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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PAULA ELISA BRANDÃO GUEDES DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO, SOROLÓGICO E MOLECULAR DA INFECÇÃO POR Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS EM ITUBERÁ, BAHIA ILHÉUS BAHIA 2013

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PAULA ELISA … · Entretanto, as técnicas sorológicas e moleculares são as mais sensíveis na detecção de E. canis. O objetivo deste trabalho

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

PAULA ELISA BRANDÃO GUEDES

DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO, SOROLÓGICO E MOLECULAR DA

INFECÇÃO POR Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS EM

ITUBERÁ, BAHIA

ILHÉUS – BAHIA

2013

PAULA ELISA BRANDÃO GUEDES

DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO, SOROLÓGICO E MOLECULAR DA

INFECÇÃO POR Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS EM

ITUBERÁ, BAHIA

ILHÉUS- BAHIA

MARÇO DE 2013

ILHÉUS- BAHIA

2013

Dissertação apresentada à Universidade

Estadual de Santa Cruz, como parte das

exigências para obtenção do título de Mestre

em Ciência Animal.

Área de concentração: Ciência Animal.

Orientador: Prof. Dra. Fabiana Lessa Silva.

G924 Guedes, Paula Elisa Brandão

Diagnóstico parasitológico, sorológico e molecular da infecção por Ehrlichia canis em cães naturalmente infectados em Ituberá, Bahia / Paula Elisa Brandão Guedes. – Ilhéus, BA: UESC, 2013.

x, 48 f.: il.; anexo. Orientadora: Fabiana Lessa Silva. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de

Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal.

Inclui referências.

1. Cão – Doenças – Ituberá (BA). 2. Cão – Parasito. 3. Zoonoses – Tratamento – Ituberá (BA). 4. Hemograma. 5. Carrapato – Controle – Ituberá (BA). I. Título.

CDD 636.7

PAULA ELISA BRANDÃO GUEDES

DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO, SOROLÓGICO E MOLECULAR DA

INFECÇÃO POR Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS EM

ITUBERÁ, BAHIA

Ilhéus-BA, 25/04/13.

___________________________________

Fabiana Lessa Silva – DSc

UESC/DCAA

(Orientadora)

____________________________________

Alexandre Dias Munhoz – DSc

UESC/DCAA

___________________________________

Nadia Regina Pereira Almosny – DSc

UFF/DPCV

ILHÉUS- BAHIA

2013

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a Deus, em primeiro lugar, pois é Ele quem me guia, e

ilumina todos os meus passos, à minha família, que tanto amo e que é o alicerce de

minha vida, ao meu esposo, aos meus amigos do coração, que são como

verdadeiros irmãos, e à minha cadelinha Samantha.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu Senhor, por toda força e serenidade que me deu, não

só por toda minha vida, mas principalmente durante esses dois últimos anos,

em que me dediquei inteiramente a esse projeto.

À minha família, em especial aos meus pais, sempre tão presentes em

minha vida, apoiando-me, com muito amor e carinho.

Aos meus sogros, que amo como pais, e ao meu esposo, que sempre

paciente, soube entender meus muitos momentos de ausência por estar

envolvida nas atividades do Mestrado.

Aos meus amigos queridos de uma vida inteira Juliana Chaves, Cinthia

Azevedo, Karen Marra e Gabriel Nery, e aos que cultivei ao longo do mestrado

Paula Rocha, Taiane Nascimento, Valter Almeida, Adriana Lopes, e muitos

outros que estão guardados com muito amor em meu coração, e que sempre

estiveram ao meu lado quando mais precisei.

Aos alunos da graduação, que me receberam com respeito quando

ministrava aulas de Patologia Animal, e dos quais jamais esquecerei.

Aos alunos de iniciação científica, que me ajudaram na execução do

projeto, em especial Siberi Santos Castro.

À minha colega de Mestrado e amiga, Thaís Nascimento, uma pessoa

muito especial, que me ajudou durante todo esse período de estudos.

Ao amigo e técnico do Laboratório de Histopatologia da UESC, Ivo

Arouca, sempre muito competente e disponível para o que eu necessitasse. A

Maria Fabiana dos Santos, técnica da Sala de Esterilização e Lavagem de

Material Laboratorial, por todo material que esterilizou para que eu o pudesse

utilizar, e aos vigilantes que zelam por nossa segurança.

Ao doutorando Fábio Carvalho, pesquisador altamente qualificado, que

não poupou esforços em me ajudar durante todo o projeto, e à mestranda

Daniele Rocha, que também me auxiliou durante a realização das IFI´s.

À minha orientadora, professora Fabiana Lessa Silva, que acreditou no

meu potencial e me ajudou a ingressar no meio científico. É com muito carinho

que a agradeço por tudo que fez por mim, desde a graduação.

Aos professores Amauri Arias Wenceslau e Renata Santiago, que, com

competência e comprometimento, forneceram-me base para que

desenvolvesse de forma correta toda a pesquisa, e em especial aos

professores George Rêgo Albuquerque e Alexandre Dias Munhoz, que,

pacientemente, atenderam-me as muitas e muitas vezes que os procurava

repleta de dúvidas.

Ao Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da Universidade

Estadual de Santa Cruz por possibilitar a realização e execução do projeto de

pesquisa.

A todos vocês, agradeço por fazerem parte da minha vida, e desse

momento tão importante.

vi

DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO, SOROLÓGICO E MOLECULAR DA

INFECÇÃO POR Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS

EM ITUBERÁ, BAHIA.

RESUMO

Erliquiose é uma zoonose causada por bactérias do gênero Ehrlichia, que acomete animais de diversas espécies, incluindo o homem. A erlichiose monocítica canina é causada por bactérias da espécie Ehrlichia canis, transmitida através do carrapato vetor Riphicephalus sanguineus, durante seu repasto sanguíneo. Esta doença possui três fases: aguda, subclínica e crônica, que dentre diversos sintomas, leva a apatia, caquexia, anemia e trombocitopenia, podendo evoluir para o óbito. Os métodos de diagnósticos mais utilizados na rotina clínica são o esfregaço sanguíneo (ponta de orelha) e o hematológico, que busca alterações na população de leucócitos no sangue total do animal. Entretanto, as técnicas sorológicas e moleculares são as mais sensíveis na detecção de E. canis. O objetivo deste trabalho foi detectar a presença de Ehrlichia canis no sangue de cães naturalmente infectados do município de Ituberá, Bahia, testando a sensibilidade dos exames de esfregaço sanguíneo, sorológico e molecular. Além disso, este estudo objetivou identificar os fatores de risco associados com a doença nos cães desta localidade, através de estudo epidemiológico. Para isso, 379 cães foram submetidos ao exame clínico e à colheita de amostras de sangue, utilizadas para realização de hemograma, Imunofluorescência Indireta (IFI) para detecção de anticorpos anti-E. canis e Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) para pesquisa de DNA de E. canis. Adicionalmente, foi realizado esfregaço sanguíneo a partir de amostras de sangue periférico de ponta de orelha, e nested PCR para detecção de DNA de E. canis nos carrapatos que parasitavam os animais positivos em estudo. Dos 379 animais avaliados, 47 (12,4%), 124 (32,7%) e 97 (25,6%) foram positivos nos exames de esfregaço sanguíneo, sorológico e molecular, respectivamente. Foram considerados infectados os cães positivos em qualquer dos três exames, 178 (46,9%) animais. Os fatores de risco associados à infecção foram idade, presença de carrapatos, contato com outros cães e habitat, e as alterações hematológicas observadas foram anemia e trombocitopenia. Concluiu-se que o município de Ituberá, Bahia, possui alta incidência de erliquiose canina e que as diferentes formas diagnósticas utilizadas para detecção de E. canis são complementares, e devem ser analisadas em conjunto. Palavras-chave: Ehrlichia canis. Hemograma. Imunofluorescência Indireta. PCR.

vii

PARASITOLOGICAL, SEROLOGIC AND MOLECULAR DIAGNOSIS OF

INFECTION Ehrlichia canis IN NATURALLY INFECTED DOGS IN ITUBERÁ,

BAHIA.

ABSTRACT

Ehrlichiosis is a zoonotic disease caused by bacteria of the genus Ehrlichia that affects animals of many species, including man. Canine monocytic ehrlichiosis is caused by the bacteria Ehrlichia canis, transmitted through the tick vector Riphicephalus sanguineus during its blood meal species. This disease has three stages: acute, sub clinical and chronic, which among many symptoms, leads to apathy, cachexia, anemia and thrombocytopenia, and may progress to death. The most common diagnostic methods used in clinical routine are the blood smear (tip of ear) and the hematological, seeking changes in the population of leukocytes in whole blood of the animal. However, serological and molecular techniques are the most sensitive in the detection of E. canis. The aim of this study was to detect the presence of Ehrlichia canis in the blood of naturally infected dogs in the municipality of Ituberá, Bahia, testing the sensitivity of blood smear, serological and molecular examinations. Furthermore, this study also aimed to identify risk factors associated with illness in dogs in this locality, by conducting an epidemiological survey. For this, 379 dogs were subjected to clinical examination and collection of blood samples, used to hemogram, Indirect Immunofluorescent Assay (IFA) for detection of antibodies to E. canis and Polymerase Chain Reaction (PCR) for DNA detection of E. canis. Additionally, blood smear was performed from peripheral blood samples of ear tip, and nested PCR to detect DNA of E. canis in ticks that was parasitizing positive animals in this study. Of the 379 animals sampled, 47 (12.4%), 124 (32.7%) and 97 (25.6%) were positive in blood smear, serological and molecular tests respectively. Were considered infected dogs positive in all three tests, 178 (46.9%) animals. Risk factors associated with infection were age, presence of ticks, contact with other dogs and habitat, and the hematological changes observed were anemia and thrombocytopenia. It was concluded that the municipality of Ituberá, Bahia, has a high incidence of canine ehrlichiosis and that the different forms used for diagnostic detection of E. canis are complementary and should be considered together. Key-words: Ehrlichia canis. Hemogram. Indirect Imunofluorescent Assay. PCR.

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1

Tabela 2

Tabela 3

Prevalência de erliquiose monocítica canina em

diferentes estados brasileiros.

Distribuição da soropositividade para E. canis no

município de Ituberá-Bahia.

Comparação entre os resultados obtidos nos

esfregaços sanguíneos e sorologia dos cães do

município de Ituberá-Bahia.

16

27

30

Tabela 4 Comparação entre os resultados obtidos nos

esfregaços sanguíneos e teste molecular dos cães do

município de Ituberá-Bahia

30

Tabela 5 Comparação entre os resultados obtidos nos testes

sorológico e molecular dos cães do município de

Ituberá-Bahia.

31

Tabela 6

Achados clínicos e hematológicos presentes nos cães

positivos nos exames de esfregaço sanguíneo,

parasitológico, sorológico e molecular, provenientes do

município de Ituberá-Bahia.

33

Tabela 7 Fatores associados à infecção pela E. canis em cães

positivos provenientes do município de Ituberá-Bahia.

35

Tabela 8

Associação entre cães positivos e os fatores: idade,

presença de carrapatos e habitat, no município de

Ituberá-Bahia.

36

ix

SUMÁRIO

1.

2.

2.1

2.2

3.

3.1

3.1.1

3.1.2

3.1.3

3.1.4

3.1.5

3.1.6

3.1.6.1

3.1.6.2

3.1.6.3

3.1.6.4

3.1.7

4.

4.1

4.2

4.2.1

4.2.2

4.2.3

4.2.3.1

4.2.3.2

RESUMO vi

ABSTRACT vii

INTRODUÇÃO 11

OBJETIVOS 12

Geral 12

Específicos 12

REVISÃO DE LITERATURA 13

Erliquiose monocítica canina 13

Agente etiológico e histórico 13

Vetor e transmissão 14

Fatores predisponentes 14

Prevalência no Brasil 15

Patogenia e sinais clínicos 16

Diagnóstico 17

Avaliação de esfregaço sanguíneo 17

Diagnóstico por meio de isolamento e cultivo 18

Diagnóstico sorológico 18

Diagnóstico molecular 19

Tratamento e controle 20

MATERIAL E MÉTODOS 21

Características do município 21

Animais 21

Coleta de dados epidemiológicos, anamnese e exame clínico dos

animais 22

Coleta de carrapatos 22

Obtenção de amostras biológicas 22

Pesquisa direta de mórulas de E. canis 23

Análise de parâmetros hematológicos 23

x

4.2.3.3

4.2.3.4

4.2.4

4.3

4.4

5.

5.1

5.2

5.3

5.4

5.5

6.

Exames sorológicos 23

Extração de DNA e PCR 24

Avaliação do tempo de sangramento 25

Transferência dos resultados aos proprietários 25

Análise estatística 25

RESULTADOS E DISCUSSÃO 27

Diagnóstico 27

Achados epidemiológicos, clínicos e hematológicos 31

Tempo de sangramento 33

Fatores de risco associados à infecção pela E. canis 34

Diagnóstico molecular de E. canis em carrapatos R. sanguineus 36

CONCLUSÕES 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38

ANEXO I 43

ANEXO II 47

11

1. INTRODUÇÃO

A erliquiose canina é uma enfermidade causada por bactérias gram

negativas do gênero Ehrlichia, que resulta basicamente em três tipos de

manifestação de doença. Estes tipos variam de acordo com as espécies

envolvidas, as células parasitadas e as manifestações clínicas, e são

classificados em: erliquiose trombocítica, granulocítica e monocítica canina

(DAGNONE, 2001).

A erliquiose trombocítica canina, caracterizada principalmente pela

trombocitopenia cíclica, é causada pela Anaplasma platys. Este agente era

anteriormente conhecido como Ehrlichia platys, entretanto, em virtude de uma

alteração na classificação taxonômica, atualmente pertence ao gênero

Anaplasma. A erliquiose granulocítica, por sua vez, é causada pelas espécies

E. ewingii e A. phagocytophilum, que parasitam os granulócitos de cães. Por

fim, a erliquiose monocítica canina é causada pelas espécies E. canis (agente

mais comum) e E. chaffensis (DAGNONE, 2001, DUMLER et al., 2001).

A erliquiose monocítica acomete cães de todas as idades e, no Brasil, é

causada principalmente por Ehrlichia canis, cujos vetores são carrapatos que

parasitam comumente cães domiciliados ou não, de áreas urbanas ou rurais. O

Rhiphicephalus sanguineus é o carrapato implicado na transmissão da

erliquiose monocítica canina em condições naturais (SOUSA, 2006). As

bactérias invadem e se multiplicam nos linfócitos e plaquetas do hospedeiro,

causando sérios distúrbios como febre, vômitos, perda de peso, anorexia,

trombocitopenia e hemorragias (MOREIRA et al., 2003).

Estudos recentes desenvolvidos no Brasil revelam que a prevalência da

erliquiose monocítica em cães é elevada. Numa pesquisa realizada por Ueno et

al. (2009), foi detectado o DNA de E. canis em 40% dos cães estudados

provenientes do Hospital Veterinário da Universidade Estadual Paulista, na

cidade de Botucatu, São Paulo. Azevedo et al. (2011) realizaram um estudo

sorológico de cães da região do semiárido da Paraíba, que revelou positividade

para E. canis em 72,5% dos casos. Em Salvador, capital baiana, o trabalho de

Meneses et al. (2008) revelou anticorpos anti-Ehrlichia canis em 98,66% dos

animais avaliados, enquanto a PCR revelou positividade em 33,3% dos cães.

12

Como se pode observar, o estudo da erliquiose monocítica canina tem

sido objetivo de diversas pesquisas pelo mundo, devido a alguns fatores como

a alta prevalência da infecção e as elevadas taxas de morbidade e mortalidade.

Além disso, trata-se de uma doença de fácil transmissão, uma vez que seus

vetores são carrapatos que comumente parasitam os cães domésticos

(AGUIAR, 2006). Levando-se em conta que os estados brasileiros possuem

características favoráveis à manutenção do vetor, como clima tropical e

subtropical, essa infecção ganha destaque no âmbito nacional, e embora muito

estudada, ainda carece de estudos a cerca da epidemiologia e prevalência em

diversas regiões brasileiras.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral:

- Determinar a prevalência da erliquiose monocítica canina no município

de Ituberá, Bahia, tendo em vista que o município carece de estudos nesta

área.

2.2 Específicos:

- Detectar a presença de mórulas de E. canis em amostras de sangue de

ponta de orelha de cães do município de Ituberá, Bahia.

- Detectar a presença de anticorpos anti-E. canis em cães do município

de Ituberá, por meio de testes sorológicos (Imunofluorescência Indireta).

- Detectar a presença de DNA de E. canis no sangue de cães oriundos

do município de Ituberá, pela nested PCR.

- Detectar a presença de DNA de E. canis nos carrapatos encontrados

parasitando os cães positivos em estudo.

- Aplicar questionário epidemiológico, visando identificar os fatores de

risco relacionados à infecção por E. canis nos cães do município de Ituberá.

- Testar a sensibilidade do exame de ponta de orelha, confrontando seus

resultados com os obtidos através dos exames sorológicos e moleculares.

13

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Erliquiose monocítica canina

3.1.1 Agente etiológico e histórico

A erliquiose monocítica canina é uma enfermidade causada por

bactérias da espécie Ehrlichia canis, que pertencem à ordem Rickettsiales,

família Anaplasmataceae e ao gênero Ehrlichia. Os agentes etiológicos são

bactérias gram negativas, intracelulares obrigatórias, que parasitam,

principalmente, células do sistema fagocítico mononuclear (ANEXO I)

(DUMLER et al., 2001).

Atualmente, o gênero Ehrlichia possui cinco espécies, que causam

diferentes manifestações de erliquiose: E. canis, E. chaffeensis, E. ewingii, E.

muris e E. ruminantium. No Brasil há relatos apenas de infecção por E. canis. A

espécie E. platys, antes classificada no gênero Ehrlichia, recentemente sofreu

uma modificação na classificação taxonômica e hoje é conhecida como

Anaplasma platys, pertencendo, assim, ao gênero Anaplasma (DUMLER et al.,

2001).

Estas bactérias podem acometer diversas espécies animais, como

caninos, felinos, equinos, e, inclusive, o homem, e a doença causada por elas é

caracterizada como zoonose (PAROLA et al., 2005; PEREZ et al., 2005).

A E. canis foi descoberta na Argélia, no ano de 1935, por Donatien e

Lestoquard, durante o estudo de esfregaços sanguíneos de cães infestados por

carrapatos da espécie R. sanguineus. Devido à semelhança do agente com

rickettsias, eles a chamaram de Rickettisia canis. Entretanto, em 1945, ela foi

renomeada pelo pesquisador Moshkovshi como E. canis, homenageando o

bacteriologista Paul Ehrlich. A partir de então, a erliquiose pode ser encontrada

em diversos países, especialmente nos tropicais e subtropicais, uma vez que

estes possuem condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do vetor

(IQBAL et al., 1994). No Brasil, o primeiro relato da doença ocorreu em 1973 na

cidade de Belo Horizonte (Costa et al., 1973). Atualmente essa enfermidade

está presente em todas as regiões brasileiras (AGUIAR, 2006).

14

3.1.2 Vetor e transmissão

A E. canis é transmitida durante o repasto sanguíneo de carrapatos da

espécie R. sanguineus (Ordem Acarina, família Ixodidae e gênero

Rhipicephalus), conhecidos popularmente como carrapatos marrons do cão

(SOUSA, 2006). Quando esses vetores se alimentam do sangue de um animal

infectado, eles ingerem os leucócitos contendo as bactérias, as quais se

multiplicam nos hemócitos e células da glândula salivar desses artrópodes,

propiciando, assim, a transmissão transestadial. Ao realizar o repasto

sanguíneo em um animal não infectado, o carrapato, então, inocula as

bactérias, que se multiplicarão sob a forma de corpúsculos elementares nas

células sanguíneas e em células do sistema fagocítico mononuclear, as quais

estão presentes no fígado, baço e linfonodos. Posteriormente, a E. canis se

multiplica nos fagolisossomos do animal, e se desenvolve em corpúsculos

iniciais e mórulas, seu estágio final. Estas, que possuem inúmeros corpúsculos

elementares, os liberam quando há rompimento dos leucócitos infectados ou

mesmo por exocitose, reiniciando, assim, o ciclo da infecção no animal

(DAGNONE et al., 2001; McQUISTON et al., 2003; SANTARÉM, 2003). Há

relatos na literatura de transmissão da infecção via transfusão sanguínea

(SOUSA, 2006).

Segundo Lewis Jr. et al. (1977), a passagem de E. canis para o

carrapato durante o repasto sanguíneo ocorre cerca de 2 a 3 semanas após o

cão ser infectado. A explicação para isso é que, na fase aguda da doença, há

maior número de leucócitos infectados circulantes.

3.1.3 Fatores predisponentes

Há alguns fatores predisponentes que costumam ser avaliados quando

há infecção por E. canis, como idade, raça e sexo do animal infectado, tipo de

habitat no qual está inserido (rural ou urbano) e contato com outros cães,

embora nem todos tenham seu papel comprovado no estabelecimento da

infecção. Aguiar (2006) e Azevedo et al. (2011) observaram em seus estudos

maior frequência da soropositividade nos cães mais velhos pela maior chance

de exposição ao agente. Em contrapartida, Faierstein et al. (2008) observaram

15

maior prevalência da doença em animais jovens, o que pode ser justificável

pelo fato do sistema imunológico destes ainda estar em formação, facilitando

possíveis infecções.

Apesar da raça não ser um fator determinante na instalação da doença,

cães Pastor Alemão manifestam uma resposta clínica mais severa à infecção

pela E. canis, enquanto os Beagles costumam apresentar um curso moderado

e persistente, o que pode ser explicado pela diferença na capacidade de

produzir resposta imune celular (SOUZA, 2008). O sexo dos animais, de

acordo com Almeida et al. (2010), não influencia na infecção pela E. canis.

Estudos desenvolvidos por Aguiar (2006) revelaram que a ocorrência da

erliquiose foi maior em cães de zona urbana em relação aos de áreas rurais,

com frequência de 37,9% e 24,8%, respectivamente. Azevedo et al. (2011)

também analisaram a variável contato com outros cães, e concluíram ser este

um fator de risco, visto que para a transmissão da doença é necessária a

presença do cão infectado. Dessa forma, o contato entre cães aumenta as

chances de se transmitir a doença, especialmente cães errantes, que carecem

de cuidados veterinários e profiláticos para doenças.

3.1.4 Prevalência no Brasil

A erliquiose monocítica canina já foi descritas em diversos países, como

Estados Unidos, Singapura, Vietnã e países europeus (IQBAL et al., 1994;

SOUZA, 2008). No Brasil, a infecção pode ser encontrada em cães de todas as

regiões, como pode ser obervado na tabela 1.

16

Tabela 1. Prevalência de erliquiose monocítica canina em diferentes estados brasileiros.

Estado

Esfregaço

Sorologia

PCR

Referência

Bahia Bahia Bahia Bahia

- - -

5,33%

35,65%

36% -

98,66%

34,5%

- 7,8% 33,3%

Souza et al. (2010) Carlos et al. (2007)

Carvalho et al. (2008) Meneses et al. (2008)

Goiás

5,56% - - Mundim et al. (2008)

Mato Grosso

- 42,5% - Silva et al. (2010)

Minas Gerais

15,97% - - Moreira et al. (2003)

Paraíba

- 72,5% - Azevedo et al. (2011)

Rio de Janeiro

13,89% - - Albernaz et al. (2007)

Rio Grande do Sul

- 4,43% - Krawczak et al. (2012)

Rondônia

- 31,2%

- Aguiar et al. (2007)

São Paulo - - 40% Ueno et al. (2009)

3.1.5 Patogenia e sinais clínicos

A erliquiose monocítica canina possui três estágios clínicos: agudo,

subclínico e crônico, e sugere-se que as alterações e sinais encontrados em

cães infectados tenham relação com distúrbios no sistema imunológico. O

primeiro estágio se inicia cerca de 8 a 20 dias após o animal ser infectado com

as bactérias, que se multiplicam no sistema fagocítico mononuclear,

principalmente no fígado, baço e linfonodos, causando hiperplasia linforreticular

e vasculite. Então, há a invasão das células sanguíneas (leucócitos e

plaquetas). Durante esta fase observa-se principalmente hipertermia, anorexia,

letargia, vômito, descarga ocular, linfadenomegalia, esplenomegalia,

hemorragias, principalmente petéquias e equimoses na pele, leucopenia e

trombocitopenia. O último achado é explicado pelo aumento no consumo de

plaquetas causado pela inflamação endotelial, pela elevação do sequestro

destas no baço e pela redução do seu tempo de vida devido à injúria ao

sistema imunológico (HARRUS, 1999; CASTRO et al., 2004; SKOTARCZAK,

2003; SOUSA, 2006; HARRUS, WANER, 2011).

17

A fase subclínica se desenvolve cerca de 40 a 120 dias após a infecção

e pode durar anos. Nesta, as bactérias continuam se multiplicando no

hospedeiro, elevando, assim, os títulos de anticorpos. A fase subclínica não

costuma ter sinais clínicos evidentes, apenas discretas alterações

hematológicas, como uma leve trombocitopenia (WANER et al., 1997;

SKOTARCZAK, 2003; HARRUS, WANER, 2011).

Caso o sistema imunológico do cão não responda ao agente e este

permaneça nas células monocíticas, inicia-se a fase crônica, a qual pode

reagudizar em casos de imunossupressão do hospedeiro. Nesta fase, a

erliquiose passa a ter características de uma doença autoimune, assim, os

animais ficam mais susceptíveis a infecções secundárias, além de

apresentarem os mesmos sinais da fase aguda, porém, atenuados. Em alguns

casos, devido à deposição de complexos imunes, o animal pode apresentar

glomerulonefrite (SKOTARCZAK, 2003; SOUSA, 2006). As principais

alterações observadas são hemorragias, edema, intensa trombocitopenia,

anemia e leucopenia (SKOTARCZAK, 2003; HARRUS, WANER, 2011), além

de alterações bioquímicas, como hipoalbuminemia, hipergamaglobulinemia e

hiperglobulinemia (HARRUS, 1999; SOUSA, 2006).

3.1.6 Diagnóstico

O diagnóstico da erliquiose é baseado em pesquisa de mórulas em

esfregaço sanguíneo, isolamento da bactéria, bem como em técnicas

sorológicas e moleculares, como a Reação em Cadeia de Polimerase (PCR),

aliados à observação dos sinais clínicos, alterações hematológicas e

bioquímicas do sangue do animal (HARRUS, 1999; SOUSA, 2006).

3.1.6.1 Avaliação de esfregaço sanguíneo

Este método diagnóstico baseia-se na visualização microscópica de

mórulas ou inclusões em esfregaços de sangue total, capa de leucócitos,

aspirados de medula óssea ou de baço, que podem ser corados por Giemsa ou

Diff-Quik. São observadas inclusões intracitoplasmáticas basofílicas ou

púrpuras em leucócitos (especialmente monócitos) (ANEXO I). Este método

18

também pode ser realizado a partir de amostras de líquido cefalorraquidiano ou

sinovial (DAGNONE, 2001).

Apesar de ser um método rápido e de baixo custo, esse tipo de

diagnóstico possui baixa sensibilidade. Isto é justificável já que a possibilidade

de detectar as mórulas ocorre principalmente na fase aguda da doença,

quando há maior frequência de leucócitos parasitados. Consequentemente, a

chance de resultados falsos negativos em estágios mais avançados é grande,

requerendo, assim, confirmação por métodos sorológicos e/ou moleculares

(SOUSA, 2006).

3.1.6.2 Diagnóstico por meio de isolamento e cultivo

Apesar de se tratar de uma técnica sensível e segura de detecção, o

isolamento e cultivo das bactérias é um método difícil de ser praticado, uma

vez que demanda um longo tempo para obtenção dos resultados, possui custo

elevado, além de requerer uma cultura de qualidade confiável e condições

adequadas de laboratório (IQBAL et al., 1994).

3.1.6.3 Diagnóstico sorológico

Os principais testes sorológicos utilizados no diagnóstico da erliquiose

são a imunofluorescência indireta (IFI), imunoensaio enzimático (ELISA) e

western immunoblotting (SOUSA, 2006).

A IFI é uma das técnicas mais utilizadas para o diagnóstico de

erliquiose, sendo que a produção de IgA e IgM começa cerca de quatro a sete

dias após o cão ser infectado, e a IgG pode ser encontrada no soro após

quinze dias (WANER et al., 2001; HESS et al., 2006). Os títulos de anticorpos

podem durar anos após a cura espontânea do animal, e até cinco meses após

tratamento terapêutico. Vale ressaltar que títulos elevados de anticorpos não

significam necessariamente uma boa resposta imune ao parasita e muitas

vezes revelam um agravamento na evolução do quadro (HARRUS, 1999).

Apesar de ser uma técnica simples, a IFI pode gerar reações inespecíficas,

devido à presença de antígenos comuns com outras espécies do gênero

Ehrlichia (SOUSA, 2006).

19

O DOT-ELISA é um método diagnóstico barato e sensível, além de

permitir que o antígeno permaneça estável por mais de 12 meses, o que

fornece um registro duradouro das reações (CADMAN et al., 1994; OLIVEIRA

et al., 2000). De acordo com estudos desenvolvidos por Nakaghi et al. (2008),

não há diferença significativa entre os resultados obtidos com o uso da IFI e do

DOT-ELISA para detecção de E. canis.

O western immunoblotting auxilia na determinação da diversidade

antigênica entre cepas de E. canis, e costuma ser utilizado para confirmar os

resultados da IFI, mas possui alto custo (SUKASAWAT, 2000).

3.1.6.4 Diagnóstico molecular

Além de possuir alta sensibilidade e especificidade na detecção de

infecções por Ehrlichia sp., a PCR diferencia as espécies do gênero Ehrlichia,

ao contrário das demais técnicas. A nested PCR é ainda mais sensível para a

detecção da E. canis, já que possui uma segunda etapa de amplificação do

DNA obtido a partir da PCR tradicional (WEN et al., 1997; SOUSA, 2006).

Além disso, a PCR permite distinguir os animais que continuam

infectados daqueles que foram tratados com sucesso, mas permanecem com

altos títulos de anticorpos na imunofluorescência, e detecta a infecção mesmo

em estágios precoces da doença (SUKASAWAT et al., 2000). A técnica pode

ser realizada a partir de amostras de sangue, tecidos, medula óssea e

carrapatos (STEIN et al., 1992).

Iqbal et al. (1994) observaram, em um estudo comparativo de técnicas,

que a sensibilidade da PCR é igual ou ligeiramente inferior às sensibilidades

dos diagnósticos através do isolamento e cultivo, IFI e western immunoblotting.

Nakaghi et al. (2008) também realizaram pesquisa comparando o esfregaço

sanguíneo e os testes sorológico e molecular, e concluíram que a sorologia e a

nested PCR são mais adequados para a confirmação da infecção pela E. canis,

mas sugeriram que estas técnicas devem ser complementares aos exames

clínico e hematológico. Harrus e Waner (2011) também concluíram que a PCR

é o método mais sensível de detecção da E. canis.

20

3.1.7 Tratamento e controle

O tratamento da erliquiose canina é baseado na administração de

antibacterianos, como as tetraciclinas e seus derivados. O dipropionato de

imidocarb também pode ser utilizado, especialmente em casos de co-infecção

com Babesia sp. O tratamento não evita que animais curados possam se re-

infectar e a forma mais eficaz de controle dessas doenças é o combate aos

carrapatos vetores (DAGNONE, 2001).

21

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Características do município

O estudo foi realizado no município de Ituberá (ANEXO I), situado na

região do Sul baiano (13º 43’ S 39º 08’ O), distante aproximadamente 150 km

da capital baiana, Salvador (ANEXO I). A região tem clima quente, temperatura

média de 25,3º C e amplitude térmica anual de 5,6º C, com pluviosidade anual

variando entre 1.800 e 2.400mm, distribuídos ao longo do ano. O bioma do

município é representado pela Mata Atlântica. O município tem uma população

aproximada de 26.591 habitantes, área total de 417 km2 e densidade de 71,5

habitantes/km2 (IBGE, 2010).

4.2 Animais

Fizeram parte desse estudo 379 cães adultos (idade igual ou superior a

um ano), domiciliados. O cálculo do tamanho amostral foi realizado utilizando-

se o software Epi Info 3.5.3, com intervalo de confiança de 95%, considerando-

se o tamanho da população canina como sendo 10% da população humana no

município (CIFUENTES, 1988). A frequência estimada de animais infectados

foi considerada como sendo de 50%, uma vez que não existem estudos de

frequência prévios de erliquiose canina no município, e erro amostral de 5%. A

coleta das amostras foi realizada entre os meses de maio e setembro de 2012,

e distribuída homogeneamente pelos bairros do município, abrangendo tanto a

zona rural quanto a zona urbana, respeitando a proporção da população de

cada bairro em relação à população total do município. Para cada residência

visitada, um máximo de dois cães foi avaliado.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética no Uso de Animais

(CEUA) da Universidade Estadual de Santa Cruz, sob o protocolo 028/12.

22

4.2.1 Coleta de dados epidemiológicos, anamnese e exame clínico dos

animais

Os proprietários dos animais incluídos no estudo foram submetidos a um

questionário epidemiológico (Anexo II). Para tanto, eles deveriam ser maiores

de idade, e, no momento da visita, serem responsáveis pelo domicílio. As

perguntas foram elaboradas visando uma melhor compreensão das

características sociais, culturais e econômicas dos proprietários dos cães, com

a finalidade de identificar os fatores de risco de exposição dos animais ao

agente etiológico e vetores de E. canis no município de Ituberá (ANEXO I).

Adicionalmente, foi realizada anamnese e exame clínico de cada cão

incluído no estudo, a fim de investigar se havia alterações clínicas compatíveis

com a doença, como vômitos, diarréia, hemorragias e alterações de linfonodos,

bem como presença de ectoparasitos, principalmente carrapatos.

4.2.2 Coleta de carrapatos

Carrapatos com características macroscópicas compatíveis com o

Rhipicephalus sanguineus que parasitavam os cães deste estudo no momento

da análise clínica foram coletados para posterior realização de testes

moleculares, objetivando a identificação de infecção por E. canis.

4.2.3 Obtenção de amostras biológicas

Foram coletados 8 mL de sangue venoso, após contenção física, por

meio de punção da veia cefálica ou jugular, dos quais 5mL foram dispensados

em tubos de plástico com anticoagulante (EDTA) e 3mL em tubos sem

anticoagulantes. Os tubos foram acondicionados em isopores com gelo

reciclável e encaminhados ao Laboratório de Análises Clínicas do Hospital

Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz. Além disso, foram

coletadas amostras de sangue periférico em ponta de orelha de todos os

animais desse estudo, após contenção física, através da perfuração com

agulha 30 x 7 mm.

23

4.2.3.1 Pesquisa direta de mórulas de E. canis

A partir das amostras de sangue periférico obtidas, foram

confeccionados esfregaços sanguíneos corados com Diff-Quick, que foram

analisados ao microscópio óptico no Laboratório de Parasitologia do Hospital

Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz, buscando a visualização

de mórulas de E. canis.

4.2.3.2 Análise de parâmetros hematológicos

Das amostras de sangue venoso obtidas em tubos com EDTA, 2mL

destinaram-se à análise hematológica, a qual foi realizada utilizando-se o

Contador Automático de Células Sanguíneas ABC VET, Horiba TM, do

Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário da Universidade

Estadual de Santa Cruz. Neste, foram avaliados valores hematológicos tais

como o número de plaquetas, hemácias e leucócitos, e o valor referente ao

hematócrito. A contagem específica dos granulócitos e agranulócitos foi

realizada através da análise do esfregaço de sangue venoso corado com Diff-

Quick, sob a luz do microscópio óptico.

4.2.3.3 Exames sorológicos

As amostras de sangue sem EDTA foram encaminhadas ao laboratório

de Análises Clínicas do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa

Cruz, onde foram centrifugadas para obtenção de soro, que foi armazenado a

-20º C. Posteriormente, foi realizada a técnica de Imunofluorescência Indireta

para detecção de anticorpos anti-E. canis. A reação foi feita de acordo com

técnica previamente descrita por André (2008), para detecção de anticorpos da

classe IgG anti-E. canis, utilizando antígeno da cepa Jaboticabal. Os controles

positivo e negativo utilizados neste trabalho foram provenientes de cães

estudados na região de Ilhéus e Itabuna (CARLOS et al., 2007). Inicialmente,

os soros foram diluídos em PBS, na diluição inicial de 1:20, e 10 µL de cada

amostra foram depositados em cada poço das lâminas com antígeno de E.

canis, reservando-se dois poços para os soros controle positivo e negativo. As

24

lâminas foram incubadas a 37°C, por 30 minutos, em câmara úmida, seguindo-

se três lavagens em PBS de 5 minutos cada. Em seguida, secaram-se as

lâminas e foram adicionados 10 µL do anticorpo anti-IgG de cão conjugado

com isotiocianato de fluoresceína (FITC-Sigma, F4012), diluído conforme

orientação do fabricante. As lâminas foram novamente incubadas por 37°C, por

30 minutos, seguindo-se novas lavagens e montagem destas com lamínulas e

glicerina tamponada com tampão carbonato-bicarbonato de sódio, pH 9,0. As

amostras que apresentaram resultado positivo foram submetidas a diluições

seriadas na base dois, até a máxima diluição positiva. A leitura das lâminas foi

feita em microscópio equipado com luz fluorescente.

4.2.3.4 Extração de DNA e PCR

Das amostras de sangue acondicionadas em tubos com EDTA, 3mL

foram destinados à realização da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR).

Inicialmente as amostras foram processadas para extração de DNA a partir das

capas leucocitárias com o kit Easy-DNA (Invitrogen®), sendo o DNA extraído

posteriormente estocado à temperatura de -20° C. Na primeira etapa de

amplificação do DNA do gênero Ehrlichia, foram utilizados os primers ECC (5’-

AGAACGAACGCTGGCGGCAAGC-3’) e ECB (5’-

CGTATTACCGCGGCTGCTGGCA-3’), que amplificam parte do gene 16S

rRNA de Ehrlichia spp. Posteriormente, para identificação da espécie E. canis,

foram utilizados os primers ECAN (5’-

CAATTATTTATAGCCTCTGGCTATAGGA-3’) e HE3 (5’-

TATAGGTACCGTCATTATCTTCCCTAT-3’), seguindo metodologia descrita por

Carvalho et al. (2008). Para cada reação, foram utilizados 6 μL de DNA

purificado, 0.2 mM de cada dNTP, 1.5 mM MgCl2, 50 mM KCl, 10 mM Tris-HCl,

pH 9.0, 0.2 μM de cada primer e 2U de Taq DNA polimerase (Invitrogen®),

obtendo um volume total de 25 μL. Os parâmetros da primeira reação

consistiram de desnaturação por 3 minutos a 94°C, seguida de 35 ciclos de

desnaturação a 94°C por 1 minuto, anelamento a 68°C por 2 minutos, e, por

fim, extensão a 72°C por 2 minutos. Os parâmetros da segunda reação (nested

PCR) consistiram de desnaturação por 3 minutos a 94°C, seguida de 35 ciclos

25

de desnaturação a 94°C por 1 minuto, anelamento a 58°C por 2 minutos, e

extensão a 72°C por 1,5 minuto.

Os produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose

a 2% contendo brometo de etídio. Para cada seis amostras a serem

amplificadas foram adicionados um controle positivo e um controle negativo

(CARVALHO et al., 2008). A verificação da presença de bandas foi feita com o

auxílio de transiluminador.

Um pool de dois a três carrapatos coletados de cada animal com

resultado positivo na nested PCR foi macerado em nitrogênio líquido, com

posterior extração e amplificação do DNA, seguindo o mesmo protocolo

descrito acima.

4.2.4 Avaliação do tempo de sangramento

A avaliação do tempo de sangramento foi realizada com o objetivo de

verificar a função hemostática dos animais. O método utilizado neste estudo foi

o Duke (LABES, 2011). Após contenção física, realizou-se uma pequena

incisão em um vaso de pequeno calibre no lóbulo da orelha de cada animal

com uma agulha descartável (calibre 30 mm x 7 mm), secando-a a cada 30

segundos, até a parada do sangramento, sendo esse tempo cronometrado.

4.3 Transferência de resultados aos proprietários

Após o término das análises de todas as amostras coletadas, os

resultados obtidos foram entregues aos proprietários dos cães pessoalmente,

com o auxílio dos agentes de saúde de cada bairro.

4.4 Análise estatística

Para análise de concordância entre as técnicas diagnósticas utilizadas

no trabalho, foi usado o teste Kappa, e a análise dos fatores associados à

infecção foi realizada em duas etapas: análise bivariada e multivariada. Na

primeira, cada variável independente foi cruzada com a dependente (positivo

ou negativo), e as que apresentaram valor de p igual ou inferior a 20% ao teste

26

de qui-quadrado ou teste exato de Fisher foram selecionadas e submetidas à

correlação de Spearman para determinação da multicolinearidade (p>0,8),

utilizando o programa Epi-Info 3.5.1. Foi realizada, então, uma análise

multivariada de regressão logística não-condicional, com modelo final

construído através da entrada e saída das variáveis (sistema backward).

27

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Diagnóstico

No esfregaço sanguíneo, mórulas ou inclusões de Ehrlichia foram

observadas em 47(12,4%) animais. A sorologia (IFI) teve resultados positivos

em 124 (32,7%) cães, com título de anticorpos variando de 1:20 (ponto de

corte) a 1:1280 (tabela 2). Por fim, a nested PCR apresentou resultados

positivos em 97 (25,6%) cães (ANEXO I). Foram considerados infectados os

animais com resultados positivos em qualquer das três técnicas de diagnóstico

realizadas, totalizando 178 (46,9%) cães.

Tabela 2. Distribuição da soropositividade para E. canis no município de Ituberá-Bahia

1:20

1:40

Titulação

1:80

1:160

1:320

1:640

Total

Positivos

89

08

17

04

03

03

124

Considerando os resultados da análise de esfregaço sanguíneo obtidos

nesse estudo, observa-se que eles são semelhantes aos encontrados por

Albernaz et al. (2007) e Moreira et al. (2003) que verificaram 13,89% e 15,97%

de positividade nos esfregaços sanguíneos, respectivamente, em condições

climáticas semelhantes às da região onde o presente estudo foi desenvolvido.

Santarém (2003), por sua vez, encontrou em seu trabalho 26,67% de

positividade nos esfregaços de sangue de ponta de orelha. A elevada

frequência de resultados positivos encontradas por este autor pode ser devida

ao grande número de animais na fase aguda da doença no momento da

colheita, fase de maior parasitemia, o que aumenta a possibilidade de

visualização das mórulas nos leucócitos.

Vale ressaltar que a sensibilidade do esfregaço sanguíneo para E. canis

é baixa, uma vez que depende da fase de maior parasitemia. Assim, não se

espera, comumente, encontrar alta positividade através deste método, e a

baixa frequência de resultados positivos em esfregaços sanguíneos obtida

neste trabalho é justificada pelas chances elevadas de falsos negativos. Por

28

outro lado, ao contrário da sensibilidade, a especificidade do esfregaço

sanguíneo é alta, o que significa que uma vez visualizada a mórula no leucócito

do cão, o animal está infectado.

Nos animais desse estudo a soroprevalência observada foi de 32,7%,

inferior aos valores encontrados por Nakaghi et al. (2008) e Silva et al. (2010),

os quais foram, respectivamente, de 63,3% e 42,5%. Entretanto, esse valor foi

semelhante ao encontrada no trabalho realizado por Souza (2008), de 35,6%.

A IFI só é capaz de detectar anticorpos anti-E.canis cerca de 15 dias

após o animal ser infectado, devido à necessidade de tempo para a produção

de imunoglobulinas, ou seja, em fases mais avançadas da infecção (WANER et

al., 2001). Dessa forma, este método, apesar de mais sensível que o esfregaço

sanguíneo, também possui elevadas chances de falsos negativos, o que

resulta, muitas vezes, em resultados subestimados.

Vale ressaltar que Nakaghi et al. (2008) e Silva et al. (2010)

desenvolveram seus trabalhos nas cidades de Jaboticabal e Cuiabá,

respectivamente, ambas regiões de alta prevalência da erliquiose monocítica

canina. Por sua vez, Souza (2008) realizou seus estudos em Salvador,

localidade com condições climáticas para manutenção do vetor e fatores de

risco associados à infecção semelhantes aos do município de Ituberá. Além

disso, Salvador e Ituberá são municípios muito próximos um do outro, o que

pode explicar a semelhança da soroprevalência encontrada nestas localidades.

A nested PCR detectou DNA de E. canis em 25,6% das amostras

avaliadas, valor superior aos obtidos por Carvalho et al. (2008) e Carlos et al.

(2011) em pesquisas também realizadas na região sul da Bahia, cujos

resultados foram de 7,8% e 11%, respectivamente. Estes resultados indicam

que, embora sejam municípios muitos próximos uns dos outros (cerca de 200

km de distância), as taxas de infecção para E. canis são bem diferentes. Um

dos pontos que podem justificar a diferença entre esses resultados é o fato do

município de Ituberá carecer de clínicas veterinárias e, consequentemente, da

conscientização da população sobre manejo e cuidados profiláticos com seus

animais. Aliado a isso, deve-se levar em conta que Ituberá é um município com

habitat e condições climáticas ideais para o desenvolvimento e manutenção do

carrapato vetor.

29

Comparando os resultados da análise do esfregaço sanguíneo em

relação à sorologia, a sensibilidade e especificidade do primeiro método de

diagnóstico foram de 16,13% (IC= 10,69 a 23,6%) e 89,41% (IC= 85,03 a

92,62%), respectivamente. Quando essa mesma comparação foi feita com os

resultados obtidos com a técnica de PCR, os valores de sensibilidade e

especificidade foram respectivamente 32.99% (IC= 24,44 a 42,84%) e 94.68%

(IC= 91,41 a 96,75%). A comparação realizada entre os resultados da nested

PCR e a IFI obteve valores de sensibilidade e especificidade de 43,55% (IC=

35,15 a 52,34%) e 83,14% (IC= 78,06 a 87,23%). Analisados em conjunto, os

dados acima mostram que as diferentes técnicas de diagnóstico realizadas

nesse estudo tiveram sensibilidade e especificidade diferentes. Em todos os

casos os valores de sensibilidade foram baixos e os de especificidade altos,

revelando que as chances de falsos negativos foram altas e as de falsos

positivos baixas.

Amostras de 27 cães avaliados foram positivas no esfregaço sanguíneo

e não foram à sorologia, enquanto 104 animais tiveram resultados positivos na

IFI e pesquisa de mórulas negativa (tabela 3). Ao comparar os valores de

sensibilidade e especificidade do esfregaço de ponta de orelha aos da

sorologia, nota-se que as chances de falsos negativos foram muito elevadas,

enquanto que as chances de falsos positivos foram baixas. Este resultado já

era esperado, uma vez que a sensibilidade do diagnóstico em esfregaço

sanguíneo depende da fase de infecção do animal no momento da coleta. Na

fase inicial, quando há maior parasitemia, há maiores chances de se encontrar

leucócitos parasitados nos esfregaços sanguíneos. Já nas fases subclínica e

crônica essas chances diminuem, mas aumenta a probabilidade de detecção

sorológica, uma vez que a IFI detecta anticorpos apenas após alguns dias de

infecção (Nakaghi et al., 2008). Deve-se lembrar, ainda, que na IFI pode haver

reações cruzadas com outras espécies do gênero Ehrlichia e até mesmo com o

gênero Anaplasma (SOUSA, 2006; ADHAMI et al., 2011), elevando as chances

de falsos positivos. Em relação à especificidade, como já foi dito anteriormente,

espera-se que esta seja alta no diagnóstico pelo esfregaço sanguíneo, como foi

encontrado neste trabalho.

30

Tabela 3. Comparação entre os resultados obtidos nos esfregaços sanguíneos e sorologia dos cães do município de Ituberá-Bahia.

Sorologia

Positivo Negativo Total

Positivo 20 27 47

Esfregaço Negativo 104 228 332

Total 124 255 379

Kappa = 0,06592 (IC= -0,01822 – 0,1501)

Por outro lado, 15 animais foram positivos no esfregaço sanguíneo e

negativos na nested PCR, enquanto 65 cães tiveram resultados positivos na

nested PCR, mas tiveram pesquisa de mórulas de Ehrlichia negativa (tabela 4).

Analisando a sensibilidade e especificidade do esfregaço sanguíneo

comparado ao diagnóstico molecular, nota-se, assim como na análise anterior,

que a sensibilidade foi menor que a especificidade. Entretanto, neste caso, o

valor da sensibilidade do esfregaço sanguíneo mostrou-se maior do que

quando comparado ao diagnóstico pela IFI, o que pode ser explicado pelo fato

da PCR conseguir detectar o DNA da bactéria mesmo em estágios precoces da

infecção (SUKASAWAT et al., 2000), nos quais há mais leucócitos infectados,

ao contrário da IFI. Deve-se lembrar, ainda, que o diagnóstico através de

esfregaço sanguíneo pode resultar em falsos negativos nas fases subclínica e

crônica, já que é mais sensível na fase aguda (SOUSA, 2006), o que pode

justificar o número elevado de amostras negativas na análise do esfregaço

sanguíneo, mas positivas na nested PCR.

Tabela 4. Comparação entre os resultados obtidos nos esfregaços sanguíneos e teste molecular dos cães do município de Ituberá-Bahia

Molecular

Positivo Negativo Total

Positivo 32 15 47

Esfregaço Negativo 65 267 332

Total 97 282 379

Kappa = 0,333 (IC= 0,2415-0,4245)

Por fim, comparando-se os resultados obtidos entre a IFI e a nested

PCR, 70 cães foram positivos na primeira técnica e negativos na segunda,

enquanto nas amostras de 43 animais foi detectado DNA de Ehrlichia, porém

sem detecção de anticorpos específicos (tabela 5). O fato do soro de 43

31

animais positivos pela nested PCR não possuírem anticorpos anti-E.canis pode

ser devido ao fato da IFI ser mais eficaz em estágios mais avançados da

doença, o que reduz sua sensibilidade na fase inicial de infecção. Por outro

lado, a nested PCR, apesar de não possuir limitações de detecção quanto ao

estágio da infecção, tem sua sensibilidade dependente do tipo de tecido

amostrado. Assim sendo, quando amostras de baço ou medula são coletadas,

as chances de encontrar DNA de E. canis aumentam bastante (HARRUS et al,

1998). Com isso, a ausência de detecção do DNA nas 70 amostras positivas na

sorologia pode ser justificada pelo fato destas serem provenientes de sangue, o

que possivelmente reduziu a sensibilidade da nested PCR. Adicionalmente, a

sorologia pode gerar reações inespecíficas, elevando as chances de falsos

positivos.

Tabela 5. Comparação entre os resultados obtidos nos testes sorológico e molecular dos cães do município de Ituberá-Bahia.

Sorologia

Positivo Negativo Total

Positivo 54 43 97

PCR Negativo 70 212 282

Total 124 255 379

Kappa = 0,2827 (IC=0,1835-0,3819)

Do total de cães avaliados, dezesseis apresentaram resultados positivos

nas três técnicas de diagnóstico realizadas, enquanto 193 tiveram resultados

negativos em todas elas (ANEXO I). Iqbal et al. (1994) compararam as técnicas

de IFI e PCR e concluíram que a combinação de ambas otimiza o diagnóstico,

o que reforça os resultados obtidos nessa pesquisa, onde as diferenças de

sensibilidade e especificidade dos exames nos diferentes estágios de infecção

demonstram que um complementa o outro.

5.2 Achados epidemiológicos, clínicos e hematológicos

Dos 379 cães avaliados nesse estudo, a maioria era de machos (62,5%),

menores de quatro anos (70,7%) e que habitavam zonas urbanas (85,2%),

como pode ser observado na tabela 7. Os demais achados epidemiológicos,

32

clínicos e hematológicos referentes aos cães desta pesquisa podem ser

observados nas tabelas 6 e 7.

Dos achados clínicos e hematológicos, apenas anemia e

trombocitopenia apresentaram diferenças significativas, representadas por

43,8% e 65,1% dos animais positivos, respectivamente (tabela 6). Os valores

de hematócrito, plaquetas e leucócitos variaram de 12 a 60, 15.000 a 900.000,

e 2.700 a 30.700, e foram considerados com anemia, trombocitopenia e

leucopenia os animais com valores abaixo de 37, 200.000 e 7.000,

respectivamente.

A ocorrência de anemia nos cães com erliquiose também tem sido

descrita por outros autores. Albernaz et al. (2007) e Santarém (2003)

detectaram anemia em 60,73% e em 86,67% dos animais avaliados,

respectivamente, enquanto Carlos (2005) verificou no seu estudo que os

animais positivos tiveram 3,58 mais chances de estarem anêmicos ao

hemograma. A elevada frequência de anemia em cães com erliquiose pode ser

explicada pela atuação do sistema fagocítico mononuclear sobre os eritrócitos.

Por meio deste, as hemácias são removidas da circulação e, posteriormente,

lisadas pela ação do sistema complemento. Além disso, há supressão da

eritropoiese na medula óssea, especialmente na fase crônica (MOREIRA et al.,

2003).

No presente estudo a trombocitopenia foi o achado hematológico mais

frequente nos animais avaliados. Esse resultado está de acordo com os obtidos

por Albernaz et al. (2007), Carlos (2005), Meneses et al. (2008) e Santarém

(2003), que observaram redução do número de plaquetas circulantes em

76,71%, 66,7%, 60,0% e 96,66% dos cães avaliados, respectivamente. Alguns

fatores associados à redução no número de plaquetas são o aumento no

consumo causado pela inflamação endotelial, elevação do sequestro destas

pelo baço durante a infecção, e redução do seu tempo de vida pela injúria ao

sistema imunológico que a infecção causa (HARRUS, 1999). Apesar da

presença de petéquias não ter demonstrado significância estatística, foi

observada associação destas com a trombocitopenia, uma vez que dos 14

animais com petéquias, 09 (64,3%) também estavam com plaquetas abaixo

dos valores de referência. Esses resultados corroboram com dados da

literatura, que afirmam que hemorragias são distúrbios associados à erliquiose

33

monocítica devido à redução no número de plaquetas (HARRUS, 1999; UENO

et al., 2009).

Tabela 6. Achados clínicos e hematológicos presentes nos cães positivos nos exames de esfregaço sanguíneo, sorológico e molecular, provenientes do município de Ituberá-Bahia.

Variável N Cães positivos

Prevalência (%)

OR 95% CI P-valor

Desidratação Sim Não

30 349

12 166

40,00 47,56

0,73 1*

0,34-1,57

0,54

Petéquias Sim Não

14 365

08 170

57,14 46,57

1,52 1*

0,52-4,49

0,61

Diarréia Sim Não

16 363

09 169

56,25 46,55

1,47 1*

0,53-4,04

0,61

Vômito Sim Não

34 345

21 157

61,76 45,50

1,93 1*

0,93 –3,98

0,08

Linfonodos alterados

Sim Não

83 296

42 136

50,60 45,94

1,20 1*

0,74 –1,96

0,53

Anemia Sim Não

129 250

78 100

60,46 40,00

2,28 1*

1,48 –3,54

0,0002

Trombocitopenia Sim Não

185 194

116 62

62,70 31,95

3,57 1*

2,34-5,46

<0,0001

Leucopenia Sim Não

22 357

11 167

50,00 46,77

1,13 1*

0,48– 2,69

0,94

* Referência

5.3 Tempo de sangramento

Quanto ao tempo de sangramento, o valor médio nos animais positivos

foi de 49 segundos (variando de 14 a 218 segundos) e 44 segundos nos

negativos (variando de 10 a 199 segundos). O tempo de sangramento em um

animal sadio varia de 60 a 180 segundos (LABES, 2011). Dessa forma, os

valores médios encontrados foram inferiores ao mínimo, tanto nos animais

infectados por Ehrlichia quanto nos não infectados. Sabendo-se que o tempo

de sangramento prolongado pode estar associado à trombocitopenia severa, a

análise deste parâmetro pode ser útil na avaliação subjetiva de infecção pela E.

canis, já que a redução do número de plaquetas é um achado comum nesta

doença. Como esperado, o grupo de animais positivos revelou um tempo de

sangramento maior do que o dos negativos, entretanto, não houve diferença

34

estatística significativa entre eles (p>0,05). Dos 178 cães positivos, 116

(65,16%) estavam com número de plaquetas abaixo dos valores de referência,

enquanto dos 201 negativos, apenas 69 (34,32%) apresentavam

trombocitopenia, o que reforça a hipótese da relação direta da trombocitopenia

com o tempo de sangramento prolongado.

5.4 Fatores de risco associados à infecção pela E. canis

Os fatores de risco associados à infecção foram idade, habitat, contato

com outros cães e presença de carrapatos. Os cães com mais de quatro anos

de idade, os que habitavam zonas urbanas, os que tiveram algum contato com

outros cães (domiciliados ou não) e os que estavam parasitados por carrapatos

R. sanguineus apresentaram maior predisposição à doença (tabelas 7 e 8).

Os resultados obtidos neste estudo corroboram com os trabalhos de

Azevedo et al. (2011), Aguiar (2006) e Trapp et al. (2006), que constataram que

o aumento da frequência da soropositividade dos cães estava diretamente

relacionado ao aumento da idade. Este achado pode ser explicado pelo fato de

que animais mais velhos têm maior tempo de contato com a bactéria, além de

que os cães jovens costumam ser mantidos pelos proprietários em seu

domicílio, recebendo cuidados especiais boa parte do tempo, o que,

consequentemente, reduz sua exposição ao carrapato vetor (Azevedo et al.,

2011). O parasitismo por carrapatos também revelou ser um fator de risco para

a infecção, como nos trabalhos de Santarém (2003), Trapp et al. (2006), Costa

Jr et al. (2007) e Carlos et al. (2011). Isso é esperado, uma vez que, sendo o R.

sanguineus vetor da erliquiose, o parasitismo pelo mesmo eleva a possibilidade

de infecção dos cães.

Adicionalmente, verificou-se que cães provenientes de áreas urbanas

têm maior predisposição de adquirir a doença quando comparados aos de

zonas rurais, da mesma forma que no estudo realizado por Aguiar et al.(2007).

Tal resultado pode ser justificado pelo fato da ocorrência do R. sanguineus em

zonas urbanas ser mais frequente do que em áreas rurais, onde há

predominância dos carrapatos do gênero Amblyomma (COSTA JR et al.,

2007), o que, consequentemente reduz a exposição dos cães de zonas rurais

ao vetor da E. canis. Aliado a isso, o ambiente rural acaba por agir como fator

35

de proteção para os animais que nele vivem, uma vez que nesses ambientes

as propriedades tendem a ser distantes umas das outras, o que reduz o

contato entre cães de diferentes domicílios e/ou errantes, e, dessa forma,

diminui as chances de exposição à infecção. Segundo Azevedo et al. (2011), o

contato entre cães é um fator de risco, o que também foi confirmado através

deste estudo. A explicação para isto é a necessidade da presença do cão

infectado para a transmissão da erliquiose, logo, quanto maior o contato entre

cães, maiores são as chances de exposição a um cão infectado pela E. canis.

Tabela 7. Fatores associados à infecção pela E. canis em cães positivos provenientes do município de Ituberá-Bahia.

Variável

N

Cães

positivos

Prevalência

(%)

OR

95% CI

P-valor

Sexo

Fêmea Macho

142 237

64 114

45,07 48,10

0,88 1*

0,58-1,34

0,64

Idade (anos) 1-4 > 4

268 111

114 64

42,53 57,65

0,54 1*

0,34-0,85

0,01

Carrapatos Presença Ausência

114 265

62 116

54,38 43,77

1,53 1*

0,98-2,38 0,07

Habitat Rural Urbano

56 323

18 160

32,14 49,53

0,48 1*

0,296-0,88

0,02

Contato com outros cães

Sim Não

280 99

138 40

49,28 40,44

1,43 1*

0,90 – 2,28

0,16

Dorme no domicílio

Sim Não

94 285

48 130

51,06 45,61

1,24 1*

0,78-1,98

0,42

* Referência

36

Tabela 8. Associação entre cães positivos e os fatores: idade, presença de carrapatos, habitat e contato com outros cães, no município de Ituberá-Bahia.

Variável

Odds Ration

Intervalo de Confiança à 95%

P-valor

Idade

0,53

0,33-0,84

0,0076

Carrapato 1,72 1,08-2,72 0,0211

Habitat

Contato com outros cães

0,39

1,71

0,20-0,73

1,05-2,77

0,0038

0,0296

p= 0,0716

likehood= 0,0002

5.5 Diagnóstico molecular de E. canis em carrapatos R. sanguineus

Dos 97 cães que foram positivos na nested PCR, 21 (21,6%) estavam

parasitados por carrapatos R. sanguineus em diferentes estágios do ciclo de

vida no momento da coleta. Das amostras de carrapatos dos 21 cães, duas

(9,5%) apresentaram resultados positivos na nested PCR (ANEXO I). Os dois

cães cujas amostras de carrapatos apresentaram resultados positivos na

nested PCR tiveram resultados positivos nas três formas de diagnóstico

realizadas.

A detecção do DNA de E. canis em carrapatos R. sanguineus era algo

esperado, uma vez que estes são vetores comprovados na transmissão da

erliquiose monocítica canina. Souza (2008) também investigou a presença do

DNA de E. canis em carrapatos parasitando cães de seu estudo, e observou

que 20% dos carrapatos coletados possuíam DNA compatível com E. canis.

Entretanto, estudos acerca da presença de E. canis em carrapatos ainda são

escassos no Brasil, inclusive a investigação do papel de outras espécies de

carrapato na transmissão de E. canis.

37

6. CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos com este trabalho, conclui-se que o

município de Ituberá-Bahia possui quase 47% dos cães infectados por E. canis,

e em diferentes estágios da doença.

A idade do animal e o ambiente em que ele vive influenciam na

instalação da erliquiose, de maneira que cães maiores de quatro anos e que

habitam áreas urbanas tem mais chances de se infectar. Além disso, o contato

com outros cães e o parasitismo pelo vetor também revelam ser fatores de

risco para a infecção, ressaltando-se que Ituberá possui condições climáticas

favoráveis ao desenvolvimento e manutenção do carrapato vetor. Dentre os

achados clínicos e hematológicos avaliados, somente anemia e

trombocitopenia foram significantes nos cães infectados pela E. canis.

Os exames de esfregaço sanguíneo, sorológico e molecular utilizados no

estudo revelaram diferença em suas sensibilidades e especificidades, o que

indica o uso complementar dos testes para o diagnóstico da erliquiose

monocítica canina na região em estudo.

38

REFERÊNCIAS

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39

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43

ANEXO I

Figura 1. Fotomicrografia de monócito de cão infectado por E. canis

sob a forma de mórula (seta). Panótico rápido. Aumento de 100X.

Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Figura 2. Esfregaço sanguíneo de ponta de orelha. Notar monócitos

de cão infectados com E. canis, onde se observam múltiplas inclusões

basofílicas (setas). Panótico rápido. Aumento de 100X.

Fonte: Souza, 2008.

44

Figura 3. Município de Ituberá-Bahia.

Fonte: www.bahiatododia.com.br

Figura 4. Localização de Ituberá na Bahia. Fonte: www.wikipedia.org

45

Figura 5. Preenchimento de questionário epidemiológico.

Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Figura 6. Fotografia de eletroforese em gel de agarose 2,0%, corado com brometo de etideo. Os amplímeros mostrados na foto são relativos a nested PCR para E. canis obtidos com os oligonucleotídeos iniciadores ECAN/HE3. Canaleta 1: Marcador de peso molecular em escala de 100 pares de bases (Invitrogen R), Canaleta 2: controle positivo (396pb), canaletas 3, 5, 7, 16 a 19: amostras de cães positivos (setas), canaletas 4, 6, 8, 9,11 a 15 e 20: amostras de cães negativos, canaleta 10: controle negativo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

46

Figura 8. Fotografia de eletroforese em gel de agarose 2,0%, corado com brometo de etídeo. Os amplímeros mostrados na foto são relativos a nested PCR para E. canis obtidos com os oligonucleotídeos iniciadores ECAN/HE3. Canaleta 1: marcador peso molecular em escala de 100 pares de bases (Invitrogen R), canaleta 2: controle positivo (396 pb), canaleta 4: amostra de carrapato positivo (seta), canaletas 3, 5 a 7: amostras de carrapatos negativos, canaleta 8: controle negativo. Fonte: Arquivo pessoal, 2012.

Figura 7. Esquema representativo de concordância entre os resultados obtidos através dos exames de esfregaço sanguíneo (PO), sorológico (RIFI) e molecular (nested PCR). Fonte: Arquivo pessoal, 2013.

11 66

4

47

ANEXO II

Questionário epidemiológico e clínico

Proprietário

Nome:_________________________________________________________

Endereço:______________________________________________________

Zona: ( ) rural* ( ) urbana

Telefone: _______________________________________________________

E-mail:_________________________________________________________

Data de nascimento: ____/_____/______

Sexo: ( ) F ( ) M

Grau de instrução:

( ) nunca frequentou escola ( ) primário ( ) 1° grau incompleto

( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo

( ) 3° grau incompleto ( ) 3° grau completo ( ) pós-graduação

Profissão/Ocupação:_______________________________________________

Horário de trabalho:_______________________________________________

Renda familiar:

( ) menos que 1 salário ( ) 1 salário ( ) entre 1 a 2 salários

( ) de 2 a 3 salários ( ) de 3 a 5 salários ( ) acima de 5 salários

Há quanto tempo você mora neste domicílio?__________________________

Há quanto tempo você possui o(s) cão(s)?______________

Onde ele(s) foram adquirido(s)?

( ) no domicílio atual ( ) outro___________________

Se possuir cão, em qual lugar do domicílio ele fica a maior parte do tempo?

( ) dentro de casa ( ) fora de casa ou quintal

Onde o cão dorme? ( ) quintal ( ) dentro de casa, no cômodo___________

Você adquiriu outro cão? ( )S ( ) N

O domicílio, mesmo que esporadicamente, é visitado por:

( ) gato ( ) roedores ( ) gambás ( ) cães errantes ( ) Outro:__________

48

Quais cuidados veterinários o seu cão recebe?

( ) Sempre levo ao veterinário ( ) Nunca levo ao veterinário

Animal

Nome:________________________________________________________

Número:_______

Raça:________________________________________________________

Sexo: ( ) M ( ) F

Idade:________

Exame físico do animal

Coloração das mucosas:

( ) icterícia

( ) anemia

( ) petéquias

Sangramentos:( ) Sim ( ) Não

Hidratação:( ) Sim ( ) Não

Petéquias:( ) Sim ( ) Não

Descrever: ______________________________________________________

Carrapatos:( ) Sim ( ) Não

Diarréia:( ) Sim ( ) Não

Vômito:( ) Sim ( ) Não

Linfonodos:( ) Alterados ( ) Normais

Tempo de sangramento:____________________________________________

Assinatura do proprietário:__________________________________________

OBSERVAÇÕES_________________________________________________

*Entende-se por zona rural o ambiente onde se localizam fazendas, chácaras ou pequenas propriedades rurais, afastadas da cidade (dados fornecidos pela Secretaria do Município de Ituberá).