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 DROGAS E PRISÕES EM PORTUGAL  Anália Cardo so Torres Maria do Carmo Gomes 2002 Lisboa, CIES/ISCTE 

Anália Torres.drogas e Prisões Em Portugal

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    DROGAS E PRISES

    EM PORTUGAL

    Anlia Cardoso Torres

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    Este estudo resultou de uma deliberao conjunta de Suas Exceln

    da Cincia e da Tecnologia, Professor Doutor Jos Mariano Gago

    Justia, Dr. Antnio Costa e o Sr. Secretrio de Estado da PresidncMinistros, Dr. Vitalino Canas, do XIV Governo Constitucional.

    Entidade adjudicante: Instituto Portugus da Droga e da To

    Colaborao: Direco-Geral dos Servios Prisionais

    Concepo e realizao: equipa de investigao do Centro

    Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Superior de Cinc

    da Empresa (ISCTE).

    Colaborao na concepo metodolgica e aplicao

    reclusos: METRIS - Mtodos de Recolha e Investiga

    (empresa de estudos de mercado).

    ---------------------------------------------------------***-------------------------------

    O livro agora publicado baseia-se no relatrio final da pesquisa dese

    que contou com as seguintes colaboraes: Mestre Anabela Gona

    Coimbra Dr Antnio Leite e Dra Rita Veloso Mendes A pesquisa c

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    AGRADECIMENTOS

    A pesquisa realizada, pela especificidade do meio em que foi de

    natureza particular dos objectivos de conhecimento que a orientar

    possvel sem a conjugao de esforos de vrias instituies, entidad

    Em primeiro lugar, devem destacar-se o empenhamento e o intere

    do Instituto Portugus da Droga e da Toxicodependncia, Mestre E

    o estudo se realizasse, mobilizando diferentes vontades e institui

    salientar a disponibilidade da equipa dirigente desta instituioconcretizao do estudo.

    Colaborao decisiva foi igualmente a da Direco-Geral dos Serv

    em especial do Sr. Director Geral, Dr. Joo Figueiredo. Alm d

    disponibilidade sempre demonstrada, a sua interveno foi

    indispensvel na sensibilizao dos dirigentes dos Estabelecimentos

    importncia e desenvolvimento da pesquisa. Tambm foi releva

    Subdirectores Gerais dos Servios Prisionais, Sr Dr Graa Poas,

    Lobo e do Director de Servios de Sade, Sr. Dr. Manuel Pinu.

    Agradecimentos so tambm devidos quer aos directores dos prisionais, quer aos tcnicos de sade, de educao e pessoal

    colaborao, em vrios momentos da pesquisa, desde a sua pr

    desenvolvimento, foi essencial para o seu bom desfecho. A ausculta

    e aos servios clnicos no teria igualmente sido realizada se no

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    Vrias pessoas e entidades colaboraram de forma directa ou

    realizao do estudo. Foi o caso da Dr Manuela dos Santos Parda

    Centro Protocolar da Justia, Dr. Fernando Tordo.

    A colaborao desde a primeira hora do Sr. Dr. Lus Valente Rosa,

    empresa de estudos de mercado que aplicou o inqurito aos reclu

    fundamental. As solues metodolgicas especficas que foram

    garantir a confidencialidade das respostas e o total anonimato dos rfundamentaram-se tambm nas suas sugestes e experincia. Foi ta

    a sua disponibilidade para participar nas reunies com os

    estabelecimentos e com o staff prisional. A colaborao das tcnic

    Carmen Castro e Dr Claudia Vieira foi igualmente importan

    empenhamento e profissionalismo de todos os entrevistadores

    directamente com os reclusos nos estabelecimentos prisionais.

    A equipa de investigao agradece ainda o apoio e a colabora

    consultores Professor Doutor Antnio Firmino da Costa e Mestre P

    como a ajuda prestada pela Professora Doutora Helena Carvalho

    anlises de correspondncias mltiplas. A disponibilidade do secr(Centro de Investigao e Estudos de Sociologia) e o bom acolh

    (Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa), contribu

    que esta investigao chegasse a bom termo.

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    ndice

    Introduo ................................................. .................................................. ................

    1 Uma pesquisa extensiva sobre drogas e prises em Portugal.................................

    1.1 Dados de enquadramento: o caso portugus no contexto internacional ..........1.2 Metodologia .................................................. .................................................. ..

    2 Caracterizao social dos reclusos: uma populao particular ................................

    2.1 Uma populao predominantemente masculina....................................... ........2.2 A maioria dos reclusos jovem ............................................ ............................2.3 Analfabetismo e subescolarizao......................................... ...........................2.4 Maioria nacional. Estrangeiros sobrerepresentados...................................... ...

    2.5 Naturalidade: a origem urbana da maioria dos reclusos.... ...............................2.6 Regies de residncia dos reclusos: sobrerepresentao das reas metropoliPorto .................................................. ..................................................... ................2.7 Estado civil: predominncia dos solteiros ...................................... ...................2.8 Contextos de residncia: a maioria vivia com os companheiros.......................2.9 Alojamento anterior predominante: residncia prpria..................................... .2.10 A maioria dos reclusos tem filhos(as) .......................................... ...................2.11 Presena desproporcional de ex-institucionalizados ................................. .....2.12 Actividades ocupacionais: a formao profissional e o ensino com pouca exp2.13 Condio perante o trabalho: a maioria exercia profisso ..............................

    2.14 Trabalhadores manuais e do comrcio: profisses dominantes .....................2.15 Caracterizao dos reclusos por dimenso e distrito judicial do estabelecime2.16 Indicadores clnicos e de risco de contgio.....................................................

    2.16.1 Medicao: uso e tipo de medicamentos ...............................................

    2.16.2 Doenas infecto-contagiosas: prevalncias elevadas nos reclusos ......

    2.16.3 Indicadores de prticas preventivas e riscos de contgio......................

    2.17 Caracterizao social dos reclusos: elementos de sntese.............................

    3 Situaes prisionais e tipos de crime: as especificidades da populao reclusa por

    3.1 Situaes penais e prisionais da populao reclusa.........................................

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    4 Consumidores e consumos de drogas: fenmenos dominantes nas prises...........

    4.1 Reclusos consumidores de drogas: maioritariamente jovens do sexo masculinreincidentes..................................................... .................................................. ......

    4.1.1 Incios precoces de consumos: um quarto dos reclusos consumidores ti

    anos............................................... ..................................................... ..............

    4.1.2 Cannabis, herona e cocana: substncias mais consumidas ao longo d

    4.1.3 Elevada prevalncia e precocidade dos consumos injectveis ao longo

    4.1.4 Programas de tratamento: cerca de metade j recorreu .........................

    4.2 Consumos de drogas nas prises: padres de continuidade ...........................

    4.2.1 Cannabis e herona: substncias mais consumidas na priso ................

    4.2.2 Uso de cocana desce e incios de consumos na priso reduzidos .........

    4.2.3 Consumos por via injectvel nas prises: quebra acentuada..................

    4.2.4 Modos de consumo por via injectvel: prticas mais regulares ...............

    4.2.5 Programas de tratamento nas prises: baixa oferta ................................

    4.3 Sntese comparativa de dados sobre consumos de drogas nas prises ..........4.4 Consumidores, consumos de drogas, modos de utilizao e programas de traelementos de sntese.......... ................................................ ....................................

    5 Avaliaes, preocupaes e opinies: o meio prisional na ptica dos reclusos.......

    5.1 Avaliaes dos reclusos: apreciaes maioritariamente negativas sobre alimesade, alojamento, condies de higiene e tempos livres........ ..............................5.2 Principais preocupaes dos reclusos: doenas infecto-contagiosas, sobrelot5.3 Medidas a implementar na opinio dos reclusos: programas teraputicos e mdrogas.................................................... ..................................................... ............5.4 Opinies dos reclusos sobre a toxicodependncia e os toxicodependentes: neso doentes ................................................ .................................................. ..........5.5 Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso: mais programas de apoio toxicodependentes e cepticismo quanto ao controlo da entrada das drogas..........5.6 Recluso e sociabilidades: sentimentos negativos e inter-conhecimento de co................................................... ..................................................... ........................

    5.6.1 Sentimentos perante a recluso: a maioria sente-se mal ........................

    5.6.2 (Re)conhecimento de consumos e consumidores: metade conhece que

    5.7 Avaliaes, preocupaes e opinies dos reclusos: elementos de sntese......

    6 Perfis dos reclusos nas prises portuguesas: trs grupos em presena..................

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    7.6.1 Apreenso de substncias. Cannabis, herona e cocana em maior quan

    7.6.2 Estimativas de sobrelotao: a maioria dos estabelecimentos prisionaisde metade da lotao prevista............................................ ..............................

    7.6.3 Caracterizao dos estabelecimentos prisionais por distrito judicial e dim

    7.7 Informaes prestadas pelos servios clnicos: estimativas de consumidores econtagiosas, despistes de consumo de drogas ...................................... ................

    7.7.1 Consumidores de drogas nos estabelecimentos prisionais: estimativa de

    7.7.2 Testes de despistagem do consumo de drogas: realizao regular de co

    7.7.3 Doenas infecto-contagiosas: estimativas de elevadas prevalncias de

    7.8 Directores dos estabelecimentos prisionais: a maioria tem entre 40 e 50 anoscom reclusos h mais de 13 anos e tem funes dirigentes h menos de 6 ..........7.9 Perfis dos directores dos estabelecimentos prisionais: duas geraes em sim

    8 Opinies dos directores e dos reclusos: uma comparao.................................. ....

    8.1 Condies do estabelecimento prisional: discrepncia de avaliaes..............8.2 Preocupaes: convergncias nos problemas das drogas, sobrelotao e doecontagiosas....................... .................................................. ....................................8.3 Medidas relacionadas com a toxicodependncia: reclusos mais favorveis aode seringas e s salas de injeco assistida do que os directores.........................8.4 A entrada de drogas nas prises: opinies discordantes quanto eficcia do 8.5 Opinies sobre os toxicodependentes e a toxicodependncia: perspectivas ncomo ponto comum ............................................... ............................................... ..8.6 Comparao directores/reclusos: elementos de sntese ..................................

    Concluso .................................................. .................................................. ...............

    Ficha tcnica ............................................... ............................................... .................

    Bibliografia ................................................. .................................................. ...............

    Anexo 1 Questionrio aplicado aos reclusosAnexo 2 Auscultao aos Directores e Servios Clnicos

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    ndice de Quadros

    Quadro 1.1................................................ ..................................................... ....O encarceramento nos Estados Unidos e na Unio Europeia em 1997 .................

    Quadro 1.2................................................ ..................................................... ....

    Taxa de pobreza (proporo de indivduos a viver em agregados pobres) em 1995

    Quadro 2.1................................................ ..................................................... ....

    Idade dos inquiridos .................................................... ......................................

    Quadro 2.2................................................ ..................................................... ....

    Nvel de escolaridade dos inquiridos ................................................. .................

    Quadro 2.3................................................ ..................................................... ....

    Nvel de escolaridade atingido por grupos etrios...............................................

    Quadro 2.4................................................ ..................................................... ....

    Estrutura dos nveis socioeducacionais em Portugal (1997) ................................

    Quadro 2.5................................................ ..................................................... ....

    Naturalidade dos inquiridos ................................................... ............................

    Quadro 2.6................................................ ..................................................... ....

    Concelho de residncia................................................. .....................................

    Quadro 2.7................................................ ..................................................... ....

    Populao residente com 12 ou mais anos segundo o estado civil e o sexo (%)...

    Quadro 2.8................................................ ..................................................... ....

    Com quem vivia antes de ser preso? segundo o sexo dos inquiridos ...............

    Quadro 2.9................................................ ..................................................... ....

    Local onde viviam antes de serem presos................................................... ........

    Quadro 2.10 .............................................. ..................................................... ....

    Mulheres que partilham a priso com filhos menores ..........................................

    Quadro 2.11 .............................................. ..................................................... ....

    Ocupao na priso por idades dos inquiridos (%)..............................................

    Quadro 2.12 .............................................. ..................................................... ....Condio perante o trabalho por idade dos inquiridos ........................................

    Quadro 2.13 .............................................. ..................................................... ....

    ltima profisso.................................................. ...............................................

    Quadro 2.14 .............................................. ..................................................... ....

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    Reclusos detidos por tipo de crime segundo os grupos etrios...........................

    Quadro 3.6................................................ ..................................................... ....

    Durao das penas aplicadas por tipos de crime praticado .................................Quadro 3.7................................................ ..................................................... ....

    Declarao de substncias consumidas alguma vez na vida por tipos de crimes .

    Quadro 4.1................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida por substncia ............

    Quadro 4.2................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de policonsumos de drogas alguma vez na vida por substncias.....

    Quadro 4.3................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas na priso ..................................................

    Quadro 4.4................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de pelo menos uma das substncias na priso ..........

    Quadro 4.5................................................ ..................................................... ....

    Declaraes perante consumos de drogas antes e na priso nototal dos que dec

    vida ter consumido ............................................. ...............................................

    Quadro 4.6................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas na priso nototal dos que declararam algu

    consumido (%)................................................... ................................................

    Quadro 4.7................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de incios e quebras de consumos de drogas na priso por dimens

    prisional no total dos que declararam alguma vez na vida ter consumido ............

    Quadro 4.8................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de policonsumos de drogas na priso por substncias ...................

    Quadro 4.9................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas pelo menos uma vez na vida por dimenso

    Quadro 4.10 .............................................. ..................................................... ....

    Situao relativamente deteno por dimenso do EP (%) ................................

    Quadro 4.11 .............................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos injectveis de drogas antes e na priso por dimenso

    Quadro 4.12 .............................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas na priso relativamente a cada substncia.

    por dimenso do EP (%) ................................................ .....................................

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    Quadro 5.6................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    Quadro 5.7................................................ ..................................................... ....Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) segundo a idade dos inquiridos (%) .

    Quadro 5.8................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) segundo declaraes de consumos d

    vida (%) ................................................... ..................................................... .....

    Quadro 5.9................................................ ..................................................... ....Opinies dos reclusos sobre a toxicodependncia e os toxicodependentes (%)...

    Quadro 5.10 .............................................. ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos sobre a toxicodependncia e os toxicodependentes (respo

    segundo a idade dos inquiridos (%) ................................................... .................

    Quadro 5.11 .............................................. ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (%) .......................................

    Quadro 5.12 .............................................. ..................................................... ....Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) segundo a id

    ..................................................... ..................................................... ...............

    Quadro 5.13 .............................................. ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) segundo decl

    de drogas ao longo da vida (%)................................................ ...........................

    Quadro 7.1................................................ ..................................................... ....

    Avaliaes dos directores relativamente s condies de recluso (%) ...............

    Quadro 7.2................................................ ..................................................... ....

    Avaliaes dos directores relativamente quantidade de pessoal nos EPs (%) ...

    Quadro 7.3................................................ ..................................................... ....

    Avaliaes dos directores sobre as qualificaes e competncias do pessoal dos

    dos EPs (%) ............................................. ..................................................... ....

    Quadro 7.4................................................ ..................................................... ....

    Preocupaes dos directores (%) ..................................................... ..................

    Quadro 7.5................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos directores a medidas relacionadas com a tox

    ..................................................... ..................................................... ...............

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    Opinies dos directores sobre a toxicodependncia (%) .....................................

    Quadro 7.11 .............................................. ..................................................... ....

    Tipo de substncias e quantidades apreendidas nos ltimos 12 meses e no ltim

    Quadro 7.12 .............................................. ..................................................... ....

    Valores aproximados de sobrelotao nos estabelecimentos prisionais (%) ........

    Quadro 7.13 .............................................. ..................................................... ....

    Estimativas de consumidores de drogas no total de reclusos fornecidas pelos se

    Quadro 7.14 .............................................. ..................................................... ....

    Realizao de testes de despistagem do consumo de drogas a reclusos (%) .......

    Quadro 7.15 .............................................. ..................................................... ....

    Mdia das estimativas de portadores de doenas infecto-contagiosas realizadas

    ..................................................... ..................................................... ...............

    Quadro 7.16 .............................................. ..................................................... ....

    Nmero de anos dos directores na Direco do EP e de trabalho com reclusos (%

    Quadro 7.17 .............................................. ..................................................... ....

    Grau acadmico dos directores dos estabelecimentos prisionais (%) ..................

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    ndice de Figuras

    Figura 1.1 ................................................. ..................................................... ....

    Proporo dos condenados por posse ou trfico de estupefacientes na UE em 19

    Figura 1.2 ................................................. ..................................................... ....

    Excesso populacional nas prises na Unio Europeia em 1997 ...........................

    Figura 2.1 ................................................. ..................................................... ....

    Sexo dos inquiridos (%) ................................................ .....................................

    Figura 2.2 ................................................. ..................................................... ....Idade dos inquiridos (%)................................................ .....................................

    Figura 2.3 ................................................. ..................................................... ....

    Grupos etrios segundo o sexo dos inquiridos (%) .............................................

    Figura 2.4 ................................................. ..................................................... ....

    Nvel de escolaridade atingido (completo ou incompleto) (%) ..............................

    Figura 2.5 ................................................. ..................................................... ....

    Nacionalidade dos inquiridos (%) ..................................................... ..................Figura 2.6 ................................................. ..................................................... ....

    Sexo dos inquiridos por pas de origem (%) ................................................. .......

    Figura 2.7 ................................................. ..................................................... ....

    Estado civil (%) .................................................. ................................................

    Figura 2.8 ................................................. ..................................................... ....

    Estado civil por grupos etrios (%) ................................................... ..................

    Figura 2.9 ................................................. ..................................................... ....

    Existncia de filhos segundo o sexo (%) ..................................................... ........

    Figura 2.10................................................ ..................................................... ....

    Ocupaes na priso (%) .............................................. .....................................

    Figura 2.11................................................ ..................................................... ....

    Condio perante o trabalho (%).............................................. ...........................

    Figura 2.12................................................ ..................................................... ....

    Sexo dos inquiridos por dimenso do EP (%)............................................... .......

    Figura 2.13................................................ ..................................................... ....

    Grupos etrios dos inquiridos por dimenso do EP (%) .......................................

    Figura 2.14................................................ ..................................................... ....

    Di t ib i d i i id di t it j di i l d (%)

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    Figura 2.20................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de resultados das anlises ao HIV/SIDA (%) ....................................

    Figura 2.21................................................ ..................................................... ....Declaraes de resultados das anlises Hepatite B (%) ....................................

    Figura 2.22................................................ ..................................................... ....

    Vacina completa da Hepatite B (%) ................................................... ..................

    Figura 2.23................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de resultados das anlises Hepatite C (%) ....................................

    Figura 2.24................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de ter ou j ter tido tuberculose? (%)...............................................

    Figura 2.25................................................ ..................................................... ....

    Relaes sexuais no ltimo ms (%).................................................. .................

    Figura 2.26................................................ ..................................................... ....

    Utilizao de preservativo (%) ................................................. ...........................

    Figura 2.27................................................ ..................................................... ....

    Uso de preservativo no ltimo ms no total dos inquiridos seropositivos ............

    Figura 3.1 ................................................. ..................................................... ....

    Situao penal (%) .............................................. ...............................................

    Figura 3.2 ................................................. ..................................................... ....

    Situao penal por grupos etrios (%) ............................................... .................

    Figura 3.3 ................................................. ..................................................... ....

    Reincidncia prisional (%) ............................................. .....................................

    Figura 3.4 ................................................. ..................................................... ....

    Reincidncia prisional por sexo dos inquiridos (%) .............................................

    Figura 3.5 ................................................. ..................................................... ....

    Reincidncia prisional por grupos etrios(%) ............................................... .......

    Figura 3.6 ................................................. ..................................................... ....

    Reincidncia prisional por situao penal (%) .............................................. .......

    Figura 3.7 ................................................. ..................................................... ....Tempo de permanncia dos reclusos na priso (%).............................................

    Figura 3.8 ................................................. ..................................................... ....

    Tempo de permanncia na priso segundo a situao penal (%) .........................

    Figura 3.9 ................................................. ..................................................... ....

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    Figura 3.15................................................ ..................................................... ....

    Situaes que motivaram a deteno e relao com drogas por grupos etrios (%

    Figura 3.16................................................ ..................................................... ....Situaes que motivaram a deteno por situao penal (%) ...............................

    Figura 3.17................................................ ..................................................... ....

    Situaes que motivaram a deteno e relao com drogas por reincidncia crim

    Figura 3.18................................................ ..................................................... ....

    Tipo de crimes praticados (%) ................................................. ...........................

    Figura 3.19................................................ ..................................................... ....

    Reclusos detidos por tipo de crime segundo o sexo ...........................................

    Figura 3.20................................................ ..................................................... ....

    Crimes relacionados com drogas e declaraes de consumos alguma vez na vida

    Figura 4.1 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida ...................................

    Figura 4.2 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumo de drogas alguma vez na vida por sexo dos inquiridos

    Figura 4.3 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida por grupos etrios (%) .

    Figura 4.4 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida por situao penal (%) .

    Figura 4.5 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida por situao na reclus

    Figura 4.6 ................................................. ..................................................... ....

    Idades de incio dos consumos de drogas (%) ............................................. .......

    Figura 4.7 ................................................. ..................................................... ....

    Declarao de consumos injectveis antes da priso no conjunto dos que declar

    consumido drogas (%) .................................................. .....................................

    Figura 4.8 ................................................. ..................................................... ....

    Idade de incio de consumos injectveis no conjunto dos reclusos que declararamdrogas alguma vez na vida (%) ................................................ ...........................

    Figura 4.9 ................................................. ..................................................... ....

    Declaraes de recorrncia a programas de tratamento no conjunto dos reclusos

    drogas pelo menos uma vez na vida (%) ..................................................... ........

    Fi 4 10

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    Frequncia de consumos de drogas no ltimo ms por substncia (%) ...............

    Figura 4.15................................................ ..................................................... ....

    Comparao de frequncias de consumos habituais de drogas antes e na priso Figura 4.16................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas injectveis antes e na priso no total dos re

    consumiram drogas (%) ............................................... .....................................

    Figura 4.17................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas injectveis antes e na priso no total dos re

    ..................................................... ..................................................... ...............

    Figura 4.18................................................ ..................................................... ....Proporo das declaraes de consumos injectveis de drogas por sexo (%) .....

    Figura 4.19................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos injectveis de drogas por grupo etrio (%) .................

    Figura 4.20................................................ ..................................................... ....

    Agulhas utilizadas mais habitualmente no ltimo ms (%) ...................................

    Figura 4.21................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de partilha de agulhas com outras pessoas no ltimo ms (%).........

    Figura 4.22................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de uso de desinfectante (lixvia ou outro) para limpar as agulhas (%)

    Figura 4.23................................................ ..................................................... ....

    Partilha de agulhas e uso de desinfectantesnos consumos injectveis de drogas

    Figura 4.24................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de consumos de drogas alguma vez na vida no total dos inquiridos

    Figura 4.25................................................ ..................................................... ....

    Partilha de agulhas no ltimo ms no total dos inquiridos seropositivos (%) .......

    Figura 4.26................................................ ..................................................... ....

    Na priso j lhe sugeriram que entrasse para um programa de tratamento? (%) ...

    Figura 4.27................................................ ..................................................... ....

    Declaraes de ter deixado de consumir drogas na priso (%) ............................

    Figura 4.28................................................ ..................................................... ....H quanto tempo no consome drogas? (%) ................................................ .......

    Figura 4.29................................................ ..................................................... ....

    Como deixou de consumir drogas na priso? (%) ...............................................

    Figura 4.30................................................ ..................................................... ....

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

    16/264

    Avaliaes dos reclusos (respostas Insuficiente ou Mau) por dimenso do EP (%

    Figura 5.6 ................................................. ..................................................... ....

    Preocupaes dos reclusos (respostas agregadas) (%) .......................................Figura 5.7 ................................................. ..................................................... ....

    Preocupaes dos reclusos (respostas Muito Preocupado ou Preocupado) segun

    inquiridos (%) .................................................... ................................................

    Figura 5.8 ................................................. ..................................................... ....

    Preocupaes dos reclusos (respostas Muito Preocupado ou Preocupado) por si

    Figura 5.9 ................................................. ..................................................... ....

    Preocupaes dos reclusos (respostas Muito Preocupado ou Preocupado) por re(%) ................................................. ..................................................... ..............

    Figura 5.10................................................ ..................................................... ....

    Preocupaes dos reclusos (respostas Muito Preocupado ou Preocupado) por d

    estabelecimento prisional (%).................................................. ...........................

    Figura 5.11................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas agregadas) (%)............................................. .....................................Figura 5.12................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) segundo o sexo dos inquiridos (%) ..

    Figura 5.13................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) por situao penal (%) .....................

    Figura 5.14................................................ ..................................................... ....Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) por reincidncia prisional (%) ..........

    Figura 5.15................................................ ..................................................... ....

    Grau de importncia atribudo pelos reclusos a medidas relacionadas com a toxi

    (respostas Muito Importante ou Importante) por dimenso do estabelecimento pr

    Figura 5.16................................................ ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos sobre a toxicodependncia e os toxicodependentes (respo

    segundo o sexo dos inquiridos (%) ................................................... ..................

    Figura 5.17................................................ ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos sobre a toxicodependncia e os toxicodependentes (respo

    situao penal (%)............................................... ...............................................

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) segundo o se

    ..................................................... ..................................................... ...............

    Figura 5.22................................................ ..................................................... ....Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) por situao

    Figura 5.23................................................ ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) por reincidn

    Figura 5.24................................................ ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos quanto s drogas na priso (respostas Sim) segundo a dim

    estabelecimento prisional (%).................................................. ...........................

    Figura 5.25................................................ ..................................................... ....Sentimentos perante a situao de recluso (%) .................................................

    Figura 5.26................................................ ..................................................... ....

    Situaes de consumos de drogas (re)conhecidas pelos reclusos (%).................

    Figura 5.27................................................ ..................................................... ....

    Situaes de consumos de drogas (re)conhecidas pelos reclusos segundo decla

    de drogas ao longo da vida (%)................................................ ...........................

    Figura 5.28................................................ ..................................................... ....Situaes de consumos de drogas (re)conhecidas pelos reclusos segundo dimen

    estabelecimento prisional (%).................................................. ...........................

    Figura 6.1 ................................................. ..................................................... ....

    Perfis dos reclusos nas prises portuguesas ............................................... .......

    Figura 6.2 ................................................. ..................................................... ....

    Peso relativo dos perfis dos reclusos (%) ................................................... ........

    Figura 7.1 ................................................. ..................................................... ....

    Distribuio dos estabelecimentos prisionais por distrito judicial (%) ..................

    Figura 7.2 ................................................. ..................................................... ....

    rea acadmica dos directores dos Estabelecimentos Prisionais ........................

    Figura 7.3 ................................................. ..................................................... ....

    Perfis dos directores dos estabelecimentos prisionais ........................................

    Figura 8.1 ................................................. ..................................................... ....

    Avaliaes dos directores relativamente s condies do EP (%) ........................

    Figura 8.2 ................................................. ..................................................... ....

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Opinio dos directores face existncia de drogas no EP (%) .............................

    Figura 8.8 ................................................. ..................................................... ....

    Opinio dos reclusos face existncia de drogas no EP (%) ...............................Figura 8.9 ................................................. ..................................................... ....

    Opinies dos directores relativamente toxicodependncia (%)..........................

    Figura 8.10................................................ ..................................................... ....

    Opinies dos reclusos relativamente toxicodependncia (%) ............................

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

    19/264

    In

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Introduo

    A ideia segundo a qual na priso circulam, se comercializam e se c

    tal como em meio livre, no s , primeira vista, estranha, como te

    nossas vises de senso comum. No temos ns a imagem dos

    prisionais como fortalezas, instituies fechadas e impenetrveis a

    onde a vigilncia uma constante? Como se podem realizar negc

    h controlo permanente da vida dos indivduos e ausncia de privaci

    Quando olhamos mais de perto para esta realidade, as ideias in

    perder sustentao. Tal como acontece em meio livre, a circula

    priso uma realidade vivida em todos os pases desenvolvidos, in

    dos seus sistemas penais e molduras jurdicas.

    Com efeito, as paredes dessas fortalezas, muitas vezes, tanto em s

    simblico, so bem mais permeveis do que parecem. Por um lado

    existncia de contactos dirios e permanentes que prestadore

    refeies, manuteno, ensino, formao, sade, bem como fornece

    diverso, de medicamentos e de outros produtos farmacolgi

    estabelecem com o meio prisional. Por outro lado, as visitas constitu

    fonte de interaco quase quotidiana entre o meio exterior e a

    igualmente os diferentes corpos administrativos, tcnicos de sade

    pessoal de vigilncia e de manuteno que constituem o staffpr

    deve ainda ter-se em conta que um grupo especfico de recluso

    diariamente, em virtude dos regimes especiais em que se encontr

    Estas constantes entradas e sadas, de pessoas e de produtos, s

    incontornveis de resto, de uma instituio que pareceria invulnerve

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Esta viagem, que se iniciou com uma solicitao explcita de

    realidade sobre grandes tendncias relacionadas com a circulao

    substncias ilcitas no universo prisional, com o objectivo ltimo de

    pblicas, acabou por se transformar numa porta de entrada para ou

    sistema prisional. A estratgia concebida para responder a

    conhecimento metodologicamente complexo implicou, de resto,

    outros aspectos e caractersticas do meio prisional que fossem suscelucidar prticas e opinies. Na verdade, procurou-se responder n

    conjunto de interrogaes bsicas.

    Qual o perfil social dos que chegam aos estabelecimentos pr

    problemas de sade so portadores? Que tipo de crimespraticara

    nos estabelecimentos prisionais portugueses e qual a sua relao

    Quem so os consumidores de drogas e que tipo de substncias c

    so as suas trajectrias de consumo, que relao se pode estabele

    circulao de drogas, consumos e actos criminosos? Quais as prt

    de drogas no interior dos estabelecimentos prisionais? Continua-

    mesmas substncias? E que prticas e modalidades de consumo tipo de riscos esses comportamentos envolvem? O que pensam os

    vida nos estabelecimentos prisionais, que aspectos mais os preoc

    perspectivas encaram os consumos de drogas e a toxicodependnc

    esse respeito, acham necessrio implementar? O que pensam o

    estabelecimentos prisionais sobre as condies de vida nas pris

    mais os preocupam? Com que perspectivas encaram os consum

    toxicodependncia e que medidas acham necessrio implementar? A

    a estas perguntas, a pesquisa procurou conhecer a realidade de

    forma a comparar, e tornar mais inteligveis, os resultados obtidos.

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    do questionrio aos reclusos, como para a realizao da ausculta

    servios clnicos dos estabelecimentos prisionais.

    No segundo captulo inicia-se a apresentao dos resulta

    caracterizao demogrfica e social dos reclusos. Apresentam-se

    relativos s suas situaes clnicas, prevalncia de doenas infect

    estabelecimentos prisionais e s prticas preventivas e de risco de c

    No terceiro captulo analisam-se as situaes prisionais e penais, n

    que dizem respeito ao tipo de crimes cometidos e aos motivos de de

    analisados, entre outros, dados sobre as penas aplicadas, o tempo d

    priso, a reincidncia prisional.

    O quarto captulo diz respeito explorao dos dados sobre

    consumos de drogas nas prises. So objecto de anlise m

    caractersticas sociais dos consumidores de drogas entre a popu

    propores das declaraes de consumo de substncias psicoa

    priso, os usos intravenosos e os meios de injeco, o recurso aos

    programas de tratamento.

    De seguida, no quinto captulo, so analisadas as avaliaes,

    opinies dos reclusos relativamente a vrios aspectos da vida nos

    prisionais. So objecto de apreciao as condies gerais das pris

    mais preocupantes no contexto da recluso, as repres

    toxicodependncia e toxicodependentes, e, ainda, as opinies

    medidas e solues para o problema das drogas em meio prisional.

    A apresentao dos dados provenientes do inqurito aos reclusos

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    relativamente s drogas nas prises, entre outros dados de c

    diferentes estabelecimentos prisionais que dirigem. So ainda indica

    de prevalncia de doenas infecto-contagiosas, de consumido

    informaes sobre a realizao de testes de despistagem de con

    pelos servios clnicos. tambm apresentada uma anlise de

    mltiplas onde se representam dois perfis de directores dos

    prisionais.

    No ltimo captulo realiza-se uma anlise comparativa das avaliae

    opinies de reclusos e directores, de forma mais sistemtica, apuran

    convergncias e divergncias.

    Nas concluses, finalmente, retomam-se as perguntas iniciais q

    pesquisa, sistematizando e relacionando os principais resultados obt

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    C

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    1 Uma pesquisa extensiva sobre drogas e prises em Portu

    1.1 Dados de enquadramento: o caso portugus no contexto int

    Da leitura de outros estudos recentes realizados em vrios pases, c

    clara que existem elevados consumos de drogas na maioria dos

    prisionais. Este fenmeno adquiriu maior visibilidade no incio dos ase particularmente preocupante pelo facto de muitas vezes es

    aumento da contaminao do HIV, dos casos de SIDA e de outra

    contagiosas nos estabelecimentos prisionais, j que parte de

    consumidas de forma injectvel.

    Ao comparar os resultados desses estudos faz sentido desde

    dificuldade que um exerccio desta natureza envolve. As metodolog

    frequentemente diferentes, outras vezes h informao exgua acerc

    recolha de informao e das populaes de referncia, outras ainda

    momentos ou locais (dentro ou fora da priso) a que dizem respeito

    consumos de drogas. Procurando, deste modo, identificar com a ccaractersticas de cada estudo, vejamos alguns dados obtidos a p

    representativas das realidades prisionais de cada pas:

    na Sucia, uma pesquisa a nvel nacional realizada em

    (n=3536), permitiu identificar 47% dos reclusos como tendo de drogas de modo injectvel diariamente (ou quase diaria

    ano antes da priso (OEDT, 2000);

    em 1997, na Dinamarca, a partir de uma pesquisa a nvel

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    mulheres condenadas, homens preventivos e homens co

    2000).

    Para alm destes, outros dados obtidos atravs de estudos realiza

    limitado de estabelecimentos prisionais em vrios pases eu

    compreender melhor a dimenso do fenmeno do consumo de

    populao reclusa:

    em Espanha, numa pesquisa realizada em 62 prises (n

    inquiridos afirmaram ser consumidores de drogas (OEDT, 200

    na Holanda, caso paradigmtico no que respeita legisl

    consumo de drogas, os resultados obtidos numa nica p

    realizado em 1997 (n=135) detectaram 14% de reclusos toxiltimo ms antes da recluso (OEDT, 2000);

    dados de 1998 relativos ao caso irlands, a partir de uma p

    em 9 prises (nas cinco existentes de alto risco e numa am

    quatro de mdio risco; n=1188), 43% dos reclusos declarara

    alguma vez na vida e 46% afirmaram ter consumido heron

    ltimo ano;

    no Canad, a partir de um estudo piloto realizado em 199

    1996) concluiu-se que, do conjunto dos reclusos que

    questionrio (n=182), 71% declararam ter usado drogas po

    (IV) e destes 68% afirmaram terem-no feito dentro e fora da

    conclua que 89% partilharam seringas pelo menos umafizeram-notambm dentro e fora da priso;

    em Inglaterra, um estudo realizado atravs de questionr

    prises britnicas revelou que metade dos detidos consum

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    ter-se injectado na priso e 75% partilhavam material de inj

    em 1996, num inqurito face a face, 69% dos reclusos decla

    injectavam na priso, quer que partilhavam material de injec

    num outro estudo em 5 pases europeus (Frana, Alemanha

    e Esccia) realizado em 1996 (n=210) e atravs de um inq

    reclusos por auto-preenchimento, concluiu-se que, em

    injectavam na priso (Rotily et al.,1999: 164);

    um estudo mais recente, de 1998, realizado em 22 priseuropeus (Frana, n=1206; Alemanha, n=678; Itlia, n=678

    Espanha, n=101; Sucia, n=305; e Blgica, n=115)

    relativamente a drogas injectadas o consumo mdio nos

    inquiridos era de 32%1. Os valores situavam-se nos 65

    respectivamente, em pases como a Sucia2, Portugal

    restantes pases os valores observados eram inferiores ou

    (Rotily et al.,1999)3.

    No mbito da informao recolhida sobre o fenmeno do consum

    prises, a nvel internacional, foi ainda possvel retirar outras conc

    evidente a clara prevalncia de uma perspectiva, ao nvel da UE e dpases onde esta problemtica foi investigada, que insiste na redu

    minimizao dos danos associados ao consumo de drogas (Waa

    ainda que considerar outros aspectos. Em primeiro lugar, s a par

    anos 90 que se comea, de forma mais ntida, a assumir medidas

    carcter experimental, para enfrentar o problema do consumo de dr

    Em segundo lugar, essas medidas so variadas e no mutuam

    programas de substituio por metadona, programas de uso de de

    livres de droga, trocas de seringas, etc. Em terceiro lugar, as expe

    para a necessidade de envolvimento de todos os protagonistas do m

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    projectos foram, finalmente, acompanhados por equipas de

    desenvolveram, desde o incio, os procedimentos necessrios ava

    das medidas implementadas.

    Em sntese, apesar das especificidades do meio prisional, no s

    drogas parece ser frequente nas prises europeias e no Canad

    frequentes as condies de consumo que envolvem mais risco para

    se ainda ser prevalecente na UE uma perspectiva que insiste nariscos e dos danos e que existe um leque variado de med

    implementar.

    Interessa agora ver alguns dados globais sobre Portugal no cont

    informaes relativas ao crescimento das condenaes directa

    relacionadas com o consumo e/ou trfico de drogas para o ca

    relativamente alarmantes. Ainda uma vez este fenmeno no exc

    Na verdade, o nmero de detenes relativo totalidade das infrac

    droga na Europa tem aumentado de forma constante desde mead

    1980 e, com maior intensidade, desde 1994. A Espanha, Grcia,

    Baixos e Portugal registaram os aumentos recentes mais elevado

    No h dvida, no entanto, que o nosso pas era, em 1997, aquele q

    pases da UE, apresentava maior percentagem de condenados por p

    estupefacientes (Figura 1.1).

    Figura 1.1Proporo dos condenados por posse ou trfico de estupefacientes n

    36

    30

    30

    40

    50

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Estudos concludos em 1996 revelavam tambm que cerca de 7

    tinham antecedentes de consumo de drogas (IPDT, 2000: 88). C

    como dado indiscutvel que existe e circula cada vez mais d

    portuguesas (Provedor de Justia, 1998) e que os casos de

    diminuir nos pases mais afectados excepto em Portugal (OEDT, 20

    Reforando estes dados preocupantes acresce a realidade da

    encarceramento em Portugal e do excesso populacional nas pris

    pode verificar no Quadro 1.1 e na Figura 1.2.

    Quadro 1.1O encarceramento nos Estados Unidos e na Unio Europeia em

    Pas Prisioneiros Taxas

    (efectivos) (por 100.000 habitantes)Estados Unidos 1.785.079 648Portugal 14.634 145Inglaterra/Gales 68.124 120Espanha 42.827 113Alemanha 74.317 90Frana 54.442 90Holanda 13.618 87Itlia 49.477 86ustria 6.946 86

    Blgica 8.342 82Dinamarca 3.299 62Sucia 5.221 59Grcia 5.577 54

    Fonte: Wacquant, (2000)

    Figura 1.2Excesso populacional nas prises na Unio Europeia em 19

    136129 127

    112 109 109 10395

    80

    100

    120

    140

    160

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    verdade, relativamente ao tempo mdio de permanncia na priso, P

    um valor elevadssimo por comparao com outros pases o

    permanncia nas prises portuguesas, segundo dados europeus

    enquanto na Europa Ocidental no excede os 8 meses (Council of E

    Resultados de outros tipos de pesquisa permitem ainda uma viso

    realidade portuguesa. Quanto a inquritos realizados no meio prisio

    lado o que foi realizado em Portugal em 1989 (Machado Rodrigues e

    sobre consumos de substncias e que foi aplicado apenas aos

    prisionais centrais do Continente. Concluiu-se a partir deste estud

    inqurito limitado a alguns estabelecimentos prisionais e aplicado

    anos, que o consumo de substncias ilcitas era j uma realidade

    prisional5.

    A pesquisa dirigida por Jorge Negreiros embora diga respeito apen

    drogas efectuados quatro meses antes da recluso e no

    representativa do universo prisional portugus6(Negreiros, 1997) fo

    til, como veremos no captulo quatro. Atravs dela se conclui tam

    de um nmero considervel de indivduos que, quatro meses antes

    consumiam todos os dias drogas produtoras de grande dependncia

    As investigaes pioneiras sob a direco cientfica de Cndido da A

    o programa de investigao Droga-Crime: Estudos Interdisciplinar

    quadro do Gabinete de Planeamento e de Coordenao do Combate

    se inclui, de resto, a pesquisa de Jorge Negreiros acima referida,

    muito variado de aspectos. Problematizam a relao drogas-cri

    mostrando que entre estes dois termos h muito mais do que rela

    linear. Desenvolvem o debate terico sobre estas complexas inter-re

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    variada desde a etnogrfica (Fernandes, 1997) anlise de cont

    1997a) aos estudos de personalidade e diversos tipos de anlise q

    1997; Manita, et al., 1997) entre outros. Destaque-se ainda, n

    investigaes, a tipologia de reclusos consumidores de drogas cons

    da Agra, numa lgica de anlise biogrfica, que procura identifi

    reclusos consumidores de drogas na sua relao com a delinqu

    1997b).

    Outros estudos, ainda que debruando-se no directamente sobre o

    fornecem pistas explicativas importantes e permitem conhecer mais

    percursos dos consumidores de drogas ao longo das suas traject

    1999; 2001; Miguel et al., 1999). Demarcando-se das perspect

    tendem a reificar a figura do desviante, Machado Pais atravs da an

    jovens em situaes de transio para a vida adulta mostra como o

    da vida de muitos destes jovens escapam constituio de traject

    se trata com eles tanto da pertena a uma subcultura desvian

    estratgias de sobrevivncia em quadros sociais de precariza

    associadas a posies socialmente desfavorecidas (Pais, 2001: 24).

    As oportunidades de emprego disponveis, mesmo para os que t

    obrigatria, traduzem-se muitas vezes em trabalhos precrios, g

    pouco satisfatrios e com pouca perspectiva de estabilidade ou futu

    estes expedientes cruzam-se com as drogas e a necessidade de

    dependncias pode manifestar-se em prticas delinquentes para o

    os consumos, que acabam por conduzir priso. Histrias na primeidos arrumadores de carros e a dos ganhos ilcitos, que

    inadequao das ideias que tendem a considerar o desvio como

    de vida ou uma entre outras opes (Pais, 2001: 307-400).

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

    32/264

    universos das drogas o espao urbano degradado, o jun

    omnipresena das drogas e da polcia, as socializaes prec

    realidades. Revela-nos, por exemplo, como as categorias abstracta

    o traficante deixam de existir no contexto do bairro para darem lu

    ao Joaquim, que em situao de perseguio policial muitos tentam

    que mostrar as interconexes entre estas figuras no seu espao

    procura fazer o enquadramento sociolgico que abre pistas para ex

    de excluso social e os percursos de vida destes actores sociais.

    discursos na imprensa permite ainda mostrar como esta, ao abord

    drogas, quase sempre reproduz esteretipos, centrando a sua a

    factuais sobre o produto ou sobre o crime e muito pouco ou nada so

    ou a sua histria (Fernandes, 1997).

    Analisando com grande rigor as condies de existncia sohabitantes de um bairro degradado de Lisboa, bem como os proce

    envolvidos na chamada desindustrializao, com a correspondente

    tipo de ocupaes e as decorrentes dificuldades de insero na vida

    e jovens, Miguel Chaves (1999), explica as transformaes q

    emergncia do comrcio de drogas como modo de vida par

    significativo de habitantes do bairro, bem como as condies que o

    bairro de uso. Recortam-se claramente figuras inesperadas

    esteretipos, como a da mulher que trafica drogas, que poderia te

    vendedora no mercado, e que no tem qualquer semelhana c

    habitual do traficante. Torna-se ntida a figura do consumidor q

    dependncias se transforma em pequeno traficante e percebe-seelemento mais exposto, o mais fcil objectivo para as en

    Compreende-se igualmente que o comrcio das drogas pode surgir

    de existncias difceis, como alternativa ou modo de vida, embora a

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Estas abordagens mais qualitativas permitem captar condies d

    geram a circulao das drogas, e as eventuais detenes com

    estabelecendo algumas relaes entre pobreza, drogas e recluso.

    Os indicadores macro sociais podem tambm contribuir para

    relaes. Como se viu atrs, Portugal est extremamente prximo

    propsito de indicadores como o nmero de detidos por 100 mil h

    1.1), proximidade essa alis que persiste para o ano 20007. Quan

    herona, os valores nos dois pases tambm se aproximam, sendo

    consumo de herona ao longo da vida no Reino Unido de 1% e em

    (Balsa, et al. 2001).No Quadro 1.2 podemos observar a taxa de p

    pases da Unio Europeia e verificar que, novamente, o Reino Unido

    muito prximos.

    Quadro 1.2Taxa de pobreza (proporo de indivduos a viver em agregados pobres

    Eur P Irl RU Gr Esp It Bl Lux Aus Ale

    1 19 24 25 23 21 21 17 16 15 15 15 2 26 28 34 34 22 27 21 30 26 27 24 3 18 24 21 20 21 19 19 18 14 17 18

    1. Taxa de pobreza (50% do rendimento mdio por adulto equivalente do agregado8).

    2. Taxa de pobreza antes das transferncias sociais (no inclui as penses), calculada comediano.3. Taxa de pobreza depois das transferncias sociais (no inclui as penses), calculada cmediano.Fontes: Almeida, Joo Ferreira de, et al. (2000) in Eurostat, Statistiques en bref., Populatio11/1988; European Community Household Panel, 1995 (2 vaga, rendimentos 1994); EuroSetembro de 1999).

    No ser assim ilegtimo concluir que os pases que tm mais pesso

    tambm aqueles em que h mais consumos de drogas produdependncias e ainda aqueles que tm mais pobres. Mas claro q

    uma relao de co-ocorrncia e no necessariamente um relao d

    que poder haver outras variveis a contribuir para explicar estas

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Claro que estas realidades so complexas e impem a conjugao

    sabendo, de resto, que nem todos os que esto na priso so pob

    pobres que vivem em bairros so consumidores ou traficantnecessrio invocar outras dimenses de anlise para explicar

    probabilidade que se estabelecem entre drogas, pobreza e recluso.

    Vrios autores tm insistido, perante estas questes, na adopo d

    holstica, que tenha em conta as dimenses biolgicas e psicolgic

    mas, sobretudo, os seus contextos socioculturais (Romani, 19

    chamado ainda a ateno para a necessidade de identificar e artic

    nveis de anlise necessrios para perspectivar a problemtica das

    sobre elas das lgicas econmicas especficas, circulao de s

    que implicam preos elevados, circuitos particulares, e que se

    consequncias sobre as diferentes estruturas de oportunidades recursos dos indivduos. Tem igualmente de se ter em considera

    apelos das sociedades contemporneas e a sua relao com os di

    culturais, bem como as lgicas que se estabelecem nos grupo

    problemas especficos do indivduo (Torres, 1994; 2001).

    A investigao realizada, e que aqui se apresenta, inscreve-se num

    no podendo por isso contribuir com histrias contadas ou observ

    pessoa. Mas veremos como o cruzamento da multiplicidade

    informaes sobre os reclusos, as suas trajectrias de vida, as di

    perante as drogas e a recluso, entre muitas outras, acabam por

    identificao de perfis bens distintos que permitem elucidar com clapor eles vividas.

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    como as que dizem respeito caracterizao social da popul

    situaes prisionais e tipos de crime, s avaliaes sobre as cond

    interior dos estabelecimentos prisionais e s representaes dos fenmeno da toxicodependncia.

    Pareceu igualmente til, para o melhor conhecimento da realidade

    para alm dos reclusos, outros protagonistas fundamentais do siste

    dos estabelecimentos prisionais e os respectivos servios clnicos.

    permitiriam, por um lado, conhecer as opinies destes dirigentes

    fenmeno das toxicodependncias e, por outro, avaliar da sua dispo

    diferentes profissionais que trabalham no interior das prises, para

    de medidas relacionadas com o consumo de drogas. Foi ainda p

    algumas das declaraes dos reclusos com as que foram prestadas

    pelos servios prisionais. Fazia finalmente sentido complementar adirectores com a recolha de informaes sobre certas caracterstica

    quadros como a idade, a formao acadmica, o sexo, entre outras c

    Utilizando principalmente mtodos extensivos-quantitativos de

    realidade social, a pesquisa levada a cabo baseou-se essencialme

    inqurito por questionrio.

    Ela desenvolveu-se em duas frentes. Enquanto instrumento privilegi

    informao junto dos reclusos foi concebido e aplicado um inqurito

    uma amostra da populao reclusa nacional. Em complementaridad

    s direces dos estabelecimentos prisionais e respectivos servpequeno inqurito por questionrio e uma ficha de recolha de dados

    As habituais precaues de fiabilidade e validade dos dados obtido

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    O meio prisional , com efeito, um contexto muito especfico. As tend

    ou resistncias que habitualmente surgem em qualquer situao de

    acrescidas pelo fechamento da instituio prisional. s dificuldaacrescentava-se ainda, no caso concreto desta pesquisa, a particu

    Se inquirir sobre consumo de substncias ilcitas em meio livre

    situao complexa, na priso essa inquirio assume contornos aind

    Mesmo que se insista no carcter completamente annimo da

    sempre pairar a dvida e a desconfiana sobre os verdadeiros obj

    suspeitas de ocultamente visarem alguma forma de controlo.

    Para ultrapassar os obstculos referidos, que podiam inviabilizar

    dados, assentou-se em princpios bsicos como o anonima

    seleccionados e a total confidencialidade das respostas9 e foram

    outras precaues especiais. Entre elas a impossibilidade de identifcada um dos estabelecimentos prisionais, o auto-preenchimento

    pelos reclusos e o depsito em urna fechada, vista de todos, aps

    As condies de preenchimento do questionrio, como a existn

    poucos reclusos a preench-lo em simultneo e sem a presen

    vigilncia, entre outros requisitos exigidos pela equipa de inv

    pensadas de forma a dar aos reclusos todas as condies para qu

    confidencialidade fossem inequvocas e que eles prprios os p

    confirmar10.

    Como o sucesso de desenvolvimento de um estudo desta enve

    possvel sem a implicao de todos os intervenientes do sistema prise, num primeiro momento, reunies de esclarecimento e

    procedimentos metodolgicos adoptados junto de todos os

    estabelecimentos prisionais portugueses, e num segundo mom

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Foram ainda enviadas pela Direco Geral dos Servios P

    indicaes especficas sobre os procedimentos a adoptar para

    aplicao do inqurito por questionrio para todas as direces e tno processo.

    No dia anterior ao da aplicao dos questionrios populao

    estabelecimento prisional, desenvolveram-se ainda procedimentos m

    importantes.

    Num primeiro momento, a DGSP forneceu Metris empresa

    aplicao dos questionrios a base de dados com os nmeros m

    total da populao reclusa. Foram ento seleccionados aleatoria

    reclusos (n=2601) para a construo da amostra. Seleccionaram-s

    dos reclusos (n=260) para eventuais substituies por impedimentosos casos que tivessem diligncias marcadas em tribunais, consultas

    em hospitais ou em outros servios de sade no exterior do estabel

    (EP), os que no compreendessem (falar, ler e escrever) a lngua po

    se encontrassem a cumprir alguma sano disciplinar.

    A populao de referncia para construo da amostra foi comp

    reclusos presentes data de 1 de Maio de 2001 em 47 estabelecim

    de Portugal Continental e das Regies Autnomas da Madeira e dos

    A amostra foi proporcional ao nmero de indivduos em cada estabe

    e extrada de forma aleatria a partir de uma listagem que comecanogrfico atribudo a cada um dos reclusos, no momento do

    sistema prisional. O erro de amostragem mximo admissvel de 2%

    confiana de 95%.

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    estarem presentes no dia da aplicao e seleccionarem os recluso

    Regime Aberto Voltado para o Exterior (RAVE), deveriam participar n

    No dia da aplicao do questionrio, os servios dos estabelec

    distriburam aos reclusos, durante o pequeno almoo, os folheto

    CIES/ISCTE/METRIS sobre o estudo e seus objectivos, tendo

    informado e acompanhado os reclusos seleccionados sala de

    questionrio.

    A aplicao dos questionrios foi realizada por entrevistadores da em

    para a realizao do trabalho de campo, em alguns casos a

    elementos da equipa de investigao, que esclareceram dvidas e p

    confidencialidade das respostas. equipa de entrevistadores de

    formao para que a aplicao dos questionrios a uma caractersticas to especficas decorresse exactamente da forma

    previamente definida pela equipa de investigao.

    O anonimato dos reclusos foi garantido, como se mencionou, atrav

    questionrio em urna fechada vista de todos. Estas urnas, no mom

    cada estabelecimento prisional, foram seladas e identificadas apena

    dimenso da priso e o distrito judicial12 a que pertencia. Pr

    questionrio fosse aplicado, tendencialmente, em simultneo em to

    pas.

    O inqurito aos reclusos foi aplicado em 16 estabelecimentos prisiopequenos (0 a 99 reclusos), 18 mdios (de 100 a 299 reclusos) e 13

    300 reclusos). ainda de referir que, por distrito judicial, as aplica

    em 12 estabelecimentos prisionais do distrito judicial do Porto; 12 n

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    As recusas (534) ao preenchimento do questionrio tiveram orig

    variadas. Importa desde logo no esquecer que, depois de o recluso

    dia, que tinha sido seleccionado aleatoriamente, a sua colaborao previsvel que esta garantia metodolgica gerasse um nmero mais

    de rejeies, at porque, particularmente nos estabelecimentos p

    dimenso, a mensagem de total confidencialidade enviada

    investigao e reforada pela maioria dos mediadores que constitu

    estabelecimento prisional, o pessoal de educao, sade e vig

    chegado a todos os reclusos.

    Vale a pena mesmo assim especificar as situaes em que o nme

    mais significativo. Casos houve em que os reclusos ao saberem

    questionrio, aps o preenchimento de um primeiro turno, se rec

    colaborar. Noutras situaes, desde logo, e sem ter especificamenteo questionrio, alguns detidos no quiseram colaborar, o que acabo

    conjunto, a maior parte das recusas. Merece ainda destaque o f

    conseguiu clarificar, de num estabelecimento prisional ter havido log

    100 indivduos que no quis preencher o questionrio.

    Este nmero de recusas era espervel e de modo algum afectou a

    da amostra. O facto de esta constituir mais de 20% do universo era

    que suficiente, tendo alis esta sobrerepresentao sido pensada

    compensar as quebras perfeitamente naturais dada a especificid

    inquirio.

    Aps a aplicao dos questionrios seguiu-se a codificao dos m

    esta foi controlada pela equipa de investigao de modo a detect

    seriam surpreendentes j que se tratava de um questionrio por auto

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Os questionrios para os directores e servios clnicos foram env

    estabelecimentos prisionais onde se tinha realizado o inqurito aototal, no se obteve qualquer resposta de quatro prises, o que perf

    43 respostas auscultao. Mas deste conjunto dois estabelecimen

    re-enviaram o questionrio dos directores. Acabaram assim por

    respostas de directores e 43 dos servios clnicos.

    Explicitados os procedimentos metodolgicos adoptados para o de

    pesquisa, importa agora iniciar a apresentao dos resultados obtido

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    C

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    2 Caracterizao social dos reclusos: uma populao parti

    2.1 Uma populao predominantemente masculina

    A amostra composta por 2057 indivduos de ambos os sexos. A

    2.1 permite observar o carcter assimtrico da recluso entre os

    Verifica-se que a populao reclusa masculina atinge, ao nvel da amdo total (89%) e a populao feminina os restantes 11%, conside

    respostas vlidas13. Em valores absolutos declararam o sexo

    indivduos, 225 o sexo feminino e 8 inquiridos no responderam a es

    Figura 2.1Sexo dos inquiridos (%)

    11,0

    89,0

    Feminino Masculino

    A subrepresentao feminina traduz a realidade do universo pr

    Segundo dados da DGSP, em 31 de Dezembro de 2000, a popucomposta por 12771 indivduos, sendo 11565 do sexo masculino e

    do sexo feminino (DGSP, 2000). De acordo com estes dad

    representavam ento 9,4% do universo populacional recluso. A m

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    explicada pela tendncia do crescimento da representao das mu

    prisional portugus no decurso dos ltimos anos.

    A subrepresentao das mulheres nos sistemas prisionais comu

    dos pases. So no entanto diferentes as propores de pas par

    Espanha, segundo dados do European Monitoring Center on Drugs

    (EMCDDA, 2001), apresentam as mais elevadas taxas de en

    mulheres: 9,7% em Portugal, 9,2% em Espanha. O pas co

    percentagem de mulheres presas na Unio Europeia (UE) , de ac

    relatrio, a Dinamarca, com 0,5%. Nas posies intermdias situam

    Centro da Europa. A Itlia com 5% e a Grcia com 6%, so os pas

    de Portugal e Espanha no que concerne a taxas de aprisionamento

    assim, evidenciar-se uma relao das taxas de priso de mulheres c

    Europa, o Sul. A este fenmeno no sero, por certo, alheias desenvolvimento entre as regies, os menores ndices de rendimen

    social que existem nos pases do Sul face aos seus parceiros do No

    Unio Europeia.

    A enorme diferena entre homens e mulheres no que resp

    encarceramento resta no entanto por explicar. Tem sido avanado

    para estas diferenas, as trajectrias diferenciadas pelo gnero e

    meios sociais mais desfavorecidos. Verifica-se nesses meios, de form

    a segregao entre os sexos. Os efeitos de socializao de rap

    tendem a empurrar os primeiros para prticas de afirmao ide

    experimentalismo, a aco em grupo e a violncia fsica podem meios de expresso da masculinidade. Pelo contrrio, as raparig

    socializadas em prticas que favorecem o fechamento domstico,

    conteno.

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Um outro dado relevante prende-se com a expresso do encarcer

    dos 16-25 anos, mais de um quinto (22,5%). Se agregados, os dois p

    etrios representam quase dois teros da amostra (60,6%). reveladores da juventude da populao reclusa.

    Quadro 2.1Idade dos inquiridos14

    Idade n %16 25 anos 446 22,5

    26 35 anos 753 38,036 45 anos 524 26,546 55 anos 173 8,7Mais de 55 anos 84 4,3Total 1980 100,0

    Dignos de meno, ainda, os valores relativos atingidos pelas trs

    etrias, com um total acumulado de 87%. Ou seja, a esmaga

    indivduos em recluso tm menos de 46 anos de idade. A express

    escales mais elevados no relevante. A Figura 2.2 permite

    simplificada desta dimenso.

    Figura 2.2Idade dos inquiridos (%)15

    22,5

    38,0

    26,5

    8,74,3

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    16-25 anos 26-35 anos 36-45 anos 46-55 anos Mais de 56anos

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Uma outra diferena no perfil etrio do encarceramento, respeitante

    se no escalo dos 16-25 anos: integra 23,7% dos reclusos hom

    mulheres, nesta faixa etria, no vo alm dos 13,5%. Agregandoescales masculinos temos que 62,5% dos reclusos homens tm en

    mulheres, nestes dois escales, representam apenas 44,6%. Ou se

    maior juvenilizao do encarceramento masculino. Para uma melhor

    observar-se a Figura 2.3.

    Figura 2.3Grupos etrios segundo o sexo dos inquiridos (%)16

    23,7

    13,5

    38,8

    31,125,2

    36,9

    8,213,5

    4,1 5

    05

    101520

    253035404550

    16-25 anos 26-35 anos 36-45 anos 46-55 anos Mais de 5anos

    Masculino Feminino

    2.3 Analfabetismo e subescolarizao

    Pela anlise dos dados verifica-se que a populao reclusa apres

    taxa de analfabetismo e de indivduos que, embora declarem sab

    nunca frequentaram a escola (Quadro 2.2). Os primeiros repres

    segundos 4,6%, respectivamente; inquiridos que frequentaram ape

    ensino bsico so 27 3%; at ao 2 ciclo do ensino bsico encontra

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Quadro 2.2

    Nvel de escolaridade dos inquiridos17

    Nvel de escolaridade n

    Nunca frequentou a escola (no sabe ler nem escrever) 139 Nunca frequentou a escola (sabe ler e escrever) 89 1 Ciclo do ensino bsico (4 classe ou equivalente) 531 2 Ciclo do ensino bsico (ensino preparatrio ou equivalente) 569 3 Ciclo do ensino bsico (9 ano ou equivalente) 420 Ensino secundrio (12 ano ou equivalente 145 Ensino superior 50 Total 1943

    O relativamente baixo nvel escolar da populao reclusa pode es

    com as elevadas taxas de insucesso e abandono precoce do sistema

    verificam em Portugal, em particular nos sectores socialmente mais d

    A observao da Figura 2.4 permite verificar que o analfabetismouma elevada expresso no meio prisional (16,9%), no apenas sup

    para a populao masculina, mas tambm ao que se observa na po

    Se somadas as que nunca frequentaram a escola mas que afir

    escrever a percentagem aumenta para 26,9%.A taxa de analfabetis

    1998, para a populao portuguesa nos 9,8% (Almeida et al., 2000: 4

    Figura 2.4Nvel de escolaridade atingido (completo ou incompleto)18(

    5,9 3,9

    57,1

    23,1

    7,32,6

    16,910,0

    50,7

    11,08,7

    2,77,1 4,6

    56,6

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    Masculino Feminino Total

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    apresenta menor percentagem de indivduos que declaram essa

    enquanto que no grupo feminino esse valor aumenta para 26,9

    escolaridade intermdios (2 e 3 ciclo do ensino bsico) os homtambm melhores ndices de escolarizao do que as mulhere

    tendncia invertida nos nveis superiores, embora com pouca rele

    em especial a frequncia at ao 12 ano que para as mulheres co

    contra 7,3% do grupo masculino; por fim, no que concerne ao n

    frequncia do ensino superior, os valores relativos apresent

    proximidade, 2,7% relativo s mulheres e 2,6% para os homens.

    Assim, em mdia, os baixos nveis de escolaridade atingidos pela

    aproximam-se dos valores existentes na generalidade da popu

    colocam Portugal nas ltimas posies na Unio Europeia. n

    apontam alguns autores, quando afirmam que: na populao portu64 anos perto de 80% completou no mximo, o ensino bsico.

    possuem uma formao de nvel secundrio e de nvel superior, n

    cada um desses graus, a 10% (...) (Almeida et al., 2000: 40).

    Todavia, a escolarizao da populao prisional apresenta algum

    verificando-se at, nalguns graus de ensino, valores significativame

    que a populao geral. Estas diferenas resultam ainda mais claras

    a relao entre os nveis de escolaridade atingidos e as idades da po

    Como se pode observar no Quadro 2.3, medida que aumenta a ida

    sobe tambm o nmero dos que nunca frequentaram a escola. No 25 anos esse valor de 8,5%, enquanto que no dos 56 e mais anos

    variao, o facto da frequncia da escola variar na razo inversa ao

    incremento da escolarizao na sociedade portuguesa nos ltimos a

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    Quadro 2.3

    Nvel de escolaridade atingido por grupos etrios20

    Grupos etrios (%)

    Nvel de escolaridade atingido 16-25anos

    26-35anos

    36-45anos

    46-55anos

    Nunca frequentou a escola 8,5 10,2 12,1 10,5 2 ciclo do ensino bsico (6 anoou equivalente)

    57,4 55,3 56,4 60,5

    3 ciclo do ensino bsico (9 anoou equivalente)

    25,8 25,1 19,5 14,2

    Ensino secundrio (12 ano ou

    equivalente) 7,4 7,5 7,8 9,9 Ensino superior 0,9 1,9 4,2 4,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Nota: Frequentou o nvel de escolaridade, tendo completado ou no o grau de ensino respecti

    No entanto, quando comparamos cada grupo etrio na popula

    respectivo grupo na populao geral as especificidades da p

    sobressaem novamente. Por um lado, e quando analisamos o grfrequentaram a escola, conclu-se que h muito mais reclusos, ent

    anos, que nunca a frequentaram do que jovens que no o fizeram n

    Por outro lado, em relao aos nveis de escolarizao mais eleva

    superior), e ainda nos grupos etrios mais jovens, verificam-se ta

    significativas entre os reclusos e a populao geral.

    Como se pode observar no Quadro 2.4, na populao geral e no gr

    34 anos, em 1997, a percentagem de indivduos que tinham a

    secundrio era de 20,6% e a do superior 15,2%. Ora na populao

    no mesmo grupo etrio, como se pode verificar no Quadro 2.3, a

    indivduos que atingiu o ensino secundrio (12 ano), tendo-o compapenas de 7,5%; j quanto ao ensino superior, tambm completo o

    era igualmente apenas de 1,9%.

    Q 2 4

  • 5/20/2018 Anlia Torres.drogas e Prises Em Portugal

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    nomeadamente, escolares especficas. Estes limitados percurso

    reflexo de condies sociais desfavorecidas21 e/ou de difcil rela

    pautando-se muitas vezes pelo insucesso ou pelo abandono, cujos de forma decisiva para reforar situaes de excluso.

    Na verdade, a baixa escolarizao conduz a oportunidades limitada

    empregos, j que ficam apenas disponveis os que implicam traba

    fraca qualificao, pouco prestigiantes, muitas vezes entendid

    satisfatrios a nvel remuneratrio e no plano da realizao pesso

    tendem a iniciar-se trajectrias que podem assumir inmeras config

    frequncia de bandos juvenis, passagem ou permanncia pelo m

    s prticas de pequenas delinquncias, ao contacto com o unive

    modo de vida alternativo ou para sustento de toxicodependncias. E

    percursos predominantes para um nmero muito significativo de reveremos frente h uma forte correlao entre dependncias da

    relacionados com estas e recluso.

    Deve ainda recordar-se que o reduzido capital escolar da maio

    reclusa permite antecipar srias dificuldades de integrao social ap

    a crescente exigncia do mercado de trabalho no que se