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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
VÂNIA MARINHO FERNANDES
DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004
São José 2009
VÂNIA MARINHO FERNANDES
DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004
Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Esp. Roberta Schneider Westphal
São José
2009
VÂNIA MARINHO FERNANDES
DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004
Esta Monogragia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel
e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de Concentração:
São José, 17 de novembro de 2009.
Prof. Esp. Roberta Schneider Westphal UNIVALI – Campus de
Orientador
Prof. MSc. Nome Instituição Membro
Prof. MSc. Nome Instituição Membro
Dedico este trabalho aos meus pais Vânio e Regina
pela força e pelo eterno incentivo nessa trajetória
fundamental da minha vida.
AGRADECIMENTOS
À DEUS pela oportunidade de finalizar com sucesso essa etapa da minha
vida.
Aos meus pais por toda dedicação incansável e por não medir esforços
durante todos esses anos de estudo para que eu conseguisse alcançar meus
objetivos.
À minha irmã, pessoa muito especial, minha companheira e amiga que amo
muito.
A minha orientadora Professora MSc Roberta Schneider Westphal que
através de seu valioso conhecimento jurídico contribuiu para o desenvolvimento
desse trabalho.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
São José, 17 de novembro de 2009.
Vânia Marinho Fernandes
RESUMO
O presente trabalho tem como objeto a verificação da possibilidade de aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004 e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito; investigar, à luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência, a possibilidade da aplicação da referida modalidade de intervenção de terceiro na Justiça Especializada; específico, desenvolver um trabalho que abordará, inicialmente, as noções históricas do processo do trabalho e alcançará a Emenda Constitucional n. 45/2004, responsável pela ampliação da competência da Justiça do Trabalho e pelo ressurgimento da discussão acerca do cabimento da denunciação à lide nessa esfera especializada. O tema é atual e merece ser objeto de estudos mais aprofundados, uma vez que a possibilidade de aplicação da denunciação é assunto presente na resolução de conflitos trabalhistas. Ademais, com a edição da Emenda Constitucional n. 45/2004, a matéria passou novamente a ser discutida na doutrina e nas decisões de tribunais na justiça trabalhista. O trabalho foi desenvolvido através do método dedutivo e encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro trata do processo do trabalho e suas ramificações; o segundo, das modalidades de intervenção de terceiro, e finalmente, o terceiro, do cabimento da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004, objeto do trabalho.
Palavras chave: Processo do Trabalho, intervenção de terceiro, denunciação à lide,
Emenda Constitucional n.45/2004.
ABSTRACT
The present paper has as objective verify the possibility of implementing the denunciation to deal in labor process after the constitutional amendment n. 45/2004 and, the following objectives: institutional, producing a monograph for obtaining a bachelor's degree in Law and investigate in the light of legislation, doctrine and jurisprudence, the possibility of implementing this type of intervention of third in the Specialized Justice ; specific, develop a paper that will take a approach, first, the historical notions of labor process and reach the Constitutional Amendment 45/2004, responsible for expanding the competence of the Labor Justice and the resurgence of the discussion of suitability of the denunciation to deal in this specialized sphere. The subject is current and should be object of further study, since the possibility of application of denunciation is subject in the resolution of labor conflicts. Furthermore, in the edition of the Constitutional Amendment n. 45/2004, the matter became again discussed in doctrine and court decisions in labor justice. The paper was developed through the deductive method and is divided into three chapters. The first deals with the labor process and its ramifications; the second, of intervention arrangements of third, and finally, the third, the denunciation to deal in labor process after the constitutional amendment n. 45/2004, the object of this paper.
Keywords: Labor Process, intervention of third, denunciation to deal, impleader,
Constitutional amendment n.45/2004.
ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
CLT- Consolidação das Leis do Trabalho
CPC- Código de Processo Civil
CRFB /88- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
EC- Emenda Constitucional
OJ- Orientação Jurisprudencial
SDI- Seção Especializada em Dissídios Individuais
TRT- Tribunal Regional do Trabalho
TST- Tribunal Superior do Trabalho
.
ROL DE CATEGORIAS
Processo
“[...] Processo é o caminho para a solução do conflito submetido à jurisdição. Noutro
falar, o processo é o ponto de intercessão entre a ação e a jurisdição”.1
Jurisdição
“[...] É o poder, o dever, e a função estatal de dizer o direito: jus dicere”.2
Competência
“A competência é uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz. [...] É a determinação
jurisdicional atribuída pela Constituição ou pela lei a um determinado órgão”.3
Princípios
“São preposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o legislador na
elaboração da norma. [...] Atuam como fonte integradora da norma, suprindo as
omissões e lacunas do ordenamento jurídico”.4
Terceiro
“Terceiro quer dizer estranho à relação processual estabelecida entre autor e réu”.5
Intervenção de terceiro
“Consiste no ingresso de alguém em processo já existente entre outras partes”.6
1 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São
Paulo: LTr, 2008. p 329. 2 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São
Paulo: LTr, 2008. p 329. 3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A,
2006. p 91. 4 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método,
2007. pg 31. 5 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2008. p 75. 6 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do
Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 176.
Denunciação à Lide
“É a demanda com que a parte provoca a integração de um terceiro ao processo
pendente, para o duplo efeito de auxiliá-la no litígio com o adversário comum e de
figurar como demandado em segundo litígio”.7
7 DINAMARCO, Candido Rangel apud SOUZA, Josyanne Nazareth de. Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 105.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1. DA TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .................. 16
1.1 DO PROCESSO DO TRABALHO - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ...................... 16
1.2 DO CONCEITO DE PROCESSO DO TRABALHO ............................................. 19
1.3 FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO ........................................................ 21
1.4 PRINCÍPIOS COMUNS AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ............................................................................... 26
1.4.1 Princípio do dispositivo ou da demanda ...................................................... 27
1.4.2 Princípio inquisitivo ou do impulso oficial .................................................. 27
1.4.3 Princípio da impugnação especificada ........................................................ 28
1.4.4 Princípio da instrumentalidade ..................................................................... 29
1.4.5 Princípio da estabilidade da lide ................................................................... 29
1.4.6 Princípio da preclusão ................................................................................... 30
1.4.7 Princípio da eventualidade ............................................................................ 31
1.4.8 Princípio da economia processual, da perpetuatio jurisdictionis e do ônus da prova ................................................................................................................... 31
1.4.9 Princípio da oralidade .................................................................................... 32
1.4.10 Princípio da imediatidade ou imediação .................................................... 33
1.4.11 Princípio da identidade física do juiz .......................................................... 33
1.4.12 Princípio da concentração ........................................................................... 33
1.4.13 Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias ..................... 34
1.4.14 Princípio da lealdade processual ................................................................ 35
1.5 PRINCÍPIOS PECULIARES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ...... 35
1.5.1 Princípio da proteção ..................................................................................... 35
1.5.2 Princípio da conciliação ................................................................................ 36
1.5.3 Princípio da finalidade social ........................................................................ 37
1.6 ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO ................... 38
1.6.1 Organização da Justiça do Trabalho ............................................................ 38
1.6.2 Competência da Justiça do Trabalho ........................................................... 44
2. DAS PARTES E DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ....................................... 49
2.1 DAS PARTES ...................................................................................................... 49
2.2 DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ................................................................. 52
2.2.1 Assistência ..................................................................................................... 54
2.2.2 Oposição ......................................................................................................... 61
2.2.3 Nomeação à autoria ....................................................................................... 64
2.2.4 Chamamento ao Processo ............................................................................ 67
3. DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO .......................... 71
3.1 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE ................................................................................ 71
3.2 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004 ................................................................ 76
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 95
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 99
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto de estudo verificar a possibilidade
de aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a promulgação da
Emenda Constitucional nº 45/2004, responsável pela alteração da competência da
Justiça Trabalhista.
Isto porque alguns juristas entendem que essa modalidade de intervenção
de terceiros é incabível na Justiça do Trabalho, visto que, essa não tem competência
material para julgar a relação entre denunciante e denunciado.
Nesse aspecto, argumenta-se que escapa da competência da justiça
especializada a resolução de questões que envolvem terceiros, mormente o direito
regressivo.
Não bastasse isso, as controvérsias acerca do cabimento do instituto da
denunciação à lide na justiça trabalhista, estendem-se às peculiaridades do
processo do trabalho, como seus princípios próprios. Nessa esteira, analisa-se se a
aplicação do instituto em comento fere ou não os princípios da economia e
celeridade processual, próprios da Justiça do Trabalho.
Outro fator que ensejou o ressurgimento da discussão diz respeito ao
cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da SDI-I do Tribunal Superior do
Trabalho. A referida Orientação tratava a respeito da incompatibilidade da
denunciação à lide com o processo laboral, logo, o seu cancelamento, decorrente da
EC nº 45/2004, motivou novas cizânias doutrinárias e jurisprudenciais acerca do
tema ao passo que o próprio TST ao atualizar sua jurisprudência estava adaptando-
se à reforma da Justiça do Trabalho.
De modo geral, são nesses momentos que surgem as controvérsias, ponto
de exame da presente pesquisa e alvo de entendimentos divergentes.
Tais indagações fizeram refletir sobre a possibilidade de aplicação da
denunciação à lide na esfera trabalhista, principalmente após a edição da Emenda
Constitucional nº 45/2004.
Dessa forma, o objetivo da pesquisa é estudar, à luz da reforma da Justiça
do Trabalho, a possibilidade da aplicação do instituto no processo laboral.
15
Para tanto, o trabalho foi dividido em três capítulos distintos, nos quais, se
desenvolverá todo arcabouço teórico pertinente.
No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre as noções históricas da justiça do
trabalho e do processo do trabalho, seu surgimento, conceito, organização, bem
como as fontes e os princípios que norteiam o processo do trabalho.
No segundo capítulo analisar-se-á as modalidades de intervenção de
terceiros, que podem ser voluntária quando trata-se de assistência e oposição, ou
ainda provocada, quando refere-se a nomeação à autoria, chamamento ao processo
e denunciação à lide.
Já no terceiro capítulo, examinar-se-á mais detalhadamente a possibilidade
da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional nº
45/2004.
Quanto à metodologia, registra-se que, será utilizado o método dedutivo, que
consiste em pesquisas que partirão do conceito de processo do trabalho até a
análise acerca da aplicação da intervenção de terceiro na Justiça Trabalhista, em
especial, a denunciação à lide.
Com efeito, a técnica utilizada é a documental indireta, ou seja, as doutrinas
e as legislações referentes ao tema. Também se utilizará à pesquisa documental
direta, por meio de análise de entendimentos jurisprudenciais.
Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o
esclarecimento de alguns pontos controvertidos no que tange a possibilidade ou não
da aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a edição da
Emenda Constitucional nº 45/2004.
1. DA TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Inicialmente, para melhor compreensão a respeito da evolução da Justiça do
Trabalho e possível estudo do processo do trabalho, faz-se necessária abordagem
acerca de sua história, conceito, fontes e princípios, organização e sua atual
competência.
1.1 DO PROCESSO DO TRABALHO - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
A Revolução Industrial ocasionou significativas mudanças no que diz
respeito às condições de trabalho, vez que as tarefas desenvolvidas pelos
trabalhadores foram substituídas pela utilização de máquinas, gerando com isso o
desemprego. O lucro decorrente do funcionamento das máquinas resultou para
alguns empresários a riqueza, enquanto para população a pobreza generalizada. 8
A situação fez com que os trabalhadores, através da greve, exigissem dos
donos das máquinas melhores salários, redução do horário de trabalho e
fornecimento de ambiente menos insalubre.9
Desse modo, a substituição do trabalho humano pelo funcionamento das
máquinas favoreceu de forma significativa as mudanças nas estruturas sociais, na
medida em que os conflitos decorrentes dos interesses entre trabalhadores e
empresários passaram a tornar-se cada vez mais freqüentes, seguida muitas vezes
e violência. 10
Nessa época o Estado liberal não preocupava-se com as relações de
emprego. No entanto, face aos prejuízos decorrentes da produção e o
8 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 9 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 10 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399.
17
empobrecimento da nação oriundo da greve, o Estado passou a interferir nos
movimentos, buscando solucioná-los através da criação de normas. 11
Segundo o autor Gabriel Saad “pouco a pouco o Estado foi abandonando
sua posição de simples espectador desses conflitos, e neles passou a interferir”. 12
No Estado Liberal, nascido das Revoluções Burguesas que só é reconhecido
os direitos civis e políticos, o processo é caracterizado pelo tecnicismo, positivismo
jurídico acrítico, formalismo e “neutralismo” do Poder Judiciário, bem como pelo
conceitualismo, onde todos são tratados em juízo como sujeitos de direito,
independentemente de suas diferentes condições sociais, econômicas, políticas e
morais. 13
Dessa forma, sendo o processo uma série de atos com o objetivo de compor
litígios, as primeiras ações de iniciativa do Estado nesse sentido demonstraram o
surgimento do Direito Processual do Trabalho. 14
A tentativa de conciliação obrigatória onde as partes, através de seus
representantes, buscavam um acordo para o retorno ao trabalho, foi a primeira
medida adotada pelo Estado, entretanto, restou frustrada e a mesma foi sucedida
pela mediação. Nesse caso, ocorria a intervenção de um representante do Estado
para participar das reivindicações trabalhistas com o objetivo de uma solução justa
para ambas as partes. 15
No Brasil, os primeiros órgãos responsáveis pela solução dos conflitos
trabalhistas foram os Tribunais Rurais, criados em 1922, composto por um juiz
togado e por um representante do patrão e outro do empregado.16 As questões
solucionadas pelos Tribunais Rurais relacionavam-se aos conflitos sobre salários e a
também a respeito de contratos de serviços agrícolas. 17
11 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 12 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399. 13 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 36. 14 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 2. 15 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 2. 16 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399. 17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 12.
18
As Juntas de Conciliação e Julgamento, bem como as Comissões Mistas de
Conciliação foram criadas pelos decretos n. 22.132/1932 e n. 21.396/1932,
respectivamente. A primeira tinha competência para resolver dissídios individuais,
enquanto a segunda tratava dos dissídios coletivos. Esses órgãos não pertenciam
ao Poder Judiciário, e em face disso, as decisões proferidas pelas Juntas de
Conciliação e Julgamento eram passíveis de modificação pelo Ministro do
Trabalho.18
A criação de uma Justiça do Trabalho foi mencionada nas Constituições de
1934 e 1937, entretanto, não foi estruturada. Funcionava como órgão administrativo
e não integrava o Poder Judiciário. 19
Destaca-se que as primeiras juntas em cidades do interior foram criadas no
final de 1943, ano que entrou em vigor a Consolidação20 das Leis do Trabalho. 21
Por fim, a Justiça do Trabalho passou a integrar efetivamente o Poder
Judiciário com a promulgação da Constituição Federal de 194622. 23 Além disso,
estabeleceu-se sua organização na própria Constituição, organização essa, seguida
pelas Constituições seguintes, e prevista atualmente nos artigos 111 a 116 da
Constituição da República Federativa de 1988. 24 Portanto, são órgãos da Justiça do
Trabalho o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e os
Juízes do Trabalho.25
Contudo, realizado um breve estudo acerca da evolução da Justiça do
Trabalho no Brasil, bem como as primeiras iniciativas do Estado que caracterizaram
o surgimento do processo trabalhista, traz-se nesse contexto o conceito de Processo
do Trabalho.
18 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399-400. 19 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 14. 20 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 873. Doravante denominada CLT. 21 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, Pg 4. 22 BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm. Acesso em 24 out. 2009. 23 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 110. 24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 72. 25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 60.
19
1.2 DO CONCEITO DE PROCESSO DO TRABALHO
O processo, no seu sentido judicial, implica em numerosos atos que se
sucedem num determinado período de tempo, e este conjunto de procedimentos
considerado único tem uma única finalidade, tal qual: a prestação jurisdicional. 26
Sob esta ótica, ensina Cleber Lucio de Almeida:
[...] processo é uma série de atos coordenados ao objetivo de solucionar o conflito intersubjetivo de interesses, pela aplicação da norma jurídica ao caso concreto, ou realizar concretamente o direito assegurado em título executivo (processo no sentido dinâmico). 27
Complementa o autor Eduardo Gabriel Saad “como relação jurídica que é,
vem o processo a ser um conjunto de vinculações que a lei estabelece entre as
partes e os órgãos do Poder Judiciário e das partes entre si”. 28
Desse modo, é o processo um instrumento pelo qual se efetiva a jurisdição.
No entanto, para cada jurisdição há uma espécie de processo: processo militar,
processo eleitoral, processo político, processo administrativo, processo penal,
processo civil e processo do trabalho. Cumpre ressaltar a importância deste último
para o desenvolvimento do tema. 29
Direito Processual do Trabalho, segundo o ensinamento de Sérgio Pinto
Martins “é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a
atividade dos órgãos jurisdicionais na solução de dissídios, individuais ou coletivos,
pertinentes à relação de trabalho”. 30
Neste sentido manifesta-se Carlos Henrique Bezerra Leite:
[..] o direito processual do trabalho brasileiro é o ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de normas, princípios, regras e instituições próprias, que tem por objetivo promover a pacificação justa dos conflitos individuais, coletivos e difusos decorrentes direta e indiretamente das relações de emprego e de trabalho, bem como
26 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 259. 27 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 259. 28 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 37. 29 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 269-270. 30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 18.
20
regular o funcionamento dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho. 31
Mauro Schiavi afirma que o objetivo do direito processual do trabalho é “dar
efetividade à legislação trabalhista e social e assegurar o acesso do trabalhador à
justiça”. 32
No que diz respeito a sua natureza, existem divergências doutrinárias
fundamentadas nas teorias monista e dualista. A primeira preconiza que o direito
processual é unitário, formado por normas que não justificam a divisão do direito
processual do trabalho, penal e civil. No que diz respeito à segunda teoria, por sua
vez majoritária, o processo trabalhista possui autonomia frente ao processo comum,
uma vez que possui regulamentação própria na Consolidação das Leis do Trabalho,
dotado, inclusive, de normas e princípios que o diferenciam do processo civil. É
importante salientar que até mesmo a aplicação subsidiária das regras do Código de
Processo Civil é determinada pelo texto obreiro, conforme artigo 769. 33
A autonomia do direito processual justifica-se pela jurisdição especial
destinada a julgar dissídios individuais, pelo dissídio coletivo econômico, jurídico e
de greve, pela existência de lei processual específica, apesar da aplicação
subsidiária do processo comum, pela singularidade do tipo de contrato, e por fim,
pelo vínculo de trabalho. 34
Sustenta o autor Mauro Schiavi:
Estamos convencidos de que, embora o Direito Processual do Trabalho, hoje, esteja mais próximo do Direito Processual Civil e sofra os impactos dos Princípios Constitucionais do Processo, não há como se deixar de reconhecer alguns princípios peculiares do Direito Processual do Trabalho os quais lhe dão autonomia e o distinguem do Direito Processual Comum. 35
A autonomia do Direito Processual do Trabalho evidencia-se também pelo
fato de existir no Brasil uma área especializada do Poder Judiciário para resolver
31 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 98. 32 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 75. 33 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 28-29. 34 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 64. 35 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 81.
21
conflitos trabalhistas, bem como, pela existência de lei própria que disciplina o
processo laboral (Lei 5.584/70 36 e Lei 7.701/88 37). 38
Por fim, realizada uma análise acerca do conceito e autonomia do direito
processual do trabalho, seguir-se-á ao estudo das fontes desse ramo do Direito, que
por sua vez, conforme ensina Sérgio Pinto Martins “pode ter várias acepções, como
sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a própria exteriorização
do Direito”.39
1.3 FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO
“Fonte vem do latim fons, com o significado de nascente, manancial. Refere-
se à origem de alguma coisa, de onde provém algo”. 40
José de Oliveira Ascensão afirma que fonte pode ter vários significados,
nota-se:
[...] histórico, considera as fontes históricas do sistema, como o direito romano; instrumental, são os documentos que contêm regras jurídicas, como códigos, leis, etc; sociológico ou material são os condicionamentos sociais que produzem determinada norma; orgânico, são os órgãos de produção das normas jurídicas; técnico- jurídico ou dogmático, são os modos de formação e revelação das regras jurídicas. 41
36 BRASIL. Lei no 5.584, de 26 de junho de 1970, dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho, e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1255). 37 BRASIL. Lei nº 7.701, de 21 de dezembro de 1988, dispõe sobre a especialização de Turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7701.htm. > Acesso em: 21 out. 2009. 38 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 81. 39 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29. 41 ASCENSÃO, Jose de Oliveira. apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29.
22
Em relação às fontes do Direito Processual do Trabalho, em regra, estas são
classificadas em fontes materiais e formais, e quanto às últimas são divididas em
fontes formais diretas, indiretas e de explicitação.42
Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, as fontes materiais são “as fontes
potenciais do direito processual do trabalho e emergem do próprio direito material do
trabalho”. 43
Sérgio Pinto Martins complementa:
[...] as fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos, etc. São os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica. 44
As sentenças normativas, oriundas dos dissídios coletivos, bem como os
acordos e convenções coletivas de trabalho são exemplos de fontes de direito
material do trabalho. 45
No que tange as fontes formais, estas “são as formas pelas quais se
apresenta o direito” 46, são as que conferem ao direito processual do trabalho o
caráter de direito positivo e são divididas em fontes formais diretas, indiretas e de
explicitação. Fontes formais diretas são os atos normativos e administrativos
editados pelo Poder Público, e os costumes; fontes formais indiretas são aquelas
retiradas da doutrina e jurisprudência, e por fim, as fontes formais de explicitação
são fontes que integram o direito processual, como a analogia47, os princípios gerais
de direito48 e a equidade49. 50
42 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50. 43 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50. 44 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 30. 45 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 71. 46 SAAD, Eduardo Gabriel. SAAD, José Eduardo Duarte. BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 67. 47 “É a operação lógica para aplicar à hipótese não prevista na lei norma jurídica semelhante”. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 122. 48 “Os princípios gerais do direito “são idéias fundamentais e informadoras da ordem jurídica”. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 122. 49 “É o direito material composto de regras de caráter genérico”. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 125. 50 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50.
23
Hierarquicamente, a Constituição da República Federativa do Brasil de
198851 encontra-se no topo das fontes formais do Direito Processual do Trabalho,
por ser a Lex Fundamentalis52 dos ordenamentos jurídicos estatais. Nela contém,
além das regras e princípios fundamentais do processo, a estrutura do Poder
Judiciário, incluindo a Justiça Trabalhista. 53
Abaixo da Constituição Federal encontram-se as leis complementares, leis
ordinárias e leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos legislativos e as
resoluções do Congresso Nacional, incluindo os decretos-leis, que disponham sobre
normas de direito processual.54
No patamar infraconstitucional, destacam-se as fontes formais diretas do
Direito Processual do Trabalho, quais sejam, a Consolidação das Leis do Trabalho;
Lei 5584/70 que estabelece normas aplicáveis ao processo do trabalho; Código de
Processo Civil55, aplicado subsidiariamente desde que compatíveis com os
princípios do processo trabalhista; Lei n. 6830/8056 (Lei de Execução Fiscal),
aplicada principalmente na execução trabalhista; Lei n. 7701/88, que dispõe sobre
organização e especialização dos tribunais em processos coletivos e individuais.57
No que diz respeito às lacunas do direito processual do trabalho, tem-se que
não só o código de processo civil é fonte subsidiária, mas sim toda legislação
processual que não confronte os princípios trabalhistas, como é o caso do Código de
Defesa do Consumidor (Lei n. 8078/90)58, a Ação Civil Pública (Lei n. 7347/85)59,
etc.60
51 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1). Doravante denominada CRFB/88. 52 Segundo Carl Schimitt, “[...] a Constituição – em termos gerais, não preciso – quer representar um estatuto fundamental de regulação da convivência civil. A sua doutrina coloca a Constituição como sendo um diploma confeccionado num determinado momento da história, por grupos específicos do conjunto da sociedade, recebendo o caráter de importância singular e única para a manutenção e evolução das regras do contrato social, sendo-lhe atribuído o significado de lei fundamental”. Disponível em: < http://jusvi.com/artigos/1686.> Acesso em 21 out. 2009. 53 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 51. 55 BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 387). Doravante denominado CPC. 56 BRASIL. Lei nº 6.830 de 22 de setembro de 1980, dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1376). 57 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 51. 58 BRASIL. Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 801).
24
Os regimentos internos dos tribunais também caracterizam-se como fontes
do direito processual do trabalho. Eles versam sobre matérias administrativas e
também sobre o funcionamento e procedimento interno da justiça do trabalho. 61
Quanto às fontes formais indiretas, aquelas extraídas da doutrina e
jurisprudência, estas cumprem importante papel na interpretação do Direito
Processual do Trabalho. 62
No entanto, não há harmonia doutrinária quanto a jurisprudência ser,
efetivamente, fonte do direito processual do trabalho. A falta de consenso justifica-se
pelo fato do Brasil ter a tradição romano-germânica, no qual, dá-se preferência ao
direito positivado. Apesar disso, a Consolidação das Leis do Trabalho reconhece a
jurisprudência como fonte do direito processual trabalhista. 63
A uniformidade das jurisprudências faz nascer as súmulas, e estas,
conforme ensina Mauro Schiavi “constituem o resumo da interpretação pacífica de
determinado Tribunal sobre uma matéria jurídica”.64
O autor Carlos Henrique Bezerra Leite faz menção ainda no que tange a
“súmula vinculante”, introduzida pela Emenda Constitucional n. 45/200465, que
acrescentou o artigo 103-A66 à Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, afirmando ser ela fonte formal direta, vez que o Supremo Tribunal Federal
poderá de ofício ou por provocação, aprovar súmula que, a partir de sua publicação,
terá efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
59BRASIL. Lei 7.347 de 24 de julho de 1985, disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1401). 60 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 61 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 62 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 52. 63 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 100. 64 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 101. 65 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, altera dispositivos dos arts 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 106). 66 CRFB/88, Artigo 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 40).
25
pública direta e indireta (federal, estadual e municipal), e ainda proceder sua revisão
ou cancelamento de acordo com a lei.67
Em relação às fontes integrativas do direito processual, ou seja, fontes
formais de explicitação tem-se que o artigo 769 da Consolidação das Leis do
Trabalho permite aplicação subsidiária do artigo 126 do Código de Processo Civil,
conforme segue: 68
Art. 769- Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.
Art. 126- O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
Tanto o direito processual civil quanto o direito processual trabalhista
utilizam a equidade como fonte subsidiária. Neste último, pode-se verificar o
julgamento com equidade no artigo 852-I, § único da CLT que diz “o juízo adotará
em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins
sociais da lei e as exigências do bem comum”.69
Há quem afirma que as normas de direito processual podem derivar de
costumes e tratados internacionais firmados pelo Brasil. Nota-se que os costumes
somente passam a ser fontes normativas quando autorizados pelo ordenamento
jurídico. Exemplo de costume como fonte do direito processual trabalhista é o
“protesto nos autos” previsto no caput do artigo 795 70 da Consolidação das Leis do
Trabalho. 71
Após a definição a respeito das fontes do processo do trabalho, importante é
adentrar-se no estudo dos princípios comuns e peculiares desse ramo, uma vez que,
sendo fontes acessórias, os princípios auxiliam na interpretação e na aplicação do
Direito.
67 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55. 68 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55. 69 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 102. 70 CLT, Artigo 795, caput. As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argüi-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 952). 71 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55.
26
1.4 PRINCÍPIOS COMUNS AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AO DIREITO
PROCESSUAL DO TRABALHO
Inicialmente, fundamental é que se tenha conhecimento a respeito do
conceito de princípio. Princípio “é uma preposição que se coloca na base das
ciências. É um ponto de partida. Um fundamento”.72
Para o autor Renato Saraiva, os princípios são:
[...] preposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o legislador na elaboração da norma. Os princípios também atuam como fonte integradora da norma, suprindo as omissões e lacunas do ordenamento jurídico.73
Os princípios desempenham importante função na medida em que atuam
como instrumento orientador na interpretação de determinada norma jurídica. Os
princípios exercem, portanto, a função informativa, normativa e interpretativa. 74
A função informativa é voltada ao legislador, criando normas de acordo com
os princípios e valores políticos, sociais, éticos e econômicos do ordenamento
jurídico. Já a função normativa é destinada ao aplicador do direito. Aqui, os
princípios podem ser aplicados na solução dos casos concretos mediante a
supressão de uma norma por um princípio, e por meio de integração do sistema nas
hipóteses de lacuna. Por fim, a função interpretativa também é voltada ao aplicador
do direito, afinal os princípios emergem da compreensão dos significados das
normas jurídicas.75
Destacam-se nesse momento os princípios comuns ao direito processual
civil e ao direito processual do trabalho. 76
72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 106. 73 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 31. 74 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 31. 75 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 60. 76 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 70.
27
1.4.1 Princípio do dispositivo ou da demanda
Informa o princípio dispositivo que o início do processo deve ocorrer por
iniciativa do autor, ficando impossibilitado tanto o juiz quanto o tribunal a conhecer
qualquer causa de ofício, conforme apregoa o artigo 2º 77 do CPC.78
Segundo Ovídio A. Baptista da Silva e Fábio Luiz Gomes o princípio do
dispositivo está relacionado com o “poder que as partes têm de dispor da causa,
seja deixando de alegar ou provar fatos a ela pertinentes, seja desinteressando-se
do andamento do processo”.79
Tal princípio impede que o juiz ex officio instaure o processo na justiça
trabalhista. 80 O juiz não pode ainda ter iniciativas probatórias, quando as partes
desistirem das provas ou daquela prova. O que pode ocorrer é a complementação
delas quando o conjunto probatório não convencer o julgador. 81
Contudo, o princípio do dispositivo estabelece um limite no que tange ao
poder de julgamento do juiz, não podendo esse julgar de forma “extra petita, ultra
petita e citra petita.82 Deve o magistrado limitar-se aos pedidos do autor da ação,
ficando impossibilitado de conhecer questões não suscitadas no processo.83
1.4.2 Princípio inquisitivo ou do impulso oficial
De acordo com o princípio inquisitivo o que prevalece é a iniciativa do
magistrado, seja no andamento do processo, seja na formação do conjunto
77 CPC, Artigo. 2º. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 387). 78 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 162. 79 SILVA, Ovídio A. Baptista da.; GOMES, Fávio Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p 49. 80 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 32. 81 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 163. 82 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p 99. 83 SILVA, Ovídio A. Baptista da.; GOMES, Fávio Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p 50.
28
probatório, ainda que de forma excepcional. 84 Uma vez demandada a ação
desenvolve-se por impulso oficial até o final.85
No âmbito do direito processual do trabalho, o artigo 765 da Consolidação
das Leis do Trabalho reforça a idéia de que o juiz é competente para impulsionar o
processo ao afirmar que “Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade
na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo
determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas”. 86
Além disso, dispõe o artigo 87887 da CLT que a execução poderá ser
impulsionada ex officio pelo juiz. 88
1.4.3 Princípio da impugnação especificada
O princípio da impugnação específica está previsto no artigo 302 do CPC,
segundo o qual “cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos
narrados na petição inicial”. 89
Renato Saraiva complementa “pelo princípio da impugnação especificada, o
reclamado deve manifestar-ser, precisa e especificamente, sobre os fatos narrados
na petição inicial, não se admitindo a defesa por negação geral”. 90
Não sendo manifestados pelo réu, presumir-se-ão verdadeiros os fatos
alegados pelo autor, salvo, se não for admissível, a seu respeito, a confissão; se a
petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar
84 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 163. 85 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 70. 86 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 87 CLT, artigo 878. A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 959). 88 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 44. 89 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 73. 90 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 45.
29
da substância do ato; e se estiverem em contradição com a defesa, considerada em
seu conjunto (incisos do artigo 30291 CPC).92
1.4.4 Princípio da instrumentalidade
O processo é o meio pelo qual se busca a tutela jurisdicional do Estado. É o
instrumento que tem por escopo à garantia dos direitos e justiça entre os
jurisdicionados. 93
Segundo Ives Gandra da Silva Martins Filho “as formalidades processuais
são meio e não fim do processo, razão pela qual os atos serão considerados válidos
se atingida a finalidade a que se destinavam, ainda que realizados por forma
distinta”.94
O princípio da instrumentalidade está consagrado nos artigos 15495 e 24496
do Código de Processo Civil. 97
1.4.5 Princípio da estabilidade da lide
Determina o princípio da estabilidade da lide que se o autor já pleiteou seus
direitos através da ação, e se o réu já foi citado para se manifestar, não poderá 91 CPC, Artigo 302, I, II e III.Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo: I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato; III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 409). 92 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 73. 93 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 94 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 162. 95 CPC, Artigo 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 398). 96 CPC, Artigo 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 404). 97 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 50.
30
aquele alterar os pedidos na inicial sem antes ter a anuência deste, ultrapassado o
prazo de defesa nem com o consentimento das partes os pedidos da petição inicial
serão modificados.98
Tal princípio está consagrado no plano subjetivo e objetivo. O critério
subjetivo fundamenta-se no artigo 41 que informa que “só é permitida, no curso do
processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei”, e o
critério objetivo no artigo 294 do CPC, segundo o qual “antes da citação, o autor
poderá aditar o pedido, correndo à sua conta as custas acrescidas em razão dessa
iniciativa”. 99
1.4.6 Princípio da preclusão
“Preclusão é a perda da faculdade de praticar um ato por haver passado o
momento processual ou expirado o prazo determinado em lei.” Assim define
Eduardo Gabriel Saad. 100
O princípio da preclusão está inserido artigo 473 do CPC, segundo o qual “é
defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo
respeito se operou a preclusão”.101
Na esfera trabalhista o princípio em estudo está previsto expressamente no
artigo 879102, §§ 2º e 3º da CLT. 103.
A preclusão é classificada da seguinte forma: preclusão temporal, ocorre
quando a parte não pratica determinado ato processual no prazo previsto em lei;
preclusão lógica, opera-se quando não existe a possibilidade da prática de um ato,
98 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 74. 99 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 74. 100 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 116. 101 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 76. 102 CLT, Artigo 879, § 2º. Elaborada a conta e tornada líquida, o juiz poderá abrir às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão.§ 3º. Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz procederá a intimação da União para manifestação no prazo de dez dias, sob pena de preclusão. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 959). 103 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 76.
31
vez que é incompatível com o anteriormente praticado, e por fim, a preclusão
consumativa, está relacionada com a impossibilidade da parte renovar um ato já
consumado. 104
1.4.7 Princípio da eventualidade
Este princípio informa que as partes têm a obrigação de apresentar, no
momento oportuno, toda matéria de ataque e defesa nos autos. 105
Assim, todos os fatos que norteiam o pedido ou a defesa devem ser
indicados no momento certo, não sendo possível discuti-los na fase instrutória do
processo.106
Portanto, tem-se que o autor deverá fazer suas alegações e requerimentos
na peça inaugural e o réu apresentar na contestação toda matéria de defesa. 107
O princípio da eventualidade está consagrado no artigo 300 do Código de
Processo Civil, que informa “compete ao réu alegar, na contestação, toda matéria de
defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que impugna o autor e
especificando as provas que pretende produzir. 108
1.4.8 Princípio da economia processual, da perpetuatio jurisdictionis e do ônus da prova
O princípio da economia processual trata-se de obter a máxima prestação
jurisdicional com o mínimo de esforço possível, evitando maiores despesas às
104 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 44. 105 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p 102. 106 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 167. 107 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 43. 108 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 75.
32
partes. 109 Portanto, o princípio em comento visa a redução das atividades
processuais em determinados casos.110
Quanto ao princípio da perpetuatio jurisdictionis, esse está elencado no
artigo 87 do Código de Processo Civil, observa-se: 111
Artigo 87- Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.
No que tange ao princípio do ônus da prova, tem-se que o mesmo está
inserido no artigo 818 da CLT, informando que “a prova das alegações incumbe à
parte que as fizer”. 112
1.4.9 Princípio da oralidade
A respeito do princípio da oralidade ensina Mauro Schiavi:
Constitui um conjunto de regras destinadas a simplificar o procedimento, priorizando a palavra falada, com um significativo aumento dos poderes do Juiz na direção do processo, imprimindo maior celeridade ao procedimento e efetividade da jurisdição, destacando o caráter publicista do processo. 113
No direito processual do trabalho, o princípio da oralidade tem sua aplicação
na leitura da reclamação verbal. Além disso, evidencia-se tal princípio na defesa oral
em 20 minutos, nas tentativas de conciliação, no interrogatório das partes, no
depoimento das testemunhas, nas razões finais em 10 minutos e na última proposta
de conciliação. 114
109 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 78. 110 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 157. 111 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 51-52. 112 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 79. 113 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 71. 114 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p 102.
33
1.4.10 Princípio da imediatidade ou imediação
O princípio da imediação está relacionado com o contato direto do juiz com
as partes e a sua prova testemunhal, ou pericial, com a própria coisa litigiosa e com
terceiros, a fim de reunir elementos necessários para formação do seu
convencimento. 115
Em suma, segundo explica Souto Maior, o referido princípio condiz com a
necessidade de realização dos atos que servem para instruir o processo perante a
pessoa do juiz.116
O comando legal do princípio da imediação encontra-se no artigo 820 da
CLT, segundo o qual “as partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou
presidente, podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento das partes,
seus representantes ou advogados”. 117
1.4.11 Princípio da identidade física do juiz
Este princípio determina que o juiz que instruiu o processo, colhendo as
provas diretamente, possui melhores condições para julgá-lo. 118
Porém, segundo a jurisprudência majoritária este princípio não tem sido
aplicado no direito trabalhista mesmo após a extinção da representação classista
nas Varas do Trabalho, conforme súmula n. 136 do Tribunal Superior do Trabalho no
sentido de que “não se aplica às Varas do Trabalho o princípio da identidade física
do juiz”. 119
1.4.12 Princípio da concentração
115 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 80. 116 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz apud SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 72; 117 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. Pg 80. 118 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 71. 119 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 81.
34
O princípio da concentração visa à prestação da tutela jurisdicional no menor
tempo possível, concentrando em uma única audiência todos os atos processuais.120
No direito processual do trabalho esse princípio tem previsão expressa no
artigo 849, segundo o qual “a audiência será contínua; mas se não for possível, por
motivo de força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou presidente marcará sua
continuação para primeira desimpedida, independentemente de nova notificação”. 121
Em verdade, é prática que os juízes do trabalho dividem a audiência em três
sessões, quais sejam, a audiência de conciliação, audiência de instrução e
audiência de julgamento. Em contrapartida, ainda existem alguns juízes que
concentram todos os atos processuais em única sessão. 122
Conforme Mauro Schiavi no princípio da concentração “os atos do
procedimento devem se desenvolver num único ato, máxime a instrução probatória
que deve ser realizada em audiência única”.123
1.4.13 Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias
Tal princípio proíbe que as decisões interlocutórias, quais sejam, aquelas
decididas incidentalmente, sejam recorridas imediatamente. Contudo, quando
interposto o recurso cabível contra a sentença definitiva, as mesmas poderão ser
resolvidas. 124
O fundamento legal na esfera trabalhista está no artigo 893, §1º, que
determina que “os incidentes do processo serão resolvidos pelo próprio Juízo ou
Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias
somente em recursos da decisão definitiva”. 125
120 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 34. 121 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 81. 122 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 34. 123 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 124 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 125 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 82.
35
As hipóteses que autorizam a interposição de recurso em face de decisão
interlocutória estão previstas na Súmula 214126 do TST.127
1.4.14 Princípio da lealdade processual
O princípio da lealdade processual informa que as partes devem colaborar
com o andamento do processo através do esclarecimento da verdade, não podendo
ocorrer alteração na realidade dos fatos.128
Consoante o artigo 14, II, do Código de Processo Civil, “são deveres das
partes e de todos que de qualquer forma participam do processo agir com lealdade e
boa-fé”.129
Contudo, o princípio da lealdade processual visa o justo desenvolvimento do
processo, alcançando a prestação jurisdicional, a paz social, bem como a solução à
lide. No entanto, somente através da boa conduta dos litigantes que tais escopos, de
fato, se concretizarão. 130
1.5 PRINCÍPIOS PECULIARES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
1.5.1 Princípio da proteção
126 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 214 In: Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1812. 127 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 36. 128 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 163. 129 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 42. 130 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 83.
36
Existem discussões a respeito da aplicação do princípio da proteção do
direito do trabalho no direito processual do trabalho.131 Há resposta positiva, como
destaca-se a de Sérgio Pinto Martins para quem “o verdadeiro princípio do processo
do trabalho é o da proteção”. 132
À título de complementação aduz o autor Mauro Schiavi:
Não se trata do mesmo princípio da proteção do Direito Material do Trabalho, e sim uma intensidade protetiva ao trabalhador a fim de lhe assegurar algumas prerrogativas processuais para compensar eventuais entraves que enfrenta ao procurar a Justiça do Trabalho, devido à sua hipossuficiência econômica e, muitas vezes, da dificuldade em provar suas alegações, pois, via de regra, os documentos da relação de emprego ficam na posse do empregador.133
Assim, diante da hipossufiência do trabalhador, a legislação processual
trabalhista contém normas que visam à proteção da parte mais frágil da relação
processual (empregado), como exemplos: a gratuidade da justiça com a isenção do
pagamento das custas e despesas processuais; assistência judiciária gratuita; a
inversão do ônus da prova, entre outros. 134
Diferente do que ocorre no processo civil, na justiça trabalhista parte-se do
pressuposto de que as partes são desiguais, daí porque a lei protege o empregado.
Entretanto, essa proteção não ocorre por conta da Justiça do Trabalho ou pela
parcialidade do juiz em favor do empregado, a proteção que possui o obreiro decorre
tão somente da lei, ou seja, do sistema protecionista adotado pela lei. 135
1.5.2 Princípio da conciliação
131 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 107. 132 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28´. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 41. 133 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 82. 134 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 46-47. 135 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 41-42.
37
O princípio da conciliação encontra fundamento no artigo 764 da CLT,
conforme o qual “os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da
Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”.136
A conciliação ocorre, obrigatoriamente, em dois momentos, quais sejam,
antes do recebimento da defesa (artigo 846 da CLT) 137 e a segunda tentativa ocorre
após a apresentação das razões finais pelas partes (artigo 850 138 da CLT). 139
No que diz respeito ao procedimento sumaríssimo apregoa o artigo 852-E da
Consolidação das Leis do Trabalho que “aberta a sessão, o juiz esclarecerá as
partes presentes sobre as vantagens da conciliação e usará os meios adequados de
persuasão para a solução conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência”.140
Ocorrendo a conciliação, será lavrado o respectivo termo, que servirá como
título executivo judicial (artigo 876 CLT) 141 irrecorrível para as partes do processo,
conforme parágrafo único do artigo 831142 da CLT. Somente através de ação
rescisória o termo de conciliação será impugnável (Súmula 259143 do TST). 144
1.5.3 Princípio da finalidade social
136 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed, São Paulo: Método, 2007. p 39. 137 CLT, Artigo 846. Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação. (Alterado pela L-009.022-1995) (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 955). 138 CLT, Artigo 850. Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de Conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 956). 139 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 93. 140 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 39. 141 CLT, Artigo 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo. (alterado pela Lei 9.958-2000) (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 958). 142 CLT, Artigo 831. A decisão será proferida depois de rejeitadas pelas partes a proposta de conciliação. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 954). 143 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 259 In: Só por rescisória é atacável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do Art. 831 da Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1814. 144 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 39.
38
Far-se-á, segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, uma comparação entre o
princípio da proteção e o princípio da finalidade social, vislumbra-se: 145
[...] no primeiro, a própria lei confere desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença.
Nessa esteira, ensina ainda o autor que os princípios da proteção e da
finalidade social se harmonizam e permitem em nosso ordenamento jurídico que
magistrado, no momento da aplicação da lei, corrija injustiças decorrentes da própria
lei. 146
Deslindado acerca da evolução histórica da Justiça do Trabalho, o conceito,
fontes e princípios comuns e peculiares que norteiam o Direito Processual do
Trabalho, discorrer-se-á, nesse momento, a respeito da estrutura e funcionamento
dessa justiça especializada. Para tanto, mister se faz uma leitura mais detalhada no
que tange as modificações na sua organização e competência advindas da Emenda
Constitucional n. 45/2004.
1.6 ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
1.6.1 Organização da Justiça do Trabalho
Como visto, a Justiça do Trabalho passou a integrar definitivamente o Poder
Judiciário a partir da Constituição de 1946, passando, inclusive, a ser organizada
pela própria Constituição que determinou no artigo 122 que a Justiça do Trabalho
era composta pelos seguintes órgãos: Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais
Regionais do Trabalho e Juntas de Conciliação e Julgamento.147
145 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 88. 146 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 88. 147 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 72.
39
Os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho
substituíram os Conselhos Regionais e o Conselho Nacional, respectivamente. 148 O
Conselho Regional do Trabalho que antecedeu os atuais Tribunais Regionais foi
instituído pelo Decreto- Lei nº 1.237/39149, e era composto por um jurista e quatro
vogais (representante dos empregados, dos empregadores e mais dois membros).
Quanto ao Conselho Nacional (Decreto nº 16.027/23) ensina Sérgio Pinto Martins
que o mesmo “tinha a finalidade de órgão consultivo do Ministério, de funcionar
como instância recursal em matéria previdenciária e atuar como órgão autorizador
de dispensa dos empregados que, no serviço público, gozavam de estabilidade”.150
Entretanto, a maior modificação estrutural da Justiça do Trabalho ocorreu
por força da Emenda Constitucional n. 24/1999, que eliminou os juízes classistas e
substituiu as Juntas de Conciliação e Julgamento pelas Varas do Trabalho. 151
Desse modo, passou, então, a Justiça do Trabalho ser integrada pelos
seguintes órgãos: Tribunal Superior do Trabalho (órgão superior), Tribunais
Regionais do Trabalho (2º grau de jurisdição) e pelos Juízes do Trabalho (Varas do
Trabalho- 1º grau de jurisdição). 152
Aduz Mauro Schiavi:
A semelhança do que ocorre com a Justiça Comum, os órgãos judiciais trabalhistas se espalham pelo nosso imenso território, tendo cada um deles competência para exercer a jurisdição em determinado espaço. 153
No que tange a atuação das varas trabalhistas, tem-se que esta
corresponde à comarca, muito embora existam situações que ela abrange diversos
municípios que possuem mais de uma comarca. 154
148 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 5. 149 BRASIL. Decreto- Lei nº 1.237 de 2 de maio de 1939, organiza a Justiça do Trabalho. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del1237.htm. Acesso em: > 23 out. 2009. 150 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 81-85. 151 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 5. 152 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 141. 153 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 400. 154 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 400.
40
Já com relação aos tribunais trabalhistas, estes encontram-se distribuídos
por todo o Brasil, e em algumas regiões, como é o caso do Estado de São Paulo,
existem até dois tribunais. 155
A respeito do surgimento do Tribunal Superior do Trabalho, destaca-se que
este ocorreu no mesmo ano que a Justiça do Trabalho passou a fazer parte do
Poder Judiciário, em 1946. É órgão de cúpula da Justiça Trabalhista, com sede em
Brasília e jurisdição em todo território brasileiro.156
Tratando-se relativamente à sua composição, tem-se que o número de
ministros do TST só foi determinado na Constituição de 1967157, e repetiu-se no
artigo 141, § 1º da Emenda Constitucional n.1/ 1969158. O TST era composto por 17
ministros, sendo onze togados e vitalícios, sete eram juízes da justiça do trabalho,
dois exerciam a advocacia e dois integravam o Ministério Público do Trabalho. Tinha
ainda três classistas de empregados e três de empregadores.159
Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em sua primeira
redação, era composto o TST por 27 ministros, sendo 17 togados e 10 classistas,
número que foi alterado após a Emenda Constitucional n. 24/99 160 que exclui os
classistas, passando o TST a ter 17 ministros. 161
Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, a Justiça Trabalhista
enfrentou algumas transformações no que tange a sua organização, e dispondo a
respeito do Tribunal Superior do Trabalho incluiu o artigo 111-A162 na Constituição
155 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 72. 156 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 60. 157 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao67.htm. Acesso em: > 24 out. 2009. 158 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Artigo 141,§ 1º. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de dezessete juízes com a denominação de ministros. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc0169.htmAcesso em: > 24 out. 2009. 159 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 85. 160 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro de 1999, altera dispositivos da Constituição Federal pertinentes à representação classista na Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc24.htm. Acesso em:> 24 out. 2009. 161 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 85. 162 CRFB/88, Artigo 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal,
41
da República Federativa do Brasil de 1988. 163 Assim, passou o TST a ser composto
por 27 ministros, número já existente na redação original da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. 164
O Tribunal Superior do Trabalho foi dividido pela Lei n. 7701/88165 em
Turmas e Seções especializadas em dissídios individuais e dissídios coletivos de
trabalho. 166 Contudo, são órgãos do Tribunal Superior do Trabalho: O Tribunal
Pleno (TP); Seção Administrativa (SA); Seção Especializada em Dissídios Coletivos
(SDC); Seção Especializada em Dissídios Individuais (SDI) dividida em duas
Subseções (SBDI- 1 e SBDI- 2); e Turmas.167
Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho a Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados Trabalhistas, e o Conselho Superior
da Justiça do Trabalho. 168 Este segundo explica o autor Mauro Schavi exerce “a
supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do
Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas
decisões terão efeito vinculante.” 169 É órgão encarregado de fazer a supervisão de
forma nacional.170
A respeito da escolha dos Ministros do Tribunal Superior do Trabalho, tem-
se que estes são provenientes dos Juízes dos tribunais trabalhistas, nomeados pelo
Poder Executivo após análise de lista tríplice criada pelo tribunal. 171
sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 43). 163 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 142. 164 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 85. 165 BRASIL. Lei nº 7.701, de 21 de dezembro de 1988, dispõe sobre a especialização de Turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos e dá outras providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7701.htm. Acesso em: > 24 out. 2009. 166 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 417. 167 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 143. 168 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 8. 169 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 125. 170 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 87. 171 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 124.
42
Em relação ao “quinto constitucional”, a Ordem dos Advogados do Brasil
federal faz uma lista sêxtupla, o TST indica lista tríplice e encaminha ao Poder
Executivo encarregado da nomeação. Esse procedimento é utilizado também para a
escolha dos membros do Ministério Público do Trabalho, nos quais, deverão ter mais
de dez anos de carreira, e os advogados, além, de dez anos de prática, deverão
demonstrar saber jurídico e boa reputação, consoante artigo 94172 da CF. 173
No tocante ao funcionamento e composição dos Tribunais Regionais do
Trabalho tem-se que o artigo 112 da Carta Magna determinava que em cada Estado,
bem como no Distrito Federal, deveria existir um Tribunal Regional do Trabalho.
Ocorre que, com a Emenda Constitucional 45/2004 esta determinação foi suprimida,
e a criação dos TRTs nos Estados de Tocantins, Acre, Roraima e Amapá, perderam
sua obrigatoriedade.174
A referida Emenda alterou ainda o artigo 115 da Constituição da República
Federativa do Brasil e determina que “os Tribunais Regionais do Trabalho são
compostos de, no mínimo, sete juízes recrutados, quando possível, na respectiva
região, dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos”. 175
Complementa Mauro Schiavi:
Os Tribunais Regionais do Trabalho são órgãos de segundo grau de jurisdição, compostos por juízes do Trabalho de carreira, promovidos por antiguidade e merecimento, sendo que um quinto dos seus assentos são ocupados por membros do ministério público e da classe dos advogados, com mais de dez anos de exercício profissional, conforme artigo 94 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 176
172
CRFB/88, Artigo 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 37). 173 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 86. 174 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 145. 175 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 412. 176 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 121-122.
43
O presidente e vice-presidente, o corregedor e o vice-corregedor, bem como
os presidentes das Turmas e das Seções serão escolhidos pelos integrantes do
Tribunal Regional do Trabalho. 177
No que tange a sua competência, destaca-se que os Tribunais Regionais do
Trabalho julgam os recursos ordinários, e, originariamente, a ações rescisórias, bem
como os dissídios coletivos e de greve, mandado de segurança, entre outras
demandas constantes no seu regimento interno.178
O funcionamento dos Tribunais Regionais pode ocorrer de forma
descentralizada através de Câmaras Regionais, possibilitando aos jurisdicionados o
acesso à justiça.179 As instalação de câmaras regionais podem inviabilizar a criação
de outros tribunais devido ao seu baixo custo. Sua constituição depende da
deliberação do tribunal regional.180
Outra inovação decorrente da Emenda Constitucional 45/2004 diz respeito à
instalação da justiça itinerante (artigo 115, § 1º) pelos Tribunais Regionais do
Trabalho. Trata-se de acesso a justiça com a realização de audiências e demais
funções de atividade jurisdicional no território da respectiva jurisdição, servindo-se
de equipamentos públicos e comunitários.181
Integra ainda a Justiça do Trabalho as Varas do Trabalho que exercem sua
jurisdição de forma local, abrangendo um ou alguns municípios. Não existindo varas
do trabalho nas comarcas das localidades, poderá exercer a jurisdição o Juiz de
Direito, conforme preceitua o artigo 668 da Consolidação das Leis do Trabalho.182
Todavia, a competência do juiz de direito para julgar ações trabalhistas, cessará
quando houver a instalação de uma vara do trabalho, conforme dispõe a Súmula
10183 do Superior Tribunal de Justiça. 184
177 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 12. 178 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 122. 179 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 412. 180 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 84. 181 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 147. 182 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 147. 183 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 10 In: Instalada a Junta de Conciliação e Julgamento, cessa a competência do Juiz de Direito em matéria trabalhista, inclusive para a execução das sentenças por ele proferidas. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1793).
44
Conforme Wagner D. Giglio e Claudia Giglio Veltri Correa, “as Varas do
Trabalho são os órgãos de primeiro grau da Justiça do Trabalho aos quais cabe o
conhecimento inicial dos litígios trabalhistas”.185
De maneira geral, as Varas do Trabalho são competentes para conciliar e
julgar os dissídios individuais, ou seja, conflitos que decorrem das relações de
trabalho. 186
A jurisdição será exercida por um juiz singular, conforme determina o artigo
116 da Constituição da República Federativa do Brasil. Seu ingresso na magistratura
inicia-se como juiz substituto, podendo ser promovido de acordo com os critérios de
antiguidade e merecimento. Os juízes do trabalho, após dois anos de exercício
tornam-se vitalícios, ocorrendo a perda do cargo apenas por de sentença transita em
julgado.187 Além da vitaliciedade, os juízes gozam de outras garantias, tais quais,
inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos, entre outros. 188
Não bastassem as modificações ocorridas no que tange a organização da
Justiça do Trabalho, as transformações do Poder Judiciário refletiram,
significativamente, na competência dessa justiça especializada. 189
1.6.2 Competência da Justiça do Trabalho
Para melhor compreensão a respeito da competência da Justiça do
Trabalho, fundamental é recordar o conceito de Jurisdição. Jurisdição é o poder que
o Estado atribui ao juiz para que este possa dizer o direito nos casos concretos,
sendo a competência uma parcela da jurisdição, ou seja, a competência é o limite, a
medida e a quantidade do poder jurisdicional dada a cada juiz.190
184 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 65. 185 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 13. 186 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 147. 187 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 73-77. 188 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 403. 189 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 205. 190 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 91.
45
A Emenda Constitucional n. 45, de 8.12.04, publicada no DOU de
31.12.2004, ampliou consideravelmente a competência da Justiça do Trabalho. 191
As ações que estavam submetidas à Justiça Comum e a Justiça Federal passaram a
ser apreciadas pela Justiça Especializada, por ser essa uma justiça mais célere. 192
Dentre as ações que competiam a Justiça Comum o julgamento, antes da edição da
referida Emenda, destacam-se as ações de indenização decorrentes de acidente de
trabalho, que a partir da reforma do Poder Judiciário passaram para a competência
da Justiça do Trabalho.193
Neste contexto afirma Amauri Mascaro Nascimento:
As transformações foram profundas e mudam a visão que se possa ter da Justiça do Trabalho, tudo dependendo, no entanto, da forma como os juízes do trabalho as interpretarão e do modo como virão a conduzi-las na aplicação dos seus dispositivos. 194
A competência material195 da Justiça Laboral, encontra-se no artigo 114 da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.196 Apregoa a atual redação
do referido artigo:
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o"; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;
191 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 306. 192 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 205. 193 SARRO, Luís Antônio Giampaulo; MALFATTI, Marcio Alexandre. O contrato de seguro na Justiça do Trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9549>. Acesso em: 26 out. 2009. 194 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 205. 195 “A competência material no processo do trabalho é delimitada em virtude da natureza da relação jurídica material deduzida em juízo. A Justiça do Trabalho tem competência para conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores (artigo 114 da CF)”. SOUZA, Josyanne Nazareth de. Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007, p.95. 196 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 92.
46
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, "a", e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. 197
Nessa esteira, a justiça do trabalho sofreu consideráveis mudanças em
virtude da promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004, vez que,
anteriormente, limitava-se ao julgamento das demandas oriundas da relação de
emprego. Segundo Mauro Schiavi, “o critério da competência da Justiça do Trabalho
que era eminentemente pessoal, ou seja, em razão das pessoas de trabalhadores e
empregadores, passou a ser em razão de uma relação jurídica, que é a do
trabalho”.198
O autor Renato Saraiva ensina que a relação de trabalho é gênero e a
relação de emprego espécie. Ao falar de relação de trabalho “incluem-se a relação
de emprego, a relação de trabalho autônomo, eventual, avulso, voluntário, estágio e
a relação de trabalho institucional”.199
A respeito da competência ex ratione materiae, acrescenta o autor Sérgio
Pinto Martins que “a competência em razão da matéria vai dizer respeito aos tipos
de questões que podem ser suscitadas na Justiça Laboral, envolvendo a apreciação
de determinada matéria trabalhista”.200
No que tange a competência em razão da pessoa (ex ratione personae) a
Justiça do Trabalho limitava-se aos conflitos decorrentes da relação entre 197
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 187-188. 198 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 144. 199 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 68. 200 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 103.
47
empregados típicos e empregadores, conforme definição prevista nos artigos 3º 201 e
2º 202 da CLT. Entretanto, com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004 a
competência da Justiça laboral estendeu-se aos trabalhadores, inclusive não
subordinados. 203
Nessa linha ensina Wagner D. Giglio e Claudia Giglio Veltri Corrêa:
A Constituição de 1988 veio possibilitar a aplicação da legislação trabalhista a outros prestadores de serviço, ao se referir a “trabalhadores”, palavra de conceito técnico mais abrangente que o termo “empregadores”. 204
A competência em razão da pessoa, de acordo o autor Mauro Schiavi é
“uma subdivisão da competência em razão da matéria, pois quando o legislador
constitucional a ela se refere pretende enfatizar o status que determinada pessoa
ostenta diante de uma relação jurídica de direito material”. 205
Com relação à competência funcional, explica Carlos Henrique Bezerra Leite
que esta diz respeito à “distribuição das atribuições cometidas aos diferentes órgãos
da Justiça do Trabalho, de acordo com que dispõe a Constituição, as leis de
processo e os regimentos internos dos tribunais trabalhistas”.206 Desse modo, a
competência em razão da função é exercida pelas Varas do Trabalho, pelos
Tribunais Regionais do Trabalho e pelo Tribunal Superior do Trabalho207, órgãos que
atualmente compõem a Justiça do Trabalho, conforme mencionado no momento
oportuno.
Na esfera da competência em razão do lugar, estabelece o artigo 651 da
CLT que “a competência das Varas do Trabalho é determinada pela localidade onde
201 CLT, Artigo 3º. Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante salário. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 873). 202 CLT, Artigo 2º. Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 873). 203 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 54. 204 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 54. 205 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 144. 206 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 269. 207 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 269.
48
o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que
tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”. 208
Tratando-se de empregados viajantes, a lei permite que a reclamação
trabalhista seja proposta na vara onde está situada a agência ou filial da empresa, e
desde que o empregado a ela esteja subordinado e, não havendo vara na localidade
da agência ou filial, será competente a vara onde o empregado tenha domicílio ou o
local mais próximo, consoante parágrafo 1º do artigo 651209 da CLT.210
Entretanto, destaca-se que a regra geral para a propositura da reclamação
trabalhista é a localidade onde o empregado prestou serviços, ainda que o contrato
de trabalho tenha sido celebrado em lugar diverso.211
Ao definir o lugar da prestação de serviços para propositura da ação
trabalhista, objetivou a lei beneficiar o trabalhador evitando gastos necessários a
esse, proporcionando-lhe melhores condições de constituir suas provas. 212
Por fim, cumpre salientar que a incompetência em razão do lugar deve ser
argüida pela parte, sob pena de prorrogação213 da competência do juízo que
recebeu a causa. 214
Após a abordagem acerca das transformações ocorridas na organização e
competência da Justiça do Trabalho oriundas da Emenda Constitucional n. 45/2004,
é imprescindível que se apresente o conceito de partes e de intervenção de terceiros
para melhor compreensão a respeito da problemática que será apresentada neste
trabalho.
208 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 109. 209 CLT, artigo 651. § 1º Quando for parte no dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima. (alterado pela L-009.851-1999) (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 934). 210 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 129. 211 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 109. 212 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 127. 213 “A prorrogação da competência é modificação desta quando o órgão judiciário, ordinariamente incompetente para determinado processo, passa a sê-lo em virtude de algum fenômeno a que o direito dá essa eficácia”. SOUZA, Josyanne Nazareth de. Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 98. 214 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 382.
2. DAS PARTES E DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
2.1 DAS PARTES
Inicialmente, mister se faz apresentar a definição de partes e intervenção de
terceiros antes de se adentrar na questão polêmica do presente trabalho.
Denominam-se como partes “quem ajuíza uma ação e em face de quem a
ação é ajuizada. É quem pede a tutela jurisdicional trazendo uma pretensão à juízo e
quem resiste a esta pretensão”. 215
De acordo com os ensinamentos de Carlos Henrique Bezerra Leite, “as
partes do processo são, de um lado, a pessoa que postula a prestação jurisdicional
do Estado, e, de outro, a pessoa em relação à qual a providência é pedida.” 216
Noutro falar, complementa Renato Saraiva:
Tradicionalmente, conceitua-se parte aquele que demanda em nome próprio a prestação jurisdicional do estado, ou mesmo a pessoa em cujo nome é demandada. Em outras palavras, partes são o autor, que demanda a tutela jurisdicional, e o réu, contra quem a atuação é postulada. 217
Na esfera processual, a característica principal da parte é a titularidade do
direito pleiteado ou da defesa. 218
As partes do processo estão relacionadas com alguns princípios, quais
sejam, o princípio da dualidade, da igualdade das partes e do contraditório. O
primeiro informa que as duas partes (autor e réu) pressupõem o processo. O
segundo princípio, conhecido também como princípio da isonomia, diz respeito a
igualdade de tratamento que devem receber as partes, e por fim, o princípio do
215 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 227. 216
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 394. 217
SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 193-194. 218 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello.Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 161.
50
contraditório, previsto no artigo 5º, inciso, LV219 da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, trata-se da garantia de defesa que possui o réu.220
Cumpre ressaltar a distinção entre capacidade de ser parte e capacidade de
estar em juízo.221
Inicialmente, segundo ensina Sérgio Pinto Martins, capacidade “é a aptidão
determinada pela ordem jurídica para o gozo e exercício de um direito por seu
titular”.222
Todo indivíduo é dotado de capacidade para adquirir direitos e contrair
obrigações, quer dizer, todo homem tem personalidade jurídica. No entanto, essa
personalidade jurídica ou capacidade de ser parte por si só impede que o indivíduo
ingresse em juízo e exercite os atos processuais. Ocorre com os absolutamente
incapazes que “podem ser partes; tem portanto capacidade de direito, personalidade
jurídica, mas carecem de capacidade de estar em juízo, de capacidade processual
ou, em linguagem mais técnica, de legitimatio ad processum”. 223
Transportando-se para o processo do trabalho, tem-se que para ser parte o
indivíduo precisa apenas ser dotado de capacidade, ter pleno gozo dos seus
direitos, deixando a análise quanto ao interesse jurídico ou moral dessa pessoa para
ser verificada e resolvida no andamento do processo.224
Nessa esteira, complementa o autor Amauri Mascaro Nascimento:
Pode um trabalhador surgir como parte num processo e não sendo empregado carecer do direito de mover a ação e não preencher, portanto, os requisitos necessários para receber a prestação jurisdicional do órgão trabalhista. Porém, esse problema é diferente. Parte é a pessoa que está no gozo dos seus direitos, nada mais.225
219 CRFB/88, Artigo 5º, LV. Aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p 10). 220 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello.Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 161-162. 221 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 120. 222 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 178. 223 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 120. 224 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 369. 225 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 369.
51
Na esfera laboral, no que tange a nomenclatura, as partes ativa e passiva
são denominadas como reclamante (autor) e reclamado (réu). Essa denominação se
deu em virtude de ter a Justiça do Trabalho origem administrativa, vinculada ao
Poder Executivo. 226 Não falava-se em ação, apenas em reclamação administrativa,
daí o motivo que justifica a origem de reclamante e reclamado.227
O uso dessas expressões, segundo afirma Sérgio Pinto Martins “pode ser
também creditado a tentativa de justificar a autonomia do processo do trabalho em
relação ao processo civil, empregando-se, para tanto, termos próprios, em vez de
autor e réu, que a nosso ver são os mais adequados”. O artigo 651228 da própria
Consolidação das Leis do Trabalho demonstra a utilização das palavras reclamante
e reclamado. 229
Assim, tendo em vista a inovação da terminologia trazida pelo legislador,
tem-se que no processo trabalhista as denominações autor e réu, são substituídas
pelas expressões reclamante e reclamado.230
No que tange ao inquérito para apuração de falta grave, o empregador é
denominado requerente, enquanto o empregado o requerido. Nos dissídios
coletivos, trata-se dos denominados suscitante (autor do dissídio) e suscitado (réu).
Observa-se nesse caso que as partes são os sindicatos dos trabalhadores e
sindicatos patronais, dos empregadores.231
Quanto as expressões utilizadas na execução trabalhista, nota-se que são
as mesmas usadas no processo civil, ou seja, exeqüente e executado, assim
também ocorre no que diz respeito aos recursos trabalhistas em que as partes são
chamadas de recorrente e recorrido, agravante e agravado, embargante e
embargado, etc.232
226 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 395. 227 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 177. 228 CLT, Artigo 651. A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 934.) 229 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 177. 230 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 195. 231 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 119. 232 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 395.
52
Evidencia-se através das diferentes designações adotadas que o processo
do trabalho objetivou demonstrar sua autonomia em face do processo civil,
destacando sua originalidade ao tentar inovar nomenclaturas já existentes 233.
Contudo, pode-se concluir, segundo Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz
Arenhart, “que será parte no processo aquele que demandar em seu nome próprio
(ou em nome de quem for demandada) a atuação de uma ação de direito material e
aquele outro em face de quem essa ação deva ser atuada”.234
Cumpre salientar que o conceito clássico de partes não é o bastante, pois, o
processo não envolve apenas autor, réu e juiz, podendo, muitas vezes, um terceiro
ingressar na demanda com o objetivo de auxiliar uma das partes originárias, ou
ainda para buscar seu próprio direito.235 Nessa linha, pode ainda ser parte no
processo um terceiro que estando fora da relação processual ingressa em juízo por
sofrer os efeitos da sentença. 236
2.2 DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
Como visto, outras pessoas que não fazem parte da relação processual
podem ter certo interesse em ingressar no processo na condição de terceiro
interessado.237
Terceiro, de acordo com os ensinamentos de Mauro Schiavi, “é
rigorosamente toda pessoa que não seja parte no processo”. 238
É nesse sentido o pensamento de Elpídio Donizetti ao afirmar que “terceiro
quer dizer estranho à relação processual estabelecida entre autor e réu”.239
233MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 177-178. 234 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 164. 235 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 194. 236 SAAD, Eduardo Gabriel. ;SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello.Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 162. 237 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 425. 238 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 269. 239
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. Pg 75.
53
Dessa forma, a intervenção de terceiros ocorre quando uma terceira pessoa
ou ente, não sendo parte primitiva da causa, ingressa no processo a fim de defender
seus direitos ou de uma das partes originárias. 240
Ressalta-se que o interesse que motiva a intervenção deve ser jurídico, ou
seja, deve existir uma relação jurídica material entre o terceiro e a parte originária do
processo. É o caso do sublocatário com relação ao locatário na ação de despejo
ingressada pelo locador. Portanto, tem-se que a intervenção de terceiros não pode
fundar-se no interesse simplesmente econômico, financeiro, político, moral, etc. 241
Nas palavras de Luiz Rodrigues Wambier “na intervenção de terceiros,
alguém que a princípio e em princípio não tomava parte do processo, dele passa a
participar, por uma escolha voluntária ou não”. 242
Nessa esteira, a intervenção ocorrerá sempre que alguém que não faz parte
da causa ingressar no processo com o objetivo de auxiliar ou até mesmo excluir os
litigantes quando percebe que seu direito pode ser prejudicado com os efeitos da
sentença.243
Afirma o autor Humberto Theodoro Júnior que a intervenção de terceiro
ocorre “quando alguém ingressa, como parte ou coadjuvante da parte, em processo
pendente entre outras partes”. 244
O terceiro interveniente pode no processo cumprir papel de auxiliar da parte
originária, de interveniente que se liga a uma das partes para lutar contra o
adversário, ou ainda, pode atuar contra ambas as partes originárias da demanda,
visando excluí-las. 245
Nesse sentido a intervenção de terceiros divide-se em duas categorias,
quais sejam, voluntária ou espontânea, e forçada ou coacta.246
240 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 433. 241 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 433. 242 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 257. 243 SILVA. Ovídio A. Baptista Da. Curso de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p 259. 244JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p 108. 245 SILVA. Ovídio A. Baptista Da. Curso de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p 260. 246 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 232.
54
A intervenção voluntária ocorre quando o terceiro por iniciativa própria
ingressa no processo, ao passo que a intervenção forçada ou coacta consuma-se
quando um dos litigantes convoca a intervenção do terceiro.247
Dessa forma, inclui-se na intervenção espontânea a assistência e a
oposição, e na intervenção provocada, a nomeação à autoria, chamamento ao
processo e a denunciação à lide. 248
Não obstante, antes de se adentrar no enfrentamento da problemática, qual
seja, de possibilidade da denunciação à lide no processo do trabalho após a
Emenda Constitucional n. 45/2004, fundamental é o estudo mais detalhado de cada
modalidade de intervenção de terceiro prevista no Código de Processo Civil,
conforme segue.
2.2.1 Assistência
Inicialmente, é importante ressaltar que o Código de Processo Civil trata da
assistência juntamente com o litisconsórcio, excluindo-a do capítulo da Intervenção
de Terceiros. 249
No entanto, segundo Humberto Theodoro Júnior, o “ingresso do assistente
no processo é caso típico de intervenção voluntária de terceiro, mesmo quando é
considerado litisconsorte da parte principal.” 250
Neste sentido explica ainda o autor que “o assistente não é parte na relação
processual e nisso se distingue do litisconsorte. Sua posição é de terceiro que tenta
apenas coadjuvar umas das partes a obter vitória no processo”. 251
A assistência está prevista no artigo 50 do Código de Processo Civil,
conforme o qual “pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que
247 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 232. 248 SILVA. Ovídio A. Baptista Da. Curso de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p 260. 249 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p 132. 250 TORNAGHI, Hélio apud JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p 132. 251 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p 132.
55
tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir
no processo para assisti-la”. 252
Nas palavras de Mauro Schiavi a “assistência é, em si, a ajuda que uma
pessoa presta a uma das partes principais do processo, com vista a melhorar suas
condições para obter a tutela jurisdicional”.253
O terceiro ingressa na relação jurídica processual com o fim de auxiliar tanto
autor quanto réu em virtude do interesse jurídico que possui em face da sentença.
Importante frisar, que trata-se de interesse jurídico e não meramente econômico. 254
Na assistência, o interesse do interveniente consiste “na preservação ou na
obtenção de uma situação jurídica de outrem que possa influir positivamente na
relação jurídica não- litigiosa existente entre ele, assistente, e a parte assistida”.255
Além do interesse jurídico, a assistência deve obedecer mais um requisito
essencial, qual seja, a existência de um processo em andamento, caso contrário não
seria possível a intervenção.256
Contudo, são pressupostos da assistência, a existência de uma relação
jurídica entre assistente e uma das partes primitivas do processo, bem como a
possibilidade de influência da sentença nesta relação.257
Quanto à sua admissão, tem-se que a assistência é cabível em qualquer
processo, inclusive na execução (embargos à execução e de terceiro), no entanto,
conforme apregoa o artigo 50 258, parágrafo único do CPC, o assistente receberá o
processo no estado em que este encontrar-se. É admitida ainda no rito sumário, de
acordo com o artigo 280 259 do CPC, no entanto, é inaplicável no procedimento
252 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 233. 253 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 313. 254 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 128. 255 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 132. 256 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 128. 257 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 133. 258 CPC, Artigo 50, § único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 391.) 259 CPC, Artigo 280. No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro. (Alterado pela L-010.444-2002). (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 407).
56
sumaríssimo dos juizados especiais e no sumaríssimo trabalhista (artigo 10 260 da
Lei nº. 9099/95 e Lei nº 9957/00 261). 262
Essa modalidade de intervenção de terceiros apresenta-se através de duas
espécies, quais sejam, a assistência simples ou adesiva e a assistência qualificada
ou litisconsorcial.263
No que diz respeito a assistência simples ou adesiva o interveniente
ingressa no processo tão somente para auxiliar uma das partes sem defender direito
próprio (ad adiuvandum tantum). No entanto, quando o assistente visa defender
diretamente seu interesse contra uma das partes do processo o que ocorre é a
assistência litisconsorcial, passando o terceiro a ser litisconsorte, ou seja, parte,
deixando de lado sua posição de mero assistente. (artigo 54264 do CPC).265
Na assistência simples o interveniente atua como coadjuvante da parte, não
possuindo nenhum interesse particular. Sua função limita-se a auxiliar na defesa dos
direitos do assistido para que a sentença seja desfavorável à parte contrária.266
Nesse sentido é o entendimento do autor Luiz Rodrigues Wambier, nota-se:
Trata-se de intervenção de terceiro, a que se denomina, num primeiro momento, genericamente, de assistente, ingressa em processo alheio com o fim de prestar colaboração a uma das partes, isto é, aquela a quem assiste, tendo em vista o alcance satisfatório, no processo, para o assistido. O interesse do assistente consiste na vitória da parte a quem assiste e na conseqüente e correlata sucumbência da parte contrária. 267
260 BRASIL. Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995, dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Artigo 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. (BRASIL. Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1579). 261 BRASIL. Lei nº 9.957 de 12 de janeiro de 2000, acrescenta dispositivos à Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto- Lei 5.452 de 1 de maio de 1943, instituindo o procedimento sumaríssimo no processo trabalhista. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9957.htm. Acesso em:> 17/10/2009. 262 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 313. 263 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 233. 264 CPC, Artigo 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 391). 265 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 133. 266 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 129. 267 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 258.
57
Diferentemente do que ocorre na denunciação à lide e na oposição, o
assistente não cria uma nova lide que deva ser submetida ao julgamento do juiz
juntamente com a demanda originária. Sua atuação é mais restrita, ao passo que
depende da atuação da parte assistida.268
O interesse no qual trata-se aqui é indireto, vez que não está ligado
diretamente ao litígio. Exemplo, ação de despejo entre locador e locatário, a
sublocação não é objeto da demanda, no entanto, o interveniente pode assistir em
razão de seu interesse indireto (sublocação).269
Destaca-se ainda outros exemplos de assistência adesiva, quais sejam, a
intervenção do fiador na ação entre credor e devedor principal a respeito da validade
do contrato de empréstimo; o ingresso do legatário em ação sobre a validade do
testamento em que são partes herdeiro legítimo e testamentário, etc.270
Na esfera trabalhista a assistência simples ou adesiva é admissível,
conforme prevê a súmula 82 do TST271, na qual informa que “a intervenção
assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o interesse
jurídico e não meramente econômico”.272
Para fins de distinção entre interesse jurídico e econômico, destaca-se um
exemplo apontado pelo autor Sérgio Pinto Martins:
Aquele que vendeu uma empresa, colocando no contrato de venda e compra que ficaria responsável pelas reclamações trabalhistas quanto ao período em que esteve naquela, se não demonstrar seu interesse jurídico no processo, não será admitido como assistente. No exemplo acima mencionado, o suposto “assistente” tem interesse econômico no desfecho da demanda, pois cabe a ele o pagamento das verbas trabalhistas no período em que foi sócio da empresa. Logo, seu interesse na lide não é jurídico, mas apenas econômico, não podendo ser admitido como assistente.273
268 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 258. 269 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. Pg 87. 270 SILVA. Ovídio A. Baptista Da. Curso de Processo Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p 264. 271 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. 272 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 435. 273 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 212.
58
Contudo, o interesse jurídico necessário para que o terceiro ingresse no
processo configura-se quando o resultado desse reflete nos direitos do terceiro, ou
melhor, quando o terceiro sofre os efeitos da sentença. 274
A assistência adesiva, freqüentemente, ocorre na esfera trabalhista, como é
o caso do sindicato que ingressa como assistente dos empregados, na demanda
promovida por estes para receber dos empregadores os reajustes salariais definidos
em sentença normativa. 275
No que tange a assistência litisconsorcial tem-se que o assistente possui
interesse jurídico próprio na demanda, exercendo todos os poderes e submetendo-
se a todos os ônus que recaiam sobre a própria parte. O assistente tem a mesma
posição jurídica do assistido. 276
A assistência litisconsorcial ou qualificada está prevista no artigo 54 do CPC,
que diz “considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a
sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do
assistido”.277
Nesse contexto explica Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:
[...] é de se ver que a assistência litisconsorcial corresponde à formação de um litisconsórcio ulterior, em que o “assistente” voluntariamente ingressa após o início do processo, para defender interesse próprio a ser julgado pela sentença.278
Dessa forma, sempre que o assistente ingressar no processo a fim de
defender direito próprio, ou seja, quando tratar-se de interesse direto, restará
caracterizada a assistência litisconsorcial.279
É importante salientar que o assistente litisconsorcial não será litisconsórcio
real, tampouco, parte principal da demanda. No entanto, é considerado litisconsorte,
pois, os efeitos da sentença lhe atingirão, ou seja, os reflexos da sentença
274 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. .2 ed. São Paulo: LTr, 2009. p 313. 275 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 143. 276 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 259. 277 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 435. 278 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 176. 279 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 88.
59
influenciarão de forma absoluta na relação entre o assistente e o adversário do
assistido. 280
Exemplificando a assistência litisconsorcial nota-se o que diz Renato
Saraiva:
[...] podemos mencionar a hipótese do fiador que na qualidade de assistente (litisconsorcial) ingressa nos autos de uma ação de cobrança de alugueres promovida pelo locador (adversário do assistido) em face do locatário (assistido). Nessa hipótese, o assistente (fiador) mantém relação jurídica com o locador, pois assinou o contrato de locação como garantidor dos pagamentos dos alugueres e encargos incidentes sobre o imóvel objeto de locação.281
Contudo, para restar configurada a assistência litisconsorcial é necessário
que o direito em conflito possa ser objeto de discussão em ação promovida
individualmente pelo assistente ou em litisconsórcio com o assistido. 282
No que tange a substituição processual, a assistência litisconsorcial foi
aceita no processo trabalhista, como citava a Súmula n. 310 do Tribunal Superior do
Trabalho283 na qual, na ação em que o sindicato atuasse como substituto processual
seria “lícito aos substituídos integrar a lide como assistente litisconsorcial, acordar,
transigir e renunciar, independentemente da autorização ou anuência do
substituto”.284
A respeito do procedimento aplicam-se as mesmas regras tanto na
assistência simples como na litisconsorcial.285
Desse modo, as partes poderão impugnar o pedido dentro do prazo de cinco
dias, conforme dispõe o artigo 50 do CPC.286 Não havendo impugnação, o
magistrado admitirá a assistência. Caso contrário, ou seja, quando houver
impugnação sob a alegação da falta de interesse jurídico do terceiro para defender
direito do assistido, o juiz ordenará, suspendendo o processo, o desentranhamento
do pedido de assistência e da impugnação para que essas sejam autuadas em
280 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 130. 281 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 234. 282 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 234. 283 A Súmula n. 310 foi cancelada pelo Tribunal Pleno do TST, na Sessão de Julgamento do dia 25.10.2003, quando os Ministros apreciavam o recurso de embargos (ERR 17894/95). 284 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 436. 285 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello.Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 219. 286 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 134.
60
apenso ao processo principal, determinará a produção de provas e terá o prazo de
cinco dias para decidir a questão. (artigo 51287 do CPC).288
Essa decisão proferida pelo juiz de caráter interlocutório não poderá ser
atacada imediatamente na esfera trabalhista, tendo em vista a previsão expressa no
artigo 893, § 1º da Consolidação das Leis do Trabalho c/c a Súmula 214 Tribunal
Superior do Trabalho, cita-se:
Art. 893, § 1º- Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recurso da decisão definitiva. 289
S. 214 do TST- Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.
O assistente, como já mencionado anteriormente, atuará no processo a fim
de auxiliar a parte principal, exercendo os mesmos poderes e sujeitando-se as
mesmas obrigações que o assistido. Dentre os poderes que possui o assistente,
destacam-se as provas que por ele podem ser produzidas, o requerimento de
diligências e perícias, apresentação de razões e participação nas audiências. 290
É importante destacar a respeito das limitações da assistência simples e
litisconsorcial. Com fulcro no artigo 53291 do Código de Processo Civil a assistência
simples não pode impedir que o autor desista da ação, que o réu reconheça a
procedência do pedido, ou ainda, que as partes, através de transação, ponham fim
ao processo. No que diz respeito à assistência litisconsorcial, o artigo 53 do CPC 287 CPC, Artigo 51. Não havendo impugnação dentro de 5 (cinco) dias, o pedido do assistente será deferido. Se qualquer das partes alegar, no entanto, que falece ao assistente interesse jurídico para intervir a bem do assistido, o juiz: I - determinará, sem suspensão do processo, o desentranhamento da petição e da impugnação, a fim de serem autuadas em apenso; II - autorizará a produção de provas; II - autorizará a produção de provas. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 391). 288 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello.Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 219. 289 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 236. 290 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p 135. 291 CPC, Artigo 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos; casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 391).
61
não é aplicável, podendo o assistente, portanto, se opor à desistência da demanda
pela parte assistida, não reconhecer a procedência do pedido e não aceitar o
acordo. 292
No que tange a interposição de recursos, o assistente litisconsorcial (parte)
terá sempre a faculdade de interpor, mesmo diante da inércia do assistido. Diferente
do que ocorre na assistência simples, pois o assistente só poderá recorrer se
também o fizer o assistido.293
Apregoa o Código de Processo Civil, no artigo 55 294, que após o transito em
julgado da sentença o assistente não poderá discutir em processos posteriores
sobre “a justiça da decisão”, salvo, se provar que fora impedido no que tange a
produção de provas capazes de influenciar na sentença, ou ainda quando
desconhecia as alegações ou provas que o assistido por culpa ou dolo omitiu.295
2.2.2 Oposição
No conceito de Luiz Rodrigues Wambier oposição “é o instituto por meio do
qual terceiro ingressa em processo alheio, exercendo direito de ação contra os
primitivos litigantes, que figuram, no pólo passivo, como litisconsortes necessários.” 296 A oposição, nada mais é do que a ação de terceiro que visa à exclusão tanto o
autor como do réu da demanda.297
O instituto está previsto no artigo 56 do Código de Processo Civil que
informa que “quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que
292 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 234-235. 293 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 135. 294 CPC, Artigo 55. Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 391). 295 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 220. 296 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 260. 297 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 110.
62
controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição
contra ambos”.298
A leitura do dispositivo supracitado é clara ao mencionar que a oposição não
será admitida após proferida a sentença.299
Trata-se de uma ação em que serão chamados de opostos o autor e o réu
da demanda originária, em litisconsórcio necessário, enquanto o interveniente é o
opoente. O objetivo do autor da intervenção (opoente) é formar uma lide secundária
através da exclusão das pretensões das partes primitivas do processo principal. 300
Na verdade, a oposição tem por objetivo a economia processual, vez que o
opoente, autorizado pela lei, pode ingressar na demanda alheia a fim de que seja
reconhecido um direito seu sem precisar entrar com uma nova ação.301
Quanto a classificação, a oposição pode ser total ou parcial, ou seja, o
terceiro pode pleitear toda a coisa ou direito litigioso, ou apenas parte deles.302
Essa modalidade de intervenção é uma nova ação, e em razão da ligação
com o bem disputado a oposição será autuada em apartado e decidida juntamente
com a demanda principal.303
O opoente deverá fazer seu pedido atendendo os requisitos necessários da
petição inicial. Após a distribuição por dependência, os opostos da ação de
oposição, que são autor e réu do processo principal, serão citados na pessoa de
seus advogados, e o prazo comum para contestação é de 15 dias, conforme
determina o artigo 57 do Código de Processo Civil. 304
A oposição poderá ser oferecida antes ou após a audiência. Na primeira
hipótese, a oposição será apensada ao processo principal, correndo juntamente com
a ação. Caso seja oferecida após a audiência, o processo principal poderá ser
298 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 236. 299 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 221. 300 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 132. 301 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 76. 302 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense,2004. p 110. 303 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 77. 304 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 237.
63
suspenso pelo juiz pelo prazo de noventa dias, a fim de que a oposição possa ser
julgada simultaneamente com a ação principal. 305
Ocorrendo a simultaneidade de julgamento da ação e oposição, esta será
conhecida primeiramente pelo juiz. 306 Se o juiz determinar a procedência da
oposição, os opostos (litigantes primitivos) serão excluídos automaticamente, se
improcedente a oposição o juiz julgará o litígio entre autor e réu originários. 307
Quanto ao cabimento da oposição, é certo que essa limita-se ao processo
de conhecimento e sempre antes da prolação da sentença, a fim de que esta resolva
a relação entre opoente e oposto. 308
No tocante ao processo trabalhista, explica Renato Saraiva que a oposição
sofre certo impedimento, uma vez que retarda a prestação jurisdicional, e, além
disso, a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar a lide oriunda da
oposição. Exemplifica o autor:
[...] imaginemos a situação de uma ação trabalhista de um empregado em face do empregador, em que se discute a propriedade de determinada patente, na qual um outro empregado da mesma empresa, na qualidade de terceiro, manifestasse o pedido de oposição quanto ao direito controvertido entre os litigantes. Caso o empregador reconhecesse a procedência do pedido, a relação jurídica continuaria a ser discutida entre reclamante originário (oposto) e o opoente, ou seja, dois empregados, sendo a Justiça Laboral, nesta hipótese, incompetente para processar e julgar a presente demanda. 309
Dessa forma o argumento daqueles que sustentam o descabimento dessa
modalidade de intervenção de terceiro do processo do trabalho encontra-se na
alegação que esta especializada não tem competência para julgar a segunda
relação processual.310
Da oposição nascem duas demandas: na primeira, a Justiça Trabalhista teria
competência para julgar, e na segunda, não o teria, vez que consistiria num conflito
305 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 214. 306 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 237. 307 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 77. 308 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 214. 309 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 237-238. 310 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 438.
64
entre dois prestadores de serviço, existindo assim, incompetência em razão da
pessoa quanto a uma das pretensões pleiteadas.311
No entendimento de Carlos Henrique Bezerra Leite a oposição no processo
do Trabalho não é admitida, uma vez que, mesmo com o advento da Emenda
Constitucional 45/2004, as regras constitucionais de competência da Justiça
Trabalhista continuam sendo em razão da matéria e das pessoas, lhe competindo
processar e julgar as ações advindas da relação de emprego (empregado e
empregador) e da relação de trabalho (trabalhador e tomador de serviço).312
Via de regra, a oposição deverá ser admitida sempre que o opoente
preencher os requisitos processuais indispensáveis à propositura da ação, devendo
o juiz indeferir a oposição quando não atendidos tais pressupostos. Da decisão do
indeferimento, não caberá recurso, mesmo sendo a oposição uma ação autônoma e
a sua decisão ocorra através de sentença. 313
2.2.3 Nomeação à autoria
“Situa-se como uma forma de correção do pólo passivo da demanda. A
nomeação à autoria gera, em princípio, a substituição do pólo passivo da demanda
de um sujeito ilegítimo por outro legítimo”. São essas as palavras que o autor Luiz
Guilherme Marinoni utilizou para definir essa modalidade de intervenção de
terceiro.314
A nomeação à autoria diz respeito a terceiro que deveria ter sido parte
originária do processo. Ao ingressar na ação o terceiro não mais terá essa
qualidade, passando a atuar no processo como réu.315 Essa forma de intervenção de
terceiro está direcionado ao réu, que por achar-se parte ilegítima, visa ser excluído
311 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 438. 312 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 439. 313 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 134. 314 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 183. 315 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 262.
65
do processo. Assim, ao invés do contestar a ação, o réu indica a parte legítima a
ocupar o pólo passivo da demanda.316
A nomeação à autoria está prevista expressamente no artigo 62 do Código
de Processo Civil, segundo o qual “aquele que detiver a coisa em nome alheio,
sendo-lhe demandada em nome próprio deverá nomear à autoria o proprietário ou
possuidor”.317
O artigo 267318, inciso VI, do Código de Processo Civil preceitua que a
ilegitimidade é uma das causas de extinção do processo sem análise do mérito. No
entanto, algumas circunstâncias previstas arbitrariamente pelo CPC podem
determinar equivocadamente o sujeito passivo da ação. Para tais situações o código
autorizou a não extinção do processo por ilegitimidade ad causam, corrigindo o pólo
passivo da demanda, ou seja, substituindo o réu originário por outro que seria
legítimo para ser parte no processo.319
A respeito da nomeação à autoria o autor Luiz Guilherme Marinoni explica:
[...] não corresponde a verdadeira intervenção de terceiro, já se mostra como meio de correção do pólo passivo da relação processual, fazendo com que este “terceiro”, que ingressa na demanda deduzida, assuma a condição de réu no processo, no lugar do primitivo demandado. 320
As situações que autorizam a aplicação do referido instituto estão previstas
nos artigos 62, já transcrito anteriormente, e no artigo 63 do Código de Processo
Civil, cita-se:
Artigo 63- Aplica-se também o disposto no artigo antecedente à ação de indenização, intentada pelo proprietário ou pelo titular de um direito sobre a coisa, toda vez que o responsável pelos prejuízos alegar que praticou o ato por ordem, ou em cumprimento de instruções de terceiro. 321
316 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 135. 317 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 212. 318 CPC, Artigo 267, VI. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Alterado pela L-011.232-2005) VI- quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 406). 319 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 183. 320 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 183. 321 JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense. p 114.
66
Assim, quando o detentor ou responsável pelo prejuízo entender que não
deve figurar no pólo passivo da relação processual, deverá nomear ao autor aquele
que realmente figuraria no processo.322
Dessa forma, segundo ensinamento o autor Carlos Henrique Bezerra Leite,
“a finalidade da nomeação à autoria é alterar a legitimação passiva ad causam, a fim
de que o réu, parte ilegítima, seja substituído pelo nomeado à autoria, que assume a
titularidade passiva da demanda”.323
Observa-se que o instituto em comento é forma de intervenção provocada,
uma vez que a participação do terceiro só se dá mediante iniciativa do réu da ação,
e não por sua própria vontade (terceiro). De certa forma, é também obrigatória na
medida em que o réu tem o dever de nomear a autoria, no prazo de defesa (artigo
64 CPC) 324, sob pena de preclusão e de ser responsabilizado por perdas e danos
perante seu silêncio (artigo 69 325, I, do CPC) 326.
Na nomeação à autoria o autor poderá ou não aceitar a indicação feita pelo
réu. Não admitida a nomeação pelo autor, o processo retomará seu andamento
regular em relação ao réu originário, ficando sem efeito a intervenção, voltando a ter
o nomeante (réu primitivo) prazo para defesa, conforme artigo 67 327 do CPC. Caso
o autor concorde com a nomeação far-se-á a citação do nomeado para responder à
ação. Citado, o nomeado pode aceitar ou recusar. Recusando o processo seguirá
normalmente contra o réu originário (nomeante), aceitando, ocorrerá a extromissão,
que é a substituição do pólo passivo da ação. 328
322 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 184. 323 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 440. 324 CPC, Artigo 64. Em ambos os casos, o réu requererá a nomeação no prazo para a defesa; o juiz, ao deferir o pedido, suspenderá o processo e mandará ouvir o autor no prazo de 5 (cinco) dias. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 325 CPC, Artigo 69. Responderá por perdas e danos aquele a quem incumbia a nomeação: I - deixando de nomear à autoria, quando lhe competir. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 326 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 184. 327 CPC, Artigo 67. Quando o autor recusar o nomeado, ou quando este negar a qualidade que lhe é atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo para contestar. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 328 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 184.
67
Existem duas hipóteses em que a aceitação da nomeação é presumida,
quais sejam, quando o autor nada alegar no prazo determinado, e ainda, se o
nomeado não comparecer ou comparecendo nada contestar.329
O instituto na nomeação à autoria tem compatibilidade com o processo do
trabalho, muito embora seja pouco utilizada nessa esfera. Essa modalidade de
intervenção pode ser usada em benefício do próprio reclamante, ao passo que,
muitas vezes, demanda em face do reclamado, que por sua vez, não é o
empregador. Ao defender-se, o empregador indicará a pessoa certa para ocupar o
pólo passivo da demanda. 330
Não bastasse isso, destaca-se outro exemplo acerca da aplicação da
nomeação à autoria na esfera laboral, que é o caso do empregado que ao exercer
sua tarefa necessita do empréstimo de determinada máquina de outro empregado.
Pretendendo o empregador reintegrar-se na posse da máquina, deverá o
empregado nomear a autoria o verdadeiro dono do material. Trata-se de relação de
trabalho, portanto, é de competência da justiça especializada. 331
O cabimento da nomeação à autoria limita-se ao processo de
conhecimento, não podendo ser utilizada no processo de execução.332
2.2.4 Chamamento ao Processo
O chamamento ao processo é na verdade um meio pelo qual forma-se, por
iniciativa do réu, o litisconsórcio passivo. Assim, o réu chama ao processo aqueles
que têm a mesma obrigação que ele ou ainda maior, para juntos responderem a
ação. 333
Nesse sentido complementa Carlos Henrique Bezerra Leite:
329 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 215. 330 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 315. 331 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 213. 332 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 240. 333 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 268.
68
Trata-se de intervenção facultada ao réu para solicitar ao juiz que seja convocado para integrar a lide, como seus litisconsortes, o devedor principal ou os co-responsáveis ou coobrigados solidários que deverão responder pelas obrigações correspondentes.334
A finalidade do chamamento ao processo nada é mais do que a “criação de
título executivo para posterior sub-rogação”. O autor Luiz Rodrigues Wambier
exemplifica a situação, segue: “B, sendo acionado por A, e perdendo a ação, se tiver
chamado ao processo os demais devedores solidários, pode, pagando A, sub-rogar-
se em seus direitos de credor, para acionar os demais devedores”.335
Tal situação reflete o principio da economia processual, vez que os demais
devedores poderão ser chamados ao processo a fim de que respondam na
proporção de cada um. Com isso, além da ampliação do pólo passivo da demanda,
o chamamento ao processo faz surgir uma nova ação, ou seja, do réu contra os
demais co-devedores, pois, a sentença que condenar apenas o réu primitivo, servirá
de título executivo judicial exeqüível em face dos demais co-devedores, a fim de que
estes sejam responsabilizados por suas cotas partes. 336
A posição que ocupa o réu é a de chamante, enquanto os demais devedores
solidários são os chamados. Vale salientar que “os chamados são devedores do
credor e não do chamante. Somente serão devedores do chamante, caso este
pague integralmente a dívida”. 337
O chamamento ao processo é admitido apenas em questões obrigacionais,
na medida em que um dos co-devedores poderá chamar ao processo os demais
coobrigados para responder a dívida conjuntamente, conforme preceitua o artigo 77
do CPC, afirmando ser “admissível o chamamento do devedor na ação em que o
fiador é réu; dos outros fiadores, quando para a ação foi citado apenas um deles, e
de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de algum deles,
parcial ou totalmente, a dívida comum”.338
334 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 445. 335 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 268-269. 336 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 137. 337 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 137-138. 338 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2008. p 190.
69
O referido instituto trata-se de intervenção provocada, não podendo ocorrer
recusa. É ação exclusiva do processo de conhecimento, vez que só nesse o terceiro
é condenado. É incabível no processo de execução e cautelar. 339
De acordo com os ensinamentos de Mauro Schiavi, existe compatibilidade
do chamamento ao processo com o processo do trabalho, podendo, ainda, ser útil
para o reclamante, que de certa forma terá garantia maior do seu crédito por estar
ingressando na demanda outro devedor.340
Nesse sentido continua o autor:
Pelos mesmos motivos que sustentamos à possibilidade da denunciação da lide, acreditamos ser possível o chamamento ao processo na Justiça do Trabalho com uma flexibilidade maior que a denunciação, pois o chamamento visa a uma maior garantia de pagamento do crédito do reclamante.341
Em contrapartida a esse entendimento, afirma Renato Saraiva que mesmo
sendo o chamamento ao processo uma forma de beneficiar o reclamante na medida
em que o reclamado originário e os chamados poderão ser executados, não é
compatível a ação regressiva de um devedor em face dos demais com a Justiça
Trabalhista. 342
Cabe ao juiz, quando verificar a falta de benefícios para o processo e a
demora na resolução do litígio, indeferir o pedido de chamamento.343 A decisão que
indefere o pedido é uma decisão interlocutória, por isso, incabível qualquer
recurso.344
Ressalta-se que a Justiça do Trabalho é omissa no que tange a intervenção
de um estranho ao processo. 345 Entretanto, afirma Amauri Mascaro Nascimento:
É cabível na Justiça do Trabalho a intervenção de terceiros em face do princípio da subsidiariedade, uma vez que, sendo o direito processual comum fonte subsidiária do processo do trabalho (CLT,
339 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 325. 340 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 325. 341 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 325. 342 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método. p 248-249. 343 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 325. 344 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 138. 345 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 433.
70
artigo 769) e diante da omissão e inexistência de incompatibilidade, segue-se que rejeitá-la implicaria descumprir a lei. 346
Diante de tal omissão a respeito do instituto a doutrina e a jurisprudência são
divergentes, e a discussão tende a aumentar em decorrência do advento da Emenda
Constitucional nº 45/2004 que alterou a competência da Justiça do Trabalho.347
Realizada uma análise acerca de todas as formas de intervenção de
terceiros elencadas no código de processo civil, aplicado subsidiariamente no
processo do trabalho, far-se-á em seguida, um estudo mais aprofundado, com base
nas acirradas discussões doutrinárias e jurisprudenciais, sobre a denunciação à lide
no processo do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004, objeto do
trabalho.
346 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 426. 347 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 433.
3. DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO
3.1 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE
Conforme visto, existem formas de intervenção de terceiros aplicáveis ao
processo civil, entretanto, discutíveis acerca de sua aplicabilidade no âmbito
trabalhista, mormente, a espécie da denunciação à lide.
A denunciação à lide no sistema romano (código de processo civil 1939) 348
tinha por objetivo notificar o denunciado da demanda a fim de que este realizasse a
defesa do denunciante. O Código de Processo Civil de 1973 adotou a teoria
germânica e com isso passou a denunciação à lide a ser uma ação regressiva,
possibilitando o ressarcimento do denunciante caso fosse condenado ao pagamento
de perdas e danos na ação principal.349
O instituto em comento é forma de intervenção de terceiro “em que se
pretende incluir no processo uma nova ação, subsidiária àquela originariamente
instaurada, a ser analisada caso o denunciante venha a sucumbir na ação
principal”.350
Nesse contexto, destaca-se que sua natureza é de processo incidental, vez
que surge uma nova relação no curso do processo principal.351
O objetivo da denunciação à lide, baseada no princípio da economia
processual, é inserir na demanda principal uma lide eventual, ou seja, insere-se num
só procedimento duas demandas interligadas. No entanto, a lide secundária só será
analisada pelo juiz caso o denunciante seja vencido na lide principal. 352
348 BRASIL. Decreto- Lei nº 1.608, de 18 de setembro de 1939. Código de Processo Civil. Disponível em:> http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/1937-1946/Del1608.htm. Acesso em:> 18 out. 2009. 349 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 216. 350 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 182. 351 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 216. 352 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 265.
72
É chamado de denunciante ou litisdenunciante aquele que faz a
denunciação, enquanto o denunciado ou litisdenunciado é o terceiro chamado a
ingressar na demanda.353
Quanto ao procedimento na denunciação por iniciativa do autor, destaca-se
que a citação do denunciado deve ocorrer com o oferecimento da petição inicial e
antes de citado o réu. Admitida a denunciação o processo principal ficará suspenso.
Entretanto, prosseguirá sem a formação da lide secundária caso o denunciado não
seja citado. 354
No caso de ocorrência da citação, o denunciado atuará na posição de
litisconsorte do autor, podendo aditar a petição inicial. O denunciado poderá, ainda,
defender-se em 15 dias, sob pena de revelia. Regularizada a denunciação, o
processo seguirá normalmente com a citação do réu.355
A respeito da denunciação à lide por iniciativa do réu, o prazo será o de
contestação para manifestar-se sobre a intervenção, consoante artigo 71, segunda
parte, CPC 356. O processo ficará suspenso, caso o magistrado acolha a
denunciação, citando em seguida o denunciado.357
Existem três situações que podem ser admitidas quando a denunciação
ocorre por iniciativa do réu, quais sejam, se o denunciado aceitar e contestar o
pedido, o processo terá seu andamento entre o autor e litisconsortes, denunciante e
denunciado; sendo revel o denunciado ou comparecendo a fim de recusar essa
condição, deverá o denunciante continuar na defesa até final e, por fim, confessando
o denunciado as alegações do autor, o denunciante poderá dar continuidade na
defesa, conforme disciplina o artigo 75358 do CPC. 359
353 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 140. 354
NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 141. 355 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 141-142. 356 CPC, Artigo 71. A citação do denunciado será requerida, juntamente com a do réu, se o denunciante for o autor; e, no prazo para contestar, se o denunciante for o réu. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 357
MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 185. 358 CPC, Artigo 75. Feita a denunciação pelo réu: I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processo prosseguirá entre o autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes, o denunciante e o denunciado; II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até final; III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá o denunciante prosseguir na defesa. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 359 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 220.
73
Contudo, tem-se que a interposição da denunciação à lide deverá ocorrer na
petição inicial ou na contestação, não podendo ser aceita em outro momento. 360
No que tange aos prazos, a citação do denunciado deve ocorrer em dez
dias quando residir na mesma comarca, ou em trinta dias, se estiver em local incerto
ou residir em outra comarca. Os prazos acima descritos devem ser obedecidos, sob
pena de se tornar inoperante a denunciação.361
Ocorrendo a denunciação da lide, tem-se uma cumulação objetiva eventual
de demandas no processo. Entretanto, a demanda subsidiária só será analisada
caso a principal venha a prejudicar o denunciante. 362 Assim, no caso de ocorrência
da denunciação e sucumbência do denunciante na demanda originária, o juiz
decidirá as duas lides. 363
As hipóteses de denunciação à lide estão previstas no artigo 70 do Código
de Processo Civil, que preceitua o seguinte:
A denunciação é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta; II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada; III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.364
Explica Luiz Guilherme Marinoni que em todos esses casos expressos no
artigo 70 do CPC, nota-se alguma relação subsidiária àquela deduzida na relação
principal, que, através da denunciação, poderá ser também levada para exame por
meio de processo instaurado, desde que o titular da ação subsidiária sofra algum
prejuízo na relação principal. 365
360 NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 142. 361 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 185 362 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 185 363 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 265. 364 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 320. 365 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 182.
74
Em relação à obrigatoriedade da denunciação à lide é importante que se
faça algumas ressalvas. Mesmo que o caput do artigo 70 do CPC afirme que a
denunciação é obrigatória, em regra, não perderá o direito aquele que não denunciar
terceiro. A denunciação somente será obrigatória no caso previsto no inciso I do
referido artigo, pois, assim, o denunciante exercerá o direito decorrente da
evicção366. Essa obrigatoriedade nasce do artigo 456367 do código civil, e a falta de
notificação pelo adquirente resultará na perda dos direitos decorrentes da evicção,
ficando impossibilitado de exercê-los em ação direta. 368
Nos outros casos não há propriamente a obrigatoriedade dessa modalidade
de intervenção de terceiro. O autor Luiz Rodrigues Marinoni afirma que “a não-
efetivação da denunciação apenas impede que a ação subsidiária seja deduzida no
mesmo processo em que se discute a relação principal”. 369
Em suma, refere-se o inciso I do artigo 70 do CPC à denunciação à lide ao
alienante, a fim de que o adquirente possa utilizar-se dos direitos resultantes da
evicção. Nesse caso, será sempre denunciante o adquirente, e denunciado o
alienante. 370
O autor Elpídio Donizetti exemplifica:
Comprador promove ação reivindicatória contra o possuidor do bem e ao mesmo tempo denuncia a lide o vendedor, para que este lhe responda pela evicção (denunciação pelo adquirente na posição de autor). O adquirente é citado em ação de usucapião, e, então, denuncia a lide ao alienante, para que responda pela evicção se vier a perder o domínio (denunciação promovida pelo adquirente na posição de réu). 371
366 “É a perda da propriedade, posse ou uso de um bem que é atribuído a terceiro por força de sentença judicial. Desta forma pode-se afirmar que ela consiste na perda total ou parcial de uma coisa em conseqüência de uma reivindicação judicial promovida pelo verdadeiro dono ou possuidor. A evicção independe de cláusula expressa e opera de pleno direito, já que deriva diretamente do contrato”. Disponível em:< http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/722/Eviccao. Acesso em:> 18 out. 2009. 367 CC, Artigo 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. (BRASIL. Código Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 178). 368 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 83. 369 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed. São Paulo: RT. p 183. 370 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 82. 371 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p 82.
75
No que diz respeito ao inciso II do artigo em estudo, este possibilita o
possuidor direto a denunciar o proprietário ou possuidor indireto, podendo ser esse
ultimo o próprio proprietário, ou ainda o usufrutuário que é aquele que loca a alguém
o bem em usufruto. Esse exerce a posse direta do bem e o usufrutuário-locador a
posse indireta. A denunciação será feita pelo possuidor direto (réu) da coisa
litigiosa.372
A respeito dessa hipótese tem-se como exemplo uma ação possessória em
que o locatário é réu. Ao ser acionado, o locatário deve denunciar a lide o
proprietário do imóvel e locador, a fim de que esse possa cumprir sua obrigação,
qual seja, garantir a posse do imóvel alugado. 373
Por fim, o inciso III do artigo 70 do CPC informa que “é obrigatória a
denunciação da lide àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a
indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”. Observa-se,
nesse caso, que é imprescindível que a existência da obrigação regressiva seja
amparada pela lei ou contrato. O fato de não existir tal obrigação impossibilitará a
denunciação à lide.374
Destarte o inciso III do referido artigo trata da ação de regresso, como é o
caso dos contratos de seguro. A empresa seguradora tem a obrigação de indenizar
os prejuízos que a parte sofreu em ação judicial. Essa indenização dar-se-á através
de ação regressiva.375
Acerca do cabimento da denunciação à lide no processo do trabalho não há
unanimidade de posicionamentos.376 A aplicação da intervenção de terceiros na
esfera laboral sempre foi motivo para grandes discussões e controvérsias. 377
Desse modo, mister se faz, investigar à luz dos efeitos da nova competência
da Justiça do Trabalho a possibilidade de aplicação do instituto da denunciação à
372 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 267. 373 WAMBIER. Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p 267. 374 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217. 375 MARINONI, Luiz Guilherme.; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. 6. ed.São Paulo: RT. p 184. 376 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 216. 377 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 19 set. 2009.
76
lide após a edição da Emenda Constitucional n. 45/2004, responsável pelas cizânias
doutrinárias e jurisprudenciais atualmente existentes na Justiça Especializada.
3.2 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004
Como visto a doutrina e a jurisprudência sempre foram no sentido de não
admitir a intervenção de terceiros no processo do trabalho por ser essa uma justiça
célere e pela sua falta de competência material para resolver questões relacionadas
ao direito regressivo.378
Amauri Mascaro Nascimento complementa:
Ultimamente, o cabimento da denunciação da lide no processo trabalhista vem sofrendo a oposição de alguns doutrinadores, com base em argumentos respeitáveis. Primeiro, a finalidade da referida figura processual, que seria incompatível com as perseguidas pela ação da Justiça do Trabalho. Segundo, a incompetência desta para apreciar a demanda entre denunciado e o denunciante, porque não se trata, como é sabido, de questão trabalhista.379
Decidiu o Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região sobre a hipótese de
cabimento da denunciação à lide no processo do trabalho:
Ementa: DENUNCIAÇÃO À LIDE. HIPÓTESE DE CABIMENTO. O cabimento do instituto da denunciação à lide no processo do trabalho sofre limitação, tendo pertinência apenas quando o empregado a aceite, já que a modalidade prevista no inc. III do art. 70, do CPC, não é obrigatória, e desde que o denunciado comungue com os interesses defendidos pelo denunciante, sob pena de, assim não sendo, o juízo trabalhista ter que dirimir conflito estranho à relação de trabalho.380
Nesse aspecto:
Ementa: DENUNCIAÇÃO À LIDE. PROCESSO DO TRABALHO. CABIMENTO. REQUISITOS. O cabimento do instituto da denunciação à lide no processo do trabalho deve pressupor, além
378 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 321. 379 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 432. 380 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Santa Catarina. Recurso Ordinário. Processo nº 01358-2006-054-12-00-0. Juiz Relator: Juiz Roberto L. Guglielmetto - Publicado no TRTSC/DOE em 15-09-2008.
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das condições do art. 70 do CPC, a necessária competência para apreciar a relação jurídica adjacente entre o denunciante e denunciado, assim como os princípios processuais próprios, entre os quais, a celeridade processual. 381
Ressalta-se novamente a discussão acerca da aplicabilidade do instituto na
esfera trabalhista na jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região
que adotou o seguimento posicionamento:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE - DISCUSSÃO ESTRANHA AOS INTERESSES DO TRABALHADOR - NÃO CABIMENTO. Em que pese a alteração promovida na competência material da Justiça do Trabalho pela EC 45/04, que superou a fixação da competência em razão das pessoas (ratione personae) para defini-la em razão da matéria (ratione materiae), podendo processar e julgar as ações decorrentes da relação de trabalho (artigo 114, I, da CF), vem se entendendo que a utilização subsidiária do instituto da intervenção de terceiros no processo do trabalho (artigo 769 da CLT), do qual a denunciação da lide é uma modalidade, deve atentar para os interesses do obreiro na causa. Tal ilação decorre da própria redação da parte final do artigo 769 da CLT, segundo o qual a utilização subsidiária do direito processual comum só é possível desde que compatível com o processo do trabalho; considerando que o princípio da proteção é a diretiva máxima do direito laboral e do processo do trabalho, a utilização subsidiária de dispositivos do CPC, especialmente quando se destinam a discutir relação estranha aos interesses do trabalhador, é descabida. Recurso em ação de indenização do Réu conhecido e parcialmente provido. 382
A denunciação à lide sofre restrição também no Tribunal Regional do
Trabalho da 5ª Região, conforme demonstra sua decisão:
Ementa: DENUNCIAÇÃO À LIDE. O instituto da denunciação à lide não tem cabimento no Processo do Trabalho. 383
Cumpre salientar, consoante entendimento jurisprudencial do Tribunal
Regional do Trabalho da 15ª Região, que essa modalidade de intervenção de
terceiro depende da natureza do conflito entre denunciante e denunciado, devendo,
desse modo, a relação estar incluída na competência da Justiça do Trabalho, assim
se destaca:
381 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Santa Catarina. Agravo de Petição. Processo nº 02828-2007-016-12-00-7. Juíza Relatora: Sandra Marcia Wambier - Publicado no TRTSC/DOE em 29-08-2008. 382 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Paraná. Processo nº 78025-2005-092-09-00-0-ACO-39512-2008 - 4A. Turma. Relator: Luiz Celso Napp .Publicado no DJPR em 11-11-2008. 383 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado da Bahia. Recurso Ordinário, ac. nº 001426/2007. Processo nº 01086-2006-035-05-00-8. Relatora Juiza Convocada Heliana Neves da Rocha, 1ª. Turma, DJ 02/02/2007.
78
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO. EC 45/2004. A aplicação da denunciação da lide no processo do trabalho depende da natureza do litígio existente entre denunciante e denunciado. Se esta relação não se enquadrar em uma das hipóteses do artigo 114 da CF, não há como se admitir o cabimento da denunciação, mesmo após o advento da EC 45/04 e cancelamento da OJ 277 da SDI-I do C. TST. 384
No mesmo norte entendeu o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região,
segue:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. VÍNCULO ENTRE DENUNCIANTE E DENUNCIADO NÃO ORIUNDO DA RELAÇÃO DE TRABALHO. INCOMPATIBILIDADE COM PROCESSO DO TRABALHO. Verificando-se que a lide que se instaurou entre denunciante e denunciado não é oriunda da relação de trabalho que existiu entre as partes e nem abrange os seus sujeitos, isso mesmo após a promulgação da Emenda Constitucional n. 45/04, que conferiu nova redação ao art. 114 da Carta Magna de 1988, persiste a incompetência material da Justiça do Trabalho para processar a denunciação efetivada que, nesses casos, deve ser indeferida de plano. 385
Acerca da matéria o Tribunal Superior do Trabalho adotou o seguinte
posicionamento:
RECURSO DE REVISTA. 1. DENUNCIAÇÃO À LIDE. Não obstante o cancelamento da Orientação Jurisprudencial nº 227 da SBDI-1 do TST e a ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional nº 45/2004, o cabimento do instituto da denunciação à lide deve ser examinando caso a caso, à luz da competência desta Justiça Especializada para dirimir a controvérsia entre denunciante e denunciado e dos princípios que norteiam o processo do trabalho, especialmente o da celeridade, efetividade e simplicidade. Recurso de revista não conhecido. [...] 386
As controvérsias acerca da aplicação da denunciação à lide no processo do
trabalho devem ser refletidas pelos estudiosos, isto porque tratam-se de aspectos
importantes, não podendo ser deixado de lado. 387
384 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Paulo/Campinas. Recurso Ordinário. Processo nº 055170/2008. Relator(a): Elency Pereira Neves. 385 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado da Bahia. Recurso Ordinário, ac. nº 025914/2008. Processo nº 00306-2008-036-05-00-4. Relatora Desembargadora Débora Machado, 2ª. Turma, DJ 10/06/2009. 386 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista. Processo nº 4447/2005-050-12-00.1 Data de Julgamento: 13/05/2009, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Divulgação: DEJT 05/06/2009. 387 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 433.
79
Nessa esteira, a inaplicabilidade da denunciação à lide na esfera laboral é
apontada pelo autor Carlos Henrique Bezerra nas hipóteses dos incisos I e II do
artigo 70 do Código de Processo Civil. No entanto, a desarmonia doutrinária e
jurisprudencial funda-se na aplicação do inciso III do referido artigo, segundo o qual
“a denunciação é obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a
indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”.388
A hipótese mais comum que exemplifica o debate acerca da aplicação do
instituto em comento refere-se à prevista no artigo 455389 da Consolidação das Leis
do Trabalho, no qual trata da responsabilidade subsidiária do empreiteiro face às
obrigações não adimplidas pelo subempreiteiro. Desse modo, cumprida a obrigação
pelo empreiteiro, terá o mesmo o direito de regresso contra o subempreiteiro. 390
Nesse contexto, encontra-se a discussão a respeito da possibilidade do
empreiteiro principal denunciar o subempreiteiro, visando agilizar o processo,
quando por este não forem cumpridas as obrigações firmadas com o empregado
contratado diretamente (pelo subempreiteiro). 391
Há quem afirme, com fulcro no parágrafo único do artigo 455 da CLT, e
inciso III do artigo 70 do Código de Processo Civil, a existência do direito regressivo
do empreiteiro principal em face do subempreiteiro, e, além disso, a relação
contratual existente entre eles.392
Não bastasse isso, os argumentos estendem-se à reforma da Justiça do
Trabalho, ou seja, a ampliação de sua competência material oriunda da Emenda
388 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 442. 389 CLT, Artigo 455. Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direto de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro. Parágrafo único. Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da Lei civil, ação regressiva contra o subempreiteiro e a retenção de importância a este devidas, para a garantia das obrigações previstas neste artigo. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 908). 390 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 442. 391 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 18 out. 2009. 392 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 18 out. 2009.
80
Constitucional n. 45/2004, e em virtude dessa transformação, não haveria
impossibilidade de aplicação da denunciação à lide na esfera trabalhista.393
Contrapondo-se a esse entendimento, destaca-se o autor Carlos Henrique
Bezerra leite, para quem tal hipótese não dá lugar à denunciação à lide, vez que a
Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar a lide entre
denunciante (empreiteiro) e denunciado (subempreiteiro), pois, ambos encontram-se
na relação processual como “empregadores”.394
Nesse diapasão ensina Sérgio Pinto Martins:
[...] a sentença que julgar a ação terá que decidir a situação entre o denunciante e denunciado, quanto à responsabilidade por perdas e danos (artigo 76 do CPC), sendo a Justiça do Trabalho incompetente para dirimir essa demanda paralela, porque a questão será entre duas empresas e não entre empregado e empregador, além do que irá tratar de matéria de natureza civil, totalmente distinta do contrato de trabalho.395
Nesse contexto, a Justiça do Trabalho teria que resolver qual das duas
empresas teria responsabilidade e ainda quanto aos créditos trabalhistas do
trabalhador em face delas, situação que não pode ocorrer frente ao texto do artigo
114 da Constituição da República Federativa do Brasil que não admite o direito de
regresso na esfera laboral. 396
Não bastasse isso, diante da impossibilidade de ser o obreiro empregado do
empreiteiro e do subempreiteiro ao mesmo tempo, a ação de regresso a ser
proposta pelo empreiteiro principal é de competência da Justiça Comum.397
Não trata-se, nessa hipótese, de não admitir a denunciação à lide, mas sim o
fato da Justiça do Trabalho não ter competência material para dirimir questões entre
duas empresas, principalmente no que tange a responsabilidade por perdas e danos
393 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 18 out. 2009. 394 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 442-443 395 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217. 396 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217. 397
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217.
81
entre elas, conforme dispõe o artigo 76398 do Código de Processo Civil. Na verdade,
o texto do parágrafo único do artigo 455 da CLT limita-se a dizer que a ação
regressiva a ser proposta pelo empreiteiro principal em face do subempreiteiro é
uma ação autônoma e deve ser promovida perante a Justiça Comum.399
No que tange a inaplicabilidade do instituto em comento decidiu o Tribunal
Regional do Trabalho do Estado do Paraná, conforme se observa:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE-NÃO ACOLHIMENTO-INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA SOLUCIONAR CONFLITO DE INTERESSES ENTRE EMPREGADORES-A denunciação da lide é uma ação incidental de caráter obrigatório ajuizada perante terceiro (denunciado) que tem o objetivo de condenar este (denunciado) a ressarcir os preJuizos que o denunciante vier a sofrer em decorrência de sentença judicial. Assim, se aceita a denunciação da lide, num primeiro momento, a sentença deverá solucionar o conflito de interesses das partes originárias (autor e réu) e, caso haja condenação do denunciante, declarará, num segundo momento, a responsabilidade do denunciado, servindo a sentença como título executivo para o denunciante em face do denunciado, o que evitaria o aJuizamento de uma eventual ação de regressiva. Verifica-se, pois, que a denunciação da lide nada mais é que uma ação regressiva incidental do denunciante em face do denunciado. No presente caso, tanto denunciante como denunciados são empregadores. A Justiça do Trabalho não tem competência para solucionar conflitos de interesses entre empregadores. Por esta razão há impossibilidade de acolhimento da denunciação da lide. 400
Nessa esteira, entende Carlos Henrique Bezerra Leite que a denunciação à
lide não tem cabimento do processo trabalhista, vez que a competência da Justiça
do Trabalho continua relacionada às relações de emprego (empregado e
empregador) e às relações de trabalho (trabalhador e tomador de serviços) após a
Emenda Constitucional n. 45/2004, sendo que nem a Constituição e nem a lei fazem
menção quanto à competência da Justiça Especializada para processar e julgar
demandas entre tomadores de serviço ou entre trabalhadores. 401
Quanto à denunciação à lide no que tange a sucessão de empregadores,
destaca-se o posicionamento do autor Sérgio Pinto Martins no sentido de não admitir
a aplicação dessa modalidade de intervenção de terceiro, pois, segundo ele, a 398 CPC, Artigo 76. A sentença, que julgar procedente a ação, declarará, conforme o caso, o direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos, valendo como título executivo. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 392). 399 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217. 400 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Paraná. Processo nº 00469-2003-654-09-00-1-ACO-17736-2005 Relator: Sergio Murilo Rodrigues Lemos. Publicado no DJPR em 15-07-2005. 401 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 444.
82
responsabilidade estabelecida em contrato a respeito da saída e entrada de sócios
da empresa não poderá ser oposta em juízo, afinal o empregador é a empresa, e é
contra a empresa que o trabalhador ingressa com a ação trabalhista. Além disso, é
competência da Justiça Comum resolver questões a respeito da responsabilidade
entre os sócios.402
Aduz ainda o autor:
Ainda que se admitisse a denunciação à lide entre duas empresas, em razão do contrato mantido entre elas, se o autor não provasse o vínculo empregatício com a primeira empresa, haveria ilegitimidade passiva desta (no caso do vínculo empregatício ser com outra pessoa) ou a rejeição do pedido; se a relação de emprego fosse configurada com a segunda empresa, a primeira empresa seria excluída da lide. 403
Um obstáculo que refuta a aplicação da denunciação à lide na sucessão de
empresas é apontado por Wagner D. Giglio e Claudia Giglio Veltri Corrêa, ao
mencionarem que “não poderia o sucedido, denunciado, aceitar a responsabilidade
pelo cumprimento das obrigações trabalhistas sem contrariar frontalmente a lei, que
a atribui, em qualquer caso, ao sucessor”. 404
Os argumentos favoráveis acerca da denunciação à lide no processo do
trabalho têm fundamento na economia e celeridade processual, no entanto, diferente
pensa Sérgio Pinto Martins para quem o fato do denunciante indicar um terceiro para
atuar no pólo passivo da demanda torna o andamento do processo mais lento, além
disso, a sentença precisa excluir uma das empresas da relação processual
instaurada, outro motivo que demonstra a perda de tempo no trâmite processual.405
Em face desse entendimento encontra-se posição contrária. A aplicação da
denunciação à lide justifica-se na ampliação da competência material da Justiça do
Trabalho decorrente da Emenda Constitucional n. 45/2004, que fez com que o
princípio constitucional de duração razoável do processo admitisse não só a
ampliação dos limites subjetivos da lide, como também a aplicação de qualquer
modalidade de intervenção de terceiros, inclusive, a denunciação à lide no processo
402 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217. 403 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 217-218. 404 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 152. 405 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 218.
83
trabalhista, afastando assim, gastos desnecessários, longas tramitações dos
processos, cizânia nos julgados e insegurança jurídica. 406
Os adeptos da aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho,
como Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad Castello
Branco, sustentam a seguinte idéia quanto à sucessão de empregadores:
Se, no negócio jurídico referente à transferência da propriedade da empresa, houver cláusula em que o vendedor se obriga a indenizar o comprador dos prejuízos de uma sentença condenatória em processo trabalhista versando fatos anteriores à sucessão, temos como certo que o sucessor poderá denunciar à lide o vendedor ou sucedido.407
Restou, nesse caso, configurada a hipótese do inciso III do artigo 70 do
código de processo civil, única aplicada na Justiça do Trabalho, segundo o qual a
denunciação é obrigatória “aquele que estiver obrigado pela lei ou pelo contrato a
indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”.408
Dessa maneira entendeu o Tribunal Regional do Trabalho do Estado da
Bahia, conforme se observa:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. INAPLICABILIADE AO CASO CONCRETO. Aplicável ao processo do trabalho a denunciação da lide, contudo, somente será admitida quando prevista em lei ou contrato a obrigação regressiva - garantia do resultado da demanda [...].409
Os doutrinadores que confrontam esse posicionamento alegam a
incompetência da justiça trabalhista no que tange a emissão de título executivo
judicial que declare a responsabilidade por perdas e danos, pois, afirmam que
natureza do crédito não é trabalhista. Entretanto, o fato que gerou o crédito é
trabalhista, e esse crédito deverá ser resgatado pelo sucedido, ou seja, pelo
vendedor da empresa.410
406 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho, Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 19 set. 2009. 407 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 214. 408 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 214. 409 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado da Bahia. Recurso Ordinário, ac. nº 016921/2004. Processo nº 00014-2002-691-05-00-7. Relatora Desembargadora Maria Adna Aguiar, 5ª. Turma, DJ 29/07/2004. 410 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 214.
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Na esteira do não cabimento da denunciação à lide no processo do trabalho
afirma Wagner D. Giglio e Claudia Giglio Veltri Corrêa:
Muito embora a Emenda Constitucional n. 45/2004 tenha estendido a competência da Justiça do Trabalho para julgar os litígios derivados da relação de trabalho, o argumento de Manoel A. Teixeira Filho parece-nos irrespondível: não tem ela competência para emitir um título executivo- a sentença que declarar a responsabilidade por perdas e danos (CPC, artigo 76)- “se, para efeito dessa constituição, o crédito que dá conteúdo ao título judicial não é de natureza trabalhista, circunstância que inibe o denunciante de promover-lhe a correspondente execução na Justiça do Trabalho”. 411
Transportando-se para a corrente favorável no que tange a aplicação da
denunciação à lide na sucessão de empresas, tem-se que o instituto pode ainda ser
visto sob a ótica da economia processual, conforme explica Luiz Carlos Amorim
Robortella, nota-se:
(...) cabe ao sucessor, ao ser acionado pelo empregador (sic), denunciar a lide ao sucedido, para resguardo de seus direitos, oferecendo à sentença judicial a abrangência subjetiva que a matéria impõe e a oportunidade de compor a lide mediante aplicação dos arts. 10 e 448 da CLT. Também a medida se impõe por economia processual, eis que permite o exercício do direito regressivo do sucessor contra o sucedido nos próprios autos da reclamatória trabalhista.412
Vislumbra-se ainda que a denunciação à lide, quando cabível no processo
do trabalho , é admitida como modalidade defensiva em juízo. Dessa maneira ensina
o autor Amauri Mascaro Nascimento ao afirmar que:
É evidente que a denunciação da lide, quando cabível no processo trabalhista, só pode ser concebida como medida de defesa em juízo, daí por que aqueles que a concebem como meio de ataque para que o denunciante possa, nela, obter a condenação do denunciado certamente encontrarão enormes dificuldades em admiti-la na Justiça do Trabalho, porque é pacífico que esta, certamente, não pode impor condenações ao denunciado para indenizar o denunciante. Assim, a sua admissibilidade no processo trabalhista só pode ser concebida à luz da concepção de defesa, para permitir ao juiz no processo, com a presença do denunciado, melhor conferir, de modo mais sólido e claro, o problema que lhe foi proposto pelo denunciante. 413
411 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 152. 412 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim apud SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 322. 413 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p 433.
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O direito de regresso, segundo Amauri Mascaro Nascimento, evidentemente,
não pode ser cogitado na Justiça Trabalhista, entretanto, a responsabilidade de
reclamado (denunciante) ou a exclusão dessa responsabilidade, será apreciada pela
justiça especializada mesmo que essa rejeite a denunciação, fato que não ocorre. A
partir do momento que a Justiça do Trabalho declara ou não a responsabilidade
pelas obrigações trabalhistas do reclamado, está ela decidindo entre os dois sujeitos
que fariam parte da denunciação à lide. Acrescenta ainda:
Essa apreciação pode ser feita pela Justiça do Trabalho, que tem competência incidental para apreciar questão que, não tendo diretamente como sujeitos o trabalhador e o empregador, surge no processo trabalhista como questão processual e, também, questão de mérito, que o juiz tem de enfrentar para decidir a matéria estritamente trabalhista, ainda que sem a presença do eventual denunciado.414
Existem outras hipóteses em que a denunciação à lide no processo do
trabalho é admitida, afastando assim, a incompetência dessa especializada para
julgar a ação de regresso. É o caso da empregada que sofreu assédio sexual por um
gerente, e que em face do empregador move ação trabalhista. Entende-se que o
gerente poderá ser denunciado à lide pelo empregador, tendo a justiça do trabalho
competência para resolver a segunda lide, ou seja, entre denunciante (empregador)
e denunciado (gerente empregado).415
A respeito dessa questão o autor Sérgio Pinto Martins posiciona-se de forma
contrária ao afirmar que “se a empresa denuncia à lide o gerente, que teria cometido
assédio sexual, não seria cabível a denunciação, pois o gerente não é empregado
do reclamante. A questão é cível e não trabalhista”.416
Em que pese a denunciação à lide no processo do trabalho é importante
salientar que o Tribunal Superior do Trabalho pacificou a matéria atinente a
incompatibilidade do instituto com a justiça laboral, editando a Orientação
414 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. P 433- 434. 415 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 246. 416 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 218
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Jurisprudencial nº 227 da SDI-I que determinava: “Denunciação da lide. Processo do
trabalho. Incompatibilidade".417
Ocorre que, em decorrência da EC n. 45/2004, a OJ em comento que não
admitia a denunciação à lide na esfera trabalhista foi cancelada. Antes de sua
edição, a doutrina e a jurisprudência defendiam a idéia de que não era competência
da Justiça do Trabalho dirimir questões entre terceiros, mormente o direito
regressivo, vez que sua competência limitava-se a resolver conflitos oriundos da
relação de emprego. Posteriormente à Emenda, o artigo 114, VI e IX da Carta
Magna de 1988 passou a tratar das relações de trabalho, inclusive envolvendo
terceiros. Com isso, não estava mais a Justiça do Trabalho limitada a resolver
questões decorrentes das relações de emprego.418
Desse modo, com o cancelamento da OJ nº 227 da SDI-I, oriundo da
ampliação da competência da Justiça do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho
passou a admitir a denunciação à lide na justiça especializada. 419
Cumpre frisar, entretanto, que a Justiça do Trabalho terá que fazer uma
análise da aplicação da denunciação à lide em cada caso, vez que o instituto,
segundo ensina Renato Saraiva, “poderá funcionar como mero instrumento
procrastinatório visando retardar e tumultuar o andamento do feito, em prejuízo do
trabalhador”.420
A respeito do cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da SDI-I,
adotou o Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Paulo o seguinte
entendimento:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE NA FASE DE EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Diante da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, que ampliou a competência para a solução dos conflitos relativos a toda relação de trabalho ou dela decorrentes, passou a ser possível a intervenção de terceiros no processo trabalhista, por meio da denunciação da lide. O próprio Tribunal Superior do Trabalho entendeu por bem cancelar a Orientação Jurisprudencial SDI-1 nº 227, para adaptar a
417 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 19 set. 2009. 418 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 322-323. 419 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 246. 420 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 246.
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jurisprudência daquela Corte à nova realidade desta Justiça Especializada [...]. 421
Nesse diapasão destaca-se a decisão do Tribunal Regional do Trabalho da
12ª Região:
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Com o advento da Emenda Constitucional n.º 45, o Tribunal Superior do Trabalho cancelou a Orientação Jurisprudencial n.º 227, que tratava da incompatibilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Assim, doutrina e jurisprudência passaram a admitir - ainda, com certa cautela - a intervenção de terceiro no processo do trabalho quando a lide secundária não prejudicar o direito do trabalhador, ou seja, quando concretizar os princípios da efetividade e da celeridade processuais.422
Vislumbra-se também a compatibilidade do instituto em comento com o
processo trabalhista na jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª
Região, conforme segue:
AÇÃO DE COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. DENUNCIAÇÃO À LIDE. CANCELAMENTO DA OJ 227 DA SDI-1 DO C. TST. A denunciação da lide é modalidade de intervenção que traz, para o processo, terceiro que não possui vínculo com a parte contrária, mas apenas com o denunciante. Há, na denunciação da lide, duas relações jurídicas distintas que buscam ser resolvidas numa só sentença. Atenta-se que esse tipo de intervenção de terceiro, disciplinada no artigo 70 do CPC, é compatível na Justiça do Trabalho, pois a Orientação Jurisprudencial 227 da SDI-I do TST foi cancelada e pelo teor do artigo 769 da CLT, que permite a aplicação subsidiária do direito comum à esta Justiça Especializada [...]. 423
É importante salientar, com espeque no entendimento do Tribunal Regional
do Trabalho da 18ª Região, que a aplicação da denunciação à lide no processo do
trabalho deve ser ainda analisada em cada caso, tendo em vista os interesses do
obreiro. Dessa forma, se observa:
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CABIMENTO NO PROCESSO DO TRABALHO. O fato de a orientação jurisprudencial nº 227 da SDI-I ter sido cancelada não significa dizer que o instituto da denunciação da lide deva, necessariamente, ser acatado pelo juízo. É que o instituto apenas será utilizado na Justiça do Trabalho em vista dos
421 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Paulo/Campinas. Agravo de Petição. Processo nº 062204/2005-PATR. Relator(a): Ana Paula Pellegrina Lockmann. 422 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Santa Catarina. Recurso Ordinário. Processo nº 01697-2007-024-12-00-5- Juiz relator: Licélia Ribeiro - Publicado no TRTSC/DOE em 19-11-2008. 423 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Paraná. Processo nº 03570-2007-010-09-00-4-ACO-19400-2008. 4 Turma. Relator: Luiz Celso Napp. Publicado no DJPR em 10-06-2008.
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interesses do trabalhador. Verificando-se que o acolhimento do pedido acarretará prejuízo ao reclamante, impõe-se rejeitá-lo.424
Nessa esteira decidiu o Tribunal Superior do Trabalho:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO DO TRABALHO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Com o advento da Emenda Constitucional 45/2004 e o elastecimento da competência da Justiça do Trabalho, tornou-se possível, em tese, a denunciação, desde que atrelada à relação de trabalho, já que o art. 114 da CF passou a autorizar o exame amplo de questões afetas a essas relações. Não por outro motivo foi cancelada a OJ 227 da SBDI-1 deste TST (DJ 22.11.2005). Todavia a recente jurisprudência desta Corte tem perfilhado o entendimento de que se deve analisar, caso a caso, a utilidade da denunciação da lide na seara trabalhista, e sempre do ponto de vista da lógica maior do processo do trabalho, que eleva ao máximo os critérios da efetividade, da celeridade e da simplificação e desburocratização processuais. Constatada no caso concreto a inconveniência da denunciação da lide, já que o Reclamante indicou o sujeito que entende responsável pela satisfação dos direitos que pleiteia em juízo - arcando inclusive com as conseqüências advindas da formação do pólo passivo pela designação do titular do interesse que se opõe à sua pretensão -, é impertinente a pretensão do Reclamado de interferir na composição do pólo passivo da demanda. 425
Da forma também entendeu o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região:
RECURSO ORDINÁRIO - DENUNCIAÇÃO À LIDE - PRETENSÃO INCABÍVEL NA DISCUSSÃO DE SUCESSÃO E DE VÍNCULO. O cancelamento da OJ. 277 da Eg. SBDI-1 do C. TST significou, apenas, o afastamento da incompatibilidade absoluta da denunciação à lide com o processo do trabalho. Por isso, tal como vem decidindo a Corte Maior Trabalhista, a pertinência da denunciação há de ser analisada, caso a caso. Na hipótese, que não se insere nas novas competências decorrentes da EC 45/04, remanesce afastada essa pretensão porque não há interesse entre empregado e empregador a permitir a intervenção de terceiro, sendo evidente a natureza civil da discussão que o recorrente pretendia ver apreciada (responsabilização do sucedido). 426
E ainda o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região:
424 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Goiás. Processo nº 01375-2006-003-18-00-1. Relatora: kathia Maria Bomtempo de Albuquerque. Revisor(a): Ialba Luza Guimarães Mello. Publicado no DJ Eletrônico Ano I, Nº 36, de 27.03.2007, pág. 07. 425 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento Recurso de Revista. Processo 397/2004-009-05-40.6 Data de Julgamento: 19/08/2009, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 6ª Turma, Data de Divulgação: DEJT 28/08/2009. 426 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Paulo/ Campinas. Recurso Ordinário. Processo nº 062364/2007-PATR. Relator(a): José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza.
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DENUNCIAÇÃO À LIDE. A circunstância de haver sido cancelada a OJ 227 da SBDI-1 do TST não faz presumir o cabimento irrestrito, na Justiça do Trabalho, da denunciação à lide. 427
Contudo, verifica-se que a reforma do Poder Judiciário, além de ampliar a
competência da Justiça do Trabalho cancelou a Orientação Jurisprudencial nº 227
da SDI-I que apontava a incompatibilidade da denunciação à lide com o processo do
Trabalho. Logo, com a ampliação das matérias que passaram a ser ventiladas na
Justiça Especializada, em virtude da Emenda Constitucional nº 45/2004, o instituto
em comento passou a ser admitido no processo laboral, pois, entendeu o TST que a
denunciação à lide visa concentrar num só processo duas lides, atendendo assim,
os princípios da economia e celeridade processual.428
A significativa ampliação da competência da Justiça Trabalhista levou o
autor Mauro Schiavi a seguinte conclusão:
[...] acreditamos que no atual estágio da competência da Justiça do Trabalho, seja compatível a denunciação à lide nas ações reparatórias de danos morais e patrimoniais, podendo o empregador, por exemplo, denunciar à lide a seguradora, em eventual ação de reparação de dano oriundo de acidente de trabalho, ou em caso de responsabilidade do empregador por ato de seu preposto ou empregado, denunciar a lide o empregado que causou diretamente o dano (artigos 932,III, 933 e 942, ambos do CC).429
É nesse sentido o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª
Região, segue:
EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO - DENUNCIAÇÃO DA LIDE À SEGURADORA - COMPETÊNCIA. Certa a competência material da Justiça do Trabalho para julgar ações oriundas de relação de trabalho, mesmo quando o litígio não verse sobre direito material do trabalho, como no caso de ações acidentárias atípicas, impõe-se reconhecer a competência trabalhista também quanto à demanda secundária (denunciação da lide), originada de contrato de seguro de responsabilidade civil mantido entre a empregadora/denunciante e a companhia de seguros/denunciada, inclusive como forma de garantir a efetividade do provimento judicial. (...) 430
E ainda o mesmo Tribunal:
427 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado da Bahia. Processo nº 00199-2008-033-05-00-5 RO, ac. nº 023175/2008, Relator Desembargador Alcino Felizola, 1ª. Turma, DJ 24/09/2008. 428 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 12 out. 2009. 429 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 323. 430 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Ordinário. Processo 01463-2007-511-04-00-6. Redator: Ricardo Tavares Gehling Data: 27/08/2009.
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EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. CONTRATO DE SEGURO. DENUNCIAÇÃO DA SEGURADORA À LIDE TRABALHISTA PELA RECLAMADA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Após o advento da Emenda Constitucional nº 45, de 31.12.2004, é compete à Justiça do Trabalho apreciar e julgar denunciação da lide que versa sobre pagamento de seguro por acidente de trabalho pela seguradora. (...) 431
A competência da Justiça do Trabalho para admitir a denunciação à lide,
mormente, nas hipóteses de contrato de seguro, é também evidenciada na
jurisprudência do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região que afirma:
DENUNCIAÇÃO À LIDE INDEFERIDA. CONTRATO DE SEGURO. EMPREGADO COMO BENEFICIÁRIO. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO. Com a ampliação da competência desta Justiça Especializada pela E.C. nº 45/04, entendo que foi atribuída competência para dirimir litígio referente a contrato de seguro entre a empresa-empregadora e a seguradora por ela contratada, desde que o beneficiário do seguro seja a própria empresa-empregadora. Contudo se a reclamada não é a beneficiária do contrato de seguro, e sim o reclamante, que é o segurado, a denunciação à lide seria inviável, na medida em que a empresa não teria direito de regresso contra a seguradora caso a lide principal fosse julgada procedente (a empresa não detém legitimidade para exigir o cumprimento do contrato), já que o titular do interesse segurado seria o empregado, e não o empregador, que é o mero estipulante. 432
Em contrapartida às decisões supracitadas, decidiu o Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região:
Ementa: PROCESSO. DENUNCIAÇÃO À LIDE. ACIDENTE DE TRABALHO. EMPRESA SEGURADORA. Mesmo após a edição da EC nº 45/2004 e do cancelamento da OJ nº 227 do c. TST, é incabível no processo do trabalho a denunciação à lide de empresa seguradora para responder pela indenização decorrente de acidente de trabalho, em face de contrato de seguro de vida ajustado com o empregador.433
Com igual posicionamento entendeu o Tribunal Regional do Trabalho do
Estado do Rio Grande do Sul, nota-se:
EMENTA: DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Não cabe denunciação da lide da seguradora no Processo do Trabalho. Em razão da natureza civil
431 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Ordinário. Processo nº 00364-2005-871-04-00-3. Redator: Hugo Carlos Scheuermann Data: 14/03/2007 Origem: Vara do Trabalho de São Borja. 432 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Paulo/ Campinas. Processo n. 054544/2009-PATR. Relator(a): LORIVAL FERREIRA DOS SANTOS. 433 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Santa Catarina. Recurso Ordinário. Processo nº 01323-2006-030-12-00-0 Juiz Relator: Gracio R. B. Petrone - Publicado no TRTSC/DOE em 08-08.
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das demais relações discutidas, não envolvendo diretamente os sujeitos da relação de emprego, há majoritária rejeição da sua aplicabilidade no processo trabalhista. (...) 434
Nessa linha, explica Thereza C. Nahas que a hipótese de intervenção
fundada em contrato de seguro é incabível no processo laboral, vez que não
compete a Justiça do Trabalho julgar a lide secundária, ou seja, aquela que nasce
entre réu e a seguradora.435
Exemplificativamente, a autora menciona a seguinte situação:
[...] o empregador é acionado em razão do pedido de indenização por dano moral e material, decorrente de acidente de trabalho em ação cujo valor é equivalente a 40 vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação (artigo 852-A). O empregador possui seguro para tais tipos de situações e, em razão deste contrato de seguro, a seguradora seria sua garante (artigo 70,III, CPC), de forma que o empregador, réu na ação, poderia denunciar a lide à segurada para, caso venha a ser vencido na ação, possa se ver ressarcido nesta mesma relação pela seguradora, com quem mantém o contrato de seguro. Ocorre que a relação jurídico-processual entre ele e o empregado, autor da ação, é de natureza trabalhista; mas a relação que se forma entre ele, empregador, e a seguradora, lide secundária, é de natureza civil. Portanto, a primeira o juiz do Trabalho têm competência para apreciar e julgar; mas a segunda, não. Por isso, seria incabível aqui a denunciação à lide.436
Vislumbra-se, ainda, outra hipótese que trata a respeito da discussão da
denunciação à lide no processo do trabalho, que é o chamado fato príncipe,
elencado no artigo 486 da Consolidação das Leis do Trabalho, segundo o qual:
Artigo 486- No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de Lei ou resolução que impossibilita a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização que ficará a cargo do governo responsável.
§ 1º- Sempre que o empregador invocar em sua defesa o preceito do presente artigo, o tribunal do trabalho competente notificará a pessoa de direito público apontada como responsável pela paralisação do trabalho, para que, no prazo de trinta dias, alegue o que entender divido, passando a figurar no processo como chamada à autoria. 437
434 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso Ordinário. Processo nº 00857-2006-733-04-00-0. Redator: Ana Luiza Heineck Kruse Data: 13/05/2009. 435
NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 127. 436
NAHAS, Thereza C. Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p 127-128. 437 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 323.
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No que tange ao parágrafo primeiro do artigo supra, explica Carlos Henrique
Bezerra Leite, que a utilização do chamamento à autoria, compatível com o Código
de Processo Civil de 1939, deve ser substituída pela denunciação à lide.438
Factum Principis, segundo Eduardo Gabriel Saad “vem a ser o ato de
autoridade municipal, estadual ou federal, ou lei ou resolução que impossibilita o
funcionamento, temporário ou definitivo, da empresa”. Nesse caso, alegando o
empregador um fato príncipe, a pessoa de direito público que deu causa a
paralisação do trabalho será notificada pela vara do trabalho, tendo o prazo de trinta
dias para defesa. Com isso, aquele que deu causa a paralisação passa a figurar da
demanda como denunciado à lide. 439
Embora parte da doutrina entenda ser o fato príncipe uma hipótese de
denunciação à lide, o autor Renato Saraiva afirma tratar-se apenas de forma de
intervenção atípica, pois, segundo ele, caso ocorra a materialização do fato príncipe
o juiz condenará a Administração Pública ao pagamento a título de indenização em
face do trabalhador, não existindo possibilidade de ação regressiva no mesmo
processo, vez que a Justiça Trabalhista é incompetente para resolver tal situação.440
Segundo ensina Sérgio Pinto Martins, com a ocorrência do factum principis
do Poder Público, a responsabilidade quanto ao pagamento da indenização passa a
ser da Administração e não mais do empregador, logo, a Justiça do Trabalho não
tem competência para resolver essa questão, sendo remetidos os autos à vara da
Fazenda Pública. Nesse caso, permanecerá no processo apenas empregado e
Fazenda Pública, ficando excluída a empresa. Não existirá também o direito de
regresso da Fazenda Pública contra o empregador, vez que o pagamento da
indenização em face do trabalhador é obrigação conferida apenas a Administração.
O artigo 70 do Código de Processo Civil que trata a respeito das hipóteses da
denunciação à lide é totalmente contrário. Por conta disso, não há que se falar em
denunciação à lide nesse caso.441
Contrapondo-se a esse entendimento, afirma Mauro Schiavi:
438 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 433. 439 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008.p 214. 440 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 245. 441 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 220.
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Com a redação dada ao artigo 114 pela EC n. 45/2004, não resta dúvida de que a competência para apreciar a lide, quando houver denunciação da pessoa de direito público responsável pelo fato, é da Justiça do Trabalho, nos termos dos incisos I e IX do artigo 114, da Constituição Federal. 442
A respeito do Factum Principis entende o Tribunal Superior do Trabalho:
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE FACTUM PRINCIPIS. -O artigo 486, § 3º, da CLT foi introduzido no ordenamento jurídico nacional no contexto da Carta Magna de 1934, quando ainda não era reconhecida, constitucionalmente, a competência desta Justiça Especializada para examinar causas em que figurassem como partes os entes da Administração Pública. Todavia, a análise da evolução constitucional das atribuições da Justiça do Trabalho conduz ao entendimento de que a CF/88 retirou os fundamentos de validade daquele dispositivo celetário, na medida em que lhe foi atribuída, pelo artigo 114, a competência para dirimir controvérsias decorrentes da relação de trabalho entre Entidade de Direito Público e trabalhadores. Restando configurado que o fundamento do pedido está assente na relação de emprego - já que o ente público, na ocorrência do factum principis, se estabelece na relação processual como litisconsorte necessário, participando efetivamente da relação processual e diante da natureza trabalhista da indenização perseguida, é de se concluir que compete à Justiça Obreira apreciar tanto a questão relativa à caracterização do factum principis, como o pleito de indenização, a cargo do governo responsável pelo ato que originou a rescisão contratual. 443
Nessa linha reafirma Mauro Schiavi, para quem o instituto da denunciação à
lide no processo do trabalho tem cabimento. Segue posicionamento:
Tanto nas hipóteses das ações de reparação por danos morais e patrimoniais como nas hipóteses de sucessão de empresas, ou do fato príncipe, cabe a Justiça do Trabalho apreciar o direito de regresso entre denunciante e denunciado (artigo 76 do CPC), uma vez que são controvérsias que decorrem da relação de trabalho.444
De acordo com Rodolfo Pamplona Filho, o fato príncipe é a única hipótese
de intervenção de terceiro na esfera laboral prevista expressamente. A competência
para executar o ente público que causou a paralisação do trabalho é da Fazenda
Pública Federal ou Estadual, conforme o caso, ao passo que, no que tange a análise
acerca da ocorrência ou não do fato príncipe e a respeito do pagamento ou não da
442 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 323. 443 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista. Processo n º 605365/1999.1 Data de Julgamento: 14/12/2005, Relator Ministro: José Simpliciano Fontes de F. Fernandes, 2ª Turma, Data de Publicação: DJ 17/03/2006. 444 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 324.
94
indenização que tem direito o trabalhador, a competência é da Justiça do Trabalho,
se não fosse assim, estaria a Fazenda Pública invadindo a competência da justiça
especializada.445
O chamado factum principis, previsto no artigo 486 da Consolidação das
Leis do Trabalho, é outro exemplo da acirrada discussão acerca do cabimento da
denunciação à lide na Justiça do Trabalho. 446
Analisados os casos expostos, evidencia-se a nítida existência da cizânia
doutrinária e jurisprudencial acerca da aplicação da denunciação à lide no processo
do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004, responsável pela ampliação
da competência dessa especializada.
Embora, plausíveis os argumentos de alguns doutrinadores no sentido de
não admitir tal modalidade de intervenção de terceiro na seara laboral por não ter
essa competência material para processar e julgar determinadas matérias vislumbra-
se, ainda, os posicionamentos favoráveis.
Isto porque os fundamentos que admitem a aplicação da denunciação á lide
no processo do trabalho, merecem ser respeitados e melhor analisados pelos
magistrados na decisão dos casos concretos, vez que o instituto não só visa
esclarecer as obscuridades no que tange a legitimidade passiva, evitando injustiças,
como também atende os princípios atinentes à Justiça do Trabalho, quais sejam, o
princípio da economia e celeridade processual.
445 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GIACOMO, Fernanda Salinas di. A aplicabilidade da denunciação da lide no processo do trabalho. Teresina, 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10268>. Acesso em: 19 set. 2009 . 446 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 443.
CONCLUSÃO
Conforme exposto, a intervenção de um terceiro na relação processual se
dá através de diversas formas, quais são: a assistência, a oposição, a nomeação à
autoria, o chamamento ao processo e a denunciação à lide.
Dentre as figuras intervencionais, mais especificamente, a denunciação à
lide, tem-se que essa trata-se da ação de regresso em face de terceiro responsável
pelos prejuízos que sofreu o denunciante na ação principal. O instituto da
denunciação, atendendo o princípio da celeridade processual, visa resolver num só
procedimento duas demandas na medida em que o denunciante não precisará
futuramente propor ação de regresso contra o terceiro para ser ressarcido das
perdas e danos que sofreu.
No processo do trabalho, a aplicação da denunciação à lide enseja
desarmonia doutrinária e jurisprudencial, e a discussão ganhou força com a
ampliação da competência da Justiça do Trabalho dada pela Emenda Constitucional
nº 45/2004.
Contudo, a Emenda Constitucional nº 45/2004, ampliou significativamente a
competência da Justiça Especializada na medida em que essa passou a resolver
questões oriundas da relação de trabalho, não mais limitando-se às relações entre
empregado e empregador. A partir dessa ampliação ressurgiu a discussão acerca da
aplicação do instituto da denunciação à lide na esfera trabalhista.
Ainda, outra importante observação a ser feita é o cancelamento da
Orientação Jurisprudencial nº 227 da SDI-I que tratava a respeito do não cabimento
da denunciação à lide no processo do trabalho. O seu cancelamento, dado pela
emenda em comento, foi outro fato gerador de cizânias doutrinárias e
jurisprudenciais, na medida em que não mais se falava em incompatibilidade da
denunciação à lide com o processo do trabalho.
Conforme visto neste trabalho, a aplicação da intervenção de terceiros no
processo laboral, especialmente a denunciação à lide, segue diferentes
posicionamentos. Dentre os motivos que levam às discussões acerca do assunto
está o fato de ter o processo do trabalho peculiaridades, principalmente no que
tange aos seus princípios basilares.
96
Os adeptos ao ingresso de um terceiro na demanda afirmam, com base no
princípio da subsidiariedade, que a Justiça do Trabalho tem competência para julgar
a segunda lide, pois, nos moldes desse principio o direito processual comum é fonte
subsidiária do processo trabalhista, e por isso, desde que não seja incompatível
pode ser utilizado nos casos de omissão da legislação trabalhista.
Não bastasse isso, os argumentos favoráveis ao instituto da intervenção de
terceiros se estendem aos princípios da economia e celeridade processual,
característicos do processo do trabalho, uma vez que através de apenas um
procedimento duas demandas seriam resolvidas, evitando assim, gastos
desnecessários.
Em contrapartida a esse entendimento há aqueles que sustentam que o
ingresso de um terceiro na relação processual torna mais lento o tramite do
processo, e em virtude disso, o princípio trabalhista da celeridade processual resta
prejudicado. Nesse diapasão, incabível é a intervenção de terceiro na Justiça do
Trabalho.
A inaplicabilidade do instituto em comento ainda tem fundamento na
incompetência da justiça do Trabalho para resolver questões não relacionadas às
relações de emprego ou relações de trabalho, após a Emenda Constitucional nº
45/2004. De acordo com essa corrente, entende-se que a justiça especializada não
possui competência material para resolver situações que envolvem terceiros,
mormente o direito de regresso, sendo a justiça comum competente para resolver a
questão.
Os casos que ensejam mais discussões a respeito do cabimento ou não da
denunciação à lide no processo do trabalho são os que dizem respeito a
responsabilidade do empreiteiro principal em face das obrigações trabalhistas não
adimplidas pelo subempreiteiro. Nessa situação, cumprida a obrigação pelo
empreiteiro, poderá este através do direito regressivo, pleitear seu direito em face do
subempreiteiro. Entretanto, tal situação não é admitida de forma pacífica pela
doutrina, vez que trata-se de dois empregadores, quais sejam, empreiteiro
(denunciante) e subempreiteiro (denunciado), sendo a Justiça do Trabalho
incompetente para julgar a segunda demanda.
Outras hipóteses comuns tratam-se da sucessão de empregadores e dos
contratos de seguro. Na sucessão de empregadores o sucedido poderá ser
denunciado à lide pelo sucessor. Tem-se como exemplo, o sucedido que transfere a
97
propriedade da empresa ao sucessor (comprador), e este ao sofrer uma ação
trabalhista sobre fatos que ocorreram antes da sucessão, poderá denunciar à lide o
sucedido (vendedor). Acerca dessa hipótese discute-se a competência da justiça
trabalhista no que tange a emissão de título executivo judicial que declare
responsabilidade por perdas e danos.
Em que pese os contratos de seguro, a seguradora, com quem a empresa
firma contrato, será denunciada nos casos de ações de reparação de dano moral ou
patrimonial decorrente de acidente de trabalho proposta em face do empregador.
É notório que em todas as hipóteses que tratam sobre a aplicabilidade da
denunciação à lide no processo do trabalho há posicionamentos favoráveis e
divergentes, principalmente após a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004,
que ampliou a competência desta especializada na medida em que esta passou a
resolver conflitos oriundos da relação de trabalho e não mais limitando-se as
relações de emprego.
No pensamento da doutrina minoritária a denunciação à lide é cabível, pois,
além de ser utilizada como forma de defesa, atende os princípios da economia e
celeridade processual, princípios esses que norteiam o processo do trabalho.
Porém, no pensamento da doutrina majoritária, a aplicação do referido
instituto no âmbito trabalhista não é admitida, seja pela falta de competência material
para resolver questões envolvendo terceiros, mormente o direito de regresso, seja
pelo fato de ser a justiça do trabalho uma justiça célere e com o ingresso de um
terceiro o processo tornar-se-ia mais lento.
Enfim, percebe-se que apesar das acirradas discussões sobre a
possibilidade da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda
Constitucional nº 45/2004, é sabido que a aplicação do referido instituto acarretará
vantagens ao processo, ao passo que se evitará sua longa tramitação, desarmonia
nos julgados e insegurança jurídica.
Não bastasse isso, a aplicação da denunciação à lide é especialmente
recomendável, pois, atenderá os princípios da economia e celeridade processual na
medida em que resolverá através de um só procedimento duas demandas, quais
sejam, a primeira entre reclamante e reclamado e segunda entre denunciante e
denunciado. Além disso, o direito processual comum é utilizado de forma subsidiária
ao processo do trabalho, logo, a figura processual em estudo não é incompatível
com a justiça trabalhista.
98
A lei não prevê expressamente a proibição da aplicação da denunciação à
lide no processo do trabalho, e com isso controvérsias permanecem, principalmente
no processo do trabalho, face seus princípios próprios e a natureza das verbas
envolvidas.
Contudo, embora a corrente majoritária, fundada em argumentos
respeitáveis, seja no sentido de não admitir a denunciação à lide na Justiça do
Trabalho, a matéria enquanto não pacificada resultará na contínua desarmonia
doutrinária e jurisprudencial, acarretando aos jurisdicionados insegurança jurídica.
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