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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-Graduação em Administração Curso de Doutorado Acadêmico em Administração e Turismo SIMONE SEHNEM ANÁLISE DOS RECURSOS, ESTRATÉGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO DE ORGANIZAÇÕES Orientadora: Dra. Adriana Marques Rossetto BIGUAÇU - SC 2011

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - …siaibib01.univali.br/pdf/Simone Sehnem.pdf · compatíveis com as atribuições do Doutorado. ... -Não, não creio que viva mais tempo, pois

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    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    Programa de Ps-Graduao em Administrao

    Curso de Doutorado Acadmico em Administrao e Turismo

    SIMONE SEHNEM

    ANLISE DOS RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E

    DESEMPENHO DE ORGANIZAES

    Orientadora: Dra. Adriana Marques Rossetto

    BIGUAU - SC

    2011

  • 1

    SIMONE SEHNEM

    ANLISE DOS RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E

    DESEMPENHO DE ORGANIZAES

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao

    em Administrao e Turismo Curso de

    Doutorado Acadmico em Administrao e

    Turismo da Universidade do Vale do Itaja, como

    requisito obteno do ttulo de Doutor em

    Administrao e Turismo

    Orientadora: Profa.Dr

    a. Adriana Marques Rossetto

    BIGUAU - SC

    2011

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    AGRADECIMENTOS

    - Gostaria de agradecer a Deus por ter iluminado o meu caminho para conseguir concretizar o

    objetivo de finalizar o doutorado. Por ter me protegido nas diversas madrugadas em que viajei

    sozinha de So Miguel do Oeste a Chapec para me deslocar at Florianpolis, muitas vezes

    com condies adversas de muita chuva, temporais e neblina;

    - Ao meus pais Francisco e Isolde e minha irm Sibele pelo incentivo e apoio;

    - A Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de Santa Catarina, que concedeu a bolsa de

    estudos para financiar o doutorado;

    - A orientadora Profa. Dra. Adriana Marques Rossetto, que gentilmente aceitou dar

    continuidade a orientao da minha tese quando a Profa. Dra. Lucila Maria de Souza Campos

    ingressou na Universidade Federal de Santa Catarina. Muito obrigada pela orientaes!

    - Aos Professores Joaquim Rubens Fontes Filho da Fundao Getlio Vargas (FGV) e

    Rogrio Hermida Quintella da Universidade Federal da Bahia, que gentilmente contriburam

    para a melhoria do projeto na oportunidade em que o mesmo foi qualificado no Consrcio

    Doutoral do Enanpad 2010. Muito obrigada!

    - Aos Professores Dr. Miguel Angel Verdinelli, Dra. Lucila Maria de Souza Campos, Dr.

    Alexandre de vila Lerpio, Dr. Charbel Jos Chiappetta Jabbour e Dra. Adriana Marques

    Rossetto, que ofereceram importantes contribuies para a melhoria da tese na oportunidade

    da realizao da Qualificao do Projeto de Tese na Univali;

    - Aos professores da Univali que ministrararam as disciplinas bsicas e eletivas, e que

    contriburam na minha formao, muito obrigada! So eles: Dra. Christiane Kleinbing

    Godoi, Dr. Miguel Angel Verdinelli, Dr. Rodrigo Bandeira-de-Mello, Dr. Valmir Emil

    Hofmann, Dr. Sidnei Marinho, Dra. Adriana Marques Rossetto, Dra. Anete Alberton, Dra.

    Rosilene Marcon e Dra. Lucila Maria de Souza Campos.

    - Aos demais professores da Univali com os quais interagimos durante o perodo do

    Doutorado, meus agradecimentos pelos conselhos. So eles: Dra. Elaine Ferreira, Dr. Carlos

    Ricardo Rossetto (Coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Aministrao), Dr.

    Fernando Csar Lenzi, Dr. Everton Lus Pellizzaro de Lorenzi Cancellier, Dr. Flvio Ramos,

    Dra. Maria Jos Barbosa de Souza, MSc. Ricardo Boeing da Silveira e Dra. Dinor Eliete

    Floriani.

    - Aos alunos doutorandos pela companhia, apoio, momentos de crticas e aprendizado

    coletivo. Em especial a minha turma de ingressantes (2008/2): Yeda, Fbio, Ana, Dnio e

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797761P9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797761P9http://lattes.cnpq.br/1823987980737747http://lattes.cnpq.br/1823987980737747

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    Diva. Turma 1: Carlos Eduardo, Silvio, Wlamir e Andrei. A turma 3: Samir, Murilo, Alissane,

    Maria Andreia e Mehrin. Turma 4: Maria da Graa, Eli, Mrcio, Deosir e Elwis. E a turma 5:

    Jeter, Leone, Lenice, Mariluce, Juvenal, Marco Aurlio, Adriano, Susana e Susete.

    - Ao Senhor Clver Avila Pedrozo Diretor de Tecnologia e Sustentabilidade do Grupo

    Multinancional estudado, por ter assessorado toda a coleta de dados na empresa. A todos os

    Gerentes das Unidades Industriais pesquisadas, que contriburam respondendo o questionrio

    da pesquisa e aos gerentes do escritrio central da Diviso Sunos e Aves do Grupo

    Multinacional estudado, que aceitaram serem entrevistados para contribuir para a minha

    pesquisa.

    - Agradecimento especial a minha amiga Yeda Maria Pereira Pavo, pelos dias e dias de

    pesquisas que realizamos juntas e aconselhamentos mtuos;

    - Aos amigos mestrandos pelos momentos vivenciados, confraternizaes e aprendizado!

    - Aos colegas que contriburam com a validao dos questionrios. Muito obrigada ao Murilo

    Alencar Souza de Oliveira, Ely Fenker, Maria da Graa Saraiva Nogueira, Jeter Lang,

    Peterson Scheidler e Giovani Teixeira.

    - Aos funcionrios da Secretaria, Cristina, Rafaela, Caroline, Wagner e Maria de Lurdes, que

    sempre nos atenderam prontamente nos nossos pedidos.

    - Aos colegas da UNOESC que organizaram as atividades de forma que se tornassem

    compatveis com as atribuies do Doutorado. Muito obrigada pela compreenso e apoio!

    - A todas as pessoas que contriburam para que o sonho de ser Doutora se tornasse realidade.

    Muito obrigada!

  • 5

    O velho estava cuidando da planta com todo o carinho.

    O jovem aproximou-se e perguntou:

    -Que planta esta que o senhor est cuidando?

    - uma jabuticabeira, respondeu o velho.

    -E ela demora quanto tempo para dar frutos?

    -Pelo menos uns quinze anos, informou o velho

    -E o senhor espera viver tanto tempo assim?

    -No, no creio que viva mais tempo, pois j estou no fim da minha jornada, disse o ancio.

    -Ento, que vantagem voc leva com isso, meu velho?

    -Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ningum colheria jabuticabas,

    se todos pensassem como voc.

    "No importa se teremos tempo suficiente para ver mudadas as coisas e pessoas pelas quais lutamos,

    mas sim, que faamos a nossa parte, de modo que tudo se transforme a seu tempo

    Desconheo o Autor

    Se voc tem metas para um ano. Plante arroz.

    Se voc tem metas para 10 anos. Plante uma rvore.

    Se voc tem metas para 100 anos, ento eduque uma criana.

    Se voc tem metas para 1000 anos, ento preserve o meio ambiente.

    Confcio

  • 6

    RESUMO

    SEHNEM, Simone. Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e Desempenho de

    Organizaes. 2011. 214p. Tese (Doutorado em Administrao e Turismo) Universidade

    do Vale do Itaja, Biguau, 2011.

    O objetivo do presente trabalho consiste em propor e demonstrar a aplicabilidade um modelo

    de anlise do relacionamento entre recursos organizacionais, estratgia ambiental e

    desempenho. O arcabouo terico basilar para o desenvolvimento do trabalho est pautado

    nas temticas: gesto ambiental, estratgias ambientais, a abordagem de recursos oriunda da

    Resouce Based View (RBV) e desempenho organizacional. O trabalho se constitui em um

    estudo exploratrio, classificado quanto abordagem como qualitativo mas que se utiliza de

    alguns constructos de cunho quantitativo para elucidar as relaes existentes entre as variveis

    e consiste em um estudo de caso. A aplicabilidade do Framework de Anlise dos Recursos,

    Estratgias Ambientais e Desempenho de Organizaes (FAREADO) foi efetuado na diviso

    Sunos e Aves da empresa X localizada no Brasil. Foi constatado a partir da aplicao do

    modelo que a diviso Sunos e Aves num primeiro momento apresenta estratgias ambientais

    reativas para atender os requisitos legais e prevenir eventuais restries ao sistema produtivo.

    Entretanto, aes como a existncia de comits e equipes de melhoria contnua e elencar a

    questo ambiental como estratgica para a organizao, denotam uma preocupao da

    empresa ir alm, para criar uma cultura voltada sustentabilidade e de conscientizao do seu

    quadro de colaboradores para uma era de pioneirismo e proatividade ambiental. Certamente,

    associado a ganhos competitivos e preferncia no momento de compra por parte dos clientes.

    A aplicao do FAREADO permitiu enquadrar a diviso sunos e aves do Grupo

    Multinacional em estudo no nvel de desempenho bom, com atendimento dos requisitos legais

    baseados no controle e na correo. A Diviso faz uma boa mobilizao dos recursos para

    viabilizar as estratgias ambientais, que por sua vez foram enquadradas como sendo

    predominantemente reativas plenas com fortes evidncias da existncia de estratgias

    preventivas plenas e que ocasionam um impacto no desempenho organizacional considerado

    positivo. A anlise efetuada a partir do modelo identificou que nessa viabilizao das

    estratgias vigentes so mobilizados de maneira mais acentuada os recursos humanos;

    recursos fsicos (instalaes, mquinas e equipamentos); habilidades administrativas; cultura

    organizacional; recursos naturais renovveis; capital intelectual; capacidade de inovao e

    marca. Os recursos valiosos, raros, inimitveis e organizacionais mobilizados consistem em

    recursos intangveis que possuem interface com a cultura organizacional. Dentre os tangveis

    foi identificado que os gestores atribuem maior valor aos equipamentos e recursos humanos.

    A partir do estudo desenvolvido foi possvel verificar a aplicabilidade do Framework de

    Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e Desempenho de Organizaes (FAREADO)

    atravs do estudo de caso na diviso sunos e aves do Grupo. Recomenda-se validar o mesmo

    em outros setores, para averiguar se o mesmo permite gerar generalizaes quando aplicado a

    diferentes portes de empresas.

    Palavras-chave: Estratgia Ambiental. Recursos. Desempenho.

  • 7

    ABSTRACT

    SEHNEM, Simone. Model Analysis of Resources, Environmental Strategies and

    Performance of Organizations. 2011. 214p. (Doctorate in Business Administration and

    Tourism) Universidade do Vale do Itajai, Biguau, 2011.

    The objective of this paper is to propose and demonstrate the applicability of an analytical

    model of the relationship between organizational resources, environmental strategy and

    performance. The basic theoretical framework for the development of the work is guided by

    the themes: environmental management, environmental strategies, the approach proceeds

    from the Resouce Based View (RBV) and organizational performance. The work constitutes

    an exploratory study, classified as to how qualitative approach but makes use of some

    constructs to elucidate a quantitative relationship between the variables and is a case study.

    Validation of the Analysis Framework of Resources, Environmental Strategies and

    Performance of Organizations (FARESPO) was performed in Pig and Poultry Division of the

    firm study located in Brazil. It was found from the application of the model that the Swine

    and Poultry Division at first presents reactive environmental strategies to meet the legal

    requirements and prevent any restrictions on the production system. However, actions such as

    the existence of committees and continuous improvement teams, identifying environmental

    issues as strategic to the organization, show a company's concern to go beyond to create a

    culture focused on sustainability and awareness of its workforce in an age of pioneering and

    proactive environment. Certainly, the associated gains and competitive preference at time of

    purchase by customers. The application of FARESPO frame allowed the division of pig and

    poultry Multinational Group the level of good performance, compliance with legal

    requirements based on the control and correction. The Division is a good resource

    mobilization for achieving environmental strategies, which in turn were classified as being

    predominantly full reactive with strong evidence of preventive strategies and bring about a

    full impact on organizational performance as positive. The analysis carried out from this

    model found that viability of existing strategies are more strongly mobilized human resources,

    physical resources (facilities, machinery and equipment), administrative skills, organizational

    culture, renewable natural resources, intellectual capital, ability to innovation and brand. The

    valuable, rare, inimitable and organizational mobilized consist of intangible assets that have

    interface with the organizational culture. Among the tangible has been identified that

    managers attach greater value to the equipment and human resources. From the study we

    verify the applicability of Framework Analysis of Resources, Environmental Strategies and

    Performance of Organizations (FARESPO) through the case study in pigs and poultry

    division of Multinational Group. It is recommended to validate the same in other sectors, to

    see if it serves to generate generalizations when applied to different sizes of companies.

    Keywords: Environmental Strategy. Resources. Performance

  • 8

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Etapas e estratgias de pesquisa................................................................... 65

    Figura 2 Esquema da Estrutura da Pesquisa............................................................... 68

    Figura 3 Framework de Anlise................................................................................. 87

    Grfico 1 Grfico de disperso com linha de tendncia linear recursos e

    desempenho..................................................................................................

    152

    Grfico 2 Grfico de disperso com linha de tendncia linear estratgia ambiental

    e desempenho...............................................................................................

    152

    Grfico 3 Anlise do resduo........................................................................................ 154

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Evoluo do setor da avicultura no Brasil o perodo de 2001 a 2010.......... 94

    Tabela 2 Evoluo do setor da suinocultura no Brasil o perodo de 2001 a

    2010..............................................................................................................

    95

    Tabela 3 Emisso total................................................................................................ 100

    Tabela 4 Emisses de escopo 1 desagregadas por tipo de fonte................................. 101

    Tabela 5 Emisses de escopo 3 desagregadas por tipo de fonte................................. 101

    Tabela 6 Emisses por unidade de operao............................................................ 101

    Tabela 7 Biomassa (emisses biognicas)................................................................ 101

    Tabela 8 Outros gases no contemplados por Kyoto................................................. 102

    Tabela 9 Emisses em outros pases......................................................................... 102

    Tabela 10 Nvel de escolaridade dos funcionrios da unidade industrial..................... 112

    Tabela 11 Aspectos avaliados e mdias atingidas por cada unidade fabril................... 146

    Tabela 12 Estgio evolutivo dos aspectos avaliados..................................................... 148

    Tabela 13 Correlao dos construtos do framework de anlise.................................... 149

    Tabela 14 Regresso recursos e desempenho .............................................................. 151

    Tabela 15 Coeficientes, desvio padro, Stat T e Valor-P.............................................. 153

    Tabela 16 Resumo dos resultados da regresso estratgia ambiental e desempenho... 153

    Tabela 17 Coeficientes, desvio padro, Stat T e Valor-P.............................................. 153

    Tabela 18 Resumo dos resultados da regresso estratgia ambiental e recursos.......... 154

    Tabela 19 Coeficientes, Erro Padro, Stat T e Valor-P................................................. 154

    Tabela 20 Variao do ativo total, patrimnio lquido, receita lquida operacional,

    lucro bruto e lucro antes dos juros e do imposto de renda...........................

    156

    Tabela 21 Indicadores tcnicos volatilidade e risco e os indicadores de mercado,

    enterprise value, valor de mercado, P/L e EBITDA....................................

    156

    Tabela 22 Indicadores financeiros lucro/ao, liquidez geral, liquidez correntes,

    liquidez seca, dvida total bruta e dvida total lquida..................................

    158

    Tabela 23 Indicadores de desempenho ambiental avaliado.......................................... 159

  • 10

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Taxonomias de Gesto Ambiental................................................................ 27

    Quadro 2 Modelos e tipologias de estratgias ambientais............................................ 32

    Quadro 3 Estudos recentes sobre estratgia ambiental................................................. 38

    Quadro 4 Estudos sobre RBV.................................................................................... 46

    Quadro 5 Evoluo dos estudos na rea de desempenho............................................. 62

    Quadro 6 Dimenses de anlise e variveis da pesquisa............................................ 69

    Quadro 7 Dimenses de avaliao, objetivos e questes............................................. 71

    Quadro 8 Instrumentos de coleta de dados, sujeitos pesquisados e nvel estratgico

    do respondente............................................................................................

    74

    Quadro 9 Aspectos e procedimentos de avaliao....................................................... 75

    Quadro 10 Avaliao da organizao para uma escala de 7 pontos............................... 90

    Quadro 11 Indicadores a serem avaliados...................................................................... 91

    Quadro 12 Avaliao da organizao para uma escala de 5 pontos............................... 92

    Quadro 13 Avaliao dos recursos, estratgias ambientais e desempenho.................... 93

    Quadro 14 Principais eventos de expanso do Grupo Multinacional............................. 97

    Quadro 15 Diagnstico produtivo das unidades industriais........................................... 109

    Quadro 16 Caracterizao das unidades industriais quanto as prticas ambientais....... 111

    Quadro 17 Estratgias ambientais do Grupo Multinacional mencionadas pelo Diretor

    de Tecnologia e Sustentabilidade.................................................................

    114

    Quadro 18 Estratgias ambientais do Grupo Multinacional na percepo da Gerente

    de Desenvolvimento Organizacional............................................................

    124

    Quadro 19 Estratgias ambientais salientadas pelo Gerente de Produo.................... 126

    Quadro 20 Recursos importantes para o Grupo Multinacional...................................... 131

    Quadro 21 Aspectos relacionados ao desempenho econmico e ambiental

    salientandos na entrevista pelo Diretor de Tecnologia e Sustentabilidade...

    141

    Quadro 22 Aspectos relacionados ao desempenho econmico e ambiental

    mencionados na entrevista pelo Gerente de Produo.................................

    143

    Quadro 23 Regra prtica utilizada para interpretar o coeficiente de correlao

    estatisticamente significativo........................................................................

    149

    Quadro 24 Avaliao da organizao para uma escala de 5 pontos............................... 160

    Quadro 25 Avaliao do desempenho produtivo........................................................... 161

  • 11

    Quadro 26 Estgio atual do desempenho produtivo....................................................... 161

    Quadro 27 FAREADO aplicado a diviso sunos e aves do Grupo............................... 162

    Quadro 28 Quadro sntese do atendimento dos objetivos especficos do framework

    de analise na empresa X...............................................................................

    168

  • 12

    SUMRIO

    1 INTRODUO...................................................................................................... 14

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA.......................................................... 14

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................. 20

    1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................................ 20

    1.2.2 Objetivos Especficos.............................................................................................. 20

    1.3 RELEVNCIA, ORIGINALIDADE E CONTRIBUIES DA PESQUISA....... 21

    2 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................ 23

    2.1 CONTEXTO AMBIENTAL E ESTRATGIAS AMBIENTAIS........................... 23

    2.2 VISO DA EMPRESA BASEADA EM RECURSOS (RBV)............................... 40

    2.3 DESEMPENHO ECONMICO FINANCEIRO E AMBIENTAL......................... 48

    3 METODOLOGIA.................................................................................................. 64

    3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................... 64

    3.2 ESTRATGIA DE PESQUISA............................................................................... 65

    3.3 DELIMITAO DO ESTUDO............................................................................... 69

    3.4 MTODO DE COLETA E DE ANLISE DE DADOS......................................... 71

    4 DESCRIO DO MODELO DE ANLISE DOS RECURSOS,

    ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO DE ORGANIZAES

    (FAREADO)..........................................................................................................

    80

    4.1 MAPA CONCEITUAL............................................................................................ 80

    4.2 ETAPAS PARA OPERACIONALIZAO DO MODELO DE ANLISE.......... 88

    5 APRESENTAO DA APLICAO DO FAREADO E ANLISE DOS

    DADOS DO ESTUDO DE CASO.........................................................................

    94

    5.1 CARACTERIZAO DO SETOR, DO FRIGORFICO ESTUDADO E DA

    DIVISO SUNOS E AVES da Empresa X............................................................

    94

    5.2 VALIDAO DO FRAMEWORK DE ANLISE RECURSOS,

    ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL

    (FAREADO)..........................................................................................................

    113

    5.2.1 Dados Obtidos nas Entrevistas Sobre Estratgias Ambientais Vigentes na

    Diviso Sunos e Aves.............................................................................................

    113

    5.2.2 Dados Obtidos nas Entrevistas Sobre os Recursos Mobilizados para

    Viabilizar as Estratgias Ambientais....................................................................

    130

  • 13

    5.2.3 Como as Estratgias Ambientais Afetam a Relao Entre Recursos

    Tangveis e o Desempenho Econmico e Ambiental..........................................

    141

    5.2.4 Dados Obtidos nos Questionrios......................................................................... 145

    5.3 CONCLUSES SOBRE A APLICAO DO FAREADO NO ESTUDO DA

    DIVISO SUNOS E AVES DO GRUPO ESTUDADO.......................................

    163

    5.4 AVALIAO DA APLICAO DO FRAMEWORK DE ANLISE DOS

    RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO DE

    ORGANIZAES (FAREADO)...........................................................................

    173

    6 CONCLUSO........................................................................................................ 176

    REFERNCIAS..................................................................................................... 180

    APNDICES........................................................................................................... 201

    APNDICE A - Carta de Apresentao.................................................................. 202

    APNDICE B - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Gestor Geral.......................... 203

    APNDICE C - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Diretor de Tecnologia e

    Sustentabilidade....................................................................................................

    207

    APNDICE D - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Departamento de Recursos

    Humanos..............................................................................................................

    209

    APNDICE E - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Departamento de Produo o

    Gerente de Produo...............................................................................................

    210

    APNDICE F Roteiro do questionrio................................................................ 211

  • 14

    1 INTRODUO

    Este captulo introdutrio est estruturado de modo a contemplar a contextualizao

    do problema de pesquisa da tese, onde se apresenta resumidamente a evoluo terica da

    abordagem de estratgias ambientais, evidenciando que no Brasil a investigao cientfica

    nessa rea recente. Na sequncia so descritos os objetivos da pesquisa, que so os

    norteadores do trabalho proposto. Logo aps, descreve-se a relevncia, originalidade e

    contribuies do trabalho. Expe-se que h sugestes por parte de pesquisadores nacionais e

    internacionais para a intensificao de pesquisas nessa rea, vinculando a anlise das

    estratgias ambientais com o desempenho econmico e financeiro e com os recursos

    mobilizados para viabilizar as mesmas nas empresas. Estudos com essa dimenso de anlise

    podem se tornar um arcabouo informacional alusivo ao estgio atual das organizaes

    agroindustriais do setor de frigorficos, no que tange aos aspectos ambientais e servir de

    alavanca impulsionadora de melhorias e investimentos a serem deflagrados por outras

    organizaes de setores distintos. Este captulo se encerra com a apresentao da estrutura do

    trabalho.

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA

    A preocupao das organizaes para aderir e implementar estratgias ambientais tem

    se acentuado nas duas ltimas dcadas. So diversos os aspectos que interferem nessa atitude,

    quais sejam: em virtude dos requisitos legais; por exigncia das auditorias de pases

    interessados em fechar contratos com empresas estrangeiras; pela presso dos consumidores e

    organizaes no governamentais; pelos efeitos danosos provocados pela natureza quando

    desrespeitada, e que tm gerado prejuzos e causado medo s pessoas, sensibilizando-as para a

    mudana de conduta.

    Em relao s diversas consequncias dos impactos ambientais vivenciados pelas

    populaes de diferentes continentes, podem-se citar como exemplo os tornados, estiagens,

    variao intensa da temperatura, que interferem na indefinio das estaes do ano e no ciclo

    das culturas, chuvas em demasia, provocando inundaes e enchentes, entre outros. Baseado

    nesse cenrio de degradaes provocadas pela natureza, o ser humano torna-se sensibilizado

    com o ambiente e passa a tomar medidas mitigadoras. Isso se comprova pela grande

    quantidade de organizaes que aderiram certificao ISO 14.001, reconhecida como sendo

    o sistema de gesto ambiental amplamente adotado por que possui respaldo da International

  • 15

    Organization for Standardization (ISO). Conforme Nawroka e Parker (2009) e INMETRO

    (2011) at 31 de dezembro de 2006 aproximadamente 130.000 organizaes estavam

    certificadas em nvel de mundo. No Brasil, no perodo de 2000 a 2011 foram concedidos um

    total de 2.068 certificados da Norma ISO 14.001. Considerando que em 1990 foi

    desenvolvido e lanado auditoria externa do sistema de gesto ambiental e foi a dcada na

    qual a certificao ISO 14.001 iniciou o seu processo de consolidao, a referida j possui um

    histrico consistente para ser avaliado, destacam os autores. No ano de 2011, vlidas no Brasil

    havia 1.327 certificaes (ISO SURVEY, 2011).

    Baseado nesse contexto, h estudos sendo desenvolvidos que procuram identificar se o

    uso de medidas padro, conforme preconiza o sistema de gesto ambiental tem realmente

    beneficiado o meio ambiente. Nesse sentido, destacam-se os estudos desenvolvidos por

    Ferreira et al (2011), Rocha et al (2011), Brock e S (2011), Darnall e Sides (2008), Darnall,

    Henriques e Sadorsky (2005), Martin (2005), Melnyc, Soufre e Calatone (2003), entre outros.

    Tais estudos apresentam como concluses que a adoo de sistemas de gesto ambiental a

    exemplo da ISO 14.001 tem contribudo para a melhoria de desempenho no tratamento de

    resduos. Tambm que existem presses externas exercidas pelos acionistas, governo, clientes

    e comunidade, entre outros que influenciam a gesto ambiental da empresa no sentido de

    cobrar um desempenho alinhado expectativa da Responsabilidade Social Corporativa.

    Alm disso, um sistema de gesto ambiental til no gerenciamento das questes

    ambientais nas empresas e atende aos interesses de clientes, consumidores, ecologistas, e em

    especial das prprias empresas, que investem grande quantidade de recursos para implantao

    e operacionalizao destes sistemas em busca de melhoria em seu desempenho ambiental.

    Nawroka e Parker (2009) destacam que as organizaes que aderiram certificao ISO

    14.001 tiveram esta melhoria e que ainda as mesmas tendem a exigir de seus fornecedores

    uma melhor compreenso de como os aspectos de desempenho ambiental os afetam, bem

    como um maior comprometimento com o meio ambiente por parte destes. Desta forma,

    realizam a gesto ambiental da cadeia de abastecimento.

    Nessas empresas, a relao entre recursos e desempenho pode ser examinada de

    diversas maneiras. Uma delas, relatada na literatura em termos de expectativas que as

    empresas possuem de benefcios e melhoria de desempenho que possam obter, principalmente

    por meio da mobilizao de recursos tangveis e intangveis. Outra consiste em estabelecer

    uma correlao entre a existncia de determinados recursos e seu reflexo no desempenho.

    Estudiosos como Barney e Clark, (2007) afirmam que os recursos estratgicos

    explicam o desempenho na medida em que as organizaes capturam o valor econmico que

  • 16

    eles criam. Entre as diversas escolas tericas existentes que tratam destas questes, a

    Resource Based View (RBV), postula que os recursos internos possudos pelas empresas so

    determinantes e fundamentais para a obteno de vantagem competitiva e melhoria do

    desempenho empresarial (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991, 2002; DIERICKX;

    COOL, 1989; PRAHALAD; HAMMEL, 1990; PETERAF, 1993). Assim, a fonte de

    diferenas de desempenho entre as empresas encontra-se na base de recursos das

    organizaes, que constitui-se de um conjunto de recursos (WERNERFELT, 1984), que

    podem ser divididos em ativos fsicos ou intangveis (HALL, 1992), cuja combinao

    especfica resulta na capacidade competitiva da empresa e, em ltima instncia, na sua

    vantagem competitiva sustentvel. Isso se d quando a empresa aloca determinados recursos

    no intuito de atender a trade da sustentabilidade, isto , as dimenses econmica, social e

    ambiental.

    Conforme Nawroka e Parker (2009) o nvel de influncia da estrutura organizacional

    sobre o desempenho econmico dependente de uma caracterstica particular da empresa, que

    consiste nos seus recursos intangveis, tais como cultura, valores e ambiente concorrencial.

    Embora os requisitos legais que uma empresa precisa seguir sejam bastante prescritivos, o uso

    de vrios instrumentos de gesto permite a interpretao e adaptao para diferentes

    contextos. Alm disso, os ambientes em que operam os sistemas de gesto variam em termos

    de governana corporativa, cultura, ambiente legislativo, legislao e inclusive quanto s

    caractersticas ambientais do contexto no qual a empresa est inserida. A interpretao dos

    requisitos legais e a unicidade interna de cada empresa criam fortes razes do pressuposto de

    que os resultados de um Sistema de Gesto Ambiental (SGA) so dependentes deste contexto.

    Grant (1991) postula que o enfoque externo da empresa, preconizado por Porter a

    partir da abordagem da anlise da indstria e do posicionamento competitivo, negligenciou a

    anlise da estratgia desta e dos seus recursos e capacidades internos. A maioria das pesquisas

    sobre implicaes estratgicas do ambiente interno da empresa tem se preocupado com

    questes associadas estratgia de implementao e anlise de processos organizacionais por

    meio dos quais elas emergem. Nos ltimos 20 anos tem havido um ressurgimento de estudos

    que do nfase ao papel dos recursos da empresa como base para a estratgia da mesma.

    Ao nvel da estratgia empresarial os estudos tm explorado a relao entre recursos,

    competio e lucratividade, incluindo a anlise da concorrncia, da imitabilidade, da

    apropriabilidade dos retornos de inovao, o papel da informao imperfeita na criao de

    diferenas de lucratividade entre concorrentes da empresa e os meios pelos quais o processo

    de acumulao de recursos pode sustentar uma vantagem competitiva (GRANT, 1991).

  • 17

    O argumento defendido por Grant (1991) para utilizar os recursos e capacidades da

    empresa como basilares nas estratgias de longo prazo est respaldado em duas premissas: a)

    eles fornecem uma orientao bsica para a estratgia da empresa; e, b) so a principal fonte

    de lucro desta. Logo, a utilizao dos recursos e capacidades da empresa como ponto de

    partida para direcionar a formulao de estratgias condiz com a afirmao de sua identidade ,

    como por exemplo, identificar a misso da organizao ou o negcio da mesma. Outrossim,

    quando a volatilidade e a incerteza do ambiente externo so grandes, seus recursos e

    capacidades podem ser uma fonte muito estvel para definir a identidade da organizao.

    A RBV postula que o sucesso de uma empresa em grande parte impulsionado a

    partir de recursos que possuem determinadas caractersticas especiais. No entanto, o fluxo de

    investigaes acerca destes tende a ser dominado por discusses conceituais. Embora as

    pesquisas empricas estejam crescendo rapidamente, a maioria dos estudos se concentra em

    isolar apenas os tangveis, dentro de um contexto de indstria singular, para examinar seus

    efeitos no sucesso da empresa. Para testar adequadamente os preceitos da RBV, Galbreath

    (2005) destaca que novas abordagens de investigao devem ser consideradas, inclusive com

    nfase nos recursos intangveis.

    Outra varivel importante para a discusso proposta neste trabalho o desempenho. E,

    seguindo a lgica da anlise relacional proposta pelo estudo, sua associao com as demais

    variveis se faz indispensvel. Algum caminho j foi trilhado neste sentido e dentre os estudos

    que associam positivamente boas posturas empresariais em relao ao meio ambiente e

    desempenho, encontram-se Fogler e Nutt (1975), Rockness, Schlachter e Rockness (1986),

    Freedmann e Jaggi (1982), Wiseman (1982), Porter e Van Der Linde (1995a, 1995b, 1995c),

    Hart (1995) e Vithessonti (2009). No compactuam com esse pensamento Waley e Whitehead

    (1994), Bragdom e Marlim (1972) e Spicer (1978) que no encontraram evidncias claras em

    suas pesquisas sobre se efetivamente a relao positiva. Estudos mais contemporneos que

    versam sobre esses assunto e que continuam apresentando controvrias so de Darnall,

    Henriques, Sadorsky (2005), Liu et al (2006), Wu (2006), Darnall e Sides (2008) e Nawroka e

    Parker (2009) e Orellano e Quiota (2011). Nesse sentido Orellano e Quiota (2011) destacam

    que o principal desafio para a realizao das pesquisas sobre o tema indicadores de

    desempenho socioambiental a no disponibilidade de dados que consigam capturar o

    desempenho do ponto de vista tanto qualitativo como quantitativo das aes de

    Responsabilidade Social e Empresarial praticadas. Ao passo que Wu (2006) salienta que a

    investigao sobre a relao existente entre desempenho social e desempenho financeiro ainda

    inconclusiva, com alguns pesquisadores encontrando relaes positivas. Entretanto, outros

  • 18

    estudos como Orlitzki, Schmidt e Rynes (2003) desenvolveram uma meta-anlise e

    constataram que muitos estudos desenvolvidos nessa rea apresentaram como resultado um

    alto nvel de correlao existente entre desempenho social/ambiental corporativo e

    desempenho financeiro corporativo. Portanto, h divergncias na rea que ainda est se

    consolidando o que gera lacunas a serem supridas.

    No bojo dos recursos mobilizados e detidos pelas empresas e das diferentes estratgias

    ambientais implementadas nas organizaes, emergem alguns questionamentos: A

    heterogeneidade dos recursos otimiza o desempenho das estratgias ambientais? Os recursos

    mobilizados e detidos pelas organizaes permitem que as mesmas afiram um lucro maior

    pautado na estratgia ambiental implementada? Como lidar com as questes ambientais

    internamente na empresa? Como agentes externos avaliam a imagem transmitida pelas

    empresas e como isso afeta os resultados econmicos e ambientais delas? Quais so os

    recursos mobilizados para viabilizar as diferentes abordagens de estratgias ambientais nas

    empresas? Como as diferentes estratgias ambientais impactam no desempenho econmico e

    ambiental das empresas?

    Se esses questionamentos so importantes em qualquer setor econmico, existe uma

    preocupao especial de desenvolver estudos no agronegcio, e mais especificamente no setor

    de frigorficos considerado de alto potencial poluidor, tanto em seus processos primrios,

    quanto no de agregao de valor matria-prima via processo de industrializao. Este setor

    carente de estudos relacionando s variveis propostas no presente trabalho. O agronegcio

    responsvel por 25% do PIB do Brasil (MAPA, 2010), e conforme Arajo e Bueno (2008) a

    agroindstria se destaca por ser o agente coordenador da cadeia produtiva dos setores do

    agronegcio, com maiores possibilidades para desenvolver as aes voltadas ao meio

    ambiente no mbito empresarial. No Brasil o Agronegcio gera por ano uma riqueza de 400

    bilhes de dlares e tem sido o responsvel pelo supervit comercial brasileiro,

    principalmente exportando os alimentos para pases emergentes, a exemplo da ndia e da

    China.

    O setor frigorfico processa e industrializa alimentos que o tornam representativo no

    contexto das exportaes, sendo que no ano de 2010 o Brasil exportou US$ 4.795.356 em

    carne bovina (in natura, industrializados, midos, tripas, salgadas). Alm disso, conforme a

    ABIPECS (2011) a oferta de sunos para abate, em 2010, aumentou 1,8%, de 33,8 milhes de

    cabeas para 34,3 milhes. No perodo, os abates sob Inspeo Federal totalizaram 29,1

    milhes de cabeas, o que significou um crescimento de 2,5 % em relao a 2009. Os abates

    sob outras certificaes mantiveram-se em decrscimo. Mais de 83% da oferta foi absorvida

  • 19

    pelo mercado interno. A ABEF (2011) menciona que as exportaes de carne de frango

    somaram 3,63 milhes de toneladas em 2009, o que representou uma queda de 0,3% em

    relao aos embarques de 3,64 milhes de toneladas efetuados entre janeiro e dezembro de

    2008. A receita cambial teve uma queda mais acentuada, de 16,33%, ao somar US$ 5,8

    bilhes, contra os US$ 6,9 bilhes observados no ano anterior. O setor exportador de carne de

    frango foi impactado principalmente pela retrao da economia mundial devido crise

    financeira internacional com a reduo de preos e de encomendas de clientes importantes

    como Rssia, Japo e Venezuela, e pela valorizao do real frente ao dlar americano.

    Neste estudo, a unidade de anlise a agroindstria pertencente ao segmento do

    agronegcio/frigorficos, e o estudo de caso utilizou as unidades industriais da diviso Sunos

    e Aves do Grupo estudado1 localizadas no Brasil como elementos da amostra.

    De qualquer forma considera-se que independente do setor de atuao das empresas,

    as estratgias ambientais consistem em aes que as empresas tomam em resposta s presses

    externas e internas. A implantao de estratgias ambientais torna-se um instrumento que

    objetiva a melhoria contnua por meio de novos procedimentos, mecanismos, arranjos e

    padres comportamentais menos nocivos ao meio ambiente. Sobretudo, seja pela melhoria

    dos processos operacionais e administrativos, pela incorporao de tecnologias limpas ou no

    reaproveitamento dos resduos, as organizaes podem obter economias que no teriam sido

    conquistadas caso no estivessem incorporando a varivel ambiental na estratgia de negcios

    da organizao. Para viabilizar a estratgia ambiental na empresa torna-se necessrio

    mobilizar recursos, que por sua vez, corroboram para a obteno de um desempenho

    econmico e ambiental.

    Considerando o contexto exposto, tem-se como tema de pesquisa da presente tese:

    estratgia ambiental e desempenho econmico e ambiental do setor agroindustrial sob a tica

    dos recursos, avaliando como as diferentes configuraes de variveis interferem no

    desempenho das organizaes. Nesse enredo, se parte da seguinte pergunta de pesquisa:

    Como seria um Framework de anlise que integre a relao existente entre estratgia

    ambiental, desempenho econmico e ambiental em unidades industriais de frigorficos?

    Foram estabelecidas as seguintes hipteses para validao nas unidades fabris do

    frigorfico pertencentes a diviso sunos e aves do Frigorfico:

    Hiptese 1: Quanto mais evoludas as estratgias ambientais, mais recursos

    tangveis so mobilizados e melhor o desempenho econmico e ambiental.

    1 Neste trabalho a Empresa estudada ser denominada empresa X.

  • 20

    e,

    Hiptese 2: Quanto mais evoludas as estratgias ambientais, mais recursos

    intangveis so mobilizados e melhor o desempenho econmico e ambiental.

    Por conseguinte, as variveis chaves do presente estudo consistem nas estratgias

    ambientais, no desempenho e nos recursos vislumbrados sob a tica da RBV. Diante disso,

    essa tese procura realizar uma anlise que apresente um olhar sobre os aspectos econmicos e

    ambientais por meio da adoo de uma abordagem que faz uso das estratgias ambientais para

    vislumbrar um caminho alternativo de produo para a empresa e de desenvolvimento para as

    regies, propondo um Framework de Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e

    Desempenho de Organizaes (FAREADO). Para operacionalizar o trabalho, foram

    estabelecidos objetivos direcionadores, conforme apresentado a seguir.

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.2.1 Objetivo Geral

    - Propor e demonstrar a aplicabilidade de um Framework de anlise que evidencie o

    relacionamento entre recursos organizacionais, estratgia ambiental e desempenho econmico

    e ambiental de empresas.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    - Elaborar os pressupostos que serviro de estrutura para o FAREADO de como

    estratgias ambientais afetam a relao entre recursos tangveis e intangveis e o desempenho

    econmico e ambiental das organizaes;

    - Definir as tipologias de estratgia ambiental vigente nas organizaes que faro parte

    do Framework de Anlise a ser proposto;

    - Especificar os recursos tangveis e intangveis usados pelas organizaes para

    estabelecer estratgias ambientais;

    - Especificar os indicadores de desempenho econmico e ambiental que evidenciaro

    as relaes analisadas;

    - Identificar as relaes que se estabelecem entre estratgias ambientais e recursos

    mobilizados para implement-las na organizao;

  • 21

    - Exemplificar a aplicabilidade do Framework de anlise sobre a vinculao entre

    recursos, estratgia ambiental e desempenho econmico e ambiental (AREADO), utilizando

    como estudo de caso unidades industriais de uma diviso (Sunos e Aves) de um Grupo

    empresarial do setor de frigorficos localizada no Brasil.

    1.3 RELEVNCIA, ORIGINALIDADE E CONTRIBUIES DA PESQUISA

    A relevncia desta tese est em propor e demonstrar a aplicabilidade do Framework

    de anlise que pretende elucidar como as estratgias ambientais se relacionam com recursos e

    desempenho organizacionais. Trata-se de um objeto de investigao original, haja vista que

    uma lacuna identificada em muitos estudos como colocado anteriormente. Considera-se que o

    objeto de estudo (frigorficos) e o contexto para a conduo da pesquisa (Brasil) permitem

    gerar um avano na fronteira do conhecimento. Se trata de um setor em que poucos estudos

    foram desenvolvidos sob a tica recursos, meio ambiente e desempenho. Cita-se apenas

    Amaral (2003), Arajo, Bueno e Mendona (2007) e Alperstedt, Quintella e Souza (2010),

    mas que no investigaram a relao entre recursos, estratgia ambiental e desempenho. Seus

    escopos estiveram relacionados respectivamente a elaborao de uma proposta de modelo de

    relatrio de sustentabilidade empresarial que possa ser utilizado pela indstria de petrleo

    brasileira e internacional; anlise da sustentabilidade empresarial em um frigorfico de carne

    bovina; e investigao acerca dos fatores determinantes das estratgias de gesto ambiental

    das empresas industriais catarinenses pertencentes ao complexo florestal,

    eletrometalmecnico, txtil, agroindutrial, tecnolgico e mineral.

    No contexto internacional destacam-se os estudos acerca de estratgias ambientais e

    desempenho desenvolvidos por Darnall e Sides (2008), Melnyc, Soufre e Calantone (2003),

    Sharma e Sharma (2011), mas enquanto alguns identificaram relaes positivas entre eles

    outros contradizem estes resultados. Por exemplo, Darnall e Sides (2008) evidenciaram que

    empresas no participantes de programas ambientais voluntrios melhoraram seu desempenho

    7,7% acima dos participantes. Ainda, os no participantes melhoraram seu desempenho no

    auto-controle 24% a mais que os participantes, enquanto aqueles que possuam a ISO 14.001

    implantada apresentaram resultados de desempenho inconclusivos e que demandam maiores

    estudos para aferio de concluses. J Melnyc, Soufre e Calantone (2003) avaliaram a

    diferena existente no desempenho de empresas que possuem um sistema de gesto ambiental

    formal (certificado) em detrimento daquelas que no esto certificadas. Os resultados

    demonstraram que as empresas que possuem um SGA formal percebem os impactos alm da

  • 22

    reduo da poluio e vislumbram um impacto positivo no desempenho de vrias dimenses

    operacionais. Alm disso, a experincia com a certificao ISO 14.001 ao longo do tempo tem

    um impacto maior na seleo e uso de opes ambientais. Nesta vertente, Sharma e Sharma

    (2011) verificaram que trs fatores influenciam na deciso de possuir uma estratgia

    ambiental proativa, sendo: a) crenas e valores da famlia direcionados ao meio ambiente; b)

    percepo de prevalecer aspectos e normas sociais em detrimentos de utilizar a empresa como

    um veculo para preservao ambiental; c) a extenso do controle do comportamento

    percebido, ou seja, se as aes ambientais geram reputao para a empresa.

    Esta tese apresenta como contribuio emprica a verificao da efetividade dos

    investimentos ambientais das organizaes despendidos com base em suas estratgias

    ambientais e seu impacto no desempenho. Quanto contribuio terica, o presente trabalho

    contribui para a literatura por utilizar a Viso Baseada em Recursos ou Resource Based View

    como um processo de mediao nesta relao. Portanto, foi criado um Framework de Anlise

    que permite vislumbrar se diferentes configuraes de estratgias ambientais geram variao

    no desempenho econmico e ambiental, considerando a heterogeneidade de recursos das

    organizaes. Alm disso, a seleo do Brasil como contexto para a conduo da pesquisa

    emprica e a escolha do setor de frigorficos, empresa Multinacional X e Diviso Sunos e

    Aves, permite retratar a realidade da primeira multinacional brasileira do setor do

    agronegcio, empresa internacionalizada e que possui uma contribuio econmica e social

    significativa.

    A construo do Framework de Anlise proposto aborda aspectos relacionados ao

    meio ambiente e aos recursos, como por exemplo, as peculiaridades geogrficas, a cultura, o

    sistema de produo, o negcio, entre outros, dando nfase a fatores preponderantes na

    tomada de deciso gerencial. Estas anlises so consideradas primordiais para um gestor que

    visa adotar estratgias que sejam condizentes com as tendncias de mercado, as exigncias

    dos consumidores e a longevidade da sua organizao. E, sobretudo, que lhe tragam um

    retorno econmico otimizado. Considerando o exposto, este trabalho apresenta a seguir a

    fundamentao terica que versa sobre a gesto ambiental empresarial e as estratgias

    ambientais; as tipologias de estratgias ambientais; a Viso da Empresa Baseada em Recursos

    (RBV), e o desempenho econmico-financeiro e ambiental. Logo aps, apresenta-se o

    captulo 3 que descreve a metodologia do trabalho, subdividida em tipo de pesquisa, estratgia

    de pesquisa, delimitao do estudo e mtodos de coleta e de anlise dados. O Captulo 4 versa

    sobre a apresentao e anlise dos dados. O captulo 5 apresenta as consideraes finais do

    estudo e seguido pelas referncias e apndices.

  • 23

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    Este captulo apresenta uma reviso de literatura publicada principalmente a partir dos

    anos 90 (1990-2011) que sustenta teoricamente as variveis escolhidas para a consecuo do

    presente estudo. No que diz respeito s estratgias ambientais, a reviso de literatura se inicia

    apresentando a evoluo da gesto ambiental, a taxonomia de gesto ambiental, aspectos

    conceituais, caractersticas e o trabalho seminal de Hart (1995) pautado na Resource Based

    Review Natural e culmina em outros estudos que foram desenvolvidos a partir deste ou com

    princpios similares aos do autor, delineando o relacionamento entre contexto organizacional,

    investimentos que influenciam os recursos, desenvolvimento de capacidades especficas da

    firma e obteno de vantagem competitiva. Acerca da RBV foi elaborada a descrio da

    evoluo dessa abordagem, da discusso efetuada pelas duas escolas, a processual e a

    estrutural, os diferentes conceitos, caractersticas e algumas lacunas dos estudos. Em relao

    ao desempenho organizacional descreve-se o conceito, indicadores de desempenho e

    diferentes abordagens de mensurao do mesmo.

    2.1 CONTEXTO AMBIENTAL E AS ESTRATGIAS AMBIENTAIS

    A preocupao com os recursos ambientais no recente e tem sido objeto de

    discusses e recorrentemente citada em diversos fruns, congressos e reunies internacionais

    que foram desenvolvidas nos cinco continentes do mundo. Conforme Jabbour e Santos (2006)

    o tema j foi abordado pelo Clube de Roma, um rgo colegiado liderado por empresrios, e

    resultou na obra Limites do Crescimento (1972) que descreveu um cenrio trgico para o

    futuro mundial, caso a sociedade mantivesse os padres de consumo da poca. No mesmo ano

    da publicao (1972) em Estocolmo, Sucia, foi realizada a primeira conferncia das Naes

    Unidas para o Meio Ambiente que ampliou o debate sobre a questo (MEADOWS et al,

    1972). No ano de 1987 foi publicado o Relatrio Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1991),

    ao qual foi imputado a responsabilidade de disseminar o conceito de desenvolvimento

    sustentvel, que para a Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento passa a

    ser aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de

    geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades(CMMAD, 1988, p. 46). Para ser

    sustentvel, o desenvolvimento precisa levar em conta fatores sociais e ecolgicos, assim

    como econmicos; as bases dos recursos vivos e no-vivos; as vantagens de aes

    alternativas, a longo e a curto prazos (STARKE, 1991, p. 9).

  • 24

    Isso evidencia uma preocupao digna no sentido de que mesmo sendo necessrio

    utilizar os recursos naturais para a sobrevivncia da humanidade, esta deve deixa-los em

    condies de serem utilizados pelas futuras geraes.

    As discusses sobre a temtica vo se consolidando e assumindo uma escala mundial e

    no ano de 1992 ocorre a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida popularmente como ECO Rio-92, a qual teve como

    intuito reforar a necessidade de a sociedade como um todo engendrar o desenvolvimento

    sustentvel. Para tal o ensejo basilar alicera-se em mudanas paradigmticas no modo de

    conceber e implementar aes econmicas, polticas e sociais, que levem em considerao os

    impactos dessas atividades sobre o meio ambiente (JABBOUR; SANTOS, 2006). Os autores

    supracitados colocam que como uma das consequncias da ampliao do debate, em 1997, na

    cidade de Kioto, entra em pauta a questo da emisso de gases poluentes e o esforo que

    deveria ser despendido pela sociedade para evitar o aquecimento global com a elaborao de

    um protocolo de intenes a ser assinado pelos pases e que at hoje no conseguiu ser

    plenamente estabelecido e no teve a maior parte de suas metas atingidas. No ano de 2002 foi

    feita a Conferncia das Naes Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sustentvel,

    popularmente conhecida como Rio + 10. Teve como resultados um plano de ao factvel

    no que se refere minimizao dos impactos de diversos problemas ambientais de carter

    global. Como medidas detalhadas colocou-se como metas o desejo de aumentar a proteo da

    diversidade, o acesso gua potvel, ao saneamento, ao abrigo, energia, sade e

    segurana alimentar. Ainda, o combate fome crnica, desnutrio, , aos conflitos armados,

    ao narcotrfico, ao crime organizado, corrupo, aos desastres naturais, ao trfico ilcito de

    armas, ao trfico de pessoas, ao terrorismo, xenofobia, s doenas crnicas tramissveis,

    intolerncia e incitao a dios raciais, tnicos e religiosos.

    Tais mobilizaes sociais evidenciam que a varivel ambiental passa a ser uma

    premissa includa na pauta das reunies de lideranas comunitrias dos diferentes pases, a

    fim de buscar alternativas de produzir com sustentabilidade e manter um legado ambiental

    adequado para o futuro. Segundo Motta e Rossi (2003) essa alterao paradigmtica

    pressupe que o desenvolvimento sustentvel seja garantido pela ao conjunta entre atores

    polticos, econmicos e sociais e a cooperao entre todas as esferas sociais e produtivas.

    Ainda que em atividade conjunta consigam explorar o meio ambiente com equidade e sem

    assumir apenas os aspectos econmicos como sendo preponderantes, mas mantendo equilbrio

    entre a trade econmico, social e ambiental. Dessa forma, cabe s empresas grande parcela de

    responsabilidade para o alcance do desenvolvimento sustentvel.

  • 25

    Nesse sentido, Slack et al (2002) destacam que a magnitude do impacto ambiental est

    diretamente relacionado quantidade da populao que consome, ao impacto ambiental do

    processo produtivo e do produto consumido pela populao. Dahlmann, Brammer e

    Millington (2008) destacam que as questes gerenciais que se coadunam com aspectos do

    meio ambiente tm aumentado nos ltimos anos. A internalizao da varivel ambiental no

    mbito dos negcios decorrente da sua considerao para estabelecer a estratgia corporativa

    da empresa est associada natureza do negcio da empresa (DONAIRE, 1994). Corazza

    (2003), salienta que depende tambm do grau de conscientizao da alta administrao em

    matria ambiental.

    As empresas de porte maior, normalmente causadoras de maior impacto ambiental, e

    as mais internacionalizadas tendem a ser mais cobradas pela sociedade e, por isso, procuram

    adotar prticas ambientais mais adequadas e inclusive estabelecer uma poltica de

    sustentabilidade para obteno da melhoria do desempenho ambiental e econmico.

    Portanto, a gesto ambiental um aspecto que tem sido inserido nas aes

    desenvolvidas por organizaes de setores distintos, sendo que o Sistema Integrado de Gesto

    Ambiental, conhecido por Modelo Winter foi desenvolvido em 1972 pela empresa Ernst

    Winter. Nas dcadas de 80 e 90 muitos outros sistemas surgiram sendo que o Responsible

    Care Program, a BS 7750 e o EMAS foram os que mais contriburam para o surgimento da

    norma ISO 14001(CAMPOS, 2001). A ISO 14.001 consiste na International Standardization

    of Organization e foi importante o seu surgimento por que ela uma norma

    internacionalmente aceita, que define os requisitos para estabelecer e operar um Sistema de

    Gesto Ambiental.

    A partir desse momento, diversas organizaes passaram a desenvolver as suas aes

    gerenciais com vistas a compatibilizar o sistema de produo com questes voltas ao meio

    ambiente. E isso se tornou uma prtica valorizada pela sociedade e principalmente pelos

    clientes.

    Esta validao da questo pelos diversos atores sociais fez nascer na literatura uma

    srie de taxonomias de gesto ambiental empresarial e de estratgias ambientais. Nesse

    sentido, Rohrich e Cunha (2004) conceituam gesto ambiental como sendo o conjunto de

    polticas e prticas administrativas e operacionais, que levam em considerao a sade, a

    segurana das pessoas e a proteo do meio ambiente por meio da eliminao ou mitigao

    dos impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantao, operao,

    ampliao, realocao ou desativao de empreendimentos e atividades, incluindo-se todas as

    fases do ciclo de vida do produto. Seiffert (2005), por sua vez, descreve a gesto ambiental

  • 26

    como sendo um conceito que engloba as atividades de planejamento e organizao do

    tratamento dos aspectos ambientais pela empresa, objetivando o alcance de metas ecolgicas

    especficas.

    Dentre as investigaes possvel citar os trabalhos de Hart (1995), Porter e Van der

    Linde (1995a), Berry e Rondinelli (1998), Aragn-Correa e Sharma (2003), Epstein e Roy

    (2003). Em parte, tais pesquisas so decorrentes das mudanas significativas na legislao

    ambiental de alguns pases, regulao e taxao associadas com mudanas em direo a mais

    coerente resposta internacional s questes ambientais, relacionadas a questes climticas e

    baixa qualidade do ar e da gua. Incentivos comerciais por parte da ONU tambm contribuem

    para a melhoria da eficincia ambiental das empresas e para a eliminao de resduos, pois

    esta surge na forma de altos custos de entrada e reduz o nvel de competio, devido

    intensificada interdependncia da economia global e rpida industrializao entre economias

    de transio, condies que seriam minimizadas pelos incentivos.

    Ainda, h aqueles que elaboram anlises empricas do relacionamento entre

    desempenho financeiro corporativo e desempenho ambiental, como o caso de Bansal e

    Bogner (2002), Christmann (2000), Clemens (2005), Hillary (1998, 2000), Sharma e

    Vedrenburg (1998). Tais iniciativas tm contribudo para o crescimento da adeso gesto

    proativa das empresas no que tange aos impactos ambientais e pode atrair consumidores

    interessados nas questes ambientais. Ao mesmo tempo, evitam custos de no conformidade

    com a legislao ambiental, contribuindo na melhoria da eficincia dos recursos e conduzem a

    um processo de contnua aprendizagem para mltiplos stakeholders, o que souberam

    desenvolver de maneira eficiente os estudos de Porter e Van der Linde (1995a, 1995c).

    Dahlmann, Brammer e Milington (2008) destacam que outros trabalhos empricos

    contribuem com a identificao de benefcios financeiros, de melhoria do desempenho

    ambiental e do nfase a esferas muito significativas, a exemplo dos aspectos de reputao e

    consequncias penais da no conformidade com leis e regulamentos.

    A investigao acerca da temtica ambiental evidenciou que essa rea tem sido

    associada ao desempenho, ao uso dos recursos e s capacidades internas nos estudos

    desenvolvidos na ltima dcada. Essa evidenciao permite a realizao da inferncia de que

    as organizaes olham para a estrutura organizacional existente para identificar as alternativas

    disponveis alocao dos recursos para que consigam desenvolver uma gesto ambiental que

    atenda aos requisitos legais, que seja eficiente e que satisfaa os stakeholders que interagem

    com a mesma. Entretanto, Dahlmann, Brammer e Milington (2008) afirmam que o nvel em

    que as empresas tm integrado a preocupao com o meio ambiente nas prticas gerenciais

  • 27

    muito diversificado e heterogneo, constituindo-se uma importante barreira ou obstculo na

    implementao de estratgias ambientalmente responsveis.

    Considerando o teor conjunto - varivel ambiental, sistema de gesto ambiental,

    estratgias ambientais, presses ambientais e prticas ambientais emergente das pesquisas

    descritas anteriormente, possvel inferir que tais investigaes fornecem razes convincentes

    para as empresas aquelas comprometidas com o conceito de sustentabilidade, de gerenciar

    de maneira sria os seus impactos ambientais.

    A heterogeneidade na adoo de estratgia tem sido percebida como estgios

    evolutivos da gesto ambiental como proposto por Maimon (1994), Donaire (1994), Sanches

    (2000), Corazza (2003), Rohrich e Cunha (2004) e Barbieri (2004). Percebe-se, que so

    adotadas formas de classificao com dois ou trs nveis, para caracterizar a preocupao da

    empresa com os aspectos ambientais. Jabbour e Santos (2006) relatam que a difuso das

    taxonomias de gesto ambiental ocorreu com base na divulgao dos trabalhos de Carrol

    (1979) e de Wartick e Cochrane (2000), que propuseram a anlise da responsabilidade social

    da empresa luz de escalas evolutivas, o que posteriormente foi extrapolado para vislumbrar

    de maneira analtica a gesto ambiental empresarial.

    Jabbour e Santos (2006) mapearam as diferentes formas de relao entre empresa e

    meio ambiente, consistindo em uma sistematizao das formas de integrao da varivel

    ambiental na organizao. As mesmas foram agrupadas e apresentadas no Quadro 1.

    Quadro 1: Taxonomias de Gesto Ambiental Autores Proposies de Estgios Evolutivos da Gesto Ambiental

    Maimon (1994) Descreve trs estgio de resposta empresarial crescente presso social em matria

    ambiental. O primeiro estgio refere-se adaptao da empresa regulamentao ou

    exigncias provindas do mercado, partindo para a incorporao de equipamentos de

    controle de poluio nas sadas, sem modificar a estrutura produtiva e o produto (as

    tecnologias conhecidas como fim de processo (end of pipe). O segundo estgio consiste

    na adaptao das atividades empresariais regulamentao vigente e as exigncias de

    mercado relacionadas questo ambiental, procedendo a modificao de processos e de

    produtos (incluindo as embalagens), buscando a preveno da poluio e problemas que

    prejudiquem a viabilizao e implantao da estratgia empresarial. O terceiro estgio

    consiste na antecipao aos problemas ambientais futuros, por meio da adoo de um

    comportamento pr-ativo e de busca pela eco-eficincia empresarial, cujo princpio

    integrar a funo ambiental ao planejamento estratgico da empresa.

    Donaire (1994) Analisa a resposta da indstria questo ambiental por meio de trs estgios evolutivos.

    A primeira fase conhecida como controle ambiental de sada, a exemplo das chamins,

    as redes de esgoto, mantendo a estrutura produtiva j existente, o que nem sempre

    apresenta resultados almejados, j que os benefcios decorrentes dessa alternativa so

    muitas vezes contestados pela sociedade civil e pelo prprio empresariado. Na segunda

    fase, criada com base na insatisfao social, a varivel ambiental integrada nas prticas

    e processos produtivos, sendo considerada atividade da funo de produo. A terceira

    fase foi criada com base na competitividade centrada no desempenho ecolgico do

    produto e denominada de controle ambiental no mbito dos negcios, chamada de

    controle ambiental na gesto administrativa. Nessa fase a gesto ambiental deixa de ser

  • 28

    uma exigncia punida por multas e sanes e passa a ser vislumbrada como

    oportunidades e ameaas, em que as consequncias tm impacto sobre a sobrevivncia da

    empresa.

    Sanches (2000) Descreve dois tipos de alternativas para a insero da varivel ambiental dentro da

    empresa. O tipo um compreende a dimenso ambiental como um fator gerador de custos

    operacionais extras, como elemento de entrave expanso dos negcios da empresa. No

    tipo dois ocorre a gesto ambiental proativa, na qual a dimenso ecolgica vislumbrada

    como uma oportunidade real de gerao de lucros, mediante a incorporao de um grupo

    tcnico especfico e de um sistema gerencial especializado. Cria-se um departamento

    ambiental na estrutura da organizao, o qual promove um melhor relacionamento da

    empresa com o ambiente natural, por meio de avaliao e controle dos impactos

    ambientais, mobilizando todos os setores da organizao em uma atitude pr-gesto

    ambiental.

    Corazza (2003) Descreve que a estrutura da unidade pode ser alterada de duas maneiras. A primeira

    consiste na integrao pontual da varivel ambiental, pela criao da funo, cargo ou

    departamento ambiental, corroborando a centralizao dessa iniciao funcional.

    Todavia, essa alternativa pode ser pouco eficiente, pois exclui a possibilidade de

    desenvolvimento proativo da perspectiva ecolgica. A segunda prev a integrao

    matricial da gesto ambiental a partir da mobilizao dos setores internos da organizao,

    necessrios ao planejamento, execuo, reviso e desenvolvimento da poltica ambiental,

    envolvendo as reas de recursos humanos, produo, gesto e pesquisa e

    desenvolvimento. As organizaes que almejam a excelncia em adequao ambiental

    procuram fazer essa integrao, comumente impulsionada pela implantao de um

    sistema baseado em normas da srie ISO 14.000, que orientam a empresa para a busca

    contnua e crescente da qualidade ambiental. Entretanto, a integrao matricial da

    dimenso ambiental torna-se exequvel quando tangencia as prticas administrativas da

    cpula empresarial, sendo um fator determinante da estratgia organizacional e do seu

    desempenho.

    Rohrich e Cunha

    (2004)

    Com base na pesquisa desenvolvida em 37 empresas brasileiras, concluram que a

    evoluo da gesto ambiental ocorre em trs estgios. O primeiro estgio denominado

    de controle, busca-se monitorar a poluio e atender s exigncias legais, estando a

    gesto ambiental restritas s decises de manufatura. Portanto, engloba as empresas que

    adotam as prticas mais simples de gesto ambiental. No segundo estgio denominado de

    preveno, a varivel ambiental introduzida nas decises de compra de matrias-primas

    e seleo de fornecedores. As auditorias so responsveis pelo controle do desempenho

    ambiental da empresa, havendo uma preocupao com o desempenho ecolgico de

    processos e produtos. O terceiro estgio denominado de proatividade, desenvolvido sob

    a gide da alta gerncia, que toma a gesto da varivel ambiental como dimenso

    estratgica e fornece autoridade formal para os responsveis poderem agir em todos os

    setores da empresa. Enquadram-se nessa categoria as empresas que adotam as melhores

    prticas de gesto ambiental.

    Barbieri (2004) Descreve trs tipos de abordagem ambiental na empresa. A primeira abordagem

    conhecida como controle da poluio, haja vista que os esforos organizacionais so

    orientados para o cumprimento da legislao ambiental e atendimento das presses da

    comunidade, sendo reativa e vinculada apenas rea produtiva. Na segunda abordagem

    ocorre a preveno, havendo uma preocupao com o uso eficiente dos insumos, a

    preocupao ambiental mais incisiva na rea manufatureira, mas comea a expanso

    para todas as reas da organizao. Na terceira abordagem a questo ambiental se torna

    estratgica para a empresa e as atividades ambientais encontram-se disseminadas pela

    organizao. Fonte: elaborado a partir de Jabbour e Santos (2006) e Cunha et al (2009)

    A partir desses estudos, Jabbour e Santos (2006) colocam que as empresas integram a

    questo ambiental s suas prticas gerenciais em trs estgios evolutivos, assim denominados:

    (i) especializao funcional da gesto ambiental; (ii) integrao interna da dimenso

    ecolgica; e (iii) integrao externa da varivel ecolgica, que correspondemas abordagens

  • 29

    reativa, preventiva e proativa. O comportamento reativo foi amplamente descrito por Maimon

    (1996) e ocorre quando a internalizao da varivel ambiental orientado para o atendimento

    de demandas mercadolgicas e adequao a legislao ambiental vigente. Tal comportamento

    adotado por organizaes que no consideram a varivel ambiental como oportunidade de

    negcios futuros, reagindo lentamente s mudanas no ambiente de negcios.

    Na abordagem preventiva h a determinao de atividades ambientais pautada nos

    objetivos de desempenho da empresa, principalmente no que se relaciona com a preveno da

    poluio. Nesse estgio, o desempenho ambiental da empresa no ainda tratado como fator

    estratgico, e os objetivos de preveno so estabelecidos sem a participao efetiva da rea

    ambiental (SEIFFERT, 2005). Na abordagem proativa as questes ambientais no so

    consideradas apenas problemas a serem evitados, mas elementos geradores de vantagem

    competitiva. Os principais autores dessa abordagem so Maimon (1994), Donaire (1994),

    Sanches (2000), Rohrich e Cunha (2004) e Barbieri (2004).

    Conforme Sanches (2000) as empresas industriais passam a adotar posturas proativas

    em relao ao meio ambiente por meio da incorporao de fatores ambientais nas metas,

    polticas e estratgias da empresa. Para fazer isso, levam em considerao os impactos

    ambientais ocasionados pelo processo produtivo e tambm dos seus produtos. A organizao

    que adota uma postura proativa vislumbra a proteo ambiental como fator integrante dos

    objetivos de negcios da empresa, com possibilidades de gerao de lucro, em detrimento da

    viso tradicional de ser um adicional de custo. As estratgias ambientais proativas na forma

    de investimentos em tecnologias de preveno da poluio, mesmo quando se trata de

    investimentos reativos em controle da poluio, somente levam a melhoria competitiva e do

    ambiente natural quando eles esto associados com o desenvolvimento de determinadas

    estratgias de gesto e processos de manufatura.

    O meio ambiente passa a ser uma questo estratgica para os negcios da empresa, e,

    conforme Buchholz (1992) gera oportunidades e impacto significativo no crescimento, na

    rentabilidade ou na sobrevivncia dos negcios. Christmann (1997) constatou em seu estudo

    de tese que competncias verdes de empresas especficas definem o processo de inovao e

    capacidades de implementao, moderando o relacionamento entre estratgias ambientais e

    competitividade. Posto isso, conclui que as melhores prticas de gesto ambiental no

    contribuem de forma indiscriminada na vantagem competitiva de todas as firmas. Estas

    precisam escolher estratgias ambientais que se ajustam com suas estratgias de negcios.

    Christmann (2000) e Shrivastava (1995) analisaram os resultados de estratgias

    ambientais proativas e argumentam que as mesmas contribuem para a melhoria da vantagem

  • 30

    competitiva por reduzirem custos e melhorarem o quesito diferenciao. Gilbert e Birnbaum

    More (1996) destacam que alguns estudos tm mostrado que os pioneiros ambientais

    usufruem de uma melhor tecnologia de mercado e de desempenho empresarial graas

    vantagem de adoo precoce.

    Sobretudo, fundamental destacar que sob o prisma de estratgia proativa, as aes

    ambientais geram uma nova perspectiva de agenda de negcios. Esta, conforme Sanches

    (2000) pode ser estabelecida considerando o meio ambiente como base de negcios ou de

    desenvolvimento de ideias, sendo que o mesmo apresenta oportunidades e ameaas para os

    interesses dos negcios. Alm disso, com base no meio ambiente possvel identificar novas

    oportunidades para o desenvolvimento de processos, produtos e mercados. A base para o

    desenvolvimento de ideias traz novas formas de pensar e questes como o desenvolvimento

    sustentvel e a responsabilidade ambiental.

    Essa nova dimenso engloba o estabelecimento de uma responsabilidade ambiental

    por processos e produtos que envolve um relacionamento diferente, compartilhado, com

    fornecedores e consumidores, no que se refere preveno da poluio, minimizao dos

    resduos e proteo dos recursos naturais. Sanches (2000) destaca que a essas questes so

    adicionados aspectos de bem estar dos trabalhadores, da comunidade e das geraes futuras.

    Pautado nesse contexto, as empresas industriais precisam utilizar horizontes de longo prazo e

    vises mais amplas de seus processos de desenvolvimento de produtos e anlise de

    desempenho. Sobretudo, esse olhar requer um novo conjunto de valores, incluindo polticas e

    metas que incorporem a dimenso ambiental na organizao.

    Para chegar nesse nvel da estratgia ambiental da organizao necessrio mudar,

    conforme Sanches (2000), iniciando pelo ambiente interno da empresa. Tais mudanas

    englobam o reconhecimento da natureza interdisciplinar e interfuncional dos problemas

    ambientais, o que exige que as reas funcionais da organizao interajam e se integrem, em

    termos de comunicao, de autoridade e de fluxo de trabalho. Igualmente, elas requerem

    novas maneiras de se relacionar com os grupos de interesse da organizao, como

    trabalhadores, consumidores, fornecedores, agncias governamentais, comunidades, etc,

    dando-lhes sinais de que esforos esto sendo efetuados para atender as suas exigncias e para

    prever demandas futuras. Em decorrncia, se faz necessria uma estrutura que suporte essa

    interao, integrao e comunicao, interna e externa.

    Ainda, h uma necessidade de gerar mudanas atinentes busca de novas

    informaes, seja sobre os impactos ambientais de processos e de produtos, atuais e futuros

    ou de conceitos, de ferramentas, de tcnicas, de tecnologias e de sistemas, para alinhar a

  • 31

    organizao tanto s exigncias como s tendncias externas. Nesse enredo, necessrio

    aceitar pensamentos e anlises que comportem as ambiguidades, complexidades e

    interdependncias que afetam questo ambiental e implementar um sistema de gesto que

    comporte as novas tarefas, assim como talentos necessrios para gerenciar esta dimenso. A

    nova postura ser mais facilmente viabilizada por meio de distintas estratgias ambientais.

    Estas na viso de Aragn-Correa e Sharma (2003) so as estratgias da organizao na

    gesto da interface entre seus negcios, o ambiente natural e as regulaes ambientais e

    devem ser moldadas, segundo Itami (1994), pelos clientes, concorrentes e pela tecnologia.

    Porm, para que isso ocorra empresa deve se articular internamente e ter cincia de que o

    nvel de recursos e o clima organizacional iro determinar a sua capacidade para implementa-

    las.

    Logo, as empresas podem viabilizar a incorporao da varivel ambiental estratgia

    de negcios por meio da mobilizao e combinao dos seus recursos e capacidades, de modo

    a extrair vantagem competitiva. Barney (1991) apresenta outra contribuio, ao aferir que a

    organizao precisa efetuar a anlise das oportunidades e ameaas em seu ambiente

    competitivo. Dentro deste ambiente, cada empresa desenvolve uma base estvel de recursos, a

    partir da qual as estratgias so formuladas.

    As estratgias ambientais so classificadas em diferentes tipologias, como por

    exemplo as que foram mapeadas, quanto a fase de evoluo ambiental (fase de politizao,

    legislativa e litigao) (SHARMA; PABLO; VEDRENBURG, 1999); ambientalismo

    industrial, ambientalismo regulatrio, ambientalismo como responsabilidade social e

    ambientalismo estratgico (HOFFMAN, 1999); postura reativa, preveno poluio e

    perspectiva estratgica (COTRIN; MARTINELLI, 1999); especializao funcional,

    integrao interna e integrao externa ou integrao estratgica (JABBOUR; SANTOS,

    2006); quanto s respostas s presses ambientais (grupo proativo, grupo reativo, grupo

    estratgico e grupo preveno as crises) (RONDINELLI; VASTAG, 1996); defensoras de

    portflio, as escapistas, as inativas ou indiferentes e as ativistas (BROCKHOFF;

    CHAKRABARTI, 1999); estratgia ambiental lobista ou passiva, reativa, estratgia verde

    antecipativa e estratgia verde orientada inovao (AZZONE, BERTELL; NOCI, 1997);

    modelo de conformidade e o modelo estratgico; as estratgias reativas e as proativas; o

    greening reativo deliberado, o greening pr-ativo; o greening no realizado e o greening ativo

    emergente (WINN; ANGELL, 2000) e quanto ao foco das estratgias ambientais (as

    direcionadas a processos (BROCKHOFF; CHAKRABARTI, 1999) e as direcionadas a

    produtos (NASCIMENTO, 2001)) (SOUZA, 2002; CUNHA et al, 2009).

  • 32

    Cunha et al (2009) afirmam que os diferentes modelos e tipologias de gesto

    ambiental foram criados por causa das diferenas nos motivos que levaram as organizaes a

    incorporarem a varivel ambiental em sua rotina. As tipologias so sistematizadas no Quadro

    2 e consistem naquelas mapeadas em um recorte temporal compreendido entre 1976 e 2007.

    Quadro 2: Modelos e tipologias de estratgias ambientais Autores Classificao Descrio da Tipologia

    Grupos de Tipologias Quanto Fase de Evoluo Ambiental

    Ackerman e

    Bauer

    (1976)

    - Percepo

    - Compromisso

    - Ao

    1) Fase de percepo: a alta direo visualiza a necessidade de contemplar no

    planejamento as variveis ambientais que podem afetar a empresa em sua

    poltica organizacional e passa a considerar a necessidade de pessoal

    especializado para compor uma equipe capaz de tratar destas atividades.

    2) Fase de compromisso: a empresa solicita assessoria especfica para apoio

    na conduo das aes relativas s variveis ambientais. A partir disso, a

    organizao desdobra seus objetivos para os demais nveis e prepara o

    caminho para uma nova fase, atravs da disseminao do comprometimento

    organizacional.

    3) Fase da ao: caracteriza-se pelo amadurecimento e busca de aes

    concretas em atividades produtivas e administrativas, na modificao de

    processos e produtos com aporte de recursos, de forma que a empresa passe a

    incorporar as variveis ambientais na estrutura organizacional e em sua

    cultura.

    Sharma,

    Pablo e

    Vendrenburg

    (1999)

    - Gestao

    - Politizao

    - Legislativa

    - Litigao

    1) Fase de gestao: evoluo embrionria das questes ambientais, pois

    ainda era baixa a preocupao com regulamentao e preservao ambiental.

    2) Fase de politizao: as discusses sobre polticas pblicas e revises de

    regulamentaes passaram a ser intensificadas e as empresas limitavam-se a

    atender a legislao pertinente, mostrando pouco interesse nas questes

    ambientais.

    3) Fase legislativa: se caracterizou por vrios eventos que intensificaram a

    preocupao com o meio ambiente. Sob a influncia de acordos como o

    Protocolo de Montreal, das presses da opinio pblica e das

    regulamentaes, as empresas passaram a entender a necessidade de reduo

    dos riscos ambientais. Esses fatos foram decisivos para a mudana de postura

    das empresas.

    4) Fase de litigao: que consistiu na representao dos interesses em juzo

    relativos a litgio. Nesse perodo as preocupaes pblicas continuaram em

    alta e as regulamentaes foram consolidadas. A partir da, os administradores

    passaram a ser considerados responsveis criminalmente pelos problemas

    ambientais de suas organizaes.

    Hoffman

    (1999)

    Estgio 1

    (1962- 1971) -

    ambientalismo

    industrial

    Estgio 2

    (1971- 1982) -

    ambientalismo

    regulatrio

    Estgio 3

    (1983-1988)

    ambientalismo

    como

    responsabilidade

    social

    Estgio 1 (1962- 1971): chamado de ambientalismo industrial. Em 1960, a

    ateno de indstria para assuntos ambientais era baixa. A organizao focava

    na soluo interna de problemas. Dois eventos foram primordiais para a

    transio: a publicao do livro Silent Spring, de Richard Carson em junho

    de 1962 e, a mortandade de peixes no Rio Mississipi em 1963.

    Estgio 2 (1971- 1982): denominado de ambientalismo regulatrio, foi

    marcado pela celebrao do primeiro Dia da Terra envolvendo 20 milhes de

    pessoas e outro, foi a criao da Agncia de Proteo Ambiental dos Estados

    Unidos (EPA). O enfoque foi dados nas regulamentaes, j que as leis

    estavam se tornando cada vez mais rigorosas.

    Estgio 3 (1983-1988): caracterizou o ambientalismo como responsabilidade

    social. Em 1983, a nomeao de um novo administrador da EPA, pelo

    Presidente dos Estados Unidos da Amrica foi um evento ambiental marcante.

    Esta fase se caracterizou, ainda, pela reduo de poluio e minimizao dos

    resduos pela associao de indstrias para realizao de disposio adequada.

    Estgio 4 (1989-1993): o ambientalismo estratgico, foi caracterizado atravs

    do direcionamento da alta administrao para aes proativas ao meio

  • 33

    Estgio 4

    (1989-1993)

    ambientalismo

    estratgico

    ambiente. Um dos eventos marcantes para a transio foi o derramamento do

    Exxon Valdez em maro de 1989.

    Cotrin e

    Martinelli

    (1999)

    - Postura reativa

    - Preveno a

    poluio e

    - Postura

    estratgica

    1) Postura reativa: no que diz respeito percepo de oportunidades

    estratgicas e operacionais relacionadas gesto ambiental. As empresas

    somente atendem a legislao, buscando minimizar os aspectos e impactos

    ambientais negativos.

    2) Preveno da poluio no processo produtivo: consiste na incorporao de

    medidas de preveno contra a ocorrncia de poluio das etapas de

    produo;

    3) Reconhecimento da perspectiva estratgica perante as questes ambientais:

    caracterizada pela integrao de todas as reas funcionais da empresa e

    aproveitamento das oportunidades da conscincia ambiental dos funcionrios.

    Jabbour e

    Santos

    (2006)

    - Especializao

    funcional

    - Integrao

    interna

    - Integrao

    externa ou

    integrao

    estratgica

    1) Especializao funcional: a empresa se caracteriza por prevenir os

    problemas ambientais, j que estes podem causar restries para a alta

    administrao. A contribuio das atividades da rea de recursos humanos

    para o gerenciamento ambiental desenvolver o profissional, perito em

    controle de poluio e em outras funes pertinentes ao cargo.

    2) Integrao interna do gerenciamento ambiental: a fase na qual o objetivo

    de desempenho da organizao a preveno da poluio. O desempenho

    ambiental ainda no tratado como um fator estratgico e os objetivos so

    geralmente estabelecidos pela administrao, sem a participao do pessoal da

    rea de gesto ambiental. A gesto ambiental ainda baseada em

    regulamentaes e demandas de mercado. Os gerentes ambientais buscam

    ajustar suas polticas e programas estratgia atual do negcio. Assim sendo,

    a varivel ambiental pode ser utilizada no desenvolvimento de alguns produtos

    e processos.

    3) Integrao externa ou estratgica: trata das aes ambientalmente pr-

    ativas, enfocando as oportunidades estratgicas competitivas da organizao.

    Dentre os benefcios desta postura organizacional pode-se citar,

    principalmente, melhor imagem da organizao, renovao dos produtos,

    aumento da produtividade e acesso aos mercados externos.

    Tipologias de Estratgias Quanto s Respostas as Questes Ambientais

    Baumol e

    Oates (1979)

    - Reativo

    - tico ambiental

    1) Reativo: a responsabilidade ambiental e a lucratividade abrem um leque de

    constantes contradies, uma vez que estas empresas valorizam a

    maximizao de lucros em curto prazo de tempo.

    2o) Modelo tico ambiental da organizao: nesta viso a tica ambiental faz

    parte da misso corporativa da empresa em longo prazo, que atua em conjunto

    com a comunidade e movimentos ambientalistas.

    Meredith

    (1995)

    - Estratgia

    reativa

    - Estratgia

    ofensiva

    - Estratgia

    inovativa

    1) Estratgia reativa: caracterizada por atender os requisitos mnimos, ainda

    relutando, em relao legislao ambiental local e ao gerenciamento de

    riscos; e, a implantao de equipamentos de controle de poluio na sada para

    o meio ambiente (end-of-pipe). Esta estratgia no contempla modificaes

    em estrutura produtiva e nos produtos e no reconhece adequadamente a

    relao entre responsabilidade ambiental e maximizao dos lucros. Neste

    caso, os investimentos em melhorias so vistos puramente como despesas.

    2) Estratgia ofensiva: tem como premissas bsicas o atendimento

    preveno da poluio, a reduo do uso de recursos naturais, o cumprimento

    das leis - indo alm dos meros dispositivos legais. Assim sendo, a empresa se

    mostra em processo de mudana de seus processos, produtos e servios,

    antecipando-se aos concorrentes na seleo de matrias primas, nas alteraes

    de embalagens e no estabelecimento de padres industriais, por exemplo. Um

    dos objetivos principais desta fase obter vantagem competitiva, utilizando-se

    de tcnicas de marketing e reconhecendo a interface entre as estratgias

    ambientais e de negcio.

    3) Estratgia inovativa: as organizaes mostram-se preparadas para

    antecipar-se aos problemas ambientais, valendo-se de solues prprias e

    fortalecendo sua posio no mercado. O gerenciamento do ciclo de vida do

    produto entendido pela empresa, como uma busca por excelncia ambiental

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