas observações que a ênfase na condição orgânica da

constituição do sujeito ainda é a que prevalece para esses professores. Não há como

não acreditar que, para eles, o déficit intelectual não seja o causador do desinteresse

e pouca participação social da estudante e consequente redução de seu

funcionamento psicológico, pressupostos de uma abordagem que não considera a

importância da dimensão social e cultural como integradoras do desenvolvimento do

sujeito (VYGOTSKI, 1997).

As observações sobre as interações da estudante com seus professores e

destes com ela resultaram em constatações que levam, igualmente, a novas reflexões

para a elaboração do protocolo de PEI, como é possível percebermos a seguir.

4.2.2 Como se dá a interação entre a aluna e seus professores

As observações realizadas pelos professores evidenciam um olhar voltado para

o déficit da aluna, ao enfoque tradicional da educação de pessoas com deficiência.

Assim como a observaram em situações de interação com colegas, ao voltarem o

olhar para como Joana interage com a figura do professor, os aspectos negativos vêm

em primeiro lugar, como se nota nos registros do mural “Perfil da aluna referência do

estudo” no Padlet inseridos por eles:

- Não interage, a não ser quando questionada. (PMA)

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- Os professores acompanham mais de perto, induzem sua participação. Fala apenas pela indução. (PLP).

- Só responde quando questionada. Geralmente é calada. (PP1).

- Fala baixo, e pouco questiona, somente se perguntarmos, ela responde rapidamente. Os professores interagem na maioria das vezes como interagem com os outros. (PHI).

Para Vygotski (2007), a apropriação do conhecimento não se dá de forma

passiva. Ela passa necessariamente pelas interações que a criança estabelece

socialmente. A escola, continua ele, tem o papel de promover, por meio de uma

variedade de relações interpessoais, a formação e o desenvolvimento das funções

psicológicas especificamente humanas (VYGOTSKI, 2007). Percebemos, assim, a

importância das intervenções do professor para mudar a realidade das interações que

eles vêm realizando com sua aluna com deficiência.

Ao mesmo tempo que registravam suas observações no Padlet, os professores

socializavam suas observações, registradas em vídeo. Algumas de suas colocações

merecem destaque:

- Como é que eu vou dizer aqui que, na verdade, os “profe” deixam ela de lado? Ela é deixada de lado! (PMA).

- Ela é. (PLP)

- Seria assim, PMA, que os professores na maioria das vezes interagem com ela como interagem com todos. (PHI).

- E ela não se importa também, não é? Porque mesmo chamando ela, ela não interage. (PP1).

- Eu sei que se eu tive mais convivência com ela eu ia conseguir mais coisas com ela. (PLP).

Esses comentários denotam o olhar desses professores para a estudante com

deficiência. Trata-se de um olhar chamado por Raad e Tunes (2011) de Olhar Clínico.

“O Olhar Clínico que enxerga apenas fragmentos isolados de uma realidade torna-se

o retrato da totalidade do ser” (RAAD; TUNES, 2011, p. 27).

Complementam as autoras que “por não conceber formas diversificadas de

trabalhar, enxergando as causas do não aprendizado para além de sua competência,

o professor deposita no aluno a responsabilidade pela aprendizagem e pelo seu

possível fracasso” (RAAD; TUNES, 2011, p. 27), desconsiderando o papel do contexto

cultural no processo de ensino e aprendizagem e no desenvolvimento do aluno.

Retornamos, assim, ao postulado de Vygotski (2007): quando a criança está

inserida em um contexto cultural como a escola, as interações que ali se estabelecem

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são determinantes para sua constituição como ser social e para o saber que constrói.

Assim, não há como não reiterar o papel do professor nessas interações. Entendemos

que “[...] por meio da interação entre aluno e professor, as significações apropriadas

pelos sujeitos a partir das vivências culturais [quando articuladas] com estratégias de

ensino planejadas [...] propiciam o aperfeiçoamento das funções psicológicas

superiores” (OLIVEIRA et al., 2015, p. 62). Afinal, como afirma Vygotski (1997), para

a educação da criança com deficiência, não importa saber do fracasso, do que falta,

mas “[...] sino la reacción que nace em la personalidade del niño, durante el proceso

de desarollo, en respuesta a la dificultad com la tropieza y que deriva de esa

insuficiência” (VYGOTSKI, 1997, p. 134).

Isso posto, ressaltamos que emergiu nesta etapa da pesquisa

uma das “pistas” basilares para a elaboração do protocolo: a importância

em saber quem é o aluno com deficiência que está na sala de aula e

para quem se planeja. E, para saber quem é o estudante para quem se

planeja, é preciso saber também como o estudante lida com o conhecimento.

4.2.3 As relações de Joana com o conhecimento e seu envolvimento nas atividades

Sob a óptica do desenvolvimento humano a partir do entrelaçamento do

biológico e do cultural forjado, segundo Souza, Dainez e Magiolino (2015), ao se

referirem à teoria de Vigotski, “[...] na trama das relações sociais nas quais o sujeito

está imerso e que o constituem” (SOUZA; DAINEZ; MAGIOLINO, 2015, p. 17), os

dados resultantes da observação dos professores sobre como a estudante com

deficiência se relaciona com o conhecimento e como se envolve nas atividades,

revelam três indicativos sobre o ambiente cultural que ela faz parte.

Ao compilar as informações sobre como Joana lida com o conhecimento, os

professores inferiram que

- Joana não demonstra interesse em aprender. (PG1).

- Geralmente é indiferente. (PHI).

- Espera sempre a aprovação da professora. Por apresentar defasagem no conhecimento não se sente “apta” em alguns momentos. Trabalha-se autonomia para começar a andar sozinha. (PSRM).

- Não demonstra interesse e nem conhecimento. (PP1).

- Não reage de nenhuma maneira. (PMA).

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Ao examinarmos essas inferências, o primeiro indicativo e mais forte que se

observa é que os professores não acreditam nas possibilidades de aprendizagem de

Joana. Ou até mesmo que a forma como a estudante lida com o conhecimento tenha

sido confundida com seu modo próprio de ser, caracterizado por timidez, ser de

poucas palavras e poucas amizades.

Rosangela Machado (2011) assevera que:

Na perspectiva inclusiva e de uma escola de qualidade, os professores não podem duvidar das possibilidades de aprendizagem dos alunos, nem prever quando esses alunos irão aprender. [...] Ele deve partir da capacidade de aprender desses e dos demais alunos, levando em consideração a pluralidade das manifestações intelectuais. A aprendizagem também é imprevisível [...]. (MACHADO, R., 2011, p. 72-73).

No contexto desvelado nesta etapa da pesquisa, emerge a necessidade de

consideração da pluralidade das manifestações intelectuais próprias de crianças em

idade escolar, haja vista que cada aluno tem uma maneira de lidar com o

conhecimento, de aprender. Percebemos, no decorrer da coleta de dados, que há

professores que pouco conhecem da sua aluna Joana, e sua não aprendizagem recai

sobre si. Isso fica evidente quando em um momento se ouve a afirmação de que a

estudante não reage de maneira nenhuma ao meio circundante, ou que não

demonstra interesse nas atividades, na aprendizagem. Fazer tais afirmações é

declarar que a estudante é sempre inerte, desinteressada, negando outras falas dos

próprios professores que nessas reflexões também disseram:

- Eu percebo que comigo ela só responde o que eu peço. (PHI).

- Suas respostas são bem monossilábicas. Não existe construção de frases. É assim: pam... pam... pam. [...]. Ela consegue fazer as coisas através de indução. [...] para entender os enunciados, mesmo coisas fáceis, é só mesmo com você do lado dizendo. (PLP).

A partir dessas reflexões se desvelou uma situação muito peculiar em escolas

que têm alunos com deficiência matriculados em suas turmas de ensino comum: a

insipiência por parte de professores sobre os processos de socialização e ensino

dessas crianças. Vigotski argumenta que as relações da criança com o conhecimento

se sustentam em relações de coletividade e de colaboração, nos processos de

interação com seu meio circundante. Dessa forma, se as relações da criança com

deficiência com o conhecimento são precárias, frágeis, ou até insatisfatórias, é preciso

rever como aqueles que medeiam essas relações as estão promovendo.

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Quando o foco das observações realizadas pelos professores foi o que Joana

demonstrava conhecer, duas classes de respostas surgiram: a que faz referência ao

que a estudante conhece em termos de conteúdos escolares e o que ela conhece em

termos de conteúdos não escolares, como os professores assim assinalaram:

- Ela lê. [...] Quando eu tenho leitura eu deixo um pedacinho e ela lê. [...]. Lê para responder perguntas simples. [...]. Ela está se alfabetizando, ela tem dificuldades em interpretar. É tudo abstrato para ela. As interpretações ainda são abstratas para ela. (PLP).

- Ela consegue decodificar na leitura, mas, na hora de colocar no papel, tá muito confuso. A interpretação é muito falha. (PSRM).

- Mesmo oralmente é mais sim ou não. (PP1).

- Por isso os outros escrevem, eu peço muito para ela desenhar o que explico ou copio [no quadro]. (PHI).

- Ela não tem conceitos básicos como unir, separar, juntar. Fica muito difícil na matemática (PMA). (Observações inseridas no mural do Padlet “Perfil da aluna referência do estudo”).

- Às vezes quando indagada ela responde sim ou não. (PP1).

- Conhecimento de mundo restrito. (PSRM).

- Sabe pouquíssimas coisas sobre “atualidades”, por exemplo. (PHI).

- Conhecimento de mundo muito limitado. (PMA).

É possível percebermos, a partir dessas inferências descritas, que Joana ainda

está consolidando sua alfabetização, e a forma como tem sido encaminhado seu

processo de aprendizagem está fortemente arraigada no modelo tradicional, seguindo

um currículo reduzido, restrito a conteúdos escolares adaptados ao diagnóstico e que

envolvem essencialmente as funções elementares (VYGOTSKI, 2007).

No que diz respeito às observações sobre as relações que Joana tem com o

conhecimento, as inferências dos observadores levam a crer que a estudante

apresenta um repertório pequeno de vivências culturais, sendo este o segundo

indicativo sobre seu contexto cultural: carência ou limitação de experiências culturais,

conceito limitado de mundo. De acordo com a abordagem histórico-cultural, essa

carência é determinante para seu desenvolvimento pois, “[...] o desenvolvimento

cultural seria, a principal esfera em que é possível compensar a deficiência”

(VYGOTSKI, 2011, p. 863).

Vale lembrarmos que, para Vigotski, a interação adulto/criança em contexto

escolar “[...] é uma relação de ensino, cuja finalidade imediata – ensinar/aprender – é

explícita para seus participantes, que ocupam lugares sociais diferenciados e

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hierarquicamente organizados” (FONTANA, 2005, p. 21). Dessa forma, entendemos

que cabe ao professor ultrapassar esse limite de pouco conhecimento curricular e de

mundo que a estudante tem. E o caminho para isso, defendemos, transita pelo

trabalho colaborativo.

O terceiro ponto indicativo do ambiente cultural que Joana faz parte é o nível

de seu envolvimento nas atividades escolares. Após realizarem a observação do

envolvimento da estudante a partir dos sinais e níveis descritos na Escala de

Envolvimento, a dinâmica da pesquisa-formação deu-se pela socialização dos

achados nas observações após discussão e reflexão em pequenos grupos.

As inserções no Padlet, realizadas enquanto discutiam em grupos, registraram

que são traços do envolvimento da estudante:

- Geralmente faz as atividades com auxílio. Trabalha-se autonomia da aluna. (PSRM).

- Faz o que se pede, mas as possibilidades de acerto apenas com auxílio direto. (PLP).

- Quando muito instigada, ela participa um pouco. (PP1).

- Envolvimento mínimo, somente com a ajuda da professora de apoio [educacional especializado]. (PHI).

Contudo, durante as discussões e as reflexões na socialização para o grande

grupo, outras ponderações emergiram:

- Enquanto eu falava como seria a atividade, ficou ali de espectadora, observando com um olhar que nem dá pra dizer se é atento ou não. (PLP).

- Eu estava dando uma atividade prática (colagem), então eu via ela fazer com prazer. E depois teve prazer em ver o que tinha feito. (PAR).

- A atividade que eu tinha planejado para ela veio de uma sequência de outras atividades em que ela teve outros momentos para realizá-la também, mas só dirigia a atenção e a energia quando era auxiliada. (PSRM).

- Quando fixa (se concentra) em algo, estímulos externos não a afetam. (PEE1).

- É insegura em suas ações. Às vezes até para copiar. Em experiências da disciplina, não produz sozinha. (PCI).

Nesse momento, fica claro que, apesar das dificuldades, a estudante é capaz

de realizar atividades desde que tenha auxílio. Para Vigotski, é a emergência da zona

de desenvolvimento iminente, em que as intervenções do professor se fazem cruciais

para o avanço na aprendizagem.

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Nas reflexões em pequenos grupos, o entendimento sobre o nível de

envolvimento da estudante diversificou entre 1 e 3, certamente pela natureza das

disciplinas em cada grupo. A partir dos sinais de envolvimento constantes na Escala

de Envolvimento adaptada para esta pesquisa e usada pelos professores como

instrumento de observação, os indícios levantados pelos professores e que levaram a

essas conclusões foram:

Concentração:

ü Quando está concentrada, se distrai apenas com estímulos intensos.

ü Os olhos se fixam no material e focaliza sua atenção ao círculo da atividade,

porém mais intensamente quando a Professora de Apoio está próxima.

Energia:

ü Não fala alto.

ü Não coloca zelo nas atividades.

ü Não dá sinais físicos de esforço mental na realização das atividades.

Complexidade e criatividade:

ü Realiza as atividades no seu máximo, mas sem toque pessoal.

ü Não produz algo novo ou diferente frente às possibilidades permitidas pela

atividade.

ü Pouco criativa na realização das atividades.

Expressão facial e postura:

ü Tem um olhar intenso para os professores enquanto explanam os conteúdos

ou explicam a atividade, porém com facilidade vagueiam de um lado a outro.

ü Sua expressão facial demonstra seus sentimentos e humor muito tenuamente.

ü Sua postura global é de mais aborrecimento do que de concentração nas

atividades.

Persistência:

ü Quando tem o auxílio da Professora de Apoio, persiste nas atividades e sua

energia é dirigida para a atividade.

ü Quando está sem o auxílio da Professora de Apoio, se a atividade não for de

natureza prática, termina rapidamente sem se preocupar com o resultado.

ü Não abandona facilmente uma atividade, mesmo que realize poucos esforços

para mantê-la.

ü Não revisita atividades. Somente se for solicitado.

Precisão:

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ü É insegura em suas atividades; não há precisão.

ü Dá pouca atenção ao seu trabalho, realizando-o com pressa.

ü Em atividades orientadas verbalmente, deixa escapar detalhes.

Tempo de reação:

ü Algumas vezes está alerta à hora da atividade; muitas não.

ü Não responde rapidamente a estímulos. Quando o faz é apenas reação inicial.

ü Demonstra pouca motivação.

Comentários verbais:

ü Não faz comentários verbais; não sentindo necessidade de pôr em palavras o

que está experimentando, descobrindo ou realizando.

ü Não faz descrições (positivas ou negativas) acerca do que fez ou está fazendo.

ü Não indica ou anuncia se as atividades lhe interessam.

Satisfação:

ü Poucas vezes demonstra sentimento de satisfação; isso fica mais implícito.

ü Olha com satisfação para trabalhos práticos e que possam ser tocados,

manuseados.

ü Quando conclui trabalhos, mostra-os aos professores.

Após a socialização, reflexões e ponderações, os participantes concluíram que

o envolvimento da estudante em suas atividades escolares, nos períodos observados,

permaneceu entre os níveis 2 e 3, pois, conforme pontuam Oliveira-Formosinho e

Araújo (2004), no nível 2, “[...] existem momentos de atividade. [...]. Existem frequentes

e longas interrupções na atividade, incluindo fitar o espaço ou perder tempo com

pormenores sem importância” (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p. 87); e,

no nível 3, porque “[...] não são visíveis sinais reais de envolvimento. As crianças

parecem estar indiferentes à atividade, sem realizar qualquer esforço. [...] estão

completamente conscientes do que estão a fazer [...] porém não estão realmente

envolvidas” (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p. 87).

Esse exercício de direcionar o olhar e pontuar o envolvimento da estudante nas

atividades permitiu que os professores a “enxergassem” melhor, pois, como afirma

Laevers (2014):

A essência do processo de pontuação está na empatia, pela qual o observador se sensibiliza ao observar a experiência da criança. Com isso, ele obtém informações para chegar a conclusões relativas à atividade mental da criança e à intensidade de sua experiência. (LAEVERS, 2014, p. 161).

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Continua o autor que o envolvimento está diretamente ligado à qualidade de

qualquer contexto educacional, pois “[...] incita o adulto a construir um ambiente

desafiador que favoreça a concentração, a motivação intrínseca e a intensidade

mental ao desenvolver atividades” (LAEVERS, 2014, p. 156).

Conclusivamente, foi possível perceber que o envolvimento da estudante se

deu diferentemente em cada disciplina, e isso também é explicado por Oliveira-

Formosinho e Araújo (2004, p. 91) ao afirmarem que “[...] o envolvimento depende de

várias variáveis, nomeadamente da qualidade do contexto, da formação das

educadoras, do apoio formativo que estas dispõem ou da perspectiva pedagógica

adoptada [...]”.

Apoiada nesse pressuposto e no que se discorreu sobre a atividade de

observação realizada, pesquisadora e professores colocaram-se a explorar e debater

suas visões compartilhadas sobre a estudante, para identificar outras formas de olhar

para ela ao mesmo tempo que colhiam referenciais para a construção do PEI. Essas

descobertas compõem o tópico seguinte deste capítulo, deixando aparente

possibilidades de redimensionamento do olhar surgidas no decorrer das atividades.

4.3 O ENCONTRO DOS OLHARES: A JOANA QUE ENCONTRAMOS – OS INSIGHTS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PLANO COMPARTILHADO

Ao cruzar as “descobertas” e os achados nas observações realizadas pela

pesquisadora e pelos professores, decorreu-se o conhecimento e o reconhecimento

– pelos discursos dos professores - da estudante e dos contextos em que ela estava

inserida. São nesses discursos que estão latentes muitos dos insights que os sujeitos

tiveram nesta etapa.

Olhar para Joana e ver nela possibilidades que não eram percebidas pelos

professores trouxe à tona um discurso ambíguo por parte de alguns, pois, ao mesmo

tempo, faziam um discurso da impossibilidade em que a palavra destaque era o

“NÃO”: “Não interage [...]”; “Não demonstra interesse em aprender [...]”; “Não reage

de nenhuma maneira [...]”; “Não existe construção de frases [...]”; “Não tem conceitos

básicos [...]”. Esses olhares carregados de impossibilidades denotaram o enfoque

tradicional de se trabalhar com alunos com deficiência, baseado “[...] nos limites que

tem a pessoa com necessidade especial de, individualmente, dar as respostas

esperadas” (PIMENTEL, 2012, p. 44-45).

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Vigotski, como salienta Padilha (2005, p. 33, grifos da autora), “[...] propõe a

busca dos ‘pontos fortes’ e não dos ‘déficits’ das pessoas comprometidas com a

deficiência”, deixando claro que mais importante que reconhecer aquilo que falta, que

não faz, que não sabe, “[...] é preciso compreender como essas pessoas enfrentam

suas dificuldades [...]” (PADILHA, 2005, p. 33).

Concomitantemente, aflorava em suas reflexões advindas das leituras dos

textos dos referenciais teóricos e das ponderações acerca das observações

exatamente o contrário: falas incorporando o discurso das possibilidades:

- [...] ela consegue fazer as coisas através de indução. (PLP).

- Ela demora [...] mas começa a conversar quando a atividade é em conjunto. (PLP).

- Ela lê. Eu faço ela ler. Quando eu tenho leitura eu deixo um pedacinho e ela lê. (PLP).

- Eu vejo que na ausência da professora de apoio ela faz. Do jeito dela, ela faz. [...] eu peço muito para ela desenhar o que eu explico ou copio [no quadro]. (PHI).

Eram os primeiros movimentos de olhar para outra direção, por parte dos

professores e que a pesquisadora havia notado em suas observações. Os professores

começavam a perceber a estudante com deficiência sob outras perspectivas a partir

do que os exercícios de observação lhes mostravam, do que os referenciais teóricos

lhes “diziam” e das reflexões construídas no grupo.

Para ampliar esse movimento de “re”-olhar a estudante como sujeito cheio de

possibilidades e não de ações determinadas, a pesquisadora sugeriu aos

participantes da pesquisa a realização de uma atividade de simulação, um “faz-de-

conta” organizado pelos professores junto aos estudantes da turma do ensino comum

em que Joana estava matriculada.

A atividade foi organizada pelas professoras PLP, PP1 e PSRM e consistiu na

dramatização por um grupo de cinco alunos representando uma vivência cotidiana,

um faz-de-conta, de uma situação em que os próprios alunos escolheriam o tema, o

roteiro e distribuiriam as personagens, sendo crucial que Joana participasse como um

deles. Ressaltou-se aos professores que não era necessário organizar uma

“superprodução”. Bastava lançar a ideia aos alunos e deixar que eles criassem o

episódio.

A finalidade da atividade era criar uma situação em que pesquisadora e

professores pudessem olhar juntos para a estudante, em uma situação que

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representasse um fragmento da realidade em que a estudante pudesse ser vista por

todos. A dinâmica foi proposta com a missão de deixar emergir situações reais em

Joana, que ela pudesse agir e reagir por iniciativa própria, demonstrando seu nível de

envolvimento na atividade e capacidades de interação e reação, assim como os

caminhos que faz para aprender, tudo em movimento, no momento.

Vygotsky (2003, p. 67) entende que “estudiar algo historicamente significa

estudiarlo en movimiento”. Assim, estudar todas as fases e mudanças de um

fenômeno, do seu surgimento até que desapareça, permite ao pesquisador dar

visibilidade à natureza do fenômeno e conhecer sua essência, pois ele só se mostra

quando em movimento.

Após a apresentação, novo encontro da formação aconteceu e foi palco de

ótimas reflexões, descobertas e encaminhamentos. Novos relatos sobre

as diferentes formas de se portar nos grupos escolares, de manifestar

interesse pelo conhecimento e envolver-se na atividade

emanaram no grupo, como confirmam as passagens:

- Ela se envolve mais quando está em grupo. (PCI).

- E em atividades mais amplas, sem muita coordenação motora fina seu desempenho é mais autônomo. (PSRM).

- Eu trabalhei (na preparação da atividade) com os alunos a necessidade de eles darem atenção para ela, tentando ajudar, [...] então eles conversaram bastante com ela e essa foi a diferença. (PLP).

- Não pode ser nada muito abstrato pra ela. Então o que ela precisa é de textos com linguagem bem simples, que ela leia e entenda. (PHI).

- Mas tem que considerar que o que já faz com ajuda, já está quase fazendo sozinha. (PP1)

- No espaço onde ela está, ela sabe se localizar. (PEF).

Os professores e a pesquisadora já haviam percebido que o envolvimento de

Joana em atividades práticas e coletivas era maior, e isso ficou demonstrado em

depoimentos anteriores. O tom dos comentários, das falas e das reflexões já

demonstrava que os professores haviam percebido que Joana é capaz de realizar

atividades, mas que precisa de apoio. Nesse sentido, Vygotski (2007) nos lembra que:

Cada assunto tratado na escola tem a sua própria relação específica com o curso do desenvolvimento da criança, relação essa que varia à medida que a criança vai de um estágio para outro. Isso nos leva diretamente a reexaminar [...] a importância de cada assunto em particular [...] baseados no conceito de zona de desenvolvimento proximal. (VYGOTSKI, 2007, p. 104-105).

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Quando indagados sobre o que tinham a dizer sobre o comportamento, o

desempenho, o envolvimento e a interação da estudante com o grupo, alguns poucos

comentários ainda denotavam o olhar de impossibilidade, mas outros já eram mais

positivos, transpareciam o movimento do olhar do professor a respeito

das capacidades da estudante. Um entre aqueles que mais

chamaram atenção foi:

- Olha, a Joana... a gente pensa que ela ficou contente, que ela teve satisfação. Percebi que ela estava tão contente de estar no grupo, de estar interagindo, com os outros dando atenção para ela, porque, normalmente, na sala de aula, ninguém dá muita bola para ela. Lá, nos ensaios e na apresentação, ela sentiu que ela era o centro da atenção, eu acho que foi isso que aconteceu com a Joana. Só que, mesmo assim, a gente percebe que ela precisa de direcionamento sempre, ela ficava meio sem ação: “O que eu faço, o que eu devo fazer!”. Ela precisava de apontamentos. “Joana, faça assim!”. Foi assim que os colegas fizeram. Eles sempre estavam a direcionando, e, quando dependia dela sozinha, ela ficava meio perdidinha, ela não sabia exatamente o que ela deveria fazer. (PLP).

Alguns professores lembraram de que os referenciais teóricos estudados

falavam sobre coletividade, colaboração e mediação, estabelecendo relação com as

descobertas feitas a partir da observação e da dinâmica do faz-de-conta. Novos

insights surgiram, tanto para a mudança da prática que vinham exercendo com a

Joana, quanto para a estruturação do Protocolo do PEI na etapa seguinte da

formação.

Os insights para a mudanças na prática pedagógica diária com a estudante

com deficiência se associavam à relação que os assuntos tratados na escola têm com

o curso do desenvolvimento da aluna, como se pode notar nos

fragmentos a seguir:

- [...] a gente não pode comparar os alunos [...]. (PAR).

- Na nossa prática, há diferenças (de elaboração de conceitos) que alunos de mesma idade têm [...], a gente pensa que todos têm os mesmos conceitos. [...] e é diferente. (PHI).

- Eu parei pra pensar um pouquinho assim, a gente pode fazer mais atividades em grupo tentando inclui-la, e também trabalhando com os alunos [...]. (PCI).

- Semana passada [...], depois do nosso estudo aqui, eu mudei um pouquinho com a Joana [...], fizemos um cartaz em grupo [...], eu acho que falta mais incentivo. (PLP).

- Atividades em grupo a estimulariam. (PMA).

- Então, são várias situações, e cada uma é diferente da outra. (PEE1).

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Essas reflexões foram socializadas enquanto as participantes faziam suas

inserções no mural do Padlet sobre as descobertas com a atividade de faz-de-conta

(Figura 17).

Figura 17 – Síntese das descobertas a partir da dinâmica “Faz-de-conta”

Fonte: Dados surgidos na pesquisa – acervo da autora.

Os olhares, as descobertas, os avanços percebidos constituíram-se em um

passo importante na caminhada para mudanças tão necessárias na prática

pedagógica com estudantes com deficiência para esses professores.

Os professores foram, naturalmente, estabelecendo conexões das

aprendizagens que fizeram sobre a estudante com deficiência e que serviu como

referência para reflexões e novas aprendizagens/novos olhares para

todos os estudantes com deficiência que têm matriculados em suas

turmas, como se percebe nos comentários dos participantes a seguir:

- Na verdade a gente faz errado. A gente sempre vai no que o aluno não sabe. Em todos que chegam com alguma dificuldade. Isso é errado. (PCI).

- Dá a impressão que todos sempre vão melhor no que é prático e coletivo. Em História eu posso ir por essa linha. (PHI).

- Quando estão em grupo também. (PAR).

- Então de repente a gente tem que fazer um trabalho assim, puxar eles para a participação também nas salas de ensino comum. (PSRM)

- Quando organizamos a atividade juntos, nós professores, fica mais fácil de ver o que queremos ver. (PP1)

- Muito interessante a escala (de envolvimento). Até para observar outros alunos. (PEF).

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- Eu acho que é muito importante a colaboração entre os professores e a coordenação pedagógica. Todos lidam com o mesmo aluno que tem deficiência. (PEE1).

- De repente é o ponto de a gente parar para pensar e fazer acontecer. (PLP)

Ao permearmos as discussões e as reflexões, foram surgindo pistas para a

composição do Protocolo de Plano Educacional Individualizado a ser elaborado.

Ficaram evidentes, nas falas dos professores, algumas características que um

instrumento de apoio à aprendizagem de alunos com deficiência deveria ter:

ü Ser um roteiro que sirva como “norte” a todos os professores do estudante.

ü Estar dentro da realidade e das possibilidades da escola, ou seja, deve ser

funcional.

ü Informar o nível de conhecimentos do aluno.

ü Prever atividades em grupo, estimular a coletividade.

ü Contemplar objetivos de socialização.

ü Envolver todos da escola que lidam com o aluno.

ü Preocupar-se com a avaliação formativa desses estudantes.

Nesse momento, os participantes da pesquisa já percebiam que, para ensinar

esses estudantes,

[...] parte-se da certeza de que as crianças sempre sabem, alguma coisa, de que todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são próprios. [...] O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais de cada aluno. (MANTOAN, 2011, p. 62).

Destarte, destacamos três principais fragmentos da inserção coletiva no Padlet

(Figura 18), sobre que ensinamentos ficam sobre a aluna após essa etapa de

diagnóstico e identificação de suas necessidades.

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Figura 18 – “Ensinamentos” que ficam após conhecer melhor a estudante com deficiência

Fonte: Dados surgidos na pesquisa – acervo da autora.

O fato de observarem a estudante com um olhar direcionado, de examinarem

seu comportamento, suas reações e suas interações em uma dinâmica que simulava

seu cotidiano, e de analisarem seu envolvimento nas atividades por meio de

indicadores que serviam como parâmetros foram cruciais para que os participantes

da pesquisa chegassem a conclusões como as expostas na Figura 18.

A partir do momento que apreenderam que colaboração, um novo

olhar sobre o aluno e coletividade são aspectos que precisam ser

incorporados no Plano Educacional Individualizado, abrem um link para a

pesquisadora introduzir outro tema importante do Eixo 1 da formação: a relação entre

os professores do ensino regular e do AEE, considerada “[...] fundamental para a

promoção da inclusão e do sucesso escolar de todos os alunos, principalmente

daqueles com necessidades educativas especiais” (MIRANDA, 2016, p. 99).

Mendes, Cia e D’Affonseca (2015) afirmam que um bom planejamento

educacional deveria envolver “[...] todos os profissionais necessários para responder

as necessidades particulares de cada estudante” (MENDES; CIA; D’AFFONSECA,

2015, p. 514) Assim sendo, buscamos conhecer como se manifestam as relações

entre os professores das disciplinas, do AEE e a equipe pedagógica, a fim de desvelar

novos referenciais para a elaboração do PEI e sem perder a conexão com o que já

desvelaram a respeito da aluna com deficiência e sobre os conhecimentos atinentes

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ao trabalho colaborativo, à coletividade e à mediação construídos a partir dos

referenciais teóricos da formação.

Novamente, o Padlet se constituiu em um potente recurso para registrar os

remates das reflexões advindas das discussões que, por sua vez, foram registradas

em vídeo-gravações e devidamente transcritas em sua íntegra para o apoio à análise

dos seus conteúdos.

A atividade compôs-se de discussão dirigida a partir de quatro questões

norteadoras com registro no mural “Relação professores do ensino regular e AEE” dos

pontos de vista individuais dos participantes, sendo as questões condutoras:

ü Em que aspecto o trabalho do professor do ensino regular contribui para o seu

trabalho? (Questão dirigida às duas professoras de Educação Especial do

grupo).

ü Em que aspecto o trabalho do professor do AEE contribui para o seu trabalho?

(Questão dirigida aos professores das disciplinas e a pedagoga/coordenadora

pedagógica e a professora de Apoio Educacional Especializado).

ü Em que aspecto o trabalho do Professor de Apoio Educacional especializado

contribui para o seu trabalho? (Questão dirigida aos professores das disciplinas

e a pedagoga/coordenadora pedagógica e a professora do AEE).

ü Nomeie momentos importantes em que haja interação entre vocês. (Questão

dirigida a todos os participantes).

Este foi, novamente, um momento significativo da formação, pois, ao mesmo

tempo que os professores deram depoimentos positivos e de prestatividade dos

colegas a sua prática, nomearam momentos parcos e inconstantes de interação entre

os profissionais das duas modalidades.

De acordo com os professores do ensino regular, as contribuições da

professora do AEE, ou seja, da SRM e a Professora de Apoio se caracterizam como

importante suporte a sua prática em sala de aula, pois o contato mais

próximo que têm com o aluno favorece sua aprendizagem e ajuda na sua

autonomia. Pontuaram que ao ajudarem o aluno em suas dificuldades,

estão se ajudando na execução de suas aulas. Igualmente foi citada a

ajuda com a elaboração de atividades e avaliações diferenciadas como uma das

principais contribuições dos professores de Educação Especial.

Percebemos que não foi citada nenhuma possibilidade de contribuição dos

professores de Educação Especial com o planejamento das atividades para o

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estudante com deficiência, denotando a falta de diálogo entre as duas modalidades

para esse fim. O depoimento da participante PEE1 traduz um pouco desse sentimento:

- Sabe o que eu acho que falta? Está faltando a direção, a equipe pedagógica sentar junto com todos os professores daquelas turmas que estão esses alunos e já tentar conversar sobre eles. Não deixar, eu vejo que tem professores que conhecem eles lá quase na metade do ano e não sabe o problema do aluno que está ali dentro. Então essa é uma ponte que a escola ainda não está fazendo conosco. (PEE1).

A falta de diálogo entre os profissionais, argumentam Mendes, Cia

e D’Affonseca (2015, p. 515), “[...] afeta diretamente o aluno, o qual,

consequentemente, terá um planejamento pouco efetivo em sua escolarização, e com

atividades realizadas na SRM divorciadas das atividades no ensino regular”. As

participantes afirmam, ainda, em seus depoimentos sobre a falta de diálogo:

- Nosso sistema (educacional) não favorece o encontro entre professor do ensino especial e do ensino regular. Na verdade, não é desvantagem daqui do nosso colégio. É o sistema da política paranaense. (PHI).

- Há falha de não acontecer esses encontros. E não tem ninguém que esteja o dia inteiro na escola pra fazer a mediação. Na verdade, não conseguimos discutir a situação desses alunos com dificuldades. (PLP).

A queixa de falta de oportunidades em se encontrarem para discutir sobre os

alunos é uma realidade em muitas escolas. Isso demonstra que não há

como fazer um trabalho colaborativo e nem como propiciar a

coletividade, apesar disso os professores registram que há

contribuições entre o grupo, dentro do que as políticas e regras da

escola permitem. Isso se evidencia nos momentos importantes de interação entre

professores das duas modalidades apontados no mural do Padlet.

- Momento importante para a interação seria um profissional que fizesse a mediação entre os turnos e profissionais que trabalham com o aluno da Educação Especial. (PSRM).

- Na sala dos professores, nos intervalos e durante o Conselho de Classe. (PHI).

- Na verdade, há essa falha de não acontecer momentos de discussão acerca destes alunos com dificuldades de aprendizagem. (PEE1).

- Interação muito pouco. Quando o professor tem dificuldades. Na sala dos professores e nos conselhos de classe com tempo restrito. (PG1).

- Quando estamos na sala de professores e questionamos os demais professores sobre o desenvolvimento de tal aluno na sua disciplina e nos conselhos de classe.

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- Reunião pedagógica, Conselho de Classe, intervalo do Recreio. Falas específicas com a coordenação. (PEE1)

- Os principais momentos são em conselhos de classe, e em alguns instantes nas Horas-atividade. (PAR).

- Nos intervalos de recreio e nos Conselhos de classe. (PMA).

- Conselho de classe, sala dos professores. Há poucos momentos (PP1).

Os excertos de depoimentos citados permitem concluir que não existe um

momento específico para interação entre todos na escola e voltado para reflexões

acerca de alunos com deficiência. Percebemos, na prática, um esforço dos

professores para a realização dessa interação, mas ainda longe do que se espera

como ideal. O seguimento dessas reflexões é apresentado no capítulo seguinte,

juntamente ao protocolo de PEI desenvolvido colaborativamente pelo grupo.

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5 PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO: A MATERIALIZAÇÃO DA COLABORAÇÃO

[...] o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de

atividades em cujo interior as novas funções psicológicas

[superiores] podem operar.

Lev Semyonovitch Vygotski (2007, p. 56).

O protocolo do Plano Educacional Individualizado (PEI), que a partir deste

momento passa a ser identificado neste estudo como Protocolo, na qualidade de

instrumento potencializador da aprendizagem de estudantes com deficiência,

começou a tomar forma e corpo no decorrer da formação, conforme discorrido nos

capítulos anteriores. Sua materialização se constitui no objetivo e, o desenvolvimento

de seu Protocolo no córpus do presente capítulo.

Como anunciado nos capítulos anteriores, o desenvolvimento do Protocolo de

PEI deu-se a partir do trabalho colaborativo entre representantes da equipe

pedagógica, professores do ensino comum e da Educação Especial de uma escola

pública paranaense após o redimensionamento de seus olhares sobre quem é e quais

são as necessidades de uma estudante com deficiência e quais as práticas educativas

requeridas para a aprendizagem desta estudante.

O início das atividades de elaboração do Protocolo, se deu em continuidade

aos estudos do referencial teórico da formação, envolvendo nesse momento, a

discussão fundamentada dos conceitos vigotskianos de trabalho colaborativo,

aprendizagem mediada, elaboração conceitual e avaliação da aprendizagem. A

pesquisadora também trouxe à baila as discussões e reflexões do grupo de sujeitos

da pesquisa sobre a terceira parte do livro Ensinar a pensar36 de Louis Raths et al.

(1977) que fez parte do material teórico usado na formação. O livro discorre sobre as

operações do pensamento que são também formas de chegar à elaboração conceitual

e ao pensamento científico, considerando o processo de pensar e não o produto do

pensamento. Este, apresenta uma série de exercícios que podem ser trabalhados

para “desenvolver” cada uma das operações de pensamento, sem que sejam

necessárias mudanças no currículo escolar. Apenas a inclusão, a adaptação, a

reinvenção de atividades na operacionalização do plano/planejamento de ensino

(RATHS et al. 1977).

36 Livro clássico da área da didática que expõe formas de ensinar o professor a ensinar as crianças a pensarem.

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O intuito de trazer o estudo dessas obras para esta etapa da formação foi

ampliar o “campo de visão” dos professores para as possibilidades de trabalho com

elaboração conceitual e ampliar também a discussão das suas aplicações.

Além do referido texto, as discussões e as reflexões tiveram como start as

seguintes questões:

ü Que aspectos precisam ser incorporados a um PEI com base no pressuposto

do ensino colaborativo?

ü O que é para você a mediação e como ela pode acontecer?

ü A elaboração conceitual é uma das possibilidades de trabalhar de forma

articulada a aprendizagem dos estudantes? O que você conhece sobre isso e

como ela acontece?

ü Com base nos estudos e nas discussões realizadas, como você estruturaria

um PEI?

Nessa etapa da formação, as reflexões do grupo de participantes já eram mais

pontuais, as ideias mais claras e as falas mais objetivas. Os comentários e os

depoimentos surgiam permeados de novos saberes resultantes das leituras, das

conversas e dos conhecimentos construídos, como bem exemplificam os depoimentos

a seguir:

- Falando da elaboração de conceitos, dentro das fases que fala no texto, eu observo que a Joana está na primeira fase, não é? É aquele amontoado de informações e ela não consegue selecionar, não consegue organizar. (PSRM).

- Na nossa prática esquecemos que há diferenças nos conceitos que os alunos têm. Até como exemplo, a gente acredita que todos eles, por exemplo, têm os conceitos de ontem, hoje e amanhã, não é? Com 11 anos a gente pensa que todos têm esse conceito. Como é que vai fazer uma análise de um texto lá da antiguidade e de hoje, e como será no futuro, se alguns não têm esses conceitos? Nós temos que trabalhar o antes o agora e o depois, eles só vão conseguir entender esse hoje e amanhã se eles tiverem o agora e o depois, não é? São bem interessantes os textos de elaboração conceitual. (PHI).

Comentários como os destes excertos encerraram as discussões acerca dos

referenciais teóricos, mostrando que os professores avançaram em seus

conhecimentos sobre os temas abordados e, consequentemente “[...] no modo de

produzir sua ação e, assim, [...] transformando sua prática” (FIGUEIREDO, 2011, p.

144). Estavam prontos para o encaminhamento das atividades de elaboração do

Protocolo.

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5.1 DESIGN DO INSTRUMENTO: PISTAS, INSIGHTS E REFERENCIAIS

A conexão com essa nova etapa da formação foi estabelecida com a retomada

dos propósitos da pesquisa: desenvolver um Protocolo que transitasse entre ensino

comum e especial, e que atuasse como instrumento potencializador da aprendizagem.

Sobre isso, Magalhães, Cunha e Silva (2013) afirmam que o PEI é uma estratégia que

contém explicitamente a direção de como percorrer o caminho de amadurecimento de

funções cognitivas ainda não consolidadas, ou seja, a zona de desenvolvimento

iminente, “[...] tornando-se um mapa valioso para o professor (MAGALHÃES; CUNHA;

SILVA, 2013, p. 46, grifo dos autores).

Mais do que ser elaborado coletivamente, nesta pesquisa, o PEI se trata de um

instrumento de mediação impulsionador da aprendizagem. Sobre isso Glat e Pletsch

(2013) asseveram que o PEI:

[...] é uma alternativa promissora, na medida em que oferece parâmetros mais claros a serem atingidos com cada aluno, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas curriculares. [...], pode auxiliar os docentes a planejar ações que possibilitem aos alunos com deficiência participar de atividades e desenvolver aprendizagens escolares, mesmo que com adaptações, a partir de práticas curriculares propostas para a turma em que estiverem matriculados. (GLAT; PLETSCH, 2013, p. 23).

Essa concepção de PEI converge com os estudos ora propostos sobre esse

instrumento e que começou a ser desenhado com o inventário de pistas sobre seus

atributos que foram surgindo desde a construção dos primeiros conhecimentos a

respeito do tema pelos sujeitos participantes da pesquisa. Tais pistas são retomadas

nesse momento a fim de recapitularmos em que contextos elas emergiram. São

apresentadas a seguir em ordem aleatória de mérito ou relevância para o estudo,

seguindo apenas a ordem temporal de surgimento nas reflexões realizadas no

decorrer da formação.

Cabe ressaltar que as locuções designativas das referidas pistas a seguir

apresentadas expressam definições e significados atribuídos nesta e para esta

pesquisa, a partir do contexto de construção de conhecimentos pelos sujeitos

partícipes da pesquisa formação empreendida. São elas:

Articulação

A atuação articulada como atuação planejada e preparada em conjunto entre

equipe pedagógica, professores do ensino comum e da Educação Especial,

na busca do estabelecimento ou melhoria da sintonia nas ações pedagógicas voltadas

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ao estudante com deficiência. Versa, neste estudo, sobre a concretização do já

propalado nas políticas educacionais inclusivas sobre o tema.

Colaboração

A colaboração como pista de um PEI potencializador da aprendizagem surge,

neste estudo, sob duas perspectivas: a do trabalho colaborativo como

trabalho conjunto, em colaboração entre professores do ensino comum e ensino

especializado com foco em um mesmo aluno ou objetivo; e a perspectiva do ensino

colaborativo como proposta alternativa de trabalho que envolve a cooperação entre

professores do ensino comum e da Educação Especial. Colaboração como atuação

conjunta na programação da escolarização do aluno com deficiência garantindo a

articulação de saberes e combinando habilidades dos professores das duas esferas

(regular e especial), de forma que todos possam contribuir com propostas e

estratégias de ensino, avaliação e recursos adequados à promoção da aprendizagem

do aluno a quem o PEI se destina.

Individualização ou Individuação

Refere-se ao que Tannús-Valadão (2010, p.17) declara como “[...] plano

educacional talhado individualmente [...]” para responder às necessidades

diferenciadas do estudante com deficiência, ou seja, a individuação, é a base da

atuação pedagógica a partir da perspectiva da diferenciação do ensino de acordo com

as necessidades específicas do estudante. O entendimento de Glat, Vianna e Redig

(2012, p. 81) de individualização como “[...] uma ação contextualizada, que considera

a proposta escolar para todos os alunos, mas busca alternativas de aprendizagem

para aqueles que requerem alguma especificidade nos processos de ensino e

aprendizagem” é o que condiz com o sentido que esta pista quis determinar para o

termo em questão. Relaciona-se também ao conceito de individuação.

Estratégia

No estudo em pauta, estratégia surgiu como alternativa, como opção de

prática pedagógica positiva para a aprendizagem do estudante com deficiência na

escola regular, o qual o próprio PEI se caracteriza como tal (GLAT; VIANNA; REDIG,

2012). Surgiu ainda, relacionada à proposta pedagógica da prática que se intenta, ou

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seja, estratégia diferenciada de ensino, sendo o ensino colaborativo uma das

estratégias emergidas nas discussões.

Família

Esta pista surgiu entre os debates da formação sob duas perspectivas. A

primeira se relaciona a importância de envolver a família no processo de

ensino-aprendizagem dos estudantes com deficiência, ampliando o trabalho

colaborativo com ela. Nesse aspecto, cientes, pela experiência diária, das dificuldades

cada vez maiores em se trazer a família até a escola, os professores levantaram como

importante elemento para o PEI, pelo menos o registro das expectativas e do

compromisso da família com a aprendizagem do estudante e, sempre que possível,

sua anuência para o planejamento de sua aprendizagem. O conhecimento de maiores

detalhes dos dados familiares caracterizou-se como a segunda perspectiva da

família como pista. Surgiu da necessidade de se contextualizar o momento do

estudante, confirmando-o como sujeito histórico e social e contribuindo para a

materialização da pista a seguir.

Conhecer o aluno

Relacionado à pista anterior, conhecer o aluno, ou seja, conhecer um

pouco mais da sua história, dos contextos pessoal e escolar que participa,

fornecem, com certeza, explicações sobre seus percursos e níveis de aprendizagem.

Poker et al. (2013, p. 23) afirmam que conhecer o aluno se trata de “[...] informação

fundamental para o professor conhecer as experiências já vividas, as oportunidades

que o aluno já teve e, também, a maneira como a escola está respondendo às suas

necessidades”, possibilitando a esta se reorganizar conforme necessário para atender

às demandas do estudante. Não há como planejar individualmente sem que se

conheça o estudante a quem se destina o plano.

Expectativa

As expectativas que se estabelecem para o estudante influenciam no

processo e nos resultados de sua aprendizagem, pois estão relacionadas diretamente

aos objetivos que para ele foram estabelecidos. Expectativa como pista para o

Protocolo surgiu sob duas vertentes: a) quando os professores perceberam a

importância de compartilhar as expectativas que cada um tinha para o estudante e

ao estabelecerem expectativas comuns para esse aluno; b) também a partir do

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entendimento da família como parte fundamental no processo de ensino

aprendizagem do estudante precisa expressar suas expectativas acerca do que

espera do estudante e da escola no período letivo a que se planeja.

Habilidades

Os professores participantes da pesquisa entenderam que o enfoque nas

habilidades expressas pelo estudante é crucial para a elaboração de um

PEI que privilegie o atendimento das suas singularidades educacionais. Assim como

se pretenda uma prática pedagógica assentada no reconhecimento do papel da Zona

de Desenvolvimento Iminente para sua aprendizagem e para o seu acesso ao

currículo. Surgiu no momento que compreenderam a importância de se mudar o olhar

e transformar as relações de ensino vigentes.

Ação pedagógica/atividades

Esta pista surgiu após a análise, pelos participantes da pesquisa, de outros

modelos de PEI, na qual ficou evidente a necessidade de que a ação

pedagógica a ser proposta no PEI em elaboração considere a ressignificação das

atividades que se propõem para o estudante com deficiência. E que a sistematização

delas seja uma das ações do trabalho colaborativo entre os professores do ensino

comum e do especializado. Atividade como intervenção pedagógica, requer

elaboração considerando as potencialidades e habilidades que o estudante demonstra

ter bem como o que ele consegue fazer com apoio ou ajuda, ou seja, partir da ZDP

do estudante, além de estarem voltadas ao atendimento das suas necessidades

educacionais.

Avaliação

Esta pista despontou em sincronia com a ação pedagógica/atividade, pois

avaliação e intervenção se relacionam diretamente. O PEI assumido como

roteiro de avaliação (POKER, et al., 2013), aponta habilidades que o estudante tem

e que vai adquirindo no decorrer do processo de aprendizagem, o que, por sua vez,

vai revelando sua evolução e desenvolvimento. De modo simultâneo, a avaliação tem

papel fundamental no oferecimento de uma educação realmente inclusiva pois é “[...]

capaz de coletar dados sobre as dificuldades do aluno, no que tange aos processos

cognitivos subjacentes aos diferentes conteúdos [...]” (POKER et al., 2013, p. 22),

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permitindo o planejamento de estratégias pedagógicas individualizadas necessárias

ao atendimento das especificidades.

Potencial de aprendizagem

Como pista para o Protocolo do PEI, o potencial de aprendizagem do

estudante deve ser considerado como elemento indispensável a sua

proposição. Deve ser considerado no momento da estruturação do PEI e dos seus

objetivos, da escolha dos recursos, estratégias, conteúdos e avaliação. Essa pista

esteve latente em todo o percurso de construção do conhecimento por parte dos

sujeitos da pesquisa já que era intento que eles movimentassem o olhar sobre os

estudantes com deficiência procurando o seu potencial de aprendizagem. Após a

realização das atividades expressas no capítulo 4, essa pista passou de latente para

aparente e necessária para a constituição do protocolo.

Adaptações

Segundo os participantes, adaptações dizem respeito aos ajustes

necessários nos elementos constitutivos do processo de ensino

aprendizagem traduzidos nos componentes do PEI para atendimento das

necessidades da escola e do professor para construírem um ambiente propício à

aprendizagem real dos estudantes com deficiência, bem como ao atendimento das

necessidades educacionais reais de cada estudante.

Mediação

A mediação, surgiu após as reflexões da formação sob duas perspectivas:

o PEI se trata também de um elemento externo de mediação (instrumento)

(VYGOTSKY, 2007) e a perspectiva do professor como elemento intermediário que

em suas intervenções é capaz de mediar a aprendizagem do estudante, bem como

as interações sociais entre o aluno com deficiência e os outros de seu grupo,

favorecendo e estimulando suas funções cognitivas.

Envolvimento

O envolvimento como pista para o PEI surgiu a partir da percepção de que

ele se trata de um potente indicativo da aprendizagem do estudante. Trata-

se de uma forma de monitorização dos processos de aprendizagens e só ocorre se o

estudante operar suas funções psíquicas na zona de desenvolvimento iminente.

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Dessa forma, as atividades não devem ser fáceis ou difíceis demais. É preciso haver

um ambiente desafiador para a aprendizagem, com mais possibilidades de

envolvimento nas atividades.

Cooperação

A interação do estudante com seus pares e demais pessoas do seu

ambiente em cooperação com os companheiros permite a operação dos

processos internos de desenvolvimento. Dessa forma, a cooperação manifestou-se

como pista que ressalta a importância das interações do estudante com deficiência

com seus colegas, professores e demais pessoas do contexto escolar. Por outro lado,

a cooperação também surgiu como sinônimo de colaboração, imbricando-se a esse

conceito em alguns momentos.

Isso posto, é possível depreender que estas quinze “pistas” para a elaboração

do PEI se entrelaçam ativamente tendo como liame principal a proposta pedagógica

do ensino colaborativo que se caracteriza como “[...] proposta inovadora [...] pela

cooperação entre os docentes – prevista em alternativas de suporte como salas de

recursos [...]”. (MARIN; BRAUN, 2013, p. 54).

Ressalta-se que na pesquisa ora apresentada o conceito de ensino

colaborativo se assenta como uma proposta alternativa de trabalho que envolve a

cooperação entre professores do ensino comum e da Educação Especial (mesmo

quando não há o professor de educação especial na sala de ensino comum), atuando

juntos na programação da escolarização do aluno com deficiência, garantindo a

articulação de saberes e combinando habilidades dos professores das duas esferas

(regular e especial), de forma que todos possam contribuir com propostas e

estratégias de ensino, avaliação e recursos adequados a promoção da aprendizagem

do aluno a quem o PEI se destina e na(s) turma(s) em que está matriculado.

A partir desse olhar sobre o ensino colaborativo entrelaçado pelas pistas

anteriormente mencionadas, os insights que foram surgindo a partir do momento que

o foco da formação já se direcionava para a elaboração do Protocolo, podem ser

sintetizados, nos depoimentos dos sujeitos participantes da seguinte forma:

- Acho que deveríamos partir do que já temos e melhorá-lo. (PSRM).

- Acho que deve partir daquilo que ele já sabe pra não começar da estaca zero de novo. (PHI).

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- Tem que pôr de que maneira trabalhar com ele. (PP1).

- A avaliação deles não pode ser classificatória como a gente tem. Ela devia ser por conceito [...] com acompanhamento [...] para ver a evolução dele. (PCI).

- Vamos trabalhar as dificuldades do aluno, mas é preciso mostrar a todos as habilidades dele, as facilidades q ele tem para aprender. Isso vai ajudar muito. (PLP).

- Não podemos esquecer de colocar um espaço para registrar o envolvimento dele. A escala foi muito boa. (PEE1).

Conclusivamente, as pistas, os insights e os referenciais advindos das

reflexões da formação, permitiram ao grupo levantar características necessárias ao

Protocolo que embora já tenham sido apresentadas no capítulo da Metodologia,

expomos novamente a fim de favorecer a conexão entre os tópicos em pauta. Assim

sendo, se constituíram como características necessárias ao PEI:

ü Ser um plano individualizado.

ü Não se tratar apenas de um instrumento de planejamento do que viria a ser ou

seria trabalhado. Trata-se de um plano em que devem constar o que se planeja,

mas também um plano que registre o que já se fez e deu resultados para que

assim sirva a outro professor como parâmetro, sugestão, apoio ou recurso de

ensino em sua disciplina.

ü Acompanhar o percurso de escolarização do estudante sem tempo limite para

fechamento ou conclusão.

ü Identificar o que pode ser trabalhado com o estudante a partir de suas

habilidades e potencialidades.

ü Registrar quais as expectativas de aprendizagem os professores têm para o

estudante.

ü Ter registrado o que o estudante já sabe, a fim de permitir que todos saibam

seu nível de aprendizagem como recurso para as avaliações.

ü Deixar claro que o parâmetro para avaliação da evolução do estudante é

unicamente a sua própria evolução.

ü Trazer as melhores maneiras de se trabalhar com o estudante; os tipos e a

natureza de atividades a que ele responde melhor.

ü Ter um formato em que o trabalho colaborativo entre professores do ensino

regular e do especializado possam estar em co-participação em seu

preenchimento, a qualquer tempo e lugar.

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ü Constar o registro do envolvimento do estudante em atividades e na

aprendizagem.

ü Constar o registro das expectativas da família para aprendizagem do

estudante.

Há de ressaltar-se que a inserção da família na aprendizagem dos estudantes

com deficiência se constituiu em objeto de relevantes trabalhos como Pamplim (2010),

Cruz (2013), Pinto (2013), Souza (2015), Oliveira, C. M. de (2016).

A partir das análises críticas e do conhecimento da estudante com deficiência

e seu contexto escolar, os insights dos professores e os referenciais emergidos e

latentes no encadeamento da pesquisa suscitaram o aparecimento de critérios

orientadores da construção colaborativa do Protocolo, qua já se encontram citados

em Mello e Hostins (2018, p. 1034-1035), em publicação realizada como parte desta

pesquisa:

ü Observar e registrar o processo de aprendizagem do estudante no ensino

comum e no AEE. Refere-se ao olhar atento dos percursos do estudante para

aprender e à observação cuidadosa das suas peculiaridades em relação às

suas disciplinas. Tais observações passaram a ser registradas em documento

único de acesso a todos os professores do estudante.

ü Considerar que o que o estudante sabe é o “marco zero” para sua

aprendizagem e não o ponto final. O grupo assumiu que, ao se avaliar o

estudante com deficiência, é preciso considerar e comparar sua aprendizagem

com ele mesmo e não com a turma.

ü Definir em conjunto o objetivo geral da aprendizagem do estudante. Entendeu-

se que os objetivos de aprendizagem para o estudante com deficiência podem

(e devem) ser estabelecidos conjuntamente entre os professores. O importante

é que se defina entre todos os professores da turma, quais as metas propostas

para este estudante.

ü Dispor do PEI em ambiente virtual para acesso e registro simultâneo e remoto

por todos os professores. Ao se pensar um PEI que fosse colaborativo e

acessível a todos os professores, que pudesse estar disponível a cada um no

tempo em que este tem para suas atividades pedagógicas, de imediato surgiu

o consenso de que ele deveria ser compartilhado por todos em ambiente virtual,

permitindo que suas alterações e atualizações fossem visualizadas a qualquer

tempo e lugar graças a ferramentas tecnológicas.

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ü Definir estratégias que cada professor utilizará, em um mesmo documento, de

modo que todos conheçam o que todos estão fazendo. Cada professor registra

as estratégias de aprendizagem e de avaliação que utiliza em sua disciplina

durante a ação, que podem ser compartilhadas com os demais. Será essa troca

de informações simultâneas, no decorrer do período letivo, que efetivará o

acesso ao currículo e à aprendizagem do estudante.

ü Registrar, a qualquer tempo, os avanços observados durante o período letivo,

não precisando ser apenas em momentos de pós-avaliação. O registro dá-se a

partir de itens, podendo identificar quando o avanço é na aprendizagem

curricular (nas disciplinas) ou no desenvolvimento global do estudante.

ü Observar e evidenciar os sinais e níveis de envolvimento do estudante na

realização das atividades. Consiste em realizar apontamentos dos sinais de

envolvimento do estudante na aprendizagem observados durante o processo.

Para isso, toma-se como base a Escala de Avaliação do Envolvimento de

Leuven (LAEVERS, 2014).

ü Alterar o planejamento das atividades tendo em conta os avanços e os níveis

de envolvimento observados. Uma vez que o PEI estará em constante

movimento pelo preenchimento, pelas anotações e pelos registros constantes

e simultâneos ao processo de aprendizagem, suas alterações dar-se-ão a

qualquer tempo, permitindo o acompanhamento e avaliação simultânea do

estudante.

ü Emitir parecer descritivo sobre o processo de aprendizagem. Ao final do

período letivo, a equipe de profissionais envolvida com o estudante emite

parecer descritivo fundamentado nos avanços, nos caminhos que fez para

aprender, nas suas dificuldades; enfim, sua trajetória de aprendizagem. É

necessário ainda que ofereça subsídios para encaminhamentos, sugestões e

possibilidades de intervenção pedagógica para o próximo período.

Pontuadas as peculiaridades do Protocolo, assevera-se que mais do que ser

elaborado coletivamente, o PEI se desenha como um instrumento potencializador

mediado e colaborativo em que professores observam, registram, descrevem,

planejam e avaliam a aprendizagem do estudante como um todo, sem compartimentar

seus avanços e aprendizagens por disciplinas ou áreas. Tais características reforçam

o conceito de plano e não de planejamento de ensino ou de aulas que, segundo

Gesser (2011, p. 44), “[...] são elaborados pelos professores e podem ser organizados

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por disciplinas, unidades, projetos entre outras formas” e têm como preocupação

central “[...] a organização didático-pedagógica para a docência [...]”, portanto menos

flexíveis.

Sobre o caráter de Plano, Sacristán (1998) o delineia como um documento

norteador, orientador, e afirma que

Plano indica a confecção de um apontamento, [...] um esquema que representa uma ideia, um objeto, uma ação ou sucessão de ações, uma aspiração ou projeto que serve como guia para ordenar a atividade de produzi-lo efetivamente. [...] prefigura a prática e serve de guia a sua realização. (SACRISTÁN, 1998, p. 197).

Uma vez que o “Plano” Educacional Individualizado elaborado se constitui em

um documento a ser preenchido por muitas mãos, o professor do AEE tem relevante

participação nesse processo de observação e registros das informações. Devido ao

fato de ser ele o professor com maior contato e relação com o estudante, cabe-lhe

coordenar o trabalho de preenchimento do Protocolo, prestando informações,

estabelecendo contato com os professores do ensino comum e, também, auxiliando

os professores com as práticas por eles anotadas.

Destarte, perante todo esse fluxo de informações e conhecimento elaborado

sobre o Protocolo que se propôs a emergir na pesquisa formação, sua estrutura

elaborada constitui objeto e foco do tópico a seguir.

5.2 A CONSTRUÇÃO COLABORATIVA DO PROTOCOLO

Tendo por base epistemológica e conceitual os estudos realizados no processo

de formação, o grupo voltou-se à estruturação e ao desenvolvimento do Protocolo.

Dado que a proposta de construção do Protocolo era colaborativa, a pesquisadora

preparou o ambiente de forma que todos se sentissem à vontade para participar com

contribuições, sugestões, exemplos, questionamentos, críticas ou interpelações.

Levou para o encontro da formação os modelos de PEI analisados, o modelo instituído

na escola, a transcrição dos encontros em que a estrutura desses modelos foi

debatida e pediu, antecipadamente, ao grupo que trouxessem outros modelos e

materiais que pudessem contribuir para a estruturação do Protocolo.

Tannús-Valadão e Mendes (2018), em estudo sobre inclusão escolar e PEI,

pontuam que o planejamento centrado no indivíduo vem ampliando sua demanda

sobre o planejamento centrado na instituição, ainda vigente em paradigmas que

priorizam o modelo médico da deficiência.

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O modelo de Protocolo de PEI elaborado se pretende centrado na pessoa e

focalizado no período de vida escolar pois “[...] se preocupa em atender as demandas

escolares (TANNÚS-VALADÃO; MENDES, 2018, p. 5), assim como se procurou

desenvolvê-lo como uma proposta alinhada ao pensamento das referidas

pesquisadoras, pois

[...] pode ser traduzida como a forma de se produzir documentação ou registro com a finalidade de promover e garantir, como um contrato, a aprendizagem de estudantes PAEE37 por meio da ação compartilhada pelas pessoas responsáveis ou que deverão trabalhar com esses alunos. (TANNÚS-VALADÃO; MENDES, 2018, p. 5).

A iniciativa para direcionar a atividade veio das professoras de Educação

Especial:

- Acho que a gente devia partir do que já temos (instituído na escola) e melhorar. Usar o nosso PAEE como roteiro, para saber de onde partir. (PSRM).

- Uma base (o modelo instituído na escola) para a gente mexer inteiro. (PEE1).

- Porque há coisas que não tem como tirar e colocar coisas novas. (PSRM).

- Fazer um documento que acompanhe o aluno e que esteja disponível para todos os professores envolvidos com ele. Eles têm que pensar assim: “Quando eu recebo um aluno com deficiência, o que eu quero saber dele e para ele?” (PEE1).

O primeiro passo havia sido dado. Após alguns momentos de discussão sobre

como começar a elaboração e a estruturação do Protocolo, decidiram, a partir da

revisitação aos modelos analisados, organizá-lo por seções, que passam a ser

apresentadas uma a uma no decorrer deste subitem e se encontra na íntegra no

Apêndice D, deste relato.

Sumariamente, apresenta-se, a seguir, a estrutura elaborada do Protocolo para

uma visualização abrangente de seu ordenamento, para logo em seguida cada seção

que o compõe ser abordada detalhadamente:

- Seção I – Identificação

- Seção II – Expectativas/contribuições da família

- Seção III – Caracterização da aprendizagem

3.1 Aspectos cognitivos

3.2 Aspectos sociais e psicoafetivos

37 Público-alvo da Educação Especial.

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3.3 Aspectos psicomotores

- Seção IV – Plano de trabalho colaborativo

4.1 Flexibilização curricular

4.2 Objetivos

4.2.1. Objetivo geral

4.2.2 Objetivos específicos

4.3 Plano de ação

4.4 Avanços observados

- Seção V – Envolvimento do aluno no processo de aprendizagem

- Seção VI – Parecer do ano letivo

- Campos finais: Observações; Aquiescência.

Entende-se indispensável assinalar, neste momento, que o instrumento

desenvolvido é resultado do trabalho colaborativo realizado entre os sujeitos

participantes e a pesquisadora, com base nos conhecimentos construídos a partir da

formação e nas suas experiências vividas como professores de estudantes com

deficiência na escola de ensino comum e em programas de AEE.

A primeira parte do Protocolo envolve, como se percebe na Figura 19, o

cabeçalho institucional e a seção I – Identificação.

Cabeçalho institucional e Seção I - Identificação

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Figura 19 – Cabeçalho institucional e Seção I do PEI - Identificação

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

No cabeçalho, os participantes da pesquisa optaram pela colocação apenas

da identificação e natureza do documento, no caso, Plano Educacional

Individualizado (PEI), a indicação de que se trata de parceria entre Ensino Comum

e Educação Especial e o nome do Colégio a ser preenchido pela instituição.

Na seção I - Identificação as informações solicitadas seguem modelos de

formulários padrão em que os dados de identificação permitem o levantamento de

dados pessoais como: Nome do aluno; Data de nascimento; Nome do pai; Nome

da mãe; Mora com (parentesco), acrescidas de informações escolares básicas como

Ano escolar/turma; Turno; Diagnóstico clínico; Encaminhamento para AEE e

Frequenta?

Os dados pessoais e familiares solicitados são importantes para que todos os

professores possam conhecer um pouco mais o contexto familiar do estudante

“enxergando-o” para além de um número na chamada escolar. Com essa

preocupação, é que a informação solicitada: “mora com (parentesco)” foi incluída

nesse campo pois os professores a consideraram importante argumentando que:

- Seria interessante nós colocarmos além do pai e mãe, um “mora com” para saber com quem ele mora, quem cuida dele. (PP1).

- É interessante para saber quem acompanha. Quando a gente conhece quem educa, entende melhor o aluno. (PCI).

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Outra particularidade levantada pelos professores participantes da pesquisa

sobre a inclusão desse item na seção é que, pelas experiências vividas por todos no

que se refere às relações escola x família, as composições familiares hoje em dia são

muito diversas. Muitos estudantes têm além dos pais biológicos, os pais socioafetivos,

ou seja, aqueles que, mesmo sem laços de sangue, criam o estudante, como

madrasta, padrasto, ou então tios ou avós, por exemplo, sendo essas informações

significativas ao contexto escolar.

O grupo definiu pelo registro do “diagnóstico clínico” por entender que alguns

estudantes apresentam problemas clínicos além da deficiência reconhecida, como é

o caso da própria Joana, que tem epilepsia e esta é uma informação relevante a todo

o corpo docente, pois a estudante pode demandar mais atenção a sua saúde em

alguns momentos. Como bem lembrou a professora de língua portuguesa, esse

registro no Protocolo deve ser

- [...] tal e qual o especialista tenha colocado no laudo médico. Não nos compete nada além de “copiar” o que está no laudo ou relatório, pois é informação séria. Se alguém não entender, pede ajuda. (PLP).

Há de considerar-se, ainda, sobre o registro desse item que essa informação

se faz necessária para a matrícula do estudante no AEE. No estado do Paraná, a

matrícula no AEE só pode ser efetivada no Sistema Estadual de Registro Escolar

(SERE) com um diagnóstico clínico ou psicoeducacional, conforme a especificidade

da deficiência, corroborando, dessa forma, a decisão de inclusão do termo diagnóstico

no Protocolo.

Já o campo “Encaminhamento para AEE” no Protocolo refere-se ao

encaminhamento de intervenção pedagógica solicitada no diagnóstico clínico ou

avaliação psicoeducacional para encaminhar o estudante para uma das possibilidades

de atendimento especializado. No Paraná, de acordo com a Deliberação 02/2016 do

Conselho Estadual de Educação (PARANÁ, 2016a), as possibilidades de AEE

compreendem:

· Sala de Recursos Multifuncionais em deficiência intelectual, deficiência física

neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento, transtornos funcionais

específicos.

· Sala de Recursos Multifuncionais em surdez, visando à aprendizagem em

LIBRAS, como primeira língua, e na modalidade escrita de Língua Portuguesa,

como segunda língua.

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· Sala de Recursos Multifuncionais em deficiência visual, visando à

aprendizagem da leitura e da escrita no sistema Braille, Sorobã, atividades da

vida autônoma e social, orientação e mobilidade.

· Sala de Recursos Multifuncionais em altas habilidades ou superdotação.

· Centro de Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Visual ou

Deficiência Auditiva.

· Professor de Apoio à Comunicação Alternativa (para aluno com Deficiência

Física Neuromotora).

· Professor de Apoio Educacional Especializado (para aluno com Transtorno

Global do Desenvolvimento – Transtorno do Espectro do Autismo).

· Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais – TILS.

· Escola Especial.

Paralelamente à informação do encaminhamento ao AEE, incluiu-se o item:

“Frequenta?”, pois, muitas vezes o estudante com deficiência está em avaliação para

identificação da necessidade especial ou já é avaliado para frequentar o AEE, mas

não frequenta, como muito bem explicitam os seguintes depoimentos:

- [...] nós temos muitos alunos que precisam de um olhar diferenciado para sua aprendizagem, que são avaliados com algum tipo de deficiência ou necessidade especial e que, apesar disso não frequentam o AEE, por uma série de motivos: ou moram no interior, ou os pais não tem condições de mandar no contraturno, ou já são adolescentes...principalmente isso: são adolescentes e vão para o mercado de trabalho. Para esses, trabalhar para ajudar os pais nas despesas de casa é mais importante que vir para a SRM. Mas nem por isso deixam de ser nossos alunos com dificuldades. Precisam de um plano diferenciado, mesmo que não frequentem a SRM. (PSRM).

- Isso mesmo PSRM. Os do ensino médio, principalmente, mas muitos do fundamental também, porque com reprovações, crescem, mas vão ficando ‘empacados’ no fundamental e não querem mais vir para a SRM. (PP1).

Além das observações das professoras, destacou-se o risco de um plano que

enfatizasse as dificuldades do estudante em virtude de um parecer da área médica

que define o “problema” do estudante. Por essa razão, retomando as aprendizagens

dos referenciais teóricos da formação, enfatizou-se que as atividades ali programadas

estimulassem

[...] as funções cognitivas ainda não consolidadas, promovendo a apreensão dos conceitos e conteúdos que estão a um passo de ser adquiridos com autonomia pelo aluno. Dessa forma, caber-lhe-ia observar de maneira prospectiva o desenvolvimento [do aluno com deficiência] a fim de definir os objetivos para o processo de ensino e aprendizagem. (MAGALHÃES; CUNHA; SILVA, 2013, p. 38).

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Tais assertivas foram corroboradas e assentidas pelo grupo, passando-se à

aprovação da composição dessa primeira seção. Encaminhou-se a elaboração da

seção seguinte a partir de um estudo cuidadoso das palavras e termos que fariam

parte do Protocolo, mantendo coerência com a concepção de um instrumento

potencializador da aprendizagem dos referidos estudantes.

Essa seção, de acordo com a opinião dos participantes, deveria vir logo após

os dados de identificação como um campo único para registro das informações dadas

pela família. Essas informações devem ser fidedignas ao dito, expresso ou notificado

pela família e podem ser colhidas pelo professor do AEE (que é quem, via de regra,

tem mais contato com os responsáveis pela criança), pelo pedagogo ou outro

professor que em contato com os responsáveis possa interrogá-los. A Figura 20

mostra o formato dessa seção no Protocolo.

Figura 20 – Seção II do PEI – Expectativas/contribuições da família

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

A inclusão de uma seção sobre o registro das expectativas e/ou contribuições

da família no PEI resultou da preocupação dos professores em que a família possa

firmar o compromisso de contribuir, de fato, com o processo de aprendizagem desses

Seção II – Expectativa/contribuições da família

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estudantes, mesmo sabendo das dificuldades de efetivação da participação e da

presença de muitas delas na escola. A esse respeito, registraram:

- Gente, não vamos conseguir trazer as famílias para participarem disso! Vai ser preciso inventar alguma estratégia muito boa. (PHI).

- Nós podemos pegar o compromisso deles com o que vão fazer para ajudar durante o ano, como a gente faz com os alunos que são aprovados por Conselho (de classe): registra na ficha individual e informa que irá para o plano que os professores fazem, para que possam saber o que a família se compromete em fazer. (PP1).

- Isso, PP1, quando eu chamar para conversar sobre o cronograma, os dias de atendimento, já registro isso também. Inclusive nesse momento nós professoras de SRM podemos fazer direto no PEI, pois a gente sempre aproveita para conversar bem com os responsáveis. (PSRM).

Esses excertos demonstram que se, por um lado, não é fácil trazer a família

para a participação na vida escolar de seus filhos, por outro não é impossível

conseguir um compromisso ou o registro das expectativas que ela tem nesse

processo.

Quanto às “Expectativas da família”, os professores depreenderam que se

ajustam como referência para as anotações nesse campo, informações referentes:

· à aprendizagem da criança - qual a postura didático-pedagógica da escola e

dos professores é esperada pela família;

· à preparação para o futuro - o que a família vislumbra e espera para o futuro

dessa criança ou jovem com deficiência; e qual o projeto de vida que a família

idealiza para ele;

· ao desenvolvimento dos aspectos individuais (autonomia, socialização,

iniciativa, vida independente, etc.) – o que a família espera que a escola faça

em relação ao desenvolvimento do estudante em questão.

No campo “Contribuições da família”, serão apontados quais os compromissos

com a aprendizagem, desenvolvimento e inclusão do estudante a família assume junto

à escola. Para isso, os participantes entenderam ser fundamental registrar quais

atitudes, ações cotidianas a família adota ou assume o compromisso de realizar em

relação à aprendizagem e à rotina escolar do estudante, como, por exemplo: ver

agenda, comparecer na escola, auxiliar em tarefas e trabalhos, encaminhar e

participar do AEE ou outros projetos da escola, estudar junto ao estudante em casa,

organizar horário e ambiente de estudo em casa, acompanhar o seu desenvolvimento.

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A organização da seção III - Caracterização da aprendizagem (Figura 21)

teve como base o que consta na Orientação 010/2017 da Secretaria de Estado da

Educação do Paraná (PARANÁ, 2017) no que se refere ao registro dos Aspectos

cognitivos e Aspectos sociais e psicoafetivos da aprendizagem. Os Aspectos

psicomotores foram incluídos por sugestão das professoras de Educação Física,

Arte e SRM que entenderam que, em muitos estudantes, esses aspectos podem ser

desenvolvidos também pelas demais disciplinas. Elas desmistificaram que

- [...] psicomotricidade não é só desenhar e fazer bolinha de papel. Vai muito além. Não esqueçam que esse aluno precisa saber se locomover sozinho por uma rua cheia de buracos (olha o equilíbrio aí), até a escrever, segurar um tubo de ensaio no laboratório, um mouse de computador. (PEF).

- Verdade! Tem professor que manda o aluno fazer maquete, mas não considera a dificuldade que é para alguns lidar com pecinhas tão pequenas. (PP1).

Figura 21 – Seção III do PEI - Caracterização da aprendizagem

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

O foco nessa etapa do Protocolo está no registro das habilidades e/ou

potencialidades de aprendizagem existentes ou pré-existentes nas áreas cognitiva,

social, psicoafetiva e psicomotora que permitirão a todos os professores conhecerem

e aproveitá-las para a preparação de suas aulas. Os conhecimentos de tais

habilidades e potencialidades subsidiará as adaptações e as flexibilizações

Seção III - Caracterização da aprendizagem

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curriculares mais adequadas a esse estudante. Registra também os aspectos da

aprendizagem que precisam ser potencializados, tornando-os, da mesma forma,

conhecidos dos professores para que possam traçar as melhores estratégias de

ensino e aprendizagem. Nesse campo, registram-se também as dificuldades

intervenientes na aprendizagem e que serão foco das intervenções pedagógicas

planejadas.

As informações e os dados que municiarão essa seção do PEI devem

considerar todos os aspectos que os professores do ensino comum, do AEE e equipe

pedagógica observam, percebem e reconhecem no estudante individualmente, ou

seja, que dizem respeito à sua singularidade, ao seu processo de aprender; àquilo

que facilita e àquilo que se apresenta como barreira ao seu aprendizado nos seguintes

aspectos:

a) Aspecto cognitivo. Levantar, de forma descritiva, os aspectos da área

cognitiva implicados na aprendizagem dos conteúdos acadêmicos do ano de

matrícula do estudante, considerando funções psicológicas superiores38 como:

memória, atenção, concentração, raciocínio e linguagens.

b) Aspectos sociais e psicoafetivos. Descrever aspectos da conduta social e

afetiva (comportamento) esperados para sua faixa etária e situação familiar e

cultural em perspectiva à aprendizagem do estudante. Relatar com palavras

próprias e linguagem clara, dados e fatos de forma que se considere o

estudante em sua singularidade, ou seja, como este aluno se apresenta no

momento do preenchimento em relação a esses aspectos.

c) Aspectos psicomotores. Embora muitos aspectos psicomotores sejam mais

fáceis de serem observados e percebidos nas aulas de Educação Física, Arte

e no AEE, todos os professores precisam estar atentos a estes tópicos. Ao

observar o estudante é preciso considerar se o mesmo apresenta apropriação

e conhecimento das potencialidades corporais no desenvolvimento de

atividades de expressão corporal.

O preenchimento desses campos dar-se-á no início do processo, sendo

alterado, munido e incrementado a cada momento que os professores envolvidos

percebam essa necessidade ou notem mudanças nos aspectos já registrados.

38 Hostins, Silva e Alves (2016) expõem que, para Vygotsky, fazem parte das funções psicológicas superiores, “[...] o pensamento por conceitos, a linguagem racional, a memória lógica e a atenção voluntária”.

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A seção IV – Plano de trabalho colaborativo (Figura 22) traduz-se no ponto

fulcral do Plano Educacional Individualizado – PEI. Até a seção anterior, o foco estava

voltado às informações sobre o estudante e as suas características de aprendizagem,

pontuando-se elementos potenciais para sua aprendizagem e elementos interferentes

ou impeditivos.

Aqui as informações desenham todo o plano que os professores do ensino

regular e especial traçam colaborativamente para o estudante ao longo do ano. Toda

a programação é planejada pelos profissionais envolvidos com a aprendizagem do

estudante, de forma que a informação dada por um professor possa servir como

ferramenta de ensino para o outro. Será essa troca de informações que efetivará o

acesso ao currículo e a aprendizagem real para estudante com deficiência.

Figura 22 – Seção IV do PEI – Plano de Trabalho Colaborativo

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

A seção é formada por campos destinados mais especificamente à prática

pedagógica em sala de aula. Integram, essa seção, os campos reservados às

anotações sobre as Flexibilizações Curriculares previstas para o estudante sujeito

do Plano; os Objetivos – Geral e Específicos – do trabalho pedagógico que se

pretende; o campo Plano de Ação, em que constam as estratégias de ensino, de

Seção IV- Plano de trabalho colaborativo

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avaliação e os recursos que cada professor utilizará em suas aulas e que podem ser

compartilhadas com os demais, a fim de contribuir para a aprendizagem do estudante;

e o campo Avanços Observados, reservada a indicação dos avanços educacionais,

emocionais, psicológicos, sociais; enfim, a qualquer avanço que se perceba na

aprendizagem, no desenvolvimento global e na inclusão escolar do estudante durante

o processo e no referido período letivo.

É válido afirmar que essa seção se constitui na maior parte do córpus do PEI e

ratifica a proposta de, em comum pensamento com Pletsch e Glat (2013, p. 25), “[...]

subsidiar e fornecer indicativos aos docentes para a avaliação e o acompanhamento

da aprendizagem escolar dos alunos com necessidades especiais incluídos no ensino

comum”. Reconhecendo esse papel, detalha-se a seguir os elementos constitutivos

da seção:

· Flexibilização curricular - Trata-se de apresentar alternativas,

possibilidades e estratégias de acesso ao conteúdo e à aprendizagem, diversificando

opções de aprendizagem de acordo com as possibilidades do estudante. Consiste em

favorecer e oferecer suportes necessários à aprendizagem e à convivência em

comunidade.

· As adequações necessárias à flexibilização do currículo escolar com vistas a

consecução da aprendizagem do estudante com deficiência efetivam-se na escola, a

partir da dimensão das práticas pedagógicas flexíveis e diferenciadas que valorizem

a diversidade de estilos e ritmos de aprendizagem dos estudantes.

· Objetivos: geral - trata-se de preencher o campo com o objetivo mais amplo

que se quer para o estudante a quem o PEI se destina. Deve partir do pressuposto

que o nível de desenvolvimento que o estudante se encontra “neste momento” é o

marco zero para a sua aprendizagem, ou seja, parte-se do que o estudante é capaz

de fazer naquele momento, com autonomia e com ajuda e não como ele fazia no ano

anterior ou está indicado em laudos e avaliações psicoeducacionais. Refere-se à meta

de aprendizagem que se tem para ele mediante uma organização curricular que

favoreça a compreensão e a apreensão dos conteúdos, partindo do nível de

desenvolvimento e/ou experiência que o referido estudante apresenta.

· Objetivos específicos - trata-se de formular objetivos de aprendizagem do

estudante. São estabelecidos coletivamente, por área ou interesses por todos os

profissionais envolvidos na aprendizagem dele, para o período de vigência do plano.

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Trata-se de objetivos complementares, porém imprescindíveis ao atingimento do

objetivo geral. Devem considerar:

ü as adaptações de acesso ao currículo (procedimentos, metodologias,

instrumentos de avaliação, recursos e individuação no atendimento)

levando em consideração o nível de desenvolvimento do estudante;

ü promover a valorização de habilidades e potencialidades dele;

ü acompanhar o processo de aprendizagem e escolarização do estudante

de forma contínua e permanente.

· Plano de Ação (estratégias de ensino). Nesse campo, cada professor se

encarrega de incrementar, municiar, “alimentar” o Plano com as estratégias e os

instrumentos que utiliza em sua disciplina e que podem ser compartilhadas com os

demais para o ensino e a aprendizagem do referido estudante.

Nesse item cada professor disponibilizará para os colegas a sua parcela de

contribuição real com a aprendizagem do estudante com deficiência matriculado em

suas turmas no ensino regular e, também, no AEE.

O preenchimento dar-se-á com palavras do próprio professor sobre as

estratégias adotadas. Deve discorrer sobre os tipos de atividades realizadas, os

recursos que utiliza e que dão resultado para aprendizagem, assim como critérios e

instrumentos de avaliação que permitem a verificação real do que foi apreendido pelo

estudante.

As escolhas das estratégias de ensino a serem utilizadas são, inicialmente,

pessoais. Há professores que têm mais habilidades para atividades práticas, assim

como sua disciplina dá maiores ou menores possibilidades para tal. Já outras

disciplinas ou professores têm mais afinidade com atividades escritas, ou orais com

registro, ou atividades de pesquisa, por exemplo. Dessa forma, não há como enumerar

sugestões de atividades que possam ser aqui empregadas, sem que cada professor

experimente, em primeiro lugar, algo que realmente permita a aprendizagem do

estudante, registre nesse campo e, então, fique disponível aos demais como: “este

estudante aprende melhor com tal estratégia... de tal forma”.

Contudo, há de ressaltar-se que, à luz da teoria do “Ensinar a Pensar” de Louis

Raths (1977), é preciso privilegiar “[...] o ensino que procura provocar o pensamento,

bem como a maneira de realizá-lo” (RATHS et al., p. 7). Nessa etapa, os professores

do AEE podem dar significativas contribuições para o PEI, pois todo o seu

conhecimento e expertise podem servir de referência para aqueles que ainda estão

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começando a trabalhar com as propostas de individuação do ensino e ensino

colaborativo.

· Avanços observados - Os professores envolvidos deverão registrar os

avanços observados durante o processo de aprendizagem. É essencial que fique claro

que os avanços devem ser relatados a qualquer tempo do período escolar, não

precisando ser apenas em momentos de pós-avaliação.

Deve-se fazer o registro a partir de itens, podendo identificar quando o avanço

é na aprendizagem curricular (nas disciplinas) ou no desenvolvimento global do

estudante. Como, por exemplo: “Passou a participar mais das atividades de Ciências

quando as atividades práticas são em grupo”.

Por avanço, nesse plano, entende-se que seja todo e qualquer progresso que

o estudante fizer em sua aprendizagem e/ou desenvolvimento. Até o fato de ele não

realizar determinada ação ou atividade e passar a fazê-lo/a com ajuda, ou, então,

passar da realização de uma atividade com apoio ou recurso para a sua realização

com autonomia, são entendidos como avanço e precisam ser registrados e

compartilhados para que todos os professores envolvidos tenham conhecimento

sobre tal e possam usufruir dessa(s) informação(ões).

A seção V – Envolvimento do aluno no processo de aprendizagem,

ilustrada na Figura 23, consiste na anotação dos níveis de envolvimento do estudante

em atividades observadas durante o processo de aprendizagem. O levantamento de

tais informações e sua anotação terá como diretriz para o municiamento do PEI a

Escala de Avaliação do Envolvimento de Leuven – LIS-YC adaptada por Laevers

(2014) e Oliveira-Formosinho e Araújo (2004).

Seção V - Envolvimento do aluno no Processo de Aprendizagem

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Figura 23 – Seção V do PEI – Envolvimento do aluno no Processo de Aprendizagem

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados pesquisados.

Nesse campo, devem ser apontados os níveis de envolvimento do estudante

no momento da sua percepção, assim como a mudança de nível de envolvimento

ocorrida no decorrer do desenvolvimento das atividades.

Segundo Laevers (2014), “[...] envolvimento é o que observamos quando as

crianças estão intensamente engajadas em uma atividade” (LAEVERS, 2014, p. 159)

e consiste em um dos indicadores mais diretos e confiáveis de aprendizagem

significativa, tendo como características:

ü extrema concentração, sem interrupções, ficando a criança totalmente

absorvida, sem noção de tempo;

ü alto nível de motivação, interesse, fascinação e perseverança;

ü atividade mental intensa, sensações vívidas e um senso de significação que

toma forma;

ü profunda satisfação ao atingir o objetivo inicial;

ü trabalhar no limite das próprias capacidades, como na “zona de

desenvolvimento proximal” (VYGOTSKI, 2007).

Para Ferre Laevers (2014), o envolvimento do estudante em sua aprendizagem

pode ser medido pela observação de nove sinais de envolvimento nas atividades que

façam parte do processo de aprendizagem e o grau pode ser mensurado por meio de

cinco níveis de envolvimento observados nesses sinais que podem variar do nível um

ao nível cinco. A funcionalidade da referida escala já foi analisada no capítulo 4 deste

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estudo e foi com base nos seus resultados que o grupo de participantes da pesquisa

tomou-a como parâmetro apropriado para o que se pretendia no PEI.

O professor deve preencher o PEI indicando quanto de envolvimento o

estudante depreende na realização de tarefas, indicando aquelas em que ele se

envolve mais, partilhando com os demais professores a natureza dessas atividades.

Pode, do mesmo modo, indicar quais são as atividades que não provocam motivação

ou estímulo suficiente para o estudante envolver-se com a própria aprendizagem,

servindo de recurso para o “repensar” das atividades proporcionadas a esse

estudante e para o encaminhamento de novas alternativas.

Deve ser preenchido por todos os profissionais envolvidos com a aprendizagem

do estudante, cada um a seu tempo e em sua área. Como já afirmado anteriormente,

no PEI a informação dada por um professor pode ser auxílio, explicação ou recurso

para o outro e é essa troca de informações que otimizará o trabalho pedagógico de

cada profissional envolvido com o estudante assistido pelo Plano.

Para encerrar os campos de preenchimento obrigatório, está a sexta seção, ou

o campo Parecer do Ano Letivo (Figura 24) em que os professores envolvidos

registram sua avaliação sobre a aprendizagem, o envolvimento e o desenvolvimento

do estudante durante o período.

Figura 24 – Seção VI do PEI – Parecer do ano letivo

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

Seção VI - Parecer do ano letivo

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Esse campo surgiu das reflexões a respeito da necessidade de dar-se

continuidade a ações que se mostraram positivas de um ano letivo para outro. A

equipe de profissionais envolvida com o estudante com deficiência assistido pelo PEI

emite, então, parecer descritivo sobre o processo de aprendizagem e escolarização,

fundamentado nos avanços do estudante, suas dificuldades; enfim, sua trajetória de

aprendizagem. É necessário ainda que ofereça subsídios para encaminhamentos,

sugestões e possibilidades de intervenção pedagógica para o próximo período.

O municiamento das informações no protocolo deve se orientar por aspectos

como:

· A linguagem escrita a ser utilizada deve enfatizar aspectos positivos da

aprendizagem ou desenvolvimento do estudante. Para isso, é preciso ter

cuidado com termos e expressões depreciativas, julgamentos de valor e

ambiguidades.

· Nesse campo, as informações são complementares àquilo que foi registrado

no campo das habilidades, e não ser mera transcrição destas.

· Priorizar avanços e habilidades adquiridas pelo estudante, ressaltando os

aspectos positivos de sua aprendizagem em detrimento dos negativos.

· Ao registrar habilidades ainda não adquiridas ou não desenvolvidas, não

registrar de forma que dê a entender que isso é irreversível. Por exemplo: em

lugar de “o aluno não conhece”, “não realiza”, anotar “o aluno precisa de apoio

para...”, “precisa desenvolver...” ou “será necessário trabalhar...”.

O preenchimento dessa seção deve ser, na medida do possível, elaborado a

“muitas mãos”. Como se refere ao assentamento do percurso de aprendizagem e

desenvolvimento do estudante ao longo do período, é adequado que inclua o parecer

de todos os professores/profissionais envolvidos.

Conclui-se o Protocolo com as Observações (Figura 25), campo necessário

ao entendimento pelo leitor, de outras informações relevantes sobre o estudante e

com o campo de Aquiescência (Figura 26) para data e assinatura dos envolvidos e

dos responsáveis pelo preenchimento, em caso de impressão do documento.

Campos finais: observação e aquiescência

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Figura 25 – Campo final - Observação

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

O campo “observações” é destinado às complementações de informações

sobre o estudante assistido pelo PEI, sua aprendizagem, seu desenvolvimento, sua

socialização ou qualquer outra informação pertinente que os profissionais envolvidos

julgarem necessário apontar como relevante e complementar ao PEI que não pôde

ser inserida em nenhuma das seções anteriores. Tais informações podem ser

registradas a qualquer momento do período letivo, assim como podem ser retiradas

se tal relevância deixar de existir, também a qualquer tempo.

Já o campo da aquiescência, como se percebe na Figura 26, trata da

confirmação das informações prestadas por meio da assinatura de todos os

profissionais envolvidos e do(s) responsável(eis) pelo estudante, uma vez que se

caracteriza como documento escolar interno da escola; assim, fará parte dos

documentos escolares do estudante, sem que suas informações façam parte do seu

Histórico Escolar.

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Figura 26 – Campo final - Aquiescência

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa.

Os participantes sugeriram que, após seu fechamento, o PEI seja salvo em

formato “.pdf” ou equivalente e arquivado em pasta digital. Estes sugeriram ainda a

impressão somente para casos de transferência, ou a pedido, priorizando sua

permanência online para compartilhamento entre os envolvidos com o estudante em

cada etapa, enquanto este se mantiver na mesma escola.

A partir de construção final do instrumento, os professores envolvidos

trabalharam na elaboração de um Guia de Orientações para o Preenchimento do

Plano (Apêndice G) como estratégia de compreensão da função e do funcionamento

do protocolo além de garantir maior praticidade e exequibilidade do instrumento. O

guia tem o propósito de viabilizar o acesso aos professores que venham a assumir

turmas com estudantes com deficiência na escola, a informações e possibilidades (de

estratégias, teor e conteúdo) que sirvam como recurso de balizamento para escolhas

e decisões sobre o preenchimento do protocolo e, principalmente, sobre a

aprendizagem desses estudantes.

Inicialmente elaborado pela pesquisadora, a partir de material coligido com a

contribuição dos participantes da pesquisa, o Guia de Orientações se caracteriza

como um documento aberto a melhorias e atualizações, a qualquer tempo, de modo

a cumprir sua função de orientação à elaboração do PEI. Assim sendo, está em

consonância com orientações e práticas curriculares adequadas à aprendizagem de

qualquer estudante, podendo ser incluída em sua estrutura orientações destinadas a

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públicos que demandam práticas específicas como é o caso, a título de exemplo, dos

estudantes com transtorno do espectro do autismo.

A marca da coletividade e colaboração entre o ensino regular e o especial

se revela na construção desse Protocolo de Plano Educacional Individualizado,

desenvolvido com base nas experiências, necessidades e aprendizagens dos

professores envolvidos no processo de ensino dos estudantes com deficiência nos

contextos das salas de ensino regular e de AEE. Este conta ainda com um guia de

balizamento para adequações relevantes ao nível de ensino e especificidades do

estudante a quem se planeja, é, certamente, uma das características, que

particularizam este protocolo como inovador, dado que se propõe: ser instrumento

potencializador da aprendizagem e da inclusão de estudantes com deficiência.

Para a confirmação desse pressuposto, o instrumento elaborado foi levado à

experimentação em uma situação real de planejamento e uso junto a estudante com

deficiência tomada como referência para as investigações, a fim de passar por uma

avaliação de sua efetividade e aplicabilidade. Esse procedimento de testagem é

apresentado como tema do subitem a seguir.

5.3 EXPERIMENTAÇÃO DO PROTOCOLO: A TESTAGEM EM SALA DE AULA COMUM E NO AEE

Estudo realizado por Varanda e Benites (2017, p. 23849) sobre validação de

instrumentos na pesquisa qualitativa anuncia que esta “[...] se torna importante para

garantir que os mesmos permitam a exploração de aspectos essenciais de acordo

com o objetivo da pesquisa”. Com base em tal afirmação e no acordado com os

sujeitos da pesquisa no último encontro da formação, o Protocolo do Plano

Educacional Individualizado (PEI) de Joana, elaborado na pesquisa, foi disponibilizado

pela pesquisadora, em formato experimental para testagem e avaliação por seus

professores.

A disponibilização do Protocolo do PEI a ser municiado pelos sujeitos no

período da experimentação, assim como informado no capítulo da Metodologia, foi

definido por todos que se estenderia pelo primeiro trimestre do ano letivo (2018). Para

sua disponibilização, empreenderam-se os seguintes passos:

ü Organização do material disponibilizado pelos participantes, das contribuições

e sugestões do grupo durante a elaboração do Protocolo e registradas em

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áudio e vídeo, moldando-os no formato do Guia de Orientações para o

Preenchimento do Plano (Apêndice G).

ü Armazenamento e disponibilização virtual dos arquivos do Protocolo e do Guia

de Orientações para o preenchimento do plano no Google Drive (disco virtual

– nuvem – do Google) com compartilhamento e edição colaborativa entre os

participantes.

ü Criação de contas de e-mails para todos os participantes, como chave de

acesso a nuvem e aos documentos disponibilizados.

Após essa etapa de preparação e organização do PEI para uso pelos

professores, a pesquisadora retornou ao colégio no início do ano letivo para contato

com todos os professores da turma do sétimo ano em que Joana (estudante tomada

como referência para a pesquisa) estava matriculada, para revisitar os professores

que permaneceriam docentes nessa turma e fazer convite aos novos professores para

participarem da pesquisa nessa etapa de experimentação.

Dos 10 professores que participaram da formação e da construção do

Protocolo, seis não estavam mais com docência na turma, incluindo nesse grupo a

pedagoga e a professora de Apoio Educacional Especializado. A pesquisadora

convidou os novos professores para participarem do estudo, apresentou a pesquisa,

seus propósitos e explicou no que consistia a etapa de experimentação. Entregou e

colheu assinatura dos termos de aceite de participação em pesquisa, como constam

no TCLE (Apêndice E).

Dos seis professores convidados, quatro aceitaram o convite, sendo os

regentes das disciplinas de Inglês e Geografia, a Pedagoga/coordenadora pedagógica

responsável pela turma e o novo professor de AEE. Dessa forma, o grupo passou a

contar com 14 participantes, visto que, mesmo aqueles que não estavam mais

acompanhando a estudante naquele ano, permaneceram na pesquisa até o final,

conforme consta no Quadro 2 que figura no capítulo da Metodologia.

Por conseguinte, foi explanado a cada participante a dinâmica de avaliação do

Protocolo:

ü O Protocolo do PEI da estudante Joana e o Guia de orientação para

preenchimento ficariam disponíveis e compartilhados virtualmente com todos

os participantes da pesquisa e a pesquisadora no Google Drive até 19 de maio

de 2018, e com acesso pelo e-mail criado pela pesquisadora.

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ü A professora de Sala de Recursos Multifuncionais, em específico, preencheria

o cabeçalho. Todos os demais campos estariam disponíveis para receber

contribuições de todos os professores.

ü O preenchimento do Protocolo, nessa etapa da pesquisa, compreendia dois

objetivos: a) a experimentação do protocolo como instrumento de apoio a

prática pedagógica do professor; b) a confirmação do PEI como instrumento

potencializador da aprendizagem da estudante com deficiência.

ü Após o período de experimentação seria marcado novo encontro para

discussões e reflexões a respeito da experiência e dos resultados obtidos.

No período de experimentação, como já informado, teve a duração de um

trimestre letivo de 19 de fevereiro a 19 de maio de 2018. Os professores participantes

puderam analisar a positividade da aplicabilidade e da efetividade do instrumento,

assim como as possibilidades de sua contribuição como apoio ao trabalho

colaborativo entre os professores e para a aprendizagem da estudante tomada como

referência. Durante esse período, a pesquisadora esteve sempre à disposição dos

professores para auxiliar, tirar dúvidas e colaborar quando necessário.

Transcorrido o tempo da experimentação, realizou-se a socialização grupal da

experiência de preenchimento e uso do PEI em situação real de ensino e

aprendizagem.

Por conta disso, estiveram presentes, nesse encontro, 11 dos 14 participantes

da pesquisa e o tempo disponível era de apenas uma hora. O encontro foi organizado

objetivamente para que o foco das discussões e das reflexões estivesse voltado à

avaliação do instrumento.

Isso posto, a pesquisadora apresentou as questões que nortearam as reflexões

para a avaliação:

ü O formato e a estrutura do Protocolo: ele se apresenta de maneira otimizada,

viável e acessível a todos?

ü O papel efetivo do instrumento: o PEI servirá como um recurso, um apoio ao

processo de ensino do professor ou será apenas mais um “papel a ser

preenchido”?

ü A efetiva função do protocolo: ele se traduziu, nesse tempo de experimentação,

em um instrumento potencializador da aprendizagem da estudante tomada

como referência? Foi possível constatar avanços em sua aprendizagem com o

uso do PEI?

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A professora da Sala de Recursos Multifuncionais iniciou o diálogo. Ela fez sua

avaliação da experiência e relatou que considerou que o formato e a estrutura

elaborados ficaram “bacanas” (PSRM). Afirmou que a disponibilização online permitiu

que voltasse várias vezes ao documento para ler, reler e refazer, assim como para

“[...] acompanhar as postagens dos colegas” (PSRM). Revelou, além disso, que,

nesses momentos, sentiu a importância do trabalho colaborativo, pois “[...] a visão do

que o outro percebeu [sobre a Joana] ampliou também a minha” (PSRM).

A partir dessas colocações, cada um dos participantes realizou a descrição das

suas vivências individuais com a experiência do preenchimento do protocolo e com a

estudante, a partir de cada um dos itens. Todas as seções do protocolo foram

revisitadas a fim de se confirmar seus enunciados, a disposição de itens e possíveis

alterações que o grupo julgasse necessárias para sua otimização.

Na retomada da primeira seção (Identificação), não houve nenhuma

consideração acerca de necessidade de alterações das informações ali solicitadas, e

recebeu a aprovação do grupo para sua apresentação e estrutura com um

assentimento coletivo após o comentário da participante PCI de que:

- É bem tranquila essa parte. Ficou bem clara. (PCI).

A seção seguinte do Protocolo (expectativas/contribuições da família) também

foi aprovada pelo grupo e foi lembrada pelas participantes PEE1 e PLP que

pronunciaram:

- Foi por causa da nossa experiência com a Joana que achamos importante por esse item. As vezes a expectativa da gente, da escola é uma e a família, os pais, é outra. (PEE1).

- Às vezes além ou aquém também. (PLP).

Na seção III (caracterização da aprendizagem), as contribuições e as reflexões

voltaram-se ao teor dos dados que devem compor os campos das habilidades e dos

aspectos da aprendizagem que precisam ser potencializados. Um dos participantes

que entrou nessa fase da pesquisa questionou por que se utilizou o termo

“dificuldades/necessidades”, fazendo contraponto com as

habilidades/potencialidades, o que foi respondido por professores que participaram da

formação e demonstraram o conhecimento construído nos seguintes excertos:

- Isso é para que o professor não pensasse só nas dificuldades do aluno. (PSRM).

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- Ou então não se pensar a aprendizagem do aluno a partir da dificuldade, pensar na necessidade. (PHI).

- É para que não olhe para o aluno a partir da dificuldade. Vamos supor: ela não lê. Daí você não vai dar uma atividade que impulsione a leitura porque ela não lê. Então daí "Ah, não precisa, não vou dar para ela ler, porque ela não lê." Entende?! Então algumas pessoas... (PLP).

Observou-se, pelo teor das respostas dos docentes, uma compreensão dos

estudos realizados no processo de formação, notadamente os pressupostos de

Vigotski (2007) sobre a forma como é conduzido o processo de aprendizagem, o qual

fará a diferença no desenvolvimento do aluno, assim como o reconhecimento da

importância da zona de desenvolvimento iminente como etapa que antecede a

consolidação de uma aprendizagem e está presente também nas crianças com

deficiência.

Nesse sentido, no lugar da ênfase nas dificuldades/necessidades foi proposto

identificar “Aspectos da aprendizagem que precisam ser potencializados” por entendê-

los como mais apropriados para o que se propõe nesse campo do protocolo.

O participante PEE2 assim resumiu para o grupo:

- Então já é uma dificuldade, mas você não tá olhando para aquele item, para aquele aspecto a partir da dificuldade, mas sim da possibilidade de aprender do aluno... (PEE2).

Na sequência. o grupo discutiu os itens da seção IV (plano de trabalho

colaborativo). Nessa ocasião. as reflexões voltaram-se às dificuldades dos

professores para realizar as flexibilizações, criar estratégias; enfim, conduzir a prática

pedagógica em turmas regulares que tenham estudantes com deficiência

matriculados.

As professoras PLP e PP2, ao argumentarem sobre tais dificuldades em

relação ao PEI, declaram que:

- Acho que a única dificuldade (em usar o PEI) está aí. Porque o professorado... eu percebo que ele não sabe o que fazer, como ensinar esse aluno. (PLP).

- É. Minha dificuldade é justamente essa com os professores. [...] essa questão das adaptações. (PP2).

O debate sobre a condução das práticas pedagógicas dos professores com

estudantes com deficiência nas turmas de ensino comum mostrou que os professores

ainda não sabem como conduzir o processo de ensino voltado ao aproveitamento das

habilidades/potencialidades, nem ao atendimento das necessidades de aprendizagem

desses estudantes.

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Em objeção a essa realidade e corroborando nosso pensamento, Tannús-

Valadão e Mendes (2018, p. 8) argumentam que “[...] o PEI tem servido para diminuir

a sensação de despreparo dos professores no processo de inserção desses alunos

no ensino regular”. Foi com essa intenção que se propôs o PEI em tela.

Os professores que não participaram da formação foram os que demonstraram

mais dificuldades em preencher o Protocolo. Essa situação demonstrou que o ensino

colaborativo ainda não é uma prática entre o grupo. Que, apesar desta ser uma das

propostas do PEI, ela ainda não germinou entre os professores em geral. Marin e

Braun (2013), ao se reportarem à tarefa de elaboração do PEI, asseveram que

Dificilmente um único docente será capaz de buscar respostas educativas e organizar adequadamente o trabalho pedagógico. Dessa forma, o contexto aponta a importância da colaboração entre professores, o que nos traz de volta a ideia do ensino colaborativo. Professores não devem trabalhar sozinhos, mas em equipes, de modo que possam construir propostas com objetivos comuns para garantir a escolarização de todos os alunos. (MARIN; BRAUN, 2013, p. 58).

Tal afirmativa remeteu-nos ao que foi dito pela participante PSRM no início do

encontro:

- [...] falta ainda a nossa cultura, como professores [...] o colaborativo, de eu observar o que o outro percebeu, de ampliar colocando a tua visão do que o outro percebeu. (PSRM).

Sem dúvidas, o trabalho colaborativo ainda precisa ser implantado e precisa de

mais tempo para ser incorporado na cultura escolar.

Retomando a avaliação do Protocolo, o grupo discutiu o preenchimento da

seção V (envolvimento do aluno no processo de aprendizagem), ao que ouviu de

alguns professores:

- É a parte que eu mais gostei do Plano. A escala é muito boa. Aprendi muito com ela. (PP1).

- Sim. Foi a partir daí que eu comecei a olhar diferente para Joana. É bom estar no plano. E está bom assim, com a gente podendo descrever o que viu, porque daí eu posso dizer que hoje ela estava com nota três de envolvimento e amanhã só incluo se o nível se for diferente disso. (PHI).

Sobre o restante dos componentes do Protocolo, ou seja, a seção VI (parecer

do ano letivo) e Observações e Aquiescência, nenhum comentário divergente foi

acrescido pelo grupo.

Ao final das análises sobre o formato e estrutura do protocolo, o

questionamento avaliativo norteador das reflexões envolveu a acessibilidade ao

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instrumento apresentada pela pesquisadora. A disponibilização por meio virtual, sem

a necessidade de preencher papéis, foi um diferencial inovador, como fica claro nos

fragmentos de depoimentos colhidos:

- Quando você me convidou para participar da pesquisa eu disse: ‘só vou se não tiver papel para preencher’, lembra? Gostei desse formato. (PLP).

- O professor que entra no decorrer do ano, pega esse plano, já facilita bastante para o conhecimento do aluno. (PEF).

- É bem interessante. (PIN).

- [...] pode concretizar mesmo. A ideia é muito interessante. (PG2).

- Pode ajudar muito. Mas depende também do interesse do professor. De cada profissional. Mas ajuda sim. O material (Protocolo e Guia de orientação) é excelente. [...] estar acessível online ajuda muito no trabalho colaborativo. Com certeza. (PP2).

O aspecto seguinte a ser avaliado foi se o Protocolo se traduziu, nesse tempo

de experimentação, em um instrumento potencializador da aprendizagem da

estudante tomada como referência e se foi possível constatar avanços em sua

aprendizagem com o uso do PEI. Aqui surgiram os resultados mais relevantes da

pesquisa, como demonstram os depoimentos transcritos a seguir:

- Acho que a validade maior, é que eu comecei a lançar um novo olhar sobre a pessoa. Porque eu vejo muito isso assim, entra os professores, vai tocando, azar se é diferente, e vamos embora. Sem dar muita atenção. Só que aí você percebe que você tem que ver diferente, não é assim, não dá. Qual é a aprendizagem que o aluno vai ter? O que vai aprender? Eu acho assim que alguma coisa que eu tento passar, acho que alguma coisa aprende, alguma coisa capta, tem que ficar. (PLP).

- Eu acho que a gente começa a baixar um pouquinho (a expectativa de querer que aprenda como os demais), a entender diferente, tentar entender a Joana. Depois daquela reunião com a mãe, a gente enxerga um pouquinho diferente assim, o que ela vai ser capaz ou não de atingir, porque você quer cobrar uma coisa que talvez não é o que ela possa ter. E se instrumentalizar isso, virar um instrumento mesmo de prática, nossa... [...]. É uma maneira, porque nós não temos momentos em que a gente se encontra para falar dos alunos especificamente. Como diz a PSRM, às vezes é no conselho de classe que às vezes nem acontece. Mas através desse instrumento a gente pode. [...] Então é uma troca de experiência. (PIN).

- Pois eu acho que sim. Como eu falei, acho que ela está agindo diferente. (PHI).

- [...] em minhas aulas ela tem muitas dificuldades, mas se esforça. A nota melhorou. Ela tirou 6 e 7, tudo adaptado, mas tirou por mérito. (PG2).

- Na educação física na aprendizagem [...] está no mesmo nível do ano passado, mas joga, interage... (PEF).

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- [...] eu vejo progresso, sim. Claro, é pequeno, mas esse pequeno para mim em pequenas coisas que para mim significam muito. E para ela também. Eu não vejo ela “parada”, “estacionada”. De forma alguma. (PP2).

- Ela evoluiu, dentro dos limites dela ela evoluiu. (PEE2).

- Ela tem essa parte do esquecimento, de acomodar a aprendizagem, só muita coisa ela tá dando resposta. Desde quando ela começou (o ano) até agora, teve evolução. [...]. Ontem chegou uma mãe para conversar comigo e a Joana teve que ir sozinha para a cantina. Foi a primeira vez que eu não acompanhei a Joana. [...]. Ela ficou um pouco insegura [...] mas ela foi. Então teve evolução. (PSRM).

Após se pronunciarem sobre a validade do instrumento e do papel que ele

poderia representar para a prática pedagógica com os estudantes com deficiência em

turmas de ensino comum, os participantes finalizaram as reflexões com o seguinte

diálogo, após o participante PEE2 afirmar que Joana evoluiu nesse tempo de

experimentação do Protocolo:

- É, mas... só que assim, agora eu estou começando a aceitar que essa evolução está boa, mas não é fácil. (PIN).

- A gente se cobra e outra coisa, eu vejo que a gente tem que pagar o preço, a gente tem que ser, tem que tirar um tempo para aquele aluno (PHI).

- Sim, tem que adaptar. (PLP).

- Muito! [...]. Mas, na verdade com o tempo você se habitua a fazer, e a prática leva a perfeição. (PSRM).

Há de ressaltar-se que o instrumento foi ratificado, com contribuições

significativas dos professores. Seu sucesso deve-se, em grande parte, ao processo

colaborativo empreendido, aos estudos teóricos realizados, os quais ofereceram um

diferente olhar sobre a aprendizagem de estudantes com deficiência, a estratégia

elaborada a partir da realidade vivida por professores em suas turmas de ensino

comum e de AEE. O protocolo construído colaborativamente comprovou sua validade

junto aos professores participantes da pesquisa, tanto como instrumento de apoio a

aprendizagem, quanto elemento de apoio ao trabalho colaborativo entre esses

professores.

O encontro foi encerrado com a expectativa de o PEI se tornar um instrumento

de apoio para todos, sendo instituído no colégio ao final da pesquisa. Contudo, para

essa proposta ter êxito, o professor ainda precisa quebrar as barreiras que impedem

o trabalho colaborativo, passando a atuar em cooperação, usando melhor suas

habilidades profissionais e, também, aprendendo com o outro. Como resultado, ele

verá, além da melhoria de suas intervenções pedagógicas junto ao estudante com

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deficiência, a melhoria da aprendizagem e a consequente inclusão dessas crianças

no espaço escolar, propósito de todos nós.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância do tema planejamento educacional individualizado para

estudantes com deficiência para a concretização da melhoria da qualidade da

aprendizagem e da inclusão desses alunos no ensino comum e a preocupação

pessoal com as dificuldades que os professores enfrentam para realizar uma prática

pedagógica que efetivamente proporcione a concretização dessa melhoria é que me

impulsionaram à realização desta pesquisa.

A motivação para a sua realização adveio das inquietações sentidas em minha

práxis diária como professora de Educação Especial e como pedagoga (coordenadora

pedagógica) em escolas da rede pública paranaense. Inquietava-me o fato de, como

docente de Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) elaborar o Plano de Atendimento

Educacional Especializado (PAEE) isoladamente, sem o contato ou a participação dos

demais professores desse estudante e, portanto, sem considerar as necessidades

reais de aprendizagem que ele apresentava no ensino comum. Além disso, vivenciar

que os professores do ensino comum também não vinham até mim para saber como

o PAEE da SRM poderia contribuir para suas práticas junto aos nossos estudantes.

Consequentemente, era preocupante ver que esses alunos pouco avançavam em sua

aprendizagem curricular e que professores do ensino comum aflitos por não saberem

como conduzir atividades e práticas pedagógicas condizentes com as necessidades

educacionais desses alunos acabavam por relegá-los a espaços e práticas nem

sempre plenas de aprendizagem.

Assim sendo, busquei como tema de estudos e aprofundamento, por meio

desta pesquisa, o Plano Educacional Individualizado (PEI) como uma das

possibilidades de otimização da prática pedagógica de professores envolvidos na

aprendizagem de estudantes com deficiência. A intenção principal era propor um

modelo ou protocolo que pudesse ser implantado na escola sem grandes alterações

nos aspectos estruturais e políticos vigentes e dentro dos limites de autonomia da

escola ou do sistema que valesse como instrumento potencializador da

aprendizagem.

A participação no Grupo de Pesquisa Observatório de Políticas Educacionais,

com o estudo de pesquisas e trabalhos do Observatório Nacional de Educação

Especial (ONEESP), do Projeto A escolarização de alunos com deficiência intelectual:

políticas públicas, processos cognitivos e avaliação da aprendizagem, e o estudo da

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teoria de Vigotski no próprio grupo de pesquisa, foram determinantes para a escolha

do caminho de minha investigação e delineamento da pesquisa ora empreendida.

Nossos estudos tinham como pano de fundo a visão do aluno como Ser aprendente

para além da deficiência, constituído não só da deficiência mas de um todo único que

busca mecanismos de compensação para desenvolver-se (VYGOTSKI, 1997).

No papel de pesquisadora que se coloca a examinar a realidade a qual

pertence, é que veio a opção pela pesquisa colaborativa, no formato de pesquisa-

formação. Era fundamental estar inserida no grupo para extrair dele os dados mais

tangíveis e, ao mesmo tempo, colaborar com a construção dos novos conhecimentos.

Portanto, com o tema, o caminho metodológico e o tipo de pesquisa definidos, segui

para as escolhas do contexto em que se daria a investigação e dos sujeitos que fariam

parte da pesquisa.

Para a pesquisa-formação, que se constituiu no cenário para a coleta de dados,

busquei como sujeitos os professores das disciplinas da matriz curricular de um sexto

ano do Ensino Fundamental, professores de Educação Especial e da coordenação

pedagógica dessa turma. Aceitaram o convite para participar da pesquisa sete

professores das disciplinas, a pedagoga (coordenadora pedagógica) da turma e os

dois professores de Educação Especial que acompanham uma estudante com

deficiência que foi tomada apenas como referência para a seleção de sujeitos, para o

direcionamento das atividades propostas na formação e para a propositura do PEI no

período de experimentação/avaliação do instrumento elaborado.

Após a realização da formação, passaram a fazer parte do grupo de sujeitos da

pesquisa os professores de duas disciplinas, uma nova pedagoga e um novo

professor de Educação Especial, que, no ano seguinte à formação, se tornaram

docentes da aluna tomada como referência e aceitaram participar da pesquisa mesmo

não tendo participado da formação que os demais tiveram. A participação desses

quatro novos professores deu-se apenas no período de comprovação da validade do

instrumento, ou seja, participaram da experimentação do protocolo. Um grupo

expressivo de participantes, que, sem dúvida, foi relevante para o alcance dos

objetivos do estudo.

Vale ressaltar que a proposta de uma formação em que o professor participou

como protagonista e teve a concepção epistemológica e teórica sobre a aprendizagem

do estudante com deficiência correlacionando-a ao papel que o Plano Educacional

Individualizado pode desempenhar na aprendizagem de estudantes com deficiência

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bem fundamentadas, também contribuiu significativamente para o atingimento dos

objetivos.

Algumas observações reveladoras desse processo se constituíram em:

ü Desenvolver um programa de formação continuada, elaborado a partir dos

fundamentos da teoria histórico-cultural que privilegiasse conhecimentos

necessários ao entendimento do processo de aprendizagem e

desenvolvimento de estudantes com deficiência.

ü Produzir um instrumento de uso comum e concomitante entre professores do

ensino comum e da educação especializada que serve ao planejamento

individualizado de estratégias, metodologias e avaliação do estudante com

deficiência.

ü Mostrar aos professores que, apesar dos obstáculos, o trabalho colaborativo

pode acontecer de forma eficiente e produtiva com o uso de recursos

tecnológicos disponíveis e acessíveis a todos como o armazenamento em

nuvem com compartilhamento com edição colaborativa (Google Drive, por

exemplo) e softwares ou aplicativos com as mesmas possibilidades de

armazenamento e compartilhamento, como o PADLET, o WhatsApp e outros.

ü Realizar um trabalho colaborativo com foco no ensino e na aprendizagem de

uma estudante tomada como referência ou exemplo, percebendo as

possibilidades que existem para a prática pedagógica com estudantes com

deficiência. Isso se comprovou com vários insights que os partícipes tiveram

durante a pesquisa-formação.

ü A escala de envolvimento da criança na atividade, adaptada da Escala Leuven

de Avaliação do Nível de Envolvimento da Criança na Atividade (LAEVERS,

2014), utilizada como referência para a observação guiada na pesquisa, se

constituiu em um diferencial para os professores poderem traduzir melhor os

indícios de envolvimento da estudante na atividade, podendo servir-lhe como

apoio ao redirecionamento e à reavaliação das estratégias de ensino utilizadas.

ü O Guia de orientações para o preenchimento do PEI, elaborado com a

colaboração dos sujeitos da pesquisa se constitui em elemento de apoio e

balizamento aos novos professores para poderem preencher o protocolo e

trilhar o caminho do trabalho colaborativo e voltado às reais necessidades dos

estudantes a quem o PEI se destina.

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Nesse contexto, os preceitos vigotskianos, de que o comportamento cultural

compensatório se sobrepõe ao comportamento natural defeituoso e que

características positivas do estudante com deficiência sobrepõem-se às

características negativas que surgem com a “cultura do defeito” (VYGOTSKI, 1997, p.

132) foram observados no processo de formação dos professores, em especial nos

momentos em que se buscava o redimensionamento do olhar dos docentes em

relação à aprendizagem da estudante. Isso foi fundamental para que o Protocolo de

Plano Educacional Individualizado (PEI) elaborado se materializasse em um

instrumento que busca atender à diferenciação de estratégias que valorizem a

diversidade de estilos e ritmos de aprendizagem dos estudantes e não como recorte

ou adaptação curricular.

Outro fator que se configurou fundamental foram as condições existentes na

escola para a aplicação do PEI no período de experimentação, pois, além do

compromisso dos professores participantes, houve o envolvimento e a colaboração

real das equipes pedagógicas e diretiva com a pesquisa. Isso trouxe à tona o paradoxo

do PEI como instrumento que pode potencializar a aprendizagem, mas também há o

risco de estigmatizar o estudante, caso seu uso não seja realizado seguindo

especialmente os princípios do trabalho colaborativo e do entendimento da

aprendizagem a partir das possibilidades do estudante.

É necessário e crucial registrar que o PEI é apenas uma das estratégias

possíveis para a potencialização da aprendizagem de estudantes com deficiência,

que, como muitas outras, dependem da reorganização da cultura escolar para cumprir

seu propósito.

É preciso, certamente, destacar alguns limites da pesquisa e algumas

complicações da cultura escolar presentes que se manifestaram no processo de

formação, de implantação e de uso do PEI. Como limites da pesquisa é possível

afirmar que:

ü As condições das tecnologias disponíveis nem sempre permitiram a condução

das atividades como programado, como, por exemplo, o uso do Padlet que,

apesar de todos os participantes estarem com o celular no encontro que seria

usado, nem todos conseguiram acesso.

ü A dificuldade de alguns professores em aceitar que é preciso deixar “velhas”

práticas de lado, assumindo novas posturas frente à aprendizagem de

estudantes com deficiência e do trabalho colaborativo entre professores.

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Referente às complicações da cultura escolar presentes para o uso do PEI,

além dos pontos anteriormente citados, destacam-se:

ü A necessidade de a Escola propor e realmente realizar mudanças mais

profundas, que impactem em sua organização político-pedagógica, curricular

e prática.

ü A alta rotatividade de professores durante o ano letivo interrompe a

continuidade do processo de aprendizagem de estudantes, prejudicando

sobremaneira aqueles que precisam trilhar “caminhos indiretos” para aprender

(VYGOTSKY, 2011).

ü A formação continuada (e também a inicial), desvinculada das necessidades

hodiernas dos professores que atuam com estudantes com deficiência,

inclusive concernente ao embasamento teórico que fundamenta a prática

pedagógica com esses sujeitos.

ü O entendimento errôneo do que seja o “planejamento individualizado”, pois

muitos professores entendem a individualização (e isto foi vivenciado durante

nossa prática profissional como professora de Educação Especial e como

coordenadora pedagógica) como recorte do currículo ou de conteúdo para

estudantes com deficiência; e ainda, o trabalho com atividades

descontextualizadas do programa ofertado aos demais alunos, “barateando” o

ensino.

Contudo, essas ponderações em nada minimizam os resultados obtidos. Ao

contrário, deixaram transparecer que, entre outros aspectos, os professores do ensino

comum, quando detentores de conhecimentos acerca das especificidades dos

processos de aprendizagem e desenvolvimento de estudantes que necessitam de

estratégias diferenciadas em seus percursos de escolarização, reagem mais

positivamente às mudanças de olhar e de postura necessárias ao ensino e a

aprendizagem desses estudantes. Assim como depreendeu-se que professores com

boas condições de trabalho se envolvem mais em novas propostas para a prática

pedagógica.

Concluiu-se igualmente, que o PEI se mostrou um instrumento eficiente para:

ü a desmistificação de que o aluno com deficiência não é capaz de aprender. Ao

partilharem durante as atividades da formação, as estratégias usadas com a

estudante referência que permitiram algum avanço em sua aprendizagem,

expandiu-se o leque de possibilidades de atuação dos outros professores

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diminuindo os limites do “não sabe fazer” sedimentado pelo trabalho

segmentado e solitário de cada um.

ü A colaboração e a mediação entre os envolvidos com a estudante a quem o

plano se destina. Apesar da existência de barreiras impostas pelo sistema,

como por exemplo, como a jornada de trabalho dos professores de ensino

comum e educação especial serem em turnos diferentes, o PEI online permitiu

que todos pudessem colaborar e acompanhar as inserções dos demais,

intervindo, mediando e interagindo em situações apresentadas.

ü A avaliação sistemática da aprendizagem do estudante com deficiência no

ensino comum. Como o plano está em constante movimento pelo

preenchimento, anotações e registros do processo de envolvimento e evolução

da aprendizagem, o PEI permite a avaliação contínua e simultânea do

estudante.

ü O acompanhamento da sua trajetória da aprendizagem. A possibilidade de

municiamento de informações a qualquer tempo no protocolo, oferece

subsídios e sugestões de intervenções e encaminhamentos, inclusive para o

período letivo seguinte.

Ao concluir este relato de pesquisa e retomar o objetivo geral proposto -

desenvolver um protocolo de construção colaborativa do Plano Educacional

Individualizado como instrumento potencializador de aprendizagem de estudantes

com deficiência na escola regular -, é possível considerar que foi alcançado pois, ao

final dos estudos e experimentação, o protocolo elaborado já passou a fazer parte dos

instrumentos de planejamento e avaliação de alunos com deficiência da escola

participante.

Para além do Plano Educacional Individualizado para estudantes do Ensino

Fundamental com deficiência, emergiu, ao final da pesquisa, e este é um diferencial

do meu estudo que também merece destaque, um instrumento que pode servir a

outros estudantes que requeiram a diferenciação curricular, e em outros níveis de

ensino, como forma de possibilitar a esses estudantes o acesso ao currículo e à

aprendizagem de qualidade. O design final do PEI elaborado permite que ele possa

ser adaptado a diferentes realidades e níveis educacionais, servindo também o Guia

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Docente criado na pesquisa como baliza39 para adequações relevantes ao nível de

ensino e especificidades do aluno a quem se planeja.

Como relevância social da pesquisa, é possível apontar que:

ü Trata-se de recurso acessível para que professores e equipe pedagógica

possam realizar o trabalho colaborativo, tão necessário à real aprendizagem

de estudantes da Educação Especial.

ü Permite que o professor, ao ter de reposicionar-se diante dos caminhos que o

aluno com deficiência faz para aprender, reveja também toda a sua forma de

atuar com a turma em que o aluno está matriculado.

ü Mais do que um instrumento de apoio ao processo de ensino aprendizagem

de estudantes com deficiência, o Protocolo de PEI elaborado pode ser

implantado em escolas e sistemas que utilizem as tecnologias de informação

e armazenamento como complementação dos registros escolares.

ü Permite o acompanhamento do percurso escolar do aluno por tempo

indeterminado, não sendo preciso que seja “concluído” ao final do período

letivo e, assim, possibilitar que novos professores conheçam os caminhos já

trilhados pelo estudante em sua escolarização e os caminhos que faz para

aprender.

Os resultados deste estudo também poderão contribuir para a prática

pedagógica dos professores do ensino comum que, sem formação específica para o

trabalho com alunos com deficiência matriculados em suas turmas, mas preceptores

de uma parcela cada vez maior desses alunos, encontrem, no Protocolo de PEI, um

instrumento de apoio que permita otimizar o tempo de planejamento e a escolha de

estratégias de ensino e avaliação. E, com isso, possam também sentir-se aptos a um

trabalho pedagógico que traga avanços reais na aprendizagem e na escolarização

desses alunos.

Considerando a experiência vivenciada com a realização desta pesquisa,

acredito que fica aberta uma janela com várias possibilidades para novos estudos a

partir do tema abordado, com destaque para:

ü Estudos sobre o PEI como ferramenta de trabalho colaborativo entre os

professores.

39 O Guia surgiu como recurso de balizamento de como pode ser preenchido o PEI e não como roteiro com o que deve ser preenchido.

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ü Aprofundamento das questões que envolvem a presença e/ou participação da

família nos processos de aprendizagem e escolarização dos estudantes

público-alvo da Educação Especial no ensino comum.

ü Práticas pedagógicas coletivas e colaborativas entre os professores da

Educação Especial e ensino comum.

ü Atividades em grupo e produções coletivas como estratégias de aprendizagem

para esse público.

ü Possibilidades de reorganização das práticas pedagógicas com alunos com

deficiência.

ü Implicações do uso do PEI como instrumento de trabalho docente.

ü Manutenção a longo prazo das práticas pedagógicas com o PEI.

ü Outras alternativas sob a perspectiva da universalização de estratégias (design

universal).

Diante de todo o exposto, e entre revelações, limitações, possibilidades e

resultados emergidos, é possível concluir que o protocolo de PEI desenvolvido em

coparticipação com os professores do ensino comum e da Educação Especial validou-

se positivamente como instrumento potencializador da aprendizagem de alunos com

deficiência. Contudo, sua funcionalidade está condicionada a fatores, como já citado

anteriormente, como a reorganização dos apoios e das práticas escolares, ou seja, o

repensar da cultura escolar, superando a “[...] cultura escolar pré-políticas de inclusão

[que] ainda se encontram fortemente arraigadas ao éthos escolar” (MELLO;

HOSTINS, 2018, p. 1027, grifo das autoras), e aqui citamos a avaliação da

aprendizagem, a mediação entre pares e o próprio planejamento curricular desses

alunos como tópicos nevrálgicos dessa cultura estabelecida.

Realizar uma pesquisa dessa natureza, mais do que parte necessária à

conclusão dos estudos de Doutorado, permitiu-me vivências e aprendizados únicos

para minha formação acadêmica e profissional, renovando minha fé na importância e

na validade do trabalho colaborativo e na importância do papel de um instrumento

como o PEI para registrar e conduzir esse trabalho.

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APÊNDICES

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LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A – Dissertações e teses convergentes com o interesse da pesquisa em tela .......................................................................................................................... 216

Apêndice B - Escala de Leuven – Adaptação para a observação ........................... 218

Apêndice C - Matriz de análise de PAEE – Atividade da pesquisa-formação ......... 221

Apêndice D – Protocolo de Plano Educacional Individualizado (PEI) construído na pesquisa .................................................................................................................. 222

Apêndice E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ...................... 225

Apêndice F - Instrumento de coleta de dados - Questionário.................................. 228

Apêndice G – Guia para preenchimento do protocolo de PEI construído na pesquisa ................................................................................................................................ 229

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Apêndice A – Dissertações e teses convergentes com o interesse da pesquisa em tela

Quadro 15 - Dissertações e teses produzidas no período de 2013-2017 sobre práticas pedagógicas no AEE e relações existentes entre ensino comum e Educação Especial em contexto de

inclusão

No Título Autor (a) Ano Titulação Instituição

1 Dos desafios às possibilidades: a prática pedagógica do professor do

atendimento educacional especializado com o aluno que apresenta deficiência intelectual

ARARUNA, M. R. 2013 Mestrado em Educação

UFC

2 Avaliação do potencial de aprendizagem de alunos com

deficiência intelectual

MACHADO, R. S. 2013 Mestrado em Educação

UNIVALI

3 A prática pedagógica do professor de atendimento educacional

especializado para o aluno com deficiência intelectual

OLIVEIRA, N. A. de S.

2013 Mestrado em Educação

UFC

4 Um olhar para a Sala de Recursos Multifuncionais e objetos de

aprendizagem: apontamentos de uma pesquisa e intervenção

OMODEI, J. D. 2013 Mestrado em Educação

UEPJM

5 O Atendimento educacional especializado em uma sala de

recursos de Brasília: a sistematização do atendimento e o

uso do computador como apoio pedagógico – um estudo de caso

SALOMÃO, B. R. de L.

2013 Mestrado em Educação

UNB

6 Sala de Recursos Multifuncionais e sala comum: a deficiência

intelectual em foco

SOUSA, I. C. de 2013 Mestrado em Educação

UFU

7 O atendimento educacional especializado em salas de

recursos multifuncionais em um município do interior paulista

MALHEIRO, C. A. L.

2013 Mestrado em Educação Especial

UFSCAR

8 Inclusão escolar e o planejamento educacional individualizado:

avaliação de um programa de formação continuada para

educadores

TANNÚS-VALADÃO, G.

2013 Doutorado em

Educação

UFSCAR

9 Atendimento educacional especializado para alunos com

deficiência intelectual

LAGO, C. D. 2014 Doutorado em

Educação

UFSCAR

10 A sala de recursos multifuncional: a proposta oficial para o trabalho docente frente às necessidades

educacionais de alunos com deficiência intelectual

PERTILE, E.B. 2014 Mestrado em Educação

UNIOESTE

11 O papel do professor de educação especial na proposta do coensino

ZERBATO, A. P. 2014 Mestrado em Educação Especial

U FSCAR

12 Colaboração da educação especial em sala de aula: formação nas

práticas pedagógicas de coensino

VILARONGA, C. A. R.

2014 Doutorado em

Educação Especial

UFSCAR

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217

13 Diálogos entre o currículo e o planejamento educacional individualizado (PEI) na

escolarização de alunos com deficiência intelectual

CAMPOS, E. C. V. Z.

2016 Mestrado em Educação

UFRRJ

14 Ensino colaborativo na educação infantil para favorecer o

desenvolvimento da criança com deficiência intelectual

MENDES, M. T. S.

2016 Mestrado em Educação Especial

UFSCAR

Fonte: Elaborado pela autora a partir da pesquisa nos sites da BDTD e CAPES (2013/2017).

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218

Apêndice B - Escala de Leuven – Adaptação para a observação

ALUNA:___________________________________________________________TURMA_____________________DATA:___________________________ DISCIPLINA:_____________________________________________________________________________ DURAÇÃO: __________________________ ________________________________________________________

SINAIS DE ENVOLVIMENTO

NÍV

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Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5

CO

NC

ENTR

ÃO

· A criança focaliza sua atenção ao círculo limitado da sua atividade.

· Distrai-se com qualquer estímulo.

· Distrai-se apenas com estímulos intensos.

· Os olhos estão fixos no material, nas mãos ou vagueiam ocasional ou permanentemente? (observar os movimentos oculares da criança)

Nível total de concentração

EM

ERG

IA

· Nível de transpiração.

· Fala alto. · Pressiona algum material com força.

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219

· Grau de zelo colocado na ação ou no esforço (mental) (sinais c/ ruborização ou transpiração).

C

OM

PLEX

IDA

DE

E C

RIA

TIVI

DA

DE

· Aplica livremente e num grau acentuado capacidades cognitivas e outras.

· Realiza a atividade no seu máximo.

· Adiciona um toque individual à atividade.

· Produz algo de novo.

· Mostra algo não inteiramente predizível, algo de pessoal à atividade.

EXPR

ESSÃ

O F

AC

IAL

E PO

STU

RA

· Os olhos “vagueiam de um ponto para o outro”; “olhar intenso” ou outro.

· Demonstra sentimentos e humor a partir da face.

· Postura global - alta concentração ou aborrecimento.

PER

SIST

ÊNC

IA · Dirige toda a sua atenção e energia para um ponto.

· Abandona facilmente a atividade.

· Realiza todos os esforços necessários a fim de manter essa atividade.

· Persiste nas atividades.

· As atividades são revisitadas.

PREC

ISÃ

O

· Dá especial atenção ao seu trabalho.

· É susceptível aos detalhes.

· Mostra precisão nas suas ações.

· Realiza o seu trabalho com pressa.

· É negligente.

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220

· Em atividades verbalmente orientadas os detalhes escapam ao seu reconhecimento (exs.: palavras casuais, gestos).

TE

MPO

DE

REA

ÇÃ

O · Está em alerta à hora da atividade.

· Responde rapidamente a estímulos (ela “salta” para a ação)

· Resposta a estímulos é apenas reação inicial. · Demonstra motivação.

CO

MEN

TÁR

IOS

VER

BA

IS.

· Faz comentários (ex.: “Eu gosto disto! Posso fazer outra vez?”).

· Indica mais implicitamente se as atividades lhes interessam.

· Faz descrições entusiastas acerca do que fez ou está fazendo.

· Tem necessidade de pôr em palavras o que está experimentando ou descobrindo.

SATI

SFA

ÇÃ

O.

· Demonstra sentimento de “satisfação”.

· A fonte deste sentimento implica uma resposta a estímulos e exploração.

· Este sentimento de satisfação é implícito ou pode ser reconhecido.

· Olha com satisfação para o seu trabalho. · Toca-o. · Mostra-o.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora com base em Oliveira-Formosinho e Araújo (2004).

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Apêndice C - Matriz de análise de PAEE – Atividade da pesquisa-formação

GRUPO____________SUJEITOS ENVOLVIDOS__________________________________ __________________________________________________________________________

PAEE DO ESTADO DO PARANÁ

OUTRO PAEE VALIDADO

O QUE CONTEMPLA

O QUE NÃO CONTEMPLA

Fonte: Elaborado pela pesquisadora para fins da pesquisa.

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Apêndice D – Protocolo de Plano Educacional Individualizado (PEI) construído na pesquisa

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO - PEI ENSINO COMUM E EDUCAÇÃO ESPECIAL

COLÉGIO _________________________________

ANO LETIVO: ____________ I – IDENTIFICAÇÃO

Nome do aluno: D. Nasc.:

Nome do pai: Nome da mãe:

Mora com (parentesco):

Ano escolar/turma: Turno:

Diagnóstico Clínico:

Encaminhamento para AEE: Frequenta?

II- EXPECTATIVAS/ CONTRIBUIÇÕES DA FAMÍLIA

- - -

III - CARACTERIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM

3.1. Aspectos cognitivos

HABILIDADES/POTENCIALIDADES ASPECTOS DA APRENDIZAGEM QUE PRECISAM SER POTENCIALIZADOS

- - -

---

3.2. Aspectos sociais e psicoafetivos

HABILIDADES/POTENCIALIDADES ASPECTOS DA APRENDIZAGEM QUE PRECISAM SER POTENCIALIZADOS

- - -

- - -

3.3. Aspectos psicomotores

HABILIDADES/POTENCIALIDADES ASPECTOS DA APRENDIZAGEM QUE PRECISAM SER POTENCIALIZADOS

- - -

- - -

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IV - PLANO DE TRABALHO COLABORATIVO

4.1. Flexibilização curricular. Serão necessárias as seguintes adaptações: - - - - - 4.2. Objetivos 4.2.1. Objetivo geral: - 4.2.2. Objetivos específicos: - - - - - 4.3. Plano de ação (estratégias de ensino, avaliação e recursos) - - - - - 4.4. Avanços observados: - - - - -

V - ENVOLVIMENTO DO ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

- - - - -

VI - PARECER DO ANO LETIVO

- - - - -

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224

OBSERVAÇÕES:

- - - - -

AQUIESCÊNCIA:

______________________________________ Local e data

Responsáveis pelo aluno: ____________________________________________________________

Responsáveis pelo preenchimento deste Plano: Função: _________________________ Assinatura: _________________________

________________________ _________________________

________________________ _________________________

________________________ _________________________

________________________ _________________________

________________________ _________________________

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225

Apêndice E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento, com as folhas rubricadas pela pesquisadora, e assinadas por ela, na última página. Este documento está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é da pesquisadora responsável. Em caso de recusa, você não será penalizado(a) de forma alguma. Informações sobre a Pesquisa Título: Plano Educacional Individualizado: a colaboração docente como processo, a aprendizagem e a inclusão escolar como propósito Pesquisadora responsável: Regina Célia Linhares Hostins – http://lattes.cnpq.br/3614416302948755 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UNIVALI. Telefone para contato: (47) 3341-7516 Pesquisadora participante: Alessandra de Fatima Giacomet – http://lattes.cnpq.br/0493327637754226 Telefone para contato: (46) 3225 7843 e (46) 99115 8797 A presente pesquisa, vinculada à Linha de Pesquisa Políticas para a Educação Básica e Superior e ao Grupo de Pesquisa Observatório de Políticas Educacionais, tem por objetivo desenvolver um protocolo de construção colaborativa do Plano Educacional Individualizado como instrumento potencializador da aprendizagem de estudantes com deficiência na escola regular. A pesquisa, de caráter qualitativo, do tipo colaborativa, utilizará como fonte de dados: as políticas educacionais e documentos institucionais relacionados ao tema, questionário e discussões advindas de uma pesquisa formação que será também atividade de formação dos professores participantes. Os dados coletados serão analisados pela técnica da Análise de Conteúdo. Como pesquisa colaborativa, envolverá a coleta e discussão coletiva de dados de forma síncrona a formação dos professores que, em conjunto com a pesquisadora, construirão os conhecimentos necessários à produção do instrumento ora proposto. A formação dar-se-á em 6 encontros de 4 horas de duração, compreendendo 24 horas presenciais e outras 06 horas a distância, totalizando 30 horas e se dará no município de realização da pesquisa. Os professores serão selecionados com base nos seguintes critérios: ser professor(a) do ensino fundamental anos finais em turma que tem aluno(a) com deficiência intelectual regularmente matriculado(a) e que, em contraturno, frequenta o AEE – Sala de Recursos Multifuncionais tipo I e demonstrar interesse em participar da pesquisa; assim como o professor do AEE do referido aluno(a). A pesquisa será conduzida simultaneamente em duas frentes de investigação:

1. Análise documental (políticas educacionais de educação especial e inclusiva e que normatizam o AEE e o Plano de Atendimento Educacional Especializado).

2. Pesquisa formação o qual consistirá em curso de formação continuada de 30 horas de duração, distribuídas em 24 horas presenciais e 06 horas a distância, a serem realizadas no município envolvido. A coleta de dados será realizada por meio de registros escritos das atividades a serem realizadas na escola onde o participante atua e das discussões,

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226

gravadas em áudio e vídeo, provenientes das discussões da pesquisa formação e transcritas a seguir.

Você está sendo convidado a participar da investigação (Pesquisa Formação) porque atende aos critérios definidos para participação da pesquisa. Convém ressaltar que a sua participação não é obrigatória, podendo a qualquer momento desistir de participar e retirar seu consentimento, sem a necessidade de exposição dos motivos. A sua atuação nesta pesquisa consistirá em participar da formação continuada nos 6 encontros presenciais de 4 horas de duração cada um e em cumprir as atividades a distância propostas e referentes a 06 horas da formação. Dessa forma, seu compromisso será participar dos encontros presenciais e cumprir as atividades a distância propostas para a formação. As pesquisadoras comprometem-se a assegurar a confidencialidade e a privacidade da instituição e dos entrevistados, mantendo anonimato absoluto sobre a imagem e a identidade assim como sigilo das informações que possam ferir a imagem pessoal e/ou profissional destes e da instituição. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com os pesquisadores, com a Instituição de Ensino na qual se vincula ou mesmo com a Univali. Os principais riscos decorrentes da pesquisa aos participantes estão relacionados à divulgação de informações, dados confidenciais e de imagem; entretanto, como afirmado anteriormente, eles terão assegurados a confidencialidade, a privacidade e a proteção de seus dados e imagem. Também pode tratar-se de risco as transcrições inexatas de seus depoimentos nas discussões da pesquisa formação. Tais riscos serão minimizados pois, sendo pesquisa colaborativa, envolverá a coleta e a discussão coletiva dos dados de forma síncrona, em que cada transcrição das discussões do grupo será disponibilizada aos participantes para sua apreciação, aceite ou recusa dos conteúdos relativos ao seu depoimento imediatamente após a coleta. Por se tratar de participação voluntária, não haverá nenhum tipo de compensação financeira ou remuneração aos participantes; contudo, é garantido o direito à indenização, nos termos da lei, e ao ressarcimento de despesas advindas de sua participação neste estudo, conforme o caso. Caso ocorra qualquer tipo de desconforto no decorrer da sua participação, esta poderá ser interrompida, podendo ou não continuar posteriormente. Além disso, as pesquisadoras estarão sempre presentes para sanar eventuais dúvidas, bem como para dar o suporte necessário para minimizar possíveis desconfortos durante a realização da pesquisa. O processo não causará nenhum dano à sua integridade ou à sua instituição de origem, pois assegura-se o sigilo de sua participação. Serão tomados todos os cuidados para garantir um tratamento ético aos participantes. As dúvidas que possam surgir, antes e durante a pesquisa, serão respondidas pelas pesquisadoras. Esclarecemos, ainda, que esta pesquisa não prevê qualquer gasto aos participantes e não será disponibilizada nenhuma compensação financeira adicional. Para garantir a confidencialidade mencionada anteriormente, os nomes dos participantes serão substituídos por códigos. A fim de evitar o risco de extravio dos materiais coletados, estes ficarão sob a guarda e responsabilidade das pesquisadoras responsáveis sendo apenas manuseado por estes. Por se tratar de pesquisa colaborativa, os resultados serão simultaneamente discutidos no decorrer dos encontros da pesquisa formação. O desenvolvimento da pesquisa e seus resultados implicarão em benefícios finais para a comunidade escolar, uma vez que contribuirá para análise e discussão do Plano de Atendimento Educacional Especializado como instrumento pedagógico de desenvolvimento potencial do aluno com deficiência intelectual em sua aprendizagem no ensino regular e no atendimento educacional especializado. Além disso, contribuirá, diretamente, para a sua formação e qualificação frente ao trabalho pedagógico com o aluno com deficiência intelectual incluso no ensino regular. Os dados coletados durante o estudo poderão ser apresentados em relatórios, reuniões, congressos ou publicações, sempre sob a garantia do anonimato de seus participantes. Os resultados alcançados serão apresentados à Secretaria de Estado da Educação - SEED, como forma de contribuir para mais discussões sobre planejamento educacional dos alunos com deficiência intelectual inclusos na rede.

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Ao assinar este Termo, você autoriza a sua participação nas atividades da referida Pesquisa, declara estar ciente e concorda com as informações expostas anteriormente, no que se referem aos objetivos, riscos e benefícios decorrentes do trabalho a ser desenvolvido. Você receberá uma via deste termo assinado pelas pesquisadoras onde constam os números de seus telefones e os seus endereços, podendo indagar ou esclarecer suas dúvidas sobre o projeto e sua participação agora, qualquer momento e sempre que necessário. Nome completo dos pesquisadores responsáveis:

Dra. Regina Célia Linhares Hostins _____________________________________________________

Alessandra de Fatima Giacomet Mello ___________________________________________________

Data: _____/______/2017

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Caso persistam dúvidas, sugestões e/ou denúncias após os esclarecimentos do pesquisador o Comitê de Ética está disponível para atender-lhe.

CEP/UNIVALI - Rua Uruguai, n. 458 Centro Itajaí. Bloco F6, andar térreo. Horário de atendimento: Das 8:00 às 12:00 e das 13:30 às 17:30 Telefone: 47- 33417738. E-mail: [email protected] CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO Eu, ________________________________________, abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como participante. Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade.

Local e data: _______________________________________________________________________

Nome: ___________________________________________________________________________

Assinatura do participante: ___________________________________________________________

Telefone para contato: _____________________________________________________________ Pesquisador responsável: Dra. Regina Célia Linhares Hostins – http://lattes.cnpq.br/3614416302948755 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UNIVALI. Telefone para contato: (47) 3341-7516 E-mail: [email protected] Pesquisador participante: Alessandra de Fatima Giacomet Mello – http://lattes.cnpq.br/0493327637754226 Telefone para contato: (46) 3225 7843 e (46) 99115 8797 E-mail: [email protected]; [email protected]

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Apêndice F - Instrumento de coleta de dados - Questionário

QUESTIONÁRIO para professores

O questionário tem por objetivo traçar o perfil dos professores participantes da pesquisa. Nesse sentido, contamos com a sua colaboração para responder às questões referentes ao seu perfil pessoal e profissional.

1) Perfil Pessoal:

a) Nome completo ____________________________________________________

b) Data de Nascimento: _____/_____/______ c) Estado Civil: _________________

d) Endereço de e-mail: ________________________________________________

2) Perfil Profissional:

a) Qual o curso da sua graduação? ______________________________________

b) Você tem especialização? ( ) Sim ( ) Não Qual curso? _________________

c) Há quanto tempo atua na educação e ou AEE? ___________________________

d) Como você ingressou na educação e/ou AEE? ___________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

e) O que representa para você ser professor? _______________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

f) Quais competências docentes você considera necessárias para atuar na educação

e/ou na educação especial? _____________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

f) Em quantas Escolas você trabalha? ____________________________________

g) Sente-se satisfeito(a) com sua escolha profissional? ( ) Sim ( ) Não

Justifique sua resposta: _______________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Apêndice G – Guia para preenchimento do protocolo de PEI construído na pesquisa

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO- PEI

GUIA DOCENTE

GUIA DE ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO PEI

PPGE - UNIVALI Programa de Pós-Graduação em Educação –

Universidade do Vale do Itajaí – SC

SEED-PR Secretaria de Estado da Educação do Paraná

CEPAP

Colégio Estadual Prof. Agostinho Pereira – Pato Branco - Paraná

2018

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230

ELABORAÇÃO Aliete Medina Pereira. Professora de Ciências do 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental da Rede Pública Estadual paranaense.

Ana Claudia Gonçalves Gregolin. Professora de Arte do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Rede Pública Estadual paranaense.

Dinorá Carlotto Bertol. Professora de Educação Especial da Rede Pública Estadual paranaense.

Eliani da Silva Lazzari. Professora de Ensino Religioso do 6º ano e História do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Rede Pública Estadual paranaense.

Jacira de Jesús Costa. Professora de Língua Portuguesa do 6º ano da Rede Pública Estadual paranaense.

Sirlei Slongo. Professora de Geografia do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e de Educação Especial da Rede Pública Estadual paranaense.

Stelamari G. Albani Bioni. Professora de Educação Física do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Rede Pública Estadual paranaense.

Tânis Salete Comin. Professora de Matemática do 6º e do 7º ano do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual paranaense.

Vanda de Fátima Palombit. Professora de Educação Física do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e de Educação Especial da Rede Pública Estadual paranaense.

COORDENAÇÃO Alessandra de Fátima Giacomet Mello. Professora de Educação Especial e

Pedagoga da Rede Pública Estadual paranaense. Doutoranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

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GUIA DE ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO PEI

APRESENTAÇÃO

Este Plano Educacional Individualizado – PEI trata-se de um Planejamento das ações pedagógicas, portanto de ensino e de aprendizagem de estudantes com deficiência no ensino regular, organizado, constituído e munido pelos professores do ensino regular e especial do estudante a que se destina.

Tal Plano foi concebido a partir da Pesquisa de Doutorado em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI da Pedagoga e Professora de Educação Especial Alessandra de Fatima Giacomet Mello com a colaboração dos participantes da referida pesquisa: um grupo de professores do ensino regular e especial do Colégio Estadual Professor Agostinho Pereira, de Pato Branco, Paraná.

O PEI foi idealizado para servir de apoio ao ensino, recurso à aprendizagem e, consequentemente, como instrumento potencializador da aprendizagem, do desenvolvimento global e da inclusão do aluno alvo.

Está estruturado em seis seções, a saber:

A seção I, Identificação, remete às informações de reconhecimento do estudante a quem o PEI se destina, assim como a informações pessoais e escolares do estudante. Aqui constam os campos de nome do aluno, sua data de nascimento, o nome dos pais e com quem mora; assim como o ano escolar, a turma e o turno em que está matriculado. Há ainda os campos destinados ao diagnóstico clínico que o caracteriza como aluno também da Educação Especial e ao encaminhamento para o AEE complementado pelo campo Frequenta?.

Na seção II, Expectativas/Contribuição da Família, o campo todo é destinado ao registro das expectativas escolares, de desenvolvimento e de futuro que a família tem para essa criança ou jovem. É também o espaço do Plano reservado ao registro das interações e contribuições da família para a aprendizagem do estudante, descrevendo a relação desta com a escola.

A terceira seção: Caracterização da Aprendizagem, como o título já deixa claro, indica os aspectos cognitivos, sociais, psicoafetivos e psicomotores que caracterizam a aprendizagem do estudante em questão. Registra as habilidades e as potencialidades existentes ou pré-existentes nessas áreas que permitirão a todos os professores conhecerem e aproveitá-las para a preparação de suas aulas. Esse conhecimento subsidiará às adaptações e às flexibilizações curriculares mais adequadas a esse estudante. Registra também os aspectos da aprendizagem que precisam ser potencializados, tornando-os, da mesma forma, conhecidos dos professores para que possam traçar as melhores estratégias de ensino e aprendizagem. O registro nesses campos dar-se-á no decorrer do processo, sendo alterado, munido e incrementado a cada momento que os professores envolvidos percebam essa necessidade ou notem mudanças nos aspectos já registrados.

A quarta seção, aqui chamada de Plano de Trabalho Colaborativo, constitui-se por campos destinados mais especificamente ao trabalho pedagógico em sala de aula. Integram,

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232

essa seção, os campos reservados às anotações sobre as Flexibilizações Curriculares previstas para o estudante sujeito do Plano; os Objetivos – Geral e Específicos – do trabalho pedagógico que se pretende. No campo Plano de Ação, constam as estratégias de ensino, de avaliação e os recursos que cada professor utilizará em suas aulas e que podem ser compartilhadas com os demais, a fim de contribuir para a aprendizagem do estudante. Já o campo Avanços Observados está reservado a indicação dos avanços educacionais, emocionais, psicológicos, sociais enfim, a qualquer avanço que se perceba na aprendizagem, no desenvolvimento global e na inclusão do estudante durante o processo no referido período letivo.

O campo Envolvimento do Aluno no Processo de Aprendizagem está na quinta seção do Plano e consiste na anotação dos níveis de envolvimento do estudante em atividades observados durante o processo de aprendizagem. O levantamento de tais informações e sua anotação terão como diretriz o preenchimento a Escala de Avaliação do Envolvimento de Leuven – LIS-YC (LAEVERS, 20141; OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 20042).

Encerrando os campos de preenchimento obrigatório, está a sexta seção, ou o campo Parecer do Ano Letivo, em que os professores envolvidos registram sua avaliação sobre a aprendizagem, o envolvimento e o desenvolvimento do estudante durante o período, podendo inclusive, emitir posicionamento sobre encaminhamentos para a escolarização no período seguinte.

Conclui-se o Plano com as Observações, campo necessário ao entendimento pelo leitor, de outras informações relevantes sobre o estudante. É seguido do campo de Aquiescência para data e assinatura dos envolvidos e responsáveis pelo aluno e pelo documento, em caso de sua impressão.

Uma vez que o PEI que se imbrica a essas orientações estar sendo construído e melhorado coletiva e colaborativamente, também este Guial se caracteriza como um opúsculo em constante aperfeiçoamento, estando disponível para contribuições a qualquer tempo. Afinal, é essa a marca de coletividade e colaboração entre o ensino regular e o especial, que o particularizam como inovador ao que se propõe: ser instrumento potencializador da aprendizagem e da inclusão escolar do estudante com deficiência.

Alessandra F. Giacomet Mello Pedagoga, Professora de Educ. Especial

Doutoranda em Educação - UNIVALI – Itajaí-SC

1 LAEVERS, F. Fundamentos da educação experiencial: bem-estar e envolvimento na educação infantil. Tradução Tina M. Stutzman. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 25, n. 58, p. 152-185, maio/ago. 2014. 2 OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; ARAÚJO, S. B. O envolvimento da criança na aprendizagem: Construindo o direito de participação. Revista Análise Psicológica, Braga, n. 22, p. 81-93, 2004.

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233

LISTA DE SIGLAS

AEE Atendimento Educacional Especializado

APPs Applications (Aplicativos)

CEE Conselho Estadual de Educação do Paraná

CNE Conselho Nacional de Educação

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

LIS-YC The Leuven Involvement Scale for Young Children (Escala de Avaliação do Envolvimento de Leuven para crianças em idade pré-escolar)

MEC Ministério da Educação

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PEI Plano Educacional Individualizado

TILS Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais

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SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................................. ii

Lista de Siglas ................................................................................................ v Orientações de Preenchimento ...................................................................... 7 Seção I – IDENTIFICAÇÃO ........................................................................ 7 Seção II – EXPECTATIVAS/CONTRIBUIÇÕES DA FAMÍLIA ...................... 9 Seção III – CARACTERIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM ............................... 11

3.1 Aspectos Cognitivos ................................................................ 12 3.2 Aspectos sociais e psicoafetivos ............................................. 17 3.3 Aspectos psicomotores ............................................................ 19

Seção IV – PLANO DE TRABALHO COLABORATIVO ............................... 22 4.1 Flexibilização Curricular ........................................................... 22 4.2 Objetivos ................................................................................. 26 4.3 Plano de Ação (estratégias de ensino) ................................... 27 4.4 Avanços Observados............................................................... 35

Seção V – ENVOLVIMENTO DO ALUNO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ..................................................................... 36 Seção VI – PARECER DO ANO LETIVO ..................................................... 40 Campos Finais ............................................................................................. 41

Observações ................................................................................. 41 Aquiescência ................................................................................. 41

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SEÇÃO I Identificação

Seguindo formulários padrões em que os dados de identificação permitem o

levantamento de dados pessoais, o Plano Educacional Individualizado (PEI), nesta

seção, deve ser preenchido por professor ou professores que tenham acesso a tais

informações.

Nota: uma vez que as informações expressas nesta seção tratam de dados oficiais,

para o preenchimento, deve-se consultar os documentos pessoais, escolares e

originais (no caso do laudo) para uma transcrição fidedigna.

Esta seção consiste no registro das informações pessoais e deve ser assim

preenchida:

Nome do aluno: nome completo do estudante a que se destina.

D. Nasc.: data de nascimento do estudante, no formato dia/mês/ano

(00/00/0000).

Nome do pai: nome completo do pai biológico ou socioafetivo (aquele que,

mesmo sem laços de sangue, cria o estudante).

Nome da mãe: nome completo da mãe biológica ou socioafetiva (aquela que,

mesmo sem laços de sangue, cria o estudante)

Mora com (parentesco): nome completo da pessoa com quem o estudante

mora e seu parentesco, desde que seja outra pessoa que não os pais. Quando for

com os pais ou com um ou outro, apenas registrar “com os pais”, “com o pai” ou “com

a mãe”. Porém, quando o estudante morar com um dos pais em formação de nova

família, registrar: “com o pai e madrasta: Fulana de Tal” ou “com a mãe e o padrasto

Fulano de Tal”.

Ano escolar/turma: anotar ano/série e turma do ensino regular em que o

estudante está regularmente matriculado.

Turno: anotar o turno em que o estudante frequenta o ensino regular.

Diagnóstico clínico: Transcrever o diagnóstico dado pelo profissional clínico que

realizou a avaliação de encaminhamento e ingresso ou a re-avaliação (a que for mais

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recente). Uma vez que se trata de transcrição, colocar entre aspas e com as mesmas

palavras usadas pelo avaliador.

Encaminhamento para AEE: registrar para qual Atendimento Educacional

Especializado o diagnóstico clínico encaminha o estudante (de acordo com a

Deliberação 02/2016 do CEE):

- Sala de Recursos Multifuncionais – tipo I.

- Sala de Recursos Multifuncionais – tipo II.

- Centro de Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Visual

ou Deficiência Auditiva.

- Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais – TILS.

- Professor de Apoio à Comunicação Alternativa (para aluno com

deficiência Física Neuromotora).

- Professor de Apoio Educacional Especializado (para aluno com

Transtorno Global do Desenvolvimento – Transtorno do Espectro do Autismo).

- Escola Especial.

Frequenta?: anotar “sim” para o caso de o estudante frequentar o AEE para o

qual foi avaliado, e “não” para o caso de o estudante não o frequentar.

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SEÇÃO II Expectativas/Contribuições da família

A família projeta expectativas quanto à escolarização do estudante, tenha ele

uma deficiência ou não. E essas expectativas podem influenciar de várias formas o

seu desenvolvimento (OLIVEIRA, 20093; PINTO, 20134).

Considerando que a família é parte fundamental para o desenvolvimento global

e escolar de qualquer criança, faz-se indispensável a sua participação no

planejamento e, também, no processo de escolarização do estudante. Além disso, sua

participação na elaboração e na execução do Plano de Atendimento está prevista na

legislação pertinente, nomeadamente a Resolução Nº 4, de 2 de outubro de 2009

(BRASIL, 2009) e a Deliberação Nº 02/2016, do CEE, no item III, parágrafo 3º do artigo

25 (PARANÁ, 2016).

Dessa forma, esta seção tem o objetivo de colher informações dadas pela

família. Podem ser colhidas pelo professor do AEE (que é quem, via de regra, tem

mais contato com os responsáveis pela criança), pelo pedagogo ou outro professor

que em contato com os responsáveis possa interrogá-los.

Nota: as informações a serem registradas nesta seção devem ser fidedignas ao

dito, expresso ou notificado pela família. Quando transcrita a fala de um familiar para

atestar a informação, o professor pode fazer uso do advérbio latino sic5.

Quanto às Expectativas, deve-se ter como referência para as anotações quais

as expectativas da família com relação:

- à aprendizagem da criança - qual a postura didático-pedagógica da escola e

dos professores é esperada pela família;

3 OLIVEIRA, M. P. Expectativas da família em relação à escolarização do seu filho com altas habilidades. 2009. 128 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009. 4 PINTO, M. C. Inclusão escolar do adolescente com deficiência intelectual na rede pública de ensino: percepção dos pais. 2013. 153 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2013. 5 Sic é um advérbio latino que, em português, significa “assim”, “desse modo”, “desta forma” “exatamente assim” e “assim mesmo”, que, quando escrito entre parênteses, após uma palavra ou frase, de terceiros, mostra ao leitor que foi dessa forma que o autor falou ou escreveu.

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- à preparação para o futuro - o que a família vislumbra e espera deste jovem

ou criança para o futuro – “qual o projeto de vida que se idealiza”;

- ao desenvolvimento dos aspectos individuais (autonomia, socialização,

iniciativa, vida independente, etc.) – “o que espera que a escola faça em relação ao

desenvolvimento do indivíduo em questão”.

Quanto à Contribuição da família, deve-se apontar quais os compromissos com

a aprendizagem, desenvolvimento e inclusão do estudante a família assume. Pode

nortear este registro da seguinte forma:

- quais atitudes, ações cotidianas a família já tem ou assume o compromisso

de passar a ter em relação à aprendizagem e à rotina escolar do estudante,

como, por exemplo: ver agenda, comparecer na escola com periodicidade e,

quando solicitado, auxiliar em tarefas e trabalhos, encaminhar e participar do

AEE, estudar junto ao aluno em casa, organizar horário e ambiente de estudo

em casa, acompanhar o desenvolvimento do estudante, etc.

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SEÇÃO III Caracterização da aprendizagem

Nesta seção, o ponto de conversão são os aspectos que envolvem o processo

de aprendizagem do estudante. Refere-se aos parâmetros que precisam ser

observados, aqui apresentados em forma de itens, sob as perspectivas de

habilidades/potencialidades ou aspectos da aprendizagem que precisam ser

potencializados, dificuldades/necessidades enquanto elementos pertencentes ao

processo único de aprendizagem deste estudante. Busca, assim, detectar as

condições que esse estudante tem de absorver conhecimento curricular do ano/série

em que se encontra.

Como habilidade/potencialidade, é preciso partir do pressuposto de que se trata

das formas, dos caminhos, dos percursos que a criança faz para aprender. Trata-se

das aptidões que já tem desenvolvidas e que podem – e devem – ser usadas para o

desenvolvimento de sua aprendizagem e para o seu ensino. Relaciona-se com o nível

real de desenvolvimento da criança como impulsionador do nível de desenvolvimento

iminente (VIGOTSKI, 2001)6. Toma-se como exemplo a facilidade que o estudante

tem para realizar determinadas tarefas, como desenhar; ou para guardar na memória

o conteúdo trabalhado em aulas práticas.

Já Aspectos da aprendizagem que precisam ser potencializados, neste Plano,

devem ser entendidos como aqueles percursos ou interferentes que dificultam ou não

permitem o avanço na aprendizagem ou no desenvolvimento do estudante. Relaciona-

se a limitações e a dificuldades que se caracterizam como barreiras à aprendizagem.

Por exemplo: não é capaz de guardar o conhecimento de uma aula expositiva na

memória, ou, quando apenas escreve sem ouvir as explicações do professor, logo em

seguida, não é capaz de situar-se no assunto.

Nota: nos campos desta seção, o professor deve ir além dos indicadores

constantes neste guia. Deve considerar todos os aspectos que observou,

percebeu e reconheceu no estudante individualmente. As informações a serem

prestadas dizem respeito à singularidade deste aluno, ao seu processo de

6 VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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aprender; àquilo que facilita e àquilo que se apresenta como barreira ao seu

aprendizado.

3.1 Aspectos cognitivos

Levantar, de forma descritiva, os aspectos da área cognitiva implicados na

aprendizagem dos conteúdos acadêmicos do ano de matrícula do estudante,

considerando funções psicológicas superiores7 como: memória, atenção,

concentração, raciocínio e linguagens.

Quanto a indicadores para a descrição das habilidades/potencialidades e

dos: o professor pode orientar-se nos itens8 a seguir e descrever com suas

palavras:

§ MEMÓRIA:

Auditiva

O aluno é capaz (registre em habilidades/potencialidades) ou não (registre em

dificuldades/necessidades) de reter e evocar sons:

- onomatopaicos;

- ordens verbais;

- letras de músicas;

- notícias;

- histórias;

- trecho lido;

- frases.

Visual

O aluno apresenta dificuldade em:

7 Hostins, Silva e Alves (2016) expõem que, para Vigotski, fazem parte das funções psicológicas superiores, “[...] o pensamento por conceitos, a linguagem racional, a memória lógica e a atenção voluntária”. HOSTINS, Regina Celia Linhares; SILVA, Cristiane da; ALVES, Adriana Gomes. Coletividade, colaboração e experiência: pressupostos para a inclusão escolar e a aprendizagem de alunos com deficiência intelectual. Revista Teias, Rio de Janeiro, v. 17, n. 46, p. 159-176, 2016. 8 Seleção de itens baseados em: a) POKER, R. B. et al. Plano de desenvolvimento individual para o atendimento educacional especializado. São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Oficina Universitária, 2013. B) PARANÁ. Subsídios para avaliação psicoeducacional no contexto escolar - orientações pedagógicas. Anexo F. Curitiba: SEED/SUED/DEEIN 2012.

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- reproduzir desenhos;

- reter e evocar nomes de lugares, pessoas, objetos, figuras, frases, números;

- reproduzir situações ocorridas (em filmes, TV, situações reais);

Viso-motora

O aluno é capaz (registre em habilidades/potencialidades) ou não (não registrar

em dificuldades/necessidades de:

- reproduzir movimentos com o corpo, após demonstração (dança, exercícios

corporais);

- imitar situações da vida diária (ir às compras, à escola, à festas);

- reproduzir desenhos, imagens, figuras, gravuras (ou outros) segundo modelos

anteriormente vistos.

§ ATENÇÃO. Considerar se o aluno é capaz, com autonomia, com ajuda ou não,

de:

- seleção e manutenção do foco;

- concentração;

- compreensão de ordens;

- identificação de personagens, pontos principais ou tópicos em histórias, temas

ou conteúdo.

§ CONCENTRAÇÃO. Considerar se o aluno é capaz de manter (registre em

habilidades) ou não manter (registre em dificuldades) atitudes de concentração,

como:

- manter o pensamento em um único assunto (mensurar por pouco, médio ou

longo tempo);

- manter-se concentrado em atividade prática ou de escrita, ou de leitura, ou de

produção individual, etc. (mensurar tempo);

- mantém ou desvia o pensamento do assunto em pauta;

- desfocar-se de assuntos que dizem respeito às aulas;

- não fazer uso de celular, i-pod, e outros durante a aula;

- deixar as conversas para o horário de intervalo;

- desligar-se dos barulhos alheios, vindos de outros ambientes;

- manter os olhos voltados para o professor bem como para suas explicações;

- anotar os conteúdos apresentados;

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- sustentar o foco na aula ou na explicação do professor sob estímulos auditivos

ou visuais externos.

§ PERCEPÇÃO visual, auditiva, tátil, sinestésica, espacial e temporal.

Considerar se é “boa”, “satisfatória” ou termo equivalente (no campo

habilidades). Ou se é “insatisfatória”, “escassa”, “falta” ou termo equivalente (no

campo dificuldades).

- Discriminação de: cores; formas; tamanhos (grande/pequeno, maior/menor);

quantidades; direções; semelhanças e diferenças;

- reprodução de sons;

- localização da fonte sonora;

- reconhecimento de sabores;

- discriminação de odores;

- distinção, através do tato, de: formas, texturas, posições, temperaturas,

objetos, etc.

§ LINGUAGEM. Considerar aspectos relacionados com a expressão e a

compreensão da língua portuguesa: construção do vocabulário, fluência,

codificação, articulação e organização do pensamento, nível de leitura, nível de

escrita e interpretação, conhecimentos sobre a Língua Portuguesa. Em caso

de estudantes com outra deficiência associada, também incluir os

conhecimentos sobre LIBRAS e uso de outros recursos de comunicação como

BRAILLE e Sistemas de Comunicação Alternativa.

Dificuldades apresentadas pelo aluno quanto à Fala:

- omite fonemas;

- fala de forma incompreensível;

- apresenta gagueira;

- apresenta vocabulário aquém de sua idade;

- fala muito rápido (sem clareza).

Dificuldades apresentadas pelo aluno quanto à Escrita:

- escreve sobre a linha;

- omite letras ou palavras;

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- acrescenta letras;

- substitui letras visualmente semelhantes (ex: u/v, e/l);

- troca letras auditivamente semelhantes (ex: pato/bato);

- troca letras de orientação simétrica: p/d, n/u;

- tremor no traçado;

- direção do traçado;

- escrita ilegível;

- inconstância no tamanho da letra;

- pouca ou muita força muscular ao escrever;

- dificuldade motora ao escrever;

- copiar palavras ou textos do quadro ou de livros.

Dificuldades apresentadas pelo aluno quanto à Leitura:

Fluência:

- lê palavra por palavra;

- lê monotonamente sem inflexão;

- ignora pontuação;

- apresenta dúvidas e vacilações;

- repete palavras conhecidas;

- lê devagar;

- lê de forma rápida e espasmódica;

- perde o lugar onde está lendo;

- não lê.

Reconhecimento das palavras:

- comete erros em palavras comuns;

- tem dificuldade de reconhecer palavras comuns à primeira vista;

- decodifica com dificuldade palavras conhecidas;

- acrescenta palavras;

- omite palavras;

- salta linhas;

- substitui palavras por outras conhecidas ou inventadas;

- inverte sílabas e palavras.

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Diante das palavras desconhecidas:

- soletra-as;

- tenta sonorizá-las sílaba por sílaba;

- tenta sonorizá-las som por som;

- não faz reconhecimento pela forma, extensão ou configuração.

Utilização do contexto:

- adivinha excessivamente a partir do contexto;

- não utiliza o contexto como chave do reconhecimento;

- substitui palavras de aparência semelhante, mas com significação

diferente.

Uso da voz:

- enuncia com dificuldade;

- omite o final das palavras;

- substitui sons;

- gagueja ao ler;

- lê com atropelo;

- a voz parece nervosa ou tensa;

- o volume da voz é muito alto; é demasiadamente baixo; ou é

desagradável;

- emprega certas cadências ao ler.

Hábitos de postura:

- segura o livro muito perto;

- mexe os lábios ao fazer leitura silenciosa;

- move a cabeça ao longo da linha;

- mantém postura corporal inadequada à leitura;

- segue a linha com o dedo ou com a régua;

- move o livro sem necessidade;

- dá mostra de excessiva tensão muscular;

- dá mostra de excessivo cansaço ao ler;

- esfrega os olhos ou enxuga as lágrimas.

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§ RACIOCÍNIO LÓGICO. Considerar se é capaz com autonomia ou com ajuda

(registre em habilidades/potencialidades) ou não é capaz (registre em

dificuldades/necessidades), aspectos como:

- compreende relações de comparação (igualde e diferença; causa e

consequência; certo e errado; legal e ilegal; pode e não pode, etc.);

- faz conclusões lógicas de determinadas situações;

- faz críticas;

- explica uma situação;

- resolve problemas do cotidiano e relacionados ao conhecimento linguístico e

lógico-matemático;

- resolve problemas simples;

- resolve problemas complexos;

- compreensão do mundo que o cerca;

- compreensão de ordens e de enunciados, causalidade, consequência,

sequência lógica, etc.

- presta atenção nas aulas ou é dispersivo;

- realiza atividades de sala de aula de forma independente ou necessita de

ajuda do professor ou colegas;

- persiste na realização das tarefas ou desiste diante da primeira dificuldade;

- necessita de explicações complementares para realização das atividades

propostas com vistas à assimilação/compreensão dos conteúdos;

- demonstra atitude positiva ou negativa em relação aos conteúdos

acadêmicos;

- apresenta facilidade na expressão verbal;

- demonstra criatividade de pensamento;

- demonstra sensibilidade artística;

- demonstra preferência por atividades específicas.

3.2 Aspectos sociais e psicoafetivos

Descrever aspectos da conduta social e afetiva (comportamento) esperados

para sua faixa etária e situação familiar em perspectiva à aprendizagem do estudante.

Ao considerar as habilidades/potencialidades e as dificuldades/necessidades,

relatar dados e fatos de forma que se considere o estudante em sua singularidade, ou

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seja, como este aluno se apresenta. Ter, nas orientações a seguir, tópicos de

referência para expor, com palavras próprias e como o aluno se apresenta no

momento do preenchimento.

§ IDENTIDADE PESSOAL. Como são:

- as características de humor;

- a autonomia;

- a responsabilidade (assume, delega, ignora);

- a assiduidade;

- o isolamento ou a interação grupal;

- a cooperação;

- os cuidados pessoais (a higiene, a aparência, o autocuidado);

- as relações sociais com pessoas nos diferentes setores da escola, família e

colegas;

- tem facilidade para fazer amigos;

- mantém em ordem seus pertences (cadernos e materiais em geral);

- executa as tarefas solicitadas (executa, procrastina, tenta, desiste, não persiste);

- atitudes diante das diferentes situações vivenciadas.

- COMPORTAMENTO:

A) indisciplina:

- Há, em que situações?

- Quando a atividade é difícil?

- Quando é oral? Ou escrita?

- Quando alguém o agride?

- Quando agride alguém?

- Quando vem aborrecido de casa?

B) Conduta inadequada:

- agressividade;

- mentira;

- furto;

- exibicionismo;

- apatia;

- inquietação ou hiperatividade;

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- egoísmo;

- excessiva preocupação com a sexualidade;

- roe unhas;

- birra;

- retraído.

§ AFETIVIDADE. Demonstra (registre em habilidades/potencialidades) ou não

(registre em dificuldades/necessidades):

- interesse e iniciativa para realização das atividades (acadêmicas, recreativas,

práticas, etc.);

- reações diante as frustrações;

- medos;

- controle de suas emoções;

- auto-imagem (é positiva ou negativa?);

- ajusta-se (ou respeita) as normas escolares;

- demonstrações de afeto;

- choro fácil;

- riso imotivado frequente;

- fala excessivamente sobre suas dificuldades;

- insegurança;

- timidez excessiva.

3.3 Aspectos psicomotores

Embora muitos aspectos psicomotores sejam mais fáceis de serem observados

e percebidos nas aulas de Educação Física, Arte e no AEE, todos os professores

precisam estar atentos a esses tópicos. O registro das informações, nesta seção,

assim como nas demais, deve ser incumbência daqueles profissionais que

dispuserem de maiores oportunidades de fazê-lo, sendo, é claro, mais propício ao

professor de educação Física, Arte e do AEE.

Ao observar o estudante é preciso considerar se ele apresenta apropriação e

conhecimento das potencialidades corporais no desenvolvimento de atividades de

expressão corporal como:

§ Autoconhecimento

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- Identifica (ou não) partes do seu corpo;

- identifica (ou não) partes do corpo do outro;

- diz (ou não) a função das partes do corpo;

§ Lateralidade

- Ao escrever, recortar ou segurar objeto, utiliza qual mão?

- ao chutar, utiliza qual pé?

- ao escrever, começa por: lado esquerdo; direito, meio ou final da linha?

§ Estruturação espacial

O aluno distingue (ou tem dificuldades para distinguir):

- à frente/atrás;

- perto/longe/ao lado;

- para dentro/para fora;

- último/primeiro;

- acima/abaixo.

- em cima/embaixo.

§ Orientação temporal

O aluno distingue (ou tem dificuldades para distinguir):

- antes/depois/agora;

- hoje/ontem;

- rápido/lento;

- cedo/tarde;

- dia/noite.

§ Equilíbrio, postura, coordenação global dinâmica e estática

O aluno:

- anda (ou não) em linha reta; pé ante pé; desce e sobe escadas;

- fica (ou não) em pé, em um pé só, de olhos fechados e abertos;

- corre (ou não);

- pula (ou não)

- tem defeito de postura (cabeça baixa, ombros para a frente, corcunda, etc.);

- apresenta desleixo ao sentar e/ou andar;

- deixa cair objetos que segura;

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- manipula objetos (com ou sem dificuldades);

- apresenta agitação motora (tiques motores, movimentos involuntários, etc.);

- o traçado da letra é excessivamente forte, fraco ou moderado;

- escreve fora da linha.

§ Psicomotricidade fina ou coordenação dinâmica manual

O aluno apresenta habilidade ou dificuldade em:

- usar tesoura;

- empilhar e/ou encaixar objetos;

- copiar do quadro;

- pintar, desenhar, recortar.

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SEÇÃO IV Plano de trabalho colaborativo

Esta seção consiste no ponto fulcral do Plano Educacional Individualizado –

PEI. Até a seção anterior, o foco estava voltado para informações sobre o estudante

e suas características de aprendizagem, pontuando-se elementos potenciais para sua

aprendizagem e elementos interferentes ou impeditivos.

Aqui as informações a serem prestadas desenham todo o plano que os

professores do ensino regular e especial traçam colaborativamente para o estudante

ao longo do ano.

Nota: cada campo pode e deve ser preenchido por todos os profissionais

envolvidos com a aprendizagem do estudante. Aqui a informação dada por um

professor pode ser ferramenta de ensino para o outro. Será essa troca de

informações que efetivará o acesso ao currículo e à aprendizagem para estudante

com deficiência.

4.1 Flexibilização curricular

Trata-se de favorecer e oferecer suportes necessários à aprendizagem e à

convivência em comunidade. De apresentar alternativas, possibilidades e estratégias

de acesso ao conteúdo e à escolarização, diversificando opções de aprendizagem de

acordo com as possibilidades do estudante.

As adequações necessárias à flexibilização do currículo escolar com vistas à

consecução da aprendizagem do estudante com deficiência se efetivam na escola, a

partir da dimensão das práticas pedagógicas de:

Diferenciações curriculares relativas aos conteúdos, que dizem respeito a:

- Estabelecer, dentro dos conteúdos gerais, conceitos fundamentais para a

elaboração dos conceitos científicos. Por exemplo: Na geografia, os estudantes

devem comparar modificações de paisagens nos diferentes tempos. Usando

um método de comparação, pode-se levar o estudante a reconhecer diferentes

paisagens, e pela mediação questionar as semelhanças e as diferenças, até

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chegar ao conceito de paisagem. Com os mesmos recursos, o estudante ainda

pode chegar a identificar as transformações ao longo do tempo, percebendo

também as diferenças. As imagens podem ser impressas, em pesquisa em

sites na internet, vídeos, filmes, ou qualquer outro recurso que possibilite a

apropriação do conceito.

- priorizar conteúdos ou unidades de conteúdo que sejam basilares,

fundamentais e instrumentais para as aprendizagens posteriores, pois o

conceito internalizado deve evoluir para a formação de novos aprendizados.

- retomar determinados conteúdos para garantir o seu domínio e a sua

consolidação;

- possibilitar maior tempo para a elaboração dos conceitos básicos e essenciais

do currículo de acordo com a necessidade do aluno.

Diferenciações curriculares relativas a métodos de ensino:

Registrar, com suas palavras, as estratégias metodológicas, atividades e

recursos que melhor respondam às necessidades individuais dos estudantes.

As adaptações nos procedimentos didáticos e nas atividades de ensino-

aprendizagem dizem respeito a como ensinar os componentes curriculares. Referem-

se a:

- possibilitar que o aluno elabore e construa os conceitos;

- selecionar métodos mais acessíveis para o aluno;

- diversificar métodos, metodologias, estratégias de ensino de forma que todos

possam entender. NÃO SE TRATA DE INDIVIDUALIZAR, MAS DE

ABRANGER A TODOS DE OUTRA FORMA;

- fazer uso de atividades complementares, para a consolidação de

conhecimentos já trabalhados que requeiram habilidades diferentes como

forma de possibilitar o uso do conceito de forma deliberada e em situações ou

momentos diferentes; por exemplo: disponibilizar ao aluno imagens de vários

animais para elaborar os conceitos de répteis e anfíbios, para analisar as

características que os fazem pertencer a cada classe. Registre suas respostas

e medeie com perguntas até que consiga chegar aos conceitos pretendidos.

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Após os conceitos internalizados, fazer um jogo da memória no qual devem

agrupar os animais de acordo com sua classificação, duplas de répteis e de

anfíbios, não tendo pares iguais do mesmo animal.

- possibilitar a evolução do nível de abstração de uma atividade de modo a

oferecer recursos de apoio, sejam visuais, auditivos, gráficos, materiais

manipulativos ou concreto, etc., a fim de, posteriormente, não necessitar mais

dos recursos para acessar o conhecimento adquirido;

- oferecer atividades alternativas e variadas para realizar, demonstrando sua

aprendizagem;

- eliminar partes de componentes de uma atividade ou conteúdo;

- simplificar um problema matemático, excluindo ou diminuindo a necessidade

de alguns cálculos;

- fazer enunciados mais curtos e objetivos para a realização de atividades e de

avalições;

- permitir o uso de calculadora;

- usar recursos visuais (livros, fotos, imagens digitais, figuras recortadas de

revistas, etc.), tecnológicos (celular; notebook, tablet, etc., com internet) ou

auditivos (música, audiolivro, etc.), de acordo com as

habilidades/potencialidades do aluno (para isso, contar com o apoio do

professor do AEE, do monitor da turma, da família, sempre informando

antecipadamente que, para tal aula, o aluno precisará ter em mãos tal recurso).

As ATIVIDADES EM GRUPOS de aprendizagem como método cooperativo

caracterizam-se como excelentes estratégias que podem ser adaptadas para um

trabalho pedagógico eficiente e produtivo com estudantes com deficiência em salas

regulares. Contudo, consiste em um método de trabalho que precisa ser bem

organizado e direcionado para o alcance dos objetivos a que o professor se propõe.

Para tanto é preciso:

- organizar grupos em que haja alunos em níveis diferentes de rendimento,

incluindo o aluno, unidos com o objetivo de alcançar uma meta comum.

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- Maximizar a heterogeneidade do grupo (nível de rendimento, sexo diferente,

raça, temperamento, etc.); forçar os alunos a interagirem, ajudarem-se (resolverem

conflitos entre si, explicar uns aos outros as tarefas, etc.).

Passos para se estruturar atividades escolares em grupo9:

1) especificar (deixar claro) para todos os alunos os objetivos que pretende

atingir em cada momento da atividade;

2) selecionar o tamanho do grupo mais apropriado para cada atividade, matéria

ou conteúdo;

3) considerar a heterogeneidade dos alunos de cada grupo. Levar em conta

que isso dependerá do tamanho da turma, seu perfil de estudo, as necessidades e a

quantidade de alunos na turma, além, é claro, da natureza da tarefa que se pretende

e os objetivos almejados;

4) dispor o grupo de forma que os membros fiquem juntos e possam se

enxergar mutuamente, facilitando o compartilhamento e a troca de materiais e ideias;

5) prever antes do início dos trabalhos em grupo as possíveis dificuldades e as

necessidades do aluno, para proporcionar materiais apropriados e/ou sugestões de

como levar adiante a tarefa;

6) explicar a todos os alunos e, mais especifica e claramente ao aluno alvo do

PEI, o objetivo da atividade, o tipo de atividade que se espera que realizem, o que se

espera do grupo e o que se espera dele;

7) observar as interações entre alunos, prestando especial atenção ao que

ocorre durante as interações entre os membros, a fim de conhecer que problemas

encontram para trabalhar cooperativamente;

8) intervir como mediador e conselheiro para potencializar o trabalho em grupo,

proporcionando a cada um a participação plena nas dinâmicas do trabalho e o

aproveitamento de suas habilidades em busca do êxito;

9) avaliar os trabalhos do grupo, tanto no aspecto global como em relação a

cada um de seus membros individualmente, com o objetivo de, se necessário, ajudar

aqueles que precisam alcançar melhores níveis de participação na atividade e no

grupo.

9 Baseado em COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Trad. Marcos A. G. Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. v. 3, p. 48-53.

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Diferenciações curriculares relativas a avaliações:

O MODELO DE AVALIAÇÃO NÃO DEVE SER MODELO DE APROVAÇÃO

FACILITADA. Se o estudante com deficiência acabar passando de série sem ter

necessários conhecimentos, estaremos reproduzindo e perpetuando problemas de

ensino que não levam à aprendizagem e ao desenvolvimento reais do aluno.

As adaptações avaliativas dizem respeito a:

- estabelecer antecipadamente os critérios de avaliação que serão usados para

o aluno alvo do Plano. Isso pode acontecer coletivamente;

- avaliar de forma gradual a construção do conhecimento, considerando os

processos, as experiências vivenciadas pelo aluno e não somente o conceito

acabado, quais as elaborações que o aluno realizou até chegar ao

conhecimento pretendido;

- fazer o registro das respostas dadas pelo aluno em todo o processo de

formação dos conceitos, sejam elas verbais ou mesmo comportamentais;

- selecionar técnicas e instrumentos que priorizem as

habilidades/potencialidades do aluno. Nesse caso, é preciso ter um “outro

olhar” sobre os instrumentos mais tradicionais como provas e testes;

- adequar os instrumentos de avaliação de acordo com as possibilidades do

aluno alvo do PEI. Nesse caso, cadernos, exercícios, trabalhos escritos ou

práticos, jogos e brincadeiras, respostas ou, até mesmo perguntas orais que

demonstrem o raciocínio podem ser usados como instrumentos de avaliação;

- usar e/ou adaptar a linguagem, de um modo diferente dos demais alunos, a fim

de atender às peculiaridades do aluno. Isso inclui, por exemplo, dividir um

enunciado, deixando-o com um único raciocínio, valorizar a ideia escrita ou

produzida em detrimento da escrita formal, etc.

4.2 Objetivos

Objetivos de aprendizagem e escolarização para o estudante alvo podem (e

devem) ser estabelecidos conjuntamente entre os professores. Alguns objetivos

podem ser específicos de disciplinas, outros podem ser “coletivos”, como os que visam

o desenvolvimento global e a inclusão, por exemplo. O importante é que se apresente

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pelo coletivo de professores quais as metas estabelecidas para esse estudante.

Consiste em continuar o seguinte pensamento: “eu/nós espero/esperamos que ao

final do período letivo este aluno seja capaz de...”

4.2.1 Objetivo Geral - trata-se de preencher o campo com o objetivo mais

amplo que se quer para o aluno alvo do PEI. Deve partir do pressuposto de que o

nível de desenvolvimento que o aluno se encontra, “neste momento”, é o marco zero

para a sua aprendizagem.

Refere-se à meta de aprendizagem que se tem para o aluno alvo do PEI

mediante uma organização curricular que favoreça a compreensão e apreensão dos

conteúdos, partindo do nível de desenvolvimento e/ou experiência que o referido aluno

apresenta.

4.2.2 Objetivos Específicos – trata-se de preencher o referido campo com os

objetivos específicos estabelecidos pelos professores envolvidos na aprendizagem do

aluno alvo do PEI para o seu período de vigência, por disciplina, por área,

coletivamente, etc. Deve considerar:

- as adaptações de acesso ao currículo (procedimentos, metodologias,

instrumentos de avaliação, recursos e individuação no atendimento), levando em

consideração o nível de desenvolvimento do aluno;

- promover a valorização de habilidades e potencialidades do aluno;

- acompanhar o processo de aprendizagem e escolarização do aluno de forma

contínua e permanente.

4.3 Plano de ação (estratégias de ensino)

Neste campo, cada professor se encarrega de incrementar, enriquecer,

“alimentar” o Plano com as estratégias e instrumentos que utiliza em sua disciplina e

que podem ser compartilhadas com os demais para a aprendizagem e o ensino do

referido estudante.

É aqui que cada professor disponibilizará para os colegas a sua parcela de

contribuição real com a aprendizagem do estudante com deficiência no ensino regular.

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O preenchimento dar-se-á com palavras do próprio professor sobre as

estratégias adotadas. Deve discorrer sobre o tipo de atividades realizadas, os

recursos que utiliza e que dão resultado para aprendizagem, assim como critérios e

instrumentos de avaliação que permitem a verificação real do que foi apreendido pelo

estudante.

As estratégias de ensino a serem utilizadas são, inicialmente, pessoais. Há

professores que têm mais habilidades para atividades práticas, assim como sua

disciplina dá maiores ou menores possibilidades para tal. Já outras disciplinas ou

professores têm mais afinidade com atividades escritas, por exemplo; ou orais, com

registro; ou atividades de pesquisa. Dessa forma, não há como enumerar sugestões

de atividades que possam ser aqui empregadas, sem que cada professor

experimente, antes de tudo, algo que realmente permita a aprendizagem do

estudante, registre, neste campo, e, então, fique disponível aos demais, como: este

aluno aprende melhor com tal estratégia... de tal forma.

Há de ressaltar-se, porém, que, à luz da teoria do “Ensinar a Pensar”10, de Louis

Rath (1977, p. 7), deve-se acentuar “[...] o ensino que procura provocar o pensamento,

bem como a maneira de realizá-lo”. Nesse sentido, transcrevemos resumidamente as

“10 Operações do Pensamento” do referido autor como possibilidades de estratégias

(e, nesse momento, como sugestões de orientação para encaminhamento de

atividades) para o ensino ativo do estudante com deficiência.

1. Reação à codificação: Trata-se de análise de expressões (palavras) ligadas ao

processo de pensamento, o qual tem na linguagem (escrita e oral) a sua manifestação.

Procedimentos: um símbolo de código é usado ao lado de cada expressão,

representando uma forma de pensamento. A codificação é usada para

fazer com que os alunos vejam novamente aquilo que já fizeram. Que

reflitam sobre seus pensamentos.

Exemplos: - codificação de relatório elaborado pelo aluno acerca de um tema de

disciplina.

10 RATHS, L. E. et al. Ensinar a pensar. Trad. de Dante Moreira Leite. 2. ed. São Paulo: EPEU, 1977.

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- demonstrar, por meio de um quadro, ou um esquema, a codificação

realizada, chamando atenção para as operações do pensamento

realizadas pelo aluno e, agora, expressas pela linguagem.

2. Comparação: Trata-se da verificação de semelhanças e diferenças. Estimula o

pensamento, pela percepção de diferenças e semelhanças, resultante da observação

e da exploração, de modo a ampliar as bases para julgamento e, consequentemente,

refinar os discernimentos futuros.

Procedimentos: determinar diferenças e/ou semelhanças significativas. Verificar

semelhanças e diferenças de um todo; entre partes de um todo;

como forma de focar fatos. Localizar características ou

emoções/sentimentos semelhantes ou diferentes entre dois (ou

mais) todos. Localizar: pontos opostos entre descrições,

semelhanças e diferenças atomísticas e globais; semelhanças e

diferenças decisivas.

Exemplos: - descrever um acontecimento em duas versões diferentes e comparar se

há diferenças significativas entre ambos;

- apresentar duas colunas de palavras e localizar quais as semelhanças

entre pares de palavras;

- apresentar dois poemas para leitura e solicitar que o aluno faça duas

colunas para registar as semelhanças e as diferenças entre os dois

poemas, registrando as características de ambos;

- comparar coisas e objetos com características parecidas, mas de

natureza ou funções diferentes (plantas, relevos, fatos históricos,

personalidades, operações matemáticas, etc.).

3. Classificação: Considerada uma extensão da comparação, trata-se de realizar

agrupamento(s) (coleção de palavras, objetos, itens, etc.) baseado(s) em

semelhanças, que contenham um elemento ou fator comum.

Procedimentos: a criação e o desenvolvimento de grupos e de categorias deve dar-se

pelo aluno e não ser pré-determinada pelo professor. Isso permite que

ele ordene seus pensamentos. Cada agrupamento deve ter coerência

interna, ter relação entre partes específicas. Permite a comparação

entre agrupamentos e o agrupamento de diferentes maneiras de um

mesmo conteúdo ou tema, a partir da seleção de princípios.

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Exemplos: - a linguagem diária é uma forma de classificação.

- agrupar palavras com relações entre si.

- classificar palavras aparentemente aleatórias, considerando o critério de

diferença ou semelhança para o agrupamento.

- fazer agrupamentos a partir de qualidades distintivas entre os objetos,

realizando escala que vai de pequenas a grandes diferenças.

4. Observação e Descrição: Observação e descrição têm uma relação simbiótica

mútua. A descrição decorre naturalmente de uma observação e esta tem a ver com

notar, discernir, considerar semelhanças e diferenças, e agrupar. É mais do que

apenas ver ou ouvir. É operação realizada pelos alunos e não algo que o professor

faz pelo aluno/para o aluno.

Procedimentos: o contato com os fatos dá-se por meio dos sentidos; a percepção dos

sentidos é o início de outros processos mentais. As observações

verificadas quanto a sua exatidão levam à compreensão e são

resultado de nossa atenção ao ato. Para observarmos, precisamos

notar, discernir, considerar diferenças e semelhanças e agrupar. A

criação de um sistema de valores, princípios ou referência podem ser

usados como recurso para a catalogação e descrição.

Exemplos: - observar certas características de modelos dados;

- realizar diferenciações simples ou análise de construções complexas nos

campos da arte, música, história, ciência, etc.

- observar substâncias usadas na vida diária;

- descrever observações por intermédio de ilustrações;

- observar algo, um objeto, uma cena ou situação (por exemplo: um

exercício de Educação Física, uma obra de arte, os passos de uma

operação matemática) por alguns instantes e depois descrever o que foi

observado.

5. Resumo. Trata-se de discernimento e avaliação do que é significativo e o que não

é. As ideias principais são reunidas em uma síntese. É o resultado da capacidade de

abstrair.

Procedimentos: ter claro o objetivo que se pretende. Organizar e obter dados

preparando chaves adequadas. É possível realizar resumos com o

material resultante de comparações e classificações. Pode ser

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utilizado para realizar as operações de interpretação, análise, crítica

e imaginação. A partir de regras, formulam-se as ideias centrais que

constituirão o resumo. A melhor forma de aprender a resumir é

fazendo resumos repetidamente.

Exemplos: - ler e escrever em “x” parágrafos um resumo do que foi lido;

- dar títulos a trabalhos escritos, mapas, gráficos e materiais em áudio e

vídeo;

- inventar legendas para figuras, histórias, mapas, gráficos, etc.;

- preparar esquemas prévios, índices e sumários de trabalhos escritos;

- realizar uma lista de ideias centrais e a partir daí o resumo.

6. Interpretação. É compreender relatos, textos, trechos, relatórios, imagens, vídeos,

etc. Refere-se a inferências e generalizações que podem ser feitas a partir de

descrições. Supõe acrescentar sentido, ler nas entrelinhas, preencher os vazios. É

também a habilidade de correlacionar causa e efeito.

Procedimentos: o professor dá ao aluno fatos para que este realize os processos de

pensamento como: observar o que está nos dados e quando houve

mudanças. Exercitar a tradução e a comparação de partes dos

dados e, então, preencher os vazios ampliando o sentido dos dados.

Exemplos: - ler um parágrafo ou trecho e responder afirmações sobre ele, indicando

se são certas, erradas ou se a informação é insuficiente (verificar a

exatidão);

- passar dados aos alunos para que deem interpretações; depois, o

professor devolve-lhes para que eles façam avaliação (verificar a exatidão);

- ver uma imagem ou vídeo e relatar sua interpretação sobre o que viu.

7. Análise de suposições: Trata-se de procurar o que não está dito. Suposição é pré-

julgamento, palpite, inferência; portanto, não é fato. É ver possibilidades para

diferentes conclusões. É ver a relação entre dados e conclusões.

Procedimentos: trata-se de procurar relação entre dados e conclusões. Suposições

são necessárias para confirmar ou negar uma afirmação. Também

são necessárias para a conclusão.

Exemplos: - criar suposições para a conclusão de um texto, pontuando e analisando-

as;

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- analisar uma imagem e, considerando afirmações sobre ela, criar

suposições se a afirmação é correta ou não;

- ler as afirmações referentes a um fato e colocar símbolos indicando se

é fato, se permite conclusão ou se a considera uma suposição;

- enumerar suposições para que uma afirmação possa ser considerada

certa ou provavelmente certa.

8. Solução de problemas. Trata-se de explorar os limites existentes no pensamento,

permitindo-lhe buscar livremente respostas (sem sua antecipação) para uma situação

problema. É trabalhar em perguntas cujas respostas ainda não sejam conhecidas.

Procedimentos: inclui projeto e pesquisa, a operação de coleta de dados (reunir o que

alguém já disse a respeito do assunto) e organização de dados

(aceitar a organização de quem já coletou anteriormente). A

apresentação pessoal deve seguir um padrão coerente e, também,

pessoal.

Exemplos: - apresentar situações juntamente a alguns dados e solicitar que se procure

a solução;

- apresentar uma solução e tentar saber como se chegou a ela;

- apresentar hipóteses sobre uma resolução e tentar chegar à correta ou

à provavelmente correta;

- deixar que o aluno invente um processo experimental (mecanismo)

utilizando análise e avaliação para se chegar a uma conclusão;

- a partir de conclusões recebidas, reconstruir processos e descobrir

dados;

- apresentar uma imagem a partir da organização de dados;

- reunir e organizar dados para dar respostas a problemas específicos.

9. Crítica e avaliação. Criticar e avaliar significa ser capaz de explicar sentimentos e

pensamentos. Permite que os alunos tenham oportunidade para aceitar e justificar

uma posição perante algo ou um assunto/conteúdo. O desenvolvimento dessa

operação advém da sua prática. Consiste em criar um esquema racional do

conhecimento existente.

Procedimentos: estabelecer padrões de escolha (julgar). Agrupar e atribuir posições

(classificar). Aceitar e justificar uma posição tomada. A capacidade de

criticar necessita ser praticada para desenvolver-se.

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Exemplos: - apresentar argumentos sobre determinado tema;

- realizar relatos ou relatórios em que se apresentem críticas ao tema

escolhido;

- discutir algumas noções ou conceitos “solidificados” e fazer sua

reavaliação;

- escrever um trabalho defendendo uma posição;

- apresentar aos alunos trechos ou parágrafos que provoquem

controvérsias fazendo com que os alunos reajam a eles.

10. Imaginação e criação. Trata-se de método diferente das soluções já

experimentadas e certas para resolver problemas e que exigem imaginação e

invenção. Acentua-se a invenção e o afastamento com relação às fórmulas

conhecidas de resolução de problemas. Trata-se de inventar novas regras, novas leis,

novos princípios. Trata-se de ensinar para a mudança.

Procedimentos: inventar formas novas de fazer as coisas. Aplicar novos princípios a

situações novas e já postas também. Inclui o jogo de “faz-de-conta”.

Exemplos: - exprimir pelo emprego de uma forma de arte, uma regra ou conceito de

um conteúdo disciplinar;

- imaginar que seja um personagem conhecido (da história ou da mídia) e

descrever um dia dessa vida;

- inventar provérbios;

- mudar versos de um poema;

- criar paralelos.

O professor pode embasar-se ainda em OUTRAS

ORIENTAÇÕES/SUGESTÕES de estratégias de ensino como:

- Gravar uma produção textual ou tarefa de casa em mídia (áudio, vídeo,

apresentação, PADLET, APPs, etc.)

- Experiências práticas devem partir da vida real.

- Enquanto a maioria dos estudantes pode realizar leituras, o estudante alvo do

Plano pode ter a tarefa de desenhar os retratos dos personagens a partir do

livro ou da leitura dos colegas.

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- Enquanto a maioria dos estudantes escreve uma dissertação sobre uma figura,

tema ou conteúdo, o estudante do PEI constrói, com colegas ou

individualmente, um cartaz, mural ou apresentação digital.

- Devem ser apresentadas aos estudantes várias maneiras de aprender e relatar

uma história, incluindo leitura silenciosa, ouvir gravações, dispor (ou elaborar)

em sequência as gravuras da história ou texto (lido ou ouvido) e escrever

relatos resumidos.

- É importante ensinar ao estudante diferentes maneiras de participar das

atividades com os outros colegas, de modo a incentivar sua socialização e

desenvolvimento de potencialidades.

- Se o estudante não é capaz reproduzir um texto ou relatar fatos de uma aula

prática, ele pode tirar fotos dos passos da experiência ou prática e, depois, com

a ajuda de outro membro do grupo (ou sozinho), colar no caderno

acompanhando o relato escrito correspondente, elaborado por colegas, pelo

professor ou constante nos livros.

- O conhecimento principal e as atividades curriculares devem ser aquelas

apreendidas por meio do pensamento ativo, da especulação, da pesquisa, de

debates, de discussões e de respostas.

- As atividades precisam incluir oportunidades para os estudantes utilizarem

suas habilidades ou talentos diferentes. Devem exigir do estudante o “trabalho”

de aprender. Devem ser oferecidas oportunidades para os estudantes

colaborarem.

- É essencial que os professores tenham expectativas diferentes para

estudantes com deficiência. Isso implica garantir a plena participação do aluno.

Modificar as expectativas, segundo Coll, Palacios e Marchesi11 (1995) significa

mudar a maneira como os estudantes demonstram o que sabem; mudar a

quantidade ou o padrão de trabalho geralmente esperados assim como os

objetivos da aprendizagem prioritários de uma determinada aula.

11COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Trad. Marcos A. G. Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. v. 3.

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4.4 Avanços observados

Os professores envolvidos deverão registrar os avanços observados durante o

processo de aprendizagem. É essencial que fique claro que os avanços devem ser

relatados a qualquer tempo do período escolar, não precisando ser apenas em

momentos de pós-avaliação.

Deve-se fazer o registro a partir de itens, podendo identificar quando o avanço

é em sua aprendizagem curricular (nas disciplinas) ou no desenvolvimento global do

estudante. Como, por exemplo: “Passou a participar mais das atividades de Ciências

quando as atividades práticas são em grupo”.

Por avanço, neste Plano, entendemos que é todo e qualquer progresso que o

estudante faça em sua aprendizagem e/ou desenvolvimento. Até o fato de ele não

realizar determinada ação ou atividade mesmo com ajuda e passar a fazê-lo com

apoio, ou, então, passar da realização de uma atividade com apoio ou recurso para a

sua realização com autonomia – são fatos entendidos como avanço e precisam ser

registrados para que todos os professores envolvidos tenham conhecimento sobre tal.

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SEÇÃO V Envolvimento do aluno no processo de aprendizagem

Nesta seção, será realizado o apontamento dos níveis de envolvimento do

estudante na aprendizagem observados durante o processo, sendo anotados ao

momento da sua percepção ou da mudança de nível de envolvimento empreendido.

Com base nos estudos realizados na pesquisa causante deste Guia e do PEI,

utilizar-se-á, como referência para o preenchimento desta seção, a Escala de

Avaliação do Envolvimento de Leuven (LAEVERS, 2014)12. Segundo Laevers (2014,

p. 159), “[...] envolvimento é o que observamos quando as crianças estão

intensamente engajadas em uma atividade”. O autor afirma que um dos indicadores

mais diretos e confiáveis de aprendizagem significativa tem como características:

• extrema concentração, sem interrupções, ficando a criança totalmente absorvida,

sem noção de tempo;

• alto nível de motivação, interesse, fascinação e perseverança;

• atividade mental intensa, sensações vívidas e um senso de significação que toma

forma;

• profunda satisfação ao atingir o objetivo inicial;

• trabalhar no limite das próprias capacidades, como na “zona de desenvolvimento

proximal” (de Vigotski).

Para o referido autor, o envolvimento do aluno em sua aprendizagem pode ser

“medido” pela observação de nove sinais de envolvimento13 nas atividades que fazem

parte desse processo, e o grau pode ser mensurado por meio dos níveis de

envolvimento14 observados nesses sinais.

Nota: Para auxiliar o preenchimento do PEI, tanto os sinais quanto os níveis de

envolvimento são aqui transcritos na íntegra (porém com tradução para o português

brasileiro) conforme apresentados por Lauvers (2014) e Oliveira-Formosinho e

Araújo (2004).

12 LAEVERS, F. Fundamentos da educação experiencial: bem-estar e envolvimento na educação infantil. Trad. Tina M. Stutzman. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 25, n. 58, p. 152-185, maio/ago. 2014. 13 OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; ARAÚJO, S. B. O envolvimento da criança na aprendizagem: Construindo o direito de participação. Revista Análise Psicológica, Braga, n. 22, p. 81-93, 2004. 14 Laevers (2014).

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SINAIS DE ENVOLVIMENTO

1. Concentração. A criança focaliza sua atenção ao círculo limitado da sua

atividade. Apenas estímulos intensos podem distraí-la. Um ponto importante de

referência para o observador são os movimentos oculares da criança, ou seja,

os olhos estão fixos no material, nas mãos ou vagueiam ocasional ou

permanentemente?

2. Energia. A energia física está envolvida nas atividades motoras. Podemos

mesmo observar o nível de transpiração como uma medida do envolvimento.

Em outras atividades, outros componentes físicos podem reter a nossa atenção

como falar alto ou pressionar algum material com força. A energia mental pode

tornar-se evidente no zelo colocado na ação ou, mais abstratamente, no

esforço (mental) evidenciado na face. Isso pode ser acompanhado por sinais

como ruborização ou transpiração.

3. Complexidade e criatividade. A criança aplica livremente e em um grau

acentuado capacidades cognitivas e outras. Como resultado, o seu

comportamento ultrapassa a noção de comportamento rotineiro – a criança

envolvida encontra-se a realizar no seu máximo. A complexidade envolve com

muita frequência a criatividade: a criança adiciona um toque individual à

atividade, produz algo de novo, mostra algo não inteiramente predizível, algo

de pessoal, e aquilo que realiza promove o desenvolvimento da sua

criatividade.

4. Expressão facial e postura. Os sinais não-verbais são uma grande ajuda

quando se avalia o nível de envolvimento. Por exemplo, é possível distinguir

entre olhos que “vagueiam de um ponto para o outro” de um “olhar intenso”.

Quando histórias são contadas, sentimentos e humor podem ser inferidos a

partir da face da criança. A postura global pode revelar alta concentração ou

aborrecimento. Mesmo quando as crianças são observadas apenas por trás,

pode avaliar-se o nível de (não) envolvimento.

5. Persistência. Quando concentrada, a criança dirige toda a sua atenção e

energia para um ponto. A persistência refere-se à extensão dessa

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concentração. A criança que se envolve não abandona facilmente a atividade.

Ela pretende obter uma sensação de satisfação experienciada com uma

atividade intensa e está preparada para realizar todos os esforços necessários

a fim de manter essa atividade. As atividades que suscitam envolvimento

tendem a estender-se (de acordo com a idade e níveis de desenvolvimento) e

a serem revisitadas.

6. Precisão. A criança envolvida dá especial atenção ao seu trabalho, é

susceptível aos detalhes e mostra precisão nas suas ações. As crianças não

envolvidas tendem a realizar o seu trabalho “às pressas”, sendo negligentes.

Nas atividades verbalmente orientadas, como contar histórias, comunicações

em atividades de grupo, como o tempo de círculo, os detalhes escapam ao seu

reconhecimento (ex.: palavras casuais, gestos).

7. Tempo de reação. A criança envolvida está alerta e rapidamente responde a

estímulos (ela “salta” para a ação), demonstrando motivação. O envolvimento

é mais do que uma reação inicial; de fato, a criança reage a novos estímulos

que surgem no decurso da ação.

8. Comentários verbais. As crianças explicitam, por vezes, o seu envolvimento

nas atividades através de comentários espontâneos (ex.: “Eu gosto disto!

Posso fazer outra vez?”). Elas podem ainda indicar mais implicitamente que as

atividades lhes interessam, fazendo descrições entusiastas acerca do que

estão/estiveram a fazer; elas não conseguem refrear a sua necessidade de pôr

em palavras o que estão a experimentar, a descobrir.

9. Satisfação. As atividades que possuem a qualidade de envolvimento induzem,

a maior parte das vezes, um sentimento de “satisfação”. A fonte desse

sentimento pode variar, mas deve sempre implicar uma resposta a estímulos e

exploração. Esse sentimento de satisfação é com frequência implícito, mas, por

vezes, podemos reconhecê-lo quando uma criança olha com grande satisfação

para o seu trabalho, tocando-o, mostrando-o, etc.

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NÍVEIS DE ENVOLVIMENTO

- Nível 1: sem atividade. O aluno está mentalmente ausente. Se qualquer ação

for observada, será meramente uma repetição estereotipada dos movimentos

mais elementares.

- Nível 2: o aluno desenvolve ações com diversas interrupções.

- Nível 3: o aluno desenvolve atividade, mas sem envolvimento. Apesar de o

aluno estar participando de uma atividade (por exemplo, ouvindo uma história;

interagindo com outras pessoas; escrevendo; lendo; terminando uma tarefa

qualquer; etc.), ele não demonstra concentração, motivação ou prazer na

atividade. Em muitos casos, está apenas presente nas atividades de rotina.

- Nível 4: o aluno apresenta momentos de atividade mental intensa. Expressa

sinais desse envolvimento.

- Nível 5: o aluno apresenta atividade intensa contínua. Há engajamento total

expresso pela concentração e absorção absoluta pela atividade. Qualquer

perturbação ou interrupção seria encarada como um frustrante rompimento de

um processo que estava sendo executado suavemente.

O professor deve preencher o PEI de modo a indicar quanto de envolvimento

o estudante depreende na realização de tarefas, apontar aquelas em que ele se

envolve mais, partilhar com os demais professores a natureza dessas atividades,

assim como indicar quais são as atividades que não provocam motivação ou estímulo

suficiente para o estudante envolver-se com a própria aprendizagem. Isso serve de

recurso para o “repensar” das atividades proporcionadas a esse aluno.

O campo pode e deve ser preenchido por todos os profissionais envolvidos

com a aprendizagem do aluno, cada um a seu tempo e em sua área. Aqui a

informação dada por um professor pode ser auxílio, explicação ou recurso para o

outro. Será essa troca de informações que otimizará o trabalho pedagógico de cada

profissional envolvido com o estudante.

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SEÇÃO VI Parecer do ano letivo

A equipe de profissionais envolvida com o estudante emite parecer descritivo

sobre o processo de aprendizagem fundamentado nos avanços do estudante, suas

dificuldades; enfim, sua trajetória de aprendizagem. É necessário ainda que ofereça

subsídios para encaminhamentos, sugestões e possibilidades de intervenção

pedagógica para o próximo período.

É importante orientar-se por:

- A linguagem escrita a ser utilizada não deve enfatizar aspectos negativos da

aprendizagem ou desenvolvimento do estudante. Para isso, é preciso ter cuidado com

termos e expressões depreciativas, julgamentos de valor e ambiguidades.

- Neste campo, as informações são complementares àquilo que foi registrado

no campo das habilidades, e não deve ser sua mera transcrição.

- Priorizar avanços e habilidades adquiridas pelo aluno, ressaltando os

aspectos positivos de sua aprendizagem.

- Ao registrar habilidades ainda não adquiridas, não registrar de forma que dê

a entender que isso é irreversível. Por exemplo: em lugar de “o aluno não conhece”,

“não realiza”, anotar “precisa desenvolver” ou “será necessário trabalhar”.

O preenchimento deste campo deve ser, na medida do possível, elaborado a

“muitas mãos”. Como se refere ao assentamento do percurso de aprendizagem e

desenvolvimento do estudante ao longo do período, é preciso que inclua o parecer de

todos os professores/profissionais envolvidos.

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CAMPOS FINAIS

OBSERVAÇÕES

Esta seção é destinada às complementações das informações sobre o

estudante, sua aprendizagem, seu desenvolvimento, sua socialização ou qualquer

outra informação pertinente que os profissionais envolvidos julgarem necessárias

apontar como relevante e complementar ao PEI e que não pode ser inserida em

nenhuma das seções anteriores.

Tais informações relevantes podem ser registradas a qualquer tempo do

período letivo, assim como podem ser retiradas se tal relevância deixar de existir,

também a qualquer tempo.

AQUIESCÊNCIA

Após todo o preenchimento do Plano Educacional Individualizado - PEI, é

solicitado aos profissionais envolvidos que o documento seja datado e assinado por

todos, uma vez que se caracteriza como documento escolar interno do Colégio; assim,

fará parte dos documentos escolares do estudante, sem que suas informações façam

parte do seu Histórico Escolar.

Tão importante quanto a aquiescência dos professores é a dos pais ou

responsáveis, considerando que estes devem ter conhecimento dos objetivos do PEI,

sua propositura e ter acompanhado o desenvolvimento escolar do estudante ao longo

do período letivo registrado no PEI.

Dessa forma, sugere-se que, após seu fechamento, o PEI seja salvo em

formato .pdf e arquivado em pasta digital. Sugere-se sua impressão somente para

casos de transferência, deixando-o online para compartilhamento de todos os

professores do estudante enquanto este se mantiver na mesma escola.

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ANEXOS

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LISTA DE ANEXOS

Anexo A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética....................................... 272

Anexo B – Protolocado da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED-PR autorização para a realização da pesquisa ....................................................... 274

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Anexo A – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética

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Anexo B – Protolocado da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED-PR autorização para a realização da pesquisa