65
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL DANIEL CORRÊA CARDOSO Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de Interesse Social Caso: “Minha Casa Minha Vida” Feira de Santana-BA 2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANAcivil.uefs.br/DOCUMENTOS/DANIEL CÔRREA CARDOSO.pdf · Orientador: Prof. MSc. Diogenes Oliveira Senna ... Camila e Daniele, pelo carinho,

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

DANIEL CORRÊA CARDOSO

Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de

Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida”

Feira de Santana-BA

2010

ii

DANIEL CORRÊA CARDOSO

Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de

Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida”

Esta monografia é a avaliação do trabalho

de conclusão de curso realizado pela

disciplina Projeto Final II do curso de

Engenharia Civil da Universidade Estadual

de Feira de Santana (UEFS), outorgada pelo

Departamento de Tecnologia, para obtenção

do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Professor Diogenes Oliveira Senna

Feira de Santana-BA

2010

iii

DANIEL CORRÊA CARDOSO

Aproveitamento de Águas Pluviais em Habitações de

Interesse Social – Caso: “Minha Casa Minha Vida”

Esta monografia é a avaliação do trabalho

de conclusão de curso realizado pela

disciplina Projeto Final II do curso de

Engenharia Civil da Universidade Estadual

de Feira de Santana (UEFS), outorgada pelo

Departamento de Tecnologia, para obtenção

do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Feira de Santana, 04 de Agosto de 2010

___________________________________________________________________

Orientador: Prof. MSc. Diogenes Oliveira Senna

Universidade Estadual de Feira de Santana

___________________________________________________________________

Prof. MSc. Luis Cláudio Alves Borja

Universidade Estadual de Feira de Santana

___________________________________________________________________

Eng. Silvio Cláudio da Silva

Secretaria de Desenvolvimento Urbano – Pref. Mun. de Feira de Santana

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela vida, pela saúde e por todas as coisas e pessoas ao meu

redor.

Ao orientador Professor Mestre Diogenes Oliveira Senna, pelo conhecimento

transmitido, pelo incentivo e por toda dedicação empenhada.

Aos membros da banca examinadora, por aceitarem o convite.

Minha Mãe, Regina Maria Corrêa, pelo incentivo e pela grande preocupação com a

formação dos seus filhos.

Minhas irmãs, Camila e Daniele, pelo carinho, força e união.

A minha namorada, Neive, pelo apoio, compreensão e paciência nos momentos

difíceis.

Aos amigos e colegas que me deram força para realização deste trabalho, em

especial, a Carlos Alibert, Ítalo Giovanne e a Valéria Carvalho.

v

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. vii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ................................................................ ix

RESUMO ..................................................................................................................... x

ABSTRACT ................................................................................................................ xi

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12

1.1. JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 13

1.2 OBJETIVOS.................................................................................................. 13

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 14

1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 14

1.3 HIPÓTESE.................................................................................................... 14

1.4 METODOLOGIA ........................................................................................... 14

1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ................................................................ 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 17

2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA ............................................................................ 17

2.2 A PROBLEMÁTICA DA ESCASSEZ DA ÁGUA ........................................... 19

2.3 USO DA ÁGUA PELA SOCIEDADE ............................................................. 22

2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA AO LONGO DA HISTÓRIA ................ 25

2.5 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO MUNDO ............................... 29

2.6 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL ............................... 31

2.7 REUSO DA ÁGUA ........................................................................................ 32

2.8 SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA ......................... 36

2.8.1 Elementos do sistema de aproveitamento pluvial ......................................... 40

2.9 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL X SUSTENTABILIDADE .............. 43

2.10 PROGRAMA ―MINHA CASA MINHA VIDA‖ ................................................. 46

3 ESTUDO DE CASO ..................................................................................... 47

3.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ..................................................... 47

3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS DA REGIÃO ................................................... 47

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 49

4.1 DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE COBERTURA ...................................... 49

4.2 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA ..................................................... 50

vi

4.3 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PARA APROVEITAMENTO DE

ÁGUA PLUVIAL ........................................................................................................ 52

4.4 DIMENSIONAMENTO DE CALHAS, CONDUTORES VERTICAIS E

CONDUTORES HORIZONTAIS ............................................................................... 54

4.4.1 Calhas .......................................................................................................... 54

4.4.2 Condutores Verticais .................................................................................... 56

4.4.3 Condutores Horizontais ................................................................................ 57

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............... 59

5.1 CONCLUSÃO ............................................................................................... 59

5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................ 60

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61

ANEXOS ................................................................................................................... 65

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Distribuição dos recursos hídricos e da população no Brasil 20

Figura 2 Previsão de disponibilidade hídrica no Brasil 21

Figura 3 Distribuição do consumo de água nas residências na Alemanha 24

Figura 4 Distribuição do consumo de água nas residências em São Paulo 24

Figura 5 Sistema de captação de água de chuva do Irã 26

Figura 6 Cisterna do século X 27

Figura 7 Cisterna de captação de água de chuva 32

Figura 8 Esquema de utilização de água pluvial 40

Figura 9 Indicações para cálculos da área de contribuição 49

Figura 10 Ábaco para determinação de diâmetros de condutores verticais 57

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Classificação da disponibilidade hídrica segundo o UNEP 21

Tabela 2 Dados Pluviométricos de Feira de Santana (2005 – 2009) 48

Tabela 3 Parâmetros de demanda residencial para estimativa de consumo

de água 51

Tabela 4 Consumo de água estimado para a residência em estudo 52

Tabela 5 Valores de C de diferentes autores 53

Tabela 6 Coeficiente de rugosidade 55

Tabela 7 Capacidade de calhas semicirculares 56

Tabela 8 Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões

em L/min) 58

ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AAP Aproveitamento de Água Pluvial

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

C Coeficiente de Escoamento

EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento

Hab Habitantes

L Litros

m² Metros quadrados

m³ Metros cúbicos

mm Milímetros

NBR Norma Brasileira

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa da Aceleração do Crescimento

SAAE Sistema Autônomo de Água e Esgoto

UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana

x

RESUMO

Os problemas de escassez de água e poluição dos mananciais, aliados à má

utilização da água potável que chega até nossas residências, sugerem a procura de

alternativas para a solução desses problemas. Uma alternativa é a coleta da água

pluvial. As técnicas de aproveitamento de água pluvial são soluções sustentáveis

que contribuem para uso racional da água, além disso, podem proporcionar uma

redução nas faturas pagas pelo usuário às concessionárias de abastecimento de

água. O presente trabalho verificou a possibilidade de implantação de um sistema de

aproveitamento de água pluvial para fins não potáveis, aplicado às Habitações de

Interesse Social – Caso: ―Minha Casa Minha Vida‖, situada no Município de Feira de

Santana - BA. Para desenvolver esse estudo foi feita uma breve revisão

bibliográfica, coleta de dados referente à quantidade de chuva na região em estudo,

descrição da tipologia da edificação em estudo, o dimensionamento da área do

telhado da edificação, o dimensionamento do reservatório para armazenar a água

pluvial captada e uma estimativa do consumo de água não potável nessa habitação.

Assim permitiu comparar o consumo de água não potável com o volume de chuva

que ira captar e armazenar, verificando a possibilidade de implantação do sistema

para atender suas necessidades de consumo.

Palavras-Chaves: Aproveitamento, Água, Chuva, Habitação de Interesse Social

xi

ABSTRACT

The problems of water scarcity and pollution of watercourses, allies to misuse of

drinking water that reaches our homes, suggests the search for alternatives to

solving these problems. An alternative is the collection of rainwater. The techniques

of rainwater utilization are sustainable solutions that contribute to the rational use of

water, moreover, can provide a reduction in the invoices paid by the user on water

supply dealers. This work was the possibility of deploying a system of rainwater

utilization for purposes not potable, applied to social housing schemes – Case: "my

house, my life", in the municipality of Feira de Santana (BA). To develop this study

was made a brief bibliographic review, collects data on the amount of rainfall in the

region under study, description of the typology of the building in study, the scaling of

the roof of the building area, sizing of tank to store the captured rainwater and an

estimate of the non-potable water consumption in housing. So comparing the non-

potable water consumption with the volume of rain that will capture and store, noting

the possibility of deploying the system to meet your needs.

Key words: Harnessing, Water, Rain, Social Interest Housing

12

1. INTRODUÇÃO

A água é um recurso limitado e precioso. Embora cerca de 3/4 da superfície da

Terra seja ocupada pela água, deste total apenas 3% são de água doce, dos

quais apenas 20% encontram-se imediatamente disponíveis para o homem.

Além disto, a distribuição desigual da água pelas diferentes regiões do planeta

faz com que haja escassez do recurso em vários países.

Os meios naturais de transformação da água em água potável são lentos,

frágeis e muito limitados. Assim sendo, esta deve ser manipulada com

racionalidade, preocupação e moderação, não devendo ser desperdiçada,

poluída, ou envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com

consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de

esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente

disponíveis (Zampieron, 2005). Para tanto, sugere-se então, a adoção da

captação da água da chuva como ferramenta de gestão da água.

O Reuso Planejado da Água faz parte da Estratégia Global para a

Administração da Qualidade da Água, proposta pelo Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Mundial da Saúde (OMS,

2005). Ela prevê o alcance simultâneo de três importantes elementos que são a

proteção da saúde pública, a manutenção da integridade dos ecossistemas e o

uso sustentado da água (Reuso, 2005).

Neste contexto, este trabalho é voltado para o aproveitamento da água da

chuva, para o uso doméstico, porque parte do consumo doméstico não exige

que seja utilizada água potável. Sendo assim, a água da chuva coletada

através do escoamento do telhado e calhas de uma edificação, a qual é

aproveitada posteriormente para limpeza de calçadas, pisos e carros,

descargas de banheiros, jardins, entre outros, através de instalações

hidráulicas adequadas.

13

1.1. JUSTIFICATIVA

A água é um dos fatores ambientais que tem suscitado grande preocupação

dos planejadores. Os maiores desafios que se vislumbram hoje, no Brasil, são

a consolidação dos aspectos institucionais do gerenciamento dos recursos

hídricos, o controle desses recursos nas grandes metrópoles brasileiras, a

preservação ambiental, o uso e controle do solo rural e o controle da poluição

difusa, no âmbito de uma visão racional de aproveitamento e preservação

ambiental (TUCCI, HESPANHOL, NETTO, 2003).

A água é um bem essencial à vida de todos os seres vivos que habitam nosso

planeta. A sua facilidade de acesso, armazenamento, tratamento e destino

adequado dos efluentes devem ser objetivos a serem perseguidos por todos os

cidadãos do planeta.

Reusar a água traz benefícios porque reduz a demanda nas águas de

superfície e subterrâneas além de proteger o meio ambiente, economizar

energia e reduzir investimentos em infra-estrutura. O uso eficiente da água

representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade

de um modo geral.

Grande parte da água utilizada dentro das edificações pode ser reaproveitada

para fins menos nobres, para isso é necessário analisar as diversas utilizações

da água na edificação e definir alternativas para reaproveitamento da mesma.

Diante da baixa disponibilidade de recursos hídricos e a crescente degradação

de sua qualidade é imprescindível buscar novas alternativas que minimizem o

consumo da água. Devido a tal situação, este trabalho deverá abordar uma

técnica de Aproveitamento de Água Pluvial (AAP), buscando conseguir um uso

mais racional deste recurso.

1.2 OBJETIVOS

14

1.2.1 Objetivo Geral

Verificar a possibilidade do aproveitamento de águas pluviais em habitações de

interesse social, para uso não potável.

1.2.2 Objetivos Específicos

Reduzir o consumo de água potável,

Reduzir a fatura mensal do consumo de água,

Dimensionar reservatório, calhas e condutores (vertical e horizontal).

1.3 HIPÓTESE

Inicialmente, busca, através do presente tema, propiciar conhecimentos novos

à área de estudo e também trazer benefícios práticos e reais para a sociedade.

O processo de pesquisa estará voltado para evidenciar o método utilizado a fim

de um melhor aproveitamento da água capitada das chuvas, e como

conseqüência primordial, mostrar a viabilidade da implantação do sistema em

edificações de interesse social, além de minimizar o desperdício de água

potável.

1.4 METODOLOGIA

Avaliação de um sistema de aproveitamento de água pluvial para fins não

potáveis, em habitações de interesse social, localizada no município de Feira

15

de Santana – Ba, onde será desenvolvida uma metodologia que compreende

as seguintes etapas:

Revisão bibliográfica sobre o tema

Descrição do objeto de estudo

Dados pluviométricos da região

Determinação das áreas de cobertura

Estimativa do consumo de água

Dimensionamento do reservatório para aproveitamento de água pluvial

Dimensionamento de calhas e condutores pela NBR 10844/89

1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

A estrutura da presente monografia surge assim como uma consequência dos

objetivos enunciados, sendo que o respectivo texto será organizado em cinco

capítulos. Nos parágrafos que se seguem é efetuada uma descrição sumária

de cada um desses capítulos.

No capítulo 1 contemplará introdução, justificativa, o objetivo geral e os

específicos, hipótese, metodologia a ser aplicada e a própria estruturação da

monografia.

O capítulo 2 irá constar todo o embasamento teórico, como a importância da

água, a problemática da escassez da água, uso da água pela sociedade, uso

da água ao longo da história, aproveitamento de água pluvial no Brasil e no

16

mundo, o reuso da água, o funcionamento do sistema de aproveitamento de

água de chuva e uma abordagem sobre Habitações de Interesse Social.

O capítulo 3 será feito um estudo de caso de uma Habitação de Interesse

Social do Programa do Governo Federal ―Minha Casa Minha Vida‖, localizada

na cidade de Feira de Santana – Ba.

O capítulo 4 irá apresentar e discutir os resultados provenientes do estudo de

caso. E por fim, o capítulo 5 irá conter as conclusões e fazer sugestões para

trabalhos futuros.

17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA

A água subterrânea é bastante explorada no Brasil. Estima-se que existam no

Brasil pelo menos 400.000 poços (ZOBY e MATOS, 2002). A água de poços e

fontes vem sendo utilizada para diversos fins, tais como o abastecimento

humano e industrial, irrigação e lazer. No Brasil, 15,6% dos domicílios utilizam

exclusivamente água subterrânea, 77,8% faz uso de rede de abastecimento de

água e 6,6 % usam outras formas de abastecimento (IBGE, 2002a).

Segundo Macedo (2004) atualmente, há uma constante preocupação com o

recurso natural água. Constata-se que esse recurso que antes pensava-se que

fosse infinito, ganhou novas proporções e hoje nota-se que essa informação é

errônea, pois 1,5 milhões de quilômetros cúbicos de água existente no planeta,

cerca de 97,5% é salgada, 2,49% na forma de geleiras, resultando somente

0,007% de água para o consumo humano.

Segundo dados apresentado por ANEEL/ANA (2002) o Brasil possui a maior

reserva de água do planeta, cerca de 8% da água doce disponível, mas 73%

destas águas estão na Amazônia, onde a população é de apenas 5%. Os 27%

restantes respondem pelo abastecimento de 95% da população.

Mesmo com 20% de toda a água doce superficial da Terra, aqui, como no resto

do mundo, a situação é delicada. Nossos rios e lagos vêm sendo

comprometidos pela queda de qualidade da água disponível para uso em

decorrência da poluição e da degradação ambiental.

De acordo com Derisio (2000) o ciclo da água representa o percurso da água

desde a atmosfera, passando por várias fases, até retornar de novo à

18

atmosfera. Essas fases englobam, basicamente, a precipitação, escoamento

superficial, infiltração, escoamento subterrâneo e a evaporação.

Segundo Magossi (1991), sem dúvida, o baixo custo da água estimula o seu

alto consumo e, portanto, se caracteriza como um inimigo da eficiência. Como

o mundo assiste a uma disponibilidade decrescente de água, este recurso se

destaca como um importante fator de desenvolvimento, surgindo, assim, três

princípios: a atenção ao uso eficiente da água é proporcional aos preços

cobrados pelo seu acesso; o estabelecimento de valor econômico para este

recurso, portanto determina seu uso mais eficiente e finalmente, uma forma de

reduzir os custos sociais causados pela apropriação da qualidade da água

pelos agentes poluidores é o estabelecimento de preço para esta utilização que

estimule a adoção de sistemas de tratamento de efluentes. Em resumo, a

definição de preços para o uso da água é um incentivo poderoso para

aumentar a eficiência de seu uso.

Machado (2004) afirma em seus estudos que ao longo dos últimos 50 anos,

mediante o crescimento acelerado das populações e da indústria, as fontes

disponíveis de água doce do planeta estão comprometidas. Embora o colapso

do abastecimento seja uma realidade em muitos lugares, sobretudo em bairros

da periferia de centros urbanos densamente povoados, ainda assim vive-se a

ilusão de que a água é um recurso infinito.

A generosidade da Natureza fazia crer em inesgotáveis mananciais,

abundantes e renováveis. Hoje, o mau uso, aliado à crescente demanda pelo

recurso, vem preocupando especialistas e autoridades no assunto, pelo

evidente decréscimo da disponibilidade de água limpa em todo o planeta.

(JAQUES, 2005)

A água pode ser abundante em algumas regiões do planeta Terra, mas, em

outras, chega a ser quase inexistente. A maior parte da água doce existente no

mundo está localizada em apenas 10 países, entre eles o Brasil. É preciso

levar em consideração que a distribuição da água é irregular, e essa situação

tende a piorar devido aos fenômenos climáticos. Em alguns lugares há muita

19

chuva e as enchentes causam grandes problemas, enquanto em outros a seca

é grande (KITAMURA, 2004).

De acordo com Santos (2002), entre as soluções apontadas para os problemas

que afetam os recursos hídricos, a universalização dos serviços de água e

esgoto é o primeiro objetivo colocado por largos setores da sociedade, pelos

organismos internacionais como a ONU e o Banco Mundial e pelo governo

brasileiro. Além de atender a uma necessidade de melhoria das condições de

saúde e de vida da população se refletirá também na adoção de práticas de

conservação e na recuperação da qualidade ambiental dos ecossistemas como

um todo.

Outro objetivo para a gestão dos recursos hídricos e reversão dos problemas é

a aplicação de mecanismos de gestão que incentivem o uso mais racional da

água, ou seja, incentivar a todos aqueles que usam a água de forma ineficiente

a pagar pelo seu uso ou desistir e transferir a água para usos de valor maior,

entre eles, inclusive, os usos ambientais (SANTOS, 2002).

2.2 A PROBLEMÁTICA DA ESCASSEZ DA ÁGUA

Atualmente vários países enfrentam o problema da escassez da água, em

decorrência do desenvolvimento desordenado das cidades, da poluição dos

recursos hídricos, do crescimento populacional e industrial, que geram um

aumento na demanda pela água, provocando o esgotamento desse recurso.

Outro aspecto importante a cerca dos recursos hídricos é a desigualdade com

que o mesmo se distribui nas regiões do mundo e até mesmo no Brasil.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (CONSUMO SUSTENTÁVEL:

Manual de educação, 2002), o Brasil detém cerca de 13,7% de toda a água

superficial da Terra, sendo que desse total, 70% está localizado na região

amazônica e apenas 30% está distribuído pelo resto do país.

20

A Figura 1 apresenta os dados da distribuição dos recursos hídricos e da

população em cada região do Brasil. Observa-se que as regiões Norte e

Centro-Oeste detêm a maior parte dos recursos hídricos do país, sendo

responsável pelo abastecimento da menor parcela da população, ao passo que

as regiões sudeste e nordeste, concentram a menor parcela de água e são

responsáveis pelo abastecimento de mais de 70% da população brasileira.

Figura 1 — Distribuição dos recursos hídricos e da população no Brasil

Fonte: Consumo sustentável: Manual de educação, 2002.

A United Nations Environment Programe (UNEP), classifica a disponibilidade

hídrica de muito alta a catastroficamente baixa, de acordo com a quantidade de

água disponível em m³ por pessoa por ano (Tabela 1), e segundo as projeções

do estudo realizado por Ghisi (2005), se nenhuma atitude for tomada no

sentido de preservar a água, reservando esta para ser utilizada apenas para os

fins mais nobres, a disponibilidade hídrica nas regiões Nordeste e Sudeste do

Brasil podem chegar à condição de catastroficamente baixa (Figura 2).

21

Tabela 1 — Classificação da disponibilidade hídrica segundo o UNEP

Disponibilidade Hídrica

(m³ per capita/ano) Classificação

Maior que 20.000 Muito Alta

10.000 – 20.000 Alta

5.000 – 10.000 Média

2.000 – 5.000 Baixa

1.000 – 2.000 Muito Baixa

Menor que 1.000 Catastroficamente baixa

Fonte: UNEP, 2002.

Figura 2 — Previsão de disponibilidade hídrica no Brasil

Fonte: Ghisi, 2005.

As estatísticas internacionais confirmam o problema que diversos países têm

em garantir ao cidadão acesso à água com qualidade adequada e quantidade

suficiente. Dentre às restrições à melhora desse serviço estão questões

econômicas, organizacionais, climáticas e, principalmente, a falta de

sustentabilidade hídrica (THOMAS, 2003).

22

Diante deste panorama, cresce a necessidade de se encontrar meios e formas

de preservar a água potável. As soluções que preservam a quantidade e a

qualidade da água passam, necessariamente, por uma revisão do uso da água

nas residências, tendo como meta a redução do consumo de água potável e

conseqüente conservação dos recursos hídricos.

Dentre as estratégias utilizadas atualmente para reduzir o consumo de água

pela população pode-se citar a medição individualizada de água, a

racionalização do uso, a utilização de dispositivos economizadores de água,

como as bacias sanitárias com volume de descarga reduzido e os registros de

fechamento automático de torneiras, chuveiros e mictórios e a utilização de

fontes alternativas de água.

Em alguns locais, atitudes como a de se instalar submedidores em

apartamentos, promovendo a medição individualizada já apresenta bons

resultados. Em Guarulhos a medição individualizada de 2.880 ligações trouxe

ao SAAE uma economia de 15% no fornecimento de água (TOMAZ, 2003).

Campanhas de conscientização dos consumidores também resultam em

efeitos positivos e devem ser realizadas inclusive com as crianças, para a

formação da consciência ambiental.

2.3 USO DA ÁGUA PELA SOCIEDADE

A água é utilizada em todos os segmentos da sociedade, e está presente no

uso doméstico, comercial, industrial, público e agrícola. A demanda de água de

cada um desses setores é distinta. Em linhas gerais, a maior parte da água

doce do mundo é consumida na agricultura, a qual é responsável pela

utilização de, aproximadamente, 70% da mesma. O consumo doméstico está

em segundo lugar com 23%; segundo Terpstra (1999), esse consumo tem

aumentado durante a última década numa média de 4% por ano. A indústria

apresenta um consumo de água de cerca de 7% (CONSUMO SUSTENTÁVEL:

Manual de educação, 2002).

23

A agricultura está na dianteira no consumo de água, principalmente, devido ao

desperdício. Segundo Rebouças (2003), o uso da água na agricultura ocorre de

forma ineficiente, com um desperdício estimado de cerca de 60% de toda a

água fornecida a este setor.

Em uma residência o consumo de água é influenciado por diversos fatores

como o clima da região, a renda familiar, o número de habitantes, as

características culturais da comunidade e a forma de gerenciamento do

sistema de abastecimento, que englobam a micromedição e o valor da tarifa.

Estima-se um consumo médio de água nas residências de 200 L/hab/dia, com

grandes oscilações, que podem ir de 50 L/hab/dia a 600 L/hab/dia (TSUTIYA,

2005).

Nas residências a realidade do desperdício também se faz presente, a água é

má utilizada e desperdiçada dentro das próprias casas, muitas vezes em

virtude do desconhecimento, da falta de orientação e informação dos cidadãos.

A busca por uma sociedade sustentável passa, necessariamente, pela

educação ambiental e pela mudança de hábitos e conceitos da população,

como o de carrear os dejetos com água tratada e clorada.

Uma das tentativas para a solução do problema da água é a reformulação do

sistema de abastecimento de água atual, que utiliza água potável para todos os

fins, tanto para higiene pessoal quanto para lavar calçada e para carrear

dejetos.

Chilton et al. (1999) descrevem que a água de abastecimento utilizada pela

população no Reino Unido é purificada para atender exigentes padrões de

potabilidade, sendo que grande parte desta água é utilizada para fins que não

necessitam de tal qualidade como, por exemplo, nos vasos sanitários.

Segundo Terpstra (1999) os propósitos e aplicações da água dentro de uma

residência podem ser separados um quatro categorias: higiene pessoal,

descarga de banheiros, consumo e limpeza.

24

Observa-se portanto, que a água destinada ao consumo humano pode ter dois

fins distintos, parte da água que abastece uma residência é utilizada para

higiene pessoal, para beber e na preparação de alimentos, sendo estes usos

designados como usos potáveis, e a outra parcela da mesma água que chega

às residências é destinada aos usos não potáveis, como lavagem de roupas,

carros e calçadas, irrigação de jardins e descarga de vasos sanitários. Estudos

realizados mostram que dentro de uma residência os pontos de maior consumo

de água são para dar descarga nos vasos sanitários, para a lavagem de roupas

e para tomar banho (Figuras 3 e 4).

Em média, 40% do total de água consumida em uma residência são destinados

aos usos não potáveis. Desta forma, estabelecendo um modelo de

abastecimento de rede dupla de água, sendo uma rede de água potável e outra

de água de reúso, a conservação da água, através da redução do consumo de

água potável, seria garantida.

O uso de fontes alternativas de suprimento para o abastecimento dos pontos

de consumo de água não potável é uma importante prática na busca da

sustentabilidade hídrica. Dentre as fontes alternativas pode-se citar o

25

aproveitamento da água da chuva, o reúso de águas servidas e a

dessalinização da água do mar. Destaca-se o aproveitamento da água da

chuva como fonte alternativa de suprimento pela sua simplicidade.

A precipitação da chuva é umas das etapas do ciclo hidrológico, também

conhecido como ciclo da água. De toda a água precipitada, parte escoa pela

superfície do solo até chegar aos rios, lagos e ao oceano, parte retorna

imediatamente para a atmosfera por evaporação e parte infiltra no solo,

promovendo a recarga subterrânea (GARCEZ, 1974).

A crescente urbanização, realidade em grande parte do mundo, gerou uma

mudança no ciclo hidrológico das áreas urbanas (ZAIZEN et ai., 1999). O

aumento das áreas impermeáveis provocou uma redução da função de

infiltração e armazenamento de água de chuva nas camadas subterrâneas da

terra. Com isso, a realidade desses centros é a diminuição da recarga dos

aqüíferos e aumento do escoamento superficial das chuvas, provocando

enchentes e trazendo sérios problemas à população.

A utilização da água da chuva além de trazer o benefício da conservação da

água e reduzir a dependência excessiva das fontes superficiais de

abastecimento, reduz o escoamento superficial e dá chance à restauração do

ciclo hidrológico nas áreas urbanas, sendo este extremamente necessário para

garantir o desenvolvimento sustentável.

2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA AO LONGO DA HISTÓRIA

O manejo e o aproveitamento da água da chuva não é uma prática nova,

existem relatos desse tipo de atividade a milhares de anos atrás, antes mesmo

da era cristã.

No Planalto de Loess na China já existiam cacimbas e tanques para

armazenamento de água de chuva há dois mil anos atrás. Na Índia existem

26

inúmeras experiências tradicionais de colheita e aproveitamento de água de

chuva. A Figura 5 mostra a foto do Abanbar, tradicional sistema de captação de

água de chuva comunitário do Irã. No deserto de Negev, hoje território de Israel

e da Jordânia, há 2.000 anos existiu um sistema integrado de manejo de água

de chuva (GNADLINGER, 2000).

Existem relatos do uso da água da chuva por vários povos, como os Incas, os

Maias e os Astecas. No século X, ao sul da cidade de Oxkutzcab, a agricultura

era baseada na coleta da água da chuva, sendo a água armazenada em

cisternas com capacidade de 20 a 45 m3, chamadas de Chultuns pelos Maias

(GNADLINGER, 2000). As cisternas Chultuns eram escavadas no subsolo

calcário e revestidas com reboco impermeável, acima delas havia uma área de

coleta de 100 a 200 m2 (Figura 6).

Figura 5 – Sistema de captação de água de chuva do Irã (Abandar)

Fonte: Gnadlinger, 2000.

27

Figura 6 – Cistema do século X (Chultuns)

Fonte: Gnadlinger, 2000.

A coleta e o aproveitamento da água da chuva pela sociedade perdeu força

com a inserção de tecnologias mais modernas de abastecimento, como a

construção de grandes barragens, o desenvolvimento de técnicas para o

aproveitamento de águas subterrâneas, a irrigação encanada e a

implementação dos sistemas de abastecimento.

Entretanto, atualmente a utilização da água da chuva voltou a ser realidade,

fazendo parte da gestão moderna de grandes cidades em países

desenvolvidos. Vários países europeus e asiáticos utilizam amplamente a água

da chuva nas residências, nas indústrias e na agricultura, pois sabe-se que a

mesma possui qualidade compatível com usos importantes, sendo considerada

um meio simples e eficaz para atenuar o problema ambiental de escassez de

água.

Muitos países desenvolvidos da Europa, principalmente, a Alemanha e outros

como o Japão, a China, a Austrália, os Estados Unidos e até mesmo os países

da África e a Índia estão seriamente empenhados e comprometidos com o

28

aproveitamento da água da chuva e com o desenvolvimento de pesquisas e

tecnologias que facilitem e garantam o uso seguro desta fonte alternativa de

água.

Um dos primeiros estudos realizados neste século sobre o aproveitamento da

água da chuva através de cisternas, foi reportado por Kenyon (1929), citado

por Myers (1967), composto por um sistema artificial de armazenamento de

água de chuva para o consumo humano e animal, em uma região com

precipitação média anual de 305 mm, sendo até hoje utilizado.

Segundo Konig (1994 apud DIXON, BUTLER & FEWKES, 1999) a utilização da

água da chuva além de ter uma longa história difundida mundialmente, nos

dias atuais, é aplicada em muitas sociedades modernas, como uma valiosa

fonte de água para irrigação, para beber e mais recentemente para suprir as

demandas de vasos sanitários e de lavagem de roupas.

No Japão, a coleta da água da chuva ocorre de forma bastante intensa e

difundida, em especial em Tóquio, que atualmente depende de grandes

barragens, localizadas em regiões de montanha a cerca de 190 km do centro

da cidade, para promover o abastecimento de água de forma convencional.

Nas cidades do Japão, a água da chuva coletada, geralmente, é armazenada

em reservatórios que podem ser individuais ou comunitários, esses, chamados

―Tensuison‖, são equipados com bombas manuais e torneiras para que a água

fique disponível para qualquer pessoa. A água excedente do reservatório é

direcionada para canais de infiltração, garantindo assim a recarga de aqüíferos

e evitando enchentes, problema também enfrentado pelas cidades japonesas,

devido ao grande percentual de superfícies impermeáveis (FENDRICH &

OLIYNIK, 2002).

Ainda no Japão, a coleta da água da chuva e o seu aproveitamento são

praticados em estádios para a descarga de vasos sanitários e a rega de

plantas. Os Estádios de Tokyo, Nagoya e Fukuoka são exemplos dessa

prática, com áreas de captação de 16.000, 25.900 e 35.000 m2 e reservatórios

de armazenamento de 1.000, 1.800 e 1.500 m3, respectivamente (ZAIZEN et

ai., 1999).

29

Segundo Gardner, Coombes e Marks (2004), os sistemas de aproveitamento

de água de chuva na Austrália proporcionam uma economia de 45% do

consumo de água nas residências, já na agricultura, a economia chega a 60%.

Estudos realizados no sul da Austrália em 1996 mostraram que 82% da

população rural desta região utilizam a água da chuva como fonte primária de

abastecimento, contra 28% da população urbana (HEYWORTH, MAYNARD &

CUNLIFFE, 1998).

Em alguns locais o governo financia parte da construção do sistema de coleta e

aproveitamento da água da chuva, como forma de incentivo à população. Em

Hamburgo, na Alemanha, concede-se cerca de US$ 1.500,00 a US$ 2.000,00 a

quem aproveitar a água da chuva; este incentivo terá como retorno para o

governo o controle dos picos das enchentes durante os períodos chuvosos

(TOMAZ, 2003).

No Reino Unido, o uso da água da chuva também é incentivado, visto que 30%

do consumo de água potável das residências é gasto na descarga sanitária

(FEWKES, 1999).

Além das residências, outros segmentos da sociedade também começam a

olhar com interesse para o aproveitamento da água da chuva. Indústrias,

instituições e até mesmo estabelecimentos comerciais como, por exemplo, os

lava-jatos, buscam a água da chuva visando tanto o retorno da economia de

água potável quanto o retorno publicitário, se intitulando como indústrias e

estabelecimentos ecologicamente corretos e conscientes (KOENIG, 2003).

2.5 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO MUNDO

Registros históricos indicam que a água da chuva já é utilizada pela

humanidade há milhares de anos. Existem inúmeras cisternas escavadas em

rochas, utilizadas para aproveitamento de água pluvial, que são anteriores a

3.000 a.C. Em Israel, encontra-se um dos exemplos mais conhecidos, a

30

famosa fortaleza de Masada, com dez reservatórios escavados na rocha, tendo

como capacidade total 40 milhões de litros. No México, existem cisternas ainda

em uso, que datam de antes da chegada de Cristóvão Colombo à América

(TOMAZ, 2003).

Em países industrializados, como a Alemanha, a população e as autoridades

públicas estão apoiando ativamente o aproveitamento de água de chuva. Além

disso, o governo alemão está participando com apoio financeiro, oferecendo

financiamentos para a construção de sistemas de captação de água pluvial,

incentivando assim a economia de água potável para suprir as futuras

populações e novas indústrias, conservando as águas subterrâneas que são

utilizadas como fontes de recurso hídrico em muitas cidades do país (GRQUP

RAINDROPS, 2002).

Segundo Tomaz (2001a), especialistas acreditam que até o ano de 2010, um

percentual de 15% de toda água utilizada na Europa seja proveniente de

aproveitamento de água de chuva.

Um dos países que mais utiliza sistemas de aproveitamento de água pluvial

além de promover estudos e pesquisas nessa área, é o Japão. Como exemplo,

tem-se o caso de Tóquio, onde regulamentos do governo metropolitano

obrigam que todos os prédios com área construída maior que 30.000 m2

(metro quadrado) utilizem mais de 100 m³ (metro cúbico) por dia de água para

fins não potáveis, façam reciclagem da água de chuva e de água servida (água

de lavatórios, chuveiros e máquinas de lavar roupas). Além disso, a fim de

evitar enchentes, devem ser construídos reservatórios de detenção de água de

chuva em áreas de terrenos maiores de 10.000 m2 (metro quadrado) ou em

edifícios que tenham mais que 3.000 m2 (metro quadrado) de área construída

(TOMAZ, 2003).

Países como Estados Unidos, Austrália e Cingapura também estão

desenvolvendo pesquisas referentes ao aproveitamento de água pluvial. Em

1992, iniciou-se sistema de uso de água de chuva no Aeroporto de Chagi, em

Cingapura. A água pluvial captada nas pistas de decolagem e aterrissagem é

31

coletada e utilizada para descarga dos banheiros, evitando transtornos com

enchentes nas pistas. Essa iniciativa abriu caminhos para novas áreas de

pesquisa de aproveitamento de águas pluviais nesses países. (GROUP

RAINDRQPS, 2002).

2.6 APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL NO BRASIL

No Brasil, até aproximadamente 20 anos atrás existiam poucas experiências de

aproveitamento de água pluvial.

No nordeste brasileiro a falta de água nos açudes, lagoas e nos rios, que são

temporários naquela região, e a salinidade das águas subterrâneas são fatores

que levam parte da população nordestina a utilizar a água da chuva para suprir

as necessidades de uso doméstico e das atividades na agricultura.

O Semi-árido brasileiro foi o pioneiro na arte de captação de águas pluviais.

Existem várias experiências de tecnologias de sucesso de captação e manejo

de água de chuva para uso humano, para criação de animais e produção de

alimentos, na sua maioria, desenvolvidas por agricultores familiares.

Hoje, já existe no país a Associação Brasileira de Manejo e Captação de Água

de Chuva, que é responsável por divulgar estudos e pesquisas, reunir

equipamentos, instrumentos e serviços sobre o assunto (ABCMAC, 2008).

Na cidade de Guarulhos, estado de São Paulo, algumas indústrias utilizam

água de chuva para suprimento de alguns pontos na sua produção. Segundo

Thomaz (1993), é realizado aproveitamento de água de chuva em uma

indústria de tingimento de tecidos, captada através de um telhado de 1.500 m2

(metro quadrado) e armazenada em reservatório subterrâneo de 370 m3.

Já em Blumenau, cidade localizada no estado de Santa Catarina, foi instalado

sistema de aproveitamento de água pluvial em um hotel com 569,50 m2 (metro

32

quadrado) de área de cobertura (área de captação). O volume da cisterna

utilizada é 16.000 litros, estimando-se a economia anual de água potável em

torno de 684.000 litros (BELLA CALHA, 2008).

Nos últimos três anos, o Brasil conseguiu construir mais de 100 mil cisternas,

capazes de armazenar cerca de 1,5 bilhões de litros de água, na região do

semi-árido brasileiro. A meta dos brasileiros envolvidos nesse projeto é

construir 1 milhão de cisternas até o ano de 2010 (MONTOIA, 2008).

Figura 7 – Cisterna de captação de água de chuva

Fonte: UFRJ, 2005

2.7 REUSO DA ÁGUA

A água de reuso tratada é produzida dentro das Estações de Tratamento de

Esgoto e pode ser utilizada para inúmeros fins, como geração de energia,

refrigeração de equipamentos, em diversos processos industriais, em

prefeituras e entidades que usam a água para lavagem de ruas e pátios, no

setor hoteleiro, irrigação/rega de áreas verdes, desobstrução de rede de

esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos.

33

A grande vantagem da utilização da água de reuso é a de preservar água

potável exclusivamente para atendimento de necessidades que exigem a sua

potabilidade, como para o abastecimento humano. Deve-se considerar o reuso

de água como parte de uma atividade mais abrangente de gestão integrada

que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o

controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e

do consumo de água.

O manejo das águas pluviais, historicamente representado por galerias

pluviais, canais e áreas de retenção (hoje: piscinões), vem nas últimas duas

décadas recebendo em muitos países do mundo a complementação por

medidas como captação direta dos telhados, retenção temporária,

aproveitamento e reinjeção no subsolo da chuva.

A idéia é de captar água de chuva antes que chegue ao solo, onde

normalmente se contamina e fica imprópria para uso. As águas pluviais assim

captadas servem, após o tratamento adequado, para muitos usos não potáveis.

A crise de abastecimento de água nos núcleos urbanos gera a necessidades

de serem buscadas alternativas capazes de reverter o atual estado de uso

irracional da água. Entre essas alternativas estão as ―alternativas de

gerenciamento da demanda‖ as quais englobam ações, medidas, práticas ou

incentivo que contribuam para o uso eficiente da água para a sociedade, sem

prejudicar os atributos de higiene e conforto dos sistemas originais.

O gerenciamento da demanda representa uma nova abordagem a tradicional

prática da expansão contínua da oferta que busca o atendimento às demandas

apenas através da construção de açudes, poços, barragens e transposição de

vazões, práticas que em muitas regiões têm se mostrado não sustentáveis nos

aspectos financeiros, sócio – econômico e ambiental (Silva et al 1999).

A captação da água de chuva se enquadra nas ações de gerenciamento da

demanda, juntamente com o reuso da água residencial e industrial, controle de

vazamentos na rede publica etc.

34

Atualmente, segundo Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre), o manejo

e aproveitamento da água para uso doméstico, industrial e agrícola estão

ganhando terreno em várias partes do mundo, sendo visto por especialistas

como um meio simples e eficaz para se atenuar o grave problema ambiental da

crescente escassez de água para consumo.

A captação de água de chuva baseia-se na coleta da precipitação em áreas de

intercepção (solo, telhados, rodovias), e seu encaminhamento para áreas

menores para uso imediato ou armazenamento em reservatórios ou solo. A

quantidade de água coletada depende da área efetiva de coleta, do volume do

reservatório e da quantidade e distribuição temporal de chuva. A captação de

água de cheia tem como princípio o desvio de vazões de cheia para áreas de

cultivo agrícola. Em geral, são utilizadas barragens de terra, canais naturais ou

artificiais e estruturas de desvio. Adicionalmente à função de aumentar a

disponibilidade de água para irrigação, esta técnica permite reduzir a erosão e

promover a recarga de água subterrânea, a qual pode também ser promovida

utilizando-se efluentes de sistemas de tratamento de esgotos. A recarga

artificial de aqüíferos, à qual geralmente está associada a construção de

barragens subterrâneas, ainda tem o objetivo de controlar a degradação

ambiental devido ao excessivo aproveitamento de águas subterrâneas, além de

freqüentemente diminuir a salinidade dos aqüíferos.

A captação da água da chuva é uma prática muito difundida em países como

Austrália e Alemanha, aonde novos sistemas vêm sendo desenvolvidos,

permitindo a captação de água de boa qualidade de maneira simples e

bastante eficiente em termos de custo-benefício. A utilização de água de chuva

traz várias vantagens (Aquastock, 2005):

• Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da

mesma;

• Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por

exemplo, na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de

pisos, etc;

35

• Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a

captação de água pluvial na grande maioria dos telhados, e o retorno do

investimento ocorre a partir de dois anos e meio;

• Faz sentido ecológica e financeiramente não desperdiçar um recurso natural

escasso em toda a cidade, e disponível em abundância todos os telhados;

• Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser

drenada para galerias e rios;

• Encoraja a conservação de água, a auto-suficiência e uma postura ativa

perante os problemas ambientais da cidade.

Reusar a água ou usar a água reciclada traz benefícios porque reduz a

demanda nas águas de superfície e subterrâneas disponíveis (Strauss, 1991

apud Mieli, 2001). O uso da água de maneira mais eficiente protege o meio

ambiente, economiza energia, reduz os investimentos em infra-estrutura,

ocasionando melhoria dos processos industriais. O uso eficiente da água

representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade

de um modo geral.

Segundo Hespanhol (2000) apud Mieli (2001), um dos pilares do uso eficiente

da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios - no caso do

Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um

sistema de abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal

tratar água para irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou

outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo

reuso ou por água reciclada.

Quando se deseja reaproveitar a água da chuva, para qualquer fim específico,

é importante saber que sua aceitabilidade depende diretamente de suas

qualidades físicas, químicas e micro bióticas, podendo estas serem afetadas

pela qualidade da fonte geradora, da forma de tratamento adotada, da

36

confiabilidade no processo de tratamento e da operação dos sistemas de

distribuição (Crook, 1993).

Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de

usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção da

saúde pública (Ramos, 2005). Estes critérios diferem bastante quando se

comparam países industrializados com países em desenvolvimento, diferença

que pode ser parcialmente atribuída a fatores como viabilidade econômica,

tecnologia disponível, nível geral da saúde das populações e características

políticas e sociais.

2.8 SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas são

necessários alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros

e de fácil manutenção. Abaixo se encontram os passos a serem seguidos na

montagem do sistema de reaproveitamento da água (Aquastock, 2008):

1º Passo: Dimensionamento do Sistema

O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o

dimensionamento do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e

objetivos do usuário, da área de captação e das características da construção.

A definição do tamanho e localização do reservatório é particularmente

importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua especificação

correta pode representar uma importante economia. É necessária a coleta de

informações por meio de entrevista com o cliente e levantamentos no local.

2º Passo: Modelo do Sistema

O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser

feito de várias formas diferentes, dependendo da empresa contratada. Eles

podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e

37

apresentam soluções mais completas de reciclagem de água de chuva, às

linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas d'água acima do

nível do solo.

3º Passo: Fornecimento de Componentes

Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e características

do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os

diversos componentes necessários. O principal componente a ser especificado

nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes de ir para o

reservatório.

4º Passo: Instalação do Sistema

A instalação fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal

especializado para realizar a instalação de todos os componentes hidráulicos e

também elétricos (no caso de utilização de bombas) dos sistemas.

Em busca de um desenvolvimento urbano mais sustentável e da preservação

dos recursos hídricos naturais, práticas descentralizadas de conservação de

água nas edificações podem contribuir para a redução do consumo de água

potável, através do uso de fontes alternativas de águas menos nobres para

reuso não-potável, como a irrigação, lavagem e limpezas externas ou em

descargas sanitárias. Apesar das tecnologias descentralizadas para o reuso de

água existir desde a década de 70, o reuso de água ainda é uma prática pouco

utilizada nos edifícios brasileiros. Porém, com a crescente preocupação com os

recursos hídricos, a aceitação destes sistemas começa a tomar forma e novas

tecnologias começam a surgir no mercado brasileiro.

Em geral, os sistemas de reuso de água realizam o tratamento de águas

menos nobres para seu reaproveitamento para fins não-potáveis, tais como

irrigação, lavagem e limpeza, e descarga sanitária. Vários estudos demonstram

que a aplicação de sistemas de reuso de água em edificações pode reduzir

efetivamente o consumo de água potável.

38

Existem diversos aspectos comuns na composição dos sistemas de reuso de

água. Fontes alternativas de água, como por exemplo, águas pluviais, águas

cinza ou águas residuárias, são coletadas por uma rede coletora de tubulações

usada no seu transporte para tratamento e retenção. O nível de tratamento da

água para reuso - seja ele biológico, químico, ou físico - varia de acordo com a

qualidade inicial da água e sua qualidade final desejada. Depois de tratada, a

água de reuso pode ser armazenada em um reservatório de retenção, cujo

dimensionamento é em função do seu tempo de armazenamento e da sua

oferta e demanda. Uma bomba de recalque transporta esta água armazenada

para um reservatório de distribuição conectado à rede de água potável da

concessionária, caso haja a necessidade de uma alimentação de água potável

e, sem que haja conexões cruzadas com a rede de água potável, uma rede

distribuidora transporta água de reuso para pontos de usos não-potáveis.

Existe uma carência de normas e diretrizes no Brasil na definição dos

parâmetros para instalações hidráulicas de sistemas de reuso. Porém,

experiências internacionais apontam a necessidade de diferenciar as

tubulações de água não-potável das tubulações de água potável por cor ou

ilustrações, e fornecer um aviso visual da água imprópria para consumo nos

pontos de consumo não-potáveis.

O aproveitamento de água pluvial (AAP) é um conceito simples, no qual, em

vez de escoar, as águas pluviais são coletadas por uma superfície, filtradas e

armazenadas para reuso. Apesar de potável, a água da chuva torna-se

imprópria para consumo ao entrar em contato com uma superfície de coleta.

Impurezas como terra, poeira, galhos, folhas e excremento de aves são

comuns em coberturas, portanto, o tratamento da água de chuva torna-se

necessário. Também é possível coletar águas pluviais escoadas de pisos, mas

neste caso um maior nível de tratamento é necessário, devido ao alto grau de

impurezas encontradas no solo (óleos, graxa, fezes de animais, entre outros).

(www.nteditorial.com.br/revista)

Atualmente o interesse pelo aproveitamento da água de chuva é crescente.

Segundo Gouvello et al. (2004), na França entre os anos de 2000 e 2003

39

houve um aumento em torno de 450% na elaboração de projetos e execução

de sistemas de aproveitamento de água de chuva. Esse fenômeno tem

contribuído para a realização de estudos mais criteriosos que estão ajudando a

definir regulamentações e aspectos técnicos mais precisos sobre os sistemas

prediais de aproveitamento de água de chuva.

O aproveitamento de água de chuva no contexto dos sistemas hidráulicos

prediais requer a introdução de uma série de elementos a esses sistemas

possibilitando assim, a captação, o transporte, o tratamento, o armazenamento

e o aproveitamento da água de chuva precipitada sobre as superfícies

permeáveis de uma edificação.

Segundo Fewkes (1999), os sistemas de aproveitamento de água de chuva

podem ser implantados nos sistemas hidráulicos prediais por meio de soluções

tecnicamente simples que visam reduzir significativamente o consumo de água

potável. Para regiões com períodos chuvosos freqüentes e bem distribuídos

durante todo o ano, esse sistema é amplamente viável. Em regiões com

períodos prolongados de estiagem a adoção desse sistema requer a

implantação de unidades de reservação com dimensões maiores, o que torna o

sistema mais oneroso. Nesse caso, é aconselhada a adoção de um sistema

integrado de aproveitamento de água de chuva e de reuso de efluentes

domésticos, de forma a tornar o sistema funcional durante todo o ano,

ampliando assim, seu potencial de sustentabilidade.

Assim como no sistema de reúso de água, o sistema de aproveitamento de

água de chuva não deve ser misturado ao sistema de água potável a fim de

evitar a contaminação. O monitoramento e controle de qualidade da água de

chuva destinada ao aproveitamento, também, deve ser contínuo, pois nem

sempre a água de chuva possui qualidade apropriada que garanta segurança

de manuseio ao usuário.

Por outro lado, cabe ressaltar que os benefícios proporcionados pelos sistemas

de aproveitamento de água de chuva não se restringem apenas na

conservação da água, mas também, no controle do excesso de escoamento

40

superficial e de cheias urbanas. Nesse caso, os reservatórios de

armazenamento de água de chuva, também, funcionam como tanques de

detenção impedindo que parte do volume do escoamento superficial seja

descarregado diretamente no sistema de drenagem urbana.

Figura 8 – Esquema de utilização de água pluvial

Fonte: site www.belacalha.com.br

2.8.1 Elementos do sistema de aproveitamento pluvial

Sistema de captação: é definido pelas áreas impermeáveis que contribuem

com a interceptação da água de chuva que será conduzida para um

reservatório de armazenamento. Estas áreas são constituídas geralmente

pelos telhados e lajes de cobertura por serem, teoricamente, superfícies mais

limpas. A água proveniente do escoamento superficial de pisos impermeáveis

no nível térreo, na maioria dos casos não é conduzida para o sistema de

aproveitamento, pois são consideradas águas que transportam maior volume

41

de sólidos e carga poluidora e, desta forma, podem contaminar e assorear o

sistema de aproveitamento de água de chuva.

Sistema de transporte: é constituído por calhas e condutores verticais e

horizontais, responsáveis pela condução do fluxo da água de chuva para os

sistemas reservação, tratamento e distribuição.

Sistema de descarte: tem como objetivo descartar automaticamente o volume

de água coletado nos primeiros minutos de chuva, volume este, que escoa

sobre as superfícies de captação e que geralmente carreia grande

concentração de carga poluidora. Apresenta um by pass introduzido nos

condutores, instalado após a saída das calhas e a montante do reservatório de

armazenamento. Esse sistema ajuda a garantir a qualidade da água que será

armazenada e aproveitada posteriormente. Existem diversas soluções de

sistemas de descarte, entre elas citam-se os reservatórios de autolimpeza, este

sistema retém o volume inicial da precipitação em um reservatório de descarte

que é posteriormente limpo pelo processo manual. Existem válvulas de

descarte automático, entretanto este sistema ainda não se encontra disponível

no mercado nacional. Ele consiste na utilização de uma válvula que descarta

automaticamente o volume de água coletado nos primeiros minutos de uma

chuva. Após certo período ela se fecha e o fluxo de água de chuva passa a ser

direcionado para o reservatório de armazenamento.

Sistema de gradeamento: é composto por elementos utilizados para reter

materiais sólidos em suspensão, tais como: folhas, gravetos, penas, papéis etc.

que entram no sistema de aproveitamento juntamente com a água de chuva

coletada. Esse sistema geralmente é introduzido anteriormente ao reservatório

de armazenamento de água de chuva, de modo a evitar que haja

sedimentação e acúmulo de impurezas dentro do mesmo. Atualmente, existem

disponíveis no mercado vários modelos industrializados de ―filtros‖ que

cumprem a função de gradeamento. Por outro lado, a construção in loco de

uma caixa de gradeamento com telas removíveis, proporciona resultados

similares.

42

Sistema de reservação: tem a função de armazenar a água captada que será

utilizada posteriormente para fins não potáveis. É recomendada a adoção de

reservatórios de fibra de vidro, plástico, poliéster, polipropileno ou de material

similar, pois sofrem menos agressão da decomposição de matéria orgânica e

da variação dos índices físicos de qualidade das águas. Neste reservatório

deverá ser instalado um extravasor que possibilitará a condução do excesso de

água de chuva para o sistema de drenagem pluvial, quando o reservatório de

armazenamento estiver operando totalmente cheio. Visando uma maior

sustentabilidade do sistema, pode-se interligar o extravasor do reservatório de

armazenamento de água de chuva a um sistema predial de drenagem na fonte,

que promoverá a infiltração do excedente de água de chuva no solo.

Sistema de tratamento e desinfecção: visando obter uma água com a

qualidade desejada para o uso, recomenda-se a instalação de um sistema de

tratamento e desinfecção da água de chuva armazenada. Segundo May

(2004), além do sistema de tratamento e desinfecção proporcionar a

disponibilidade de água com padrões de qualidade adequados a um sistema

seguro à saúde pública, a definição do tipo de tratamento necessário ao

sistema de aproveitamento de água de chuva é um fator de extrema

importância para a verificação da viabilidade econômica de implantação desse

sistema. Apesar da qualidade da água de chuva ser distinta de região para

região, a utilização de filtros de múltiplas camadas ou filtro de areia são

soluções adequadas para o tratamento com eficiência da maioria dos sistemas

prediais de aproveitamento de água de chuva. Segundo Macedo (2000), esse

tipo de filtração além de reduzir o grau de contaminação microbiana, também

melhora as características físicas da água, removendo a turbidez e partículas

em suspensão. Como complementação do tratamento procede-se a

desinfecção da água de chuva, que pode ser realizada por meio da cloração,

radiação ultravioleta, ionização, entre outros.

Sistema de recalque: esse sistema é constituído por um conjunto de motores

e bombas que são utilizados para transportar a água do reservatório de

armazenamento de água de chuva, quando situado abaixo do nível de

utilização, para um reservatório elevado que distribuirá a água por gravidade

43

para os pontos de uso de água não potável. Em alguns casos, dependendo da

concepção arquitetônica, o reservatório de armazenamento de água de chuva

situa-se logo abaixo do telhado, não sendo necessária a instalação de um

sistema de recalque.

Sistema de distribuição: constituído por um conjunto de ramais que

distribuem a água de chuva tratada para os pontos de utilização. Por se tratar

de um sistema de distribuição de água não potável recomenda-se a

identificação e a restrição de acesso a todos os pontos de utilização de água

deste sistema.

Sistema de sinalização e informação: A sinalização do sistema de

aproveitamento de água de chuva é de extrema importância para que não haja

utilização inadequada do sistema e nem contaminação do sistema público de

distribuição de água. É constituído de avisos de alerta em todas as unidades do

sistema (tubulações, reservatórios, unidades de tratamento, pontos de

utilização etc.).

2.9 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL X SUSTENTABILIDADE

A habitação é um bem inatingível para grande parcela dos brasileiros. Aqueles

que conseguem adquirir essa ―mercadoria impossível‖ o fazem, na maioria das

vezes, em condições de grande precariedade (CARDOSO; RIBEIRO, 2003).

A Fundação João Pinheiro (1995) apresenta o conceito de necessidades

habitacionais em que é considerado: a) déficit – reposição de unidades

precárias mais o atendimento à demanda não solvível nas condições de

mercado; b) demanda demográfica – necessidade de construção de novas

unidades para atender ao crescimento demográfico; e c) inadequação –

melhoria de unidades habitacionais com certo tipo de carência. Esse estudo

indicou, para 1995, um déficit de 5,6 milhões de moradias e de 13 milhões de

moradias que precisam receber melhorias.

44

O Estado, na busca de rentabilidade do Sistema Financeiro de Habitação, foi

privilegiando os segmentos solventes da população e abandonando

gradativamente a prioridade à habitação de interesse social. Como

conseqüência, no início da década de 80, o movimento dos sem-teto saiu às

ruas exigindo soluções imediatas.

Em resposta aos movimentos pela moradia, o Estado implementou programas

habitacionais voltados às camadas menos favorecidas do estrato social,

priorizando o aspecto quantitativo na busca de fazer mais em menor tempo.

Disso decorreu oferta de unidades mínimas em locais inadequados e, na

maioria das vezes, não adaptadas às necessidades dos usuários.

Abiko (1996) menciona os fatores que dificultam o acesso das famílias de baixa

renda à habitação: crises econômicas, ausência de políticas públicas para o

setor, indisponibilidade física e financeira de terrenos adequados e custos, e a

qualidade dos materiais de construção. Esses fatores contribuem para o

aumento do número de favelas, cortiços e casas precárias verificado nas

grandes cidades brasileiras.

Alguns desafios devem ser superados para que se consiga enfrentar tais

dificuldades, entre eles facilitar o acesso à terra urbana legalizada, ampliar as

fontes de financiamento, capacitar os agentes dos setores público e privado,

modernizar a legislação urbanística e simplificar procedimentos técnicos e

operacionais.

O Programa Habitação de Interesse Social, por meio da Ação Apoio do Poder

Público para Construção Habitacional para Famílias de Baixa Renda, objetiva

viabilizar o acesso à moradia adequada aos segmentos populacionais de renda

familiar mensal de até 3 salários mínimos em localidades urbanas e rurais.

O déficit habitacional brasileiro é de cerca de 7 milhões de domicílios, sendo as

grandes cidades as mais impactadas por este número expressivo,

especialmente as regiões metropolitanas.

45

Estudos da Fundação João Pinheiro (2007), definem diferentes tipologias de

necessidades habitacionais no Brasil. O déficit habitacional é quantitativo, mas

também é qualitativo e tem como componentes principais domicílios com

precariedades físicas. Entre os problemas do déficit estão domicílios rústicos,

famílias em coabitação e com ônus excessivo de aluguel, habitação sem um

dos cinco elementos básicos da infra-estrutura – água, esgotos, coleta de lixo,

energia, drenagem - que tenham número de moradores superior a 3 pessoas

por dormitório, ou mesmo habitações que não tem banheiro com unidade

sanitária.

Essa realidade revela a urgência de encontrar medidas eficazes para reverter o

grau da precariedade social e ambiental, que sujeitam milhões de pessoas,

uma vez que são mais de 11 milhões de moradias que apresentam deficiência

nos serviços de infra-estrutura. A parcela mais substancial dessas moradias

está entre a população de baixa renda, que geralmente estão localizadas em

grandes aglomerações urbanas, especialmente nas Regiões Metropolitanas.

Esses déficits expõe a necessidade de medidas emergenciais e eficazes para

construção de habitação, especialmente para a população mais pobre, vivendo

com menos de 3 salários mínimos.

Propõe-se que ao construir habitações com baixo custo e com técnicas

construtivas sustentáveis é possível garantir a satisfação dos moradores e

melhorar a qualidade de vida social e ambiental. Porém os modelos de

construções dos empreendimentos habitacionais no Brasil, em geral, não vêm

utilizando nenhum critério sócio ambiental, onde a valorização social e

ambiental estejam integradas nos projetos.

Visto que a maior carência de moradias encontra-se nos centros urbanos, a

construção de habitações populares constitui solução indispensável. Contudo,

essas habitações são muitas vezes realizadas de maneira negligente, tanto em

relação à qualidade devida que traz ao morador, quanto com o meio ambiente.

46

Com o rápido crescimento da sociedade e com as alterações ambientais que

ocorrem no mundo todo, fica claro que se precisa investir cada vez mais no

desenvolvimento sustentável.

2.10 PROGRAMA ―MINHA CASA MINHA VIDA‖

O governo federal lançou no dia 25 de março de 2009 o Programa Minha

Casa Minha Vida que prevê o aporte de 34 bilhões de reais visando à

construção de 1 milhão de moradias, com a perspectiva de reduzir em 14% o

déficit habitacional brasileiro. Deste total, 400 mil moradias destinam-se às

famílias com renda de até 3 salários mínimos, faixa em que estão concentrados

90,9% do déficit habitacional; 200 mil moradias destinam-se àquelas que

ganham de 3 a 4 salários; 100 mil, às que ganham de 4 a 5; 100 mil para as

que recebem de 5 a 6; e 200 mil, às de 6 a 10 salários. Para as famílias com

renda de até 3 salários mínimos, o governo deverá subsidiar integralmente a

casa própria e aportar 16 bilhões para a construção de 400 mil casas. Quinze

bilhões deverão ser acessados diretamente pelas construtoras e empreiteiras

junto à Caixa Econômica Federal; e 1 bilhão, por associações e cooperativas,

para construção em áreas urbanas e rurais. Entre subsídios para a aquisição

da casa própria, financiamento da infra-estrutura e da cadeia produtiva, 34

bilhões de reais deverão ser movimentados na economia.

O programa é uma das principais ações empreendidas pelo governo brasileiro

tendo como objetivo o enfrentamento da crise financeira mundial e a retomada

do crescimento econômico do país. Nesta perspectiva, o programa dá

continuidade à estratégia do governo federal, iniciada com o Programa de

Aceleração de Crescimento (PAC), de o Estado assumir seu papel como

promotor do desenvolvimento. Especialmente, como promotor do

desenvolvimento urbano compreendido como elemento central para o

desenvolvimento econômico e social do país.

47

3 ESTUDO DE CASO

3.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O objeto de estudo do presente trabalho é um condomínio de Habitações de

Interesse Social destinado ao Programa ―Minha Casa Minha Vida‖ do Governo

Federal, para a população de renda até 3(três) salários mínimos, localizado na

cidade de Feira de Santana-BA.

Este condomínio é constituído de 200 lotes de 170m² e com área construída

composto por:

Compartimentos: sala, cozinha, banheiro, 2 dormitórios e área externa

com tanque.

Área da unidade: 45,54 m2.

Área interna: 40,81 m2.

Piso: cerâmico na cozinha e banheiro, cimentado no restante.

Revestimento de alvenarias: azulejo 1,50m nas paredes hidráulicas e

box.

Reboco interno e externo com pintura PVA no restante.

Forro: laje de concreto na cozinha e forro de PVC no restante.

Cobertura: telha cerâmica.

Esquadrias: janelas de alumínio e portas de madeira.

Pé-direito: 2,30m no banheiro e 2,60m no restante.

Passeio: 0,50m no perímetro da construção.

3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS DA REGIÃO

48

Os dados pluviométricos utilizados neste trabalho foram fornecidos pela

Estação Climatológica, nº 83221, da Universidade Estadual de Feira de

Santana-BA.

Para captação de água de chuva por cobertura o período de retorno é de 5

anos, segundo a NBR 10844/1989.

Os dados de precipitação coletados são mensais e referentes aos últimos

5(cinco) anos(2005 a 2009), como demonstrado na tabela 2.

Tabela 2 – Dados Pluviométricos de Feira de Santana (2005 – 2009)

2005 2006 2007 2008 2009

Janeiro 53,9 1,9 5,1 36,8 1,3

Fevereiro 127,5 1,3 267,2 119,3 152,7

Março 50,2 18,6 60,2 30,6 67,3

Abril 49,7 81,5 38,8 57,9 68,7

Maio 76,0 79,3 121 164,0 38,6

Junho 131,2 192,8 92,5 65,0 98,4

Julho 78,9 47,2 59,6 50,6 84,3

Agosto 52,1 42,7 38,2 39,8 56,5

Setembro 7,2 118,0 33,2 6,8 24,8

Outubro 1,6 64,5 15,3 27,5 31,2

Novembro 141,9 74,4 7,0 84,1 84,1

Dezembro 16,3 37,9 19,4 82,8 85,2

Total (mm) 786,5 760,1 757,5 765,2 796,5

Média

Mensal(mm) 65,54 63,34 63,13 63,77 66,38

Fonte: Estação Climatológica UEFS 2010

Conforme tabela:

A média anual pluviométrica dos últimos 5(cinco) anos é de 773,20mm.

A media mensal pluviométrica dos últimos 5(cinco) anos é de 64,4mm

49

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE COBERTURA

O levantamento das áreas de cobertura (áreas de captação) será feita em

apenas uma das edificações (casas) do Condomínio, para que se possa

estimar o volume do reservatório de água de chuva.

O cálculo destas áreas foi feito baseado nas áreas de telhado formados por

2(duas) águas e inclinação de 25º, verificadas na planta de cobertura da

edificação (ver anexo).

Esse cálculo da área de contribuição foi realizado através da NBR 10844/89,

conforme a equação:

Figura 9 – Indicações para cálculos da área de contribuição

Fonte: NBR 1088/89

Onde:

A = Área de contribuição, em m²

a = Largura, em m

h = Altura da tesoura, em m

b = Comprimento, em m

50

Como a edificação possui duas áreas de contribuição diferentes, a primeira

área calculada será:

E a segunda área calculada será:

Logo, a área total de contribuição será:

4.2 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA

Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNS),

Ministério das Cidades, o consumo médio de água na Bahia é de 111,53 litros

por habitante por dia (L/Hab/Dia).

Considerando que na habitação em estudo reside 4(quatro) pessoas, o

consumo diário será de 446,12L/Hab/dia. Isso significa que o consumo mensal

será de 13.383,60L ou aproximadamente 13,38m³.

Para uma residência ser beneficiada com o plano de tarifa social da EMBASA o

seu consumo mensal não deverá ultrapassar 10m³. Então podemos concluir

que essa habitação não poderá participar da tarifa social.

51

Para diminuir o consumo de água potável o presente estudo considera que a

água de chuva seria utilizada para descarga de bacia sanitária, para irrigação

de jardim, para lavagem de carro e limpeza em geral. Na tabela 4 são

apresentados os consumos estimados desses pontos de utilização de água

não potável para a residência em estudo, a partir de estimativas de valores

apresentados por Tomaz (2000) conforme a tabela 3.

Para a determinação do consumo de água não potável, foram feitas as

seguintes considerações:

- Cada habitante da casa utiliza a bacia sanitária 3 vezes ao dia;

- O volume de água utilizado em cada descarga sanitária é de 6 litros (caixa

acoplada);

- Foi utilizada uma freqüência de irrigação do jardim de 8 vezes ao mês com

jardim de 5m²;

- Foram contabilizados 4 dias por mês para utilização de água para limpeza de

uma área de 40,81m²;

- A freqüência de lavagem de carros de 2 vezes ao mês.

Tabela 3 – Parâmetros de demanda residencial para estimativa de consumo de

água.

Demanda Interna Unidade Faixa

Vaso Sanitário – Volume L/descarga 6 a 15

Vaso Sanitário – Freqüência Descarga/hab./dia 3 a 6

Demanda Externa Unidade Faixa

Gramado ou Jardim – Volume L/dia/m² 2

Gramado ou Jardim – Freqüência Irrigações/mês 8 a 12

Lavagem de Carro – Volume L/lavagem/carro 80 a 150

Lavagem de Carro - Freqüência Lavagens/mês 1 a 4

Lavagem de Piso – Volume L/dia/m² 3

Lavagem de Piso – Freqüência Lavagens/mês *

Fonte: adaptado Tomaz (2000)

52

Tabela 4 – Consumo de água estimado para a residência em estudo

Uso Interno Consumo (litro/mês)

Descarga na bacia 2.160

Uso Externo Consumo (litro/mês)

Gramado ou jardim 80

Lavagem de carro 200

Limpeza de pisos 489,72

Total de uso interno e externo 2.929,72

Após a quantificação do consumo de água a ser suprido pela água de chuva,

para os fins não potáveis especificados nesse trabalho, foi encontrado um valor

de consumo de 2.929,72L/mês, ou seja, aproximadamente 2,93m³/mês.

4.3 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PARA APROVEITAMENTO

DE ÁGUA PLUVIAL

Para o dimensionamento do volume do reservatório, fez-se necessário

conhecer a precipitação pluviométrica media mensal da região de Feira de

Santana-BA, a área de contribuição dos telhados da edificação em estudo e o

coeficiente de escoamento superficial, que é o quociente entre a água que

escoa pela superfície de captação pelo total de água precipitada. Esse

coeficiente varia com a inclinação e com o material da superfície de captação.

Pacey et aI. (1996 apud TOMAZ, 2003) adotam, como uma boa estimativa, C

igual a 0,80, que significa uma perda de 20% de toda a água precipitada.

Na Tabela 5 observam-se valores de C adotados por diferentes autores, para

diferentes materiais.

53

Tabela 5 - Valores de C de diferentes autores

MATERIAL COEFICIENTE DE

ESCOAMENTO AUTORES

Telha cerâmica

0,80 a 0,90 Hofkes (1981) e Frasier (1975)

aput May (2004)

0,75 a 0,90 Van den Bossche (1997) apud

Vaes e Berlamont (1999)

Telha esmaltada 0,90 a 0,95 Van den Bossche (1997) apud

Vaes e Berlamont (1999)

Telha metálica 0,70 a 0,90

Hofkes (1981) e Frasier (1975)

aput May (2004)

0,85 Khan (2001)

Plástico 0,94 Khan (2001)

Betume 0,80 a 0,95 Van den Bossche (1997) apud

Vaes e Berlamont (1999)

Telhados verdes 0,27 Khan (2001)

Pavimentos 0,40 a 0,90

Wilken (1978) aput Tomaz

(2003)

0,68 Khan (2001)

Assim, a quantidade de água de escoamento que pode ser coletada na área do

telhado da edificação foi calculada observando a fórmula baseada no Método

Racional:

Onde:

V – é o volume mensal de água de chuva aproveitável

C – é o coeficiente de escoamento superficial da cobertura = 0,80

I – é a precipitação = 64,4 mm/mês = 0,0644 m/mês

A – é a área de coleta = 64,44 m²

54

Logo,

V = 0,80 x 0,0644 x 64,44

V = 3,32 m³/mês

Portanto a quantidade de água de chuva coletada seria 3,32 m³/mês, o

equivale a 3.320 litros de água por mês, em média.

Conseqüentemente, a edificação terá que possuir uma reservação para águas

pluviais de 4.000L.

4.4 DIMENSIONAMENTO DE CALHAS, CONDUTORES VERTICAIS E

CONDUTORES HORIZONTAIS

4.4.1 Calhas

São dispositivos que captam as águas diretamente dos telhados impedindo que

estas caiam livremente, evitando a ocorrência de danos nas áreas

circunvizinhas, principalmente quando a edificação é bastante alta.

No caso em estudo, essas calhas serão de PVC, e terão a utilidade de

captação das águas de chuva para armazenamento da mesma.

Para o cálculo de vazão, é necessário conhecer o coeficiente de rugosidade,

na Tabela 6 mostra o coeficiente de rugosidade para a fórmula de Manning-

Strickler.

55

Tabela 6 – Coeficiente de rugosidade

Material n

Plástico, fibrocimento, aço, metais não-ferrosos 0,011

Ferro fundido, concreto alisado, alvenaria revestida 0,012

Cerâmica, concreto não alisado 0,013

Alvenaria de tijolos não-revestida 0,015

Fonte: NBR 10844/1989

Segundo a NBR 10844/89, a vazão de projeto (Q, L/min.) para o pré-

dimensionamento de calhas e condutores calcula-se pela equação:

Onde:

Q = vazão de projeto, em L/min

I = intensidade pluviométrica, em mm/h

A = área de contribuição, em m²

Para construção até 100m² de área de projeção horizontal, salvo casos

especiais, pode-se adotar I = 150mm/h (NBR 1044/89).

Como a cobertura da edificação em estudo possui duas áreas de contribuição

utilizaremos a de maior área para o cálculo da vazão de projeto, .

Assim,

ou

A tabela 7 fornece as capacidades de calhas semicirculares, usando

coeficiente de rugosidade n = 0,011, para alguns valores de declividades

usuais. Os valores foram calculados utilizando a equação de Manning-Strickler,

56

com lâmina de água igual à metade do diâmetro. Observa-se que devem ser

adotadas aquelas seções com capacidade de escoamento igual ou superior à

vazão de projeto.

Tabela 7 – Capacidade de calhas semicirculares

D (mm) Declividades (%)

0,5 1,0 2,0

100 130 183 256

125 236 333 466

150 384 541 757

200 829 1167 1634

Portanto, as calhas terão um diâmetro de 100mm, com declividade de 0,5%.

4.4.2 Condutores Verticais

São tubos verticais que conduzem a água das calhas aos condutores

horizontais.

Segundo a NBR 10844/1989, o diâmetro interno dos condutores verticais de

seção circular deve ser maior ou igual a 70mm.

Para o dimensionamento dos condutores foi utilizado ábacos específicos

apresentados na NBR 10844/1989. Os dados de entradas nestes ábacos são:

Q = 84L/min (Vazão de projeto)

H = 100mm (Altura da lâmina de água na calha)

L = 2,70m (Comprimento do condutor vertical)

57

Figura 10 – Ábaco para determinação de diâmetros de condutores verticais:

Fonte: NBR 10844/1989

Analisando pelo ábaco o diâmetro dos condutores horizontais seriam menores

que 70mm, porém a NBR 10844/89 determina que estes sejam maiores ou

iguais a 70mm.

Portanto, serão utilizados condutores verticais de PVC, no diâmetro de 75mm

devido a dimensões comerciais.

4.4.3 Condutores Horizontais

É o canal ou tubulação horizontal destinado a recolher e conduzir as águas

pluviais até locais permitidos pelos dispositivos legais (NBR-10844/89). Sendo

assim, é a tubulação que conduzirá a água pluvial do condutor vertical para o

dispositivo de auto-limpeza e posteriormente ao reservatório inferior.

58

Segundo a NBR 10844/89, os condutores horizontais devem ser projetados,

sempre que possível, com declividade uniforme, com valor mínimo de 0,5%.

O dimensionamento dos condutores horizontais de seção circular deve ser feito

para escoamento com lâmina de altura igual a 2/3 do diâmetro interno (D) do

tubo. As vazões para tubos de vários materiais e inclinações usuais estão

indicados na Tabela 8. Observa-se que devem ser adotadas aquelas seções

em que o escoamento é igual ou superior a vazão de projeto.

Tabela 8: Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões em

L/min)

Diâmetro

interno

(mm)

n = 0,011 n = 0,012 n = 0,013

0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4%

50 32 45 64 90 29 41 59 83 27 38 54 76

75 95 133 188 267 87 122 172 243 80 113 159 226

100 204 287 405 575 187 264 372 527 172 243 343 486

125 370 521 735 1.040 339 478 674 956 313 441 622 882

150 602 847 1.198 1.890 358 777 1.100 1.330 509 717 1.010 1.430

200 1.300 1.820 2.670 6.650 1.190 1.870 2.360 3.350 1.100 1.540 2.180 6.040

250 2.350 3.310 4.580 6.620 2.150 3.030 4.280 6.070 1.990 2.800 3.950 5.600

300 3.820 5.380 7.590 10.800 8.500 4.930 6.690 9.870 3.230 4.550 6.420 9.110

Fonte: NBR 10844/1989

Portanto, serão utilizados condutores horizontais de PVC, com diâmetro de

75mm e declividade de 0,5%.

59

5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

5.1 CONCLUSÃO

Através deste estudo de caso, realizado numa tipologia de residência do

Programa do Governo Federal – ―Minha Casa Minha Vida‖, localizada no

município de Feira de Santana-BA, foi possível estimar o consumo de água não

potável obtendo um consumo de 2,93m³/mês. A captação da água de chuva

para a implantação do sistema de aproveitamento de águas pluviais foi

realizada apenas pela cobertura (telhado), e com dados pluviométricos da

região, assim os cálculos resultaram um volume aproveitável de 3,32m³/mês.

A partir desses dados foi possível concluir que o aproveitamento de águas

pluviais, obteve resultados satisfatórios, pois a demanda para utilização de

água não potável foi maior que a captação de água pluvial por este sistema

utilizado em estudo.

Como o consumo médio de água estimado na residência é de 13.38m³/mês, a

utilização deste sistema AAP servirá para redução das contas de água

fornecida pela concessionária (EMBASA), pois a utilização da água potável

para fins menos nobres nos pontos mostrados em estudo é de 2,93m³/mês, o

que significa uma redução de aproximadamente 22% no gasto com água

potável.

Além disso, a EMBASA possui uma campanha de tarifa social, que é um valor

fixo, pago pelas residências que consumirem até 10m³/mês de água. Porém a

habitação em estudo teria que reduzir cerca de 26% do seu consumo de água

mensal. Mas com a utilização do sistema de AAP que reduz esse consumo em

22%, basta fazer uma economia de 4% da água potável utilizada no mês.

Assim a população de baixa renda residente neste tipo de habitação poderá ser

60

beneficiada com a tarifa social e reduzir ainda mais o valor mensal pago nas

suas faturas.

Apesar da contribuição financeira que a implantação do sistema AAP

proporciona, a sua utilização também é de grande valia ambiental, pois pode

preservar a água combatendo o desperdício e ajudando a controlar as

inundações ao evitar que essas águas sejam liberadas para o sistema de

drenagem.

Desse modo a viabilidade de implantação do sistema de aproveitamento de

água de chuva nesse tipo de habitação localizado no município de Feira de

Santana-Ba, pode proporcionar uma utilidade nos requisitos financeiros e

ambientais.

O presente trabalho não avaliou os custos da implantação do sistema AAP nem

como o transporte dessas águas ao novo uso, pois o trabalho foi voltado para a

viabilidade da implantação desse sistema em habitações de interesse social na

região de Feira de Santana. Porém para facilitar estudos futuros foram

dimensionados: o volume do reservatório, e os diâmetros de calhas e

condutores (verticais e horizontais).

5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Após o final deste estudo, seguem algumas sugestões para trabalhos futuros:

Estudo da viabilidade econômica da implantação do sistema de

aproveitamento de água de chuva.

Análise da qualidade da água de chuva na cidade de Feira de Santana.

Estudo de projeto para transportes das águas de chuva aos pontos de

utilização.

61

REFERÊNCIAS

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10844 – Instalações

Prediais de Águas Pluviais. RJ, 1989.

ABIKO, A. K. Gestão habitacional e mutirão. In: ABIKO, A. ALBIERI, L. Mutirão

habitacional. São Paulo: Epusp, 1996.

AQUASTOCK. Água da Chuva. Sistema de Reaproveitamento da Água da

Chuva. Disponível em: <http://www.engeplasonline.com.br> Acesso em:

18/08/2009.

BORGHETTI, L.; ROSA FILHO, J. Reaproveitando a água da chuva. São

Paulo: Edgar Blucher, 2004.

BOTELHO, M. Águas de chuva: engenharia das águas pluviais nas

cidades. 2 ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1998.

CARDOSO, Adauto Lucio. A cidade e seu estatuto: uma avaliação urbanística

do Estatuto da Cidade. In: CARDOSO, A. L.; RIBEIRO, L. C. Q. (Org.).

Reforma urbana e gestão democrática: promessas e desafios do Estatuto da

Cidade. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

CHILTON, J. C. et ai. Case study of a rainwater recovery system in a

commercial building with large roof. Urban Water, v. 1, n. 4, p. 345-354, 1999.

CIOCCHI, Luiz. Para utilizar água de chuva em edificações. Téchne, Ed.

Pini, nº 72, p. 58-60, mar.2003.

CONSUMO sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers

International/ MMA/ IDEC, 2002. Disponível em:

62

<http://www.idec.org.br/esp_ma_manualconsumo.asp>. Acesso: 21/01/2010.

CROOK, James, apud SANTOS, Hilton Felício. Critérios de Qualidade da

Água para Reuso. Revista DAE 174, Dez 1993.

DERISIO, J. Introdução ao controle de poluição ambiental. 2 ed. São Paulo:

Signus, 2000.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estatística e Informações CEI.

―Déficit Habitacional no Brasil”, Demografia Belo Horizonte, 2007.

GARCEZ, L. N. Elementos de engenharia hidráulica e sanitária. 2. ed. São

Paulo: Edgard Blücher, 1974.

GARDNER, T.; COOMBES, P.; MARKS, R. Use of rainwater at a rang of scale

in Australian urban environments. Disponível em:

<http://www.eng.Newcastle.edu .au/—cegak/Coombes/RainwaterScaie.htm>.

Acesso em: l2 jun. 2010.

GHISI, E. Potential for potabie water savings by using rainwater in the

residential sector of Brazil. Building and Environment, 2005.

GNADLINGER, J. Coleta de água de chuva em áreas rurais. In: FÓRUM

MUNDIAL DA ÁGUA, 2., 2000, Holanda. Anais eletrônicos... Disponível em:

<http://irpaa.org.br/colheita/indexb.htm>. Acesso em: 24/05/2009.

JAQUES, Reginaldo Campolino. Qualidade da água de chuva no município

de Florianópolis e sua potencialidade para aproveitamento em

edificações. Dissertação de mestrado em Engenharia Ambiental. Curso de

Pós-Graduação em Engenharia Ambiental. Universidade Federal de Santa

Catarina. Florianópolis, 2005.

KITAMURA, Mariana. Aproveitamento de águas pluviais para uso não

potável na PUCPR. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Graduação

63

em Engenharia Ambiental. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba,

2004.

MAGOSSI, L. Poluição das águas. 3 ed. São Paulo: Moderna, 1991.

MACEDO, J. Águas & Águas. 2 ed. Minas Gerais: CRQ, 2004.

MACHADO, C. Reuso da água doce. Revista Eco 21, Ano XIV, Edição 86,

Janeiro 2004.

MACINTYRE, Archibald Josheph. Instalações Hidráulicas. 4ª ed. LCT, 2010.

MIELI, João Carlos de Almeida. Reuso da Água Domiciliar. Niterói, abr.2001.

REBOUÇAS, A. da C. Água no Brasil: abundância, desperdício e escassez.

Bahia Análise & Dados, v. 13, n. Especial, p. 341-345, 2003.

SANT’ANA, DANIEL. Reuso de Água. Artigo Publicado em nteditorial.

Disponível em: <http://www.nteditorial.com.br> Acesso em: 12/08/09.

SANTOS, Marilene de Oliveira Ramos Múrias.O impacto da cobrança pelo

uso da água no comportamento do usuário. Tese de Doutorado. Curso de

Pós- Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 2002.

SICKEPMANN, JACK. Sistemas de Aproveitamento de Águas pluviais.

Revista Téchnne, fevereiro de 2002. . Disponível em:

<http://www.revistatechnne.com.br> Acesso em: 14/04/09.

TERPSTRA, P. M. J. Sustainable water usage systems: model for the

sustainable utilization of domestic water in urban areas. Water Science

Technology, v. 39 n. 5, p. 65-72, 1999.

64

TOMAZ, P. Aproveitamento de água de chuva. São Paulo: Navegar Editora,

2003

THOMAS, T. Choosing rainwater tanks for the sertão. Disponível em:

<http://www.eng.warwick.ac.ukldtu/pubs/rwh.html>. Acesso em: 16/02/2010.

TSUTIYA, M. T. Abastecimento de água. 2. ed. São Paulo: Departamento de

Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de

São Paulo, 2005.

TUCCI, Carlos E. M;HESPANHOL, Ivanildo; NETTO, Oscar de M. Cordeiro.

Cenários da gestão da água no Brasil: uma contribuição para a “Visão

Mundialda Água”. Bahia Análise e Dados. Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p.

357-370, 2003.

65

ANEXOS