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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO EDIMEIA LILIANI SCHNITZLER SUSTENTABILIDADE EM ESTATAIS: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO NO SUL DO BRASIL BIGUAÇU, 2014

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO

EDIMEIA LILIANI SCHNITZLER

SUSTENTABILIDADE EM ESTATAIS: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO NO SUL DO BRASIL

BIGUAÇU,

2014

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EDIMEIA LILIANI SCHNITZLER

SUSTENTABILIDADE EM ESTATAIS: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO NO SUL DO BRASIL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profª Dra. Maria José Barbosa de Souza

BIGUAÇU,

2014

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EDIMEIA LILIANI SCHNITZLER Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em

Administração e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Administração, da

Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu,

Área de concentração: Sustentabilidade e governança corporativa

SUSTENTABILIDADE EM ESTATAIS: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO NO SUL DO BRASIL

Biguaçu, 09 de junho de 2014.

Profº Dr. Carlos Ricardo Rosseto

Coordenador do Programa

Profº Dra. Maria José Barbosa de Souza UNIVALI - Orientadora

Prof. Dr. Flávio Ramos UNIVALI

Profº Dra. Marialva Tomio Dreher FURB

Profº. Dra.Rosilene Marcon UNIVALI

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Aos meus pais Edegar e Helena que

continuam acreditando e orando por mim.

Ao meu filho Pablo e a minha nora

Cristina que me presentearam com

Vicente, meu neto querido, fontes

inesgotáveis de amor e que revelam a

cada dia o verdadeiro significado da vida.

Aos meus amigos queridos que sempre

me incentivam e me ouvem quando

preciso tornar meu caminho mais suave.

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AGRADECIMENTOS

A minha orientadora acadêmica, Prof. Dra. Maria José Barbosa de Souza,

pelos seus ensinamentos, dedicação, incentivo e amizade.

Ao Coordenador do Programa, Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto, pelo

excelente programa de mestrado, a Prof. Dra. Marialva Tomio Dreher pela presença

como professora convidada.

Aos Professores Doutores da banca, Flávio Ramos e Rosilene Marcon, pelo

incentivo e sugestões.

Aos Professores Doutores que participaram com recomendações para a

aceitação do “caso para ensino”, Sidnei Vieira Marinho e Anette Alberton.

Ao Prof. Doutor Fernando Cesar Lenzi, pelas orientações para

desenvolvimento de artigo e aos demais professores do Curso de Mestrado em

Administração da Univali.

Ao meu grande amigo de “todas as horas” Ayrton Santos, e com grande

estima Luis Carlos Jendreieck, aos meus queridos colegas, que me apoiaram nas

horas mais difíceis, Evandro Prado e Daniela Ulysséa.

Aos colegas do Instituto de Contas, pela paciência, e carinho, Joseane

Corrêa, Estelamaris, Silvia Volpato, Roseli Aparecida e Davi Solonca.

As amigas da biblioteca da Univali Simone Coelho, Telma da Silva e Débora

Simas, pelos ensinamentos e apoio.

Com grande estima e carrinho, Maria de Lurdes, Cristina Heusi Leal e

Caroline de Aquino Rosa pela paciência, simpatia e dedicação.

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Não vou deixar a porta entre aberta. Vou

escancará-la ou fecha-la de vez. Porque

pelos vãos, brechas e fendas... passam

semiventos, meias verdades e muita

insensatez.

Cecília Meireles

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RESUMO

A sustentabilidade em empresas do setor elétrico necessita harmonizar os impactos sociais e ambientais, inserindo-os, efetivamente, ao gerenciamento e à governança do setor econômico. Este trabalho teve como objetivo geral analisar as práticas de sustentabilidade em uma organização do setor elétrico no sul do Brasil sob o enfoque dos princípios de desempenho sustentável. Especificamente, o estudo procurou identificar: a) os princípios e as práticas de sustentabilidade corporativa da organização estudada na percepção de membros do Conselho de Administração, chefes de Departamento e gerentes; b) pontos convergentes e divergentes entre os princípios de sustentabilidade corporativa da GRI na organização estudada e os princípios do desempenho sustentável recomendados por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008). Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, com a aplicação de estudo de caso único. A coleta de dados foi feita por meio de análise documental, entrevista em profundidade com 10 representantes da alta administração da organização (conselheiros e gerentes) e observação in loco. Os dados foram analisados com base na análise de conteúdo e análise do discurso. Os resultados revelaram que as empresas do setor elétrico, no país, são altamente dependentes das condições ambientais, por isso, a necessidade de implementação efetiva da gestão de riscos. Dentre os princípios estudados verificou-se a necessidade de se priorizar os da transparência, da governança e do retorno financeiro. Para uma boa gestão da empresa eticamente correta e sustentável lucrativamente é necessária uma adequada governança de seus recursos.

Palavras-chave: sustentabilidade, empresas estatais, setor elétrico.

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ABSTRACT

Sustainability in companies in the electrical sector needs to harmonize the social and environmental impacts by effectively including them in the management of the economic sector. The overall objective of this study is to analyze the sustainability practices of an organization in the electrical sector in the South of the Brazil, under the lens of sustainable performance principles. Specifically, the study sought to identity: a) the principles and practices of corporate sustainability of the organization studied, as perceived by members of the board of directors, department chiefs and managers; and b) convergent and divergent points between the GRI principles of corporate sustainability in the organization in question, and the principles of sustainable performance recommended by Epstein and Roy (2003) and Epstein (2008). The study presented here is descriptive and has a qualitative approach, with the application of a single case study. The data were collected through document analysis, in-depth interviews with ten representatives of the organization’s upper management, and on-site observation. The data were then analyzed using content and discourse analysis. The results revealed that since the company is highly dependent on environmental conditions and capital market regulation, there is a need for the effective implementation of risk management and appropriate management of resources. Within the principles studied, we verified the need to prioritize transparency, governance and financial returns. Adequate governance of resources is necessary for the good management of an ethically correct and profitably sustainable company.

Keywords: sustainability, state-owned companies, electrical sector.

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LISTA DE QUADROS

Quadro nº 1 - As oito dimensões da sustentabilidade...............................................23

Quadro nº 2 - Direcionadores para a sustentabilidade nas organizações ................. 25

Quadro nº 3 - Princípios do desempenho sustentável .............................................. 27

Quadro nº 4 – Diretrizes de conteúdo para elaboração GRI.. ................................... 32

Quadro nº 5 -  Diretrizes de qualidade para elaboração GRI... .................................. 32

Quadro nº 6 -  Variáveis utilizadas pela Global Reporting Initiative-3 (GRI-3) ........... 33

Quadro nº 7 –Critérios para os níveis de aplicação .................................................. 34

Quadro nº 8 –  Variáveis de análise sobre os temas da pesquisa ............................. 48

Quadro nº 9 – Protocolo de Pesquisa........................................................................50

Quadro nº 10 - Missão e objetivos da CVM ............................................................... 53

Quadro nº 11 - Níveis diferenciados de GC segundo o Bovespa .............................. 55

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA .............. 12

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO .................................................................................. 16

1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 16

1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 16

1.3 JUSTIFICATIVA, RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA .............. 16

1.4 ESTRUTURA DA PESQUISA ............................................................................. 18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 19

2.1 A SUSTENTABILIDADE E AS ORGANIZAÇÕES ............................................... 19

2.2 TIPOS DE RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE ......................................... 28

2.2.1 Índice de sustentabilidade empresarial – ISE .............................................. 28

2.2.2 Global Reporting Initiative – GRI .............................................. 30_Toc388949210

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................... 43

3.1 ABORDAGEM E ESTRATÉGIA DE PESQUISA ................................................. 43

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA .................................................................................... 45

3.3 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................... 46

3.4 VARIÁVEIS DE ANÁLISE .................................................................................... 47

3.5 PROTOCOLO DE PESQUISA ............................................................................ 50

4 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA ...................................... 51

5 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS ............................................................ 59

5.1 ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE ........................................ 59

5.1.1 Princípios do desempenho sustentável .......................................................59

5.1.2 Comparação dos princípios da sustentabilidade ........................................ 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................ Error! Bookmark not defined. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 112

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta algumas diretrizes que servem de alicerce para o

desenvolvimento deste trabalho. Portanto, destacam-se a contextualização do tema

e a delimitação do problema, bem como os objetivos desse estudo. Na sequência,

demonstram-se, então, a justificativa, a relevância e a contribuição que esta

pesquisa gerará ao âmbito acadêmico e à sociedade e, finalmente, a estrutura desse

estudo que versará sobre a sustentabilidade em estatais: um estudo de caso em

uma organização do setor elétrico no sul do Brasil.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

O estudo da sustentabilidade nos seus aspectos econômicos, sociais e

ambientais está diretamente relacionado à Teoria dos stakeholders. Isso porque

propõe o atendimento das necessidades de todos os públicos com os quais a

empresa se relaciona, tais como: acionistas ou proprietários, empregados, clientes,

comunidade, fornecedores e governo, além do respeito do meio ambiente.

Verifica-se, nos dias de hoje, que o meio ambiente tem sido alvo de proteção

das mais diversas sociedades e cada vez mais é tutelado pelas legislações.

Necessária está se tornando a intervenção do homem para deter os avanços da

destruição das matas, da poluição do ar, do aniquilamento de muitas espécies e da

diminuição de matérias primas, dentre outros.

Ressalta-se, aliás, que essa preocupação não ocorre somente no âmbito da

sustentabilidade ambiental e ecológica, mas também em relação às próprias

organizações, sejam elas privadas ou públicas, pois essa sustentabilidade encontra-

se diretamente ligada a outros diversificados fatores.

Afirma-se isso porque com o aumento da importância dos stakeholders

(pessoas interessadas e com os quais as empresas se relacionam), e da constante

preocupação com a transparência das organizações, além do desempenho

econômico, também agora é exigido o desempenho social e ambiental. Devido a tais

exigências, as empresas se obrigam a divulgar seus atos com transparência e

confiabilidade em relação ao meio ambiente e à sociedade, por meio de Relatórios

de Sustentabilidade em todo o mundo (CASTRO; SIQUEIRA; MACEDO, 2010).

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As empresas têm divulgado alguns Relatórios de Sustentabilidade que

apresentam aos diversos stakeholders as principais características de seus

desempenhos, pois, segundo Kraemer (2010), as corporações que não estiverem

em conformidade com o conceito de desenvolvimento sustentável destinam-se a

perder competitividade em pouco tempo. Essas empresas, procurando alcançar uma

maneira de “operacionalizar” o conceito de sustentabilidade, fornecem uma maior

atenção a três dimensões passíveis de operações específicas e localizadas, quais

sejam, a dimensão econômica, ambiental e social (BARBIERI; SIMANTOB, 2007).

Desse modo, verifica-se, com relação à temática dessa pesquisa, que o

conceito de sustentabilidade aparece sob diferentes enfoques ou denominações,

mas com o mesmo sentido da linha tríplice de resultado ou, segundo Elkington

(1997), em inglês, Triple Bottom Line, também conhecido por People, Planet and

Profits (cuja tradução é: pessoas, planeta e lucros).

A dimensão social da sustentabilidade corporativa refere-se ao

relacionamento e gestão entre as organizações e os indivíduos (VAN MARREWIJK,

2003). Por isso, afirma Vellani (2011) que tal dimensão está intrinsecamente

atrelada às atividades que a empresa detém para gerenciar seu relacionamento com

os indivíduos, seja no setor interno ou externo, motivo pelo qual gerenciam-se as

relações humanas e controlam-nas fazendo surgir o conceito de governança.

Muitas empresas líderes reconhecem a importância de gerir seu

desempenho ambiental e social corporativo e controlá-lo. Para integrar os impactos

ambientais, sociais e econômicos que estejam voltados aos fatores internos da

empresa, sente-se a necessidade de implementar uma estratégia corporativa por

meio de um compromisso com a sustentabilidade como valor fundamental ou aceitar

que a sustentabilidade pode originar um valor financeiro pela obtenção de receitas e

redução de custos. Mas, geralmente, a vontade para aceitar uma estratégia

sustentável advém de pressões externas, como regulamentação governamental,

exigências do mercado, ações de concorrentes ou pressões de organizações não

governamentais (ONGs), como esclarece Epstein (2008).

Segundo Valente (2010), em um país emergente como o Brasil, a

abordagem desses assuntos é incipiente e reivindica novas contribuições. Conforme

a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2005), os

governos têm grandes desafios nas empresas públicas e referentes à necessidade

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de equilibrar as funções de propriedade e responsabilidade pública do Estado nas

atividades de nomear a diretoria e elegê-la e controlar as políticas públicas.

Portanto, os altos padrões de transparência exigidos pelos princípios de

governança corporativa da OCDE demonstram que a efetiva aplicação desses ao

setor público pode encorajar o uso eficiente de recursos, aumentar a transparência

das prestações de contas do administrador, aprimorar a prestação de serviços

públicos e aumentar o seu nível de confiabilidade (OCDE, 2005).

Diante de tantos escândalos corporativos nos setores público e privado

envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes contra a Administração

Pública perceberam-se a importância de redução do poder dos administradores e da

demonstração da aplicação de maior transparência nesses dois setores (SLOMSKI,

2008).

Essa necessidade de maior transparência decorre das formas de

organização da administração brasileira que sofreu muitas alterações com o passar

dos tempos. A forma de organização burocrática foi implantada no Brasil em 1936,

sofrendo reformas em 1967, com a entrada em vigor do Decreto lei nº 200/1967.

Na trajetória das reformas brasileiras são identificados três padrões básicos

de administração: a patrimonialista, o burocrático e o gerencial, que se sucederam

no decorrer dos tempos, mas que nunca nenhum desses paradigmas se extinguiu

completamente, subsistindo de alguma forma (KLERING; SOARES e GUADAGNIN,

2010).

Em seguimento com processos amplos de reformas do Estado, na área

internacional, que aconteceu nos anos 90 e que, no Brasil, ocorreu a partir de 1995,

passaram as administrações públicas estaduais por processo de transformação

estrutural e de modernização. Grandes tentativas ocorreram no sentido de mudar o

papel e as funções do Estado, prioritariamente na melhora da qualidade e do

desempenho da burocracia na administração pública (RESENDE, 2010).

Discorre Bresser Pereira (2005) que a reforma burocrática se preocupava

com elementos patrimonialistas e clientelistas (que subsistem até hoje), no país,

mas alcançou uma administração mais autônoma e responsável diante da

sociedade, com a reforma da gestão pública de 1995 a 1998. Assim, deve-se

compreender que a melhor maneira de lutar contra o clientelismo e outras formas de

vieses do Estado é torná-lo mais eficiente e mais moderno, mesmo apesar da

demora do Estado brasileiro com relação a esse aspecto.

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Em virtude da necessidade de se obter essa maior transparência dos

setores públicos e privados, bem como de reduzir o poder dos gestores públicos,

surgiu a Nova Gestão Pública (NGP), tradução de a New Public Management

(NPM). Nessa perspectiva em que o objetivo maior era a adaptação e a passagem

dos conhecimentos gerenciais desenvolvidos no setor privado para o público,

impondo-se uma ética comportamental e um melhoramento da gestão pública. A

finalidade da NGP é diminuir o tamanho do estado, promover a redução da máquina

administrativa, o aumento da eficiência e a criação de mecanismos voltados à

responsabilização dos agentes políticos (BRESSER PEREIRA, 2005).

Nota-se que os estudos feitos pelo Canadian Centre for Management

Development (CCMD) oferecem lições que devem constar no planejamento de

organizações voltadas para o cidadão-usuário. Dessa forma, destaca-se,

atualmente, que a nova Administração Pública se caracteriza pelo reconhecimento

dos limites de seu desempenho que passou a ser intercedido pelo poder e pela ação

do setor privado e das organizações em geral. Por outro lado, a complexidade e a

amplitude que abarcam o processo de interação entre o Estado e o setor privado

são caracterizadas por relações e intercessões burocráticas e desvendam a

existência de indícios de que é preciso dar continuidade aos esforços de redefinição

e de implantação de políticas inovadoras, a fim de fortalecer a gestão do setor

público. Pressupõe-se que, para isso ocorrer, é imprescindível intensificar o nível de

interação e colaboração entre governo e setor privado (MATIAS-PEREIRA, 2010).

No atual contexto mundial, cada vez mais países, instituições, grandes

empresas multinacionais, empresas estatais e todo tipo de organização estão se

mobilizando no sentido de demonstrar transparência, ética nos negócios,

sustentabilidade empresarial, prestação de contas do dinheiro público e

honestidade, com o propósito de melhorar suas relações com os vários stakeholders

e, assim, alcançar as estratégias de obtenção de investimentos nos mercados de

ações e a preferência dos clientes cada vez mais exigentes.

Portanto, todos esses fatos justificam a relevância e a atualidade do tema

deste trabalho que tem em vista contribuir para ampliar as discussões e a

compreensão sobre a sustentabilidade em estatais, já que se pretende discorrer

sobre a sustentabilidade em uma estatal no setor elétrico do sul do Brasil.

Sendo assim, ao considerar os aspectos mencionados, formula-se, então, a

seguinte questão de pesquisa: como essa organização do setor elétrico no sul do

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Brasil ao implantar a Global Reporting Initiative – GRI tem se enquadrado nos

princípios de sustentabilidade?

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

Para responder à questão formulada, foram definidos o objetivo geral e os

objetivos específicos desta pesquisa.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar as práticas de sustentabilidade em uma organização do setor

elétrico no sul do Brasil sob o enfoque dos princípios de desempenho sustentável.

1.2.2 Objetivos específicos

1 – Identificar os princípios e as práticas de sustentabilidade corporativa de

organização estudada na percepção de membros do Conselho de Administração,

chefes de Departamento e gerentes (stakeholders);

2 – Indicar pontos convergentes e divergentes entre os princípios de

sustentabilidade corporativa da GRI na organização estudada e os princípios do

desempenho sustentável recomendados por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

1.3 JUSTIFICATIVA, RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA

O tema Sustentabilidade Corporativa em estatais ganha cada vez mais

destaque no âmbito acadêmico, principalmente a partir dos anos 90, com o aumento

da participação de investidores institucionais nos mercados de ações e de

exigências de que os gestores deverão agir de maneira a atender aos interesses dos

acionistas e demais stakeholders.

Após vários escândalos nas companhias norte-americanas e europeias, em

2002 e 2003, reforçaram-se os estudos na academia e dos mercados acionários,

relativos às organizações, no sentido de mostrar maior transparência em seus

demonstrativos, evidenciando-se, além dos já exigidos por lei, os Relatórios de

Sustentabilidade optativos para a maioria das empresas, mas obrigatórios nas

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empresas do setor elétrico. O Relatório de Sustentabilidade também chamado de

Balanço Social ou Relatório Socioambiental, independentemente de sua estrutura,

tem o intuito de demonstrar informações referentes à integração da organização com

o meio em que está inserida (CARVALHO; SIQUEIRA; 2007).

Como a sustentabilidade é um tema multidisciplinar, buscou-se uma área da

gestão para agir como elemento unificador das dimensões econômicas, sociais e

ambientais, chegando-se, assim, à governança, como observa Silva (2010). As

empresas, com intuito de atrair investidores, desejam, cada vez mais, demonstrar

que são “empresas preocupadas com o desempenho socioambiental”, pois, dessa

forma, participam do mercado de ações. Entretanto, quando participam do mercado

de ações, são obrigadas a adotar as normas de conduta descritas no nível 1 da

Bovespa, a galgar o nível 2 e, finalmente, ao Novo Mercado (último nível), razão

pela qual demonstram seu esforço para serem melhor cotadas no mercado, mesmo

sendo opcionais esses últimos dois níveis.

Souza (2011) recomenda que pesquisas futuras devam estudar as práticas

de responsabilidade social em empresas brasileiras do setor elétrico, bem como as

diferentes percepções de diversos stakeholders sobre a responsabilidade social,

destacando-se, ainda, os clientes corporativos.

Por fim, Garcia e Fernandes (2012) ressaltaram que pesquisas futuras

utilizassem a estrutura de indicadores GRI (na perspectiva social, econômica e

ambiental), que se relaciona com a sustentabilidade corporativa, para avaliação do

desempenho e controle das empresas do setor elétrico. Por esse motivo, essas

pesquisas devem ser realizadas levando-se em consideração uma aplicação

empírica, com a participação efetiva dos gestores em estudos de casos de

empresas.

Nessa mesma linha de justificativa sobre a relevância do tema, Matias-

Pereira (2010) afirma que a complexidade e a amplitude que abarcam o processo de

interação entre o Estado e o setor privado são caracterizadas por relações e

intercessões burocráticas, expondo a existência de sinais de que é preciso dar

continuidade aos esforços de redefinição e de implantação de política inovadora, a

fim de fortalecer a gestão do setor público. Portanto, o tema sustentabilidade explica

novas tendências da Administração Pública e de gestão de política públicas.

Essa linha de pesquisa tem se tornado relevante no Brasil, justamente pela

influência dos stakeholders internos, ou seja, dos membros e participantes do

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Conselho de Administração e Fiscal nas empresas, tanto privadas como estatais,

como é caso da organização em análise, no interesse da melhor gestão e estrutura

de desempenho sustentável, já que cada empresa tem uma estrutura específica que

maximiza seus ganhos e equilibra as relações entre a alta administração e os

demais atores interessados na empresa em questão.

A pesquisa contribuirá com estudos a respeito da sustentabilidade e da

estrutura de desempenho sustentável mais adequado ao setor público, bem como

sobre quais as melhores práticas a serem aplicadas ao setor público estadual, mais

especificamente em uma estatal estadual.

Em síntese, os resultados dessa pesquisa poderão ser utilizados para a

Administração Pública e privada compreenderem os mecanismos de

sustentabilidade, melhorando seu relacionamento com os stakeholders e ampliando

a qualidade de seus serviços públicos junto à comunidade, com transparência, ética

e menores custos e riscos.

1.4 ESTRUTURA DA PESQUISA

O trabalho está estruturado em mais três capítulos, além dessa introdução.

Por isso, afirma-se que no segundo capítulo, apresentam-se as principais teorias

que o nortearão. Na sequência, serão descritos os procedimentos metodológicos

utilizados no decorrer da pesquisa; e, finalmente, apresentados e discutidos os

resultados e as conclusões da acadêmica sobre a temática proposta.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo servirá de alicerce para o desenvolvimento do restante desse

trabalho, razão pela qual apresenta a fundamentação teórica de todos os assuntos

que se encontram diretamente ligados à temática proposta para essa pesquisa.

Portanto, realiza-se, na sequência, uma análise de alguns temas, quais sejam: a

sustentabilidade e as organizações; a relação existente entre sustentabilidade e

governança; os tipos de relatórios de sustentabilidade (Índice de Sustentabilidade

empresarial e Global Reporting Initiative.

A organização em estudo é uma estatal de economia mista em que o

governo detém 51% das ações ordinárias e é prestadora de serviço público e

precisa prestar contas ao Tribunal de Contas do Estado. Porém, como tem também

49% de ações ordinárias de capital privado, as regras de sustentabilidade das

empresas em geral podem ser aplicadas a essa organização.

2.1 A SUSTENTABILIDADE E AS ORGANIZAÇÕES

Antes de versar sobre a relação existente entre sustentabilidade e as

organizações, importante se faz destacar, inicialmente, que o desenvolvimento

sustentável é expressão que teve origem no Ecodesenvolvimento, designado por

Maurice Strong, que foi Secretário Geral da Conferência de Estocolmo

(MONTIBELLER FILHO, 1993).

O Ecodesenvolvimento trata-se, em síntese, de um fenômeno que está

diretamente relacionado com “[...] as necessidades sociais mais abrangentes, que

dizem respeito à melhoria da qualidade de vida da maior parte da população, e o

cuidado com a preservação ambiental [...]”. Por isso, pode ser considerado como

sendo aquele desenvolvimento que tem por principal finalidade gerar

responsabilidade para com as gerações futuras em relação aos aspectos ecológicos

e ambientais. Esse Ecodesenvolvimento é, portanto, um projeto de civilização que

visa chamar atenção para vários aspectos, como, por exemplo, para o fato de que a

sustentabilidade deva ser observada por variados ângulos (MONTIBELLER FILHO,

1993).

Registra-se, entretanto, que foi, no início da década de 1980, que a

Organização das Nações Unidas (ONU) retomou o debate das questões ambientais

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e a Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão

Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento para estudar sobre esse assunto

(WCED, 1987).

Por conseguinte, foi em 1987 que se publicou, pela primeira vez, o conceito

de desenvolvimento sustentável no Relatório “Nosso Futuro Comum”, da Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como

“Comissão Brundtland”. Nessa ocasião, foi proposto que, para se verificar a

sustentabilidade, necessário se faz indicar mecanismos que acatem as

necessidades do presente e, assim, evitar que gerações futuras se privem de suas

necessidades (WCED, 1987).

Verifica-se, diante dessas iniciais considerações, que há por parte de alguns

autores, certa “confusão” com relação às expressões “desenvolvimento sustentável”

e “sustentabilidade”, já que muitos entendem serem esses termos sinônimos. Para

tanto, esclarece Munck (2013) que não se pode considerar que esses termos sejam

sinônimos, porque o desenvolvimento sustentável deve ser considerado como um

modelo de desenvolvimento que promoverá a sustentabilidade.

O desenvolvimento sustentável pode ser entendido, portanto, como um

desenvolvimento econômico que visa garantir a necessidade das gerações atuais

sem comprometer as necessidades das futuras gerações (EPSTEIN; ROY, 2003). Já

a sustentabilidade é uma expressão que abarca uma série de definições (MUNCK,

2013). Há uma diferenciação entre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade,

esta pode ser compreendida, em suma, como a “[...] capacidade de manter algo em

estado contínuo, e o desenvolvimento sustentável envolve processos integrativos

que buscam manter o balanceamento dinâmico de um sistema complexo em longo

prazo” (SOUZA, 2010, p. 35). Nessa mesma linha, Munck e Souza (2009)

igualmente tratam dessa discussão e afirmam que: “[...] desenvolvimento sustentável

e a sustentabilidade buscam os mesmos objetivos, mas o desenvolvimento

sustentável deve ser considerado o modelo de desenvolvimento que promove a

sustentabilidade”.

Apesar dessa discussão, deve-se compreender que, independentemente

dos posicionamentos encontrados sobre as concepções de desenvolvimento

sustentável e sustentabilidade, Sachs (1993) desenvolveu cinco dimensões com

relação a essa última. Com isso, afirmou que se deve ter uma visão holística dos

problemas da sociedade e não apenas focar na gestão dos recursos naturais como

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fazem a maioria dos economistas. Este autor realizou uma transformação no modelo

da sustentabilidade ao definir as cinco dimensões necessárias para a realização de

um planejamento de desenvolvimento. Assim, dentre essas dimensões, citam-se a

social, a econômica, a ecológica, a espacial ou geográfica, e a cultural.

Concluiu-se, diante disso, que apenas gerenciar e diminuir o consumo dos

recursos naturais, conforme grande parte dos economistas, no âmbito econômico,

sobre o planeta não é suficiente. É preciso encontrar um equilíbrio entre os aspectos

econômico, social e ambiental, denominado “Triple Bottom Line” ou tripé da

sustentabilidade. Esse termo foi utilizado pela primeira vez, por John Elkington em

1994, fundador da consultoria inglesa Sustain Ability, representando a ampliação do

padrão de negócios para que um novo estágio considere o desempenho social e

ambiental em adição ao tradicional desempenho econômico.

Munck (2013) explica, portanto, que devem se considerar três pilares para a

sustentabilidade organizacional, quais sejam, o pilar econômico, o ambiental e o

social. O pilar econômico pode ser definido como aquele que compreende a

competitividade, a oferta de empregos, a inserção em novos mercados e a

lucratividade voltada para o longo prazo. Trata-se, assim, de um pilar que se refere à

sustentabilidade econômica, ou seja, àquela sustentabilidade que está diretamente

ligada não apenas aos aspectos econômicos, mas também financeiros da

organização.

Já o pilar ambiental é aquele concernente à “[...] prevenção dos impactos

gerados pelas organizações nos sistemas naturais compostos por seres vivos e não

vivos (ecossistemas, terra, água e ar)”, isto é, aquele que visa avaliar uma série de

aspectos da organização, como é o caso, por exemplo, da avaliação de produtos e

serviços utilizados e/ou ofertados (MUNCK, 2013, p. 29).

Para Freitas (2012, p. 64), esse é o pilar também chamado de dimensão

ambiental da sustentabilidade e que confere o “[...] direito das gerações atuais, sem

prejuízo das futuras, ao ambiente limpo em todos os aspectos [...]” (grifo do autor).

E o pilar social, conforme Mc Donough e Braungart (2002); Jamali (2002) e

O’Connor (2006) devem ser compreendidos como aquele em que: as perspectivas

dos vários grupos arrolados às sociedades são consideradas genuínas e

equilibradas. O tema social da sustentabilidade organizacional (SO) agrupa

questões relacionadas à saúde pública, às demandas de interesse ao bem-estar e à

sobrevivência das comunidades, às controvérsias públicas, às competências e à

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educação, à justiça social, ao ambiente de trabalho seguro, às melhores condições

de trabalho, aos direitos humanos, às oportunidades igualitárias e à garantia aos

direitos trabalhistas. Podem-se agrupar nas seguintes categorias: desenvolvimento

humano e bem-estar (educação, treinamento, saúde, segurança e desenvolvimento

de competências gerenciais); equidade (salários, benefícios, oportunidades

igualitárias e ausência de discriminação) e conceitos éticos (direitos humanos,

valores culturais, justiça intergeracional e justiça intrageracional).

Freitas (2012) partilha desse mesmo entendimento e explica que o pilar

social, ou por ele denominado de dimensão social da sustentabilidade, é o que está

diretamente correlacionado aos programas de universalização, eficiência e eficácia

das organizações, motivo pelo qual se refere à governança pública e à privada. Além

disso, trata-se de um pilar que reclama o incremento da equidade intrageracional e

intergeracional, bem como condições que possibilitem o desenvolvimento das

potencialidades humanas, já que se perfaz com o engajamento pela dignidade e

respeito pelos demais seres vivos.

Entretanto, Leff (2001) enfatizou que desde o início das atividades

industriais, o ambiente deveria ter sido respeitado e pensado como uma

convergência de processos físicos, biológicos e peculiares. Nesse caso, as

atividades econômicas, científicas e técnicas dos indivíduos deveriam ser

reorganizadas e reconduzidas, como já ocorre em muitos países por intermédio de

processos de educação ambiental e social, apesar de, no Brasil, o tema começou a

ser discutido desde 1990.

Continuando sua pesquisa, Sachs (2002) ampliou sua lista e, além das cinco

dimensões anteriormente citadas, criaram mais três, pois a sustentabilidade deve

ser vista sob o enfoque ambiental, político (nacional) e política (internacional).

Por esse motivo, observa-se no Quadro nº 1 uma síntese dessas oito

dimensões da sustentabilidade propostas por Sachs (2002) e seus principais

componentes e objetivos pretendidos.

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Quadro nº 1: As oito dimensões da sustentabilidade Dimensão Componentes Objetivos Sustentabilidade

Social Criação de postos de trabalho que possibilitem a obtenção de renda individual apropriada. Produção de bens conduzida prioritariamente às necessidades básicas sociais.

Redução das desigualdades sociais.

Sustentabilidade Econômica

Fluxo permanente investimentos públicos/privados (privados especial destaque p/ cooperativismo). Manejo eficiente de recursos. Absorção, pela empresa, dos custos ambientais. Endogeneização: contar com suas próprias forças.

Aumento da produção e da riqueza social, sem dependência externa.

Sustentabilidade Ecológica

Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas. Prudência no uso de recursos naturais não renováveis. Prioridade à produção de biomassa e a industrialização de insumos naturais renováveis. Redução da intensidade energética e aumento da conservação da energia. Tecnologias e processos produtivos de baixo índice de resíduos. Cuidados ambientais.

Melhoria da qualidade do meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as próximas gerações.

Sustentabilidade Espacial/

Geográfica

Desconcentração espacial (de atividades; de população). Desconcentração/democratização do poder local e regional. Relacionamento cidade-campo contrabalançado.

Evitar excesso de aglomerações.

Sustentabilidade Cultural

Soluções adaptadas a cada ecossistema. Respeito à formação cultural comunitária.

Evitar conflitos culturais com potencial regressivo.

Sustentabilidade Ambiental

Respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.

Melhoria da qualidade do meio- ambiente.

Sustentabilidade Política

(nacional)

Política definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos. Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional, em parceria com todos os empreendedores. Um nível razoável de coesão social.

Aumentar coesão social.

Sustentabilidade Política

(Internacional)

Eficácia do sistema de prevenção de guerras da ONU, na garantia da paz e na promoção da cooperação internacional. Um pacote Norte-sul de co-desenvolvimento, baseado no princípio da igualdade. Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro e de negócios. Controle institucional efetivo da aplicação do Princípio da Precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas e das diversidades biológica e cultural; e gestão do patrimônio global, como herança comum da humanidade. Sistema de cooperação científica e tecnológica internacional e eliminação parcial do caráter commodity da ciência e tecnologia, também como propriedade da herança comum da humanidade.

Redução das desigualdades sociais. Precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção das mudanças globais negativas e da diversidade biológica e cultural.

Fonte: Adaptado de Sachs (1993) apud Montibeller Filho (2004), baseado em Sachs (2002).

Ao analisar o quadro, percebe-se que Sachs propôs ações que explicassem

a compatibilidade do avanço dos níveis de qualidade de vida concomitantes à

preservação do ambiente. Sendo isso uma nova estratégia de escolha à ordem

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econômica internacional, focando a importância de padrões locais com tecnologias

adequadas, especialmente nas zonas rurais, procurando reduzir a dependência

técnica e a cultura.

Observa-se do constante no quadro exposto, que existem, ainda, algumas

dificuldades relativas à compreensão dos conceitos de sustentabilidade. Assim,

Werre e Marrewijk (2003) resumem que intensos debates aconteceram entre

acadêmicos, consultores e executivos de empresas, obtendo-se muitas definições

com um contorno mais humano, ético e transparente de fazer negócios.

Depois de muitas discussões, mudanças e variações, Milani, Righi, Ceretta e

Dias (2012) declaram que, a partir dessas alterações na sociedade e no ambiente,

novos conceitos foram estabelecidos dentro da conjuntura organizacional, como

aqueles referentes à responsabilidade social, empresarial ou corporativa; à gestão

ambiental; à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável. Porém, mesmo

considerando diferentes conclusões para essas conceituações, eles geralmente

convergem para uma atitude de consciência moral para com os stakeholders e o

ambiente.

Sendo assim, Milani, Righi, Ceretta e Dias (2012) esclarecem que, embora

haja uma falta de consenso por parte dos teóricos e estudiosos para a definição do

termo sustentabilidade, uma generalização no âmbito de mercado é que se refere às

ações que demonstram a inclusão de aspectos sociais e ambientais nas atividades

fins e nas interações com os stakeholders.

Demonstrada a origem do desenvolvimento sustentável, a diferença entre

esse termo e a sustentabilidade, bem como a relação entre a sustentabilidade e as

organizações, examina-se, na sequência, a ligação entre essa sustentabilidade e a

governança corporativa.

Nas últimas duas décadas muito tem sido discutido por parte das empresas,

a respeito da sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável (FIGGE; HAHN,

2004). Afirma-se isso, pois, segundo Bell e Morse (2008), a inclusão do arcabouço

da sustentabilidade nos processos empresariais originou, consequentemente, a

sustentabilidade corporativa.

A evolução da relação entre a sustentabilidade e as organizações tem sido

discutida continuamente e chamou a atenção da academia que tem realizado várias

pesquisas, bem como das organizações que têm debatido, cada vez mais, sobre o

assunto (KOLK; MAUSER, 2002).

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Com o crescimento da importância da sustentabilidade nas organizações,

seguem discussões com relação à posição das organizações empresariais cujo

objetivo é fundamentar suas atividades a fim de se tornarem sustentáveis ou

orientadas para a sustentabilidade, assunto esse que tem atraído cada vez mais a

atenção de autores e pesquisadores (HOURNEAUX JUNIOR, 2010).

Como a sustentabilidade tem uma apreciação multidimensional, Hart e

Milstein (2003) explicam que, para que haja a efetiva criação de valor de forma

sustentável, é necessário que a organização siga alguns direcionadores, conforme

consta do Quadro nº 2.

Quadro nº 2 - Direcionadores para a sustentabilidade nas organizações 1° Redução de consumo de material e do nível de poluição associado com a rápida industrialização; 2° Operações com altos níveis de transparência e responsabilidade, em relação à sociedade civil; 3° Desenvolvimento de novas tecnologias que reduzam a destruição humana no planeta; 4° Organizações devem dirigir suas ações desde a sua base, permitindo maior criação e distribuição da riqueza.

Fonte: baseado em Hart e Milstein (2003)

Verifica-se, em consonância com esse quadro, que há a necessidade

desses direcionadores para a efetiva implantação da sustentabilidade nas

organizações. Assim, ao observar mudanças nas organizações, afirma Elkington

(2001) que o caminho para a sustentabilidade obrigará que se faça o deslocamento

do destaque no crescimento econômico (com foco na quantidade) para o

desenvolvimento da sustentabilidade (com foco na qualidade econômica, ambiental

e social).

Nessa mesma linha, Epstein (2008) alega que a sustentabilidade impacta

diretamente as organizações, pois empresas líderes têm crescentemente assumido

seriedade em gerenciar seu desempenho social e ambiental corporativo e controla-

lo. Esse autor afirma, ainda, que deve haver uma iniciativa para a implementação de

uma estratégia corporativa que compreenda os impactos sociais, ambientais e

econômicos que podem ser direcionados a fatores internos. Além disso, destaca-se

que deve haver um empenho da organização com a sustentabilidade, já que essa

última pode gerar um reconhecimento do valor financeiro por intermédio do

crescimento das receitas e diminuição dos custos. No entanto, na maioria das vezes,

a imposição para uma estratégia sustentável vem de pressões externas, como a

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regulamentação do governo, demandas de mercado, atuações dos concorrentes ou

pressões das Organizações não Governamentais (ONGs).

Contribuem com suas ideias, Savitz e Weber (2006), ao conceituarem a

sustentabilidade como a arte de fazer negócios de maneira a causar o impacto

menos danoso sobre os entes vivos e não causar exaustão na natureza, mas sim

restaurá-la e enriquecê-la. Por isso, sustentabilidade organizacional significa dirigir o

negócio, reconhecendo os interesses e necessidades dos outros, como, por

exemplo, os grupos da comunidade, as instituições religiosas e de educação, a força

do trabalho, o público e outros interessados. E esse reconhecimento não se

desgasta nunca, mas, sim, reforça a rede de relações que mantêm essas partes

unidas (SAVITZ; WEBER, 2006).

Assim, a organização deve reconhecer um grande espectro de partes

interessadas e deve prestar contas, desenvolvendo relacionamentos transparentes e

descobrindo maneiras para trabalhar na conquista mútua de benefícios. Nesse

contexto, afirmam, Savitz e Weber (2006), que o gerenciamento dos stakeholders

ganha alcance estratégico que, em longo prazo, gerará valor para a empresa com

maior prosperidade social, econômica e ambiental para a comunidade.

Para que haja, portanto, uma integração entre a sustentabilidade e as

organizações, é necessário um desempenho sustentável. O desempenho

sustentável é, na definição de Kinlaw (1997), uma expressão que indica que as

organizações devem conduzir os seus negócios, preocupando-se com o futuro, ou

seja, com os aspectos ligados à sustentabilidade corporativa. Corroborando com

esse entendimento, destacam Epstein e Roy (2003) que o desenvolvimento

sustentável e o desempenho em sustentabilidade são termos utilizados, com

frequência, para indicar a ligação existente entre as organizações e a

responsabilidade social corporativa.

Por isso, Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008) desenvolveram as principais

questões direcionadas para a sustentabilidade nos negócios, conforme se observa

no Quadro nº 3.

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Quadro nº 3: Princípios do desempenho sustentável Princípio Descrição do Princípio:

Ética A empresa estabelece, gera monitora e sustenta padrões e práticas éticas em

anuência com seus stakeholders. Governança A empresa gerencia seus recursos conscientemente e efetivamente,

reconhece seu dever fiduciário dos conselhos e executivos em focalizar os interesses dos stakeholders da empresa.

Transparência A empresa fornece acesso a informações sobre seus produtos, serviços e atividades, permitindo aos stakeholders tomarem suas decisões.

Relacionamento de negócio

A empresa empenha-se com práticas de relações honestas com seus fornecedores, distribuidores e parceiros.

Retorno financeiro

A empresa recompensa os provedores de capital com um retorno do investimento com taxas competitivas e proteção aos ativos da empresa.

Envolvimento da comunidade/ Desenvolvimento econômico

A empresa incentiva relacionamento reciprocamente benéfico entre a empresa e a comunidade em que é sensível à cultura, ao contexto e às necessidades da comunidade.

Valor dos produtos e serviços

A empresa respeita as necessidades, desejos e direitos dos seus clientes e se esforça para manter altos graus de valor de seus produtos e serviços.

Práticas de trabalho

A empresa compromete-se com práticas de gerenciamento dos seus recursos humanos no intuito de manter desenvolvimento pessoal e profissional de seus funcionários, diversidade e empoderamento.

Proteção ao meio ambiente

A empresa protege e restaura o meio ambiente e promove o desenvolvimento sustentável com produtos, processos, serviços e outras atividades de que se utilize.

Fonte: Adaptado de Hourneaux Junior (2010) baseado em Epstein e Roy (2003); e, Epstein (2008).

Esse quadro demonstra a percepção de Epstein e Roy (2003) quanto aos

princípios que devem nortear a empresa para a obtenção de um desempenho

sustentável, desde que siga três atributos: a) deve tornar a definição de

sustentabilidade a mais precisa possível; b) deve ter capacidade de integração aos

processos decisórios diários da gestão e na tomada de decisão sobre operações e

investimento de capital; e c) precisa ser quantificado e monetizado. Portanto,

verifica-se que o conceito de sustentabilidade, aproveitado ao mundo dos negócios,

ficou notório como sustentabilidade corporativa e pode apresentar diferentes

conceitos.

Para Vellani (2011), o conceito diz respeito ao fornecimento de valor aos

acionistas pela empresa, que também provê educação, lazer, cultura, justiça social e

defesa da diversidade e dos ecossistemas. Sustentabilidade corporativa agrega,

então, as necessidades de produção de valor aos stakeholders com conservação

dos recursos ambientais e sociais (ROCA; SEARCY, 2012).

Apresentados alguns aspectos concernentes à sustentabilidade, passa-se

ao título seguinte que analisará alguns tipos de relatórios de sustentabilidade.

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2.2 TIPOS DE RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE

No Brasil, os tipos de relatórios de sustentabilidade mais utilizados entre as

empresas são o Balanço Social IBASE, os Indicadores Ethos, o Índice de

sustentabilidade empresarial - ISE e as diretrizes da GRI.

Por isso, analisam-se, na sequência, o ISE e as diretrizes da GRI que estão

sendo utilizados, por se tratar de um relatório de padrão internacional e que tem

base na abordagem Triple Bottom Line, além de admitir que as empresas divulguem

as informações nas dimensões econômica, social e ambiental de maneira

abrangente para qualquer tipo, tamanho, segmento ou localidade (GRI, 2006).

2.2.1 Índice de sustentabilidade empresarial – ISE

O Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE é um indicador que reúne 32

(trinta e duas) empresas, cujas ações estão entre as 150 (cento e cinquenta) mais

negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo – BM&FBovespa. Essas empresas

são lançadas nesse índice, em razão de sua atuação na área de responsabilidade

social e ambientais e analisadas por meio de questionários e avaliações realizadas

pela própria BM&FBovespa. Por isso, levam-se em consideração os critérios de

viabilidade econômica, justiça social e sustentabilidade ambiental, motivo pelo qual,

cada vez mais, outras organizações, dos mais variados segmentos, buscam fazer

parte desse índice (BM&FBOVESPA, 2009).

Com o fim de atender à crescente demanda por investimentos que fossem

socialmente responsáveis e rendosos, o Índice de Sustentabilidade Empresarial -

ISE foi criado pela BM&FBovespa, em 2005, em conjunto com outras instituições,

quais sejam, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência

Complementar - ABRAPP, a Associação Nacional dos Bancos de Investimento -

ANBID, a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de

Capitais - APIMEC, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC, o

Internacional Finance Corporation – IFC e o Instituto ETHOS (BM&FBOVESPA,

2009).

A BM&FBovespa seguiu a tendência das bolsas de valores de outros países,

na visão de que organizações que se preocupam com a sustentabilidade geram

valor ao acionista a longo prazo. A intenção é, portanto, que o ISE foque o retorno

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de uma carteira teórica, composta por ações de empresas brasileiras que gerem

boas práticas e tenham responsabilidade social e sustentabilidade empresarial.

Dessa maneira, estariam tais empresas aparelhadas para enfrentar riscos tanto

econômicos quanto sociais e ambientais (BM&FBOVESPA 2009).

O Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE foi normatizado pela

Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tem a finalidade de valorizar as boas

práticas corporativas, estimularem a transparência e aprofundar as discussões sobre

o impacto da gestão de sustentabilidade do investimento social no âmbito das

companhias (CVM, 2013).

A Sustentabilidade Corporativa, bem como a governança corporativa nas

companhias, termos importados do mundo das empresas para a Administração

Pública, fornece a visão de algumas teorias, a exemplo da teoria dos stakeholders.

Percebe-se que tal teoria torna possível compreender seus objetivos, princípios e

também os mecanismos que demonstram maior interação dos stakeholders com a

Administração Pública. Além disso, contribui para o entendimento de como

programar ações que colaborem para a efetiva participação dos interessados na

gestão pública e na administração do recurso natural (ALMEIDA; KRUGLIANSKAS;

SANTOS; GUIMARÃES, 2008).

Foram apresentados os vários instrumentos para se medir a Governança

Corporativa existente, conforme surgiam maiores inovações e exigências para se

aceitar que a empresa fizesse parte de um seleto grupo de instituições preocupadas

em demonstrar transparência, equidade em relação aos acionistas e também no

bom relacionamento com seus stakeholders internos e externos. Como se pode

constatar, os organismos internacionais foram os primeiros a se preocupar com o

estabelecimento de melhores práticas de Governança Corporativa em relação às

empresas privadas e estatais em todo o mundo. Sendo que a governança é um dos

princípios do desempenho sustentável que será citado no desenvolver deste

trabalho.

A Federação Internacional de Contadores desenvolveu uma proposta por

meio de um documento denominado de Estudo 13, com a intenção de coordenar

mundialmente as necessidades do envolvimento do setor público em relatórios

financeiros, contabilidade e auditoria. Logo, a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) propôs recomendações endereçadas aos

ambientes institucionais relativos às questões específicas de Governança

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Corporativa nas empresas estatais dos países membro e de países convidados, a

exemplo do Brasil.

A Comissão de Valores Mobiliários editou cartilha com práticas de

governança corporativa, tendo a finalidade de incentivar e trazer benefícios para o

mercado de capitais brasileiros, promovendo, ainda, a poupança interna e externa

com a capitalização das empresas. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F

Bovespa) criou o Novo Mercado e mais dois Níveis Diferenciados de Governança

Corporativa que têm respondido às ações por melhores padrões de governança nas

empresas brasileiras.

Como se pode constatar, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa -

IBGC inovou ao criar o código das melhores práticas de Governança Corporativa e

ao incluir as novas dimensões da Responsabilidade Corporativa e da

Sustentabilidade. As práticas de Governança Corporativa, segundo o IBGC,

englobam todas as recomendações dos órgãos internacionais e inova ao incluir

novas dimensões relativas ao meio ambiente, à responsabilidade corporativa e à

sustentabilidade corporativa.

A organização do setor elétrico, no sul do Brasil, deste estudo, tem uma

governança corporativa bem desenvolvida e se encontra no nível 2 da Bovespa por

vários anos. A empresa se amolda plenamente às exigências do IBGC, pois, além

de desenvolvida, a governança corporativa agora está publicando o Relatório Anual

e de Sustentabilidade nos moldes da Global Reporting Initiative – GRI.

A seguir, apresenta-se, assim, a Global Reporting Initiative – GRI, cuja

tradução é Relatório de Iniciativa Global, em sua versão GRI-3 e utilizada pela

organização estudada. Afirma-se isso porque, apesar de atualmente já ter sido

lançada a GRI-4, essa somente será utilizada opcionalmente a partir de seu

lançamento, mas substituirá a GRI-3 a partir de 2015.

2.2.2 Global Reporting Initiative – GRI

A GRI surgiu em 1997 quando a organização sem fins lucrativos Coalizão

pela Economia Ambientalmente Responsável - CERES, sediada em Boston, iniciou

uma divisão de projetos chamada Global Reporting Iniciative (GRI). As primeiras

diretrizes foram publicadas em 1999 para serem testadas e comentadas pelas

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pessoas e foram também utilizadas por vinte organizações na produção de seus

relatórios de sustentabilidade.

A primeira versão definitiva das diretrizes foi difundida no ano de 2000 e

seus objetivos eram demonstrar por meio de um quadro claro os impactos humanos

e ambientais dos negócios, facilitar a transparência de decisão sobre investimento,

prover às partes interessadas informações confiáveis e relevantes aos seus

interesses, criar uma ferramenta gerencial para ajudar a organização na avaliação

de seu progresso e constituir princípios amplamente aceitos de relatórios externos

(DIXON, 2005).

Em 2001, a CERES se divide, criando a GRI – instituição independente; já

em 2002, a GRI é transferida para Amsterdã, na Holanda, criando a sua segunda

versão. A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional sem fins

lucrativos que vem sendo pioneira na elaboração de estruturas para relatórios de

sustentabilidade. Sua finalidade é expandir e disseminar as diretrizes aplicáveis para

o feitio de relatórios de sustentabilidade por meio de um processo internacional, de

longo prazo e multistakeholder (rede de milhares de pessoas). Essas diretrizes são

de uso voluntário e se baseiam no “Triple Bottom Line” ou o tripé da sustentabilidade

(LAMBERTON, 2005).

Uma das principais pretensões da GRI é que os relatos da sustentabilidade

atinjam a mesma austeridade, comparabilidade, credibilidade e verificabilidade

almejadas de um relatório financeiro. As Diretrizes para Elaboração de Relatórios de

Sustentabilidade se propõem a auxiliar as organizações na construção do relatório,

em cujo conteúdo deve constar o perfil da organização, suas estratégias e a

apresentação dos indicadores de desempenho (GRI, 2011).

A qualidade do relatório também é assegurada por princípios que fazem

parte das Diretrizes da GRI, que são divididos em um grupo que trata do conteúdo e

outro que assegura a qualidade. Os princípios de conteúdo são os da materialidade,

inclusão das partes interessadas (ou stakeholdes), contexto da sustentabilidade e

abrangência (GRI, 2011) que são explicados a seguir. No quadro 4 - que trata das

Diretrizes para elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade vai explicitar os

Princípios de conteúdo direcionando para o contexto da sustentabilidade, sua

materialidade, envolvimento com stakeholdes e sua abrangência que deve ser o

mais ampla possível.

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Quadro nº 4 – Princípios de Conteúdo para elaboração da GRI Princípios de conteúdo

Contexto da sustentabilidade – a organização deve apresentar seu desempenho no contexto mais amplo da sustentabilidade. As informações obtidas por intermédio de questões sobre os relatos de sustentabilidade, devem demonstrar como a organização pretende contribuir no futuro com melhorias ou degradação das condições econômicas, ambientais e sociais, desdobramentos e tendências em nível local, regional e ou global; Materialidade – o relatório deve descrever aspectos que vislumbrem os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização ou que possam influenciar, substantivamente, as estimativas e decisões de stakeholders; Inclusão das partes interessadas (ou stakeholdes) – a organização deve identificar as partes interessadas e explicitar quais medidas foram adotadas para atender aos seus interesses e expectativas; Abrangência – a cobertura de aspectos materiais e seus limites devem ser suficientemente amplos para vislumbrar impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização e consentir que as partes interessadas avaliem o seu desempenho no período analisado.

Fonte: GRI, 2011.

Feitas essas ponderações, destaca-se, ainda, que os princípios de

qualidade definidos pelas diretrizes da GRI serão definidos no Quadro nº 5.

Quadro nº 5 – Princípios de Qualidade para elaboração da GRI Princípios de Qualidade

Equilíbrio – o relatório deve divulgar tanto aspectos positivos quanto negativos do desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada; Comparabilidade – a organização deve escolher compilar e relatar as informações de forma consistente e, assim, auxiliar a avaliação de desempenho. O relato das informações deve permitir aos stakeholders analisar mudanças no desempenho da organização ao longo do tempo e auxiliar na análise relacionada a outras organizações; Exatidão – detalhamento e precisão suficientemente adequada das informações para que os stakeholders possam avaliar o desempenho da organização; Periodicidade – a organização deve ter regularidade na publicação do relatório (trimestral ou anual, etc.) e facilitar a disponibilidade das informações para que os stakeholders tomem decisões fundamentadas; Clareza – a disponibilização das informações deve ser de forma compreensível e acessível aos stakeholders que se utilizam do relatório; Confiabilidade - A organização ao fazer a coleta, registro, compilação, análise e divulgação das informações e processos usados na elaboração do relatório, deve permitir a sua revisão e estabelecer sua qualidade e materialidade.

Fonte: GRI, 2011.

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Os protocolos de indicadores são complementares às diretrizes e buscam

auxiliar organizações relatoras no entrosamento dos indicadores de desempenho

apresentados nas diretrizes. Nesses protocolos são descritas definições, orientações

para compilar corretamente, bem como informações que garantam a coerência na

interpretação dos indicadores de desempenho.

Portanto, o quadro n° 6 demonstrará, por meio de exemplo, como são

classificadas e distribuídas as variáveis em categoria geral, subcategorias e

exemplos de indicadores.

Quadro nº 6 - Variáveis utilizadas pela Global Reporting Initiative (GRI – G3) Categoria geral de desempenho

Subcategorias Exemplos de indicadores

Indicador de desempenho Econômico

Impactos da organização sobre condições econômicas dos stakeholders

Práticas e custos com fornecedores locais

Impactos da organização sobre condições econômicas dos sistemas econômicos

Impactos econômicos locais incluindo sua extensão

Indicador de desempenho Ambiental

Ecossistemas Gastos com água Insumos Economia c/ energia elétrica Produtos Controle de emissões de gases Biodiversidade Preservação de fauna e flora Conformidade Ambiental Controle incumprimento de leis Gastos com meio ambiente Mitigação de riscos ambientais Outras informações relevantes Despesa com meio ambiente

Indicador de desempenho Social

Práticas Trabalhistas Normas internacionalmente

aceitas Direitos Humanos Treinamento de empregados,

liberdade de associações Sociedade Riscos de suborno, influência

indevida, elaboração políticas públicas

Responsabilidade pelo Produto Aspectos produtos e serviços que afetam diretamente clientes

Fonte: Adaptado da GRI, 2011.

Os Protocolos de Indicadores da GRI-3 – são classificados em três

categorias gerais de desempenho (econômico, ambiental e social) como se pode

verificar no quadro nº 6.

A GRI (versão G3) possui três níveis de aplicação que são utilizados para

que a organização faça uma autodeclaração do grau de utilização da Composição

de Relatório GRI. Os níveis de aplicação se classificam em C, B e A, sendo o A, o

nível mais completo de aplicação das diretrizes GRI.

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No Quadro nº 7 verificam-se os critérios para cada nível de aplicação da GRI

(versão G3).

Quadro nº 7 - Critérios para os níveis de aplicação

Relatório Níveis de Aplicação

C C+ B B+ A A+

C

O

N

T

E

Ú

D

O

Perfil da G3 – Resultado

Responder aos itens 1.1, 2.1 a 2.10, 3.1 a 3.8 , 3.10 a 3.12, 4.1 a 4.4, 4.14 a 4.15

V.

E.

Responder todos os critérios elencados para nível C mais: 1.2, 3.9, 3.13, 4.5 a 4.13, 4.16 a 4.17

V.

E.

O mesmo exigido para o nível B

V.

E.

Informações sobre a Forma de Gestão G3 – Resultado

Não exigido Informações sobre a Forma de Gestão para cada Categoria de Indicador

Forma de Gestão divulgada para cada Categoria de Indicador

Indicadores de desempenho da G3 (ID) e Indicadores de Desempenho do suplemento setorial (IDS) - Resultado

Responder a um mínimo de 10 ID, incluindo pelo menos 1 de cada área de desempenho social, econômico e ambiental

Responder a um mínimo de 20 ID, incluindo pelo menos 1 de cada área de desempenho: econômico , ambiental, dir. Humanos, práticas trabalhistas, sociedade, responsabilidade pelo produto

Responder a cada Indicador essencial da G3 e do Suplemento Setorial com devida consideração Princípio materialidade de 1 das seguintes formas: a)responder Indicador ou b)explicando motivo omissão

“Suplemento Setorial versão final”

Fonte: GRI (2006, p. 2) - V.E. – Verificação Externa

Conforme se visualiza no quadro nº 7, a organização pode, além de realizar

a autodeclaração, solicitar parecer externo em consideração ao nível autodeclarado

ou requerer que a GRI forneça o parecer que equivale aos níveis C+, B+ e A+.

Ao fazer uso das Diretrizes GRI, solicita-se que as organizações

comuniquem à sede da GRI por meio de cópia impressa ou eletrônica do relatório de

sustentabilidade ou, então, o registrem no banco de relatórios online da GRI.

Existem pontos positivos, assim como limitações e críticas em relação aos

relatos GRI. A GRI é uma ferramenta de relato que integra variáveis econômicas,

ambientais e sociais de uma empresa, por meio de orientações detalhadas e tem por

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finalidade criar uma linguagem comum entre as organizações, facilitando sua

comparabilidade e o acompanhamento do desempenho ao longo do tempo. A

consequência imediata de a GRI ser uma ferramenta padrão é utilizá-la por grande

número de organizações e procurar por resultados cada vez melhores. Outro ponto

positivo é o fato de que a estrutura da GRI não é fixa, pois está em constante

progresso. Por isso, conta-se com a participação de uma rede multi-stakeholder

(GRI, 2008). Essa rede é constituída pela sociedade civil, organizações,

acadêmicos, instituições mediadoras, trabalhadores, mercados financeiros e

governos, todos imbuídos na construção da estrutura da GRI, fornecendo, cada vez

mais, inovações em suas diretrizes e tornando-a mais completa no relato da

sustentabilidade das empresas (CAMARGOS, 2012).

A GRI, ao tentar alcançar o mesmo patamar de comparabilidade, rigor e

credibilidade com os relatórios financeiros, evidencia a questão da sustentabilidade

nas organizações. As empresas, ao adotarem o relatório de sustentabilidade,

mesmo que não estejam totalmente engajadas em se tornar sustentáveis,

possibilitam que o relatório crie uma movimentação interna. Assim, todos os

questionamentos que surgirem, ajudarão a identificar os pontos passíveis de

melhora e as práticas que estejam afetando a sustentabilidade da organização

diante dos stakeholders (CAMARGOS, 2012). Por isso destaca-se, inicialmente, que

foi no trabalho confeccionado por Camargos (2012, p. 3-4) para elaboração do

relatório de sustentabilidade das empresas de energia elétrica no Brasil que se teve

por principal finalidade examinar premissas diversas. Essa autora afirmou, então,

que: A ANEEL exige que as organizações divulguem um relatório socioambiental por

parte das empresas de energia elétrica e que as diretrizes da Global Reporting

Initiative (GRI) sejam propostas como modelo para o relatório de sustentabilidade

pela grande maioria das companhias. Assim, o objetivo desta dissertação foi analisar

como tais diretrizes têm sido empregadas por essas organizações. Por isso,

verificou-se se os princípios constituídos pela GRI foram satisfeitos durante a

preparação do relatório, se as organizações empregaram as diretrizes de maneira

homogênea e se as cobranças da ANEEL influenciaram o conteúdo do relatório GRI.

Levando em conta, o objetivo secundário, a autora tentou atender aos motivadores

do uso expressivo do modelo GRI pelas empresas brasileiras de energia elétrica e

tratar se o modelo é apropriado para a realidade do setor de energia elétrica.

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Indicados esses objetivos, a autora concluiu que, no caso das empresas de

energia elétrica, os bons indicadores são aqueles que se demonstram capazes de

“[...] mostrar se as atividades da companhia estão acontecendo dentro dos limites

atribuídos pelo meio no qual ela está inserida, respeitando os recursos naturais e

auxiliando na melhoria de vida da população” (CARMARGOS, 2012, p. 75).

Verificou-se, assim, que nessa organização no decorrer desse trabalho há proteção

ao meio ambiente e, logo, ao desenvolvimento sustentável, porque é nessa esfera

empresarial que se verifica constantemente a necessidade de se atender a esses

indicadores, haja vista os impactos ambientais gerados e a utilização de uma

enormidade de recursos naturais.

Nessa pesquisa realizada por Camargos (2012, p. 76), observou-se a

importância de se atentar à esfera social das empresas de energia elétrica, pois para

a autora “estas empresas, por serem fornecedoras de um serviço indispensável à

população e, ao mesmo tempo, causadoras de grandes impactos ambientais e

sociais, estão na mira de constantes cobranças da sociedade”. Portanto, além da

empresa de energia elétrica ser diretamente dependente da natureza ambiental,

deve estar atenta à sustentação desses recursos por ela empregados, uma vez que

a sustentabilidade também está diretamente ligada a essa demanda.

Atentou-se, diante dessa elucidação, que o âmbito social deve ser sempre

observado para que se adotem práticas sustentáveis na organização (FREITAS,

2012) e que, em decorrência disso, houve a sustentação de que a organização

estudada respeita esses ensinamentos mencionados e preocupa-se com os

recursos naturais, inclusive com a qualidade de vida da população que se vê

diretamente envolvida pelo desenvolvimento de suas atividades, embora a empresa

não tenha ainda cumprido plenamente todos os princípios referentes à

sustentabilidade, na maior parte está bem avançada nessa empreitada.

Destaca-se, além disso, que foi no trabalho desenvolvido por Nascimento,

Mendonça e Cunha (2012, p. 3) que se teve por objetivo “[...] verificar como as

ações do sistema setorial brasileiro de energia eólica se relacionam com as

perspectivas econômicas, sociais e ambientais que caracterizam inovações

sustentáveis”.

Esses autores concluíram que no sistema setorial brasileiro de energia eólica:

“[...] foi possível verificar que os pilares da sustentabilidade (econômico, social e

ambiental) podem ser visualizados ao longo de praticamente todas as questões

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envolvendo a implantação de novas usinas eólicas”. Entretanto é importante

enfatizar que os assuntos econômicos estão na essência das discussões e é por

meio da viabilidade econômica dessas usinas que ações ambientais e sociais

também são beneficiadas (NASCIMENTO; MENDONÇA; CUNHA, 2012, p. 12).

Diante desses esclarecimentos, verificou-se que a organização estudada

durante o desenvolvimento deste trabalho também fornece especial atenção aos

pilares da sustentabilidade e chamados de pilares econômico, social e ambiental,

motivo pelo qual também dá ênfase ao âmbito econômico, pois esse é o aspecto

que determina as questões ligadas aos pilares sociais e ambientais. Corrobora com

esses posicionamentos, Freitas (2012), ao elucidar que essa dimensão econômica é

a que possibilita o equilíbrio entre a eficiência e a equidade prestada nas

organizações, independentemente de qual o ramo em que atuam.

Alguns pontos negativos também serão ressaltados a respeito das diretrizes

da GRI, pois existe uma grande liberdade apresentada no feitio dos relatórios de

sustentabilidade, o que dificulta a sua comparabilidade com os apresentados por

outras organizações. Outro ponto se refere à natureza voluntária, sendo que as

diretrizes são delineadas para considerarem organizações com diferentes níveis de

complexidade. Essa situação gera uma flexibilidade em decorrência uma estimável

diversidade de relatórios entre as várias organizações, prejudica-se a

comparabilidade, o que contraria os objetivos ditados pelo GRI.

A natureza informal das diretrizes e a permissão da inclusão de informações

adicionais também podem levar a uma representação falsa das atividades da

organização, pois podem ser manipuladas e levar a evidências tendenciosas,

afetando a sua transparência (MONEVA; ARCHEL; CORREA, 2006).

Muitas organizações relatam aspectos de sua sustentabilidade corporativa

por meio da GRI. Todavia, a quantidade e padronização das diretrizes da GRI

podem ser fragmentadas e escolhidas cuidadosamente para fazer parte do relatório.

Essa situação se contradiz com as expectativas dos stakeholders e com relação à

transparência das informações (GUTHRIE; FARNETI, 2008).

Oliveira, Campos, Sehnem e Rosseto (2013), questionam se as informações

são limitadas, assim como a falta de evidenciação das externalidades negativas das

organizações, subjetividade na seleção dos itens a serem considerados nos

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relatórios e a deficiência na padronização, inclusive no que se refere à periodicidade

dos relatórios, dificultando a comparabilidade entre as empresas e países.

Na criação da GRI, a principal finalidade é o desenvolvimento de diretrizes e

processos para relatar as ações de sustentabilidade da organização com

transparência para a comparabilidade e valoração. Assim, Oliveira, Campos,

Sehnem e Rosseto (2013) questionam a ausência de padronização nos relatórios

sociais.

Nagli (2013, p. 15), por outro lado, concluiu que “[...] a Administração Pública

tem o condão de adotar práticas sustentáveis na sua gestão [...]”. Assim, verificou-se

que em diversas organizações é dispensada especial atenção às práticas

sustentáveis.

Afirma-se isso porque Garcia e Fernandes (2012) entendem que um dos

objetivos com relação à implantação de bacias hidrográficas é avaliar os impactos

socioeconômicos e ambientais causados.

Munck (2013) também destaca, em seu trabalho que trata da gestão da

sustentabilidade nas organizações e suas competências, que a sustentabilidade

organizacional é de extrema importância nos dias de hoje. Por esse motivo, esse

autor conclui que toda organização exige um relacionamento de confiança com seus

steakholders, pois será por intermédio desse relacionamento que haverá o

compartilhamento de informações econômicas, ambientais e sociais no âmbito

organizacional, assim como ocorre na organização em estudo que visa colaborar

com a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável por meio de suas

atividades, sejam internas ou externas.

Nessa linha, discorrem Moriscue, Ribeiro e Penteado (2012, p. 1) no trabalho

sobre relatórios de sustentabilidade de empresas brasileiras: O aumento da transparência exigido por seus mais diversos stakeholders, nos âmbitos sociais e ambientais, leva-as a informar não apenas sobre seu desempenho financeiro, mas também sobre seus impactos sociais e ambientais.

Por isso, deve-se observar que as empresas brasileiras do setor de energia

elétrica e regulamentadas pela ANEEL têm mantido algumas medidas que auxiliam

a sua interação com o meio ambiente e, portanto, com seus stakeholders,

(MORISCUE; RIBEIRO; PENTEADO, 2012)

Finalmente, frisa-se no tocante aos ensinamentos de Silva, Reis e Amâncio

(2011) que, na sua pesquisa, se buscou compreender alguns significados que são

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normalmente atribuídos à sustentabilidade nas organizações. Por isso, esses

autores concluíram que é no setor de energia elétrica que se verificam vários

investimentos e programas sociais e socioambientais, como também em

responsabilidade social e socioambiental, assim como acontece nas organizações

que vêm se preocupando não somente com a degradação ambiental, mas com os

riscos e medidas que devem ser adotados para minimizar as consequências e

impactos de suas atividades.

Sendo “assim, afirma Munck (2013), na conclusão de seu trabalho, um novo

agir frente à lógica das competências” que deve haver uma preocupação das

empresas, independentemente de serem públicas ou privadas, para os pontos de

vista ambiental, social e econômico, pois esses são considerados os pilares que

devem manter um equilíbrio entre si e que se referem ao Triple Bottom Line, assim

como se observa nas organizações que publicam o RSA, modelo GRI.

Feitas essas ponderações, passa-se então, a examinar ferramentas utilizadas

nas organizações relativas aos princípios de desenvolvimento sustentável.

O princípio da ética estabelecido por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008)

assevera: “A empresa estabelece, gera monitora e sustenta padrões e práticas

éticas em anuência com seus stakeholders. Sendo que o código de ética nas

organizações passa a ser uma obrigação nas empresas que querem se posicionar

como “sustentáveis”. Para tanto, o Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (2014)

definiu o Código de Ética (CE) como: A declaração do conjunto de direitos, deveres e responsabilidades empresariais para com os stakeholders, refletindo a cultura, os princípios e os valores, a atuação socioambiental e o conjunto das normas de conduta para dirigentes, executivos e colaboradores bem como para as empresas integrantes da cadeia produtiva, mediante os quais atuam as premissas que enriquecem os processos decisórios da empresa e orientam para o seu comportamento. Além disso, deve ser o principal instrumento da governança corporativa e da gestão estratégica para se tornar um aliado das empresas no caminho que levará ao Desenvolvimento Sustentável.

O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios (2014) declara para que o CE

possa ser entendido como a Lei Maior da organização, deve ser considerada como

uma Carta dos Direitos e dos Deveres Fundamentais, por meio da qual a empresa

recomenda e esclarece as suas próprias responsabilidades éticas, sociais e

ambientais. O Instituto alega, ainda, que o CE é uma ferramenta que permite a todos

os stakeholders conhecer uma empresa, seu desempenho, normas de conduta

(tanto da empresa como de seus funcionários, sendo importante sua divulgação em

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web site empresarial e, assim, tornando público seus compromissos. O Código de

Ética guia a empresa e seus stakeholders para se dirigir os negócios de maneira

ética, socialmente responsável e ecologicamente correta para se trilhar o caminho

da sustentabilidade plena.

Nessa mesma linha, Silva et.al. (2011), ao analisar o estudo de caso no

Tribunal de Contas Estadual do Ceará afirmou que a únicas recomendações não

atendidas referem-se às normas de conduta ética. A ausência de um código de ética

(formal), como também a falta de avaliação periódica e pela falta de aderência,

evidencia um baixo grau de transparência interna da instituição para com seus

servidores, pois não esclarece quais normas de comportamento os servidores

devem adotar e quais seriam as consequências do inadimplemento dessas.

Verificou-se que não há um código de ética formal que defina as normas de

comportamento as quais todos os servidores do Tribunal devem seguir. Mello

(2006), ao analisar as práticas de governança corporativa do Governo Federal

brasileiro, observou-se que quase todos os procedimentos relativos ao código de

ética foram aprovados, com exceção da periodicidade da revisão e distribuição,

indicando falta de transparência interna. Quanto à falta de avaliação periódica em

relação ao conhecimento dos empregados para Silva et.al. (2011), ao avaliar os

resultados no Tribunal de Contas Estadual do Ceará, concluiu que essa situação

corrobora para a deficiência de transparência interna do referido tribunal.

Estudando as relações entre Conselho de Administração e direção executiva,

Almeida et.al. (2008), constata que o grande desafio para garantir uma estrutura

efetiva de governança corporativa, na empresa estatal, está na ocorrência de

transparência do desempenho de gestão envolver uma cadeia complexa de

stakeholders. O Estado (principal), devido as suas interações sociais e políticas, não

consegue restringir os conflitos: de um lado, motivado pela atuação política na

expectativa de manter influência nas decisões por parte dos stakeholders; por outro

lado pela ação na defesa da maximização dos seus interesses. A direção executiva,

respondendo pelo governo, representa o acionista majoritário, e o Conselho de

Administração (CA) consequentemente os acionistas majoritários, daí ocorrer o

conflito. O importante é manter o CA e a direção executiva com autonomia, bem

como o Conselho Fiscal, pois pode haver profundos impactos na empresa.

Fontes Filho e Picolin (2008) asseveram em suas considerações finais,

aspectos a respeito da relação entre CA e direção executiva:

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As diretrizes propostas pela OCDE para as estatais têm como tônica fortalecer a autonomia da empresa e dos conselhos. Ambos os aspectos podem trazer profundos impactos sobre o monitoramento e controle das empresas, dando visibilidade a custos usualmente não discriminados, relativos à execução de políticas públicas, permitindo separar a eficiência empresarial da estatal da ação governamental, cujo custo deveria ser mais claramente disposto no orçamento público.

Os autores asseveram que só assim será possível gerar qualidade na

gestão, meritocracia e o direcionamento das responsabilidades pela obtenção dos

objetivos. Assim, as decisões do CA precisam ser transparentes e por isso

divulgadas adequadamente.

Na opinião de Almeida et. al. (2008), após dados colhidos em oito empresas

públicas, na percepção dos stakehoders internos, verificou que as deliberações do

CA não são amplamente divulgadas aos níveis gerenciais e, assim, não asseguram

plena transparência e divulgação das informações corporativas nas empresas

públicas pesquisadas.

Depois dessas considerações a respeito das estatais, verifica-se a gestão de

riscos como ferramenta de controle, monitoramento de riscos ambientais,

operacionais e outros que impactam ou podem impactar uma organização.

Segundo Crawford e Helm (2009), mediante pesquisa realizada em quatro

organizações do setor público australiano, há de se demonstrar que iniciativas

devem ser tomadas com relação à governança, já que essas iniciativas geram a

necessidade de melhoria do desempenho e da capacidade organizacional para

implementar e adaptar-se à mudanças. Essas assumem, geralmente, a forma de

projetos e programas de incentivo à variedade de implementação de projetos de

gestão no setor público. Neste estudo de caso, as quatro organizações

compartilham muitas questões contextuais e preocupações, bem como a

implementação dos projetos de gerenciamento que foram bem sucedidos e

obtiveram benefícios de prestação de contas, relatórios com transparência, gestão

de risco, maior controle para cumprimento de eficácia e eficiência na gestão dos

fundos públicos e do valor dos mercados de capitais, e quadro de engajamento

reforçado de stakeholders. No caso específico dos riscos, as quatro organizações

partilharam a preocupação em utilizar a gestão de riscos para mitigar o risco de

cobertura negativa da mídia. Os autores enfatizaram que os limites entre a

administração e as políticas são cada vez mais permeáveis, exigindo que as

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organizações sejam flexíveis e acessíveis à direção ministerial e à consulta pública

em todos seus projetos. Isso requer a capacidade de lidar com a incerteza, a

ambiguidade e a mudança, devendo-se continuar a exercer o controle, gerir os

riscos e demonstrar responsabilidade e transparência.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia da pesquisa compreende quatro itens diversos: a abordagem

e estratégia de pesquisa; o universo e a amostra; as técnicas e instrumentos de

coleta de dados; e a explanação sobre as variáveis de análise que foram utilizadas

no decorrer do trabalho.

3.1 ABORDAGEM E ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Para atender aos objetivos propostos para o desenvolvimento dessa

pesquisa, utilizaram-se alguns procedimentos metodológicos que serão na

sequência elencados e também explicados para que não restem dúvidas com

relação aos métodos e técnicas de pesquisa adotada.

Este trabalho tratou, então, de um estudo de caso exploratório, descritivo e

de abordagem qualitativa.

O estudo de caso exploratório é aquele que, segundo Yin (2010) tem por

principal finalidade conduzir novos estudos à generalização, ou seja, consiste em

estudo que busca o primeiro passo como forma de se chegar à construção de uma

nova teoria. Trata-se, dessa forma, de espécie de estudo de caso que visa em

síntese, aprofundar a compreensão de um fenômeno que foi pouco investigado (YIN,

2010).

Por sua vez, o estudo de caso descritivo é o que pode ser definido como

sendo aquele relato que busca descrever um determinado caso em específico,

motivo pelo qual se compreende que é por meio desse estudo que se relata sobre

determinado assunto que é pouco conhecido ou abordado (YIN, 2010).

Verifica-se que o estudo de caso que possui abordagem qualitativa é aquele

que se verifica, normalmente, quando se realizam coleta de dados no âmbito

organizacional, pois se configura como método de investigação científica (FACHIN,

2011).

Distingue-se a conformação da utilização de estudo de caso para esse tipo

de pesquisa, pois no ponto de vista de Eisenhardt (1999), ele pode ser considerado

adequado para estágios iniciais da pesquisa sobre determinado tópico ou para

fornecer novas perspectivas a um tópico já pesquisado, pois sustentabilidade é tema

que ganhou maior importância há pouco tempo, ou seja, há poucos anos.

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Corroborando com esse posicionamento, relata Fachin (2011) que se pode

compreender por estudo de caso aquele método pelo qual se buscam explicar

sistematicamente alguns fatos ou fenômenos que ocorrem no âmbito social e,

normalmente, estão diretamente relacionados com múltiplas variáveis.

Yin (2010) menciona que “o estudo de caso” pode ser definido, diante disso,

como sendo o conhecimento empírico que averigua o fenômeno no contexto da

realidade, quando os alcances entre fenômeno e contexto não são claramente

definidos e existem várias fontes de evidências. Esse autor frisa que é importante,

que a revisão da teoria seja feita preliminarmente à coleta de dados, evidenciando-

se uma base teórica que determinará quais dados devem ser coletados e como

deverão ser analisados.

A pesquisa foi descritiva, pois se procurou observar, registrar, analisar e

correlacionar fatos ou fenômenos sem que houvesse qualquer tipo de manipulação

por parte do pesquisador, ou seja, “[...] descobrir, com a precisão possível, a

frequência em que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua

natureza e características” (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 49).

Afirma-se isso, porque foi o que justamente ocorreu no decorrer desse

estudo: analisou-se a sustentabilidade sob os seus mais diversificados ângulos e,

finalmente, a sua relação com a governança corporativa em uma organização do

setor elétrico no sul do Brasil.

Ademais, ressalta-se a utilização da pesquisa exploratória, pois essa é

pesquisa empregada naquelas áreas em que não existem muitos conhecimentos

acumulados sobre o assunto estudado (VERGARA, 2000), tal como ocorre com o

tema Sustentabilidade no setor público e alvo desta dissertação. A sustentabilidade

tem como um dos seus princípios a governança e que nas empresas estatais se

fazem representar pela governança corporativa que é instrumento que foi implantado

recentemente no Brasil, pois o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa,

fundado em 1995, envolveu, primeiramente, as empresas privadas e mais tarde

também as empresas públicas.

As empresas estatais, como é o caso da organização estudada e que

trabalha com ações na bolsa de valores em nível internacional, adota a estrutura de

Governança Corporativa, pois se encontra classificada no nível 2, segundo a BM&F

Bovespa.

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Empregou-se a pesquisa qualitativa, pois essa pode ser compreendida como

uma pesquisa que se caracteriza “[...] como a tentativa de uma compreensão

detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos

entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas” (RICHARDSON,

1999). Por isso, caracterizou-se pela descrição, abrangência, explanação e

interpretação de eventos e fenômenos, em oposição à pesquisa quantitativa, em que

prevalecem as mensurações, tal como descreve Martins (2006).

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo desta pesquisa foi constituído por um grupo de stakeholders

internos da organização objeto de estudo e que possuíam conhecimentos sobre as

práticas de sustentabilidade e governança desenvolvidas. Dentre esses, citam-se:

13 (treze) integrantes do Conselho de Administração; 4 (quatro) integrantes do

Conselho Fiscal; 9 (nove) integrantes da Diretoria Executiva; 5 (cinco) integrantes do

Comitê de Assuntos Estratégicos Comerciais; 5 (cinco) integrantes do Comitê de

Recursos Humanos; 5 (cinco) integrantes do Comitê Financeiro; e, 5 (cinco)

integrantes do Comitê Jurídico de Auditoria, totalizando 46 pessoas.

Destaca-se que foi com os integrantes do Conselho Administrativo, chefes

de departamento e gerentes que se realizaram as entrevistas, haja vista que são

esses skateholders internos que têm uma maior percepção das práticas de

sustentabilidade corporativa e os princípios de desempenho sustentável adotados

pela organização do setor elétrico no sul do Brasil.

O público alvo desse estudo constituiu-se de amostra selecionada por

conveniência e acessibilidade (CRESWELL, 2007), composta por dez pessoas,

entre os membros do Conselho de Administração, gerentes e chefes de

departamento de diferentes áreas da empresa escolhida.

Além disso, destaca-se que se escolheu uma organização do setor elétrico

no sul do Brasil, por apresentar uma estrutura de Governança Corporativa,

classificada em nível 2 da Bovespa. Outra razão para essa escolha residiu no fato

de que essa companhia possui o demonstrativo Global Reporting Initiative (GRI-3)

que apresenta indicadores de desempenho social, econômico e ambiental, ou seja,

trata-se de um tipo de Relatório de Sustentabilidade.

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  46  

3.3 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

As técnicas de pesquisa utilizadas neste trabalho foram: entrevistas em

profundidade com uma amostra de stakeholders internos, análise documental e

observação in loco.

Na percepção de Yin (2010), a entrevista, em profundidade, é um tipo

bastante utilizado em estudo de caso, em que se pode perguntar aos respondentes-

chave a respeito dos fatos de um assunto, bem como suas opiniões sobre os

acontecimentos.

Por isso, discorre Richardson (1999) que essa entrevista é um tipo de

comunicação que se perfaz por meio da informação transmitida de uma pessoa a

outra, motivo pelo qual se adotou, durante o desenvolvimento deste trabalho, a

entrevista em profundidade com roteiro semiestruturado, que visa obter a avaliação

dos aspectos mais relevantes de determinado problema ou a exposição de uma

situação em estudo por meio de uma conversa guiada.

Em alguns casos, pode-se induzir o entrevistado a propor suas próprias

ideias sobre determinados eventos e usar essas conjecturas como base para

verificações futuras. Assim, a entrevista pode durar por longo período de tempo e

não uma única vez. O entrevistador pode-se tornar um informante valioso na

pesquisa de novos fatos. Os informantes-chave são geralmente essenciais para o

sucesso do estudo de caso, pois proporcionam insights preciosos e auxiliam no

acesso a novas fontes que comprovam as evidências ou lhe são opostas. Por meio

dessa técnica, foram coletados dados primários com stakeholders internos da

organização estudada, todos de alguma forma relacionados com atividades dos

órgãos da estrutura de sustentabilidade e governança corporativa.

As fontes documentais consistiram em pesquisas realizadas em materiais já

existentes na organização (RICHARDSON, 1999), ou seja, foram aquelas dados

obtidos sobre sustentabilidade fornecidos pela organização em estudo, como, por

exemplo, políticas da empresa, normas, relatórios, manuais, atas de reuniões,

apresentações e relatórios de administração.

Apesar da importância da pesquisa bibliográfica para esse trabalho,

ressalta-se, entretanto, que a utilização da pesquisa documental foi imprescindível

para a realização do estudo de caso a que se propôs a pesquisadora, já que se

facilitou, desse modo, um melhor entendimento acerca da realidade e evidências

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colhidas por outros instrumentos e fontes, permitindo-se, consequentemente, a

confiabilidade de achados por meio de triangulações de dados e de resultados (YIN,

2010; MARTINS, 2006).

A observação in loco, segundo Yin (2010), ocorreu no ambiente em que se

desenvolveu o estudo de caso, dando a oportunidade para as observações diretas e

quais condutas relevantes ou condições ambientais ficaram disponíveis. Essas

observações se prestam, ainda, como fonte de evidência para o estudo de caso e

ocorreram em reuniões, em sala de aula e no próprio ambiente da entrevista.

A triangulação, nesta dissertação, baseou-se, então, na comparação entre

os resultados das entrevistas, observações in loco e análises documentais. Destaca-

se, por conseguinte, que um ponto forte da coleta de dados em um estudo de caso é

o uso de diferentes fontes de evidência, o que transcende muito a outros métodos

de pesquisa. A principal vantagem dessas fontes múltiplas é o desenvolvimento de

linhas convergentes de averiguação, um processo de triangulação e corroboração,

pois qualquer descoberta ou conclusão do estudo de caso é, possivelmente, mais

convincente se fundamentada em diferentes origens de informação (YIN, 2010).

3.4 VARIÁVEIS DE ANÁLISE

De posse das informações qualitativas obtidas e baseadas nas teorias de

sustentabilidade, após serem tratadas por intermédio da técnica de triangulação,

essas podem ser consideradas apropriadas para checar os procedimentos de

sustentabilidade na organização. As variáveis de análise referentes ao primeiro

objetivo específico são: avaliação de impactos sociais, ambientais e econômicos;

relacionamento com clientes, fornecedores, empregados, concorrentes, instituições

financeiras, autoridades locais, universidades, institutos de pesquisa, sindicatos e

associações.

Finalmente, as varáveis de análise do segundo objetivo específico são:

geração de padrões e práticas éticas, monitoramento de práticas éticas, deveres do

Conselho de Administração para com os stakeholders, relacionamento do Conselho

de Administração e da direção Executiva, acessibilidade a informações sobre

produtos e serviços da organização, relacionamento com fornecedores,

distribuidores e parceiros, retorno do investimento com taxas competitivas, proteção

aos ativos da empresa, divulgação das decisões do Conselho de Administração,

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planejamento da gestão de riscos, gestão de riscos, monitoramento da gestão de

riscos, reciprocidade benéfica organização e comunidade, conservação da

qualidade e valor dos produtos e serviços, desenvolvimento pessoal e profissional

dos empregados, desenvolvimento sustentável de produtos e serviços.

O quadro nº 8 se refere às variáveis sobre o tema de pesquisa deste

trabalho e as questões utilizadas nas entrevistas e os autores que as utilizaram em

seus artigos e a teoria e princípios que forneceram base para sua elaboração.

Quadro nº 8 - Variáveis de análise sobre os temas da pesquisa

Princípios/teoria Questões Autores/artigos

Triple Botton Line 1 – A organização avalia os impactos que suas operações possam causar:

a) no meio ambiente;

b) no âmbito social;

c) no âmbito econômico.

Kummer, A. A.; Santos, G. D.; Vasco, A. P. D. Ações de Inovação orientadas p Sustentabi- lidade. (2013)

Stakeholders 2- A organização estimula a participação dos seguintes stakeholders em suas atividades:

a) clientes; b) fornecedores; c) empregados;

d) concorrentes; e) instituições financeiras;

f) autoridades locais; g)sindicatos/associações;

h) universidades e institutos de pesquisa.

Kummer, A. A.; Santos, G. D.; Vasco, A. P. D. Ações de ovação orientadas p Sustentabi- lidade. (2013)

Ética 3- A administração da organização promove, monitora e avalia periodicamente o código de ética?

4- Como é feita a avaliação do conhecimento dos empregados sobre o código de ética? (adaptada)

Silva, J. A. F.; Pessoa E. B.; Batista, Scaccabarozzi, N. C. M. C. Princípios GC Setor Público: um estudo de caso no TCE. CE. (2011).

Governança 5- De que maneira o Conselho de Administração e a direção executiva discutem e tomam decisões com relação às atividades da organização? Qual o relacionamento entre os dois? (adaptadas)

Almeida, F. A. S.; Kruglianskas, I.; Santos, S. A.; Guimarãoes, A. T. R./ A GC em empresa Pública e a Visão de suas Práticas pelos Stakeholders (2008).

Transparência 6- As decisões do Conselho de Administração são amplamente divulgadas aos diversos níveis gerenciais (stakeholders internos)?

Almeida, F. A. S. et. al. A GC em empresa Pública e a Visão de suas Práticas pelos

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Stakeholders (2008).

Retorno Financeiro/ gestão de riscos

7- De que maneira a empresa planeja e monitora a gestão de risco de suas operações?

Almeida, F. A. S. et. al. A GC em empresa Pública e a Visão de suas Práticas pelos Stakeholders (2008).

No quadro nº 8, demonstram-se as questões utilizadas nas entrevistas e se

foram idênticas as usadas pelos autores e as que foram adaptadas para o presente

trabalho. A seguir será apresentado o Protocolo de Pesquisa desta dissertação.

3.5 PROTOCOLO DE PESQUISA

O quadro nº 9 apresenta o protocolo de pesquisa com os principais autores

utilizados na pesquisa, que deram base aos objetivos específicos deste trabalho.

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Quadro 9 - PROTOCOLO DE PESQUISA

Questão de pesquisa: como essa organização do setor elétrico no sul do Brasil ao implantar a Global Reporting Initiative – GRI tem se enquadrado nos princípios de sustentabilidade? Objetivo Geral: Analisar as práticas de sustentabilidade em organização do setor elétrico no sul do Brasil sob o enfoque dos princípios de desempenho sustentável.

Objetivo Específico Autores que usaram variáveis semelhante

Princípios dão base aos construtos:

Variáveis de Análise

1 – Identificar os princípios e as práticas de sustentabilidade corporativa da organização estudada na percepção de membros do Conselho de Administração, chefes de Departamento e gerentes (stakeholders)

Almeida et al (2008), Hourneaux, J (2010), Camargos (2012), Freitas (2012), Garcia e Fernandes (2012) Crawford e Helm (2009). Simantob 2007) Epstein (2008), Silva (2010), Velani (2011)

Triple Botton Line Tratamento equitativo acionistas ; Relações c/ stakeholders; Transparência e abertura das informações. Ética

Avaliação de impactos sociais, ambientais e econômicos; Relacionamento com clientes, fornecedores, empregados, concorrentes, instituições financeiras, autoridades locais, universidades, institutos de pesquisa, sindicatos e associações. Geração de padrões e monitoramento de práticas éticas, deveres do Conselho de Administração (CA) para com os stakeholders, relacionamento do CA e da direção Executiva,

2-Indicar pontos convergentes e divergentes entre os princípios de sustentabilidade corporativa da GRI na organização estudada e os princípios do desempenho sustentável recomendados por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

Elkington (1997) , Epstein e Roy(2003), Barbiere e Simantob (2007), Epstein (2008), Silva (2010), Velani (2011)

Princípios Desenvolv. sustentável – Epstein e Roy (2003) Epstein (2008); Princípios da GRI.

divulgação das decisões do CA, acessibilidade a informações sobre produtos e serviços da organização, relacion. fornecedores, distribuidores e parceiros, retorno do investimento com taxas competitivas, reciprocidade benéfica organização e comunidade, conservação da qualidade e valor dos produtos e serviços, desenvolvimento pessoal e profissional dos empregados, desenvolv. sustentável de produtos e serviços, planejamento e monitoramento da gestão de riscos.

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4 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA

A organização estudada é uma sociedade de economia mista que foi

instituída por meio de Decreto de Estado e o modelo energético brasileiro, naquela

época, não cumpria a demanda requerida pelo desenvolvimento, motivo pelo qual se

decidiu proporcionar condições de infraestrutura aos investimentos com a criação

dessa estatal.

Destaca-se, antes de se iniciar essa pesquisa, que Aguiar, Albuquerque e

Medeiros (2011) afirmam: As sociedades de economia mista (SEM) são pessoas jurídicas de direito privado, obrigatoriamente constituídas sob a forma de sociedade anônima, nos termos da Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações), com capitais públicos e privados.

Esses autores enfatizam que o acionista majoritário, na esfera do poder

público federal, é a União (ou entidade de sua administração indireta), detentor da

maioria do capital votante da sociedade (majoritário), e o controle minoritário cabe

aos particulares. Na esfera das estatais estaduais são os estados membros os

detentores da maioria do Capital votante da sociedade. Por isso, defende-se a ideia

de que as entidades geradas pelo Estado, sob o formato de sociedades de

economia mista, não têm como finalidade principal o lucro, todavia a produção de

bens e serviços que não podem ser alcançados eficientemente e de forma justa no

regime de economia privada. Nessa acepção, o lucro em uma SEM pode até

acontecer, sendo salutar e até esperado. Porém destaca-se que esse não é o seu

objetivo principal, a razão de sua existência e, sim, o atendimento do interesse

público (prestação de obra ou serviço público), (AGUIAR; ALBUQUERQUE;

MEDEIROS, 2011).

Comenta-se, ainda, que na SEM não pode existir controle conjunto

(paritário) entre o poder público e uma pessoa jurídica privada, porque se isso

acontecer será inconstitucional e ilegal, já que o Estado não poderá gerenciar as

atividades da empresa. Em consequência, o controle da estatal pelo exclusivo

interesse do particular ou na dependência da vontade dos acionistas com poder de

vetar as ações do Estado acionista, e não pelo interesse público que é a principal

justificativa de sua criação. Empresas Estatais são sociedades empresariais em que

o Estado tem o controle acionário e que pertencem à Administração Indireta,

representadas pela SEM e Empresa Pública.

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Di Prieto (2007) assevera que o controle externo abrange a “fiscalização

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial” e, no que concerne à

administração Indireta (empresa pública, SEM e fundação pública), está claro no

artigo 71, inciso II da Constituição Federal de 1988. Esse artigo descreve que o

controle externo será exercido pelo Tribunal de Contas, que compreenderá o

julgamento dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e

valores da Administração, direta e indireta, com inclusão das fundações e

sociedades instituídas e mantidas pelo poder público. A autora afirma que o controle

externo alcança, pois, todas as empresas de que a União participe minoritária ou

majoritariamente.

Além do exposto, é entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) ser

constitucional a ação dos Tribunais de Contas junto às SEM, inclusive para

estabelecimento de tomada de contas especial perante atos praticados pelos

administradores e demais responsáveis dessas entidades da Administração Indireta

(DI PIETRO, 2007).

As estatais brasileiras são reguladas pelo mercado de capitais e, portanto

são reguladas pela CVM, BM&F Bovespa e pela IBGC conforme se elucida a seguir.

As principais forças de controle da GC são na sequência: os marcos legais

e as recomendações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM); os compromissos

estabelecidos pela Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F BOVESPA) para listagem

diferenciada das empresas, conforme padrões praticados de GC; as pressões por

boa GC desempenhada por investidores institucionais; e o código das melhores

práticas de GC corporativa determinado pelo Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa (IBCG) (ANDRADE; ROSSETTI, 2012).

Na perspectiva desses autores, um novo marco legal ocorreu no Brasil, na

transição do século XX para o XXI, com um conjunto de reformas em estatutos

legais, acompanhado de novas regulações e recomendações da CVM, e

assinalaram o cenário da GC no país, duas reformas de alto impacto como a da Lei

das Sociedades por Ações, em 2001 e a do Código Civil, em 2002.

Nesse momento, ocorreu, nos Estados Unidos, uma ampla reação

regulatória diante dos escândalos e as graves fraudes corporativas que sacudiram

os negócios mundiais: a Lei Sarbanes-Oxley, de 2002. Essa Lei apresentou

disposições que alcançaram empresas estrangeiras com emissões de capital no

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mercado norte-americano, elas se adicionaram aos novos marcos legais de

aplicação no sistema empresarial naquele país. Andrade e Rossetti (p. 436, 2012).

A esse novo conjunto de disposições legais, que afetaram alguns dos

marcos institucionais na gestão das empresas brasileiras, adicionam-se novas

forças externas às empresas, dentre elas as recomendações da Comissão de

Valores Mobiliários (CVM) sobre a GC (Quadro n° 10), efetivadas no mercado desde

2002. Como se observa no Quadro n° 10, A CVM, desde que foi criada por lei, é

relacionado ao desenvolvimento, à fiscalização de mercado de capitais e a

regulação.

Quadro n° 10 Missão e objetivos da CVM

MISSÃO

Desenvolver, regular e fiscalizar o mercado de valores mobiliários, como instrumento de captação de recursos para as empresas, protegendo o interesse dos investidores e assegurando ampla divulgação das informações sobre os emissores e aos valores emitidos.

OBJETIVOS

Assegurar funcionamento eficiente, regular dos mercados de bolsa e balcão. Proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de companhias ou de administradores de carteira de valores mobiliários. Evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários negociados no mercado. Assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e as companhias que os tenham emitido. Assegurar a observância de práticas equitativas no mercado de valores mobiliários. Estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários. Promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas.

Fonte: Andrade; Rossetti (p. 445, 2012).

No Quadro n°10 verifica-se que os vários objetivos ditados pela CVM têm a

nítida intenção de manter equilibrado o Mercado de Capitais Brasileiro. A CVM

apesar de não mencionar entre seus objetivos a difusão e a promoção de boas

práticas de governança, editou uma cartilha (Quadro n° 10) em que menciona os

temas: assembléias, estrutura acionária, proteção a minoritários, constituição e

funcionamento dos Conselhos de Administração, Fiscal e da Auditoria Independente;

comprovando a concordância da CVM quanto aos benefícios que uma boa GC pode

trazer para o mercado de capitais e também para o progresso do país, pois promove

a poupança interna e externa aproveitada na capitalização das empresas

(ANDRADE, ROSSETTI, 2012).

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No Quadro n° 10, pode-se verificar a preocupação com fraudes ou

manipulações que podem prejudicar o bom andamento do mercado de Capitais e

também garantir práticas igualitárias no mercado de valores mobiliários.

A decisão relevante que devem ser por deliberação da maioria dos

acionistas detentores do capital social, e o ideal seria que cada “ação representasse

um voto”, independente de classe ou espécie de ação. Foi pensando nessa máxima

que a Bolsa de Valores de São Paulo criou o Novo Mercado além dos dois Níveis

Diferenciados de Governança Corporativa, empreendimentos que têm respondido,

nos últimos tempos, à ação por melhores padrões de governança das empresas

brasileiras. Essa iniciativa da BM&F Bovespa se equipara a “cartilha de melhores

práticas” da CVM com o intuito de influenciar melhores governanças. Os institutos

das sociedades por ações e o próprio modelo institucional do mercado acionário têm

vícios de difícil remoção que só pela reforma da Lei, não tem tanta força quanto à

“cartilha da CVM” e iniciativas da BM&F Bovespa.

A adesão aos níveis diferenciados da Bovespa é voluntária, e pode ser

observado no Quadro n° 11, em que o nível 1 é o mínimo exigido para a empresa se

considerar com Governança Corporativa.

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Quadro n°11 Níveis diferenciados de GC segundo o BM&F Bovespa

N

O

V

O

M

E

R

C

A

D

O

N

I

V

E

L

2

N I V E L 1

Manter em circulação uma parcela mínima de ações, representando 25% do Capital; Realizar ofertas públicas de colocação de ações através de mecanismos que favoreçam a dispersão do Capital; Melhores informações prestadas trimestralmente, entre as quais a exigência a consolidação das demonstrações contábeis e de revisão especial de auditoria; Cumprir regras de disclosure em operações envolvendo ativos de emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da empresa; Disponibilizar um calendário anual do fluxo de caixa;

Apresentar a demonstração do fluxo de caixa.

Compor o Conselho de Administração com um mínimo de cinco membros (mínimo de 20% de conselheiros independentes) e mandato unificado de, no máximo, dois anos. Apresentar os demonstrativos anuais seguindo as normas dos Generally Accepted Accounting Principles (US GAAP) ou International Financial Reporting Standards (IFRS), no caso das informações trimestrais. Estender, para todos os acionistas detentores de ações ordinárias, as mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle da companhia e, no mínimo, 80% desse valor para os detentores de ações preferenciais – se for o caso (tag along); Conceder direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, como transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo sempre que sejam deliberados em assembleia geral; Cumprir a obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro no N2GC (ou NM); Aderir à Câmara de Arbitragem para resolução de conflitos societários.

Dividir o capital em ações ordinárias Fonte: Adaptado de Slomski (2008) et. al. baseado na Bovespa (2007)

Verifica-se ainda, no Quadro n° 11, a preocupação com a aceitação de

Normas e Princípios de organizações internacionais na apresentação de

demonstrativos tanto anuais como trimestrais, bem como conceder direito a voto às

ações preferenciais em alguns assuntos referentes à transformação incorporação,

cisão e fusão da empresa e quanto à aprovação de contratos entre a companhia e

outras empresas do mesmo grupo. Pode-se verificar que existe uma

complementação entre os Quadros 10 e 11, mas a cartilha referente à síntese das

melhores práticas de GC, recomendada pelo IBGC, é mais completo no sentido de

incluir ainda a Responsabilidade Corporativa.

Na concepção desses autores, a partir dos anos 90 e na virada do século,

surgiram exigências decorrentes de abertura do mercado à participação mais ativa

dos investidores institucionais nas empresas. Reformas foram necessárias, mas há

fonte de oposição formada pelos grupos que controlam essas empresas, pois o

aumento da proteção aos minoritários equivale à redução do controle desses

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grupos. A maior dificuldade em viabilizar uma reforma completa se dá pelo elevado

poder político dos grupos controladores.

Como se pode observar, o IBGC inovou, ao elaborar o código de ética por

meio do código das melhores práticas de governança corporativa, ao descrever as

novas dimensões Responsabilidade Corporativa e a Sustentabilidade, está citado no

capitulo nº 2 que dispõe sobre o Conselho de Administração ao descrever sobre

suas atribuições Item 2.3 Atribuições; 2.3.2 Sustentabilidade do Código das

melhores Práticas de Governança Corporativa que em suma descreve:

A sustentabilidade deve buscar a viabilidade e a longevidade da

organização. O Conselho de Administração deve incorporar e garantir que a

Diretoria também incorpore considerações de ordem social e ambiental na definição

dos negócios e das operações e definir as ferramentas e os indicadores de gestão,

inclusive remuneração, de modo a vincular os temas da sustentabilidade às

escolhas estratégicas e refleti-los nos relatórios periódicos e disseminá-los ao longo

de toda a cadeia produtiva, por meio de mecanismos formais como contratos ou

acordos de parceria (VALENTE, 2010). Descritos conceitos teóricos, passa-se a

tratar da organização escolhida para o estudo de caso.

A companhia em questão atua nas áreas de geração, transmissão e

distribuição de energia elétrica no sul do Brasil e foi a partir do início das suas

operações que se viabilizou uma efetiva garantia ao fornecimento de eletricidade

apropriado ao parque industrial do referido estado.

Em 1963, a estatal autorizou, em Assembleia Geral, a incorporação de suas

subsidiárias. Nessa década, foram, ainda, incorporadas outras empresas. Porém, foi

a partir de 1965, conservando investimentos na ampliação dos serviços, que se

construíram novas linhas de transmissão.

A organização estudada atua no mercado de energia elétrica desde 1955,

com concessões nas atividades de geração e distribuição. Mas, em 2006,

estruturou-se como holding para atender ao modelo recomendado pela legislação do

setor energético nacional e que se encontrava em vigor naquela época.

Essa organização possui duas subsidiárias integrais que detêm o controle

acionário de uma empresa de gás no sul do Brasil e possui, também, participação

em outras empresas do setor elétrico e da área de infraestrutura.

Conforme já se apontou anteriormente, essa empresa é uma sociedade de

economia mista, sob a forma de holding e ainda detém o controle acionário da

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companhia de gás e outras participações acionárias. Passou a fazer parte do

mercado financeiro e tornou-se uma empresa de capital aberto, com ações

negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo – BM&F Bovespa.

Registra-se, portanto, que o enquadramento da concessão dessa

organização se encontra amparado no art. 175 da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, pois essa concessão destina-se à prestação de

serviço público mediante licitação. Como se não bastasse isso, frisa-se que cabe à

legislação ordinária dispor sobre o regime das empresas concessionárias de

serviços públicos, assim como é o caso da organização estudada, já que possui

caráter contratual especial, pois tratam de prorrogações, condições de caducidade,

fiscalização, rescisão, disposição sobre os direitos dos usuários, política tarifária e

obrigação de manter um serviço adequado.

A holding dessa organização é controladora de duas subsidiárias integrais,

concessionárias dos serviços de geração e distribuição de energia. A organização

estudada anunciou que não antecipará a renovação de suas usinas que se

encontram com contratos de concessão para vencerem em 2017, pois alega

prejuízos nessa área. Conforme esclareceu o diretor de relações com investidores,

além da companhia não ter sido considerada na revisão das indenizações, o preço

do megawatt-hora caiu muito. Esse diretor comenta, ainda, que a organização em

estudo utilizará as concessões até o limite final de 2017.

A concessionária de distribuição de energia da organização estudada

oferece, por sua vez, serviços de distribuição de energia elétrica para uma carteira

constituída de milhões de clientes. A concessão dessa concessionária de

distribuição da organização estudada vence em julho de 2015, mas a empresa já

protocolou pedido de prorrogação do contrato firmado para que haja a renovação

dos contratos nessa esfera.

Ocorreu uma grande transformação societária na organização, em

decorrência da edição de Lei que instituiu a necessidade de desverticalização das

atividades de geração, transmissão e distribuição de energia. Essa transformação foi

formalizada por meio da transferência dos bens, dos direitos e das obrigações da

concessionária da organização para suas empresas subsidiárias, bem como

finalizou o processo de aquisição do controle de companhia de gás.

Feitas essas ponderações, frisa-se que a organização pretende continuar

investindo na qualidade dos seus serviços, enfocando, principalmente, em

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manutenção e modernização de equipamentos e de sua rede. A empresa pretende,

ainda, investir nas melhores oportunidades de negócios economicamente viáveis e

com bom retorno, aproveitá-los e utilizar-se, ainda, de fontes renováveis e

alternativas.

Sendo assim, vistos esses aspectos com relação à organização em estudo,

passa-se ao capítulo seguinte, que analisa os dados e resultados obtidos no

decorrer da presente pesquisa.

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5 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

Este capítulo apresenta a análise dos dados coletados por meio de

entrevistas e pesquisa documental realizadas na organização estudada, no tocante

à sustentabilidade e à integração dos stakeholders com a empresa. Foram

realizadas 10 entrevistas com quatro gestores, quatro chefes de departamento, um

participante do Conselho de Administração e um diretor do sindicato. Por isso, a

análise segue a ordem do roteiro semiestruturado e que foi utilizado para as

entrevistas.

5.1 ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE

Para que se possam verificar quais são as principais práticas de

sustentabilidade aplicadas na organização analisada, realizou-se um estudo de

quais são os princípios de desempenho sustentáveis por ela adotados. Por isso,

apresenta-se, na sequência, a descrição das respostas dos entrevistados,

agrupadas por temas, já que se objetiva destacar as percepções de diferentes

stakeholders internos (conselheiros administrativos, chefes de departamento e

gerentes) com relação a esse assunto.

5.1.1 Princípios do desempenho sustentável na percepção dos entrevistados

Para preservar a identidade dos indivíduos entrevistados, conforme normas

da organização pesquisada realizou-se, na sequência, essa identificação por

intermédio de códigos (E1, E2, E3, E4, E5, E6, E7, E8, E9 e E10), já que conforme

se destacou anteriormente, 10 foram os entrevistados. Ao questionar os

entrevistados obtiveram-se respostas, que foram reunidas por temas, conforme

assuntos tratados na entrevista a seguir.

a) Impactos ambientais, sociais e econômicos

Os entrevistados E1, E2, E3, E4, E8, E9 e E10 narraram que a “empresa

avalia os impactos que suas operações podem causar tanto no meio ambiente,

quanto nas esferas econômica e social”.

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Concordaram com essa assertiva, os entrevistados E5 e E6 quando

afirmaram que “temos indicadores no contrato de gestão para avaliar sobre esses

três ambientes (ambiental, social e econômico) que também está descrita na GRI do

ano passado”. Já para o entrevistado E1, a empresa avalia os impactos que podem

ser gerados no meio ambiente: “[...] quando é realizado um projeto de construção de

subestação, linha de transmissão ou pequenas centrais hidrelétricas precisa-se de

um laudo [...]” autorizado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA) para

dar segmento aquela proposta. Na minha percepção a FEMA é que avalia os

impactos ambientais nos projetos (E1).

Destacou o respondente E7 que a empresa avalia suas operações,

conforme os demais respondentes, porém advertiu que no tocante aos aspectos

ambientais e sociais não tem muito conhecimento sobre as práticas da organização,

diferentemente do âmbito econômico.

O pesquisado E2 afirmou, também, que a organização possui

responsabilidade socioambiental, mas deu ênfase, em sua explicação, mais ao

aspecto social desenvolvido pela organização. O respondente E3 declarou, além

disso, que a organização se preocupa com a esfera ambiental, pois “[...] mesmo

fazendo parte dos seus ativos, a construção de subestações, entre outras obras,

sempre fazemos um estudo de impactos ambientais para averiguar se é possível

efetuar tal obra”.

Para o respondente E4, existe uma real preocupação com os impactos

gerados ao meio ambiente, a exemplo da preocupação com os impactos resultantes

da distribuição de energia elétrica e também com o fato das “[...] ligações elétricas

em área de tensão baixa que é a questão rural”. Destacou-se o pesquisado E5, ao

afirmar também que “a empresa tem em sua infraestrutura, departamentos de meio

ambiente [...]” e avalia todas as suas obras. O respondente E6 compartilhou do

mesmo entendimento e disse, que “na parte ambiental são avaliados pontos, até

porque faz parte do próprio negócio como condição”. Assim, “para ter subestação

tem que ter licenciamento ambiental [...]”. A propósito desse licenciamento

ambiental, destacou o entrevistado E7 que esse é instrumento obrigatório, motivo

pelo qual a organização, na esfera ambiental, fica restrita ao “[...] cumprimento das

exigências dos órgãos de regulação ambiental”.

O pesquisado E8, por sua vez, fez certa confusão com relação à avaliação

dos impactos que as operações da empresa podem causar na esfera ambiental e

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social.

O entrevistado E9 afirmou que na perspectiva do meio ambiente: Por exemplo, (um dos principais riscos identificados), existem vários fatores de riscos e, para cada um desses fatores de riscos foi feito um plano de ação sobre o que pode ser feito para mitigar esses riscos e sobre a forma de monitorar esse plano de ação. E o risco na verdade o que é? É a probabilidade de acontecer alguma coisa que tenha algum impacto negativo em algum determinado setor ou área da empresa. Então, por exemplo, tem o risco de vazamento de óleo em subestações. Qual é o impacto disso? É o impacto de contaminar o solo e o impacto de poder causar um dano ambiental maior (E9).

Verificou-se que o respondente E9 falou de impactos negativos em

decorrência dos riscos de vazamento, assunto a ser tratado quando se for discorrer

sobre gestão de riscos. Relatou o respondente E10 que há uma preocupação da

organização com relação aos impactos gerados no setor ambiental, mas não

explicou sobre o que versou essa atuação.

Essas preocupações estão diretamente ligadas ao ponto de vista ambiental

e também ecológico, porque a organização estudada tem se preocupado em

proteger o meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável por meio dos

serviços e produtos por ela utilizados, conforme recomenda por Hourneaux Junior

(2010), Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

A proteção ao meio ambiente e a promoção do desenvolvimento sustentável

é assunto de suma importância e adotado pela organização analisada, e de acordo

com Camargos (2012) em seu trabalho que trata das empresas de energia elétrica

as quais normalmente se verificam essas necessidades, em decorrência dos

impactos ambientais e da frequente utilização de recursos naturais. A autora afirma,

que as organizações do setor elétrico, por serem fornecedoras de um serviço

indispensável à população, e também, causadoras de grandes impactos sociais e

ambientais, sofrem constantes cobranças da sociedade. Ressalta, que empresas

desse setor, no Brasil, são altamente dependentes das condições ambientais, o que

justifica ser a sustentabilidade uma preocupação constante dessas companhias.

Verifica-se que a organização estudada, tem também essas preocupações e procura

estar de acordo com as exigências dos órgãos de regulação ambiental, mas só isso

não é suficiente, é necessário implementação de gestão de riscos, que a

organização já tem, no sentido de acabar ou mitigar impactos ambientais.

Já em relação aos impactos sociais registra-se que a organização, de

acordo com relato do entrevistado E1, opera com os impactos de suas operações no

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âmbito social. Alega-se isso porque, para esse entrevistado, será por meio da

Fundação Estadual do Meio Ambiente que haverá um efetivo cuidado com as

comunidades atingidas por obras realizadas pela organização.

O pesquisado E2 disse que a comunidade solicita mais vagas para menores

aprendizes e explicou, também, que a organização desenvolve várias ações de

assistencialismo voluntário, e citou outras ações sociais como: “o que você tem a ver

com a corrupção e SOS desaparecidos”. Na sequência, o entrevistado E3 declarou

que “no âmbito social, a empresa também tem preocupações inclusive com planos,

com segmentos da sociedade”. Por isso, “[...] tem projetos com instituições, em que

ela tem uma ação chamada menor aprendiz, que elas (instituições) fazem o contrato

da empresa por 2 anos [...]”. Esse entrevistado acrescentou, ainda, em relação aos

menores aprendizes: “[...] todos são bem recebidos dentro da empresa e temos aí

sucesso em torno de 90% desses garotos, dessas meninas, dessas adolescentes

que acabam sendo encaminhados”. O respondente E3 afirmou que em torno de 400

menores aprendizes são beneficiados em todo o estado, durante o ano.

O pesquisado E4 explicou, no âmbito social, a empresa desenvolve vários

programas, como aqueles que se dispõem a reduzir o consumo de energia elétrica,

a exemplo, da troca de eletrodomésticos velhos por novos, ganhando desconto, que

tem sido visto nas propagandas da televisão atualmente. O respondente E5 citou,

também, ações sociais relativas ao “[...] menor aprendiz, primeiro emprego,

programa de estágios, programas sociais de reciclagem”, e acrescentou que: “O

próprio sindicato responde a questionários, no fim do ano, porque a relação da

empresa com os trabalhadores tem essa relação com o âmbito social”. e o

pesquisado E6 também concordou que existem inúmeras preocupações com os

impactos que a empresa pode gerar no meio social e cita que “temos integração

com consumidores através do Conselho de Consumidores”. Já respondente E7 diz

que a empresa avalia o âmbito social, mas não comenta sobre esse setor, se

restringindo a falar apenas sobre o setor econômico.

O respondente E8 relatou também que a organização: “[...] quando ela vai

fazer um projeto de uma nova linha ou o projeto de uma construção, é avaliado se

vai prejudicar as pessoas que estão no entorno [...]”. E se houver prejuízo: “[...] é

feito indenização ou transferido de área”. Um exemplo disso ocorreu com uma

subestação, como a população não permitiu a sua construção na comunidade ela foi

realizada em outro local. Ouviu-se o que as pessoas queriam “[...] a população não

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entendeu o que iria ser feito”. Então foi construída a subestações blindada em local

mais caro, porém não contrariando a comunidade. O respondente E8 afirmou, ainda,

que a organização construiria naquela região uma subestação de energia elétrica e

“[...] em troca iria fazer parque ecológico, ia fazer creche [...]” como também “[...]

pavimentar as ruas, e outros benefícios”. Porém, apesar de se tratar de rede

subterrânea e blindada, “[...] a população não aceitou, porque achou que iria dar

problemas nos marca-passos”.

Além desses relatos, o respondente E8 afirmou que a organização quando

vai construir uma linha nova de transmissão “se vai passar no meio de uma área de

preservação, é feito um desvio para não passar ali”, para que a comunidade não

seja prejudicada e também porque a organização precisa de licença para construir, e

os órgãos do meio ambiente são muito rígidos com suas normas. O pesquisado E8

enfatizou ainda que há uma preocupação com o âmbito social, porque a organização

procura sempre promover audiências públicas com a comunidade local quando se

pretende construir novas linhas de distribuição de energia elétrica.

O entrevistado E8 destacou que existem vários programas, por exemplo,

aqueles que visam à conservação de energia, à troca de lâmpadas e ao “Bônus

Eficiente: entrega-se o refrigerador velho e compra outro com desconto” e ao

organização se encarrega de “[...] trocar cinco lâmpadas incandescentes por cinco

lâmpadas fluorescentes compactas. Então está sempre incentivando o pessoal a

gastar menos e ter consumo consciente”. O último pesquisado E10 nada mencionou

sobre o âmbito social.

Segundo Hourneaux Junior (2010), Epstein e Roy (2003) e Epstein, 2008, no

âmbito social, o que se verifica, diante de alguns desses referidos programas, um

envolvimento da comunidade a que se está distribuindo ou se distribuirão os

benefícios da energia elétrica e também um auxílio para que essas comunidades

tenham suas necessidades atendidas de maneira eficiente.

Já para Freitas (2012), nesse âmbito social é de suma importância que a

organização possua um desempenho sustentável, pois se refere à eficácia dos

serviços prestados e, principalmente, à eficiência da governança corporativa

exercida por essa organização.

Por isso, na opinião da maioria dos respondentes, afirmou-se que esse é o

âmbito que está diretamente ligado aos os limites impostos pelo meio em que se

encontra inserida a própria organização, motivo pelo qual ela respeita não somente

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os recursos naturais, mas também auxilia na melhoria da qualidade de vida da

população; porém, na visão de outros pesquisados, há discordâncias e alguns

responderam que existem inúmeras preocupações nesse âmbito.

Na opinião de Camargos (2012), ao pesquisar sobre relatórios de

sustentabilidade nas empresas de energia elétrica, enfatiza-se a expressão

“melhoria da qualidade de vida da população”, porque há uma grande preocupação

da sociedade com os impactos sociais gerados por essas empresas. Por isso, nessa

mesma linha tem se posicionado a organização e, in loco, em conversa informal,

com um dos respondentes, esse comentou que em visita a comunidades de risco (a

organização dá assistência a áreas em risco), elas solicitam que a organização

disponibilize mais vagas, no “programa menor aprendiz” e “primeiro emprego”, tal

tem sido o impacto positivo desses programas nas comunidades em questão.

Porém, em outros quesitos, a comunidade reclama que nessas áreas, falta luz, a

qualidade da energia é péssima, alguns não podem pagar, outros fazem “gatos”

(puxam luz clandestina) e até querem pagar, mas a organização não tem como

regularizar essas situações.

Ressaltou-se, além disso, que a organização avalia os seus impactos na

esfera econômica, e o pesquisado E1 diz que a organização é obrigada: “[...] a fazer

estudos econômicos e de rentabilidade daquele negócio”. Os respondentes E2 e E4

nada mencionaram sobre esse assunto, pois deram ênfase a outros aspectos.

Entretanto o entrevistado E3 esclareceu que esse âmbito econômico é “[...]

realmente uma preocupação [...]” da organização. Esse respondente assevera,

ainda: “[...] todas as decisões tomadas pelo Conselho de Administração (CA) tem em

vista a questão do retorno econômico, de respeito com o acionista e ao público que

ela atende, com os investimentos que ela tem que fazer com responsabilidade”.

Na sequência, o pesquisado E5 explicou que há também, por parte da

organização, negociações na Bolsa de Valores e que essa possui: [...] nível 2 em governança corporativa, [...] e segue toda uma legislação, pois é obrigada a ter bastante transparência por se tratar de uma empresa com ações negociadas na BM&F Bovespa. Então é obrigada a cumprir suas obrigações na parte econômica. Tudo isso tem uma divulgação [...] nos jornais do estado. Saímos de um prejuízo de mais de 250 milhões no começo do ano passado causado pelo lançamento de um plano de demissão incentivado, pois mesmo a empresa ganhando com isso, ao lançar este plano no balanço gera-se um prejuízo. Só que com o tempo é recuperável (E5).

Alegou esse respondente E5 que a organização ora estudada “[...] não tem

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passado uma situação fácil devido à questão da regulação”. Desse modo, “temos

procurado vários órgãos para discutir a questão da falta de investimento e isso tem

causado o descontentamento de alguns membros da sociedade” (E5). Registra-se,

ainda, que a organização: [...] no início desse ano tem estado todos os dias na capa dos jornais em função dos apagões não só na região da ilha como também no estado inteiro. Isso se deve ao aumento da demanda do sistema de energia que é crescente, pois todos os dias têm novos consumidores, e temos que investir no sistema, pois se não investirmos, acontecerão falhas e é o que vem acontecendo. Ontem estivemos com o presidente durante uma hora e meia, com alguns vereadores do estado e representantes do movimento que foram atingidos pela barragem, para discutir a qualidade de energia distribuída e as questões dos apagões. Temos a informação de que esse estado é o que mais sofre com apagões e o engraçado que é o estado que tem mais usinas hidroelétricas, ou seja, a energia gerada não fica para o povo, caindo no sistema, e se dilui pelo resto do país (E5).

Enfatizou o respondente E6 que o âmbito econômico está diretamente ligado

à celebração de alguns convênios, “[...] recebimento de boletos, atividades de

empréstimo de capital de giro, pagamentos de tarifas e taxas, pois os boletos são

emitidos e recolhidos em banco”.

Constatou-se, em decorrência do exposto, que há uma efetiva preocupação

com relação à qualidade na distribuição de energia elétrica em todo o estado, e E5

assevera: “as pessoas que trabalham no setor agrícola estão fazendo revezamento

de atividades porque não há qualidade de energia para todos gerando prejuízos na

agricultura e prejudicando o fornecimento de derivados agrícolas [...]” que é a causa

dos problemas dos produtores. Para E6 a causa para esses problemas reside,

assim, na falta de investimentos, dentre outros aspectos.

Para o entrevistado E7 há, portanto, uma efetiva preocupação da

organização com o âmbito econômico. Porém poderia haver uma ampliação dessa

relação com o mercado financeiro e com os investidores. Nessa mesma linha, o

pesquisado E8 afirmou que “o departamento econômico analisa sim os impactos da

atividade, porque tem relação direta com a sustentabilidade da empresa”.

Já o respondente E9 disse que a organização acompanha “[...] o impacto

das ações de compra e venda de energia, receita, fluxo de caixa, monitoramento,

planejamento, orçamento, mercado de ações [...]”. Finalmente, o entrevistado E10

disse que, nesse aspecto econômico, a organização se preocupa não somente com

os impactos econômicos, mas também financeiros.

Com base em Freitas (2012), diante do exposto, que a dimensão econômica

da sustentabilidade está diretamente ligada ao equilíbrio entre eficiência e equidade.

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Porém devem-se sopesar os empreendimentos realizados pela organização, mas

atentar-se frequentemente aos benefícios e aos seus custos diretos e indiretos, já

que a organização deve analisar consumo, produção, riscos, economicidade, dentre

outros aspectos a ela inerentes.

Diante dessas respostas e do posicionamento de alguns dos stakeholders

internos da organização pesquisada, compreende-se, então, que essa empresa de

energia elétrica do sul do Brasil demonstra a sua preocupação com os pilares da

sustentabilidade, quais sejam, o pilar ambiental, econômico e social, destacados

como indispensáveis por Nascimento, Mendonça e Cunha (2012). Afirma-se isso

porque tais pilares podem ser observados nas questões tratadas pela organização e,

principalmente, sob o ponto de vista econômico, já que é por meio desse pilar que

os demais (ambiental e social) são desenvolvidos.

Verifica-se, ainda, que a organização adota práticas sustentáveis em sua

gestão, como aponta Nagli (2013). Além disso, essa organização se preocupa,

consequentemente, com a implementação de estratégias sustentáveis, em

conformidade com os resultados de Garcia e Fernandes (2012).

b) Estímulos da organização no tocante à participação dos stakeholders em suas

atividades.

Dentre esses stakeholders, citam-se os clientes, fornecedores, empregados,

concorrentes, instituições financeiras, autoridades locais, universidades e institutos

de pesquisa, sindicatos e associações. Os respondentes E1, E2 e E3 explicaram

que há esse estímulo, apesar de o E4 nada mencionar sobre o assunto. O

pesquisado E5 salientou, ainda, que a organização “[...] tem representação de todos

os segmentos envolvidos na empresa”.

Os entrevistados E6, E7, E8, E9 e E10 também se manifestaram dessa

mesma forma, conforme se verificará na sequência.

Com relação aos clientes e consumidores, o respondente E1 relatou que há

um Conselho de Consumidores, apesar desse referido conselho não ser destacado

pelo pesquisado E2, nem pelos entrevistados E3, E4, E5 e E6. Entretanto o

respondente E3 explicou que há uma relação direta entre a organização e seus

consumidores, pois se procura “[...] ter um respeito com a sua clientela fazendo

esses atendimentos da melhor forma [...]”. O entrevistado E7 salienta que esse

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conselho “[...] é ativo e tem a participação ativa dos consumidores e das principais

classes representantes dos consumidores”. Além disso, o pesquisado E8 explicou

que a organização faz campanhas que englobam não somente a preocupação com

o âmbito social, mas também com sua própria clientela. Os dois últimos

entrevistados E9 e E10 nada mencionaram sobre a integração dos consumidores

com a organização estudada. Ademais, salienta-se com relação aos fornecedores

que nem o respondente E1 nem os pesquisados E2, E4 e E8 falaram desse assunto.

O pesquisado E3 destacou essa integração entre a organização e os seus

fornecedores, mas somente com relação à lógica das licitações públicas. Os

entrevistados E5 e o E6, por sua vez, salientaram que há também uma integração

da organização com os seus fornecedores, mas não se estenderam sobre essa

matéria. Já o respondente E7 afirmou que “em relação aos fornecedores eu acho

que ainda é um pouco limitado”, pois “falta algo mais concreto em termos de

políticas de relacionamento com fornecedores”.

O pesquisado E9 salientou também que: A participação dos fornecedores é feita a partir do momento em que se deve determinar um novo padrão técnico dentro das respectivas qualificações de um produto. Antes mesmo de se iniciar o processo de compra, é discutido junto aos fornecedores como será o determinado equipamento.

Finalmente, o entrevistado E10 destacou que a organização possui relação

direta com os fornecedores e cuida daqueles casos em que possam se verificar mão

de obra escrava ou trabalho infantil.

Com relação aos empregados e a sua participação nas atividades da

empresa estudada, ressaltou o respondente E1 que “a participação dos empregados

é bastante efetiva [...]”.

Porém os pesquisados E2, E4 e E5 nada citaram sobre essa matéria. O

entrevistado E3 concordou com o exposto pelo respondente E1 e afirmou que “a

relação da empresa com os empregados é tratada de forma também bastante

estreita”.

Já o pesquisado E6 afirmou que apesar de haver interação entre a empresa

e seus empregados, importante assinalar que “existem categorias que estão

satisfeitas e outras nem tanto”, como acontece com qualquer outra organização. Os

respondentes E7, E8, E9 e E10 também trataram desse aspecto, mas

correlacionaram essa integração entre os empregados e a empresa, sempre

vinculando a conversa às associações e aos sindicatos de trabalhadores que serão

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citados posteriormente.

Sobre os concorrentes, assinala-se que os pesquisados E1, E2, E3, E5, E6,

E7 e E8 tratam desse assunto. Os demais entrevistados E4, E9 e E10 não falam

sobre a integração da organização com seus concorrentes, porque de acordo com o

relato do E6, bem como do E8 e do E5, a organização não possui concorrentes é a

única concessionária de energia elétrica do estado.

Assinala-se, consequentemente, com relação à estimulação da organização

estudada no tocante à participação das instituições financeiras, que essa

participação somente é mencionada por alguns dos entrevistados, dentre os quais

E3, E6, E8 e E10.

Para o entrevistado E3, a organização tem buscado essa interação com as

instituições financeiras, principalmente, porque “[...] faz parte do negócio manter os

investimentos que a empresa tem programado”. Complementando isso, explicou o

pesquisado E6 que nunca teve conhecimento de problemas entre a organização

estudada e as instituições financeiras.

Narrou o respondente E8 que há um bom relacionamento da empresa com

instituições financeiras, mas que regras devem ser seguidas para a realização de

empréstimos e financiamentos, pois a organização em estudo está diretamente

ligada às normas instituídas pela ANEEL.

Além dessa relação com as instituições financeiras, pode-se afirmar que a

organização em estudo possui também direta relação com várias autoridades locais,

a exemplo do Tribunal de Contas do Estado, Ministério Público, universidades,

associações e sindicatos de trabalhadores.

O entrevistado E1 falou que não sabia dizer qual era a relação existente

entre a empresa em análise e as autoridades locais e o pesquisado E2 nada

mencionou sobre essa relação. O respondente E3 explicou que pelo fato de a

organização ser fiscalizada, há direta relação principalmente com o Ministério

Público e Tribunal de Contas. O entrevistado E3 afirmou que “[...] o Tribunal de

Contas do Estado é um órgão bem diferenciado de outros estados”, porque é bem

rígido “[...] com relação as suas obrigações de fiscalização e aprovação”.

O pesquisado E3 salientou, inclusive, que: Outro órgão que sabemos que é um órgão de fiscalização, é o Ministério Público que tem exigido em demasiado [...]. Devido a isso temos feito muitos termos de ajuste de conduta para podermos gerir a empresa. Por exemplo, não conseguimos fazer um plano de demissão que o Ministério Público não interfira. Devido a isso, temos feito reuniões com o Ministério

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Público para acertar uma alternativa, porque eles têm um impedimento para qualquer realização que é maior do estado. Nós podemos verificar em várias estatais que não há muita rigidez, mas no nosso Estado é diferente (E3).

O respondente E4 nada comentou sobre essa integração, mas o E5

destacou que várias autoridades locais têm direta relação com a organização

estudada. Normalmente essa integração ocorre quando se verificam “[...] denúncias

de mau uso de dinheiro público e de benefícios a algumas empresas [...]”. Além

disso, há também, de acordo com relato do entrevistado E5, uma direta ligação com

o Ministério Público no tocante às “[...] questões relacionadas com acordos coletivos

de trabalho [...]”.

O pesquisado E6 também explicou com relação ao Tribunal de Contas do

Estado, que é por meio dele que se “[...] faz a fiscalização de praxe periodicamente

(contratos, pessoal, licitação) [...]”, motivo pelo qual “[...] existem alguns programas

do mesmo que nós temos que alimentar sempre”. Um claro exemplo desses

programas é o Esfinge. O respondente E6 alega que tal programa precisa ser

alimentado “[...] com dados de todos os contratos, todas as admissões, informações

do Rh, processos de licitações etc.”.

O respondente E7 explanou, assim, que “existe uma relação muito íntima

com todos os poderes”. Porém, “em relação ao Tribunal de Contas existe um

sistema de prestação de informação” e também “[...] uma auditoria na empresa, para

prestar informações [...]”. Essa figura afirmou, então, que há uma intrínseca relação

com o Tribunal de Contas do Estado, pois além de se ter um sistema que deve ser

alimentado com informações da organização, auditorias são realizadas para que

haja uma efetiva fiscalização e controle de suas atividades.

Os pesquisados E8 e E9 não falam desse assunto, mas o entrevistado E10

destacou, por fim, que “[...] em termos de autoridades locais, nós temos uma boa

relação, Nas universidades, por sua vez, há também integração da organização,

pois existem programas de pesquisa e desenvolvimento, de acordo com relatos dos

respondentes E1 e E2.

O entrevistado E3 também explica que: Nós temos um plano por exigência da própria ANEEL, que é a questão de pesquisas energéticas devido a uma tarifa que é passada e nós somos obrigados a investir nesse segmento. A gente escolhe alguns processos através de uma tomada pública e encaminhamos a ANEEL para aprovação. Inclusive, eles mudaram o processo, pois antes aprovavam e a gente fazia. Agora a gente tem que fazer e eles dão uma nota de 1 a 5. Se a nota for acima de 3,8 o projeto é aprovado. Se, menor, todo o investimento que foi

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feito tem que ser reposto, mesmo fazendo parte da tarifa. Então, na questão de pesquisas energéticas, nós temos essas limitações, mas ainda não temos um projeto de iniciativa direta da empresa (E3).

Constata-se que apesar do respondente E4 nada mencionar sobre o

assunto, o pesquisado E5 ressaltou a importância da relação existente entre a

organização e as universidades. Para esse entrevistado, além de programas de

estágios, existem projetos de pesquisa que ele não sabe explicar para que se utiliza

efetivamente. O entrevistado E6 afirmou que, com relação às entidades de pesquisa,

há o programa da ANEEL de P&D que estimula as pessoas à participação de vários

projetos. No entanto, relatou o pesquisado E7 que a organização em análise

“poderia ter relações mais estreitas com a academia”, pois “essa relação é mais

íntima na parte técnica, mas talvez tivesse a oportunidade de ampliar”.

O pesquisado E8 assevera que desse posicionamento, ressaltou-se que o

programa P&D é aquele que visa ao desenvolvimento de novas tecnologias e é

bastante incentivado pela própria ANEEL, porque estimula o desenvolvimento de

eficiência enérgica, a criação de programas de contabilidade de custos e o

fornecimento de várias melhorias no âmbito da energia elétrica. O mesmo

pesquisado diz que esse programa funciona como uma disputa, a exemplo do que

ocorre nos concursos públicos, pois tem chamada pública. Então, qualquer

universidade pode participar apesar de se ter uma maior atuação da Universidade

Federal do Estado. Nesse mesmo sentido também se posicionou o pesquisado E10.

Além desse programa, alega o entrevistado E9 que “com as universidades,

há a parceria para cursos específicos [...], para cursos de pós graduação e cursos

de parceria com outras empresas do mesmo setor”.

Quanto à integração com as associações e sindicatos, destaca-se que esse

assunto já foi tratado, pelos três primeiros entrevistados E1, E2 e E3.

O respondente E3 elucidou essa ligação e afirmou que: O trabalho é mais feito com sindicatos, pois associações só têm uma interna [...] que foi criada para pessoas que possuíssem graduação e, depois, por uma questão de sustentabilidade, já que qualquer funcionário [...] pode se associar a ela. A associação tem um cunho social. Nasceu mais para ser um braço de reivindicações [...] (E3).

O pesquisado E4 nada mencionou sobre essa integração, mas o

entrevistado E5 enfatizou sobre o sindicato dos trabalhadores, que esse é

considerado um órgão que age diretamente no âmbito da organização e exerce

atividades de suma importância em prol dos seus funcionários, principalmente com

relação à vedação de trabalhos terceirizados. O respondente E6 também se

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posicionou nesse sentido e relatou que os sindicatos se manifestam frequentemente

quando da celebração de acordos coletivos. Além do mais, explanou o pesquisado

E7 que deve haver tanto no âmbito dos sindicatos quanto em outros uma maior

atuação da organização com seus stakeholders, pois ao adotar a metodologia GRI,

se faz necessário intensificar as relações. Compartilha desse mesmo entendimento

o entrevistado E8, pois explicou que o sindicato é, atualmente, “[...] mais ameno, no

passado ele era mais ativo ainda”, ou seja, representava mais os trabalhadores,

talvez porque os próprios empregados acreditavam mais em sua força.

O respondente E10, (apesar do entrevistado E9 nada mencionar sobre esse

assunto) destacou que: O nosso sindicato perdeu força recentemente, cada vez mais o pessoal anda menos engajado, pois os empregados acham que os sindicatos não estão participando da forma que eles queriam e o sindicato acaba perdendo com a desmotivação das pessoas. Mas o ambiente é bem democrático (E10).

Do exposto, compreende-se que a atenção e integração com os

stakeholders são realizadas pela organização e atende à qualidade no convívio com

os mais diversificados órgãos e pessoas, visando, em síntese, colaborar com a

sustentabilidade por meio de um efetivo desempenho sustentável, de acordo com o

indicado por Munck (2013). Por isso, a organização não se descuida com a

manutenção de medidas que estimulem a interação entre ela e seus stakeholders, já

que esta é a indicação também fornecida por Morisue, Ribeiro e Penteado (2012),

porém em relação aos terceirizados é necessário reduzir o seu numero, fazendo

mais concursos públicos, e oferecer mais treinamento para integrá-los a empresa.

c) Código de Ética

O questionamento, a seguir, quer averiguar, na pesquisa, se a organização

promove, monitora e avalia o seu Código de Ética.

Os pesquisados E1 e E2 responderam a essa indagação, afirmando que o

Código de Ética tem intrínseca relação com o Comitê de Ética e que eles próprios

desconhecem qualquer avaliação que exista no tocante ao citado código.

Já o entrevistado E3 fala: “[...] temos um comitê de ética que analisa as

denúncias feitas, inclusive é coordenado por um conselheiro e temos a participação

dos empregados e dos segmentos. [...] “Então determinamos que o código devesse

ser atualizado [...]”.

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Os entrevistados E4 e E5 também mencionaram que há, no âmbito da

organização analisada, um cuidado com relação à ética, pois existe não somente um

Código de Ética, mas um Comitê de Ética que, além de participar do Conselho de

Administração, julga todas as questões a ele inerentes. O respondente E4 explicou

que “[...] todas as questões que envolvem ética são discutidas nesse comitê”, razão

pela qual se observa uma atuação conjunta com o departamento de auditoria

interna, já que há situações em que deve haver um trabalho conjunto para a

resolução de conflitos que necessitam de maior investigação. O respondente E5

acrescenta que: “Institui-se um comitê de ética, do qual fazem parte membros do

CA, sindicato, diretoria e funcionários, que se reúnem uma vez por mês para discutir

compromissos éticos da empresa, sendo monitorado dessa forma”. Este pesquisado

acrescenta: “Em minha opinião falta uma discussão mais ampla do código [...]”.

Analisando a fala dos respondentes, observa-se uma periodicidade para discussão

das obrigações éticas, sendo então monitoradas mensalmente as ações dos

empregados pelo comitê de ética, mas a pergunta se refere ao código de ética. O

código precisa ter uma periodicidade de avaliação, mas como o código é

relativamente recente (tem cerca de 2 anos de existência) ainda não teve avaliações

e, in loco, em conversa informal com um dos entrevistados, cogitou-se a pretensão

de fazer avaliações periódicas de dois em dois anos.

Descreveu o respondente E6, em complemento ao exposto, que tanto o

Código de Ética, quanto o Comitê de Ética são instrumentos que servem para avaliar

casos em que não se esteja agindo conforme a ética da organização. Por esse

motivo:

Algumas situações que eles entendem que houve um cometimento pelo empregado ou chefia e que chega ao Comitê de Ética, é resolvido internamente. Em alguns casos em que há a necessidade de maior esclarecimento, serão encaminhados para a auditoria interna para serem feitos os inquéritos administrativos ou sindicâncias. Então, muitos casos que chegam ao Comitê de Ética, o comitê delibera para a auditoria interna. Existem alguns casos que são resolvidos no próprio comitê. Porém, outros devem ser mais bem avaliados até mesmo para garantir os direitos dos participantes como de defesa e o contraditório (E6).

No entanto, importante salientar que, apesar do ora mencionado, todos os

funcionários receberam um exemplar desse referido código e assinaram um termo

de recebimento. Por isso, alertou o respondente E6 que “[...] o Código de Ética na

empresa é bastante divulgado internamente e ninguém pode descumprir o Código

de Ética em função da falta de leitura do mesmo”.

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O entrevistado E7 esclarece que acha que “[...] o Código de Ética que foi

desenvolvido e revisado não tem participação efetiva na empresa, ficando ainda só

no site”. Porém, esse mesmo indivíduo relatou que “[...] por outro lado, existe um

Comitê de Ética na empresa com participação dos membros do Conselho de

Administração que avalia, pelo menos, os casos mais graves de denúncias [...]”. O

respondente E7 declara, ainda: “Ela faz divulgação pela nossa intranet e palestras.

O monitoramento é feito por intermédio do nosso comitê de ética que é bastante

importante”. Já o entrevistado E8 diz: [...] “eles distribuíram um exemplar para cada

funcionário. Como ela monitora e avalia, eu não sei te dizer, porque, as ações que

chegam até lá são sigilosas”.

O pesquisado E9 comenta que o código de ética surgiu faz dois anos e que

brevemente será revisado, sendo que quando foi criado houve muita divulgação

entre os trabalhadores e todos receberam o código em forma de livreto, e

acrescentou: “[...] o código de ética avalia não só a relação entre os funcionários,

como também o relacionamento da empresa com fornecedores e da alta

administração com os demais membros da empresa”.

Finalmente o entrevistado E10 afirma: “Eu acho que o código de ética que

foi desenvolvido e revisado não tem participação efetiva na empresa, ficando ainda

só no site”. “[...] Então avançou o tema na empresa, talvez não esteja no nível ideal,

afinal ética é um assunto complicado, bem amplo e difícil de ser tratado”.

Verifica-se que, apesar de ser fácil o acesso ao código de ética, ainda não

foi totalmente assimilado pelos empregados, havendo necessidade de a empresa

promover mais palestras para que tomem consciência de suas obrigações, direitos e

quais são as consequências do não cumprimento de suas obrigações.

Analisando o exposto, pode-se verificar que houve divulgação no site e na

intranet da organização, entrega de livretos com o código e palestras com os

empregados. O comitê tem um grupo bem variado de empregados que participam

das reuniões e que avalia o relacionamento da organização com fornecedores e da

alta administração com demais membros da empresa, demonstrando preocupação e

cuidado com os stakeholders internos e externos.

Como se pode verificar, a maioria dos entrevistados concorda que o comitê

de ética é que monitora, analisando as denúncias feitas, inclusive é coordenado por

um conselheiro e tem a participação dos empregados e de outros segmentos. Um

dos respondentes fala da necessidade de atualização do código de ética, e outro diz

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que brevemente o código vai ser revisado. Falou-se a respeito da constituição do

código ter a participação dos empregados e da alta administração, porém na opinião

de outros falta uma discussão mais abrangente do código. Falou-se do livre acesso

ao código de ética, pelo site e pela distribuição em forma de livreto aos funcionários

e acrescentou-se que há palestras a respeito da ética. Porém outros pesquisados

são da opinião de que o código de ética não é efetivamente utilizado, pois só quem

estiver interessado é que vai acessar o site ou lê-lo, quando deveriam ser

estimulados a fazê-lo, inteirando-se de seus direitos e obrigações.

Segundo Silva et.al. (2011) a carência de um código de ética (formal), bem

como a ausência de avaliação periódica e pela não aderência dos servidores que

não têm conhecimento dos direitos, das regras e das penas pelo seu não

cumprimento, evidencia um baixo grau de transparência interna da instituição para

com seus servidores. Evidenciou-se que não havia um código de ética formal para

direcionar os servidores. Já Mello (2006), ao analisar as práticas de governança

corporativa do Governo Federal brasileiro observou que quase todos os

procedimentos relativos ao código de ética foram aprovados, com exceção da

periodicidade da avaliação.

No caso da organização, o que ocorre é que ela tem um código de ética

formalizado e à disposição dos empregados, bem como a qualquer pessoa que

acesse o site ou a intranet. Ele foi instituído em conjunto com empregados e a alta

administração. Apenas existe a necessidade de atualizações que, segundo um dos

entrevistados, está para ocorrer e que deve ter uma periodicidade que, em conversa

informal com um dos entrevistados (in loco), deverá ser de dois em dois anos. Na

percepção de Silva et.al. (2011), a ausência desse código, assim como a carência

de avaliação periódica, indica uma frágil aderência ao princípio da transparência e

princípio da governança no setor público, bem como no setor privado, que não deixa

claro quais normas de ética os servidores (setor público) e empregados (setor

privado) devem adotar, nem as consequências do descumprimento dessas.

d) Avaliação do conhecimento dos empregados a respeito do Código de Ética

Com respeito ao questionamento dos respondentes sobre como é feita a

avaliação do conhecimento dos empregados sobre o código de ética, obteve-se as

seguintes respostas:

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O pesquisado E1 disse: “Se é feito, desconheço; acho que não é feito”. O

respondente E2 afirmou que: “Fazemos palestras a respeito de ética”. Já o

entrevistado E3 asseverou: “Se você fizer essa pergunta aos empregados, eles nem

saberão que isso existe”. Por isso pediu-se ao restante do CA que: “[...] dessem

publicidade aos empregados e colocassem aos empregados as responsabilidades

deles, assim como estão contidos no código de ética”. O respondente E5 comentou

que: “Em minha opinião, falta uma maior discussão do código de ética [...]”.

Já o entrevistado E6 afirmou: “Não temos como avaliar, é disponibilizado,

mas daí vai do interesse individual de cada um”. No caso de uma palestra, são feitas

participações por meio de vídeo conferência e, após isso, é feito um questionário

aos participantes: “mas não podemos considerar como uma avaliação do

conhecimento do código e sim daquele evento especifico”.

O entrevistado E7 reagiu, como E2, E4 e E5, respondendo sobre outro

assunto. O pesquisado E8 assim se pronunciou: “Não é feita a avaliação. Quando

nós recebemos o código de ética somos obrigados a assinar um termo confirmando

que a gente tinha recebido para futuramente não alegar desconhecimento”. Esse

respondente acrescentou: “Mas cada um, se quiser ler, que leia; ou se quiser,

guarda na gaveta [...]”.

O entrevistado E9 confirma o que E8 disse sobre a avaliação não ser feita e

comenta ainda “os empregados deveriam estar mais engajados com o código de

ética, mas acredito que não tenha nenhuma avaliação formal”.

O pesquisado E10 relatou que “as pessoas não convivem com o código de

ética” e acrescenta: “deve ser dada mais importância especialmente à promulgação

da lei anticorrupção que eu acredito que vai mexer muito com as empresas já que o

risco de penalização é grande”. Ele acredita que a empresa deveria investir mais no

conhecimento efetivo do seu código de ética. In loco, assistiu-se ao Fórum de

Gestão de Riscos e Palestra sobre Lei de Combate à Corrupção nº 12.846, aberto a

todos os empregados e membros da organização, bem como a outras instituições e

constatou-se grande público presente. Verificou-se que a organização tem feito

muitas palestras sobre temas éticos. Mas, como se conferiu, não existe avaliação

do conhecimento dos empregados sobre o código de ética, apenas quando são

feitas participações por meio de vídeo conferência é oferecido um questionário aos

participantes que avaliam especificamente aquele evento. Na opinião de Silva et.al.

(2011), a falta de avaliação periódica do conhecimento dos servidores a respeito do

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código de ética, evidencia uma deficiência de transparência interna da organização.

Para haver transparência, têm que ficar claras, para servidores ou trabalhadores, as

normas de comportamento ético que eles devem seguir e quais as punições que

podem sofrer no caso de descumprimento dessas.

e) Relações entre o Conselho de Administração e Direção executiva

Na sequência foi questionada, na percepção dos entrevistados, de que

maneira o Conselho de Administração (CA) e a Direção Executiva (DE) discutem e

tomam decisões com relação às atividades da empresa e sobre o relacionamento

entre eles.

O respondente E1 assevera: “[...] as pautas do Conselho de Administração

(CA) são discutidas entre o Presidente do CA e o Diretor Presidente do executivo.

Existem pré-pautas que são exigidas pela CVM [...] para discutir os números e

fechamentos da empresa para os demonstrativos financeiros do ano passado”.

Verificam-se que as relações entre o CA e Diretor Presidente do executivo são, em

grande parte, obrigações exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM e

outros órgãos de regulação do mercado de capitais. O pesquisado E1 comenta

ainda: “Tem quatro comitês: financeiro, de recursos humanos, de auditoria e jurídico

e de estratégia comercial – nesses comitês são mesclados entre conselheiros e da

parte do executivo. O próprio Diretor Presidente do Executivo é membro do CA”.

O entrevistado E2 nada falou sobre esse assunto. Já o pesquisado E3

explica que no CA é permitido que um dos diretores seja o conselheiro no grupo

majoritário, e que a relação entre os dois é muito próxima: “[...] essa relação

diretoria/conselho acaba sendo muito próxima porque as decisões se dão com a

participação das duas partes, porque antes o presidente da empresa era o

presidente do conselho [...]”. Verifica-se que no estatuto da organização, hoje, isso

não é mais permitido, e o presidente da empresa pode apenas ser o membro

representante do acionista majoritário (governo) no conselho. O respondente E3

acrescenta ainda: “[...] então discutimos no conjunto, a diretoria faz as suas

proposições e o conselho faz as suas considerações”.

Nessa mesma linha, o respondente E4 declarou que o CA tem cerca de sete

anos de existência e que se criaram vários comitês: “[...] ética, recursos humanos,

jurídico e de auditoria, investimento entre outros[...]. Por isso os problemas que

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acontecem são discutidos nos comitês e dali são tomadas várias decisões com a

participação efetiva de conselheiros que participam de comitês específicos”.

Já o entrevistado E5 explica que existe um “embate entre majoritários e

minoritários e no meio disso está a diretoria executiva da empresa”. Portanto, “[...]

instituímos assessores para os conselheiros, seja na parte jurídica, administração

de pessoal, seja da auditoria, economia”. Esse entrevistado afirmou que como a

parte majoritária estará sempre buscando o lucro e como uma empresa de economia

mista prestadora de serviço público: “[...] tem sempre a função social e a

necessidade de um investimento que deve ser levada em conta além de somente

dividir o lucro aos acionistas”. Asseverou que, quando: “não há consenso, partem

para a discussão e avisam aos trabalhadores para participar das reuniões do CA”.

O pesquisado E6 afirmou: “existem reuniões mensais do CA, em que, em

cada reunião, há um espaço para que o presidente fale e emita informações sobre o

que aconteceu na empresa entre a reunião anterior e a última”. O respondente em

questão explicou que existem comitês de assessoramento ao CA em que são

discutidas matérias afins a cada comitê e então: “São estabelecidas metas entre CA

e a diretoria até porque a organização, por ser nível 2 de governança corporativa,

tem que ter essa transparência e canal aberto no CA”.

O respondente E7 declarou: “o CA decide sobre as diretrizes da empresa, os

grandes valores e qual vai ser o planejamento a longo prazo. O relacionamento se

dá dentro da normalidade”. O pesquisado E8 confirmou o que disse o E5

relativamente aos que acontece entre acionistas majoritários e minoritários e que

existe uma tendência de os minoritários exercerem certa pressão sobre os

majoritários. Comenta também que se a empresa possui: “[...] administração técnica

que sabe de que precisa, é melhor que uma administração que só olha os números.

E a CA que só olha números, muitas vezes não entende a técnica de que precisa

[...]”. Esse respondente afirmou que “o CA e a própria diretoria não são técnicos e

sim político-partidários; se fosse indicação técnica, seria diferente. Isso acontece,

inclusive, nas gerências de níveis mais baixos”.

O entrevistado E9 confirmou que: “A diretoria executiva tem reuniões

semanais em que discutem os projetos que devem ser aprovados e deliberados e,

uma vez por mês, acontece a reunião do CA”. O mesmo entrevistado comentou que

mensalmente a diretoria leva para o CA qualquer solicitação de aprovação, que deve

ser levada juntamente com uma nota de encaminhamento, que explica o que está

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sendo apresentado, ou seja, quais são os objetivos, custos, fundamentação legal,

impactos financeiros e impactos jurídicos. Essa nota é: “[...] enviada para os

conselheiros uma semana antes que a reunião aconteça para que o CA já esteja

ciente sobre tudo que impactará sua decisão. Cabe ao CA aprovar ou não [...]”.

O pesquisado E10 asseverou, ademais, que o relacionamento: “se dá de

forma bastante intensa”. Afirmou que, de forma geral, o CA é atuante “[...] a relação

entre o CA e a diretoria executiva apresenta um nível muito bom, pois não é um CA

distante, eles efetivamente fazem parte das atividades da empresa[...]”. Afirmou que

existe uma relação de prestação de contas entre eles, e que o CA vai um pouco

além da parte técnica que deveria ir e acrescentou que: Em governança corporativa a gente acha que o CA deve se envolver com decisões estratégicas sobre o futuro da empresa e a direção executiva com a parte operacional, mas isso também se deve devido a algumas situações que a empresa passou necessitando de uma participação efetiva dentro da parte técnica da Companhia (E10).

Analisando a situação descrita na organização estudada, no caso uma

empresa estatal, relativa à governança corporativa e suas práticas, segundo os

entrevistados (stakeholders internos), conclui-se:

Segundo um dos pesquisados, o Diretor Presidente da empresa é também

membro do CA, (o que é permitido), pois ele ocupa a vaga do sócio majoritário,

representando a parte do governo e tem relação com atividades da empresa.

Comentou-se que conseguiram, depois de muita insistência, em 2005, a

determinação de que o presidente do CA não podia ser o presidente da empresa.

Alguns pesquisados concordam na aproximação do CA com o executivo, discutindo

juntos sobre as pautas da empresa e que a diretoria faz suas proposições e o CA faz

suas considerações. Outro respondente mencionou que os problemas que

acontecem na empresa são discutidos nos comitês, ocasião em que são tomadas

muitas decisões, com o envolvimento efetivo de conselheiros que participam dos

vários comitês específicos que assessoram o CA. Devido a vários embates que

acontecem nas reuniões do CA, tem-se a necessidade de haver assessorias para os

conselheiros, tanto jurídica e administrativamente, quanto de auditoria e de

economia. Os acionistas estarão sempre visando ao lucro, mas uma empresa estatal

tem a função social e necessidade de investimento que devem ser levados em conta

e não apenas visar dividir o lucro com acionistas.

Alegou-se, entre os entrevistados, que são estabelecidas metas entre CA e

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a diretoria até porque a organização, por ser nível 2 de governança corporativa, tem

que ter essa transparência e canal aberto no CA”. Declarou-se que as diretrizes da

empresa são decididas pela CA, bem como será o planejamento a longo prazo.

Nessa mesma linha, Almeida et. al. (2008) afirma que, na empresa estatal, o maior

desafio é gerir uma complexa rede de stakeholders e desvencilhar-se das influências

das políticas públicas e ainda seguir os ditames do estatuto da estatal.

Afirmou-se, dessa maneira, que, no estatuto, estão determinadas as

atribuições das decisões do CA, como também o nível da alçada financeira que a

diretoria tem para aprovar determinado projeto ou compra. “Passando daquele valor,

deve-se levar essa aprovação para o CA”. O entrevistado cita o funcionamento e

procedimentos entre o CA e a diretoria. Outro pesquisado cita que, de forma geral, o

CA é atuante, tendo uma boa relação com a diretoria executiva, existe uma relação

de prestação de contas entre eles. Ele explica o funcionamento e procedimentos

entre CA e diretoria executiva.

Na opinião de Fontes Filho e Picolin (2008), em suas considerações finais,

comentam que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) propõe diretrizes para as estatais seguirem, nas quais priorizam o

fortalecimento e a autonomia da empresa e dos conselhos, pois esses aspectos vão

impactar seus monitoramento e controle. A empresa em análise cumpre todas suas

obrigações em relação ao mercado de capitais. Existem vários comitês onde são

discutidos problemas e são tomadas várias decisões, que depois são levadas ao CA

e ao DE. São estabelecidas metas entre esses dois para cumprir as exigências para

permanecer no nível 2 estabelecido pela BM&F Bovespa. O DE na sua mensagem

(no Relatório Anual e de Sustentabilidade 2012 - RAS) menciona ser imprescindível

a participação dos stakeholders nos processos decisórios da empresa que

compreendem o presente e alinham o futuro, bem como de planos para o vindouro.

Essas projeções para o futuro não são informações que deveriam estar contidas no

RAS, pois ainda não ocorreram e nem se sabe se ocorrerão e deveram fazer parte

só quando ocorrerem. O CA afirma que esse relatório será uma ferramenta de

gestão para acompanhamento, ao longo do tempo, do alcance de metas e objetivos.

Isso só será possível quando existirem outros relatórios para se fazer comparações

para verificar se os dados são verídicos para o RAS.

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f) Divulgação das decisões do Conselho de Administração

Em seguida, foi questionado aos pesquisados a respeito de como são

divulgadas as decisões do CA aos diversos níveis gerenciais da organização.

O entrevistado E1 diz que existem duas maneiras de divulgação: “[...]

primeiro, você é curioso e vai ao site de Relacionamento com Investidores (RI)” e

verifica ou espera sair a Ata que o representante dos empregados no CA faz: “o

extrato do que foi definido e manda para todos os empregados [...]. A minha

percepção é de que não existe uma transmissão direta [...]”. O entrevistado E2 falou

da possibilidade de acessar o site e verificar os acontecimentos. Já o pesquisado E3

asseverou: “[...] ela não o faz porque tem gente que lê a ata do conselho e não

entende nada do que foi decidido”. Entretanto, [...] “fizemos seminários regionais

para debatermos a representação dos empregados, espaços que eles ocupam etc.”.

Verificou-se - in loco - que alguns empregados da organização são bastante

participativos e atentos aos problemas e discutem soluções para auxiliar a empresa.

Eles se fazem representar no CA, no Conselho Fiscal, nos vários comitês e na

Fundação de Seguridade Social da organização. Como esses empregados ativos e

participativos estão ligados aos sindicatos, sempre estão informados a respeito do

que acontece nos conselhos e comitês. O pesquisado E3 afirmou, ainda, que, de

todas as representações dos empregados, a melhor foi aquela junto ao CA, pelo fato

de eles possuírem a Fundação de Seguridade Social da organização, ou seja, em

virtude dos trabalhadores estarem presentes em todos os conselhos, comitês e

fundação da seguridade. Concorda com o entrevistado E3, o pesquisado E4 quando

diz: “pode verificar na ata... é possível perceber os relatos dos conselheiros”. O

entrevistado E5 concorda em parte: “[...] Existe a ata do conselho que sabemos que,

por questões legais, nem tudo pode ser divulgado por uma questão de mercado,

pelo fato de a empresa possuir capital aberto”. Então existe uma legislação que diz:

“aquilo que pode prejudicar o mercado não pode ser divulgado”. Verifica-se que há

certa transparência, mas existe restrição aos assuntos que requerem sigilo por

motivos de proteção de mercado ou assuntos éticos. O entrevistado E5 afirma,

ainda: Dessa ata é divulgado um boletim informativo a todos os 3100 empregados

sobre aquilo que pode ser publicado dentro do prazo. Nesse boletim são tornados

públicos os votos dos conselheiros que são responsáveis pelo seu devido voto”.

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Quanto ao entrevistado E6, ele explica: “Todos os atos do CA são

publicados e divulgados no site da Companhia e no site da BM&F Bovespa e da

CVM, e como o presidente da companhia faz parte do CA, se houver qualquer

ordem será por meio do presidente que, como participante, delegará posteriormente

para os outros órgãos da empresa”.

O participante E7 diz: “Nós temos o representante dos empregados no CA.

E essas informações nós temos por intermédio dele que, geralmente, é um membro

do sindicato”. Já o pesquisado E8 respondeu: “Só nas reuniões e através de atas. O

conselheiro dos empregados faz um boletim que está disponível a todos no site da

companhia. Mas só está disponível o “grosso”, pois as informações mais

estratégicas não chegam a nós”.

No geral, o entrevistado E9 concorda com os demais e complementou: A secretaria de governança corporativa publica não só internamente como também no site da Companhia. Existe uma resolução na bolsa de valores que exige que até determinado tempo tenha que se divulgarem as decisões do CA. E o CRE faz o boletim com a opinião dele sobre a decisão e manda para todos os empregados (E9).

Esse respondente afirma ainda: “[...] após a tomada de decisões de cada

área respectiva, essa área é automaticamente comunicada. Se a nossa diretoria

participou de uma reunião do CA, ele sai de lá com um comunicando. [...] quem faz a

apresentação dos impactos de determinada tomada de decisão, somos nós, após

uma introdução da diretoria”. Constatam-se, mais vezes, transmissão direta do CA

às diretorias, de informações direcionadas, conforme seu interesse e necessidade.

O último respondente E10 concorda com os demais quanto à ata do CA e os

comunicados aos empregados pelo conselheiro representante dos empregados e

acrescenta: “[...] a revista interna da organização sempre fala bastante das decisões.

Aquelas que foram para a alçada do CA e existe uma divulgação disso. Existem as

comunicações internas quando a decisão é muito relevante que impacta a vida dos

empregados[...] Eu considero que as gerências têm um acesso bom ao CA”.

Analisando a percepção dos entrevistados, verifica-se que, de maneira

geral, todos têm acesso às Atas do CA, ao site do Relacionamento com Investidores

– RI, ao boletim informativo que é enviado a todos os empregados da empresa pelo

CRE e, ainda, por meio da revista interna da organização, que fala bastante das

decisões da organização. Verificou-se, in loco, que essa revista é distribuída pelos

departamentos da organização à disposição de empregados, clientes e

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interessados. Um dos entrevistados disse que as informações mais estratégicas não

chegam aos empregados, outros dizem que, quando as informações são relevantes,

os empregados recebem a comunicação por meio do Conselheiro representante dos

empregados (CRE) ou o diretor presidente envia ao setor interessado. Verifica-se

aqui que o (CRE) faz um resumo (boletim informativo) do que está na ata, com uma

linguagem mais clara e concisa para que os empregados tomem consciência de

tudo que está ocorrendo e envia para todos. A maioria é de opinião que as

informações são disponibilizadas a todos. O que se verifica também que existe a

transmissão direta ao departamento interessado, dependendo da importância da

informação.

Na opinião de Almeida et. al. (2008), na percepção dos stakehoders

internos da empresa que pesquisou, verificou-se que as deliberações do CA não são

amplamente divulgadas aos níveis gerenciais, e, portanto, não asseguram plena

transparência e divulgação das informações nas empresas públicas pesquisadas.

Na organização, o que se verifica é que se o Conselheiro representante dos

empregados não tomasse a iniciativa de fazer um extrato, os empregados teriam

dificuldades para entender as informações, pois as Atas do CA não são tão claras

para o entendimento de qualquer pessoa não familiarizada com os assuntos

tratados. In loco, em conversa informal com um gerente, até ele que tem um nível

cultural e intelectual superior, diz procurar o tal extrato, pois facilita o entendimento

das decisões tomadas pelo CA e da diretoria executiva. O que significa que a

organização apesar, de demonstrar uma boa transparência devido aos

demonstrativos a que é obrigado a publicar, deveria ter maior transparência interna e

apresentar um demonstrativo específico dirigido aos stakeholders internos.

d) Gestão de Riscos

Abordou-se com os respondentes a respeito da maneira como a

organização planeja e monitora a gestão de riscos das suas operações e as

respostas foram as seguintes:

O respondente A1 comentou que a organização está numa fase muito

embrionária ainda em relação à gestão de risco, sendo que foi construído o Plano

Estratégico e de Regulação em janeiro de 2013 e que em abril nasce a política de

controle interno e controle de risco e comenta: “[...] da grande meta da

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sustentabilidade nasce a gestão de riscos”. “Tivemos a ajuda de uma consultoria

alemã para ajudar a desenvolver todo o arcabouço do controle interno e gestão de

riscos [...]”. Analisando esse respondente, verifica-se, em sua percepção, que a

gestão de riscos é uma decorrência da necessidade de gerir a sustentabilidade. O

respondente E1 também relembrou como era confuso o controle de risco, auditoria,

controle interno e gestão de riscos e, como a consultoria auxiliou desenvolver

processos e definições de cada uma delas e acrescentou: “[...] Contamos hoje com a

árvore de riscos – e temos também o mapa de riscos – conforme imposto pelo Plano

Cartesiano e atua nas ondas de criticidade. [...] o primeiro a ser mitigado, eliminado,

modelado ou transferido é o risco [...]”. Como se observa, a organização está nas

fases iniciais de manter o controle de riscos, mas está se estruturando com

seriedade e com ajuda de uma consultoria, o respondente em questão assevera

ainda: “[...] Há vários fatores que compõem um risco e há vários riscos que

compõem uma classe. Existe um gestor para cada fator de risco, exemplo: riscos da

área ambiental, riscos de suas operações e outros”.

Analisando a fala do entrevistado E1, e complementando com palestra

“gestão de riscos como ferramenta gerencial” (in loco), ocorrida em abril deste ano,

tornaram-se conhecidos os objetivos da organização no que tange à gestão de

riscos: a) auxilio na obtenção das metas do plano diretor, por meio de mecanismos

para mitigação de riscos; b) norteamento da gestão para a eficácia e a eficiência das

ações, confiabilidade das demonstrações financeiras e conformidade com leis e

regulamentos; c) a colaboração para a transparência e o monitoramento dos

processos, em concordância com as boas práticas, de governança corporativa.

Verificou-se que, no início de 2013, a organização ratificou sua política de gestão

estratégica de riscos e controles internos, com definição dos objetivos, diretrizes e

responsabilidades do CA, do comitê jurídico, da auditoria e diretoria executiva e com

a precaução e mitigação de riscos intrínsecos aos seus processos e negócios.

O participante E2 disse não entender nada desse setor, e o entrevistado E3

demonstrou ter muito conhecimento do assunto e comenta: “[...] a organização tem

uma diretoria de planejamento e gestão de riscos que nasceu da necessidade de

evitar que ocorram novos desastres como o que ocorreu com o derramamento” e

cita: “[...] Então nós temos o monitoramento da gestão de risco. E essa gestão de

risco é analisada e apresentada ao CA como acompanhamento de gestão de risco

[...]”. O respondente E3 comentou ainda: “[...] Nós temos diversos tipos de risco:

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meio ambiente, contratação, gestão dos contratos de trabalho, licitação, captação de

recursos, então são séries de riscos [...]”. Verificou-se, in loco, no fórum realizado na

organização, “gestão estratégica de riscos”, que a companhia classificou em 96

fatores de riscos que foram identificados e agrupados por afinidade, resultando em

34 riscos. Depois foi construída e estruturada a árvore de riscos (4 classes – 10

categorias – 34 riscos) e o mapa de riscos que é a representação gráfica dos riscos

identificados e divididos por probabilidade e impacto. Em seguida vem o

monitoramento dos riscos e descrição do plano de ação em caso de comportamento

crítico. Finalmente é feita a revisão do ciclo.

O respondente E3 faz uma crítica à diretoria responsável pela gestão de

riscos por achar: “[...] que ela precisa ser mais ágil, contundente e prestativa nas

informações, pois uma reunião de conselho é macro, pois nunca se chega ao

detalhamento das coisas. [...]”. Ele realmente está preocupado e na palestra “gestão

estratégica de riscos” ficam claros os benefícios decorrentes dessa gestão, como a

redução de imprevisibilidades e incertezas, então, ele finalizou frisando: “[...] Assim

se deixarmos para resolvermos um mapa de risco na reunião seguinte, isso já

caracteriza um risco”.

O pesquisado E4 diz que o comitê de gestão de riscos é formado por

membro da auditoria, o diretor presidente, o diretor de planejamento, diretor jurídico

e mais duas áreas de gestão de riscos. Comenta ainda que: “no começo teve um

pouco de resistência da empresa, pois sempre aparecem coisas que tendem a

incomodar”.

O entrevistado E5 explica que a organização, em seu planejamento anual,

faz uma previsão de orçamento para gestão de risco aproximadamente de 300

milhões de reais e possui um departamento que administra esse recurso. Tem outro

departamento para coordenar a questão do fornecimento de energia, pois corre um

risco de haver apagão... O entrevistado E5 acrescenta ainda que o que prejudica a

organização é o fato de: “[...] estar comprando energia no valor quase 26 vezes mais

caro, o que gerou um problema de caixa causando um risco futuro financeiro até

mesmo de faltar dinheiro [...], apesar de o governo estar socorrendo e repassando o

valor [...]”. A preocupação desse entrevistado é de que no futuro esse valor seja

repassado para os consumidores. Alguns dias após essa entrevista, a preocupação

do entrevistado E5 se concretizou e os jornais noticiaram que o governo federal

repassou 1/3 dos custos do aumento da energia elétrica para as empresas de

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energia elétrica, 1/3 será assumido pelo governo federal e os restantes 1/3 será

repassado para os contribuintes. Essa situação gerou um problema de

sustentabilidade social e econômica, pois prejudica as empresas distribuidoras que

compram energia, e os consumidores vão ter que arcar com um valor extra que não

estavam esperando.

Outro tema mencionado por esse respondente E5 é sobre questões

climáticas, que são catástrofes que podem gerar prejuízos para o fornecimento de

energia, visto que outras regiões, como o sudeste está sofrendo com falta de água,

e o que supera esse problema no Brasil é ser o sistema interligado. Mas as

catástrofes ambientais são inevitáveis, embora a organização sempre planeje sua

gestão. Já o pesquisado E6 concorda com os demais quanto à gestão de riscos e

comenta: “[...] o departamento desenvolve suas ações e tem o monitoramento das

mesmas, ou seja, aquelas questões que mais impactam em risco para a empresa

são acompanhadas por esse departamento e nós prestamos contas a ele”.

Na sequência, o participante E7 assevera que a empresa tem seu plano até

2030 e o planejamento estratégico para cinco anos e concorda com os demais

respondentes quanto à identificação dos riscos e comenta sobre os indicadores

criados que são avaliados de acordo com o índice de criticidade dos riscos. Ele cita

que: “[...] a criação desses indicadores para tomar as devidas atitudes dentro dos

índices de criticidade, cobrando as áreas para se enquadrarem nos níveis

aceitáveis”. Ele afirmou “que os empregados ficam focando nos processos, quando

deveriam se basear na gestão de riscos para alcançarem melhorias em seus

processos”. Ele cita, ainda, “que a organização está adequando seus processos por

exigência da lei de fortalecimento do controle interno e para que futuramente fique

dentro dos padrões internacionais de gestão”.

O entrevistado E8 explica que a organização efetua manutenção preventiva

como podas de árvores e leituras de transformadores muito sobrecarregados, que

desligam automaticamente na hora do pico. Quanto aos riscos da falta de água nos

reservatórios, o entrevistado E8 diz: “[...] fica difícil prever os riscos porque a nossa

geração de energia é ínfima cerca de 2%. Então é quase tudo comprado. Existem

alguns contatos de longo prazo que garantem o preço [...]”. Como se pode verificar

riscos de falta de água, a organização não possui já que sua produção é muito

pequena e como é uma grande distribuidora que compra cerca de 90% da energia,

então o risco é em relação ao preço, e esse respondente assevera: “[...] Mas o

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restante, o próprio ONS (Operador Nacional de Sistema Elétrico) larga o preço para

gente. Há dois anos chegou a R$ 30,00, hoje custa mais de R$ 800,00”. Como se

pode observar o preço aumentou muito e, segundo o respondente E5, o governo

está repassando o valor, por enquanto, mas, e no futuro, como vai ficar?

O respondente E9 concorda com E1, pois a gestão de risco é muito recente

para a empresa e para os níveis gerenciais e, antes de monitorar, é necessário

identificar os riscos. Comenta ainda que: a consultoria trabalhou os riscos, seis

meses, após as identificações desses e dos fatores que compõem cada um deles e

a avaliação foi feita e agrupada na árvore de riscos. Ele explica como foram

estruturados os 96 fatores de riscos, em agrupamentos por afinidade, resultando 34

riscos e explicita como é feito o monitoramento: “[...] é mensal sendo que alguns

riscos são bimestrais e é feito da seguinte forma: cada área tem as ações que ela

deve fazer para mitigar os riscos [...]”. Em seguida, o entrevistado comunica que

essa área deve informar o departamento de gestão de riscos e controle interno, se

está adotando a ação e em que status andam as ações: “[...] conforme essas

informações são passadas para nós, nós avaliamos o que mais pode ser feito e

mensalmente reportamos para a diretoria e para o comitê de risco [...]”. “Essas

informações então são trimestralmente reportadas para o CA”, diz o respondente em

questão.

Finalmente, o pesquisado E10 concorda com E1 e E9 e acrescentou: “A

percepção geral que eu tenho, até em função que somente no ano passado nós

tivemos uma política de gestão de riscos debatida e aprovada [...]”. Ele acrescenta

que a própria diretoria de controle interno foi criado há cerca de três anos, pois não

havia essa relação estatutária anteriormente e acrescenta: [...] Numa empresa de economia mista as mudanças são mais demoradas de acontecer. Antigamente eram controles muito pontuais e não tinha um setor responsável por isso. Hoje em dia temos pessoas pensando dentro de um setor direcionado para gestão de risco acompanhando os indicadores e eu tenho a certeza que vai ajudar bastante [...].

O entrevistado E10 afirma: Como a gestão de risco é uma ferramenta

essencial para uma empresa de economia mista, de capital aberto e que esta presta

um serviço público importante à sociedade, portanto necessita muito dessa gestão.

Pelos relatos, pode-se observar que o gerenciamento de riscos nasceu em

abril de 2013, juntamente com os controles internos e em decorrência da grande

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meta da sustentabilidade. Verifica-se que o risco precisa ser mitigado, eliminado,

modelado ou transferido e que há fatores que compõem um risco e há vários riscos

que compõem uma classe. E existe a necessidade de um gestor para cada fator de

risco. Dessa maneira, é feito o monitoramento e a gestão de risco é analisada e

apresentada ao CA como acompanhamento dessa gestão. Segundo um dos

respondentes, a gestão de riscos foi criada recentemente provocada pelo acidente

(vazamento de óleo tóxico). Os demais respondentes dizem que a gestão de riscos

já ocorria dentro do departamento do controle interno e agora foi feito um

departamento só para a gestão de riscos, devido à importância dessa ferramenta

para as organizações nos últimos anos. Citaram-se diversos riscos que ocorrem no

setor elétrico e também os riscos com questões climáticas que não podem ser

previstas, como está ocorrendo na região sudeste, sofrendo os efeitos da falta de

água. Destaca-se que a organização está adaptando seus processos de acordo com

a lei de fortalecimento ao controle interno e até como ferramenta de gestão. Seu

planejamento é baseado na identificação dos riscos e a criação desses indicadores

para tomar as devidas atitudes dentro dos índices de criticidade, determinando que

as áreas da empresa se adaptem em níveis aceitáveis. Após a consultoria, foram

identificados 34 riscos estratégicos compostos por três fatores de risco, cada um. O

monitoramento é mensal e alguns riscos são bimestrais, sendo que cada área tem

suas ações para mitigar os riscos. Mensalmente também se reporta para a diretoria

e para o comitê de risco e, trimestralmente, informa-se para o Conselho de

Administração.

Observou-se, in loco, em abril de 2014, no “Fórum Gestão Estratégica de

Riscos” que foi realizado no Auditório da organização, por meio de palestras, como é

efetuada pela CPFL energia e Cemig, quando explanaram como foi implantada nas

suas empresas a gestão de riscos. Houve também uma palestra sobre a Lei de

combate à Corrupção nº 12.846. Nessas palestras, ficou muito clara, a necessidade

urgente das empresas de energia elétrica agilizarem seus processos para se

adaptarem ao gerenciamento de riscos.

Essa situação se repete em outras empresas, como se pode citar Crawford

e Helm (2009), que realizaram pesquisas em quatro empresas australianas em

gestão de riscos. As organizações compartilharam a mesma preocupação em utilizar

essa gestão para mitigar o risco de cobertura negativa da mídia. Os autores

ressaltaram que os limites entre a administração e a política são cada vez mais

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problemáticas, determinando que as organizações sejam mais flexíveis e acessíveis

à direção governamental e à consulta pública em todos seus projetos. Essa situação

obriga a empresa a ter a capacidade de lidar com a incerteza, a ambiguidade e a

mudança, devendo-se continuar a exercer o controle, gerir os riscos e demonstrar

responsabilidade e transparência.

Demonstradas, assim, as percepções dos pesquisados em relação aos

princípios da sustentabilidade corporativa diante das respostas formuladas por meio

de questionário semiestruturado, passa-se a analisar, no próximo item deste

capítulo, a comparação dos princípios da sustentabilidade da organização com os

princípios de desempenho sustentável de Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

5.1.2 Comparação dos princípios da sustentabilidade Essa comparação foi realizada por intermédio de uma análise documental

do Relatório Anual de Sustentabilidade modelo GRI e os princípios do desempenho

sustentável citados por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

Os nove princípios em questão são o da ética, da governança, da

transparência, do relacionamento do negócio, do retorno financeiro, do envolvimento

da comunidade/desenvolvimento econômico, do valor dos produtos e serviços, das

práticas de trabalho e da proteção ao meio ambiente, conforme Quadro nº 3 e já

citado anteriormente.

a) Princípio da Ética

Com relação ao primeiro princípio que se refere à ética, Epstein e Roy

(2003) e Epstein (2008) afirmam que: “a empresa estabelece, gera, monitora e

sustenta padrões e práticas éticas em anuência com seus stakeholders”. Esse

princípio dá a ideia de que a ética está compromissada com os stakeholders de

maneira geral. E a diretriz, “ética” vem descrita pela organização (2012) como: Integridade profissional (empresa, fornecedores e clientes) na condução dos negócios, no cumprimento da lei, no compromisso com as melhores práticas de governança, na preservação da imagem, na utilização adequada de informações e dos recursos e meios.

Para a companhia em estudo, a ética é considerada como um pacto, uma

convenção com aperfeiçoamentos nas práticas de governança, no direcionamento

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dos negócios, no profissionalismo íntegro em relação à empresa, aos fornecedores e

aos clientes, satisfazendo a legislação, no cuidado da imagem da organização, no

relato de informações verídicas e na apropriação equilibrada dos recursos. Verificou-

se que o princípio descrito pela organização em análise é mais abrangente e

específico, mas está dentro do esperado no princípio descrito por Epstein e Roy

(2003) e Epstein (2008).

A organização no item denominado de “Conduta Ética” do Relatório Anual e

de Sustentabilidade cita que seu Código de Conduta Ética tem ações

fundamentadas nos princípios de profissionalização, governança corporativa,

transparência da informação e blindagem anticorrupção. Ao verificar o Código de

Conduta Ética da organização, constatou-se a existência de normas sobre conduta

ética relativas a vários temas sobre relacionamentos profissionais que vão de

condições seguras de trabalho a conflitos de interesses (ORGANIZAÇÃO, 2012,

item GRI 4.6).

Essa situação está de acordo com Sachs (1993; 2002) que ressalta que a

dimensão sustentabilidade social tem o objetivo de redução das desigualdades

sociais, a necessidade da equidade entre os stakeholders internos, dirigindo a

produção de bens prioritariamente às necessidades básicas sociais e à criação de

postos de trabalho que possibilitem a obtenção de renda individual apropriada.

A organização estudada, em 2002, instituiu o Comitê de Ética, que

desempenha um papel pedagógico em respeito à corrupção, ética e moral nas

relações de trabalho. Logo, as denúncias podem ser realizadas por meio de dois

caminhos de comunicação: os e-mails do Comitê de Ética e da Ouvidoria, bem como

de duas linhas 0800, disponibilizadas no site da companhia. Após a denúncia,

realiza-se uma análise preliminar e, se for cabível, abre-se uma sindicância ou

tomam-se outras medidas cabíveis para garantir total sigilo e confiabilidade das

informações. Nas denúncias procedentes, os empregados envolvidos sofrem

punições por falta grave, mas, até agora, não ocorreu nenhuma demissão (GRI

SO4).

O Código de Conduta Ética foi revisado e, pela primeira vez, foi convidado

para fazer parte da audiência pública, o público interno e externo (jovem aprendiz,

fornecedores e comunidades). A audiência pública apresentou quatro debates com

expositores externos e tratou do tema “Ética nas relações de trabalho”. Por isso,

abordaram-se temas como relacionamento interpessoal e implicações sexuais no

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trabalho, conduta ética e felicidade interna bruta e a ética como condutora da

felicidade. A revisão contou com contrato de resultados e cada Agência Regional

enviou três ou mais sugestões elaboradas em conjunto com seus empregados. O

tema assédio moral foi discutido com o intuito de tolher essa discriminação entre os

empregados da organização. Por intermédio de videoconferência, discutiu-se sobre

o tema em questão com empregados em cargos de chefia tanto na Administração

Central como nas Agências Regionais. As unidades de negócios da organização

foram submetidas à avaliação de riscos conexos com a corrupção (ORGANIZAÇÃO,

2012, GRI SO2 e SO3).

A organização ganhou o prêmio: “Ética nos Negócios”, na categoria

“Comunicação e Transparência”, prêmio nacional que foi lançado no início de 2010,

durante a realização do 1º Congresso Brasileiro de Ética nos Negócios e que teve

por finalidade destacar as empresas com “Melhores Práticas” e demonstrar,

reconhecer, promover e difundir exemplos de excelência nos principais temas de

atuação responsável empresarial. O artigo exposto, no seu site, pela estatal

demonstrou seu Programa de Comunicação com investidores implementados em

2011. O Programa apresentou varias metas, visando reaproximar a empresa a seus

tradicionais acionistas, alcançar possíveis investidores e obter maior interesse no

mercado financeiro nacional e internacional para seus investimentos.

Participando de workshops (in loco) e durante as entrevistas, foi possível

verificar que cada gerente, chefe de departamento, contador, enfim, qualquer

empregado da organização estudada possui um Código de Ética que foi distribuído

pela própria empresa. Cada um que detém o código assinava uma lista, dando

ciência do recebimento, para que todos os empregados o recebessem. Além dessa

distribuição, a empresa mantém em seu site o Código de Ética para acesso de

qualquer empregado ou indivíduo externo.

Durante as entrevistas questionou-se a respeito da monitoração e avaliação

periódica do Código de Conduta Ética e sua aderência pelos empregados e, dessa

forma, ficou completa a triangulação proposta na metodologia dessa pesquisa.

Quando se verificou se a organização estimula, de alguma forma, os

empregados a lerem e se inteirarem do conteúdo, isto é, de suas obrigações e de

seus direitos, a resposta é que, em parte, sim, pois há promoção de algumas

palestras que nem sempre são assistidas pela maioria dos empregados. Para que

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haja uma boa gestão da empresa eticamente correta e sustentavelmente lucrativa é

necessária uma boa governança que trate do princípio seguinte.

Como se pode verificar, esses planos, projetos e metas fazem parte do

Relatório Anual e de Sustentabilidade da organização, modelo GRI, são apenas

“intenções” (ações que deverão se concretizar no futuro), e apenas quando se

concretizarem é que realmente deverão fazer parte do relatório em questão.

b) Princípio da Governança

Quanto ao princípio da governança, os autores Epstein e Roy (2003) e

Epstein (2008) asseveram que “a empresa gerencia seus recursos conscientemente

e efetivamente, reconhece seu dever fiduciário dos conselhos e executivos em

focalizar os interesses dos stakeholders [...]”. A organização possui uma composição

de governança corporativa estruturada e formalizada no seu estatuto social, sendo

assegurada, ainda, pelo seu “Projeto Organização 2030”.

Diante de muitas mudanças no cenário regulatório que foi totalmente

modificado pela Medida Provisória nº 579 e transformada na Lei nº 12.783/2013, a

organização desenvolveu o “Projeto Organização 2030”. Como as concessões estão

chegando ao fim do prazo de trinta anos, o novo modelo do setor elétrico coincide

com as prorrogações de prazo das concessões. A companhia, por meio de seu

“Projeto Organização 2030”, elaborou três planos: o plano diretor, com previsão de

longo prazo (até quinze anos); o Plano Regulatório, que tem por objetivo a

consolidação da posição da organização diante dos órgãos reguladores; e, o

Planejamento estratégico, com detalhamento das ações e metas da empresa do

grupo para os próximos cinco anos. O Diretor Presidente da organização oficializa

junto ao Diretor da ANEEL, a ratificação do pedido de renovação da concessão para

a organização quanto à distribuição. Para a geração e transmissão, ainda está em

discussão a prorrogação das concessões (ORGANIZAÇÃO, 2012 – GRI).

O Plano Diretor Organização/2030 foi construído abrangendo toda a

companhia por meio de um esforço coletivo com realização de entrevistas, de

levantamento de hipóteses entre os departamentos, chefias, gerências e agências

regionais. Realizaram-se também entrevistas com clientes, fornecedores e analistas

de mercado, o que demonstra a preocupação da organização com seus

stakeholders internos (empregados) e externos (clientes, fornecedores e outros).

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Esse plano foi assistido pela Roland Berger Strategy Consultants, uma consultoria

conceituada no meio corporativo. Foram realizadas cinco palestras com

especialistas externos e houve uma audiência com vários empregados, além de

aplicação de questionário em que se obteve cerca de 700 (setecentos)

respondentes. Em síntese, as aspirações dos acionistas da organização estudada

determinaram a construção de um Plano Diretor em torno de quatro pilares:

potencializar a geração de valor; criar valor com crescimento; transformar o grupo

por meio dos empregados; e garantir a sustentabilidade econômica e financeira.

As metas financeiras foram determinadas com o objetivo de dirigir a

organização na procura por melhorias de performance. Simultaneamente, a

organização assumiu decisões específicas relacionadas à eficiência operacional por

meio de três ações: programa de demissão voluntária 2012 para redução do custo

com pessoal; projeto eficiência operacional por meio da contratação de consultoria

especializada para condução de projeto de eficiência operacional para o grupo

organizacional; e revisão da base de materiais por meio da redefinição de preços

com os fornecedores para o negócio de distribuição.

Já as metas físicas e de sustentabilidade têm por objetivo colocar a

organização como uma das empresas de referência no setor energético. Em energia

distribuída pretende-se ficar entre as “cinco maiores brasileiras” com capacidade

instalada de alcançar 1.000 MW de geração (um aumento de quase 10 vezes).

Quanto às metas de sustentabilidade, verificou-se que a organização deseja atuar

em torno de quatro pilares, focando a obtenção de prêmios de referência nacional e

regional: pessoas; sustentabilidade, governança corporativa; e, gestão pública

(PROJETO-ORGANIZACIONAL, 2030).

A governança corporativa (GC) da organização segue um modelo que alinha

controle estatal a uma gestão voltada para o mercado e no ano de 2012 elaborou

novo Estatuto Social, que prevê muitas mudanças e se resume na “Organização

2030”.

A composição da Governança Corporativa, segundo Marques (2007)

determina a repartição dos direitos e das responsabilidades entre os diversos

stakeholders da organização, como o Presidente, os Diretores, o Conselho de

Administração, os acionistas, fornecedores e outros terceiros envolvidos. Verificou-

se, então, que a organização em estudo utiliza dessa repartição de competências

que é bem distinta e determinada no seu estatuto social.

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A principal mudança prevê adoção do quórum qualificado para aprovação de

assuntos de cunho estratégico e para eleição e destituição de diretores. A

organização se encontra no nível 2 de governança corporativa da Bolsa de Valores

de São Paulo e, em decorrência, se destacam as seguintes ações: a) tag along de

100%, sendo que a exigência da Bovespa era de 80% (tag along significa alienação

do controle acionário em que os acionistas minoritários têm o direito de vender sua

participação por valor igual ao do acionista controlador); b) melhora na prestação de

informações trimestrais e anuais, como Relatório de Referência, Imposto Territorial

Rural - ITR, press release (demonstrativo da gestão de riscos da companhia) e fact

sheet (publicação anual que consolida as informações relativas ao exercício fiscal,

em que se confere o perfil da companhia, as vantagens competitivas, Resultados

Financeiros Consolidados, dados operacionais e Responsabilidade Social e

Ambiental); c) calendário anual com divulgação de eventos corporativos; d)

circulação de 76,1% das ações no mercado, enquanto a exigência da Bovespa é de

25%; e) novo estatuto da estatal é aprovado, gerando sinergia entre empresas do

grupo e compromisso estatutário de criação de Plano Diretor; f) distinção entre

Presidente do Conselho de Administração e Presidente da empresa; e, g) uso da

Câmara de Arbitragem do Mercado para solucionar problemas entre acionistas e

empresa ou, então, entre acionistas controladores e minoritários (ORGANIZAÇÃO,

2012, item GRI 4.6).

Observou-se, desse modo, que a organização está cumprindo o marco legal

e as recomendações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM); as convenções

estabelecidas pela Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F BOVESPA) para listagem

diferenciada das empresas; os padrões praticados de Governança Corporativa; as

pressões por boa Governança Corporativa desempenhada por investidores

institucionais; e, ainda, seguindo o código das melhores práticas de Governança

Corporativa determinado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG).

Um dos chefes de Departamento comentou (na entrevista) que a

governança corporativa melhorou muito o gerenciamento da companhia a ponto de

sair de um prejuízo em 2012, para reverter em 2013, para um considerável lucro

líquido e, paralelamente, gerou um crescimento aproximado de 4% na energia total

distribuída na área de concessão da Organização Distribuição.

É preciso alertar que novamente a organização se utilizou de planos,

projetos e metas para descrever alguns pontos do Relatório Anual e de

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Sustentabilidade de 2012 – (RAS/2012), que são apenas “intenções” de ações que

talvez se realizem no futuro e que, quando ocorrerem, daí serem apresentadas

nesse relatório.

Como a empresa em questão está procurando alcançar alto nível em

governança e sustentabilidade tem-se empenhado em melhorar, ainda mais, os

relacionamentos com seus stakeholders, bem como com seus negócios, o que

indica a utilização do princípio do “relacionamento do negócio”.

c) Princípio do Relacionamento do Negócio

O princípio do relacionamento do negócio, citado por Epstein e Roy (2003) e

Epstein (2008), é aquele que se refere ao fato de que “a empresa empenha-se com

práticas de relações honestas com seus fornecedores, distribuidores e parceiros”. A

mensagem do Presidente do Conselho de Administração da organização afirma que,

nos últimos tempos, a sustentabilidade tem-se tornado parte do cotidiano

empresarial brasileiro e que, cada vez mais, se percebe a importância das relações

com seus stakeholders, em um procedimento de adaptação e evolução nessa

inovação de ordem social em nível mundial.

Analisando essa concepção do Presidente do Conselho de Administração,

percebeu-se a preocupação da companhia em relação aos seus stakeholders,

cumprindo-se, dessa maneira, sua obrigação em relação ao princípio em questão.

Segundo Assaf Neto (2010), a empresa deve disponibilizar aos seus stakeholders

informações mais amplas possíveis e deve abarcar as informações sociais e

ambientais, em que a organização as cumpre ao disponibilizar informações no

Relatório Anual de Sustentabilidade (modelo GRI/2012). A organização estudada

tem, portanto, como uma de suas sete diretrizes a “valorização das pessoas” que

direciona a empresa a: “integração, foco na equipe, diálogo aberto, relacionamento

interpessoal, mérito e qualificação, simplicidade, políticas de RH que melhorem as

relações com e entre os empregados”. Essa diretriz está em concordância com

Wrigth et. al. (2000) que ressaltaram o desafio que a alta administração possui

diante de diversos interesses dos stakeholders e ao buscar o equilíbrio para atender

às diferentes demandas dos diversificados grupos de relacionamento com a

organização.

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Outra diretriz da organização estudada é aquela que se refere ao

“comprometimento” com colaboradores, meio ambiente, investidores, comunidade,

clientes, honestidade e transparência. Essa descrição está em concordância com o

princípio “relacionamento do negócio” de Epstein e Roy (2003) e de Epstein (2008),

pois esses autores citam o empenho com práticas de relações probas com seus

fornecedores, distribuidores e parceiros. Para haver essas relações honestas é

necessária a transparência por meio da disponibilidade dos demonstrativos

financeiros e de sustentabilidade da empresa, que se refere ao próximo princípio de

Epstein e Roy.

d) Princípio da Transparência

Para haver transparência, é necessário disponibilidade de informações. E

isso se refere ao princípio da “transparência” ou disclosure que, segundo Epstein e

Roy (2003) e Epstein (2008), está ligada ao fato de que “a empresa fornece acesso

a informações sobre os produtos, serviços e atividades, possibilitando aos

stakeholders tomarem suas decisões”.

Nesse mesmo sentido, Savitz e Weber (2006) reconhecem que a

sustentabilidade está ligada à maneira de dirigir o negócio e conhecer os interesses

e as necessidades de seus stakeholders, reforçando a rede de relações que mantêm

essas partes juntas. A organização reconhece uma grande diversidade de

stakeholders e lhes presta contas, desenvolve relações transparentes e, assim,

conquista benefícios mútuos.

Mundialmente, segundo Castro, Siqueira e Macedo (2010), os stakeholders

cada vez mais exigem que as empresas demonstrem transparência e confiabilidade

de seus atos, seja em relação ao meio ambiente ou à comunidade, externalizados

por meio dos relatórios de sustentabilidade. A organização estudada demonstra ter

transparência, pois ganhou o prêmio nacional de Ética nos Negócios, na categoria

“Comunicação e Transparência”.

Silva (2010) reforça os princípios já descritos quando afirmou que os

relacionamentos entre ética, transparência e dedicação aos stakeholders formam o

arcabouço conceitual de governança corporativa e, consequentemente, de

sustentabilidade Por isso, para que se tenha governança, é necessário o

entrelaçamento entre ética, transparência e atenção aos stakeholders. Destaca-se,

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aliás, que um importante stakeholder da organização é o acionista, pois espera obter

um retorno compensador do seu investimento, que leva ao princípio do “retorno

financeiro” descrito por Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

e) Princípio do Retorno Financeiro

Esses autores afirmam, então, que “a empresa recompensa os provedores

de capital com um retorno do investimento com taxas competitivas e proteção aos

seus ativos”. Registra-se, nesse sentido, que a empresa analisada possui a seguinte

diretriz exposta no Relatório Anual e de Sustentabilidade de 2012 (método GRI), e

indica que os “resultados” se traduzem: Na busca de alto desempenho, eficácia, eficiência, melhoria continua, aperfeiçoamento de processos, resolução de problemas (resultado obtido), superação de metas estabelecidas, profissionalismo e tarefas executadas com precisão.

Ao analisar a situação da organização, verificou-se que no ano de 2012, a

empresa teve prejuízo e quando a empresa está nessa situação, não distribui

dividendos aos seus acionistas. Esses são os donos do capital, pois afinal investiram

na empresa e esperam um retorno financeiro que pode ser por meio de de

distribuição de dividendos ou da valorização de suas ações, então não se respeitou

o princípio do “retorno financeiro” e na procura de retorno financeiro do investimento

com taxas competitivas. Já no ano seguinte, em 2013, a organização teve um

considerável lucro e daí passou a cumprir o referido princípio.

Por outro lado, a companhia tem por missão “atuar de forma diversificada no

mercado de energia, com rentabilidade, eficiência, qualidade e responsabilidade

socioambiental”. E, dessa forma, reforça mais ainda as diretrizes e o princípio

citados. A atuação de forma diversificada no mercado de energia, quer dizer que a

organização, além de eletricidade, também assumiu o controle acionário da

companhia de gás, com a aquisição de 51% das ações ordinárias que equivalem a

17% do capital social da empresa. A companhia de gás produz gás doméstico, gás

para a indústria e também gás automotivo.

A estatal também financiou um levantamento do potencial eólico no estado

que possibilitou organizar um mapa sugerindo os melhores pontos para instalação

de parques eólicos. Foi então instalada a primeira turbina de produção de energia

eólica do Estado. A companhia investiu também em biomassa com o intuito de

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gerar mais energia e depender menos das grandes geradoras. Então se

comprometeu com a compra da energia gerada por uma usina que origina vapor de

energia a partir da queima de cavaco e serragem (rejeito da indústria florestal da

região).

A organização está inovando em projetos de geração de energia solar em

ilhas localizadas na costa litorânea do estado, onde se sustentam atividades de

pesquisa e turismo, em substituição aos geradores de óleo diesel. Em uma das ilhas

instalou-se um farol de longo alcance, com várias placas fotovoltaicas em lugar de

antigo gerador a diesel. Em outras ilhas investiu-se na energia solar que atende toda

a demanda requerida. Assim, verificou-se que a empresa em estudo atua de forma

diversificada e com intuito de obter maior rentabilidade, eficiência e qualidade com

responsabilidade socioambiental.

Uma das diretrizes da organização é a “responsabilidade socioambiental por

meio de comprometimento com programas sociais” que como se observou, está

ligada à missão da empresa. No que se refere a essa responsabilidade, cita-se que:

“A missão da empresa é atuar de forma diversificada no mercado de energia, com

rentabilidade, eficiência, qualidade e responsabilidade socioambiental”. Essa missão

se encaminha também ao princípio do “envolvimento da comunidade e

desenvolvimento econômico” dos autores Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008) que

serão a seguir descritos e envolvem o desenvolvimento econômico ligado à

sociedade e ao meio ambiente.

f) Princípio do Envolvimento da Comunidade no Desenvolvimento Econômico

No princípio do envolvimento da comunidade no desenvolvimento

econômico, os autores Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008) afirmam que se deve

incentivar “[...] o relacionamento reciprocamente benéfico entre a empresa e a

comunidade em que é sensível à cultura, ao contexto e às necessidades da

comunidade”. Esse princípio corresponde, em grande parte, à visão da organização

que assevera desejar: “A visão da empresa é cumprir a sua função pública com

rentabilidade, eficiência e reconhecimento da sociedade, com abrangência de

atuação nacional e internacional”.

A organização tem muitos programas sociais e no seu Relatório Anual e de

Sustentabilidade 2012 estão no título - “Empenho nas relações sociais” - dois

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documentos: Políticas de Responsabilidade Social e Políticas de Relacionamento

com Fornecedores, ambas com o objetivo de disseminar o conceito de

sustentabilidade, que implica planejamento estratégico na fixação de metas e ações

corporativas baseadas na abordagem Triple Bottom Line, ou seja, fundamentando-

se na tríplice dimensão econômica, social e ambiental. Nos próximos anos, a

empresa pretende efetivar a implantação das políticas em questão por meio de

planos de ação. Foram atreladas ações de responsabilidade social a lucros e

resultados, via contratos de gestão e de resultados para alcançar a melhoria de

indicadores de eficiência, transparência e outros e ampliação do desenvolvimento de

projetos sociais por Agências Regionais.

Barbieri e Simantob (2007) afirmam que uma das maneiras de

“operacionalizar” o conceito de sustentabilidade é subdividi-lo em três dimensões

para aplicação de operações específicas e localizadas.

O Relatório Anual e de Sustentabilidade 2012 da empresa (padrão GRI) está

sendo utilizado por se tratar de um relatório de padrão internacional e por ter sua

base na abordagem Triple Bottom Line que admite que as empresas divulguem as

informações nas dimensões econômica, social e ambiental de maneira abrangente

para qualquer tipo, tamanho, segmento ou localidade (GRI, 2006).

Foi utilizado o Relatório Anual e de Sustentabilidade do ano de 2012 porque

quando foram feitas as entrevistas, o Relatório do ano de 2013 estava em

elaboração, já que o relatório é feito no ano seguinte em 2014, para publicação no

primeiro semestre de 2014.

Para seu Relatório Anual e de Sustentabilidade/2012 - (RAS/2012), a

organização afirma que, em 2012, cerca de 100% de suas operações

compreenderam programas de engajamento da comunidade local, estimativas de

impacto e programas de desenvolvimento, disponibilizando-se, aproximadamente,

R$ 270 milhões para a população em questão, incluindo ações de cultura, educação,

saúde e saneamento, como também esporte, combate à fome, segurança alimentar,

dentre outros (GRI/2012, SO1).

A companhia arrolou, também, uma gestão inclusiva em que o

estabelecimento de uma Política de Responsabilidade Social contou com a

participação de setenta indivíduos, sendo que o processo durou, aproximadamente,

três meses e foi finalizado com consulta pública. O documento baseou-se na norma

ISO 26000 e constituiu diretrizes, normas e métodos para alcançar o

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desenvolvimento sustentável, por intermédio de inclusão social, viabilidade

econômica e respeito ao meio ambiente. O desenvolvimento sustentável na

organização se concentra em sete princípios: direitos humanos, comportamento

ético, prestação de contas, transparência, respeito pelos interesses das partes

interessadas, respeito pelo Estado de Direito e respeito pelas normas internacionais

de comportamento.

A Comissão Interna de Conservação de Energia, composta por funcionários

da empresa analisada é responsável por instituir metas e diretrizes sobre consumo

consciente, educação ambiental, eficiência energética e outros assuntos sobre

conservação energética. Jovens com idade entre 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove)

anos de idade das comunidades em situação de risco social são incentivados pelo

projeto “Tô ligado”. Mais de 1.500 jovens já foram capacitados para os ofícios de

guarda-parque, eletricista predial, eletricista comercial e de redes de distribuição.

Por meio de parcerias com terceirizadas são obtidos empregos para esses jovens e

há, inclusive, incentivo ao primeiro emprego por meio do Projeto Jovem Aprendiz.

Jovens em situação de pobreza, moradores de abrigos ou casas-lares e que

frequentem regularmente a escola, com idade entre 14 (quatorze) e 16 (dezesseis)

anos recebem meio salário mínimo, 13º (décimo terceiro) salário, férias, FGTS e

seguro, trabalham 12 horas por semana e tem 8 horas por semana de capacitação

nas entidades contratadas.

Em 2002, o World Business Council for Sustainable Development - WBCSD

(Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável) e o

International Institute for Sustainable Development – IISD (Instituto Internacional de

Desenvolvimento Sustentável) identificaram alguns benefícios decorrentes da

vinculação das organizações com premissas de um desenvolvimento sustentável,

sendo uma delas é: Menores custos relacionados à saúde e segurança, visto que um ambiente de trabalho seguro e saudável aprimora a qualidade de vida dos funcionários e da comunidade circundante. Essa situação é traduzida em melhores níveis de produtividade, menores prejuízos legais e redução de custos relacionados a serviços sociais e medicamentos.

Menores custos trabalhistas e soluções inovadoras. Ao promover boas condições de trabalho, as empresas observam uma elevação dos níveis de motivação e produtividade e uma redução das taxas de absenteísmo e rotatividade.

A reputação organizacional. O comprometimento com o desenvolvimento sustentável pode melhorar a reputação da organização e assegurar socialmente sua licença de operação, o que também auxilia na atração de

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talentos humanos para integrar a equipe de funcionários que compõem a empresa.

A citação desses benefícios conduz ao pensamento de que a qualidade de

vida dos funcionários e da comunidade local foi gerada pelo ambiente de trabalho

seguro e saudável, elevando a produtividade, diminuindo custos de prejuízos legais,

medicamentos e custos sociais. Analisando a organização, verifica-se que dispõe de

muitas ações sociais e assistências, todavia o RAS/2012 cita que a empresa possui

políticas de responsabilidade social e Politicas de Relacionamento com

Fornecedores e que a empresa pretende concretizar por meio de planos de ações e

novamente é preciso dizer que são intenções para o futuro que deverão ser

mencionadas na GRI quando de sua concretização.

Tais benefícios levam ao princípio “práticas de trabalho”, que será descrita a

seguir.

g) Princípio Práticas de Trabalho

Este princípio foi formulado pelos autores Epstein e Roy (2003) e Epstein

(2008) que afirmam que “a empresa compromete-se com práticas de gerenciamento

dos seus recursos humanos no intuito de manter desenvolvimento pessoal e

profissional de seus funcionários, diversidade e empoderamento”. Nesse sentido, no

RAS/2012 consta que a organização prima pela gestão que vincula produtividade e

qualidade das atividades desempenhadas pelo seu grupo e esforça-se em

harmonizar o bem-estar social dos responsáveis por esses resultados: “os

empregados”. A empresa alegou que investiu significativamente em infraestrutura

para melhorar as condições de trabalho, além de reduzir custos, aumentar

produtividade e promover aprimoramento da qualidade de seus serviços. Os

investimentos realizaram-se em modernização e renovação da frota, compra de

mobiliário na holding e demais regionais, ferramentas e equipamentos de tecnologia

da informação – TI. A empresa tem grupo de trabalho formado por empregados

próprios e 6% de empregados terceirizados (GRI/2012, LA1).

A empresa alegou, ainda, que as diretrizes em sua gestão de pessoas foram

instituídas por meio de gestão participativa, abrangendo todos os empregados,

representados por grupos de trabalho e sindicatos e envolvendo todas as empresas

do grupo. Seguindo práticas de governança corporativa, possibilitou-se a

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participação dos empregados no processo administrativo e na procura de resultados

no sentido de alinhar interesses mútuos. Foi nessa linha que se formalizou a Política

de Recursos Humanos do Grupo Organizacional desenvolvido em práticas de

gestão de pessoas e, assim, fortalecendo-se a cultura organizacional.

As diretrizes dessa política se iniciaram, em 2013, por meio do Plano

Gerencial, adequação no Plano de Cargos e Salários e novo concurso público. A

empresa manifestou-se formalmente contra qualquer discriminação e como

signatária do Pacto Global, formalizou compromisso perante as Nações Unidas, já

que compartilha suas práticas com outras organizações que integram esta ação. No

ano de 2012; 21,75% dos empregados da organização receberam treinamento em

políticas e treinamentos relativos aos aspectos de direitos humanos. E, em relação

aos empregados da área de segurança equivale a 97,5%, receberam treinamento

nesse tema e não foi constatada nenhuma prática discriminatória (GRI/2012, HR3,

HR4 e HR8).

A pesquisa realizada com os empregados em 2010 e 2012 indicou como

pontos fortes: saúde e segurança; comprometimento; motivação; identidade; e,

imagem da organização. E, como pontos fracos, o desempenho e crescimento que

dirigiu a empresa a um plano de ação com mudança de treinamento e segurança do

trabalho para hora-aula por empregado. Criou-se uma Instrução Normativa de Pós-

Graduação, renovação e criação de novos cursos a distância e extensão de ensino a

distância para os dependentes. Atenderam-se recomendações da Comissão Interna

de Prevenção de Acidentes (Cipa) e outras questões das unidades administrativas

da empresa. Em 2012, investiu-se, aproximadamente, R$ 1,6 milhões em

capacidade e treinamento, 9,5% a mais do que no ano anterior. Por meio da parceria

com uma empresa especializada em educação e comunicação corporativa, os

empregados e seus dependentes participaram de eventos de treinamento,

presenciais e a distância, totalizando mais de quatro mil participações (GRI/2012,

LA10).

Observou-se que a organização faz jus a sua diretriz “segurança”, pois se

preocupa com o ser humano e com o meio ambiente, bem como com a segurança

no trabalho, controle e monitoramento de riscos.

O auxílio-estudante também foi criado em 2008 e esse programa oferece

aos empregados cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), nos

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níveis fundamental, médio, técnico e superior, sendo que já beneficiou trezentos e

quarenta e seis pessoas (GRI/2012, EC5).

A empresa possui um plano estruturado de cargos e salários (PCS), que

prevê progressões salariais por tempo de trabalho e merecimento, ano a ano e

alternadamente. Os critérios de merecimento são avaliados pelos fatores de

valorização profissional: avaliação de desempenho, formação profissionalizante,

formação escolar, treinamento e atividades corporativas (GRI/2012, EC5).

A organização, por se tratar de uma empresa de economia mista, ou seja,

uma companhia de natureza pública (presta serviço público) caracteriza-se pela sua

ascensão de cargos que ocorre exclusivamente por concurso público. Mas, com a

Política de Recursos Humanos, a companhia proporcionará plano de carreira com

base em meritocracia. Em 2012, 95% dos empregados aderiram à avaliação de

desempenho funcional realizado pela companhia (GRI/2012, LA12).

Os benefícios recebidos pelo empregado vão além dos oferecidos por lei. O

Acordo Coletivo de Trabalho prevê anuênio, gratificação por vinte e cinco anos de

trabalho, auxílio aos empregados que possuam dependentes com deficiência, auxílio

aos empregados com deficiência, jornada especial de trabalho aos empregados que

possuem dependentes com deficiência, auxílio-enfermidade, auxílio-médico e

odontológico, um dia de licença para realização de exames preventivos, programa

de reabilitação e readaptação profissional, programa de preparação para a

aposentadoria, programa para tratamento de dependência química, seguro de vida e

de invalidez, custeio de despesas com acidente em serviço e outras doenças,

auxílio-funeral, auxílio para empregado estudante, auxílio-alimentação, auxílio-

alimentação de natal, além de adicional de férias aos empregados que trabalham há

mais de cinco anos na companhia, licença-prêmio, auxílio-babá/creche, participação

nos lucros e resultados, previdência privada e horário flexível, dentre outros

(GRI/2012, LA3).

Planos Previdenciários e assistenciais são também oferecidos pela

companhia aos seus empregados e beneficiários. Esses planos são administrados

por uma fundação da organização analisada que trata da parte referente à

Seguridade Social, 36º maior fundo de pensão do País, segundo a Associação

Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Esta fundação

acima mencionada oferece planos assistenciais e cobertura de serviços médicos e

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odontológicos, atendendo dezoito mil quinhentos e cinquenta e cinco usuários

(GRI/2012, EC3).

Quanto à saúde e à segurança, as orientações se baseiam nas normas

brasileiras NR-35 e NR-10 relativas a esses temas, que são difundidas por meio de

grupos de trabalho e ações da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),

bem como por intermédio de palestras sobre comportamento seguro, sendo que

100% dos empregados são representados por esses grupos (GRI/2012, LA6).

Nas empresas terceirizadas, realizaram-se atividades de inspeção em

campo e exigências frente às diretrizes para empresas contratadas, como também

ações de fiscalização sobre as empresas compartilhadas, reuniões e treinamento

para os técnicos de segurança do trabalho. Nessa área, um dos entrevistados

afirmou, que, no Brasil, acontecem muitos acidentes com os trabalhadores das

terceirizadas, pois não são treinados o suficiente para trabalhar com alto risco, assim

como acontece no setor de energia elétrica. A empresa possui um percentual de

terceirizados de 6%, já que a maioria dos empregados é concursado ou treinado.

Assim, o nível de acidentes é pequeno. A organização alega que fornece

treinamento, para os terceirizados. Esse é o único item que um respondente falou a

respeito dos terceirizados, que os sindicatos lutam contra essa prática da empresa,

para só ter esses trabalhadores para fazer serviços que não tem a ver com a

atividade fim da empresa. Segundo a lei trabalhista, eles só podem ser contratados

para prestar serviços de atividade meio, isto é, que não tenha relacionamento com a

atividade fim da empresa.

A seguir, descreve-se, no que consiste o princípio do “valor dos produtos e

serviços”.

h) Princípio Valor dos Produtos e serviços

O princípio relativo ao “valor dos produtos e serviços” definido pelos autores

Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008) é aquele que se refere ao fato da empresa

respeitar “[...] as necessidades, desejos e direitos dos seus clientes e se esforça

para manter altos graus de valor de seus produtos e serviços”.

Nessa mesma linha, WBCSD e IISD (2002) identificam alguns benefícios

resultantes da união das organizações às premissas de um desenvolvimento

sustentável:

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Mudanças em direção a uma cadeia de relacionamentos mais integrada podem permitir a construção de relacionamentos mais profundos com consumidores, o que, por consequência, pode gerar a captura de maiores valores pela provisão de serviços do que pela simples oferta de produtos.

A organização afirmou ter um diálogo aberto com as comunidades, desde a

fase de implantação de um empreendimento, com intuito de conhecê-la e oferecer a

oportunidade de se manifestarem críticas, sugestões e esclarecimento de dúvidas. A

companhia sempre disponibiliza a população, sob a forma de consulta pública, suas

iniciativas ou por meio de folhetos explicativos e site. Com base nas características

locais, desenvolvem-se projetos de desenvolvimento sócio econômico, sempre

preservando cultura e recursos naturais, respeitando as diversidades e promovendo

a redução de desigualdades sociais (GRI/2012, SO1). Os respondentes nada

mencionaram a respeito desse item, seria preciso fazer uma pesquisa junto aos

consumidores, portanto nada se pode afirmar nesse sentido.

Os compromissos com os consumidores (há mais de 2 milhões de unidades

consumidoras, dentre residências, comércios e industrias) estimula a companhia à

prestação de serviços de forma eficiente e segura. Por isso, procura-se conhecer o

consumidor por meio de suas sugestões, expectativas e reclamações, utilizando-se

de diferentes canais de atendimento como call center, unidades presenciais de

atendimento, livro de manifestação, acolhimento via mensagem eletrônica ou via

agência web e ouvidoria. Além disso, a organização disponibiliza um espaço em sua

sede, onde os clientes podem participar do Conselho dos Consumidores. Esse

Conselho é formado por várias classes de consumidores que colaboram com

sugestões para aperfeiçoar o relacionamento entre a empresa, consumidores e

sociedade em geral. Verificou-se, então, que a organização ao elaborar sua diretriz

“comprometimento” em que cita seus clientes, ela está de acordo com o princípio

“valor dos produtos e serviços” definido pelos autores Epstein e Roy (2003) e

Epstein (2008). Na sequência, o princípio proteção ao meio ambiente.

i) Princípio Proteção ao Meio Ambiente

Finalmente, o último princípio “proteção ao meio ambiente” definido pelos

autores Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008) é aquele que corresponde ao fato de

que “a empresa protege e restaura o meio ambiente e promove o desenvolvimento

sustentável com produtos, processos, serviços e outras atividades de que se utilize”.

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A organização, nas suas diretrizes “comprometimento” e “segurança”, citam

o meio ambiente, pois é responsável por fornecer energia a, aproximadamente, 2,5

milhões de unidades consumidoras em todo sul do Brasil e se compromete com os

consumidores, para produzir o menor impacto ambiental possível.

A companhia admitiu que, em todas suas decisões, segue as diretrizes dos

órgãos reguladores, considera as questões climáticas, as exigências dos órgãos

licenciadores, as avaliações de desempenho feitas pelo mercado, além de se utilizar

de novas tecnologias e se empenhar para alcançar bom desempenho ambiental.

Além disso, é por intermédio de projetos de educação ambiental que exerce

influência nas comunidades em que atua. Em 2012, a Distribuição da empresa

investiu mais de R$ 664 mil em iniciativas de responsabilidade ambiental (GRI/2012,

EN30).

A gestão ambiental incide em práticas corporativas padronizadas e que são

empregadas em todo o grupo por meio de normas e procedimentos formais. A

gestão ambiental da empresa por meio de sua Política Ambiental Empresarial

instituiu em 2006, os seguintes princípios: Integrar o conceito de desenvolvimento sustentável à estratégia corporativa;

Desenvolver a competência e a mobilização do quadro funcional por uma ética partilhada de desenvolvimento sustentável;

Trabalhar em parceria com instituições públicas, privadas e comunidades por uma melhor qualidade de vida, buscando o equilíbrio do interesse das partes;

Buscar o melhoramento contínuo da performance ambiental de obras e serviços mediante o aperfeiçoamento de métodos e processos e a incorporação de novas tecnologias;

Oferecer à sociedade serviços que incorporem de forma permanente as variáveis socioambientais;

Fomentar o uso racional de energia elétrica entre seus clientes e as sociedades em geral;

Exigir de contratados e fornecedores atitudes ambientais coerentes com esse conjunto de princípios.

Esses princípios são disponibilizados a todos os empregados por meio da

internet e apresentados em treinamentos internos, em questões como preservação

dos recursos naturais, redução da geração e seleção de resíduos. O consumo

consciente é incentivado, a legislação ambiental e a responsabilidade individual são

tratadas nos meios de comunicação interna e reforçadas nos eventos corporativos.

Externamente, as ações da empresa abarcam as escolas e as comunidades

cobertas pela companhia (GRI/2012, EN26).

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Nas usinas hidrelétricas da organização, toda a água utilizada para mover as

turbinas é 100% devolvida a sua fonte de origem, enquadrando a companhia no

conceito de energia renovável. A empresa tem diminuído o consumo de água das

atividades administrativas, sendo que, em 2012, registraram-se 6,32% a menos que

o ano anterior (GRI/2012, EN8).

Quanto à gestão de resíduos que resultam das atividades administrativas e

operacionais da organização estudada. Ressalta-se que esta é realizada com base

na norma NBR 10004 e que prevê a destinação de acordo com sua classificação.

A organização esta implementando gestão de riscos, em que planeja e

monitora os riscos, e RAS/2012 cita os benefícios dessa ferramenta de gestão e,

pelas normas da GRI, a organização deve também mencionar os pontos fracos e

algum malefício ocasionado na empresa. Nesse sentido, a organização prestou

esclarecimentos a respeito do acidente ocorrido com o vazamento de óleo tóxico na

seção de meio ambiente.

Diante de todo o exposto e uma vez demonstrados os aspectos

concernentes aos objetivos propostos para a presente pesquisa, passa-se, então, ao

capítulo seguinte e que apresentará as considerações finais deste trabalho.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo analisar as práticas de

sustentabilidade de uma estatal do setor elétrico do sul do país, sob o enfoque dos

princípios do desempenho sustentável.

Para identificar os princípios e práticas de sustentabilidade corporativa foi

feita a análise documental do Relatório Anual e de Sustentabilidade de 2012,

(RAS/2012), modelo “Global Reporting Initiative (GRI)”, da organização e uma

entrevista em profundidade. Ao tentar seguir todos os princípios da GRI (versão G3)

para a elaboração desse documento, a análise demonstra que, embora seja seu

primeiro relatório, a organização encontra-se empenhada na implementação dessas

práticas.

O engajamento da organização na sustentabilidade estabelece que o

resultado econômico esteja integrado às ações sociais e ambientais. Mas, da

maneira com que os dados foram relatados, não é possível comprovar tal ligação,

mesmo que a GRI constitua um modelo de evidenciação. As ações descritas, no

RAS/2012, limita-se a perspectivas qualitativas, pois ainda não existem indicadores

quantitativos nas diretrizes da GRI, nem comprovações efetivas do grau de

desenvolvimento sustentável da organização, embora a empresa desenvolva várias

ações ambientais e sociais. Também as diretrizes e seus indicadores nem sempre

convergem para o mesmo interesse, que são o ambiental, o econômico e o social,

pois, para assegurar o desenvolvimento sustentável dessa organização, é

necessário avaliar indicadores que comprovem o sucesso do procedimento de

expansão do setor de energia elétrica, equilibrado no conceito do Triple Bottom Line.

Todos os entrevistados, em conversa informal, afirmaram que a GRI é um

instrumento de gerenciamento que causou impactos positivos dentro da empresa,

mas um deles afirmou que ainda não é efetivamente utilizado como instrumento de

gestão. Em síntese, a organização avalia os impactos que as suas operações

possam causar no âmbito econômico e descreve seus planos, projetos e metas, que

fazem parte do RAS/2012, mas são apenas intenções, ações e providências a

serem concretizadas no futuro, e só quando forem realizadas é que se tornarão

ações para serem demonstradas no RAS.

Ressalta-se que empresas do setor elétrico no Brasil são altamente

dependentes das condições ambientais, o que justifica ser a sustentabilidade uma

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preocupação constante da organização que procura estar de acordo com os as

exigências dos órgãos de regulação ambiental. No entanto, só isso não é suficiente.

É necessária a implementação da gestão de riscos que a organização já iniciou, na

percepção dos stakeholders internos, no sentido de eliminar ou mitigar impactos

ambientais negativos. Agora, é preciso monitorar e ter um controle efetivo dessa

gestão.

No âmbito social, a organização também avalia os impactos que possam

causar, pois muitas vezes, um impacto ambiental e acaba prejudicando a área social

e até o âmbito econômico, pois cada vez mais as três áreas estão interligadas. A

organização sempre procura fazer estudos desses impactos, quando da construção

de uma linha de transmissão, ou da construção de usinas. Possui várias ações

sociais e também assistenciais, mas uma que se destacou foi a do menor aprendiz,

que foi muito bem aceita pela comunidade.

Com o objetivo de identificar a aplicação dos princípios de sustentabilidade

na percepção dos entrevistados, constatou-se que o código de ética é de fácil

acessibilidade, tanto em forma de livreto, quanto na sua disponibilidade no site da

organização. Esse código tem regras para avaliar não só a conduta dos

funcionários, alta administração e demais membros da organização como também o

relacionamento da empresa com fornecedores, o que demonstra atenção com

stakeholders externos e internos. Necessário seria, também, que houvesse uma

periodicidade para a revisão do código de ética, pois essa carência demonstra uma

frágil aderência ao princípio da transparência e princípio de governança, pois o

documento não deixa claro quais normas os empregados devem seguir, nem as

consequências do descumprimento dessas.

Quanto à avaliação do conhecimento dos empregados a respeito do código

de ética, a maioria dos entrevistados concorda que não há e comenta que deveria

existir uma maior discussão a respeito dos temas tratados com todos os membros

da organização. Verificou-se que falta uma participação mais efetiva por parte da

organização, no sentido de melhorar o conhecimento dos empregados sobre seus

direitos, obrigações e consequências do seu inadimplemento.

A empresa realiza palestras com os empregados sobre vários temas

relacionados à ética, mas o recomendável é continuar a sensibilizá-los ainda mais

no sentido de que se inteirem de suas obrigações e direitos e em médio e longo

prazo e se conscientizem da necessidade de suas participações junto à companhia,

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trazendo benefícios mútuos. Recomenda-se mais estímulo aos empregados, no

sentido de a organização continuar realizando palestras, oferecer prêmios para

quem se destacar no conhecimento a respeito do código de ética e, dessa forma,

eles poderem conscientizar-se da necessidade de seu conhecimento.

Verificou-se que as relações entre Conselho de Administração (CA) e

direção executiva, na percepção dos entrevistados, são em grande parte, obrigações

exigidas pelos órgãos do mercado de capitais. Em virtude de a organização ser nível

2 de governança corporativa, segundo a Bolsa de Valores de São Paulo, é obrigada

a cumprir o princípio da transparência. Por isso o relacionamento entre CA e direção

executiva é próximo e dentro da normalidade, pois é determinado pelos órgãos

reguladores e pela ANEEL, além de ter competências definidas no estatuto da

organização. Os entrevistados concordam que o CA é bastante atuante e trabalha

em conjunto com a diretoria executiva, embora aquele exerça certa pressão sobre

este, por se tratar do órgão máximo da organização e represente os acionistas

minoritários.

O Diretor Presidente do executivo também é participante do CA,

representando o acionista majoritário, que é o governo. Há necessidade de

fortalecer a autonomia da organização e de seus conselhos e é imprescindível,

segundo o Princípio da Governança citado por Epstein e Roy (2003) e Epstein

(2008), permitindo separar a eficiência empresarial da estatal, da ação

governamental.

As decisões do CA são divulgadas nas Atas do Conselho e nos sites

exigidos por lei. Além disso, são divulgados no site e revista da empresa. Na

percepção de alguns stakeholders internos entrevistados, a comunicação da

organização é em alguma situação deficiente, como forma de assegurar a

transparência interna, com a divulgação de informações corporativas para os níveis

gerenciais. Pois, se não fosse o conselheiro representante dos empregados fazer

um extrato das decisões do CA e enviar as informações mais relevantes a cada um,

eles não ficariam cientes das decisões e ações da organização. Pois essa, embora

tenha uma revista, não possui nenhum outro canal formal interno de transmissão

dessas informações para os empregados, não assegurando sua plena

transparência.

A respeito de como a organização planeja e monitora a gestão de riscos de

suas operações, a percepção dos entrevistados é de que essa preocupação surgiu

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motivada pela meta da sustentabilidade e da implantação de inovações em controle

interno. A organização ratificou sua política de gestão estratégica de riscos e

controle interno, com a definição dos objetivos, diretrizes e responsabilidades do CA,

do comitê jurídico, da auditoria e diretoria executiva e na precaução e mitigação de

riscos intrínsecos aos seus processos e negócios. Verificou-se ainda que, na

percepção dos respondentes, a gestão de riscos foi uma decorrência da

necessidade de gerir a sustentabilidade e evitar riscos de natureza ambiental e

operacional, como o que já ocorreu com o vazamento de óleo tóxico e poderia ser

evitado se houvesse uma gestão de riscos mais eficaz. Comentou-se a necessidade

de maior agilidade e contundência na prestação de informações por parte da

diretoria de gestão de riscos, pois constatado um risco iminente, é preciso tomar

providências rápidas, não podendo esperar a próxima reunião do CA. Verifica-se

que essa diretoria precisa de maior autonomia e atenção por parte da alta

administração. A gestão de riscos se constitui uma ferramenta essencial para uma

empresa estatal do setor elétrico, dada sua complexidade,

Finalmente, com o objetivo de indicar pontos convergentes e divergentes

entre os princípios de sustentabilidade corporativa da GRI na organização e os

princípios do desempenho sustentável, segundo Epstein e Roy (2003) e Epstein

(2008), verificou-se que o princípio da ética, que tanto é exigido na GC, como

também no desempenho sustentável, segundo Epstein e Roy (2003) e Epstein

(2008), foi cumprido em parte.

Para uma boa gestão da empresa eticamente correta e sustentavelmente

lucrativa é necessária uma adequada governança, por isso Epstein e Roy (2003) e

Epstein (2008) estabeleceram o princípio da governança para que a organização

gerencie com consciência seus recursos e reconheça os deveres do Conselho de

Administração (CA) e executivos, com foco em seus stakeholders. Pelos princípios

citados, além dos ditados pela OCDE e reproduzidos pelo IBCG, e também, em

consonância com a recente modificação no estatuto da organização, verifica-se que

as atribuições do Diretor Presidente da empresa e do presidente do CA têm

repartição de competência distinta e não deve existir submissão ou prevalência de

uma das partes sobre a outra. É preciso existir um equilíbrio e tanto um como o

outro exercem apenas uma fiscalização mútua. A principal mudança no estatuto da

empresa diz respeito à adoção de quórum qualificado para a aprovação de assuntos

de cunho estratégico e para eleição e destituição de diretores. Como a organização

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se encontra em nível 2 de governança corporativa, segundo a BM&F Bovespa,

espera-se que possua transparência em sua gestão.

Em 2012, ano do RAS analisado, a organização teve prejuízo, o que

significa que naquele ano não houve cumprimento do princípio do retorno financeiro,

quando a organização recompensa os provedores de capital, que são seus

acionistas, com pagamento de dividendos. Em 2013, houve lucros e evidentemente

distribuição de dividendos. Nos demais princípios, a organização está parcialmente de acordo com a GRI e Epstein e Roy (2003) e Epstein (2008).

Os resultados apresentados neste estudo de caso único descritivo revelam a

dinâmica da vida organizacional de uma estatal do setor elétrico, no que diz respeito

às atividades formalmente estabelecidas sobre sustentabilidade. Espera-se que os

fatos revelados contribuam para a compreensão dos processos e interações sociais

que se desenvolvem nessas organizações, o que pode auxiliar a preencher a lacuna

teórica de trabalhos acadêmicos sobre esse tema em estatais brasileiras.

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, com uma amostra reduzida de

pessoas, embora representativas da alta administração, seus resultados não podem

ser generalizados às demais organizações do setor. Porém, como acontecem com

esse tipo de pesquisa, seus resultados podem servir de bases para futuro estudo

quantitativo, com outros tipos de stakeholders, como funcionários, clientes e

acionistas da mesma empresa ou demais organizações do setor, para que teorias e

definições possam ser testadas.

Finalmente, espera-se que este trabalho auxilie a aprofundar a compreensão

do estágio em que se encontra a sustentabilidade e a governança nas estatais do

setor elétrico, melhorando o conhecimento científico sobe os temas tratados,

estimule a produção de pesquisas acadêmicas sobre o assunto e possibilite a

tomada de decisões para aperfeiçoar a gestão sustentável nas organizações

brasileiras.

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