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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ MARLENE APARECIDA MAIA O CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE BENS IMÓVEIS SOB OLHAR DOUTRINÁRIO E A ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA Tijucas 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

MARLENE APARECIDA MAIA

O CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE BENS IMÓVEIS SOB OLHAR DOUTRINÁRIO E A ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA

Tijucas

2008

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MARLENE APARECIDA MAIA

CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE BENS IMÓVEIS SOB OLHAR DOUTRINÁRIO

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Campus Tijucas.

Orientador: Prof. MSc. Marcos Alberto

Carvalho de Freitas

Tijucas 2008

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MARLENE APARECIDA MAIA

CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE BENS IMÓVEIS SOB OLHAR DOUTRINÁRIO

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em

Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Campus

Tijucas.

Área de Concentração: Direito Privado

Tijucas (SC), 20 de junho de 2008.

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

UNIVALI – CE Tijucas

Orientador

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

Prof. Fulano de Tal

UNIVALI – CE Tijucas

Membro

4

ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Tijucas (SC), 20 de junho de 2008.

___________________________________

Marlene Aparecida Maia

Graduanda

5

Á Deus, pela vida e pela família que me deu e ainda por

todas as oportunidades oferecidas.

Aos meus queridos pais pelo esforço de seus trabalhos

me deram essa oportunidade e também aos meus irmãos.

Aos meus filhos com muito amor.

6

AGRADECIMENTOS

Ao professor Orientador MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas, pela

atenção e valiosa orientação de conteúdo.

A todos os professores pelas informações e conhecimentos transmitidos no

decurso do curso.

A Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, especialmente ao Coordenador

do curso de Direito, Professor Celso Leal da Veiga Júnior, pelo esforço na qualidade

do curso.

7

É pela luta que se comprova a resistência, tanto do

homem como das coisas. Viver é lutar, avançar, criar, superar-

se e crescer. E isto requer coragem.

Prof. Alberto Montalvão

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RESUMO

O presente trabalho monográfico abordou os Aspectos destacados do Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis sob olhar doutrinário. A pesquisa tratou primeiramente dos Contratos em geral, com o estudo da sua origem, evolução histórica, conceito, ao mesmo tempo realizou uma abordagem sobre seus princípios formadores e seus requisitos de validade. Num segundo momento foram abordados os Contratos desde as fases de formação contratual, classificação, interpretação, tempo e local de celebração até o momento de sua conclusão. Ao término do segundo capítulo com a análise específica do Contrato Preliminar como objeto principal do estudo, referenciado na figura do Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis, efetuou-se uma análise específica desta espécie de Contrato. Superado este primeiro momento, passou-se ao terceiro capítulo, iniciando com uma análise mais criteriosa do instituto mencionada, foi apresentada a sua natureza jurídica, classificação na extensa gama de Contratos permitidos pelo sistema jurídico brasileiro, que se agrupam em várias categorias. Concluindo esta etapa, foram assinaladas as conseqüências advindas do Registro ou não desta espécie de Contrato, o que subsidiou o avanço da pesquisa a fim de identificar os efeitos jurídicos advindos do Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis. Em seguida, completando o ciclo existencial do Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis, foram referenciados distintamente os diversos modos de extinção acolhidos pela legislação e pela doutrina. Nessa ordem, observou-se que, após cumprir sua “trajetória”, o Contrato pode ser executado de maneira espontânea por aqueles que o firmaram, ou por força da intervenção judicial, através da Ação de Adjudicação Compulsória ou Ação Cominatória, se não houver registro do Contrato Preliminar. Palavras-chave: Contratos. Compromitente vendedor. Compromissário Comprador.

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ABSTRACT

This work monographic addressed the aspects highlighted the Contract of Commitment to Purchase and Sale of Real Estate front of the Brazilian legal system. The survey dealt primarily of contracts in general, with the study of their background, historical development, concept at the same time took an approach on their principles and their trainers requirements of validity. In a second time the contracts have been addressed since the phases of training contract, classification, interpretation, time and place of celebration until the time of its completion. At the end of the second chapter with a specific analysis of the Preliminary Agreement as a main subject of the study, referenced in the picture of the Agreement of Purchase and Sale of Real Estate, made up a specific analysis of this kind of contract. Superadded this first time, it moved to the third chapter, starting with a more careful analysis of the mentioned institute, was presented its legal nature, ranking in the extensive range of contracts allowed by the Brazilian legal system, which are grouped into several categories. Completing this step, the consequences were marked stemming from registration or not this kind of contract, which subsidies the progress of the search to identify the legal effects arising from the Contract Agreement for Purchase and Sale of Real Estate. Then, completing the cycle of existential Agreement of Purchase and Sale of Real Estate, were distinctly referenced the various modes of extinction hosted by the law and the doctrine. In that order, it was observed that, after fulfilling its "trajectory", the contract can be implemented in spontaneous way by those who signed, or under judicial intervention, through The Action Of Compulsory Award.

Key-words: Contracts. Compromitente Vendor. Compromissário Buyer

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LISTA DE ABREVIATURAS

Art. Artigo

CC Código Civil

Civ Civil

CPC Código de Processo Civil

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Dec. Decreto

Inc. Inciso

n. número

p. Página

RT Revista dos Tribunais

Segs. Seguintes

Vol. Volume

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CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Ação de Adjudicação Compulsória: “Uma ação pessoal que permite ao

Compromissário Comprador, ou ao concessionário de seus direitos à aquisição,

ajuizada com relação ao titular do Domínio do imóvel – (que tenha prometido vendê-

lo através de Contrato de compromisso de venda e compra e se omitiu quanto à

escritura definitiva) – tendente ao suprimento judicial desta outorga, mediante

sentença constitutiva com a mesma Eficácia do ato não praticado”. (CREDIE, 2000,

p. 42).

Arras ou Sinal: Importância adiantada pelo interessado na compra, como

parte do preço e garantia para a realização do negócio. (CUNHA, 2005, p. 24).

Averbação: “É a anotação que o oficial competente faz à margem, ou em

outro lugar próprio, de um Registro público, a fim de indicar qualquer alteração ou

modificação havida no título primitivo. Diz-se também da inscrição de certos títulos

ou documentos, em livros próprios para esse fim, em repartições públicas”.

(NÁUFEL, 2000, p. 159).

Bem Imóvel: “São aqueles que, pela sua natureza não podem ser removidos

de um lugar para o outro sem perda de sua forma e substância”. (NÁUFEL, 2000,

p.171).

Compromissário Comprador: “É uma pessoa física ou jurídica de direito

privado, que se compromete a comprar um Bem Imóvel através de um Contrato de

Compromisso de Compra e Venda”. (DINIZ, 1998, v. 1, p. 710).

Compromisso de Compra e Venda: “O compromisso ou promessa

irretratável de venda vem a ser o Contrato pelo qual o compromitente vendedor

obriga-se a vender ao compromissário-comprador determinado imóvel, pelo preço,

condições e modos avençados, outorgando-lhe a escritura definitiva assim que

ocorrer o adimplemento da obrigação; por outro lado, o compromissário-comprador,

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por sua vez, ao pagar o preço e satisfazer todas as condições estipuladas no

Contrato, tem Direito Real sobre o imóvel, podendo reclamar a outorga da escritura

definitiva, ou sua adjudicação compulsória, havendo recusa por parte do

compromitente-vendedor”. (DINIZ, 2003, p. 302).

Compromitente vendedor: “É uma pessoa física ou jurídica de direito

privado, que se compromete a vender um Bem Imóvel através de um Contrato de

Compromisso de Compra e Venda”. (DINIZ, 2003, p. 302).

Contrato: “É o acordo entre a manifestação de duas ou mais vontades, na

conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma relação de interesses

entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas

de natureza patrimonial”. (DINIZ, 2003, p. 09).

Contrato de Adesão: “É aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela

autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de

produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar

substancialmente seu conteúdo". (art. 54, da Lei 8.078/90, CDC).

Contrato Preliminar: “Pré-Contrato ou ante-Contrato é a convenção

celebrada entre as mesmas partes que firmarão um Contrato futuro e definitivo, para

assegurar a conclusão deste, mediante determinadas condições”. (NÁUFEL, 2000,

p. 308).

Contrato Principal: “[...] é o que existe por si, exercendo sua função e

finalidade independente de outro”. (DINIZ, 2003, p. 102).

Consumidor: “É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto

ou serviço como destinatário final. Exclui-se da conceituação o intermediário, aquele

que medeia o negócio entre o comerciante que vende e a pessoa que adquire o

produto ou serviço, uma vez que não usufrui destes de acordo com a finalidade para

os quais foram criados”. (KRIGER FILHO, 2000, p. 15).

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Direito de Seqüela: “O compromisso registrado confere ao adquirente o

Direito de Seqüela, permitindo-lhe reivindicar a Propriedade ao cumprir o

compromisso e exigir a outorga da escritura pela adjudicação compulsória”.

(VENOSA, 2005, p. 530).

Direito Pessoal: “O Direito Pessoal, por seu turno, conceitua-se como

relação jurídica mercê da qual ao sujeito ativo assiste o poder de exigir do sujeito

passivo, determinada prestação, positiva ou negativa”. (MONTEIRO, 2003, p.12).

Direito Real: “O Direito Real pode, destarte, ser conceituado como a relação

jurídica em virtude do qual o titular pode retirar da coisa, de modo exclusivo e contra

todos, as utilidades que ela é capaz de produzir”. (MONTEIRO, 2003, p.12).

Domínio: “É o Direito Real que vincula e legalmente submete ao poder

absoluto da vontade de uma pessoa a coisa corpórea, na substância, acidentes e

acessórias. É a Propriedade plena”. (NÁUFEL, 2000, p. 408).

Eficácia: “É a capacidade ou poder de produzir o efeito objetivado [...].

Eficácia Jurídica é o poder, inerente a um ato ou fato de produzir efeitos que entram

no mundo jurídico, em virtude da incidência da norma legal”. (NÁUFEL, 2000, p.

416).

Escritura Pública: “É aquela feita por tabelião, como a venda de um imóvel,

lançada no Livro de Notas, da qual os interessados recebem uma cópia”.

(GUIMARÃES, 1999, p. 300).

Função Social do Contrato: “Consiste em que o Contrato tem que ser

entendido não apenas como as pretensões individuais dos contratantes, mais como

verdadeiro instrumento de convívio social e de preservação dos interesses da

coletividade”. (NERY JÚNIOR, 2003, p. 336).

Imissão na Posse: Refere-se a assunção da Posse, com causa negocial ou

legal. Refere-se a apreensão, ocupação. (CUNHA, 2005, p. 142).

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Posse: “É o poder imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um

bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a agressão de quem

quer que seja”. (DINIZ, 2003, p. 41).

Promessa de Compra e Venda: “É um Contrato onde o promitente-vendedor

obriga-se a vender um imóvel pelo valor, condições e modos pactuados,

comprometendo-se a transmitir o bem, quando do adimplemento da obrigação.

Ocorrendo a satisfação da obrigação, o promissário-comprador terá Direito Real

sobre o imóvel objeto do Contrato”. (RIBEIRO, 2002, p. 04).

Propriedade: “É o direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos

limites normativos de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem

como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha”. (DINIZ, 2003, p. 119).

Registro: “É o lançamento ou transcrição em livro próprio, de escrituras,

títulos ou documentos, efetuados por cartório público competente". (DINIZ, 1998, v.

4, p. 104).

Registro de Títulos e Documentos: “Transcrição de instrumentos

particulares para que possam produzir efeitos perante terceiros”. (DINIZ, 1998, v. 4,

p. 104).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................18

1.1 TEMA .................................................................................................................18

1.2 DELIMITAÇÃO...................................................................................................18

1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................18

1.4 PROBLEMAS E HIPÓTESES ............................................................................19

1.5 OBJETIVO GERAL ............................................................................................20

1.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................................20

1.7 METODOLOGIA.................................................................................................21

1.8 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS........................................................................21

2 DA ORIGEM AOS REQUISITOS DE VALIDADE DOS CONTRATOS ...............23

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................23

2.2 CONCEITO ........................................................................................................28

2.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL ..........................31

2.3.1 Princípio da Autonomia da Vontade ................................................................32

2.3.2 Princípio do Consensualismo..........................................................................33

2.3.3 Princípio da Obrigatoriedade da Convenção...................................................34

2.3.4 Princípio da Relatividade dos Efeitos dos Contratos.......................................36

2.3.5 Principio da Boa-Fé.........................................................................................37

2.4 REQUISITOS DE VALIDADE.............................................................................39

2.4.1 Requisitos Subjetivos ......................................................................................40

2.4.2 Requisitos Objetivos........................................................................................41

2.4.3 Requisitos Formais..........................................................................................43

3 DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS AO CONTRATO PRELIMINAR ................ 44

3.1 FASES DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS.................................................... 44

3.1.1 Manifestação da Vontade ............................................................................... 44

3.1.2 Proposta ......................................................................................................... 46

3.1.3 Aceitação ........................................................................................................ 48

3.1.4 Retratação ...................................................................................................... 51

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS............................................................... 52

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3.2.1 Os Contratos Considerados em si Mesmos .................................................... 53

3.2.1.1 Quanto à natureza da obrigação entabulada ............................................... 53

3.2.1.2 Quanto à forma ............................................................................................ 55

3.2.1.3 Quanto à sua designação............................................................................. 56

3.2.1.4 Quanto ao tempo de execução .................................................................... 57

3.2.2 Os Contratos Reciprocamente Considerados ................................................. 58

3.3 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS............................................................. 59

3.3.1 A Interpretação da Lei e a Interpretação do Contrato ..................................... 60

3.3.2 Tipos de Interpretação..................................................................................... 61

3.4 TEMPO E LUGAR DO CONTRATO ................................................................. 61

3.5 MOMENTO EM QUE SE TEM CONCLUÍDO O CONTRATO............................ 62

3.6 CONTRATO PRELIMINAR ................................................................................ 65

4 DA CARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E

VENDA DE BENS IMÓVEIS .................................................................................... 68

4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 68

4.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA................................................................................... 69

4.3 CONCEITO ........................................................................................................ 71

4.4 EFEITOS JURÍDICOS PROVENIENTES DO CONTRATO DE COMPROMISSO

DE COMPRA E VENDA E BENS IMÓVEIS ............................................................ 75

4.4.1 Dos Bens Imóveis Registrados ....................................................................... 75

4.4.2 Dos Bens Imóveis não Registrados ................................................................ 77

4.5 PECULIARIDADES DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E

VENDA DE BENS IMÓVEIS .................................................................................... 78

4.6 DESFAZIMENTO DA RELAÇÃO CONTRATUAL .............................................. 79

4.6.1 Considerações Gerais ..................................................................................... 79

4.6.2 Causas de Dissolução do Contrato Anteriores ou Contemporâneas à sua

Formação ................................................................................................................. 80

4.6.3 Causas de Dissolução do Contrato Supervenientes à sua Formação ............ 81

4.6.3.1 Resilição bilateral ou distrato........................................................................ 82

4.6.3.2 Resilição unilateral ....................................................................................... 83

4.6.3.3 Resolução .................................................................................................... 84

4.6.3.4 Exceção de Contrato não cumprido ............................................................. 87

4.6.3.5 Resolução por onerosidade excessiva ......................................................... 87

17

4.7 A EXECUÇÃO DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA

DE BENS IMÓVEIS PELA ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA.................................. 88

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 93

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 97

18

1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA

A presente monografia tem como tema central Contrato de Compromisso de Compra

e Venda de Bens Imóveis Sob Olhar Doutrinário.

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

O estudo que ora se apresenta tem por finalidade demonstrar uma

contextualização da efetividade do instrumento de Contrato de Compromisso de

Compra e Venda de Bens Imóveis no ordenamento jurídico, bem como sua

importância e Eficácia para a Sociedade.

Para tanto, se estabeleceu uma trajetória de estudo, vislumbrando todo o seu

ciclo existencial, que foi analisado com base no histórico geral do gênero Contrato,

sempre visando à espécie em estudo – Compromisso de Compra e Venda de Bens

Imóveis, as fases para alcançar a formação, e, por fim, a sua execução pelo meio da

Adjudicação Compulsória.

1.3 JUSTIFICATIVA

O Contrato, em tempos modernos, faz parte do dia-a-dia dos cidadãos, seja

em sua relação com o Estado, seja com outros membros da sociedade. De certo, ao

longo das décadas, a relação contratual sofreu profundas modificações,

impulsionadas, em sua grande parte, pela implementação de políticas econômicas e

pelos avanços por que passou o direito contratual.

O assunto em tela foi adotado primeiramente por ser um tema apaixonante e

de extrema complexidade, além de ter grande relevância no campo econômico e

19

social brasileiro, decorrente da valorização desenfreada dos imóveis, principalmente

na costa litorânea catarinense.

Esta espécie de Contrato é muito utilizada na atualidade, devido a maioria

das vendas serem feitas em parcelas, ou seja, para que se realize a compra e a

venda de um imóvel há necessidade das partes pactuarem através de um

compromisso, para que no futuro, possam celebrar a Escritura Pública, que no caso

é o Contrato Definitivo. Porém, não raras vezes, tanto o Compromissário Comprador

como o Compromitente vendedor, não possuem conhecimento das conseqüências

advindas deste tipo de Compromisso.

Daí surgiu o interesse da autora em desvendar as conseqüências advindas

desta modalidade de Contrato.

1.4 PROBLEMAS E HIPÓTESES

Foram elencados os seguintes problemas e hipóteses para a presente

pesquisa:

a) Quais as obrigações para as partes contratantes decorrentes do Contrato

de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis?

A Promessa de Compra e Venda, que é o Contrato pelo qual uma parte - o

promitente-vendedor – se obriga a vender um certo bem por um preço determinado

para outra parte - o promitente-comprador -, que, por sua vez, fica adstrito ao dever

de adquirir o referido bem.

b) De uma forma geral, há necessidade de algum requisito especial para a

validação dos Contratos?

Como visto através da doutrina, a presença de alguns requisitos são

indispensáveis para a validade do Contrato são eles: os requisitos subjetivos, os

objetivos, e os formais. São requisitos subjetivos: a capacidade das partes,

legitimação e a manifestação de vontade ou consentimento. Integram os elementos

objetivos: licitude do objeto, possibilidade jurídica do objeto, determinação de seu

objeto e economicidade de seu objeto. Por último, os elementos formais, os quais

são concernentes à forma dos Contratos.

20

c) Quais as formas de desfazimento do Contrato de Compromisso de Compra

e Venda de Bens Imóveis admitidos pela doutrina?

No que tange às formas de execução, observa-se que, uma vez que surgido o

pacto, ele pode desenvolver-se naturalmente, isto é, com ambas as partes

cumprindo seus direitos e deveres com espontaneidade, ou aquele segue seu “ciclo

existencial” de maneira conturbada, fazendo-se necessária a intervenção Estatal,

detentora da Tutela Jurisdicional.

1.5 OBJETIVO GERAL

Tem como objetivo geral demonstrar os aspectos destacados do instituto

jurídico do Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis, seu

ciclo existencial, revelar sua origem, sua classificação dentro das diversas

modalidades de Contratos admitidos pela legislação brasileira, as fases necessárias

para sua formação os modos de extinção admitidos e por último os meios execução.

1.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos são:

a) Analisar o Contrato de Compromisso de Compra e Venda dos Bens

Imóveis sob o olhar doutrinário;

b) Apresentar noções gerais sobre o direito contratual desde sua origem, ao

mesmo tempo enfatizar sua origem e evolução histórica, os princípios informadores

concernentes, bem como seus requisitos de validade e formação.

c) Descrever a definição do Contrato de Compromisso de Compra e Venda, a

sua natureza jurídica, sua classificação com o devido enquadramento do mesmo

dentre as diversas categorias admitidas e os efeitos decorrentes do seu Registro ou

não.

d) Identificar e analisar os modos de extinção admitidos pela legislação e pela

21

doutrina dominante, concluindo desta forma o ciclo de existência do Contrato de

Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis.

1.7 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta pesquisa, o método de investigação a ser

utilizado será o dedutivo que, segundo Pasold (2002, p. 87), consiste em “[...]

estabelecer uma formulação geral e, em seguida, buscar as partes do fenômeno de

modo a sustentar a formulação geral”.

Como técnica de pesquisa assevera Pasold (2002, p. 88) afirmando ser “[...]

um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma

instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma

ou mais bases lógicas investigatórias”, utilizar-se-á as categorias e conceitos

operacionais, pesquisas bibliográficas, consistentes em doutrinas, artigos de Internet

e legislação brasileira.

1.8 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

A monografia constitui-se de três Capítulos, inicia-se pela introdução e

finaliza-se com as considerações finais, que apresentará uma breve síntese de cada

capítulo e demonstrará se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou não

confirmadas.

A introdução, além do contexto em que o tema da pesquisa está inserido, os

problemas, o objetivo geral e específico, as hipóteses, o método de abordagem e as

técnicas de pesquisa utilizadas.

O primeiro Capítulo será destinado a definir o conceito legal dos Contratos em

geral, relatar as origens históricas, seus princípios fundamentais, requisitos, de

validade e sua aplicabilidade no ordenamento jurídico.

O segundo Capítulo prossegue na análise dos Contratos em geral, definindo

as suas fases de formação, classificação e seus tipos de interpretações, adiante

22

ainda se faz relata o tempo e lugar para que aconteça a sua formação no mundo

jurídico. Na seqüência será efetuada uma análise introdutória sobre o Contrato

Preliminar.

Ao final, no terceiro e último Capítulo, após aquela iniciação, o estudo será

direcionado à compreensão do Contrato de Compromisso de Compra e Venda de

Bem Imóvel, quanto sua origem conceituação, natureza jurídica, efeitos decorrentes

de sua pactuação, e por fim, das suas formas de execução, quais sejam, pela

outorga espontânea da Escritura Definitiva, ou pela Ação de Adjudicação

Compulsória.

Nas considerações finais, remetem-se breves análises do presente trabalho

monográfico e algumas considerações sobre as hipóteses outrora elencadas, no

sentido de demonstrar se foram ou não confirmadas ao longo do estudo procedido.

23

2 DA ORIGEM AOS REQUISITOS DE VALIDADE DOS CONTRATOS

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O Contrato por ser um dos institutos mais antigos na história da humanidade,

apesar de não ser conhecido, tal instituto já era praticado, e no percurso da evolução

das sociedades passou por grandes transformações. A própria história se

responsabiliza em trazer estas informações, ou seja, com o surgimento do escambo

de produtos excedentes, originou-se a idéia de troca de produtos e, logo após o

surgimento da moeda, transformou-se a troca em Compra e Venda surgindo o início

da economia de mercado. (LOPES, 2001).

Na lição de Diniz (2003, p. 390), com o surgimento do Contrato, o devedor

respondia moral e fisicamente, pelas suas dívidas:

Entre os egípcios, adjudicava-se ao credor a própria pessoa do devedor. Entre os hebreus, tornava-se ele escravo, bem como sua mulher e filhos, do seu credor. Entre os romanos, o credor podia prender o devedor, vendendo-o em três feiras sucessivas, ou, ainda, matá-lo, pois a Tábua III da Lei das XII Tábuas assim prescrevia [...].

Conforme mencionado acima, que neste período se valoriza mais o

patrimônio que a própria vida humana, podendo o credor se apoderar não apenas do

devedor, mas também de sua família, utilizando-os como escravos, vendendo-os ou

matando-os, se assim fosse conveniente. (DINIZ, 2003).

Por um longo período, as barbáries predominaram, mas tiveram fim no ano

326 a.C, transferindo-se ao patrimônio do devedor a garantia do adimplemento de

suas obrigações. (DINIZ, 2003).

O instituto jurídico denominado Contrato nasceu formalista e típico, no Direito

Romano, que é a mais importante fonte histórica do Direito nos países ocidentais, e

se firmou no Direito Canônico, garantindo à vontade humana a possibilidade de criar

direitos e obrigações. (PEREIRA, 2003).

24

A palavra Contrato, no Direito Romano, era o ato pelo qual o credor submetia

o devedor a seu poder, em virtude do inadimplemento de uma obrigação. (LOPES,

2001).

Era denominado convenção ou pacto, pois seus conceitos eram equivalentes

e significavam o acordo de duas ou mais vontades a respeito de um objeto

determinado. (VENOSA, 2003).

Estavam mais ligados à forma, mesmo que a vontade das partes não

estivesse exatamente expressada. Daí, um simples pacto ou convenção não criava

uma obrigação jurídica exigível, pois as formas davam forças às convenções. Cada

convenção, sob certa formalidade, estabelecia um Contrato. Deste modo, não era

conhecida uma forma geral de Contrato, apenas alguns Contratos em particular.

(LOPES, 2001).

Assim sendo, pode-se afirmar que no Direito Romano ocorreu a estruturação

do Contrato, haja vista, que desde então foram erigidas as bases que ainda hoje

subsistem, inobstante as enormes transformações ocorridas. Na verdade, foi lá, na

sociedade romana, antes mesmo do Período Clássico (Séc. VI – IV a.C.), que foi

superada a noção de apropriação violenta da res1, fator de desencadeamento de

freqüentes conflitos, estabelecendo-se através dos Contratos mecanismos de

pacificação social. (PEREIRA, 2003).

Esta concepção, no decorrer do tempo, passou a sofrer várias influências,

principalmente da Igreja, que assumiu papel fundamental nesta transformação,

mantendo a idéia de Contrato, porém, inserindo a fé jurada, ou seja, era o

compromisso mantido através da própria palavra do devedor. (RODRIGUES, 2003).

No entendimento de Oliveira Neto (2006, p. 03), a contribuição dos canonistas

constituiu basicamente na relevância que atribuíram, de um lado, ao consenso, e, do

outro, à fé jurada.

Prossegue o autor relatando que:

O respeito à palavra dada e o dever da veracidade justificam, de outra parte, a necessidade de cumprir as obrigações pactuadas, fosse qual fosse a forma do pacto, tornando necessária a adoção de regras jurídicas que assegurassem a força obrigatória dos Contratos, mesmo os nascidos do simples consentimento dos contraentes.

1 Res: “Expressão latina que significa coisa, ou todo objeto material, que não se refira ao homem”. (SILVA, 2005, p. 1211).

25

Inicialmente o Contrato era concebido como um vínculo jurídico cuja

obrigação dele decorrente carecia, necessariamente, da prática de ato solene. A

forma constituía elemento essencial do Contrato, fosse ele verbal ou escrito. Tal

concepção evoluiu na sociedade romana, abrandando-se gradativamente o rigor do

formalismo, até que se aproximou da sua clássica expressão, ou seja, a plena

manifestação de livre vontade que vincula os indivíduos, gerando, por conseqüência,

direitos e deveres. (PEREIRA, 2003).

Com a queda do Domínio romano, passou-se a utilizar o Direito Germânico,

conservando-se até a alta Idade Média (ano 476 até ano 1000). O Contrato por si só

não transferia a Propriedade, já que é subespécie de uma categoria mais geral, o

negócio jurídico. Este código trazia regras aos Contratos em geral, a cada espécie

de Contrato e regras ao negócio jurídico em geral. “Nesse sistema, pois, toda

manifestação de vontade que procura um efeito jurídico deve, a princípio, partir do

exame geral do negócio jurídico.” (VENOSA, 2003, p. 363).

Necessário destacar que “[...] a doutrina alemã não desenvolveu a noção de

Contrato ligada a idéia de obrigação e sim ligada à idéia de negócio jurídico”, ou

seja, negócio jurídico bilateral. (ROCHA, 2002, p. 30).

A partir daí, principalmente com a influência da Igreja e dos costumes

mercantis, passou a ter predomínio a forma escrita, enfatizando seu sentido

obrigatório, assimilando-se os pactos e convenções aos Contratos. Esse

entendimento introduziu-se nos códigos modernos. (VENOSA, 2003).

Assevera Pereira (2003, p. 23):

No século XVIII e XIX, prevaleceu na França o individualismo firmado pela teoria kantiana2, consagrando-se a liberdade e a igualdade política – o homem como centro do universo. Desde então, as influências advindas das esferas econômicas, políticas e sociais de um modo geral, foram impondo transformações a ponto de, gradativamente, adquirir o Contrato à concepção de acordo de vontades que estabelecem um vínculo jurídico capaz de produzir efeitos jurídicos, consagrando-se o princípio do pacta sunt servanda3 – a força cogente da vontade dos contratantes.

2Teoria de grande influência para o liberalismo. Foi criada pelo filósofo alemão Emmanuel Kant. (PEREIRA, 2003, p. 21). 3Pacta sunt servanda: Expressão latina que significa que os pactos devem ser cumpridos; as partes

são livres para contratar”. (FONTANELLA, 2003, p. 183).

26

Surgiu então, a primeira grande codificação moderna no Direito Francês, com

a promulgação de seu Código, que refletia as conquistas políticas, ideológicas e

econômicas da burguesia, na revolução de 1789. (VENOSA, 2003).

Rocha (2002, p. 30), reforça o comentado anteriormente, asseverando que

com a promulgação do Código Civil Francês, no ano de 1804, houve o ponto

culminante de vários séculos de evolução do Direito Francês, com a Teoria

Contratual abrigando Princípios fundamentais, entre eles, o da liberdade contratual.

O Código Civil francês consolidou o paradigma da vontade como expressão

suprema e inderrogável (que não pode ser modificada) do indivíduo e de sua

liberdade, surgindo o Contrato como fonte primordial das obrigações. Atribuiu-se à

vontade individual a função de causa primeira do direito privado. Neste, o comércio

jurídico cresceu amparado na noção de Contrato, entendendo que toda obrigação,

por implicar em restrição à liberdade individual, teria de provir de um ato de vontade

do devedor, e, além disso, que todos os resultados desse ato eram justos. (ROCHA,

2002).

Para o sistema francês, o Contrato era um mero instrumento para se alcançar

a Propriedade, tendo plena autonomia de contratar, o que antes era feito apenas

pelas classes privilegiadas. Era totalmente individualista, tendo somente como

limitações o interesse público. (VENOSA, 2003).

A partir daí, surgiu o movimento europeu conhecido por Iluminismo, que

criticava a desigualdade diante da Lei, sendo o responsável pela renovação do

Direito francês e conseqüentemente, do Contrato. (PEREIRA, 2003).

Já no século XIX ocorre o surgimento de vários códigos, sem, contudo, ter

sido alterada a concepção clássica de Contrato. Toma-se por base o Código Civil

Francês de 1804, sucedido pelo Italiano de 1865, o Português de 1867 e o Espanhol

de 1889 que influenciaram decididamente o ocidente, com destaque para a

legislação alemã de 1896. O mesmo ocorrendo com os códigos brasileiros de 1916

e do Código Civil de 2002. (PEREIRA, 2003).

Até meados do século XX, a doutrina contratual fundou-se na teoria geral das

obrigações, não se preocupando com uma teoria geral contratual, o que hoje se

inverte, porquanto a teoria geral das obrigações é chamada apenas quando da

omissão da teoria especial do Contrato a ser examinado e da teoria geral dos

Contratos. O Contrato também foi o maior instrumento jurídico do capitalismo que

dominou o mundo até o fim da Primeira Guerra Mundial. (VENOSA, 2003).

27

Diante do exposto, pode-se considerar que o Contrato, na verdade, sempre

significou a base da sociedade, regulando ao longo dos tempos às atividades

humanas nas mais diversas dimensões, promovendo a harmonização das relações,

estabelecendo limites entre direitos e deveres. (DINIZ, 2003).

A Teoria Contratual se desenvolveu através de uma filosofia individualista.

Esta filosofia, empenhada em atribuir ao Estado uma função mínima no que diz

respeito a vida particular dos homens, via o ser humano como um soberano, senhor

de sua própria razão, de seu destino e instituidor de suas próprias Leis. Desta

forma, ao Estado cabia apenas o dever de não interferir nos negócios privados,

exercendo assim a função de simples observador. (DINIZ, 2003).

Desta forma, o Estado que até então era apenas um observador, começa a

interferir na política contratual através da imposição de regras para os Contratos,

pretendendo assim, proteger a parte mais vulnerável da relação. (WALD, 2000).

No passado, o Contrato era independente, alheio aos acontecimentos e

prevalecendo sobre as eventuais modificações fáticas e legislativas. Hoje, o

Contrato se transformou num bloco de direitos e obrigações de ambas as partes,

que devem manter seu equilíbrio inicial e um vínculo. (WALD, 2000).

Wald (2000, p. 184), finaliza seu estudo da evolução histórica dos Contratos,

da seguinte forma:

Constitui, assim, o Contrato o instrumento eficaz da economia capitalista, na sua primeira fase, permitindo, em seguida, a estrutura das sociedades anônimas as grandes concentrações de capitais necessários para o desenvolvimento da nossa economia em virtude do progresso técnico, que exige a criação de grandes unidades financeiras, industriais e comerciais.

Na atual dinâmica da sociedade, o Contrato deixou de ser a ponte para

alcançar a Propriedade, passando a ser instrumento fundamental da economia,

distanciando-se muito daquele modelo clássico de Contrato. (VENOSA, 2003).

Conforme frisa Diniz (2003, p. 14):

O Contrato representa o centro da vida dos negócios, o instrumento prático que atua sob as mais variadas finalidades da vida econômica, implicando a composição de interesses inicialmente opostos, ou, quando menos, não-coincidentes.

28

A idéia de um Contrato absolutamente paritário onde duas ou mais pessoas

tratam de um determinado objeto discutindo suas cláusulas não desapareceu, mas

em virtude da modernização da economia passou a representar uma pequena

parcela do mundo negocial, dando espaço ao já citado Contrato de massa.

(PEREIRA, 2003).

Na lição de Borda (1989 apud VENOSA, 2003, p. 369):

Em razão dessas modificações, a força obrigatória dos Contratos não se aprecia tanto à luz de um dever moral de manter a palavra empenhada, mas sob um aspecto de realização do bem comum e de sua finalidade social. O homem moderno já não mais aceita o dogma de que seja justo tudo que seja livre.

Em face do todo exposto, denota-se que o Contrato, no decorrer de sua evolução

histórica, finalmente se apresenta, na atualidade, como uma categoria que serve a todos

os tipos de relações entre sujeitos de direito e a qualquer pessoa independente de sua

posição ou condição social. (DINIZ, 2003).

Por derradeiro, pode-se afirmar que nos últimos séculos houve uma constante

evolução nas relações contratuais, principalmente, a partir da Revolução Francesa,

no século XVIII, e da Revolução Industrial, no início do século XIX.

Superada a fase histórica dos Contratos passar-se-á ao tópico seguinte

fazendo uma breve análise sobre seu conceito e elementos.

2.2 CONCEITO

O conceito de Contrato surge a partir da conjugação de um acordo de

vontade das partes, da referência a uma relação jurídica patrimonial entre elas e da

finalidade de constituir, regular ou extinguir uma relação jurídica. (BRUNO, 2002).

Quando o ser humano exterioriza sua vontade com o intuito de gerar efeitos

jurídicos, a expressão dessa vontade constitui-se num negócio jurídico4. Destaca-se

que o negócio jurídico tem fundamentação na autonomia privada, isto é, na

4 Negócio Jurídico: É o poder de auto-regulamentação dos interesses que contém a enunciação de um preceito, independentemente do querer interno. (DINIZ, 1998, v. 03, p. 227).

29

capacidade de auto-regulamentar os interesses, criando uma norma concreta

estabelecida entre as partes. (RODRIGUES, 2003).

Em sentido amplo a idéia de Contrato é aplicada em todas as ramificações do

Direito, privado ou público, abrangendo todas as figuras jurídicas que nascem do

concurso de vontades, seja qual for a sua modalidade ou a sua Eficácia. Com

relação ao conceito no campo do Direito Privado, designa-se por este vocábulo todo

negócio jurídico, bilateral5 ou plurilateral6, que se forma pelo acordo de vontades. Em

sentido ainda mais limitado, reserva-se o conceito para as relações jurídicas de

caráter patrimonial que gravitam na órbita do Direito das Obrigações. (GOMES,

2001).

O Código Civil de 1916 referia-se ao negócio jurídico, todavia, de uma

maneira mais genérica denominando-o de ato jurídico7: “Art. 81. Todo ato lícito, que

tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir ou extinguir direitos, se

denomina ato jurídico”. O Código Civil atual refere-se ao negócio jurídico nos artigos

104 e seguintes, mas não o define precisamente. (VENOSA, 2003, p. 361).

Através do exposto, pode-se afirmar que o Contrato é uma espécie de

negócio jurídico, de natureza bilateral ou plurilateral, e para sua formação é

imprescindível o acordo de vontade das partes, em consonância com a ordem

jurídica, objetivando a regulamentação de seus interesses particulares, sendo esses

interesses de natureza patrimonial. (VENOSA, 2003).

Para Pereira (2003, p. 02) o Contrato é ”É um negócio jurídico bilateral, e de

conseguinte exige o consentimento; pressupõe, de outro lado, a conformidade com a

ordem legal, sem o que não teria o condão de criar direitos para o agente; e, sendo

ato negocial, tem por escopo aqueles objetivos específicos”.

No entendimento de Gomes (2001, p. 07) o Contrato, “é instrumento jurídico

por excelência de vida econômica”.

Para Wald (2000, p. 183) “O Contrato é um ato jurídico bilateral, pois depende

de no mínimo duas declarações de vontade, visando criar, modificar ou extinguir

obrigações (direitos relativos de conteúdo patrimonial)”.

5 Bilateral: é o Ato Jurídico que se perfaz com duas manifestações de vontade, sobre o mesmo objeto. Podem existir várias pessoas no pólo ativo e passivo sem que o contrato deixe de ser bilateral. (FONTANELLA, 2003, p. 24). 6 Plurilateral: Aquilo em que há interesses diversos que se defrontam. (CUNHA, 2005, p. 202). 7 Ato Jurídico: É todo ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. (VENOSA, 2003, p. 361).

30

Diniz (2003, p. 09), conceitua Contrato como sendo “um acordo de duas ou

mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma

regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar

ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial”.

No entendimento de Rizzardo (2002, p. 175) o conceito de Contrato envolve

três idéias:

I – Em primeiro lugar, a idéia de super-conceito, aplicável em todos os campos jurídicos, e, por conseguinte tanto ao direito privado, como ao direito público e inclusive ao direito internacional. Neste ponto de vista citam–se os tratados internacionais, o acordo entre as nações, o Contrato celebrado pelo Estado com os concessionários de obras ou serviços públicos e os Contratos administrativos; II – Num sentido mais limitado adstrito à órbita do direito privado, serve para designar todos os negócios jurídicos bilaterais de direito privado. Compreende tanto os negócios jurídicos de direito patrimonial, como a compra e venda o pessoal, como o matrimônio, a adoção e os Contratos sucessórios; III – No sentido mais restrito, abrange só, aqueles fenômenos que podem ser submetidos a um regime de caráter unitário.

A partir desses conceitos, é possível observar a presença de dois elementos

fundamentais: o consenso, pois o Contrato harmoniza interesses inicialmente

conflitantes e antagônicos, e os efeitos de direito por ele produzidos, ou seja, a

criação, a modificação ou a extinção de vínculos jurídicos de natureza patrimonial.

(VENOSA, 2003).

Com o advento do Código Civil de 2002 o conceito de Contrato, tem se

modificado, pois as partes, em conformidade com a ordem jurídica, deverão

observar outros valores quando da sua celebração e execução, valores estes

consagrados pelos Princípios da boa-fé e da probidade e, também, pela Função

Social. (RODRIGUES, 2003).

Outrossim, embora não se possa negar o aspecto contratual de muitas

relações jurídicas que se estabelecem mediante o acordo de vontades fora do

terreno patrimonial, uma parte considerável da doutrina procura limitar o conceito de

Contrato, em sentido estrito, aos ajustes que constituam, regulem ou extingam

relações patrimoniais, como enfatiza Rodrigues:

[...] o Contrato se configura como o instrumento criador, modificador ou extintor de relações jurídicas obrigacionais. Os contratantes

31

acordam o seu comportamento em relação a determinado objeto em busca de efeitos jurídicos queridos por ambos. Têm como fundamento a vontade humana protegida, que é, pelo ordenamento Estatal. (2003, p. 09-10).

Para finalizar pode-se dizer que o Contrato é, destarte, o acordo de duas ou

mais vontades, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos, estando de acordo

com a ordem pública e jurídica, surtindo sanções para qualquer das partes que

descumprir a avença.

2.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL

As diversas alterações que surgiram na matéria contratual, como em qualquer

instituto jurídico, foram elaboradas com fulcro em determinados princípios.

Mello (1984, p. 230), apresenta sua visão sobre princípios asseverando que:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um especifico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais [...].

No entendimento de Santos (2007, p. 43) os princípios são:

[...] noções basilares e genéricas de um sistema, que condicionam e determinam a interpretação e a própria criação de novas normas em direção mais específica, permitindo um raciocínio estruturado e coerente, sem, no entanto, permitir um fechar-se em si mesmo. Como valores que são, provêm do estudo da sociedade, do meio em que estão inseridos.

Os doutrinadores enumeram de uma forma geral cinco princípios

fundamentais que regem as obrigações contratuais, sendo: da autonomia da

vontade; do consensualismo; da obrigatoriedade da convenção; da relatividade dos

32

efeitos do Contrato e o da boa fé. (DINIZ, 2003, p. 63-69).

É importante destacar os princípios dos Contratos, uma vez que estes são à

base do Direito Contratual. Faz-se mister a realização de um estudo mais

aprofundado acerca destes princípios para que possam ser diferenciados dentro do

contexto.

2.3.1 Princípio da Autonomia da Vontade

Para Diniz (2003, p. 32) este princípio consiste no poder que os contratantes

possuem de “estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de

vontades, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem

jurídica”.

Prossegue a autora afirmando que este poder envolve três aspectos

principais:

a) a liberdade de contratar ou não contratar, isto é, o poder de decidir, segundo seus interesses, se e quando estabelecerá com outrem uma relação jurídica contratual. [...]; b) a liberdade de escolher o outro contratante [...]; e c) a liberdade de fixar o conteúdo do Contrato, escolhendo qualquer uma das modalidades contratuais reguladas por Lei (Contrato Nominado), introduzindo ou alterando as cláusulas que melhor se coadunem com seus interesses e com as peculiaridades do negócio [...]. (DINIZ, 2003, p. 32).

O princípio da autonomia da vontade “consiste na prerrogativa conferida aos

indivíduos de criarem relações na órbita do direito, desde que se submetam às

regras impostas pela Lei e que seus fins coincidam com o interesse geral, ou não o

contradigam”. (RODRIGUES, 2003, p. 14).

Wald (2000, p. 183), relata sobre a teoria da autonomia da vontade

proveniente dos canonistas:

A teoria da autonomia da vontade foi desenvolvida pelos enciclopedistas, filósofos e juristas que precederam a Revolução Francesa e afirmaram a obrigatoriedade das convenções,

33

equiparando-as, para as partes contratantes à própria Lei. Surge assim o princípio: pacta sunt servanda.

Este princípio não é absoluto, pois como já mencionado, as estipulações

efetuadas pelas partes estão subordinadas à supremacia da ordem pública e aos

bons costumes. Assim sendo, deverão ser analisados dois aspectos de sua

incidência, ou seja, um concernente às restrições trazidas pela ordem pública, e

outro, ao dirigismo contratual. (PEREIRA, 2003).

No caso da ordem pública, o Contrato fica vinculado às normas

estabelecidas, ou seja, as partes podem contratar livremente, desde que respeitados

os limites legais. Estes limites têm por objetivo coibir os abusos advindos da

desigualdade econômica. (WALD, 2000).

Todavia, o dirigismo contratual vincula-se ao formalismo e ao cumprimento de

Leis de ordem pública, valendo-se o Estado deste poder para restringir o princípio da

vontade em benefício da coletividade, inclusive fazendo uso de uma intervenção

judicial para conter seus efeitos, se necessário for. (WALD, 2000).

O Código Civil, ao consagrar a liberdade de contratar, estabeleceu novos

limites à mesma, e enfatiza que o Contrato não é mais visto pelo prisma

individualista de utilidade para os contratantes, mas no sentido social de utilidade

para a comunidade, podendo ser coibido o Contrato que não busca essa finalidade.

(RODRIGUES, 2003).

2.3.2 Princípio do Consensualismo

O princípio do consensualismo é aquele em que o simples consentimento de

vontades entre as partes é suficiente para validar o Contrato. Entretanto, existem

aqueles que, por serem solenes, e por apresentar forma especial, sua validade

depende da observância destas formalidades prevista na Lei. (DINIZ, 2003).

No entendimento de Matte (2001, p. 56) [...] o simples acordo desta

pluralidade de vontades basta para criar um Contrato válido, eis que o mero

34

consentimento é o suficiente para validar e perfectibilizar o vínculo contratual, já que

não é exigência, em regra, forma especial para sua formação.

Pereira (2003, p. 19) assevera que:

O princípio do consensualismo predominou em todo o século XIX e avançou pelo século XX. Segundo ele, o Contrato nasce do consenso puro dos interessados, uma vez que é a vontade a entidade geradora. Somente por exceção conservou algumas hipóteses de Contratos reais e formais, para cuja elaboração exigiu a traditio da coisa e a observância de formalidades. Mais modernamente, contudo, sentiu o direito a imperiosa necessidade de ordenar certas regras de segurança, no propósito de garantir as partes contratantes, contra as facilidades que a aplicação demasiado ampla do princípio de consensualismo vinha difundindo.

No entendimento do autor, essas formalidades desenvolveram o condão da

proteção, sendo necessário para tanto a imposição de alguns limites ao acordo das

vontades. Pois, perante essas imposições é que se observa, por exemplo, que o

Contrato de Compromisso de Compra e Venda deva ser escrito e Registrado, para

que haja Eficácia real erga omnes8. Com relação ao período que antecedia o

movimento acima mencionado, ficavam os contratantes à mercê da sorte, pois se

valiam os mais fortes economicamente do consensualismo exagerado e desvirtuado.

(PEREIRA, 2003).

Complementando, pode-se dizer que uma dessas mitigações modernas ao

princípio do consensualismo refere-se à transmissão de bens imóveis, à qual a Lei

confere algum formalismo. É o que será analisado com mais profundidade

posteriormente, pois trata-se do tema objeto de pesquisa do presente trabalho.

2.3.3 Princípio da Obrigatoriedade da Convenção

É através deste princípio que se faz cumprir fielmente o estipulado no

Contrato, podendo as partes fazerem uso da força coercitiva para o cumprimento.

8 Erga Omnes: Expressão latina que significa “contra todos; para todos”. (FONTANELLA, 2003, p. 153).

35

Sobre este princípio destaca Rodrigues (2003, p. 17-18) que:

[...] consagra a idéia de que o Contrato, uma vez obedecidos os requisitos legais, torna-se obrigatório entre as partes, que dele não se podem desligar senão por avença, em tal sentido. [...] vai constituir uma espécie de Lei privada entre as partes [...].

No entendimento de Rizzardo (2002, p. 17) os “Contratos devem ser

obedecidos pela mesma razão que a Lei deve ser obedecida, eis que o acordo de

vontades, logo depois de declaradas, tem força de Lei entre os estipulantes, e impõe

os mesmos efeitos coativos que esta contém”.

Acerca deste princípio Matte (2001, p. 56) escreve:

[...] se consagra o brocado latino pacta sunt servanda, ou seja, o que ficar estabelecido deverá ser fielmente cumprido, já que faz Lei entre as partes (desde que estipulado validamente e com os requisitos legais), sob pena de sofrer, a parte que assim não agir, execução patrimonial.

Este Princípio sofreu alterações, com o advento do Código Civil de 2002, pois

com a admissão da interferência do Estado para impedir o desequilíbrio entre as

partes, expressamente previstos nos artigos 4789 e 48010, permitiu a resolução ou

revisão do Contrato pelo Poder Judiciário quando a prestação de uma das partes se

tornar excessivamente onerosa, em decorrência de fatos extraordinários e

imprevisíveis e, também, admitiu os institutos da lesão e do estado de perigo que

levam a anulação do negócio jurídico. (PADILHA, 2003).

A obrigatoriedade e a intangibilidade formam a base do Direito Contratual,

servindo de estabilidade ao negócio jurídico celebrado, tendo as partes, a partir da

formação do Contrato, a segurança de que os termos constantes do mesmo serão

respeitados reciprocamente. (VENOSA, 2003).

9 Art. 478 - Nos Contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do Contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. (BRASIL, 2006, p. 331). 10 Art. 480 - Se no Contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. (BRASIL, 2006, p. 331).

36

Assevera Rocha que duas circunstâncias são atribuídas à força vinculante do

Contrato: “a) o fato de o Contrato ter sido livremente estipulado ou aceito; b) ao fato

de o Contrato ter sido celebrado no próprio interesse das partes (os contratantes

estipularam o Contrato em razão das vantagens que irão auferir com ele)”. (2002, p.

45).

Por força deste princípio, “aquilo que as partes, de comum acordo,

estipularam e aceitaram, deverá ser fielmente cumprido ‘pactu sunt servanda’ sob

pena de execução patrimonial contra o devedor inadimplente”. (MONTEIRO, 2003,

p. 09).

Para finalizar pode-se dizer que por força deste princípio uma vez concluído o

Contrato o mesmo passa a ter força obrigatória de Lei, sendo assegurado ao

contratante a execução de uma obrigação não cumprida pela vontade que a

constituiu.

2.3.4 Princípio da Relatividade dos Efeitos dos Contratos

Decorre deste Princípio que os efeitos produzidos pelo Contrato atingem

somente as partes que o celebraram, não aproveitando nem prejudicando terceiros,

pois o vínculo contratual decorre da vontade das partes, e diante disso, os terceiros

não podem ficar atados a uma relação jurídica que não é de sua vontade e nem

deriva de Lei. (RODRIGUES, 2003).

Para Gomes (2001, p. 43) o princípio da relatividade não é absoluto, pois

sofre importantes exceções:

Para defini-las, cumpre fixar a noção de terceiro. Como tal se considera quem quer que seja totalmente estranho ao Contrato ou à relação sobre a qual ele estende os seus efeitos. Assim, o sucessor, a título universal de um contratante, embora não tenha participado da formação do Contrato, terceiro não é, porque a sua posição jurídica deriva das partes, como tal devendo ser tido. [...] Há Contratos que fogem à regra geral, estendem efeitos a outras pessoas, quer criando, para estas, direitos, quer impondo obrigações, Tais são, dentre outros, a estipulação em favor de terceiros, o Contrato coletivo de trabalho, a locação em certos casos e o fideicomisso “inter vivos”.

37

Diniz (2003, p. 75) menciona dois exemplos de exceção ao princípio da

relatividade dos efeitos do Contrato, como segue:

a) dos herdeiros universais de um contratante que, muito embora não tenha participado da formação do Contrato poderá sofrer os efeitos deste até o limite da herança; e, b) da estipulação em favor de terceiro, que estende seus efeitos a outras pessoas, criando-lhes direitos e impondo-lhe obrigações, apesar de elas serem alheias à constituição da avença.

No entendimento de Matte (2001, p. 56) [...] “a Lei que emana do Contrato, via

de regra, não alcança nem prejudica terceiro, eis que decorre da vontade das partes

envolvidas no negócio. Somente ocorrerá submissão de terceiro a esta relação que

se forma se assim o quiser ou a Lei o imponha”.

Por fim, denota-se que este princípio representa uma segurança, pois

ninguém ficará preso a um Contrato, a não ser que a Lei determine ou a parte

decida a fazê-lo. Assim sendo, o Contrato assume força de Lei, mas sua vinculação

visa somente às partes contratantes, não surtindo efeitos a terceiros.

2.3.5 Princípio da Boa-Fé

O princípio da boa-fé, ao contrário do princípio da autonomia da vontade, é a

concretização do valor segurança jurídica, sendo importante não só para o direito

das obrigações, mas, também, para outros institutos como, por exemplo, na teoria

do abuso do direito, nas teorias da imprevisão e da base negocial, na

responsabilidade pré-contratual. (RODRIGUES, 2003).

“Este é um dos princípios básicos que orientam a formação do Contrato”. Está

intimamente ligado à interpretação contratual, porém não deverá ser analisado

apenas literalmente, e sim ovacionar a intenção das partes. (RIZZARDO, 2002, p.

23).

Leciona Diniz (2003, p. 74) sobre o princípio da boa-fé:

[...] segundo ele, o sentido literal da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida da declaração de vontade das partes – mas

38

também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes deverão agir com lealdade e confiança recíprocas, isto é, proceder com boa-fé.

Trata-se, segundo Venosa (2003, p. 378), de “ponto de interpretação da

vontade contratual”, e, em sua análise, “devem ser examinadas as condições em

que o Contrato foi firmado, o nível sócio-cultural dos contratantes, o momento

histórico e econômico”.

Gomes (2001, p. 42), conceitua o princípio da boa-fé da seguinte forma:

O princípio da boa-fé entende mais com a interpretação do Contrato do que com a estrutura. Por ele se significa que o literal da linguagem não deve prevalecer sobre a intenção manifestada na declaração de vontade, ou dela aferível. Ademais, subtendem-se, no conteúdo do Contrato, proposições que decorrem da natureza das obrigações contraídas, ou se opõe por força de uso regular e da própria equidade.

O princípio da boa-fé possibilita que seja avaliada a intenção propriamente

dita dos contratantes, ficando em segundo plano a análise literal da escrita. Desta

forma, as partes são colocadas em pé de igualdade no negócio contratual,

prevalecendo o equilíbrio econômico e social. (MONTEIRO, 2003).

Este princípio foi expressamente contemplado no art. 422 do Código Civil, que

determina: “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do

Contrato como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. (BRASIL,

2006, p. 324).

Ainda sobre o assunto, leciona Theodoro Júnior (2001, p. 34):

Além de prevalecer a intenção sobre a literalidade, compreende-se no princípio da boa-fé a necessidade de compreender ou interpretar o Contrato segundo os ditames da lealdade e confiança entre os contratantes, já que não se pode aceitar que um contratante tenha firmado o pacto de má-fé visando locupletar-se injustamente à custa do prejuízo do outro.

Na boa-fé subjetiva, o manifestante de vontade crê que sua conduta é correta,

tendo em vista o grau de conhecimento que possui de um negócio. Há, portanto, um

39

estado de consciência ou aspecto psicológico que deve ser considerado. [...] a boa-

fé objetiva se traduz de forma mais perceptível como uma regra de conduta, um

dever de agir de acordo com determinados padrões sociais estabelecidos e

reconhecidos. (VENOSA, 2003).

Ademais, na boa-fé objetiva não se questiona a intenção do agente, seu

estado psicológico, o que se questiona, são as circunstâncias concretas do caso, ou

seja, o status da pessoa, ou melhor, como o ser humano normal agiria nessas

circunstâncias. (RODRIGUES, 2003).

Encerra-se o estudo sobre os princípios fundamentais do Contratos com

esses apontamentos, dando-se prosseguimento a pesquisa com a análise dos

requisitos de validade dos Contratos.

2.4 REQUISITOS DE VALIDADE

Para que um negócio jurídico seja válido deve-se observar os requisitos

necessários para essa validade, sob pena de inEficácia.

Pereira (2003, p.14) assevera que: “[...] como todo negócio jurídico, o

Contrato está sujeito à requisitos, cuja inobservância vai dar na sua ineficiência”.

Por ser o Contrato um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, requer, além da

existência de duas ou mais pessoas, a capacidade genérica das partes para a

prática de atos da vida civil, sob pena de o mesmo ser nulo ou anulável. (VENOSA,

2003).

A presença de alguns requisitos é indispensável para a validade do negócio

jurídico, os quais se encontram disciplinados no art. 104 do Código Civil, como se

pode observar:

Art. 104 - A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em Lei. (BRASIL, 2006, p. 276).

40

A doutrina classificou três requisitos essenciais para que o Contrato tenha

validade, são eles: os requisitos subjetivos, os objetivos, e os formais. (DINIZ, 2003).

São requisitos subjetivos: a capacidade das partes, legitimação e a

manifestação de vontade ou consentimento. Integram os elementos objetivos:

licitude do objeto, possibilidade jurídica do objeto, determinação de seu objeto e

economicidade de seu objeto. Por último, os elementos formais, os quais são

concernentes à forma dos Contratos. (DINIZ, 2003).

A seguir analisar-se-á cada um dos requisitos separadamente.

2.4.1 Requisitos Subjetivos

Os requisitos subjetivos se referenciam as pessoas dos contratantes, a

capacidade genérica dos contratantes, legitimação e o consentimento. Ou seja, a

capacidade e aptidão para tal ato.

A capacidade genérica para exercer os atos da vida civil está disciplinada nos

artigos 3º ao 5º do Código Civil. Diante do exposto, fica nítido identificar que não

poderão contratar os absolutamente incapazes, salvo quando representados, e os

relativamente incapazes, se estiverem sem a assistência das pessoas descritas na

Lei. Há outras limitações impostas pela norma legal, como por exemplo, a venda de

ascendente para descendente, ou ainda, a aquisição de bens por determinadas

pessoas, mesmo que em hasta pública, sob pena de anulação do ato. (PEREIRA,

2003).

Com relação a capacidade dos contratantes, ressalta-se que não poderão

estar elencados nos arts. 3º e 4º do Código Civil, conforme disposto a seguir:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de 16 (dezesseis) anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I – os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos;

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II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental complexo; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

Porém, não são todos os Contratos que podem ser convencionados por

qualquer pessoa, conforme demonstrado pelos ensinamentos de Wald (2000, p.

200).

Para determinados Contratos específicos, como a compra e venda, além da capacidade genérica é exigida uma legitimação, reconhecendo a Lei como impedimento para a realização do Contrato a existência de determinadas relações jurídicas entre os contratantes.

Destarte, para que o negócio produza os efeitos esperados pelas partes,

necessário se faz que o consentimento seja válido, isto é, que a manifestação de

vontade exista e haja funcionado normalmente, podendo a falta desta, acarretar em

anulabilidade11, em caso de incapacidade relativa, ou em nulidade12 quando a

incapacidade for absoluta.

2.4.2 Requisitos Objetivos

Para que o objeto do Contrato seja lícito, não pode o mesmo contrariar a Lei,

os bons costumes e a ordem pública.

No tocante aos requisitos objetivos, eles estão relacionados com a liceidade,

a possibilidade, a determinação e a economicidade, ou seja, com o objeto do

11 Anulabilidade: Refere-se a negócios que se acham inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado, restabelecendo-se a sua normalidade; gera efeitos ex nunc. (SILVA, 2005, p. 115). 12 Nulidade: É uma penalidade que, ante a gravidade do atentado à ordem jurídica, consiste na privação da eficácia jurídica que teria o negócio, caso fosse conforme a lei; um ato que resulta em nulidade é como se nunca tivesse existido desde sua formação, pois a declaração de sua invalidade produz efeito ex tunc. (SILVA, 2005, p. 115).

42

Contrato (art. 104, Inciso II, do Código Civil).

Pereira (2003, p. 30) destaca os seguintes requisitos objetivos a partir da

análise do artigo acima citado:

a) Objeto lícito: está vinculado à Lei, à moral, à ordem pública e aos bons costumes, não podendo contrariá-los; b) Possibilidade do objeto: esta possibilidade deverá ser física e jurídica. Há de destacar as hipóteses de impossibilidades, que podem ser relativas ou absolutas. A primeira não enseja a nulidade do Contrato, pois o agente poderá não superar o obstáculo, mas outra pessoa, esta em condições de fazer (art. 106, do CC). Já na segunda, haverá nulidade do ato, pois ninguém, e em nenhum momento, poderá superar tal obstáculo; c) Do objeto determinado ou determinável: não precisa estar necessariamente individualizado no momento da formação do Contrato, mas é necessário que tenha, pelo menos, os elementos necessários para que possa a vir a ser determinado. A determinação será caracterizada pelo gênero, pela espécie, pela quantidade e pelas características individuais; d) Da economicidade do objeto: deve ser economicamente apreciável, suscetível de conversão em moeda corrente nacional.

Com relação ao objeto, não se pode confundir o do Contrato com o da

obrigação, pois este consiste na obrigação que o devedor tem com o credor e que

este tem o direito de exigir daquele. Assim, o objeto da obrigação é isolado,

concreto, singular, específico e o do Contrato é idêntico em todas as estipulações da

mesma natureza. (MONTEIRO, 2003).

O objeto deverá também ser possível jurídica e fisicamente. A impossibilidade

jurídica encontra obstáculo no ordenamento jurídico, já a impossibilidade física é

aquela em que o contratante não tema as condições para realizá-la. (VENOSA,

2003).

Deverá o objeto ser determinado ou determinável visto que, torna-se

impossível obrigar o devedor a pagar ou exercer atividade de maneira

indeterminada. (DINIZ, 2003).

“Não é possível obrigar o devedor a pagar alguma coisa, ou a exercer

alguma atividade, de forma indeterminada, Por vezes, o objeto não é determinado

do nascimento do Contrato, mas deve ser determinável em se curso”. (VENOSA,

2003, p. 438).

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2.4.3 Requisitos Formais

Os requisitos de ordem formal, como o próprio nome menciona, se referem à

forma do Contrato. Em regra geral, não estão vinculados ao formalismo, bastando a

declaração de vontade, seja ela oral ou escrita, para gerar efeitos e estabelecer um

liame jurídico entre as partes, encontram-se previstos nos arts 107 e 111, ambos do

Código Civil.

Art. 107 - A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a Lei expressamente a exigir. [...] Art. 111 - O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. (BRASIL, 2006, p. 276-277).

Diniz (2003, p. 30), acerca da forma, leciona que: “é o conjunto de

solenidades que se devem observar para que a declaração de vontade tenha

validade jurídica”.

Prossegue a autora afirmando que:

[...] é preciso ressaltar que, atualmente, não há rigorismo de forma, pois a simples declaração volitiva tem o condão de estabelecer o liame obrigacional entre os contraentes, gerando efeitos jurídicos independentemente da forma de que se revista, seja ela oral ou escrita (por meio de instrumento particular ou público), de tal sorte que o elemento formal, na seara contratual, constitui uma exceção nos casos em que a Lei exige para a validade do negócio, a observância de certa forma. (DINIZ, 2003, p. 30)

Finalizando, cabe ressaltar que a forma é um requisito excepcional, pois a Lei

impõe que determinados Contratos deverão ser escritos (solenes), sob pena de

nulidade.

44

3 DA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS AO CONTRATO PRELIMINAR

3.1 FASES DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

O Contrato forma-se a partir do encontro concordante de duas ou mais

declarações de vontade, pois a mesma é, antes de tudo, pressuposto existencial do

ato. (PEREIRA, 2003).

Deste modo, nada impede que apareça uma proposta de negócio e, em

seguida, uma aceitação imediata, formando-se assim, um negócio jurídico.

Caracteriza–se o Contrato pelo mútuo consenso entre duas ou mais pessoas

sobre o mesmo objeto. Entretanto, esse consenso somente é alcançado com a

manifestação da vontade dos contratantes, ou seja, com a exteriorização do

pensamento. (DINIZ, 2003).

Não se pode falar em Contrato se as partes não acordarem, ou seja, deverá

haver o acordo de vontades, pois este, além de requisito de validade, também

assume a condição de pressuposto existencial do próprio negócio. (PEREIRA,

2003).

Ressalta-se que o Contrato não nasce pronto depende de uma série de fases

para sua formação. “Apesar de uma proposta poder ser aceita e formar o Contrato

de imediato, em regra, incide às negociações preliminares, a proposta e a

aceitação”. (MATTE, 2001, p. 580).

Por esses motivos a formação do vínculo dos Contratos se divide em três

fases: negociações preliminares, proposta e aceitação.

A seguir será analisada cada uma delas.

3.1.1 Manifestação da Vontade

Antes da efetiva formação dos Contratos, ocorre o chamado período pré-

contratual, ou seja, o momento em que os futuros contratantes conversam, debatem,

formulam hipóteses acerca de seus interesses.

45

Diniz (2003, p. 76), discorre sobre esse período afirmando que é também

conhecido como negociações preliminares, ou seja:

Essas negociações preliminares nada mais são do que conversações prévias, sondagens e estudos sobre os interesses de cada contratante, tendo em vista o Contrato futuro, sem que haja qualquer obrigatoriedade nem qualquer vinculação jurídica entre os participantes.

São consideradas as primeiras manifestações das partes, conversas iniciais,

exposições a respeito do negócio futuro. É importante salientar que das negociações

preliminares não ocorrem direitos nem obrigações para as partes, pois o Contrato

ainda não foi firmado, mas as propostas precedentes ao Contrato demonstram a

intenção de contratar. (RODRIGUES, 2003).

Encontra-se expresso no art. 10713 do Código Civil que em regra geral os

Contratos poderão ser formados livremente, independentemente de forma.

Diante do exposto acima, pode-se definir que havendo o mútuo consenso das

partes, seja de forma expressa ou tácita, e atendidos os requisitos e pressupostos

legais, surgirá o vínculo contratual.

Destaca-se o entendimento de Pereira (2003, p. 37):

Não obstante faltar-lhe obrigatoriedade, pode surgir responsabilidade civil para os que participam das negociações preliminares, não no campo da culpa contratual, porém da aquiliana, somente no caso de um deles induzir no outro a crença de que o Contrato será celebrado, levando a despesas ou a não contratar com terceiros etc. e depois recuar, causando-lhe dano.

Rodrigues (2003, p. 69) trás sua visão sobre esse assunto e informa que:

Em rigor, se as partes se encontram ainda na fase de negociações preliminares, por definição mesmo não contratam, não havendo estabelecido, entre elas, desse modo, qualquer laço convencional. Pois, se lançaram mão de tais discussões vestibulares, foi justamente para decidir se lhes convinha ou não contratar. De maneira que, se no curso do debate uma delas apura o inconveniente do negócio, é justo que dele deserte, recusando-se a

13 Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. (BRASIL, 2006, p. 276).

46

prestar sua anuência definitiva. Nenhuma responsabilidade lhe pode daí advir, pois as negociações preliminares ordinariamente não obrigam os contratantes.

No entendimento de Venosa (2003, p. 516), dessas negociações preliminares

surge a chamada minuta, ou seja: “[...] a minuta, em regra, não obriga, mas serve de

subsídio para a interpretação do Contrato futuro. Pode também servir de base

probatória para o exercício da ação de indenização pelo rompimento injustificado

das tratativas”.

No mesmo sentido anota-se o entendimento de Diniz (2003, p. 77), que

salienta:

[...] apenas na hipótese de um dos participantes criar no outro a expectativa de que o negócio será celebrado, levando-o a despesas, a não contratar com terceiro ou alterar planos de sua atividade imediata, e depois desistir, injustificada e arbitrariamente, causando-lhe sérios prejuízos, terá, por isso, a obrigação de ressarcir todos os danos.

Para finalizar pode-se afirmar que antes de aceitar, uma das partes pode

pretender apenas obter informações, para saber se interessa ou não o Contrato.

Assim, indagações, apontamentos, minutas, visitas, contas, troca de cartas para

esclarecimentos, não vinculam as partes. O Contrato poderá ou não realizar-se.

(WALD, 2000).

3.1.2 Proposta

A proposta é o elemento inicial da formação do Contrato e corresponde a um

ato jurídico unilateral, por vincular unicamente a figura do proponente, também

denominado policitante - pessoa que formula uma proposta, no momento em que

demonstrar o interesse de contratar com a pessoa a quem se dirige a proposta

oblato, exibindo em quais termos pretende fazê-lo. (LOPES, 2001).

Rizzardo (2002, p. 33) resume seu entendimento afirmando que a proposta

vem a ser o primeiro momento no desenrolar dos atos que levam ao Contrato

47

propriamente dito.

[...] Uma das partes oferece a relação contratual pretendida a um possível interessado. É a mesma definida como a declaração de vontade dirigida a uma pessoa com quem se quer contratar. Denominada, também, policitação, visa solicitar a manifestação de vontade da outra parte, que se denominará aceitante, desde que a acolha e a aprove, a ela aderindo.

A proposta é a declaração de vontade dirigida a pessoa a qual se quer

contratar. Essa manifestação de vontade pode ser tácita, se a Lei não exigir que seja

expressa, e sua forma não dependera de uma forma especial. (GOMES, 2001).

Ainda que não haja Lei acerca dos requisitos da proposta, a mesma deve ser

clara e objetiva, devendo conter ainda, linhas estruturais do futuro negócio.

(PEREIRA, 2003).

A força vinculante da proposta esta disposta no art. 427, do Código Civil, in

verbis:

Art. 427 - A proposta do Contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. (BRASIL, 2006, p. 324)

Rodrigues (2003, p. 71) justifica esta determinação do legislador aduzindo

que:

Tal regra se firma na necessidade de assegurar a estabilidade das relações sociais. Com efeito, quem formula uma proposta de negócio provoca uma legítima expectativa junto à pessoa a quem a endereçou. De maneira que a possibilidade de retirar arbitrariamente a oferta representaria uma fonte de insegurança, capaz de causar prejuízo ao outro contratante, que, de boa-fé, acreditou na seriedade da proposição a ele apresentada. Por isso, a Lei impõe ao policitante o dever de manter sua proposta, sujeitando-o às perdas e danos em caso de inadimplemento.

Contudo, há casos em que a proposta deixa de ser obrigatória, pois o próprio

Código Civil traz, em seu art. 428 e incisos. Porém, há necessidade de se diferenciar

48

quando a proposta é efetuada a uma pessoa ausente ou a uma que se encontra

presente.

Art. 428 - Deixa de ser obrigatória a proposta: I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata pelo telefone ou por meio de comunicação semelhante; II – se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III – se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV – se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. (BRASIL, 2006, p. 324)

Nesta etapa faz-se jus que o proponente seja penalizado se retirar sua

proposta, salvo exceções acima descritas, pois neste momento já havia criado para

o oblato uma expectativa de contratar, tornando-se existente o vínculo contratual

entre as partes. Neste caso, o proponente deverá ser responsabilizado civilmente

pelos prejuízos sofridos pelo oblato, reparando-os na sua totalidade. (RODRIGUES,

2003).

Por derradeiro, ressalta-se que a proposta, quando revestida dos requisitos

essenciais, perde sua força obrigacional se não for aceita no prazo de validade.

3.1.3 Aceitação

A aceitação é a segunda etapa da fase decisória na celebração do Contrato,

na qual, o oblato manifesta sua vontade no sentido de concordar com a proposta

oferecida pelo proponente. Feita a proposta ao oblato, inicia-se a fase da aceitação.

Consiste a aceitação na concordância do oblato, no prazo previsto, sobre a proposta

recebida do policitante. (RODRIGUES, 2003).

Portanto, nada mais é que a concordância expressa ou tácita, a uma

proposta, ou seja, o oblato integra sua vontade na do policitante, surgindo assim o

Contrato.

“A manifestação expressa da vontade deve constar assim de algum escrito,

da palavra oral ou mesmo de um simples gesto; seja qual for, porém, a forma, há de

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ser peremptória14, inequívoca15, evidente e certa, mesmo porque o consentimento

não se presume”. (MONTEIRO, 2003, p. 14).

Prossegue o autor asseverando com relação à manifestação tácita:

O próprio silêncio pode traduzir um querer, pode ser erigido em manifestação da vontade. O brocardo, quem cala consente, não é rigorosamente exato do ponto de vista jurídico, mas em direito, o silêncio vale por anuência sempre que uma pessoa, interpelada por outra, possa e deva responder-lhe; se a pessoa interpelada se cala em tal situação, um silêncio pode ser interpretado como assentimento. (MONTEIRO, 2003, p. 14).

O escopo principal da aceitação é vincular as partes, tanto o aceitante como o

policitante, inseridos a um Contrato, assumindo direitos e obrigações. (VENOSA,

2003).

Neste contexto Pereira (2003, p. 40), giza que na aceitação:

[...] o solicitante dá anuência àquilo que lhe ofereceu o proponente. Expressa a concordância aos termos da proposta. Assim, de um lado a proposta representa o reflexo da vontade do ofertante, e de outro, a aceitação é o reflexo da manifestação da vontade do ofertado ou oblato. Ambas formam um todo íntegro das duas vontades, que se harmonizam em um fim contratual.

No entendimento de Diniz (2003, p. 61) os requisitos essenciais da aceitação

são:

1º) não exige obediência a determinada forma, pois, salvo nos Contratos solenes, a aceitação pode ser expressa, se o oblato declarar sua aquiescência; ou tácita, se um ato, inequívoco, do aceitante permitir concluir sua anuência à oferta; 2º) a aceitação deve ser oportuna, pois necessário se torna que ela seja formulada dentro do prazo concedido na policitação. A oferta pode ser sem prazo, caso em que persistirá até que haja retratação, antes de se expedir a aceitação; com prazo arbitrário, fixado pelo proponente, ou moral, se for necessário um prazo para reflexão ou que seja suficiente para que a resposta chegue ao conhecimento do

14 Perempção: Ato ou efeito de perimir, que é por termo a alguma coisa, extinguir. (CUNHA, 2005, p. 199). 15 Inequívoca: Diz respeito a algo certo, seguro, correto, que não dá margem a erro ou engano. (CUNHA, 2005, p. 147).

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ofertante. A aceitação só terá força vinculante quando manifestada tempestivamente. Fixado o prazo, o aceitante deverá responder antes que ele expire, sendo imprescindível que expeça sua resposta oportunamente. Se feita sem prazo, o policitante desligar-se-á se a resposta não chegar ao seu conhecimento após o decurso de tempo suficiente para tanto; 3º) a aceitação deve corresponder a uma adesão integral à oferta, nos moldes em que foi manifestada, pois o Contrato pressupõe a integração de duas ou mais vontades coincidentes; e 4º) A resposta deve ser conclusiva e coerente. Se for condicional, equivalerá a uma nova proposta, a não ser que o policitante já tenha anuído sobre a condição estabelecida.

Contudo, há duas hipóteses em que a aceitação deixará de gerar a

concretização do Contrato, e neste caso, desvinculará o proponente de qualquer

obrigação.

A primeira encontra-se inserida no art. 430 do Código Civil, in verbis:

Art. 430 – Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.

Portanto é quando o oblato expedir a aceitação tempestivamente, porém, por

qualquer motivo alheio à sua vontade, não chegar ao conhecimento do policitante no

prazo estipulado. Neste caso, estará este liberado pelo atraso involuntário desde

que comunique o fato imediatamente ao aceitante, e assim não tomará vida o

Contrato. Nada obsta, porém, que seja efetuada uma nova manifestação de

vontade. (VENOSA, 2003).

A segunda hipótese está descrita no art. 433, do Código Civil, onde

“Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao

proponente a retratação do aceitante”.

Para melhor assimilação em torno do tema, toma-se a lição de Diniz (2003, p.

72):

a) Momento de concretização entre presentes: encontrar-se-ão vinculadas no mesmo instante em que o oblato aceitar a oferta; só então o Contrato começará a produzir efeitos jurídicos; b) Momento de concretização entre ausentes: terá por base a teoria da agnição ou declaração, na sua segunda modalidade, isto é, da

51

expedição, a que se filiou o nosso CC, no art. 43416, estipulando que os Contratos por correspondência epistolar ou telegráfica, tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, desde que não se apresentem as exceções do art. 434, II e III, hipóteses em que se aplica a teoria da recepção.

Salienta-se que após a aceitação, sendo ela expressa ou tácita, dá-se à

conclusão do Contrato, que estará formado após o ato imediatamente subseqüente

à proposta, ou seja, quando houver resposta positiva a esta, que consiste

exatamente na aceitação

Assim sendo, considera-se concluído o Contrato tão logo o oblato emita a sua

aceitação à proposta. Entretanto, sobre qual se constituiu o momento exato da

conclusão de um Contrato há algumas divergências e teorias doutrinárias, as quais

serão apreciadas na seqüência.

3.1.4 Retratação

A retratação poderá ocorrer com o arrependimento do oblato, desde que seu

arrependimento ou retratação chegue ao conhecimento do policitante antes ou

juntamente com a aceitação. Este direito está preceituado no art. 433 do Código

Civil, visto anteriormente. (DINIZ, 2003).

Neste sentido entende Diniz (2003, p. 86) “dessa forma, tal retratação vem a

ser a recusa oportuna do negócio aceito, pois, se chegar tardiamente ao seu

destino, o remetente continuará vinculado ao Contrato”.

Nesse caso a aceitação deixará de gerar vínculo contratual, desligando-se o

policitante de qualquer obrigação, por não se ter coincidência de vontade das partes

contratantes, imprescindível para que o Contrato se conclua.

16 Art. 434. Os Contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2006, p. 325).

52

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Perante o Direito Civil brasileiro, os Contratos são suscetíveis de várias

classificações. Ademais, existe um grande número de Contratos permitidos que se

agrupam em várias categorias, submetendo-se à regulamentação de normas

idênticas ou afins.

É relevante o estudo da classificação dos Contratos para demonstrar suas

particularidades. Para Rodrigues (2003, p. 25), a finalidade da classificação dos

Contratos serve para “acentuar as semelhanças e dessemelhanças entre as

múltiplas espécies, de maneira a facilitar a inteligência do problema em estudo”.

A grande significância prática em classificar os Contratos está em que, para

cada tipo de Contrato há uma determinada conseqüência jurídica. (WALD, 2000).

Os Contratos são passíveis de várias classificações, assemelhando-se a um

fenômeno, ou seja, conforme o ângulo em que se colocar o jurista poderá classificá-

los de diversos modos. (DINIZ, 2003).

Adotar-se-á a classificação proposta por França (1969, apud DINIZ, 2003, p.

78) apenas com algumas alterações, por considerá-la a mais completa e

sistematizada.

A autora afirma que “para classificar os Contratos é necessário agrupar todas

as suas espécies, com caracteres comuns e pela uniformidade de seu regime, a

uma categoria estabelecida”.

Assim os Contratos se bipartem em:

a) Contratos considerados em si mesmos: quanto à natureza da obrigação entabulada; quanto à forma; quanto à sua designação; quanto ao tempo da execução; b) Contratos reciprocamente considerados. (DINIZ, 2003, p. 78).

Após, efetuada a referida divisão, passa-se à análise de suas peculiaridades

que os unem às várias categorias.

53

3.2.1 Os Contratos Considerados em si Mesmos

3.2.1.1 Quanto à natureza da obrigação entabulada

a) Contratos unilaterais e bilaterais:

Fala-se em unilaterais quando apenas um dos contratantes assume

obrigações em face do outro, apesar da necessidade de duas ou mais declarações

de vontade, como, por exemplo, na doação pura e simples. (DINIZ, 2003).

Gomes (2001, p. 71) assevera que “o Contrato é unilateral se, no momento

em que se forma, origina obrigação, tão-somente, para uma das partes – ex uno

latare”.

Já nos Contratos denominados bilaterais são os que, quando de sua feiúra,

conferem obrigações a todos os contratantes. Sua característica é o sinalagma, ou

seja, sua bilateralidade. O Contrato de compra e venda é um exemplo de Contrato

bilateral. (VENOSA, 2003).

Diz-se que cada um dos contratantes torna-se credor e devedor do outro, de

forma simultânea e recíproca, característica do sinalagma. (DINIZ, 2003).

b) Contratos onerosos e gratuitos:

No primeiro, as partes transferem direitos uma à outra, mediante determinada

vantagem. Segundo Diniz (2003, p. 82), “os Contratos a título oneroso são aqueles

que trazem vantagens para ambos os contratantes, pois estes sofrem um sacrifício

patrimonial, correspondente a um proveito almejado”. Como exemplo pode-se citar a

compra e venda, onde o promitente-comprador pagará um valor determinado para

obter o bem e o promitente-vendedor deverá outorgar a escritura.

Já nos Contratos Gratuitos, também denominados benéficos, são os que

oneram uma das partes e traz vantagem à outra, ou seja, “importam na redução do

patrimônio de um dos contratantes em benefício do outro”. (WALD, 2000, p. 217).

A doação pura e simples é um exemplo típico desta espécie de Contrato, eis

que, onde o donatário recebe alguma coisa do doador sem se vincular a qualquer

obrigação.

54

Apesar da grande probabilidade de um Contrato Bilateral ser oneroso e o

unilateral ser gratuito, sempre se deve atentar para as exceções, pois esta relação

não é absoluta. A importância da distinção entre Contratos a título oneroso e a título

gratuito reside na proteção da parte que procura uma vantagem, na proteção de

terceiros e também na possibilidade de se alegar a lesão superveniente. (DINIZ,

2003).

c) Contratos comutativos e aleatórios:

Assevera Diniz (2003, p. 89) há nos Contratos cumulativos a idéia de

equivalência de prestações “[...] cada contratante, além de receber do outro

prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar, de imediato, essa

equivalência”.

O Contrato de Compra e Venda de Imóveis é um dos exemplos deste tipo de

Contrato, pois o vendedor poderá verificar de imediato o valor que irá receber, e o

comprador, que lhe será transferido o Domínio do imóvel. (DINIZ, 2003).

Aleatório é o Contrato no qual uma ou ambas as prestações apresentam-se

incertas, porquanto a sua quantidade ou extensão fica na dependência de um fato

futuro e imprevisível, o que torna viável venha a ocorrer uma perda, ou um lucro

para uma das partes. (RIZZARDO, 2002, p. 59).

Nesta espécie de Contrato os contratantes não sabem ao certo, no momento

da celebração do Contrato, qual será a prestação devida, dependendo esta, de um

evento futuro e incerto, assumindo determinados riscos. Utiliza-se como exemplo o

seguro de vida, visto que o pagamento previsto somente será efetuado se a pessoa

contratante sofrer algum sinistro. O fato futuro, por sua vez, se dará

concomitantemente com a elaboração do Contrato, podendo os riscos se

manifestarem sobre a existência da coisa ou sobre a quantidade. (PEREIRA, 2003).

d) Contratos paritários e por adesão:

Esta divisão está voltada para um dos princípios fundamentais dos Contratos,

o da autonomia da vontade. Apesar de as partes acordarem acerca da coisa, nem

sempre será possível discutir as cláusulas contratuais, submetendo-se a parte mais

vulnerável às estipulações efetuadas pela outra. Em torno da possibilidade de

55

discutir as cláusulas ou não é que se configura a diferença entre os dois Contratos

(paritários e por adesão), porquanto as partes não se encontrarem no mesmo

patamar de igualdade. (DINIZ, 2003).

Nos Contratos paritários, as partes se posicionam no mesmo patamar de

igualdade, ante o princípio da autonomia da vontade, fazendo uso da fase

denominada de negociações preliminares, para discutir os pontos divergentes, se

houver, almejando uma manifestação livre e coincidente de duas ou mais vontades.

(RODRIGUES, 2003).

Rodrigues (2003, p. 44), assim se manifesta com relação ao Contrato de

Adesão, afirmando ser “aquele em que todas as cláusulas são previamente

estipuladas por uma das partes, de modo que a outra no geral mais fraca e na

necessidade de contratar, não tem poderes para debater as condições, nem

introduzir modificações, no esquema proposto”.

Os exemplos desta modalidade são os Contratos estabelecidos com bancos,

companhias telefônicas, água e saneamento, entre outros.

3.2.1.2 Quanto à forma

a) Contratos consensuais ou não solenes:

Na lição de Wald (2000, p. 226), o Contrato consensual “necessita tão

somente do consenso, ou seja, do mútuo acordo das partes, independendo, pois, de

forma especial ou da entrega de certos bens”.

Diniz (2003, p. 99) assim se manifesta com relação aos Contratos não

solenes, ensinando que a “ordem jurídica não exige, para que se aperfeiçoem,

senão o acordo das partes, não impondo, portanto, nenhuma forma especial para a

sua celebração”.

Pode-se concluir que para se concretizar os Contratos Consensuais e não

solenes basta a concordância das partes quanto à coisa e quanto ao objeto,

independentemente se este instrumento se dá de forma escrita ou verbal; ou seja, a

declaração de vontade não depende de forma especial, como, por exemplo, a

compra e venda de bens móveis.

56

b) Contratos formais ou solenes:

Encontra-se disposto no art. 104, III, do Código Civil que a validade do

negócio jurídico requer “forma prescrita ou não defesa em Lei”. Se não for

observada a exigência da forma, a sanção é, em princípio, a nulidade do Contrato.

De acordo com Venosa (2003, p. 414) os Contratos solenes são os quais

“cuja validade depende de observância de uma forma preestabelecida pela Lei”.

Em concordância com o disposto acima, colhe-se o entendimento de Diniz

(2003, p. 92) afirmando que os Contratos solenes ou formais “consistem naqueles

para os quais a Lei prescreve, para a sua celebração, forma especial que lhes dará

existência, de tal sorte que, se o negócio for levado a efeito sem a observância da

forma legal, não terá validade”.

c) Contratos reais:

Conforme Diniz (2003, p. 98), “o simples concurso de duas ou mais vontades

não tem o condão de estabelecer o vínculo contratual, que só se forma com tradição

efetiva do objeto do ato negocial, por ser requisito essencial à sua constituição”.

Na lição de Rodrigues (2003, p. 35), os Contratos reais “[...] são aqueles

ajustes que dependem, para seu aperfeiçoamento, da entrega da coisa, feita por um

contraente ao outro”.

Destarte, os Contratos reais se aperfeiçoam na presença da tradição, ou seja,

na entrega do objeto que constitui o Contrato.

3.2.1.3 Quanto à sua designação

a) Contratos nominados ou típicos:

Rodrigues (2003, p. 36) ensina que os Contratos nominados, também

conhecidos como Contratos típicos, “[...] são aqueles a que a Lei dá denominação

própria e submete as regras que pormenoriza”.

São aqueles Contratos que possuem denominação legal e regulamentação

em texto legislativo. Exemplo desta espécie de Contrato é a compra e venda e a

57

locação, que são disciplinados no Código Civil e também em Leis esparsas.

b) Contratos inominados ou atípicos:

Os Contratos Inominados ou Atípicos, ao contrário dos nominados, não têm

estrutura fixada em Lei, dependem somente da simples convenção de vontade das

partes para acordar os direitos e obrigações que decorrem do Contrato. Tudo em

conformidade com a Teoria Geral dos Contratos, prevista nos arts. 421 a 460 do

Código Civil. (RODRIGUES, 2003).

Nas palavras de Diniz (2003, p. 94) os Contratos inominados ou atípicos

afastam-se dos modelos legais, pois:

[...] não são disciplinados ou regulados expressamente pelo Código Civil ou por Lei extravagante, porém são permitidos juridicamente, desde que não contrariem a Lei e os bons costumes, ante o princípio da autonomia da vontade e a doutrina do número apertus, em que se desenvolvem as relações contratuais.

Como exemplo desta modalidade de Contrato se tem o Contrato de Leasing17,

pois reúne características dos Contratos de Locação e de Compra e Venda.

3.2.1.4 Quanto ao tempo de execução

a) Contratos de execução imediata:

Na visão de Rodrigues (2003, p. 38) os Contratos de execução imediata são

“os que se cumprem pela execução efetuada por ambas as partes num só momento,

como ocorre com a compra e venda a vista, com a permuta etc.”.

São aqueles Contratos que se realizam num único momento, não

apresentando maior duração. (WALD, 2000).

No Contrato de Compra e Venda, o vendedor outorga a Propriedade ao

comprador, que por sua fez paga o valor estipulado ao vendedor.

17 Leasing: Arrendamento mercantil. Negócio jurídico de arrendamento com opção de compra. (Lei n. 6.099/74). (CUNHA, 2005, p. 162).

58

b) Contratos de execução continuada:

Contratos de execução continuada são aqueles em que as partes devem

praticar ou deixar de praticar determinada conduta de forma reiterada no decurso do

tempo, sendo que o Contrato se conclui quando a prestação acordada terminar.

Estes Contratos, ao contrário dos primeiros, não se resolvem de imediato, sendo

que as prestações se dividem no tempo ou se executam continuamente.

(RODRIGUES, 2003)

Como exemplo pode-se observar o Contrato de locação, pois o pagamento

dos alugueres não libera as partes da obrigação, pois esta se mantém até que finde

o Contrato ou por acordo das partes.

3.2.2 Os Contratos Reciprocamente Considerados

a) Contratos Principais:

Os Contratos principais são aqueles que não dependem de outro Contrato

para ter existência plena e validade jurídica.

De acordo com Rizzardo (2002, p. 66), “[...] denominam-se os Contratos que

têm vida por si mesmos, não dependendo de outros. Constituem figuras típicas,

consagradas por Leis, e se expressam soberanamente em relação aos outros.”

A existência dos Contratos principais independe de qualquer outro Contrato,

ou seja, são autônomos, como, por exemplo, o Contrato de compra e venda.

b) Contratos Acessórios:

Estes Contratos “existem em função do principal e surge para lhe garantir a

execução”, conforme ensina Rodrigues (2003, p. 37).

Ressalta-se, porém, que os Contratos acessórios não são apenas os de

garantia, mas todos os que têm como pressuposto a existência de outro Contrato; ou

seja, somente existirá esta espécie de Contrato se houver um Contrato Principal.

(DINIZ, 2003).

Portanto, conclui-se que se o Contrato Principal for nulo ou extinto, o

59

Acessório também o será, em virtude deste depender daquele para sua existência.

O oposto não ocorre, pois, se o Acessório for nulo ou ineficaz, o Contrato Principal

não sofre qualquer contaminação pelo Acessório.

3.3 INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO

“Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo, atitude ou

gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o

sentido verdadeiro de uma expressão”. (RIBEIRO, 2002, p. 07).

A interpretação dos Contratos, diga-se enfaticamente, está sempre vinculada

à principiologia contratual. Interpretar é, antes de tudo, compreender e aplicar

princípios, é saber que princípio deverá ser aplicado a que caso concreto.

Interpretar um Contrato é dar um significado (ou procurar dar um significado)

ao seu conteúdo, no todo ou em parte, para assim, apurar os efeitos jurídicos que

ele possa produzir. (ROCHA, 2002).

Consiste em dar sentido às palavras, gestos, escritos, ou até mesmo o

silêncio (processo exterior), conforme a verdadeira intenção das partes (processo

interior), de modo a rearranjar esse desvio entre o que foi pensado e o que foi

expressado, de tal forma que possa conciliar a vontade de todos os participantes.

(BIERWAGEN, 2002).

O intérprete examinará o sentido gramatical das palavras e frases, os

elementos econômicos e sociais que cercaram a elaboração do Contrato, bem como

o nível intelectual e educacional dos participantes, seu estado de espírito no

momento da declaração etc. (VENOSA, 2003).

Toda norma jurídica, como toda manifestação de vontade, necessita de

interpretação, para que se saiba o seu alcance, sua significação a que situação se

estende, e quais os efeitos procurados pelos declarantes.

Como se vê, teoricamente, esta é a finalidade da interpretação do Contrato:

definir a vontade contratual objetivamente expressa nas cláusulas, tendo em vista

que o intérprete não pode se afastar da regra que manda interpretar as declarações

de vontade, atendendo-se mais à sua intenção do que ao sentido literal da

linguagem, a fim de determinar com precisão a efetiva vontade das partes. Aliás,

60

esta é a regra básica prevista no art. 112 do Código Civil: “Nas declarações de

vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal

da linguagem”.

Deste modo, deve então o hermeneuta, com base na declaração inicial do

contraente, procurar o verdadeiro alcance da vontade e, como dispõe o Código Civil

no artigo em epígrafe, dar destaque à vontade interna. (VENOSA, 2003).

Na verdade, não cabe mesmo ao legislador o papel de intérprete, que

incumbe à doutrina e à jurisprudência, diante do caso concreto.

3.3.1 A Interpretação da Lei e a Interpretação do Contrato

É importante salientar que a interpretação da Lei distingue-se da interpretação

do Contrato. Na interpretação da Lei o intérprete determina o sentido e o alcance da

Lei. Já na interpretação do Contrato, o intérprete terá como missão descobrir a

vontade concreta das partes, ou seja, terá de interpretar um comportamento

humano: a verdadeira intenção dos contratantes para posteriormente esclarecer o

sentido da declaração. (VENOSA, 2005).

Contudo na interpretação da Lei, o intérprete deve determinar o sentido e

alcance, enquanto na interpretação do Contrato, deve-se descobrir a vontade

concreta das partes.

Segundo Diniz (2003, p.77):

A interpretação do Contrato exerce, concomitantemente, função objetiva e subjetiva, pois além de analisar o ato negocial e suas cláusulas, deverá examinar a intenção comum das partes contratantes. Situa-se na seara do conteúdo da declaração volitiva, fixando-se em normas empíricas, mais de lógica prática do que de normação legal.

Para que a interpretação contratual seja, efetuada corretamente deve ser

analisado sua função objetiva e subjetiva, as quais serão estudadas a seguir.

61

3.3.2 Tipos de Interpretação

A interpretação do Contrato exerce, concomitantemente, função objetiva e

subjetiva, pois, além de analisar o ato negocial e suas cláusulas, deverá examinar a

intenção comum das partes contratantes. Situa-se na seara do conteúdo da

declaração volitiva, fixando-se em normas empíricas, mais de lógica prática do que

de normação legal. (PEREIRA, 2003).

No entendimento de Diniz (2003, p. 77) a interpretação divide-se em dois

tipos, as de caráter Subjetivo e as de caráter Objetivo.

A interpretação Subjetiva tem por fim a verificação da vontade real dos

contraentes, enquanto a interpretação objetiva visa a esclarecer o sentido das

declarações que continuem dúbias ou ambíguas por não ter sido possível precisar a

efetiva intenção das partes. (RODRIGUES, 2003).

Ao interpretar um Contrato, a fim de dirimir um litígio, o juiz tem de observá-

las como qualquer outro preceito legal.

A legislação brasileira deixou a tarefa da hermenêutica contratual, quase que

por inteiro, para a doutrina e a jurisprudência, referenciando sobre o assunto apenas

em alguns arts. do Código Civil, o art. 47 do Código do Consumidor, por exemplo,

estatui que os Contratos serão interpretados favoravelmente ao consumidor.

Por fim, cabe acrescentar que a interpretação contratual deverá ter como

base os valores consagrados na Constituição Federal, alicerce do ordenamento

jurídico. Ou seja, é, com fundamento na dignidade humana, na promoção do ser

humano, nos direitos fundamentais que se deve interpretar os Contratos.

3.4 TEMPO E LUGAR DO CONTRATO

Para o ordenamento jurídico brasileiro considerar-se-á celebrado o Contrato

no lugar onde a proposta foi expedida. Para provar tal afirmação, atente-se ao

contexto do art. 435 do Código Civil, “Reputar-se-á celebrado o Contrato no lugar em

que foi proposto”. (BRASIL, 2006, p. 325).

62

O lugar de celebração do Contrato na esfera do internacional privado é de

fundamental importância, pois dele depende além da apuração do foro competente a

determinação da legislação a ser aplicada na relação contratual. (DINIZ, 2003).

Com relação ao assunto tratado, encontra-se respaldo na Lei de Introdução

ao Código Civil – LICC, em seu art. 9º, Parágrafo 2º.

Art. 9º - Para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a Lei do país em que se constituírem. [...] Parágrafo 2º - A obrigação resultante do Contrato reputa-se constituída no lugar em que se residir o proponente. (BRASIL, 2006, p.1594).

O artigo do Código Civil define que será considerado celebrado o Contrato no

lugar em que foi proposto. No mesmo sentido, a LICC manda aplicar a Lei do país

em que reside o proponente.

No entendimento de Gagliano e Pamplona Filho (2005, p. 110), “tal regra,

longe de ser desnecessária, afigura-se útil, especialmente quando surgirem

questões atinentes à competência, ou quando o juiz tiver de analisar os usos e

costumes do lugar onde o negócio fora pactuado”.

Silveira (2003, p. 25) resume a questão relativa ao local da celebração do

Contrato aduzindo que, a “princípio, o Contrato forma-se no local em que é

celebrado, mas quando se realiza entre pessoas distantes, forma-se no local em que

foi proposto”.

Todavia, “ainda que as partes tenham celebrado o Contrato em determinado

local, podem, se a Lei não dispuser em contrário, estabelecer um foro de eLeição

diverso, no entanto, o local de formação do Contrato continua sendo o de sua

celebração”. (SILVEIRA, 2003, p. 25).

3.5 MOMENTO EM QUE SE TEM CONCLUÍDO O CONTRATO

No instante do aceite é que pode reputar-se concluído o Contrato. Sendo

assim, determinar com precisão este momento é de grande relevância para o

63

negócio jurídico, e conforme seja o Contrato, entre presentes ou ausentes, haverá

uma maneira peculiar de constatar sua conclusão. Neste ínterim é imprescindível

observar se o Contrato se fez entre presentes ou ausentes. (FÜHRER, 2005).

Para Venosa (2003, p. 521) Contrato entre presentes, “é aquele em que a

proposta e a aceitação ocorrem diretamente entre as partes ou seus

representantes”.

Feita a proposta entre presentes e esta não contendo prazo a aceitação

deverá ser imediata, pois do contrário deixará a proposta de ter força vinculante. Se

feita entre presentes, mas contiver prazo, a aceitação deverá ser proferida neste

prazo, sob pena da desvinculação do policitante. (FÜHRER, 2005).

No entendimento de Pereira (2003, p. 46) a questão de torna complicada

quando o Contrato é celebrado entre ausentes, cuja “peculiaridade é a ausência do

oblato, [...] porque o consentimento se não dá em um só instante, mas, ao revés a

adesão do aceitante justapõe-se à oferta com a intermediação de um lapso de

tempo, mais ou menos longo”.

Para estabelecer este momento, a doutrina edificou duas teorias explicativas,

quais sejam: a Teoria da Cognição e a Teoria da Agnição, desta última decorrem

três outras sub-teorias: a da declaração propriamente dita, da expedição e da

recepção. (FÜHRER, 2005).

Santos (2007, p. 01) pondera:

Com relação a Teoria da Cognição o Contrato só pode ter-se por formado quando o aceite chega ao conhecimento do proponente.Vale ressaltar, ainda, que se esta resposta for apresentada “fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, importará nova proposta” (CC, art. 431).

Esta teoria é muito criticada em virtude de que se reveste do “inconveniente

de deixar ao arbítrio do proponente abrir a correspondência e tomar conhecimento

da resposta positiva e geradora do ajuste”. (PEREIRA, 2003, p. 47).

Com relação a Teoria da Agnição, não há necessidade que a resposta do

aceitante chegue ao conhecimento do aceitante. Dela decorrem outras três sub-

teorias, quais sejam: a subteoria da declaração propriamente dita; a subteoria da

expedição e a subteoria da recepção. (SANTOS, 2007).

64

Segundo a subteoria da declaração propriamente dita, considera-se formado

o Contrato no momento em que o aceitante redigisse, datilografasse ou digitasse a

sua resposta positiva à oferta. (SANTOS, 2007).

No entendimento de Pereira (2003, p. 47), esta teoria “peca do defeito de

imprecisão, por não haver um meio certo de determinar o policitante quando o fato

ocorra”.

O ordenamento jurídico aceita a subteoria da expedição, segundo a qual não

basta a formulação da resposta feita pelo oblato, mas que este a envie ao policitante

transmitindo-a ou postando-a, presumindo-se então, que o oblato fez tudo o que

podia para conseguir externar sua aceitação. Não basta que a resposta favorável

seja escrita, é preciso remetê-la. (DINIZ, 2003).

Santos (2007, p. 03) analisa que:

Das três, esta é a que apresenta maiores exigências, visto que nela não basta que o aceitante tenha redigido uma resposta e expedido, precisa-se também que o oblato a tenha recebido. Não significa dizer, contudo, que o Contrato só será formado quando este tomar conhecimento do conteúdo da resposta, porém o será no instante do recebimento.

Na concepção de Gagliano e Pamplona Filho (2005, p. 116), é “mais segura

que as demais, pois a sua comprovação é menos dificultosa, podendo ser provada,

por exemplo, por meio do A.R. (aviso de recebimento) nas correspondências”.

Analisadas estas teorias e, uma vez confrontadas com as regras

estabelecidas no Código Civil, percebe-se que o legislador adotou a subteoria da

expedição, ao dispor, no art. 434, que:

Art. 434 - Os Contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I – no caso do artigo antecedente; II – se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III – se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2006, p. 325).

Santos (2007, p. 02) ressalta-se que o Código Civil contemplou três exceções

a esta teoria, as quais se encontram previstas nos incisos do referido dispositivo

65

legal, que se tratam das seguintes situações: “a) no caso de haver retratação do

aceitante; b) se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; e, c) se

ela não chegar no prazo convencionado”.

Para Diniz (2003, p. 90), não resta dúvidas de que “o Código Civil adotou a

subteoria da expedição, salvo as exceções mencionadas, em que se aplica a teoria

da recepção, o que, de todo, não descaracteriza o fato de aquela ser a regra geral”.

Essa posição só proporciona uma maior segurança jurídica e traz mais vantagens

aos contratantes, devido à sua facilidade probatória.

Finalizando, diz-se que a conclusão dos Contratos dar-se-á, entre presentes,

no mesmo instante em que se efetivar a aceitação do oblato, ao passo que, entre

ausentes, via de regra coincidirá com o momento em que a aceitação é expedida,

salvo as exceções contempladas nos incisos I a III do art. 434 do Código Civil.

3.6 CONTRATO PRELIMINAR

Quando duas pessoas querem celebrar um Contrato, normalmente passam

por aquelas fases a que se referiu anteriormente, ou seja: debatem os seus

interesses em negociações preliminares; uma delas formula a proposta; a outra

declara a sua aceitação, ou seja, aceita a proposta elaborada pelo policitande ao

oblato, dá-se existência ao acordo de vontades e em conseqüência a concretização

do Contrato, o qual poderá ser Principal (o Contrato propriamente dito) ou

Preliminar. (PEREIRA, 2003).

É admitida a existência deste tipo de Contrato no ordenamento jurídico e é

chamado Contrato Preliminar. Andréas Von Tuhr (1934 apud PEREIRA, 2003, p. 81)

conceitua o Contrato Preliminar como "aquele por via do qual ambas as partes ou

uma delas se comprometem a celebrar mais tarde outro Contrato, que será Contrato

Principal."

O Código Civil materializa o Contrato Preliminar estabelecendo em seu art.

462 que: “O Contrato Preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os

requisitos essenciais ao Contrato a ser celebrado". Assim, pode-se perceber

claramente que o Contrato Preliminar possui como objeto uma obrigação de fazer,

que é a celebração de outro Contrato. (BRASIL, 2006, p. 329).

66

Para o Contrato Preliminar os doutrinadores adotam denominações diversas,

como: pré-Contrato, promessa de Contrato, Compromisso de Compra e Venda ou

Contrato preparatório.

Esta espécie de Contrato surge com a impossibilidade de concretizar o

Contrato Principal de imediato, em conseqüência de algum impedimento ou em

virtude do que foi acordado. (RIBEIRO, 2002).

Pereira (2003, p. 81) faz um comentário sobre a diferença entre o Contrato

Preliminar e o Contrato Principal, da seguinte maneira: “[...] diferencia-se do

Contrato Principal pelo objeto, que no preliminar é a obrigação de concluir o outro

Contrato, enquanto que o do definitivo é uma prestação substancial”.

Prossegue o autor afirmando que também se distingue das negociações

preliminares, em que “estas não envolvem compromissos nem geram obrigações

para os interessados, limitando-se a desbravar terreno e salientar conveniências e

interesses, ao passo que o Contrato Preliminar já é positivo no sentido de precisar

de parte a parte o Contrato futuro.” (PEREIRA, 2003, p. 81-82).

Neste contexto enfatiza Rodrigues (2003, p. 40) sobre o motivo da enorme

difusão do Contrato Preliminar e sua difusão na vida moderna:

[...] se encontra na considerável utilidade prática que oferece, pois, não raro, convém às partes, a quem interessa um Contrato, adiar sua efetivação, sem risco de perdê-lo. Ora, lançado mão do Contrato Preliminar, asseguram os contratantes a possibilidade de ultimar oportunamente o negócio almejado, pois o ordenamento jurídico prestigia a convenção provisória, impondo o cumprimento da obrigação assumida.

Diniz (2003, p. 48) preceitua que:

O Contrato Preliminar, por sua vez, não é uma simples negociação ou tratativa, por ser um Contrato que tem por escopo delinear os contornos do Contrato definitivo que se pretende efetivar, gerando direitos e deveres para as partes, que assumem uma obrigação de fazer aquele Contrato final.

Com relação a forma do Contrato Preliminar pode-se afirmar que ela seja

livre, ou ente, pode ser elaborado por instrumento particular ou público, porém nele

67

devem ser estabelecidos os requisitos essenciais do Contrato Principal, como, por

exemplo, num Compromisso de Compra e Venda, entre outras coisas, a capacidade

das partes, a definição da coisa, o preço e até mesmo o direito de arrependimento.

(SILVA, 2003).

Necessário destacar nesse sentido o disposto no art. 1417 do Código Civil, in

verbis

Art. 1417 - Mediante Promessa de Compra e Venda em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador Direito Real à aquisição do imóvel. (BRASIL, 2006, 481).

Em regra, os Contratos Preliminares são irretratáveis. Porém, nada impede

que as partes convencionem o direito de arrependimento, que deverá ser estipulado

em cláusula específica. (RIBEIRO, 2002).

Em se tratando de bens imóveis, findo o pagamento total estipulado e os

tributos devidamente pagos pelo Compromissário Comprador, não havendo mais

nenhum impedimento, deverá o Compromitente vendedor outorgar a Escritura

Pública definitiva. Todavia, é necessário que este Compromisso esteja devidamente

Registrado em cartório competente para que confira o Direito de Seqüela, ou seja, o

efeito erga omnes. (SILVA, 2003).

Após estas considerações, seria prudente observar que o Contrato Preliminar

busca sempre a realização de um Contrato definitivo, sendo uma de suas maiores

características, por outro lado, pôde-se observar que o Contrato Preliminar não gera

efeitos como os que são produzidos em um Contrato definitivo. (RODRIGUES,

2003).

Por se tratar de um tema de extrema relevância, será devidamente analisado

no próximo capítulo, com a atenção e importância merecidas. Analisadas as

características do Contrato Preliminar, pode-se perfeitamente aplicá-las às suas

diversas modalidades, dentre elas a "Promessa de Compra e Venda", objeto de

estudo do trabalho monográfico.

68

4 DA CARACTERIZAÇÃO DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E

VENDA DE BENS IMÓVEIS

4.1 INTRODUÇÃO

Através das reiteradas evoluções que vem passando o ordenamento jurídico

brasileiro, decorrem com isso, no surgimento de novos Contratos típicos, que,

passam a adquirir certa importância prática e acabam por merecer maior estudo por

parte dos doutrinadores. (RIZZARDO, 2003).

Pode-se observar com relação ao Contrato de Compromisso de Compra e

Venda, pois surgiu como Contrato Preliminar e era chamado de promessa.

Significava somente um acordo de vontades pelo qual, as partes manifestavam sua

intenção de, no futuro, contratarem realmente. (BURIGO, 2005).

Com o tempo, sua aplicação para a pretensão de futuras aquisições de bens

imóveis foi crescendo em proporções razoáveis, mas permitindo aos vendedores de

má-fé o arrependimento a qualquer tempo, sem que o promitente comprador

pudesse garantir a futura alienação, restando-lhe apenas perdas e danos, o que

proporcionava muitos ganhos ao vendedor com a freqüente valorização dos imóveis.

(BURIGO, 2005).

Entretanto, a realidade social muito se alterou desde a época da vigência do

Decreto-Lei 58/37. Naquela ocasião, o objetivo maior assentava-se na proteção dos

promitentes compradores. Não havendo arrependimento no Compromisso de

Compra e Venda assinado, o Compromissário Comprador tem o direito de exigir do

vendedor a outorga da escritura definitiva, e não apenas a elaboração de novo

Contrato. Mais do que isto, admitiu-se que, estando o Contrato registrado no

Registro de Imóveis, adquire o Compromissário Comprador Direito Real sobre o

imóvel, com todas as suas conseqüências. (RIZZARDO, 2003).

Contudo, a evolução do Contrato de Compromisso de Compra e Venda de

Imóveis, não parou por aí. Adquirindo maior autonomia, e, quando não havia o

arrependimento, não mais se podia chamar Contrato Preliminar. Ressalta-se que o

Compromisso de Compra e Venda, assim constituído, sequer admite

arrependimento, cabendo este apenas na mera promessa. (BURIGO, 2005).

69

4.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Doutrinariamente, não se chegou a uma conclusão precisa quanto às origens

dessa figura jurídica, eis que não se reconhece identidade dela com qualquer dos

institutos do direito romano. (AWAD, 2006).

Foi com o surgimento da moeda que este Contrato ganhou força e hoje é a

mola motriz da movimentação do patrimônio, assim entendido “o sacrifício do

comprador e do vendedor, uma vez que aquele ao receber o bem da vida que

almejava das mãos do último, ao mesmo tempo se despoja de parte de seu

patrimônio, o dinheiro”. (RIBEIRO, 2002, p. 01).

A aquisição de bens imóveis através do Contrato de Compromisso de Compra

e Venda tornou-se comum principalmente em virtude da devastadora inflação que

assolou este País, provocando uma ascensão desenfreada dos preços, ocorrida a

partir da década de 30. Tal situação criou para o legislador um problema de difícil

solução. (RODRIGUES, 2003).

No entendimento de Rizzardo (2003, p. 15) a história deste instituto, dentro da

própria realidade brasileira, deu-se da seguinte maneira:

A Propriedade18 imóvel passou a ter maior importância quando o homem se urbanizou. Os loteamentos, através dos Contratos de Promessa de Compra e Venda, correspondem a uma forma de socialização da Propriedade. O fenômeno social fez-se sentir sobretudo com o desenvolver da Revolução Industrial. [...] No Brasil, as cidades desenvolveram-se desde a Revolução de 1930 quando apareceu a nova modalidade de comércio, ou seja, de venda de terrenos a prestações. Foi uma decorrência imposta pelas contingências econômicas das pessoas. O comprador não dispunha de condições para atender, de pronto, a soma exigida pelo vendedor; permitiu-se, então, que ele saldasse o preço em prestações, coadunadas ao seu poder econômico.

Em princípio, pela regra geral do Direito Civil, o compromitente vendedor,

após celebrar o Contrato de Compromisso de Compra e Venda, poderia desistir do

18 Propriedade: “[...] um direito, e este compreende o poder de agir de maneira diversa em relação à coisa, usando, gozando ou dispondo dela. Se todos estes atributos reunirem-se em uma só pessoa, pode-se dizer que neste caso tem-se a Propriedade em toda a sua plenitude. (PEREIRA, 2006, p. 92).

70

negócio, antes de passar a escritura definitiva ao Compromissário Comprador. Esta

possibilidade possuía amparo legal no Código Civil de 1916, em seu art. 1.088, que

permitia que a promessa se resolvesse em perdas e danos. (SILVA, 2003).

Conforme explica Diniz (2003, p. 300), a legislação evoluiu, consagrando a

promessa irretratável de compra e venda devidamente registrada, como um Direito

Real:

A fim de proteger o bem estar coletivo e a segurança da ordem social, coibindo essa série de abusos, o Decreto Lei n. 58, de 10 de dezembro de 1937, conferiu ao compromissário-comprador Direito Real sobre o lote compromissado, pondo termo às chamadas “arapucas” de vendas de imóveis loteados, em prestações, muitas vezes denominadas “loteamentos fantasmas”. Posteriormente esse decreto foi regulamentado pelo Decreto n. 3.079, de 15 de setembro de 1938, cujo art. 22 estendeu às escrituras de Compromisso de Compra e Venda de imóveis não loteados os efeitos da referida Lei. Com a Lei n. 649, de 11 de março de 1949, foi efetivamente criado o Direito Real de promessa de venda, alterando o art. 22 do Decreto- Lei n. 58/37, ao dispor em seu art. 1º que “os Contratos, sem cláusula de arrependimento, de Compromisso de Compra e Venda e cessão de direito de imóveis não loteados, cujo preço tenha sido pago no ato de sua constituição ou deva sê-lo em uma ou mais prestações, desde que inscritos a qualquer tempo, atribuem aos compromissários Direito Real oponível a terceiros, e lhes conferem o direito de adjudicação compulsória (com a modificação introduzida pela Lei n. 6.014, de 27-12-1973) [...].

Posteriormente surgiu a Lei n. 6.766 de 19 de dezembro de 1979, trazendo

elencado em seu art. 25 que: “São irretratáveis os compromissos de compra e venda

cessões e promessas de cessão, os que atribuam direito a Adjudicação Compulsória

e, estando registrados, confiram Direito Real oponível à terceiro”. (BRASIL, 1979).

A Promessa de Compra e Venda pressupõe o normal cumprimento das

obrigações perante o Direito Civil Brasileiro, visto que o Código Civil prevê no art.

463 que qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração definitiva, após

concluído um Compromisso de Compra e Venda. (RIZZARDO, 2003).

Essa evolução consolidou-se no Código Civil, que, “em seus art. 1417 e 1418,

fez previsão da Promessa de Compra e Venda irretratável, conferindo Direito Real

ao Promitente Comprador, bem a assim possibilidade de Adjudicação compulsória

para o caso de recusa de outorga de escritura por parte do promitente vendedor”.

(BEGALLI, 2003, p. 296).

71

Rodrigues (2003, p. 175) destaca que, tal evolução, ocorrida no direito

brasileiro, “veio a atender um reclamo de segurança nos negócios imobiliários,

impostos pela necessidade da prática”.

Destaca-se o asseverado por Diniz (2003, p. 302):

Assim, os compromissários-compradores têm, hodiernamente, Direito Real sobre o imóvel comprado, direito a adjudicação compulsória desde que adimplentes e desde que tenham os seus Contratos averbados no Registro de Imóveis, na forma da Lei, e, ainda, deverão ser constituídos em mora que – se não a purgarem – tenham rescindidos seus Contratos.

Pereira (2003, p. 23) afirma ainda que “os primeiros Contratos aos quais foi

atribuída maior relevância da vontade com relação ao ritual foram venda, locação,

mandato e sociedade”.

Ademais essa revisão histórica serve como base para a conceituação do

instituto em tela, haja vista ter-se compreendido quais anseios sociais impulsionaram

seu surgimento e alterações, que culminaram com a figura da Promessa Irretratável

de Compra e Venda, na forma e segundo preceitos legais que se observam nesta

conjectura.

4.3 CONCEITO

Atualmente, o Compromisso de Compra e Venda que pode ser feito por

simples instrumento particular, é um Contrato pelo quais as partes se comprometem

a efetuar um Contrato de Compra e Venda. Vale dizer, assim, que pelo

Compromisso de Compra e Venda uma das partes, o Compromissário Comprador,

se compromete a comprar um determinado bem, e a outra parte, o compromitente

vendedor, se compromete a vendê-lo. (SILVA, 2003).

As pessoas ao tentarem celebrar um Contrato, por vezes se deparam com

situações em que não possam dar por concluído desde logo esta celebração, seja

pelas condições impostas por uma das partes e aceita pela outra, seja pela

impossibilidade de preenchimento dos requisitos formais ou por qualquer outro

72

motivo que possa existir. Diante de algumas dessas impossibilidades, as partes

celebram um Contrato que recebe diversas denominações, tais como Compromisso

de Compra e Venda, promessa de venda, Contrato Preliminar ou até mesmo pré-

Contrato. (RIBEIRO, 2002).

O Compromisso de Compra e Venda também é conhecido rotineiramente sob

outras denominações: Promessa de Compra e Venda, Contrato Preliminar de

compra e venda, promessa bilateral de compra e venda. A Lei n. 6.766/79, que

tratou do parcelamento do solo urbano, consagrou a denominação Compromisso de

Compra e Venda. (SILVA, 2003).

O Código Civil atual refere-se à Promessa de Compra e Venda em seu art.

1417. As partes nesse negócio são o promitente, compromitente vendedor ou

cedente e promissário, Compromissário Comprador, compromissário adquirente ou

cessionário. (VENOSA, 2005).

A referida Lei n. 6.766/79 também trata do Contrato de Compra e Venda,

como uma garantia do credor. Vide artigos transcritos abaixo:

Art. 25 - São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados, confiram Direito Real oponível a terceiros. Art. 26 - Os compromissos de compra e venda, as cessões ou promessas de cessão poderão ser feitos por Escritura Pública ou por instrumento particular, de acordo com o modelo depositado na forma do inciso VI do Art. 18 e conterão, pelo menos, as seguintes indicações: [...] Parágrafo 6º - Os compromissos de compra e venda, as cessões e as promessas de cessão valerão como título para o Registro da Propriedade do lote adquirido, quando acompanhados da respectiva prova de quitação. (Incluído pela Lei n. 9.785, 29-01-99) Art. 27 - Se aquele que se obrigou a concluir Contrato de promessa de venda ou de cessão não cumprir a obrigação, o credor poderá notificar o devedor para outorga do Contrato ou oferecimento de impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de proceder-se ao Registro do pré Contrato, passando as relações entre as partes a serem regidas pelo Contrato-padrão. (BRASIL, 1979).

Assim, pode-se afirmar que a Promessa de Compra e Venda é um Contrato

onde o compromitente-vendedor obriga-se a vender um imóvel pelo valor, condições

e modos pactuados, comprometendo-se a outorgar a escritura de compra e venda,

ou "escritura definitiva" quando do adimplemento da obrigação. Ocorrendo a

73

satisfação da obrigação, o compromissário-comprador terá Direito Real sobre o

imóvel objeto do Contrato. (RIBEIRO, 2002).

Diniz (2003, p. 302) traz sua definição de Contrato de Compromisso de

Compra e Venda:

O compromisso ou promessa irretratável de compra e venda vem a ser o Contrato pelo qual o compromitente-vendedor obriga-se a vender ao compromissário-comprador determinado imóvel, pelo preço, condições e modos avençados, outorgando-lhe escritura definitiva assim que ocorrer o adimplemento da obrigação; por outro lado, o compromissário-comprador, por sua vez, ao pagar o preço e satisfazer todas as condições estipuladas no Contrato, tem Direito Real sobre o imóvel, podendo reclamar outorgada escritura definitiva, ou sua adjudicação compulsória, havendo recusa por parte do compromitente-vendedor. Do que se infere que esse novo Contrato aproxima-se do porquanto pré-contrato ou Contrato Preliminar de venda porque seu resultado prático é adiar a transferência de Domínio19

do bem compromissado até que o bem esteja totalmente pago, diferenciando-se dele, dá lugar a adjudicação compulsória.

A referida autora faz ressalva afirmando que, “não se trata de um Contrato

Preliminar, porque a adjudicação compulsória só é possível nas obrigações de dar e,

o que se observe nos Contratos preliminares, é que, geram tão-somente, obrigação

de fazer”. (DINIZ, 2003, p. 302).

Quando a autora anteriormente menciona que o Compromissário Comprador,

ao adimplir as obrigações constantes no Contrato, poderá reclamar a outorga da

Escritura Definitiva ou a sua Adjudicação Compulsória, o faz com fulcro nos artigos

463 e 464, do Código Civil assim exposto no texto legal:

Art. 463 - Concluído o Contrato Preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Art. 464 - Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao Contrato Preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. (BRASIL, 2006, p. 329).

19 Domínio: “É o Direito Real que vincula e legalmente submete ao poder absoluto da vontade de uma pessoa a coisa corpórea, na substância, acidentes e acessórias. É a Propriedade plena”. (NÁUFEL, 2000, p. 408).

74

Tal instituto, conforme o atual Código Civil abrange a compra e venda de

quaisquer tipos de imóveis, “[...] imóveis alienáveis, urbanos e rurais, loteados ou

não, edificados ou não”. (BEGALLI, 2003, p. 297).

No mesmo sentido é o entendimento de Venosa (2005, p. 330) afirmando

que:

[...] o Compromisso de Compra e Venda de Bem Imóvel com cláusula de irrevogabilidade difere do Contrato Preliminar quanto aos seus efeitos, uma vez que possibilita a adjudicação compulsória da coisa, desde que registrado junto ao cartório respectivo. [...] O Contrato Preliminar, por outro lado, tão somente acarreta a obrigação de celebração do Contrato definitivo, sob pena de indenização por perdas e danos (responsabilidade contratual decorrente da resolução).

Acresce-se ainda o entendimento de Rizzardo (2003, p. 237) que “o Contrato

de Promessa ou Compromisso de Compra e Venda tem por objeto uma prestação

de fazer, prestação esta consistente na celebração de outro Contrato, o definitivo”.

Seguindo a mesma linha de raciocínio Rodrigues (2003, p. 130) assevera que

“embora a Lei omita, este tipo de negócio deve ser celebrado por escrito, pois a

prova exclusivamente testemunhal não pode ser admitida em negócio jurídico cujo

valor ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em

que foram celebrados”.

Na colocação do autor acima, a forma escrita, apesar de não ser exigida de

forma expressa, encontra amparo de sua obrigatoriedade no artigo 227 do Código

Civil, in verbis:

Art. 227 - Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados (BRASIL, 2006, p. 297).

Tal afirmativa é correta, porém, a maior prova da obrigatoriedade desde tipo

de negócio ser elaborado de forma escrita encontra respaldo no artigo 463,

parágrafo único, “[...] Parágrafo único - O Contrato Preliminar deverá ser levado ao

Registro competente”. (BRASIL, 2006, p. 329).

75

Caso não seja realizado o referido Registro as partes ficarão desguarnecidas

dos efeitos contra terceiros. Ou seja, para haver o Registro de determinado

Contrato, conforme prevê o artigo acima citado, obrigatoriamente deverá ser ele

celebrado de forma escrita.

4.4 EFEITOS JURÍDICOS PROVENIENTES DO CONTRATO DE COMPROMISSO

DE COMPRA E VENDA DE BENS IMÓVEIS

4.4.1 Dos Bens Imóveis Registrados

Cabe neste item analisar brevemente os efeitos jurídicos provenientes do

Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis.

Primeiramente na visão de Ribeiro (2002, p. 36) o “Direito Real decorrente do

Registro do Compromisso de Compra e Venda de imóvel, loteado ou não, não é

irrestrito como a Propriedade. Ele produz efeitos jurídicos ou gera Eficácia real

contra terceiros, aí incluído o próprio compromitente vendedor”.

Confirmando o que foi exposto acima pelo autor, pode-se constatar através

do disposto no art. 1228 do Código Civil “o proprietário tem a faculdade de usar20,

gozar21 ou dispor da coisa22, e o direito de reavê-la23 do poder de quem quer que

injustamente a possua ou detenha”. Portanto, o Registro do Contrato de

Compromisso de Compra e Venda de bens imóveis assegura ao Compromissário

Comprador o mesmo rol de direitos consagrados ao proprietário, ou seja, direitos

reais. (BRASIL, 2006, p. 447).

O Compromitente vendedor ficará vinculado até que o Contrato de

20 Faculdade de usar: Consiste na faculdade de colocar a coisa a serviço do titular, sem modificação, na sua substância. (PEREIRA, 2006, p. 93). 21 Gozar e dispor da coisa: Envolve o poder de colher os frutos naturais e civis da coisa, bem como, de explorá-la economicamente, aproveitando seus produtos. (RODRIGUES, 2002, p. 78). 22 Dispor da coisa: Equivale ao direito de dispor da coisa ou poder de aliená-la a título oneroso (venda) ou gratuito (doação), abrangendo o poder de consumi-la e o poder de gravá-la de ônus (penhor, hipoteca, servidão etc) ou de submetê-la a serviço de outrem. (DINIZ, 2002, p.108). 23 Direito de reavê-la: Poder que tem o proprietário de mover ação reivindicatória para obter um bem de quem injustamente o detenha, em virtude de seu direito de seqüela, que é uma das características do direito real. (DINIZ, 1998, v. 2, p. 157).

76

Compromisso de Compra e Venda se resolva, ou seja, até a outorga da Escritura

Pública definitiva. Já o Compromissário Comprador por sua vez também não terá o

direito de dispor do bem até que o preço seja totalmente pago. (VENOSA, 2005).

A oponibilidade erga omnes é caracterizada pelo poder imediato da pessoa

sobre a coisa, ou seja, do Compromissário Comprador sobre o imóvel objeto do

Contrato. Esta garantia é exercida inclusive em face do Compromitente vendedor.

(DINIZ, 2003).

Ensina Rizzardo (2003, p. 246) que:

Em caso de sucessão ‘causa mortis’, ou por ato ‘inter vivos’, ou por disposição testamentária, o adquirente permanece responsável por todas as obrigações existentes, quer na outorga das escrituras definitivas, quer na indisponibilidade dos bens. [...] O adquirente fica sub-rogado nos direitos e nas obrigações dos alienantes, autores da herança ou testadores, tornando-se nula qualquer disposição em contrário.

Quanto aos efeitos do Direito de Seqüela, este garante que o Compromissário

Comprador possa buscar o imóvel onde quer que se encontre, ou seja, poderá

perseguir o imóvel vinculado ao Contrato de Compromisso de Compra e Venda onde

estiver, cabendo ação contra quem o detenha ou possua. (VENOSA, 2005).

O Compromissário Comprador terá direito à Imissão na Posse do imóvel

mesmo estando o Domínio sob poder do Compromitente vendedor. Este Domínio

torna-se limitado a partir do momento que se celebra o Contrato de Compromisso de

Compra e Venda, pois vai se extinguindo no transcorrer do adimplemento das

obrigações, passando do Compromitente vendedor para o Compromissário

Comprador. (RIZZARDO, 2003).

Porém, apesar do Compromissário Comprador não dispor do bem, poderá ele

ceder os direitos e as obrigações constantes no Contrato.

O Compromissário Comprador poderá efetuar uma cessão dos direitos a um

terceiro. Porém há necessidade de analisar as conseqüências advindas de uma

cessão de direitos efetuada com a anuência e sem anuência do Compromitente

vendedor. (DINIZ, 2003).

Por fim, há de ser mencionado o efeito da Ação de Adjudicação Compulsória

que tem finalidade coativa de fazer cumprir o estipulado no Contrato de

Compromisso de Compra e Venda, ou seja, a outorga da Escritura Pública definitiva.

77

(AWAD, 2006).

Conforme já mencionado acima, todo Contrato de Compromisso de Compra e

Venda de Bens Imóveis tem por objetivo a execução do Contrato Principal, ou seja,

o Contrato de compra e venda propriamente dito, que se perfaz através da Escritura

Pública definitiva.

4.4.2 Dos Bens Imóveis não Registrados

Podem as partes, ao realizarem o Contrato de Compromisso de Compra e

Venda de Bens Imóveis, convencionarem obrigações que deverão ser cumpridas

posteriormente, mas, se caso não efetuarem imediatamente a Escritura Pública, seja

por qualquer razão, e se, por qualquer motivo, não for efetuado o Registro deste

compromisso, é que faz vir à tona o questionamento no tocante às garantias

provenientes deste instrumento. (RIZZARDO, 2003).

Caso este fato venha a se concretizar pode o Compromissário Comprador

intentar a Adjudicação Compulsória, ou seja: ”Se os Contratos devem ter por destino

final o seu cumprimento na forma convencionada e se foram celebrados em

conformidade com a ordem jurídica, ainda que desprovidos de Eficácia erga omnes,

deverão os ajustes atingir aquele fim precípuo”. (RIBEIRO, 2002, p. 67).

O citado autor toma como base para sua asserção os arts. 63924 e 64125, do

Código de Processo Civil, ou seja, apesar do Compromissário Comprador estar

desprovido do Direito Real sobre o Bem Imóvel em decorrência da falta do Registro

do instrumento em cartório competente, não obsta que este faça prevalecer seus

direitos através da Adjudicação Compulsória para suprir a omissão do

Compromitente vendedor, sendo necessário, porém, que não haja cláusula de

arrependimento e tenha ocorrido o devido adimplemento do preço estipulado.

(RIBEIRO, 2002).

24 Art. 639. Se aquele que se comprometeu a concluir um Contrato não cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído pelo título, poderá obter uma sentença que produz o mesmo efeito do Contrato a ser firmado. (BRASIL, 2006, p. 354). 25 Art. 641. Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. (BRASIL, 2006, p. 354).

78

4.5 PECULIARIDADES DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E

VENDA E BENS IMÓVEIS

O Contrato de Compromisso de Compra e Venda é suscetível de várias

peculiaridades, a seguir serão ressaltadas as mais usuais.

Com relação à divisão, o Contrato de Compromisso de Compra e Venda é

definido entre os Contratos considerados em si mesmos como um Contrato bilateral,

oneroso, comutativo, paritário, nominado e de execução diferida. Já, entre os

Contratos reciprocamente considerados, define-se este como um Contrato

assessório. (DINIZ, 2003).

É bilateral em decorrência de ambas as partes contratantes assumirem

obrigações. Ou seja, os Contratos de compra e venda o vendedor tem a obrigação

de entregar a coisa vendida ao comprador, uma vez recebido o pagamento do

preço, pois é credor do preço, ao passo que o comprador se obriga a pagar o preço

ajustado, tendo o direito de receber objeto que comprou. (FUHRER, 2005).

“É oneroso porque ambas as partes obtêm vantagem econômica. Para o

comprador, o direito de receber a coisa; para o vendedor, o direito de obter soma em

dinheiro, o preço”. (VENOSA, 2005, p. 29).

A característica de comutativo emana da certeza das partes conhecerem seus

ônus e suas vantagens no momento da conclusão do Contrato, ou seja, o conteúdo

de sua prestação. Portanto, cada contratante se obriga a dar ou a fazer algo que é

considerado como equivalente àquilo que lhe dão ou que lhe fazem. (DINIZ, 2003).

Também é o Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Imóveis um

Contrato paritário, pois as partes possuem autonomia para estipular ajustes e

condições acerca das cláusulas contratuais, não ficando restritos apenas a

concordar ou discordar, como ocorre no Contrato de Adesão. (FÜHLER, 2005).

Ademais, pode-se afirmar que o Contrato de Compromisso de Compra e

Venda, quanto a sua forma classifica-se em formal ou solene, ou seja, o Código Civil

traz em seu artigo 462 que “o Contrato Preliminar, exceto quanto à forma, deve

conter todos os requisitos essenciais ao Contrato a ser celebrado”, possibilitando

assim que o Contrato Preliminar seja realizado por instrumento particular. (BRASIL,

2006, p. 329).

Entretanto, para surtir efeito erga omnes será necessário que o Contrato de

79

Compromisso de Compra e Venda (Contrato Preliminar) seja registrado em Cartório

competente, conforme previsto no art. 46326, Parágrafo único, do Código Civil, ou

seja, não há como efetuar tal ato se este não for escrito, logo, depende de

determinados requisitos formais para sua validade. (VENOSA, 2005).

Por estar disciplinado legalmente no ordenamento jurídico brasileiro o

Contrato de Compromisso de Compra e Venda é classificada como Contrato

nominado ou típico. (FÜHLER, 2005).

Quanto ao tempo de sua execução, pode-se considerar o Contrato de

Compromisso de Compra e Venda como sendo um Contrato de execução diferida,

ou seja, pois como já mencionado acima, a prestação de uma das partes não se dá

de uma só vez, persistindo a obrigação até o momento de se completar a extinção

da obrigação. (BRUNO, 2002).

Finalmente, quanto à classificação dos Contratos reciprocamente

considerados, o Contrato de Compromisso de Compra e Venda, apesar de possuir

características de Contrato Definitivo, se insere no contexto de Contrato Acessório,

pois seu conteúdo consiste fundamentalmente numa obrigação de contratar. Sua

finalidade é dar origem a um Contrato Principal, que se trata do Contrato de Compra

e Venda propriamente dito. (BRUNO, 2002).

4.6 DESFAZIMENTOS DA RELAÇÃO CONTRATUAL

4.6.1 Considerações Gerais

O vocábulo extinção provém do latim extinctio, onis ou exstinctio, onis (que

quer significar supressão, destruição, morte, apagamento), do verbo extinguo ou

extingho, is, tinxi, tinctum, ere (extinguir, apagar, destruir, esgotar, matar, exceder),

26 Art. 463 - Concluído o Contrato Preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único - O Contrato Preliminar deverá ser levado ao Registro competente. (BRASIL, 2006, p. 329).

80

derivado de ex (prefixo) acrescido do verbo stingho, is, stinxi, stinctum, ere, com o

mesmo significado do anterior. (CUNHA, 2005).

Desse sentido etimológico, portanto, a extinção do Contrato se dá quando se

opera o seu desaparecimento no mundo jurídico, pois ao contrair uma obrigação através

do Contrato, as partes, desde o início, visam o seu término, através do cumprimento das

obrigações contraídas, mesmo que não seja fixado um prazo para o cumprimento.

(SAMPAIO, 2002).

Como não existe concordância na doutrina acerca dos termos extinção,

resolução, resilição, rescisão, revogação, adotar-se-á primeiramente a noção de

desfazimento, que englobrará todos estes institutos. (VENOSA, 2005).

4.6.2 Causas de Dissolução do Contrato Anteriores ou Contemporâneos à sua

Formação

Quando a dissolução dos Contratos não acontece naturalmente, pela simples

quitação, elas podem se extinguir por motivos anteriores ou contemporâneos a sua

formação; ou em razão de causas posteriores ou supervenientes a sua criação.

(DINIZ, 2003).

Prossegue a autora afirmando que a extinção dos Contratos por motivos

anteriores ou contemporâneas a sua celebração, procede-se de várias maneiras:

nulidade, condição resolutiva e direito de arrependimento.

Toma-se os ensinamentos de Diniz (2003, p. 152) com relação a nulidade dos

Contratos, que é “a sanção por meio da qual a Lei priva de efeitos jurídicos o

Contrato celebrado contra os preceitos disciplinadores dos pressupostos de validade

do negócio jurídico”.

A nulidade é absoluta quando o negócio jurídico não produz efeito jurídico.

Caso tenha produzido efeitos no mundo fático, “o reconhecimento judicial tem

Eficácia ex tunc27, isto é, retroativa, retroagindo até a data da celebração do negócio

nulo.” (VENOSA, 2005, p. 228).

Prossegue o autor afirmando que “quando se trata de anulabilidade,

presentes os vícios de vontade (erro, dolo ou coação), ou vícios sociais (fraude 27 Ex tunc: Expressão latina que significa “desde então”. (FONTANELLA, 2003, p. 155).

81

contra credores, não se esquecendo da lesão), os efeitos operam ex nunc, ou seja,

uma vez anulado judicialmente, essa decisão tem eficácia a partir do momento em

que foi prolatada. (2005, p. 228).

Ainda sobre nulidades é importante ressaltar, que tanto a relativa, quanto a

absoluta só tem repercussão se forem decretadas judicialmente; caso contrário

surtirá efeitos aparentemente querido pelas partes. (PEREIRA, 2003).

Outra forma de desfazimento do Contrato chama-se Cláusula Resolutiva, que

prevê hipótese onde poderá ocorrer o término da relação contratual, esta pode ser

tácita ou expressa. (VENOSA, 2005).

Já o direito de arrependimento pode ser estabelecido pela vontade das

partes, no Contrato, ou por Lei. Em se tratando de um arrependimento derivado de

cláusula contratual, “o seu exercício deve ter lugar dentro no prazo estipulado, ou, se

tal não houver sido previsto, antes da execução do Contrato, pois o adimplemento

deste importa em renúncia tácita ao arrependimento”. (DINIZ, 2003, p. 182).

Encontra-se previsto no art. 420 do Código Civil que “se no Contrato for

estipulado o direito de arrependimento de qualquer da partes, as Arras ou o Snal

terão função indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á, mais o

equivalente”. (BRASIL, 2006, p. 323).

Por outro lado o art. 49 da Lei n. 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor

assevera que: “O consumidor pode desistir do Contrato, no prazo de 07 (sete) dias a

contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre

que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do

estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio”. (BRASIL,

1990)

Como pode ser visto estas modalidades de arrependimento são derivas de

Lei, ou seja, encontram-se disciplinadas no ordenamento jurídico brasileiro.

4.6.3 Causas de Dissolução do Contrato Supervenientes à sua Formação

A dissolução do Contrato superveniente à sua criação verificar-se-á por: a)

resolução, que se liga ao inadimplemento contratual, caso em que se terá resolução

por inexecução voluntária ou involuntária do Contrato, por onerosidade excessiva,

82

etc.; b) resilição, que é o modo de extinção do ajuste por vontade de um ou dos dois

contratantes, por razões que variam ao sabor de seus interesses, podendo ser,

portanto, unilateral ou bilateral; e c) pela morte de uma das partes contratantes, se o

Contrato for intuitu personae28. (DINIZ, 2003).

4.6.3.1 Resilição bilateral ou distrato

Porém, nem sempre o Contrato de Compromisso de Compra e Venda

percorre todo seu ciclo de existência, ou seja: o nascimento com mútuo consenso

das partes; o período de adimplemento de obrigações; e, ao final, a outorga da

escritura definitiva. Isso ocorre em decorrência de alguma hipótese que impeça a

conclusão do Contrato. Neste caso, ocorrendo algum motivo inerente aos interesses

das partes, cabe a elas extinguir o Contrato através da resilição voluntária, ou

dissolução por mútuo consenso. (PEREIRA, 2003).

A resilição bilateral ou distrato é prevista pelo art. 47229 do Código Civil, a Lei,

no entanto, determina que deva adotar a mesma forma que se utilizou para

contratar. Também chamada por muitos doutrinadores como distrato, salienta-se

que ela é a única espécie de resilição voluntária admitida para extinguir o

compromisso. (RIZZARDO, 2003).

Diniz (2003, p. 159) assim a define:

A resilição bilateral ou distrato vem a ser a dissolução do vínculo contratual, deliberada por ambos os contratantes. O distrato, portanto, é um negócio jurídico que rompe o vínculo contratual, mediante a declaração de vontade de ambos os contratantes de pôr fim ao Contrato que firmaram.

Diante da declaração bilateral das partes de distratar o que foi estipulado no

compromisso, ficarão ambos, Compromitente vendedor e Compromissário

Comprador, liberados das obrigações advindas deste compromisso.

28 Intuitu personae: Expressão latina que significa “o que se faz tendo em vista a pessoa”. (CUNHA, 2005, p. 153). 29Art. 472 - O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. (BRASIL, 2006, p. 330).

83

Ou seja, sendo o Contrato de Compromisso de Compra e Venda considerado

um Contrato formal, exigido por Lei a sua devida inscrição em cartório competente

(art. 46330, parágrafo único, do Código Civil), deverá se restringir às normas para

sua validade. (RIZZARDO, 2003).

Apesar da declaração de vontade ser bilateral, o distrato, em regra, produz

efeito ex nunc, ou seja, o rompimento do vínculo contratual só produzirá efeitos a

partir do instante de sua celebração, não atingindo os direitos de terceiros que por

ventura tiverem adquiridos ou as conseqüências passadas, devendo ser

respeitados. (DINIZ, 2003).

4.6.3.2 Resilição unilateral

Apesar de existir nos Contratos a figura da obrigatoriedade da convenção, ou

seja, impossibilidade de rompimento do estipulado por apenas uma das partes, tem-

se admitido a resilição unilateral, com fulcro no artigo 47331 do Código Civil, em

casos excepcionais. (VENOSA, 2005).

A resilição unilateral possui caráter de exceção por força do princípio da

obrigatoriedade do Contrato. O comodato, o mandato, o depósito por sua própria

etiologia admitem tranquilamente a resilição unilateral. Posto que são Contratos

unilaterais e, por vezes, até bilaterais imperfeitos. São admitidas apenas nas

seguintes hipóteses: a) nos Contratos por tempo indeterminado; b) nos Contratos de

execução continuada; c) nos Contratos cuja execução não tenha começado; d) nos

Contratos benéficos; e) nos Contratos de atividade. (SILVEIRA, 2003).

Como o Contrato de Compromisso de Compra e Venda não se enquadra em

nenhuma das hipóteses acima mencionadas, fica evidente que este não poderá ser

extinto por meio da resilição unilateral, motivo pelo qual não será aprofundado o

estudo de tal hipótese, pois não tem enfoque sobre o tema em tela. (SILVEIRA,

2003).

30 Art. 463 - Concluído o Contrato Preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. (BRASIL, 2006, p. 329). 31 Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. (BRASIL, 2006, p. 330).

84

4.6.3.3 Resolução

Nos Contratos bilaterais ou sinalagmáticos, independentemente da espécie,

sempre haverá a possibilidade de uma das partes ficarem inadimplente com as suas

obrigações, podendo a parte prejudicada exigir a resolução. (RODRIGUES, 2003).

Leciona Silveira (2003, p. 53) que a “resolução é o modo de extinção do

Contrato promovido por um dos contratantes face ao inadimplemento, culposo ou

não, do outro”, ou seja, poderá se dar por inexecução voluntária ou por inexecução

involuntária.

Diniz (2003, p. 163) faz a diferença entre estas duas modalidades de

resolução, conforme descreve a seguir:

Operar-se-á a inexecução voluntária do Contrato se houver: inadimplemento culposo do Contrato por parte de um dos contratantes, dano causado ao outro e nexo de causalidade entre o comportamento ilícito do agente e o prejuízo. Essa resolução produzirá efeitos ex tunc, se tratar de Contrato de execução única, e ex nunc, se o Contrato for de duração continuada; não atingirá os direitos creditótios de terceiros, adquiridos médio temporis; sujeitará o inadimplemento ao ressarcimento das perdas e danos, abrangendo o dano emergente e o lucro cessante. [...] Se a total inexecução contratual se der por força maior ou caso fortuito (involuntariamente), a resolução do Contrato operar-se-á de pleno direito, sem ressarcimento das perdas e danos, porém haverá intervenção judicial para compelir o contratante a restituir o que recebeu e responsabilidade do devedor pelos danos causados, se estiver em mora.

Ficará a parte faltosa responsável pelo pagamento de perdas e danos,

efetuando o devido ressarcimento à outra parte, caso o descumprimento das

obrigações tenha sido decorrente de culpa, resultando na resolução do Contrato de

Compromisso de Compra e Venda. Não sendo possível imputar a culpa a qualquer

das partes, não poderá se falar em ressarcimento por perdas ou danos. (GOMES,

2001).

Prevê o art. 475 do Código Civil que:

A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do Contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em

85

qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. (BRASIL, 2006, p. 331).

Conforme se observou através do disposto no artigo a cláusula resolutiva

tácita tem seu alcance a todos os Contratos. Com relação à expressa é a que foi

inserida pelas partes no próprio Contrato.

Diniz (2003, p. 163) ressalta sobre a base da cláusula resolutiva, podendo

esta ser tácita ou expressa, ou seja:

A tácita está prevista no CC, art. 475, que a subtendem em todos os Contratos sinalagmáticos, para o caso em que um dos contratantes não cumpra sua obrigação, autorizando o lesado pela inexecução a pedir judicialmente a rescisão contratual e a indenização das perdas e danos. Todavia, nada obsta que os contratantes ajustem, expressamente, a condição resolutiva, caso em que a rescisão contratual operar-se-á de pleno direito, sem necessidade de interpelação judicial, sujeitando o faltoso às perdas e danos, desde que o devedor esteja em mora (CC, arts. 474, 1ª parte, 127 e 128).

Todavia, o posicionamento transcrito acima, adotado pela autora, possui seu

alicerce no artigo 474, 1ª parte, do CC, como mencionado acima, não sendo

necessária interpelação judiciária, necessitando desta apenas as hipóteses de

resolução tácita (art. 474, 2ª parte, do CC). (DINIZ, 2003).

4.6.3.4 Exceção de Contrato não cumprido

O art. 476 do Código Civil destaca a exceção de Contrato não cumprido

conforme pode ser observado através da analise que será efetuada a seguir:

Art. 476 - Nos Contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. (BRASIL, 2006, p. 331).

86

O princípio exceptio non adimpleti contractus, que significa exceção do

Contrato não cumprido, decorrente da dependência recíproca das relações

obrigacionais assumidas pelas partes, é exercido pelo contratante cobrado,

recusando-se à sua exigibilidade (satisfazer a sua obrigação) por via da exceção do

Contrato não cumprido; quando a ela instado, invoca o inadimplemento da obrigação

do outro. (RIZZARDO, 2003).

Rodrigues (2003, p. 85) leciona sobre a exceção do Contrato não cumprido

asseverando que:

Como toda exceção, trata-se de um meio de defesa processual. Enquanto a ação representa, processualmente falando, um meio de ataque, a exceção é sempre um instrumento de defesa, invocado pelo réu, para paralisar a investida do autor [...] Além de recíprocas, é mister que as prestações sejam simultâneas, pois, caso contrário, sendo diferente o momento da exigibilidade, não podem as partes invocar tal defesa.

Diniz (2003, p. 164) leciona o exemplo do Contrato de compra e venda à

vista, “onde o dever de pagar o preço e o de entregar a coisa estão ligados”.

Simultaneamente, o comprador deve pagar o preço e o vendedor entregar a coisa,

portanto, se o comprador não pagar, o vendedor poderá se recusar em entregar a

coisa.

Já o art. 477 do Código Civil trata da exceção nos Contratos já concluídos

estabelecendo que:

Art. 477. Se, depois de concluído o Contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se a prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. (BRASIL, 2006, p. 331).

O permissivo legal de exceção assegura ao devedor subtrair-se à obrigação

que lhe cabe, em primeiro lugar, quando a outra sofrer diminuição em seu patrimônio

capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou.

(PEREIRA, 2003).

87

4.6.3.5 Resolução por onerosidade excessiva

Normalmente, na celebração de um Contrato, as partes levam em

consideração as condições econômicas e sociais da época além de suas previsíveis

variações futuras, entretanto, acontecimentos imprevisíveis podem desequilibrar a

relação contratual.

Surge daí a Teoria da Imprevisão que consiste no reconhecimento de que

eventos novos, “imprevistos e imprevisíveis pelas partes e a elas não imputáveis,

onerosos, retardadores ou impeditivos da execução do Contrato, autorizam a sua

revisão para ajustá-lo às circunstâncias supervenientes”. (GUIMARÃES, 1999, p.

521).

Assim sendo o Código Civil, em seu art. 478, estabelece que:

Art. 478. Nos Contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do Contrato. Os efeitos da sentença que decretar retroagirão à data da citação. (BRASIL, 2006, p. 331).

Esta espécie de extinção contratual, apesar de não ser citada diretamente por

alguns doutrinadores, é de suma relevância para o direito brasileiro, sendo que o

próprio legislador, observando sua aplicabilidade, resolveu discipliná-la, trazendo

expressamente disposta no art. 478 citado acima e o art. 48032, do Código Civil.

Quanto à resolução por onerosidade excessiva, cumpre destacar que em todo

Contrato há previsão de lucro ou prejuízo. O direito não pode restar insensível as

vicissitudes que constritas ao lícito, podem afetar a execução do Contrato.

(PEREIRA, 2003).

A teoria tornou-se conhecida como cláusula rebus sic stantibus33 e consiste,

resumidamente, em presumir nos Contratos comutativos, uma cláusula implícita,

segundo a qual os contratantes estão adstritos ao seu cumprimento rigoroso, no 32 Art. 480. Se no Contrato as obrigações couberem a apenas tenha das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. (BRASIL, 2006, p. 332) 33 Rebus sic stantibus: Expressão latina que significa “Permanecendo as coisas como estavam antes”. (FONTANELLA, 2003, p.189).

88

pressuposto de que as circunstâncias ambientes se conservem inalteradas no

momento da execução, posto que idênticas àquelas que vigoravam na ocasião da

celebração contratual. (VENOSA, 2005).

Ressalta-se, no entanto, que a rescisão por onerosidade excessiva só é

cabível exclusivamente nos contratos comutativos, ou seja, quando há certeza da

prestação de ambas as partes e, mesmo que subjetivamente, há equivalência entre

a prestação e a contraprestação, podendo as partes apreciar, de imediato, essa

equivalência. Exemplificando: no Contrato de Compromisso de Compra e Venda de

bens imóveis, no momento que contratam, as partes têm o absoluto conhecimento

de suas obrigações e direitos, sendo plenamente mensuráveis. Neste caso, havendo

uma alteração profunda nas condições objetivas da execução contratual pactuadas

inicialmente, poderá ocorrer a resolução por onerosidade excessiva através da

aplicação da Teoria da Imprevisão. (GOMES, 2001).

4.7 A EXECUÇÃO DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA

DE BENS IMÓVEIS PELA ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA

Primeiramente falar-se-á sobre a forma mais comum, ou seja, a execução

voluntária. Diga-se de passagem, todo Contrato de Compromisso de Compra e

Venda alcança sua função principal, ou seja, sua execução, dando origem ao

Contrato Principal através da Escritura Pública definitiva, e conseqüentemente se

extinguindo.

Diniz (2003, p. 150) define a execução voluntária como:

[...] o modo normal de extinção do vínculo contratual, não suscitando, por isso, quaisquer problemas quanto à forma e os efeitos, já que, uma vez executado o Contrato, extinguir-se-ão todos os direitos e obrigações que originou.

Com base no exposto acima, pode-se afirmar que a execução voluntária se

trata da própria solução natural, coloquialmente falando, onde as partes, de forma

natural e espontânea, reafirmam o que havia sido estipulado no Contrato de

89

Compromisso de Compra e Venda, fazendo valer as suas vontades, adimplindo

ambas as partes suas obrigações.

Extinto o Contrato, também haverão de estar extintas as obrigações dos

contratantes, liberando-se o Compromitente vendedor e o Compromissário

Comprador.

Seguindo o objetivo proposto neste item, que é o de analisar a Execução do

Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis através da

Adjudicação Compulsória. Inicialmente deve-se compreender esse instituto na sua

essência, torna-se necessário saber o significado do termo “adjudicação” provém do

vocábulo latino adjudicatio, com a “primitiva significação de dar algo por sentença,

de ato judicial transferidor de coisa do patrimônio de um para o de outrem”.

(MARMITT, 1995, p. 21).

Na intenção de dar maior clareza ao entendimento faz-se necessário definir o

instituto da Ação de Adjudicação Compulsória, para tanto, utiliza-se a definição

elaborada por Credie (2000, p. 34):

É a ação pessoal que pertine ao Compromissário Comprador, ou ao cessionário de seus direitos à aquisição, ajuizada com relação ao titular do Domínio do imóvel – (que tenha prometido vendê-lo através de Contrato de compromisso de compra e se omitiu quanto à escritura definitiva) – tendente ao suprimento judicial desta outorga, mediante sentença constitutiva com a mesma Eficácia do ato não praticado.

Esta ação é de uso exclusivo do Compromisso de Compra e Venda.

Ressaltam-se quais os requisitos que o Contrato deve assumir para valer desta

ação, e deixar claro que não basta a ação cumpri-los, primeiramente, ela deve ser

proposta por quem tem legitimidade para tal. Ou seja, do Compromissário

Comprador, herdeiros, sucessores, espólio, ou do cessionário a quem seus direitos

foram cedidos. (DINIZ, 2003).

Prossegue a autora demonstrando quais sejam estes requisitos: “a) o

instrumento de Compromisso de Compra e Venda; b) a quitação do preço; c)

irretratabilidade; e, d) o Registro do Contrato de Compromisso de Compra e Venda”.

(DINIZ, 2003, p. 313).

90

Assim, a quitação integral do preço é pressuposto indispensável para a ação

poder prosperar, sem a prova do pagamento, carece o autor da execução

específica. Enquanto não integralizado, não estará adimplida a obrigação do

comprador, que, “por sua vez, não poderá exigir a escritura ou o objeto do pré-

Contrato, em face das disposições do art. 109234 do Código Civil. No âmbito do

Código de Processo Civil, observa-se o contido no art. 64035”. (GARCIA, 2001, p.

04).

“[...] quando o compromitente-vendedor receber a parte final do pagamento,

deverá outorgar a escritura”, após isso, uma vez não outorgada espontaneamente,

surge o direito à adjudicação que prescreve “[...] em vinte anos, que começará a fluir

da data em que o compromissário-comprador pagou a última prestação devida,

podendo, então, exigir a escritura definitiva”. (DINIZ, 2003, p. 314).

O Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis, assim

como qualquer outro instrumento jurídico, possui um ciclo de existência, ou seja,

nasce com mútuo consenso das partes, percorre um período de adimplemento de

obrigações e, por fim, atinge seu objetivo principal que é a outorga da Escritura

Pública definitiva, extinguindo as obrigações de ambas as partes. (GARCIA, 2001).

O Contrato de Compromisso de compra e Venda de Bens Imóveis registrado

confere ao adquirente Direito de Seqüela, permitindo-lhe reivindicar a Propriedade

ao cumprir o compromisso, exigindo a outorga de escritura pela adjudicação

compulsória. Essa execução específica de outorga de escritura aqui decantada não

fica afastada nem mesmo perante a ausência de Registro, ou de outros requisitos no

Contrato. (VENOSA, 2005).

Havendo recusa do promitente vendedor em efetivar a venda compromissada

através de Contrato que reúna as características necessárias e, ainda, já se

encontre registrado no Registro de imóveis, a compra e venda se fará através de um

procedimento judicial, denominado adjudicação compulsória, que possibilita a

execução coativa do Contrato definitivo, ou seja, da obrigação de contratar. (AWAD,

2006).

34 Art. 1092 - Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a obrigação, pode exigir o implemento da do outro. (BRASIL, 2006, p. 424). 35 Art. 640 - Tratando-se de Contrato que tenha por objeto a transferência da Propriedade de coisa determinada, ou de outro direito, a ação não será acolhida se a parte que a intentou não cumprir a sua prestação, nem a ofereceu, nos casos e formas legais, salvo se ainda não exigível. (BRASIL, 2006, p. 750).

91

A Ação de Adjudicação, conforme art. 1636 do Decreto-Lei n. 58/37, interfere

em caso de recusa da outorga daquela, gerando uma sentença, que é título hábil

para a transferência da Propriedade do Bem Imóvel loteado ao Compromissário

Comprador. (AWAD, 2006).

Sobre esse instituto, Venosa (2005, p. 531) esclarece que na sua sentença

“não pode acrescentar ou suprimir cláusulas do pré-contrato”, complementando esse

entendimento com a seguinte manifestação:

O julgamento não interfere no conteúdo contratual; supre tão somente a vontade do promitente vendedor recusante do Contrato definitivo. Se o Contrato contiver falhas que inviabilizem o Registro, embora essa seja matéria que deve ser versada na ação, a óptica da questão desloca-se para o âmbito do direito obrigacional. Diversa é a situação quando o compromisso está registrado, pois então apenas se consolida a Propriedade plena para o adjudicante, com o Registro da sentença no cartório imobiliário, nesse caso, efeito necessário e elementar da decisão.

Rizzardo (2003, p. 149), delimitando os ritos que compõe da sua propositura

ao julgamento:

[...] visando adquirir o Domínio pleno, e tendo pago as prestações e demais cominações, a parte intentará a Ação de Adjudicação Compulsória, através de procedimento sumário. Distribuído o feito, o juiz designará audiência. Citada a parte contrária, com dez dias de antecedência, pelo menos, da audiência, oferecerá ela defesa durante a mesma; antes tentar-se-á a conciliação. Em seguida, procede-se à instrução, julgando o juiz após, tudo na conformidade com os art. 27637 e seguintes do CPC.

A sentença judicial constitutiva tem apenas o poder de suprir a outorga da

Escritura Pública definitiva, injustificadamente negada pelo Compromitente

vendedor. Não há que se falar em transferência de Domínio resultante da Ação de

Adjudicação Compulsória, pois, na verdade, esta só ocorre com a transcrição em

36 Art. 16. Recusando-se os compromitentes a outorgar a escritura definitiva no caso do art. 15, o Compromissário Comprador poderá propor, para o cumprimento da obrigação, ação de adjudicação compulsória, que tomará o rito sumaríssimo. (BRASIL, 1937). 37 Art. 276 - Na petição inicial, o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará quesitos, podendo indicar assistente técnico. (Alterado pela L-009.245-1995). (BRASIL, 2006, p. 675).

92

cartório competente (no Registro de Imóveis) do título de Domínio. (VENOSA, 2005).

Ainda, sobre a sentença de adjudicação compulsória, pode-se afirmar que ela

é “constitutiva, realizando-se e exaurindo-se nela própria. Não há seqüente ação

autônoma de execução, a não ser a prática de atos administrativos [...]”. (CREDIE,

2000, p. 94).

A circunstância do Compromisso de Compra e Venda ter sido celebrado

através de instrumento particular não registrado não inviabiliza, por si só, a

adjudicação compulsória, apresentando-se hábil a sentença a produzir os efeitos da

declaração de vontade omitida. (AWAD, 2006).

“[...] o juiz terá condições de efetuar a substituição da vontade negocial

negada. A sentença judicial então valerá como título executivo, como escritura

definitiva, apta a ser levada ao Cartório imobiliário, ficando, assim, o imóvel

adjudicado em nome do Promitente Comprador”. (MARMITT, 1995, p. 140).

Portanto, ressalta-se a auto-suficiência desta ação, que por si só, oferece

condições de sanar a lide em questão, já que, uma vez transitada em julgado, a

sentença é levada a Registro, transferindo o Domínio do imóvel.

Finalizando, salienta-se que, é sempre pelo rito sumário que esta ação é

conduzida até que alcance os fins a que se dirige. A celeridade deste procedimento

advém do fato de que, o negócio desenvolveu-se naturalmente, faltando apenas a

transferência do Domínio que, por recusa do promitente vendedor, não se obteve na

conclusão do compromisso.

Deu-se, por encerrada, a presente pesquisa monográfica, que teve como

objetivo principal propiciar uma visão geral sobre os Contratos de Compromisso de

Compra e Venda de Bens Imóveis, dando-se ênfase, sobretudo aos principais

aspectos destacados deste instituto. A referida pesquisa não teve a pretensão de

esgotar o tema, pois tal seria impossível devido a sua dimensão.

93

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa monográfica teve como finalidade discorrer por

meio de análise da legislação vigente no ordenamento jurídico brasileiro, sobre os

aspectos destacados do Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis,

instituto este, pertencente ao campo do Direito contratual.

Ao término do estudo, observou-se a complexidade do tema ora

pesquisado, devido a sua extensão, tornando-se um desafio árduo para quem se

propõe a analisá-lo. Ressalta-se que seria quase impossível abranger, num trabalho

do gênero todas as expressões desse assunto que, diga-se de passagem, são muito

interessantes.

Destarte, entendeu-se por bem restringir ao máximo o seu conteúdo

programático, para que fosse possível elaborar os enfoques necessários e

indispensáveis para o exame do tema, objeto deste estudo.

Desta forma, as hipóteses elencadas na introdução, ao longo da investigação

realizada, restaram confirmadas em sua totalidade.

Após uma breve introdução, buscou-se no primeiro capítulo apresentar a

evolução histórica dos Contratos em geral, confirmando que sua origem incidiu no

Direito Romano, que o incluía como uma das fontes das obrigações. Estes Contratos

serviam principalmente à circulação de riquezas, e aos interesses contrapostos.

Salienta-se que esta evolução esteja intimamente relacionada com o progresso e

satisfação das relações econômicas.

Dando prosseguimento ao estudo, verificou-se a conceituação do instituto,

como sendo um instrumento pelo qual se pactua um acordo de vontades que,

estando em conformidade com a Lei, tem a finalidade de adquirir, resguardar,

transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.

Além de estar em conformidade com o regramento jurídico os Contratos

devem ser elaborados, tendo como base os princípios basilares do Direito

Contratual. Além dos princípios que regem os Contratos, estes ainda estão

vinculados aos requisitos para sua validação, constantes no art. 104 e incisos, do

Código Civil, sob pena de ineficácia do negócio jurídico, são eles: a capacidade das

partes contratantes, o objeto deve ser lícito e possível, a sua forma deve estar

prescrita ou não defesa em Lei e deve haver uma manifestação de vontade.

94

Ressalta-se que o Contrato não nasce pronto, depende de uma série de fases

para sua formação, ou seja, antes da efetiva formação dos Contratos, ocorre o

chamado período pré-contratual, que é o momento em que os futuros contratantes

conversam, debatem, formulam hipóteses acerca de seus interesses.

Na seqüência passa a existir a proposta que é o elemento inicial da formação

do Contrato e corresponde a um ato jurídico unilateral, por vincular unicamente a

figura do proponente. No instante do aceite é que pode reputar-se concluído o

Contrato.

Para que haja o devido equilíbrio sócio-econômico e a igualdade entre as

partes, adotou-se por definir o momento do surgimento do vínculo contratual e a

forma de elaboração do Contrato, direcionado ao Contrato de Compromisso de

Compra e Venda de Bens Imóveis.

Sendo assim, determinar com precisão este momento é de grande relevância

para o negócio jurídico, independente da espécie de Contrato, entre presentes ou

ausentes, haverá uma maneira peculiar de constatar sua conclusão.

Quando duas pessoas almejam celebrar um Contrato, normalmente passam

por aquelas fases a que se referiu anteriormente, mas se por algum motivo ocorrer a

impossibilidade de concretizar o Contrato Principal de imediato, os contratantes

passam a adotar o Contrato Preliminar, neste caso em concreto, o Contrato de

Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis que é o tema, objeto de estudo

deste trabalho.

O Contrato de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis confere

garantias às partes, quanto à relação substancial em vista, pois se comprometem a

celebrar adiante o Contrato definitivo de Compra e Venda. Não difere das demais

espécies de Contratos, devendo adotar alguns requisitos destacados pelo direito

contratual para sua existência, sendo: o da autonomia da vontade; do

consensualismo; da obrigatoriedade da convenção; da relatividade das convenções;

e o da boa fé.

Com relação ao instituto – Contrato de Compromisso de Compra e Venda de

Bens Imóveis, foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto-

Lei n. 58/37, e conferia aos adquirentes apenas direitos obrigacionais. Findos os

pagamentos das parcelas, extinta a obrigação, se o imóvel não fosse entregue ao

adquirente, apenas lhe restaria à via indenizatória. Muitos foram os lesados por

95

loteadores inescrupulosos, à época, pois na venda de lotes não edificados situava-

se então a problemática.

Em determinado momento, pode não ser oportuno, possível ou conveniente

às partes contratar de forma definitiva, plena e acabada. No entanto, nas premissas,

igualmente será inconveniente deixar de contratar, levando-se em conta a existência

de toda uma fase pré-contratual e a oportunidade de ser concluído um negócio no

plano material.

Surge neste último enfoque a efetiva utilidade da Promessa de Compra e

Venda de Imóveis, que ganha os contornos de Contrato quase definitivo quando

nela se inserem as cláusulas de irretratabilidade e irrevogabilidade.

O Contrato de Promessa ou Compromisso de Compra e Venda é um

verdadeiro Contrato, regulado por Leis especiais através do Decreto-Lei n. 58/37 e

6766/79, que tem por objeto uma prestação de fazer, prestação esta consistente na

celebração de outro Contrato, o definitivo. No Contrato Preliminar, pré-contrato ou

promessa de contratar já existe todos os requisitos de um Contrato. Por isso, não se

confunde com as chamadas negociações preliminares.

Este tipo de Contrato representa um aumento patrimonial para o contratante.

A posição contratual possui valor econômico relevante, tanto que pode ser cedida a

título oneroso. Desse modo, sob o plano ainda exclusivamente obrigacional, surgirá

a conveniência de contratar preliminarmente.

São permitidas no ordenamento jurídico brasileiro algumas formas de

execução dos Contratos de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis. A

execução coativa é a que origina maiores divergências entre os doutrinadores, como

se evidenciou no transcorrer do trabalho.

As divergências doutrinárias surgem em torno do Registro do Contrato de

Compromisso de Compra e Venda como requisito para propositura da Ação de

Adjudicação Compulsória, sendo esta adotada pela doutrina dominante.

Também é importante destacar para finalização deste trabalho monográfico

que apesar de se adotar este posicionamento em obediência a legislação, a Ação de

Adjudicação Compulsória é considerada uma ação pessoal, pois seu objeto imediato

é a alteração da situação jurídica obrigacional, ou seja, a outorga da Escritura

Pública definitiva. Neste caso, o Registro apesar da exigência legal, ao revés, faz

surgir o efeito erga omnes, não a tornando uma ação real.

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Tentou-se, contudo, elucidar sem pretensão de esgotar o estudo dos

Contratos de Compromisso de Compra e Venda de Bens Imóveis, pois tal seria

impossível no âmbito da investigação a que se propõe a presente pesquisa

monográfica.

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