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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA
Programa de Ps-Graduao em Administrao
Curso de Doutorado Acadmico em Administrao e Turismo
SIMONE SEHNEM
ANLISE DOS RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E
DESEMPENHO DE ORGANIZAES
Orientadora: Dra. Adriana Marques Rossetto
BIGUAU - SC
2011
1
SIMONE SEHNEM
ANLISE DOS RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E
DESEMPENHO DE ORGANIZAES
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao
em Administrao e Turismo Curso de
Doutorado Acadmico em Administrao e
Turismo da Universidade do Vale do Itaja, como
requisito obteno do ttulo de Doutor em
Administrao e Turismo
Orientadora: Profa.Dr
a. Adriana Marques Rossetto
BIGUAU - SC
2011
2
3
AGRADECIMENTOS
- Gostaria de agradecer a Deus por ter iluminado o meu caminho para conseguir concretizar o
objetivo de finalizar o doutorado. Por ter me protegido nas diversas madrugadas em que viajei
sozinha de So Miguel do Oeste a Chapec para me deslocar at Florianpolis, muitas vezes
com condies adversas de muita chuva, temporais e neblina;
- Ao meus pais Francisco e Isolde e minha irm Sibele pelo incentivo e apoio;
- A Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de Santa Catarina, que concedeu a bolsa de
estudos para financiar o doutorado;
- A orientadora Profa. Dra. Adriana Marques Rossetto, que gentilmente aceitou dar
continuidade a orientao da minha tese quando a Profa. Dra. Lucila Maria de Souza Campos
ingressou na Universidade Federal de Santa Catarina. Muito obrigada pela orientaes!
- Aos Professores Joaquim Rubens Fontes Filho da Fundao Getlio Vargas (FGV) e
Rogrio Hermida Quintella da Universidade Federal da Bahia, que gentilmente contriburam
para a melhoria do projeto na oportunidade em que o mesmo foi qualificado no Consrcio
Doutoral do Enanpad 2010. Muito obrigada!
- Aos Professores Dr. Miguel Angel Verdinelli, Dra. Lucila Maria de Souza Campos, Dr.
Alexandre de vila Lerpio, Dr. Charbel Jos Chiappetta Jabbour e Dra. Adriana Marques
Rossetto, que ofereceram importantes contribuies para a melhoria da tese na oportunidade
da realizao da Qualificao do Projeto de Tese na Univali;
- Aos professores da Univali que ministrararam as disciplinas bsicas e eletivas, e que
contriburam na minha formao, muito obrigada! So eles: Dra. Christiane Kleinbing
Godoi, Dr. Miguel Angel Verdinelli, Dr. Rodrigo Bandeira-de-Mello, Dr. Valmir Emil
Hofmann, Dr. Sidnei Marinho, Dra. Adriana Marques Rossetto, Dra. Anete Alberton, Dra.
Rosilene Marcon e Dra. Lucila Maria de Souza Campos.
- Aos demais professores da Univali com os quais interagimos durante o perodo do
Doutorado, meus agradecimentos pelos conselhos. So eles: Dra. Elaine Ferreira, Dr. Carlos
Ricardo Rossetto (Coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Aministrao), Dr.
Fernando Csar Lenzi, Dr. Everton Lus Pellizzaro de Lorenzi Cancellier, Dr. Flvio Ramos,
Dra. Maria Jos Barbosa de Souza, MSc. Ricardo Boeing da Silveira e Dra. Dinor Eliete
Floriani.
- Aos alunos doutorandos pela companhia, apoio, momentos de crticas e aprendizado
coletivo. Em especial a minha turma de ingressantes (2008/2): Yeda, Fbio, Ana, Dnio e
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797761P9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797761P9http://lattes.cnpq.br/1823987980737747http://lattes.cnpq.br/1823987980737747
4
Diva. Turma 1: Carlos Eduardo, Silvio, Wlamir e Andrei. A turma 3: Samir, Murilo, Alissane,
Maria Andreia e Mehrin. Turma 4: Maria da Graa, Eli, Mrcio, Deosir e Elwis. E a turma 5:
Jeter, Leone, Lenice, Mariluce, Juvenal, Marco Aurlio, Adriano, Susana e Susete.
- Ao Senhor Clver Avila Pedrozo Diretor de Tecnologia e Sustentabilidade do Grupo
Multinancional estudado, por ter assessorado toda a coleta de dados na empresa. A todos os
Gerentes das Unidades Industriais pesquisadas, que contriburam respondendo o questionrio
da pesquisa e aos gerentes do escritrio central da Diviso Sunos e Aves do Grupo
Multinacional estudado, que aceitaram serem entrevistados para contribuir para a minha
pesquisa.
- Agradecimento especial a minha amiga Yeda Maria Pereira Pavo, pelos dias e dias de
pesquisas que realizamos juntas e aconselhamentos mtuos;
- Aos amigos mestrandos pelos momentos vivenciados, confraternizaes e aprendizado!
- Aos colegas que contriburam com a validao dos questionrios. Muito obrigada ao Murilo
Alencar Souza de Oliveira, Ely Fenker, Maria da Graa Saraiva Nogueira, Jeter Lang,
Peterson Scheidler e Giovani Teixeira.
- Aos funcionrios da Secretaria, Cristina, Rafaela, Caroline, Wagner e Maria de Lurdes, que
sempre nos atenderam prontamente nos nossos pedidos.
- Aos colegas da UNOESC que organizaram as atividades de forma que se tornassem
compatveis com as atribuies do Doutorado. Muito obrigada pela compreenso e apoio!
- A todas as pessoas que contriburam para que o sonho de ser Doutora se tornasse realidade.
Muito obrigada!
5
O velho estava cuidando da planta com todo o carinho.
O jovem aproximou-se e perguntou:
-Que planta esta que o senhor est cuidando?
- uma jabuticabeira, respondeu o velho.
-E ela demora quanto tempo para dar frutos?
-Pelo menos uns quinze anos, informou o velho
-E o senhor espera viver tanto tempo assim?
-No, no creio que viva mais tempo, pois j estou no fim da minha jornada, disse o ancio.
-Ento, que vantagem voc leva com isso, meu velho?
-Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ningum colheria jabuticabas,
se todos pensassem como voc.
"No importa se teremos tempo suficiente para ver mudadas as coisas e pessoas pelas quais lutamos,
mas sim, que faamos a nossa parte, de modo que tudo se transforme a seu tempo
Desconheo o Autor
Se voc tem metas para um ano. Plante arroz.
Se voc tem metas para 10 anos. Plante uma rvore.
Se voc tem metas para 100 anos, ento eduque uma criana.
Se voc tem metas para 1000 anos, ento preserve o meio ambiente.
Confcio
6
RESUMO
SEHNEM, Simone. Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e Desempenho de
Organizaes. 2011. 214p. Tese (Doutorado em Administrao e Turismo) Universidade
do Vale do Itaja, Biguau, 2011.
O objetivo do presente trabalho consiste em propor e demonstrar a aplicabilidade um modelo
de anlise do relacionamento entre recursos organizacionais, estratgia ambiental e
desempenho. O arcabouo terico basilar para o desenvolvimento do trabalho est pautado
nas temticas: gesto ambiental, estratgias ambientais, a abordagem de recursos oriunda da
Resouce Based View (RBV) e desempenho organizacional. O trabalho se constitui em um
estudo exploratrio, classificado quanto abordagem como qualitativo mas que se utiliza de
alguns constructos de cunho quantitativo para elucidar as relaes existentes entre as variveis
e consiste em um estudo de caso. A aplicabilidade do Framework de Anlise dos Recursos,
Estratgias Ambientais e Desempenho de Organizaes (FAREADO) foi efetuado na diviso
Sunos e Aves da empresa X localizada no Brasil. Foi constatado a partir da aplicao do
modelo que a diviso Sunos e Aves num primeiro momento apresenta estratgias ambientais
reativas para atender os requisitos legais e prevenir eventuais restries ao sistema produtivo.
Entretanto, aes como a existncia de comits e equipes de melhoria contnua e elencar a
questo ambiental como estratgica para a organizao, denotam uma preocupao da
empresa ir alm, para criar uma cultura voltada sustentabilidade e de conscientizao do seu
quadro de colaboradores para uma era de pioneirismo e proatividade ambiental. Certamente,
associado a ganhos competitivos e preferncia no momento de compra por parte dos clientes.
A aplicao do FAREADO permitiu enquadrar a diviso sunos e aves do Grupo
Multinacional em estudo no nvel de desempenho bom, com atendimento dos requisitos legais
baseados no controle e na correo. A Diviso faz uma boa mobilizao dos recursos para
viabilizar as estratgias ambientais, que por sua vez foram enquadradas como sendo
predominantemente reativas plenas com fortes evidncias da existncia de estratgias
preventivas plenas e que ocasionam um impacto no desempenho organizacional considerado
positivo. A anlise efetuada a partir do modelo identificou que nessa viabilizao das
estratgias vigentes so mobilizados de maneira mais acentuada os recursos humanos;
recursos fsicos (instalaes, mquinas e equipamentos); habilidades administrativas; cultura
organizacional; recursos naturais renovveis; capital intelectual; capacidade de inovao e
marca. Os recursos valiosos, raros, inimitveis e organizacionais mobilizados consistem em
recursos intangveis que possuem interface com a cultura organizacional. Dentre os tangveis
foi identificado que os gestores atribuem maior valor aos equipamentos e recursos humanos.
A partir do estudo desenvolvido foi possvel verificar a aplicabilidade do Framework de
Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e Desempenho de Organizaes (FAREADO)
atravs do estudo de caso na diviso sunos e aves do Grupo. Recomenda-se validar o mesmo
em outros setores, para averiguar se o mesmo permite gerar generalizaes quando aplicado a
diferentes portes de empresas.
Palavras-chave: Estratgia Ambiental. Recursos. Desempenho.
7
ABSTRACT
SEHNEM, Simone. Model Analysis of Resources, Environmental Strategies and
Performance of Organizations. 2011. 214p. (Doctorate in Business Administration and
Tourism) Universidade do Vale do Itajai, Biguau, 2011.
The objective of this paper is to propose and demonstrate the applicability of an analytical
model of the relationship between organizational resources, environmental strategy and
performance. The basic theoretical framework for the development of the work is guided by
the themes: environmental management, environmental strategies, the approach proceeds
from the Resouce Based View (RBV) and organizational performance. The work constitutes
an exploratory study, classified as to how qualitative approach but makes use of some
constructs to elucidate a quantitative relationship between the variables and is a case study.
Validation of the Analysis Framework of Resources, Environmental Strategies and
Performance of Organizations (FARESPO) was performed in Pig and Poultry Division of the
firm study located in Brazil. It was found from the application of the model that the Swine
and Poultry Division at first presents reactive environmental strategies to meet the legal
requirements and prevent any restrictions on the production system. However, actions such as
the existence of committees and continuous improvement teams, identifying environmental
issues as strategic to the organization, show a company's concern to go beyond to create a
culture focused on sustainability and awareness of its workforce in an age of pioneering and
proactive environment. Certainly, the associated gains and competitive preference at time of
purchase by customers. The application of FARESPO frame allowed the division of pig and
poultry Multinational Group the level of good performance, compliance with legal
requirements based on the control and correction. The Division is a good resource
mobilization for achieving environmental strategies, which in turn were classified as being
predominantly full reactive with strong evidence of preventive strategies and bring about a
full impact on organizational performance as positive. The analysis carried out from this
model found that viability of existing strategies are more strongly mobilized human resources,
physical resources (facilities, machinery and equipment), administrative skills, organizational
culture, renewable natural resources, intellectual capital, ability to innovation and brand. The
valuable, rare, inimitable and organizational mobilized consist of intangible assets that have
interface with the organizational culture. Among the tangible has been identified that
managers attach greater value to the equipment and human resources. From the study we
verify the applicability of Framework Analysis of Resources, Environmental Strategies and
Performance of Organizations (FARESPO) through the case study in pigs and poultry
division of Multinational Group. It is recommended to validate the same in other sectors, to
see if it serves to generate generalizations when applied to different sizes of companies.
Keywords: Environmental Strategy. Resources. Performance
8
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Etapas e estratgias de pesquisa................................................................... 65
Figura 2 Esquema da Estrutura da Pesquisa............................................................... 68
Figura 3 Framework de Anlise................................................................................. 87
Grfico 1 Grfico de disperso com linha de tendncia linear recursos e
desempenho..................................................................................................
152
Grfico 2 Grfico de disperso com linha de tendncia linear estratgia ambiental
e desempenho...............................................................................................
152
Grfico 3 Anlise do resduo........................................................................................ 154
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Evoluo do setor da avicultura no Brasil o perodo de 2001 a 2010.......... 94
Tabela 2 Evoluo do setor da suinocultura no Brasil o perodo de 2001 a
2010..............................................................................................................
95
Tabela 3 Emisso total................................................................................................ 100
Tabela 4 Emisses de escopo 1 desagregadas por tipo de fonte................................. 101
Tabela 5 Emisses de escopo 3 desagregadas por tipo de fonte................................. 101
Tabela 6 Emisses por unidade de operao............................................................ 101
Tabela 7 Biomassa (emisses biognicas)................................................................ 101
Tabela 8 Outros gases no contemplados por Kyoto................................................. 102
Tabela 9 Emisses em outros pases......................................................................... 102
Tabela 10 Nvel de escolaridade dos funcionrios da unidade industrial..................... 112
Tabela 11 Aspectos avaliados e mdias atingidas por cada unidade fabril................... 146
Tabela 12 Estgio evolutivo dos aspectos avaliados..................................................... 148
Tabela 13 Correlao dos construtos do framework de anlise.................................... 149
Tabela 14 Regresso recursos e desempenho .............................................................. 151
Tabela 15 Coeficientes, desvio padro, Stat T e Valor-P.............................................. 153
Tabela 16 Resumo dos resultados da regresso estratgia ambiental e desempenho... 153
Tabela 17 Coeficientes, desvio padro, Stat T e Valor-P.............................................. 153
Tabela 18 Resumo dos resultados da regresso estratgia ambiental e recursos.......... 154
Tabela 19 Coeficientes, Erro Padro, Stat T e Valor-P................................................. 154
Tabela 20 Variao do ativo total, patrimnio lquido, receita lquida operacional,
lucro bruto e lucro antes dos juros e do imposto de renda...........................
156
Tabela 21 Indicadores tcnicos volatilidade e risco e os indicadores de mercado,
enterprise value, valor de mercado, P/L e EBITDA....................................
156
Tabela 22 Indicadores financeiros lucro/ao, liquidez geral, liquidez correntes,
liquidez seca, dvida total bruta e dvida total lquida..................................
158
Tabela 23 Indicadores de desempenho ambiental avaliado.......................................... 159
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Taxonomias de Gesto Ambiental................................................................ 27
Quadro 2 Modelos e tipologias de estratgias ambientais............................................ 32
Quadro 3 Estudos recentes sobre estratgia ambiental................................................. 38
Quadro 4 Estudos sobre RBV.................................................................................... 46
Quadro 5 Evoluo dos estudos na rea de desempenho............................................. 62
Quadro 6 Dimenses de anlise e variveis da pesquisa............................................ 69
Quadro 7 Dimenses de avaliao, objetivos e questes............................................. 71
Quadro 8 Instrumentos de coleta de dados, sujeitos pesquisados e nvel estratgico
do respondente............................................................................................
74
Quadro 9 Aspectos e procedimentos de avaliao....................................................... 75
Quadro 10 Avaliao da organizao para uma escala de 7 pontos............................... 90
Quadro 11 Indicadores a serem avaliados...................................................................... 91
Quadro 12 Avaliao da organizao para uma escala de 5 pontos............................... 92
Quadro 13 Avaliao dos recursos, estratgias ambientais e desempenho.................... 93
Quadro 14 Principais eventos de expanso do Grupo Multinacional............................. 97
Quadro 15 Diagnstico produtivo das unidades industriais........................................... 109
Quadro 16 Caracterizao das unidades industriais quanto as prticas ambientais....... 111
Quadro 17 Estratgias ambientais do Grupo Multinacional mencionadas pelo Diretor
de Tecnologia e Sustentabilidade.................................................................
114
Quadro 18 Estratgias ambientais do Grupo Multinacional na percepo da Gerente
de Desenvolvimento Organizacional............................................................
124
Quadro 19 Estratgias ambientais salientadas pelo Gerente de Produo.................... 126
Quadro 20 Recursos importantes para o Grupo Multinacional...................................... 131
Quadro 21 Aspectos relacionados ao desempenho econmico e ambiental
salientandos na entrevista pelo Diretor de Tecnologia e Sustentabilidade...
141
Quadro 22 Aspectos relacionados ao desempenho econmico e ambiental
mencionados na entrevista pelo Gerente de Produo.................................
143
Quadro 23 Regra prtica utilizada para interpretar o coeficiente de correlao
estatisticamente significativo........................................................................
149
Quadro 24 Avaliao da organizao para uma escala de 5 pontos............................... 160
Quadro 25 Avaliao do desempenho produtivo........................................................... 161
11
Quadro 26 Estgio atual do desempenho produtivo....................................................... 161
Quadro 27 FAREADO aplicado a diviso sunos e aves do Grupo............................... 162
Quadro 28 Quadro sntese do atendimento dos objetivos especficos do framework
de analise na empresa X...............................................................................
168
12
SUMRIO
1 INTRODUO...................................................................................................... 14
1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA.......................................................... 14
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................. 20
1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................................ 20
1.2.2 Objetivos Especficos.............................................................................................. 20
1.3 RELEVNCIA, ORIGINALIDADE E CONTRIBUIES DA PESQUISA....... 21
2 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................ 23
2.1 CONTEXTO AMBIENTAL E ESTRATGIAS AMBIENTAIS........................... 23
2.2 VISO DA EMPRESA BASEADA EM RECURSOS (RBV)............................... 40
2.3 DESEMPENHO ECONMICO FINANCEIRO E AMBIENTAL......................... 48
3 METODOLOGIA.................................................................................................. 64
3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................... 64
3.2 ESTRATGIA DE PESQUISA............................................................................... 65
3.3 DELIMITAO DO ESTUDO............................................................................... 69
3.4 MTODO DE COLETA E DE ANLISE DE DADOS......................................... 71
4 DESCRIO DO MODELO DE ANLISE DOS RECURSOS,
ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO DE ORGANIZAES
(FAREADO)..........................................................................................................
80
4.1 MAPA CONCEITUAL............................................................................................ 80
4.2 ETAPAS PARA OPERACIONALIZAO DO MODELO DE ANLISE.......... 88
5 APRESENTAO DA APLICAO DO FAREADO E ANLISE DOS
DADOS DO ESTUDO DE CASO.........................................................................
94
5.1 CARACTERIZAO DO SETOR, DO FRIGORFICO ESTUDADO E DA
DIVISO SUNOS E AVES da Empresa X............................................................
94
5.2 VALIDAO DO FRAMEWORK DE ANLISE RECURSOS,
ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO ORGANIZACIONAL
(FAREADO)..........................................................................................................
113
5.2.1 Dados Obtidos nas Entrevistas Sobre Estratgias Ambientais Vigentes na
Diviso Sunos e Aves.............................................................................................
113
5.2.2 Dados Obtidos nas Entrevistas Sobre os Recursos Mobilizados para
Viabilizar as Estratgias Ambientais....................................................................
130
13
5.2.3 Como as Estratgias Ambientais Afetam a Relao Entre Recursos
Tangveis e o Desempenho Econmico e Ambiental..........................................
141
5.2.4 Dados Obtidos nos Questionrios......................................................................... 145
5.3 CONCLUSES SOBRE A APLICAO DO FAREADO NO ESTUDO DA
DIVISO SUNOS E AVES DO GRUPO ESTUDADO.......................................
163
5.4 AVALIAO DA APLICAO DO FRAMEWORK DE ANLISE DOS
RECURSOS, ESTRATGIAS AMBIENTAIS E DESEMPENHO DE
ORGANIZAES (FAREADO)...........................................................................
173
6 CONCLUSO........................................................................................................ 176
REFERNCIAS..................................................................................................... 180
APNDICES........................................................................................................... 201
APNDICE A - Carta de Apresentao.................................................................. 202
APNDICE B - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Gestor Geral.......................... 203
APNDICE C - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Diretor de Tecnologia e
Sustentabilidade....................................................................................................
207
APNDICE D - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Departamento de Recursos
Humanos..............................................................................................................
209
APNDICE E - Roteiro de Entrevista Aplicado ao Departamento de Produo o
Gerente de Produo...............................................................................................
210
APNDICE F Roteiro do questionrio................................................................ 211
14
1 INTRODUO
Este captulo introdutrio est estruturado de modo a contemplar a contextualizao
do problema de pesquisa da tese, onde se apresenta resumidamente a evoluo terica da
abordagem de estratgias ambientais, evidenciando que no Brasil a investigao cientfica
nessa rea recente. Na sequncia so descritos os objetivos da pesquisa, que so os
norteadores do trabalho proposto. Logo aps, descreve-se a relevncia, originalidade e
contribuies do trabalho. Expe-se que h sugestes por parte de pesquisadores nacionais e
internacionais para a intensificao de pesquisas nessa rea, vinculando a anlise das
estratgias ambientais com o desempenho econmico e financeiro e com os recursos
mobilizados para viabilizar as mesmas nas empresas. Estudos com essa dimenso de anlise
podem se tornar um arcabouo informacional alusivo ao estgio atual das organizaes
agroindustriais do setor de frigorficos, no que tange aos aspectos ambientais e servir de
alavanca impulsionadora de melhorias e investimentos a serem deflagrados por outras
organizaes de setores distintos. Este captulo se encerra com a apresentao da estrutura do
trabalho.
1.1 CONTEXTUALIZAO DO PROBLEMA
A preocupao das organizaes para aderir e implementar estratgias ambientais tem
se acentuado nas duas ltimas dcadas. So diversos os aspectos que interferem nessa atitude,
quais sejam: em virtude dos requisitos legais; por exigncia das auditorias de pases
interessados em fechar contratos com empresas estrangeiras; pela presso dos consumidores e
organizaes no governamentais; pelos efeitos danosos provocados pela natureza quando
desrespeitada, e que tm gerado prejuzos e causado medo s pessoas, sensibilizando-as para a
mudana de conduta.
Em relao s diversas consequncias dos impactos ambientais vivenciados pelas
populaes de diferentes continentes, podem-se citar como exemplo os tornados, estiagens,
variao intensa da temperatura, que interferem na indefinio das estaes do ano e no ciclo
das culturas, chuvas em demasia, provocando inundaes e enchentes, entre outros. Baseado
nesse cenrio de degradaes provocadas pela natureza, o ser humano torna-se sensibilizado
com o ambiente e passa a tomar medidas mitigadoras. Isso se comprova pela grande
quantidade de organizaes que aderiram certificao ISO 14.001, reconhecida como sendo
o sistema de gesto ambiental amplamente adotado por que possui respaldo da International
15
Organization for Standardization (ISO). Conforme Nawroka e Parker (2009) e INMETRO
(2011) at 31 de dezembro de 2006 aproximadamente 130.000 organizaes estavam
certificadas em nvel de mundo. No Brasil, no perodo de 2000 a 2011 foram concedidos um
total de 2.068 certificados da Norma ISO 14.001. Considerando que em 1990 foi
desenvolvido e lanado auditoria externa do sistema de gesto ambiental e foi a dcada na
qual a certificao ISO 14.001 iniciou o seu processo de consolidao, a referida j possui um
histrico consistente para ser avaliado, destacam os autores. No ano de 2011, vlidas no Brasil
havia 1.327 certificaes (ISO SURVEY, 2011).
Baseado nesse contexto, h estudos sendo desenvolvidos que procuram identificar se o
uso de medidas padro, conforme preconiza o sistema de gesto ambiental tem realmente
beneficiado o meio ambiente. Nesse sentido, destacam-se os estudos desenvolvidos por
Ferreira et al (2011), Rocha et al (2011), Brock e S (2011), Darnall e Sides (2008), Darnall,
Henriques e Sadorsky (2005), Martin (2005), Melnyc, Soufre e Calatone (2003), entre outros.
Tais estudos apresentam como concluses que a adoo de sistemas de gesto ambiental a
exemplo da ISO 14.001 tem contribudo para a melhoria de desempenho no tratamento de
resduos. Tambm que existem presses externas exercidas pelos acionistas, governo, clientes
e comunidade, entre outros que influenciam a gesto ambiental da empresa no sentido de
cobrar um desempenho alinhado expectativa da Responsabilidade Social Corporativa.
Alm disso, um sistema de gesto ambiental til no gerenciamento das questes
ambientais nas empresas e atende aos interesses de clientes, consumidores, ecologistas, e em
especial das prprias empresas, que investem grande quantidade de recursos para implantao
e operacionalizao destes sistemas em busca de melhoria em seu desempenho ambiental.
Nawroka e Parker (2009) destacam que as organizaes que aderiram certificao ISO
14.001 tiveram esta melhoria e que ainda as mesmas tendem a exigir de seus fornecedores
uma melhor compreenso de como os aspectos de desempenho ambiental os afetam, bem
como um maior comprometimento com o meio ambiente por parte destes. Desta forma,
realizam a gesto ambiental da cadeia de abastecimento.
Nessas empresas, a relao entre recursos e desempenho pode ser examinada de
diversas maneiras. Uma delas, relatada na literatura em termos de expectativas que as
empresas possuem de benefcios e melhoria de desempenho que possam obter, principalmente
por meio da mobilizao de recursos tangveis e intangveis. Outra consiste em estabelecer
uma correlao entre a existncia de determinados recursos e seu reflexo no desempenho.
Estudiosos como Barney e Clark, (2007) afirmam que os recursos estratgicos
explicam o desempenho na medida em que as organizaes capturam o valor econmico que
16
eles criam. Entre as diversas escolas tericas existentes que tratam destas questes, a
Resource Based View (RBV), postula que os recursos internos possudos pelas empresas so
determinantes e fundamentais para a obteno de vantagem competitiva e melhoria do
desempenho empresarial (WERNERFELT, 1984; BARNEY, 1991, 2002; DIERICKX;
COOL, 1989; PRAHALAD; HAMMEL, 1990; PETERAF, 1993). Assim, a fonte de
diferenas de desempenho entre as empresas encontra-se na base de recursos das
organizaes, que constitui-se de um conjunto de recursos (WERNERFELT, 1984), que
podem ser divididos em ativos fsicos ou intangveis (HALL, 1992), cuja combinao
especfica resulta na capacidade competitiva da empresa e, em ltima instncia, na sua
vantagem competitiva sustentvel. Isso se d quando a empresa aloca determinados recursos
no intuito de atender a trade da sustentabilidade, isto , as dimenses econmica, social e
ambiental.
Conforme Nawroka e Parker (2009) o nvel de influncia da estrutura organizacional
sobre o desempenho econmico dependente de uma caracterstica particular da empresa, que
consiste nos seus recursos intangveis, tais como cultura, valores e ambiente concorrencial.
Embora os requisitos legais que uma empresa precisa seguir sejam bastante prescritivos, o uso
de vrios instrumentos de gesto permite a interpretao e adaptao para diferentes
contextos. Alm disso, os ambientes em que operam os sistemas de gesto variam em termos
de governana corporativa, cultura, ambiente legislativo, legislao e inclusive quanto s
caractersticas ambientais do contexto no qual a empresa est inserida. A interpretao dos
requisitos legais e a unicidade interna de cada empresa criam fortes razes do pressuposto de
que os resultados de um Sistema de Gesto Ambiental (SGA) so dependentes deste contexto.
Grant (1991) postula que o enfoque externo da empresa, preconizado por Porter a
partir da abordagem da anlise da indstria e do posicionamento competitivo, negligenciou a
anlise da estratgia desta e dos seus recursos e capacidades internos. A maioria das pesquisas
sobre implicaes estratgicas do ambiente interno da empresa tem se preocupado com
questes associadas estratgia de implementao e anlise de processos organizacionais por
meio dos quais elas emergem. Nos ltimos 20 anos tem havido um ressurgimento de estudos
que do nfase ao papel dos recursos da empresa como base para a estratgia da mesma.
Ao nvel da estratgia empresarial os estudos tm explorado a relao entre recursos,
competio e lucratividade, incluindo a anlise da concorrncia, da imitabilidade, da
apropriabilidade dos retornos de inovao, o papel da informao imperfeita na criao de
diferenas de lucratividade entre concorrentes da empresa e os meios pelos quais o processo
de acumulao de recursos pode sustentar uma vantagem competitiva (GRANT, 1991).
17
O argumento defendido por Grant (1991) para utilizar os recursos e capacidades da
empresa como basilares nas estratgias de longo prazo est respaldado em duas premissas: a)
eles fornecem uma orientao bsica para a estratgia da empresa; e, b) so a principal fonte
de lucro desta. Logo, a utilizao dos recursos e capacidades da empresa como ponto de
partida para direcionar a formulao de estratgias condiz com a afirmao de sua identidade ,
como por exemplo, identificar a misso da organizao ou o negcio da mesma. Outrossim,
quando a volatilidade e a incerteza do ambiente externo so grandes, seus recursos e
capacidades podem ser uma fonte muito estvel para definir a identidade da organizao.
A RBV postula que o sucesso de uma empresa em grande parte impulsionado a
partir de recursos que possuem determinadas caractersticas especiais. No entanto, o fluxo de
investigaes acerca destes tende a ser dominado por discusses conceituais. Embora as
pesquisas empricas estejam crescendo rapidamente, a maioria dos estudos se concentra em
isolar apenas os tangveis, dentro de um contexto de indstria singular, para examinar seus
efeitos no sucesso da empresa. Para testar adequadamente os preceitos da RBV, Galbreath
(2005) destaca que novas abordagens de investigao devem ser consideradas, inclusive com
nfase nos recursos intangveis.
Outra varivel importante para a discusso proposta neste trabalho o desempenho. E,
seguindo a lgica da anlise relacional proposta pelo estudo, sua associao com as demais
variveis se faz indispensvel. Algum caminho j foi trilhado neste sentido e dentre os estudos
que associam positivamente boas posturas empresariais em relao ao meio ambiente e
desempenho, encontram-se Fogler e Nutt (1975), Rockness, Schlachter e Rockness (1986),
Freedmann e Jaggi (1982), Wiseman (1982), Porter e Van Der Linde (1995a, 1995b, 1995c),
Hart (1995) e Vithessonti (2009). No compactuam com esse pensamento Waley e Whitehead
(1994), Bragdom e Marlim (1972) e Spicer (1978) que no encontraram evidncias claras em
suas pesquisas sobre se efetivamente a relao positiva. Estudos mais contemporneos que
versam sobre esses assunto e que continuam apresentando controvrias so de Darnall,
Henriques, Sadorsky (2005), Liu et al (2006), Wu (2006), Darnall e Sides (2008) e Nawroka e
Parker (2009) e Orellano e Quiota (2011). Nesse sentido Orellano e Quiota (2011) destacam
que o principal desafio para a realizao das pesquisas sobre o tema indicadores de
desempenho socioambiental a no disponibilidade de dados que consigam capturar o
desempenho do ponto de vista tanto qualitativo como quantitativo das aes de
Responsabilidade Social e Empresarial praticadas. Ao passo que Wu (2006) salienta que a
investigao sobre a relao existente entre desempenho social e desempenho financeiro ainda
inconclusiva, com alguns pesquisadores encontrando relaes positivas. Entretanto, outros
18
estudos como Orlitzki, Schmidt e Rynes (2003) desenvolveram uma meta-anlise e
constataram que muitos estudos desenvolvidos nessa rea apresentaram como resultado um
alto nvel de correlao existente entre desempenho social/ambiental corporativo e
desempenho financeiro corporativo. Portanto, h divergncias na rea que ainda est se
consolidando o que gera lacunas a serem supridas.
No bojo dos recursos mobilizados e detidos pelas empresas e das diferentes estratgias
ambientais implementadas nas organizaes, emergem alguns questionamentos: A
heterogeneidade dos recursos otimiza o desempenho das estratgias ambientais? Os recursos
mobilizados e detidos pelas organizaes permitem que as mesmas afiram um lucro maior
pautado na estratgia ambiental implementada? Como lidar com as questes ambientais
internamente na empresa? Como agentes externos avaliam a imagem transmitida pelas
empresas e como isso afeta os resultados econmicos e ambientais delas? Quais so os
recursos mobilizados para viabilizar as diferentes abordagens de estratgias ambientais nas
empresas? Como as diferentes estratgias ambientais impactam no desempenho econmico e
ambiental das empresas?
Se esses questionamentos so importantes em qualquer setor econmico, existe uma
preocupao especial de desenvolver estudos no agronegcio, e mais especificamente no setor
de frigorficos considerado de alto potencial poluidor, tanto em seus processos primrios,
quanto no de agregao de valor matria-prima via processo de industrializao. Este setor
carente de estudos relacionando s variveis propostas no presente trabalho. O agronegcio
responsvel por 25% do PIB do Brasil (MAPA, 2010), e conforme Arajo e Bueno (2008) a
agroindstria se destaca por ser o agente coordenador da cadeia produtiva dos setores do
agronegcio, com maiores possibilidades para desenvolver as aes voltadas ao meio
ambiente no mbito empresarial. No Brasil o Agronegcio gera por ano uma riqueza de 400
bilhes de dlares e tem sido o responsvel pelo supervit comercial brasileiro,
principalmente exportando os alimentos para pases emergentes, a exemplo da ndia e da
China.
O setor frigorfico processa e industrializa alimentos que o tornam representativo no
contexto das exportaes, sendo que no ano de 2010 o Brasil exportou US$ 4.795.356 em
carne bovina (in natura, industrializados, midos, tripas, salgadas). Alm disso, conforme a
ABIPECS (2011) a oferta de sunos para abate, em 2010, aumentou 1,8%, de 33,8 milhes de
cabeas para 34,3 milhes. No perodo, os abates sob Inspeo Federal totalizaram 29,1
milhes de cabeas, o que significou um crescimento de 2,5 % em relao a 2009. Os abates
sob outras certificaes mantiveram-se em decrscimo. Mais de 83% da oferta foi absorvida
19
pelo mercado interno. A ABEF (2011) menciona que as exportaes de carne de frango
somaram 3,63 milhes de toneladas em 2009, o que representou uma queda de 0,3% em
relao aos embarques de 3,64 milhes de toneladas efetuados entre janeiro e dezembro de
2008. A receita cambial teve uma queda mais acentuada, de 16,33%, ao somar US$ 5,8
bilhes, contra os US$ 6,9 bilhes observados no ano anterior. O setor exportador de carne de
frango foi impactado principalmente pela retrao da economia mundial devido crise
financeira internacional com a reduo de preos e de encomendas de clientes importantes
como Rssia, Japo e Venezuela, e pela valorizao do real frente ao dlar americano.
Neste estudo, a unidade de anlise a agroindstria pertencente ao segmento do
agronegcio/frigorficos, e o estudo de caso utilizou as unidades industriais da diviso Sunos
e Aves do Grupo estudado1 localizadas no Brasil como elementos da amostra.
De qualquer forma considera-se que independente do setor de atuao das empresas,
as estratgias ambientais consistem em aes que as empresas tomam em resposta s presses
externas e internas. A implantao de estratgias ambientais torna-se um instrumento que
objetiva a melhoria contnua por meio de novos procedimentos, mecanismos, arranjos e
padres comportamentais menos nocivos ao meio ambiente. Sobretudo, seja pela melhoria
dos processos operacionais e administrativos, pela incorporao de tecnologias limpas ou no
reaproveitamento dos resduos, as organizaes podem obter economias que no teriam sido
conquistadas caso no estivessem incorporando a varivel ambiental na estratgia de negcios
da organizao. Para viabilizar a estratgia ambiental na empresa torna-se necessrio
mobilizar recursos, que por sua vez, corroboram para a obteno de um desempenho
econmico e ambiental.
Considerando o contexto exposto, tem-se como tema de pesquisa da presente tese:
estratgia ambiental e desempenho econmico e ambiental do setor agroindustrial sob a tica
dos recursos, avaliando como as diferentes configuraes de variveis interferem no
desempenho das organizaes. Nesse enredo, se parte da seguinte pergunta de pesquisa:
Como seria um Framework de anlise que integre a relao existente entre estratgia
ambiental, desempenho econmico e ambiental em unidades industriais de frigorficos?
Foram estabelecidas as seguintes hipteses para validao nas unidades fabris do
frigorfico pertencentes a diviso sunos e aves do Frigorfico:
Hiptese 1: Quanto mais evoludas as estratgias ambientais, mais recursos
tangveis so mobilizados e melhor o desempenho econmico e ambiental.
1 Neste trabalho a Empresa estudada ser denominada empresa X.
20
e,
Hiptese 2: Quanto mais evoludas as estratgias ambientais, mais recursos
intangveis so mobilizados e melhor o desempenho econmico e ambiental.
Por conseguinte, as variveis chaves do presente estudo consistem nas estratgias
ambientais, no desempenho e nos recursos vislumbrados sob a tica da RBV. Diante disso,
essa tese procura realizar uma anlise que apresente um olhar sobre os aspectos econmicos e
ambientais por meio da adoo de uma abordagem que faz uso das estratgias ambientais para
vislumbrar um caminho alternativo de produo para a empresa e de desenvolvimento para as
regies, propondo um Framework de Anlise dos Recursos, Estratgias Ambientais e
Desempenho de Organizaes (FAREADO). Para operacionalizar o trabalho, foram
estabelecidos objetivos direcionadores, conforme apresentado a seguir.
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.2.1 Objetivo Geral
- Propor e demonstrar a aplicabilidade de um Framework de anlise que evidencie o
relacionamento entre recursos organizacionais, estratgia ambiental e desempenho econmico
e ambiental de empresas.
1.2.2 Objetivos Especficos
- Elaborar os pressupostos que serviro de estrutura para o FAREADO de como
estratgias ambientais afetam a relao entre recursos tangveis e intangveis e o desempenho
econmico e ambiental das organizaes;
- Definir as tipologias de estratgia ambiental vigente nas organizaes que faro parte
do Framework de Anlise a ser proposto;
- Especificar os recursos tangveis e intangveis usados pelas organizaes para
estabelecer estratgias ambientais;
- Especificar os indicadores de desempenho econmico e ambiental que evidenciaro
as relaes analisadas;
- Identificar as relaes que se estabelecem entre estratgias ambientais e recursos
mobilizados para implement-las na organizao;
21
- Exemplificar a aplicabilidade do Framework de anlise sobre a vinculao entre
recursos, estratgia ambiental e desempenho econmico e ambiental (AREADO), utilizando
como estudo de caso unidades industriais de uma diviso (Sunos e Aves) de um Grupo
empresarial do setor de frigorficos localizada no Brasil.
1.3 RELEVNCIA, ORIGINALIDADE E CONTRIBUIES DA PESQUISA
A relevncia desta tese est em propor e demonstrar a aplicabilidade do Framework
de anlise que pretende elucidar como as estratgias ambientais se relacionam com recursos e
desempenho organizacionais. Trata-se de um objeto de investigao original, haja vista que
uma lacuna identificada em muitos estudos como colocado anteriormente. Considera-se que o
objeto de estudo (frigorficos) e o contexto para a conduo da pesquisa (Brasil) permitem
gerar um avano na fronteira do conhecimento. Se trata de um setor em que poucos estudos
foram desenvolvidos sob a tica recursos, meio ambiente e desempenho. Cita-se apenas
Amaral (2003), Arajo, Bueno e Mendona (2007) e Alperstedt, Quintella e Souza (2010),
mas que no investigaram a relao entre recursos, estratgia ambiental e desempenho. Seus
escopos estiveram relacionados respectivamente a elaborao de uma proposta de modelo de
relatrio de sustentabilidade empresarial que possa ser utilizado pela indstria de petrleo
brasileira e internacional; anlise da sustentabilidade empresarial em um frigorfico de carne
bovina; e investigao acerca dos fatores determinantes das estratgias de gesto ambiental
das empresas industriais catarinenses pertencentes ao complexo florestal,
eletrometalmecnico, txtil, agroindutrial, tecnolgico e mineral.
No contexto internacional destacam-se os estudos acerca de estratgias ambientais e
desempenho desenvolvidos por Darnall e Sides (2008), Melnyc, Soufre e Calantone (2003),
Sharma e Sharma (2011), mas enquanto alguns identificaram relaes positivas entre eles
outros contradizem estes resultados. Por exemplo, Darnall e Sides (2008) evidenciaram que
empresas no participantes de programas ambientais voluntrios melhoraram seu desempenho
7,7% acima dos participantes. Ainda, os no participantes melhoraram seu desempenho no
auto-controle 24% a mais que os participantes, enquanto aqueles que possuam a ISO 14.001
implantada apresentaram resultados de desempenho inconclusivos e que demandam maiores
estudos para aferio de concluses. J Melnyc, Soufre e Calantone (2003) avaliaram a
diferena existente no desempenho de empresas que possuem um sistema de gesto ambiental
formal (certificado) em detrimento daquelas que no esto certificadas. Os resultados
demonstraram que as empresas que possuem um SGA formal percebem os impactos alm da
22
reduo da poluio e vislumbram um impacto positivo no desempenho de vrias dimenses
operacionais. Alm disso, a experincia com a certificao ISO 14.001 ao longo do tempo tem
um impacto maior na seleo e uso de opes ambientais. Nesta vertente, Sharma e Sharma
(2011) verificaram que trs fatores influenciam na deciso de possuir uma estratgia
ambiental proativa, sendo: a) crenas e valores da famlia direcionados ao meio ambiente; b)
percepo de prevalecer aspectos e normas sociais em detrimentos de utilizar a empresa como
um veculo para preservao ambiental; c) a extenso do controle do comportamento
percebido, ou seja, se as aes ambientais geram reputao para a empresa.
Esta tese apresenta como contribuio emprica a verificao da efetividade dos
investimentos ambientais das organizaes despendidos com base em suas estratgias
ambientais e seu impacto no desempenho. Quanto contribuio terica, o presente trabalho
contribui para a literatura por utilizar a Viso Baseada em Recursos ou Resource Based View
como um processo de mediao nesta relao. Portanto, foi criado um Framework de Anlise
que permite vislumbrar se diferentes configuraes de estratgias ambientais geram variao
no desempenho econmico e ambiental, considerando a heterogeneidade de recursos das
organizaes. Alm disso, a seleo do Brasil como contexto para a conduo da pesquisa
emprica e a escolha do setor de frigorficos, empresa Multinacional X e Diviso Sunos e
Aves, permite retratar a realidade da primeira multinacional brasileira do setor do
agronegcio, empresa internacionalizada e que possui uma contribuio econmica e social
significativa.
A construo do Framework de Anlise proposto aborda aspectos relacionados ao
meio ambiente e aos recursos, como por exemplo, as peculiaridades geogrficas, a cultura, o
sistema de produo, o negcio, entre outros, dando nfase a fatores preponderantes na
tomada de deciso gerencial. Estas anlises so consideradas primordiais para um gestor que
visa adotar estratgias que sejam condizentes com as tendncias de mercado, as exigncias
dos consumidores e a longevidade da sua organizao. E, sobretudo, que lhe tragam um
retorno econmico otimizado. Considerando o exposto, este trabalho apresenta a seguir a
fundamentao terica que versa sobre a gesto ambiental empresarial e as estratgias
ambientais; as tipologias de estratgias ambientais; a Viso da Empresa Baseada em Recursos
(RBV), e o desempenho econmico-financeiro e ambiental. Logo aps, apresenta-se o
captulo 3 que descreve a metodologia do trabalho, subdividida em tipo de pesquisa, estratgia
de pesquisa, delimitao do estudo e mtodos de coleta e de anlise dados. O Captulo 4 versa
sobre a apresentao e anlise dos dados. O captulo 5 apresenta as consideraes finais do
estudo e seguido pelas referncias e apndices.
23
2 FUNDAMENTAO TERICA
Este captulo apresenta uma reviso de literatura publicada principalmente a partir dos
anos 90 (1990-2011) que sustenta teoricamente as variveis escolhidas para a consecuo do
presente estudo. No que diz respeito s estratgias ambientais, a reviso de literatura se inicia
apresentando a evoluo da gesto ambiental, a taxonomia de gesto ambiental, aspectos
conceituais, caractersticas e o trabalho seminal de Hart (1995) pautado na Resource Based
Review Natural e culmina em outros estudos que foram desenvolvidos a partir deste ou com
princpios similares aos do autor, delineando o relacionamento entre contexto organizacional,
investimentos que influenciam os recursos, desenvolvimento de capacidades especficas da
firma e obteno de vantagem competitiva. Acerca da RBV foi elaborada a descrio da
evoluo dessa abordagem, da discusso efetuada pelas duas escolas, a processual e a
estrutural, os diferentes conceitos, caractersticas e algumas lacunas dos estudos. Em relao
ao desempenho organizacional descreve-se o conceito, indicadores de desempenho e
diferentes abordagens de mensurao do mesmo.
2.1 CONTEXTO AMBIENTAL E AS ESTRATGIAS AMBIENTAIS
A preocupao com os recursos ambientais no recente e tem sido objeto de
discusses e recorrentemente citada em diversos fruns, congressos e reunies internacionais
que foram desenvolvidas nos cinco continentes do mundo. Conforme Jabbour e Santos (2006)
o tema j foi abordado pelo Clube de Roma, um rgo colegiado liderado por empresrios, e
resultou na obra Limites do Crescimento (1972) que descreveu um cenrio trgico para o
futuro mundial, caso a sociedade mantivesse os padres de consumo da poca. No mesmo ano
da publicao (1972) em Estocolmo, Sucia, foi realizada a primeira conferncia das Naes
Unidas para o Meio Ambiente que ampliou o debate sobre a questo (MEADOWS et al,
1972). No ano de 1987 foi publicado o Relatrio Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1991),
ao qual foi imputado a responsabilidade de disseminar o conceito de desenvolvimento
sustentvel, que para a Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento passa a
ser aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades(CMMAD, 1988, p. 46). Para ser
sustentvel, o desenvolvimento precisa levar em conta fatores sociais e ecolgicos, assim
como econmicos; as bases dos recursos vivos e no-vivos; as vantagens de aes
alternativas, a longo e a curto prazos (STARKE, 1991, p. 9).
24
Isso evidencia uma preocupao digna no sentido de que mesmo sendo necessrio
utilizar os recursos naturais para a sobrevivncia da humanidade, esta deve deixa-los em
condies de serem utilizados pelas futuras geraes.
As discusses sobre a temtica vo se consolidando e assumindo uma escala mundial e
no ano de 1992 ocorre a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida popularmente como ECO Rio-92, a qual teve como
intuito reforar a necessidade de a sociedade como um todo engendrar o desenvolvimento
sustentvel. Para tal o ensejo basilar alicera-se em mudanas paradigmticas no modo de
conceber e implementar aes econmicas, polticas e sociais, que levem em considerao os
impactos dessas atividades sobre o meio ambiente (JABBOUR; SANTOS, 2006). Os autores
supracitados colocam que como uma das consequncias da ampliao do debate, em 1997, na
cidade de Kioto, entra em pauta a questo da emisso de gases poluentes e o esforo que
deveria ser despendido pela sociedade para evitar o aquecimento global com a elaborao de
um protocolo de intenes a ser assinado pelos pases e que at hoje no conseguiu ser
plenamente estabelecido e no teve a maior parte de suas metas atingidas. No ano de 2002 foi
feita a Conferncia das Naes Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sustentvel,
popularmente conhecida como Rio + 10. Teve como resultados um plano de ao factvel
no que se refere minimizao dos impactos de diversos problemas ambientais de carter
global. Como medidas detalhadas colocou-se como metas o desejo de aumentar a proteo da
diversidade, o acesso gua potvel, ao saneamento, ao abrigo, energia, sade e
segurana alimentar. Ainda, o combate fome crnica, desnutrio, , aos conflitos armados,
ao narcotrfico, ao crime organizado, corrupo, aos desastres naturais, ao trfico ilcito de
armas, ao trfico de pessoas, ao terrorismo, xenofobia, s doenas crnicas tramissveis,
intolerncia e incitao a dios raciais, tnicos e religiosos.
Tais mobilizaes sociais evidenciam que a varivel ambiental passa a ser uma
premissa includa na pauta das reunies de lideranas comunitrias dos diferentes pases, a
fim de buscar alternativas de produzir com sustentabilidade e manter um legado ambiental
adequado para o futuro. Segundo Motta e Rossi (2003) essa alterao paradigmtica
pressupe que o desenvolvimento sustentvel seja garantido pela ao conjunta entre atores
polticos, econmicos e sociais e a cooperao entre todas as esferas sociais e produtivas.
Ainda que em atividade conjunta consigam explorar o meio ambiente com equidade e sem
assumir apenas os aspectos econmicos como sendo preponderantes, mas mantendo equilbrio
entre a trade econmico, social e ambiental. Dessa forma, cabe s empresas grande parcela de
responsabilidade para o alcance do desenvolvimento sustentvel.
25
Nesse sentido, Slack et al (2002) destacam que a magnitude do impacto ambiental est
diretamente relacionado quantidade da populao que consome, ao impacto ambiental do
processo produtivo e do produto consumido pela populao. Dahlmann, Brammer e
Millington (2008) destacam que as questes gerenciais que se coadunam com aspectos do
meio ambiente tm aumentado nos ltimos anos. A internalizao da varivel ambiental no
mbito dos negcios decorrente da sua considerao para estabelecer a estratgia corporativa
da empresa est associada natureza do negcio da empresa (DONAIRE, 1994). Corazza
(2003), salienta que depende tambm do grau de conscientizao da alta administrao em
matria ambiental.
As empresas de porte maior, normalmente causadoras de maior impacto ambiental, e
as mais internacionalizadas tendem a ser mais cobradas pela sociedade e, por isso, procuram
adotar prticas ambientais mais adequadas e inclusive estabelecer uma poltica de
sustentabilidade para obteno da melhoria do desempenho ambiental e econmico.
Portanto, a gesto ambiental um aspecto que tem sido inserido nas aes
desenvolvidas por organizaes de setores distintos, sendo que o Sistema Integrado de Gesto
Ambiental, conhecido por Modelo Winter foi desenvolvido em 1972 pela empresa Ernst
Winter. Nas dcadas de 80 e 90 muitos outros sistemas surgiram sendo que o Responsible
Care Program, a BS 7750 e o EMAS foram os que mais contriburam para o surgimento da
norma ISO 14001(CAMPOS, 2001). A ISO 14.001 consiste na International Standardization
of Organization e foi importante o seu surgimento por que ela uma norma
internacionalmente aceita, que define os requisitos para estabelecer e operar um Sistema de
Gesto Ambiental.
A partir desse momento, diversas organizaes passaram a desenvolver as suas aes
gerenciais com vistas a compatibilizar o sistema de produo com questes voltas ao meio
ambiente. E isso se tornou uma prtica valorizada pela sociedade e principalmente pelos
clientes.
Esta validao da questo pelos diversos atores sociais fez nascer na literatura uma
srie de taxonomias de gesto ambiental empresarial e de estratgias ambientais. Nesse
sentido, Rohrich e Cunha (2004) conceituam gesto ambiental como sendo o conjunto de
polticas e prticas administrativas e operacionais, que levam em considerao a sade, a
segurana das pessoas e a proteo do meio ambiente por meio da eliminao ou mitigao
dos impactos e danos ambientais decorrentes do planejamento, implantao, operao,
ampliao, realocao ou desativao de empreendimentos e atividades, incluindo-se todas as
fases do ciclo de vida do produto. Seiffert (2005), por sua vez, descreve a gesto ambiental
26
como sendo um conceito que engloba as atividades de planejamento e organizao do
tratamento dos aspectos ambientais pela empresa, objetivando o alcance de metas ecolgicas
especficas.
Dentre as investigaes possvel citar os trabalhos de Hart (1995), Porter e Van der
Linde (1995a), Berry e Rondinelli (1998), Aragn-Correa e Sharma (2003), Epstein e Roy
(2003). Em parte, tais pesquisas so decorrentes das mudanas significativas na legislao
ambiental de alguns pases, regulao e taxao associadas com mudanas em direo a mais
coerente resposta internacional s questes ambientais, relacionadas a questes climticas e
baixa qualidade do ar e da gua. Incentivos comerciais por parte da ONU tambm contribuem
para a melhoria da eficincia ambiental das empresas e para a eliminao de resduos, pois
esta surge na forma de altos custos de entrada e reduz o nvel de competio, devido
intensificada interdependncia da economia global e rpida industrializao entre economias
de transio, condies que seriam minimizadas pelos incentivos.
Ainda, h aqueles que elaboram anlises empricas do relacionamento entre
desempenho financeiro corporativo e desempenho ambiental, como o caso de Bansal e
Bogner (2002), Christmann (2000), Clemens (2005), Hillary (1998, 2000), Sharma e
Vedrenburg (1998). Tais iniciativas tm contribudo para o crescimento da adeso gesto
proativa das empresas no que tange aos impactos ambientais e pode atrair consumidores
interessados nas questes ambientais. Ao mesmo tempo, evitam custos de no conformidade
com a legislao ambiental, contribuindo na melhoria da eficincia dos recursos e conduzem a
um processo de contnua aprendizagem para mltiplos stakeholders, o que souberam
desenvolver de maneira eficiente os estudos de Porter e Van der Linde (1995a, 1995c).
Dahlmann, Brammer e Milington (2008) destacam que outros trabalhos empricos
contribuem com a identificao de benefcios financeiros, de melhoria do desempenho
ambiental e do nfase a esferas muito significativas, a exemplo dos aspectos de reputao e
consequncias penais da no conformidade com leis e regulamentos.
A investigao acerca da temtica ambiental evidenciou que essa rea tem sido
associada ao desempenho, ao uso dos recursos e s capacidades internas nos estudos
desenvolvidos na ltima dcada. Essa evidenciao permite a realizao da inferncia de que
as organizaes olham para a estrutura organizacional existente para identificar as alternativas
disponveis alocao dos recursos para que consigam desenvolver uma gesto ambiental que
atenda aos requisitos legais, que seja eficiente e que satisfaa os stakeholders que interagem
com a mesma. Entretanto, Dahlmann, Brammer e Milington (2008) afirmam que o nvel em
que as empresas tm integrado a preocupao com o meio ambiente nas prticas gerenciais
27
muito diversificado e heterogneo, constituindo-se uma importante barreira ou obstculo na
implementao de estratgias ambientalmente responsveis.
Considerando o teor conjunto - varivel ambiental, sistema de gesto ambiental,
estratgias ambientais, presses ambientais e prticas ambientais emergente das pesquisas
descritas anteriormente, possvel inferir que tais investigaes fornecem razes convincentes
para as empresas aquelas comprometidas com o conceito de sustentabilidade, de gerenciar
de maneira sria os seus impactos ambientais.
A heterogeneidade na adoo de estratgia tem sido percebida como estgios
evolutivos da gesto ambiental como proposto por Maimon (1994), Donaire (1994), Sanches
(2000), Corazza (2003), Rohrich e Cunha (2004) e Barbieri (2004). Percebe-se, que so
adotadas formas de classificao com dois ou trs nveis, para caracterizar a preocupao da
empresa com os aspectos ambientais. Jabbour e Santos (2006) relatam que a difuso das
taxonomias de gesto ambiental ocorreu com base na divulgao dos trabalhos de Carrol
(1979) e de Wartick e Cochrane (2000), que propuseram a anlise da responsabilidade social
da empresa luz de escalas evolutivas, o que posteriormente foi extrapolado para vislumbrar
de maneira analtica a gesto ambiental empresarial.
Jabbour e Santos (2006) mapearam as diferentes formas de relao entre empresa e
meio ambiente, consistindo em uma sistematizao das formas de integrao da varivel
ambiental na organizao. As mesmas foram agrupadas e apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1: Taxonomias de Gesto Ambiental Autores Proposies de Estgios Evolutivos da Gesto Ambiental
Maimon (1994) Descreve trs estgio de resposta empresarial crescente presso social em matria
ambiental. O primeiro estgio refere-se adaptao da empresa regulamentao ou
exigncias provindas do mercado, partindo para a incorporao de equipamentos de
controle de poluio nas sadas, sem modificar a estrutura produtiva e o produto (as
tecnologias conhecidas como fim de processo (end of pipe). O segundo estgio consiste
na adaptao das atividades empresariais regulamentao vigente e as exigncias de
mercado relacionadas questo ambiental, procedendo a modificao de processos e de
produtos (incluindo as embalagens), buscando a preveno da poluio e problemas que
prejudiquem a viabilizao e implantao da estratgia empresarial. O terceiro estgio
consiste na antecipao aos problemas ambientais futuros, por meio da adoo de um
comportamento pr-ativo e de busca pela eco-eficincia empresarial, cujo princpio
integrar a funo ambiental ao planejamento estratgico da empresa.
Donaire (1994) Analisa a resposta da indstria questo ambiental por meio de trs estgios evolutivos.
A primeira fase conhecida como controle ambiental de sada, a exemplo das chamins,
as redes de esgoto, mantendo a estrutura produtiva j existente, o que nem sempre
apresenta resultados almejados, j que os benefcios decorrentes dessa alternativa so
muitas vezes contestados pela sociedade civil e pelo prprio empresariado. Na segunda
fase, criada com base na insatisfao social, a varivel ambiental integrada nas prticas
e processos produtivos, sendo considerada atividade da funo de produo. A terceira
fase foi criada com base na competitividade centrada no desempenho ecolgico do
produto e denominada de controle ambiental no mbito dos negcios, chamada de
controle ambiental na gesto administrativa. Nessa fase a gesto ambiental deixa de ser
28
uma exigncia punida por multas e sanes e passa a ser vislumbrada como
oportunidades e ameaas, em que as consequncias tm impacto sobre a sobrevivncia da
empresa.
Sanches (2000) Descreve dois tipos de alternativas para a insero da varivel ambiental dentro da
empresa. O tipo um compreende a dimenso ambiental como um fator gerador de custos
operacionais extras, como elemento de entrave expanso dos negcios da empresa. No
tipo dois ocorre a gesto ambiental proativa, na qual a dimenso ecolgica vislumbrada
como uma oportunidade real de gerao de lucros, mediante a incorporao de um grupo
tcnico especfico e de um sistema gerencial especializado. Cria-se um departamento
ambiental na estrutura da organizao, o qual promove um melhor relacionamento da
empresa com o ambiente natural, por meio de avaliao e controle dos impactos
ambientais, mobilizando todos os setores da organizao em uma atitude pr-gesto
ambiental.
Corazza (2003) Descreve que a estrutura da unidade pode ser alterada de duas maneiras. A primeira
consiste na integrao pontual da varivel ambiental, pela criao da funo, cargo ou
departamento ambiental, corroborando a centralizao dessa iniciao funcional.
Todavia, essa alternativa pode ser pouco eficiente, pois exclui a possibilidade de
desenvolvimento proativo da perspectiva ecolgica. A segunda prev a integrao
matricial da gesto ambiental a partir da mobilizao dos setores internos da organizao,
necessrios ao planejamento, execuo, reviso e desenvolvimento da poltica ambiental,
envolvendo as reas de recursos humanos, produo, gesto e pesquisa e
desenvolvimento. As organizaes que almejam a excelncia em adequao ambiental
procuram fazer essa integrao, comumente impulsionada pela implantao de um
sistema baseado em normas da srie ISO 14.000, que orientam a empresa para a busca
contnua e crescente da qualidade ambiental. Entretanto, a integrao matricial da
dimenso ambiental torna-se exequvel quando tangencia as prticas administrativas da
cpula empresarial, sendo um fator determinante da estratgia organizacional e do seu
desempenho.
Rohrich e Cunha
(2004)
Com base na pesquisa desenvolvida em 37 empresas brasileiras, concluram que a
evoluo da gesto ambiental ocorre em trs estgios. O primeiro estgio denominado
de controle, busca-se monitorar a poluio e atender s exigncias legais, estando a
gesto ambiental restritas s decises de manufatura. Portanto, engloba as empresas que
adotam as prticas mais simples de gesto ambiental. No segundo estgio denominado de
preveno, a varivel ambiental introduzida nas decises de compra de matrias-primas
e seleo de fornecedores. As auditorias so responsveis pelo controle do desempenho
ambiental da empresa, havendo uma preocupao com o desempenho ecolgico de
processos e produtos. O terceiro estgio denominado de proatividade, desenvolvido sob
a gide da alta gerncia, que toma a gesto da varivel ambiental como dimenso
estratgica e fornece autoridade formal para os responsveis poderem agir em todos os
setores da empresa. Enquadram-se nessa categoria as empresas que adotam as melhores
prticas de gesto ambiental.
Barbieri (2004) Descreve trs tipos de abordagem ambiental na empresa. A primeira abordagem
conhecida como controle da poluio, haja vista que os esforos organizacionais so
orientados para o cumprimento da legislao ambiental e atendimento das presses da
comunidade, sendo reativa e vinculada apenas rea produtiva. Na segunda abordagem
ocorre a preveno, havendo uma preocupao com o uso eficiente dos insumos, a
preocupao ambiental mais incisiva na rea manufatureira, mas comea a expanso
para todas as reas da organizao. Na terceira abordagem a questo ambiental se torna
estratgica para a empresa e as atividades ambientais encontram-se disseminadas pela
organizao. Fonte: elaborado a partir de Jabbour e Santos (2006) e Cunha et al (2009)
A partir desses estudos, Jabbour e Santos (2006) colocam que as empresas integram a
questo ambiental s suas prticas gerenciais em trs estgios evolutivos, assim denominados:
(i) especializao funcional da gesto ambiental; (ii) integrao interna da dimenso
ecolgica; e (iii) integrao externa da varivel ecolgica, que correspondemas abordagens
29
reativa, preventiva e proativa. O comportamento reativo foi amplamente descrito por Maimon
(1996) e ocorre quando a internalizao da varivel ambiental orientado para o atendimento
de demandas mercadolgicas e adequao a legislao ambiental vigente. Tal comportamento
adotado por organizaes que no consideram a varivel ambiental como oportunidade de
negcios futuros, reagindo lentamente s mudanas no ambiente de negcios.
Na abordagem preventiva h a determinao de atividades ambientais pautada nos
objetivos de desempenho da empresa, principalmente no que se relaciona com a preveno da
poluio. Nesse estgio, o desempenho ambiental da empresa no ainda tratado como fator
estratgico, e os objetivos de preveno so estabelecidos sem a participao efetiva da rea
ambiental (SEIFFERT, 2005). Na abordagem proativa as questes ambientais no so
consideradas apenas problemas a serem evitados, mas elementos geradores de vantagem
competitiva. Os principais autores dessa abordagem so Maimon (1994), Donaire (1994),
Sanches (2000), Rohrich e Cunha (2004) e Barbieri (2004).
Conforme Sanches (2000) as empresas industriais passam a adotar posturas proativas
em relao ao meio ambiente por meio da incorporao de fatores ambientais nas metas,
polticas e estratgias da empresa. Para fazer isso, levam em considerao os impactos
ambientais ocasionados pelo processo produtivo e tambm dos seus produtos. A organizao
que adota uma postura proativa vislumbra a proteo ambiental como fator integrante dos
objetivos de negcios da empresa, com possibilidades de gerao de lucro, em detrimento da
viso tradicional de ser um adicional de custo. As estratgias ambientais proativas na forma
de investimentos em tecnologias de preveno da poluio, mesmo quando se trata de
investimentos reativos em controle da poluio, somente levam a melhoria competitiva e do
ambiente natural quando eles esto associados com o desenvolvimento de determinadas
estratgias de gesto e processos de manufatura.
O meio ambiente passa a ser uma questo estratgica para os negcios da empresa, e,
conforme Buchholz (1992) gera oportunidades e impacto significativo no crescimento, na
rentabilidade ou na sobrevivncia dos negcios. Christmann (1997) constatou em seu estudo
de tese que competncias verdes de empresas especficas definem o processo de inovao e
capacidades de implementao, moderando o relacionamento entre estratgias ambientais e
competitividade. Posto isso, conclui que as melhores prticas de gesto ambiental no
contribuem de forma indiscriminada na vantagem competitiva de todas as firmas. Estas
precisam escolher estratgias ambientais que se ajustam com suas estratgias de negcios.
Christmann (2000) e Shrivastava (1995) analisaram os resultados de estratgias
ambientais proativas e argumentam que as mesmas contribuem para a melhoria da vantagem
30
competitiva por reduzirem custos e melhorarem o quesito diferenciao. Gilbert e Birnbaum
More (1996) destacam que alguns estudos tm mostrado que os pioneiros ambientais
usufruem de uma melhor tecnologia de mercado e de desempenho empresarial graas
vantagem de adoo precoce.
Sobretudo, fundamental destacar que sob o prisma de estratgia proativa, as aes
ambientais geram uma nova perspectiva de agenda de negcios. Esta, conforme Sanches
(2000) pode ser estabelecida considerando o meio ambiente como base de negcios ou de
desenvolvimento de ideias, sendo que o mesmo apresenta oportunidades e ameaas para os
interesses dos negcios. Alm disso, com base no meio ambiente possvel identificar novas
oportunidades para o desenvolvimento de processos, produtos e mercados. A base para o
desenvolvimento de ideias traz novas formas de pensar e questes como o desenvolvimento
sustentvel e a responsabilidade ambiental.
Essa nova dimenso engloba o estabelecimento de uma responsabilidade ambiental
por processos e produtos que envolve um relacionamento diferente, compartilhado, com
fornecedores e consumidores, no que se refere preveno da poluio, minimizao dos
resduos e proteo dos recursos naturais. Sanches (2000) destaca que a essas questes so
adicionados aspectos de bem estar dos trabalhadores, da comunidade e das geraes futuras.
Pautado nesse contexto, as empresas industriais precisam utilizar horizontes de longo prazo e
vises mais amplas de seus processos de desenvolvimento de produtos e anlise de
desempenho. Sobretudo, esse olhar requer um novo conjunto de valores, incluindo polticas e
metas que incorporem a dimenso ambiental na organizao.
Para chegar nesse nvel da estratgia ambiental da organizao necessrio mudar,
conforme Sanches (2000), iniciando pelo ambiente interno da empresa. Tais mudanas
englobam o reconhecimento da natureza interdisciplinar e interfuncional dos problemas
ambientais, o que exige que as reas funcionais da organizao interajam e se integrem, em
termos de comunicao, de autoridade e de fluxo de trabalho. Igualmente, elas requerem
novas maneiras de se relacionar com os grupos de interesse da organizao, como
trabalhadores, consumidores, fornecedores, agncias governamentais, comunidades, etc,
dando-lhes sinais de que esforos esto sendo efetuados para atender as suas exigncias e para
prever demandas futuras. Em decorrncia, se faz necessria uma estrutura que suporte essa
interao, integrao e comunicao, interna e externa.
Ainda, h uma necessidade de gerar mudanas atinentes busca de novas
informaes, seja sobre os impactos ambientais de processos e de produtos, atuais e futuros
ou de conceitos, de ferramentas, de tcnicas, de tecnologias e de sistemas, para alinhar a
31
organizao tanto s exigncias como s tendncias externas. Nesse enredo, necessrio
aceitar pensamentos e anlises que comportem as ambiguidades, complexidades e
interdependncias que afetam questo ambiental e implementar um sistema de gesto que
comporte as novas tarefas, assim como talentos necessrios para gerenciar esta dimenso. A
nova postura ser mais facilmente viabilizada por meio de distintas estratgias ambientais.
Estas na viso de Aragn-Correa e Sharma (2003) so as estratgias da organizao na
gesto da interface entre seus negcios, o ambiente natural e as regulaes ambientais e
devem ser moldadas, segundo Itami (1994), pelos clientes, concorrentes e pela tecnologia.
Porm, para que isso ocorra empresa deve se articular internamente e ter cincia de que o
nvel de recursos e o clima organizacional iro determinar a sua capacidade para implementa-
las.
Logo, as empresas podem viabilizar a incorporao da varivel ambiental estratgia
de negcios por meio da mobilizao e combinao dos seus recursos e capacidades, de modo
a extrair vantagem competitiva. Barney (1991) apresenta outra contribuio, ao aferir que a
organizao precisa efetuar a anlise das oportunidades e ameaas em seu ambiente
competitivo. Dentro deste ambiente, cada empresa desenvolve uma base estvel de recursos, a
partir da qual as estratgias so formuladas.
As estratgias ambientais so classificadas em diferentes tipologias, como por
exemplo as que foram mapeadas, quanto a fase de evoluo ambiental (fase de politizao,
legislativa e litigao) (SHARMA; PABLO; VEDRENBURG, 1999); ambientalismo
industrial, ambientalismo regulatrio, ambientalismo como responsabilidade social e
ambientalismo estratgico (HOFFMAN, 1999); postura reativa, preveno poluio e
perspectiva estratgica (COTRIN; MARTINELLI, 1999); especializao funcional,
integrao interna e integrao externa ou integrao estratgica (JABBOUR; SANTOS,
2006); quanto s respostas s presses ambientais (grupo proativo, grupo reativo, grupo
estratgico e grupo preveno as crises) (RONDINELLI; VASTAG, 1996); defensoras de
portflio, as escapistas, as inativas ou indiferentes e as ativistas (BROCKHOFF;
CHAKRABARTI, 1999); estratgia ambiental lobista ou passiva, reativa, estratgia verde
antecipativa e estratgia verde orientada inovao (AZZONE, BERTELL; NOCI, 1997);
modelo de conformidade e o modelo estratgico; as estratgias reativas e as proativas; o
greening reativo deliberado, o greening pr-ativo; o greening no realizado e o greening ativo
emergente (WINN; ANGELL, 2000) e quanto ao foco das estratgias ambientais (as
direcionadas a processos (BROCKHOFF; CHAKRABARTI, 1999) e as direcionadas a
produtos (NASCIMENTO, 2001)) (SOUZA, 2002; CUNHA et al, 2009).
32
Cunha et al (2009) afirmam que os diferentes modelos e tipologias de gesto
ambiental foram criados por causa das diferenas nos motivos que levaram as organizaes a
incorporarem a varivel ambiental em sua rotina. As tipologias so sistematizadas no Quadro
2 e consistem naquelas mapeadas em um recorte temporal compreendido entre 1976 e 2007.
Quadro 2: Modelos e tipologias de estratgias ambientais Autores Classificao Descrio da Tipologia
Grupos de Tipologias Quanto Fase de Evoluo Ambiental
Ackerman e
Bauer
(1976)
- Percepo
- Compromisso
- Ao
1) Fase de percepo: a alta direo visualiza a necessidade de contemplar no
planejamento as variveis ambientais que podem afetar a empresa em sua
poltica organizacional e passa a considerar a necessidade de pessoal
especializado para compor uma equipe capaz de tratar destas atividades.
2) Fase de compromisso: a empresa solicita assessoria especfica para apoio
na conduo das aes relativas s variveis ambientais. A partir disso, a
organizao desdobra seus objetivos para os demais nveis e prepara o
caminho para uma nova fase, atravs da disseminao do comprometimento
organizacional.
3) Fase da ao: caracteriza-se pelo amadurecimento e busca de aes
concretas em atividades produtivas e administrativas, na modificao de
processos e produtos com aporte de recursos, de forma que a empresa passe a
incorporar as variveis ambientais na estrutura organizacional e em sua
cultura.
Sharma,
Pablo e
Vendrenburg
(1999)
- Gestao
- Politizao
- Legislativa
- Litigao
1) Fase de gestao: evoluo embrionria das questes ambientais, pois
ainda era baixa a preocupao com regulamentao e preservao ambiental.
2) Fase de politizao: as discusses sobre polticas pblicas e revises de
regulamentaes passaram a ser intensificadas e as empresas limitavam-se a
atender a legislao pertinente, mostrando pouco interesse nas questes
ambientais.
3) Fase legislativa: se caracterizou por vrios eventos que intensificaram a
preocupao com o meio ambiente. Sob a influncia de acordos como o
Protocolo de Montreal, das presses da opinio pblica e das
regulamentaes, as empresas passaram a entender a necessidade de reduo
dos riscos ambientais. Esses fatos foram decisivos para a mudana de postura
das empresas.
4) Fase de litigao: que consistiu na representao dos interesses em juzo
relativos a litgio. Nesse perodo as preocupaes pblicas continuaram em
alta e as regulamentaes foram consolidadas. A partir da, os administradores
passaram a ser considerados responsveis criminalmente pelos problemas
ambientais de suas organizaes.
Hoffman
(1999)
Estgio 1
(1962- 1971) -
ambientalismo
industrial
Estgio 2
(1971- 1982) -
ambientalismo
regulatrio
Estgio 3
(1983-1988)
ambientalismo
como
responsabilidade
social
Estgio 1 (1962- 1971): chamado de ambientalismo industrial. Em 1960, a
ateno de indstria para assuntos ambientais era baixa. A organizao focava
na soluo interna de problemas. Dois eventos foram primordiais para a
transio: a publicao do livro Silent Spring, de Richard Carson em junho
de 1962 e, a mortandade de peixes no Rio Mississipi em 1963.
Estgio 2 (1971- 1982): denominado de ambientalismo regulatrio, foi
marcado pela celebrao do primeiro Dia da Terra envolvendo 20 milhes de
pessoas e outro, foi a criao da Agncia de Proteo Ambiental dos Estados
Unidos (EPA). O enfoque foi dados nas regulamentaes, j que as leis
estavam se tornando cada vez mais rigorosas.
Estgio 3 (1983-1988): caracterizou o ambientalismo como responsabilidade
social. Em 1983, a nomeao de um novo administrador da EPA, pelo
Presidente dos Estados Unidos da Amrica foi um evento ambiental marcante.
Esta fase se caracterizou, ainda, pela reduo de poluio e minimizao dos
resduos pela associao de indstrias para realizao de disposio adequada.
Estgio 4 (1989-1993): o ambientalismo estratgico, foi caracterizado atravs
do direcionamento da alta administrao para aes proativas ao meio
33
Estgio 4
(1989-1993)
ambientalismo
estratgico
ambiente. Um dos eventos marcantes para a transio foi o derramamento do
Exxon Valdez em maro de 1989.
Cotrin e
Martinelli
(1999)
- Postura reativa
- Preveno a
poluio e
- Postura
estratgica
1) Postura reativa: no que diz respeito percepo de oportunidades
estratgicas e operacionais relacionadas gesto ambiental. As empresas
somente atendem a legislao, buscando minimizar os aspectos e impactos
ambientais negativos.
2) Preveno da poluio no processo produtivo: consiste na incorporao de
medidas de preveno contra a ocorrncia de poluio das etapas de
produo;
3) Reconhecimento da perspectiva estratgica perante as questes ambientais:
caracterizada pela integrao de todas as reas funcionais da empresa e
aproveitamento das oportunidades da conscincia ambiental dos funcionrios.
Jabbour e
Santos
(2006)
- Especializao
funcional
- Integrao
interna
- Integrao
externa ou
integrao
estratgica
1) Especializao funcional: a empresa se caracteriza por prevenir os
problemas ambientais, j que estes podem causar restries para a alta
administrao. A contribuio das atividades da rea de recursos humanos
para o gerenciamento ambiental desenvolver o profissional, perito em
controle de poluio e em outras funes pertinentes ao cargo.
2) Integrao interna do gerenciamento ambiental: a fase na qual o objetivo
de desempenho da organizao a preveno da poluio. O desempenho
ambiental ainda no tratado como um fator estratgico e os objetivos so
geralmente estabelecidos pela administrao, sem a participao do pessoal da
rea de gesto ambiental. A gesto ambiental ainda baseada em
regulamentaes e demandas de mercado. Os gerentes ambientais buscam
ajustar suas polticas e programas estratgia atual do negcio. Assim sendo,
a varivel ambiental pode ser utilizada no desenvolvimento de alguns produtos
e processos.
3) Integrao externa ou estratgica: trata das aes ambientalmente pr-
ativas, enfocando as oportunidades estratgicas competitivas da organizao.
Dentre os benefcios desta postura organizacional pode-se citar,
principalmente, melhor imagem da organizao, renovao dos produtos,
aumento da produtividade e acesso aos mercados externos.
Tipologias de Estratgias Quanto s Respostas as Questes Ambientais
Baumol e
Oates (1979)
- Reativo
- tico ambiental
1) Reativo: a responsabilidade ambiental e a lucratividade abrem um leque de
constantes contradies, uma vez que estas empresas valorizam a
maximizao de lucros em curto prazo de tempo.
2o) Modelo tico ambiental da organizao: nesta viso a tica ambiental faz
parte da misso corporativa da empresa em longo prazo, que atua em conjunto
com a comunidade e movimentos ambientalistas.
Meredith
(1995)
- Estratgia
reativa
- Estratgia
ofensiva
- Estratgia
inovativa
1) Estratgia reativa: caracterizada por atender os requisitos mnimos, ainda
relutando, em relao legislao ambiental local e ao gerenciamento de
riscos; e, a implantao de equipamentos de controle de poluio na sada para
o meio ambiente (end-of-pipe). Esta estratgia no contempla modificaes
em estrutura produtiva e nos produtos e no reconhece adequadamente a
relao entre responsabilidade ambiental e maximizao dos lucros. Neste
caso, os investimentos em melhorias so vistos puramente como despesas.
2) Estratgia ofensiva: tem como premissas bsicas o atendimento
preveno da poluio, a reduo do uso de recursos naturais, o cumprimento
das leis - indo alm dos meros dispositivos legais. Assim sendo, a empresa se
mostra em processo de mudana de seus processos, produtos e servios,
antecipando-se aos concorrentes na seleo de matrias primas, nas alteraes
de embalagens e no estabelecimento de padres industriais, por exemplo. Um
dos objetivos principais desta fase obter vantagem competitiva, utilizando-se
de tcnicas de marketing e reconhecendo a interface entre as estratgias
ambientais e de negcio.
3) Estratgia inovativa: as organizaes mostram-se preparadas para
antecipar-se aos problemas ambientais, valendo-se de solues prprias e
fortalecendo sua posio no mercado. O gerenciamento do ciclo de vida do
produto entendido pela empresa, como uma busca por excelncia ambiental
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