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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU JOSÉ CARLOS SANTIAGO JOSIANE APARECIDA KLOEPPEL A PERCEPÇÃO DO PACIENTE EGRESSO SUBMETIDO À ANALGO-SEDAÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Biguaçu, 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

JOSÉ CARLOS SANTIAGO

JOSIANE APARECIDA KLOEPPEL

A PERCEPÇÃO DO PACIENTE EGRESSO SUBMETIDO À ANALGO-SEDAÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Biguaçu,

2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU

JOSÉ CARLOS SANTIAGO

JOSIANE APARECIDA KLOEPPEL

A PERCEPÇÃO DO PACIENTE EGRESSO SUBMETIDO À ANALGO-SEDAÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Educação Biguaçu, como requisito para obtenção do título de Enfermeiro. Orientadora:Prof.Msc:Ledronete Silvestre

Biguaçu,

2008

JOSÉ CARLOS SANTIAGO

JOSIANE APARECIDA KLOEPPEL

A PERCEPÇÃO DO PACIENTE EGRESSO SUBMETIDO À ANALGO-SEDAÇÃO

NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Esta monografia foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora, atendendo

às normas da legislação vigente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI.

Área de Concentração: Enfermagem

Biguaçu, julho de 2008.

________________________________________

Profª M.Sc. Ledronete Silvestre

UNIVALI – Campus Biguaçu

Orientadora

________________________________________

Profª M.Sc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

________________________________________

Profª M.Sc. Cládis Loren Kiefer Morais

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

AGRADECIMENTOS DE JOSÉ CARLOS

A minha família, mãe, esposa e filhos, que me incentivaram nesta longa jornada, me

apoiando nos momentos mais difíceis e superando minha ausência nos momentos que mais

precisaram de mim. Obrigado por fazerem parte de minha vida, pois sem vocês não chegaria

aonde cheguei.

A minha orientadora Ledronete Silvestre pelo carinho, dedicação e acima de tudo por

acreditar em nosso potencial para realização desta pesquisa, Obrigado.

A minha grande amiga Josiane Kloeppel que participou comigo na realização deste trabalho,

enfrentando as mais diversas dificuldades que surgiram durante a construção deste. Uma boa

amizade se constrói a cada dia e a nossa jamais será esquecida. E, como eu sempre disse a

você, no final tudo da certo. E deu.

Dedicatória

Meus filhos,

A força do nosso amor vai muito além do Universo.

A melhor coisa que aconteceu em minha vida foi o nascimento de vocês.

Além de todo esse amor somos os melhores amigos que poderiam existir.

Somos sangue, carne, vida.

Nossa vida se constrói a cada dia que passa.

Na tristeza e na alegria sempre estaremos juntos.

Temos vários defeitos, porém estes não interferem no nosso amor.

Nossos segredos são compartilhados de emoções sinceras.

Tudo que eu fiz e faço em minha vida é pensando em vocês.

Não sei se conseguiria chegar aonde cheguei se vocês não existissem.

E, é por isso, que dedico este Trabalho de conclusão de curso a vocês, meus queridos filhos,

Giuseppe e Adriel, pois sem vocês não teria a energia que tenho para conseguir escrever este

trabalho e me tornar um Enfermeiro. Filhos queridos, papai ama vocês.

AGRADECIMENTOS DE JOSIANE

A Deus, nosso criador, por estar a meu lado acompanhando e iluminando meus caminhos.

A Banca examinadora pelas sugestões e reflexões adicionais, que contribuíram dando maior

consistência e qualidade a este estudo.

A orientadora Prof.ª Msc Ledronete Silvestre que acima de tudo amiga, sempre me ofereceu

apoio e, sobretudo pelo seu voto de confiança em concretizar este estudo. Agradeço pela

oportunidade, convivência, amizade e aprimoramento de meus conhecimentos.

A meus Pais, Henrique e Terezinha, de vocês eu recebi o dom mais precioso do universo: A

vida. Só por isso já seria infinitamente grata. Mas vocês não se contentaram em me presentear

apenas com isso. Revestiram minha existência com amor, carinho e dedicação. Foram sempre

presentes nesta trajetória, tantas foram às vezes que meu cansaço e preocupações foram

sentidos e compartilhados com vocês, me incentivaram e me erguiam quando já não tinha

forças para prosseguir a caminhada. Meus educadores que sempre me direcionaram em todas

as fases de minha vida. Eu amo vocês, não conseguiria se não estivessem do meu lado.

A meus irmãos e suas esposas, pelo apoio, atenção e carinho dispensados em minha jornada.

Sei que hoje se sentem orgulhosos por minha conquista, mas quero que saibam que não teria

chegado ao fim se não tivesse contado com o apoio de todos. Vocês são essenciais em minha

vida.

A meu afilhado e sobrinhos por me proporcionarem momentos de alegria nesta caminhada.

A meu namorado, Filipe que além de namorado, um professor e amigo, que sempre encontrei

companheirismo e incentivo. Superou minhas ausências e buscou o entendimento quando eu

demonstrava cansaço. Obrigada por compartilhar essa conquista do meu lado.

Ao meu grande amigo José Carlos (Zé) pelo companheirismo e por esta grande amizade

formada ao longo de nossa vida acadêmica.

A todos os meus colegas de graduação em enfermagem pela amizade, troca de

conhecimentos e experiências.

A meus colegas de trabalho, em especial, a Jaçany, Keila, Márcia, Léo, Alexandra, Osmar,

Cristina e Mercês, pelo incentivo, amizade e por superarem meu afastamento quando tinha

que estudar, pelas chegadas tardias ou saídas antecipadas. Vocês demonstraram amizade

simplesmente por torcerem por minhas conquistas. Obrigada!!!

Aos interagentes do estudo que venceram as expectativas, demonstraram honestidade e

carinho ao se envolverem com este estudo.

A todos não mencionados e que de forma direta e indireta contribuíram para a realização

deste trabalho.

RESUMO

Este estudo foi do tipo qualitativo exploratório/descritivo, onde abordamos junto a pacientes previamente selecionados, sobre a percepção que obtiveram quando submetidos à analgo-sedação na Unidade de Terapia Intensiva. A partir da compreensão dos sentimentos e percepções, buscamos tornar o cuidado focalizado nas individualidades e fatores culturais do ser humano, bem como compreender como os pacientes reagem frente a um estímulo, sendo este determinado pelo cuidado de enfermagem, com possibilidade de transformação. O estudo foi permeado por questionamentos e reflexões sobre a necessidade de mudança no cuidado de enfermagem, com o intuito de condicioná-lo não somente ao conhecimento técnico-científico, mas também a um cuidado prestado ao ser humano único e com imensas potencialidades manifestadas por emoções e sentimentos. Contudo, buscamos uma forma de despertar a reflexão dos profissionais de enfermagem acerca do cuidado realizado a pacientes submetidos à analgo-sedação na Unidade de Terapia Intensiva. Apoiamo-nos na teoria do ser humano unitário de Martha Rogers por ter uma concepção e uma abordagem mais ampla através de sua visão de totalidade e de troca de energia entre os campos humano e ambiental, assim dando significado às experiências e peculiaridades de cada pessoa. A coleta de dados foi feita através de entrevista semi-estruturada e o processo de organização e análise de informações foi realizado através da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo de Lefévre e Lefévre (2005). Os interagentes do estudo foram pacientes que estiveram em internação na Unidade de Terapia Intensiva e que fizeram uso de medicamentos para promover analgo-sedação, sendo possível uma melhor compreensão de como estes pacientes percebem e sentem o cuidado de enfermagem relacionado ao contexto quando submetidos à analgo-sedação. Compreendemos também, como a percepção do cuidado pode interferir no conforto do paciente. Surgiram situações como medo da morte, necessidades fisiológicas não saciadas, percepções desconexas assim como a percepção do cuidado recebido. A partir deste contexto, abordamos o profissional de enfermagem como um cuidador capaz de superar o cuidado focalizado somente nos dados objetivos, despertando a compreensão das potencialidades perceptivas e emocionais do paciente, considerando-o como um ser humano em sua integralidade, que pensa e sente para além do dito verbalmente, do invisível ao aparente. Desmistificar o cuidado de enfermagem como um processo centrado no cuidado técnico-científico a partir da busca da compreensão do ser humano unitário.

Palavras-chave: Percepção, Ser humano, Cuidado de Enfermagem.

ABSTRACT

This study was qualitative exploratory/descriptive-like, where patients previously selected were inquired about the perception obtained after hypnotic analgesia procedure in an Intensive Care Unit. From the understanding of feelings and perceptions, we attempt to make the care focused in the individuality and cultural factors of human beings, as well as understanding how the patients reacts to stimulus, which was determined by nursing care, with the possibility of transformation. The study was delineated through questions and reflections about the need for change in the nursing care conditioning the professional for the technical and scientific knowledge and also for the care provided to the human being that possesses several potential expressed through of emotions and feelings. However, we sought a way to awake the reflection of healthcare professional in relation to care of patients submitted to hypnotic analgesia in the Intensive Care Unit. Martha Rogers’ theory of unitary human beings in which have a conception and a wide approach through of vision of totality and exchange of energy between the human and environmental fields, thus giving meaning to experiences and peculiarities of each person. Data was obtained through a semi-structured interview and the organization and analysis process of information was conducted through of Collective Subject Speech (Lefévre and Lefévre, 2005). This study was performed in patients admitted in an Intensive Care Unit and that used medications to promote hypnotic analgesia, being possible a best knowledge about the perception and feeling of each patient in relation to the healthcare professional related to the context when submitted to hypnotic analgesia procedure. We understand also how the perception of care can interfere with the comfort of the patient. There were situations such as fear of death, physiological needs not satiated, perceptions disconnected as well as the perception of care received of nursing. From this context, we discussed about the nurses as healthcare professional capable of overcoming the care focused only on objective data, raising the understanding of perceptions and emotions of patient, considering it as a human being in the entirety, that think and feel beyond of verbally, of invisible to the apparent. Clarifying the healthcare professional as a process focused on technical and scientific care from the best understanding of single human being.

Keywords: Perception, Human being, Nursing care.

Enquanto cuidava de uma paciente no final dos seus cinqüenta anos, comatosa em

virtude de carcinoma metastático do cérebro iniciei uma conversa unilateral sobre vários

assuntos, incluindo minha apresentação diária, explicações do procedimento a ser realizado e

discussão sobre o dia e o tempo. Não houve resposta perceptível por parte da paciente. Sua

condição parecia piorar lentamente. Perdi contato com ela após quatro dias em virtude de uma

troca de escala.

Ao embarcar em um trem cerca de dois meses depois, fui abordado por uma mulher de

muletas que me chamou pelo nome e perguntou se eu era enfermeiro. Respondi que sim, e

finalmente a reconheci. Nossa conversa revelou muito sobre nosso relacionamento inicial.

Expressou como se sentia durante os dias em que permaneceu deitada no leito do hospital,

totalmente indefesa e à mercê da equipe de enfermagem. Disse que lhe foi muito importante

que eu tivesse me identificado e conversado com ela diariamente.

Foram de interesse particular para a paciente as informações sobre quando eu sairia e

quando retornaria. Quando eu disse que estava saindo para outro serviço, ela chorou, ela

disse, porque previa que não receberia mais informações sobre o mundo externo. Ela

lembrava muito mais sobre o contato do que eu. 1

.

1 HUDAK & GALLO, 1997, p.32

SUMÁRIO

I INTRODUÇÃO............................................................................................................ 11 1.1 OBJETIVOS.............................................................................................................. 16 1.1.1Objetivo Geral........................................................................................................... 16 II REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................. 17 2.1 Percepção.................................................................................................................... 17 2.2 Emoções e Sentimentos.............................................................................................. 18 2.3. Sensação..................................................................................................................... 20 2.4 Memória...................................................................................................................... 21 2.5 Consciência................................................................................................................. 22 2.6 Coma........................................................................................................................... 23 2.7 Analgo-sedação........................................................................................................... 24 2.8 Principais drogas utilizadas para analgo-sedação....................................................... 26 III REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 29 3.1 Conceitos.................................................................................................................... 29 3.1.1 Ser Humano............................................................................................................. 29 3.1.2 Enfermagem............................................................................................................. 29 3.1.3 Enfermeiro............................................................................................................... 30 3.1.4 Ambiente.................................................................................................................. 30 3.2 Pressuposições........................................................................................................... 30 3.3 Teoria em relação à prática......................................................................................... 33 3.4 Pressupostos dos Autores............................................................................................ 34 IV PROCESSO METODOLÓGICO............................................................................ 35 4.1 Tipo de Estudo............................................................................................................ 35 4.2 Local de Desenvolvimento do Estudo........................................................................ 35 4.3 Sujeitos do Estudo....................................................................................................... 36 4.4 Aspectos Éticos........................................................................................................... 37 4.5 Procedimentos............................................................................................................ 39 4.5.1 Trajetória para Levantamento dos Interagentes....................................................... 39 4.5.2 Realização da Entrevista.......................................................................................... 40 4.6 Registro e Análise dos Dados..................................................................................... 41 V DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO.................................................................. 44 5.1 Percepção dos pacientes submetidos à analgo-sedação.............................................. 45 5.2 Ações de enfermagem percebidas.............................................................................. 68 5.3 As Impressões que ficaram......................................................................................... 85 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 92 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 97 APÊNDICES..................................................................................................................... 101 APÊNDICE – A (Entrevista Semi-estruturada)................................................................ 102 APÊNDICE – B (Carta de intenção para realização da pesquisa).................................... 103 APÊNDICE –C (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).................................... 104 APÊNDICE – D (Termo de compromisso de orientação)................................................ 106 ANEXO – I – Folha de rosto para pesquisa com seres humanos..................................... 108 ANEXO –II- Parecer comissão de ética em pesquisa UNIVALI..................................... 109

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I INTRODUÇÃO

A idéia desta pesquisa surgiu durante nossa trajetória de trabalho em unidade de

terapia intensiva (UTI), em que despertou-nos a curiosidade e interesse em realizar um

trabalho junto aos pacientes que necessitaram de analgo-sedação em UTI. Percebemos que

tais pacientes apresentavam reações como uma agitação psicomotora ou uma lágrima

escorrendo quando ouviam a voz de um ente querido ou até mesmo quando o ambiente estava

tenso e com muitos ruídos internos que, muitas vezes, são ignoradas pelos profissionais que

atuam no seu cuidado. Assim, tais reações, por vezes não são caracterizadas como forma de

contato entre paciente e profissional de enfermagem.

Segundo Ratton (1999, p. 1), “As unidades ou centros de tratamento intensivo

constituem um avanço no cuidado do paciente grave, criticamente enfermo, porém com

chances de recuperação”. Assim, consideramos que a unidade de terapia intensiva é destinada

ao tratamento de pacientes graves passíveis de recuperação ou em risco de vida, que requerem

recursos humanos capacitados e materiais especializados para monitoração contínua das

funções vitais do paciente, a fim de prevenir, evitar complicações e restabelecer a saúde.

Poderíamos também considerar que, neste ambiente, o nível de estresse é maior. Este estresse

está relacionado tanto aos profissionais que prestam assistência quanto ao paciente que recebe

toda gama de tensão vinculada ao constante barulho de monitores, altas, admissão de

pacientes, procedimentos invasivos entre outros.

Concordamos ainda com RATTON (1999, pg. 639), quando ele acrescenta que: A observação de cenas dramáticas como a reanimação cardio - respiratória, a proximidade com outros pacientes graves que emitem sons diversos, naturais, ou pelos aparelhos a eles conectados, a distância das pessoas que lhe são significativas, o possível agravamento da doença e o risco de vida tornam os pacientes ainda mais apreensivos.

Sabemos também, que nestas unidades, a maioria dos pacientes estão submetidos à

analgo-sedação, o que nos leva a crer que o paciente estaria livre de sofrer os incômodos

como: ouvir alarmes, sentir frio, reconhecer a tonalidade de voz de um ente querido e outros.

É importante salientar que o enfermeiro deve ter o conhecimento da farmacologia das

drogas utilizadas em uma UTI, pois seu uso poderá contribuir no cuidado prestado ao paciente

grave. “O conhecimento dos efeitos colaterais ou outros efeitos da droga que não aqueles que

desejamos, e as contra-indicações, muitas vezes nos ajudam a interpretar sinais e sintomas

novos, que podem estar contribuindo para agravar ainda mais o estado do paciente”

(RATTON, 1999, pg. 606).

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Quando nos referimos a pacientes submetidos à analgo-sedação, salientamos que em

nossa proposta de pesquisa não nos importamos com o tempo de uso dessas medicações e tão

pouco o nível de consciência em que se encontravam; se no início da analgo-sedação ou já em

desmame das drogas. Queremos sim, conhecer as lembranças, percepções, sensações e

sentimentos que estes pacientes tiveram durante o período ao qual foram submetidos a algum

tipo de analgo-sedação. Lembramos que os pacientes selecionados estavam intubados e todos

receberam medicações seja para analgesia e/ou sedação. Estávamos cientes de que

poderíamos nos surpreender no sentido dos interagentes não recordarem de nenhum evento

enquanto submetidos à analgo-sedação.

Nosso trabalho pretende despertar os profissionais de enfermagem na busca de outras

possibilidades de cuidado não se fixando somente ao cuidado do corpo físico, também a

compreensão dos sentimentos e emoções de cada paciente internado na UTI. Poderemos

compreender, assim como Pearsall (1999) que, na percepção mais aguçada, no sentido de

envolverem-se com o emocional diante de situações difíceis da UTI, as pessoas concentram-

se no coração e transcendem os temores do cérebro pelo corpo. Assim, elas podem sentir a

energia daqueles a quem amam, envolvendo, acalmando e restaurando.

Estamos certos de que cuidar de pacientes em UTI favorece o aperfeiçoamento

técnico-científico, porém após longos anos de profissão o trabalhador de enfermagem, muitas

vezes, torna o cuidado ao paciente mecanizado e tecnicista.

Segundo Hayashi e Gisi (2000, p.824), “a tecnologia favorece o atendimento imediato,

o diagnóstico mais preciso, dá segurança para toda equipe da UTI, porém pode contribuir para

o processo de desumanização, tornando as relações humanas frias e distantes”.

Acreditamos que este estudo possa contribuir para o esclarecimento de muitas dúvidas

de profissionais que trabalham em UTI, no que tange ao cuidado integral e assim, melhorar a

qualidade do cuidado de enfermagem, já que, geralmente, estão voltadas para o aspecto

técnico-científico deixando o cuidado com o estado emocional do paciente em segundo plano.

Esta afirmativa é sustentada por Silva (1997, p.70) quando argumenta que há certo

distanciamento do profissional em relação ao paciente internado em UTI, o que gera prejuízo

na relação afetiva no cuidado de enfermagem, em que frequentemente a voz dos pacientes é

calada por meios de sedativos. A ação dita tecnicista dos profissionais de saúde é

argumentada pela necessidade de garantir a sobrevivência do corpo físico.

Concordamos com a autora no sentido que grande parte dos profissionais esquece que

está diante de uma pessoa que está sedada, porém, poderá ouvir. Enquanto profissionais, é

fato nos depararmos com comentários pessoais e/ou, até mesmo, sobre a própria gravidade do

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estado de saúde do paciente na sua presença. Este comportamento é comum, mesmo sabendo

que devemos respeitar a individualidade e cuidar integralmente do paciente. É muito freqüente que as relações do cuidado de enfermagem se dêem de forma impessoal, em que a cuidadora desempenha seu trabalho de forma correta, eficiente, porém apenas no aspecto técnico. Ela realiza procedimentos num corpo qualquer. Esse tipo de relacionamento caracteriza-se pela relação pessoa-objeto e é bem freqüente na medicina (WALDOW, 1998, p.135).

Neste contexto, este estudo também almeja evidenciar o cuidado muito além do corpo

físico ou simplesmente na realização de técnicas. Será que como profissionais podemos sair

satisfeitos de nosso trabalho simplesmente por ter feito todos os procedimentos corretamente?

Será que o cuidado não ficaria mais evidenciado se pudéssemos tentar entender as

manifestações de pedido de ajuda por um simples olhar assustado?

Para que o cuidado ocorra em sua plenitude, o profissional de enfermagem deve

expressar conhecimento e experiência no desempenho das atividades técnicas, porém, deve

conjugar expressões de interesse, consideração, respeito, sensibilidade que serão

demonstradas por palavras, tom de voz, gestos e toques. Essa é a verdadeira expressão da arte

e da ciência do cuidado: A conjugação do conhecimento, das habilidades manuais, da intuição

e da expressão da sensibilidade (WALDOW, 1998).

Neste sentido, o cuidado com pacientes sob efeito de analgo-sedação não deve ser

diferenciado por acreditar que eles não possuam habilidades em perceber, pois “sentir é o

anterior ao pensar, e compreende aspectos perceptivos (internos e externos) e aspectos

emocionais, assim, antes de ser razão, seres humanos é emoção” (WALDOW, 1988, p.196).

A necessidade deste estudo foi fortalecida após visitas de pacientes egressos à UTI, em

que relatavam ouvir o que os profissionais conversavam e inclusive, sentiam o cheirinho do

café que preparavam. E, isto se explica porque, segundo Silvestre (2006 p. 14): “O cérebro não é receptivo apenas à linguagem racional. A percepção capta além do dito e do foco de atenção. O que implica dizer que perceber é mais amplo do que a consciência acusa. Perceber envolve também armazenar dados na memória grande (inconsciente) para, em uma determinada situação, virem à consciência e ditar a ação. Perceber é sentir o outro, captar as suas emoções no momento vivido para além do dito. Perceber é fazer comunicar a consciência e o inconsciente, utilizando a linguagem do imaginário, dos símbolos na mesma proporção verbal.”

Assim, durante a trajetória de nossa pesquisa obtivemos informações concretas dos

interagentes de nosso estudo no que diz respeito às lembranças e percepções diante do

momento vivido na UTI.

Desta forma, pretendemos despertar questões práticas do dia-a-dia do profissional que

atua em UTI, já que, devido às atribuições rotineiras desta unidade, muitas vezes, estes

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profissionais não percebem que o paciente pode sentir ou ouvir todo o processo de cuidado

presente no contexto da UTI.

Assim sendo, é importante fazermos uma avaliação total do ser humano e não apenas

uma avaliação das partes. Considerando sua totalidade, iremos avaliar a pessoa como um todo

realizando um processo de enfermagem de forma integral tendo o usuário como o centro das

atenções e envolto em um ambiente que irá favorecer a sua real recuperação. “É ao ser

humano portador de necessidades psicológicas, psicossociais, e psicoespirituais que se

prestará à assistência de enfermagem. Lúcido ou não, o paciente é sempre um ser humano e

como tal, tem direitos e merece respeito como cidadão” (RATTON 1999, p. 639).

Desta forma, compreender o modo de percepção dos pacientes egressos submetidos a

analgo-sedação durante a internação em Unidade de Terapia Intensiva melhorará o cuidado

prestado, como também, contribuirá para uma compreensão da forma de comunicação dos

pacientes (gestos, atitudes e comportamento) de forma que o profissional de enfermagem

possa estabelecer outro modo de comunicação, mais apropriado e integral.

É importante compreender o paciente diante das mais diversas expressões ou

manifestações, pois além da linguagem verbal, há a linguagem não verbal e sua compreensão

auxilia muito no processo de trabalho. “A equipe de saúde deve prestar especial atenção na

mensagem expressa pelo paciente, pois em algumas situações a comunicação verbal pode

divergir da não verbal. Decodificar a mensagem enviada nem sempre é fácil, contudo é

necessário quando se deseja prestar uma assistência diferenciada e de qualidade” (RATTON,

1999, p. 639). Quando nos reportamos ao cuidado humano de enfermagem, estamos nos referindo ao cuidado em que se leva em consideração o homem na sua totalidade, aquele que vai muito além do cuidado focalizado no risco biológico de perda da vida. Sendo as UTIs locais repletos de equipamentos de alta tecnologia; não é raro, defrontarmo-nos com excelentes técnicos, conhecedores exímios dos aparelhos que eles manipulam com maestria, mas parecendo calouros na arte de confortar, de ir ao encontro de pessoas sofredoras que perdem sua identidade e são identificadas friamente com um caso ou um número (HAYASHI; GISI, 2000, p.827).

Assim, para nos auxiliar e dar suporte teórico na realização deste estudo que envolve

não somente conhecimento técnico-científico, como também, dos sentimentos de cada

paciente, ou seja, do aspecto subjetivo, utilizamos como referencial teórico a teoria de Marta

Rogers (1992). Esta teórica sustenta a afirmativa de que, “o mundo subjetivo dos sentimentos

humanos deve ser incorporado à chamada ciência objetiva”. E ainda, que o ser humano se

caracteriza por sua capacidade de abstração e imaginação, linguagem, pensamento, sensação e

emoção.

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É importante frisar que o foco desta pesquisa foi dirigido para as percepções e

sentimentos dos pacientes obtidos durante o período em que se encontravam em analgo-

sedação. Vale lembrar que não entramos em particularidades das drogas como tolerância das

mesmas e sim nas lembranças e sentimentos de cada interagente do estudo durante o período

em que permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva.

Diante deste contexto profissional, cultural e acadêmico, buscou-se responder a

seguinte pergunta:

Qual a percepção do paciente egresso submetido à analgo-sedação em unidade de

terapia intensiva?

Este estudo está constituído de introdução no qual se abordou a relevância do

conhecimento, por parte do profissional de enfermagem, da percepção do paciente que foi

submetido a analgo-sedação, no sentido de influenciar no cuidado prestado.

Assim, buscando recursos teóricos suficientes para compreensão da percepção dos

pacientes que estiveram sob efeito de analgo-sedação e para realizarmos a estruturação de

nossa pesquisa, utilizamos à teoria do ser humano unitário de Martha E. Rogers (1992), pois

para esta teórica, o ser humano troca energia constante com o meio, podendo então, ser

bastante perceptivo diante das alterações e acontecimentos no ambiente no qual está inserido.

O estudo é de caráter exploratório do tipo descritivo qualitativo; o local de

desenvolvimento e os sujeitos de pesquisa foram pacientes que estiveram sedados na UTI de

um Hospital Público. As informações foram obtidas através de entrevista semi-estruturada, e a

análise dos dados foi feita através do Método do Discurso do Sujeito Coletivo de Lefévre &

Lefévre (2005) as quais obedeceram aos aspectos éticos inerentes da pesquisa.

Na análise das informações colhidas os aspectos pontuais foram: percepção dos

egressos de UTI expressa em seus sentimentos; as ações de enfermagem percebidas durante o

período de analgo-sedação e as interferências das ações de enfermagem expressa na memória

dos pacientes.

Por último, as considerações finais, em que discutimos a necessidade do

desenvolvimento do cuidado humano nas unidades de terapia intensiva com desvio do foco do

cuidado biológico para o cuidado direcionado ao conforto emocional de cada paciente

internado, buscando a satisfação dos pacientes e proporcionando uma melhor habilidade

relacional entre estes e os profissionais de enfermagem.

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1.1 OBJETIVOS

Os objetivos deste trabalho foram formulados a partir da questão central desenvolvida,

ou seja, da reflexão sobre a necessidade de compreender a percepção de cada paciente

envolvido na pesquisa, a fim de obter um cuidado de enfermagem integral.

OBJETIVO GERAL

Conhecer a percepção dos pacientes que permaneceram em analgo-sedação na

Unidade de terapia intensiva.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Identificar a percepção dos egressos de UTI submetidos à analgo-sedação expressa em seus

sentimentos;

● Descrever as ações de enfermagem percebidas pelo paciente durante a analgo-sedação;

● Identificar as interferências das ações de enfermagem na memória do paciente sob efeito de

analgo-sedação.

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II REVISÃO DE LITERATURA

Este item destinou-se a uma revisão de literatura com base em dados teóricos buscados

com intuito de ampliar significativamente a qualidade de nosso estudo.

2.1 PERCEPÇÃO

Neste estudo gostaríamos de salientar a percepção calada, a percepção sentida e não

verbalizada. Ghiorzi (2004, p 152) contribui com este pensamento quando afirma que “o ser

humano é um ser racional e sensível” e esses dois componentes precisam estar equilibrados.

Pois, a contaminação da racionalidade exacerbada, impede o ser humano de perceber o outro

de forma integral.

Poderemos então compreender que percepção é muito mais do que conceitua Larousse

(1993, p. 332) como o “ato ou efeito de perceber pelos órgãos dos sentidos, é a compreensão

de algo. Trata-se de um processo cognitivo no qual um estímulo ou objeto é representado por

um sujeito por meio de sua atividade psicológica”.

Silvestre (2006) em seu estudo utiliza-se da experiência de Ornstein (1991) para

ressaltar um aspecto mais amplo da percepção que vai além da captação do estímulo através

dos órgãos do sentido. Constata que a percepção inicial é detectada pela mente consciente em

apenas meio segundo após o estímulo. No entanto, a mente consciente vê, ouve ou sente o

evento como iniciado no instante do potencial evocado, ou seja, milésimos de segundos

depois da ocorrência do evento. Por esse motivo, não se podem usar os desejos conscientes

para reagir ao estímulo. Nessas situações, o inconsciente é o responsável por todas as reações

imediatas.

Goleman (1997, p.97) corrobora com esta idéia alertando que o “O conjunto de dados

apresentados ao consciente, entre os quais podemos escolher para notar uma coisa ou outra, é

pré-selecionado”. Para tanto, não podemos ver ou perceber esta seleção já que acontece em

nosso inconsciente, é uma forma de desviar a ansiedade e selecionar fatos que possam

provocar lembranças desagradáveis.

No processo de explorar o mundo, de conhecê-lo, os seres humanos primeiro o sentem

através dos sentidos (percepção). De suas experiências com os elementos da natureza, o ser

relaciona-se com o mundo, com pessoas. Nesse mundo, as coisas e as pessoas tornam-se mais

ou menos importantes conforme o significado atribuído a elas (WALDOW, 1998, p. 164).

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Ghiorzi (2004) acrescenta que os filtros da percepção (córtex), pela interferência da

emoção, selecionam as informações essenciais e as que deverão ser rejeitadas.

Filtrar ou manejar a carga tremenda de informações que os olhos, os ouvidos e todos os outros órgãos humanos dos sentidos podem despejar no sistema nervoso central talvez seja uma das principais funções do córtex cerebral (GHIORZI, 2004, p.153 apud Goleman, 1997, p.21).

Isto porque o cérebro filtra a informação através dos órgãos do sentido e a envia à

memória primária, onde a concepção está sendo focalizada pela atenção. Sendo assim,

podemos dizer que as mensagens são captadas pelo consciente e levadas à memória de longa

duração, o inconsciente. Neste espaço, a mensagem será registrada sob forma de significado e

poderá ser reativada quando necessário. Isso é a percepção inconsciente (GHIORZI, 2004).

Lent (2005) esclarece que percepção é a capacidade de associar as informações

sensoriais à memória e à cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre nós

mesmos. Os primeiros estágios da percepção consistem no processamento analítico realizado pelos sistemas sensoriais, destinados a extrair de cada objeto suas características, que na verdade consistem nas submodalidades sensoriais: cor, movimento, localização espacial, timbre, temperatura, etc. Combinações dessas características passam então por vias paralelas cooperativas no sistema nervoso central, que gradativamente reconstroem o objeto como um todo, para que ele possa ser memorizado ou aprendido (LENT, 2005, p.556).

Neste contexto, podemos compreender e dar significado que perceber é muito mais do

que ver é “o conhecimento de um estímulo cuja imagem se apresenta ao espírito de modo que

o vejamos tal qual ele é na essência, sob todas as faces de sua totalidade” (SILVESTRE,

2006, p. 44).

2.2 EMOÇÕES E SENTIMENTOS

Os primeiros estudos sobre as emoções e comportamentos relacionados foram

iniciados de forma sistemática por Charles Darwin (1971), em seu trabalho intitulado “A

expressão das emoções no homem e nos animais” (The Expression of Emotions in Man and

Animals). Nessa obra, baseada em sua teoria da evolução, Darwin analisou o fenômeno da

emoção no homem e em outros animais, com base principalmente em estudos clássicos sobre

expressões faciais, que indicam um determinado estado emocional, como por exemplo, dor,

19

alegria, tristeza. Através de suas observações, Darwin propôs que a estrutura fisiológica, bem

como os hábitos de todos os animais foram gradualmente adquiridos, através de um processo

evolutivo, e os padrões de expressão emocional incluindo o desenvolvimento de músculos

faciais para dar suporte aos mesmos eram conseqüências dessa evolução. A expressão

comportamental, particularmente a expressão facial, era o aspecto fundamental da emoção e

que esta seria um produto de processos inatos com um complexo padrão de reação, com alto

valor adaptativo e determinante na sobrevivência e no processo evolutivo das diversas

espécies.

Sendo assim, uma emoção é uma resposta automática do corpo a uma determinada

situação, assim como o brilho de desejo nos olhos, o enrubescer quando alguém descobre que

estamos mentindo. O sentimento é aquilo que vivenciamos quando percebemos a emoção de

forma consciente (KLEIN, 2002). “Emoção refere-se á manifestação de reações psicomotoras,

geralmente acompanhadas de alterações neurovegetativas em resposta a um estímulo

ambiental” (SILVESTRE 2006 p.46).

O prazer, a alegria, a euforia, o êxtase, a tristeza, o desânimo, a depressão, o medo, a ansiedade, a raiva, a hostilidade, a calma, entre outras emoções, contribuem para a riqueza da vida pessoal e conferem paixão e caráter as ações tomadas. Na linguagem coloquial, usa-se o termo emoção pra se referir aos sentimentos e humores e a maneira pelas quais estes são expressos tanto no comportamento quanto nas respostas do corpo (SILVESTRE, 2006, p.42).

Assim,quando percebemos uma emoção de forma consciente ,estas estão precedidas

de reações físicos-químicas no corpo que mandam sinais ao cérebro. Tais reações nascem em

conjunto aos estímulos gerados no interior do próprio organismo em que cada sentimento

corresponde à uma resposta de atividade cerebral,como sorrir quando estamos alegres ou

chorar quando estamos infelizes (SILVESTRE,2006).

As emoções podem ser boas ou ruins, assim infelizmente, as emoções negativas são

mais conhecidas do que as positivas. Sendo que a primeira delas é o medo, uma experiência

subjetiva que surge quando algo nos ameaça e que nos provoca comportamento de fuga ou

luta. Outra emoção importante é a raiva que nos surge freqüentemente como mecanismo de

defesa. A amígdala, uma das estruturas que compõe o sistema límbico, desempenha o papel

de botão de disparo de todas as emoções. Esta estrutura recebe informações sensoriais e

interiores provenientes do córtex e do tálamo, filtrando-as para avaliar sua natureza emocional

e comandar as regiões responsáveis pelos comportamentos e ajustes fisiológicos adequados

(LENT, 2005).

20

Neste sentido, muitas vezes, percebemos algo de forma inconsciente, mas também

temos uma opinião ou interpretação sobre o que vimos. Isto porque “a amígdala pode abrigar

lembranças e repertórios de respostas que nós interpretamos sem ter compreensão do motivo

pelo qual fizemos” (GHIORZI, 2004 p.139). Ou seja, muitas vezes, não temos consciência de

que já vivemos um determinado fenômeno, mas sentimos quando, estimulados por uma

imagem, a sensação de que ele já foi vivido. Ele vem à consciência por um trabalho

neurocerebral e passamos a interpretar o que sentimos. Então, reagiremos frente a uma

situação nova e inesperada de acordo com nossa história, memória, modo de ser e estado

emocional. Ou seja, quando a amígdala faz a leitura de um fato que tem uma ligação com uma

experiência do passado, atuamos no presente com elementos gravados no passado (GHIORZI,

2004).

Uma experiência emocional não é um fenômeno unitário, varia de pessoa para pessoa

e é resultado de vários eventos. Ela pode incluir um conjunto de pensamentos e planos acerca

de um evento que ocorreu, está acontecendo ou irá acontecer e manifestar-se por meio de

expressões faciais características. Assim, podem ocorrer alterações endócrinas e autonômicas

importantes, tais como secura na garganta e boca, sudorese nas mãos e axilas, aumento dos

batimentos cardíacos e da respiração, rubor facial, tremores das extremidades e, dependendo

da intensidade da experiência emocional, incontinência urinária e intestinal (BRANDÃO,

2004).

Neste contexto, o sistema emocional se expressa através dos sinais neurovegetativos

do corpo e de sua mímica. A comunicação emocional não precisa de palavras para se fazer

entender. Ela se estabelece entre uma emoção de uma pessoa e a de outra, de um gesto que

corresponde a um afeto a outro similar ou complementar. Ela é sentida, vivenciada

(SILVESTRE, 2006, p.43).

2.3 SENSAÇÃO

A memória, enquanto reservatório humano de lembranças, nem sempre traz a

consciência uma imagem frente a uma situação vivida porque não há linguagem para conexão

entre um evento e a sensação percebida (SILVESTRE 2006).

A sensação trata da memória sensorial, onde tudo o que a pessoa viveu

emocionalmente fica guardado em seu inconsciente, pois as “sensações são sentidas e não há

palavras para descrevê-las” (GHIORZI, 2004). Sendo assim, durante a trajetória desta

21

pesquisa abordaremos os sentimentos e sensações, muitas vezes, lembrados ou até mesmo

esquecidos, porém sempre sentidos.

2.4 MEMÓRIA

Memória é a capacidade que o homem e os animais têm em armazenar informações

que possam ser recuperadas e utilizadas quando necessário (LENT, 2005). Sendo assim,

Souza (2001), afirma que memória pode definir-se como evocação de informações adquiridas

através de experiências vividas.

Do ponto de vista evolutivo, a capacidade de adquirir novas informações é uma das

mais importantes funções do sistema nervoso central, e a expressão de memórias previamente

adquiridas é crucial para sobrevivência das espécies (SOUZA, 2001, p.3).

Neste sentido “os indivíduos apresentam capacidade de adaptação e modificação de

seu comportamento quando expostos as novas experiências, e a capacidade de aprender e

recordar eventos depende de modificações induzidas no sistema nervoso pela percepção

desses eventos” (SOUZA, 2001, p.56).

Porém, é importante frisar que o processo de formação de memória pode ser dividido

em: aquisição, consolidação, armazenamento e evocação. A aquisição é na verdade a

apresentação ao evento, porém não guardamos tudo o que nos acontece e do que recordamos

não lembramos de todos os detalhes. Só guardamos aquilo que nos parece ser importante para

nos recordar. Esse processo de fixação chamamos de consolidação. Durante a consolidação a

informação é armazenada e pode ser modulada pelo componente emocional (SOUZA, 2001,

p.4).

Então, o grande segredo é que a memória é modulada pela emoção, pelo nível de

consciência e pelo estado de ânimo. Assim, “nas experiências que deixam memórias, aos

olhos que vêem se somam ao cérebro que compara e o coração que bate acelerado”. No

momento de evocar, muitas vezes, é o coração quem pede ao cérebro que lembre e, muitas

vezes, a lembrança acelera o coração (IZQUIERDO, 2002, p. 12).

Izquierdo (2002) complementa afirmando que, a memória envolve abstrações. Quem

nunca lembrou do perfume da flor que existia em nossa casa quando crianças ou lembramos

do rosto de um amigo de infância? Uma experiência visual penetra pela retina, é transformada

em sinais elétricos, chega através de várias conexões neuronais ao córtex occipital e lá causa

uma série de processos bioquímicos, assim como a informação olfativa penetra pelo nariz.

22

A memória coloca em jogo três grandes funções: linguagem, emoção e razão. Há duas

grandes categorias de memória: a memória implícita, espontânea e automática; e a memória

explícita, fundada por processos conscientes (GHIORZI, 2004).

A memória explícita abriga duas memórias de longo prazo: a memória semântica e a memória episódica. A memória semântica tem por função reter o sentido das palavras, os conceitos, os símbolos. É a memória do saber e sua localização é no neocórtex. Já a memória episódica, é onde são conservadas todas as experiências vividas e a história pessoal do sujeito. A memorização clama por associações de imagem e idéias, por reagrupamentos e por uma organização própria de cada pessoa (GHIORZI, 2004, p.101).

Quanto ao tempo de retenção à memória pode ser classificada em: memórias de curta

duração que são aquelas mantidas por minutos ou segundos, assim como o número de um

telefone memorizado; memórias de longa duração são aquelas mantidas por dias, anos ou; por

toda vida e memórias ultra–rápidas cuja retenção não dura mais que alguns segundos

(SOUZA, 2001).

Certamente, nós como animais, possuímos a capacidade de modificar nosso

comportamento tendo como referência fatos passados, e essa habilidade é que se utiliza para

detectar novas memórias (SOUZA, 2001).

Sendo assim:

A memória é um fenômeno complexo que mobiliza quase a totalidade do cérebro. Ela acompanha todos os instantes da vida. Trata-se de uma extraordinária caixa de lembranças, mas não somente isso, porque ela constrói a realidade, enquanto matriz de comportamento. Ela está escondida nos entremeios do cérebro onde cem milhões de neurônios ligados por milhares de sinapses se ativam permanentemente numa infinidade de circuitos (GHIORZI, 2004, p.101).

“Não somos aquilo que somos simplesmente porque pensamos. Somos aquilo que

somos porque podemos lembrar aquilo que pensamos” (KANDEL & SQUIRE, 2003).

2.5 CONSCIÊNCIA

“É um estado de conhecimento acerca de sua existência e do ambiente” (FISH, 1967

apud SIMS, 2001). A consciência diz respeito a estar consciente, saber sobre si mesmo e

sobre o mundo.

Segundo Sims (2001 apud SCHARFETTER, 1980, p.84)

23

“O homem consciente não possui consciência, mais é um ser cônscio de uma forma indiscutível. A consciência não pode ser separada daquilo de que se está consciente; ela implica saber, entender algo – o objeto da consciência é sua dimensão social essencial”.

Ainda, segundo o mesmo autor, o homem que esta consciente e sabe perfeitamente o

que esta fazendo, possui percepção do ambiente ao qual está inserido e reflete sobre suas

ações, através de sua consciência. Ele ainda conhece as implicações que lhe são atribuídas.

Segundo Marini e Wheeler (1999 p.530),existem quatro termos que devem ser

utilizados para descrever o nível de consciência:

Alerta - quando está acordado;

Letárgico - despertado aos comandos simples;

Torporoso - despertado somente com estimulação vigorosa;

Comatoso - não despertado com estímulos.

2.6 COMA

Segundo Ratton (1999, p. 428), coma é definido como “o estado máximo da perda da

consciência, quando já não há qualquer resposta, mesmo a estímulos muito dolorosos”.

Este autor por uma ordem prática e dependendo da apresentação clínica classificou o

estado de coma conforme sua profundidade em:

• Obnubilação ou Estado Confusional Agudo ou Subagudo: o paciente percebe

defeituosamente o ambiente, processa de forma confusa os estímulos que

recebe, responde mal aos comandos e não reconhece pessoas e o ambiente.

Está ligado a distúrbios da oxigenação cerebral.

• Delirium: o paciente apresenta-se desorientado, medroso, irritável, percebe mal

os estímulos, podendo apresentar estados paranóicos, alucinações auditivas e

visuais. O paciente pode passar direto do estado de obnubilação para o coma.

• Torpor ou estupor: ocorre um embotamento sensorial, muito semelhante ao

coma, porém o paciente pode ser despertado por períodos limitados de tempo

quando de uma estimulação vigorosa.

• Coma Superficial: o paciente já pode ser considerado em coma, porém

apresenta preservação de respostas normais à estimulação do labirinto.

24

• Coma Profundo: os reflexos corneanos e oculocefálico estão abolidos.

Instabilidade do Sistema Nervoso Central.

• Coma Depassé: o coma é irreversível, neste caso há morte cerebral.

Contudo, salientamos que “esta classificação tem o valor e a intenção de uma

sistematização e não deve ser usada para registro dos casos de coma na prática clínica”

(RATTON, 1999, p. 428).

Para avaliar o nível de consciência e determinar a gravidade de saúde de um paciente é

utilizada a Escala de coma de Glasgow, que é uma referência mundial para os profissionais de

saúde. Através desta escala podem-se definir os diversos tipos de coma. São avaliados três

parâmetros e para cada resposta o paciente recebe uma nota que na somatória geral pode ser

de três a quinze. Quanto menor a nota recebida, mais grave o estado de saúde do paciente. São

observados: melhor resposta ocular, de 1 a 4 pontos, melhor resposta verbal, de 1 a 5 pontos,

e melhor resposta motora, de 1 a 6 pontos.

2.7 ANALGO-SEDAÇÃO

O termo sedar está fortemente associado á administração de qualquer substância para

controle da agitação psicomotora de um paciente (SILVA, 2001).

Analgesia – expressa a perda da sensibilidade à dor. Em uma unidade de terapia intensiva os

pacientes, na sua maioria, estão submetidos à sedação onde o objetivo é manter e restabelecer

a sensação de bem-estar, propiciar ventilação mecânica adequada e controle de agitação

psicomotora (SILVA, 2001).

Sedação - (de sedar, do latim sedare) reflete o emprego de substâncias calmantes ou indutoras

do sono. O paciente é mais difícil de ser acordado. Acorda com estímulos verbais e táteis, mas

dorme logo após. Obedece aos comandos simples (KNOBEL, 2002, p.224).

O medo e a dor são as principais causas da perda do bem-estar onde o indivíduo

apresenta alguns sinais e sintomas demonstrando seu desconforto. A ansiedade, a

irritabilidade e a agitação psicomotora são sinais importantes e constituem as principais

indicações de uso de sedativos e analgésicos (KNOBEL, 2002).

Neste sentido, a sedação ocorre quando o paciente recebe medicamentos para tornar-lo

inconsciente, propiciando maior conforto em fases do tratamento em que o estado de vigília é

desnecessário (AMIB-Associação de Medicina Intensiva Brasileira). A sedação é o processo de estabelecer um estado de relaxamento ou bem-estar. Ela não envolve necessariamente, como é freqüentemente assumido, um nível de consciência deprimido. As drogas mais frequentemente usadas são benzodiazepínicos e os analgésicos opióides. Os opióides possuem um efeito

25

sedativo proeminente e podem ser usados isolados ou em combinação com os benzodiazepínicos. Os benzodiazepínicos não possuem efeitos analgésicos; assim, não podem ser usados isoladamente em pacientes que apresentam dor como parte de seu estado de ansiedade (MARINO, 2000, p. 118).

Em terapia intensiva, os principais objetivos da sedação incluem reduzir a resistência à

ventilação mecânica, tratamento de distúrbios psiquiátricos ou problemas relacionados à

abstinência de substâncias de abuso, restauração da temperatura corpórea, redução da

ansiedade, facilitação do sono e redução do metabolismo. Em casos de traumatismo craniano,

o objetivo da sedação pode incluir a indução do coma, a fim de promover o “silêncio elétrico”

(EEC burst supression) do cérebro, reduzindo sua necessidade metabólica. Tal procedimento

pode estar associado ou não à indução de hipotermia para controlar as necessidades

metabólicas neuronais. O agente sedativo ideal deve possuir propriedades ideais como

mínimo efeito depressor dos sistemas respiratório e cardiovascular, não interferência no

metabolismo de outras drogas, e possuir vias de eliminação independentes dos mecanismos

renal, hepático ou pulmonar, resultando em uma meia-vida de eliminação curta, sem

metabólitos ativos (SILVA, 2007, p.02).

A sedação pode ser definida entre um simples estado de cooperação, com orientação

espaço-temporal e tranqüilidade ou apenas resposta ao comando, podendo incluir ou não a

hipnose. Para se avaliar o grau de sedação, empregam-se inúmeras escalas, sendo a mais

utilizada aquela proposta por Ramsay. A escala de Ramsay é utilizada como referência nas

Unidades de Terapia Intensiva ainda que a avaliação da sedação se baseia fundamentalmente

em observação clínica (SILVA, 2007, p.2).Salientamos para que o paciente obtenha uma

sedação e analgesia, a melhor avaliação na escala deve estar entre 3 e 4.Assim, o paciente

estará anestesiado lhe dando um maior conforto e ainda permanece com a resposta motora

presente não estando demasiadamente sedado.

Escala de Ramsay

NÍVEL DE ALERTA Ansioso, agitado ou relaxado 1 Cooperativo, orientado e tranquilo 2 Responde apenas com ordens verbais 3 NÍVEL DE INCONSCIÊNCIA Dormindo, com resposta tátil 4 Só responde a estímulo doloroso 5 Resposta ausente a qualquer tipo de estímulo 6

26

Entre os agentes farmacológicos disponíveis para a sedação, os opióides são drogas

que, além do seu efeito analgésico, promovem sedação importante e são empregados em

pacientes requerendo ventilação mecânica, pois inibem a ventilação, bem como o reflexo de

tosse. São empregados em associação com os benzodiazepínicos ou com o propofol. O uso

prolongado induz à ocorrência de tolerância. Os benzodiazepínicos (BZD) são as drogas mais

amplamente utilizadas na UTI. Os BZD possuem excelentes qualidades sedativas hipnóticas e

ansiolíticas, associadas à ação anticonvulsivante e relaxante muscular. A amnésia constitui-se

num efeito colateral desses compostos (SILVA, 2007, p. 02).

2.8 PRINCIPAIS DROGAS UTILIZADAS PARA ANALGO-SEDAÇÃO

Nosso estudo foi realizado com pacientes que foram submetidos á sedação com

medicações opiáceas e benzodiazepinícas. Portanto abordaremos brevemente as drogas mais

comuns utilizadas na Unidade de Terapia Intensiva com efeitos sedativos como: fentanil,

midazolam, ketamina e propofol.

a) OPIÓIDES

Os derivados químicos do ópio são denominados opiáceos. São os agentes mais

freqüentemente administrados para alívio da dor e sedação na UTI. Os mais freqüentemente

usados são a morfina e fentanil, administrados por via intravenosa (MARINO, 2000, p.114).

FENTANIL - É um opiáceo sintético muito potente e altamente lipossolúvel que possui seu

início de ação muito rápido e um tempo de efeito muito curto. É indicado para analgesia de

curta duração, anestesia geral e como suplemento da anestesia regional, tendo como efeitos

colaterais a depressão respiratória, e por este motivo, seu uso está restrito a pacientes

intubados em que se deseja além da analgesia, sedação moderada à intensa (MARINO, 2000,

p.114).

c) BENZODIAZEPÍNICOS

27

Os benzodiazepínicos parecem adequados para a UTI, pois possuem efeitos amnésicos

(amnésia anterógrada) e grande segurança farmacológica. São agentes sedativos e com ampla

aplicação terapêutica. Além de produzir amnésia, possuem propriedades anticonvulsivantes e

miorrelaxantes. Os efeitos sedativos dos benzodiazepínicos são mais pronunciados em

pacientes com debilidade geral, insuficiência cardíaca e insuficiência hepática. Embora não

causem depressão respiratória em indivíduos saudáveis, os benzodiazepínicos podem causar

depressão respiratória em idosos e pacientes com retenção crônica de gás carbônico

(MARINO, 2000, p.115).

MIDAZOLAM - É o benzodiazepínico de primeira escolha para sedação em curto prazo na

UTI. É o agente hipnótico preferencial em pacientes graves que necessitam de sedação, sendo

que quando associado ao Fentanil, é bastante utilizado para realizar procedimentos como

intubação traqueal, cateterização, cardioversão elétrica e outros (MARINO, 2000, p.115).

O midazolam é administrado em infusão contínua e, portanto, pode causar sedação excessiva

após períodos prolongados de infusão sendo esta a sua principal toxicidade com consciência

deprimida (MARINO, 2000, p.115). Indicado para sedação de uso prolongado, como indutor

do sono para realização de procedimentos diagnósticos, terapêuticos e anestesias.

Segundo o bulário de medicamentos do Laboratório Roche, várias reações adversas

podem ocorrer após a infusão injetável de midazolam. Porém, selecionamos alguns que

podem estar relacionados com as reações perceptivas dos sujeitos da pesquisa. Sabe-se que o

uso desta medicação causa depressão respiratória podendo ocorrer parada respiratória, por isto

este medicamento deve ser usado com cautela em pacientes que não estão internados em uma

UTI, pois o uso do ventilador mecânico pode ser necessário caso ocorra a necessidade de usar

este medicamento. Outras reações como alucinação, amnésia anterógrada, boca seca, e vários

outros eventos podem estar associados ao uso contínuo de midazolam.

d) OUTROS SEDATIVOS

PROPOFOL

É um sedativo de ação rápido introduzido como agente de indução anestésica e desde

então foi proposto para sedação breve em UTI. Sua principal vantagem é o despertar rápido, e

a principal desvantagem é o custo. Uma dose única intravenosa produz sedação dentro de um

28

minuto. A recuperação da sedação usualmente ocorre dentro de dez minutos e não é

aumentada pela administração prolongada. Os efeitos sedativos podem ser acompanhados por

depressão respiratória e vasodilatação podendo, desta forma, levar a hipotensão. O uso do

propofol em UTI apresenta uma grande vantagem em relação ao midazolam, já que o primeiro

promove o desmame muito mais rápido da ventilação mecânica (MARINO p.115, 2000).

KETAMINA (Cetamina)

A cetamina induz um estado de sedação, imobilidade, amnésia e analgesia acentuada.

É indicado como anestésico único em intervenções diagnósticas e cirúrgicas e que não

necessitem de relaxamento muscular. Apesar de ser apropriado para intervenções de curta

duração, pode ser empregado mediante administração de doses adicionais em procedimentos

mais prolongados. A analgesia intensa e amnésia são rapidamente estabelecidas. Após uma

única dose, a inconsciência dura de dez a quinze minutos, e a analgesia persiste por cerca de

quarenta minutos: amnésia é evidente durante uma a duas horas após a injeção inicial. Em

geral, o despertar leva várias horas, e não raramente caracteriza-se por sonhos desagradáveis e

até mesmo por alucinações. Quase a metade dos adultos que recebem cetamina, mostra delírio

ou excitação, ou apresenta distúrbios visuais (GOODMAN & GILMAN, 1996).

O conhecimento das reações causadas pelos medicamentos sedativos e analgésicos na

trajetória deste estudo é de suma importância, pois durante a análise dos discursos

conseguimos evidenciar tais reações, e ainda percebemos o quanto é perturbador ao paciente

ter pesadelos e reações alucinógenas causadas por estas drogas. Entretanto, a enfermagem

também pode contribuir neste momento na tentativa de interagir com o paciente e

proporcionar tranqüilidade diante desta situação vivida. Estamos cientes que existiram alguns

acontecimentos que não foram relatados pelos pacientes devido aos efeitos colaterais de tais

drogas, porém, durante a trajetória de nossa pesquisa conseguimos perceber que os pacientes

que estão submetidos à analgo-sedação conseguem ter lembranças dos momentos vivenciados

na Unidade de Terapia Intensiva.

29

III REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico deste estudo foi baseado na Teoria do ser humano unitário de

Martha Rogers, em que o ser humano é percebido como um todo (biológico, psicológico,

sócio-cultural e espiritual). Tem como principais valores e instrumentos a imaginação e a

criatividade. Mostrando os fatos e observações transcendentes e abstratas em uma análise

evolutiva dos problemas e conhecimentos (HORTA, 2004).

3.1CONCEITOS

3.1.1Ser humano

Rogers ao definir o ser humano descreve que cada homem é presumidamente um ser

humano unificado e com individualidades e que está em troca constante de energia com o

ambiente. Para a descrição do ser humano, é necessário compreender que cada pessoa

constitui o seu sistema pessoal e, para compreender esse sistema pessoal é necessário

compreender conceitos relevantes como: percepção, o próprio ser, o crescimento, a imagem

corporal, o espaço, o aprendizado e o tempo. Neste sentido, a percepção entra como um

processo no quais os dados obtidos através dos sentidos e da memória são organizados,

interpretados e transformados. Este processo de interação humana com o ambiente influencia

o comportamento, proporcionando significado à experiência e representa a imagem da

realidade da pessoa (GEORGE, 2000).

O ser humano é capaz de abstração, visualização, linguagem, pensamento, sensibilidade e emoções. Os homens são campos de energia irredutíveis, indivisíveis, pandimensionais, identificados por padrões e manifestam características e comportamentos diferentes dos das suas partes e que não podem ser previstos pelos conhecimentos de suas partes. (GEORGE, 2000, p.191 apud Rogers, 1992).

3.1.2Enfermagem

Para Rogers, enfermagem é uma ciência e uma arte. A ciência da enfermagem deseja

proporcionar um corpo de conhecimentos abstratos, resultantes de pesquisas científicas e

análises lógicas e é capaz de transferir seus conhecimentos para a prática. O uso criativo e

30

imaginativo do conhecimento para a melhoria do homem encontra expressão na enfermagem

cujo propósito é descrever e explicar o fenômeno central de interesse sendo expresso pelo

homem, indivíduo ou grupo (HORTA, 2004).

Rogers afirma que: A enfermagem é uma ciência humanística e humanitária, dirigida para a descrição e a explicação do ser humano em sua totalidade sinergística e para o desenvolvimento de generalizações hipotéticas e princípios previsivos básicos para a prática reconhecida. A ciência enfermagem é uma ciência da humanidade, o estudo dos seres humanos irredutíveis e seus ambientes (ROGERS, 1970 apud GEORGE, 2000, p.186).

3.1.3Enfermeiro

Rogers afirma que o enfermeiro é um agente de mudanças, que através das atividades

da enfermagem visa encontrar relações entre o homem e ambiente em seu processo vital.

Assim o enfermeiro estará se dirigindo para uma nova era em que ocorrerá o preenchimento

das reais necessidades humanas (HORTA, 2004).

3.1.4 Ambiente

O ambiente consiste da totalidade de padrões externos existentes no indivíduo. Tanto o

indivíduo quanto o ambiente são considerados sistemas abertos, sendo assim é um campo de

energia irredutível, indivisível, pandimensional identificado por padrões e integrado ao campo

humano (ROGERS, 1992 apud GEORGE, 2000, p. 191).

Portanto, em nossa pesquisa abordaremos o paciente inserido a um meio caracterizado

por uma UTI, onde acreditamos que mesmo permanecendo por períodos de sedação e

sonolência poderá perceber o ambiente. Desta forma é passível de lembranças dos momentos

vividos, pois percebe os movimentos e os fatos do seu entorno.

3.2 PRESSUPOSIÇÕES

Martha Rogers, ao elaborar a teoria do ser humano unitário estabeleceu cinco

pressupostos sobre os seres humanos.

No primeiro, a teórica afirma que o ser humano é um todo unificado possuindo uma

integridade individual e manifestando características que são mais e diferentes que a soma de

todas as partes. O ser humano é visível somente quando as particularidades desaparecem da

31

vista, onde devido a essa totalidade, o processo de vida do ser humano é um curso dinâmico,

contínuo, criativo, evolutivo e incerto, resultando em padrões variáveis e em constante

mudança (GEORGE, 2000).

No segundo pressuposto, Rogers presume que a pessoa e o ambiente trocam matéria e

energia entre si, onde se define que ambiente é “um campo de energia irredutível,

pandimensional, identificado por padrões e integrante do campo humano” (ROGERS, 1992

apud GEORGE, 2000, p.186).

O terceiro pressuposto afirma que o ser humano é a expressão da totalidade de eventos

presentes naquele determinado momento e é influenciado pelos eventos precedentes.

O quarto pressuposto descreve que é o padrão que identifica os indivíduos e reflete sua

totalidade inovadora.

Assim, o quinto pressuposto afirma que o ser humano caracteriza-se pela capacidade

de abstração e visualização, linguagem e pensamento, sensibilidade e emoção (GEORGE,

2000).

Ainda segundo a autora, existe um forte paralelo entre os pressupostos básicos de

Rogers e a teoria geral dos sistemas, onde um sistema é um conjunto de elementos inter-

relacionados. Os elementos inter-relacionados neste sistema abstrato são os seres humanos e

seus ambientes, sendo assim, o individuo é capaz de tirar e trocar energia e informação do

ambiente.

A teoria geral de sistemas é a ciência geral da totalidade. Preocupa-se com os

problemas de organização, fenômenos que não são decisivos para eventos individuais, e com

interações dinâmicas manifestadas na diferença de comportamento não são compreensíveis

através da investigação de suas respectivas partes isoladas (GEORGE, 2000).

Utilizando os pressupostos de Rogers, o processo da vida dos seres humanos torna-se

um fenômeno de totalidade. “A ciência da enfermagem é o estudo dos campos humanos e é

dirigida á descrição dos processos de vida da humanidade e a explicação e previsão da

natureza e da direção de seu desenvolvimento” (ROGERS, 1970 apud GEORGE, 2000

p.187).

O ser humano unitário é um campo de energia quadridimensional, identificado pelos

seus padrões e organização onde manifestam características diferentes daquelas de suas partes

e não podem ser previstas a partir do conhecimento destas partes. Sendo assim, com uma

totalidade, mantêm constante intercâmbio com o campo ambiental, ou seja, o ser humano não

pode ser separado de todas as coisas que o rodeiam, nem pode ser percebido pelo estudo de

suas partes (LEOPARDI, 1999).

32

Para Rogers, as características do ser humano unitário são agrupadas em três fatores:

Fator I-Interação:

Mudança: comer e beber, eliminação, respiração e dar e receber.

Comunicação: verbal e não verbal.

Relação: ter espaço, toque, contato visual, pertencer, referência e responsabilidade

familiar com o indivíduo doente.

Fator II-Ação:

Valores: crenças sobre saúde, interações humanas e espiritualidade.

Escolha: o ser humano faz escolhas com sabedoria, com ignorância ou nocivas e envolve

capacidade de julgamento e tomada de decisão, avaliação de alternativas, conseqüências e

compromissos.

Movimento: mobilidade (ritmo e padrão)

Fator III-Consciência:

Vigília: comportamento de sono, padrões e qualidade.

Sentimento: percebido e manifestado.

Saber: conhecimento de saúde, abstrações e habilidade para agir.

Assim, segundo Rogers, o processo vital no ser humano se organiza por três princípios

básicos: a integralidade, a ressonância e a helicidade.

Integralidade

Devido à inseparabilidade dos seres humanos e de seu ambiente, as mudanças

seqüenciais no processo de vida são revisões contínuas ocorrendo da interação dos seres

humanos e de seus ambientes, portanto a “integralidade é o processo de interação contínuo,

mútuo e simultâneo entre os campos humanos e ambientais” (GEORGE, 2000).

Ressonância

Indica a coerência entre campo humano e ambiental que são identificados por padrão

ondulatório, manifestando contínua mudança de padrões de ondas longas de baixa freqüência

para ondas curtas de alta freqüência, onde se identifica e evidenciam-se nos ritmos biofísicos,

emocionais e até mesmo sociais (LEOPARDI, 1999).

Helicidade

33

Trata-se da natureza e da direção da mudança no campo humano-ambiental. O campo

humano-ambiental é um sistema aberto, dinâmico, no qual a mudança é contínua devido à

troca constante entre o ser humano e o ambiente (GEORGE, 2000).

Diante disso, podemos afirmar que cada ser humano é um ser unificado com

individualidades. A percepção do paciente que foi submetido à sedação na Unidade de

Terapia Intensiva pode não sofrer alterações, pois mesmo estando sob sedação, ele pode

perceber o que está acontecendo a sua volta, através das sensações, ou seja, ouvir, sentir e

perceber as alterações no contexto. Assim como, a de tentar estabelecer alguma forma de

comunicação. Porém, muitas vezes, não percebemos este processo, às vezes, pelo preconceito

de que a analgo-sedação impede qualquer forma de comunicação.

Para Rogers, ”a enfermagem é tanto uma ciência quanto uma arte. A ciência da

enfermagem é formada por um corpo de conhecimentos abstratos, a que se chegou pela

pesquisa científica e análise lógica. A prática da enfermagem engloba a arte e consiste na

utilização do corpo de conhecimento, a serviço do ser humano”.

3.3 TEORIA EM RELAÇÃO À PRÁTICA

Neste estudo, a teoria e os pressupostos abordados orientaram a elaboração da

entrevista semi-estruturada destinada aos pacientes que estiveram internados na Unidade de

terapia intensiva e que permaneceram sedados por algum período. A proposta do estudo

envolveu o conhecimento das sensações destes pacientes, no qual acreditamos que os

mesmos, apesar de estarem analgo-sedados, podem perceber as reações do ambiente, assim

como, podem ouvir e interagir.

Contudo, a pessoa que passam por internação na UTI, existe sempre um conflito entre

a vida e a morte. Medo, insegurança, dores e dificuldade de se expressar em decorrência de

equipamentos, medicações e a própria condição de saúde deixam-nas extremamente

vulneráveis, o que exige por parte dos profissionais dessas unidades uma sensibilidade

aguçada, uma vez que estas pessoas estão fisicamente e emocionalmente abaladas

(SILVESTRE, 2006).

Neste sentido, gostaríamos de salientar a importância do conhecimento do profissional

de enfermagem sobre os sentimentos dos pacientes que estão sedados, já que muitas vezes,

tais pacientes por estarem impossibilitados de comunicação devidos o uso de medicamentos e

equipamentos, permanecem aflitos e sem respostas. Os profissionais, em sua maioria, acabam

realizando suas tarefas rotineiras e esquecem de cuidar o lado emocional do paciente,

34

acreditamos que uma palavra de conforto pode estabelecer um vínculo entre profissional de

enfermagem e paciente.

3.4 PRESSUPOSTOS DOS AUTORES

Com base no referencial teórico partimos do pressuposto que o ser humano é um ser

racional que apresenta sentimentos e sensações, percebendo as alterações do ambiente no qual

está inserido, é dotado de emoções que estão presentes em todos os momentos da vida.

A enfermagem deve estar baseada em um modelo humanista e não mecânico, devendo

estabelecer um contato contínuo não somente na assistência, mas também, deve estar

interligado com as emoções, no acolhimento e na percepção do paciente como um todo,

observando suas reações e respeitando a individualidade de cada ser humano.

A Unidade de Terapia Intensiva é um local em que se detecta um aumento da

ansiedade por parte dos pacientes internados quando inseridos neste contexto,isso devido a

perda da autonomia,a impossibilidade de verbalizar ,o conflito de vida e morte.Isto implica

maior atenção por parte dos profissionais para que possam prestar um cuidado focalizado no

ser humano e seus sentimentos.

35

4 PROCESSO METODOLÓGICO O processo metodológico deste estudo compreende as seguintes etapas:

4.1 TIPO DE ESTUDO

O estudo é qualitativo de natureza exploratória/descritivo, em que propusemos

abordar, junto aos pacientes previamente selecionados (público alvo), determinadas questões

inter-relacionadas que compõe a indagação fundamental do estudo, isto é, a percepção do

paciente submetido à analgo-sedação, sendo assim, trata-se de uma abordagem

predominantemente qualitativa.

A abordagem trabalhou “com universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos

e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”

(SILVESTRE, 2006, p.69).

Como pesquisa de abordagem qualitativa, utilizamos o Discurso do Sujeito Coletivo

de Lefévre; Lefévre (2005) no referencial de análise que é uma proposta de tabulação de

dados qualitativos obtidos através de depoimentos consistindo em analisar o material verbal

coletado se extraindo de cada um dos depoimentos as idéias centrais ou ancoragens e as suas

correspondentes expressões-chaves. Estas serão à base das idéias centrais ou ancoragens por

meio das quais se compõe um ou vários discursos-síntese escritos na primeira pessoa do

singular (LEFÉVRE; LEFÉVRE, 2005).

O pressuposto que sustenta este referencial de análise é que o pensamento coletivo

pode ser visto como um conjunto de discursos sobre um dado tema, visando dar a luz ao

conjunto de individualidades semânticas componentes de um imaginário social (LEFÉVRE;

LEFÉVRE, 2005).

4.2 LOCAL DO ESTUDO

A instituição do estudo é um hospital geral, público de Florianópolis, Santa Catarina.

Tem como finalidade: administrar o conjunto de elementos do hospital, destinados a receber

pacientes que necessitam de assistência contínua, em regime de internação, emergência e

ambulatorial e também de promover o aperfeiçoamento de pessoal técnico, multiprofissional e

investigação científica (SILVESTRE, et al, 1998).

36

A capacidade normal do hospital é de 97 leitos, sendo o local de desenvolvimento do

estudo a unidade de terapia intensiva correspondendo a cinco por cento dos leitos do hospital.

O hospital atende a clientela Sistema Único de Saúde (SUS). Tem como objetivo:

a) Planejar, organizar e dirigir todas as atividades desenvolvidas nas unidades de internação.

b) Proporcionar assistência médica e de enfermagem e de outros profissionais de saúde de

forma contínua aos pacientes internados nas especialidades determinadas;

c) Assegurar os recursos humanos através da distribuição qualitativa e quantitativa de pessoal

de acordo com as áreas de atividades, observando folgas, férias e licenças (SILVESTRE,

2006).

A Unidade de Terapia Intensiva com capacidade de cinco leitos, está localizada no

terceiro andar ao lado do centro cirúrgico e da central de esterilização de materiais, seu espaço

é dividido em: uma sala com capacidade para cinco leitos que não obedecem aos padrões

exigidos pelo Ministério da Saúde (RDC-50) de 10 m² em cada Box (BRASIL, 2002). Possui

ainda um pequeno espaço para lanche dos profissionais, uma sala de utilidades, guarda de

roupas, materiais e equipamentos. Uma sala com banheiro e chuveiro para o repouso dos

profissionais médicos e uma sala com banheiro e sem chuveiro para os profissionais de

enfermagem (SILVESTRE, 2006, p.70).

A equipe de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva é composta por 05

enfermeiras sendo distribuídas em 01 no período matutino, 01 no vespertino e 01 para cada

plantão noturno, 17 técnicos de Enfermagem e 03 auxiliares de enfermagem.

A carga horária semanal é de 30 horas, dependendo das possibilidades do setor em

termos de dimensionamento de pessoal. A deficiência na cobertura de plantões é amenizada

com hora-plantão.

4.3 SUJEITOS DO ESTUDO

A população alvo foi constituída por pacientes submetidos à analgo-sedação e que

estiveram internados na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Florianópolis.

Selecionamos 50 pacientes que estiveram internados nesta unidade entre os anos de 2006 e

2007. Esta busca foi desenvolvida após a autorização do diretor do hospital (APENDICE- B).

De posse dos endereços e telefones, conversamos com o paciente e família, através de contato

37

telefônico, investigamos a possibilidade de um encontro - visita domiciliar2 de acordo com a

disponibilidade de horário, para realização da entrevista.

Os critérios utilizados para a participação do estudo foram:

• Ter sido internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Florianópolis e ter

recebido analgo-sedação por um período não inferior a três dias;

• Aceitar a proposta de participação do estudo através do contato telefônico;

• Ter mais que 18 anos não existindo limite de idade;

• Interesse em compartilhar as experiências vividas e em condições físicas e

psicológicas favoráveis para expressarem de modo natural suas lembranças e

vivências.

● Aceitar a visita domiciliar para realizar a entrevista e assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido que está fundamentado nas normas regulamentadoras de

pesquisa envolvendo Seres Humanos.

Atingimos um total de 10 pacientes entrevistados dos quais 03 destes ainda

permaneciam nas enfermarias do hospital. As entrevistas destes interagentes foram realizadas

nas dependências do hospital dos quais o convite para a participação do estudo foi realizado

pessoalmente e mediante aceitação, marcamos a entrevista no horário e dia de sua preferência.

A fim de garantir o anonimato dos sujeitos do estudo e os relatos, os participantes

foram identificados por letras maiúsculas do alfabeto ao final da entrevista, já que na proposta

de análise deste estudo, o pseudônimo não representa referência nas falas e o discurso

individual passa a ser um só discurso.

4.4 ASPECTOS ÉTICOS

“Ética é a ciência do comportamento humano em relação aos valores, aos princípios e

as normas morais” (SGRECCIA, 2002, p.139).

Uma vez que este trabalho foi desenvolvido com seres humanos, a preocupação com

os aspectos éticos foi eminente. Para tanto nosso projeto passou pela avaliação e aceite da

2 “A visita domiciliar constitui uma atividade utilizada com o intuito de subsidiar a intervenção no processo de saúde-doença de indivíduos ou no planejamento de ações visando à promoção da saúde da coletividade” (MARASQUIN, 2003 et al apud TAKAHASHI, 2001 p.43).

38

orientadora do estudo (APÊNDICE-D) e encaminhado a Comissão de Ética da Universidade

do Vale do Itajaí, cujo parecer favorável (Nº 405/07) esta em anexo.

O diretor do hospital do estudo recebeu uma Declaração de Ciência e Aceite para a

pesquisa (APÊNDICE-B). Também foi construído o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (APÊNDICE-C) para os interagentes que foi entregue, lido e discutido no inicio

da entrevista. O formulário de consentimento é um documento legal, assinado pelo paciente, que protege tanto o pesquisador como a instituição em que se realiza o experimento. Esse documento deve ser protocolado na pesquisa e deve ser redigido de forma simples, porém exata. Já o consentimento do paciente não tem natureza legal, mais sim ética. Para obter o consentimento do participante, é preciso que o pesquisador explique toda a situação para a pessoa, só assim podendo decidir sobre a participação na pesquisa (SEGRE & COHEN, 2002 p. 166).

O estudo é fundamentado na Resolução 196/96 em que incorpora sob a ótica do

indivíduo e das coletividades os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não

maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que

dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (BRASIL, 1996).

Assim, as normas éticas que regem as pesquisas com seres humanos foram

desenvolvidas e implementadas preocupando-se com o contexto e influência globais dentro da

sociedade (FILHO & URBAN, 2001).

Com a finalidade de orientação ética durante a trajetória deste estudo, utilizamos os

referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e paternalismo.

Autonomia - A pessoa autônoma é aquela que tem liberdade de pensamento, que escolhe

entre alternativas que lhe são apresentadas (SANT’ANNA & ENNES, 2006 p.53 apud

FORTES,1998). Fundamenta-se no dever de não interferência e de não limitações das

decisões autônomas (SILVESTRE, 2006).

“Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu

bem-estar” (SANT’ANNA & ENNES, 2006 p.53 apud Art.27 do Cepe).

Não maleficência- É entendido como obrigação de não causar prejuízos ou danos a outrem

intencionalmente.

Beneficência - estabelece que devemos fazer o bem aos outros. Entende-se por o desejo de

promover benefícios, por benevolência o desejo de fazer o bem, e por benemerência, merecer

o bem (SANT’ANNA &ENNES, 2006, p.58).

39

Paternalismo – SILVESTRE (2006, p. 73), afirma este principio como algo não ético e

negativo, se caracterizado como um conflito entre a beneficência e a autonomia. Menciona

ainda que: Interfere intencionalmente nas decisões autônomas das pessoas, justificando a atitude pelo objetivo de beneficiar ou evitar dano, acreditando conhecer (melhor que a própria pessoa) o que é melhor para ela. Assim pode-se restringir a liberdade das pessoas justificando que é pelo seu bem.

Gostaríamos de salientar que a privacidade e o sigilo foram considerados durante a

elaboração deste estudo, pois concordamos com SANT’ANNA & ENNES (apud Cartilha de

Direitos do paciente, 1995) quando menciona que “o paciente tem direito de ser resguardado

de seus segredos, através da manutenção do sigilo profissional”.

O pesquisador deve respeitar a autonomia frente ao consentimento da pessoa sujeito da

pesquisa, sendo que esta a qualquer momento poderá abandonar a pesquisa, sem que sofra

qualquer tipo de coerção por parte dos pesquisadores (SEGRE & COHEN, 2002, p.60).

4.5 PROCEDIMENTOS

Os procedimentos para realização da coleta de dados desta pesquisa estão divididos

em: Trajetória para levantamento dos interagentes e entrevista semi-estruturada.

4.5.1 TRAJETÓRIA PARA LEVANTAMENTO DOS INTERAGENTES

O primeiro passo para seleção dos interagentes desta pesquisa foi realizada na Unidade

de Terapia Intensiva onde buscamos, através do livro de registro de admissão e alta de

pacientes, identificar os pacientes egressos que receberam analgo-sedação por um período que

não seja inferior a três dias. Buscamos ainda, pacientes que estiveram nesta unidade entre os

anos de 2006 e 2007. Esta seleção ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2007.

Após a seleção dos egressos, buscamos através do Serviço de Arquivo Médico

(SAME), coletar os dados pertinentes à pesquisa no prontuário do paciente, onde

identificamos o nome, endereço, telefone, tempo de permanência na UTI e as drogas

utilizadas para efetuar a analgo-sedação. Esta fase do levantamento ocorreu no mês de

Dezembro de 2007 e meados de Janeiro/2008.

Os participantes deste estudo foram selecionados a partir dos critérios exigidos pela

pesquisa, portanto não houve pré-requisito por patologia ou problemas colaborativos. Sendo

40

assim, os participantes deste estudo divergem dos motivos de suas internações e cada qual

expressou seus sentimentos percebidos e lembranças de sua internação na Unidade de Terapia

Intensiva. Diante disso nosso trabalho contou com a participação de interagentes com diversas

patologias dentre as quais podemos citar: Politraumatismos por acidentes de trânsito assim

como pós-operatórios de peritonite, choque séptico, parada cardiorespiratória entre outras.

Ressaltamos que de forma geral, os sujeitos desta pesquisa, permaneram em analgo-

sedação de quatro a dez dias, sendo que em todos os entrevistados foi administrado Fentanil e

Midazolam. Não realizamos entrevistas com pacientes que utilizaram outros sedativos pela

impossibilidade de contato ou não aceite em participar do estudo.

Após toda esta trajetória iniciamos o contato telefônico que aconteceu nos meses de

Janeiro/2008 e Fevereiro/2008, realizamos o convite para a participação do estudo e

explicamos nossos objetivos de pesquisa. A partir da aceitação do convite, as entrevistas

aconteceram mediante o agendamento das visitas domiciliares e foram realizadas no decorrer

do mês de Março /2008.

A maior dificuldade foi o contato telefônico onde, muitos telefones não eram mais do

pacientes, celulares inexistentes, alguns eram de outras cidades, uma paciente já havia

falecido, outro não aceitou participar da pesquisa e alguns pacientes residiam em outras

cidades.

Estas entrevistas em sua maioria foram feitas em domicilio sendo em um total de 07

(sete). Três entrevistas foram realizadas nas dependências do hospital Florianópolis, pois os

pacientes ainda permaneciam em tratamento na unidade hospitalar. Obtivemos um total de 10

(dez) entrevistados.

4.5.2 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Para assegurar que a decisão da participação das entrevistas fosse de livre escolha, os

sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

A entrevista (APENDICE-A) foi organizada ou agrupada por ordem de pensamento e

informações a respeito de como se sentiram quando recebiam o cuidado de enfermagem pelos

profissionais na unidade de terapia intensiva, como perceberam a sua internação e que

lembranças possuem do momento vivenciado nesta unidade.

Para este tipo de estudo, foi necessária a construção de perguntas abertas as quais

favoreceram o desenvolvimento da pesquisa direcionado para um conjunto de pessoas. Este

41

tipo de pergunta permitiu que os interagentes expressassem livremente seus discursos. Assim,

a entrevista semi-estruturada permitiu que as respostas fossem espontâneas.

As entrevistas foram realizadas no decorrer do mês de março de 2008 nas residências

dos sujeitos de estudo. Estas foram realizadas pelos pesquisadores acadêmicos de

enfermagem com a preocupação de explicar todos os procedimentos a serem realizados. Este

processo aconteceu desde a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, a toda a

entrevista, inclusive as perguntas que seriam realizadas, a fim de manter um ambiente

tranqüilo e que o sujeito pudesse sentir-se cômodo diante dos questionamentos.

Vale ressaltar que os dados colhidos nas entrevistas foram arquivados pelos

acadêmicos e orientadora do estudo a fim de assegurar sua confidencialidade.

ESTRATÉGIAS – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

As estratégias utilizadas para a entrevista foram divididas em: Acolhimento e

entrevista.

Acolhimento: No primeiro momento, após a chegada em cada residência, foi possível

tranqüilizar os interagentes esclarecendo que não se tratava de perguntas formais para que se

sentissem tranqüilos nas respostas. Mesmo assim, percebemos certa preocupação pela

demonstração de acanhamento por alguns interagentes, no sentido de corresponder a suposta

expectativa dos entrevistadores. Porém, também demonstraram interesse através da

participação efetiva, com respostas honestas e recepção acolhedora em suas residências.

Entrevista semi-estruturada: Antes do início da coleta de dados explicamos a cada

interagente como transcorreria a entrevista. Orientamos que as falas seriam gravadas no

sentido de deixá-los tranqüilos diante deste procedimento. Optamos por ler todas as perguntas

antes de iniciar a entrevista a fim de buscar maior compreensão.

Registro: O registro das observações e inferências foram feitos em um diário de campo. Os

discursos foram gravados em um microgravador e depois transcritos cuidadosamente a fim de

manter a integralidade dos discursos.

4.6 REGISTRO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

42

O registro e análise das informações se deram em conjunto com a teoria do ser

humano unitário de Martha Rogers. Todas as entrevistas gravadas e transcritas foram

analisadas, tendo como referência Lefévre & Lefévre (2005) através do Discurso do Sujeito

Coletivo a partir das figuras metodológicas, expressão-chave e idéia central.

Assim, na dimensão analítica e descritiva, o discurso dos interagentes permitiu a

identificação de idéias, dos sentimentos e percepções para estruturar a forma que perceberam

os cuidados de enfermagem ou lembranças vividas nos momentos em que estavam na

Unidade de Terapia Intensiva. Esta é uma forma de fazer a coletividade falar diretamente,

visando dar a luz ao conjunto de individualidades e que foram posteriormente agrupadas

segundo suas similaridades, fornecendo as ancoragens como:

●Expressões chaves-(ECH) - revelaram a essência do depoimento ou do conteúdo

discursivo dos segmentos que correspondem á questão de pesquisa, sendo que as transcrições

literais do discurso foram divididas destacando-as para constituírem os Discursos do Sujeito

Coletivo, como prova discursivo-empírica da verdade das idéias centrais e das ancoragens.

Também, através deste DSC foi possível saber a pertinência ou não da seleção dos discursos

(LEFÉVRE & LEFÉVRE, 2005).

●Idéias centrais- (IC)- descreve e revela de maneira mais sintética, precisa e fidedigna

possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo, que

deu nascimento, posteriormente ao Discurso do Sujeito Coletivo. Não como interpretação,

mas como descrição do sentido de um ou mais depoimentos. As idéias centrais foram dadas

através das descrições indiretas ou mediatas sobre o tema. Sendo assim foi realizado o

levantamento das idéias centrais correspondente a cada tema (LEFÉVRE & LEFÉVRE,

2005).

●Ancoragem –(AC)- As expressões-chaves remeteram, além da idéia central, a uma

ancoragem que foi alicerçada ao referencial teórico (SILVESTRE, 2006, p.77).

●Discurso do sujeito coletivo–(DSC) - foi realizado sob forma de discurso-síntese,

redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas ECH que tem a mesma IC ou AC.

Foram realizadas questões abertas propostas com intuito de buscar o resgate do discurso como

sinal de conhecimento dos próprios discursos, buscando reconstruir com pedaços de discursos

individuais, como um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos foram julgados

necessários para expressar, a percepção dos interagentes obtida no momento em que

estiveram em analgo-sedação na Unidade de Terapia Intensiva.

Deste modo, os Discursos do Sujeito Coletivo obedeceram às ancoragens de acordo

com os objetivos da pesquisa: A percepção dos egressos de UTI submetidos em analgo-

43

sedação expressa em seus sentimentos; Descrição das ações de enfermagem percebidas pelo

paciente durante a analgo-sedação; as impressões que ficaram após internação na UTI que

serão descritas no capítulo seguinte.

44

V DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

Para facilitar a leitura e entendimento da análise dos dados, elaboramos um quadro em

que constam os tópicos fundamentais obtidos através dos discursos.

5.1 PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À ANALGO-SEDAÇÃO

5.1.1 Distorções na percepção através dos órgãos dos sentidos

a) Audição ausente x barulho

b) Compreensão comprometida

ANCORAGEM: Lucidez x alucinação

c) visão

ANCORAGEM: Paranóia / alucinação

ANCORAGEM: Percepção de sonhos x confusão mental

ANCORAGEM: Visão relacionada a familiares

ANCORAGEM: Percepção da UTI como ambiente ruim

d) percepção tátil

ANCORAGEM: O toque

ANCORAGEM: O banho

e) sensação térmica

f) o desejo não saciado x comportamento dos trabalhadores e percepção das necessidades do

usuário

5.1.2 Percepção psíquica e cognitiva

a) Necessidade fisiológica?

ANCORAGEM: A sede

b) Sonho x pesadelo = desconforto

c) Medo da morte

ANCORAGEM: Agonia

d) O corpo anestesiado e a mente atenta x grau de anestesia?

5.2 AÇÕES DE ENFERMAGEM PERCEBIDAS DURANTE ANALGO-SEDAÇÃO

a) A ausência de dor

b) desconforto produzido pelo barulho

45

ANCORAGEM: Presença de alarmes

ANCORAGEM: Presença de aparelho de TV x perturbação

c) Higiene oral x satisfação de necessidade não expressada

d) O tubo – acesso x desconforto – incômodo

e) Mudança de decúbito x desconforto – imobilidade

f) Privação sensorial x percepção

ANCORAGEM: Percepção do sedativo

g) O cuidado que produz vergonha x respeito aos limites do outro

h) Dificuldade de perceber e/ou expressar o cuidado

i) O cuidado profissional

j) Percepção do processo de trabalho em UTI

5.3 IMPRESSÕES QUE FICARAM

a) Lembranças da vida x preocupação família

b) A busca de explicações – castigo

ANCORAGEM: A experiência de estar no inferno

ANCORAGEM: Reflexões sobre a experiência de vida

c) Lembranças x esquecimentos

OS DISCURSOS

Após a articulação dos diferentes conjuntos de expressão-chave relativa à idéia central,

chegamos à identificação de diferentes discursos. O conjunto desses discursos foi à revelação

da base coletiva da fala de cada uma das pessoas da pesquisa, isto é, o DSC e traduziu o

essencial do conteúdo discursivo. “É como se o discurso de todos fosse o discurso de um”

(LEFÉVRE & LEFÉVRE, 2003, p.83).

5.1 PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À ANALGO-SEDAÇÃO A concepção de percepção como aquilo que se percebe a partir de algo externo e que

desta forma agirá sobre nosso sentido e sobre o sistema nervoso e que, por sua vez recebe

uma resposta por parte de nosso cérebro e volta ao estímulo em forma de sensação foi a mais

dominante das concepções. Esta visão estreitada e pontual da percepção representada pelo

46

objeto externo que toca um dos órgãos dos sentidos é reforçada pela concepção dos

intelectualistas de que a “sensação conduz a percepção como síntese ativa, isto é depende do

seu entendimento” (CHAUÍ, 2001, p.121 apud Silvestre, 2006, p.44). Porém neste estudo

enfatizamos um aspecto importante da percepção que é caracterizado pela representação, ou

seja, a representação de um estímulo que constitui a capacidade do indivíduo em ampliar sua

capacidade de percepção.

Sendo assim, perceber é definir e descrever um estímulo cuja imagem se apresenta de

modo o que vejamos em sua essência, sob todas as faces de sua totalidade (SILVESTRE

2006).

5.1.1 Distorções na percepção através dos órgãos dos sentidos

O sistema nervoso tem a capacidade de se ligar ou desligar para determinados

estímulos. Os receptores corporais respondem de maneira diferenciada a um estímulo

constante, alguns receptores acomodam-se ou se adaptam a determinados estímulos. Há uma

perda de significado porque o sinal já foi identificado e deixa no momento de ser o estímulo

mais importante. Uma característica especial dos receptores sensoriais é que eles se adaptam

parcial ou completamente a qualquer estímulo constante, após certo período de tempo. Isto é,

quando é aplicado estímulo sensorial contínuo,o receptor responde inicialmente com alta

freqüência de impulsos e após, com freqüência progressivamente mais lenta, até que

finalmente, a freqüência dos potenciais diminui, até muito pouco ou, frequentemente, a

nenhum de todo (GUYTON & HALL, 2002).

DSC - Audição ausente x barulho

Ancoragem – audição ausente. [..] Não ouvia, no começo, assim, não ouvia nada. [...] Não escutava Ancoragem – audição presente [..] Daí depois, assim, uns dias, eu comecei a escutar, a perceber, sentir...[...] Eu escutava barulhos e conversas, mas aquilo parecia que era muito longe,.Mas escutava..[...] Eu ouvia, eu me lembro perfeitamente, “á o pé, seu E..., olha o pé, vai voar seu E..”...Todo mundo, né, o pessoal conversando no telefone quando tocava, eu me lembro perfeitamente, também [...]sim, escutava[..]. O ser humano possui cinco sentidos básicos em que a audição é um deles, é

responsável por fazer a captação do som emitido no ambiente. Os sons são gerados após a

47

liberação de diferentes ondas sonoras no ar e assim podemos perceber o diferente som

captado pelo sistema auditivo o que se deve as diferenças de freqüência existente em cada

onda sonora (GUYTON, 1992).

O ouvido é o orgão responsável pela captação do som para o sistema auditivo. Ele

divide-se em três partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. Cada parte desta

divisão possue estruturas anatomo fisiológicas diferentes e funções diferentes.

Conhecendo as estruturas do sistema auditivo observamos que o ouvido externo capta

as ondas sonoras do ambiente, discrimina suas freqüências através do ouvido médio em que

irá conduzir, através da cóclea, as informações auditivas para o córtex cerebral, no sistema

nervoso central, onde será decifrado o significado do som (GUYTON, 1992).

Os sons emitidos em um ambiente de UTI são dos mais diversos possíveis. Existem

sons fracos ou fortes, agudos ou graves e ainda sons longos ou breves. Vimos que alguns

pacientes no inicio não conseguem escutar. Porém outros relatam que ouviam diversos tipos

de sons.

Os barulhos existentes na UTI são provenientes de alarmes de monitores, bombas de

infusão, ventilador mecânico entre outros extressores auditivos do ambiente. Observamos que

os comentários a beira do leito do paciente, muitas vezes desagradáveis podem ser

perfeitamente percebidos. Os pacientes estão em cima de uma cama, geralmente colocados

em uma posição em que a audição pode ser o sentido mais utilizado, encontra-se imóvel com

vários instrumentos invasivos necessários para sua recuperação, porém preserva seu nível de

consciência e procura captar todas as vibrações sonoras do ambiente.

Neste sentido Rogers argumenta em seu princípio de ressonância que o processo vital

é uma sinfonia de vibrações rítmicas oscilando em várias frequências,isso significa que o

homem experimenta seu ambiente como uma onda ressonante de complexa simetria com o

mundo que o envolve em sua totalidade e unidade (HORTA,2004).

Para tanto, o enfermeiro de UTI deve orientar sua equipe afim de evitar barulhos

desnecessários. Comentários desagradáveis devem ser evitados nas proximidades do leito. As

conversas dentro da UTI deve existir, porém o tom de voz que é utilizado muitas vezes não é

o adequado para um ambiente onde já existem vários fatores que podem causar desconforto

auditivo ao paciente.

Salientamos que o tipo e a varidade dos estímulos aos quais a pessoa está exposta ,

afetam sua percepção, isto depende da cultura e da educação recebida. É o que argumentam

Murray; Atkinson (1985) em que as pessoas são capazes de treinar seus sentidos, focalizando

48

seu pensamento consciente sobre as sensações que estão recebendo.Um som agradável para

uma cultura ou subcultura pode parecer terrível para outra.

O hospital com seus sons, odores e visões peculiares, pode ser considerado uma

subcultura muitas vezes estranha para os pacientes que dele utiliza. As pessoas e seus

comportamentos podem parecer estranhos e impróprios .O ruido do monitor cardíaco ,o

“clique” da bomba de infusão e a passagem de pessoal constante dentro da unidade pode

parecer tranquilizador para a enfermeira e extremanente assustador para o paciente. Este medo

pode resultar um aumento do estado de alerta e da percepção causando impossibilidade de

repousar ou dormir(MURRAY;ATKINSON,1985).

[...]Tem também aquela, tem uma maquininha que faz um barulhinho direto fica tam tam tam. Aquilo ali grava muito na gente [..]. a) DSC - Compreensão comprometida Ancoragem – lucidez x alucinação [...] Mas, só que eles falavam, mas eu não entendia, não entendia, quem era ou quem não era, não entendia, [...] Escutar depois como eu poder ouvir os médicos falar, eu ouvia eles dizer “ó, ele não tem cura, ele não tem... Não tem mais vida”. Isso eu escutava eles dizer, as enfermeiras também diziam a mesma coisa. E corria lágrima pelos olhos, né? Mas não que eu tava percebendo o que era e... Só que o médico dizia pra elas, que eu não tinha mais vida, se ainda, se eu tivesse vida eu ia ficar inconsciente como uma criança pequena..[..] Não há dúvidas que o aperfeiçoamento das Unidades de terapia Intensiva determinou

um impacto significativo no cuidado prestado a pacientes em estado crítico. E com isso,

podemos salientar que os profissionais de enfermagem tornaram-se mais aprimorados em seus

conhecimentos e técnicas, contudo, afastando-se do cuidado emocional e esquecendo por

vezes, que o paciente no qual estão trabalhando não está livre de estar ouvindo e entendendo o

que passa ao seu entorno.

É correto afirmar que a tecnologia favorece o atendimento imediato, o diagnóstico

mais preciso, dá segurança a toda equipe de UTI, porém pode contribuir para o processo de

desumanização, tornando relações frias e distantes, fazendo com que o paciente sinta-se

abandonado e invisível (HAYASHI; GISI, 2000).

O discurso dos interagentes demonstra que os pacientes mesmo submetidos ao uso de

sedativos, ou ainda que pareçam estar “dormindo” não estão livres de perceber o cuidado de

enfermagem ou ainda de estar ouvindo os comentários dos profissionais.

49

Segundo Lent (2005) percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais à

memória e a cognição de modo a formar conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e

orientar nosso comportamento.

Porém, Silvestre (2006) alerta que a percepção é caracterizada pela representação que

constitui uma trava para a ampliação da percepção de cada pessoa. Alerta ainda, que como

trava, muitas vezes, impede a descrição do estímulo em sua totalidade sob todas as faces. Pois

só compreendemos uma das partes e não a essência do estímulo, como na interpretação.

Deste modo, podemos caracterizar que um paciente que está impossibilitado

momentaneamente de comunicar-se ou até mesmo que esteja sob analgo-sedação possa estar

percebendo através de seus sentidos, assim como pode perceber o ambiente e todo o processo

de cuidado.

Para contribuir com esta idéia Rogers postula a inseparabilidade do homem e do

ambiente e prediz que mudanças seqüenciais no processo vital são contínuas, ocorrendo

revisões probabilísticas entre eles. Assim, os seres humanos experimentam seus ambientes

como uma onda de ressonância unindo-os com o resto do mundo. Isto ajuda a compreender o

ser humano em sua totalidade e que sempre estará em constante interação entre os campos

humano e ambiental (GEORGE, 1993).

Lars Grael (2001, p.26) contribui com essa idéia quando relata sua experiência de

internação na Unidade de Terapia Intensiva: Colocaram uma toalha que parecia uma extensão da perna. Talvez para evitar o choque psicológico de descobrir a amputação. Partindo do pressuposto de que eu estava dormindo, os dois médicos que me atendiam combinaram de dar a noticia da amputação em doses homeopáticas. Quando me acordaram, eu já conhecia o plano e tudo o que eles tinham a me dizer: Você sofreu um acidente, foi grave, você machucou a perna... Deram uma volta enorme. E eu já sabia exatamente onde pretendiam chegar.

c) DSC - Visão

[..] Daí, depois, eu só olhava. [...] Ah, só conseguia enxergar as pessoas, assim... Mas não sentia nada, [...], eu enxergava as pessoas, via, se movimentando, tudo, mas não, [...] eu via muita gente, num lugar grande, todo branco[..]. Os indivíduos dependem muito do sentido da visão para obterem informações sobre o

meio e sobre si próprios. O olho é capaz de responder a várias intensidades e freqüências

luminosas. A acuidade visual depende em parte da estrutura do olho e em parte do

funcionamento do sistema nervoso e da área cortical que recebe os estímulos das células

receptoras dos olhos (MURRAY; ATKINSON, 1985).

50

Assim,o nível de consciência afeta o processamento e a interpretação dos estímulos, a

nível de sistema nervoso central. Podemos então considerar que, os interagentes deste estudo

estavam sob efeito de medicamentos sedativos o que pode diminuir a capacidade de

interpretação e de resposta aos estímulos recebidos. Mesmo assim, são capazes de relatar os

momentos que visualizavam o ambiente e os profissionais, porém relataram a privação de

outras sensações.

Ancoragem – Paranóia/alucinação

[...] Mas, assim, pra mim, enquanto eu tava lá, até o dia em que eu subi pro quarto, eu sempre achava que eles queriam me matar. Mas eu sempre achei que eles tavam tramando pra me matar, todo o remédio que eles me davam era pra me matar. E eu não podia ver ninguém conversando, porque daí eles tavam tramando, como é que um tava passando pro outro como é que iam fazer pra me matar, aquela coisa, assim.[...] sonhava assim, tava dormindo,via que o prédio tava caindo, rachando, eu olhava, aí chamava a enfermeira, assim, “ó, tá rachando lá, vai cair em cima de mim’, eu dizia. Eu dizia, eu me lembrava disso, eu me lembrei disso[..].

As alucinações são tidas como falsas percepções de um objeto. É quando um indivíduo

possui impressões ou experiências sensoriais falsas sem a presença de um objeto.

“Alucinações propriamente ditas são falsas percepções que não são de modo algum distorções

de percepções reais, mas surgem por conta própria como algo bastante novo e ocorrem

simultaneamente e paralelamente com a percepção real” (JASPERS, 1962 apud SIMS, 2001,

p.84). As alucinações são fenômenos mentais que ocorrem na forma de imagens,

são derivadas de fontes internas de informações, são avaliadas incorretamente como se oriundos de fontes externas de informações e geralmente ocorrem de uma forma intrusiva. Cada um desses quatro conceitos refere-se a um conjunto separado de processos psicológicos, embora juntos constituam uma experiência holística” (SIMS, 2001, p. 84 apud HOROWTZ, 1975).

O autor coloca que as alucinações podem ocorrer juntamente com outros fenômenos

sensoriais. Ele alerta que as alucinações diferem de sonhos ao considerar os sonhos como

ilusões. Assim o paciente pode ouvir vozes, ter imagens distorcidas de objetos inexistentes

através de alucinações visuais. Percepções que muitas vezes causam sofrimento ao paciente

devido ao teor destas alucinações. Podem ocorrer alterações psíquicas com os pacientes

devido à própria situação de saúde que ele se encontra. A negação da doença, os

procedimentos invasivos, o ambiente da UTI, somados ao medo da morte, podem estar

relacionadas com estas percepções. Ainda é importante salientar que tais pacientes podem ter

51

efeitos paradoxais como inquietação, agitação, delírios, acessos de raiva, pesadelos,

alucinações, psicose, comportamento inadequado e outros efeitos comportamentais adversos

que podem estar relacionado com a terapêutica farmacológica quando utilizam

benzodiazepínicos ou agentes similares.

Portanto, Rogers contribui com um de seus pressupostos em que o ser humano é a

expressão da totalidade de eventos presentes em um dado momento e é influenciado pelos

eventos precedentes (GEORGE1993).

Neste sentido, é importante que o enfermeiro utilize o conhecimento do ser humano

como um todo, interpretando que tais eventos podem ser relacionados a sua condição

provisória de internação e orienta-lo diante dos acontecimentos que em determinado momento

proporciona desconforto contribuindo para o desaparecimento dessas alucinações ou mesmo

acalmá-los nos momentos de agitações.

Ancoragem - Percepção de sonhos x confusão mental

[..] Eu só dormia e sonhava com aquelas besteiras todas, era com enfermeira, que a enfermeira tava me pegando. E aí eu dizia pra ela “você não pega, porque você vai me matar”. “Não nós vamos levar pra medicação.. No sonho, né? E eu me lembrava disso tudo, é, vinha tantas coisas pela minha cabeça, inconsciente, que eu até, que eu fico até de bobeira.[...] Até me lembrava quando três crianças vinham dentro do ônibus, nem sei como é que foi, e me sufocou, botou a mão na boca, e eu gritava pra ele “não me mata, não me mata”. É que chegou três enfermeiras com duas flor ou três flor... Assim, chegou e me pegou, “vocês não me leva, que vocês vão me matar”, no sonho, na minha consciência. “Ah, não, não, nós vamos levar o senhor pra medicação”, aí veio duas moça, uma moça atrás vinha com três buquê de flor e disse assim “não, o senhor vai pra medicação”. Aí me tiraram do ônibus e me levaram, me levaram pra lá e eu gritava muito[..].

Procurar entender os sonhos das pessoas não é uma tarefa fácil. Pois segundo Sims

(2001, p. 51) “o significado pertence ao sonhador e não ao intérprete ou ao teórico”. Contudo

procuramos compreender como a percepção dos sonhos pode estar envolvida com o

comportamento do paciente no ambiente.

Quando o indivíduo sonha “ocorre uma perda de algumas das estruturas da

consciência de vigília; assim, há uma perda da autoconsciência e da consciência dos limites

do próprio corpo” (SIMS, 2001, p. 52). O sonhador pode estar envolvido nas mais diversas

situações como as mais simples até as mais inexplicáveis. O paciente perde o sentido de

tempo e espaço, os acontecimentos do sonho são evidentes e o sonhador participa deles.

O mesmo autor complementa que os sonhos são relembrados e relatados como

52

acontecimentos psíquicos e que influenciam no comportamento do paciente, embora existam

os sonhos bons, prazerosos, e causam excitação ao paciente, existem também os pesadelos

(sonhos desagradáveis) estes são geralmente objetos de queixas pelo paciente (SIMS, 2001).

Neste sentido, Rogers, pressupõe que o ser humano é um ser caracterizado pela

capacidade de abstração e visualização, linguagem e pensamento e sensibilidade de emoção

(GEORGE, 2000). Sendo assim, é importante compreender que os pacientes submetidos à

analgo-sedação podem manifestar reações derivadas de sonhos desagradáveis em que, de

alguma forma, essas sensações irão ocasionar reações perceptíveis ao profissional que lhe

presta assistência. A confusão mental ocasionada por um pesadelo pode estimular reações no

comportamento do paciente em seu ambiente. Assim como o horror particular de um pesadelo

é que não há nada que o sonhador possa fazer a respeito da terrível experiência (SIMS, 2001

p.52).

O profissional de enfermagem como um ser sensível às várias dimensões do cuidado

pode perceber através de alterações fisiológicas (taquicardia, sudorese e agitação) a presença

de sensações ou sonhos desagradáveis no paciente e tentar promover um cuidado com atitude

amorosa caracterizada pela aproximação. Assim, envolvendo flexibilidade a partir da reflexão

dos diversos padrões de comportamento representados em cada paciente, poderá constituir

requisitos importantes na busca de novas formas de perceber e conquistar um processo

relacional harmonioso e afetivo (SILVESTRE 2006).

Neste contexto, é importante que se faça uma reflexão sobre a forma que realizamos o

cuidado a estes pacientes, que por vezes passam por sensações desagradáveis pelo fato de

receberem medicações que lhe causam tais sensações. O que deve ser feito? Achar engraçado

quando falam de seus sonhos e usam suas palavras desconexas? Pode-se construir com um

cuidado não somente representado pela fala ou pelas técnicas, muitas vezes o toque, a escuta e

o silêncio caracteriza-se como forma de cuidado muito mais significativo no contexto vivido

pelo paciente.

Ancoragem - Visões relacionadas a familiares

[..] E a gente numa cadeira, eu tava numa cadeira de rodas e eles ficava preocupado comigo. Então, fazia pergunta pra mim e junto com a família. E eu ficava assim, observando... Isso foi a visão da família, que veio falar comigo [...] As visões tipo uma pessoa que vinha me cuidar, me tratar. Inclusive até brigas entre famílias, no caso, brigas por causa que era pai e filhos [...] filhos brigando por causa que tinha que fazer isso, fazer aquilo e o pai não queria... Então, são visões no sonho. Eu tava vendo no sonho, sabe?

53

As visões relacionadas a familiares estão ligadas à necessidade da presença da família

devido à brusca separação por seu agravo de saúde e a internação na UTI. Nos estudos de

SIMS (2001) procuramos compreender o que representam as visões relacionadas no discurso

acima.

O autor acrescenta ainda, que visões são na verdade, ilusões percebidas pelo paciente

manifestadas através de seus sentimentos afetivos expressos por reações alteradas de seu

comportamento e descreve três espécies de ilusões: ilusão de completude, ilusão de afeto e

ilusão pareidólica. Em que, na ilusão de completude há uma tendência em completar um

padrão familiar não finalizado. Assim é necessário compreender que neste tipo de ilusão

buscamos sentido em nosso ambiente e quando as sugestões sensoriais não fazem sentido, nós

as alteramos levemente com materiais recordados ou fantasia, de modo que toda a experiência

perceptiva torne-se significativa. Já a ilusão afetiva aparece por intermédio do afeto, aqui a

percepção dos objetos cotidianos é alterada. A ilusão pode apenas ser compreendida no

contexto do estado de humor prevalente. Na ilusão pareidolia são vistas imagens a partir de

formas. Neste tipo de ilusão ocorre transformação do objeto. O paciente pode fazer relação de

um cão feroz com um simples gato carinhoso, por exemplo. (SIMS, 2001, p. 83).

Considerando o que o autor comenta, observamos que a percepção do ambiente pode

alterar-se conforme o bem-estar do paciente tanto para uma ilusão prazerosa como, também

para uma desagradável.

Vimos, portanto, os três tipos de ilusões, e conhecemos os dizeres dos pacientes

entrevistados, assim podemos observar que a família e o ambiente são pontos fundamentais

para estas visões, assim como, o afeto desencadeado por momentos de percepções prazerosas

ou não. O ambiente estranho pode causar no paciente uma sensação de abandono ou de

solidão diante da separação de sua família, com isso podem buscar lembranças de seus entes

queridos, como forma de melhora ou para minimizar a saudade relacionado a grande

necessidade de perceber o familiar ao lado,de sentir-se só e desamparado o que a estas

visões.Isto também pode estar relacionado a poucas oportunidades de horário de visitas na

UTI em que a família é privada de visitar os pacientes em horários não definidos devido a

grande demanda de procedimentos na rotina de UTI.

Ancoragem – Percepção da UTI como ambiente ruim

54

[...] Como um, um ambiente ruim, né? tinha muita visão ruim, com imagem no teto, na parede e coisa ruim. Sensação só horrível, até o dia que eu sai da UTI [...] Olha, eu acho que uma lembrança muito triste, assim, mas não sei te responder assim, definir a palavra certa. Mas, foram momentos, pra mim, muito ruins. Eu não tenho boas lembranças,, claro que ninguém que tá na UTI tem boas lembranças[..]. A Unidade de Terapia Intensiva é um conjunto de elementos funcionalmente

agrupados, destinados ao atendimento de pacientes graves que necessitam de assistência

médica e de enfermagem ininterruptas, além de recursos humanos e materiais especializados.

No início do intensivismo, os pacientes morriam em 24 horas, tendo a UTI à relação direta

com a morte, dor e desespero. Atualmente, uma UTI pode manter o paciente com chances de

recuperação com um tempo médio de 10 dias até um tempo indeterminado, para que se

restabeleça o equilíbrio orgânico, dando continuidade ao tratamento possível. É, atualmente,

uma unidade presente dentro do contexto hospitalar, sendo caracterizada como um ambiente

complexo, decorrente do uso crescente da tecnologia que visa atender melhor o paciente.

(CESARINO etal, 2006, p.05).

Percebe-se aqui, a visão que a sociedade tem em relação a UTI, local em que a morte

ocorre com maior predominância, e que os pacientes graves dependem de cuidados

complexos e aparelhos sofisticados. Os fatores estressantes presentes em uma Unidade de

Terapia Intensiva (UTI), provocam, freqüentemente nos pacientes, reações psicológicas como

o medo, a ansiedade, a insegurança, a angústia e complicações das mais indesejáveis. Essas

reações podem atenuar ou mesmo anular os efeitos benéficos do tratamento intensivo.

(CESARINO etal, 2006).

Assim, diante do discurso dos interagentes percebe-se que apesar de aceitar a condição

de internação na UTI consideram este ambiente como algo extremamente desconfortável, e

ainda, demonstram medo, angústia e ansiedade, e só conseguem sentir-se melhor e ver sua

recuperação quando saem deste ambiente. Assim, Rogers explica com significado os

sentimentos expressos pelos interagentes quando afirma a inseparabilidade do ser humano e

de seu ambiente em que as mudanças seqüenciais no processo de vida são revisões contínuas

ocorrendo da interação dos seres humanos e seus ambientes. Contudo o ser humano percebe e

expressa seus sentimentos a partir de sua percepção no ambiente ao qual é inserido. A UTI

como um ambiente que traz ao paciente sensações desagradáveis despertam sentimentos de

medo e angústia. Contudo, o ser humano deve ser visto de forma integral e não podendo

compreender a partir da descoberta de suas partes. ”A integralidade é um processo de

55

interação contínuo, mútuo e simultâneo entre os campos humanos e ambiental”

(GEORGE,2000).

Neste contexto, não podemos afirmar que estes pacientes possuem a visão de UTI pelo

senso comum de que é um local que se “vai pra morrer”. Porém os interagentes demonstraram

sensações ruins, a partir do momento vivenciado, com visões incômodas o que também pode

ser decorrente de reações adversas dos medicamentos sedativos recebidos, já que se sentiram

melhores quando receberam alta da UTI.

d) DSC - Percepção tátil O sentido do tato, ou sensações táteis, surge pela estimulação de receptores localizados

na pele e no tecido subcutâneo. As áreas mais sensíveis são aquelas com maiores quantidades

de receptores sendo estas as pontas dos dedos, os lábios, nariz e bochechas. A cada área do

corpo corresponde uma área do córtex cerebral, atrás da divisão entre os lobos parietal e

occipital. Assim, quanto mais intenso for o estímulo tátil maior será o número de receptores

estimulados (MURRAY; ATKINSON, 1985).

Ancoragem – O toque [..] Olha, pensamentos em termos de quando eu tava sedado, eu tinha visões. Tinha pessoas, até do meu lado, que vinha tocar em mim igual à família. [...] Olha, isto daí eu me lembro que saia de um lugar para o outro. Talvez pra trocar colchão ou, ou fazer medicação, mas eu era deslocado de um lugar pro outro. [...] sentia o toque das pessoas. Sentia movimentação. Não reconhecia ninguém[..]. Nas internações, principalmente em UTI, o SNC pode ter um papel importante na

seleção da quantidade de estímulos que recebe, no sentido de preencher suas próprias

necessidades. Podem estar completamente incapazes de alterar o meio, ficando

completamente exposto a ruídos, odores, visões e toques que podem ser excessivos ou

indesejados (MURRAY; ATKINSON, 1985). Assim, a perda de controle em suas atividades

ou a perda de sua autonomia como comumente ocorre em hospitais pode deixar o paciente

exposto a um nível de estimulação excessiva ou insuficiente.

Contudo, salientamos que a quantidade e o tipo de estímulos sensoriais e motores que

chegam ao sistema nervoso podem ser afetados por fatores ambientais e pelo próprio paciente

e a interpretação do estímulo sensorial depende de características genéticas, do aprendizado e

do estado de funcionamento dos centros cerebrais (MURRAY; ATKINSON, 1985).

56

Acrescentamos que, muitas das atividades que realizamos com os pacientes no

momento do cuidado podem ser percebidas de maneiras diferentes nos mais variados

indivíduos, isto se explica porque, as pessoas são educadas de maneiras diversas e assim

possuem culturas diferentes. Existem pessoas que ao se cumprimentarem sentem prazer em

abraçar ou beijar um amigo, porém há aqueles que nem se quer aproximam-se para evitar o

toque. Sendo assim, devemos considerar estes aspectos no cuidado com pacientes nas

unidades de internação. Para muitos pode ser prazerosa uma massagem, já para outros, com

suas diferentes culturas, esse contato físico entre profissional e paciente pode ser

extremamente desagradável.

Assim, concordamos com Carraro (2000) quando argumenta que a atuação junto ao

ser humano é ainda muito insuficiente em termos de atenção as suas necessidades, já que fica

a disposição da equipe de saúde, longe de seus familiares e ainda é tratado como se não

possuísse identidade própria.

Diante dos discursos dos interagentes deste estudo, observamos que a percepção tátil

permaneceu, porém podendo ocorrer algumas distorções na recepção deste estímulo. Visto

que, mesmo em uso de medicamentos sedativos e analgésicos, relataram sentir o toque dos

profissionais, assim como, relacionaram algumas de suas sensações com o toque de pessoas

da família.

Ao avaliar o nível de conforto dos pacientes o enfermeiro utiliza dois tipos de

avaliação: avaliação e interpretação dos sinais e sintomas físicos e a avaliação que se utiliza à

percepção (MORSE, 1998). E, além da percepção o enfermeiro deve utilizar a empatia, sendo

esta uma parte formal dos componentes psicossociais dos cuidados de enfermagem.

Além dos pontos citados, podemos também acrescentar que hoje, já existem estudos

sobre a utilidade da intuição no cuidado enfermagem. Este “sentido” se assim podemos

chamar, é comumente utilizado nos cuidados intensivos e de emergência.

Parece que a intuição na enfermagem seria mais útil na identificação, interpretação e respostas as indicações do paciente que revelam o desconforto, por exemplo, ajustando-se a posição do paciente, oferecendo-se ou administrando – se medicamentos para a dor. Em outras palavras, seu principal papel deveria ser sua utilização como um meio de motivar o enfermeiro a utilizar estratégias de conforto, ainda que o paciente não tenha solicitado (MORSE, p.77,1998).

Nas unidades de terapias intensivas querendo ou não, utilizamos muito este tipo de

atitude, por vezes não admitimos quando a chamamos de intuição, porém quem nunca

administrou um analgésico no paciente por acreditar que estava com dor? Fazemos isso com

freqüência na tentativa de proporcionar conforto ao paciente. E estas atitudes devem ser feitas

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em todas as dimensões do cuidado, seja para interpretar os costumes do paciente, seja para

perceber se nossas atitudes estão realmente os deixando confortáveis.

Ancoragem: O banho

[..] Não via a hora de chegar o banho, a hora que o pessoal vinha esfregar aquele creme nas costas, nossa... Uma sensação de alivio muito grande. Muito bom [...] eles passavam um pano no corpo, aquilo tudo, lavavam, limpeza muito legal[..].

Na UTI, o paciente tem privação sensorial, barreira corpórea para tocar seu próprio

corpo, não tem o mesmo contato familiar e ela nem o toca por não saber se pode tocá-lo, e

ainda experimenta barreiras que o impossibilita de se comunicar como a intubação, por

exemplo. Tudo isso altera a auto-estima, auto-imagem e sua própria capacidade de

recuperação, já que sabemos que modulações mentais são capazes de produzir mudanças no

sistema nervoso autônomo e imunológico (CINTRA et al, 2003).

Assim, é no momento dos cuidados de higiene que o paciente procura satisfazer suas

necessidades e desta forma consegue se sentir confortável diante de um ambiente que

proporciona total dependência da equipe de enfermagem.

A sensação de conforto e alívio quando é realizada uma massagem, muitas vezes não é

percebida pela equipe, porém nos discursos acima fica evidente a importância desta técnica

que por vezes é ignorada pela equipe de enfermagem. Rogers corrobora com esta idéia

quando argumenta que o homem é um sistema aberto, caracterizado pelo constante

intercâmbio de material e energia com seu ambiente (HORTA, 2004), assim, quando é

realizado um procedimento simples como uma massagem, o paciente pode ser capaz de

perceber este cuidado e ainda satisfazer suas necessidades momentâneas.

As terminações receptoras dos nervos da pele possibilitam que o corpo monitore

constantemente as condições do ambiente, sua principal função receptora na pele é de sentir a

temperatura, dor, toque e pressão (BRUNNER & SUDDARTH, 2005).

Neste contexto, ao realizar o cuidado de enfermagem é preciso olhar todo o potencial

de vida do paciente, o físico, mental, emocional e assim perceber o que é melhor para este

paciente terapeuticamente.

Cintra et al, (2003) acrescenta que: A realidade percebida por uma pessoa influencia no modo que responde a essa situação. Essa realidade é influenciada por sua consciência, percepção do eu, sensações corporais, sentimentos e valores. Portanto, independente do grau de sofisticação do cuidado prestado, seja um simples banho ou em manobras de ressuscitação, também o que pensamos e sentimos sobre o paciente é desvendada através de gestos, expressão facial, na delicadeza de nossos toques, na preocupação

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em observar que emoção está provocando no paciente ou que emoções ele possa estar sentido.

Contudo, a satisfação do paciente esta relacionada diretamente com nossa postura

mediante o cuidado. O papel do enfermeiro na UTI, quando ele opta pelo cuidado e não pela

cura, ou seja, quando não se torna “escravo” da tecnologia, porém aprende a usar a tecnologia

a favor da harmonização do paciente, do seu bem-estar, fica mais claro sob alguns aspectos.

Ele passa a valorizar a técnica com uma aliada para a recuperação do paciente e o seu bem

estar, não colocando em segundo plano esses “detalhes”, como uma massagem, que é vista

pelo paciente como algo renovador. Assim, o profissional com atitudes como estas não ignora

que o benefício para o paciente pode ser lido através dos dados biológicos e assim, através dos

dados subjetivos o paciente poderá demonstrar se sentir melhor e apresentar-se mais tranqüilo

(CINTRA etal, 2003).

e)DSC – sensação térmica – calor [...] Sentia calor, é, muito calor[..]. A sensação térmica é considerada uma das cinco sensações somáticas. O paciente é

capaz de perceber diferentes graduações de temperatura. Pode-se perceber desde o frio intenso

ou congelante até um calor leve ao queimante. Existem cinco tipos distintos de receptores

sensoriais que fazem o ser humano identificar o que esta sentindo como: mecanorreceptores

que detectam a compressão,termorreceptores que detectam a temperatura,nociceptores que

detectam a dor,eletromagnéticos detectores da luz e os quimiorreceptores que detectam gosto

na boca,os odores ,nível de oxigenação no sangue artéria entre outras funções (GUYTON &

HALL,2002).

Segundo Guyton (1992, pg. 466) “os receptores de dor só são estimulados por graus

extremos de calor e frio e, por isso, são responsáveis, juntamente com os receptores de frio e

calor, pelas sensações de frio congelante e de calor queimante”. O autor coloca que os

receptores de frio e calor estão localizados sob a pele em diferentes pontos, porém separados,

existem três vezes mais receptores de frio do que de calor.

Na maior parte das regiões corporais, há entre três e dez vezes mais receptoras de frio que de calor, e a densidade de pontos, nas diferentes regiões varia de 15 a 25 pontos de frio, por centímetro quadrado nos lábios, e 3 a 5 pontos de frio por centímetro quadrados nos dedos, até menos de 1 ponto de frio por centímetro quadrado em

59

algumas áreas superficiais do tronco. O mesmo acontece com os receptores de calor, mantendo-se sempre a relação numérica entre eles e os receptores de frio (GUYTON 1992, p. 507).

Podemos observar que os pacientes de UTI encontram-se em um ambiente onde a

temperatura é considerada extremamente baixa ficando em torno de 22º C, onde ele encontra-

se totalmente nu, porém coberto. Naturalmente que as sensações térmicas podem ser

percebidas pelo paciente. As condições clínicas do paciente podem alterar a temperatura

corporal seja por vários fatores orgânicos ou por influência do próprio ambiente.

O metabolismo do organismo refere-se a todas as reações químicas que ocorrem em

todas as células do organismo e sua intensidade é que expressa a velocidade de liberação de

calor durante as reações químicas. Praticamente toda energia consumida pelo organismo é

convertida em calor. Entretanto quando não está ocorrendo consumo externo de energia, é

correto considerar que a energia liberada por todo o processo metabólico se transforma em

calor corporal (GUYTON & HALL, 2002).

Portanto, devemos considerar que o aumento do metabolismo basal leva a um aumento

de produção de adenosina trifosfato (ATP) o que consequentemente proporciona maior

liberação de calor pelo organismo e aumento da produção de calor (GUYTON & HALL,

2002).

Ainda, a pele, os tecidos subcutâneos e em particular a gordura atuam como isolante

térmico do organismo. O isolamento sob a pele constitui um meio eficaz para manter a

temperatura interna normal, embora permita que a temperatura da pele se aproxime da do

meio ambiente (GUYTON & HALL, 2002).

Segundo Ratton (1999, p. 418), “o controle da temperatura do corpo, integrando os

vários processos físicos e químicos para a produção e perda de calor, é uma função dos

centros cerebrais localizados no hipotálamo anterior (pré-ótico)”.

Compreendendo as bases anatomofisiológicas das sensações térmicas podemos refletir

sobre as sensações que um paciente percebe na UTI. Devemos identificar as condições que se

encontram o ambiente, onde as variações de temperatura podem influenciar em sensações

desagradáveis de frio e calor. Essas variações somadas as mudanças orgânicas ocasionadas

pelas condições clínicas do paciente podem contribuir para a sensação de frio ou calor. O

aumento do metabolismo leva a um aumento da temperatura corporal e pode estar relacionado

com sua patologia, assim como, os pacientes obesos tendem a sentir as sensações de frio e

calor de forma diferenciada. Neste sentido, a temperatura do ambiente é percebida de forma

60

diferente pelas pessoas, acionando o sensor térmico hipotalâmico e gerando respostas

autônomas, interpretativas e sensitivas diversificadas.

É importante que o enfermeiro procure observar como este paciente encontra-se

inserido no ambiente, se está com muita ou pouca roupa, se a temperatura da UTI está alta ou

baixa, ou a temperatura corporal está baixa ou alta, assim, procurando compreender que cada

ser humano possui reações e manifestações diversas quando exposto a temperatura extremas.

f) DSC - O desejo não saciado x comportamento dos trabalhadores de enfermagem e percepção das necessidades do usuário [..] Água, se a pessoa tiver ali na cama e tiver dormente e a outra pessoa vim tomar água na frente é uma humilhação porque ela sente muita sede. [...] É, eu tinha vontade é de comer, tomar refrigerante. Quando o pessoal ia lá à noite, trazia aquele refrigerante, a gente ficava olhando. Aqueles cafezinhos e aquelas coisas toda e aquela vontade de tomar, comer alguma coisa, de a gente poder conversar[..]. Os nutrientes oferecidos pela ingestão adequada de alimentos são materiais de

construção do qual é feito o corpo. Eles são essenciais ao crescimento, regeneração tissular e

funcionamento normal das células do organismo. Os nutrientes são utilizados para produzirem

energia sob forma de ATP para todas as atividades do organismo. Assim, o movimento

muscular, a transmissão de impulsos nervosos, o pensamento e a produção de calor são todos

dependentes da energia produzida pelos alimentos que os indivíduos ingerem (MURRAY;

ATKINSON, 1985).

Contudo, atualmente o suporte nutricional é parte vital da terapia da maioria dos

pacientes hospitalizados, pois com um bom aporte nutricional, o paciente preserva suas

defesas do organismo, evita deficiências de nutrientes e melhora o resultado clínico. Está

claramente evidente que este é um instrumento fundamental na diminuição da mortalidade de

pacientes críticos e na diminuição da estadia destes na Unidade de terapia intensiva, além

disso, há uma queda na taxa de infecção e uma melhora da cicatrização (CINTRA et al,

2003).

Assim, considerando que os pacientes na UTI recebem suas alimentações, geralmente

por sondas enterais, estão intubados e em ventilação mecânica, são privados no sentido do

paladar e do olfato. Portanto, podem se sentir dependentes de máquinas e ser incapazes de

comer e beber também experimentando uma forma de privação sensorial (MURRAY;

ATKINSON, 1985).

As pessoas quando entram em um ambiente de assistência à saúde frequentemente

vivenciam a falta de controle sobre sua programação de vida e seu ambiente, comparável a

61

mesma situação de quando crianças.Essa falta de controle e autonomia sobre seu ambiente e

suas atitudes limita a pessoa de satisfazer suas necessidades básicas.Contudo,Rogers afirma

que o ser humano está em constante interação com o ambiente em que está inserido,é um ser

perceptível e pensante o que indica que está percebendo todo o cuidado recebido e ainda

percebendo todos fatos que acontecem ao seu entorno. Neste sentido, devemos pensar como

nos sentiaríamos em ser privados de comer ou beber o que gostamos? Por vezes nos sentimos

irritados quando recebemos regras de não nos alimentarmos nas unidades de internação ou ao

menos em local que impossibilite a visualização do paciente. A reflexão é essencial para essa

atitude do profissional. Também devemos satisfazer nossas necessidades e quanto a isso não

há dúvidas, portanto refletir sobre nossas atitudes nos proporciona crescimento pessoal e

profissional e assim contribuiremos para um cuidado integral que proporcionará satisfação ao

paciente.

5.1.2 Percepção psíquica e cognitiva Goleman (1997) admite que a informação que passa pelo armazém sensorial é sujeita

a filtração de acordo com seu significado e relevância. Ainda afirma que a memória de longo

prazo se torna um filtro, resolvendo o que deve ser bloqueado do depósito de curto prazo e,

portanto da consciência, desse modo determinando o que deve ser aceito para ser armazenado.

Contudo, isso significa que o conteúdo da percepção chega até nós examinados e

classificados, este processo ocorre em frações de segundo (GOLEMAN, 1997). A percepção quando faz a seleção da informação que recebe a memória semântica não precisa entrar em detalhes, tudo o que tem a fazer é separar o que é relevante do que não é para o momento. A informação irrelevante é analisada apenas em parte, até o ponto de ser reconhecida sua relevância. O que é relevante recebe um processamento mais completo. Por exemplo, se olhamos casualmente para a página de um jornal e vemos nosso nome, esse nome parece saltar na nossa direção. Provavelmente as palavras que vimos enquanto líamos rapidamente foram processadas em parte e definidas como irrelevante. O nosso nome, sempre relevante recebeu um processo completo (GOLEMAN, p.68,1997).

a) DSC - Necessidade fisiológica? Ancoragem - a sede [..] Vontade muita de beber água, muita, muita vontade de beber água.[...] Água, dá vontade demais de beber, demais. Não sei é pelo, pela medicação, mas água porque se sente muita sede, muita sede, tem muita sede. [...] Eu lembro muito da sede que eu passei, é, que eu lembro muito, que eu falo sempre pra as pessoas. Porque eu fiquei vinte dias sem molhar a minha boca porque eu não podia. E, e eu passava muita sede, a minha boca, os meus lábios racharam tudo. [...] Daí tu quer tomar água, tu não consegue tomar água, tu nem pode, eu acho[..].

62

Segundo LENT (2005) a região de controle da sede esta localizada no Hipotálamo

onde através do Servomecanismo de Regulação Hidrossalina possuem dois pontos de ajustes

representados na prática como a volemia e a osmolaridade, esta última representada pela

concentração de íons sódio nos compartimentos extracelulares.

O estímulo da sede pode ocorrer por vários fatores sendo o mais importante pelo

aumento da osmolaridade do líquido extracelular, que provoca desidratação intracelular nos

centros da sede, estimulando assim a sede. Assim, esta resposta ajuda a diluir os líquidos

extracelulares e normaliza a osmolaridade.A redução de líquidos extracelular e da pressão

arterial também estimulam a sede,através da via que independe da estimulada pelo aumento

da osmolaridade plasmática (GUYTON & HALL, 2002).

Assim, conforme a perda de líquidos seja através do suor, respiração, urina,

hemorragia, vômito ou diarréia, e por ingestão de sal irá intensificar o mecanismo de

regulação. Os receptores sensoriais são os detectores destas variáveis. Assim, os

barorreceptores são sensíveis às alterações da pressão sanguínea, enquanto os

osmorreceptores detectam as alterações osmóticas.

Desta forma, quando um indivíduo começa a sentir sede seja qualquer que for a causa,

o hipotálamo recebe esta informação através dos barorreceptores ou osmorreceptores e

começa a providenciar um controle desta sede, através da diminuição da diurese pela

liberação de hormônios como a vasopressina e a aldosterona, e os comportamentos

consumatórios de ingestão de líquidos.

Portanto, se for considerar que os pacientes internados em Unidade de Terapia

Intensiva estão sujeitos a perda de líquidos por diversos fatores como: ventilação mecânica,

diurese, hemorragias, diarréias, sudorese dentre outros, e que cada ser humano é um ser

unitário, podemos então perceber que cada paciente sente a sede conforme sua necessidade

biológica.

Neste sentido um registro exato da ingestão e excreção proporciona dados valiosos

para avaliar e tratar desequilíbrios hídricos e eletrolíticos (balanço hidroeletrolítico). Na

presença de perdas excessivas, ou agravamento da função cardíaca e hepática, é necessário

um registro detalhado da ingestão e excreção de líquidos (HUDAK; GALLO, 1997). Assim,

com perdas hídricas severas e conseqüente aumento da concentração de sódio e da

osmolaridade do líquido extracelular o mecanismo da sede é ativado causando o desejo de

beber água. Até pequenos aumentos da osmolaridade plasmáticas são normalmente seguidos

63

pela ingestão da água, que restaura a osmolaridade e o volume do líquido extracelular em

direção a normalidade (GUYTON & HALL, 2002).

Para Guyton (1992, p.275), “Qualquer fator passível de causar desidratação

intracelular ou extracelular irá geralmente causar a sensação de sede”. Este autor considera

que o aumento o da concentração de líquido extracelular, na maior parte das vezes pelo

aumento da concentração de sódio, irá produzir osmose de água para fora das células

neuronais do centro da sede. Também é importante considerar que uma perda grande de

potássio no organismo, reduzirá o potássio intracelular das células ocorrendo então

diminuição de seu volume.

Esta compreensão nos ajuda a considerar que as alterações comportamentais tais como

agitação psicomotora e taquicardia podem estar associadas à tentativa de manifestar aos

profissionais a sensação de sede intensa. Visto que esta foi a necessidade mais prevalente

entre os interagentes do estudo.

[...] Eu chorava, eu fui amarrado porque eu queria água [..]

A intervenção no padrão normal de ingestão de líquidos ou alimentos por parte do

indivíduo, em razão de suas condições patológicas, pode afetar o autoconceito do paciente de

uma forma negativa tornando-o diferente e carente, ainda que, quando as necessidades

hídricas não são satisfeitas, o corpo e a mente deixam de funcionar em condições ideais e isto

pode prejudicar o desenvolvimento potencial do paciente (MURRAY, ATKINSON, 1985).

Portando devemos cada vez mais refletir sobre os cuidados que prestamos ao paciente,

avaliar o contexto e sua condição clínica, ou seja, simples ato de perceber que esse paciente

está com sede, pode ser fundamental para que possa ser prestada assistência adequada e

necessária em um dado momento. O ato de molhar sua boca ou até umedecer seus lábios, irá

produzir no paciente a satisfação de sua real necessidade.

[...] Então, eles molhavam só os lábios com uma gasezinha[..].

Neste contexto, Rogers afirma que o ser humano unitário é um campo de energia

quadridimensional, identificado pelos seus padrões e organização onde manifestam

características diferentes daquelas de suas partes e não podem ser previstas a partir do

conhecimento destas partes. Sendo assim, como uma totalidade, mantêm constante

intercâmbio com o campo ambiental. Quando caracteriza o ser humano unitário o agrupa em

64

três fatores dos quais o fator interação encaixa-se diretamente com o fato do paciente sentir

sede quando inserido em um ambiente, necessitando comer, beber dar e receber os cuidados

de enfermagem em conformidade com suas necessidades humanas.

Assim, a enfermagem pode através de observação, interação e conhecimento

científico, compreender as necessidades do paciente, a fim de que possa tomar atitudes

coerentes na prática assistencial, orientando sua equipe a realizar cuidados que satisfaçam o

ser humano, pois este percebe suas reais necessidades.

b) DSC - Sonho x pesadelo = desconforto

[...] eu sonhava, tinha sonho com água. [...] Eu sonhava com cachoeira correndo, água, a única coisa que eu sonhava era água. [...] Então, acho que era assim, pesadelo, eu não sei, mas, eu tive [...] Eu sonhava de tanta sede que eu passava, eu chorava[..].

Diante deste discurso, podemos acrescentar aqui o grande desconforto que podem

ocasionar sonhos desagradáveis para um indivíduo. Partindo do pressuposto que o desejo

iminente de saciar sua sede levou este paciente a possuir sensação de plenitude com a

satisfação de estar inserido em um ambiente onde conseguia satisfazer todos os seus desejos

em uma cachoeira. O desejo de tomar água, relacionado com a sede, sendo ocasionada

possivelmente por diversos fatores orgânicos devido aos estressores da UTI e ao estado de

saúde do paciente levaram o paciente a ter ilusões no sentido de obter uma sensação de bem-

estar e alívio.

Para Sims (2001, p.83) durante os sonhos existem “elementos que não ocorrem no

estado normal de vigília. Estes são mais bem denominados imagens-sonho. Não são

claramente delírios, alucinações, falsas memórias ou outras anormalidades de percepção [...]

estas imagens são mais vividas que as fantasias, e têm uma característica de instantaneidade e

importância”.

O desconforto de sentir sede e não conseguir comunicar-se com a equipe de

enfermagem expressando seu desejo pode causar certa agonia ao paciente em que pode ser

observada por uma agitação motora ou pelo correr de uma lágrima no rosto do paciente. A

troca de energia e forma com o qual percebe suas necessidades pode ser saciada através de um

sonho ou até mesmo de um desejo eminente em realizar algo para um devido fim e com isso

levá-lo a possuir sensações perceptivas de saciedade da sede.

c) DSC - Medo da morte

65

[..] Porque o cara passa pela UTI e pensa que pode morrer e pode morrer, ninguém tá salvo. Só tenho a agradecer a Deus [...] eu pensei, no começo eu pensei que eu podia morrer, porque o cara vê tudo aqueles equipamentos e pensa, meu, eu acho que eu não vou viver.[...] Eu ficava com o olho bem fechadinho porque eu pensava que já tinha morrido, a minha idéia é que eu tava noutro lugar. Então, não sei se é dentro da UTI que eu via que tinha um velhinho que ficava dando tchau pra mim, e eu ficava com medo de abrir a vista. Porque eu pensei que eu tinha morrido[...] Não consegui, eu tinha medo. Eu tinha receio de abrir a vista pra não saber aonde é que eu tava. Esse é que era o problema. Só esse pedaço que eu me lembro.[...] eu não dormi porque eu tinha medo. Não dormi e não deixei ninguém dormir.. Tinha medo de eles me matarem [...] dos profissionais que me atendiam [...] A sensação era horrível, de eu não aceitar nem de me dar banho, com medo[..].

A UTI é um setor do hospital que já requer certo receio do ser humano enquanto livre

de algum agravo de saúde. “As questões referentes à vida e à morte acompanham o

desenvolvimento humano desde tempos remotos” (KOVÁCS, 1992, apud BELLAGUARDA

2002, p.14).

Buscando compreender as questões que levam o paciente a sentir medo da morte ou

não sentir e como explicar este medo, de onde ele vem, são questões que podem estar

relacionados com a espiritualidade de cada ser humano. As religiões e a filosofia sempre

procuraram questionar e explicar a origem e o destino do ser humano. Mas quando se trata de

pessoas descrentes ou que não busca na filosofia o entendimento necessário para vida

podemos citar que “por tradição cultural, familiar ou mesmo pessoal, cada um possui uma

representação da morte, a qual influenciará sobremaneira nosso processo de ser e viver no

mundo” (BELLAGUARDA, 2002, p.14).

O processo de morte poderia ser visto como uma forma acelerada de reflexão sobre a

vida e sua finitude. Porém, é frequentemente negado até mesmo por profissionais que lidam

diariamente com estas situações, principalmente na unidade de terapia intensiva. Sendo assim

não é raro vivermos como se a morte não existisse, negando-a na tentativa de afastá-la

(SILVESTRE 2006).

Portanto, é natural que um paciente sinta medo em relação à morte, a doença se

agravando, internação na UTI, um ambiente novo e incerto que causa impacto e sensações

desagradáveis. Além disso, o paciente se encontra em um ambiente novo, deitado, totalmente

despido, repleto de objetos conectados a diversos aparelhos que fazem barulhos insuportáveis,

sendo manipulado por diversas pessoas desconhecidas. Compreender o medo da morte nos possibilita ter consciência de nossas perdas diárias, facilitando assim sentir e elaborar estas perdas e dar suporte ao próprio processo e ao cliente; possibilita ainda um atendimento mais humanizado e menos transferencial. Este medo não elaborável só pode ser minimizado à partir da consciência e aceitação da própria finitude e terminalidade em todas as suas

66

dimensões, tornando-nos capazes de lidar com o tão doloroso processo de morrer e o momento da morte (Almeida, 2008, p.22 ).

Podemos então entender que o medo da morte existe e independente do ambiente que

o paciente se encontre essa sensação de angústia está presente. Fica evidente que os

comentários desagradáveis sobre quem vive e quem morre em UTI devem ser evitados. O

corpo físico pertence ao paciente e o espírito é reverenciado conforme suas crenças religiosas.

Para nós resta compreender que estamos diante de pessoas que frente à situação de doença ao

qual se encontram, precisam de um conforto transcendental em que o centro de tudo é o

paciente que está inserido em um ambiente nada prazeroso.

Kubler-Ross (1998, p. 19), médica psiquiátrica e uma das grandes estudiosas sobre o

processo da morte e o morrer, coloca que “Talvez devamos voltar ao ser humano individual e

começar do ponto de partida para tentar compreender nossa própria morte, aprendendo a

encarar menos irracionalmente e com menos temor este acontecimento trágico, mas

inevitável”.

O impacto causado pela ameaça à vida e do enfrentamento da situação de internação

na UTI mobiliza o medo fundamental de todo ser humano: o medo da morte. O termo terapia

intensiva já provoca certa sobrecarga emocional, pois normalmente, associa-se a ele uma

piora das condições gerais do paciente, colocando-o em proximidade com o fim da vida.

Lars Grael (2001, p.26) descreve significativamente sua passagem pela Unidade de

Terapia Intensiva em sua obra literária o qual vem contribuir significativamente com esta

idéia: Estava inconsciente, mas ouvia o que os médicos diziam. Comentários do tipo:se sobreviver até amanhã,ele consegue ou ele está muito mal,talvez não agüente.Ouvia e pensava:eu não vou morrer.Enquanto estava no leito da UTI,não foram poucas as vezes em que esses pensamentos rodaram minha cabeça como se estivesse mentalizando:Eu não vou morrer,vou conseguir sair dessa.

Ancoragem: Desespero – agonia

[..] É, na verdade, é desespero, muito desespero [...] Comecei também a ter vontade de sair dali, agonia. O cara fica trancado, fica agoniado. Mas, isso por agonia da gente mesmo. [...] Vontade de sair, não podia fazer nada ali, nem sequer não podia me virar. É...Vontade de sair, de ir embora[..]. Este discurso demonstra os sentimentos de impotência do paciente quando submetido

a medidas que sobrepõe sua rotina diária. Ficar trancado em um ambiente, por vezes,

caracterizado como hostil e frio e submetido a vários procedimentos causadores de sensações

67

desagradáveis, fazem com que o paciente tenha uma explosão de emoções. Contudo é privado

de demonstrar tais insatisfações pelos equipamentos existentes.

É impossível saber quando uma emoção vai invadir a pessoa e de que tipo será manifestado. A única gerência que se pode ter sobre a emoção é de quanto tempo ela vai durar e sobre a ação. O auto conhecimento pode auxiliar na redução do impulso, mas o trajeto é direto á amigdala, sem passar pelo crivo da razão (GHIORZI, 2004 apud SILVESTRE, 2006, p.81).

Portanto, a emoção é muito mais que um instinto, ela está em um contexto biológico,

social e psicológico, assim também sofre influências da cultura e das regras sociais. Neste

processo, as emoções estão ligadas aos pensamentos de cada pessoa. Rogers acrescenta que a

capacidade do homem experimentar a si mesmo e ao mundo e seus ambientes é que

caracterizam o ser humano pela capacidade de abstração, sensação e emoção (HORTA, 2004).

d) DSC – o corpo anestesiado e a mente atenta x grau de anestesia?

[..] Eu não sentia nada. É como um corpo morto. Era um corpo que não tinha nada a ver comigo, era um corpo que eles faziam dele o que queria, mas não que eu sentisse [...] Eu não sentia nada, tava inconsciente, não sentia nada, eles atendiam muito bem, [...] Mas, só que eu não sentia nada do meu corpo [..]. O nível de consciência afeta o processamento e a interpretação dos estímulos a nível

do sistema nervoso central. O consumo de bebidas alcoólicas, drogas, alguns medicamentos

como a anestesia e analgesia diminuem a capacidade cerebral de interpretar e responder aos

estímulos recebidos. A privação ou diminuição da percepção sensorial ocorrida nestes casos,

esta ligada à diminuição da reatividade neuronal, assim, todos os estímulos são percebidos ao

mínimo, como quando, por exemplo, um indivíduo fecha os olhos, permanece imóvel em

quarto onde não haja ruído algum. Esta situação é ideal quando o objetivo é dormir, porém

mesmo durante o sono a pessoa move-se com freqüência, recebendo informações sobre sua

posição na cama, sensações cutâneas e tônus muscular. Assim, a privação sensorial é rara, a

não ser quando há perda súbita de um sentido antes operante, como cegueira temporária, uma

paralisia extensa ou perda súbita da audição (MURRAY; ATKINSON, 1985).

No discurso acima, percebemos que mesmo estando com algum tipo de analgesia ou

sedação, este foi capaz de perceber o cuidado de enfermagem, apesar de relatar sentir como

seu corpo estivesse “morto”. O que poderá ser interpretado como se o paciente sentisse a

manipulação que recebia, porém livre de perceber as sensações de toque ou até mesmo de

68

responder ao estímulo recebido. Contudo, o homem experimenta seu ambiente como uma

onda ressonante de complexa simetria unindo-o com o resto do mundo (HORTA, 2004),

portanto sempre interligado com seu ambiente e capaz de perceber o cuidado recebido.

Dentro de um contexto reflexivo, a compreensão mais profunda sobre a consciência

humana e o papel da mente no processo de re-equilíbrio vital pode minimizar a ansiedade dos

profissionais e estender as intervenções para além do cuidado físico e do controle técnico dos

monitores, almejando atingir as demais dimensões humanas e potencializando-as. Salientamos

que, devemos compreender e cuidar do ser humano holisticamente, buscando atender todas as

suas necessidades as quais formam uma unidade, um ser biológico, social, psicológico e

espiritual. O comprometimento de algumas funções cerebrais e sensoriais não implica

necessariamente na inexistência perceptual; a diferença está na possibilidade de expressão do

que é percebido (ZINN etal, 2003).

5.2 AÇÕES DE ENFERMAGEM PERCEBIDAS DURANTE ANALGO-SEDAÇÃO

O cuidado é mais que um ato representa um momento de atuação com zelo e uma

atitude de ocupação, preocupação, responsabilização, envolvimento afetivo e empatia com o

outro. Esse processo desencadeia uma dinâmica de troca e interação da pessoa cuidadora e

do individuo cuidado. Trata-se de um processo recíproco, alicerçado na confiança que requer

investimento pessoal de ambas as pessoas envolvidas (BOFF, 1991).

A arte de cuidar não está somente direcionada a melhora da saúde ou na realização de

procedimentos que manterão a vida humana. O cuidado é um exercício que se constrói pelo

afastamento em relação às formas de ocultação ideológica; sem mitos, dogmas, devem-se

identificar os valores e princípios a serem reafirmados profissionalmente. Assim a dimensão

da totalidade do ser humano não é algo para traduzir-se numa situação integral, mas com uma

compreensão dinâmica e plástica do sujeito que busca assistência para recuperar ou manter a

saúde (LEOPARDI, 1997, p.59).

O cuidado representa o processo cuidativo e pode ser entendida como forma

terapêutica, uma prática sensível, amorosa e harmônica na qual a tecnologia aplicada ao

paciente em estado crítico faz parte da dimensão do cuidado. Sendo assim, não podendo ser

separado de seu contexto. Para alinhavar esse processo de cuidado em nossa pesquisa

utilizamos à definição de ser humano na teoria do ser humano unitário que pode ser entendida

como: “Ser humano unitário é um campo de energia irredutível, indivisível, pandimensional

69

identificado pelo padrão e manifestando características específicas diferentes daquelas de suas

partes e que não podem ser preditas do conhecimento de suas partes” (ROGERS, 1990, p.07

apud Shumacher, 2000, p.248).

O conceito do processo cuidativo pode ser seguido a partir da concepção Rogeriana

como ”Uma intervenção partindo da totalidade do ser humano,... através do cuidado pretende-

se promover uma relação harmônica entre ambiente e paciente para promover interações entre

o ser humano e seu ambiente” (MARRINER, 1994, p.215 apud Shumacher, 2000, p.248).

Durante a trajetória de nossa pesquisa, procuramos entender o processo de cuidar

como algo inseparável de reações na qual a especificidade das partes de cada pessoa pode ser

identificada a partir de um todo. Acreditamos que ao processo cuidativo acrescenta-se

afetividade, demonstrando seu caráter humano e ultrapassando os limites de uma ação isolada,

ou seja, não bastando meramente cuidar, mas também perceber as necessidades do ser

cuidado. Para tanto, propomos uma prática de cuidado humanizado, com conhecimentos

científicos, porém com habilidades e percepções no quais os valores individuais são

respeitados.

Ao incluir todos nossos conceitos sobre cuidados, passamos a pensar no cuidado

realizado dentro da Unidade de Terapia Intensiva, já que tais unidades são repletas de

procedimentos e materiais especializados e que exigem dos profissionais de enfermagem

habilidade e conhecimento técnico-científico. Será que conseguimos visualizar o paciente

como um todo? Claro que cuidamos de forma integral realizando medicações e cuidados de

higiene, mas e o que o paciente está sentido? Já paramos para pensar nisso?

A maioria dos indivíduos hospitalizados em uma UTI fica impossibilitada de expressar

seus sentimentos e medos impedidos de falar devido à presença de tubos, aparelhos de

ventilação artificial, sedação, coma, dentre outros aspectos, perdendo o controle de seu

próprio corpo, quanto aos cuidados diários de higiene, vestimentas alimentação e

movimentação. Trata-se de uma sujeição quase que total aqueles que cuidam (CORRÊA,

1998, p.299 apud NASCIMENTO, MARTINS, 2000, p.202). Assim, podemos afirmar que o

paciente passa a ser manipulado diariamente por esses profissionais o que os tornam

vulneráveis perdendo totalmente sua autonomia levando-os por vezes a períodos de agitação

que são ignorados pelos cuidadores como forma de exaustão. Assim, mais uma vez recebem

medicamentos sedativos e por vezes são restritos ao leito sem saber o motivo pelo qual está

passando por esta situação. Isto torna o paciente cada vez mais vulnerável e intolerante aos

acontecimentos dentro da unidade resultando em incômodos que jamais serão percebidos pelo

profissional se não utilizar um cuidado visualizando não somente os padrões científicos mais

70

sim o cuidado em que se busca ampliar a perspectiva de ação para além do processo saúde-

doença tendo como ênfase as mais diversas formas de expressão.

a) DSC - A ausência de dor [...] sentia nada, não sentia toque, não sentia dor, nada [...] Daí tu não sente dor, dor. Eu, pelo menos, não sentia. [...] dor, eu não sentia dor porque eu acho que o remédio não deixava. [...] não tinha dor de espécie nenhuma... Eu tava em coma, eu não sentia nada... , graças a Deus. Nada, de dor de cabeça, essas coisas eu não sentia[..]. A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), como

“sensação desagradável e experiência emocional, associada à lesão tecidual real ou potencial,

ou descrita em termos relacionados à lesão”. Dor aguda é definida por Bonica (apud

SLULLITEL & SOUSA, 1998, p.507) como uma “complexa constelação de experiências

desagradáveis, perceptuais, psicológicas, emocionais e respostas comportamentais causadas

por estimulação nociva”. Esta é invariavelmente produzida por lesão e/ou doença na pele,

estruturas somáticas profundas ou vísceras, ou função anormal de músculos ou vísceras na

ausência de lesão.

Já a dor crônica é definida como aquela que “persiste por mais de um mês além do

curso normal ou que seja associada a processo patológico crônico, que cause dor contínua ou

recorrente a intervalos de meses ou anos” A intensidade, à qual a dor parece insuportável,

varia não somente de individuo a indivíduo, grau de ansiedade, mas, também, de acordo com

a cultura em que o indivíduo é educado (SLULLITEL & SOUSA, 1998, p.507).

Diante dos discursos de nossos interagentes percebemos que em sua maioria durante a

internação na UTI não há relatos de dor. Isto porque em Unidade de terapia Intensiva os

pacientes são submetidos à analgesia a fim de promover conforto, diminuir o estress e manter

uma boa ventilação mecânica. Porém, ressaltamos a importância da equipe de enfermagem na

atenção ao cuidado ao paciente que está sob efeito de analgo-sedação, já que por vezes a

avaliação da dor deste paciente pode ser dificultada pela impossibilidade de comunicação

entre o paciente e equipe de enfermagem. Diante disso o profissional deve avaliar e perceber

as formas de expressão da dor em suas diferentes magnitudes, como expressão facial,

taquicardia e agitação. Com isso estaremos minimizando o desconforto do paciente e evitando

estresse diante da situação vivida.

Hans Selye (apud GOLEMAN, 1997, p.31) afirma que o estresse é uma série de

mudanças neurofisiológicas as quais o corpo é submetido, em resposta a um dano físico, à

71

ameaça de dano ou experiências relativamente penosas. Acredita que a resposta ao estresse

seja uma reação universal do corpo a ameaças e perigos de todo tipo, desde queimaduras e

bactérias às más notícias.

A descoberta das endorfinas, um grupo de neurotransmissores que atuam no cérebro

como opiatos revelaram que os caminhos pelos qual a morfina provoca analgesia são

exatamente o local de ação das endorfinas. A descoberta das endorfinas levou uma

intensificação das pessoas para determinar as condições que aliviam a dor. Para tanto se

descobriu que o estresse mental pode agir como um gatilho para as endorfinas.

O estresse psicológico provoca no cérebro a mesma reação que uma dor biológica. Na natureza, a dor é enviada num envelope de estresse. A ameaça a dor é a essência ao estresse. Ao exemplo disso é que um animal que foge de um predador pressente o perigo muito antes de sentir dor, se chegar a sentir. O objetivo geral da evolução, é que a resposta à dor seja parte de um conjunto total de reação ao perigo (GOLEMAN, 1997, p.31)

Ainda segundo Goleman (1997), quando percebemos um estimulo de estresse, o

cérebro envia um sinal ao hipotálamo para secretar o Fator de Liberação Corticotrófico

(CRF). Este por sua vez passa através de um canal específico para a glândula pituitária, onde

detona a liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) e opióides especialmente

endorfinas. Portanto seja a dor física ou mental, esta é registrada no cérebro por um meio que

pode amortecer seus sinais. O alivio da dor pode ser construído na sua percepção.

Para tanto, os profissionais de enfermagem podem utilizar seus conhecimentos a

serviço do ser humano, neste trabalho gostaríamos de propor a enfermagem um maior

aprofundamento do conhecimento deste ser em suas diferentes características e dimensões.

Concordamos com Rogers (apud Horta, p.23,2004) quando afirma que o ser humano é

um todo unificado, possuindo sua própria integridade e manifestando características que são

mais do que diferentes da soma de suas partes.

Neste sentido cuidar de pessoas na Unidade de Terapia Intensiva requer do

profissional conhecimentos específicos e ainda a visão de um ser humano não somente como

um ser a ser cuidado mais também um conhecimento das diversas reações dos indivíduos.Não

queremos aqui desmerecer o cuidado realizado nas UTIs mais sim, queremos oferecer uma

proposta de cuidado com o olhar focalizado ao ser humano.Nestas unidades os pacientes estão

muitas vezes ansiosos e assustados diante da presença e da visão social de que a UTI é um

lugar para a morte.Assim,os profissionais não percebem este lado do paciente muitas vezes

ignorando a real necessidade do momento no paciente internado e que muitas vezes, pode ser

solucionada com uma simples conversa explicando a necessidade de tantos tubos e

72

aparelhos.Com isto estaremos quebrando o “gelo” entre os profissionais e pacientes e assim

minimizando a ansiedade e estresse do paciente internado.Sabemos que este estresse é

provocador de diversas reações fisiológicas e não desejáveis ao paciente.Então, diminuir o

estresse psicológico proporcionará um atendimento humanizado e como conseqüência trará

beneficio e melhora clínica em reposta a diminuição da ansiedade e estresse causado pelo

ambiente no qual está inserido.

b) DSC - Desconforto produzido pelo barulho

ANCORAGEM - Presença de alarmes [..] Tem também aquela, tem uma maquininha que faz um barulhinho ali, né? Direto fica tam tam tam. Aquilo ali grava muito na gente[..].

ANCORAGEM - Presença de aparelho de TV x perturbação [..] Tinha muito barulho, a televisão ligada e aquele barulho do computador a noite, Aquilo perturbava a gente, que a gente já tava meio sedada, [...] Mas, era uma televisão muito alta[..].

O tom de voz dos profissionais de enfermagem [..] Não, eu lá, uma noite que eu me lembro que três enfermeiros homens, parece que tavam lá e uma moça..falavam muito alto[..]. Rogers em suas suposições ao estudo do ser humano unitário acredita que o indivíduo

e o ambiente trocam continuamente matéria e energia.O ambiente para todos os indivíduos é

definido como o todo padronizado de tudo que é externo a um determinado indivíduo.A troca

constante de materiais e energia tornam o ser humano um “ser perceptível e

pensante”(GEORGE,1993).

Assim, o ambiente hospitalar, especialmente a Unidade de Terapia Intensiva (UTI),

devido à complexidade do atendimento prestado, bem como a estrutura física, o barulho, os

equipamentos e a movimentação das pessoas, é tido como gerador de estresse para os

pacientes e os familiares. Alterações de ordens psicológica e afetiva, como ansiedade e medo,

são freqüentemente encontradas entre os pacientes críticos, tornando relevante à identificação

dos estressores que contribuem para o desenvolvimento destes quadros (BITENCOURT et al,

2007).

73

A presença de equipamentos estranhos, alarmes, e luminosidade intensa contribuem

para o estresse físico e psicológico dos pacientes admitidos em UTI. Os fatores específicos

como tubos na boca e/ou nariz, dor, comprometimento do sono, perder o controle de si

mesmo, limitação de movimentos das mãos ou braços devido aos acessos venosos e não ter

explicação sobre o seu tratamento estão descritos como os itens mais associados ao

desenvolvimento do estresse pelos pacientes (BITENCOURT et al, 2007).

O estresse é uma situação tensa, fisiológica ou psicológica; que pode afetar as pessoas

em todas as suas dimensões. A resposta ao estresse é influenciada pela intensidade, duração e

âmbito do agente estressor no presente momento. Em pacientes internados em UTI, o

desenvolvimento de estresse está relacionado a conseqüências psicológicas como ansiedade,

depressão, raiva, negação e dependência (BITENCOURT et al, 2007).

Não dormir e ter dor causa desconforto físico e psicológico no paciente, o que somado

às condições da internação aumentam seu estresse. A privação do sono em UTI parece ter

várias causas, incluindo a doença crônica do paciente, a presença de uma doença aguda

sobreposta ou realização de procedimento cirúrgico, as medicações utilizadas e o próprio

ambiente da UTI. Medidas terapêuticas para melhorar esta condição devem ser direcionadas a

todos as potenciais causas, com ênfase na criação de um ambiente favorável que facilite o

início do sono, diminua o número de interrupções e possibilite a manutenção do ciclo sono-

vigília nesses pacientes (BITENCOURT et al, 2007).

O barulho dos alarmes é algo a ser levado em consideração. Um ambiente ruidoso

dificulta o descanso confortável, causando nos pacientes perturbações do sono e alterações

psicológicas. Os níveis de ruído hospitalar encontram-se excessivamente elevados,

especialmente no ambiente de UTI, em decorrência dos inúmeros alarmes e equipamentos,

além da conversação da própria equipe hospitalar. Diante disso, esse ambiente que deveria ser

silencioso e tranqüilo torna-se ruidoso, transformando-se em grande fator de estresse e

podendo gerar distúrbios fisiológicos e psicológicos tanto nos pacientes como nos

funcionários desta unidade (BITENCOURT et al, 2007).

Salientamos aqui a importância do profissional de enfermagem em perceber a

necessidade do outro. Quantas vezes nos pegamos fazendo barulho extremo dentro das

unidades hospitalares ou assistindo televisão sem perceber o incômodo ao paciente cuidado?

A atuação junto ao ser humano ainda é insuficiente em termos de observação e atenção

as suas necessidades emocionais. Num momento de vários significados e temores, ele fica sob

responsabilidade da equipe de saúde, longe de seus familiares e é tratado como se não tivesse

74

individualidade e identidade própria, nem especificidades que fazem dele um ser singular,

integral e indivisível. (CARRARO, 2000, p. 52).

Concordamos com Carraro (2000, p.55) quando argumenta que o ambiente tem

mostrado influência direta sobre o poder vital dos seres humanos, quer sejam inerente ao meio

ambiente externo ou interno a eles. Os integrantes das equipes de enfermagem não se dão

conta que suas atitudes influenciam diretamente na situação vivenciada pelos seres cuidados.

Para tanto, a enfermagem deve atentar as necessidades do cliente e perceber que suas

ações interferem de forma significativa no cuidado do paciente. Não queremos colocar em

questão se o profissional deve ou não assistir televisão ou conversar entre si, até porque

estamos certos que o ambiente de UTI também é fator de estresse para o profissional diante da

vivência contínua com o sofrimento alheio. Salientamos neste estudo, a importância de

perceber o outro com a si próprio. A idéia que não é nova na medicina, mas que neste século

desempenhou um papel menor é de que se houver um ambiente positivo, social, nutricional e

espiritual, a capacidade de auto-cura do corpo pode fazer muita coisa (CARRARO, 2000, p.

52).

Instigamos o profissional de enfermagem a propor um cuidado diferente do vivenciado

nas unidades de internação e ressaltamos que o cuidado não deve ser norteado apenas por um

poder institucional, uma obrigação profissional que se expressa através de rotinas que

impedem a participação efetiva do profissional no cuidado. É preciso perceber o outro, cuidar

e pensar nas necessidades alheias assim como suas próprias necessidades.

c) DSC - Higiene oral x higiene x satisfação de necessidade não expressada [..] Não via a hora que o pessoal vinha escovar a minha boca, pra cair aquele pouquinho de água. [...] Elas sempre me trataram muito bem, faziam a higiene toda, bucal, tudo[..]. Segundo Rogers (apud GEORGE, p.197,1993) cada homem é um ser unificado com

individualidades e está em intercâmbio constante de energia e com o ambiente. Assim, a

prática profissional da enfermagem busca a promoção da integração sinfônica dos seres

humanos e seu ambiente, de modo a reforçar a coerência e a integridade do campo humano

para a realização da saúde máxima.

Para Mayeroff (1971 apud MAIA, 1998, p.136) no cuidado existem alguns conceitos

para a compreensão deste fenômeno. São eles, conhecimento, ritmos alternados, paciência,

honestidade, confiança, esperança e coragem. Para o autor o cuidado ajuda o outro a crescer e

auto-realizar-se além de dar significado à vida.

75

Assim, o discurso acima demonstra a satisfação do paciente em receber o cuidado de

enfermagem a fim de satisfazer suas necessidades que não poderiam ser expressas. O paciente

hospitalizado pode não ser capaz de atender suas necessidades básicas sem ajuda, e assim

relaciona o cuidado recebido como forma de satisfazer suas necessidades fisiológicas.

Os profissionais de enfermagem devem estar cientes que o cuidado não é percebido

pelo paciente somente como forma de manutenção de higiene, porém facilmente o associam

como forma de aproximação do profissional assim como, proporciona satisfação e prazer em

saciar uma sensação que não pode ser expressa em um dado momento.

Assim, o cuidado é realizado com o intuito de desenvolver ações, atitudes e

comportamentos com base no conhecimento científico, experiência, intuição e pensamento

crítico que são realizadas para e com o paciente no sentido de promover, manter ou recuperar

sua dignidade e totalidade humana (WALDOW, 1998, p.150).

d) DSC - O tubo – acesso x desconforto – incômodo [..] Ah, o aparelho incomoda, o da garganta incomoda. [...] Eu usei um bicozinho, E tu quer... É desconfortante, [...] tu tá acostumado com o teu corpo Aí depois até na sonda. É desconfortante. [...] Mal estar e mal estar pelos aparelho, pelo tubo e pior quando tiraram os tubos. [...] Não tinha condições, porque a gente queria falar a gente tava com tubo E a sensação muito ruim, mas... Era pro bem da gente, [...] Não podia falar, eu mexia com a mão[...] mas, é uma fase que tem que passar e ninguém passa pelo cara[..].

A intubação traqueal é um procedimento invasivo onde o intensivista coloca um tubo,

que pode ser de vários tamanhos e tipos diferentes, pela boca ou nariz até a traquéia do

paciente. Está recomendada para que se possam manter as vias aéreas eficiente, para iniciar

ventilação mecânica, diminuir o esforço respiratório, aspirar secreções e evitar aspiração de

substância gástrica. É um procedimento traumático tanto na parte fisiológica como na

psíquica do paciente (RATTON, 1997).

É importante que o enfermeiro compreenda que algumas complicações podem

aparecer em um paciente intubado. Torna-se importante o conhecimento da anatomofisiologia

das vias aéreas, pois este local possui estruturas rígidas que possuem pouca flexibilidade,

Ratton (1997, p. 187) coloca que “as partes mais vulneráveis são: a parede nasal, parte

posterior da faringe, anel cartilaginoso da cricóide e parte interna da parede traqueal anterior”.

Com a permanência prolongada do tubo e devido à pressão do tubo nestas estruturas “haverá

edema, ulceração, e com a cicatrização, granulomas e fibroses”.

76

Devemos considerar que qualquer objeto estranho que é introduzido em nosso corpo

nos proporciona sensação de desconforto. Para um paciente de UTI esta sensação é ainda mais

desagradável. A impossibilidade de comunicar-se e exprimir seus sentimentos junto com o

desconforto proporcionado pela intubação levam a um grau de estresse extremo do paciente.

A procura de uma forma de pronunciar-se sobre o desconforto apresentado leva a alteração no

próprio quadro do paciente (RATTON, 1997).

Os tubos, incluindo sondas, cateteres e cânulas, são invasivos, desconfortáveis e

limitam a comunicação e a alimentação do paciente, aumentando o estresse na UTI

juntamente com as demais privações que eles já experimentam neste ambiente. A razão para o

desconforto relacionado com o tubo traqueal possivelmente é devido à sucção endotraqueal, a

qual os pacientes são regularmente submetidos para manter a permeabilidade da via aérea.

Este agressivo estímulo mecânico pode explicar porque os tubos são freqüentemente

lembrados como importante causa de desconforto durante a internação em UTI. O uso de

sondas enterais também pode estar associado a desconforto e estresse em pacientes críticos,

relacionados tanto ao seu incômodo mecânico, principalmente na sua introdução, quanto à

privação do ato de comer. Como estes dispositivos são fundamentais para o seu manuseio na

UTI, já foi proposto na unidade em questão, a utilização de um check-list para reavaliações

freqüentes da necessidade de permanência dos tubos, a fim de que estes sejam retirados o

mais precocemente possível (BITENCOURT et al, 2007).

Assim podemos compreender que mesmo impossibilitado de comunicar-se através da

linguagem verbal, porém consciente de seu estado mental, o paciente procura comunicar-se

com o enfermeiro. Neste sentido, o enfermeiro poderá buscar outras reações do paciente, deve

atentar a algum sinal de desconforto provocado pelo procedimento invasivo e utilizar a

linguagem não verbal. Esta comunicação estabelece de ser para ser, que é sentida, percebida e

não se utiliza apenas palavras. Acontece pela vibração em ondas que emana do corpo de cada

um. ”Os corpos fazem trocas silenciosas entre a expressão das emoções de um lado e as

impressões da mensagem recebida de outro” (GHIORZI, 2004, p.181).

A linguagem não verbal envolve a fascinante linguagem do corpo em que por vezes o

simples ato de cruzar os braços é um gesto inconsciente e por isso esta relacionada ao que se

passa no íntimo das pessoas. Assim, Souza; Padilha (2002, p.21) destacam a importância dos

sentimentos das pessoas envolvidas no binômio trabalhador de enfermagem e cliente no

processo comunicacional. Acredita-se que fazer enfermagem implica no reflexo das próprias

crenças, sentimentos e conhecimentos enquanto pessoa, assim ao encontrar em si mesmo o

sentido da interpretação do corpo, afeto, pensamento e espírito conseguirá interagir melhor

77

uma vez que entenderá seus sentimentos e pensamentos expressos com seus gestos e mímica

facial.

“A dificuldade para me comunicar com eles era total. Estava cheio de tubos, sondas... queria

saber o estado da perna esquerda, pois a direita já dava como perdida..” (GRAEL, 2001,

p.26).

Diante do desconforto, muitas vezes, expressos por modificações faciais e até mesmo

nos dados mensuráveis a equipe de enfermagem deve proporcionar tranqüilidade e atentar as

necessidades de cada paciente. Por vezes, uma simples conversa ou um olhar carinhoso pode

tornar o paciente mais seguro em sua condição debilitante.

e) DSC - Mudança de decúbito x desconforto – imobilidade [..] Desconforto de tá ali sem se mexer. [...] De barriga pra cima toda vida. É claro que quando precisava as enfermeiras, a equipe de enfermagem vinha ali, virava a gente de posição, trocava de posição, mas não fica confortável. [...]. A gente não pode se mexer. [...] Também jogava o cara pro lado, virava pro outro[..]

As pessoas que tem seus movimentos reduzidos em virtude da imobilização sofrerão

uma redução gradual do tamanho e força dos músculos.

Neste contexto, a enfermagem em suas dimensões do cuidado procura propor ao

paciente a melhor maneira de deixá-lo posicionado ao leito, porém com a impossibilidade de

se comunicar com o profissional por vezes este fica desconfortável na posição em que é

posicionado. Isso implica que ao realizar a mudança de decúbito, geralmente deixa-se o

paciente na posição que se acredita que seja o melhor para ele. O mesmo sente-se

desconfortável e permanece nesta posição por cerca de duas horas conforme a rotina das

unidades. E agora? Como vamos definir o conforto do paciente? Para isto devemos utilizar

também da comunicação não verbal, está será expressa pelo paciente através de expressões

faciais, assim demonstrando sua satisfação ou não com cuidado recebido. Salientamos que o

cuidado e rotinas devem ser feitos a serviço do paciente e não para que as nossas regras sejam

seguidas.

Acrescentamos que a imobilidade dos pacientes que estão internados na UTI é imposta

pela condição de saúde e pela terapêutica em que a enfermagem atua diretamente na

mobilidade do paciente com intuito de promover conforto e evitar complicações como atrofias

musculares e lesões da pele. Assim, o enfermeiro pode utilizar métodos para promover

78

conforto e bem estar aos pacientes. Hudak; Gallo (1997) acrescenta que o toque é também

uma forma efetiva de comunicação e cuidado nas unidades de terapia intensiva. A

necessidade de contato tátil está presente em todas as fases da vida e esta necessidade é

intensificada durante episódios de estresse. Os enfermeiros quando utilizam desta terapêutica

estão transmitindo compreensão, apoio e proximidade ao paciente. Contudo, o ato de tocar ou

ser tocado envolve a estimulação de receptores cutâneos que transmitem mensagens para o

cérebro e que são interpretadas pela pessoa, assim proporcionando conforto e bem-estar

(HUDAK; GALLO, 1997).

Nas UTIs existe uma necessidade aumentada do uso do toque,em que aparelhos e

tecnologia contribuem fortemente para a despersonalização do paciente.Antes de desenvolver

o trabalho envolto a tecnologia o enfermeiro deve oferecer o conforto ,atenção bem como o

toque para proporcionar prazer e maior comodidade ao paciente (HUDAK;GALLO,1997).

Refletir neste sentido é importante, é necessário buscar formas de proporcionar

conforto ao paciente, se este não consegue se comunicar, deve-se então utilizar as mensagens

enviadas pelo paciente através de suas expressões ou ainda a utilização do toque e/ou

massagens pode satisfazer e, contudo minimizar os desconfortos causados pela imobilidade.

f) DSC-Privação sensorial x percepção

A privação da percepção é a incapacidade de interpretar os estímulos recolhidos,

ocorre quando o cérebro tem sua capacidade diminuída de dar sentido aos estímulos

sensoriais, o indivíduo é capaz de ouvir, mais é incapaz de compreender; pode ver, mas não

pode reconhecer (MURRAY; ATKINSON, 1985).Também é decorrente da terapêutica

depressora do sistema nervoso central que impede um adequado processamento da percepção

e interpretação dos estímulos,até mesmo sua discriminação e identificação.

O ambiente hospitalar frequentemente priva os pacientes de estímulos sensoriais

enquanto os bombardeia com estímulos sensoriais estranhos e contínuos não encontrados no

ambiente doméstico. Assim, os sons das UTIs incluem vozes de estranhos,movimento de

grades nos leito,ruído de monitores cardíacos,aspiração traqueal.Estes são acompanhados por

iluminação contínua,imagens estranhas de equipamentos,medo e dor.Assim,a privação

sensorial ou sobrecarga pode resultar em comportamentos diferenciados em cada paciente

desde o isolamento a comportamento psicótico (HUDAK;GALLO,1997).

Ancoragem - Percepção do sedativo

79

[..]O efeito do sedativo e aquela vontade de tomar água. [...]]..[Olha, pensamentos, assim, em termos de, quando eu tava sedado, eu tinha visões.[...] ... E, assim, na UTI não tem o que falar, assim, porque o cara é medicado direto, né, daí tu tá sempre dopado, no caso[..]. Perceber, ou melhor, compreender a percepção é parte importante para refletir sobre

um instrumento relativamente complexo. Nesse sentido Foucault (2004 apud SILVESTRE,

2006, p.116), contribui com a idéia de ver a totalidade do que se apresenta na consciência da

pessoa e não somente às partes, pois esta estará geralmente relacionada aos padrões naturais e

construídos.

Silvestre (2006) esclarece que os padrões naturais e construídos relacionam-se as

estruturas naturais do cérebro e do que recebemos (vivenciamos). Porém, nossa percepção é

interativa, construída e ampliada se houver revisão destes padrões em nós mesmos. Desta

forma é possível mudar a própria percepção e compreender a organização da experiência.

Para isso, precisamos compreender também que dispensamos a um objeto ou fato uma

atenção parcial. Nosso cérebro seleciona aquilo que podemos perceber daquilo que não

podemos, protegendo-nos de situações desestabilizantes e traumatizantes. No modelo de Freud a informação flui linearmente, da sensação inicial para a resposta final. Quando passa pela mente, a informação não é apenas transmitida mas também é transformada.O que o olho percebe é uma variedade de ondas,o que o ouvido percebe é uma forma de vibração.Quando a visão e o som tornam memória,passaram por transformações no tipo de informação que percebem (GOLEMAN,1997,p.60).

Ainda para que a memória chegue à percepção consciente deve passar de um sistema

de memória para o campo que se chama inconsciente. O inconsciente não tem acesso direto à

percepção consciente e o material encontrado no inconsciente passa em seguida para a área

chamada pré-consciente. Se a energia mental se torna suficientemente forte, ela explode no

consciente e torna-se foco de atenção (GOLEMAN, 1997, p. 61).

Rogers afirma que a percepção entra como um processo no qual os dados obtidos

através dos sentidos e da memória são organizados, interpretados e transformados. O processo

de interação humana com o ambiente influencia no comportamento, proporcionando

significado à experiência e representa a imagem da realidade para a pessoa.

Quando o paciente está hospitalizado na UTI e ainda está sob efeito de sedativos os

profissionais de enfermagem, geralmente optam pelo cuidado de rotinas e medicações, porém

ressaltamos aqui que estes pacientes percebem de alguma forma todo o cuidado recebido e

ainda conseguem ter lembranças do momento vivido. Para tanto, gostaríamos de salientar a

80

transformação do cuidado de enfermagem focalizando este cuidado de forma harmônica entre

paciente e profissional. Perceber o indivíduo em suas necessidades e assim promover um

cuidado transformador no sentido de acalmar, conversar e explicar a real situação do paciente

neste momento vivido.

A questão central desenvolvida é: de que serve conversar com o paciente que está

“dormindo”?Tal pergunta e comentário são rotineiros a profissionais que trabalham com

pacientes em analgo-sedação, porém nosso estudo nos leva a crer e está evidenciado nos

discursos dos interagentes que possuem lembranças acerca de sua passagem pela UTI muitas

das quais ainda percebem os efeitos dos sedativos. Então, ressaltamos a importância de

mantermos uma relação afetiva e cuidadosa com cada pessoa internada em Unidade de terapia

Intensiva com o intuito de proporcionar mais tranqüilidade a estes pacientes quando

manipulados pelos profissionais e ainda contribui para a melhora da saúde.

ZINN e colaboradores (2003) em um de seus estudos sobre comunicação com paciente

sedado afirmam que no cuidado com estes pacientes os enfermeiros devem comunicar-se e

chamá-lo pelo nome mesmo que haja ausência de expressão do paciente. Pois devemos

lembrar que a dicotomia entre percepção e expressão do que é compreendido. O

comprometimento de funções cerebrais e sentidos não implicam, necessariamente, na

inexistência perceptual, reconhecer os sentimentos do doente é fundamental para o

enfermeiro, pois é através dessa compreensão que ele percebe as necessidades reais do

paciente e pode realizar um plano de cuidados sistematizado, considerando a pessoa como um

todo, e desenvolvendo uma postura empática.

Um outro aspecto citado por estes autores é que quando existe comunicação este ato

torna-o mais calmo. Somando-se a isso, estabelecer essa comunicação é importante porque

possibilita uma troca com o paciente; o enfermeiro passa a ter maior possibilidade de perceber

o que ele está sentindo; permite a mensuração do grau de sedação; além de ser um passo

anterior à invasão da privacidade desse indivíduo que está com sua capacidade de expressão

afetada e em quem o enfermeiro realiza, além do banho, muitos outros procedimentos que

invadem sua individualidade.

Desta forma, o enfermeiro torna-se um profissional de cuidado diferenciado não o

transformando em um profissional condicionado e sem reflexão. Salientamos que

independente do grau de sedação, e outras, a comunicação deve ser estabelecida e pode ser

feita de forma verbal e não-verbal (expressões faciais e corporais, toque, brincadeiras).

Destaca-se ainda que, na maior parte das vezes, os pacientes não se manifestam

claramente e comunicar-se com o paciente sedado é desvelado, de modo geral, como um

81

fenômeno que: aproxima o cuidador do paciente; é importante por proporcionar uma troca

entre ambos, aumentando a percepção sobre o que o paciente está sentindo. Isto acontece, sob

a perspectiva da enfermagem, através da verbalização, do toque, da atenção. Nesse sentido, a

comunicação não deve ser compreendida como uma “via de duas mãos”, na qual uma

informação é enviada e dela espera-se a obtenção de um retorno. Porém, devemos estabelecer

a comunicação independente do grau de sedação, considerando a possibilidade de a

comunicação existir como uma “via de mão única”, na qual o que importa é a tentativa de

transmitir uma mensagem, ou até obter um retorno, porém não imediato mais assim

proporcionando conforto e tranqüilidade ao paciente (ZINN etal, 2003).

g) DSC - O cuidado que produz vergonha x respeito aos limites do outro [..] Bom, a gente fica meio encabulada. Porque é uma senhora, lá eram meninas, que atendiam, praticamente, então, dá assim uma vergonha na gente a vergonha, assim, que dá no paciente mesmo de estar ali completamente despida. [...] Eu tinha muita vergonha por causa das meninas [..].

A rotina do dia-a dia das Unidades de Terapia Intensiva, pode inibir a percepção do

profissional, tornando-o alienado. Em se tratando da alienação do profissional Freire (1999,

p.24 apud HAYASHI; GISI, 2000, p.826), comenta que: A alienação do profissional não lhe permite perceber o óbvio, o que significa que o homem alienado tende a ficar mais na forma que no conteúdo, ou seja, passa a ver as coisas com mais superficialidade. Ainda as ações profissionais passam a ter um caráter técnico, negligenciando ou minimizando o homem ao confrontar o dilema humanismo-tecnologia e assim acaba optando pela técnica, considerando a perspectiva humanista uma forma de retardar as soluções mais urgentes.

Esse distanciamento da equipe de enfermagem, que transforma o cuidado de

enfermagem simples e mecânico pode ser atribuído a um mecanismo de defesa, pois o

sofrimento do outro também nos traz medo, fragilidade e vulnerabilidade. Porém salientamos

aqui, que o cuidado humano dentro da Unidade de Terapia Intensiva deve ter atenção

redobrada no que diz respeito à privacidade e compreensão dos sentimentos da pessoa

humana que está sendo cuidada. Não é raro nos depararmos com situações na qual o paciente

completamente despido fica exposto para que possamos realizar algum procedimento. Muitas

vezes esquecemos de como ele deve estar se sentindo diante de pessoas estranhas as quais os

manipulam de um lado para o outro e, ainda por vezes, fazendo comentários de que nada o

interessam naquele momento tão particular de sua vida. Portanto, ao atuar no cuidado os

82

profissionais devem optar pelo cuidado integral em que Rogers argumenta muito bem em seu

princípio de integralidade e comenta que existe uma inseparabilidade dos seres humanos e seu

ambiente (GEORGE, 1993) assim, os comentários desagradáveis ou até mesmo a exposição

do paciente nu pode provocar sensações extremamente constrangedoras ao paciente cuidado.

Neste sentido, também devemos compreender que o paciente é um ser humano dotado de

particularidades, assim, entender as interferências culturais na percepção do cuidado de cada

paciente é um importante fator para que este se sinta adequadamente satisfeito com o cuidado

recebido, ou seja, diante das diferentes culturas e das diferentes formas de educação familiar,

as pessoas podem não se sentir prazerosamente bem quando tocada por outra pessoa enquanto

que para outros uma simples massagem ou ainda o momento do banho de leito pode oferecer

uma sensação de bem-estar e conforto.

Contudo, o cuidado não é simplesmente realizar tarefas das quais sabemos

cientificamente que é o “certo” para melhorar a saúde, cuidado é muito mais que isso, é estar

apto a perceber as modificações não só fisiológicas, mas também cuidar com amor e olhar o

indivíduo em sua totalidade.

h) Dificuldade de perceber e/ou expressar o cuidado

[..] Mas eu sempre fui muito bem atendida, não tenho nada que reclamar, E, não sei, assim, eu sempre fui bem tratada [..]. Segundo Bellaguarda (2002, pg. 25), “Cuidar é uma ação de auxílio, de ajuda, de

dedicação, de assistir o outro de forma a desenvolver um cuidado sistematizado, criativo e

muitas vezes improvisado. Haja vista, que o cuidado está implícito na doação dos seres a si

mesmos, ao seu semelhante e a natureza”.

A autora fala do cuidado como prestar assistência de uma forma organizada, porém

várias situações podem acontecer prestando este cuidado na UTI. O enfermeiro, porém deve

utilizar-se não somente de questões técnicas para prestar a assistência e sim procurar se

envolver na real situação momentânea utilizando-se de práticas criativas e improvisadas

muitas vezes essenciais para o bem estar do paciente.

Diante do discurso dos interagentes, podemos acrescentar que sob uma visão parcial,

as pessoas não expressam o querem, às vezes até nem sabem o que querem. Queremos dizer,

por exemplo: as falas acima são entendidas que o cuidado recebido na UTI foi percebido de

forma agradável e sem queixas de qualquer tratamento, porém reafirma que possuía muita

vergonha.

83

Para tanto, acrescentamos aqui que os profissionais além de oferecer o cuidado

rotineiro de enfermagem devem fixar-se no ser humano como alguém adoecido, porém

passível de sentimentos de inibição e desconforto. Salientamos que o cuidado deve ser

realizado de modo que proporcione conforto integral ao paciente observando suas crenças,

sentimentos e principalmente, atentando a privacidade do cliente hospitalizado. Por vezes os

profissionais cuidam da saúde fisiológica, porém esquecem que a privação da autonomia de

seu corpo pode influenciar no cuidado e provocar desconfortos indescritíveis ao paciente. O horizonte no cuidado de Enfermagem localiza-se em transcender os possíveis e arquitetar os alicerces de uma reconstrução em que, muitas vezes, a situação humana de saúde de alguém dá o itinerário e nessas situações, a arte ocupa lugar, e cria convergência com a ciência, caminhando juntas em expressões de Enfermagem que conspiram o ar emancipatório que humaniza o ser (NEVES-ARRUDA, 1999 apud BELLAGUARDA, 2002, p. 175).

i) O cuidado profissional

[..] Vergonha eu não tinha porque eu sabia que era o lado profissional, elas faziam com todo carinho, todo cuidado... Elas eram bem profissional, elas são profissiona[..l].

“Enfermagem é definida por Rogers (apud GEORGE, p.197,1993) como” uma arte e

uma ciência humanista e humanitária. “É voltada ao homem unitário e preocupa-se com a

natureza e direção do desenvolvimento humano”. Assim, a assistência de enfermagem

consiste em cuidar e manter o bem-estar físico, emocional, social, espiritual e cultural, de uma

família ou comunidade (YOUNG, 1981 apud MURRAY; ATKINSON, 1985, p.11).

A pessoa que recebe o cuidado de enfermagem é um indivíduo único, um ser humano

que possui características e que percebe o profissional como um trabalhador com

conhecimentos e por isso sente-se tranqüilos quanto ao cuidado recebido.

Para o profissional de enfermagem também é importante conhecer a percepção do

paciente em relação ao cuidado recebido na UTI, já que, por vezes se sentem impotentes

diante de um trabalho em que se convive diariamente com o sofrimento humano.

Silvestre (2006, p.79) aponta que: O cotidiano da prática de enfermagem demonstra a incapacidade ou despreparo por parte dos profissionais para o cuidado, principalmente quando a carga emocional envolvida é muito grande. A maioria das ações de cuidar traz consigo uma dimensão emocional forte e importante, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva, onde se vive no limiar entre a vida e a morte.

Assim, os discursos apontam que o paciente, dependendo de sua cultura familiar não

consegue ver a enfermagem como pessoas que devem sentir vergonha, porém os percebem

como profissionais capazes de realizar o trabalho técnico e científico e ainda como

profissionais que transmitem carinho e sensibilidade.

84

Este conhecimento é importante para perceber também as atitudes dentro da UTI, o

quanto é difícil trabalhar com os sentimentos de ambigüidade de vida e morte. Ainda que se

preste o cuidado, sem qualquer discriminação, por vezes os profissionais sentem-se frágeis ao

perceber que a morte é inevitável. Considera-se que o trabalho na Unidade de Terapia

Intensiva muitas vezes causa a sensação de impotência e isso constitui uma agressão

permanente a saúde física e mental de toda a equipe de enfermagem, porém é muito

gratificante acompanhar a melhora de um paciente grave e depois vê-lo recebendo alta.

O trabalho profissional existe, contudo, deve-se ter ciência que não é possível

permanecer livres de experimentar sentimentos como sofrimento e sensação de fragilidade

diante de um resultado não esperado.

j) Percepção do processo de trabalho em UTI

[..] Foi tudo bom, porque sempre era sempre um banho a cada turno, [...] se precisa de alguma coisa se pede eles tão ali pra ajudar.. Qualquer coisa eles tão atenciosos, o pessoal é muito dedicado. E é uma correria porque sempre um, um tá precisando de uma coisa, outro ta precisando de outra e sempre ta chegando gente... E é muito rápido,.[...] Os aparelhos ali, é super, eu acho. [...] bem atendido, não tem reclamação. [...] nunca tive reclamação com eles em lugar nenhum, são muito bom de médico.. O cuidado pra mim foi ótimo, eu acho que melhor impossível,[...] São excelentes, pessoas que, num nível bom, Que trabalham lá no hospital... Então, pra mim foi, foi ótimo, a sensação de estar junto com pessoas que sabe, tratar as pessoas bem, [...]O período que eu tive, bom eu só tenho lembranças assim de, lembranças boas, principalmente de atendimento[..]. No discurso acima observamos que o trabalho da equipe de enfermagem é percebido

pelo paciente como algo sofisticado. Isso se deve provavelmente pela grande quantidade de

aparelhos e procedimentos no qual é submetido.

A prática da enfermagem profissional requer a habilidade da observação,

comunicação, reflexão, aplicação do conhecimento das ciências biológicas e do

comportamento, além de se fazer apreciações e tomada de decisões (MURRAY; ATKINSON,

p.14,1985).

Assim, a enfermagem ao realizar o cuidado opta não somente para a realização de

técnicas mais também no entendimento do paciente como um todo. Neste sentido, todo esse

processo de cuidado estará evidenciado na satisfação do paciente, em se sentir atendido diante

de suas necessidades e ainda compreendido nas mais diversas reações apresentadas quando

passa pelo processo de hospitalização. O fato de o paciente estar internado em uma unidade

que propõe atenção fundamental aos dados objetivos não interfere que o cuidado prestado

também seja realizado de forma humanizada. Neste sentido, os interagentes deste estudo

85

perceberam que apesar do ambiente hostil, o cuidado prestado é dado por rotinas, das quais

satisfazem suas necessidades e ainda percebem o profissional como pessoas amorosas, desta

forma tendo boas lembranças do cuidado oferecido pelo profissional da Unidade de Terapia

Intensiva.

Contudo, concordamos com Murray; Atkinson (1985, p.11) quando relatam que “a

enfermagem dirige seus esforços no sentido de promover, manter e recuperar a saúde, de

prevenir doenças, de aliviar o sofrimento, procurando assegurar uma morte tranqüila, quando

a vida não pode mais ser mantida”.

5.3 IMPRESSÕES QUE FICARAM a) DSC - Lembrança da vida x preocupação família [..] Vinha lembranças de pessoas na mente, com relação a morte..Só vinha lembranças, assim, dos parentes. Porque eu tenho uma filha pequena também, eu me lembrava, da minha família, eu me lembrava, o que ia acontecer comigo. [...] é porque eu fiquei preocupada com o filho que eu deixei em casa, não queria morrer por causa dele, aquela história assim[..]. A doença é um estado físico emocional que gera angústia em todas as pessoas

envolvidas: pacientes, familiares, amigos e profissionais. Quando esta precisa ser tratada em

uma UTI o desequilíbrio emocional do paciente e de seu núcleo familiar é muito mais visível.

Assim, embora a necessidade de amor seja comum a todos os seres humanos, a cultura

na quais as pessoas vivem influencia a forma de que como o amor é manifestado.

A separação familiar no momento da internação e ainda a os pensamentos de

proximidade com a morte, geralmente desestabiliza todo o funcionamento normal da família,

levando os pacientes a se sentirem angustiados e preocupados com os entes queridos deixados

em casa. Também pode ocorrer a sensação de abandono que é representada pela internação

ainda mais em se tratando de internação em UTI, já que neste ambiente o número de visitas é

bastante diminuído.

O impacto da doença no núcleo familiar afetará até certo ponto todos os outros

membros, causando a sensação de impotência dentre os familiares quando impossibilitados de

permanecer com seu parente na unidade de internação.

Na UTI, o número de visitas é reduzido devido a grande demanda de procedimentos e

ainda por possuir regras das quais nunca são quebradas. Se analisarmos que a presença de

familiar pode tranqüilizar o paciente no momento de sua doença, então porque nos

incomodamos tanto com a presença dos familiares na UTI? É correto afirmar que por vezes o

86

questionamento dos familiares nos deixa sem respostas, por ser tão difícil falar da gravidade

do seu familiar. Isto também se deve ao fato de estar acostumado a cuidar do paciente e

possivelmente nunca paramos para analisar o paciente em seu âmbito familiar, pois isso pode

nos trazer sofrimento quando pensamos no sofrimento de uma esposa ou filho quando perdem

seus amados. Essa é a tentativa de fuga dos profissionais para talvez evitar o sofrimento e

assim realizar seu trabalho com competência.

Devemos refletir sobre a importância do contato do paciente e suas famílias manter o

vínculo também é um aspecto crucial para a melhora do paciente.

b) DSC - A busca de explicações - castigo [..] Ou me lembrava o que é que eu fiz pra sofrer tanto. [...] Mas só que é uma coisa que o cara tem que passar. [...] Que eu sou uma pessoa que ajudava todo mundo, ainda hoje eu ajudo. E... E eu me lembrava assim, do meu trabalho. [...] Eu me lembrava de tudo que era o meu passado [..]. Ancoragem - A experiência de estar no inferno [..] Eu só achava assim, eu fechava os olhos e aparecia tudo vermelho, aí eu pensava meu Deus, eu morri e fui pro inferno [..]. As necessidades espirituais podem ser fortemente afetadas ou apenas de forma mínima

pela religião institucionalizada. Alguns pacientes podem encontrar a satisfação de suas

necessidades espirituais nas religiões organizadas, enquanto que outros não. Para muitas

pessoas, a religião fornece a base de apoio, a qual eles podem relacionar as suas vidas

(MURRAY; ATKINSON, 1985).

Os pacientes religiosos quando passam por períodos de extremo sofrimento pode

passar por uma crise espiritual. Essa situação vivida pode ser associada ao castigo que recebe

por Deus por não ter agido corretamente em sua vida. O “porque aconteceu comigo” também

são pensamentos recorrentes a estes pacientes, sendo este advindo da culpa espiritual, por não

ter correspondido às expectativas de Deus. Pode ser que haja dúvida de que a vida tenha

qualquer significado, dúvidas de que as preces possam não estar sendo ouvidas. Isso se

assemelha a uma crise física, no sentido de que uma parte do corpo não esta se relacionando

com outras partes (MURRAY; ATKINSON, 1985).

87

Assim, podemos examinar a noção do corpo e espírito separadamente, porém ambas

representam uma parte integrada ao todo, pois quando prestamos assistência espiritual

também prestamos cuidado com o corpo.

Ancoragem - Reflexão sobre a experiência de vida

[..] E, já com a sensação de que tava vivo, Ô, meu Deus, tô vivo, tô vivo... [...] Eu aprendi muita coisa, a gente aprende a dar valor às pequenas coisas, às mínimas coisas, como eu falei, a gente vai ali tá com sede, toma um copo de água, toma até sem perceber. Tomou pronto. Mas, não, quando a gente passa vinte dias sem botar aquela água na boca, a gente aprende a dar valor a uma gota de água. [...] Não, só tenho a agradecer a vocês aqui e a Deus [...] Fica o sentimento de pensar que recebeu. [...] Tudo de bom, maravilha, porque eu tô vivo outra vez, minha vida voltou... [..] Mas pro meu caso, amigo, é complicado. É de um cento pra tirar um. O que aconteceu, hoje, então, graças a Deus. Eu não quero que ninguém passe o que eu passei não desejo pra ninguém. Mas, já que eu passei, eu aprendi muita coisa com aquilo lá [...]. Considerando que a vivência da hospitalização e da própria doença coloca o ser

humano diante de uma situação de crise, é necessário que a intervenção na UTI possa

realmente preservar o biológico e a saúde mental da pessoa, auxiliando na sua recuperação

plena por meio de uma assistência humanizada (CESARINO etal, 2006). Os pacientes

conseguem aceitar a condição de internação, percebendo na experiência da UTI um

aprendizado e motivo para mudanças de valores e estilo de vida. Alguns pacientes internados

em uma unidade como esta, inicialmente apresentavam a percepção negativa da UTI e

tiveram mudança desta percepção, relacionando UTI com possibilidade de cura e de vida.

Diante dos discursos percebemos também, que os pacientes após sua internação e

diante da privação de sua autonomia e ainda a privação do simples ato de satisfazer suas

necessidades fisiológicas fizeram tornar a vida mais valorosa e tornar os atos diários de vida

como algo de extrema importância.

c) DSC - Lembranças x esquecimentos [..] Ih, se passou tanta coisa, mas tantas coisa, pela minha cabeça, que se eu for dizer ... eu me lembro, do que ele disse tudo isso aí, eu me lembro. [...] Olha, eu acho que é uma lembrança muito triste, mas não sei te responder, definir a palavra certa. Mas, foram momentos, pra mim, muito ruins. Eu não tenho boas lembranças, claro que ninguém que tá na UTI tem boas lembranças. [...] Quer dizer, tem lembranças ruins e lembranças boas. [...] Claro que a gente nunca, nunca queria tá na situação que a gente tava, [...] São lembranças, boas do pessoal que trabalha lá dentro. Eu me lembro, dos passado, dos coisas, tudo que

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aconteceu..[...] Eu só ficava pensando como que aconteceu o acidente, eu queria lembrar pra mim poder falar e não conseguia, na primeira semana eu não consegui. Consegui agora há pouco tempo, lembrar bem como foi o acidente. [...] Durante o período que eu estive sedada eu não me lembro. Eu me lembro desses três dias que eu comecei a me acordar. Até achei que não estava tanto tempo assim na UTI, fiquei 15 dias... Mas eu lembro, assim, que eu tinha muita força de vontade de melhorar, pra sair dali, pra ir embora. É a única coisa que eu sentia. Podemos afirmar literalmente que somos aquilo que recordamos. Nossas vidas não

fariam o menor sentido caso não dispuséssemos da capacidade de armazenar (recordar) fatos,

informações e conhecimento do mundo que vivemos. Seríamos um “corpo vazio” sem

passado ou laços afetivos, desprovidos de qualquer conhecimento que pudesse auxiliar no

desempenho das mais simples tarefas. Cada amanhecer equivaleria a um recomeço, onde

nossas realizações passadas não teriam o menor valor, e não apresentaríamos o suporte

necessário para projetarmos nosso futuro (PAMPLONA; PREDIGER, 2006).

O acervo de nossas memórias garante o que realmente somos e por isso somos seres

únicos, não existindo outro ser idêntico.

Segundo Izquierdo (2002) o fato das memórias tanto para homens quanto dos demais

animais, serem provenientes de suas experiências, é mais sensato falar em “memórias” do que

simplesmente em memória uma vez que podem existir tantas memórias quanto o número de

experiências possíveis.

Assim, salientamos aqui, que os interagentes de nosso estudo durante a internação na

UTI receberam medicamentos sedativos e analgésicos, contudo, podem apresentar perda da

memória de alguns momentos vivenciados na unidade e ainda não ter nos relatados certos

acontecimentos que podem não ter sido percebidos.

Portanto vale lembrar que os benzodiazepinicos são drogas que mais amplamente são

utilizadas na UTI, possuem excelentes qualidades sedativas, hipnóticas e ansiolíticas

associadas à ação anticonvulsivante e relaxante muscular. A amnésia constitui-se em um dos

efeitos colaterais desse composto (SLULLITEL &SOUSA, 1998).

Para tanto, ainda que estivessem sob efeitos de medicamentos, expuseram suas

lembranças e percepções durante sua permanência na UTI e isso nos leva a crer que apesar de

poderem apresentar percepções ou memórias distorcidas do ambiente, ainda assim podem nos

perceber, ter lembranças e ouvir o que está acontecendo em seu entorno. Tudo isso pode até

ser esquecido em um determinado momento, porém, no momento do cuidado os profissionais

devem estar cientes que as palavras ou comentários na proximidade do paciente pode ser

ouvidos e ainda ficar registrada.

89

VI CONTRIBUIÇOES DE UM ESTÁGIO CURRICULAR PARA O TRABALHO DE

CONCLUSÃO DE CURSO: PERCEPÇÕES DO TRABALHADOR DE

ENFERMAGEM NO CUIDADO COM PACIENTES SUBMETIDOS À ANALGO-

SEDAÇÃO

Durante nossa trajetória acadêmica tivemos a oportunidade de realizar um estágio

Curricular na unidade no qual trabalhamos nossa pesquisa. Este estágio ocorreu no período de

03/03/08 a 31/03/08. O relato abaixo é um recorte de outro trabalho em que a coleta de

informações foi dada informalmente e foi realizada com os funcionários da UTI em que as

questões éticas estão implicadas em outro trabalho. Sendo assim, com a impossibilidade de

atuar diretamente aos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva, por ainda estarem

sedados, optamos por trabalhar as percepções do profissional de enfermagem trabalhador da

UTI diante do cuidado com os pacientes submetidos a analgo-sedação. Esta oportunidade nos

favoreceu relacionar as percepções de nossos sujeitos de pesquisa e interpretar também as

percepções dos cuidadores desta unidade.

Para tal, utilizamos a observação e distribuímos um instrumento guia com algumas

perguntas abertas relacionadas ao cuidado com pacientes em analgo-sedação. Nossas

observações e inferências foram anotadas no diário de campo e o instrumento guia era

respondido pelo funcionário que demonstrasse interesse em contribuir com nosso

conhecimento, não poderia conter o nome do funcionário e apenas solicitamos que

descrevessem o cargo e tempo de serviço. Conseguimos que 08 técnicos de enfermagem e 02

enfermeiros respondessem ao instrumento.

Ao analisar os instrumentos respondidos pelos funcionários observamos que o

profissional preocupa-se com a qualidade do serviço a ser prestada ao paciente sedado,

principalmente quando serão realizadas técnicas que podem ser provocadoras de dor ou ainda

desconfortáveis ao paciente. Trata-se de uma preocupação não somente a pacientes

conscientes mais também aos pacientes sedados.

Todos os profissionais acreditam que o barulho seja de grande incômodo aos pacientes

impossibilitados de comunicar-se e tratam de corrigir-se sempre que percebem quando estão

com a tonalidade de voz aumentada. Ainda, acreditam que o paciente mesmo que esteja

submetido à analgo-sedação estão passíveis de perceber o que acontece em seu entorno já que

relatam que alguns pacientes após a alta comentam sobre fatos e acontecimentos durante sua

internação na Unidade de Terapia Intensiva.

90

No decorrer de nosso estágio percebemos que realmente os profissionais preocupam-

se com suas atitudes e que quando há exageros o referencial sempre é o enfermeiro que

prioriza o silêncio na unidade como peça fundamental para o tratamento do paciente.

Durante a realização dos procedimentos como já descrito anteriormente, o profissional

toma o devido cuidado quanto à orientação prévia do paciente e caso a orientação não

aconteça atribuem esta falta ao ambiente agitado e a necessidade de agilidade e rapidez na

realização dos procedimentos. Sabemos que em um ambiente complexo como a unidade de

terapia intensiva muitas vezes é necessário agir com precisão e que o funcionário pode tornar-

se um profissional tecnicista e deixando as atitudes de cuidado integral para segundo plano.É

fato que, devemos considerar que tais profissionais por trabalharem muitos anos com o

sofrimento humano podem se tornar “seres robotizados” com a intenção muitas vezes de

evitar a sobrecarga sentimental e ainda porque o ambiente o impõe a cumprir tantos deveres

que simplesmente esquecem de realizar um cuidado integral.

Cintra et al (2003, p.02) afirma que: “O profissional de UTI precisa estar tão

preocupado e atento às necessidades fisiológicas básicas que, às vezes, pode achar ter

cumprido o seu dever com o paciente e com o próximo quando não o tem lesado ou não o ter

desrespeitado”. Porém, sabemos que o cuidar não é somente avaliar os dados mensuráveis,

mas também estar atento ao lado emocional e conforto do paciente.

Portanto devemos lembrar que: o cuidar é feito com o outro e não apenas um

procedimento, uma intervenção técnica, mais uma relação de ajuda que envolve respeito,

compreensão e o uso de toque de uma forma mais efetiva. O cuidado é feito com o outro,

portanto a comunicação adequada é fundamental principalmente no cuidado com pacientes

críticos e terminais. A dificuldade de comunicação faz com que o cuidado seja aumentado. O

paciente ao enfrentar a dificuldade de não poder se comunicar com alguém necessita de

auxílio e atenção redobrados. Neste caso a ansiedade e o desconforto aumentam (INABA;

SILVA; TELLES, 2003, p.02).

Ainda neste contexto Watson (1988 apud TANJI; NOVAKOSKI, 2000) acrescenta

que o “cuidado não deve ser realizado apenas para reparar danos físicos, mas requer

envolvimento pessoal, social, moral e um compromisso espiritual do enfermeiro consigo

mesmo e com o outro, numa dimensão transpessoal.”

Sendo assim, acreditamos que nosso trabalho na unidade contribuiu de forma

engrandecedora tanto para nós acadêmicos que conseguimos também entender a percepção do

profissional assim como aos trabalhadores de enfermagem que ao simples fato de responder

91

tal instrumento os instigaram a pensar sobre sua posição diante dos pacientes internados na

UTI.

Estamos certos que todos os objetivos propostos foram concretizados de forma que

conseguimos contribuir diretamente no cuidado na Unidade de Terapia intensiva assim como

ampliar nosso conhecimento acerca da temática de nosso trabalho de conclusão de curso.

Conseguimos realizar um comparativo entre a percepção do paciente submetido à analgo-

sedação e do profissional que realiza este cuidado na Unidade de Terapia Intensiva.

92

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destacamos a relevância deste estudo nas diversas questões relacionadas ao cuidado

do paciente em analgo-sedação na Unidade de terapia Intensiva. Assim, através da reflexão,

os profissionais de enfermagem poderão compreender e respeitar o paciente, evitando

comentários que possam deixá-lo ainda mais apreensivo diante de sua condição. Além disso,

o conhecimento da percepção e sentimentos dos pacientes durante o período de internação,

esclareceu dúvidas e contribuiu para nossa formação acadêmica.

Portanto, com este estudo, poderemos refletir sobre a assistência de enfermagem

prestada. Notamos, que embora as UTIs estejam fortalecidas por profissionais que se dedicam

a compreender as necessidades de cada paciente, os enfermeiros com visão mais ampla do

paciente e do ambiente, podem identificar as reais necessidades dos pacientes, no sentido de

conhecer suas verdadeiras reações e, assim, perceber o que realmente deseja no momento em

que está impossibilitado de expressão verbal.

A maior contribuição desse estudo está relacionada ao conforto do paciente. Sabemos

que o ambiente contribui de forma significativa para a melhoria da saúde. Portanto, os

enfermeiros, profissionais capazes de identificar as necessidades básicas do paciente através

de um processo de enfermagem sistematizado, devem estar cientes que a visão de

integralidade prevaleça. Assim, estarão ampliando o conforto do paciente internado em UTI.

Visto que, esta unidade destaca-se por atuar no cuidado aos pacientes graves, os

profissionais de enfermagem lidam com a vida e com a morte diariamente, e todo o trabalho

realizado tem como objetivo salvar a vida e propor ao paciente um cuidado respeitoso e

digno.

Contudo, precisamos também, repensar nossa prática, o que nos proporcionou a

necessidade de nos despir dos padrões construídos, não os desconsiderando, porém

precisando buscar novos caminhos que superassem a objetividade e assim construir um

processo de cuidado diferenciado. Buscando uma prática na qual o ser humano é o centro de

todo o processo de cuidar indiferente de que esteja, momentaneamente, inconsciente.

Assim, nos permitimos a uma reconstrução de saberes e passamos a compreender esta

prática nos alicerçando ao referencial teórico como um processo no qual o importante não é

apenas o resultado final mais sim, um processo que permite a participação ativa do paciente,

através da manifestação de suas necessidades. Compreender não apenas o que se mostra de

maneira aparente e incompleta, mas a subjetividade de cada sentimento envolvido.

Desmistificar, que o cuidado nas unidades de altas tecnologias não possa ter um cuidado

93

integral em que, por vezes, não percebemos que o simples fato de realizar uma orientação ou

simplesmente umedecer a boca pode tornar o paciente muito mais satisfeito do que realizar a

aferição da pressão arterial, por exemplo.

No entanto, a proposta é de realizar um cuidado que requer solidariedade,

flexibilidade, criatividade e compromisso com a vida em suas diversas formas de expressão. É

mostrar o que aparentemente é incompreensível e responder aos questionamentos do tipo: Pra

que conversar com um paciente dormindo? Será que ele vai escutar?

Salientamos aqui, que o ser humano é capaz de perceber muito mais que acreditamos e

independente do grau de sedação a comunicação pode ser feita através de expressões e toque.

A comunicação com o paciente sedado pode ser desvelada como um fenômeno que aproxima

o cuidador do paciente em que a interação é muito importante, aumentando a compreensão

sobre o que ele está necessitando. Assim, a comunicação, não deve ser compreendida com

uma via de duas mãos em que se espera o retorno e sim, como a de mão única na qual o que

importa é a transmissão da uma mensagem pela capacidade de percepção das reais

necessidades de si e do outro.

O estudo nos possibilitou compreender o incômodo existente aos pacientes sobre o

barulho na UTI. Como enfermeiros, como podemos para propor um ambiente agradável ao

paciente internado? Podemos começar pelo tom de voz utilizado pela equipe multiprofissional

que lhe presta a assistência. Comentários sobre a saúde do paciente na beira do leito devem

ser evitados. O volume sonoro dos aparelhos de televisão e rádios deve estar em uma altura

que não se torne desagradável. O barulho dos equipamentos como: ventiladores mecânicos,

bomba de infusão, monitores, etc. devem ser identificados imediatamente a fim de evitar que

os sons desses equipamentos se propaguem por muito tempo. O enfermeiro deve procurar

manter o ambiente de UTI livre de ruídos que se difunda por muito tempo, orientando a

equipe sobre os possíveis estressores causados ao paciente.

Ao compreender que o paciente é um ser unificado e que seu corpo está em constante

mudança vimos que várias alterações fisiológicas e comportamentais podem estar presentes

devido a sensações desagradáveis ao paciente. A sede, por exemplo, muito proeminente nos

discursos dos interagentes, leva a reflexão das ações de enfermagem e busca de alternativas

que favoreçam a satisfação desta necessidade.

A mudança de decúbito ou movimentação com o paciente deve ser realizada, porém

com devido cuidado para que não se reverta em desconforto. Um outro aspecto relevante a ser

considerado é a preservação da intimidade do paciente mantendo-o longe de um

constrangimento ainda maior.

94

Os sonhos, visões e alucinações foram narrados de forma que o paciente estivesse

vivenciando o acontecido. Estas relações psíquicas estão relacionadas às lembranças de

situações onde o paciente sentia prazer e medo. Vimos que algumas estavam relacionadas às

famílias em que a separação e o desejo de retornar para seu lar podem estar relacionados a

estas percepções. Os sonhos são questões ainda pouco explicadas, seu sentido pode ter

interpretações diferentes. Para os profissionais essas percepções vêm de encontro com as

variações da estabilidade do paciente que, muitas vezes, apresentam alterações como

sudorese, agitação e outras, mesmo estando dormindo. Sabemos que todas as alterações se

relacionam entre si, às ilusões tornam-se realidades, pois a mente funciona de forma a

expressar através do corpo as angústias.

Ao procurar entender sobre o medo da morte tornou-se um pouco intrigante. A morte é

inevitável. Hoje estamos vivos, daqui a algumas horas não sabemos mais e amanhã só quem

pode saber é DEUS. Porém, isto não próprio para a nossa cultura, ou seja, a maioria das

pessoas ainda não compreendeu que algum dia irá morrer. De que aqui na terra possuímos

apenas um corpo presente no Universo. O ser humano que toma consciência disto e que sabe

que a qualquer hora irá partir, não possui problemas do enfrentamento da morte. Em uma UTI

as “provações” coloca-se em evidência o que leva o paciente a encontrar-se em eminente risco

de morte. Assim, a presença da família e a relação do enfermeiro com o paciente tornam-se

importante não apenas pela assistência prestada, mais também, como um processo de

terminalidade.

Percebemos que uma questão bastante importante no cuidado com o paciente está

relacionada com a linguagem. Vimos que esta pode ser verbal ou não verbal. Na UTI a maior

parte do tempo os pacientes estão intubados. Dificultando então o processo de comunicação

de paciente e enfermeiro. Torna-se difícil compreender muitas vezes o que o paciente está

querendo expressar. Neste caso podemos considerar que a experiência profissional do

enfermeiro é fundamental para decifrar o que o paciente necessita. Acredita-se não ser fácil

comunicar-se com estes pacientes, mas a persistência somada a paciência irá direcionar a

forma criativa com que o enfermeiro irá realizar esta abordagem.

A percepção de sensações de dor e sensação térmica, que foram mencionadas serve

para compreender que o paciente pode ter reações que diferem de paciente para paciente. A

percepção da dor leva-nos a acreditar que devemos estar avaliando constantemente as

condições de saúde do paciente e discutir com os profissionais médicos sobre a realização de

analgesia quando necessário. Portanto, neste estudo não foi evidenciado o relato de dor

considerando-se a relevância e eficácia da analgesia recebida nesta unidade.

95

Assim, o enfermeiro deve estar em constante estudo sobre as medicações utilizadas

para analgesia na UTI em literaturas e bulários. Procurar fazer aprazamento das prescrições

médicas observando os horários distintos para cada medicação analgésica. Os cuidados com a

medicação administrada devem ser observados. Assim, conhecendo os princípios

farmacológicos das drogas teremos subsídios para argumentar sobre a analgesia realizada.

Já as percepções térmicas são questões que novamente podem estar relacionadas com

o ambiente. O paciente pode sentir calor se estiver muito coberto e a temperatura da UTI

estiver alta, sentir frio se estiver com pouca coberta e a temperatura do ambiente estiver baixa.

Fatores orgânicos também interferem nas sensações de frio como as hemorragias e calor como

a febre. Assim, o enfermeiro deve estar observando as condições climáticas da UTI e observar

a quantidade de roupa que o paciente se encontra.

O relato dos interagentes sobre do processo de trabalho da enfermagem e do cuidado

recebido foi gratificante. O elogio aos cuidados realizados leva-nos a crer que a equipe de

enfermagem da UTI consegue prestar o cuidado de maneira humanizada, procurando atender

as necessidades humanas básicas do paciente. Interagindo com os demais participantes da

equipe multiprofissional para proporcionar uma assistência digna.

O cuidado é mais do que a relação de assistência é estar inteiramente integrado ao

ambiente e possuir uma relação de dedicação contínua com o paciente. Ser cuidador é ser um

artista, intérprete, narrador, escritor ou mesmo um guru espiritual, pois além de suas aptidões

técnicas e científicas, tem que estar se adaptando dia a dia com o paciente e o ambiente.

Esta pesquisa é apenas uma parte do que se consegue coletar com pacientes da UTI.

Pois ela procurou um sujeito específico, que esteve em analgo-sedação enquanto paciente na

UTI. Muitos estudos podem ser feitos a partir do tema. Torna-se importante estes

conhecimentos para assim, realizar um processo de enfermagem de forma qualificada

procurando sempre a perfeição. Para isso, ao profissional de UTI não basta apenas

instrumentalizar-se de técnica e conhecimento científico. Precisam perceber as emoções,

sentimentos e conforto do paciente para determinar suas escolhas de ação, acolhendo o outro

com tolerância, paciência e amor. A atitude amorosa caracterizada pela aproximação,

constitui requisitos importantes na busca de novas formas de perceber e realizar um cuidado

focalizado no ser humano. É necessário nos despir de conceitos que transformam o cuidado de

enfermagem em um trabalho mecânico e sem expressão de sentimentos. Despertar para a

compreensão das potencialidades perceptivas e emocionais do paciente considerando-o como

um ser humano em sua integralidade, que pensa e sente para além do dito verbalmente.

96

Assim, desmistificando o cuidado de enfermagem como um processo centrado no cuidado

técnico-científico a partir da busca da compreensão do ser humano e suas individualidades.

97

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SOUZA. Márcia. M.Memórias de curta e longa duração: Mecanismos independentes. Porto Alegre, 2001 SGRECCIA. Elio. Manual de Bioética: Fundamentos e ética Biomédica. São Paulo: Loyola, 1996. TANJI, Suzeleine; NOVAKOSKI, L.O cuidado humanístico num contexto hospitalar. Revista Texto & contexto, Florianópolis, v.09, n.2, p.800-810, mai. /ago. 2000. SILVA, Marcelo. Sedação em UTI. Revista eletrônica enfermagem Intensiva, set/2007. Disponível em: http://enfermagem-intensiva.com/?p=10 acesso em 01/06/08 SOUZA, L.N; PADILHA, M .C. A comunicação e o processo de trabalho em enfermagem. Revista texto & contexto, Florianópolis, v.11, p.11-30, Jan/abr, 2002. SOUSA, A, M; SLULLITEL. Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular em UTI. Simpósio de medicina intensiva II, tópicos selecionados, p.507-516, out./dez: Ribeirão Preto, SP, 1998. SCHUMACHER, B; CIANCIARULLO. Uma possibilidade para humanização do cuidado ao recém-nascido em UTI. Revista texto & contexto: Florianópolis, v.9, n.1, p.144-258, Jan/Abr, 2000. WALDOW, R, V. Cuidado humano: o resgate necessário, Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1998. ZINN, G.R; SILVA, M,J,P; TELLES, S,C,R. Comunicar-se com o paciente sedado: vivência de quem cuida. Rev. Latino-am Enfermagem, 2003 maio/junho, p. 326-332.

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APÊNDICES

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APÊNDICE – A - ENTREVISTA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

NOME: FAIXA- ETÁRIA:

FORMAÇÃO: RELIGIÃO

INSTRUMENTO DE ENTREVISTA 1. Durante o período de sua internação em UTI, você recebeu medicações que provocaram sedação e analgesia, isto para tentar aliviar o desconforto provocado pelos procedimentos invasivos, necessários para sua recuperação. Assim, gostaríamos de saber, quais os sentimentos percebidos durante este período? 2. Também, neste período, de analgesia e sedação, todos os cuidados referentes, principalmente, aos de higiene e conforto, foram prestados pelos profissionais de enfermagem, como você descreveria os seus sentimentos/sensações percebidos durante a realização destes cuidados? 3. O ambiente de uma UTI, em si, poderia produzir lembranças, recordações de situações vividas ou imaginadas. Como você expressaria isso, ou seja, de que maneira este ambiente ficou gravado em sua memória?

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APÊNDICE – B - CARTA DE INTENÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA Biguaçu – SC, junho de 2007. Ilmo. Sr. Diretor do Hospital Florianópolis Cumprimentado-o cordialmente, vimos pelo presente, solicitar a V. Sª. a autorização

para desenvolvermos nas dependências desta unidade hospitalar o projeto de monografia

intitulado: A percepção do paciente egresso submetido á analgo- sedação na unidade de

terapia intensiva.

Este estudo tem por objetivo descrever qual a percepção dos pacientes submetidos a

analgo-sedação.

Salientamos que os dados serão coletados pelos pesquisadores acadêmicos do curso de

graduação de enfermagem da UNIVALI – CES – Biguaçu, José Carlos Santiago e Josiane

Aparecida Kloeppel com orientação da professora Ledronete Silvestre.

Solicitamos ainda, o acesso aos prontuários dos interagentes da pesquisa, em torno de

vinte pacientes, a fim de colhermos informações referentes à identificação, endereço e uso de

analgo-sedação, para posterior visita domiciliar.

Agradecemos a colaboração. Afirmamos que nosso intuito é de que este estudo

reverta, favoravelmente, para esta instituição, possibilitando a reflexão e transformação da

prática pedagógica referente à temática do estudo.

Ledronete Silvestre Professora Orientadora José Carlos Santiago Acadêmico de Enfermagem _________________________ Josiane Aparecida Kloeppel Acadêmica de Enfermagem

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APÊNDICE – C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

1ª VIA

Você está sendo convidado (a) a participar, voluntariamente da pesquisa intitulada: A

percepção do paciente egresso submetido à analgo-sedação na unidade de terapia intensiva.

Foi plenamente esclarecido de que ao responder as questões que compõem esta pesquisa

estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem como objetivo descrever a

percepção dos pacientes submetidos á sedação na unidade de terapia intensiva do Hospital

Florianópolis.

Ao aceitar a participação nesta pesquisa, esta garantida que você poderá desistir a

qualquer momento, inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso, informar sua

desistência, através do telefone (48) 3257 5216. Foi esclarecido ainda que, por ser uma

participação voluntária e sem interesse financeiro, você não terá direito a nenhuma

remuneração. A participação na pesquisa não incorrerá em riscos ou prejuízos de qualquer

natureza. Os dados referentes a você serão sigilosos e privados, sendo que poderá solicitar

informações durante todas as fases da pesquisa. A coleta de dados para a pesquisa será

desenvolvida através de depoimentos individuais dos pacientes egressos submetidos à

sedação, garantindo-se privacidade e a confidência das informações e será realizada pelos

acadêmicos José Carlos Santiago e Josiane Aparecida Kloeppel sob orientação da professora

Ledronete Silvestre.

TERMO DE CONSENTIMENTO

Diante do exposto, concordo em colaborar com o trabalho na condição de

informante/sujeito voluntário, e sei que terei liberdade para me retirar da pesquisa a qualquer

momento, invalidando este consentimento, sem que isto me traga qualquer prejuízo e/ou

constrangimento.

Afirmo que fui orientado (a) sobre os objetivos da pesquisa, bem como sobre a

utilização das informações que forneci somente para fins científicos, sendo que meu nome

será mantido em sigilo. Além disso, autorizo a gravar em fita cassete a utilização dos dados

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obtidos, para compor as partes e/ou servir de base à consecução dos objetivos do trabalho.

Nome: Sr .(a) _______________________________________Idade: ____ Sexo:______

Naturalidade:___________________________________ domiciliado:___________________

Profissão:______________________________________________RG:__________________

Biguacu, SC___________de____________________de 2007 Assinatura:______________________________________________ (Interagente do estudo)

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APÊNDICE -D TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO Eu ,____________________________________ , professora da disciplina de Estágio

Curricular Supervisionado do curso de graduação de Enfermagem da Universidade do Vale

do Itajaí –Centro de Educação – Campus Biguaçú, concordo em orientar a monografia de

conclusão de curso dos Acadêmicos José Carlos Santiago e Josiane Aparecida Kloeppel tendo

como tema “A percepção do paciente egresso submetido á analgo- sedação na unidade de

terapia intensiva”.

A orientadora está ciente das Normas para Elaboração do trabalho monográfico de

conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem, bem como, do calendário de atividades

proposto.

Biguacú, ___de__________________ de 2007 ____________________________________ Ledronete Silvestre Professora Orientadora _____________________________________ José Carlos Santiago Acadêmico de Enfermagem _____________________________________ Josiane Aparecida Kloeppel Acadêmica de Enfermagem

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ANEXOS

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