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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ALBERTINA BRASIL ANDRES POLÍTICA DE SAÚDE AMBIENTAL: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA BIGUAÇU 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ALBERTINA BRASIL ANDRES

POLÍTICA DE SAÚDE AMBIENTAL: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA

BIGUAÇU 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ALBERTINA BRASIL ANDRES

POLÍTICA DE SAÚDE AMBIENTAL: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa (Monografia) para a obtenção do título de Enfermeiro, sob a orientação da Prof.ª MSc. Maria Catarina da Rosa.

BIGUAÇU 2008

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ALBERTINA BRASIL ANDRES

POLÍTICA DE SAÚDE AMBIENTAL: EVOLUÇÃO E PERSPECTIVA Este Trabalho de Conclusão de Curso foi submetido ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para a obtenção do título de:

ENFERMEIRO

E aprovado na sua versão final, em de dezembro de 2008, atendendo às normas da legislação vigente da Universidade do Vale do Itajaí, Curso de Graduação em Enfermagem BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________

Prof. MSc. Maria Catarina da Rosa Orientadora

______________________________________________________________ Professora MSc. Ana Cristina O. da Silva Hoffmann

Membro

______________________________________________________________ Professora Especialista Janelice de Azevedo Neves Bastiani

Membro

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por tornar possível este sonho.

À Profª. Maria Catarina, pela paciência e dedicação indispensável. Sem o

seu conhecimento e orientação não seria possível a realização deste trabalho.

À Profª. Ana Cristina por aceitar o convite de fazer parte da banca e

agradeço, pois cheguei até aqui graças a ela.

À Professora Janelice por fazer parte da banca e no decorrer do curso me

incentivou muito quando eu dizia: “Vou desistir”.

Agradeço a minha família, pelo apoio e colaboração no decorrer de todo o

Curso e principalmente para a conclusão deste trabalho.

Em especial, ao meu esposo Antônio pela paciência e colaboração em todos

os sentidos.

A meus filhos Thiago, Bruno e Nicole, pelas minhas ausências e obrigado

por vocês me ajudarem a realizar meus sonhos. Vocês são meus amores.

Ana Paula e Franciele, pela colaboração e apoio.

À meus irmãos, vocês me deram muita força para continuar, obrigado.

À Coordenação do curso de enfermagem e professores, por possibilitarem a

oportunidade de um enriquecimento pessoal.

Às professoras Adriana, Lurdinha, Nice, Valdete, Vera in memorium, Liliane

Werner, Teresa Gaio, Eliana Wiggers, Elianinha, Tânia, vocês serão inesquecíveis.

Aos meus colegas de curso, por propiciarem bons momentos juntos. Em

especial: Amarildo, Franciele, Tânia, Celina, Cleidson e Deise,Jorge e Daniela.

Aos meus colegas de trabalho, peço desculpa pelas ausências e atrasos e

perdôo a incompreensão.

Agradeço em especial aos colegas de trabalho que sempre se preocuparam

com a minha formação cobrindo meus plantões e me apoiando o tempo inteiro, são

eles:

Dalila Daros, Edison Luiz Macari e Terezinha Ester de Freitas da Silva,

Paulo dos Santos Filho, Mayara Guesser, vocês vão ficar sempre no meu coração,

muito obrigado.

A minha amiga Arlete, sempre presente nas horas tristes e alegres, você

mora no meu coração. Obrigado.

A minha amiga e companheira de trabalho Telma Tibes Li (São José).

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Obrigada pela colaboração e apoio.

Enfim, meus sinceros agradecimentos, a todos que de uma ou de outra

forma, contribuíram para a conclusão do curso.

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso nasceu de uma preocupação da autora com a questão da saúde ambiental e de como esta vem sendo enfocada nas políticas públicas e nos movimentos sociais, e nas teorias de educação ambiental. As políticas públicas de saúde no Brasil se inter-relacionam cada vez mais com as políticas de educação ambiental e desenvolvimento sustentável. Neste estudo, que aborda essencialmente as relações entre saúde e ambientalismo, primeiramente é feito, na segunda etapa do trabalho se resume o pensamento do educador brasileiro Paulo Freire, no marco teórico principal, apresentando a eco-pedagogia que estuda os problemas sócio-ambientais e o desenvolvimento sustentável. Por fim, apresenta-se a política pública de saúde ambiental enfocada a partir da destinação do lixo doméstico na reciclagem que constitui, atualmente, uma das mais importantes atividades em prol do desenvolvimento sustentável. Palavras-Chave: Política de Saúde; Educação Ambiental; Vigilância em Saúde, lixo doméstico.

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ABSTRACT

This chore as of closure as of drift was born from a any from the authoress with the litigation from the to your health environmental and as of as a this one he comes being enforced at the public policies and at the bandwagons socials and theories as of education environmental. The policies publics as of to your health at the Brazil in case that interrelation further and further with the policies as of education environmental and breeding sustainable. in this study , than it is to approached basically the acquaintanceship amidst to your health and environmentalist , first of all is done a amendment bibliographic on the subject of public policies , to your health and education environmental , breeding sustainable and environmental law Brazilian. at the follows procedure from the research in case that summarizes the thought from the educator Brazilian Paulo Freire, mark academic central , introducing so much your pedagogy from the gripe as of conversion social , quantum your echo pedagogy well into feature as of avatars business associate - environmental and breeding sustainable. Lastly, he presents the policy public as of to your health environmental focused from the destination from the garbage home at the recycling than it is one of more important activities from the breeding sustainable. Key Words: Politics of Health; Ambient education; Sanitary Monitoring and Garbage Home.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFB – Constituição Federal do Brasil

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Estado de Saúde

CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis

MS – Ministério da Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................11

2. OBJETIVOS..........................................................................................................16

2.1. Objetivo Geral ................................................................................................16

2.2. Objetivos Específicos.....................................................................................16

3. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................17

3.1. Políticas Públicas e Participação ...................................................................17

3.2. Política da Saúde: Desenvolvimento Social e Promoção à Saúde ................22

3.3. Política Ambiental: Relação Entre Saúde e Ambiente ...................................25

3.3.1. Os problemas e a orientação das políticas ambientais .......................28

3.4. Direito e Política Ambiental ............................................................................35

3.4.1. Princípio da supremacia e indisponibilidade do interesse público .......36

3.4.2. Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal, da proteção e

educação ambiental. .....................................................................................37

3.4.3. Princípio da participação, da cooperação nacional e internacional. ....37

3.4.4. Princípio da prevenção ou precaução e da obrigatoriedade da

avaliação prévia em obras potencialmente danosas ao meio ambiente........38

3.4.5. Princípios da publicidade e da notificação...........................................39

3.4.6. Princípio da responsabilidade, do poluidor-pagador, compensação e

reparabilidade do dano ambiental .................................................................39

3.4.7. Princípio da função socioambiental da propriedade, do

desenvolvimento sustentável.........................................................................40

4. MARCO TEÓRICO: PEDAGOGIA SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM

PAULO FREIRE........................................................................................................42

4.1. Dados Biográficos de Paulo Freire.................................................................42

4.2. Ecopedagogia ................................................................................................43

5. PROCESSO METODOLÓGICO ...........................................................................48

5.1. Espaço da Pesquisa ......................................................................................49

5.2. Estrutura da Pesquisa....................................................................................49

5.3. Registro e Coleta de Dados ...........................................................................49

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5.4. Análise dos Dados .........................................................................................50

5.5. Aspectos Éticos da Pesquisa .........................................................................50

6. RESULTADO E ANÁLISE METODOLÓGICA .....................................................51

6.1. Apresentação dos Resultados: Destinação do Lixo .......................................51

6.1.1. Aterro sanitário ......................................................................................53

6.1.2. Usina de compostagem e reciclagem ...................................................53

6.1.3. Incinerador de lixo hospitalar ................................................................53

6.1.4. Formas de aproveitamento do lixo ........................................................54

6.1.5. Reciclagem............................................................................................54

6.1.6. Reciclagem de papel.............................................................................55

6.1.7. Reciclagem de garrafas de plástico ......................................................55

6.1.8. Reciclagem de vidro..............................................................................55

6.1.9. Destino do lixo orgânico ........................................................................56

6.1.10. Benefícios da reciclagem ....................................................................56

6.2. Inferências e Interpretação.............................................................................57

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................61

8. REFERÊNCIAS.....................................................................................................64

APÊNDICE................................................................................................................67

Apêndice I – Termo de Aceite de Orientação.....................................................68

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Tema e Justificativa da Pesquisa

O tema deste trabalho, que se pode resumir em saúde pública e

ambientalismo, foram escolhidos porque trabalhando como profissional de saúde

púbica, a autora verifica que a saúde da população é uma questão, também, de

saúde ambiental e a prevenção é uma questão basicamente de educação. Neste

sentido, a autora acredita que saúde pública e educação ambiental são temas

correlacionados, sendo que um dos elos desses dois temas é o problema do lixo

domestico e seus impactos negativos sobre a saúde comunitária e ambiental.

Percebendo que orientações referentes ao meio ambiente, mais precisamente, ao

destino correto do lixo não são repassadas para a população. O não cuidado com a

destinação do lixo doméstico leva ao aumento de doenças, contaminação do solo,

trazendo prejuízo como: necessidade de medicamentos, internação e doenças como

leptospirose, lesão de pele, contaminação da água e ameaça de retorno de formas

patogênicas epidêmicas e endêmicas que já se encontram mundialmente sob

controle.

Assim, este trabalho tem por objeto conhecer as políticas públicas

ambientais que vêm sendo discutidas e implantadas no Brasil com o objetivo de

reduzir os graves impactos negativos gerados sobre o meio ambiente natural

causados pelo chamado efeito antrópico (fator humano) e que tem gerado

catástrofes e destruições ecológicas que põe em risco a fauna, a flora e a vida

humana. Em nível mundial, toda vida no planeta se encontra ameaçada pelo

chamado “efeito estufa”, considerado o maior e mais temido impacto ambiental

destrutivo que atinge todo o globo terrestre, tendendo a degelar as camadas polares

e fazer subir o nível dos oceanos entre outros efeitos catastróficos (MELLO, 1999).

Em agosto de 2006 foram comemorados no Brasil os 25 anos do começo da

implantação da Política Nacional do Meio Ambiente que começou por estabelecer

uma legislação ambiental bem definida e mais rigorosa do que as poucas leis que

defendiam o meio ambiente nacional até então. A legislação ambiental provocou

uma profunda transformação no País, fazendo da questão do respeito ao ambiente

natural uma determinação jurídica, obrigando as empresas nacionais, principais

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responsáveis pelo problema ambiental, a colocarem em suas agendas de

desenvolvimento a variável ambiental (LIMA, 1997).

Porém, são muitos os problemas que subsistem, tanto de ordem jurídica e

formal, quanto da ordem de aplicação da lei devido aos problemas econômicos,

políticos e sociais que se choca contra os ideais de preservação e recuperação do

meio ambiente, conteúdo da lei Ambiental e aspiração da população nacional.

Contudo, o direito brasileiro ambiental vem se expandindo e consolidando desde a

década de 80, seguindo a tendência mundial de preservação, apesar de todas as

dificuldades encontradas, desde a promulgação da Lei Federal de Proteção ao Meio

Ambiente1 (MILARÉ, 2005).

A problemática ambiental é complexa na medida em que envolvem

dimensões diferenciadas da realidade, institucionais, políticas, econômicas,

jurídicas, sociais e naturais que só podem ser resolvidas nos âmbitos de ciências e

áreas específicas de conhecimento. Estas ciências, em relação à questão ambiental,

entram em interação inter, trans ou multidisciplinar, gerando novas vias de pesquisa

como o sócio-ambientalismo, o direito, a educação e a saúde ambientais

(FERREIRA, 1998).

Os problemas ambientais são, necessariamente, sociais e de saúde pública

porque, em primeiro lugar, é a Sociedade Humana Moderna e Contemporânea quem

causa os principais impactos destrutivos ao meio ambiente e, em segundo lugar,

porque é a sociedade humana, em geral, quem, também, sofre com as graves

conseqüências desses impactos que mostram seus efeitos imediatos e mediatos

sobre a fisiologia humana (MELLO, 1999).

Assim, costuma-se falar de problemas sócio-ambientais integrando as

questões e problemáticas sociais (ligadas ao desenvolvimento histórico, econômico

e político, incluindo os problemas urbanos e rurais modernos) aos problemas

ecológicos e ambientais. A questão ambiental se tornou tão importante e central

que passou a estar ligada a maior parte daquilo que se denominam as políticas

públicas sociais e de saúde, na maioria dos países do mundo, incluindo, o Brasil. À

questão ambiental se ligou o conceito de desenvolvimento sustentável que

pressupõe um desenvolvimento econômico de acordo com os limites e prescrições

das políticas públicas e sociais ambientais. Em termos de saúde pública o

1 Lei Federal de Proteção ao Meio Ambiente n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, alterada pela Lei nº 7804 de 18

de julho de 1989. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2004).

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desenvolvimento sustentável deve levar em conta os efeitos do desenvolvimento

econômico industrial sobre a saúde dos seres humanos, privilegiando esta última, ao

invés, do primeiro, contudo, sem que o desenvolvimento econômico se ache

prejudicado a tal ponto que acabe por causar outros tantos problemas sociais e de

saúde (FERREIRA, 1998).

Os problemas sociais estão diretamente ligados à forma como as relações

entre os protagonistas sociais são estabelecidas dentro da sociedade, implicando a

existência de classes sociais dominantes que, detendo os meios de produção

econômica, as instituições políticas e os meios de comunicação, determinam, como

resultado de sua ação, a existência de classes politicamente e economicamente

dominadas e, ainda, a existência de classes marginalizadas, que não encontram os

meios de sobrevivência na produção social vigente (FREIRE, 1999).

Já, os problemas ambientais, por sua vez, referem-se às destruições e aos

impactos degradadores imprimidos à natureza pela produção industrial e doméstica.

Os problemas sócio-ambientais correspondem, portanto, aos dois tipos de

problemas reunidos, ou seja, problemas gerados por um determinado modo de

produção "humano", e por uma sociedade que tem implicações, ao mesmo tempo

sociais e ambientais, fazendo surgir formas de marginalização sociais humanas e

degradações do meio ambiente (MELLO, 1999).

Sabe-se, principalmente a partir da crítica e da análise histórico-social, que

este tipo de problema é próprio das formações sociais modernas e contemporâneas.

Estas são resultados da Revolução Industrial e Científica promovida pelo Modo de

Produção Capitalista, a partir, principalmente, do século XVIII, mas, que se acentuou

e se universalizou, sobretudo, nos séculos XIX e XX, encontrando-se, atualmente,

em pleno processo de contínua expansão. Segundo os autores mais críticos que

abordam essa temática interdisciplinar, há mistificação ideológica em se afirmar ou

falar em "fator antrópico" que atribui ao "Homem" em geral a causa das degradações

ambientais e das desigualdades e marginalizações sociais. A mistificação alienadora

deve-se ao fato que, na história concretamente constituída, são grupos sociais

restritos que comandam a economia vigente e que usufruem os benefícios extraídos

à base do cerceamento e aniquilação da natureza e do espaço natural, cabendo a

uma grande parcela da população apenas o padecimento dos imensos prejuízos

econômicos, ecológicos e sociais que se acumulam na mesma medida em que se

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acumula capital e poder nas mãos dos, relativamente poucos, beneficiados

(FREIRE, 1999).

Um dos problemas principais é o acúmulo do lixo doméstico que, em

algumas metrópoles, tornaram-se um problema praticamente insolúvel como

montanhas de lixo se formando por toda parte. Uma das perspectivas do

ambientalismo e desenvolvimento sustentável para este problema é a reciclagem em

massa do lixo doméstico cujas matérias primas possam ser re-utilizadas. No último

capítulo, deste estudo é feito um resumo dos principais processos de seleção e

reciclagem do lixo doméstico.

Este processo originariamente econômico-político se repete na formação e

na re-organização de todas as metrópoles do Mundo Moderno e Contemporâneo,

sendo mais acentuado nos países do "terceiro mundo", pela falta de uma legislação

de proteção social e ambiental mais rigorosa e falta de infra-estrutura para fazer

cumprir a legislação existente (MELLO, 1999). Assim minha perspectiva como

profissional de saúde e que a educação e a saúde trabalhem juntos neste projeto

orientando os alunos sobre formas de reaproveitamento e o destino correto do lixo

visando a diminuição de doenças, melhorando a qualidade de vida da população

pois esta percepção da importância do cuidado do meio ambiente requer mudança

do comportamento da sociedade.

1.2. Problema da Pesquisa

O aparecimento de sérios problemas que são sociais e ambientais,

simultaneamente, ou sócio-ambientais, fez com que populações marginalizadas nos

grandes centros urbanos padeçam também de condições de saúde ambiental

degradantes, como água e ar poluídos, desmatamentos, deslizamentos de terra,

acúmulo de lixos, detritos e entulhos, etc., justificam trabalhos como este que

buscam dar fundamentação teórica a esta problemática interdisciplinar e divulgar

procedimentos e normas técnicas que se observadas contribuirão muito na

aplicação das políticas públicas ambientais, na manutenção de um desenvolvimento

sustentável e na melhoria da qualidade de vida e saúde de toda a população. Dentro

desta temática de saúde ambiental e pública é dado relevo ao problema dos

cuidados tomados com a destinação do lixo doméstico.

Dentro deste contexto eminentemente interdisciplinar este trabalho buscará

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responder ao seguinte problema:

• Quais as orientações sobre a destinação dada ao lixo são prescritas

pelas políticas públicas de saúde ambiental que vem sendo formuladas

e implementadas no Brasil?

Busca-se mostrar alguns dos programas de preservação e saúde ambiental

em função de um desenvolvimento sustentável e de uma melhoria da qualidade de

saúde e vida da população nacional.

Como questões específicas o estudo procura responder:

• Quais políticas públicas vêm sendo implantadas no Brasil em função da

preservação e da saúde ambientais?

• Qual a importância da educação sócio-ambiental para a melhoria da

qualidade de vida e saúde da população?

• Quais diretrizes e procedimentos principais de saúde ambiental vêm sendo

implantados no Brasil através de programas e políticas públicas e do apoio de

setores não governamentais e privados?

O presente estudo responde a estas questões abordando um aspecto

essencial da saúde individual e coletiva em qualquer época e lugar, isto é, a questão

do meio ambiente natural e social. Esta questão, simultaneamente, de saúde

humana e ambiental, tornou-se de extrema e vital importância na Sociedade

Moderna e Contemporânea. Ela só pode ser resolvida mediante políticas públicas

adequadas, sendo necessário que se saiba como elas estão sendo formuladas e

implantadas, bem como, deve-se saber como o ambiente e a saúde estão

estruturalmente interligados.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

• Realizar um levantamento bibliográfico sobre políticas públicas de saúde

ambientais em função da preservação e melhoria da qualidade da saúde da

população.

2.2. Objetivos Específicos

• Conhecer as políticas ambientais públicas nacionais atuais que orientam a

educação e as práticas de preservação e saúde ambientais e de

desenvolvimento sustentável;

• Apresentar políticas de orientações para o destino correto do lixo;

• Mostrar o papel relevante da educação sócio-ambiental para a melhoria da

qualidade de vida e saúde da população e

• Apresentar as diretrizes e os procedimentos principais de saúde ambiental

que vêm sendo implantados no Brasil através de leis, programas e políticas

públicas e do apoio de setores não governamentais e privados.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos da pesquisa

abordando a questão das políticas públicas e da participação social na elaboração

das mesmas, as relações entre saúde e ambientalismo e entre políticas de saúde e

política ambiental e, por fim, a abordagem da política pública ambiental expressa no

direito ambiental brasileiro e seus princípios norteadores.

3.1. Políticas Públicas e Participação

Definir políticas públicas não é muito simples, porque envolve fenômenos

complexos, como a auto-estima de um povo e respeito aos valores nacionais, visto a

idealização de uma Política Pública necessitar desta estreita ligação, pois, deve

estar vinculada a uma prévia pesquisa de opinião, voltada para os fatos sociais que

mais comprimem a população de uma nação ou mesmo de uma comunidade.

Para que se tenha um discernimento de Política Pública, se faz necessário

entender-se primeiro o que é Política.

A primeira idéia que se tem, é que Política está ligada a alguma forma de

mando, poder, sendo este, definido como capacidade de tomar decisões. Para

começar a compreender um tema tão complexo como Política é necessário trilhar

por uma série de termos ou expressões, como a forma, o interesse, o ato político, o

ato lícito, o agente capaz etc., que se inter-relacionam e culminam na produção de

atos e fatos, com vistas à resolução de conflitos de interesses. Porém, aqui se vai

apenas conceituar a política segundo alguns autores com o objetivo de se entender

o que sejam as políticas públicas (LUCCHESE, 2004).

Segundo Abranches, Santos e Coimbra (1997), política é conflito, oposição e

contradição de interesses. Também, poder, transformando-se, freqüentemente, em

um jogo desequilibrado, que torna mais fortes aqueles que já são poderosos e reduz

as chances dos mais fracos. Quem detém elementos eficazes de pressão tem maior

probabilidade de obter mais da ação do Estado do que aqueles dependentes dessa

própria ação para conseguir o mínimo indispensável à sua sobrevivência.

Convém definir também, objetivando-se estabelecer um maior

discernimento, apesar da complexidade e divergências de opiniões sobre tais temas,

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o Estado, mesmo que de forma parcial.

Portanto, recorre-se a Abad apud Freitas e Papa (2003, p.13), para o qual o

Estado é concebido como sendo “a expressão político-institucional por excelência

das relações dominantes de uma sociedade”. Ao mesmo tempo representa:

[...] um agente de articulação e de unificação entre as nações. Ambos os aspectos tanto a dominação como a articulação e a unificação, pressupõe a delegação dos mais altos níveis de autoridade e legitimidade ao Estado, no sentido de que este possa exercer a força necessária, seja mediante coerção, coação ou repressão, para garantir a reprodução dessa sociedade, ou seja, das relações de dominação vigentes. (ABAD apud FREITAS E PAPA 2003, p.13).

Sendo assim o Estado, como reprodutor das relações de dominação

constantes na sociedade, reproduz também as tensões advindas das contradições e

aos conflitos derivados das desigualdades, na distribuição de poder real entre os

atores sociais, associadas às diferenças de classe social, cultura política, região,

gênero, etnia e geração.

Nesse sentido, Abad em Freitas e Papa (2003) diz que:

[...] as mudanças nas desigualdades sociais, provenientes das mudanças nas relações de dominação entre atores sociais com diferentes níveis de poder, ocasionam, por sua vez, mudanças no aparelho político-institucional do estado, e não o contrário (ABAD apud FREITAS e PAPA, 2003, p.14).

Em outras palavras, a política possui grande influência no nosso cotidiano,

regendo as leis e o destino de uma sociedade. É a forma de organização do povo e

permeia toda a vida de uma sociedade. Tem haver com o poder, nasce de uma

relação que se estabelece entre as pessoas ou grupos de uma sociedade, e para

que ninguém exerça o domínio sem que se subordine ao outro, deve haver equilíbrio

na relação entre as pessoas. Em todos os contextos a política está presente e é

povoada por políticos e políticas.

Segundo Ferreira (1998), as políticas públicas envolvem ações políticas

exercidas pelos governos com o objetivo de satisfazer demandas, que lhes são

impostas pelos atores, e também a negociar apoios necessários a sua execução, de

forma a afastar a omissão do Estado, e dar sustentação, credibilidade àqueles que

detêm o poder, ressaltando-se que, por atores entendem-se aqui, todos os

elementos que envolvem a implementação de uma política pública.

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Podem-se definir Políticas Públicas como as ações com fins públicos de

acesso a toda população ou de maneira mais ampla, as políticas públicas podem ser

definidas como conjuntos de disposições, medidas e procedimentos que traduzem a

orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas

às tarefas de interesse público. São também definidas como todas as ações de

governo, divididas em atividades diretas de produção de serviços pelo próprio

Estado e em atividades de regulação de outros agentes econômicos (FERREIRA,

1998).

Porém uma mais completa definição encontra-se em Lucchese (2004 p.9):

Políticas Públicas, conjunto de disposições, medidas e procedimentos que traduzem

a orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais

relacionadas às tarefas de interesse público, atuando e influindo sobre a realidade

econômica, social e ambiental, variam de acordo com o grau de diversificação da

economia, com a natureza do regime social, com a visão que os governantes tem do

papel do Estado no conjunto da sociedade, e com o nível de atuação dos diferentes

grupos sociais (partidos, sindicatos, associações de classe e outras formas de

organização da sociedade).

Ferreira (1998) em Estado e Políticas Públicas Sociais refere-se às mesmas

no discernimento do Estado em ação, implantando um projeto de governo, através

de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade. Não deixa

de esclarecer que o Estado não pode ser reduzido à burocracia pública, aos

organismos estatais que conceberiam e programariam as políticas públicas. As

políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do Estado –

quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de

decisões que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da

sociedade relacionada à política implementada e afirma que essas não podem ser

reduzidas a políticas estatais.

As políticas sociais são as ações que determinam o padrão de proteção

social implementado pelo Estado, voltado, em princípio, para a redistribuição dos

benefícios sociais visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas

pelo desenvolvimento socioeconômico, originando-se dos movimentos populares do

século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no

desenvolvimento das primeiras revoluções industriais. Políticas Públicas é tudo

aquilo que o governo decide ou não fazer. Diante da realidade da democracia hoje, o

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papel das Políticas Públicas acaba sendo confundido com Políticas Governamentais

ou Partidárias sujeitas às mudanças de disputa do poder. Para James Anderson,

Políticas Públicas tem um papel mais amplo: É um curso de ação direcionado,

seguido por um ator ou vários atores em procedimento conduta comum problema ou

questão de interesse (LUCCHESE, 2004).

O objetivo "público" deve indicar tanto os destinatários como os autores da

política. Uma política é quando contempla os interesses públicos, isto é, da

coletividade, como realização desejada pela coletividade. Mas uma Política Pública

também deve ser expressão de um processo público, no sentido de abertura à

participação de todos os interessados, diretos e indiretos, para a manifestação clara

e transparente das posições em jogo (FERREIRA, 1998).

Sendo assim pode-se concluir que quem participa na construção das

verdadeiras Políticas Públicas, não é o indivíduo isolado, mas os diversos grupos

constituídos de atores das políticas públicas. Um indivíduo ou um grupo isolado

demandando ações é muito próximo do egoísmo, por mais nobres que sejam as

intenções. O mesmo vale para o povo, governos e para os poderes Legislativo e

Judiciário (MILLARÉ, 2005).

A participação dever ser entendida como fazer parte, tomar parte, ser parte

de um ato ou processo, de uma atividade pública, de ações coletivas, compreende

as múltiplas ações que diferentes forças sociais desenvolvem para influenciar as

políticas públicas e/ou serviços básicos na área social. Definem-se alguns tipos de

envolvimento participatório como: colaboração, participação, consulta e negociação.

Na colaboração: os grupos em questão têm direitos iguais de serem envolvidos na

formulação e realização de metas mútuas; na participação: os representantes de

grupos de interesse participam ativamente do processo de decisão política e tem

poder igual; na consulta: buscam informações, conselhos e opiniões em um

organismo consultivo, porém sem compromisso institucional de seguir tais conselhos

e opiniões, sendo a instituição a única responsável pelas decisões finais; e

finalmente a negociação, expressão traduzida pelo verdadeiro significado da

palavra, ou seja, quando não pode obter o que deseja, mas busca uma acomodação

com a outra parte (ABRANCHES, SANTOS E COIMBRA, 1997).

Segundo Lucchese (2004), há três tipos de participação das pessoas nos

programas de saúde: participação passiva que poderia ser descrita com a forma de

aceitar passivamente os programas e instituições do pessoal do ministério;

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participação ativa, aquela que não só aceita, mas toma parte das tarefas, mas que

responde a iniciativa de um agente externo seja este o Ministério da Saúde ou uma

organização não governamental; e a última, quando a própria comunidade toma

iniciativa, quando a comunidade planeja o programa de ação. O mais importante é

dizer que cada uma dessas modalidades implica em um processo de negociação,

diálogo e compromisso entre as partes.

Ferreira (1998) distingue a participação orientada para a decisão da

participação orientada para expressão. A primeira caracteriza-se por intervir, de

forma organizada, não episódica, fundamental e definidora e a segunda, de caráter

mais simbólico e voltado caracteriza-se por marcar presença na cena política ainda

que possa ter impacto ou influência no processo decisório. Para o autor não se trata

de valorizar uma ou outra dessas polaridades, mas de considerá-las quanto a sua

possibilidade de fortalecer e aprofundar a democracia, e as suas limitações para

efetivá-la.

Na incorporação deste novo paradigma a participação social é um dos

aspectos fundamentais para a promoção da saúde. Esta, a Promoção da Saúde, é

definida como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da

qualidade de vida, incluindo uma maior participação no controle deste processo.

Promover saúde “não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, vai além de um

estilo de vida saudável, na direção de um bem estar”. O Ministério da Saúde coloca

a saúde como o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal,

assim como uma importante dimensão da qualidade de vida, podendo ser favorecida

ou prejudicada por fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais,

comportamentais e biológicos (MENDES, 1996).

Costa (1999) diz que a participação social é o processo pelo qual as

diversas camadas sociais têm parte na produção, na gestão e no usufruto dos bens

de uma sociedade historicamente determinada. É um tema que está marcado por

ambigüidades que expressam as diferentes perspectivas com que se utiliza o termo,

por isso, está em constante discussão, principalmente, quando se trata dos rumos

técnicos e políticos. Vários são os conceitos de participação em saúde que

historicamente vêm evoluindo paralelamente às transformações das políticas e

sistemas de saúde.

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3.2. Política da Saúde: Desenvolvimento Social e Promoção à Saúde

A Constituição Federal de 1988 deu nova forma à saúde no Brasil,

estabelecendo-a como direito universal. A saúde passou a ser dever constitucional

de todas as esferas de governo sendo que antes era apenas da União e relativo ao

trabalhador segurado. O conceito de saúde foi ampliado e vinculado às políticas

sociais e econômicas. A assistência é concebida de forma integral (preventiva e

curativa). Definiu-se a gestão participativa como importante inovação, assim como

comando e fundos financeiros únicos para cada esfera de governo.

As Leis 8.080/90 e a 8.142/90 são singularmente relevantes para o novo

modelo, uma espécie de estatuto da saúde no Brasil. A Lei 8.080/90 sedimenta as

orientações constitucionais do Sistema Único de Saúde. A Lei 8.142/90 trata do

controle social, ou seja, do envolvimento da comunidade na condução das questões

da saúde criando as conferências e os conselhos de saúde em cada esfera de

governo como instâncias colegiadas orientadoras e deliberativas, respectivamente.

As conferências, instaladas de quatro em quatro anos, têm a participação de vários

segmentos sociais; nelas são definidas as diretrizes para a formulação da política de

saúde nas respectivas esferas de governo. A Lei 8.142/90 também define as

transferências de recursos financeiros diretamente de fundo a fundo sem a

necessidade de convênios, como por exemplo, as transferências diretas do Fundo

Nacional de Saúde para Fundos Estaduais e Municipais (MENDES, 1996).

Logo, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao adotar o

modelo de seguridade social para assegurar os direitos relativos à previdência,

saúde e assistência social, determina que a saúde é direito de todos e dever do

Estado. No Brasil, as políticas públicas de saúde orientam-se desde 1988, conforme

a Constituição Federal promulgada naquele ano, pelos princípios de universalidade

e eqüidade no acesso às ações e serviços e pelas diretrizes de descentralização da

gestão, de integralidade do atendimento e de participação da comunidade, na

organização de um sistema único de saúde no território nacional (FERREIRA, 1998).

Em síntese, no período pós-Constituição, as políticas de saúde no Brasil

vêm sendo formuladas no contexto de uma reforma setorial abrangente, que opera

mudanças institucionais de grande magnitude, ao tempo em que introduz novos

espaços de interlocução permanente entre Estado e sociedade na gestão pública.

As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado

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orientado para a melhoria das condições de saúde da população e dos ambientes

natural, social e do trabalho. Sua tarefa específica em relação às outras políticas

públicas da área social consiste em organizar as funções públicas governamentais

para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade

(COSTA, 1999).

Como já mencionado, no início deste texto, com as mudanças introduzidas a

partir do texto constitucional e da Lei Orgânica da Saúde (Leis 8.080 e 8.142) em

1990, as decisões em matéria de saúde pública passaram a envolver novos e

múltiplos atores, impondo modificações significativas no desenho e formulação das

políticas de saúde, com importantes inovações institucionais em termos da estrutura

e dinâmica do processo decisório. A nova concepção do sistema de saúde,

descentralizado e administrado democraticamente e com a participação da

sociedade organizada, prevê mudanças significativas nas relações de poder político

e na distribuição de responsabilidades entre o Estado e a sociedade, e entre os

distintos níveis de governo – nacional, estadual e municipal, cabendo aos gestores

setoriais papel fundamental na concretização dos princípios e diretrizes da reforma

sanitária brasileira (DALLARI apud CAMPOS, WERNECK e TOLON, 2001).

Nesta perspectiva, foram instituídos as Conferências de Saúde e os

Conselhos de Saúde em cada esfera de governo, como instâncias colegiadas para a

participação social na gestão do SUS; a Comissão Intergestores Tripartite na direção

nacional do Sistema Único de Saúde e as Comissões Intergestores Bipartites na

direção estadual; e fortaleceram-se os órgãos colegiados nacionais de

representação política dos gestores das ações e serviços nos estados e municípios,

o CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Estado de Saúde) e o

CONASEMS (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) (LUCCHESE,

2004).

Pode-se dizer, portanto, que os canais de participação dos gestores públicos

e da sociedade nas definições das políticas e da ação governamental setorial foram

ampliados, bem como, no Campo das políticas públicas, o setor saúde tem se

destacado pela efetiva proposta de mudanças, a partir do novo desenho de modelo

público de ofertas de serviços e ações, traduzidos nos instrumentos gerenciais,

técnicos e de democratização da gestão.

Portanto, a partir da promulgação da Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, que instituiu a Seguridade Social como o padrão de proteção

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social a ser institucionalizado no país, e, neste âmbito, a saúde como direito de

todos e dever do Estado, as políticas de saúde vêm sendo amplamente discutidas e

definidas com vistas ao reordenamento setorial necessário ao cumprimento dos

preceitos constitucionais (FERREIRA, 1998).

No mesmo sentido, Lucchese (2004) diz:

[...] a concepção ampliada de saúde adotada na Constituição e o entendimento de que a garantia desse direito exige do Estado políticas econômicas e sociais orientadas à redução de riscos de doenças e outros agravos, não apenas amplia o espectro das políticas públicas relacionadas à saúde como exigem dos formuladores das políticas de saúde a interlocução com outros setores. (LUCCHESE, 2004, p.11).

A autora acima referida afirma, ainda, que as políticas públicas setoriais e o

debate política estão predominantemente referidos, na história recente, ao processo

de reconfiguração das atividades governamentais relativas à saúde, particularmente

no que se refere à organização, implementação e financiamento do Sistema Único

de Saúde e às possibilidades e limites da efetivação dos princípios e diretrizes

constitucionais em toda a sua extensão.

A associação entre desenvolvimento social e promoção da saúde desloca,

portanto, o alvo da intervenção pública. As estratégias focalizadas apenas no perfil

da atenção médica são revistas e ampliadas na direção da melhoria da qualidade de

vida. Além disso, ganha destaque a perspectiva de empowerment ou

“empoderamento”, ou seja, a liberdade de participar em decisões políticas, o

fortalecimento das redes de apoio social e a reconfiguração das parcerias entre

agentes locais são combinadas às novas formas de gestão do ecossistema e das

condições de trabalho, educação e geração de renda (LUCCHESE, 2004).

Enfim, a construção histórica da promoção em saúde, no Brasil e no mundo

passa pela luta de muitos atores que não se restringem apenas aos profissionais da

saúde, mas educadores, políticos, população em geral; todos comprometidos em

transformar a realidade, em construir novos caminhos e possibilidades que permitam

ao homem melhores condições de vida, preceito máximo para a efetiva cidadania.

Ressalvando ainda aqui para encerrar este texto, que as políticas públicas se

materializam através da ação concreta de sujeitos sociais e de atividades

institucionais que as realizam em cada contexto e condicionam seus resultados. Por

isso, o acompanhamento dos processos pelos quais elas são implementadas e a

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avaliação de seu impacto sobre a situação existente deve ser permanente

(FERREIRA, 1998).

3.3. Política Ambiental: Relação Entre Saúde e Ambiente

Sintetizando-se o que até aqui foi exposto, é possível afirmar-se que a

política é o processo de disputa social pelo poder. No âmbito dessa disputa são

definidas e implementadas as políticas públicas, conceito utilizado para designar

exatamente as ações que por terem acumulado força na sociedade passam a

compor a agenda do poder público. Sendo que o Estado tem uma forte relação com

a própria construção do conceito de políticas públicas e elas, por sua vez, nos

diferentes períodos históricos se constituem em instrumentos de uma determinada

visão de desenvolvimento, se deve considerar que a ação do Estado frente à

sociedade, através das políticas públicas, é orientada por uma determinada

concepção de desenvolvimento e um modelo a ela associado (MENDES, 1996).

Nos últimos anos a discussão social em torno do paradigma do

desenvolvimento tem se caracterizado pelo questionamento da relação entre a

sociedade e natureza, mais concretamente, da relação entre os padrões de

produção e a utilização dos recursos naturais. No âmbito deste debate se forjou o

conceito do desenvolvimento sustentável. Esse novo paradigma provocou uma

redescoberta da questão ambiental em conseqüência das políticas ambientais

(LIMA, 1997).

Não é o caso aqui nem mesmo se teria a pretensão de aprofundar na vasta

e envolvente discussão sobre as teorias do desenvolvimento e o papel do Estado

nesse processo, mas, apenas para fins de mostrar a relação entre a emergência do

paradigma ambiental e das políticas públicas ambientais com a discussão mais

ampla do desenvolvimento, se fará uma breve retomada da trajetória do ideário do

desenvolvimento. A partir dos anos 80, toda a discussão internacional a respeito do

desenvolvimento é permeada pela temática ambiental (MELLO, 1999).

Perdemos a inocência. Hoje sabemos que nossa civilização e até mesmo a

vida em nosso planeta estarão condenadas, a menos que nos voltemos para o único

caminho viável, tanto para os ricos quanto para os pobres. Para isso, é preciso que

o Norte diminua seu consumo de recursos e o Sul escape da pobreza. O

desenvolvimento e o meio ambiente estão indissoluvelmente vinculados e devem ser

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tratados mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das utilizações do

crescimento. Três critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente:

eqüidade social, prudência ecológica e eficiência econômica. (SACHS, 1986).

Dessa forma toda a discussão atual sobre o ideário do desenvolvimento

passou a incorporar definitivamente a questão ambiental. Com força na agenda

política internacional o meio ambiente passa a se fazer presente nos discursos e nas

ações dos organismos internacionais e dos Estados Nacionais. Isso não significa

que nos períodos anteriores predominava a total ignorância sobre o tema e que

inexistissem políticas de Estado voltadas à regulação do uso e acesso aos recursos

naturais (LIMA, 1997).

De acordo com Sachs (1986), foi especialmente, a partir da década de 1970

que a preocupação com o meio ambiente resultou na elaboração e implementação

de políticas públicas de caráter marcadamente ambiental. Pode-se distinguir uma

tipologia das políticas ambientais, definindo-as como regulatórias, estruturadoras e

indutoras de comportamento. Há uma periodização do processo de elaboração e

implementação das políticas ambientais no Brasil que se pode relacionar a três

grandes períodos históricos: a) um primeiro período, de 1930 a 1971, marcado pela

construção de uma base de regulação dos usos dos recursos naturais; b) um

segundo período, de 1972 a 1987, em que a ação intervencionista do Estado chega

ao ápice, ao mesmo tempo em que aumenta a percepção de uma crise ecológica

global; e c) um terceiro período, de 1988 aos dias atuais, marcado pelos processos

de democratização e descentralização decisórias e de rápida disseminação da

noção de desenvolvimento sustentável.

Embasando-se na obra de Alonso e Costa (2002, p.46), deve-se considerar

que a bibliografia sobre políticas públicas e participação em deliberações que

envolvem questões ambientais nasceu da confluência entre ensaios sobre

desenvolvimento sustentável e corrente marxista das ciências sociais que se

‘ambientalizaram’ depois da redemocratização brasileira e da crise do socialismo

real. Esta literatura ‘socioambiental’ procura compatibilizar a perspectiva normativa

do desenvolvimento sustentável com a análise de processos demográficos,

socioeconômicos e político-institucionais. Seu objetivo é articular diagnósticos de

situações socioambientais com proposição de modelos de regulação e gestão

‘sustentáveis’ via políticas coercitivas regulatórias ou participativas de intervenção

estatal.

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Esses autores, também, afirmam que:

Predomina na literatura a crença de que alterações ambientais produzem efeitos objetivos sobre os grupos sociais. O balanço dos estudos de políticas públicas ambientais e sobre impactos socioambientais nos evidencia duas características comuns. De uma parte, seu pressuposto é de que o Estado teria autonomia institucional para antecipar, no plano legal, os conflitos ambientais. Todavia, diagnosticam tanto ineficácia estatal na área ambiental como o óbice de interesses econômicos e políticos à implementação das políticas públicas na área. “Assim, esta bibliografia falha em explicar as razões do descompasso entre uma das mais ‘avançadas’ legislações ambientais do mundo e a baixa efetividade das políticas ambientais”. (ALONSO e COSTA, 2002, p.48).

A formulação das políticas públicas ambientais na América Latina e Caribe

dos anos noventa está vinculada ao desenvolvimento do roteiro das chamadas

“reformas estruturais de Segunda Geração”. Estas novas políticas se adequaram ao

processo global de redefinição do papel do setor público em sociedades “marcadas

por graves problemas de desigualdade e exclusão social”.

Conforme Heller (1998) a relação entre saúde e ambiente, ao longo da

história da saúde pública brasileira, esteve aderida a preocupação com o

saneamento básico, com a área dos resíduos sólidos, industriais e domésticos, com

o saneamento rural e com os ambientes de trabalho e a saúde dos trabalhadores,

deixando para outros setores a preocupação com aspectos geofísicos (solos,

desmatamento e erosão, por exemplo). Tambellini (1998) prossegue, citando que da

mesma forma que a preocupação com o ambiente como elemento de interação com

o aparecimento de doenças, como fonte de agentes e vetores ligados à cadeia

natural de doenças infecciosas, sempre fortemente presente em seu foco de

redução ao ambiente como um dos elementos da tríade ecológica. (CEZAR-VAZ e

colaboradores, 2005).

Este achado remete aos conjuntos de relações contextuais, tradicionalmente

construída na sociedade, da formação geral dos profissionais da área da saúde, na

qual os conteúdos aprendidos pouco conduzem ao campo teórico e metodológico da

aplicabilidade de conhecimentos na relação saúde e ambiente, mesmo em nível da

atenção básica à saúde e, portanto, do sentido ampliado da saúde, como conceito

construído coletivamente6 no potencial da relação com o ambiente.

Para Cezar-Vaz e colaboradores (2005), importa afirmar ser necessário no

campo da saúde, a aproximação enquanto conceito e prática das categorias saúde e

ambiente, valorizando assim o ambiente como determinante/condicionante no

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processo saúde-doença humanos, assim como na área ambiental, a visualização

das alterações ambientais na saúde humana, contribuiria para ampliar a

preocupação com o impacto na vida humana do enfoque ambiental, superando a

valorização dos impactos ambientais somente sobre o meio físico.

Logo, Hannigan (1995) diz que a existência de problemas ambientais globais

é reconhecida em diferentes áreas, grupos sociais e de diferentes formas, os quais

se encontram relacionados com as mudanças climáticas, a diminuição da camada

de ozônio, como exemplo; associado o este cenário geral e abrangente entende-se

que os municípios e os bairros participam em maior ou menor escala da influência

nessas mudanças globais e nesses locais, inclui-se a vida cotidiana de cada

indivíduo e de cada grupo social, passando assim, de problema ou problemática

socioambiental global para particular e local. Entende-se que a maioria dos

problemas ambientais é de caráter local e repercutem diretamente na saúde e

qualidade de vida dos seres humanos.

Portanto, acredita-se na importância do desenvolvimento do presente estudo

proposto, o qual com certeza não só representará o requisito parcial de conclusão

do curso como também ampliará o discernimento de cada envolvido no

reconhecimento desses problemas de natureza local e potencial global no foco

socioambiental do trabalho na atenção básica à saúde.

3.3.1. Os problemas e a orientação das políticas ambientais

Os fatores causadores de problemas sócio-ambientais estão diretamente

ligados ao processo de constituição da sociedade moderna, industrial, científica e de

mercado que se prolonga na sociedade contemporânea.

Os problemas sociais aparecem na história humana em todas as sociedades

estratificadas, divididas em classes sociais com uma classe que domina a produção

e as relações sociais, causando resistência às tentativas de mudanças estruturais

por parte das classes ditas dominadas. Dificilmente, pode-se se falar de problemas

sociais nas sociedades indígenas ou tradicionais onde não há estratificação social,

econômica e política, nessas sociedades o modo de produção está adaptado ao

ambiente natural, faz parte do ecossistema, não se podendo falar, nesse caso, de

problemas ambientais (SOUZA, 2000).

Portanto, para que se compreenda a natureza da causalidade dos

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problemas ambientais e sociais é necessário que se enfoque as sociedades que, ao

mesmo tempo, são estratificadas e possuem um modo de produção que não entra

nos ciclos ecológicos da natureza, colocando esses ciclos, o espaço e os recursos

naturais em risco. Conforme Souza (2000), uma sociedade desse tipo é aquela que

veio se formando desde o Renascimento, definiu-se a partir da Revolução Industrial

e Científica, gerou as idéias liberais e iluministas e se consolidou com a Revolução

Francesa, no fim do século XVIII e durante todo o século XIX, tendo se expandido

por todo planeta transformado em um mesmo mundo, ou seja, a Sociedade

Capitalista Moderna que se tornou hegemônica e global na contemporaneidade. Os

efeitos extremos, como o aquecimento global resultado do efeito estufa e que pode

destruir toda vida no planeta em poucos séculos, são o desenvolvimento extremo de

uma economia de mercado que assola o planeta nos últimos dois séculos.

Na sociedade industrial capitalista, tanto no mundo dito “desenvolvido",

quanto naquele dito subdesenvolvido (caso brasileiro), segundo Lima (1997), são

vários os fatores que contribuem para o surgimento e agravamento dos problemas

ambientais, tais como: o crescimento populacional, a industrialização, a urbanização

acelerada, a poluição e o esgotamento dos recursos naturais, a ideologia do

consumismo desenfreado e da necessidade do lucro, etc. As formas como esses

fatores se encadeiam e se sobrepõem gera processos de degradação ambiental

crescente e de efeitos imprevisíveis ao meio ambiente planetário.

Mello (1999) afirma que é percebível por todos atualmente, a emergência de

uma série de problemáticas que estão ligadas ao processo de desenvolvimento

técnico-científico, de seus usos, de suas formações, conformações e transformações

no meio ambiente natural e cultural, em função do crescimento e manutenção dos

lucros privados. Este "mosaico" de problemáticas é designado em sentido amplo

como questões ambientais – que englobam as diversas dimensões da organização

planetária.

Nesse sentido, Lima (1997), afirma que não é possível se falar de “efeito

antrópico”, sem mais, para designar os impactos sócio-ambientais. Essa expressão

conceitual envolvendo o termo grego Antropus, designando o Homem ou a

Humanidade em geral, não distingue quem são os grupos restritos que detêm o

poder econômico e controlam o poder político e que estabelecem o modo e as

necessidades de sua produção, cujo objetivo é a apropriação privada dos lucros,

sendo estes os únicos que realmente lucram com a destruição da natureza e a

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marginalização social de grandes populações.

Portanto, não é o Ser Humano, em geral e nem o progresso humano,

enquanto tal, os responsáveis pelos graves e catastróficos problemas sócio-

ambientais existentes no mundo atual e que se agravam cada vez mais, há mais de

um século, incluindo-se aí, também, a maioria, senão todas, as espécies de guerras

hoje existentes. Para Lima (1997), os verdadeiros responsáveis e que lucram muito

com esse estado de coisas, são grupos econômicos que dominam a economia do

planeta e controlam as políticas dos estados. Estes últimos transformaram-se em

meros meios de viabilização e organização dos projetos dos protagonistas

econômicos. No Mundo Moderno o poder econômico suplanta e determina o poder

político.

De acordo com Souza (2000), a revolução industrial ocasionou o

desenvolvimento da cidade tal como se apresenta hoje. Ela passou a abrigar a

produção industrial e capitalista e ampliou as funções urbanas. A produção

capitalista, em função da concorrência que ela pressupõe, necessita continuamente

de revoluções tecnológicas na fabricação e na forma do produto, bem como, na

criação de novas e inesgotáveis necessidades, havendo assim um processo de

revolução permanente em todos os sentidos da vida social.

Bindê (1998), afirma que nas cidades e países europeus houve um processo

gradativo de introdução de novas tecnologias. Nelas, os capitais foram se

acumulando possibilitando o crescimento e a coexistência do capital industrial,

comercial e bancário, com as diferenciações decorrentes das especificidades de

cada uma delas.

Desse modo, formaram-se, desde o início do processo de constituição da

Sociedade Industrial Capitalista, uma divisão entre países central detentores de

grandes quantidades de capital e países periféricos que deveriam servir de

fornecedores de matéria-prima e de consumidores em relação aos primeiros.

Também, esses países periféricos, ou subdesenvolvidos, aos quais pertencem o

Brasil, servirão para que indústrias de alto risco ecológico possam se instalar,

quando não pode fazê-los nos países centrais devido às legislações e pesadas

multas ambientais. Assim, sendo assolado por um capitalismo, ainda, mais radical

do que aquele presente nos países centrais, os países periféricos se tornam o centro

de grandes devastações ecológicas e de graves e extensos problemas sociais como

a desigualdade extrema, a exclusão e a marginalização sociais.

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Prosseguindo com o embasamento em Bindé (1998), complementa-se o

contexto expondo que enquanto nos países centrais a modernização correspondeu

a um processo cumulativo e desempenhou um papel estimulante para quase todos

os setores da vida econômica, nos países periféricos o mesmo não ocorreu. Nesses

últimos, a modernização foi muito mais conseqüência de um apelo externo do que

do desenvolvimento da economia local, com resultados nem sempre positivos e, até

mesmos desastrosos, para a vida e condições sócio-econômicas e ambientais dos

países e cidades de outras regiões do mundo. As conseqüências do processo

forçadas de “modernização” fazem se sentir nas formas de ocupação territorial

urbana e na configuração das cidades.

No final do século XX uma grande revolução urbana estava acontecendo e

nos próximos 40 anos serão construídos equivalentes a 1000 cidades, cada uma de

3 milhões de habitantes. Segundo projeções, em 2005, isso Já aconteceu, metade

da população do mundo morará em cidades. Esse crescimento estará concentrado

nas grandes cidades, a maioria delas no hemisfério Sul, onde estão localizados os

países mais pobres do mundo. Com relação ao ambiente, representam desafios o

abastecimento de água, o saneamento básico, o transporte e a geração de energia,

entre outros temas. Ele defende a necessidade da emergência de uma cultura

urbana baseada na adoção de padrões de consumo sustentáveis e pelo

fortalecimento da solidariedade urbana (LIMA, 1997).

Muitos outros autores, que possuem uma clara consciência do processo de

marginalização social e depredação ambiental crescente que constitui a herança

social e histórica do capitalismo, utilizam a categoria de desenvolvimento sustentável

como um conceito operacional que deveria ser enraizado na práxis social,

especialmente, nos países do terceiro mundo. A noção de desenvolvimento

sustentável implica em um redirecionamento do modelo econômico e político.

No Brasil, o primeiro quarto do século XX assistiu a um grande crescimento

demográfico nas cidades. Esse crescimento foi possibilitado não apenas pelo êxodo

rural, mas, também pelo afluxo de imigrantes vindos, sobretudo, de países

europeus. O processo da vertiginosa urbanização, que teve impulso a partir de 1940,

empurrou para as cidades um contingente enorme de pessoas e famílias, sem que

houvesse estrutura urbana para isso, expondo o abismo que separa a maioria desse

contingente de uma condição básica de cidadania.

Lima (1997) cita que a população urbana em 1940 era de 26,3% do total,

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passou em 2000 para 81,2% do total do contingente populacional do país. Em 1940

a população que residia nas cidades em números absolutos, correspondia a 18,8

milhões de habitantes, enquanto que em 2000 esse contingente chega a 138

milhões de pessoas. Os grandes centros urbanos foram ocupados sem a necessária

adequação técnica e legal, sem acompanhamento dos órgãos oficiais e,

principalmente, sem os recursos necessários para prover habitação, equipamentos

urbanos e infra-estrutura básica.

Por outro lado, de acordo com colocação de Ferreira (1998), o agravamento

tanto dos problemas ambientais, quantos dos problemas sociais (como foi visto não

podem ser separados os dois tipos de problemas), com a determinação de sua

causalidade como econômica e política, fez com que a partir da década de 1980 se

passasse a cobrar cada vez mais dos governos a formulação de políticas públicas

ambientais capazes de criar legislação e promover a conscientização de toda a

sociedade sobre os perigos dos impactos devastadores causados sobre o equilíbrio

natural.

Na formulação dessas políticas ambientais foram colocadas em interação

equipes interdisciplinares formadas por ambientalistas, juristas, educadores,

profissionais de saúde, sociólogos, representantes de entidades da sociedade civil,

representantes do governo oficial, etc. Nesse movimento surgem as noções de

desenvolvimento sustentável e sustentabilidade que vieram se somar às noções já

conhecidas de impactos, conservação e resgates ambientais, impactos ambientais.

É nesse movimento que no Brasil foi formulada a Lei Federal de Proteção ao

Meio Ambiente n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 que buscou coibir e limitar toda a

forma de destruição do meio ambiente contemplando várias modalidades de

impactos ambientais desde o desmatamento até as poluições do ar e das águas que

põe a saúde humana imediatamente em risco (FERREIRA, 2004).

Ferreira (1998), afirma que analisando a problemática ambiental a partir da

formulação, implementação e gerenciamento de políticas públicas no mundo

contemporâneo encontra um paradoxo dominante que é fato que as necessidades

sociais de uma percepção conservadora da natureza emerge tendo como causa a

crise ambiental e seus riscos iminentes e que exigem a intervenção do poder

político-administrativo, este se torna cada vez menos capaz de assumir essa tarefa

pela extensão da sua causalidade e pelos fatores complexos que envolvem.

Categorias como globalização e mundialização tornam-se cada vez mais

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significativas para a qualificação da dinâmica político-decisória da vida cotidiana

onde surge consciência de que a reprodução da produção econômica humana

esbarra em limites ecossistêmicos.

A busca de sustentabilidade, através de alternativas políticas que levam em

conta a importância da participação local, se torna cada vez mais legítima dada à

situação global do equilíbrio ecológico. Assim, a subpolítica2 se torna de relevância

cada vez maior na medida mesma em que a sociedade se torna cada vez mais

complexa. Empresários movimentos sociais, sociedades científicas, sindicatos, etc.,

passam a tratar de questões ligadas às políticas públicas, geralmente, altamente

influenciadas por interesses privados dominantes, que eram formuladas e

implementadas pelo aparelho político-administrativo oficial.

Com a proliferação das situações de risco, a determinação dos danos a

serem compensados, dos culpados por sua ocorrência, e daqueles a quem tais

políticas de proteção deveriam se dirigir torna-se cada vez mais difícil de ser

efetivada. Dentro deste contexto, levantam-se as seguintes questões: qual seria o

melhor desenho institucional a ser implantado, qual papel o Estado deveria assumir?

Estaria ele sendo forçado a despedir-se completamente de suas tradicionais tarefas

de propor e implementar políticas diante do surgimento de tantos novos atores na

cena política contemporânea e de demandas sociais que desafiam seu modus

operandi convencional? (FERREIRA, 1998).

Respondendo as questões que ela própria coloca, a autora supracitada

afirma que "parece que somente a possibilidade de ação de diferentes atores sociais

não solucionaria a questão". O Estado deve continuar a exercer o papel principal

para que se torne possível a institucionalização das questões ambientais e para que

formulação, implementação e gerenciamento de políticas de sustentabilidade

obtenham sucesso. Em primeiro lugar não se pode pensar o Estado como uma

unidade e composto por um único tipo de tendência político social e ambiental. As

políticas públicas são resultantes da interação entre os atores coletivos e individuais,

que se relacionam de maneira estratégica a fim de fazerem valer e articular seus

diferentes interesses e percepções da realidade (FERREIRA, 1998, p.66).

Nas ações e proposições governamentais os motivos e as percepções dos

proponentes oficiais de políticas públicas devem ser resultantes das demandas de

2 - Termo com o qual a autora, na obra citada, designa políticas locais e não oficiais.

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uma rede de ações interdependentes. Modalidades alternativas de desenvolvimento

como o desenvolvimento sustentável, só se efetivam em regimes políticos

democráticos que garantam a criatividade e a gestão autônoma da sociedade.

Sendo o Estado o agente central na formulação das políticas públicas ambientais se

deve indagar em que direção às transformações na gestão pública deve ser levada a

cabo? (FERREIRA, 1998, p.117).

Para responder a estas questões, Ferreira, (1998), pesquisou o início da

política ambiental brasileira a partir dos anos 70, realizando estudos de caso em

municípios do Estado de São Paulo. Com os resultados de suas pesquisas, a autora

(op. cit.) releva a necessidade de o Estado abordar os problemas sociais de maneira

sistêmica e não fragmentada como vem ocorrendo com a gestão pública em geral

que não percebe o caráter interdisciplinar e multidimensional do problema.

Para tanto, Ferreira (1998), afirma que são necessárias duas das principais

mudanças na gestão pública, essenciais para que a sistematização interdisciplinar e

democrática das questões ambientais, transformadas em políticas públicas ocorra

com sucesso. Uma dessas mudanças é o tratamento sistêmico dos problemas

sociais e a outra a redefinição da relação Estado-Sociedade Civil, criando-se canais,

entre esses dois pólos, por meio dos quais as políticas públicas ambientais ganhem

o envolvimento de toda a população. Esta última deve ser integrada de modo ativo

na formulação e na implementação das políticas públicas ambientais. Além da

população em geral, todos os setores e categorias profissionais devem se integrar a

este movimento, especialmente, aqueles setores e categorias que estão diretamente

implicados nos problemas ambientais, este é o caso da área de saúde.

Na concepção de Ferreira (1998), não se trata somente de se estabelecer

uma legislação avançada, pois, que a legislação ambiental brasileira segue os

modelos mais avançados do mundo, porém, entre a lei e sua aplicação efetiva vai

uma distância muito grande, pois, os indivíduos e grupos sociais no Brasil, em geral,

ainda, não desenvolveram uma consciência ambiental necessária à grandeza do

problema colocado. Para que se possa entender o que se passa, deve-se ter em

consideração importantes elementos da formação social brasileira: hierarquia,

paternalismo, repressão e autoritarismo.

Essas categorias expressam, por um lado, um traço cultural negativo de

ignorar leis e regulamentos como forma de favorecer relações de parentesco e

amizade e de reforçar relações clientelistas e, por outro, relevam o burocratismo que

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foi dominante até mesmo no regime militar de 1964 a 1984. A este traço sócio-

cultural bloqueador se anela o traço político negativo trazido pelo advento da

tecnocracia após 1964 que passou a fazer prevalecer a concepção de que o

desenvolvimento econômico deve ser encarado como um objetivo prioritário ao

desenvolvimento social e político. Como não poderia deixar de ser, o aparato

político-administrativo que resulta da combinação dessas características é dos mais

perversos para uma gestão pública que se pretenda moderna e democrática.

Sintetizando-se então as idéias de Ferreira (1998), pode-se afirmar que as

políticas públicas nacionais estão entre um discurso avançado do qual participam

vários setores e categorias sociais importantes, incluindo o setor e os profissionais

da saúde e da educação, e por outro lado, na prática contínua a dominar um

comportamento social altamente predatório e inconseqüente. É certo que as

políticas públicas têm contribuído para o estabelecimento de um sistema de

proteção ambiental no país, porém, o poder público é impotente para fazer com que

os grandes causadores dos impactos ambientais, as indústrias e empreendimentos

industriais urbanos e rurais (fazendas de gado e extrativistas) não possam ser

limitados e punidos conforme mereciam sê-lo, pois, que a maioria, a céu aberto, ou

não, continua com suas práticas predatórias.

Contudo, como ela afirmava no início de seu livro é em nível local, setorial e

categorial, que envolve todos os segmentos e categorias profissionais da sociedade

que pode haver uma conscientização efetiva e um controle e aplicabilidade real das

leis ambientais, já em vigor desde 1981. Assim, setores chave como a saúde e

categorias chaves como os profissionais da saúde não podem estar fora da

discussão e da práxis ambientalista, mesmo porque os problemas ambientais são

mediata ou imediatamente, problemas de saúde de várias espécies diferentes, tanto

em nível orgânico, quanto psicológico e cultural.

3.4. Direito e Política Ambiental

O Direito Ambiental é uma ramificação recente do Direito que se surgiu

diante das preocupações causadas pela intervenção da economia humana na

natureza e que pode significar o fim da mesma, da espécie humana e das demais

espécies existentes no planeta. Assim, o Direito Ambiental visa controlar o próprio

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homem a fim de que ele não se vitime a si mesmo e leve todos os outros seres vivos

consigo (FERREIRA, 2004).

Criado a partir das necessidades prementes de equilíbrio ecológico e social,

o Direito Ambiental só pode ser efetivamente aplicado se, juntamente com as leis e

aparelhos jurídico-policiais, o senso comum se aperceba da necessidade vital de

compreender e seguir os princípios fundamentais dessa modalidade do direito.

Porque são estes princípios e normas que orientam a compreensão, aplicação e

integração da concepção jurídica ao contexto ecológico e social atual. O Direito

Ambiental está amparado por princípios próprios e inter-relacionados entre si, devido

à relevância e grandeza de seu objeto de proteção: o meio ambiente. A seguir

relatam-se os principais princípios do direito ambiental, conforme Seguin (2002) e

Ferreira (2004).

3.4.1. Princípio da supremacia e indisponibilidade do interesse público

Seguin (2002), diz que é preciso a consciência generalizada de que o meio

ambiente, e tudo o que nele vive, é inseparável da saúde da vida humana. O ser

humano e o ambiente natural convivem em uma profunda dependência e ajuda

recíproca. O ser humano, a partir de sua capacidade de adaptação, de seu instinto

de sobrevivência, de seus interesses, necessidades e caprichos, modifica e degrada

o meio ambiente. Contudo, não se pode admitir que a vontade de indivíduos e

grupos específicos degrade e destrua as condições de vida de toda a coletividade

humana.

Assim, a Constituição Federal do Brasil de 1988, afirma que:

Art. 22 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações.

Mais adiante, a Constituição vai restringir a atuação do homem

estabelecendo parâmetros para seu desenvolvimento, afirmando que a ordem

econômica que se baseia no trabalho e na livre iniciativa tem que garantir a toda

existência digna, segundo se pode entender pelo conceito de justiça social e se

observando o princípio da defesa do meio ambiente (art.170). Assim, a defesa do

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meio ambiente, intrínseco interesse público, é ao mesmo tempo direito e obrigação

da coletividade e o Estado, por sua vez, não pode se omitir de tal obrigação

(SEGUIN, 2002).

3.4.2. Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal, da proteção e educação

ambiental

Este princípio se encontra definido no art. 225 da Constituição Federal do

Brasil de 1988, releva o caráter público da necessidade de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, enquadrando as normas ambientais como de ordem

pública que devem ser observadas obrigatoriamente por todos, Poder Público e

sociedade.

No art. 2º da Lei Federal de Proteção ao Meio Ambiente n. 6.938/81, já

referida, fica estabelecido que “o Poder Público deve ter uma Política Nacional do

Meio Ambiente justamente para direcionar e organizar essa sua função obrigatória

de proteger a natureza, assegurando condições ao desenvolvimento sócio-

econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida

humana” (BRASIL, 2004).

Fica, portanto, vedada à Administração Pública a omissão de adotar

medidas legais em função de proteger o meio ambiente, sob pena de

responsabilidade civil por omissão e criminal por prevaricação. Um dos modos

definidos em lei de intervenção do Poder Público é através da educação ambiental

(art. 225 da Constituição Federal do Brasil de 1988). Com a educação ambiental o

Poder Público, em todos os níveis de ensino, poderá informar como o meio ambiente

pode ser utilizado sem que haja sua degradação irreversível, quais os habitats que

nunca poderão ser alvos da atividade humana, os modos de preservação da

natureza, conscientizando a sociedade para a preservação do meio ambiente

(SEGUIN, 2002).

3.4.3. Princípio da participação, da cooperação nacional e internacional

Se a proteção do ambiente é um interesse público e a amplitude do dano

ambiental é incalculável, torna-se imprescindível a cooperação entre todos aqueles

que, direta e indiretamente, estejam envolvidos no objeto a ser preservado, ou seja:

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todas as esferas do governo nacional, a sociedade, organizações internacionais e

Estados estrangeiros, em última instância todos os seres humanos.

Sendo o direito a um meio ambiente sadio, obrigação também, da sociedade

civil, esta tem inúmeras formas de defender seus interesses. Para Ferreira (2004), a

participação, exercício efetivo da cidadania, é prevista em lei e nas políticas públicas

nacionais através de audiências públicas, controle jurisdicional, medidas judiciais,

etc. Tanto os indivíduos e grupos devem participar na defesa do meio ambiente,

quanto as autoridades públicas, conforme suas competências e atribuições,

cooperando para que a preservação ambiental seja uma realidade no âmbito

nacional e internacional.

3.4.4. Princípio da prevenção ou precaução e da obrigatoriedade da avaliação prévia

em obras potencialmente danosas ao meio ambiente

Em razão da irreversibilidade de alguns danos ambientais deve haver uma

determinação em fazer com que esses tipos de danos não venham a ocorrer.

Portanto, é imprescindível haver prevenção ambiental em função de prevenir os

danos irreparáveis.

No Artigo 225, §1º, IV da Constituição Federal do Brasil de 1988, afirma-se

que:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser

amplamente observado pelos Estados, de acordo com as suas necessidades, assim,

quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta

certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas

eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Fundado sobre o princípio da precaução, o princípio da obrigatoriedade da

avaliação prévia em obras potencialmente danosas ao meio ambiente surgiu com o

objetivo de limitar as obras que degradam o meio ambiente, sendo a efetivação

daqueles empreendimentos essenciais para o desenvolvimento econômico e social

da coletividade e que não comprometam demasiadamente o meio ambiente, seja

por ter menor impacto ambiental ou porque o empreendedor irá adotar medidas que

irão compensar tal degradação (SEGUIN, 2002).

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3.4.5. Princípios da publicidade e da notificação

O meio ambiente é um bem de uso comum e de interesse público, assim,

aquilo que é formulado e implementado pelo Poder Público, em função da proteção

do meio ambiente, terá que ser comunicado e debatido com amplos setores da

sociedade civil envolvido no caso específico. O princípio da notificação afirma que

tendo ocorrido um dano ambiental, o responsável, seja público ou privado, deve

avisar a comunidade e as autoridades.

3.4.6. Princípio da responsabilidade, do poluidor-pagador, compensação e

reparabilidade do dano ambiental

O Art.225, §3º da Constituição Federal do Brasil de 1988 diz que “as

condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penal e administrativa,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. A

responsabilidade pelo dano ambiental foi regulada pela Lei 9.605/98, que trata dos

crimes ambientais, bem como pela Lei 6.938/81, que trata da responsabilidade

objetiva do degradador.

Porém seria inócuo tal princípio se somente definisse o responsável pela

conduta sem penalizá-lo. Assim, o princípio reparabilidade é corolário do princípio da

responsabilidade. Exemplo do princípio da reparabilidade pode-se citar o art. 4º, VII,

da Lei 6.938/85 que obriga ao poluidor e ao predador a obrigação de recuperar e/ou

indenizar os danos causados, surgindo então o princípio do poluidor-pagador, na

qual se defende que independente de culpa ou dolo, o poluidor é obrigado a

indenizar e reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por

sua atividade, arcar com os custos diretos e indiretos de medidas preventivas e de

controle da poluição (SEGUIN, 1998).

Apesar de não estar diretamente expresso na legislação, o princípio da

compensação provém da necessidade de se achar uma forma de reparação do dano

ambiental, principalmente, quando irreversível.

Procura-se amenizar os danos causados ao meio ambiente com medidas

que possam contrabalançar tal dano com ações positivas de preservação, por

exemplo: o aterro irreversível de uma lagoa onde há vida selvagem pode ser

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compensado com medidas de proteção efetiva em um lugar similar, ou mesmo a

restauração de uma outra lagoa próxima ou, segundo o art. 8º, da Lei 6.938/81,

compete ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), entre outras coisas,

homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na

obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental (BRASIL,

2004).

3.4.7. Princípio da função socioambiental da propriedade, do desenvolvimento

sustentável

Na Constituição Federal de 1988 a propriedade passa a ser objeto de uma

percepção que condiciona seu uso ao bem-estar social, conforme os arts. 5º, XXIII,

170, III e 186, II. Assim, para o Direito Ambiental, a propriedade só pode ser usada

se respeitada sua função sócio-ambiental. Porém, este uso pode ser degradante

mesmo que possua semelhanças com os interesses humanos e sociais atuais.

Porque o meio ambiente é um bem indisponível e de uso comum, não sendo

propriedade de ninguém, mas, pertence à sociedade como um todo. Portanto, não

pode a sociedade contemporânea privar as gerações futuras de um bem

indispensável à vida humana e, principalmente, impor ao mundo um fim que poderia

ser prevenido (FERREIRA, 2004).

Segundo Seguin (2002), os princípios do Direito Ambiental são cada vez

mais compreendidos pela percepção do senso comum cotidiano e, assim vai

aumentando sua aplicabilidade na realidade sócio-natural. Tem sido muita, segundo

a autora, as demonstrações desse grande avanço, por exemplo: o zoneamento

ambiental; o licenciamento; os incentivos à produção; as unidades de conservação;

o sistema de informação do meio ambiente; o cadastro técnico federal de atividades

e instrumentos de defesa ambiental; as penalidades disciplinares ou

compensatórias necessárias à preservação do ambiente.

O Relatório de Qualidade do Meio Ambiente anual divulgado pelo IBAMA; a

prestação de informações; o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente

poluidoras e/ou utilizadora dos recursos naturais; as penalidades administrativas

sofridas pelo degradador como multas, perda ou restrição de incentivos e benefícios

fiscais concedidos pelo Poder Público e suspensão de atividades e a

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obrigatoriedade do estudo prévio de impacto ambiental para a concessão de

licenciamento (BRASIL, 1999).

Enfim, sabe-se que há ainda muito que fazer para que os princípios do

Direito Ambiental estejam inseridos no mundo prático efetivo como condição

essencial para a realização de qualquer empreendimento de caráter ambiental ou

que vá interferir de alguma forma no meio ambiente (SEGUIN, 2002).

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4. MARCO TEÓRICO: PEDAGOGIA SOCIAL E EDUCAÇÃO

AMBIENTAL EM PAULO FREIRE

A escolha de Paulo Freire como referencial teórico se deveu à importância

deste filósofo educador sob três prismas principais: 1) qualquer política e práxis de

saúde ambiental e, igualmente, de saúde preventiva, necessita de um referencial

pedagógico adequado porque o aspecto educacional é fundamental em ambos os

casos; 2) Após ter proposto uma pedagogia social libertadora através de sua obra “A

Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire se dirige na década de 90 em diante, aos

problemas de educação ambiental, passando a uma visão sócio-ambiental de seu

modelo pedagógico e, portanto, está plenamente no tema de políticas ambientais e

de saúde pública e 3) O modelo crítico histórico, social e político presentes nas

abordagens de Paulo Freire, sempre visando a uma democratização cada vez maior

e a participação popular ativa, tanto na elaboração, quanto na aplicação das

políticas públicas educacionais, ambientais e de saúde.

4.1. Dados Biográficos de Paulo Freire

Paulo Reglus Neves Freire, mais conhecido como Paulo Freire, nasceu em

19 de setembro de 1921, em Recife Pernambuco. Aprendeu a ler e a escrever com

sua mãe e gostava de escrever usando gravetos à sombra dos manguezais do

quintal da casa onde nasceu.

Aos 10 anos de idade foi morar nas vizinhanças da capital pernambucana,

em Jaboatão, uma cidadezinha a 18 quilômetros de distância de Recife. Foi nessa

idade que ele experimentou a dor pela morte do pai. Conheceu profundamente o

sofrimento ao ver sua mãe, precocemente viúva, lutando para sustentar a si e aos

seus quatro filhos. Porém, também, conheceu o prazer de ver a solidariedade de

amigos e conhecidos que foram solidários naqueles tempos difíceis (GADOTTI,

2001).

Paulo Freire concluiu a escola primária em Jaboatão, sendo que em

seguida, fez o primeiro ano colegial no Colégio 14 de Julho, no Bairro São José, que

era uma extensão do Colégio Francês Chateaubriand, situado na Rua da Harmonia,

150 Casa Amarela, sendo o lugar em que se realizavam os exames finais.

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Seguindo as instruções do professor de matemático Luiz Soares, ao final do

seu primeiro ano de estudos secundários, ingressou no Colégio Oswaldo Cruz em

Recife. Aos 22 anos ingressou na secular Faculdade de Direito do Recife, após ter

concluído os sete anos dos estudos jurídicos no Colégio Cruz e Souza. Esta opção

pelo direito se deveu ao fato que não havia formação para o educador, ou seja,

pedagogia, em Pernambuco (PELANDRÉ, 2002).

Porém, Paulo Freire declara que estava feliz com seu título de advogado e

que continuou a viver sua vida com fé, com humildade e alegria contida e muito

desejo de ver a sociedade se transformar, pensando que deveria haver educação,

prosperidade, saúde e direito para todos e não apenas para uma minoria.

Desperta, com seriedade e desejo de transformação, o revolucionário que

existe em Paulo Freire, mas, que faz revolução usando meios pacíficos, praticáveis

por todos, com baixo custo e, melhor, que não tem a necessidade de sacrificar vidas

humanas, relevando a dignidade e o respeito humano, libertando as pessoas dos

preconceitos e dos rancores discriminatórios (GADOTTI, 2001).

Paulo Freire desde o início de sua carreira como educador se ligou à arte-

educação sendo um dos seus grandes criadores porque a arte educação em Paulo

Freire, diferente dos autores norte-americanos e outros estão ligada à formação

político-social de cidadania. Para ele não é possível definir uma teoria da educação

sem primeiro definir uma teoria do ser humano. Sendo assim, também não é

possível educar sem uma antropologia, isto é, sem o conhecimento do contexto

cultural do qual provém o estudante e, também, do contexto do qual provém o

professor.

4.2. Ecopedagogia

Paulo Freire critica a pedagogia tradicional por ela apresentar conteúdos

separados da realidade social e histórica que lhes deu origem, apresentando um

saber fragmentado, morto, descontextualizado de suas relações reais. Ele denomina

esta forma de educação de “educação bancária” aonde o professor vai depositando

um acervo de conteúdos fragmentados e descontextualizados no interior dos alunos.

O objetivo principal desta educação, embora a maioria dos educadores sejam

inconscientes disto, é esconder as lutas que dilaceram o seio da sociedade, é

apresentar as coisas como se elas fossem os resultados de um processo natural ou

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divino, onde a situação dos oprimidos é vista como um destino pessoal. Nesta

educação o educador aliena, ou seja, ilude a ignorância, ao invés de esclarecê-la.

O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca (FREIRE, 1983, P.67).

O redirecionamento do pensamento filosófico e pedagógico de Paulo Freire,

a eco-pedagogia, percebe as ações na área de educação em saúde como uma

estratégia adequada na construção das possibilidades de enfrentamento dos

problemas sócio-ambientais. Estas ações ocorrem em vários níveis e grupos sociais,

como famílias, comunidades e grupos específicos, entre outros, contribuindo assim

para o processo de promoção à saúde, bem como, podem servir como meio pra se

veicular a educação ambiental e social, ou seja, uma formação de cidadania

integrada.

Pode-se refletir sobre o papel da enfermagem na educação em saúde e,

ambientalismo porque estão intimamente ligados, bem como, a formação social e

política necessária para que um profissional da saúde, também, possa desenvolver

atividades educativas com o intuito de responder a desafios, provocar mudanças e

promover o desenvolvimento de uma consciência crítica para o exercício da

cidadania (FREIRE, 1996).

Mas é importante entender a educação em saúde como um processo

contínuo, em que o sujeito age sobre o objeto, assimilando-o e esta ação

assimiladora transforma o objeto. A educação é colocada como um instrumento para

sensibilizar o ser humano dessa capacidade de transformar, de sua importância na

participação no processo da realidade, a educação existe como prática de libertação

(FREIRE, 1999).

Nesta carta da eco-pedagogia se afirma que a Mãe Terra é um organismo

vivo e em evolução. O que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. Ela

requer de nós uma consciência e uma cidadania planetárias, isto é, o

reconhecimento de que somos parte da Terra e de que podemos perecer com a sua

destruição ou podemos viver com ela em harmonia, participando do seu devir

(FREIRE, 1996).

A mudança do paradigma economicista é condição necessária para

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estabelecer um desenvolvimento com justiça e eqüidade. Para ser sustentável, o

desenvolvimento precisa ser economicamente factível, ecologicamente apropriado,

socialmente justo, includente, culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem

discriminação. O bem-estar não pode ser só social; deve ser também sócio-cósmico.

A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem

também de uma consciência ecológica e da educação. A sustentatibilidade deve ser

um princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos

sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos da escola. Os objetivos e

conteúdos curriculares devem ser significativos para o (a) educando (a) e também

para a saúde do planeta (GADOTI, 2001).

A ecopedagogia, fundada na consciência de que pertencemos a uma única

comunidade da vida, desenvolve a solidariedade e a cidadania planetárias. A

cidadania planetária supõe o reconhecimento e a prática da planetaridade, isto é,

tratar o planeta como um ser vivo e inteligente. A planetaridade deve levar-nos a

sentir e viver nossa cotidianidade em conexão com o universo e em relação

harmônica consigo, com os outros seres do planeta e com a natureza, considerando

seus elementos e dinâmica. Trata-se de uma opção de vida por uma relação

saudável e equilibrada com o contexto, consigo mesmo, com os outros, com o

ambiente mais próximo e com os demais ambientes (FREIRE, 1996).

A partir da problemática ambiental vivida cotidianamente pelas pessoas nos

grupos e espaços de convivência e na busca humana da felicidade, processa-se a

consciência ecológica e opera-se a mudança de mentalidade. A vida cotidiana é o

lugar do sentido da pedagogia, pois a condição humana passa inexoravelmente por

ela. A ecopedagogia implica numa mudança radical de mentalidade em relação à

qualidade de vida e ao meio ambiente, que está diretamente ligada ao tipo de

convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza

(FREIRE, 1996).

A ecopedagogia não se dirige apenas aos educadores, mas a todos os

cidadãos do planeta. Ela está ligada ao projeto utópico de mudança nas relações

humanas, sociais e ambientais, promovendo a educação sustentável (ecoeducação)

e ambiental com base no pensamento crítico e inovador, em seu modo formal, não

formal e informal, tendo como propósito a formação de cidadãos com consciência

local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das

nações (FREIRE, 1996).

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As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas

pedagogicamente a partir da vida cotidiana, da subjetividade, isto é, a partir das

necessidades e interesses das pessoas. Educar para a cidadania planetária supõe o

desenvolvimento de novas capacidades, tais como: sentir, intuir, vibrar

emocionalmente; imaginar, inventar, criar e recriar; relacionar e interconectar-se,

auto-organizar-se; informar-se, comunicar-se, expressar-se; localizar, processar e

utilizar a imensa informação da aldeia global; buscar causas e prever

conseqüências; criticar, avaliar, sistematizar e tomar decisões. Essas capacidades

devem levar as pessoas a pensar e agir processualmente, em totalidade e

transdisciplinarmente (GADOTI, 2001).

A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é,

desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio

ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da

água e do ar, etc. para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do

planeta e reverter a cultura do descartável. Experiências cotidianas aparentemente

insignificantes, como uma corrente de ar, um sopro de respiração, a água da manhã

na face, fundamentam as relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de

consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma

tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de um eco formação para

recuperar a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o

mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a

relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso (FREIRE, 1996).

Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção

de uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da

convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A cultura

da sustentabilidade deve nos levar, a saber, selecionar o que é realmente

sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros. Só assim seremos

cúmplices nos processos de promoção da vida e caminharemos com sentido.

Caminhar com sentido significa dar sentido ao que fazemos, compartilhar sentidos,

impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana e compreender o sem sentido de

muitas outras práticas que aberta ou solapadamente tratam de impor-se e sobrepor-

se a nossas vidas cotidianamente (FREIRE, 1999).

A ecopedagogia propõe uma nova forma de governabilidade diante da

ingovernabilidade do gigantismo dos sistemas de ensino, propondo a

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descentralização e uma racionalidade baseadas na ação comunicativa, na gestão

democrática, na autonomia, na participação, na ética e na diversidade cultural.

Entendida dessa forma, a ecopedagogia se apresenta como uma nova pedagogia

dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, políticos e

ambientais – e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da

sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de

reverência diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra

(GADOTTI, 2001).

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5. PROCESSO METODOLÓGICO

Este trabalho é de natureza bibliográfica, descritiva e qualitativa porque

respectivamente se serve da literatura especializada para suas abordagens,

descreve a situação problemática e busca trazer novos conhecimentos humanos e

sócio-ambientais para área da enfermagem.

Apesar de ser de natureza bibliográfica, este trabalho pode ser considerado,

segundo alguns autores, como um estudo de caso que busca entender um

determinado fenômeno social. Neste caso a questão das políticas ambientais e suas

implicações para a saúde, são abordadas a partir da visão da pedagogia social de

Paulo Freire que forma o embasamento teórico e metodológico desta pesquisa (GIL,

1999).

De acordo com Gil (2002, p. 54), um estudo de caso “consiste no estudo

profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e

detalhado conhecimento”.

Conforme Gil (1999), os estudos bibliográficos têm como alvo principal a

descrição de determinadas características de uma dada população, fenômeno ou

inter-relacionamento de variáveis. Estas pesquisas são as mais comuns entre

pesquisadores que pretendem trazer subsídios teóricos e reflexivos para o

entendimento de problemas sociais complexos.

Embora nesse trabalho a intenção fosse aplicar o mais exaustivamente

possível este princípio de Gil (2002), ela tem um caráter inicial, limitado, trata-se de

recolher informações e tentar deduzir, a partir do embasamento teórico, refletir sobre

as tendências mais relevantes atualmente em termos de ambientalismo e saúde,

levantando problemas pertinentes sobre o assunto, podendo vir a servir a pesquisas

posteriores.

O relatório analisa os dados obtidos da literatura através das formulações

teóricas e das abordagens ambientalistas, em especial aquelas que se fundam

sobre as teorias de Paulo Freire de pedagogia social cujos princípios podem ser

transferidos para a educação em saúde ambiental e desenvolvimento sustentável.

Para a realização da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma leitura seletiva,

que de acordo com Gil (2002), tem a finalidade de determinar de fato o que interessa

ao estudo, em decorrência do propósito do pesquisador. Neste sentido, o trabalho

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seletivo apresenta: leitura integral da obra a fim de se ter uma visão do todo;

identificação das idéias-chaves; organização da idéias seguindo a ordem de

importância e finalmente a sintetização das idéias.

5.1. Espaço da Pesquisa

A pesquisa foi realizada a partir de pesquisa bibliográfica da “Política de

saúde ambiental” através de autores como Seguin (2002), sobre direito ambiental,

Freire (1999), que escreve sobre eco-pedagogia e formação de cidadania ativa,

Gadotti (2001), um admirador e seguidor de Paulo Freire, o Manual de Vigilância da

Saúde do CONASS do Ministério da Saúde, Castells (1983), Ferreira (1988), Lima

(1997), Mello (1999) sobre sustentabilidade e educação de saúde ambiental que

resgatam a evolução histórica e as perspectivas abordando o enfoque na saúde,

sendo as obras escolhidas de maneira intencional, pois o material interessou à

pesquisa.

5.2. Estrutura da Pesquisa

Esta pesquisa está estruturada segundo a seguinte ordem:

• Capítulo 1: de introdução, trazendo tema, justificativa, problema e objetivos;

• Capítulo 2: de revisão da literatura abordando autores especializados em

políticas públicas, sócio-ambientalismo e saúde ambiental,

• Capítulo 3: abordando a teoria de educação sócio-ambiental de Paulo Freire e

processo metodológico da pesquisa;

• Capítulo 4: resultado e análise metodológica, considerações finais e

referências bibliográficas.

5.3. Registro e Coleta de Dados

Os dados obtidos a partir da leitura foram anotados em apontamentos, que

têm a finalidade de registrar idéias, hipóteses, etc. As fichas de leitura para Gil

(2002), objetivam a identificação das obras consultadas; registro do conteúdo das

obras; registro dos comentários acerca das obras e por fim, ordenação dos registros.

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5.4. Análise dos Dados

O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação em que os

resultados brutos serão tratados de maneira a serem significativos e válidos,

permitindo ao pesquisador a realização de inferências e interpretações (MINAYO,

1996), foram apresentados no resultado e análise metodológica.

5.5. Aspectos Éticos da Pesquisa

O referido estudo não envolveu seres humanos, pois foi extraído de dados

secundários, contudo, ele foi fundamentado nas Normas e Diretrizes da Pesquisa

com Seres Humanos conforme a Resolução 196/96 – CNS/MS (BRASIL, 1996).

Neste sentido, foi mantida a fidedignidade dos dados levantados através da

transcrição rigorosa dos dados obtidos através das publicações pesquisadas

escolhidos intencionalmente. O relatório de estudo bibliográfico requer uma

explicitação ética para retratar os avanços possíveis dos conhecimentos e novos

ações a partir dele. Entende-se ser essencial, o compromisso moral e ético ao

relatar com fidedignidade das referências que são trabalhadas. Para isto o

enfermeiro precisa ter conhecimento sobre o Código de Ética dos Profissionais, que

de acordo com Souza (2000, p. 36), conforme o artigo 2, capítulo 18: “o enfermeiro é

responsável por manter-se atualizado, ampliando seus conhecimentos técnicos

científicos e culturais, em benefício do cliente, coletividade e da profissão”.

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6. RESULTADO E ANÁLISE METODOLÓGICA

A escolha do tema Política de Saúde Ambiental: evolução e Perspectiva foi

escolhida porque este tema pareceu compor um elo importante na temática

interdisciplinar mantida ate aqui entre saúde, Educação e ambientalismo. Assim

como foi visto na apresentação da literatura especializadas as políticas públicas de

saúde passaram a se entrecruzaram e interagir com as políticas de resgate e

preservação ambientais e de desenvolvimento sustentável. Dentro desta interação

entre saúde pública e ambientalismo foi escolhido como objeto de estudo os

procedimentos que vem sendo sugeridos e normatizados em relação à destinação

do lixo doméstico que incluem a seleção e a reciclagem.

A reciclagem é uma das perspectivas tecnológicas mais promissoras para a

preservação e o resgate ambientais e para a implantação de um desenvolvimento

econômico sustentável. Ela será estudada aqui sucintamente dentro dos

procedimentos que vem sendo sugeridos e normatizados pelas políticas públicas de

saúde e do meio ambiente.

6.1. Apresentação dos Resultados: Destinação do Lixo

Logo depois dos problemas de água potável e do destino dos dejetos, o lixo

doméstico é uma das maiores preocupações de ordem sanitária e ambiental do

Prefeito de qualquer cidade brasileira. Na zona rural, ainda, é pior, pois nem coleta

domiciliar acontece, e o desconhecimento dos problemas sanitários e ambientais daí

resultantes, é bem maior, pelo descaso das autoridades locais (BARBOSA, 2008).

Foi citado na Agenda 21 Global, em junho de 1992, sediada no Rio de

Janeiro, em documento assinado por 170 países, que não menos de 5,2 milhões de

pessoas, entre elas 4 milhões de crianças menores de 5 anos, morrem a cada ano

devido a enfermidades relacionadas com o lixo. Os resultados para a saúde são

especialmente graves no caso da população mais pobre (SILVA, 2007).

Dados da Associação Brasileira de limpeza indicam que 76% dos detritos

produzidos no país são jogados em lixões e outros 13% nos chamados “aterros

controlados”, que são locais onde o lixo é somente confinado, sem técnicas básicas

de Engenharia para proteger o Meio Ambiente. Apenas 10% do total coletado são

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colocados em aterros sanitários. Isso significa que cerca de 90% do lixo produzido

no Brasil são depositados a céu aberto, sem qualquer cuidado ambiental

(BARBOSA, 2008).

Segundo Silva (2007), a falta de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos,

faz com que o Brasil deixe de ganhar, pelo menos, US$ 4.6 bilhões, todo ano, por

não reciclar no volume devido o seu lixo (atividade que tem como condição básica,

um sistema de coleta seletiva), cuja quantidade vem aumentando de maneira

preocupante. A produção per cápita de lixo no Brasil varia de 0,3 a 1,1 kg/hab. Dia e,

quanto maior o poder aquisitivo da população, maior é a quantidade de lixo

produzida por habitante. Só a cidade do Rio de Janeiro produz 8.000 t/d de lixo.

As usinas de tratamento do lixo (chamadas de usinas de reciclagem e

compostagem pelos técnicos) podem ser uma solução viável para a destinação do

lixo e, por esta razão, os aspectos sociais, ambientais e de saúde pública, deveriam

predominar sobre o econômico (DALLARI apud CAMPOS, WERNECK E TOLON,

2001).

As vantagens de uma Política Pública adequada à solução do problema do

lixo, através, por exemplo, da implantação de uma Usina de Reciclagem e

Compostagem do Lixo na comunidade são:

• Desonerar a Prefeitura dos serviços de coleta, transporte, destinação final e

desobstrução de galerias, rios e canais, pela diminuição da quantidade de lixo

a ser manuseada pelos garis;

• Contribuir para que a não destinação do lixo jogado nas encostas dos morros

provoque desmoronamentos por ocasião das chuvas;

• Gerar empregos (diretos e indiretos) e renda para os desempregados,

catadores e população de baixa renda atendida pelo Programa;

• Incentivar a geração e/ou a ampliação de novos negócios no Município,

principalmente aqueles voltados para a reciclagem dos materiais;

• Propiciar aos agricultores, pela compostagem da parte orgânica do lixo, um

excelente condicionador do solo;

• Contribuir para a renda familiar, graças ao artesanato do lixo: móveis,

vassouras, vestuário, etc.;

• Preservar os recursos naturais, diminuir os impactos ambientais provocados

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pelo lixo e economizar energia;

• Contribuir para a formação de uma consciência ecológica entre os cidadãos

direta e indiretamente envolvidos nas atividades; e

• Servir de (bom) exemplo para outras comunidades, do país e do exterior

(SILVA, 2007).

Os destinos recomendados para o lixo doméstico são:

• Aterros sanitários usina de compostagem

• Incineração Aterros sanitários (nas cidades maiores);

• Usinas de reciclagem e compostagem (nas cidades menores); e Incineração

(lixo hospitalar).

6.1.1. Aterro sanitário

O aterro sanitário é uma área impermeável, dividida em células, onde o lixo

doméstico é depositado em camadas alternadas de lixo e solo. O chorume deve ser

coletado e tratado biologicamente e o gás, retirado por chaminés apropriadas.

6.1.2. Usina de compostagem e reciclagem

As usinas de lixo são instalações simples, onde o lixo seco é reciclado e a

matéria orgânica transformada em composto, para uso posterior como condicionador

de solo.

6.1.3. Incinerador de lixo hospitalar

O lixo hospitalar, sempre, deverá ser incinerado sendo o incinerador próprio

para queimar o lixo proveniente dos hospitais e postos de saúde de pequenas

comunidades. Quando o lixo é queimado em lixões, pode lançar no ar: fuligem (que

ataca os pulmões), produtos cancerígenos (dioxinas) e até o temível mercúrio,

proveniente do amálgama resultante da obturação de dentes (SILVA, 2007).

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6.1.4. Formas de aproveitamento do lixo

Em vez de ser simplesmente descartado num lixão ou aterro, existem várias

formas úteis de aproveitamento, já consagradas pela prática em várias partes do

mundo. Dentre estas, destacamos:

• Alimentação de suínos: Pecuária (restos de alimentos);

• Compostagem: Agricultura (N=1,5% P=0,5% K=1,0%);

• Gás bioquímico (GBQ): Veículos e cozinha (após filtração);

• Incineração: Energia térmica (movimentação de turbinas);

• Aterro sanitário: Áreas de lazer (após saturação do aterro); e

• Reciclagem: Catação (com fins comerciais e de artesanato) (BARBOSA,

2007).

6.1.5. Reciclagem

O lixo doméstico é composto de: matéria orgânica, papel, plástico, vidro,

metal, trapos e estopas, madeira, couro, borracha, osso, cerâmica e outros

materiais. Para conhecer esta composição, procede-se à analise gravimétrica3, que

deve anteceder qualquer política de aproveitamento, inclusive a reciclagem.

Em 1991, começou a implantação do sistema de reciclagem no Brasil. Um

dos primeiros ciclos de reciclagem empregados foi o da lata de alumínio, a partir da

matéria-prima até a reciclagem, passando pela coleta de latas usadas. Hoje, é uma

atividade econômica de peso que envolve mais de 100 mil pessoas no Brasil,

vivendo exclusivamente da coleta e reciclagem de latas de alumínio (SILVA, 2007).

Atualmente, o Brasil é um dos 3 países que mais reciclam latinhas de

alumínio em todo o mundo, tendo atingido o índice de 78% em 2001. A cada 1 kg de

alumínio reciclado, 5 kg de bauxita são poupados; além disso, para se reciclar 1.000

kg de alumínio, se gasta somente 5% da energia que seria necessária para se

produzir a mesma quantidade de alumínio primário, ou seja, a reciclagem do

alumínio proporciona uma economia de 95% de energia elétrica. Para se ter uma

idéia desse valor, a reciclagem de uma única latinha de alumínio economiza 3 Trata-se de uma análise química para determinar a quantidade de cada componente diferenciado do lixo e a

quantidade parcial e total de lixo gerado em um determinado período, BARBOSA (2007).

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suficiente energia para manter um aparelho de TV ligado durante três horas

(BARBOSA, 2007).

6.1.6. Reciclagem de papel

Para produzir 1 t de papel, 12 árvores são abatidas. Este é o apelo ecológico

para a reciclagem de papel, que é bem simples, e pode ser feita até por crianças.

Basta picar o papel, misturar com água e batê-lo por alguns minutos num

liquidificador; depois, é só recolher as fibras numa tela e deixar secar à sombra. Está

feita uma folha (TAMBELLINI, 1998).

6.1.7. Reciclagem de garrafas de plástico

A reciclagem das embalagens PET (polietileno tereftalato), como as garrafas

de refrigerantes de 2 litros descartáveis, está em franca ascensão no Brasil. A sua

reciclagem, além de desviar o lixo plástico dos aterros (que ocupam volume

relativamente grande), utiliza apenas 30% da energia necessária para a produção da

resina virgem. Tem a vantagem de poder ser reciclado, várias vezes, sem prejudicar

a qualidade do produto final. É um dos materiais mais utilizados no artesanato,

inclusive na fabricação de móveis e de vassouras (SILVA, 2007).

6.1.8. Reciclagem de vidro

Cerca de 28% das embalagens de vidro (garrafas, copos, cacos de vidro)

são recicladas no Brasil, somando cerca de 220.000 t/ano. 1 kg de vidro reciclado

transforma-se em 1 kg de vidro novo, ou seja, não há perda de matéria prima,

praticamente não produz resíduo e economiza 30% de energia elétrica. Para a

reciclagem do vidro, não é necessário guardar a garrafa inteira. A inclusão de caco

de vidro no processo normal de produção, reduz o gasto com energia, ou seja, para

cada 10% de caco na mistura, economiza-se cerca de 2,5% da energia para fusão

nos fornos industriais (BARBOSA, 2007).

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6.1.9. Destino do lixo orgânico

Quanto ao lixo doméstico orgânico pode facilmente ser transformado em

adubo ou simplesmente ser enterrado e misturado à terra. Com a evolução dos

sistemas e ciclos de reciclagem, talvez, o lixo orgânico venha a ser separado e,

alguns de seus componentes, venham a ser matéria prima de outras formas de

atividades econômicas. O exemplo da reciclagem do lixo é, por excelência, um

exemplo de desenvolvimento sustentável porque, ao invés de depredar e poluir a

natureza usa seus próprios detritos como matéria prima para novas produções, faz

um uso racional dos recursos e do ambiente natural.

6.1.10. Benefícios da reciclagem

Nesta primeira fase de apresentação dos resultados do trabalho foram

apresentadas algumas das principais destinações ecológicas e sustentáveis que

vem sendo veiculadas pelas políticas públicas de saúde sócio-ambiental e pela

vigilância sanitária brasileiras.

O primeiro grande benefício da reciclagem é poder tirar parte do lixo

doméstico e do lixo em geral da natureza, transformando-o em matéria prima para

outros produtos. Junto com isso a reciclagem tem se tornado uma atividade rendosa

que tem gerado trabalho para famílias de baixa rende e outras. Na verdade, a coleta

de material reciclável, como metais, plástico, vidro e mesmo material orgânico, vem

se tornando uma atividade cada vez mais lucrativa não somente para as pessoas

muito pobres e desqualificadas profissionalmente, mas, tem sido objeto de criação

de empresas de comércio e triagem de material para a reciclagem. Tanto que que,

atualmente, os coletores mais pobres, que usam bicicletas e carroças para a coleta

do lixo reciclável, têm se vistos ameaçados pelas caminhonetes e caminhões de

empresas coletoras (SILVA, 2007).

Outro grande benefício da reciclagem é que ela é um exemplo de que o lixo e

os poluentes em geral, resultados indesejáveis da produção humana, podem ser

transformados e se pode livrar a natureza deles. Assim, abre-se a possibilidade de

haver cada vez mais pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologia em

função da reciclagem de todo tipo de lixo e de poluente. A idéia de reciclar funda

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uma ciência da reciclagem que está apenas em seu começo e que, já tem sido uma

luz no fim do túnel do problema do lixo e dos poluentes em geral (BARBOSA, 2007).

6.2. Inferências e Interpretação

As ações de prevenção e proteção da saúde são de caráter público e

indelegável ao privado, premissa ideológica da construção do Sistema Único de

Saúde e traduzida por dispositivo constitucional: “Saúde é direito de todos e dever

do Estado”. Um dos meios para desempenhar este papel constitucional é a vigilância

em saúde (Sanitária, Ambiental e Epidemiológica) função típica do Estado, para a

busca da proteção à saúde. Considerando ser esta uma área que tem por objetivo a

intervenção nos riscos de agravos à saúde da população, sendo caracterizada por

um conjunto de ações preventivas e promotoras de saúde pública, é de fundamental

importância consolidar seu funcionamento nos estados e municípios, contribuindo

para a melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2007).

A complexidade da área de vigilância em saúde tem sido apontada como um

grande desafio para os gestores, pois demanda a articulação de um amplo conjunto

de conhecimentos, competências e habilidades para coordenar um projeto de

intervenção que de fato possa proteger e promover a saúde da população. Entender

a natureza, o objeto e o processo de trabalho da vigilância em saúde possibilita ao

gestor assumir efetivamente um poderoso instrumento para as estratégias de

enfrentamento dos problemas de saúde, com exercício de sua responsabilidade

sanitária.

A vigilância em saúde tem como objetivos verificar e promover a adesão às

normas e aos regulamentos técnicos vigentes, avaliar as condições de

funcionamento e identificar os riscos e os danos à saúde dos pacientes, dos

trabalhadores e ao meio ambiente (ROSENFELD, 2000).

Neste trabalho foi dada ênfase aos aspectos de orientação pelas políticas

púbicas de vigilância em saúde e educação ambiental sobre a destinação do lixo

urbano, especialmente, o lixo doméstico. Foi visto que é possível reduzir os

impactos ambientais e sanitários causados pelo lixo doméstico e outros e, ao

mesmo tempo, reciclar as matérias primas voltando a utilizá-las, mostrando a

importância de reduzir, reciclar e reutilizar.

Os impactos catastróficos causados ao meio ambiente em nível planetário,

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devido ao chamado fator antrópico e sua economia competitiva a qualquer preço e

consumista, fizeram despertar a necessidade premente de preservação e resgate

ambiental. Esta necessidade fez surgir a idéia de desenvolvimento sustentável que

gerou uma série de estudos sobre o modo como se pode desenvolver a economia

humana, sem, contudo, destruir o meio ambiente e os recursos ambientais.

Uma das direções fundamentais das investigações e experiências de

desenvolvimento sustentável é aquela que trabalha, simultaneamente, com o

objetivo de reduzir ao máximo os impactos ambientais causados pela produção

humana e com o aproveitamento dos resíduos como fonte de reciclagem, de

rejuvenescimento da matéria prima.

Deste modo, o meio ambiente se vê duplamente contemplado, enquanto

passam a receber uma menor quantidade de um determinado lixo e outra porque

uma quantidade menor de matéria específica terá que ser dele retirada. Por outro

lado, o lixo vira um objeto de valor, gerando umas atividades econômicas extensa,

espalhadas por todo país e mantendo verdadeiros exércitos humanos em sua coleta.

Surgiram as indústrias de reciclagem e os grandes depósitos de compra de

material de reciclagem se tornando uma das principais atividades econômicas em

muitas regiões do país. Assim, a questão específica da vigilância de saúde

preventiva em relação ao lixo doméstico começa a ganhar um aliado importante. Se

o lixo pode virar matéria prima a ser vendida no mercado, torna-se mais fácil

convencer a todos que é necessário cuidar e separar o lixo.

Em relação ao destino do lixo doméstico, os profissionais de saúde, lotados

em programas de saúde comunitária e familiar como o Programa de Saúde da

Família, devem informar sobre a importância dos cuidados com o lixo tanto dentro

de casa, quanto no ambiente natural e social externo. O lixo não pode ser

abandonado em qualquer parte, especialmente, nas fontes e correntes de água,

porque os efeitos podem se voltar contra todos e são muitas as conseqüências

negativas à saúde e ao bem estar comunitário e familiar - a curto, médio e longo

prazo – que podem advir do fato de se atirar o lixo doméstico no ambiente natural.

Estas conseqüências vão desde enfermidades e doenças aparentemente

pouco dolosas até epidemias de doenças de risco por ocasião, por exemplo, de

inundações que podem ser causadas por excesso de lixo nos córregos, riachos e

rios.

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Então, em primeiro lugar, o profissional da saúde, preocupado com uma

ação mais preventiva que curativa, deve, então, enfocar a importância de se

acondicionar o lixo doméstico e de enviá-lo, juntamente com toda a comunidade,

para um lugar apropriado em que ele será tratado e transformado.

Nesse movimento, o profissional da saúde já está, também, agindo como um

ecopedagogo, um ambientalista que procura mostrar que a saúde pessoal, familiar e

comunitária está diretamente ligada à saúde ambiental, sendo que o tratamento do

lixo é um problema coletivo e público e, assim, deve ser tratado. Isto é, todos devem

seguir as normas e as orientações gerais oriundas das políticas públicas de saúde

ambiental e de outras origens como o movimento em prol do desenvolvimento

sustentável nascido em muitos setores diferentes da sociedade.

E, por último, também, o profissional da saúde, preocupado com a saúde

ambiental como fator de saúde pública, procura dar relevo a este movimento em prol

da melhoria da qualidade de vida da população e do meio ambiente, intrinsecamente

ligadas, e que resulta do equilíbrio dado pelo desenvolvimento sustentável. Este

procura consumir os restos do sistema produtivo e consumidor transformando este

resto em matéria prima para novas produções. Neste movimento se reduz o impacto

do abandono do lixo na natureza e se reduz, também, a extração de matéria prima

diretamente da natureza.

Por outro lado, todas as aquisições que vem sendo feitas em termos de

preservação, resgate ambientais, ganham um aliado poderoso na eco-educação, ou

ecopedagogia, que passa a conscientizar cada vez mais os estudantes das escolas

púbicas e privadas dos ensinos fundamental, médio e superior, bem como, a

população em geral, sobre a necessidade vital de se recuperar os ambientes

naturais e mantê-los intactos e limpos.

A ecopedagogia se torna uma ciência complexa na medida em que ela vai

desde a conscientização - que passa pela constatação do que vêm ocorrendo com a

natureza devido às atividades humanas, principalmente, com o fenômeno do

aquecimento global e da poluição generalizada do ar, rios, mares e florestas – até ao

conhecimento dos meios científicos e técnicos de resolução dos problemas

ambientais e do desenvolvimento sustentável.

A grande esperança da humanidade é, sem dúvida, que possa haver

reversão do quadro pré-catastrófico em que se encontra o planeta e esta reversão

depende muito da ecopedagogia e de todas as ciências do ambientalismo, na

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medida em, que vão conscientizando e ensinando a preservar e a recuperar o meio

ambiente natural. Com certeza, nas atuais condições, ecopedagogia faz parte,

também, da educação em saúde preventiva.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste estudo foi descrever as relações que devem

existir, necessariamente, para a elaboração e aplicação de políticas públicas

adequadas, em função da satisfação das necessidades de toda a população

nacional, visando políticas públicas de saúde ambiental, a manutenção de um

desenvolvimento sócio-econômico sustentável e a preservação e melhoria da

qualidade da saúde da população.

Ficou evidente que não pode haver política pública que seja feita a partir do

pensamento e da idéia de uma minoria, mas, uma política pública para que seja

eficiente, e de fato seja formulada para bem de todos, requer a participação de todos

os interessados, de todos aqueles que serão afetados por ela e que dela dependam

para poder manter sua vida, moradia e trabalho. Políticas públicas autoritárias

redundam em benefício das minorias economicamente e politicamente dominantes e

na exclusão da grande maioria da população.

Portanto, para a elaboração de estratégias de saúde pública e ambiental é

preciso a participação de toda a comunidade, o envolvimento de diversos setores

sociais e de produção engajados em objetivos e pensamentos comuns, em função

do bem estar de todos e do meio ambiente natural.

A campanha pela preservação e resgate do meio ambiente começou a surtir

seus efeitos em muitos lugares. Os impasses e ameaças trazidos pelo chamado

aquecimento global despertaram na população a percepção de que os problemas

ambientais, que outrora pareciam querelas de ecologistas sem ter o que fazer, é na

verdade de extrema importância para a vida imediata e, mais ainda, das gerações

futuras.

Do mesmo modo, a divulgação para um número cada vez maior de pessoas,

de pesquisas ligando substâncias químicas presentes nos resíduos industriais e

outros tipos de poluentes a doenças como o câncer e outras, fizeram com que esta

percepção da saúde humana ligada à saúde do meio ambiente se tornasse bem

mais relevada na população em geral.

Contudo, uma maioria numérica, na atual configuração histórica, social,

econômica e política, não significa uma maior força de transformação porque

enquanto o poder econômico e político estiverem nas mãos de uma minoria, que

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controla o seu modo as políticas públicas, as modificações de peso e decisivas não

poderão ocorrer. Assim, é necessário que essa maioria se politize cada vez mais e

aja diretamente na condução dos negócios públicos em direção ao que Paulo Freire

denomina de formação de cidadania ativa.

Em relação à vigilância em saúde se trata de um serviço que está sendo

sempre aprimorado a partir do conhecimento científico e técnico aplicado em torno

de necessidades atuais da população e do meio ambiente. Contudo, sua aplicação e

melhorias dependem, também, do direcionamento dado às políticas públicas em

saúde e ambientalismo.

O Problema maior no Brasil, e em quase todo o mundo, é que formalmente

existem programas governamentais e políticas públicas muito bem elaboradas, mas,

sua implementação se acontece é deficiente em relação aos problemas que deveria

resolver e, normalmente, acaba tendo um uso distante dos interesses de toda a

população.

Porém, é inegável o avanço no Brasil do que se pode conceber como uma

das direções mais notáveis do desenvolvimento sustentável que é triagem e a

reciclagem. Foi visto como as técnicas e conhecimentos de reciclagem de matéria

prima deram um novo sentido e inspiraram novas práticas com relação ao lixo

doméstico. Estas técnicas criaram uma verdadeira indústria que emprega milhares

de pessoas pobres e humildes em todo o país.

Mais do que empregados, os coletores de lixo doméstico (e de outros tipos

de lixos que podem ser reciclados) se tornam parceiros nesses tipos de

empreendimentos que vai dos coletores de rua, passando pelos depósitos que

compram desses coletores primários, até as grandes indústrias que re-utilizam a

matéria prima.

Esta nova forma de atividade econômica tem por singularidade o fato de

atribuir um valor econômico ao lixo na medida em que ele é percebido como matéria

prima para uma produção futura. Nesse movimento, dois problemas fundamentais

são resolvidos, um de caráter social, outro de caráter ambiental. O primeiro na

medida em que são geradas atividades que podem fornecer renda e trabalho a

muita gente desqualificada que vive as margens da sociedade nacional, o segundo

na medida em que o lixo reciclado não vai para o meio ambiente e, também, a

matéria prima gerada na reciclagem não será extraída da natureza.

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Portanto, devem-se incentivar cada vez mais as práticas de separação e

acondicionamento adequado do lixo doméstico, bem como, a prática de coleta e

comércio de lixo para a reciclagem, também, do ponto de vista estritamente do

profissional da saúde. Se o lixo é separado e acondicionado, parte levada para a

reciclagem, significa menos lixo na natureza e nas redondezas das famílias e,

portanto, menos doença causada por restos e detritos humanos não tratados e

jogada no meio ambiente.

Por aqui se vê que o problema do profissional de saúde pública se relaciona

diretamente com o profissional do meio ambiente, e todos aqueles que assumem o

ambientalismo e o desenvolvimento sustentável como bandeira, bem como, com

todos aqueles que lutam pela melhoria da qualidade de vida, isto é, as próprias

comunidades onde o eco pedagogo e o profissional da saúde devem juntar esforços

em função da saúde humana e da natureza, dando relevo aos empreendimentos de

desenvolvimento sustentável e tratamento adequado do lixo. Vale ressaltar a

importância do profissional de saúde atuar nas escolas juntamente com os

professores com objetivo de levar aos alunos a importância do cuidado com o meio

ambiente, mas precisamente sobre o destino correto do lixo, desmatamento e

queimadas. A integração saúde e escola através da equipe de saúde da família e

demais profissionais de saúde criando estratégias para discutir as formas de

informar aos alunos a importância do cuidado do meio ambiente e as conseqüências

futuras, pois a educação ambiental deve ser iniciada o mais precoce possível.

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APÊNDICE

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APÊNDICE I

Termo de Aceite de Orientação

Eu, Maria Catarina da Rosa, docente da disciplina de Metodologia da Pesquisa

(Monografia) do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do

Itajaí, Campus Biguaçu, comprometo-me em orientar a pesquisa para a efetivação

do Trabalho de Conclusão de Curso da acadêmica Albertina Brasil Andres sob a

temática: “Política de Saúde Ambiental: Evolução e Perspectiva”. A orientanda

está ciente das normas para elaboração de Trabalho Monográfico de Conclusão de

Curso, bem como do calendário de atividade proposto.

Biguaçu, junho de 2007

_______________________________________________

Prof.ª Maria Catarina da Rosa

Orientadora

_______________________________________________

Albertina Brasil Andres

Acadêmica de Enfermagem - UNIVALI