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CAMPINAS 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA Guilherme Ferreira Ferbonink Dinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

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CAMPINAS 2020

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

Guilherme Ferreira Ferbonink

Dinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

CAMPINAS 2020

Guilherme Ferreira Ferbonink

Dinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Química

da Universidade Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em

Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Rene Alfonso Nome Silva

O arquivo digital corresponde à versão final da Tese defendida pelo aluno

Guilherme Ferreira Ferbonink e orientada pelo Prof. Dr. Rene Alfonso Nome

Silva.

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de QuímicaSimone Luiz Alves - CRB 8/9094

Ferbonink, Guilherme Ferreira, 1985- F373d FerDinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas / Guilherme Ferreira

Ferbonink. – Campinas, SP : [s.n.], 2020.

FerOrientador: Rene Alfonso Nome Silva. FerTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Química.

Fer1. Espectroscopia resolvida no tempo. 2. Catálise. 3. Dinâmica estrutural. 4.

Efeito Mpemba. I. Silva, Rene Alfonso Nome, 1977-. II. Universidade Estadualde Campinas. Instituto de Química. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Ultrafast dynamics of metallic nanoparticlesPalavras-chave em inglês:Time-resolved spectroscopyCatalysisStructural dynamicsMpemba effectÁrea de concentração: Físico-QuímicaTitulação: Doutor em CiênciasBanca examinadora:Rene Alfonso Nome Silva [Orientador]Carla Cristina Schmitt CavalheiroPaulo Barbeitas MirandaRaphael Nagao de SouzaMiguel Angel San Miguel BarreraData de defesa: 15-05-2020Programa de Pós-Graduação: Química

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-4005-3233- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4044179894861201

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rene Alfonso Nome Silva (Orientador)

Profa. Dra. Carla Cristina Schmitt Cavalheiro (Universidade de São Paulo)

Prof. Dr. Paulo Barbeitas Miranda (Universidade de São Paulo)

Prof. Dr. Raphael Nagao de Sousa (Universidade Estadual de Campinas)

Prof. Dr. Miguel Angel San Miguel Barrera (Universidade Estadual de Campinas)

A Ata da defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

Este exemplar corresponde à redação

final da Tese de Doutorado defendida

pelo aluno Guilherme Ferreira

Ferbonink, aprovada pela Comissão

Julgadora em 15 de maio de 2020.

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

A minha família.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

Agradecimentos

Primeiramente, gostaria de agradecer ao SENHOR Deus por estar comigo

em todos os momentos da minha vida, a Ele minha eterna gratidão e adoração.

Aos meus pais Ivo Ferbonink e Sônia Regina Ferreira por todo amor

dedicado a mim.

A minha esposa Vanessa, pelo carinho, companheirismo e amor,

suportando todos os momentos de dificuldades, sem desanimar e perseverando.

Aos meus filhos, Mariana e Isaac por toda alegria que me dão.

Aos meus irmãos Ariane e Andraus por todo carinho, confiança e palavras

de incentivo sem as quais, os momentos de dificuldade seriam ainda mais difíceis.

Ao seu Josué e dona Maria, pessoas a quem admiro por não enxergarem

as dificuldades, acreditando sempre em dias melhores.

Ao amigo Zé Carlos e Dona Maria, pelos momentos de descontração.

Aos colegas de trabalho da UNEMAT, pela amizade e companheirismo.

Ao professor Brito-Cruz por disponibilizar o laser que eu usei para construir,

calibrar e utilizar os sistemas de bombeio e prova, grade de difração transiente e auto-

correlação resolvida na frequência discutidos neste trabalho.

Aos meus bons professores da UFMT, em especial ao professor Romildo,

pelo estímulo em buscar sempre o melhor.

A Edna Spada do Instituto de Física da USP de São Carlos pela colaboração

no preparo e caracterização das amostras de nanopirâmides de ouro sobre vidro e

ITO.

Ao Prof. Diego do Instituto de Química da Unicamp pela colaboração com

os cálculos de aproximação de dipolos discretos e método de elementos de contorno.

Ao Prof. Pedro Camargo da USP de São Paulo pela colaboração na síntese

e caracterização das nanopartículas híbridas de ouro e prata.

Ao Prof. Albuquerque pela colaboração nos cálculos de dinâmica molecular.

Ao Meu Orientador Rene pela amizade, companheirismo e consideração.

Ao Instituto de Química da Unicamp.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

pelo apoio financeiro.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

A Universidade do estado de Mato Grosso - UNEMAT, pelo apoio financeiro.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de

Financiamento 001

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

Resumo

Nanopartículas metálicas são estruturas com uma vasta gama de aplicações,

entre elas, a catálise, fotônica, medicina, sensores, entre outras. No presente trabalho,

estudamos a dinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas pelas técnicas de

espectroscopia de femtossegundos de bombeio e prova e grade de difração

transiente. No primeiro sistema, utilizamos a técnica de grade de difração transiente

para estudar a dinâmica ultrarrápida de nanopartículas de ouro em formato de

pirâmides com base triangular sobre substratos de vidro e ITO/vidro depositados pelo

método de litografia de nanoesferas. Nossos resultados utilizando esta técnica dão

consistência aos resultados de espectroscopia de bombeio e prova realizados

previamente por nós, mostrando que os resultados de dinâmica ultrarrápida

dependentes do comprimento de onda são consequências do índice de refração

complexo dependente do comprimento de onda. No segundo sistema, utilizamos a

técnica de bombeio e prova para estudar o comportamento da dinâmica ultrarrápida

de nanopartículas híbridas ocas formadas por ouro e prata, sintetizadas pela técnica

de substituição galvânica. Previamente, as nanopartículas foram submetidas a uma

série de caracterizações através de técnicas de microscopia e foram realizados

ensaios de atividade catalítica. Nós descobrimos que existe uma correlação

inversamente proporcional entre a constante de acoplamento elétron-fônon

fundamental e a atividade catalítica das nanopartículas em estudo. Descobrimos

também, neste sistema, que quando submetidos a potências mais altas do feixe de

bombeio no experimento de bombeio e prova, as nanopartículas ocas apresentam

comportamento dinâmico diferente daquele observado no regime linear. Com auxílio

de estudos de dinâmica molecular atomística e processos estocásticos, avaliamos que

o comportamento seja compatível com uma variante ultrarrápida de transferência de

calor anômala. Neste mesmo sistema, efetuamos a caracterização da dinâmica

ultrarrápida em função da temperatura entre 23 e 90°C, visualizando uma relação

linear entre o período de oscilação do fônon acústico em função da temperatura.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

Abstract

Metal nanoparticles are structures with a wide range of applications, among

them, catalysis, photonics, medicine, sensors, among others. In the present work, we

study the ultrafast dynamics of metallic nanoparticles by the techniques of ultrafast

pump-probe spectroscopy and ultrafast transient diffraction grating. In the first system,

we used the transient diffraction grating technique to study the ultrafast dynamics of

pyramidal gold nanoparticles with a triangular base on glass and ITO / glass substrates

deposited by the method of nanosphere lithography. Our results using this technique

give consistency to the results from pump-probe spectroscopy previously obtained by

us, showing that wavelength dependent ultrafast dynamic results are consequences of

the complex wavelength dependent refractive index. In the second system, we used

the pump-probe technique to study the behavior of the ultrafast dynamics of hollow

hybrid nanoparticles composed of gold and silver, synthesized by the galvanic

replacement technique. Previously, the nanoparticles were submitted to a series of

characterization measurements through microscopy techniques, and tests of catalytic

activity were performed. We have found that there is an inversely proportional

correlation between the fundamental electron-phonon coupling constant and the

catalytic activity of the nanoparticles under study. We also found in this system that

when submitted to higher powers of the pump beam in the pump and probe

experiment, the hollow nanoparticles exhibit dynamic behavior different from that

observed in the linear regime. With the aid of atomistic molecular dynamics studies

and stochastic processes, we have argued that the behavior is compatible with an

ultrafast variant of anomalous heat transfer. In this same system, we perform the

characterization of ultrafast dynamics in function of temperature between 23 and 90

°C, visualizing a linear relationship between the period of the acoustic phonon against

temperature.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................ 12

2. Fundamentação ................................................................................................... 15

2.1. Óptica não linear ............................................................................................ 15

2.2. Espectroscopia ultrarrápida ........................................................................... 16

2.2.1. Espectroscopia de bombeio e prova ........................................................ 19

2.2.2. Grade de difração transiente ................................................................... 21

2.3. Ressonância de plásmon de superfície em nanopartículas metálicas ........... 24

2.4. Dinâmica ultrarrápida em nanopartículas metálicas ....................................... 26

2.4.1. Oscilações não térmicas .......................................................................... 28

2.4.2. Espalhamento elétron-elétron .................................................................. 31

2.4.3. Espalhamento elétrons-fônon .................................................................. 34

2.4.4. Espalhamento fônon-fônon ...................................................................... 38

2.4.5. Modelo de duas temperaturas .................................................................. 42

2.5. Catálise com nanopartículas metálicas .......................................................... 43

2.6. Nanopartículas bimetálicas de ouro e prata. .................................................. 55

2.7. Resultados do Mestrado – Dinâmica ultrarrápida de nanopirâmides preparado

por litografia de nanoesferas: Efeitos do substrato e estudos da região de banda.

............................................................................................................................... 60

3. Experimental ........................................................................................................ 66

3.1. Espectroscopia de bombeio e prova .............................................................. 66

3.2. Espectroscopia de grade de difração transiente ............................................ 68

3.3. Preparação do nanoprisma ............................................................................ 69

3.4. Nanopartículas bimetálicas de ouro e prata ................................................... 70

3.5. Simulações..................................................................................................... 71

3.5.1. Modelagem dos espectros de absorção .................................................. 71

3.5.2. Dinâmica Molecular ................................................................................. 72

4. Resultado e discussão ......................................................................................... 73

4.1. Espectroscopia de grade de difração transiente (EMQO) nos nanoprismas de

ouro sobre substratos de Ito/Vidro e Vidro. ............................................................ 73

4.2. Correlação da dinâmica estrutural e atividade catalítica de nanopartículas

híbridas ocas de Au e Ag utilizando técnicas de espectroscopia ultrarrápida. ....... 77

4.3. Estudo das nanopartículas ocas utilizando altas energias. Nova análise de um

fenômeno antigo: a espectroscopia ultrarrápida do resfriamento anômalo. ........... 96

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

4.4 Espectroscopia de bombeio e prova em nanopartículas bimetálicas de Au e

Ag com variação de temperatura. ........................................................................ 106

5. Conclusão e perspectivas .................................................................................. 109

6. Referências ........................................................................................................ 111

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

12

1. Introdução

Nos últimos anos o interesse pelos sistemas nanométricos (regime de tamanho

na transição do quase-sólido para o quase-molecular) tem aumentado, principalmente

devido à versatilidade destes materiais. Nanopartículas são materiais de diversas

composições em escalas que vão desde alguns até centenas de nanômetros. Dentre

os nanomateriais mais estudados estão as nanopartículas metálicas que, por sua vez,

são estruturas com uma vasta gama de aplicabilidade como, por exemplo, receptores

ópticos1,2, em medicina3,4, na agricultura5,6, na indústria eletrônica7,8 e principalmente

em catálise9,10. Nanopartículas metálicas são aquelas que possuem metais em estado

de oxidação zero em sua composição.

As características das nanopartículas metálicas são muito diferentes daquelas

observadas nos materiais em escalas maiores e estão ligadas diretamente à

composição e morfologia da nanoestrutura. A causa destas características em

nanopartículas são objeto de estudo em todos os campos de aplicação. As

características das nanopartículas em cada área de estudo estão ligadas a uma

propriedade específica deste tipo de material. Por exemplo, a aplicação destes

materiais em medicina vem da característica das nanopartículas de possuírem

dimensões semelhantes às dos sistemas biológicos moleculares e celulares. Por sua

vez, a considerável eficiência catalítica vem da alta razão superfície/volume

apresentada pelas estruturas nanométricas. Já as características ópticas vêm do fato

de os elétrons livres terem um caminho livre maior que o tamanho da nanopartícula11,

fato que os faz absorver radiação em frequências que vão desde o ultravioleta até o

infravermelho12. Aplicações em química analítica no desenvolvimento de novos

sensores, algumas aplicações biomédicas e aplicações em circuitos de alta

velocidade são em seu fundamento, resultado da ressonância de plásmon de

superfície destes materiais13.

As características ópticas das nanopartículas metálicas esféricas menores do

que o comprimento de onda da luz são bem descritas por soluções analíticas ou

numéricas das equações de Maxwell pela teoria de Mie14. Quando nanopartículas

metálicas são submetidas a campos eletromagnéticos, o campo elétrico oscilante

causa a movimentação coerente dos elétrons da banda de condução. As frequências

de ressonância dependem da densidade de elétrons (quantidade de elétrons

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

13

disponíveis na banda de condução), da forma e da extensão de distribuição dos

elétrons15. Desta forma, a constituição, a forma e a morfologia das nanopartículas

metálicas são determinantes das características ópticas destes sistemas.

Neste texto, nós apresentamos o estudo da dinâmica ultrarrápida realizado

em um sistema de nanopartículas de ouro fabricadas pelo método de litografia de

nanoesferas. As nanopartículas foram depositadas sobre substratos de vidro ou sobre

óxido de índio-estanho (ITO) em vidro (ITO/Vidro). Alguns dados sobre este sistemas

aqui apresentados, foram alvos de investigação anteriores16, todavia, estão aqui

apresentados de modo a facilitar a compreensão dos dados obtidos. Na sequência,

apresentaremos um estudo no qual nós utilizamos técnicas de espectroscopia

ultrarrápida para entender os mecanismos de relaxação de energia em nanopartículas

ocas híbridas de ouro e prata fabricadas pelo método de substituição galvânica e

correlacionamos os nossos resultados com a performance catalítica deste material em

uma reação de três componentes (A³). Para entender o comportamento ópticos destes

materiais, nós realizamos uma modelagem dos espectros de absorção utilizando a

teoria de Mie onde as funções dielétricas foram implementadas utilizando a

aproximação efetiva do meio. Para este mesmo sistema, nós utilizamos a simulação

de dinâmica molecular utilizando embedded atom model, onde nós estudamos a

modificação na distribuição dos componentes metálicos e comportamento térmico

deste sistema. Em seguida utilizamos uma das amostras de nanopartícula oca híbrida

para estudar a dinâmica ultrarrápida destes sistemas utilizando laser de

femtossegundos em altas energias, onde pudemos verificar um tipo de

comportamento compatível com transferência de calor anômala.

Existem muitas técnicas para fabricação de nanoestruturas metálicas e,

dentre elas, está a litografia de nanoesferas17. Esta técnica tem a versatilidade de

possibilitar a deposição de nanopartículas de maneira homogeneamente distribuída

sobre vários tipos de substratos. Existe interesse neste tipo de material principalmente

para a aplicação de nanopartículas com a finalidade de aumentar a eficiência de

células solares18.

Nanopartículas metálicas tem alta eficiência catalítica quando comparada ao

metal em extensão19. Um tipo específico de nanopartículas metálicas são as

nanopartículas híbridas. Nanopartículas híbridas possuem mais de um elemento

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

14

metálico em sua composição e tem características interessantes do ponto de vista de

aplicações, pois podem apresentar características bem diferentes daquelas

apresentadas por nanomateriais puros20,21. Quando temos um sistema composto por

nanopartículas metálicas e moléculas pequenas, existem elétrons livres (nas

nanopartículas) interagindo com elétrons confinados (nas moléculas pequenas). É

intuitivo pensar que um sistema influenciará no arranjo eletrônico do outro. No sistema

confinado, qualquer tipo de desarranjo eletrônico irá afetar diretamente na reatividade

desta molécula. Logo, níveis eletrônicos inatingíveis por excitações térmicas podem

ser facilmente excitados quando uma molécula entra em contato com a superfície de

uma nanopartícula metálica22. Nanopartículas ocas híbridas podem ser sintetizadas

pelo método de substituição galvânica, gerando nanopartículas com elevada razão

área/volume.

A espectroscopia ultrarrápida é o nome dado a um grande número de técnicas

com resolução temporal na escala de femtossegundos. São ferramentas muito

poderosas, tendo contribuído com a elucidação de problemas experimentalmente

complexos como, por exemplo, o acompanhamento de reações químicas em tempo

real, teoria do estado de transição23 e a transferência de energia em sistemas

fotossintéticos24. A espectroscopia de bombeio e prova é uma técnica capaz de

acompanhar a movimentação nuclear em tempo real, sendo aplicada ao estudo de

reações químicas, dinâmica ultrarrápida em nanopartículas, entre outros sistemas.

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

15

2. Fundamentação

2.1. Óptica não linear

O entendimento dos fenômenos de interação da radiação com a matéria, deram

luz a uma gama de conhecimentos imensuráveis. Desde os primeiros experimentos

realizados por Isaac Newton no século XVII, estes fenômenos foram utilizados para

elucidar a estrutura atômica, estudar ligações químicas, estrutura molecular,

cosmologia, quantificação de componentes químicos, opto-eletrônica entre outros. A

grande maioria dos fenômenos de interação da radiação com a matéria que são

aplicados em técnicas espectroscópicas, tem a resposta do material, ou seja, sua

polarização (�⃗� ), linearmente proporcional à amplitude do campo elétrico (�⃗� (𝑡))

aplicado.

�⃗� = 휀0(1)�⃗� (𝑡) (1)

Na qual, 휀0 é a permissividade elétrica no vácuo e (1) é dito ser a susceptibilidade

ótica linear do material.

Embora estas interações venham sendo observadas, aperfeiçoadas e

aplicadas ao método científico desde então, foi somente em meados do século XX

que se obteve a tecnologia necessária para estudar a modificação das propriedades

ópticas da matéria, causada pela interação da radiação com a matéria. Mais

precisamente, a invenção do Laser (Light Amplification by Stimulated Emission of

Radiation – Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação) datada de

1960 por Maiman25, foi o que possibilitou a observação destas interações, que tiveram

início com a observação da geração de segundo harmônico por Franken em 196126.

O fato destes fenômenos apresentarem a polarização do material se correlacionando

de maneira não linear ao campo elétrico aplicado originou o nome óptica não linear.

Neste cenário, a polarização do material é expressa por uma série de potências em

função da amplitude do campo elétrico aplicado.

�⃗� = 휀0(𝜒(1)�⃗� (𝑡) + 𝜒(2)�⃗� ²(𝑡) + 𝜒(3)�⃗� ³(𝑡)… . . ) (2)

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

16

Na qual, o primeiro termo corresponde as polarização linear e os demais termos as

contribuições não-lineares.

Deste modo, a polarização do material é dada por;

�⃗� = �⃗� (𝑡) + �⃗� ²(𝑡) + �⃗� ³(𝑡)… .. (3)

O valor de 𝜒(1) na equação 2 é próximo da unidade em matéria condensada,

seguido de 10-12 para 𝜒(2) e 10-24 para 𝜒(3). Desta forma, fenômenos de óptica não

linear são observados somente quando a amplitude do campo elétrico �⃗� é da ordem

da força do campo interatômico, fato que explica o motivo pelo qual as observações

destes fenômenos só terem sido possibilitadas com a invenção do laser, que é um

gerador de luz com potência necessária para viabilizar estes efeitos. Por outro lado,

há na literatura alguns exemplos de fenômenos de óptica não linear com fontes de luz

menos intensas, como a descoberta do efeito Kerr27 por John Kerr em 1875 e efeitos

de saturação28 por Lewis et al. em 1941.

2.2. Espectroscopia ultrarrápida

A espectroscopia de femtossegundos engloba uma série de técnicas

resolvidas no tempo que exploram a resposta não-linear do sistema estudado.

Conforme visto previamente, a polarização de um sistema é depende da

susceptibilidade 𝜒(𝑛) e a amplitude do campo elétrico aplicado �⃗� (𝑡). Quando tratamos

de susceptibilidade não-linear (𝑛 > 2), o primeiro termo não linear, 𝜒(2), é explorado

no estudo de resposta não linear de segunda ordem por técnicas como geração de

segundo harmônico, entre outras. Contudo 𝜒(2) encontra limitação para a aplicação

em sistemas sem simetria de inversão, como gases e líquidos. Já a susceptibilidade

não-linear de terceira ordem 𝜒(3) não possui limitação em sistemas sem simetria de

inversão e possui uma vasta gama de técnicas espectroscópicas resolvidas no tempo

a ela correlacionada como, bombeio e prova / absorção transiente na escala de tempo

de femtossegundos, espectroscopia do efeito Kerr ótico na escala de

femtossegundos, a grade de difração transiente, o eco de fótons e a espectroscopia

eletrônica bidimensional.

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

17

A polarização não-linear (𝑃𝑁𝐿) de terceira ordem é cubicamente proporcional

a amplitude do campo elétrico,

𝑃(3) = (3)

�⃗� ³(𝑡) (4)

A susceptibilidade de terceira ordem ((3)

) é um tensor de posto quatro com

um argumento composto por três frequências independentes. A polarização pode ser

escrita da forma,

𝑃𝛼(3)

(𝜔3) = ∑ 𝜒𝛼𝛽𝛾𝛿(3)

𝛽𝛾𝛿 (−𝜔3, 𝜔2, −𝜔1, 𝜔0)𝐸𝛽(𝜔2)𝐸𝛾∗(𝜔1)𝐸𝛿(𝜔0) (5)

Na qual, 𝛼, 𝛽, 𝛾 e 𝛿 são as coordenadas cartesianas do tensor, 𝜔 é a frequência da

radiação.

Por definição, a equação 5 deve obedecer à lei da conservação de energia do

fóton, que estabelece

𝜔0 − 𝜔1 + 𝜔2 − 𝜔3 = 0 (6)

De maneira análoga às frequências, o momento do fóton também obedece à

lei de conservação, estabelecendo que nenhum momento é transferido da radiação

para as espécies absortivas, sendo, desta forma,

𝜅 0 + 𝜅 1 + 𝜅 2 = 𝜅 3 (7)

para um processos não-linear de terceira ordem.

Usualmente, os conceitos e métodos matemáticos e estatísticos usados para o

tratamento de sistemas em espectroscopia ultrarrápida é baseado na utilização de

operadores de densidade na teoria de interação de muitos corpos29.

A descrição da interação da radiação com o meio não linear e seus efeitos de

modificação dos potenciais no material que consequentemente irão gerar a resposta

espectroscópica é tratado pelo modelo semi-clássico através das equações de

Maxwell-Liouville (equações 8, 9 e 10), no qual a radiação é tratada classicamente e

o material é tratado quanticamente. A aproximação do dipolo elétrico é

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

18

concernentemente utilizada na equação 11 de modo a facilitar a obtenção da dinâmica

temporal do sistema.

Para o tratamento quântico do material, a aplicação dos métodos baseados no

espaço de Liouville (Liouville space) é eficiente devido às diferentes populações

geradas pelas interação dos pulsos em cada um dos níveis de energia presentes no

material, a existência de estados mistos, com populações estacionárias e em

transição.

∇ × ∇ × 𝐸(𝑟, 𝑡) + 1

𝑐2

𝜕2

𝜕𝑡2 𝐸(𝑟, 𝑡) = −4𝜋

𝑐2

𝜕2𝑃(𝑟,𝑡)

𝜕𝑡2 (8)

𝑃(𝑟, 𝑡) = 𝑇𝑟[�̂�(𝑟)𝜌(𝑡)] (9)

𝜕𝜌(𝑡)

𝜕𝑡= −

𝑖

ℏ[�̂�𝑇(𝑡), 𝜌(𝑡)] (10)

𝐻𝑖𝑛𝑡 = −∫𝐸(𝑟, 𝑡) ∙ 𝑃(𝑟)𝑑𝑟 (11)

Sistemas de equações como a de Maxwell-Liouville podem ser resolvidas por

métodos auto-consistentes, de modo que campo elétrico e polarizabilidade se

correlacionem nas equações de Maxwell nas equações 8 e 9, e entra como argumento

na equação de Liouville na equação 10 30.

A resposta de terceira ordem pode ser avaliada tanto no tempo quanto na

frequência. Em espectroscopia ultrarrápida, ambas as informações são importantes

para o entendimento da dinâmica do sistema. A função resposta óptica do material é

obtida aplicando a equação de Liouville ao hamiltoniano total do sistema, sendo ,

𝐻𝑇 = 𝐻0 + 𝐻𝑖𝑛𝑡 (12)

Obtendo então,

𝜕𝜌(𝑡)

𝜕𝑡= −

𝑖

ℏ[𝐻(𝑡), 𝜌(𝑡)] −

𝑖

ℏ[𝐻𝑖𝑛𝑡(𝑡), 𝜌(𝑡)] (13)

A resposta de terceira ordem resolvida no tempo 𝑆(3)(𝑡) é definida por,

𝑆(3)(𝑡3, 𝑡2, 𝑡1) = (𝑖

ℏ)3

⟨⟨𝑉|𝒢(𝑡)3𝒱𝒢(𝑡2)𝒱𝒢(𝑡1)𝒱|𝜌(−∞)⟩⟩ (14)

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

19

Sendo 𝑉 o potencial, 𝒢(𝑡) a função de Green no tempo 𝑡, 𝒱 o operador

momento dipolo no espaço de Liouville e 𝜌(−∞) o operador densidade de estados

para tempos inferiores a 𝑡1, no estado de equilíbrio termodinâmico 29,31. A equação 14

demonstra que a resposta de terceira ordem de um meio não linear tem dependência

do tempo de interação de cada um dos pulsos que interagem no tempo 𝑡𝑛. A interação

do pulso em 𝑡1 gera estados mistos cuja evolução é caracterizada pela função de

Green e tem a ação do operador dipolo elétrico sobre os estados inicias 𝑡<0 e os

estados gerados pelo pulso em 𝑡1. Por sua vez, o pulso 𝑡2, gera novos estados mistos

no estado originados por 𝑡1 com evolução temporal descrita pela função de Green em

𝑡2, que tem ação do operador momento dipolo tanto sobre os estados gerados pelo

pulso em 𝑡1 quanto em 𝑡2 . Por fim, o pulso 𝑡3, gera novos estados mistos nos estados

originados por 𝑡2 , evoluem conforme a função de Green em 𝑡3, que tem ação do

operador momento dipolo tanto sobre os estados gerados pelo pulso em 𝑡2 quanto em

𝑡3.

Todas as técnicas de espectroscopia ultrarrápida que são classificadas como

mistura de quatro ondas são caracterizadas por este mesmo cenário de interação, no

qual três pulsos ultrarrápidos interagem com o meio não linear e a resposta do material

é obtida através do pulso emitido. Aqui abordaremos as definições teóricas e as

condições experimentais para utilização das técnicas de espectroscopia de bombeio

e prova e grade de difração transiente.

2.2.1. Descrição matemática da espectroscopia de bombeio e prova

A espectroscopia de bombeio e prova (EBP) é uma técnica muito utilizada no

estudo da dinâmica de sistemas atômicos, iônicos e moleculares, que envolve o

estudo de processos dinâmicos importantes como solvatação, dinâmica de estados

excitados, transferência de energia, entre outros32–36.

EBP se enquadra entre as várias formas de espectroscopia de mistura de quatro

ondas, definindo então 𝐸(𝑟, 𝑡) como;

𝐸(𝑟, 𝑡) = 𝐸1(𝑡 + 𝜏 + 𝜏′) exp(𝑖𝑘1𝑟 − 𝑖𝜔1𝑡) + 𝐸3(𝑡 + 𝜏) exp(𝑖𝑘3𝑟 − 𝑖𝜔3𝑡) +

𝐸2(𝑡) exp(𝑖𝑘2𝑟 − 𝑖𝜔2𝑡) + 𝑐. 𝑐. (15)

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

20

Especificamente na EBP, o pulso correspondente ao campo elétrico 𝐸1 e 𝐸3 possuem

o mesmo vetor de onda 𝑘 (𝑘1 = 𝑘3) e a mesma frequência 𝜔 (𝜔1 = 𝜔3), com 𝜏′ = 0,

ou seja são campos elétricos com coerência permanente. Desta forma a equação 15

pode ser reescrita na forma;

𝐸(𝑟, 𝑡) = 𝐸1𝐸3∗(𝑡 + 𝜏) exp(𝑖𝑘1𝑟 − 𝑖𝜔1𝑡) + 𝐸2(𝑡 − 𝜏) exp(𝑖𝑘2𝑟 − 𝑖𝜔2𝑡) + 𝑐. 𝑐. (16)

Sendo 𝐸1 e 𝐸3∗ os campos elétricos dos pulsos de bombeio e 𝐸2 o campo elétrico do

pulso de prova. 𝐸(𝑡) é a descrição do envelope do campo elétrico com forma definida

pela distribuição temporal (gaussiana ou lourentziana por exemplo).

Em relação ao vetor de onda temos,

𝑘𝑠 = 𝑘1 − 𝑘1 + 𝑘2 = 𝑘2 (17)

Ou seja, a resposta do material é obtida através do pulso emitido na mesma direção

de 𝐸2. De maneira análoga,

𝜔𝑠 = 𝜔1 − 𝜔1 + 𝜔2 = 𝜔2 (18)

a frequência do campo elétrico do sinal é a mesma de 𝐸229.

Em relação ao aparato experimental, a espectroscopia de bombeio e prova é

uma das técnicas que se enquadra na espectroscopia de mistura de quatro ondas.

Contudo, a peculiaridade existente nesta técnica é que apenas dois feixes em

geometria não colinear interagem com a amostra. Neste cenário, o feixe de bombeio

interage com o meio não linear com dois pulsos e, em seguida, o pulso de prova segue

com a resolução temporal pelo atraso temporal entre os pulsos de bombeio e prova.

O pulso de prova por sua vez, tem o mesmo vetor de onda do sinal emitido pelo

oscilador local, sendo ambos direcionados para o detector conforme demostrado na

figura 01.

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

21

Figura 01. Ilustração esquemática do experimento de bombeio e prova. 𝑘1e 𝑘3 são os

vetores de onda do pulso de bombeio, enquanto que 𝑘2 e 𝑘𝑠 são os vetores de onda do pulso

de prova e do sinal emitido, respectivamente. 𝐴 é a posição da amostra no aparato

experimental.

A separação entre o pulso de prova e o sinal é feita com a utilização da

detecção heteródina, onde somente o campo elétrico gerado pela interação com o

pulso de bombeio será interpretado como sinal do oscilador local, gerando assim o

sinal de bombeio e prova.

2.2.2. Descrição matemática da espectroscopia de Grade de difração

transiente

A técnica da Grade de Difração Transiente (GDT) é uma variação da

espectroscopia de mistura de quatro ondas, onde 𝐸1 e 𝐸3 possuem a mesma

frequência 𝜔, porém com vetores de onda diferentes, resultando, a partir da equação

7,

𝐸(𝑟, 𝑡) = 𝐸1(𝑡 + 𝜏) exp(𝑖𝑘1𝑟 − 𝑖𝜔1𝑡) + 𝐸3∗(𝑡 + 𝜏) exp(𝑖𝑘3𝑟 − 𝑖𝜔3𝑡) + 𝐸2(𝑡) exp(𝑖𝑘2𝑟 −

𝑖𝜔2𝑡) (19)

Devido à diferença de tempo entre 𝐸1 e 𝐸3∗ ser nula (𝜏′ = 0), a interação entre

os dois pulsos no meio não linear ocorre em (𝑡 + 𝜏) e gera uma grade de difração

material, onde o pulso 𝐸2, ao interagir com a amostra, difrata.

No experimento da grade de difração transiente, assim como no experimento

de bombeio e prova, temos que, 𝜔𝑠 = 𝜔1 − 𝜔1 + 𝜔2 = 𝜔2. Contudo o vetor de onda

do sinal obtido é dado por;

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

22

𝑘𝑠 = 𝑘1 + 𝑘2 − 𝑘3 (20)

dependendo assim do vetor de onda de cada um dos campos elétricos que interagem

com o meio não linear (condições para casamento de fases, do inglês “phase matching

condition”)37.

Tanto o fenômeno de absorção de radiação quanto a refração da luz possuem

a propriedade de gerar uma modulação espacial na região de interferência dos

campos 𝐸1 e 𝐸3. Após a interação dos pulsos com o meio não linear, uma grade de

densidade de população é gerada, conforme podemos observar na ilustração na figura

02. A grade de difração então é gerada pela propriedade da periodicidade de

população de estados excitados possuir índices de refração diferentes em cada

variação infinitesimal do espaço29,38.

Após a geração da grade de densidades de população, grades secundárias

podem surgir, genericamente, devido ao decaimento dos estados eletrônicos

excitados tanto por meios radiativos ou não radiativos. Grades secundárias de

diferentes características podem ser criadas se os materiais apresentarem

propriedades luminescentes, foto refrativas ou se o sistema é capaz de transferir

energia. Sistemas com decaimentos não radiativos dão origem a grades de

temperatura, devido à relação entre temperatura e índice de refração.

Figura 02. (a) Ilustração da interação entre dois feixes de laser gerando a grade de

difração, sendo 𝐼 a intensidade, 𝜅 o vetor de onda, 𝜆 o comprimento de onda, 𝜃 o ângulo entre

os feixes, Λ a largura da raia da grade de difração gerada.

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23

Grades de difração podem ser criadas tanto por interações ressonantes ou fora

da ressonância, embora a intensidade da difração em experimentos na ressonância

seja muito maior. Particularmente, tanto fônons ópticos quanto acústicos podem ser

observados no experimento de grade de difração transiente, dependendo dos

mecanismos de interação da radiação existentes no meio em análise.

A definição temporal desta técnica é ampla, tendo a capacidade de, com o

devido aparato experimental, acompanhar processos ultrarrápidos como coerência

eletrônica na escala de femtossegundos, até processos de convecção na escala de

alguns segundos38.

Em relação ao aparato experimental, a espectroscopia de grade de difração

transiente envolve a interação com três pulsos em geometria não-colinear, sendo que

os dois pulsos de bombeio interagem simultaneamente com a amostra. A interferência

dos dois pulsos de bombeio cria uma grade de difração na amostra associada à

modulação espacial na resposta ótica do material (índice de refração e absorção). O

terceiro pulso do experimento é o pulso de prova, o qual incide na amostra com um

atraso temporal em relação aos dois pulsos de bombeio, sendo difratado na direção

determinada pela condição de casamento de fase (equação 7). A dependência da

intensidade do pulso de prova difratado fornece informações sobre a dinâmica que

ocorre no sistema investigado39,40.

Existem várias maneiras possíveis de se implementar a técnica de difração

transiente, em distintas escalas temporais e regiões espectrais. Na escala de tempo

de femtossegundos a picossegundos, as montagens iniciais consistiam de um arranjo

no espaço livre envolvendo divisores de feixe para os três pulsos incidentes na

amostra. Por outro lado, a construção da montagem empregando elementos óticos

difrativos (DO) possui vantagens com relação à montagem da GDT baseada em

divisores de feixe, primariamente associadas à simplicidade de estabilização de

flutuações de fase relativa dos quatro pulsos de laser e eficiência do processo de

difração que ocorre primariamente nas ordens +1 e -1 no DO empregado neste

trabalho. Em particular, nesta configuração a estabilização de fase é passiva, uma vez

que todos os feixes difratados interagem com os mesmos componentes óticos

posicionados entre a DO e a amostra. Além disso, quando quatro feixes de luz se

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24

sobrepõem na amostra (2 de bombeio, 1 de prova e o oscilador local), o alinhamento

espacial e temporal é alcançado com base na conservação de momento da luz na

amostra41.

Os quatro feixes difratados são alinhados em geometria boxcar que satisfaz a

condição de casamento de fase (equação 7) conforme apresentado na figura 03.

Nesta geometria, somente o sinal de mistura de quatro ondas chega ao detector. Além

disso, o sinal é colinear e coerente com o pulso de referência que age como oscilador

local, permitindo desta forma a implementação da montagem com detecção

heteródina ótica.

Figura 03. Designe do enquadramento dos pulso na grade de difração transiente.

2.3. Ressonância de plásmon de superfície em nanopartículas

metálicas

A plasmônica é o campo da ciência destinado ao estudo dos plásmons, que é definido

como oscilação coletiva de elétrons livres. A ressonância de plásmon de superfície

(RPS) é caracterizada pela oscilação dos elétrons livres na interface metal/dielétrico.

Existem basicamente três tipos distintos de RPS, diferidos pelo modo de propagação:

modo localizado, modo estendido ou modo de longo alcance. O modo localizado

ocorre particularmente em sistemas onde o plásmon de superfície fica confinado em

extensões menores que a metade do comprimento de onda do campo eletromagnético

incidente. A principal característica deste tipo de ressonância de plásmon, é a

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25

intensificação do campo elétrico próximo a superfície da partícula, propriedade que

gera uma variedade de aplicações. O modo estendido por sua vez, se caracteriza por

confinamentos em escalas mais extensas, presente em filmes metálicos42. Por último,

a ressonância de plásmon de longo alcance, se caracteriza pela propagação da

oscilação dos elétrons coerentemente por distâncias que chegam a alguns

centímetros43.

Nanopartículas metálicas, em sua grande maioria, apresentam ressonância de

plásmon de superfície localizada. Basicamente, se o tamanho da partícula metálica é

menor que o caminho livre médio dos elétrons, é originada uma intensa absorção que

pode ser observada, no qual a frequência de ressonância depende basicamente das

propriedades dielétricas dos materiais e da sua vizinhança, bem como do tamanho da

nanopartículas e sua morfologia12,15,44,45. Isto é o resultado da oscilação coerente de

elétrons livres de uma superfície a outra da partícula (figura 04). O espectro de

nanopartículas metálicas pode ser calculado resolvendo as equações de Maxwell para

absorção e espalhamento em meios com constante dielétrica conhecida. Uma solução

analítica das equações de Maxwell utilizando condições de contorno para partículas

esféricas foi desenvolvida por Mie em 1908, descrevendo o espectro de extinção

(absorção e espalhamento) das nanopartículas14. A teoria de Mie pode ser utilizada

para resolver o espectro de extinção de outros formatos além do esférico, porém,

deve-se lança mão de métodos numéricos. Nota-se na representação da figura 04,

que existe um deslocamento no centro de massa do plásmon em relação ao centro

de massa da rede de íons componentes da nanopartículas.

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26

Figura 04. Esquema demonstrando a interação de nanopartículas simétricas com

campo elétrico.

2.4. Dinâmica ultrarrápida em nanopartículas metálicas

A dinâmica ultrarrápida em nanopartículas metálicas envolve, em ordem

cronológica, a interação sistemática entre elétrons e campos externos, entre elétrons,

elétrons e íons, entre íons e entre íons e o ambiente. Diferentemente do material em

bulk, interações na superfície tem maior relevância devido à alta razão superfície-

volume que os materiais nanométricos apresentam. Contudo, a dinâmica de

transferência de energia em nanopartículas metálicas é similar à dinâmica de

transferência de energia em materiais em bulk.

A descrição clássica deste processo foi abordada teoricamente pelo modelo

de amortecimento de Drude, onde as interações potenciais entre as partículas são

desprezadas e a transferência de energia entre os constituintes do sistema é tratada

por um modelo unicamente colisional considerando o comportamento dos elétrons no

metal como o de um gás perfeito, seguindo a estatística de Boltzmann.

Posteriormente, o modelo de Sommerfeld que considera a teoria quântica, substituiu

a estatística de Boltzmann pela estatística de Fermi-Dirac dando origem ao modelo

atual conhecido como “modelo dos elétrons livres”.

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27

A princípio, desconsiderando as interações de superfície, podemos simplificar

a constituição do sistema, considerando apenas os íons presentes na rede cristalina

e os elétrons de valência. Deste modo, podemos descrever o hamiltoniano do sistema

como a soma hamiltoniano dos elétrons (�̂�𝑒), o hamiltoniano dos íons (�̂�í𝑜𝑛𝑠), a

interação entre os íons e elétrons (𝐻𝑒−í𝑜𝑛𝑠) e a interação com campos externos (�̂�𝑒𝑥𝑡),

consolidando o hamiltoniano como

�̂�0 = �̂�𝑒 + �̂�í𝑜𝑛𝑠 + �̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 + �̂�𝑒𝑥𝑡 (21)

Por sua vez, o hamiltoniano dos elétrons é definido pela soma da energia

cinética dos elétrons e a interação potencial entre eles.

�̂�𝑒 = �̂�𝑒 + �̂�𝑒−𝑒 (22)

Analogamente, o hamiltoniano dos íons é definido pela energia cinética dos

íons e suas interações

�̂�í𝑜𝑛𝑠 = �̂�í𝑜𝑛𝑠 + �̂�í𝑜𝑛𝑠−í𝑜𝑛𝑠 (23)

E para as interações de energia potencial entre elétrons e os íons, temos

�̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 = �̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 (24)

Considerando que os íons constituintes do sólido não podem se movimentar

livremente, mas estão restritos pelo movimento dos íons a sua volta, assumimos que

existam as oscilações coletivas da rede, definidas como fônons. Podemos então

inserir novos termos no hamiltoniano do sistema;

�̂�0 = 𝐸í𝑜𝑛𝑠 + �̂�𝑓𝑜𝑛 + �̂�𝑒 + �̂�𝑒−𝑓𝑜𝑛 + �̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 , (25)

onde definimos que �̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 está relacionada somente a energia potencial entre

elétrons com os íons na posição de equilíbrio e �̂�𝑒−𝑓𝑜𝑛 está relacionado a oscilação

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28

coletiva devido ao acoplamento dos elétrons e os núcleos em movimento. Por sua vez

�̂�𝑓𝑜𝑛 descreve basicamente a energia total dos íons devido ao deslocamento de suas

respectivas posições de equilíbrio. 𝐸í𝑜𝑛𝑠 corresponde à energia dos íons em suas

posições de equilíbrio46,47.

Este tratamento simplificado desconsidera os potenciais de spin e

logicamente leva em conta a aproximação de Born-Oppenheimer, caracterizando

então o movimento dos elétrons em um meio estático e o movimento dos núcleos em

um potencial elétrico médio46.

Do ponto de vista dinâmico, a interação entre os constituintes das

nanopartículas metálicas que procedem após a interação com a radiação

eletromagnética se constituem de processos termomodulados sequenciais que vão

desde a absorção de energia pelos elétrons até a elevação da temperatura do

ambiente13,48,49.

Embora existam muitos processos que podem ser considerados nas etapas

de transferência de energia em um sistema da nanopartículas, os processos que

majoritariamente definem a dinâmica ultrarrápida nestes sistemas são as oscilações

não térmicas do gás de elétrons, seguido do espalhamento elétron-elétron,

espalhamento elétron-fônon e espalhamento fônon-fônon.

2.4.1. Oscilações não térmicas

Antes da interação com o pulso (t<0), os elétrons se encontram em seu estado

inicial de energia (𝐸𝑒0) e na temperatura (𝑇𝑒

0).

Nesta primeira etapa da dinâmica (t=0), o campo elétrico externo insere

energia no sistema. Neste cenário, se a duração do pulso for menor que o tempo de

redistribuição de energia dos elétrons, é criado uma distribuição não térmica de

elétron, retirando elétron de nível energéticos logo abaixo do nível de Fermi (𝐸𝑒0 < 𝐸𝐹)

que a partir de agora começa a ocupar estados de maior energia (𝐸𝑒 > 𝐸𝐹) conforme

representado na figura 05.

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29

Figura 05. Distribuição de Fermi-Dirac durante a oscilação não térmica após

a interação com pulso ultracurto. (adaptado da ref50)

Podemos definir �̂�𝑒𝑥𝑡 = 𝐸𝑜 como sendo a energia que é inserida no sistema

na forma de energia eletromagnética. Durante o período de interação do pulso do laser

de femtossegundos, particularmente, com as nanopartículas metálicas, o campo

elétrico da luz gera uma oscilação não térmica nos elétrons livres presente na banda

de condução do metal (plásmon de superfície). A oscilação não térmica dos elétrons

neste sistema é caracterizada pela elevada energia cinética dos elétrons (�̂�𝑒) em

comparação à energia térmica associada a sua vizinhança. Deste modo, toda a

energia proveniente do laser que é absorvida pelo material, inicialmente se concentra

na forma de energia cinética nos elétrons51. Os elétrons nesta etapa são considerados

degenerados caracterizando assim uma distribuição non-Fermi.

Em nanopartículas, a interação da radiação com os elétrons livres que molda

o espectro de absorção. Desta forma, o tempo de relaxação da distribuição non-Fermi

de elétrons não termalizados (𝜏𝑛𝑡) pode ser obtida através do alargamento

homogêneo (Γℎ𝑜𝑚) do espectro de ressonância de plasmon.

𝜏𝑛𝑡 = ℏ/Γℎ𝑜𝑚, (26)

sendo ℏ = ℎ/2𝜋 onde ℎ é a constante de Planck.

As técnicas que são utilizadas para estudar a dinâmica das oscilações

coerentes em plásmon, em geral, são aquelas que tem a capacidade de avaliar a

sobreposição coerente entre o campo eletromagnético e a polarização elétrica dos

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30

elétrons livres no material. As técnicas de geração de segundo harmônico e geração

de terceiro harmônico apresentam estas características e tem a definição temporal

necessária para acompanhar tais fenômenos. Experimentos utilizando estas técnicas,

demonstram que o tempo de coerência das oscilações dos elétrons do plásmon

variam entre 4 e 40 fs dependendo de fatores como tipo de material e o tamanho da

nanopartícula. Lamprecht et al, demostraram em experimentos de geração de

segundo harmônico utilizando nanopartículas de ouro e prata em formato esférico

depositados sobre substrato de ITO que os tempos de defasagem do plásmon nestas

nanopartículas foram de 6 fs para ouro e 7 fs para prata, respectivamente52, cujo

resultado está representado na figura 06. O cristal só apresenta resposta óptica, ou

seja, só existe geração de segunda harmônico enquanto houver interação entre os

dois pulsos no cristal, enquanto que nas nanopartículas, ocorre a interação do pulso

com os elétrons livre oscilando coerentemente. Os experimentos de Steinmuller et al,

utilizando também a geração de segundo harmônico em nano-ilhas de prata

depositados sobre ITO, apresentaram tempos de coerência em torno de 40fs53.

Figura 06. Tempo de correlação utilizando cristal de Beta Borato de Bário

(BBO) e nanopartículas (NPs).. (adaptado da ref52)

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31

2.4.2. Espalhamento elétron-elétron

O espalhamento elétron-elétron é a etapa da dinâmica de transferência de

energia que corresponde à termalização da energia cinética adquirida pelos elétrons

na absorção de radiação eletromagnética. Basicamente, é a etapa da dinâmica que

compreende o componente �̂�𝑒 do hamiltoniano total do sistema. As colisões são

caracterizadas pela força da interação coulombiana (�̂�𝑒−𝑒) entre os elétrons

envolvidos.

Nesta etapa, ocorre variação na energia dos elétrons, criando estados não

degenerados podendo ser descritos por uma distribuição de Fermi. Assim sendo, a

temperatura dos elétrons se diferencia do seu estado inicial (𝑇𝑒 > 𝑇𝑒0) e possui

energia (𝐸𝑒 > 𝐸𝑒0) criando uma população de elétrons com energia em torno do nível

energético correspondente a energia de Fermi (𝐸𝐹). A distribuição de elétrons

aumenta consideravelmente em energias acima do nível de Fermi e tal fenômeno está

ligado unicamente a energia inserida no sistema devido ao amortecimento do campo

eletromagnético, ficando também evidente que não ocorre qualquer modificação na

densidade de elétrons54.

Figura 07. Descrição física do espalhamento elétron-elétron em uma

distribuição de elétrons próximos do nível de Fermi. A população de elétrons com

energia acima do nível de Fermi sofrem colisões, retornando assim a níveis de energia

inferiores a energia de Fermi. ∆𝑓𝑒 é a variação da função de distribuição de energia

em relação a temperatura inicial 𝑇0. (adaptado da ref55)

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

32

Após o processo de absorção de radiação e elevação da energia dos elétrons

para níveis acima da energia de Fermi, o espalhamento dos elétrons ocorre

basicamente conforme o diagrama da figura 07. O choque entre os elétrons faz com

que haja uma redistribuição de energia dos portadores ao redor do nível de Fermi.

O tempo de termalização da energia dos elétrons em nanopartículas metálicas

depende de características intrínsecas do sistema e tem forte dependência da

localização espacial, nível de energia do elétron, densidade de estados, material, do

tamanho da nanopartículas56 e também depende de fatores externos como

intensidade e frequência da energia fornecida aos elétrons. Fisicamente, o caminho

livre médio dos elétrons em um metal é inversamente proporcional à densidade efetiva

de elétrons se movimentando aleatoriamente, assim sendo, quanto mais elétrons se

espalham mais elétrons serão espalhados e desta forma a taxa de espalhamento

elétron-elétron em nanopartículas metálicas aumenta exponencialmente com o tempo

após a interação com a fonte de energia57.

Como a energia cinética adquirida na etapa não térmica é muito grande, e a

capacidade calorífica dos elétrons é muito pequena, (𝐶𝑒 =𝜋2

3𝑁𝑘𝑏

𝑇

𝑇𝐹, cerca de 100

vezes menor que uma partícula livre não-Fermi) a temperatura dos elétrons na etapa

de espalhamento elétron-elétron, pode chegar a alguns milhares de Kelvin58. A

temperatura final dos elétrons irá depender unicamente da energia do feixe incidente

na nanopartícula. Sendo 𝐸𝑎𝑏𝑠 a energia absorvida, 𝐶𝑒 a capacidade calorífica do

elétron,𝑇𝑖 e 𝑇𝑓 a temperatura inicial e final, respectivamente.

𝐸𝑎𝑏𝑠 = ∫ 𝐶𝑒𝑑𝑇𝑇𝑓

𝑇𝑖 (27)

Com a termalização da energia cinética desenvolvida pelo elétrons, a

temperatura dos elétrons é descrita por uma distribuição que permita considera-la

como um estado de quase-equilíbrio59. Experimentalmente, a temperatura dos

elétrons pode ser obtida através da função de distribuição de energia dos elétrons em

função da energia dos elétrons. Com estes dados, é possível utilizar a distribuição de

Fermi-Dirac para estipular a temperatura58 (Figura 08). Como 𝐶𝑒 depente de T, os

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33

cálculos da temperatura final usando a equação (27) devem ser feitos considerando

esta característica60.

Resultados experimentais mostram que a constante de tempo de termalização

da energia através do espalhamento elétron-elétron (𝜏𝑒−𝑒) tem proporção direta com

o tamanho das nanopartículas. Os resultados de Voisin et al54 confirmaram resultados

de 250 e 450 fs para nanopartículas de prata com diâmetro de 6 e 20 nm

respectivamente. Medidas em filmes com aproximadamente a mesma espessura

responderam com constante de tempo nos mesmos patamares que nas

nanopartículas, demostrando assim que existe pouco efeito de confinamento neste

sistemas, porém estes efeitos não podem ser negligenciados em nanopartículas

extremamente pequenas ( 2 a 3 nm) e se torna importante em nanosistemas com

poucos átomos61. Voisin também demostrou que os resultados para a constante (𝜏𝑒−𝑒)

são independentes da matriz e do meio utilizados, o que demonstra que a

termalização dos elétrons não tem relação com fatores externos ao sistema48,54.

O estudo da termalização da energia utilizando a distribuição de Fermi-Dirac

foi realizado por Fann et al58 e posteriormente confirmados por Giri et al62.

Figura 08. Função de distribuição de energia dos elétrons em função da

energia do elétron. A determinação da temperatura dos elétrons é obtida através da

temperatura que melhor descreve a distribuição utilizando a função de distribuição de

Fermi-Dirac.(Adaptado da ref58).

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34

Os dados de Fann mostraram que a termalização total dos elétrons ocorre

mais rapidamente em potências maiores do laser. Amostras submetidas a uma

fluência de 300 µJ/cm² termalizaram completamente em 670 fs, enquanto que as

amostra submetidas a 120 µJ/cm² apresentaram termalização incompleta neste

mesmo tempo. Em ambas experimentos, a temperatura máxima dos elétrons, foi

atingida em aproximadamente 400 fs, demostrando que a partir deste tempo, os

mecanismos de transferência de energia dos elétrons para outras partículas já tem

significância física. O fato da taxa de relaxação dos elétrons aumentar com a elevação

da potência do laser inserida ao sistema, tem como consequência a necessária

consideração da existência de elétrons não termalizados em tempos característicos

de acoplamento elétrons-fônon62.

2.4.3. Espalhamento elétrons-fônon

As interações correspondentes ao acoplamento elétron-fônon são aquelas

relacionadas a componente �̂�𝑒−𝑓𝑜𝑛 + �̂�𝑒−í𝑜𝑛𝑠 do hamiltoniano total do sistema. É a

etapa da dinâmica que descreve as interações entre elétron e a rede de íons.

Figura 09. Descrição física do espalhamento elétron-fônon em uma

distribuição de elétrons próximos do nível de Fermi. O elétron perde energia com as

sucessivas interações com o potencial periódico da rede de íons voltando a energias

abaixo do nível de Fermi. (adaptado da ref55)

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35

Desta forma, após as colisões entre elétrons e a elevação da temperatura

eletrônica, ocorre a distribuição da energia concentrada nos elétrons para a rede de

íons, e para isso, existe a necessidade de que os elétrons possuam energia extra (fora

do equilíbrio) para ocorrer a relaxação através do acoplamento elétron-fônon

conforme representado na figura 09. Desta forma, somente os elétrons que possuem

energia acima do nível de Fermi (𝐸𝑒 > 𝐸𝐹) são aqueles capazes de espalhar na rede

criando o fônon.

Figura 10. (a)Potencial periódico experimentado pelos elétrons em metais

(elétrons de Bloch). (b) Parte real de função de onda em função da extensão do

material próximo a superfície e no vácuo considerando um potencial semi-finito

(Linhas contínua) e um potencial associado aos estados de superfície (linha

tracejada). (a – adaptado da ref46 , b – adaptado da ref63)

Segundo o modelo de Bloch, o elétron experimenta um potencial periódico

exercido pela rede de íons descrito conforme a figura 10(a). A interação dos elétrons

com este potencial desloca os íons da posição de repouso tomando como referencial

os íons vizinhos. Este deslocamento gera energia potencial repulsiva entre os íons.

Consequentemente gera-se um deslocamento sequencial dos íons vizinhos que, por

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36

fim, dá forma a uma movimentação interligada dos íons, definindo assim a geração

dos fônons.

Um ponto importante de se abordar quando tratamos dos potenciais aos quais

os elétrons estão submetidos em nanopartículas metálicas, são as interações com

potenciais próximos à superfície. Os potenciais próximos à superfície de uma

nanopartícula são muito distintos daqueles experimentados no material bulk. Deste

modo, os potenciais experimentados pelos elétrons próximos à superfície são

importantes na descrição da dinâmica eletrônica.

A superfície de um material tem um comportamento físico-químico diferente

do material estendido (bulk). A variação no potencial eletrônico do material para o

outro sistema (seja o vácuo no caso de superfícies ideais ou qualquer vizinhança no

caso das superfícies reais) confere às superfícies dos materiais características que as

diferem do volume interno do próprio material. Esta variação foi elucidada de forma

teórica por Igor Tamm (1932), que aplicou a equação de Schrödinger para o potencial

𝑉(𝑧) = −𝑉0 + 𝑉𝑔𝑐𝑜𝑠 𝑔𝑧, considerando as condições de contorno do sistema em

estudo.

Como pode ser observado na figura 10(b) (linha tracejada), a função de onda

decai exponencialmente em direção ao vácuo e amortece de maneira oscilatória em

direção ao cristal e se comporta de maneira diferente no material bulk.

Desta forma, podemos dizer que a superfície dos materiais apresenta estados

não degenerados com o restante do material ao qual nos referimos como estados de

superfície (surface states). Os estados de superfície em superfícies reais

correspondem à diferenciação química estrutural dos átomos que a compõem e suas

interações com outro meio.

A capacidade calorífica da rede (𝐶𝑟) é muito maior que a capacidade

calorífica dos elétrons64 (𝐶𝑒) e assim, a elevada temperatura dos elétrons se dissipa

na rede com alteração mais leve na temperatura que aquelas observadas no

espalhamento elétron-elétron. Deste modo, durante esta etapa de distribuição de

energia, o sistema está submetido a um estado fora de equilíbrio termodinâmico, dito

entre duas temperaturas, dos elétrons quentes e da rede fria (item 2.4.5). O

espalhamento Elétron-fônon é o fenômeno amplamente estudado nos campos de

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37

resistividade elétrica, supercondutores e condutividade térmica em metais, pois é a

etapa da dinâmica eletrônica que fisicamente descreve estes fenômenos.

O fato da distribuição de energia do processo do espalhamento elétron-fônon

ocorrer em escalas de tempo de alguns picossegundos, demonstra basicamente que

são necessários alguns poucos períodos de oscilação dos fônons para que ocorra a

distribuição de energia e se alcance o estado de equilíbrio.

A influência das dimensões das nanopartículas no espalhamento elétron-

fônon tem sido amplamente discutida na literatura. Arbouet et al, demonstrou que o

espalhamento elétron-fônon é influenciado por efeitos de confinamento bem

evidenciados em nanosistemas com dimensões abaixo de 10 nm65,66, sendo mais

evidente em nanopartículas de prata que em nanopartículas de ouro. Contudo, Hodak

et al demonstrou que existe pouca influência do efeito de confinamento em

nanopartículas de elementos com elevada massa atômica. Para estes casos, Hodak

justificou que as colisões entre elétrons e a superfície são efetivas em deslocar os

íons da posição de equilíbrio, somente em nanopartículas onde a razão entre

densidade de elétrons livre (𝓃) e a densidade específica do material (𝜌) é alta. Esta

característica do material possibilita uma maior mobilidade dos íons em relação à

posição de equilíbrio e taxa de colisão elétron-superfície mais alta, conferindo ao

material uma susceptibilidade ao confinamento eletrônico, consequentemente

afetando a constante de acoplamento elétron-fônon em nanopartículas67. Link et al,

demonstrou em seus experimentos que os processos de espalhamento elétron-fônon

são independentes do tamanho das nanopartículas. Contudo, tais contradições

podem ser justificadas pelas diferentes condições experimentais às quais os sistemas

em análise foram submetidos65.

Características que são influenciadas por superfícies, também podem afetar

o espalhamento elétron-fônon. Feldstein et al. demostrou que o tempo de relaxação

(𝜏𝑒−𝑓) diminui com o aumento da agregação em nanopartículas de ouro com 12nm

depositadas sobre substrato de vidro64. O ambiente também influencia na constante

(𝜏𝑒−𝑓) no qual são importantes as características da vizinhança que possibilitem a

propagação térmica68.

Existe influência direta da potência empregada pelo laser na constante de

tempo do acoplamento elétron-fônon, bem como regiões de banda diferentes

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38

apresentam dinâmicas diferentes68–70. Fatores como temperatura se correlacionam de

maneira direta com o tempo de relaxação (𝜏𝑒−𝑓), tanto em nanopartículas de ouro

quanto de prata, conforme determinado pelos experimentos de Bigot et al68 e

Groeneveld et al71.

Outra característica do material que também tem influência em (𝜏𝑒−𝑓) é o grau

de cristalinidade do sistema. Huang et al demonstrou que sistemas policristalinos tem

tempos de relaxação mais curtos que sistemas monocristalinos. A justificativa deste

comportamento se dá ao aumento do número de defeitos da rede policristalina, com

tamanho de grão menor que o caminho livre do elétron no sistema monocristalino, que

consequentemente possibilita maior quantidade de colisões inelásticas70.

2.4.4. Espalhamento fônon-fônon

Após o espalhamento elétron-fônon, a rede de íons concentra a energia

recebida dos elétrons. Esta energia extra faz com que a rede de átomos se desloque

da sua posição de equilíbrio. Através da interação coulombiana com os íons de sua

vizinhança, cria-se uma oscilação coletiva de íons em torno de suas respectivas

posições de equilíbrio, definindo assim a existência do fônon de energia (um pacote

de energia vibracional) que corresponde ao componente �̂�𝑓𝑜𝑛 do hamiltoniano total do

sistema. De maneira geral, os fônons são as vias predominantes dos mecanismos de

relaxação não radiativos46,47.

No caso das oscilações causadas pela interação com ondas

eletromagnéticas, os fônons podem ser caracterizados como fônons longitudinais e

fônons transversais, quando ocorrem na direção de propagação da onda ou

transversalmente a ela, respectivamente47.

Existem dois tipos distintos de fônons; acústicos e ópticos. Fisicamente, os

fônons acústicos são caracterizados pela movimentação unidirecional dos átomos de

uma base de células unitárias, enquanto que os movimento dos átomos da base de

uma célula unitária nos fônons ópticos se direcionam em sentidos opostos. Fônons

acústicos são de baixa frequência e tem total predominância em baixas temperaturas,

enquanto que fônons ópticos são de frequências mais altas e alguns destes fônons,

possuem dipolos que podem ser excitados por radiação infravermelho, que é a

fundamentação física da espectroscopia de infravermelho e se são fônons com

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39

constituintes polarizáveis, dão origem aos efeito inelástico da dispersão de luz que

são base da espectroscopia Raman.

A transferência de energia pelo acoplamento fônon-fônon em nanoestruturas

se difere da transferência nos materiais estendidos, principalmente pelo efeito da

superfície. Enquanto que no material bulk, o espalhamento interno dos fônons é

predominante, nas nanoestruturas a dissipação dos fônons na superfície do material

toma dimensões maiores72. Isto se torna mais evidente pela bem estabelecida

correlação entre o espalhamento fônon-superfície e a diminuição da condutividade

térmica dos materiais. O caminho livre médio dos fônons pode ser limitado por defeitos

na estrutura cristalina dos sólidos, todavia, em nanoestruturas cristalinas, a limitação

do caminho dos fônons se da pelas superfícies.

Quando a energia que dá início à geração do fônon vem do espalhamento de

portadores de carga, que é o caso das nanopartículas metálicas, a geração de fônon

acústicos é predominantes, devido às características físicas das colisões73.

Especificamente em nanopartículas metálicas, a geração de fônon ocasiona

a uma elevação na temperatura da rede de íons que consequentemente causa a

expansão do sistema nanométrico. Os modos de um fônon acústico podem ser

excitados impulsivamente se o período de oscilação destes fônons forem mais lentos

que a escala de tempo de aquecimento. Como a modificação da geometria de

nanopartículas, a mudança na densidade eletrônica e mudanças na energia de

transição provocada pela expansão das nanopartículas leva a modificações em suas

propriedades ópticas, os fônons acústicos pode ser facilmente detectados por

experimentos de bombeio e prova74,75. A figura 11 mostra a curva obtida no

experimento de bombeio e prova de uma nanopatícula metálica. A curva mostra que,

após os primeiros picossegundos onde os fenômenos de oscilação não térmicas,

espalhamento elétron-elétron e espalhamento elétron-fônon ocorrem, a curva

apresenta um comportamento periódico que se estende até o retorno da intensidade

de 𝛿𝑇 a patamares de 𝜏 < 𝜏0, neste caso em aproximadamente 800ps. A

transformada de Fourier destas oscilações periódicas gera a frequência da oscilação

correspondente a dilatação da nanopartícula, característica de frequências acústicas

como pode ser observado na figura 11 (C).

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40

Figura 11. A) Espectroscopia de bombeio e prova em nanopartícula metálica

na faixa de 0 a 800ps. B) Destaque das oscilações periódicas características do

espalhamento fônon-fônon. C) Transformada de Fourier das oscilações periódicas

visível em (B). (Adaptado da Ref76)

As etapas sucessivas de compressão e expansão nas nanopartículas levam

a deslocamentos no espectro de absorção das amostras, conforme pode ser

visualizado na figura 12. A frequência acústica é basicamente definida pelo período

de oscilação dos átomos constituintes da nanopartícula. Os átomos das

nanopartículas tem maiores ou menores deslocamentos, dependendo da posição que

ocupam na nanopartícula75.

Figura 12. Demonstração do deslocamento espectral da nanopartícula

metálica devido aos efeitos de compressão e expansão durante o acoplamento fônon-

fônon. Adaptado de ref75.

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41

A diminuição da intensidade das modulações se deve aos mecanismos de

perda de coerência, sendo os principais deles a transferência de energia para o

ambiente e a defasagem devido à heterogeneidade do sistema. A perda de coerência

devido à distribuição de energia para o ambiente tem grande variabilidade em função

das características do ambiente no qual a nanopartícula está inserida, enquanto que

a influência da heterogeneidade se deve à distribuição dos tamanhos das

nanopartículas.

O aumento da potência do laser, além de aumentar a frequência acústica da

dinâmica da nanopartícula, gera outros dois efeitos principais no acoplamento fônon-

fônon. Ambos se devem ao fato da constante de tempo do acoplamento elétron-fônon

aumentar com a elevação da intensidade do laser, que consequentemente acresce o

tempo de aquecimento da rede, se sobrepondo assim aos modos de oscilação, desta

forma, retardando o tempo de início do acoplamento elétron-fônon e diminuindo a

intensidade da oscilação periódica observada na dinâmica ultrarrápida67.

Como pode ser observado na figura 13, fônons acústicos podem ter mais de

uma frequência para uma dada nanopartícula, dependendo se sua morfologia permite

mais de um modo acústico de vibração77–80.

Figura 13. (1) Dinâmica do espalhamento fônon-fônon de uma nanopartícula

com dois modos acústicos de vibração. (2) Transformada de Fourier da curva

apresentada em 13(1). (Adaptado da ref76)

Características ambientais afetam diretamente o acoplamento fônon-fônon,

tanto na constante de tempo quanto na frequência acústica. A espessura do substrato

pode afetar as frequências dos fônons observados em nanopartículas de ouro

depositada sobre camada de diferentes substratos67,74. O tempo de espalhamento

fônon-fônon é mais rápido quando nanopartículas estão em meios mais viscosos.

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42

A dimensão da nanopartícula também influencia na frequência acústica. De

maneira geral, a frequência é maior em nanopartículas menores. Tal característica é

confirmada para nanopartículas maiores de 100 nm, até cluster metálicos com apenas

10 átomos67,74,79,81,82. Devido ao aumento nos graus de liberdade da nanopartícula, a

temperatura intrínseca (fora do equilíbrio) da nanopartícula também é inversamente

proporcional a frequência de oscilação83.

2.4.5. Modelo de duas temperaturas

Quando estamos trabalhando com sistemas compostos por elétrons livres e

íons metálicos interligados em uma rede cristalina, a definição a nível atômico da

temperatura do sistema é equivalente a energia cinética dos componentes do sistema.

Neste cenário, a definição macroscópica da temperatura é irrelevante. Como vimos

anteriormente, a distribuição não térmica dos elétrons é assim classificada devido a

elevada energia cinética dos elétrons que não é equivalente a energia cinética relativa

a temperatura do sistema. Devido a estas características intrínsecas destes sistemas,

a dinâmica da energia cinética dos elétrons e da rede de íons que compõem um

sistema metálico, incluindo nanopartículas, é descrito por um conjunto de equações

diferenciais acopladas, conhecidas como modelo de duas temperaturas (Two

temperature model - TTM)13,49,84, relacionando a temperatura dos elétrons e a

temperatura da rede, onde 𝐶𝑒(𝑇𝑒) é a capacidade calorífica dos elétrons dependente

da temperatura, 𝐶𝑟 é a capacidade calorífica do rede iônica, 𝑔 é a constante de

acoplamento elétron-fônon, 𝑇𝑒 e 𝑇𝑟 são consecutivamente as temperaturas dos

elétrons e da rede.

𝐶𝑒(𝑇𝑒)𝑑𝑡𝑟

𝑑𝑡= −𝑔(𝑇𝑒 − 𝑇𝑟) (28)

𝐶𝑟𝑑𝑡𝑒

𝑑𝑡= 𝑔(𝑇𝑒 − 𝑇𝑟) (29)

Conforme as equações 28 e 29, a energia cinética dos elétrons é transferida

para a rede de íons pelo acoplamento elétron-fônon. A energia proveniente do laser é

inteiramente adicionada ao sistema pela interação entre radiação e os elétrons das

nanopartículas conforme equação 27.

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

43

2.5. Catálise com nanopartículas metálicas

Um catalisador é uma espécie química que acelera uma reação sem sofrer

modificações ao final dela. Embora a humanidade utilize processos que envolvam

catálise há milhares de anos, somente em 1746 que um catalisador foi amplamente

utilizado na produção industrial, neste caso o chumbo metálico, para produção em

larga escala do ácido sulfúrico85. Posteriormente, se descobriu que o ácido nítrico

utilizado no meio reacional também se tratava de um catalisador, para a reação entre

o enxofre, água e oxigênio. Historicamente, os metais vem sendo utilizados como

catalisadores desde o princípios desta tecnologia, e desde então já se conhecia que,

por muitas vezes, o metal finamente dividido possuía atividade catalítica enquanto que

o material em bulk possuía pouca ou nenhuma atividade86.

Nanopartículas metálicas são aplicadas como tecnologia desde o século XIX,

e devido as grandes limitações tecnológicas, a pesquisa sobre seu uso só ganharam

notoriedade em meados do século XX com o avanço de ferramentas de

caracterização destes materiais87. Este sistemas nanométricos carregam em si todas

as vantagens intrínsecas dos catalisadores heterogêneos como a facilidade de

remoção do catalisador do meio reacional, a estabilidade térmica, facilidade na

reutilização e permeia entre as qualidades de catalisadores homogêneos em

características como a seletividade e bom rendimento86–88. Como a catálise por

nanopartículas se trata de um processo de superfície, as moléculas que participam da

reação a ser catalisada necessitam estar diretamente em contato ou muito próximas

das nanopartículas (adsorbatos).

Dentre as reações as quais as nanopartículas metálicas são efetivamente

catalisadoras, podemos destacar as reações de hidrogenação de um grande número

de estruturas químicas, acoplamento C-C em várias rotas sintéticas,

dehidrohalogenação, hidrosililação, acoplamento de silanos, hidroxicarbonilação de

olefinas, cicloadição, oxidação de várias estruturas químicas sendo o mais importante

o CO, aminação, carbonilação, alquilação, hidroconversão de hidrocarbonetos e

combustão de hidrocarbonetos87.

Um dos grandes desafios da pesquisa em nanopartículas metálicas aplicadas

a catálise está em aumentar a atividade e seletividades e avançar no entendimento

dos mecanismos envolvidos na catálise destas reações. Muitos estudos vêm sendo

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44

desenvolvidos no sentido de entender como ocorre cada passo da reação desde os

reagentes até a obtenção dos produtos e, no caso de nanopartículas metálicas, existe

um grande interesse em entender o mecanismo de ação catalítica intrínseca destes

sistemas.

Uma reação química catalisada por nanopartículas que chamou muita atenção

nos anos 80, foi a aplicação de nanopartículas metálicas de ouro para catálise da

oxidação do CO pelo O2 e, desde então, tem sido vastamente estudada, um vez que

este tipo de catalisador possibilitou que estas reações ocorressem em temperaturas

muito inferiores às empregadas pelos catalisadores de Pt/Pd utilizados como padrão

para este tipo de reação89. Um dos primeiros achados nesta pesquisa foi o da grande

influência dos tamanhos das nanopartículas na efetividade como catalisador, não

possuindo qualquer atividade em nanopartículas acima de 5nm. Outra descoberta

importante foi a da necessidade da existência de suporte com óxidos metálicos como

Fe2O3 e TiO2. Os óxidos metálicos de titânio, ferro e magnésio são substrato

característico por deixar as nanopartículas de ouro mais rica em elétrons90. Algumas

pesquisas com abordagem teórica mostram que nanopartículas ricas em elétrons

adsorvem melhor as moléculas de O2 e ativam a ligação entre os átomos formando

um tipo de peróxido, deixando esta ligação mais instável e por sua vez também tem

efeitos parecidos sobre a molécula de CO91.

A característica principal que confere às nanopartículas uma atividade catalítica

considerável é a alta razão superfície-volume e é amplamente conhecido que

nanopartículas com número elevado de defeitos em sua morfologia apresentam

capacidade catalítica mais expressiva do que estruturas mais lisas e perfeitas92–94.

Contudo, o comportamento catalítico das nanopartículas metálicas é atribuído

principalmente a efeitos pontuais que são causados pela pequena dimensão das

estruturas, formato e morfologia. Estas características afetam diretamente a

densidade local de energia das nanoestruturas, gerando efeitos de coordenação

localizada, relaxação superficial e mais fundamentalmente os efeitos quânticos95. As

interações entre o sistema formado pelas nanopartículas e os adsorbatos envolvem

transferência de energia e transferência de carga e são estes os processos que

determinam a dinâmica e a cinética das reações que são catalisadas nestes sistemas.

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45

A importância da interação eletrônica na atividade catalítica das nanopartículas

metálicas é um elemento chave no estudo dos mecanismos de ação destes

catalisadores. Nanopartículas plasmônicas possuem características que as tornam

uns dos sistemas mais estudados no campo da nanocatálise. Isso se deve as

características destes sistemas em reagir frente a radiação eletromagnética de modo

a amplificar o campo eletromagnético, gerar portadores de cargas com elevada

energia cinética (hot carrier) ou converter luz em calor.

As reações fotocatalisadas por nanopartículas plasmônicas (catálise

plasmônica) são reações onde os adsorbatos tem sua estrutura eletrônica ou

vibracional afetadas pela excitação dos EPS em nanopartículas metálicas. Devido a

isso, acabam por sofrer transformações químicas, demostram um bom modelo para

avaliar a dinâmica eletrônica durante a atividade catalítica das nanopartículas. A

catálise plasmônica é um dos ramos de aplicação das técnicas de espectroscopia

ultrarrápida, principalmente a técnica de espectroscopia de fotoemissão de dois fótons

(two-photon photoemission spectroscopy – 2PPE)96–98.

Tendo em mente que os estudos dos mecanismos das reações em processos

de catálise plasmônica visam acompanhar a dinâmica eletrônica nos sistemas

nanopartícula-adsorbato, entender tais mecanismos se torna um ponto de partida para

a correlação entre a dinâmica eletrônica e a atividade catalítica das nanopartículas

metálicas.

Nestes tipos de reação, os elétrons presentes nas nanopartículas, em especial

aquelas que apresentam ressonância de plásmon de superfície localizada podem: (i)

atuar como um espalhador de luz, direcionando a energia do fóton para reação

fotocatalisada; (ii) absorver energia do fóton pela movimentação não térmica dos

elétrons e passar pelos processos do acoplamento elétron-elétron, elétron-fonon e

fônon-fonon, finalizando no aumento da temperatura do sistema e consequentemente,

aumentando a velocidade da reação; (iii) “Reações induzidas por portadores de carga”

(RIPC) no modo indireto ou direto, onde os elétrons podem ser injetados diretamente

em estados aceptores dos adsorbatos (modo direto), ou criar uma densidade de

estados nas nanopartículas que sejam compatíveis com os níveis de energia dos

adsorbatos (modo indireto); (iv) induzir um modo eletrônico colisional, denominado de

Reações Induzidas por Fricção (RIF) nos quais a densidade eletrônica pode levar o

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46

adsorbato a estado vibracionais mais energéticos e eventualmente atingir a energia

de ativação necessária.

O modelo (i) que descreve o espalhamento pela nanopartícula e absorção de

luz pelo adsorbato, não difere das reação fotocatalisadas usuais onde a excitação

HOMO-LUMO ocorre sem interações energéticas relacionadas com a nanopartícula.

Neste cenário, a característica que pode aumentar a velocidade da reação é a

amplificação do campo elétrico próximo às nanopartículas, fator este que aumenta a

quantidade de moléculas em estado excitado. Este mecanismo tem grande

sensibilidade à geometria da nanopartícula99,100. A figura 14 ilustra a amplificação do

campo elétrico entre duas nanopartículas de prata e mostra a forte dependência

espacial e geométrica da amplificação.

Figura 14. Amplificação espacial do campo elétrico em um dímero de

nanopartículas de prata. A figura ilustra a forte dependência espacial e geométrico da

efeito de amplificação (ref 100).

O modelo de mecanismo de ação catalítica de nanopartículas plasmônicas

descrito em (ii) é um modelo no qual o efeito catalítico se dá pelos fônons gerados

pela relaxação eletrônica decorrente da absorção de luz.

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47

Figura 15. Curva de energia potencial de uma reação termo ativada.

O processo de fotocatálise se baseia em transformar energia de excitação

eletrônica em energia de movimentação nuclear. Isto quer dizer que a excitação tem

que trazer a molécula para uma curva de energia potencial com uma derivada próxima

de zero na região de Franck-Condon, onde potencialmente seja possível o

rompimento de uma ligação química. O processo (ii) então descreve um processo de

ativação térmica de uma reação química onde as nanopartículas metálicas

funcionalmente ativam modos vibracionais que se acoplam às coordenadas de reação

(figura 15). Deste modo, a excitação eletrônica gerada na nanopartícula metálica se

inicia com a movimentação não térmica dos elétrons, seguida da termalização pelo

acoplamento elétron-elétron e a geração de fônon no acoplamento elétron-fônon que,

por sua vez, é a descrição física da movimentação nuclear. Assim sendo, a

movimentação nuclear do íons da nanopartícula eleva a temperatura local do sistema

nanopartícula-adsorbato, diminuindo a energia de ativação térmica da reação química

frente ao sistema reacional sem a nanopartícula.

Embora este mecanismo tenha aplicações práticas, o fluxo luminoso

necessário para que este mecanismo seja efetivo é da ordem de 106 W/cm² para

nanopartículas maiores do que 5 nm, tornando este mecanismo muito restrito a altas

potências e a nanopartículas menores que 5 nm. Por outro lado, a aplicação da

catalise fototérmica utilizando nanopartículas metálicas pode melhorar outros

aspectos em uma reação química, como a seletividade. A figura 16 mostra a

seletividade da reação de epoxidação do propileno em um sistema fototérmico

utilizando excitação de nanopartículas de Cu/Cu2O e a mesma reação unicamente

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48

térmica. Note que a seletividade utilizando a catálise fototérmica é no mínimo 50%

maior que na reação térmica101.

Figura 16. Comparação experimental da seletividade na síntese do óxido de

propileno em função da taxa de reação para uma reação puramente térmica e uma

reação térmica intermediada por nanopartículas metálicas.(Adaptado de Ref101.)

O mecanismo descrito em (iii) estabelece que existe uma influência energética

entre os elétrons dos EPS e o LUMO dos adsorbatos. Esta energia é função da

distância entre a nanopartícula em questão e a molécula de reagente, de modo que

ocorre uma diminuição na diferença de energia entre o HOMO e o LUMO (Band Gap)

das moléculas próximas à nanopartícula.

A figura 17 mostra a relação entre a energia dos elétrons do plásmon de

superfície das nanopartículas e o Band Gap das moléculas adsorvidas e próximas à

nanopartícula. Cabe aqui ressaltar que a diminuição da energia do Band Gap nas

nanopartículas adsorvidas não requer que o processo seja efetivamente fotoquímico,

possuindo o mesmo cenário para qualquer molécula adsorvida. Por outro lado, com a

excitação do plásmon de superfície com radiação eletromagnética ressonante, a

densidade de elétrons com energia que ultrapassam a energia de Fermi é muito maior

do que com a excitação térmica. Este panorama de energia pode então explicar a

razão de algumas nanopartículas portarem a capacidade de catalisar reações

químicas termicamente ativadas e ao mesmo tempo fotoquimicamente ativadas93,102.

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49

O mecanismo de RIPC pode ser dividido em duas categorias distintas; indireto

e direto.

Figura 17. relação entre a energia dos elétrons presentes no plásmon de

superfície das nanopartículas e o Band Gap das moléculas adsorvidas e próximas a

nanopartícula (Adaptado de Ref103).

O mecanismo RIPC indireto, que também é conhecido como mecanismo em três

passos (three-step mechanism), a nanopartícula absorve energia eletromagnética e

sua interação com os elétrons gera inicialmente uma oscilação coerente dos EPS

(passo um) seguida da termalização pelo espalhamento elétron-elétron (passo dois).

Como o processo de termalização é colisional, um único elétron de alta energia pode

criar vários elétrons de baixa energia, e deste modo favorecer o aumento da

densidade de portadores de carga com energia próxima à energia de Fermi. Se o

LUMO do adsorbato possui energia compatível com estes elétrons de energia

próximos a energia de Fermi, uma excitação eletrônica pode ser gerada na molécula

adsorvida e criar a potencialidade da reação química (passo três). Cabe ressaltar que

este mecanismo é mais efetivo em moléculas com Band Gap pequeno de modo que

as transição eletrônica geradas por este mecanismo sejam probabilisticamente

favoráveis. A figura 18 mostra a distribuição dos elétrons próximos ao nível de Fermi

em contato com um adsorbato com energia compatível. Os processos de relaxação

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50

das nanopartículas populam níveis de energia próximos da energia de Fermi e geram

elétrons com energia compatíveis com estados excitados das moléculas adsorvidas.

Figura 18. Representação do mecanismo RIPC indireto. Distribuição

energética dos elétrons em nanopartícula metálica próximos ao nível de Fermi após

processos de termalização em contato com um adsorbato com energia compatível.

(adaptado da ref50)

No mecanismo RIPC Direto também conhecido como mecanismo em um passo

(one-step mechanism), o fóton é absorvido pela interação com o plásmon de

superfície e em seguida ocorre a injeção diretamente no LUMO da molécula

adsorvida, devido ao estado de coerência criado entre os elétrons do EPS e o HOMO

do adsorbato. Este processo ocorre muito mais rapidamente que o processo indireto,

em escalas de tempo proporcionais à da movimentação coerente dos elétrons em

nanopartículas, indicando que a movimentação não térmica dos elétrons pode

também ser defasada pela injeção direta de elétrons em moléculas adsorvidas. A

demonstração dos níveis de energia envolvidos neste processo está representada na

figura 19 onde podemos notar que o cenário energético considera apenas uma

população térmica de elétrons próximos do nível de Fermi, sem que haja ainda

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51

qualquer distribuição de elétrons característica das populações geradas na dinâmica

ultrarrápida das nanopartículas.

Figura 19. Representação do mecanismo RIPC Diretos. Distribuição

energética dos elétrons em nanopartícula metálica próximos ao nível de Fermi antes

do processo de termalização em contato com um adsorbato com energia compatível.

(adaptado da ref50)

Em ambos os modelos RIPC direto ou indireto, a molécula do adsorbato é

levada para uma nova superfície de energia potencial conhecida na literatura como

Íon Transiente Negativo. A denominação de íon é devido ao não haver

necessariamente transição de elétrons do HOMO-nanopartícula ou HOMO-LUMO e,

devido a isso, a molécula adsorvida fica num estado virtual com excesso de elétrons.

Deste modo a injeção do elétrons no LUMO do adsorbato cria um novo estado

energético que por sua vez é diferente de uma molécula em estado excitado. Este

novo estado então relaxa vibracionalmente, pois possui uma distância de equilíbrio

diferente daquela da superfície de energia potencial do estado fundamental. A partir

deste ponto, a molécula excitada na superfície de energia potencial no estado de íon

transiente negativa pode seguir por dois caminhos; (1) sofre uma reação química

neste estado energético ou (2) ganhar energia vibracional quando o elétron retorna

para o metal. Este panorama de transições é ilustrado na figura 20. Eventualmente, a

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52

molécula adsorvida pode obter a energia vibracional necessária para a quebra da

ligação química (Energia de ativação - Ea) após vários ciclos de transição para o

estado energético do íon transiente negativo.

Figura 20. Representação das superfícies de energia potencial envolvidas no

mecanismo de excitação envolvidas no mecanismo RIPC direto e indireto. (adaptado

da ref103)

A intensidade da fonte luminosa é uma das variáveis de uma reação

fotocatalisada. Dependendo do fluxo de potência da fonte empregada em um sistema

onde ocorre uma reação fotoquímica, os mecanismos de reação e mecanismos de um

catalisador fotoquímico podem se diferenciar. E nos sistemas catalisados por

nanopartículas plasmônicas, isto não é diferente.

No limite de baixas potências, o mecanismo dominante é o de reações

induzidas por transições eletrônicas (RITE) e está ilustrado na figura 21(a). Neste

mecanismo, um elétron é excitado até a superfície de energia potencial do íon

transiente negativo, e após a relaxação vibracional deste estado excitado ela pode ou

sofrer a reação química, ou retornar para a superfície de energia potencial do estado

fundamental. Caso o elétron retorne para o estado fundamental, ele retornará em um

nível vibracional excitado da superfície de energia potencial do estado fundamental

diminuindo assim a energia de ativação para a quebra da ligação química. Por outro

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53

lado o adsorbato pode relaxar vibracionalmente até o estado vibracional de menor

energia possível para tal temperatura. Este processo acontece de maneira cíclica até

que probabilisticamente a molécula tenha a energia necessária para a quebra da

ligação química por uma reação de estado excitado no íon negativo transiente ou em

uma reação térmica no estado fundamental.

Figura 21. Panorama de energia para os mecanismos (a) RITE e (b) RIMTE.

(adaptado da ref103)

Por outro lado, se a fonte luminosa tiver uma potência suficientemente alta, um

outro mecanismo semelhante a este anteriormente descrito, conhecido como reações

induzidas por múltiplas transições eletrônicas (RIMTE), se sobressai. Este mecanismo

considera que antes que o adsorbato relaxe até o estado vibracional fundamental, ele

pode ser excitado novamente por um novo espalhamento elétron-adsorbato levando

a estados vibracionais cada vez mais energéticos e que sucessivamente pode

ultrapassar a energia de ativação, conforme pode ser visualizado na figura 21(b). A

dinâmica deste mecanismo requer basicamente que a taxa de espalhamento elétron-

adsorbato seja maior que a taxa de perda de energia vibracional do adsorbato entre

níveis energético intermediário e de menor energia para dada temperatura da

superfície de energia potencial do estado fundamental, ou seja, o tempo do

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54

espalhamento elétron-adsorbato seja menor que o tempo de relaxação vibracional no

estado fundamental.

Embora o mecanismo RITE possa ser ativado em fontes luminosas de menor

intensidade, o mecanismo RIMTE necessita de uma população de elétrons com

energia acima do nível de Fermi muito elevada e só deve ser considerado em sistemas

onde a luz incidente tenha grande intensidade, como em processos fotocatalisados

por fontes coerentes de luz.

A dependência da taxa de reação com a intensidade da fonte luminosa é

apresentada na figura 22 para a reação de epoxidação do etileno. Como pode ser

visualizado, existe uma faixa de relação linear entre a potência da fonte luminosa e a

taxa de reação no limiar de baixa intensidade em todas as temperaturas estudadas.

No regime de potência luminosa elevada passa a existir uma relação não linear

(Superlinear) entre a taxa de reação e a intensidade. A relação linear é descrita pelo

mecanismo RITE e a relação Superlinear é descrita pelo mecanismo RIMTE.

Figura 22. Taxa de reação em função da intensidade da fonte luminosa para

reação de epoxidação do etileno, demostrando o mecanismo linear em baixas

intensidade de radiação e mecanismo Superlinear em altas intensidades. (adaptado

da ref104)

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55

O modelo definido como Reação induzida por fricção (RIF) definido

anteriormente em (iv) é convencionalmente atribuído a reação fotocatalíticas que

utilizam fonte com potência muito elevada, como fontes coerentes de luz pulsadas105.

Nestas fontes de luz toda a potência da fonte luminosa é concentrada em um intervalo

de tempo muito curto, na escala de pico a femtossegundos. Quando pulsos ultracurtos

interagem com plásmon das nanopartículas metálicas, uma grande população de

elétrons com elevada energia cinética é gerada acima de nível de Fermi. Através do

processo de múltiplas colisões entre os elétrons dos EPS e os átomo adsorvidos, a

energia cinética dos elétrons é transferida para os átomos que podem obter energia

necessária para superar a energia de ativação para quebra da ligação química106. Este

mecanismo também pode ser considerado quando se utiliza fontes de luz menos

intensas, porém neste cenário, outros mecanismos são mais efetivos. Embora o

mecanismo de reação induzida por fricção seja efetivo em fonte luminosa mais

intensas, ele não considera que exista nenhuma geração de estado excitado no

adsorbato, sendo assim uma reação no estado fundamental semelhante às reações

térmicas107.

2.6. Nanopartículas bimetálicas de ouro e prata.

A aplicação de nanopartículas bimetálicas tem grande interesse econômico,

científico e tecnológico nas áreas de nanocatálise93,108, nanoeletrônica109,110,

combustiveis111,112, SERS113,114, nanomedicina115,116. Metais com diferentes

comportamentos podem combinar suas características e gerar uma gama de novos

materiais com novas aplicações.

As características ópticas das nanopartículas bimetálicas de ouro e prata

podem sofrer algumas modificações quando comparadas às nanopartículas

monometálicas usuais. As mudanças nestes sistemas são mais evidentes em

nanopartículas que apresentam interfaces entre os dois tipos de metais. Esta interface

insere no sistema mais um possível mecanismo de relaxação eletrônica: o

espalhamento elétron-interface.

Nanopartículas bimetálicas de ouro e prata apresentam parâmetros de

espalhamento elétron-interface com escala de 2,5 vezes maior que o espalhamento

elétron-superfície117. Este tipo de amortecimento eletrônico presente em

Page 56: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

56

nanopartículas híbridas causa alargamento inomogêneo nestes tipos de

nanopartículas quando comparadas a nanopartículas de constituinte único. Alguns

autores mostram que este alargamento pode ser muito pequeno e até mesmo

dependente da geometria das nanopartículas e que em algumas geometrias o

espalhamento interfacial não tem efeitos significantes13,118,119.

Nanopartículas do tipo caroço/casca (core/shell) apresentam deslocamento

para o azul com o aumento da espessura da casca de prata com núcleo de ouro. Este

comportamento é intuitivo, pois nanopartículas de ouro tem ressonância de plásmon

de superfície em comprimento de onda maiores que o da prata. Este comportamento

também é descrito teoricamente, sendo as constantes de amortecimento das

nanopartículas híbridas definidas pela média ponderada (em relação à quantidade de

matéria) das constantes de amortecimento de cada um dos metais constituintes.

Figura 23. (a) constante de tempo do acoplamento elétron-fônon em

nanopartículas bimetálicas de Ouro e Prata na forma de liga, juntamente com as

constantes de tempo para as nanopartículas de tamanho similar de compostas por

ouro (acima) e prata (abaixo). (b) Constante de tempo do acoplamento elétron-fônon

em função do percentual de ouro na composição para nanopartículas de diversos

tamanhos120.

Em relação à dinâmica ultrarrápida destes tipos de nanopartículas, Broyer et

al120 demostraram em um sistema de nanopartículas de 2,2 a 3,2 nm na forma de liga,

que a dinâmica das nanopartículas hibridas, assim como as características ópticas,

demostram correlação com os metais de formação das nanopartículas. Em especial,

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

57

o acoplamento elétron-fônon das nanopartículas bimetálicas é basicamente a média

dos acoplamentos elétron-fônon das nanopartículas de mesmo tamanho composta

por um único metal, conforme pode ser visualizado na figura 23(a).

Broyer et al também avaliou a dinâmica de relaxação do acoplamento elétron-

fônon em função da proporção de Au na nanopartícula. Ocorre um aumento linear em

𝜏𝑒−𝑓 em função da proporção de Au120 conforme mostra a figura 23(b). Yu et al

mostraram que os espectros de absorção das nanopartículas bimetálicas de ouro e

prata apresentam dois modos longitudinais com dinâmicas ultrarrápidas levemente

diferentes que correspondem às contribuições de cada um dos metais constituintes

da nanopartícula121.

Stoll et al, demostraram que as frequências dos fônons acústicos das

nanopartículas bimetálicas de ouro e prata pode ser simulados utilizando as

constantes elásticas médias dos componentes metálicos em nanopartículas do tipo

liga e utilizando um modelo baseado em parâmetros elásticos contínuos de dois

materiais para as nanopartículas do tipo núcleo-casca122.

No campo da catálise, metais que possuem atividade catalítica bem conhecida,

como platina, paládio e rutênio podem ser combinados com materiais que apresentam

ressonância de plásmon de superfície localizadas como ouro, prata e cobre para gerar

catalisadores que podem ser fotoativos na região da luz visível123. Um material mais

caro pode ser disperso em uma matriz de menor custo e ser melhor aproveitado, como

no exemplo das nanopartículas bimetálicas de ouro e prata. Ambos os materiais

possuem atividade ótica na região da luz visível devido à ressonância de plásmon de

superfície. Neste caso, nanopartículas de ouro possuem atividade catalítica em

reação onde ligações químicas do tipo C=O, C-H, H-H e O=O necessitam ser

quebradas91, enquanto a prata é utilizada com uma matriz mais econômica.

Outra facilidade no trabalho com partículas bimetálicas de ouro e prata está no

processo de síntese pelo método da substituição galvânica. Nesta metodologia de

síntese, nanopartículas de prata são utilizadas como eletrodo de sacrifício para

redução do AuCl4-. Esta metodologia permite a obtenção de nanopartículas

bimetálicas com diferentes morfologias e permite variação na relação de massa dos

dois componentes124.

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58

A atividade catalítica destes compostos foram experimentadas para algumas

reação químicas utilizando nanopartículas bimetálicas com diferentes morfologias e

concentração dos componentes. Liu et al, sintetizaram nanoestruturas híbridas de

ouro e prata com dispersão na forma de liga metálica e aplicaram o material como

catalisador da reação de redução do 4-nitrofenol. Concluíram que as nanoestruturas

onde os átomos de ouro que se encontravam dispersos com maior homogeneidade

apresentavam ação catalítica mais acentuada quando comparado com estruturas

onde os átomos de ouro formavam pequenos domínios distribuídos pela estrutura125.

Figura 24. Mecanismo de ação proposta para a atividade catalítica de

nanopartículas bimetálicas de ouro e prata na reação de oxidação do CO. (adaptado

da Ref126)

Wang et al, sintetizaram pelo método hidrotérmico nanopartículas bimetálicas

de ouro e prata com tamanho entre 20 e 30nm. Eles aplicaram estas nanopartículas

na catálise da reação de oxidação do CO. Nanopartículas de ouro são eficientes na

reação de oxidação do CO, porem esta atividade está restrita a nanopartículas

menores que 5nm89. Nos experimentos de Wang, como foi demostrado, a eficiência

catalítica em temperatura ambiente para as nanopartículas foi muito baixa para o ouro

e nula para a prata com nanopartículas nas dimensões acima citadas. Contudo, as

nanopartículas bimetálicas apresentaram uma eficiência catalítica excepcional,

chegando a 100% de conversão em tempos de reação muito curtos. Os autores

atribuíram tal elevação na atividade catalítica devido a ação conjunta dos átomos,

sendo que os átomos de prata adsorvem melhor as moléculas de O2 e a formação de

O2- nas proximidades de átomos de ouro, enquanto que as moléculas de CO são

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

59

adsorvidas unicamente pelos átomos de ouro126. A figura 24 mostra o mecanismo, no

qual a importância da estrutura bimetálica é demonstrada.

No trabalho desenvolvido por Slater et al, nanopartículas de ouro e prata foram

sintetizadas pelo método de substituição galvânica e sua eficiência catalítica foi

testada na reação entre ciclo-hexanocarboxialdeido, piperidina e fenilacetileno

gerando propargilamina que está representada na figura 25. Utilizando técnicas de

tomografia, os autores mostraram que as nanopartículas híbridas com melhor

desempenho na catálise da reação são aquelas as quais a distribuição dos átomos de

ouro se encontram no limiar entre a segregação e a formação de liga. Este efeito se

dá principalmente devido a maior capacidade catalítica do ouro em reações de

acoplamento de três componentes e se verifica o efeito justamente na sua

segregação.

Figura 25. Reação entre cilco-hexanocarboxialdeido, piperidina e fenilacetileno

gerando propargilamina e água.

Uma outra característica ressaltada por Slater et al, é que o sistema Au/Ag

permite que os átomo de ouro tenham maior densidade eletrônica, que é justificada

pela transferência de elétrons da prata para o ouro, devido a sua maior

eletronegatividade93. Béjar et al propôs que os mecanismo desta reação A³ catalisada

por nanopartículas, se dá pela ativação da ligação C-H no fenilacetileno102 e por sua

vez, Slater et al propôs que este tipo de ligação é ativada pela maior densidade

eletrônica do ouro proporcionada justamente pelos átomos de prata das

nanopartículas bimetálicas93.

Page 60: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

60

2.7. Dinâmica ultrarrápida de nanopirâmides preparadas por

litografia de nanoesferas: Efeitos do substrato e estudos da região

de banda16.

Estudamos dois sistemas compostos por nanopirâmides de base triangular

depositados pela técnica de litografia de nanoesfera sobre substratos de vidro e sobre

o substrato de ITO/Vidro. As amostras foram preparadas pelo grupo da professora

Maria Luisa Sartorelli da Universidade Federal de Santa Catarina. A figura 26(a)

mostra a imagem da estrutura pré-deposição das nanopirâmides visualizadas pela

técnica de microscopia eletrônica de varredura.

Figura 26. (a) Estrutura pré-deposição das nanopirâmides visualizada pela

técnica de microscopia eletrônica de varredura. (b) Sistema de nanopirâmide

visualizado pela técnica de microscopia de força atômica. (c) Representação do

nanoestrutura sobre o substrato de vidro ou sobre o substrato de ITO/Vidro.

As nanoesferas de poliestireno foram depositadas pela técnica de spin-

coating, criando a memória para a subsequente deposição do ouro por evaporação

térmica. Em algumas regiões da imagem na figura 26(a), podem ser observados

defeitos, enquanto que em outras posições podemos observar homogeneidade na

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61

deposição das nanoesferas, características estas que foram transferidas para a

constituição do arranjo de nanoestruturas de ouro.

A figura 26(b) mostra o sistema de nanopirâmides visualizado pela técnica de

microscopia de força atômica. As nanopartículas tem em média 220 nm de secção

transversal e 45 +/- 5 nm de altura. Embora os defeitos na constituição do filme

possam ser observados, nossos dados de espectroscopia ultrarrápida mostram que

estes defeitos não influenciam nos parâmetros cinéticos127.

A figura 26(c) é uma representação do nanoestrutura sobre o substrato de

vidro ou sobre o substrato de ITO/Vidro que foi utilizada como ponto de partida para

cálculos do espectro de extinção. Esta representação foi empregada em simulações

da aproximação por dipolos discretos (DDA) dos espectros óticos lineares dos dois

sistemas descritos acima, simulações realizadas pelo professor Diego Pereira dos

Santos do Instituto de Química da UNICAMP127.

Figura 27. Curva obtida na espectroscopia de bombeio e prova para as

nanopirâmides sobre o substratos de vidro e ITO/Vidro.

Os resultados da espectroscopia de bombeio e prova para as nanopirâmides

estão apresentados na figura 27. O comportamento da cinética de transferência de

energia neste sistema é bem descrito pelo modelo de duas temperaturas84,128.

Inicialmente o feixe de luz excita os elétrons responsáveis pela banda de ressonância

de plásmon de superfície (RPS) das nanopartículas, gerando assim um movimento

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62

não térmico no sistema em uma cinética de poucas dezenas de femtossegundos,

tempo este menor que a duração do pulso tanto para nanopartícula sobre o substrato

de vidro (Au/vidro) quanto para a nanopartícula sobre o substrato de ITO/Vidro

(Au/ITO/vidro). Em seguida, os elétrons termalizam a energia pelo espalhamento

elétron-elétron numa escala característica de ~170fs para Au/vidro e 420fs para

AU/ITO/vidro.

Na sequência, a energia eletrônica é transferida para rede através do

acoplamento elétron-fônon com tempos de 5,6 ps para Au/vidro e 3,73 ps para

Au/ITO/vidro. Finalmente, numa escala de 284 ps para Au/vidro e 138 ps para

Au/ITO/vidro, a energia da rede é transferida para ambiente através do acoplamento

fônon-fônon. O acoplamento fônon-fônon é acompanhado por vibrações acústicas,

com períodos de 12,3 ps para Au/vidro e 30,9 ps para Au/ITO/vidro, devido a leves

alterações no tamanho das nanopartículas no decorrer da transferência de energia129.

Figura 28. Simulação da dinâmica da transferência de calor entre o elétron e

a rede o os cálculos para a dinâmica do calor no sistema das nanopirâmides

depositadas sobre o substrato de vidro.

A figura 28 mostra a simulação da dinâmica da transferência de calor entre o

elétron e a rede o os cálculos para a dinâmica do calor no sistema das nanopirâmides

Page 63: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

63

depositadas sobre o substrato de vidro. Conforme citado acima, a energia é absorvida

pelo elétron e transferida para a rede e ao final do processo a energia é dissipada para

o ambiente.

Nós analisamos também como se comporta a cinética dos elétrons e da rede

quando realizamos a espectroscopia de bombeio e prova de cor única no pico de

máxima da banda RPS e em comprimentos de onda menores e maiores que o

comprimento de onda de absorção máxima da banda RPS, tanto no sistema Au/vidro

quanto no sistema Au/ITO/vidro conforme está apresentado na figura 29(a). Os

resultados deste experimento estão sumarizados na figura 29(b).

Como podemos observar, a dinâmica em cada um dos pontos analisados da

banda RPS nos diferentes sistema é semelhante. Quando o comprimento de onda

utilizado no experimento de bombeio e prova tem o comprimento de onda abaixo do

comprimento de onda de máxima absorção da banda RPS, sendo 750nm no sistema

Au/vidro e 800nm em Au/ITO/vidro, verificamos que a constante pré-exponencial do

espalhamento elétron-elétron tem o valor negativo, que gera uma curva exponencial

típica invertida, seguida por em espalhamento elétron-fônon tendo o fator pré-

exponencial com valor positivo, gerando um decaimento exponencial típico.

Utilizando o comprimento de onda na absorção máxima na banda RPS no

dois sistemas, sendo 800nm para Au/vidro e 870nm para Au/ITO/vidro, verificamos

que em ambos os espalhamentos, elétron-elétron e elétron-fônon, as constantes pré-

exponenciais tem o valor positivo, fator este que gera a um decaimento exponencial

típico para ambos os sistemas neste comprimentos de onda.

Finalizando estes experimentos, quando realizamos o experimento de

bombeio e prova em comprimentos de onda maiores que o comprimento de onda de

absorção máxima na banda RPS, sendo 870nm para Au/vidro e 915nm para

Au/ITO/vidro, verificamos que a componente pré-exponencial do decaimento do

espalhamento elétron-elétron tem o valor positivo, porem o tempo de decaimento de

espalhamento elétron-elétron neste comprimento de onda é bem mais rápido que nos

outros comprimentos de onda utilizados. Já o componente pré-exponencial do

espalhamento elétron-fônon tem o valor negativo, fator este que gera uma curva de

decaimento exponencial típica invertida em ambos os sistemas.

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64

Figura 29. (a)Banda RPS para o sistema Au/Vidro e Au/ITO/Vidro e o

comprimento de onda dos pulsos de laser utilizados no experimento de

espectroscopia de bombeio e provacom espectros de laser centrado em 915 nm

(violeta), 870 nm (verde), 800 nm(azul) e 750 nm (ciano). (b)Sinal resultantes da

espectroscopia de bombeio e prova de cor única no pico de máxima da banda RPS e

em comprimentos de onda menores e maiores que o comprimento de onda de

absorção máxima da banda RPS, tanto no sistema Au/vidro quanto no sistema

Au/ITO/vidro.

É possível afirmar que os resultados obtidos da espectroscopia de bombeio e

prova são dependentes do comprimento de onda no material estudado. Quando

analisamos a diferença entre os fenômenos de interação da radiação com a matéria

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65

na ressonância ou fora da ressonância, sabemos que na ressonância, a absorção da

radiação é o fenômeno dominante.

Por outro lado, fora da ressonância tanto o fenômeno de absorção quanto de

espalhamento são responsáveis pelos resultados dos nossos experimentos.

Observamos que, quando o experimento de bombeio e prova é realizado em

comprimentos de onda maiores ou menores que o comprimento de onda de absorção

máxima, os sinais tem uma inversão de fase de 180°. Esta inversão de π fase é

responsável pelos dependência do comprimento de onda do material estudado, tanto

para Au/vidro quanto para Au/ITO/vidro apresentados na figura 29(b).

Page 66: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

66

3. Experimental

3.1. Espectroscopia de bombeio e prova

Para a montagem do aparato necessário para realizar a análise de

espectroscopia de femtossegundos de bombeio e prova, utilizamos Laser de titânio-

Safira (COHERENT MIRA) com taxa de repetição de 76 MHz, seguido por

amplificação (COHERENT LEGEND) resultando em pulsos de ~70 fs com taxa de

1KHz e potência variável de 10nJ a 1 mJ. Em seguida, o feixe pulsado é direcionado

para uma íris confocal de modo a eliminar artefatos no pulso e selecionar a parte

central do feixe e o feixe é direcionado através de um atenuador para controle da

potência a ser utilizada no experimento. Na sequência foi utilizado um divisor de feixes

(30/70) para separar o trem de pulso em dois caminhos, sendo o menos intenso,

designado feixe de prova e o mais intenso, o feixe de bombeio. O feixe de bombeio

foi então direcionado para uma linha de atraso (motor de passo - Newport) que

possibilita a geração de atraso temporal entre os dois pulsos. O alinhamento da linha

de atraso é uma etapa determinante e trabalhosa do processo, pois qualquer variação

na posição x-y do pulso, pode gerar resultados que não propriamente correspondem

a resposta do material analisado. Deste modo, duas íris são colocadas o mais distante

possível (3 metros) e durante todo o transito do motor de passo, a potência do feixe

deve se manter constante após a passagem pela segunda íris. Após o alinhamento

da linha de atraso, os feixes de bombeio e de prova são dispostos de maneira paralela.

Os dois feixes se sobrepõem espacialmente no ponto de focalização dos pulsos,

aonde é posicionada a amostra. Após a amostra, o feixe de bombeio é bloqueado por

um anteparo e o feixe de prova é direcionado para detecção. Nesta montagem,

utilizamos o aparato de detecção heteródina por Lock-in130, utilizando detector de

diodo de silício, modulador de sinal (Chopper) e um amplificador Lock-in (Figura 30)

para medir a transmitância (∆𝑇

𝑇) . A duração do pulso foi medida por autocorrelação e

caracterizado pelo método FROG131. A sua duração foi estipulada utilizando

modelagem de um pulso Gaussinano da forma

𝐼(𝑡) = 𝐸𝑥𝑝 [−(2√𝑙𝑛2 𝑡

∆𝜏𝑝𝐹𝑊𝐻𝑀)

2

] , (30)

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67

Sendo 𝐼(𝑡) a intensidade do pulso no tempo 𝑡, e ∆𝜏𝑝𝐹𝑊𝐻𝑀 a duração do pulso

tomando em consideração a intensidade a meia altura.

A intensidade da medida de alto correlação é definida por,

𝐴(𝜏) = 𝐸𝑥𝑝 [−(2√𝑙𝑛2 𝑡

∆𝜏𝐴𝐹𝑊𝐻𝑀)

2

] , (31)

Sendo 𝐴(𝜏) a intensidade da autocorrelação no tempo 𝑡, e ∆𝜏𝐴𝐹𝑊𝐻𝑀 a duração

da autocorrelação tomando em consideração a intensidade à meia altura. A relação

entre as duração do pulso e da medida de autocorrelação é dada por,

1,41∆𝜏𝑝𝐹𝑊𝐻𝑀 = ∆𝜏𝐴

𝐹𝑊𝐻𝑀 (32)

Figura 30 - Representação da montagem experimental simplificada para

realização de experimentos de bombeio e prova.

Page 68: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

68

3.2. Espectroscopia de grade de difração transiente

Para a montagem do aparato necessário para realizar a análise de

espectroscopia de grade de difração transiente, utilizamos Laser de titânio-Safira

(COHERENT MIRA) com taxa de repetição de 76 MHz, seguido por amplificação

(COHERENT LEGEND) resultando em pulsos de ~70 fs com taxa de 1 KHz e potência

variável de 1 nJ a 1 mJ.

Figura 31. Imagem da geração de segundo harmônico para medida de

duração de pulso e distribuição espacial da frequência. Nesta figura podemos notar a

interação de cada um dos quatro pulsos utilizados na espectroscopia de grade de

difração transiente. As extremidade são as contribuições dos pulsos originais,

enquanto os outros são gerações de luz referente a geração de segundo harmônico

entre estes quatro feixes.

A implementação da espectroscopia de grade de difração transiente, se

assemelha a todo aparato utilizado na espectroscopia de bombeio e prova até ao

ponto do ajuste paralelo dos feixes de bombeio e prova. Todavia, no ponto de

focalização dos pulsos, é posicionado um elemento óptico difrativo (EOD) que, neste

caso, é utilizado para dividir ambos os feixes. Deste modo, utilizamos os feixes

difratados na ordem +1/-1 de cada feixe e obtemos então dois pulsos de bombeio

(denominados feixes 1 e 3) e dois pulsos de prova (denominados feixes 2 e 4), sendo

que, em seguida, o feixe 4 é bloqueado por um anteparo antes de incidir na amostra.

Na sequência, os três feixes são direcionados a um espelho côncavo, utilizado para

focaliza-los na posição onde se encontra a amostra. Cabe ressaltar que é neste ponto

que utilizamos o método FROG131 para aferir a duração e distribuição no tempo e na

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69

frequência do pulso, além de aferir o ponto espacial de encontro dos quatro feixes. O

sinal proveniente da coerência temporal e espacial entre os quatro pulsos pode ser

verificado na figura 31. Para detecção do sinal, um aparato de detecção heteródina

por lock-in foi montado. Um detector de diodo de silício é posicionado justamente na

posição definida pela lei de conservação do momento (equação 07), que coincide

justamente com a posição onde o feixe 4 se localiza com a retirada do anteparo. Esta

aparato descrito acima está representado na figura 32. A diferença na fase é aferida

em relação a fase do quarto feixe, o qual, não interage com a amostra.

Figura 32. Representação esquemática do experimento de espectroscopia de

grade de difração transiente.

3.3. Preparação do nanoprisma

As amostras de nanopartículas de ouro foram preparadas pelo grupo da

professora Maria Luisa Sartorelli da Universidade Federal de Santa Catarina e

utilizadas sem tratamento subsequente. Foi empregada a técnica de litografia de

nanoesferas, a qual consiste de três etapas: (i) emprego da técnica de “spin-coating”

para preparar uma monocamada de nanopartículas de poliestireno; (ii) evaporação

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70

de ouro metálico sobre o substrato contento nanopartículas de poliestireno; (iii)

lavagem do substrato para obter somente uma amostra contento nanoprismas

triangulares de ouro. Este mesmo procedimento foi realizado sobre dois substratos:

vidro e vidro previamente modificado com um filme de ITO com 190 nm de espessura.

As nanoestruturas foram caracterizadas por microscopia eletrônica de varredura e

espectroscopia Uv-Vis. Para entender nossos resultados, em colaboração com o

professor Diego Pereira dos Santos, foram realizadas simulações pelo método de

aproximação dos dipolos discretos para simular os espectros de extinção para os dois

tipos de substrato.

3.4. Nanopartículas bimetálicas de ouro e prata

As nanopartículas híbridas em forma de nanocascas híbridas compostas por

ouro e prata, foram sintetizadas pelo grupo do professor Pedro Henrique Camargo do

Instituto de Química da USP de São Paulo. Inicialmente, nanopartículas de Ag foram

preparadas dissolvendo 5mg de polivinilpirrolidona (PVP) em 37,5mL de etilenoglicol,

então 200mg de nitrato de prata (AgNO3) foram adicionados a mistura até a completa

dissolução. Em seguida, a solução foi aquecida a 120°C por 2,5 horas levando ao

aparecimento de coloração amarelo esverdeada. Após o resfriamento, a solução foi

diluída a 125mL com água. Em outro recipiente, 5mL de solução aquosa de PVP foram

adicionadas juntamente com a solução de prata sintetizada anteriormente e então

aquecida a 100°C por 10 minutos. Em seguida foi adicionados gota a gota 2 mL do

precursor AuCl4- (aq) em diferentes concentrações (0.2, 0.4, 0.5, 0.6, e 0.8 mM) e

prosseguiu o aquecimento por 1 hora. As nanoestruturas foram caracterizadas por

microscopia eletrônica de varredura utilizando o microscópio JEOL-JSM 6330F

operando em 5 kV. e espectroscopia Uv-Vis em espectrofotômetro Shimadzu UV-

1700 e tiveram sua quantificação elementar obtidas por ICP-OES usando o

equipamento Spectro Arcos.

A tabela 01 mostra porcentagem de cada um dos componentes metálicos nas

nanopartículas bimetálicas obtidos em cada um das concentrações de (AuCl4)-

adicionados ao meio reacional.

Page 71: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

71

Figura 33. Amostras obtidas através da síntese pelo método da substituição

galvânica, ordenadas pela concentração da solução de AuCl4- (aq) conforme tabela

01.

Au adicionado Ag (mol%) Au (mol%) Amostra

Au(0.2) 85 15 Ag85Au15

Au(0.4) 69 31 Ag69Au31

Au(0.5) 67 33 Ag67Au33

Au(0.6) 51 49 Ag51Au49

Au(0.8) 46 54 Ag46Au54

Tabela 01. Porcentagens atômicas de Ag e Au nas nanopartículas bimetálicas ocas

AuAg obtidas por ICP-OES. O número entre parênteses denota a concentração de

AuCl4-(aq) adicionadas ao meio reacional durante a substituição galvânica

3.5. Simulações

3.5.1. Modelagem dos espectros de absorção

Para entender de maneira mais abrangente os nossos resultados, modelamos

as propriedades óticas lineares das nanopartículas AgAu híbridas usando a teoria de

Mie fenomenológica empregando uma descrição efetiva do meio das nanopartículas.

Especificamente, a teoria de Mie foi usada para avaliar qual combinação da fração de

volume de Ag, Au e água através da constante dielétrica efetiva dada por,

∑𝑓𝑖𝑖− 𝑒𝑓𝑓

𝑒𝑓𝑓+𝑔( 𝑖− 𝑒𝑓𝑓)= 0, ∑𝑓𝑖 = 1 (33)

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72

onde 휀𝑖 é a constante dielétrica do constituinte (Ag, Au ou H2O). 𝑓𝑖 representa a fração

molar de cada constituinte na mistura e 𝑔 o fator geométrico correspondendo a 1/3

para geometrias esféricas.

Os espectros foram simulados também, em colaboração com o prof. Diego Pereira

dos Santos, utilizando os método de elementos de contorno, com auxílio do Toolbox

MNPBEM do MATLAB. As nanopartículas foram simuladas na forma de cascas

bimetálicas ocas. Ao todo foram simuladas três estruturas diferentes, criadas

adicionando camadas sucessivas de cada material da mistura composicional, na

seguinte ordem de dentro para fora;

(a) (A) Au 20%: H2O (2.5 nm), Ag (16 nm) e Au (1.5 nm).

(B) Au 50%: H2O (10 nm), Ag (2.2 nm), Au (5.6 nm) e Ag (2.2 nm).

(C) Au 50%: H2O (15 nm), Ag (1.2 nm), Au (2.6 nm) e Ag (1.2 nm).

Nestas simulações eletrodinâmicas, as propriedades ópticas da prata e do ouro foram

utilizadas conforme a literatura respectivamente132,133.

3.5.2. Dinâmica Molecular

Também, em colaboração com o grupo de Prof. Rodrigo Albuquerque da

Universidade de Liverpool John Moores, realizamos uma série de simulações de

dinâmica molecular atomísticas para avaliar a influência da elevação da temperatura

na morfologia, correlacionando este resultados a dinâmica ultrarrápida das

nanopartículas. As simulações foram realizadas utilizando o modelo de átomos

incorporados (Embedded Atom Model - EAM), utilizando o programa LAMMPS. Todas

as imagens foram visualizadas utilizando o programa VMD e as simulações foram

realizadas em um MACPRO com 24 processadores. As simulações foram realizadas

de modo a descrever os resultados experimentais em relação a composição das

nanopartículas.

Page 73: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

73

4. Resultado e discussão

4.1. Espectroscopia de grade de difração transiente (EMQO) nos

nanoprismas de ouro sobre substratos de Ito/Vidro e Vidro127.

Em particular, a espectroscopia de mistura de quatro ondas (EMQO) é uma

técnica que permite a separação das contribuições absortivas e dispersivas,

permitindo desta forma a determinação experimental da resposta completa do

material, incluindo as partes real e imaginária. Trata-se, portanto, de uma alternativa

ao emprego da transformação de Kramers-Kronig, à qual requer o conhecimento da

resposta (absorção ou índice de refração) do material em toda a faixa de frequência

para determinação do outro componente (índice de refração ou absorção,

respectivamente) para se ter a resposta completa; mesmo neste caso limite, a

resposta que se obtém é somente de primeira ordem(linear) e não a resposta dinâmica

do material.

Na espectroscopia de mistura de quatro ondas com detecção heteródina ótica,

é possível determinar diretamente (experimentalmente) a medida da resposta

complexa a nível de terceira ordem49.

De modo similar ao tratamento clássico da espectroscopia baseada no

oscilador harmônico forçado com amortecimento, o índice de refração completo do

sistema pode ser descrito a partir da soma dos componentes real e imaginário ou

dispersivo e absortivo, respectivamente. Nesta abordagem, o índice de refração é

dado por:

( ) ( ) ( )M n iA = + (34)

Consequentemente, a medida completa da resposta do material envolve a

determinação do índice de refração transiente (n()) e da absorção transiente A()

do sistema:

( ) ( ) ( ) ( ) ( )/2S t n t i A t L S t iS t = − + = + (35)

Na expressão (35), L é o caminho ótico e S/2 e S são os componentes

dispersivo e absortivo do sinal, respectivamente.

No regime tipicamente empregado em espectroscopia de femtossegundos de

nanopartículas metálicas, a largura espectral do laser é menor do que a largura à meia

Page 74: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

74

altura do material. Além disso, como ensembles de nanopartículas tipicamente

consistem de distribuições não-homogêneas, uma fração espectral das

nanopartículas é excitada pelo campo incidente:

O espectro excitado do material pode ser aproximado por uma Gaussiana:

( )( )

2

0

2200

, 0 exp22

RPS

NA t

− = −

(36)

A expressão (36) descreve a absorção do material em termos de uma

constante de normalização e uma função com forma de linha gaussiana descrita por

uma freqüência central 0 e largura de linha 0 do laser. Este espectro de ARPS(,t<0)

corresponde à absorção no estado estacionário é a largura de linha do laser. Após a

interação do laser de bombeio com a amostra, a evolução do espectro de absorção

RPS é descrita por uma expressão similar à (36), porém com ambos frequência central

e largura de linha dependentes do tempo, conforme descrito nas equações (37)-(39):

( )( )

( )( )( )

2

22, 0 exp

22RPS

tNA t

tt

− = −

(37)

( ) ( )0 RPSt t = + (38)

( ) ( )0 RPSt t = + (39)

Assim como no caso linear, a polarização não-linear de terceira ordem

também pode ser representada em termos dos componentes real e imaginário, ou

dispersivo e absortivo, respectivamente, equações (39) e (40):

( ) ( ) ( ) ( )/2 , , 0RPS RPSS t d I n t n t − (40)

( ) ( ) ( ) ( ), , 0RPS RPSS t d I A t A t − (41)

Nas expressões (40) e (41), I() é o espectro do pulso de laser incidente na

amostra, ARPS(,t) é o espectro de absorção RPS dependente do tempo, enquanto

Page 75: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

75

que nSP(,t) é obtido de duas maneiras distintas: (i) experimentalmente, ou (ii) a partir

de ARPS(,t) usando a relação de Kramers-Kronig. Os valores de RPS(t) e (t) são

determinados de forma que as partes dispersiva e absortiva nas equações (40) e (41)

reproduzam os sinais correspondentes medidos experimentalmente.

Finalmente, no tema deste trabalho, a espectroscopia de grade de difração

transiente envolve a interação com três pulsos de bombeio em geometria não-

colinear, sendo que os dois pulsos de bombeio interagem simultaneamente com a

amostra. A interferência dos dois pulsos de bombeio cria uma grade de difração na

amostra associada à modulação espacial na resposta ótica do material (índice de

refração e absorção). O terceiro pulso do experimento é o pulso de prova, o qual incide

na amostra com um atraso temporal com relação aos dois pulsos de bombeio, sendo

difratado na direção determinada pela condição de casamento de fase. A dependência

da intensidade do pulso de prova difratado fornece informações sobre a dinâmica que

ocorre no sistema investigado39,40.

A aplicação da técnica de espectroscopia de mistura de quatro ondas ao

estudo da dinâmica ultrarrápida de nanopartículas metálicas permite obter

informações acerca do deslocamento espectral dependente do tempo e variação na

largura de linha dependente do tempo. Além disso, permite a separação dos

componentes real e imaginário da resposta temporal, contribuindo para a identificação

da contribuição de absorção e espalhamento à resposta medida.

Nos experimentos de espectroscopia ultrarrápida de nanopartículas metálicas

realizados neste trabalho, a excitação da amostra pelo pulso de bombeio ocorre na

região espectral em torno de 800 nm. Este comprimento de onda está distante do

limiar de absorção interbanda em 400 nm e 520 nm para Ag e Au, respectivamente.

Consequentemente, o pulso de bombeio excita os elétrons dentro da banda de

condução, apenas modificando a distribuição de elétrons próxima ao nível de Fermi.

Experimentalmente, observa-se que as amostras tipicamente possuem uma

distribuição não-homogênea de nanopartículas, resultando em um espectro de

absorção largo. Em particular, os espectros de absorção de materiais neste caso são

mais largos do que o espectro do laser. Como resultado desta condição e do fato que

a distribuição não é homogênea, apenas um subconjunto das nanopartículas é

excitado seletivamente pelo pulso de laser.

Page 76: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

76

Figura 34. Espectroscopia de mistura de quatro ondas nas amostra de Au/Vidro

e Au/ITO/Vidro com laser em 800nm.

Os resultados deste experimento nos filmes de Au/vidro e Au/ITO/vidro com

laser em 800nm estão apresentados na figura 34. Os resultados da espectroscopia

de mistura de quatro ondas apresentado, mostram que, os resultados de bombeio e

prova na amostra de Au/vidro em 870 nm, é semelhante ao resultado apresentado

pela GDT dispersivo na ressonância em 800nm na amostra de Au/vidro. Enquanto

que a GDT absortivo em 800nm na amostra Au/vidro é semelhante ao experimento

de bombeio e prova na ressonância em 800 nm. Já na amostra de Au/ITO/vidro, a

GDT dispersivo fora da ressonância em 800 nm é similar ao resultado apresentado

pelo bombeio e prova fora da ressonância em 800 nm, enquanto que GDT absortivo

em 800nm é similar ao bombeio e prova em 870 nm na ressonância.

Segundo a teoria de Mie, a contribuição do espalhamento de luz em

nanopartículas onde a aproximação do limite quase-estático é aplicável

(Nanopartículas onde o caminho livre médio do elétrons é menor que o tamanho da

nanopartícula) pode ser negligenciado e resultando assim em um coeficiente de

Page 77: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

77

extinção igual a absorção de luz. Por outro lado, no nosso sistema, onde as

nanopartículas tem tamanho médio de 220 nm de secção transversal e 45nm de

altura, o limite quase-estático não pode ser aplicado e o fator de espalhamento deve

ser considerado.

Estes resultados corroboram com a teoria de que a dependência do

comprimento de onda nos sistemas estudados se correlacionam basicamente com o

índice de refração complexo dependente do comprimento de onda, onde o sinal é

majoritariamente influenciado por absorção de luz em comprimentos de onda na

ressonância e tem contribuições tanto de absorção quanto de espalhamento quando

fora da ressonância. A absorção de luz então, gera uma modificação no

comportamento óptico do material, caracterizando assim, um efeito não linear.

4.2. Correlação da dinâmica estrutural e atividade catalítica de

nanopartículas híbridas ocas de Au e Ag utilizando técnicas de

espectroscopia ultrarrápida134.

Nós utilizamos as técnicas de espectroscopia ultrarrápida para avaliar a

dinâmica de nanopartículas ocas do tipo núcleo-casca compostas de ouro e prata

sintetizadas pela técnica de substituição galvânica. As nanopartículas foram

caracterizadas por técnicas de microscopia. Correlacionando nossos dados de

espectroscopia ultrarrápida com ensaios catalíticos realizados neste mesmo tipo de

nanopartículas, descobrimos que existe um relação inversa entre a tempo de

decaimento do acoplamento elétron-fônon fundamental e a atividade catalítica do

sistema na reação de acoplamento de três componentes para gerar propargilamina.

Page 78: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

78

Figura 35. Imagens de microscopia eletrônica de varredura. (a) nanopartículas

de Ag utilizadas com precursores para síntese das nanopartículas hibridas. Amostra

em relação estequiométrica atômica de (b) Ag85Au15, (c) Ag69Au31, (d)Ag67Au33, (e)

Ag51Au49, e (f) Ag46Au54.

A síntese do material foi realizada pelo grupo do Prof. Pedro Camargo

conforme consta na literatura12. As amostras foram caracterizadas por microscopia

eletrônica de varredura para qualificar sua morfologia e a relação Au/Ag foi

quantificada por ICP-OES. A porcentagens molar das nanopartículas, conforme

quantificadas por ICP-OES, apresentadas na figura 35, são (b) Ag85Au15, (c) Ag69Au31,

(d)Ag67Au33, (e) Ag51Au49, e (f) Ag46Au54, enquanto que a figura 35(a) representa as

nanopartículas de Ag utilizadas com precursores para síntese das nanopartículas

híbridas. As nanopartículas obtidas são consistentes com as nanopartículas

previamente reportadas93.

Page 79: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

79

Podemos observar nas imagens de SEM, que existem nas nanopartículas de

c-f estruturas porosas, que consequentemente aumentam a área superficial do

material. Em outros trabalhos publicados pelo grupo do Prof. Pedro Camargo, foram

utilizadas técnicas de microscopia de transmissão eletrônica e tomografia dispersiva

que permitiram caracterizar a variação de composição tridimensional deste sistema,

mais particularmente a distribuição atômica na superfície e distribuição dos

constituintes na porção interna da nanopartícula93.

Figura 36. Espectro de absorção linear UV-Vis das nanopartículas híbridas.

Na figura 36 estão apresentados os espectros de absorção UV-Vis das

nanopartículas ocas híbridas investigadas neste trabalho. O espectro da nanopartícula

de Ag está apresentado como referência. Os espectros de absorção destas

nanopartículas podem ser divididos em três tipos de bandas. A primeira em mais altas

energias está relacionada ao fenômeno de transição interbandas dos níveis

eletrônicos existentes nos componentes das nanopartículas. A segunda e terceira

bandas, estão relacionadas com as bandas de absorção de plásmon de superfície15.

Podemos observar que nanopartículas hibridas com baixa fração molar de Au

apresentam espectros de absorção mais próximos ao espectro de absorção da

nanopartícula de Ag. Com o aumento da fração molar do Au em relação à Ag, a banda

RPS em maiores comprimentos de onda se sobressai frente à de menor comprimento

de onda, como pode ser observado nos espectros de Ag46Au54 e Ag51Au49. As

300 400 500 600 700 800 900

Ag51

Au49

Ag46

Au54

Ag69

Au31

Ag67

Au33

Ab

so

rção

no

rmali

zad

a

Comprimento de onda (nm)

Ag NPs

Ag85

Au15

Page 80: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

80

nanopartículas com composição intermediária apresentam duas bandas RPS

distintas, em 455 nm e próximo de 620 nm nas composição de Ag69Au31 e Ag67Au33.

Nanopartículas híbridas de Au e Ag, de maneira geral, apresentam a banda

RPS em comprimentos de onda entre os comprimentos de onda de absorção das

nanopartículas puras, sendo em torno de 410 nm para Ag e 520 mn para Au135.

Todavia, nossos dados demonstram que à medida que se aumenta a fração molar de

Au no sistema, ocorre o aumento da absorção relacionada com a nanopartícula de

ouro enquanto que diminui o pico de absorção relacionada com a Ag.

Deste modo, podemos considerar que o espectro de absorção das

nanopartículas híbridas podem ser descritos em termos da estequiometria dos

componentes das nanopartículas. Em evidência nestes espectros está a banda de

absorção de plásmon das nanopartículas com a composição de Ag46Au54. A banda

RPS se desloca para comprimentos de onda bem superiores ao comprimento de onda

de absorção das nanopartículas puras de ouro, fato este que evidencia que alguma

alteração estrutural pode ocorrer nesta composição que leva a este deslocamento na

banda RPS bem como, em outras características e peculiaridades da nanopartícula.

O deslocamento espectral para o vermelho observado para nanopartículas

híbridas AgAu, acima da ressonância em 520 nm para nanopartículas esféricas de Au,

já havia sido reportado anteriormente136. Goodman et al apresentaram resultados

experimentais e simulações das propriedades óticas de nanocascas AgAu com

diâmetro menor do que 100 nm e exibindo ressonâncias no infravermelho próximo. O

modelo teórico baseado na teoria de Mie e modelagem eletrodinâmica com elementos

finitos indicou que vários fatores contribuem para a presença de uma banda RPS no

infravermelho próximo, incluindo a Ag residual no caroço da nanopartícula,

porosidade, defeitos de superfície e formação de ligas.

Page 81: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

81

Figura 37. Modelagem dos espectros de extinção normalizados baseada na

teoria de Mie para nanopartículas esféricas empregando frações volumétricas

diferentes para Ag, Au e H2O.

No nosso caso, como observado na figura 35, as nanopartículas investigadas

possuem características complexas, tais como formas contendo buracos, porosidade

e variação da espessura do componente metálico em função da variação da

composição. Em particular, as nanopartículas apresentadas na figura 35 não são

exatamente nanocascas AgAu perfeitas e descrever exatamente a sua forma é

desafiador. Apesar disso, nós buscamos averiguar se simulações baseadas na teoria

de Mie ou modelos mais detalhados empregando o método dos elementos finitos

poderiam propiciar insights adicionais acerca das propriedades óticas das

nanopartículas AgAu híbridas investigadas neste trabalho. Além disso, ao empregar

sistemas-modelo simples, nós podemos testar se características básicas estruturais e

de composição das nanopartículas afetam suas propriedades óticas, considerando

que tais características são importantes para sua atividade catalítica.

Para este fim, inicialmente nós modelamos as propriedades óticas lineares

das nanopartículas AgAu híbridas usando a teoria de Mie fenomenológica

empregando uma descrição efetiva do meio das nanopartículas. Especificamente, a

teoria de Mie foi usada para avaliar qual combinação de fração de volume de Ag, Au

e água pode ser empregada para resultar em uma descrição válida para as

nanopartículas AgAu híbridas e, ao mesmo tempo, que resulte em ressonâncias SPR

Page 82: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

82

no infravermelho próximo.

A figura 37 mostra os espectros de extinção calculados para partículas

esféricas com composição heterogênea como sistema modelo para as nanopartículas

AgAu híbridas. Mais especificamente, a função dielétrica foi modelada empregando

uma média ponderada das constantes dielétricas complexas tabuladas para Ag e Au

(Ag46Au54) além da constante dielétrica real da água. Para todos os sistemas

investigados na figura 37, nós usamos os mesmos valores da razão molar Ag/Au das

nanopartículas sintetizadas e, então, nós incluímos água com frações volumétricas

distintas para cada partícula, tal que os espectros calculados resultem na tendência

observada experimentalmente.

Figura 38. Modelagem do espectro de extinção usando simulação

eletrodinâmica baseada no Método dos Elementos de Contorno (BEM) para os

sistemas “a”, “b” e “c”, conforme apresentado na secção experimental e descrito na

figura.

Ao usar três componentes (Ag, Au e água) para calcular uma constante

dielétrica efetiva para a partícula, esta abordagem permite avaliar os efeitos de

variação composicional e de porosidade sobre as propriedades óticas lineares das

nanopartículas AgAu híbridas de modo simples e sistemático. A figura 38 mostra que,

à medida que a fração de Ag, Au e água é variada, a ressonância de plásmon de

Page 83: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

83

superfície ocorre na faixa desde 400 nm até 800 nm, estendendo, portanto, o

comprimento de onda da SPR além da faixa observada para nanopartículas esféricas

de Ag, Au e AgAu21,137. Comparando-se a figura 37 com a figura 36, nós observamos

que as propriedades óticas medidas podem ser descritas, ao menos qualitativamente,

empregando a teoria de Mie.

Além das simulações baseadas na teoria de Mie realizadas por nosso grupo,

simulações utilizando a eletrodinâmica e o método dos elementos finitos, foram

realizadas em cooperação pelo grupo de prof. Diego dos Santos. Conforme foi

descrito na secção experimental, trabalhamos com três tipos distintos de estruturas

com variação na composição e distribuição dos componentes na nanopartículas.

No primeiro sistemas simulado, identificado com Au 20% na figura 38 uma

nanopartícula com núcleo oco pequeno (2,5nm de H2O) com a casca composta por

uma camada de 16nm de Ag e uma fina camada de 1,5nm de Au. Esta simulação

resultou num espectro de extinção com RPS em 420nm, que é similar ao espectro

observado pela nanopartícula de composição Ag85Au15.

No segundo sistema simulado utilizando BEM, identificado com Au 50%, a

nanopartícula possui núcleo oco de 10 nm com H2O, envolto por uma camada de 2,2

nm de Ag, 5,6 nm de Au e 2,2 nm de Ag. Esta estrutura apresentou espectro de

extinção com RPS em 520nm, que seia a média dos dois picos apresentados pela

estrutura Ag67Au33 ou uma nanopartícula sólida de Au.

O ultimo modelo de simulação apresentado na figura 38 como Au50%_15nm,

uma nanopartícula com um espaço vazio grande em seu centro (15nm de H2O)

envolto por camadas bem finas de 1,2 nm de Ag, 2,6 nm de Au e 1,2 nm de Ag,

apresentaram espectro de extinção simulado com RPS em 600nm, acima do RPS de

nanopartículas de Au. Utilizando parâmetros de espessura de camadas dos

componentes, não foi possível deslocar o espectro de extinção para comprimentos

maiores que 600 nm. Um possível caminho para deslocamento pode ser a inserção

de mais modelos miméticos de defeitos morfológicos, como buracos e rugosidades.

Todavia, as simulações utilizando a teoria de Mie e BEM forneceu resultados

qualitativamente satisfatório por fornecer resultado que deslocam o espectro de

extinção para comprimentos de onde acima da RPS das nanopartículas de Au.

Conforme foi demostrado experimentalmente por Slater et al93 e teoricamente por

Page 84: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

84

Goodman et al136, em concordância com nossos resultados, o red-shift observados

em nanopartículas ocas de Au e Ag podem ter participação de defeitos morfológicos,

segregação, composição e distribuição das camadas dos componentes metálicos.

Figura 39. Sinal de espectroscopia de bombeio e prova em função do atraso

temporal para a amostra mostrada na figura 35. As linhas verticais azuis denotam as

escalas de tempo características e o mecanismo associado. Da esquerda para a

direita: espalhamento elétron-elétron e acoplamento elétron-fônon; acoplamento

fônon-fônon juntamente com amortecimento acústico; acoplamento fônon-vizinhança.

Nós realizamos análise de espectroscopia de bombeio e prova nas

nanopartículas ocas híbridas a fim de avaliar como ocorre a dinâmica de transferência

de energia em função da variação da fração molar de Au e Ag em sua composição

nos primeiros 100 ps. Nossos resultados, exemplificados na figura 39, se enquadram

nos modelos já estabelecidos de dinâmica de energia em nanopartículas descritos por

diversos trabalhos na literatura84,127,137.

Inicialmente, a nanopartícula absorve energia do feixe do laser gerando uma

movimentação não térmica dos elétrons presentes no plásmon de superfície das

nanopartículas(𝜏𝑛𝑡<10fs). Posteriormente, este movimentação se termaliza pelo

espalhamento elétron-elétron (𝜏𝑒−𝑒 = 300fs) e em seguida transfere energia para a

rede pelo acoplamento elétron-fônon (𝜏𝑒−𝑓 = 3ps) e finalmente a energia é dispersa

da rede para o ambiente pelo acoplamento fônon-fônon (𝜏𝑓−𝑓 =10ps) e por oscilação

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85

acústicas (T= 20ps). Este mecanismo é bem descrito pelo modelo de duas

temperaturas, assim descrito pela temperatura elevada dos elétrons após a absorção

da radiação e transferência para rede mais fria, conforme descrito no capítulo anterior

para a dinâmica de energia nos nanoprismas.

Realizamos os experimentos de espectroscopia ultrarrápida com variação da

energia do feixe de bombeio, cujos dados obtidos para os primeiros 20ps são

apresentados na figura 40 (Ag46Au54,) figura 41 (Ag51Au49), figura 42 (Ag67Au33) e

figura 43 (Ag69Au31).

Figura 40. Curvas de superfície obtidas pela técnica de espectroscopia de

bombeio e prova para as amostras de nanopartículas hibridas de composição Ag46Au54.

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86

Figura 41. Curvas de superfície obtidas pela técnica de espectroscopia de

bombeio e prova para as amostras de nanopartículas hibridas de composição Ag51Au49.

Figura 42. Curvas de superfície obtidas pela técnica de espectroscopia de

bombeio e prova para as amostras de nanopartículas hibridas de composição Ag67Au33.

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87

Figura 43. Curvas de superfície obtidas pela técnica de espectroscopia de

bombeio e prova para as amostras de nanopartículas hibridas de composição

Ag69Au31.

O acoplamento elétron-fônon é a etapa de transferência de energia que

compreende a passagem de energia dos elétrons para a rede das nanopartículas.

Devido à grande velocidade dos elétrons e à grande diferença de tamanho entre o

elétrons livres da banda de absorção de plásmon e a estrutura componente da rede,

os elétrons têm a capacidade de se deslocar por grandes distâncias na escala

nanométrica até sofrerem colisões128. Esta característica faz com que as constantes

de tempo do acoplamento elétron-fônon sofram interferências de características

morfológicas da superfície das nanopartícula, principalmente características de

segregação e de defeitos, cenários estes que se enquadram bem no sistema que

investigamos93.

Sistemas que apresentam uniformidade superficial, seja de composição

uniforme ou poucos defeitos morfológicos, deve permitir caminho livre aos elétrons da

banda de absorção de plásmon. Isso, consequentemente, abaixa a probabilidade de

choque entre elétron e a rede ou diminui a restrição a movimentação eletrônica,

aumentando a constante de tempo fundamental do espalhamento elétron-fônon em

consequência da diminuição da taxa de espalhamento. Por outro lado, sistemas com

maior número de defeitos morfológicos e na distribuição dos constituintes e até

mesmo maior número de interface ou diferentes graus de cristalinidade, pode

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88

aumentar a taxa de espalhamento entre elétrons e a rede de íons, consequentemente

diminuindo a constante de tempo do acoplamento elétron-fônon e aumentando a taxa

de espalhamento elétron-fônon. Devido a isto, avaliamos a variação da constante de

tempo do acoplamento elétrons-fônon em função da intensidade do feixe de bombeio.

Os nossos resultados estão apresentados nas figuras 40, 41, 42 e 43.

A caracterização das constantes de tempo associadas aos decaimentos

ultrarrápidos foi realizada com base na abordagem implementada na na forma,

𝐼 = 𝐼0 + 𝑎1. 𝑒𝑥𝑝−𝑡

𝜏𝑛𝑡 ± 𝑎2. 𝑒𝑥𝑝−𝑡

𝜏𝑒−𝑒 + 𝑎3. 𝑒𝑥𝑝−𝑡

𝜏𝑒−𝑓 + 𝑎4. 𝑒𝑥𝑝−𝑡

𝜏𝑓−𝑓 . 𝑐𝑜𝑠 (2𝜋

𝑇1+ ) (42)

incluindo a caracterização global com ajuste não-linear. De modo similar à descrição

do fenômeno de mistura de quatro ondas realizada acima, a interação não-linear da

radiação com a matéria possui um componente eletrodinâmico e um componente

material. A resposta do material é denotada pela função R(t). O sinal medido

experimentalmente corresponde à transmissão transiente, sendo descrita pela

convolução da função de resposta do material com a função de resposta do

instrumento, 𝐺0(2)(𝜏):

∆𝑆

𝑆= ∫𝑑𝜏 [𝛿𝐺0

(2)(𝜏) + 𝐺0(2)(𝜏)𝑅(𝜏 − 𝑡)] (43)

Na equação (43), o termo é um componente impulsivo e é comumente

representado como pico coerente em tempo zero em espectroscopia ultrarrápida. A

função de resposta, R(t), possui os componentes necessários para descrever o

modelo de duas temperaturas mencionado acima127 e descreve a dinâmica de

relaxação eletrônica, da rede e relaxação térmica do material.

O decaimento inicial da temperatura eletrônica, devido ao acoplamento

elétron-fônon, pode ser aproximada por uma única exponencial com tempo de

decaimento 𝜏𝑒−𝑓. A temperatura da rede aumenta inicialmente com a mesma

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89

constante de tempo, devido à transferência de calor dos elétrons e então decai com

constante de tempo 𝜏𝑓−𝑓, devido à transferência de calor para a vizinhança.

Finalmente, a função de resposta também inclui a oscilação devida à vibração

coerente da nanopartícula, conforme descrito acima. Este termo é adicionado

incluindo um componente oscilatório com frequência ( =2𝜋

𝑇1) e fase . Todos estes

parâmetros são determinados através de ajuste dos nossos dados experimentais

utilizando regressão não linear de mínimos quadrados. Desta forma, obtivemos a

constante de tempo do acoplamento elétron-fônon para cada uma das potências de

laser utilizadas (fig.44). Este resultado para Ag46Au54 está apresentado na figura 45.

Figura 44. Curvas de decaimento de espectroscopia de bombeio e prova para

nanopartícula Ag46Au54.

A partir destes resultados, utilizando regressão linear, extrapolamos a curva

para a potência zero do feixe de bombeio a fim de obtermos a constante de tempo do

acoplamento elétron-fônon natural (𝜏𝑒−𝑓0 ). Os dados para cada nanopartícula

bimetálica estão apresentados na figura 46 como função da concentração de Au. A

constante 𝜏𝑒−𝑓0 corresponde ao tempo natural do espalhamento entre elétron e fônon

na ausência de excitação eletrônica pela radiação eletromagnética, ou seja, é o tempo

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90

de espalhamento no sistema em equilíbrio termodinâmico nas condições de mais

baixa energia descrita pela temperatura do sistema.

Figura 45. Constante de decaimento do acoplamento elétron-fônon utilizando

regressão não linear de mínimos quadrados e posterior regressão linear destes dados

para Ag46Au54.

Como podemos observar, os dados da figura 46 mostram que a constante de

tempo do acoplamento elétron-fônon inicia com 0,5 ps na nanopartícula de Ag pura,

vai até 1,4 ps quando a composição da fração molar do sistema passa para Ag69Au31,

oscila para 1,7 ps na composição Ag51Au49 e sobre para 2,5 ps na composição

Ag46Au54, e por fim abaixa para 0,7 ps na nanopartícula de Au puro.

Estes dados são condizentes com dados provenientes do estudo da

morfologia superficial destes tipos de nanopartículas, publicado pelo grupo de prof.

Pedro Camargo usando este mesmo sistema93. Cabe ressaltar que as constante 𝝉𝒆−𝒇𝟎

é independente do comprimento de onda de excitação utilizado, sendo uma

propriedade do material. Os dados para cada constante 𝝉𝒆−𝒇𝟎 também não demostrou

dependência em relação a concentração dos componentes, diferentemente do que foi

Page 91: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

91

observado na literatura120, demostrando assim que fatores externos a composição

afetam diretamente nas dinâmicas destas nanopartículas em particular.

Figura 46. Valor experimental da constante de acoplamento elétron-fônon

fundamental para as nanopartículas descrito em função da composição de Au.

Os estudos de morfologia mostram que ocorre a segregação do Au e Ag das

nanopartículas nos extremos de fração molar de cada componente, ou seja,

nanopartículas com menor concentração de ouro apresenta um volume de

segregação maior quando comparado com as nanopartículas em concentrações

equivalentes de Au e Ag. As amostras com quantidades equivalentes de Au e Ag

apresentam morfologia superficial mais uniforme que aquelas nos extremos de

concentração93. Desta forma, tanto a segregação superficial quanto superfícies

morfologicamente irregulares afetam negativamente o tempo de decaimento do

acoplamento elétron-fônon como observado nos nosso experimentos.

0 20 40 60 80 100

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Co

ns

tan

te d

e d

ac

aim

en

to f

un

da

me

nta

l (

e-p

h)

ps

% Au

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92

. Figura 47. Atividade catalítica do sistema na reação de acoplamento de três

componentes para gerar propargilamina (figura 25) em função da concentração da

composição da nanopartícula. (adaptado da ref93)

Figura 48. Resultados da simulação de dinâmica molecular das nanopartículas

bimetálicas de Au e Ag, com (a) Au 20% e (b) Au 54%. Nota-se que em ambas as

concentrações de Au existe a tendência de formação de domínios.

Os resultados da simulação de dinâmica molecular das nanopartículas

bimetálicas Ag80Au20 e Ag46Au54 estão representados na figura 48. Ag80Au20 é a

nanopartícula que apresenta a melhor eficiência catalítica, como pode ser visto na

Page 93: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

93

figura 47. A formação de pequenos domínios, pode propiciar um cenário vantajoso

para eficiência de catalísadores126 e formação de pequenas ilhas é característica de

catalisadores mais eficientes para algumas reações93. Embora o ambiente de

coordenação localizadas seja uma das mais importantes características dos

catalisadores heterogêneos e em principal, nas nanopartículas metálicas, a influência

da disponibilidade eletrônica na eficiência catalítica das nanopartículas metálicas é

um ponto muito importante93,126. Neste sentido, nossos experimentos de

espectroscopia ultrarrápida, pode fornecer importantes resultados para o

entendimento destes mecanismos.

Comparando nossos resultados de espectroscopia ultrarrápida com os

resultados de rendimento de síntese catalisada pelas nanopartículas híbridas em

estudo, apresentados nas figuras 46 e 47, podemos observar que nos tempos de

acoplamento elétron-fônon fundamental longos, o rendimento de síntese com a

catálise das nanopartículas é baixa e onde os tempos de acoplamentos elétron-fônon

fundamental são mais curtos, a efetividade catalítica é alta. Este fato evidencia que os

mecanismos catalíticos das nanopartículas metálicas tem relação com movimentação

eletrônica. Avaliamos então que a movimentação dos elétrons na superfície metálica

correlacionadas com características superficiais de amortecimento eletrônico é o que

gera o potencial para o abaixamento da barreira de energia necessária para efetivação

da reação química.

Existem alguns mecanismos de transferência de energia dos elétrons para

sistema que são condizentes com os dados apresentados nas figuras 46 e 47. a taxa

de espalhamento dos elétrons é maior em sistemas onde existem mais defeitos

morfológicos e estruturais (vacâncias ou heterogeneidade atômica). A taxa de

espalhamento é responsável por alterar transitoriamente o potencial elétrico próximo

a superfície das nanopartículas conforme pode ser visualizado na figura 10. Este

potencial pode afetar diretamente em características como efeitos de coordenação

localizada, relaxação superficial e mais fundamentalmente os efeitos quânticos que

são influentes na efetividade de nanopartículas metálicas em processos catalíticos95.

Através dos dados obtidos nos experimentos de espectroscopia ultrarrápida

apresentados nas figura 40-47 e de dados apresentados na literatura, podemos definir

um cenário onde o espalhamento eletrônicos seja importante tanto na efetividade

Page 94: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

94

catalítica em sistemas de fotocatálise plasmônica quanto em catálise metálica pelo

mecanismo termoativado. A figura 48 apresenta um novo entendimento sobre a

influência do espalhamento eletrônico na superfície de energia potencial para cada

regime de excitação dos EPS.

Figura 48. Influência do espalhamento eletrônico na superfície de energia

potencial em cada regime de fluência de potência luminosa (mecanismos RITE e

RIMTE) e na ausência de potência luminosa (regime térmico).

No mecanismo RIMTE, sobre alta fluência de potência, os mecanismos de

espalhamento levam a um regime de excitação com alta taxa de espalhamento,

levando a múltiplas transições eletrônicas para o estado de energia intermediário íon

negativo transiente que finda no processo de cruzamento da barreira de potencial,

efetivando assim a quebra de ligação química resultado em uma reação fotoativada.

No mecanismo em regime intermediário de fluência de potência luminosa,

RITE, o espalhamento leva a transições eletrônicas com taxas menores para o estado

de transição intermediário do íons negativo transiente, que em uma taxa de reação

Page 95: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

95

menor que a observada no mecanismo RIMTE, se caracteriza também por um

mecanismo fotoativado onde o espalhamento eletrônico leva ao fim de vários ciclos

de excitação, relaxação e decaimentos, a efetivação da reação química.

No mecanismo termoativado, o espalhamento eletrônico também

desempenha um papel importante, conforme os nosso dados de espectroscopia

ultrarrápida puderam mostrar, sistemas com taxas de espelhamento elétron-fônon

fundamental maior apresentam melhor eficiência na catalítica. Mais especificamente,

se considerarmos os tempos de acoplamento elétron-fônon acendendo de um

oscilador browniano primário individual em um estado quântico de elevada energia

(elétrons) acoplados a um oscilador representando o sistema da rede de íons ( ou

rede de íons/adsorbato no caso do meio reacional), podemos descrever os modos de

dissipação governado por termos friccional. Este cenário é suficiente para descrever

nossos resultados experimentais em conjuntos aos experimentos de eficiência

catalítica. Não seria simples especulação afirmar que a eficiência catalítica de

nanopartículas metálicas são governadas pela dissipação de energia

potencial/cinética eletrônica. Conforme a figura 10 mostra, existe energia potencial

eletrônica que vai muito além da distância de uma ligação química/interação

intermolecular proveniente da atividade eletrônica próxima a superfície de um

material. Este potencial pode ser amplificado pela movimentação livre dos elétrons

próximos da superfície decorrente da ressonância de plásmon de superfície, como

mostra a figura 04. Devido a baixa capacidade calorífica dos elétrons, a energia

cinética dos elétrons termicamente excitados, não pode ser ignorada em um modelo

friccional e sua influência num gradiente de potencial gerado próximo a superfície

metálica.

Estes resultados demonstram que a espectroscopia de femtossegundos pode

ser utilizada para estudar mecanismos térmicos de reação que ocorrem

estatisticamente em escalas de tempo bem superiores a resolução da técnica.

Page 96: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

96

4.3. Estudo das nanopartículas ocas utilizando altas energias. Nova

análise de um fenômeno antigo: a espectroscopia ultrarrápida do

resfriamento anômalo.

Nos estudos de espectroscopia de bombeio e prova até agora apresentados,

utilizamos a radiação do laser em baixas energias e obtivemos resultados de

decaimento em um regime linear entre energia do feixe do laser e energia absorvida

pela amostra, utilizando potência de 2,0 MW/cm² até 12,0 MW/cm². Nossos resultados

para este regime estão apresentados novamente na figura 49 e seus resultados foram

discutidos nas seções anteriores.

Pelo fato do nosso sistema composto por nanopartículas ocas hibridas em

solução se tratar de um sistema bastante interessante do ponto de vista

termodinâmico, realizamos nas nanopartículas com proporção molar Ag46Au54 um

estudo que utiliza radiação a laser em potências mais altas, que seguem de 30 a 100

MW/cm². Nossos resultados nestas condições estão apresentados nas figuras 50 (B

e C). Como podemos ver, com a potência de 30 MW/cm² temos resultados bastante

parecidos aos apresentados em baixa potência. Contudo, nas potências mais baixas,

a constante de acoplamento elétron-fônon é diretamente proporcional à potência do

laser utilizada no experimento.

Já no cenário de potência elevadas, nossos resultados mostram uma não

linearidade em relação a esta medida, onde tanto a intensidade quanto as constantes

de tempo do acoplamento elétron-fônon apresentam não linearidade com a potência

aplicada, correspondendo assim a um sistema mecânico estatístico não-linear.

A princípio, sabemos que a elevação da potência do laser, aumenta a

temperatura das nanopartículas quando os elétrons da banda RPS absorvem a

radiação. Contudo nossos resultados mostram que a elevação da potência do laser

acima 40MW/cm² causa relaxação mais rápida que em potências inferiores. Podemos

notar na figura 50(a) que o comportamento das curvas seguem a mesma tendência

entre as potências de 30 a 60 MW/cm². Nas potencias que variam de 70 a 100

MW/cm², podemos notar que existe a contribuição de outros fatores na dinâmica das

nanopartículas que são diferentes daqueles observados entre 30 a 60 MW/cm², que

influenciam da dinâmica não térmica e espalhamento elétron-elétron. Nesta

Page 97: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

97

discussão, vamos nos ater aos fenômenos que levam as nanopartículas a

demostrarem o comportamento demostrado na figura 50(a). Embora os dados da

figura 50(b) também estejam disponíveis para visualização, eles não serão aqui

abordados.

Figura 49. Sinal da espectroscopia de bombeio e prova para nanopartículas

Ag46Au54 com feixe de bombeio com potência de 2 a 12MW/cm².

Figura 50. Sinal da espectroscopia de bombeio e prova para nanopartículas

Ag46Au54 com feixe de bombeio com potência de (a) 30 a 60MW/cm² e (b) 60 a 100

MW/cm².

0 5 10 15 20

Sin

al (u

.a.)

Tempo (ps)

2 MW/cm2

4 MW/cm2

6 MW/cm2

8 MW/cm2

10 MW/cm2

12 MW/cm2

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98

Desta forma, para entender nossos resultados, contamos com a colaboração

do grupo de Prof. Rodrigo Albuquerque da Universidade de Liverpool John Moores

que realizou uma série de simulações de dinâmica molecular atomísticas para avaliar

a influência da elevação da temperatura na dinâmica ultrarrápida das nanopartículas.

Na simulação, foi utilizada a mesma composição das amostras utilizadas

neste experimento (Ag46Au54) em dois modelos de arranjo estrutural. O primeiro deles,

formado por um núcleo oco de Au com casca de Ag (núcleo-casca), representado na

figura 51 pela curva vermelha e o segundo modelo formado por uma nanopartícula

híbrida oca onde os átomos de Au e Ag estão distribuídos de forma aleatória

(aleatória), representado na figura 51 pela cor azul

A simulação consiste em aumentar a temperatura gradualmente de 300 até

1200 K num intervalo de tempo de 20 ns. Podemos observar que a estrutura com

distribuição aleatória dos átomos possui uma configuração de mais baixa energia. O

comportamento das duas estruturas são similares entre 300 e 1000 K onde a energia

potencial aumenta linearmente com o aumento da temperatura. As duas estruturas

tem comportamento semelhante durante o aquecimento e ambas as estruturas sofrem

um processo de transformação isotérmica em aproximadamente 1100 K. Todavia, a

estrutura núcleo-casca apresenta comportamento peculiar em temperaturas mais

altas e no final da rampa de aquecimento volta a se assemelhar à estrutura aleatória.

Page 99: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

99

Figura 51. Simulação de dinâmica molecular atomística. (a) Rampa de

aquecimento para as estruturas casca-núcleo (vermelho) e liga (azul). (b)Instantâneos

da estrutura na forma de liga em temperaturas de 300 a 1104K.

Observamos que a estrutura núcleo-casca possui um estado de transição de

mais alta energia em temperatura próxima a 1200K. Próximo à temperatura de 1050K

a estrutura núcleo-casca sofre um processo exotérmico que é descrito por uma

reorganização estrutural que abaixa a energia superficial do sistema138.

Possivelmente este abaixamento na energia potencial próximo à temperatura de

transição de fase corresponde a um fenômeno de associação em alguma das

interfaces (NP-ar ou Au-Ag ou Ag-oco).

Na sequência, ocorre uma transição endotérmica correspondente à transição

de fase das estruturas. Novamente, a estrutura núcleo-casca se diferencia da

estrutura de organização aleatória no final do processo. Sustentamos que também

seja uma processo que envolve modificação de superfície e/ou interface. No final da

rampa de aquecimento, próximo de 1200 K, as duas estruturas se comportam de

maneira semelhante, com aumento linear da energia potencial com a temperatura.

Page 100: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

100

A figura 51(b) mostra a imagem da estrutura aleatória em temperaturas

variando de 330 a 1104 K. Podemos notar nestas figuras que, com a elevação da

temperatura, ocorrem 3 tipos principais de alterações estruturais na nanopartícula,

sendo elas a modificação da morfologia superficial, modificação na distribuição

espacial dos átomo e modificações no núcleo oco da nanopartícula.

O primeiro tipo relatado de modificação pode ser observado com a perda da

característica esférica da nanopartícula em temperaturas acima de 900K. Pelo fato de

não se tratar de uma nanopartícula maciça, a estrutura apresenta uma

metaestabilidade com energia mais elevada, que com o aumento da temperatura

aumenta também aumenta a liberdade na posição atômica, desestabilizando a

estrutura em busca um estado de menor energia.

Figura 52. Distribuição radial dos átomos em relação ao centro da

nanopartícula ocas com distribuição na forma de liga

Em relação à modificação na distribuição espacial dos átomos, observamos

que ocorre a migração de átomo de Ag do interior para a parte externa da

nanopartícula como pode ser observado na figura 52. Estas características estão de

acordo com outros trabalhos relacionados à dinâmica molecular que afirmam que os

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101

átomos de Ag tendem a parte externa (casca) e os átomos de ouro tendem a parte

interna21.

Quando tratamos do núcleo da nanopartícula, podemos notar que em

temperatura superiores a 900K (assim como observado para efeitos de superfície)

inicia-se o processo de modificação estrutural na parte oca. Em cada figura podemos

observar que com a aumento da temperatura, o espaço vazio do núcleo vai cada vez

mais sendo preenchido por átomo de AgAu, até que na temperatura de 1104K ocorre

a implosão do núcleo, dando origem a um sistema maciço.

Figura 53. Resultados de simulação de dinâmica molecular em temperaturas

de 400 a 950K utilizando o método T-Jump.

A figura 53 apresenta resultado de dinâmica molecular para o mesmo sistema

núcleo-casca apresentado para a figura 51(a), contudo, nesta simulação, a

temperatura é aumentada repentinamente numa escala de femtossegundos até atingir

a temperatura final de interesse. Em seguida, é deixado o sistema relaxar por 1ns e

então, em uma rampa de resfriamento, é deixado o sistema resfriar até 300 K em 20

ns (Intitularemos este experimento de T-Jump). A simulação utilizou uma sequência

de temperaturas finais que vão de 400 a 950 K. Para referência, as curvas para a

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102

rampa de aquecimento discutidos e apresentados na figura 51(a) são apresentados

na cor cinza.

Podemos verificar nesta simulação que a energia potencial apresentada pela

nanopartícula na rampa de aquecimento normal não difere quantitativamente de

energia potencial inicial do experimento T-Jump em todas as temperaturas simuladas.

Estes resultados corroboram com o fato de que o aquecimento repentino na escala

de femtossegundos não provoca modificações estruturais que se diferem das

modificações estruturais comumente causadas pelo aumento da temperatura de

forma gradual conforme o experimento com rampa de aquecimento normal, caso

contrário, teríamos aumento ou diminuição da energia potencial inicial.

Contudo, à medida que aumentamos a temperatura final do experimento T-

Jump, a energia do sistema tem uma tendência sistemática de diminuição, em relação

à curva de energia potencial obtida pela rampa de aquecimento, quando resfriado a

300K. Esta variação da energia potencial está diretamente relacionada com o

tamanho da cavidade e modificações superficiais e de interface, como pode ser

visualizado na inserção da figura 53, a cavidade se torna menor e a superfície mais

irregular após o T-Jump. Outra característica que pode ser visualizada na inserção é

a migração de átomo de Ag do núcleo para casca e de átomo de Au da casca para o

núcleo, característica esta também visualizada na simulação com rampa de

aquecimento normal.

Apesar de a estrutura resultante da simulação T-Jump não possuir

configuração estrutural nem energia potencial compatível à da nanopartícula de

distribuição aleatório apresentada na figura 51, ela ainda possui energia potencial

menor que a estrutura núcleo-casca original.

Correlacionando as estruturas simuladas na dinâmica molecular atomísticas

com os dados obtidos na espectroscopia ultrarrápida realizamos uma análise

estatística fora do equilíbrio dos tempos de relaxação em função da temperatura

inicial. Estes tempos de relaxação podem ser obtidos tanto na simulação de dinâmica

molecular quanto nos experimentos de espectroscopia ultrarrápida e desta forma os

resultados da simulação e do experimento podem ser comparados. A figura 54(a) nos

mostra um panorama de energia potencial para os três tipos de estruturas em

equilíbrio provenientes das simulação com a rampa de aquecimento normal com as

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103

estruturas núcleo-casca e distribuição aleatória e a estrutura núcleo-casca no

experimento T-Jump.

Figura 54. (a) Panorama de energia potencial para os três tipos de estruturas

em equilíbrio provenientes das simulação de dinâmica molecular com a rampa de

aquecimento normal com as estruturas núcleo-casca e distribuição aleatória e a

estrutura núcleo-casca no experimento T-Jump. X é um parâmetro referente a posição

da partícula browniana. (b) Distância entrópica em função do tempo para duas

temperaturas iniciais (c) o tempo de relaxação em função da temperatura inicial para

uma gama de temperaturas iniciais.

Comparando a estrutura núcleo-casca com rampa de aquecimento normal e

a estrutura com o T-Jump, verificamos que a estrutura núcleo-casca é mantida,

embora a distribuição do átomos e a morfologia das estruturas variem com a

temperatura nos dois tipos de simulações. A estrutura resultante do aquecimento T-

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104

Jump, preserva uma configuração de menor energia comparada à estrutura resultante

da rampa de aquecimento normal, embora ambas as estruturas possuam maior

energia potencial que a nanopartícula oca com distribuição aleatória de átomo. Os

dados da figura 54(a) foram utilizados para análise mecânica estatística fora do

equilíbrio.

Para estudar o panorama de energia apresentado proveniente das simulações

de dinâmica molecular, nós implementamos a distribuição de probabilidades não

boltzmanniana resolvida no tempo pelo modelo de Kramers-Fokker-Planck para a

difusão de uma partícula browniana para o cenário da figura 54(a), dados que

podemos representar nosso cenário energético com vários, porém finitos, mínimos de

energia e esta perspectiva evolui sob um operador contínuo de difusão Fokker-Planck,

descrevemos a configuração espacial por uma matriz de taxa de transição evoluindo

de acordo com a equação de Markov-Liouville para probabilidade dependente do

tempo. O probabilidade de encontrar uma partícula na posição x no tempo t no

potencial V(x) evoluindo de acordo com dinâmico Markoviana e dada pela equação

( ) ˆ,t p x t Lp = (44)

Nosso resultados, calculados também como função da temperatura a fim de

modelar nossos resultados de dinâmica molecular, são apresentados na figura 53.

Como é de se esperar de um sistema com uma partícula browniana em um cenário

de energia como o da figura 54(a), a partícula permanece mais tempo em um dos

poços de energia. Dependendo da temperatura e da barreira de energia, um ou mais

dos pontos de energia mínima podem ser populados. O inverso do histograma de

posição da partícula nos fornece a probabilidade de equilíbrio de Boltzmann de

encontrar a partícula em uma devida posição. Em alta temperatura, a distribuição de

Boltzmann percorre todo o espaço de fases. Em baixa temperatura, contudo, a

probabilidade de equilíbrio é maior em estados estáveis e metaestáveis e mais

concentrada nos dois mínimos de energia visualizados na figura 54(a).

Energias mais altas no feixe de bombeio nos experimentos de espectroscopia

ultrarrápida aumentam a temperatura do sistema composto pelas nanopartículas

metálicas e, afim de entender a dinâmica de relaxação térmica em diferentes

Page 105: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

105

condições iniciais (diferentes potencias utilizadas no feixe de bombeio), nós

calculamos a função de distância entrópica em uma faixa de temperatura de interesse

através da equação (2)

; ln lnb bi ie b i i i i

b

E pD p T p p

T

= + −

(45)

onde b

i ~ é a probabilidade de distribuição de equilíbrio (Boltzmann), e

b

i i ip p = − . Os nosso resultados são apresentados nas figuras 54(b e c). A figura 54

(b) mostra a distância entrópica em função do tempo para duas temperaturas iniciais

calculadas com a equação (45). Para estas duas temperaturas iniciais, podemos

observar que a função de distância entrópica decai mais rapidamente para altas

temperaturas iniciais e esta tal relaxação térmica decai mais rápido para temperaturas

mais altas quando comparado com temperaturas mais baixas. A figura 54(c) mostra o

tempo de relaxação em função da temperatura inicial para uma gama de temperaturas

iniciais. As temperaturas escolhidas são consistentes com a energia do pulso e a

energia absorvida pela nanopartícula, considerando a capacidade calorífica do Au e

Ag contidos nas nanopartículas em estudo.

Para o cenário de energia apresentado na figura 54(c), observamos que

existem dois regimes de dinâmica de relaxação distintos. Em temperaturas iniciais

baixas, a dinâmica de relaxação calculada de acordo com o formalismo de Kramers-

Fokker-Planck é similar à obtida pelo formalismo convencional de transferência de

calor clássico, ou seja, o tempo de relaxação aumenta com o aumento da temperatura.

Por outro lado, em temperaturas iniciais mais altas, um outro regime é observado,

onde o tempo de relaxação é menor quanto mais alta a temperatura. Embora este

comportamento não seja comum tomando como base a termodinâmica de equilíbrio,

resultados análogos já foram observados, incluindo variantes do efeito Mpemba e

dinâmica ultrarrápida em nanomateriais utilizando altas energias. Contudo a análise

estatística para sistemas fora do equilíbrio utilizando dados de espectroscopia de

bombeio e prova não havia ainda sido implementada.

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106

4.4 Espectroscopia de bombeio e prova em nanopartículas

bimetálicas de Au e Ag com variação de temperatura.

Nós realizamos o estudo da cinética ultrarrápida na escala de

Femtossegundos das nanopartículas bimetálicas com variação da temperatura

utilizando espectroscopia de bombeio e prova, iniciando o experimento a temperatura

ambiente de 23°C, em seguida 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90°C. Temperaturas superiores

não foram possíveis de serem estudadas devido ao ponto de ebulição do solvente

(água). Nossos resultados estão apresentados na figura 55.

Figura 55. (a)Curvas de decaimento de espectroscopia de bombeio e prova

para nanopartícula Ag46Au54 em função da temperatura na faixa de 23-90°C. (b)

Ampliação da dinâmica dos primeiro 10ps. (c) Ampliação da oscilação acústica

observada no experimento.

Observamos nestes resultados que a constante de tempo do acoplamento

elétron-fônon mostra variações entre 3,5 a 4,5 ps, sem correlação linear com a

Page 107: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

107

temperatura, com valor oscilando em torno de 4,0 ps. Esse comportamento é

esperado devido à baixa variação da temperatura do solvente neste experimentos,

frente a grande variação de temperatura do elétrons da EPS durante a excitação pelo

pulso ultrarrápido58.

Figura 56. Constante de tempo do acoplamento elétron-fônon em função da

temperatura do sistema.

Por outro lado, em relação ao período de oscilação do fônon acústico do

acoplamento fônon-fônon, podemos verificar o comportamento linear crescente

correlacionado entre a temperatura e o período, conforme apresentado na figura 57

(com uma discrepância em 80°C). O aumento é pouco acentuado, devido à pouca

variação de temperatura suportada por soluções aquosas que, nesta faixa tem pouca

influência no período de oscilação. Este comportamento no período de oscilação do

fônon acústico com o aumento da temperatura é explicado pela influência da

temperatura em características que afetam a movimentação e difusão de partículas

em um sistema coloidal, fatores estes como a densidade e a viscosidade do sistema.

Como a temperatura em sistemas aquosos afeta de maneira inversa tais

características, o movimento e difusão de partículas por estes sistemas são

facilitados, possibilitando relaxações com um período maior, como o apresentado pelo

sistema das nanopartículas bimetálicas em solução aquosa em questão83,129.

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108

Figura 57. Período da oscilação no acoplamento fônon-fônon em função da

temperatura do sistema.

Page 109: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

109

5. Conclusão e perspectivas

Nanopartículas são sistemas muito versáteis, com grande aplicabilidade e

consequentemente de muito interesse científico e econômico.

A espectroscopia ultrarrápida traz uma gama de técnicas muito eficientes

capazes de elucidar o conhecimento científico de características importantes dos

nanomateriais.

Nosso resultados mostram características das nanopartículas metálicas

relacionadas à atividade óptica, correlação entre estrutura e atividade e

comportamento térmico de estruturas metaestáveis.

No sistema composto pelas nanopartículas depositadas sobre substrato de

vidro ou ITO/vidro, nosso resultados utilizando GDT mostram a consistência dos

resultados prévios de espectroscopia de bombeio e prova, mostrando que os

resultados de dinâmica ultrarrápida dependentes do comprimento de onda são

consequências do índice de refração complexo dependente do comprimento de onda

Nos estudos relacionando estrutura e atividade das nanopartículas

bimetálicas, nós evidenciamos que existe uma correlação entre a constante de

acoplamento elétron-fônon e a atividade catalítica do nosso sistema. Esta correlação

está interligada com fatores morfológicos e de segregação entre os componentes das

nanopartículas híbridas que por sua vez, influenciam diretamente nas interação entre

os elétrons e os íons das nanopartículas metálicas, que finda em alterações nas taxas

de espalhamento nas etapas da dinâmica ultrarrápidas destas nanopartículas.

Acreditamos que estas taxas de espalhamento sejam determinantes nos processos

catalisados por nanopartículas metálicas.

Quando aumentamos a potência do laser nos experimentos de bombeio e

prova, descobrimos que o sistema composto pelas nanocascas se comporta como um

sistema metaestável. Nossos dados experimentais e de simulação de dinâmica

molecular convergem para demonstrar que nosso sistema reagem de forma

compatível com uma variante ultrarrápida de transferência de calor anômala.

Em nossos estudos utilizando a técnica de bombeio e prova nas

nanopartículas bimetálicas em função da temperatura do sistema, observamos que a

dinâmica ultrarrápida é levemente influenciada pela variação da temperatura em faixa

de 23 a 90°C. Nestes experimentos, observamos pouca correlação entre temperatura

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110

do sistema e constante de acoplamento elétron-fônon. Um pequena variação linear foi

observada no período de oscilação do fônon acústico no acoplamento fônon-fônon.

Como perspectivas futuras para o trabalho com altas energias nas

nanopartículas ocas, está em andamento no grupo de professor Rodrigo Albuquerque

a simulação de dinâmica molecular com T-Jump com tempo de relaxação na ordem

de 200 fs e uma rampa de resfriamento mais rápida (~100 ps).

Page 111: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA

111

6. Referências

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remedy for gland tumors and arthritis. J. Mol. Liq. 268, 149–155 (2018).

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6. Rai, P. K. et al. Nanoparticle-plant interaction: Implications in energy,

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