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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE BIOLOGIA RAFAEL PEREIRA DA PONTE HISTÓRIA NATURAL E BIOLOGIA POPULACIONAL DE Deinopis cf. cylindracea (ARANEAE: DEINOPIDAE) NA SERRA DO JAPI - SP CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

RAFAEL PEREIRA DA PONTE

HISTÓRIA NATURAL E BIOLOGIA POPULACIONAL DE

Deinopis cf. cylindracea (ARANEAE: DEINOPIDAE) NA

SERRA DO JAPI - SP

CAMPINAS

2017

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RAFAEL PEREIRA DA PONTE

HISTÓRIA NATURAL E BIOLOGIA POPULACIONAL DE

Deinopis cf. cylindracea (ARANEAE: DEINOPIDAE) NA SERRA

DO JAPI - SP

Dissertação apresentada ao Instituto

de Biologia da Universidade Estadual

de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para obtenção do

título de Mestre em Ecologia.

ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELO ALUNO RAFAEL

PEREIRA DA PONTE E ORIENTADA PELO

PROF. DR. JOÃO VASCONCELLOS NETO.

Orientador: PROF. DR. JOÃO VASCONCELLOS NETO

CAMPINAS

2017

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Campinas, 09 de Fevereiro de 2017

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. João Vasconcellos Neto

Prof. Dr. Antonio Domingos Brescovit

Prof. Dr. Eduardo Novaes Ramires

Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa,

que se encontra no processo de vida acadêmica do aluno.

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Agradecimentos

Agradeço imensamente minha mãe e meu pai, que me deram as condições, o apoio e o

carinho necessários à tudo o que eu já desejei fazer em qualquer momento da minha

vida, incluindo esse mestrado. Sempre sem pestanejar e sem pedir nada em retorno que

não a minha felicidade. Agradeço também a toda minha família, que, de forma visível

ou invisível, fizeram sua contribuição nesse projeto e na minha vida!

Agredeço meu orientador, João Vasconcellos, pela confiança ao me aceitar como aluno

e me permitir trabalhar com esse animal incrível, por sua maestria em combinar

amizade e orientação, pela disponibilidade e boa vontade em me levar no campo e me

acompanhar, inspirar e guiar durante a condução dos trabalhos dentro e fora do Japi,

sempre providenciando fartas refeições e ótimas histórias!

Agradeço minha co-orientadora, Vanessa Stefani, também pela confiança ao me aceitar

como aluno e me permitir trabalhar com essa aranha que tanto despertou nossa

curiosidade mútua, pelo amor de pessoa iluminada que ela é, sempre me encantando

com sua orientação atenciosa, engrandecedora e descontraída, tanto presencialmente,

me acompanhando à campo, como pela internet, nas longas e divertidas horas de

conversas por skype que me salvavam nas horas mais desesperadoras!

Agradeço meus amigos do laboratório, Adriana, Benito, Bia, Camila, Hebert, Thiago e

Yuri, que de uma forma ou de outra contribuíram para que esse projeto ganhasse vida,

mas, especialmente à Suzana, pela ajuda com as análise, à Fernanda, pela divertidíssia

companhia no lab ao som dos anos 80, e ao German, pela parceria e risadas nos vários

campos noturnos que fizemos e pela ajuda inestimável com boa parte das estatísticas!

Agradeço à Veri, minha companheira durante boa parte dessa jornada. Sem a sua ajuda

eu não poderia ter entrado no mestrado e não teria condições físicas e mentais de

conduzir esse projeto. Sempre me socorrendo em campo sem pestanejar quando eu me

cagava de medo com barulhos estranhos e sempre diluindo minhas lamentações e

frustrações em todos os incontáveis momentos de alegria que compartilhamos e que

guardo com carinho!

Agradeço meus inestimáveis amigos do peito, da alma e da eternidade (assim espero),

Aline, Browlio, Devassa, Douglas, Gabi, Mari, Paula, Vó, Xorume e Zigson, que

contribuíram diretamente para a condução do projeto, me ajudando com discussões

relevantes, estatísticas, emprestando materiais, emprestando seu tempo pra me ajudar

nas triagens e nos passeios noturnos agradáveis em busca das aranhas, e também

indiretamente, com todos biorolês e ensaios da Véliger que me salvaram e continuam

salvando nos momentos mais sombrios e desesperadores!

Agradeço ao Prof. Dr. Jonathan A. Coddington do Museu Nacional de História Natural

Smithsonian, que prontamente indentificou a espécie estudada por nós. Aos

funcionários da base ecológica da Serra do Japi Seu Lauro e Ronaldo, pela gentileza e

assistência. À CAPES, pelo financiamento à esse projeto de pesquisa, que foi

magnífico, enquanto durou. Á UNICAMP, IB e PPG-Ecologia, pela oportunidade de

realização do estudo e pelas paisagens e meio de convívio propíciados. Por fim,

agradeço cada organismo que perturbei ou que involuntáriamente deu sua vida por esse

projeto. Fiz meu máximo para que suas vidas fossem honradas nesse estudo. E também

à você que leu até aqui! Valeu!

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Resumo

Aranhas da família Deinopidae são conhecidas principalmente por sua estratégia de

captura de presas. Existem muitos estudos sobre teia e estratégia de predação do gênero

Deinopis, mas poucos abordaram os outros aspectos da sua história natural e biologia.

Para esclarecer esses aspectos foi estudada uma população de Deinopis cf. cylindracea

da Serra do Japi – SP durante dois anos (2014-2015). O objetivo foi verificar: a

influência das variáveis climáticas sobre a densidade populacional e fenologia; a

distribuição da população; a seleção de presas; e o comportamento de construção de

teia, corte, cópula e deposição do ovissaco. Para tanto, foram feitos censos mensais

registrando a abundância de indivíduos de D. cf. cylindracea, estágio de

desenvolvimento, altura no tronco de P. cauliflora, abundância em outras árvores e

presas disponíveis e consumidas. Além disso, foram feitos registros do comportamento

de construção de teia, corte, cópula e de oviposição. Deinopis cf. cylindracea possui um

ciclo anual com densidade máxima em março e mínima após o início do inverno. Esse

ciclo é influenciado pelas variáveis climáticas, havendo uma defasagem de três meses

entre mudanças nessas variáveis e mudanças na população, o que indica uma influência

indireta por meio de outros processos afetados por essas condições climáticas. A

reprodução ocorre no mês do pico de machos, em abril/maio, seguido da produção de

ovissacos em junho, pico de jovens em dezembro, de juvenis em fevereiro, subadultos

em abril e adultos em maio. Essa população de D. cf. cylindracea está associada a

troncos lisos de P. cauliflora no ambiente natural, e ,em experimentos controlados,

escolheu ativamente troncos lisos a troncos rugosos ou serapilheira para construção da

teia, provavelmente devido a sua estratégia de predação de aproximar a teia do

substrato. A abundância de indivíduos foi maior nos 50 cm de tronco mais próximo ao

solo, o que se deve, provavelmente à maior comunidade de presas no solo. Quanto às

presas, D. cf. cylindracea capturou mais presas errantes que presas voadoras. Seu

comportamento de construção de teia foi idêntico ao descrito na literatura, enquanto o

de deposição do ovissaco foi diferente, havendo deposição no chão e cobrimento com

serapilheira.

Palavras-chave: Flutuação populacional, fenologia, estrutura etária, comportamento

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Abstract

Deinopidae spiders are known primarily for their prey capture strategy. The Deinopis

genus have many studies on web structure and predation strategy, but few have

addressed other aspects of its natural history and biology. To clarify these aspects this

study was conducted with a population of Deinopis cf. cylindracea in Serra do Japi –

SP, Brazil, for two years (2014-2015). The main purpose was to verify: the influence of

climatic variables on population density and phenology; population distribution; prey

selection; and web construction, courtship, copulation and eggsac deposition

behaviours. In order to do this, monthly censuses were conducted, recording the number

of D. cf. cylindracea individuals, their developmental stage, height in Plinia cauliflora

trunk, abundance in other trees, available prey and consumed prey. In addition, web-

building, courtship, copulation, and oviposition behaviors were recorded. Deinopis cf.

cylindracea has an annual cycle with maximum density in March and minimum during

winter. This cycle is influenced by climatic variables, with a three-month lag between

changes in these variables and changes in population size, which indicates an indirect

effect through other processes affected by climatic conditions. Reproduction occurs in

the month of male population peak, in April / May, followed by the eggsac production

in June, young spiders peak in December, juveniles in February, subadults in April and

adults in May. This population of D. cf. cylindracea is associated with P. cauliflora

smooth trunks in natural conditions and, in controlled experiments, actively chose

smooth trunks over rough trunks or litter for web construction, probably due to its

predation strategy of approaching the web to the substrate. There were more D. cf.

cylindracea spiders in the first 50 cm of trunk, closer to the ground, which is probably

due to the greater prey community in the soil. As for prey, D. cylindracea captured more

wandering prey than flying prey. Its web construction behavior was identical to the

literature description, while the eggsac deposition was different, with deposition on the

floor and addition of a leaf litter cover over it.

Key-words: Population fluctuation, phenology, age structure, behavior

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................ 9

2. Objetivos............................................................................................................... 14

3. Hipóteses .............................................................................................................. 14

4. Metodologia ......................................................................................................... 15

5. Resultados............................................................................................................. 29

6. Discussão.............................................................................................................. 58

7. Conclusão............................................................................................................. 72

8. Referências........................................................................................................... 73

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História Natural e biologia populacional de Deinopis cf. cylindracea

(Araneae: Deinopidae) na Serra do Japi – SP.

Introdução

Estudos sobre a História Natural (HN) de taxa megadiversos, como os artrópodes,

podem contribuir para o avanço do conhecimento básico sobre o funcionamento dos

ecossistemas (Kremen et al. 1993). Entre a enorme diversidade de artrópodes, as aranhas

compõem um dos grupos mais abundantes e estão envolvidas em processos essenciais dentro

do funcionamento da cadeia trófica (Roth 1993).

Em razão do grau de exigência a determinadas características abióticas

(temperatura, umidade) e bióticas (tipo de vegetação, disponibilidade de alimento e interações

competitivas), algumas populações de aranhas podem ser utilizadas como indicadores da

qualidade ambiental, se monitoradas suas respostas a modificações nas condições ambientais

(Foelix 2011, Brennan et al. 1999, Green 1999). Porém, para tanto, o conhecimento da HN

desses organismos predadores é de fundamental importância.

Estudos de HN foram cruciais no desenvolvimento de teorias importantes, como a

da seleção natural, da biogeografia de ilhas e dos conceitos modernos de especiação

(Falgarone 1998, Dayton & Sala 2001). Entretanto, pesquisas envolvendo a HN têm sofrido

desvalorização por revistas científicas e instituições de fomento (Greene 2005) e muitos

autores têm apontado suas preocupações a respeito do declínio dessa modalidade de

investigação científica (Able 2016). Apesar disso, estudos de história natural são tão

necessários hoje quanto eram nos primórdios das ciências naturais, pois impulsionam a

continuação do desenvolvimento da ecologia e biologia evolutiva (Ricklefs 2012) e formam

conhecimentos básicos para processos de avaliação de sistemas biológicos complexos

envolvidos na conservação e restauração de ambientes naturais (Able 2016).

Em aranhas, as variações na densidade da população são determinadas por

diversos fatores, que resultam em alterações na estrutura de idade, na razão sexual e mesmo

nos tamanhos dos indivíduos (Elias et al. 2011). Wise (1984) indicou que a disponibilidade de

recursos, em especial a abundância de presas, é particularmente importante, refletindo-se em

seus sucessos reprodutivos (Riechert & Gillespie 1986, Figueira & Vasconcellos-Neto 1992).

Na região tropical, Romero & Vasconcellos-Neto (2003) indicaram que não só a

disponibilidade de presas, mas também as variáveis climáticas são fatores que influenciam a

densidade populacional em aranhas. As variáveis climáticas também podem influenciar o

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período reprodutivo (Rossa-Feres et al. 2000), o tempo de desenvolvimento dos indivíduos

(Vlijm & Kessler-Geschiere 1967) e as atividades de forrageamento (Crouch & Lubin 2000).

Nesse sentido os estudos devem investigar como as variações sazonais nos fatores

abióticos afetam os fatores bióticos. Ambientes como florestas semi-deciduas tropicais, por

exemplo, possuem flutuações cíclicas na precipitação e temperatura, que acabam por

configurar duas estações climáticas bem definidas: uma estação seca e fria (outono e inverno)

e uma estação quente e chuvosa (primavera e verão) (Morellato & Haddad 2000). Essa

sazonalidade nos regimes de chuva e temperatura afetam a produtividade primária desse

habitat (Polis et al. 1998). Consequentemente, artrópodes que dependem dessa produtividade

têm populações maiores nos meses chuvosos, em que há mais produtividade, e menores nos

meses secos, em que há menos produtividade (Wolda 1978). Assim, esta mesma sazonalidade

poderá afetar predadores generalistas como as aranhas, pois as composições e abundâncias de

suas presas também serão alteradas (Nentwig 1983, Rypstra 1986). Desta maneira, as aranhas

devem ajustar suas fases de vida ou comportamentos de alta demanda energética a períodos

de alta disponibilidade de alimento, e vice-versa. Deve então haver uma adequação por parte

da aranhas entre o tempo em que ocorrem suas fases de vida e as flutuações climáticas

(Zimmerman & Spence 1998, Campón 2010). Essa relação temporal entre o clima e os

estágios recorrentes do ciclo de vida de uma espécie é o objeto de estudo da fenologia

(Schwartz 2013).

Durante a segunda metade do século XX o valor da ciência fenológica tem sido

reconhecido como uma medida integrativa importante da resposta animal e vegetal às

mudanças climáticas, desde escala local até a global, permitindo o estudo do impacto de

mudanças climáticas, como o aquecimento global, em ecossistemas naturais ou plantações

(Schwartz 2013). Esse tipo de análise da influência das condições climáticas para aranhas

pode produzir dados muito importantes uma vez que se trata de um grupo de predadores

generalistas com grande riqueza em diferentes tipos de habitat terrestre, e, portanto,

desempenham um papel importante na estruturação de comunidades e teias alimentares (Post

& Riechert 1977, Wise 1993, Fasola & Mogavero 1995). Conhecendo a fenologia de uma

determinada população de aranhas é possível aferir com mais propriedade quando devem

ocorrer as fases do seu ciclo de vida em diferentes ambientes e como também compará-las

com os ciclos das diferentes espécies no mesmo hábitat durante todo o ano (Turnbull 1966,

Wise 1984, Oraze et al. 1989, Vollrath 1986).

Em estudos com aranhas, o termo fenologia ja foi interpretado de diferentes

maneiras (Romero & Vasconcellos-Neto 2005, Miliczky et al. 2008, Nieto-Castañeda et al.

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2012). Nesse estudo, a fenologia é tida como sendo a estrutura etária da população ao longo

do tempo (Romero & Vascocellos-Neto 2003).

Estudos sobre fenologia de aranhas tem abordado diferentes famílias,

investigando história de vida em Araneide (Yeargan 1988, Messas 2014, Campón 2010,

Souza 2013), Theridiidae (Paquin & Dupérré 2001), Pisauridae (Zimmermann & Spence

1998), Thomisidae (Romero & Vasconcellos-Neto 2003), Lycosidae (Stefani et al. 2014) e

Selenopidae (Vaillanueva-Bonilla 2015, Villanueva-Bonilla & Vasconcellos-Neto, 2016),

mas nenhum estudo contemplou espécies de Deinopidae. Esse trabalho se propõe a preencher

esse vazio nos estudos dessa família.

As aranhas pertencentes à Deinopidae fazem uso da teia como uma ferramenta de

captura de presas, sendo predadores com estratégia senta-e-espera. Mudar frequentemente seu

local de forrageamento passa a ser um processo com uma demanda energética muito grande

visto que teriam que se deslocar e reconstruir a teia em cada novo local (Miyashita 2005).

Dessa maneira, alguns grupos de aranhas construtores de teias determinam se um local é

adequado para predação se baseando nas qualidades dos fatores abióticos (ex. luminosidade,

umidade, temperatura) (Voss et al. 2007) e bióticos (ex. presença de presas , co-específicos e

vegetação) (Hodge & Storfer-Isser 1997, Hardwood et al. 2003, Romero e Vasconcellos-Neto

2005).

A família Deinopidae é composta por dois gêneros: Deinopis MacLeay, 1839 e

Menneus Simon, 1876, sendo que no continente Americano ocorre apenas Deinopis, com

apenas nove espécies descritas para o Brasil (World Spider Catalog 2016). As aranhas do

gênero Deinopis são conhecidas principalmente por sua morfologia e comportamento -

grandes olhos medianos posteriores e sua estratégia de captura de presas. Deinopis possui

grandes olhos medianos posteriores, sendo provavelmente os maiores olhos simples

encontrados entre invertebrados terrestres, com uma capacidade de absorção de luz em seus

receptores visuais até 2000 vezes maiores que aranhas Salticidae ou que o olho humano (Blest

& Land 1977).

Deinopidae é uma das poucas famílias de aranhas que consegue manipular

ativamente sua teia e seu comporatamento de captura e a estrutura altamente especializada de

sua teia intrigaram pesquisadores e atrairam muitos estudos desde sua descoberta (Coddington

& Sobrevila 1987). Trata-se de uma teia de suporte triangular contendo no seu interior uma

rede orbicular modificada com formato quadrado um formato orbicular modificada de

formato quadrado. A aranha manipula os quatro cantos dessa teia de captura voltada para uma

superfície (Figura 1).

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Figura 1. Ilustração da teia de Deinopis cf. cylindracea com teia suporte (mais

clara) e teia de captura (mais escura)(A). Fêmea adulta de D. cf. cylindracea na teia em

posição de captura voltada para superfície de um tronco (B).

Quando as aranhas do gênero Deinopis detectam alguma presa abaixo de sua teia

usando sinais visuais, elas realizam um comportamento estereotipado de predação se lançando

em direção à presa e à envolvendo com a teia de captura, imobilizando-a com a aplicação de

mais teia e se alimentando (Robinson & Robinson 1971, Coddington 1986). Quando a presa é

voadora a vibração no ar provocada pelo voo é percebido pela aranha e ela realiza seu outro

comportamento esteriotipado de predação, abrindo a teia de captura no ar sobre seu

cefalotórax (Robinsons & Robinson 1971, Coddington & Sobrevila 1987, Getty & Coyle

1996).

A produção dessa teia é uma etapa chave da natureza expansiva da teia de captura.

Essa produção ocorre simultaneamente a um tratamento da teia feito pela aranhas com o

quarto par de pernas. Esse tratamento consiste em raspar a teia recém saída das fúsulas do

cribelo, órgão que produz a teia, com uma estrutura do metatarso da quarta perna em forma de

pente, denominada calamistro. Esse processo produz uma teia altamente expansiva formada

por três estruturas principais: duas fibras basais, que se posicionam paralelas no centro dessa

teia, duas fibras ondulatórias, que ficam ao lado das fibras basais mas diferente delas possuem

uma estrutura ondulada, e fibrílas, que são muito menos visíveis que as outras fibras e se

prendem nelas com um misto de formas retilíneas e emaranhados irregulares. A estrutura

emaranhada dessa teia permite que ela seja altamente expansiva e que tenha facilidade para se

enroscar nas estruturas das presas e, também, se aderir à superfícies da presa por forças de

Van der Waals ou forças (Hawthorn & Opell 2002), com atuação das fibras ondulatórias e das

fibrílas (Peters 1991).

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Os estudos sobre espécies do gênero Deinopis abordam principalmente

comportamento de construção de teia (Clyne 1967, Coddington 1986), distribuição (Blest &

Land 1977, Austin & Blest 1979, Leong & Foo 2009, Coddington & Sobrevilla 1987) e

comportamento de predação (Robinson & Robinson 1971, Coddington & Sobrevila 1987) e

fisiologia óptica dos olhos médios posteriores (Blest & Land 1977, Blest 1978, Blest et al.

1978, Laughlin et al. 1980, Blest e Prince 1981). Porém, existem alguns poucos trabalhos que

tratam também da camuflagem (Getty & Coyle 1996), composição de presas (Austin & Blest

1979), composição dos fios da teia de captura (Peters 1992) e estrutura do ovissaco (Berrantes

et al. 2014). A maioria dos estudos envolve a espécie Deinopis subrufa, mas alguns trabalhos

tratam de D. longipes, D. spinosus e D. amica, enquanto outros não conseguiram identificar

as espécies com que trabalharam.

Contudo, nenhum destes estudos focou populações, abordando variação

populacional, fenologia e distribuição em termos de habitat. Tão pouco trataram de temas

como seleção de presas e aspectos da reprodução como comportamento de cópula e

oviposição. Além disso, não há nenhum tipo de estudo com a espécie Deinopis cf.

cylindracea. Dessa maneira, este estudo se propõe a preencher estes vazios de conhecimento,

elucidando mais a respeito dos aspectos da biologia populacional e história natural de

Deinopis cf. cylindracea.

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Objetivos e hipóteses

Os objetivos do presente estudo foram:

(a) Verificar se a densidade populacional de Deinopis cf. cylindracea varia ao

longo do ano, descrever a fenologia de Deinopis cf. cylindracea e verificar como a densidade

populacional e fenologia se relacionam com as variáveis climáticas precipitação e

temperatura.

(b) Registrar os padrões de distribuição de Deinopis cf. cylindracea na área de

estudo, verificando quais sítios ocupam e como se distribuem verticalmente nas faixas de

altura nesses sítios.

(c) Registrar as presas disponíveis na área de estudo e verificar se existe seleção de

presas por Deinopis cf. cylindracea

(d) Descrever os comportamentos de construção da teia e de reprodução

relacionados à corte, construção do ovissaco e sitio de deposição dos mesmos. Além disso,

registrar comportamentos de cripticidade e defesa.

Nossas hipóteses são que:

(a) Períodos com maior temperatura e precipitação terão maior densidade

populacional e indivíduos mais desenvolvidos que épocas com menor temperatura e

precipitação;

(b) D. cf. cylindracea tem preferência por árvores com troncos lisos para construir

suas teias, visto que elas poderiam enroscar em superfícies rugosas quando projetam suas

teias para capturar presas, e sua distribuição vertical é uniforme nas diferetes faixas de altura;

(c) Não há seleção de presas por Deinopis cf. cylindracea;

(d) Os comportamentos de cripticidade, defesa, construção de teia e reprodução

realizados por D. cf. cylindracea devem ser os mesmos que os registrados para outras

espécies do gênero Deinopis.

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Metodologia

Área de estudo

O estudo foi desenvolvido na Serra do Japi, Jundiaí-SP, em uma área de Floresta

Estacional Semidecidual Montana. A Serra do Japi comprende um maciço de 354 km2

localizado dentro dos municípios de Jundiaí, Itupeva, Cabreúva, Pirapora do Bom Jesus e

Cajamar, aproximadamente entre 23º11'S e 46º52'W (Leitão-Filho & Morellato 1997), com

altitude variando de 700 a 1.300 e clima sazonal, com verão quente e úmido e inverno frio e

seco (Pinto 1992).

Os dados foram coletados na trilha junto ao sítio denominado “ Monte Horebe” (

23º.23'37.2"S 46º.92'51.8"W), no período compreendido entre janeiro de 2014 a dezembro de

2015. Neste período foi acompanhada uma população de Deinopis cf. cylindracea C.L. Koch,

1846 que se distribuía ao longo de uma trilha de 200m comprimento e 20 m de largura, a qual

continha 16 indivíduos de Plinia cauliflora (Mart.) Kausel 1956 (Myrtaceae) (Kausel 1956

em Flora do Brasil 2016). Estas plantas, popularmente conhecida como Jabuticabeira, medem

aproximadamente 20m de altura na área de estudo.Os dados climáticos (precipitação e

temperatura) foram obtidos da Estação Experimental de Jundiaí (ETEC), localizada a 8 km da

área de estudo, a 710 m de altitude. Como a temperatura diminui 0,6 ºC a cada 100 m de

altitude (Ogden & Powell 1979), os dados de temperatura foram ajustados para a área de

estudo, subtraindo 1,2 ºC, visto que a área de estudo está aproximadamente 200 mais alta. Os

dados de precipitação correspondem ao do posto meteorológico, o qual foi utilizado para

caracterizar o clima da Serra utilizando-se como modelo o Diagrama Climático segundo

Walter e Lieth (1968).

O regime de chuva não foi igual durante os dois anos de estudo (Figura 2). Em

2014, o ano foi atípico, tendo ocorrido uma redução significativa no regime de chuva, em

especial o verão foi muito menos chuvoso que no ano subseqüente. As temperaturas, por

outro lado, tiveram uma flutuação semelhante entre os dois anos. Apesar do período de seca, o

intervalo de dezembro a março, foi o mais quente e chuvoso, enquanto os meses de maio a

outubro foram os menos chuvosos e mais frios (Figura 2).

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Figura 2. Diagrama climático da Serra do Japi, Jundiaí, Brasil (segundo Walter &

Lieth, 1968), nos anos de 2014 e 2015. Áreas com linhas verticais indicam períodos úmidos.

Áreas escuras indicam períodos super-úmidos. Áreas pontilhadas indicam períodos secos.

Diagrama climático feito com o software Ecological Climate Diagram versão 2.0.

A aranha foi identificada como Deinopis cf. cylindracea por Jonathan A.

Coddington, do Departamento de Entomologia do Museu Nacional de História Natural

Smithsonian, que recomendou referir-se a ela por Deinopis cf. cylindracea. Dois casais de D.

cf. cylindracea utilizados nesse trabalho foram depositados por ele na coleção do Museu

Smithsonian. Os demais animais mortos durante esse trabalho serão depositados no Museu de

Zoologia “Professor Adão José Cardoso” da Unicamp.

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Coleta de dados

Flutuação populacional

Para avaliação do número de indivíduos de D. cf. cylindraceae utilizou-se como

unidade amostral a área da trilha com seus arbustos e os 16 indivíduos de P. cauliflora. Foram

realizadas inspeções mensais na área com foco especial nos 16 indivíduos de P. cauliflora ,

inspecionando também uma área circular de 1m de raio no entorno de cada cada árvore. Para

cada planta inspecionada foram registrados os números de indivíduos da aranha estudada.

Para testar a relação entre as variáveis climáticas e a flutuação populacional foi

utilizada a Correlação de Pearson, usando o software Bioestat 5.0. Inicialmente essa relação

foi testada entre os dados de precipitação e temperatura com relação ao tamanho populacional

mês a mês para elucidar se existe um efeito direto entre as variáveis (mês zero). Em seguida,

foi realizada uma análise com defasagem temporal para testar se a precipitação ou

temperatura influenciariam indiretamente o tamanho populacional, um, dois, três ou quatro

meses depois. Essa análise consistiu em uma Correlação de Pearson entre a variável climática

fixada e o tamanho populacional atrasado um mês, isto é, os dados de precipitação e

temperatura de um mês comparados com o número populacional do mês seguinte, ou de dois,

três, quatro meses à frente, dependendo do tempo de defasagem em questão. O melhor ajuste

da defasagem será indicado pelo maior valor de r e menor p-valor na Correlação de Pearson.

Uma vez determinado o tempo de defasagem em que as variáveis climáticas estão

melhor correlacionadas com a flutuação populacional de D. cf. cylindraceae, os dados foram

tratados com Log (n+1) e foi feita uma Regressão Linear, no software R 3.2.5, entre o

tamanho populacional e a precipitação/temperatura, com o propósito de medir o tamanho do

efeito de cada uma dessas duas variáveis climática sobre a população.

Em seguida foi testado se haveria colinearidade entre as variáveis climáticas,

precipitação e temperatura, com uma Regressão Linear entre estas variáveis. Em caso de

colinearidade, foi escolhida a variável que melhor explicou a variação nos dados de flutuação

populacional, isto é, que teve maior r2 na Regressão Linear.

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Fenologia de Deinopis cf. cylindracea

As variações temporais na estrutura etária foram utilizadas para descrever a

fenologia da população de Deinopis cf. cylindracea de acordo com estudos de Romero &

Vasconcellos-Neto (2005). Nesse sentido, em cada censo mensal da população foi registrado

o estágio de desenvolvimento (instar) de cada indivíduo. O instar foi determinado a partir de

uma avaliação visual do tamanho do tórax, comprimento das pernas e caracteres sexuais

secundários. Observações à priori mostraram que o estágio de desenvolvimento compreendia

cerca de oito instares até a fase adulta. Desta maneira, os indivíduos também foram

classificados em cinco classes de idade, sendo elas: recém-nascido (instar 2 - recém

emergidos do ovissaco), jovem (ínstares 3 e 4), juvenil (ìnstares 5 e 6), subadulto (instar 7) e

adulto (instar 8) (Figura 3). Essa classificação foi baseada em observações pessoais de

diversos indivíduos em campo previamente ao trabalho. Não foi feito um estudo sobre o

desenvolvimento de D. cf. cylindracea.

Figura 3. Vista dorsal dos diferentes ínstares de Deinopis cf. cylindracea na Serra

do Japi – SP. A-2º instar, B-3º instar, C-4º instar, D-5º instar, E-6º instar, F-Fêmea subadulta,

G-Macho subadulto, H-Fêmea adulta e I-Macho adulto.

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Com esse conjunto de dados da abundância de cada classe de idade por mês foi

feito também um fenograma, que mostra a progressão de cada classe de idade ao longo dos

dois anos, com os dados transformados em porcentagem.

A partir dos dados populacionais de cada instar que foram agrupados segundo as

categorias acima mencionadas, foram feitos histogramas circulares, utilizando o software

Oriana, para representar a abundância de cada classe de idade em cada mês ao longo do ano.

O histograma de cada mês r corresponde à média dos dados coletados para aquele mês nos

dois anos. Esse gráfico possui ângulo médio, que indica o mês em que os dados estariam mais

aglomerados, isto é, que teria mais indivíduos (pico populacional) na população composta

pela classe de idade estudada e um intervalo de confiança para os dados de cada classe de

idade. Para confirmar se há realmente essa distribuição unimodal (com apenas um pico) ou se

a distribuição seria uniforme, foi aplicado o Teste de Rayleigh (Fisher, 1993, p. 70; Zar, 1998,

p.616; Mardia & Jupp, 2000, p.94). O mesmo histograma circular foi feito para indivíduos

adultos, separando-se em duas subcategorias de adultos. A intensidade do pico populacional, é

representada pelo comprimento do vetor médio (r), um valor de 0 a 1 que indicaria o nível de

aglomeração desses dados ao redor da média.

Além disso, em cada mês foram registrados os sexos dos indivíduos adultos e

subadultos, quando possível. Com esses dados, foi verificado se a proporção sexual era

desviada para um dos sexos em relação ao outro em cada mês, aplicando-se o Teste G. Os

subadultos cujo sexo não podia ser determinado ainda foram contabilizados nas análises

fenológicas dos estágios de desenvolvimento.

Distribuição vertical na vegetação e preferência por substratos

Estratificação vertical

Nas observações preliminares ao estudo populacional a grande maioria dos

individuos de Deinopis cf. cylindracea foi encontrada em caules de Plinia cauliflora.

Para verificar se havia preferência de Deinopis cf. cylindracea para construir suas

teias em diferentes alturas na vegetação foi registrado nos censos mensais além do instar do

indivíduo a altura em que cada deinopídeo se encontrava em relação ao caule de P.

cauliflora. Para tal, o tronco foi dividido em seis classes de altura em metros: 0 a 0,5; 0,51 a

1; 1,01 a 1,5; 1,51 a 2; 2,01 a 2,5 e acima de 2,51 . Foram então comparados o número de

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indivíduos em cada classe de altura com um teste de Kruskall-Wallis (Hollander & Wolfe

1973) e teste post-hoc de Dunn (Q), utilizando o softaware R 3.2.5 com os pacotes

kruskal.test (Kruskal & Wallis 1952) e dunn.test (Dunn 1964). Os mesmos testes estatísticos

foram usados para testar se os ínstares de D. cf. cylindraceae ocupariam diferentes faixas de

altura no tronco.

Preferência por substrato

Observações preliminares apontavam a ocorrência freqüente de D. cf.

cylindraceae em árvores com troncos lisos. Para verificar se esta espécie de aranha ocorria

com maior freqüência em árvores com estas características em relação a árvores com troncos

rugosos foram adotados dois procedimentos, um de observação de campo e outro

experimental em laboratório. Nossa hipótese é de que D. cilindraceae constuiria suas teias

associadas a troncos lisos uma vez que caçam lançando sua teia (rede de captura) sobre a

presa, o que diminuiria as chances da rede de captura ficar presa ao tronco aumentando as

chances de escape da presa. Para verificar em ambiente natural se esta aranha ocorre em

maior freqüência em árvore de troncos lisos em relação a árvores de troncos rugosos, foram

inspecionadas 16 árvores de P. caulifora (que possuem tronco liso) e 40 árvores nativas com

troncos rugosos. Este procedimento foi realizado nos meses de maior abundancia de D.

cilindraceae nos dois anos de estudo. As frequências de D. cf. cylindraceae em troncos lisos

e rugosos foram comparadas por Teste qui-quadrado.

Para verificar se D. cf. cylindraceae tem preferência por trocos lisos para construir

sua teia em relação a troncos rugosos foi realizado um experimento de laboratório em

ambiente controlado padronizando-se as condições de modo a simular o ambiente de campo.

Foram utilizadas caixas plásticas fechadas com as seguintes dimensões: 56 cm de

comprimento por 35 de largura e 34 de altura. No fundo da caixa foi colocada serapilheira e

dois pedaços de tronco em pé, um liso e outro rugoso de aproximadamente 15 cm de diâmetro

e 30 cm de altura. O tronco liso pertence à espécie Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P.

Queiroz (Queiroz 2009 em Flora do Brasil 2016) e o rugoso à espécie Jacaranda mimosifolia

D. Don. Em cada caixa os troncos tinham os mesmo diâmetros para que as superfícies lisas e

rugosas oferecidas para escolhas fossem sempre muito semelhantes (~1380cm2), sendo a

superfície da serapilheira ligeiramente maior (~1690cm2). Os indivíduos de D. cf.

cylindraceae foram coletados em março de 2015, em outro sítio da Serra do Japi para não

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afetar a dinâmica da população utilizada no censo. Cada aranha foi solta no centro da arena,

entre os dois pedaços de tronco e permaneceram na caixa por três noites para acomodação

(aclimatação), sendo que a leitura de qual tronco foi escolhido para construção da teia só foi

registrado na terceira noite ( n=29) ( Figura 4).

Figura 4. Esquema do experimento de escolha de substrato (a). Estrutura do

experimento: caixa plástica com serapilheira, tronco rugoso (esquerda) e tronco liso de

(direita) (b). Deinopis cf. cylindracea com teia armada em tronco liso durante experimento

(c).

As frequências de escolha de cada substrato foram transformadas em porcentagem

e foi aplicado o teste de X2 com nível de significância de 0.05.

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Presas

Durante as quantificações mensais da população de D. cf. cylindraceae foram

registradas as presas consumidas por estas aranhas (presas efetivas). Uma vez encontrado a

presa na teia, esta era fotografada ou removida para posterior identificação. As presas foram

identificadas até o nível de Ordem, com exceção de Formicidae.

Para medir quais presas estariam disponíveis para D. cf. cylindraceae foram

utilizados dois tipos de armadilhas:

O primeiro tipo de armadilha foi utilizado com o objetivo de capturar presas que

teriam acesso ao tronco por meio de voo ou planando. Ela consistia de uma folha de acetato

(PVC) transparente (placas) de dimensões 15 cm x 10 cm coberta com cola entomológica

translúcida (marca Colly) (Figura 5). Foram sorteados 10 indivíduos de P. cauliflora (usando

uma moeda para a escolha). As placas foram fixadas com o uso de pregos e colocadas a uma

altura de 1,40 m, distantes 1,5cm do tronco (essa distância foi necessária para evitar a captura

da aranha estudada e garantir que capturasse apenas inseto por meio de voo ou planado)

seguindo a metodologia de Messas (2014). As armadilhas foram deixadas no ambiente por

três dias e três noites, sendo então recolhidas e levadas para contagem em laboratório dos

organismos capturados. Esse procedimento foi feito uma vez por mês durante 19 meses, de

Janeiro de 2014 a Julho de 2015.

Figura 5. Armadilha de lâmina de plástico transparente com cola entomológica

(Foto por Yuri Messas)

O segundo tipo de armadilha foram dois subconjuntos de pitfalls, utilizados com o

propósito de capturar presas que caminhavam sobre dois substratos: o tronco de P. cauliflora

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e o solo ao redor da árvore. Essa armadilha consistiu em três recipientes fixados na árvore e

três enterrados com a abertura na altura do solo (Figura 6). Como existiam dois pares de

árvores onde as duas estavam muito próximas (1m de distância), para evitar pseudo-réplicas

os pitfalls foram distribuídos nesses pares de árvores como se fossem uma única árvore e,

além disso, foi excluído do experimento um indivíduo aparentemente morto de P. cauliflora

totalizando 13 árvores. Os recipientes enterrados eram copos descartáveis de 500 ml. Os

recipientes fixados na árvore eram garrafas vazias de álcool de 1L com o fundo removido e

virado pra cima (Pizón & Spencer, 2008). Como essas garrafas foram presas apenas em um

ponto da sua abertura, tendo apenas 2 cm da abertura em contato com a árvore, foram fixados

dois guias nesse ponto de contato para aumentar a área de amostragem, tornando-a

equivalente ao perímetro dos copos no solo, para que os números de indivíduos capturados

nos dois substratos pudessem ser comparáveis. Pitfalls de solo não produzem informações a

respeito da diversidade em estratos mais altos da vegetação (Merrett & Snazell 1983), por isso

foram utilizados pittfalls no tronco também.

Figura 6. Pitfalls de tronco e solo posicionados em Plinia cauliflora (A), com

detalhe do pitfall de tronco com guias (B) e de solo com tampa plástica (C).

Todos os pitfalls foram preenchidos com 300 ml de álcool 40% para preservação

e detergente, e os pitfalls do solo recebiam uma cobertura com prato descartável para proteção

contra chuva. Essa amostragem da comunidade ocorreu apenas uma vez por mês, de agosto a

dezembro de 2015. As armadilhas ficavam abertas durante três noites, sendo que durante o dia

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recebiam uma tampa que prevenia a queda de organismos. Isso restringiu a amostragem ao

período noturno, em que as aranhas estavam ativas. Previamente à sua instalação foram feitas

medidas de frequência de D. cf. cylindraceae nas diferentes alturas do tronco, para que os

pitfalls fossem instalados em alturas onde a aranha era mais frequente. Assim, foram

instalados dois pitfalls na altura de 0,4m e um em 1,4 m, totalizando três pitfalls no tronco de

P. cauliflora. Os pitfalls do chão foram instalados ao redor da árvore (mais próximo possível,

pois em alguns locais as raízes impediam a aproximação) de maneira a ficarem equidistantes

entre si.

Ao fim de três noites, as armadilhas eram recolhidas e as amostras levadas para

triagem em laboratório. Os animais capturados foram classificados até o nível de Ordem, com

exceção da famíia Formicidae. Cada Ordem teve seus indivíduos separados em três classes de

tamanho: pequenos (<5 mm), médios (5 a 16 mm) e grandes (>16 mm). Essas classes foram

escolhidas baseadas nos tamanhos das 52 presas consumidas por D. cf. cylindracea ao longo

dos dois anos de estudo, cujo intervalo de tamanhos foi de 5 mm a 16 mm. Isso significa que

os tamanhos médios são os tamanhos que podem ser consumidos pela aranha, segundo as

presas efetivamente capturadas e consumidas. As presas pequenas e grandes seriam conjuntos

de presas cujo tamanho, reduzido ou demasiadamente grande, impediria o consumo dela por

D. cf. cylindracea. As análises estatísticas foram feitas levando em conta todos os grupos de

presas efetivas e das armadilhas, mas somente foram representados nos gráficos os grupos

com maior representatividade ou relevância nos resultados das análises.

A primeira análise teve o objetivo de verificar quais grupos de presas eram

predados por D. cf. cylindracea em uma frequência diferente do que seria esperado. Essa

frequência esperada de predação foi baseada na abundância de cada grupo no ambiente, como

amostrado pelas armadilhas com cola e pitfall. Assim, seria a frequência esperada de predação

de cada grupo caso a aranha não tivesse preferência por presas, apenas predando o que

haveria disponível no ambiente. Para isso foi feito um Teste G comparando a distribuição de

abundância de presas efetivas e a distribuição de abundância de presas capturadas pelas

armadilhas. Como os intervalos de tempo de amostragem das armadilhas foram diferentes, foi

usado o período de agosto a dezembro de 2014 da placa, em comparação com o mesmo

período em 2015 das armadilhas de queda.

Se as distribuições fossem diferentes seria feito um segundo Teste G entre as

frequências, em porcentagem, de cada grupo de presa separadamente, comparando o a

frequência esperada com a frequência observada. Isso determinaria se cada grupo de presa é

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predado menos que o esperado por sua disponibilidade, mais do que o esperado ou

equivalente ao esperado.

Esse esperado foi calculado separadamente para a armadilha de placa adesiva e

para a de pitfall e ele tem relação com a abundância de cada presa como indicado por estas

armadilhas. Seu calculo era feito transformando a frequência de cada grupo coletado pela

armadilha em fração (grupo/total), e depois multiplicando isso pelo número observado do

mesmo grupo nas presas efetivas. Feito isso com todos os grupos, o resultado de cada uma era

transformado em porcentagem, obtendo-se a frequência esperada, assim como os números

absolutos das presas efetivas, obtendo-se a frequência observada. Este foi o tratamento dos

dados para obter as frequências em porcetagem que foram usadas nas análises e nas

representações dos gráficos.

O terceiro teste foi feito com o objetivo de verificar se D. cylindracea consumiu

presas independentemente do tamanho ou se haveria uma faixa de tamanho preferencialmente

predada. Para isso, as duas Ordens de presas efetivas mais frequentes tiveram sua frequência

observada compara com a frequência esperada nas três classes de tamanho (P, M e G) através

de um Teste qui-quadrado no software Bioestat 5.0.

Uma vez verificado quais Ordens e tamanhos de presas capturadas pelas

armadilhas de pitfall estariam efetivamente disponíveis para seu consumo, obteve-se um perfil

mais exato das presas em potencial por D. cf. cylindracea.

Esse novo perfil de presas foi composto apenas pelas presas dentro da faixa de

tamanho obtida no teste anterior. A distribuição das abundâncias das presas desse novo perfil

foram então comparada com a distribuição das presas efetivas com um Teste G. Em seguida

foi feita uma comparação com Teste G entre a frequência, em porcentagem, de cada presas

esperada nesse novo perfil e a frequência das presas observadas.

Com o novo perfil de dados de presas disponíveis, foi verificado se a distribuição

vertical de D. cf. cylindracea no tronco de P. cauliflora poderia ser explicada por diferenças

na comunidade de presas entre o tronco dessa árvore e o solo ao redor dela.

Para avaliar a variação da composição das comunidades de presas entre os

substratos tronco e solo ao longo dos cinco meses, utilizou-se uma Análise de Variância

Multivariada Permutacional (PERMANOVA), a partir do software Primer 6 & Permanova +.

Foi utilizado apenas um fator explanatório, que foi o substrato (solo e tronco). A análise foi

baseada na matriz de similaridade de Bray-Curtis com 9.999 permutações, construída a partir

dos dados de abundância de presas potenciais nos pitfalls de tronco e solo durante os meses de

Agosto a Dezembro de 2015, em cada indivíduo de P. cauliflora. Baseado nessa matriz de

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similaridade, foi feito um gráfico de escala multidimensional (MDS) para ilustrar o nível de

similaridade entre as amostras dos dois substratos. Em seguida foi aplicado um teste a

posteriori par-a-par para descobrir se há efetivamente uma diferença entre as comunidades de

presas de solo e tronco. Além disso, foi feita uma análise de SIMPER para descobrir quais

grupos de presas foram os principais contribuintes nas diferenças entre essas comunidades em

cada mês. Desta análise foram selecionados os três grupos de presas principais em cada um

dos meses para a representação do percentual de contribuição para a dissimilaridade de cada

um e de sua abundância total em relação aos outros grupos.

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História Natural

Hábito e camuflagem

Os dados de história natural de D. cf. cylindraceae foram coletados mensalmente

durante os dois anos de estudo. Esses dados compõem informações de comportamentos e

características diversas, como hábito de vida, horário de atividade, posturas e coloração

cripticas.

Construção de teia

A descrição da teia e das fases do processo de construção foram baseadas em

fotografias e observações de diversos indivíduos (n= 40) em campo. Em algumas fotografias,

amido de milho foi pulverizado sobre a teia para evidenciá-la (Eberhard 1976).

Posteriormente, algumas imagens tiveram a teia evidenciada por linhas adicionadas por

computador sobre as imagens das teias usando um o software Paint.

Comportamento reprodutivo

Em 23 de março de 2016 foi registrado o comportamento de corte e cópula de um

casal em ambiente natural. A descrição deste comportamento foi feita baseada em fotos

tiradas na noite do dia 23 de Março de 2016, quando um casal estava em processo de corte e

cópula em um indivíduo de P. cauliflora.

Ovissaco

Para a obtenção de dados referentes aos ovissacos, foram coletadas, em março de

2015, 25 fêmeas adultas de D. cf. cylindraceae em outro sitio para não afetar a dinâmica da

população utilizada no censo. Destas, 12 fêmeas que estavam grávidas foram então

individualizadas em terrários para a descrição do comportamento de produção de ovissaco.

Além disso, foi realizado um experimento controlado para descrição do

comportamento de ocultamento do ovissaco. Esse experimento consistia em colocar as fêmeas

grávidas em terrários e organizar elementos de serapilheira (ex: fragmentos de folhas e ramos

secos) lado a lado no fundo de cada terrário de uma forma homogenea. Então era feita uma

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fotografia da distribuição original dessa serapilheira antes e depois do comportamento de

oviposição pelas fêmeas. Esse proceddimento permitiu comparar se a disposição dos

elementos da serrapilheira havia sido modificada, onde os elementos do chão haviam sido

movimentados ou reorganizados pela aranha..

Os dados referentes ao ovissaco, como dimensões, número médio de ovos ou

recém-nascidos por ovissaco, época de produção e comportamento de confecção, foram

obtidos a partir dos ovissacos produzidos nesse experimento, porque em campo é muito difícil

localizar os ovissacos.

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Resultados

Flutuação populacional

A população de Deinopis cf. cylindracea apresentou sazonalidade bem definida,

com maior população na temporada chuvosa, no verão e começo do outono, e menor nos

meses mais secos, durante o inverno e primavera (Figura 7). Em ambos os anos foi observado

um pico populacional de até 35 indivíduos em fevereiro-março, seguido de uma queda da

população até maio. Em 2014 essa queda foi mais brusca, ocorrendo em apenas um mês,

enquanto em 2015 ela levou dois meses o declínio populacional. Após essa primeira queda

populacional, aconteceu um período de menor flutuação até julho com 13 a 17 indivíduos,

seguido de um pequeno crescimento em junho-julho e uma segunda queda populacional, desta

vez no início do Inverno. Nos meses que seguem a população permanece muito baixa, com

três a seis indivíduos em cada mês, até que dezembro-janeiro, quando então a população

voltou a crescer rapidamente, chegando ao seu pico no mês seguinte.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Janei

ro

Fever

eiro

Mar

ço

Ab

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Mai

o

Junho

Julh

o

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o

Sete

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Ou

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vem

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Deze

mbro

Janei

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Fevei

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Junho

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Ou

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No

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bro

Deze

mbro

2014 2015

Núm

ero

de

ind

ivíd

uo

s

Figura 7. Flutuação populacional de Deinopis cf. cylindracea ao longo de dois

anos.

O teste de colinearidade mostrou que os dados de precipitação e temperatura estão

correlacionados (r2 ajustado= 0,307, F= 11,19, g.l. = 22, p-valor < 0.01). Dessa maneira, não

conseguimos separar o efeito da precipitação do efeito da temperatura. Portanto, essas duas

variaveis foram consideradas uma única, denominada variáveis climáticas, que seria referente

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ao efeito conjunto da precipitação e temperatura. Foram escolhidos os valores relativos à

precipitação para uso nas análises estatísticas do efeito das variáveis climáticas.

Não foi encontrada relação entre o número populacional e a pluviosidade no tempo zero.

Entretanto, o efeito do aumento da precipitação se expressou sobre o aumento da abundância

de aranhas três meses depois (Time-lag de três meses – Tabela 1). Quando alinhados com três

meses de defasagem, a Correlação de Pearson mostrou que 43% da flutuação populacional de

D. cf. cylindracea é explicado pela variável climática (r2 ajustado= 0.4384, F= 16.61, g.l.=19,

p-valor < 0.001) (Figura 8) (Tabela 1).

Figura 8. Flutuação populacional e curvas de pluviosidae e temperatura durante

os dois anos de estudo sem defasagem temporal. Os valores indicam o resultado da regressão

linear entre as variáveis climáticas e o número populacional.

Tabela 1. Resultados da Correlação de Pearson para diferentes tempos de

defasagem (time lag) entre a variável preditora e a flutuação populacional.

r p r p

0 -0.0047 0.9828 0.2684 0.2046

1 0.3333 0.1201 0.4543 0.0294

2 0.5079 0.0158 0.4448 0.038

3 0.6180 0.0028 0.6437 0.0016

4 0.6242 0.0032 0.4099 0.0725

Time lagTemperatura Precipitação

Aranhas

15

17

19

21

23

25

27

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Outu

bro

Novem

bro

Dez

embro

Janei

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Fev

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Outu

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Novem

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Dez

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2013 2014 2015

Tem

per

atu

ra (

oC

)

Plu

vio

sidad

e (m

m)

População Pluviosidade Temperatura

r= 0,64

p <0,01

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Fenologia de Deinopis cf. cylindracea

A abundância relativa de cada instar de D. cf. cylindracea não foi constante ao

longo dos dois anos (Figura 9), havendo picos distintos para a maioria das fases de

desenvolvimento. A população de Deinopis cf. cylindracea como um todo apresentou pico em

março (r=0.395, Z=45.092, p<0.0001) (Tabela 2).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Jan

eiro

Fev

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Mar

ço

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Mai

o

Jun

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Julh

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Dez

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eiro

Mar

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Mai

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Jun

ho

Julh

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Dez

embro

2014 2015

Fre

quê

ncia

d

e in

div

íduo

d

e D

ein

opis

cf.

cylin

dra

cea

Recém-nascido Jovem Juvenil Sub-adulto Adulto

Figura 9. Fenograma mostrando a proporção de cada instar de Deinopis cf.

cylindracea em cada mês, de janeiro de 2014 a dezembro de 2015.

Não foi encontrado pico para recém-nascidos, uma vez que o número amostral foi

pequeno demais para uma análise conclusiva. Porém, a maioria dos indivíduos dessa faixa

etária foi registrada entre julho e outubro. Indivíduos jovens tiveram pico em dezembro,

juvenis em março, subadultos em abril e adultos em maio (Tabela 2, Figura 10). Entretanto,

como há sobreposição dos intervalos de confiança, não podem ser separados os picos de

subadultos e adultos, o que indica que esses estágios de desenvolvimento possuem alguma

sobreposição entre maio e abril.

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Figura 10. Histograma circular da abundância de Deinopis cf. cylindracea jovens

e juvenis (A) e subadultos de adultos (B) ao longo do ano. A linha preenchida do centro à

borda é o ângulo médio, que indica o ponto do pico populacional de cada ínstar, e a linha

curva externa indica o intervalo de confiança da distribuição da população ao longo do ano.

O único ovissaco encontrado em campo foi registrado em maio de 2014. Em maio

de 2015, os indivíduos da população usada no experimento de oviposição também iniciaram a

produção e deposição de ovissacos (N=12) neste mes, o que reforça que esse seja o período de

oviposição para a espécie.

Durante os dois anos de censo foram registrados 149 indivíduos de D. cf.

cylindraceae cujo sexo pôde ser determinado. O pico de machos ocorreu em abril e o pico de

fêmeas em Maio (Figura 11, Tabela 2). Houve predominância de fêmeas sobre machos nos

meses de abril de 2014 (razão sexual = 7:1, G=4.76, p<0.05), e em 2015 nos meses de agosto,

setembro, outubro e dezembro só ocorreram fêmeas. Nos meses restantes, não houve

predominância de um dos sexos.

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33

Figura 11. Histograma circular indicando a abundância de machos e fêmeas de

Deinopis cf. cylindracea ao longo do ano. A linha preenchida do centro à borda é o ângulo

médio, que indica o ponto do pico populacional de cada ínstar, e a linha curva externa indica o

intervalo de confiança da distribuição da população ao longo do ano.

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Tabela 2. Número amostral (Número de observações), Mês de pico (Média do

grupo), Comprimento do Vetor Médio e resultados do Teste de Rayleigh para os dados do

censo populacional de cada instar de Deinopis cf. cylindracea ao final da tabela fechar com

uma linha

Spiderling Jovem Juvenil Subadulto Adulto Macho Fêmea Total

Média do grupo junho dezembro março abril maio abril maio março

Número de observações 5 21 85 76 102 53 96 289

Vetor médio (µ) 180° 349.598° 63.162° 98.409° 127.495° 106.79° 128.424° 89.458°

Comprimento do vetor médio (r) 0,391 0,52 0,636 0,429 0,441 0,693 0,375 0,395

Mediana 195° 345° 45° 75° 135° 105° 135° 75°

Desvio padrão circular 78.54° 65.492° 54.506° 74.582° 73.354° 49.085° 80.289° 78.093°

Teste de Rayleigh (Z) 0,764 5,686 34,386 13,961 19,804 25,441 13,473 45,092

Teste de Rayleigh (p) 0,49 <0.01 <0.0001 <0.0001 <0.0001 <0.0001 <0.0001 <0.0001

Associação com troncos lisos

Quanto à distribuição, foram encontrados deinopídeos em todos os 16 indivíduos

de P. cauliflora analisados, enquanto, das 40 árvores com tronco rugoso, foi feito apenas um

registro de D. cf. cylindracea. Isso mostra uma frequência muito maior dessa aranha em

árvores de tronco lisos do que em troncos rugosos (X2=479.83, gl.l=3, p<0.0001) (Figura 12).

0

25

50

75

100

Liso Rugoso Liso Rugoso

2014 2015

Fre

quê

ncia

d

e D

. cy

lind

race

a (%

) Observado

Esperado

Figura 12. Frequência (%) observada e esperada de D. cylindracea em troncos

lisos e rugosos na Serra do Japi – SP nos anos de 2014 e 2015.

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Preferencia por substrato

No experimento de seleção de substrato as escolhas feitas pelas aranhas foram

diferentes do esperado (X2=63.882, g.l. = 3, p< 0.0001) (Figura 13). O substrato mais

escolhido para construção de teia de captura foi o tronco liso, seguido da serapilheira, e de

troncos rugosos.

Figura 13. Frequência (%) de construção de teias de D. cf. cylindracea

observadas e esperadas em diferentes substratos: tronco liso, tronco rugoso, plástico e

serapilheira, com número amostral indicado sobre as barras.

Estratificação vertical

Foram encontrados indivíduos adultos com teia próximos ao chão até no tronco de

P. cauliflora a 3 m de altura com sua teia de captura. Foram encontrados indivíduos de 4º

instar próximo a arbustos com troncos finos e bem próximos do solo.

Não foi encontrada diferença nas alturas ocupadas por cada ínstar (Kruskal-Wallis

X2 = 17.7554, g.l. = 10, p-valor = 0.059). Por outro lado, houve diferença na frequência de D.

cf. cylindracea entre as diferentes classes de altura (Kruskal-Wallis X2 = 39.2149, g.l. = 5, p-

valor <0.001), sendo que essas aranhas são mais frequentes nos 50 cm de tronco mais

próximo do solo do que em qualquer outra faixa de altura do tronco de P. cauliflora (n=422)

(Figura 14). Isso pode ser observado pela ausência de sobreposição dos intervalos de

confiança entre 0-0,5m e o restante dos intervalos.

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Figura 14. Frequência de Deinopis cf. cylindracea em diferentes classes de altura,

em metros, do tronco de P. cauliflora (n=422).

Presas

Durante os dois anos de estudos, a armadilha adesiva capturou 14605

invertebrados de 16 ordens, sendo as principais: Hymenoptera e Diptera.

Do período de agosto a dezembro de 2014, equivalente ao período de instalação

da armadilha de queda em 2015, a armadilha adesiva capturou 7382 invertebrados, com o

mesmo número de Ordens.

Durante os cinco meses que teve instalada a armadilha de queda capturou 12517

organismos de 20 ordens, principalmente Formicidae, Coleoptera e Collembola.

Foram registrados 52 eventos de captura de presa por D. cilindraceae de janeiro

de 2014 a março de 2016, cujos tamanhos variavam de 2.6 mm a 16 mm. Os principais grupos

de presas foram de Formicidae e as Ordens Coleoptera e Orthoptera (Figura 11.c).

A frequência de cada grupo de presas consumidas por D. cf. cylindracea foi

diferente do esperado pela disponibilidade no ambiente, tanto para presas das placas adesivas

(G=109,6, g.l.=24, p<0,0001) (Figura 15) quanto para presas dos pitfalls (G=454,7, g.l.=24, p

< 0,0001) (Figura 16). O segundo teste G mostrou que na armadilha de placa adesiva existe

diferença entre a frequência esperada e observada para os grupos Formicidae, Coleoptera,

Orthoptera, Isopoda, Araneae, Blatodea, Hymenoptera e Diptera, enquanto na armadilha de

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queda existem diferenças entre a frequência esperada e observada para os grupos Formicidae,

Coleoptera, Orthoptera, Isopoda, Blatodea, Collembola, Diptera, e Acari (Tabela 3).

Tabela 3. Resultados do Teste G para cada grupo de presas nas comparações das

presas efetivas com presas das placas adesivas e dos pitfalls: estatística G e p-valor. O grau de

liberdade é igual a 1 para todos os testes.

Grupos

G p G p

Formicidae 58,65 <0,001 3,42 0,032

Coleoptera 12,59 <0,001 4,31 0,019

Orthoptera 17,12 <0,001 11,07 <0,001

Isopoda 13,28 <0,001 9,57 0,001

Araneae 8,07 0,002 2,25 0,067

Blatodea 7,20 0,004 8,94 0,001

Hymenoptera 80,77 <0,001 0,01 0,469

Collembola 0,00 0,500 21,05 <0,001

Diptera 33,82 0,000 9,91 0,001

Opilionidae 2,67 0,051 2,54 0,055

Miriapoda 0,00 0,500 1,66 0,099

Acari 0,00 0,500 6,43 0,006

Placas Pitfall

Figura 15. Frequência de presas consumidas por Deinopis cf. cylindracea (n=52)

e capturadas pelas armadilhas de placas adesiva entre Agosto e Dezembro de 2014 (n=7382).

Diferenças significativas entre as frequências dos grupos marcados com um asterisco (*)

(Teste G: p<0.05).

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Figura 16. Frequência de presas consumidas por Deinopis cf. cylindracea (n=52)

e capturadas pelos pitfalls entre agosto e dezembro de 2015 (n=12517). Diferenças

significativas entre as frequências dos grupos marcados com um asterisco (*) (Teste G:

p<0.05).

A análise comparativa para as duas presas mais frequentes de D. cf. cylindracea

mostrou que a aranha predou preferencialmente a classe de tamanho médio, que foi uma das

classes de tamanho menos disponíveis no ambiente, junto com a classe de tamanho grande

(Figura 17). Isso aconteceu tanto para Formicidae (X2=1174.1, g.l.=2, p < 0,0001) quanto para

Coleoptera (X2= 1286.7, g.l.=2, p < 0,0001).

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Figura 17. Percentual de indivíduos capturados nas armadilhas de queda

(esperado – barras clara) e capturados por Deinopis cf. cylindracea (observado – barra

escura) para os grupos de presa Formicidae (A) e Coleptera (B) nas classes de tamanho

pequeno (P = 0 – 4,9mm ), médio (M=5-16mm) e grande (G>16mm). Os números indicam o

número amostral equivalente a cada percentual.

Quando filtradas por tamanho, as presas capturadas pela armadilha de placa

adesiva raramente possuiam tamanho adequado para predação (entre 5 mm e 16 mm) então

essa armadilha não foi levada em consideração nessa análise. As presas de tamanho médio das

armadilhas de queda, somaram 1601 indivíduos, sendo Formicidae, Coleoptera e Orthoptera

os grupos mais frequentes (Figura 13.b). A comparação da distribuição dessas presas com a

distribuição das presas observadas mostrou que essas distruibuições são equivalentes

(G=29,72, g.l.=24, p= 0,19) (Figura 18, Tabela ). Com excessão de Isopoda, que foi predada

mais do que o esperado, e Miriapoda, que foi predada menos que o esperado, todos os outros

grupos de presas foram predados na mesma frequência que o esperado.

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40

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10

20

30

40

50

60

70F

req

uên

cia

de p

resa

s (%

)

Efetivas

Disponíveis

Figura 18. Frequência de indivíduos capturados por Deinopis cf. cylindracea

(n=52) (Efetivas) e freqüência indivíduos de tamanho adequado para predação pelo

deinopídeo capturados nas armadilhas de queda (n=1601) (Disponíveis).

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Tabela 4. Resultados do Teste G para cada grupo de presas nas comparações das

presas efetivas com presas dos pitfalls com tamanho entre 5 mm e 16 mm que: estatística G e

p-valor. O grau de liberdade é igual a 1 para todos os testes.

Grupos

G p

Formicidae 0,73 0,20

Coleoptera 1,13 0,14

Orthoptera 2,11 0,07

Isopoda 8,17 0,00

Araneae 1,27 0,13

Blatodea 2,42 0,06

Hymenoptera 0,66 0,21

Collembola 0,00 0,50

Diptera 1,49 0,11

Opilionidae 2,54 0,06

Miriapoda 3,42 0,03

Acari 0,27 0,30

Pitfall

A análise de similaridade entre as amostras de pitfalls de solo e de tronco mostrou

que as comunidades de invertebrados do solo ao redor dos indivíduos de P. cauliflora são

semelhantes entre sí, como pode ser percebido pelo agrupamento de amostras de armadilhas

de solo à direita no MDA (Figura 19). Porém, as amostras de armadilhas de tronco se

mostraram menos semelhantes entre sí, formando um agrupamento mais esparço. De qualquer

maneira, as comunidades de solo e tronco foram diferentes entre sí em todos os meses

analisados, como podemos notar pelos resultados do teste a posteriori (Tabela 5).

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Figura 19. Gráfico de escala multidimensional (MDS) dos das amostras de

pitfalls de solo (preto) e árvore (cinza) de todos os meses. A distância entre duas amostras

indica a similaridade entre sua composição em termos de abundância e riqueza.

Tabela 5. Comparação entre tronco e solo dentro de cada mês (PERMANOVA,

teste a posteriori par-a-par – t e p) e resultado do SIMPER (principais espécies contribuintes,

em porcentagem).

t= 3.2399 p = 0.0001 t = 3.4357 p = 0.0001 t = 4.328 p = 0.0001

Formiga 24 Miriapoda 16,2 Formiga 18,2

Orthoptera 12,2 Orthoptera 12,3 Coleoptera 15,7

Coleoptera 11,4 Coleoptera 12 Orthoptera 13

t = 2.9729 p = 0.0001 t = 3.191 p = 0.0001

Formiga 17,3 Formiga 19,8

Orthoptera 13,6 Orthoptera 16

Coleoptera 12,2 Coleoptera 14,3

Tronco, Solo

Agosto Setembro Outubro

Novembro Dezembro

Com exceção de setembro, os principais grupos responsáveis pela diferença entre

as comunidades dos dois substratos analisados foram Formicidae, Coleoptera e Orthoptera

(Tabela 5). Isso pode ser notado quando se observa a quantidade absoluta de cada ordem nos

dois subtratos ao longo dos meses (Figura 19).

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0

100

200

300

400

500

600

Tro

nco

Solo

Tro

nco

Solo

Tro

nco

Solo

Tro

nco

Solo

Tro

nco

Solo

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

No

de

ind

ivíd

uos

cap

tura

do

s OrthopteraFormigaColeopteraMiriapodaOutros

Figura 19. Composição das amostras de comunidades de tronco e solo nos cinco

meses analisados, destacando os principais grupos responsávei pela diferença entre as

comunidades: Formicidae, Coleoptera, Orthoptera e Miriapoda.

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História natural

Hábito e cripticidade

Deinopis cf. cylindracea possui hábitos noturnos, permanecendo sobre árvores ou

arbustos em posição de camuflagem durante o dia e construindo a teia para forragemento

durante a noite. A postura criptica mais comum consiste no posicionamento dos dois pares de

pernas traseiras voltados para trás, unidos e alinhados com o abdome, e dos dois pares de

pernas dianteiras voltadas para a frente unidos e alinhados com o cefalotórax (Figura 20.b).

Essa postura retilínea é exibida por indivíduos de todos os instares e fêmeas adultas. Nessa

postura a aranha se assemelha a um graveto, e permanece imóvel mesmo quando perturbada

com leves toques. Além dessa posição existem outras duas. Uma delas é adotada pelas

aranhas que estão segurando presas com as queliceras e pedipalpos, e difere da posição mais

comum, onde os dois primeiros pares de pernas ficam unidos e afastados para o lado e para

frente, praticamente a 45º graus do corpo, que em seu conjunto formam a imagem de um Y

voltado para baixo (Figura 20.a). Essa postura não foi vista durante o dia, ja que não se

alimentam nesse período. A terceira postura de camuflagem é exclusiva de machos adultos e

consiste na separação entre as pernas da direita e esquerda, com os dois pares de pernas

traseiras para trás e dianteiras para frente (pernas prógradas), fazendo com que as pernas e

corpo formem um X (Figura 20.c). Estas posturas são adotadas ou durante o dia, ou quando

são incomodadas com vibrações, toques ou luz forte durante as observações noturnas.

Figura 20. Posturas adotadas por Deinopis cf. cylindracea. Pernas dianteiras

abertas (a), D. cf. cylindracea durante o dia, com pernas alinhadas (b) e pernas em dianteiras e

traseiras separadas (c).

Durante o dia exibem as posturas retilíneas ou em X, ficando posicionados ou

próximos ao tronco ou pendurados em ramos finos ou gravetos secos. Além destes

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comportamentos, é o formato alongado do corpo e a coloração, o que as torma ainda mais

semelhantes a gravetos junto à vegetação. Recém-nascidos e indivíduos jovens possuem

coloração cinza escura e quando se tornam juvenis (Figura 21.c), subadultos ou adultos,

passam a possuir uma coloração marrom escura (Figura 21.a), mas que pode variar entre o

cinza escuro (Figura 21.d) e uma coloração mista com verde escuro e amarelo claro, que se

assemelham a casca dos indivíduo de P. caulifora desse estudo (Figura 21.b). Algumas

fêmeas adultas possuíam um par de protuberâncias pontiagudas na parte posterior do abdome

(Figura 21.d) que variavam em tamanho, havendo indivíduos com protuberâncias

proeminentes, em forma de espinho, e outros com protuberâncias mais discretas.

Figura 21. Fêmeas de Deinopis cf. cylindracea com coloração castanha (A) e

coloração mista (B) e jovem de coloração escura (C). Detalhe dos protuberâncias presentes na

parte posterior do abdome de alguns indivíduos (D).

Construção da teia

O processo de construção da teia de D. cf. cylindracea dura aproximadamente 15

minutos e possui duas etapas: a construção da teia suporte (Figura 22, Figura 23) e a

construção da teia de captura. A construção da teia tem início com a aranha ancorando um fio

de teia principal (Cabo principal – Cp / Midline) em um local de suporte superior e a outra

extremidade dessa teia em um suporte inferior, geralmente o solo ou a base do tronco de P.

cauliflora, no caso desse estudo. Da porção superior desse fio principal a aranha projeta dois

outros fios de teia saindo da mesma altura no fio principal com a outra extemidade sendo

presa no suporte inferior, um fio para a esquerda e outro para a direita do fio principal (Figura

22.2), e eles são referidos aqui como Cabos 1 e 2 (C1, C2 / Frame lines). Estes fios recebem

na sua porção inferior um Fio âncora (F1, F2) para prendê-lo ao suporte inferior, formando

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uma base triangular (BT1, BT2) (Figura 22.3, Figura 23.c). Em seguida a aranha inicia a

construção dos raios que serão utilizados na construção da teia de captura. O primeiro par de

raios é fixado nas teias laterais, logo acima da porção a partir de onde os Fios âncoras são

projetados, e sua outra extremidade é ligada a porção mediana do fio principal (Figura 22.4).

Estes são os raios superiores (RS) esquerdo e direito. O mesmo ocorre com o segundo par de

raios fixados, porém, ele parte da parte superior do Fio âncora com a outra extremidade ligada

ao fio principal, logo abaixo de onde o raio superior se ligou (Figura 22.5). Estes são os raios

medianos (RM) esquerdo e direito. Da mesma maneira, é fixado o terceiro par de raios, mas

estes partem da parte inferior dos fios de reforço, logo abaixo da porção de onde partiram os

raios medianos, e a outra extremidade se liga no fio principal, abaixo de onde foram inseridos

os raios medianos. Estes são os raios inferiores (RI) (Figura 22.6). Concluída a construção dos

raios, a aranha corta o fio principal logo abaixo do ponto de inserção do par de raios inferiores

(Figura 22.7). Em seguida, ela liga um fio auxiliar NON-STICKY SPIRAL (Cabo auxiliar –

Ca1, Ca2) com uma extremidade no meio do raio superior e a outra no fio principal, abaixo de

onde se projetam os fios secundários (Figura 22.8). Após a construção desses cabos auxiliares

está concluída a teia suporte (Figura 23), e tem início então a construção da teia de captura.

Figura 22. Sequência de construção da teia suporte de Deinopis cf. cylindracea.

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Figura 23. Estrutura da teia de uma fêmea adulta de D. cf. cylindracea com

indicação dos componentes das porçoes superior (A), média (B) e inferior (C) da teia de

suporte: Cabo principal (CP), Fio de suporte (FS), Cabo auxiliar 1 e 2 (Ca 1, Ca2), Base

triangular 1 e 2 (BT1, BT2), Raio superior (RS), Raio mediano (RM) e Raio inferior (RI). Os

fios de teia foram evidenciados com pulverização de amido de milho e com edição da imagem

no software Paint.

A teia suporte é construída com um lado voltado para o substrato onde a aranha

irá caçar. Para iniciar a construção da teia de captura a aranha se sustenta com uma perna do

primeiro par segurando-se ao cabo principal em um ponto abaixo da inserção dos cabos

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auxiliares. A outra perna do primeiro par se segura também no cabo principal ou em um dos

raios superiores, sendo que ela pode alternar entre esses pontos de fixação com as pernas do

primeiro par. Nessa posição ela se pendura de forma que a teia fique entre ela e o substrato,

com o cefalotorax voltado para cima e o abdome para baixo, com a parte ventral virada para a

teia. Uma vez que ela chega nessa posição, ela puxa para sí a porção do fio principal que

contém a ligação com os raios e a teia passa a ter uma certa profundidade. A teia fica então

esticada para traz como se estivesse puxando o elástico de um estilingue.

Tem início então a construção da teia de captura (Figura 24). Enquanto a aranha

se sustenta com o primeiro par de pernas, o segundo e terceiro par manipulam os raios

medianos e inferiores. O ultimo par de pernas participar do processamento da teia do fios de

captura, que será tratado em breve.

A teia de captura é construída com um fio de teia contínuo preso aos RI e RM

formando um retângulo, e com duas alças que prendem essa estrutura retangular nos RS. Para

simplificação cada teia entre raios será considerado um fio diferente.

O primeiro fio de captura é inserido no raio mediano, ligando ele ao raio inferior

do mesmo lado (Figura13.1, Figura 25.1). Desse mesmo ponto do raio inferior, parte o

segundo fio que se liga ao ponto equivalente do raio inferior do lado oposto (Figura

24.2,Figura 25.2). Em seguida, desse ponto do raio inferior parte um fio que o liga ao raio

mediano logo acima dele. O resultado é um padrão de fixação da teia na forma de U (Figura

24.3, Figura 25.3). A aranha faz então o processo inverso formando um novo U acima do

primeiro (Figura 24.4). Esse processo é feito um total de quatro vezes, com a teia sendo

inserida de maneira espaçada cada vez mais acima nos raios inferiores, mas sempre no mesmo

ponto nos raios medianos (Figura 24.5, Figura 25.4). Em seguida o mesmo processo é

repetido mais cinco vezes, com espaçamento ligeiramente maior entre os pontos de inserção

nos raios inferiores (Figura 25.5 e 24.6), e se alcança então uma forma próxima da retangular

final (Figura 24.8, Figura 25.7). Após esse total de nove repetições, a aranha constrói dois fios

ligando os pontos de inserção de teia dos raios medianos entre sí (Figura 24.9, Figura 25.8).

Por fim ela constrói duas alças que se se ligam nessa porção retângular da teia de captura. Do

ponto de inserção do raio mediano do lado esquerdo ela liga um fio a um ponto de inserção no

raio superior do mesmo lado (Figura 24.10, Figura 25.9). Em seguida faz um fio retornando

ao raio mediano do mesmo lado, formando a primeira alça, e um outro fio ligando os pontos

do raio mediano, compondo o terceiro fio de fechamento do retângulo. Por fim, ela prende um

fio no ponto do raio mediano ligando ele ao raio superior e faz um ultimo fio fazendo o

caminho inverso, formando a segunda alça (Figura 24.11, Figura 25.10). A formação das

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alças conclui a construção da teia de captura (Figura 26). A ultima etapa da construção, antes

da aranha assumir a posição de caça é o rompimento do fio principal no ponto acima de onde

ele se liga nos raios superiores (Figura 24.12). Antes desse rompimento a aranha se posiciona

com o cefalotorax para baixo e abdome para cima, ainda com a parte ventral voltada para a

teia (Figura 25.10). Completado o rompimento, a aranha assume a postura de caça, segurando

a extremidade desse fio rompido com o quarto par de pernas, os raios superiores com o

terceiro par, os pontos de inserção dos raios medianos com o segundo par, e os pontos de

inserção dos raios inferiores com o primeiro par (Figura 25.11).

Por fim, a aranha retrai as pernas puchando para trás toda a rede de sustentação,

formando praticamente um seimicirculo como se fosse a borracha de um estilingue pronto a

disparar. A teia de captura pode ficar em posição retraída (Figura 23, Figura 25.12) ou

parcialmente distendida. Quando uma presa se aproxima e passa sob a rede, a aranha se lança

em direção ao substrato, abrindo as pernas e distendendo ao máximo a rede de captura que é

lançada sobre a presa. Ao entrar em contato com a presa, a aranha diminui área da teia de

captura, enredando a presa (N=22).

Algumas aranhas responderam com o segundo comportamento esteriotipado de

captura de presas voadoras, onde a aranha abre a teia de captura sobre seu cefalotorax (n=9).

Esse comportamento foi instigado pelos observadores com vibrações no ar provocadas por

remoção de pigarro da garganta, como já relatado na literatura (Austin & Blest 1979).

A partir do 4º instar já pode ser observado esse comportamento de construção de

teia, com todas as suas fases (N=2) (Figura 19).

A estrutura final da teia e captura mostra um parão de quatro fios de captura

próximos, cinco mais espaçados, três fechando a parte superior dessa teia e dois fios nas alças

(n=40). Foi registrado esse padrão de teia em quatro indivíduos de 5o instar, 11 de 6o instar,

10 em fêmeas subadultas, 13 em fêmeas adultas e dois em machos subadultos.

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Figura 24. Sequência de construção da teia de captura de Deinopis cf.

cylindracea. Nessa perspectiva a aranha estaria posicionada atrás da teia.

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Figura 25. Sequência de construção da teia de captura de uma fêmea adulta de D.

cf. cylindracea.

Figura 26. Detalhe da teia de captura completa de um macho subadulto de D. cf.

cylindracea.

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O indivíduo de menor tamanho construindo a teia completa tinha 4mm de corpo.

O processo de construção de teia do segundo instar (n=1) e terceiro instar (n=1) é

semelhante ao processo inicial da construção pelo adulto, porém, eles não chegam a completar

o processo, restando apenas um fio principal que se divide em dois. Os indivíduos se

posicionam com o abdome voltado para o fio principal, segurando-o com os dois pares de

pernas traseiras. O cefalotórax fica voltado para o lado em que o fio principal se bifurca, de

maneira que as pernas direitas dos dois primeiros pares de pernas seguram um dos fios e as da

esquerda segura o outro fio dessa bifurcação (Figura 27). As pernas traseiras então tracionam

o fio principal e, quando um mosquito se aproxima para pousar na teia das pernas dianteiras,

ela libera a teia traseira, se lançando para frente e, possivelmente, capturando o mosquito com

um dos pares de pernas dianteiras.

Figura 27. Deinopis cf. cylindracea de segundo instar com teia realçada pelo

software Paint.

Não foi observado machos adultos de Deinopis cf. cylindracea com teia de

capturar presas, apenas foi documentado teias de sustentação e espermáticas.

A teia espermática é construída pelo macho ao lado da teia de uma fêmea. Trata-

se de uma teia em Y cujo espaço acima do vértice é preenchido com uma camada de teia onde

o macho deposita seus gametas para serem recolhidos em seguida pelo seu bulbo copulador

(Figura 28). A teia que forma a base do “Y” fica perpendicular ao solo e essa teia sempre foi

observada próxima da teia de fêmeas (n=5).

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Figura 28. Teia espermática de Deinopis cf. cylindracea (a) e detalhe da gotícula

de esperma (seta) na teia espermática (b). A teia foi realçada com uso do software Paint.

Comportamento reprodutivo

Assim que o macho localiza a fêmea ele constrói uma teia de forma a ter acesso

ao (Cabo Principal – Cp / Midline) da teia de suporte da fêmea. Ainda na teia construída foi

visualizado a construção da teia espermática onde foi colocado uma gotícula de esperma do

qual recolhe com os bulbos copuladores dos pedipalpos (Figura 28) e, então, se dirige para o

fio principal da teia construída pela fêmea.

Uma vez em contato com a teia da fêmea, o macho desce pelo Cabo principal e

depois desce pelo Fio suporte (FS) em direção à fêmea (Figura 29.1). Depois utiliza o

primeiro par de pernas dianteiras para tatear este fio suporte com toques rápidos alternando

cada uma das duas pernas (Figura 29.2). Lentamente, ele se posiciona na direção do fio

suporte até que esteja se segurando nele, logo atrás do último par de pernas da fêmea.

Alcançada essa posição, utilizando o primeiro par de pernas dianteiras, o macho

passa a tatear o último par de pernas traseiras da fêmea na altura do último segmento (Figura

29.3), puxando-o periodicamente, desprendendo uma perna da fêmea do fio principal que ela

antes segurava (Figura 29.4). Esse comportamento é repetido algumas poucas vezes, até que

ele consiga retirar as duas pernas do último par, desprendendo a fêmea do fio principal.

Sem esse apoio, a fêmea abandona a teia de captura e imediatamente se dirige

para um dos raios laterais da teia de captura (Figura 29.5), onde se posiciona ainda de costas

para o macho. Ele se aproxima por trás dela e tateia de forma rápida as pernas traseiras da

fêmea. Ela então se vira de frente para ele, que agora passa a tatear as pernas dianteiras dela

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(Figura 29.6). Num movimento rápido, a fêmea projeta a parte ventral de seu abdome para

frente, ficando então com as pernas recolhidas, e o macho faz o mesmo movimento, mas

dirige seu cefalotórax para a parte ventral da fêmea (Figura 29.8), inserindo o êmbolo do

bulbo copulador no epígino da fêmea e transferindo esperma (Figura 29.9). Nessa postura, o

macho segura a perna dianteira direita da fêmea com a perna esquerda do seu segundo par de

pernas e sua perna direita do terceiro par segura a perna direita do terceiro par da fêmea. Ele

então alterna a inserção dos bulbos copuladores no epígino da fêmea. Em seguida os dois se

separam rapidamente, a fêmea afasta o macho forçando-o a deixar a teia retornando sua

posição característica de caça. O processo de cópula dura cerca de 20 minutos.

Figura 29. Sequência da cópula de um casal de Deinopis cf. cylindracea.

Ovissaco

Não foi observado o processo completo da produção do ovissaco, apenas a etapa

após o envolvimento dos ovos em teia, em que a aranha produz uma camada de proteção.

Durante a produção dessa camada (Figura 30.a) a fêmea mantém o ovissaco incompleto em na

sua parte ventral. Com auxilio das pernas e palpos ela gira aos poucos o ovissaco enquanto

aplica a substância que irá compor sua camada externa esfregando sua fiandeira

repetidamente sobre ele. Imediatamente após sua confecção o ovissaco possui uma coloração

pálida de bege ou marrom claro (Figura 30.a) e cerca de 5 dias depois passam a ser marrom

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escuro (Figura 30.d) com pequenas concavidades na casca, como uma bola de golfe. Os

ovissacos de Deinopis cf. cylindracea possuem formato esférico e dimensões (8,3 ±0,3 mm

no eixo maior e 7,6 ± 0,1mm no eixo menor, n=6) (Figura 30.c). A estrutura do ovissaco é

constituída por uma camada externa de teia muito rígida e, no interior, uma bolsa de teia

envolvendo uma massa de ovos dos quais podem eclodir recém-nascidos (Figura 31). Os

ovissacos com ovos eclodidos possuíam 69 ± 18 recém-nascidos (n=7), enquanto os não

eclodidos possuíam 89 ± 24 ovos (n=2). Apenas um dos ovissacos teve eclosão de apenas

uma parte dos ovos, havendo nele 62 ovos e 16 recém-nascidos.

Figura 30. Fêmea de Deinopis cf. cylindracea produzindo o ovissaco (a).

Ovissaco suspenso por teia, com teia evidenciada (b). Ovissaco no solo em terrário (c).

Ovissaco coberto por serapilheira in natura (d).

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Figura 31. Estrutura do ovissaco de Deinopis cf. cylindracea mostrando, da

esquerda para a direita, o ovissaco intacto, a camada de proteção externa e a bolsa de teia

interna com uma abertura e recém-nascidos nessa abertura e um fora dela, logo abaixo, (A),

recém-nascidos do ovissaco em detalhe (B), bolsa de teia interna aberta revelando ovos não

eclodidos (C) e detalhe do aglomerado de ovos no interior da bolsa de teia (D).

Em campo, sementes e frutos secos eram encontrados por toda a serapilheira. Eles

possuiam tamanhos semelhantes ao dos ovissacos de D. cf. cylindracea (Figura 32).

Figura 32. Semente (A), frutos secos (B) e ovissaco de D. cf. cylindracea (C)

encontrados na serapilheira da área de estudo. Ovissacos de D. cf. cylindracea depositados em

laboratório (C e D).

Nos experimentos de comportamento de oviposição foi verificado que a fêmea

confecciona o ovissaco pendurada por teia e, ao fim desse processo, deixa o ovissaco esférico

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pendurado por um único fio de teia (Figura 30.b). Alguns minutos depois, ela rompe esse fio

que sustenta o ovissaco e o deposita no solo (Figura 30.c), próximo do local em que o

confeccionou. Por fim, ela traz elementos da serapilheira para próximo do ovissaco usando as

pernas dianteiras, unindo estes elementos com teia e usando esse arranjo para cobrir o

ovissaco, ocultando-o (Figura 30.d).

O experimento registrou 12 fêmeas mostrando o comportamento de ocultamento

do ovissaco com elementos da serapilheira. Em cada experimento, pode-se registrar os

elementos de serapilheira organizados previamente à adição da aranha no terrário (Figura

33.a) e após o comportamento de ocultamento do ovissaco, em que ela movimentava os

elementos da serapilheira (Figura 33.b), cobrindo o ovissaco (Figura 33.c).

Figura 33. Terrário onde ocorreu o experimento para evidenciar manipulação de

serapilheira para cobrir o ovissaco. Foto antes da oviposição por Deinopis cf. cylindracea (a)

e posterior à oviposição no canto esquerdo – inferior (b), com detalhe do ovissaco no canto do

mesmo terrário, coberto por folhas e gravetos ao lado de uma placa de isopor branco (c).

Durante o experimento de oviposição, foi observado um comportamento de defesa

de ovissaco após sua ocultação (N=2). A fêmea alterou seu local usual de construção de teia,

construindo-a sobre o local em que o ovissaco foi depositado e ocultado. Ela permaneceu

nessa posição durante a noite em que depositou o ovissaco e também durante o período

diurno.

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Discussão

Dinâmica populacional e fenologia

De maneira geral, a população de Deinopis cf. cylindracea foi maior durante os

meses mais quentes e chuvosos e menor durante os meses mais frios e secos. Esse padrão de

sazonalidade apresentado por Deinopis cf. cylindracea já foi registrado para diferentes

famílias de aranhas em estudos de comunidade (Lubin 1978, Dippenaar-Schoeman et al.

1989, Niemelä et al 1994, Spiller & Schoener, 1995, Chatzaki et al. 1998, Cardoso et al.

2007), de sazonalidade reprodutiva (Rossa-Feres et al. 2000, Carver et al. 2016) e de história

natural (Arango et al. 2000, Romero & Vasconcellos-Neto 2003, Messas 2014). Inclusive,

dois trabalhos que relataram esse padrão trataram uma espécie de Thomisidae (Romero &

Vasconcellos-Neto 2003) e outra de Araneide (Messas 2014) da mesma localidade do

presente estudo.

A sazonalidade marcada da população de D. cf. cylindracea desse estudo difere de

registros para Deinopis subrufa, que seria uma espécie abundante ao longo do ano inteiro em

um local próximo a Sydney, na Austrália (Clyne 1967). Possuindo precipitação média de 100

mm por mês (máxima: 133 mm, mínima: 68.4 mm, em 2016 (Australian Government Bureau

of Meteorology 2016), Sydney não apresenta uma estação seca tão marcante como a Serra do

Japi. Isso pode permitir que haja uma presença mais constante de invertebrados que serviriam

como presas, o que permitiria que aranhas do gênero Deinopis pudessem crescer e se

reproduzir em qualquer época do ano, mantendo a população constante ao longo do ano todo.

Dessa maneira, é possível que as populações de Deinopidae de Sydney ou de lugares com

grande precipitação ao longo do ano todo possuam um ciclo diferente do registrado para D. cf.

cylindracea na Serra do Japi. Se for este o caso, isso mostraria o quão determinante pode ser

o papel das variáveis climáticas determinando a densidade populacional de espécies desse

gênero.

Essa sazonalidade em D. cf. cylindracea demonstra uma influência dos fatores

abióticos sobre sua população, o que pode ser confirmado com o fato desse estudo ter

demonstrado que a precipitação explica 64% da variação na flutuação populacional. Outros

estudos registraram essa relação positiva entre as variáveis climáticas e populações de

aranhas. Um estudo realizado por Dippenaar-Schoeman et al. (1989) em uma reserva natural

na África do Sul mostrou uma correlação de 45% entre o número de aranhas do estrato

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herbáceo e a temperatura média mensal ao longo de três anos, sendo um percentual de

explicação muito próximo do encontrado por nós. Estudos de história natural com

Misumenops argenteus (Thomisidae) (Romero & Vasconcellos-Neto 2003) e Eustala perfida

(Araneide) (Messas 2014), realizados na mesma localidade do presente estudo, também

encontraram relação positiva entre as variáveis climáticas e a densidade de aranhas. Romero

& Vasconcellos-Neto (2003) encontrou correlação de 75% entre densidade de M. argenteus e

precipitação, e Messas (2014) encontrou correlação de 76% entre densidade de E. perfida e

temperatura mensal e de 58% entre a densidade da aranha e a precipitação mensal.

Os 57% da flutuação populacional de D. cf. cylindraceae não explicados pela

precipitação ou temperatura podem ser devidos a variáveis não mensuradas nesse estudo, mas

já abordadas em outros trabalhos, como a dinâmica populacional das presas das aranhas

(Arango et al. 2000, Romero & Vasconcellos-Neto 2003), de seus predadores (Polis et al.

1998), parasitóides (Korenko et al. 2011), ou impacto antrópico (Pekár 1999). Contudo, a

densidade populacional de D. cf. cylindracea não respondeu de maneira imediata a variações

na precipitação e temperatura. Houve defasagem de três meses entre aumento das chuvas e

alterações na população de D. cf. cylindracea. Essa relação entre a densidade populacional da

aranha do presente estudo e as variáveis climáticas com defasagem de três meses indica que o

efeito da precipitação ou temperatura sobre a população provavelmente é indireto, ocorrendo

por meio de processos intermediários, como, por exemplo, o aumento da população de presas

dessa aranha.

Alguns estudos mostraram o tempo que esses processos intermediários de

crescimento populacional levam para influenciar os diferentes níveis tróficos em que as

aranhas estão envolvidas. Arango et al. (2000) analisando o sistema Peucetia viridans

(Oxyopidae) – Visitantes florais - Cnidoscolus aconitifolius (Euphorbiaceae) encontraram um

aumento da abundância de aranhas um mês depois do aumento no número de visitantes florais

e dois meses depois do aumento no número de inflorescências de C. aconitifoius. Num outro

estudo, sobre o sistema entre Misumenops argenteus (Araneae, Thomisidae) x Artrópodes x

Trichogoniopsis adenantha (Asteraceae), Romero & Vasconcellos-Neto (2003) encontraram

que no mesmo mês em que há aumento da precipitação, há também aumento do número de

ramos com flor em T. adenantha, e dois meses após esse aumento no número de flores, há um

aumento da abundância de aranhas. Ambos os estudos também observaram um intervalo de

três meses entre o aumento na precipitação e o aumento na abundância de aranhas.

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Esses diferentes processos intermediários, como crescimento de plantas,

crescimento das populações de invertebrados herbívoros, carnívoros, e consequente aumento

de oferta de presas para D. cf. cylindracea seriam a razão para haver um tempo de defasagem

de três meses. Seria o tempo necessário para que a precipitação estimulasse essa cadeia de

eventos que culminaria com o aumento no número de presas de D. cf. cylindracea e o

consequente aumento da população nesse período.

Nesse caso, é provável que a precipitação ou temperatura tenham influenciado a

produtividade primária do ambiente de D. cf. cylindraceae, aumentando a capacidade de

suporte para populações de invertebrados. Isso é possível uma vez que precipitação e

temperatura são as duas variáveis mais correlacionadas ao aumento de abundância e riqueza

de artrópodes em áreas tropicais e subtropicais (Wolda 1978, 1988, Basset 1991, Polis et al.

1998, Pinheiro et al. 2002). Esses invertebrados cujas populações supostamente aumentaram

incluiriam presas de Deinopidae, e o aumento dessas populações de presas significaria um

aumento na disponibilidade de alimento para D. cf. cylindracea. Essa atuação dos fatores

abióticos aumentando a disponibilidade de presas já foi registrada em estudos com outras

espécies de aranha (Polis et al. 1998, Arango et al. 2000, Romero & Vasconcellos-Neto 2003,

Messas 2014).

Dessa maneira, percebe-se como pode haver o efeito indireto da precipitação

sobre a população de aranhas através de efeitos diretos sobre plantas que compõem a dieta de

suas presas. Como esse efeito bottom-up não ocorre de maneira imediata, uma vez que

organismos geralmente necessitam de algum tempo para responder a mudanças no seu

ambiente (Ogata et al. 1996), o efeito da precipitação só seria observado na população de

aranhas após 3 meses.

A análise fenológica de D. cf. cylindracea registrou pico de jovens em dezembro,

de juvenis em março, de subadultos em abril e de adultos em maio. Esse foi um resultado

próximo do encontrado para um estudo feito mesmo local, mas com Eustala perfida

(Araneide), cujo pico de jovens foi em Janeiro, juvenis em Fevereiro, subadultos em abril e

adultos em maio (Messas 2014). Resultados semelhantes foram obtidos em outro estudo do

mesmo local, com Misumenops argenteus (Thomisidae) em que foram encontrados mais

jovens em dezembro e juvenis de fevereiro a junho (Romero & Vasconcellos-Neto 2003). A

sobreposição do intervalo de confiança dos picos de subadultos e adultos de D. cf.

cylindracea, também registrados para M. argenteus, na mesma região desse estudo (Romero

& Vasconcellos-Neto 2003) indica que esses instares ocorrem em períodos próximos. Isso é

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um indicativo de que, nesse período, o desenvolvimento dos indivíduos deve ocorrer de

maneira acelerada, havendo um menor intervalo entre essas duas fases de desenvolvimento.

O pico de machos em abril indica que essa é a época de reprodução de D. cf.

cylindraceae, segundo o estudo de Tretzel (1954) (em Chatzaki et al. 1998). O que pode ser

parcialmente confirmado pelo registro de cópula no fim de março, pelo ovissaco no ambiente

natural em maio (n=1) e pelas fêmeas produzindo ovissaco (n=12) em abril-maio no

experimento deste estudo que investigou o comportamento de oviposição.

Entre julho e outubro foram observados de três recém-nascidos. Apesar de ser um

número amostral baixo, é um indicativo de que a emergênica dos recém-nascidos do ovissaco

pode ocorrer a partir de junho. Por outro lado, esses recém-nascidos podem ser exceção e a

maioria pode permanecer no ovissaco até o início das primeiras chuvas, na primavera e

tornando-se jovens em dezembro. De qualquer maneira, como nunca foi observado balonismo

em Deinopidae (Bell et al. 2005), incluindo o presente estudo, é possível que os recém-

nascidos tenham uma dispersão mais limitada. Assim, eles estariam presentes na área de

estudo, mas sua coloração críptica impediria que fossem encontrados em número suficiente.

Assim, o ciclo de D. cf. cylindraceae teria início com a ocorrência de cópulas em

abril/maio, produção de ovissacos em maio, eclosão de recém-nascidos em junho,

crescimento dos recém-nascidos entre julho e outrubro tornando-se jovens em dezembro,

depois juvenis em março, subadultos em abril e adultos em maio. Dessa maneira, é possível

que haja uma sincronia entre as fases de vida maiores (juvenis, subadulto e adulto) e

comportamentos reprodutivo (cópula e produção de ovissaco) com o período seguinte ao de

maior precipitação e temperatura, no final do verão e início do outono, onde a disponibilidade

de alimentos seria supostamente maior. Isso faria sentido uma vez que seriam as fases de vida

com maior demanda energética, tanto pelo tamanho corporal como pela realização de

comportamentos de alta demanda energética como os reprodutivos. E da mesma maneira,

haveria uma sincronia entre as fases de vida menores (recém-nascidos dentro ou fora do

ovissaco e jovens) e períodos de menor precipitação e temperatura, como meio do inverno até

início do verão, quando supostamente haveria um menor número de presas disponíveis. Essa

sincronia, já registrada em estudos com aranhas em ambientes agrários (Samu e Szinetár

2002), seria o resultado de uma pressão seletiva que favoreceria o ajuste entre a

disponibilidade de alimento no ambiente e a ocorrência de uma fase de vida da aranha com

demanda energética compatível com essa disponibilidade de alimento.

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Um outro ponto do ciclo de vida de Deinopis cf. cylindracea em que pode haver

pressão seletiva dos fatores abióticos na fenologia da aranha é o período de produção do

ovissaco em maio-junho. Nesse período a precipitação atinge o nível mais baixo do ano todo e

é justamente quando D. cf. cylindracea inicia a produção de ovissacos. Uma vez que os

ovissacos são depositados no solo, a ausência de chuva em sincronia com a produção desses

ovissacos pode ser um indicativo de que excesso de umidade, ou submersão em água, pode

afetar o desenvolvimento das aranhas no seu interior ou prejudicar a estrutura do ovissaco,

comprometendo a saída dos recém-nascidos de dentro dele. Isso foi mostrado num estudo

com Lyniphiidae (Araneae) em que o ovissaco submetido a umidade excessiva foi envolvido

por fungos e algas que endureceram o ovissaco, impedindo que os recém-nascidos

conseguissem perfurá-lo para emergirem (Schaefer 1976a em Schaefer 1976b).

O pico populacional de D. cf. cylindracea em março foi constituído

principalmente de indivíduos juvenis. Esse mesmo período de pico populacional já foi

relatado para os estudos com M. argenteus (Romero & Vasconcellos-Neto 2003) e E. perfida

(Messas 2014) da mesma região de estudo. Dada a dificuldade em acessar a população de

recém-nascidos e jovens de D. cf. cylindracea, pela sua inconspicuidade visual, é possível que

a população de D. cf. cylindracea possuísse pico populacional em um momento anterior a

março. Esse pico seria composto por estágios de desenvolvimento anteriores a juvenil. Isso

aconteceria porque ínstares mais jovens são mais numerosos e possuem maior taxa de

mortalidade (Edgar 1971), então seria de esperar que o pico ocorresse com indivíduos mais

jovens e a população fosse diminuindo à medida que os indivíduos se desenvolvessem até

alcançarem um estágio de desenvolvimento maior, quando poderiam sobreviver por mais

tempo. Assim o pico real seria anterior ao encontrado na análise de flutuação populacional.

No caso de D. cf. cylindraceae é necessário cautela ao se falar em aumento de

tamanho populacional de aranhas, pois o aumento das chuvas por sí só não poderia aumentar

sua população da mesma maneira que um invertebrado com ciclo reprodutivo rápido

depedente de água, como dipteros. Esse Deinopidae possui apenas uma estação reprodutiva

por ano e levam três a quatro meses para atingirem a maturidade (obs. pessoal). Dessa

maneira, os deinopídeos ja existiriam no ambiente quando a precipitação aumentasse. É

possível que o ciclo de D. cf. cylindraceae esteja ajustado ao ciclo das chuvas de tal maneira

que os ínstares mais crípticos ocorrem durante o período de seca, e os mais evidentes após o

período de chuvas. Como não foram contabilizados os indivíduos de segundo e terceiro ínstar,

é provável que eles vivam na vegetação arbustiva, afastados das árvores de P. cauliflora , isto

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é, fora da área de amostragem, e se dirijam à elas apenas quando atingem um certo nível de

desenvolvimento. Isso explicaria o número baixo de indivíduos registrados após o inverno,

pois com o hábito noturno, coloração escura, tamanho bastante reduzido e camuflagem com

alto nível de eficiência (Getty & Coyle 1996) os primeiros ínstares de D. cf. cylindracea são

praticamente indetectáveis na vegetação arbustiva. Dessa maneira, durante o final do inverno

e início da primavera os indivíduos seriam recém-nascidos a jovens bastante crípticos, de

primeiro a quarto ínstar, vivendo em um período com escassez de chuva e menos

invertebrados, atingindo estágios mais maduros de desenvolvimento somente após o início

das chuvas, quando a disponibilidade de presas seria maior. Isso significa que os três meses

de defasagem seria o tempo necessário para crescerem de um ínstar indetectável para um

ínstar detectável, e, além disso, deslocar-se da vegetação arbustiva fora da área de

amostragem para P. cauliflora, dentro da área de amostragem.

Distribuição vertical e Escolha de substratos

Como demonstrado no experimento de frequência de distribuição, D. cf.

cylindracea foi mais frequentes em árvores com troncos lisos. O experimento de seleção de

substrato nos mostrou que essa distribuição pode ter relação com o fato dessas aranhas

escolherem preferencialmente troncos com superfície lisas para construção da teia de captura.

Aranhas associando seu hábitat à vegetação dessa maneira podem ter vantagens,

como regulação térmica, abrigo e predictibilidade de presas (Uetz 1979). Porém, no caso de

D. cf. cylindracea,é possível que a seleção do substrato repouse em dois fatores envolvendo

seu comportamento de predação: a estrutura da teia de captura e o uso da visão para

localização das presas.

A teia de captura de aranhas do gênero Deinopis é formado por três conjuntos

de fibras, sendo dois deles, as fibras ondulatótias e as fibrílias do calamistro. Essas fibras

possuem uma estrutura ondulatória e são altamente extensíveis e finas. Essa estrutura permite

que essa teia se enrosque a estruturas das presas, ou se ligue à presa por forças de Van der

Waals, e as mantenham presas inicialmente sem necessidade de gotículas adesivas.

No momento do ataque, a aranha projeta essa teia em direção ao substrato,

cobrindo a presa com ela e fazendo com que fique retida pelos fios da teia de captura de

captura (Coddington & Sobrevilla 1987, Peters 1991). Contudo, supondo que a presa

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estivesse sobre uma superfície irregular, como um tronco com reentrâncias no suber, líquens e

musgos, a teia de captura se prenderia na superfície, além da presa, o que tornaria a

subjugação da presa mais difícil para a aranha. Apenas um indivíduo construiu uma teia junto

a um tronco rugoso de Pinus eliotti , mas somente durante uma noite. Na noite seguinte não

estava mais na árvore, o que não aconteceu com aranhas associadas a Plinia cauliflora. Os

indivíduos de D. cf. cylindracea observados sempre estavam direcionados para troncos ou

superficíes relativamente lisas, como folhas grandes na serapilheira ou pedras. Dessa maneira,

acreditamos que a presença de uma superfície relativamente lisa e sem elementos onde a teia

de captura possa se prender, facilite o processo de captura de presa pela aranha. No caso desse

experimento, um exemplo desse tipo de superfície seria o tronco de Myrtaceas, como P.

cauliflora, a espécies onde a grande maioria das aranhas desse estudo foi registrada.

Um segundo fator que influenciaria essa escolha de substrato de caça seria o

sentido usado para localização da presa. Sendo Deinopis um gênero de predadores

visualmente orientados durante a caça (Robinson & Robinson 1971, Conddington &

Sobrevilla 1987), é possível que o nível de complexidade estrutural da superfície sobre a qual

o indivíduo caça influencie na sua capacidade de detectar e acessar a presa. Esse tipo de

interferência visual e física provocada por estruturas do substrato já foi demonstrado em

estudos usando aves como modelo de predador visualmente orientado (Eriksson 1985,

Whittingham & Markland 2002, Butler & Gillings 2004). Nesses estudos, as aves tiveram

maior dificuldade e encontrar presas em pastagens com vegetação mais alta, ou lagos com

águas mais turvas. Da mesma maneira, o aumento da complexidade do substrato provocado

por elementos como líquens, musgos, epífitas e reentrâncias degradaria a informação visual

utilizada por D. cf. cylindracea na predação, além de poder aumentar a disponibilidade de

abrigo para suas presas (Schmidt & Rypstra 2010). Essa capacidade de ambientes mais

complexos de prejudicarem a transmissão do sinal visual (Scheffer et al. 1996) e

detectabilidade contra o plano de fundo (Uetz et al. 2001) já foi demonstrado para aranhas do

gênero Schizocosa (Aranae: Lycosidae) em estudos sobre detectabilidade elementos visuais

do comportamento de corte. Assim, condições que permitam o predador perceber ou

reconhecer um sinal visual específico em meio a inúmeros sinais de plano de fundo irão

fornecer uma vantagem evolutiva (Guilford & Dawkins 1991). Portanto, D. cf. cylindraceae

se beneficiaria ao caçar voltada para uma superfície mais lisa, com menos elementos

estruturais.

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Austin & Blest (1979) e Clyne (1967) sugerem em observações pessoais que

Deinopis pode procurar formas de aumentar o contraste entre a coloração da presa e do plano

de fundo. Dessa forma, é possível que caçar em um substrato mais claro, como é o caso do

tronco de P. cauliflora, sirva esse propósito. Outros fatores podem ainda influenciar essa

escolha de substrato, mas acreditamos que a estrutura da teia de captura e a orientação sejam

os principais, apesar desse estudo não entrar no mérito dessa investigação.

Nosso estudo comprovou que D. cf. cylindracea foi mais frequente na faixa de

altura de 0m-0,5m do tronco. Essa distribuição vertical concentrada na porção mais basal do

tronco poderia estar relacionada à diferença nas comunidades de invertebrados de tronco e

solo na área de estudo. Como foi mostrado pela análise das armadilhas de queda, as principais

presas de D. cf. cylindraceae, que são Formigas, Coleopteros e Orthopteros, foram muito

mais numerosos no chão do que no tronco de árvores. Portanto, essa faixa de tronco, mais

próxima do solo, seria uma zona de transição em que haveria maior quantidade de presas do

que em alturas superiores. Porém, como discutido anteriormente, D. cf. cylindracea necessita

de um substrato específico para caçar e seria mais difícil usar o solo para tal propósito, mesmo

que sua comunidade seja mais rica em presas. Dessa maneira, ao usar a faixa de altura mais

baixa, D. cf. cylindracea estaria caçando em uma zona de transição tronco-solo onde poderia

aproveitar a superfície do tronco como substrato mais propício à caça e também a maior taxa

de encontro com suas presas principais, pela proximidade com o solo. Muitos estudos já

registraram que aranhas respondem à abundância de presas, escolhendo locais onde há maior

disponibilidade de presas (Rypstra 1985, Chmiel et al. 2000, Harwood et al. 2003, Thévenard

et al. 2004), sendo que essa variável seria um bom preditor da sua distribuição, como

demonstrado com um estudo de comunidade de aranhas em copas de árvore (Halaj et al.

1998). Além disso, é possível que D. cf. cylindraceae consiga perceber traços químicos

deixados por presas nessa região do tronco, como já demonstrado para algumas espécies de

aranhas (Clark et al. 2000, Johnson et al. 2011). Dessa forma, elas escolheriam substratos em

que essas pistas químicas estariam mais presentes, como a classe de altura do tronco de 0m-

0,5m, em que as presas devem ocorrem em maior abundância, pela proximidade com o solo.

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Presas

As três ordens principais que compuseram as presas de D. cf. cylindracea foram

Hymenoptera (no caso, Formicidae), Coleoptera e Orthoptera.

O perfil de presas potenciais registrado pelos dois tipos de armadilha foi bastante

diferente. A armadilha de placas adesiva capturou quase exclusivamente Hymenoptera e

Diptera. Ambos os grupos de insetos voadores.

A comparação entre as distribuições de presas esperadas e observadas

considerando todos os tamanhos, para a armadilha de placa adesiva, nos mostrou que ordens

de presas voadoras como Hymenoptera (exceto Formicidae) e Diptera, praticamente não são

consumidas, apesar de serem extremamente numerosas em P. cauliflora. Isso nos dá uma

idéia de que as presas que voam ou planam e são capturadas nessa armadilha não são comuns

na composição da dieta de D. cf. cylindraceae na área estudada.

Diferente da armadilha de placa adesiva, as armadilhas de queda capturaram mais

frequentemente invertebrados que caminham, como Formicidae, Coleoptera e Orthoptera.

A análise de comparação das distribuições entre presas observadas e esperada para

essa armadilha indicou que Formicidae, Orthoptera, Isoptera e Blatodea eram

preferencialmente predadas por D. cf. cylindracea, por terem a frequência observada maior

que a esperada, enquanto Coleoptera, Collembola, Diptera e Acari são grupos mais evitados,

por terem frequência de predação menor que o esperado.

Esses resultados fornecem momentaneamente a impressão de que a aranha preda

preferencialmente determinados grupos de presa. Porém, no teste de comparação de

frequências entre os diferentes tamanhos podemos perceber que nem todos os tamanhos de

presas disponíveis são predados na mesma frequência, existindo uma predação mais frequente

de presas com tamanho entre 5 mm e 16 mm, apesar de presas menores que 5 mm serem

muito mais numerosas. Isso significa que nas frequências de presas esperadas existe uma

fração que são pequenas ou grandes demais para serem consumidas por D. cf. cylindracea.

Isso nos força a definir um conjunto mais realista de presas esperadas onde o tamanho não

impediria sua predação, isto é, um conjunto de invertebrados que são realmente presas em

potencial dessa aranha.

Quando criamos esse novo perfil de presas com tamanho médio e o comparamos

com o perfil de presas observadas o Teste G nos mostra que são distribuições equivalentes, e,

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com excessão de Isopoda e Miriapoda, todos os outros grupos são predados na mesma

frequência que estão disponíveis no ambiente. Nesse caso, podemos efetivamente afirmar que

apenas Isopoda é predado preferencialmente, enquanto a Miriapoda é evitada, possivelmente

por haver espécies nesse grupo que usam veneno como defesa. Os grupos restantes são

predados na mesma frequência com que são encontrados no ambiente.

Frente a esses resultados podemos dizer que D. cf. cylindracea preda

preferencialmente presas errantes, mas dentre essas presas errantes não existe preferência na

dieta por um grupo de invertebrados.

Estes dados confirmam a preferência de Deinopis por presas errantes, como

mostrado por Austin & Blast (1979), assim como a grande presença de Formicidae como

componente da dieta. Essa predominância já foi registrada por Austin & Blest (1979) para

uma espécie de Deinopis em New South Wales – Austrália, onde somou 33% da dieta do

deinopídeo, seguido de baratas e outras aranhas, havendo também registros de Deinopis

longipes caçando sobre trilhas de formigas Atta (Robinson & Robinson 1971). Porém, como

mostra o presente estudo, é possível que todos estes casos de grandes frequências de predação

de formigas seja apenas um reflexo da disponibilidade desse grupo de presas nesses

ambientes, não havendo uma real preferência por essa família específica. Apesar de não haver

menção na literatura, o único grupo de presas que D. cf. cylindracea predou

preferencialmente foi Isopoda.

Diferentemente de outros estudos com Deiniopidae (McKeown 1963, Roberts

1955, e Theuer 1954) - em Autin & Blest 1979), não foram registradas capturas de presas em

voo. É possível que o tamanho reduzido desse tipo de presa na área de estudo torne-as pouco

atraentes para a aranha. Durante os censos mensais quando os indivíduos de D. cf.

cylindracea eram iluminados com lanterna ocorriam colisões de pequenos dipteros atraídos

pela luz com a teia de captura, mas a aranha não esboçava reação, ou removia a presa da teia

caso fosse um pouco maior (obs. pessoal). Possivelmente, esse tipo de presa não deve ser

energeticamente vantajosa, apenas prejudicando o desempenho da teia de captura.

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Camuflagem e posturas

Deinopis cf. cylindracea possui os atributos típicos do gênero, como hábito

noturno, olhos medianos posteriores grandes e teia triangular com uma teia de captura central

construída no início da noite (Clyne 1967, Robinson & Robinson 1971, Austin & Blest 1979)

e dois tipos estereotipados de ataque (Coddington & Sobrevila 1987).

Todas as posturas adotadas por D. cf. cylindracea quando perturbadas ou de

repouso durante o dia também já foram relatadas para outras espécies de Deinopidae. A

posição com as pernas alinhadas no comprimento do corpo (Clyne 1967, Robinson &

Robinson 1971, Tikander & Malhotra 1978), a posição em Y, de camuflagem durante a

alimentação (Robinson & Robinson 1971) e a postura em forma de X, que esse estudo

registrou apenas em machos adultos, mas que estudos anteriores colocaram como uma

variação mais generalizada dentro da espécie D. subrufa (Clyne 1967). Como sugerido por

Robinson & Robinson (1971), essas posturas, principalmente a alinhada, devem ajudar a

compor a semelhança D cylindraceae em cor e formato a um galho seco, assim como uma

camuflagem de bicho-pau (Phasmida) (Robinson 1968).

Assemelhar-se a gravetos, tomando-a críptica, provavelmente a protege de

ataques de predadores diurnos visualmente orientados (Getty & Coyle 1996). Nessa categoria

de predadores seriam incluídas vespas Pompilidae, um grupo de predadores especialistas em

aranhas adultas ou juvenis (Evans 1953, Evans 1962) e presente na região de estudo (Souza

2014). Na área de estudo existem também aranhas caçadoras visualmente orientadas,

ocorrendo o registro de dois eventos de predação de D. cf. cylindracea. Um deles envolveu a

predação de uma fêmea adulta de D. cf. cylindracea por um Salticidae (Breda sp.) e outro

uma espécie de Corinnidae (Castianeira sp.) predando um indivíduo de 5 instar de D. cf.

cylindraceae. Estes dois eventos ocorreram no tronco de dois indivíduos diferentes de P.

cauliflora (obs. pessoal). Talvez a presença de predadores visualmente orientados tenha

resultado esse polimorfismo de cores de camuflagem por seleção dependente de frequência

(Allen & Greenwood 1988).

Um outro aspecto da morfologia de Deinopis cf. cylindracea que pode conferir

uma defesa contra predadores seria as protuberâncias no abdome, observada em alguns

indivíduos. Essa estrutura em forma de espinho, muito desenvolvida em aranhas do gênero

Micrathena, já foi sugerida como sendo uma defesa que impediria sua ingestão por aves ou

que dificultaria que vespas colocassem essas aranhas nos seus ninhos, tornando-as presas

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inapropriadas (Cloudsley-Thompson 1995). É possível que essa estrutura em forma de

espinho sirva o mesmo propósito em Deinopis cf. cylindracea.

Construção da teia e captura de presas

A teia de D. cf. cylindracea tem a estrutura típica de Deinopidae, sendo construída

exatamente de acordo as etapas relatadas para Deinopis subrufa (Clyne 1967) e Deinopis sp.

(Coddington 1996). Como observado nesse estudo, Clyne (1967) também registrou que esse

padrão de construção é apresentado por indivíduos de Deinopis subrufa com tamanho acima

de 4 mm. Em relação à orientação da teia de captura, enquanto nosso estudo verificou que

superfícies verticais foram mais escolhidas para construção de teia, diferindo de estudos

anteriores, em que superfícies horizontais foram mais frequentemente escolhidas (Austin &

Blest 1979).

D. cf. cylindracea apresentou os dois comportamentos esteriotipados de predação

descrevidos para Deinopis espinosus (Coddington & Sobrevila 1987). Essa capacidade de

capturar presas voadoras e errantes e o fato da sua dieta praticamente não possuir presas

voadoras, reforça a especialização da sua dieta em presas errantes.

Como relatado para outras espécies do gênero Deinopis, os machos de D. cf.

cylindracea não constroem teia de captura, sendo provável que não se alimentem durante essa

fase de vida (Clyne 1967, Robinson & Robinson 1971, Austin & Blest 1979). O fato dos

machos adultos com teia espermática serem observados próximo das fêmeas, assim como

relatado em outros estudos (Clyne 1967, Austin & Blest 1979) é um indicativo de que eles só

construam essa teia quando encontram uma fêmea.

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Comportamento reprodutivo

As etapas de construção da teia espermática e do processo de recolhimento da

gotícula de esperma em D. cf. cylindracea ocorreram da mesma maneira que o descrito por

Clyne (1967) para D. subrufa. A construção da teia espermática parece ocorrer junto à teia de

uma fêmea adulta.

Os comportamentos de corte e cópula em Deinopidae nunca haviam sido descritos

em outros trabalhos. Apenas Austin & Blest (1979) sugeriram algo relativo a esses

comportamentos, que foi o palpite de que o comportamento de corte deveria possuir etapas

com elementos táteis e que o macho se aproximaria por uma altura acima da fêmea, o que se

comprovou para D. cf. cylindracea. Porém, dada a capacidade visual dessa espécie, é

possível que também existam componentes visuais associados aos táteis, mas esse estudo não

notou a existência de tais componentes.

Durante a cópula, o macho, que possui pernas bastante longas, segura algumas

pernas da fêmea enquanto transfere as gotículas de esperma para o epígino dela. É possivel

que esse seja um comportamento de defesa adotado pelo macho para evitar ser capturado pela

fêmea durante a cópula. Dessa forma, usando suas pernas o macho manteria a fêmea a uma

distância segura e afastaria as pernas dela no caso de um ataque, ganhando tempo para que ele

se distancie com segurança.

Com relação aos ovissacos, o processo final da construção do ovissaco de D. cf.

cylindracea foi exatamente como descrito para Deinopis sp. (Barrantes et al. 2014). Estudo

anteriores registraram que Deinopis longipes e Deinopis sp. penduram o ovissaco por uma

haste rígida de teia (Robinson & Robinson 1971, Barrantes et al. 2014), podendo camufla-lo

ou não, como observado em D. subrufa (Gordh & Headrick 2001). Por outro lado, D. cf.

cylindracea leva o ovissaco até o solo, cobrindo-o com elementos de serapilheira. Esse é o

primeiro registro desse comportamento para Deinopidae. Essas camadas de materiais

aplicados externamente ao ovissaco, ou até mesmo sua suspensão, podem agir distanciando a

massa de ovos de predadores (Hieber 1992).

É possível que esse comportamento seja resultado de uma seleção por predadores

de ovissaco visualmente orientados presentes na área de estudo. A exposição dos ovissacos

pendurados pode ter sido desvantajoso nesse ambiente e um indivíduo com um

comportamento altenativo de ocultamento do ovissaco na serapilheira teve maior sucesso

reprodutivo, aumentando a frequência desse comportamento nessa população com o decorrer

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do tempo. Esse cenário se torna plausível quando vemos a semelhança de tamanho, forma e

cor, entre ovissacos de D. cf. cylindracea e sementes e frutos secos coletados na serapilheira

da área de estudo durante o período de deposição de ovissacos. Se o ovissaco e os frutos secos

e sementes forem semelhantes aos olhos do predador, os ovissacos teriam menos chance de

serem predados por serem menos numerosos e semelhantes a esses outros elementos da

serapilheira. Sendo assim, é possível que, nessa região de estudo, a presença de predadores

visualmente orientados e de elementos da serapilheira semelhantes ao ovissaco podem ter

influenciado a permanência nessa população desse comportamento alternatido de deposição

de ovissaco, mas são necessários estudos mais aprofundados para afirmar que isso ocorreu de

fato.

Apesar desse comportamento diferenciado, os ovissacos de D. cf. cylindraceae

possuem uma estrutura semelhante ao já relatado para uma espécie Deinopis sp. da Costa Rica

(Barrantes et al. 2014). As unicas diferenças seriam o tamanho, pois o ovissaco de D. cf.

cylindracea é 1.5 mm maior em largura e comprimento, e a ausência da haste de teia externa

ao ovissaco que o liga à vegetação, presente em Deinopis sp..

Um segundo comportamento registrado foi o de construção de teia sobre o

ovissaco durante as primeiras 24h após sua produção (n=2), inclusive durante o dia. Pelo

número de registros ser baixo, é possível que não seja um comportamento comum. Porém, a

proteção do ovissaco pode ser algum mecanismo que aumente sua sobrevivência até que ele

termine de se solidificar e escurecer.

A presença desse comportamento inédito para D. cf. cylindracea nos mostra que

apesar dos vários estudos conduzidos diversas espécies do gênero, Deinopidae ainda possui

muitos elementos de sua biologia comportamental e ecologia a serem investigados. Esse

estudo conseguiu elucidar alguns aspectos de sua flutuação populacional, distribuição na área

de estudo e nas árvores escolhidas às quais estão associadas, dieta e comportamentos de

reprodução, mas ao mesmo tempo deixou aspectos a serem elucidados, como a influência de

predadores na flutuação populacional, o efeito da coloração do plano de fundo na escolha do

substrato e o porquê da existência dessa variedade de comportamento de oviposição. Isso nos

mostra como Deinopidae pode ser ainda mais curiosa que se imaginava.

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Conclusão

A partir desse estudo, concluímos que D. cf. cylindracea possui uma relação

indireta com as variáveis climáticas precipitação e temperatura, estando sua fenologia

ajustada a essas variáveis. Na área de estudo, sua distribuição está asocciada à indivíduos P.

cauliflora, que possuem tronco liso, e sua dieta é composta principalmente de presas errantes.

Por fim, foi possível confirmar informações já conhecidas a respeito de Deinopidae, como

comportamento de construção de teia, preencher vazios de conhecimento, como o

comportamento de reprodução e também, descobrir comportamentos inéditos, como o de

ocultamento do ovissaco na serapilheira.

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