111
0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVA O PERFIL DO CRIMINALIZADO QUE CUMPRE PENA NO PRESÍDIO MASCULINO DE FLORIANÓPOLIS BIGUAÇU 2010

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

0

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ROSEANA DA SILVA

O PERFIL DO CRIMINALIZADO QUE CUMPRE PENA NOPRESÍDIO MASCULINO DE FLORIANÓPOLIS

BIGUAÇU2010

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

1

ROSEANA DA SILVA

O PERFIL DO CRIMINALIZADO QUE CUMPRE PENA NOPRESÍDIO MASCULINO DE FLORIANÓPOLIS

Monografia apresentada à Universidade doVale do Itajaí – UNIVALI, como requisitoparcial a obtenção do grau em Bacharel emDireito.

Orientadora: Profª. MSC. Eunice Anisete deSouza Trajano

BIGUAÇU2010

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

2

ROSEANA DA SILVA

O PERFIL DO CRIMINALIZADO QUE CUMPRE PENA NOPRESÍDIO MASCULINO DE FLORIANÓPOLIS

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel, e aprovada pelo

curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Penal e Direito Processual Penal

Biguaçu, 30 de Maio de 2010

Profª. MSC. Eunice Anisete de Souza TrajanoUNIVALI – Campus de Biguaçú

Orientadora

Profª. Esp, Marilene do Espírito SantoUNIVALI – Campus de Biguaçú

Membro

Profª. Esp, Alessandra de Souza TrajanoUNIVALI – Campus de Biguaçú

Membro

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

3

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora, bem

como, a Orientadora, de toda e qualquer responsabilidade acerca do presente.

Biguaçu, 30 de Maio de 2010.

Roseana da Silva

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

4

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor, por ter me dado força e coragem para enfrentar, mais uma

caminhada em minha vida.

Aos meus amados sobrinhos, Tito Augusto, Luana, Vitor Leonel e Vinicius

Leonel pelo incentivo e carinho.

Aos amigos Adilson Maurino da Siilva e Deise Maria do Nascimento, pelos

obstáculos tão difíceis que superamos no Presídio Masculino, e dai, surgiu a

coragem de alcançar mais uma etapa na minha vida profissional.

Aos amigos Elton Felisbino Artur da Silva, Jean Winn Packer, Stella Maris

Smaniotto, que muito me ajudaram na elaboração deste trabalho, muito obrigada.

A querida professora Tania Trajano, pelo seu jeito simples de nos cativar nas

aulas de Direito Civil, aprendi muito contigo, obrigada.

A todos os colegas da faculdade que durante os 5 anos de luta, me

acompanharam, destaco as amigas Rosemere Schlemper e Priscila Heleno, pelos

trabalhos academicos que realizavamos juntas, bem como pela amizade e confiança

que a mim depositaram.

Em especial, quero agradecer a Dra. Eunice Anisete de Souza Trajano, minha

orientadora, que desde o início acreditou em mim, e muito me ensinou. Tenho a

senhora, como exemplo profissional por acreditar tanto naquilo que faz, obrigada.

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

5

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Leonel Felisbino da Silva

(in memorium) e Alcelina da Silva,

Exemplos de vida e amor.

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

6

“As pessoas crêem que o processo penal termina com a

condenação, e não é verdade; As pessoas crêem que a

pena termina com a saída do cárcere, e não é verdade; As

pessoas pensam que o cárcere perpétuo seja a única pena

perpétua; e não é verdade: A pena, se não mesmo sempre,

nove vezes em dez, não termina nunca. Quem em pecado

está perdido, Cristo perdoa. Mas os homens, não.”

FRANCESCO CARNELUTTI

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

7

RESUMO

A presente Monografia tem como objetivo, apresentar o perfil do criminalizado que

cumpre pena no Presídio Masculino de Florianópolis. O primeiro capítulo trata da

Evolução Histórica da Pena, as Escolas Penais, o Surgimento das Prisões e os

Sistemas Penitenciários. O segundo capítulo trata do Sistema Penal e da Pena de

Prisão. E o terceiro capítulo enfoca a Pesquisa de Campo realizada no Presídio

Masculino de Florianópolis, com o fito de traçar o perfil do criminalizado, que ali

cumpre pena.

PALAVRAS-CHAVE: Criminalizado, pena, perfil.

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

8

ABSTRACT

This monograph aims to present the profile that criminalized serving time in Men`s

Prison Florianópolis. The first chapter deals with the Historical Evolution of Pena,

Pena Period humanitarian, The Criminal Schools, The Emergence of Prisons and

Prison Systems. The second chapter deals with the criminal justice system and

imprisonment. The third chapter focuses on the Field Research conducted in the

Men`s Prison with a focus to draw the profile criminalized, that there serving time.

Keywords: Criminalized. Penalty. Profile.

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 121 A GÊNESE DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE........................................ 14

1.1 CONCEITO DE PENA...................................................................................... 14

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA................................................................ 15

1.3 PERÍODO HUMANITÁRIO DA PENA.............................................................. 17

1.4 ESCOLAS PENAIS.......................................................................................... 18

1.4.1 Escola Clássica........................................................................................... 191.4.2 Escola Positiva............................................................................................ 211.4.3 Escola Neoclássica..................................................................................... 24

1.5 SURGIMENTO DAS PRISÕES........................................................................ 25

1.6 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS........................................................................ 32

1.6.1 Sistema Filadélfia........................................................................................ 321.6.2 Sistema de Auburn...................................................................................... 331.6.3 Sistema de Montesinos.............................................................................. 341.6.4 Sistema Inglês Progressivo ou Mark System........................................... 351.6.5 Sistema Progressivo Irlandês.................................................................... 361.6.6 Sistema Fechado......................................................................................... 371.6.7 Sistema Semiaberto.................................................................................... 371.6.8 Sistema Aberto............................................................................................ 382 O SISTEMA PENAL E A PENA DE PRISÃO..................................................... 402.1 CONCEITO E FINALIDADE............................................................................. 40

2.2 SISTEMA SOCIAL DA PRISÃO....................................................................... 42

2.3 PRISONIZAÇÃO.............................................................................................. 45

2.4 FUNÇÕES DECLARADAS.............................................................................. 47

2.5 FUNÇÕES NÃO DECLARADAS...................................................................... 49

2.6 LABELLING APROACH................................................................................... 50

2.7 SELETIVIDADE................................................................................................ 52

2.8 AS MAZELAS DO SISTEMA PENAL............................................................... 54

3 PESQUISA DE CAMPO..................................................................................... 59

3.1 ESTABELECIMENTO PENAL PESQUISADO ................................................ 59

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

10

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTABELECIMENTO PENAL................................. 59

3.3 DISTRIBUIÇÃO MENSAL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA DO PRESÍDIOMASCULINO DE FLORIANÓPOLIS NO PERÍODO DE MARÇO 2008 ÀMARÇO 2010.........................................................................................................

63

3.4 MÉTODO UTILIZADO NA PESQUISA............................................................ 64

3.5 PERÍODO PESQUISADO................................................................................ 64

3.6 OBJETIVO DA PESQUISA.............................................................................. 64

3.7 PERFIL DOS RECLUSOS DO ESTABELECIMENTO PESQUISADO............ 65

3.7.1 Idade............................................................................................................. 653.7.2 Naturalidade e Nacionalidade.................................................................... 663.7.3 Situação Civil............................................................................................... 673.7.4 Cor de Pele................................................................................................... 683.7.5 Profissão...................................................................................................... 693.7.6 Grau de Instrução........................................................................................ 703.7.7 Recebimento de Visitas.............................................................................. 713.7.8 Egressos de Estabelecimento de Menores.............................................. 723.7.9 Situação Socioeconômica.......................................................................... 733.7.10 Delitos Mais Praticados............................................................................ 743.7.11 Situação Jurídica....................................................................................... 753.7.12 Tempo de Pena.......................................................................................... 763.7.13 Regime de Pena......................................................................................... 773.7.14 Retornaram para a Instituição Penal Pesquisada no Período deMarço de 2008 à Março de 2010..........................................................................

78

3.8 LINGUAGEM UTILIZADA PELOS RECLUSOS DA INSTITUIÇÃO................. 79

3.9 REVISTAS CORPORAIS................................................................................. 82

3.9.1 dos Presos................................................................................................... 823.9.2 dos Familiares............................................................................................. 83

3.10 VISITAS ÍNTIMAS.......................................................................................... 86

CONCLUSÃO........................................................................................................ 88REFERÊNCIAS...................................................................................................... 90ANEXO A – Ofício da professora Eunice ao administrador do PresídioMasculino de Florianópolis.................................................................................

93

ANEXO B – Ofício do administrador do Presídio Masculino deFlorianópolis em resposta a professoraEunice....................................................................................................................

95

ANEXO C – Fotos do Presídio Masculino de Florianópolis............................. 97

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

11

ANEXO D – Formulário de entrevista dos reclusos.......................................... 105

ANEXO E – Formulário das carteiras de visitas................................................ 108ANEXO F – Procedimentos para visitas e entregas dealimentos...............................................................................................................

110

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

12

INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como finalidade, traçar o Perfil do Criminalizado,

que cumpre pena no Presídio Masculino de Florianópolis.

O interesse em abordar esta temática, deu-se em função das constantes

observações realizadas na Instituição, no que refere-se a identificação da

população carcerária que ali vivem, e a sua dinâmica diária.

É do conhecimento de todos, pois, que o sistema carcerário brasileiro

encontra-se em uma situação caótica, e o catarinense, não difere, no tocante a

superlotação, e a falta de políticas públicas adequadas, voltadas à realidade de cada

estabelecimento penal.

Entretanto, visando um suporte teórico adequado, para que a realidade

vivenciada, seja melhor entendida, fez-se necessário estruturar esta monografia em

três capítulos.

No que tange a metodologia aplicada, utilizou-se o método dedutivo, que

parte da abordagem de argumentos gerais referentes ao assunto, para fenômenos

particulares ou conclusões formais acerca da temática em tela.

É mister salientar que, buscando-se melhor entendimento quanto ao

assunto em discussão, no primeiro capitulo será apresentada, a gênese da pena

privativa de liberdade, onde será enfocado inicialmente o conceito de pena, histórico

e seus períodos humanitários, assim como as escolas penais, seus percussores e

entendimentos. Enfatiza-se também o surgimento das prisões e os sistemas

penitenciários.

Já no segundo capitulo será enfocado o sistema penal e a pena de prisão,

conceito e finalidade da pena, o sistema social da prisão destacando os conflitos que

há entre presos e funcionários e com os demais presos, onde perdura um ambiente

de desconfianças, inseguranças, prevalecendo a figura do “eu” e não do “nosso”;

outro fator destacado é o processo de prisonização, que atinge não somente a

massa carcerária, mas também os funcionários que atuam naquela realidade,serão

ressaltadas ainda as funções declaradas e não declaradas, o labelling aproach, as

seletividades e as mazelas do sistema penal; estas tão presente no dia a dia de

uma prisão. E o quanto estão enraizadas, de medos, inseguranças, instalações

físicas precárias, ociosidades, falta de profissionais qualificados e treinados

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

13

adequadamente para atuarem no sistema penal, pois trata-0se de uma realidade

própria que requer técnicas adequadas, tidas por estudiosos acerca do assunto e

que merece atenção.

E no terceiro e último capítulo, será apresentada a pesquisa realizada no

Presídio Masculino de Florianópolis, que culminou por traçar o perfil da população

que ali habita.

Entretanto, sentiu-se ainda no terceiro capítulo a necessidade de enfatizar, a

linguagem usada pelos reclusos do Presídio Masculino de Florianópolis, para

comunicarem-se.

Assim como também, a práxis das revistas corporais à que são submetidos

os reclusos e seus familiares.

E por derradeiro, discorrer alguns aspectos no tocante as visitas íntimas,

que são realizadas aos reclusos nos finais de semana, por suas esposas e

companheiras.

Finalizando, ao concluir-se esta monografia, serão tecidas algumas

considerações, sobre as questões referenciadas no decorrer do presente trabalho.

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

14

1 A GÊNESE DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Neste primeiro capítulo será enfocado a questão da Evolução Histórica da

Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões.

Destacam-se as diversas correntes que impulsionaram e procuraram

legitimar a pena de reclusão através dos tempos.

Não cabe neste momento apresentar uma análise profunda e crítica acerca

das escolas e teorias, mas apenas enfatizar o conteúdo básico no tocante a

questão.

Iniciar-se-á com conceitos de pena.

1.1 CONCEITO DE PENA

No que refere-se a pena Damásio E. de Jesus, salienta que é a sanção aflitiva

imposta pelo Estado, por meio da ação penal, ao autor de uma infração penal como

retribuição de seu ato ilícito, cujo fim é evitar novos delitos1

Na ótica de Luiz Vicente, a pena é definida da seguinte forma:

A pena consiste substancialmente na perda ou privação doexercício do direito relativo a um objeto jurídico. Formalmente,esta vinculado ao princípio de reserva legal e somente éaplicada pelo Poder Judiciário, respeitado o princípiocontraditório.2

Para Edmundo José de Bastos Junior, a pena é em geral definida como um

sofrimento imposto pelo Estado ao autor de uma infração penal.3

No entanto, na visão de Fernando Capez, a pena é uma sanção penal que é

imposta pelo Estado, ao indivíduo por ter praticado uma infração, e tem como fim

promover além da sua readaptação social, a prevenção de novas transgressões.4

1 JESUS, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. Vol. 1,28 ed. São Paulo, 2005 p. 5192 CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Estrutura do direito penal. São Paulo, sugestões literárias, 1972 p. 94.3 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos. Florianópolis. OAB. 2002 p. 1534 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Parte geral. São Paulo. Saraiva, 2007, p. 259.

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

15

1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA

Na concepção de Odete Maria de Oliveira, a pena apresenta como evolução

histórica, os períodos de vingança privada, divina, pública e humanitária.5

No que tange a vingança privada João Farias, destaca que as tribos e clãs

exerciam a vingança privada, quer individualmente, quer coletivamente, contra seus

ofensores.6

É considerada a fase mais primitiva da história da pena, equivale a lei do mais

forte, ficando a sua execução a cargo do ofendido.7

Nessa fase ainda, Odete Maria de Oliveira destaca que:

A lei de talião era bem mais radical do que as outras formas devingança punitiva, mas ainda não era reconhecidapropriamente como um gênero da pena; porém, suaimportância lhe é devida por ser a primeira fórmula de justiçapenal.8

A justiça de talião – “olho por olho, dente por dente, vida por vida”, foi a forma

de aplicação da pena, onde o ofendido poderia praticar uma ação igual a que lhe foi

realizada.9

João Farias Junior enfatiza que, nesta fase a punição era destacada como

uma maneira de acalmar a ira da divindade, bem como purificar o infrator, para que

a paz reinasse na terra, e a pena era dita como forma de modificar aquele que

cometesse um delito. Para os que praticassem roubo cortavam-lhe os dedos, se

reincidissem cortavam-lhes os pés e as mãos. Se insultassem um homem de bem

cortavam-lhe a língua, o adúltero era queimado em cama ardente, e a adúltera era

entregue aos cachorros.10 Os povos da antiguidade acreditavam ainda que violar a

boa convivência, ofendia os deuses, e a ira destes trazia muitas desgraças a eles.11

5 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, 3ª ed, Editora da UFSC, Florianópolis, 2003 p. 26.6 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. 3 ed. Curitiba, Juruá, 2004, p. 23.7 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. Rio de Janeiro. Forense, 2000, p. 7.8 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 26.9 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 24.10 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. p. 8.11 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 24.

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

16

No período divino, teve como seu maior representante o código de manu

(século XV a.c) sobre a forma de que a pena purificava a alma do infrator.12

João Farias Junior destaca que:

Na vingança divina, determinados povos da antiguidadecultivavam a crença de que a violação da boa convivênciaofendia a divindade e que a sua cólera fazia cair a desgraçasobre todos, todavia, se houvesse uma reação, uma vingançacontra o ofensor, equivalente à ofensa, a divindade depunha asua ira, voltava a ser propícia e a dispensar de novo suaproteção a todos.13

Já na idade moderna prevaleceu a repressão, as penas que não atingissem o

corpo do delinqüente, eram acompanhadas de outros castigos, banimento,

exposição, a marcação de ferrete, e a multa vinha como acessório o açoite.14

No tocante a exposição ressalta-se a morte de Joaquim José da Silva Xavier,

o Tiradentes, no Brasil, que foi uma demonstração desta fase onde prevalecia a

crueldade das penas. Por ter sido acusado do crime de “lesa-majestade” sofreu os

rigores da época. Sua condenação não só o atingiu, como também estendeu-se

para seus familiares.15

No período de vingança pública, o autor João Farias Junior, enfatiza que:

A vingança divina era também uma vingança Pública. Essavingança se generalizou, com o uso de Juízes de tribunais como objetivo de conter a criminalidade, mas por mais aterradoresque fossem os castigos e suplícios infringidos contra osdelinqüentes, por mais ostensiva que tenha sido a pretensaexemplaridade das execuções das penas corporais einfamantes, nunca houve efeito inibitório ou frenador dacriminalidade.16

Com a evolução nas relações entre as pessoas, ia-se definindo os campos de

atuação do Direito e da religião, as leis não podiam ser mais aceitas, como simples

costumes sagrados, que eram reveladas e sancionadas pelos deuses.17

A autora Odete Maria de Oliveira, apresenta ainda que:

12 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da Pena. p. 8.13 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 24.14 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 38.15 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. 3ª p. 41.16 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 24.17 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 36.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

17

Fortalecida a autoridade pública, tornou-se forte o Estado, comcompetência para sobrepor-se, chamando para si o exercícioda pena, tirando da mão do ofendido e da vítima, ou de suafamília, tal titularidade.18

É mister salientar que, os períodos históricos da pena não aconteceram de

forma estanque, seja, encerrava um, iniciava-se outro, ao contrário, o período de

vingança divina conviveu muito tempo com o período da vingança pública, e o

mesmo com o privado.19

No período de vingança Pública, cabe ressaltar que, com a evolução das

relações entre as pessoas, ia-se definindo os campos de atuação do Direito e da

Religião, as leis não podiam ser mais aceitas, como simples costumes sagrados.20

1.3 PERÍODO HUMANITÁRIO DE PENA

Diante de tudo o que ocorria, o mundo assistia as formas mais cruéis de

vingança à aquele que cometesse um delito. Tudo era feito não só para punir o

infrator, mas também para humilhá-lo. Pois não era só a dor física que interessava,

ele tinha que ser atingido moralmente.21 O povo tudo acompanhava, e por que não

dizer muitas vezes participava, açoitando, escarnecendo, o acusado, demonstrando

desta forma, o seu direito de acompanhar a punição, e participava de certa forma

daquele ato.22

Por outro lado, havia uma preocupação de vários estudiosos, acerca da

moderação das punições, bem como da sua proporcionalidade com o crime. Entre

os defensores, encontravam-se juristas, magistrados, parlamentares, filósofos,

legisladores, e técnicos de Direito.23

Para Odete Maria de Oliveira ainda:

18 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 36.19 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da Pena. p. 8-11.20 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 35.21 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da Pena. p. 12.22 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 16ª ed, editoravozes, Petrópolis, 1997, p.53.23 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 43.

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

18

Os vários reformadores construíram e divulgaram suas teorias,entre eles, Servam, Voltaire, Marat, Duport, Target, culminandocom o grande expoente, o economista e criminalista Italiano,Cesare Bonesana, marquês de Beccaria, autor da obraextraordinária, De Delitte e Delle Pene, cujos princípiosrenovaram e abrandaram o sistema Penal, despertando aconsciência pública contra as vergonhosas atrocidades dosuplicio.24

Em sua obra Cesare Beccaria, destaca a origem da pena e o direito de punir,

pois o juiz não poderia impor uma pena que não estivesse prevista em lei, devendo

interpretá-la de maneira correta, para não cometer abusos.25

Beccaria, acrescenta ainda que:

O juiz deve fazer um Silogismo perfeito. A maior deveser a lei geral; a menor, a ação conforme ou não a lei; aconseqüência, a liberdade ou a pena. Se o Juiz forconstrangido a fazer um raciocínio maior, ou se fizer por contaprópria, tudo se torna incerto e obscuro.26

O autor em destaque menciona também que é muito perigoso o “axioma

comum”, pois é preciso consultar o espírito da lei. Pois se forem adotadas os

“axiomas” as leis serão obviamente abandonadas as opiniões diversas.27

1.4 ESCOLAS PENAIS

Neste momento será apresentada as escolas penais, suas influencias e

conteúdos.

Segundo Francisco Bissoli Filho as Escolas Penais estão classificadas em

Clássica, Positiva, Neoclássica ou Técnico-Jurídica, deram início ao estudo acerca

da criminologia e da pena.28

24 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 43.25 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. p. 13.26 BECCARIA. Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Paulo M. Oliveira. 15ª ed. Ediouro. Rio deJaneiro, 2001, p. 29.27 BECCARIA. Cesare. Dos delitos e das penas. p. 29.28 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma da criminalização. – dos antecedentes à reincidência criminal. Livrariae Editora obra Jurídica Ltda, Florianópolis – 1998, p. 29.

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

19

1.4.1 Escola Clássica

O marco original da escola clássica foi o iluminismo, onde ocorreu uma

transformação estrutural da sociedade e do Estado.29

Para João Farias, o marquês de Beccaria foi:

Uma das primeiras vozes a repercutir na consciência dasistemática penal operada no fim do século XVIII, estendendo-se até o início do século XIX e culminando com a consolidaçãoda Escola Clássica.30

Para Vera Regina Pereira de Andrade, o marco da escola em destaque

apresenta dois momentos bem definidos que é um essencialmente filosófico, que

remontaria a suas origens, e o outro jurídico.31

Nesta escola é destacado que o delinqüente não poderia mais ser punido pela

vontade dos deuses, e sim, deveria esta punição ser prevista em lei, acerca do

assunto a autora Vera Regina de Andrade, enfatiza:

Baseando-se no postulado fundamental de que os direitos dohomem tinham que ser protegidos da corrupção e dosexcessos das instituições vigentes, vistos que não estavamausentes nos regimes jurídicos da Europa no século XVIII [...]ela empreenderá uma rigorosa racionalização do poder punitivoem nome, precisamente, da necessidade de garantir oindivíduo contra toda intervenção estatal arbitraria. Daí por quea denominação de garantismo seja talvez a que melhor espereo seu projeto racionalizador.32

Na visão de Francisco Bissoli Filho, a pena na escola clássica é preventiva e

retributiva. E o crime é visto como um fato social, sendo que a pena teria a dupla

finalidade de retribuição justa e proporcional da sociedade pelo dano causado.

29 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A Ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violência docontrole penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 1997. p. 47.30 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 26.31 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 46.32 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança. p. 47.

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

20

Assim como da prevenção para que o delinqüente não volte a cometer novos

delitos.33

João Farias Junior, destaca ainda que a Escola Clássica apresenta como

princípios, a legalidade dos crimes e das penas ou principio de reserva legal; a

indistinção das penas perante a Lei Penal; na lei Penal não deveria haver lacunas; a

justiça tinha que ser retributiva e comutativa.34

Para Vera Regina Pereira de Andrade, o marco inicial da Escola Clássica foi a

obra de Beccaria em 1764, “Dos Delitos e das Penas”, enquanto que o segundo

período da referida escola, e o seu desenvolvimento devem-se a Carrara, em 1859,

com sua obra “Programa do Curso de Direito Criminal.”35

Para Cesare Beccaria a pena teria um sentido utilitarista e estabelecia o

fundamento do direito de punir, acerca da questão, destaca:

Foi portanto a necessidade que impediu os homens a cederparte da própria liberdade. É certo que cada um só quercolocar no repositor publico a mínima porção possível, apenaso suficiente para induzir os outros a defender. O agregadodestas mínimas porções possíveis é que forma o direito depunir. O resto é abuso e não justiça, é fato, mas não direito.36

Já para Francisco Bissoli Filho, em Beccaria é encontrado o pressuposto

filosófico da ciência penal, enquanto que em Francisco Carrara, encontra-se o

apogeu da construção Sistemática da razão.”37

No dizer de Antônio Garcia Molina, falta na escola Clássica:

Uma preocupação inequivocadamente “etiológica”(preocupação em indagar as “causas” de comportamentocriminoso), já que sua premissa iusnaturalista à conduz aatribuir a origem do ato delitivo a uma decisão “livre” do seuautor, incompatível com a existência de outros fatores oucausas que pudessem influir no seu comportamento. E, pois,uma concepção mais “reativa” que “etiologica” e, comoconclusão, só pode oferecer uma explicação “situacional” dodelito.38

33 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 33.34 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 26.35 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 46.36 BECCARIA. Cesare. Dos delitos e das penas. p. 29.37 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 31.38 MOLINA, Antônio Garcia – Pablos de. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 2 ed. ed.ver. Atual e amp. São Paulo: Revista dos tribunais, 1997, p. 134.

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

21

Relata ainda João Farias Junior, que além de Beccaria, a escola Clássica

teve outros precussores, entre eles Pellegrino, Rossi, Carmignani, Erico Pessiva,

Emanuel Kant e Francisco Carrara.39

A escola Clássica focalizou o “fato-crime”, enfatizando com isto a teoria do

crime, fator este que fez com que os cientistas, identificassem a produção teórica

Jurídica, da escola em questão como sendo “Direito Penal do Fato”.40

1.4.2 Escola Positiva

João Farias Junior salienta ainda que:

César Lombroso, inspirou-se na antropologia criminal e nosestudos da evolução da espécie humana, desenvolvidos porDarwin, aproveitava-se da condição de médico do sistemapenitenciário italiano, para autopsiar cadáveres dos presos econcluir sobre estigmas criminógenos. Após necropsiar 383cadáveres, deparou-se com o defunto do famoso facínoramilanês Vilela. Dissecando-o teve a grata surpresa, deencontrar em seu crânio a fosseta occipcial média que era acaracterística do homem primitivo. Tal vestígio levou Lombrosoa concluir que havia uma relação entre o instinto sanguinário ea repressão atávica e ao lançar o seu livro L’uomo Delinqüenteem 1876, admitia essa hipóteses: a) o homem criminosopropriamente dito é nato; b) é idêntico ao louco moral; c)apresenta base epiléptica; d) constitui, por um conjunto deanomalias. tipo especial [...].41

Para o médico Césare Lombroso, em sua obra D’uomo Delinqüente, escrita

em 1876, o criminoso era classificado de delinqüente nato, louco, por paixão e por

ocasião.42

João Farias Junior destaca na Escola Positiva que:

O homem criminoso é dotado de livre arbítrio, não há que secogitar das causas ou fatores criminógenos ou de influxos

39 JÚNIOR, João Farias. Manual de criminologia. p. 27.40 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 34.41 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. p. 29.42 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. p. 30.

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

22

exógenos ou endógenos influenciadores do comportamentocriminoso, mas para a Escola Positiva, o determinismo dessecomportamento é o centro gravitacional de toda a sua doutrina.Por que o homem é criminoso? Como se pode desvendaresses fatores? Só a partir da obra de Lombroso, em 1876, sobo título, O Homem Delinqüente é que as respostas passaram aser dadas, e só a partir dessa obra é que se pode considerar aexistência tanto da criminologia como a Escola Positiva.43

Na escola Positiva não havia uma preocupação em se diminuir as penas,

como ocorreu na escola clássica, aqui o que se propunha era além da pena, a

diminuição da criminalidade, criando-se para isto a ideologia da defesa social contra

a delinqüência.44

Seus maiores pensadores foram Cesare Lombroso, Erico Ferri e Rafaelle

Garófalo, que a partir do homem criminoso, iniciaram seus estudos.45

Nesta fase, e com o deslocamento das causas do crime, que baseava-se

anteriormente no livre arbítrio, para o homem criminoso, passou-se a analisar os

fatores antropológicos, sociológicos e psicológicos do delinqüente.46

Para Odete Maria de Oliveira, a Escola Clássica, nasce com o Iluminismo e a

humanização da pena, e se divide, em dois períodos distintos, que são: Político,

representado por Cesare Beccaria, e o Prático, com a figura de Carrara.47

É destacado pela autora ainda que:

A escola Clássica era partidária do Livre Arbítrio, com base eessência na responsabilidade moral. E os delitos sãopraticados pela vontade livre dos homens, porque eles temliberdade moral.48

Vera Regina Pereira de Andrade, salienta que a partir da obra de Lombroso,

nasce a criminologia como “ciência casual-explicativa”.49

Ainda acerca do assunto ressalta que:

43 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia. p. 28.44 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 34.45 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 35.46 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 61.47 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 66.48 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 66.49 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 65.

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

23

Foi de Ferri então considerado o maior expoente e o maisautêntico representante da Escola Positiva, que veio a segundaresposta sobre as causas do crime. Desenvolvendo aantropologia lombrosiana e orientando-se por uma perspectivasociológica, admitiu uma tríplice série de causas ligadas àetiologia do crime: individuais (orgânicos e psíquicos), físicas(ambiente telúrico) e sociais (ambiente social) e, com elasampliou a originária tipificação lombrasiana da delinqüência.50

Para Francisco Bissoli Filho, é enfatizado que:

Buscando também a defesa social pela profilaxia do crimeatravés de sua repressão, Raffaele Garófalo, professor emagistrado napolitano e um dos principais expoente da EscolaPositiva, estudou o delito e a repressão penal sob um critérionaturalista, utilizando-se de métodos experimentais e daanálise das estatísticas, através de documentos fornecidospela psicologia e pela antropologia.51

Na visão de Odete Maria de Oliveira o positivismo destacava o delito como

uma realidade biológica social, que advinha de fatores antropológicos e materiais.

Sua preocupação principal era com o criminoso, buscando neste individuo a causa

social do crime que este cometeu, bem como ressaltar traços de sua

personalidade.52

Através da sua metodologia, a Escola Positiva, segue o “paradigma

etiológico”, buscando desta forma explicar os fenômenos criminológicos por meio de

suas raízes, em razão do que a criminologia é dita, como a “ciência casual-

explicativa” da criminologia.53

50 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 65.51 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 35.52 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 67.53 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 40.

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

24

1.4.3 Escola Neoclássica

A escola neoclássica, também conhecida como Escola Técnicojurídica, surgiu

na Itália, foi criada por Manzini e seguida por Arturo Rocco54. Ela adotou da Escola

Positiva, as “premissas” da criminologia, com a finalidade de usar os dados da

antropologia e da sociologia criminal.55

Assim, segundo Vera Regina Pereira de Andrade, no tocante a Escola em

tela:

O caminho do paradigma dogmático trilhado por Rocco, queconduzia à autonomização da Ciência Penal, requeria umaresposta ao problema latente das relações entre a DogmáticaPenal e as demais disciplinas que, como herança das EscolasClássicas (Filosofia e Política) e Positiva (Antropologia eSociologia Crminal) dividiam o campo Penal.56

Segundo Francisco Bissoli Filho, conforme é destacado por Aturo Rocco,

nesta escola, o infrator deveria ter maior ênfase perante o crime, e enquanto que a

lei penal, deveria, ater-se para os fatores relacionados a pessoa do delinqüente,

especificamente no que tange a responsabilidade moral.57

Manoel Pedro Pimentel, destaca que na escola clássica havia conotação para

a defesa do caráter retributivo da pena, porém na escola positiva, permanece a

questão da sanção penal. E, somente com a escola neoclássica é que se chega a

uma nova definição da pena, onde é enfatizado que a pena é uma relação jurídica

contra o crime.58

Acerca da escola Neoclássica, Odete Maria de Oliveira salienta:

A Escola Técnicojurídica nasceu na Itália como reação aoPositivismo Penal. Criada por Manzini e seguida por Rocco,adotou como método o estudo das relações jurídicasdogmáticas, expressa nos códigos e nas leis. Negou ainvestigação filosófica e instituiu na distinção entre direito penal

54 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social.55 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 40.56 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica – do Controle da Violência à Violênciado Controle Penal, p. 87.57 BISSOLI FILHO, Francisco, Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 42.58 PIMENTEL. Manoel Pedro. Prisões fechadas e prisões abertas. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977, p. 13.

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

25

vigente, de controle normativo, valorativo e penalista, e acriminologia casual, explicativa e naturalista.59

1.5 SURGIMENTO DAS PRISÕES

A concepção de prisão para Michel Foucault, “é a forma geral de uma

aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, através de um trabalho

preciso sobre seu corpo, criou a instituição prisão antes que a lei a definisse como a

pena por excelência.”60

Odete Maria de Oliveira, destaca que:

Os povos primitivos ignoravam quase que completamente aspenas privativas de liberdade e as prisões. Utilizavam a penade morte como medida suprema, pura e simples, e, para oscrimes reputados graves e atrozes, apenavam os culpadoscom suplícios adicionais, de efeitos amedrontadores. Taispenas, também foram consagradas em épocas e porlegislações mais avançadas. Inicialmente a detenção aparecena história como uma medida simplesmente preventiva para,só mais tarde tomar um caráter repressivo e tornar-se um tipode penalidade.61

Nas sociedades pouco desenvolvidas a prisão preventiva não era necessária,

pois a responsabilidade era coletiva e não individual.62

Acerca ainda do assunto em questão, Odete Maria de Oliveira acrescenta que

devido as precárias condições socioeconômicas na antiguidade, não eram

construídos estabelecimento penais e para tanto, usava-se os buracos em formas de

fossas para colocar os infratores e ali ele aguardava à aplicação de seus castigos.63

Esta maneira de aprisionar não constituía pena propriamente dita, e nem tão

pouco eram ligadas a crimes definidos, como enfoca Odete:

A Lei Mosaica não mencionava uma única vez a pena detentivade prisão, posteriormente as Crônicas e o Livro de Jeremias,

59 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 68.60 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.207.61 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 47.62 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 47.63 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 47.

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

26

em muitas passagens, falavam em prisões, fossas e entraves,como medidas preventivas em que os acusados aguardavam ojulgamento.64

Na idade média, a prática das penas privativas de liberdade também não

ocorreram. Há um predomínio neste período do direito Germânico. As sanções pela

ocorrência dos crimes, estavam ao arbítrio dos governantes. Surgiu nesta época as

prisões de Estado e as prisões Eclesiásticas. Enquanto que nas do Estado somente

eram recolhidos os inimigos do poder real o senhorio, que tivessem praticados

delitos contra o rei ou fossem adversários políticos dos governantes, já nas

Eclesiásticas destinavam-se aos religiosos rebeldes.65

Em Roma, é na fortaleza real que se encontrava a mais velhaprisão, na idade média na Judéia em fossas baixas, no antigoMéxico eram gaiolas de madeiras onde eram amarrados osacusados.66

Com referencia a esta prática das prisões Eclesiásticas, Manoel Pedro

Pimentel comenta que:

A prisão celular, nascida no século V, teve inicialmenteaplicação apenas nos mosteiros pois a igreja não podia aplicarpenas seculares, especialmente a pena de morte, daíencarecer o valor da segregação que favorecia a penitência. Oencarceramento na cela, denominada in pace deu origem achamada prisão celular, nome que há até bem poucos tempoera usado na legislação penal.67

Mesmo caracterizando-se por um sistema punitivo desumano e ineficaz,

poderia se destacar que a influência penitencial canônica na idade média, deixou

como aspecto positivo, o isolamento celular, o arrependimento e a correção do

infrator contribuíram desta forma para o surgimento das prisões modernas.

Especialmente no que se refere as primeiras idéias de “reforma do delinqüente”. A

64 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 48.65 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas, 3ª ed. Editora Saraiva.São Paulo, 2004. p. 11.66 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 47.67 PIMENTEL. Manoel Pedro. Prisões fechadas e prisões abertas. p. 13.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

27

palavra penitência é de estreita vinculação com o direito canônico, e dela deu-se a

origem as palavras penitenciário e penitenciária.68

No tocante a idade moderna, durante os séculos XVI e XVII, a pobreza se

abate e se estende por toda Europa. Haviam aqueles que delinqüiam quase que

diariamente para poderem sobreviver, e eram submetidos a todos os tipos de

reações penais, porém estas todas falhavam. Em decorrência das guerras religiosas

ocorridas na França, grande parte das riquezas foram perdidas, em conseqüência

por tal situação no ano de 1556 os pobres faziam parte de uma grande parcela da

população. Para sobreviverem praticavam roubos e assassinatos.69

Segundo relata Cezar Roberto Bittencourt:

O parlamento tratou de enviá-los às províncias. No ano 1525foram ameaçados com o patíbulo; em 1532 foram obrigados atrabalhar nos encanamentos para esgotos, acorrentados dedois em dois; em 1554 foram expulsos da cidade pela primeiravez; em 1561 decidiu-se, finalmente, que os mendigos de Parisseriam açoitados em praça pública, marcados nas costas,teriam a cabeça raspada e logo seriam expulsos da cidade.70

A pena de morte, por razões políticas, não era a solução adequada, pois não

poderiam ser aplicadas a tantas pessoas. Eram muitos a serem enforcados, e a

miséria, como era do conhecimento de todos, era maior do que a má vontade desta

gente.71

Na Europa, dividida em numerosos estados minúsculos e cidades

independentes, os pobres ameaçavam, só com sua massa crescente dominar o

poder do Estado.72

Iniciou-se na segunda metade do século XVI, um movimento de grande

importância no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na criação e na

construção de prisões organizadas para a correção dos delinqüentes. Para enfrentar

o fenômeno sóciocriminal, que deixava intranqüilas as pequenas minorias e as

cidades Inglesas, dispuseram-se elas mesmas a defender-se, criando instituições de

correção de notável valor histórico penitenciário.73

68 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 12-13.69 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 13.70 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 15.71 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 16.72 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão. Causas e alternativas. p. 55.73 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 18-20.

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

28

A finalidade destes locais, dirigidos com certa rigidez, consistia na

transformação dos delinqüentes por meio do trabalho e da disciplina. Tinha objetivos

relacionados com a prevenção geral, já que se objetivava desestimular a prática da

vadiagem e da ociosidade. O auge dessas instituições foi especialmente a partir da

segunda metade do século XVII. São fundadas em Amsterdam, no anos de 1596, as

casas de correção para homens e em 1597, para mulheres, em 1600, uma seção

especial para jovens.74

As características da legislação criminal da Europa, em meados do século

XVIII justificam a reação de alguns pensadores que defendiam, um movimento da

idéia que apresentavam como fundamento a razão e a humanidade.75

O direito era usado como um meio gerador de privilégios, o que permitia aos

juizes, dentro do mais desmedido arbítrio, julgar os homens conforme a sua

condição social. Visando uma mudança desta situação surge na metade do século

XVIII, um grupo de estudiosos, entre eles filósofos, moralistas, juristas, que

dedicavam suas obras, a criticarem a legislação penal vigente, defendendo a

liberdade dos indivíduos, e destacando os princípios de dignidade do homem.76

Este movimento atingiu o seu apogeu na revolução francesa, entre os seus

defensores destacaram-se Beccaria, Howard e Bentham.77

Em 1776, John Howard lançou seu livro O Estado das Prisões da Inglaterra e

País de Gales, com observações preliminares e relatos sobre algumas prisões e

hospitais estrangeiros. Nesta obra apresenta criticas, no tocante ao estado

deplorável das prisões. É destacado que ele mesmo sofreu os rigores desta

situação, pois quando em viagem a Portugal para auxiliar as vitimas de um grande

terremoto ocorrido em Lisboa, seu navio foi cercado por piratas franceses, foi preso

e levado para a França. Passado algum tempo foi posto em liberdade e chegando

em seu país Inglaterra passou a lutar pela reforma do sistema penal.78

Apresentava modelo ideal de estabelecimento penal chamadoPenitenciary House, devendo ter as seguintes bases:preocupação com a higiene e com o regime alimentarfortalecente, regime celular abrandado por educação moral,religiosa e profissional; regimes disciplinares diferentes para

74 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 22.75 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 25.76 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 30.77 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 32.78 FARIAS JUNIOR, João, Manual de Criminologia. p. 369.

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

29

processados e condenados; sistema progressivo de doisestágios para condenados: o primeiro estagio deveria ser deisolamento celular, dia e noite, e o segundo de trabalho duranteo dia e isolamento durante a noite.79

Odete Maria de Oliveira salienta que:

De certa forma, o esforço howardiano não foi inútil. Com aajuda do duque de Richmon foram construídos doisestabelecimentos penitenciários nos moldes que elepreconizava, em 1775 e 1781, chamados de “PenitenciaryHouse”.80

Com John Howard, deu-se inicio a luta pela humanização das prisões

nascendo com isto o penitenciarismo. Morreu com 64 anos devida a moléstia

contraída durante suas constantes visitas em prisões.81

Com a morte de Howard suas idéias deram continuidade com o surgimento

do criminalista Jeremy Benthan, criador do sistema Panótico.82

Acerca de sistema comenta Michel Foucault:

O Panótico de Bethan é uma figura arquitetural destacomposição: o principio é conhecido na periferia umaconstrução em anel; no centro, uma torre esta é vazada delargas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; acontrução periférica é dividida em celas, cada umaatravessando toda a espessura da construção, elas tem duasjanelas, uma para o exterior, que permite que a luz atravesse acela de um lado ao outro. Basta então colocar um vigia na torrecentral, em cada cela trancar um louco, um doente, umcondenado, um operário, um escolar. Pelo efeito da contraluzpode se perceber da torre recortando-se exatamente sobre aclaridade as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia.Tantas janelas, tantos pequenos teatros, em que cada ator estasozinho, perfeitamente individualizado e constantementevisível. O dispositivo panótico organiza unidades espaciais quepermitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Emsuma o principio da masmorra ou antes de suas três funções,trancar, privar da luz, e esconder, só se conserva e suprem-seas outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam

79 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 369.80 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 52.81 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 44.82 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 45.

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

30

melhor que a sombra, que finalmente protegia a visibilidade euma armadilha.83

Para Michel Foucault, o panótico é ainda um zoológico, onde o homem nada

mais é, do que um animal, que fica agrupado individualmente e prevalece a relação

de disciplina.84

Neste mesmo sentido, conforme relata Odete Maria de Oliveira:

Restava o prisioneiro trancado em sua cela em que eraespionado de frente pelo vigia, as paredes laterais impediam ocontato com seus companheiros. Era visto e observadoanonimamente, sem cessar porém, não podia ver. Não havia operigo de evasão, e projetos de novos crimes, nem másinfluências, contágios, roubos, e violências. O panótico nãosignificava somente uma nova arquitetura de um edifício, decelas individuais, voltadas para o centro do pavilhão. Janelascom grades na parede externa, com uma torre de supervisãono centro, da qual o guarda tinha fácil visão de todo o seuinterior. Mas pretendia guardar os prisioneiros com maiorsegurança e economia, sob o efeito de uma reforma moral deboa conduta e educação.85

Para Odete Maria de Oliveira, Geremias Benthan mencionava que a prisão

era o local para o recolhimento dos homens, que haviam abusado da liberdade e

que tivessem cometido crimes, era defensor da corrente utilitarista.86

Odete afirma que a principal obra de Geremias Benthan foi a Teoria das

Penas e das Recompensas, que foi lançada em 1818. Seu livro, com o titulo

Memória, foi enviado à assembléia legislativa francesa em 1791, e teve como

objetivo a reforma das leis criminais, porém, foi ordenado pela assembléia apenas a

sua impressão, quanto ao problema não houve uma preocupação87, e nesta obra foi

destacado os três sistemas para a organização penitenciária. Que são:

A prisão Cloata, que é um lugar de corrupção total, semintervalos para reflexão, que endurece o homem para avergonha; a prisão da soledade absoluta, que preserva osreclusos do contágio moral e lhes permite a reflexão e odespertar do arrependimento. Este sistema celular puro, em

83 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.177.84 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.179.85 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 53-54.86 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 54.87 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 54.

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

31

principio, produz um efeito salutar, mas logo perde sua eficáciae conduz ao desespero, à loucura ou à insensibilidade e, doponto de vista econômico é muito oneroso; prisão de célulamúltipla, capaz de conter vários prisioneiros, escolhidos pelaidade, caráter, grau de criminalidade e perversidade.88

César Roberto Bittencourt, ressalta que Jeremy Benthan procurou um sistema

de contrato social com um principio ético.89

Odete Maria de Oliveira salienta que Geremias Betham:

Era contra os rigores da prisão, lugar infecto e horrível, escolade todos os crimes e de todas as misérias, da quais dizia podervisitar só tremendo. Pregava a ausência dos sofrimentoscorporais nas prisões, o trabalho obrigatório para evitar aociosidade e desenvolver as aptidões do preso, em umavigilância rigorosa para evitar confabulações permissivas eindecorosas.90

César Roberto Bittencourt, salienta ainda que Benthan fundamentou o

principio da teoria da pena baseado em que o indivíduo, busca sempre o prazer e

descarta a dor. Admitia o castigo, e para ele a pena não tinha a função de vingança

pelo ato praticado, mas a preocupação em prevenir a prática de novos delitos.91

Odete Maria de Oliveira enfatiza que:

A primeira penitenciária Panótica foi construída nos EstadosUnidos em 1800 na cidade de Richmond, Virgínia. Em 1826, foiconstruída a penitenciária Panótica de Pittsburg, naPensilvânia, e, em 1919, a penitenciária de Stateville, refletindouma combinação do estilo panótico e auburniano.92

Já no Brasil, segundo o autor João Farias, a primeira penitenciária panótica

foi construída na Bahia em 1962.93

88 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 55.89 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 45.90 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 54.91 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 48.92 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 55.93 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 372.

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

32

1.6 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS

Acerca desta questão será destacado os sistemas de Filadélfia, Auburn,

Montesinos, progressivo Inglês, progressivo Irlandês, Sistema fechado, sistema

semiaberto e sistema aberto.

1.6.1 Sistema Filadélfia

Foi na cidade de Filadélfia, em 1790, que se dá inicio de um novo regime de

reclusão, chamado de Solitary Confinement, era conhecida também como sendo

Pensilvânio ou celular. Nele ocorria um isolamento absoluto, sem trabalho ou visitas.

Como tinha influência da religião Católica, a atividade principal aos cumpridores

deste sistema Penal, era ler a Bíblia.94

No tocante a este sistema Michel Foucault diz que:

No isolamento – como em Filadélfia – não se pede arequalificação do criminoso ao exercício de uma lei comum,mas a relação do indivíduo com sua própria consciência e comaquilo que pode ilumina-lo de dentro. 95

João Farias Junior, relata que ao ingressar no sistema Filadélfia, o

condenado, tomava um banho, passava por exames médicos, vendavam-lhe os

olhos, recebia um uniforme, era encaminhado a presença do Diretor, que lhe

informava os procedimentos a serem obedecidos, em seguida desvendavam-lhe o

olhos, e era levado para a sua cela. Esta não possuía cama, nem bancos, nem

cadeiras, ali permanecia no mais absoluto silêncio. Seu nome era substituído por um

número, o qual ficava no alto da porta da cela, e em seu uniforme, recebia

alimentação uma vez por dia, pela manhã.96

94 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 55.95 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.201.96 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 35 e 36.

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

33

Odete Maria de Oliveira destaca que, este sistema foi muito criticado, pois

além de ser severo, estava distante de ressocializar o condenado.97

O sistema Filadélfia, recebeu influências de Benjamim Franklin, que aderiu as

idéias de Howard na questão do isolamento do condenado, de Benjamim Rusch que

insistia em uma reforma de pena, bem como de Willian Bradford, que também era

adepto da teoria de reforma penal. Este sistema não encontrava-se desvinculado

das experiências promovidas na Europa, a partir do século XVI. Segue as linhas

fundamentais adotadas pelos estabelecimentos Holandeses e Ingleses, e idéias de

Beccaria, Howard e Benthan, bem como os conceitos religiosos aplicados pelo

direito canônico.98

1.6.2 Sistema de Auburn

Este sistema surgiu no ano de 1821, em New York, exigia também silêncio

absoluto, porém havia um regime de comunidade durante o dia e isolamento

noturno.99 Não havia uma preocupação com a transformação do delinqüente,

preconizava que este deveria ser obediente, e a segurança mantida a qualquer

preço.100

Michel Foucault salienta que, neste modelo os condenados ficavam em celas

individuais durante a noite, e no período diurno trabalhavam e faziam suas refeições

em grupos. Porém sob a regra, do silêncio absoluto, só falavam com os guardas e

quando estes permitiam, e em voz baixa.101

Odete Maria de Oliveira ressalta que:

Este sistema iniciou-se com a construção de uma penitenciária em Auburn,

que originou seu nome. Sua regra desumana do silêncio ensejou o costume dos

presos em se comunicarem com as mãos, formando um alfabeto, prática

conservada até hoje nas prisões de segurança máxima, onde a disciplina é mais

97 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 57.98 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 59 e 60.99 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 57.100 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 71.101 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p. 73.

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

34

rígida. Ali, utilizavam-se sinais através de batidas em paredes, canos de água ou

esvaziamento da bacia dos sanitários, o que chamam de “boca do boi”102

Odete Maria de Oliveira destaca ainda que, este sistema predominou na

Europa – Inglaterra, Alemanha e Bélgica, bem como nos Estados Unidos.103 Já no

Brasil conforme relata João Farias, as penitenciárias que foram construídas

conforme o modelo em tela, são a de Milton Dias e Lemos de Brito, no Rio de

Janeiro, Carandiru em São Paulo, Central do Paraná e Neves em Minas Gerais.104

João Farias Junior, no tocante a questão arquitetônica descreve que:

O sistema auburniano, por sua estrutura física, é o maisdifundido no mundo, consistindo normalmente de um prédio nafrente que serve à administração, um prédio ou blocos deprédios num segundo plano para servir a segurança e osórgãos técnicoassitenciais, vindo por ultimo os blocoscelulares. Na maioria das vezes todos esses conjuntos sãointerligados por corredores, um corredor central e corredoresperpendiculares. Nos cruzamentos desses corredores,encontra-se gaiolas gradeadas de ferro, com os portões depassagem comandados por guardas, que se mantêm nessescruzamentos. Essas gaiolas são chamadas de quadrantes. Ascelas são individuais, podendo ser tanto do tipo outside cell,como do tipo misto.105

1.6.3 Sistema de Montesinos

O maior crítico do sistema Auburn, foi o coronel Manoel Montesinos Y. Molina,

na Espanha, para ele o preso deveria ter um tratamento humanitário, diferente do

que ocorria em Auburn.106

Em 1835 o coronel Manoel Montesinos Y. Molina, foi nomeado governador do

Presídio de Valência, com sua visão humanitária e a sua marcante capacidade para

influir eficazmente os reclusos, obteve grandes sucessos com seu trabalho. Diminuiu

as regras de castigos, porém não se descuidou da disciplina.107

102 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 59.103 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 59.104 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 373.105 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 373.106 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 59.107 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 91.

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

35

João Farias Junior enfatiza que:

Em 1835, ainda na Espanha, o coronel Montesinos implantanum Presídio de Valência, um sistema que compunha dasseguintes estratégias:1º. Chegada do preso, qualificação; barba e cabelos raspados,recebia uniforme cinza com um número, ia à forja onde recebiaos ferros, ou seja, as correntes que eram presas às pernas eaos pulsos, chamadas de cadeias e grilhetas e ficava durantecerto tempo em observação, sem trabalho e em silêncio;2º. Após a aprovação do primeiro estágio, incorporava-se aBrigada de Depósito, passando a executar as faxinas maisduras do presídio, mas ainda preso às cadeias e às grilhetas;3º. Dependendo do comportamento e da disposição do preso,este podia ser considerado de Aprendiz dos múltiplos ofícios(40 oficinas) existentes no presídio;4º. Desde que aprovado, seria liberado das cadeiras egrilhetes, recebendo a qualificação de oficial da oficina e agozar de maiores liberdades e concessões. E o que era maisimportante neste estágio – o preso poderia receber um salárioque lhe era pago na medida de suas necessidades.5º. Liberação gradual e intermediária;6º. Liberdade condicional.108

Na concepção de Odete Maria de Oliveira:

O sistema Espanhol de Montesinos enfatizava o sentido regenerador da pena.

Criou uma forma de trabalho remunerado para o preso não ser explorado e suprimiu

os castigos corporais. Sua funcionalidade era comparada a de um estabelecimento

de segurança mínima, em que surpreendentemente eram baixos os números de

evasões.109

1.6.4 Sistema Inglês Progressivo ou Mark System

Em 1840, na condição de governador na Ilha Norfolk, na Austrália o capitão

Alexander Marconachie, com suas idéias e práticas modificaria a filosofia

Penitenciaria. Para os ingleses, este sistema foi chamado de Mark System,

conhecido como sistema de vales. A duração da pena era medida, por uma soma de

108 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 375.109 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 59.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

36

trabalhos e boa conduta. Diariamente os apenados recebiam marcos ou vales, pelos

trabalhos que realizavam. A quantidade de vales que necessitavam para serem

liberados, era proporcional a gravidade do delito cometido. Se tinham bom

comportamento e trabalhavam recebiam vales, se cometiam faltas, perdiam. E tudo

isto era observado para o momento da sua liberação.110

Na concepção de Odete Maria de Oliveira, no tocante a este sistema ele

nasceu na Austrália, foi aplicada nas prisões Inglesas e era conhecida como sistema

progressivo Inglês. A pena era cumprida em três períodos: - período de prova com

isolamento celular, conforme o tipo pensilvânio; - período de isolamento celular

noturno com trabalho comum durante o dia, rigoroso silêncio, tipo auburniano; -

período de comunidade com o beneficio de liberdade condicional.111

1.6.5 Sistema Progressivo Irlandês

Foi Walter Cafton, quem implantou o sistema progressivo na Irlanda, com

modificações fundamentais. Na realidade ele aperfeiçoou o sistema progressivo

inglês de Maconochie.112

Na concepção de Odete Maria de Oliveira; o sistema em questão consiste

em:

Transferir o recluso para as prisões intermediárias, com suaveregime de vigilância, sem uniforme, com permissão paraconversar, sair até uma certa distância, trabalho externo nocampo, objetivando o preparo do condenado para o retorno àvida, na sociedade. O sistema progressivo Irlandês foi adotadoexcluindo o uso de marcas ou vales no primeiro período, oprisioneiro fica sujeito a observação durante o maximo de trêsmeses, no segundo período, é submetido ao trabalho comum,mantido o isolamento noturno, no terceiro período o preso éencaminhado para um estabelecimento semiaberto ou colôniaagrícola e, no quarto período recebe a concessão da liberdadecondicional.113

110 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 83 e 84.111 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 60 e 61.112 BITENCOURT. Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e alternativas. p. 86.113 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 61.

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

37

1.6.6 Sistema fechado

O autor César Roberto Bittencourt, destaca que:

No regime fechado o condenado cumpre pena empenitenciaria e estará obrigado ao trabalho em comum dentrodo estabelecimento penitenciário, na conformidade de suasaptidões ou ocupações anteriores, desde que compatíveis coma execução da pena.114

Já Julio Fabrini Mirabete, enfatiza acerca do assunto em questão, que no

regime fechado a pena é cumprida em penitenciária, conforme previsto na lei de

execução penal, sendo que o condenado fica sujeito ao trabalho no período diurno e

ao isolamento durante ao repouso noturno em cela individual com dormitório,

aparelho sanitário e lavatório.115

Como o sistema adotado é o progressivo, o condenado passa do regime

fechado, para o semiaberto, e para o aberto, obedecendo as normas estabelecidas

pela lei de execução penal.116

Salientado o regime fechado, passa-se para o regime semiaberto.

1.6.7 Sistema Semiaberto

Para Celso e Roberto Delmanto, os regimes de cumprimento de pena, estão

definidos no código Penal Brasileiro, qual esclarece o regime de cada um. O sistema

adotado no Brasil é o progressivo, onde parte-se do mais rigoroso para o mais

brando.117

114 BITENCOURT. Cezar Roberto. Tratado de direito penal, Parte geral I, 11ª ed. Editora Saraiva, São Paulo,2007, p.446.115 MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal, parte geral vol. I, 24 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.256.116 LEAL, João José. Direito penal geral. 3 ed. Florianópolis, OAB, 2004, p, 404.117 DELMANTO, Celso e Roberto. Código penal comentado, 4 ed. Rio de Janeiro, Renovar 1998, p. 65.

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

38

Jorge Vicente Silva destaca que o condenado em regime semiaberto, deverá

trabalhar durante o período diurno, em colônia penal agrícola, industrial ou

estabelecimento similar.118

Gilberto Ferreira, enfatiza que no regime semiaberto, “o condenado fica em

semiliberdade, exercendo suas atividades sem maior vigilância do pessoal

penitenciário”.119

1.6.8 Sistema Aberto

O regime aberto é considerado o mais liberal, pois propicia ao apenado,

condições de ter contato com os familiares em com a sociedade.120 É baseado na

autodisciplina e senso de responsabilidade, pois o condenado exerce suas

atividades sem nenhuma vigilância, recolhendo-se a noite e nos dias de folga, em

casas de albergados.121

Na concepção de Júlio Fabbrini Mirabete, o regime aberto traz as seguintes

vantagens:

a) melhora a saúde física e mental dos condenados pela vidaao ar livre e os espaços abertos;b) melhora da disciplina decorrente do aprimoramento daresponsabilidade pessoal e da auto disciplina do condenado;c) maior facilidade de contatos exteriores com a família e paraexercitar seu autodomínio ao trabalhar pela própria decisão,para não fugir, embriagando-se, etc.d) economia para o Estado, que despende menos recursos naconstrução e manutenção das prisões do que nosestabelecimentos fechados ou semiabertos.122

Ressalta-se que segundo Odete, a prisão aberta no país, vem sofrendo certo

desgaste, pois o governo não preocupou-se em construir locais adequados, bem

como contratar recursos humanos necessários para o seu funcionamento. Fatores

118 SILVA, Jorge Vicente. Execução penal: Criminal Doutrina Legislação Jurisprudência prática 2ª ed. Curitiba,Jaruá, 2006, p. 43.119 FERREIRA, Gilberto. Aplicação de pena. Rio de Janeiro. Forense. 1998, p. 167.120 BITENCOURT. Cezar Roberto. Tratado de direito penal. p. 447.121 FERREIRA, Gilberto. Aplicação de pena. p. 168.

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

39

estes, que levam vários Juízes, em “ultima instância, substituírem tal medida pela

pena de prisão domiciliar”.123

No segundo capítulo, será apresentado o sistema penal e a pena de prisão,

neste enfocar-se-á o conceito e finalidade de pena, assim como o sistema social da

prisão, o processo de prisonização, suas funções declaradas e não declaradas, bem

como labelling approach, seletividade e as mazelas do sistema penal.

122 MIRABETE, Júlio Fabbrini, Evolução Penal – Comentários à lei nº 7.210 de 11-7-84, 6ª ed, São Paulo,Editora Atlas S.A 1996, p. 227 e 228.123 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, p. 63.

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

40

2 O SISTEMA PENAL E A PENA DE PRISÃO

2.1 CONCEITO E FINALIDADE

Augusto Thompson, enfatiza que o Sistema Penal em nossa atualidade não

pode ser visto apenas, como uma simples questão de muros e grades, de celas e

trancas mas sim como sendo uma sociedade dentro de outra sociedade, onde o

comportamento e atitudes da vida livre sofreram radicalmente várias alterações.124

Para João Farias Junior, o Sistema Penal brasileiro é o conjunto de todas as

prisões, abrangendo os Xadrezes das delegacias, Presídios, Casas de Detenção,

Penitenciárias e Hospitais de Custódia. E todas estas unidades podem ser

chamadas de Prisões. Pois a prisão é um instrumento de retenção ou de detenção

do indivíduo que é indiciado, ou processado, ou ainda que tenha que cumprir pena

privativa de liberdade ou de medida de segurança detentiva a ele imposta.125

Francisco Bissoli Filho, enfatiza que:

O Sistema Penal é composto pelo aparato total de normas,instituições, saberes, ações e decisões direta ou indiretamenterelacionadas com o fenômeno criminal. Abrange não somenteas agências legislativas (responsáveis pela criação de normas),Instituições Policiais, Ministério Público, Poder Judiciário eSistema Prisional (responsáveis pela imposição ou aplicaçãodas normas), como também inúmeras outras agencias queconcorrem para a aplicação das leis penais, dentre elas osórgãos públicos e agentes financeiros e econômicos que têm odever de noticiar a prática de crimes (Policia Ambiental, BancoCentral, Vigilância Sanitária, Defesa do Consumidor, etc), aOrdem dos Advogados, a Medicina Legal, a PsiquiatriaForense, as Perícias Forenses, e aqueles responsáveis pelaprodução e reprodução dos saberes que envolvem o sistemapenal, o que se faz principalmente através das Escolas deEnsino Jurídico.126

O autor em destaque sintetiza ainda que o sistema penal não é isolado do

universo do sistema social, ao contrário, está inserido neste contexto. Torna-se

124 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária, 4ª edição, Editora Forense, Rio de Janeiro, 1998, p. 21.125 FARIAS JUNIOR, João. Manual de criminologia. p. 225.126 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma de criminalização, p. 55.

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

41

necessário mencionar as instituições sociais, entre elas a mídia, a escola em sentido

amplo, a família, a igreja, os clubes e outros, os quais produzem e reproduzem o

senso comum, modelando o sistema penal. Nota-se que o sistema penal, leva à

indagação, no que se diz respeito a atuação das diversas agencias, que parece a

primeira vista, formarem um todo, com uniformidade e harmonia, fato este não

condizente com a realidade, que concentra um número enorme de opiniões

divergentes.127

Na visão de Eugenio Raul Zaffaroni, o sistema penal:

É uma complexa manifestação do poder social. Porlegitimidade do sistema penal entendemos a característicaoutorgada por sua racionalidade. O poder social não é algoestático, que se “tem”, mas algo que se exerce, e o sistemapenal quis mostrar-se como um exercício de poder planejadoracionalmente.128

Erving Goffmann, salienta que a prisão sendo uma intituição total, organizada,

tem como finalidade proteger a sociedade contra certo tipo de desvio, o crime.129

No que concerne a questão da finalidade da prisão, Odete Maria de Oliveira

destaca que a prisão tem:

Como objetivo maior o custodiamento e a manutenção daordem interna dessa sociedade, que concentra um poderrepressivo nas mãos de muito poucos, abrindo infindávelabismo entre os mandantes e os mandados, verdadeiro regimetotalitário, em que os presos são submetidos panopticamente aum controle extremo, por meio de constante vigilância eminucioso regulamento, a uma estrutura severa e limitada, deprivacidade impossível, em que a conduta e a intimidade decada um são observadas pelos demais.130

Odete Maria de Oliveira salienta ainda que o mundo da prisão é complexo,

onde não há objetivos comuns definidos, apenas o imediatismo de segregar o

indivíduo da sociedade.131

127 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma de criminalização, p. 55 e 56.128 ZAFFARONI, Eugenio Raul. Em Busca das Penas Perdidas. Tradução: Vânia Romano Pedroma e AmirLopes da Conceição, 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Revan, 1996, p.16.129 GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões, conventos. tradução de Dante Moreira Leite, 5ª edição, SãoPaulo, Perspectiva, 1996, p. 16.130 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. p. 76.131 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. p. 76.

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

42

João Farias Júnior ressalta que a prisão sempre teve como destino, cercear o

individuo de sua liberdade, até que a sua situação fosse resolvida pelas autoridades

competentes. Ou ainda se for condenado, é recolhido até a execução de sua

pena.132

Cezar Roberto Bittencourt enfatiza que a prisão: “Em vez de frear a

delinqüência, parece estimulá-la, convertendo-se em instrumento que oportuniza

toda espécie de desumanidade.”133

Augusto Thompson, destaca que a pena de prisão, tem como proposta a

punição, no sentido de retribuir o mal causado pelo delinqüente, e a prevenção para

que novas práticas delituosas não sejam praticadas, usando como meio a

intimidação do delinqüente e a regeneração do preso, no sentido de transformá-lo de

criminoso em não criminoso.134

2.2 SISTEMA SOCIAL DA PRISÃO

Com referencia a este aspecto, a autora Odete Maria de Oliveira diz que, são

constantes os conflitos em uma prisão, entre presos com funcionários e com os

demais presos. Tendo em vista que a vida social em uma prisão é difícil, e até por

que não dizer, quase impossível, devido ao ambiente de desconfiança total,

esperteza e desonestidade que lá perdura. Pode-se dizer que é o mundo do “eu” e

“mim”, antes de ser do “nosso”, “deles” e “dele”.135

Para Augusto Thompson: “A cadeia não é uma miniatura da sociedade livre,

mas um sistema peculiar, cuja característica principal, o poder, autoriza a qualificá-lo

como um sistema de poder.”136

Ainda acerca do tema, Augusto Thompson enfatiza, que a hierarquia informal

é algo de muita relevância nesta sociedade interna, não prevista e não estipulada,

com finalidades próprias e cultura particulares. Nestes mundos formal e informal é

132 FARIAS JÚNIOR, João. Manual de criminologia, p. 366.133 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 157.134 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 03.135 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social, p. 77.136 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 19.

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

43

evidente que os conflitos são constantes, e terão de ser solucionados, e o meio mais

utilizado para tal ação, é a acomodação.137

Cezar Roberto Bittencourt, destaca que é a manutenção do poder, um dos

principais elementos desse microssistema social, muito diferente do lado de fora dos

muros da prisão, pois em uma prisão os valores são outros. O dinheiro, é

representado pelo cigarro, a linguagem é outra, os gestos são fundamentais. Enfim,

é um mundo próprio.138

Dráuzio Varella, ressalta que no extinto Carandiru, as decisões em muitas

ocasiões eram tomadas pelos próprios reclusos, no que refere-se a moradia nas

celas, trabalho nas oficinas, respeitando sempre uma escala de poder.139

Neste sentido, Drauzio Varella, acrescenta que é digno de respeito o poder

conquistado pelos reclusos, pois ninguém alcança o topo da cadeia social sem ser

justo nas decisões, e de se fazer respeitar. O líder, passa pelo poder de agrupar e

saber ouvir todas as suplicas.140

No tocante ao tema, Augusto Thompson aborda ainda que

O uso generalizado de privação de liberdade humana comoforma precípoua de sanção criminal deu lugar aoestabelecimento de grande número de comunidades, nos quaisconvivem de dezenas a milhares de pessoas. Essacoexistência grupal, como é óbvio, teria de dar origem a umsistema social. Não se subordinaria este, porém à ordemdecretada pelas autoridades criadores, mas, como é comumdesenvolveria um regime interno próprio, informal, resultantedo interno próprio, informal, resultante da interação correta doshomens, diante dos problemas postos pelo ambiente particularem que se viram envolvidos.141

Nesse ínterim, Augusto Thompson destaca que a característica principal da

penitenciaria como um sistema social, é que ela, é formada por grupamento

humano, que é submetido a um regime total ou porque não dizer quase total. Onde a

vigilância é constante, as regras são marcantes e o poder concentra-se na mão de

poucos, é o mundo dos que mandam e dos que obedecem é bem distinto.142

Com referencia a questão em tela, Augusto Thompson menciona que um dos

aspectos singulares da prisão a merecer registro diz respeito à:

137 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 20.138 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 172.139 VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. 7 ed. São Paulo: Companhia das letras, 1999 p. 99.140 VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. p. 103.141 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 21.

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

44

Multiplicidade de fins a que se propõe, os quais, ligados,oferecem espantosa combinação: confinamento, ordem interna,punição, intimidação particular e geral, regeneração – tudodentro de uma estrutura severamente limitada pela lei, pelaopinião pública e pelos próprios custodiadores.143

Neste ínterim, César Roberto Bittencourt, menciona que a prisão, por

natureza é um sistema social extremamente fechado, que não vem recebendo a

atenção que merece, nem tão poucos investimentos necessários para sua

manutenção. E neste mundo todo próprio, conjura, sem uma estrutura social difinida,

sem objetivos claros, e com uma escala de valores diversos, vivem os reclusos.

Consequentemente, os conflitos entre eles, e entre eles e os funcionários é uma

constante.144 Para sobreviverem neste mundo todo próprio, há necessidade de criar

entre eles uma empatia, que pode-se chamar de uma consciência coletiva.145

Acerca da questão, Cezar Roberto Bittencourt, destaca que:

A dificuldade de caracterizar a natureza do sistema socialcarcerário decorre de dois fatores básicos: 1º) As dificuldadesmetodológicas que é a realização de um estudo sobre osistema social que o recluso enfrenta. É extremamente difícil opesquisador penetrar no mundo interior das Instituições totais;2º) Insuficiência de estudos que permitem estabelecerconceitos definidos sobre a estrutura social da prisão.146

Odete Maria de Oliveira, menciona em seu livro um depoimento de um

recluso da Penitenciaria de Florianópolis, onde ele descreve que a Prisão não passa

de um cemitério, onde se enterra não só o corpo do recluso, mas também seu

espírito, onde perde-se a liberdade, e a moral fica danificada. E as pessoas vão se

anulando neste pequeno mundo.147

142 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 22.143 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 22.144 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas, p. 168 e 169.145 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 20.146 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 169.147 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 99

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

45

2.3 PRISONIZAÇÃO

Augusto Thompson, salienta que o processo de assimilação ocorre quando

uma pessoa ou grupo, ao relacionar-se ou ingressar, se funde com o outro grupo.148

E acrescenta ainda que:

De qualquer forma, devemos entender por assimilação oprocesso lento, gradual, mais ou menos inconsciente, pelo quala pessoa adquire o bastante da cultura de uma unidade social,na qual foi colocado, a ponto de se tornar característico dela.Assim como se usa o termo americanização, para descrever omaior ou menor grau de integração de um imigrante aoesquema de vida na América, o termo prisonização indica aadoção, em maior ou menor grau, de modo de pensar, doscostumes, dos hábitos, da cultura geral da penitenciaria.Prisonização é semelhante a assimilação, pois todo homemque é confinado ao cárcere sujeita-se à prisonização emalguma extensão.149

Augusto Thompson enfatiza também os fatores universais de prisonização

que merece destaque e são eles:

-Aceitação de um papel inferior;-acumulação de fatos concernentes à organização da prisão;-o desenvolvimento de novos hábitos, no comer, vestir,trabalhar, dormir;-a adoção da linguagem local;-o reconhecimento de que nada é devido no meio ambiente,quanto à satisfação de necessidades;-eventualmente o desejo de arranjar uma “boa ocupação”150

César Roberto Bittencourt, ressalta ao ingressar em um estabelecimento

penal, o individuo, adapta-se de certa forma a vida na prisão. Adotando, costumes,

linguagem, hábitos ao alimentar-se, vestir, enfim, ingressa em uma nova vida

sofrendo com isto maior ou menor prisonização.151

148 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 23.149 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 23.150 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária.p. 24.151 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 187.

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

46

Para Erving Goffman, o individuo ao entrar neste mundo todo próprio, sofre

varias transformações, os cabelos são raspados, a barba é aparada diariamente e

as roupas são idênticas para todos.152

Odete Maria de Oliveira, destaca que o individuo ao ingressar no mundo da

prisão, sofre uma ruptura em seu status pois usam roupas idênticas, usam

linguagem própria e adquirem hábitos no tocante a dormir, comer e obedecer.153

Para João Farias Junior, “a prisonização leva à desorganização da

personalidade, a deformação do caráter, a degradação do comportamento, e os

abandonos dos padrões de conduta da vida extra muros”.154

Augusto Thompson menciona também que:

De qualquer maneira, julgo crucial acentuar que os carcereirostambém sofrem os efeitos da prisonização, no sentido deabandonar os padrões que observam na vida extra muros,passa pelo menos enquanto estão intra muros, adotar osvalores aqui vigorantes. Essa situação de ambivalência, é namaior parte das vezes, inconsciente, porém mostra grandeimportância, do ponto de vista operacional. Sem um certo graude prisonização os funcionários, sobretudo de maior categoria,ao tentar carregar os valores da sociedade livre para o mundoprisional pretendendo impôlos até ali, entrariam em choquecom a instituição e, provavelmente ou levariam ao caos ouseriam ejetados to sistema.155

No dizer de Manoel Pedro Pimentel, acerca do tema em questão, ao ingressar

no mundo da prisão o recluso para conseguir sobreviver a nesta nova realidade tem

que adaptar-se a ela e, com isto se socializa para viver na prisão.156

Destaca ainda que:

É importante reconhecer que o pessoal penitenciário tambémse prisoniza. É evidente que qualquer tipo de relacionamento,ainda que periférico, com um mundo peculiar, sofrerá asinfluências desse mundo, de uma maneira ou de outra. Decerto modo a administração penitenciaria, como um todo,acaba sendo envolvida pelo clima imperante naquele mundotípico e, sem o perceber sanciona as leis da massa, hora

152 GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões, conventos. p. 150.153 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 77.154 FARIAS JUNIOR, João. A ineficácia da pena de prisão e o sistema ideal de recuperação do delinqüente,Rio de Janeiro, Editora Carioca, 1978. p. 96.155 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 27.156 PIMENTEL. Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. p. 158.

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

47

reconhecendo a liderança de um preso cadeeiro, a importânciade um preso homem, hora cedendo a argumentaçãopersuasiva do porta-voz da massa, conhecida como político.Fatos observados no cotidiano são tratados de maneirasimbiótica, aplicando-se em partes às leis da massa e em partedando aplicação das regras disciplinares da administração.157

2.4 FUNÇÕES DECLARADAS

Tudo que esta relacionado ao Sistema Penal, baseia-se nas idéias liberais,

bem como na Ideologia da defesa social, e o que foi desenvolvido durante o século

XVIII e XIX.158

Nesse ínterim, Alessandro Nepomoceno, ressalta que com base no principio

da legalidade penal e processual penal, para que uma pessoa seja incriminada,

deverá estar presentes as condutas, típicas, antijurídicas e culpáveis, tudo de acordo

com os requisitos legais e respeitando os direitos individuais do acusado, pois o

Direito Penal será aplicado de maneira igualitária. Quem não respeitar as normas da

convivência sofrerá sanção penal, que além da punição, prevê a recuperação do

infrator. E através da sanção penal, exclui-se o mal da sociedade que é o crime e o

criminoso, e baseado na repressão, afasta-os, garantindo desta forma segurança ao

cidadão de bem.159

Alessandro Baratta, ao enfrentar o tema em destaque, apresenta princípios

que enfocam ideologias penais e funções declaradas: Principio da legitimidade, aqui

o Estado esta legitimado a reprimir a criminalidade, por meio do controle social que

fazem parte; legislação, policial, magistratura e instituições penitenciárias.

Principio do bem e do mal, a sociedade é constituída do bem, e o delito é um

dano a ela, e consequentemente o infrator é uma pessoa negativa para o sistema

social, pois causa-lhe muitos danos negativos.

Principio da culpabilidade, a atitude delitiva contraria as normas e valores que,

fazem parte da sociedade, e o delito é uma forma interior reprovável.

157 PIMENTEL. Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. p. 159.158 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal. Rio de Janeiro, Revan, 2004 p.47.159 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal. p. 48.

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

48

Principio da finalidade ou da prevenção, a pena além da função retributiva, ela

também é preventiva. É na sanção abstrata da lei, apresenta como função

desmotivar a prática de crimes, já na função concreta, busca ressocializar o

“delinquente”.

Principio do interesse social e do delito natural, todos os interesses protegidos

pelo direito penal são comuns a todos os cidadãos.160

Eunice Anisete de Souza Trajano, acrescenta que, se pode sintetizar as

promessas declaradas do sistema penal com as seguintes finalidades:

a) proteger os bens jurídicos dos cidadãos, punindo aquelesque praticam condutas que os violam e garantindo a aplicaçãoigualitária da lei penal a todos os infratores;b) submeter o indivíduo suspeito à investigação pela condutacriminosa que lhe foi imputada, respeitando os princípiosconstitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e docontraditório;c) comprovada a culpabilidade do infrator será imposta asanção suficiente e adequada para a ressocialização docondenado (prevenção especial);d) a pena em abstrato serve como intimidação aos infratorespotenciais pela ameaça que representa (prevenção geral);e) controlar a criminalidade através das agências de controle(Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e SistemaPenitenciário);f) recuperar o condenado através do cumprimento da penapara que possa ser reintegrado a sociedade e,consequentemente, passar a ser “homem do bem” e poderconviver harmoniosamente com outros cidadãos que nãodelinqüiram.Tais posturas encontram sustentáculos na ideologia de defesasocial, repetidos diariamente nas cátedras universitárias edefendidos por penalistas tradicionais e, também, pela mídia,chegando até ao homem comum, proclamando, que a soluçãodos conflitos se dá através do sistema penal que busca asegurança jurídica dos “homens de bem”, que fazem parte dasociedade.161

160 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos, 3ª Ed. Rio de Janeiro, Revan, 2002, p. 42.161 TRAJANO, Eunice Anisete de Souza. O caráter “alternativo” das penas alternativas (Lei 9.714/99): paraquem e para que? Curso de mestrado em ciências jurídicas, universidade do Vale do Itajaí, 2001, p. 18.

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

49

2.5 FUNÇÕES NÃO DECLARADAS

Ao abordar o tema, Maria Lúcia Karan salienta que, a repressão é destacada

nos meios de comunicação como alternativa para o Sistema Penal, contribuindo

desta forma para a exclusão do indivíduo que comete um delito.162

Já Alessandro Baratta ressalta que:

O aprofundamento da relação entre direito penal edesigualdade conduz, em certo sentido, a inverter os termosem que esta relação aparece na superfície do fenômenodescrito. Ou seja: não só das normas do direito penal seformam e se aplicam seletivamente, refletindo as relações dedesigualdade existentes, mas o direito penal exerce, também,uma função ativa de reprodução e de produção com respeitoàs relações de desigualdade.163

Enfatiza ainda que o cárcere é a manutenção de escala vertical da sociedade,

especificamente no sentido negativo no “status social” dos indivíduos pertencentes a

classe social menos favorecida, e faz com que diferente a esses indivíduos, uma

ascensão social.164

Alessandro Nepomoceno, destaca que não se pode dizer que o Sistema

Penal encontra-se em crise, pois a cada dia mais pessoas são consideradas

“desviadas da normalidade”, por praticarem atos delitivos. Que o foco, da questão

criminal, está voltada para a criminalidade individual, seja aquela em que os

indivíduos que cometem o crime são pertencentes a camadas mais vulneráveis do

estado social, porém os delitos que são praticados por indivíduos com poder

aquisitivo melhor, até certo ponto são tratados de maneira diferenciada.165

Neste ínterim, Alessandro Nepomoceno acrescenta ainda que:

Não é a toa que os dados do censo Penitenciário Nacional,evidenciam que a maioria dos apenados é pobre e de pouca

162 KARAN, Maria Lúcia. Sistema penal e século XXI. In: POLETTI, Ronaldo Rabello de Britto, Notícias dodireito brasileiro. Nova Série: Brasília, UNB, Faculdade de Direito, n 9, 2002, p. 298.163 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos. p. 166.164 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos. p. 166.165 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal p. 49.

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

50

instrução escolar. Isso quer dizer que o miserável e oanalfabeto são mais propensos ao crime? Evidentemente quenão, pois todas as camadas sociais a praticam. Só que avulnerabilidade do Sistema Penal é desproporcional à detençãode algum tipo de poder, seja ele obtido economicamente,culturalmente ou politicamente. Daí se dizer que o sistemapenal está estruturalmente montado para a legalidadeprocessual não opere, e sim, para que exerça seu poder comaltíssimo grau de arbitrariedade seletiva dirigida, naturalmente,aos setores vulneráveis. O Sistema Penal não possui eficáciaquanto aos seus objetivos declarados, mas sim em relação aoque ao mesmo não diz, ou seja quanto as suas funçõeslatentes.166

Para Vera Regina Pereira de Andrade, a função do Sistema, é vista como

sendo a de perpetuar o próprio crime, e criando até certo ponto uma falsa ilusão de

combate à violência através da violência, com o propósito de propiciar a segurança

das pessoas de bem, que necessariamente deveriam ficar bem longe dos

criminosos.167

Já para Michel Foucault, o Sistema Penal perpetua a violência, com certa

roupagem de legalidade, fazendo com que o recolhimento dos indivíduos as prisões,

não diminuem o índice de criminalidade, ao contrário, até certo ponto aumenta, pois

a quantidade de crimes e criminosos, ou permanece estável, ou em pior hipótese

pode até aumentar.168

2.6 LABELLING APROACH

Alessandro Baratta, ressalta que

os criminólogos tradicionais examinam problemas do tipo“quem é o criminoso?”, “como se torna desviante?”, “em quaiscondições um condenado se torna reincidente?”, “com quemeios se pode exercer controle sobre o criminoso?”. Aocontrário, os interacionistas, como em geral os autores que seinspiram no labeling approach, se perguntam: “quem é definido

166 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal. p. 52.167 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violênciado controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 1997. p. 298.168 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.53.

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

51

como desviante?”, “que efeito decorre desta definição sobre oindivíduo?”, “em que condições este individuo pode se tornarobjeto de uma definição?”, e enfim, “quem define quem?”.169

Vera Regina Pereira de Andrade, ao enfrentar o tema esclarece que o

labelling approach, surgiu nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60, com estudos

realizados por vários autores entre eles: Ervin Gofmann, Kitsuse, Lemnert, e outros

que pertenciam a Nova Escola de Chicago, que questionavam o paradigma

funcional dominante da Sociologia Norte Americana. Os fatores históricos que

levaram ao surgimento e desenvolvimento desta teoria foram a crise do Estado, no

tocante as diversas formas de radicalização social, política e cultural. Como as lutas

estudantis, as lutas dos negros, das mulheres pela igualdade de direitos, os

protestos contra a guerra do Vietnã e a contra cultura dos hippies.170

O labelling approach, refere-se ao etiquetamento ou também chamado de

teoria de rotulação social, e o criminoso passaria por uma seleção social. É

considerado como um novo paradigma, que estuda o processo de criminalização.171

Francisco Bissoli Filho, acrescenta ainda que:

As teorias tradicionais do crime, do criminoso e da penaesbarram em óbices internos ao próprio Sistema Penal ao qualdão sustentação ideológica. A “ideologia da defesa social” estaestruturada em crime de determinados princípios que dãosustentáculo a todo o sistema penal. Estes princípios são oprincipio do bem e do mal, o princípio da culpabilidade, oprincipio da legitimidade, o principio da igualdade, o principiodo interesse social e do delito natural e o principio do fim e daprevenção.172

Vera Regina Pereira de Andrade, enfatiza que no labelling approach, há, três

níveis explicativos, acerca da pergunta referente à natureza do objeto e do sujeito na

definição dos comportamentos desviantes, sendo o primeiro desvio secundário que

nada mais é do que, a invertização do impacto, do status do criminoso na identidade

do desviante; o segundo processo e a de seleção ou criminalização secundaria, e

refere-se ao processo de atribuição do status criminal, o terceiro é dito como

169 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos. p. 88.170 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violênciado controle penal. p. 186.171 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 44.

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

52

criminalização primária, é a invertização do processo de definição da conduta

desviada.173

Destaca ainda que,

o labelling parte dos conceitos de “conduta desviada” e “reaçãosocial”, como termos reciprocamente interdependentes, paraformular sua tese central: a de que o desvio e a criminalidadenão são uma qualidade intrínseca da conduta ou uma entidadeontológica pré-constituída à reação social e penal, mas umaqualidade (etiqueta) atribuída a determinados sujeitos atravésde complexos processos de interação social, isto é, deprocessos formais e informais de definição e seleção.174

2.7 SELETIVIDADE

Ao se falar da seletividade no Sistema Penal, segundo o Rogério Dutra dos

Santos, diz-se que as instancia formais de controle (Polícia, Ministério Publico e

Poder Judiciário), estão preparados apenas para tomarem providencias, no tocante

as ofensas selecionadas, enquanto que diante de outros estão “inertes”. Pois é

possível, afirmar que indivíduos pertencentes aos status inferiores na escala social,

sofrem conseqüências da justiça social. Ressalta ainda que o Sistema Penal, segue

uma certa lógica seletiva, que criminaliza estes indivíduos, de acordo com imagens e

estereótipos.175

Alessandro Nepomoceno, aborda o tema destacado que:

A seletividade como lógica do sistema penal recaiespecialmente sobre os setores vulneráveis da sociedade, emque a violência do aparato estatal é real. Já para as camadassociais “superiores” essa violência não é sentido, tendo,portanto, apenas conteúdo simbólico.176

172 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 202.173 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violênciado controle penal. p. 208.174 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo X cidadania mínima – códigos de violênciana era da globalização, Postilene, Livraria do Advogado, 2003, p. 40-41.175 SANTOS, Rogério Dutra dos, colaboradores Vera Regina Pereira de Andrade, Miguel Alves Lima – LetíciaMartel – Paulo Queiroz – Paulo de Tarso Brandão – Graça Belou – Laisa Pavan – Ester Eliana Hauser – LetíciaMartel. Introdução crítica ao estudo do sistema penal: elementos para a compreensão da atividade repressivado Estado, Florianópolis, Diploma Legal, 1999 p. 191-193.176 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal. p. 55.

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

53

Acrescenta ainda que, é a lei que vai determinar qual conduta humana é

considerado crime, e as agencias do poder do Sistema Penal irão definir quem são

os criminalizados, e as agencias Policiais, realizam o maior exercício da seletividade

das condutos criminosas, já o Ministério Público participa também da seleção, e o

seu papel de acusador.177

Para Francisco Bissoli Filho, ocorre a seletividade “porque nem todas as

condutas são passiveis de ser abstratamente previstas e nem todos os infratores

podem ser individualmente criminalizados.”178

Vera Regina Pereira de Andrade, apresenta a criminalidade como um “status”,

que se dá ao individuo, através da seleção dos bens jurídicos que são penalmente

protegidos e dos comportamentos que ofendem estes bens, e são descritos nos

tipos penais, e também a seleção dos indivíduos que são estigmatizados, pela

prática de tais comportamentos.179

Alessandro Baratta, preconiza que o mecanismo que regula a seleção da

população criminosa, pode ser dito como complexo, e recondutíveis às

peculiaridades das práticas de certas infrações penais, e a reação que a elas são

atribuídas. Cita como exemplo, a questão do empregado que comete um delito na

empresa que trabalha, e que além da punição que sofrerá por parte do Estado, pelo

ato infracionário, será também punido, no âmbito do direito disciplinar.180

Vera Regina de Andrade, enfatiza que a seleção que ocorre no processo de

criminalização pode ser dita como “quantitativa ou qualitativa”. No tocante a

quantitativa é aquela que resulta da “majoritária”, onde se observa que a

criminalidade é até certo ponto, um comportamento de muitos indivíduos que fazem

parte da sociedade. Por outro lado a qualitativa, refere-se a variáveis que incluem a

especificidade das infrações, e as pessoas envolvidas, seja infratores e vítimas.181

Eunice Anisete de Souza Trajano, salienta que “a criminalização consiste

assim num processo rotulante e seletivo para aqueles que são criminalizados sob

177 NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: a fase obscura da sentença penal. p. 58-59.178 BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma da criminalização – dos antecedentes à reincidência criminal. p. 180.179 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violênciado controle penal. p. 218.180 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos. p. 106.181 ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controle da violência à violênciado controle penal. p. 263 a 271.

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

54

este impacto, passam a integrar o universo da “criminalidade” e o esteriótipo de

criminoso”.182

2.8 AS MAZELAS DO SISTEMA PENAL

Augusto Thompson, ao enfrentar o tema em destaque ressalta que:

O muro da prisão, física e simbolicamente, separa duaspopulações distintas: a sociedade livre e a comunidadedaqueles que foram, por eles rejeitados. A altura e espessurada barreira, a presença, no cimo, de soldados armados demetralhadoras, o portão pesado, com pequenas viseiras, cujaabertura exige uma operação complicada por várias medidasde segurança, estão a demonstrar, inequivocamente, que osrejeitadores desejam muito pouco contato com os rejeitados. Ouniforme destes, o estado de subordinação permanente, astrancas, os conferes, as revistas, lembram-os, a todo instante,serem portadores de um estigma tão aparente e difícil dearrancar quanto o produzido pelo ferrete na rês.183

João Farias Júnior, ao abordar o tema destaca que; uma das mazelas

prisionais existente no sistema, é a animosidade entre guardas e presos,

principalmente se estes não dispuserem de dinheiro, bens, ou tráfico de influência.

Porém, quando o preso dispõe destes recursos, conseguirá tratamento

discriminado.184

Odete Maria de Oliveira, enfatiza que vários estudiosos discorreram sobre as

privações prisionais, que passam os presos, estas privações são denominadas de

“dores da prisão”, que se enquadrariam, em privação de liberdade, de bens, de

autonomia, de segurança e relações heterossexuais.185

Refere-se ainda que, no tocante a privação da liberdade, é dito como o pior

dos sofrimentos, pois causa ao preso um rompimento com a família, amigos, enfim

com o seu mundo externo. Já na privação de bens, seus objetos pessoais, são

substituídos por aqueles que lhe é permitido o uso na prisão, e a qualquer momento

182 TRAJANO, Eunice Anisete de Souza. O caráter “alternativo” das penas alternativas (lei 9.714/98) paraquem e para que? P. 31183 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 57.184 FARIAS JUNIOR, João, Manual de criminologia. p. 521.185 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 78.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

55

podem ser confiscados, conferidos ou substituídos. O sentimento atribuído aos

objetos pessoais, é deixado de lado, criando no preso aquele sentimento “perda da

posse”. E o maior significado desta posse, é quando seu nome é substituído por

apelidos ou números. Não possui nenhuma autonomia, ao contrário, há uma

constante subordinação à direção, aos guardas, aos regulamentos; enfim as

normas, fazendo com que a sua vontade e a sua opinião, sejam substituídas pelo o

que é dito na prisão. É privado também de segurança, pois a qualquer instante, pode

ocorrer, fugas, motins, rebeliões, e gerando com isto o medo, desespero e

violências.186

Odete Maria de Oliveira, acrescenta ainda que no tocante as privações das

relações heterossexuais, “a falta de realizações de atos sexuais, normais, causa

grande frustração nos presos resultando nos chamados e conhecidos casos de

“assaltos sexuais””.187

Manoel Pedro Pimentel, ao enfrentar o tema as mazelas do sistema prisional,

diz que é difícil treinar um homem preso para viver em liberdade, e faz a

comparação de que é como treinar um corredor, para correr mil metros, e deixa-lo

na cama, 30 dias antes da corrida.188

Destaca ainda que, a prisão facilita com que os delinqüentes se conheçam e

adquiram novos hábitos, para praticarem crimes e se associem para tal prática.189

Para Alessandro Barata:

As relações sociais e de poder da subcultura carcerária temuma série de características que a distinguem da sociedadeexterna, e que dependem da particular função do universocarcerário, mas na sua estrutura maior elementar elas não sãomais do que a aplicação, em forma menos mistificada e mais“pena” das características típicas da sociedade capitalista. Sãorelações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, nointerior das quais os indivíduos socialmente mais débeis sãoconstrangidos a papéis de submissão e de exploração.190

186 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 78-83.187 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 91.188 PIMENTEL. Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. p. 157.189 PIMENTEL. Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. p. 162.190 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal. p. 186.

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

56

Acrescenta que antes de se querer mudar o excluído é necessário que a

sociedade excludente, se modifique. E alerta para a preocupação que a sociedade

primitiva dispensa ao encarcerado depois do fim da pena, com assistências.191

Cezar Roberto Bittencourt, ao abordar o tema que está sendo apresentado,

ressalta que o argumento, mais defendido acerca da falência da prisão é o seu efeito

criminógeno, pois ao invés de frear a delinqüência, ao contrário parece que a

estimula, e propicia instrumentos que “oportuniza” toda espécie de desumanidade.192

Destaca também que a maioria dos fatores que predomina no mundo das

prisões são classificados de “materiais, psicológicos e sociais”.193

No que refere-se aos fatores materiais, estariam relacionados as precárias

instalações físicas dos estabelecimentos, as condições dos alimentos que são

servidos aos internos, que pela qualidade e insuficiência, causam-lhe varias

doenças, entre elas a tuberculose. Já os fatores psicológicos estariam relacionados

a questão da “dissimulação e das mentiras”, que são praticadas pelos internos,

como forma de se protegerem, para conseguirem sobreviver à realidade prisional.

Quanto aos fatores sociais, refere-se a segregação que causa a “desadaptação” tão

marcante dificultando de certa forma a sua inserção social ao mundo externo.194

Manoel Pedro Pimentel, enfatiza que:

[...] O prisioneiro interioriza rapidamente as regras daconvivência com os demais presos, para sobreviver. Identifica-se com estes, com seus valores, que são opostos aosestimados pela sociedade livre, aprendem a falar com as mãos,para entender o que os outros conversam, adota o jargãousual, os costumes assumidos pelos demais, e respeita ahierarquia existente entre os condenados, colocando-se nessequadro e procurando o lugar que lhe cabe e o espaço que podeocupar. As regras estimadas do mundo livre, os ensinamentosadvindos dos terapeutas, dos religiosos, dos mestres, dosfuncionários, são deixados de lado, embora o preso aparenterecebe-los com acatamento e atenção.195

Cezar Roberto Bittencourt, menciona que as instituições totais, como é

classificada as prisões, por ele, procura transformar o interno em um ser passivo, e

191 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução a sociologia do direitopenal: tradutor Juarez Cirilo dos Santos. p. 187.192 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 157.193 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 158.194 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 159.195 PIMENTEL. Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade, p. 154.

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

57

procura satisfazer suas necessidades básicas, como alimentação, vestuário, e não

propicia condições necessárias para que seja responsável por iniciativas, ao

contrário a todo momento, mostra-lhe que deverá aderir as normas do sistema

prisional.196

Odete Maria de Oliveira destaca que o preso perde o direito absoluto de sua

intimidade, pois a qualquer momento pode ser revistado, isto pode ocorrer durante o

dia ou a noite, bem como seus pertences também são vistoriados em qualquer

horário.197

Augusto Thompson, salienta que:

Somente no cubículo consegue o interno estar sozinho. Naporta dele, porém, há uma fenda, estrategicamente colocada,por onde o guarda pode, a qualquer hora e a qualquer instante,vasculhar com os olhos todos os cantos (um dia, talvez, oprogresso substitua o vigia por uma câmera de televisão, osestreitos limites de cela, transmitindo tudo o que há ocorre aum centro geral de fiscalização, como no ano “1984”, deGeorge Orwell).Todos os dias, ao deixar o alojamento, pela manhã, o preso érevistado. Ao voltar, à tarde, a operação se repete.Isso, contudo, não se altera bastante. Durante a noite, comalguma freqüência, pode ser acordado do cômodo. Entramguardas, mandam que permaneça encostado à parede, juntoda porta. Seus pertences, suas roupas, sua cama, tudo érevirado [...]198

Na visão de Michel Foucault, nos meados do século XIX, a punição do

condenado, estava voltada para os castigos corporais. Porém com o passar dos

anos, surgem novas técnicas de punição, mas também estão voltadas para as

punições corporais, quando lhe é privada a sua prática sexual, lhe é servido

alimentação reduzida, e a qualquer momento pode sofrer uma expiação física.199

Julita Lengruber, destaca que a vida dentro da prisão, passa por uma

regimentação, e não há como o prisioneiro, rebelar-se ou contestá-la.200

Augusto Thompson, enfoca que

196 BITTENCOURT, César Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas, p. 166.197 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 81.198 THOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária. p. 61 e 62.199 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. p.112.200 LENGRUBER, Julita. Cemitérios dos vivos: Análise sociológica de uma prisão de mulheres. Rio de Janeiro:Aichiamé, 1983 p. 124.

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

58

A impossibilidade de sustentar a família, de obter recursos àsua custa, de tomar decisões, de ser responsável por suascoisas, de escolher a própria roupa, vem juntar-se oimpedimento de possuir uma mulher – tudo gerando – nopreso, o sentimento de castração simbólica. Sua masculinidadeesta posta em jogo, e, com ela, obviamente, seuautoconceito.201

Odete Maria de Oliveira, aponta a superlotação das prisões, como uma sério

problema que assombra o sistema prisional, e lhe causa tantas situações de

conflitos.202

Augusto Thompson, destaca que:

Uma pessoa no mundo livre, que conhece a penitenciariaapenas através de relatos, ou de visitas esporádicas, fica difícilavaliar o grau de sofrimento a que os presos estão submetidosem função da impossibilidade de se defender, e eficazmente,das agressões, ataques e abusos de toda a ordem, que são olugar comum no meio carcerário. Creio que este é um dospontos-chaves, para bem se compreenderem as estruturasbásicas que suportam o sistema social da prisão.203

Para Odete Maria de Oliveira, a ociosidade que impera nas prisões, de modo

total e progressivo, fazendo com que os presos andem de um lado para outro, sem

ter o que fazer, é outro fator que os deixam bastante angustiados.204

No terceiro capítulo será apresentada a pesquisa de campo, bem como o

perfil do criminalizado que cumpre pena no Presídio Masculino de Florianópolis.

201 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 70.202 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 94.203 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. p. 73.

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

59

3 PESQUISA DE CAMPO

3.1 ESTABELECIMENTO PENAL PESQUISADO

O Estabelecimento Penal pesquisado escolhido foi o Presídio Masculino de

Florianópolis, situado na Rua: Delminda da Silveira n. 900, Trindade – Florianópolis,

Santa Catarina.

A escolha deve-se a atuação que temos há mais de 15 anos no setor de

Serviço Social, na função de Assistente Social.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTABELECIMENTO PENAL

Na cidade de Florianópolis há um complexo prisional, localizado no bairro

Trindade. Este complexo é composto por cinco unidades prisionais, que são:

Presídio Masculino de Florianópolis, local onde se deu a pesquisa, Penitenciária de

Florianópolis, Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, Presídio Feminino de

Florianópolis e a Casa de Albergado (que abriga os presos de regime aberto, em

prisão civil e uma ala com presos em regime semiaberto do Complexo Penal de São

Pedro de Alcântara).

O Presídio Masculino de Florianópolis está subordinado ao Departamento de

Administração Penal – DEAP, órgão da Secretaria de Estado de Segurança Pública

e Defesa do Cidadão.

A lei Penal que o cumprimenta, revê assim sendo, tem o DEAP, a função de

analisar e verificar quais as disponibilidades de vagas nos Estabelecimentos Penais

do estado de Santa Catarina, respeitando as condições expressas na sentença

judicial do recluso, e o local indicado para o seu internamento.

204 OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social. p. 95.

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

60

Por outro lado, é função do administrador do Presídio Masculino de

Florianópolis, providenciar as documentações relativas a sentença judicial, bem

como relatório da situação prisional do recluso, e encaminhar tais documentações

ao Departamento de Administração Penal, juntamente com uma guia de

recolhimento expedida pela autoridade judicial competente, e solicitar aquele

Departamento vaga em uma das Penitenciárias do Estado Catarinense.

Salienta-se que antes dos anos 1980, o Presídio Masculino de Florianópolis

era conhecimento como Cadeia Pública de Florianópolis, denominação esta até os

dias atuais, utilizada por diversas pessoas.

Porém, no governo do senhor Vilson Klainubing, a então Cadeia Pública,

passou a ter a denominação de Presídio Masculino de Florianópolis, e a ala feminina

que ali existia, foi transferida para o Presídio Feminino de Florianópolis, também

criado no governo em tela.

A subordinação do Presídio Masculino de Florianópolis, ficou na época a

cargo da Diretoria de Administração Penal, DIAP, vinculada a Secretaria de Estado

de Segurança Pública e Justiça, sendo atualmente a sua subordinação ao DEAP, e

Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa do Cidadão.

Cabe salientar que o Presídio, depende tanto juridicamente quanto

administrativamente, da esfera estadual e é um dos órgãos responsáveis pela

execução da política de segurança pública. Os recursos são responsabilidade

conjunta entre a esfera Federal e a Estadual, e o repasse dá-se via Secretaria de

Estado de Segurança Pública e Defesa do Cidadão.

O objetivo da Unidade Prisional é abrigar presos provisórios, ou seja,

autuados em flagrante delito, com mandado de prisão preventiva, condenados com

sentença em grau de recurso ou trânsito para outras comarcas. Entretanto em

decorrência da superlotação das penitenciárias Catarinenses, o estabelecimento

mantém pessoas presas, já condenadas com sentença transitada em juldado, nos

regimes fechados e semiaberto.

A estrutura física do estabelecimento é composta de um prédio retangular,

com quatro torres de vigilância, sendo que apenas duas estão ativadas, nas quais

encontram-se policiais militares, fazendo a segurança externa.

Na parte interna do prédio temos a sala da chefia de segurança; o parlatório

que é usado pelos advogados para entrevistar seus clientes, bem como pelos

familiares dos reclusos, que não querem passar por revistas íntimas, e desejam

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

61

visitar seus parentes, além de uma sala para o setor de segurança, onde os agentes

penitenciários controlam a movimentação dos reclusos no estabelecimento penal, no

tocante a ingressos, egressos, alimentação, visitas, escoltas para os fóruns, para os

setores de saúde e social, transferências para oficinas, assim como controle de

todos os equipamentos de segurança, tais como algemas, marcapassos, cadeados,

chaves das galerias, cacetetes, gás de pimenta, entre outros. Neste espaço, anexo a

sala, há um pequeno alojamento, que é utilizado pelos Agentes.

Além dos locais relatados existem também, uma sala de triagem onde são

colocados os reclusos que ingressaram no estabelecimento, ou que serão

movimentados para as escoltas, o controle e a supervisão deste local é realizado

pelos agentes penitenciários; há ainda sala de identificação da população carcerária,

onde são coletados todos os dados cadastrais, bem como é feito o registro de suas

digitais ao ingressarem no estabelecimento. Devido a carência de espaço físico na

Instituição esta sala é usada também no horário entre 14:00 e 17:00 horas, de 2ª a

6ª feira, pelo Serviço Social, para a realização das entrevistas com os reclusos.

Há também uma sala para o setor de enfermagem, e um pequeno

alojamento para os reclusos regalias que fazem trabalhos no bloco da administração

de limpeza e manutenção.

Além dos locais já mencionados, na parte interna ficam, também as galerias

A, B, C, D, E e os 4 (quatro) pátios de sol, sendo que a galeria D não possui pátio, e

os reclusos tomam sol no pátio da galeria A; as oficinas de bijuterias, reciclagem de

papel, serigrafia, confecção de camisetas e fabricação de sabão em barras. Estas

oficinas, são resultado da parceria estabelecida entre a Administração do Presídio e

Empresas privadas interessadas, que contribuem com a matéria prima, os

equipamentos e o pagamento aos reclusos, em contrapartida, o estabelecimento

com o espaço físico e a mão-de-obra.

Para participarem das oficinas, os reclusos são selecionados pela Assistente

Social, Administrador, Chefia de Segurança e Chefe das Oficinas, os critérios

obedecidos são: interesse em trabalhar, aptidão para o desenvolvimento da tarefa,

situação socioeconômica dos familiares, e comportamento carcerário.

Após a seleção, são encaminhados para a galeria D, local onde ficam os

internos que trabalham nas oficinas, de segunda à sexta feira, das 07:30 às 11:30

horas e das 13:00 às 17:00 horas.

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

62

Além das oficinas, na parte interna há uma sala de aula, que atende os

reclusos que têm interesse em estudar, os cursos oferecidos são de: alfabetização,

supletivos de 1º e 2º graus. As aulas são ministradas por professores da Escola

Supletiva da Penitenciária de Florianópolis, que possui convênio com a Secretaria

de Estado de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.

Ainda anexo a Instituição Penal, há um pequeno prédio retangular, de 2

pisos, sendo que no piso inferior, encontra-se o gabinete do administrador, a sala

dos setores administrativo e penal, uma sala para atendimento e entrevista com os

familiares dos reclusos que é de uso do Serviço Social, do lado da sala de

atendimento, existe outro ambiente que é utilizado tanto para recebimento e revistas

das compras que são entregues pelos familiares dos reclusos durante a semana,

quanto para revistas íntimas dos familiares, que ingressam na parte interna do

estabelecimento para visitarem seus parentes presos, nos finais de semana.

Salienta-se que, na parte superior do prédio, localiza-se o alojamento dos

policiais militares que fazem a segurança externa do Presídio, bem como a cozinha

e refeitório dos funcionários do estabelecimento penal.

Quanto ao corpo funcional do estabelecimento é composto por um

administrador, um chefe de segurança, um chefe de oficinas de trabalho, quatro

agentes prisionais supervisores de segurança responsáveis pelos plantões de 24 por

72 horas, em torno de 30 agentes penitenciários, sendo 12 femininos e os demais

masculinos, 2 motoristas, 6 funcionários administrativos, uma Assistente Social, e 3

acadêmicas de Serviço Social da UNIVALI, uma Técnica em Enfermagem, 4

seguranças terceirizados, que são responsáveis pelo portão principal que dá acesso

a parte interna do Presídio, professores da Penitenciária de Florianópolis, e policiais

militares da Cia de Guarda do Complexo Penal de Florianópolis, que são

responsáveis pela segurança externa do estabelecimento penal.

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

63

3.3 DISTRIBUIÇÃO MENSAL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA DO PRESÍDIO

MASCULINO DE FLORIANÓPOLIS NO PERÍODO DE MARÇO DE 2008 À MARÇO

DE 2010

2008 2009 2010Meses Quantitativo Meses Quantitativo Meses Quantitativo

Março 271 Reclusos Janeiro 256 Reclusos Janeiro 248 ReclusosAbril 250 Reclusos Fevereiro 263 Reclusos Fevereiro 239 ReclusosMaio 241 Reclusos Março 341 Reclusos Março 258 ReclusosJunho 237 Reclusos Abril 244 ReclusosJulho 225 Reclusos Maio 243 ReclusosAgosto 258 Reclusos Junho 282 ReclusosSetembro 209 Reclusos Julho 223 ReclusosOutubro 249 Reclusos Agosto 229 ReclusosNovembro 256 Reclusos Setembro 334 ReclusosDezembro 245 Reclusos Outubro 248 Reclusos

Novembro 251 ReclusosDezembro 239 Reclusos

Observa-se que ocorre no Presídio Masculino de Florianópolis, uma

constante modificação na quantidade da população carcerária, decorrente da

rotatividade dos internos. Tendo em vista que a instituição em destaque, tem como

finalidade abrigar presos provisórios, autuados em flagrante delito, com mandado de

prisão preventiva, condenados com sentença em grau de recurso o em trânsito para

outras comarcas, como já relatado.

No entanto, devido ao problema de superlotação das penitenciárias do Estado

de Santa Catarina, o estabelecimento mantém pessoas presas já condenadas com

sentença transitada em julgado, nos regimes fechado e semiaberto.

Cabe salientar-se que a pesquisa foi realizada com os reclusos que

ingressaram no Período de Março de 2008 à Março de 2010. Sendo que no período

de Março de 2008, ingressaram 444 reclusos, em 2009 ingressaram 434 e de

Janeiro à Março de 2010, ingressaram 104 reclusos.

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

64

3.4 MÉTODO UTILIZADO NA PESQUISA

Nesta pesquisa buscou-se identificar o Perfil do Criminalizando que cumpre

pena no Presídio Masculino de Florianópolis, foi utilizado o período de Março de

2008 à Março de 2010.

A natureza do problema, nos levou a optar por técnicas de coleta e análise de

dados, do tipo quantitativo.

Os dados foram coletados nos prontuários psicossociais dos reclusos, que

ficam arquivados no setor de Serviço Social no Presídio Masculino de Florianópolis.

3.5 PERÍODO PESQUISADO

Foram pesquisados todos os prontuários psicossociais dos reclusos que

ingressaram no estabelecimento penal, no período de Março de 2008 à Março de

2010.

Cabe aqui salientar que, no ano de 2008 ingressaram 444 reclusos no

Estabelecimento Penal, no ano de 2009 foram 434 ingressos e no ano de 2010

foram 104 ingressos.

3.6 OBJETIVO DA PESQUISA

Identificar o perfil do criminalizado que cumpre pena no Presídio Masculino de

Florianópolis.

Page 66: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

65

3.7 PERFIL DOS RECLUSOS DO ESTABELECIMENTO PESQUISADO

3.7.1 Idade

Distribuição da população carcerária no Presídio Masculino de Florianópolis,

segundo a idade (Março de 2008 – Março de 2010).

IDADE

020406080

100120140160180

2008 2009 2010

18 - 2526 - 3031 - 3536 - 4041 - 4546 - 5051 - 5556 - 6060 - Mais

Figura 1: Faixa etária do P.M.F (dados primários, 2010).

IDADEFaixa Etária 2008 2009 201018 - 25 170 144 4026 - 30 103 139 3431 - 35 65 83 1536 - 40 32 40 941 - 45 29 13 346 - 50 19 8 151 - 55 11 5 156 - 60 8 1 060 - Mais 7 1 1TOTAL 444 434 104

Observa-se no gráfico, o número significativo de reclusos jovens. Contanto

entre 18 a 25 anos, no ano de 2008, já nos anos de 2009, e 2010, se destaca

também a faixa etária entre 26 e 30 anos.

Page 67: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

66

3.7.2 Naturalidade e Nacionalidade

Distribuição da população carcerária no Presídio Masculino de Florianópolis,

segundo a naturalidade e nacionalidade (Março de 2008 – Março de 2010).

NATURALIDADE

020406080

100120140160180200

2008 2009 2010

FlorianópolisSão JoséPalhoçaLagesChapecóOutras Cidades SCPRRSSPOutros EstadosAssunção/Paraguai

Figura 2: Naturalidade e Nacionalidade (dados primários, 2010)

NATURALIDADE2008 2009 2010

Florianópolis 170 178 32São José 30 40 10Palhoça 20 18 4Lages 14 16 4Chapecó 10 11 3Outras Cidades SC 84 72 22PR 44 41 11RS 27 18 6SP 12 7 5Outros Estados 33 32 7Assunção/Paraguai 0 1 0TOTAL 444 434 104

Nota-se uma predominância para os reclusos que são de Florianópolis, bem

como os nascidos em São José, no tocante as demais cidades Catarinenses o

destaque vai para a cidade de Lages, já nos estados vizinhos, predominam os

reclusos nascidos no Paraná.

Quanto a nacionalidade, somente no ano de 2009, é que aparece um

recluso do Paraguai.

Page 68: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

67

3.7.3 Situação Civil

Distribuição da população carcerária no Presídio Masculino de Florianópolis,

segundo a situação civil (Março de 2008 – Março de 2010).

Figura 3: Situação Civil (dados primários, 2010)

SITUAÇÃO CIVIL2008 2009 2010

SOLTEIRO 247 255 54CASADO 34 20 3AMASIADO 162 157 47VIÚVO 0 1 0SEPARADO LEGALMENTE 1 1 0TOTAL 444 434 104

Salienta-se que, o estado civil solteiro é expressivo neste universo, porém

não pode-se deixar de ressaltar também os reclusos que são amasiados.

Page 69: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

68

3.7.4 Cor de Pele

Distribuição da população carcerária no Presídio Masculino de Florianópolis,

segundo a cor de pele (Março de 2008 – Março de 2010).

COR DE PELE

0

50

100

150

200

250

300

350

2008 2009 2010

BRANCA

NEGRA

PARDA

Figura 4: Cor de Pele

COR DE PELE2008 2009 2010

BRANCA 310 322 72NEGRA 109 76 24PARDA 25 36 8TOTAL 444 434 104

O número maior refere-se aos reclusos de cor branca, perfazendo no ano de

2008 um total de 310, no ano de 2009, um total de 322 e no ano de 2010, um total

de 72. Seguem os negros que atingem 109, 76 e 24, em seguida vem os pardos.

Page 70: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

69

3.7.5 Profissão

Distribuição da população carcerária no Presídio Masculino de Florianópolis,

segundo a profissão (Março de 2008 – Março de 2010).

PROFISSÃO

020406080

100120140160

2008 2009 2010

COMERCIANTE

SERVIÇOS GERAIS

PEDREIRO

PINTOR

SERVENTE DEPEDREIROOUTRAS

Figura 5: Profissão (dados primários, 2010)

PROFISSÃO2008 2009 2010

COMERCIANTE 43 51 5SERVIÇOS GERAIS 31 38 8PEDREIRO 59 65 12PINTOR 78 74 18SERVENTE DE PEDREIRO 93 102 32OUTRAS 140 104 29TOTAL 444 434 104

Oserva-se no presente gráfico, o destaque para as profissões que estão

relacionadas com a construção civil, tais como: servente de pedreiro, pintor, e

pedreiro, ocorrência esta tanto nos anos de 2008, 2009 e 2010, bem como a

profissão de comerciante e de serviços gerais.

Page 71: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

70

3.7.6 Grau de Instrução

Este subitem trata-se da análise do grau de escolaridade referente ao

Presídio Masculino de Florianópolis, onde será abordado aspectos que o compõe e

a relação existente entre o decorrer dos últimos anos na unidade. À respeito disto,

segue o gráfico referente ao nível de instrução dos reclusos da referida instituição.

GRAU DE INSTRUÇÃO

0

50

100

150

200

250

300

2008 2009 2010

ANALFABETO1° GRAU INCOMPLETO1º GRAU COMPLETO2º GRAU INCOMPLETO2º GRAU COMPLETO3° GRAU INCOMPLETO3º GRAU COMPLETO

Figura 6: Grau de Instrução (dados primários, 2010)

GRAU DEINSTRUÇÃO 2008 2009 2010ANALFABETO 7 8 11° GRAU INCOMPLETO 274 193 331º GRAU COMPLETO 52 132 422º GRAU INCOMPLETO 39 33 82º GRAU COMPLETO 57 56 173° GRAU INCOMPLETO 7 8 23º GRAU COMPLETO 8 4 1TOTAL 444 434 104

Nota-se que a predominância quanto ao grau de instrução é para o primeiro

grau incompleto, porém nos anos de 2009, aparece também como destaque o

primeiro grau completo. E ainda no ano de 2010, desponta o segundo grau

completo.

Page 72: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

71

3.7.7 Recebimento de Visitas

Distribuição da população carcerário do Presídio Masculino de Florianópolis,

conforme recebimento de visitas dos familiares e amigos (Março de 2008 – Março de

2010).

RECEBE VISITAS

0

50

100

150

200

250

300

350

2008 2009 2010

SIMNÃO

Figura 7: Recebimento de Visitas (dados primários, 2010)

RECEBE VISITAS2008 2009 2010

SIM 323 294 76NÃO 121 140 28TOTAL 444 538 104

Observa-se que há uma predominância tanto no ano de 2008, quanto no ano

de 2009 e 2010, acerca dos reclusos que recebem visitas, seja elas de familiares ou

de amigos.

Salienta-se que há uma preocupação na Instituição Penal pesquisada em

relação as visitas. Buscando-se com isto, uma aproximação dos familiares e amigos

com os reclusos. Porém destaca-se, que não é uma prática generalizada no Sistema

Penal Catarinense, é sim uma realidade da Instituição pesquisada.

Page 73: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

72

3.7.8 Egressos de Estabelecimentos de Menores

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis

conforme egressos de Instituição de Menores (Março de 2008 – Março de 2010).

ESTABELECIMENTO DE MENOR

050

100150200250300350400450

2008 2009 2010

SIMNÃO

Figura 8: Egressos de Instituição de Menores (dados primários, 2010)

ESTABELECIMENTO DE MENOR2008 2009 2010

SIM 18 93 6NÃO 426 341 98TOTAL 444 434 104

Observa-se que no ano de 2009, há um número significativo de egressos de

Instituição de menores, fator este que contribuiu de certa maneira para o

crescimento da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis.

Page 74: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

73

3.7.9 Situação Socio Econômica

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis,

conforme situação socio econômica (Março de 2008 – Março de 2010).

SITUAÇÃO ECONÔMICA

0

50

100

150

200

250

300

2008 2009 2010

CARENTESATISFATÓRIABOAÓTIMA

Figura 9: Situação Socio Econômica (dados primários, 2010)

SITUAÇÃO ECONÔMICA2008 2009 2010

CARENTE 244 275 49SATISFATÓRIA 154 124 44BOA 46 32 11ÓTIMA 0 3 0TOTAL 444 434 104

Observa-se a predominancia para reclusos que possuem situação

socioeconomica carente, porém merece destaque a situação satisfatória, ou seja,

pessoas que já possuem um certo padrão para a sua subsistência.

Page 75: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

74

3.7.10 Delitos Mais Praticados

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis,

conforme os delitos mais praticados (Março de 2008 – Março de 2010).

DELITOS PRATICADOS

020406080

100120140160180200

2008 2009 2010

ROUBOFURTOHOMICÍDIOPORTE DE ARMASTRÁFICO DE DROGASOUTROS

Figura 10: Delitos mais Praticados (dados primários, 2010)

DELITOS MAIS PRATICADOS2008 2009 2010

ROUBO 57 69 11FURTO 65 70 18HOMICÍDIO 37 30 8PORTE DE ARMAS 31 18 5TRÁFICO DE DROGAS 190 166 47OUTROS 64 81 15TOTAL 444 434 104

Observa-se a predominancia para o tráfico de drogas, vindo em seguida o

furto e roubo. Merece destaque também o homicídio.

Outro tipo de delito que aparece na pesquisa está incluido entre outros, é o da

Lei Maria da Penha.

Page 76: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

75

3.7.11 Situação Jurídica

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis,

conforme a sua situação jurídica.

SITUAÇÃO JURÍDICA

050

100150200250300350400450

2008 2009 2010

NÃO CONDENADOCONDENADOCONDENADO GRCONDENADO TJ

Figura 11: Situação Jurídica.

SITUAÇÃO JURÍDICA2008 2009 2010

NÃO CONDENADO 400 365 82CONDENADO 44 69 18CONDENADO GR 28 47 11CONDENADO TJ 16 22 7TOTAL 488 503 118

Nota-se no gráfico uma certa predominância para os reclusos não

condenados, porém no tocante aos condenados com transito em julgado, observa-

se que não deveriam estar incluidos nesta população carcerária, e sim cumprindo

penas em locais adequados as quais sejam Penitenciárias.

Page 77: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

76

3.7.12 Tempo de Pena

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis,

conforme o tempo de Pena.

TEMPO DE PENA

05

10152025303540

2008 2009 2010

1 - 5 ANOS6 - 10 ANOS11 -15 ANOS16 - 20 ANOS21 - 25 ANOS

Figura 12: Tempo de Pena (dados primários, 2010)

TEMPO DE PENA2008 2009 2010

1 - 5 ANOS 22 37 116 - 10 ANOS 18 19 511 -15 ANOS 2 8 116 - 20 ANOS 1 3 121 - 25 ANOS 1 2 0TOTAL 44 69 18

Observa-se que dos 44 reclusos condenados no ano de 2008, 22 deles foram

condenados a penas de 1 a 5 anos, e 18 a 10 anos, 69 reclusos condenados no ano

de 2009, 37 obtiveram penas de 1 a 5 anos e 19 de 6 a 10 anos de prisão, quanto

aos condenados no ano de 2010, 9 pegaram penas de 1 a 5 anos, e 5 de 6 a 10

anos.

Page 78: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

77

3.7.13 Regime de Pena

Distribuição da população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis,

quanto ao regime de pena (Março de 2008 – Março de 2010).

REGIME DE PENA

02468

10121416

2008 2009 2010

Regime FechadoRegime Semiaberto

Figura 13: Regime de Pena (dados primários, 2010)

REGIME DE PENA2008 2009 2010

Regime Fechado 9 14 5Regime Semiaberto 7 8 2Total 16 22 7

Observa-se que dos 16 reclusos condenados com transito em julgado no ano

de 2008, 9 deles são de regime fechado e 7 são de regime semiaberto, já no ano de

2009 dos 22 condenados, 14 são de regime fechado e 08 de regime semiaberto, e

no ano de 2010, dos 7 condenados com transito em julgado, 5 são de regimes

fechados e 2 do regime semiaberto.

Cabe salientar que, tanto os reclusos condenados em regime fechado e

regime semiaberto, não deveriam estar inclusos na população carcerária do Presídio

Masculino de Florianópolis, e sim, deveriam fazer parte da população carcerária das

Penitenciárias ou Colônia Penal Agrícola, locais estes previstos por lei para

cumprimento de pena.

Page 79: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

78

3.7.14 Retornaram para a Instituição Penal Pesquisada no Período de Março de2008 à Março de 2010

Distribuição da população carcerária dos ingressos do Presídio Masculino de

Florianópolis que retornaram para a Instituição no período de Março de 2008 à

Março de 2010.

Retornaram para a Instituição Penal Pesquisada noPeríodo de Março de 2008 à Março de 2010

0

100

200

300

400

2008 2009 2010

Não retornaram

Retornaram

Figura 14: Passagens na Instituição Penal Pesquisada no Período de Março de 2008à Março de 2010 (dados primários, 2010)

Retornaram para a Instituição Penal Pesquisada noPeríodo de Março de 2008 à Março de 2010

2008 2009 2010Não retornaram 366 362 86Retornaram 78 72 18TOTAL 444 434 104

Observa-se que no ano de 2008, retornaram para a Instituição 78 reclusos, e

no ano de 2009, 72 reclusos, e 2010, 18 reclusos.

Page 80: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

79

3.8 LINGUAGEM UTILIZADA PELOS RECLUSOS DA INSTITUIÇÃO

Antes de tecer qualquer comentário do assunto em questão, faz-se

necessário destacar que o mundo da prisão é um mundo propriamente diferente, é

mais além do que muros, grades, trancas, e celas. É uma sociedade toda própria,

com regras, valores, e uma linguagem específica. Mundo este que tem como o

objetivo primordial, a custódia e a manutenção da ordem interna, tudo tem um

significado, nada pode ser diferente. Se algo ocorre fora do controle tem alguma

coisa errada ocorrendo, deve ser averiguado e as providencias cabíveis devem ser

tomadas pelos que detêm o poder.

E para manter-se nesta realidade, as pessoas que ali encontram-se,

necessitam sobreviver, cria-se um mundo próprio, e neste mundo há a necessidade

de comunicação, desta forma surge um vocabulário que é usado pelos reclusos.

Cabe salientar que muitas das palavras que vamos relacionar, são usadas na

grande maioria das Prisões Brasileiras, e o Presídio Masculino de Florianópolis não

encontra-se tão distante, assim desta prática.

VOCABULÁRIO UTILIZADO PELOS RECLUSOS DO PRESIDIO MASCULINODE FLORIANÓPOLIS

TERMO SIGNIFICADOAlpiste ArrozAreia Açucar

Artesanatos Trabalhos feitos pelos presosBaga comprimido

Bagulho qualquer objetoBarraco-Cubiculo cela

Batedor marteloBoca Homossexual

Boca suja cinzeiroBoi vaso sanitário

Boiada sorteBombeta boné

Bonde transferênciaBrasa dragão isqueiro

Brasinha fogão a gazBreu maconha

Brucha vassouraBucetão pedaço de carne assadaCagueta delator fofoqueiroCaneco copo

Page 81: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

80

Canela cigarroCasão quem gosta da comida do presídio

Casinha armadilha emboscadaCastelo dar esperançaCatatau mensagem bilheteChinelão empanado de frangoChuva agente na galeria

Conduto qualquer tipo de carneCoruja cueca

Criptonia pedra DE CRAQUEDe boa sussegadoDisco prato de plástico

Dr. Areia advogadoDucha tomar banhoEspeto algo ponteagudo

Fazer luvas lavar as mãosFerrinho Cachaça fabricada com casacas de frutasFininho cigarro de maconha

G2 barbeadorGoche chegou

Granada almôndegasGraxa margarinaHappi repetir comida

Ir as cordas SuicidioIr as portas Sair da galeria

Jega camaJogo trocaLili Alvará de soltura, liberdade

Lili da massi Agente fazendo rodaLuna óculos

Macaca bananaMãe pessoa moleMafu fumo

Marrocos pãoMassa macarrão

Memorandobilhete para ser atendido, Diretor, chefe de

segurança, saúde e Assistente socialMessiva cartaMinestra sopa de feijão, arroz, macarrão

Mirão espelhoMoca caféMocó lugar para esconder algoMuca sujeira

Mulher de guarita galinhas, frango assadoNa boa na saúde ficar em paz

Na praia dormir no chãoNo veneno com raiva

P.H Papel HigiênicoPá colher de plástico

Panelão comida servida pelo presídioPano qualquer roupa

Papagaio radioPassar um pano dar uma olhada

Peita camisetaPena Caneta

Page 82: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

81

Penita Penitenciária de FpolisPeroba madeiraPisada fazer algo erradoPisante tênisPisão quem faz algo erradoPista corredor da galeriaPista Chão do corredorPó cocaína

Ponta pedaço de cigarro de maconhaQuieto Cortina

R Q Rabo quenteRadinho Celular

Raiz BatataRaiz de Coelho Cenoura

Rali Hou Comida boa, doceRango Rangar Comida Almoçar

Rolamento FeijãoSacola Compras trazidas por familiares

Se lavar proibido so mulher pode usarSemente ovosSeninha pote plástico

Ta de óculos fazendo algo erradoTa ligado entendeu

Táxi chip de celularTela Televisão

Tereza corda feita de pano (lençol, camisetas, calças)Ti passo lingüiça

Tia tira de panoTrampo trabalhoTranca ser preso, ir para as celasUnha faca

Vaquinha leiteVeneno SucoVento ventiladorVIP Penitenciária de S. Pedro Alcântara

Virna salsichaVisita na ilha visitas no corredorVou de jega vou dormir

Page 83: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

82

3.9 REVISTAS CORPORAIS

3.9.1 dos Presos

Ao tratar-se deste tópico, é mister salientar que não somente o recluso é

submetido a tal procedimento, seus familiares ao ingressarem no estabelecimento

para visitá-los também são revistados.

O autor Augusto Thompson ressalta que:

Outra terrível privação, imposta pela penitenciária, refere-se àperda absoluta pelo direito à intimidade.Somente no cubículo consegue o interno estar sozinho. Naporta dele, porém, há uma fenda, estrategicamente colocada,por onde o guarda pode, a qualquer hora e a qualquer instante,vasculhar com os olhos todos os cantos.Todos os dias, ao deixar o alojamento, pela manhã, o preso érevistado, ao voltar, à tarde, a operação se repete. Durante anoite, com alguma freqüência, pode ser acordado pelo barulhodas chaves, a abrir o cadeado do cômodo. Entram guardas.Mandam que permaneça encostado à parede, junto da porta.Seus pertences, suas roupas, sua cama, tua é revirado. São osincertas, revistas realizadas de surpresa, numa galeriaescolhida aleatoriamente.205

Nota-se com esta situação que o mundo da prisão é um mundo próprio, como

já foi mencionado, por várias vezes no decorrer do presente trabalho.

Salienta-se que, esta prática, as revistas, também ocorrem no Presídio

Masculino de Florianópolis, evidentemente por tratar-se de um local onde ná há

células individuais, não há as “fendas”, citadas pelo autor Augusto Thompson, porém

todas as vezes que há movimentação dos reclusos para irem aos fóruns, aos

setores externos de saúde, seja hospitais, médicos, e ainda idas aos cartórios de

Florianópolis ou de municípios vizinhos, como São José e Palhoça, os reclusos são

submetidos as revistas corporais, e estas são realizadas por policiais militares que

fazem parte do pelotão de escolta, da Cia de Guarda do Complexo Penal de

Florianópolis.

205 AUGUSTO Thompson. A questão penitenciária. P. 62

Page 84: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

83

No entanto, os reclusos ao ingressarem no estabelecimento penal, vindo de

outras unidade prisionais, antes de serem encaminhados para as galerias, são

revistados, bem como seus pertences. Estas revistas são realizadas pelos Agentes

Penitenciários do Presídio.

Por outro lado, ocorre que, a qualquer momento na Instituição, pode ocorrer

revistas nas galerias, cubículos e reclusos.

Estas também são realizadas por Agentes Penitenciários, e se caso

necessitar, há também a participação de Policitais Militares, da Cia de Guarda ou de

algum batalhão especial.

3.9.2 dos Familiares

Como já foi mencionado além dos reclusos, seus familiares também são

submetidos as revistas corporais, entretanto antes de ser discorrido tal assunto, faz-

se necessário mencionar:

Segundo as autoras Bárbara Musumeci Soares e Iara Ilgenfritz:

Uma cena comum em frente às entrada de cada unidadeprisionais é a interminável fila de familiares de presos e presaspara a visita semanal. Essas filas se formam não importa quecondições atmosféricas, sob o sol escaldante ou chuvastorrenciais. São compostas, na grande maioria, por mulheres –mães, esposas, namoradas – e crianças – filhos e parentes dospresos e presas. O que mais carregam consigo, inclusive ascrianças, é comida, roupas, objetos de higiene pessoal,cigarros, jornais e revistas. Nessas ocasiões, toda a segurançada unidade é mobilizada e os agentes mais especializados sãoconvocados para a “revista” dos visitantes.206

O relato da autora faz lembrar, também esta prática nos estabelecimentos

penais de Santa Catarina, e no Presídio Masculino de Florianópolis não poderia ser

diferente.

206 SOARES, Bárbara Musumeci; ILGENFRITZ, Iara. Prisioneiros – Vida e violência atrás das grades,editora Garamond Ltda, Rio de Janeiro, 2002, p. 38.

Page 85: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

84

As visitas aos reclusos, por seus familiares, ocorrem nos finais de semana,

sendo que, como tratam-se de 5 galerias, há uma alternância, quanto aos dias de

visita.

Ou seja, se os reclusos da galeria A e D, recebem suas visitas durante o mês

de Maio no Sábado, as galerias B, C, e E, recebem no Domingo. No próximo mês há

uma inversão, aqueles que receberam no Sábado passam para Domingo e vice-

versa. Tal fato ocorre, em decorrência de que muitas pessoas trabalham aos

Sábados, e ficam impossibilitadas de visitarem seus familiares, e tendo esta

alternância terão possibilidades de fazê-las.

É mister salientar que, para que ocorra estas visitas, há necessidade de fazer

alguns esclarescimentos acerca dos procedimentos.

Os visitantes para ingressarem na parte interna do estabelecimento, e

obterem suas “carteiras de visitas”, documento este, com o qual visitam os familiares

e amigos, necessitam do cadastramento e liberação junto ao setor de Serviço Social,

que atende os familiares de 3ª feira à 5ª feira, das 10:00 às 12:00 horas. O

documento em tela, após a liberação é autorizado pelo Diretor do Presídio.

É mister destacar que no Presídio Masculino de Florianópolis há esta prática

de liberar a visita de amigos aos reclusos. Isto ocorre após a avaliação e parecer do

Setor Serviço Social, que ao constatar que o recluso não possui nenhuma visita,

pois seus familiares são de outras cidades ou outros estados ou mesmo não

possuem familiares, mas um amigo se interessa em visitá-lo, e o recluso aceita em

em recebe-la, será liberada, e seguirá os tramites de praxe.

De posse do documento juntamente com a carteira de identidade, ou de

motorista, ou carteira de trabalho, o visitante poderá no final de semana realizar a

visita.

Ressalta-se que, os portões do Presídio abrem para os visitantes nos finais

de semana, à partir das 8:00 horas, momento em que os familiares e os alimentos

autorizados, são revistados por Agentes Penitenciários masculinos e femininos, a

medida que são revistados vão ingressando, e poderão sair da Instituição às 15:00

ou 16:30 horas.

O horário obedecido para as revistas é das 8:00 às 12:00 horas, após este

horário não é mais permitido o ingresso na parte interna.

Faz-se necessário destacar ainda que, os familiares que não passam por

revistas corporais, por motivo de constragimento, principalmente senhoras idosas,

Page 86: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

85

após entrevistadas no serviço social, visitam no parlatório, de 2ª à 6ª feira, entre 9:00

e 11:00 horas e entre 14:00 e 16:00. Estes visitantes, também recebem o

documento carteira de visitas.

É mister enfatizar que, no momento em que são entrevistados pela Assistente

Social, os visitantes recebem um documento contendo todos os procedimentos e

orientações acerca de visitas, e alimentos liberados para serem entregues aos

reclusos.

Com referência aos alimentos é necessário esclarescer, que a Instituição

fornece aos reclusos 3 (três) alimentações diárias, café da manhã, almoço e janta.

Porém no tocante a verduras, frutas, roupas de cama, roupas pessoais, material de

higiene, e outros alimentos como refrigerantes, balas, chocolates, etc, não são

fornecidos pela instituição. O que leva muitos familiares a levarem para seus

parentes. E diante de tal situação, de 2ª à 6ª feira, entre 8:00 e 12:00 horas, fica um

Agente Penitenciário de plantão, para receber e revistar todos os materiais e

alimentos, que são entregues pelos familiares.

Para evitar transtornos, os alimentos são recebidos na seguinte ordem:

GALERIA E - São recebidos às 2ª Feiras;GALERIA C - São recebidos às 3ª Feiras;GALERIA D - São recebidos às 4ª Feiras;GALERIA B - São recebidos às 5ª Feiras;GALERIA A - São recebidos às 6ª Feiras.

Os familiares que residem no interior do Estado de Santa Cataria, ou em

outros Estados, são autorizados a entregá-las, nos finais de semana, quando

também na oportunidade, no mesmo horário, e dia de visita, Sábado ou Domingo, o

Agente Penitenciário, recebe e após as devidas vistorias. Estas são entregues para

os reclusos, no momento em que receberá a visita de seus familiares.

É importante salientar que, os reclusos que não possuem visitas, e que

sentem dificuldade de obter material de higiene pessoal, estes são fornecidos pelo

Serviço Social, que realiza campanhas de doação junto aos empresários que

desenvolvem trabalhos no Presídio, como os proprietários de oficinas, e órgãos da

comunidade, tais como associações e grupos religiosos.

Page 87: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

86

3.10 VISITAS ÍNTIMAS

Conforme determina a Lei de Execução Penal em seu art. 41 “constituem

direitos do preso: X – visitas do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em

dias determinados”.

E cabe ao estabelecimento penal, propiciar para que esta prática ocorra, e no

Presídio Masculino de Florianópolis, como foi relatado no item 3.9, vários

procedimentos são tomados para que os reclusos recebam suas visitas.

No entanto, além das visitas, muitos também nos finais de semana, usufruem

de visitas íntimas. Acerca deste tema o autor Drauzio Varella comenta que:

São nebulosas as origens das visitas íntimas. Contam quecomeçaram no início dos anos 80, insidiosamente, comoalguns presos que improvisaram barracas nos pátios dospavilhões nos dias de visita. Outros, mercenários, juntavamdois bancos compridos, cobriam-se com cobertores ealugavam o espaço interno para a intimidade dos casais.Na época as autoridades fizeram vista grossa, convencidos deque aqueles momentos de privacidade acalmavam a violênciada semana. Quando surgiram as primeiras queixas de menoresengravidadas nesses encontros furtivos, ficou evidente que asituação escaparia do controle. Incapazes de acabar com oprivilégio adquirido, decidiram, então, oficializar as visitasintimas”.207

Cabe ressaltar que, esta prática relatada pelo autor Dráuzio Varella, na Casa

de Detenção de São Paulo, se estenderam de maneira gradativa para os demais

estabelecimentos penais brasileiros. E acabou também por chegar, no estado de

Santa Catarina. Para atender esta nova realidade, casas de encontros íntimos foram

construidas nas Penitenciárias. E nos locais onde não foi possível as contruções, as

visitas, passaram a ocorrer nas celas, como é o caso de Presídio Masculino de

Florianópolis.

Porém para as pessoas que estão distantes deste mundo da prisão, tudo fica

muito confuso, e o autor Drauzio Varella, faz um comentário no tocante ao tema que

merece destaque:

207 VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. p. 60.

Page 88: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

87

Quem nunca entrou em Presídio imagina que os mais fortestomam as mulheres dos mais fracos num corredor como esse,cheio de malandros encostados na parede. Ledo engano: Oambiente é mais respeitodo do que pensionato de freira.Quanto um casal entra, todos abaixam a cabeça. Não bastadesviar, o olhar, é preciso curvar o pescoço. Ninguém ousadesobedecer a essa regra de “procedimento”, seja a mulheresposa, noiva ou prostituta. Uma vez, Genésio, um nordestinocicioso que esbanjos nas boates da zona norte o dinheiroroubado em mais de cem assaltos, reconheceu na galeria umamulher da qual havia sido cliente: -O companheiro vinha comoo braço no ombro dela. Virei de costas para a parede, paraevitar que ela me visse e deixasse transparecer. Olha queelegência doutor!208

Com este relato, observa-se que mesmo dentro das prisões, certos valores

são mantidos, como é o caso do respeito a questão da figura da mulher, pela massa

carcerária.

No Presídio Masculino, como já foi mencionado que as visitas íntimas

ocorrem nos finais de semana, no horário das 15:00 horas, a primeira saída das

galerias, dos familiares, é comum as saídas das mães, irmãos, pais, filhos, e

permanecem nas celas as esposas e companheiras, momento em que ocorrem as

visitas intimas. Parece estranho para o mundo externo, mas como relatou o autor

Drauzio Varela, nenhum preso pode dirigir-se ou olhar para a “mulher” do outro, eles

nem permanecem na cela, ficam nos pátios, ali é o lugar reservado para os casais.

Cada um, tem sua cama, usam lençóis como cortinas, para protegerem suas

intimidades, os rádios ficam junto as camas, ligados, para evitarem qualquer ruído.

Não pretendemos esgotar o tema com este trabalho Monográfico, outros

trabalhos virão para contribuir com este estudo, pois, como já explanamos, a

população carcerária do Presídio Masculino de Florianópolis tem se modificado ao

longo dos últimos anos. Espera-se que este estudo tenha contribuído para se

conhecer o perfil do criminalizado que cumpre pena no Presídio Masculino de

Florianópolis.

208 VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. p. 60.

Page 89: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

88

CONCLUSÃO

Vivencia-se uma realidade de incertezas, angustias, medos, cercados de

contravalores No tocante a questão política, descrenças, na área social milhares de

pessoas vivendo em situação de miséria, cujas necessidades básicas , tais como:

alimentos, saúde, habitação e educação não são satisfeitas gerando com isto,

violências, inseguranças pessoal e social.

Busca-se viver em segurança, em paz, em liberdade, enfim feliz.

No entanto toda aquele que possa ameaçar e impedir essa vontade e

liberdade, deve ser afastado, banido. E porque não dizer, entregue as prisões, para

que lá seja punido, intimidado e regenerado.

Esta é a finalidade da pena, fazer com que o preso, torne-se uma pessoa

com capacidade de respeitar a lei penal e atender as suas próprias necessidades.

Entretanto a ser analisada a origem da pena, percebe-se que ela esta toda

voltada para o fator punição, apesar de que foram muitos os esforços para

humanizá-la.Apesar de continuar enraizada de punição.

Cabe aqui salientar que, os castigos na antiguidade inicialmente tinham

cunho privado, depois divino e posteriormente público, onde o corpo do infrator

recebia vários castigos antes de sua execução.

Porém, com o passar do tempo extingue-se a pena capital e surge a pena

privativa de liberdade, pratica esta nos dias atuais.

Percebe-se que deixa-se de punir o corpo do individuo, porém os efeitos do

confinamento atingem sua vontade, seu intelectuo e emoções.

Nota-se que, mesmo com tantos esforços discussões acerca da questão

prisional, a pena continua suas características voltadas para a repressão e punição.

Observa-se que há uma carência muito grande de políticas, voltadas para o

Sistema Prisional, seja ela a nível Federal ou estadual, onde o respeito á realidade

de cada instituição não ocorre. Há sim uma generalização, e não uma

individualização de ações , com a identificação da clientela e de suas necessidades.

Reportando-se ao presente trabalho, destaca-se que através da pesquisa

realizada no Presídio Masculino de Florianópolis, constatou-se que, os reclusos que

ali estão, são extremamente jovens, cuja faixa etária gira em torno de 18 a 25 anos,

sendo que a maioria é natural da cidade de Florianópolis e São José, com estado

Page 90: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

89

civil solteiros seguidos de amasiados, de cor branca, profissões com destaques

para a construção civil, predominando servente de pedreiro, pintor e pedreiro, com

1º grau incompleto, situação socioeconômica carente, com um número acentuado de

egressos das instituições de menores. No tocante aos delitos praticados, destacam-

se: tráfico de drogas, furto e roubo. Outro fator que merece relevo é que muitos do

reclusos são condenados, sendo que uns em regime fechado e outros em regime

semiaberto. Outro aspecto constatado é que a maioria dos reclusos do Presídio

Masculino de Florianópolis, recebem visitas dos familiares e amigos.

Por outro lado , foi constatada, também, duas situações preocupantes que

é, um número acentuado de egressos das Instituições de menores e o destaque

para a pratica de delitos, tais como tráfico de drogas, furtos e roubo.

Com referencia ao trafico de drogas, é cada vez mais o número de jovens

voltados para esta questão, e o quanto isto é nocivo para a sociedade.

Percebe-se também, que há um mundo diferenciado “intra muros”, cujo

vocabulário é totalmente peculiar do “extra muros”.

O recluso que entra no sistema Penal, adere um “idioma” peculiar, próprio

daquela realidade.

Sendo Assistente Social no Presídio Masculino de Florianópolis há mais de

15 anos, vivenciando o dia-a-dia do recluso, e através do nosso trabalho,

constatamos, o descompasso entre as funções declaradas do Sistema Penal, e as

funções não declaradas.

Page 91: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

90

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do controleda violência à violência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

______. Sistema penal máximo X cidadania mínima – códigos de violência na erada globalização, Postilene, Livraria do Advogado, 2003.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica do direito penal: Introdução aSociologia do Direito Penal: Tradutor Juarez Cirilo dos Santos, 3ª Ed, Rio de Janeiro,Revan, 2002.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Paulo M. Oliveira. 15ªEd. Rio de Janeiro, Ediouro, 2001.

BISSOLI FILHO, Francisco. Estigma da criminalização – dos antecendentes àreincidência criminal. Florianópolis, Livraria e Editora Obra Jurídica Ltda, 1998.

BITTENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas eAlternativas, 3ª Ed. São Paulo, Editora Saraiva, 2004.

______. Tratado de direito penal: Parte geral, vol. 1, 11ª ed. São Paulo, editoraAtual, Saraiva, 2007.

BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código penal em exemplos práticos.Florianópolis, OAB, 2002.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: Parte geral, vol. 1, 11ª ed. Rev. Atual,São Paulo: Saraiva, 2007.

CARVALHO, Salo de e outros. Críticas à execução penal. 2ª Ed. Rio de Janeiro:Lumen Juris Editora, 2007.

CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Estrutura do direito penal. São Paulo: SugestõesLiterárias, 1972.

CHUAIRI, Silvia Helena. Assistência Jurídica e Serviço Social: Reflexõesinterdisciplinares, serviço social & sociedade. no. 67. São Paulo: ano XXII –Especial, Cortez, 2001.

COSTA JÚNIOR, Paulo José de. Curso de direito penal. 9 ed. Ver. E atual. SãoPaulo: Saraiva, 2008.

DELMANIO, Celso e Roberto. Código penal comentado. 4 ed. Rio de Janeiro.Renovar, 1998

DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: Parte geral. Rio de Janeiro: Forense,2005.

Page 92: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

91

DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Crime e castigo. Tradução de Ivan Petrovitch e Irina WisnikRibeiro. São Paulo, Martins Claret, 2006.

______. Recordação da casa dos mortos. Tradução de Nicolau S. Peticov. SãoPaulo: Nova Alexandria, 2006.

FARIAS JUNIOR, João. Manual criminologia. 3ª ed. Curitiba, 2004.

______. Ineficácia da pena de prisão e o sistema ideal de recuperação dodelinquente. Rio de Janeiro. Editora Carioca, 1978.

FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. Rio de Janeiro, Forense, 2000.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: Nascimento da Prisão. Tradução de RaquelRamalhete, 16ª ed. Petrópolis, ed. Vozes, 1997.

GOFFMAN, Erving. Estigma. Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada,2ª ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.

______. Manicomios, prisões e conventos. Tradução de Dante Moreira. SãoPaulo, editora Perspectiva, 1961.

GARCIA, Antonio; MOLINA, Pablo de. Criminologia, Introdução a seusfundamentos teóricos. 5 ed. São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006.

JESUS, Damásio E. Direito penal: parte geral, vol. I, 28 ed. São Paulo, 2005.

LEAL, João José. Direito penal geral. 3 ed. Florianópolis, OAB, 2004.

LENGRUBER, Julita. Cemitério dos vivos: Análise Sociológica de Um Prisão deMulheres, Rio de Janeiro, Aichiamé, 1983.

MARCÃO, Renato Flávio. Lei de execução penal anotada. São Paulo, Saraiva,2001.

MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal, Parte Geral, vol I, 24 ed., SãoPaulo: Atlas, 2007.

______. Evolução penal – Comentários à Lei 7210 de 11/07/1984, 6 ed. São Paulo:Editora Atlas S.A., 1996.

MOLINA, Antonio Garcia Pablos de. Criminologia: Introdução a seus fundamentosteóricos. 2 ed. São Paulo: Editora ver atual e amp – Revista dos Tribunais, 1997.

NEPOMOCENO, Alessandro. Além da lei: A face obscura da sentença penal. Riode Janeiro: Revan, 2004.

OLIVEIRA, Odete Maria de, Prisão: um paradoxo social, 3ª ed, Editora da UFSC,Florianópolis, 2003.

Page 93: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

92

PAIXÃO, Antonio Luiz. Recuperar ou punir? Como o Estado trata o criminoso. 2ed. São Paulo: Cortez, 1991.

PIMENTEL, Manoel Pedro. Prisões fechadas e prisões abertas. São Paulo: Corteze Moraes, 1977.

______. O crime e a pena na atualidade. São Paulo: Revista dos Tribunais: 1983.

RAMALHO, José Ricardo. O mundo do crime – A ordem pelo avesso. Rio deJaneiro: Graal, 1983.

SALLA, Fernando. Rebelião nas prisões brasileiras. Serviço Social & Sociedade.no. 67, ano XXII. Especial São Paulo: Cortez: 2001.

SANTOS, Rogério Dutra dos. e outros. Introdução crítica ao sistema penal:Elementos para a compreensão da atividade repressiva do Estado, Florianópolis:Diploma Legal, 1999.

SILVA, Jorge Vicente. Execução penal: Criminal Doutrina LegislaçãoJurisprudência Prática. 2ª ed. Curitiba: Jaruá, 2006.

SOARES, Barbara Musuneci; ILGENFRITZ, Iara. Prisioneiras – Vida e violênciaatrás das grades. Rio de Janeiro: Garamond Ltda, 2002.

TRAJANO, Eunice Anisete de Souza. O carater “alternativo” das penasalternativas (Lei 9714/99): para quem e para que? Curso de mestrado em ciênciasjurídicas, Universidade do Vale do Itajaí, 2001.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 11 ed. rev. eatual. São Paulo, Saraiva, 2009.

THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos? Rio de Janeiro: Aichiamé, 1983.

______. A questão penitenciária, 4ª edição, Editora Forense, Rio de Janeiro: 1998.

VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. 2ª edição, companhia das letras, SãoPaulo, 2005.

KARAN, Maria Lúcia. Sistema penal e século XXI. In: POLETTI, Ronaldo Rabellode Britto. Notícias de direito brasileiro. Nova série: Brasília, UNB, Faculdade deDireito no. 9, 2002.

ZALUAR, Alba. Condomínio do diabo. Rio de Janeiro: Revan Editora, UFRJ, 1994.

ZAFFARONI, Eugênio Raul. Em busca das penas perdidas. Tradução: VâniaRomano Pedroma e Amir Lopes da Conceição. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Revan,1996.

Page 94: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

93

ANEXO A – Ofício da professora Eunice ao administrador do PresídioMasculino de Florianópolis

Page 95: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

94

Page 96: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

95

ANEXO B – Ofício do administrador do Presídio Masculino de Florianópolisem resposta a professora Eunice

Page 97: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

96

Page 98: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

97

ANEXO C – Fotos do Presídio Masculino de Florianópolis

Page 99: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

98

Page 100: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

99

Page 101: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

100

Page 102: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

101

Page 103: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

102

Page 104: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

103

Page 105: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

104

Page 106: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

105

ANEXO D – Formulário de entrevista dos reclusos

Page 107: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

106

Page 108: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

107

Page 109: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

108

ANEXO E – Formulário das carteiras de visitas

Page 110: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

109

Page 111: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ROSEANA DA SILVAsiaibib01.univali.br/pdf/Roseana da Silva.pdf · Pena, as Escolas Penais e o Surgimento das Prisões. Destacam-se as diversas correntes

110

ANEXO F – Procedimentos para visitas e entregas de alimentos