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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL YANA MARIELLE XAVIER FORTUNA GÊNERO E POLÍTICA NO BRASIL Análise da representação social a partir do tratamento de revistas semanais das candidatas à presidência em 2010 PONTA GROSSA 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

YANA MARIELLE XAVIER FORTUNA

GÊNERO E POLÍTICA NO BRASIL

Análise da representação social a partir do tratamento de revistas semanais das

candidatas à presidência em 2010

PONTA GROSSA

2011

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YANA MARIELLE XAVIER FORTUNA

GÊNERO E POLÍTICA NO BRASIL

Análise da representação social a partir do tratamento de revistas semanais das

candidatas à presidência em 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

para obtenção do título de Bacharel na

Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área

de Comunicação Social.

Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

PONTA GROSSA

2011

YANA MARIELLE XAVIER FORTUNA

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GÊNERO E POLÍTICA NO BRASIL

Análise da representação social a partir do tratamento de revistas semanais das candidatas à

presidência em 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel na

Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Comunicação Social.

Ponta Grossa, _____ de_________________de_______.

________________________________________

Professor Orientador Dr. Emerson Urizzi Cervi

Doutor em Ciência Política

Universidade Estadual de Ponta Grossa

_______________________________________

Convidado

_________________________________________

Professor (a) indicado pelo Departamento de Comunicação

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Universidade Estadual de Ponta Grossa

Departamento de Comunicação Social

Curso de Comunicação Social – Jornalismo

TERMO DE RESPONSABILIDADE

DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM

A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL

Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo

sob o título

_______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

__

___________________________________________________________________________

__, atestando que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos

(publicados ou não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e

está identificada a fonte e a pagina de que foram extraídos (se transcritos literalmente) ou

somente indicados fonte e ano (se utilizada a ideia do autor citado), conforme normas e

padrões da ABNT vigente.

Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente caso

infrinja tais disposições.

Ponta Grossa, ______de___________________de 2011.

Assinatura da estudante: ______________________________________________________

Nome legível da estudante: ____________________________________________________

Número do RA: _____________________________________________________________

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Dedico este trabalho à Aira. Espero que, assim como eu, você se sinta inspirada a sair

de casa e conhecer o mundo. Que se lembre de mim quando for fazer grandes e pequenas

coisas, começar projetos e que tenha força para concluí-los, mesmo quando achar que não tem

mais jeito. Um trabalho extenso é como a vida: é preciso treinar a paciência e dar tempo ao

tempo, exige um bocado de dedicação e até alguns momentos de tristeza... Mas no final,

percebemos que nos sentimos mais fortes. E não há nada mais gratificante do que sentir o

cheiro do verão chegando após uma etapa concluída.

Child of the pure unclouded brow

And dreaming eyes of wonder!

Though time be fleet, and I and thou

Are half a life asunder,

Thy loving smile will surely hail

The love-gift of a fairy-tale

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me ver chorar, espernear e reclamar injustamente e ainda

assim ter a bondade de me permitir ser feliz.

Aos meus pais, Maria Alice Xavier e Wilson Titu‘s Fortuna, por terem me deixado ser

o que eu sou e cometer meus próprios absurdos, sem julgamentos ou grandes perdas. Por

confiarem em mim nas diversas vezes que eu não merecia tanta confiança. Por me deixarem

descobrir, tomar as rédeas da minha vida, fazendo desabrochar uma responsabilidade saudável

e natural. E permitindo que eu vivesse o sentimento indescritível de ver meus projetos

terminados a partir da minha própria iniciativa.

À Mariana Galvão Noronha e Leticia Scheifer, por me deixarem fazer parte do Trio

Liberal. Nesse período weird, awesome e awkward que é a faculdade, nós tínhamos umas as

outras fosse para falar de projetos de pesquisa e projetos de vida. Ou só olhar a vida passar.

Elas me mostraram que amizade por afinidade de gostos e dramas cria um vínculo ligado

estritamente pelo coração. E assim como ele é necessário pra manter minhas veias

trabalhando, eu sinto que elas também são.

À Cláudia Alenkire Golçalves da Silva por gostar de comer, se não, nossa amizade

nunca teria começado e eu não teria conhecido uma das pessoas mais espontaneamente

incríveis que eu já vi. Mesmo à distância, ela sempre vai ser meu anjo da guarda. Por coisas

que ela sabe que fez e por coisas que ela nem imagina.

À Daniel Petroski, Milena Rezende, Cíntia Amaro e a todos da turma de Jornalismo de

2008 por fazerem parte da minha história e terem proporcionado as ocasiões que serão o

motivo de eu dizer que meus anos de faculdade valeram a pena.

E a todos os outros que passaram por mim nestes quatro anos, obrigada por me

fazerem crescer, seja por pelo amor, seja pela dor (como diz minha mãe).

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Mas nós vibramos em outra frequência,

sabemos que não é bem assim.

Se fosse fácil achar o caminho das pedras,

tantas pedras no caminho não seria ruim.

(Engenheiros do Hawaii)

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a forma como dois meios de comunicação impressa

semanal, as revistas Veja e Carta Capital, tratam as duas candidatas à Presidência do Brasil,

Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) durante o ano de 2010. Para tanto, são analisadas as

edições de sete de julho de 2010, que é quando começa o período de campanha até três de

novembro do mesmo ano, quando Dilma Rousseff foi eleita Presidente. Para a discussão

teórica acerca do assunto são debatidas a Teoria Interacionista, o conceito do Enquadramento

e do Gatekeeper. Também utilizam-se textos de Berger e Luckmann sobre representações

sociais, hábitos, papéis e instituições, além de autores que discutam sobre as representações

sociais que remetem o sexo feminino ao espaço privado. A fim de alcançar esses objetivos,

são utilizados os métodos de análise de conteúdo quantitativo e qualitativo a partir de dados

coletados nas revistas. A hipótese da pesquisa é de que os jornalistas, por manterem uma

relação dialética com a sociedade em que estão inseridos e utilizarem-se de valores e hábitos

no momento de redigir os textos, acabam por reforçar a ideia da mulher no espaço privado a

partir de representações socialmente compartilhadas. Como possível resultado pode-se

constatar termos e expressões que criem essas representações, tais como atributos ligados à

maternidade, beleza, casamento, entre outros. Assim sendo, a pesquisa busca contribuir para

os estudos de política, gênero e comunicação.

Palavras-chave: Jornalismo, Representações Sociais, Mulher.

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TABELAS E QUADROS

QUADROS

QUADRO 1 - Critérios para os acontecimentos que são notícia, pois fazem parte do

contexto eleitoral ___________________________________________________ 58

QUADRO 2 - Critérios para os fatos que o jornalista acha importante

noticiar __________________________________________________ 58

QUADRO 3 - critérios para o acontecimento que se adeque às condições das rotinas

produtivas do veículo que vai noticiá-lo __________________________________ 59

QUADRO 4 - Tipos de formato jornalístico _______________________________ 69

TABELAS

TABELA 1 - Formas de enquadramento que contemplaram Dilma e Marina juntas no

texto ______________________________________________________________ 73

TABELA 2 - Distribuição das citações das candidatas que estão em evidência ____ 77

TABELA 3 - De que forma as revistas demonstram preferência pela mulher ou pela

política no tratamento às candidatas _____________________________________ 79

TABELA 4 - Como a revista Carta Capital tratou as candidatas a partir do

Enquadramento _____________________________________________________ 82

TABELA 5 - Qual o enquadramento priorizado pela revista Veja nas eleições de

2010 ______________________________________________________________ 83

TABELA 6 - Quais enquadramentos trouxeram Marina Silva de maneira

favorável _________________________________________________ 88

TABELA 7 - Quais enquadramentos trouxeram Dilma Rousseff de maneira

favorável _________________________________________________ 89

TABELA 8 - Presença de termos ligados ao espaço privado sobre Dilma e Marina na

Carta Capital ______________________________________________________ 93

TABELA 9 - Presença de termos ligados à mulher no espaço privado sobre

Dilma ____________________________________________________________ 95

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ___________________________________________________ 11

1. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MULHER NAS INSTITUIÇÕES ___ 14

1.1. Representações Sociais _______________________________________ 14

1.2. Representação social da mulher no espaço público e privado __________ 22

1.3 Representação social na mídia e debate público ________________________ 33

2. COMO OS TEXTOS DAS REVISTAS PERMITEM MAIOR VISIBILIDADE

DO ENQUADRAMENTO ___________________________________________ 42

2.1. De que maneira textos de revista interpretam os fatos que a mídia diária

veicula ________________________________________________ 42

2.2. Características da revista: por que ela é diferente dos veículos diários ____ 60

3. ANÁLISE DA COBERTURA DA VEJA E CARTA CAPITAL SOBRE AS DUAS

CANDIDATAS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010 _____________ 67

3.1. Variáveis referentes ao sexo feminino utilizadas durante a pesquisa _____ 68

3.2. Onde estão as representações sociais na cobertura da eleição de 2010 na Veja e

na Carta Capital ________________________________________________ 76

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________________________________ 98

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 105

ANEXO A – VARIÁVEIS QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS ___ 110

ANEXO B – MATÉRIAS ANALISADAS ________________________ 113

APÊNDICE – RELATÓRIO ANALÍTICO _______________________ 136

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INTRODUÇÃO

Vivemos em 2010 uma situação inédita no Brasil, onde duas candidatas à presidência

tiveram aceitação expressiva por parte dos eleitores, por exemplo, Dilma foi eleita presidente

com quase 55 milhões de votos em 18 estados e Marina foi a mais votada no Distrito Federal

durante o primeiro turno1. Percebemos que o gênero feminino passou por um momento

importante da história, onde duas mulheres saem do espaço privado – lares – para o espaço

público – cenário político. Apesar de não ser a primeira vez que isso ocorre, já que a demanda

de mulheres no ambiente político vem crescendo cada vez mais, a situação é inédita pelo

cargo em questão: Presidente da República. Pelo fato do cargo ser o mais evidente do nosso

país, a cobertura da imprensa é maior, assim como a atenção dos eleitores. Além disso, Dilma

Rousseff (PT) hoje ocupa o cargo de Presidente, o que demonstra um avanço relevante das

mulheres na política e uma mudança gradual na visão de mundo da sociedade, que antes não

conseguia ver o sexo feminino interagindo em cenários considerados públicos. Por exemplo, a

partir deste ano, as mulheres irão ocupar 50% das vagas do diretório do Partido dos

Trabalhadores (PT), a partir de uma decisão do Congresso do Partido2.

Consideramos esta informação relevante, pois a história demonstra que o instinto

maternal e mulher se tornaram indissociáveis no imaginário popular. Coelho (2002), afirma

que o argumento infalível dos conservadores é que entrando a mulher na política, ela falha à

sua imprescindível missão materna. E assim como seu papel na esfera privada, as profissões

destinadas às mulheres ao decorrer dos tempos também foram relacionadas a atributos

maternais como cuidado, gentileza, e delicadeza (PERROT, 1998).

Observando o cenário político atual, podemos perceber que a realidade é diferente, já

que a própria demanda exigiu dos partidos e coligações estratégias para fomentar a

participação feminina no cenário político. Entretanto, existe ainda no imaginário popular a

resolução de que a mulher foi feita para o espaço privado e isso pode ser percebido a partir do

enquadramento que os jornalistas (como membros sociais) utilizam nas matérias, priorizando

determinados conteúdos em detrimento de outros.

Entretanto, para entender como as representações sociais estabelecem e sofrem

influência na sociedade, precisamos traçar um parâmetro da maneira como elas surgem. As

representações sociais, tanto da mulher como de forma geral, são advindas dos hábitos

estabelecidos na sociedade (BERGER E LUCKMANN, 1995). Elas são legitimadas por

1 Disponível em <http//: http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/10/31/dilma-e-eleita-primeira-

presidente-mulher.jhtm 2 Disponível em <http//: http://www.pt.org.br/

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instituições como família, igreja, jurisdição, entre outros. A mídia pode ser considerada uma

instituição, pois tem a capacidade de reafirmar ou reformular determinados hábitos. No caso

das representações sociais da mulher no espaço privado, os jornalistas são membros da

sociedade que mantêm estes hábitos e trocam informações cotidianamente com o conjunto

social. Desta forma, têm uma relação dialética com os hábitos da sociedade, onde influenciam

e sofrem influencia, como pessoas e cidadãos (BERGER E LUCKMANN, 1995). Relação

que, por vezes se sobrepõe ao próprio fazer jornalístico, já que o trabalho dos produtores de

notícia requer uma série de regras que constituem a práxis, numa estratégia de legitimar a

profissão e manter um padrão de conduta e notícias.

Por isso, os jornalistas devem seguir determinados critérios, incluindo em suas

reportagens, um número equilibrado de informações variadas, complementares e

contraditórias, na tentativa de se aproximar da realidade que estão reportando (BARROS

FILHO, 1994). Entretanto, como mantêm essa relação dialética com a cultura e os hábitos da

sociedade na qual estão inseridos, acabam utilizando essa influência – mesmo que de forma

inconsciente – no momento de enquadrar os assuntos para cada reportagem. Ao suprimir ou

incluir fatos no texto, eles fazem escolhas que estão associadas a sua forma de vida, ou seja, a

alguns aspectos da sociedade e, consequentemente, às representações sociais.

Nos textos interpretativos das revistas – que trabalham com informações mais

elaboradas e são utilizados em publicações de periodicidade mais esparsa - o ângulo é

diferente em relações às reportagens da imprensa diária: mais contextual e explicativo e não

apenas informativo (BAHIA, 1990). Dessa forma, adotamos como hipótese que o

enquadramento3 fique mais visível nas revistas do que em outros veículos. As revistas

acompanham todos os desdobramentos da eleição, com textos interpretativos, fazem uma

exposição exaustiva de ambas as personalidades e nem sempre conseguem desvincular o

papel considerado tradicional para as mulheres da imagem de candidatas. Percebemos,

portanto, que suas capacidades de governo podem ser ofuscadas pela representação social.

Tendo como temática ―Representação Social em Revista‖, o presente trabalho trata

visibilidade das mulheres candidatas à Presidência durante a campanha de 2010 e pretende

identificar a abordagem feita pelos meios a partir da discussão de gêneros. Para tanto,

buscamos analisar a forma que as revistas semanais brasileiras Carta Capital e Veja retrataram

as candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Lima (PV) no período de campanha, na tentativa

3 De acordo com Entman (1993): ―Produzir um enquadramento é selecionar alguns aspectos da realidade

percebida e dar a eles um destaque maior no texto comunicativo, gerando interpretação, avaliação moral e/ou

tratamento recomendado para o item descrito‖ (ENTMAN, 1993, p. 52).

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de perceber se as duas revistas reforçam ou reformulam a ideia de mulher no espaço privado

que se encontra presente no imaginário popular e na mente dos jornalistas.

Partimos da hipótese de que os jornalistas não conseguem desvincular os valores que

aprenderam no decorrer da vida no momento de escrever e por isso transmitem estes valores

na forma de representações sociais para os leitores. Como as matérias interpretativas contêm

maior abrangência de conteúdo, é possível verificar os termos que tragam a mulher para o

espaço privado mesmo quando o assunto se refere ao cenário político. Objetivamos, portanto,

verificar se as matérias da Veja e da Carta Capital reformulam ou reforçam a visão da mulher

no espaço privado.

O presente estudo foi dividido em quatro partes: no primeiro capítulo, definimos o que

são as representações sociais, principalmente a partir da discussão de Berger e Luckmann

(1995). Também abordamos como as representações sociais da mulher no espaço privado

foram se alojando no imaginário popular através de uma perspectiva histórica. Em seguida,

fizemos uma relação entre a mídia como reforço ou reformulação de conteúdo, assim como

entre os jornalistas e a sociedade. No segundo capítulo, explicamos as principais

características do veículo revista e como isso afeta a produção dos jornalistas e dos textos

interpretativos. Com esta discussão, procuramos entender como se deu a relação entre os

profissionais e as representações sociais existentes nas revistas a partir da Teoria

Interacionista, conceito de Enquadramento, Gatekeeper, entre outros. No terceiro capítulo,

apresentamos e interpretamos tabelas com os dados coletados e fizemos a análise dos

resultados, para no último capítulo, chegarmos a uma conclusão.

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COMO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MULHER FORAM LEGITIMADAS

PELAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS

1.1. REPRESENTAÇÃO SOCIAL

Antes de discutir a forma que as representações sociais da mulher estão inseridas no

imaginário popular, é necessário entender o conceito da própria representação social, como e

de que maneira surgiu e quais são suas características. Segundo Arruda (2002), a Teoria das

Representações Sociais foi desenvolvida por Moscovici a partir do conceito de representações

coletivas de Durkheim, juntamente com diversos teóricos como Piaget, Lévy- Bruhl e Freud.

(ARRUDA, 2002). A autora, que discorre sobre a relação entre as representações sociais e a

sociedade, afirma que:

―A representação social não é uma cópia nem um reflexo, uma imagem fotográfica da

realidade: é uma tradução, uma versão desta. Ela está em transformação como o objeto que

tenta elaborar. É dinâmica, móvel. Ao mesmo tempo, diante da enorme massa de traduções

que executamos continuamente, constituímos uma sociedade de ―sábios amadores‖

(Moscovici, 1961), na qual o importante é falar do que todo o mundo fala, uma vez que a

comunicação é berço e desaguadouro das representações‖. (ARRUDA, 2002, p. 134).

Ou seja, a representação social é uma visão da realidade, traduzida a partir da ótica das

pessoas que estão inseridas nela. Além de Arruda (2002), outros teóricos também

conceituaram as Representações sociais, por exemplo, Moscovici e Nemeth (1974) dizem

que:

―As representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu status é o de uma produção de

comportamentos e relações com o meio, o de uma ação que modifica uns e outros, e não o

de uma reprodução [...], nem o de uma reação a um estímulo exterior determinado. [...] são

sistemas que têm uma lógica própria e uma linguagem particular, uma estrutura de

implicações que se referem tanto a valores como a conceitos [com] um estilo de discurso

próprio. Não as consideramos como opiniões sobre nem imagens de, mas como ―teorias‖,

como ―ciências coletivas‖. Sui generis, destinadas à interpretação e à construção da

realidade‖. (MOSCOVICI E NEMETH, 1974, p.48).

Isto é, as representações são disseminadas através da comunicação, pois são

construídas a partir de valores e impressões de uma sociedade, a partir da realidade em

comum, mas sem ser um reflexo desta. Como afirma Denise Jodelet (2002), ―as

representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e

compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade

comum a um conjunto social‖. (JODELET, 2002, p.22). De acordo com Arruda (2002), a

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definição mais consensual entre os pesquisadores do campo é a de Jodelet (2002) e é esta

definição de representações sociais que utilizamos neste trabalho.

Podemos observar na realidade diversas representações da mulher, pois ela exerce o

papel de mãe, esposa, dona de casa entre outras identidades, e isto já está instituído no

imaginário popular e visto como correto, normal. Uma mulher que se mostra diferente das

demais, seja por preferir profissões consideradas masculinas, ou até por admitir não possuir

instinto maternal, é vista como fora dos padrões ―naturais‖ (o uso de aspas se deve ao fato de

que nenhum padrão social é natural, e sim instituído e construído) e tratada até mesmo com

preconceito por parte dos homens e, inclusive, das outras mulheres. Entendemos que estas

representações se mostram rasas e pouco complexas, pois ser vista como uma boa mãe, boa

esposa ou boa dona de casa são definições simplistas para um papel muito mais complexo que

é vida de uma pessoa do sexo feminino. Traduzir toda uma existência – com sua bagagem

histórica, suas peculiaridades como indivíduo, sua influência na sociedade e a influência da

sociedade sobre ela – em poucas ou apenas uma palavra é criar um estereótipo.

Segundo Ferrés (1998), os estereótipos são representações sociais institucionalizadas,

reiteradas e reducionistas. Institucionalizadas, porque pressupõem uma visão compartilhada

que um coletivo possui sobre o indivíduo. Reiteradas, porque foram criadas com base numa

repetição, ou seja, num hábito. Por isso, os estereótipos acabam parecendo naturais e esta é

justamente a sua finalidade: que não pareçam formas de discurso, e sim formas de realidade.

Finalmente, são reducionistas porque transformam uma realidade complexa em algo simples,

como afirmamos no parágrafo acima.

Dentre outros pesquisadores que trataram do assunto, Berger e Luckmann (1995)

trazem um conceito pertinente para iniciar uma discussão. Segundo eles, vivemos em uma

sociedade onde existem diversos padrões sociais estabelecidos e aceitos como adequados:

―Apreendo a realidade da vida diária como uma realidade ordenada. Seus fenômenos

acham-se previamente dispostos em padrões que parecem ser independentes da apreensão

que deles tenho e que se impõem à minha apreensão. A realidade da vida cotidiana aparece

já objetivada, isto é, constituída por uma ordem de objetos que foram designados como

objetos antes da minha entrada em cena‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.38)

Ou seja, os autores refletem que o indivíduo está inserido em uma realidade a qual ele

está acostumado. Sua rotina, seus conceitos, seu entendimento do que é normal, as

instituições com as quais convive todos os dias e suas regras de conduta já estão definidas

antes dele nascer e continuam a influenciar seu modo de agir no decorrer de sua vida.

Entretanto, esses padrões tão conhecidos dentro de suas próprias sociedades são uma

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construção estabelecida historicamente e que recebem manutenção constante, a partir de

hábitos tidos como certos e naturais, instituições e a própria linguagem:

―As objetivações comuns da vida cotidiana são mantidas primordialmente pela significação

linguística. A vida cotidiana é sobretudo a vida com linguagem, e por meio dela, de que

participo com meus semelhantes. A compreensão da linguagem é por isso essencial para

minha compreensão da realidade da vida cotidiana‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995,

p.57).

A linguagem é importante, pois tem a qualidade da objetividade e transcende o ―aqui‖

e ―agora‖ comum da realidade cotidiana. Dessa forma, ela é uma ferramenta de manutenção

de hábitos, legitimação de representações sociais e acúmulo de conhecimento, o que gera a

consciência do comportamento esperado do indivíduo dentro daquela sociedade. No caso da

mulher, isso pode ser percebido em algumas afirmações socialmente aceitas, como a

referência da mulher à qualidade de mãe e dona de casa. Da mesma maneira, o homem não é

reconhecido apenas por ser um bom pai, ele precisa ser o provedor, um bom profissional. Nos

dois casos, são papéis socialmente estabelecidos.

Percebemos que essas posições sociais são reforçadas pela linguagem que, ao ser

utilizada, torna o pensamento real, conhecido e reconhecido pelos outros membros da

sociedade e não apenas uma opinião formada na mente do indivíduo e separada das outras.

Berger e Luckmann (1995) definem que a linguagem objetiva as experiências partilhadas e

torna-as acessíveis a todos dentro da comunidade linguística, passando a ser assim a base e

instrumento do acervo coletivo do conhecimento. (BERGER E LUCKMANN, 1995). Além

disso, transmitindo ideias e pensamentos para outros membros da sociedade, buscamos

ordená-la, tornar conhecido e definido através das palavras. É importante lembrar, portanto,

que ―a ordem social não é dada biologicamente nem derivada de quaisquer elementos

biológicos e suas manifestações empíricas. [...] A ordem social existe unicamente como

produto da atividade humana‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.76). Reforçamos que a

ordem social é formada a partir do acervo coletivo de conhecimento e hábitos sociais, apoiada

pelas instituições.

Este processo, pelo qual as regras da sociedade se tornam tão comuns e aceitas, é

identificado por Berger e Luckmann (1995) como institucionalização.

―A institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais

por tipos de atores. [...] As instituições implicam, além disso, a historicidade e o controle.

As tipificações recíprocas das ações são construídas no curso de uma história

compartilhada. [...] Têm sempre uma história, da qual são produtos. É impossível

compreender uma instituição sem entender o processo histórico em que foi produzida‖.

(BERGER E LUCKMANN, 1995, p. 79 e 80).

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Sendo assim, todas as características de nossa sociedade, até aquelas já fortemente

estabelecidas na nossa mente e no cotidiano, passaram por um processo de legitimação:

tiveram de ser criadas a partir de necessidades básicas, e sofreram influência do meio, das

viradas históricas, de outros acontecimentos. De acordo com Quinello (2007), a Teoria da

Institucionalização é uma análise sob perspectivas institucionais e fenômenos socialmente

construídos. São resultados de ações intencionais ou planejadas a partir de influências

culturais, políticas, processos cognitivos e simbólicos.

Por isso, utilizando ideias de Robbins (2002) podemos entender que a

institucionalização opera no sentido de produzir conhecimento e compreensão comum sobre o

que é apropriado no comportamento. Assim, quando ocorre a institucionalização, os modos

aceitáveis tornam-se evidentes para os membros de uma organização ou instituição. Mas, para

compreender como as institucionalizações se tornaram uma opção considerada benéfica e até

necessária para os indivíduos de determinada sociedade, devemos observar porque uma

realidade ordenada e repleta de regras é desejada pelo ser humano.

O início da vida em sociedade se deu pela necessidade do homem de preservar a

própria vida. A partir das suas limitações fisiológicas e anatômicas em contato com o meio,

ele buscou maneiras de se manter alimentado, aquecido e procriando e uma alternativa foi a

convivência em grupo.

―A inerente instabilidade do organismo humano obriga o homem a fornecer a si mesmo um

ambiente estável para a sua conduta. O próprio homem tem de especializar e dirigir seus

impulsos. Estes fatos biológicos servem de premissas necessárias para a produção da ordem

social. Em outras palavras, embora nenhuma ordem social existente possa ser derivada de

dados biológicos, a necessidade da ordem social enquanto tal provém do equipamento

biológico do homem‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p. 77).

A partir do momento em que ele deixou de viver sozinho e passou a conviver com seus

semelhantes – com as mesmas limitações físicas e potencialidades teoricamente iguais –

regras e conceitos precisaram ser criados para garantir a ―harmonia‖ e estabilidade dentro do

grupo. Torre (1977) é uma autora que reforça essa opinião e também defende que a realidade

ordenada e as regras da sociedade surgiram como forma de garantir a sobrevivência do

indivíduo dentro do próprio grupo. Para ela é partindo da ―necessidade de se regular as

relações entre os sexos e garantir a sobrevivência da espécie humana e a criação da prole, que

surge um conjunto de práticas que se cristalizaram e deram origem às instituições‖ (TORRE,

1977). Esses conceitos e regras foram modificados com o tempo, com o avanço do

conhecimento e as reviravoltas da história. Berger e Luckmann (1995) afirmam que:

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―Nos campos semânticos assim construídos a experiência, tanto biográfica quanto histórica,

pode ser objetivada, observada e acumulada. A acumulação, está claro, é seletiva, pois os

campos semânticos determinam aquilo que será retido e o que será ‗esquecido‘, como

partes da experiência total do individuo e da sociedade. Em virtude desta acumulação

constitui-se um acervo social de conhecimento que é transmitido de uma geração a outra e

utilizável pelo individuo na vida cotidiana‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.62).

Considerando estas duas concepções, somadas ao fato de que o período durante o qual

o organismo humano se desenvolve até completar-se na correlação com o ambiente é também

o período durante o qual o ―eu humano‖ se forma (BERGER E LUCKMANN, 1995),

podemos afirmar que as características biológicas tiveram influência na formação de uma

sociedade, como a intolerância ao frio, necessidades básicas de alimentação, segurança, entre

outras. De acordo com Sumner e Keller (1927), ―as principais necessidades que deram

margem ao aparecimento das instituições foram a fome, o amor, a vaidade e o medo, que

correspondem aos impulsos de autopreservação, sexo, gratificação pessoal e o temor do

sobrenatural.‖ (SUMNER E KELLER, 1927, p.184).

Mas a questão é que o indivíduo, no mesmo período em que aprendeu a lidar com o

ambiente em que vive, também estava formando sua personalidade, adaptada às regras e

costumes já existentes. É impossível dissociar indivíduo e sociedade, segundo Berger e

Luckmann (1995), pois desde o nascimento, ―o desenvolvimento orgânico do homem, e na

verdade uma grande parte do seu ser biológico enquanto tal está submetido a uma contínua

interferência socialmente determinada‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.71). Por isso, de

acordo com Jodelet (1995) as representações sociais são:

―[...] fenômenos complexos cujos conteúdos devem ser cuidadosamente destrinchados e

referidos aos diferentes aspectos do objeto representado de modo a poder depreender os

múltiplos processos que concorrem para a sua elaboração e consolidação como sistemas de

pensamento que sustentam as práticas sociais‖. (SPINK Apud JODELET, 1995).

Agora, portanto, devemos pensar em como surgem essas prática sociais, o que elas são

e como são mantidas dentro da sociedade. Para buscar um melhor entendimento destas

questões, podemos levantar outro conceito: o de hábitos sociais. Os hábitos são ações

repetidas por membros de uma sociedade e que, consequentemente, fazem parecer que aquele

modo de fazer as coisas é o certo. Então, além de supostamente organizar a sociedade, os

hábitos legitimam as ações. (BERGER E LUCKMANN, 1995). Entendemos que essa é uma

discussão relevante, pois contribui para a visão de que o indivíduo sempre busca e tem

necessidade de ordenar a própria realidade cotidiana.

Berger e Luckmann (1995) também afirmam que o hábito precede a

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institucionalização de ações, que são a base para o surgimento das representações sociais.

Torre (1977) concorda com este conceito e define que para satisfazer as necessidades e

desejos humanos, certos modos de comportamento surgem na vida de cada povo e são

repetidos continuamente. Por isso, acabam se tornando costumes que, ao se organizarem,

transformam-se em instituições sociais. Mais à frente, discutiremos a imprensa como

instituição, já que ela é um meio encontrado pela sociedade para reforçar os hábitos presentes

na sociedade.

Por exemplo, o conceito de mulher destinada à maternidade surge a partir de um

hábito: a mulher possui todas as características físicas próprias para o desenvolvimento e

nascimento de um bebê e quando a criança nasce, o corpo da mãe continua se adaptando às

necessidades do filho – como a amamentação – até que ele tenha estrutura física para se tornar

independente deste cuidado. Fica estabelecido, assim, que a mulher deve proteger seu filho

até que ele tenha condições para sobreviver sem ela.

O fato de um indivíduo do sexo feminino ter a possibilidade de amamentar acabou

instituindo que é a mãe que deve cuidar do bebê nos primeiros meses. E isso gerou o que

conhecemos como instinto maternal. Um fato (só a mulher pode ter filhos e amamentá-los)

originou um hábito (as mães devem cuidar dos bebês nos primeiros meses) e o hábito

institucionalizou uma ideia (a mulher deve ter instinto maternal e tem obrigação de saber

cuidar do seu filho e protegê-lo acima de tudo).

Os hábitos surgem como uma forma de facilitar a vida do indivíduo, para que as

escolhas diminuam e a mesma ação possa ser realizada com o mínimo de tempo e esforço.

Berger e Luckmann (1995) promovem uma discussão sobre essa ideia e afirmam que ―toda

atividade humana está sujeita ao hábito. Qualquer ação frequentemente repetida torna-se

moldada em um padrão, que pode em seguida reproduzido com economia de esforço e que,

ipso facto, é apreendido pelo executante como tal padrão.‖ (BERGER E LUCKMANN, 1995,

p.77).

Ou seja, o hábito diminui o esforço mental e físico e é a base para um importante

ganho psicológico: estreitar as opções. A partir do momento em que as ações são repetidas

pelo homem e ele percebe que elas facilitam sua realidade cotidiana, essas opções são

consideradas melhores do que as outras que já foram experimentadas ou nem foram

descobertas. Essa sensação de não precisar se preocupar com escolhas, esse bem estar que

surge através do hábito, é uma discussão que poderia ser levada para o campo da psicologia e

não nos cabe aqui adentrar a questão. Entretanto é preciso compreender e ter em mento um

fato primordial: que o sentimento acarretado pelo hábito é importante para o indivíduo e ele

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deseja produzir e manter este sentimento. A busca da felicidade conjunta pressupõe a prática

da ação, no caso, os hábitos, e a conduta moral. Segundo Möller (2006),

―o sentido de felicidade, nesse contexto, se define como expressão de sentimentos de prazer

ou da ausência de dor e sofrimento. E o sentido de utilidade, então, se define como

expressão que indica a propriedade, que existe em qualquer objeto, que tem como virtude

proporcionar benefício, proveito, bem, ou seja, que visa à felicidade.‖ (MÖLLER, 2006, p.

138).

Desta maneira relacionamos o bem estar com o hábito advindo de uma opção que se

mostra melhor do que as outras. No entanto, existe uma dificuldade no processo: como manter

esses hábitos e legitimar a institucionalização dos atos para as próximas gerações. Esta é uma

problemática, pois elas não possuem nenhum contato com o surgimento desta ou daquela

maneira de fazer as coisas, ou seja, não estão ligadas ao passado em termos de memória.

Quando nascem, já existe uma forma de se portar no ambiente social e quando começam a

interagir com o mundo cotidiano em que vivem, os hábitos já estão estabelecidos. Sendo

assim, as novas gerações precisam ser convencidas de que eles são adequados, já que elas não

participaram de sua construção e nem têm ligação com motivos que levaram a ela. Portanto,

os hábitos e ideias tidos como corretos e naturais precisam ser legitimados para que

continuem existindo.

Uma maneira que sabidamente é adotada pelas sociedades para manter a legitimidade

do hábito é a criação de instituições. Segundo Berger e Luckmann (1995), empiricamente, ―a

parte mais importante da formação do hábito da atividade humana é coextensiva com a

institucionalização desta última. A questão passa a ser, então, saber como se originam as

instituições‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p. 79).

Para Torre (1977), as instituições sociais são ―costumes duradouros e organizados que

se impõem coercitivamente aos indivíduos, permitindo ação conjugada‖. (TORRES, 1977, p.

183). Sendo assim, ―além de preencher as necessidades humanas, as instituições são meios de

controle social. As instituições governamentais, Família, Igreja, Escola, regulam e controlam

o comportamento dos indivíduos nos grupos e na sociedade, aplicando-lhes sanções

reprovativas quando há desvios do comportamento esperado.‖ (TORRE, 1977, p. 183).

Nós já vimos que a institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca

de ações habituais por tipos de atores. Basicamente, qualquer uma dessas tipificações pode ser

considerada instituição. Segundo Assis (2006), ―o processo de institucionalização ocorre

através das transformações das crenças e ações em regras de conduta social ao longo do

tempo por influência de mecanismos de aceitação e reprodução que se tornam padrões,

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passando a ser reconhecidos como rotinas naturais ou como concepções compartilhadas da

realidade‖.

Assim como as instituições buscam legitimar os hábitos e padrões de conduta, para

Berger e Luckmann (1995), as origens de qualquer ordem institucional consistem na

tipificação dos desempenhos de um indivíduo e dos outros. (BERGER E LUCKMANN,

1995). As tipificações produzem papéis, que são uma forma dos seres humanos se sentirem

inseridos na sociedade em que nasceram e vivem. Mais à frente, voltaremos a discutir os

papéis sociais, com ênfase na relação entre mulher, papel social, espaço público e privado e a

imprensa como instituição. No presente momento, entretanto, discutiremos apenas o que são

papéis sociais e quais suas funcionalidades e potencialidades. Sobre eles, Berger e Luckmann

(1995) afirmam que

―são tipos de atores neste contexto. Pode-se ver facilmente que a construção de tipologias

dos papeis é um correlato necessário da institucionalização da conduta. As instituições

incorporam-se à experiência do individuo por meio de papéis. Estes, linguisticamente

objetivados, são um ingrediente essencial do mundo objetivamente acessível de qualquer

sociedade. Ao desempenhar papéis, o indivíduo participa de um mundo social. Ao

interiorizar estes papéis, o mesmo mundo torna-se subjetivamente real para ele‖. (BERGER

E LUCKMANN, 1995, p.103).

A origem dos papéis sociais passa pelo mesmo processo de formação dos hábitos e das

instituições. Por causa dos papéis que desempenha, o ser humano é inserido em áreas

específicas da sociedade, no conhecimento de normas, valores e emoções. Ele também

aprende que desempenhar um papel não é apenas adquirir rotinas que mostrem para o mundo

exterior que tipo de papel é, pois o indivíduo precisa iniciar-se em várias camadas de

conhecimento e até emoção, para se adequar aos papéis que vai incorporar. Por isso, a mulher

não pode apenas cumprir suas obrigações de mãe e esposa, mas deve acreditar na necessidade

do marido e dos filhos de serem cuidados por ela, crer que eles precisam de certas coisas que

apenas ela, ao desempenhar aquele papel, pode proporcionar. Carinho, cuidado, atenção, um

lar limpo e arrumado, conforto e tempo para fazer outras coisas – como trabalho e estudos – a

mulher que desempenha o papel de esposa e mãe, acredita que isso tudo é responsabilidade

dela, proporcionando um pano de fundo eficiente e agradável para a vida de seus filhos e seu

marido.

Podemos afirmar que, de certa forma, a ordem institucional só é real a partir do

momento em que é realizada pelos papéis sociais estabelecidos aos indivíduos. Ao mesmo

tempo, eles representam a ordem social que define seu caráter. Os papéis adotados pelos

indivíduos são o jeito mais comum de integração na sociedade. ―A análise dos papéis tem

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particular importância [...] por que revela as mediações existentes entre os universos

microscópicos de significação, objetivados por uma sociedade, e os modos pelos quais estes

universos são subjetivamente reais para os indivíduos‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995,

p.109).

Se o ser humano ocupa o papel que lhe é esperado, é mais fácil viver em grupo.

Voltamos, então, para necessidade de organizar a vida cotidiana e também para a mesma

sensação de bem estar acarretada pelo hábito. Isso faz com que os papéis sejam

institucionalizados da mesma forma que as regras e hábitos. Torre (1977) também discute os

papéis sociais e de acordo com ela, eles podem ser definidos como a realização dos direitos e

deveres referentes ao status social. Ou seja, podemos aplicar o termo papel social em dois

níveis: como comportamento esperado do indivíduo que ocupa determinado status na

sociedade, que no caso é esperado pelos outros e como comportamento adotado pelo

indivíduo ao desempenhar o seu papel, que é cobrado por ele mesmo.

No próximo tópico vamos restringir a discussão dos papéis sociais para a mulher no

espaço público e privado. Faremos isso da seguinte forma: contextualizando a

institucionalização do papel feminino no cenário privado e retratando as mudanças que essa

imagem sofreu através dos tempos. Pretendemos mostrar também que a mulher, aos poucos,

foi se integrando na política. Embora isso não demonstre, necessariamente, uma mudança no

imaginário popular quanto ao gênero feminino em relação à vida privada.

1.2. REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MULHER NO ESPAÇO PÚBLICO E

PRIVADO

A legitimação dos papéis ocorre da mesma forma e pelos motivos que os hábitos. Para

Berger e Luckmann (1995), este é um processo de ―explicação‖ e justificação. Ele explica a

ordem institucional ―outorgando validade cognoscitiva a seus significados objetivados. E

justifica a ordem institucional dando dignidade normativa a seus imperativos práticos‖.

(BERGER E LUCKMANN, 1995, p.128). Para os autores, existem quatro níveis de

legitimação de papéis e instituições na sociedade:

a) Primeiro nível: chama-se legitimação incipiente e é aquela que acha-se presente logo

que um sistema de objetivações lingüísticas da experiência humana é transmitida. Essa

forma de legitimação utiliza-se do vocabulário para reforçar determinados padrões. Ou

seja, palavras como ―mãe‖ e ―esposa‖ são uma forma de reforço;

b) Segundo nível: é a legitimação que contém proposições teóricas em forma rudimentar,

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como, por exemplo, os provérbios e os elementos da ―sabedoria popular‖. No caso,

são as expressões que reforçam a ideia de que a mulher deve ser boa mãe, esposa

dedicada e que deve saber cuidar da casa. Por exemplo: ―Já está pronta para casar‖ é

uma frase bastante comum, dita quando uma mulher jovem já domina determinados

aspectos da culinária e dos afazeres da casa.

c) Terceiro nível: Contém teorias explícitas pelas quais um setor institucional é

legitimado; No nível anterior, é a menção do ato de casar que é fator legitimador, já

neste nível, o próprio casamento como ritual é o que reforça uma situação.

d) Quarto nível: É a que forma os universos simbólicos. Está relacionado com a formação

da identidade do sujeito, assim como as fases de sua vida. Uma adolescente que sabe

como manter uma casa, sente que já poderia se casar e cumprir com suas

responsabilidades. Ela se sente pronta e escuta as pessoas de seu convívio afirmando

sua maturidade nesse sentido. A garota passa a frequentar ambientes onde as conversas

de seus parentes e amigos giram em torno dessa concepção. É inserida em um

universo simbólico onde as integrantes são reconhecidas pelos assuntos: jovens mães

discutem como criar os filhos, mulheres casadas comentam sobre as nuances de sua

relação conjugal, todas trocam conhecimento sobre limpeza, crianças e até o modo de

se vestir está diferente, pois mulheres casadas devem se portar de forma respeitosa.

(BERGER E LUCKMANN, 1995).

O quarto nível de legitimação, que cria estes universos, foi reconhecido como o

mais apropriado para a atual discussão e, portanto, será o conceito, por ora,

utilizaremos neste trabalho.

Para Berger e Luckmann (1995), os universos simbólicos ―são corpos de tradição teórica

que integram diferentes áreas de significação e abrangem a ordem institucional em uma

totalidade simbólica. Ele [o universo simbólico] é concebido como a matriz de todos os

significados socialmente objetivados e subjetivamente reais‖. (BERGER E LUCKMANN,

1995, p.131 e 132).

Sendo assim, eles oferecem ordem para a apreensão subjetiva da experiência de cada

indivíduo. Todas as lembranças individuais e noções de certo e errado, aceito e não aceito,

comum e incomum, todas as experiências advindas de diversas esferas da realidade são

integradas pelo mesmo universo de significados. Novamente nos deparamos com a

necessidade do ser humano em organizar a realidade em que vive, pois o universo simbólico

ordena a biografia individual, a significação social e também a história. A partir daí, toda a

sociedade ganha sentido e as Instituições e papéis particulares são legitimados por sua

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localização em um mundo compreensivelmente dotado de significação. (BERGER E

LUCKMANN, 1995).

Essa noção de um mundo ordenado, do qual o ser humano faz parte, nos leva ao

entendimento do seguinte fato: o indivíduo busca sentido naquilo que ele conhece e quer

continuar inserido na realidade da qual ele já faz parte. É por isso que ele cria hábitos e

interpreta papéis. Mas, é fundamental relembrarmos que este é um processo dialético. Da

mesma forma que o ser humano é formado pela sociedade, ele também a forma. O homem e o

mundo social atuam de forma recíproca, um sobre o outro.

―É importante ter em mente que a objetividade do mundo institucional, por mais maciça

que apareça ao indivíduo, é uma objetividade produzida e construída pelo homem. [...] É

importante acentuar que a relação entre o homem, o produtor, e o mundo social, produto

dele, é e permanece sendo uma relação dialética‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.

87).

Trazendo a discussão para as representações sociais, podemos concluir que, da mesma

forma que um indivíduo interpreta papéis a partir dos seus hábitos individuais e aqueles

socialmente compartilhados, os seus semelhantes fazem a mesma coisa. Ou seja, todos os

seres humanos possuem papéis que se baseiam no que é esperado deles em relativa harmonia

com sua identidade, história de vida, personalidade. Se o universo simbólico organiza a

sociedade e faz com que diferentes realidades estejam inseridas no mesmo mundo dotado de

significação, os papéis sociais tendem a se repetir e, desta forma, passam a ser considerados

reais e naturais.

É aí que surgem as representações sociais, que nada mais são do que um papel tido

como adequado e que é esperado, por parte da sociedade, da pessoa que deve incorporá-lo. E

que é mantido no imaginário popular pela institucionalização e legitimação, a partir da

linguagem, do hábito e das instituições, tais como a mídia, a imprensa, a família e as leis.

Vamos, portanto, trazer o debate para a representação da mulher. Para isso,

utilizaremos os conceitos citados no capítulo anterior e, além disso, algumas informações

históricas. A mulher foi destinada ao espaço privado desde o momento em que a sociedade

ocidental moderna formulou o conceito de ―família‖. Lévi-Strauss refere-se a três tipos de

relações para a formação da família (LÉVI-STRAUSS Apud PINHEIRO, 1999): aliança

(casal), a filiação (pais e filhos) e consangüinidade (irmãos e irmãs). Neste contexto, a família

é um sistema social composto de indivíduos que, segundo Atkinson e Murray (1989),

possuem cada um o seu papel, socialmente atribuído. Esses papéis, embora diferenciados,

contribuem para o funcionamento da sociedade como um todo. O conceito de família, ao ser

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abordado, evoca obrigatoriamente os conceitos de papéis e funções. (ATKINSON E

MURRAY, 1989). Podemos, então, identificar que a mulher, destinada ao espaço privado era

vista fazendo parte de uma família comandada pelo homem, muito mais do que pensada

individualmente.

No momento em que as sociedades estavam começando a se organizar de tal forma a

serem chamadas ―civilizações‖, a maior parte das sociedades agrícolas tinha desenvolvidos

formas de desigualdade entre homens e mulheres, num sistema chamado geralmente de

patriarcal – onde o homem, pai ou marido, comandavam (STEARNS, 2007). Ou autor afirma

que

―Nas sociedades patriarcais, os homens eram considerados criaturas superiores. Tinham

direitos legais que as mulheres não possuíam (embora as leis protegessem as mulheres de

alguns abusos pelo menos a princípio [...]). Muitas sociedades agrícolas impediram as

mulheres de possuírem propriedade de forma independente. Muitas permitiram que os

homens tivessem várias mulheres [...]. A maior parte punia as ofensas sexuais das mulheres

– por exemplo, o adultério – muito mais severamente que a dos homens‖. (STEARNS,

2007, p. 32).

A força do patriarcado, além de buscar dominar as mulheres, também afetou as

definições sobre masculinidade. Os homens deveriam ser dominantes, estar prontos para

assumir deveres militares a qualquer momento, garantir o sustento econômicos de sua família

(ao menos a princípio).

Segundo Perrot (1998), no século XIX os espaços eram sexuados. ―Existem lugares

praticamente proibidos às mulheres – políticos, judiciários, intelectuais e até esportivos... -, e

outros que lhe são quase exclusivamente reservados – lavanderias, grandes magazines e salões

de chá‖, (PERROT, 1998, p.37). Os espaços eram divididos entre os sexos e em suas

peculiaridades já podemos ver a predominância da mulher no espaço privado, longe das

decisões fundamentais para a evolução da sociedade, mas apenas participando da manutenção

básica desta, como mãe, esposa e dona de casa. Para Perrot (1998) ―as desordens da História,

até na Revolução Francesa, estão ligadas ao desequilíbrio dos sexos. A mulher foi criada para

a família e para as coisas domésticas. Mãe e dona de casa, esta é sua vocação, e nesse caso ela

é benéfica para a sociedade inteira‖. (MICHELET Apud PERROT, 1998, p. 9).

Enquanto o homem desempenhava um papel importante no espaço público, as

mulheres deviam se mostrar o menos possível. Elas não tinham qualquer espaço no cenário

político. Perrot (1998) justifica esse aspecto afirmando que ―A serviço de uma retórica

masculina, é necessária uma voz forte, gestos declamatórios, toda uma dramaturgia recusada

às mulheres, às quais está proibida a tribuna, quer se trate da cátedra, do pretório, do

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Parlamento ou dos partidos (PERROT, 1998, p.65)‖. Coelho (2002), reforça que

―o argumento infalível a que se apegam os ultraconservadores, é o que entrando a mulher

na política falha à sua imprescindível missão materna. Entendemos que, numa grande parte

dos casos, tudo pode se harmonizar; mas se num dado momento ela tiver de optar por uma

dessas funções sociais – o seu dever, é claro, é cumprir antes de tudo o seu sublime e

insubstituível papel de mãe. É mister, porém, abstrair-se o fato de que um grande número

de mulheres estão fora do alcance dessa missão‖. (COELHO, 2002, p. 113).

A história demonstra que o instinto maternal e mulher são indissociáveis no imaginário

popular. Assim como seu papel na esfera privada, as profissões destinadas às mulheres ao

decorrer dos tempos também eram relacionadas a atributos como cuidado, gentileza, e

delicadeza. Segundo Perrot (1998), ―elas exerciam em público as qualidades maternais das

mulheres‖. (PERROT, 1998). Dentre as primeiras profissões assumidas estavam professoras,

bibliotecárias e enfermeiras.

A partir dessa definição, conseguimos visualizar a possibilidade de uma relutância dos

produtores em notícia em enxergar o sexo feminino como possuidor de características que

possam ser utilizadas no espaço público e político. É importante lembrar que, em nenhum dos

casos citados, pensava-se na mulher como potencialmente capaz de ocupar cargos que

tomassem decisões ou tivessem grandes responsabilidades, no sentido de zelar pelo bem-estar

da sociedade como um todo e não apenas de forma individual.

As únicas mulheres públicas anteriores à Primeira Guerra Mundial, segundo Perrot

(1998), eram as princesas da corte européia e isso gerou uma representação social que até hoje

é alimentada pelos meios de comunicação, a moda e o próprio imaginário popular: a

importância e o dever da beleza, de estar sempre bem arrumada. (PERROT, 1998).

De acordo com Berger e Luckmann (1995), ―em virtude dos papéis que desempenha, o

indivíduo é introduzido em áreas específicas do conhecimento socialmente objetivado, não

somente no sentido cognitivo estreito, mas também no sentido do ‗conhecimento‘ de normas,

valores e mesmo emoções‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.106). Dessa forma, como

exemplificam os autores, um juiz não deve ter apena o conhecimento da lei, mas também de

valores e atitudes considerados adequados a um juiz, como austeridade, respeito e uma vida

regrada. Podemos afirmar que a sociedade não cobra tanto uma vida longe de excessos para a

maior parte das profissões, como veterinários, estilistas, atendentes, cozinheiros, como faz

com um juiz. As pessoas entendem que se é ele quem decide o desfecho de inúmeras situações

que possuem dois lados, deve ter condições psicológicas, bagagem histórica e caráter para

isso.

Da mesma maneira, uma mulher designada como ―esposa‖, ―dona de casa‖ e ―mãe‖

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não deve dar conta apenas dos afazeres domésticos, a educação dos filhos e o bem estar do

marido. Ela precisa se portar como uma pessoa do gênero feminino que tem todas essas

tarefas, ela tem a obrigação de incorporar os papéis sociais de forma completa em normas,

valores e emoções, como afirmam os autores. Ela deve ter instinto maternal e crer na

importância do seu papel, na necessidade dos seus gestos para o bem estar do marido e filhos

que, sem ela, não teriam a mesma eficiência em desempenhar os seus próprios papéis.

Entretanto, apesar dessa representação social ainda se mostrar presente no imaginário

popular, é inegável o avanço que as mulheres fizeram no espaço público e até no cenário

político, considerado há algum tempo como uma área exclusivamente masculina. Essa

mudança se deve, principalmente, ao movimento feminista que surgiu no século XIX a partir

de ideias iluministas sobre liberdade e igualdade.

Segundo o historiador Stearns (2007) o feminismo surgiu primeiro na Grã-Bretanha e

nos Estados Unidos, demonstrando ideias de avanço na educação das mulheres. O movimento

também trouxe a percepção de que os direitos dos homens eram maiores do que os delas. Com

a revolução industrial e o advento do desenvolvimento tecnológico, o sexo feminino começou

a ser inserido no espaço público, entretanto, sem se desvincular de suas ―obrigações‖ com a

casa, o marido e os filhos. Monteiro e Leal (1998) explicam que

O capitalismo tirou proveito da quebra da hegemonia do cristianismo e estabeleceu a

divisão entre trabalho doméstico e trabalho público, desagregando a unidade de produção

familiar nuclear burguesa, cujo modelo se estendeu, posteriormente, para outras classes

sociais... [...] O mercado e a guerra acabam arrastando a mulher para a vida pública

incorporando-a à produção. Foram criadas assim as condições para que a mulher sentisse o

que significava a exploração de classe e passasse a conviver com outras mulheres,

refletindo coletivamente (MONTEIRO e LEAL, 1998, p. 12).

Assim, as mulheres começaram a viver a exploração de sua mão de obra, trabalhando

até 18 horas por dia e recebendo um salário menor do que o dos homens. Monteiro e Leal

(1998) afirmam ainda que a justificativa dos patrões para o baixo salário e mais horas na

jornada de trabalho era que os homens já sustentavam suas esposas (ou seja, elas mesmas) e

por isso as mulheres que trabalhavam não precisavam ganhar um salário maior.

Por causa de I e II Guerra Mundial, o movimento feminista recuou um pouco. Durante

os períodos das duas guerras, Monteiro e Leal (1998) também lembram que as mulheres

foram para as fábricas enquanto os homens estavam em batalha. Da mesma forma, quando os

períodos de tensão acabaram, voltaram para o espaço privado, revalorizadas na vida

doméstica e fora do mercado de trabalho.

A partir destes exemplos (revolução industrial e as duas guerras mundiais),

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observamos que a participação no espaço público não foi conquistada de forma definitiva

pelas mulheres, mas foi cedida por um tempo, num momento de necessidade, e depois foi

tomada de volta. O motivo para levar as mulheres ao espaço público não era a crença em sua

capacidade de permanecer nele, mas a necessidade de mão de obra enquanto os homens

estavam ausentes ou quando sobravam vagas nas fábricas. Ou seja, esse período de alteração

da realidade não reflete, necessariamente, a uma mudança no imaginário popular.

Considerando a opinião de Berger e Luckmann (1995), de que ―a ordem social existe

unicamente como produto da atividade humana‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.76).

Vemos que a representação social que destina a mulher ao espaço privado sempre existiu,

mesmo quando a realidade demonstrava algumas variações entre o espaço público e privado

no decorrer da história. A partir da ideia de Berger e Luckmann (1995) que a representação

social é construída historicamente pela atividade humana, identificamos que a mulher acabou

voltando para o espaço privado e para o núcleo da família, principalmente por sua

característica biológica ligada à maternidade.

No Brasil, a luta pelo direito à educação igualitária entre homens e mulheres se deu

apenas na primeira metade do século XIX, dadas as diferenças de colonização e Império. Essa

é uma discussão importante por que é a escola é uma das instituições que mais legitima

hábitos, já que lida com o indivíduo numa idade onde sua personalidade ainda está em

formação. Desse modo, a diferença na educação de meninos e meninas vai demonstrar, no

futuro, quais papéis sociais eles irão incorporar e como eles verão a realidade organizada, os

hábitos e valores considerados aceitáveis.

Segundo Teles (1999), ―o ensino então proposto (1827) só admitia para as meninas a

escola de primeiro grau, sendo impossível, portanto, atingir níveis mais altos, abertos aos

meninos‖. (TELES, 1999, p. 27). Além disso, as atividades também eram diferentes, já que os

meninos aprendiam gramática, matemática e eram incentivados à leitura, enquanto as garotas

eram destinadas a aprender trabalhos com a agulha (TELES, 1999). Este é um exemplo claro

de como os papéis sociais eram diferenciados já na infância. Segundo Berger e Luckmann

(1995),

―na maioria das vezes a conduta se processará ‗espontaneamente‘ nos canais estabelecidos

de modo institucional. Ao nível das significações, quanto mais a conduta é julgada certa e

natural, tanto mais se restringirão as possíveis alternativas dos ‗programas‘ institucionais,

sendo cada vez mais predizível e controlada a conduta‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995,

p. 89).

Assim, o papel da mulher na esfera privada se torna natural e a própria sociedade

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estabelece padrões e mecanismos, mesmo que de forma involuntária, para a manutenção

desta. As instituições são uma forma de reforço, como vimos acima, as escolas já ensinavam

os alunos desde o começo que as funções entre homens e mulheres são diferentes e, desde

cedo, preparavam os meninos para o espaço público e as meninas para o privado.

Atualmente, estamos em um momento em que a realidade mostra que a representação

social que destina a mulher ao espaço privado tem de enfrentar e se adaptar às mudanças da

realidade, já que as mulheres estão aparecendo e se mostrando competentes nestes outros

espaços. Podemos perceber, ainda, que existe uma demanda crescente do sexo feminino em

partidos e coligações. A mulher está se esforçando para adentrar na política e um exemplo é a

situação do cenário político espanhol. Medero (2007) buscou analisar as medidas tomadas

para fomentar a participação das mulheres e ela observou a própria demanda exigiu que os

partidos adotassem estratégias básicas para tratar a questão feminina.

A autora definiu três delas: em primeiro lugar, os partidos começaram a aceitar as

demandas apresentadas pelas mulheres e incluí-las em seus discursos. Por exemplo, eles

passaram a incorporar em seus planos e programas de governo políticas contra a

discriminação sexual. Em segundo lugar, houve um processo de incentivo à participação

profissional das mulheres na política, quando abriram espaço para candidaturas femininas,

destinaram recursos para abertura de comitês femininos, etc. Por último, Medero (2007) se

referiu à discriminação positiva, onde os partidos propuseram a adoção de políticas de cotas

femininas acima dos percentuais da sociedade, deixando mais espaço para as mulheres na

política.

As três estratégias são cada vez mais utilizadas no que diz respeito à atenção dada às

questões femininas, permitindo a inclusão efetiva das mulheres no sistema político. De acordo

com Medero (2007), em 1990 só havia oito mulheres para 179 homens em cargos de primeiro

escalão no cenário político federal. Dez anos depois, essa lista foi incrementada, e países de

diferentes culturas, história e tradições passaram a aceitar mulheres exercendo papéis políticos

de alta responsabilidade (MEDERO, 2007). No entanto, percebemos que ainda existem

poucas mulheres chefiando os executivos nacionais da América Latina.

Essa mudança vista na realidade demonstra que existe alteração no cenário público e

político. A mulher que antigamente era destinada apenas ao espaço privado, hoje aparece no

espaço público. Além disso, a história comprova (com o movimento feminista) que é a partir

da demanda das próprias mulheres que são realizadas mudanças. Entretanto, essa constatação

não significa necessariamente que a representação social da mulher tenha mudado e pode

significar, inclusive, que ela esteja em evidência devido a essa colisão de ideias: de um lado a

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representação que diz que as mulheres devem se manter dentro de casa e de outro, a

significativa aparição do gênero em espaços públicos e de grande decisão política.

Boa parte dos indivíduos criou um papel social onde a mulher é principalmente mãe,

esposa, e dona de casa. Podemos considerar essa realidade partindo dos estudos sobre a

mulher operária na revolução industrial e durante as duas guerras mundiais. O espaço foi

cedido a elas, não conquistado. E depois elas voltaram para o privado. Apesar de algumas

mudanças razoáveis na sociedade (como o movimento feminista, o aumento de mulheres nos

partidos de coligações e duas candidatas com aprovação significativa durante as Eleições para

a Presidência da República em 2010), existe a possibilidade de divergência entre as

representações sociais. Em determinado momento, elas estão em consenso com a realidade, e

são reforçadas pelos meios de comunicação, as instituições e os papéis sociais. No entanto,

isso não é uma obrigação, e nesses momentos a imprensa pode ajudar a reformular uma

representação social, por se guiar muito mais pela realidade objetiva do que pela influencia

que a sociedade tem na visão de mundo dos jornalistas. Ainda que a busca da objetividade e a

visão de mundo sejam indissociáveis na mente do jornalista, elas não precisam,

necessariamente, estar no mesmo nível de importância.

No Brasil, é possível observar uma mudança a partir do primeiro governo Lula, em

2002, no sentido de aumentar a participação de mulheres em cargos políticos. Macaulay

(2004) enumera as mulheres que fizeram parte do primeiro escalão dos mais recentes

governos brasileiros: Benedita da Silva – ministra do bem estar social; Marina Silva –

ministra do meio ambiente; Dilma Rousseff – ministra de Minas e Energia; Matilde Ribeiro –

secretária especial para promoção de políticas de igualdade racial; Emília Fernandes –

secretária especial de política para mulheres fizeram parte do primeiro governo Lula.

Essa é uma grande diferença em relação a governos anteriores. O Governo Figueiredo

(1979 – 1985) teve apenas uma ministra. O governo de José Sarney (1985 – 1990) também

teve apenas uma ministra. Fernando Collor de Mello (1990 – 1992) teve duas ministras.

Itamar Franco (1992 – 1994) teve quatro ministras e Fernando Henrique Cardoso não teve

nenhuma em seis anos de governo (1995 – 2001) e teve uma nos dois últimos anos (2001 –

2003).

Segundo Godinho (2004),

―a participação das mulheres brasileiras no mundo público é um dos aspectos mais

marcantes das mudanças na sociedade brasileira na segunda metade do século XX. É

comum entre os pesquisadores ressaltar as profundas modificações ocorridas com o

processo de urbanização e industrialização, a formação do proletariado industrial e de uma

classe media urbana assalariada, produzindo grandes mudanças na estrutura e nas formas de

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organização social‖. (SANTOS Apud GODINHO, 2004, p. 149).

As décadas de 1970 e 1980 representaram um período de crescimento da participação

da mulher na política. Godinho, (2004) lembra que a presença ativa das mulheres em grupos

sociais, respondendo a demandas nas concentrações urbanas, as levaram para fora do

ambiente familiar. Com a presença das mulheres no âmbito sindical e político, elas buscaram,

a partir de 1990, disputar as chefias dos sindicatos e de partidos. A presença do sexo feminino

em espaços parlamentares e Executivo também se ampliou, mas permanece em números ainda

reduzidos. (GODINHO, 2004).

No ano de 2011, o número de cargos políticos ocupados por mulheres aumentou de

forma ainda mais significativa: Maria do Rosário – Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República; Ideli Salvatti – Ministério da Pesca e Agricultura; Mirian Belchior

– Ministério do Planejamento; Tereza Campelo – Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome; Helena Chagas – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da

República; Izabella Teixeira – Ministério do Meio Ambiente; Luiza Helena de Bairros –

Secretaria de Promoção da Igualdade Racial; Iriny Lopes – Secretaria de Políticas para as

Mulheres; Anna Maria Buarque de Hollanda – Ministério da Cultura.

Consideramos este momento importante, pois vemos que as representações sociais

entram em choque com a realidade, já que a sociedade precisa substituir um padrão de papéis

por outro, mais atual. Entretanto, a representação da mulher no espaço privado ainda não caiu

totalmente em desuso, já que muitas mulheres ainda se consideram adeptas a esse espaço.

Portanto, é uma fase confusa, onde os papéis alteram-se, incorporam-se e substituem-se. E no

Brasil, podemos dizer que a chegada das mulheres como candidatas à Presidência indica mais

um resultado de uma representação pessoal bem sucedida do que um projeto de inclusão

feminina na política. Ou seja, a impressão de mudança não corresponde necessariamente à

realidade.

Voltando às estratégias adotadas pelos partidos espanhóis, percebemos que elas

estariam ajudando a substituir o modelo tradicional de família – que limita a mulher à esfera

privada – presente no imaginário da representação social, pelo modelo de sociedade feminina,

na qual a mulher trabalha e está presente na esfera pública. Como no Brasil, poucos partidos

adotam essas estratégias, principalmente a discriminação positiva, interpretamos que este é

um espaço formal e institucional e, desta forma, reforça determinada ideia, mas não é um

espaço escolhido pelo voto. Como já visto antes, não é uma conquista, mas novamente um

espaço cedido no cenário político.

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Determinadas medidas poderiam incentivar a participação das mulheres na política,

visto que isso contribui para a transformação da representação social do modelo tradicional –

esfera privada, família – para mulher no mercado de trabalho e no cenário político. Algumas

delas são políticas de cotas para mulheres nas chapas de candidaturas, como já acontece no

Brasil, além de projetos que permitam e demonstrem formas de conciliar a atividade política

com a família. Ainda assim, é fato que a mulher tem dificuldades em se mostrar eficiente e até

―merecedora‖ dos cargos políticos. Matos, Cypriano e Brito (2007) afirmam que:

―Sabemos, todavia, que a maior inclusão de mulheres nos espaços institucionais da política

não parece a todos, indistintamente, como elemento chave para ganhos concretos no sentido

de uma melhor qualificação das regras do jogo democrático. Muitos, ainda hoje, a despeito

de todas as inúmeras evidências empíricas, sequer consideram o tema como relevante ao

debate político-institucional e, às vezes, sequer o consideram teoricamente relevante.‖

(MATOS, CYPRIANO E BRITO, 2007, p. 5).

Essa divergência de opiniões influencia o pensamento dos brasileiros ainda hoje. Por

um lado, não são todos que concordam que a mulher está apta para participar do cenário

político do país, como afirmaram os autores acima. Em contraponto, percebemos que existe

uma maior aceitação por parte da população, por exemplo, nas Eleições de 2010, ainda que o

número de Deputadas Federais eleitas nesse ano tenha diminuído, podemos constatar que

houve certa mudança na visão dos eleitores sobre o papel da mulher na política, como

afirmamos antes, este é um momento em que as representações sociais estão em terreno

instável e podem ser substituídas ou reforçadas na sociedade, a partir do esforço e

posicionamento das instituições.

Buscamos com este trabalho – que analisa dados a partir de revistas semanais –

estudar a mídia como uma destas instituições neste momento de possíveis mudanças.

Queremos identificar de que forma ela vai se portar, considerando seu poder de legitimação e

influência junto à sociedade e verificar se os meios de comunicação reconhecem essa

mudança ou não. E também se os jornalistas – como indivíduos que partilham de uma cultura

comum e são influenciados por ela ao redigir as matérias – reforçam ou reformulam a crença

sobre a mulher no espaço político.

Para entender de que maneira as crenças dos jornalistas, assim como seus

enquadramentos são importantes para a análise, precisamos esclarecer quais são os

mecanismos utilizados para a manutenção ou reformulação das representações sociais. Berger

e Luckmann (1995) afirmam que:

―A expressividade humana é capaz de objetivações, isto é, manifesta-se em produtos da

atividade humana que estão ao dispor tanto dos produtores quanto dos outros homens,

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como elementos que são de um mundo comum. Estas objetivações servem de índices mais

ou menos duradouros dos processos subjetivos de seus produtores, permitindo que se

estendam além da situação face a face‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.53).

E também dizem que ―Toda a transmissão [de significados] exige alguma espécie de

aparelho social. Isto é, alguns tipos são designados como transmissores, outros como

receptores do ‗conhecimento‘ tradicional‖. (BERGER E LUCKMANN, 1955, p.99). A

partir destes dois conceitos, entendemos que os indivíduos, dentro da sociedade, buscam

transmitir suas impressões e, consequentemente, suas representações sociais e estereótipos. E

a forma mais comum de realizar essa transmissão de sentido é a partir dos meios de

comunicação, da imprensa. Ela é uma instituição legitimadora dos papéis sociais, dos hábitos,

do que é considerado comum e normal. Ela pode estar em consenso com as representações

sociais e reforçá-las, mas também, em determinados momentos pode refutá-las. Discutimos,

então, a importância do estudo de como as representações sociais se mostram nesses meios –

no caso deste trabalho, as revistas.

Vamos agora estabelecer uma relação entre a imprensa como reforço ou reformulação

dos papéis sociais e seu poder legitimador. Além disso, a partir de teorias sobre o jornalismo,

pretendemos entender como se dá o processo de enquadramento dos fatos e como a influência

da sociedade para o jornalista pode ser decisiva no momento de reforçar ou reformular uma

representação social.

1.3. REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA MÍDIA E DEBATE PÚBLICO

Como vimos anteriormente, a linguagem tem o poder de legitimar hábitos, assim como

as instituições e, consequentemente, a mídia. Neste sentido, é importante entender que ela é

dialógica segundo Bakhtin (1979; 1981). Benetti (2007) afirma que o ―dialogismo pode ser

pensado em dois planos que interessam o jornalismo: por um lado, e relação entre discurso;

por outro, a relação entre sujeitos‖. (BRAIT Apud BENETTI, 2007). Ou seja,

―intersubjetividade basta, na nossa opinião, para refutar a visão ingênua de que o discurso

poderia conter uma verdade intrínseca ou uma literalidade. Ora, se o discurso depende dos

sujeitos para existir, isso significa que é produzido por esses sujeitos – não apenas pelo

autor da fala ou enunciador, mas também pelo sujeito que lê o discurso. O discurso é,

assim, opaco, não-transparente, pleno de possibilidades de interpretação e, no limite,

indomável. Assumir essa característica como um dos pressupostos do jornalismo leva-nos

a, obrigatoriamente, reconhecer que o texto objetivo é apenas uma intenção do jornalista,

restando-lhe elaborar um texto que no máximo direcione a leitura para um determinado

sentido, sem que haja qualquer garantia de que essa convergência de sentidos vá de fato

ocorrer‖(BENETTI, 2007, p. 108).

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Ou seja, o discurso ser intersubjetivo nos leva a pensar no contexto histórico e cultural

em que foi produzido. Neste aspecto, o jornalista acaba ―indicando o que seria socialmente

desejável, normal ou adequado‖ (BENETTI, 2007) mesmo quando ele tenta ser objetivo, pois

continua subordinado aos enquadramentos sociais e culturais em que está inserido.

Partindo do pressuposto de que os jornalistas acabam transmitindo suas crenças para

os textos, criando representações sociais (não exclusivamente da mulher) também na mídia, é

importante conceituar duas teorias: a Teoria Interacionista e a teoria do Gatekeeper. A teoria

de Gatekeeper foi proposta por David Manning White nos anos 50 a partir de estudos

psicológicos e de uma pesquisa sobre o processo de escolhas de notícia. Ela se opõe a Teoria

do Espelho que, segundo Traquina (2001), afirma que ―as notícias são como são porque a

realidade assim o determina‖. (TRAQUINA, 2001, p.65). Nesse caso, as notícias relatam os

fatos da forma que eles aconteceram, sem que o jornalista tenha qualquer influência na

maneira e ordem que os acontecimentos são redigidos. A Teoria do Espelho teoria afirma que

ele é apenas um observador desinteressado que anota tudo o que acontece. Esta é uma teoria

que norteia a prática jornalista, que busca constantemente a objetividade. Entretanto, existem

divergências de opiniões a este respeito, pois alguns autores afirmam que o jornalista não

consegue deixar de ser influenciado por seu contexto histórico e social. No nosso trabalho, a

Teoria do Espelho não se encaixa, pois nossa afirmação, a partir da construção social da

realidade, é justamente o contrário, ou seja, os jornalistas não conseguem dissociar seus

outros papéis do papel principal. Sendo assim, as escolhas do que e como abordar

determinados assuntos são influenciadas pelo convívio em sociedade.

A teoria do Gatekeeper sugere que o processo de seleção dos fatos no momento de

escrever a reportagem é subjetivo e arbitrário. Segundo Traquina (2001), ―a comunicação de

‗notícias‘ é extremamente subjetiva e dependente de juízos de valor baseados na experiência,

atitudes e expectativas do Gatekeeper‖. (WHITE Apud TRAQUINA, 2001, p. 69) Sobre a

teoria do Gatekeeper, Sousa (2002) diz que

―Desde que White (1950) lançou os estudos com base na útil metáfora do gatekeeper

(seleção de informação em ‗portões‘ controlados por ‗porteiros‘, havendo informação que

passa e outra que fica retida) que se estuda o papel do jornalista, enquanto pessoa

individual, na conformação da notícia. De fato, no seu estudo pioneiro ou autor concluía

que a seleção das noticias era um processo altamente subjetivo, fortemente influenciado

pelas experiências, valores e expectativas do gatekeeper mais do que por constrangimentos

organizacionais. Ao chegar a essa conclusão de um forte impulso à superação científica das

‗teorias do espelho‘, que viam a notícia como um espelho dos acontecimento‖. (SOUSA,

2002, p. 40).

A subjetividade do Gatekeeper, ou seja, do jornalista, vai influenciar os momentos de

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decisão do que é ou não notícia. Dessa forma, se ele decide que a relação das candidatas

mulheres com a família é mais importante, em termos noticiosos, do que seus planos de

governo, ele está reforçando uma representação social ao selecionar os assuntos. A Teoria do

Gatekeeper pode ser complementada a partir da Teoria Interacionista, já que ambas

consideram o processo de seleção e produção das notícias um momento onde o jornalista não

consegue se desfazer das referências que possui da realidade em que está inserido. Segundo

Sousa (2002), a Teoria Interacionista entende as notícias como um processo de percepção,

seleção e transformação de acontecimentos a partir de jornalistas que partilham de uma

cultura comum (SOUSA, 2002). O autor também afirma que

―os jornalistas são vistos não como observadores passivos, mas sim como participantes

activos na construção da realidade. As notícias são encaradas como uma construção social,

sendo limitadas pela natureza da realidade, mas registrando aspectos tangíveis dessa

realidade. As notícias registram também os constrangimentos organizacionais, os

enquadramentos e narrativas culturais que governam a expressão jornalística, as rotinas que

orientam e condicionam a produção de notícias, os valores-notícia e as negociações entre

jornalistas e fontes de informação‖ (SOUSA, 2002, p.).

Sendo assim, um jornalista que cresceu em uma sociedade com determinados

estereótipos, visões de mundo e regras de conduta, vai partilhar desses hábitos e eles irão

influenciá-lo no momento de redigir as matérias. Consideramos que estas características são

mais visíveis em notícias escritas para revistas, que são interpretativas e permitem uma maior

liberdade na forma de conduzir o texto. Segundo as definições de Beltrão (1980) o jornalismo

interpretativo tem como objetivo ampliar a informação dada pela notícia, recuperando sua

historicidade e impactos provocados na sociedade. Beltrão (1980) chama-o de reportagem em

profundidade. Já o jornalismo informativo tem exclusivamente a função de informar um fato

de interesse relevante para a sociedade. Portanto, nas matérias interpretativas há uma maior

participação das crenças e valores de quem escreve e maior possibilidade de conter

representações sociais.

Trazendo a discussão para a imprensa e seu poder legitimador, consideramos que ao

buscar mostrar aspectos que remetam à natureza feminina, à maternidade e aos papéis

considerados tradicionais das mulheres, a revista reforça uma representação social já

instaurada no imaginário popular. Ou seja, quando uma revista preza mais a forma que a

candidata está vestida, se ela é casada ou divorciada, se tem filhos saudáveis, ela deixa de lado

a capacidade da mesma como governante, como igual aos indivíduos do sexo masculino em

questão de planos de governo.

Por outro lado, se uma reportagem não remete a esses fatores, mas sim a discussões

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relevantes e opiniões das candidatas sobre o futuro do país, aspectos de campanha,

possibilidades de melhorias e projetos para as políticas públicas, ela está colocando a mulher

num patamar idêntico ao do homem em questão de capacidade de governo, portanto está

reformulando a representação social que destina a mulher ao espaço privado.

Aqui devemos esclarecer um ponto crucial: não queremos afirmar, com este trabalho,

que os jornalistas deixam de reportar a mulher como candidata para considerá-la

exclusivamente pertencente ao espaço privado. Percebemos que as revistas escrevem sobre os

planos de governo e fatos ligados à campanha, talvez até mais do que sobre a família ou a

forma de se vestir da candidata. Mas só o fato de existirem matérias, ainda que em menor

quantidade, que formulem uma representação social privada da mulher já significa que essa

visão existe por parte dos jornalistas e da sociedade. Portanto, não pretendemos provar que as

mulheres não são consideradas no espaço público – até por que a realidade mostra que a

demanda é significativa – mas sim confirmar se ainda existe essa ligação do gênero feminino

com o espaço privado apesar de todas as conquistas públicas.

Voltando à discussão teórica, a partir das teorias Interacionista e o conceito de

Gatekeeper, podemos considerar que os textos jornalísticos acabam se tornando uma

representação das opiniões de jornalistas e da sociedade para qual escrevem. Mcadam,

Klandermans e Goslinga (1996) sugerem que o discurso destes profissionais, apesar de

produzir a ilusão da imparcialidade, acaba sendo um local onde as crenças, as identidades, os

valores e as representações sociais assumem significados que têm sido reafirmados pelos

diversos grupos sociais. Através da produção discursiva, práticas sociais podem ser

naturalizadas e reforçadas, mas também modificadas e substituídas. (MCADAM, 1996;

KLANDERMANS; GOSLINGA, 1996).

A opinião destes autores reforça que as notícias são produzidas enquanto reflexos da

visão de mundo dos jornalistas e da sociedade. Podemos então entender o real poder do

discurso na mídia no sentido de influenciar e, ao mesmo tempo, ser influenciado pelos atores

sociais. É isso que Castro (1997) afirma quando diz que ―a mídia está imersa na vida social,

sendo instituída por ela, mas também a instituindo. Ela tece seus textos no bojo das relações

sociais e de contextos políticos, ao mesmo tempo em que permite novas configurações de tais

relações e contextos‖ (CASTRO, 1997).

Ou seja, a mídia não pode ser dissociada da realidade onde ela está inserida, isto por

que a matéria-prima da notícia vem do fato, do acontecimento, do próprio mundo cotidiano.

Os fatos são produzidos e têm repercussões no dia-a-dia dos indivíduos, portanto podemos

dizer que as notícias nascem no meio das relações sociais. Numa campanha eleitoral, os

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principais fatos são os acontecimentos da campanha, informações sobre os candidatos, datas e

propostas. Partindo da concepção que os jornais buscam sempre notícias novas e que vão

interessar o público, as reportagens são construídas no âmbito das relações políticas e, ao

mesmo tempo, boa parte do que o jornalista escrever vai ser lido pelos eleitores. É por isso

que Castro (1997) afirma que as notícias instituem a realidade, mas são instituídas por ela. As

reportagens precisam se tratar dos assuntos do momento na realidade, em contraponto,

pautam a própria realidade reforçando ou reformulando concepções (CASTRO, 1997).

Como aponta Stuart Hall (2003), a enunciação midiática codifica a realidade,

construindo narrativas a partir de certos mapas culturais, que ―contêm ‗inscritos‘ toda uma

série de significados sociais, práticas e usos, poder e interesse‖ (HALL, 2003, p. 396). Há,

obviamente, mapas amplamente aceitos que moldam muitas das formas simbólicas

publicizadas pelos meios de comunicação. No caso da mulher, esses mapas são reflexos do

senso comum sobre a maneira de se referir às mulheres nas notícias. A partir da ideia de

maternidade, noções de cuidado com a família, beleza, os mapas são inscritos pelos próprios

termos reforçadores, tais como: mãe, esposa, dona de casa, família, roupas, moda, etc.

A partir das características reproduzidas nas reportagens, além de outros espaços

sociais, cria-se a representação social da mulher nos meios de comunicação. Esses aspectos já

estão instituídos no imaginário popular e constroem uma identidade do papel feminino no

cenário político e na mídia. Novamente voltamos aos papéis sociais que, quando são

combinados com a ação da mídia, criam uma identidade que é vista pelas pessoas, além de ser

exercida pelo indivíduo.

Devemos considerar que a identidade, sendo uma representação social – é uma criação

da sociedade, uma ideia inserida no imaginário popular – ela deve passar por um processo

dialético. Ou seja, uma identidade deve ser reconhecida tanto por quem transmite a

mensagem, quanto por quem recebe. Sendo assim, ela precisa ser feita a partir de símbolos

comuns, pois adquire sentido justamente pela linguagem e demais sistemas simbólicos pelas

quais são representadas (WOODWARD, 2000).

Berger e Luckmann (1995) reforçam a necessidade da comunicação simbólica e

concordam que o melhor meio de realizá-la é a através da linguagem. Segundo os autores, ―a

linguagem usada na vida cotidiana fornece-me continuamente as necessárias objetivações e

determina a ordem em que estas adquirem sentido e na qual a vida cotidiana ganha significado

para mim‖. (BERGER E LUCKMANN, 1995, p.38). Nesse sentido, as pessoas criam e

modificam as identidades em práticas comunicativas socialmente inscritas. A representação

social da mulher não é natural, mas uma construção a partir de símbolos socialmente aceitos,

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tanto por quem produz a notícia, quanto por quem a recebe. Marques (2003) reforça que ―A

mídia fornece recursos simbólicos para que os indivíduos possam implementar, repensar e

articular o entendimento que têm de si mesmos e dos outros‖ (MARQUES, 2003, p.10).

Até aqui nós vimos como as representações sociais se formam e se mantêm no

imaginário popular, que é a partir das instituições. Vimos também como surgiram algumas

representações sociais da mulher e que elas não foram sempre da forma como conhecemos

hoje. A imprensa pode ser considerada uma instituição que ajuda a formar, manter ou mudar

determinadas impressões na sociedade. Dentro da imprensa, as revistas semanais e seus textos

interpretativos são os mais evidentes na reprodução das representações, justamente por não

serem objetivados. Ao mesmo tempo, os jornalistas são influenciados por essa sociedade,

como indivíduos que possuem bagagem histórico-cultural e compartilham informações com

outras pessoas.

Devemos entender de forma mais aprofundada, como se dá a relação entre a mídia e as

representações sociais e qual é a finalidade desta discussão para o cenário público e político.

Vamos considerar, então as hipóteses do Agendamento e Enquadramento. As representações

sociais contidas no imaginário popular têm impacto no debate que se trava na esfera pública e

são alimentadas ou dissuadidas pelos conteúdos dos meios de comunicação – no caso nas

revistas – e também nos jornais e na televisão. Podemos, portanto, aproveitar a opinião de

Vizeu (2004), que se refere ao jornalismo televisivo como a grande ―praça pública‖ do país.

Essa definição pode ser trazida para qualquer meio de comunicação e no nosso caso,

usaremos para as revistas. Como ele mesmo afirma,

―A ―praça pública‖ de que tratamos aqui é a do espaço público midiatizado, através do qual

a televisão, os rádios e os jornais contribuem diariamente para a construção do real. Para a

maioria das pessoas, especialmente num país como Brasil, no qual a primeira e, muitas

vezes, a única informação disponível é aquela transmitida pela televisão, o campo midiático

ocupa um espaço central na divulgação dos grandes temas nacionais: economia, política e

cultura‖. (VIZEU, 2004, p.1).

Sendo assim, o espaço público que antigamente constituía-se nas praças e Ágoras,

onde todos discutiam de forma igualitária, hoje tem grande representação ou até extensão a

partir dos meios de comunicação. Esses meios consistem, de acordo com a hipótese do

Agendamento, a primeira exposição dos assuntos que serão discutidos pela sociedade.

McCombs e Shaw (1972), tratam de cobertura política e seus conceitos são válidos pelo fato

de se referirem à influencia dos meios de comunicação durante as eleições. Segundo Shaw

(1999), a formulação clássica da hipótese do Agendamento defende que, ―em conseqüência da

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ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora,

presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos‖

(WOLF Apud SHAW, 1999, p.144). Ou seja, os meios de comunicação são uma forma de

introduzir determinados assuntos no cotidiano dos indivíduos.

Sabemos do grande alcance nos meios de comunicação, e é obvio que, pela extensão

territorial do país, é impossível todos saberem sobre tudo apenas através de cartas, telefone, e

meios de comunicação que não os de massa (aqueles que atingem grande parte da população,

tais como televisão, rádio, jornais impressos, revistas e internet). A mídia noticia fatos novos

para que as pessoas discutam na esfera pública. Mas além de pautar o que discutir, os meios

de comunicação podem também dizer como se discutir. Segundo Colling (2001),

―Os mais recentes estudos sobre o agendamento têm concluído que a mídia não tem apenas

o poder de nos oferecer o leque de assuntos pelos quais iremos nos preocupar e conversar.

Além de estabelecer esta agenda interpessoal, os meios de comunicação também teriam o

poder de nos dizer como devemos pensar os temas existentes na agenda da mídia. Os

pesquisadores têm explicado isso através do conceito do framing, ou enquadramento‖.

(COLLING, 2001, p. 13).

De acordo com Entman (1993) produzir um enquadramento é ―selecionar alguns

aspectos da realidade percebida e dar a eles um destaque maior no texto comunicativo,

gerando interpretação, avaliação moral e/ou tratamento recomendado para o item descrito‖4

(ENTMAN, 1993, p. 52). Esse conceito é talvez o mais importante do nosso trabalho, pois

demonstra os tipos de escolhas feitas pelos jornalistas ao reproduzirem a reportagem: a partir

do fato de que são eles que redigem as matérias e de que os meios de comunicação podem

influenciar a sociedade, no sentido de o que e como discutir os assuntos, as representações

sociais que os jornalistas criaram vão ser postas em discussão pelas pessoas na esfera pública.

Entretanto, os jornalistas e as pessoas convivem numa mesma sociedade e as pessoas que irão

discutir as representações no espaço público já têm essas representações incutidas no seu

imaginário. Desta forma, sem poder criar novas representações, os jornalistas apenas reforçam

a ideia de determinados papeis.

Entretanto o contrário também pode ocorrer, pois o jornalista pode reformular o papel

social, priorizando alguns aspectos em detrimento de outros – no caso das candidatas, ele

reforça o enquadramento de assuntos ligados somente à campanha ao invés de focar nos

atributos que evocariam as representações sociais da mulher no espaço privado. A partir do

4 Tradução nossa.

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agendamento, a reportagem que o jornalista escreveu será lida pelos eleitores, que irão

comentar seu conteúdo, podendo concordar ou discordar. Ainda assim, não é um reforço, mas

uma reformulação que pode ser aceita ou não pelos leitores. Voltando a hipótese do

Agendamento, direcionamos o foco para a cobertura eleitoral. McCombs e Shaw (1972)

formulam as hipóteses fundamentais:

―em uma campanha eleitoral, os eleitores recebem dos meios de comunicação a maior parte

das suas informações; os eleitores conhecem novos elementos da informação, mas nem

todos são igualmente capazes de interpretar e usar todos os pontos de vista; os eleitores

conhecem e se informam de acordo com a insistência com que os meios falam e dão conta

dos problemas debatidos durante a campanha‖. (BREGMAN Apud McCOMBS E SHAW,

1998, p.213).

Percebemos que, quando se trata da mulher no cenário político, existe uma demanda

representativa de pessoas do sexo feminino em partidos e coligações. Também observamos

uma maior aceitação dos brasileiros por causa das Eleições de 2010, quando duas candidatas

tiveram votação expressiva e hoje, uma é Presidente.

Sendo assim, existe a possibilidade dos jornalistas estarem participando dessa

mudança, como indivíduos sociais e transmitindo essa alteração de valores – de forma

inconsciente e não proposital – para suas matérias. Mas esta variação, apesar de significativa,

não é total e ainda existe a possibilidade dos jornalistas continuarem a reforçar a

representação social tradicional da mulher nos meios de comunicação, consequentemente, não

colaborando a efetivação desta demanda que se mostra cada dia mais latente. E os meios de

comunicação teriam esse poder, pois podem pautar os assuntos que os eleitores e a sociedade

irão discutir na esfera pública. Eles podem, inclusive, reforçar uma ideia já presente no

imaginário popular e como as notícias são produzidas por indivíduos sociais, muitas vezes

realmente acabam fazendo esse papel reforçador. E hoje em dia, vivemos um cenário político

no qual os meios de comunicação têm extrema importância e influencia. Aldé (2001) destaca:

―O cenário em que encontramos os cidadãos da democracia contemporânea caracteriza-se

por uma esfera pública cada vez mais dependente dos meios de comunicação de massa para

a exposição de eventos, idéias, programas e líderes políticos. Os partidos parecem ter

perdido o monopólio do espaço público da política para os meios de comunicação, que

crescem em importância, tornando-se os canais de informação política mais importantes e

universalmente acessíveis. Este canal ‗público‘ tem uma lógica perversa: a mídia oferece o

máximo de informação sobre o máximo de assuntos, no mínimo de tempo‖(Aldé, 2001, p.

10).

Por isso, a forma como a mídia faz representações das candidatas é importante para a

prática dos direitos e deveres dos cidadãos. Norris (2000) afirma que o que os sujeitos

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precisam de um conhecimento prático sobre as consequências de suas ações políticas e que é a

mídia que deveria oferecê-lo. (NORRIS, 2000). Entretanto, essa não é a realidade, pois as

representações sociais femininas e o reforço de determinadas ideias que já fazem parte do

cotidiano podem influenciar os eleitores na hora de escolher os candidatos em que irão votar.

Isso tira o caráter igualitário do processo, já que, quando se trata de candidatos do sexo

masculino, a representação social que discrimina a sua presença no espaço público não existe.

Até o momento, estabelecemos uma discussão que relacionasse a mídia com as

representações sociais e demonstramos por que uma tem influência sobre a outra. Além disso,

as teorias que dessem conta desta discussão foram conceituadas e tivemos uma prévia da

discussão sobre o Enquadramento. Em resumo, as representações sociais surgem a partir dos

hábitos e dos papéis legitimados pelos próprios indivíduos e pelas instituições, inclusive a

mídia. Entretanto, as informações que ela transmite são estruturadas por jornalistas que estão

inseridos numa realidade comum com os leitores. Eles podem, portanto, reforçar a ideia da

mulher no espaço privado. No entanto, existe uma demanda cada dia maior de membros

femininos no cenário político, e essa realidade também pode ser refletida nas reportagens,

criando uma reformulação das representações sociais e do senso comum. Abordamos a Teoria

Interacionista, o conceito do Gatekeeper, do Enquadramento e a hipótese do Agendamento. A

partir de agora, a discussão entra no âmbito jornalístico, aprofundando as teorias do

jornalismo, principalmente, tratando-se de revistas. Todas as teorias daqui pra frente serão

discutidas com foco nas revistas.

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COMO OS TEXTOS DAS REVISTAS PERMITEM OBSERVAR MELHOR O

ENQUADRAMENTO DAS MULHERES EM ESPAÇOS PÚBLICOS

Segundo Benetti (2007), a notícia é uma construção social que depende basicamente

de seis condições de produção ou existência (TRAQUINA Apud BENETTI, 2007):

―a realidade, ou os aspectos manifestos dos acontecimentos; os constrangimentos

organizacionais, que podem incluir a intervenção dos proprietários dos meios e questões

econômicas; as narrativas que orientam o que os jornalistas escrevem; as rotinas que

determinam o trabalho; os valores-notícia dos jornalistas; as identidades das fontes de

informação utilizadas‖. (TRAQUINA Apud BENETTI, 2007, p. 110).

Sendo assim, existe um processo de produção que depende de vários fatores o

jornalista deve seguir algumas regras para que o texto se aproxime ao máximo da realidade, já

que ele objetiva relatar os fatos da forma como ocorreram. No caso das revistas, as

reportagens possuem um maior número de páginas, pois elas buscam contextualizar o fato,

dar desdobramentos e antecedentes históricos. Isso gera um espaço maior onde as

representações sociais podem se mostrar através do enquadramento – escolha das informações

que são utilizadas na reportagem – feito pelos profissionais da área. O próximo tópico traz as

características do texto de revista, assim como as peculiaridades do veículo. Além disso,

relacionamos teorias e conceitos do jornalismo para entender como acontece o enquadramento

e por que ele pode ser melhor identificado nos textos interpretativos. Por último, vamos

descrever algumas características das duas revistas analisadas: Veja e Carta Capital, como

forma de justificar a escolha desses títulos e conhecer o objeto de estudo.

2.1. DE QUE MANEIRA TEXTOS DE REVISTA INTERPRETAM OS FATOS QUE

A MÍDIA DIÁRIA VEICULA

A mídia de forma geral tem influencia inegável na vida dos indivíduos de uma

sociedade, já que atribui-se a ela o ―papel de oferecer conhecimento das coisas do mundo ou

ainda, de contar os acontecimentos que, de uma forma ou de outra, são relevantes para o que

se chama ‗opinião pública‘‖(LANDOWSKI, 1992). A mídia impressa é uma categoria que,

apesar do advento das novas tecnologias, ainda é fonte de informação para a população. No

caso das revistas, a audiência procura nos textos interpretativos o aprofundamento de assuntos

que são mostrados nos outros meios diários. Segundo Scalzo (2003),

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―Se ocorre um fato que mobiliza a população e tem ampla cobertura na televisão (os

atentados ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, por exemplo), é certo que

jornais e revistas venderão muito mais no dia e na semana seguintes – eles servem para

confirmar, explicar e aprofundar a história já vista na tevê e ouvida no rádio‖. (SCALZO,

2003, p. 13).

As revistas como um todo possuem duas características diferenciadoras: sua

periodicidade (semanal, mensal ou quinzenal) e a segmentação do público. A partir desses

dois fatores, diversas peculiaridades são demonstradas no que diz respeito ao veículo revista.

A principal delas - e a que nos interessa para esse trabalho – é a possibilidade de produzir

textos mais aprofundados, que complementam, explicam e contextualizam os acontecimentos

que passam na televisão ou saem nos jornais diários. E é justamente pelo caráter

interpretativo, que os textos de revistas revelam uma maior infiltração de opinião na

argumentação, tanto na seleção dos fatos e fontes como no discurso apresentado nas

reportagens.

Bahia (1990) afirma que, de maneira geral, existem três principais definições de tipos

de jornalismo: informativo5, opinativo

6 e interpretativo

7. Podemos identificar os três tipos nas

revistas: o opinativo está presente em artigos e editorial, já o informativo se mostra em textos

rápidos e pequenos, sobre lançamentos musicais, filmes, livros, e fatos sem muitos

desdobramentos. Segundo o autor, Jornalismo Interpretativo é aquele que busca não apenas

transmitir o fato ocorrido, mas contextualizar o acontecimento, dando novos ângulos,

prevendo desdobramentos e recuperando a história. Ele aprofunda o fato e dá todas as

informações para que os leitores possam tirar suas conclusões sobre a realidade.

Outros autores também conceituam Jornalismo Interpretativo. Para Beltrão (1980) esse

gênero se define como "Um jornalismo em profundidade, à base da investigação, que começa

a representar a nova posição da imemorial atividade social da informação de atualidade. Um

jornalismo que oferece todos os elementos da realidade, a fim de que a massa, ela própria, a

5 O jornalismo informativo é aquele utilizado pelos meios de comunicação impressos brasileiros na

cobertura diária das informações. Este estilo trabalha com as informações elaboradas e apresentadas em estrutura

mais direta, textos normalmente curtos e respondendo a seis perguntas básicas: Que? Quem? Quando? Como?

Onde? Por que? (BAHIA, 1990) 6 O jornalismo opinativo é constituído essencialmente de textos que marcam a opinião dos autores.

Conta com editoriais – que trazem a opinião do meio de comunicação – e colunas, artigos, crônicas, críticas,

escritos por especialistas, em alguns casos jornalistas, considerados autoridades na área em questão. Estes

espaços estão sempre evidenciados como opinativos no meio de comunicação, buscando diferenciá-los bem da

produção jornalística da publicação. (BAHIA, 1990). 7 Jornalismo Interpretativo trabalha com informações mais elaboradas. É essencialmente utilizado em

publicações semanais e/ou mensais, com periodicidade mais esparsa, ou ainda em cadernos especiais e edições

de final de semana de jornais diários. Isso porque, como o nome já diz, este gênero busca interpretar as

informações. Para isso, procura um número maior de fontes, buscando informações além das já apresentadas

pela mídia diária, repercutindo fatos já discutidos, abordando-os com maior aprofundamento. (BAHIA, 1990).

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interprete". (BELTRÃO, 1980, p.13). Por que, segundo o autor, o homem cultural consegue se

afastar da realidade e olhar para o mundo de forma reflexiva. Ele interpreta-o, organiza-o e

carrega-o de significado (BELTRÃO, 1980). Isso nos remete àquele conceito já discutido

sobre a propensão dos seres humanos a organizar a realidade.

Segundo Leadro e Medina (1980) Jornalismo Interpretativo "é realmente o esforço de

determinar o sentido de um fato, através da rede de forças que atuam nele - e não a atitude de

valoração desse fato ou de seu sentido, como se faz em jornalismo opinativo". (BELTRÃO

Apud LEANDRO E MEDINA, 1980, p. 48). Para Beltrão (1980), a interpretação dos fatos,

feita pelos jornalistas, caracteriza o jornalismo interpretativo. Segundo ele, "Interpretação é

um exercício da inteligência e do discernimento de um agente qualificado, com excepcional

aptidão para apreender toda a significação do fato para a comunidade, dentro de um 'critério

especial, de um juízo jornalístico que se resume em submeter o interesse particular e

transitório para obter a universalidade e considerar, nos fatos, o seu valor permanente'".

(BELTRÃO, 1980, p. 47).

Esses conceitos também foram observados na prática, Coopler (1968) reuniu a opinião

de vários editores sobre o jornalismo investigativo. As falas dos profissionais que trabalham

com esse gênero nos veículos cotidianamente revelaram a importância da reportagem em

profundidade. Um deles – Ceowley – afirmou que para chegar à reportagem em profundidade

é necessário interpretar as notícias já apresentadas, a fim de dar ao leitor os antecedentes

completos dos fatos que deram origem à notícia. E também explorar os desdobramentos dos

fatos no futuro, as circunstâncias no momento em que eles ocorreram e o alcance que tiveram.

Já Bottorf disse que as reportagens aprofundadas "tratam de oferecer aos leitores tudo o que

necessitam saber sobre um fato dado e que deve-se supor que o leitor não sabe nada sobre

esse fato e escolher o material segundo um sentido jornalístico e como parte de uma opinião

jornalística‖8.

De acordo com Beltrão (1980), a função do jornalismo se constitui na ―informação de

idéias, situações e fatos atuais, interpretados à luz do interesse coletivo e transmitidos

periodicamente à sociedade com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião

pública no sentido de promover o bem comum‖. (BELTRÃO, 1980, p. 27). Nesse sentido, o

jornalismo interpretativo cumpre bem o papel para com a sociedade, já que, segundo Melo

(2008), ―Para despertar a consciência crítica na sociedade sobre a realidade é necessário, mais

8 Ceowley, do Post Dispatch E Robert Bottorf, do Wall Street Journal. Contido em COOPLER, Nealse. Un

Nuevo Concepto de Periodismo. Mexico: Editorial Pax, 1968.

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do que tornar público o fato, é preciso apontar as situações e as circunstâncias relacionadas a

ele, a fim de que o receptor possa confrontá-lo com sua própria cultura, analisá-lo e formar

opinião‖. (MELO, 2008, p. 2).

Quando discutimos a participação do jornalista e suas crenças socialmente

compartilhadas – utilizando a Teoria Interacionista, conceito do Gatekeeper e Enquadramento

– estabelecemos que ele não consegue se desvincular das normas e valores advindos da

sociedade onde ele cresceu. Entretanto, nós sabemos que existe uma busca constante pela

objetividade e imparcialidade e que estes são conceitos que regem a profissão e dão

legitimidade ao jornalismo. Devemos então, discutir e esclarecer o que é a objetividade para

os jornalistas, para então afirmarmos nossa hipótese de que os autores das reportagens que

iremos analisar, apesar de buscarem a constante imparcialidade, acabam criando e

transmitindo representações sociais nos textos.

O conceito de objetividade parte do princípio de que ―não há uma distinção entre a

realidade e a notícia. Ou seja, a notícia seria o reflexo e a imitação da realidade‖.

(ANCHIETA, 2007, p. 1). Segundo Lopez e Dittrich (2004).

―O jornalismo impresso brasileiro passou por inúmeras alterações no decorrer dos anos.

Inicialmente dominada pela opinião, hoje a mídia possui um discurso mais pretensamente

isento de tomadas de posição e, desta forma, de interferências diretas na informação

transmitida ao receptor. Duas teorias atuais tratam o jornalismo sob distintas perspectivas:

como espelho da sociedade ou como interventor, como elemento agente no processo social.

A relação entre o fazer jornalístico do início do século passado e o fazer jornalístico do

início deste século evidencia a mudança na postura dos comunicadores brasileiros. O relato,

anteriormente mais poético e de postura declarada, no Brasil, transmutou-se em algo mais

exato, mais ‗isento‘‖. (LOPEZ E DITTRICH, 2004, p.1)

Autores atribuem o conceito de objetividade jornalística ao século XIX. Ele surgiu nos

Estados Unidos a partir do positivismo filosófico, que pregava uma ordem cientifica, onde

tudo deveria ser empiricamente verificável. Dessa forma, ciência equivalia a verdade, a

objetividade, formalização e racionalidade (FILHO, 2003). Filho (2003) afirma ainda que

―para que as ciências sociais pudessem resolver a ‗crise do mundo moderno‘ (Comte), teriam

de oferecer soluções baseadas em resultados tão incontestáveis quanto os das ciências exatas‖.

(FILHO, 2003, p. 22). Dessa forma, a objetividade é a constante busca pelo relato fiel da

realidade, onde tudo pode ser verificado empiricamente, uma descrição da realidade tal como

ela é.

Para Anchieta (2007), a afirmação das regras da objetividade jornalística dão margem

para duas premissas: ―Primeiro, a de que existe uma realidade, única, universal e imutável.

Segundo, de que não há qualquer mediação ou interferência simbólica, cultural e ideológica

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entre a realidade e a notícia‖. (ANCHIETA, 2007, p.1). Essas duas afirmações são discutidas

no campo jornalístico. Entretanto, o que nos interessa é que o contexto social do jornalista

influencia na seleção das informações da reportagem, a partir do Enquadramento e da

discussão sobre representações sociais. Sendo assim, a objetividade não pode ser completa.

Para Melo (2006), ―a questão da objetividade não é nova. Ela se colocou desde o

momento em que o jornalismo adquiriu autonomia social. Ou seja, quando a reprodução e a

análise da realidade por intermédio da imprensa se converteram em atividade ‗livre, regular e

contínua‘, de acordo com a caracterização de Rizzini‖. (MELO, 2006, p. 37). A partir do que

ele chama de ―triunfo da revolução burguesa‖, a prática do jornalismo se dividiu em duas

vertentes, na França o jornalismo opinativo e na Inglaterra, o jornalismo objetivo – ―racional,

contido, comedido, imperando o relato dos acontecimentos, isolado do comentário.‖ (MELO,

2006, p. 37). O autor afirma que, segundo o conceito de objetividade, reproduzir o real, a

partir da imprensa significa descrição fiel dos acontecimentos, mostrar exatamente como eles

ocorreram (MELO, 2003).

Contudo, o debate sobre a existência ou não da objetividade vem crescendo e ―a

novidade que se apresenta hoje na discussão sobre a objetividade é a existência de um

posicionamento crescente para considerá-la um mito‖. (MELO, 2003, p. 38). Essa é uma

discussão recorrente no campo jornalístico, já que diversas teorias afirmam que a partir de

escolhas do indivíduo no momento de escrever as notícias, a realidade não é a mais a mesma

da hora do acontecimento, portanto a objetividade não existe. Vilas Boas (1996) afirma que a

―neutralidade é uma ‗pretensão‘ objetiva, comum no jornalismo diário... Já o texto de revista

se propõe mais abertamente a interpretar o fato. Depois de ‗assentada a poeira‘, vem a

reflexão, a visão detalhada do contexto, a narrativa instigante e atraente‖ (VILAS BOAS,

1996, p. 14).

Ou seja, no conteúdo do jornalismo de revista, o autor dos textos produz matérias

interpretativas e, como vimos, tem mais mobilidade para escrever de maneira diferente,

estilizada, utilizar figuras de linguagens e ironias que demonstram a linha editorial do veículo.

E acabam deixando mais aparente o juízo de valor contido em seu imaginário.Segundo

Nascimento (2002),

―no caso específico das revistas, as características que usualmente identificam o discurso

jornalístico são, muitas vezes, atenuadas em favor de uma narrativa mais flexível, como

alteração de lides, adjetivações ou uso de advérbios, geralmente não recomendáveis pelos

manuais de redação jornalística‖. (NASCIMENTO, 2002, p. 27).

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Além disso, o jornalismo interpretativo pode ser mostrado na forma, além do

conteúdo, ―a partir da abordagem contextualizada e abrangente complementada com box,

gráfico, tabela, ilustração, cronologia, mapa, matérias secundárias etc., possibilita a

compreensão os fenômenos e das circunstâncias que envolvem os fatos‖ (MELO, 2008). Por

causa dessa maior flexibilidade de conteúdo e forma, onde as informações devem ser

aprofundadas, o jornalista tem maior influência na seleção do que é ou não colocado na

matéria. Ou seja, quanto maior a possibilidade de interpretação, maior a demanda de

ferramentas. E mais critérios o jornalista usa.

Essa discussão pode ser considerada uma extensão do que afirma a teoria

Interacionista. Segundo ela, através do discurso, as impressões do indivíduo para com o

mundo a sua volta não podem ser dissociadas da informação. Explicando melhor, diversos

fatores influenciam o profissional enquanto ele busca redigir a matéria, ou seja, ele não

consegue se isolar do mundo no momento em que pretende cumprir o seu papel de

informador. As duas situações são interligadas e uma acaba se refletindo na outra.

Traquina (2001) afirma que uma das partes da realidade que influencia o profissional

da área jornalística quando ele escreve suas reportagens é a rotina de horários que influenciam

na produção. Segundo ele, todos os jornalistas vivem sob a ―tirania do fator tempo‖.

(TRAQUINA, 2001, p. 181). Precisam noticiar determinados acontecimentos em meio a

milhões de fatos e seguindo os horários que regem a própria profissão. O jornal precisa fechar

a edição todos os dias em determinado horário, para mandar para a gráfica e estar à venda no

outro dia pela manhã. E os jornalistas, portanto, acabam estabelecendo critérios para

selecionar as notícias da forma mais proveitosa. O mesmo acontece com o fator espaço, já

que, segundo Traquina (2001), ―as empresas jornalísticas tentam impor ordem no espaço

estendendo uma rede noticiosa (news net) para ―capturar‖ os acontecimentos. (TUCHMAN

Apud TRAQUINA, 2001, p. 181).

Nas revistas, por manter uma periodicidade semanal, quinzenal ou mensal (no caso das

revistas analisadas nesse trabalho, é semanal) o fator tempo não é o mais relevante, já que a

periodicidade permite que os jornalistas trabalhem com notícias ―frias‖ – ou seja, aquelas que

não necessariamente acabaram de acontecer. Mesmo assim, por se tratar de um texto mais

elaborado e com informações contextuais, o fato de não possuírem um horário de fechamento

diário não muda o trabalho realizado no processo de cada reportagem.

Lippmann (1970), afirma que ―ainda que trabalhassem todas as horas do dia, todos os

repórteres do mundo não poderiam presenciar todos os acontecimentos mundiais‖.

(LIPPMANN, 1970, p. 186). Diferentes autores, portanto, buscaram estabelecer quais

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critérios utilizados pelos jornalistas no momento de poupar tempo/espaço. Por exemplo,

Fontcuberta (1999) diz que o discurso jornalístico tem cinco características fundamentais:

atualidade, novidade, veracidade, periodicidade e interesse público. Sugere também que os

dois principais critérios noticiosos para identificar um acontecimento são: tudo o que sucede

no tempo e tudo o que é improvável, singular, acidental.

Lippmann (1970) sugere que, para se transformar em notícia ―o curso dos

acontecimentos precisa assumir certa forma definível e, enquanto não atingir a fase em que

algum de seus aspectos é fato consumado, não se estrema a notícia do oceano de verdades

possíveis‖. (LIPPMANN, 1970, p. 187). Ou seja, para que um fato seja digno de ser

transmitido pelos meios de comunicação, ele precisa sair do comum, trazer atualidade e ter

alguma relação com os jornalistas ou com o público que o torne impossível de ignorar. No

caso das revistas, ainda que os critérios sejam diferentes por causa da periodicidade, elas

ainda buscam transmitir a maior atualidade possível, visto que acompanham (de forma

diferente) os fatos noticiados pela mídia diária.

É importante lembrar que, para a Teoria Interacionista a subjetividade do jornalista é

indissociável das opiniões transmitidas nas reportagens. E quando o texto é interpretativo,

como são os das revistas, ela se mostra mais presente ainda, demonstrando um contexto mais

verificável no momento da análise. Sobre a impossibilidade da objetividade jornalística,

autores afirmam que um texto completamente objetivo não existe e chegam a sugerir que esta

é uma estratégia de legitimação da profissão, estruturada da mesma forma que outras

afirmações buscam legitimar seus campos.

Dentre esses autores, Barros Filho (1994) constata que uma das maneiras de criar a

ilusão de objetividade se dá pela forma dos impressos atuais, que reservam um espaço para os

textos ditos ―opinativos‖, levando a crer que todo o resto é objetivo.

―No jornal O estado de S, Paulo, a título de exemplo, as páginas dois e três são dedicadas a

artigos assinados e editorial, respectivamente. Não bastando o nome da personalidade que

redigiu artigo, o jornal faz questão de destacar o rosto do autor, evidenciando a

subjetividade, fazendo crer na objetividade do resto e marcando a ruptura simbólica entre

ambos‖. (BARROS FILHO, 1994, p. 2).

Esse processo se dá no que diz respeito à forma, mas também pode ser trazido para o

conteúdo dos impressos. Barros Filho (1995) afirma que o próprio Lead (o quê, quando,

quem, como, onde e porquê) é uma ferramenta que dá a impressão de que a matéria é

simplesmente a descrição da realidade (BARROS FILHO, 1995). Além disso, a atribuição de

falas a outras pessoas – utilizando-se de aspas – também é utilizada, quando se pretende

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demonstrar que o jornalista não teve apenas captou o acontecimento da forma como ocorreu e

não teve nenhuma influência no processo.

Entretanto, sabemos que isso é impossível. Segundo Lamizet (1995) ―A subjetividade

é o que faz com que o sujeito seja reconhecido e circunscrito pelo outro, uma vez que a

subjetividade representa, em definitivo, o que o sujeito faz ver de si na relação de troca

simbólica com o outro‖ (LAMIZET, 1995, p. 47). Dessa forma, ainda que o jornalista busque,

através de ferramentas estabelecidas, dar a impressão de objetividade, as reportagens acabam

transmitindo suas ideias e valores pelo enquadramento que faz dos assuntos. E a estratégia da

objetividade, apesar de involuntária, é utilizada de forma a atrair os leitores. Esse é um

critério de noticiabilidade importante, já que as empresas jornalísticas precisam se sustentar

financeiramente.

Segundo Grudzinski (2001) ―Os estudos sobre noticiabilidade partem inalteravelmente

de como a produção jornalística seleciona, ordena e estabelece as notícias a partir de um

grande número de eventos, programados ou não, e sugestões de pautas que chegam aos

veículos de comunicação‖. (GRUDZINSKI, 2001, p.4). Assim, eles refletem uma forma de

organização ligada à instituição, relacionamento dos jornalistas com as fontes e com seu

ambiente de trabalho, tudo condicionado à definição do que é noticiável. Traquina (2004)

afirma que as coisas são noticiáveis:

―[...] porque elas representam a volubilidade, e a imprevisibilidade e a natureza conflituosa

do mundo. Mas, não se deve permitir que tais acontecimentos permaneçam no limbo do

―aleatório‖ – devem ser trazidos aos horizontes do ―significativo‖. Este trazer de

acontecimentos ao campo dos significados quer dizer, na essência, reportar acontecimentos

invulgares e inesperados para os ‗mapas de significado‘ que já constituem a base do nosso

conhecimento cultural, no qual o mundo social já está ‗traçado‘‖ (HALL Apud

TRAQUINA, 2004, p. 171).

Mais autores discutem sobre os critérios de noticiabilidade, por exemplo, Lage (2001)

afirma que alguns itens são consideráveis como: A proximidade – O raciocínio é de que o

homem se interessa principalmente pelo que lhe está próximo; a atualidade – O homem se

interessa principalmente pelos fatos recentes; a identificação social – A identificação social

processa-se de baixo para cima da pirâmide que costuma representar sociedades divididas em

classes. O que determinará a identificação não é uma situação real na escala da sociedade,

porém projeções ideais desta situação; a intensidade – Se considera que, admitindo dois

eventos equivalentes, é mais notável o que tem maior intensidade em números. O ineditismo –

A raridade de um acontecimento é fator essencial para o interesse que desperta. A

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probabilidade em jornalismo diz respeito ao conhecimento que presumivelmente o público

tem dele. A identificação humana – Essa especificidade é atingida quando um grande atleta ou

uma cantora notável passa a despertar interesse mesmo entre os que não apreciam esporte ou

canto. (LAGE, 2001, p. 92-103)

Assim como Lage, Mário Erbolato (1991) ressalta que os jornais adotam critérios para

selecionar assuntos que possam atrair leitores. Segundo o autor, as notícias, de modo geral,

poderiam ser publicadas quando respeitados os seguintes critérios que, embora não sejam

unânimes, motivam e atraem público. São eles: proximidade; impacto; proeminência (ou

celebridade); aventura e conflito; conseqüências; humor; raridade; progresso; interesse

pessoal; interesse humano; importância; rivalidade; utilidade; política editorial do jornal;

oportunidade; dinheiro; originalidade; culto de heróis; descobertas e invenções; repercussão;

confidências. (ERBOLATO, 1991, p.60-65).

Ao apresentar alguns desses critérios, nossa intenção é afirmar o interesse do público

como grande influência para os jornalistas e meios de comunicação. As revistas, como já

vimos, possuem público segmentado, ou seja, elas são veiculadas para faixas etárias, etnias,

sexos e outras características específicas. Scalzo (2003) afirma que ―A segmentação por

assunto e tipo de público faz parte da própria essência do veículo‖. (SCALZO, 2003, p. 14).

Mas, elas também podem ser segmentadas na questão do conteúdo. Nesse caso, elas tratam de

assuntos específicos, como automóveis, pesca, moda, entre outros. Além disso, as revistas

também podem reportar atualidades, sem ter um assunto único, que é o caso da Veja e Carta

Capital. Essas são chamadas revistas generalistas e são essas que serão utilizadas para a

presente análise.

Scalzo (2003) prova que a revista é segmentada ao explicar que ―A revista trata o

leitor de você, fala com ele diretamente e, às vezes, com intimidade‖ (SCALZO, 2003, p. 37).

Ela busca proximidade com o público, já que depende deles e as reportagens não são

destinadas a indivíduos heterogêneos. Os jornalistas, além de participarem de uma sociedade

comum, com seus valores e história, também precisam criar essa aproximação com o público,

transmitindo assim, mesmo que não intencionalmente, as características que eles sabem que

os leitores concordam.

No caso de assuntos ligados ao cenário político, por mais que as revistas não dêem

todas as notícias ―quentes‖ – de última hora – elas precisam, do seu modo interpretativo, estar

sempre atualizadas para transmitir informação aos leitores. Leitores, estes que, pela

segmentação do produto, se interessam pelo tema e acompanham as notícias mais

assiduamente do que o público em geral. Entretanto, enquanto os jornais nascem ―com a

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marca explícita da política, do engajamento claramente definido, as revistas vieram para

ajudar na complementação da educação, no aprofundamento de assuntos, na segmentação

[...]‖, (SCALZO, 2003). Para a autora,

―estudando a história das revistas, o que se nota e primeiro lugar não é uma vocação

noticiosa do meio, mas sim a afirmação de dois caminhos bem evidente: o da educação e do

entretenimento. [...] [as revistas] ajudaram na formação e na educação de grandes fatias da

população que precisavam informações específicas, mas que não queriam – ou não podiam

– dedicar-se aos livros‖. (SCALZO, 2003, p.14)

Ou seja, as revistas não são tão aprofundadas como os livros, nem tão rasas como os

jornais diários. Ainda assim, a motivação das pessoas para ler uma revista é diferente do que

para ler um jornal, pois ela não vai buscar informação do que ocorreu, mas sim explicação

sobre os fatos, contextualização. No caso deste estudo, que tem como tema a cobertura

politica, entendemos que a abordagem dada pela mídia diária se mostra diferente da feita

pelas revistas. Por exemplo, elas se prendem mais a pesquisas de votos, escândalos políticos,

perfis dos eleitores do que a notícias imediatas como visitas dos presidenciáveis, eventos,

comícios, entre outros. Uma situação mais ilustrativa é essa: ao invés de anunciar as

promessas de campanha feitas em determinada data, as revistas analisam essas propostas,

comparam com outros discursos do mesmo candidato, relacionam as falas com promessas

anteriores. Também contextualizam as propostas, trazendo as possibilidades para a realidade

do país, entrevistando especialistas em diversas áreas.

Na área política, principalmente em período de eleições, as revistas trazem o fato, mas

contam o que vem se desenrolando até ele se encontrar como está. As revistas devem mudar o

ângulo das notícias e trazer textos mais aprofundados sobre os assuntos que os meios de

comunicação diária já pautaram. Segundo Scalzo (2003), elas ―cobrem funções culturais mais

complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, trazem análise, reflexão,

concentração e experiência de leitura‖. (SCALZO, 2003, p. 13).

Já vimos que o jornalista é influenciado pelo contexo de uma sociedade que se

modifica e cria conceitos e comportamentos considerados naturais. Também consideramos

que em um produto com textos interpretativos, como é o caso da revista, a ideologia do

jornalista tem maiores oportunidades para ser exposta. A ideologia, aqui, possui caráter de

reunião de tudo o que o indivíduo apreendeu de sua convivência na realidade e o que ele

considera certo, errado, normal e fora dos padrões.9

9 Para Becker (1984), por exemplo, a ideologia é um sistema de enquadramentos de referência através

dos quais uma pessoa vê o mundo e aos quais ajusta as suas ações, pelo que a ideologia governaria a forma como

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Os textos contêm outras informações relevantes sobre os candidatos, planos de

governo, escândalos políticos que envolveram os presidenciáveis no passado, entre outros

acontecimentos. Ela traz todas as informações não apenas para que os leitores fiquem cientes

do que ocorre a sua volta, mas busca deixá-los preparados (como cidadãos) para realizar um

importante dever, que é o voto.

Por isso, os meios de comunicação se tornaram ferramenta essencial para a

manutenção das campanhas e a fiscalização dos candidatos. De acordo com Lima (2006), a

mídia, hoje em dia, vem exercendo algumas funções tradicionais que antes eram

desempenhadas pelos próprios partidos políticos. Ela contribui para a construção da agenda

pública, gera e fornece informações públicas, atua como agente fiscalizador das ações do

governo e exerce ainda o papel de crítica das políticas públicas, muitas vezes canalizando as

demandas da população. (LIMA, 2006).

No campo da construção de sentidos, a ação ideológica dos jornalistas nos veículos de

comunicação é relevante, já que o papel dos meios de comunicação na propagação de uma

ideologia e do fortalecimento das forças que determinam a natureza dessa ideologia merece

reflexão. Sousa (1999) argumenta que a ideologia tem sido crescentemente relevada nos

estudos sobre a comunicação social por duas razões (HALL Apud SOUSA, 1999): pela

crescente reconhecimento da capacidade que os media têm de construir sentidos prevalecentes

para a realidade, ―definir situações‖ e catalogar determinadas pessoas e acontecimentos como

―desviantes‖ (ajudando a definir a norma); e pela quebra do ―consenso social‖ após os anos

sessenta, trazendo por arrastamento uma maior polarização ideológica e focalizando a atenção

no controle ideológico exercido pelos media, que seria, em certa medida, orientado para a

manutenção do statu quo e para a legitimação e exercício do poder simbólico.10

Isto é, os meios de comunicação constróem sentido através do discurso e assim,

podem criar estereótipos ao catalogar certas pessoas como diferentes do usual. Ao mesmo

tempo, os meios definem o normal justamente por sugeirir o que não é normal. Por exemplo,

se pelo discurso dos meios de comunicação, entende-se a naturalidade de uma mulher pública

- como as presidenciaveis – se vestir de maneira sóbria e manter um certo cuidado com a

aparência, outras mulheres públicas do cenário político serão cobradas da mesma forma.

Nesse caso, um indivíduo do sexo feminino que não segue esse padrão – estabelecido a partir

da legitimidade que a própria sociedade atribui e que a mídia reforça – pode ser

cada pessoa percebe a si mesma e ao mundo e controlaria o que é visto como natural ou óbvio. Williams (1977),

por sua vez, define ideologia como um sistema articulado de significados, valores e crenças. 10

SOUSA, Jorge Pedro. A notícia e seus efeitos. As teorias do jornalismo e dos efeitos sociais dos media.

1999, p. 42.

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desacreditado. Isso ocorre apesar da vestimenta ser um tema secundário, já que os planos de

governo são mais importantes para o interesse público, pois quando ela foge do padrão

considerado natural, se torna tema principal, mas de forma negativa.

Já a questão do status quo pode ser entendida a partir da ideia de que os meios de

comunicação reforçam as normas vigentes da sociedade. Eles buscam uma realidade estável,

que se mantenha da forma mais parecida possível com o que ela já é. Os meios usam seu

poder institucionalizador de papeis e hábitos, mas podem contribuir para a manutenção de

regras, valores e, consequentemente, das representações sociais. Entretanto, o foco deste

trabalho se baseia na consideração de que esse é um processo não intencional e até

inconsciente. Diferente das motivações dadas por Hall, onde os meios de comunicação fazem

o papel de controle ideológico, nós consideramos que a mídia pode auxiliar na manutenção

das representações, mas a partir do enquadramento feito pelos jornalistas e da popularidade

dos veiculos, assim como a credibilidade junto à sociedade. Mas esse não é o objetivo inicial

do processo, pois acaba sendo uma consequência.

Desta maneira, é o enquadramento do jornalista que irá auxiliar na quebra de

parâmetros ou na manutenção das representações sociais. Isso por que, segundo Shoemaker e

Reese (1996) ―Os meios jornalísticos são, consequentemente, uma peça fundamental para a

conceitualização do desvio. Porém, o desvio é algo que constantemente é redefinido e

renegociado no seio da sociedade, devido às interacções simbólicas entre os seus membros

(Shoemaker e Reese, 1996, p. 225)‖. Voltamos, então, à teoria Interacionista que afirma que o

meio influencia o profissional da área jornalística na hora de escrever a matéria. Se a

realidade cotidiana pode interferir no enquadramento da informação e a interação e possível

mudança simbólica entre os indivíduos de uma sociedade está constantemente ocorrendo, os

textos contídos nas revistas ora reforçam os padrões culturais, ora reformulam. Sousa (1999)

reforça essa reflexão ao dizer que:

―Se a cultura muda, se se adapta e evolui, os conteúdos mediáticos podem funcionar quer

como catalisadores, quer como travões da mudança. Por exemplo, neste último campo, o

conteúdo dos media poderia tomar as piores características da sociedade, disseminá-las e,

por consequência, fortalecê-las, tornando a mudança difícil. Além disso, numa abordagem

mais estruturalista, as representações sociais patentes nos conteúdos mediáticos, podendo

reflectir as relações de poder existentes na sociedade, poderiam também levar a que

dificilmente outros tipos de relacionamento fossem concebíveis. (Shoemaker e Reese,

1996: 60)‖. (SOUSA, 1999, p.40).

Sousa (1999) também relaciona o enquadramento com a construção social e a

manutenção dos valores e do sentido na sociedade. Para ele,

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―o conteúdo não se esgota numa manifestação de cultura. Os conteúdos dos news media

também são uma fonte de cultura, também exercem um determinado papel na construção

cultural, um processo activo e contínuo. Segundo Shoemaker e Reese (1996: 60), os media

tomam até elementos da cultura, reenquadram-nos, relevam-nos e remetem-nos para a

audiência após este processo de mediação, impondo assim a sua própria lógica na criação

de um ecossistema simbólico‖. (SOUSA, 1999, p.40).

Sendo assim, os jornalistas selecionam os elementos ao escrever a reportagem como

forma de organizar a alta demanda de fatos e informações, e consequentemente, constroem

um sentido que será recebido e decodificado por milhares de leitores e que, mesmo

involuntariamente, tem a sua impressão sobre o mundo que o cerca. Segundo Pereira Jr.

(2006), ―no jornalismo, construir sentido é reduzir incertezas. Por que a realidade não pode

ser contada aos outros por inteiro, noticiar é selecionar fatos para organizar um sentido‖.

(PEREIRA Jr., 2006, p. 27).

As notícias, segundo Schudson (1988) são vistas não apenas como um produto feito

por indivíduos, mas também como um artefato que, mesmo involuntariamente, se apoia e faz

uso de padrões culturais pré-existentes para produzir sentido (por exemplo, segundo Sousa

(1999), na nossa cultura, notícia geralmente é o que é novo, a resposta à questão ―Que

novidades há?‖). A antropologia, com a ideia de sistema cultural, conjunto de categorias

cognitivas através das quais uma sociedade vê o mundo, ofereceria neste campo um

contributo importante (SCHUDSON, 1988, p. 24) — o conceito de frame, ou seja, de

―enquadramento‖, por exemplo, cabe aqui.

Diversos autores refletem e conceituam o enquadramento, que é considerado uma

parte importante do processo de construção de notícias, mais aproximada da realidade do que

as teorias que afirmam que o jornalismo é um espelho do real. Tuchman (1976) foi uma das

autoras que mais discutiu o conceito do enquadramento, ou frame. Remetendo a noção

original para Goffman (1975), que se referia a essa técnica como formas de organizar a vida

quotidiana para se compreender as situações sociais e dar resposta a elas, a autora usa o

conceito como sinônimo de ideia organizadora usada na atribuição de sentido aos

acontecimentos. Também para ela, há acontecimentos que nunca podem ser notícia porque o

catálogo de frames não contém um que seja aplicável.

Manoff (1986) também sugere que a escolha de um enquadramento não é inteiramente

livre, pois depende do ―catálogo de frames disponíveis‖ num determinado momento socio-

histórico-cultural. Ou seja, depende de como o jornalista – seletor de informações – vê a

realidade naquele determinado momento. Além disso, sua experiência de vida deve ser

considerada no processo, já que é ela que lhe molda a percepção. A escolha do enquadramento

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depende também das rotinas, do peso das instituições e de outros constrangimentos ligados ao

processo jornalístico de produção.

Em complemento a isso, Bird e Dardenne (1988) dizem que as notícias são

representativas da cultura e ajudam a compreender os seus valores e símbolos com

significantes. Além disso, elas possuem códigos simbólicos reconhecidos pela audiência.

Isso mostra que tanto os jornalistas quanto o público partilham de uma cultura comum. Essa

concepção gera a consciência de determinados valores e regras que são reforçados ou

refutados a partir do enquadramento e construção de sentido. Por exemplo, as notícias, para os

autores, recriariam um sentimento de segurança ao promoverem certa ordem e ao

estabelecerem fronteiras para o comportamento aceitável. E o ser humano deseja essa ordem

social, segundo Berger e Luckmann (1995).

Shoemaker e Reese (1996, p. 114) afirmam, por sua vez, que as histórias jornalísticas,

para serem atraentes, tendem a integrar os mitos, parábolas, lendas e histórias orais mais

proeminentes numa determinada cultura. A partir do enquadramento, essa é uma escolha que

pode ser acatada ou não pelos jornalistas. No caso dos textos interpretativos de revista,

notamos que geralmente os autores buscam maior aproximação com o público, além do que, o

aprofundamento e tamanho do texto permitem uma maior mobilidade de termos e frases.

Sendo assim, essa é uma característica que o frame permite num texto veiculado por revistas.

Até o momento nós afirmamos que notícia é o acontecimento que foge da normalidade

e que existem alguns critérios (diferentes para cada meio de comunicação) para que um fato

se torne notícia. Considerando que as revistas trabalham com acontecimentos não

necessariamente urgentes, mas traduz de forma aprofundada determinado assunto já pautado

pelos outros meios, o jornalista de revista deve buscar informações além do fato em si, deve

contextualizar. E é aí que a subjetividade se apresenta com força, pois considerando que a

objetividade não existe nem nas reportagens informativas, nas interpretativas ela só vem a ser

reforçada.

Também estabelecemos que as revistas possuem público segmentado e que seus

diretores e escritores desejam atrair e agradar a estes leitores. Portanto, existe uma diferença

entre o que os jornalistas consideram interesse público e as informações que eles selecionam

para o interesse do público. De acordo com Noblat (2008) os manuais de jornalismo ensinam

que a noticia e um fato relevante, mas que os jornalistas, fora dos manuais, definem noticia

como tudo o que eles escolhem para oferecer ao publico.11

(NOBLAT, 2008). Entretanto,

11

No caso, o cenário público e político do Brasil pode ser considerado como notícia, afinal, o cidadão

tem obrigação de exercer o direito do voto. Dessa forma, tudo que apareça nos meios de comunicação sobre o

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dizer que a notícia é interessante, pois desperta o interesse público é muito vago. Afinal, quem

decide o que é interesse público acaba sendo o jornalista, de acordo com o conceito do

Gatekeeper. Beltrão (1980) reforça essa hipótese, mas na questão do jornalismo interpretativo.

Ele salienta que

"A interpretação de que se trata é do jornalista, e não do público. O que se oferece a esse

público é aquilo que julgamos nós que necessita saber e o material informativo deve ser

por nós analisado, como parte de uma opinião jornalística. Isso é confundir alhos com

bugalhos: uma forma disfarçada de opinião, de sujeito da objetividade à linha político-

filosófica do jornalista, um processo de massificação e imposição e não de fornecimento de

dados coordenados e completos que proporcionem à audiência os elementos necessários à

sua própria configuração dos fatos, ideias e situações da atualidade, permitindo-lhe atuar

livremente como resultado da própria reflexão". (BELTRÃO, 1980, p. 46).

Dessa forma, o jornalista acaba decidindo o que é notícia e interpretando os fatos para

o público. Isso não deveria acontecer, pois o jornalismo é interpretativo, não por dar a

interpretação feita, digerida, mas por permitir fazer interpretar a quem legitimamente deve

fazê-la, que é o público. O mesmo ocorre no momento de decidir o que é ou não notícia. A

partir dessas duas ações, interpretação e seleção, o jornalista acaba criando estereótipos que

são seus e transmitindo-os para o público.O público, por sua vez, ou refuta ou acata essas

representações. Caso eles refutem, o jornalista está indo contra a disposição da profissão de

dar aos leitores o que eles querem. Se eles aceitam, os estereótipos se tornam hábitos

institucionalizados pela mídia.

Para Traquina (2003), os critérios de noticiabilidade servem para que os jornalistas

possam classificar com mais facilidade as notícias dentro de padrões pré-definidos e adotados

como modelos pela ―tribo jornalística‖, para que elas possam ser enquadradas em determinada

categoria (TRAQUINA, 2003). É o mesmo conceito que adota Wolf (2003), que define a

noticiabilidade como ―o conjunto de elementos através dos quais o órgão informativo controla

e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos, de entre os quais há que selecionar as

notícias‖ (WOLF, 2003, p. 86). Mas isso pode gerar problemas, como descreve Noblat (2008)

―Os leitores acham que o cardápio dos jornais está mais de acordo com o gosto dos jornalistas

do que com o gosto deles. E que a visão que os jornalistas têm da vida é muito distante da que

eles têm‖ (NOBLAT, 2008, p. 15). Isso ocorre devido às distorções decorrentes da seleção

equivocada dos assuntos que são escolhidos e eleitos como notícia pelos jornalistas. Já para

Hohlfeldt (2008), os critérios de noticiabilidade são fatores verificáveis somente após terem

assunto é relevante, ao menos teoricamente, para que ele conheça a esfera política do seu país, vote

conscientemente e exerça sua cidadania.

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sido concretizados, ou seja, são conceitos que só são aplicados depois que os acontecimentos

ganharam o status de notícia, e servem para ―reconstituir os valores que influíram na decisão

de torná-la enquanto tal‖ (HOHLFELDT, 2008, p. 208).

Partindo da opinião de Noblat (2008) de que muitos leitores reclamam das notícias

estarem mais de acordo com a vontade do jornalista do que com o interesse do público,

podemos verificar a influência do pensamento e subjetividade na hora de selecionar as

matérias. Ora, se a subjetividade não pode ser dissociada do profissional, no momento de

analisar determinada campanha política ou fato e contribui – de forma aprofundada como

fazem as revistas – para o jornalismo feito diariamente, ela também está presente.

Considerando a classificação feita por Hohlfeldt (2008, p. 209-214), que subdivide os

critérios de noticiabilidade em cinco categorias: categorias substantivas; categorias relativas

ao produto; categorias relativas aos meios de informação; categorias relativas ao público; e

categorias relativas à concorrência, poderemos averiguar de que maneira as representações

sociais da mulher se mostram, seguindo a ideia de que os jornalistas incluem e excluem

informações de acordo com suas características pessoais e sociais. Embora o autor se utilize

de cinco subdivisões, as únicas que atendem à demanda deste trabalho são as duas primeiras,

que são possíveis de se verificar exclusivamente analisando uma revista, desta forma optamos

por utilizar apenas as categorias substantivas e as relativas ao produto12

.

CATEGORIAS SUBSTANTIVAS: para Hohlfeldt (2008, p. 209), estes critérios

ligam-se diretamente ao acontecimento, o que leva aquele fato a se tornar uma notícia por ele

mesmo, sem outras influências que não sejam ele próprio (HOHLFELDT, 2008). No caso das

eleições presidenciais de 2010, o contexto já define que qualquer fato público sobre os

candidatos pode ser noticiado. Todos os fatos são de interesse do público, a princípio.

Partindo disso, depende do enquadramento do jornalista retratar acontecimentos ligados ao

plano de governo ou à vida particular dos candidatos. Essa categoria subdivide-se em:

IMPORTÂNCIA: remete exclusivamente ao acontecimento, já que se refere aos fatos

que invariavelmente são notícia, como por exemplo, um debate entre os candidatos em TV

aberta sobre seus planos de governo.

12

Cada categoria é divida ainda por Hohlfeldt (2008) em diversos subitens, e embora uns sempre se

sobreponham aos outros, sendo uns de uso mais corriqueiro e outros não tão utilizados e de difícil verificação,

citaremos os que têm relação direta com o produto a ser analisado.

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Quadro 1 – Critérios para os acontecimentos que são notícia, pois fazem parte do contexto

eleitoral

Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos: Atores sociais que se envolveram no fato. No caso, as

próprias eleições formam um contexto onde todos os presidenciáveis automaticamente são notícia.

Impacto sobre a nação: A importância que o fato representa perante o interesse nacional ou regional, como

em questões relacionadas à soberania nacional, por exemplo.

Fatos que apresentem consequências futuras: Por questões de agenda, fatos que possam acarretar novos

desdobramentos ou uma evolução futura tem uma maior aceitação quanto a um fato noticiável, pois ele tem

condições de se tornar produto jornalístico novamente quando seus desdobramentos ocorrem.13

Fonte: HOHLFELDT, 2008, p. 210.

B. INTERESSE: Hohlfeldt (2008) explica que ―esta perspectiva apresenta situações

menos claras e aparentes, resultando quase sempre de situações complexas‖. (HOHLFELDT,

2008, p. 210). Nestes casos, o jornalista faz uma avaliação que parte da sua visão sobre seus

consumidores, o que muitas vezes resulta em uma distorção entre o que o jornalista acha

importante e o que o receptor acha importante. É nessa categoria que o enquadramento do

jornalista fica mais evidente, já que a forma que ele coloca as informações não tem,

necessariamente, interesse público. Como por exemplo, as roupas que as candidatas usavam

em determinado evento público.

Quadro 2 – Critérios para os fatos que o jornalista acha importante noticiar

Capacidade de entretenimento: O que vale nesta categoria é o poder de atrair o receptor pela distração que o

fato lhe proporcionará. Assim como os erros gramáticos dos candidatos no debate sobre as propostas de

governo.

Interesse humano: Notícias que busquem denunciar situações erradas ou a conscientização para algum

problema se enquadram nesta categoria. De acordo com Hohlfeldt (2008, p. 210), muitas vezes essa categoria

se transforma em sensacionalismo, tal como escândalos políticos, nepotismo, gastos abusivos, etc.

Composição equilibrada do noticiário: para equilibrar os momentos de alegria e tristeza em um noticiário,

busca-se uma forma de dosagem entre as matérias. 14

Fonte: HOHLFELDT, 2008, p. 210.

CATEGORIAS RELATIVAS AO PRODUTO: dizem respeito às condições de

produção de material a partir de determinado fato. Estas condições podem incluir, por

13 Durante o período de eleições, todos os fatos são desdobramentos. Fazem-se apanhados históricos sobre

os candidatos e discutem-se as probabilidades de eleição. (HOHLFELDT, 2008, p. 209 -210). 14 Desta forma, fatos que poderiam nem ser tão importantes acabam entrando no noticiário unicamente

para deixá-lo mais equilibrado. Esse é um momento onde a representação social da mulher também pode

aparecer, já que, como forma de não falar apenas de assuntos considerados ―pesados‖, o jornalista pode ter a

impressão de que falar da vida privada das candidatas, como sua rotina, família, entre outros, equilibra as

reportagens.

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exemplo, a acessibilidade ao local onde o fato ocorreu, influenciando no tempo e no desgaste

que será necessário para que uma equipe se desloque até o local, algumas vezes não

compensando o deslocamento; diz respeito também à capacidade de tornar o fato dramático

ou sua capacidade de entretenimento, que nada mais são do que a capacidade do fato em

tornar-se ―digerível‖ para o receptor (HOHLFELDT, 2008, p. 2010). Entretanto, o autor

destaca que o fato pode ser tão importante que estes fatores podem se tornar desprezíveis e

ignorados.

Quadro 3 – Critérios para o acontecimento que se adeque às condições das rotinas produtivas

do veículo que vai noticiá-lo

Brevidade: O relato seguir o padrão do veículo. Nesta categoria, podemos analisar os textos a partir da ideia

de que eles compõem um jornalismo interpretativo, ou seja, são maiores, mais aprofundados, com páginas

mais densas, e podem conter Box, gráficos, fotos, entre outros.

Condição de desvio da informação: Vem da ideia de que notícia ruim é sempre melhor do que notícia boa,

que o inesperado é sempre melhor que o fato rotineiro. 15

Fonte: HOHLFELDT, 2008, p. 210.

Partindo dessa discussão, iremos definir quais os aspectos gerais da revista, um pouco

de sua história, algumas características editoriais da Veja e Carta Capital, assim como a

conduta política de cada uma. Entendemos que essas informações são importantes no

momento de análise, já que primeiramente, estabelecem um contexto para que a coleta dos

dados siga um padrão, a partir dos textos interpretativos, notas, editorial, carta do leitor, etc.

As características e a conduta política dos dois títulos são necessárias por que elas são

veículos distintos que devem ser considerados em suas peculiaridades.

A Veja e Carta Capital possuem linhas editoriais e posicionamentos políticos

diferentes, isso foi escolhido justamente para que os textos não demonstrassem um tratamento

baseado apenas no partido de cada candidata, pois se o resultado final mostrar um tratamento

negativo da Veja para com a Dilma, por exemplo, isso não significa necessariamente que é por

causa do sexo, mas sim pelo seu partido. E então, teremos a Carta Capital com opiniões

positivas para verificar qual a real origem desta abordagem. Além disso, posicionamentos

distintos criam um ambiente de pesquisa muito mais rico, pois poderemos verificar se, apesar

de linhas editoriais diversas, as opiniões se igualam quando tratam das representações sociais.

15

Ou seja, nesse tópico, entendemos que as revistas preferem anunciar um escândalo político da

candidata, ou uma atitude constrangedora ou pouco compatível com sua atual posição, do que apenas os planos

de governo, debates, etc.

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Isto, por que o presente trabalho pretende enxergar a candidata como mulher, não como

membro de determinada linha política, atuante em determinado campo especifico. Queremos

ver as representações sociais do individuo do sexo feminino em um espaço publico, exposto e

onde a mulher não tem muita representatividade.

2.2 CARACTERÍSTICAS DA REVISTA: POR QUE ELA É DIFERENTE DOS

VEÍCULOS DIÁRIOS

Para interpretarmos os conceitos do jornalismo, associando-os com o texto

interpretativo das revistas, precisamos discutir algumas características do veículo que legitima

a escolha desses conceitos e sua aplicação na análise feita no trabalho. Partimos de aspectos

que diferenciam esse veículo dos outros meios de comunicação e, rapidamente, de que forma

isso é refletido no texto e na apuração jornalística. Em seguida vamos contextualizar a

trajetória das revistas no Brasil e no mundo, para conhecer melhor o objeto de estudo.

Nascimento (2002) diz que

―Em linhas gerais, define-se revista como uma publicação periódica de formato e temática

variados que se deferem do jornal pelo tratamento visual (melhor qualidade de papel e

impressão, além de maior liberdade de diagramação e utilização de cores) e pelo tratamento

textual (sem o imediatismo imposto aos jornais diários), as revistas lidam com os fatos já

publicados pelos jornais diários, ou já veiculados pela televisão de maneira mais analítica,

fornecendo um maior número de informações sobre determinado assunto‖.

(NASCIMENTO, 2002, p.18).

Já vimos de maneira rápida e pouco direcionada por que as revistas formam um

veículo diferente dos outros meios de comunicação. Neste momento, vamos aprofundar esta

discussão ao afirmar que ela é diferenciada, primeiramente, por sua periodicidade, que é

semanal, quinzenal ou mensal. Isso gera dois desdobramentos: primeiramente ela não precisa

dar conta de reportagens diárias e não trabalha com o fator tempo da mesma forma que os

veículos diários, ou seja, as notícias não são veiculadas com a mesma rapidez dos veículos

diários. Por outro lado, sua abordagem precisa ser diferente, já que ela tem mais tempo para

apurar e checar informações e, além disso, precisa dar conta de notícias que já saíram na

mídia. Segundo Vilas Boas (1996), ―com mais tempo para extrapolações analíticas do fato, as

revistas podem produzir textos mais criativos, utilizando recursos estilísticos geralmente

incompatíveis com a velocidade do jornalismo diário. A reportagem interpretativa é o forte‖.

(VILAS BOAS, 1996, p. 9).

Dessa forma, a revista reúne diversos fatores diferentes dos jornais diários, de forma

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simplificada, o que é notícia em um veículo diário pode não render uma matéria na revista.

Ela precisa mudar o foco, o ângulo, estabelecer o contexto, discutir possíveis desdobramentos

e fazer um apanhado histórico do assunto, tudo isso para atrair os leitores, já que as

informações principais já foram dadas. As revistas ―fundem entretenimento, educação, serviço

e interpretação dos acontecimentos‖. (SCALZO, 2003, p. 14).

O segundo ponto é a segmentação do público e de alguns assuntos, (SCALZO, 2003).

De acordo com Nascimento (2002), ―a família, o homem e o adolescente ganharam títulos

específicos‖. (NASCIMENTO, 2002, p.20). Além disso, a revista é ―um encontro entre um

editor e um leitor, um contato que se estabelece, um fio invisível que une um grupo de

pessoas e, nesse sentido, ajuda a construir identidade, ou seja, cria identificações, dá sensação

de pertencer a um determinado grupo‖. (SCALZO, 2003, p. 12). Por isso, grande parte delas

são segmentadas, pois por mais diversidade de assuntos que ela possa ter, sempre vai estar

voltada para um tipo de público ou assunto em comum. Irá conter mais textos sobre esta

determinada área, ainda que contenha reportagens sobre outros fatos. E essa característica

funciona tanto na área jornalística quanto na questão mercadológica.

Podemos usar o exemplo da revista norte-americana Life que, após chegar à gigantesca

tiragem de oito milhões de exemplares semanais, parou de circular. Isso ocorreu justamente

pelo aumento do público, que acabou tornando a publicidade cada vez mais cara e,

consequentemente, causou o fechamento da revista. Scalzo (2003) sugere que esse episódio

nós ensina várias lições. ―A principal delas é que a revista é comunicação de massa, mas não

muito. Quando atingem públicos enormes e difíceis de distinguir, as revistas começam a

correr perigo‖. (SCALZO, 2003, p. 16). Por isso as revistas focam mais no público

segmentado, que tem interesse sobre o tema e que, supostamente, já possui um entendimento

prévio dos desdobramentos do assunto.

Também podemos entender que, para além dessas características, o que diferencia a

revista dos outros meios é seu formato. Ela é fácil de carregar, manejar, possui papel de

qualidade que não mancha as mãos como os jornais e que dá uma estrutura invejável às

imagens. Segundo Scalzo (2003), entre os tamanhos de revista, que variam entre 13,5x19,5cm

até 25x30cm, o tamanho mais comum é de 20,2x26,6cm – que é o tamanho da Time e da

Veja. (SCALZO, 2003). Dessa forma, para Scalzo (2003), as revistas são ―objetos queridos‖

(SCALZO, 2003, p. 12), já que a maior parte das pessoas que compra revistas gosta de

colecioná-las e levá-las para os lugares que frequentam. ―Para começar, atire a primeira pedra

quem não tem dó de jogar revista fora, quem nunca guardou uma publicação, quem nunca

pensou em colecionar um título‖. (SCALZO, 2003, p.12).

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62

Nesse tópico, buscamos então, contextualizar como surgiram as revistas no Brasil e no

mundo e relatar alguns momentos históricos relevantes para fazer desses veículos o que eles

são atualmente. Depois, faremos uma descrição das duas revistas analisadas, Veja e Carta

Capital.

Segundo Scalzo (2003), a primeira revista surgiu em 1663 na Alemanha e chamava-se

Erbauliche Monaths- Unterredungen (Edificantes Discussões Mentais). Em 1665 surgiu na

França o Journal de Savants, em 1668 é publicado na Itália o Giornali dei Literatti e em

1680, na Inglaterra começa a circular o Mercurius Librarius ou Faithfull Account of all Books

and Pamphlets. (SCALZO, 2003). Essas publicações pareciam mais com livros e não eram

chamadas de ―revistas‖, já que o termo só surgiu em 1704 na Inglaterra. Mesmo assim, elas

apareceram com o mesmo propósito: aprofundar assuntos e veicular informações para

públicos específicos.

No Brasil, as revistas surgiram mais tarde, acompanhando a evolução da técnica, da

economia e do público. ―A história das revistas no Brasil, assim como a da imprensa em

qualquer lugar do mundo, confunde-se com a história econômica e da indústria no país‖.

(SCALZO, 2003, p. 27). Elas chegaram aqui no século XIX, com a corte portuguesa. A

primeira revista brasileira começou na Bahia, em 1812 e chamava-se As Variedades ou

Ensaios da Literatura. As revistas brasileiras nesse período eram, em sua maioria,

publicações institucionais e eruditas. Em 1813 surge O Patriota no Rio de Janeiro e em 1827

inicia-se a primeira segmentação por tema, a partir de artigos médicos, e entra em circulação

O Propagador das Ciências Médicas. (NASCIMENTO, 2003).

No início do século XX, várias transformações científicas e tecnológicas acontecem no

Brasil, e as revistas acompanham essas mudanças, pois os diversos títulos foram lançados. No

gênero reportagem, a revista Diretrizes, criada em 1938 por Samuel Weiner, destacou-se por

textos críticos e investigativos. Ela circulou até 1944 por que suas atividades foram limitadas

pela censura de Getúlio Vargas. Outra publicação digna de destaque foi a Realidade, lançada

pela Editora Abril em 1966. Ela se tornou conhecida pela abordagem investigativa dos fatos e

foi considerada exemplo de qualidade jornalística. A revista circulou até 1975 e chegou a

atingir mais de 500 mil exemplares. (NASCIMENTO, 2002, p. 17). ―Realidade é considerada

uma das mais conceituadas revistas brasileiras de todos os tempos. Depois dela, a Editora

Abril investiu em Veja‖. (SCALZO, 2003, p. 31).

A partir de mudanças estruturais e tecnológicas, as revistas ilustradas começam a se

proliferar e um exemplo é a revista Manchete, lançada em 1952, por Adolph Bloch. Sua

diagramação era repleta de fotos e sua concepção, mais ―moderna‖. Tornou-se muito popular

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63

com reportagens históricas, como a construção de Brasília. (NASCIMENTO, 2002, p. 17).

Entretanto, o fenômeno editorial do País foi a revista O Cruzeiro. Fundada por Carlos

Malheiros Dias, começou a ser publicada pelos Diários Associados de Assis Chateaubrian em

1928. A revista prezava as matérias com belas fotografias e grandes reportagens, utilizando

muitas duplas de fotógrafo e repórter, sendo que a mais famosa foi David Nasser e Jean

Manzon. Ela modificou seu projeto gráfico em função da concorrência com os demais

veículos de comunicação impressos e principalmente por causa da chegada da televisão no

Brasil. A revista foi modelo para os demais impressos, tanto pela diagramação quanto pela

produção das fotos.

Vallada (1989) propõe quatro classes para a divisão de revistas nacionais, baseadas nos

pressupostos da ciência da informação: informativas, de interesse geral, de interesse

específico e especializadas. Todas elas, entretanto possuem público segmentado e não

reportam notícias de última hora, fazendo uma cobertura aprofundada e utilizando textos

interpretativos. Neste momento, como forma de contextualizar a análise do terceiro capítulo,

vamos caracterizar a Veja e a Carta Capital.

a) Carta Capital: Em resumo ao que está disposto no site da revista, a Carta Capital é

uma revista semanal de política, economia e cultura e seu público-alvo ―é o leitor que procura

conteúdo mais elaborado e analítico nas áreas cobertas pela publicação. Expondo claramente

suas opiniões sobre todos os assuntos‖16

.

A revista foi criada em 1994 pelo jornalista Mino Carta, inicialmente com

periodicidade mensal. Carta foi o criador da própria Veja, além de ocupar o cargo de diretor

de redação da revista Quatro Rodas, do Jornal da Tarde, do extinto jornal A República, da

Edição de Esportes de O Estado de S. Paulo, Isto É e Senhor. Desde 2008, a Carta Capital

tem uma parceria com a revista inglesa The Economist. Segundo o site, ela é ―uma das mais

conceituadas do mundo, o que permite à Carta Capital reproduzir todas as semanas artigos

exclusivos e, mensalmente, cadernos especiais‖17

.

A revista é um produto da Editora Confiança, que publica também as revistas mensais

Carta na Escola e Carta Fundamental, destinadas aos professores da rede de ensino

brasileira. Calles (2004) define a revista como

16

Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/sobre-cc>. Acesso em 27 de abril de 2011 17

Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/sobre-cc>. Acesso em 27 de abril de 2011

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―uma revista de opinião, de periodicidade semanal, com notícias criticamente comentadas

sobre política, economia, cultura, literatura, saúde, ciência e esporte, consiste num texto

jornalístico cujo grau de informatividade, em certa medida, difere de outros da mídia

impressa, pois nele prevalece o caráter crítico-analítico sobre o informativo. Além disso,

caracteriza-se por maior formalidade, tanto em relação ao padrão de linguagem, como às

estratégias e ao conhecimento de mundo necessário à compreensão dos conteúdos

Percebem-se, a despeito do tom formal predominante, marcas de oralidade e marcas de

interatividade estabelecendo diferentes graus de envolvimento com o leitor‖. (CALLES,

2004, p.5)

A revista apoiou abertamente a candidatura de Lula (PT) e não esconde suas projeções

políticas. Segundo Barreiros e Amoroso (2008),

Quem assina o editorial número 1 é Mino Carta, evidenciando o destaque aos assuntos

políticos da nova publicação e o desejo de influenciar os detentores do poder: "[...] uma

CARTA Capital endereçada ao coração do poder. De fato, ela vai falar de e para aqueles

que, nos mais diversos níveis, decidem os destinos de comunidade. Aqueles que teriam de

dar o exemplo ao escolher as melhores rotas com olhos voltados para os interesses da

sociedade toda" (BARREIROS E AMOROSO, 2008, p. 8).

No site, essa posição é reforçada já que, na página das características do veículo, está

escrito que a ―Carta Capital não é uma revista que cultiva escândalos, nem se esconde atrás de

uma pretensa imparcialidade‖18

.

b)Veja: É uma revista de periodicidade semanal, com assuntos variados e que já teve a

maior tiragem do país (80% da venda dos cerca de 1.200.000 exemplares semanais em 2003).

(SCALZO, 2003) Segundo a autora, a Veja foi lançada nos moldes da norte-americana Time

em 11 de setembro de 1968. Ela lutou por sete anos até acertar sua fórmula e passou pela

censura do governo militar. ―As vendas começaram a melhorar quando a revista passou a ser

vendida por assinatura, em 1971‖ (SCALZO, 2003, p. 31).

Para formar a primeira equipe que iria trabalhar na Veja, a Editora Abril treinou cem

jovens, selecionados em todo o Brasil, durante três meses. Cinquenta desses jovens foram

aproveitados e esse se tornou o primeiro Curso de Jornalismo de empresa e também o

primeiro a considerar o jornalismo de revista. A Veja, atualmente, já faz parte do hábito de

leitura da classe média brasileira (KUCINSKI, 1999). De acordo com ele, isso acontece

porque

18

Disponível em <http://www.cartacapital.com.br/sobre-cc>. Acesso em 27 de abril de 2011

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―as revistas semanais ilustradas preenchem no Brasil uma necessidade importante de

leitura, devido à sua longevidade e alcance nacional, especialmente entre as classes médias,

que não compram jornais diários. Ao contrário dos jornais, possuem um universo grande e

próprio de leitores, distinto do universo dos protagonistas das notícias, e mantém com esse

público um forte laço de lealdade. Nas funções de determinação da agenda e produção de

consenso atuam como usinas de uma ideologia atribuída às classes médias, inclusive no

reforço de seus preconceitos. A lealdade às classes médias fez dessas revistas as condutoras

da campanha contra o presidente Collor de Mello, que confiscara suas poupanças

(KUCINSKI, 1999, p. 23).‖

De acordo com o site da Editora Abril, a Veja tem em média 925.880 assinantes

atualmente. Desses, 54% são mulheres e 46 %, homens. Ela é ―é abrangente, cobrindo desde o

mundo da política, economia, internacional, até artes e cultura, com uma linguagem clara e

atraente, gostosa de ser lida‖19

. Suas páginas são divididas por assuntos e colunistas, são cerca

de dezessete divisões.

A partir de agora, o próximo capítulo definirá as variáveis utilizadas na análise, assim

como o processo, o resultado e as considerações finais. Partimos da hipótese, então, de que o

enquadramento feito pelos jornalistas no veículo interpretativo (revistas Veja e Carta Capital)

reforça a representação social que destina a mulher ao espaço privado. Faremos a análise

considerando as duas candidatas à presidência da República de 2010, Dilma Rousseff (PT) e

Marina Silva (PV) para demonstrar se os estereótipos que refletem o imaginário popular estão

presentes ou não em revistas que, supostamente, deveriam tratá-las apenas como candidatas e

não como membros do sexo feminino.

É importante salientar que as duas revistas possuem posicionamentos políticos

distintos e por isso foram escolhidas para esse trabalho. Na primeira edição do período de

campanha da Carta Capital, ela apoiou abertamente Dilma Roussef no editorial intitulado ―Por

que apoiamos Dilma‖20

. Nele, Mino Carta explicou que apoiaria Dilma por sua luta no

período da ditadura, suas decisões na casa civil e pela continuidade de um governo que a

revista já apoiava, o Governo Lula. Isso demonstra um posicionamento político claro por

parte da Carta Capital e considerando seu apoio político ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da

Silva nas suas candidaturas anteriores, podemos sugerir que o veículo tende a ser favorável à

candidata e ao PT.

A Veja, por outro lado, emitiu na mesma semana um editorial sobre outro assunto,

então vamos considerar a edição onde a revista se comunico através de um editorial

teoricamente neutro, intitulado ―Aberta a temporada‖21

, onde ela dizia que tanto Dilma quanto

19

Disponível em <http://publicidade.abril.com.br/marcas/veja/revista/informacoes-gerais> Acesso em 30

de abril de 2010. 20

Edição 603 da revista Carta Capital, sete de julho de 2010. 21

Edição 2161 da revista Veja, 21 de abril de 2010.

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Serra eram equipados para governar um país que, completa dezesseis anos de ―estabilidade

monetária, crescimento econômico sem inflação, desenvolvimento e aumento da

racionalidade em quase todas as esferas da vida social‖22

.

A escolha das duas revistas se dá justamente pelos posicionamentos políticos que elas

mantêm. Primeiramente pela busca do equilíbrio dos resultados: se a Carta Capital for trazer

uma boa imagem de Dilma e a Veja, uma imagem desfavorável, isso não significa que a Veja

trate a petista como mulher, mas sim como política. E se isso acontecer, a Carta Capital trará

resultados que irão contradizer essa visão. Além disso, poderemos trabalhar com um material

vasto e concluir mais coisas. Por exemplo, as duas revistas podem ter posicionamentos

diferentes, por isso cada uma trata a candidata de uma forma. Entretanto, quando se trata do

sexo feminino, pretendemos observar se o tratamento também é diferente ou se é igual. Qual

revista faz mais referência ao espaço privado e como elas utilizam isso nos textos.

Em segundo lugar, o posicionamento dos veículos deve guiar o enquadramento dos

jornalistas, mas partimos da hipótese de que isso nem sempre acontece. Ora, se não houver

nenhuma representação social nos textos, significa que a linha editorial prevalece, mas se

existir, é por que os jornalistas não conseguem se desvincular dos hábitos e valores de sua

sociedade e que, também eles, veem o sexo feminino destinado ao espaço privado.

Além disso, escolhemos estas revistas para estudar as representações sociais das

mulheres em um momento muito especifico: como candidatas à Presidência da República.

Nesse ponto, os dois veículos se mostraram boas escolhas, pois ambos mantêm um espaço

fixo nas edições, destinado a política do Brasil. Isso é uma garantia de que sempre existirão

pautas e é, inclusive, muito interessante observar os assuntos que eles escolhem, já que devem

escolher toda semana, independente de boas pautas ou não.

22

Reportagem da revista Veja em abril de 2010, p.12.

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ANÁLISE DA COBERTURA DA VEJA E CARTA CAPITAL SOBRE AS DUAS

CANDIDATAS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010

Este capítulo está dividido em duas partes: primeiramente explicaremos os critérios

analisados no momento da coleta de dados e depois faremos a discussão dos dados tanto de

forma quantitativa quanto qualitativa. Estas ferramentas fazem parte da análise de conteúdo,

que ―pode ser utilizada para detectar tendências e modelos na análise de critérios de

noticiabilidade, enquadramento e agendamentos‖23

(HERSCOVITZ, 2007, p. 123). Este

método nos pareceu o mais apropriado, pois ―ao analisarmos a frequência com que situações,

pessoas e lugares aparecem na mídia podemos comparar o conteúdo publicado ou transmitido

com os dados de referência‖. (HERSCOVITZ, 2007, p. 124).

A análise de conteúdo, conhecida também apenas por AC, tem sido muito utilizada em

pesquisas de ciências sociais e humanas, principalmente por Bardin (1979). Ela busca

entender o contexto e as condições em que essa mensagem foi produzida, assim como sua

influência social. Como o objeto de estudo da AC é a linguagem e as formas de discurso, ela

se faz propícia para o atual estudo, já que o objetivo é justamente identificar de que maneira a

posição dos veículos de comunicação, através dos textos publicados, reflete uma construção

social, ou seja, determinados conceitos a respeito do papel das mulheres que já fazem parte do

cotidiano dos leitores.

A AC também permite uma verificação objetiva e sistemática para a quantificação dos

aspectos da realidade que foram registrados (CERVI, 2010). O método quantitativo, segundo

Cervi (2010), está diretamente relacionado à teoria estatística e tem por objetivo medir,

quantificar e delimitar similaridades e diferenças nas características do fenômeno pesquisado.

Neste caso, nosso objetivo é verificar a presença ou ausência de uma representação social nas

revistas e comparar o tratamento das candidatas, a partir de textos informativos e opinativos.

Sendo assim, pretendemos é descrever variáveis quantitativas baseando-nos nas revistas e em

discussões sobre o cenário político e a mulher no espaço público. Essas variáveis poderão

identificar a presença de termos que criem essa representação no discurso, como apelo à

características físicas, menção à família, filhos, etc. Desta forma, conseguiremos observar não

apenas se a representação existe, mas a frequência e a quantidade de citações nas matérias.

Já o método quantitativo, segundo Galera e Conde (2005), ―integra uma informação

sobre os fenômenos sociais mais rica e profunda que aquela que se pode obter com a técnica

23

Verificar o capítulo dois para a discussão sobre enquadramentos e agendamentos.

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68

quantitativa‖24

(GALERA e CONDE, 2005, p. 31). Assim, pretendemos, a partir de

informações históricas sobre a trajetória da mulher no espaço público, estabelecer variáveis

que serão averiguadas nos documentos (textos de revistas) estudados. A partir dessa

observação, podemos analisar a presença ou ausência de uma representação social por parte

dos jornalistas, como ela se dá e suas características.

O próximo tópico é constituído pelos dados obtidos, as variáveis utilizadas para chegar

a estes números e a discussão sobre estes dados, com citações dos textos e interpretações

qualitativas dos resultados.

3.1 VARIÁVEIS REFERENTES AO SEXO FEMININO UTILIZADAS DURANTE

A PESQUISA

O processo de pesquisa nas revistas foi feito considerando como unidade de análise

qualquer texto que citasse uma das candidatas. O corpus da pesquisa empírica é formado

pelas revistas Veja e Carta Capital e a unidade de seleção é o nome das candidatas. Assim,

todas as matérias que mencionassem Marina Silva ou Dilma Rousseff foram consideradas na

pesquisa25

.

O período da coleta é de sete de julho a três de novembro nas duas revistas. Depois do

segundo turno das eleições, Dilma Rousseff foi eleita no mês de outubro e optamos por contar

também a primeira edição de novembro, pois entendemos que seria uma boa oportunidade

para as revistas publicarem uma retrospectiva do que foram as campanhas e assim, as

candidatas seriam mencionadas sob diversos ângulos públicos e talvez privados26

.

Primeiramente quantificamos o número de matérias que citam as candidatas para ter noção da

cobertura feita pelas revistas e, a partir daí, comparar com os resultados. Seguem as categorias

analisadas durante a coleta de dados: nomes, tipificações e o que pretendíamos averiguar com

24

Tradução nossa. 25

É preciso deixar registrado que apenas os nomes são válidos, já que o objetivo não é demonstrar o que as

candidatas representam, no sentido de partido ou ideologias, mas a imagem que elas passam por si só. Portanto

não contabilizamos termos como ―candidata do PT‖, ―candidata verde‖, ―ex-ministra‖, entre outros. Nesse ponto

é pertinente esclarecer também que, mesmo que a candidata seja citada em determinada foto – e principalmente

na capa da revista – se o nome dela não aparecer, a matéria não será computada.

26

A Veja publicou um caderno especial apenas sobre Dilma no começo de novembro, com textos sobre a

economia do país no momento em que ela foi eleita presidente, reportagens sobre a história e personalidade da

candidata e matérias contextuais sobre mulheres no poder. Esta edição não foi analisada no trabalho, mas é

pertinente citar o referido caderno a título de registro. A escolha de não contabilizar este caderno se deu

primeiramente por que a Carta Capital não fez nenhuma edição parecida e, portanto, seria uma revista a mais

apenas por parte da Veja, o que poderia acarretar um desequilíbrio nos resultados. Em segundo lugar, apenas

Dilma Rousseff aparece no caderno e a análise deste trabalho considera sobre as duas presidenciáveis e não

apenas uma. Isso também poderia desequilibrar o resultado final e por esse motivo a edição comemorativa da

Veja não entrou na análise.

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cada uma delas.

A primeira variável é o nome da revista (Veja e Carta Capital) e aparece nas tabelas

como Revista, seguida da data da publicação – Data, a Matéria e o Formato. A Matéria

indica a numeração sequencial dos textos coletados naquela edição da revista, como forma de

ordenar os dados e o Formato mostra o qual é o tipo de matéria noticiosa. Essas são as

variáveis indexadoras e o formato é dividido de acordo com a seguinte classificação:

Quadro 4 – Tipos de formato jornalístico

CÓDIGO TIPO EXPLICAÇÃO

1 Chamada de capa Chamadas de capa com citação sobre as candidatas a presidente.

2 Reportagem Textos interpretativos e noticiosos produzidos por jornalistas a respeito da

disputa eleitoral.

3 Foto Imagem fotográfica que normalmente acompanha os textos com uma ou

duas candidatas. Conta-se uma aparição por foto.

4 Artigo Assinado Texto interpretativo/opinativo, assinado por articulista do veículo.

Normalmente com espaço fixo na revista.

5 Coluna Assinada Texto interpretativo/opinativo, assinado por especialista ou figura de

destaque. Normalmente nas páginas de opinião.

6 Editorial Texto opinativo, em espaço fixo na revista, sem assinatura, que representa a

opinião do próprio veículo de comunicação.

7 Nota Pequenos textos informativos produzidos a respeito da disputa eleitoral.

8 Carta do Leitor Opinião dos leitores sobre as candidatas ou determinados fatos relacionados

a elas, como por exemplo uma capa ou editorial da própria revista.

Fonte: Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais/UEPG.

A Valência significa se o posicionamento do texto, mesmo que de forma sutil,

apresenta as candidatas de forma positiva, negativa, neutra ou equilibrada. Isso se dá pela

inclusão ou supressão de determinados fatos27

e até o ângulo escolhido para a matéria, que

sabemos que é diferente dos veículos diários. A Valência da entrada para cada candidata leva

em conta seu efeito positivo ou negativo para a campanha em questão.

A Valência Positiva diz respeito a textos sobre a candidata, que abordem ações ou

acontecimentos a partir de sua iniciativa. Também considera autodeclarações ou declarações

favoráveis de outras pessoas sobre a candidata ou suas propostas de governo. Estas

declarações podem ser avaliações de ordem moral, política e pessoal. Resultados de pesquisas

ou estudos que sejam favoráveis à candidata também são considerados Valência positiva.

Como o veículo em questão é a revista, em alguns momentos, o próprio jornalista pode

utilizar termos que façam um sutil julgamento da candidata, tanto na questão pessoal quanto

27

E por isso achamos tão importante não analisar apenas uma revista, pois o resultado final poderia ser muito

parcial.

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na sua vida pública. Além disso, consideramos também os textos opinativos, que contêm

vários momentos de juízo de valor e que também podem ser analisados a partir da Valência.

A Valência Negativa indica os textos que produzam ressalvas, críticas ou ataques à

atuação da candidata ou suas propostas, seu partido e sua vida. Podem conter avaliações de

cunho moral, político ou pessoal feitos pelo próprio autor do texto ou, de forma menos

específica, enquadrando falas de pessoas que discordem da posição, da forma de governo e da

própria candidata. A Valência Negativa também considera a divulgação de resultados de

pesquisa ou estudos desfavoráveis.

O terceiro tipo de Valência é a Valência Neutra, que diz respeito a textos que tentam

não reproduzir qualquer imagem negativa ou positiva das candidatas. Esses textos consistem

na agenda das candidatas, assim como em citações sem avaliação de ordem moral, política ou

pessoal. A Valência neutra procura ser uma simples reprodução de resultados da campanha,

sem nenhum posicionamento a respeito da candidata, seja em assuntos públicos ou privados.

A última categoria de Valência é a Valência Equilibrada. Esta categoria se refere a

textos que reproduzam aspectos positivos e negativos das candidatas com a mesma

intensidade, gerando equilíbrio nas opiniões e no enquadramento28

.

Também utilizaremos a variável Gênero do Autor, que identifica se os autores das

reportagens são homens, mulheres ou ambos os sexos. Com ela, podemos verificar se o sexo

do autor é correlacionado ou não com a maneira de tratar as candidatas no texto. Quem

escreve mais sobre determinado tipo de assunto e se os homens demonstram maior quantidade

de representações sociais da mulher no espaço privado ou se essa ideia existe também a partir

das autoras.

A Evidência, como o nome já afirma, é uma variável que mostra se a candidata está

em evidência em relação a outros temas no texto em questão. No caso, o primeiro nível de

Evidência é aquele onde a candidata é retratada em primeiro plano, ou seja, a reportagem se

refere diretamente a ela tanto de forma pública quanto privada. O segundo nível identifica os

textos onde a candidata é apenas citada em referência a outro assunto de importância maior.

Percebemos, neste ponto da análise, que em diversas matérias as candidatas eram apenas

citadas no texto e, neste caso, a Valência era quase sempre neutra.

É oportuno explicar que, quando a visibilidade dada às candidatas for menor do que

para outros assuntos, pessoas ou fatos, nós não consideramos a Valência e outras variáveis que

ainda serão apresentados no texto – e que serão devidamente identificadas neste sentido. Isso

28

Fonte: Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais/UEPG.

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71

foi decidido depois de verificarmos que quando a candidata está em segundo plano, não existe

juízo de valor sobre ela e a Valência, portanto, é neutra. Desta forma, quando a visibilidade da

candidata não é o tema principal, apenas contabilizamos o número de vezes que ela foi citada

no título e no texto, o número de páginas que a matéria continha, a posição da matéria nas

páginas (no caso de nota, carta ao leitor e fotos) e o formato da notícia. Com estas

informações, pudemos observar se a maior parte dos textos falavam sobre a candidata ou

apenas citavam-na29

.

O Tema identifica se o que predomina na reportagem são assuntos públicos – como

planos de governo, comitês, escândalos políticos, pesquisas de voto, andamentos da

campanha – ou assuntos privados – como saúde, família, vida pessoal, passado,

personalidade. Essa variável só é considerada quando a evidência da candidata for maior do

que outros temas, já que quando ela é apenas citada, o tema público ou privado estará se

referindo a outra pessoa ou fato, não correspondendo à conclusões sobre as candidatas. O

Tema é imprescindível no momento da análise, pois separa os textos que contém ou não as

representações sociais mais significativas para nosso trabalho. Não estamos afirmando aqui,

que todos os textos de cunho privado contenham representações sociais, assim como não

queremos dizer que nenhum texto de assuntos públicos possam trazer a mulher para o espaço

privado. Mas em sua maioria, as reportagens seguem esta regra simples, onde os textos de

assuntos públicos mostram a candidata, enquanto os textos sobre temas privados mostram a

mulher, a mãe, a evangélica, a guerrilheira, entre outros.

O Enquadramento se refere à maneira como os textos são tratados, quais fatos

tiveram maior importância na opinião dos jornalistas, pois foram enfatizados ou

contextualizados e quais fatos foram suprimidos ou apenas relatados. O enquadramento é uma

variável que só se aplica a textos informativos – notas, notícias, reportagens – pois nos textos

opinativos, não há necessidade de enquadrar assuntos, já que o autor pode se referir a eles

diretamente. A partir desta categoria, podemos analisar os assuntos que são explorados com

matérias de mais de uma página e os textos que apenas contam determinado acontecimento de

forma factual. A intensão é verificar se os textos que têm mais espaço no veículo geralmente

tratam da vida privada ou da vida pública das candidatas, assim como se os assuntos

29

Entendemos que, em determinados momentos da campanha de 2010, uma candidata era mais citada do que

outra, entretanto, isso não significa, necessariamente, uma maior incidência de representações sociais, já que na

maior parte dos textos, sua visibilidade ficava em segundo plano em relação a outras coisas. Ou seja, ela não era

citada por sua própria candidatura ou personalidade, mas por pertencer a determinado partido e fazer parte do

governo de determinados políticos. Isso não nos interessa em termos qualitativos, mas apenas como cobertura

política da campanha, portanto, coletamos as matérias por causa da unidade de análise – o nome das candidatas –

mas não contabilizamos de forma a buscar representações sociais pois, de fato, elas não apareceram.

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priorizados se referem à candidata como política ou como mulher. Isso pode ser observado

quando cruzamos os dados do Enquadramento com o Tema.

O Enquadramento dos textos nos auxilia a identificar as informações priorizadas sobre

determinada candidata, ou as duas juntas. Por exemplo, a Corrida de Cavalos trata da

evolução da campanha, como se fosse uma corrida entre os candidatos. Neste enquadramento,

os jornalistas dão ênfase a quem está na frente, avançando ou perdendo espaço nas pesquisas

eleitorais e estratégias de campanha. Também se refere a perfil de eleitores, debates entre os

presidenciáveis, propostas de governo, entre outros. O detalhe desta variável é que geralmente

contém os principais candidatos e nunca apenas um. No caso, pudemos verificar que Marina

Silva e Dilma Rousseff sempre aparecem em equilíbrio e a predominância é de temas

públicos.

A segunda categoria do Enquadramento é Personalista, que dá preferência aos atores

de forma individual e foca sua atenção nas candidatas ou em dramas humanos relacionados a

elas, deixando em segundo plano os aspectos da política institucional. A variável Personalista

procura enfatizar a vida das candidatas, descrevendo suas habilidades, seu passado,

qualidades e defeitos. Analisando este item, podemos encontrar diversos tipos de

representações sociais a partir de termos que remetam às candidatas ao seu papel de mulher

no espaço privado.

Já o Enquadramento Temático interpreta posições e propostas das candidatas sobre

aspectos substantivos da campanha, buscando outros fatos que possam contribuir para que o

leitor conheça os acontecimentos de forma mais completa. Esta variável dá ênfase às

plataformas partidárias ou programas para diferentes temas e tenta, principalmente,

contextualizar assuntos da campanha eleitoral, abstraindo-se da própria campanha.

A última categoria é o Enquadramento Episódico. Esta variável refere-se aos textos

que se restringem a relatar acontecimentos recentes da campanha, sem o enfoque

característico dos outros três enquadramentos. É descritivo e orientado por acontecimentos

que geram reações do público. Desconsidera aspectos mais amplos do evento e se mostra

como o simples relato de fatos ou declarações de candidatos ou não sobre a campanha 30

.

Sobre o enquadramento, encontramos já no início da pesquisa uma peculiaridade que

vai ser abordada aqui. Em todos os textos, mantivemos o foco na a candidata que era o centro

da matéria. Assim, dividimos em: Dilma, Marina e Dilma/Marina no caso das duas

aparecerem. Houve casos em que a Evidência era maior para Dilma e Marina era apenas

30

Os quatro tipos de enquadramento foram conceituados a partir das definições do Grupo de Pesquisa em Mídia,

Política e Atores Sociais/UEPG.

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citada e percebemos que a Valência para Marina era quase sempre neutra, pois quando estava

em segundo plano, quase não havia juízo de valor. Sendo assim, quando uma estava em

evidência, a Valência da outra era sempre a mesma (sem grande potencial de análise,

portanto), pois a Valência e a análise diziam respeito apenas à candidata que estava em

evidência.

Entretanto, em algumas ocasiões as duas apareceram de forma quase igualitária,

principalmente em reportagens de enquadramento Corrida de Cavalos, onde eram noticiados

debates, resultados de pesquisas com todos os candidatos, perfis de eleitores, entre outros.

Podemos observar esta situação de forma clara a partir da Tabela 1.

TABELA 1 – Formas de enquadramento que contemplaram Dilma e Marina juntas no texto

Nome Enquadramento Frequência Porcentagem

Dilma/Marina

Corrida de Cavalos 10 55,6%

Personalista 2 11,1%

Temático 5 27,8%

Episódico 1 5,6%

Total 22 100%

Fonte: Autora

Considerando os números da Tabela 1, Dilma e Marina são noticiadas no

enquadramento Corrida de Cavalos em mais da metade dos casos – 55,6%. Ou seja, todos os

outros enquadramentos somados não dão conta do mesmo espaço das revistas que a Corrida

de Cavalos e isso significa que tanto na Veja quanto na Carta Capital, as presidenciáveis são

vistas como candidatas e não como mulheres. Concluímos, depois de mais algumas

observações diretamente ligadas à busca de representações sociais, que as duas sempre

aparecem de forma equilibrada em matérias de ordem pública e o gênero quase nunca é

abordado. Os outros números são: Personalista com 11,1%, Temático com 27,8% e Episódico

com apenas 5,6%.

Portanto, não iremos analisar as entradas que contém Dilma/Marina num nível mais

aprofundado, pois a maior conclusão sobre esse assunto já foi reconhecida: elas não aparecem

em reportagens de ordem pessoal ou que contenham menção ao gênero, família e diversos

outros termos que poderiam criar uma representação social da mulher ligada ao espaço

privado. As duas candidatas aparecem juntas, na maior parte das vezes, quando o

enquadramento é Corrida de Cavalos. E quando acontece, as revistas retratam as duas como

candidatas e não como mulheres. De acordo com os dados coletados, em mais da metade das

matérias, Dilma e Marina foram retratadas juntas no enquadramento Corrida de Cavalos. Isto

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comprova a conclusão acima. Daqui pra frente, portanto, iremos analisar apenas os textos que

citam cada uma separadamente.

Verificamos que, em alguns momentos, as candidatas foram citadas no corpo do texto,

mas não no título da matéria. O contrário também ocorreu e elas apareceram no título e não

no texto. Por isso, a variável que identifica se a candidata é citada ou não título recebe o nome

de Visibilidade no Título. Novamente lembramos aqui que apenas o nome das candidatas foi

contado, por exemplo: Marina, Dilma, Marina Silva e Dilma Rousseff. Todas as demais

menções às candidatas, tais como ―candidata verde‖ ou ―candidata do PT‖ não foram

consideradas. Já a variável que identifica o número de vezes que a candidata é citada no texto

recebe o nome de Visibilidade no Texto e no caso de foto ou ilustração, contamos o número

de vezes que o nome aparece no texto do subtítulo. Quando não é mencionado na legenda, a

foto não é analisada.

Tanto a visibilidade no título quanto no texto foram consideradas mesmo quando a

Evidência da candidata não era tão grande quanto a de outros temas. Optamos por fazer desta

maneira para saber, de forma quantitativa, a frequência que as candidatas eram pautadas pelos

dois veículos de comunicação, ainda que de forma secundária. Com isso, podemos identificar

se as duas aparecem em quantidades equilibradas, ou se Dilma é mais citada do que Marina

ou vice-versa.

A partir daqui, todas as variáveis mostram a presença ou não de determinados termos

que relacionem as candidatas ao gênero feminino ou tragam qualquer representação social da

mulher no espaço privado. Com esses números, conseguimos identificar se as revistas

retrataram as candidatas como mulheres ou apenas como políticas, pois os termos são

maneiras de reforçar os papéis sociais31

. Num segundo momento, a análise se tornou

qualitativa, e os trechos representados pelos números também foram contabilizados, de forma

a contextualizar os resultados para chegar a conclusão máxima: os jornalistas, através do

enquadramento, reforçam ou reformulam a imagem de que a mulher, mesmo candidata,

pertence principalmente ao espaço privado?

A Menção ao Gênero indica presença de qualquer caso em que o gênero do candidato

está enunciado no texto. Alguns exemplos servem para ilustrar esta variável, tais como

―Marina diz que, como mulher, não aprova...‖; ―Para uma mulher como Dilma...‖; ―Duas

mulheres fortes concorrem à presidência‖, entre outros. A Menção à Família e à Religião se

refere a termos que relacionem as candidatas a estes aspectos. Exemplos válidos são: ―Marina

31

Verificar os capítulos 1.1 e 1.2 para acompanhar a discussão completa.

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é uma evangélica fervorosa‖; ―Dilma foi ver o neto‖; ―O marido de Marina‖, entre outros.

Precisamos deixar claro que, a discussão do aborto, muito popularizada no segundo turno das

eleições de 2010, não é por si só, referente à família ou à religião. Ele faz parte de um plano

de governo e diz respeito à saúde pública, muito mais do que uma questão apensa de interesse

feminino. Sendo assim, se os textos não apresentaram termos diretamente ligados às variáveis

apresentadas, não foram analisados. Mesmo que o tema da matéria fosse o aborto e ele seja

relacionado à mulher e à religião, nos casos em que não houve menções diretamente ligadas a

estas categorias, não consideramos o tema geral ―aborto‖ como válido.

Termos que se referiam ao físico (no sentido de aparência física, tal como roupas,

cabelo, maquiagem, entre outros) e a saúde da candidata também foram considerados pela

Menção ao Físico e à Saúde. Essa variável indica expressões que se refiram às características

da aparência física no geral das candidatas, inclusive menção à indumentária. Além disso,

contamos também termos mais sutis, que fizessem julgamento estético da aparência física da

candidatura: como feio, belo, estranho, entre outros.

A Menção ao Emocional mostra qualquer tipo de menção às condições emocionais da

candidata. Sendo assim, qualquer termo como medo, tristeza, irritação, raiva, felicidade ou

adjetivos que se refiram a emoções de um momento em particular ou da personalidade dela de

forma geral foram contabilizados. Reiteramos que, quando identificados, os trechos foram

transcritos para a análise qualitativa que será feita no próximo capítulo.

Finalizamos com a Menção ao Psicológico das candidatas, que indica julgamentos ou

citações que levem o leitor a formar uma imagem do caráter de cada uma. Por exemplo:

―Marina é carismática‖; ―Dilma é agressiva‖; ―Dilma é guerrilheira‖, entre outros32

. Com

estas variáveis, pretendemos verificar se as candidatas são vistas mais como políticas ou

mulheres. Mas esta não é a conclusão final, pois a hipótese não se baseia na ideia de que as

mulheres não possuem espaço no cenário público, mas sim de que as representações sociais

ainda estão presentes nos textos dos jornalistas, por que se fazem reais no imaginário popular.

No próximo item iremos analisar os resultados, formular tabelas, explicar e interpretar

cada uma, fazer relações e comparações. Buscamos assim, ter um quadro bastante completo

da maneira como as revistas Veja e Carta Capital retrataram Dilma Rousseff e Marina Silva

durante a campanha presidencial de 2010.

32

Todos os exemplos desta página não foram retirados de nenhuma das revistas analisadas, portanto, são apenas

ilustrativos.

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3.2. ONDE ESTÃO AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA COBERTURA DA

ELEIÇÃO DE 2010 NA VEJA E NA CARTA CAPITAL

Analisamos 250 textos da Veja entre os dias sete de julho e três de novembro. Já da

Carta Capital, foram 190 textos contidos em edições que foram lançadas nos mesmos dias do

mês em relação à Veja, pois as duas revistas são distribuídas no domingo. Ou seja, ambas as

análises começaram em sete de julho e terminaram em três de novembro, o que torna as

condições dos documentos analisados iguais em período. O total de textos utilizados nesta

análise foi de 44033

, em reportagens34

, colunas35

, chamadas de capa36

, fotos37

, carta ao leitor38

,

editorial39

, notas40

e artigos41

.

A Tabela 2 mostra todas as entradas divididas pela evidência das presidenciáveis. A

importância de utilizar esta categoria é que podemos verificar se a maior parte das matérias se

refere diretamente às candidatas ou apenas citam-nas em determinado momento, dedicando

maior ênfase para outros assuntos. No caso, a palavra Candidata se refere aos textos em que

Marina e Dilma estão em evidência na matéria enquanto Outro remete aos textos em que

outros fatos ou pessoas ocupam o primeiro plano.

33

Divididos a partir das variáveis do Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais/UEPG. 34

Textos interpretativos e noticiosos produzidos por jornalistas a respeito da disputa eleitoral. 35

Textos interpretativos ou opinativos, assinados por especialistas ou figuras de destaque. 36

Chamadas de capa com citação sobre as candidatas a presidente. 37

Imagem fotográfica que normalmente acompanha os textos com uma ou duas candidatas. 38

Opinião dos leitores sobre as candidatas. 39

Textos opinativos, em espaço fixo na revista, que representam a opinião do próprio veículo de

comunicação. 40

Pequenos textos informativos produzidos a respeito da disputa eleitoral. 41

Textos interpretativos ou opinativos, assinados por articulistas do veículo. Normalmente com espaço

fixo na revista.

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TABELA 2 – Distribuição das citações das candidatas que estão em evidência

Revista Nome Evidência N %

Carta Capital

Dilma

Outro 75 48,1%

Candidata 81 51,9%

Total 156 100%

Marina

Outro 2 16,7%

Candidata 10 83,3%

Total 12 100%

Veja

Dilma Outro 118 54,4%

Candidata 99 45,6%

Total 217 100%

Marina

Outro 3 15%

Candidata 17 85%

Total 20 100%

Fonte: Autora.

A partir da Tabela 2, podemos ver que Dilma Rousseff foi citada mais vezes do que

Marina Silva tanto na Veja quanto na Carta Capital. Dos 168 textos coletados na Veja, Dilma

apareceu em 156 enquanto Marina, apenas em 12. Já na Carta Capital, dos 237 textos vistos,

Marina foi citada em apenas 20 e Dilma em 217. A primeira interpretação que fazemos é que

Dilma aparece mais do que Marina nas duas revistas. Isso pode ser justificado pelo fato de

Dilma ser apoiada abertamente por Lula, presidente na época. Lula estava em constante

aparição na mídia e isso era motivo para que os textos fizessem relações entre ele e a

candidata petista, gerando críticas ou posicionamentos favoráveis por parte das duas revistas.

Entretanto, o fato de uma ter sido citada mais vezes não significa necessariamente uma maior

visibilidade em relação a outra. Isso pode ser observado a partir da Evidência dada às duas

candidatas.

Na Veja, Marina estava em evidência em 83,3% dos textos e na Carta Capital, em

85%. Esse número significa uma diferença notável entre ela e Dilma, que estava em evidência

em 54,4% das vezes na Veja e 51,9% na Carta Capital. Nesta revista, ainda que o resultado

final demonstre que ela estava em primeiro plano na maior parte dos textos, a diferença de

vezes em que o assunto principal não era ela ficou quase meio a meio: em 51,9% das vezes

Dilma Rousseff estava em primeiro plano contra 48,1% em que outro personagem era o tema

principal. Já na Veja, a disparidade é ainda mais visível, pois na maior parte das vezes em que

foi citada, Dilma não era o assunto em evidência: em 54,4% das vezes, o assunto era outro.

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Devemos lembrar que Dilma Rousseff era ministra e muitas vezes era tratada nas matérias

como ―ex-ministra‖. Além disso, o Presidente Lula foi abertamente a favor de sua candidatura

e talvez por isso o maior número de aparições, pois qualquer referência ao governo do ex-

Presidente ou ao PT, ela estava presente. E também, isto explica por que ela aparece mais em

segundo plano. Sendo assim, em termos de citação total, o comportamento das duas revistas

foi similar em relação às duas candidatas.

Percebemos também, agora de forma qualitativa, que a Carta Capital trouxe um

comportamento mais equilibrado – no que diz respeito à visibilidade – tanto para com Marina

quanto Dilma: apesar de Dilma não estar em evidência em quase metade dos textos da revista,

a Carta Capital citava as candidatas quando elas tinham uma ligação real com o assunto em

primeiro plano.42

Já a Veja, por diversas vezes apenas citou Dilma por esta ser a candidata do

PT ou por ser claramente apoiada pelo presidente da época e em alguns momentos, os temas

se mostravam tão distantes da petista que a única relação que a Veja conseguia fazer entre o

nome de Dilma e o tema do texto era a partir de termos como: ―do mesmo partido que Dilma

Rousseff‖.

Voltando à Tabela 2, o que podemos verificar é que, apesar de ter sido citada menos

vezes, quase todos os textos que mencionavam Marina Silva realmente falavam dela,

enquanto que a maior parte dos textos que citava Dilma, não dava detalhes sobre a

presidenciável, sua vida privada ou pública. A visibilidade das duas candidatas, apesar de

diferentes em quantidade, foram parecidas em relação à informações disponibilizadas sobre

elas43

.

Assim, a partir de agora a análise se dá apenas nos textos que tratem as candidatas em

primeiro plano. Esta escolha se motiva pelo fato de desejarmos manter um nível parecido de

visibilidade entre Dilma e Marina a partir da maneira como elas foram citadas e não pelo

número de citações – até por que já percebemos que um maior número de menções não

significa, necessariamente, maior visibilidade. Além disso, entendemos que se a candidata foi

apenas citada no texto, sem ser o assunto principal, será tratada como política e não como

42

A Veja, entretanto, demonstrou sua linha editorial anti-petista em diversos momentos durante a pesquisa. Em

diferentes textos, a revista trazia o nome de Dilma Rousseff apenas para relacioná-la ao Partido Trabalhista em

matérias sobre escândalos de outros políticos, o radicalismo do PT e outros assuntos que não tinham nenhuma

relação com a presidenciável ou sua candidatura. Estamos utilizando a nota de rodapé para esta consideração,

pois esta pesquisa prioriza as candidatas a partir do gênero e não do partido. Entretanto, não pudemos deixar de

notar o tratamento da Veja para com Dilma Rousseff no que diz respeito à evidência das candidatas. 43

Devemos esclarecer esse fato para que as próximas reflexões sejam feitas partindo da ideia de que as duas

candidatas foram tratadas de maneira muito parecida pelas revistas, ao menos no que diz respeito à visibilidade.

Essa igualdade nos dá um campo favorável para o estudo de representações sociais da mulher em detrimento do

estudo sobre as candidatas como políticas e pertencentes a determinado partido.

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mulher e que a possibilidade de encontrarmos representações sociais são pequenas. A Tabela 3

demonstra o tipo de tema – público e privado – para cada candidata nas duas revistas,

considerando apenas as entradas em que elas estavam em evidência:

TABELA 3 – De que forma as revistas demonstram preferência pela mulher ou pela

política no tratamento às candidatas

Revista Nome Tema N %

Carta

Dilma

Privado 6 7,5%

Público 75 92,5%

Total 81 100%

Marina Público 10 100%

Veja

Dilma

Privado 30 30,3%

Público 69 69,7%

Total 99 100%

Marina

Privado 4 23,5%

Público 13 76,5%

Total 17 100%

Fonte: Autora.

Segundo a Tabela 3, as duas revistas deram preferência ao tema público tanto para

Dilma Rousseff quanto para Marina Silva. Entretanto a Carta Capital deu menos espaço para

o tema privado do que a Veja. A diferença é significativa, já que para Marina, a Carta Capital

deu 100% de espaço para temas considerados públicos, tais como planos de governo, eventos

da candidatura, pesquisas de votos, tipos de eleitores, etc. Já a Veja, cedeu 76,5% do espaço

para matérias de tema público sobre Marina, que é menos do que a Carta Capital, mas

demonstra que a revista se interessa mais pela candidata através do viés político. Ou seja, as

duas revistas trazem Marina com o enfoque público – como candidata e não como mulher –

na maior parte das vezes.

A partir das análises qualitativas, trouxemos algumas matérias públicas e privadas para

cada candidata nas duas revistas, e podemos utilizá-las como ilustração no momento da

discussão dos resultados. Os textos foram apresentados em diversos formatos e no Caso da

Carta Capital, por exemplo, Marina foi citada em apenas dez matérias. Algumas entradas

eram notas, como a que está contida na edição de 18 de agosto sob o título de ―Marinada‖ (ver

anexo 9). O texto se referia ao ataque que a candidata fez ao antecessor dela no Ministério do

Meio Ambiente numa entrevista à Globo. Já Dilma, numa reportagem da edição de 25 de

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agosto, foi tratada através do olhar público dos jornalistas no texto ―O Jacaré Engoliu Serra‖

(ver anexo 15), onde ela foi comparada com o candidato tucano nas pesquisas de voto em

cinco regiões do país.

De forma privada, o veículo citou apenas Dilma, como na reportagem ―Candidatos a

beatos‖ (ver anexo 11), da edição de 20 de outubro, onde era narrada a aparição da candidata

e de José Serra na missa da semana de 12 de outubro, no Dia de Nossa Senhora. O texto

descreveu como foi o comportamento deles celebração na Catedral de Aparecida em São

Paulo e desdenhou do comportamento de ambos os presidenciáveis, por causa da discussão

sobre o aborto e tentativa deles em conseguir o voto dos eleitores de Marina Silva, fora da

campanha no primeiro turno. Vemos aqui a primeira diferença entre as duas revistas, pois a

Carta Capital trata mais de assuntos públicos enquanto a Veja divide o espaço entre público e

privado.

Dentro desta discussão é importante demonstrar que os adjetivos ligados à mulher no

cenário privado apareceram inclusive em textos de caráter público. Como por exemplo, na

edição de 18 de agosto da Carta Capital (ver anexo 10), que reportava os esforços da jornalista

Olga Curado em tornar Dilma mais receptiva às câmeras de televisão e melhorar seu contato

com os repórteres. Ali, trechos que se referiam ao emocional da presidenciável, como ―uma

Dilma Rousseff nervosíssima apareceu no primeiro debate44

‖ e à família de ambas mulheres

do textos, tal como ―como a ex-ministra, a consultora também é separada e tem uma filha de

22 anos‖ 45

estiveram presentes.

A linha editorial da Carta Capital também deu preferência para textos de tema público

sobre Dilma: de 81 matérias, apenas seis delas - 7,5% - traziam assuntos de cunho privado. A

grande diferença se mostra na Veja, que produziu enfoque privado para Dilma em 30,3% das

matérias – quase um terço. Ou seja, ainda que os dois veículos prefiram o tema público para

ambas as candidatas, a Carta Capital dá mais espaço para ele do que a Veja.

Entre as duas revistas, a Carta Capital preza mais por assuntos públicos no período de

campanha do que a Veja, que dá mais enfoque a assuntos pessoais do que ela, principalmente

quando se trata de Dilma Rousseff. Por exemplo, para Marina, a Veja trouxe reportagens

como a nota ―A Noiva do Segundo Turno‖ (ver anexo 2), da edição de 13 de outubro, em que

a candidata verde aparecia de forma pública e o autor do texto comparava seu ótimo

desempenho em relação aos outros presidenciáveis nas pesquisas de voto. Existem muito mais

exemplos de textos para Dilma, portanto vamos citar apenas os títulos de alguns da mesma

44

Reportagem da revista Carta Capital de 18 de agosto de 2010, p. 28: MENEZES. 45

Reportagem da revista Carta Capital de 18 de agosto de 2010, p. 30: MENEZES.

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edição que citou Marina como ―A Noiva do Segundo Turno‖. As matérias públicas que

mostraram Dilma em evidência desta edição foram, por exemplo: ―O Fracasso dos Profetas‖

(ver anexo 3), ―Ainda faltam 5 milhões‖, ―As agulhadas na casa‖ (ver anexo 4), entre outras.

Já de forma privada, a edição de 28 de julho fez um apanhado sobre a biografia de

Marina, a partir de um livro sobre a candidata. A matéria era intitulada ―O Lado B de Marina

Silva‖ (ver anexo 5) e não apenas trouxe a vida pessoal da presidenciável, como também

utilizou termos sobre aspectos do sexo feminino no espaço privado que serão exemplificados

mais pra frente. Para Dilma, o número de textos de cunho privado consistiu em um terço das

entradas, por exemplo, na coluna assinada da edição de 11 de agosto, intitulada ―Como em

Pompeia‖ (ver anexo 6), o autor do texto se referiu à vida pessoal da presidenciável e afirmou

que Dilma sempre esteve ―à sombra de alguém‖ e que

―quando participava da luta armada, seu principal papel era de mulher. Ela era a Amélia da

VAR Palmares. Primeiro, casou-se com um terrorista. Depois, trocou-o por outro terrorista.

Se Dilma fosse iraniana, já estaria condenada à morte. O fato é que, de marido em marido,

ela foi fazendo carreira na burocracia estatal, até chegar a Lula, que se tornou seu pai, seu

padrinho‖46

.

Este trecho é a opinião do autor de forma explícita, sem nenhum objetivo de

imparcialidade. Ele afirma que o principal papel da presidenciável é de mulher, fazendo

relação direta com a discussão de papéis sociais estabelecida nos capítulos anteriores47

.

Depois, utiliza um termo do senso comum: Amélia, que remete à uma canção popular sobre

uma mulher sem vaidades e associa o nome à Vanguarda Armada Revolucionária Palmares,

que foi uma guerrilha de extrema esquerda que lutou contra o regime militar de 1964 no

Brasil. Por último, o autor utiliza-se de preconceito para tratar os dois casamentos da

candidata, o que nos remete a valores onde as mulheres que se casavam várias vezes eram

tratadas à margem da sociedade. Ele escreve ―de marido em marido‖ como se a mulher se

valesse do sexo masculino para atingir seus fins, mas sem nunca tomar a frente das decisões

importantes. Sempre em segundo plano, sempre de maneira esquiva e astuta. Todos estes

termos demonstram muito bem os valores de senso comum presentes no imaginário popular

dos brasileiros em relação às mulheres, mesmo com a realidade definitivamente exibindo o

aumento na demanda do sexo feminino no cenário político.

Desta forma, os dados e exemplos expressam que apesar da Veja ceder um espaço

maior para assuntos públicos sobre as duas candidatas, elas também aparecem como

mulheres. A Carta Capital demonstrou ser um veículo mais preocupado com a candidatura e o

46

Texto da Revista Veja de 11 de agosto de 2010, p. 147: MAINARDI. 47

Verificar capítulos 1.1 e 1.2 para a discussão completa.

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cenário político, tanto pelo tipo de tema quanto pela evidência, já que só citava as candidatas

no texto se pudesse relacionar seus nomes com o assunto tratado em primeiro plano. A Veja,

por outro lado, se preocupou mais com assuntos ligados à candidatura, mas que não tinham

necessariamente um vínculo forte o bastante para justificar a aparição dos nomes nos textos.

Isso demonstra que a Veja não tratava tanto as presidenciáveis como candidatas. Entretanto,

não podemos afirmar que a revista mostrava Marina e Dilma como mulheres e não políticas

sem analisar o enquadramento em que elas apareceram com maior frequência.

A Tabela 4 e a Tabela 5 relacionam o tipo de tema com enquadramento para cada

candidata em cada revista. Isso nos permitiu verificar diversos aspectos importantes no que

diz respeito às representações sociais e também ao espaço cedido e à maneira como foi

distribuído em cada revista para cada presidenciável.

TABELA 4 – Como a revista Carta Capital tratou as candidatas a partir do Enquadramento

Nome Enquadramento Tipo de tema Total

Privado Público

Dilma

Corrida de Cavalos 29 (38,7%) 29 (35,8%)

Personalista 3 (50%) 10 (13,3%) 13 (16%)

Temático 1 (16,7%) 23(30,7%) 24 (29,6%)

Episódico 2 (33,3%) 13 (17,3%) 15 (18,5%)

Total 6 (100%) 75 (100%) 81 (100%)

Marina

Corrida de Cavalos 2 (20%) 2 (20%)

Personalista 2 (20%) 2 (20%)

Temático 1 (10%) 1 (10%)

Episódico 5 (50%) 5 (50%)

Total 10 (100%) 10 (100%)

Fonte: Autora.

A primeira análise que podemos realizar a partir dos números da Tabela 4 se refere ao

enquadramento em dados absolutos. Ele pode ser verificado na última coluna de toda a tabela

nas linhas em que estão ligados à Frequência. Por exemplo, na Carta Capital, Dilma teve 29

aparições na categoria Corrida de Cavalos, o que representa um percentual de 35,8%. O total

de textos em que a presidenciável apareceu nesta revista com este enquadramento foi 81, o

que equivale a 100%. Já Marina Silva teve 20% de menções no que se refere à categoria

Corrida de Cavalos, o que equivale a apenas dois textos. Isso significa que o veículo estava

menos preocupado com seu desempenho nas pesquisas que envolviam os outros candidatos

do que com fatos ou episódios que envolviam apenas a sua campanha. Podemos verificar essa

afirmação a partir da categoria de enquadramento Episódico que, para Marina, representou

metade do percentual válido. As categorias Corrida de Cavalos e Personalista empataram com

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dois textos e o enquadramento Temático teve apenas um texto (10%) sobre Marina Silva na

Carta Capital.

Dilma Rousseff apareceu mais vezes na categoria Corrida de Cavalos da Carta Capital,

com uma porcentagem de 35,8 contra apenas 16% de matérias com enfoque Personalista,

29,6% de enfoque Temático e 18,5%, Episódico. Entendemos, portanto, que a revista cedeu

maior espaço em textos em que a candidata se mostrava em comparação a seus adversários

durante a campanha, ainda que o número de vezes em que foi citada em matérias temáticas

também tenha sido relevante. No entanto, como a predominância nestas duas categorias foi do

tema público (38,7% para Corrida de Cavalos e 30,7% para enfoque Temático) podemos

afirmar que o enfoque Temático explorado pela Carta Capital foi voltado principalmente à

campanha e não à temas pessoais ligados à candidata. Ao mesmo tempo, a Corrida de Cavalos

se refere a temas públicos por si só (com 0% de tema privado, de acordo com a Tabela 4), já

que diz respeito ao avanço dos candidatos no processo eleitoral. Ou seja, a Carta Capital

retratou Dilma Rousseff como candidata, mais do que como mulher, já que trouxe mais

matérias sobre a candidatura e de temas públicos. A próxima tabela demonstra como a Veja se

comportou em relação à Dilma e Marina no que se refere ao Enquadramento.

TABELA 5 – Qual o enquadramento priorizado pela revista Veja nas eleições de 2010

Nome Enquadramento Tipo de tema Total

Privado Público

Dilma

Corrida de Cavalos 8 (11,4%) 8 (8%)

Personalista 25 (83,3%) 15 (21,4%) 40 (40%)

Temático 13 (18,6%) 13 (13%)

Episódico 5 (16,7%) 34 (48,6%) 39 (39%)

Total 30 (100%) 70 (100%) 100 (100%)

Marina

Corrida de Cavalos 2 (15,4%) 2 (11,8%)

Personalista 4 (100%) 7 (53,8%) 11 (64,7%)

Temático 1 (7,7%) 1 (5,9%)

Episódico 3 (23,1%) 3 (17,6%)

Total 4 (100%) 13 (100%) 17 (100%)

Fonte: Autora

Como mostra a Tabela 5, a Veja priorizou matérias de caráter Personalista – aquelas

que dão ênfase à pessoa e não a aspectos de campanha. Atentando para o fato de que Dilma

teve 40% e Marina, 64,7% nesta categoria, entendemos que neste aspecto, a revista enfatizou

a mulher e não a candidata. Estes números mostram que o papel mulher no espaço privado

ainda está em evidência em relação à competência como candidata no cenário político Sob

este aspecto, a Carta Capital conseguiu fazer uma cobertura mais equilibrada, mas a Veja

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demonstra muito bem a disparidade de matérias que tratam das mulheres e das candidatas à

Presidência. De acordo com a Tabela 4, Marina foi prioritariamente registrada sob o enfoque

Personalista, com 64,7% das matérias. Os outros números coletados foram: 11,8% para

Corrida de Cavalos, 5,9% para Temático e 17,6% para Episódico. Em relação à Dilma, quase

metade foi registrada como Personalista – 40%, apenas 8% como Corrida de Cavalos, 13%

como Temático e 39%, Episódico. O número de entradas com enfoque Episódico também se

mostrou muito relevante, já que equivalia quase à mesma quantidade de enquadramento

Personalista.

Isso pode ser associado ao Tema, onde 83,3% das matérias da Veja com caráter

Personalista focaram mais em temas privados do que públicos. O Episódico ficou com 16,7%

contra 0% para Corrida de Cavalos e para Temático. Ou seja, Dilma Rousseff, na Veja é vista

como mulher e não como candidata, já que os dois enfoques que mais tiveram aparições na

revista durante a campanha (Personalista: 40% e Episódico: 39%) priorizaram os assuntos

privados (Personalista: 83,3% e Episódico: 16,7%). Ainda assim, a diferença entre o número

de matérias Personalistas de caráter privado em relação ao resto é explícito. Podemos

exemplificar esse tipo de matéria a partir de trechos que demonstram bem o fato de Veja ceder

mais espaço para textos que olhem Dilma sob o ângulo privado, como representante do

gênero feminino. Por exemplo, na edição de 18 de agosto, na reportagem intitulada ―Celso

mãos de tesoura‖ (ver anexo 14), o autor acaba se utilizando de juízo de valor para se referir

ao aspecto físico da candidata com frases como: ―um novo e arrepiado corte, as sobrancelhas

repaginadas, de forma a tirar o ‗ar de arrogância‘, e a maquiagem modernizada, que, em

aparições importantes, inclui até cílios postiços48

‖.

Essa foi uma matéria de Enquadramento Personalista que continha trechos sobre a

vida privada da candidata Dilma Rousseff. Um exemplo de Enquadramento Episódico, a

partir da temática privada também pode ser visto na seguinte ilustração sobre a edição de

quatro de agosto, numa nota que faz parte do blog de determinado colunista da Veja. Em

seguida, um trecho deste texto foi publicado na revista juntamente com o comentário de um

leitor. O recorte foi intitulado ―Candidata só quer saber do Dilmamóvel‖49

(ver anexo 1) e

questionava o motivo do estado fragilizado da petista. A afirmação era que ela não teria saúde

para uma campanha por tudo o que passou e que não descia do carro para nada.

Em alguns textos, a associação da candidata ao espaço privado foi ainda mais visível,

com trechos que pautavam características emocionais e matérias inteiras sobre suas roupas,

48

Reportagem da revista Veja em agosto de 2010, p. 122: LINHARES. 49

Nota da revista Veja em agosto de 2010, p. 46.

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sua vida pessoal, seu passado de guerrilheira. Uma matéria que não poderíamos deixar de

mencionar foi publicada na edição da Veja de seis de outubro, sob o título de ―Vestida para

Mandar‖ (ver anexo7). A chamada, por si só, já faz um trocadilho irônico com a personalidade

forte da candidata em relação a seu sexo, por ter de cuidar das roupas que usa e a forma que se

apresenta. No decorrer do texto, o leitor é bombardeado com comentários pejorativos que

remetem a candidata ao vestiário de uma ―bibliotecária solteirona‖. A chamada da matéria é a

seguinte: ―Em busca de um estilo para chamar de seu, Dilma Rousseff não tem mandado bem.

Contratou um estilista famoso, mas vacila entre o brega e o careta. Eleita ou não neste

domingo, o que não dá é para deixar esse PAC pela metade 50

‖. Durante a matéria, a própria

revista afirma que as mulheres que adentram na carreira política precisam atentar para o modo

de se vestir e definem que ―Roupas, acessórios, corte de cabelo e maquiagem – no caso das

mulheres, em especial – dizem muito sobre o estilo pessoal, de vida e, em tempo de

campanha, sobre a imagem a ser projetada ao eleitorado51

‖.

Inclusive, esta matéria conta com uma foto da primeira-dama dos Estados Unidos,

Michelle Obama andando ao lado da primeira-dama francesa, Carla Bruni. A legenda afirma

que ―até os acessórios refletem o governo dos maridos‖ 52

. Com apenas esta frase, o autor da

matéria conseguiu expressar a imagem de que a mulher deve se preocupar com o que veste e

ainda ser uma espécie de complemento ao governo do cônjuge, sem ser ela mesma uma voz

importante nas decisões do país. Ela deve passar a imagem de respeito, confiança, recato e

decência. Já o marido deve transmitir confiança, segurança, capacidade de liderança,

iniciativa, entre diversas outras características de alguém que está governando, liderando e

guiando uma determinada comunidade. De acordo com esta matéria da Veja, o gênero

feminino ainda se mostra subjugado pelo masculino e a mulher pode incorporar seu papel

rincipalmente pelo que veste e como se porta e não pelo que diz ou pensa. Este preceito é uma

representação social da mulher no espaço privado.

Ainda neste texto, diversos estilistas comentam os modelos usados pela presidenciável

em fotos específicas. A opinião geral sobre as roupas da candidata é negativa, como por

exemplo, na frase de Regina Guerreiro: ―De terno, não desafina tanto. Mas quando a

candidata anda, a calça desanda‖ 53

. Além de utilizar-se de termos ligados à moda, a autora da

frase ainda faz um trocadilho, e percebemos uma crítica ácida, mas elegante. Essa impressão

também parece tentar reforçar o imaginário popular, onde a mulher consegue adaptar seus

50

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010, p. 132: MENDES. 51

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010, p.132: MENDES. 52

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010, p.133: MENDES. 53

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010, p.133: MENDES.

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pensamentos e faz as mais duras intervenções sem perder a feminilidade. No final, o autor da

matéria atribui à Dilma um desejo de ser levada a sério. E tanto por sua personalidade quanto

por seu sexo, ele acaba remetendo-a à figura materna de maneira depreciativa e zomba das

roupas da candidata. Ele escreve que

―todo o esforço de Dilma Rousseff em direção a uma fórmula que favoreça tanto a suas

ambições de símbolo de autoridade quanto sua figura matronal – até agora aprisionada em

tailleurs nem sempre bem cortados – é elogiável. Mas tem que se entregar mais aos braços

do povo – não aquele de macacão das fábricas, fique claro, mas o do mundinho fashion 54

‖.

O autor do texto relaciona, de maneira comparativa, a importância da credibilidade no

cargo que a candidata almeja com seu estilo ―matronal‖. Assim, acaba confrontando a política

com o instinto maternal – considerado pelo senso comum, presente em toda mulher. Isso

reforça a discussão dos primeiros capítulos55

, onde utilizamos autoras que afirmam que o

principal argumento contra a mulher na politica, é sua vocação para a maternidade.

Ao todo, foram oito reportagens publicadas pela Veja que continham alguma menção

ao modo de Dilma Rousseff se vestir. Já para Marina, o foco não se mostrou em suas roupas,

mas principalmente em seu passado difícil, sua família e sua religião. Com 100% das matérias

de enfoque Personalista, podemos afirmar que a Veja também representou Marina como

mulher e não como candidata. Um exemplo é a matéria da edição de seis de outubro,

intitulada ―Verde com o coração vermelho‖ (ver anexo 8) que afirma que Marina Silva foi:

―Criada num seringal ao lado de dez irmãos, Marina Silva contraiu cinco malárias, foi

contaminada por metais pesados e desenganada três vezes pelos médicos. Alfabetizou-se

apenas com 16 anos para em seguida formar-se em história. (...) Ligada inicialmente às

comunidades eclesiais de base, Marina acabou se tornando uma evangélica fervorosa, que

condena o aborto e a união entre homossexuais. Seu corpo franzino – 51 quilos em 1,64

metros – e a voz frágil contrastam com o vigor com que ela fala de suas ambições políticas

(...)56

‖.

Neste texto, o autor evidenciou o fato de Marina ser evangélica ―fervorosa‖, o que

indica uma representação social que afirma que mulheres deveriam ser recatadas, decentes,

ligadas a alguma doutrina para reprimir seus instintos físicos e naturais. Na mulher, isso é

uma qualidade. Aos homens, por outro lado, foi incentivada a liberdade destes mesmos

instintos como uma maneira de afirmar sua masculinidade. Além disso, o enquadramento é

visível no momento em que o autor escolhe relacionar sua opção religiosa com a condenação

ao aborto e à relação entre homossexuais, o que é claramente uma discussão de gêneros. Por

54

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010: Mendes, p.132: MENDES. 55

Verificar capítulo 1.2 para acompanhar a discussão sobre política e instinto maternal. 56

Reportagem da revista Veja em outubro de 2010: p.83: GASPAR e SOARES.

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último, existe um confronto entre a voz frágil e o corpo franzino de Marina com vigor de suas

ambições. Essa afirmação demonstra que a imagem da mulher ainda não está totalmente

associada a de um ser humano forte e capaz. Ela ainda é considerada um complemento ao

homem, ligada ao instinto maternal, ao carinho, à delicadeza.

Outra reportagem sobre Marina Silva que podemos usar como exemplo foi verificada

na edição de 28 de julho, intitulada ―O lado B de Marina Silva‖ (ver anexo 5) e que promovia

o lançamento da biografia da candidata. Neste texto, completamente personalista, o autor

recorreu à infância pobre de Marina, sua alfabetização tardia, as doenças que contraiu

enquanto era criança, sua relação com o seringal e suas conquistas políticas. Termos que

remetem à família e a religião novamente foram encontrados, tais como ―atual marido‖ e

―evangélica fervorosa‖57

.

Assim como afirmamos nas discussões teóricas, as matérias em questão mencionaram

a política na vida das candidatas, até por que era este o motivo para as revistas pautarem suas

vidas: a candidatura à Presidência. Entretanto, no momento de escrever sobre suas

personalidades, os jornalistas não conseguiram se desviar do senso comum sobre as mulheres

e acabaram reforçando a representação social da mulher no espaço privado, ainda que

tentassem equilibrar com assuntos púbicos.

A Carta Capital não se prendeu ao tema privado para Marina Silva em nenhuma

matéria. Já para Dilma, a revista – assim como a Veja - cedeu maior espaço para

Enquadramento Personalista, que correspondeu a 50% de caráter privado. Os outros números

foram: 16,7% de textos privados para Temático, 33% para Episódico e nenhum texto para

Corrida de Cavalos. Ou seja, quando se tratava dos aspectos da campanha, a Carta Capital só

apresentou assuntos públicos para Dilma e Marina. Isso significa que, apesar de conter

representações sociais, este veículo vê as candidatas de forma mais equilibrada, sem se

importar tanto com o gênero

As duas próximas tabelas – Tabela 6 e Tabela 7 – mostram a Valência e o

Enquadramento para cada candidata em cada revista, considerando apenas as matérias em que

elas estavam em evidência.

57

Reportagem da revista Veja em julho de 2010.

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TABELA 6 – Quais enquadramentos trouxeram Marina Silva de maneira favorável

Revista Valência Enquadramento Total

C de C Personalista Temático Episódico

Carta

Positiva 7 (50%) 1 (7,1%) 3 (21,4%) 3 (21,4%) 14 (100%)

Negativa 3 (50%) 2 (33,3%) 1 (16,7%) 6 (100%)

Neutra 4 (26,7%) 2 (13,3%) 6 (40%) 3 (20%) 15 (100%)

Equilibrada 5 (83,3%) 1 (16,7%) 6 (100%)

Total 16 (39%) 6 (14,6%) 12 (29,3%) 7 (17,1%) 41 (100%)

Veja

Positiva 1 (6,3%) 11 (68,8%) 2 (12,5%) 2 (12,5%) 16 (100%)

Negativa 2 (100%) 2 (100%)

Neutra 1 (14,3%) 2 (28,6%) 3 (42,9%) 1 (14,3%) 7 (100%)

Equilibrada 2 (40%) 2 (40%) 1 (20%) 5 (100%)

Total 4 (13,3%) 15 (50%) 7 (23,3%) 4 (13,3%) 30 (100%)

Fonte: Autora

Segundo os dados da Tabela 6, exatamente metade das matérias da Carta Capital que

retrataram Marina Silva de forma positiva o fizeram no enquadramento Corrida de Cavalos.

Ou seja, o veículo apresentou a candidata de maneira favorável apenas devido ao fato do

desempenho dela nas pesquisas de voto e pelo público eleitor conquistado no decorrer das

eleições. Marina Silva teve um ganho de espaço progressivo nas eleições de 2010, o que

ocasionou as menções positivas à corrida entre os candidatos, perda e ganhos durante a

campanha. A revista também retratou de forma positiva a maior parte dos episódios

relacionados à candidata, assim como os temas ligados à sua campanha, já que tanto o

enquadramento Episódico quanto o Temático tiveram 21,4% de Valência positiva.

Já as reportagens que tratavam da personalidade de Marina Silva foram pouco

favoráveis, pois o Enquadramento Personalista ficou com apenas 7% de textos positivos.

Agora, é interessante observar a Valência negativa da candidata nesta mesma categoria: 50%

das matérias personalistas sobre Marina foram negativas em relação à 7% de positivas. Ou

seja, se não fossem as pesquisas de voto, a candidata não teria um posicionamento favorável

na Carta Capital, porque metade do que foi dito sobre sua personalidade teve conotação

negativa. Este número se torna ainda mais conclusivo ao percebermos que nenhuma das

reportagens personalistas foi equilibrada (Valência Equilibrada = ausência no Enquadramento

Personalista). Na Corrida de Cavalos também não houve nada de desfavorável sobre ela, pois

o crescimento de Marina nas eleições, ainda que pequeno, foi constante. Portanto, apesar de

publicar 14 matérias positivas contra seis negativas, a Carta Capital focou os textos favoráveis

apenas nos resultados de pesquisa enquanto a personalidade da candidata, de forma geral, foi

retratava de forma desfavorável. Poderemos comparar com os resultados de Dilma Rousseff

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no mesmo veículo (com a Tabela 7) para registrarmos se a revista considera as duas como

mulheres ou candidatas.

O Enquadramento Temático, que é aquele que busca reportar contextos que sirvam

para o leitores, também foi em sua maioria negativo. Ele pode ser relacionado às posições e

decisões que Marina tomou durante a campanha e que, consequentemente, poderiam dizer

algo sobre sua personalidade, história, tradições e psicológico. Na Carta Capital, em 33,3%

das reportagens temáticas, Marina foi vista de maneira desfavorável contra apenas 21,4% de

matérias positivas.

A Veja, por outro lado, concentrou a maioria de seus textos sob Valência Positiva no

Enquadramento Personalista: 68,8%, contra nenhuma matéria desfavorável no mesmo tipo de

texto. A única Valência Negativa para Marina Silva na revista foi em reportagens temáticas, o

que equivaleu a 100% dos números, ainda que o total de matérias registradas tenha sido

apenas de duas contra 16 positivas. Ou seja, houve mais matérias favoráveis do que

desfavoráveis à candidata na Veja. Quando se tratava de sua personalidade, maioria absoluta

de textos foi favorável à Marina, demonstrando que a Veja se importou menos com os

resultados da campanha do que com a vida das candidatas. Ou seja, neste caso, a revista tratou

Marina Silva como mulher e não como candidata.

TABELA 7 – Quais enquadramentos trouxeram Dilma Rousseff de maneira favorável

Revista Valência Enquadramento Total

C de C Personalista Temática Episódica

Carta

Positiva 23 (34,8%) 11 (16,7%) 22 (33,3%) 10 (15,2%) 66 (100%)

Negativa 3 (50%) 2 (33,3%) 0 1(16,7%) 6 (100%)

Neutra 11 (64,7%) 0 3 (17,6%) 3 (17,6%) 17 (100%)

Equilibrada 2 (22,2%) 2 (22,2%) 4 (44,4%) 1 (11,1%) 9 (100%)

Total 39 (39,8%) 15 (15,3%) 29 (29,6%) 15 (15,3%) 98 (100%)

Veja

Positiva 0 1 (33,3%) 1 (33,3%) 1 (33,3%) 3 (100%)

Negativa 2 (3,3%) 23 (38,3%) 10 (16,7%) 25 (41,7%) 60 (100%)

Neutra 5 (16,1%) 15 (48,4%) 2 (6,5%) 9 (29%) 31 (100%)

Equilibrada 3 (23,1%) 1 (7,7%) 3 (23,1%) 6 (46,2%) 13 (100%)

Total 10 (9,3%) 40 (37,4%) 16 (15%) 41 (38,3%) 107 (100%)

Fonte: Autora

De acordo com os dados da Tabela 7, a Carta Capital publicou 66 matérias positivas

sobre Dilma contra seis negativas. Ou seja, a Valência total da candidata no veículo é

favorável, o que é justificável pelo editorial na primeira semana de julho, intitulado ―Por que

apoiamos Dilma‖. Vemos que os jornalistas seguiram a linha editorial da revista ao

enquadrarem os assuntos que deveriam ser publicados. A maior parte da Valência positiva se

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deu nas reportagens de Corrida de Cavalos (com 34,8%) onde pesquisas eram apresentadas

com avanços e regressos dos candidatos durante a campanha. As matérias temáticas também

tiveram grande presença de assuntos favoráveis a Dilma, com quase o mesmo percentual da

Corrida de Cavalos – 33,3%. Reportagens sobre a personalidade não foram tão benéficas, já

que correspondem a apenas 16,7% e o Enquadramento Episódico ficou em último lugar, com

15,2%.

Na Corrida de Cavalos, os jornalistas dão ênfase a quem está na frente e no

Enquadramento Temático, tentam contextualizar assuntos da campanha eleitoral. Nos dois

casos, os textos buscam fatos ligados diretamente à campanha, numa tentativa de se

mostrarem imparciais, não manifestando que o veículo segue uma linha editorial específica,

pois isso faz parte do fazer jornalístico58

. Os dados relacionados à Corrida de Cavalos e ao

enquadramento Temático podem ser explorados da seguinte forma:

Podemos deduzir que, ao expor a presidenciável a pesquisas favoráveis, a linha

editorial da Carta Capital poderia se desenvolver de forma a mostrar para os leitores as

qualidades da candidatura e da personalidade de Dilma Rousseff contra as falhas de outros

presidenciáveis. Tudo isso, entretanto, sem perder o equilíbrio, na busca de diferentes ângulos

e opiniões, como prevê a profissão jornalística. Ao comparar a evolução da candidatura de

Dilma com a de outros candidatos (Corrida de Cavalos) e contextualizar e esclarecer

programas promissores da candidata petista em relação à realidade brasileira (Temático), o

objetivo é disseminar a boa imagem de Dilma Rousseff sem, necessariamente, reafirmá-la de

maneira explícita em cada edição.

Além disso, a Corrida de Cavalos focava muito em pesquisas de opinião de voto, e

essa foi a melhor maneira de apoiar Dilma e deixar a própria população brasileira falar por si.

Vendo que as pesquisas colocavam a candidata petista na frente, os leitores pensariam sobre o

assunto por vontade própria, sem que a revista tivesse que enfatizar uma opinião até se tornar

repetitiva. Pois, apesar de apoiar publicamente Dilma Rousseff, a Carta Capital não poderia

ficar induzindo os leitores a votar na candidata que o veículo considerava melhor. Isso não

ético por parte dos meios de comunicação e no caso da Carta Capital, não era nem viável. O

público da revista é segmentado, ele confia na palavra dos jornalistas que escrevem as

reportagens publicadas nas revistas, se sentem atraídos pelo assunto que é tema da revista e

em vários casos, acompanham o cenário político do país também por outros meios.

Por exemplo, na edição de sete de julho foi publicada a ―Enquete da Semana‖ (ver

58

Verificar capítulo 2.1 para acompanhar a discussão completa.

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anexo 9), que mostrava que Dilma havia crescido 82% em relação a Serra e que Marina havia

crescido 5% em relação aos dois nas pesquisas de voto. Já na edição de 28 de julho

apresentou uma nota intitulada ―Zona do Agrião I‖ (ver anexo 9), que afirmava que uma

pesquisa do instituto Sensus havia detectado uma redução da diferença de intenções de voto

em 5% entre Dilma e Serra no estado de São Paulo, onde o candidato tem bom desempenho

na campanha. Dilma estava com 31% das intenções contra 36% de José Serra e Marina estava

com 8,8%. Vemos que mesmo que o número fosse menor, a Carta Capital focou no aumento

das intenções e não na diferença em si. E ainda terminou a nota com a seguinte frase: ―Esses

números estimulam o desespero da oposição. Fatalmente vão influenciar nos percentuais do

resultado nacional‖59

.

Segundo a Carta Capital, a candidata ficou atrás de outros presidenciáveis nas

pesquisas apenas em três vezes, que é o número de matérias negativas sobre ela no

enquadramento Corrida de Cavalos. Esta variável corresponde a 50% da porcentagem

analisada, já que 33,3% é Personalista (e corresponde à duas matérias), 16,7% é Episódico

(um texto apenas) e nenhum percentual é Temático. Podemos interpretar que a revista

reportou apenas um episódio desfavorável à Dilma, duas reportagens ruins sobre ela e três

menções desvantajosas sobre sua posição na campanha eleitoral contra 66 citações favoráveis.

Considerando o apoio à sua candidatura, entendemos que a revista considera Dilma Rousseff

como candidata e não como mulher, já que ela segue uma linha editorial que favorece a

candidata por seus planos de governo (e sucessão a Lula).

Já a Veja publicou apenas três matérias positivas contra 60 negativas. Das menções

favoráveis, nenhuma é da Corrida de Cavalos – o que demonstra que a Veja preferiu ignorar

as pesquisas que indicavam o apoio dos eleitores à Dilma numa tentativa de suprimir o avanço

da candidata. Uma citação positiva é no Enquadramento Temático, na edição de 25 de agosto

e na fotografia onde a legenda é intitulada ―Dilma Rousseff‖ (ver anexo 2), a citação positiva

no enquadramento Personalista se dá na edição de 13 de outubro, num comentário de leitor

sobre a reportagem da edição anterior ―O Guarda-Roupa de Dilma‖ (ver anexo1). E a última

menção favorável da candidata é numa nota de enquadramento Episódico, em 22 de setembro,

sob o título de ―A voz da Dona‖ (ver anexo 1). Isso gera um percentual de 33,3% para cada

categoria.

Das 60 matérias negativas, 41,7% foram Episódicas e 38,3%, Personalistas.

Considerando que 83,3% das reportagens que a Veja publicou sobre a personalidade de Dilma

59

Reportagem da revista Carta Capital em julho de 2010.

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foram privadas (ver Tabela 5), podemos perceber que os textos da revista falaram mal da

candidata, principalmente quando se tratava da personalidade dela em questões privadas,

como vida, roupas, família, gênero e religião. Isso comprova que a Veja considerou Dilma

Rousseff mulher, não política. Já o enfoque Episódico foi tratado a partir do tema privado em

apenas 16,7%, o que significa que os acontecimentos desfavoráveis sobre Dilma publicados

pela revista Veja eram principalmente de caráter público, como fatos ocorridos durante o

período eleitoral que poderiam fazer o eleitor duvidar da capacidade da candidata de governar,

como escândalos, contradições e eventos desfavoráveis.

Ainda assim, mesmo em textos onde o tema predominante era público, determinados

jornalistas acabaram redigindo termos que remetessem à personalidade da candidata em meio

às informações. Podemos ilustrar essa afirmação com as expressões presentes nos textos que

diziam respeito aos debates entre os presidenciáveis. Por exemplo, na edição de 11 de agosto,

o texto era de tema público: um debate entre José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva (ver

anexo 2). Mesmo assim, o repórter faz uma avaliação do desempenho dos candidatos e faz

referência tanto ao emocional quanto ao psicológico de Dilma ao dizer que ela ―comete um

erro clássico, bastante grave entre os oradores afoitos‖ e que é ―inarticulada e confusa. Atenta

contra a língua e a necessidade de se fazer entender‖ 60

. Essas menções dizem respeito ao

comportamento da candidata num momento público, o que reforça ainda mais a ideia de que a

Veja trata Dilma Rousseff como mulher e não como candidata. As Tabelas 8 e 9 representam a

frequência que os jornalistas apresentaram termos que remetessem a mulher ao espaço

privado. Com estas informações, conseguimos estabelecer parâmetros entre as representações

sociais e os próprios autores dos textos, a partir do sexo de cada um.

60

Reportagem da Revista Veja em agosto de 2010, p.97: TEIXEIRA E MACEDO.

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TAB 8 - Presença de termos ligados ao espaço privado sobre Dilma e Marina na Carta Capital

Nome Termos Sexo do Autor Total

Dilma

Mulher Homem

Gênero 3 (27,3%) 8 (72,7%) 11 (100%)

Família/Religião 3 (100%) 3 (100%)

Saúde/Físico 2 (100%) 2 (100%)

Emocional 2 (40%) 3 (60%) 5 (100%)

Psicológico 5 (38,5%) 8 (61,5%) 13 (100%)

Marina

Gênero

Família/Religião

Saúde/Físico

Emocional 1 (100%) 1 (100%)

Psicológico

Fonte: Autora

Podemos ver que na Carta Capital apareceram onze termos sobre Dilma que se

referiam ao gênero feminino, enquanto que para Marina, nenhuma citação foi encontrada. Já

no que diz respeito à família e religião, foram três textos para Dilma. Para Marina, o único

trecho que poderia criar uma representação social da mulher no espaço privado representava o

emocional da candidata. Para Dilma, duas expressões que mostravam aspectos ligados à sua

saúde e seu aspecto físico foram coletadas. Sobre o emocional da candidata petista, a Carta

Capital publicou cinco textos e sobre o seu psicológico, treze, o maior número da tabela.

Nesta revista, o maior número de atributos é o psicológico, para Dilma. Para Marina quase

não existem menções aos termos observados.

De acordo com os dados acima, verificamos que grande parte das reportagens

analisadas foi escrita por homens, o que significa que a maioria dos jornalistas que trabalham

na redação são do sexo masculino. Entretanto, isso não é o mais importante para a análise.

Sobre Marina Silva, não há muito o que descobrir, pois em apenas um texto os termos ligados

à representação social da mulher foram registrados. Portanto, a nossa interpretação se dá,

basicamente, a partir dos números sobre a Dilma.

Observamos que os homens utilizam, principalmente, termos ligados ao gênero

(72,7%), ao emocional (60%) e ao psicológico (61,5%) enquanto que as mulheres se referem

mais à saúde, ao físico, à família e à religião das candidatas (100%). Só isso já demonstra que

existe divisão sexuada inclusive nas redações, pois as mulheres escrevem mais sobre aquilo

que ligado a seu sexo, como moda, família e religião. Para ilustrar os números quantificados

acima, trouxemos exemplos de algumas matérias que trataram as candidatas com termos

ligados à representação social da mulher no espaço privado sob a perspectiva dos sexos dos

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autores. Por exemplo, na edição de três de novembro, quando Dilma foi eleita presidente, uma

jornalista fez uma retrospectiva de sua vida pública e privada na Carta Capital sob o título de

―A Primeira Presidente‖ (ver anexo 12). Ela reportou sobre sua saúde e acabou fazendo

menções ao seu corpo. Logo em seguida, fez um apanhado geral também dos fatos que

viraram notícia e eram relacionados às roupas, cabelos e maquiagem das candidatas, provando

que outros jornais também tem uma visão estereotipada das mulheres direcionada ao espaço

privado, mesmo no cenário político. Ela escreveu:

―Dilma torceu o pé direito, rompeu os ligamentos e passou a tomar corticoides desde então.

Engordou sete quilos, em parte porque não podia fazer os exercícios, em parte pelos

medicamentos; Não houve, porém, qualquer recidiva do câncer. (...) Com o fim do

tratamento, quando o cabelo voltou a crescer, houve uma reviravolta na vida da pouco

vaidosa ex-ministra. Ela conheceu p cabeleireiro Celso Kamura, que deu um trato no seu

visual. Dilma adorou Kamura e não vive mais sem ele para ajeitar as madeixas. Alexandre

Herchcovitch chegou a ser anunciado como o estilista oficial de Dilma. A candidata gostou

dele, mas não das roupas que lhe apresentou. Tanto que Herchcovitch faz questão de dizer

que nada do que ela vestiu era dele – o que inclui o polêmico terninho cinza do debate final

da Globo‖61

.

Os termos como ―madeixas‖ são pouco recorrentes em reportagens informativas de

revistas políticas e econômicas. O fato de estarem falando de uma mulher, ainda que ela

ocupe o maior cargo do nosso país, pressupôs uma mudança até das palavras utilizadas, o que

demonstra uma diferença de tratamento entre os sexos. E o caso do ―polêmico terninho cinza

do debate final da Globo‖ mostra que o assunto foi alvo de discussão de outros meios de

comunicação, gerando um reforço do senso comum da sociedade de que as mulheres devem

se vestir de maneira adequada às ocasiões e às posições sociais e profissionais. Veremos na

Tabela 9 se a Veja tem o mesmo comportamento que a Carta Capital.

61

Reportagem da Carta Capital em novembro de 2010, p.26: MENEZES.

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TAB 9 - Presença de termos ligados à mulher no espaço privado sobre Dilma e Marina na

Veja

Nome Termos Sexo do Autor Total

Mulher Homem Ambos Nenhum

Dilma

Gênero 6 (40%) 9 (60%) 15 (100%)

Família/Religião 6 (35,3%) 11 (64,7%) 17 (100%)

Físico/Saúde 5 (55,6%) 4 (44,4%) 9 (100%)

Emocional 1 (16,7%) 4 (66,7%) 1 (16,7%) 6 (100%)

Psicológico 2 (22,2%) 6 (66,7%) 1 (11,1%) 9 (100%)

Marina

Gênero 1 (100%) 1 (100%)

Família/Religião 1 (50%) 1 (50%) 2 (100%)

Físico/Saúde 1 (100%) 1 (100%)

Emocional 1 (100%) 1 (100%)

Psicológico 1 (100%) 1 (100%)

Fonte: Autora

A revista Veja publicou 15 textos contendo menções ao gênero feminino para Dilma e

apenas um para Marina, na edição de sete de julho em um comentário de leitor intitulado

―Marina‖ (ver anexo 1). Já sobre a família e religião, foram 17 textos sobre a candidata petista

e dois textos para a candidata verde. É um número pequeno, mas foi a única vez que uma

revista publicou mais de um trecho ligado à representação da mulher no espaço privado para

Marina Silva. Com essa observação, pudemos confirmar a afirmação já feita a partir da Tabela

5, que dizia que as revistas focaram no passado difícil, religião e origem humilde de Marina,

tal como na matéria ―Lado B de Marina Silva‖ da edição de 28 de julho (ver anexo 5).

Os textos com citações sobre o físico e a saúde de Dilma Rousseff na Veja empataram

com os textos sobre seu psicológico, com nove aparições cada. E menções sobre o emocional

da ex-ministra apareceram em seis textos. Marina Silva foi abordada em apenas um texto para

cada uma das seguintes categorias: gênero, físico e saúde, emocional e psicológico. Para

contextualizar como os termos eram utilizados, trouxemos alguns trechos das matérias

coletadas, tais como na edição de 11 de agosto, na matéria ―Lances de um debate‖ (ver anexo

13), onde a autora menciona o emocional da candidata verde ao escrever que ―Marina Silva

cumpriu sua tarefa com diligência de educanda na véspera de pronunciar os votos, o que lhe

permitia instantes de emoção carregados de alegria‖ 62

e na edição de oito de setembro, na

foto de ―Marina‖ (ver anexo 9), em que a legenda afirma que ―o discurso moralista pesa mais

que a pregação ambiental‖ 63

da candidata, o que é uma citação clara sobre sua personalidade.

Comparando os números absolutos, percebemos que os atributos que aparecem mais

62

Reportagem da revista Carta Capital em agosto de 2010, p. 23: MENEZES. 63

Reportagem da revista Carta Capital em setembro de 2010, p. 15.

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são família e religião. Os termos que foram menos utilizados nos textos, para Dilma, são os

relacionados ao emocional e para Marina, não existem. A Veja tem uma peculiaridade que é

publicar textos com jornalistas dos dois sexos, portanto a Tabela 9 tem uma coluna a mais,

para dar conta desta demanda. Sobre a Marina, a situação se repete, já que não há nenhum

indício de autoras, a não ser quando homens e mulheres assinam o mesmo texto. Novamente a

interpretação é feita a partir das matérias a respeito de Dilma Rousseff.

Os homens novamente são maioria no total de textos, mas isso significa apenas uma

predominância do sexo masculino nas redações. Mesmo assim, as mulheres também têm

participação ativa no reforço das representações sociais referentes à mulher no espaço

privado. De acordo com os dados da Tabela 9, os jornalistas do sexo masculino escreveram

mais sobre o psicológico (66,7%), o emocional (66,7%), família e religião (64,7%) e gênero

(60%). Entretanto, na categoria físico e saúde, as mulheres tiveram maior desempenho, com

55,6% dos textos. Se juntarmos com os números da Tabela 8, que registrou totalidade (100%)

de mulheres em termos sobre físico e saúde das candidatas, podemos entender que existe uma

divisão de papeis sociais, inclusive no nível dos produtores de notícia. Físico e saúde

abrangem a moda, vestimentas, corpo, cabelos, maquiagem, doenças e forma física e, de

acordo com as tabelas, são prioridade entre as jornalistas do sexo feminino. Isso significa que

as mulheres são vistas como maior conhecedoras do mundo da moda do que os homens, o que

sugere uma divisões de papeis e comprova que as representações sociais da mulher no espaço

privado estão presentes no imaginário popular da sociedade, inclusive dos jornalistas.

Numa rápida perspectiva das considerações acima, podemos dizer que as duas revistas

possuem linhas editoriais realmente distintas, mas acabam tendo comportamentos muito

parecidos ao lidar com o sexo das candidatas. Elas optaram por manter seus posicionamentos

políticos, através de reportagens sobre a campanha. No caso de Dilma, a Veja procurou

relacioná-la com Lula e o PT, quando tratava de assuntos políticos, numa tentativa de

desacreditar uma mulher que precisou ser ―apadrinhada‖ para conseguir alguma credibilidade

junto ao cenário político nacional. A Carta Capital, por outro lado, também relacionou Lula e

Dilma, mas com intenções contrárias: fortalecer a imagem da candidata a partir dos avanços

no governo de oito anos do presidente. Já Marina foi tratada com mais equilíbrio, com mais

textos públicos e voltados à evolução da campanha de forma geral. Ou seja, a linha editorial

teve influência no momento de enquadrar as notícias, mas não a ponto de suprimir os termos

ligados à representação social feminina no espaço privado. A prova disso são os próprios

termos encontrados em várias edições dos dois veículos. Na conclusão que se segue,

procuramos interpretar como os dados se aplicam ao que foi proposto nas hipóteses desta

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pesquisa, para definir se, afinal, os dois meios estudados reformulam ou reforçam a

representação social da mulher no espaço privado mesmo num campo público, como é a

política.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a discussão dos dados, percebemos que Dilma Rousseff foi citada em 217

textos na Veja e em 156 na Carta Capital. Marina Silva, por sua vez, foi citada em 12 matérias

na Carta Capital e em 20 na Veja. Os textos em que elas apareceram juntas não foram

contabilizados, já que eles não trouxeram termos relevantes sobre a mulher no espaço privado,

como explicamos durante o capítulo anterior. Dilma apareceu em mais textos do que Marina,

entretanto, isso não significa, necessariamente, um comportamento favorável por parte das

revistas em relação à ex-ministra, pois elas retrataram Dilma muitas vezes em segundo plano,

enquanto que Marina esteve em evidência na maioria das matérias em que foi citada.

Este trabalho apresenta três principais conclusões: A primeira é que as revistas

trataram tanto Marina quanto Dilma majoritariamente como candidatas e não como mulheres.

Primeiramente pelo número de textos focados em temas públicos em relação aos de temas

privados, já que houve mais textos do primeiro tipo (encontramos 167 públicos e 40

privados). Em segundo lugar, pois tanto a Veja quanto a Carta Capital mantiveram suas linhas

editoriais em relação aos posicionamentos políticos. No entanto, ainda que seguissem linhas

distintas, os textos de ambas as revistas demonstraram que os jornalistas não conseguem se

desvincular dos valores adquiridos através das trocas de experiências durante sua vida e

acabam por transmitir estes valores através de enquadramentos e termos no decorrer do texto.

A segunda conclusão, portanto, é que mesmo tratando as duas mulheres como

candidatas majoritariamente, as matérias apresentaram representações sociais do sexo

feminino no espaço privado a partir de expressões e atributos que relacionassem Dilma e

Marina com ele. Ou seja, como candidatas, o tratamento de cada revista foi diferente, mas

como mulheres, o tratamento foi o mesmo, demonstrando que a própria linha editorial é

limitada em relação aos hábitos e papeis sociais presentes no imaginário popular e dos

próprios jornalistas. Por exemplo, a Veja sempre colocava Dilma como dependente de Lula,

enquanto a Carta Capital afirmava que a candidata, cada vez mais, conseguia mostrar sua

independência e maturidade política. No entanto, ambas as revistas citaram o

desentendimento da ex-ministra com Alexandre Herchcovitch, que deveria ser o estilista

oficial da candidata, mas que a parceira não deu certo por divergência de opiniões.

A terceira conclusão se refere à imagem das candidatas, criada pelos jornalistas a partir

da escolha dos temas a serem pautados em cada momento da eleição. Percebemos que a

confiabilidade das mulheres pode ser manchada por fatos que não se referem diretamente a

seu papel individual. Ela depende da concepção dos eleitores que, segundo nossos dados,

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ainda fazem com que as mulheres tenham sua capacidade colocada à prova também em

assuntos ligados ao seu papel social e não apenas ao seu caráter. Elas, portanto, estão mais

ligadas à construção social do que os homens. E essa construção não depende delas, pois é

feita por uma sociedade que envolve os dois sexos.

Considerando as peculiaridades de cada uma, as candidatas foram acompanhadas de

maneira bastante exaustiva durante o período das campanhas. Seja em textos de caráter

público ou privado, diversos fatos relacionados a Dilma e Marina foram abordados,

interpretados e debatidos nos textos da Veja e da Carta Capital. A maior parte dos assuntos

tratados se referia diretamente à campanha e considerava temas que estavam em evidência

durante o período eleitoral. Entretanto, verificamos menções à vida particular e observamos a

existência de termos que trataram as duas presidenciáveis de forma bastante pessoal. O que

pudemos interpretar foi que, ao investigar a vida privada das duas mulheres, os textos

tentavam traçar uma base de comparação com suas pretensões políticas. Isto é, desvendar a

personalidade delas também a partir da vida pessoal, que é a maior prova da existência da

representação social que ainda remete a mulher ao espaço privado.

Como não analisamos também os candidatos que concorriam ao mesmo cargo, não

podemos utilizar uma verificação aprofundada para falar deles. Ainda assim, partimos da

hipótese de que a vida privada dos homens que concorreram à presidência também foi

pautada. No entanto, os motivos foram diferentes: quando se trata do sexo masculino,

escândalos públicos ou pessoais, conquistas ou qualquer fato que venha a ser publicado pelos

meios de comunicação, ajudam a montar o caráter da pessoa para que o público possa avaliar

sua confiabilidade como ser humano. Para as mulheres, entretanto, investigar seus assuntos

privados significa traçar um parâmetro sobre suas aptidões como membros de um grupo – o

próprio sexo feminino.

A credibilidade e a confiabilidade para o político se torna uma resposta natural quando

ele se mostra uma pessoa de boa índole, a partir de suas ações e atitudes. Isso independe do

julgamento dos membros da sociedade sobre sua função no mundo, ou o papel social

estabelecido historicamente para o homem. Eles possuem autonomia para construir a imagem

que querem de si mesmos. Para mulher, por sua vez, depende muito do que a própria

sociedade espera do seu papel social como pertencente ao seu próprio sexo.

Durante a discussão dos dados, percebemos que Dilma Rousseff foi citada em 217

textos na Veja e em 156 na Carta Capital. Marina Silva, por sua vez, foi citada em 12 matérias

na Carta Capital e em 20 na Veja. Os textos em que elas apareceram juntas não foram

contabilizados, já que eles não trouxeram termos relevantes sobre a mulher no espaço privado,

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como explicamos durante o capítulo anterior. Dilma apareceu em mais textos do que Marina,

entretanto, isso não significa, necessariamente, um comportamento favorável por parte das

revistas em relação à ex-ministra, pois elas retrataram Dilma muitas vezes em segundo plano,

enquanto que Marina esteve em evidência na maioria das matérias em que foi citada.

Vimos também que existe preferência política dos veículos, que foi demonstrada a

partir do foco que ambas dedicaram aos assuntos em pauta durante vários momentos da

campanha. Isso pôde ser verificado devido à ênfase e supressão de temas em cada edição, já

que as duas revistas foram analisadas nos mesmos dias e poderiam ter publicados os mesmos

assuntos, caso não houvesse divergência nas linhas editoriais e preferência políticas. A Veja

ligou Dilma ao seu ―padrinho‖, presidente Luís Inácio Lula da Silva quando expunha

escândalos ligados ao PT. Os textos chegavam a sugerir uma falha na capacidade de governo

de Dilma, pelo fato de Lula acompanhá-la em vários comícios e apoiá-la abertamente. A Carta

Capital, por sua vez, também relacionou Dilma ao governo do presidente na época, mas isso

era feito para elogiar os avanços conseguidos nos oito anos comandados por Lula.

Ou seja, as duas se valeram de seus posicionamentos políticos ao definir os ângulos

utilizados nas reportagens, tratando as duas como candidatas. No entanto, ao relacionar Dilma

a um homem, as duas revistas criaram a impressão de que o sexo feminino está subordinado

ao masculino no campo político. E isso pode ser comprovado a partir dos termos encontrados,

como ―apadrinhada‖ ou ―Lula de saias‖.

Quanto a Marina, estava quase sempre em primeiro plano quando seu nome aparecia

nos textos. Além disso, Dilma era abertamente favorecida por Lula, que era o presidente na

época, e muitas reportagens falavam mais do governo dele do que da campanha dela. E

também, anos antes da disputa, Dilma foi ministra enquanto Marina era senadora. Os cargos

também possuem visibilidade diferente na mídia e por isso, a candidata petista teve mais

espaço. Entretanto, como explicamos na discussão dos resultados, um número maior de

citações não significa, necessariamente, um maior espaço, já que a evidência dada às

candidatas quase igualou sua importância no que se refere à quantidade de informações

ligadas a elas e suas campanhas. Isso significa que os dois veículos viam as candidatas pelo

olhar público e utilizavam-se do enquadramento para gerar matérias que refletissem as

preferências políticas e não de gênero.

Sobre a segunda conclusão deste capítulo, entendemos que o tratamento público

cedido à Dilma foi através do PT e a linha política de esquerda e à Marina pelo Partido Verde

(PV) e as questões ecológicas. Outro exemplo de que as revistas focaram em suas

preferências políticas é que a Carta Capital buscava, de maneira equilibrada, uma forma de se

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mostrar favorável à candidata, a partir de aspectos da própria campanha. Isso é característica

editorial, já que a Veja foi bem mais personalista. A Carta Capital, que começou a campanha

com um editorial de Mino Carta intitulado ―Por que apoiamos Dilma‖, priorizou reportagens

temáticas que contextualizassem os planos de governos dos candidatos e pesquisas de voto

que davam conta do avanço das campanhas eleitorais.

Acreditamos que a Carta Capital cedeu mais espaço para esses tipos de texto para

tentar evidenciar Dilma, sem ficar repetindo suas ideologias tanto pela proposta de jornalismo

imparcial quanto pelo público da revista. A melhor saída, portanto, foram as pesquisas de

opinião, debates, estratégias de candidatura, planos de governo eficientes para a situação do

Brasil, plataformas partidárias, entre outros – que demonstrassem que não era a revista que

está afirmando de forma repetitiva sua ideologia, mas que esta era a realidade e o veículo

estava apenas reproduzindo-a. Portanto, Dilma teve 35,8% de aparições no enquadramento

Corrida de Cavalos e 29,6% no enquadramento Temático, o que somam a maioria dos textos

publicados no período de campanha.

Toda essa teoria se baseia também nos resultados que, salvo em alguns momentos,

mostram que Dilma Rousseff estava constantemente em vantagem. Poderíamos supor, então,

que se ela estivesse perdendo muitos pontos nas pesquisas, ou ficasse muito tempo ocupando

o segundo lugares, a Carta Capital daria mais ênfase aos outros tipos de enquadramento.

Entretanto essa é uma suposição que não pode ser comprovada, pois não temos momentos em

que Dilma ocupou o segundo lugar por muito tempo para usarmos como comparação.

A Veja, por outro lado, buscou demonstrar as falhas da presidenciável petista, mas por

meio de matérias que recorressem à personalidade da candidata. Encontramos 60 textos de

Valência Positiva contra apenas três de Valência negativa. E o enquadramento Personalista

contou 40% dos textos do período de campanha. Neste ponto, a Veja se dividiu entre temas

públicos e privados, dando preferência aos assuntos relacionados à campanha, mas trazendo

esporadicamente, matérias personalistas privadas. No aspecto público, a revista, por sua linha

editorial, tentava associar qualquer escândalo político do governo Lula e do PT com a ex-

ministra. Isso demonstra que o viés político estava predominando na visão dos jornalistas das

duas revistas.

Para Marina, entretanto, o tratamento foi praticamente o mesmo nas duas revistas, que

também trataram da candidata e não da mulher, mas não apenas por seguir um viés político já

que, para Marina Silva, que concorria à presidência pelo PV, isso não importava tanto quanto

para Dilma Rousseff, que concorria pelo PT. As duas revistas utilizaram matérias, na maior

parte das vezes, públicas e com pouca incidência dos atributos ligados às representações

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sociais da mulher no espaço privado. Na Carta Capital, quase não houve aparição destes

termos (um termo ligado ao emocional, somente) e a revista se prendeu tanto a aspectos

públicos que a Valência final desta candidata foi totalmente influenciada por seu desempenho

nas pesquisas de voto, sem textos desfavoráveis que remetessem a termos ligados ao sexo. Na

Veja o enfoque foi em sua maioria público também, com seis textos que continham atributos

da mulher no espaço privado e 13 textos focados em temas públicos contra quatro privados.

A Carta Capital, de forma geral, teve menos incidência de temas privados (somente

seis textos e todos sobre Dilma), matérias personalistas e atributos que remetessem a mulher

ao cenário privado. Ela deu um tratamento mais equilibrado para as duas políticas e abordou

tanto Dilma quanto Marina como candidatas (com 75 textos de caráter público para Dilma e

10 para Marina). A candidata verde, pela falta de assuntos privados a seu respeito e a

candidata petista, pois ao final, acabou cedendo aos enfoques gerados pelo posicionamento

político do veículo.

A Veja também cedeu aos enfoques políticos advindos da linha editorial, mas foi

diferente da Carta Capital pois, enquanto esta tentava evidenciar Dilma de uma maneira

positiva sem parecer parcial, a Veja buscou desfavorecer a campanha da ex-ministra com

matérias sobre sua personalidade, seu passado, seu despreparo e até suas roupas. Para isso,

utilizou mais termos ligados à mulher no espaço privado em muito mais textos (enquanto a

Carta Capital trouxe 34 textos com termos relacionados ao sexo de Dilma, a Veja teve 56).

Mas a quantidade não é tão importante neste momento da conclusão, pois só o fato destes

atributos aparecerem (e eles apareceram nas duas revistas) comprova a nossa hipótese de que

os jornalistas ainda criam representações sociais que contribuem para a visão de que o sexo

feminino pertence ao espaço privado.

Verificamos que a linha editorial possui influência no resultado do trabalho dos

jornalistas, mas a sociedade e seus valores são mais fortes. Mesmo com duas linhas diferentes,

nas duas revistas apareceram menções à mulher no espaço privado, o que prova que os

jornalistas têm valores parecidos, pois vivem no mesmo país e na mesma época, independente

do que prega a profissão jornalística ou mesmo os editores e a linha do veículo. A maioria das

matérias sobre as duas candidatas foram de caráter público, mas isso não significa que as

menções ao espaço privado não apareceram. E de fato, conseguimos exemplos de algumas

matérias com juízo de valor e utilizando termos que realmente ligavam a mulher ao espaço

privado, como roupas, família e beleza. O que significa que, apesar de existir um processo de

reformulação de valores em relação ao sexo feminino no cenário político, ele ainda está em

evolução e os meios de comunicação também reforçam o papel social considerado apropriado

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para membros do sexo feminino.

A mídia, de forma geral, pode reforçar ou reformular ideias e hábitos existentes na

sociedade. De fato, os textos da Veja e a Carta Capital demonstram que estão trabalhando

(mesmo que de forma involuntária e apenas para acompanhar o que acontece na realidade)

para que a mulher na política tenha voz, seja mais respeitada. E isso se deve ao fato dos meios

de comunicação se relacionarem com o público e o mercado, no sentido de serem necessários

para a sociedade, mas também necessitarem dela. Isto é, vimos que a demanda de mulheres no

cenário político vem aumentando cada vez mais, e da mesma forma, vimos que as revistas são

veículos segmentados para se aproximar mais do público alvo. Vimos ainda que os jornalistas

seguem determinados critérios de noticiabilidade para manter o equilíbrio de fontes e atrair os

cidadãos. Ou seja, se existe uma mudança gradual na realidade, os veículos de comunicação

buscam acompanha-la para continuar mantendo seu público consumidor. Esta conclusão pode

nos ajudar a responder a um questionamento levantado durante este trabalho: se os jornalistas

reformulam ou reforçam as representações sociais da mulher no espaço privado. Ora, as duas

coisas, pois tanto a Veja e a Carta Capital procuram acompanhar a realidade da sociedade em

que estão inseridas.

Como essa realidade demonstra uma maior liberdade por parte das mulheres no

cenário político, as revistas vão seguir esta linha de pensamento, pois a práxis jornalística

pressupõe equilíbrio de informações e busca da verdade. Assim, os veículos acabam tratando

as mulheres como candidatas na maior parte do tempo, tanto num nível mais óbvio que é a

quantidade de reportagens cedidas para elas, quanto num momento mais sutil, que é quando

os dois veículos deixam transparecer suas preferências políticas através da forma como

colocam as informações nos textos. Sendo assim, poderíamos dizer que os meios de

comunicação, durante esta pesquisa, reformularam as representações sociais do sexo feminino

no espaço privado.

Entretanto, a discussão do terceiro capítulo comprovou a existência dos atributos

relacionados ao sexo feminino no espaço privado, mesmo que em menor quantidade. Os

jornalistas não conseguem se desvencilhar de ideias concebidas e adquiridas durante a

formação de sua personalidade, durante seu crescimento. E essas ideias são formadas durante

a evolução de um grupo, seus hábitos e valores são estabelecidos e passam a ser considerados

normais. Mesmo que a realidade se modifique e estes hábitos precisem mudar, por uma

questão de evolução, é muito difícil para os seres humanos de forma geral se desvincularem

de certos pensamentos cultivados durante uma vida toda. E isso ocorre também com os

jornalistas. Apesar das linhas editorias distintas dos veículos e do ideal de imparcialidade, as

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impressões pré-concebidas acabam influenciando a forma deles enquadrarem os assuntos,

resultando em uma visão repleta de representações sociais e até certo preconceito. Dessa

forma, poderíamos também afirmar que os meios de comunicação reforçam essa

representação. Por isso a resposta à hipótese fundamental do trabalho é que estes veículos

pretendem reformular uma ideia na medida em que ela também está sendo alterada na

realidade. Mas esse mesmo contexto social acaba por reforçar a imagem da mulher no espaço

privado, através das representações sociais.

Um fato que poderia nos ajudar a reforçar a visão de que os jornalistas não conseguem

se separar dos valores adquiridos na sociedade em que estão inseridos é que na própria

redação existem espaços sexualmente definidos. Por exemplo, as mulheres jornalistas

escreveram mais sobre a moda ligada à candidata Dilma do que os homens (duas mulheres

contra nenhum homem na Carta Capital e cinco mulheres contra quatro homens na Veja).

O que queríamos verificar é se a mulher vem conseguindo cada vez mais espaço no

cenário político, e de fato, foram exibidas muitas reportagens sobre ambas as candidatas nas

duas revistas durante o período de campanha. Mas percebemos que sua capacidade de

governar ainda é ofuscada por termos que lembrem o leitor sobre valores anteriores a esta

realidade, onde a mulher ainda era submissa ao homem em diversos aspectos de sua vida.

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110

ANEXO A – LISTA DAS VARIÁVEIS UTILIZADAS DURANTE A COLETA

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1 – REVISTA: Veja ou Carta Capital.

2 – DATA: data da publicação.

3 – MATÉRIA: indica a numeração sequencial das matérias naquela edição daquela revista.

4 – FORMATO: indica o tipo de matéria noticiosa de acordo com a seguinte classificação:

CÓDIGO TIPO

1 Chamada de capa

2 Reportagem

3 Foto

4 Artigo Assinado

5 Coluna Assinada

6 Editorial

7 Nota

8 Carta do Leitor

5 – TÍTULO: transcrever o título da matéria ou, no caso de fotos e infográfico, transcrever a

legenda.

6 – GENERO DO AUTOR DA ENTRADA: 1 = mulher; 2 = homem; 3 = ambos. (Na

ausência de

Autor = 0).

7 – PÁGINA: número das páginas.

8 - POSIÇÃO localização da matéria relativa ao espaço que ocupa na página:

CÓDIGO TIPO

1 Página inteira

2 Metade

3 Mais de uma página

9 – EVIDÊNCIA: 1 = candidata; 0 = outro.

10 – TIPO DE TEMA PREDOMINANTE: público = 2 ou privado = 1.

11 – ENQUADRAMENTO: aplicado apenas para reportagens:

CÓDIGO TIPO

1 Corrida de Cavalos

2 Personalista

3 Temático

4 Episódico

A partir de Porto, M (2000).

12 – VISIBILIDADE DO NOME DO CANDIDATO TÍTULO E SUBTÍTULO: 0 = ausência;

1 = presença.

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13 – VISIBILIDADE DO NOME DA CANDIDATA NO TEXTO: número de citações da

candidata na entrada. Em caso de foto ou ilustração, conta-se uma vez se o nome candidata

estiver na legenda.

14 – VALÊNCIA PARA A CANDIDATURA:

CÓD. TIPO

1 Positiva

2 Negativa

3 Neutra

4 Equilibrada

15 – MENÇÃO AO GÊNERO: 0 = ausência, 1 = presença.

16 – MENÇÃO A PAPÉIS SOCIAIS NA FAMÍLIA E REGILIÃO: 0 = ausência 1 = presença.

17 – MENÇÃO À APARÊNCIA FÍSICA OU SAÚDE: 0 = ausência, 1 = presença.

18 – MENÇÃO À CONDIÇÕES EMOCIONAIS: 0 = ausência, 1 = presença.

19 – MENÇÃO À QUALIDADES PSICOLÓGICAS OU DO CARÁTER: 0 = ausência, 1 =

presença.

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ANEXO B – MATÉRIAS ANALISADAS QUALITATIVAMENTE

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APÊNDICE – RELATÓRIO ANALÍTICO

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O interesse por estudos de gênero se consolidou em 2010, durante a nona edição do

evento Fazendo Gênero na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis.

Sempre gostei da discussão sobre gêneros, embora não fosse nada direcionado, até por pouco

conhecimento teórico sobre o tema. Nos primeiros anos de faculdade, busquei ler alguns

livros da biblioteca, já pensando em produzir uma monografia que tivesse essa temática.

Durante o evento, participei de diversas discussões e pude assistir trabalhos que

analisavam a mulher na mídia. Um que me chamou a atenção foi um artigo sobre as

representações sociais criadas pelas revistas femininas. Ele comprovava que os estereótipos

acerca dos papeis que cada sexo deve exercer na sociedade eram reforçados a partir de

imagens publicitárias. Decidi então, que gostaria de analisar revistas, por ser o veículo com o

qual eu mais tive afinidade antes e durante o meu período da faculdade e por perceber que os

textos contidos nelas permitiam uma maior visibilidade das representações sociais do que os

textos da mídia diária. Eu sempre quis realizar um trabalho que tivesse a mídia impressa como

foco, portanto escolhi as revistas pelas razões já citadas.

No terceiro ano, tivemos aulas de Metodologia de Pesquisa em Comunicação,

ministradas pelo professor Emerson U. Cervi. Ele, desde o começo, nos pressionava a definir

os assuntos que seriam o tema das monografias e trabalhos de conclusão de curso. Durante os

primeiros meses, eu não tinha ideia do que queria fazer, só sabia que seria sobre revistas e que

teria a ver com gênero. A ideia da monografia em si surgiu a partir de um texto da minha

amiga Letícia Scheifer para a aula de Redação III. Ele se referia a pouca quantidade de

mulheres nos partidos políticos brasileiros e citava diversos dados que comprovavam essa

informação. Conversei com ela sobre suas próprias ideias de TCC e ela me disse que gostaria

de fazer algo relacionado a webjornalismo. Com isso, eu solicitei o texto e solidifiquei minha

ideia de partir dele para realizar minha monografia. Comecei, então, a pensar na metodologia

e estabeleci, num primeiro momento, que a análise de conteúdo seria a mais apropriada para o

que eu pretendia fazer.

Depois de definida a temática, eu nunca tive dúvidas sobre ela e em nenhum momento

pensei em mudar a estrutura ou a metodologia do meu trabalho. As aulas de Metodologia de

Pesquisa em Comunicação só faziam aumentar a certeza das minhas escolhas. Não me lembro

exatamente como a ideia de analisar as duas candidatas à Presidência surgiu. Mas acho que

foi em uma conversa com o prof. Emerson, que na época ainda era professor da matéria.

Meu primeiro contato com ele foi quando eu pedi as tabelas de variáveis utilizadas no

Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais da UEPG. Ele me passou os dados e

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me convidou para participar da reunião que seria no meio do ano. Entretendo, seria apenas

para discussão de resultados e esclarecimento de dúvidas, pois o encontro de apresentação das

variáveis já havia ocorrido no início do bimestre. Eu disse que gostaria de estudar as

representações sociais da mulher, pois sempre tive interesse em como elas foram se alterando

através do tempo. E isso se intensificou com os dados do texto da Letícia e com a observação

do cotidiano, que comprovava que, mesmo com a realidade se modificando, ainda existia na

mídia uma ideia muito conservadora em relação à mulher no espaço público.

Depois de conversar muito sobre o assunto, optei por observar Dilma Rousseff e

Marina Silva no período de suas candidaturas, pois esse era um momento muito importante,

em que duas mulheres deixavam o espaço privado (seus lares) para concorrer a um cargo

público: a Presidência da República. Essa era a maior prova de que a opinião dos eleitores

estava mudando em relação à mulher pertencer apenas ao ambiente privado. Eu poderia ter

escolhido outras áreas, como o aumento do sexo feminino no mercado de trabalho, mas

resolvi que a política, como um espaço público majoritariamente masculino, serviria melhor

como campo da pesquisa. Além disso, por se tratar de um cargo tão importante, haveria

muitas matérias sobre a candidatura das duas mulheres em questão. Suas opiniões seriam

discutidas e suas vidas, exaustivamente analisadas.

A partir da metade do ano de 2010 eu passei a ler textos sobre gênero, como Mulheres

Públicas (1998) da autora Michelle Perrot e A Evolução do Feminismo: subsídios para a sua

história (2002) de Mariana Coelho. Passei também a acompanhar a cobertura política das

candidatas pelos meios de comunicação, suas páginas na internet e suas redes sociais. Decidi,

enquanto construía meu pré-projeto, quais seriam as revistas que eu iria analisar.

Optei pela Veja e pela Carta Capital por possuírem espaços fixos direcionados à

politica nacional. Inicialmente eu queria coletar a Veja e a Época, pelo grande número de

edições em circulação. Entretanto, decidi mudar minha ideia inicial por causa das linhas

editoriais, que eram muito parecidas. Resolvi, portanto, escolher a Veja e a Carta Capital, pois

a primeira criava uma imagem negativa da candidata Dilma, enquanto a outra apoiava sua

candidatura abertamente desde o editorial, intitulado: por que apoiamos Dilma. Percebi que

essas eram as melhores escolhas, pois seria uma maneira de equilibrar os resultados finais.

Isso porque havia a possibilidade de uma visão final desfavorável a Dilma, mas não pelo fato

dela ser mulher, e sim por pertencer a um partido político que a Veja constantemente tratava

de forma negativa. Com estas questões definidas, escrevi meu pré-projeto e apresentei a parte

teórica ainda crua no VIII Encontro Paranaense de Pesquisa em Jornalismo da Universidade

Estadual de Ponta Grossa (UEPG) em outubro de 2010.

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Pela proximidade com o tema e com a metodologia que eu pretendia utilizar, o

professor Emerson aceitou meu pedido de orientação. A primeira coisa que ele me passou em

2011 foi o livro Construção Social da Realidade (1995) dos autores Peter L. Berger e Thomas

Luckmann, de onde eu tirei a maior parte das concepções sobre representações sociais.

Definimos na primeira orientação quais seriam os capítulos do texto, que não tinham o

formato exato dos atuais. Entretanto, em nenhuma ocasião no decorrer do processo, precisei

fazer mudanças bruscas sob nenhum aspecto. Depois de ler o livro de Berger e Luckmann

produzi o primeiro capítulo, adicionando outros autores e teorias.

Após definir a estrutura básica do que seria meu trabalho, passei a produzir num ritmo

frenético, cerca de dez páginas por semana, que eram corrigidas sempre pelo meu orientador.

Eu mandava no domingo, ele corrigia até terça ou quinta-feira – que era quando fazíamos a

orientação – e eu mandava novamente no próximo domingo. Seguimos assim pelos primeiros

meses, de forma que até as férias, toda a parte teórica estava pronta: a discussão teórica e a

delimitação do tema, somando cerca de sessenta páginas. Nesse período, começou a ser

estruturado um grupo de pesquisa sobre gêneros na UEPG, eu participei das primeira reuniões,

mas o grupo tratava principalmente do gênero feminino na mídia de maneira geral, enquanto

meu foco era especificamente a partir do campo político. Além disso, eles tinham seus

próprios trabalhos e eu optei por continuar minha monografia sozinha.

Durantes as férias eu coletei os dados das duas revistas, utilizando variáveis que

estabeleci baseando-me nas tabelas de variáveis do Grupo de Pesquisa em Mídia, Política e

Atores Sociais e da Universidade Estadual de Maringá (UEM) que também estavam

começando um grupo de pesquisa que utilizava análise de conteúdo e que tinha ênfase em

gênero. Consegui as revistas propostas com amigos, em sebos, na internet, na hemeroteca da

UEPG e algumas com o próprio Emerson. Passei as férias produzindo o banco de dados que

seria analisado assim que começasse o segundo semestre e meu orientador rodasse os dados,

estabelecendo as porcentagens. Nesta etapa, eu só tive dificuldades por conta de ter passado

cada semana em um lugar diferente: Apucarana, Guarujá e Rolândia. Na primeira cidade,

precisei conciliar as coletas com as atividades diárias e dividir o computador com meu irmão

mais novo, por isso não consegui muita coisa. No entanto, no Guarujá e em Rolândia pude

realizar o trabalho com bastante velocidade e empenho, pois tinha os dias pouco

movimentados.

A segunda parte do trabalho, que consistia na discussão dos resultados e a conclusão,

demorou mais do que a parte teórica, que havia começado a ser pensada desde 2010. Tive

muita dificuldade nesta etapa, pois queria utilizar todas as informações obtidas na coleta e não

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conseguia selecionar o que era primordial e o que era secundário, para assim iniciar o

processo de conclusão de forma efetiva. Demorou bastante tempo para eu criar coragem para

começar a escrever e apenas depois de ler e reler a monografia diversas vezes, passei a ter

uma visão objetiva do meu trabalho, produzindo uma conclusão mais clara e direta. Foi um

processo demorado, mas que me ensinou muito, não apenas sobre o assunto em questão, mas

a me organizar e produzir baseando-me em teorias e em pesquisa. Espero que meus esforços e

minhas conclusões possam contribuir de alguma forma para discussões e para produção de

novos trabalhos na área de comunicação, gênero e política.