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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS
BRUNA CASTRO PORTO
AVALIAÇÃO DAS CAPACIDADES EMULSIFICANTE E
ENCAPSULANTE DA GOMA DO CAJUEIRO MODIFICADA POR
MÉTODOS QUÍMICO E FÍSICOS
CAMPINAS
2018
BRUNA CASTRO PORTO
AVALIAÇÃO DAS CAPACIDADES EMULSIFICANTE E ENCAPSULANTE DA
GOMA DO CAJUEIRO MODIFICADA POR MÉTODOS QUÍMICO E FÍSICOS
Tese apresentada à Faculdade de
Engenharia de Alimentos da Universidade
Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do
título de Doutora em Tecnologia de
Alimentos
Orientador: MARCELO CRISTIANINI
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE A VERSÃO FINAL
DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA BRUNA CASTRO
PORTO, E ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCELO
CRISTIANINI
CAMPINAS
2018
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Cristianini
(DTA / FEA / UNICAMP)
(Orientador; Membro Titular)
________________________________________________
Dr. Alfredo de Almeida Vitali
(Pesquisador - Campinas)
(Membro Titular)
________________________________________________
Profa. Dra. Ana Silvia Prata Soares
(DEA / FEA / UNICAMP)
(Membro Titular)
_______________________________________________
Profa. Dra. Maria Helena Andrade Santana
(FEQ / UNICAMP)
(Membro Titular)
________________________________________________
Dr. Mark Alexandrow Franchi
(Sanleon Comercio de Ingredientes Alimentícios e Químicos Ltda)
(Membro Titular)
A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no
processo de vida acadêmica da aluna
DEDICATÓRIA
A Deus e à minha família, dedico.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado a vida e iluminado o meu caminho por toda
minha existência.
Ao meu orientador Prof. Dr. Marcelo Cristianini, a quem serei eternamente
grata pela paciência, compreensão, apoio, orientação, amizade e confiança
depositados em mim.
À Dra. Roselayne Furtado pela parceria na pesquisa, pela orientação e
confiança. À Embrapa – Agroindústria Tropical pelo exsudado bruto do cajueiro e por
sempre estar de portas abertas para parcerias.
À banca de qualificação Profa. Dra. Ana Silvia e Profa. Dra. Maria Helena
por todas as sugestões realizadas, as quais foram essenciais para o andamento do
projeto de doutorado.
À banca examinadora Profa. Dra. Ana Silvia, Prof. Dr. Carlos Grosso,
Profa. Dra. Carmen Sílvia, Profa. Dra. Maria Helena, Dr. Alfredo Vitali, Dr. Mark
Franchi e Dra. Roselayne Furtado pela disponibilidade, apoio, valiosas correções e
ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Bruce Hamaker pela orientação e amizade dedicada a mim
no período de doutorado sanduíche.
À FEA/Unicamp por ser referência na área de alimentos e abrir suas
portas para estudantes de outros estados que sonham em adentrar nessa
instituição.
À Purdue University por permitir que estudantes estrangeiros possam
além de realizar suas pesquisas, viver experiências únicas de crescimento
profissional e pessoal.
Ao CNPq pela bolsa de estudos que me foi concedida durante o programa
de Doutorado.
À CAPES pela bolsa de estudos durante o período de Doutorado
Sanduíche.
Aos meus pais José Carlos e Eliane Luiza que, pela graça de Deus,
ofertaram-me o dom da vida, o que se tornou fonte recíproca de amor, carinho e
compreensão. A vocês serei eternamente grata. Não há palavras que possam
expressar o amor que sinto por vocês.
Às minhas irmãs Andréa, Luciana, Liliane e Lilian e a minha prima Carol
pelo amor, companheirismo, amizade, incentivo, lealdade e compreensão.
Ao meu padrasto Arnaldo de Oliveira pelo amor, incentivo, amizade,
companheirismo e ensinamentos. O Senhor tornou esse caminho muito menos
dolorido.
À minha madrasta Zirlaneide pelo amor, incentivo e amizade.
À minha bisavó (Raimunda), aos meus avós (Altina, Udinha e Isaías) e
tias-avós (Rosely e Guiomar) pelo amor, incentivo, carinho, zelo e paciência. À
voinha Altina e vó Mundoca (in memorian) que no céu intercedem por mim e ficam
felizes com minhas conquistas.
À minha sobrinha afilhada Laura Porto Mazzucca que mesmo ainda bebê
foi, muitas vezes, conforto para meu coração e me fez ver que a vida tem emoções
mais nobres do que a alegria de publicar um trabalho ou conquistar títulos
acadêmicos.
À minha leal amiga Jessika pela irmandade, amor, amizade,
cumplicidade, lealdade, compreensão, incentivo e presença constante mesmo
quando distante.
À família campineira cearense (Jessika, Talita, Carol, Carine, Wellington,
Ana Laura, Ruann, Cinthia) pelo amor, amizade, apoio, incentivo, companheirismo e
compreensão.
Aos meus amigos de laboratório Pedro Augusto, Alline, Ana Laura,
Miguel, Bruno, Thiago, Leandro, Luma, Ricardo e Paula, pela amizade,
ensinamentos, companheirismo, incentivo, apoio na adversidade e alegria coletiva.
Aos meus amigos de intercâmbio Becky, Júlia, Laura, Randol, Marco e a
todos os outros que me fogem a memória agora.
À Guilherme, meu namorado, pela sua positividade, companheirismo,
amor, incentivo e amizade, dedicados a mim nesses últimos vinte meses.
Ao IFNMG pelo apoio e incentivo a mim concedidos como estudante de
doutorado. Aos meus alunos pela paciência e compreensão nesse momento,
principalmente aos meus orientados Karoline, Josieder, Rayane, Daiany, Bruna,
Yara, Luana e Ricardo.
À Família Campineira representada por Diana, Adriana, Ludmilla, Simone,
Geórgia, Ingride e Lígia pelo apoio, incentivo, companheirismo e amizade e aos
outros amigos que me fogem à memória no momento.
Aos técnicos e pesquisadores Yara, Alessandra, Zé Roberto, Chiu,
Renato, Ana Khon, Anton, Bianca pela ajuda, compreensão e disponibilidade.
Aos bibliotecários Bianca e Geraldinho pela amizade, compreensão e
disponibilidade. Aos secretários Marlene, Tânia, Leonardo, Cosme, Marcos e Camila
pela compreensão e disponibilidade.
E a todos os outros que contribuíram, incentivaram e acreditaram no meu
potencial, mas que os nomes me escaparam da memória.
RESUMO
Polissacarídeos são frequentemente modificados por processos químicos, físicos
e/ou bioquímicos. Reticulação química (RQ) com trimetafosfato de sódio é uma
modificação utilizada para ampliar a rede polimérica de polímeros naturais. Alta
pressão isostática (API) e maturação controlada (MC) são métodos físicos, em que o
primeiro usa o efeito da pressão e, o segundo, da temperatura para promover
modificações estruturais nos polissacarídeos. Até o presente momento não foram
encontrados trabalhos que avaliaram estas tecnologias na goma do cajueiro (GC).
Neste sentido, objetivou-se avaliar o efeito da RQ, da API e da MC nas propriedades
emulsificantes, encapsulantes e nas características físicas e químicas da GC.
Verificou-se que as etapas de alcalinização e acidificação utilizadas no processo de
RQ resultaram em baixa eficiência na encapsulação de D-limoneno. API sem
aquecimento aplicado na GC em solução promoveu um irrelevante aumento na
massa molecular (<1%, p≤0,05) e no índice de comportamento ao fluxo (1%,
p≤0,05). API com aquecimento e MC, aplicadas no exsudado bruto do cajueiro,
reduziram a consistência de soluções de GC em 70% e 10-30%, respectivamente.
Além disso, ambos os processos aumentaram a massa molecular, reduziram a
entalpia de melting em 19% (API) e 89-92% (MC), aumentaram o potencial zeta e
melhoraram a estabilidade das emulsões em no mínimo 71%. MC promoveu
aumento no tamanho das gotículas de óleo e na distribuição de tamanho dessas
gotículas, e reduziu a heterogeneidade das microcápsulas produzidas. Enquanto
que a API produziu emulsões com tamanhos de gotícula (D3,2 e D4,3) 18 e 19%
menores, respectivamente, reduziu a consistência da emulsão, produziu
microcápsulas com tamanhos (D4,3 e D0,5) 19% e 22% menores, respectivamente,
e aumentou a eficiência de encapsulação em 17%. Concluiu-se que o processo de
RQ não foi eficaz na encapsulação de D-limoneno. API aplicada na GC em solução
promoveu modificações irrelevantes. Contudo, tanto a API aplicada no exsudado
bruto do cajueiro durante 6 h, quanto a MC promoveram melhorias às propriedades
emulsificantes e encapsulantes da GC, sendo a primeira, a tecnologia que mais se
destacou dentre as técnicas investigadas neste estudo.
Palavras-chave: alta pressão hidrostática; alta pressão isostática; maturação
controlada; reticulação química; reticulação com trimetafosfato de sódio;
polissacarídeo.
ABSTRACT
Polysaccharides are often modified by chemical, physical and/or biochemical
processes. Cross-linking (CL) with sodium trimetaphosphate is a modification used to
expand polymer network of natural polymers that can work as an encapsulation
chemical method. High isostatic pressure (HIP) and controlled maturation (CM) are
physical methods, where the first uses the pressure and, the second, the temperature
to promote structural modifications on polysaccharides. As far it is known, no one of
these technologies had been investigated on cashew tree gum (CG). Then, the aim
was evaluating the CL, HIP and CM effect on emulsifying and encapsulant
properties, and the effect on physical and chemical aspects of CG. The alcalinization
and acidification steps applied on CL process resulted in a low encapsulation
efficiency of D-limonene. HIP without heating applied on CG solution caused an
irrelevant increase on molecular mass (<1%, p≤0.05) and on flow behavior index
(1%, p≤0.05). HIP and CM applied on cashew tree crude exudate reduced the
consistency of CG solutions in 70% and 10-30%, respectively. Besides that, both
processes increased the molecular mass, reduced the melting enthalpy in 19% (HIP)
and 89-92% (CM), increased the zeta potential and improved the emulsion stability
in, at least, 71%. CM increased the oil droplet size and the droplet size distribution,
and reduced the microcapsules heterogeneity. While the HIP produced emulsions
with lower droplet sizes (D3,2 and D4,3) 18% and 19%, respectively, reduced the
emulsion consistency, produced microcapsules with lower sizes (D4,3 and D0,5) 19
and 22%, respectively, and increased the encapsulation efficiency in 17%. CL was
not effective on D-limonene encapsulation. HIP on CG in solution promoted irrelevant
modifications. However, HIP on cashew tree crude exudate during 6 h and CM
promoted better emulsifying and encapsulant properties for CG. The HIP on cashew
tree crude exudate during 6 h was the best technology to improve the emulsifying
and encapsulant properties of CG among all methods investigated on the present
study.
Keywords: hydrostatic high pressure; isostatic high pressure; controlled maturation;
chemical cross-linking; cross-linking with sodium trimetaphosphate; polysaccharide.
Sumário
Capítulo 1. Introdução, objetivos e revisão bibliográfica ....................................... 15
1.1 Introdução ................................................................................................ 16
1.2 Objetivos .................................................................................................. 18
1.2.1 Objetivo geral..................................................................................... 18
1.2.2 Objetivos específicos ......................................................................... 18
1.3 Revisão Bibliográfica ................................................................................ 19
1.3.1 Gomas de exsudado de plantas ........................................................ 19
1.3.2 Processos de modificação de gomas ....................................................... 23
1.3 Referências bibliográficas ........................................................................... 28
Capítulo 2. Caracterização de emulsão de goma de cajueiro modificada
quimicamente para a encapsulação de D-limoneno .............................................. 36
2.1 Introdução ................................................................................................ 39
2.2 Material e Métodos ................................................................................... 40
2.2.1 Material .............................................................................................. 40
2.2.2 Testes preliminares ........................................................................... 41
2.2.3 Preparo da emulsão após testes preliminares ................................... 42
2.2.4 Avaliação das propriedades emulsificantes ....................................... 43
2.2.5 Obtenção das cápsulas ..................................................................... 45
2.2.6 Avaliação das propriedades encapsulantes ...................................... 45
2.2.7 Análise estatística .............................................................................. 47
2.3 Resultados e Discussão ........................................................................... 47
2.3.1 Testes preliminares ........................................................................... 47
2.3.2 Ensaios realizados após os testes preliminares ................................ 56
2.3.3 Considerações finais ......................................................................... 67
2.4 Conclusão ................................................................................................ 67
2.5 Referências bibliográficas ........................................................................ 68
Capítulo 3. Efeito da alta pressão isostática sobre as características químicas e
físicas da goma do cajueiro ................................................................................... 72
3.1 Introdução ................................................................................................... 77
3.2 Material e Métodos ................................................................................... 80
3.2.1 Material .............................................................................................. 80
3.2.2 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro ................. 80
3.2.2 Processamento por alta pressão isostática ....................................... 82
3.2.3 Cromatografia de exclusão de tamanho ............................................ 83
3.2.4 Determinação da composição de monossacarídeos e ligações entre
estes 84
3.2.5 Reologia ............................................................................................ 85
3.2.6 Calorimetria diferencial de varredura (DSC) ...................................... 86
3.2.7 Análises estatísticas .............................................................................. 86
3.3 Resultados e Discussão .............................................................................. 86
3.3.1 Processamento por alta pressão isostática ........................................... 86
3.3.2 Cromatografia de exclusão de tamanho ................................................ 87
3.3.3 Composição monossacarídica e tipos de ligações presentes ................ 91
3.3.4 Reologia ................................................................................................. 92
3.3.5 Calorimetria diferencial de varredura (DSC) .......................................... 97
3.4 Conclusões ................................................................................................. 98
3.5 Referências Bibliográficas ........................................................................... 98
Capítulo 4. Estudo comparativo do efeito da aplicação de alta pressão isostática
com aquecimento e da maturação controlada no exsudado bruto do cajueiro ... 103
4.1 Introdução .............................................................................................. 108
4.2 Material e Métodos .................................................................................... 110
4.2.1 Material ............................................................................................ 110
4.2.2 Preparo do exsudado bruto para processamento ............................ 110
4.2.3 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento ........ 112
4.2.4 Processamento por maturação controlada ...................................... 113
4.2.5 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro ........... 113
4.2.6 Cromatografia de exclusão de tamanho .......................................... 114
4.2.7 Determinação da composição de monossacarídeos e ligações entre
estes..............................................................................................................115
4.2.8 Reologia .......................................................................................... 116
4.2.9 Calorimetria diferencial de varredura (DSC) .................................... 117
4.2.10 Análises estatísticas .......................................................................... 117
4.3 Resultados e Discussão ......................................................................... 117
4.3.1 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento ............ 117
4.3.2 Cromatografia de exclusão de tamanho .......................................... 118
4.3.3. Reologia .............................................................................................. 122
4.3.4 Calorimetria diferencial de varredura (DSC) ........................................ 127
4.4 Conclusões ............................................................................................... 129
4.5 Referências bibliográficas ......................................................................... 130
Capítulo 5. Efeito da alta pressão isostática com aquecimento e da maturação
controlada nas propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro
............................................................................................................................ 135
5.1 Introdução ................................................................................................. 139
5.2 Material e Métodos .................................................................................... 141
5.2.1 Material ................................................................................................ 141
5.2.2 Preparo do exsudado bruto para processamento ............................ 141
5.2.3 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento ........ 141
5.2.4 Processamento por maturação controlada ...................................... 142
5.2.5 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro ........... 142
5.2.6 Preparo da emulsão ............................................................................. 143
5.2.7 Preparo das microcápsulas ............................................................. 144
5.2.8 Análise das emulsões ...................................................................... 145
5.2.9 Caracterização das microcápsulas ...................................................... 149
5.2.10 Análises estatísticas .......................................................................... 150
5.3 Resultados e Discussão ............................................................................ 150
5.3.1 Avaliação das propriedades emulsificantes ......................................... 150
5.3.2 Avaliação das propriedades encapsulantes ......................................... 165
5.5 Referências bibliográficas ......................................................................... 170
Discussões Gerais .............................................................................................. 176
Capítulo 6. Conclusão Geral ............................................................................... 179
Sugestões de Trabalhos Futuros ........................................................................ 182
Referências Bibliográficas ................................................................................... 183
15
Capítulo 1. Introdução, objetivos e revisão bibliográfica
Porto, B.C. & Cristianini, M.
Revista pretendida:
Innovative Food Science & Emerging Technologies
16
1.1 Introdução
O cajueiro é uma planta nativa da América do Sul introduzida nos
continentes africano e asiático por exploradores europeus no século XVI em
decorrência do seu valor alimentício e medicinal, bem como da fácil adaptação em
solos pouco dotados de nutrientes (Leite; Pessoa, 2004; Dendena; Corsi, 2014). A
cultura brasileira do cajueiro na região Nordeste ocupa uma área de 670 mil hectares
que representa 99% da sua área total (Leite; Pessoa, 2004). O produto do cajueiro
comercialmente mais importante é a castanha, da qual se obtém a amêndoa da
castanha de caju (ACC) e o líquido da casca da castanha (LCC) (Parreiras, 2007).
Em seguida, vem o pedúnculo utilizado na produção de sucos, néctares, licores,
doces, dentre outros (Pessoa; Leite, 2013). O exsudado bruto extraído do tronco do
cajueiro surge como um coproduto da cultura do caju a ser utilizado para obtenção
da goma, cuja aplicabilidade como espessante e emulsificante, juntamente com seu
potencial de produção comercial, permitem ampliar significativamente o agronegócio
do caju (Porto, 2013).
De acordo com sua aplicabilidade em emulsões, as gomas podem atuar
como espessantes ou emulsificantes. As gomas espessantes promovem soluções
altamente consistentes em água quando utilizadas em baixas concentrações, tais
como a goma tragacante (Hajmohammadi et al., 2016) e xantana (Ghashghaei;
Soudi; Hoseinkhani, 2016; Nasrabadi; Goli, 2016). Já as gomas emulsificantes,
produzem soluções pouco consistentes mesmo em grandes quantidades e possuem
superfície ativa, como a goma arábica (Vasile et al., 2016) e a goma do cajueiro
(Porto; Augusto; Cristianini, 2015).
Para que as gomas possuam as mais variadas aplicações e possam ser
substituídas por outras gomas de menor custo e maior disponibilidade comercial,
modificações químicas, físicas e/ou bioquímicas são frequentemente realizadas,
gerando uma diversidade de novos produtos com propriedades funcionais
completamente diferentes das apresentadas pelo material de origem (Towle;
Whistler, 1993).
Dos métodos físicos e químicos que estão sendo empregados na
modificação estrutural de polissacarídeos em busca de melhorias tecnológicas, têm-
se a alta pressão dinâmica (Laneuville et al., 2013; Porto et al., 2015), alta pressão
isostática (Panteloglou et al., 2010), maturação controlada (Castellani et al., 2010),
17
ultrassom (Sujka; Jamroz, 2013), extrusão (Li et al., 2011), micro-ondas (Zhao et al.,
2013) e reticulação (Bejenariu et al. 2009; Sang et al., 2010; Prezotti et al., 2012).
Vários estudos abordam o efeito da alta pressão isostática (API) em
polissacarídeos (Ahmed; Ramaswamy, 2004; 2005; Zhang; Li; Tatsumi, 2005;
Blaszczak et al., 2007a; Blaszczak et al., 2007b; Roeck et al., 2009; Mateos-Aparicio
et al., 2010; Panteloglou et al., 2010; Blaszczak et al., 2014). Dentre os efeitos
encontrados, têm-se o aumento na funcionalidade de fibras dietéticas (Mateos-
Aparicio et al., 2010), redução do grau de metoxilação da pectina (Roeck et al.,
2009), aumento no índice de consistência e redução no índice de comportamento ao
fluxo de soluções de goma xantana (Ahmed; Ramaswamy, 2004), aumento e
redução na capacidade de sorção de aromas em amido de diferentes fontes
(Blaszczak et al., 2007a; Blaszczak et al., 2014), aumento na consistência de
soluções de goma arábica (Panteloglou et al., 2010) e redução da susceptibilidade
de retrogradação em amido (Blaszczak et al., 2007b). Além de melhorias das
propriedades emulsificantes de sistemas contendo proteína e polissacarídeo (Zhang
et al., 2005; Yang et al., 2013). Entretanto, não foi encontrado trabalho que avalie
efeito da API sobre as propriedades emulsificantes de nenhum polissacarídeo sem
adição de proteínas ao sistema.
Quanto a maturação controlada, este é um processo criado em condições
laboratoriais que visa aumentar a massa molecular de gomas através da aceleração
de um acontecimento natural que ocorre na árvore, mas que pode demorar até
quinze anos (Al-Assaf et al., 2007). O aumento dessa massa molecular se deve, em
partes, a produção de um complexo proteína arabinogalactana (PAG). Essa técnica
já foi evidenciada por diversos autores na goma arábica (Al-Assaf et al. 2007; Aoki et
al., 2007a; Aoki et al., 2007b; Cui et al., 2007; Pickles et al., 2007; Su; Flanagan;
Singh, 2008; Wang et al., 2008; Castellani et al. 2010) e na goma da fibra de milho
(Cirre et al., 2014). A similaridade da goma arábica com a goma do cajueiro é devido
à presença de arabinose, galactose e resíduos proteicos (Al-Assaf et al., 2009;
BeMiller; Huber, 2010; Nussinovitch, 2010; Porto et al., 2015), compostos utilizados
para a formação da PAG (fração responsável pela propriedade emulsificante da
goma arábica), sugerindo a aplicação dessa tecnologia para a goma do cajueiro com
o objetivo de melhorar suas propriedades emulsificantes e encapsulantes.
18
Ao contrário da API e da maturação controlada, o processo de reticulação
com trimetafosfato de sódio (TMFS) é um processo químico que objetiva formar
redes poliméricas. Essa técnica já foi empregada na modificação física de goma
xantana (Bejenariu et al., 2009), goma guar (Gliko-Kabir et al., 2000), amido (Bail et
al., 1999; Muhammad et al., 2000) e goma arábica (Ribeiro et al., 2015). Ribeiro et
al. (2015) avaliaram as propriedades de intumescimento, distribuição de tamanho de
partículas (DTP) e viscosidade aparente de soluções contendo 20% de goma
arábica modificada com 1, 3, 6 e 9% de trimetafosfato de sódio (agente reticulante) e
sem modificação. Os autores obtiveram uma eficiência de microencapsulação para a
goma arábica reticulada de 97% contra 85% para a goma sem modificação. A maior
eficiência de encapsulação observada para a goma arábica e à similaridade desta
com a goma do cajueiro impulsionaram o estudo da modificação da goma do
cajueiro com TMFS quanto às suas propriedades emulsificantes e encapsulantes.
Dessa forma, com o objetivo de produzir goma do cajueiro com
propriedades emulsificantes e encapsulantes melhoradas para aplicação em
emulsões para bebidas, investigou-se o efeito da reticulação química com TMFS,
API e MC sobre a mesma.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Avaliar o efeito de modificações química (reticulação com trimetafosfato
de sódio) e físicas (alta pressão isostática e maturação controlada) nas
características físicas e químicas, e nas propriedades emulsificante e encapsulante
da goma do cajueiro (Anacardium occidentale L.).
1.2.2 Objetivos específicos
• Isolar o heteropolissacarídeo ácido ramificado (goma do cajueiro) a partir do
exsudado bruto do cajueiro;
• Estudar o método de reticulação química para melhorar as propriedades
emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro como
emulsificante/encapsulante;
19
• Promover modificações estruturais na goma do cajueiro através dos métodos
de alta pressão isostática e maturação controlada;
• Investigar as propriedades das emulsões (tamanho e distribuição de tamanho
de gotículas, potencial zeta, condutividade elétrica, reologia, turbidez e
microscopia óptica) produzidas com os emulsificantes selecionados;
• Investigar as propriedades das microcápsulas (tamanho e distribuição de
tamanho de partículas, eficiência de encapsulação e microscopia eletrônica
de varredura) produzidas com os materiais de parede selecionados.
1.3 Revisão Bibliográfica
1.3.1 Gomas de exsudado de plantas
Gomas são polissacarídeos oriundos de algas, plantas (sementes e
exsudados de árvores ou arbustos), micro-organismos (Whistler, 1993; Garcia-Cruz,
2001; Lima et al., 2002; Sciarini et al., 2009) ou provenientes de modificações
químicas de polissacarídeos naturais (Garcia-Cruz, 2001).
Exsudado de planta é um fluido que escorre do tronco da árvore quando
injuriada, de forma natural (ex. ressecamento) ou proposital (ex. incisões manuais).
Esse líquido pegajoso endurece quando exposto ao ar (Nussinovitch, 2010) para
proteger as feridas e a planta contra infecções e dessecação (BeMiller; Huber,
2010). São exemplos de gomas de exsudado de plantas a goma arábica (Gashua;
Williamns; Baldwin, 2016), goma do cajueiro (Ribeiro et al., 2016), goma caraia
(Nussinovitch, 2010), goma persa e goma tragacante (Teimouri; Abbasi; Sheikh,
2016).
Através do isolamento do material heteropolissacarídico presente no
exsudado bruto da planta, com solubilização em água e precipitação em etanol,
obtém-se a goma. Essa goma tem a vantagem de ser facilmente extraída através de
incisões feitas no tronco das árvores ou arbustos (Porto, 2013). Sua maior produção
ocorre em períodos secos, quando há altas temperaturas e baixa umidade
(Nussinovitch, 1997). As plantas que produzem gomas comerciais geralmente são
arbustos ou árvores de crescimento baixo (Whistler, 1993). Embora o cajueiro seja
uma árvore de grande porte, há uma variedade de cajueiro anão precoce (Figura 1)
20
que apresenta maior resistência a doenças e secas severas (Freire, 2014), além de
possibilitar maior produção por não necessitar de grandes áreas de cultivo.
Figura 1. Cajueiro anão precoce. Foto tirada por Leto Rocha do artigo de Freire
(2014).
A colheita do exsudado bruto é feita de forma manual, geralmente por
trabalhadores nativos, em países cujos custos com mão de obra são muito baixos.
Após a colheita, os exsudados são transportados para áreas centrais de coleta,
onde são manualmente selecionados, embalados e enviados aos compradores. O
custo para obtenção das gomas de exsudados está não somente ligado ao processo
de purificação, mas principalmente ao trabalho de coleta. Como essas gomas são
obtidas de países tropicais ou subtropicais onde, em sua maioria, são locais em
desenvolvimento econômico ou subdesenvolvidos, os custos trabalhistas ainda
permanecem baixos e, consequentemente, o custo inicial da goma também se
mantém baixo (Whistler, 1993). No entanto, se houver um aumento salarial nessas
regiões, o preço do exsudado apresentará aumento significativo (Whistler, 1993),
tornando interessantes as buscas por matérias-primas alternativas, ou uso de
tecnologias que aumentem a eficiência de insumos de baixa qualidade ou de
substâncias que já apresentam funcionalidade comprovada como a goma do
cajueiro (Porto, 2013).
21
1.3.1.1 Goma do cajueiro
O cajueiro (Anacardium occidentale, L.) é uma espécie de planta frutífera
originária do Brasil pertencente à família Anacardiaceae, que foi espalhado por
diversas regiões da África e Ásia em decorrência do seu valor alimentício e
medicinal, bem como da fácil adaptação em solos pouco dotados de nutrientes. A
cultura brasileira do cajueiro na região Nordeste ocupa uma área de 670 mil hectares
que representa 99% da sua área total (Leite; Pessoa, 2004). Das 154 mil toneladas
de castanha-de-caju produzidas no Brasil em 2010, 97% foram provenientes da
região Nordeste, sendo o estado do Ceará o maior produtor (responsável por 38%
da produção) (Pessoa; Leite, 2013).
O agronegócio do caju promove a ocupação direta de mais de 63 mil
pessoas no campo (Pessoa; Leite, 2013) e 15 mil empregos na indústria (Figueirêdo
Junior, 2006). A castanha, fruto do cajueiro, é a parte mais importante em termos
comerciais. Dela aproveita-se a amêndoa da castanha de caju (ACC) e o líquido da
casca da castanha (LCC) (Parreiras, 2007). O pedúnculo também apresenta elevada
contribuição comercial na produção de sucos, néctares, licores, doces, refrigerante,
aguardente, dentre outros. Porém, esses produtos estão mais presentes no mercado
interno (Pessoa; Leite, 2013).
A goma do cajueiro surge como coproduto do agronegócio do caju. A
investigação e os resultados satisfatórios quanto à utilização da goma do cajueiro
nas indústrias químicas, alimentícias, farmacêuticas e biotecnológicas, juntamente
com seu potencial de produção comercial, permitem ampliar significativamente o
agronegócio do caju, mediante a exploração de novos produtos e desenvolvimento
de ações voltadas em promover maior agregação de valor aos produtos do cajueiro
(Porto, 2013).
A goma do cajueiro é um heteropolissacarídeo ácido ramificado de baixa
viscosidade aparente (Porto; Augusto; Cristianini, 2015) e elevada massa molecular
(1,6 x 104 Da) (Paula; Rodrigues, 1995), comparável em muitos aspectos com a
goma arábica, com potencial para substituí-la em suas aplicações (Rosenthal,1951;
Lima et al., 2002; Porto; Cristianini, 2014). Assim como a goma arábica, a goma do
cajueiro é conhecida como arabinogalactana por apresentar em sua composição
galactose e arabinose.
22
A composição centesimal da goma de cajueiro consiste de 0,9% de
cinzas, 1% de proteínas, 0,01% de lipídios e 98% de carboidratos (Porto; Augusto;
Cristianini, 2015). A composição polissacarídica compreende 74% de galactose,
13% de glicose, 4% de arabinose, 2% de ramnose, 2% de fucose, 0-2% de xilose e
cerca de 1% ácido glicurônico (Porto et al., 2015). Quanto à composição de cinzas
tem-se 0,14% de cálcio, 0,14% de magnésio, 0,005% de fósforo e 1,25% de ferro
(Pinto et al, 1995; Lima et al., 2002).
Além disso, a goma do cajueiro contém 6% do complexo proteína-
polissacarídeo (Nussinovitch, 2010), fração responsável pela capacidade
emulsificante da goma arábica, o que sugere a sua aplicação como agente
emulsificante em emulsões para bebidas (Porto; Cristianini, 2014).
1.3.1.2 Propriedades das gomas
O conhecimento sobre as propriedades das gomas é importante para que
se possam empregá-las com eficiência nas suas mais diversas aplicações como
agentes estabilizantes, espumantes e emulsificantes (Kaushik et al., 2017). A ação
das gomas ocorre basicamente pela retenção de água e aumento de consistência
dissolvendo ou dispersando esses polissacarídeos em água (Dziezak, 1991) e
através de interações intra ou intermoleculares entre elas (Whistler, 1993).
Na indústria de alimentos os hidrocoloides, também conhecidos como
gomas, atuam principalmente na modificação e manutenção das características
reológicas dos produtos (textura, viscosidade, consistência, aspecto e corpo). De
acordo com sua aplicação em emulsões, as gomas podem atuar como espessantes
ou emulsificantes. As gomas espessantes são aquelas que promovem soluções
altamente consistentes em água quando utilizadas em baixas concentrações, tais
como a goma tragacante (Hajmohammadi et al., 2016) e xantana (Ghashghaei;
Soudi; Hoseinkhani, 2016; Nasrabadi; Goli, 2016). Em contrapartida, as gomas
emulsificantes apresentam soluções pouco consistentes, mesmo em grandes
quantidades, e superfície ativa capaz de atuar na interface óleo-água, como a goma
arábica (Vasile et al., 2016) e a goma do cajueiro (Porto; Augusto; Cristianini, 2015).
Outras aplicações são seus efeitos secundários incluindo controle da cristalização de
açúcares (Das et al., 2013), inibição de sinérese, encapsulação, formação de filmes
e poucas possuem a capacidade de formar géis (Niederauer, 1998). Além das
23
características tecnológicas, as gomas também apresentam características
terapêuticas e imunomodulatórias (Bovo et al., 2016).
1.3.2 Processos de modificação de gomas
Processos químicos, físicos e bioquímicos são frequentemente utilizados
na modificação de polissacarídeos naturais com objetivo de melhorar suas
características tecnológicas. Essa modificação pode ser realizada em etapas,
misturando processos ou não, gerando uma diversidade de novos produtos com
propriedades diferentes das apresentadas pelo material de origem (Porto, 2013).
Pode-se também atribuir a um determinado polissacarídeo propriedades de outro,
tornando admissível a substituição de uma goma de alto custo por outra de custo
inferior, mas com propriedades semelhantes (Towle; Whistler, 1993), o que permite
uma maior flexibilidade de matéria-prima e, consequentemente, redução de custos.
Métodos físicos, técnicas das quais a alta pressão dinâmica - APD
(Laneuville; Turgeon; Paquin, 2013; Porto et al., 2015), alta pressão isostática - API
(Panteloglou; Bell; Ma, 2010), maturação controlada (Castellani et al., 2010),
ultrassom (Sujka; Jamroz, 2013), extrusão (Li et al., 2011) e micro-ondas (Zhao et
al., 2013) fazem parte, e métodos químicos, dos quais a reticulação química está
presente (Bejenariu et al. 2009; Sang et al., 2010; Prezotti et al., 2012), estão sendo
empregados na modificação estrutural de polissacarídeos em busca de melhorias
tecnológicas para as mais diversas áreas.
Atualmente, somente um estudo foi encontrado investigando a goma do
cajueiro in natura e modificada como emulsificante em emulsões para bebidas
(Porto; Cristianini, 2014). A modificação utilizada foi a tecnologia de alta pressão
dinâmica, na qual foram obtidos resultados satisfatórios como aumento de turbidez,
redução do tamanho médio das gotículas de óleo e diminuição do índice de
cremeação, indicando maior estabilidade da emulsão. A partir disso, verifica-se o
potencial de investigação de outros métodos de modificação da goma do cajueiro,
como a API, a maturação controlada e a reticulação química.
1.3.2.1. Alta pressão isostática
A alta pressão isostática (API) ou alta pressão hidrostática (APH) é um
mecanismo de aplicação de alta pressão estática. A aplicação de API consiste em
24
colocar um produto em uma câmara e pressurizá-lo com auxílio de um líquido de
baixa compressibilidade como a água. Em caso de produtos sólidos aplica-se um
fluido que será utilizado como meio de transferência de pressão sobre o produto
embalado, já no caso de produtos líquidos, o próprio produto pode ser o meio de
pressurização. O processo se baseia em dois princípios: princípio de Le Chatelier,
segundo o qual qualquer fenômeno (transição de fase, mudança de conformação
molecular ou reação química) acompanhado por uma redução de volume é
favorecido pelo aumento da pressão (Butz; Tauscher, 2002) e princípio isostático, o
qual diz que a pressão é transmitida de maneira uniforme e quase instantaneamente
através de uma amostra biológica independentemente do tamanho, forma e
composição (Medina-Meza; Barnaba; Barbosa-Cánovas, 2014).
Vários estudos abordam o efeito da API em polissacarídeos (Ahmed;
Ramaswamy, 2004; 2005; Zhang; Li; Tatsumi, 2005; Blaszczak et al., 2007a;
Blaszczak et al., 2007b; Roeck et al., 2009; Mateos-Aparicio et al., 2010; Panteloglou
et al., 2010; Blaszczak et al., 2014). Dentre os efeitos encontrados têm-se o aumento
na funcionalidade de fibras dietéticas (Mateos-Aparicio et al., 2010), redução do grau
de metoxilação de pectina (Roeck et al., 2009), aumento e redução na capacidade
de sorção de aromas em amido de diferentes fontes (Blaszczak et al., 2007a;
Blaszczak et al., 2014) e redução da susceptibilidade de retrogradação em amido
(Blaszczak et al., 2007b). Além disso, em uma mistura de proteína (ovalbumina) e
polissacarídeo submetida ao processamento por API, o polissacarídeo foi capaz de
proteger a proteína contra a desnaturação (Zhang; Li; Tatsumi, 2005).
Yang et al. (2013) avaliaram o efeito da API (0-600 MPa, 10-30 minutos)
nas propriedades emulsificantes de uma mistura de isolado proteico do soro de leite
e quitosana e afirmaram que o processamento proporcionou melhores propriedades
emulsificantes para a mistura. A mistura processada por API possibilitou às
emulsões tamanhos de gotículas três vezes menores, distribuição de tamanho
dessas gotículas muito mais homogênea e melhor estabilidade a cremeação quando
comparada com a mistura não processada. Além disso, observaram que foi na
pressão mais alta (600 MPa) que as emulsões apresentaram os menores tamanhos
de gotículas e ficaram mais estáveis (30 dias sem cremeação) a temperatura
ambiente. O tempo de processo e a proporção proteína do soro de leite:quitosana
também influenciaram nas propriedades emulsificantes da mistura, sendo o tempo
25
de 20 minutos e a proporção de 1:4 as condições que proporcionaram
características mais satisfatórias.
Ahmed e Ramaswamy (2004) avaliaram o efeito da API sobre as
propriedades reológicas de soluções de goma xantana e observaram aumento em
seu comportamento pseudoplástico com o aumento da pressão, além do aumento
no índice de consistência e redução no índice de comportamento ao fluxo.
Panteloglou et al. (2010) avaliaram o efeito da API sobre o
comportamento reológico de duas fontes diferentes de goma arábica (uma contendo
2% e outra com 3% de proteínas) e observaram que o tratamento proporcionou
alterações nos módulos de armazenamento e de perda sugerindo mudanças
estruturais da goma. Esses autores também mencionaram uma melhoria na
consistência das gomas, característica apreciada para estabilidade de emulsões.
Entretanto, essa melhora foi dependente do pH do processo, os pH 4,2 e 8,0 foram
os que propiciaram à goma uma maior qualidade. Os pesquisadores também
mencionaram que, devido à similaridade no perfil dos açúcares das gomas
avaliadas, a modificação possivelmente estava relacionada a desnaturação das
proteínas presentes na goma.
Contudo, até o momento, não foram encontrados trabalhos que avaliam o
efeito da API sobre a goma do cajueiro ou mesmo sobre as propriedades
emulsificantes de outros polissacarídeos sem adição de proteínas ao sistema.
1.3.2.2 Maturação controlada
Pode-se definir o processo de maturação de um exsudado bruto de planta
como um processo que ocorre naturalmente na planta com o passar dos anos,
gerando ao longo do tempo exsudados com maiores massas moleculares e também
maior formação do complexo proteína arabinogalactana (PAG), o que irão influenciar
significativamente nas propriedades emulsificantes da goma proveniente desse
exsudado, embora se conserve a composição química e o conteúdo proteico
(Castellani et al., 2010). Dessa forma, o processo de maturação transforma uma
goma pobre em propriedades emulsificantes em um bom emulsificante (Al-Assaf et
al., 2007).
A maturação controlada é um processo físico criado em condições
laboratoriais que visa acelerar esse acontecimento natural (Al-Assaf et al., 2007). Em
26
geral, esse processo ocorre a 110 ºC por 5 a 48 h. Com o tempo os
monossacarídeos arabinose e galactose formam o dissacarídeo arabinogalactana
que se complexa com o conteúdo proteico aumentando a fração proteína
arabinogalactana (PAG) para uma quantidade não menor que 17% (Al-Assaf et al.,
2009), elevando drasticamente as propriedades de superfícies interfaciais e de
cobertura das gotículas de óleo em emulsões óleo em água (Al-Assaf et al., 2007). A
porção PAG é a principal responsável pelo aumento na eficiência de emulsificação e
estabilidade das emulsões produzidas com goma arábica.
Emulsões geradas com a goma arábica maturada apresentaram-se mais
homogêneas e com tamanho de gotículas menores em pH 4,5 do que as emulsões
com goma não maturada (Castellani et al., 2010). Além de uma maior estabilidade
ao longo do tempo (7 dias) (Al-Assaf et al., 2007). Outra vantagem das gomas
maturadas é que estas possuem propriedades constantes e dimensões moleculares
precisamente estruturadas, diferente do que se encontra na goma natural,
possibilitando a eliminação da barreira de completa aceitação industrial (Al-Assaf et
al., 2007). A viscosidade da goma maturada pode ser aumentada 20 vezes em
relação ao material de origem (Al-Assaf et al., 2007). Cirre et al. (2014) realizaram o
processo de maturação controlada em goma de fibra de milho (110 °C por 5 e 24 h)
e observaram um aumento na massa molecular da goma, produção de hidrogel,
aumento da viscosidade aparente, comportamento pseudoplástico e aumento na
estabilidade das emulsões.
Até o momento, somente foram encontrados trabalhos que aplicam essa
tecnologia para a goma arábica (Al-Assaf et al., 2007; Aoki et al., 2007a; Aoki et al.,
2007b; Cui et al., 2007; Pickles et al., 2007; Su; Flanagan; Singh, 2008; Wang et al.,
2008; Castellani et al., 2010) e goma da fibra de milho (Cirre et al., 2014) com os
objetivos de aumentar a eficiência de emulsificação, a estabilidade de emulsões e
uniformizar as variações naturais de uma goma não modificada. A similaridade da
goma arábica com a goma do cajueiro devido à presença de arabinose, galactose e
resíduos proteicos, compostos utilizados para a formação da PAG (fração
responsável pela propriedade emulsificante da goma arábica), sugere a aplicação
dessa tecnologia para a goma do cajueiro com o objetivo de melhorar suas
propriedades emulsificantes e encapsulantes.
27
1.3.2.3 Reticulação química com trimetafosfato de sódio
O processo de reticulação consiste em fazer o uso de agentes reticulantes
com o objetivo de formar redes poliméricas. A técnica de reticulação pode ocorrer
por meio de: a) processos químicos (glutaraldeído, ácido bórico, trimetafosfato de
sódio - TMFS) que unem cadeias poliméricas por ligações químicas covalentes; b)
processos físicos através do uso de agentes complexantes (titânio, alumínio,
manganês e cobre); e c) métodos radioativos que utilizam raios-γ, feixe de elétrons e
luz ultravioleta (UV) (Pereira, 1997).
A reticulação com TMFS já foi empregada na modificação física de goma
xantana (Bejenariu et al., 2009), goma guar (Gliko-Kabir et al., 2000), amido (Bail et
al., 1999; Muhammad et al., 2000) e goma arábica (Ribeiro et al., 2015). A principal
aplicação dessa tecnologia está na produção de hidrogéis reticulados para liberação
controlada de drogas. Contudo, a não toxicidade do sal TMFS e dos polissacarídeos
aprovados para consumo humano sugere o estudo dessa aplicação em sistemas
alimentícios.
Bejenariu et al. (2009) submeteram a goma xantana à reticulação com
TMFS na proporção de razões molares de TMFS:goma xantana de 1:1, 5:1, 10:1,
15:1 e 20:1 e avaliaram as propriedades de intumescimento e, carregamento e
liberação de drogas em pH 3,7, 7 e 13. Em pH 3,7 e 13, os valores de
intumescimento foram inferiores aos obtidos em pH 7. Além disso, a concentração
intermediária foi a que apresentou maior intumescimento e maior percentagem de
liberação da droga. Já quanto a percentagem de carregamento, esta não foi
diferenciada pelas concentrações de agente reticulante e polímero nas quantidades
avaliadas. Gliko-Kabir et al. (2000) observaram uma redução no intumescimento da
goma guar modificada com TMFS em soluções de cloreto de sódio em relação a
goma guar nativa. Ribeiro et al. (2015) avaliaram as propriedades de
intumescimento, distribuição de tamanho de partículas (DTP) e viscosidade aparente
de soluções contendo 20% de goma arábica modificada com 1, 3, 6 e 9% de
trimetafosfato de sódio (agente reticulante) e sem modificação. O aumento na
concentração de agente reticulante proporcionou redução no tamanho de partículas,
no intumescimento e na viscosidade aparente. Além disso, foi observada uma maior
eficiência de microencapsulação para a goma arábica com 6% de agente reticulante
de 97% contra 85% para a goma sem modificação.
28
Dessa forma, a maior eficiência de encapsulação observada para a goma
arábica (Acacia Senegal Willd.) e à similaridade desta com a goma do cajueiro
impulsionaram o estudo da modificação da goma do cajueiro com trimetafosfato de
sódio quanto as suas propriedades emulsificantes e encapsulantes.
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36
Capítulo 2. Caracterização de emulsão de goma de cajueiro modificada
quimicamente para a encapsulação de D-limoneno
Porto, B. C., Furtado, R. F., & Cristianini, M.
A etapa preliminar do capítulo foi publicada no Boletim de Pesquisa e
Desenvolvimento da Embrapa Agroindústria Tropical:
PORTO, B.C.; FURTADO, R. F.; CRISTIANINI, M. Caracterização de emulsão de
goma de cajueiro modificada quimicamente para a microencapsulação de D-
limoneno. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, v. 132, p. 1-22, 2017.
Pretende-se publicar a segunda parte do artigo na revista: Polímeros: Ciência e
Tecnologia
37
Caracterização de emulsão de goma do cajueiro modificada quimicamente
para a encapsulação de D-limoneno
Resumo
Goma de cajueiro pode ser modificada a fim de obter novas características
desejáveis para aplicações específicas. No caso de métodos de encapsulação, a
modificação química de polissacarídeos poderia reter melhor o ingrediente ativo na
matriz polimérica. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo caracterizar
uma emulsão de D-limoneno e goma de cajueiro submetida a reticulação química
com trimetafosfato de sódio (TMFS) e, por conseguinte, avaliar a eficiência de
encapsulação após atomização. Análises de estabilidade, tamanho médio e
distribuição de tamanho de partículas (DTP), potencial zeta, condutividade elétrica e
microscopia óptica foram realizadas na emulsão antes da etapa de atomização. A
eficiência de encapsulação, tamanho médio e DTP, e microscopia óptica das
cápsulas foram avaliados e relacionados às características da emulsão preparada.
Verificou-se que o emprego da etapa de alcalinização e acidificação utilizada no
processo de reticulação resultou em baixa eficiência na encapsulação de D-limoneno
e que o processo de reticulação reduziu ainda mais a capacidade encapsulante da
goma. Dessa forma, o processo de reticulação química com TMFS não foi eficaz na
encapsulação do terpeno D-limoneno presente em óleos essenciais.
Palavras-chave: polissacarídeo; modificação química; óleo essencial;
encapsulação; capacidade emulsificante.
38
Characterization of cashew tree gum emulsion chemically modified for D-
limonene encapsulation
ABSTRACT
Cashew gum can be modified to obtain novel characteristics desirable for specific
applications. In the case of encapsulation methods, the chemical modification of
polysaccharides could retain more efficient the active ingredient in the polymeric
matrix. In this sense, the study aimed to characterize D-limonene emulsion and
cashew tree gum submitted to chemical cross-linking with sodium trimetaphosphate
(STMP) and subsequently to evaluate the encapsulation efficiency after atomization.
Analysis of stability, particle size and particle size distribution (PSD), zeta potential
and electric conductivity were carried out in the emulsion before spray drying
procedure. The encapsulation efficiency was related to the characteristics of the
prepared emulsion. It has been found that the step of alkalization and acidification
presents on cross-linking method promoted a lower encapsulant ability of cashew
tree gum and the cross-linked gum presented the worse encapsulant capacity
resulting in a low efficiency encapsulation of the essential oil. Thus, the chemical
crosslinking process has not been effective in encapsulate the D-limonene terpene
present in essential oils.
Key-words: polysaccharide; chemical modification; essential oil; encapsulation;
emulsifying capacity.
39
2.1 Introdução
A goma do cajueiro é um subproduto do agronegócio do caju com
potencial aplicação industrial, entretanto, ainda sem importância comercial. A goma
de cajueiro pode ser modificada de forma a melhorar suas características intrínsecas
como hidrofilicidade e hidrossolubilidade que podem não ser vantajosas para
determinadas aplicações industriais, como para a liberação controlada de aromas.
A tecnologia de reticulação, ou cross-linking em inglês, consiste em fazer
uso de agentes reticulantes com o objetivo de formar redes poliméricas, afetando
sua viscosidade e miscibilidade (Langstraat et al., 2015). A reticulação pode ocorrer
por meio de agentes químicos, processos físicos através do uso de agentes
complexantes (titânio, alumínio, manganês e cobre) e altas temperaturas (Langstraat
et al., 2015), ou por meio de métodos de radiação em que utilizam raios-γ, luz
visível, feixe de elétrons e luz ultravioleta (UV) como agentes reticulantes (Pereira,
1997; Rahimi; Maiti; Bitan, 2009).
A reticulação por meio de agentes químicos ocorre devido ao
estabelecimento de ligações covalentes entre essas substâncias (ex. glutaraldeído,
ácido bórico, trimetafosfato de sódio - TMFS) e o material a ser reticulado
(Langstraat et al., 2015). Dependendo do agente reticulante a ser utilizado, pode-se
resultar em um material biocompatível e biodegradável (Balakrishnan; Jayakrishnan,
2005). O TMFS é um aditivo reconhecido como seguro para consumo humano (FDA,
2013), possibilitando sua aplicação em alimentos.
Como exemplos de processos físicos têm-se a utilização de íons cobre e
altas temperaturas. Íons cobre foram capazes de promover reticulação de proteína
β-amiloides através da formação de um complexo proteína-íon Cu2+ que, na
presença de oxigênio molecular, é reduzido a Cu+, podendo gerar H2O2. O peróxido
de hidrogênio produzido é um pró-oxidante que gera radicais hidroxilas altamente
reativos capazes de modificar grupos carbonilas em proteínas e promover a
polimerização (Williams; Serpell; Urbanc, 2016). Altas temperaturas foram capazes
de promover reticulação de proteínas do glúten através da oxidação direta de grupos
SH elevando a produção de pontes de enxofre (SS) entre as proteínas (Langstraat et
al., 2015).
Em relação a utilização de radiação como agente reticulante, tem-se a luz
visível, a qual tem sido empregada no estabelecimento de ligações covalentes entre
40
oligômeros de proteínas através da produção de radicais proteicos por foto-oxidação
(Fancy; Kodadek, 1999; Rahimi; Maiti; Bitan, 2009).
Microencapsulação é uma técnica que vem sendo bastante utilizada nas
mais variadas aplicações como, por exemplo, na proteção de substâncias instáveis a
fatores ambientais (Otálora et al., 2015; Picot et al., 2015), proteção de
microrganismos probióticos à passagem pelo trato gastrointestinal (Arslan et al.,
2015), liberação controlada de aromas (Picot et al., 2015), dentre outras.
Dentre os métodos de encapsulação mais conhecidos, têm-se spray-
drying, spray-cooling, spray-chilling, coacervação complexa, gelificação iônica,
extrusão e leito fluidizado. A microencapsulação por atomização, spray-drying, é a
técnica mais utilizada na indústria de alimentos (Desai; Park, 2005). A obtenção
dessas cápsulas, basicamente consiste em pulverizar uma emulsão, suspensão ou
solução em uma câmara de secagem e se caracteriza como um método econômico
e flexível (Desai; Park, 2005). As microcápsulas originadas apresentam distribuição
heterogênea e formato característico de “bola murcha” (Porto; Furtado; Cristianini,
2017).
O presente estudo teve como objetivo caracterizar emulsões e
microcápsulas de D-limoneno e goma de cajueiro submetida à reticulação química
com TMFS.
2.2 Material e Métodos
2.2.1 Material
O exsudado bruto do cajueiro foi coletado de cajueiros anões do Campo
Experimental de Pacajus da Embrapa Agroindústria Tropical – Ceará, após incisões
realizadas no tronco das plantas. O exsudado foi conduzido ao Laboratório de
Embalagem de Alimentos do CNPAT (Embrapa Agroindústria Tropical), separado
em porções e armazenado para os procedimentos de purificação através de
secagem, dissoluções em água a partir de 100 g L-1 do exsudado, precipitações
sucessivas em etanol e secagem. Após purificação, a goma foi enviada para o
Laboratório de Tecnologias Emergentes no Departamento de Tecnologia de
Alimentos da Unicamp.
41
2.2.2 Testes preliminares
Nos testes preliminares, a emulsão foi preparada contendo 40 g de goma
do cajueiro, pesados em balança semi-analítica (Shimadzu Corporation, Japão) e
colocados em um béquer de 300 mL. Em seguida, foram adicionados 144 mL de
água destilada e a solução foi mantida sob agitação magnética (agitador modelo RH
Basic 1, IKA®, Alemanha) a temperatura ambiente (aproximadamente 23 ºC) até
solubilização.
A solução foi homogeneizada em homogeneizador rotor-estator Ultra-
Turrax® (modelo T-25 digital, IKA®, Alemanha) a 20.000 rpm por 1 minuto e colocada
novamente sob agitação magnética a temperatura ambiente. Posteriormente, 12 g
de agente reticulante trimetafosfato de sódio - TMFS (MM: 305,89; Sigma-Aldrich®,
China) e 10 g de D-limoneno (Döhler, Alemanha) foram adicionados à solução. O pH
da emulsão foi corrigido para pH 12 com solução de NaOH 2 M e a emulsão
permaneceu sob agitação por 15 minutos. Por fim, o pH da emulsão foi corrigido
para pH 7 com solução de HCl 2 M e as amostras de emulsões separadas para
avaliação das propriedades emulsificantes. Uma emulsão controle foi preparada
utilizando o mesmo procedimento, mas sem a adição de TMFS. A Tabela 1
apresenta a quantidade de sólidos presentes em ambas as emulsões e estes
valores foram considerados no cálculo da eficiência de encapsulação. Para a
determinação da quantidade de sólidos, foram considerados como sólidos, a goma
do cajueiro, o TMFS e o D-limoneno. A quantidade de solução ácida e básica
acrescentada nas emulsões controle e modificada quimicamente para a correção do
pH foi desprezada.
Tabela 1. Concentração percentual de sólidos (goma, TMFS e D-limoneno)
presentes nas emulsões controle e reticulada.
Ingrediente Concentração (%)
Emulsão controle Emulsão reticulada
Goma de cajueiro 20,6 19,4 Reticulante TMFS 0 5,8
D-limoneno 5,2 4,9 Água 74,2 69,9
Sólidos totais (%) 25,8 30,1
42
Furtado et al. (2013) realizaram a modificação química da goma de
cajueiro com TMFS e observaram que a concentração mínima do agente reticulante
que gerou um processo eficiente foi de 6%. Sendo assim, essa concentração foi
adotada no presente trabalho.
2.2.3 Preparo da emulsão após testes preliminares
Após a avaliação dos resultados de estabilidade, tamanho e distribuição
de gotículas das emulsões, tamanho e distribuição de tamanho e eficiência de
encapsulação das microcápsulas dos testes preliminares, apresentados na seção de
resultados e discussão, a composição da emulsão foi reformulada. As novas
emulsões foram preparadas contendo 40 g de goma do cajueiro, pesados em
balança semi-analítica (Shimadzu Corporation, Japão), e colocados em um béquer
de 500 mL. Em seguida, foram adicionados 338 mL de água destilada, a solução foi
mantida sob agitação magnética (agitador modelo RH Basic 1, IKA®, Alemanha) a
temperatura ambiente (aproximadamente 23 ºC) até solubilização e mantida sob
refrigeração (6-8 °C) por pelo menos 16 h para promover a completa hidratação da
goma. A solução foi homogeneizada em homogeneizador rotor-estator Ultra-Turrax®
(modelo T-25 digital, IKA®, Alemanha) a 20.000 rpm por 20 s, 10 g de D-limoneno
(Döhler, Alemanha) foram adicionados e o processo de homogeneização
permaneceu até completar 2 min. Após obtenção da emulsão, essa foi
homogeneizada em homogeneizador a alta pressão com dois estágios (modelo
Panda Plus 2000, GEA Niro Soavi S.P.A., Itália). O primeiro estágio foi mantido a 45
MPa e o segundo a 5 MPa para obtenção de uma emulsão fina. A emulsão fina foi
colocada sob agitação magnética a temperatura ambiente e 12 g de TMFS, agente
reticulante, foram adicionados. O pH da emulsão foi corrigido para pH 12 com
solução de NaOH 2 M e a emulsão permaneceu sob agitação por 15 minutos. Por
fim, o pH da emulsão foi corrigido para pH 7 com solução de HCl 2 M e as amostras
de emulsões foram separadas para avaliação das propriedades emulsificantes. Duas
emulsões controle foram preparadas, em uma foi utilizado o mesmo procedimento,
mas sem a adição de TMFS, assim como a etapa preliminar e foi denominada
“controle com pH”. Na outra, todos os processos foram iguais até a obtenção da
emulsão fina, ou seja, não foi acrescida de TMFS e nem foram realizados os
processos de alcalinização e acidificação, sendo denominada “controle”.
43
A Tabela 2 apresenta a quantidade de sólidos presentes em ambas as
emulsões e estes valores foram considerados no cálculo da eficiência de
encapsulação. Assim como nos testes preliminares, na determinação da quantidade
de sólidos foram considerados como sólidos a goma, TMFS e D-limoneno. A
quantidade de solução ácida e básica acrescentada nas emulsões controle com pH
e reticulada foi desprezada.
Tabela 2. Concentração percentual de sólidos (goma, TMFS e D-limoneno)
presentes nas emulsões controles e reticulada formuladas após etapa preliminar.
Ingrediente Concentração (%)
Emulsão controle
Emulsão controle com pH
Emulsão reticulada
Goma 10,3 10,3 10,0 TMFS 0,0 0,0 3,0
D-limoneno 2,6 2,6 2,5 Água 87,1 87,1 84,5
Sólidos totais (%) 12,9 12,9 15,5
2.2.4 Avaliação das propriedades emulsificantes
2.2.4.1 Tamanho médio e distribuição de tamanho de partículas da emulsão
As medidas de tamanho médio e a distribuição de tamanho de partículas
(DTP) das emulsões foram obtidas com um difratômetro a laser (Mastersize 2000,
Malvern Instruments, Reino Unido, unidade de amostragem Hydro 2000S). A taxa de
agitação foi de 1750 rpm e os índices refrativos do dispersante e da fase óleo foram,
respectivamente, 1,33 e 1,47. As emulsões foram adicionadas lentamente em água
destilada com auxílio de uma pipeta Pasteur. As amostras foram avaliadas por um
período de 24 h após preparo das emulsões. Antes das amostras serem
adicionadas, estas foram agitadas manualmente com a pipeta Pasteur. Para as
medidas de tamanho médio foram obtidos os valores de D3,2 (Equação 1)
(Koocheki; Kadkhodaee, 2011) e D4,3 (Equação 2) (Roesch; Corredig, 2003).
44
Onde, ni é o número de gotículas com diâmetro di.
Além disso, o índice de dispersão da emulsão (ID) foi determinado pela
Equação 3 (Mirhosseini; Amid, 2012).
2.2.4.2 Análise de potencial zeta e condutividade elétrica
Para as medidas de potencial zeta e condutividade elétrica, foram
preparadas soluções de 0,2% (v/v) das emulsões em água destilada. Um mililitro da
solução foi colocado em cubeta apropriada ao equipamento e as medidas de
potencial zeta e condutividade elétrica foram obtidas em um equipamento de
microeletroforese (Zetasizer modelo Nano - Z, Malvern Instruments, Reino Unido).
2.2.4.3 Avaliação da estabilidade das emulsões
A avaliação da estabilidade das emulsões foi determinada por dois
métodos. O primeiro método foi executado através de um Turbiscan® Lab
(Formulaction, França), equipamento que realiza uma varredura de luz infravermelha
por toda a extensão do tubo que contém a emulsão e avalia a quantidade de
radiação transmitida e refletida, no qual se obtém o índice de instabilidade global
(IIG) fornecido pelo próprio equipamento. Já o segundo método, avalia a extensão
da separação gravitacional, obtendo-se medidas do volume da fase soro e da
emulsão, no qual obtém-se o índice de cremeação (IC) (McClements; Monahan;
Kinsella, 1993; Demetriades; McClements, 2000).
Para o primeiro método, cerca de 20 mL da emulsão foram colocados em
um tubo de vidro com 72,5 mm de comprimento e 27,5 mm de diâmetro e o tubo foi
submetido à análise no Turbiscan® nos tempos 0, 2 e 24 h para os testes
preliminares, e para os experimentos seguintes a análise ocorreu nos tempos 1 e 24
h.
Já para o segundo método, 10 mL da emulsão foram acondicionados em
provetas de vidro graduadas (25 mL) com 16 mm de diâmetro interno e 167 mm de
altura e as provetas foram mantidas a 25 °C por 24 h. O volume da fase soro (VS) e
45
o volume da emulsão total (VT) foram obtidos e o índice de cremeação (IC)
determinado pela Equação 4.
2.2.4.4 Microscopia óptica das emulsões
Para a microscopia óptica das emulsões, uma gotícula de água destilada
foi colocada em uma lâmina de vidro e uma gota da emulsão foi colocada sobre a
gota de água. Em seguida, uma lamínula de vidro foi colocada sobre a mistura e a
amostra observada em microscópio óptico JENAVAL (Carl Zeiss, Canadá) equipado
com câmera de vídeo. As imagens foram capturadas utilizando o Software EDN-2
(Microscopy Image Processing System Software).
2.2.5 Obtenção das cápsulas
Para obtenção das cápsulas em pó, as emulsões foram atomizadas em
spray-dryer (Niro A/S, Dinamarca), modelo Minor, atomizador do tipo centrífugo, bico
atomizador de 0,5 mm de diâmetro, câmara com 21,7 cm de diâmetro e 37,5 cm de
comprimento. Os parâmetros utilizados para os testes preliminares foram:
temperatura do ar de entrada de 180 ºC, vazão da emulsão de 11 mL/min e a
temperatura do ar de saída foi de 100 ºC. Para os demais experimentos somente a
vazão foi reduzida para 9 mL/min.
2.2.6 Avaliação das propriedades encapsulantes
2.2.6.1 Eficiência de encapsulação
Para o cálculo da eficiência de encapsulação (EE), aproximadamente 3-5
g das cápsulas foram pesados em um balão volumétrico (500 mL) conforme
metodologia adaptada descrita por Charve e Reineccius (2009). Seis pérolas de
vidro e 100 mL de água destilada foram adicionados ao balão volumétrico que, em
seguida, foi conectado ao aparato Clevenger com um condensador contendo água
refrigerada (temperatura inicial de 3 ºC) no topo. A destilação foi mantida por cerca
de 1-2 h (tempo em que o volume de óleo recuperado se manteve constante após
46
um intervalo de 10 minutos) a ser contado após o início do processo de ebulição da
solução. O volume de óleo foi obtido através de uma leitura direta ao aparato
Clevenger. A massa do D-limoneno foi obtida pela multiplicação do volume
recuperado com a sua densidade (0,8402 g/mL). A eficiência de encapsulação (%)
foi obtida pela Equação 5.
Eq. 5
A quantidade teórica de óleo foi de 30% da massa total das cápsulas
investigadas, considerando a eficiência de encapsulamento ideal.
2.2.6.2 Microscopia óptica das cápsulas
Para a microscopia óptica das cápsulas, uma gota de silicone foi colocada
em uma lâmina de vidro e uma quantidade tão pequena quanto possível de cápsulas
foi colocada sobre o silicone com auxílio de um palito de madeira. Em seguida, uma
lamínula de vidro foi colocada sobre a amostra e a lâmina foi observada em
microscópio óptico JENAVAL (Carl Zeiss, Canadá) equipado com câmera de vídeo.
As imagens foram capturadas utilizando o Software EDN-2 (Microscopy Image
Processing System Software).
2.2.6.3 Avaliação do tamanho médio e distribuição de tamanho de partículas das
cápsulas
O tamanho médio das partículas e sua distribuição de tamanho (DTP)
foram determinados pelo espalhamento de luz usando um difratômetro a laser
(Mastersizer 2000, Malvern Instruments, Worcestershire, Reino Unido, unidade de
amostragem Hydro 2000S). A amostra foi adicionada lentamente em etanol absoluto
P.A. (99,5%) (Synth, Labsynth, Brasil). A taxa de agitação foi de 1750 rpm e os
índices refrativos do dispersante e das cápsulas foram, respectivamente, 1,36 e
1,50. O tamanho das partículas foi caracterizado pelo diâmetro médio volumétrico
D4,3 (Equação 2) e D0,5 (diâmetro de 50% das cápsulas), e o ID determinado pela
Equação 3.
47
2.2.7 Análise estatística
Os experimentos da etapa preliminar foram realizados, pelo menos, com
duas repetições e as análises em duplicata. Para os demais experimentos, três
repetições do processo foram realizadas e as análises, pelo menos, em duplicata.
Os resultados obtidos foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) (p=0,05) e,
quando mais de duas amostras diferiram entre si significativamente, teste de Tukey
foi utilizado para identificar as diferenças.
2.3 Resultados e Discussão
No intuito de melhor entender a eficiência de encapsulação pode ser
necessário, primeiramente, avaliar as características da emulsão que gerou as
microcápsulas. Sendo assim, a emulsão formada antes da etapa de atomização foi
caracterizada quanto as propriedades emulsificantes por meio de análises físicas,
físico-químicas e por microscopia óptica. Posteriormente, as microcápsulas foram
avaliadas.
2.3.1 Testes preliminares
Nos testes preliminares a amostra controle foi produzida com a variação
de pH realizada durante o processo de reticulação, mas sem a adição do agente
reticulante (TMFS).
2.3.1.1 Avaliação da estabilidade das emulsões
Como a avaliação da estabilidade ocorreu por dois diferentes métodos, os
valores de índice de cremeação (IC) e índice de instabilidade global (IIG) foram
obtidos e estão apresentados na Tabela 3. Quanto ao IC, logo após o preparo da
emulsão, foi identificada instabilidade (IC 0h) igual a 2,4% para a amostra controle e
0,6% para a amostra reticulada. Após 2 h o IC aumentou para 27,8% para a amostra
controle e 33,9% para amostra reticulada, após 24 h de armazenamento, essa
instabilidade foi ainda maior 51,8% e 49,9%, respectivamente. Quanto ao IIG, as
emulsões controle e reticulada apresentaram instabilidade nos valores de 11,1% e
14%, respectivamente, após a primeira hora de preparo. Depois de 24 h, essa
instabilidade aumentou para 45,4% e 31,7%, respectivamente. Embora ambas as
emulsões sejam consideradas instáveis, pois apresentaram separação de fases logo
48
após o preparo da emulsão, estatisticamente, as emulsões só diferiram no tempo 0 h
para o IC e no tempo 24 h para o IIG (p≤0,05), em que, nesses tempos, as emulsões
reticuladas foram consideradas menos instáveis. Essa menor instabilidade, pode
estar relacionada ao maior aprisionamento de água com o processo de reticulação,
já que este tem como objetivo formar uma rede polimérica, essa rede pode estar
aprisionando um conteúdo maior de água, reduzindo o tamanho da camada soro.
Tabela 3. Índice de cremeação (IC) e índice de instabilidade global (IIG) das
emulsões produzidas sem reticulação (controle) e com reticulação (reticulada).
Teste de estabilidade Tempo (h) Emulsão
Controle Reticulada
IC (%)
0 2,42 ± 0,42A 0,56 ± 0,15B
2 27,76 ± 1,98A 33,86 ± 2,95A
24 51,76 ± 2,11A 49,91 ± 2,34A
IIG (%) 1 11,07 ± 2,02A 14,00 ± 2,65A
24 45,37 ± 0,93A 31,67 ± 3,21B
*Letras diferentes na mesma linha demonstram que as amostras diferiram entre si a um nível de 5% de significância.
A instabilidade evidenciada em ambas as emulsões pode estar associada:
a) ao processo de emulsificação, já que a agitação magnética é uma técnica que
proporciona reduzida tensão de cisalhamento, tensão esta que se relaciona com a
energia necessária para reduzir o tamanho das gotículas de D-limoneno, dessa
forma, produzindo gotículas com maiores tamanhos; e/ou b) a não utilização de
espessantes a fim de modificar a viscosidade aparente da fase contínua impedindo o
choque das gotículas de óleo. A instabilidade de uma emulsão pode afetar a
eficiência de encapsulação por proporcionar: geração de microcápsulas com baixa
retenção de óleo; óleo mais concentrado na superfície (facilitando a evaporação de
substâncias voláteis como D-limoneno); maiores perdas durante a secagem; e maior
oxidação do óleo (Jafari et al., 2007; Jafari et al., 2008).
Quando os dois métodos selecionados para avaliar a estabilidade das
emulsões são comparados através dos resultados de IC e IIG (Tabela 3), observa-se
que os valores obtidos para IC em 24 h, 51,8% para a emulsão controle e 49,9%
para a emulsão reticulada, são maiores que os valores obtidos para IIG 24 h, 45,4%
49
e 31,7%, respectivamente. Essa diferença pode estar relacionada aos distintos
formatos dos frascos. No teste de IIG, os tubos possuem diâmetro quase duas vezes
superior aos frascos utilizados no teste de IC. Entretanto, foi possível verificar que os
dois métodos foram eficientes na indicação da instabilidade das emulsões e que,
portanto, podem ser aplicados para tal finalidade. A desvantagem do teste de IC
está na subjetividade do valor obtido, já que esta determinação é visual e obtida com
auxílio de uma régua ou paquímetro, além disso, muitas vezes a separação
gravitacional ocorre de maneira não uniforme, dificultando a obtenção dos valores da
fase soro. Na Figura 1, podem ser observadas as emulsões utilizadas para o teste
de IC após 2h de armazenamento. A partir das imagens é possível visualizar a
liberação da camada soro em ambas as emulsões.
Figura 1. Imagens das emulsões utilizadas para determinação do índice de
cremeação após 2 h de observação.
Para se produzir uma emulsão estável, além de óleo e água, surfactante e
energia são requeridos (Tadros, 2009). O surfactante reduzirá a tensão superficial
entre o óleo e a água permitindo a sua mistura, e produzirá uma camada interfacial
que impedirá a coagulação das gotículas dispersas. A energia reduzirá o tamanho
das gotículas de óleo a uma dimensão suficientemente pequena para proporcionar
maior estabilidade e maior tempo de vida de prateleira ao produto (Stang et al.,
2001). Os tamanhos médios D3,2 e D4,3, e o índice de dispersão (ID) das emulsões
estão apresentados na Tabela 4.
A emulsão controle apresentou gotículas com áreas (D3,2) menores (37,7
µm) quando comparadas às áreas das gotículas das emulsões reticuladas (49,6 µm)
(p≤0,05). Além disso, de acordo com os valores de ID (1,55 e 1,38) apresentados
pelas amostras controle e reticulada, respectivamente, a distribuição dos tamanhos
50
dessas gotículas foi mais heterogênea (maior valor) para a amostra controle
(p≤0,05). Embora o valor de D3,2 seja considerado inferior para a amostra controle,
o volume dessas gotículas (D4,3) foi igual para ambas as emulsões (p>0,05).
Tabela 4. Tamanho médio, índice de dispersão (ID), potencial zeta (PZ) e
condutividade elétrica (CE) das emulsões obtidas no teste preliminar.
Emulsão D3,2 (μm) D4,3 (μm) ID PZ
(mV)
CE
(mS/cm)
Controle 37,67 ± 1,96A 57,85 ± 6,17A 1,55 ± 0,22A -11,17 ± 0,79A 0,05 ± 0,00A
Reticulada 49,59 ± 3,11B 65,95 ± 4,20A 1,38 ± 0,01B -8,15 ± 0,61B 0,17 ± 0,01B
*Letras diferentes na mesma coluna demonstram que as amostras diferiram entre si a um nível de 5% de significância.
A maior heterogeneidade (ID) das gotículas apresentada pela emulsão
controle (D3,2) pode explicar a maior instabilidade dessa emulsão quando
comparada à emulsão reticulada (valores de IC e IIG, Tabela 3).
Os valores elevados de tamanhos de gotículas D3,2 e D4,3 encontrados
na etapa preliminar estão relacionados ao método utilizado para fornecer energia
mecânica ao sistema. Sendo assim, a agitação mecânica não foi capaz de produzir
gotículas de óleo em tamanho suficientemente reduzido. Quanto ao ID, não há
diferença entre a distribuição de tamanho de gotículas obtida para a amostra
reticulada e por Porto e Cristianini (2014) que produziram emulsões de D-limoneno
com goma do cajueiro utilizando como meio de emulsificação, além de um
homogeneizador rotor-estator, um homogeneizador a alta pressão, e obtiveram
emulsões com tamanho de gotículas de 2,3 µm (D3,2) e 2,9 µm (D4,3). Diferente do
encontrado no presente trabalho, essas emulsões com o mesmo valor de ID foram
estáveis por pelo menos 5 dias.
A distribuição de tamanho também pode ser observada pelo gráfico de
tamanho de gotículas versus volume (%) apresentado na Figura 2. Observa-se que a
amostra controle apresentou uma DTP mais heterogênea que a amostra reticulada e
bimodal. A heterogeneidade está de acordo com o valor de ID mencionado
anteriormente e a distribuição bimodal sinaliza que houve uma floculação estável
entre as gotículas (Thanasukarn et al., 2004).
51
Figura 2. Distribuição de tamanho das gotículas das emulsões reticulada e controle.
Na Figura 3 estão apresentadas as imagens obtidas em microscópio
óptico de ambas as emulsões produzidas, controle e reticulada, respectivamente.
Figura 3. Microscopia óptica das emulsões obtidas em um prazo máximo de 24 h
após sua produção. A barra de tamanho no canto inferior direito para as amostras
controle e reticulada é de 50 µm e 15 µm, respectivamente.
As barras de tamanho são diferentes para as duas imagens e, por isso, a
amostra controle parece apresentar gotículas inferiores à amostra reticulada, o que
não foi observado com as medidas de tamanhos apresentadas da Tabela 4. Além
disso, a imagem da emulsão controle não indicou que esta amostra apresentava
floculações. Por fim, na Figura 3 pode-se observar a heterogeneidade no tamanho
das gotículas de óleo em ambas as amostras.
52
2.3.1.2 Potencial zeta e condutividade elétrica
Medidas de potencial zeta e condutividade elétrica são indicativas de
estabilidade por cargas. Os valores de potencial zeta e condutividade elétrica
encontrados em ambas as emulsões estão apresentados na Tabela 4. Embora a
emulsão controle tenha se apresentado mais eletronegativa que a amostra
reticulada (p≤0,05), com valores de potencial zeta de -11,2 mV e -8,2 mV,
respectivamente, para que uma emulsão seja considerada estável, o potencial zeta
deve ser >│25│ mV (Rezvani; Schleining; Taherian, 2012). Dessa forma, nenhuma
emulsão foi considerada eletrostaticamente estável. Para a condutividade elétrica,
emulsões são consideradas estáveis quanto mais próximo de zero for esse valor
(Mirhosseini et al., 2009). Dessa forma, a emulsão controle também foi considerada
menos instável eletrostaticamente (p≤0,05) que a emulsão reticulada quando
observado o valor de condutividade elétrica de cada emulsão, 0,05 mS/cm e 0,17
mS/cm, respectivamente. Esse comportamento também pode estar relacionado com
a solvatação das miscelas, levando a um maior efeito de cremeação para a amostra
controle.
2.3.1.3 Avaliação do tamanho médio, distribuição de tamanho de partículas e
microscopia óptica das cápsulas
Os valores de tamanho médio (D4,3), média dos tamanhos (D0,5), índice
de dispersão (ID) e eficiência de encapsulação (EE) de D-limoneno para as
microcápsulas de ambas as emulsões produzidas estão apresentados na Tabela 5.
Tabela 5. Média dos tamanhos D0,5, tamanho médio D4,3, índice de dispersão (ID)
e eficiência de encapsulação (EE) de D-limoneno para as microcápsulas obtidas
com processo de reticulação (reticulada), e sem reticulação (controle).
Amostras D0,5 (μm) D4,3 (μm) ID EE de D-limoneno (%)
Controle 15,19 ± 1,50A 15,44 ± 1,41A 1,29 ± 0,08A 20,66 ± 4,76A
Reticulada 15,57 ± 0,78A 17,45 ± 0,75A 1,55 ± 0,09B 24,50 ± 5,12A
*Letras diferentes na mesma coluna indicam que as amostras diferiram entre si a um nível de 5% de significância.
Ambas as microcápsulas apresentaram os mesmos valores de tamanho
de partículas (D4,3 e D0,5), mas diferentes perfis de distribuição (ID), sendo a
53
distribuição de tamanho da amostra reticulada mais heterogênea que da amostra
controle.
Os resultados de D4,3 para as microcápsulas das amostras controle e
reticulada (15,4 µm e 17,5 μm, respectivamente) foi inferior aos resultados de D4,3
(57,9 µm e 66 μm, respectivamente) das emulsões. Este comportamento indica que
houve cisalhamento das gotículas de óleo durante a produção das microcápsulas,
propiciando a formação de microcápsulas com menos recheio (devido a maior perda
de voláteis durante a secagem). Além disso, o D-limoneno tenderia a estar mais
oxidado devido a maior exposição deste recheio com o ar. Ademais, enquanto que a
dispersão (ID) do tamanho das gotículas das emulsões foi superior para a amostra
controle, para as microcápsulas ocorreu o inverso, a distribuição do tamanho das
microcápsulas da amostra controle foi mais homogênea (p≤0,05).
O valor de D0,5 está de acordo com o valor obtido por Jafari et al. (2007)
quando atomizou emulsões com tamanhos de gotículas de 1,3 μm, nesse caso,
indicando que as microcápsulas são formadas por várias gotículas da emulsão. Em
encapsulação por atomização é compreensível e adequado que o tamanho das
microcápsulas seja superior ao tamanho das gotículas de óleo da emulsão
formadora, pois essas microcápsulas obtidas são, na verdade, microesferas (rede de
gotículas), ou seja, os núcleos (recheio) estão espalhados na matriz. Entretanto, não
é desejável que as microcápsulas tenham tamanho inferior ao das gotículas da
emulsão, pois isso significa que está havendo uma ruptura da camada interfacial,
deixando o óleo mais susceptível a volatização ou localizado na superfície da matriz
favorecendo sua oxidação.
A Figura 4 apresenta a distribuição de tamanho das partículas (DTP) das
microcápsulas obtidas das amostras controle e reticulada.
A DTP das microcápsulas da amostra controle apresentou um perfil
bimodal, assim como, a DTP das gotículas da emulsão da qual as microcápsulas
foram originadas, indicando que houve agregação irreversível das microcápsulas. Já
a DTP das microcápsulas da amostra reticulada foi monomodal, também de acordo
com a DTP da emulsão formadora.
Apesar do ID e do DTP, teoricamente, indicarem a mesma resposta, ou
seja, a homogeneidade ou heterogeneidade das gotículas/partículas, observa-se
que a análise do gráfico de DTP apresenta essa resposta de forma mais eficiente. O
54
ID mostra que o tamanho das microcápsulas da amostra controle é mais homogêneo
que o ID da amostra reticulada, esse comportamento estaria correto se, somente o
primeiro pico da amostra controle fosse comparado à amostra reticulada (pico mais
alto e com menor largura). Entretanto, a DTP bimodal demonstra que a amostra
controle foi mais heterogênea e essa situação só pôde ser observada no gráfico de
DTP.
Figura 4. Distribuição de tamanho das partículas das microcápsulas obtidos para as
amostras controle e reticulada.
As imagens das microcápsulas das amostras controle e reticulada obtidas
por microscopia óptica estão apresentadas na Figura 5.
Ambas as microcápsulas se apresentaram características às
microesferas obtidas por spra-dryer “bola murcha” (presença de partes
amassadas e encolhidas) (Porto; Furtado; Cristianini, 2017). Os pontos pretos
presentes nas imagens são bolhas de ar incorporadas durante a mistura das
microcápsulas com o silicone utilizado para a obtenção das imagens. Além disso,
os tamanhos das microcápsulas estão em conformidade com os valores de D3,2
apresentados na Tabela 5.
Figura 5. Imagens das microcápsulas das amostras controle e reticulada obtidas por
microscopia óptica. A barra de escala no canto inferior direito corresponde ao
tamanho de 15 µm.
55
Ambas as microcápsulas se apresentaram características às microesferas
obtidas por spra-dryer “bola murcha” (presença de partes amassadas e encolhidas)
(Porto; Furtado; Cristianini, 2017). Os pontos pretos presentes nas imagens são
bolhas de ar incorporadas durante a mistura das microcápsulas com o silicone
utilizado para a obtenção das imagens. Além disso, os tamanhos das microcápsulas
estão em conformidade com os valores de D3,2 apresentados na Tabela 5.
Também foram observadas algumas microcápsulas quebradas, o que
está relacionado ao elevado tamanho das gotículas de D-limoneno na emulsão,
ocorrendo o cisalhamento quando atomizada. A quebra da gotícula de óleo ao
passar pelo bico atomizador faz com que o óleo esteja desprotegido na câmara de
secagem e volatilize mais facilmente.
2.3.1.4 Eficiência de encapsulação de D-limoneno
A eficiência de encapsulação é definida como o percentual de ingrediente
ativo adicionado ao sistema que foi efetivamente retido dentro das microcápsulas
(McClements, 2014). Durante o processo de secagem, grandes perdas de voláteis
podem ocorrer, principalmente se a emulsão não apresentar uma propriedade
emulsificante suficiente para se adsorver na interface óleo água, permitir a formação
de gotículas pequenas e uniformes e oferecer proteção ao material de recheio.
A eficiência de encapsulação de D-limoneno calculada para a
metodologia utilizada foi de 20,7% e 24,5% para as amostras controle e modificada
(Tabela 5), respectivamente. A elevada heterogeneidade das DTP das emulsões e
das microcápsulas, promoveram uma grande variação nos valores de eficiência de
encapsulação obtidos, com consequente elevado desvio padrão, sendo assim,
estatisticamente, as amostras foram consideras iguais (p>0,05). Além disso, os
valores foram considerados baixos, resultando em uma encapsulação ineficiente.
Os baixos valores encontrados podem ser justificados pela instabilidade e
elevado tamanho das gotículas de óleo da emulsão atomizada. Emulsões instáveis
promovem o aumento do tamanho de gotículas de óleo por coalescência ou
floculação irreversível, aliado aos tamanhos não suficientemente pequenos das
emulsões formadoras, promoveram o cisalhamento das gotículas do recheio volátil e
geraram microcápsulas com baixa retenção de recheio, com consequente baixa
eficiência de encapsulação (Jafari et al., 2007). Sendo assim, a metodologia utilizada
56
para o processo de emulsificação parece não ter sido adequada para reter
eficientemente o ingrediente ativo dentro das microcápsulas.
2.3.2 Ensaios realizados após os testes preliminares
Após a análise dos resultados obtidos na etapa preliminar citada na seção
anterior, um estudo para modificar o processo de emulsificação foi realizado a fim de
eliminar interferências dos aspectos que pudessem afetar na real avaliação do
processo de reticulação. Sendo assim, outros métodos de emulsificação que utilizam
maior energia mecânica para obtenção de gotículas de óleo com menor tamanho
foram utilizados. Além disso, foi reduzido o teor de sólidos da emulsão para melhorar
o processo de atomização.
Dessa forma, as seguintes modificações foram realizadas: a) foi
adicionada uma etapa de hidratação da goma para aumentar a sua solubilização em
água e promover melhor interação do emulsificante com a fase oleosa, além de
facilitar a ocorrência da reação química com o agente reticulante (TMFS); b) foi
modificado o processo de emulsificação, em primeiro lugar somente a fase óleo foi
adicionada e a pré-emulsão foi realizada em homogeneizador de alto cisalhamento
(homogeneizador rotor-estator) e, em seguida, uma emulsão fina foi obtida ao
submeter a emulsão em um homogeneizador a alta pressão com dois estágios (45 e
5 MPa); c) somente após a obtenção da emulsão, o processo de reticulação foi
efetuado sob agitação magnética; d) a emulsão que antes possuía de 26-30% de
sólidos, passou a apresentar de 13 a 16% de sólidos; e, e) vazão de atomização que
antes era de 11 mL/min passou a ser de 9 mL/min, pensando na melhoria do
processo de encapsulação.
Duas amostras controles foram produzidas. Uma amostra denominada
“controle com pH”, em que todo o processo de obtenção da emulsão reticulada foi
realizado e somente o agente reticulante (TMFS) não foi adicionado. Esse controle
foi produzido para observar o quanto os procedimentos de alcalinização e
acidificação interferem no processo. A outra amostra controle, denominada
“controle”, foi obtida com o mesmo processo de obtenção das demais emulsões,
mas sem realizar o processo de alcalinização, acidificação e sem adicionar TMFS.
As mesmas análises anteriormente apresentadas foram realizadas com
as novas amostras obtidas e os resultados estão apresentados a seguir.
57
2.3.2.1 Avaliação da estabilidade das emulsões
Os resultados da estabilidade das emulsões estão apresentados na
Tabela 6 através dos valores de índice de cremeação (IC) e índice de instabilidade
global (IIG).
Tabela 6. Índices de cremeação (IC) e de instabilidade global (IIG) das emulsões
controle, controle com pH e reticulada.
Teste de estabilidade
Tempo (h) Amostras
Controle Controle com pH Reticulada
IC (%)
0 20,62 ± 3,94A 52,06 ± 2,66B 44,10 ± 3,54B
2 57,87 ± 0,51A 65,80 ± 0,92B 59,26 ± 3,73A
24 59,57 ± 0,21A 67,42 ± 2,40B 62,70 ± 3,71AB
IIG (%) 1 48,24 ± 4,62A 63,85 ± 1,46B 61,05 ± 3,66B
24 62,00 ± 3,27A 67,02 ± 1,27A 63,76 ± 1,69A
*Letras diferentes na mesma linha demonstram que as amostras diferiram entre si a um nível de 5% de significância.
Em relação ao IC, observa-se que logo após o preparo da emulsão, foi
identificada instabilidade em todas as emulsões, IC 0 h igual a 20,6%, 52,1% e
44,1% para as amostras controle, controle com pH e reticulada, respectivamente,
sendo a amostra controle a menos instável. Nos tempos 2 h e 24 h, a amostra
controle permaneceu a mais estável. Para o IIG, a amostra controle foi mais estável
(48,2%) que as amostras controle com pH (63,9%) e reticulada (61,1%) para o
tempo de 1 h. Entretanto, após 24 h do preparo das emulsões, todas as amostras
apresentaram o mesmo nível de instabilidade. Dessa forma, no geral, a amostra
controle foi considerada a menos instável considerando os dois métodos de
avaliação de estabilidade de emulsões.
Quando se compara os valores de IC 24 h com IC 2 h e os resultados de
IIG 24 h com IIG 1 h, observa-se que as porcentagens de instabilidade foram muito
similares, indicando que praticamente toda a separação gravitacional das amostras
ocorreu nas primeiras horas de armazenamento.
Quando se compara os valores de 0 h obtidos na Tabela 6 com os
apresentados no teste preliminar (Tabela 3), observa-se que o grau de instabilidade
foi bastante superior quando comparado ao teste preliminar, sinalizando que a maior
58
quantidade de água presente nas formulações após os testes preliminares (84,5-
87,1%), impactou na maior instabilidade observada quando comparada às amostras
preliminares (69,9-74,2%).
A cremeação é um tipo comum de instabilidade observada em emulsões,
assim como a sedimentação, floculação, coagulação e maturação de Ostwald
(McClements, 2005). A cremeação e a sedimentação ocorrem devido a diferença de
densidade entre as fases oleosa e aquosa, quando a densidade da fase oleosa é
superior à fase aquosa tende a ocorrer a sedimentação (gotículas descem), em
contrapartida, quando a densidade da fase oleosa é inferior à fase aquosa, tende a
cremear (gotículas sobem) (McClements, 2005). Dessa forma, considerando que a
densidade do D-limoneno é 0,84 g/mL e da água aproximadamente 1,00 g/mL, a
instabilidade quanto a cremeação é favorecida e, consequentemente, forma-se a
camada de soro.
A similaridade na estabilidade das emulsões controle com pH e reticulada
(Tabela 6) evidencia que o processo de alcalinização da solução de goma promove
alterações na capacidade emulsificante da goma, mesmo sem a adição do agente
reticulante. Esse comportamento foi observado desde a etapa de produção da
emulsão devido a alteração na coloração das emulsões conforme apresentado na
Figura 6.
De acordo com a Figura 6, a alteração na coloração antes e após a
alcalinização é mais intensa na amostra reticulada quando comparada à amostra
controle com pH. Contudo, a modificação na coloração de ambas as emulsões
demonstra que houve reação química.
A Figura 7 apresenta as imagens obtidas das três emulsões utilizadas
para o teste de IC após 24 h de armazenamento. A partir dessas imagens, a
liberação da camada soro é visualizada em todas as emulsões.
Conforme mencionado anteriormente, a menor densidade da fase óleo
favorece a instabilidade da amostra por cremeação, as gotículas de óleo podem
estar intactas e protegidas pelo emulsificante, mas irá ascender com o tempo devido
a diferença na densidade, conforme observado na Figura 7. Sendo assim, a
instabilidade evidenciada em todas as emulsões pode estar associada a uma série
de fatores e não somente aos processos de alcalinização, reticulação e a elevada
quantidade de água na formulação, mas também devido a não adição de agente de
59
peso para corrigir a densidade da fase dispersa (D-limoneno) em relação a fase
aquosa e a não utilização de espessantes a fim de modificar a viscosidade aparente
da fase contínua impedindo os choques das gotículas de óleo.
Figura 6. Imagens superiores: emulsão reticulada antes e após a alcalinização da
emulsão de goma do cajueiro adicionada de trimetafosfato de sódio (TMFS).
Imagens inferiores: emulsão controle com pH antes e após a alcalinização da
emulsão de goma do cajueiro sem adição de TMFS.
Na Figura 7 também é possível observar, através da diferença de
coloração das camadas soro e creme entre as amostras, que o processo de
alcalinização/acidificação promove alteração no sistema e essa coloração escura é
ainda mais intensa na amostra reticulada, onde a alteração é maior. Além disso, ao
analisar a camada de soro nas três emulsões obtidas, observa-se menor turbidez na
amostra reticulada, indicando que maior parte da goma ou das gotículas de D-
limoneno se encontra no creme, enquanto que nas amostras controle essa maior
turbidez da camada soro indica que ainda há goma ou gotículas de óleo dispersa no
soro.
60
Figura 7. Emulsões utilizadas para determinação do índice de cremeação após 24 h
de obtenção.
2.3.2.2 Tamanho médio, distribuição de tamanho de partículas (DTP) e
microscopia óptica das emulsões
Os tamanhos médios D3,2 e D4,3, e o índice de dispersão (ID) das
emulsões estão apresentados na Tabela 7.
Tabela 7. Tamanhos médios (D3,2 e D4,3), índice de dispersão (ID), potencial zeta e
condutividade elétrica das emulsões controle, controle com pH e reticulada.
Amostra D3,2 (μm) D4,3 (μm) ID Potencial Zeta (mV)
Condutividade Elétrica
(mS/cm)
Controle 27,60 ±
2,50A
48,32 ±
2,72A
1,55 ±
0,06A -8,56 ± 1,02A 0,03 ± 0,00A
Controle
com pH
64,68 ±
11,47B
90,38 ±
12,12B
1,50 ±
0,23AB -8,15 ± 0,27AB 0,04 ± 0,00B
Reticulada 88,25 ±
10,71C
116,34 ±
3,47C
1,27 ±
0,08B -6,96 ± 0,28B 0,13 ± 0,00C
*Letras diferentes na mesma coluna demonstram que as amostras diferem entre si a um nível de 5% de significância.
A emulsão controle apresentou gotículas com áreas (D3,2) menores (27,6
µm) que as emulsões controle com pH (64,7 µm) e reticulada (88,3 µm). O mesmo
comportamento foi observado quando o valor de D4,3 foi analisado, a emulsão
controle apresentou o menor tamanho (48,3 µm), seguido pelo controle sem pH
(90,4 µm) e pela emulsão reticulada (116,3 µm) (p≤0,05).
A Figura 8 apresenta as imagens obtidas através da microscopia óptica
das amostras controle, controle com pH e reticulada. Embora os resultados dos
61
tamanhos das gotículas (D3,2 e D4,3) sejam elevados para todas as amostras
avaliadas quando comparados à valores encontrados na literatura para uma
emulsão obtida por homogeneização à alta pressão, a Figura 8 permite observar que
as medidas de D3,2 e D4,3 não se referem ao tamanho das gotículas individuais,
como era esperado, mas a agregados estáveis, os quais prejudicam a estabilidade
das emulsões. Se fosse analisado apenas o tamanho das gotículas individuais, o
resultado seria próximo a 2 µm, valor encontrado por Porto e Cristianini (2014) para
emulsões com goma do cajueiro e D-limoneno utilizando o mesmo processo de
emulsificação (homogeneizador rotor-estator e de alta pressão).
Figura 8. Microscopia óptica das emulsões controle, controle com pH e reticulada. A
barra de escala no canto inferior direito corresponde ao tamanho de 15 µm.
A homogeneização por alta pressão utilizada no preparo das emulsões
consistiu de 2 estágios. O primeiro estágio tem a finalidade de reduzir o tamanho das
gotículas de óleo, enquanto que o segundo objetiva desfazer os agregados
formados após passagem pelo primeiro estágio. Entretanto, após a obtenção das
emulsões, as amostras foram agitadas por agitação mecânica durante 15 minutos o
que pode ter favorecido a formação de novos agregados (Figura 8).
Na Figura 9, observa-se a DTP das três emulsões avaliadas. A DTP
bimodal de todas as emulsões corrobora com a discussão levantada no parágrafo
anterior, demonstrando que houve agregação irreversível das gotículas das
emulsões, o que também está em acordo com as medidas de D3,2 e D4,3. Ainda na
Figura 9, o primeiro pico da DTP da emulsão controle demonstra que uma parte da
emulsão não apresentava agregados, embora esta fosse minoria, assim como para
amostra controle com pH, cujo primeiro pico era quase imperceptível. Já a DTP da
amostra reticulada demonstra que toda a amostra apresentou agregados.
62
Figura 9. Distribuição de tamanho das gotículas das emulsões controle, controle
com pH e reticulada.
Embora os perfis de DTP sejam diferentes para as três amostras
avaliadas, o resultado de ID (Tabela 7) mostra que não houve diferença na
heterogeneidade da distribuição das amostras controle e controle com pH e que
essa heterogeneidade foi superior a amostra reticulada. Entretanto, já foi
mencionado que os valores de ID não parecem considerar as distribuições bimodais
como heterogêneo, avaliando apenas o maior pico, sendo assim, a avaliação da
curva de DTP se apresenta como uma maneira mais confiável de analisar a
heterogeneidade da distribuição de tamanhos do que as medidas de ID.
Também se observa na Figura 9 que o pico da curva da amostra controle
está mais à esquerda, demonstrando que o tamanho médio de suas gotículas foi
inferior quando comparadas as demais amostras, confirmando as medidas inferiores
de D3,2 e D4,3 evidenciadas na Tabela 7.
A formação de agregados irreversíveis pode estar associada a reduzida
quantidade de sólidos na emulsão e não utilização de agente de peso para corrigir a
densidade da fase óleo. Entretanto, como o objetivo final é a produção de
microcápsulas e não a emulsão, a adição de agente de peso se tornaria inviável.
2.3.2.3 Potencial zeta e condutividade elétrica
Os valores de potencial zeta e condutividade elétrica encontrados nas
emulsões avaliadas após o teste preliminar estão apresentados na Tabela 7. A
emulsão controle se apresentou mais eletronegativa que a amostra reticulada
63
(p≤0,05), com valores de potencial zeta de -8,6 mV e -7,0 mV, respectivamente, já a
amostra controle com pH foi estatisticamente igual às duas emulsões, mas se
aproximou mais da amostra controle, indicando que o agente reticulante reduz a
carga elétrica da goma em solução. Contudo, nenhuma emulsão foi considerada
estável (potencial zeta <│25│ mV, Rezvani, Schleining e Taherian (2012)). O mesmo
comportamento foi observado para os resultados de condutividade elétrica. A
emulsão controle foi considerada mais estável que as emulsões controle com pH e
reticulada quando observado o valor de condutividade elétrica de cada emulsão
(p≤0,05), 0,03, 0,04 e 0,13 mS/cm, respectivamente, retificando que a amostra
reticulada foi a mais instável, já que, quanto mais estável é uma emulsão, menor é
sua condutividade elétrica (Mirhosseini et al., 2009).
2.3.2.4 Avaliação do tamanho médio e distribuição de tamanho de partículas
das microcápsulas
Os valores de tamanho médio (D4,3), média dos tamanhos (D0,5), índice
de dispersão das microcápsulas (ID) e eficiência de encapsulação de D-limoneno
para as microcápsulas das três emulsões produzidas após os testes preliminares
estão apresentados na Tabela 8.
Tabela 8. Média dos tamanhos D0,5, tamanho médio D4,3, índice de dispersão (ID)
e eficiência de encapsulação (EE) de D-limoneno das três amostras de
microcápsulas (controle, controle com pH e reticulada).
Amostras D0,5 (μm) D4,3 (μm) ID EE de D-limoneno (%)
Controle 10,27 ± 1,25A 11,09 ± 1,38A 1,13 ± 0,06A 61,49 ± 7,76A
Controle
com pH 10,84 ± 1,14A 11,70 ± 1,22A 1,14 ± 0,01A 26,73 ± 2,61B
Reticulada 13,09 ± 1,58B 15,11 ± 1,42B 1,38 ± 0,05B 13,93 ± 3,09C
*Letras diferentes na mesma coluna demonstram que as amostras diferiram entre si a um nível de 5% de significância.
As emulsões controle e controle com pH apresentaram os mesmos
valores de tamanho de partículas (D4,3 e D0,5) e mesmo perfil de distribuição (ID)
(p>0,05). Já a amostra reticulada, apresentou maior tamanho médio D0,5, maior
volume de microcápsulas (D4,3) e maior dispersão de tamanho (ID) (p≤0,05), dentre
64
todas as microcápsulas obtidas, em concordância com os tamanhos dos agregados
de gotículas obtidos nas emulsões.
Considerando que a encapsulação por atomização produz microesferas,
ou seja, vários núcleos em uma mesma esfera, as quais comumente denominamos
de microcápsulas, o próprio processo já uniformiza seus tamanhos. Entretanto, o
elevado tamanho das gotículas da emulsão reticulada, fez com que o tamanho da
microcápsula permanecesse maior do que as microcápsulas das demais amostras.
O ID da emulsão reticulada também foi superior ao ID das demais amostras,
indicando maior heterogeneidade na distribuição de tamanho dessas microcápsulas.
Justamente pelas microcápsulas serem microesferas, a tendência é que
as microcápsulas sejam maiores que as gotículas da emulsão que as geraram.
Porém, tantos nos testes preliminares quanto nos experimentos após os testes
preliminares, esse comportamento não foi observado, por diferentes razões.
Enquanto que, no primeiro caso, o menor tamanho das microcápsulas foi justificado
pelo cisalhamento da larga gotícula de D-limoneno na emulsão ao passar pelo
estreito orifício do bico atomizador, no segundo caso, houve uma quebra dos
agregados e não das gotículas de D-limoneno, já que estas apresentavam tamanhos
individuais muito pequenos (aproximadamente 2 µm), conforme a Figura 8.
A Figura 10 apresenta a distribuição de tamanho das partículas (DTP) das
microcápsulas obtidas com as amostras controle, controle com pH e reticulada.
Figura 10. Distribuição de tamanho de partículas das microcápsulas das amostras
controle, controle com pH e reticulada.
O perfil de DTP de todas as microcápsulas produzidas foi monomodal,
diferente do encontrado para as emulsões que as geraram, exatamente pelo fato do
65
processo de atomização uniformizar essa distribuição através do cisalhamento de
partículas maiores que o tamanho do bico atomizador. Também se observa que a
DTP da amostra reticulada é mais espalhada (com menor altura), indicando que tem
uma distribuição mais heterogênea, como foi observado pelo valor de ID. Por fim, os
picos das DTP das amostras controle e controle com pH estão mais para a
esquerda, indicando menor tamanho médio dessas partículas, conforme obtido com
pelos valores de D4,3.
2.3.2.5 Microscopia óptica das microcápsulas
As imagens das microcápsulas das amostras controle, controle com pH e
reticulada obtidas por microscopia óptica estão apresentadas na Figura 11.
Figura 11. Microscopia óptica das microcápsulas das amostras controle, controle
com pH e reticulada. A barra de escala no canto inferior direito corresponde ao
tamanho de 10 µm.
As microcápsulas obtidas foram características de microesferas obtidas
por spra-dryer “bola murcha” (presença de partes amassadas e encolhidas) (Porto;
Furtado; Cristianini, 2017). Conforme pode ser observado nas imagens, as amostras
controle e controle com pH, em média, apresentaram microcápsulas com tamanhos
menores que a amostra reticulada, em concordância com as medidas de tamanho
(D0,5 e D4,3) apresentadas na Tabela 8.
2.3.2.6 Eficiência de encapsulação de D-limoneno
A eficiência de encapsulação (EE) de D-limoneno calculada para as
amostras controle, controle com pH e reticulada foi de 61,5%, 26,7% e 13,9%
(Tabela 8), respectivamente, sendo os resultados considerados estatisticamente
diferentes entre si (p≤0,05). Para as amostras controle com pH e reticulada, os
66
baixos valores de EE demonstraram que ambos os métodos foram considerados
ineficientes na encapsulação de D-limoneno, destacando uma forte redução na
capacidade encapsulante da goma do cajueiro ao alcalinizar e acidificar o meio. O
escurecimento na cor da emulsão, citado anteriormente, já atestava esse
comportamento. Além disso, o processo de reticulação com TMFS conseguiu reduzir
ainda mais a capacidade de encapsulação da goma do cajueiro, possivelmente por,
ao criar uma rede polimérica, expulsar o óleo que estava adsorvido no emulsificante.
Quando se compara os valores de EE da emulsão reticulada antes e após
os testes preliminares, observa-se uma menor EE para a amostra com menores
gotículas. Uma suposição é que a redução no tamanho das gotículas de D-limoneno
pode ter facilitado a expulsão dessas pequenas gotículas aprisionadas na rede
polimérica.
Ribeiro et al. (2015) avaliaram a eficiência de encapsulação de
microcápsulas de goma arábica e óleo essencial de capim limão produzidas a partir
de uma emulsão modificada quimicamente com 6% de TMFS e obtiveram 97% do
óleo total encapsulado, valor 12% superior ao encontrado para a amostra sem
modificação. Sendo assim, o processo de reticulação química com TMFS para o
encapsulação de óleo essencial pode ser satisfatório ou não dependendo dos
componentes utilizados em sua formulação. Uma amostra utilizando o mesmo
processo de obtenção da emulsão e das microcápsulas com goma arábica e D-
limoneno foi produzida e o escurecimento da emulsão no momento da reação não
foi observado, conforme evidenciado com a goma do cajueiro (dados não
apresentados).
Silva et al. (2004) promoveram uma carboximetilação da goma do cajueiro,
em que no processo eram adicionados hidróxido de sódio em diferentes
concentrações, ácido monocloroacético e ácido clorídrico (para correção do pH) e
observaram que a goma do cajueiro sofreu redução de peso molecular/degradação
com o aumento da concentração de NaOH.
Dessa forma, uma explicação para esse comportamento com a goma do
cajueiro é uma possível degradação da mesma pela adição do hidróxido de sódio.
67
2.3.3 Considerações finais
A tentativa em avaliar a propriedade emulsificante da goma do cajueiro
reticulada com 6% de TMFS foi realizada em experimento prévio, entretanto, para
que uma substância possa apresentar propriedade emulsificante em emulsões óleo
em água, esta deve ser solúvel em água. Nas Figuras 12 e 13 é possível observar
que a goma reticulada com 0,5, 1 e 6% de TMFS não eram solúveis em água.
Figura 12. Goma do cajueiro reticulada com 0,5 (A) e 1% (B) de trimetafosfato de
sódio em água.
Figura 13. Suspensão de 0,02% (m/v) de goma do cajueiro reticulada com 6% de
trimetafosfato de sódio.
2.4 Conclusão
A emulsão reticulada de D-limoneno e goma de cajueiro não encapsulou
eficientemente o óleo essencial. A etapa de alcalinização e acidificação presente no
68
processo de reticulação afeta a capacidade de encapsulação da goma do cajueiro.
Sendo assim, o processo de reticulação com trimetafosfato de sódio nas condições
utilizadas no presente trabalho não foi eficaz em melhorar as propriedades
encapsulantes da goma do cajueiro.
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72
Capítulo 3. Efeito da alta pressão isostática sobre as características químicas e
físicas da goma do cajueiro
PORTO, B.C., TEREKHOV, A., HAMAKER, B. R., & CRISTIANINI, M.
Os resultados de determinação dos monossacarídeos, ligações entre eles e massa
molecular da goma do cajueiro controle foram publicados na revista Carbohydrate
Polymers:
PORTO, B.C.; AUGUSTO, P. E.; TEREKHOV, A.; HAMAKER, B. R.; CRISTIANINI,
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Revista pretendida: Carbohydrate Polymers
73
Efeito da alta pressão isostática sobre as características químicas e físicas da
goma do cajueiro
RESUMO
A tecnologia de alta pressão isostática (API) como um processo não térmico na
produção de alimentos vem despertando crescente interesse das grandes indústrias
alimentícias que visam a produção de alimentos com maior poder mercadológico e
dos consumidores que buscam alimentos com características sensoriais e
nutricionais preservadas. Com isso, há uma grande necessidade em entender o
efeito dessa tecnologia sobre os ingredientes utilizados em formulações alimentícias.
Além disso, a modificação de ingredientes com o intuito de melhorar suas
características funcionais é comum e alvo de interesse tanto das indústrias de
insumos quanto dos seus compradores, e o processamento por API, por ser um
processo físico, apresenta vantagens em relação aos processos químicos e
enzimáticos do ponto de vista ambiental e de custo, respectivamente. A goma do
cajueiro é um heteropolissacarídeo ácido ramificado com diversas aplicações
industriais, dentre essas, na produção de alimentos. Alguns estudos verificaram a
aplicação de diferentes processos de modificação na goma do cajueiro, entretanto,
não há nenhum trabalho, até o presente momento, que avalie o efeito do
processamento por API sobre as características estruturais ou tecnológicas da
mesma. Dessa forma, este capítulo objetivou investigar o efeito da tecnologia de API
sobre as características químicas e físicas da goma do cajueiro como um ingrediente
em alimentos. Para atingir esses objetivos, foram realizadas análises de composição
de monossacarídeos presentes na goma, determinação de sua massa molecular,
comportamento ao fluxo e calorimetria diferencial de varredura. Soluções de goma
do cajueiro em pH 3,2 e 3,7 (20%, m/v) foram processadas de 100 a 600 MPa por 10
min a 25 °C. Os resultados evidenciaram que o processamento por API promoveu
um irrelevante aumento (menor que 1%) na massa molecular de uma das frações da
goma do cajueiro com massa molecular intermediária, demonstrando uma possível
redução de frações com massas moleculares superiores. Em contrapartida, não
promoveu alterações nos índices de consistência que variou de 0,004 a 0,005 Pa.sn,
74
mas produziu um ligeiro aumento de aproximadamente 1% (p≤0,05) no índice de
comportamento ao fluxo na análise reológica, e não foi identificada uma tendência
nos resultados de composição dos monossacarídeos que fornecesse uma
compreensão do efeito do processamento. Por fim, pode-se concluir que as
condições utilizadas no presente estudo para produzir uma goma do cajueiro com
propriedades modificadas e maior valor comercial, não foram satisfatórias. Contudo,
considerando que a goma do cajueiro se apresenta como um coadjuvante de uma
formulação alimentícia, os resultados foram aceitáveis, pois este ingrediente não
seria capaz de descaracterizar o produto final devido ao processo.
Palavras-chave: polissacarídeos, alta pressão hidrostática, modificação física.
75
Effect of isostatic high-pressure on chemical and physical characteristics of
cashew tree gum
ABSTRACT
The isostatic high-pressure (IHP) technology is considered a non-thermal process.
This technology is arousing a growing interest of: i) food industries that aim a food
production with greater commercial potential; and, ii) consumers that seek more
nutritionally and sensorially preserved foods. Thereat, there is a necessity to
understand the effect of this technology on the ingredients used in food formulations.
Furthermore, ingredients modifications aiming to improve its functional characteristics
is common and target both the input industries as their buyers, and the IHP, as a
physical process, has a lot of advantages when compared to chemical and enzymatic
processes, considering the environmental effect and cost, respectively. Cashew tree
gum is an acid branched heteropolysaccharide with many industrial applications,
including food production. Some researches verified the application of different
modification processes on cashew tree gum, however, no one, until this moment,
evaluated the effect of IHP processing on structural and technological aspects of
cashew tree gum. Thus, this chapter aimed to investigate the effect of IHP
technology on chemical and physical characteristics of cashew tree gum as a food
ingredient and as a possible tool to obtain an added commercial value substance.
Some analysis were performed to reach these aims including monosaccharide
composition, linkage analysis, molecular weight, flow behavior, and differential
scanning calorimetry. Cashew tree gum solutions at pH 3.2 and 3.7 (20% m/v) were
processed from 100 to 600 MPa in 10 min. at 25 °C. The results showed that IHP
processing promoted an irrelevant molecular weight increasing (less than 1%) in a
fraction of cashew tree gum with intermediary molecular weight, it may have occurred
besides of a decreasing in the molecular weight of bigger fractions. On the other
hand, the process did not promote consistency index changes that ranged from
0.004 to 0.005 Pa.sn, but promoted a slight increase on flow behavior index
(approximately 1%, p≤0.05), and no tendency was identified in linkage analysis to
gives an explanation about the effect of the process. Finally, the applied process
conditions to produce a cashew tree gum with different properties and added
commercial value were not satisfactory. Although, for a cashew tree gum as food
76
additive, the results were acceptable, because this ingredient would not be able to
decharacterize the final product after the process.
Keywords: polysaccharides, hydrostatic high pressure, physical modification.
77
3.1 Introdução
A cultura do cajueiro tem uma elevada importância econômica
principalmente para a região Nordeste do Brasil, tendo a castanha de caju, seu fruto,
como produto mais rentável, de maior importância comercial. Em seguida, tem-se o
pedúnculo caju, fruta do cajueiro, que apesar de possuir aplicações industriais na
produção de sucos e doces, ainda é expressivamente desperdiçado (Vidal; Pereira,
2015). Por fim, tem-se a goma do cajueiro, um coproduto obtido do exsudado bruto
do tronco do cajueiro após isolamento que, embora não tenha nenhuma importância
comercial até o presente momento, merece atenção devido à sua potencial
aplicação na indústria de alimentos e bebidas (Oliveira et al., 2009; Porto; Cristianini,
2014), fármacos (Paula et al., 1998) e químicos (Lima et al., 2002).
A goma do cajueiro (Anacardium occidentale L.) é um heteropolissacarídeo,
composto principalmente por carboidratos (97,7-98,3%) (Porto; Cristianini, 2014;
Porto; Augusto; Cristianini, 2015), cuja composição monossacarídica é formada
sobretudo de galactose (69%), arabinose (10%), ácido urônico (10%), glicose (8%) e
ramnose (3%) (Pereira-Netto et al., 2007). Os componentes individuais presentes na
composição glicosídica da goma são, em valores aproximados, tri-o-metilgalactose
(39%), di-o-metilgalactose (29%), tetra-o-metilgalactose (23%), tri-o-metilarabinose
(3%), di-o-metilarabinose (3%) e tri-o-metil ácido galacturônico (3%) (Bose; Biswas,
1980). Além dos carboidratos, a goma do cajueiro pode conter de 1 a 3% de
proteína (Pinto et al., 1995; Porto; Cristianini, 2014; Porto; Augusto; Cristianini,
2015). Este conteúdo proteico é formado majoritariamente dos aminoácidos
hidroxiprolina, serina, prolina, treonina e leucina (Pereira-Netto et al., 2007).
Os polissacarídeos têm sua forma nativa frequentemente modificada por
processos físicos, químicos e/ou bioquímicos com objetivo de adequar suas
características para as mais diversas aplicações (Towle; Whistler, 1993). O tipo de
modificação a ser realizado irá depender da aplicação a que se destina, dos custos
iniciais de obtenção do equipamento e do processo, da legislação vigente em cada
país, da quantidade e tipo de resíduos gerados, da toxicidade ao manipulador e ao
ambiente, dentre outros. Desse modo, os métodos físicos merecem destaque por
não gerar resíduos e não utilizar reagentes tóxicos. Contudo, os custos inicial e de
manutenção com equipamentos pode ser crucial na escolha desses métodos (Porto
et al., 2015).
78
O pH é uma importante característica físico-química para os alimentos e
para suas substâncias químicas. O pH de um alimento determina o tipo de
processamento que deve ser aplicado para tornar esse produto biológico e/ou
quimicamente seguro para comercialização, como é o caso do pH 4,5 visando
prevenir a produção da toxina botulínica pelo Clostridium botulinum. Do ponto de
vista das substâncias químicas, o pH define suas características de solubilidade,
capacidade de adsorção, reatividade, estrutura conformacional, dentre outras. O
ponto isoelétrico da goma do cajueiro, pH no qual a goma se encontra com o
somatório de cargas igual a zero, onde os resíduos de aminoácidos estarão
protonados, está em torno do pH 3,2 (Porto; Augusto; Cristianini, 2015). Por outro
lado, o pH natural da goma em água destilada é de aproximadamente 3,7 e nessa
situação o polímero se encontra levemente negativo (Porto; Augusto; Cristianini,
2015). De acordo com o pH da solução de goma do cajueiro, sua estrutura espacial
no momento do processamento pode estar mais ou menos aberta, afetando o grau
de alteração que essa substância sofrerá com os efeitos de cavitação, cisalhamento,
dentre outros, inerentes ao processo.
A alta pressão isostática (API) foi introduzida na indústria de alimentos como
um método de processamento não térmico para competir com os processos térmicos
de pasteurização e esterilização, conservando os produtos sem promover grandes
modificações aos aspectos sensoriais e nutricionais dos alimentos, contrariamente
ao que ocorre com os processos térmicos. O processamento por alta pressão
isostática se baseia em dois princípios: a) Le Chatelier, onde as reações são
favorecidas pela redução do volume gerado pelo aumento da pressão sob condições
de equilíbrio, porém, as reações químicas ocasionadas pelo aumento de
temperatura são maiores que as reações produzidas pelo aumento de pressão
(Butz; Tauscher, 2002), o que faz com que essa tecnologia cause menos alterações
nutricionais e sensoriais; e, b) Pascal, onde a pressão é transmitida de maneira
uniforme por todo o alimento e ao mesmo tempo (Rasanayagam et. al., 2003).
Com o passar dos anos, os estudos com API em alimentos ampliaram o foco
e passaram a buscar a compreensão do efeito dessa tecnologia não somente para a
sua segurança microbiológica, mas também em suas características físicas,
químicas e enzimáticas. Por sua vez, muitas vezes, para que se possa entender o
que acontece em uma matriz alimentícia inteira (ex. carne, leite, frutas), faz-se
79
necessário conhecer o que está ocorrendo com as partes (ex. proteínas,
polissacarídeos e lipídios). A API é responsável por promover alterações físicas nos
componentes macroelementares dos alimentos (ex. gordura, carboidratos e
proteínas). As principais causas dessas modificações são: a) liberação instantânea
de intensa energia de aquecimento; e b) forças mecânicas de cavitação, fricção,
compressão e estabelecimento de cargas eletrostáticas (Mateos-Aparicio; Mateos-
Peinado; Rupérez, 2010). Sabe-se que, além das alterações físicas, a API também
pode provocar alterações químicas, como: modificações na estrutura química das
moléculas e converter uma molécula iônica em aniônica (Redding; Harden, 1998).
Contudo, a API não é capaz de romper ligações covalentes, pode apenas favorecer
a quebra de pontes de hidrogênio, alterações hidrofóbicas e interações eletrostáticas
(Ledward, 1995). Vários estudos abordam o efeito da API sobre os polissacarídeos
(Ahmed; Ramaswamy, 2004; Zhang; Li; Tatsumi, 2005; Blaszczak et al., 2007a;
Blaszczak et al., 2007b; Roeck et al., 2009; Mateos-Aparicio et al., 2010; Panteloglou
et al., 2010; Tejada-Ortigoza et al., 2017). Dentre os efeitos encontrados, têm-se o
aumento na solubilidade e funcionalidade de fibras dietéticas (Mateos-Aparicio et al.,
2010; Tejada-Ortigoza et al., 2017), redução do grau de metoxilação de pectina
(Roeck et al., 2009), aumento na capacidade de adsorção de aromas em amido
(Blaszczak et al., 2007a) e redução da susceptibilidade de retrogradação em amido
(Blaszczak et al., 2007b).
Panteloglou et al. (2010) observaram que a API proporcionou alterações nos
módulos de armazenamento e de perda sugerindo mudanças estruturais em goma
arábica de diferentes fontes. Além de uma melhoria na sua consistência,
característica apreciada para estabilidade de emulsões. Essa melhoria foi
dependente do pH do processo, onde os pH 4,2 e 8,0 proporcionaram maior
qualidade à goma. Tais modificações foram atribuídas à desnaturação das proteínas
presentes. Além disso, em uma mistura de proteína (ovalbumina) e polissacarídeo
submetida ao processamento por API, o polissacarídeo foi capaz de proteger a
proteína contra a desnaturação (Zhan; Li; Tatsumi, 2005). Contudo, não há
trabalhos que avaliem o efeito da API sobre características químicas, físicas ou
tecnológicas da goma do cajueiro. Dessa forma, o objetivo do presente capítulo foi
avaliar o efeito da tecnologia de alta pressão isostática sobre as características
químicas e físicas da goma do cajueiro em diferentes pH.
80
3.2 Material e Métodos
As etapas de isolamento e processamento da goma do cajueiro, juntamente
com a determinação do seu comportamento reológico, foram realizadas no
Laboratório de Tecnologias Emergentes (LATEM/UNICAMP – Brasil). A liofilização
das amostras foi conduzida no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação
(NEPA/UNICAMP – Brasil). As análises de composição e ligação entre
monossacarídeos, e determinação da massa molecular foram executadas no
Whistler Center for Carbohydrate Research (Purdue University – EUA). Por fim, a
análise de calorimetria diferencial de varredura (DSC) foi realizada no Laboratório de
Cereais (UNICAMP – Brasil).
3.2.1 Material
O exsudado bruto do cajueiro foi doado pela Embrapa Agroindústria Tropical
– Ceará. Ácido clorídrico e hidróxido de sódio de padrão analítico foram utilizados
para a correção do pH das soluções de goma. Álcool etílico 96 °GL foi utilizado na
etapa de isolamento da goma. Todos os reagentes utilizados para as análises de
composição e ligação entre monossacarídeos foram de padrão analítico para
métodos cromatográficos.
3.2.2 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro
O diagrama de fluxo do processo de isolamento da goma do cajueiro a partir
do exsudado bruto pode ser visualizado na Figura 1. Primeiramente, o exsudado
bruto do cajueiro foi reduzido a tamanhos de 1 a 4 cm para facilitar seu processo de
dissolução (Etapa 1). A dissolução do exsudado bruto em água destilada foi
realizada na concentração de 10% (m/m), a temperatura ambiente de
aproximadamente 23 ºC, sob agitação em agitador magnético por 24 h.
81
Figura 1. Diagrama de fluxo do processo de isolamento da goma do cajueiro.
Após a dissolução, a solução foi filtrada em peneira com aberturas de
aproximadamente 1 mm² (Etapa 2), o filtrado foi centrifugado a 15.317 x g por 10
min. a 10 °C (Etapa 3) em centrífuga AllegraTM 25R (Beckman CoulterTM, EUA) com
a finalidade de remover pequenas impurezas que não foram retiradas durante a
filtração. O sobrenadante foi precipitado em etanol 96 °GL a 16 °C na proporção de
2:3 (solução de goma:etanol) (Etapa 4). Em seguida, foi realizada uma nova
centrifugação e o sobrenadante descartado (Etapa 5). O precipitado foi disposto em
bandejas de alumínio e submetido a secagem em estufa com circulação de ar
forçado (Nova Ética, Brasil) a 50 °C por 24 h (Etapa 6). Por fim, após a secagem, a
goma foi moída em moinho A11 Basic (IKATM, Alemanha) para obtenção do pó
(Etapa 7).
82
3.2.2 Processamento por alta pressão isostática
Sumariamente, o processamento por alta pressão isostática consiste em
colocar a amostra em uma câmara de pressurização e preenchê-la com um líquido,
que irá ocupar todos os espaços vazios da câmara e servirá como meio de
pressurização.
O equipamento utilizado (Avure Technologies, EUA) tem capacidade de
atingir a pressão de até 700 MPa e atuar sob temperaturas de refrigeração e
aquecimento. Foram escolhidas seis pressões de processo baseadas na capacidade
do equipamento: 100, 200, 300, 400, 500 e 600 MPa. A temperatura de 25 °C foi
escolhida para estudar melhor o efeito da pressão, sem efeito de temperatura de
resfriamento ou aquecimento, e o tempo de 10 min. visando menor gasto energético
do processo. Os processos foram realizados para a solução de goma em pH natural
(cerca de 3,7), bem como no seu ponto isoelétrico (pH 3,2) (Porto; Augusto;
Cristianini, 2015) com a finalidade de avaliar o efeito do processo em diferentes
estruturas conformacionais da goma.
A solução de goma do cajueiro em água destilada foi preparada na
concentração de 15% (m/m), mantida sob agitação magnética até completa
solubilização a temperatura de aproximadamente 60 °C por cerca de 2 h e,
posteriormente, acondicionada sob refrigeração a 6 °C por 12 h para obtenção da
completa hidratação do biopolímero. Previamente ao processamento de alta
pressão, foi realizada a correção do pH das soluções de goma para 3,2 e 3,7. Em
seguida, as amostras foram colocadas em embalagens plásticas flexíveis (LDPE-
Nylon-LDPE, 16 µm de espessura – TecMaq, Brasil) (Figura 2) e processadas.
Por fim, as amostras foram liofilizadas e moídas para obtenção do pó da
goma do cajueiro modificada. Os processos foram realizados em duplicata.
Amostras controles (pH 3,2 e 3,7) foram produzidas utilizando as mesmas etapas
anteriores com exceção do processamento por alta pressão.
83
Figura 2. Amostras de solução de goma do cajueiro (15%, m/m) antes do
processamento.
3.2.3 Cromatografia de exclusão de tamanho
A determinação da massa molecular foi realizada por cromatografia de
exclusão de tamanho com detecção de índice refrativo. Pululanas (Polymer
Laboratories, Reino Unido) com massa molecular de 11880, 22800, 112000 e
212000 Da foram usadas como padrão analítico para obter uma curva de calibração
com R² = 0,9933 (Figura 3).
Soluções de goma do cajueiro modificada e sem modificação, e dos padrões
analíticos foram preparadas em 0,1 M NaCl (0,3%, m/v) sob agitação magnética a
temperatura ambiente (aproximadamente 23 °C) até completa solubilização.
Posteriormente, as soluções foram mantidas a 6 °C por 24 h para completa
hidratação. A fase eluente consistiu de uma solução 0,1 M de NaCl em água
destilada desgaseificada. Todas as soluções foram filtradas em membranas de filtro
com 0,45 µm de abertura para remover agregados e reduzir o bloqueio da coluna e
do detector (Kravtchenko et al., 1992). As amostras foram injetadas (100 μL, 0,4
mL/min.) a 35 °C em um sistema cromatográfico de exclusão de tamanho (Agilent
Technologies 1260 infinity, EUA) usando uma coluna Superdex 200 (faixa de
separação MM = 1 x 103 - 1 x 105 para dextranas e MM = 1 x 104 – 6 x 105 para
proteínas globulares) (GE Healthcare Life Sciences, EUA). As amostras foram
analisadas em duplicata. Os dados foram obtidos através do Software Openlab CDS
ChemStation edition para sistemas LC & LC/MS (Agilent Technologies, EUA).
84
Figura 3. Curva de calibração para determinação da massa molecular das amostras
de goma do cajueiro processada e sem processamento.
3.2.4 Determinação da composição de monossacarídeos e ligações entre
estes
A determinação da composição de monossacarídeos neutros foi obtida
conforme método alditol acetato descrito por Pettolino et al. (2012). O método
utilizado para obtenção dos monossacarídeos ácidos, TMS - trimethylsilyl
methylglycosides, foi descrito por York et al. (1986). A análise das ligações entre os
monossacarídeos foi realizada adicionando uma etapa de metilação antes da
hidrólise no método de determinação dos açúcares neutros, conforme descrito por
Pettolino et al. (2012).
Os monossacarídeos parcialmente metilados e acetilados constituintes da
goma do cajueiro foram quantificados por cromatografia gasosa em cromatógrafo
com detector de ionização de chama acoplado a um detector de espectrometria de
massas (Agilent Technologies, EUA). A coluna capilar utilizada foi SP-2330
(Supelco, EUA). O gás de arraste utilizado foi hélio na velocidade de 1,9 m/s. O
volume de injeção da amostra foi 2 µL com divisão de fluxo de 1:20. O injetor foi
operado a 240 °C e o detector a 300 °C. A temperatura inicial do forno foi de 100 °C
por 2 min, posteriormente, houve uma taxa de aquecimento de 8 °C por min, até
atingir a temperatura de 240 °C onde permaneceu por 20 min. A composição de
monossacarídeos ácidos urônicos foi quantificada em um cromatógrafo gasoso com
detector de chamas Agilent 6890 (Agilent Technologies, EUA) equipado com uma
85
coluna capilar DB-5, nas seguintes condições: temperatura inicial do forno de 160 °C
por 3 min, seguido por uma taxa de aquecimento de 3 °C por min até atingir 260 °C,
sendo mantido a essa temperatura por 15 min. A temperatura do injetor foi de 240
°C, temperatura do detector 300 °C e velocidade de fluxo de 1 mL/min. Para a
determinação das ligações entre os monossacarídeos, considerou-se a base de
resposta de carbono efetivo descrito por Sweet, Shapiro e Albersheim (1975). As
análises de determinação dos monossacarídeos presentes na goma do cajueiro e
das ligações entre esses foram realizadas, pelo menos, em triplicata.
3.2.5 Reologia
Soluções de goma do cajueiro processadas e sem processamento por alta
pressão isostática em água destilada (20 mL, 10% m/v) foram preparadas em tubos
de ensaio com capacidade para 50 mL e mantidas em banho-maria a 60 °C por 4 h,
agitadas em vortex modelo 771 (Fisatom, Brasil) por 1 min e mantidas em banho-
maria por mais 2 h para que houvesse a máxima solubilização da goma.
Posteriormente, as suspensões foram mantidas a 6 °C até o dia seguinte para
completa hidratação da goma. Antes de serem avaliadas, as amostras foram
agitadas em vortex por 5 s e uma quantidade suficiente da solução foi adicionada no
equipamento para análise, bolhas de ar incorporadas à amostra foram
cuidadosamente retiradas com auxílio de uma pipeta Pasteur.
Curvas de fluxo de tensão de cisalhamento (σ) x taxa de deformação ( )
foram obtidas utilizando um reômetro com tensão controlada AR2000ex (TA
Instruments, EUA) com a finalidade de caracterizar o comportamento reológico das
gomas processadas e controle, e possibilidade de explicar esse comportamento
relacionando com a magnitude da pressão aplicada e da conformação estrutural da
goma de acordo com o pH.
Para os ensaios foi utilizada a geometria cone-placa com 2° de inclinação e
6 cm de diâmetro de base e temperatura de 25 °C mantida através do sistema
Peltier. Os ensaios de fluxo foram realizados com curvas descendentes escalonadas
de 300 a 0,1 s-1 a fim de garantir o estado estacionário. As análises foram
executadas em duplicata.
86
3.2.6 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)
A análise calorimétrica das amostras modificadas e controle foi realizada em
um equipamento DSC (TA Instruments, 060 WS, Thermal Analyzer, Shimadzu,
Japão). Os cadinhos de alumínio (Sinc do Brasil Ltda, Brasil) foram colocados em
balança analítica, as amostras foram pesadas (5 mg), tampadas, fechadas em
prensa (Shimadzu, Japão) e analisadas.
A temperatura inicial de aquecimento foi de 30 °C, taxa de aquecimento de
10 °C por min até atingir temperatura de 400 °C, onde permaneceu por 1 min.
Utilizou-se uma atmosfera de nitrogênio a uma vazão de 30 mL/min. A massa foi
corrigida em relação a umidade presente na amostra. As análises foram realizadas
em duplicata.
3.2.7 Análises estatísticas
As similaridades e diferenças entre os dados obtidos nas repetições dos
processos e dos diferentes tratamentos foram observadas por Análise de Variância
(ANOVA) e teste de médias de Tukey com o programa Statistica® 7 (Statsoft, EUA).
3.3 Resultados e Discussão
Nas seções a seguir estão apresentados os resultados das análises
descritas na metodologia.
3.3.1 Processamento por alta pressão isostática
O perfil de temperatura x tempo do processamento por alta pressão
isostática (API) das soluções de goma do cajueiro com pH 3,2 e 3,7 submetidas a
pressões de 100, 200, 300, 400, 500 e 600 MPa está apresentado na Figura 4.
A taxa de aquecimento em condições adiabáticas medida
experimentalmente por Oliveira et al. (2015) é de 3 °C para cada 100 MPa, como
evidenciado por Butz e Tauscher (2002). Dessa forma, a temperatura inicial do
procedimento dependerá da pressão e temperatura de processamento escolhida.
Por conseguinte, como a temperatura de processo é a mesma para todos os
87
tratamentos, quanto mais alta é a pressão, menor deve ser a temperatura inicial da
câmara, conforme demonstrado na Figura 4.
Figura 4. Perfil (temperatura x tempo) do processamento por alta pressão isostática.
Embora seja de conhecimento geral a taxa média de aquecimento de 3 ºC
para cada 100 MPa aplicados, essa taxa dependerá das características intrínsecas
de cada substância. Sendo assim, considerando a taxa média, para se processar a
25 °C a 600 MPa, a temperatura inicial deve estar a 7 °C. Entretanto, na prática,
esse procedimento é complicado de ser executado, pois há a necessidade de
acrescentar gelo para resfriar o meio pressurizante (água) e quando esse gelo muda
de estado físico devido à pressão (passando do estado sólido para líquido), há
liberação de calor e essa temperatura aumenta um pouco mais em relação ao
planejado. Sendo assim, pode ser evidenciado no gráfico que há uma maior
variação de temperatura quanto mais alta é a pressão (400, 500 e 600 MPa),
entretanto, nenhum processo ultrapassou os 30 °C, temperatura que também pode
ser considerada ambiente (onde não há aquecimento), conforme desejado.
3.3.2 Cromatografia de exclusão de tamanho
Os resultados da análise de determinação da massa molecular da goma do
cajueiro sem processamento e com processamento a 100 e 600 MPa nos pH 3,2 e
3,7 estão apresentados na Tabela 1. Conforme se esperava, a goma do cajueiro, por
ser um produto presente na natureza advindo de um exsudado de planta, é
composta por uma mistura de polissacarídeos/heteropolissacarídeos de diferentes
tamanhos e isto pode ser evidenciado na análise de cromatografia de exclusão de
88
tamanho através da visualização de quatro picos principais (Figura 5). Entretanto,
devido a curva de calibração só abranger os tempos de 25 min até
aproximadamente 44 min, só os dois picos intermediários (pico 2 de 34 min e pico 3
de 39 min) foram comparados entre as amostras. Esse comportamento foi
observado tanto nas amostras controles quanto nas processadas em pH 3,2 e 3,7.
Figura 5. Cromatograma da goma de cajueiro controle (pH 3,2).
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1, não houve
diferença (p>0,05) entre as massas moleculares obtidas para o pico 2 das amostras
processadas em relação às amostras controle tanto para o pH 3,2, quanto para o pH
3,7. Contudo, para o pico 3 houve diferença (p≤0,05). As amostras processadas em
pH 3,2 apresentaram uma redução da sua massa molecular a 100 MPa e um
aumento a 600 MPa. Enquanto que, as amostras processadas a pH 3,7,
aumentaram sua massa molecular tanto a 100 MPa quanto a 600 MPa,
demonstrando que a pressão de 100 MPa foi suficiente para promover o mesmo
grau de modificação que a 600 MPa. Este comportamento pode estar relacionado ao
favorecimento de reações químicas quando há uma redução de volume, de acordo
com o princípio de Le Chatelier. Não obstante, o aumento dessa massa molecular,
apesar de estatisticamente significativo (p≤0,05), pode ser considerado irrelevante.
Guo et al. (2014) utilizaram três diferentes métodos para extração de pectina
(API, homogeneizador de alto cisalhamento e extração térmica tradicional) e
obtiveram pectinas de diferentes massas moleculares. A extração por API produziu
amostras de pectinas com maior massa. Contudo, os autores não mencionaram se
isso ocorreu devido a um aumento da cadeia polimérica decorrente do processo,
como no presente trabalho, ou a uma seleção de substâncias pécticas de maior
massa.
Pi
c
o
2
Pi
c
o
3
89
Tabela 1. Massa molecular (Da) e ligações entre monossacarídeos (% mol) das amostras de goma do cajueiro processada a 100 e
600 MPa e controle (não processada) em pH 3,2 e 3,7.
Massa Molecular (Da)
pH 3,2 pH 3,7
Controle 100 MPa 600 MPa Controle 100 MPa 600 MPa
Pico 2 4,40 x 104A 4,40 x 104A 4,40 x 104A 4,39 x 104a 4,39 x 104a 4,40 x 104a
Pico 3 2,09 x 104A 2,08 x 104B 2,09 x 104C 2,08 x 104a 2,09 x 104b 2,09 x 104b
Ligações entre monossacarídeos (% mol)
pH 3,2 pH 3,7
Controle 100 MPa 600 MPa Controle 100 MPa 600 MPa
Terminal-L-
arabinofuranosil→ 2,82 ± 0,54A 2,50 ± 0,41A 2,17 ± 0,45A 2,18 ± 0,08a 2,40 ± 0,31a 2,46 ± 0,14a
1→2-L-arabinofuranosil 0,26**A 0,47 ± 0,08B 0,61 ± 0,12B ND*A 0,39 ± 0,08b 0,38 ± 0,05b
1→3-L-arabinofuranosil 1,17 ± 0,15A 1,28 ± 0,11A 1,47 ± 0,18A 2,06 ± 0,00a 1,45 ± 0,02b 1,40 ± 0,25b
Terminal-D- 12,93 ± 0,96A 12,93 ± 0,96A 12,93 ± 0,96A 12,93 ± 0,96a 12,93 ± 0,96a 12,93 ± 0,96a
90
glicopiranosil→
Terminal-D-
galactopiranosil→ 12,75 ± 1,11A 13,85 ± 0,36A 15,63 ± 2,37A 10,72 ± 1,79a 18,73 ± 2,49b 14,60 ± 0,96ab
1→3-D-galactopiranosil 7,11 ± 0,79A 7,29 ± 0,60A 3,71 ± 0.60B 2,42 ± 0.45a 3,61 ± 0,20b 4,92 ± 0,45c
1→4-D-galactopiranosil 9,12 ± 0,18AB 11,40 ± 0,64B 8,04 ± 1,45A 3,54 ± 0,74a 7,41 ± 0,71b 7,79 ± 0,77b
1→6-D-
galactopiranosyl 24,74 ± 0,74A 20.68 ± 2.14B 21,16 ± 0,10B 45,86 ± 5,36a 24,11 ± 1,84b 27,04 ± 4,80b
1→3,6-D-
galactopiranosil 20,18 ± 1,15A 19.81 ± 2.79A 24,24 ± 2,09A 11,36 ± 2,01a 20,05 ± 4,04b 19,57 ± 2,37b
Terminal-6-deoxi-L-
mannopiranosil ND*A 1.53**B 2,09 ± 1,56B 1,52 ± 0,39a 1,90 ± 0,32a ND*b
2,3,4→6-deoxi-L-
mannopyranosil 2,31 ± 0,34A 2,31**A 2,31**A 1,50 ± 0,62ab 0,54 ± 0,19a 2,31 ± 0,34b
*Letras maiúsculas diferentes em uma mesma linha indicam que houve diferença significativa entre os valores obtidos para diferentes pressões em pH 3,2 a um nível de 5% de significância.
**Letras minúsculas diferentes em uma mesma linha indicam que houve diferença significativa entre os valores obtidos para diferentes pressões em pH 3,7.
91
3.3.3 Composição monossacarídica e tipos de ligações presentes
A composição de monossacarídeos da goma do cajueiro consistiu de 73,9
mol % de galactose, 12,93 mol % de glicose, 4,25 mol % de arabinose, 2,31 mol %
de ramnose, 1,59 mol % fucose, 1,31 mol % de ácido glicurônico e 3,59 mol % de
ácido galacturônico. O ácido galacturônico por somente estar presente em 3,59%
de uma amostra da triplicata, e pelo ácido glicurônico e fucose estarem em
concentração inferior a 2%, foram considerados substâncias traços na goma do
cajueiro, pois não foram observados na análise de ligações entre os açúcares.
Como citado anteriormente, galactose é o açúcar mais presente na goma
do cajueiro e a ligação mais encontrada foi (1→6) para todas as amostras com
exceção da goma do cajueiro processada a 600 MPa em pH 3,2, onde a ligação
mais frequente foi 1→3,6. Toda a glicose presente na goma do cajueiro
processada e não processada parece estar na posição terminal da(s) cadeia(s)
(Tabela 1). Quanto a arabinose, a ligação mais encontrada também foi terminal
para todas as amostras. Já em relação a ramnose (deoxy-L-mannopiranosil), a
ligação mais encontrada foi 2,3,4→6 com exceção da amostra processada a 600
MPa em pH 3,2 e 100 MPa em pH 3,7, cujas ligações mais presentes foram
terminais. Embora haja algumas diferenças entre as amostras processadas, não
foi possível obter uma explicação que associasse os resultados das ligações entre
os açúcares e o ligeiro aumento da massa molecular promovido pela API.
Por outro lado, Ma e Mu (2016) avaliaram o efeito da API na estrutura,
propriedades físico-químicas e funcionais de fibra de cominho desengordurada. A
fibra foi misturada com uma solução tampão fosfato (0,2 M) na proporção 1:10
(fibra:tampão) em pH 6,5 e processada a 200 MPa por 25 min a 30 ºC em
equipamento de API. A partir dos resultados, observou-se que a API aumentou a
quantidade dos açúcares ramnose, arabinose, xilose, ácido galacturônico e ácido
glicurônico, e somente reduziu o teor de glicose, quando esta foi comparada com
a amostra não processada. O aumento nas quantidades de arabinose, galactose e
ácidos urônicos ocorreu devido ao aumento da fração solúvel da fibra.
92
O comportamento diferente observado por Ma e Mu (2016) em relação ao
presente trabalho pode estar relacionado às condições de processo, como a
utilização de menor concentração (10% ao invés de 15% utilizada no presente
estudo), pH 6,5 e maiores tempos (15 a 25 min), além da goma do cajueiro já ser
uma substância naturalmente solúvel em água a temperatura ambiente.
3.3.4 Reologia
Estudar o comportamento reológico dos produtos e das substâncias que o
compõem é importante para o desenvolvimento de novos produtos, avaliação
sensorial, dimensionamento de equipamento, controle de qualidade, dentre outros
(Ahmed; Ramaswamy, 2004).
A Figura 6 apresenta as curvas de fluxo obtidas para a goma do cajueiro
não processada (controle) e processada por API (100, 200, 300, 400, 500 e 600
MPa) em pH 3,2 na concentração de 10% (m/v) e nas taxas de deformação ( ) de
0,1 a 300 s-1. Enquanto que a Figura 7 mostra os resultados para as soluções de
goma do cajueiro em pH 3,7, sob as mesmas condições do pH 3,2.
* Os pontos representam as médias dos resultados obtidos e as barras verticais indicam o desvio padrão de cada valor.
Figura 6. Comportamento ao fluxo (25 °C) de soluções de goma do cajueiro (10%
m/v) não processada (Controle) e processadas por API nas pressões 100, 200,
93
300, 400, 500 e 600 MPa em pH 3,2. σ e são tensão de cisalhamento e taxa de
deformação, respectivamente.
* Os pontos representam as médias dos resultados obtidos e as barras verticais indicam o desvio padrão de cada valor.
Figura 7. Comportamento ao fluxo (25 °C) de soluções de goma do cajueiro (10%
m/v) não processada (Controle) e processadas por API nas pressões 100, 200,
300, 400, 500 e 600 MPa em pH 3,7. σ e são tensão de cisalhamento e taxa de
deformação, respectivamente.
A partir das Figuras 6 e 7, observou-se um aumento das medidas de
tensão de cisalhamento (σ) com o aumento da taxa de deformação (γ) para todas
as soluções de goma, e esse aumento, por não ser linear, descaracterizou o
comportamento da goma como um fluido Newtoniano. Dessa forma, o
comportamento ao fluxo das soluções de goma do cajueiro controle e processadas
por alta pressão foi característico de comportamento de fluidos pseudoplásticos
sem tensão inicial e, sendo assim, foi utilizado o modelo da Lei da Potência
(Ostwald-de-Waele) (Equação 1) para explicá-lo.
Onde, k é o índice de consistência e n o índice de fluxo.
94
Ainda, analisando as Figuras 6 e 7, observa-se que as tensões de
cisalhamento são praticamente as mesmas para todas as amostras considerando
uma mesma taxa de deformação. Em taxas de deformação maiores, nota-se uma
inexpressiva variação nas tensões, insuficiente para diferenciá-las. Isto indica que
o processamento por API, nas condições utilizadas, não foi capaz de alterar a
consistência da goma do cajueiro, considerando que a viscosidade aparente (ƞa) é
diretamente proporcional à tensão de cisalhamento, ou seja, quanto maior a
tensão, maior a viscosidade aparente (Equação 2). Dessa forma, pode-se afirmar
que o aumento de pressão não alterou a viscosidade aparente da goma do
cajueiro.
Onde, ƞa é viscosidade aparente, σ é tensão de cisalhamento, n é índice
de comportamento ao fluxo, taxa de deformação e k é índice de consistência.
A Tabela 2 apresenta os resultados dos índices de consistência (k) e de
comportamento (n) da goma do cajueiro submetida a várias pressões de processo
(100, 200, 300, 400, 500 e 600 MPa) e sem processamento (controle) em pH 3,2 e
3,7.
De acordo com os resultados da Tabela 2, o aumento da pressão não
promoveu nenhuma alteração (p>0,05) nos valores de k para as amostras em pH
3,2 e nos valores de n para as amostras em pH 3,7. Em relação ao índice de
comportamento (n) para as amostras em pH 3,2, quando estas foram processadas
a 600 MPa, houve um aumento significativo (p≤0,05) que aproximou o
comportamento ao fluxo da solução de goma do cajueiro ao de um fluido
Newtoniano (n=1). Uma possível explicação para esse desempenho pode estar
relacionada a uma modificação estrutural do polímero para uma configuração mais
linear, pois substâncias lineares são mais facilmente alinhadas ao fluxo que as
não lineares, apresentando, assim, menor comportamento pseudoplástico (Porto
et al., 2015). Quanto ao índice de consistência (k) das amostras em pH 3,7, houve
uma redução significativa (p≤0,05) quando a solução de goma do cajueiro foi
95
processada a 600 MPa. Esse fenômeno também pode ser explicado devido a uma
possível modificação estrutural do polímero para uma configuração mais linear
(Laneuville et al., 2013).
Tabela 2. Índices de consistência (k) e de comportamento (n) da goma do cajueiro
(10% m/v) submetida a várias pressões de processo (100, 200, 300, 400, 500 e
600 MPa) e sem processamento (Controle) em pH 3,2 e 3,7.
Pressão de
processo (MPa)
(Pa.sn)
(adimensional) R²
pH 3,2
Controle 0.005 ± 0.000A 0.935 ± 0.006A 0.999
100 0.005 ± 0.000A 0.933 ± 0.006AB 0.999
200 0.005 ± 0.000A 0.935 ± 0.006AB 0.999
300 0.005 ± 0.000A 0.942 ± 0.002AB 0.999
400 0.005 ± 0.000A 0.937 ± 0.005AB 0.999
500 0.005 ± 0.000A 0.934 ± 0.002AB 0.999
600 0.004 ± 0.000A 0.944 ± 0.003B 0.999
pH 3,7
Controle 0.004 ± 0.000AB 0.956 ± 0.003A 0.999
100 0.004 ± 0.000AB 0.961 ± 0.005A 0.999
200 0.004 ± 0.000A 0.957 ± 0.004A 0.999
300 0.004 ± 0.000AB 0.958 ± 0.002A 0.999
400 0.004 ± 0.000AB 0.959 ± 0.004A 0.999
500 0.004 ± 0.000AB 0.958 ± 0.002A 0.999
600 0.004 ± 0.000B 0.964 ± 0.005A 0.999
*Letras iguais na mesma coluna para cada pH indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância
entre as diferentes pressões de processo.
96
Quando se compara a quantidade de estudos que avaliam o efeito da API
sobre proteínas com os que investigam esse fenômeno sobre os carboidratos, a
primeira é extensivamente maior, isto talvez se deva ao fato de que as proteínas
têm uma maior importância biológica e uma funcionalidade mais abrangente
quando comparadas aos carboidratos.
Apesar da goma xantana ser um polissacarídeo assim como a goma do
cajueiro, suas composições, tamanhos e estruturas são diferentes, enquanto a
primeira forma soluções muito consistentes em baixas concentrações (0,25% m/v)
(Ahmed; Ramaswamy, 2004), a goma do cajueiro produz soluções pouco
consistentes em altas concentrações (20% m/v) (Porto; Augusto; Cristianini, 2015).
Ahmed e Ramaswamy (2004) processaram soluções de goma xantana (0,25-1,25
%) por API (80-400 MPa) e também obtiveram um comportamento pseudoplástico,
mas com tensão inicial. O índice de consistência aumentou com o aumento da
pressão, já o índice de comportamento não foi alterado. Enquanto que, no
presente estudo, o aumento de pressão aumentou o índice de comportamento da
solução de goma do cajueiro em pH 3,2 e reduziu ligeiramente o índice de
consistência da solução de goma do cajueiro em pH 3,7.
Panteloglou et al. (2010) processaram solução de goma arábica (40%) em
diferentes pH a 800 MPa por 10 minutos e observaram que o processamento por
API foi capaz de alterar o comportamento reológico da goma melhorando ou
piorando a força do gel formado de acordo com o pH ajustado. Entretanto, como a
pressão utilizada foi superior ao do presente estudo, não é possível saber se em
pressões menores alguma alteração ocorreria com a goma arábica ou em
pressões maiores com a goma do cajueiro. Contudo, Ma et al. (2015a,b)
afirmaram que nenhuma alteração ocorreu quando eles processaram dispersões
de goma arábica (40% m/v) sob API na pressão de 400 MPa, porém conseguiram
alterações satisfatórias em relação às propriedades emulsificantes da goma
quando processaram a 800 MPa.
Guo et al. (2014) obtiveram pectinas com maior viscosidade aparente
quando extraídas sob API em referência a pectinas adquiridas por outros métodos
97
de extração como térmico e homogeneizador de alto cisalhamento, este
comportamento pode estar relacionado à massa molecular que também foi
superior para essas amostras.
Dessa forma, pode-se observar que o efeito da API sobre os
polissacarídeos vai depender da magnitude da pressão aplicada e da
estrutura/composição dos mesmos.
3.3.5 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)
A análise de DSC apresentou um termograma com picos largos, inerente
a amostras de natureza amorfa como a goma do cajueiro, onde três picos
endotérmicos foram identificados, dessolvatação, melting e decomposição
completa, assim como obtido por Okoyey et al. (2012). O mesmo perfil de
termograma foi encontrado para todas as amostras e somente a entalpia de
dessolvatação foi possível de ser medida; as demais apresentaram elevada
variação, impossibilitando uma análise comparativa adequada. A entalpia de
dessolvatação não variou (p>0,05) quando as amostras controle (pH 3,2 - 135,06
± 8,87 J/g, pH 3,7 – 134,37 ± 6,55 J/g), processadas a 100 MPa (pH 3,2 - 141,41 ±
5,77 J/g, pH 3,7 – 141,08 ± 9,03 J/g) e 600 MPa (pH 3,2 - 134,66 ± 8,02 J/g, pH
3,7 – 144,92 ± 6,67 J/g) foram comparadas, demonstrando que o processamento
por API não foi capaz de alterar as propriedades calorimétricas da goma do
cajueiro quanto a dessolvatação, característica que corresponde a liberação do
solvente presente na amostra.
Blaszczak et al. (2007a) processaram sob API (650 MPa por 9 min.)
soluções contendo 30 g de amido e 100 g de água e observaram que houve uma
redução na entalpia de melting nas amostras pressurizadas quando comparadas
as amostras controle.
A elevada resistência à modificação da goma do cajueiro em solução pode
estar relacionada a baixa concentração (20% m/v), a baixa pressão (máxima de
600 MPa) e ao pouco tempo de processo (10 min), visto que uma substância
altamente ramificada e que possui um complexo proteína-polissacarídeo (proteína-
98
arabinogalactana) tende a suportar melhor alterações físicas que as demais (Villay
et al., 2012).
3.4 Conclusões
A aplicação da alta pressão isostática (API) sobre soluções de goma do
cajueiro em diferentes pH, nas condições utilizadas no presente estudo, não
produziu modificações relevantes para a criação de uma goma com propriedades
diferenciadas. Contudo, os resultados foram favoráveis considerando que a goma
do cajueiro é um aditivo que possui aplicações na produção de alimentos. Sendo
assim, caso um alimento possua goma do cajueiro e seja submetido a API como
método de conservação nas condições apresentadas no presente trabalho, a
goma do cajueiro processada não descaracterizaria o produto final.
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103
Capítulo 4. Estudo comparativo do efeito da aplicação de alta pressão
isostática com aquecimento e da maturação controlada no exsudado bruto
do cajueiro
PORTO, B.C., TEREKHOV, A., HAMAKER, B. R., & CRISTIANINI, M.
Revista pretendida: Food Hydrocolloids
104
105
Estudo comparativo do efeito da aplicação de alta pressão isostática com
aquecimento e maturação controlada no exsudado bruto do cajueiro
Resumo
Os polissacarídeos são frequentemente modificados por processos físicos,
químicos e/ou bioquímicos. A tecnologia de alta pressão isostática (API) com ou
sem aquecimento e a maturação controlada são métodos físicos, em que o
primeiro usa o efeito da pressão e o segundo da temperatura como mecanismos
principais de alteração. O exsudado de plantas tem a capacidade de aumentar a
sua massa molecular naturalmente com o tempo, porém demanda anos. O
processo de maturação controlada surgiu com o objetivo de acelerar esse
processo. A partir disso, criou-se a ideia de verificar o uso da pressão juntamente
com o aquecimento com o intuito de conquistar resultado semelhante. Dessa
forma, o objetivo do presente capítulo foi avaliar o efeito da API com aquecimento
e da maturação controlada nas características químicas e físicas da goma do
cajueiro. O exsudado bruto do cajueiro foi modificado por API a 600 MPa por 6 e
12 h a 60 °C e por maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h. Posteriormente,
a goma do cajueiro foi isolada e analisada quanto à composição monossacarídica,
ligações entre os monossacarídeos, determinação da massa molecular,
comportamento ao fluxo e calorimetria diferencial de varredura. Os resultados
evidenciaram que tanto a API quanto a maturação controlada aumentaram a
massa molecular e reduziram a viscosidade aparente da goma do cajueiro. A API
reduziu o índice de consistência em 70%, já a maturação controlada em 30% (24
h) e 10% (48 h), porém esta última não promoveu diferença no índice de
comportamento ao fluxo. Enquanto que a API aproximou o comportamento ao
fluxo da goma do cajueiro ao de um fluido Newtoniano. Além disso, ambos os
processos reduziram a entalpia de melting em 19% (API) e 89-92% (maturação
controlada). Por fim, pode-se concluir que tanto a API com aquecimento quanto a
maturação controlada promoveram modificações físicas e químicas na goma do
cajueiro.
106
Palavras-chave: alta pressão hidrostática, alta pressão com aquecimento,
modificação física, caracterização estrutural.
107
A comparative study among the effect of application of heating isostatic
high-pressure and controlled maturation on raw exudate of cashew tree
Abstract
The polysaccharides are frequently modified by physical, chemical and/or
biochemical processes. The isostatic high-pressure technology (IHP) with or
without heating and controlled maturation are physical methods, where pressure
and temperature are the main mechanisms of alteration, respectively. Plant
exudate has the property to naturally increase its molecular weight by the time,
however, it takes a long time. The controlled maturation was made to accelerate
this process. So, the idea to verify the application of pressure and heating together
emerged with the same finality. Besides that, the aim of this chapter was evaluate
the effect of heating IHP and controlled maturation on chemical and physical
aspects of the cashew tree gum. The exudate was modified by IHP at 600 MPa
and 60 °C for 6 or 12 h, and it was modified by controlled maturation at 110 °C for
24 or 48 h. In sequence, the cashew tree gum was isolated and analyzed about: (i)
monosaccharide composition; (ii) linkage analysis; (iii) molecular weight; (iv) flow
behavior; and (v) differential scattering calorimetry. Both processes increased the
molecular weight reduced the apparent viscosity of the gum. The IHP decreased
the consistency index in 70% and the controlled maturation in 30% (process at 24
h) and 10% (process at 48 h), but it did not promote variation on flow behavior
index (n). While IHP approximated the n value to a Newtonian fluid. Both
processes reduced the melting enthalpy (19% to API and 89-92% to controlled
maturation). Finally, it can be concluded that both heating IHP and controlled
maturation produced physical and chemical modifications of cashew tree gum.
Keywords: hydrostatic high pressure, hot high pressure, physical modification,
structural characterization.
108
4.1 Introdução
A goma do cajueiro é um heteropolissacarídeo ácido ramificado obtido a
partir do exsudado bruto do cajueiro; solúvel em água em temperatura ambiente
(23-25 °C); e que produz soluções pouco consistentes mesmo quando presente na
concentração de 20% (m/v) (Porto; Augusto; Cristianini, 2015), possibilitando sua
utilização no aumento de sólidos totais de produtos alimentícios sem promover
grandes alterações na textura. Esse biopolímero surge como um novo produto
rentável para a cultura do cajueiro (Anacardium occidentale L.), a qual possui a
castanha de caju e o pedúnculo (caju) como produtos comerciais, principalmente
no período de entressafra. As aplicações atribuídas à goma do cajueiro são
vastas, podendo ser utilizada na fabricação de remédios, cosméticos e alimentos.
Dentre os alimentos têm-se: sorvete, cerveja, suco e vinho de caju (Lima et al.,
2002).
A goma do cajueiro possui uma estrutura ramificada, cuja distribuição de
massa molar em cromatografia de permeação em gel revelou dois picos
majoritários, 28000 e 67000 g/mol, e um pico com massa molar maior que 500000
g/mol, que foi atribuída ao complexo proteína-polissacarídeo (Paula et al., 1998).
Em termos de composição centesimal, a goma do cajueiro é composta
principalmente por carboidratos (97,7-98,3%) (Porto; Cristianini, 2014; Porto;
Augusto; Cristianini, 2015). Sua composição monossacarídica é composta
sobretudo de galactose (73,9%), glicose (12,9%), arabinose (4,3%), ramnose
(2,3%), fucose (1,6%), ácido glicurônico (1,3%) e ácido galacturônico (3,6%)
(Porto et al., 2015). Além dos carboidratos, a goma do cajueiro contém
aproximadamente 1% de proteína que possibilita seu uso como emulsificante
devido sua atividade superficial (Porto; Cristianini, 2014; Porto; Augusto;
Cristianini, 2015).
A fim de atingir uma ampla gama de funcionalidade, os polissacarídeos
são submetidos a diversos processos de modificação, sendo estes físicos,
químicos e/ou bioquímicos (Towle; Whistler, 1993). Alguns métodos físicos
utilizados na modificação de polissacarídeos são: alta pressão isostática (Mateos-
109
Aparicio et al., 2010; Panteloglou et al., 2010), maturação controlada (Al-Assaf et
al., 2007), ultrassom (Hou et al., 2016) e alta pressão dinâmica (Porto et al., 2015;
Yong, 2016).
A alta pressão isostática (API) é considerada uma tecnologia emergente
(He et al., 2016) e surgiu como um processo de pasteurização ou esterilização
não-térmico para a produção de alimentos. Os benefícios da utilização de pressão,
ao invés de calor visando a segurança microbiológica, estão relacionados à menor
modificação das características sensoriais e nutricionais dos alimentos (Butz;
Tauscher, 2002). O processamento por API é realizado em uma câmara na qual o
produto embalado é colocado e pressurizado com um fluido de baixa
compressibilidade, geralmente a água. Essa pressão é transmitida uniformemente
por todo o alimento no mesmo instante (Rasanayagam et al., 2003). Quando o
produto é líquido, este pode ser o próprio meio de pressurização que depois segue
para o acondicionamento em embalagens. Um equipamento de API permite o
controle da pressão, temperatura e tempo. Embora o método tenha surgido como
um processamento não térmico, muitas vezes, faz-se o uso de aquecimento
brando (50-70°C) como forma de otimizar os resultados (Kim; Iwahashi, 2015).
A maturação controlada é um processo patenteado que utiliza elevadas
temperaturas por um determinado período de tempo em condições controladas. O
processo é aplicado em um exsudado bruto de planta e visa a polimerização da
cadeia heteropolissacarídica, sobretudo, o aumento da fração proteína-
polissacarídeo, responsável por sua propriedade emulsificante. Até o momento,
esse processo só foi utilizado em exsudado de planta do gênero Acacia da qual é
obtida a goma arábica ou goma acácia (Al-Assaf et al., 2007) e em goma de fibra
de milho (Cirre et al. 2014). Em goma arábica, a maturação controlada intensifica
a união da fração proteica com os monossacarídeos arabinose e galactose,
formando o complexo proteína arabinogalactana, substância que atribui
capacidade emulsificante a mesma (Al-Assaf et al., 2007).
Sabendo que a goma do cajueiro também é proveniente de um exsudado de
planta e que possui os monossacarídeos arabinose e galactose, além de fração
proteica, surgiu a ideia de investigar o processo de maturação controlada na goma
110
do cajueiro. Ademais, a aplicação da pressão favorece a ocorrência de reações
químicas e bioquímicas, então, o uso da API unida ao aquecimento, também pode
ser uma opção interessante na formação desse complexo proteína-polissacarídeo.
Dessa forma, o objetivo do presente capítulo foi avaliar o efeito da API com
aquecimento e da maturação controlada nas características químicas e físicas da
goma do cajueiro.
4.2 Material e Métodos
As etapas de isolamento e processamento da goma do cajueiro, juntamente
com a determinação do seu comportamento reológico, foram realizadas no
Laboratório de Tecnologias Emergentes (LATEM/UNICAMP – Brasil). A liofilização
das amostras e o processo de modificação por maturação controlada foram
conduzidos no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA/UNICAMP
– Brasil). As análises de composição e ligação entre os monossacarídeos, e
determinação da massa molecular foram executadas no Whistler Center for
Carbohydrate Research (Purdue University – EUA). Por fim, a análise de
calorimetria diferencial de varredura (DSC) foi realizada no Laboratório de Cereais
(UNICAMP – Brasil).
4.2.1 Material
O exsudado bruto do cajueiro foi doado pela Embrapa Agroindústria
Tropical – Ceará. Álcool etílico 96 °GL foi utilizado na etapa de isolamento da
goma. Todos os reagentes utilizados para as análises de composição e ligação
entre monossacarídeos foram de padrão analítico para métodos cromatográficos.
4.2.2 Preparo do exsudado bruto para processamento
Para que as modificações físicas: alta pressão isostática com aquecimento
e maturação controlada fossem aplicadas de forma adequada, necessitou-se
desfavorecer reações que evitam a formação do complexo proteína-polissacarídeo
111
como a reação de Maillard, que utiliza grupo amino e açúcar redutor, e a
caramelização que utiliza mono e dissacarídeos que sob aquecimento geram
compostos escuros denominados melanoidinas. Sendo assim, as amostras foram
submetidas a uma etapa prévia de redução de tamanho e secagem, para retirada
da água.
Primeiramente, as partículas do exsudado bruto do cajueiro foram
colocadas em um pote de polietileno tereftalato com tampa e agitadas
manualmente para redução de tamanho. Em seguida, o exsudado foi peneirado
em peneiras de 3,5 mesh (5,66 mm) e 10 mesh (2 mm) (Figura 1). O material
utilizado para os processos de modificação foi o retentado da peneira de 10 mesh
e peneirado na peneira de 3,5 mesh, ou seja, compreendeu a faixa de tamanho de
2 a 5,66 mm. Posteriormente, o exsudado foi seco em estufa com circulação de ar
forçado a 60 ºC por 23 h (tempo em que as amostras, n=30, apresentaram massa
constante) (Figura 2). A perda de água nas amostras foi em torno de 2,65 ±
0,08%.
Figura 1. Partículas do exsudado bruto do cajueiro reduzido de tamanho: (A)
retentado de exsudado com tamanho superior a 5,66 mm; (B) retentado de
exsudado com tamanho de 2 a 5,66 mm (matéria-prima usada para o processo de
modificação); (C) peneirado de exsudado com partículas inferiores a 2 mm.
112
Figura 2. Partículas do exsudado bruto do cajueiro com tamanhos de 2 a 5,66 mm
em processo de secagem anterior ao processamento por API e maturação
controlada.
4.2.3 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento
O processamento por alta pressão isostática (API) consiste em colocar a
amostra em uma câmara de pressurização e preenchê-la com um líquido, que irá
ocupar todos os espaços vazios da câmara e servirá como meio de pressurização.
Geralmente esse líquido é a água e, por isso, esse processo é amplamente
conhecido como alta pressão hidrostática. O equipamento utilizado (Avure
Technologies, EUA) tem capacidade máxima de 700 MPa e atua sob temperaturas
de refrigeração e aquecimento.
Primeiramente, as amostras de exsudado bruto com partículas com
tamanho de 2 a 5,66 mm foram acondicionadas em embalagens plásticas flexíveis
(LDPE-Nylon-LDPE, 16 µm de espessura – TecMaq, Brasil) a vácuo (Figura 3) e
posteriormente processadas em equipamento de API a 60 °C, 600 MPa por 6 h
113
(condição 1) ou 12 h (condição 2). Após esse tempo, a goma do cajueiro foi
isolada conforme metodologia descrita na seção 4.2.5.
Figura 3. Amostras de exsudado bruto do cajueiro utilizadas para modificação por
API com aquecimento a 600 MPa, 60 °C por 6 h.
4.2.4 Processamento por maturação controlada
As amostras de exsudado bruto do cajueiro com tamanho de 2 a 5,66 mm
foram acondicionadas em bandejas de alumínio e colocadas em estufa a 110 ºC
por 24 h (condição 1) e 48 h (condição 2). Após esse tempo, a goma do cajueiro
foi isolada conforme metodologia descrita na seção 4.2.5.
4.2.5 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro
Primeiramente, o exsudado bruto do cajueiro foi dissolvido em água
destilada na concentração de 10% (m/m), a temperatura ambiente de
aproximadamente 23 ºC, sob agitação em agitador magnético por 24 h.
Após dissolução, a solução foi filtrada em peneira com aberturas de
aproximadamente 1 mm², o filtrado foi centrifugado a 15.317 x g por 10 min a 10
°C em centrífuga AllegraTM 25R (Beckman CoulterTM, EUA) com a finalidade de
remover pequenas impurezas que não foram retiradas durante a filtração. O
sobrenadante foi precipitado em etanol 96 °GL a 16 °C na proporção de 2:3
(solução de goma:etanol). Em seguida, foi realizada uma nova centrifugação e o
sobrenadante descartado. O precipitado foi disposto em bandejas de alumínio e
114
submetido a secagem em estufa com circulação de ar forçado (Nova Ética, Brasil)
a 50 °C por 24 h. Após a secagem, a goma foi moída em moinho A11 Basic
(IKATM, Alemanha) para obtenção do pó.
4.2.6 Cromatografia de exclusão de tamanho
A determinação da massa molecular foi realizada por cromatografia de
exclusão de tamanho com detecção de índice refrativo. Pululanas (Polymer
Laboratories, Reino Unido) com massas moleculares de 11880, 22800, 112000 e
212000 Da foram usadas como padrões analíticos para obtenção da curva de
calibração com R² = 0,9933 (Figura 4).
Figura 4. Curva de calibração para determinação da massa molecular das
amostras de goma do cajueiro processada por alta pressão isostática com
aquecimento e maturação controlada, e sem processamento.
Soluções de goma do cajueiro modificada e sem modificação, e dos
padrões analíticos foram preparadas em 0,1 M NaCl (0,3%, m/v) sob agitação
magnética a temperatura ambiente (aproximadamente 23 °C) até completa
solubilização. Posteriormente, as soluções foram mantidas a 6 °C por 24 h para
inteira hidratação. A fase eluente consistiu de uma solução 0,1 M de NaCl em
água destilada desgaseificada. Todas as soluções foram filtradas em membranas
115
de filtro com 0,45 µm de abertura para remover agregados e reduzir o bloqueio da
coluna e do detector (Kravtchenko et al., 1992). As amostras foram injetadas (100
μL, 0,4 mL/min.) a 35 °C em um sistema cromatográfico de exclusão de tamanho
(Agilent Technologies 1260 infinity, EUA) usando uma coluna Superdex 200 (faixa
de separação MM = 1 x 103 - 1 x 105 para dextranas e MM = 1 x 104 – 6 x 105 para
proteínas globulares) (GE Healthcare Life Sciences, EUA). As amostras foram
analisadas em duplicata. Os dados foram obtidos através do Software Openlab
CDS ChemStation edition para sistemas LC & LC/MS (Agilent Technologies,
EUA).
4.2.7 Determinação da composição de monossacarídeos e ligações entre
estes
A determinação da composição de monossacarídeos neutros foi obtida
conforme método alditol acetato descrito por Pettolino et al. (2012). O método
utilizado para determinação dos monossacarídeos ácidos, TMS - trimethylsilyl
methylglycosides, foi descrito por York et al. (1986). A análise das ligações entre
os monossacarídeos foi realizada adicionando uma etapa de metilação antes da
hidrólise no método de determinação dos açúcares neutros, conforme descrito por
Pettolino et al. (2012).
Os monossacarídeos parcialmente metilados e acetilados constituintes da
goma do cajueiro foram quantificados por cromatografia gasosa em cromatógrafo
com detector de ionização de chama acoplado a um detector de espectrometria de
massas (Agilent Technologies, EUA). A coluna capilar utilizada foi SP-2330
(Supelco, EUA). O gás de arraste utilizado foi hélio na velocidade de 1,9 m/s. O
volume de injeção da amostra foi 2 µL com divisão de fluxo de 1:20. O injetor foi
operado a 240 °C e o detector a 300 °C. A temperatura inicial do forno foi de 100
°C por 2 min, posteriormente, houve uma taxa de aquecimento de 8 °C por min,
até atingir a temperatura de 240 °C onde permaneceu por 20 min. A composição
de monossacarídeos ácidos urônicos foi quantificada em um cromatógrafo gasoso
com detector de chamas Agilent 6890 (Agilent Technologies, EUA) equipado com
uma coluna capilar DB-5, nas seguintes condições: temperatura inicial do forno de
116
160 °C por 3 min, seguido por uma taxa de aquecimento de 3 °C por min até
atingir 260 °C, sendo mantido a essa temperatura por 15 min. A temperatura do
injetor foi de 240 °C, temperatura do detector 300 °C e velocidade de fluxo de 1
mL/min. Para a determinação das ligações entre os monossacarídeos, considerou-
se a base de resposta de carbono efetivo descrito por Sweet, Shapiro e
Albersheim (1975). As análises de determinação dos monossacarídeos presentes
na goma do cajueiro e das ligações entre esses foram realizadas em triplicata.
4.2.8 Reologia
Soluções de goma do cajueiro processada por API com aquecimento e
maturação controlada, e sem processamento em água destilada (20 mL, 10% m/v)
foram preparadas em tubos de ensaio com capacidade para 50 mL e mantidas em
banho-maria a 60 °C por 4 h, os tubos contendo as amostras foram agitados em
vortex modelo 771 (Fisatom, Brasil) por 1 min e mantidos em banho-maria por
mais 2 h para que houvesse a máxima solubilização da goma. Posteriormente, as
suspensões foram mantidas a 6 °C até o dia seguinte para completa hidratação da
goma. Antes de serem avaliadas, as amostras foram agitadas em vortex por 5 s e
uma quantidade suficiente da solução foi adicionada ao equipamento para análise,
bolhas de ar incorporadas à amostra foram cuidadosamente retiradas com auxílio
de uma pipeta Pasteur.
Curvas de fluxo de tensão de cisalhamento (σ) x taxa de deformação ( )
foram obtidas utilizando um reômetro com tensão controlada AR2000ex (TA
Instruments, EUA) com a finalidade de caracterizar o comportamento reológico
das gomas processadas.
Para os ensaios foi utilizada a geometria cone-placa com 2° de inclinação
e 6 cm de diâmetro de base e temperatura de 25 °C mantida através do sistema
Peltier. Os ensaios de fluxo foram realizados com curvas descendentes
escalonadas de 300 a 0,1 s-1 a fim de garantir o estado estacionário. As análises
foram executadas em duplicata.
117
4.2.9 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)
A análise calorimétrica das amostras modificadas e controle foi realizada
em um equipamento DSC (TA Instruments, 060 WS, Thermal Analyzer, Shimadzu,
Japão). Os cadinhos de alumínio (Sinc do Brasil Ltda, Brasil) foram colocados em
balança analítica, as amostras foram pesadas (5 mg), tampadas, fechadas em
prensa (Shimadzu, Japão) e analisadas.
A temperatura inicial de aquecimento foi de 30 °C, a taxa de aquecimento
de 10 °C por min até atingir a temperatura de 400 °C, onde permaneceu por 1 min.
Utilizou-se uma atmosfera de nitrogênio a uma vazão de 30 mL/min. A massa foi
corrigida em relação a umidade presente na amostra. As análises foram realizadas
em duplicata.
4.2.10 Análises estatísticas
As similaridades e diferenças entre os dados obtidos nas repetições dos
processos e dos diferentes tratamentos foram observadas por Análise de
Variância (ANOVA) e teste de médias de Tukey com o programa Statistica® 7
(Statsoft, EUA).
4.3 Resultados e Discussão
Nas seções a seguir, estão apresentados os resultados das análises
descritas na metodologia.
4.3.1 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento
Os perfis de temperatura x tempo do processamento por alta pressão
isostática (API) com aquecimento do exsudado bruto do cajueiro submetido a
pressão de 600 MPa por 6 e 12 h estão apresentados na Figura 5.
118
Figura 5. Perfil temperatura x tempo do processamento de alta pressão isostática
(API) com aquecimento nos tempos 6 (amostra 6 h) e 12 h (amostra 12 h) a 600
MPa.
A temperatura de 60 °C apresentou pequenas variações durante o
processamento. Isso pode estar relacionado à manutenção da pressão, em que o
equipamento necessita ficar continuamente bombeando água provocando
variações de temperatura.
4.3.2 Cromatografia de exclusão de tamanho
Os cromatogramas da análise de exclusão de tamanho para a amostra
controle e amostra processada por API com aquecimento por 12 h estão
apresentados na Figura 6.
Conforme pode ser visualizado na Figura 6, tanto a amostra controle (A)
quanto a amostra processada por API por 12 h (B) apresentaram 4 picos em
tempos distintos, sinalizando que a goma do cajueiro é composta por uma mistura
de polissacarídeos/heteropolissacarídeos de diferentes tamanhos. As frações
maiores são identificadas primeiro e as menores por último.
119
Figura 6. Cromatogramas das amostras controle (A) e processada por alta
pressão isostática (API) com aquecimento por 12 h (B).
O modelo obtido na curva de calibração somente permitiu obter a massa
molecular das frações evidenciadas nos picos 2 e 3, cujos valores estão
apresentados na Tabela 1, pois os demais tinham tamanhos superior ou inferior
aos padrões de pululanas utilizados. Comparando esses resultados, pode-se
observar que não houve variação no tamanho das frações do pico 3 (p>0,05).
Contudo, houve um aumento (p≤0,05) na massa molecular da fração do pico 2
quando o exsudado do cajueiro foi processado tanto por API isostática quanto por
maturação controlada, não havendo diferença (p>0,05) entre os processos. Isso
também pode ser evidenciado na Figura 6, o pico 2 surge antes na amostra
processada por API (Figura 6-B) do que para a amostra controle (Figura 6-A),
indicando maior massa molecular.
Al-Assaf et al. (2009) já haviam demonstrado que o processo de
maturação controlada foi capaz de aumentar a massa molecular da goma arábica
e destacaram o aumento não inferior a 17% da fração proteína arabinogalactana
(PAG), complexo proteína-polissacarídeo responsável pela propriedade
emulsificante da goma. O complexo proteína-polissacarídeo da goma do cajueiro
120
corresponde ao pico 1 do cromatograma da Figura 6 de acordo com Paula et al.,
(1998). Entretanto, este não pode ser analisado, pois estava fora dos extremos do
modelo obtido com a curva de calibração. Esse aumento da massa molecular da
goma arábica foi atribuído ao favorecimento de ligações entre monossacarídeos
(arabinose e galactose) produzindo dissacarídeos (arabinogalactana) e junção
destes com fragmentos proteicos (Al-Assaf et al., 2009).
Tabela 1. Massa molecular (Da) e ligações entre monossacarídeos (%mol) das
amostras de goma do cajueiro processadas por API com aquecimento a 600 MPa
por 6 e 12 h e maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h.
Massa molecular (Da)
Controle
Alta pressão isostática Maturação controlada
6 h 12 h 24 h 48 h
Pico 2 4,34 x 104 A 4,38 x 104 B 4,38 x 104 B 4,38 x 104 B 4,37 x 104 AB
Pico 3 2,08 x 104 A 2,07 x 104 A 2,07 x 104 A 2,05 x 104 A 2,05 x 104 A
Ligações entre monossacarídeos (% mol)
Controle
Alta pressão isostática Maturação controlada
6 h 12 h 24 h 48 h
Terminal-L-arabinofuranosil
→ 2,74 ± 0,53A 2,34 ± 0,19A 1,95 ± 0,07A 2,34 ± 0,37A 2,81 ± 0,38A
1→2-L-arabinofuranosil
0,39 ± 0,06A 0,96 ± 0,18B 1,08 ± 0,10B 0,82 ± 0,14B 0,73 ± 0,14AB
1→3-L-arabinofuranosil
1,12 ± 0,05A 0,95 ± 0,15AB 1,23 ± 0,10A 1,09 ± 0,12A 0,71 ± 0,08B
Terminal-D-glucopiranosil→
12,93 ± 0,96A 5,74 ± 0,68BC 6,67 ± 0,07B 11,21 ± 1,24A 4,00 ± 0,81C
1→3-D-glucopiranosil
ND* 7,20** 6,26** 1,72 ± 0,17 8,92**
121
Terminal-D-galactopiranosil
→ 15,53 ± 0,12A 15,60 ± 1,37A 15,27 ± 0,46A 12,06 ± 0,93B 11,58 ± 0,47B
1→3-D-galactopiranosil
6,50 ± 0,74A 6,68 ± 0,93A 7,84 ± 1,03A 6,16 ± 1,22A 6,34 ± 1,22A
1→4-D-galactopiranosil
9,04 ± 0,87ABC 10,44 ± 1,04BC 10,74 ± 0,96C 8,38 ± 0,28AB 8,23 ± 0,54A
1→6-D-galactopiranosil
20,63 ± 2,77A 18,75 ± 1,21A 16,94 ± 1,20A 29,55 ± 2,46B 31,43 ± 1,02B
1→3,6-D-galactopiranosil
22,21 ± 0,96A 22,44 ± 1,39A 23,12 ± 0,72A 17,75 ± 0,26B 16,50 ± 1,08B
2,3,4→6-deoxi-manopiranosil
2,31 ± 0,34 2,31** 2,31** ND* ND*
Guo et al. (2015) utilizaram três diferentes métodos para extração de
pectina (API, homogeneizador de alto cisalhamento e extração térmica tradicional)
e obtiveram pectinas de diferentes massas moleculares. A extração por API
produziu amostras de pectinas com maior massa molecular. Contudo, os autores
não mencionaram se isso ocorreu devido a um aumento da cadeia polimérica
decorrente do processo, o que estaria em acordo com o presente trabalho, ou a
uma seleção de substâncias pécticas de maior massa.
Entretanto, Guo et al. (2015) avaliaram o efeito da API sobre as
características estruturais e físico-químicas de amido extraído da semente de lótus
e observou um decréscimo na sua massa molecular conforme aumentou a
pressão de 0 a 600 MPa, porém o diâmetro dos grânulos de amido aumentou.
A composição monossacarídica e os tipos de ligações entre
monossacarídeos presentes nas amostras controle, processada por API com
aquecimento por 6 e 12 h, e processada por maturação controlada a 110 °C por
24 e 48 h também estão apresentados na Tabela 1.
A quantidade dos monossacarídeos presentes na goma do cajueiro foram
73,9 mol% de galactose, 12,93 mol% de glicose, 4,25 mol% de arabinose, 2,31
mol% de ramnose, 1,59 mol% de fucose, 1,31 mol% de ácido glicurônico e 3,59
122
mol% de ácido galacturônico. Foram consideradas substâncias traços na goma do
cajueiro o ácido galacturônico, o ácido glicurônico e a fucose por somente estar
presente em 3,59% de uma amostra da triplicata e estarem em concentração
inferior a 2%, respectivamente.
A galactose, principal açúcar presente na goma do cajueiro, apresentou
cinco diferentes tipos de ligações, sendo as ligações 1→6 e 1→3,6 as mais
encontradas (Tabela 1). A glicose foi o segundo açúcar mais frequente na goma
do cajueiro, sendo em sua totalidade identificado na(s) posição(ões) terminal(is)
da(s) cadeia(s). A ligação terminal também foi a mais encontrada para arabinose
em todas as amostras, mas esta também se apresentou com ligações 1→2 e
1→3. Enquanto que para ramnose (deoxy-L-mannopiranosil), a ligação mais
encontrada foi 2,3,4→6.
Ambos os processos (API e maturação controlada) promoveram um
aumento na concentração da ligação 1→2 da arabinose e uma redução na ligação
terminal da glicose. Contudo, foi o processo de maturação controlada que mais
promoveu modificação na estrutura da goma, pois reduziu a concentração das
ligações terminal e 1→3,6 da galactose e aumentou o número de ligações 1→6
(Tabela 1).
Ma e Mu (2016) processaram fibra de cominho desengordurada por API a
200 MPa por 25 e 15 min a 30 e 50°C e observaram que a API aumentou a
quantidade dos açúcares ramnose, arabinose, xilose, ácido galacturônico e ácido
glicurônico e reduziu o teor de glicose, quando esta foi comparada com a amostra
não processada. Essa redução na concentração de glicose esteve em acordo com
o obtido no presente estudo.
4.3.3. Reologia
A Figura 7 apresenta as curvas de fluxo obtidas para a goma do cajueiro
não processada (controle) e processada por API a 600 MPa com aquecimento a
60 °C por 6 e 12 h, e por maturação controlada a 110 °C durante 24 e 48 h na
concentração de 10% (m/v) e nas taxas de deformação ( ) de 0,1 a 300 s-1.
123
* Os pontos representam as médias dos resultados obtidos e as barras verticais indicam o desvio padrão de cada valor.
Figura 7. Comportamento ao fluxo (25 °C) de soluções de goma do cajueiro (10%
m/v) não processada (Controle), processadas por API na pressão de 600 MPa
com aquecimento (60 °C) por 6 h (API 6 h) e 12 h (API 12 h) e processadas por
maturação controlada a 110 °C durante 24 h (Maturação 24 h) e 48 h (Maturação
48 h). σ e são tensão de cisalhamento e taxa de deformação, respectivamente.
Houve um aumento das medidas de tensão de cisalhamento (σ) com o
aumento da taxa de deformação ( ) para todas as soluções de goma (Figura 7). O
aumento não linear caracterizou o comportamento ao fluxo das soluções de goma
do cajueiro controle e processadas como fluidos pseudoplásticos sem tensão
inicial. Dessa forma, utilizou-se o modelo da Lei da Potência (Ostwald-de-Waele)
(Equação 1) para explicar tais comportamentos.
Onde, k é o índice de consistência, n o índice de comportamento ao fluxo,
σ é a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação.
124
Ainda, analisando a Figura 7, observa-se que as tensões de cisalhamento
nas amostras processadas foram inferiores ao da amostra controle considerando
uma mesma taxa de deformação. A redução da tensão ocorre, provavelmente, ao
fato da goma sofrer alteração em sua conformação (Porto et al., 2015).
Considerando que a viscosidade aparente (ɳa) é diretamente proporcional à
tensão de cisalhamento, ou seja, quanto maior a tensão, maior a viscosidade
aparente (Equação 2), pode-se afirmar que as amostras que apresentaram menor
viscosidade aparente foram as amostras processadas por API, não diferenciando
as amostras de 6 e 12 h. Sendo assim, o uso de 6 h no processo de modificação
seria mais apropriado, pois além de causar o mesmo efeito, há um menor gasto de
energia, menor desgaste de equipamento e menor tempo de processo.
Onde, ƞa é viscosidade aparente, σ é tensão de cisalhamento, n é índice
de comportamento ao fluxo, taxa de deformação e k é índice de consistência.
A reduzida viscosidade aparente de hidrocolóides em altas concentrações,
muitas vezes, é uma característica apreciada pela indústria de alimentos.
Primeiramente, por permitir a produção de soluções com elevados teores de
sólidos totais sem dificultar e encarecer o processo de bombeamento ou modificar
consideravelmente a textura dos produtos. Segundo por poder facilitar a
mobilidade da goma do cajueiro, como agente emulsificante, até a interface óleo-
água, produzindo emulsões com menores tamanhos de gotículas de óleo e,
consequentemente, mais estáveis (Porto; Cristianini, 2014).
A Tabela 2 apresenta os resultados dos índices de consistência (k) e de
comportamento do fluxo (n) da goma do cajueiro (10% m/v) controle (sem
processamento), processada por API a 600 MPa (60 °C) por 6 (API 6 h) e 12 h
(API 12 h) e processada por maturação controlada a 110 °C por 24 (Maturação 24
h) e 48 h (maturação 48 h).
125
Tabela 2. Índices de consistência (k) e de comportamento ao fluxo (n) da goma do
cajueiro (10% m/v) controle (sem processamento), processada por API a 600 MPa
com aquecimento a 60 °C por 6 h (API 6 h) e 12 h (API 12 h), e processada por
maturação controlada a 110 °C por 24 h (Mat 24 h) e 48 h (Mat 48 h).
Parâmetros
reológicos
Processos de modificação
Controle API 6 h API 12 h Mat 24 h Mat 48 h
k 0,010 ±
0,000A
0,003 ±
0,000B
0,003 ±
0,000B
0,007 ±
0,000C
0,009 ±
0,000D
n 0,873 ±
0,001AC
0,966 ±
0,013B
0,968 ±
0,007B
0,885 ±
0,002C
0,860 ±
0,003A
R2 0,999 0,999 0,999 0,999 0,999
*Letras iguais na mesma linha indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância entre os diferentes
processos.
De acordo com os resultados da Tabela 2, o processamento por API
promoveu uma redução no índice de consistência de 70% (p≤0,05), não se
diferenciando os processos de 6 e 12 h (p>0,05). Enquanto que o processamento
por maturação controlada reduziu o valor de k em 30% (maturação controlada 24
h) e em 10% (maturação controlada 48 h) (p≤0,05). Já para os resultados de
índice de comportamento ao fluxo, o processo de maturação controlada não
promoveu diferença nos valores de n quando comparado à amostra controle
(p>0,05). Enquanto que o processo por API promoveu uma solução de goma do
cajueiro com comportamento mais próximo ao de um fluido Newtoniano (n=1)
(p≤0,05), não havendo diferença entre as amostras processadas por 6 h (n=0,966)
e 12 h (n=0,968). Uma possível explicação para a maior semelhança das amostras
processadas por API com um fluido Newtoniano pode estar relacionada a uma
modificação estrutural do polímero para uma configuração mais linear, pois
substâncias lineares são mais facilmente alinhadas ao fluxo que as não lineares,
apresentando, assim, menor comportamento pseudoplástico (Porto et al., 2015). A
126
mesma razão anterior pode ser aplicada para explicar o menor índice de
consistências das amostras processadas por API (Laneuville et al., 2013).
Ahmed e Ramaswamy (2004) submeteram soluções de goma xantana
(0,25-1,25 %) ao processamento por API. As pressões variaram de 80 a 400 MPa
com um aumento de 80 MPa por um tempo de residência de 30 min. Os autores
também observaram um comportamento pseudoplástico nas soluções de goma,
mas com tensão inicial. O índice de comportamento não variou com o aumento da
pressão, mas houve um aumento no índice de consistência. Enquanto que para o
presente estudo, houve um efeito contrário, o processo de API a 600 MPa reduziu
o índice de consistência.
Panteloglou et al. (2010) submeteram uma solução de goma arábica
(40%) a 800 MPa por 10 minutos sob diferentes pH e observaram uma alteração
positiva ou negativa no comportamento reológico da goma dependendo do pH.
Contudo, os ensaios realizados foram de viscoelasticidade para comparar a força
do gel formado com goma arábica, não servindo para efeito comparativo com o
comportamento ao fluxo da goma do cajueiro do presente estudo.
Guo et al. (2014) obtiveram pectinas com maior viscosidade aparente
quando extraídas sob API em relação a pectinas adquiridas por outros métodos de
extração como térmico e homogeneizador de alto cisalhamento, este
comportamento pode estar relacionado à massa molecular que também foi
superior para essas amostras. Embora a massa molecular da goma do cajueiro
também tenha sido superior quando processada por API, a sua viscosidade
aparente foi inferior. Isto pode ser explicado pelo fato da goma do cajueiro ter
possivelmente se apresentado com uma estrutura mais linear, facilitando seu
alinhamento, conforme dito anteriormente.
Quanto ao processamento por maturação controlada, Li et al. (2009)
compararam o comportamento ao fluxo de soluções de goma arábica com
diferentes concentrações de água e adicionadas de ureia (6 M) sem
processamento e processada por maturação controlada e observaram que a
presença de ureia não influenciou no comportamento ao fluxo da goma maturada
como influenciou a goma controle. Este comportamento foi atribuído a maior
127
compactação da goma maturada. Entretanto, nada foi mencionado se as amostras
apresentaram viscosidade aparente diferentes para que pudessem ser
comparadas com o presente estudo, embora de acordo com as figuras presentes
no trabalho pareça não haver diferenças entre as amostras.
Cirre et al. (2014) avaliaram o comportamento ao fluxo de soluções de
goma de fibra de milho desengordurada e sem amido processada por maturação
controlada e sem processamento, e constataram que a goma maturada
apresentou viscosidade aparente muito superior a goma sem tratamento. Uma
explicação para os comportamentos diferentes entre a goma do cajueiro e goma
arábica em relação a goma da fibra de milho, é que o preparo das amostras foi
diferente. Enquanto que o processo por API para a goma do cajueiro e goma
arábica foi realizado no exsudado bruto de planta, na goma de fibra de milho o
tratamento ocorreu na amostra isolada. Além disso, a goma arábica, assim como a
goma do cajueiro, possui estruturas moleculares mais globulares e compactas, as
quais as tornam mais resistentes a processos de modificação (Villay et al., 2012).
4.3.4 Calorimetria diferencial de varredura (DSC)
Os termogramas da análise de DSC apresentaram picos largos, inerentes
de amostras amorfas como a goma do cajueiro, onde três picos endotérmicos
foram identificados, dessolvatação, melting e decomposição completa (Figura 8), o
que está em acordo com o observado por Okoyey et al. (2012). O mesmo perfil de
termograma foi encontrado para todas as amostras. Os resultados dos picos
endotérmicos de dessolvatação, melting e decomposição estão apresentados na
Tabela 3. Somente a entalpia de dessolvatação foi possível de ser medida nas
amostras processadas por API 12 h; as demais apresentaram elevada variação,
impossibilitando uma análise de resultados adequada, sendo assim, a amostra
API 12 h foi suprimida.
128
Figura 8. Termogramas: Controle (goma não processada); API 6 h (goma do
cajueiro processada por alta pressão isostática na pressão de 600 MPa a 60 °C
durante 6 h); Maturação 24 h (goma do cajueiro processada por maturação
controlada a 110 °C durante 24 h); Maturação 48 h (goma do cajueiro processada
por maturação controlada a 110 °C durante 48 h).
Tabela 3. Entalpias de dessolvatação, melting e decomposição completa da goma
do cajueiro controle (sem processamento), processada por API 6 h a 60 °C e por
maturação controlada a 110 °C por 24 e 48 h.
Amostras
Entalpia (J/g)
Dessolvatação Melting Decomposição
completa
Controle 136,31 ± 7,55A 2,84 ± 0,24A 12,08 ± 1,45A
API 6 h 132,09 ± 12,07A 2,30 ± 0,23B 20,51 ± 2,66B
Maturação 24 h 130,32 ± 10,82A 0,31 ± 0,06C 13,01 ± 2,39A
Maturação 48 h 135,24 ± 4,54A 0,24 ± 0,04C 5,88 ± 0,65C
*Letras iguais na mesma coluna indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância entre os
diferentes processos.
129
A partir da Tabela 3, a entalpia de dessolvatação não variou (p>0,05) para
nenhuma das amostras controle e processadas, demonstrando que os
processamentos por API e por maturação não foram capazes de alterar as
propriedades calorimétricas da goma do cajueiro quanto a dessolvatação. Para a
entalpia de melting houve uma redução de 19% quando a amostra foi processada
por API 6 h em comparação a amostra controle. Já quando a amostra foi
processada por maturação controlada durante 24 e 48 h, houve uma redução na
temperatura de melting de 89 e 92%, respectivamente, em relação a amostra
controle. Contudo, o comportamento mais distinto ocorreu na entalpia de
decomposição completa. Enquanto que a API promoveu um aumento na entalpia
de decomposição completa da goma do cajueiro de 70%, a maturação controlada
48 h reduziu a entalpia de decomposição em 51% quando comparada à amostra
controle. Esse resultado demonstra que a API preserva mais a molécula do que o
processo de maturação controlada, devido a uma necessidade maior de energia
para que a degradação ocorra.
Blaszczak et al. (2007) processaram sob API (650 MPa por 9 min.)
soluções contendo 30 g de amido e 100 g de água e observaram que houve uma
redução na entalpia de melting nas amostras pressurizadas quando comparadas
as amostras controle, o que está em acordo com o presente estudo. No entanto,
nenhum estudo foi encontrado que avaliasse o efeito da maturação controlada nas
propriedades calorimétricas de outros hidrocoloides.
4.4 Conclusões
Os processamentos físicos por alta pressão isostática (API) com
aquecimento e maturação controlada promoveram modificações químicas e físicas
na goma do cajueiro. Ambos os processos aumentaram a concentração da ligação
1→2 da arabinose, reduziram a ligação terminal da glicose, promoveram um
ligeiro aumento na massa molecular da goma do cajueiro, além de reduzirem sua
viscosidade aparente e sua entalpia de melting. Além disso, a maturação
controlada reduziu a concentração das ligações terminal e 1→3,6 da galactose,
aumentou o número de ligações 1→6 e reduziu a entalpia de decomposição
130
completa da goma do cajueiro. Enquanto que a API aumentou sua entalpia de
decomposição completa. O aumento da massa molecular da goma do cajueiro e a
redução na consistência de suas soluções em água promovidos pelas
modificações por API e maturação controlada podem ser características positivas
para a sua propriedade emulsificante e encapsulante por promoverem maior
repulsão estérica (maior massa molecular) e aumento da difusividade da goma até
a interface óleo-água.
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135
Capítulo 5. Efeito da alta pressão isostática com aquecimento e da
maturação controlada nas propriedades emulsificantes e encapsulantes da
goma do cajueiro
PORTO, B.C. & CRISTIANINI, M.
Revista pretendida: Food Hydrocolloids
136
Efeito da alta pressão isostática com aquecimento e da maturação
controlada nas propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do
cajueiro
RESUMO
Diversas tecnologias vêm sendo estudadas com a finalidade de melhorar as
características tecnológicas dos polissacarídeos como suas propriedades
emulsificantes e encapsulantes. Dentre essas tecnologias, têm-se a alta pressão
isostática (API) com aquecimento e a maturação controlada. Enquanto a API
utiliza a pressão como principal responsável pelas alterações promovidas nos
polissacarídeos, a maturação controlada usa altas temperaturas por um longo
tempo (24-48 h). Até o momento, nenhuma dessas tecnologias tinham sido
testadas na goma do cajueiro e pouquíssimos estudos as abordam em qualquer
outro polissacarídeo. Dessa forma, o objetivo do presente capítulo foi avaliar o
efeito da API com aquecimento e da maturação controlada nas propriedades
emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro. Para tais avaliações, as
propriedades emulsificantes foram avaliadas quanto ao tamanho e distribuição de
tamanho (DTP) das gotículas de óleo, potencial zeta, condutividade elétrica,
reologia, turbidez e estabilidade das emulsões ao longo do tempo, e as
propriedades encapsulantes investigadas quanto ao tamanho e DTP das
microcápsulas e eficiência de encapsulação. O exsudado bruto do cajueiro foi
modificado por API a 600 MPa por 6 h a 60 °C e por maturação controlada a 110
°C por 24 e 48 h. Posteriormente, a goma do cajueiro foi isolada, as emulsões e
microcápsulas foram obtidas e as amostras analisadas. O processo de maturação
controlada promoveu poucas alterações às propriedades emulsificantes e
encapsulantes da goma do cajueiro em comparação com o processamento por
API. Ambas as modificações aumentaram o potencial zeta e melhoraram a
estabilidade das emulsões em no mínimo 71%. A goma modificada por maturação
controlada promoveu um aumentou no tamanho das gotículas de óleo das
emulsões e na distribuição de tamanho dessas gotículas e reduziu a
heterogeneidade das microcápsulas produzidas. Já a goma modificada por API
137
produziu emulsões com tamanhos de gotícula de óleo (D3,2 e D4,3) 18 e 19%
menores, respectivamente, reduziu a consistência da emulsão, produziu
microcápsulas com tamanhos (D4,3 e D0,5) 19% e 22% menores,
respectivamente, e aumentou a eficiência de encapsulação em 17% quando
comparada a amostra controle.
Palavras-chaves: alta pressão hidrostática; emulsão óleo em água;
microcapsulação por spray dryer; atomização; maturação controlada.
138
Effect of heating isostatic high pressure and controlled maturation on
emulsifying and encapsulant properties of cashew tree gum
ABSTRACT
Several technologies have been studied to improve technological characteristics of
polysaccharides, e.g. emulsifying and encapsulant properties. Among these
technologies, there are isostatic high pressure (IHP) with heating and controlled
maturation (CM). While IHP uses pressure as the main polysaccharide modification
responsible, the CM uses high temperatures for a long time (24-48 h). Nowadays,
none of these technologies has been studied on cashew tree gum (CG) and very
few studies reported them in any other polysaccharide. Then, the objective of this
present chapter was evaluate the IHP with heating and controlled maturation on
emulsifying and encapsulant properties of CG. For these evaluations, the
emulsifying properties were evaluated by oil droplet size and particle size
distribution (PSD), zeta potential, electric conductivity, rheology, turbidity and
emulsion stability during the time, and the encapsulant properties were
investigated by particle size, PSD and encapsulations efficiency. The cashew tree
crude exudate was modified by IHP at 600 MPa for 6 h at 60 ºC and by CM at 110
ºC for 24 and 48 h. The CG was isolated, the emulsions and microcapsules
obtained and the samples analyzed. CM promoted few alterations on emulsifying
and encapsulations properties of CG in comparison with IHP. Both modifications
increased the zeta potential and improved the emulsion stability in, at least, 71%.
MC increased the oil droplet size of emulsion and PSD, and reduced the
microcapsules heterogeneity. IHP reduced emulsion droplet sizes (D3,2 and D4,3)
in 18 and 19%, respectively, reduced emulsion consistency, reduced microcapsule
sizes (D4,3 and D0,5) in 19 and 22%, respectively, and increased encapsulation
efficiency in 17% when compared with control sample.
Keywords: hydrostatic high pressure; oil-in-water emulsion; microencapsulation by
spray dryer; atomization; controlled maturation.
139
5.1 Introdução
O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é uma planta largamente
distribuída pelo nordeste brasileiro (Pitombeira et al., 2015). A partir do cajueiro é
possível obter três produtos com aplicação industrial, a castanha de caju, o caju e
a goma, sendo os dois primeiros de valores comerciais já bem estabelecidos.
A goma do cajueiro (GC) é um heteropolissacarídeo ácido ramificado de
baixa viscosidade aparente e elevada massa molecular (1,6 x 104 Da) (Paula;
Rodrigues, 1995) obtido do exsudado bruto do cajueiro que vem sendo
amplamente aplicado na indústria química (Quelemes et al., 2017), farmacêutica
(Ribeiro et al., 2016) e alimentícia (Porto; Cristianini, 2014). Devido a uma área
total plantada de cajueiro no Brasil de 779.251 ha (IBGE, 2012), do baixo custo de
extração do exsudado bruto (Pitombeira et al., 2015) e do processo de isolamento
da goma (Porto; Augusto; Cristianini, 2015), a GC surge como uma excelente
opção econômica para o agronegócio do caju, sobretudo para o nordeste
brasileiro.
Dentre as características funcionais da GC já estudadas, têm-se as
propriedades emulsificante (Porto; Cristianini, 2014) e encapsulante (Botrel et al.,
2016; Fernandes et al., 2016; Rodrigues; Grosso, 2008). Essas características são
possíveis devido ao aspecto anfifílico da goma e sua capacidade em se adsorver
na interface óleo-água permitindo a formação da emulsão (Porto; Cristianini,
2014). Uma goma semelhante a GC, amplamente utilizada como emulsificante e
encapsulante, importada e de valor comercial bastante reconhecido é a goma
arábica (GA) (Cunha; Paula; Feitosa, 2009). Porto e Cristianini (2014) compararam
as propriedades emulsificantes da GA e da GC, e observaram que a GA produziu
emulsões mais uniformes e de menor tamanho das gotículas de óleo que a GC,
entretanto, apresentaram a mesma estabilidade ao longo do tempo quanto a
separação de fase gravitacional com ascendência da fase oleosa (cremeação).
Rodrigues e Grosso (2008) compararam o desempenho da GC e da GA como
material de parede na produção de microcápsulas por atomização utilizando
extrato de café como material de recheio e obtiveram o mesmo efeito protetivo
para ambas as gomas. Contudo, os autores pontuaram vantagens em se utilizar
140
GC em detrimento a GA, como o menor custo de obtenção e maior
disponibilidade.
As gomas são frequentemente modificadas com intenção de melhorar
suas propriedades funcionais. GC modificada através da alta pressão dinâmica,
método que utiliza efeitos de cisalhamento, cavitação e turbulência para alterar a
estrutura de polissacarídeos, na pressão de 20 MPa e um passe produziu
emulsões com menores tamanhos de gotículas e mais estáveis (Porto, 2013). Esta
melhoria foi atribuída a menor consistência das soluções de GC promovendo uma
maior difusividade da goma para a interface óleo-água e, consequentemente,
gerando gotículas de óleo de menores tamanhos. GA modificada por maturação
controlada, método físico patenteado no qual submete o exsudado de planta ao
aquecimento por um longo período de tempo (24 a 48 h), produziu emulsões mais
homogêneas, com menores tamanhos de gotículas (Castellani et al. 2010) e maior
estabilidade ao longo do tempo (7 dias) (Al-Assaf et al., 2007). Entretanto, não há
até o momento nenhum estudo que avalia o efeito da maturação controlada na
goma do cajueiro. Além da maturação controlada, outra tecnologia que sugere
melhorias na propriedade emulsificante e encapsulante de gomas é a alta pressão
isostática com aquecimento, pois além de possibilitar o uso de calor por longos
períodos de tempo, ainda utiliza a pressão com o objetivo de favorecer a
ocorrência de reações, pois sabe-se que, por meio do princípio de Le Chatelier,
qualquer fenômeno (transição de fase, mudança de conformação molecular ou
reação química) acompanhado por uma redução de volume é favorecido pelo
aumento da pressão (Butz; Tauscher, 2002).
Dessa forma, o objetivo do presente capítulo foi estudar o efeito da alta
pressão isostática com aquecimento e da maturação controlada nas propriedades
emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro.
141
5.2 Material e Métodos
5.2.1 Material
O exsudado bruto do cajueiro foi doado pela Embrapa Agroindústria
Tropical – Ceará. Álcool etílico 96 °GL foi utilizado na etapa de isolamento da
goma. Benzoato de sódio (Riedel-de Haën), ácido cítrico monohidratado (Merck),
D-limoneno (Döhler Natural Food and Beverage Ingredients), agente de peso
isobutirato acetato de sacarose ou SAIB (Eastman Chemical Company) e ácido
clorídrico de grau analítico foram utilizados.
5.2.2 Preparo do exsudado bruto para processamento
Primeiramente, o exsudado bruto do cajueiro foi reduzido de tamanho com
agitação manual em um depósito plástico com tampa rosqueável. Em seguida, o
exsudado foi peneirado em peneiras de 3,5 mesh (5,66 mm) e 10 mesh (2 mm). O
material utilizado para os processos de modificação foi o retentado da peneira de
10 mesh e o peneirado na peneira de 3,5 mesh, ou seja, compreendeu a faixa de
tamanho de 2 a 5,66 mm. Posteriormente, o exsudado foi seco em estufa com
circulação de ar forçado a 60 ºC por 23 h (tempo em que as amostras, n=30,
apresentaram massa constante). A perda de água nas amostras foi em torno de
2,65 ± 0,08%.
5.2.3 Processamento por alta pressão isostática com aquecimento
As amostras de exsudado bruto em tamanho de 2 a 5,66 mm foram
acondicionadas em embalagens plásticas flexíveis (LDPE-Nylon-LDPE, 16 µm de
espessura – TecMaq, Brasil) a vácuo e processadas em equipamento de alta
pressão isostática (API) a 60 °C, 600 MPa por 6 h. Após esse tempo, a goma do
cajueiro foi isolada conforme metodologia descrita na seção 5.2.5, gerando o
emulsificante (API 6 h).
142
A escolha pelo processo por API a 60 °C, 600 Mpa em 6 h foi decorrente
dos resultados do Capítulo 4 em que não houve diferença significativa entre as
amostras processadas por 6 h ou 12 h, sendo assim, escolheu-se o método mais
econômico.
5.2.4 Processamento por maturação controlada
As amostras de exsudado bruto com tamanhos de 2 a 5,66 mm foram
colocadas em bandejas de alumínio que foram postas em estufa a 110 ºC por 24 h
(condição 1) e 48 h (condição 2). Após esse tempo, a goma do cajueiro foi isolada
conforme metodologia descrita na seção 5.2.5, gerando os emulsificantes
(maturada 24 h e maturadao 48 h, respectivamente).
5.2.5 Isolamento da goma a partir do exsudado bruto do cajueiro
Primeiramente, o exsudado bruto do cajueiro foi dissolvido em água
destilada na concentração de 10% (m/m) a temperatura ambiente de
aproximadamente 23 ºC, sob agitação em agitador magnético por 24 h.
Após dissolução, a solução foi filtrada em peneira com aberturas de
aproximadamente 1 mm², o filtrado foi centrifugado a 15.317 x g por 10 min a 10
°C em centrífuga AllegraTM 25R (Beckman CoulterTM, EUA) com a finalidade de
remover pequenas impurezas que não foram retiradas durante a filtração. O
sobrenadante foi precipitado em etanol 96 °GL a 16 °C na proporção de 2:3
(solução de goma:etanol). Em seguida, foi realizada uma nova centrifugação e o
sobrenadante separado para posterior destilação do álcool para fins de
reaproveitamento. O precipitado foi disposto em bandejas de alumínio e submetido
a secagem em estufa com circulação de ar forçado (Nova Ética, Brasil) a 50 °C
por 24 h. Após a secagem, a goma foi moída em moinho A11 Basic (IKATM,
Alemanha) para obtenção do pó.
143
5.2.6 Preparo da emulsão
A formulação da emulsão foi a mesma descrita por Porto e Cristianini
(2014). A proporção emulsificante:óleo foi de 1:1. Benzoato de sódio e ácido
cítrico foram utilizados como conservante e acidulante, respectivamente.
Emulsões foram produzidas com os emulsificantes: goma do cajueiro controle, ou
goma do cajueiro processada por alta pressão isostática com aquecimento (API 6
h), ou maturação controlada (maturada 24 h e maturada 48 h) na concentração de
12% (m/m). O restante da formulação foi composto por benzoato de sódio (0,1%
m/m), ácido cítrico (0,3% m/m), D-limoneno (6% m/m), SAIB (6% m/m) e água
destilada até completar os 100% (m/m).
Duas fases foram preparadas separadamente: fase oleosa e fase aquosa.
A fase aquosa foi preparada ao pesar a água destilada em um béquer que, em
seguida, foi colocado em agitador magnético a temperatura ambiente
(aproximadamente 23 ºC). Posteriormente, ácido cítrico foi acrescentado e, depois
de solubilizado completamente para redução do pH, benzoato de sódio foi
adicionado sob as mesmas condições. A temperatura foi aumentada para 60 ºC, a
goma foi sendo lentamente adicionada à solução que foi mantida sob agitação até
total solubilização. Por fim, a solução de goma foi mantida a 6 °C por 24 h para
sua completa hidratação. A fase oleosa consistiu de agente de peso (SAIB) e
flavorizante D-limoneno que foram adicionados na proporção de 1:1 com a
finalidade de obter uma densidade próxima à da água e, assim, desfavorecer a
separação por gravidade dos dois líquidos imiscíveis (ρSAIB =1,14 g/mL; ρD-limoneno
=0,84 g/mL; ρfase óleo = 0,99 g/mL), conforme utilizado por Rezvani, Schleining e
Taherian (2012). Em um béquer foi pesado D-limoneno e SAIB (previamente
aquecido em micro-ondas), essa mistura foi mantida a 50 ºC sob agitação até o
momento da emulsificação.
Para o preparo da emulsão, a fase aquosa foi levada a um
homogeneizador com rotor de alto cisalhamento Ultra-Turrax a 24000 rpm por 30 s
(T-25 Basic, IKA Labortechnik, Wilmington, NC). A fase oleosa foi sendo
lentamente adicionada e a emulsão mantida sob homogeneização até completar 2
144
min. Em seguida, a emulsão foi homogeneizada em equipamento de alta pressão
dinâmica (Panda Plus 2000, GEA Niro Soavi, Itália) com dois passes para uma maior
uniformidade das gotículas de óleo e dois estágios. O primeiro estágio para redução
de tamanho das gotículas de óleo e o segundo para separação dos agregados que
são formados após passagem pela primeira válvula. O primeiro estágio foi mantido a
uma pressão de 27 MPa e o segundo a 3 MPa.
Finalizada a produção da emulsão, 10 mL da amostra foram colocados em
proveta de 25 mL (16 mm de diâmetro interno e 167 mm de altura) e acondicionados
a 25 ºC por sete dias para análise de cremeação; 20 mL da emulsão foram
colocados em um tubo de vidro com 72,5 mm de comprimento e 27,5 mm de
largura e o tubo foi submetido à análise no Turbiscan®. O restante das emulsões foi
utilizado para as análises de turbidez, tamanho médio de gotículas, distribuição de
tamanho de partículas (DTP), potencial zeta, condutividade elétrica, reologia e
microscopia óptica.
5.2.7 Preparo das microcápsulas
Emulsões (200 g) foram preparadas com 30% de sólidos totais (material
de parede e material de recheio) em água destilada. A proporção de material de
parede e material de recheio foi de 70:30, respectivamente. Os materiais de
parede utilizados foram: goma do cajueiro controle (sem processamento); goma
do cajueiro modificada por maturação controlada durante 24 h (maturada 24 h) e
48 h (maturada 48 h); e goma do cajueiro modificada por API com aquecimento
durante 6 h (API 6 h). O material de recheio foi D-limoneno.
A produção da emulsão foi a mesma da seção 5.2.6 com algumas
modificações. A fase aquosa foi preparada com ácido cítrico e benzoato de sódio
e a fase oleosa foi produzida sem adição do agente de peso (SAIB). Entretanto, as
condições dos processos de obtenção das pré-emulsões (rotor de alto
cisalhamento Ultra-Turrax) e das emulsões finas (equipamento de alta pressão
dinâmica) foram as mesmas. Após o preparo, as emulsões foram atomizadas para
obtenção das microcápsulas em atomizador do tipo centrífugo Niro A/S (modelo
Plat, Dinamarca), com bico atomizador de 0,5 mm de diâmetro, câmara com 21,7
145
cm de diâmetro e 37,5 cm de comprimento. A taxa de fluxo das emulsões foi de 11
mL/min. A temperatura do ar de entrada e do ar de saída foi de 190 °C e 103 ± 2
°C, respectivamente.
5.2.8 Análise das emulsões
5.2.8.1 Medida de tamanho médio de gotículas e distribuição de tamanho das
gotículas
O tamanho médio das gotículas de óleo e a distribuição de tamanho
dessas gotículas (DTP) foram determinados pelo espalhamento de luz usando um
difratômetro a laser (Mastersizer 2000, Malvern Instruments, Worcestershire,
Inglaterra, unidade de amostragem Hydro 2000S, Malvern Instruments,
Worcestershire, Reino Unido) com índice refrativo do dispersante de 1,330, zero
de índice refrativo de absorbância e agitação de 1750 rpm. Com o auxílio de uma
pipeta Pasteur, as amostras de cada emulsão foram adicionadas lentamente em
água destilada com pH corrigido para o pH da emulsão (3,6) até obscuração de
aproximadamente 10 ser obtida. As medidas foram realizadas em até 24 h após
preparo da emulsão. O tamanho das gotículas foi caracterizado pelo diâmetro
médio da área superficial (D3,2) e diâmetro médio volumétrico (D4,3), definidos
pelas Equações 1 (Koocheki; Kadkhodaee, 2012) e 2 (Roesch; Corredig, 2003),
respectivamente:
Eq. 1
Eq. 2
Onde, ni é o número de gotículas de diâmetro di.
146
Em adição, o índice de dispersão (ID) das emulsões foi determinado pela
Equação 3 (Mirhosseini; Amid, 2012):
Eq. 3
Onde, d0,1, d0,5 e d0,9 são diâmetros de 10%, 50% e 90% de volume
cumulativo, respectivamente.
5.2.8.2 Observação microscópica
Uma gota de água destilada com pH corrigido para o pH da emulsão (3,6)
foi colocada em lâmina de vidro com auxílio de uma pipeta Pasteur.
Posteriormente, também com uma pipeta Pasteur, uma gota da emulsão foi
colocada sobre a água e uma lamínula de vidro foi adicionada sobre a amostra. As
observações microscópicas foram realizadas em triplicata em duas repetições de
processo. Microscópio óptico JENAVAL (Carl Zeiss, Toronto, Canadá) equipado
com uma câmera de vídeo foi utilizado para observar as gotas da emulsão. As
observações ópticas das diferentes emulsões foram realizadas com objetiva de
100x e optovar de 1,25x. A captação das imagens foi realizada utilizando Software
EDN-2 – Microscopy Image Processing System.
5.2.8.3 Reologia
O comportamento ao fluxo das emulsões foi realizado em reômetro com
tensão controlada (AR 2000ex, TA Instruments, Newcastle, EUA), equipado com
geometria cone-placa (2º de inclinação e 6 cm de diâmetro de base) e mantido a
25 ºC através de sistema Peltier.
Curvas de fluxo (tensão de cisalhamento versus taxa de deformação)
foram obtidas em ensaios com curvas descendentes escalonadas de 300 a 0,1 s-1
para garantia do estado estacionário logo após o preparo das amostras e
confirmação de ausência de comportamento tixotrópico. Curvas de escoamento
experimentais foram comparadas com o modelo da Lei da Potência (Ostwald-de-
Waele) (Equação 4) que caracteriza fluidos pseudoplásticos sem tensão inicial:
147
Eq. 4
Onde, σ é tensão de cisalhamento (Pa), k índice de consistência (Pa.sn),
taxa de deformação (s-1) e n índice de comportamento ao fluxo (n<1 para
pseudoplástico e n=1 para fluido Newtoniano).
5.2.8.4 Potencial zeta e condutividade elétrica
A carga elétrica em solução (potencial zeta) e a condutividade elétrica das
emulsões foram medidas em um instrumento de microeletroforese (Zetasizer
modelo Nano – Z, Malvern Instruments, Worcestershire, Reino Unido). O potencial
zeta das emulsões foi calculado a partir das medidas de mobilidade eletroforética
das gotículas em um campo elétrico oscilante usando um velocímetro a laser
Doppler (Lim et al., 2011). Todas as amostras foram preparadas a partir das
emulsões que foram diluídas para concentração de 0,2% (v/v) em água destilada
com pH corrigido para o pH da emulsão (3,6).
5.2.8.5 Estabilidade da emulsão
A estabilidade da emulsão foi monitorada pela medida da extensão da
separação de fase sob aceleração gravitacional. Para medida da estabilidade
física, 10 mL da emulsão foram transferidos para provetas de 25 mL (16 mm de
diâmetro interno e 167 mm de altura) e, em seguida, as provetas foram
armazenadas durante 7 dias a temperatura de 25 °C. O volume total da emulsão
(VT) e o volume da camada soro (VS) foram medidos.
A extensão da cremeação foi caracterizada por um índice de formação de
creme denominado índice de cremeação (IC) (Equação 5) (Demetriades;
McClements, 2000). Emulsões mais estáveis foram as que apresentaram menor
índice IC.
Eq. 5
148
A estabilidade também foi monitorada quanto a estabilidade física de
separação de fases por meio de um equipamento TurbiscanTM LAB (Fomulaction
Smart Scientific Analysis, França) que se baseia na combinação de transmissão e
backscattering com uma fonte de infravermelho próximo e detectores que medem
a intensidade de luz transmitida, que passa através da amostra, e refletida,
respectivamente. Cerca de 20 mL da emulsão foram colocados em um tubo de
vidro com 72,5 mm de comprimento e 27,5 mm de largura e o tubo foi submetido à
análise no Turbiscan®. A estabilidade da emulsão foi monitorada de 1 a 7 dias.
5.2.8.6 Turbidez
Medidas de absorbância das amostras foram realizadas utilizando um
espectrofotômetro (DU 800, Beckman Coulter®, EUA). As emulsões foram diluídas
para concentração de 0,1% (v/v) em água destilada com pH corrigido para o pH da
emulsão (3,6). As emulsões diluídas foram transferidas para cubetas de quartzo
com 1 cm de comprimento de percurso da luz (comprimento óptico) para medida
de turbidez. A turbidez foi então calculada através da Equação 7 utilizando o
resultado da absorbância a 660 nm (Kaufman; Gardi, 1984; Mirhosseini et al.,
2009). Água destilada com pH corrigido para o mesmo pH da emulsão foi utilizado
como branco.
Para um espectrofotômetro no qual nenhuma luz dispersa pela amostra
turva atinge a célula fotoelétrica e para uma amostra que não adsorve luz, a
turbidez da amostra é dada pela Equação 6 (Pearce; Kinsella, 1978).
Eq. 6
Considerando o fator de diluição, tem-se:
Eq. 7
149
5.2.9 Caracterização das microcápsulas
5.2.9.1 Microscopia eletrônica de varredura
A morfologia das microcápsulas foi obtida através de observações
microscópicas em microscópico eletrônico de varredura do tipo de mesa (Hitachi
High Technologies America Inc., modelo TM-3000, EUA). Uma pequena
quantidade das microcápsulas foi fixada em stubs usando cola preta. O excesso
de microcápsulas foi retirado com jato de gás hidrogênio.
5.2.9.2 Eficiência de encapsulação
A eficiência de encapsulação (EE) foi obtida por meio da medida do óleo
total recuperado em aparelho Clevenger conforme metodologia descrita por
Charve e Reineccius (2009) com algumas modificações. Aproximadamente 5 g de
microcápsulas foram colocados em balão de fundo redondo (500 mL). Seis
pérolas de vidro, 0,2 mL de antiespumante e 100 mL de água destilada foram
adicionados ao balão e este foi conectado ao aparelho Clevenger com
condensador de água no topo. A destilação permaneceu sob agitação durante 1 h,
até volume constante, e esse volume de D-limoneno destilado foi lido diretamente
no aparelho. A massa de D-limoneno foi obtida pela multiplicação do volume de D-
limoneno destilado e sua densidade (0,8402 g/mL). A retenção de óleo volátil nas
microcápsulas foi calculada pela Equação 8.
Eq. 8
Onde, o volume de óleo teórico foi de 30% assumindo a retenção ideal.
5.2.9.3 Medida de tamanho médio e distribuição de tamanho de partículas
As medidas de tamanho médio e a distribuição de tamanho das partículas
(DTP) foram obtidas em um difratômetro a laser (Mastersizer 2000, Malvern
Instruments, Worcestershire, Inglaterra, unidade de amostragem Hydro 2000S,
150
Malvern Instruments, Worcestershire, Reino Unido). A taxa de agitação foi de
1.750 rpm, índices refrativos do líquido dispersante e das partículas foram de
1,360 e 1,500, respectivamente, e zero de adsorção. As microcápsulas foram
adicionadas em etanol até obscuração 5. DTP, tamanho das partículas abaixo do
qual se situam 50% da amostra (D0,5) e De Brouckere (volume ou momento de
massa, D4,3) foram obtidos.
5.2.10 Análises estatísticas
Os processos foram realizados em três repetições e as análises foram
realizadas em triplicata com exceção da observação microscópica (triplicata de
duas repetições de processo). As similaridades e diferenças entre os dados
obtidos nas repetições dos processos e dos diferentes tratamentos foram
determinadas por Análise de Variância (ANOVA) e teste de médias de Tukey com
o programa Statistica® 7 (Statsoft, USA).
5.3 Resultados e Discussão
5.3.1 Avaliação das propriedades emulsificantes
5.3.1.1 Medida de tamanho médio de gotículas e distribuição de tamanho de
partículas (DTP)
Para se obter uma emulsão cineticamente estável por um razoável
período de tempo, de acordo com a Lei de Stokes (Equação 9), pode-se utilizar
diferentes artifícios como: minimizar a diferença de densidade das fases dispersa
e contínua, por meio da adição de um agente de peso (SAIB, por exemplo);
reduzir o tamanho das gotículas da fase dispersa, que neste caso é a fase oleosa;
elevar a consistência da fase contínua (a água) com uso de espessantes, por
exemplo; e/ou alterar o grau de floculação das gotículas (Rezvani; Schleining;
Taherian, 2012).
151
Eq. 9
Onde, vStokes é velocidade de cremeação, ɳ2 viscosidade da fase aquosa, g
aceleração gravitacional, r raio da gotícula, ρ1 densidade da fase óleo e ρ2
densidade da fase aquosa. Sendo assim, uma menor velocidade de cremeação é
atingida quando se tem um menor tamanho de gotícula da fase dispersa.
A Tabela 1 apresenta os resultados de tamanho médio das gotículas de
óleo (D4,3 e D3,2) e o índice de dispersão das mesmas (ID).
Tabela 1. Tamanho médio (D3,2 e D4,3 μm) e índice de dispersão (ID) das
gotículas.
Emulsificantes D3,2 (μm) D4,3 (μm) ID
Controle 2,30 ± 0,07A 2,71 ± 0,10A 1,16 ± 0,06A
API 6 h 1,87 ± 0,07B 2,23 ± 0,10B 1,21 ± 0,08A
Maturação 24 h 1,93 ± 0,13B 2,90 ± 0,14A 1,92 ± 0,07B
Maturação 48 h 2,64 ± 0,29C 3,77 ± 0,33C 1,69 ± 0,09C
*Letras diferentes na mesma coluna indicam que houve diferença significativa entre os resultados a um nível de 5% de
significância (p≤0,05). Controle (goma do cajueiro sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta
pressão isostática durante 6 h), Maturação 24 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 24 h) e
Maturação 48 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 48 h).
Observa-se que o tipo de emulsificante (controle, API 6 h, maturação 24 h
ou maturação 48 h) influenciou tanto no tamanho das partículas quanto na sua
distribuição de tamanho (ID), sendo que a maturação por 48 h foi o método que
proporcionou maiores tamanhos de gotículas (D3,2 e D4,3), seguida pela amostra
controle. Apesar dos emulsificantes API 6 h e maturação 24 h não terem se
diferenciado nos valores de área das gotículas de óleo (D3,2, p>0,05), o processo
por alta pressão isostática com aquecimento proporcionou menores volumes
(D4,3, p≤0,05) e menor ID (p≤0,05) (este último se igualou a amostra controle
p>0,05). Um menor índice de dispersão (ID) representa uma distribuição de
tamanho de gotículas de óleo mais uniforme (Tabela 1). Os valores de ID foram
152
menores para as amostras controle e modificada por API e maiores para a goma
do cajueiro modificada por maturação controlada, sugerindo uma larga distribuição
de tamanho de gotículas para essas últimas amostras. Dessa forma, de acordo
com as medidas de tamanho e DTP, e a Lei de Stokes, o emulsificante API 6 h
proporcionou maior estabilidade à emulsão. Entretanto, a diferença de densidade
da fase contínua e dispersa, e a viscosidade da fase contínua também são fatores
a serem considerados ao se abordar a estabilidade gravitacional de uma emulsão.
Contudo, pode-se pelo menos afirmar que o processo de API com aquecimento a
60 °C por 6 h melhorou a atividade emulsificante da goma do cajueiro na geração
de menores gotículas.
A emulsão produzida com goma do cajueiro processada por API durante 6
h apresentou diâmetro médio volumétrico (D4,3) 19% inferior e diâmetro médio de
área superficial (D3,2) 18% inferior ao da emulsão produzida com goma do
cajueiro controle.
Tamanhos de D3,2 e D4,3 variando de 1,95 a 2,07 e de 2,50 a 2,51,
respectivamente, foram encontrados para emulsões produzidas com goma do
cajueiro modificada por alta pressão dinâmica (APD) (Porto; Cristianini, 2018).
Castellani et al. (2010) modificaram goma arábica pelo processo de
maturação controlada a 24 e 48 h e obtiveram valores de gotícula D4,3 que
variaram de 1,75 a 3,5 μm quando a concentração de goma variou de 5 a 20% e
as emulsões foram produzidas por APD com um passe e pressão de 5 a 15 MPa,
demonstrando que os valores estão em acordo com os obtidos no presente
estudo.
Al-Assaf et al. (2007) avaliaram o tamanho das gotículas de óleo de
emulsões produzidas com goma arábica modificada por maturação controlada por
24, 53, 72 e 96 h e observaram que as gotículas reduziram de tamanho
gradualmente quando utilizaram goma maturada por 24 h e, em seguida, por 53 h.
Entretanto, quando a goma arábica maturada por 72 h foi utilizada como
emulsificante, o tamanho das gotículas de óleo aumentou e depois reduziu
novamente com a utilização da goma arábica maturada por 96 h. Esse
comportamento irregular também foi evidenciado no presente trabalho, onde as
153
gotículas de óleo reduziram de tamanho ao utilizar goma do cajueiro maturada por
24 h e aumentaram com a goma maturada por 48 h, evidenciando ser
característico do processo.
A Figura 1 apresenta a DTP das emulsões formadas pelos quatro
emulsificantes. Através da Figura 1, pode-se observar que o resultado de DTP
está de acordo com os resultados de ID apresentados na Tabela 1. O processo de
API na goma do cajueiro não foi capaz de melhorar a uniformidade da DTP das
emulsões formadas, apresentando-se igual a amostra controle, mas reduziu o
tamanho médio das gotículas (pico da curva mais à esquerda). Enquanto que,
para as amostras maturadas (24 e 48 h), os picos se apresentaram mais baixos e
largos, evidenciando maior heterogeneidade das gotículas das emulsões
formadas. Além disso, o pico da amostra maturada por 48 h esteve mais para a
direita, atestando o maior tamanho médio das gotículas de óleo formadas,
conforme observado na Tabela 1.
Figura 1. Distribuição de tamanho de gotícula: Controle (goma do cajueiro
sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta pressão
isostática durante 6 h), Maturada 24 h (goma do cajueiro processada por
maturação controlada durante 24 h) e Maturada 48 h (goma do cajueiro
processada por maturação controlada durante 48 h).
Na Figura 2 estão presentes as observações microscópicas das emulsões
produzidas com os diferentes emulsificantes. As imagens permitem observar as
154
variações nos diâmetros das gotículas e na distribuição desses tamanhos. A
emulsão com as gotículas de menor tamanho foi produzida com goma do cajueiro
API 6 h e as distribuições de tamanho mais heterogêneas foram obtidas com a
maturação 24 h e a maturação 48 h. Isso pode ser percebido ao observar o plano
inferior em que se encontram gotículas maiores e as apresentadas no plano
superior, o que demonstra que as imagens estão em concordância com as
análises de tamanho médio de gotículas.
*A barra horizontal visualizada na extrema direita inferior da figura corresponde a medida de 10 μm para as amostras
controle, API 6 h e maturação 24h; e 20 μm para a amostra maturação 48 h.
Figura 2. Microscopia óptica das emulsões: Controle (goma do cajueiro sem
processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta pressão isostática
durante 6 h), Maturada 24 h (goma do cajueiro processada por maturação
controlada durante 24 h) e Maturada 48 h (goma do cajueiro processada por
maturação controlada durante 48 h).
155
Observa-se pela Figura 2 uma melhor capacidade emulsificante da goma
do cajueiro API 6 h frente aos demais materiais, já que ao sofrerem a mesma
transformação mecânica, a primeira permitiu a formação de gotículas menores e
DTP mais homogênea o que possivelmente promoverá uma maior estabilidade a
essas emulsões.
Para que uma substância possua capacidade emulsificante, esta deve
apresentar superfície ativa, capaz de se adsorver na interface óleo-água e
proteger contra a agregação das gotículas da emulsão (floculação e/ou
cremeação) (McClements, 2005). Uma forma de avaliar isso é através de
microscopia óptica (Figura 2) e por meio da determinação do tamanho médio de
gotículas e distribuição de tamanho de gotículas (DTP) de uma emulsão (Amid;
Mirhosseini, 2012) para um mesmo processo. Diante disso, todos os
emulsificantes analisados apresentaram propriedade emulsificante (Figura 2).
A microscopia óptica também possibilita avaliar a estabilidade das
emulsões através da presença de aglomerados, pois estes sinalizam floculação
(um dos tipos de instabilidades observadas em emulsões). A partir da Figura 2,
observa-se que as amostras que mais apresentam aglomerados são maturação
24 e 48 h, seguidos pela amostra controle. No entanto, essa floculação só será
irreversível se a DTP for bimodal, como a DTP se apresentou monomodal, os
aglomerados são desfeitos com agitação.
Outra característica importante ao se avaliar a capacidade emulsificante
de uma substância é a observação da uniformidade das gotículas formadas, pois
esta característica está diretamente relacionada a estabilidade das emulsões
quanto a separação de fases durante a vida de prateleira, tais como
sedimentação, cremeação, floculação e coalescência. Dessa forma, quanto mais
uniforme é a DTP, mais estáveis serão as emulsões. Ademais, as medidas de
tamanho e DTP, não só afetam a estabilidade das emulsões, como também as
suas propriedades reológicas (Mirhosseini et al., 2008), conforme veremos na
seção 5.3.2.
Uma possível explicação para a melhor capacidade emulsificante da goma
do cajueiro API 6 h em relação à goma do cajueiro controle é justificada pela maior
156
concentração da fração proteína arabinogalactana, conforme sugerido no capítulo
4.
Zhang, Li e Tatsumi (2005) e Yang et al. (2013) investigaram o efeito da
API em sistemas proteína-polissacarídeo (Zhang; Li; Tatsumi, 2005; Yang et al.,
2013). Em uma mistura de ovalbumina (proteína) e polissacarídeo submetida ao
processamento por API, o polissacarídeo foi capaz de proteger a proteína contra a
desnaturação (Zhang; Li; Tatsumi, 2005). Yang et al. (2013) avaliaram o efeito da
API (0-600 MPa, 10-30 minutos) nas propriedades emulsificantes de uma mistura
de isolado proteico do soro de leite e quitosana (polissacarídeo) e obtiveram uma
mistura com melhores propriedades emulsificantes, pois possibilitou emulsões
com tamanhos de gotículas três vezes menores, distribuição de tamanho dessas
gotículas mais homogênea e melhor estabilidade a cremeação que a mistura não
processada, conforme obtido no presente estudo. A estabilidade à cremeação
será discutida na seção 5.3.1.4. Vale salientar que a aplicação de API foi realizada
após o isolamento dos materiais e em solução, diferente do realizado no presente
estudo, onde o processo de API foi aplicado no exsudado bruto do cajueiro e,
posteriormente, a goma foi isolada.
Ma et al. (2015) avaliaram o efeito da API sobre as propriedades
emulsificantes da goma arábica e obtiveram tamanho de gotículas maiores
quando a goma arábica foi modificada por API em relação a amostra controle,
diferente do que ocorreu no presente estudo. Entretanto, os autores também
aplicaram o processo de API na goma isolada e em solução.
5.3.1.2 Reologia
A Figura 3 apresenta os resultados das curvas de escoamento das quatro
emulsões formadas com goma do cajueiro API 6 h, maturação controlada 24 h e
48 h, e sem modificação (controle). Como pode ser observado na Figura 3, houve
um aumento na tensão de cisalhamento quase linear (constante ao longo da taxa
de deformação), aproximando o comportamento ao fluxo das emulsões ao de um
fluido Newtoniano. Entretanto, o comportamento não linear caracterizou as
emulsões como fluidos pseudoplásticos (não-Newtonianos) que, por não
apresentarem tensão inicial, obedeceram ao modelo da Lei da Potência (Ostwald-
157
de-Waele) (Equação 10). Conforme foi observado por Porto e Cristianini (2014)
para emulsões que utilizaram goma do cajueiro e goma arábica como
emulsificante.
Eq. 10
Onde, k é o índice de consistência, n índice de fluxo, γ taxa de
deformação e σ tensão de cisalhamento.
*Os pontos representam as médias dos resultados obtidos e as barras verticais indicam o desvio padrão de cada valor.
Figura 3. Curvas de escoamento das emulsões a 25 ºC: Controle (goma do
cajueiro sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta
pressão isostática durante 6 h), Maturação 24 h (goma do cajueiro processada por
maturação controlada durante 24 h) e Maturação 48 h (goma do cajueiro
processada por maturação controlada durante 48 h).
Menores valores de tensão encontrados para a emulsão API 6 h indicam
menor consistência das emulsões produzidas com essa goma em relação às
demais (controle e maturação controlada 24 h e 48 h). Devido ao elevado desvio
padrão apresentado pelas emulsões produzidas como goma do cajueiro maturada
24 h e 48 h, pode-se dizer que não houve diferença entre a consistência das
158
emulsões produzidas com goma do cajueiro modificada por maturação controlada
e sem processamento.
Cirre et al. (2014) avaliaram o comportamento ao fluxo de goma de fibra
de milho maturada a 110 °C por 5 h e 24 h e observaram que as emulsões
formadas com essas gomas maturadas apresentaram maiores consistências do
que a emulsão produzida com a goma sem processamento. No presente estudo, a
emulsão produzida com goma maturada por 48 h aparenta apresentar maior
consistência que a emulsão elaborada com goma controle, entretanto, o seu
elevado desvio padrão impede de afirmar tal suposição.
Em emulsões para bebidas, a sua baixa viscosidade aparente é bastante
apreciada pela facilidade de bombeamento (considerando também o menor gasto
energético) e de atomização para produção das microcápsulas. Além disso,
emulsões com baixa viscosidade aparente tendem a gerar microcápsulas menores
(Carneiro et al., 2011). Essa é uma das características que faz da goma arábica, o
principal emulsificante utilizado em emulsões para bebidas gaseificadas sabor
laranja, pois ela forma emulsões pouco consistentes mesmo em altas
concentrações (Nakamura et al., 2006; Jafari et al., 2008). Porto e Cristianini
(2014) compararam o comportamento ao fluxo de emulsões produzidas com goma
do cajueiro e goma arábica e observaram que a goma do cajueiro produz
emulsões menos consistentes que a goma arábica, uma característica que
propiciou vantagem no uso da goma do cajueiro em relação a goma arábica como
emulsificante em emulsões para bebidas cítricas. Contudo, outras características,
como tamanho de gotículas e estabilidade ao longo do tempo, devem ser
consideradas na escolha de um emulsificante em detrimento a outro. Com a
reduzida viscosidade aparente das emulsões API 6 h em relação às demais
emulsões produzidas com goma do cajueiro maturada e sem processamento
(Figura 3), o processamento por alta pressão isostática (API), torna-se um método
apropriado para a melhoria da capacidade emulsificante da goma do cajueiro.
Na Tabela 2, observa-se o resultado de índice de comportamento ao fluxo
(n) das emulsões produzidas com os quatro diferentes emulsificantes.
Primeiramente, percebe-se que as emulsões apresentaram “n” próximo a 1,
159
mesmo apresentando comportamento pseudoplástico, aproximando o
comportamento ao fluxo das emulsões ao de um fluido Newtoniano.
Tabela 2. Índices de consistência (k) e de comportamento ao fluxo (n) das
emulsões controle, API 6 h, Mat 24 h e Mat 48 h.
Parâmetros
reológicos
Emulsificante
Controle API 6 h Mat 24 h Mat 48 h
k 0,010 ± 0,001A 0,006 ± 0,001B 0,011 ± 0,002A 0,013 ± 0,002A
n 0,938 ± 0,013A 0,979 ± 0,001B 0,930 ± 0,022A,C 0,911 ± 0,022C
R² 0,999 0,999 0,999 0,999
*Letras iguais na mesma linha indicam que as amostras não diferiram a um nível de 5% de significância entre os diferentes
processos.
Também pode ser observado na Tabela 2 que o índice de comportamento
(n) da emulsão API 6 h é maior que das demais gomas (p≤0,05), fazendo com que
essa emulsão se apresente menos como fluido pseudoplástico e mais como fluido
Newtoniano (aumento da consistência linear com o aumento da taxa de
deformação). Contudo, o índice de comportamento da goma maturada 24 h foi o
mesmo da goma controle (p>0,05).
A Tabela 2 também apresenta o resultado de índice de consistência (k)
das emulsões com os quatro diferentes emulsificantes. Observa-se que o índice
de consistência da emulsão API 6 h é menor do que o índice das demais
emulsões (p≤0,05). Já as emulsões obtidas com goma do cajueiro modificada por
maturação controlada apresentaram o mesmo índice de consistência da emulsão
produzida com goma do cajueiro sem processamento, ou seja, o processo de
maturação controlada não foi capaz de alterar a consistência das emulsões,
conforme observado na Figura 3.
5.3.1.3 Potencial zeta, condutividade elétrica e turbidez
160
Assim como a determinação do tamanho e a distribuição desse tamanho
auxilia na predição da estabilidade da emulsão, a medição do potencial zeta,
condutividade elétrica e turbidez também indicam sua estabilidade. Potencial zeta
e condutividade elétrica são usados como uma medida de forças eletrostáticas
repulsivas e atrativas, respectivamente. Enquanto que turbidez, relaciona-se com
o tamanho médio das gotículas, concentração e distribuição de tamanho de
partículas, quanto menor for o tamanho das gotículas, maior será a turbidez
(Mirhosseini et al., 2008; Mirhosseini et al. 2009).
A Tabela 3 apresenta os resultados de potencial zeta, condutividade
elétrica e turbidez das emulsões formadas com os quatro emulsificantes.
Tabela 3. Resultados de potencial zeta, condutividade elétrica e turbidez das
emulsões em pH 3,6.
Emulsificante Potencial zeta
(mV)
Condutividade
elétrica (mS/cm) Turbidez (cm-1)
Controle -15,06 ± 1,06A 0,047 ± 0,006A 104,74 ± 5,17A,B
API 6 h -16,80 ± 0,46B 0,045 ± 0,001A,B 97,04 ± 5,94A,B
Maturação 24 h -18,26 ± 0,49C 0,043 ± 0,003A,B 107,27 ± 10,91B
Maturação 48 h -19,86 ± 1,33D 0,041 ± 0,002B 90,53 ± 14,33A
*Letras diferentes na mesma coluna diferenciam os resultados a um nível de significância de 5% (p≤0,05). Controle (goma
do cajueiro sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta pressão isostática durante 6 h), Maturação
24 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 24 h) e Maturação 48 h (goma do cajueiro
processada por maturação controlada durante 48 h).
Como pode ser observado na Tabela 3, há uma diferença significativa
(p≤0,05) entre as medidas de potencial zeta obtidas para os diferentes
emulsificantes. Houve um aumento, em módulo, em ordem crescente da medida
de potencial zeta obtida para a goma controle, API 6 h, maturação 24 h e
maturação 48 h.
Uma emulsão eletrostaticamente estável apresenta valor de potencial zeta
em módulo superior a 25 mV. Valores inferiores a 25 mV indicam que a emulsão
161
apresenta algum grau de floculação (Rezvani; Schleining; Taherian, 2012). Sendo
assim, eletrostaticamente, a emulsão produzida com a goma do cajueiro maturada
48 h foi a considerada mais estável, seguida pela goma maturada 24 h, goma API
6 h e goma controle. No entanto, os valores de potencial zeta inferiores a │25
mV│indicam que nenhuma emulsão foi considerada estável do ponto de vista
eletrostático, demonstrando a necessidade de se adicionar um espessante, reduzir
o tamanho das gotículas da fase oleosa e/ou reduzir a diferença entre as
densidades da fase aquosa e oleosa a fim de melhorar a estabilidade da emulsão
gerada (Porto; Cristianini, 2014).
Os valores observados de condutividade elétrica só se diferenciaram
quando a goma do cajueiro foi processada por maturação controlada durante 48 h
em relação a amostra controle (0,041 e 0,047 mS/cm, respectivamente). Valores
de condutividade elétrica próximos a zero indicam emulsões mais estáveis, sendo
assim, a goma do cajueiro maturada 48 h proporcionou uma emulsão mais estável
em relação a goma controle do ponto de vista eletrostático, o que está em acordo
com a medida de potencial zeta.
Mirhosseini et al. (2009) estudaram a influência da quantidade de
emulsificante (goma arábica), espessante (goma xantana) e fase óleo (óleo de
laranja), na condutividade elétrica de emulsão de laranja para bebida e
observaram que a melhor composição encontrada apresentou condutividade de
0,064 mS/cm, valor superior aos encontrados no presente estudo, indicando que
as formulações produzidas com goma do cajueiro controle e modificada por API e
maturação controlada foram satisfatórias quanto a reduzida atratividade elétrica
das gotículas de óleo. De acordo com os autores, o aumento no conteúdo de
goma xantana resultou na elevação do potencial zeta seguido por redução da
condutividade, devido a goma xantana ser altamente eletronegativa. Sendo assim,
uma opção para melhorar a estabilidade das emulsões produzidas com goma do
cajueiro seria a adição de goma xantana, por exemplo.
Quanto a turbidez (Tabela 3), as medidas não variaram entre as amostras
controle e processadas (p>0,05). A única diferença encontrada foi entre as
amostras processadas por maturação controlada durante 24 e 48 h, havendo uma
162
redução na turbidez quando o tempo do processo de maturação foi aumentado de
24 para 48 h. Esse resultado está em acordo com a medida de tamanho da
gotícula de óleo encontrada na Tabela 1. Conforme mencionado acima, menores
tamanhos de gotículas proporcionam maior turbidez, consequentemente, maiores
tamanhos de gotículas promovem menor turbidez (Mirhosseini et al., 2008). A
redução da turbidez na amostra processada por 48 h em relação a amostra
processada por 24 h foi de 16%.
5.3.1.4 Estabilidade das emulsões
A avaliação da estabilidade das emulsões ocorreu por dois diferentes
métodos: índice de cremeação (IC) e índice de estabilidade em Turbiscan ou
Turbiscan stability index (TSI). As Figuras 4 e 5 apresentam os resultados de IC e
TSI, respectivamente, das emulsões produzidas com os quatro diferentes
emulsificantes ao longo de sete dias de armazenamento.
Figura 4. índice de cremeação (IC) das emulsões produzidas com goma do
cajueiro sem processamento (Controle), modificada por alta pressão isostática
durante 6 h (API 6 h), modificada por maturação controlada durante 24 h e 48 h
(Mat 24 h e Mat 48 h, respectivamente).
163
Figura 5. Índice de estabilidade em Turbiscan (TSI) das emulsões produzidas com
goma do cajueiro sem processamento (controle), modificada por alta pressão
isostática durante 6 h (API 6 h), modificada por maturação controlada durante 24 h
e 48 h (Mat 24 h e Mat 48 h, respectivamente).
Quanto menores os valores de IC e TSI, mais estáveis foram as emulsões.
Os métodos utilizados para verificação da estabilidade das emulsões
apresentaram comportamento diferentes. Iniciando a análise da estabilidade das
emulsões pelo IC, tem-se que as emulsões começaram a se desestabilizar no
terceiro dia de armazenamento (Figura 4), onde todas apresentaram o mesmo
grau de instabilidade (IC). No quarto dia, a emulsão produzida com goma do
cajueiro modificada por maturação controlada durante 48 h (Mat 48 h) foi a mais
instável. No quinto dia, a emulsão API 6 h foi mais instável que as emulsões
controle e maturada durante 24 h (Mat 24 h), as quais apresentaram-se como as
emulsões mais estáveis e com o mesmo grau de estabilização (p>0,05). No sexto
dia, a emulsão API 6 h se torna a mais instável, ultrapassando a amostra
maturada durante 48 h (Mat 48 h). Já no último dia, a amostra Mat 48 h voltou a
ser a mais instável e as amostras controle e Mat 24 h continuam como as mais
estáveis.
164
Em contrapartida, ao analisar a estabilidade das emulsões através do TSI
(Figura 5), a amostra API 6 h sempre se apresentou como a mais estável, seguida
pela amostra maturada durante 24 h (Mat 24 h), maturada durante 48 h (Mat 48 h)
e controle. Já no primeiro dia de armazenamento, a amostra API 6 h apresentou
instabilidade 88% menor que a amostra controle. A partir do quinto dia, o
equipamento não conseguiu mais avaliar o TSI da amostra controle. Esse
comportamento só ocorreu no sétimo dia para as amostras maturadas. Enquanto
que para a amostra API 6 h, isso não aconteceu.
Essa diferença de comportamento entre o IC e o TSI é que, além do
primeiro ser uma análise subjetiva (medida ao olho nu com auxílio de um
paquímetro), esse método só avalia a quantidade de soro que é observada no
fundo do tubo. Enquanto que no TSI, há uma análise global da amostra sobre o
que está ocorrendo em toda a extensão do tubo e, por isso, uma análise mais
confiável quando se avalia todos os tipos de instabilidades possíveis de serem
evidenciadas em uma emulsão. Essa maior estabilidade da emulsão API 6 h,
pode estar relacionada ao menor tamanho de gotículas de óleo.
Yang et al. (2013) investigaram o efeito da API (0-600 MPa, 10-30 min)
nas propriedades emulsificantes de uma mistura de isolado proteico do soro de
leite e quitosana (polissacarídeo) em solução e obtiveram uma mistura com
melhor estabilidade a cremeação que a mistura não processada, conforme obtido
no presente estudo.
Al-Assaf et al. (2007) avaliaram o efeito da maturação controlada sobre as
propriedades emulsificantes da goma arábica e obtiveram emulsões mais estáveis
quando a goma arábica foi modificada por maturação controlada em relação a
amostra controle, o que corrobora com os resultados apresentados no presente
estudo ao analisar os valores de TSI (Figura 5), onde as emulsões produzidas
com os emulsificantes maturação 24 h e maturação 48 h apresentaram valores de
TSI inferiores às emulsões produzidas com a goma controle.
165
5.3.2 Avaliação das propriedades encapsulantes
5.3.2.1 Medida de tamanho médio das partículas e distribuição de tamanho de
partículas (DTP)
A Tabela 4 apresenta os resultados de tamanho médio das microcápsulas
(D4,3), tamanho das partículas abaixo do qual se situam 50% da amostra (D0,5) e
o índice de dispersão das mesmas (ID). Observa-se que o tipo de encapsulante
influenciou tanto no tamanho das partículas quanto na sua distribuição de
tamanho (ID). Os encapsulantes controle, maturação 24 h e maturação 48 h
proporcionaram o mesmo tamanho de microcápsulas D4,3 e D0,5 (p>0,05). Já o
encapsulante API 6 h produziu microcápsulas com valores de D4,3 e D0,5, 19% e
22%, respectivamente, menores quando comparado a amostra controle. Sendo
assim, emulsão com menor viscosidade aparente gerou microcápsulas com
menores tamanhos conforme obtido por Carneiro et al. (2011).
Tabela 4. Medidas de tamanho médio, índice de dispersão e eficiência de
encapsulação (EE) das microcápsulas.
Encapsulantes D4,3 (μm) D0,5 (μm) ID EE%
Controle 18,25 ± 1,45A 16,79 ± 0,81A 1,99 ± 0,07A 77,88 ± 6,36A
API 6 h 14,73 ± 0,58B 13,18 ± 0,39B 2,03 ± 0,25A 91,42 ± 3,05B
Maturação 24 h 18,81 ± 1,51A 16,44 ± 0,34A 1,60 ± 0,22B 70,66 ± 8,40A
Maturação 48 h 18,56 ± 1,32A 16,60 ± 0,86A 1,73 ± 0,15B 66,66 ± 9,36A
*Letras diferentes na mesma coluna indicam que houve diferença significativa entre os resultados a um nível de 5% de
significância (p≤0,05). Controle (goma do cajueiro sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta
pressão isostática durante 6 h), Maturação 24 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 24 h) e
Maturação 48 h (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 48 h).
Um menor índice de dispersão (ID) representa uma distribuição de
tamanho de microcápsulas mais uniforme. De acordo com a Tabela 4, os valores
de ID foram menores para as amostras maturadas, não se diferenciando a
166
maturação por 24 ou 48 h. Já as amostras controle e API 6 h apresentaram uma
DTP mais heterogênea (maior ID), não se diferenciando entre si (p>0,05).
Rodrigues e Grosso (2008) avaliaram a capacidade encapsulante da
goma do cajueiro em comparação à goma arábica utilizando extrato de café como
material de recheio e obtiveram maior concentração de microcápsulas com
tamanhos de 42,8 e 62,1 μm quando a goma arábica e a goma do cajueiro foram
utilizadas, respectivamente. Valores acima do encontrado no presente estudo
utilizando goma do cajueiro como material de parede e D-limoneno como recheio,
o qual obteve microcápsulas com tamanho médio variando de 13 a 19 μm.
Entretanto, o presente estudo utilizou um homogeneizador de alta pressão
dinâmica para obtenção de uma emulsão fina, enquanto que Rodrigues e Grosso
(2008) somente utilizaram um homogeneizador Ultra-Turrax a 16000 rpm por 5
min.
Porto e Cristianini (2018), produziram microcápsulas utilizando goma do
cajueiro como agente encapsulante e D-limoneno como material de recheio e
obtiveram valores de tamanho D4,3 e D0,5 de 18,26 e 15,18 μm, respectivamente,
valores similares aos obtidos no presente trabalho para D4,3 (14,73 a 18,81 μm) e
D0,5 (13,18 e 16,79 μm). Além disso, a modificação da goma do cajueiro por alta
pressão dinâmica não foi capaz de alterar o tamanho das microcápsulas, assim
como o processo de maturação controlada Tabela 4. Sendo assim, dentre as
tecnologias emergentes para modificação da goma do cajueiro como maturação
controlada, alta pressão dinâmica, alta pressão isostática da goma do cajueiro em
solução (Capítulo 3) e alta pressão isostática no exsudado bruto do cajueiro,
somente a última parece apresentar melhorias nas propriedades encapsulantes da
goma do cajueiro.
A Figura 6 apresenta a DTP das microcápsulas obtidas com os quatro
diferentes encapsulantes. O tamanho das microcápsulas variou de menor que 0,1
a 100 μm. Todas as microcápsulas obtidas apresentaram DTP bimodal, ou até
mesmo, polimodal. O pico com menor frequência para todas as amostras foi o que
apresentou tamanho de partículas em torno de 0,1 a 1 μm, sugerindo uma
possível quebra de microcápsulas durante o processo de atomização. A quebra de
167
microcápsulas é prejudicial para sua estabilidade e rendimento, já que o material
estará em maior contato com o ar atmosférico possibilitando a ocorrência de
oxidação e perda pela diferença de pressão de vapor, já que o D-limoneno se trata
de uma substância bastante volátil. Outra suposição para esse pico de pequenas
partículas é a secagem da goma do cajueiro que não estava adsorvida na
interface óleo/água, não realizando função de emulsificante. Em um estudo
realizado por Porto e Cristianini (2014) foi possível observar que nem toda a goma
do cajueiro fica adsorvida na interface óleo/água, uma parte fica dispersa na fase
contínua (água).
Figura 6. Distribuição de tamanho de partículas: Controle (goma do
cajueiro sem processamento), API 6 h (goma do cajueiro processada por alta
pressão isostática durante 6 h), Mat 24 h (goma do cajueiro processada por
maturação controlada durante 24 h) e Mat 48 h (goma do cajueiro processada por
maturação controlada durante 48 h).
O tamanho das microcápsulas obtidas por Rodrigues e Grosso (2008)
variou de 3 a 500 μm, esse comportamento também pode ser justificado pela
ausência da utilização de um homogeneizador a alta pressão a fim de produzir
emulsões finas.
Não foram encontrados trabalhos que avaliassem o tamanho das
microcápsulas obtidas com polissacarídeos modificados com maturação
controlada ou alta pressão isostática.
168
5.3.2.2 Microscopia eletrônica de varredura
As imagens obtidas por microscopia eletrônica de varredura (MEV) das
microcápsulas produzidas com os quatro diferentes materiais de parede estão
apresentadas na Figura 7. Todas as microcápsulas se apresentaram
características às microesferas obtidas por spra-dryer “bola murcha” (presença de
partes amassadas e encolhidas) (Porto; Furtado; Cristianini, 2017). Além disso, os
tamanhos das microcápsulas visualizados na Figura 7 estão em conformidade
com os valores de D4,3 apresentados na Tabela 4, onde a amostra API 6 h
apresentou menor tamanho.
Figura 5. Imagens das microcápsulas das amostras obtidas por
microscopia eletrônica de varredura: A (goma do cajueiro sem processamento -
controle), B (goma do cajueiro processada por alta pressão isostática durante 6 h -
API 6 h), C (goma do cajueiro processada por maturação controlada durante 24 h
– maturação 24 h) e D (goma do cajueiro processada por maturação controlada
durante 48 h - maturação 48 h). A barra de escala no canto inferior direito
corresponde ao tamanho de 50 µm.
Também foram observadas algumas microcápsulas quebradas, o que está
em acordo com as DTP’s apresentadas na Figura 6, apresentando uma DTP
bimodal ou polimodal.
5.3.2.3 Eficiência de encapsulação
A Tabela 4 apresenta os resultados da eficiência de encapsulação (EE)
das microcápsulas obtidas para os quatro diferentes emulsificantes. O processo
de alta pressão isostática (API 6 h) aumentou a EE da goma do cajueiro em 17%
169
(p≤0,05), enquanto que a maturação controlada não promoveu nenhuma alteração
(p>0,05).
Essa melhoria na propriedade encapsulante da goma do cajueiro
modificada por alta pressão isostática está relacionada às melhorias nas
propriedades emulsificantes.
Su, Flanagan e Singh (2008) avaliaram a EE de goma arábica modificada
por maturação controlada e obtiveram valores acima de 95%, valor acima do
encontrado para a goma do cajueiro modificada por maturação controlada no
presente estudo.
Rodrigues e Grosso (2008) obtiveram EE de 80% quando utilizaram goma
do cajueiro sem modificação como agente encapsulante utilizando extrato de café
como material de recheio, valor próximo ao encontrado no presente estudo para a
amostra controle.
Não foram encontrados trabalhos que avaliassem a eficiência de
encapsulação de microcápsulas obtidas com polissacarídeos modificados com alta
pressão isostática como material de parede.
5.4. Conclusão
O processo de maturação controlada promoveu poucas alterações às
propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro em comparação
com o processamento por alta pressão isostática. A goma modificada por
maturação controlada promoveu: a) aumento no tamanho das gotículas de óleo
das emulsões; b) aumento na distribuição de tamanho dessas gotículas; c)
aumento do potencial zeta (entretanto, esse aumento não foi suficiente para tornar
a emulsão estável eletrostaticamente); e d) melhorou a estabilidade das emulsões
em 81% para a goma maturada durante 24 h e 71% para a goma maturada
durante 48 h. Quanto as propriedades encapsulantes, o processo de maturação
controlada apenas reduziu a heterogeneidade das microcápsulas formadas.
Em contrapartida, o processo por alta pressão isostática (API) promoveu
diversas melhorias as propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do
cajueiro, tornando-se uma tecnologia promissora para tais finalidades. A goma
170
modificada por API produziu emulsões com tamanhos de gotícula de óleo (D3,2 e
D4,3) 18 e 19% menores, respectivamente, quando comparados às gotículas da
emulsão produzida com goma do cajueiro sem modificação. Além disso, reduziu a
consistência da emulsão, aumentou o potencial zeta e aumentou a estabilidade da
emulsão em 88% quando comparada a amostra controle, já no primeiro dia de
armazenamento. Em relação às propriedades encapsulantes, a goma do cajueiro
modificada por API produziu microcápsulas com tamanhos (D4,3 e D0,5) 19% e
22% menores, respectivamente, que a amostra controle, e aumentou a eficiência
de encapsulação em 17%.
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176
Discussões Gerais
Quatro métodos foram investigados quanto ao objetivo de promover
melhorias às propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro. O
método 1, apresentado no capítulo 2, consistiu de uma reticulação química com
trimetafosfato de sódio. Primeiramente, intencionou-se aumentar a hidrofobicidade
da goma do cajueiro através desse método, isolá-la e utilizá-la como emulsificante
e encapsulante. Entretanto, a elevada hidrofobicidade da goma do cajueiro,
mesmo quando reticulada com 0,5% de agente reticulante (trimetafosfato de
sódio), impossibilitou essa ideia inicial. Sendo assim, pensou-se em utilizar o
processo de reticulação química como um método de emulsificação e
encapsulação química.
O método de reticulação com 6% trimetafosfato de sódio gerou emulsões
instáveis e microcápsulas com baixa eficiência de encapsulação de óleo essencial
(D-limoneno). As etapas de alcalinização e acidificação presentes no processo
foram as principais causas da incapacidade de encapsulação da goma do
cajueiro. Sendo assim, o processo de reticulação com trimetafosfato de sódio nas
condições utilizadas no presente trabalho não foi eficaz em melhorar as
propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro.
Os outros três métodos utilizados foram métodos físicos. O método 2 foi a
aplicação da alta pressão isostática (API) a temperatura ambiente (25 °C) sobre
soluções de goma do cajueiro nos pH 3,2 e 3,7. Nas condições utilizadas no
presente estudo, esse método não produziu modificações relevantes para a
criação de uma goma com propriedades diferenciadas quando avaliada quanto ao
comportamento reológico, massa molecular, composição de monossacarídeos,
ligação entre os açúcares e calorimetria diferencial de varredura. Contudo, os
resultados foram favoráveis considerando que a goma do cajueiro é um aditivo
que possui aplicações na produção de alimentos. Sendo assim, caso um alimento
possua goma do cajueiro em sua composição e seja submetido a API como
método de conservação nas condições apresentadas no presente trabalho, a
goma do cajueiro processada não descaracterizará o produto final.
177
O método 3 foi a maturação controlada a 110 °C por 24 ou 48 h.
Naturalmente, as plantas produzem um exsudado que aumenta de massa
molecular com o passar dos anos. Para acelerar tal processo, foi desenvolvido e
patenteado um método baseado na aplicação de temperatura elevada (110 °C)
por um período de tempo que variou de 24 a 96 h. O processamento foi aplicado
no exsudado bruto da planta com o objetivo de favorecer a reação dos compostos
proteicos com os monossacarídeos arabinose e galactose, gerando a proteína
arabinogalactana (PAG). A PAG é um complexo de elevada massa molecular,
responsável por melhorar significativamente as propriedades emulsificantes da
goma arábica. Contudo, a maturação controlada não apresentou melhorias
significativas nas propriedades emulsificantes da goma do cajueiro.
O método 4 foi a aplicação de API a 60 °C por 6 ou 12 h sobre o exsudado
bruto do cajueiro. Esse método foi criado pensando no mesmo objetivo da
maturação controlada, mas utilizando a pressão como aliada ao favorecimento de
reações e temperatura menos elevada (60 °C). Ambos os métodos (3 e 4)
aumentaram a concentração da ligação 1→2 da arabinose, reduziram a ligação
terminal da glicose, promoveram um ligeiro aumento na massa molecular da goma
do cajueiro, além de reduzirem sua viscosidade aparente e sua entalpia de
melting. Além disso, a maturação controlada reduziu a concentração das ligações
terminal e 1→3,6 da galactose, aumentou o número de ligações 1→6 e reduziu a
entalpia de decomposição completa da goma do cajueiro. Enquanto que a API
aumentou sua entalpia de decomposição completa.
Como somente os métodos 3 e 4 promoveram alterações significantes nas
características físicas e químicas da goma do cajueiro. O método 2 não foi
investigado quanto às propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do
cajueiro.
Em relação às propriedades emulsificantes e encapsulantes investigadas
para os métodos selecionados 3 e 4, o processo de maturação controlada
promoveu poucas alterações quando comparado com o processamento por API. A
goma modificada por maturação controlada promoveu um aumentou no tamanho
das gotículas de óleo das emulsões e na distribuição de tamanho dessas
178
gotículas, aumentou o potencial zeta (entretanto, esse aumento não foi suficiente
para tornar a emulsão estável eletrostaticamente) e melhorou a estabilidade das
emulsões em 81% e 71% quando processada a 24 h e 48 h, respectivamente.
Quanto as propriedades encapsulantes, o processo de maturação controlada
apenas reduziu a heterogeneidade das microcápsulas formadas.
Em contrapartida, a goma modificada por API produziu emulsões com
tamanhos de gotícula de óleo (D3,2 e D4,3) 18 e 19% menores, respectivamente,
quando comparados às gotículas da emulsão produzida com goma do cajueiro
sem modificação. Além disso, reduziu a consistência da emulsão, aumentou o
potencial zeta e aumentou a estabilidade da emulsão em 88% quando comparada
a amostra controle, já no primeiro dia de armazenamento. Em relação às
propriedades encapsulantes, a goma do cajueiro modificada por API produziu
microcápsulas com tamanhos (D4,3 e D0,5) 19% e 22% menores,
respectivamente, que a amostra controle, e aumentou a eficiência de
encapsulação em 17%.
Sendo assim, o processo por API promoveu diversas melhorias as
propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro, tornando-se
uma tecnologia promissora para tais finalidades.
179
Capítulo 6. Conclusão Geral
180
CONCLUSÃO GERAL
O método de reticulação com 6% de trimetafosfato de sódio gerou
emulsões instáveis e microcápsulas com baixa eficiência de encapsulação de óleo
essencial (D-limoneno). As etapas de alcalinização e acidificação presentes no
processo foram as principais causas da incapacidade de encapsulação da goma
do cajueiro, tornando o processo de reticulação com trimetafosfato de sódio
ineficaz em melhorar as propriedades emulsificantes e encapsulantes da goma do
cajueiro nas condições utilizadas no presente trabalho.
Alta pressão isostática (API) a temperatura ambiente (25 °C) aplicada em
soluções de goma do cajueiro nos pH 3,2 e 3,7 não produziu modificações
relevantes para a criação de uma goma com propriedades diferenciadas quando
avaliada quanto ao comportamento reológico, massa molecular, composição de
monossacarídeos, ligação entre os açúcares e calorimetria diferencial de
varredura. Contudo, os resultados foram favoráveis considerando que a goma do
cajueiro é um aditivo que possui aplicações na produção de alimentos. Sendo
assim, caso um alimento possua goma do cajueiro em sua composição e seja
submetido a API como método de conservação nas condições apresentadas no
presente trabalho, a goma do cajueiro processada não descaracterizará o produto
final.
A maturação controlada a 110 °C por 24 ou 48 h e API a 60 °C por 6 ou 12
h sobre o exsudado bruto do cajueiro aumentaram a concentração da ligação 1→2
da arabinose, reduziram a ligação terminal da glicose, promoveram um ligeiro
aumento na massa molecular da goma do cajueiro, além de reduzirem sua
viscosidade aparente e sua entalpia de melting. Além disso, a maturação
controlada reduziu a concentração das ligações terminal e 1→3,6 da galactose,
aumentou o número de ligações 1→6 e reduziu a entalpia de decomposição
completa da goma do cajueiro. Enquanto que a API aumentou sua entalpia de
decomposição completa.
Em relação às propriedades emulsificantes e encapsulantes investigadas
o processo de maturação controlada promoveu poucas alterações quando
comparado com o processamento por API. A goma modificada por maturação
181
controlada promoveu um aumentou no tamanho das gotículas de óleo das
emulsões e na distribuição de tamanho dessas gotículas, aumentou o potencial
zeta (entretanto, esse aumento não foi suficiente para tornar a emulsão estável
eletrostaticamente) e melhorou a estabilidade das emulsões em 81% e 71%
quando processada a 24 h e 48 h, respectivamente. Quanto as propriedades
encapsulantes, o processo de maturação controlada apenas reduziu a
heterogeneidade das microcápsulas formadas.
Em contrapartida, a goma modificada por API produziu emulsões com
tamanhos de gotícula de óleo (D3,2 e D4,3) 18 e 19% menores, respectivamente,
quando comparados às gotículas da emulsão produzida com goma do cajueiro
sem modificação. Além disso, reduziu a consistência da emulsão, aumentou o
potencial zeta e aumentou a estabilidade da emulsão em 88% quando comparada
a amostra controle, já no primeiro dia de armazenamento. Em relação às
propriedades encapsulantes, a goma do cajueiro modificada por API produziu
microcápsulas com tamanhos (D4,3 e D0,5) 19% e 22% menores,
respectivamente, que a amostra controle, e aumentou a eficiência de
encapsulação em 17%.
182
Sugestões de Trabalhos Futuros
Para futuros trabalhos sugere-se:
1. Avaliar a utilização de espessantes (ex. goma xantana) nas
formulações das emulsões com goma do cajueiro com objetivo de
aumentar o potencial zeta das mesmas e proporcioná-las maior
estabilidade em função da repulsão eletrostática e por aumentar a
viscosidade da fase contínua, dificultando os choques entre as
gotículas de óleo;
2. Otimizar o processo de alta pressão isostática em relação a
temperatura, pressão e tempo, objetivando melhorar as características
emulsificantes e encapsulantes da goma do cajueiro e, ao mesmo
tempo, com menor custo de processo;
3. Elaborar uma formulação de bebida cítrica carbonatada a partir da
emulsão contendo goma do cajueiro como emulsificante em
substituição a goma arábica, produto importado pelo Brasil, e D-
limoneno como composto aromatizante e agente turvante.
183
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