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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA DOUTORADO EM GEOGRAFIA IAPONY RODRIGUES GALVÃO A RECONFIGURAÇÃO PRODUTIVA DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO SALINEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO PRODUTIVO DE MACAU/RN FORTALEZA - CEARÁ 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

DOUTORADO EM GEOGRAFIA

IAPONY RODRIGUES GALVÃO

A RECONFIGURAÇÃO PRODUTIVA DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO

SALINEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO PRODUTIVO DE

MACAU/RN

FORTALEZA - CEARÁ

2017

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IAPONY RODRIGUES GALVÃO

A RECONFIGURAÇÃO PRODUTIVA DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO

SALINEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO PRODUTIVO DE MACAU/RN

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em

Geografia do Programa de Pós-graduação em

Geografia do Centro de Ciências e Tenologia

da Universidade Estadual do Ceará, como

requisito parcial para a obtenção do título de

Doutor. Área de concentração: Análise

Geoambiental e Ordenação do Território

nas Regiões Semiáridas e Litorâneas.

Orientador: Prof. Dr. José Meneleu Neto

FORTALEZA - CEARÁ

2017

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IAPONY RODRIGUES GALVÃO

A RECONFIGURAÇÃO PRODUTIVA DO CIRCUITO ESPACIAL DE

PRODUÇÃO SALINEIRO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO

PRODUTIVO DE MACAU/RN

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em

Geografia do Programa de Pós-graduação em

Geografia do Centro de Ciências e Tenologia da

Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial

para a obtenção do título de Doutor. Área de

concentração: Análise Geoambiental e Ordenação

do Território nas Regiões Semiáridas e Litorâneas.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus todo poderoso. Graças à fé, tive forças e

esperanças para lutar contra as adversidades que eu enfrentei.

Também agradeço à minha família: ao meu pai e minha mãe, por me incentivarem a

estudar Geografia; ao meu irmão, aos meus avós, tios, tias e primos, pelas orações e

palavras de esperança que me confortaram. Obrigado!

Não posso deixar de agradecer ao Professor José Meneleu Neto. Seu auxilio acadêmico

foi fundamental para chegar até aqui. Muito obrigado por tudo!

Também agradeço aos membros da base LEPOP, os quais incentivaram a busca de

materiais para a pesquisa e nas discussões sobre a Tese.

Agradeço aos docentes do Doutorado: Luiz Cruz Lima; Zenilde Baima Amora; Ilana

Viana do Amaral; Jorge Luiz Barbosa; Marcos José Nogueira de Souza; Cláudia Maria

Magalhães Grangeiro (in memorian); Amélia Luisa Damiani; Manuel Rodrigues de

Freitas Filho; Lúcia Maria Silveira Mendes; e Ester Limonad; Aos Professores Ademir

Araújo da Costa, Daniel Rodriguez de Carvalho Pinheiro, Edilson Alves Pereira Júnior, e

Josué Alencar Bezerra, pelo auxilio na qualificação; e aos docentes Átila de Menezes

Lima, Pedro Ricardo da Cunha Nóbrega, Raimundo Edson Pinto Botelho e Daniel

Mallman Vallerius pela participação na banca de defesa.

Agradeço a presteza do psicanalista Bruno Ricardo M. Araújo. Obrigado!

Agradeço a FUNCAP pela bolsa oferecida em parte da elaboração da Tese e ao IFAM,

IFMA e IFAL pela base profissional e a licença necessária.

Também agradeço aos colegas de Doutorado pelo respeito e confiança: Clesley Maria

Tavares do Nascimento; Francisca Leiliane de Sousa de Oliveira; Gerardo Facundo de

Souza Neto; Luciana Maciel Barbosa; Emanuel Lindemberg Silva Albuquerque; Fábio

Ricardo Silva Beserra; Priscila de Oliveira Romcy; Glauciana Alves Teles; Iaponan

Cardins; ao colega Filipe Maciel pela elaboração dos mapas, além dos outros nesta

longa caminhada, que sempre ofereceram apoio!

Não posso deixar de agradecer a Katiuscia Pinheiro, companheira em todos os

momentos das dificuldades e conquistas nesta tese! Muito obrigado!

Também agradeço a Maria Júlia Oliveira e Adriana Livino Holanda, secretarias do

PropGeo, aos Coordenadores do PropGeo/UECE, Professora Maria Lúcia Brito da Cruz

(2013-2015) e Professor Otávio José L. Costa (2015-2017), além de todos os outros que

direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho. Obrigado!

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“Os homens fazem a sua própria história,

mas não a fazem como querem. Não a

fazem sob circustâncias de sua escolha e

sim sob „aquelas que se defrontam

diretamente, legadas e transmitidas pelo

passado”.

(Karl Marx)

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RESUMO

A pesquisa de doutoramento busca compreender a modernização e mecanização da

produção salineira no espaço produtivo do Rio Grande do Norte, e as

transformações espaciais decorrentes dessa atividade, em especial a partir da

década de 1970, destaca Macau, município situado na costa setentrional Norte rio-

grandense, distante 175 km da capital estadual, Natal. Inicialmente houve uma

constituição histórica da pesquisa, com a identificação das fases e características

desse processo salineiro no período pré-técnico e técnico rudimentar, associado a

uma grande dimensionalidade regional macauense no contexto espacial potiguar.

Entretanto, mostra que a partir da modernização e mecanização salineira, na década

de 1970, há profundas alterações nas dinâmicas espaciais até então existentes, com

mudanças significativas na divisão espacial do trabalho, constituindo em uma menor

necessidade de um largo uso de mão de obra, ocasionando consideráveis índices

de desemprego. A distribuição e a circulação produtiva salineira são

progressivamente direcionadas para o espaço Mossoroense e suas adjacências, a

partir de um direcionamento do grande capital salineiro em concentrar as operações

na referida cidade, a partir da constituição de fixos que dinamizam essa produção.

Esse processo de redimensionamento produtivo salineiro, associado a uma

oligopolização e monopolização da atividade salineira potiguar, correspondendo, a

partir de então, a 90% da produção salineira nacional, além da constituição dos fixos

buscando consolidar as intencionalidades da atividade salineira, ocasionaram,

portanto, notórias alterações no espaço macauense, numa estagnação das

atividades terciárias, em uma perspectiva dimensional regional e na ampliação de

sua relevância na produção salineira em uma dimensão nacional, caracterizando

uma multidimensionalidade espacial produtiva. Logo, buscou-se destacar a

metodologia empregada na presente pesquisa, em especial a partir do

questionamento central: “como compreender a modernização e mecanização da

produção salineira e a respectiva relação com as transformações espaciais desta

atividade em Macau/RN nas dimensões regionais e nacionais?”. Assim, tornou-se

plausível desenvolver a pesquisa numa compreensão metodologica que pudesse

aprofundar, a partir do levantamento bibliográfico, associado a constituição de dados

primários e secundários, a configuração do circuito espacial da produção salineira na

dimensão espacial macauense nesse período modernizador derivado de um período

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técnico-científico-informacional. Destaca as características relativas ao sistema de

transporte, beneficiamento e armazenamento, numa perspectiva multidimensional,

evidenciou a estagnação produtiva de sua dimensionalidade regional, em especial

no terciário, e a ampliação da relevância macauense na dimensão produtiva

nacional. Também mereceu notoriedade, outros aspectos relacionados a essas

dinâmicas advindas da modernização e mecanização, como o consumo produtivo

que atende ao circuito espacial salineiro, com os respectivos estabelecimentos

comerciais e de serviços e, consequentemente, os fluxos e fixos, que se relacionam

a esse consumo produtivo, se tornando mais perceptíveis as relações da

modernização e mecanização da indústria salineira com o atual meio técnico-

científico-informacional, a partir da compreensão e mensuração da realidade

espacial macauense.

Palavras-chave: Mecanização salineira. Multidimensionalidade. Macau/RN.

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ABSTRACT

The present Doctorate degree research sought to understand the modernization and

mechanization of saline production in the productive space of Rio Grande do Norte,

and the spatial transformations resulting from this activity, especially from the 1970s,

especially Macau, a municipality located on the state‟s northern coast, 175 km from

the state capital, Natal. Initially there was a historical constitution of the research,

with the identification of the phases and characteristics of the saline process in the

pre-technical and rudimentary technical period, associated with a great regional

dimension of Macau in the potiguar space context. However, from the modernization

and mechanization of the saline industry in the 1970s, there were profound changes

in the spatial dynamics until then, with significant changes in the spatial division of

labor, constituting a lesser need for a large use of labor, causing considerable rates

of unemployment. The saline distribution and productive circulation are progressively

directed towards the Mossoroense space and its adjacencies, starting from a

direction of the great saline capital in concentrating the operations in that city, from

the constitution of way points that dynamize this production. This process of re-

scaling the saline production, associated to an oligopolization and monopolization of

the potiguar saline activity, corresponding to 90% of the national saline production,

besides the constitution of the way points, seeking to consolidate the intentionalities

of the saline activity, therefore, caused notorious changes in the macauense space,

in a stagnation of the tertiary activities, in a regional dimensional perspective and in

the extension of its relevance in the saline production in a national dimension,

characterizing a productive spatial multidimensionality. Therefore, we sought to

highlight the methodology used in the present research, especially from the central

question: "how to understand the modernization and mechanization of saline

production and its relation with the spatial transformations of this activity in

Macau/RN in the regional and national dimensions?". Thus, it became plausible to

develop the research in a methodological understanding that could deepen, from the

bibliographical survey, associated with the constitution of primary and secondary

data, the configuration of the spatial circuit of saline production in the macauense

spatial dimension in this modernizing period derived from a technical-scientific-

informational period. And highlighting the characteristics related to the transport,

processing and storage system, in a multidimensional perspective, evidenced the

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productive stagnation of its regional dimensionality, especially in the tertiary sector,

and the expansion of Macau's relevance in the national productive dimension. Also

worth noting are other aspects related to these dynamics arising from modernization

and mechanization, such as the productive consumption that serves the space

circuit, with the respective commercial and shopping facilities and, consequently, the

flows and way points, which are related to this productive consumption, becoming

more perceptible the relations of the modernization and mechanization of the saline

industry with the current technical-scientific-informational means, from the

understanding and measurement of the macauense spatial reality.

Keywords: Saline mechanization. Multidimensionality. Macau.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Os maiores produtores de sal no mundo em 2015 (produção

em milhões de toneladas)........................,................................

19

Tabela 2 – Extensão construida da rede ferroviária no território brasileiro

entre 1854-1890 (em km)..........................................................

67

Tabela 3 – Exportação salineira em Macau no período 1851-1860........... 71

Tabela 4 – Produção de sal marinho 1970 – 2010..................................... 123

Tabela 5 – Distribuição das indústrias salineiras no espaço potiguar........ 137

Tabela 6 – Produção salineira no espaço potiguar (2015)......................... 138

Tabela 7 – Consumo de sal no Brasil por setores – 1980-2015................. 160

Tabela 8 – Mão-de-obra ocupada na atividade salineira potiguar em 1970....... 177

Tabela 9 – Origem da mão-de-obra salineira em Macau/RN (1970).......... 180

Tabela 10 – Agrupamento de salinas no Rio Grande do Norte por

aquisições e fusões, por empresa, no período 1969-1975.......

198

Tabela 11 – Produção de sal do Brasil, segundo os principais estados

produtores (em toneladas)........................................................

198

Tabela 12 – Atuais indústrias salineiras potiguares...................................... 200

Tabela 13 – As maiores indústrias salineiras potiguares.............................. 202

Tabela 14 – Evolução do processo de modernização do transporte

maritimo do sal..........................................................................

205

Tabela 15 – Evolução da população de Macau, em habitantes (1872-2010)........ 233

Tabela 16 – Pessoal ocupado em Macau, segundo a atividade econômica

(janeiro a dezembro de 2016)........................................................

276

Tabela 17 – Produto interno bruto de Macau por setor, em 2015.................. 277

Tabela 18 – Distribuição dos trabalhadores salineiros em Macau............ 279

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 –

Sal exportado pelo Rio Grande do Norte, em quilos, no período

1915-1929 (1.000.000kg = 1000 t)............................................... 83

Gráfico 2 –

Distribuição do sistema de movimento viário no Brasil nas

grandes regiões (em km de extensão)......................................... 93

Gráfico 3 – Evolução da produção de cloro no Brasil (2003-2015)................ 163

Gráfico 4 – Gênero dos trabalhadores salineiros da Salinor.......................... 254

Gráfico 5 – Gênero dos trabalhadores salineiros da Henrique Lage.............. 254

Gráfico 6 – Idade dos trabalhadores salineiros da Salinor............................. 255

Gráfico 7 – Idade dos trabalhadores salineiros da Henrique Lage................. 255

Gráfico 8 – Local de nascimento dos trabalhadores da Salinor..................... 256

Gráfico 9 – Local de nascimento dos trabalhadores da Henrique Lage......... 256

Gráfico 10 –

Número de moradores nas residências dos trabalhadores da

Salinor.......................................................................................... 257

Gráfico 11 –

Número de moradores nas residências dos trabalhadores da

Henrique Lage.............................................................................. 257

Gráfico 12 – Residências dos trabalhadores da Salinor................................... 258

Gráfico 13 – Residências dos trabalhadores da Henrique Lage...................... 259

Gráfico 14 – Tempo de moradia dos trabalhadores da Salinor........................ 259

Gráfico 15 – Tempo de moradia dos trabalhadores da Henrique Lage............ 260

Gráfico 16 – Escolaridade dos trabalhadores da Salinor................................. 261

Gráfico 17 – Escolaridade dos trabalhadores da Henrique Lage..................... 261

Gráfico 18 – Ocupação dos trabalhadores salineiros na Salinor...................... 262

Gráfico 19 – Ocupação dos trabalhadores salineiros na Henrique Lage......... 262

Gráfico 20 – Você, trabalhador da salinor, possui carteira assinada?............. 264

Gráfico 21 – Você, trabalhador da Henrique Lage, possui carteira assinada?.......... 264

Gráfico 22 – Participação na renda familiar do trabalhador da Salinor............ 265

Gráfico 23 – Participação na renda familiar do trabalhador da Henrique Lage........ 265

Gráfico 24 – Quem são os outros responsáveis pela renda familiar? (Salinor)......... 266

Gráfico 25 –

Quem são os outros responsáveis pela renda familiar?

(Henrique Lage)........................................................................... 266

Gráfico 26 – O trabalhador da Salinor possui outro emprego?........................ 267

Gráfico 27 – O trabalhador da Henrique Lage possui outro emprego?............ 267

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Gráfico 28 – Qual a função do trabalhador da Salinor no outro emprego?...... 268

Gráfico 29 –

Qual a função do trabalhador da Henrique Lage no outro

emprego?..................................................................................... 268

Gráfico 30 –

O trabalhador da Salinor que exerce outro emprego possui

carteira assinada?........................................................................ 269

Gráfico 31 –

O trabalhador da Henrique Lage que exerce outro emprego

possui carteira assinada?............................................................ 270

Gráfico 32 – Qual a renda do trabalhador da Salinor?..................................... 271

Gráfico 33 – Qual a renda do trabalhador da Henrique Lage?......................... 271

Gráfico 34 –

Qual a renda do trabalhador da Salinor, incluindo o outro

emprego?..................................................................................... 272

Gráfico 35 –

Qual a renda do trabalhador da Henrique Lage, incluindo o

outro emprego?............................................................................ 273

Gráfico 36 – Qual a renda familiar do trabalhador da Salinor?........................ 274

Gráfico 37 – Qual a renda familiar do trabalhador da Henrique Lage?............ 274

Gráfico 38 – Renda média familiar em Macau/RN........................................... 276

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação do processo produtivo numa salina tradicional....... 104

Figura 2 – Representação da produção salineira potiguar nos modos pré-

técnica e “técnica rudimentar”...........................................................

109

Figura 3 – Esquematização de funcionamento do porto-ilha............................. 131

Figura 4 – Representação da compartimentação de uma salina....................... 153

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Porto-ilha de Areia Branca, destacando a ponte metálica que

auxilia no carregamento dos navios..........................................

125

Imagem 2 – Panorâmica do porto-ilha de Areia Branca............................... 132

Imagem 3 – Território das salinas Henrique Lages, em Macau/RN............. 141

Imagem 4 – Colheita do sal mecanizada, destacando as encheideiras e o

caminhão-caçamba...................................................................

154

Imagem 5 – Lavador mecânico do sal.......................................................... 154

Imagem 6 – Empilhamento do sal na salina com a utilização de uma

esteira no aterro........................................................................

155

Imagem 7 – Moagem do sal nas salinas Henrique Lage.............................. 155

Imagem 8 – Refino do sal nas salinas Henrique Lage.................................. 156

Imagem 9 – Encaminhamento de caminhão para a pesagem nas salinas

Henrique Lages.........................................................................

158

Imagem 10 – Caminhões estacionados em frente à sede da salinor,

destinados para carregamento da produção salineira..............

159

Imagem 11 – Sal potiguar para consumo animal, em Eirunepé/AM............... 160

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Litoral setentrional do Rio Grande do Norte.................................... 23

Mapa 2 – Municípios potiguares produtores de sal......................................... 24

Mapa 3 – Distribuição das salinas potiguares em 1930.................................. 85

Mapa 4 – Zonas salineiras do Brasil (lei 3137/57).......................................... 98

Mapa 5 – Fluxos do transporte salineiro no território brasileiro....................... 123

Mapa 6 – Atual distribuição da indústria salineira potiguar............................. 126

Mapa 7 – Carta naútica da região de Macau/RN............................................ 128

Mapa 8 – Carta naútica de Areia Branca/RN e região do porto -ilha.............. 129

Mapa 9 – Sistemas de movimento rodoviário no entorno de areia branca e

mossoró...........................................................................................

130

Mapa 10 – Representação ampliada dos sistemas de movimento rodoviário,

ferroviário e hidroviário/marítimo no Rio Grande do Norte..............

143

Mapa 11 – Distribuição das empresas salineiras em Macau/RN...................... 145

Mapa 12 – Distribuição das indústrias químicas no Brasil................................ 162

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIQUIM Associação brasileira das indústrias químicas;

a.C. Antes de Cristo;

ALCANORTE Alcalis do Rio Grande do Norte;

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária;

BA Bahia;

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico;

BR Rodovia Federal Brasileira;

BRADESCO Banco brasileiro de descontos S.A;

CAGED Cadastro Geral do Emprego;

CFN Companhia Ferroviária do Nordeste;

CE Ceará;

CENDES Centro de Estudios del Desarrollo;

CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco;

CNS Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu;

CODERN Companhia Docas do Rio Grande do Norte;

COSERN Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte;

CIRNE Companhia Industrial do Rio Grande do Norte;

DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem;

DNOCS Departamento Nacional de Obras contra as Secas;

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral;

ELETROBRAS Centrais Elétricas brasileiras S.A.

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;

EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicações;

ESAM Escola Superior de Agricultura de Mossoró;

ETENE Escritório técnico de estudos econômicos do Nordeste;

FEBRABAN Federação Brasileira dos Bancos;

FIERN Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte;

FINOR Fundo de Investimento do Nordeste;

FUNRURAL Fundo de Aposentadoria Rural;

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste;

HSBC Hong Kong and Shanghai Banking Corporation;

INTERNET Rede mundial de computadores;

ICMS Imposto sobre a Circulação de mercadorias e serviços;

IFRN Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte;

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INMETRO Instituto Nacional de Metrologia;

INPS Instituto Nacional da Previdência Social;

IBS Instituto Brasileiro do Sal;

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

Kg Quilogramas;

Km Quilômetros;

MCS Mineral Commodity Summaries;

MORVEN Metodologia para o Diagnóstico Regional;

MW Megawatt;

Nacl Cloreto de Sódio;

PB Paraíba;

PDDUM Plano diretor de desenvolvimento urbano de Macau;

PE Pernambuco;

PETROBRAS Petroléo brasileiro S.A;

PIB Produto Interno Bruto;

RAIS Relação Anual de Informações Sociais;

RBLEI Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios;

REGIC Região de Inflência das Cidades brasileiras;

RJ Rio de Janeiro;

RN Rio Grande do Norte;

R$ Reais;

SALINOR Salinas do Nordeste S.A.;

SEDIS Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte;

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial;

SIDRA Sistema IBGE de recuperação automática;

SP São Paulo;

SUDENE Superitendência de Desenvolvimento Econômico do Nordeste;

SUMOC Superintendência da Moeda e do Credito;

TDW Toneladas de peso morto;

TELERN Telecomunicações do Rio Grande do Norte;

TERMISA Terminal Salineiro de Areia Branca;

UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

UFERSA Universidade Federal Rural do Semiárido;

USGS United States Geology Survey (Serviço Geológico dos Estados Unidos).

USP Universidade de São Paulo;

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 20

2 OS ANTECEDENTES DA MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO DA

PRODUÇÃO SALINEIRA POTIGUAR....................................................

48

2.1 A PRODUÇÃO SALINEIRA NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL..... 48

2.2 O PERÍODO REPUBLICANO E O MONOPÓLIO DA EXTRAÇÃO

SALINEIRA..............................................................................................

74

3 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA POTIGUAR........... 102

3.1 A PRODUÇÃO SALINEIRA NO PERÍODO PRÉ-TÉCNICO E

“TÉCNICO RUDIMENTAR”......................................................................

102

3.2 A PRODUÇÃO SALINEIRA A PARTIR DO ADVENTO DA

MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA PÓS DÉCADA DE

1960.........................................................................................................

111

4 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO DAS SALINAS E AS

TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO PRODUTIVO DE MACAU/RN......

170

4.1 A MACAU ATÉ A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX:

RELEVÂNCIA ESPACIAL NUMA DIMENSÃO REGIONAL....................

172

4.2 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA EM MACAU A

PARTIR DA DÉCADA DE 1960: AS TRANSFORMAÇÕES E UMA

NOVA DIMENSIONALIDADE NO ESPAÇO MACAUESE.......................

196

4.2.1 A ascensão de Mossoró com a modernização e mecanização

salineira: uma nova dimensionalidade espacial.................................

207

4.2.2 A modernização/mecanização salineira e uma nova

dimensionalidade no espaço macauese: o desemprego e a crise

urbano-demográfica..............................................................................

218

5 APROFUNDANDO AS TRANSFORMAÇÕES E

REDIMENSIONAMENTO ESPACIAL DE MACAU PÓS-

MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA...................................

242

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 285

REFERÊNCIAS....................................................................................... 299

APÊNDICES............................................................................................ 308

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS FUNCIONÁRIOS

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DA SALINOR E HENRIQUE LAGE........................................................

APÊNDICE B – ENTREVISTA CONCEDIDA PELA SECRETARIA DE

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE

MACAU, EM 27.10.2016........................................................................

APÊNDICE C – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DIRETOR GERAL

DA SALINOR – SALINAS DO NORDESTE S/A NO RIO GRANDE DO

NORTE, EM 28.10.2016.........................................................................

APÊNDICE D – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DIRETOR GERAL

DA HENRIQUE LAGE, NO RIO GRANDE DO NORTE, EM

31.10.2016..............................................................................................

309

311

313

315

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20

1 INTRODUÇÃO

As salinas têm sido utilizadas pelo homem há milênios, em que o

procedimento usado era o mesmo utilizado nas salinas tradicionais de algumas

partes da África, América do Sul e Oceania, consistindo em represar a água do mar

em diques de argila e aguardar a precipitação de sal, com uma predominância de

NaCl e alto conteúdo de sais de cálcio, magnésio, etc (COSTA et al, 2013).

Considerando-se as principais tipologias consumidas pelo homem, o Sal

Marinho predomina na produção total brasileira, com 5,9 milhões de Toneladas; e

Sal Gema, advinda das Rochas, com uma produção nacional de 1,3 milhões de

Toneladas (DNPM USGS/MCS, 2015, p.2). A tabela 01 demonstra a produção

mundial de Sal, com os dez maiores produtores, com notoriedade para a Chinesa, a

maior na atualidade, além da brasileira, a nona maior mundial (DNPM/USGS/MCS,

2015, p.2):

Tabela 1 – Os maiores produtores de sal no mundo em 2015 (produção em

milhões de toneladas)

PAÍS PRODUÇÃO 1. China 71 2. Estados Unidos 40,1 3. Índia 18 4. Alemanha 12 5. Canadá 11 6. Austrália 11 7. México 9,5 8. Chile 9. Brasil 10.Malásia

8,0 7,3 6,0

OBS: Somatório da produção de Sal Marinho e Sal Gema. Fonte: DNPM/USGS/MCS, 2015.

No espaço Brasileiro, o Rio Grande do Norte, situado no encontro entre o

litoral setentrional e oriental brasileiro se sobressai, em especial o município de

Macau, o qual se destaca como uma área com uma das produções mais tradicionais

e antigas nacionalmente.

Assim, para situar com maior profundidade o presente doutoramento,

cabe aqui localizar e caracterizar geograficamente o Rio Grande do Norte e o

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município de Macau no contexto Brasileiro, apresentando, assim, o recorte territorial

da presente pesquisa.

O estado Potiguar está na Região Nordeste do Brasil, uma das cinco

grandes regiões brasileiras, na divisão adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística desde o ano de 1969, utilizada por grande parte dos organismos de

planejamento territorial brasileiro (IBGE, 2010).

Além disso, no contexto territorial Nordestino, o estado potiguar situa-se

na extremidade oriental da referida região, onde ocorre a curvatura da costa leste da

América do Sul, o que representa a maior projeção do Continente no Atlântico.

Devido à sua posição geográfica, o litoral do Rio Grande do Norte está submetido a

condições climáticas bastantes diferentes das que caracterizam a costa oriental da

região Nordeste, influenciando na produção salineira.1

Conforme a divisão territorial do Rio Grande do Norte proposta pelo IBGE,

o município Macauense pertence à Mesorregião Central Potiguar, inserida na

microrregião de Macau. Encontra-se limitado com o Oceano Atlântico, ao norte; com

o município de Guamaré, a leste; com os municípios de Pendências, Carnaubais e

Porto do Mangue, a oeste; e com o município de Pedro Avelino, ao sul, como será

observado nos mapas 1 e 2, a seguir.

Aprofundando a localização Geográfica do município de Macau, o mesmo

está situado no litoral setentrional do Estado, na porção de uma grande várzea

inundável, de acumulação flúvio-marinha, da formação deltaica do Piranhas-Açu,

com notória impermeabilidade do solo. Todas essas condições asseguram a

cristalização e colheita de um sal com alto teor de pureza, que atinge até 98 °

Baumé¹ (COSTA, 1991, p.25).

Sobre o contexto climático, Macau possui clima semiárido quente, com

estação chuvosa se atrasando para o outono, tipo BSw‟h‟ na classificação de

Köppen apud Jacomine (1971), e temperatura que oscila entre 24 a 35 ° Celsius

durante a maior parte do ano. No que se refere aos aspectos pluviométricos, a

normal pluviométrica da área varia de 465,5 a 575,4 mm/ano. O período com

precipitação superior a 20 mm/mês vai de janeiro a junho, com maiores incidências

verificando-se entre março e abril (COSTA, 1991, p.23).

1 Escala utilizada para a medição da densidade de líquidos.

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Ainda sobre os aspectos naturais, Costa (1991, p.23) destaca que a

região é atingida por ventos quentes e secos do quadrante do Nordeste, os quais

são responsáveis pela semiaridez no litoral setentrional e que se interiorizam através

das planuras arenosas em direção à porção sul do Estado, atingindo principalmente

a região do Seridó, com uma velocidade de 3.8 a 4.4 m/seg.

E sobre a insolação, o Professor Ademir Costa (1991, p.23), ainda afirma

que a mesma é elevada, variando de 2,500 a 3000 h/ano, interferindo no processo

de elevada evaporação, que é em media 2.850 mm/ano, com a intensidade de

irradiação solar variando entre 120 e 320 h/mês. Por outro lado, o estado

hidrométrico do ar indica baixo teor de umidade.

Estes elementos naturais, destacando-se as vantagens climáticas da

região, com uma temperatura elevada e intensa evaporação, seguidas de

prolongadas estações secas, entre julho a dezembro, definindo um regime

hidrológico do tipo intermitente, tornaram Macau e o Rio Grande do Norte grandes

produtores nacionais de sal (COSTA, 1991; COSTA et AL, 2013).

Desta forma, Macau e a região Salineira do Rio Grande do Norte,

composta por seis municípios, localizados no litoral setentrional do estado, detêm

mais de 90% da produção salineira do território brasileiro (DNPM/USGS/MCS, 2015,

p.3), como será mais bem demonstrada nos mapas 01 e 02, a seguir.

E o município Macuense tem notória participação na produção de sal no

Rio Grande do Norte. Em 2015, o município teve uma produção correspondente a

32% da produção potiguar (DNPM/USGS/MCS, 2015, p.4) e 10% das indústrias

extrativistas de sal marinho das 56 presentes no estado. (FIERN, 2015).

Esta produção salineira, destinada à alimentação humana, a atividade

pecuarista e as indústrias químicas, é distribuída e consumida em quase todo o

território brasileiro e no mercado internacional, uma vez que, conforme observado

anteriormente, o Brasil é um dos grandes produtores mundiais de Sal.

Assim, fica evidente que a região salineira potiguar está inserida numa

divisão espacial do trabalho onde a produção do sal, a distribuição, circulação e

consumo realizados em territórios diferentes são integrantes de um circuito especial

produtivo do sal, o qual sofreu uma maior dinamização produtiva com a

mecanização do setor salineiro após os anos 1960, conforme será mais bem

visualizado posteriormente.

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Mapa 1 – Litoral setentrional do Rio Grande do Norte

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

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Mapa 2 – Municípios potiguares produtores de sal

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

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Durante o doutoramento, evidenciou-se que a produção salineira potiguar

se ampliou fortemente no atual período histórico em que vivemos. A partir de uma

discussão conceitual introdutória, evidencia-se que o Geógrafo Milton Santos (1996),

destaca o Território usado como sinônimo do espaço geográfico. Além disso, o

Espaço Geográfico, objeto da ciência geográfica, é compreendido como parte da

sociedade, sendo contido por ela e contendo-a, ou seja, o espaço geográfico como

uma instância, ou seja, como meio, produto e condição.

Desta forma, o atual Espaço Geográfico “é um conjunto indissociável de

sistema de objetos e de sistema de ações” (SANTOS, 1996, p.51), identificando-o

como uma estrutura que por meio de seus elementos participa da sociedade, em

outras palavras, é tomar consciência como uma instância da sociedade e, que

contém e é contida pelas demais instâncias que compõem a sociedade.

Partindo desta noção de Espaço e do Território Usado como sinônimo de

Espaço Geográfico no período atual, compreendemos o território num sentido de

usado devido à presença de infraestruturas, os quais, em conjunto, correspondem a

um sistema de engenharias. Nessa perspectiva, as infraestruturas podem ser

definidas como um conjunto de instrumentos de trabalho agregado à natureza e de

outros instrumentos de trabalho que se localizam sobre estes (SANTOS, 1996,

p.88).

Aprofundando a constituição da presente Tese, a qual possui, como

questionamento central, “Como a modernização e mecanização das salinas se

relacionaram com as transformações do espaço produtivo de Macau/RN nas

dimensões regionais e nacionais?”, torna-se relevante explicitar uma metodologia

que busque compreender a problemática do mesmo.

Assim, como os usos do território são diferentes em diversos momentos

históricos, dado o dinamismo da sociedade e da economia, a periodização torna-se

indispensável como metodologia para verificar tais usos.

Desta maneira, a periodização se caracteriza “por extensões diversas de

formas de uso, marcadas por manifestações particulares interligadas que evoluem

juntas e obedecem a princípios gerais, como a história particular e a história global

[...]” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.20).

Logo, evidencia-se a relevância da periodização, auxiliando em

operações basilares para compreensão da realidade, onde “o espírito parte do mais

universal para o mais particular. E o dinamismo do espírito refere-se a um plano só,

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o do sentido ou da inteligência, e não da passagem de um plano a outro” (PASCAL,

2000, p.9).

E para a Geografia, esta discussão torna-se relevante pelo fato que este

entendimento do movimento do geral para o particular e vice-versa auxilia na

constituição de uma visão totalizante do mundo. No entanto, é indispensável que se

realize da nossa província do saber, ou melhor, de um aspecto da realidade global.

Assim, neste contexto geográfico:

Um caminho seria da totalidade concreta como ela se apresenta neste período de globalização – uma totalidade empírica – para examinar as relações efetivas entre a Totalidade mundo e os Lugares. Isso equivale a revisitar o movimento do universal para o particular e vice-versa, reexaminando, sob esse ângulo, o papel dos eventos e da divisão do trabalho como uma mediação indispensável (SANTOS, 1996, p.115).

Embora a periodização, a partir das concepções teóricas advindas de

Milton Santos seja apontada por Lima (2014), como estruturalista, ocultando os

sujeitos e homogeneizando acontecimentos, ou mesmo ausente de um

aprofundamento relativo à luta de classes, segundo Maia (2012), a mesma se torna

plausível de utilização na presente Tese.

Essa plausibilidade é justificável dado o fato da periodização, a partir da

compreensão dos eventos que delimitam a mesma, auxiliar a compreender a

constituição da salinicultura potiguar e seus elementos históricos, que compõem os

períodos, propiciando, portanto, essa construção mental, que é a do todo.

Desta forma, de acordo com Milton Santos (1985, p.36) “[...] não se pode

fazer uma interpretação válida dos sistemas locais na escala local”. Isso porque nos

eventos da escala mundial encontramos explicações dos eventos realizados nos

lugares. Além disso, as noções de espaço e tempo são inseparáveis.

Assim, na compreensão de um evento, o qual pode ser definido como as

variáveis-chaves de cada pedaço de tempo ou de cada período (SANTOS E

SILVEIRA, 2001, p.24), devem-se levar em conta as ações que se deram no

passado. Porém, a sua apreensão no passado para compreender a realidade atual

nem sempre significa que apreendemos corretamente a noção de tempo do objeto

de estudo da ciência geográfica. É preciso que se considere o evento dentro do

sistema ao qual se originou, isto é, do período que se apresentou.

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Os períodos, definidos, segundo Santos e Silveira (2001, p.24), como

“pedaços de tempo que possuem características que interagem e asseguram o

movimento do todo”, e “como um segmento homogêneo de tempo histórico, em que

as variáveis se mantêm em equilíbrio no interior de uma mesma combinação”

(SANTOS, 1979, p.33), são essenciais para a construção de um estudo geográfico,

ao compreender as mudanças no Espaço Geográfico.

Mas em um estudo coerente que utilize a periodização como base, torna-

se essencial o não estabelecimento de delimitações rígidas dos períodos

estabelecidos na periodização e sim estabelecer períodos que me darão condições

para o propósito que pretendemos alcançar.

E essa não delimitação rígida ainda pode ser justificada, segundo Konder

(2004, p.37), pelo fato de que a “realidade é sempre mais rica do que o

conhecimento que temos dela”. Ela sempre nos escapa de nossos esforços de

síntese. No entanto, é indispensável o esforço de elaborar sínteses para

entendermos melhor a realidade. Sobre a mesma questão, Ide Pascal (2000, p.12)

afirma que “a inteligência não descobre de imediato a natureza dela; detém-se

primeiro no que é mais superficial e no que se manifesta”.

Entretanto, a base para uma eficiente periodização não são apenas

aqueles critérios listados acima, mas também, “[...] as técnicas como forma de fazer

e de regular a vida, mas ao mesmo tempo como cristalização em objetos

geográficos, pois estes também têm um papel de controle devido ao seu tempo

próprio, que modula os demais tempos” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p. 24).

Assim, cada período é um sistema de eventos, uma vez que esse

conjunto de eventos representa uma modernização, uma inserção de novas

técnicas. Sobre as técnicas, segundo Ortega y Gasset (1963), a técnica é

apresentada como um conjunto das habilidades cujo auxílio permite aos homens o

aproveitamento da natureza para fins humanos. Ela é a adaptação do meio ao

sujeito, levando, assim, à modernização.

Desse modo, o mundo modernizou-se várias vezes e Milton Santos

(1996) apresenta-o em cinco períodos: o período do comércio em grande escala

(fins do século XV- 1620); o período manufatureiro (1620 – 1750); o período da

Revolução Industrial (1750-1870); o período industrial (1870-1950); e o período

tecnológico (1950-atualidade).

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No espaço geográfico brasileiro, a periodização é muito relevante para

verificar a sucessão dos meios geográficos no Brasil. É exatamente por meio das

técnicas, no tempo e nos lugares, que a sociedade faz a história dos usos do

território nacional. Assim, Milton Santos (1996), por meio de sua periodização

identificou três grandes momentos para o território brasileiro: os meios naturais; os

meios técnicos; e o meio técnico-científico-informacional.

Porém, a delimitação dos períodos decorre do objetivo pretendido para

estudar determinada realidade. Na presente pesquisa, busca-se compreender os

elementos de ordem econômica, social e política que ajudaram a entender a

modernização e a mecanização salineira Macauense e Potiguar, com a

modernização podendo ser compreendida “como cada inovação vinda de um

período anterior ou de uma fase precedente do período anterior” (SANTOS, 1979,

p.31).

Desta forma, após estas relevantes discussões teórico-metodológicas

iniciais, utilizando a periodização como elemento delimitador, identificaram-se três

recortes temporais, sendo caracterizados, assim, como três grandes períodos. O

primeiro capítulo, intitulado “Os antecedentes da modernização/mecanização da

produção salineira potiguar”, vai abranger dois grandes períodos.

Assim, o primeiro período, no qual está delimitado como o tópico 1.1,

sendo, portanto, parte do capítulo 1, denomina-se “A produção salineira no período

colonial e imperial”, abrangendo desde o século XVII ao final do século XIX (1889),

onde são apresentados elementos que ajudam a entender o propósito determinado

dessa periodização. São elementos como o estabelecimento do monopólio pela

Metrópole portuguesa e o início da exploração das salinas no estado que nos

auxiliam a entender o processo de “aparecimento” das salinas no território brasileiro.

Também neste período inicial da extração do Sal no território potiguar,

destaca-se, para a análise da realidade pretendida, a abertura dos portos, a extinção

do monopólio do sal pela Metrópole portuguesa, o Tratado estabelecido entre a

Inglaterra e a colônia brasileira, em 1810 e a independência do Brasil, em 1822. A

independência, como será visto posteriormente, levou o Brasil a ingressar numa

“extensão da circulação” (DOWBOR, 2009, p.35), auxiliando na consolidação da

economia salineira no território potiguar e brasileiro.

E Dowbor (2009, p.35), evidencia que, no período colonial, “a periferia

capitalista organizava sua própria economia em função do capitalismo europeu, sob

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a forma de mercantil [...]”, sendo essa situação uma extensão da circulação. A partir

da independência da então colônia Brasileira da antiga Metrópole Portuguesa, criou-

se uma nova dependência econômica com a Inglaterra, sendo estabelecida uma

nova extensão da circulação entre o Brasil e a Inglaterra;

A partir da denominada “Concessão Roma”, imediatamente após a

proclamação da República, em 1889, corresponde a um notório evento,

correspondendo ao segundo período, o qual representa o tópico 1.2 do primeiro

capítulo, denominado “O período republicano e o monopólio da extração salineira”.

Assim, no ano de 1889, quando da instalação da República,

estabelecendo-se um novo tipo de monopólio, simbolizado por uma Norma,

representada pelo decreto nº 10.413, de 26 de Novembro de 1889, que modifica

substancialmente o espaço salineiro potiguar.

Por esta Norma, a União concedeu em favor do Sr. Antônio Coelho

Ribeiro Roma, pela empresa com sede no Rio de Janeiro, Companhia Nacional de

Salinas Mossoró-Açu - CNS, o direito exclusivo à exploração das salinas entre Areia

Branca e Macau, por um prazo de 30 anos, sendo conhecido como Concessão

Roma. No entanto, a CNS não conseguiu manter este monopólio por muito tempo e,

em 1920, com o seu declínio, houve a ascensão de produtores potiguares como

também possibilitou a entrada de outros grupos vindos do Rio de Janeiro e São

Paulo.

Esse processo de domínio por alguns grupos potiguares e de estados do

Sudeste Brasileiro foi mantido até a década de 1960, quando foram absorvidos em

sua grande parte por grupos internacionais, os quais, diretamente associados à

mecanização da produção salineira, geraram mudanças nas técnicas de extração do

sal e do transporte.

As mudanças produtivas, associada à construção do porto de Areia

Branca/RN, e às mudanças no modelo então instituído pelo Instituto Nacional do Sal

– IBS, o qual controlava a produção salineira por cotas produtivas, levam à

ascensão do terceiro período, correspondendo ao segundo capítulo da Tese,

denominado “A modernização/mecanização salineira pós-década de 1960”.

A mecanização que modificou o Espaço salineiro potiguar a partir da

década de 1970, advém de um contexto inserido, segundo Santos (1994, p.115) “[...]

a partir do „período técnico-científico-informacional‟ emergido pela introdução da

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tecnologia e mecanização em todos os recantos da vida social, o qual ocasionou

notórias consequências no Espaço Urbano Macauense”.

Milton Santos (1988, p.55) ainda aprofunda a discussão do nosso atual

período ao explicar que “o mundo encontra-se organizado em subespaços

articulados dentro de uma lógica global”. E essa articulação advém da presença de

objetos técnicos como estradas de rodagem, estradas de ferro, portos, hidrelétricas

e aeroportos trabalhando em sistemas e não mais como conjuntos isolados como

acontecia em períodos anteriores.

Assim, essa integração e articulação entre os objetos técnicos modificam

a configuração territorial, levando a compreender a região com funções

especializadas, gerando fluxos de todos os tipos e direções. Para essa nova

realidade, égide do atual meio técnico-científico-informacional, é requerida a

utilização de conceitos e categorias analíticas para além do Meio Técnico-Científico-

Informacional, a fim de compreender a realidade.

Esses conceitos e categorias podem ser exemplificados pela

“mecanização da produção”, consolidada num período em que o “Motor Único”,

sintetizado pela unicidade do sistema Técnico que coordena o modo capitalista de

produção por todo o Espaço Mundial (SANTOS, 2000), os “circuitos espaciais de

produção,” onde por meio da operacionalização podemos verificar os diversos usos

do território, fundamentais para compreender as razões da “crise urbana” vivenciada

por Macau a partir da década de 1970.

Com esta modernização/mecanização do parque salineiro, advinda de

maior participação do capital estrangeiro, ampliou-se a produção salineira, trazendo

impactos profundos para o espaço Macauense, pois a mecanização alterou

drasticamente o quadro econômico e trabalhista local, sendo um evento relevante na

cronologia e na formação espacial do parque salineiro potiguar, constituindo o

terceiro capítulo da Tese, denominado “A modernização/mecanização das salinas e

as transformações no espaço produtivo de Macau/RN”.

E o quarto capítulo da Tese, intitulado “Aprofundando as transformações

e redimensionamento espacial de Macau pós-modernização/mecanização salineira”

relacionando-se com as conceituações e categorizações advindas dos capítulos

anteriores, conduz, para a busca de um entendimento mais amplo dessa realidade

Macauense pós década de 1960, e as interferências no contexto espacial potiguar.

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Após esta exposição relativa à periodização e sua relevância para a

organização da presente tese, cabe ressaltar a metodologia, necessária para o

entendimento relativo ao levantamento de referências bibliográficas, documentais e,

principalmente, os dados primários e secundários, que auxiliem no esclarecimento

relativo ao questionamento central da pesquisa (“Como a modernização e

mecanização das salinas se relacionaram com as transformações do espaço

produtivo de Macau/RN nas dimensões regionais e nacionais?”), orientando, assim,

no desenvolvimento da metodologia e na constituição dos objetivos da pesquisa.

Para aprofundar a discussão relativa ao questionamento-chave, cabe

discorrer sobre o atual período. Na atualidade, os lugares possuem determinadas

funções dentro do circuito produtivo no atual contexto do modo capitalista de

produção. E Macau é um destes lugares neste contexto do circuito espacial de

produção de sal no território potiguar, com objetos técnicos que dão condições para

realização deste circuito, modificando o Espaço Geográfico em questão.

No que se refere à escala de estudo, a mesma é decidida a partir de duas

premissas: a primeira é que os fenômenos apresentam uma regularidade na

natureza. No presente estudo, torna-se possível generalizar a espacialização do sal

para outros lugares produtores, em especial no contexto produtivo potiguar. Além

disso, tal contexto torna possível realizar o recorte conforme “[...] extensão da

organização dos fenômenos [...]” (SILVEIRA, 2004, p.91), e “como escala de

extensão” (CASTRO, 2007, p.93).

A segunda premissa refere-se à relevância do estabelecimento de um

recorte espacial, relevante para a pesquisa, destacando, assim, o município de

Macau/RN, o qual possui notória produção de sal no país, como visto anteriormente.

Assim, a presente Tese, a partir de uma constituição temporal das

atividades salineiras no espaço de Macau/RN, buscou compreender as dinâmicas

espaciais advindas a partir da modernização e mecanização das referidas atividades

na década de 1970, as quais alteraram o espaço macauense.

E tornaram-se necessários procedimentos metodológicos para a

compreensão dos objetivos propostos, constituídos pelo levantamento bibliográfico;

a construção do banco de dados; a caracterização do objeto de estudo; e o trabalho

de campo, com a respectiva aplicação de questionários.

Nessa perspectiva, inicialmente realizou-se o Levantamento bibliográfico,

correspondendo à primeira etapa da pesquisa, possibilitando um ordenamento

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teórico da mesma. Dessa forma, realizou-se a pesquisa de diferentes materiais

bibliográficos e documentais que poderiam contribuir para a investigação dos temas

e do recorte espacial, sendo considerados livros, dissertações, teses, artigos e

outros materiais que tratassem dos assuntos relacionados à temática de

investigação.

E, além do levantamento bibliográfico de documentos realizadas nas

bibliotecas, também foram realizadas pesquisas na internet, no portal eletrônico dos

periódicos da Capes; em bancos de Dissertações e Teses; no portal do Domínio

Público; além de revistas eletrônicas e outras bibliotecas virtuais, entre outros.

Logo, a pesquisa documental abrangeu a busca por materiais que

auxiliassem no entendimento do objeto escolhido para análise, assim como dos

temas principais da pesquisa. Dessa forma, buscou-se compreender a constituição

do circuito espacial da produção salineira, com as características relativas ao

sistema de transporte, beneficiamento e armazenamento, numa perspectiva

multidimensional, evidenciando a ampliação da relevância macauense na dimensão

produtiva nacional e a estagnação de sua dimensionalidade regional.

Ampliando a discussão do trabalho, evidenciando a sua metodologia e, de

acordo com Ide Pascal (2000), constituir o caminho do raciocínio a partir do

entendimento do conhecido, buscou-se pesquisar o quadro teórico já produzido.

Desta forma, trabalhos sobre a economia salineira do estado do Rio

Grande do Norte fizeram parte desse primeiro caminho metodológico, para construir

um quadro atual dessa atividade econômica. Os trabalhos de Costa (1991), Carmo

Júnior (2006) e Diniz (2013) auxiliaram nesta constituição metodológica relativa à

formação espacial do município macauense.

Nesta pesquisa, buscou-se constituir, a partir de um contexto relativo a

um sistema coerente de ideias (SOUZA, 2003, p.14), aprofundar as categorias

analíticas presente neste trabalho. Isso nos faz retomar a Milton Santos (1996, p.77),

quando ele nos afirma que “[...] a realidade social é intelectualmente construída”.

Também merece notoriedade a afirmação de Oliva (2003, p.21), onde se aponta que

“os fatos não são nem verdadeiros nem falsos. Só o que se diz sobre eles – os

enunciados - podem ser assim avaliados”.

Por esta perspectiva, o método nos permite construir um sistema

intelectual, analítico para abordar a realidade a partir de um ponto de vista. Na

presente pesquisa, o ponto de vista geográfico, nos permitiu analisar a atividade

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salineira do município de Macau/RN, observando aspectos como a conceituação de

conceito de circuito espacial de produção, a qual tornou plausível o entendimento da

dinâmica gerada pela produção, distribuição e consumo do sal potiguar, bem como

os diversos usos do território realizados por suas indústrias salineiras.

Ao operacionalizar o conceito, pode-se identificar e localizar as etapas

que participam da produção salineira e as exigências que as indústrias fazem ao

território para por em circulação a produção de sal, destacando como a

modernização e a mecanização da produção impactaram no espaço macauense.

Consolidando o levantamento bibliográfico, ressalta-se a importância

metodológica referente à constituição de um Estado da Arte relativo à temática da

pesquisa, pois o mesmo, segundo Quivy & Campenhout (1992, p.20), “[...] é

construído com apoio de um quadro teórico e metodológico [...]”, e se servindo dele,

pode-se compreender uma investigação do real. Este quadro é reforçado pelos

trabalhos que auxiliam a base teórica para a realização desta pesquisa.

Desta forma, a partir de pesquisas realizadas eletrônicamente, na Rede

mundial de Computadores – INTERNET e nas bibliotecas públicas da Universidade

Estadual do Ceará - UECE; Universidade Federal do Ceará - UFC; Universidade

Federal do Rio Grande do Norte - UFRN; Universidade Estadual do Rio Grande do

Norte - UERN; Universidade Federal Rural do Semiárido - UFERSA; Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN, foram utilizadas

diversas obras realizadas por autores como Antônio Carlos Robert Moraes (1985); e

Milton Santos (1985; 1988; 1993; 1994; 1996).

Na perspectiva da busca de uma compreensão relativa às dimensões

espaciais produtivas relativas à produção salineira macauense a partir da década de

1970, destaca-se a compreensão direcionada por Milton Santos, em sua obra

“Espaço e Método” (1985), para a realização de uma pesquisa científica que possua

um sistema coerente de idéias.

Assim, tornou-se necessário compreender as variáveis numa perspectiva

totalizante e sistêmica, uma vez que “somente através do conjunto, isto é do todo,

ou do contexto, é que podemos corretamente valorizar cada parte e analisá-la, para,

em seguida, reconhecer concretamente esse todo” (SANTOS, 1985, p.11).

Ainda sobre o referido autor, é importante destacar que a apreensão da

problemática espacial apontado pelo mesmo auxilia a compreensão da configuração

territorial e os fluxos gerados pelos agentes sociais, além de discutir sobre

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conceituações relevantes, como os circuitos espaciais de produção. Além disso,

Milton Santos, na obra “Metamorfose do Espaço Habitado – fundamentos teóricos e

metodológicos da geografia”, publicado em 1988, orienta no sentido da utilização de

categorias analíticas para aprofundar os entendimentos sobre o espaço geográfico.

Igualmente relevante é a pesquisa de Rogério Haesbaert sobre a

multidimensionalidade, em sua obra “O Mito Da Desterritorialização: do Fim dos

Territorios à Multiterritorialidade”, publicado em 2004, uma vez que essa

conceituação se aplica fortemente ao contexto espacial macauense pós-

modernização/mecanização salineira, quando a cidade possui uma notória

estagnação numa dimensão espacial em diferentes setores econômicos

anteriormente dependentes de uma produção salineira não mecanizada.

Entretanto, num processo dialético, há a ampliação da relevância

macauense numa dimensão espacial nacional da produção salineira, uma vez que o

Rio Grande do Norte possui crescimento na produção de sal, correspondendo a

mais de 90% do total nacional (DNPM/USGS/MCS, 2015, p.4), num índice maior do

que o existente neste período anterior a mecanização, demonstrando a relevância

de um entendimento das dinâmicas espaciais a partir da multidimensionalidade.

Dessa maneira, a presente pesquisa auxiliou na compreensão relativa à

multidimensionalidade produtiva regional e nacional macauense após a

modernização e mecanização salineira, constituída a partir da evolução espacial e

os elementos do circuito espacial da produção salineira, a identificação das

corporações relacionadas à atividade acima destacada e sua influência na formação

espacial, no consumo produtivo e no mercado de trabalho, em especial após a

ascensão do processo modernizador.

Assim, torna-se essencial a utilização de trabalhos ligados ao espaço

macauense, ganhando notoriedade pesquisas de Andrade (1995) e Silva (1990), há

abordagens relativas à mecanização e concentração industrial, a oligopolização das

empresas salineiras do município de Macau/RN, e a ampliação do desemprego e a

consequente migração da população local. Ainda merecem notoriedade as

pesquisas realizadas por Barros, em 2001 e Moura, em 2003, nas quais há uma

relevante construção temporal sobre a formação espacial macauense.

Igualmente há destaque para a pesquisa realizada por Carmo Júnior em

2006, na qual analisou a segregação no espaço urbano macauense, destacando,

em sua pesquisa, o processo de mecanização e modernização salineira macauense

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na segunda metade do século XX, e as consequências deste processo na

organização do espaço urbano de Macau.

E Ademir Araújo da Costa, em sua relevante pesquisa realizada em 1991,

constatou, a partir da pesquisa documental e pesquisa in loco, o pleno benefício

para as grandes corporações salineiras, mas, com a mecanização, impactou

seriamente a população local, com alto índice de desemprego na região e

pauperização da sua economia a partir da referida modernização.

Embora não discuta diretamente sobre o espaço macauense, a

dissertação de mestrado de Camila Dutra dos Santos, intitulado “Difusão do

consumo produtivo: reflexos na economia urbana de Mossoró (RN)”, concluida em

2010, demonstra como a atividade salineira, em especial com a

mecanização/modernização salineira pós-1970 modificou o espaço Mossoroense em

suas diferentes dimensões, escalas e circuitos produtivos, com o sal sendo um

destes destaques.

Desta forma, a compreensão deste contexto mossoroense auxiliará a

compreender o esvaziamento do papel regional macauense na distribuição salineira,

mas, como também será vista na presente pesquisa de doutoramento, Macau possui

notória relevância na produção salineira numa dimensão nacional, juntamente com

Mossoró e Areia Branca, representando mais de 95% do total de sal produzido no

Brasil, como observado anteriormente (DNPM/USGS/MCS, 2015, p.4).

Mais recente, a pesquisa de Marco Túlio Mendonça Diniz (2013), também

oferece maiores subsídios teóricos, uma vez que, na tese de doutoramento de Diniz,

há notoriedade nos fatores naturais que levaram a região salineira de Macau a se

tornar parte da principal região produtora salineira nacional.

Assim, a partir desse levantamento bibliográfico, tornou-se plausível

aprofundar os pressupostos teóricos e do objeto de pesquisa. Assim, a partir da

constituição dos materiais bibliográficos obtidos, tornou-se possível constituir um

banco de referências direcionadas aos temas e ao objeto de análise, ocorrendo

leituras, a seleção dos autores, de conceitos e de categorias que se tornaram úteis à

pesquisa, assim como fichamentos e resenhas que permitiram sistematizar as ideias.

Após este levantamento bibliográfico, buscou-se constituir os dados

primários e secundários. Sobre os dados primários, os mesmos foram coletados

diretamente no trabalho de campo, importante para a obtenção de dados para a

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36

realização da presente pesquisa, onde se buscou uma constituição teórica mais

consistente a partir da observação empírica da realidade.

Dessa forma, o trabalho de campo possibilitou a coleta de dados, assim

como comprovar ou mesmo refutar informações já obtidas. O conhecimento empírico

dos processos emergentes, mediante contatos, conversas, aplicação de

questionários, realização de entrevistas e observação atenta da paisagem, auxiliou

consideravelmente para a análise da presente pesquisa.

Assim, realizaram-se trabalhos de campo nas indústrias salineiras de

Macau/RN, em especial nas unidades produtivas da Salinas do Nordeste S.A -

SALINOR e a Henrique Lages, as duas maiores corporações salineiras

macauenses, levando em conta a observação das etapas da produção de sal, as

formas de embalagem requerendo tipos de transporte para o escoamento para a

produção salineira e a aplicação de entrevistas com os representantes das duas

grandes corporações salineiras.

Também houve atividades de campo na Secretária de Planejamento e

Desenvolvimento Sustentável macauense, sendo realizada entrevista com a gestora

municipal da referida autarquia municipal, compreendendo o papel do estado nestas

dinâmicas relacionadas à produção salineira.

E, finalmente, foram realizadas 200 entrevistas com os funcionários

diretamente ligados à produção de sal, na SALINOR e Henrique Lage, as quais

terão os respectivos resultados apresentados e analisados posteriormente.

No que se refere aos dados secundários, destaca-se a formação de um

banco de dados, a partir da constituição de dados estatísticos, tabelas, quadros,

gráficos, mapas, fotografias, correspondendo a informações que possam agregar

informações sobre o objeto de pesquisa e os temas norteadores.

Logo, o banco de dados foi constituído, com relação aos dados

secundários, por levantamento de dados em portais da rede mundial de

computadores, sendo, portanto, em bases virtuais e em organismos como o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, tanto fisicamente, como via internet, a

partir do Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.

Ainda sobre a base de dados secundários, os mesmos foram obtidos em

instituições públicas, Portal de Serviços e Informações do Governo Federal, Portal

de Conteúdo, Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, Relação Anual

de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Esses

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dados secundários ampliaram o detalhamento necessário para a realização da

presente pesquisa.

Igualmente merecem destaque as pesquisas realizadas no Anuário

Mineral Brasileiro de 2015, o fornecimento de dados sobre a produção do estado do

Rio Grande do Norte e dos municípios produtores de sal pelos representantes do

Sindicato da Indústria da Extração do Sal no Estado do Rio Grande do Norte –

SIESAL na Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte – FIERN.

A pesquisa no banco de dados da FIERN foi consideravelmente relevante

para a obtenção de dados relativos à produção, o consumo interno e os tipos de

forma de distribuição do sal no território brasileiro. Esse outro caminho foi à solução

frente à dificuldade de obtenção de dados sobre a produção, distribuição e mão-de-

obra empregada pelas indústrias que fazem parte do recorte espacial.

Após o levantamento dos dados, torna-se relevante o tratamento

estatístico e cartográfico das variáveis e indicadores coletados, os quais foram

organizados, analisados e interpretados, com os seus resultados materializados em

tabelas, quadros, gráficos e mapas, de maneira que melhor evidenciassem a

dinâmica da modernização e mecanização salineira macauense e a

multidimensionalidade produtiva regional e nacional advinda desse processo

modernizador, aprofundando as análises relativas à presente pesquisa.

No que se refere ao recorte temporal para a construção de séries

estatísticas, o levantamento dos dados foi baseado, no que se refere às variações

demográficas de Macau desde o primeiro levantamento censitário de 1872 a 2010.

Também foram obtidos dados de diversos indicadores econômicos desde o início do

século XX, a partir de pesquisadores macauenses, como Moura (2003), os quais

obtiveram dados mais detalhados sobre Macau.

Além da delimitação dos dados através dos quadros e tabelas, a

espacialização dos dados também permitiu uma melhor visualização de algumas

variáveis, ao relacionar as informações quantitativas com a representação territorial.

Dessa forma, a utilização de mapas auxiliou na visualização, exploração,

análise e exame espacial dos dados obtidos, uma vez que foram realizadas imagens

e cartogramas relativos ao transporte do sal, compreendendo os movimentos do

transporte rodoviário, com o objetivo de compreender o fluxo da produção salineira e

consultas ao setor de logística.

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Esses procedimentos metodológicos auxiliaram a explicitar os eventos

locais, nacionais e globais que influenciaram na produção salineira, permitindo a

passagem do todo para as partes e destas para o todo, possibilitando explicar os

eventos ocorridos na produção salineira potiguar, como a mecanização da produção

de Sal.

Assim, essas pesquisas relativas à compreensão do fluxo da produção

salineira foram essenciais para o entendimento da reconfiguração espacial no

município, uma vez que a introdução de novas técnicas, poupadora de esforços

(ORTEGA Y GASSET, 1963, p.31), nos serve de premissa para pensar essa

situação. Com as novas formas de escoamentos da produção de sal, ocorreram

desempregos e migrações dos salineiros anteriormente residentes em Macau,

ocasionando profundas alterações no espaço urbano macauense.

Logo, tornou-se relevante o levantamento bibliográfico, associado aos

dados primários e secundários sobre o circuito espacial de produção do sal, para

compreender a estruturação da indústria salineira, os fixos e fluxos associados à

produção, distribuição, circulação e consumo da produção salineira e a

multidimensionalidade que envolvia o espaço produtivo salineiro macauense a partir

dos anos 1970.

Portanto, a presente Tese, intitulada “A Reconfiguração produtiva do

circuito espacial de produção salineiro e as transformações no espaço produtivo de

Macau/RN”, buscará compreender, a partir de uma constituição temporal das

atividades salineiras no espaço macauense, situada na costa setentrional Norte rio-

grandense, distante 175 km de Natal, e as dinâmicas espaciais advindas a partir da

mecanização das salinas na década de 1970, as quais alteraram o espaço

macauense, numa estagnação em uma perspectiva dimensional regional e numa

ampliação de sua relevância na produção salineira, numa dimensão nacional.

Desta forma, aprofundando a compreensão relativa à tese, a mesma será

dividida em cinco capítulos, para um melhor entendimento deste Doutoramento,

consolidando a metodologia empregada, em especial relativa à periodização

realizada no espaço macauense e exposta no decorrer desta introdução.

Assim, no primeiro capítulo, intitulado “Os antecedentes da

modernização/mecanização da produção salineira potiguar”, serão contabilizados os

eventos espaciais que contribuíram para a formação da produção salineira nacional

e potiguar.

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Desta forma, no tópico inicial deste capítulo, será demonstrado que, no

território brasileiro, a história do sal está ligada diretamente com o período da

colonização portuguesa. Quando da chegada dos primeiros exploradores em terras

brasileiras, estes não faziam a mínima ideia da ocorrência natural de sal marinho;

assim, todo o sal que utilizavam teria que ser trazido de suas terras de origem, da

mesma forma como qualquer outra mercadoria que eles precisassem e não a

tivessem disponível (ANDRADE, 1995).

Assim, no período colonial este mineral servia principalmente para

alimentação humana e dos bois e cavalos, além da preparação do charque pelo

salgamento da carne bovina e seca sob o sol. Além disso, havia relevância do

mesmo como matéria prima na Europa, especialmente para a expressiva produção

de bacalhau, arenque e outros peixes que eram importantes nas economias de

Portugal, Holanda e dos países escandinavos (ARBOCZ, 1986).

No que se refere ao contexto potiguar neste período colonial, Trindade e

Albuquerque (2005, p. 46), em suas “Notas Econômicas do Século XX”, mencionam

que “durante os períodos de colônia e império, a economia do Rio Grande do Norte

era impulsionada pelos setores agropecuário e extrativo, com destaque para o sal, o

algodão, o açúcar, a mandioca, a criação de bovinos, ovinos, caprinos e muares, a

cera de carnaúba, etc”.

Desta maneira, em especial no caso do sal marinho, Andrade (1995)

comenta que, na metade final do século XVI, começaram a serem descobertas

grandes salinas naturais que se formaram sem qualquer intervenção do homem.

Estas salinas estavam situadas ao longo da costa da capitania do Rio Grande (atual

Estado do Rio Grande do Norte e parte do atual Estado do Ceará), formando-se em

grandes várzeas onde a água do mar naturalmente era represada e cristalizava-se

naturalmente.

Esta extração por reservas naturais predominou por todo o período

colonial. Somente a partir da segunda metade do século XIX, já no período imperial,

é que cresceram as demandas pelo produto para o curtimento de couros, a salga de

peixes, carnes, produtos de consumo e comércio em geral entre vilas e povoados

que surgiam (SANTOS, 2010).

Essas demandas em vários pontos da colônia levaram os primeiros

colonizadores a construir pequenas salinas em alguns locais da costa do que hoje

corresponde ao Nordeste de modo que esta demanda pudesse ser suprida, mas a

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produção salineira continuou a ser insuficiente para suprir uma demanda

vertiginosamente crescente. Eram salinas de pequeno porte, cuja produção somente

era suficiente para o consumo das regiões em que se instalavam (CASCUDO,

1955), mas segundo Andrade (1995), a construção de salinas se disseminou

rapidamente no espaço que hoje corresponde à região Nordeste.

Com o desenvolvimento desse processo de construção, passou-se a

utilizar faixas de terras mais altas em relação ao nível da maré, surgindo os

primeiros adventos tecnológicos, como por exemplo, os cata-ventos (processo

rústico para bombear a água da maré para dentro dos cercos das salinas), que

serviam para bombeamento e elevação da água. Mas ainda o processo de extração,

genericamente, possuia semelhanças ao início da colonização, sofrendo mudanças

apenas no início do período republicano.

O segundo tópico do capítulo inicial, delimita-se a partir do período

republicano, quando há um grande evento, cronologicamente e espacialmente

relevante, pois, a partir da instalação da República, em 1889, é estabelecido um

novo tipo de monopólio que viria a mudar o panorama político para a indústria de

extração do sal no Rio Grande do Norte.

O monopólio é simbolizado por uma Norma que modifica

substancialmente o espaço salineiro potiguar. Esta norma, representada pelo

decreto nº 10.413, de 26 de novembro de 1889, a União concedeu em favor do Sr.

Antônio Coelho Ribeiro Roma, pela empresa com sede no Rio de Janeiro,

Companhia Nacional de Salina Mossoró-Açu - CNS, o direito exclusivo à exploração

dos terrenos devolutos compreendidos entre Areia Branca e Macau, por um prazo

de 30 anos, fato que ficou conhecido como Concessão Roma (CARMO JÚNIOR,

2006).

Desta forma, valendo-se do seu direito adquirido com a Concessão Roma

e dispondo de muito capital e embarcações, esta empresa adquiriu por valores

irrisórios as pequenas salinas existentes, não permitindo a existência de qualquer

concorrência em sua área de exploração (ANDRADE, 1995). Em sua instalação em

Macau, nenhum imposto foi cobrado sobre o sal e, ainda, foi pedida ao Governo

Federal, uma espécie de taxa que valorizasse o produto no mercado (CARMO

JÚNIOR, 2006).

No ano de 1915, a Concessão Roma já não conseguia se sustentar no

descumprimento de suas cláusulas, sendo anulada em 1920 (CARMO JÚNIOR,

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2006). Sua queda significou a ascensão de produtores potiguares como também

possibilitou a entrada de outros grupos vindos do Rio de Janeiro e São Paulo.

Assim, a história desses grupos é caracterizada pela absorção de uns

pelos outros, até a década de 1960, quando foram absorvidos em sua grande parte

por grupos internacionais. (FERNANDES, 1995, p.35). De fato, a consolidação da

indústria salineira potiguar só ocorreu no período que vai de 1930 ao final dos anos

de 1950.

A partir de então, o Rio Grande do Norte apresentou produção sempre

superior a 50% da nacional, onde o município de Macau tornou-se o verdadeiro

coração da indústria salineira brasileira. A produção potiguar, no entanto, passa a

obedecer a uma limitação produtiva imposta pelo Instituto Nacional do Sal – IBS,

autarquia federal, a fim de evitar uma monopolização ainda maior do sal potiguar.

Desta forma, o litoral brasileiro era limitado em três grandes regiões,

sendo o estado potiguar situado no litoral setentrional, juntamente com Pará,

Maranhão, Piauí e Ceará, estados que ainda mantinham uma produção salineira

neste período (ANDRADE, 1995; SOUSA, 2007).

Também se destaca a grande atração populacional para Macau, pois há

uma grande necessidade de mão de obra para trabalhar nas salinas, as quais

possuíam 30% da população local trabalhando direta e indiretamente nas mesmas

(CASCUDO, 1955), com a cidade se tornado uma das dez maiores aglomerações

urbanas do Rio Grande do Norte nas décadas de 1940 e 1950, com a população se

aproximando dos 20 mil habitantes.

Mas este quadro sofreria drástica mudança nos anos 1960, sendo

considerada mais um marco, um evento relevante na cronologia e na formação

espacial do parque salineiro potiguar.

Assim, o segundo capítulo, intitulado “A modernização/mecanização

salineira pós década de 1960”, demonstrará a modernização do parque salineiro,

ampliando a produção nacional, com uma maior participação do capital estrangeiro,

e a consequente dependência do capital internacional, além do término da limitação

produtiva potiguar pelo então Instituto Brasileiro do sal, IBS, traz impactos profundos

no espaço Macauense, alterando o quadro econômico e trabalhista regional

(COSTA, 1991),

Sobre esta modernização salineira, antes da chegada dos grupos

estrangeiros – ocasionando o processo de desnacionalização das salinas do Rio

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Grande do Norte, ocorrido no período de 1969 a 1975 (COSTA, 1991) será

compreendido o contexto que propiciou tal fato (CARMO JÚNIOR, 2006).

Assim, na década de 1950, o governo de Juscelino Kubitschek com sua

política desenvolvimentista baseada na industrialização como forma de promover o

crescimento econômico e atenuar as enormes diferenças sociais nas regiões

Sudeste – que se desenvolvia avassaladoramente –, e o Nordeste – que despontava

como uma das áreas mais pobres do mundo –, criou o Grupo de Trabalho para o

Desenvolvimento do Nordeste – GTDN. (COSTA, 1991).

Este grupo de trabalho elaborou um documento que resultou na criação

de um organismo para executar a política proposta que se chamou Superintendência

de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE. Em seu II Plano Diretor, que vingou de

1963 a 1965, a SUDENE enfatizou a implementação de indústrias de grande porte,

assim como a modernização e dinamização de setores industriais já existentes, mas

que operavam seguindo moldes artesanais, como era o caso das salinas potiguares,

as quais, por motivos de ordem natural, davam sinais de dificuldades para abastecer

o mercado consumidor interno (CARMO JÚNIOR, 2006).

Desta forma, as dificuldades eram causadas principalmente pelo aumento

do consumo de sal no País na década de 1960, notadamente graças ao

desenvolvimento da indústria química, grande utilizadora deste produto como

matéria-prima (COSTA et al, 2013).

E assim ocorreu, como preconizava o Plano Diretor da SUDENE, porém

com uma ressalva: os mecanismos de incentivos fiscais exclusivos às empresas

nacionais foram estendidos aos investimentos de grupos estrangeiros, resultando,

assim, num processo que culminou na desnacionalização, monopolização e extinção

das pequenas salinas do Rio Grande do Norte, as quais foram incorporadas ao

capital de grupos estrangeiros, financiados pelo próprio dinheiro nacional (CARMO

JÚNIOR, 2006).

Para atender às exigências da modernização, as empresas tiveram que

utilizar os incentivos fiscais da SUDENE, a qual facilitou a penetração das empresas

multinacionais no Nordeste e as incentivou quando retirou do seu II Plano Diretor a

restrição de utilização pelas empresas de capital estrangeiro do mecanismo de

dedução fiscal, antes somente permitida a empresas de capital cem por cento

(100%) nacional. Assim, os incentivos fiscais induziram os investimentos

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internacionais para a região Nordeste, facilitando, dessa forma, a penetração no

parque salineiro potiguar (COSTA, 1991).

Com a incorporação das pequenas empresas iniciada em 1969, a

obtenção das melhores áreas salineiras e com a introdução da tecnologia ao

processo, já no início da década de 1970, a maior parte da produção de sal do Rio

Grande do Norte estava sob o controle de 03 grandes grupos: o grupo Morton

Norwich Products INC., americano, que passou a comandar as salinas Sosal e

Guanabara; o grupo Akzo Zoult Chemie, holandês, que passou a comandar as

salinas da Companhia Industrial do Rio Grande do Norte - CIRNE; e o grupo Nora

Lage, italiano, que assumiu o controle das salinas da Henrique Lage (COSTA, 1991;

CARMO JÚNIOR, 2006).

Desse modo, a crise do início dos anos 1960 foi marcante para a

modernização da economia salineira, e para o fim de um antigo regime produtivo e

de política econômica como o sistema de cotas de Vargas que tinha inspiração na

Itália de Mussolini (CARVALHO JÚNIOR E FELIPE, 1982). A primeira salina

brasileira planejada com sua produção totalmente mecanizada foi a Salinas

Guanabara S/A ainda na década de 1960 (SOUSA, 1988).

A economia salineira potiguar começou a passar então por enormes

mudanças, grande parte delas financiadas por investimentos estrangeiros. Tais

mudanças se deram no sentido de mecanizar a extração de sal, tornando-a uma

atividade intensiva. Outro caráter marcante foi a concentração da produção e da

renda da atividade salineira potiguar (COSTA, 1991).

Desta forma, o período da modernização trouxera para a região salineira

do Rio Grande do Norte a penetração de muitas indústrias multinacionais, graças às

políticas de incentivo do governo federal, e à incapacidade dos produtores locais em

dar a contrapartida aos financiamentos e incentivos recebidos, principalmente, por

meio da SUDENE (SANTOS, 2010).

Estas empresas adquiriram as melhores áreas e nelas intensificaram sua

atividade industrial e logo se oligopolizaram (CARVALHO JÚNIOR E FELIPE, 1982),

o que perdura até os dias de hoje, pois em 2012, apenas 8 produtores respondem

por 92,5% do sal produzido no Rio Grande do Norte (COSTA et al, 2013).

Com este processo modernizador, portanto, além de gerar uma

autossuficiência na produção salineira, a extração de sal marinho torna-se, no final

do século XX e inicio do século XXI, uma das principais atividades econômicas de

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todo o litoral setentrional do Rio Grande do Norte. O parque salineiro do Estado é

responsável por 97% da produção brasileira de sal marinho, sendo comercializado

com vários Estados brasileiros e exportado principalmente para os Estados Unidos,

África e Europa (RIO GRANDE DO NORTE, 2003).

Assim, o capítulo três, intitulado “A modernização/mecanização das

salinas e as transformações no espaço de Macau/RN”, demonstrará que o processo

de mecanização/modernização ocasionou consequências para o espaço urbano

macauense, como a redução da necessidade de mão de obra, a ampliação do

desemprego e das migrações populacionais para outras partes do estado e do país,

principalmente a partir dos anos 1970.

Neste capítulo, serão demonstrados os processos de modernização do

parque salineiro do Estado, evento fundamental para mudanças no espaço salineiro

potiguar na década de 1970, caracterizado pela formação de grandes unidades

produtoras, gerando a absorção das pequenas e médias salinas pelos grandes

grupos salineiros, em especial os estrangeiros.

Desta forma, nos dias atuais, pouco resta da produção salineira artesanal

potiguar, que caracterizava as salinas de menor porte, uma vez que apenas algumas

pequenas salinas ainda utilizam pás e carros-de-mão para realizar a colheita do sal.

Além da importância para a economia local, estas áreas representam um patrimônio

histórico, natural e arquitetônico ainda pouco reconhecido no país. Essa importância

se traduz pelo fato que nelas ainda são replicadas as técnicas de construção e

gestão típica dos primórdios dessa atividade (MOURA, 2003).

A modernização salineira, mais do que uma mudança técnica na

produção, gerou notáveis consequências sociais, onde “o desemprego era um dos

grandes problemas da região após a mecanização salineira (...)” (SANTOS, 2010,

p.294). Desta forma, as demissões trabalhistas e o crescente processo de

concentração de capital e renda na região salineira potiguar trouxeram graves

prejuízos sociais.

Em decorrência de todo este processo, o desemprego assolou a região, e

em 1970, centenas de trabalhadores foram às portas do Sindicado dos

Trabalhadores na Indústria do Sal em Mossoró pedir comida e emprego, pois

passavam por sérias privações (DINIZ, 2013). As “Agrovilas da Serra do Mel” (na

época zona rural de Mossoró e hoje município de Serra do Mel) foram alguns dos

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destinos dos milhares de trabalhadores desempregados pela mecanização da

produção salineira potiguar.

Assim, a cidade de Macau sofria consideráveis transformações urbanas,

com a redução de serviços públicos, advinda de sua perda de relevância como

centro urbano relevante no espaço potiguar. Nos anos 1980, Serviços Federais

como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte tiveram sua atuação reduzida

na cidade (SANTOS, 2010) e, recentemente, agências estatais, como a Receita

Federal, foram fechadas (DINIZ, 2013, p.88).

E este fechamento, segundo Costa (1991) e Moura (2003), ocasionou

uma estagnação no incremento populacional e a ampliação do processo migratório,

dado as dificuldades da população trabalhadora em obter novas formas de

sobrevivência.

Assim, os impactos causados pela mecanização encabeçada por grandes

corporações estrangeiras ocasionaram drásticas mudanças espaciais em Macau,

com a ampliação do desemprego e atitudes desesperadoras e extremas, como

acidentes de trabalho propositais (COSTA, 1991), os quais se tornaram recorrentes,

a fim de serem obtidas possíveis indenizações ou aposentadorias.

Com esta ausência de postos de trabalho, há a ampliação do processo

migratório, levando a uma notória modificação do contexto espacial de Macau como

um grande centro urbano potiguar. Para uma melhor visualização desta situação, em

1970, segundo o Censo Demográfico do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, a população macauense era de 25.800 habitantes, o que tornava Macau

a sétima maior população do Rio Grande do Norte. Já nos censos demográficos

posteriores, de 1980, a população total era de 24.078 habitantes, reduzindo,

portanto, se comparado a 1970.

Em 1991, há um crescimento populacional em Macau, totalizando, assim,

25.985 habitantes. Mas, no censo demográfico de 2000, a população sofre novo

decréscimo, totalizando 25.700 habitantes. Apenas a partir de meados da década de

2000, a população macauense volta a ter um incremento, com a população atingindo

os 28.954 habitantes em 2010, correspondendo ainda à 16º maior cidade potiguar

em número de habitantes, representando, portanto, uma estagnação frente ao

posicionamento numérico da cidade existente no censo demográfico de 2000 (IBGE,

1970; 1980; 1991; 2000; 2010).

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A demonstração da variação no total populacional de Macau/RN, no

período posterior a 1970, evidencia que o processo de modernização/mecanização

salineira ocasiona notórias mudanças no espaço macauese, onde, numa análise

dimensional regional, a cidade Macauense possui o seu papel reduzido, uma vez

que boa parte das funções relacionadas à distribuição salineira é redirecionada a

Areia Branca e Mossoró, as quais ampliam o seu papel regional (DUTRA, 2010,

p.83).

E a demografia Macauense também reflete este processo de mudanças

espaciais ocasionadas pela mecanização. Em 1970, a população urbana totalizava

18838 habitantes e em 2000 apenas 18.632 habitantes, sofrendo decréscimo.

Apenas em 2010, 4 décadas após o processo de transformação espacial salineira,

há incremento da população urbana, alcançando 21.966 habitantes.

A diminuição da massa assalariada e o crescimento das grandes

propriedades, ao mesmo tempo em que havia a modernização e otimização da

produção, baixaram os custos de produção e o preço final do sal potiguar,

aumentando as vendas e lucros obtidos pelos empresários (DINIZ, 2013, p.86).

Assim, o capítulo quatro, intitulado “Aprofundando as transformações e

redimensionamento espacial de Macau pós-modernização/mecanização salineira”,

evidenciará, a partir dos dados primários obtidos nas pesquisas de campo, que a

mecanização/modernização salineira gerou notáveis mudanças no espaço

macauense, numa dimensão regional, enfatizando a estagnação no crescimento da

população total durante um período considerável, com o qual está diretamente

associado a este processo de saída da população com a carência e a precarização

na existência de postos de trabalho (MOURA, 2003).

No entanto, numa dimensão nacional, em especial no que se refere à

produção salineira, Macau amplia sua relevância. Embora a cidade já possuísse

notoriedade na produção salineira anteriormente, a modernização/mecanização

salineira pós 1970, associada à não mais existente limitação produtiva imposta pelo

IBS, levaram Macau e o Rio Grande do Norte a praticamente monopolizarem a

produção de sal. Em 2015, apenas 2% do sal produzido no país não tinha origem

Potiguar, com uma pequena produção nos estados do Ceará e Rio de Janeiro,

sendo extinta a produção em outros estados (DNPM/USGS/MCS, 2015, p.4).

Assim, Macau, na atualidade, possui grande relevância para a produção

salineira brasileira, levando o país, nos diferentes tipos de consumo (animal,

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humano, industrial), a depender ainda mais da produção macauense e potiguar, as

quais, na atualidade, após o processo modernizador/mecanizador, atendem

plenamente ao mercado interno.

Portanto, a presente pesquisa, a partir das referências textuais citadas e o

levantamento de dados primários e secundários, buscaram compreender as

transformações espaciais macauenses advindas com a modernização e

mecanização salineira pós-1970.

Logo, buscou-se evidenciar a relevância da compreensão das

transformações espaciais macauenses numa perpectiva multidimensional, uma vez

que, no atual período técnico-científico-informacional, muitas vezes, há maior

contato com pontos distantes do espaço geográfico do que com a própria região

onde determinada produção está inserida (SOUZA, 2003, p.23). E a compreensão

destas transformações espaciais, será mais bem visualizada a partir do capítulo 1, a

seguir.

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2 OS ANTECEDENTES DA MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

SALINEIRA POTIGUAR

2.1 A PRODUÇÃO SALINEIRA NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL

Conforme já observado na porção introdutória da presente Tese, as

condições ambientais propiciavam o aparecimento dos depósitos de sal pela costa

do litoral norte do estado do Rio Grande do Norte. Sobre o sal, no que se refere a

sua composição química, é uma substância produzida pela reação do ácido com

uma base. O resultado dessa reação é o cloreto de sódio, representado pela sigla

„NaCl‟ (KURLANSKY, 2004, p.23);

Também conforme observado anteriormente, contribuíam para a

produção salineira potiguar o clima semiárido, a baixa pluviosidade, o grande

número de horas de insolação na região e atuação de ventos secos de direção

Nordeste devido à região estar situada próxima da linha do Equador, uma área de

baixa pressão atmosférica e de grande incidência de raios solares (COSTA, 1991).

Além destas condições anteriormente citadas, a questão da altitude em relação ao

nível do mar dava condições de transgressão do mar pela costa, bem como a

impermeabilidade do solo onde se encontram os depósitos salineiros (DINIZ, 2013,

p.36).

Neste contexto natural, o Litoral Setentrional norte-rio-grandense

corresponde a uma das melhores áreas para a salinicultura no território brasileiro.

Segundo Manoel Correa de Andrade (1995, p.19), aprofundando a discussão

relativa às condições naturais da região salineira, afirma que “a maior porção de

produção brasileira de sal marinho é oriunda do litoral nordestino, em uma faixa que

se estende desde o Rio Grande do Norte até o Maranhão [...]”.

Para o autor Evandro Biassi Barbiéri (1975), no seu artigo intitulado “O

Ritmo climático e extração do sal em Cabo Frio/RJ”, publicado na Revista Brasileira

de Geografia do IBGE, ressalta a maior produtividade da região salineira do

Nordeste brasileiro em comparação às condições de produção salineira dos

municípios Fluminenses de Cabo Frio, Araruana e São Pedro d´Aldeia.

Segundo o autor, além das condições climáticas que influenciam na

produção e na qualidade do sal, o Nordeste tem um parque salineiro expressivo que

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atinge 233.100.000 m2, enquanto que no estado do Rio de Janeiro a área utilizada

pelas salinas é de apenas 22.210.837 m2 (BARBIÉRI, 1975, p.24).

Assim, com este aprofundamento relativo às condições naturais

favoráveis à extração salineira potiguar, busca-se, a partir de agora, apresentar a

gênese da produção salineira no atual território Norte-Riograndense e brasileiro,

advindas do início do século XVII.

Discorrendo sobre o contexto europeu, é importante frisar que a produção

salineira potiguar insere-se num contexto relativo à colonização do continente

Americano, aprofundada pela ascensão das empresas comerciais levada pelos

navegadores dos países europeus a partir do século XVI e XVII (PRADO JR., 2004).

Esse acontecimento torna-se realidade pela mudança na geopolítica

comercial do continente europeu, com o continente Africano (a partir do fim do

século XV) e Americano (pós-século XVI) emergindo como novas rotas comerciais

que aparecem no cenário comercial europeu, ampliando a navegação costeira e de

cabotagem que até o século XV possuía como principal rota o Mar Mediterrâneo, a

partir da circundação do estreito de Gibraltar (DINIZ, 2013, p.37).

O historiador brasileiro Caio Prado Jr. (2004, p.13), ao aprofundar a

discussão relativa às navegações, afirma que este contexto era

explicitado por uma “[...] revolução na arte de navegar e nos meios de transportes

por mar [...]”. Sobre essa combinação de eventos, para Boris Fausto (2010, p.11),

outro notório historiador brasileiro, foi à renovação das “[...] técnicas de marear [...]”

que propiciaram a expansão marítima europeia. Ainda segundo Fausto (2010, p.11):

Quando principiaram as viagens lusitanas rumo à Guiné, as cartas de navegação não indicavam ainda latitude ou longitude, mas apenas rumos e distancias. O aperfeiçoamento de instrumentos como o quadrante e o astrolábio, permitindo conhecer a localização de navio pela posição dos astros, representou uma importante inovação. Os portugueses desenvolveram também um tipo de arquitetura naval mais apropriada, com a construção da caravela, utilizadas a partir de 1441.

Após o início da ocupação do atual território brasileiro pelos Portugueses,

no começo do Século XVI, a exploração do mesmo pela metrópole era realizada

rudimentarmente. Os portugueses e espanhóis não cogitavam povoar o novo

continente pelo motivo, segundo Prado Jr. (2004, p.24) de não obterem,

inicialmente, riquezas que garantissem maior rendimento, como metais preciosos.

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E fica perceptível, pelo referencial teórico relativo a este período

(CASCUDO, 1982; PRADO JR., 2004; FAUSTO, 2010; ANDRADE, 2007), que o

longo litoral brasileiro possuía uma escassa ocupação populacional europeia,

basicamente estabelecida nos fortins. Estes fortins, assim como as feitorias,

serviam, segundo Andrade (2007, p.36), para facilitar o comércio, com o

armazenamento de mercadoria e respectiva diminuição no tempo de permanência

das embarcações lusitanas nos portos.

Sobre os portos, enfatiza-se que os mesmos não existiam no atual

território brasileiro no período colonial. Os tipos de embarcações usados pelos

portugueses indicam esse fato: eram caravelas de baixo calado que permitiam

aproximação da costa brasileira. Assim, Katinsky (1994, p.72), esclarece que os

grandes navios utilizados para navegar nos oceanos ficavam fundeados na parte

mais profunda de algum “porto natural” próximo à costa.

Assim, as cargas e as pessoas eram baldeadas para embarcações

menores movidas a remo que navegavam em direção a plataformas localizadas no

continente. Até meados do século XIX, portanto já no período imperial, segundo

Vargas (1994, p.67) não havia cais para atracação direta dos navios na costa

brasileira, alterando este quadro apenas a partir de 1850.

A partir da segunda parte do século XVI, a Metrópole Portuguesa conduz

suas atenções para as terras brasileiras com fins de colonizar, com as capitanias

hereditárias, surgidas neste período, objetivando fomentar atividades econômicas

voltadas para o mercado externo. Para Bertha Becker (2010, p.40), esse momento é

“[...] um episódio de amplo processo de expansão marítima resultante do

desenvolvimento das empresas comerciais europeias”. E a “empresa comercial”, a

qual correspondia, na abrangência territorial, no então Brasil colônia, iniciaram-se

pelo extremo-nordeste, nos atuais Estados de Pernambuco e Bahia.

De Pernambuco, a colonização se alargou para o sul e norte, acompanhando sempre a fímbria costeira; para o interior esbarraria com a zona semiárida do sertão nordestino. Na direção setentrional interrompe-se a expansão no Rio grande do Norte; além, desaparecerem os solos férteis, que são substituídos por extensões arenosas impróprias para qualquer forma de agricultura (PRADO JR. 2004, p.39).

Após esta discussão sobre o contexto colonial brasileiro, ao se discutir

sobre a estrutura produtiva potiguar neste período inicial de colonização, o

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economista Paulo Pereira dos Santos (2010), no seu livro “Evolução Econômica do

Rio Grande do Norte” esboça o quadro da formação da estrutura produtiva da

capitania do Rio Grande do Norte nesse período.

Desta maneira, segundo Santos (2010), o princípio desse quadro se deu

com a doação da primeira data e sesmaria no território potiguar, em 1600, ao

Capitão-mor da Capitania do Rio Grande, João Rodrigues Colaço. Em 1603,

segundo Santos (2010, p.58), já se tinham notícias de atividade de subsistência na

capitania como roçaria, canavial, pescas.

Dois anos depois, aos arredores da atual cidade de Natal, já se tinha a

cultura de legumes, frutas e hortaliças para a subsistência dos citadinos. Essa

situação serve de premissa para assertiva anunciada por Prado Jr. (2004, p.41) em

relação às atividades acessórias presentes na primeira fase do período colonial com

o objetivo de manter o funcionamento da economia de exportação.

Ainda de acordo com Caio Prado Jr. (2004), essas atividades são as que

forneciam os meios de subsistência à população empregada na economia de

exportação. Em oposição à economia de exportação, poderíamos denominá-la de

economia de subsistência. A atenção secundária que o sistema econômico do país

relegou à agricultura de subsistência gerou um problema sério para os citadinos. A

insuficiência do abastecimento alimentar dos núcleos urbanos foi um dos problemas

com que a sociedade colonial teve que conviver (PRADO JR., 2004).

Aprofundando esta discussão, para os lusos que vieram para a colônia

brasileira, as técnicas indígenas foram de grande utilidade para saber agir sobre a

natureza e daí poder praticar as atividades de subsistência. Souza (1994, p.40)

afirma que “[...] os portugueses que vieram para as novas terras eram homens

desvinculados de suas raízes e que tiveram de se submeter à realidade aqui

encontrada”. Foram com os silvícolas que aprenderam a viver nos trópicos, plantar

as mesmas plantas, comer os mesmo produtos.

Ainda sobre este período inicial da colonização brasileira, destaca-se que

no período de 1580 até 1640 a coroa portuguesa esteve unida ao império Espanhol,

sendo este relevante evento conhecido na história do Brasil como União das Coroas

Ibéricas (1580 – 1640).

A ascensão da União Ibérica (FAUSTO, 2010, p.44), levou os lusos a

“desconhecerem” a linha imaginaria longitudinal que dividia o “novo mundo” entre os

portugueses e espanhóis e passou a desbravar os territórios “desconhecidos” das

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atuais regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.

No entanto, neste mesmo período, ocorreu a ocupação holandesa à

colônia brasileira, a partir de 1630. E nessa conjuntura, Portugal teve consequências

como a marinha destruída e a perda de colônias. Segundo Prado Jr. (2004, p.49):

A Holanda e a Inglaterra, com que a Espanha estivera em luta quase permanente, ocuparão, para não mais devolver, boa parte das possessões portuguesas. Estava definitivamente perdido para Portugal o comércio asiático; as pequenas colônias que ainda conservará no Oriente não têm expressão apreciável. Efetivamente só lhe sobrariam do antigo império ultramarino o Brasil e algumas posses na África.

Essa sucessão de eventos entre a segunda metade do século XVI e a

primeira metade do século XVII, determinaram profundas modificações na política de

Portugal com relação a sua colônia. Sob o domínio da Coroa espanhola, Portugal

aprofundou políticas de restrições e monopolizações comerciais voltadas para a sua

colônia (PRADO Jr., 2004).

Sobre a monopolização de mercadorias, em especial o sal, havia uma

prática milenar de exclusividade na comercialização dessa matéria-prima, com

vários momentos de monopólios do sal, devido a sua grande importância para a

economia e alimentação humana. A primeira notícia da atuação do monopólio sobre

o sal têm-se na China antiga por volta do ano 200 a.C. Já nos séculos XII e XIII, os

senhores feudais europeus desfrutavam do monopólio do sal (DINIZ, 2013, p.29).

Assim, a política econômica estabelecida pela Metrópole Lusitana era de

especificidade mercantilista, isto é, a colônia deveria manter relações econômicas

diretamente com a metrópole portuguesa e para materializar esse pacto colonial, era

“[...] preciso estabelecer uma série de normas e práticas que afastassem os

concorrentes da exploração das respectivas colônias, constituindo o sistema

colonial” (FAUSTO, 2010, p.27).

Essa política econômica se estenderá para os depósitos naturais de sal

presentes no território colonial potiguar e brasileiro. Sobre a gênese da exploração

do sal marinho no território potiguar e brasileiro, segundo autores como Dioclecio D.

Duarte (1942); Cascudo (1982); Jose Victor de Carvalho Jr, Jose Lacerda Alves

Felipe (1982); Itamar de Souza (1985); Paiva Filho (1987); Márcia Maria Lemos de

Sousa (1988); Ademir Araújo da Costa (1991); Manuel Correia de Andrade (1995);

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João B. Carmo Júnior (2006); Tomislav R. Femenick (2007); Marco T. Diniz (2013) a

exploração salineira no atual território potiguar advém do início do século XVIII.

Desta forma, sobre a constituição histórica da produção salineira,

Cascudo (1982), evidencia que a produção salineira no Rio Grande do Norte advém

do início do processo colonizador Português.

Assim, o notório historiador potiguar demonstra que em 1605, Jerônimo

de Albuquerque Maranhão, um dos fundadores da cidade de Natal (em 1599)

concedeu aos seus filhos Antônio e Matias Albuquerque Maranhão uma “data”, ou

seja, duas salinas situadas a quarenta léguas – distancia correspondente a 240

quilômetros ao Norte de Natal. Essas terras foram identificadas pelo desembargador

Luiz Fernandes como sendo as salinas de Macau (CASCUDO, 1982).

Para Carvalho Júnior e Felipe (1982), Pero Coelho de Souza, no diário de

sua trágica viagem na tentativa de colonizar o Ceará, em 1624, realizou relatos

precisos sobre as salinas da região. Também Carvalho Júnior e Felipe (1982, p.10),

destaca que o Frei Vicente de Salvador, cronista e historiador brasileiro, no ano de

1627 realiza seguinte referência sobre as salinas potiguares: “Nem estão muito

longe daí as salinas, onde naturalmente se coalha o sal em tantas qualidades que se

pode carregar grandes embarcações todos os anos, porque, assim como se tira um,

se coalha e cresce outros”.

Ainda neste relato histórico acerca da gênese salineira potiguar, em 1630,

Adriano Verdock, através de relatório dirigido ao Conselho Político do Brasil

Holandês, em Recife, considerou o sal potiguar como “mais forte do que o espanhol

e alvo como a neve (...). Estas salinas estão rentes à praia e completamente cheias

de sal” (CASCUDO, 1982, p.10).

Após a saída holandesa do atual território brasileiro, em 1654, a

comercialização de produtos aqui realizados na então colônia passa ao monopólio

da burguesia mercantil da metrópole Portuguesa (FERNANDES, 1982). Desta forma,

objetivando concretizar essa política monopolística, a metrópole criou leis, multas e

sanções proibindo a colônia de implantar e desenvolver suas indústrias e,

naturalmente, estava incluída aí a indústria salineira (COSTA, 1991). Sobre o

monopólio do sal do Brasil, desenvolvido pelo governo português, Prado Junior apud

Fernandes (1982, p. 28) assim se expressou:

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“o sal marinho constituía monopólio da coroa, tendo sido um dos mais onerosos que a colônia teve de suportar, pois afetava um gênero de primeira necessidade, encarecendo-o consideravelmente. Para defender o monopólio e proteger a produção similar portuguesa, dificultava-se o mais possível à produção brasileira. Esta só se fazia contra obstáculos enormes e perseguições tenazes; no entanto a produção se manteve, pois a falta de sal e seu preço bem como o abuso e desleixo dos contratadores eram tais que a repressão ao contrabando se tornava completamente impossível”.

Assim, o sal era distribuído no Brasil por contratadores, através do

sistema de arrematação, sendo estes obrigados a pagar à metrópole uma

contribuição anual fixa. O sistema de arrematação possibilitava aos contratadores

determinadas manobras que resultavam no aumento do preço do produto (DINIZ,

2013, p.32).

A precariedade da navegação, por sua vez, levava a crises permanentes

no abastecimento, uma vez que a importação era bastante inferior à demanda

existente, provocando assim a elevação do preço do sal, criando com isto problemas

seríssimos junto à população (FERNANDES, 1982).

A situação fica mais precária a partir da ascensão holandesa no território

nacional, levando a metrópole portuguesa, na época parte integrante da União

Ibérica, a restringir ainda mais a comercialização de sal da colônia. Assim, em 1631,

segundo a historiadora Ellis (1955, p.27), é estabelecido o estanque do sal por

Felipe IV, “consequência da exagerada interferência do estado na economia do país

e do absolutismo monárquico [...]”.

Nove meses depois, em 13 de julho de 1632, o monopólio do sal é

estabelecido na colônia brasileira, a qual abrangia a área desde o atual Rio Grande

do Norte ao Rio de Janeiro. Os atuais estados do Ceará, Piauí, Maranhão e parte do

Pará faziam parte do “Estado do Maranhão”, outra divisão colonial lusa que perdurou

por boa parte do século XVII.

Assim, a comercialização dessa matéria-prima ficou reservada a certos

comerciantes, os quais, buscando impedir o contrabando, proibiram a sua produção.

Desta forma, esse monopólio do sal estava dentro da coerência da política

econômica mercantilista e concomitantemente para beneficiar as salinas localizadas

no território de Portugal. Assim, as salinas de Setúbal, de Alverca e da Figueira,

situadas em Portugal, passam a exportar sal para a colônia brasileira (ELIS, 1955).

Embora utilizasse normas que impuseram essa exclusividade colonial, a

Metrópole Portuguesa não tinha condições de impor tais princípios mercantilistas na

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grande extensão territorial de sua colônia. E esse fato pode ser verificado pela

existência de contrabandos presentes na colônia. Somam-se a essa situação as

inúmeras crises de abastecimentos na colônia brasileira (ELIS, 1955, p.60).

Mesmo com esta situação de desabastecimento na colônia, de acordo

com Ellis (1955), no ano de 1690 é estabelecida pela carta régia da Coroa

portuguesa a proibição das capitanias de consumirem o sal produzido nos depósitos

naturais do litoral. Desta maneira, autores como Duarte (1942); Carvalho Jr. et al

(1982); e Fernandes (1982) tomam esse evento como o início do monopólio do sal.

Embora Costa (1991), na discussão sobre o contexto histórico da

formação do território salineiro potiguar, não deixe explícito o momento do

monopólio do sal, o referido autor segue o raciocínio do sociólogo Geraldo Margela

Fernandes (1982), o qual também estabelece o final do século XVII e início do

século XVIII como marco temporal da proibição do consumo de sal advindo das

salinas litorâneas potiguares.

No entanto, o monopólio sobre a produção do sal fora quebrado em

diferentes ocasiões ao longo do período colonial. Segundo Paulo Pereira dos Santos

(2010) há a quebra dessa norma, uma vez que cronistas do início do século XVIII

afirmam que haviam movimentações de barcos carregados de sal na costa potiguar.

“Barcos de Itamaracá, Paraíba, Pernambuco e Porto Calvo, com notória intensidade,

procuravam as salinas norte-rio-grandense pela quantidade do seu sal, como

também faziam suas pescarias no litoral norte e no rio Açu até a sua foz” (SANTOS,

2010, p.61).

Para Caio Prado Jr. (2004, p.104), esse monopólio sobre o sal tornou-se

“[...] um dos mais pesados e onerosos que a colônia teve de suportar [...]”, afetando

um gênero de primeira necessidade importante para a alimentação da população da

colônia. Esse monopólio, segundo Ellis (1955, p.62) teve uma predominância de

mais de 130 anos sobre um dos mais primitivos alimentos da humanidade,

perdurando até a independência, em 1822.

Um aspecto relevante a ser destacado acerca da produção salineira no

período colonial, refere-se ao fato de, no período colonial ainda não existir uma

indústria salineira propriamente dita, pois segundo Carvalho Jr. et al (1982, p.11) o

sal no período colonial “[...] não era produzido, era apanhado [...] dos depósitos

naturais que se encontravam no litoral e nas várzeas dos rios”. Segundo Fernandes

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(1995, p.58), antes do caixão de madeira, no transporte do sal era usado o alguidar2.

Tomando o alguidar como uma „coisa‟ (um objeto técnico) explicada por

Ortega y Gasset (1963, p.65), e, para que essa „coisa‟ possa funcionar, torna-se

necessário que seus ingredientes ou requisitos “desapareçam” diante de nós, se

transformando num objeto, o alguidar, portanto, torna-se esse objeto técnico, sendo

apontado, portanto como uma técnica de extração de sal.

Embora houvesse a utilização destas práticas técnicas rudimentares, a

explicitação sobre o alguidar demonstra que nesse período não existiam técnicas de

produção salineira e nem uma exploração racional dos depósitos salineiros como

conhecemos atualmente. Estas afirmações ainda eram reforçadas pelo fato de que

uma produção racional dos depósitos salineiros iria contra as normas estabelecidas

pelo monopólio colonial, uma vez que, estando a colônia enquadrada nos princípios

mercantilistas, estava proibida de implantar e desenvolver qualquer tipo de indústrias

que viessem a concorrer com a metrópole (FERNANDES, 1995).

Ainda sobre a exploração salineira durante o período de monopólio

português, os pesquisadores afirmam que a exploração do sal não ocorria

plenamente. Segundo Duarte (1942), as salinas do Nordeste mantiveram-se

inativas. As salinas do “[...] litoral do Rio Grande do Norte, compreendendo os atuais

municípios de Macau, Areia Branca, Mossoró, permaneciam em abandono, pela

impossibilidade de uma exploração efetiva” (DUARTE, 1942, p.56).

Para a pesquisadora Myriam Ellis (1955), em sua intenção de demonstrar

a importância do comércio do sal no período colonial, afirma que o litoral brasileiro

neste período “[...] não pode desenvolver uma indústria extrativa do produto, além de

uma limitada exploração local, sem expressão” (ELLIS, 1955, p.27). Para Lima

(1976), o Brasil colônia sofreu restrições por fatores externos como a política

econômica imposta pela Coroa Portuguesa.

Ainda sobre a exploração salineira, Katinsky (1994), no seu texto “Notas

sobre a mineração no Brasil colonial”, nos dá uma comunicação interessante sobre

as salinas. A política metropolitana mantinha o privilégio, porém tolerava as

instalações “clandestinas” de salinas no território colonial. Segundo Katinsky (1994,

p.100).

2 Recipiente de barro utilizado para apanhar o sal advindo dos depósitos naturais existentes no litoral potiguar.

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[...] da documentação disponível, transparece a constância, ainda que brutalmente prejudicada, da produção das salinas brasileiras durante o Período Colonial. Na ausência de documentos mais pormenorizados, supomos os processos coloniais reproduziam as técnicas desenvolvidas tradicionalmente em Portugal.

No decorrer do século XVIII, amplia-se o consumo do sal, pois, segundo

Duarte (1942, p.20) há o aparecimento das atividades minerais e o desenvolvimento

da pecuária, levando, assim, a um maior questionamento acerca do monopólio então

estabelecido. As atividades mineradoras no Brasil ocuparam, segundo Caio Prado

Jr. (2004), durante três quartos do século XVIII, as atenções da Coroa Portuguesa e

a maior parte do cenário econômico colonial:

Durante três quarto de séculos ocupou a maior parte das atenções do país e desenvolveu-se a custa da decadência das demais atividades. O afluxo de população para as minas é desde o início do século XVIII, considerável: um rush de proporções gigantescas [...] (PRADO Jr.,2004, p.64).

A busca pelo ouro e outros minerais no território colonial brasileiro

permitiu o povoamento da porção centro-sul da colônia. Segundo Andrade (2007,

p.81) essa nova economia provocou “[...] a expansão do povoamento para o interior

e a fixação da população em áreas distantes da costa, garantindo a ampliação do

território brasileiro”.

Logo, a atividade mineradora levou à gênese da integração territorial,

onde a necessidade por certos alimentos foi a razão do intercâmbio entre certas

regiões da colônia. E o resultado desse momento foi o deslocamento do eixo

econômico, localizado no Nordeste, para o centro-sul. Assim, a capital do vice-

reinado, antes localizada na Bahia, é transferida para o Rio de Janeiro, em 1763

(ANDRADE, 2007).

Sobre a articulação econômica entre certas regiões da colônia com o

advento da atividade aurífera, Fausto (2010, p.53) afirma que “gado e alimentos

foram transportados da Bahia para as Minas Gerais e um comércio se estabeleceu

no sentido inverso”.

Podemos interpretar essa articulação como sendo uma escassa relação,

não sendo interdependente pelo fato do “[...] Brasil, durante muitos séculos, formar

um grande arquipélago, com subespaços que evoluíam segundo lógicas próprias,

ditadas em grande parte por suas relações com o mundo exterior” (SANTOS, 1993,

p.29). Além de Milton Santos, autores como Wilson Cano (1998) e Caio Prado Jr.

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(2004), também discutiram sobre o “Brasil Arquipélago”.

Para Caio Prado Jr. (2004, p.101) afirma, sobre o “Brasil Arquipélago”,

que “a maior concentração populacional estava no litoral, mas largamente esparsa”.

E o que havia eram núcleos populacionais que se concentravam na foz do rio

Amazonas e por todo o litoral até o Rio Grande do Sul. Entre estas áreas citadas,

correspondentes ao interior da colônia, havia “desertos” populacionais, onde

predominava a irregularidade do povoamento (“manchas demográficas”), havendo

escassez na comunicação e no transporte com o restante do território colonial.

Conforme apontado há pouco, havia intenso comércio de gado, em

especial o bovino, entre o Nordeste e o Centro-Sul brasileiro. Pelo fato do sal possuir

a relevante propriedade de conservar os alimentos por longos períodos, tornou-se o

mesmo um elemento de grande importância para o comércio de alimentos com

destino a longas distâncias, num período em que não existiam meios modernos de

conservação alimentícia. Assim, Ellis (1955, p. 29) explica que:

Era necessária a conservação dos alimentos, sob as características do clima tropical brasileiro, fator máximo da mais rápida decomposição dos produtos animais, carnes e mais gêneros indispensáveis à alimentação. O clima, porém, não só atuava na deterioração dos alimentos, como também exigia do homem maior absorção de sal.

Ainda sobre aumento do consumo do sal na colônia no período da

mineração, destaca-se, como fator para ampliação do consumo dessa matéria-

prima, a formação de um mercado consumidor na colônia, a partir da ampliação de

correntes migratórias com destino à região aurífera, dando origem a demandas por

vários produtos de subsistência e a uma sociedade diferenciada. Essa nova

atividade econômica permitiu o financiamento de uma grande expansão demográfica

(FURTADO, 2004, p. 40).

O povoamento e o crescimento demográfico na região aurífera criaram

novos e numerosos mercados para vários tipos de gêneros alimentícios,

especialmente para o sal. De acordo com Ellis (1955, p.33), o sal foi o mais

importante no abastecimento das populações mineradoras, devido às suas inúmeras

aplicações na alimentação cotidiana e na conservação de alimentos.

Foi nesse momento que se organizou um embrião de desenvolvimento

introvertido, onde, segundo Dowbor (2009, p.61), o setor da agricultura de

subsistência deve ser considerado como “introvertido”, em contraponto ao setor

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“extrovertido”, a agricultura dominante ou plantation, além do comércio. Neste

contexto, as “oficinas de carne seca”, constituídas no atual território potiguar,

representam uma alternativa econômica para os pecuaristas na capitania do Rio

Grande do Norte (MONTEIRO, 2002, p.108).

Conforme observado há pouco, no século XVIII há o predomínio da

expansão da atividade mineradora no território brasileiro. E em meados do século

XVIII, ocorre a primeira ruptura da política monopolista do sal estabelecida pela

Metrópole Portuguesa (FERNANDES, 1995).

Essa ruptura, seguindo uma explicitação que leva em conta a

compreensão “das partes para o todo e vice-versa para explicar a totalidade do

período”, Virgínia Raul (1956, p.12) nos ajuda a entender parte desse evento

quando, em Portugal, no final do século XVIII ocorre a decadência da salicultura,

devido ao incremento das indústrias locais de conservação de peixe em azeite,

associada à ascensão da cultura de arroz, a qual era mais lucrativa, bem como o

uso de sistemas de refrigeração (RAUL, 1956, p.42).

Desta forma, em 1758, a coroa portuguesa estabelece um alvará

permitindo a extração do sal existente na colônia apenas para o consumo. No

entanto, de acordo com esta normatização, a exportação de sal foi proibida, sob

pena de multa e perda da embarcação carregada do produto (CASCUDO, 1982).

Este alvará delimitou a exploração de sal na colônia brasileira sob os rígidos moldes

estabelecidos pela norma da Coroa Portuguesa. Durante esse período não há uma

produção salineira racionalizada no atual território do Rio Grande do Norte.

Para Dowbor (2009, p.77), as atividades econômicas internas

desenvolvidas no território colonial foram bloqueadas pela dominância das

atividades externas e por um decreto da metrópole instituído em 1785, o qual proibia

o desenvolvimento de manufaturas, destacando-se a indústria têxtil, a qual, na

segunda metade do século XVIII, com o crescimento do mercado consumidor a

partir do advento da mineração, se tornava expressiva no cenário colonial. Caio

Prado Jr. (2004, p.107), explica que:

Temendo por motivos políticos o desenvolvimento da indústria colonial, e alarmada também com a concorrência que iria fazer ao comércio do Reino, a metrópole manda extinguir em 1785 todas as manufaturas têxteis da colônia com exceção apenas dos panos grossos de algodão que serviam para a vestimenta dos escravos ou se empregavam para sacaria.

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60

A normatização de 1785 buscava reduzir drasticamente quaisquer

atividades que pudessem concorrer com a metrópole lusitana, impactando também

nos processos econômicos internos da colônia. Em 1788, segundo Souza (1985;

2008), o Governo de Pernambuco proibiu a fabricação de carne seca na Capitania

do Rio Grande do Norte, tendo notórias consequências para as salinas potiguares.

A causa dessa restrição foi a falta de abastecimentos das feiras

pernambucanas e baianas e “isso chegou a um estágio em que a capitania potiguar

já produzia tanta carne seca que parecia prejudicar o fornecimento de gado em pé

para o mercado de Recife [...]” (SANTOS, 2010, p.102).

Para Monteiro (2002, p.108) “[...] o governo da capitania de Pernambuco,

argumentando que faltava gado para movimentar os engenhos de açúcar, proibiu o

funcionamento das oficinas potiguares [...]”. Nesse período, a capitania do Rio

Grande do Norte tinha condições excelentes para o florescimento da indústria da

carne-seca, a partir de seu potencial pecuário e as excelentes salinas no seu litoral,

mas que foram estagnadas com as determinações Pernambucanas (MONTEIRO,

2002, p.129).

Ressalta-se que a capitania do Rio Grande do Norte era dependente

administrativamente da capitania de Pernambuco, obtendo a sua autonomia

administrativa em 1817, passando a possuir uma alfândega, o que garantia à recém-

autônoma capitania exportar para o exterior sem precisar de autorização do

governador de Pernambuco (BARROS, 2001, p.21).

Esta situação perdurou por cerca de quinze anos, até que uma nova

conjuntura delineou-se, iniciando modificações profundas na história da colônia

brasileira. Segundo os estudiosos Mayor (1952); Cascudo (1955; 1982); Sousa

(1988); Costa (1991); Fernandes (1995); e Souza (2008), este quadro modifica-se

radicalmente com mais uma normatização advinda da metrópole portuguesa, a partir

do advento do alvará de 24 de abril de 1801, ampliado pelos alvarás de 27 de abril

de 1802 e pelo de 30 de setembro de 1803, os quais extinguem o monopólio do sal

imposto pela metrópole à colônia (SIMONSEN, apud FERNANDES, 1995).

Com a extinção do monopólio, em 1802 há a exploração ordenada das

salinas de Mossoró, Areia Branca, Açu e Macau. É importante enfatizar que é deste

período que Macau ganha notoriedade na exploração do sal, pois, conforme Sousa

(1988, p.96), “A indústria do sal, a partir de 1802 é efetivamente ativada em Macau,

na foz do rio Açu, no Rio Grande do Norte, expandindo-se rapidamente para atender

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a necessidade de abastecer os mercados de Pernambuco e do Centro-Sul”.

O processo de quebra do monopólio português se consolida com a vinda

da família real para o Brasil, em 1808, uma vez que a produção de sal passou a ser

incentivada, tendo em vista a necessidade de abastecimento da colônia, agora sem

acesso à produção portuguesa, com as invasões napoleônicas (COSTA, 1991).

Este período anterior ao ano de 1802 representa o domínio do meio

natural onde, segundo SANTOS (1996, p.135), “[...] o homem escolhia da natureza

aquilo que considerava fundamental ao exercício da vida e valorizava

diferentemente essas condições naturais, as quais, sem grande modificação,

constituíam a base material da existência do grupo”.

E essa ascensão da extração do sal de um meio natural para um meio

técnico, possuía relação com uma nova conjuntura surgida no capitalismo Europeu

desde meados do século XVIII, em especial na Inglaterra, e que gradativamente

influenciaria o espaço mundial nas décadas seguintes.

A partir desta época, uma nova política econômica se dava nos ares do

continente Europeu: o Capitalismo Industrial, formando-se um capital autônomo e

independente do comercial e dedicado exclusivamente à produção manufatureira

(PRADO JR, 2004, p.124).

Segundo Monteiro (2002), a Revolução Industrial de meados do século

XVIII e os conflitos europeus advindos da ascensão de Napoleão Bonaparte no final

do referido século foram relevantes eventos para explicar a crise do sistema colonial

na América Ibérica. Com as inovações técnicas de produção propiciadas pela

Revolução Industrial, ocorreu um aumento da produção de mercadorias e foi

necessária a busca de mercados e de matérias-primas. No entanto, o princípio do

sistema colonial, o monopólio, tornou-se um obstáculo para a expansão do

capitalismo industrial.

Aprofundando esta discussão, de acordo com Santos (1979), uma

inovação vinda de um período anterior ou de uma fase precedente caracteriza uma

modernização. Contudo, para o nascente capitalismo industrial, a modernização não

se completava enquanto não se estabelecesse um comércio livre.

Assim, desde meados do século XVIII, segundo Prado Jr. (2004, p.124) o

capitalismo industrial, o qual possui sua gênese na Inglaterra, esteve voltado contra

os vários tipos de monopólios estabelecidos pelas Coroas Ibéricas. Dessa maneira,

as medidas restritivas estabelecidas pela Metrópole Lusitana a todos os gêneros que

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alimentavam o comércio marítimo, tornando-se, nesse momento, um obstáculo à

nova conjuntura que estava se dando na Europa, em especial aos interesses

industriais ingleses.

Assim, nesse período, estes diferentes eventos de ordem interna e

externa conduzem para o fim do pacto colonial. E no que se refere à exploração do

sal marinho, dois eventos são de grande importância para explicar o início da

exploração das salinas no Brasil, sendo que um destes eventos refere-se ao fim do

monopólio do sal na colônia brasileira (1802) e o segundo evento refere-se à

abertura dos portos, com a chegada da família real portuguesa (1808).

Esses eventos se tornam mais inteligíveis, pois para o entendimento de

uma realidade é necessário observar “cada coisa como sendo uma parte da

unidade, formando uma totalidade em movimento” (SANTOS, 1985). Assim, as

circunstâncias internacionais ajudam a entender o fim das restrições impostas pelo

pacto colonial.

Conforme apontado anteriormente, o líder francês Napoleão Bonaparte

entrou em confronto com distintas monarquias absolutistas após a Revolução

Francesa (1789). Para ampliar o poderio francês, decretou um bloqueio continental

contra a Inglaterra, a fim de dificultar o comércio e a nascente indústria daquele país.

No ano de 1807, Bonaparte ocupa e invade Portugal, deixando a nação

lusófona numa situação em que:

Caso atendesse às exigências de Napoleão, rompendo com a sua secular aliada, a Inglaterra, perderia seu império e, se mantivesse a sua aliança com os britânicos, contrariando o imperador dos franceses, seria ocupado por sua ordem (ANDRADE, 2007, p.123).

Como consequência deste avanço francês sobre o território de Portugal,

houve a migração da corte portuguesa e toda a sua máquina administrativa para a

colônia brasileira em 1808. Esse evento representou o inicio do término do sistema

colonial, pois houve a abertura dos portos da colônia brasileira para as “nações

amigas”, o que beneficiava a Inglaterra e destituía o monopólio lusitano sobre o

comércio da colônia brasileira.

A abertura dos portos em 1808 consolidava o término do monopólio

português sobre o comércio de sal. E segundo Sousa (1988, p.45), consolidou a

expansão da indústria extrativista salineira no Brasil e resultou na ativação do

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comércio devido à liberdade de exportação do sal da região Nordestina para as

demais regiões do país.

Neste mesmo período, dadas as possibilidades de exportação da

produção salineira, ampliavam-se as reivindicações por autonomia da capitania do

Rio Grande do Norte em relação à capitania de Pernambuco, a fim de facilitar as

relações comerciais internas e externas, além da isenção de impostos.

E essa autonomia administrativa ocorre após a Revolução Pernambucana

de 1817, onde também há a criação da Alfândega na capitania do Rio Grande do

Norte, na cidade de Natal. Para Monteiro (2002, p.133), é com esse evento que

ocorreu a abertura do comércio potiguar com outras regiões e nações, como a

Inglaterra.

A abertura dos portos levava à ampliação do fluxo de embarcações lusas

e estrangeiras em importantes centros comerciais da colônia, como Belém, São Luis,

Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Em 1810, portanto dois anos após a abertura dos

portos, o fluxo de navios estrangeiros chega, praticamente, a 27% dos navios que

entraram no porto do Rio de Janeiro (FAUSTO, 2010, p.67).

Nesse período, o Brasil colônia já necessitava do abastecimento dos

gêneros básicos para a população que estava povoando o território, pois conforme

Fausto (2010, p.75), “os habitantes já não se arrastavam como „caranguejo‟ pelo

litoral, embora a porcentagem da população localizada na faixa litorânea chegava a

70%”.

A população, portanto, ainda se concentrava no entorno das áreas

litorâneas. No entanto, o ciclo econômico minerador do século XVIII, associado à

expansão da pecuária neste mesmo período, levavam à expansão para outras áreas

além do litoral, como o Recôncavo Baiano e na Zona da Mata Nordestina (SANTOS,

1993, p.19).

E estes processos de expansão territorial, associados a um incremento

populacional neste início de século XIX, levam a um maior incentivo da produção

salineira, devido à necessidade de abastecimento da colônia e o fim da exportação

do sal português. Neste incentivo à produção salineira há o desenvolvimento de

técnicas mais avançadas, superando o rudimentar alguidar (SOUSA, 1988, pag.46).

Segundo Manoel Correa de Andrade (1995), após a independência

brasileira, em 1822, portanto no período imperial, há a gênese da construção das

salinas, em função do crescimento da demanda por sal e pela insuficiência da

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produção nacional para abastecer tal mercado. O autor nos mostra a técnica de

construção das salinas

[...] os empresários passaram a construir tanques que separavam áreas de maré, abrindo comportas durante a maré alta, quando os tanques eram invadidos, e fechando-as para que as águas não se escoassem quando a maré baixasse, em seguida passaram a dinamizar o processo, introduzindo cata-ventos que elevavam a água da superfície estuarina para os „cercos‟, evitando a presença da maré e limitando e controlando a água que pretendia utilizar na sua produção (ANDRADE, 1995, p.34).

No entanto, até o fim do período monárquico (1889), de acordo com

Ademir Araújo da Costa (1991) a indústria de extração de sal do Rio Grande do

Norte teve um desenvolvimento insuficiente, uma vez que sua produção limitou-se

ao consumo humano e animal. Embora houvesse um avanço técnico na produção

em relação ao período colonial, com a superação do modelo baseado na utilização

do alguidar, o molde implantado para a extração de sal ainda não atendia

suficientemente as demandas internas e, principalmente, as externas por sal

marinho.

No que se refere à produção salineira a partir do século XIX, a mesma era

caracterizada pelas técnicas artesanais e pelo grande uso de mão-de-obra. O sal

era extraído manualmente com auxilio de ferramentas de trabalho como a chibanca,

a enxada, a pá e o caixão de madeira (COSTA, 1991).

É importante ressaltar que, nos depósitos salineiros, o sal aflorava

naturalmente, sendo extraído, até o final do período colonial, ainda pelo alguidar

(SOUSA, 1988; COSTA, 1991). Com o fim do monopólio e a crescente demanda do

sal na colônia, houve mudanças nas formas de capturar a água da maré durante as

cheias, com a introdução de trabalhadores e instrumentos como, a alavanca, pá ou

enxada e o caixão de mão. Além disso, também eram usadas barcaças para

transportar o sal das salinas para os navios.

Todos estes processos relativos à produção do sal, embora ainda não

muito distante do processo rudimentar do alguidar do período colonial, pode ser

apontado como um avanço técnico. No entanto, autores como Costa (1991),

Fernandes (1995) e Andrade (1995), reconhecem que até a segunda metade do

século XX não ocorreram mudanças significativas no processo de produção do sal.

Para os autores supracitados, a modernização das salinas do Rio Grande do Norte

se deu após os anos 1960, por condições exógenas, frutos da conjuntura que o

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Brasil estava assistindo, como será visto posteriormente.

Aprofundando o contexto salineiro e as interrelações com a economia

potiguar, cabe apontar que o governo provincial criou diversos tributos sobre as

atividades produtivas, com fins de criar uma receita para as despesas da província

do Rio Grande do Norte (SANTOS, 2010).

Assim, são instituídos tributos para o sal, o gado, a lavoura, o açúcar, o

pescado e de outros produtos que formavam o aparelho produtivo do Estado. É

importante frisar que os tributos sobre os produtos citados também estiveram

presentes no período colonial, quando um tratado com a Inglaterra é estabelecido

em 1810, no qual havia notórios benefícios aos ingleses, pelo fato de os produtos

fabricados naquele país e ingressantes na colônia possuírem um imposto de 15% de

seu valor declarado, enquanto os produtos de outras nações amigas e mesmo de

Portugal entravam sob o imposto, respectivamente, de 24% e 16% (SANTOS, 2010).

Essa situação dificultou as intenções de industrialização idealizadas por

Dom João VI, então monarca português, em troca de proteção contra as invasões

Napoleônicas. Paralelamente, ampliam-se as necessidades a partir do crescente

incremento populacional (SANTOS, 2010).

E as técnicas mais avançadas do período, como a utilização do recém-

desenvolvido vapor ganham força na manufatura de diversos produtos, como a

cana-de-açúcar, a qual já utilizava o vapor desde a década de 1820 (SANTOS,

2010, p.175). Na província do Rio Grande do Norte, a utilização do vapor na

produção açucareira foi ativada, segundo Medeiros (1973, p. 71) a partir de 1845,

nos vale dos Rios Ceará–Mirim, Rio Cunhaú e Rio Curimataú.

Sobre o desenvolvimento de outras atividades industriais, como a

metalurgia, enquanto, na Europa, havia um maior desenvolvimento da mesma, com

novos fornos, utilização do vapor e a obtenção do ferro fundido para a indústria

bélica e naval da época, no Brasil imperial a metalurgia ainda utilizava a técnica

conhecida como “forjas”, onde a técnica era a redução do minério de ferro por meio

do carvão vegetal em fornos de pequenas dimensões localizados no atual estado de

São Paulo e no Maranhão (LANDGRAF, 1994, p.111).

Apesar do desenvolvimento pleno da metalurgia no Brasil ocorrer apenas

plenamente após a segunda metade do século XX, alguns avanços na indústria

siderúrgica brasileira podem ser representados pela difusão das pequenas forjas e

fundições, em especial as que levaram ao nascimento da indústria naval no território

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brasileiro (LANDGRAF, 1994, p.113).

Evidencia-se que o período pós-independência leva a constituição por

meio dos circuitos comerciais no território brasileiro, de acordo com a demanda

interna e externa, começando a presenciar condições técnicas para o seu uso. A

história econômica do referido período demonstra, no entanto, que as realizações da

produção, circulação e comercialização encontravam-se sob as mínimas condições

técnicas, as quais eram maiores para as nações europeias, situadas no centro do

sistema capitalista (ARROYO, 2010).

Ainda segundo Arroyo (2010, p.105), é a base material que dá as

condições para as mercadorias circularem, isto é, os sistemas de objetos técnicos.

Assim, sobre os objetos técnicos ligados aos fluxos, desde o período colonial e

ainda durante boa parte do período imperial, havia o predomínio da comercialização

por via fluvial, marítima e terrestre, o qual neste último, no entanto, possuía maiores

dificuldades para a sua difusão pelo território até então.

Sobre a comercialização por meios fluviais, as condições basilares eram

garantidas por meio dos rios navegáveis que ligavam o interior ao litoral. No que se

refere ao meio marítimo, o qual predominava neste período, em nossa costa

litorânea existia um fluxo de embarcações entre as regiões do Norte e Sul, sendo

conhecido por cabotagem.

Por via terrestre, no entanto, as condições não eram favoráveis. Segundo

Katinsky (1994, p.73) “os caminhos terrestres eram derivados, em grande parte, das

veredas e picadas dos índios e mamelucos, sendo estradas de terras”. Ainda sobre

a temática, Vargas (1994, p.140) destaca que até a segunda metade do século XIX,

a maior parte das estradas brasileiras eram “[...] caminhos de terras com cerca de 4

metros de largura, simplesmente raspadas no terreno e sem drenagem,

atravessando os rios, permitindo apenas o tráfego de cavalos, burros e carros de

boi”.

Entretanto, com as novas dinâmicas econômicas no território brasileiro no

período imperial, há um notável incremento nas estradas de rodagem a partir da

segunda metade do século XIX. Desta forma, o território brasileiro já contava com

uma extensão de 400 km de estradas pavimentadas com macadame, um processo

de revestimento de estradas que correspondia a uma composição de pedras

britadas e areia, submetida à forte compressão (VARGAS, 1994, p.140; ATLAS DO

TRANSPORTE, 2006).

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No contexto potiguar, as condições de surgimento das estradas não foram

diferentes do citado acima. As estradas surgiram, segundo Medeiros (1973, p.143),

seguindo as velhas trilhas dos comboios de animais, carretas e carros de bois que

realizavam os transportes de mercadorias e pessoas entre a capital e o interior,

entre cidades, vilas e povoados. As primeiras estradas de rodagem pavimentadas só

surgiriam a partir de meados do século XX.

É interessante apontar que muitas estradas ainda existentes, mesmo

depois de pavimentadas, seguiam os caminhos traçados ainda no período colonial e

imperial, mesmo com o desenvolvimento de melhores técnicas para terraplenagem e

traçado de estradas, segundo Souza, (2008, p.89).

Na questão da transposição de obstáculos de curso d‟água, durante todo

o período colonial, foram usadas pontes de madeira. No entanto, a partir do século

XIX, com a evolução para um meio técnico em sobreposição ao meio natural, as

pontes são produzidas com materiais mais resistentes. E nos centros urbanos e vilas

mais importantes do império brasileiro passa a ser utilizada a pavimentação por

calçamento com rochas, como a estrada real, que ligava Minas Gerais ao Rio de

Janeiro, e o caminho calçado da região açucareira paulista ao porto de Santos.

E essas técnicas de ligação terrestre se tornaram ainda mais

aprofundadas pelo uso do trem a vapor, a partir da segunda metade do século XIX,

o qual liga os centros produtores de Café, açúcar, minérios e outros aos portos,

como Santos/SP e Rio de Janeiro. O sistema de transporte ferroviário correspondia

a um projeto do poder imperial brasileiro, sendo uma consequência da economia

cafeeira, servindo como elo de articulação entre os espaços agrícolas produtivos e

os portos, que garantiam a exportação para o mercado externo (ANDRADE, 2007,

p.152).

A utilização do trem a vapor representou uma aceleração dos usos no

território, sendo um sistema técnico que garantiu a fluidez necessária para as

distintas atividades econômicas no território. Assim, a construção das estradas de

ferro pelo Visconde de Mauá (1854), a partir da Estrada de Ferro D. Pedro II (1854),

a primeira do país, além da produção de um trabalho intitulado “O Futuro das

Estradas de ferro no Brasil”, pelo presidente da Companhia, Cristiano Ottoni (1857),

representaram eventos relevantes para a evolução viária brasileira (FERNANDES,

1995, p. 14).

Nas décadas seguintes há a ampliação das ferrovias a vapor,

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destacando-se a presença das companhias São Paulo Railway Co. (1867), Ituana

(1870) e Mogiana (1872), levando as ferrovias paulistas, que essencialmente

serviam para a produção cafeeira, a constituirem aproximadamente a metade do

sistema ferroviário nacional construído no século XIX. Segundo os dados

apresentado por Katinsky (1994, p.59), de 1850 a 1890, foram construídos 9.972 km

de estrada de ferro.

Sobre o movimento ferroviário no Nordeste, há maior relevância apenas

no final do século XIX. Na então província do Rio Grande do Norte, as estradas de

ferro foram iniciadas neste mesmo período. Assim, em 1890, no final do período

imperial, havia apenas 121 quilômetros de estradas de ferro, as quais eram

administradas pela companhia inglesa The Great Western For Brazil Railway

(CASCUDO, 1982).

Essa relevância das estradas de Ferro é reforçada pelo trabalho de Nícia

Vilela Luz, intitulado “A Luta pela Industrialização do Brasil” (1961), onde a autora

aponta que a ampliação do consumo de mercadorias estrangeiras no território

brasileiro se deu pela presença do desenvolvimento técnico, advindo das estradas

de ferro, além da instalação de linhas telegráficas. Os dados da tabela 2

apresentados pela autora, os quais serão vistos a seguir, demonstram como o

território brasileiro estava inserido neste desenvolvimento técnico ferroviário.

Tabela 2 – Extensão construida da rede ferroviária no território brasileiro entre

1854-1890 (em km)

ANO EXTENSÃO (Km) 1854-1860 128 1860-1865 312 1865-1870 294 1870-1875 1264 1875-1880 1288 1880-1885 3778 1885-1890 2908

TOTAL 9972 Fonte: Luz (1961)

Ainda sobre os objetos técnicos relacionados aos fluxos econômicos no

território brasileiro nesse período, cabe destacar que os sistemas de distribuição de

água, de coleta de esgotos e captação de águas pluviais eram praticamente

inexistentes nas cidades brasileiras.

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Mesmo nas principais cidades onde existia uma grande dinâmica

comercial ou administrativa, havia esta notória ausência da infraestrutura basilar de

água e tratamento de esgoto, havia uma reduzida contribuição dos engenheiros

brasileiros no período inicial da implantação de nosso sistema de abastecimento de

água e coleta de esgoto. Segundo Vargas (1994, p.109), é apenas no ano de 1896

que surgiriam as primeiras cadeiras (disciplinas) ligadas a saneamento básico, no

curso de Engenharia Civil, na então Escola Politécnica, a qual, décadas mais tarde,

seria absorvida pela Universidade de São Paulo - USP.

No que se refere ao abastecimento energético das cidades brasileiras, as

condições não eram diferentes das citadas acima, ou seja, a presença da energia

hidrelétrica ocorria em pontos isolados, apenas nas principais cidades. No final do

século XIX surgem as primeiras usinas hidrelétricas para fins de iluminação,

mineração e indústria têxtil. No entanto, é apenas em 1901 que as grandes usinas

hidrelétricas apareceram no cenário brasileiro, como a de Santana de Parnaíba/SP,

com uma capacidade energética inicial de 3.000 MW (VARGAS, 1994, p.110).

Essas condições roladas acima demonstram como o território brasileiro

estava equipando-se de objetos técnicos para seus diversos usos sob as atividades

econômicas presentes no momento, embora ocorresse a inserção destes objetos

sob um viés concentrador, servindo quase que exclusivamente para as atividades

econômicas mais dinâmicas.

Desta maneira, o território brasileiro foi sendo constituído pela

implantação das infraestruturas, em especial neste período imperial. Segundo

Santos e Silveira (2001, p.33), esses objetos técnicos acima destacados podem ser

considerados como a “[...] constituição dos primeiros sistemas de engenharias no

território brasileiro”.

Merece notoriedade, nesta perspectiva de articulação dos usos técnicos

sobre o território, a fim de ampliar as atividades produtivas, os incrementos dos

índices demográficos, os quais também auxiliaram a explicar os diversos usos que

estavam acontecendo no território brasileiro.

De acordo com Linhares (1990), a partir de um extenso levantamento

realizado pelo autor no que se refere aos censos demográficos ou contagens

populacionais, em 1820, o Rio Grande do Norte apresentava uma população de

70.921 habitantes, distribuídos entre pessoas livres e escravas. Com um pouco mais

de cinquenta anos após este primeiro levantamento populacional, o primeiro grande

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recenseamento populacional promovido pelo império brasileiro, no ano de 1872, a

população potiguar contabilizava um total de 233.979 habitantes distribuídos entre

livres e escravos.

Nesse mesmo ano, o território brasileiro possuía uma população de

10.112.061 habitantes, e densidade demográfica de 1,20 habitantes por km2, com

boa parte de seus habitantes vivendo no litoral, em especial no litoral do Nordeste e

Sudeste.

A região Nordeste, onde o Rio Grande do Norte estava situado, possuía

quase a metade da população brasileira da época, com 4.708,160 habitantes, com

uma densidade demográfica de 3,08 habitantes por km2. E a região Sudeste, onde

se situava a capital do império (Rio de Janeiro), possuía 4.116,756 habitantes, com

uma densidade demográfica de 4,42 habitantes por km2, correspondendo a 40,7%

da população total (RECENSEAMENTO DO BRASIL, 1872 apud LINHARES, 1990).

E ainda sobre o incremento populacional potiguar no século XIX, o

mesmo também pode ser explicitado pelo crescimento da produção salineira.

Segundo Morais (1998) e Barros (2001), é neste contexto que surge o município de

Macau/RN, quando, no ano de 1829, há a migração dos moradores da Ilha de

Manoel Gonçalves para a futura cidade de Macau/RN, situada na porção continental,

ainda às margens do Rio Açu.

Nessa época, havia um porto na ilha de Manoel Gonçalves, situado na foz

do Rio Açu, uma das principais áreas para a exploração do sal marinho no Rio

Grande do Norte, existente desde o inicio do século XIX. Este porto, utilizado pela

Companhia Pernambucana de Navegação para o abastecimento do sal extraido das

Salinas da região e a respectiva navegação de cabotagem no litoral brasileiro,

serviria como base territorial para a criação do futuro município Macauense

(MOURA, 2003, p.135).

Ainda segundo Getúlio Moura (2003, p.138), no seu livro “Um Rio Grande

e Macau – uma cronologia da história geral” indica que o porto de Macau/RN estava

a 15 quilômetros da atual sede municipal, num distrito atualmente denominado

“Lamarão” onde todo carregamento do sal era realizado por veleiros e barcaças para

os navios ancorados.

De acordo com Morais (1998, p.142), em seu livro “Terras Potiguares”,

“impulsionado pela grande produção de sal, Macau foi desmembrado de Angicos e

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71

tornou-se um novo município potiguar, no dia 2 de outubro de 1847, de acordo com

a lei de número 158”. E em 09 de Setembro de 1875, o município recebe o titulo de

cidade pela lei n° 761, consolidando sua relevância no espaço Potiguar. É relevante

apontar que a província possuía apenas 12 cidades no final do período imperial,

sendo Macau uma destas cidades (ANDRADE, 1995).

Também pode ser apontada como fator relevante para o surgimento do

município de Macau a gênese das “indústrias” de carne seca no sul do país. O Rio

Grande do Sul possuía condições ideais para a indústria de carne seca: gado e

carne suficiente, porém só faltava o sal, indispensável para o preparo e conservação

da carne seca e de couros (ELLIS, 1955).

Com a liberdade do comércio do sal e a abertura dos portos, aprofundada

com a emancipação administrativa da então capitania do Rio Grande do Norte em

1817, cresceu o circuito comercial de matéria-prima indo abastecer esta nova

atividade econômica que estava florescendo no Rio Grande do Sul (ELLIS, 1955).

Assim, estes fluxos econômicos citados, associados ao abastecimento

dos portos de Pernambuco, da Bahia, além da notória “indústria” de charque do

cearense Jose Pinto Martins, ampliavam a relevância da produção salineira de

Macau para a economia potiguar (SANTOS, 2010, p.184).

Ainda segundo Santos (2010, p.186) a ascensão de navios a vapor em

meados do século XIX, como a Companhia Pernambucana de Navegação Costeira,

a qual foi “em 1853, a primeira companhia que fez o serviço regular de cabotagem

potiguar” (CASCUDO, 1982, p.316), demonstrava a importância do porto do

município de Macau/RN para a crescente produção salineira no território brasileiro.

Embora a indústria salineira potiguar apresentasse um notório progresso

no que se refere às relações econômicas com outras provinciais do império

brasileiro, no que se refere às técnicas produtivas, não ocorreram muitos progressos

no decorrer do século XIX. De acordo com Costa (1991) e Fernandes (1995), até o

final da segunda metade do século XIX as salinas se desenvolveram conforme duas

condições: o consumo animal, humano e a passagem de navios estrangeiros.

A produção salineira variava de acordo com as condições naturais. Em

anos que houvesse uma menor pluviosidade em Macau, a produção era ampliada,

havendo o inverso em períodos com maior pluviosidade. Essa situação pode ser

mais bem visualizada na pesquisa de Duarte (1942), o qual analisou dados por ele

obtidos relativos ao período de 1851 a 1860, onde fica evidente esta variação da

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produção de acordo com este contexto natural. Assim, fica evidente que, até

meados do século XIX, ainda havia uma transição entre um período essencialmente

natural para um período técnico, no que se refere à exploração do sal.

Tabela 3 – Exportação salineira em Macau no período 1851-1860

Fonte: Duarte, 1942

Ainda sobre a produção salineira, fica evidente que a organização inicial

dos trabalhadores das salinas no estado do Rio Grande do Norte, segundo Souza

(2003, p.41) “[...] refletiam a lenta evolução do setor”. No decorrer do século XIX,

ainda não havia organizações profissionais relativas às salinas. Entretanto, em 1880,

é organizada a Associação Operária de Macau/RN, a qual possui uma atuação

direta relativa às questões trabalhistas salineiras. No ano de 1892, doze anos após a

fundação do sindicato, o município de Macau/RN foi palco da primeira greve do

estado do Rio Grande do Norte. Os salineiros da Companhia de Salinas Mossoró-

Açu paralisaram suas atividades por três dias (SOUSA, 2003, p.43).

O processo de produção salineiro, durante todo o século XIX, conforme

observado, era ainda rudimentar, sem grande difusão técnica, requisitando, assim,

um grande contingente de trabalhadores, os quais possuíam longas jornadas

trabalhistas, superiores a dez horas diárias. Essa quantidade numerosa de

trabalhadores era essencial para as múltiplas tarefas da produção salineira, uma vez

que o nível tecnológico precário recorria para essa situação (SOUSA, 1988).

Sobre as tarefas necessárias para a produção salineira, as técnicas de

trabalho eram, conforme destacado anteriormente, bastante rudimentares. Os

salineiros usavam a alavanca, a pá ou a enxada e o caixão de madeira.

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No que se refere à alavanca, a mesma era apontada como “o primeiro

instrumento de intermediação entre o operário e a matéria-prima [...]” (FERNANDES,

1995, p.54), sendo usada para o afofamento ou abatimento no cristalizador nas

salinas. Sobre a pá ou a enxada, as mesmas eram usadas na lavagem do sal,

realizada na própria área do cristalizador. Ainda sobre os objetos técnicos utilizados

nas salinas durante o século XIX, o caixão de madeira era usado para o transporte

do sal dos cristalizadores para os aterros localizados nas margens das salinas.

Em relação às técnicas usadas para o transporte da água do mar para as

salinas, fundamental para a “colheita do sal” nos primeiros momentos, os salineiros

trabalhavam conforme as enchentes da maré, obedecendo aos ritmos da natureza.

Logo em seguida, os produtores de sal construíram barragens, podendo armazenar

e alimentar outras etapas das salinas, tornando as salinas independentes das

sucessões de marés. Mas outros avanços técnicos só ocorreram efetivamente a

partir do século XX, como poderá ser visualizado adiante (FERNANDES, 1995).

Embora houvesse estes avanços técnicos, se comparado com o período

anterior, com amplo domínio do meio natural e a superação de um modelo de

exploração salineira composto pelo alguidar. E segundo Ademir Araújo da Costa

(1991, p.46), as inovações técnicas introduzidas no processo de produção salineiro

levaram “[...] apenas à substituição de um instrumento por outro permanecendo a

tradicionalidade do modo de produção do sal no Município de Macau/RN”.

Desta maneira, durante o período imperial, a indústria de extração de sal

do Rio Grande do Norte pouco se desenvolveu, tendo em vista sua produção limitar-

se apenas ao consumo humano e animal, sendo estes bastantes incipientes.

A partir de 1889, com a ascensão republicana, ocorre uma mudança na

política industrial de extração do sal potiguar. Conforme será visualizado no capítulo

a seguir, esta data representa um relevante marco temporal na organização política

nacional, com a proclamação da República, em 15 de novembro (FAUSTO, 2010).

Logo após a instituição do regime republicano, a 26 de novembro, há o

estabelecimento de um regime monopolista, com a organização, no Rio de Janeiro,

da Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu. Esta empresa objetivava a

exploração de sal no Estado, a partir da normatização estabelecida pelo recém-

instituído governo republicano, conforme apontado por Costa (1991); Fernandes

(1995); e Souza (2008). Assim, o encerramento do período imperial presencia o

renascimento de um novo monopólio na região salineira potiguar.

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Portanto, ao compreender a produção salineira potiguar num sentido de

totalidade, como um conjunto de elementos que forma um todo, uma unidade e que

uma mudança desses elementos leva a uma nova totalidade (JAPIASSÚ, 2006).

E associado à crescente evolução da produção salineira para um meio

técnico, de acordo com o pensamento de Santos (1996), pode-se deduzir que as

indústrias salineiras do município de Macau/RN, a partir desta monopolização no

final do século XIX, constituíam um princípio de modernização na produção do sal. E

essa situação tornou-se concreta quando uma nova totalidade se deu pela coesão

dos eventos no período do século XX, como será visto no tópico a seguir.

2.2 O PERÍODO REPUBLICANO E O MONOPÓLIO DA EXTRAÇÃO SALINEIRA

A ascensão republicana em 1889 leva a um novo período na conjuntura

salineira brasileira, presenciando um novo monopólio, concedido a uma empresa do

Rio de Janeiro para explorar as salinas do município de Macau/RN. Descrevendo

mais profundamente esta situação, Souza (2008. p.38):

Através do decreto n° 10.413,/1889, há uma concessão a Antonio Coelho Ribeiro de Roma, para a exploração de salinas nos terrenos devolutos compreendidos entre as margens dos rios Mossoró e Água-Mãe pelo prazo de trinta anos. A companhia Nacional de salinas Mossoró-Açu foi a empresa executora da Concessão de Roma (SOUZA, 2008, p.38).

A partir desta normatização regulamentada pelo recém-criado regime

republicano brasileiro houve a permissão para essa empresa explorar salinas nos

terrenos devolutos, compreendidos entre as margens dos rios Mossoró e Água-Maré

(rio Açu), pelo prazo de trinta anos. O governo criou assim a denominada

“Concessão Roma”, nomenclatura utilizada pelos pesquisadores Costa (1991) e

Souza (2008), pelo fato da direção da empresa pertencer a Antonio Coelho Ribeiro

Roma. Essa concessão dava direitos exclusivos a essa empresa para dispor de

todos os terrenos de marinha existentes na área compreendida entre as margens

dos rios Mossoró e Água-Maré (rio Açu), podendo, obviamente, explorar o sal ali

produzido.

Dispondo de muito capital e embarcações e usando o pretexto de

concessão, a empresa não permitia a existência de qualquer concorrente em sua

área de exploração, adquirindo, por preço irrisório, as salinas que aí existiam,

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caracterizando assim mais uma vez a monopolização da produção salineira potiguar

(COSTA, 1991).

O monopólio sobre o sal potiguar se concretiza após oito anos daquela

data, durante o governo republicano do governador Ferreira Chaves (1896-1900).

Como explicitado anteriormente, a companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu

possuía condições técnicas e capitais, uma vez que conseguiu transformar o cenário

salineiro potiguar por meio das compras das salinas e de sua concorrência.

Segundo Moura (2003, p.177), essa companhia adquiriu varias salinas

do município de Macau e iniciou o transporte do sal marítimo, consolidando a

passagem da produção salineira de um meio onde ainda havia fortes resquícios do

meio natural para um meio técnico, com maior modernização produtiva.

A modernização ocorrida em alguns pontos do circuito produtivo salineiro,

exemplificada pela larga utilização de barcas maiores para o transporte do sal, no

início do período republicano, acompanhou alguns avanços produtivos que o Brasil

presenciou, configurando uma nova totalidade em seu território, relativa à

mecanização do seu território. E para entender as mudanças salineiras neste final

de século XIX e início do século XX, torna-se relevante compreender o contexto

territorial brasileiro daquele período.

Contudo, para Santos e Silveira (2001, p.36), essa situação não se deu

por igual em todo o território brasileiro, verificando uma distinção entre as áreas,

entre as regiões, em função da extensão e densidade desse novo meio geográfico.

Para Santos, o período compreendido entre o início do século XX até a eclosão da II

Guerra Mundial foi apontado como sendo um período de transição, com eventos que

indicavam a consolidação do processo de mecanização do território, superando o

“Brasil arquipélago” e consolidando um processo de integração territorial do país.

Dentre estes eventos apontados neste periodo transitório, segundo

Santos e Silveira (2001, p.37), destacam-se a urbanização do interior do país, o

aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e a utilização da

energia elétrica para abastecer as demandas geradas pela urbanização,

determinando “[...] o momento da mecanização do território brasileiro e também da

sua motorização [...]” (SANTOS, 1993, p.38).

Sobre a urbanização brasileira no início do século XX, a população do

território brasileiro já contava com 17.318.556 habitantes distribuídos pelas cinco

regiões brasileiras, com mudanças no que se refere à distribuição populacional. A

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região Sudeste superava a Nordestina em número de habitantes, contabilizando

7.704.133 habitantes, enquanto a região Nordeste contabilizava 6.749.507

habitantes (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1900 apud LINHARES, 1990).

A ampliação da produção cafeeira no Sudeste auxiliou enormemente

neste incremento populacional. Também ficava evidente o crescimento populacional

das demais regiões, as quais já contabilizavam cerca de 4 milhões de habitantes

(ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1900 apud LINHARES, 1990).

Aprofundando esta discussão, sobre o contexto produtivo deste período, o

território brasileiro encontrava-se numa situação dependente de economias

primárias exportadoras como o café, a borracha, o cacau, o açúcar, o algodão e o

ouro, identificando cada região conforme o seu circuito comercial, num quadro de

dependência de produtos primários não muito distinto do período colonial e imperial

(FAUSTO, 2010).

Reforçando esta afirmação, de acordo com o economista Ladislau

Dowbor (2009, p.43), essa situação pode ser interpretada como uma estrutura

econômica essencialmente herdada da fase colonial. Segundo o economista o

conjunto da estrutura econômica, a escala de produção, o tipo de produto e as

relações de produção haviam sido gerados em função de necessidades externas à

colônia.

E esta pluralidade de produtos primários, segundo Baer (1966, p.5) levou

ao fato de cada produto primário desses ocasionar o desenvolvimento de uma

diferente região no Brasil, em ritmos distintos, de acordo com as exigências de uma

maior ou menor utilização de cada um destes produtos.

Segundo Andrade (2007, p.188), “[...] cada região, com seu porto, estava

voltada para o exterior, para onde enviava produtos primários e de onde recebia

produtos manufaturados, mantendo pequenas transações comerciais com as outras

regiões do país”. E estas relações citadas, de forma fragmentada e dispersa pelo

território, reforçavam o “Brasil Arquipélago”.

Sobre esse quadro do “Brasil Arquipélago”, este começa a ser

desconstruído já em fins do século XIX, com o avanço cafeicultor, tornando o Café o

grande produto de exportação brasileiro, e a consequente difusão de técnicas

avançadas para o crescimento da cafeicultura no período em questão, como o uso

do trem a vapor, já citado anteriormente no presente trabalho. Desta forma, há uma

maior necessidade de técnicas que integrem com maior fluidez a produção, a

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distribuição e o consumo, tornando necessário, portanto, uma maior integração do

território brasileiro.

Esse incremento técnico, em especial na cultura cafeeira, associado à

extinção da escravatura, levou à ampliação das necessidades por mão-de-obra,

gerando um notório crescimento na migração de trabalhadores europeus para o

Brasil e a formação, ainda incipiente, mas crescente, de um mercado consumidor,

estimularam o aparecimento da pequena indústria no território brasileiro, em

especial no sudeste cafeicultor. Surgem, assim, as primeiras indústrias ligadas a

bens de consumo, de alimentos, têxtil, de confecções, de calçados, etc. (FAUSTO,

2010).

Assim, esses processos técnicos, econômicos e sociais, levam a um

crescimento da população no decorrer das primeiras décadas do século XX. Uma

exemplificação deste processo é a criação de municípios, uma vez que, no início do

século XX, o Brasil contava com 1.120 municípios e quatro décadas depois, o

território brasileiro passava a apresentar 1.669 municípios (LINHARES, 1990).

Ainda este incremento populacional torna-se mais evidente ao observar

que, do início do século XX até a década de 1940, a população no território brasileiro

possuiu um aumento superior a 23 milhões de habitantes, somando uma população

de 41.236.315 habitantes, tornando o Brasil, em 1940, a possuir uma população

quase duas vezes e meia maior que em 1900 (LINHARES, 1990).

Também fica evidente, segundo Linhares (1990) e sua análise dos

anuários estatísticos de 1900 a 1940, a mudança do eixo economico do país, com o

Sudeste se tornando a região mais populosa do país. Segundo o censo de 1940, a

região Sudeste concentrava 44% da população brasileira, com um total de

18.345.831 habitantes e em seguida vinha à região Nordeste com 35% da

população, com 14.434.080 habitantes. As outras regiões possuiam 20,5% da

população, representando um incremento da ocupação de outras áreas além da

ocupação litorânea que predominava no território brasileiro desde o período colonial.

Apesar de o Sudeste possuir a maior população brasileira neste período,

o Nordeste também possuiu um incremento populacional. No início do século XX, a

região Nordeste apresentava uma população de 6.110.234 habitantes e após quatro

décadas, a sua população mais que dobrou, para 14.434.080 habitantes

(LINHARES, 1990).

Trazendo a questão demográfica para a dimensão do estado do Rio

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Grande do Norte, também houve um notório incremento, segundo os dados de

Linhares (1990). No início do século XX, o estado potiguar apresentava uma

expressão demográfica de 274.317 habitantes. No censo de 1940 já contava com

uma expressão de 773.018 habitantes, ou seja, quase três vezes superior à

existente em 1900.

Desse total, o estado do Rio Grande do Norte tinha 169.248 de população

urbana e, na sua zona rural, 603.770 habitantes, o que leva a concluir que o estado

ainda apresentava um caráter rural. E Macau se destacava neste quadro

demográfico, sendo a segunda maior cidade do estado em população, possuindo,

em 1900, 11.236 habitantes, e, em 1940, 19.644 habitantes, possuindo uma

população inferior apenas a Natal, capital do estado, a qual possuía 54.836

habitantes (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1940 apud LINHARES, 1990).

Esse quadro demográfico apresentado acima demonstra a relação direta

entre o incremento populacional com o crescimento da base técnica no território

brasileiro. Assim, ao discutir sobre outra vertente dos sistemas técnicos, denominado

por Fábio Contel (2001), como sistemas de movimentos, diretamente ligados à

fluidez, fica ainda mais evidente esta relação.

Assim, a década de 1850, conforme observado anteriormente na presente

pesquisa, é um relevante marco temporal para o crescimento dos sistemas de

movimento ferroviário e marítimo (navegação de cabotagem), ampliando a fluidez

nas direções latitudinais e longitudinais no território. De acordo com Monteiro (1990,

p.308), no entanto, apesar de uma evidente expansão da rede ferroviária, em termos

absolutos, a mesma não cobria o território brasileiro como um todo, mas apenas as

áreas com maior dinâmica produtiva, servindo como fluxo das mercadorias

produzidas nas áreas cafeicultoras do sudeste em direção aos portos, como

Santos/SP e Rio de Janeiro.

Desta forma, era difícil a comunicação terrestre entre as áreas produtoras

do interior e os centros consumidores devido à grandeza do território, regiões pouco

povoadas e os terrenos montanhosos em grande parte do território nacional. Em

1910, os estados de Goiás, Piauí e Sergipe não possuiam estradas de ferro

(MONTEIRO, 1990, p.312).

Conforme apontado anteriormente, a expansão da malha ferroviária era

seletiva, priorizada para atender as economias de exportação, tendo como

norteadora a economia cafeeira. Segundo Andrade (2007, p.185), a expansão da

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malha ferroviária está diretamente relacionada à expansão dos cafezais para o

interior. Dowbor (2009, p.78) amplia a discussão sobre a relevância dos sistemas de

movimento, ao afirmar que a intensificação da exploração da economia dependente

exigiu uma modernização de certas estruturas da produção e uma delas foram os

transportes no território brasileiro.

Como consequência desta priorização da expansão da malha ferroviária,

ficou evidente que a distribuição dos 15.316 km de via férrea em 1900 era

concentrada na região sudeste, a qual detinha 62% deste total (9495 km), com a

região Nordeste possuindo apenas 20,5% (3063 km). Na análise de Monteiro (1990,

p.309), a região Sudeste recebeu mais atenção do governo do que as demais

regiões que formam o território brasileiro, pelo fato de possuir as grandes dinâmicas

produtivas do Brasil de então. E o Rio Grande do Norte possuia apenas 155 km de

extensão ferroviária (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1900 apud LINHARES,

1990).

Apesar do notório crescimento das ferrovias, com os 15.316 km de via

férrea existentes em 1900 saltando para 34.252 km em 1940 instalados, sendo 58%

no Sudeste (20126 km) e 23% no Nordeste (8530 km), essa quantidade tornava-se

insignificante em relação aos 8 milhões de km2 do território brasileiro (MONTEIRO,

1990, p.316), evidenciando que os sistemas técnicos eram constituidos basilarmente

para a reprodução das atividades produtivas dominantes.

Sobre outro notório sistema técnico, relativo à eletricidade, a qual ganha

força em fins do século XIX, a gênese da mesma no território brasileiro ocorre no

estado do Rio de Janeiro, acompanhando a Estrada de Ferro Central do Brasil em

1879. No estado de Minas Gerais, em 1883, há o advento da primeira usina

hidrelétrica brasileira, sendo utilizada para a geração de energia nas atividades

mineradoras (KÜRL, 1994, p. 255).

Apenas no início do século XX que o território brasileiro presenciou uma

maior difusão das usinas geradoras de eletricidade, principlamente as hidrelétricas,

como a de Santana de Parnaíba/SP, com capacidade de 3000 mW (VARGAS, 1994,

p.158).

Entretanto, a difusão desta técnica era bastante lenta e concentrada, uma

vez que apenas 785 cidades possuiam eletricidade, sendo que 55% das cidades

(422) que possuiam energia elétrica estavam no Sudeste, a região que concentrava

a maior parte dos meios técnicos de então, por ser a região com maior dinâmica

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econômica, a partir da difusão da cafeicultura e da nascente industrialização

(VARGAS, 1994, p.172).

No que se refere à situação portuária do Brasil, também se evidencia uma

ampliação nas construções dos portos, em especial a partir das duas últimas

décadas do século XIX. A criação da Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais

(1911) e o estabelecimentos de vários decretos-leis (1934) com fins de arrecadar

capitais para construções e administrações dos portos, em especial dos estados,

são eventos relevantes para compreender as construções portuárias no território

brasileiro (VARGAS, 1994, p.188).

Entre 1900 e 1940, 13 portos fluviais e marítimos iniciaram suas

atividades, sendo a maioria localizada na região Nordeste. Em relevantes cidades

Nordestinas, as quais possuíam, desde o período colonial, apenas pontos próximos

ao Litoral em que um grande navio atracava e barcos menores conduziam as

mercadorias em direção ao continente, estes centros urbanos passam a possuir

instalações portuárias, como Salvador/BA (1914); Recife/PE (1918); Natal/RN

(1932); Cabedelo/João Pessoa/PB (1935), conforme afirma Vargas (1994, p.192).

Em 1940 registrou-se um fluxo de 61.936 embarcações nacionais e

estrangeiras nos portos existentes no território nacional, com certo equilíbrio entre as

regiões Sudeste e Nordeste, com a primeira representando 43% da movimentação

portuária, com 26.632 embarcações, e o Nordeste com 40% desta movimentação,

com 24.774 embarcações. Deste total Nordestino, o Rio Grande do Norte possuia,

em 1940, 14,2% dos fluxos existentes no Nordeste, com 3.715 embarcações nos

portos de Natal, Macau e Areia Branca (VARGAS, 1994, p.195).

A demonstração destes meios técnicos relativos aos sistemas de

movimento ferroviário e marítimo, além das redes elétricas, evidencia a consolidação

do processo de modernização advinda da instalação de objetos técnicos no território

brasileiro (VARGAS, 1994, p.196). Entretanto, apesar da mecanização da circulação

e o início da industrialização, fica evidente a concentração destes processos

técnicos no Sudeste e, em menor medida, no Nordeste, com a mecanização não se

manifestando por igual em todo o território nacional.

Sobre objetos técnicos utilizados nas Salinas, além da técnica de

“barragem das águas das marés”, amplamente difundida para ampliação da

produtividade salineira ainda em fins do século XIX e citada anteriormente na

presente pesquisa, outra técnica aprofunda este aumento de produtividade,

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correspondendo à utilização de “moinhos de vento‟, os quais usam a propulsão

eólica, tornando-se “[...] o primeiro instrumento técnico que o salineiro utiliza para

apanhar a água” da maré (FERNANDES, 1995, p.52).

Nas salinas do município de Macau/RN, os moinhos de vento tornaram-se

relevantes objetos técnicos para a produção salineira, ampliando a sua difusão a

partir de 1910. E a utilização do motor a óleo diesel, após 1930, proporcionou maior

liberdade às salinas sobre as condições naturais, ou seja, não mais dependendo das

oscilações das marés, pois este impulsionava a água da maré (MOURA, 2003).

Além dos avanços técnicos na produção salineira do Rio Grande do Norte

também ampliava a construção de ferrovias. Seguindo uma política de combate às

consequências da seca, em 1906 inicia-se a construção da segunda ferrovia do

estado, a qual ligaria a capital do estado a Mossoró e Macau, sendo, portanto, dois

grandes ramais ferroviários. Também nesta mesma época é renovado o monopólio

do transporte marítimo da Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu, garantindo

o monopólio salineiro da referida companhia (SOUZA, 2008).

Mas a situação de monopólio não garantiu a ampliação necessária da

produtividade salineira, levando aos produtores de Mossoró e Areia Branca,

interessados no domínio das Salinas Macauenses, a pressionarem pela quebra do

monopólio estabelecido há mais de duas décadas (MOURA, 2003).

Assim, em 1912, instalou-se o Sindicato dos Salineiros do Rio Grande do

Norte, com a participação de grandes produtores salineiros dos municípios de Areia

Branca e Mossoró, os quais pressionavam pela abertura comercial em Macau,

argumentando que a Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu não garantia a

produtividade necessária, embora, conforme observado nesta presente pesquisa, a

referida Companhia houvesse implantado alguns objetos técnico para garantir a

maior produtividade, como os Moinhos de Vento (FERNANDES, 1995, p.53).

Também neste mesmo periodo há a continuidade da difusão técnica pelo

território, com a instalação, no ano de 1915, de 214 km de ferrovias. Além disso, há

a abertura de estradas carroçáveis, ação tributária da política da recém-criada

Inspetoria de Obras Contra as Secas, atual Departamento Nacional de Obras de

Combate às Secas - DNOCS. Estas obras reforçaram a estruturação dos sistemas

de movimento ferroviário e rodoviário no território potiguar (MOURA, 2003).

E a presença das estradas de ferro, em especial após a década de 1930,

reduz, inicialmente, a relevância do transporte marítimo no que se refere ao

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transporte de mercadorias, uma vez que o Trem garantia a fluidez e a rapidez neste

deslocamento produtivo, ampliando a circulação e o consumo no território potiguar

(BARRETO, 2005, p.128).

A constituição das estradas de ferro potiguares, as quais foram integradas

às redes ferroviárias Cearenses, Paraibanas e Pernambucanas, proporcionaram um

intercâmbio comercial no interior desses estados ampliando a possibilidade de

transporte de mercadorias como o sal marinho, os quais possuiram maiores

possibilidades de deslocamento produtivo (BARRETO, 2005, p.131).

Retomando a discussão relativa à produção do sal marinho, em 1914,

após pressão dos produtores de Areia Branca e Mossoró, associado a dificuldades

administrativas na Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu levam ao

rompimento da concessão Roma, após 25 anos de sua instituição (COSTA, 1991).

Embora o estado estabeleça um novo contrato, desta vez com a firma

Pereira Carneiro & Cia Ltda, objetivando a instalação de uma usina beneficiadora de

sal no município de Macau/RN, a partir de 1915 foi extinto por completo o monopólio

salineiro. Segundo Itamar de Souza (2008, p.328), com o restabelecimento da livre

concorrência, tornou-se possível a ampliação das exportações de sal Marinho.

Com o restabelecimento da livre concorrência, tornou-se possível a

ampliação da produtividade e da exportação do sal. Os resultados foram altamente

vantajosos para a produção salineira potiguar, uma vez que se tornou possível

ampliar as exportações e, sobretudo, os impostos arrecadados pelo Estado,

tornando o sal a principal fonte de renda do estado neste início de século XX

(SOUZA, 2008, p.332). Esse incremento na produção salineira pode ser verificada

pelo gráfico 1, a seguir.

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Gráfico 1 – Sal exportado pelo Rio Grande do Norte, em quilos, no período

1915-1929 (1.000.000Kg = 1000 t)

Fonte: Souza (2008).

Também merece destaque, como outro fator relevante para o aumento da

exportação do sal, a eclosão da primeira Guerra Mundial (1914-1918), a qual

propiciou um aumento do consumo do sal brasileiro, gerando um ritmo crescente da

produção salineira, a qual se manteve após o fim do conflito (SOUSA, 1988, p.48).

A necessidade da nascente indústria alimentícia brasileira por sal

ampliou-se durante o conflito, uma vez que durante o período de 1914-1918 houve

uma restrição das importações. E a indústria brasileira, assim, possuiu notório

incremento no período (IGLESIAS, 1985). Este contexto gerou, portanto, ampliação

na produção salineira, embora tenha possuído uma redução entre 1923-1925,

devido à ocorrência de fatores climáticos adversos à produção salineira.

Sobre o quadro salineiro potiguar, também se destaca que, após o

conflito, no ano de 1920, houve o surgimento de vários produtores potiguares e de

outros estados, em especial da região Sudeste, no cenário salineiro do Estado.

Assim, as salinas potiguares passaram a ser controladas por grupos

locais, como também a entrada de outros grupos vindos do Centro-Sul do país,

como a Empresa Industrial Brasileira, Gustavo Alísio e Cia, Companhia Comércio e

Navegação, Pereira Carneiro e Cia. Ltda., além de outras. Este cenário perdurou

pelas quatro décadas seguintes (COSTA, 1991, p.39).

Além dos eventos apontados, destaca-se, no final da década de 1920, a

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criação da Inspetoria Geral de Salinas do Rio Grande do Norte, no ano de 1929, a

qual possuía a função de coordenar toda a produção e exportação do estado do Rio

grande do Norte (SOUZA, 2008, p.343).

A recém-criada Inspetoria Geral de Salinas do Rio Grande do Norte, em

relatório de 1930, juntamente com dados obtidos por Raul Caldas, estudioso da

época, apontava que o Brasil contava com 231 salinas, com 3.333 operários

empregados nas saliculturas (IGLESIAS, 1985, p.76).

No que se refere aos dados relativos às salinas potiguares em 1930,

também com contribuição do engenheiro Raul Caldas, constatava 68 salinas com

2.261 cristalizadores distribuídos pelos municípios de Arês, Canguaretama, Macau,

Açu, Areia Branca e Mossoró. Destas 68 salinas potiguares, o município de Areia

Branca possuía o maior número de salinas com uma porcentagem de 26,4%, o

município de Macau possui a segunda maior quantidade, com 25% das salinas,

seguido por Mossoró, com 17,6% das salinas potiguares (IGLESIAS, 1985, p.78).

Podemos visualizar essa distribuição no território potiguar no mapa 3, a seguir.

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Mapa 3 – Distribuição das salinas potiguares em 1930

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

Os cristalizadores, conforme serão mais detalhados a seguir, quando

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serão descritas e visualizadas as etapas do circuito de produção de uma salina

tradicional, referem-se ao local onde se tinha início a extração do sal propriamente

dita, após todos os processos de secagem e junção do sal (COSTA, 1991).

Assim, Macau possuía 779 cristalizadores em 1930, correspondendo a

uma área total de 1.545.482 m2, O município de Mossoró era o segundo com 531

cristalizadores dentro de uma área de 1.539.261 m2 e Areia Branca possuia 487

cristalizadores, numa área de 1.057.664 m2 (IGLESIAS, 1985, p.84).

A atividade salineira correspondia ao segundo produto mais exportado

no Rio Grande do Norte, inferior apenas ao algodão na balança comercial

estadual. No entanto, a inexistência de condições técnicas para escoar a produção

salineira prejudicava a atuação das indústrias, conforme descreve Andrade (1995,

p.39):

[...] um dos grandes problemas enfrentados pela indústria salineira potiguar até a década de 1930 relacionou-se à falta de transporte, pois as embarcações eram insuficientes, a Ferrovia Mossoró - Souza ainda se encontrava em construção e não havia uma rede ferroviária expressiva, mas apenas caminhos carroçáveis.

Desta forma, a navegação de cabotagem ainda possuia notória relevância

até a década de 1930, quando a rede ferroviária potiguar integrou-se definitivamente

com os estados vizinhos. E é a partir da década de 1930 que uma nova conjuntura

política e econômica surgia no território brasileiro.

A crise da cafeicultura, o qual correspondia ao principal produto da

economia agrário-exportadora brasileira, a cisão entre as elites dos grandes Estados

e o nascimento de uma burguesia urbana, advinda do nascente processo industrial,

foram relevantes fatores que levaram à eclosão da Revolução em 1930, a qual leva

Getulio Vargas ao poder, permanecendo até 1945. Esses eventos marcaram o fim

da Primeira República, também denominada por historiadores como “República

Velha” ou “República Oligárquica” (FAUSTO, 2010, p.181).

A partir desse momento o estado brasileiro, embora ainda ofereça

subsídios para as atividades agroexportadoras, possuía distinções frente ao antigo

regime Oligárquico, em especial no que se refere a uma atuação econômica voltada

para a industrialização. O novo regime político brasileiro, associado à crise

econômica de 1929, a qual reduziu consideravelmente os preços do café no

mercado internacional e a crescente classe burguesa urbana levaram a uma

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aceleração do processo de industrialização, com a economia brasileira sendo

direcionada para a produção, distribuição, circulação e consumo internos (PEREIRA,

1984, p.41).

Essa nova situação que o território brasileiro presenciou após 1930,

segundo Caio Prado Jr. (2004, p.288), foram “[...] os primeiros passos para a

edificação de uma economia propriamente nacional, voltada para dentro do país e

as necessidades próprias da população que o habita [...]”.

Além disso, aprofundou esta situação a ampliação do consumo gerado

pelo crescimento da população e a elevação do padrão de vida, com a consolidação

de classes médias e burguesas urbanas, havendo, assim, um crescimento da

produção industrial de bens de consumo, a partir de uma maior utilização da

capacidade das máquinas existentes. Consolidando este quadro, o progresso

tecnológico dos transportes e da comunicação, que tornaram acessíveis os mais

variados artigos à população o desenvolvimento do mercado interno, segundo Prado

Jr. (2004, p. 289).

A difusão dos meios técnicos na região Nordeste, em especial com o

crescimento dos sistemas de movimento ferroviário, modificava consideravelmente a

divisão territorial do trabalho, a qual havia sofrido consideráveis modificações com a

industrialização do Sudeste, em especial São Paulo, que se tornava uma grande

metrópole industrial, abrangendo uma grande diversidade de fábricas (SANTOS;

SILVEIRA, 2001, p.42).

Aprofundando este contexto, Bertha Becker (1972) explicita que a

estrutura territorial brasileira estava sendo polarizada numa tipologia centro-periferia,

uma vez que “os fluxos regionais da produção antes voltados exclusivamente para o

exterior passam a girar em parte para os grandes centros que emergiram

internamente no País” (BECKER, 1972, p.104).

A Região Nordeste, notável por ser uma área fornecedora de mão-de-

obra e matérias-primas, estava constituindo, neste período, as infraestruturas

necessárias em suas economias regionais. O Rio Grande do Norte também estava

inserido neste contexto, uma vez que desde a década de 1920, o estado já

presenciava, no seu território, os sistemas técnicos necessários para os diversos

usos sob as explorações econômicas.

No que se refere à industrialização potiguar, Santos (2005, p.56) explica

que a mesma era consideravelmente direcionada para o beneficiamento do algodão,

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a principal matéria-prima exportada pelo estado no período.

Em 1932, no início do novo período político do país, foi realizado o

Primeiro Congresso Econômico Potiguar, o qual reflete o desenvolvimento

econômico que o Brasil e a região Nordeste estavam assistindo. Segundo Santos

(2010, p.163), o programa atendia diversos setores econômicos do Estado, da

pecuária até os sistemas de transportes, priorizando, no entanto, as principais

economias da época: as salinas e a cultuta algodoeira.

A priorização pela indústria salineira potiguar era advinda do fato da

mesma ampliar a sua relevância econômica para o estado, uma vez que em 1940,

as salinas potiguares representavam 72% da produção nacional (ANUÁRIO

ESTATÍSTICO DO BRASIL 1940 apud LINHARES, 1990).

A industrialização potiguar, no entanto, era incipiente, dominada por bens

de consumo não duráveis, como a alimentação, e setores tradicionais, como a

indústria têxtil. Desta forma, dos 197 estabelecimentos industriais existentes em

1940, 48,3% eram têxteis e 43,3% eram relacionadas à alimentação, incluindo as

indústrias de beneficiamento salineiro (SOUZA, 2008, p.84).

Mas o crescimento salineiro não era acompanhado por melhorias nas

condições de trabalho, as quais eram consideravelmente precarizadas. Assim, a

década de 1930 também é um importante marco temporal para o surgimento do

movimento sindical salineiro no Rio Grande do Norte, a partir da Associação dos

Trabalhadores na Extração do Sal no município de Mossoró, base relevante para a

criação do movimento sindicato da região salineira (SOUZA, 2008, p.106).

Em 1940, as salinas correspondiam a 68 dos 197 estabelecimentos

industriais, com 3.146 operários de um total de 10.430, levando as salinas a

representarem, portanto, 1/3 do total de estabelecimentos industriais e do pessoal

empregado, “embora houvesse mais pessoas que trabalhavam em salinas, os quais

não estavam devidamente registrados, por possuírem relações trabalhistas

precarizadas” (SOUZA, 2008, p.109).

Além das salinas, haviam trabalhadores em indústrias ligadas às

atividades salineiras, ferroviárias, portuárias, nas indústrias de alimentos e de

bebidas. “esses eram os principais pontos de concentração da classe trabalhadora

potiguar nesse período” (SOUZA, 2008, p.109).

A ascensão do município de Macau como principal produtor de sal

marinho e a atração que esse município exercia em períodos de safra sobre os

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municípios circunvizinhos gerou o início da organização dos movimentos sindicais

dos trabalhadores ligados à produção salineira. Com as crescentes necessidades

produtivas salineiras e a maior demanda por mão-de-obra, Macau apresenta, neste

período, um notório incremento populacional. Em 1940, Macau já possui 32.426

habitantes, sendo a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.

Associada a este incremento populacional, a atividade salineira, em busca

de ampliação da produção, apresentava alguns avanços técnicos produtivos. As

mudanças ficaram mais evidentes no que se refere às técnicas de extração do sal.

Um dos mais antigos instrumentos utilizados na etapa do afofamento ou quebra da

camada de sal cristalizada era a alavanca, a qual foi substituída pelo ferro-cova3

(FERNANDES, 1995).

Nos cristalizadores, instrumento observado anteriormente, o sal

cristalizado assumia a forma de uma camada espessa e dura, lembrando uma laje, e

para a realização do processo de „quebra‟ ou „afofamento‟ desta laje, era utilizada a

alavanca. O ferro-cova aperfeiçoou este processo, causando menor esforço físico

para o trabalhador, garantindo uma maior produtividade (FERNANDES, 1995, p.92).

No que se refere à etapa relativa ao transporte do sal marinho, o caixão

de madeira, o primeiro instrumento empregado no transporte do sal também sofreu

um avanço técnico, sendo substituído pelo balaio, o qual também garantia a maior

produtividade. Ainda sobre outra relevante etapa produtiva, relativa à lavagem do

sal, a mesma não possuiu no período grandes inovações técnicas, sendo utilizados

instrumentos rudimentares, como a pá ou a enxada (FERNANDES, 1995, p.95).

Com relação a Macau e o movimento portuário, o mesmo possuiu um

notório incremento, como pode ser observado nos dados estatísticos relativos à

movimentação marítima em 1940, quando o porto de Macau já presenciava um fluxo

de 969 embarcações nacionais, correspondendo a cerca de 1/3 do movimento

portuário potiguar, além de corresponder a 65% da produção salineira do Estado do

Rio Grande do Norte (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1940 apud LINHARES,

1990).

Sobre os outros sistemas de movimento, o rodoviário ainda encontrava-se

num contexto precarizado pelo território nacional, enquanto o sistema de movimento

ferroviário ainda predominava como elo de ligação entre as regiões produtoras e os

3 Instrumento composto por um cabo de madeira e uma das pontas contendo um ferro pontiagudo,

utilizado para escavações.

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grandes portos existentes no litoral brasileiro.

É importante enfatizar que desde o Governo de Washington Luis (1920),

no qual ocorreram as primeiras pavimentações rodoviárias brasileiras até 1940, o

Brasil possuía 1500 km de estradas pavimentadas. E a partir da década de 1930 e

1940, a malha rodoviária nacional recebe grandes investimentos, permitindo a

expansão pelo território brasileiro (ATLAS DO TRANSPORTE, 2006).

Na região Nordeste, as construções de estradas estavam atreladas à

política de combate as consequências sociais da seca, sendo este trabalho de

edificação de vias realizada pela Inspetoria de Obras Contra a Seca, atual

Departamento Nacional de Obras de Combate às Secas - DNOCS. Em 1940, a

região Nordeste já computava 28,7% das estradas de rodagem brasileira e muitas

delas já apresentavam trechos pavimentados com concreto, com pedras britadas.

(ANUARIO ESTATISTICO DO BRASIL, 1940, apud LINHARES, 1990).

No que se refere ao sistema de movimento rodoviário potiguar, as

primeiras estradas foram edificadas a partir do trabalho realizado pela Inspetoria de

Obras Contra a Seca, utilizando como mão-de-obra a população que migrava das

áreas do semiárido no período seco em direção ao litoral, sendo assim construídos

os trechos rodoviários Natal – Macau (atual BR 406), Natal-Macaíba (atual BR 226),

Mossoró-Alexandria (atual BR 110). Assim, em 1940, o Rio Grande do Norte havia

ampliado consideravelmente sua malha de estradas de rodagem, com 1100 km de

rodovias.

Sobre as políticas econômicas no contexto brasileiro, em especial as

normatizações existentes no período, destaca-se que o período destacado

aprofundou a intervenção estatal na economia nacional. Desta maneira, o então

presidente Getúlio Vargas (1930-1945), buscando planificar a produção de diversos

produtos, a fim de evitar crises de superprodução e excedentes de mercadorias,

como a ocorrida na produção cafeeira no início da década de 1930, estabelecendo

cotas de produção para os mais diversificados produtos (SOUSA, 1988, p.54).

E um destes produtos no qual a produção foi planificada a partir desta

intervenção estatal na economia foi o sal marinho, o qual passou a obedecer às

cotas estabelecidas pelo Instituo Brasileiro do Sal, criado em 1940, o qual

estabeleceu normatizações produtivas para os Estado produtor de sal marinho. Isso

gerava uma notável mudança produtiva, uma vez que até a década de 1930, não

havia intervenção federal na atividade salineira (SOUSA, 1988, p.56).

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Desta forma, o território brasileiro foi dividido de acordo com as

delimitações do litoral brasileiro, sendo o litoral Norte ou setentrional correspondente

à porção litorânea dos estados do Pará (posteriormente o Amapá foi incluído, uma

vez que foi criado em 1943), Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, com

um limite produtivo de 80% da produção nacional; o litoral leste ou meridional (sul)

correspondia aos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,

Espirito Santos e Rio de Janeiro, com um limite produtivo de 20% do total nacional

(SOUSA, 1988, p.57).

Assim, seguindo a proporcionalidade da produção, coube ao litoral

setentrional ou norte brasileiro, onde se localizava o Estado do Rio Grande do Norte

a maior cota de produção em relação aos outros Estados salineiros brasileiros, com

um total de 80% da produção nacional. Em 1940, o Brasil possuia uma produção de

466.122 toneladas de sal marinho, com o Estado do Rio Grande do Norte possuindo

72% deste total, avançando das 205.000 toneladas em 1930 para 335.607 toneladas

em 1940 (ANUÁRIO ESTATISTICO DO BRASIL, 1940 apud LINHARES, 1990).

Essa situação perdurou por quase duas décadas, até o fim da década de

1950, como será mais bem visualizado ainda no presente capítulo, quando o maior

ingresso do capital brasileiro na indústria nacional associado gerou notórias

mudanças nestas limitações produtivas que, associada às limitações deste período

técnico rudimentar, impediam uma expansão da produção salineira potiguar.

Sobre o consumo da produção salineira, até a década de 1920, havia um

direcionamento voltado para o consumo humano e pecuária. Com o crescimento da

industrialização, o sal é utilizado por vários ramos industriais, como a tinturaria e

saboaria, indicando que as indústrias ligadas à utilização de produtos químicos,

utilizavam o sal em suas várias aplicações. O território brasileiro, em 1940, já

contava com 1.780 estabelecimentos de indústrias químicas, com grande

concentração das mesmas no Rio de Janeiro e São Paulo (VANIN, 1994, p.302).

Assim, a utilização do sal potiguar nas indústrias do Sudeste, indicava

que o território nacional direcionava seus circuitos produtivos para as necessidades

de consumo da Região Sudeste, a qual se tornava progressivamente a Região

polarizadora do país. Essa região, portanto, condicionada pelo processo de

industrialização, ampliava sua área de atuação (SANTOS E SILVEIRA, 2001, p.42).

Para ampliar estes condicionantes, a eliminação das barreiras e a

circulação das mercadorias entre as regiões brasileiras foram imprescindíveis para a

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integração econômica do país. No entanto, essa situação se deu pelas áreas

circunvizinhas da região polarizadora, onde as transações comerciais eram

facilitadas pela existência de um embrião de um sistema de movimento rodoviário,

ferroviário e marítimo.

Desta maneira, a integração nacional era bastante escassa, uma vez que

ainda havia a ausência de uma rede de transporte que abarcasse todo o território.

No entanto, neste contexto de ampliação dos sistemas técnicos sobre o território, o

Brasil atravessava um novo momento político, o qual gerou notórias mudanças no

quadro econômico e territorial brasileiro.

Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o quadro industrial brasileiro

amplia-se, a fim de atender as necessidades de consumo das nações envolvidas no

conflito, como os Estados Unidos. Tal contexto levou a um maior incremento das

condições basilares para que esta produção pudesse ser distribuída, gerando uma

ampliação dos sistemas de movimento viário no país, em especial o sistema de

movimento rodoviário (FAUSTO, 2010, p.278).

O incremento em determinadas áreas, como a industrial, ampliava as

possibilidades de integração do território nacional, como a construção da Companhia

Siderúrgica Nacional, em 1941, que possibilitou a ampliação na produção de

material ferroviário. Desta forma, em 1945, o território nacional possuía um sistema

de movimento ferroviário com 35.280 km de extensão de rede ferroviária, com a

região Nordeste possuindo apenas 20% dessa extensão, com 7.056 Km, enquanto a

região Sudeste possuía 62%, correspondendo a 21873 Km (KATINSKY, 1994, p.49).

No que se refere ao Sistema de Movimento viário, ainda no final do

governo Vargas, houve a elaboração do denominado “Plano nacional rodoviário”,

auxiliando na constituição do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem -

DNER, em 1945, autarquia que se tornava, a partir de então, responsável pelas

construções de estradas federais e estaduais (VARGAS, 1994, p.150).

A partir da criação da autarquia federal supracitada, há um maior

incremento da construção de estradas de rodagem, com o Sudeste possuindo a

hegemonia no que se refere à extensão do sistema de movimento viário, com um

incremento de quase 100% em cerca de dez anos, saltando de 100 mil Km em 1943

para 180 mil Km de extensão em 1955 (XAVIER, 2001, p.332).

Este crescimento também ocorreu no Nordeste, o qual possuía um pouco

mais de 50 mil Km de extensão, em 1943, para quase 100 mil Km de extensão, no

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ano de 1955. A maior extensão do sistema de movimento viário correspondeu à

configuração de uma nova circulação engendrada pela vida de relações do país,

num processo de integração no território nacional, como verificado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição do sistema de movimento viário no Brasil nas grandes

regiões (em km de extensão)

Fonte: Xavier, 2001.

No que se refere ao contexto demográfico deste período relativo às

décadas de 1940 e 1950, ficava evidente que o território brasileiro estava num

processo de “[...] reversão da proporcionalidade entre a população rural e população

urbana [...]” (THÉRY, 2009, p.92). A partir da difusão dos sistemas técnicos pelo

território nacional, a população urbana brasileira estava em notório processo de

crescimento, chegando à década de 1960 a ultrapassar o total da população rural

brasileira (IBGE, CENSOS DEMOGRÁFICOS 1950; 1960).

Outro aspecto relevante, o qual indicava mudanças na demografia

brasileira, advém do fato de, em 1940, 36% da população estava inserida em

atividades do setor secundário e terciário; em 1950, a participação da população nos

dois setores econômicos supracitados atingem 42%; e no ano de 1960, os setores

secundário e terciário possuiam a participação de 46,3% da população (SANTOS,

1993, p.26).

O Rio Grande do Norte também vivenciou nas décadas de 1940 e 1950

um maior incremento nos setores secundário e terciário, em especial durante a

segunda guerra mundial, com a ampliação da funcionalidade da capital do estado,

Natal, durante o conflito. A capital potiguar serviu como base Norte-americana

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durante o conflito e a população dobrou, passando de 54.836 habitantes em 1940

para 103.215 habitantes, em 1950 (IBGE, CENSO DEMOGRÁFICO, 1950).

E Macau também possuiu notável incremento populacional, saindo de

19.644 habitantes, em 1940 a 23.553 habitantes, em 1950 (IBGE, CENSO

DEMOGRÁFICO 1950). Este incremento populacional Macauense está relacionado

ao crescimento da necessidade industrial nacional, em especial com o crescimento

da produção da indústria química do sudeste. Além disso, os avanços técnicos do

período de então geraram um maior incremento da produção salineira e,

consequentemente, uma maior ampliação da população empregada nas salinas

(SANTOS, 2010, p.182).

Apesar deste crescimento dos setores secundário e terciário potiguar nas

décadas de 1940 e 1950, de acordo com Santos (2010), o território

norteriograndense ainda apresentava um caráter rural, uma vez que a cultura

algodoeira ainda era a grande atividade econômica estadual.

A década de 1950, correspondendo ao período pós-guerra, também

ocasionaria a gênese de notáveis mudanças no quadro salineiro brasileiro. Naquele

período, no cenário salineiro brasileiro predominavam as indústrias e os capitais

nacionais (MOURA, 2003, p.63).

Mas uma nova conjuntura encaminhava mudanças neste quadro. Estas

mudanças ficariam mais evidentes durante o governo de Juscelino Kubitschek

(1956-1960), o qual, ao invés de uma ideologia nacionalista, predominante no

período da administração Getúlio Vargas (1930-1945; 1951-1954), o presidente

Kubitschek direcionou a economia e a política nacional na denominada “ideologia do

desenvolvimento”, foi delimitada, na prática, pelo “plano de Metas” (1958), o qual

abrangia 31 objetivos distribuídos em setores estratégicos até 1960 (THÉRY, 2009,

p.144).

O “plano de metas” fixou a estrutura setorial e espacial da indústria

brasileira, cujos efeitos ainda são sentidos no território nacional, uma vez que

consolidou a concentração industrial no Sudeste brasileiro (THÉRY, 2009, p.145).

Apesar deste aspecto relativo à ampliação das desigualdades industriais entre as

regiões brasileiras, o programa também buscava compreender situações sociais

basilares que influenciavam a população brasileira, como a oferta de emprego e o

abastecimento dos centros urbanos (ANDRADE, 2007, p.232).

Para oferecer ao crescente capital industrial nacional e ao recém-chegado

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capital industrial e financeiro estrangeiro as condições necessárias para a produção,

o “plano de metas” buscou-se direcionar as ações para os sistemas de movimento

viário, para a ampliação dos sistemas técnicos relativos à energia elétrica, além das

condições técnicas para a modernização da agricultura nacional. Todos estes

processos direcionados durante a gestão de Juscelino Kubitschek consolidaram a

abertura ao capital estrangeiro e a concentração industrial e financeira, até hoje

existente, no Sudeste brasileiro (THÉRY, 2009, p.149).

Também merece destaque que a Região Nordeste, neste contexto

territorial e produtivo brasileiro das décadas de 1940 e 1960, se direciona cada vez

mais para o atendimento das demandas voltadas para o mercado interno, em

especial para a produção industrial do sudeste. Assim, há um aprofundamento na

divisão territorial do trabalho, fornecendo produtos primários e mão-de-obra,

enquanto a região Sudeste se concretizava como região polarizadora do país.

Assim, nesta Divisão Territorial do Trabalho, a região Nordeste fornecia à

região Sudeste produtos primários, como o algodão e o sal; mão-de-obra numerosa,

em especial os migrantes do semiárido Nordestino, que deixavam a região durante

as prolongadas estiagens. Além de auxiliar na consolidação da hegemonia da

Região Sudeste no que se refere à produção industrial, o Nordeste também atuava

no consumo, ao adquirir os artigos industrializados produzidos no Sudeste brasileiro

(SOUSA, 1988, p.18).

Essa diferenciação entre as regiões Nordeste e Sudeste, no que se refere

à difusão dos meios técnicos, como apontado ao explicitar a desigualdade na

industrialização, evidenciou a necessidade de medidas que buscassem reduzir este

quadro desigual entre as regiões citadas (SOUSA, 1988, p.18).

Essa busca de medidas para reduzir este quadro, associadas à

reividicações dos grupos econômicos hegemônicos Nordestinos, levaram à criação,

no ano de 1954, do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste -

ETENE. E, a partir da gestão de Juscelino Kubitschek, criou-se, em 1956, o Grupo

de Trabalho para o Desenvolvimento Regional do Nordeste - GTDN. (SOUSA, 1988,

p.21).

Este grupo de trabalho buscou promover o crescimento econômico

regional, mas com larga utilização do capital estrangeiro, constituindo normatizações

que ampliassem este investimento do exterior nos meios produtivos nacionais, como

a instrução 113, da então Superintendência da Moeda e do Credito - SUMOC, onde

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este instrumento normativo permitia a importação de bens de capital na forma de

investimento direto estrangeiro sem cobertura cambial (SOUSA,1988, p.23).

Assim, estes instrumentos normativos que favoreciam a larga utilização

do capital estrangeiro para o respectivo financiamento de grandes sistemas técnicos,

modernizando o capital industrial brasileiro foram amplamente utilizados durante a

gestão de Juscelino Kubitschek (CAPUTO e MELO, 2009, p.518).

Segundo o geógrafo Ademir Araújo da Costa (1991, p.28), a partir da

larga utilização do capital estrangeiro, as denominadas “indústrias de base”, como

as ligadas a produtos químicos puderam obter os meios técnicos necessários para o

seu crescimento produtivo.

Assim, em 1950 havia 2.663 indústrias químicas e em 1960, este número

foi ampliado para 3.350 indústrias, correspondendo a um incremento superior a 25%

em uma década. O incremento destas indústrias químicas, muitas delas

multinacionais, ampliou-se com este notório incremento do capital estrangeiro

durante a década de 1950 (VANIN, 1994, p.303).

Como consequência do crescimento das indústrias químicas no território

brasileiro, as quais possuem o sal como uma das matérias-primas mais relevantes,

as indústrias salineiras aumentaram sua escala de produção. Esse incremento fica

mais perceptível ao evidenciar que, em 1950, o Brasil possuia uma produção de sal

marinho de 794.181 toneladas e em 1960 a produção atingiu 854.473 toneladas

(ANUÁRIO ESTÁTISTICO DO BRASIL, IBGE, 1950; 1960).

O estado do Rio Grande do Norte ampliava mais a sua participação na

produção salineira nacional, totalizando 73,7%, enquanto o Rio de Janeiro, o qual

possuía a segunda maior produção atingia 6,4% do total brasileiro (ANUARIO

ESTATÍSTICO DO BRASIL, IBGE, 1960). Estes dados demonstram a ampliação da

produção salineira, a fim de atender as demandas crescentes da alimentação

humana e animal e como matéria-prima necessária à indústria nacional.

Mas este incremento na produção salineira durante a década de 1950 não

atendia as demandas da crescente indústria química e da própria alimentação

humana e animal nacional e mesmo estrangeira. E o crescimento da população

brasileira e a consequente ampliação do consumo explicitam esta maior

necessidade pelo consumo de sal.

O território brasileiro, em 1960, possuia 3.350 indústrias químicas e uma

população total superior a 70.992.443 habitantes, um incremento de cerca de 20

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milhões de habitantes com relação ao Censo Demográfico de 1950, o qual possuía

51.944.397 habitantes (ANUARIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, IBGE, 1950; 1960).

No que se refere ao quadro territorial brasileiro, de acordo com as

grandes regiões, em 1950, a região Nordeste possuía 17.973.413 habitantes,

enquanto o Sudeste possuia 22.548.494 habitantes (ANUARIO ESTATÍSTICO DO

BRASIL, IBGE, 1950).

No censo de 1960, ambas as regiões possuiram incremento populacional,

mas o Sudeste, a partir do crescimento dos sistemas técnicos e a ampliação do

quadro industrial regional, levou a uma maior necessidade de mão-de-obra e,

consequentemente, a uma ampliação do processo migratório, com esta população

advinda, em geral, da Região Nordeste, a qual, além das estiagens prolongadas,

possuia grandes desigualdes sociais em seu território, levando a sua população a

migrar para outras regiões brasileiras. Assim, a população do Sudeste cresceu

consideravelmente com relação a 1950, atingindo 31.062.978 habitantes (ANUARIO

ESTATÍSTICO DO BRASIL, IBGE, 1960).

A partir desta necessidade em ampliar a produção de sal, o estado

brasileiro buscou, inicialmente, desenvolvendo dispositivos normativos a fim de

garantir uma maior produtividade salineira. Assim, em 1957, foi instituída a Lei

3137/57, reforçando a delimitação do parque salineiro brasileiro em duas zonas, mas

extinguindo a limitação de produção em cotas regionais, uma ação decisiva para a

monopolização salineira no Rio Grande do Norte a partir da modernização e

mecanização salineira a partir do final da década de 1960 e início da década de

1970 (SOUSA, 1988, p.53). Como podemos visualizar por meio do mapa 4, na

página a seguir, na zona setentrional localizava-se a grande região salineira nacional

e na zona oriental, o Rio de Janeiro como o principal produtor de sal marinho.

Assim, conforme realizado na normatização do IBS em 1940,

demonstrada anteriormente no presente capítulo, à primeira zona salineira

compreendia o litoral setentrional ou Norte brasileiro, desde o estado do Pará até o

Rio Grande do Norte e a segunda zona salineira correspondia ao litoral oriental ou

leste brasileiro, compreendendo, assim, a área litorânea entre o estado da Paraíba

até o estado do Rio de Janeiro, sendo extinta a nomenclatura “meridional”.

A descontinuidade do sistema de cotas foi decisiva para a monopolização

da produção salineira no território litorâneo setentrional potiguar “uma vez que,

poucos anos depois, auxiliou num maior incremento dos investmentos da ampliação

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da produção salineira potiguar, a partir do emprego da mecanização na produção”

(SOUSA, 1988, p.54), constituindo um projeto de expansão industrial, em especial

da indústria química, que utilizava largamente o sal, por parte do capital monopolista

internacional, com aporte do estado brasileiro, destaca-se como relevante marco

temporal normativo, que modificaria o espaço potiguar nos anos seguintes (SOUSA,

1988, p.55).

Mapa 4 – Zonas salineiras do Brasil (Lei 3137/57)

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

Paralelamente a esta normatização da produção salineira brasileira, havia

a institucionalização, no ano de 1959, do Grupo de Trabalho para o

Desenvolvimento Regional do Nordeste – GTDN, com a criação da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. Este organismo

estatal torna-se responsável pela implantação das políticas de industrialização no

Nordeste. A industrialização é apontada pelos estudiosos da SUDENE, como Celso

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Furtado, como uma das possibilidades mais plausíveis para o crescimento dos

indicadores econômicos regionais (ANDRADE, 1995).

Associado a estes planos diretores direcionados para o incremento

industrial, foram normatizados mecanismos de isenção fiscal, comumente

denominados como “incentivos fiscais”, destacando-se o FINOR – Fundo de

Investimento do Nordeste.

Com a ascensão desta normatização fiscal, houve um incentivo para a

produção industrial Nordestina, com o advento de indústrias basilares, como as

químicas, as metalúrgicas, além das indústrias de minerais não metálicos, material

elétrico e de comunicação, papel e papelão. Para o funcionamento destas indústrias,

foram direcionados 60% dos recursos do sistema de incentivos advindos do FINOR,

enquanto para os segmentos tradicionais este índice correspondia a apenas 30%, o

que demonstra a reprodução de um modelo industrial desigual e hegemônico no

quadro territorial Nordestino (ANDRADE, 1995, p.58).

O advento da SUDENE e das políticas de planejamento territorial também

geram mudanças no território potiguar, com notáveis incrementos técnicos, advindos

das políticas do referido organismo regional, associado às políticas estatais, ainda

influenciado por normatizações como o “Plano de Metas” da gestão Kubitschek.

Desta forma, são criadas, no ano de 1962, a estatal Companhia

Energética do Rio Grande do Norte – COSERN, a qual unifica o sistema elétrico

estadual e distribui a energia advinda da hidrelétrica de Paulo Afonso/BA. Também

merece destaque a criação da estatal Telecomunicações do Rio Grande do Norte –

TELERN, a qual auxilia na estruturação de um sistema técnico de comunicações,

em especial telefônicas, no território potiguar (SANTOS, 2005, p.78).

Estes sistemas técnicos, além de garantir maior produtividade no

beneficiamento de produtos ligados ao setor primário, como o algodão, também

garantiam um incremento no setor secundário, possibilitando a ampliação das

dinâmicas industriais relativas à extração mineral, aos produtos têxteis e às

confecções. O setor terciário também apresenta notório incremento, com a

dinamização dos centros urbanos e consequente crescimento por serviços

especializados, os quais se concentravam no espaço urbano (SANTOS, 2005, p.80).

E neste contexto as salinas potiguares também passavam por profundas

mudanças. A delimitação territorial das áreas produtivas salineiras brasileiras,

ocorrida em 1957, buscou aperfeiçoar a produção salineira. Mas tal ação normativa

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do estado brasileiro ampliou, na prática, a produção salineira.

Além disso, ficava evidente que o grande incremento ocorrido nas

indústrias químicas do Sudeste e, a partir da década de 1960, nas primeiras

indústrias químicas constituídas no Nordeste, associado ao grande crescimento

populacional brasileiro, deixava evidentes que a produção salineira realizada num

processo “tradicional” não atendia plenamente tais necessidades supracitadas,

levando o Brasil a importar sal, fato não ocorrido anteriormente (MOURA, 2001).

Desta maneira, ainda durante a década de 1960, em especial após o

Golpe Militar de 1964, quando há incentivos estatais mais aprofundados para uma

maior participação do grande capital nacional e estrangeiro, há uma notória

mudança no território salineiro potiguar.

A partir deste período as salinas potiguares, as quais não possuíam os

recursos necessários para a mecanização, acabam sendo adquiridas por grupos

estrangeiros. Desta maneira, o grupo norte-americano Morton Norwich Products INC

adquiriu as salinas Sosal e Guanabara; o grupo holandês Arkzo Zoult Chemie

adquiriu as salinas CIRNE e o Grupo Italiano Nora Lage assumiu o controle das

salinas Henrique Lage. Estes três grandes grupos estrangeiros que monopolizam a

produção salineira adquirem as melhores áreas produtivas, intensificando a

mecanização das salinas (COSTA, 1991, p.28).

Assim, destaca-se a década de 1960 como relevante marco temporal

para a mecanização da produção salineira potiguar, a desnacionalização das

salinas, as quais são monopolizadas por três grupos estrangeiros, ampliando

consideravelmente a mecanização, onde os instrumentos que participavam da

produção artesanal são substituídos por máquinas.

Esta mecanização fica evidente na circulação e distribuição da produção

salineira, destacando a utilização de grandes barcaças, com capacidade de

transporte variando de 600 a 1000 toneladas de sal em cada uma das mesmas, algo

não possível no período técnico anterior (COSTA, 1991, p.62).

Também se destaca no que se refere aos sistemas de movimento

marítimo, a criação do Terminal Salineiro do município de Areia Branca, o TERMISA

(1974), o qual consolidava estes avanços técnicos necessários para o recebimento

destas grandes barcaças e a consequente exportação salineira para vários

mercados, tanto nacionais quanto internacionais (COSTA, 1991, p.64).

Todos estes processos técnicos e científicos geraram grandes mudanças

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nos modos de produção salineiro, na divisão territorial do trabalho e, também

representam a transição de um meio técnico para um meio técnico-científico

(SANTOS, 1996), gerando notórias modificações no quadro espacial macauense em

dimensões variadas, conforme será mais detalhado a seguir.

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3 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA PÓS DÉCADA DE 1960

No decorrer desta presente pesquisa, evidenciou-se que a atividade

salineira, embora presente no espaço geográfico potiguar, com escassas

transformações técnicas desde o período colonial, no início do século XVII até

meados do século XX. Embora tenham ocorrido alguns pequenos avanços técnicos

neste período, os mesmos não foram capazes, entretanto, de alterar

significativamente o processo de extração do sal, o que adiciona motivos ainda mais

fortes ao impacto causado pela modernização e mecanização imposta a esse setor

da economia, particularmente a partir da década de 1960 (COSTA, 1991, p.29).

Desta forma, o presente capítulo, o qual busca compreender mais

profundamente este processo de mecanização e modernização, demonstrará,

inicialmente, como era realizada a extração e o transporte do sal em moldes

“tradicionais”, num período pré-técnico e técnico „rudimentar”, delimitando, portanto a

produção, distribução, circulação e consumo. A seguir, serão detalhadas

transformações relativas à modernização e mecanização salineira.

3.1. A PRODUÇÃO SALINEIRA NO PERÍODO PRÉ-TÉCNICO E “TÉCNICO

RUDIMENTAR”

O Rio Grande do Norte, principalmente na área compreendida entre a foz

dos rios Açu e Mossoró, onde também se localiza Macau, dispõe de condições

favoráveis para a produção salineira, destacando-se no quadro territorial brasileiro.

Os condicionantes naturais, como as condições dos ventos, as temperaturas

elevadas, dos rios e da salinidade das águas são ideais para a produção salineira

(COSTA, 1991, p.23).

Aprofundando ainda mais sobre as condições naturais, num período onde

havia o domínio de fatores naturais sobre o escasso desenvolvimento técnico.

Assim, utilizaram-se as nomenclaturas “período pré-técnico”, referente ao período

colonial e imperial, com notável domínio da natureza sobre a produção salineira e

“técnico rudimentar”, referente ao período republicano, o qual, embora reduzisse a

dependência plena dos fatores naturais, ainda havia dificuldades de utilização de

técnicas mais avançadas na produção salineira até a década de 1960.

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Ressalta-se que a área supracitada possui um regime de ventos fortes e

secos, direcionados a nordeste, num período superior a oito meses anuais, além de

uma considerável extensão de terreno sedimentar, com estrutura impermeável,

possuindo uma topografia plana, numa altimetria equivalente ao nível médio das

marés, as quais possuem amplitude máxima de 3,50 metros (COSTA, 1991, p.23).

Ainda sobre o quadro natural, a foz dos Rios Assu e Mossoró é recortada

por gamboas, correspondendo a braços estreitos de rio ou mar que penetram terra

adentro, tornando-se cheias com o fluxo da maré, e ficando secos na vazante, além

dos igarapés, correspondendo a um pequeno canal natural existente entre uma ilha

e a terra firme (GUERRA, 1997). Estas nomenclaturas ligadas à rede fluvial auxiliam

a entender a relevância das marés nestes rios, uma vez que a força do mar ocorria

numa distância aproximada de quarenta quilômetros das respectivas barras, sendo

esse o raio em que se faz sentir a ação das marés (COSTA, 1991, p.23).

No que se refere à pluviometria, durante o período chuvoso, situado nos

meses de abril a agosto, as águas dos rios possuíam maior fluidez que as águas

marinhas. No entanto, entre os meses de Setembro até Março, há uma inversão

deste movimento, com as águas marinhas fluindo alguns quilômetros adentro no

leito dos Rios, os quais ampliam a sua salinidade.

No período pré-técnico e técnico rudimentar, era este contexto natural que

possibilitava a produção salineira, pois as águas marinhas que penetravam nos

canais dos Rios Mossoró e Assu eram direcionadas para os Tanques de Cargas ou

Cercos. Eram essas condições que tornaram o litoral setentrional potiguar, em

especial na foz do Rio Assu, onde se situa Macau, o ponto mais favorável do

território brasileiro para a extração do sal marinho (COSTA, 1991, p.31).

Inicialmente, enfatiza-se que as salinas foram constituídas em áreas

próximas aos canais dos Rios, formando “extensas bacias”, dispostas de tal forma

que proporcionam a maior área de evaporação possível. A água do mar era retida e

armazenada nesses locais, onde o solo é de formação calcária impermeável, a partir

da ação solar e eólica, demonstrando a relevância dos fatores naturais neste

período pré-técnico e técnico rudimentar. Outro fator considerável decorre do fato da

reduzida amplitude térmica, uma vez que era necessário a manutenção da

temperatura num patamar constante, mesmo durante a noite, num fenômeno

denominado “choco do sal” (COSTA, 1991, p.31). A produção salineira tradicional

será mais detalhada na figura 1 e nas descrições sobre a mesma, a seguir.

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Figura 1 – REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE SAL NUMA

SALINA TRADICIONAL

Fonte: THIÉBLOT, Maroel Jules, 1979 apud COSTA, 1991.

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Ainda sobre a produção salineira num modo pré-técnico e técnico

rudimentar, a água era transportada pela ação das marés, através da abertura de

comportas de madeira. Os tanques, também denominados “bacias”, eram dispostos

em ordem de sequência pela entrada da água salgada com a temperatura média de

3 ° Baumé4 (COSTA, 1991, p.31)

Daí, a água salgada, através de moinhos de vento e, no período técnico

rudimentar, a partir da utilização das bombas a diesel, era despejada numa vala,

denominada de “Levada Mãe”, de onde era conduzida para os Tanques de Cargas

ou Cercos.

Sobre os cercos, os mesmos possuiam dimensões de 600 m² a 1000 m²,

e profundidade de 80 centímetros a 1 metro. Assim, nestas estruturas, a água

salgada evaporava, ao transpor de um cerco para outro, ampliando o seu grau de

salinidade, numa temperatura situada entre 6 ° a 8 ° Baumé (COSTA, 1991, p.33).

Estes processos, inclusive o incremento da temperatura em Graus

Baumé, decorriam da menor quantidade de água aí retida, associada à ação do

calor e do vento. Durante o período que permanecia nos cercos, a água depositava

materiais orgânicos em suspensão e óxido de ferro em dissolução. Após atingir a

graduação necessária, a água era transportada para os próximos tanques

concentradores ou evaporadores, também denominados como “tanques

chocadores”.

Nesta nova etapa de produção salineira, os denominados “tanques

chocadores”, possuiam uma área mais reduzida, situada entre 400 m² a 800 m²,

além de uma reduzida profundidade frente à etapa produtiva anterior,

correspondendo a altimentria de 0,5 metros a 1 metro. Neste percurso da água nos

tanques, ampliava-se o grau de saturação, correspondendo a 22 ° Baumé.

4 Ainda sobre o Grau Baumé, é relevante explicitar que o mesmo refere-se a uma escala hidrométrica criada pelo farmacêutico francês Antoine Baumé em 1768 para medição de densidade de líquidos. Para a água e líquidos mais pesados do que a água, como o sal zero graus Baumé corresponde a uma densidade específica de 1.000 g/ml, a qual também corresponde a densidade da água a 4 °C (CIEMAT, 2002). À medida que vai aumentando a concentração de sal, como será visto a no processo de produção salineiro, amplia-se a temperatura Baumé. Desta forma, o Grau Baumé corresponde à densidade de uma solução de 10% de cloreto de sódio. O referido estudioso utilizou água pura e soluções de cloreto de sódio para definir os pontos da escala e a relação entre grau Baumé (ºBé) e densidade (d), com a temperatura de referência correspondendo a 15,6°C. Como o cloreto de Sódio (o sal de cozinha), possui densidade diferente da água, existe uma coerente utilização desta unidade de medida. Desta forma, o Grau Baumé é utilizado em diferentes ramos industriais, como a fabricação de vinhos, cervejas, ácidos, especificando determinadas concentrações (CIEMAT, 2002, p.93).

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Ao atingir o grau de saturação supracitado, a água era conduzida para os

tanques cristalizadores, também denominados “baldes”, correspondendo às etapas

derradeiras no processo de produção salineira neste período pré-técnico e técnico

rudimentar. Esses tanques possuiam dimensões ainda mais reduzidas que os

existentes nas etapas anteriores, variando de 50 m² a 400 m², e profundidade de 30

a 50 cm. No momento em que a água atingia 28,5 ° Baumé iniciava-se a

precipitação dos cristais de sal, formando-se uma camada variando de 2 cm a 15 cm

(COSTA, 1991, p.33).

No momento em que havia a ampliação da precipitação dos cristais de

sal, as “águas mães” ou “águas grossas”, as quais recebiam tal denominação por

possuir notória quantidade de sal, eram direcionadas, em canais constituídos para a

deposição destes dejetos, denominados “escoadeiras”, em direção ao rio e ao mar.

Estas “escoadeiras”, assim, consolidavam a produção salineira,

eliminando ao máximo as águas, preservando o sal obtido no processo. Conforme

afirma Costa (1991, p.33), tornava-se fundamental o controle produtivo a partir do

momento em que a água atingia 28,5 ° Baumé, uma vez que uma temperatura

superior a este índice ocasionaria o surgimento de cloreto de magnésio,

comprometendo o sal e ocasionando, no caso do consumo humano, problemas

sanitários.

Após a exclusão das águas mães e a respectiva secagem dos

cristalizadores, os quais correspondiam aos locais onde havia a concentração do sal

após a retirada da água, havia a intervenção manual do trabalhador de salina,

desenvolvendo o processo de extração do sal. Neste período pré-técnico e técnico

rudimentar, o sal era recolhido manualmente, com o auxílio de instrumentos de

trabalho, como a chibanca, a enxada, a pá e o carro-de-mão (COSTA, 1991, p.35).

Estes trabalhadores das salinas adentravam no cristalizador, após o

mesmo não possuir água em seu interior, extraindo o sal em “tiras”, espaços

delimitados pelo “feitor”, agente responsável pelo controle do trabalho extrativo do

sal. A partir desta extração, os trabalhadores salineiros agrupavam as porções de

sal retiradas das “tiras” em “rumas”. As “rumas” eram pequenos agrupamentos de

sal, com altimetria de 1,5 metros, ainda no interior do cristalizador. Assim, o

cristalizador correspondia ao local onde se consolidava este processo de produção

do sal na era “pré-técnica” e “técnica rudimentar”. (COSTA, 1991, p.36).

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Após o agrupamento do sal em “rumas”, o mesmo era transportado, com

a utilização de carros-de-mão para o aterro, onde o sal era agrupado em um formato

de “pirâmide”, ocorrendo o processo de repouso do sal para a eliminação das

impurezas, sendo este procedimento denominado “período de cura”, constituindo

este processo de colheita de sal (COSTA, 1991, p.36).

Conforme afirma Ademir Araújo da Costa (1991, p.36), este período de

“cura” de sal, o qual durava de quatro a seis meses, era necessário, uma vez que as

ações climáticas, em especial relativas à insolação solar e pluviosidade,

proporcionavam o escoamento da água ainda existente, embora a mesma estivesse

em quantidade consideravelmente reduzida. Além disso, a “cura” auxiliava na

depuração dos sais deliquescentes de cloreto e sulfato de magnésio e a exaustão

das bactérias por deficiência da matéria orgânica ou da oxidação. Dentre estas

bactérias, destaca-se a eliminação, neste processo de “cura”, da “chloridistrium

flaballforme”, responsável pela putrefação da carne salgada.

Após esta descrição da produção na era “pré-técnica” e “técnica

rudimentar”, torna-se relevante compreender como eram as técnicas utilizadas neste

período. Ficou evidente o domínio dos fatores naturais no processo produtivo

salineiro, com larga presença do trabalho manual como força motriz para que

pudesse ocorrer a produção salineira. Desta forma, Costa (1991, p.36), descreve a

utilização do trabalho manual nesta era pré-técnica e técnica rudimentar a partir de

três etapas, sendo estas a quebra ou afofamento da laje de sal, a lavagem do sal e o

transporte salineiro para os aterros situados na área marginal das salinas.

Como observado no decorrer da pesquisa, a atividade salineira, até a

década de 1960, ainda possuía um relativo domínio da natureza sobre as atividades

de extração do sal, predominando, portanto, um meio pré-técnico e, a partir do início

do século XX, um meio técnico rudimentar, possuindo, portanto, escassas mudanças

produtivas. Conforme afirma FERNANDES (1995, p. 56):

Uma das características da indústria da extração de sal no Rio Grande do Norte foi sua insignificante inovação tecnológica. Durante 147 anos, de 1803, quando a produção foi permitida pela Metrópole Portuguesa, até 1950, com as transformações ocorridas na economia brasileira (...) pouca mudança ocorreu nos meios de trabalho.

Assim, as transformações na produção, distribuição, circulação e

consumo da economia salineira foram escassas, não levando à superação de um

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modo de produção pré-técnico ou técnico rudimentar. A introdução de objetos

técnicos na primeira metade do século XX transformou a produção de pré-técnica

para “técnica rudimentar”, não avançando, no entanto, para um efetivo domínio

plenamente técnico sobre o território salineiro potiguar.

A introdução de determinados instrumentos de trabalho usados no

processo de extração do sal dentro das salinas, pouco contribuíram para a

ampliação da produtividade. Desta forma, quando o sal encontrava-se no

cristalizador, no formato de laje endurecida, possibilitava a “colheita do sal” pelos

trabalhadores salineiros manualmente, realizando a quebra/afofamento da laje de

sal (COSTA, 1991, p.37).

Neste processo manual, o trabalhador utilizava, no período pré-técnico,

dominante até início do século XX, a alavanca para a quebra ou afofamento do sal.

Apenas no decorrer do século supracitado, outros instrumentos, ainda de caráter

rudimentar foram utilizados, como o ferro-de-cova e a chibanca.

Outra etapa do processo produtivo, correspondente à lavagem do sal,

ocorrida após o afofamento, era realizada dentro do cristalizador, com o restante da

água, embora a mesma consideravelmente reduzida, mas existentente nos

cristalizadores. Para isto, era necessária a utilização da pá e da enxada, não se

registrando, nesta etapa, notáveis inovações técnicas nos instrumentos de trabalho.

A partir da lavagem do sal, era realizado o transporte salineiro dos

cristalizadores para os aterros, situados na área marginal das salinas. Inicialmente,

neste processo eram utilizados caixões de madeira, os quais eram manuseados por

apenas um homem, situação que perdurou por todo o período pré-técnico.

Segundo Fernandes (1995, p.76), nas primeiras décadas do século XX,

esse processo de deslocamento do sal marinho passou a ser feito através do balaio,

que era manuseado por dois homens e, finalmente, já no final da década de 1950 e

começo da década de 1960, houve a utilização do carro-de-mão para o transporte

do sal para os aterros, e, respectivamente para as barcaças que transportavam o sal

(COSTA, 1991, p.37). Estes processos são demonstrados na figura 2, a seguir.

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Figura 2 – Representação da produção salineira potiguar nos modos pré-

técnica e “técnica rudimentar”

Etapas produtivas: 1 – Afofamento/quebra da laje de sal/ 2 – Lavagem do Sal / 3- Transporte do Sal;

Fonte: Prefeitura Municipal de Macau, 2017.

Sobre o escoamento da produção, correspondendo à distribuição e

circulação, neste período pré-técnico e técnico rudimentar, o transporte correspondia

à escassez de alternativas técnicas do período.

Como observado no decorrer deste trabalho, em especial no capítulo

anterior, no que se refere ao transporte terrestre, havia precários caminhos abertos

entre Macau e Natal e entre o município Macauense e Mossoró, com mudanças

neste quadro apenas em meados do século XX, com a ascenção do transporte

ferroviário, o qual lançaria perspectivas para a modernização do escoamento da

produção salineira, embora o processo de constituição ferroviário no território

potiguar, assim como ocorreu no território brasileiro foi bastante lento (XAVIER,

2001).

Sobre o transporte do sal imediatamente após a produção, a grande

característica do mesmo refere-se à grande absorção de mão-de-obra. Conforme

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visualizado anteriormente neste capítulo, a extração do sal era realizada pela força

motriz de milhares de trabalhadores, e o transporte do mesmo, elemento

fundamental na indústria salineira “possuia notável peso na composição dos preços

nesse setor” (COSTA, 1991, p.40).

Assim, no período pré-técnico, o transporte da produção salineira era

realizado por objetos confeccionados com barro, e, posteriormente, no período

técnico rudimentar, através de caixotes de madeira e carros de mão. Fica evidente

que o transporte do sal, desde os aterros para as barcaças e navios era realizado

através da força de trabalho humana, necessitando de notória quantidade de mão-

de-obra (COSTA, 1991, p.42). Sobre esta mão-de-obra, a mesma será mais

detalhados posteriormente, ao se discutir sobre a crise urbana Macauense pós-

modernização/mecanização salineira da década de 1960.

Sobre a exportação da produção salineira, relativa à distribuição e

circulação do produto, durante o período pré-técnico, havia o predomínio, nos

deslocamentos terrestres, da força motriz animal, através de carroças e asnos, nos

precários caminhos abertos entre Macau e os portos de Natal e Mossoró.

Com relação à exportação do produto, predominava o escoamento pelos

sistemas de movimento marítimo, utilizando-se barcaças de madeira, com

capacidade para poucas toneladas. No período técnico rudimentar, no decorrer da

primeira metade do século XX, há o desenvolvimento das alvarengas 5 , que

demandavam ainda mais a utilização de larga quantidade de trabalhadores,

denominados “alvarangueiros” e “estivadores”.

Desta forma, evidenciou-se, ao descrever o processo produtivo salineiro,

as escassas inovações na produção, com poucas inovações técnicas, sendo,

conforme afirma Costa (1991, p.38) “apenas uma substituição de um instrumento por

outro, permanecendo a tradicionalidade no modo de produzir o sal”, ou seja, o

predomínio de um meio pré-técnico e “técnico rudimentar”.

Assim, a produção salineira até a década de 1960 pode ser caracterizada

por um nível reduzido de incorporação de progresso técnico, a qual sofreu notáveis

mudanças a partir da referida década. A partir do entendimento deste processo

produtivo pré-técnico e técnico rudimentar, será possível visualizar mais claramente

5 Eram barcaças de madeira maiores utilizadas para o transporte do sal.

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os impactos da mecanização e respectiva modernização no território salineiro

macauense, o qual será detalhado a seguir.

3.2 A PRODUÇÃO SALINEIRA A PARTIR DO ADVENTO DA

MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA PÓS DÉCADA DE 1960

A década de 1960 apresenta notáveis mudanças no quadro produtivo

salineiro potiguar, ocasionando consequentes mudanças territoriais e espaciais

Macauenses. Novas relações produtivas e territoriais, com distintas relações de

poder, a partir de uma maior participação estrangeira no controle das empresas

salineiras, advindas da modernização da produção de sal, tornam-se predominantes

no período supracitado.

E essas mudanças na produção salineira, com a sua respectiva

modernização/mecanização estão diretamente relacionadas com os avanços

produtivos no quadro nacional e global, com o advento de um meio técnico-científico

(SANTOS, 1996) a partir das décadas de 1950 e 1960. E um conceito geográfico

que auxilia a explicitação a modernização salineira imprimida no espaço potiguar a

partir da década de 1960 refere-se ao “Circuito espacial de produção”, o qual auxilia

a compreender o uso do território no atual período técnico-científico.

Desta forma, o circuito espacial de produção é um dos conceitos que

auxiliam na compreensão das transformações ocorridas no espaço produtivo

mundial desde a década de 1950 até a atualidade, uma vez que o espaço geográfico

tornou-se único para atender as necessidades de uma produção globalizada

(SANTOS, 1996, p.117).

Entretanto, as frações do território tornaram-se singulares e

complementares, produzindo distintos fluxos, advindos de um meio técnico-científico

e, mais tarde, de um meio técnico-científico-informacional que se instalou, ampliando

os diferentes movimentos sobre o território. Essa dialética é mais aprofundada

quando Santos (1988, p.57) propõe estudar a região a partir de sua especialização

funcional.

Assim, trazendo a compreensão da especialização funcional para o

espaço potiguar, a mesma relaciona-se com a modernização de atividades

econômicas, como atividade canavieira no litoral sul do estado, a mineração no

Seridó, a agricultura irrigada no vale do Rio Açu e na chapada do Apodi, o turismo

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no litoral leste e a atividade salineira no litoral setentrional (FELIPE, 2002, p.228).

Segundo Felipe (2002, p.230) a modernização das atividades acima

citadas são os “[...] espaços de globalização”, demonstrando que o estado do Rio

Grande do Norte, assim como a Região Nordeste não apresentam um quadro

homogêneo no âmbito das frações do território que exprimem a globalização. É

possível verificar no estado do Rio Grande do Norte a coexistência de economias

tradicionais com economias relativamente modernas. Estes, para o geógrafo citado

acima,

[...] são espaços de economia moderna que conectam nosso Estado com a economia mundial. Os territórios do turismo, da produção das frutas tropicais, da produção de petróleo e gás são territórios-lugares de inclusão na economia globalizada (FELIPE,2002, p.231).

Assim, para Milton Santos (1994, p.53), a noção de meio técnico advém

do momento no qual o homem tornou a produção social. Essa interpretação pode

ser mais bem compreendida quando fica evidente que o homem se desprendeu dos

ditames da natureza por meio das técnicas. Desta forma, quando o homem começou

a produzir tornou-se um ser social, e, logo, a produção também passou a ser social.

E ainda para Santos (1978, p.202), estes processos são relacionados com o fato de

o homem começar a trabalhar em cooperação, isto é, em sociedade.

É relevante destacar que o advento da relação intrínseca entre técnica e

ciência pós-1950 que Milton Santos (1994; 1996) utilizou para entender a sucessão

do período técnico para o período técnico-científico e esse para o período técnico-

científico-informacional. Essa sucessão de períodos pode ser compreendida pela

história do homem sobre a Terra onde

[...] é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo (SANTOS, 1993, p.17).

Segundo Denise Elias (2003, p.21), a técnica estava presente em todos

os períodos, porém em quantidades completamente diferentes, sendo que, no

período técnico-científico-informacional, o espaço geográfico está sob um trinômio

que bem caracteriza esse período atual: ciência, tecnologia e informação.

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Conforme ainda afirma Elias (2003a, p.22), esse novo período, bem como

esse novo meio geográfico, sinônimo de meio técnico-científico e, posteriormente

meio-técnico-científico-informacional, possui o pós-Segunda Guerra Mundial como

relevante marco temporal, e nos países do terceiro mundo generalizou-se após

1970, diferenciando-se dos períodos anteriores pela interação da ciência, da

tecnologia e, a partir dos anos 1970, da informação.

É nesse período que vamos presenciar um novo espaço geográfico

caracterizado pela substituição dos objetos naturais por uma notável predominância

de objetos artificiais presentes no território, em especial nos “Espaços Luminosos”

(SANTOS, 2001, p.38), formando uma paisagem heterogênea frente a “Espaços

Opacos”, ou seja, territórios que reagem diferentemente às manifestações do

processo de globalização.

Esta diferenciação espacial pode ser compreendida quando Santos

(1999, p.12) afirma que essa manifestação se geografiza de forma desigual,

segundo os continentes, os países e dentro de cada país. No território brasileiro, o

período técnico–científico–informacional se constituiu por meio das bases técnicas,

heranças da sucessão dos momentos do período técnico e técnico-científico no

território brasileiro.

Aprofundando esta compreensão, fica evidente, inclusive observando as

discussões relativas à produção salineira no período colonial, período imperial e

início do período republicano, que mecanização do território demorou, ao menos

mais de um século ou mais, em diversas áreas do território, compondo um “[...]

conjunto de manchas ou pontos do território onde se realiza uma produção

mecanizada” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.31), conduzindo para um momento da

circulação mecanizada e manifestação da industrialização, tornando plausível o

processo de integração territorial no pós-segunda Guerra Mundial.

Este processo integrador do território foi consolidado pela edificação de

diversos objetos técnicos que garantiam a fluidez, como a constituição de um

sistema de movimento ferroviário e rodoviário, este último consolidado com a

interligação das estradas de rodagem com diferentes regiões que compõem o

território nacional. Também merece notoriedade a política energética nacional, com

a criação da Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco - CHESF, no ano de

1945, o Fundo Federal de Eletrificação, em 1953, o qual financiou todo

empreendimento de eletrificação do território nacional até 1962, inclusive no Rio

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Grande do Norte e a criação das Centrais Elétricas Brasileiras S.A (ELETROBRÁS)

em 1962 (KÜHL, 1994, p.269).

E este processo modernizador e integrador nacional levou à ampliação da

urbanização no território brasileiro, onde, em 1960 havia 45,5% de uma população

superior a 70 milhões de pessoas vivendo em cidades, e na década seguinte, este

índice já era superior à população rural, com 56,8% da população vivendo em

cidades. Estes índices evidenciam que o avanço da modernização, representada

pelo meio técnico-científico e, mais tarde, do meio técnico-científico-informacional no

território, tornava a população cada vez mais concentrada nas cidades, as quais

concentravam, no geral, as atividades mais dinâmicas do território nacional.

Outro evento relevante para a integração territorial neste período refere-

se à construção da capital do Brasil, Brasília, no Planalto Central do Centro-Oeste,

em 1960, sendo um evento relevante geopoliticamente para a integração territorial

do país, ampliando o processo de abertura de rodovias e a valorização de terras

adjacentes para agricultura, como ocorreu no Centro-Oeste a partir deste período e

aprofundou-se após os anos 1970 (ANDRADE, 1995, p.43).

Segundo autores como Becker (2010, p.87), a capital tornou-se um ponto

de convergências das grandes rodovias de acesso ao Sul, Sudeste, Norte e

Nordeste. E para outros autores como Théry (2009, p.207), formou-se uma rede do

tipo radial, com o consequente sistema rodoviário necessário para o funcionamento

desta rede ligando as grandes cidades das regiões Sudeste, Nordeste, Norte e

Centro-Oeste.

Também não pode deixar de ser destacado o movimento militar de 1964,

o qual é outro evento importante apontado por Santos (1993, p.39). O contexto

político nacional pós-1964 “[...] criou as condições de uma rápida integração do país

a um movimento de internacionalização [...]”. Essas condições também foram

ampliadas com a intervenção do Estado e da regulação na economia nacional sob

as supervisões dos governantes militares, associado ao programa de substituição de

importações, acompanhado pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento I e II,

correspondentes ao período 1972-1979 (FAUSTO, 2010, p.549).

Além disso, nesse período citado, há um incremento da modernização

agrícola, constituindo a “Revolução Verde” no território brasileiro, possuindo, como

fatores que contribuíram para este processo, a ampliação de créditos de instituições

bancárias estatais, em especial após os anos 1970, ampliando a possibilidade de

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aquisição de arados, colheitadeiras e tratores (RAMOS, 2001, p.478).

Os marcos temporais deste período de inserção da agricultura num meio

técnico-científico são a criação da Empresa Brasileira de pesquisa agropecuária –

EMBRAPA, em 1973 e o Plano Nacional de Sementes, no ano de 1977. Esses

primeiros momentos, para Santos (1993, p.39) foram concentradores das atividades

modernas e dinâmicas, tanto econômica quanto geograficamente.

Evidencia-se que o território brasileiro consolidava a dispersão do meio

técnico-científico-informacional, tanto no meio rural quanto ao meio urbano, não

sendo diferentes quanto ao trinômio que caracteriza esse período atual: ciência,

tecnologia e informação. De acordo com Nogueira (2001, p.207), é nesse momento

que o território quantifica e qualifica ciência, tecnologia e informação ocupando a

cidade e o campo. A expansão desse novo meio geográfico, segundo Denise Elias

(2003a, p.38):

[...] se dá com o aumento do número de fixos artificiais no território. Esses são os próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral, constituindo verdadeiras próteses da natureza, de modo que essa se encontra quase completamente transformada em natureza artificial, construída pelo trabalho do homem.

E este contexto relativo às transformações espaciais após os anos 1960,

aprofunda ainda mais o entendimento do espaço geográfico como “[...] um sistema

de objetos cada vez mais artificiais, povoados por sistemas de ações igualmente

imbuídos por artificialidade [...]” (SANTOS 1996, p.51).

Assim, há uma ampliação da presença de novas tecnologias no território,

por meio das composições técnicas representadas pelas infraestruturas otimizadas

por conjunto de novas técnicas, como a cibernética, a biotecnologia, a informática e

a eletrônica, num desenvolvimento das forças produtivas distribuídas de forma

desigual no espaço geográfico.

Exemplificando a presença destas composições ao longo do território,

torna-se relevante apontar o estudo realizado por Ramos (2001), no qual destaca a

ampliação da produtividade agrícola amplia em um menor tempo e espaço, com a

utilização de derivados da indústria química, em especial fertilizantes e agrotóxicos.

Além disso, a referida autora destaca que, em algumas regiões do

Nordeste, tornava-se evidente a existência de elementos do período técnico-

científico-informacional, uma vez que havia notável presença de equipamentos

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modernos agrícolas, com estes novos equipamentos inserindo-se no território dada

a escassez de fixos nos períodos técnicos anteriores, facilitando a composição de

novos conteúdos técnicos (RAMOS, 2001, p.479).

Neste contexto relativo à inserção do meio técnico-científico-informacional

na região Nordeste e no território potiguar, destaca-se o Vale do Açu. Segundo

Albano (2007, p.132), em sua análise relativa aos impactos de uma multinacional do

ramo da bananicultura instalada no município de Ipanguaçu, localizado na

Microrregião do Vale do Açu e na Mesorregião Potiguar na década de 1980, esta

corporação estrangeira se diferencia das outras empresas locais por, possuir notável

presença do capital estrangeiro, como os objetos técnicos produtivos advirem dos

Estados Unidos, como os equipamentos de irrigação, defensivos e materiais de

embalagem. Com exceção da mão-de-obra e solo, não havia maior dependência

produtiva local.

Assim, segundo o autor supracitado, a insignificância da dependência da

multinacional em relação ao município onde a mesma situava sua unidade produtiva

de bananicultura e maior dependência do âmbito internacional reflete a

intensificação do meio técnico-científico-informacional no estado do Rio Grande do

Norte (ALBANO, 2007, p.134).

No que se refere à composição técnica no território, os sistemas de

objetos do atual período representam um acréscimo técnico que veio renovar a

materialidade, herança de períodos anteriores.

Para Santos e Silveira (2001, p.55), essa nova materialidade é

representada pelas infraestruturas de irrigação e as barragens, os portos e

aeroportos, as ferrovias, rodovias e hidrovias, as instalações ligadas à energia

elétrica, as telecomunicações, compondo ainda, segundo Contel (2001, p.334), os

“sistemas de movimento” rodoviário, ferroviário, hidroviário/marítimo e aeroviário no

território brasileiro, sendo, portanto, um resultado dos processos econômicos e

sociais em curso.

Neste contexto deve ser inserida a região salineira do estado do Rio

Grande do Norte. A partir de meados da década de 1960, há uma profunda

renovação na base técnica das indústrias salineiras, com a introdução de máquinas

no processo de produção e a modernização do sistema de escoamento do sal.

Desta maneira, as chibancas, pás, alavancas, caixotes, enxadas e carros de mão

são progressivamente substituídos pela colhedeira mecânica, lavador mecânico,

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tratores, enchedeiras e caçambas, como será mais detalhado posteriormente.

Essas mudanças também são perceptíveis nos modos de transporte, uma

vez que se buscou reduzir a oneração do deslocamento da produção salineira

advindo das lentas tipologias de transportes marítimos existentes nos períodos pré-

técnico e técnico rudimentar, sendo desenvolvido um novo sistema de transportes

neste contexto de modernização do parque salineiro potiguar. Assim, as antigas

alvarengas são substituídas por grandes barcaças e na década de 1980 por

superbarcaças, aumentando o número de toneladas de sal transportado (COSTA,

1991, p.79).

O porto-ilha, um terminal salineiro no oceano atlântico, foi o último evento

da modernização que assistia o parque salineiro potiguar com fins de realizar a

embarcação do sal em grandes navios. Este objeto técnico correspondia a uma ilha

a qual constituía o Terminal Salineiro, localizada no município de Areia Branca com

uma área de aproximadamente de 15.000m2 e com uma capacidade para estocar

100 mil toneladas de sal a granel. Estas modernizações do transporte também serão

detalhadas a seguir.

Aprofundando esta contextualização relativa ao meio técnico-científico e

meio técnico-científico-informacional, associada à dinamização do circuito espacial

produtivo salineiro, destaca-se a urbanização e suas caracterizações coerentes com

o novo meio geográfico constituídas após a década de 1960.

Com a ampliação da urbanização, também se amplia a diversidade e o

desenvolvimento de novas formas de consumo, em especial no formato produtivo

não material, como serviços de saúde, serviços educacionais, serviços para o lazer

e serviços relativos à informação. Assim, há um notório incremento da população

economicamente ativa no setor terciário, crescendo de 33,2 % em 1960 para 37,4%

em 1970.

Contextualizando este incremento do terciário no território potiguar, os

geógrafos Rita de Cássia da Conceição Gomes, Anieres Barbosa da Silva e

Valdenildo Pedro da Silva, analisaram a atuação do setor terciário, a partir dos anos

1970, em especial na capital potiguar, a qual ampliou sua participação no total da

população do estado, associada a sua expansão e transformações na configuração

territorial urbana natalense.

Segundo os referidos autores, “[...] o setor terciário, como eixo econômico

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das sociedades de consumo, foi e continua relevante no processo de ocupação dos

espaços urbanos na cidade do Natal [...]” (GOMES, 2002, p.304). Ainda segundo os

autores, essa situação é demonstrada quando as vias expressas de circulação

tornaram-se o lugar preferencial das atividades terciárias na capital

norteriograndense.

Ainda no que se refere à expansão do terciário no território potiguar, para

Dantas (2007, p.48), ao analisar a expansão das atividades terciárias, representadas

pelas redes de supermercados natalenses, a produção de novas áreas residenciais

com a implantação de infraestruturas, representada pelos eixos de circulação

rodoviários, viabilizou uma maior articulação do território urbano natalense. Tal

contexto possibilitou o surgimento de novas áreas de comércio e serviços,

consolidando mudanças profundas no espaço urbano natalense, refletindo numa

urbanização configurada territorialmente sob a égide do meio técnico-científico-

informacional, semelhante ao ocorrido nas grandes cidades brasileiras.

Assim, evidencia-se uma ampliação dos grandes objetos geográficos no

território brasileiro, o qual se encontra, neste período técnico-científico-informacional

articulado em sistemas, em redes e não mais isolado, em “arquipélago”, como

ocorriam nos períodos anteriores.

Desta forma, os “sistemas de movimento”, como as Estradas de rodagem,

as ferrovias, os portos, além das usinas hidrelétricas e os sistemas de

telecomunicações passam a funcionar integrados, em solidariedade técnica, dando

condições para vários usos no território brasileiro.

Essa crescente artificialização do meio ambiente pela fixação desses

sistemas de engenharias, com os conjuntos de fixos edificados para facilitar a ação

humana, formam um sistema, constituindo, assim, uma interdependência funcional,

resultando numa tecnosfera “[...] marcada pela presença de grandes objetos

geográficos, idealizados e construídos pelo homem, articulados entre si em

sistemas” (SANTOS, 1994, p.120).

Tais processos resultam em mudanças em todos os recantos da vida

social, nas cidades e no campo, uma vez que os usos de diferentes frações da

cidade e da zona rural serão determinados por estas utilizações técnicas. Essa

situação se torna um fator de explicação para o momento atual, visto que,

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[...] vem marcado por uma verdadeira unicidade técnica, pelo fato de que, em todos os lugares (norte e sul, leste e oeste) os conjuntos técnicos presente são grosso modo os mesmos, apesar de graus diferentes de complexidades (SANTOS, 1994, p.118).

As diferenciações de complexidade possibilitaram a fragmentação dos

processos produtivos na dimensão internacional, uma vez que os objetos

geográficos supracitados estão presentes em todas as partes do mundo, numa

unicidade técnica, ampliada pela mundialização da produção, tampouco da

unificação dos mercados consumidores, e do sistema financeiro internacional

(ELIAS 2003a).

Numa síntese deste contexto acima citado, os fluxos materiais e não-

matériais relacionados à produção e ao consumo moderno não se realizavam, pois

os mesmos são diretamente relacionados com as configurações territoriais

emergidas do atual período técnico-científico-informacional.

E outra característica do atual meio técnico-científico-informacional a qual

merece destaque refere-se à ampliação da fluidez, advinda das condições técnicas

surgidas a partir do atual período. A premissa que podemos usar para pensar nessa

nova condição é o aumento dos fixos e a especialização dos lugares. A ampliação

dos fixos torna-se uma condição basilar para os fluxos e a especialização dos

lugares produz e intensifica o movimento pela sua especialização funcional.

Como nesse período atual as regiões deixaram de ser autárquicas,

aumentando as trocas decorrentes das necessidades, bem como as etapas do

processo produtivo encontram-se dispersas pelo espaço global, uma vez que o atual

meio técnico-científico-informacional possibilita o controle remoto da produção,

distribuição, circulação e o consumo, conceituações como a relativa ao circuito

espacial de produção tornam-se plausíveis para compreensão da nova dinâmica

surgida pela mundialização e os usos do território brasileiro, como a produção

salineira potiguar.

Sobre os Circuitos Espaciais de Produção, a formulação do mesmo

possui sua gênese num projeto denominado “Metodologia para o Diagnóstico

Regional”, conhecido pela sigla MORVEN, desenvolvido pelo Centro de Estudios del

Desarrollo, o qual utiliza a sigla CENDES, da Universidade Central de Venezuela, a

partir da década de 1970 (SOUZA, 2003, p.21).

O projeto teve duas publicações, coordenadas pelos seus autores Sonia

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Barrios e Alexandro Rofman e uma avaliação crítica produzida por Milton Santos e

Antônio Carlos Robert Moraes, no texto “Os circuitos espaciais de produção e os

círculos de cooperação no espaço”, sendo este texto apresentado no curso de pós-

graduação na Universidade de São Paulo no curso “A representação do espaço

geográfico na fase histórica atual”, ministrado pelo professor Milton Santos em 1985

(SOUZA, 2003, p.22), demostrando o delineamento dessa discussão até chegar a

uma formulação proposta pelo CENDES.

Assim, foi proposto um modelo para estudar a segmentação dos espaços

nacionais, compreendendo e especificando a interação dos diferentes agentes

produtivos sobre o espaço, com o objetivo de maximizar a capacidade de

acumulação. Neste contexto, não é excluída a dimensão internacional, uma vez que

os circuitos regionais estavam ligados à etapa concorrencial do capitalismo,

principalmente no meio técnico-científico-informacional. Para entender os circuitos

era preciso considerar os espaços econômicos das grandes firmas, espaço em que

entrecruzavam os marcos geopolíticos nacionais e sobressaíam.

O aprofundamento destas discussões resulta no texto “Circuitos espaciais

da produção: um comentário”, redigido por Milton Santos, na obra “A construção do

espaço”, organizada pelo referido autor e Maria Adélia Aparecida de Souza. Neste

texto há um aprofundamento de uma definição inicial proposta por Sonia Barrios,

onde a mesma caracteriza dois aspectos relativos aos circuitos espaciais de

produção (SANTOS E SOUZA, 1986, p.122).

Num primeiro aspecto, Barrios aponta atividades produtivas tidas como

“primária ou inicial”, como as atividades agrícolas, extrativas e indústriais, as quais o

seu insumo principal não tenha origem de fases anteriores, uma vez que, contrário a

essa condição se constitui em outro novo circuito de produção (SANTOS E SOUZA,

1986, p.123).

O aspecto seguinte relaciona-se a um conjunto de fases ligado aos

distintos processos de transformação, delimitando, assim, as etapas produtivas onde

o insumo principal deverá passar até chegar ao consumo. Dentro dessas atividades

produtivas, a autora propõe 25 circuitos, sendo o sal marinho um deles. Dentro da

totalidade da produção salineira o sal, seu insumo principal, possui origem na

produção propriamente dita, ou melhor, no espaço da produção propriamente dita,

as salinas (SANTOS E SOUZA, 1986, p.124).

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121

Como a produção é essencial para a existência do espaço e vice-versa

(SANTOS, 1985, p.81), podemos interpretar que as salinas são tributárias da

produção de sal, uma vez que as mesmas foram organizadas conforme os ditames

do meio ambiente como, por exemplo, a sua localização. Ao realizar esta afirmação

relativa ao meio ambiente, não se busca priorizar o determinismo ambiental. No

entanto, conforme já apontado na presente pesquisa, as condições naturais tiveram

relevância na localização da atividade salineira, uma vez que o litoral setentrional

potiguar possui as condições mais favoráveis no território brasileiro.

No entanto, sabe-se que apenas as condições naturais não garantem por

completo a produção, uma vez que, no atual momento histórico, torna-se necessário

uma explicação da realidade com o desenvolvimento e renovação das categorias de

análise. O mundo, no atual meio técnico-científico-informacional e o consequente

período globalizador tornou-se uno para atender as novas maneiras de produzir.

Além disso, aprofundando esta explicitação, a produção se especializou

regionalmente. Hoje, “[...] assistimos a especialização funcional das áreas e lugares,

o que leva a intensificação do movimento e a possibilidade crescente das trocas”

(SANTOS, 1988, p.57). Nas palavras da geógrafa Monica Arroyo:

Com a difusão dos transportes e das comunicações e conforme avança a expansão capitalista, criam-se as condições para que os lugares se especializem, sem a necessidade de produzir tudo para sua reprodução. Assim, ao passo que a economia local deixa de ser preponderantemente autárquica, estabelece-se uma crescente divisão territorial do trabalho. Esse processo – progressivo e acelerado com a incorporação de novas técnicas – ocasiona uma intensificação dos intercâmbios, que se dá em espaços cada vez mais amplos (ARROYO, 2001, p.52).

A partir desta discussão, podem-se exemplificar os municípios produtores

de sal que compõem a região salineira do estado do Rio Grande do Norte, os quais

mantêm, no atual período, notável intercâmbio comercial além de suas fronteiras,

produzindo sal para o mercado interno e externo. Esse intercâmbio se realiza por

duas formas de sistema de transporte no estado, o rodoviário e o

hidroviário/marítimo. Para aprofundar esta explicitação relativa ao circuito espacial

de produção salineira, tornou-se relevante uma constituição cartográfica.

Assim, o mapa 5, localizado a seguir, serve de premissa para delimitar a

espacialização da produção salineira potiguar, a qual abastece inúmeros mercados

em várias regiões do território brasileiro. Torna-se relevante destacar que os dois

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122

sistemas de movimento, o rodoviário e hidroviário/marítimo, representados na

cartografia requerem formas diferentes do produto, uma vez que o sal é transportado

em formas diferentes, conforme o tipo de transporte. Podemos entender essa

situação quando Marx (2008, p.252) afirma, no século XIX, que a organização da

distribuição achava-se completamente determinada pela organização da produção.

Como o atual período técnico-científico-informacional, há diversos lugares

do território brasileiro que se encontram articulados pelas condições tecnológicas,

com cada região especializada com sua produção material gerando fluxo de todos

os tipos, intensidade e em várias direções, é imprescindível uma nova categoria para

explicar tal realidade.

Neste contexto, Santos (1988, p.55) propõe a categoria circuito espacial

de produção como “[...] as diversas etapas pelas quais passaria um produto, desde o

começo do processo de produção até chegar ao consumo final” (SANTOS, 1988,

p.56). Em outras palavras, é a circulação de produtos, ou seja, da matéria

(SANTOS, 1994, p.120). Nas palavras de Moraes (1985, p.4), torna-se relevante

aprofundar a espacialidade da produção-distribuição-troca-consumo como um

movimento circular constante, delimitando seus elementos determinantes.

Ainda sobre o conceito de circuito espacial de produção ressalta três

aspectos de sua unidade: a centralidade na circulação, relativa à nomenclatura

“circuito”; a condição do espaço, correspondendo à terminologia “espacial” e a

atividade produtiva, representada pelo vocábulo “produção”, levando o circuito

espacial de produção a ser compreendido efetivamente como uma totalidade. O

encadeamento desses momentos se dá pela circulação, pela fluidez, um ditame

basilar do atual período, e, para Moraes (1985, p.3), essa condição é o sentido do

circuito.

Consolidando este contexto, Mônica Arroyo (2001, p.54) afirma que a

circulação, a fluidez, tem a maior relevância nesta unidade. Segundo a autora, essa

é a razão das empresas exercerem pressões para a existência de uma rede de

transporte e comunicações para se estabelecerem em um lugar.

Antes do processo de modernização das salinas potiguares na década de

1960, conforme observado na presente pesquisa, um dos entraves para a expansão

da produção salineira eram as condições precárias do escoamento da produção.

Entretanto, a partir da construção do Porto-Ilha, em 1974, há profundas

mudanças no escoamento da produção, tornado possível o escoamento da

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123

produção salineira a diferentes pontos do Brasil, como pode ser mais bem

visualizado no mapa a seguir.

Mapa 5 – Fluxos do transporte salineiro no território brasileiro

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

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Aprofundando sobre as condições de transporte, o sal possuía um notório

encarecimento na distribuição pelas operações manuais no transporte e o

embarque, pois “o uso de barcaças para transporte do sal, das pilhas do aterro até o

navio, por sua vez, atrasava ainda mais essa operação de carregamento, exigindo,

às vezes, até 15 dias de espera para efetuá-lo” (SOUSA, 1988, p.61-2).

Assim, o aumento da produção salineira, explicita como a modernização

dos sistemas de transporte auxilia na expansão da produção salineira potiguar. O

crescimento da produção salineira entre as décadas de 1970 e a década de 1980 é

considerável, ampliando-se nos anos posteriores, monopolizando a produção

nacional no Rio Grande do Norte, como visualizado na tabela a seguir.

Tabela 4 – Produção de sal marinho 1970 - 2010

ANOS PRODUÇÃO DE SAL NO

BRASIL (em toneladas)

PRODUÇÃO DE SAL NO

RIO GRANDE DO NORTE

(em toneladas)

PARTICIPAÇÃO DO RIO

GRANDE DO NORTE NA

PRODUÇÃO NACIONAL

1970 1.629.507 1.459.390 89,6%

1980 2.866.772 2.649.531 92,4%

1991 3.020.000 2.966.500 98.2%

2000 5.491.554 5.280.340 95,8%

2010 6.375.255 6.189.180 97,3%

Fonte: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1970; 1980; 1991; 2000; 2010.

Outro aspecto que demonstra a modernização dos fluxos da produção

salineira e a sua relação com a produção, refere-se aos sistemas de movimento

hidroviário/marítimo, com a construção do Terminal Salineiro do município de Areia

Branca, ocorrido em 1974. Para coordenar a construção do porto-ilha, foi criada a

Terminais Salineiros do Rio Grande do Norte S.A. - TERMISA, uma sociedade de

economia mista. Esse empreendimento “constituiu-se na mais arrojada obra

portuária da história da tecnologia do país” (COSTA, 1991, p.71).

Este porto localiza-se a 14 milhas náuticas, correspondendo a 26 km da

costa de Areia Branca. Para facilitar o processo de inserção de embarcações

maiores buscou-se constituir um sistema de ilha artificial, sendo o projeto elaborado

pela empresa norte-americana Soros Associates Consulting Engineers (SOUZA,

1988, p.89). A imagem 1, a seguir, demonstra uma visão panorâmica do Terminal

Salineiro ou porto-ilha de Areia Branca, destacando a ponte metálica que auxilia no

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carregamento dos navios.

A participação de uma empresa estrangeira na elaboração da construção

do porto-ilha de Areia Branca também evidenciava a notória intencionalidade do

capital em ampliar as possibilidades de fluidez da produção salineira, uma vez que

as estruturas portuárias anteriormente existentes não possibilitavam um maior

escoamento da produção, tendo a constituição do Terminal Salineiro de Areia

Branca como um evento, um marco temporal que ampliava os fluxos dos sistemas

de movimento hidroviário/marítimo salineiro potiguar.

Imagem 1 – Porto-ilha ou terminal salineiro de Areia Branca

Fonte: CODERN, 2015.

Segundo informações da diretoria da Companha das Docas do Rio

Grande do Norte - CODERN, foram investidos 35 milhões de dólares para a

construção do porto-ilha, com os recursos advindos do Governo Federal, com uma

parte deste recurso advindo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico -

BNDE e a outra obtida através de empréstimos em bancos estrangeiros, em

especial norteamericanos. Assim, a construção do porto inicia-se em 1971, com a

obra sendo inaugurada em 1974 (SOUZA, 1988, p.89).

Sobre a localização do porto-ilha em Areia Branca, segundo Costa (1991,

p.77), a decisão de construir este fixo em Areia Branca foi consequência, além de

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126

interesses econômicos, de intencionalidades políticas. Ainda para Ademir Araújo da

Costa (1991, p.77), “Macau não teve força (...) para reivindicar, junto aos poderes

públicos a construção do porto em seu litoral”.

Como consequência disso, o custo de transporte do sal de Macau para o

porto-ilha é bem mais oneroso do que o do outro município, uma vez que se

percorre uma distância duas vezes superior àquela entre Areia Branca e o Porto-

ilha. Enquanto a distância entre Areia Branca e o Porto-ilha correspondia a 26

quilômetros, a distância do referido fixo a Macau era de 52 quilômetros.

Também favorecia a construção do porto-ilha em Areia Branca as

facilidades de fixos rodoviários, como a rodovia federal BR 110, a qual ligava

diretamente a referida cidade a Mossoró, segundo maior município potiguar em

população, na atualidade com 259.815 habitantes (IBGE, 2010), situado a 40 km de

Areia Branca. Essa relevância Mossoroense no espaço potiguar, ampliada, dentre

outros fatores, pela modernização e mecanização salineira, será mais bem

visualizado no próximo capítulo, a partir de discussões teóricas de Camila Dutra dos

Santos (2010).

A rodovia federal BR 110, também conecta Areia Branca aos Estados da

Paraíba, Pernambuco e Bahia. Também merecem notoriedade as rodovias

estaduais RN 012 e RN 013, as quais também ligam Areia Branca à BR 304, rodovia

federal situada entre Natal e Fortaleza, como observado no mapa 6, a seguir.

Desta maneira, Macau, embora fosse responsável por mais de 60% da

produção salineira potiguar até a década de 1970, possuiu a distribuição produtiva

do sal sensivelmente impactada, uma vez que se tornou necessário uma maior

quantidade de embarcações motorizadas para fazer o transporte do sal, consumindo

mais combustível e enfrentando um desgaste maior de capital e de tempo.

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Mapa 6 – Sistemas de movimento viário potiguar, destacando a área salineira

(em destaque no quadrilátero laranja)

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

No que se refere às características técnicas do porto-ilha, o mesmo foi

construído para a estocagem de sal a granel. Sua capacidade de armazenamento é

de 100 mil toneladas. Sobre a profundidade das águas, a mesma atinge em média

15 metros, conforme se evidencia os mapas a seguir.

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128

Mapa 7 – Carta naútica da região de Macau/RN

Fonte: COSTA, 1991.

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129

Mapa 8 – Carta naútica de Areia Branca/RN e região do Porto-ilha

Fonte: COSTA, 1991

Ampliando-se a caracterização relativa ao porto-ilha, o mesmo é

constituído de 26 células de sustentação, com diâmetro de 17 metros e 49

centímetros, correspondendo a 240 metros quadrados. A parte inferior é constituída

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de material de formação coralínea, com granulometria de área. No pé de cada

célula, para proteção da erosão, sob a ação das vagas, realizou-se uma berma de

enrocamento, com 15 metros aproximados de largura e um metro de altura. A berma

corresponde a uma passagem estreita que delimita o canal de acesso ao porto-ilha,

sendo, portanto, uma calçada protetora, constituída de rocha calcárea e granítica

(COSTA, 1991, p.79).

Ainda sobre as células, 24 destas constituem um retângulo,

correspondendo ao elemento estrutural de fechamento da ilha, formando, assim, 4

cortinas contínuas de células e intercélulas, sendo estas as suas laterais. As duas

células e intercélulas restantes, interligadas às demais, formam uma saliência

retangular na extremidade sul da ilha, onde se localiza a parte das instalações de

serviço, conforme poderá ser visualizada na Figura 5, a seguir (COSTA, 1991, p.80).

Ainda sobre outros detalhes técnicos relevantes, destaca-se a existência

de uma ponte metálica de 432 metros de extensão, a qual interliga o porto-ilha ao

carregador mecânico de navios, possuindo uma esteira com capacidade de

transporte de 1.500 toneladas de sal por hora, conforme observado anteriormente na

figura 3, a qual destaca esta referida ponte.

Sobre o carregador mecânico, o mesmo está equipado, na sua esteira,

com uma lança portátil, correspondendo, assim, a uma esteira móvel, capaz de

carregar navios de até 25.000 Toneladas de peso morto - TDW, sem que o mesmo

necessite movimentar-se. Para os navios de capacidade superior, a fim de uma

distribuição igualitária da carga a ser transportado no fixo marítimo cargueiro, faz-se

necessário que o mesmo mude de posição durante o carregamento (COSTA, 1991,

p.81).

O sistema de atracação de navios é constituído de 3 dolfins6. A partir da

utilização desses equipamentos, um navio com capacidade de 6.800 toneladas, o

qual, até a década de 1960, demorava 9 dias para ser carregado através de

métodos convencionais, hoje pode ser carregado em poucas horas (COSTA, 1991,

p.82).

6 Corresponde a uma estrututa de ferro onde o navio atraca, e de bóias de amarração, que possibilita a atracação de navios com até 35.000 Toneladas.

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Figura 3 – Esquematização de funcionamento do Porto-ilha

Fonte: COSTA, 1991.

No que refere ao recebimento do sal do local de produção, o porto-ilha

também conta com esse sofisticado sistema de controle, recebendo barcaças auto-

propulsoras, vindas das estações de carregamento das salinas. O descarregamento

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mecanizado das barcaças na ilha é feito pelo emprego de guindastes de pórticos, do

tipo rolante, numa razão de 700 toneladas por hora. São dois os descarregadores de

barcaças, sendo estes construídos com tecnologia nacional (COSTA, 1991, p.82).

Sobre estes descarregadores, há a acoplagem de esteiras em lança para

formação de pilhas de sal na ilha ou para a esteira transportadora, a qual é

conduzida até o carregador de navios. Desta forma, movendo-se em trilhos, cada

descarregador de barcaça tem uma capacidade 350 toneladas de sal por hora. Uma

maior panorâmica destes processos está representada na imagem 2, a seguir.

Imagem 2 – Panorâmica do porto-ilha de Areia Branca

Fonte: CODERN, 2015.

Sobre a origem do sal produzido, apesar das dificuldades operacionais

para a exportação da produção salineira de Macau, exposta no presente capítulo,

dada a notável porcentagem de produção advida do município macauense, o

mesmo corresponde a 60% do sal enviado ao porto-illha e os outros 40% advém da

região de Areia Branca (CODERN, 2015).

Ainda sobre o sistema de movimento hidroviário/marítimo, a

modernização/mecanização salineira levaram a notórias mudanças e

transformações, das antigas alvarengas às grandes barcaças. Desta forma, as

alvarengas, as quais necessitavam de um grande número de trabalhadores para

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133

realizar o transporte da produção para estas embarcações, foram substituídas, na

década de 1970, pelas grandes barcaças, com uma capacidade de transporte

superior a 600 toneladas de sal marinho (COSTA, 1991, p.71).

A produção e o transporte, feitos em moldes tradicionais até a década de

1970, comprometiam o rendimento das salinas e oneravam o custo do produto.

Desta forma, segundo Costa (1991, p.72):

Pressionados a mecanizarem o parque salineiro potiguar, as corporações salineiras nacionais logo se revelaram incapazes de arcar com os enormes custos envolvidos no processo, ampliando os espaços dos grandes grupos de capital estrangeiro, ocorrendo com isto a desnacionalização das empresas existentes e, consequentemente, a modernização tecnológica do parque salineiro potiguar.

Logo, os grandes grupos que assumiram a produção salineira potiguar a

partir da década de 1970, aceleraram a modernização produtiva, buscando reduzir o

custo operacional da produção do sal. Desta forma, as antigas alvarengas, que já

haviam substituído às barcaças de madeira do passado e que ainda davam

ocupação a uma considerável tripulação de alvarengueiros, foram, portanto,

substituídas por grandes barcaças que ampliaram o número de toneladas

transportadas, chegando a 600 toneladas em cada embarcação, como observado há

pouco. E na década de 1980, surgem as superbarcaças com uma capacidade de

transportar 1.000 toneladas de sal para o terminal salineiro do município de Areia

Branca (COSTA, 1991, p.84).

E, conforme será mais bem visualizado no capítulo a seguir, este

processo modernizador reduziu consideravelmente a demanda das categorias que

lidavam diretamente com o transporte do sal, como os estivadores e alvarengueiros.

Sobre a modernização da exportação da produção salineira após a

ascensão do porto-ilha em 1974, no ano seguinte à inauguração deste fixo, o porto

de Areia Branca representava 30% de movimentação de embarcações no estado

potiguar, enquanto que o porto da cidade de Natal tinha uma movimentação de

68,7%.

Essa modernização do processo de transporte da produção salineira

levou a um incremento da participação do porto de Areia Branca no total de

portações do Rio Grande do Norte, uma vez que o referido porto correspondia a

90% da carga total movimentada no Rio Grande do Norte em 1980 (ANUÁRIO

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134

ESTATÍSTICO DO BRASIL, IBGE, 1980). Isso nos leva a perceber a importância

dos portos como fixos para a fluidez territorial, gerando fluxos que se originam

dessas coisas fixas (ARROYO, 2001, p.106).

A crise das economias tradicionais, como o algodão, aprofundada no final

da década de 1970, contribuiu para esta maior concentração das exportações no

sal, uma vez que as demais atividades econômicas potiguares não possuíam a

mesma dinamicidade produtiva (SOUZA, 1988, p.86).

Sobre a constituição do terminal salineiro de Areia Branca e sua relação

com a produção e a constituição urbana macauense, como será aprofundado no

capítulo 5, Ademir Araújo da Costa (1991, p.83), destaca que este fixo é um

relevante evento para representar o declínio da relevância Macauense no contexto

salineiro potiguar, uma vez que o deslocamento da produção salineira para o porto

de Areia Branca levou a uma significativa redução no movimento no porto de Macau,

além do fato da modernização das embarcações reduzirem drasticamente a

necessidade de trabalhadores, ocasionando consequências no espaço urbano

macauense.

Para concluir esta discussão relativa à modernização do sistema de

movimento hidroviário/marítimo, no período 2005-2015, o governo federal investiu

R$ 278 milhões no Terminal Salineiro de Areia Branca, para ampliação da

plataforma, do cais de atracação, da capacidade de carregamento e armazenamento

e aquisição de equipamentos, como uma pá mecânica de grande porte, um trator de

esteira e uma nova usina de geração de energia. Como consequência deste

processo, segundo a Companhia Docas do Rio Grande do Norte, a produção

ampliou-se de 2.343.205 toneladas exportadas no porto-ilha em 2005 para

2.543.424 toneladas de sal exportadas pelo referido fixo em 2015 (CODERN, 2015).

Além da circulação, na qual se discutiu, em especial, os sistemas de

movimento hidroviário/marítimo, também merece notoriedade a compreensão do

espaço geográfico como instância social, a qual compõe uma das estruturas que

formam a sociedade total, uma estrutura contida e que contém as demais instâncias.

Segundo Milton Santos (1978, p.181), essa compreensão deve ser realizada como

ocorre com as demais estruturas sociais, sendo uma estrutura subordinada -

subordinante, participando da/e na sociedade como “[...] meio e condição no

processo de produção contínuo e inacabado” (CASTILHO, 2009, p.32) pelas suas

formas geográficas.

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135

Desta maneira, a configuração territorial é relevante para compreender a

realização dos vários circuitos espaciais produtivos, utilizando diferentes frações do

espaço geográfico com os sistemas técnicos para realizarem a sua produção. Cada

fração do espaço geográfico é configurada para exercer funções conforme a base

técnica instalada nos mesmos. Portanto, cada lugar passa a ter seu papel no

processo produtivo.

Consolidando esta explicitação, destaca-se que a atividade produtiva,

portanto, refere-se ao momento que envolve um número variado de agentes ligado

ao circuito produtivo, desde sua etapa de produção propriamente dita até ao

consumo final. Na produção de sal, tal articulação é referente às indústrias

salineiras, os agentes envolvidos no ramo da atividade econômica com seus

operários, máquinas, o setor logístico, a contratação de transportes rodoviários para

o escoamento da produção.

Além disso, há escritórios representativos da indústria salineira existentes

na capital do estado do Rio Grande do Norte, em especial das grandes corporações,

como a Salinas do Nordeste S/A – SALINOR, a qual explicita a existência deste

escritório em seu site na Rede mundial de computadores – INTERNET e na

pesquisa de campo, a qual será mais explicitada no capítulo a seguir.

Assim, evidenciam-se as diversas etapas da atividade salineira em seu

circuito produtivo, desde a produção ao consumo. E outros agentes participam das

outras estâncias do circuito espacial de produção, formando uma cooperação entre

esses agentes envolvidos na espacialização da produção pelo território brasileiro.

Essa cooperação ocorre a partir de uma articulação entre os lugares que

se expressam “[...] através do movimento de inúmeros fluxos de produtos, ideias,

ordens, informação, dinheiro, excedente, enfim, através da circulação” (ARROYO,

2001, p.57). Além disso, nesse período técnico-científico-informacional “a

informação, em todas as suas formas, é o motor fundamental do processo social e o

território é, também, equipado para facilitar a sua circulação” (SANTOS, 1993, p.38).

A circulação de ordens, dinheiro, mensagens, idéias e informação ganha um grande

destaque nos circuitos espaciais de produção, interligando os diversos agentes e

lugares no território brasileiro.

Desta forma, evidencia-se a importância dos círculos de cooperação para

entender os fluxos imaterias, consequência dos circuitos produtivos. A atuação dos

escritórios representativos das indústrias salineiras localizados na capital do estado

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136

do Rio Grande do Norte, a presença do setor logístico, a organização em rede de

distribuidores, de vendedores e os site das indústrias salineiras, os quais descrevem

as diversas tipologias de sal para diferentes tipos de consumidores, bem como as

formas de contatos para a comercialização, exemplificam os círculos de cooperação

realizados pelas indústrias salineiras do estado do Rio Grande do Norte.

Exemplificando estes circuitos de cooperação, no município de

Mossoró/RN, próximo à rodovia federal BR 304, onde estão localizados os

escritórios de revendas, as empresas de moagem e refinaria, armazéns e depósitos

de sal, os postos de gasolina dão condições para uma melhor integração do circuito

produtivo.

Segundo Rocha (2005, p. 85) é comum encontrar placas afixadas nos

postos de combustíveis e armazéns ao longo da rodovia federal BR 304, com a frase

“Temos Fretes”, associado à atuação dos agenciadores na ação de oferecerem e

negociarem sal. Essa é uma das causas que levaram Mossoró, associada à

centralização de fluxos rodoviários existentes na referida cidade, a se tornar, a partir

da modernização da produção salineira dos anos 1970, o maior distribuidor de sal do

país (ROCHA, 2005, p.85), gerando, como serão observadas no capítulo seguinte,

notáveis mudanças dimensionais na relevância mossoroense no espaço potiguar.

No município de Macau, essa dinâmica de distribuição e circulação de

carga salineira ocorre nos escritórios de cargas localizados nos municípios de Natal,

Parnamirim e Mossoró, nas proximidades das áreas produtoras e exportadoras. A

partir da pesquisa de campo aqui realizada com as principais corporações

produtoras de sal macauenses, como o setor logístico da salina Henrique Lages, a

qual também será exposta no capítulo seguinte, os escritórios de cargas realizam a

contratação e corretagem de veículos para o escoamento da produção de sal.

Muitos dos caminhões contratados por esses escritórios vêm de outras regiões do

Brasil com cargas, como arroz, papel, milho, piso de cerâmica, garantindo os fluxos

da produção salineira potiguar para as demais regiões brasileiras.

Sobre os agentes envolvidos no circuito espacial de produção do sal e

dos círculos de cooperação, os mesmos atuam em territórios diferentes no estado

do Rio Grande do Norte e no Brasil, uma vez que as etapas do processo produtivo

do sal, relativas à produção, à distribuição, à circulação e ao consumo, estão em

lugares diferentes conforme as suas funcionalidades dentro do circuito produtivo.

Logo, “os circuitos espaciais de produção e os círculos de cooperação mostram o

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137

uso diferenciado de cada território por parte das empresas, das instituições, dos

indivíduos [...]” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.144).

Desta forma, pode-se reconhecer a existência de espaços da produção

propriamente dita, de espaços da distribuição e da circulação e de espaços do

consumo. No entanto, para Santos (1985, p.22), essa análise é apenas uma

operação lógica a fim de permitir um melhor conhecimento do real. Este só é dado

quando pensamos num espaço geográfico uno. E, para uma melhor compreensão

destes processos, serão visualizados os espaços da produção propriamente dita, da

circulação e da distribuição, do consumo da produção salineira no território potiguar.

Ao aprofundar a compreensão relativa à espacialização da produção

salineira no território brasileiro torna-se relevante destacar que as diversas

instâncias do circuito produtivo do sal se dão em diferentes territórios. Logo, esses

territórios, analiticamente, podem ser conhecidos como territórios da produção

propriamente dita, territórios da circulação e da distribuição e territórios do consumo.

Assim, as salinas aparecem como o território da produção propriamente

dita, concentrando numerosas etapas da produção do sal: cristalização, colheita,

moagem, refino e embalagem. Segundo Sousa (1988, p.34) existia 844 salinas

inscritas no então Instituto Brasileiro do Sal - IBS, distribuídas pelo litoral brasileiro

desde o estado do Pará até o Rio de Janeiro, mas com maior produção no Rio

Grande do Norte, embora houvesse limitações da produção impostas pelo IBS.

No que se referia à Região Nordeste, a área de cristalização correspondia

a 17,8 milhões de m². Desse total, o estado do Rio Grande do Norte concentrava

13,2 milhões de m² de área de cristalizadores, com um total de 76 salinas. E Macau

apresentava uma área de cristalização de 3,5 milhões de m² (SOUSA, 1988, p.35).

Com a extinção das cotas impostas pelo IBS ampliou-se o monopólio salineiro

Na atualidade, de acordo com os dados relativos ao ano de 2015,

advindos da Federação das indústrias do estado do Rio Grande do Norte – FIERN, o

território potiguar possui 56 grupos empresariais salineiros, mas com área de

cristalizadores superior a 1988, com 19 milhões de m². E sobre essa distribuição

salineira no território potiguar evidencia-se na tabela 5, a seguir.

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138

Tabela 5 – Distribuição das indústrias salineiras no espaço potiguar

MUNICÍPIO N°INDÚSTRIAS (%) DE INDÚSTRIAS MOSSORÓ

GROSSOS

MACAU

AREIA BRANCA

GALINHOS

GUAMARÉ

TOTAL

35

8

6

5

1

1

56

62,5

4,3

10,7

8,9

1,8

1,8

100

Fonte: FIERN, 2015

Assim, sobre a distribuição das salinas, 85% das indústrias salineiras

encontram-se localizadas na foz do Rio Apodi-Mossoró, nos município de Mossoró,

Grossos e Areia Branca. Já os municípios de Macau, Guamaré e Galinhos, situados

na foz do Rio Piranhas-Assu, possuem, em conjunto, 15% das indústrias salineiras

existentes no território potiguar, conforme a tabelas 6, na página a seguir (FIERN,

2015).

Entretanto, no que se refere aos cristalizadores, relevante parâmetro da

área utilizada pela indústria salineira, o município de Macau/RN, embora possua

10,7% das salinas existentes no território potiguar, possui mais de 13% do total de

cristalizadores, com 3 milhões de m² (FIERN, 2015).

Sobre esta notória concentração industrial salineira na foz do Rio Apodi-

Mossoró, o redimensionamento da distribuição produtiva, com a concentração de

escritórios e uma maior rede de sistemas de movimento viário em Mossoró, segunda

maior cidade potiguar, com 259.815 habitantes (IBGE, 2010), associado a maior

proximidade do porto-ilha em Areia Branca foram relevantes para esta mudança e

consequente ampliação da concentração salineira. E no capítulo seguinte será mais

bem visualizada a ampliação da relevância Mossoroense no espaço potiguar.

Mas, ao serem analisadas a produção salineira por município, nota-se

uma menor concentração da produção salineira por parte das industrias localizadas

na planícies flúvio-marinha do rio Apodi-Mossoró, uma vez que Mossoró, com

2.312.420 toneladas; Areia Branca, com 778.360 toneladas; e Grossos, com

408.180 toneladas, correspondem a 55,5 % do total potiguar (FIERN, 2015).

No entanto, há uma notória produção salineira na planície flúvio-marinha

do Rio Piranhas-Assu, com Macau produzindo 2.280.340 toneladas; Galinhos, com

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391.580 toneladas; e Guamaré, com 22.160 toneladas, totalizando 44,5% da

produção da indústria salineira do Rio Grande do Norte (FIERN, 2015).

Tabela 6 – Produção salineira no espaço potiguar (2015)

MUNICÍPIO PRODUÇÃO (toneladas) (%) DO TOTAL ESTADUAL

MOSSORÓ

MACAU

AREIA BRANCA

2.312.420

2.280.340

778.360

37,3

36,8

12,6

GROSSOS 408.180 6,6

GALINHOS 391.580 6,3

GUAMARÉ 22.160 0,4

TOTAL 6.193.040 100

Fonte: FIERN, 2015.

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140

Mapa 9 – Atual distribuição da indústria salineira potiguar

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

Os dados expostos nas tabelas 5 e 6, e no mapa 9, evidenciam, conforme

será aprofundado no capítulo a seguir, que esta produção macauense servirá como

contraponto, numa dimensão nacional diretamente relacionada à produção salineira,

à redução da relevância macauense numa dimensão econômica regional.

Desta forma, evidencia-se que o processo direto da produção salineira

pode ser “[...] tributário de um pedaço determinado de um território, organizado por

uma fração da sociedade para o exercício de uma forma particular de produção”

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141

(SANTOS, 1985, p.61). Essa figura 6 auxilia na compreensão das salinas

macauenses se tornarem tributária do território onde está instalada.

Embora se evidencie que a imagem a seguir, é apenas um momento

concretizado, uma “[...] materialização de um instante da sociedade” (SANTOS,

1988, p.79) e não demonstra completamente a dinâmica que existe numa salina, a

mesma é relevante para demonstrar como uma salina é derivada da localização.

Imagem 3 – Território das salinas Henrique Lages, em Macau/RN

Autor: Iapony Galvão, 2016.

Ainda sobre a produção salineira, é relevante destacar que a mesma deve

ser distribuída, circulando pelo território, sendo, assim, transformada em fluxo. Isso

exige condições técnicas, como os sistemas de movimento rodoviário e marítimo,

correspondendo, respectivamente, a estradas, portos, vias fluviais, além de meios

de comunicação. E os lugares são configurados para realizarem essas funções

relativas à fluidez, tornando-se, assim, territórios da distribuição e da circulação.

Desta forma, ampliando a compreensão sobre os fluxos, os relativos aos

sistemas de movimento rodoviário, auxiliam na circulação da produção das

indústrias salineiras no território potiguar e brasileiro. Para essa condição o estado

do Rio Grande do Norte é servido de uma extensão rodoviária de 27.427 km de

estradas, distribuídas entre federais, estaduais e municipais interligando vários

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142

estados da região Nordeste e do Brasil.

Além disso, o sistema de movimento ferroviário também possui

notoriedade na distribuição da produção salineira, em especial durante a primeira

metade do século XX. O transporte ferroviário, como esclarece Sousa (1988),

auxiliava na distribuição do sal pelo território brasileiro.

Segundo Moura (2003, p.236), quando as estradas de ferro chegaram ao

município de Macau/RN o trem passou a transportar carga superior do que as

cargas rodoviárias, embora a expansão do rodoviarismo após os anos 1950 tenha

estagnado a expansão ferroviária no território potiguar e brasileiro. Muitas das

ferrovias foram extintas, mesmo após a privatização dos ramais ferroviários

potiguares pela Companhia Ferroviária do Nordeste – CFN. O território da

distribuição e circulação salineiro completa-se com a atuação do Terminal Salineiro

do município de Areia Branca, facilitando o escoamento da produção do sal potiguar.

O uso do espaço da circulação e distribuição para Santos (1985, p.18),

pode se dar diferentemente pelas firmas ou indústrias. Alguns fatores são listados

pelo geógrafo para explicar os diversos usos desses espaços, como a natureza do

produto e suas exigências específicas quanto ao transporte. No caso das indústrias

salineiras presentes no município de Macau/RN, a circulação e distribuição da

produção se realizam pelos transportes terrestres e marítimos.

No entanto, no que se refere à distribuião no território nacional, há uma

notória participação da circulação e distribuição do sal por meio terrestre. Em 2015,

dos 6 milhões de toneladas de sal produzidos no Rio Grande do Norte, 3,5 milhões

de toneladas, ou 55% do total, foram escoados exclusivamente por transporte

rodoviário, particularmente a direcionada para o mercado interno (FIERN, 2015).

Como visto anteriormente, os outros 2,5 milhões utilizaram transporte marítimo.

A construção da “Ponte de todos Nossa Senhora dos Navegantes”, no

ano de 2006, a qual liga a BR 406, principal rodovia federal em Macau à ilha de

Sant‟ana, onde se localizam salinas, como a F.Souto e Henrique Lage, ampliou o

fluxo de transporte terrestre com carregamento de sal no município de Macau/RN. A

visualização dos sistemas de movimento rodoviário, ferroviário e

hidroviário/marítimo, os quais auxiliam na constituição dos territórios da produção,

da distribuição e circulação potiguares, sendo visualizada no mapa 10, a seguir.

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143

Mapa 10 – Representação ampliada dos sistemas de movimento rodoviário, ferroviário

e hidroviário/marítimo no Rio Grande do Norte

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

Ainda sobre os sistemas de movimento hidroviário, o qual predomina

como principal fluxo da produção salineira, também deve ser apontada a distribuição

salineira por via fluxial, a qual ocorre por meio de barcaças que navegam no rio

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144

Piranhas-Assu, ainda realizado por algumas corporações, embora em menor

quantidade que no passado. Esse fluxo de barcaças carregadas de sal direcionava-

se ao Terminal Salineiro de Areia Branca, para abastecer grandes navios. Das

grandes corporações, na atualidade, apenas a Salinas do Nordeste S.A. –

SALINOR, ainda mantém o fluxo de sal por meio das barcaças para o Terminal

Salineiro de Areia Branca, mas num fluxo reduzido frente aos deslocamentos da

produção por caminhões, correspondentes aos sistemas de movimento rodoviário.

Sobre a organização territorial das salinas presentes no município de

Macau, as mesmas realizam usos diferentes do território da cidade e do estado do

Rio Grande do Norte, conforme as possibilidades geradas pela configuração

territorial do município e do estado, bem como explica Santos (1985, p.64), de

acordo com a rentabilidade de cada via relativa aos sistemas de movimento

rodoviário e marítimo/hidroviário relacionados a cada indústria salineira. A

organização espacial e a localização territorial das salinas Macauenses se tornam

mais bem visualizadas no cartograma 8, a seguir.

Consolidando a análise do espaço do circuito produtivo do sal, também há

notoriedade os territórios do consumo, os quais são reconhecidos pela manifestação

da circulação e distribuição do sal pelo território brasileiro. Além disso, os

consumidores da produção salineira identificam esses territórios como a produção

voltada para o consumo humano, para a indústria química e a pecuária, como

observado anteriormente, no mapa 5.

Também auxilia a compreensão dos circuitos espaciais salineiros, a linha

dos produtos advindos do sal voltados para cada tipo de consumo citados também

nos ajudar a raciocinar nesses territórios voltados para o consumo. Esses territórios

analiticamente distinguíveis, em especial no atual meio técnico-científico-

informacional, se imbricam e se tornam sobrepostos no território brasileiro.

Essa situação é uma evidência quando Santos (1985, p.65) afirma que o

espaço geográfico, como realidade, é uno e total. Portanto, os dados de consumo de

sal evidenciam que não se pode separar o espaço da circulação e distribuição do

espaço do consumo. E isso será aprofundado a seguir, ao observar a configuração

territorial como condição para a realização do circuito espacial de produção do sal.

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145

Mapa 11 – Distribuição das empresas salineiras em Macau/RN

Autores: Filipe Maciel e Iapony Galvão, 2017.

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146

Sobre a configuração territorial como condição para a realização do

circuito espacial de produção do sal, torna-se relevante compreender que o conjunto

de objetos arranjados em forma de sistema sobre um território torna-se, no atual

momento histórico, indispensável para a realização da espacialização da produção

salineira potiguar.

Desta forma, sistemas técnicos como pontes, portos, vias fluviais e

estradas de rodagem passam a ser condições necessárias num momento em que o

“[...] processo global da produção, a circulação prevalece sobre a produção

propriamente dita, os fluxos se tornam mais importantes ainda na explicação de uma

determinada situação” (SANTOS, 1985, p.68).

Desta forma, no que se refere à produção salineira do estado do Rio

Grande do Norte e, particularmente, do município de Macau/RN, o território é

organizado para atender às exigências das indústrias salineiras. São constituídos

sistemas de movimento viário, como estradas pavimentadas, pontes e portos, os

quais se tornam objetos geográficos com intenções de realizarem a circulação da

produção salineira.

Logo, cria-se um padrão geográfico definido pela circulação (SANTOS,

1996, p.182), buscando facilitar a circulação da produção salineira no município de

Macau/RN. E o mapa 11, na página anterior, amplia a visão relativa à organização

das salinas e os meios de circulação no território de Macau/RN.

Sobre os meios de circulação, conforme descrito anteriormente, a

produção salineira exportada para outros países e também para partes do território

brasileiro utiliza-se dos sistemas de movimento hidroviário/marítimo. Também possui

notoriedade o escoamento por via terrestre, em especial para o mercado interno

brasileiro, utilizando a estrada que liga o município de Macau à ilha de Alagamar,

além da Ponte de Todos Nossa Senhora dos Navegantes, sendo realizado pelas

grandes corporações salineiras macauenses, a Salinas do Nordeste S/A, - SALINOR

e a Henrique Lages Salineira S/A, além da F.Souto e Irmão, de menor porte.

Aprofundando sobre o circuito espacial da produção salineira e suas

implicações na configuração territorial Macauense, torna-se relevante compreender

como as grandes corporações salineiras supracitadas do município de Macau/RN

imprimem suas lógicas nos 788 Km² do território do município (IBGE, 2010), bem

como nas além-fronteiras macauenses.

Sobre o transporte da produção salineira, estes são semelhantes nas

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grandes corporações Macauenses, a Salinas do Nordeste S/A, - SALINOR e a

Henrique Lages Salineira S/A, conforme perceptível durante a pesquisa de campo, a

qual também será detalhada no capítulo 5, a seguir.

Na atualidade, 97% da produção salineira brasileira estão concentrados

no território dos municípios potiguares de Macau, Areia Branca, Grossos e Mossoró.

Segundo Marco Túlio Diniz (2013, p.46), das 76 empresas cadastradas na

Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte – FIERN, relacionadas à

produção salineira, com 56 destas diretamente ligadas à produção e as outras 20

empresas ligadas também a distribuição e circulação, apenas 18 das mesmas, ou

25% do total de corporações, concentram 80% de toda capacidade instalada no

território potiguar.

Para aprofundar mais a compreensão da produção salineira potiguar, em

especial em Macau, torna-se relevante identificar e localizar a produção

propriamente dita, a circulação, a distribuição e o consumo, uma vez que são

variáveis que auxiliam a localizar as frações territoriais que exprimem tais

funcionalidades.

Desta forma, as salinas, os sistemas de movimento viário rodoviário,

representados pelas estradas de rodagem estaduais e municipais, os sistemas de

movimento hidroviário, representados pelas vias fluviais, pelos portos marítimos, os

varejistas e os atacadistas são elementos que auxiliam nessa análise, uma vez que

é a relação entre os mesmos que articula os lugares acima citados.

Aprofundando o entendimento desta articulação, a geógrafa Mônica

Arroyo (2010), descreve que os movimentos de inúmeros fluxos estão diretamente

relacionados com a conjunção de diversos fixos/sistemas de engenharia, tornando

as diversas frações do território sendo constituídas por uma ou várias fases do

circuito de produção. Observaremos a seguir o circuito produtivo salineiro.

No que se refere às diversas etapas que participam do processo produtivo

do sal, da produção propriamente dita até ao consumo, a etapa de circulação e

distribuição torna-se uma das etapas de grande relevância por apresentar-se como

um elemento identificador do uso do território.

É nas etapas diretamente ligadas à fluidez que torna mais evidente o

espaço geográfico como instância e, por outro lado, os usos implicados por meios

dos objetos técnicos imprimidos nas diversas frações do território do estado do Rio

Grande do Norte e, em especial, no município de Macau. A compreensão das

135

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148

diferentes etapas produtivas ampliará a visão relativa ao processo de espacialização

do sal por meio de esquemas onde podemos perceber todas as etapas de produção

integradas, ampliando as possibilidades de entendimento das consequências da

mecanização/modernização salineira no espaço urbano Macauense.

Discorrendo sobre as etapas do circuito espacial produtivo do sal, no que

se refere à produção propriamente dita salineira, as salinas correspondem ao

espaço basilar para a produção de sal. Assim, as salinas potiguares possuem a

localização, no geral, nas adjascências dos estuários dos rios. Assim, as salinas de

Mossoró, Grossos, Areia Branca e Macau, estão nas adjacências dos estuários, em

especial os Rios Piranhas-Assu e os Rios Apodi-Mossoró (CARVALHO JÚNIOR E

FELIPE, 1982). Sobre o município de Macau/RN, Felipe (1989, p.1) nos explica que:

A Região de Macau localiza-se na várzea terminal do rio Piranhas-Açu, que logo depois da cidade de Pendências espalha suas águas por uma imensa planície que fica afogada nos períodos das enchentes e que se transforma no “deserto salino”, quando o rio baixa e volta ao seu leito normal depois da chuva.

Assim, as salinas constituíram-se exatamente nessas áreas descritas, nas

proximidades dos rios, sob condições ambientais que fazem delas excelentes

produtoras de sal. Exemplificando essa situação, pode-se destacar a indústria

salineira Henrique Lages, a qual possui, na atualidade, uma das três maiores

produções de sal em Macau, explorando sal marinho no referido município desde

1890. Está localizada na ilha de Santana exatamente na “ilha de cima” onde reside

um povoado denominado Umburana.

A obtenção das águas que alimentam as salinas vem dos braços de mar

que a cercam, formando o estuário do Rio Piranhas-Açu. O geógrafo Aziz Ab‟sáber

(2003), comentando sobre a condição dos cursos dos rios da Região Nordeste que

deságuam no Atlântico, afirma que é no litoral potiguar em que se encontram áreas

salinizadas e complementa:

Apenas nos baixos rios do Rio Grande do Norte ocorrem planícies de nível de base, com salinização mais forte, em uma área bastante quente e de luminosidade ampla, que corresponde a velhos estuários assoreados. De forma inteligente, ali foram estabelecidos as maiores salinas brasileiras, das quais provem a maior parte da produção de sal do país (AB‟SÁBER, 2003, p.87).

Como já destacado por outros autores pioneiros, como Carvalho Júnior e

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149

Felipe (1982) e Costa (1991), a tese de doutoramento de Marco Túlio Mendonça

Diniz (2013), aprofunda, como porção relevante de sua tese, os condicionantes

naturais que favoreceram a produção salineira no litoral setentrional potiguar, como

as reduzidas precipitações. Desta forma, Diniz (2013, p.120), destaca que:

Vários elementos e fatores do clima podem ser considerados como condicionantes para a produção de sal marinho, dentre os elementos climáticos destacaríamos a temperatura, umidade do ar, precipitação, insolação e vento. Esses elementos são controlados por fatores climáticos como latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, massas de ar e rugosidade do relevo. De modo geral, diríamos que quanto menores as precipitações pluviométricas, mais velozes forem os ventos, menor for a umidade relativa do ar e maiores forem as temperaturas, mais rapidamente os tanques evaporarão as águas salinas, o que aumentará a produtividade da propriedade que se dedique a produzir sal marinho. E o litoral setentrional potiguar possui todas essas melhores condições.

Outro aspecto natural que merece notoriedade decorre do fato de Macau

possuir a menor média mensal de precipitação em todos os meses em comparação

com todas os outros trechos do litoral brasileiro. Como afirma Diniz (2013, p.134), de

acordo com os dados por ele levantados em seu doutoramento, “Macau é a cidade

litorânea mais seca do Brasil, permitindo concluir também que, do ponto de vista de

totais pluviométricos, esse é o local mais indicado para a produção de sal marinho

em todo o território brasileiro” (DINIZ, 2013, p.134).

Além disso, Diniz destaca que todos os condicionantes naturais apontam

para essa área correspondendo a de maior potencial para a extração de sal marinho

no Brasil, “desde os aspectos climáticos, as elevadas taxas de salinidade, o maior

confinamento de águas salgadas no litoral brasileiro, a menor declividade e a maior

impermeabilidade dos solos” (DINIZ, 2013, p.122).

A cidade de Macau, por exemplo, está localizada em uma ilha do delta do

Rio Piranhas-Assu, “portanto, em área extremamente plana e facilmente inundável,

em cujo solo registra-se em vários lugares que o sal aflora na superfície dada sua

alta concentração” (DINIZ, 2013, p.123).

Também ganha notoriedade, de acordo com a pesquisa de Marco Túlio

Mendonça Diniz, inclusive sendo um dos pontos cruciais em sua tese de

doutoramento, o fato da costa cearense e, principalmente, a costa Potiguar,

possuírem um formato côncavo, o que favorece a produção salineira, pois:

Do ponto de vista climático, os dois trechos côncavos da Costa Semiárida

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150

Brasileira são os de maior potencial para a produção de sal marinho, pois neles é menor a taxa de precipitação e a umidade relativa do ar, sendo maior a velocidade dos ventos e a temperatura, o que concorre para serem maiores também as taxas de evaporação da água. A situação é tanto mais favorável no Trecho Côncavo Leste, especialmente, no Litoral Setentrional Potiguar, e de forma ainda mais marcante na região de Macau, onde todos os principais indicadores apontam para o maior potencial produtivo para sal marinho nessa área.

Os efeitos da maritimidade no trecho Côncavo semiárido da costa

brasileira, correspondente ao Ceará e Rio Grande do Norte, influenciando

diretamente, portanto, numa menor quantidade de precipitação pluviométrica, com

apenas 500 milimetros anuais e, ainda como afirma Diniz (2013, p.124), “não há

acréscimo na umidade relativa do ar, em especial na região de Macau, uma vez que

os ventos predominantes de sudeste concorrem muito mais para trazer ar seco do

interior para o litoral do que para a chegada de umidade proveniente do oceano”.

Embora seja uma delimitação estritamente técnica, “a concavidade e

convexidade da geometria da linha de costa se apresentou como um fator de

fundamental relevância, por isso, recebeu especial ênfase” (DINIZ, 2013, p.198). E

como estão sendo destacados os fatores relativos à produção salineira, como já

introduzido no capítulo inicial, torna-se relevante um maior aprofundamento quanto a

estes fatores, inclusive os ambientais, que explicam o fato do litoral setentrional

potiguar se destacar como a principal área produtora salineira brasileira.

Portanto, a geometria do litoral, especialmente a concavidade do litoral

semiárido brasileiro, correspondente aos territórios cearense e potiguar, segundo

Diniz (2013, p.199-200), “é um fator geográfico de grande relevância, sendo que

para a Costa Semiárida Brasileira este é o fator de maior relevância e o mais

determinante para a instalação da atividade salineira”. (DINIZ, 2013, p.198-200)

Outro esclarecimento relevante que Marco Túlio Diniz realiza decorre da

diferenciação da produção salineira cearense e potiguar. Embora o litoral cearense e

potiguar sejam componentes desta costa semiárida brasileira, o litoral do Rio Grande

do Norte possui dois estuários com um maior “espaço físico para a produção

salineira, com uma planície flúvio-marinha mais extensa, uma menor declividade do

terreno, solos mais salinos que no território cearense e, consequentemente, maiores

possibilidades de desenvolvimento da produção salineira (DINIZ, 2013, p.134).

Aprofundando sobre as etapas produtivas na produção salineira,

explicitando a organização territorial de uma corporação salineira, exemplificando a

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151

Salina Henrique Lages, representada anteriormente no mapa 11. Esta organização é

padrão nas salinas potiguares. As salinas possuem vários compartimentos de

tamanhos variados. Além de tamanhos diferentes, os compartimentos apresentam

funções diferentes na medida em que água do mar vai apresentando características,

como a diminuição da lâmina d‟água por evaporação e consequentemente o

aumento da salinidade. Como explicitado no início do presente capítulo, o grau de

salinidade é obtido por uma unidade de medida denominada Baumé.

Para compreender a produção de uma salina no atual período técnico-

científico-informacional, é interessante destacar que a compartimentação de uma

salina assemelha-se à existente nas denominadas salinas “tradicionais” até a

década de 1960, mas com a diferenciação da utilização de instrumentos técnicos

desde os primeiros momentos da produção salineira.

Desta forma, para um maior entendimento desta produção neste período

técnico-científico-informacional, serão destacadas as descrições realizadas por

Itamar de Souza (1988); Ademir Araújo da Costa (1991); e Marco Túlio Mendonça

Diniz (2013), em seu doutoramento.

A produção propriamente do sal inicia-se com a capturação da água do

mar, por meio das bombas hidráulicas para os cercos, correspondendo a uma

inovação técnica comparada à produção existente no período pré-técnico e técnico

rudimentar. É relevante destacar que os cercos possuem áreas e profundidades

diferentes, facilitando a concentração de salinidade e evaporação, enquanto a água

do mar passa para cada cerco, os quais possuem áreas de 600 m² a 1.000 m², que

recebem as primeiras águas do mar, as “águas-mães”. Conforme a água percorre os

cercos, ampliam-se as condições favoráveis para a cristalização, a partir da

diminuição da profundidade dos cercos.

Após percorrer os cercos, as águas chegam a outras compartimentações

denominadas concentradores ou evaporadores, atingindo concentrações de

salinidade maiores que a etapa anterior, uma vez que se amplia o tempo de

exposição às intempéries climáticas, como a evaporação, bem como a diminuição

das áreas e da profundidade.

Finalmente, as águas alcançam os cristalizadores com um grau de

salinidade elevado e com uma lâmina d‟água reduzida, comparada às etapas

anteriores, iniciando o processo de cristalização, formando uma grande superfície,

denominada “laje de sal”. Esse processo de percurso das águas marinhas é de

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fundamental importância para a eliminação da matéria orgânica e do óxido de ferro,

bem como o aumento da densidade de salinização da água.

Este processo consideravelmente semelhante ao processo realizado no

período pré-técnico e técnico rudimentar, representada por Souza (1988); Costa

(1991); e Maia (2011), pode ser mais bem visualizado na figura a seguir.

Mas a diferença da produção salineira do período anterior à década de

1960 ao período técnico-científico e técnico-científico-informacional, relativos à

mecanização/modernização salineira após os anos 1960 ocorre na colheita do sal

nos cristalizadores, com a ampla utilização de técnicas avançadas.

Assim, na colheita realizada nos cristalizadores, neste período técnico-

científico e técnico-científico-informacional, duas grandes máquinas fazem a colheita

do sal, correspondendo às enchedeiras e os caminhões-caçambas. As enchedeiras,

concomitantemente, quebram a laje do sal e recolhem para os caminhões–

caçambas.

Após o armazenamento do sal nos caminhões–caçambas, os mesmos

realizam o transporte do sal para o lavador mecânico que está localizado no aterro

da salina. Após ser lavado, o sal segue em extensas esteiras para as grandes

barcaças que fazem o seu transporte para o Porto-Ilha do município de Areia Branca

e para o aterro, formando grandes pilhas de sal, como visualizado nas imagens a

seguir.

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153

Figura 4 – Representação da compartimentação de uma salina

Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Souza (1988); Costa (1991); e Maia (2011).

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154

Imagem 4 – Colheita do sal mecanizada, destacando as enchedeiras e o

caminhão-caçamba

Fonte: elaborado pelo autor

Imagem 5 – Lavador mecânico do sal

Fonte: elaborado pelo autor

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155

Imagem 6 – Empilhamento do sal na salina com a utilização de esteiras no

aterro

Fonte: elaborado pelo autor

Após o armazenamento no aterro, as pilhas de sal são desintegradas

pelas enchedeiras que carregam os caminhões. A partir da desintegração das

pilhas, o sal segue para ser beneficiado nos processos denominados de “moagem” e

“refino”, e embalado em diferentes pacotes, entre 25 Kg a 1.500 Kg, direcionado

para o consumo agropecuário e industrial, destacado nas imagens 7 e 8, a seguir.

Imagem 7 – Moagem do sal nas salinas Henrique Lage

Fonte: elaborado pelo autor

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156

Imagem 8 – Refino do sal nas salinas Henrique Lage

Fonte: elaborado pelo autor

Sobre esses grandes pacotes, superiores a 1000 Kg, os mesmos são

denominados de “big bag”. Também merece notoriedade, a comercialização do sal

na forma in natura, a granel, ou seja, em estado bruto, sem a existência de algum

beneficiamento como, refinamento e moagem. Na atualidade, como observado

anteriormente, Macau produz 1.944.130 toneladas de sal, correspondendo a 30% da

produção potiguar (FIERN, 2015).

Assim, com a descrição da produção salineira no período técnico-

científico e técnico-científico-informacional, ficam evidentes as distinções com a

produção do período pré-técnico e técnico-rudimentar, como foi destacado por Costa

(1991, p.59):

“(...) a chibanca, meio de trabalho utilizado na empresa tradicional, para o afofamento do sal, é substituída pela colhedeira mecânica. O carro-de-mão, empregado no transporte do sal dos cristalizadores para os aterros, é superado pela esteira. A lavagem do sal, antes feita com o auxílio de uma pá-de-ferro, passou a ser feita por um lavador mecânico. (...) o processo de empilhamento deixou de ser realizado por operários com a ajuda do carro-de-mão e da pá e passou a ser executado por empilhadeiras a energia”.

No que se refere à circulação e distribuição do sal produzido, essas

etapas do circuito espacial de produção do sal dependem da forma pela qual o sal

foi beneficiado. Assim, os diversos tipos de beneficiamento do sal requerem tipos

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157

diferentes de transportes para a circulação da produção. O sal na forma a granel,

ou seja, em estado bruto, sem a existência de algum beneficiamento como,

refinamento e moagem, é transportado tanto por meio dos sistemas de movimento

rodoviário, quanto os sistemas de movimento hidroviário/marítimo.

No que se refere ao sistema de movimento hidroviário/marítimo, em 1985,

o território brasileiro já assistia a uma movimentação de 1.518.874 toneladas de sal

pelos portos brasileiros, predominando a navegação de cabotagem, uma vez que a

produção salineira era destinada, em grande parte, para o mercado interno. Num

período de vinte anos ,segundo pesquisa realizada pelo Professor Renato Rocha

(2005, p.82), a movimentação chegou, em 2005, a 3.730.349 toneladas anuais.

Em 2015, foram exportados nos portos brasileiros 4.139.208 toneladas de

sal, num total de 7,3 milhões de toneladas produzidas, entre sal marinho e sal gema

(FIERN, 2015). Sobre a destinação voltada para o mercado interno, este quadro

ainda continua na atualidade, embora, esporadicamente, parte da produção destina-

se ao mercado externo, de acordo com a produção obtida no decorrer do ano,

embora numa menor quantidade, não alcançando 10% do total produzido.

Estas exportações, a partir dos portos, em especial o Terminal Salineiro

de Areia Branca, revelam a importância deste fixo para o sistema de movimento

hidroviário/marítimo, e, consequentemente, para a fluidez territorial. No estudo de

Arroyo (2001), o Terminal Salineiro de Areia Branca é classificado como um porto

integrado de carga especializada.

Sobre a circulação e distribuição da produção salineira macauense, a

constituição do Terminal Salineiro em Areia Branca, associada à melhora dos

sistemas de movimento rodoviário, levaram a uma drástica redução das exportações

da produção salineira macauense pelos sistemas de movimento viário

hidroviário/marítimo, como será visualizado posteriormente.

Em uma das grandes corporações salineiras Macauenses, a salina

Henrique Lages, a forma de transporte marítimo durante a pesquisa encontrava-se

minimamente utilizada, pois mais de 90% da produção de sal da referida corporação

estava sendo escoada pelos sistemas de movimento viário, por meio de caminhões,

obtendo maior mobilidade no mercado interno, principal consumidor.

A prática realizada pela referida salina para circular e distribuir a produção

advém, segundo Barat (2007, p.56), da grande capacidade de coleta e distribuição

de mercadoria, em razão de uma maior acessibilidade dos serviços; a prestação de

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serviço porta a porta; a facilidade de transportar qualquer tipo de carga geral; a

possibilidade de atender praticamente todas as regiões do país e a condição de elo

para as outras multimodalidades, como os sistemas de movimento ferroviário e os

sistemas de movimento hidroviário marítimo ou mesmo fluvial, no caso amazônico.

Desta forma, o processo de circulação produtiva na salina Henrique

Lages ocorre, inicialmente, a partir do momento em que os caminhões responsáveis

pelo transporte da carga são pesados, antes de serem carregados na refinaria e na

moagem. Após o carregamento da carga na refinaria e moagem, ocorre uma nova

pesagem. A finalidade dessa pesagem é saber a diferença de peso dos caminhões

antes e depois do carregamento, como pode ser visto na imagem 9, a seguir.

Sobre a carga transportada pelos caminhões, a mesma ocorre, em geral,

na forma de pacotes “Big Bag”, superiores a 1500 Kg e a granel. No que se refere ao

custo do transporte, o mesmo é de acordo com o peso da carga transportada

multiplicado pelo preço da tonelada, o qual correspondia a R$ 3,50 - Três reais e 50

centavos por tonelada transportada, sendo esta informação obtida durante a

pesquisa de campo, no mês de Novembro de 2016, a partir de diálogos com

caminhoneiros e nos setores logísticos das grandes corporações salineiras

macauenses. Em média, cada caminhão transportava 40 toneladas de sal.

Imagem 9 – Encaminhamento de caminhão para a pesagem nas salinas

Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

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Ficou evidenciada a espacialização da circulação e distribuição do sal

pela diversidade da origem dos caminhões estacionados no pátio da salina à espera

do carregamento, como poderá ser vista na imagem 10, a seguir. Essa diversidade

na origem também fica evidente ao destacar o que já fora citado no cartograma 5, no

qual demonstra que todo o Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul brasileiro

possuem caminhões circulando e distribuindo a produção salineira. Apenas a região

Norte, pela dificuldade nos fluxos relativos aos sistemas de movimento rodoviário,

apresenta um predomínio dos sistemas de movimento hidroviário fluvial, em especial

nos estados do Amazonas, Pará, Amapá e Roraima.

Durante a pesquisa, as grandes corporações salineiras demonstraram

que a produção de sal circula e se distribui em todos os 27 estados brasileiros.

Assim, evidencia-se que as diferentes frações do território brasileiro participam do

circuito produtivo do sal como consumidoras, podendo concluir que a especialização

da região salineira é complementar para outras regiões brasileiras, que apresentam

funções complementares, como pecuaristas, petroquímicas, farmacêuticas, limpeza

doméstica, dentre outras, as quais utilizam o sal para a sua reprodução produtiva.

Desta maneira, fica evidente que o destino da produção salineira potiguar

abrange, portanto, por todo o território brasileiro, como pode ser visualizada na

imagem 10, a seguir, onde as placas dos caminhões eram de diferentes

transportadoras situadas pelo território brasileiro.

Imagem 10 – Caminhões estacionados em frente à sede da salinor, destinados

para carregamento da produção salineira

Fonte: elaborado pelo autor

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Imagem 11 – Sal potiguar para consumo animal, em Eirunepé/AM

Fonte: elaborado pelo autor

Segundo Rocha (2005, p.82), há uma circulação de carretas gerada pelos

municípios produtores de sal em torno de 300 a 400 veículos, com o objetivo de

transportar sal para outras porções do território brasileiro. Esta quantidade de

carretas foi confirmada pelos agentes responsáveis pelas ações logísticas nas três

grandes corporações salineiras macauenses, demonstrando o intenso fluxo relativo

à circulação e distribuição da produção salineira pelo território brasileiro.

No que se refere ao consumo, em especial ao direcionado para o

mercado interno brasileiro, ficou evidente, nas pesquisas realizadas no Instituto

Brasileiro de Geografia e Estátistica – IBGE, no período 1980-2010, e na Federação

das Indústrias do Rio Grande do Norte – FIERN, no ano de 2015, demonstram um

notório predomínio do consumo salino na indústria química.

Desta forma, em 1980, já havia um consumo superior a 52% do total do

sal produzido por esta indústria em especial, ampliando-se nos anos anteriores,

numa proporcionalidade superior a metade da produção salineira brasileira. Na

atualidade, a indústria química consome 53% do total do sal produzido no território

brasileiro.

Portanto, conforme verificado na tabela a seguir, a indústria química é a

grande consumidora de sal marinho, apresentando uma média anual de consumo de

52,6%. A demanda gerada pela Indústria Química foi relevante para acelerar a

modernização do parque salineiro potiguar, conforme discutido por Itamar de Sousa

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(1988); Ademir Araujo da Costa (1991) e Renato Rocha (2005) e já demonstrado

anteriormente na presente pesquisa, no capítulo anterior. E os outros setores

também registram crescimento no período 1980 – 2015, conforme observado na

tabela 7, a seguir.

Tabela 7 – Consumo de sal no Brasil por setores – 1980-2015

SETORES DE CONSUMO

(Ano/Toneladas) 1980 1991 2000 2010 2015

Alimentação Humana

404.563 507.542 791.884 910.500 963.325

Indústria Química 1.710.092 1.812.059 2.832.179 3.479.800 3.595.451

Pecuária 817.843 919.817 1.783.200 2.112.000 2.209.216

Total 2.912.498 3.239.418 5.407.263 6.502.300 6.767.992

Fonte: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil (1980-2010); FIERN (2015).

Ainda sobre essa necessidade do sal marinho por parte da indústria

química advém do fato do NaCl, o cloreto de Sódio, expressão química do sal

marinho compor a matéria-prima basilar da indústria química. Dos 150 produtos

químicos mais relevantes para as atividades basilares da humanidade, o sal

participa de cerca de 100 deles. Outros campos também fazem uso desta matéria-

prima, como a indústria de plástico e a farmacêutica (CARMO JÚNIOR, 2006, p.42).

A espacialização das indústrias químicas pelo território brasileiro também

é um importante aspecto para a compreensão relativa à circulação e o consumo da

produção salineira potiguar. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias

Químicas (ABIQUIM, 2015) existem 1.065 indústrias químicas pelo país.

Analisando o mapa 12, a seguir, verifica-se que a Região Sudeste detém

751 destas indústrias químicas existentes no país e São Paulo detêm 80% das

mesmas. Também se destaca o Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas

Gerais. Na região Nordeste, o estado que possuir o maior parque industrial ligado à

produção química é a Bahia, em especial no polo petroquímico de Camaçari.

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Mapa 12 – Distribuição das indústrias químicas no Brasil

Fonte: elaborado pelo autor

Sobre a indústria de componentes plásticos, merece destaque a

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relevância do cloro, componente do sal, para a indústria de plástico, correspondendo

a uma das bases da indústria petroquímica, também é utilizado na indústria bélica,

na produção de germicidas e fungicidas, além da indústria farmacêutica. Assim, os

dados relativos à produção de cloro no Brasil evidenciam o crescimento do consumo

de sal por esta tipologia industrial, com o gráfico 3, a seguir.

Gráfico 3 – Evolução da produção de cloro no Brasil (2003-2015)

Fonte: IBGE (2003-2013) E FIERN (2015).

Além da indústria química, merece notoriedade a circulação e o consumo

do sal brasileiro relativo à pecuária, conforme observado anteriormente na tabela 7.

Na atualidade, o Brasil possui 229.287.191 cabeças de gado distribuídas pelas

regiões brasileiras, com destaque para as regiões Centro-Oeste, a qual corresponde

a 34% do total de cabeças e a Região Norte com 19% deste total, geram, assim,

uma grande demanda de sal para alimentação do rebanho bovino brasileiro (IBGE,

2015). Também há destaque o couro bovino adquirido para curtume, o qual

correspondeu a 46.378.847 de unidades (IBGE, 2015).

A complexidade de variáveis indicadas para o entendimento da

circulação, distribuição e consumo do sal demonstra a participação dessa matéria-

prima em produtos e recantos sociais, interferindo na organização territorial

brasileira. E a modernização/mecanização salineira a partir da década de 1970 levou

o litoral setentrional potiguar, numa dimensão nacional, a uma notável relevância no

fornecimento do sal marinho para a indústria e agropecuária brasileira.

Assim, ficam evidentes, ao compreender o circuito espacial produtivo

salineiro potiguar, os diferentes elementos que conduzem à constituição das

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interações espaciais (CORRÊA, 1997), como o uso do sal em diferentes setores da

alimentação humana, na pecuária, na indústria química; o fluxo de caminhões e

barcaças carregados de sal; a movimentação no Porto-Ilha de Areia Branca; os

círculos de cooperação gerados pelos escritórios representativos das indústrias

salineiras; os distribuidores; as contratações de fretes, dentre outros.

Desta maneira, ao compreender o circuito espacial de produção do sal, o

qual evidencia a integração das etapas produtivas sobre condições técnicas,

representante do período histórico atual, presente no território e analisando as

etapas produtivas que compõem esse circuito, evidencia-se que a constituição de

uma rede geográfica torna-se imprescindível para a circulação da produção

salineira. Assim, a circulação torna-se “o encadeamento dos vários momentos [...]”

(MORAES, 1985, p.3).

Consolidando ainda mais sobre o encadeamento dos diferentes

elementos para o circuito espacial de produção salineira, algumas pesquisas

auxiliam na consolidação desta compreensão. Assim, segundo Frederico e Castillo

(2004), ao discorrerem sobre o circuito produtivo do café, os mesmos afirmam que o

escoamento da produção necessita da presença de sistemas de objetos técnicos,

com funções determinadas para facilitar o intercâmbio. E segundo os autores, os

intercâmbios “[...] ocorrem muito mais intensamente entre as zonas produtoras e as

cidades que negociam a exportação do produto e destas com o mercado externo

importador” (FREDERICO; CASTILLO, 2004, p.237).

Desta forma, um sistema de objetos técnicos, destacando-se fixos como

transportes, representados pelos sistemas de movimento rodoviário, ferroviário e

hidroviário, além dos armazéns e contêineres, facilita o escoamento da produção

cafeeira pelo território brasileiro (FREDERICO; CASTILLO, 2004, p.238).

Ainda sobre esse entendimento relativo aos circuitos espaciais produtivos,

na pesquisa de Xavier (2003) relativa aos circuitos produtivos das empresas

presente no município de São José do Rio Preto. A empresa “Frigorifico Frigoalta”,

segundo o autor (2003, p.13), escolheu o município de São José do Rio Preto em

razão da “facilidade de locomoção para qualquer ponto do país pelo aeroporto e pela

infra-estrutura de telecomunicações.”

Na pesquisa de Elias (2003a, p.76), também se evidencia a relevância

dos sistemas técnicos, para a articulação dos circuitos produtivos da Agroindústria

canavieira e de sucos de laranjas. No caso das agroindústrias cítricolas é de

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responsabilidade das mesmas o transporte do pomar para as indústrias utilizando

veículos automotores particulares, além de frotas contratadas para o transporte da

carga. Assim, as novas formas de competividade do suco no mercado internacional

advém da modernização do transporte e do armazenamento do suco de laranja,

levando ao barateamento e aumento da capacidade de armazenamento do produto.

Retomando as explicitações relativas ao circuito produtivo do sal, os

objetos técnicos se configuram em uma funcionalidade sistêmica, possibilitando as

condições necessárias para que as indústrias salineiras potiguares articulem pontos

e áreas que constituem a base material da espacialização da sua produção.

Dessa forma, os sistemas de movimento hidroviário, representados pelo

Porto-Ilha de Areia Branca, os sistemas de movimento rodoviário, com a presença

de estradas federais, estaduais e municipais e pontes, assim como pontos que

servem de nexos de informação, como escritórios regionais das indústrias salineiras,

as distribuidoras presentes nas principais estradas que conduzem a circulação e

distribuição, concretizam o circuito produtivo do sal potiguar.

Assim, a espacialização possui sua gênese no local da produção

propriamente dita, as salinas. Por meio de informações, ordens, representantes,

contratações de frete, ou seja, elementos relativos aos círculos de cooperação, a

produção salineira toma rumo para os diversos consumidores em toda a parte do

território brasileiro.

Logo, tem início um dos momentos mais importantes do circuito produtivo

do sal: a circulação e distribuição. “não basta, pois, produzir. É indispensável colocar

a produção em movimento” (SANTOS, 1996, p.157), uma vez que um dos traços do

atual período técnico-científico-informacional é a fluidez.

As diversas frações do território salineiro auxiliam na espacialização do

sal, a partir do advento dos equipamentos técnicos, os quais se tornam funcionais,

balizadores, apresentando-se como condição para a realização do circuito produtivo

(SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Sobre a utilização dos sistemas de movimento, a circulação e distribuição

salineira, em especial para o mercado interno, utilizam os sistemas de movimento

rodoviário, com os caminhões representando um dos objetos técnicos que

participam intensamente da fluidez. “No Brasil, por razões históricas, o transporte de

mercadorias e pessoas é essencialmente rodoviário” (BARAT, 2007, p.34).

Conforme visualizado na esquematização representada na figura 6, o

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166

transporte rodoviário realiza a circulação e a distribuição da produção do sal a granel

e na forma de pacotes, com cada um desses contendo 1500 quilos. Em 2004, o

estado do Rio Grande do Norte teve uma movimentação de 2.360.737 toneladas de

sal transportados pelos sistemas de movimento rodoviário, com a utilização dos

caminhões (ROCHA, 2005, p.59). No ano de 2015 este movimento advindo dos

sistemas de movimento rodoviário havia sido ampliado, para um total superior a

3.635.920 toneladas de sal transportado por caminhões (FIERN, 2015).

Com relação à circulação e distribuição no sistema de movimento

hidroviário ou aquaviário, terminologia utilizada por Barat (2007) para o transporte

marítimo, fluvial e cabotagem, a logística das salinas potiguares relaciona-se à

utilização do “transporte intermodal” (BARAT, 2007), uma vez que há a transferência

da carga de sal para outro modal, no caso, ao Porto-Ilha de Areia Branca. Desse

terminal, seguem os navios que realizam a navegação de cabotagem e de longo

percusso circulando e distribuindo a produção salineira para o mercado interno e

externo.

Conforme observado no decorrer desta pesquisa, há um predomínio da

circulação e distribuição da produção salineira para o mercado interno, com a

navegação de cabotagem correspondendo a 76,9% da movimentação do porto em

2015 (CODERN, 2015). Embora haja um reduzido excedente, as exportações

salineiras para o mercado externo são direcionadas para a África, América do Norte

e países da Europa. Na atualidade, em especial após a recente reformulação e

ampliação realizada pela CODERN, o porto-ilha está com a capacidade para receber

navios com até 75 mil toneladas.

Essa dinâmica acima demonstrada indica a existência de um imperativo

em relação ao modal relativo aos sistemas de movimento rodoviário sobre os outros

tipos de transportes. Esse predomínio advém de um problema nacional relativo à

predominância dos transportes terrestre, pois, segundo Barat (2007,p.50), este

domínio ampliou as distorções no âmbito da logística e nos custos do transporte,

uma vez que “o crescimento exagerado do transporte rodoviário num país de

dimensões continentais fez que ele ocupasse, de forma inadequada, os espaços de

outros modais” (BARAT, 2007, p.51).

A ampliação da rede rodoviária federal pavimentada, a qual se tornou

uma notória condicionante para a integração do território brasileiro, juntamente com

a expansão da frota nacional de veículos, indicou claramente a imposição do

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sistema de circulação rodoviária no Brasil, segundo Santos e Silveira (2001, p.98).

Este predomínio do sistema de movimento rodoviário fica evidente, ao

comparar os 41.295 km de Ferrovias com os 293.742 km de rodovias pavimentadas

(IBGE, 2015), deixando clara a priorização do sistema de movimento rodoviário

frente a outros sistemas de movimento existentes no território brasileiro.

E toda essa dinâmica converge para um amplo mercado consumidor, com

notório consumo pela atividade pecuarista, pela indústria química e o consumo para

a alimentação humana. Conforme visualizado anteriormente, boa parte da produção

salineira potiguar é voltada para o mercado interno, variando de 85% a 90% do total

produzido no território brasileiro, com o restante voltado para o mercado externo,

sendo exportado para a América do Norte, a Europa e África.

Nesta estrutura relativa após a produção salineira, designada pela

distribuição, circulação e consumo, há aspectos que também merecem ser

destacados, como os escritórios representativos, os setores logísticos das indústrias

salineiras, as distribuidoras, os locais estratégicos de contratação de fretes, os

quais, muitas vezes, não são percebidos instantaneamente.

Estes setores não perceptíveis imediatamente são notados quando

evidenciam a existência de um nexo informacional, fortalecendo o encadeamento do

circuito produtivo, delimitado na pesquisa como “círculos de cooperação”. Estes “[...]

instalam-se em um nível superior de complexidade e numa dimensão geográfica de

ação ampla” (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.167).

A partir destas nuances, evidencia-se concretamente o circuito produtivo

do sal potiguar, com o território sendo dinamizado a partir dos fixos produtivos,

gerando fluxos materiais e imateriais. Desta forma, a produção salineira perpassa

em diversas porções do território nacional, articulando, comitantemente,

informações, ordens, pagamentos advindos das indústrias salineiras, dos escritórios

representativos e das distribuidoras.

Conforme visualizado no decorrer deste capítulo, o atual período histórico

possui a sua reprodução diretamente ligada à ampliação da integração do território

nacional pelos sistemas de transporte, associada a outras composições

tecnológicas, ampliando a remodelação do território brasileiro, em razão da

implantação das telecomunicações e dos sistemas de informática (GOMES, 2001).

Assim, a padronização da informação ampliou a interdependência funcional dos

sistemas de telecomunicações e informática, favorecendo as interações espaciais no

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território brasileiro, consolidando os ditames do meio técnico-científico-informacional.

Consolidando a compreensão relativa aos nexos informacionais no

circuito produtivo, as telecomunicações referem-se a um dos campos que possuiram

aceleração do ritmo das inovações tecnológicas, conforme afirma Dias (2008, p.56),

em pesquisa relativa à expansão das redes eletrônicas no território brasileiro.

A partir da segunda metade do século XX, em especial após os anos

1960, há a implantação das redes de telecomunicações, expandindo a mesma pelo

território nacional. A implantação da Empresa Brasileira de Telecomunicações –

EMBRATEL em 1969 e a criação do Ministério das Comunicações, no mesmo

período, podem ser consideradas relevantes eventos que delimitavam a integração

do território nacional pelas telecomunicações, auxiliando na consolidação de um

meio técnico-científico e informacional no território brasileiro.

Outro fato que veio concretizar os sistemas técnicos relativos às

comunicações relaciona-se à implantação das redes-suporte no território nacional.

Estas redes-suportes constituem as infraestruturas, ou melhor, as condições físicas

para a consolidação do sistema de telecomunicações. Desta forma, as redes

telefônicas ou de transmissão de dados se concretizaram no final do século XX, a

partir da introdução do sistema de telecomunicações por satélites, possibilitando a

integração de todos os municípios (DIAS, 2008, p.57).

A implantação e consolidação destes sistemas técnicos auxiliam na

articulação das ações relativas ao circuito produtivo salineiro, desde as

demarcações de fretes a serem realizados pelos caminhoneiros até a passagem das

informações sobre o andamento da produção para os escritórios representativos das

indústrias salineiras, tornando as redes técnicas de informática e telecomunicações

imprescindíveis para consolidação do circuito produtivo do sal potiguar. Conforme

afirma Rocha (2005, p.93), os “[...] escritórios de revendas, que utilizam de telefones,

fax e a Internet, além de outros meios de comunicação para negociar o sal”.

Após esta explicitação relativa à produção salineira, torna-se relevante

observar as consequências da modernização/mecanização para o município de

Macau, principal centro produtor salineiro potiguar até a década de 1970 (COSTA,

1991, p.46), mas o qual, a partir deste processo diretamente ligado à implantação do

meio técnico-científico-informacional passa por notórias mudanças, as quais

interferem drasticamente em sua organização urbana e espacial.

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Embora ocorram notórias mudanças na então existente organização

urbana e espacial macauense, os componentes que demandam maior produção

salineira, como a indústria química, destacada neste capítulo, evidenciam que

Macau, embora com menor relevância numa dimensão regional, amplia sua

relevância numa escala nacional a partir da mecanização/modernização salineira.

Essa distinção dimensional no contexto espacial macauense ficará mais evidente no

capítulo a seguir.

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4 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO DAS SALINAS E AS TRANSFORMAÇÕES

NO ESPAÇO PRODUTIVO DE MACAU/RN

Como observado no decorrer desta pesquisa, a indústria salineira possui

uma notória relevância para a organização territorial potiguar. E a cidade de Macau,

apresentou as condições materiais mais favoráveis para a produção salineira desde

o período colonial e imperial, possuindo a hegemonia da produção salineira no Rio

Grande do Norte, num período denominado pré-técnico e técnico rudimentar.

Assim, a atividade salineira em Macau representou, ao longo da história

dessa cidade norteriograndense, o principal fator gerador de emprego para a

população ali residente, uma vez que a atividade produtiva acima citada dependia

enormemente da força motriz dos trabalhadores.

Também foi destacado nessa pesquisa que a partir do século XX, a

produção do sal atingiu níveis mais significativos, fazendo com que Macau atraisse

uma população expressiva, oriunda dos municípios da região e de outras regiões

potiguares, ao mesmo tempo em que sua economia passava a ser cada vez mais

comandada por essa atividade.

Assim, no presente capítulo, será demonstrada a constituição da atividade

salineira macauense e sua relação com o incremento urbano. Também ficará

evidente, a partir da ascenção do meio técnico-científico e meio técnico-científico-

informacional e a respectiva modernização/mecanização salineira, notório impacto

na demografia macauense entre as décadas de 1970 até os anos 2000, com a

respectiva redução na população urbana e total macauense.

Inicialmente, torna-se relevante compreender como Macau se formou no

que se refere aos aspectos urbanos e, com a pujança da atividade salineira,

tornaram Macau uma das maiores cidades do estado potiguar até a década de 1950

do século XX, ampliando sua relevância produtiva numa dimensão regional.

Em seguida, serão vistos os impactos da modernização e mecanização

salineira no espaço produtivo de Macau/RN a partir dos anos 1960, e suas

consequências numa dimensão regional e nacional, como as drásticas mudanças no

mercado de trabalho regional e a notável relevância macauense numa escala

nacional, num processo de multidimensionalidade, conceito utilizado por Haesbaert

(2004), o qual auxiliará na constituição do presente capítulo.

Assim, para compreender esta multidimensionalidade, torna-se relevante

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171

destacar os esforços teóricos realizados por Rogério Haesbaert. Em 2004, na obra

“O mito da desterritorialização: do „fim dos territórios‟ à multi-territorialidade”, houve

um amplo resgate das concepções de território nas ciências humanas, além de

compreensões relativas ao território e poder.

A partir dessa revisão do território nas diferentes escalas das ciências

humanas, Rogério Haesbaert constituiu teoricamente a multiescalaridade e a

multidimensionalidade, numa relação em que a concepção de território e a

centralidade da relação espaço-poder auxiliarão numa reflexão ampla sobre as

diversas territorialidades (HAESBAERT, 2004, p.58).

Desta forma, uma visão multiescalar e multidimensional observarão os

diferentes fenômenos numa visão efetivamente totalizante, ampliando assim as

possibilidades de entendimento territorial. Ao examinar um determinado

fenômeno por meio de várias escalas e dimensões diferentes, ampliará o

entendimento dos fenômenos espaciais, em especial na atualidade, no atual

período globalizante, onde a análise não deve apenas privilegiar o global ou o

regional, mas uma multidimensão que os envolva dialeticamente, como afirma

Sandra Lencioni (2008, p.17).

E ainda, como destaca Haesbaert, a multiterritorialidade, com toda sua

flexibilidade territorial, não deve ser vista como algo homogeneamente difundido ao

redor do mundo, uma vez que indivíduos e grupos privilegiados, em especial os

agentes hegemônicos, têm acesso quase que ilimitado ao que Haesbaert conceitua

como uma “multiplicidade inédita de territórios” (2008, p.59), sejam eles sobrepostos

no mesmo espaço, seja por meio de conexões em rede com realidades diversas.

E, assim, a compreensão do território como um espaço com limites

estabelecidos por fronteiras destaca a questão da exclusividade de apropriação e de

uso, distinguindo “nós”, referentes aos “incluídos”, aqueles que integram o território e

os “outros”, referentes aos que não fazem parte do território, com a

multiescalaridade e a multidemensionalidade auxiliando a compreender estas

simultaneidades nas diversas parcelas territoriais (HAESBAERT, 2004).

Desta forma, a multidimensionalidade regional e nacional, auxiliará

compreender mais profundamente estas dinâmicas numa perspectiva que privilegie

uma explicitação da realidade e da formação espacial a partir da produção, em

especial da produção salineira macauense, como será visto a seguir.

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172

4.1 A MACAU ATÉ A PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: RELEVÂNCIA

ESPACIAL NUMA DIMENSÃO REGIONAL

Para compreender a centralidade macauense numa dimensão regional

durante a primeira metade do século XX, torna-se relevante um aprofundamento

sobre a formação espacial macauense, descrevendo alguns aspectos sobre a

organização espacial macauense, em especial na primeira metade do século XX,

período descrito por Carmo Júnior (2006, p.18), como o “auge” urbano de Macau,

incrementado pelo crescimento da atividade salineira no território da referida cidade.

Ressalta-se que o território Macauense pouco se alterou durante o

período colonial, relativo aos séculos XVII e XVIII, uma vez que a extração do sal

chegou a ser proibida pela coroa portuguesa, como já observado anteriormente,

evitando a concorrência com o sal produzido nas áreas insulares lusitanas, o qual

era direcionado para o consumo da colônia.

Apenas no século XIX, com a liberação da comercialização salineira,

consolidada com a independência brasileira, é que se inicia a colonização efetiva da

atual área correspondente ao município Macauense, iniciando este processo na Ilha

de Manoel Lopes e se expandido para toda a área relativa ao estuário do Rio

Piranhas-Assu.

Assim, como já observado, em especial, no capítulo dois, a ocupação da

então ilha de Macau deveu-se a um êxodo ocorrido em função do avanço do mar,

pelos habitantes da antiga ilha de Manoel Gonçalves que se encontrava ao Norte da

ilha de Macau, em frente à praia de Camapum. A emigração “teve início em 1815,

ocorrendo de forma paulatina e, somente em 1857, o desaparecimento completo da

ilha de Manoel Gonçalves fora confirmado pelo Roteiro da Costa do Norte do Brasil,

de 1857” (MOURA, 2003, p.23).

Desta forma, num processo inicial, a ocupação da então ilha de Macau se

deu ao longo da margem do rio Açu como afirma o documento histórico Plano

Diretor de Desenvolvimento Urbano de Macau – PDDUM (MACAU, 1979, p.53), o

qual cita documentos do ano de 1876, data em que teria sido registrada “[...] a

divisão da cidade em 6 quarteirões, cuja referência é o número inicial de ocupação,

representado por um cordão de habitações que margeia o Piranhas-Assu,

denominada em épocas passadas de „Rua da Frente‟ [...]”.

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173

Também nesta mesma “Rua da Frente” foram construídos os primeiros

armazéns e casas da cidade. De acordo com Moura (2003, p.146), houve “[...] um

armazém de alvenaria na Rua da Frente, de propriedade do português João Martins

Ferreira, que tinha o ano 1825 gravado na sua fachada.”.

Aprofundando sobre a fundação de Macau, o historiador Luís da Câmara

Cascudo, se expressa da seguinte forma:

O rico commerciante João Martins Ferreira, seu filho José, seus quatro genros, José Joaquim Fernandes, Manoel José Fernandes, Manoel Antônio Fernandes e Antônio Joaquim de Souza vieram para onde depois se espalhariam as ruas de Macau. [...] Sabe-se que além desses, deixaram a ilha os portuguezes João Garcia Valladão, Francisco José da Costa Coentro, Elizario Cordeiro, Antonio de Moura e Silva, Manoel Rodrigues Ferreira e o brasileiro Jacinto José da Hora. Alguns moradores antigos da cidade lembram que as residencias desses fundadores eram nos melhores sítios do alagado e salitroso Macau. Os Martins Ferreira construiram armazém alto e solido onde se lia a data 1825 denunciando vinda anterior. (CASCUDO, 1955, p.93-94).

Durante o século XIX, alguns instrumentos técnicos são inseridos no

espaço urbano macauense, a fim de garantir as mínimas condições para a

habitabilidade nesse espaço. Também possuiam relação, embora em menor

proporção, com a atividade salineira, a qual já possuia hegemonia econômica no

espaço macauense daquele final de século XIX.

Assim, eventos que retratam o desenvolvimento da cidade de Macau são

enumerados por Moura (2003, p.137), correspondendo à inserção de objetos

técnicos no espaço macauense durante a segunda metade do século XIX até 1889,

com a asecensão da “concessão Roma”, evento também observado no capítulo

dois, o qual modificou a organização das Salinas tradicionais macauenses.

Desta maneira, durante a segunda metade do século XIX, destacam-se

como eventos moderizadores do espaço macauense a inauguração da iluminação

pública com lampiões a querosene, em 1870, e, até a década de 1880 foram

constituídos no espaço macauense o Paço Municipal, o Cemitério Público, a Cadeia,

a Casa de Mercado e o Matadouro Público. (MOURA, 2003, p.147).

Conforme amplamente destacado no presente trabalho, este processo

amplia-se ainda mais com a expansão da produção no final do século XIX, com a

“Concessão Roma”, na qual se ampliou a necessidade de uma maior produção

salineira e, consequentemente, de mão-de-obra para esta produção, uma vez que

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174

naquele período, ainda inserido num meio pré-técnico, era extremamente relevante

à força motriz dos trabalhadores.

Logo, a mudança no controle salineiro, com a “concessão Roma”, em

1889, ocasiona notórias mudanças no espaço urbano macauense. Assim,

relembrando essa concessão, relevante marco temporal na constituição especial

salineira macauense, no decreto nº 10.413, de 26 de outubro de 1889, foi concedido

para Antônio Coelho Ribeiro Roma, propietário de uma empresa com sede no Rio de

Janeiro, denominada “Companhia Nacional de Salinas Mossoró-Açu – CNS”, o

direito exclusivo à exploração dos terrenos devolutos compreendidos entre Areia

Branca e Macau, por um prazo de 30 anos.

Esta empresa, valendo-se do seu direito adquirido com a Concessão

Roma e dispondo de muito capital e embarcações, adquiriu por valores irrisórios as

pequenas salinas existentes, não permitindo a existência de qualquer concorrência

em sua área de exploração. (FERNANDES, 1995, p.33).

Aprofundando mais as implicações ocasionadas pela concessão Roma

para o espaço urbano macauense, destaca-se que o monopólio trouxe, ao longo do

tempo, uma série de conflitos de ordem política já que, com a República, houve uma

consolidação do poder estadual frente ao poder federal (ANDRADE, 1995, p.61).

Ainda sobre esta relação político-territorial da concessão Roma com a

produção salineira, era constituído por uma oligarquia, que, sob o comando de

chefes políticos formados no período imperial, controlavam as eleições estaduais,

elegendo governadores, deputados e senadores. Essas lideranças políticas,

naturalmente, almejavam o domínio de todas as atividades econômicas importantes,

dentre elas o sal (ANDRADE, 1995, p.62).

Assim, algumas infraestruturas urbanas, como a pavimentação de ruas e

a melhoria de acessos carroçáveis para Macau tinham relação direta com os

interesses políticos e territoriais dos dirigentes estaduais e da referida corporação

salineira. E, como será aqui destacado, a cidade macauense ampliava sua

relevância numa escala regional com a produção salineira, a partir do crescimento

dos dividendos advindos com a produção salineira.

E, a partir da acentuação de conflitos entre os detentores da Concessão

Roma e o poder local, associado ao fato da corporação salineira não conseguir se

sustentar no descumprimento de suas cláusulas, sendo anulada em 1920. Sua

queda significou:

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175

[...] a ascensão de produtores potiguares como também possibilitou a entrada de outros grupos vindos do Rio de Janeiro e São Paulo [...] A história desses grupos é caracterizada pela absorção de uns pelos outros, até a década de 1960 quando foram absorvidos em sua grande parte por grupos internacionais. (FERNANDES, 1995, p.35)

A modificação no controle das Salinas macauenses ampliou a inserção da

produção salineira num periodo “técnico rudimentar”, superando a era “pré-técnica” e

aprofundou, com o crescimento da produção salineira macauense, a modernização

e ampliação do espaço urbano de Macau, com eventos e técnicas, como ocorrido

em 1924, quando o então prefeito Dr. Armando China inaugurou a luz elétrica, com

moto-gerador a diesel. No ano de 1935, a cidade contava com 301 instalações

elétricas particulares e 138 postes de iluminação pública. (MOURA, 2003, p.163).

A instalação da eletricidade, embora não tenha garantido, de imediato,

maiores possibilidades de ampliação da produção salineira, uma vez que a produção

“técnica rudimentar”, pouco dependia da utilização da energia elétrica, garantiu um

maior conforto a população local, em especial na região central da cidade, a qual

formava uma nascente elite comercial e política, que se tornava mais robusta à

medida que havia um maior incremento da produção salineira e dos fixos urbanos na

cidade de Macau como um todo, ampliando a relevância numa dimensão regional.

Assim, na década de 1920, com o incremento na produção salineira,

Macau tornava-se a terceira maior cidade do estado, com população inferior apenas

a Natal, capital do estado e a Caicó, então a mais relevante cidade do interior, na

qual havia como base econômica a pecuária e a crescente produção algodoeira,

garantindo a cidade caicoense como entreposto comercial (MOURA, 2003, p.165).

Desta forma, Macau ampliava a sua relevância regional no espaço

potiguar. Sobre a cidade de Mossoró, neste período, a mesma possuia reduzidas

funções econômicas. Este quadro mudaria após os anos 1960, a partir das

mudanças ocorridas na produção salineira, como será visto adiante.

Sobre a estrutura urbana macauense constituída a partir da década de

1920, torna-se relevante apontar que, a partir do crescimento dos fixos urbanos

instituídos em Macau, diretamente associados ao incremento advindo pela produção

salineira, atenderam as necessidades de uma crescente elite e uma nascente

burguesia.

Esta elite socoeconômica também propiciou marcas profundas no espaço

urbano macauense, com a instituição de um centro da cidade macauense que

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atendesse aos interesses desta elite e da produção salineira e uma volumosa

periferia, a qual não possuia a mínima estrutura, fortemente constituída pelos

trabalhadores salineiros (CARMO JÚNIOR, 2006, p.37).

O detalhamento da estrutura urbana macauense torna-se importante

para, além de compreender a formação urbana de Macau, em especial durante as

décadas de 1920 a 1960, “auge” do período das salinas tradicionais, dominadas

pelas técnicas rudimentares, a relevância da cidade na dimensão territorial regional

a partir desse incremento produtivo gerado pela produção salineira.

A partir de uma dialética que considere os “espaços luminosos”, com

maior fluidez e os “espaços opacos”, periféricos e segregados com menor fluidez no

contexto espacial macauense auxiliará nesta compreensão, pois tal segregação

espacial urbana, advinda do apogeu salineiro tradicional, aprofundou-se nos anos

1970, como será visto a seguir.

Aprofundando a compreensão do espaço urbano macauense, em

especial a sua formação e ampliação a partir da década de 1920, a ampliação da

produção salineira no período técnico rudimentar, com a menor quantidade de

técnicas empregadas leva a um maior incremento populacional, tanto permanente,

quanto sazonal em Macau.

Assim, há um grande incremento populacional em Macau na primeira

metade do século XX, relativo a uma grande atração de mão-de-obra para a

atividade salineira, havendo notáveis consequências deste incremento na

delimitação espacial urbana de Macau, com um espaço luminoso, constituído por

uma reduzida elite salineira e uma burguesia comercial, frente a um enorme espaço

opaco e periférico, constituído pelo grande contigente de trabalhadores salineiros a

partir desta época.

Mesmo com algumas inovações técnicas inseridas no processo de

produção salineira na primeira metade do século XX, como o uso dos moinhos de

vento, além de artefatos para o transporte da produção, como o carro-de-mão,

tornando a produção, portanto, inserida num “meio técnico rudimentar”, era ainda

necessária uma notória quantidade de mão-de-obra para as ações relativas às

atividades salineiras, ampliando, assim, a população macauense.

Essa relevância da atividade salineira no espaço produtivo macauense

fica evidente ao observar que, segundo os Censos demográficos de 1950, 1960 e

1970, os mais antigos que detalham dados relativos às atividades econômicas,

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177

havia, respectivamente, 68%, 63% e 65% da População Econômicamente Ativa de

Macau, participando das atividades ligadas à produção do sal (IBGE, 1950; 1960;

1970).

Ainda, de acordo com o censo demográfico de 1970, aprofundado num

documento denominado “Relatório Preliminar de Desenvolvimento Local Integrado”,

o qual demonstrou o contexto espacial Macauense neste período de mecanização

da produção salineira, 65% da população economicamente ativa do município

encontravam-se inseridas nas atividades salineiras, sendo que 45% envolviam-se

nas atividades de extração de sal e 20% de transporte do produto (BRASIL,

MINTER, 1972).

A salina tradicional, no período pré-técnico e técnico-rudimentar, exigia

uma mão-de-obra muito expressiva, mas sem a necessidade de uma maior

qualificação profissional para o trabalho, uma vez que os instrumentos empregados

para a extração salineira eram simplórios, sem a necessidade de um longo

treinamento para manuseá-los. Em virtude disso, Macau concentrava uma notória

quantidade de trabalhadores disponíveis para diferentes etapas do então circuito

espacial produtivo salineiro, como a produção nas salinas e o transporte do sal para

a respectiva exportação para o mercado externo.

Assim, havia a necessidade de uma grande quantidade de mão-de-obra,

a qual alcançou, em 1970, um contigente superior a mais de 10 mil trabalhadores,

sendo boa parte oriunda de Macau, num total de 25.800 habitantes que

correspondiam à população total macauense no período. O processo modernizador

da produção salineira apontava que esta grande quantidade de trabalhadores como

um dos fatores que encareciam a produção, pois segundo o Relatório Preliminar de

Desenvolvimento Local Integrado, a produção e o transporte do sal representava

mais de 75% dos custos, refletindo diretamente no valor final do produto nas etapas

relativas à circulação, distribuição e consumo (BRASIL, MINTER, 1972).

Este fato era advindo da relação transporte e quantidade transportada,

uma vez que as alvarengas, embarcações até então utilizadas para o transporte

salineiro, possuíam capacidade média de 60 toneladas, o que limitava o escoamento

do produto. Além disso, dado a escassez de instrumentos técnicos que facilitassem

o escoamento, tornava-se necessária a presença de várias categorias de

trabalhadores ligadas ao embarque do sal. Essas categorias ligadas ao embarque

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da produção salineira representavam 20% da população economicamente ativa do

município em 1970 (COSTA, 1991, p.38; BRASIL, MINTER, 1972).

Estas embarcações rudimentares, as alvarengas, garantiam a ocupação a

um considerável contingente de alvarengueiros, trabalhadores responsáveis pelo

transporte de sal. Neste processo de transporte salineiro, também se destacavam

outros grupos de trabalhadores, como os estivadores e calafates.

Desta maneira, como já destacado no capítulo anterior, ao descrever, na

figura 2, o processo de produção numa salina tradicional, evidencia-se a grande

necessidade de mão-de-obra, levando a atividade salineira a representar um dos

setores de maior absorção de trabalhadores no território potiguar até a

modernização/mecanização, empregando um contingente superior a dez mil

trabalhadores, sendo superado apenas pela cultura algodoeira (COSTA, 1991, p.38).

No que se refere especificamente à atividade salineira, os salineiros que

exerciam suas funções laborais em Macau representava mais de 50% do contigente

total de trabalhadores salineiros do Estado até 1970 (COSTA, 1991, p.38).

De acordo com dados obtidos por Ademir Araújo da Costa (1991, p.58),

no Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração do Sal de Macau, os quais

destacam a quantidade de trabalhadores salineiros antes do processo de

mecanização das salinas, trabalhavam, no período da colheita de sal, 3.345

operários associados, além de aproximadamente 1.800 não associados, perfazendo

um total de 5.145 trabalhadores inseridos no processo de extração de sal, como

pode ser vista na tabela 8, a seguir:

Tabela 8 – Mão-de-obra ocupada na atividade salineira potiguar em 1970

MUNICÍPIO TOTAL MUNICIPAL

SINDICALIZADOS (RESIDENTES EM

ÁREA) URBANA RURAL

NÃO SINDICALIZADOS

MACAU 5.100 1.400 2.000 1.700 MOSSORÓ 4.100 500 1.300 2.300 GROSSOS 700 400 300 - AREIA BRANCA 600 300 300 -

TOTAL 10.500 2600 3900 4000

Fonte: COSTA, 1991, p.58.

Ainda sobre estes dados, torna-se relevante destacar que grande parte

desse contingente de trabalhadores engajados na atividade extrativa do sal não

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residia permanentemente em Macau. A indústria salineira, no período da colheita,

dispunha de uma “população excedente latente”, a qual correspondia aos

trabalhadores salineiros temporários, que residiam nos municípios mais próximos às

áreas de salinas, como observado nos dados do IBGE no censo de 1970, onde

cerca de um terço dos 10 mil trabalhadores salineiros de Macau, correspondendo a

mais de 3 mil pessoas, não faziam parte da População Econômicamente Ativa

municipal por residirem em outros municípios circunvizinhos (IBGE, 1970). Este

dado reitera a relevância de Macau numa escala dimensinonal regional.

Assim, na época correspondente à colheita do sal, ou seja, no período da

“safra” esse contingente dirigia-se a Macau, trabalhando no processo de extração do

produto, retornando às suas localidades no início do período chuvoso, o qual

correspondia à “entressafra” do sal. A população macauense que trabalhava na

produção salineira, neste período de “entressafra”, ficava desempregada ou migrava

para outras atividades, como a agricultura de subsistência, por parte dos

trabalhadores salineiros que moravam na zona rural ou realizando serviços

eventuais, popularmente conhecidos como “bicos” (COSTA, 1991, p.38).

No que se refere aos trabalhadores envolvidos no transporte do sal em

Macau, haviam de 1.000 a 1.500 pessoas. Segundo os dados obtidos por Costa

(1991, p.39), no ano de 1972 havia 866 associados aos sindicatos das categorias

ligadas a essa atividade, como os estivadores, os marítimos, os alvarengueiros, os

conferentes, os arrumadores, além de 600 trabalhadores avulsos, os quais não eram

sindicalizados e nem mantinham vínculos empregatícios com qualquer empresa.

Esses trabalhadores temporários eram denominados bagrilhos7.

Os dados apresentados por Ademir Araújo da Costa tornam-se

relevantes, pela detalhada constituição do período anterior à modernização e

mecanização salineira, evidenciando a relevância de Macau na então dimensão

regional potiguar. No tópico 4.1, ainda no presente capítulo, quando serão

analisadas e descritas as pesquisas de campo realizadas nas atuais indústrias

salineiras, ficará evidente a notável diferença do período técnico-rudimentar com a

7 Trabalhadores precários submetidos a condições consideravelmente precárias, uma vez que não haviam contratos escritos, mas apenas “contratações verbais”, por parte dos estivadores associados ao sindicato, sendo explorados por estes para executarem o serviço da estiva, recebendo salários irrisórios (COSTA, 1991, p.39).

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atual quantidade de mão-de-obra empregada na atividade salineira no atual meio

técnico-científico-informacional.

Ainda sobre os trabalhadores salineiros, outro aspecto que merece

destaque são as precárias condições laborais em que os salineiros eram

submetidos. O pesquisador Carmo Júnior, em detalhada pesquisa sobre o espaço

macauense e a produção salineira, afirmou que “o salineiro era escravo da salina e

pária da sociedade macauense” (CARMO JUNIOR, 2006, p.48).

Reiterando esta afirmação, Barros (2001, p.147-148), também relevante

pesquisador da história macauense, utiliza citação do Jornal “Folha de São Paulo”,

no qual evidencia as dificuldades dos trabalhadores salineiros e o processo

segregador existente no espaço urbano macauense, o qual também será mais

aprofundado neste capítulo 4:

[...] o que tira e amontoa o sal nos aterros – e ganha miseravelmente alguns meses, apenas, por ano – e o que retira o sal do aterro em barcaças à vela rumo aos navios, ou ainda, que exerce funções na estiva. Estes últimos ganham muitas vezes grandes somas, que não sabem aplicar, não tem como aplicar, e vivem nivelados à classe baixa da cidade [...] O salineiro é o paria [...] O tipo de vida do salineiro é sub-humano [...] Além dos pés e das mãos violentadas pelo contato direto com o sal bruto, há outro problema: o do salineiro que fica cego. A pleno sol, ao calor intenso, o reflexo da luz sobre o sal branquíssimo invade as retinas, força as sensibilidades e acaba abatendo a capacidade visual de um organismo desvitaminado [...]. (FERREIRA in: Folha de São Paulo, 18 de abril de 1963, apud BARROS, 2001, p.143 - 147).

E consolidando ainda mais este quadro precarizado relativo ao

trabalhador salineiro, Fernandes (1995) descreve as péssimas condições de

trabalho destes operários nas salinas tradicionais, denunciando a “escravidão

disfarçada” a que eram submetidos, onde o trabalhador era brutalmente escravizado

“[...] sem chicote, porém, ainda, com feitor.” (FERNANDES, 1995, p.80).

Assim, a descrição relativa ao período pré-técnico e técnico rudimentar,

portanto anterior à modernização/mecanização tecnológica das salinas, torna

evidente a grande absorção de mão-de-obra, uma vez que não havia ainda a

utilização de técnicas que substituíssem o trabalho humano. A extração e o

transporte salineiro eram realizados manualmente, com o largo emprego de mão-de-

obra. Ainda sobre o transporte, Costa (1991, p.40), afirma que:

Todo o transporte do sal, desde o realizado no interior da salina para o aterro, associado ao existente do aterro para as barcaças, e, finalmente,

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das barcaças para os navios, necessitava de uma grande quantidade de mão-de-obra, gerando uma diversidade de categorias de trabalhadores.

Todas essas etapas produtivas geravam uma diversidade de categorias e

ocasionaram a formação de uma dezena de sindicatos de trabalhadores, ligados à

atividade salineira, destacando-se os sindicatos dos Trabalhadores na Extração do

Sal; dos Estivadores; dos Marítimos, dos Mestre-Arrais; dos Motoristas Navais; dos

Carpinteiros Navais; dos Alvarengueiros; dos Calafates; dos Arrumadores; e dos

Conferentes.

A partir da obtenção de dados por Costa (1991, p.41) no Sindicato dos

Trabalhadores na Indústria de Extração do Sal de Macau, relativos a 1970, portanto

anteriores à consolidação da modernização/mecanização da produção salineira, boa

parte dos trabalhadores que exerciam funções nas salinas em Macau eram

oriundos, além do próprio município, de outros municípios adjacentes, destacando-

se Afonso Bezerra, Assu e Alto do Rodrigues, como poderá ser mais bem

visualizado a seguir.

Tabela 9 – Origem da mão-de-obra salineira em Macau/RN (1970)

MUNICÍPIO URBANA % RURAL % TOTAL %

Macau 967 62 597 38 1564 47 Pendências 308 43 409 57 717 21 Afonso Bezerra 396 94 27 6 423 13 Assu 28 14 168 86 196 6 Alto do Rodrigues 72 41 105 59 177 5 Outros municípios

189 71 79 29 268 8

TOTAL GERAL 1960 59 1385 41 3345 100

Fonte: Costa, 1991, p.42.

Os dados do pesquisador Ademir Araújo da Costa são relevantes, dado a

dificuldade de obtenção de informações na atual organização sindical Macauense, a

qual se tornou consideravelmente enfraquecida com a mecanização/modernização

salineira, conforme constatado na pesquisa de campo durante o ano de 2016.

Assim, tornou-se necessária a realização de questionários diretamente

nas corporações salineiras, os quais serão mais bem visualizados a seguir,

evidenciando as notáveis diferenças produtivas do atual meio técnico-científico-

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informacional com o período técnico rudimentar existente na produção salineira até

os anos 1960.

Ainda sobre a tabela 9, acima destacada, do total de 3.345 trabalhadores

associados ao referido sindicato, 1564 trabalhadores, ou 47%, eram originários do

município de Macau e 53 % advindos de municípios vizinhos. Além disso, destaca-

se a notória porcentagem da população urbana, a qual alcançava 59% dos

trabalhadores sindicalizados, refletindo o contexto local e nacional.

Apesar de uma considerável porcentagem de trabalhadores salineiros

sindicalizados que viviam no espaço urbano, a relevante pesquisa realizada por

Costa (1991, p.42), a partir de entrevistas e questionários realizados, evidenciou

que, anteriormente ao processo de mecanização da indústria salineira, havia uma

intensa mobilidade sazonal de trabalhadores entre o interior e o litoral, ou seja, entre

o interior e a área de produção de sal de Macau, o que reitera ainda mais a

relevância Macauense numa dimensão escalar regional.

Desta maneira, aprofundando este processo de fluxos espaciais da mão-

de-obra salineira durante o período técnico rudimentar, correspondente às décadas

de 1920 a 1960, os trabalhadores rurais migravam para Macau no período da

colheita de sal para extrair sal das salinas, devido ao período da estiagem agrícola,

com menor quantidade de chuvas, coincidia com o período que havia as melhores

possibilidades de colheita salina. Após o período da colheita do sal, o qual

correspondia ao início das primeiras chuvas, “esses trabalhadores retornavam então

ao seu local de origem, retomando a atividade agrícola” (COSTA, 1991, p.42-43).

Consolidando esta discussão acerca das características da mão-de-obra

nas salinas neste período técnico rudimentar, a esclarecedora pesquisa realizada

por Costa (1991, p.45-46), também evidenciou a existência de um notório fluxo de

trabalhadores entre as diversas salinas, sendo, portanto, mais um importante

indicador da relevância dimensional do território macauense num contexto regional.

Desta maneira, durante um período de colheita de sal, o operário

trabalhava em mais de uma salina, a fim de ampliar a sua renda. De acordo com a

pesquisa de Costa (1991, p.45-46), “77% dos antigos trabalhadores entrevistados

pelo referido pesquisador haviam exercido suas funções laborais em diferentes

salinas durante cada colheita anual de sal”. Também merecem destaque os intensos

fluxos no que se refere aos trabalhadores locados no transporte salineiro,

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“alcançando 42% dos antigos trabalhadores desta categoria”, entrevistados pela

pesquisa de Ademir Araújo da Costa (1991, p.46).

Essa grande fluidez empregatícia por parte da mão-de-obra que exercia

suas funções laborais nas salinas eram decorrentes do fato de o trabalhador das

salinas não possuir relações de trabalho com os proprietários de salinas, “uma vez

que o controle das vagas de trabalho era comandado pelos sindicatos salineiros e os

proprietários salineiros” (COSTA, 1991, p.46).

Desta maneira, as empresas salineiras, “quando necessitavam de

trabalhadores, solicitavam ao sindicato, o qual selecionava um grupo,

estabelecendo”, segundo a pesquisa realizada por Ademir Costa (1991, p.46), “um

rodízio permanente para que nenhum dos seus associados ficasse à margem do

processo de trabalho, encaminhado os trabalhadores para o trabalho na salina”.

Assim, ao encerram suas funções trabalhistas em uma salina, o grupo indicado

pelas organizações sindicais era encaminhado para outra salina, tornado os fluxos

de mão-de-obra salineira algo costumaz neste processo produtivo.

Consolidando esta discussão, Ademir Araújo da Costa enfatiza que,

quando a corporação salineira possuía uma dimensão territorial mais reduzida,

maior seria a mobilidade do trabalhador. Este fato ocorria “porque o dono da salina,

temendo a ocorrência de chuvas, fenômeno que reduz substancialmente a

produção, empregava o maior número possível de mão-de-obra para que colhesse o

máximo possível do sal já produzido” (COSTA, 1991, p.46).

Após esta breve descrição do quadro trabalhista da mão-de-obra salineira

neste período técnico rudimentar, torna-se relevante enfatizar que essa grande

quantidade de trabalhadores salineiros geraram consideráveis consequências ao

espaço urbano macauense a partir da década de 1920.

Conforme observado anteriormente, houve um crescimento da população

macauense a partir desta ampliação da necessidade de trabalhadores para atividade

salineira. Assim, em 1900, a cidade possuía 11.236 habitantes, sendo 4.754

habitantes na área urbana, ampliando este índice demográfico para 14.670

habitantes em 1920, com 7.412 habitantes vivendo na sede macauense. Evidencia-

se, assim, que a população urbana também possuía um notório incremento, uma

vez que havia uma maior necessidade de mão-de-obra para as atividades salineiras.

E associado a este processo de incremento demográfico, ampliam-se os

fixos urbanos, os quais, como ocorrem numa cidade capitalista, reproduz a

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desigualdade deste sistema econômico hegemônico, sendo direcionados para a

região central da cidade. A região periférica ficava com escasso acesso as estes

fixos, uma vez que os salineiros não detinham poder de compra necessário para

justificar fixos mais avançados, concentrados, assim, nas áreas luminososas,

centrais.

Desta maneira, torna-se relevante inserir a conceituação de espaço

urbano, o qual, para Corrêa (2000, p.7), numa cidade capitalista, “[...] o espaço

urbano constitui-se no conjunto de usos justapostos entre si [...]” os quais definem

determinadas áreas como, por exemplo, o centro da cidade, geralmente

caracterizado pela concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão,

assim como, as áreas industriais, residenciais, entre outras, diferenciando-se em

termos de escala, forma e conteúdo. A esse complexo conjunto de usos justapostos

da terra, Corrêa (2000) denomina como “organização espacial da cidade” ou,

simplesmente, “espaço urbano”.

Assim, o espaço urbano “[...] é um produto social, resultado de ações

acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e

consomem espaço.” (CORRÊA, 2000, p.11) os quais, por sua vez, são concretos e

sua ação “[...] é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capitais, das

necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de

classe que dela emergem.” (CORRÊA, 2000, p.11).

Aprofundando a compreensão da organização espacial da cidade de

Macau, torna-se relevante o entendimento da atuação dos chamados “agentes

sociais” como elementos de uma estrutura social que, por sua vez, desencadeia

funções urbanas as quais resultam em processos e formas espaciais. Estas funções

urbanas decorrem da acumulação de capital e a reprodução social, a qual possui

grande importância neste processo.

Entre os processos sociais desencadeados por tais agentes e a

concretização espacial dos mesmos, destacam-se os espaciais, que por sua vez:

[...] constituí-se em um conjunto de forças atuantes ao longo do tempo, postas em ação pelos diversos agentes modeladores, e que permitem localizações e relocalizações das atividades e da população na cidade. São os processos espaciais, responsáveis imediatos pela organização espacial desigual e mutável da cidade capitalista. (CORREA, 2000, p.36)

Portanto, o espaço urbano é, aqui, compreendido como o resultado da

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dinâmica social que através de um determinado modo de produção, reproduzindo-se

e imprimindo na paisagem as marcas dessa reprodução, como afirma Silveira (2000,

p.25):

[...] o espaço urbano deve ser compreendido enquanto produto social e histórico, ou seja, como resultado da atividade de uma série de gerações que, através de seu trabalho acumulado, têm agido sobre ele, modificando-o, transformando-o, humanizando-o, tornando-o um produto cada vez mais distanciado do meio natural.

Observando-se a história da cidade de Macau, destacada durante a

presente pesquisa, pode-se ver facilmente a existência e atuação de três

importantes e fundamentais “agentes sociais”, assim como seus processos e formas

espaciais transformadores do espaço urbano: a indústria do sal, representada pelas

grandes corporações salineiras; a elite burguesa, comercial e política, concentrada

na região central da cidade; e os salineiros, trabalhadores das salinas e as áreas

segregadas socialmente. Destaca-se que os componentes dirigentes das

corporações salineiras que viviam na cidade também habitavam a porção central da

cidade.

Sobre a indústria salineira, a mesma deve ser compreendida como um

agente social transformador e modelador do espaço urbano, sendo caracterizada, no

desenvolvimento de suas atividades por dois aspectos fundamentais, destacando-

se, inicialmente, o fator locacional, uma vez que, para seu funcionamento, a mesma

precisava estar inserida numa região que dispunha em abundância de sua matéria

prima, o sal, estando, ainda, situado num local que lhe oferecesse condições

naturais, nos aspectos geológicos e climáticos, necessários à produção salineira

(DINIZ, 2013, p.197).

Também merece notoriedade, como outro aspecto, o espacial, pois o

propietário salineiro constitui-se num tipo de agente que necessita de grandes áreas

para o desenvolvimento de suas atividades, apropriando as áreas mais propícias

para tanto. Os processos sociais a que se refere Corrêa (2000), dizem respeito à

chegada, instalação, apropriação e desenvolvimento da indústria salineira na região.

A indústria salineira, desde o século XIX, possuía notória intencionalidade

no espaço macauense, ampliando essa utilização para a reprodução produtiva, após

o início da ditadura militar em 1964, com o contexto político em que foi permitida a

entrada do capital estrangeiro no mercado brasileiro, a salinas foram financiadas por

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grupos nacionais e estrangeiros, com o notório apoio do estado brasileiro da época,

como será visualizado posteriormente.

Desta forma, desde o início da ampliação da produção salineira

macauense, ainda no século XIX, a maior parte das terras do município ficou de

posse destas corporações salineiras, demonstrando o poder destas grandes

empresas no que se refere ao domínio que elas exercem sobre o território de

Macau. Dessa forma, a indústria salineira é o principal e mais poderoso agente

social transformador do espaço urbano macauense, a partir da produção do sal e a

consequente reprodução do capital.

A forma espacial resultante dos processos sociais é a própria

materialização das ações engendradas por essa indústria no caminho percorrido por

ela até a “construção do seu „império‟, onde a cidade constitui-se, apenas, numa

pequena e cômoda parte em meio a este grande „império‟ salineiro” (CARMO

JÚNIOR, 2006, p.21).

Essas formas espaciais correspondem à própria paisagem do lugar, dado

o poder do agente industrial salineiro sobre o espaço, estando inserida na natureza

transformada, utilizando diferentes instrumentos técnicos para a respectiva

transformação espacial, como baldes, evaporadores e cristalizadores, essencial à

produção do sal, além dos aterros das salinas, essenciais ao armazenamento do sal,

à espera de ser embarcado. Também podem ser destacadas estas formas espaciais

na fisionomia da periferia urbana da cidade de Macau, com a ampliação da

segregação espacial da população com menor poder aquisitivo ao longo da

formação urbana macauense.

Assim, a atuação da indústria salineira possuiu como objetivo, durante a

formação espacial macauense, garantir a reprodução do capital, através do

processo de produção e realização da mais-valia e, sob esta perspectiva, a cidade é

vista como suporte físico ou condição material para a reprodução do capital.

E a cidade, além de viabilizar o processo de reprodução do capital, na

mesma se reproduz a vida com a reprodução da força de trabalho e do consumidor

de modo geral. Sob este ponto de vista, “o espaço urbano constitui-se num meio de

consumo, ou seja, é o lugar onde se mora e vive-se” (CARLOS, 1994, p.34).

Discutindo mais sobre os usos do espaço urbano, segundo Villaça (2001,

p.68), “o espaço urbano é algo produzido pelo trabalho social dispendido na criação

de algo socialmente útil”. Para o autor, trata-se de um equívoco a ideia de que a

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terra urbana é um dom gratuito da natureza e que por isso não tem valor ou não é

possível controlar sua oferta.

Desta maneira, segundo Villaça (2001, p.72), “considerar a terra urbana

como „produto não produzido‟, devido a sua base material corresponde ao mesmo

que reduzir um produto produzido à sua matéria- prima”. Se a terra urbana é um

produto, logo esse produto adquire um valor o qual o mercado trata de atribuir-lhe

um preço, correspondendo a uma expressão monetária do valor.

Assim, a localização se apresenta como um valor de uso da terra, dos

lotes, das ruas, das praças, das praias. Assim, correspondendo a um notório valor, o

da localização também é dado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para

produzi-la, ou seja, para produzir a cidade inteira da qual a localização é parte.

No que se refere à acessibilidade, diretamente relacionada à localização,

Villaça (2001, p.74), evidencia que as condições de deslocamento do ser humano,

associadas ao ponto do território urbano, predominarão sobre a disponibilidade de

infraestruturas desse mesmo ponto, sendo a acessibilidade o elemento mais

importante na produção de localizações do que a própria disponibilidade de

infraestrutura. Aprofundando sobre a questão da localização e acessibilidade no

espaço urbano, Milton Santos (1987, p.81) assim se expressa:

Cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência, preço) independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está. Enquanto um lugar [grifo no original] vem a ser condição de sua pobreza, outro lugar [grifo no original] poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhes são teoricamente devidos, mas que, de fato, lhe faltam.

Dessa forma, a terra urbana é interessante para a reprodução capitalista

enquanto “terra-localização”, ou seja, enquanto meio de acesso a todo o sistema

urbano, a toda a cidade, sendo a “acessibilidade”, o valor de uso mais importante

para a terra urbana.

Assim, “o grau maior ou menor de acessibilidade indicará o trabalho

dispendido na produção dessa centralidade, desse valor de uso” (VILLAÇA, 2001,

p.76). Por conseguinte, os terrenos da periferia têm menos trabalho social

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incorporado em sua produção do que os do centro, ao passo que quanto mais

central for o terreno, mais trabalho despendido existirá na produção desta

centralidade, desse valor de uso.

Este valor de uso gera notórios conflitos sociais no espaço urbano,

motivados pela disputa por localizações. Desta maneira, a localização determinará o

grau de acessibilidade deste ponto aos demais pontos da cidade, principalmente, ao

Centro. Assim, a “acessibilidade”, apontada por Villaça (2001, p.78), pode ser

considerada um dos mais relevantes aspectos de delimitação dos usos no espaço

urbano.

Neste processo de indicação de áreas no espaço urbano, torna-se

relevante delimitar mais profundamente sobre o termo “segregação”, segundo

Villaça, em seu livro “Espaço intra-urbano no Brasil”, o qual define a segregação

como “[...] uma determinada geografia, produzida pela classe dominante, e com a

qual essa exerce sua dominação através do espaço urbano” (VILLAÇA, 2001,

p.360).

Desta forma, a segregação social no espaço urbano constitui-se numa

força vital para a estruturação, articulação e manutenção das ações engendradas ao

longo do tempo por seus „agentes sociais‟, materializadas no espaço urbano, sendo,

“além de reflexo das ações destes „agentes sociais‟, condição necessária para a

existência de tais formas espaciais” (VILLAÇA, 2001, p.362).

Assim, Villaça (2001, p.364) aprofunda a temática, discorrendo sobre dois

tipos de segregação: a “auto-segregação”, na qual se refere “à segregação da

classe dominante que seleciona para si as melhores áreas”; e a “segregação

imposta” que diz respeito “à segregação das camadas de baixa renda as quais as

opções de „onde‟ e „como morar‟, são poucas ou nulas”. Na verdade, estes termos

representam um mesmo processo e referem-se à dialética da segregação espacial.

Aprofundando estas explicitações para a formação do espaço urbano de

Macau, a luta pelas localizações tem início com a chegada, instalação e formação

do seu principal e mais poderoso agente social: a indústria salineira. Em sua

instalação, este agente tornou-se a detentora de grande parte de suas terras,

inclusive, como já foi dito, da área onde está localizada a cidade de Macau.

Uma vez instalada e de posse de grande parte das terras, este agente

escolheu seletivamente as melhores áreas para a realização das atividades

relacionadas à produção e extração do sal marinho. Os espaços restantes desta

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escolha foram configurados para uma cidade que atendesse aos anseios desta

atividade produtiva. E assim, “iniciou-se o processo de segregação espacial na terra

do sal, exatamente com a escolha e ocupação das áreas destinadas à produção do

capital pela indústria salineira” (CARMO JÚNIOR, 2006, p.38).

É bem verdade que, dentre as áreas ocupadas pela cidade de Macau,

constituiu-se, também no interesse desta indústria que ao eleger suas áreas de

produção e extração do sal, também possuiu uma intencionalidade na instação do

sítio urbano que se localizaria a cidade, porque para a indústria salineira, a

constituição de fixos urbanos era imprescindível, já que a cidade representava o

local de reprodução da sua força de trabalho e de seu exército de reserva.

Assim, a cidade de Macau tornou-se importante para a indústria salineira,

não por outro motivo, pois a cidade e seus fixos urbanos tornam-se basilares, sendo,

portanto, um celeiro de sua força de trabalho. Nesta perspectiva, a ocupação da

área onde está localizada a cidade pela indústria salineira, representa a

manifestação espacial do processo de acumulação de capital, onde a cidade em si

participa deste processo, essencialmente, como o locus da reprodução da força de

trabalho.

A acumulação de capital, a produção de mais-valia, é a força que impulsiona a sociedade capitalista. Por sua própria natureza, a acumulação de capital necessita da expansão dos meios de produção, da expansão do tamanho da força de trabalho assalariada [grifo nosso], da expansão da atividade de circulação na medida em que mais produtos se tornam mercadorias e da expansão do campo de controle da classe capitalista. (HILL apud GOTTDIENER, 1993, p.93).

Desta forma, o espaço urbano macauense, encravado em meio às áreas

de salinas e delimitado por condições naturais e humanas, resultado das

transformações e adequações da natureza, levou as porções “luminosas” e

privilegiadas da cidade “a serem delimitadas pela sua elite burguesa direta ou

indiretamente derivada da dinâmica salineira e uma numerosa população

segregada, representada pelos trabalhadores do sal” (CARMO JÚNIOR, 2006, p.40).

Na disputa pelas “localizações” intra-urbanas, ou seja, dentro da cidade, a

elite “criou” e “assegurou” sua permanência na área mais acessível da cidade e, “ao

longo do tempo, concentrou boa parte dos investimentos de infraestrutura e

circulação de riquezas e mercadorias. Este lugar, fazendo jus a sua a centralidade,

notória característica, denominou-se como Centro” (CARMO JUNIOR, 2006, p.41).

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A ocupação do Centro pela elite consolidou na cidade de Macau um

padrão de segregação dialético característico de uma cidade capitalista,

configurando um centro dotado da maioria dos serviços urbanos, públicos e

privados, sendo ocupado pelas classes de renda mais elevada. Paralelo e

dialeticamente a isso, a periferia, a área segregada no espaço urbano, sub-

equipada, era ocupada pelos excluídos, com esta porção do espaço urbano

possuindo sua consolidação dessa situação geográfica a partir dos mecanismos de

segregação.

Segundo Corrêa (2000, p.66), este padrão caracterizado pela segregação

da elite junto ao centro, enquanto a população com menor poder de compra

ocupando a periferia, “foi representado graficamente pelo geógrafo alemão J. G.

Kohl em 1841, com base na distribuição das classes sociais nas cidades européias

numa época”, salientada por este autor, em que “[...] os efeitos do capitalismo sobre

a organização espacial não se faziam sentir plenamente: tratava-se, em realidade,

da cidade pré-industrial.” (CORRÊA, 2000, p.66) A explicação para a ocorrência

deste padrão de segregação residia no fato de que:

[...] a mobilidade intra-urbana era muito limitada e a localização junto ao centro da cidade constituía uma necessidade para a elite porque ali se localizavam as mais importantes instituições urbanas: o governo, através do palácio, a igreja, as instituições financeiras e o comércio a longa distância. A localização central da elite se devia, pois, a uma questão de acessibilidade às fontes de poder e de prestígio. (CORRÊA, 2000, p.68)

A segregação é um processo dialético, uma vez que conduz as camadas

de alta renda a se concentrarem numa determinada área da cidade,

automaticamente, segregam as demais camadas no que restou dela. Em Macau, ao

ocupar o Centro, a elite se delimitou nesta area central, constituindo os fixos

necessários para a sua reprodução, com a segregação das classes menos

favorecidas na periferia urbana da cidade, área desprezada pelo capital salineiro e

por esta elite macauense.

Portanto, a segregação social macauense, acelerada a partir do

crescimento da atividade salineira no século XX, constitui-se numa força vital para a

estruturação, articulação e manutenção das ações engendradas ao longo do tempo

por seus agentes sociais, materializadas no espaço urbano. A segregação, uma

forma espacial urbana, além de reflexo das ações destes agentes sociais, é,

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também, condição necessária para a coexistência destas formas espaciais.

Assim, a partir da década de 1920, há uma aceleração na formação

dessa periferia urbana, na qual se localizava o agente mais fraco desta estrutura

social, o trabalhador das salinas ou, simplesmente, o salineiro. Esta periferia

representou, ao longo do tempo, o locus de moradia destes trabalhadores, ou seja, o

local de reprodução da força de trabalho para a indústria salineira.

Neste sentido, a segregação social se torna elemento estruturante do

espaço urbano da cidade de Macau, tornando relevante “destacar e compreender

esta segregação advinda com a atividade salineira desde o início do século XX

tornou mais visível à crueldade e perversidade da dominação das classes

dominantes no espaço urbano macauense” (CARMO JÚNIOR, 2006, p.26).

Portanto, a periferia urbana da cidade de Macau é caracterizada pela

carência dos diversos serviços e equipamentos urbanos. Suas construções

apresentavam péssimas condições de estado de conservação resultado dos baixos

salários a que estes trabalhadores eram submetidos pelas empresas produtoras de

sal. A feição desta periferia, “assemelhando à própria feição de seus moradores,

retratava um lugar pobre, sofrido e abandonado”, conforme afirma Carmo Júnior

(2006, p.27) em sua detalhada pesquisa relativa ao espaço urbano macauense.

Reiterando sobre a configuração desta periferia no contexto do espaço

urbano, deve-se enfatizar que as consideráveis distâncias às quais os salineiros

eram submetidos da periferia em relação ao Centro e “a ocupação de amplas

porções espaciais pela estrutura produtiva salineira, serviram para acentuar o

caráter desigual e não uniforme da ocupação do espaço urbano macauense”

(CARMO JÚNIOR, 2006, p.40).

Consolidando a compreensão das contradições espaciais macauenses,

onde o Centro macauense possuía privilégios em detrimento das outras áreas,

torna-se necessário atentar que a compreensão da distância com relação ao centro

não se limita estritamente ao aspecto físico, à distância, mas principalmente à idéia

de acessibilidade, com as dificuldades de acesso pela ausência de pavimentação e

de outros aparatos técnicos que ampliem a fluidez para estes espaços periféricos.

Assim, a ausência de acessibilidade, além de reflexo da ocupação

desigual do espaço urbano, é fator condicionante para a existência deste tipo de

ocupação, ou seja, ao mesmo tempo em que ela é efeito, também é causa. Logo,

fica evidente que o distanciamento das demais áreas da cidade em relação ao

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Centro funcionou como obstrução à acessibilidade e, portanto, obstrução ao próprio

desenvolvimento destas áreas, ao passo que, diferentemente, o Centro se

destacava como um lugar bem abastecido de produtos, mercadorias, equipamentos

e serviços, escolhido como centro econômico e locus de uma elite que ali se

encontrava.

Desta forma, a atividade salineira consolidava, no espaço central

macauense, as potencialidades advindas do resultado do fenômeno da aglomeração

urbana, possibilitando uma maior acessibilidade e, ainda, a concentração das

riquezas produzidas pela totalidade num só lugar sob o pretexto imposto pela

ideologia dominante que este Centro, corresponde à própria representação espacial

da cidade.

E conforme descrito, ao contrário da periferia, o centro macauense, em

especial com o crescimento econômico propiciado pela produção salineira, em

especial na década de 1920, estabeleceu-se uma elite burguesa, intelectual e

política, elegendo este espaço como o seu lócus de trabalho e moradia, usando para

isso, todos os mecanismos necessários para garantir sua permanência, “sendo esta

elite sustentada pela precariedade de um grande contigente de trabalhadores

salineiros segregados em uma crescente periferia urbana” (CARMO JÚNIOR, 2006,

p.19).

Desta forma, como observado, a dominação do espaço urbano da cidade

de Macau se dá, inicialmente, com a escolha e apropriação das melhores

localizações pela indústria salineira no desenvolvimento de suas atividades

relacionadas à produção e extração do sal, e, consequentemente, ampliando o

processo segregador. No nível intra-urbano, o processo de segregação se dá com o

domínio do Centro pela elite que, “ao se concentrar neste centro, ao mesmo tempo e

pelo mesmo processo, desencadeia a segregação dos „outros‟ para a periferia

urbana”, como observado anteriormente (CARMO JÚNIOR, 2006, p.20).

Aprofundando a cronologia de origem do Centro de Macau, Benito Barros

(2001), ao realizar uma constituição cronológica macauense, descreve a constituição

da area central macauense relacionando-a à escolha do seu sítio urbano,

“priorizando uma área adjacente ao Rio Piranhas-Assu, mas com uma topografia

plana, o que desde sempre implicou numa maior acessibilidade a partir do processo

espacial de centralidade” (2001, p.25).

Este processo, também influenciado pelas intencionalidades do capital,

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em especial o salineiro, demarcou as tipologias das atividades desenvolvidas, as

quais foram direcionadas, em especial na primeira metade do século XX, para a

região central, destacando funções administrativas e comercialmente “luminosas”

para o período, “como a comercialização de gêneros alimentícios e a administração

das corporações ligadas ao sal. Nas áreas periféricas eram desenvolvidas atividades

ligadas à pesca, agricultura e colheita do sal” (BARROS, 2001, p.26).

Assim, a acessibilidade e o tipo de atividade econômica desenvolvida,

aspectos fortemente relacionados, em especial numa cidade capitalista, aprofundam

o caráter hegemônico da região central da cidade macauense, perpetuado durante a

evolução urbana da referida cidade. E como “fiel representante e defensora deste

espaço estava uma elite política, intelectual e burguesa detentora do poder

responsável pelas decisões que ditaram os rumos da cidade durante a primeira

metade do século XX” (CARMO JÚNIOR, 2006, p.39).

Ainda sobre este domínio das classes hegemônicas macauenses, para a

defesa dessa hegemonia e de seus próprios interesses, Carmo Júnior (2006, p.39)

afirmou que várias foram as posturas tomadas por essa elite ao longo da primeira

metade do século XX, correspondendo “desde a reivindicação para a manutenção

estética de suas praças até ações de caráter higiênico pela retirada de feiras

públicas, zona de prostituição e até de uma cadeia pública, visando a preservação

de seu lócus”.

Na constituição de uma área central, o uso dos investimentos de

infraestrutura e benfeitorias realizadas, em especial para atender a crescente

atividade salineira durante a primeira metade do século XX, consolidou a

centralização do poder e da circulação do dinheiro, gerando a valorização de um

patrimônio criado pela totalidade macauense, mas, apenas, usufruído pela elite, uma

pequena parte dessa totalidade, reflexo das dinâmicas de uma cidade capitalista.

Assim, os fixos e sistemas técnicos instituídos na área central, como a

instalação da energia elétrica a partir de uma usina a diesel, em 1924, já destacada

no inicio do presente capítulo, associada à construção de outros fixos que

“garantiam esta hegemonia da então elite macauense, como a sede da prefeitura

municipal, o prédio dos correios e telégrafos, o matadouro e a biblioteca pública, a

maternidade José Varela, a Praça do Coreto” (CARMO JUNIOR, 2006, p.32).

Estes fixos constituídos garantiram as possibilidades de domínio da elite

na área central do espaço urbano macauense, assim como as possibilidades de

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194

maior reprodução do capital salineiro, num período que a produção de sal ainda

estava sob a égide de um período técnico rudimentar.

É relevante enfatizar que a atual área onde está o centro de Macau, até

1925, possuía a escritura de posse pertencente à Companhia Comércio e

Navegação, ligada à produção salineira. Essa situação foi modificada com uma

normatização municipal, acordada com a referida corporação salineira, a fim de

regulamentar toda a área urbana. Este fato demonstra, mais uma vez, “o poderio da

produção salineira sobre o espaço macauense” (CARMO JUNIOR, 2006, p.33).

Todos estes fixos, associados à ampliação das possibilidades de fluidez,

com o calçamento das principais ruas do centro macauense ainda na década de

1930, ampliam os movimentos no espaço urbano “luminoso” macauense. E estes

aspectos urbanos consolidam Macau como uma importante cidade numa dimensão

regional, correspondendo, no período, a segunda maior cidade do interior potiguar

em população, com 19.644 habitantes, demograficamente inferior apenas a Caicó,

principal cidade do Seridó, a qual possuía população superior, com 32.437

habitantes e Natal, com 54.836 habitantes (IBGE, 1940).

Estes fixos e sistemas de movimento urbanos consolidavam o centro

como principal ponto da urbe, onde residia uma burguesia desenvolvendo atividades

comerciais em seus armazéns e estabelecimentos comerciais, também associados à

atividade salineira, com uma boa parte da população segregada a uma periferia,

constituída pelos bairros Porto de São Pedro e Valadão. Na publicação denominada

“Cenários Municipais”, de 1943, citada por Benito Barros na cronologia espacial por

ele realizada relativa a Macau, em 2001, evidencia uma descrição dos aspectos

urbanos, seus problemas e realizações da Macau do início dos anos 1940.

A cidade de Macau, pelo número de habitantes, é a segunda no interior do Estado. [...] A Prefeitura atual tem dirigido, com êxito, uma campanha contra as casas de taipas e cercados de madeira existentes no perímetro urbano. [...] É assim que, em 1940, houve 32 novas construções e 46 reconstruções de prédios e muros. É iluminada à luz elétrica desde 21 de Agosto de 1924, sendo de propriedade do município a respectiva usina, com motor a óleo [...]. De acordo com as possibilidades da Prefeitura, a cidade vai sendo, pouco a pouco, remodelada e novos melhoramentos surgem sempre. Entre os realizados neste último decênio, podem ser citados, em 1936, a arborização das ruas „Marechal Deodoro‟ e „Tenente Victor‟ e das praças da Conceição do mercado público da cidade, com serviços de bancas de alvenaria para comércio, e de azulejo para açougue, piso de mosaico, etc. Em 1937, a construção do jardim da praça „João Pessoa‟, ponto de reunião social, havendo retretas e irradiação pela amplificadora local, mantida pela Prefeitura, bem assim dos prédios para mercado de peixe, do almoxarifado

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195

da Prefeitura, da Capela do Cemitério público, e do serviço de abastecimento d‟água; em 1938, a construção do prédio da Usina de Força e a aquisição do terreno, no valor de Cr$ 100.000,00, das áreas urbanas e suburbana da cidade, que fora edificada em terras de particulares, sem a necessária desapropriação; em 1940, a construção da praça José da Penha, com 37 metros lineares de balaustrada e um trapiche de cimento armado, e em 1942, construção do prédio do Matadouro Municipal e serviço de terraplanagem, com malacacheta, da „Praça da Conceição‟. Há, todavia, na cidade, um serviço que precisa ser melhorado, e para o qual o seu esforço e laborioso prefeito já deve estar com suas vistas voltadas. É o que diz respeito ao abastecimento d‟água, já deficiente para a população existente. Os tanques da Prefeitura fornecem cerca de 80.000 litros diários. A água é conduzida em botes, de fontes situadas no povoado de Barreiras, distante da cidade. (CÂMARA apud BARROS, 2001, p.138-139).

E esse processo de constituição de fixos no espaço macauense,

ampliava-se enormemente a partir dos anos 1940 e 1950, com a consolidação da

relevância da produção salineira na economia macauense e de uma maior

necessidade das classes dominantes locais em possuírem serviços e fixos que

atendessem as mesmas no espaço urbano macauense.

Desta maneira, Macau, que já possuía 23.553 habitantes, amplia os fixos

existentes em seu espaço urbano, com o “crescimento da área física relativa ao

mercado público, o qual já não atendia às necessidades locais, o Quartel da Polícia

Militar potiguar, além de duas Escolas Municipais, denominadas Edinor Avelino e

Padre João Penha Filho” (CARMO JUNIOR, 2006, p.47-48). Também há a

edificação de um terminal ferroviário de passageiros, “a fim de atender a população,

em especial a elite, em seus deslocamentos para a capital potiguar” (CARMO

JUNIOR, 2006, p.48).

No início dos anos 1960, com a criação da Companhia de Serviços

Elétricos do Rio Grande do Norte – COSERN, em 1962, Macau, pela sua dimensão

espacial regional, associado aos interesses produtivos salineiros, “torna-se uma das

primeiras cidades potiguares a possuir torres conduzindo a energia produzida pela

hidrelétrica de Paulo Afonso, na Bahia, substituindo a antiga usina a diesel, a qual

serviu à cidade por cerca de 40 anos” (CARMO JUNIOR, 2006, p.49).

Sobre o incremento populacional de Macau durante a primeira metade do

século XX, cabe ressaltar que, “com a constituição municipalista de 1946, vários

distritos emanciparam-se, triplicando o número de municípios potiguares para 150”

(BARROS, 2001, p.152). No contexto territorial macauense, o município possuiu

desmembramentos em seu território, “sendo emancipados os distritos de Galinhos,

Porto do Mangue, Pendências, os quais se tornaram municípios potiguares”, durante

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196

o período 1946-1964 (CARMO JUNIOR, 2006, p.41).

Apesar deste processo, Macau possuiu incremento populacional em todos

os censos realizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica – IBGE. Assim,

Macau possuía 19.644 habitantes no censo de 1940, ampliando este total para

23.553 habitantes, em 1950 e 24.819 habitantes em 1960, com este incremento

demográfico advindo da necessidade de ampliação da produção salineira, gerando

novos fluxos de mão-de-obra para a cidade, conforme observado anteriormente.

Portanto, ficou evidente o crescimento urbano e demográfico macauense

na primeira metade do século XX, a partir de um processo salineiro, o qual, com um

escasso emprego de técnicas, num período denominado “técnico rudimentar”,

ampliou a necessidade de trabalhadores para servirem como mão-de-obra na

produção salineira. Este contexto ampliou a relevância de Macau numa dimensão

regional até a década de 1960 no contexto espacial potiguar. Entretanto a

modernização e mecanização salineira altera consideravelmente a dimensionalidade

escalar espacial macauense, ocasionando mudanças na estrutura produtiva

salineira, conforme será visto no tópico a seguir.

4.2 A MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA EM MACAU A PARTIR DA

DÉCADA DE 1960: AS TRANSFORMAÇÕES E UMA NOVA

DIMENSIONALIDADE NO ESPAÇO MACAUESE

A primeira metade do século XX, conforme observado anteriormente,

consolidou Macau e o litoral setentrional potiguar como relevante área da produção

salineira. Entretanto, a produção salineira advinda dessa área, conforme brevemente

destacado nos capítulos anteriores, não era suficiente para garantir uma maior

produtividade da produção salineira potiguar, levando o Brasil a importar sal de

outros países, “como o Chile, uma vez que, desde aquele período, possuia uma

grande produção de sal” (DINIZ, 2013, p.165).

Para agravar a situação, o estabelecimento de cotas pelo Instituto

Nacional do Sal - IBS, dificultava uma expansão da produção salineira potiguar,

dado a política estatal de controle de uma “possível superprodução salineira,

introduzido ainda no governo Vargas, em 1940” (DINIZ, 2013, p.167).

Este contexto de dificuldades na ampliação produtiva salineira, com as

limitações impostas pelo IBS, associada a uma produção baseada em técnicas

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197

rudimentares, tornaram mais frequentes as importações, ainda no final dos anos

1950, dada a necessidade de sal na nascente indústria nacional, em especial na

indústria química, a qual, como observado anteriormente, utilizava o produto em

mais de uma centena de diferentes tipologias industriais.

No contexto nacional, a década de 1950 possui, como marco temporal, a

política desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek, baseada no

pressuposto que a industrialização promoveria o crescimento econômico e atenuaria

as enormes diferenças economicas nas regiões Sudeste, a qual que se desenvolvia,

e o Nordeste, com baixos indicadores econômicos. Assim, em sua gestão, “criou-se

o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste – GTDN, servindo como

base para a institucionalização, em 1959, da Superintendência de Desenvolvimento

do Nordeste – SUDENE” (COSTA, 1991, p.29).

Desta forma, a institucionalização de planos diretores, como o II Plano

Diretor, que vingou de 1963 a 1965, levaram a SUDENE a enfatizar uma

implementação de indústrias de grande porte, assim como a modernização e

dinamização de setores industriais já existentes, os quais operavam seguindo

moldes “técnicos rudimentares”, como as salinas potiguares, “as quais possuíam

dificuldades para abastecer o mercado interno consumidor, uma vez que havia uma

ampliação do consumo de sal no País, dado ao desenvolvimento da indústria

química, grande utilizadora deste produto como matéria-prima” (COSTA, 1991,

p.16).

As estratégias empregadas pelo Plano Diretor da SUDENE basearam-se

em mecanismos de incentivos fiscais direcionados para empresas nacionais e

grupos estrangeiros, resultando num processo que culminou na desnacionalização,

monopolização e extinção das pequenas salinas do Rio Grande do Norte a partir da

década de 1960, sendo as mesmas incorporadas ao capital de grupos estrangeiros,

financiados por recursos estatais.

Todas as empresas citadas, para atender às exigências da modernização, tiveram que utilizar os incentivos fiscais da SUDENE, [...]. A própria SUDENE facilitou a penetração das empresas multinacionais no Nordeste e as incentivou quando retirou do seu II Plano Diretor „a restrição de utilização pelas empresas de capital estrangeiro do mecanismo de dedução fiscal, antes somente permitida a empresas de capital cem por cento nacional‟. Assim, os incentivos fiscais conhecidos como o 34/18 induziram os investimentos internacionais para a região Nordeste, facilitando, dessa forma, a penetração no parque salineiro potiguar. (COSTA, 1991, p.17).

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198

Esse plano diretor da SUDENE, destaca-se como um relevante evento,

portanto um marco temporal neste processo de mudanças na produção salineira,

acelerando a incorporação das pequenas empresas por parte das corporações

estrangeiras, levando a consequente modernização e mecanização da produção

salineira, ampliando essa produção de sal e gerando consequências profundas no

espaço macauense e sua dimensionalidade regional.

A descontinuidade do sistema de cotas instituído pelo IBS ainda no

governo Vargas, também merece destaque, uma vez que as limitações até então

existentes na produção salineira são extintas ainda na gestão do presidente

Juscelino Kubitshek, “atendendo os anseios da classe empresarial salineira,

particularmente os empresários do sudeste brasileiro e os estrangeiros” (DINIZ,

2013, p.167).

No que se refere às corporações produtoras de sal do Rio Grande do

Norte, já no início da década de 1970, a maior parte da produção de sal do Rio

Grande do Norte concentrou-se no controle de 03 grandes grupos: o grupo Morton

Norwich Products INC., americano, que passou a comandar as salinas Sosal e

Guanabara; o grupo Akzo Zoult Chemie, holandês, que passou a comandar as

salinas da Companhia Industrial do Rio Grande do Norte - CIRNE; e o grupo Nora

Lage, italiano, controlando as salinas da Henrique Lage (COSTA, 1991, p.27).

Assim:

[...] o grande capital conseguiu, aproveitando-se da vulnerabilidade financeira de alguns pequenos e médios produtores, incorporar, através da compra de suas salinas, um maior número de área para cristalizadores, aumentando daí a sua produção e conseguindo em muitos casos a proletarização dos pequenos produtores que se viram despossuídos dos seus meios de produção. (CARVALHO JÚNIOR apud COSTA, 1991, p.64).

A tabela 10, a seguir, aprofunda mais o agrupamento das salinas no Rio

Grande do Norte, a partir das aquisições e fusões advindas da modernização,

enfatizando o período entre 1969 a 1975, considerado por Costa (1991, p.54), “como

o apogeu deste processo de mudanças no controle das corporações salineiras”.

É relevante enfatizar que o atual quadro de organização das salinas, em

especial a sua distribuição pelo território potiguar, será mais bem apresentado ainda

neste presente capítulo, onde serão detalhadas as corporações e a quantidade de

funcionários que exercem suas funções laborais nessas corporações.

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199

Tabela 10 – Agrupamento de salinas no Rio Grande do Norte por aquisições e

fusões, por empresa, no período 1969-1975

NOME DA EMPRESA NÚMERO SALINAS AGRUPADAS

GRUPOS ESTRANGEIROS CIRNE (Grupo Holandês)

SOSAL (Grupo Norte-Americano) HENRIQUE LAGE (Grupo Italiano)

SUBTOTAL GRUPOS ESTRANGEIROS

GRUPOS NACIONAIS

F. SOUTO (Grupo do R. G. do Norte) CIA E COMÉRCIO (Grupo de S.Paulo)

Paulo Fernandes (Grupo do R. G. do Norte) Jorge e Miguel (Grupo Rio G. do Norte)

Pereira Bastos (Grupo R.G.do Norte/R.Janeiro)

26 (28%) 11 (12%) 04 (4%) 41 (44%) 14 (15%) 10 (11%) 5 (6%) 5 (6%) 4 (4%)

Francisco Medeiros (Grupo do R. G. do Norte) 3 (3%) Mário Carvalho (Grupo do R. G. do Norte) 3 (3%)

Luís X. da Costa (Grupo do R. G. do Norte) 2 (2%) Adelino H. Silveira (Grupo do R. G. do Norte) 2 (2%)

Geomar C. Sá (Grupo do R. G. do Norte) 2 (2%) Cosme Rodrigues (Grupo do R. G. do Norte)

2 (2%)

SUBTOTAL GRUPOS NACIONAIS

TOTAL GERAL

52 (56%) 93 (100%)

Fonte: COSTA, 1991, p.55.

O processo de ampliação da produção salineira, com a gênese do

processo modernizador ainda em meados dos anos 1960, com o consequente

incremento da produção salineira, em especial no espaço potiguar, na tabela 11, a

seguir.

Tabela 11 – Produção de sal do Brasil, segundo os principais estados

produtores (em toneladas).

ANO RIO G. DO

NORTE RIO DE

JANEIRO CEARÁ OUTROS TOTAL

1960 584.131 109.707 148.611 80.465 922.914

1970 1.095.312 285.230 270.486 175.144 1.826.172

Fonte: Costa, 1991.

Com o processo de modernização e mecanização salineira após os anos

1960, e a redução da necessidade de mão-de-obra para a produção de sal, os

sindicatos passaram a possuir notórias dificuldades na coordenação dos fluxos

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200

trabalhistas da mão-de obra Salineira, ampliando-se as dificuldades dos mesmos

após o processo de mecanização e modernização salineira.

Conforme observado no decorrer do presente capítulo, as organizações

sindicais eram relevantes controladores da oferta de força de trabalho para as

salinas, possuindo o seu papel consideravelmente reduzido quando consolidada a

modernização e mecanização tecnológica do parque salineiro potiguar.

Pelo fato de controlar uma mão-de-obra que, na sua maioria, não residia

em Macau, além de duramente reprimida pelo Governo Militar, o qual enfatizou

políticas de forte cunho estatal para modernizar e mecanizar as salinas, “os

sindicatos de Macau revelaram-se impotentes para enfrentar as forças capitalistas

que exigiam, no pós-1970, o aumento da produtividade do parque salineiro”

(COSTA, 1991, p.46).

Desta maneira, os sindicatos salineiros sofreram notório enfraquecimento,

dada a redução da mão-de-obra empregada com a modernização e mecanização

salineira, associado ao endurecimento das relações políticas deste período relativo à

ditadura militar, aprofundando consideravelmente as dificuldades sociais por parte

dos antigos trabalhadores salineiros, os quais possuíam menores possibilidades de

reividicação, que garantisse seus direitos sociais, econômicos e trabalhistas.

E esse enfraquecimento sindical agravou ainda mais as dificuldades

advindas por parte dos trabalhadores salineiros nesse período. Conforme

aprofundado por Ademir Araújo da Costa (1991, p.85), “no modo capitalista de

produção, as inovações tecnológicas no processo industrial salineiro ampliaram a

produção, mas causaram grandes consquências na divisão técnica e social do

trabalho macauenses, impactando sobre a força de trabalho”.

Como em outros processos semelhantes em diferentes espaços, os

empreendedores salineiros, associados ao estado brasileiro, constituem um discurso

baseado em uma “psicosfera” (SANTOS, 1994), ou seja, num “reino” de crenças,

criou na coletividade macauense a idéia que o processo de mecanização promoveria

enormes dividendos para a cidade e sua população.

Assim, os empreendedores, com notável apoio do estado, num período

denominado pelos governos militares de “Brasil gigante”. O discurso era de que a

riqueza seria multiplicada e a pobreza desaparecia com o progresso advindo da

mecanização de salinas. As classes dominantes aprofundam o discurso do capital e

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201

passam a ser veículo deste junto à população trabalhadora, no sentido de alienar

essa classe e atenuar qualquer reação que possa existir (COSTA, 1991, p.86).

Além disso, reforçando esta psicoesfera e seguindo a lógica evidente nos

anos 1960 e 1970, de uma forte política desenvolvimentista, “crescendo o bolo, para

depois dividi-lo”, notória frase do então ministro da fazenda Delfim Neto (FAUSTO,

2010, p.538), as autoridades locais e nacionais, ao reforçarem tais políticas,

ocasionaram consequências socioeconômicas profundas para o espaço macauense.

Como demonstrado anteriormente, aprofundando todo este discurso, as

grandes empresas foram compradas e modernizadas pelo grande capital, e as que

não conseguiram modernizar-se foram agrupadas ou extintas.

Os grandes grupos econômicos passaram então a controlar o processo

de produção do sal, concentrando este processo produtivo, como pode ser visto na

tabela a seguir, sendo perceptível a notória quantidade de salinas em Mossoró, já

obervada anteriormente, no capítulo anterior, tendo esta localização favorecida pela

presença do porto-ilha de Areia Branca e pela ampliação da relevância mossoroense

numa dimensão regional.

E este processo de concentração corresponde a uma oligopolização

da produção salineira potiguar, uma vez que, conforme afirma Denise Elias

(2003b, p.321), “o nível de concentração, que é um importante elemento da

estrutura econômica do mercado no Período Técnico-Científico-Informacional,

mostra-se cada vez maior, ultrapassando há muito o grau de concorrência

considerada suportável, chegando ao nível de oligopólio”. Esse processo

concentrador fica evidenciado nas tabelas 12 e 13, a seguir.

Tabela 12 – Atuais indústrias salineiras potiguares

NOME DA SALINA/MUNICÍPIO CIDADE/QTE. INDÚSTRIAS

MUNICÍPIO DE AREIA BRANCA 5 Indústrias

Salina Serra Vermelha (Irmão Figueira LTDA) Areia Branca

Mossoró Indústria e Comércio de Sal Areia Branca

Norsal – Norte Salineira As Indústria e Comércio Areia Branca

SASIC – Salinas Augusto Severo Indústria e Comércio LTDA Areia Branca

Líder Comércio e Indústria de Alimentos LTDA Areia Branca

MUNICÍPIO DE GALINHOS 1 Indústria

Salina Diamante Branco LTDA Galinhos

(Continua)

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202

MUNICÍPIO DE GROSSOS 8 Indústrias

EBS – Empresa Brasileira de Sal Grossos

Rebesal Indústria e comércio de Sal Grossos

MARISAL Sociedade Salineira LTDA Grossos

NATRUM Indústria, comércio e transporte salineiro LTDA Grossos

SOCEL Sociedade Oeste LTDA. Grossos

NORTESAL Indústria e comércio salineiro LTDA Grossos

SERV - Sal do Nordeste Com. Represent. Transp. LTDA. Grossos

VITASAL Indústria e Comércio LTDA. Grossos

MUNICÍPIO DE GUAMARÉ 1 Indústria

Souto e Irmão e CIA LTDA. Guamaré

MUNICÍPIO DE MACAU 6 Indústrias

Henrique Lage Salineira do Nordeste S/A Macau

SALINOR – Salinas do Nordeste S/A Macau

Salina Dois Irmãos (Souto Irmão e CIA LTDA). Macau

BRASSAL Indústria Brasileira de Sal LTDA. Macau

Distribuidora Oceânica de Produtos Alimentícios LTDA. Macau

Salinas Soledade LTDA. Macau

MUNICÍPIO DE MOSSORÓ 35 Indústrias

Andréa Lajes Rosado (Exportadora de Sal) Mossoró

CIASAL – Comércio Indústria Salineira Mossoró

CIEMARSAL – Comércio, Indústria e Exportação de sal LTDA. Mossoró

CIMSAL – Com. Ind. Moagem e refino de Santa Secília. Mossoró

COMBRESAL – Comércio e beneficiamento de sal LTDA Mossoró

DELISAL – Distribuidora de Sal Mossoró

F. Souto Indústria Comércio e Navegação LTDA. Mossoró

ESTHERSAL – Indústria e comércio de sal pureza LTDA. Mossoró

IND. FRANCISCO FERREIRA SOUSA FILHO Mossoró

GEFISAL Moagem e Refinação de Sal LTDA Mossoró

EBS Empresa Brasileira de Sal LTDA Mossoró

Moagem de Sal Oeste (Gregório Jales Rosado) Mossoró

SALMAR Indústria Salineira LTDA Mossoró

Remarsal – Refinária e Moagem de Sal Mossoró

Sal Holandês (J. Marcos Gomes) Mossoró

RERASAL – Refinária Praxedes de Sal Mossoró

K. Camilo de Melo Mossoró

LARISSA (Larisal Moagem e Refinação de Sal LTDA) Mossoró

MARISAL LTDA Mossoró

Sal Nota 10 (Miguel Alves de Souza) Mossoró

(Continua)

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203

Sal Lírio (MOESAL Moagem de Sal Lírio LTDA) Mossoró

PEREIRA & ENEAS LTDA Mossoró

PROSSAL Salinas Potiguares Mossoró

QUALYSAL ALIMENTOS DO BRASIL LTDA Mossoró

REFIMOSAL – Refi. Moagem de Sal Santa Helena LTDA. Mossoró

Sal Garça (Refinária de SAL GARÇA LTDA) Mossoró

Refinorte (Refinária de Sal DUNORTE IND. E COM. LTDA). Mossoró

Sal Maranata Refinária de Sal LTDA Mossoró

SALINOR Salinas do Nordeste S/A Mossoró

SALINEIRA SÃO CAMILO LTDA Mossoró

SERV SAL do Nordeste com. Represent. Transp. LTDA. Mossoró

SOCEL – Sociedade Oeste LTDA. Mossoró

SPS – Sociedade produtora de Sal LTDA. Mossoró

União Refinária de Sal LTDA Mossoró

Universal Salineira LTDA. Mossoró

Fonte: FIERN, 2015.

Tabela 13 – As maiores indústrias salineiras potiguares

Empresa Localização Salinas

Produção (toneladas)

(%) do total estadual

Salinor – salinas do Nordeste S/A Macau 1.200.000 19,4 Henrique Lage salineira do nordeste S/A Macau 920.000 14,9 F. SOUTO Ind. Com. e nav S/A Mossoró 825.000 13,3 Salina Diamante Branco LTDA Galinhos 391.580 6,3 CIMSAL – Com. Ind. moagem e Ref. Santa Cecilia Mossoró 280.000 4,5 NORSAL - Norte Salineira S/A Ind. e com. Areia Branca 270.000 4,4 Salineira São Camilo LTDA Mossoró 200.000 3,2 Souto Irmao E CIA LTDA Guamaré 180.000 2,9 Ind. Salineira Salmar Agropecuária LTDA Mossoró 145.000 2,3 Ind. Francisco Ferreira Souto Filho Mossoró 110.000 1,8 Total de produção das 10 grandes empresas 4.521.000 73

TOTAL DA PRODUÇÃO ESTADUAL 6.193.040 100

Fonte: FIERN, 2015.

Ao analisar as tabelas 12 e 13 a seguir, fica evidente o processo de

oligopolização, uma vez que apenas dez empresas concentram 73% da

produção salineira potiguar. Embora exista uma grande quantidade de

empresas, as grandes áreas produtoras estão concentradas nestes poucos

grupos, levando as empresas menores a não representando concorrência para

os grandes grupos.

(Conclusão)

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204

Evidencia-se, assim, a partir da exposição desse contexto socioespacial,

os rearranjos produtivos salineiros que alteraram a relevância macauense numa

dimensão regional, uma vez que, embora possuísse ainda as duas maiores

indústrias salineiras potiguares, com 34,3% do total produzido, e Macau possua

36,8% da produção potiguar, fica notável que havia uma grande quantidade de

indústrias salineiras em Mossoró, tornando a referida cidade a maior produtora do

estado, possuindo, sozinha, 37,3% da produção do Rio Grande do Norte e o

entorno, incluindo Areia Branca e Grossos, 55,5% do total estadual, conforme

observado mais detalhadamente na tabela 7 e 8, apresentadas anteriormente.

Esse processo se aprofundou ainda mais com a constituição do Terminal

Salineiro ou porto-ilha de Areia Branca, também conhecido como porto-ilha, em

1974. Esse fixo, um relevante marco temporal, o qual se explicitou sobre as

condições técnicas de sua constituição no capítulo anterior, terá exposto, no

presente capítulo, as consequências econômicas e espaciais do porto-ilha.

Ainda sobre o processo de modernização e mecanização salineira e a

participação dos grandes grupos econômicos salineiros, descritos nas tabelas

anteriores, ressalta-se a “solidariedade organizacional” (SANTOS, 1994), entre o

grande capital internacional e o estado brasileiro, para a implantação da

mecanização e modernização salineira, objetivando promover a ampliação produtiva

e a maior lucratividade com a atividade salineira. Desta forma, “o Estado brasileiro

participou com 75% dos recursos investidos, enquanto que a iniciativa privada

participou com apenas 25%” (FERNANDES, 1995, p.47).

Dessa forma, associado a esse processo de modernização e

mecanização da produção salineira, cabe destacar a modernização do sistema de

transporte do sal, com a construção do Terminal Salineiro de Areia Branca, também

conhecido como porto-ilha no ano de 1974, sendo considerado um relevante evento

temporal e espacial no qual gerou notórias mudanças sociais e espaciais na

produção salineira potiguar, modificando consideravelmente a dimensão regional até

então existente.

A modernização e mecanização salineira modificaram o circuito espacial

de produção do sal. E o transporte, um dos elementos que “mais encareciam a

produção”, conforme afirmou Marco Túlio Diniz (2013, p.186), sofreu notória redução

em seu custo produtivo, a partir da constituição do Terminal Salineiro de Areia

Branca – TERMISA, também denominado como “porto-ilha”, como explicitado

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205

anteriormente.

Até o processo de mecanização e modernização salineira, “a planície

fluvio-marinha do Rio Piranhas-Assu possuia a maior produção salineira nacional e,

no início desse processo modernizador, a cidade de Macau reivindicava uma

estrutura portuária que atendesse essa produção salineira” (DINIZ, 2013, p.186).

Entretanto, como já apontado nessa presente tese e destacado por Marco

Túlio Diniz em sua pesquisa, “a maior força política e pujança econômica de

Mossoró influenciaram para que o porto fosse instalado em Areia Branca” (DINIZ,

2013, p.186). Destaca-se que essa pujança mossoroense será explicitada ainda

nesse presente tópico, a fim de auxiliar na compreensão da nova dimensão espacial

existente no espaço salineiro potiguar.

Ainda de acordo com Marco Túlio Diniz (2013, p.186-187), após a

instalação do porto de Areia Branca, houve uma notória crise nas salinas

macauenses, uma vez que “a produção da planície do Piranhas-Assu sofreu com a

maior distância até o Porto de Areia Branca, o que se refletiu em maiores preços de

frete, desestimulando uma maior concentração da produção em Macau” (DINIZ,

2013, p.186-187). Também merecem destaque as dificuldades de acesso a Macau,

anteriormente destacada e representada cartograficamente na presente pesquisa,

com uma maior confluência na região mossoroese.

Assim, a construção do porto-ilha em Areia Branca “influenciou nos

números da produção de sal marinho no Rio Grande do Norte, principalmente, após

a instalação do porto em Areia Branca, uma vez que a planície do Rio Apodi-

Mossoró não possuía uma produção tão intensa quanto Macau” (DINIZ, 2013,

p.187).

A partir de meados dos anos 1970, principalmente após a modernização

do transporte do sal, advinda da construção do porto-ilha, em 1974, e o

deslocamento das atividades relativas ao transporte, com a respectiva distribuição,

circulação e consumo do sal concentrando-se consideravelmente em Areia Branca,

“os impactos sobre a economia local tornaram-se mais severos” (COSTA, 1991,

p.87).

Desta forma, o processo de mudanças com a modernização/mecanização

salineira após o final dos anos 1960, notadamente no que se refere à geração de

postos de trabalho, a partir do aprofundamento técnico-científico-informacional no

espaço macauense, pode ser visto na tabela 14, a seguir, a qual exemplifica este

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206

contexto com a modernização do transporte salineiro e a menor necessidade de

uma maior quantidade de trabalhadores como mão-de-obra.

Tabela 14 – Evolução do processo de modernização do transporte maritimo do

sal

PERÍODO TIPO DE EQUIPAMENTO

CAPACIDADE TRANSPORTE POR UNIDADE EQUIPAMENTO

NÚMERO DE TRABALHADORES

POR EQUIPAMENTO

(Até 1940) Barcaças 10 toneladas 12 homens (1940-1950) Alvarengas 60 toneladas 08 homens

(1970) Grandes Barcaças 600 toneladas 04 homens (1983-) Super Barcaças 1000 toneladas 02 homens

Fonte: COSTA, 1991, p.70.

Evidencia-se com a introdução de novos métodos de organização do

trabalho a criação de novos mecanismos, ampliando as possibilidades de

reprodução do capital. Assim, a modernização tecnológica do parque salineiro,

exemplificada pelos avanços técnicos no transporte salineiro, consequência do

aprofundamento do processo de desnacionalização e monopolização das salinas

potiguares, com a extinção das pequenas salinas, desencadearam consequencias

sócio-econômicas para a dimensão regional e nacional macauense.

Com a ascensão do porto-ilha e o funcionamento do terminal salineiro em

Areia Branca, os trabalhadores dedicados ao transporte do sal, atividade realizada

durante todo o ano, uma vez que tal atividade não possuia interrupção,

correspondendo a residentes permanentes da cidade, precarizaram sua situação

laboral, uma vez que diversas categorias foram extintas, como os arrumadores, os

carpinteiros, os mestres-arrais, os motoristas navais, os alvarengueiros, os

estivadores e os marítimos.

Também se destaca consideráveis consequências na então dinâmica

econômica existente no espaço macauense, pois “os profissionais ligados ao

transporte salineiro representavam as categorias mais bem pagas, fazendo circular

em Macau praticamente todo o dinheiro que ganhavam” (COSTA, 1991, p.88).

Aprofundando as consequências destas transformações laborais e

compreendendo a relevância das categorias profissionais então existentes, em

especial as atividades ligadas ao transporte do sal para Macau, em termos

econômicos, Costa (1991, p.90-91), descreve uma das entrevistas realizadas por um

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ex-agente do antigo Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, o qual detalha

os rendimentos das categorias trabalhadoras salineiras antes da modernização e

mecanização salineira:

“Na parte da barcaça tinha o barcaceiro e este tinha também ligação direta com o trabalhador do sal. Esse barcaceiro era a principio o trabalhador que mais sofria, mas com o decorrer do tempo o barcaceiro passou a ser a classe mais bem paga. Ele chegou a ganhar mais de 50 vezes o salário mínimo de um funcionário publico. O funcionário público ganhava naquela época aproximadamente Cr$ 8.400 (oito mil e quatrocentos cruzeiros) enquanto que um barcaceiro ganhava entre 250 a 300 mil cruzeiros. Ganhava mais do que um gerente do Banco do Brasil”. (COSTA, 1991, p.90-91).

Nessa conjuntura, Mossoró é privilegiada em detrimento de Macau.

Percebe-se que a decadência urbana macauense foi aprofundada com a construção

do porto-ilha, que direcionou ainda mais os investimentos para Mossoró, a qual se

situava na adjacência de Areia Branca.

Assim, evidencia-se, neste contexto destacado sobre o espaço urbano

Mossoroense, que a instalação do porto-ilha em Areia Branca, o qual era bem mais

próximo de Mossoró do que Macau, conforme já citado anteriormente, “aprofundou

as possibilidades de incremento urbano mossoroense” (COSTA, 1991, p.84). E

sobre esse incremento urbano de Mossoró e a sua ampliação na dimensionalidade

espacial, a mesma será vista no subtópico a seguir.

4.2.1 A ascensão de Mossoró com a modernização e mecanização salineira:

uma nova dimensionalidade espacial

Durante a pesquisa, constatou-se, em diferentes perspectivas, que a

mecanização das salinas no Rio Grande do Norte foram desdobramentos das

transformações gerais na economia capitalista. Com a ascensão do meio técnico-

científico-informacional, as formas de produção começavam a se industrializar para

diminuir os custos e aumentar a produtividade, não podendo a indústria salineira

continuar num desenvolvimento extensivo.

Anteriormente, foram destacadas as transformações ocorridas no

circuito espacial da produção salineiro a partir da modernização e mecanização.

Ficarão evidentes, ao compreender as transformações espaciais em Macau e

principalmente, em Mossoró, uma difusão do consumo produtivo associado ao

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sal, “atividade econômica que possui um papel significativo na produção e

organização espacial, mesmo havendo, a partir dos anos 1980, a diversificação

econômica advinda com o petroléo e a fruticultura” (SANTOS, 2010, p.83).

A pesquisa de Camila Santos, em 2010, embora não enfatize apenas

a atividade salineira, demonstra como a mesma transformou o espaço potiguar,

ampliando ainda mais a relevância do sal para a organização espacial potiguar,

ampliando a dimensão regional e nacional mossoroense e redimensionando

regionalmente o município Macauense, o qual, como será visto a seguir, amplia

sua relevância dimensional nacional no que se refere à atividade salineira.

Assim, para iniciar esse aprofundamento relativo à compreensão do

incremento espacial mossoroense pós-modernização e mecanização salineira,

cabe ressaltar a afirmação de Santos e Silveira (2001, p.56), “o uso competitivo

do espaço, se mostra um uso hierárquico, na medida em que algumas empresas

dispõem de maiores possibilidades para utilização dos mesmos recursos

territoriais”.

Nessa perspectiva, a realização da modernização e mecanização salineira,

incentivada pelo capital estrangeiro e apoio financeiro e logístico estatal, não ocorreria

plenamente se não houvesse a constituição de um conjunto de sistemas de objetos

e os sistemas de ações necessários ao circuito espacial da produção salineira.

Desta forma, as máquinas utilizadas na produção salineira, as quais

dispensam grande parte da mão-de-obra, reduzindo a necessidade laboral para

categorias de trabalhadores específicos, como operadores de maquinária, são

imprescindíveis no trabalho das salinas modernas, mas é necessário também

um conjunto de normas e negociações políticas, bem como um contexto histórico

propício, que vão muito além do local. E tal contexto redimensiona espacialmente

a cidade de Mossoró.

Logo, a notoriedade econômica salineira que Mossoró possui na

atualidade, possuiu grande contribuição advinda da produção e distribuição

salineira, ampliando “a dimensão espacial da cidade, ocasionada por sua maior

infraestrutura e comunicação com o Mercado” (SANTOS, 2010, p.83). Esse

processo reforça e amplia o papel centralizador que Mossoró representa numa

dimensão regional potiguar, concentrando uma série de serviços importantes

para a dinâmica econômica das atividades desenvolvidas no oeste potiguar,

reforçando a alcunha de “Capital do Oeste potiguar” (ANDRADE, 1995, P.73).

198

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209

Assim, como ainda afirma Camila Dutra dos Santos (2010, p.84), “a

concentração da indústria salineira em Mossoró, ampliada nas décadas de 1970

e 1980, aprofundou a infraestrutura que esta cidade tinha e que não existia nas

demais cidades”. Desta maneira, os sistemas técnicos, científicos e

informacionais, necessários para centralizar as vendas, negociações, serviços

de transportes etc., fazendo com que Mossoró se consolide como um centro

polarizador desses serviços. Dessa forma, “em Mossoró, na atualidade, se

concentram, as negociações, as compras, as descargas e os carregamentos do

mercado salineiro” (SANTOS, 2010, p.85).

Assim, Mossoró concentra, nesse processo produtivo, “uma grande

quantidade de serviços de transportes associados à economia do sal, como as

empresas transportadoras, os escritórios de agenciamento de fretes, os postos

de gasolina, os atravessadores” (SANTOS, 2010, p.86), auxiliando, portanto, no

circuito espacial produtivo salineiro.

Dessa cidade, Mossoró pode ser considerada como “um grande

centro de fretes do Rio Grande do Norte e mesmo do Nordeste, a partir dos fluxos

e novas dinâmicas provenientes da economia salineira” (SANTOS, 2010, p.86),

pois os caminhões “ao conduzirem a produção industrial do sul e sudeste para o

Rio Grande do Norte, conduzem, para as regiões citadas, o sal produzido no

território potiguar, garantindo lucratividade” (DINIZ, 2013, p.196) e, assim,

consolidando um circuito especial produtivo, onde o caminhão e os sistemas de

movimento viário são elementos-chave nesse processo.

Assim, como afirma Santos (2010, p.87), “os fretes ensejam uma

intensa dinâmica de fluxos não apenas para a economia salineira, mas também

para outros tipos de atividades econômicas da região”. Na cidade mossoroense

há “diversos escritórios voltados não apenas para a atividade salineira, como

para outros produtos, como os têxteis, os alimentícios e até mesmo as máquinas

utilizadas na produção de sal” (DINIZ, 2013, p.195).

E essa centralidade mossoroense no que se refere aos fretes é

ampliada pelo fato de Mossoró possuir uma notável rede de fixos, em especial

as estradas, componentes do sistema de movimento rodoviário, ligando o

espaço produtivo mossoroense ao Ceará, como a BR 304, ao Porto-ilha de Areia

Branca, Paraíba, Pernambuco e Bahia, correspondendo à BR 110, além das

rodovias estaduais, conforme já exposto pela presente pesquisa.

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210

Assim, a inserção do meio técnico-científico-informacional no processo de

produção salineiro, a partir da mecanização e modernização salineira, associada à

construção do porto-ilha de Areia Branca, modifica o eixo produtivo salineiro,

ampliando a relevância de Mossoró, a qual, “dado a existência de fixos, como

estradas e um capital comercial, tornava-se o centro operador da produção salineira,

sediando os escritórios e demais etapas administrativas” (CARMO JUNIOR, 2006,

p.37).

Nessa perspectiva, Mossoró reforça sua centralidade na dimensão

espacial potiguar, “ampliando as dinâmicas relativas às atividades comerciais,

associadas a sua agroindústria, com o beneficiamento do algodão e da oiticica, e um

setor de prestação de serviços já bem desenvolvidos” (COSTA, 1991, p.79).

Apesar das dinâmicas espaciais advindas da atividade salineira, quando

se acentua a modernização/mecanização das salinas, no início dos anos 1970, há

notórios conflitos sociais em Mossoró, uma vez que o desemprego também atingiu

fortemente a referida cidade (COSTA, 1991, p.79).

Entretanto, como destaca o pesquisador Ademir Araújo da Costa, a

construção do porto-ilha em Areia Branca, em 1974, além de restabelecer

parcialmente a oferta de empregos para a região, leva ao ressurgimento sindical,

uma vez que, “como estratégia de luta, os sindicalistas salineiros de Areia Branca,

Grossos e Mossoró uniram forças, tornando mais plausível à luta por melhores

condições para os que ainda estavam na atividade salineira” (COSTA, 1991, p.81).

Em virtude da pressão exercida pela classe trabalhadora desempregada

das salinas na Região de Mossoró, aglutinados no sindicato, associado aos

interesses da elite comercial local, “diversas políticas públicas foram então

implementadas na cidade, visando a atenuar o conflito social existente” (COSTA,

1991, p.82).

Como será observado posteriormente, ainda nesse presente capítulo, é

relevante enfatizar que, diferente do quadro macauense, não havia, mesmo no

período técnico rudimentar da produção salineira, uma elevada mobilidade

populacional, com a migração sendo mais reduzida do que a existente no espaço

macauense.

Como afirma Costa (1991, p.82), “o trabalhador de salina era geralmente

urbano, residente nas cidades de Mossoró, Areia Branca e Grossos”. E, assim, pelo

próprio fato de possuir dinâmicas econômicas mais amplas, “o espaço urbano

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211

mossoroense oferecia maiores possibilidades de obtenção de emprego no restante

do ano” (COSTA, 1991, p.83).

Essa característica de “maior diversificação da economia mossoroense,

aliada à permanência do trabalhador de salina o ano inteiro na cidade, ampliando o

mercado consumidor, as articulações políticas e socias e mesmo o poder de pressão

sobre as autoridades públicas”, como destaca Costa (1991, p.83) foram relevantes

para que o impacto de mecanização das salinas fosse “menos carregado de drama

social do que em Macau” (COSTA, 1991, p.83).

Assim, como destaca Costa (1991, p.83-84), “direcionam-se para Mossoró

algumas políticas públicas que visavam à absorção da força de trabalho

desempregada das salinas”. E, conforme afirmou Santos (2010, p.89), “tais fixos

também foram direcionados para ampliar a produtividade no espaço mossoroense”.

Entre esses fixos constituídos, destaca-se a construção do conjunto

residencial Walfredo Gurgel, a construção do campus da Escola Superior de

Agricultura de Mossoró – ESAM, atual Universidade Federal Rural do Semiárido –

UFERSA, a construção do prédio do Instituto Nacional de Previdência Social - INPS,

a construção do hospital dos salineiros e a construção do campus da Universidade

Estadual do Rio Grande do Norte – UERN (COSTA, 1991, p.84).

Esses empreendimentos, “associado ao surgimento da atividade

petrolífera, no final dos anos 1970, absorveram uma parcela dos trabalhadores

desempregados nas salinas” (COSTA, 1991, p.84). Diante da situação exposta,

evidencia-se que Mossoró, ao aprofundar as possibilidades econômicas existentes

em seu território, atenuou os problemas sociais vividos pela classe trabalhadora das

salinas.

Assim, os fixos constituidos, bem especial os ligados ao ensino e

pesquisa existentes em Mossoró, como a Universidade Federal Rural do

Semiárido – UFERSA, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN

e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

– IFRN, auxiliam na reprodução da atividade salineira, uma vez que nas

condições atuais da vida econômica e social, no atual meio técnico-científico-

informacional, a questão informacional constitui um dado essencial e

imprescindível.

Essas relevantes instituições de ensino e pesquisa, como afirma

Santos (2010, p.91), “profissionalizam e especializam mão de obra para as

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unidades produtivas, tanto para o sal, como para outras atividades produtivas,

como a fruticultura e o petróleo”.

Assim, a Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA instituiu

cursos diretamente ligados ao circuito espacial produtivo salineiro, como

Engenharia da Computação, Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica,

Engenharia Ambiental e Administração. Como destaca Santos (2010, p.96), “o

curso de Engenharia Mecânica da UFERSA foi criado em 2007, a partir de

demandas apresentada por grandes organizações, como o Sindicato da

Indústria do Sal no Rio Grande do Norte – SIESAL e a Petroléo Brasileiro S.A -

PETROBRÁS”.

Sobre a formação técnica profissionalizante, destacam-se os cursos

oferecidos pelo Instituto Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do

Norte - IFRN, os que estão mais diretamente associados ao sal, como o técnico

em Mecânica, Eletrotécnica, Segurança do Trabalho, “com os cursos do IFRN

possuindo relevância particularmente dado o atual grau de automatização e

mecanização das Salinas” (SANTOS, 2010, p.97).

Ainda sobre a formação técnica e os avanços advindos do atual meio

técnico-científico-informacional, destaca-se o Laboratório de Análise do Sal, “uma

parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, juntamente

com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte - FIERN e o Sindicato

da Indústria de Sal do Rio Grande do Norte – SIESAL” (DINIZ, 2013, p.192).

Esse laboratório, constituido em 1998, “baseou-se numa

intencionalidade da indústria salineira em constituir um sistema de qualidade da

produção de sal, baseando-se no modelo já empregado pela indústria cafeeira

brasileira, com a criação de um „selo salineir” (SANTOS, 2010, p.97). Além

disso, a autora Santos (2010, p.97) destaca que “a contrapartida do SENAI

constituia em montar a estrutura que faria as análises, treinar o pessoal

envolvido, e servir de eixo de qualidade aos produtores de sal para exportação”.

Embora o selo de qualidade salineiro não tenha sido instituido, ainda

assim, “a instituição do laboratório ampliou a qualidade do sal produzido,

modernizando as práticas salineiras” (DINIZ, 2013, p.192-3). Como ressalta

Diniz (2013, p.193), o Laboratório de Análise do Sal “é certificado pelo Instituto

Nacional de Metrologia - INMETRO e pela Agência Nacional de Vigilância

Sanitária - ANVISA, integrando a Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios -

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RBLEI, sendo o único laboratório em análise de sal credenciado pelo Inmetro”.

O Laboratório de Análise do Sal indica mais um elemento nesse

processo de modernização e mecanização salineira, associada à reestruturação

produtiva nas salinas, com um notório investimento da base técnica, controlando

etapas inteiras do processo produtivo, em sintonia com o atual Meio Técnico-

Científico-Informacional. Além disso, trata-se de uma ciência e uma técnica

seletiva e excludente, pois apenas um pequeno grupo consegue se adaptar aos

severos ritmos de modernização do atual período.

Assim, o desenvolvimento técnico-científico propiciando pelas

pesquisas nessa parceria público-privada acima citada, fortalece a atividade

salineira, funcionando como uma “correia de repasse do dinheiro público para

dentro do setor privado, beneficiando algumas empresas e deixando outras de

fora dos investimentos” (SANTOS, 2010, p.98).

Dessa forma, a concentração das etapas produtivas salineiras em

Mossoró é fator definidor da política territorial de localização das empresas, pois

as empresas decidiram se localizar em lugares com uma densidade técnica e

normativa que possibilitem uma ampliação do capital a custos baixos.

Além desses serviços técnicos citados, outras tipologias

características do atual Meio Técnico-Científico-Informacional presentes em

Mossoró são as consultorias, utilizadas pelas corporações salineiras para

compreender melhor as etapas produtivas, inclusive melhores perspectivas de

ampliar o consumo do sal, ampliar o mercado consumidor, “além de enquadrar

seus produtos nos exigentes padrões do mercado consumidor, buscando inserir

na produção salineira um rigoroso controle de qualidade em todas as etapas da

produção, seleção e embalagem” (SANTOS, 2010, p.103).

Além das assessorias técnicas realizadas por consultorias

especializadas, também se destaca as empresas especializadas em serviços na

área de topografia, “instrumento fundamental para a implantação e

acompanhamentos de obras como o projeto viário, edificações, movimento de

terra” (DINIZ 2013, p.116), sendo relevantes para ampliação da produção

salineira.

Num período técnico, científico e informacional onde a fluidez e a

instantaneidade são fundamentais para a reprodução capitalista, a maior difusão

e fluidez financeira, representada pelos serviços bancários também possui

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relevância para os circuitos espaciais da produção do sal.

A partir da centralidade exercida por Mossoró, além da notável

presença de outras atividades econômicas dinâmicas como a fruticultura e a

exploração petrolífera, “tornam a estrutura bancária fundamental para a maior

dinamização dessas atividades, garantindo, juntamente com as estruturas

técnicas e informacionais, a necessária fluidez e instantaneidade para a

reprodução do capital” (SANTOS, 2010, p.104).

Assim, Mossoró, conta na atualidade, com um total de 17 agências, das

seis maiores instituições bancárias brasileiras, compostas por 6 agências do

Branco do Brasil, 3 agências da Caixa Econômica Federal, 3 agências do Bradesco,

2 agências do Itaú, 2 agências do Banco do Nordeste e 1 agência do Santander.

Observa-se que a instituição bancária HSBC foi recém incorporada ao Bradesco,

sendo convertida em agência desse banco na cidade mossoroense (FEBRABAN,

2017).

Além dessas 17 agências, há outros 32 Postos de Atendimento bancário,

sendo 20 desses ligados ao Banco do Brasil, 09 desses pertencentes à Caixa

Econômica Federal, sendo 07 lotéricas e 02 Postos de Atendimento Avançado, e

outros três pertencentes ao Bradesco, totalizando 49 instituições bancárias na

cidade Mossoroense, número apenas inferior a Natal, a qual possui 197 instituições

(FENABRAN, 2015).

Essa atuação do setor financeiro no espaço Mossoroense auxilia a

reprodução dos diferentes setores existentes numa cidade de 259.843

habitantes (IBGE, 2010), atendendo aos ditames de um meio técnico-científico-

informacional, calcado na fluidez e instantaneidade, em especial numa atividade

como a salineira, onde os seus grandes mercados consumidores,

correspondentes às indústrias químicas do Sudeste brasileiro e o consumo do

Sal para alimentação animal localizada no Sudeste e Centro-Oeste, dependem

de uma notória fluidez e instantaneidade para dirimir esta considerável distância

desses mercados consumidores.

E os sistemas técnicos e financeiros, plenamente existentes nessa

“Capital Regional”, de acordo com a classificação do IBGE (2007), ampliam as

possibilidades de reprodução das diferentes atividades produtivas, como a

Indústria do Sal Marinho. Assim, a partir do alargamento do setor financeiro,

Mossoró reforça seu status de centro de repasse do capital regional, como

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afirmou Felipe (2002 p.29), pois “o banco atua como ponta de lança, para a

penetração do grande capital da região Sudeste ou das multinacionais”.

Assim, esta explicitação dos processos e dinâmicas relativas à

economia salineira explicita a difusão do consumo produtivo do sal é tanto

propulsor quanto um desdobramento da mecanização e reorganização dos

sistemas técnicos, adquirindo importante papel nas novas dinâmicas que

surgem na economia urbana de Mossoró associadas à atividade salineira.

Assim, a partir desse panorama relativo à importância econômica da

atividade salineira e a difusão do seu consumo produtivo, torna-se relevante

compreender as consequências sociais deste crescimento econômico. Conforme

destacado anteriormente, as potencialidades naturais e materiais do Município

de Mossoró contribuem para o crescimento econômico da cidade, com a

presença da atividade salineira na planície fluivial do Rio Apodi-Mossoró.

Entretanto, essas dinâmicas produtivas não simbolizaram um desenvolvimento

social ou igualdade na distribuição de renda.

Embora a modernização e mecanização da atividade salineira tenham

ocasionado menores impactos sociais para o espaço mossoroense do que o

Macauense, pela dinâmica econômica existente na dimensão espacial

mossoroense, isto não significou necessariamente um desenvolvimento social.

Como observado anteriormente, a modernização e mecanização

ocorrida a partir do final dos anos 1960 ocasionou notórios impactos

socioespaciais no campo e na cidade, intensificando as migrações do

contingente desempregado das salinas para o espaço urbano mossoroense,

“gerando graves problemas sociais e econômicos que ainda pesam, em maior ou

menor escala, na cidade de Mossoró” (SANTOS, 2010, p.114).

Mesmo com a constituição de fixos e do emprego de parcela da mão-

de-obra anteriormente empregada nas salinas nesse processo constitutivo, o

“espaço mossoroense não conseguiu atender a todo o contingente de

moradores, deteriorando o seu espaço urbano a partir da formação de favelas e

habitações subnormais, onde passaram a habitar os excedentes do mercado de

trabalho” (SANTOS, 2010, p.114).

Assim, buscou-se instituir políticas compensatórias “para controlar os

conflitos resultantes da crise do mercado de trabalho salineiro” (SANTOS, 2010,

p.115), como “a criação de agrovilas em Serra do Mel e Bom Destino para alojar

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216

esses desempregados das salinas” (BRITO, 1987, p.28), num processo

semelhante ao ocorrido em Macau, como destacado por Costa (1991, p.105) ao

explicitar sobre as políticas de compensação social instituídas no espaço urbano

macauense, as quais serão mais detalhadas no tópico a seguir.

Como destacado por Costa (1991, p.84) e citado anteriormente, a

construção de fixos também se destacou como uma das políticas instituídas

para a geração de postos de trabalho. Além disso, como destaca Brito (1987,

p.29), “a implantação de projetos industriais, associado ao desenvolvimento da

indústria da construção civil, deram à cidade um novo surto de

desenvolvimento”. No entanto, como alerta Felipe (2002, p.30), “todas essas

estratégias corresponderam a uma maneira imediatista de esconder os

problemas sociais que a mecanização das salinas criou, como o desemprego”.

Ainda sobre a constituição do espaço urbano a partir da modernização

e mecanização salineira, destaca-se que a intervenção do governo nos setores

produtivos de forma direta, a partir do financiamento e custeio dos mesmos, ou

de forma indireta por planos e programas, beneficiou grupos minoritários já

detentores do poder econômico e político na cidade, como as corporações

industriais salineiras.

Nessa perspectiva dialética, o Estado direcionou o contingente de

desempregados para ambientes distantes da burguesia, constituindo "bolsões”

de pobreza os respectivos projetos de fixação dos atingidos negativamente pela

reestruturação do setor. Entretanto, por outro lado direcionou investimentos

públicos para o grupo de empresas que monopolizaram e oligopolizaram a

produção salineira potiguar.

Esse processo produtivo espacial contraditório carrega, todavia, uma

combinação própria, é que a crise econômica instalada em Mossoró, pós-

mecanização das salinas, “a qual redirecionou os vetores de crescimento

econômico desta cidade” (SANTOS, 2010, p.117).

Dessa maneira, a mais-valia absoluta retirada da força de trabalho

anteriormente concentrada nas salinas sedimentou as bases econômicas de

Mossoró, à medida que as ações do Estado para controle social e melhoramento

urbano tiveram repercussões relevantes no setor de serviços de Mossoró, e,

simultaneamente e dialeticamente, crescia a renda monetária de uma pequena

parte da população.

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217

Assim, a ampliação das atividades terciárias após os anos 1970, numa

perspectiva de estabelecer a pujança econômica mossoroense, pode ser

destacada como relevante fator para que essa cidade se tornasse um notório

local de troca, do comércio, do lucro, do capital.

Dessa forma, como afirma Felipe (2002, p.31) “nesse contexto fica

evidente que o setor terciário tornou Mossoró uma „capital Regional‟, com a

economia do sal marinho, em especial após a modernização e mecanização,

participando fortemente da dinâmica de formação espacial da cidade de

Mossoró”.

E, assim, Mossoró amplia sua dimensionalidade espacial num

contexto regional e mesmo nacional, por ser uma das grandes fornecedoras do

sal marinho, notória matéria-prima de produtos químicos e alimentícios, como já

destacado anteriormente.

Essa dimensionalidade torna-se mais explícita ao evidenciar que o

território se define, no atual período, mais estritamente a partir de “uma abordagem

sobre o espaço que prioriza, ou que coloca seu foco, no interior dessa dimensão

espacial, na „dimensão‟, ou melhor, nas problemáticas de caráter político ou que

envolvem a manifestação/realização das relações de poder, em suas múltiplas

esferas” (HAESBAERT, 2004, p. 105).

Assim, as transformações espaciais ocorrem numa simultaneidade

característica do atual meio técnico-científico-informacional designada como

“multidimensionalidade” (HAESBAERT, 2004, p.104), onde as realizações políticas

em um território não podem ser vistas isoladamente, mas numa totalidade em que

insere-se os aspectos econômicos e sociais, dialeticamente envolvidos em todo

esses processos de transformações no espaço.

Nesse contexto, Mossoró possuía uma composição espacial

multidimensional, uma vez que as transformações políticas, econômicas e sociais

advindas da mecanização e modernização salineira, que modificavam o espaço

mossoroense não ocorriam e interferiam apenas numa dimensão regional, mas

também advindas de uma dimensão nacional e global, num processo dialético.

Assim, eventos como a construção do porto-ilha de Areia Branca,

ampliavam a sua relevância numa dimensão regional, e nacional, sob o prisma da

relevância para a produção salineira, enquanto Macau possuía uma redução dessa

dimensão regional, com uma notória decadência urbana, mas, dialeticamente, a

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218

partir da monopolização salineira, ampliava consideravelmente a relevância nacional

para essa atividade, numa característica multidimensionalidade, como será visto a

seguir.

4.2.2 A modernização/mecanização salineira e uma nova dimensionalidade no

espaço macauese: o desemprego e a crise urbano-demográfica

Como destacado no decorrer da presente pesquisa, Macau era uma das

“grandes cidades interioranas do Rio Grande do Norte no período compreendido

entre as décadas de 1940 a 1960” (CARMO JÚNIOR, 2006, p.36), possuindo grande

destaque numa dimensão espacial potiguar.

Entretanto, a modernização e mecanização salineira no final da década

de 1960 e principalmente nos anos 1970 ocasionaram notórias mudanças no espaço

macauense e na sua dimensão regional potiguar. Evidenciou-se que a implantação

da modernização/mecanização na produção salineira ampliou fortemente a

produtividade, mas, dialeticamente, “reduzindo a necessidade de trabalhadores para

a realização das atividades produtivas, ampliando, assim, o desemprego” (COSTA,

1991, p.86).

Na dimensão regional macauense, destaca-se que a mecanização das

salinas conduziu a uma modificação no quadro local de emprego, uma vez que os

escassos trabalhadores necessários para a operação das novas técnicas

empregadas na produção eram advindos de outros lugares. Desta maneira, a

“modernização tecnológica gerou uma crise de desemprego sem precedentes em

Macau” (COSTA, 1991, p.87), a qual modificou fortemente o espaço macauense.

As consequências para o espaço urbano macauense foram imediatas.

Além de gerar desemprego, a mecanização das salinas acabou também afetando

seriamente a esfera da circulação de mercadorias, uma vez que houve redução do

consumo, alterando os fluxos direcionados ao comércio de Macau. Os trabalhadores

que viviam em áreas adjacentes a Macau não realizavam este fluxo de

trabalhadores sazonais, os quais compareciam no período da colheita do sal,

reduzindo, portanto, a dinâmica comercial no espaço urbano macauense.

Segundo dados apresentados por Ademir Araújo da Costa (1991, p.88),

considerando-se apenas os sindicalizados, “866 trabalhadores ficaram

desempregados a partir de 1975, representando um impacto social sem

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219

precedentes, atingindo aproximadamente 4.500 pessoas direta e indiretamente

dependentes da renda advinda do transporte salineiro até então existente”.

Como também ressaltado por Barros (2001), até a década de 1960,

anterior à modernização/mecanização salineira, a dependência econômica da

cidade com a produção de sal era tamanha de modo que “todo mundo vivia direta ou

indiretamente da renda produzida pelo sal” (BARROS, 2001, p.142). E Macau era

considerada “[...] uma cidade de empregados.” onde seu comércio, “mantém-se

exclusivamente à custa de clientes que vivem de salários.” (Palestra proferida pelo

Juiz de Direito Elias Borges da Costa no dia 11 de agosto de 1963, apud BARROS,

2001, p.143).

Desta forma, a segunda metade da década de 1970, ao mesmo tempo

em que a produção salineira avançava progressivamente, tornando-se uma das

maiores do mundo, com a total inserção da indústria salineira num meio técnico-

científico-informacional e Macau se tornando um grande centro nacional, numa

perspectiva dimensional relativa ao circuito espacial de produção do sal, na

perspectiva dimensional regional, o espaço urbano Macauense, paradoxalmente,

aprofundava um processo de decadência na sua economia.

Assim, a compreensão das modificações no espaço macauense, com o

advento da mecanização e modernização salineira na década de 1970, pode ser

realizada sob uma ótica multidimensional. Como explicitado anteriormente, a

multidimensionalidade possui grande consonância com o atual meio técnico-

científico-informacional, uma vez que não é possível analisar as influências de uma

atividade produtiva no espaço apenas sob a perspectiva local e regional.

É necessário observar as diferentes implicações e influências desse

mesmo espaço analisado nas escalas nacionais e globais. E Haesbaert (2004,

p.108), “ao analisar dialeticamente as intencionalidades políticas, econômicas e

sociais para a configuração dimensional de um espaço”, amplia essa compreensão,

uma vez que fica evidente um dialético fluxo do local-global e do regional-nacional,

sendo necessário “compreender as relações territoriais e espaciais sob uma

perspectiva multiescalar e multidimensional” (HAESBAERT, 2004, p.109).

Dessa forma, a ampliação da produção salineira no espaço Macauense,

com o advendo da modernização e mecanização salineira, como será mais bem

visualizado a seguir, no tópico 4.3 da presente pesquisa, destacará ainda mais a

relevância macauense no cenário nacional no que se refere a produção salineira e

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aos respectivos fluxos de circulação e distribuição salineira para diferentes áreas

produtivas, destacando-se a indústria química e o consumo animal de sal.

Entretanto, nessa perspectiva multidimensional, no que se refere aos

aspectos dimensionais regionais, a cidade de Macau possui notório decréscimo de

sua relevância econômica como um centro articulador regional, ao mesmo tempo em

que Mossoró, como destacado anteriormente, se transforma, além de relevante

centro produtor e distribuidor salineiro nacional, num grande centro regional, o mais

importante do interior do Rio Grande do Norte, numa simultânea ampliação da

multidimensionalidade regional e nacional do espaço mossoroense.

Dessa maneira, nesse tópico será evidenciado o declínio de Macau numa

dimensão regional, ocasionando dificuldades laborais e demográficas para o espaço

macauense. E, inicialmente, destaca-se a afirmação de Ademir Araújo da Costa

(1991, p.92), o qual evidenciou em sua pesquisa que, “a pobreza passou a imperar

em todos os recantos da cidade, a partir do desemprego de boa parte da população

economicamente ativa”.

Logo, destaca-se o dado anteriormente apresentado pela presente

pesquisa, no qual atesta que mais de 65% da população macauense

economicamente ativa exerciciam funções laborais nas salinas, evidencia a

relevância das atividades laborais relacionadas à atividade salineira.

E com a extinção de boa parte dessas atividades laborais salineiras,

amplia-se a desigualdade entre os que possuíam funções no serviço público e

administrativo, os quais, componentes da média e alta burguesia urbana, teriam

certa hegemonia no espaço urbano macauense a partir de então.

No entanto, esta classe média restante não conseguia atender as

necessidades de comercialização de produtos e serviços advindos de um setor

terciário que era pujante numa Macau que possui numerosos serviços para atender

uma demanda que, “nos anos 1960, chegava a 40 mil pessoas, entre habitantes e

trabalhadores sazonais, nos períodos de colheita do sal” (CARMO JUNIOR, 2006,

p.53), tornando a cidade macauese um dos maiores centros urbanos potiguares.

Dessa forma, o comércio macauense retraiu-se consideravelmente,

devido à redução drástica do dinheiro em circulação, ocasionando a falência de

várias lojas, “tornando a mendicância um fato comum na cidade” (COSTA, 1991,

p.93).

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221

Ao mesmo tempo em que o setor terciário sofria graves consequências

com esse processo de modernização e mecanização salineira, o estado e o grande

capital salineiro estavam em outra interface deste processo, ampliando a

produtividade salineira, atendendo plenamente a crescente indústria química

nacional e até mesmo exportando o sal para outros países, algo pouco plausível de

ocorrer no período posterior à modernização/mecanização salineira.

Desta forma, os grupos locais ligados ao terciário, que estavam numa

interface segregada do processo, antagonicamente ao crescimento exaltado pelas

corporações e estado brasileiro, “não conseguiram, neste final da década de 1970,

lançar possibilidades econômicas que substituísse o trabalho nas salinas e no

embarque do sal, visando a absorver o contingente de trabalhadores

desempregados pelo efeito modernizador” (FELIPE, 1989, p.29).

Muito embora surgissem propostas da instituição de cooperativas

pesqueiras, de remanejamento territorial dos trabalhadores em projetos agrícolas,

como o „Serra do Mel‟, e a criação de uma cooperativa salineira, onde os antigos

trabalhadores poderiam gerir as salinas, “nenhuma destas propostas, dado o

escasso interesse estatal e as dificuldades impostas pelas grandes corporações

salineiras, lougraram êxito” (COSTA, 1991, p.105-107).

A alternativa econômica que poderia auxiliar a reduzir os impactos

ocasionados pela modernização/mecanização salineira e, paradoxalmente, surgida a

partir deste processo modernizador, foi a constituição de uma indústria de

beneficiamento salineiro, direcionada para utilização de produtos químicos, levando

o estado brasileiro, junto com possíveis parceiros privados, à decisão de se construir

em Macau uma fábrica de barrilha (carbonato de cálcio), através da ALCANORTE-

Alcalis do Rio Grande do Norte S.A., utilizando matéria-prima local, e cuja

construção foi iniciada em 1975.

A barrilha ou soda, nome popularmente utilizado para o Carbonato de

sódio, Na2CO3, é um sal branco e translucido, “sendo empregado diretamente na

indústria química em mais de uma centena de setores, dos cerca de 150 setores

existentes” (KURLANSKY, 1994, p.34).

Assim, pode ser destacada, num grupo industrial ligado à agropecuária, a

conservação de carnes em frigoríficos, a partir da utilização do „gelo industrial‟; a

salga de alimentação; a salga do pasto; a salga de couro; a correção das terras,

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para que as mesmas se tornem agricultáveis; a destruição das ervas nocivas; e na

conservação da madeira (KURLANSKY, 1994, p.34).

Na produção de bens de consumo associado a produtos que auxiliarão

em outras indústrias químicas, destaca-se a fabricação de vidro; as sínteses

químicas, em sabões e detergentes; a fabricação de borracha sintética; a fabricação

de refrigerantes; a regeneração de banhos; o processamento eletrolítico; a

precipitação de corantes; a cementação e têmpera de metais; a oxidação e redução

de minerais; o resfriamento d‟água; a purificação de gorduras e óleos; a fabricação

de vernizes; e processamento do cloreto de amônia (KURLANSKY, 1994, p.35).

Além desses produtos, Kurlansky (1994, p.36) destaca que o sal também

é utilizado na fabricação de produtos medicinais e de higiene e beleza, sendo

diretamente aplicado em injeções; compressas; banhos; fabricação de

medicamentos; no bicarbonato de sódio; no ácido nítrico; no sulfato de sódio; no

bisulfato de sódio; e fabricação de cosméticos.

Assim, a partir da apresentação dessa variedade de produtos

industrializados diretamente ligados ao circuito espacial produtivo salineiro,

evidencia-se que a constituição desta indústria de beneficiamento salineiro,

possibilitaria o Rio Grande do Norte a existência de um parque industrial relacionado

aos produtos citados, uma vez que havia uma escassez nestas tipologias industriais

no território potiguar. No entanto, ficará evidente, ainda no presente tópico, que a

dimensão espacial produtiva potiguar era bastante distinta das necessidades das

categorias industriais que manufaturavam os produtos acima citadas.

Conforme esclarece Costa (1991, p.109-110):

O projeto ALCANORTE ocasionaria, após a sua conclusão, a viabilização dos serviços de ampliação do porto de Natal, pois aumentaria em 300% o seu movimento de carga; a contribuição de forma decisiva para a superação do “déficit” da Rede Ferroviária Federal no Estado, uma vez que implicaria em 138% do aumento de carga transportada; a ampliação do consumo de sal produzido no Estado na proporção de 13%; e o aumento de 22,5% da arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços - ICMS do Estado e em incríveis 800% da arrecadação total do município de Macau.

Além destas consequências econômicas, a instalação da ALCANORTE

geraria prováveis “seis mil empregos diretos e indiretos” (COSTA, 1991, p.110), o

que, além de possibilitar a realocação dos antigos trabalhadores salineiros,

possibilitaria a constituição de diversos fixos necessários para o funcionamento do

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complexo industrial de manufatura da barrilha, ocasionando um novo ciclo de

crescimento econômico para o espaço urbano macauense.

Associado a estas consequências socioeconômicas, a ALCANORTE

também seria a base de um futuro pólo Geoquímico delimitado pelo Estado potiguar

ainda no final dos anos 1970, “pois seus efluentes eram necessários à planta de

magnésio metálico e a outros produtos derivados das “águas mães”, com

investimentos estimados, em 1985, pelo Governo do Estado, em 150 milhões de

dólares” (COSTA, 1991, p.109).

Além de todas estas atividades que seriam dinamizadas, a conclusão da

fábrica de barrilha também serviria como um suporte muito importante para “a

melhoria da produtividade agrícola regional, ao se constituir uma possível fabríca de

fertilizantes e implementos agrícolas” (TEÓFILO, 1986 apud COSTA, 1991, p.110).

Ainda sobre a manufatura de produtos agrícolas, (Teófilo 1986 apud COSTA, 1991,

p.108), também destaca:

“A comprovação de viabilidade do projeto ALCANORTE como unidade isolada para produção de barrilha não esgota o amplo potencial de que está revestido, a partir de uma célula básica, na geração de novas linhas ou integração em outras linhas industriais. Levando em conta o potencial de Macau, estudos indicaram a possibilidade de introdução de fertilizantes, especialmente das linhas de amônia e uréia. A implantação de uma fábrica com capacidade para 300 mil toneladas/ano de amônia e de 264 mil toneladas/ano de uréia, por exemplo, geraria um excedente de gás carbônico e de cloreto amônia suficiente para atender à demanda de uma fábrica de barrilha de 200 mil toneladas/ano”.

Desta maneira, os dados aqui apresentados evidenciam as possíveis

consequências econômicas desse fixo industrial para o espaço potiguar, não apenas

para Macau, mas para outros 15 municípios potiguares, incluindo a capital potiguar,

compreendendo 45% da população do Estado.

Além disso, destacava-se a possibilidade de uma substancial contribuição

na geração de tributos para o Rio Grande do Norte e para o Município de Macau. Na

época, Macau, “que possuía um Produto Interno Bruto – PIB, estimado em 800

milhoes de cruzeiros, ampliaria para 13 bilhões de cruzeiros quando concluída a

segunda etapa, a preços de junho de 1985” (COSTA, 1991, p.111).

Sobre a organização espacial urbana macauense, destaca-se que a

gestão municipal de Macau, esperando que a cidade apresenta-se uma dinâmica

urbana semelhante à existente no período anterior à modernização e mecanização

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salineira, “constituiu um Plano Diretor para regulamentar os usos urbanos

macauenses em sua reduzida área de 144 hectares” (CARMO JUNIOR, 2006, p.61).

Desta forma, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Macau -

PDDUM foi aprovado pela câmara de vereadores em 01 de dezembro de 1979 e

sancionado pelo prefeito municipal na semana seguinte.

A ocupação do espaço físico de Macau, mais particularmente da área onde está localizado o atual núcleo urbano, se deu pela pressão de eventos e fenômenos naturais. Num espaço de aproximadamente 144 hectares, limitado e comprimido por obstáculos tais como o Rio Açu, alagados, gamboas e salinas, o núcleo urbano se desenvolveu com elevadas taxas de crescimento demográfico, ocupando toda área disponível (PDDUM, 1979, p.6).

Este documento, conforme afirma Carmo Júnior (2006, p.63) foi realizado

“a partir da constatação do esgotamento das possibilidades de adensamento da

população de Macau por linha horizontal de ocupação e nas projeções das taxas de

crescimento demográfico para sua população, levando-se em consideração a

possível instalação do parque industrial de beneficiamento do sal em Macau”.

Além da construção da fábrica de barrilha, os gestores vislumbravam “as

possibilidades de incremento urbano observadas com a possível produção de

petróleo” (CARMO JUNIOR, 2006, p.62), atividade econômica na qual não obteve o

êxito esperado, seriam mecanismos indutores da elevação das taxas atuais de

crescimento populacional a partir do alto grau de urbanização do Município

macauense. Desta forma, o PDDUM, propunha um projeto de expansão onde:

O espaço físico onde se encontra encravado o núcleo urbano – a ilha de Macau – está praticamente todo ocupado. Constatado o impasse com a saturação do atual núcleo urbano, descortina-se a possibilidade de ocupação da área situada à pequena distância – cerca de 5 quilômetros e que se chamará Macauzinho. Haverá a fixação e conseqüentemente absorção da população que, mantida a tendência, atingirá 37.598 habitantes na área urbana. Isto significa, que, em 16 anos a população dobrará, com um grau de urbanização na ordem de 91,18% (PDDUM, 1979, p.35)

As idéias contidas no PDDUM não vingaram. Hoje, este documento tem

apenas um valor histórico. Como destaca Carmo Júnior (2006, p.64), „Macauzinho‟,

planejada para “[...] não ser vista como apêndice da cidade atual, mas sim como

uma expansão do núcleo urbano existente, funcionando, também, como indutora do

desenvolvimento deste [...]”, atualmente, “não passa de um pequeno lugarejo com

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pouquíssimas edificações, ou seja, uma visão bem diferente daquela imaginada pelo

Plano Diretor do que seria a „nova Macau‟” (CARMO JUNIOR, 2006, p.64).

A não ocorrência da expansão urbana macauense, ligada, dentre outros

fatores, ao não desenvolvimento do projeto de construção do complexo industrial

voltado à produção de barrilha, tornaram este Plano Diretor de Desenvolvimento

Urbano de Macau pouco últil para compreender uma realidade de uma cidade que

reduzia progressivamente sua relevância numa dimensão regional potiguar. Apesar

desse fato, torna-se relevante destacar a constituição de um instrumento urbanístico

para ampliar as possibilidades de organização urbana macauense.

Retomando as discussões relativas à fábrica de barrilha, segundo a

previsão inicial do projeto, a mesmo seria concluída ainda na primeira parte da

década de 1980. No entanto, a ausência de interesse das possíveis parceiras

privadas no projeto, as quais observaram que o avanço técnico-científico-

informacional no transporte da produção salineira, em especial com o advento das

superbarcaças, com capacidade superior a 1000 toneladas de sal e outras

facilidades científicas e informacionais, levaram as empresas salineiras a

continuarem investindo apenas na produção do sal, deixando de lado as

possibilidades de beneficiamento do produto no território potiguar.

Dessa forma, as possibilidades de fluxos advindos da instantaneidade

gerada por um Meio Técnico-Científico-Informacional modificavam fortemente a

estrutura da produção. Não era estritamente necessária, portanto, a localização

espacial de indústrias na proximidade das matérias primas, uma vez que a

distribuição, a circulação e o consumo salineiro eram mais intensos em direção ao

sudeste e sul brasileiro, conforme observado no cartograma 10, na página 150, o

qual possuía os principais mercados consumidores, com os 7 estados das duas

regiões possuindo, segundo o IBGE, uma população de 107.738.853 de habitantes,

correspondendo a 56% da população brasileira (IBGE, 2010).

Também se destaca que, no atual Meio Técnico-Científico-Informacional,

evidencia-se uma nova divisão territorial e internacional do trabalho, onde a fluidez e

a instantaneidade derivada dos objetos técnicos do atual período favorecem uma

maior dispersão da produção, a qual se localizará levando em conta, além da

facilidade dos fluxos de informação e reprodução financeira, a maior facilidade de

obtenção de mão-de-obra, os incentivos fiscais estatais, dentre outras.

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Assim, nessa compreensão espacial, evidencia-se que, numa análise

multidimensional, o Rio Grande do Norte possuía notória relevância dimensional

nacional na produção salineira, mas no que se refere às manufaturas advindas da

utilização do sal, como a química, as mesmas seguiam outro dimensionamento

produtivo espacial, no qual o estado potiguar possuía uma menor relevância.

Essa menor relevância também era explicitada pelo escasso mercado

potiguar, o qual não levava a uma maior atratividade para a constituição de

diferentes fábricas químicas, uma vez que o território potiguar, conforme observado,

possuía grande relevância como produtor salineiro, ou seja, da matéria-prima, mas

não como produtor e consumidor dos produtos químicos, os quais, no atual contexto

espacial de um meio técnico-científico-informacional, poderiam ser produzidos em

áreas mais distantes da produção da matéria-prima, mas adjascentes ao mercado

consumidor, correspondendo ao Sul e Sudeste brasileiro.

Desta maneira, a fábrica de barrilha acabou sendo apenas mais um

projeto que não lougrou êxito, e, como Costa (1991), destacou em sua pesquisa, “a

fábrica de barrilha correspondia a „um verdadeiro elefante branco‟, com prédios

inacabados, canteiros repletos de máquinas e peças jogadas ao relento, que

custaram uma fortuna à sociedade brasileira, destruídas pela ferrugem” (COSTA,

1991, p.112).

Como indicado no PDDUM, o petróleo surgiu no horizonte socioespacial

macauense do final da década de 1970 como uma atividade econômica que poderia

gerar dividendos e empregos para Macau, em especial a partir das descobertas dos

primeiros poços, ainda no final dos anos 1970. Como afirma Carmo Junior (2006,

p.57):

A descoberta de uma jazida na Bacia Marítima Potiguar em 1973, apresentando óleo e gás com a perfuração do posso RNS-1 no campo de Ubarana, localizada entre as áreas costeiras de Macau e Guamaré e a posterior chegada da primeira plataforma continental com o poço marítimo RNS-3 em pleno funcionamento em 1975, deram início ao desenvolvimento das atividades relacionadas à exploração do petróleo na região.

Entretanto, as perfurações de poços terrestres foram intensificadas

somente no início da década de 1980 e pouco envolveu o território Macauense, uma

vez que as atividades administrativas petroleiras se concentraram em Natal e

Mossoró.

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Apenas nos anos 1990 é que alguns poços existentes em Macau passam

a ser explorados pela estatal Petroléo Brasileiro S.A – PETROBRÁS, tendo reflexos

na economia Macauense, em especial para a administração municipal, uma vez que

há o recebimento dos chamados royalties, compensação paga aos Estados,

município e aos ministérios da Marinha e da Ciência e Tecnologia sobre a produção

de petróleo e gás natural pela PETROBRAS.

Ainda na década de 1990, houve a criação de um projeto estatal

denominado “polo gás-sal”, iniciado no ano de 1996, o qual buscava “constituir um

parque industrial para o aproveitamento integrado das vocações industriais do

Rio Grande do Norte com base em seus recursos minerais” (SANTOS, 2010,

p.113).

Desta forma, o projeto delimitava a implantação do polo gás-sal em

duas vertentes, sendo uma voltada para a indústria petroquímica e a outra para

a indústria salineira, “num eixo produtivo que envolveria os municípios de

Guamaré, Macau e Mossoró, buscando reduzir custos de transporte, produção e

investimentos” (SANTOS, 2010, p.113).

Entretanto, o projeto não lougrou êxito, uma vez que os avanços

técnicos, científicos e informacionais com a aceleração globalizante na década

de 1990 evidenciavam a funcionalidade espacial produtiva do Rio Grande do

Norte como produtor salineiro, ou seja, da matéria-prima, mas não como produtor e

consumidor dos produtos químicos, os quais são manufaturados no Sul e Sudeste,

áreas mais próximas ao mercado consumidor. Tais fatores de fracasso desse projeto

possuíam semelhanças aos relativos à não implantação da ALCANORTE.

Assim, desse projeto econômico, apenas o “Polo Industrial de

Guamaré, o qual produz gás natural, gás de cozinha, óleo diesel, nafta e

querosene de aviação, obteve êxito, produzindo para o mercado potiguar,

reduzindo custos para a PETROBRÁS, proprietária da planta industrial”

(SANTOS, 2010, p.114).

Dessa forma, evidencia-se que a dimensionalidade produtiva, em

especial nesse período com uma maior difusão técnica-cientifica-informacional,

possuía maior prevalência na espacialidade da produção, uma vez que há maior

fluidez e instantaneidade e, consequentemente, menor necessidade de

implantação de manufaturas nas cercanias do espaço fornecedor de matérias-

primas.

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228

Logo, a presença do petróleo não gerou uma grande dinamização na

economia urbana, como ocorrido em Mossoró e em Guamaré, uma vez que as

ações produtivas e de distribuição e circulação da produção se concentravam nestes

dois municípios, “não havendo, portanto, a criação de inúmeros postos de trabalho

absorvidos pela população macauense, nem, tampouco, grandes investimentos ou

obras públicas por parte da PETROBRÁS” (CARMO JUNIOR, 2006, p.61).

Portanto, os possíveis projetos que poderiam conduzir Macau e seu

espaço urbano a novas dinâmicas que superassem o período anterior a

modernização e mecanização salineira não lougraram êxito na geração de postos de

trabalho, de rendimentos que poderiam ser convertidos em benefícios para o espaço

potiguar e Macauense como um todo.

Desta maneira, com o redimensionamento produtivo regional macauense,

com a referida cidade ampliando a sua relevância numa dimensão produtiva

salineira nacional e uma redução na relevância produtiva regional, amplia-se a

desigualdade socioespacial no espaço urbano macauense. Pela ausência de uma

maior dinâmica econômica “que garantisse postos de trabalho para os antigos

trabalhadores salineiros, os que permaneceram na cidade macauense, acabaram

ampliando a população periférica da cidade” (CARMO JUNIOR, 2006, p.67).

Esta periferia, como demonstrado anteriormente numa perspectiva

preliminar, era habitada pela população segregada socialmente, caracterizando-se

pela carência dos diversos serviços e equipamentos urbanos. Conforme Carmo

Junior (2006) apresentou em sua pesquisa sobre a formação urbana Macauense, a

periferia macauense aprofundava sua segregação no contexto espacial macauense

no decorrer do século XX.

A indústria salineira oprimia seus trabalhadores com o pagamento de

salários indignos, fato que se refletia diretamente na condição de suas habitações.

Assim, “a feição desta periferia retrata um lugar pobre, sofrido e abandonado”

(CARMO JUNIOR, 2006, p.68). E dialeticamente, os gestores públicos, por outro

lado, constituiam fixos para as áreas luminosas da cidade, onde se situava a elite,

correspondendo esta área ao centro, dotando apenas esta área dos equipamentos e

serviços públicos necessários.

Para a produção salineira, a periferia urbana macauense era o locus de

sua força de trabalho, constituindo-se, ao longo do tempo, como o local de

reprodução da força de trabalho, pois “a maioria dos trabalhadores de salinas

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229

moravam nos bairros proletários macauenses.” (FERNANDES, 1995, p.23).

Além de abrigar seus trabalhadores sem custos adicionais para isso, a

periferia também agregava o “exército de reserva” à espera do milagre empregatício.

Como afirma Carmo Júnior (2006, p.71), “o grande capital utilizava um discurso para

indicar que este Exército existia, a fim de lembrar àqueles que têm um trabalho, por

piores que sejam as condições, que era “melhor” do que ficar com nada”.

E este processo de aprofundamento da periferia, em especial numa

cidade com uma menor relevância na dimensionalidade regional, tornava o espaço

urbano um reflexo desse declínio, pois a carência da presença de um mercado

consumidor mais amplo ampliava a concentração de serviços financeiros,

educacionais e de saúde nas áreas “luminosoas”, as quais possuiam um mercado

consumidor.

Nessa perspectiva, ampliava-se a desigualdade social no espaço urbano

macauense, com os serviços basilares de saúde e educação se concentrando no

centro, com “apenas três escolas numa área periférica que concentrava boa parte da

cidade, quadro que pouco se modificou desde a década de 1970” (CARMO JUNIOR,

2006, p.76).

Assim, a ausência de serviços e fixos ligados à cultura, à saúde, à

educação, acabavam implicando no impedimento do desenvolvimento da

“individualidade” e do poder de organização e mobilização social desta população,

dificultando que os mesmos pudessem superar a mera condição de “consumidor” à

condição de “cidadão”. Sobre o conceito de consumidor, Santos assim se expressa:

O consumidor (e mesmo o eleitor não cidadão) alimenta-se de parcialidades, contenta-se com respostas setoriais, alcança satisfações limitadas, não tem direito ao debate sobre os objetivos de suas ações, públicas ou privadas. (SANTOS, 1987, p.42)

Cabe ainda destacar, que o impedimento de uma transição do indivíduo

da condição de “consumidor” a “cidadão” advém da distribuição desigual da

informação (SANTOS, 2002). Estar na periferia significa dispor de menos meios de

acesso às fontes de informação, como a biblioteca, as escolas, as universidades,

assim como dos agentes que detêm o poder decisório sobre a coletividade, como a

prefeitura, o fórum, algo que se tornou mais evidente no espaço urbano macauense

a partir da modernização e mecanização salineira dos anos 1970 e o consequente

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230

declínio da sua relevância regional no contexto espacial produtivo potiguar.

Assim, ficava evidente que o processo de segregação no espaço

macauense, já existente no período “técnico rudimentar”, e fortemente amparado

pela organização urbana macauense, a qual privilegiou os espaços luminosos para a

produção salineira e para a consolidação da elite na área central da cidade,

ampliava-se a partir da modernização e mecanização salineira nos anos 1970 e a

redução da sua importância na dimensão regional potiguar.

Esse aprofundamento da segregação no espaço urbano macauense,

associado a uma estagnação das possibilidades de incremento no espaço urbano

macauense com a sua redução de relevância na dimensão regional potiguar, levou à

redução de serviços anteriormente existentes na cidade, uma vez que a demanda

pelos mesmos tornava-se diminuta frente a outras regiões do estado que possuíam

maior estrutura e demanada para estes serviços especializados, como Mossoró.

Dessa forma, os processos relacionados à modernização e mecanização

salineira ocasionaram uma decadência urbana macauense, pela sua menor

relevância dimensional regional. Embora ainda mantivesse certa liderança sobre os

municípios vizinhos, a dimensão regional de Macau tornou-se significativamente

inferior àquela que lhe era atribuída no período que antecedeu à modernização

tecnológica do processo de produção do sal, quando a cidade macauense era uma

das maiores cidades do Rio Grande do Norte.

Assim, Macau, anteriormente um centro urbano que exercia uma

liderança social e econômica sobre os municípios vizinhos, chegando a possuir a

segunda maior população interiorana potiguar, a partir dos anos 1980, reduz a sua

posição frente ao quadro hierárquico urbano potiguar, não estando mais situada

entre as dez maiores cidades potiguares no que se refere à população total. Desde

“o censo de 1991, Macau possuí apenas a décima oitava população dentre as

cidades potiguares” (CARMO JUNIOR, 2006, p.97).

E essa redução de relevância no quadro hierárquico ocasionou notórias

consequências no que se diz respeito à existência de determinados serviços

técnicos e fixos que poderiam servir de indução para a atração e fixação

demográfica no espaço macauense.

Dentre estes fixos que deixaram de estar presentes no espaço urbano

macauense, um dos que merecem notoriedade é a Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. O campus universitário de Macau, denominado Centro Regional

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231

de Ensino Superior de Macau, inicia suas atividades em 1968, abrigando as

licenciaturas em Letras, Pedagogia, Estudos Sociais, além das graduações

tecnológicas em Química e Mecânica. No entanto, “com a redução das funções

urbanas macauenses, associada a menores investimentos do governo federal,

mantenedor da Universidade, o campus de Macau encerra suas atividades

acadêmicas entre os anos de 1989 a 1992” (BARROS, 2001, p.159).

O encerramento das atividades presenciais do campus da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte se tornou mais um indicativo desse novo

redimensionamento regional de Macau, uma vez que “a população macauense

reduzia as possibilidades de formação acadêmica superior, necessitando se

deslocar para outras cidades, como Natal, para que pudessem obter um diploma

universitário” (BARROS, 2001, p.159).

Na atualidade, a cidade conta novamente com cursos de graduação a

distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, oferecidos pela

Secretária de Educação a Distância – SEDIS, da referida instituição, destacando-se

o curso de pedagogia, relevante para a formação e respectiva atuação de docentes

no espaço macauense.

Outro relevante fixo ligado à prestação de serviços que também deixou de

estar presente no território macauense refere-se à agência regional da Receita

Federal, com “esta relevante autarquia federal estando presente na cidade desde a

década de 1960” (CARMO JUNIOR, 2006, p.160).

No entanto, após estes processos aqui descritos, nos quais as

corporações salineiras redirecionaram a administração regional da indústria salineira

para Mossoró, numa nova dimensionalidade produtiva regional, a agência existente

em Macau acabou encerrando as suas atividades, “dificultando até mesmo a

obtenção de documentos basilares, como o Cadastro de Pessoa Física - CPF,

obrigando a população Macauense a se deslocar para Assu ou mesmo Natal”

(CARMO JUNIOR, 2006, p.78).

Por todas estas perspectivas apresentadas, as quais demonstram as

devastadoras consequências da inserção do meio técnico-científico-informacional no

espaço macauense, com a modernização e mecanização salineira a partir da

década de 1960, associado à redução das atividades econômicas na cidade,

advindos do redimensionamento espacial macauense.

O município de Macau/RN, como observado nesta pesquisa, era o

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232

principal centro da produção salineira potiguar e grande parte de sua população,

“onde os trabalhadores de municípios adjacentes migravam para Macau e suas

salinas nos períodos de safra, ou seja, de colheita do sal neste período das salinas

tradicionais” (COSTA, 1991, p.42).

Conforme observado no decorrer da presente pesquisa, diferente da

produção tradicional, correspondente ao período técnico-rudimentar, o processo de

produção de sal potiguar a partir da década de 1960 tornou-se mecanizado,

modernizando a produção, demonstrando o domínio do meio técnico-científico e,

poucos anos depois, de um meio técnico-científico-informacional, “reduzindo

drásticamente a necessidade de mão-de-obra em todas as etapas, desde a

produção, a distribuição até a circulação e consumo do produto”, alterando as

dimensões espaciais macauense (CARMO JUNIOR, 2006, p.55).

No que se refere ao espaço urbano macauense, as consequências desta

acelerada modernização e mecanização salineira, com a inserção do meio técnico-

científico-informacional na produção do sal foram profundas para a organização

espacial macauense, refere-se ao crescimento da periferia existente na cidade, a

redução de serviços técnicos que exerciam influência na adjascência de Macau,

ocasionando uma mais reduzida atração da população que anteriormente migrava

para as funções laborais nas salinas e uma maior migração da população

macauense (COSTA, 1991; BARROS, 2001; CARMO JUNIOR, 2006).

Após esta exposição de condicionantes que conduziram para a redução

da dimensão produtiva regional e uma ampliação da dimensão produtiva salineira

nacional a qual será ainda mais aprofundada no tópico a seguir, evidencia-se que o

contexto social macauense desse período de modernização e mecanização salineira

é reflexo dessa multidimensionalidade espacial.

Nessa perspectiva, torna-se evidente, no espaço urbano macauense,

consequências sociais ocorridas com os trabalhandores salineiros, destacadas por

Costa (1991). No que se refere à previdência social, alternativa encontrada pelos

salineiros que possuíam direito legal à mesma, alguns antigos salineiros obtiveram

aposentadorias “a partir do Fundo de Financiamento de Aposentadorias Rurais –

FUNFURAL, uma vez que alguns dos trabalhadores salineiros, na entressafra do

sal, trabalhavam na agricultura, amenizando um pouco o impacto causado pela

modernização/mecanização salineira” (COSTA, 1991, p.112).

Ainda de acordo com relatos de Ademir Araújo da Costa (1991, p.114),

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233

outros dispositivos foram realizados pelos antigos trabalhadores salineiros para

garantir aposentadorias, “como a obtenção de atestados médicos que garantissem

que os mesmos possuíam doenças mentais ou doenças físicas, que dificultavam a

locomoção dos trabalhadores, a fim de obterem aposentadorias por invalidez”.

E mesmo atitudes extremas relacionadas à integridade física dos antigos

salineiros, segundo Costa foram realizadas, como a “mutilação do seu próprio corpo,

sendo a única alternativa para garantir a sobrevivência, sendo, portanto, uma

estratégia bastante utilizada, carregado de drama social a situação dos

trabalhadores das salinas macauenses” (COSTA, 1991, p.115).

Este contexto relacionado a adversidades sociais vivenciadas pelos

salineiros era diretamente relacionado à menor relevância dimensional regional

macauense, e a consequente estagnação no espaço urbano de Macau, uma vez

que havia menos fluxos comerciais da cidade com os centros urbanos circuvizinhos.

Consequentemente, como Ademir Araújo da Costa explicita (1991, p.116),

“restaram a esses trabalhadores as alternativas de permanecer no espaço urbano

macauense ou buscando outras possibilidades de possível reprodução de sua força

de trabalho em outras atividades situadas em localizações distintas do espaço

macauense”.

E os antigos trabalhadores salineiros que permaneceram no espaço

urbano macauense, nos anos seguintes os mesmos tiveram que mudar as

atividades laborais que exerciam, “buscando exercer funções trabalhistas que não

exigissem dos mesmos maiores qualificações, como a pesca, a agricultura, a

carpintaria, a vigilância, dentre outras” (COSTA, 1991, p.116).

Ainda de acordo com a pesquisa de Costa (1991) a força de trabalho

salineira, a qual possuía notória sazonalidade, pois muitos trabalhadores exerciam

as atividades salineiras apenas no período da colheita do sal, utilizando o restante

do ano para atividades agrícolas, “passaram a exercer estas atividades ligadas ao

setor primário de maneira permanente, reduzindo, no entanto, o incremento de

renda até então existente com as atividades salineiras” (COSTA, 1991, p.117).

Além disso, “uma considerável parcela dos antigos trabalhadores

migraram para outros pontos do território brasileiro” (COSTA, 1991, p.117). Para os

salineiros que habitavam a periferia urbana macauense, a migração para a capital

do estado tornou-se uma grande possibilidade, uma vez que a mesma situava-se a

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175 quilômetros da cidade de Macau, buscando atividades trabalhistas que

exigissem pouca qualificação para exercerem possíveis funções laborais.

Além da capital potiguar, trabalhadores ligados ao embarque do sal

buscaram “migrar para Mossoró, Areia Branca e até mesmo para as cidades

portuárias do Centro-Sul brasileiro, como Santos, São Paulo e Rio de Janeiro, com o

objetivo de conseguir algum trabalho relacionado ao armazenamento de

mercadorias em embarcações ou ligado à atividade marítima” (COSTA, 1991,

p.117).

Também merece notoriedade a migração para outros pontos do território

brasileiros, “como a Amazônia, para exercer atividades ligadas à extração da

borracha” (COSTA, 1991, p.118), ou mesmo para algumas capitais nordestinas, “as

quais estavam em grande processo de crescimento, como Recife, em Pernambuco

e, em menor escala, para Fortaleza, no Ceará” (CARMO JUNIOR, 2006, p.78).

No período anterior à modernização e mecanização salineira, dada a

grande necessidade de mão-de-obra, Macau possuiu, durante as décadas de 1920 a

1960, um notório incremento populacional, como pode ser visto na tabela 15 a

seguir. A população do município em 1920 correspondia a 14.570 habitantes, sendo

6.412 destes moradores vivendo na área urbana. Em 1940, Macau, correspondia à

segunda cidade potiguar em número de habitantes, com 19.644 habitantes, com

quase metade deste total, 9.355 habitantes, vivendo na área urbana macauense,

“tornando-se um dos primeiros municípios potiguares a possuir quase a metade da

população vivendo na área urbana (CARMO JUNIOR, 2006, p.58)”.

Tabela 15 – Evolução da população de Macau, em habitantes (1872-2010)

ANO POPULAÇÃO TOTAL

POPULAÇÃO URBANA POPULAÇÃO RURAL

18728 1900 1920 1940 1960 1970 1980 1991 2000 2010

3.941 11.236 14.570 19.644 23.553 24.819 25.800 24.078 25.978 24.378

1.874 4.754 6.412 9.355

11.694 14.677 18.838 17.370 18.989 17.290

2.097 6.482 8.158

10.289 11.859 10.142 6.962 6.708 6.989 7.088

8 Obs: Os dados de 1872 e 1900 foram obtidos a partir da pesquisa de Moura (2003), pois o IBGE delimitou a população urbana e rural apenas a partir do censo de 1920.

(Continua)

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235

28.954 20.966 7.988

Fonte: Censos demográficos do IBGE (1872-2010); Moura, 2003.

Este processo de urbanização fica ainda mais evidente na década de

1950, quando, dos 23.553 habitantes macauenses, praticamente a metade dos

mesmos já viviam na área urbana, correspondendo a 11.694 habitantes. E a

ampliação da população urbana no total da população municipal Macauense

consolida-se na década de 1960, quando há o apogeu da produção de sal no

período técnico-rudimentar, com a necessidade cada vez mais evidente de uma

maior quantidade de trabalhadores na produção salineira de então.

Desta forma, em 1960, Macau atinge 24.819 habitantes, com 14.677

habitantes vivendo na área urbana. É relevante notar que o crescimento da

população total em Macau no período 1950-1960 “é reduzido frente ao período

compreendido entre 1940 a 1950, dada a emancipação de futuras cidades como

Pendências, ocorrido em 1956, até então um distrito macauense com mais de 6 mil

habitantes” (CARMO JUNIOR, 2006, p.63). Ainda assim registra-se um incremento

da população total no período compreendido entre os anos de 1950 ao ano de 1960.

No recenseamento de 1970, ainda na fase inicial do processo de

modernização e mecanização da produção salineira, a população macauense

cresce para 25.800 habitantes, com um total de 18.838 habitantes vivendo na área

urbana, reflexo das ainda existentes necessidades de mão-de-obra por parte da

produção salineira de predominância técnica-rudimentar.

Entretanto, no censo demográfico de 1980, os efeitos da inserção da

mecanização salineira se tornavam evidentes, associado a todo contexto

apresentado neste presente capítulo, relativo à decadência comercial macauense, a

partir da redução da relevância dimensional macauense. Como consequência do

desemprego por parte dos salineiros, há um crescimento das áreas segregadas no

espaço urbano macauense, (COSTA, 1991; CARMO JUNIOR, 2006).

Associado a estes processos, conforme já observado anteriormente, há

um crescimento da mobilidade populacional para outras áreas do espaço potiguar e

brasileiro, o que levou a uma consequente redução da população macauense, a

qual, em 1980, correspondia a 24.071 mil habitantes, menos que existente no ano

de 1970. Também se destaca a redução da população urbana, para 17.309

habitantes, seguindo a redução na população total.

(Conclusão)

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236

Na contagem populacional em 1991 há um novo incremento no número

de habitantes, embora a população total, de 25.978 habitantes, com 18.989 destes

residindo na área urbana macauense, leva a população municipal a índices

demográficos semelhantes aos existentes em 1970.

Segundo Barros (2001, p.167), a presença da PETROBRAS, “embora

numa influência reduzida frente a Mossoró ou mesmo a Guamaré, cidades onde a

corporação petrolífera possuía uma maior presença”, contribuíram para, “dinamizar a

parcialmente a economia macauense, uma vez que a empresa utilizava Macau

como base para algumas escassas operações” (BARROS, 2001, p.167).

Entretanto, conforme já explicitado, pelo fato da presença operacional da

PETROBRAS se concentrar em Guamaré e Mossoró, as operações petrolíferas não

foram suficientes para uma maior dinamização no espaço macauense. Como

explicitado anteriormente, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte deixa de

possuir um campus avançado na cidade no início dos anos 1990, sintetizando este

processo de escassa dinâmica urbana no espaço macauense e uma redução na

dimensionalidade regional produtiva de Macau.

Desta forma, no censo demográfico de 2000, a população macauense

volta a possuir um processo de redução em seu número, com um total de 24.378

pessoas, sendo destes, 17.290 habitantes vivendo no espaço urbano macauense,

voltando, assim, ao patamar populacional existente no censo de 1980, quando a

cidade ainda estava sob os efeitos da recém-instituída modernização e mecanização

salineira. Desta forma, evidenciava-se que “a situação existente na cidade de Macau

anteriormente a crise dos anos 1970 parecia perdurar, pois não havia atividades

econômicas que recuperassem o crescimento da cidade” (BARROS, 2001, p.172).

Assim, a modernização e mecanização das salinas e a concentração da

distribuição e circulação da produção salineira em Mossoró e no Terminal salineiro

de Areia Branca, levou à ampliação do desemprego e migrações dos então

salineiros residentes em Macau. Esse processo ampliou a segração espacial urbana

em Macau, existente desde a ascensão da produção salineira do período técnico-

rudimentar, quando o espaço macauense não valorizado pelos detentores dos meios

de produção e a burguesia comercial se torna largamente habitado pelos

trabalhadores das salinas.

Este quadro segregador se agrava a partir da década de 1970, com o

advento da modernização e mecanização salineira e a respectiva ascensão do meio

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técnico-científico-informacional na produção salineira, num processo de “redução de

esforços a partir da difusão técnica”, como é destacado por Ortega y Gasset (1963,

p.31), reduzindo a necessidade de uma numerosa mão-de-obra para a produção do

sal, ocasionando o desemprego, a estagnação demográfica e aprofundando a

marginalidade social dos trabalhadores salineiros.

Portanto, as técnicas transformam a divisão territorial do trabalho, uma

vez que ampliam o exército de reserva e redirecionam a organização da produção

no espaço geográfico, em especial no atual período histórico onde havia o

predomínio da técnica, da ciência e da informação, num meio técnico-científico-

informacional, refletindo no redimensionamento produtivo regional macauense.

Nos anos 2000, evidencia uma nova reconfiguração do espaço urbano

macauense, com a constituição de novos fixos, como o Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, no ano de 2008, o qual,

advindo de uma política federal de expansão e interiorização do Ensino Básico,

Técnico e Tecnológico, pode ser considerado um relevante evento na dimensão

espacial regional de Macau, uma vez que a referida instituição possui 1060 alunos e

110 docentes e técnicos-administrativos na atualidade.

Esse fixo educacional constituído em Macau, que fez parte de uma

política “estatal de expansão da rede federal técnica e tecnológica, seguiu a

orientação do slogan „uma escola técnica em cada cidade-pólo do país‟ proposto

pelo governo federal” (GOMES, 2016, p.10). Consolidando esta compreensão, de

acordo com Pacheco (2011), no que se refere à constituição dos Institutos Federais

no espaço brasileiro, os objetivos desse modelo de instituição consiste em:

“[...] ser a síntese daquilo que de melhor a Rede Federal construiu ao longo de sua história e das políticas de educação profissional e tecnológica do governo federal. Caracterizados pela ousadia e inovação necessárias a uma política e a um conceito que pretendem antecipar aqui e agora as bases de uma escola contemporânea do futuro e comprometida com uma sociedade radicalmente democrática e socialmente justa”. (PACHECO, 2011, p.12)

Embora possua essa caracterização de democratização do acesso ao

Ensino, à instituição dos cursos nos Institutos Federais “se relacionassem com o

setor produtivo” (GOMES, 2016, p.10), possuindo, portanto, relações com as

intencionalidades do mercado produtivo. Dessa forma, o campus Macau do IFRN

conta com os cursos Técnicos em Recursos Pesqueiros, Técnico em Química,

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Graduação Licenciatura em Biologia e Especialização em Educação Ambiental e

PROEJA (IFRN, 2017).

Esses cursos possuem consonância com algumas atividades produtivas,

como a produção de pescado, na qual Macau corresponde ao segundo produtor

estadual, embora esta produção seja ainda predominantemente rudimentar e,

principalmente, são implantados com o objetivo de “qualificação de uma força de

trabalho barata para ser inserida no mercado de trabalho (...), sendo uma resposta

do Estado brasileiro às demandas colocadas pelo Capitalismo em sua fase de

acumulação flexível” (GOMES, 2016, p.13).

Assim, evidencia-se que os objetivos da expansão dos Institutos Federais,

se coadunam com o movimento mais amplo de reprodução capitalista, fazendo parte

do processo de reestruturação produtiva que nas realidades espaciais onde se

encontram as unidades de ensino, ainda não foi totalmente realizada, principalmente

no que se refere às relações sociais de produção.

Sobre a relação da constituição dos Institutos Federais com a ampliação

de dinâmicas produtivas urbanas, ressalta-se, inicialmente, que os Institutos

Federais possuem relação com políticas do estado, o qual, dessa maneira, se coloca

na realidade local como um agente produtor do espaço urbano com funções

reguladoras, legisladoras e organizacionais. De acordo com Roberto Lobato Corrêa

(2000, p.24) o Estado “[...] atua também na organização espacial da cidade. Sua

atuação tem sido complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a

dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte”.

Aprofundando a estrutura organizacional dos Institutos Federais pelo

espaço Potiguar, os mesmos seguem orientações basilares do Ministério da

Educação para a sua respectiva implantação, destacando-se a “universalização do

atendimento às mesorregiões brasileiras; municípios em microrregiões não

atendidas por escolas federais; e por fim, a interiorização da oferta pública de

Educação Profissional e Ensino Superior”.

De acordo com Barreto, em sua análise sobre as consequências da

existência dos Institutos Federais no espaço Potiguar, o mesmo afirma que “a

expansão dos Institutos Federais no Rio Grande do Norte seguem as orientações

basilares do Ministério da Educação, localizando-se em o maior número possível de

mesorregiões e microrregiões potiguares” (BARRETO, 2014, p.423).

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Assim, relacionando essa compreensão da constituição dos Institutos

Federais no interior potiguar leva a “ampliar a relevância da cidade onde os mesmos

se instalam num contexto espacial regional, ampliando as articulações do

conhecimento produzido por essas instituições com as demandas da sociedade que

tem sua base na técnica e na informação” (GOMES, 2016, p.10).

Logo, há a ampliação de uma relevância dimensional regional

Macauense, pelo menos no que se refere à existência do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte na cidade, um fixo que

conduz a uma maior dimensão regional de Macau no que se refere à educação.

Buscando um aprofundamento social e econômico relativo à constituição

dos Institutos Federais em cidades como Macau, afirma-se que a inserção de alunos

que não pertencem às cidades ou região onde se encontram tem promovido

mudanças significativas no contexto social e econômico das cidades onde se

localizam as estruturas dos Institutos Federais, “como aumento da demanda por

moradia, valorização imobiliária, dinâmica das atividades de comércio e serviços,

além das mudanças das práticas sociais” (GOMES, 2016, p.13).

Essas mudanças na dimensão espacial macauense no que se refere à

ampliação de sua relevância educacional regional são aprofundados por Barreto

(2014, p.427), ao afirmar que:

O avanço educacional motivado pela expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica provocou vários impactos socioeconômicos, como a vinda de pessoas de outras cidades e regiões para estudar no Instituto; a chegada de investimentos privados, como conjuntos residenciais, rede de escolas particulares, o surgimento de cursinhos preparatórios para os processos seletivos do IFRN e vestibular; além desses fatores citados terem potencializado também as atividades terciárias formais (estabelecimentos comerciais, supermercados, mercadinhos, farmácias, restaurantes, pousadas, imóveis para aluguel), e terciárias informais, principalmente no comércio de rua.

Ainda de acordo com Barreto (2014, p.424), a existência de um Instituto

Federal numa cidade conduz a uma “reconfiguração territorial, uma vez que a

chegada de um estabelecimento de ensino desse porte ocasionam notórios

investimentos públicos e privados”.

O município torna-se assim, um agente de integração regional e

microrregional com outras localidades, por ampliar o seu poder de atuação, como

ocorrido em Macau, o qual retoma, no aspecto educacional, sua dimensionalidade

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240

regional. Isso ocasionará de certa forma, o provimento de uma educação de

qualidade, acompanhada de uma efetiva distribuição de bens e serviços, e o

desenvolvimento de atividades terciárias e do comércio, a partir da constituição do

Instituto Federal como relevante fixo, ocasionando fluxos que dinamizarão o espaço

macauense.

Ainda de acordo com Barreto, que buscou compreender as

transformações espaciais advindas com a implantação do Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia em João Câmara, as transformações ocorridas na

cidade, a partir da implantação do campus na cidade, “continuarão acontecendo ao

longo do período de funcionamento do IFRN no município” (BARRETO, 2014,

p.417).

Entretanto, cabe destacar que essa expansão propalada como um vetor

de desenvolvimento destas cidades no âmbito regional deve ser compreendido num

contexto dialético, uma vez que “se prega um maior desenvolvimento regional a

partir das políticas públicas, quando a realidade existente é, em muitos aspectos, a

reprodução das desigualdades socioespaciais” (GOMES, 2016, p.14), uma vez que

os formandos desses Institutos Federais, ao não encontrarem postos de trabalho,

reforçam o excedente de mão-de-obra, barata e qualificada.

Dessa maneira, portanto, a compreensão da constituição do IFRN, leva a

entende-lo como um considerável marco temporal, uma vez que dinamiza o setor

terciário macauense e amplia a dimensão regional Macauense relativa aos serviços

educacionais.

Dessa maneira, após os anos 2000 e 2010, graças à constituição de fixos

educacionais, como o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte, associado ao “desenvolvimento do pólo industrial localizado em

Guamaré, com a chegada de várias empresas prestadoras de serviço, as quais,

embora não instaladas diretamente em Macau, geraram impactos no espaço

macauense” (SANTOS, 2010, p.117), verificou-se na cidade de Macau, uma

dinamização de sua economia, “principalmente, do seu mercado hoteleiro com as

construções de hotéis, pousadas e apartamentos para aluguel” (SANTOS, 2010,

p.117-118).

A população Macauense volta a possuir um incremento demográfico,

alcançando 28.954 habitantes (IBGE, 2010), num crescimento considerável frente ao

quadro anteriormente existente, dados estes novos fixos e serviços técnicos que

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241

levam Macau a possuir um papel determinante de um determinado

dimensionamento regional frente aos municípios adjacentes, embora sem a mesma

pujança existente no período anterior à modernização e mecanização salineira.

Ao demonstrar detalhadamente todo o processo de apogeu e declínio de

Macau no contexto espacial potiguar, enfatizando a redução da população urbana e

total, buscou-se evidenciar a relevância da presente pesquisa, justificando a

relevância da problemática indicada partir da construção destes quatro capítulos,

com o respectivo conteúdo construído pelas pesquisas em que demonstra o quanto

Macau já possuiu de relevância para a economia salineira potiguar e nacional, em

especial no período técnico-rudimentar.

Portanto, através da identificação dos principais eventos que

transformaram o espaço urbano da cidade de Macau a partir da

modernização/mecanização salineira do final dos anos 1960 e anos 1970, e as

consequências desses eventos nas formas espaciais resultantes destes processos

socioeconômicos, torna-se plausível aprofundar, a seguir, às transformações no

espaço produtivo macauense, a partir do redimensionamento espacial macauense

pós-modernização e mecanização salineira.

Esse aprofundamento do redimensionamento espacial macauense pós-

mecanização e modernização salineira, numa multidimensionalidade, onde há, com

exceção de fixos que influenciam os municípios adjacentes, como o Instituto

Federal, acima destacado, um menor incremento de sua relevância dimensional

regional, e, dialeticamente, a ampliação de sua dimensão produtiva salineira

nacional, com mais de um terço da produção nacional, serão mais bem explicitados,

a partir da aplicação de questionários na pesquisa de campo e a consequente

sistematização dos resultados obtidos.

Esse processo metodológico auxiliará a compreender a atual

multidimensionalidade do espaço macauense, num dialético processo de menor

incremento na dimensão produtiva regional, e uma ampliação dimensional produtiva

nacional no que se refere à produção do sal marinho, tornando possível constituir

uma panorâmica capaz de entender as consequências da inserção do meio técnico-

científico-informacional na produção salineira macauense em suas multidimensões

produtivas regionais e nacionais, como será aprofundado no capítulo a seguir.

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242

5 AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO PRODUTIVO MACAUENSE: O

REDIMENSIONAMENTO ESPACIAL MACAUENSE PÓS-

MODERNIZAÇÃO/MECANIZAÇÃO SALINEIRA

No presente capítulo, busca-se compreender as transformações no

espaço produtivo macauense: o redimensionamento espacial macauense após a

modernização e mecanização salineira, a partir das pesquisas de campo,

observando-se os aspectos relativos ao consumo produtivo que atende ao

circuito espacial salineiro, como os estabelecimentos comerciais e de serviços e,

consequentemente, os fluxos e fixos, que se relacionam a esse consumo.

Logo, a partir da explicitação desses processos multidimensionais no

espaço produtivo salineiro macauense e potiguar, se tornam mais perceptíveis

as relações da modernização e mecanização da indústria salineira com o atual

meio técnico-científico-informacional.

Assim, para compreender como ocorreram as atividades de pesquisa,

torna-se relevante destacar, a partir do questionamento central da pesquisa, “como a

modernização e mecanização das salinas se relacionaram com as transformações

do espaço produtivo de Macau/RN nas dimensões regionais e nacionais?”, os

caminhos que foram percorridos para a obtenção dos dados que auxiliarão no

entendimento da problemática da presente tese.

Dessa forma, o trabalho de campo realizado em Macau, recorte espacial

da presente pesquisa, ocorreu a partir de um notório planejamento e organização

para a obtenção das informações. Logo, nas atividades de preparação do trabalho

de campo, inicialmente, de acordo com os dados obtidos anteriormente, foram

observadas as instituições e os responsáveis pelas mesmas, além de enviar os

ofícios de solicitação de entrevistas, agendando as visitas com antecedência.

Assim, as entrevistas realizadas, as quais estão em anexo no presente

documento, buscaram conhecer principalmente o funcionamento das corporações

salineiras e seu circuito espacial produtivo, considerando as diferentes etapas dos

respectivos processos produtivos. Portanto, foram obtidos, na pesquisa de campo,

os tipos e os fluxos de produtos comercializados e de serviços prestados;

organização e funcionamento; o número de trabalhadores; o grau de abrangência do

mercado; as relações espaciais e produtivas que a atividade possui na cidade; as

interferências do meio-técnico-científico-informacional, dentre outros.

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243

Inicialmente, nas atividades relacionadas à obtenção de dados primários,

buscou-se compreender como o estado, um dos grandes agentes do modo

capitalista de produção, se relacionava com a atividade salineira, além da possível

corroboração dos dados secundários obtidos no RAIS e na FIERN, como apontado

no inicio da tese. Assim, realizou-se a aplicação de um questionário semi-

estruturado com a secretaria de planejamento e desenvolvimento econômico de

Macau, detalhado no apêndice, ao final da presente pesquisa.

Inicialmente, a entrevistada enfatizou que a atividade salineira sempre

possuiu grande relevância para a cidade. Mas a transferência das empresas

salineiras para Mossoró e Areia Branca, segundo a secretária, ocasionou uma crise

em Macau. Este relato remete a multidimensionalidade do espaço produtivo

macauense, com a menor relevância regional na produção salineira.

Pelo fato da secretária possuir naturalidade macauense, a mesma

recordou do amplo desemprego após a modernização e mecanização salineira em

1970, mas ressaltou que Macau está buscando retomar o incremento econômico

advindo da atividade salineira, embora reconheça que a atividade não gere os

mesmos dividendos para o terciário macauense como outrora.

Essa transformação econômica no espaço macauense, explicita-se,

inicialmente, a partir dos dados secundários e a pesquisa bibliográfica, que a

atividade salineira, a partir da modernização e mecanização salineira, redimensionou

a divisão territorial do trabalho da referida atividade, cabendo a Macau a produção e

concentrando a distribuição e circulação em Mossoró e Areia Branca.

Durante o relato da secretária, a mesma enfatizou as dificuldades

relativas à distribuição salineira, uma vez que os fluxos da produção salineira

macauense eram relacionados ao sistema de movimento rodoviário, direcionados

para Mossoró, onde se localizam as administrações das maiores indústrias

salineiras, como a SALINOR e a Henrique Lage, como será visualizado a seguir,

além do fato de uma parcela da produção possuir a distribuição salineira a partir do

porto-ilha de Areia Branca, o que corrobora a divisão territorial do trabalho com a

modernização e mecanização salineira, levando ao multidimensionamento produtivo

no espaço macauense.

Assim, dado essa relevância de Macau na nova divisão territorial do

trabalho produtivo salineiro, ficou evidente a multidimensionalidade espacial

macauense, com a cidade ampliando a sua relevância dimensional produtiva

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244

salineira e reduzindo a sua relevância dimensional regional no que se refere às

dinâmicas econômicas ligadas ao setor terciário, especialmente no comércio e

serviços.

Aprofundando a discussão relativa à produção salineira, a entrevistada

reafirmou a importância da produção salineira Macauense, superior a 35% do total

de sal produzido no Rio Grande do Norte e no país, e a relevância do espaço

potiguar na produção de sal, correspondendo a 95% do total brasileiro, conforme os

dados secundários obtidos na pesquisa realizada na FIERN (2015).

Outros relevantes dados secundários corroborados pela gestora municipal

referem-se à relevância da indústria salineira no Produto Interno Bruto – PIB, com

um notório conhecimento da gestora, ao corroborar os dados relativos ao PIB de

2015, o qual dos 914 milhões de reais, mais da metade do mesmo correspondia a

Indústria Salineira, a qual concentrava por completo, segundo dados da FIERN e

relato da própria secretária, o setor secundário ou industrial do município

macauense.

Ainda sobre o Produto Interno Bruto municipal, a secretária enfatizou que

o setor terciário, relacionado às atividades comerciais e de serviços, possui um

incremento advindo da atividade salineira, com um PIB macauense totalizando 356

milhões de reais em 2015.

Embora se saiba que há uma multidimensionalidade, em que os autores

pesquisados no levantamento bibliográfico, evidenciaram uma estagnação da

relevância econômica do setor terciário no contexto regional macauense após a

modernização e mecanização salineira. Entretanto, após os anos 2000, com a

inserção de alguns relevantes serviços e instituições, como o IFRN, há um

incremento no setor terciário, registrado nos números obtidos em fontes secundárias

e na entrevista aqui realizada.

Também se questionou a secretária sobre a aplicação dos recursos

obtidos, os quais a mesma argumentou que são reduzidos, alcançando apenas 39

milhões em tributos municipais no ano de 2015, também segundo os dados

secundários obtidos no IBGE e corroborados pela gestora durante a aplicação do

questionário.

Mesmo com os reduzidos recursos, a secretária argumenta que algumas

ações foram realizadas, enfatizando a pavimentação de vias, num processo de

melhoria nos fixos, nos sistemas de movimento viário, inclusive para facilitar os

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fluxos produtivos. Também enfatizou a busca de parcerias com a gestão potiguar e a

administração federal para a melhoria dos sistemas de movimento viário, como a BR

406, a única rodovia federal macauense.

Ainda sobre os sistemas de movimento viário, a secretaria destacou o

projeto, nunca executado, de conclusão da rodovia federal BR 104, a qual ligaria

Macau ao estado de Alagoas, a qual serviria, portanto, como um relevante fixo, um

sistema de movimento viário para a distribuição e circulação produtiva salineira.

Entretanto, não há registros que indiquem a sua conclusão, havendo

apenas algumas escassas informações sobre a futura obra, datados de 2008. Na

atualidade, apenas os trechos Pernambucano e Alagoano estão completamente

concluídos. Esses dados foram obtidos no portal do Ministério dos Transportes, o

qual, na atualidade, está em processo de atualização (BRASIL, 2016).

Finalmente, sobre os aspectos relativos ao emprego, ficou evidente a

relevância da atividade salineira na geração de empregos formais, com 694 postos

de trabalho ocupados pela indústria salineira, quantidade consideravelmente inferior

à existente antes da modernização e mecanização salineira, mas relevante para

uma cidade com população de 28.954 habitantes.

Sobre os dados indicados durante a entrevista, a secretária afirmou que

existem 1700 pessoas indiretamente beneficiadas pela atividade salineira, ora

sustentadas pelo trabalhador salineiro que chefiam as familias, ou por atuarem em

atividades ligadas ao consumo necessário para a reprodução dos trabalhadores

ligados à atividade salineira, como a alimentação.

Além disso, a gestora destacou que cerca de 700 trabalhadores salineiros

exercem atividades laborais nas indústrias extrativas do sal, sendo a SALINOR e a

Henrique Lage, as principais empregadoras na indústria salineira macauese.

Também foram obtidas outras informações com representantes das

grandes corporações salineiras macauenses, a Salinas do Nordeste - SALINOR e a

Henrique Lage. Nessas entrevistas, também foram demonstradas a infraestrutura

dessas indústrias salineiras. Com esse trabalho em campo, tornou-se possível

identicar a espacialização produtiva da atividade salineira em Macau; a identificação

dos fixos e fluxos associados aos circuitos espaciais de produção salineira; e a

multidimensionalidade produtiva regional e nacional a partir da modernização e

mecanização produtiva salineira ocorrida em Macau.

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246

Dessa forma, a constituição dos questionários aplicados aos

representantes da SALINOR e Henrique Laje, buscaram constituir uma ampliação da

compreensão das questões norteadoras da pesquisa, privilegiando a obtenção de

informações que consolidem o levantamento de informações obtidas de fontes

secundárias anteriormente.

Como será destacado a seguir, realizou-se uma detalhada pesquisa

realizada com os 110 trabalhadores diretamente envolvidos com a produção

salineira na SALINOR, a maior indústria do sal em Macau e no Rio Grande do Norte,

com a produção superior a um milhão de toneladas e os 90 operários da Henrique

Lage, se registrado as informações obtidas em planilhas e elaboradas gráficos e

tabelas. Foram acrescentadas fotografias, para uma maior explicitação no decorrer

da presente pesquisa, em especial para destacar o circuito espacial de produção

salineiro.

Após a realização da pesquisa e sistematização das informações obtidas,

realizou-se a tabulação dos dados obtidos, a transcrição dos diálogos durante as

entrevistas realizadas e aplicações de questionários, das gravações, apresentação

das entrevistas realizadas, além da organização das fotos obtidas durante a

atividade empírica.

Com essas ações metodológicas, tornou-se possível ampliar a

caracterização do objeto de estudo e a consolidação do banco de dados, uma vez

que se torna plausível, com a obtenção dos dados primários e secundários e a

verificação empírica na pesquisa de campo, a consolidação dos dados estatísticos

obtidos. E, portanto, a consolidação do banco de dados aprofunda o entendimento e

caracterização das variáveis e indicadores necessários para o entendimento da

problemática da pesquisa.

Desta forma, com a consolidação dessas informações primárias, obtidas

através das pesquisas de campo e pesquisa de documentos; as informações

secundárias, obtidas em banco de dados virtuais e bases de dados digitais de

instituições públicas e em outros documentos e leituras específicas ao tema e ao

objeto de estudo, consolidando a compreensão dos processos relativos à

modernização e mecanização da produção salineira no espaço macauense, com a

consequente multidimensionalidade produtiva regional e nacional da referida cidade,

tornando possível comprovar algumas das hipóteses e refutar outras e, de modo

geral, compreender o objeto de estudo acima destacado.

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247

Para consolidar as discussões teóricas realizadas durante a presente

pesquisa, realizou-se a pesquisa de campo, onde, inicialmente, foi visitada a Salina

Henrique Lages, a qual possui a segunda maior produção de Macau e do espaço

potiguar, correspondendo a 15% do total estadual, segundo dados da Federação

das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN, 2015).

Inicialmente, realizou-se a aplicação de um questionário semi-estruturado,

o qual buscou aprofundar as informações secundárias obtidas nas pesquisas

realizadas na FIERN e no RAIS, sendo, assim, entrevistado o administrador da

companhia em sua base operacional de Macau, onde ocorre a produção salineira.

Assim, o gestor aprofunda relevantes aspectos obtidos nas pesquisas

bibliográficas e na obtenção de dados secundários. Um desses dados refere-se à

dimensão produtiva salineira de Macau, ao apontar que a Indústria Salineira

Henrique Lage possuía uma notória produção de sal em Macau, mas a distribuição e

circulação eram comandadas remotamente, a partir das bases administrativas de

Mossoró e Natal, evidenciando o atual Meio Técnico-Científico-Informacional

(SANTOS, 1994), no qual há uma nova divisão territorial do trabalho, não sendo

mais estritamente necessária a concentração de todas as etapas do circuito espacial

produtivo num mesmo ponto do espaço geográfico.

Ainda sobre o circuito especial produtivo, a entrevista com o diretor da

unidade produtiva macauense demonstrou os fluxos da distribuição e circulação da

produção salineira da Indústria Salineira Henrique Lages. Assim, no que se refere ao

Mercado nacional, o representante da indústria reafirma que a Henrique Lage é

responsável por 15% da produção potiguar e nacional, com quase 1 milhão de

toneladas de sal produzidos anualmente, exportando para todo o país, para a

alimentação humana, a indústria química e o setor agropecuário.

Além do Mercado nacional, há citações relativas ao Mercado

internacional, dado o grande consumo no Mercado brasileiro, associado a uma

produção nacional suficiente para abastecer o Mercado interno, sem maiores

excedentes, eram pouco usuais as exportações, com as mesmas se concentrando

para países como Estados Unidos, Nigéria, Espanha e Portugal. E consolidando

essa informação, o referido diretor afirmou que não havia exportações há mais de

cinco anos.

Sobre a distribuição e circulação da produção salineira, o fluxo produtivo

da Henrqiue Lage, e de boa parte das indústrias salineiras estaduais, ocorre numa

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248

delimitação produtiva em duas grandes tipologias de sal após a respectiva produção.

Dessa forma, o sal grosso, distribuido a granel, o qual é destinado

basicamente à indústria química nacional, o mesmo é escoado pelo Terminal

Salineiro de Areia Branca. Esse processo de transporte para o porto-ilha, segundo o

Sr. Erivaldo de Souza, não é mais realizada diretamente pela Henrique Lage.

Anteriormente, 30% da produção da Henrique Lage seguiam diretamente

por meio maritimo. Na atualidade, são utilizados caminhões para a fluidez dessa

produção em direção ao porto de Areia Branca. E sobre os fluxos comunicacionais

destinados à circulação e distribuição do sal grosso, há a larga utilização da rede

mundial de computadores – internet e telefone.

No que se refere ao sal refinado e moído, destinado ao consumo humano

e agropecuário, os fluxos são realizados por carretas contratadas por fretes, sendo

direcionados para os grandes consumidores, como São Paulo, Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás e Paraná.

De acordo com o representante da empresa, escoar por estradas,

associado à terceirização desse escoamento produtivo, é mais vantajoso

econômicamente. Sobre a contratação dessas carretas, a mesma é realizada

diretamente pela Henrique Lage, sendo 500 veículos mensalmente destacados para

realizar os fluxos entre a indústria salineira, em Macau e o centro distribuidor, na

cidade de Mossoró.

Ainda sobre a distribuição e circulação do sal refinado e moído, há a

comercialização dos produtos por vendedores nos escritórios de Macau e Mossoró,

sendo distribuidos no restante do país via rodovias, a partir do uso de carretas, como

observado anteriormente.

Sobre o espaço Mossoroense, a pesquisa realizada na Salina Henrique

Lage evidenciou a relevância dimensional regional salineira de Mossoró, ampliada a

partir da mecanização e modernização salineira, uma vez que fixos foram

constituidos no território afim de possibilitar os fluxos da produção salineira, como o

porto-ilha localizado na adjacente cidade de Areia Branca e as rodovias BR 304 e,

principalmente, a BR 110, que vai até a Bahia, as quais constituem relevantes

sistemas de movimento rodoviários, conduzindo os fluxos produtivos salineiros para

o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiro.

É relevante ressaltar que, no que se refere aos objetos técnicos utilizados

para a produção salineira, o gestor da empresa ressaltou, no que se refere ao

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consumo produtivo, que a Indústria Salineira Henrique adquire insumos para a

produção em Mossoró e Natal, uma vez que, conforme enfatizado anteriormente, a

estrutura administrativa, de circulação e distribuição são concentradas nos dois

maiores centros urbanos potiguares, destacando a cidade Mossoroense.

Detalhando esse consumo produtivo, descobriu-se que a manuntenção

das máquinas, assim como a compra de embalagens utilizadas para o

empacotamento da produção salineira ocorre em Mossoró. Além disso, os

caminhões para a distribuição e circulação da produção salineira, são contratados

na cidade Mossoroense, reforçando a relevância dimensional de Mossoró para a

circulação e distribuição produtiva salineira potiguar.

Ressalta-se que, embora essa estrutura basilar não esteja evidente no

questionário destacado nos anexos da presente pesquisa, o fato da pesquisa

primária na salina Henrique Lages privilegiar um questionário semi-estruturado

ampliou as possibilidades de diálogos e obtenção de maiores informações que

reforcem o entendimento sobre a espacialização da produção salineira.

Sobre a distribuição das indústrias salineiras no espaço potiguar, o gestor

da Henrique Lage, reafirma os dados secundários obtidos no RAIS e na FIERN, no

que se refere ao pessoal ocupado e à quantidade de estabelecimentos indústrias

diretamente ligados à produção salineira.

Assim, confirmou-se que há 76 indústrias salineiras, mas com uma

considerável parte da produção concentrada nas 10 maiores empresas, como

observado anteriormente, com estas corporações salineiras representando 73% do

total produzido no espaço potiguar (FIERN, 2015).

Uma informação relevante, referente a um comparativo na escala

produtiva entre as grandes corporações e as corporações salineiras menores é

sintetizada na quantidade de funcionários, uma vez que o gestor da Henrique Lage

informou que grande parte das Salinas emprega menos de 30 funcionários, pois as

máquinas reduzem a necessidade de numerosa mão-de-obra.

As outras 50 indústrias de menor porte são empreendimentos com menos

de 30 funcionários, uma vez que as máquinas utilizadas reduzem a necessidades de

muitos funcionários. No que se refere ao contexto produtivo macauense, as duas

maiores corporações salineiras, a Salinor e a Henrique Lage representam mais de

90% da produção de Macau, conforme observado nas tabelas anteriores.

Sobre a empregabilidade das grandes Salinas, evidencia-se uma maior

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250

quantidade de pessoas nestas Salinas que possuem uma maior área para a

produção, mas ainda assim “utilizando menos funcionários que a produção salineira

do período anterior à modernização” (SILVA, 2010, p.112).

Dessa forma, ele descreve a distribuição dos funcionários, com a

Henrique Lage possuindo uma maior quantidade de trabalhadores nos

procedimentos diretamente ligados a distribuição produtiva, num total de 241

funcionários. Dado à notória mecanização há apenas 90 funcionários diretamente

envolvidos na produção salineira da Henrique Lages, o que ganha maior notoriedade

pelo fato de a Henrique Lage possuir a segunda maior produção salineira do Rio

Grande do Norte.

Essas informações e dados obtidos durante a pesquisa realizada na

salina Henrique Lage, são corroborados na Salinas do Nordeste - SALINOR, a maior

indústria salineira potiguar e brasileira, possuindo produção superior a 1,2 milhões

de toneladas anuais, ou 20% do total nacional.

Apesar das dificuldades em obter a entrevista de campo, dado a notória

burocracia e a menor abertura para o fornecimento de dados e informações sobre o

funcionamento da SALINOR, o responsável pela administração da referida indústria

salineira em Macau auxiliou consideravelmente a corroboração dos dados

secundários obtidos durante a pesquisa, ao delimitar alguns pontos relevantes sobre

a estrutura da empresa. Assim, o gestor destacou que a gestão da empresa está em

Mossoró e Natal, enquanto no Rio de Janeiro localiza-se a matriz financeira do

grupo.

No que se refere ao circuito espacial produtivo da SALINOR, o relato do

gestor da empresa evidencia semelhanças com o processo produtivo existente na

Indústria salineira Henrique Lages, afirmando que há três segmentos produtivos que

consomem o sal, sendo a indústria química e de transformação, o setor

agropecuário e a alimentação humana, num consumo semelhante ao destacado

pelo representante da Henrique Lages.

No que se refere à distribuição e circulação da produção, conforme ocorre

na Salinas Henrique Lage, a mesma direciona-se para o Mercado nacional, uma vez

que, desde 2013, a SALINOR não realiza exportações, concentrando sua produção,

portanto, para o consumo interno, uma vez que não houve excedentes de produção

desde então além da ampliação de necessidades do Mercado interno.

Apesar da não ocorrência de exportações desde o período supracitado, o

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251

gestor destacou que essas exportações da produção salineira, quando realizadas

pela Salinor, eram direcionadas para a Nigéria, Estados Unidos e alguns países da

Europa, como Portugal e Espanha, mais próximos ao Brasil.

Além disso, o administrador da SALINOR afirma que havia uma maior

compensação para o direcionamento da produção para o mercado interno,

ressaltando que, embora desde os anos 1970 não haja importações de sal no país,

não existiam grandes excedentes, sendo, portanto, a produção voltada para atender

o mercado interno.

Aprofundando ainda mais sobre o circuito espacial da produção salineira,

semelhante ao procedimento realizado na Indústria salineira Henrique Lage, há a

delimitação em duas grandes tipologias da produção, sendo uma destas o sal

grosso a granel, destinado basicamente à indústria química e de transformação,

sendo comercializadas a partir da página da SALINOR na rede mundial de

computadores – internet ou mesmo representantes comerciais localizados nos

principais mercados consumidores brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Ainda sobre o circuito espacial produtivo do sal a granel, no que se refere

aos fluxos relativos à distribuição e circulação da produção salineira, há o transporte

por caminhões, contratados a partir do escritório administrativo existente em

Mossoró, com parte dessa produção sendo distribuída por caminhões e outra parte

sendo direcionada para o fluxo marítimo, sendo embarcada no Porto-ilha de Areia

Branca.

No que se refere ao sal refinado e moído, direcionado ao consumo

humano e animal, segundo o gestor, os fluxos dessa tipologia produtiva salineira são

realizados a partir dos sistemas de movimento rodoviário, numa sistemática

semelhante à realizada pela salina Henrqiue Lages, demonstrada anteriormente.

Assim, as carretas são contratadas a partir de um sistema de pagamento

por fretes, realizando os fluxos necessários para a distribuição e circulação da

produção da SALINOR pelo país, tendo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,

Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia como os grandes mercados consumidores, os

quais possuem representações de revendedores da SALINOR nos mesmos, ou a

comercialização via rede mundial de computadores.

Também merece notoriedade, com relação aos objetos técnicos utilizados

para a produção salineira, e, portanto, relacionados ao consumo produtivo, a grande

dependência de Mossoró para a aquisição de insumos, como o iodo utilizado no sal

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destinado ao consumo humano, uma vez que a cidade de Macau, segundo relato do

gestor, não possui os objetos técnicos necessários para o beneficiamento salineiro,

enfatizando um consumo produtivo no espaço mossoroense.

E, conforme citado anteriormente, a estrutura administrativa, de circulação

e distribuição da SALINOR, são concentradas nos dois maiores centros urbanos

potiguares, enfatizando as operações na cidade Mossoroense, uma vez que a

Mossoró situa-se nas adjacências do porto-ilha, associada à notória existência de

sistemas de movimento rodoviário que ligam Mossoró aos diferentes pontos do

espaço consumidor salineiro brasileiro. E os caminhões, utilizados na distribuição e

circulação da produção salineira, são contratados na cidade Mossoroense.

Consolidando esta relevância dimensional produtiva especial de Mossoró

para a indústria salineira, destaca-se o consumo produtivo da indústria salineira

Henrique Laje, a partir da aquisição e manuntenção das máquinas, além de outros

insumos necessários para a produção, como as embalagens utilizadas para o

empacotamento da produção salineira, havendo estabelecimentos comerciais

mossoroenses específicos para o circuito produtivo em destaque.

Como observado na pesquisa realizada na Henrique Lages, a realização

de um questionário semi-estruturado amplia as possibilidades de obtenção de

maiores informações que reforcem o entendimento sobre a espacialização da

produção salineira. Assim, foi possível consolidar os dados secundários obtidos no

RAIS e na FIERN, no que se refere ao pessoal ocupado e à quantidade de

estabelecimentos indústrias diretamente ligados à produção salineira.

Dessa forma, foi reafirmada pelo gestor da SALINOR a informação obtida

na Henrique Lage, na qual se verificou que poucas corporações são responsáveis

pela produção salineira potiguar, enfatizando a monopolização e oligopolização

iniciada com o processo modernizador e mecanizador da produção salineira no

início da década de 1970.

Além disso, o gestor da SALINOR explicitou que, além da empresa onde

o mesmo trabalha e Henrique Lage, há apenas outras 4 indústrias existentes em

Macau, as quais possuem uma reduzida quantidade de funcionários, conforme

anteriormente proferido pelo gestor da Indústria Salineira Henrique Lage.

Sobre o quadro de funcionários, há uma confirmação dos dados

secundários obtidos na FIERN e RAIS, uma vez que, segundo o dirigente da

SALINOR, a empresa possui 290 funcionários, sendo apenas 110 envolvidos

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253

diretamente nas atividades laborais nas salinas, reflexo da notória mecanização.

Assim, após a devida solicitação e autorização da direção local, foram

aplicados 110 questionários, correspondendo à totalidade dos trabalhadores

diretamente relacionados à produção de sal na SALINOR no município de Macau,

além dos 90 trabalhadores ligados à produção salineira na Henrique Lage. A busca

por detalhar os trabalhadores diretamente ligados à produção salineira advém da

necessidade de compreender quais as mudanças na atividade laboral dos

trabalhadores salineiros, advindas a partir de uma produção salineira baseada na

modernização e mecanização salineira.

Ficou evidente, a partir da aplicação dos questionários na Henrique Lages

e SALINOR, que ocorreram notórias mudanças na estrutura de funcionamento das

empresas salineiras, a partir de uma nova divisão territorial do trabalho. Logo,

evidencia-se que Mossoró e Areia Branca concentram, além de uma notória

produção salineira, correspondendo a 37,3% e 12,6% do total de produção, as

atividades ligadas à distribuição e circulação da produção salineira, uma vez que os

dois municípios sediam 71% do total de indústrias salineiras potiguares.

E Macau amplia sua relevância na funcionalidade produtiva salineira

potiguar, uma vez que 36,8% do sal produzido no Rio Grande do Norte advém do

referido município, ao mesmo tempo em que apenas 10,7% das empresas

potiguares estão situadas na cidade, o que demonstra a ampliação da produtividade

das salinas macauenses após o processo de modernização e mecanização

salineira.

Assim, houve a corroboração dos dados secundários a partir dos dados

primários destacados acima, na pesquisa de campo, a aplicação dos questionários

com os trabalhadores salineiros, ampliou o entendimento sobre dados que não

estavam detalhados nas instituições acima citadas, em especial no que se refere às

condições de vivência dos trabalhadores no espaço produtivo salineiro macauense.

Dessa forma, os questionários, os quais estão nos anexos, ao final da

presente pesquisa, foram compostos por 15 perguntas. Inicialmente, buscou-se

obter um perfil basilar sobre o gênero dos trabalhadores salineiros, onde, apesar da

modernização e mecanização salineira, ainda há uma predominância masculina,

com as mulheres restritas a atividades de distribuição, como visto a seguir.

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254

Gráfico 4 – Gênero dos trabalhadores da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 5 – Gênero dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

Ainda sobre um perfil relativo aos trabalhadores, ressalta-se, no que se

refere à idade dos trabalhadores da SALINOR E Henrique Lage, há uma notória

participação de trabalhadores entre 41 e 50 anos, correspondendo a 38% do total de

na SALINOR e 36% na Henrique Lage, o que demonstra que muitos trabalhadores

já estão na atividade salineira há pelo menos 20 anos. No entanto, há o predomínio

de trabalhadores com idades entre 41 e 50 anos, correspondendo a 44% do total de

trabalhadores na SALINOR e 43% na Henrique Lages, como visto a seguir.

100%

MASCULINO FEMININO

100% MASCULINO

FEMININO

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255

Gráfico 6 – Idade dos trabalhadores da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 7 – Idade dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

No questionamento seguinte, relativo ao local de nascimento dos

trabalhadores salineiros, boa parte dos mesmos são oriundos do município de

Macau, correspondendo a 80% dos 110 operários da SALINOR, sendo obtido o

mesmo índice na Henrique Lages. Os 20% restantes estão distribuídos entre os

municípios de Natal, Porto do Mangue, Pendências, Galinhos e Guamaré, sendo

os quatro últimos adjascentes ao município macauense.

Esses números evidenciam uma grande presença de trabalhadores

macauenses no processo produtivo salineiro, numa evidente diferenciação frente

7%

44% 38%

11%

18-30 ANOS

31-40 ANOS

41-50 ANOS

51-60 ANOS

MAIS DE 60 ANOS

10%

43% 36%

11%

18-30 ANOS

31-40 ANOS

41-50 ANOS

51-60 ANOS

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256

ao quadro apresentado por Costa (1991), exposto anteriormente na presente

pesquisa.

O autor supracitado explicita que havia uma grande mobilidade de

trabalhadores salineiros de outros municípios potiguares, em especial os

adjascentes a Macau, para exercerem as atividades produtivas relacionadas à

produção salineira (COSTA, 1991), no período denominado na presente

pesquisa como “técnico rudimentar”. E sobre os dados relativos à origem dos

trabalhadores salineiros está mais detalhado no gráfico a seguir:

Gráfico 8 – Local de nascimento dos trabalhadores da Salinor

. Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 9 – Local de nascimento dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

80%

8%

5%

3%

4%

MACAU

PENDÊNCIAS

GUAMARÉ

NATAL

PORTO DO MANGUE

80%

8%

6% 4%

2%

MACAU

PENDÊNCIAS

GUAMARÉ

GALINHOS

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257

Um questionamento relativo ao número de moradores nas residências

dos trabalhadores salineiros, conforme observado nos gráficos 10 e 11, a seguir,

evidencia um predomínio de 4 moradores nas respectivas moradias dos

salineiros, com 47% do total de 110 trabalhadores da SALINOR e 48% dos 90

operários pesquisados na Henrique Lages.

Este conhecimento do número de moradores, conforme será

consolidado nos questionamentos a seguir, possibilita verificar se os

rendimentos fornecidos aos trabalhadores são suficientes para o atendimento

das necessidades básicas para a plena sobrevivência dos salineiros.

Gráfico 10 – Número de moradores nas residências dos trabalhadores da

Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

11%

26%

47%

16%

2 MORADORES

3 MORADORES

4 MORADORES

5 OU MAIS MORADORES

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258

Gráfico 11 – Número de moradores nas residências dos trabalhadores da

Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

Outro questionamento que possibilita compreender as condições de

vivência dos trabalhadores salineiros refere-se à propriedade das moradias dos

trabalhadores salineiros, descrito nos gráfico 12 e 13, a seguir, onde fica

evidente que 84% dos trabalhadores possuem residência própria.

Nesse aspecto, torna-se relevante demonstrar que a SALINOR, em

parceria com a prefeitura macauense e o governo federal, via financiamento da

Caixa Econômica Federal, constituiu um pequeno conjunto habitacional na

adjacência de sua indústria salineira, conforme descrito pelo gestor da empresa,

o qual resolveu boa parte dos problemas de habitação, pois o mesmo admite

que a renda dos mesmos não fosse suficiente para aquisição de uma casa. Tal

contexto também ocorreu na Henrique Lage, de acordo com o apurado pela

pesquisa de campo aqui descrita.

Essa situação evidenciada na pesquisa primária demonstra como o

estado é um grande agente capitalista, buscando, na situação em destaque,

constituir as maiores possibilidades para a reprodução do capital salineiro

macauense, a partir da constituição do conjunto habitacional e ainda pelo

financiamento habitacional, o qual gera dividendos advindos dos juros.

16%

23%

48%

13%

2 MORADORES

3 MORADORES

4 MORADORES

5 OU MAISMORADORES

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259

Gráfico 12 – Residências dos trabalhadores da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 13 – Residência dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

Consolidando essa compreensão relativa às condições habitacionais,

conforme será destacado no gráfico 14 e 15, a seguir, uma considerável parcela

dos trabalhadores salineiros possuem um tempo de moradia situado entre 6 e 10

anos. E outra considerável parcela, correspondente a 34% na SALINOR e 28%

na Henrique Lages, possui mais de 10 anos de moradia na atual residência.

Estes números possuem semelhanças com os dados relativos à idade

dos trabalhadores salineiros e o período em que os mesmos estavam em suas

respectivas funções laborais, destacados anteriormente.

84%

16%

PRÓPRIA

ALUGADA

82%

18%

PRÓPRIA

ALUGADA

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260

Gráfico 14 – Tempo de moradia dos trabalhadores da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 15 – Tempo de residencia dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

No que se refere à escolaridade dos trabalhadores salineiros,

conforme será observado no gráfico 16 e 17, a seguir, boa parte dos mesmos

possuem o Ensino Fundamental Completo e o Ensino Médio Incompleto ou

Completo.

Apesar de ainda existir 22% dos trabalhadores da SALINOR e 23%

dos operários da Henrique Lage possuirem o Ensino Fundamental Incompleto,

essa notória quantidade de trabalhadores com uma maior escolaridade

evidencia a necessidade da mesma para uma melhor compreensão da

respectiva operação dos equipamentos utilizados numa produção salineira

5%

17%

44%

34%

MENOS DE 1 ANO

1 A 5 ANOS

6 A 10 ANOS

MAIS DE 10 ANOS

5%

20%

47%

28% MENOS DE 1 ANO

DE 1 A 5 ANOS

6 A 10 ANOS

MAIS DE 10 ANOS

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261

modernizada e mecanizada.

Gráfico 16 – Escolaridade dos trabalhadores da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 17 – Escolaridade dos trabalhadores da Henrique Lages

Fonte: elaborado pelo autor

Outro aspecto destacado na pesquisa realizada refere-se à função dos

trabalhadores, destacada no gráfico 18 e 19, a seguir, onde evidencia que a

maior parte dos trabalhadores, correspondendo a 53% na SALINOR e 57% na

Henrique Lages, estão em atividades relacionadas à extração e produção

salineira, as quais necessitam de uma maior quantidade de mão-de-obra para a

operação de esteiras e outras máquinas com uma maior coordenação manual.

22%

44%

15%

16%

3%

ENSINO FUNDAMENTALINCOMPLETO

ENSINO FUNDAMENTALCOMPLETO

ENSINO MÉDIOINCOMPLETO

ENSINO MÉDIOCOMPLETO

ENSINO SUPERIORINCOMPLETO

23%

49%

10%

16%

2% ENSINOFUNDAMENTALINCOMPLETOENSINOFUNDAMENTALCOMPLETOENSINO MÉDIOINCOMPLETO

ENSINO MÉDIOCOMPLETO

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262

Os demais trabalhadores exercem funções relacionadas ao

empilhamento do sal e aos fluxos do referido produto após o processamento do

mesmo em direção aos caminhões, as quais são atividades que demandam

menor quantidade de mão-de-obra.

Sobre a qualificação, a atividade salineira possui grande exigência,

uma vez que as máquinas colheitadeiras e empilhadeiras do sal substituem o

trabalho de muitos homens e para operar essas máquinas, com a maior difusão

da modernização e mecanização salineira, com a difusão do meio técnico-

científico-informacional, há a exigência de maior qualificação.

O operador de colheitadeira deve trabalhar com o computador de

bordo da máquina, associado a noções basilares relativas ao entendimento do

Sistema de Posicionamento Global - GPS, associado aos conhecimentos de

mecânica, eletrônica e possuir muita habilidade para operar os comandos, o que

reforça a ampliação da relevância de uma maior escolaridade.

Gráfico 18 – Ocupação dos trabalhadores salineiros na Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

53%

14%

33%

EXTRAÇÃO/PRODUÇÃO

EMPILHAMENTO DO SAL

TRANSPORTE DO SAL AOSCAMINHÕES

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263

Gráfico 19 – Ocupação dos trabalhadores da Henrique Lage

Fonte: elaborado pelo autor

No que se referem aos direitos trabalhistas, todos os 110

trabalhadores atuantes na SALINOR e os 90 operários da Henrique Lage

possuem carteira assinada, conforme representado no gráfico 20 e 21, a seguir,

sendo uma realidade igualmente existente nas demais indústrias salineiras, de

acordo com as pesquisas realizadas.

Essa “obediência” às leis trabalhistas decorre do fato dos

trabalhadores possuírem maior escolaridade, o que leva os mesmos a

conhecerem melhor os seus direitos, de acordo com relatos dos mesmos.

Embora, durante os relatos na aplicação dos questionários, os

trabalhadores enfatizam que o sindicato salineiro possua maior atuação no

espaço mossoroense e areia branquense, onde se concentram a maior parte

dos trabalhadores salineiros, há maiores possibilidades, segundo esses

trabalhadores entrevistados, de difundir possíveis irregularidades no

cumprimento dos direitos trabalhistas por parte das corporações salineiras, o

que fortalece os trabalhadores, dado a maior difusão informativa do atual meio

técnico-científico-informacional.

Assim, a partir da aplicação dos direitos trabalhistas, as corporações

salineiras, além de assinarem a carteira dos trabalhadores, também pagam

salários fixos e cumprem a jornada de oito horas diárias, além de outros direitos

trabalhistas, como férias e o décimo terceiro salário, também de acordo com os

trabalhadores salineiros.

Apesar dessas melhorias trabalhistas se comparado ao período

anterior à modernização salineira, os trabalhadores destacam a exigência de

57%

13%

30%

EXTRAÇÃO/PRODUÇÃO

EMPLIHAMENTO DO SAL

TRANSPORTE DO SAL AOSCAMINHÕES

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264

maior qualificação, por parte das empresas, para as atividades laborais.

Gráfico 20 – Você, trabalhador da Salinor, possui carteira assinada?

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 21 – Você, trabalhador da Henrique Lage, possui carteira assinada?

Fonte: elaborado pelo autor

Ainda sobre os aspectos laborais, questionou-se a participação do

trabalhador da SALINOR e Henrique Lage na constituição da renda familiar,

conforme observado nos gráficos 22 e 23 a seguir.

Evidenciou-se que 71% dos trabalhadores da SALINOR e 80% dos

operários da Henrique Lages, são os únicos responsáveis pela renda familiar, o que

destaca a relevância da atividade salineira para o sustento de boa parte desses 200

trabalhadores e, consequentemente, para as atividades produtivas macauenses, pois

os dividendos obtidos pelos trabalhadores salineiros se tornam fluxos monetários na

100%

SIM

NÃO

100%

SIM

NÃO

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265

cidade.

Gráfico 22 – Participação na renda familiar do trabalhador da Salinor

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 23 – Partcipação do trabalhador da Henrique Lage na renda familiar

Fonte: elaborado pelo autor

Detalhando como se constitui a renda dos demais trabalhadores da

SALINOR e Henrique Lages que não são os únicos responsáveis pela renda familiar,

conforme representado abaixo nos gráficos 24 e 25, as esposas são fundamentais

nesse processo de constituição financeira, correspondendo a 69% do total,

realizando, no entanto, atividades laborais de baixa renumeração, como o artesanato

ou a comercialização de alimentos nas portas das casas, conforme constatado na

71%

29%

ÚNICO RESPONSÁVEL

CORRESPONSÁVEL

80%

20% ÚNICO RESPONSÁVEL

CORRESPONSÁVEL

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266

pesquisa de campo.

Os pais dos trabalhadores da SALINOR representam os 31% restantes

responsáveis pela renda familiar e alcançando 33% dos entrevistados na Henrique

Lages. E serão destacados, a seguir, os desdobramentos dessas informações nos

gráficos posteriores a serem apresentados.

Gráfico 24 – Quem são os outros responsáveis pela renda familiar - Salinor?

Fonte: elaborado pelo autor

Grafico 25 – Demais responsáveis pela renda familiar - trabalhadores Henrique

Lage

Fonte: elaborado pelo autor

Consolidando os questionamentos e gráficos anteriormente

apresentados, questionou-se se os trabalhadores salineiros possuíam outra

função renumerada. Tal questionamento ocasionou constrangimentos em alguns

69% 12%

19%

ESPOSA

MÃE

PAI

67% 11%

22%

ESPOSA

MÃE

PAI

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267

trabalhadores entrevistados, uma vez que os mesmos temiam que a SALINOR e

a Henrique Lage soubessem dessas atividades laborais paralelas.

Ao garantir que a presente atividade acadêmica, em sua pesquisa de

campo, não revelaria nominalmente os trabalhadores, obedecendo a critérios

éticos, os 110 salineiros na Salinor e os 90 operários da Henrique Lage,

responderam o questionamento, representado no gráfico a seguir, com 89% dos

trabalhadores da SALINOR e 91% dos operários da Henrique Lages afirmando

que não possuíam outro emprego, enquanto outros 11% dos funcionários da

SALINOR e 9% na Henrique Lages possuiam outras funções.

Gráfico 26 – O trabalhador da Salinor possui outro emprego?

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 27 – O trabalhador da Henrique Lage possui mais de um emprego?

Fonte: elaborado pelo autor

Ainda sobre os outros empregos exercidos pelos salineiros, os

gráficos 28 e 29, abaixo apresentados, evidenciam as outras funções laborais

11%

89% SIM NÃO

9%

91%

SIM NÃO

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268

exercidas pelos trabalhadores. Essas funções possuem baixa exigência de

qualificação, associada às mesmas possuírem ligações com uma precarização

laboral, pelo fato das mesmas, em diversas situações, não necessitarem registro

formal nas carteiras de trabalho dos trabalhadores salineiros na SALINOR e

Henrique Lage.

Dessa forma, 67% dos trabalhadores da SALINOR e 75% dos

operários da Henrique Lage que possuem mais de uma função laboral são

pedreiros, atuando nos finais de semana e outros períodos em que não estão

nas funções relativas à produção salineira. Os demais se delimitam entre

Assistentes de Serviços Gerais e Vigilância privada, conforme descrito nos

gráficos a seguir.

Gráfico 28 – Qual a função do trabalhador da Salinor no outro emprego?

Fonte: elaborado pelo autor

67% 8%

25% PEDREIRO

VIGILANTE

ASSISTENTE DESERVIÇOS GERAIS

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269

Gráfico 29 – Qual a função no outro emprego dos trabalhador da Henrique

Lage?

Fonte: elaborado pelo autor

Nos gráficos 30 e 31, destacados a seguir, há um maior detalhamento

da situação trabalhista dos salineiros que exerciam outras funções laborais,

onde 75% dos trabalhadores na SALINOR e Henrique Lages não possuíam

registro em suas respectivas carteiras de trabalho dessa outra atividade

trabalhista, sendo estes trabalhadores correspondendo aos que exercem

funções laborais de pedreiro e de vigilância.

E os demais 25% dos operários da SALINOR e da Henrique Lage

possuíam registro em carteira de sua função laboral além da salineira, com

todos estes trabalhadores exercendo a função de agente de serviços gerais,

como destacado na questão anterior.

75%

25% PEDREIRO

ASSISTENTE DE SERVIÇOSGERAIS

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270

Gráfico 30 – O trabalhador da salinor, que exerce outro emprego, possui

carteira assinada?

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 31 – O trabalhador da Henrique Lage, que exerce outro emprego,

possui carteira assinada?

Fonte: elaborado pelo autor

Consolidando as questões relativas às condições laborais dos

salineiros, questionou-se qual a renda média do trabalhador. Utilizando como

base o salário mínimo vigente em outubro de 2016, período em que ocorreu a

pesquisa, o qual correspondia a R$ 880,00, há apenas dois grandes grupos

salariais, com uma semelhança nos índices dos mesmos.

Dessa maneira, 52% dos trabalhadores da SALINOR e 53% dos

25%

75% SIM

NÃO

25%

75%

SIM

NÃO

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271

trabalhadores da Henrique Lage recebem apenas um salário mínimo, enquanto

48% dos salineiros recebem de 1 a 2 salários mínimos, num valor situado entre

R$ 881,00 a R$ 1.760,00 corroborando, assim, a semelhança no que se refere à

quantidade de trabalhadores salineiros que se situam nos dois grupos salariais.

Os valores reduzidos de rendimento dos trabalhadores se

assemelham em todas as salinas, uma vez que o sal tem um baixo valor

agregado, o que compromete um salário mais elevado para os salineiros

potiguares, segundo afirmação dos gestores das salinas.

No entanto, sabe-se que, no modo capitalista de produção, há

comumente a busca da maximização de lucros, o que leva maior redução

possível dos custos, o que inclui a mão-de-obra. E nesse processo de

transformação produtiva também merece notoriedade a modernização e

mecanização salineira.

Sobre os relatos dos trabalhadores entrevistados, entretanto, embora

não questionassem os valores salariais, admitiam informalmente que a

renumeração poderia corresponder de uma forma mais plena as necessidades

basilares, surgindo, assim, a busca de outras formas empregatícias, ou o

complemento de renda com os parentes e cônjuges, como observado

anteriormente.

Gráfico 32 – Qual a renda do trabalhador da Salinor?

Fonte: elaborado pelo autor

52% 48%

1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

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272

Gráfico 33 – Qual a renda do trabalhador da Henrique Lage?

Fonte: elaborado pelo autor

Aprofundando a compreensão relativa aos rendimentos dos

trabalhadores da SALINOR E Henrique Lage, questiounou-se ao salineiro sobre

a somatória monetária de sua renda na produção salineira e nas demais

atividades laborais, conforme será visualizado a seguir nos gráficos 34 e 35.

Assim, para boa parte dos trabalhadores, correspondendo a 89% dos

110 funcionários da SALINOR E 91% dos 90 operários da Henrique Lage, os

mesmos recebem rendimentos inferiores a 2 salários mínimos, sendo que 42%

dos trabalhadores da SALINOR e 50% dos servidores da Henrique Lage

possuem renumeração de apenas um salário mínimo.

Esse questionamento também evidenciou que apenas 11% dos

trabalhadores da SALINOR e 9%, na Henrique Lage, possuíam rendimentos de

2 salários mínimos, correspondendo monetariamente a R$ 1.760,00, superando,

assim, a renda advinda dos salineiros que se dedicam exclusivamente às

atividades laborais salineiras. Esses trabalhadores são os que possuem mais de

uma atividade laboral, exercendo as atividades de assistente de serviços gerais,

pedreiro e vigilante, conforme destacado anteriormente.

53

37 1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

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273

Gráfico 34 – Qual a renda do trabalhador da Salinor, incluindo o outro

emprego?

Fonte: elaborado pelo autor

Gráfico 35 – Qual a renda do trabalhador salineiro da Henrique Lage,

incluindo o outro emprego?

Fonte: elaborado pelo autor

Consolidando esta constituição relativa ao perfil do salineiro, a partir

da pesquisa de campo com os 110 trabalhadores da SALINOR e os 90 operários

da Henrique Lage diretamente envolvidos com a atividade produtiva salineira, o

último questionamento realizado aos salineiros relacionou-se ao rendimento do

trabalhador, juntamente com os rendimentos oriundos das atividades laborais

dos demais membros familiares.

42%

47%

11%

1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 SALÁRIOS MÍNIMOS

50% 41%

9%

1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 SALÁRIOS MÍNIMOS

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274

Assim, conforme fica evidente nos gráficos 36 e 37, a seguir, 53% dos

trabalhadores da SALINOR e 41% dos operários da Henrique Lage, possuem

renda familiar situada entre 1 a 2 salários mínimos, correspondendo

monetariamente a R$ 881,00 a R$ 1.760,00. Uma considerável porcentagem

dos salineiros, porém, possuem renda familiar de apenas um salário mínimo,

num valor monetário de R$ 880,00, correspondendo, portanto, a 36% do total

dos trabalhadores da SALINOR e 48% dos funcionários da Henrique Lage.

A renda familiar dos 11% dos trabalhadores da SALINOR e 8% dos

operários da Henrique Lages, correspondendo aos trabalhadores que possuem

mais de uma ocupação laboral, são superiores a 2 salários mínimos,

correspondendo, em cifras monetárias, a R$ 1.760,00.

Gráfico 36 – Qual a renda familiar do trabalhador salineiro?

Fonte: elaborado pelo autor

36%

53%

6%

3% 2%

1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS

3 SALÁRIOS MÍNIMOS

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275

Gráfico 37 – Qual a renda familiar do trabalhador salineiro da Henrique

Lage?

Fonte: elaborado pelo autor

E, consolidando o entendimento dos gráficos anteriores, ainda 2% dos

trabalhadores da SALINOR e 1% dos servidores da Henrique Lages possuem

uma renda de R$ 2.640,00, numa considerável discrepância frente aos

rendimentos das demais famílias que possuem o chefe das mesmas exercendo

atividades laborais salineiras.

Num comparativo da renda per capita familiar Macauense com a

renda obtida pelas famílias salineiras, de acordo com os dados do Censo

demográfico do IBGE (2010) e a pesquisa de campo aqui realizada, embora se

saiba que o salário mínimo, predominante entre os trabalhadores salineiros, não

seja o suficiente para o atendimento das necessidades basilares, esse

rendimento monetário obtido pelos trabalhadores salineiros e suas famílias,

conforme a pesquisa realizada com os trabalhadores da SALINOR e Henrique

Lage, além de diálogos com os representantes das corporações salineiras

macauenses, corresponde a uma renda superior a boa parte daquela obtida pela

população macauense, como será visto no gráfico a seguir.

Dessa maneira, evidenciando os dados advindos do Censo do IBGE e

destacando as informações dos 8.085 domicílios familiares existentes em Macau

obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica, 71% desses

domicílios familiares possuem uma renda inferior a 1 salário mínimo, destacando

48%

41%

8%

2%

1%

1 SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 SALÁRIOS MÍNIMOS

2 A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS

3 SALÁRIOS MÍNIMOS

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276

que 35% do total, correspondendo a 2.799 desses domicílios famíliares

possuem renda inferior a meio salário mínimo. E 2.920 domicilios familiares, ou

36% do total macauense, possuíam um rendimento mensal situado entre meio

salário e um salário mínimo (IBGE, 2010).

Com essa notória quantidade de domicílios familiares com

rendimentos inferiores a 1 salário mínimo mensal, os 29% restantes possuíam

notória relevância para a dimensão econômica regional de Macau, uma vez que

garantem as possibilidades de consumo no espaço macauense.

Assim, apenas 1.490 domicilios familiares, ou 18% do total

macauense, possuem rendimentos situados entre 1 e 2 salários mínimos, tendo

694 domicilios familiares salineiros situados nesse conjunto de renda (RAIS,

2016), ampliando, assim, a relevância da atividade salineira para as dinâmicas

produtivas macauenses, particularmente no que se refere ao setor terciário, pois

essa renda auxilia a dinamizar as atividades de consumo comercial e serviços.

Finalmente, apenas 11% dos domicílios familiares possuem renda

superior a 2 salários mínimos, com 9% ou 698 desses domicílios, sendo

referente a uma renda de 2 a 5 salários mínimos e apenas 178 domicílios

familiares, ou 2% do total macauense, com renda superior a 5 salários mínimos,

correspondendo, assim, à “elite” econômica municipal.

Gráfico 38 – Renda média familiar em Macau/RN

Fonte: IBGE, 2010.

Consolidando as discussões realizadas deste presente tópico, cabe

constituir uma breve síntese dos dados primários obtidos na pesquisa de campo,

35%

36%

18%

9%

2%

Até 1/2 salário mínimo

De 1/2 a 1 salárioMínimo

De 1 a 2 Saláriosmínimos

De 2 a 5 saláriosmínimos

Acima de 5 saláriosmínimos

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277

em especial buscando enfatizar outros relevantes fatores ainda não destacados.

Dessa maneira, a pesquisa primária, associada aos indicadores

obtidos na pesquisa secundária, evidencia as transformações e o

redimensionamento produtivo espacial macauense após a modernização e

mecanização salineira.

Assim, torna-se relevante evidenciar que, nesse processo, de acordo com

os dados secundários obtidos pelo RAIS (2016) e pela FIERN (2015), o Rio Grande

do Norte possui 76 estabelecimentos relativos à indústria extrativa do sal, com 6

desses situados em Macau. Apesar da reduzida concentração de estabelecimentos,

ficou evidente, na presente pesquisa, que a cidade de Macau possui 694 salineiros

na atividade, num total de 2524 trabalhadores que possuem carteira assinada,

demonstrando a relevância da indústria salineira para a geração de empregos

formais.

Ainda sobre esses dados secundários, a tabela 16, a seguir, evidencia

que, embora a atividade industrial salineira empregue uma menor quantidade de

pessoas que o setor terciário, a mesma, pelo nível salarial dos seus respectivos

trabalhadores, possui notória relevância nos fluxos monetários macauenses.

Essa relevância é destacada ao se observar que apenas 18% dos

domicílios familiares macauenses possuem rendimentos situados entre um e dois

salários mínimos e, conforme obtidos nos dados primários da pesquisa, os salineiros

contribuem para esses indicadores, uma vez que os gestores salineiros e os

respectivos trabalhadores das salinas pesquisados corroboraram esses dados.

Ainda sobre a referida tabela, a mesma evidencia que há 254 pessoas

empregadas em outras atividades do setor secundário, como a construção civil e as

indústrias de transformação. Entretanto, ressalta-se que esses trabalhadores estão

distribuídos entre 92 empresas, com uma média inferior a 3 trabalhadores por

estabelecimento, o que demonstra, além de uma reduzida empregabilidade, a menor

escala de funcionamento dessas empresas, conforme observado na pesquisa

primária, resumindo essas atividades a pequenas indústrias alimentícias e

microempresários que trabalham na atividade da construção civil.

O setor terciário possui uma maior empregabilidade, conforme se

evidencia na tabela 15. No entanto, por possuírem uma maior quantidade de

estabelecimentos, constata-se que os mesmos possuem uma estrutura de

funcionamento mais simplificada, pois a média de empregados não alcançando 2

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trabalhadores por estabelecimento.

Tabela 16 – Pessoal ocupado em Macau, segundo a atividade econômica

(janeiro a dezembro de 2016)

ATIVIDADE ECONÔMICA PESSOAS EMPREGADAS

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS

Agricultura, silvicultura, pecuária, extrativismo vegetal 348 19

“SETOR PRIMÁRIO” 348 19

Indústria Extrativa Mineral 694 6

Indústrias de transformação 154 42

Construção Civil 150 50

“SETOR SECUNDÁRIO” 998 98

Comércio 711 378

Serviços 467 294

“SETOR TERCIÁRIO” 1178 672

TOTAL 2524 791

Fonte: CAGED/RAIS, 2016.

Ainda sobre os dados secundários relativos à indústria salineira, destaca-

se, no que se refere ao Produto Interno Bruto do município, como fica evidente na

tabela 17, a seguir, um predomínio do setor secundário, correspondendo

basilarmente à indústria salineira, gerando 488 milhões de Reais em 2015, num total

de 914 milhões de Reais obtidos pela economia municipal em 2015, corroborando,

assim, os dados obtidos durante a aplicação de questionários com a Sra. Josy

Martins, então secretária de planejamento e desenvolvimento sustentável do

município.

Consolidando essa relevância da atividade salineira para o espaço

macauense, dos 10 maiores contribuintes do Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços – ICMS no Rio Grande do Norte, 2 estão localizadas em

Macau, sendo a Henrique Lage e a SALINOR. Assim, evidencia-se a relevância

da produção salineira para o espaço produtivo macauense e potiguar.

Tabela 17 – Produto interno bruto de Macau por setor, em 2015

SETOR ECONÔMICO VALOR (EM R$)

PRIMÁRIO 30.389.000

SECUNDÁRIO 488.322.000

COMÉRCIO E SERVIÇOS 356.450.000

IMPOSTOS 39.179.000

TOTAL 914.350.000

Fonte: IBGE, 2016.

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279

Aprofundando sobre a organização espacial salineira, também se

evidenciou, a partir das pesquisas realizadas, o redimensionamento espacial da

indústria extrativa salineira potiguar, em especial a partir da modernização e

mecanização da produção de sal.

Dessa forma, a cidade de Macau, anteriormente considerada o grande

centro produtor e distribuidor salineiro potiguar até a década de 1970,

redimensionam profundamente sua funcionalidade no circuito espacial produtivo

salineiro, com a cidade macauense se especializando na produção salineira,

com a distribuição e circulação ficando direcionadas para a cidade de Mossoró e

Areia Branca, com esta última possuindo o porto-ilha em seu território, o qual se

considera um relevante marco temporal e espacial nesse processo de

transformações da organização espacial salineira.

Todo esse contexto constitui a nova dimensionalidade produtiva

salineira, onde o meio técnico-científico-informacional amplia as possibilidades

de distribuição e circulação pelo território, uma vez que uma melhor “logística é

relevante no escoamento do produto final, principalmente porque as salinas, em

geral, estão muito distantes dos centros consumidores” (SANTOS, 2010, p.116).

Assim, o Terminal Salineiro de Areia Branca, também denominado Porto-

Ilha, destinado exclusivamente à exportação do sal oriundo das salinas do Rio

Grande do Norte, surge nesse contexto modernizador e mecanizador salineiro,

“buscando reduzir os custos produtivos, em especial para um produto com valor

agregado muito baixo” (SANTOS, 2010, p.116).

Embora esse fixo marítimo tenha sido edificado com fins exportadores,

esse baixo valor agregado, associado à grande demanda do mercado interno,

desestimularam as vendas internacionais do produto, conforme foi relatado

pelos gestores salineiros durante a pesquisa de campo. Dessa forma, embora o

faturamento seja reduzido, uma vez que ainda de acordo com os relatos, uma

carreta de sal com 40 toneladas gera faturamento médio de R$ 8.000,00, torna-

se mais viável a comercialização salineira no mercado interno, possibilitando

maior valor agregado e menores despesas com taxas alfandegárias.

Assim, o processo de distribuição e circulação salineira concentrou-se

no município mossoroense e em Areia Branca, possibilitando um maior acesso

aos sistemas de movimento rodoviário e aos sistemas de movimento marítimo,

reduzindo custos com o transporte salineiro, otimizando os fluxos de carga e

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280

descarga da produção salineira.

Ampliando essa concentração administrativa das indústrias salineiras

em Mossoró, segundo Santos (2010, p.108), outro relevante fator a ser

considerado refere-se “à consolidação da atividade salineira mossoroense em

termos de infraestrutura e incentivos fiscais, atraindo essas empresas a se

concentrarem administrativamente na cidade”. Assim, essa conjuntura de fatores

foi essencial para que a distribuição e circulação da indústria salineira se

concentrasse no espaço mossoroense e adjacências, como Areia Branca.

Nesse contexto, o redimensionamento produtivo salineiro se

consolidou, com Mossoró e adjacências, concentrando as atividades relativas à

distribuição e circulação salineira. Embora o espaço Mossoroense também

possua relevância na produção, evidenciou-se, a partir dos dados primários e

secundários obtidos, a relevância macauense para a produção salineira.

Essa relevância da atividade salineira para o espaço macauense,

conforme se visualizou durante a presente pesquisa, também ocasionou

modificações no mercado de trabalho, uma vez que a difusão do meio técnico-

científico-informacional ampliava a produção ao mesmo tempo em que reduzia

as necessidades de um maior contigente de trabalhadores. Nessas mudanças

do mercado de trabalho, evidenciou-se que as salinas mecanizadas demandam

menor quantidade de mão-de-obra em quantidade e maior em necessidades

de qualificação da mesma.

Assim, a SALINOR, maior empresa salineira macuaense, em toda a

sua estrutura produtiva e administrativa, possui 290 trabalhadores salineiros,

sendo que apenas 110 se dedicam exclusivamente para a produção, com os

demais 180 trabalhadores distribuídos entre as funções relacionadas às etapas

administrativas, de distribuição e circulação, num número mais reduzido que na

década de 1960, onde “apenas o processo de colheita empregava mais de 400

trabalhadores” (SANTOS, 2010, p.117).

Também merece destaque, nessa visualização da quantidade de

trabalhadores, a Indústria salineira Henrique Lages, a qual possui 241 salineiros,

desde a área administrativa a área produtiva, onde nessa há 90 operários. As

duas corporações salineiras se destacam por serem as maiores empregadoras

potiguares na atividade extrativa do sal, segundo os dados do RAIS/CAGED

(2016) e FIERN (2015), representando, conforme demonstrado nos dados

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281

secundários anteriormente explicitados, 35% da produção salineira potiguar.

Esses dados podem ser mais bem visualizados na tabela 18, a seguir,

onde também estão os dados de trabalhadores empregados nas demais

indústrias salineiras macauenses.

Tabela 18 – Distribuição dos trabalhadores salineiros em Macau

Indústria extrativa de sal

Número de trabalhadores

Localização

Salinor – Salinas do Nordeste S.A.

290

Macau/

Mossoró

Henrique Lage Salineira do Nordeste S/A

241 Macau/

Mossoró

Salina Dois Irmãos (Souto Irmão e Cia LTDA)

54 Macau

Salinas Soledade LTDA 52 Macau

BRASSAL Indústria Brasileira de Sal LTDA

29 Macau

Distribuidora Oceânica (DISTRIBUIDORA OCEÂNICA DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA)

28

Macau

TOTAL 694 -------

Fonte: CAGED/RAIS, 2016; FIERN, 2015.

Esses dados evidenciam, assim, a relevância da atividade salineira

para a economia macauense, com a referida cidade, a partir do processo de

modernização e mecanização salineira, se tornando relevante para a produção

salineira potiguar. No entanto, o espaço macauense passou por um processo de

multidimensionalidade produtiva, onde Macau ganha relevância dimensional

produtiva nacional, ao concentrar cerca de um terço da produção salineira, mas

uma reduzida dimensão produtiva regional, uma vez que a estrutura

administrativa salineira se concetra em Mossoró e adjacências, estagnando as

atividades terciárias locais.

Sobre essa relevância do terciário mossoroese, cabe ressaltar a

afirmação de Brito (1987, p.66), o qual reafirma que Mossoró “cria uma estrutura

de serviços e dinamização do comércio local, complementando atividades

econômicas entre Fortaleza e Natal para a região oeste potiguar”.

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282

E o processo de modernização e mecanização das salinas, a partir da

adoção de equipamentos que ampliem a produtividade, leva a uma

reestruturação nos sistemas técnicos de produção, “exigindo insumos e serviços

mais sofisticados para o processo produtivo” (SANTOS, 2010, p.117).

Nessa perspectiva, há ampliação do consumo produtivo nesse espaço

mossoroense, criando formas de consumo associado à produção, possibilitando

a plena realização das etapas do processo produtivo salineiro.

Assim, embora possua um reduzido conjunto de produtos necessários

para a produção salineira, como o iodo, as máquinas, ferramentas e

embalagens, dado o fato da atividade salineira possuir reduzido valor agregado,

torna-se fundamental a redução dos custos produtivos, com os fixos técnicos

existentes em Mossoró, como os sistemas de movimento rodoviário, facilitando a

aquisição e concentração de estabelecimentos comerciais destinados ao

abastecimento e consumo produtivo da atividade salineira.

E, durante a pesquisa de campo, os representantes da SALINOR e da

Henrique Lage detalharam alguns aspectos referentes ao consumo produtivo

salineiro, enfatizando a centralidade mossoroense para esse fim tão necessário

para a reprodução do circuito espacial de produção do sal.

Nessa perspectiva, aprofundando os componentes do consumo

produtivo salineiro em Mossoró, há estabelecimentos que comercializam as

peças para manutenção das máquinas utilizadas, destacando-se as esteiras, as

máquinas de refino do sal, as empacotadeiras, as embalagens para o

empacotamento do sal, além da máquina de costura automática para as

embalagens.

Sobre as máquinas com maior complexidade tecnológica, a cidade de

Mossoró possui representações comerciais, destacando-se, dentre essas

máquinas, as balanças, as escavadeiras, as caçambas, os tratores e as correias

e implementos das respectivas máquinas.

Essas representações são relevantes para intermediar as relações

comerciais entre as corporações salineiras e os fabricantes das referidas

máquinas, uma vez que as indústrias responsáveis pela fabricação dessas

máquinas estão situadas no Sul e Sudeste brasileiro são obtidas em geral nos

Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

No que se refere aos produtos químicos utilizados para a manufatura

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283

salineira, em especial o iodato de potássio e o ferrocianeto, com o primeiro

sendo necessário para que o sal seja utilizado na alimentação humana, também

são comercializados por representações das referidas indústrias, uma vez que a

origem dos mesmos também advém do Sul e Sudeste brasileiro.

Finalmente, no que se refere à prestação de serviços para a atividade

industrial salineira, embora não seja uma atividade mecanizada de alta

complexidade, as existências de diferentes fixos destinados à manutenção e

ampliação produtiva tornam-se fundamentais para a reprodução da mesma.

Assim, no atual meio técnico-científico-informacional, a fluidez

necessária para ampliação da produtividade depende igualmente dos fixos

existentes que possam garantir esses fluxos. Dessa forma, há oficinas

mecânicas, oficinas de soldagem e estabelecimentos comerciais relacionados à

eletricidade que atendem especificamente a atividade salineira.

É relevante destacar que alguns desses serviços, em especial em

indústrias salineiras menos adjacentes, como as macauenses, acabam sendo

realizados por trabalhadores destinados a essa função, particularmente serviços

com uma menor complexidade, como a manutenção dos veículos e máquinas.

Também é realizado nos estabelecimentos industriais salineiros o

abastecimento dos veículos utilizados na produção de sal, uma vez que até

mesmo as corporações menores possuem tanques com combustível destinado

para esse fim, buscando comprar esse combustível em maior quantidade e

reduzindo as despesas com essa relevante etapa produtiva.

E como já explicitado, na etapa relativa à circulação da produção

salineira, há uma terceirização, a partir dos fretes realizados pelos

caminhoneiros, que garantem os fluxos da produção salineira mossoroense para

o respectivo consumo industrial, agropecuário e da alimentação humana nos

demais pontos do espaço brasileiro, em especial o Sudeste e Centro-Oeste do

país.

Os demais serviços de conserto, em especial os mais complexos,

acabam sendo realizado em Mossoró, pelo fato do espaço urbano mossoroense

possuir as corporações e os serviços mais complexos que atendem aos anseios

de manutenção dos equipamentos utilizados pelas indústrias salineiras.

A partir da exposição desses dados primários no presente tópico,

associado aos dados secundários destacados nesse presente capítulo e nos

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284

capítulos anteriores, ficam evidentes as produndas alterações no espaço produtivo

salineiro macauense e potiguar.

Essas alterações são advindas do processo de modernização e

mecanização salineira iniciado na década de 1960 e aprofundado na década de

1970, com a edificação de relevantes fixos, como o Terminal Salineiro de Areia

Branca, associado à contrução de rodovias estaduais e federais, garantindo que o

produto salineiro obtivesse a fluidez necessária para a sua distribuição e circulação

pelo espaço brasileiro e a respectiva reprodução capitalista das corporações.

Sobre essas corporações, aliás, evidenciou-se o processo de

oligopolização e monopolização, aprofundado com a mudança normativa da antiga

lei de cotas, datada de 1940 e modificada ainda no final dos anos 1950, a qual

limitava o crescimento da produção salineira potiguar.

Com essa flexibilização no controle produtivo, associado à modernização

e mecanização salineira potiguar, ampliaram consideravelmente a sua produção,

tornando o espaço potiguar responsável por mais de 90% do total salineiro

produzido no país, possibilitando, juntamente com o apoio financeiro e estrutural

estatal, a monopolização da produção salineira no espaço norte-riograndense.

Aprofundando as considerações relativas ao espaço macauense, a

modernização e mecanização salineira ocasionaram mudanças no espaço produtivo

de Macau, com essas mudanças podendo ser mais bem compreendidas a partir da

multidimensionalidade, conceituação destacado por Haesbaert (2004).

A cidade de Macau amplia a sua relevância produtiva no espaço nacional,

com a produção salineira da referida cidade representando mais de 30% do total

nacional, ao mesmo tempo em que, dialeticamente, há uma considerável redução da

relevância macauense numa dimensão regional, com uma estagnação do setor

terciário e um maior direcionamento das atividades relacionadas a comércios e

serviços para o espaço Mossoroense, que, por sua vez, consolida sua relevância

regional no espaço potiguar.

Com a pesquisa de campo tornou-se plausível destacar estes aspectos,

uma vez que “é a realidade que delimita a multidimensionalidade de um território”

(HAESBAERT, 2004, p.117). Assim, a partir da obtenção dos dados primários, os

quais corroboraram os dados secundários e a pesquisa bibliográfica anteriormente

realizada, tornou-se plausível destacar o processo de multidimensionalidade

produtiva no espaço macauense, “pois ficou nitidamente delimitados quem usa,

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285

quem define e as relações internas e externas com o território” (HAESBART, 2004,

p.118), evidenciando as múltiplas escalas dimensionais produtivas nacionais e

regionais existentes no espaço macauense a partir da atividade salineira.

Portanto, a compreensão das etapas produtivas relativas ao circuito

espacial da produção salineira evidenciam as transformações no espaço produtivo

macauense, a partir do redimensionamento espacial pós-modernização e

mecanização salineira.

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286

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa, ao buscar compreender as transformações

espaciais macauenses nas dimensões regional e nacional, a partir do processo de

modernização e mecanização salineira, delimitou os eventos geográficos que

caracterizaram a evolução desta atividade produtiva, desde um período pré-técnico,

perpassando por um período técnico-rudimentar, o qual correspondeu ao apogeu da

formação urbana Macauense, até o atual período técnico-científico-informacional e

as respectivas transformações espaciais produtivas.

Como observado no decorrer da pesquisa, a produção de sal marinho

desde os primórdios da colonização do Brasil se concentrou principalmente nos

estuários dos Rios Mossoró-Apodi e Rio Assu-Piranhas, no Rio Grande do Norte,

além de, em menor escala, “nas adjacências da foz do Rio Jaguaribe, no Ceará e na

Lagoa de Araruama, no Estado do Rio de Janeiro” (DINIZ, 2013, p.197).

A produção de sal marinho no Brasil sofreu grande entrave que limitou

seu crescimento até o século XIX, em consequência dos embargos da Coroa

Portuguesa, a qual proibiu a produção da colônia em benefício dos produtores da

metrópole colonial. Esse embargo só foi suspenso no início do Século XIX, com a

vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808.

A partir da extinção do embargo e a independência política do país, ainda

no início do século XIX, a produção de sal marinho se desenvolveu rapidamente.

Embora houvesse produção salineira em alguns estados do litoral brasileiro, em

especial no Ceará e no Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte, dado os

condicionantes naturais, em especial relativos ao clima semiárido litorâneo, possuia

um evidente potencial para a produção de sal marinho nas salinas das planícies

flúvio-marinhas dos Rios Apodi-Mossoró e Piranhas-Assu. Entretanto, a produção

era advinda de pequenas salinas artesanais, num processo produtivo pré-técnico,

sem utilização de objetos técnicos mais sofisticados.

A partir da Concessão Roma, em 1889, a qual concentrou a produção

salineira em torno de um monopólio, liderada pelo empresário fluminense Antonio

Roma. Embora o processo monopolizador liderado pelo referido empresário não seja

de uma maior duração, indo até inicio da década de 1920, o mesmo constituiu um

marco temporal e espacial nas possibilidades de ampliação da produção salineira,

uma vez que há a adoção de objetos técnicos, embora ainda rudimentares, com um

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287

maior avanço técnico do que o existente no período anterior, caracterizando, assim,

a inserção da produção salineira num processo produtivo “técnico rudimentar”.

Assim, há uma ampliação da produção salineira potiguar, associada a

incrementos na estrutura espacial de Macau, centro urbano constituído nas

adjacências da planície fluvio-marinha do Rio Piranhas-Assu, a partir do

desenvolvimento da atividade salineira no século XIX.

Dessa forma, há um crescimento na dimensionalidade produtiva regional

da cidade de Macau, maior produtora de sal do Rio Grande do Norte e do país no

período, tornando a referida cidade o segundo maior centro urbano potiguar durante

a primeira metade do século XX.

O crescimento da produção salineira potiguar não foi ainda maior dado à

limitação produtiva realizadação por normatizações governamentais do Instituto

Brasileiro do Sal – IBS, o qual estabeleceu cotas de produção para o Rio Grande do

Norte. Assim, dada essa limitação normativa estatal, a produção salineira do Rio

Grande do Norte não ultrapassava 70% do total nacional, tornando plausível a

exploração da atividade salineira em outras regiões, como a Lagoa de Araurama, no

Rio de Janeiro e o extremo leste do litoral cearense.

Assim, no período supracitado, embora em escala produtiva inferior à

existente no território salineiro potiguar, era vantajosa uma maior produção no litoral

fluminense, por estar localizado “na região sudeste, principal consumidora de sal no

território brasileiro, no que se refere à alimentação humana e indústria química,

associado a maior facilidade de transporte para a grande região consumidora”

(DINIZ, 2013, p.198).

No final da década de 1950, há descontinuidade do sistema de limitação

da produção salineira por cotas, com a gênese da modernização e mecanização

salineira potiguar, a qual possui como marco temporal a ascensão da

Superitendência de Desenvolvimento Econômico do Nordeste - SUDENE, no ano de

1959, com a constituição desse órgão estatal objetivando o “desenvolvimento”

regional.

Entretanto, a constituição da SUDENE acabou beneficiando as classes

dominantes, com o apoio político e econômico estatal, aprofundando as

desigualdades em diferentes pontos do espaço Nordestino. Nesta perspectiva, o

processo de modernização desencadeado na industrialização nordestina serviu para

a reprodução do capital monopolista, em especial de origem internacional. Os

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288

mecanismos de incentivo à industrialização, com apoio estatal, aprofundaram este

contexto, concentrando a riqueza nas mãos de grupos privilegiados, estando,

portanto, distantes dos objetivos de promoção de maior incremento econômico

regional e redução das desigualdades sociais.

Embora tenha sido instituída uma “psicosfera” (SANTOS, 1996, p.76), a

partir de um discurso baseado na afirmação que a modernização produtiva

nordestina seria geradora de uma maior quantidade de postos de trabalho, os

investimentos estatais e do grande capital nacional e internacional levaram a uma

modernização das indústrias e atividades produtivas já existentes, como a indústria

extrativa salineira.

Além disso, a implementação de novas indústrias, com a utilização de

tecnologia altamente especializada, reduziu as necessidades de uma larga utilização

de mão-de-obra, num processo advindo da “redução de esforços a partir da difusão

técnica” (ORTEGA Y GASSET, 1963, p.31).

Ainda sobre a modernização e mecanização salineira, cabe ressaltar, de

acordo com Diniz (2013, p.199), que o “Rio Grande do Norte possuia áreas mais

propícias para a implantação da mecanização, uma vez que as planícies fluviais

tinham uma estrutura de solos mais favoráveis, além de territorialmente mais

extensas do que as demais áreas salineiras brasileiras”. Nessa perpectiva, há uma

progressiva redução da utilização dos espaços salineiros em outros estados,

associado à ampliação da produção salineira potiguar.

E no início da década de 1970, há o aprofundamento desse processo de

modernização e mecanização salineira, com eventos temporais e espaciais que

consolidaram essa concentração e monopolização da produção do sal no território

potiguar. Dentre esses eventos, o grande destaque foi a constituição do Terminal

Salineiro de Areia Branca, também conhecido como “Porto-ilha”, no ano de 1974.

A constituição desse fixo marítimo modificou consideravelmente as

relações espaciais relativas ao fluxo da produção salineira, a qual possuía, a partir

de então, condições mais favoráveis para a distribuição e a circulação do sal

potiguar pelo território brasileiro, particularmente o Sudeste, principal consumidor

alimentar e industrial de sal no Brasil.

A constituição desse fixo consolida a inserção da produção salineira

potiguar no meio técnico-científico-informacional, a partir do advento da

modernização e mecanização salineira potiguar, transformando o circuito espacial

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de produção do sal e as dinâmicas territoriais em diferentes escalas.

Essa dinâmica territorial permeia as várias etapas do processo produtivo

salineiro, desde a produção propriamente dita, passando pelo consumo na

alimentação ou como matéria-prima de várias indústrias, o circuito produtivo do sal,

a partir do processo modernizador, buscou aprofundar no território as condições

técnicas para a fluidez da produção.

Desta forma, para garantir esta fluidez ao processo produtivo, foram

instituidos objetos técnicos nos lugares para ampliar a circulação, exigências desse

período técnico–científico-informacional. Esses lugares, com funções específicas

para ampliar a fluidez, são acionados pelas indústrias salineiras potiguares para

consolidarem a espacialização do sal.

Assim, evidencia-se que a fluidez e a circulação “[...] se configuram como

um dos fundamentos do espaço” (SILVA JUNIOR, 2007, p.188), uma vez que os

lugares com seus objetos técnicos, representados pelas estradas de rodagem,

portos, pontos de telecomunicações, vias fluviais, asseguram a circulação e

concomitantemente imprimem valores nesses lugares.

Os diversos usos do território também se destacam na compreensão do

circuito espacial produtivo do sal. Da produção propriamente dita até ao consumo, a

atividade salineira configurou os seus usos no território potiguar de acordo com as

necessidades para a realização da espacialização da produção.

E isso ficou evidente, durante a constituição da presente pesquisa aos

serem identificados os lugares da produção propriamente dita, da circulação e

distribuição e do consumo. Desde os sistemas técnicos de movimento constituidos

para o trafego de caminhões salineiros, das barcaças para a circulação salineira, até

a identificação dos consumidores da produção pelo território brasileiro, a partir da

constituição de cartogramas, evidenciam os usos implicados pelo circuito espacial

de produção do sal.

Sobre os usos do território pelas salinas potiguares, evidenciou-se, no

que se refere aos fluxos relativos à distribuição e circulação produtiva salineira, uma

maior predominância do transporte rodoviário em relação aos outros sistemas de

transporte, levando a compreender que a espacialização do sal se dá cada vez mais

pelas rodovias, refletindo a fluidez estabelecida pelos governos brasileiros, desde a

segunda metade do século XX, tornando-se um problema nacional.

Conforme afirma Barat (2007, p.34) “no Brasil, o transporte de

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mercadorias e pessoas é essencialmente rodoviário”. E no caso da atual

espacialização do sal, o mesmo segue a conjuntura da fluidez do território brasileiro,

dada a mobilidade e flexibilidade dessa carga a ser transportada pelo território

nacional.

Embora ocorra uma notória diferença na quantidade de sal que pode ser

transportada pelos caminhões e barcaças, com os veículos do sistema de

movimento hidroviário e marítimo possuindo maior capacidade para o transporte,

evidencia-se uma maior frequência do uso de carretas para o transporte do sal e,

como observado na presente pesquisa, há numerosa quantidade de carretas

salineiras estacionadas nas entradas das corporações salineiras.

Esse predomínio do transporte rodoviário para o fluxo da produção

salineira, em meio às distintas formas de escoamento da produção, advém do fato

do sal “caracterizar-se por ser uma matéria-prima de baixo valor agregado, tanto na

forma a granel, quanto no refino, revelando o seu baixo custo de comercialização”

(FELIPE, 2002, p.228), possuindo acréscimo de valor devido ao tipo de transporte

usado para o escoamento e a distância do mercado consumidor.

Ainda sobre o baixo valor agregado do sal torna-se relevante ao

demonstrar que a atividade salineira potiguar, embora corresponda a uma das

maiores produções mundiais, possuiu um “valor reduzido de arrecadação, num

comparativo volume produzido e arrecadação pós-comercialização” (DINIZ, 2013,

p.201). Aprofundando essa discussão, o geógrafo Felipe (2002, p.229-230), afirma

que esta atividade possuía dificuldades em razão de “[...] os custos de transporte do

sal para o Centro-Sul brasileiro, região de maior consumo, retiram o poder de

concorrência desse produto estadual” (FELIPE, 2002, p.230).

As dificuldades de uma maior agregação de valor da produção salineira

relacionam-se com o modo de operação correspondente à circulação, uma das

etapas relacionadas à espacialização do sal. No Brasil a estruturação dos

transportes constituiu-se pelo planejamento estatal articulado com os interesses do

grande capital no espaço brasileiro, em especial a partir da segunda metade do

século XX, os quais aprofundaram os usos do sistema de movimento rodoviário em

detrimento de outros sistemas e modais de transporte.

No atual meio técnico-científico-informacional, a produção de bens e

serviços acabam transpondo as fronteiras regionais e nacionais, com a constituição

de sistemas técnicos para integrar as etapas produtivas, a partir de objetos como

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portos, estradas e pontes, “tornando o território uma condição para os diversos

momentos da espacialização da produção e integrando os territórios com suas

funções” (BARAT, 2007, p.22). No que se refere à produção salineira, esse contexto

deve ser compreendido como uma combinação de transportes que amplia o circuito

produtivo da atividade salineira potiguar, minimizando as concorrências, em especial

com a produção estrangeira.

Aprofundando sobre os objetos técnicos relacionados ao circuito produtivo

salineiro, enfatiza-se que as etapas do circuito produtivo do sal e os sistemas de

engenharias superpostos ao território são também concretizados com a virtualidade

e simultaneidade existente no atual período técnico-científico-informacional,

correspondendo aos circuitos de cooperação. Estes circuitos de cooperação são

mais evidentes nas páginas das grandes indústrias salineiras existentes na rede

mundial de computadores, as quais aprofundam as informações relativas à produção

e distribuição do sal, enfatizando os produtos e os respectivos consumidores.

Aprofundando este processo relativo aos circuitos de cooperação entre as

indústrias salineiras e os diferentes consumidores dispersos pelo território brasileiro,

também se destaca os escritórios regionais de representação das indústrias

salineiras, em diversos lugares do mercado consumidor do sal. A maioria das

corporações salineiras “possuem escritórios no centro-sul, destacando-se os

estados do Rio de Janeiro e São Paulo” (CARMO JUNIOR, 2006, p.119). Também

merece notoriedade a contratação de carretas para o transporte, num processo

popularmente denominado “fretes”, “os quais são articulados em pontos estratégicos

como os escritórios de cargas e agenciadores” (ROCHA, 2005, p.93).

E essa virtualidade do circuito produtivo do sal, característica de um dos

trinômios desse período histórico atual, os quais, além da técnica e da ciência,

abrange a informação, torna-se atualmente mensurável a partir da identificação dos

objetos geográficos que apresentam este conteúdo informacional.

Todos esses processos advindos da modernização e mecanização

salineira no território potiguar também ampliaram a monopolização e oligopolização

das atividades industriais, uma vez que as empresas de menor porte, com emprego

de técnicas mais tradicionais, advindas do periodo “técnico-rudimentar”, não

conseguiam competir com as indústrias salineiras modernas, as quais possuíam

largo acesso ao grande capital financeiro nacional e estrangeiro e mesmo aos

financiamentos estatais. Assim, esse processo torna o Rio Grande do Norte

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responsável por 90% da produção de sal marinho no Brasil.

Aprofundando o processo modernizador e mecanizador da produção

salineira macauense e potiguar, torna-se relevante refletir sobre as mudanças

dimensionais produtivas no espaço macauense, ponto central da presente pesquisa.

Conforme apontado na constituição da pesquisa e corroborado a partir

dos dados primários e secundários destacados, os quais auxiliaram

consideravelmente na compreensão da modernização e mecanização salineira no

espaço macauense, a difusão do meio técnico-científico-informacional ocasionou

profundas mudanças nas dimensões regionais e nacionais do espaço macauense.

O atual meio técnico-científico-informacional evidencia que o mundo é

uma totalidade em movimento. Assim, num mesmo espaço geográfico podem

coexistir esvaziamentos no que se refere a uma dimensão regional, adjacente à

região, mas, simultaneamente, uma ampliação da relevância e da dimensão

nacional e mesmo global, por lógicas territoriais exógenas ao espaço geográfico,

constitiuindo, assim, uma multidimensionalidade.

Esse contexto multidimensional se torna evidente em Macau, onde a

produção salineira, principal atividade econômica da cidade, a partir dos anos 1970,

sofreu transformações a partir da modernização e mecanização da extração do sal

marinho com a difusão do meio técnico-científico-informacional pelo território

macauense, alterando a divisão territorial do trabalho associado a um profundo

processo de desconcentração espacial, modificando a produção salineira e a

organização urbana de Macau.

Na dimensão regional produtiva macauense, evidenciou-se que as

transformações advindas da modernização e mecanização salineira a partir de um

modelo produtivo altamente concentrador de renda e de recursos, conduziram a

notórias consequências no espaço macaense.

Como destacado na pesquisa, as aquisições das pequenas e médias

salinas pelos grandes grupos ampliaram o processo modernizador. Além disso, os

grupos econômicos salineiros buscaram reduzir o custo operacional da produção, a

partir da reformulação do transporte da produção salineira, com a constituição de

novos objetos técnicos que facilitassem os fluxos da produção salineira, com as

grandes embarcações motorizadas, associada à construiução o Terminal Salineiro

de Areia Branca, também conhecido como Porto-ilha.

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Essas medidas destacadas, diretamente relacionadas à modernização e

mecanização salineira macauense, ocasionaram em notórias consequências no

mundo do trabalho, uma vez que, além da na nova divisão territorial do trabalho,

evidencia que a distribuição e a circulação são direcionadas para o porto-ilha de

Areia Branca e a adjascente cidade de Mossoró, a qual ampliou seus fixos

rodoviários, consolidando sua importância regional, como será visto adiante.

Assim, com esse direcionamento na distribuição e circulação da produção

salineira para Mossoró e cidades vizinhas, a partir da modernização e mecanização

salineira, há notórias consequências para o espaço produtivo macauense, uma vez

que categorias de trabalhadores até então existentes foram extintas, a partir da

redução na necessidade de mão-de-obra, ampliando o desemprego dos

trabalhadores salineiros, ocasionando transformações econômicas e sociais para o

espaço urbano macauense.

As alterações na estrutura de extração e transporte do sal transformaram,

assim, a partir da acelerada inserção do grande capital na produção salineira

potiguar, modificações consideráveis nas relações produtivas, com os trabalhadores

salineiros sendo notavelmente substituídos pelos modernos sistemas técnicos,

simbolizando as transformações ocorridas nos sistemas de produção e de circulação

do sal e a respectiva inserção macauense no meio técnico-científico-informacional

numa escala nacional e mesmo global.

E todo esse processo modernizador e mecanizador da produção salineira

desencadeou na estagnação na relevância dimensional regional macauense,

simbolizada pela estagnação comercial e dos serviços existentes na cidade, como o

encerramento das atividades de graduação presencial da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, no início da década de 1990 e da Agência Local da Receita

Federal, em meados dos anos 2000, a partir desse redimensionamento de suas

funções econômicas na dimensão regional potiguar.

Para minimizar este processo de desemprego dos trabalhadores

salineiros, medidas foram propostas, como o desenvolvimento da atividade

pesqueira por parte dos antigos trabalhadores das salinas, com o apoio estatal; a

conclusão da fábrica de barrilha, a qual possuía potencial para a geração de seis mil

empregos, além de outras centenas de postos de trabalho que surgiriam com as

fábricas advindas do beneficiamento salineiro, como as indústrias químicas; e as

possibilidades de empregos com o possível advento da produção petrolífera.

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Entretanto, estas possibilidades destacadas não lograram êxito. No que

se refere às possibilidades de exploração pesqueira, o estado, o qual seria o grande

fiador deste processo, não disponibilizou recursos e possibilidades técnicas para que

este processo ocorresse, além do escasso interesse do possível capital privado

nesta atividade, reproduzindo, inclusive, “as dificuldades existentes na produção

pesqueira no contexto nacional, a qual possui escasso apoio estatal” (BARROS,

2001, p.172).

Sobre a produção petrolífera, a mesma não gerou maiores recursos ou

dinamização econômica, pelo fato das operações técnicas e administrativas da

PETROBRAS se concentrar em Mossoró e Guamaré. Esse fato, associado à

produção petrolífera macauense ocorrer basicamente em alto mar, “reduziu as

possibilidades da atividade de extração do Petroléo em dinamizar ainda mais o

espaço urbano macauense” (CARMO JUNIOR, 2006, p.122).

E no que se refere à constituição da fábrica de barrilha, houve a falta de

intencionalidade do grande capital em constituir, no espaço macauense, indústrias

beneficiadoras do sal marinho e a respectiva transformação do mesmo em matéria-

prima para a indústria química, pois “não havia as condicionantes necessárias à

reprodução destas atividades econômicas, de acordo com as intencionalidades do

grande capital” (CARMO JUNIOR, 2006, p.124).

Desta forma, a não efetivação dessas atividades produtivas,

aprofundaram o processo segregador no espaço urbano macauense, pois alguns

trabalhadores salineiros e parte da antiga elite comercial macauense que habitavam

a área central, “luminosa” da cidade, tiveram profunda redução da renda

anteriormente existente a partir da atuação na produção e distribuição do sal,

passando a viverem na periferia, ampliando a população que vivia nestas áreas

segregadas.

Também merece notoriedade, nesse processo de redimensionamento

produtivo regional com o advento da modernização e mecanização salineira, a

estagnação na população urbana e total macauense, em especial no período

compreendido entre os anos de 1970 ao ano 2000, conforme destacado na

pesquisa, a partir da apresentação de dados secundários obtidos no IBGE, com

migração de uma parcela da população economicamente ativa para Natal e outros

pontos do espaço nacional, destacando-se as grandes cidades do centro-sul.

Assim, a modernização e mecanização salineira proporcionaram a partir

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dessas transformações produtivas espaciais, mudanças na dimensão espacial

regional macauense, com a estagnação de sua influência econômica regional,

particularmente nas atividades terciárias, as quais sofreram um redimensionamento,

concentrando suas ações e respectivos fluxos para as relações comerciais e de

serviços no espaço macauense.

Paralelo a esse processo de redimensionamento regional em Macau, a

cidade de Mossoró amplia sua relevância regional no espaço potiguar, “uma vez

que, juntamente com Natal, a cidade de Mossoró possui um papel relevante na

articulação espacial potiguar” (SANTOS, 2010, p.219).

Essa ampliação da relevância mossoroense no espaço produtivo potiguar

evidenciou-se “com o desenvolvimento da economia urbana mossoroense, a partir

da difusão de atividades como o Petroléo, a fruticultura e a indústria salineira, as

quais avançaram enormemente no espaço mossoroense após a década de 1970”

(SANTOS, 2010, p.219).

A constituição de relevantes fixos em cidades vizinhas, como o terminal

salineiro de Areia Branca, associado à constituição de rodovias federais como a

BR304 e BR 110, consolidaram a centralidade espacial e urbana de Mossoró sobre

as demais cidades da região.

A organização espacial urbana é uma das manifestações destas novas

dinâmicas econômicas, com Mossoró, a partir da constituição de fixos que

atendesse o incremento dos fluxos econômicos e sociais, aprofundando a

centralidade regional mossoroense em atividades econômicas, culturais, de lazer e

também os investimentos no setor púbico em saúde, educação, infraestrutura,

tornando-a um centro regional de atração de milhares de pessoas.

Assim, o grande capital “encontrou favorável centralidade interurbana,

que extrapola os limites municipais, representando um importante peso do papel

regional desta cidade, condizentes com as maiores possibilidades de circulação de

pessoas, dinheiro, mercadorias, informações e ordens” (SANTOS, 2010, p.220).

Na compreensão das transformações da indústria do sal marinho potiguar

com a modernização e mecanização salineira, Mossoró se insere num contexto de

uma região “produtiva” central para o capital, com os objetos técnicos e respectivos

fluxos direcionados a permitir e facilitar a reprodução do capital salineiro.

Essa centralidade mossoroense para a indústria salineira, além dos

anteriormente destacados fixos necessários para a fluidez da distribuição e

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circulação salineira, como as rodovias e o porto-ilha na adjascente Areia Branca,

associada à existência dos escritórios administrativos das indústrias salineiras no

espaço mossoroense, também é representada pelo consumo produtivo salineiro, o

qual é relevante para a reprodução da atividade salineira.

Assim, a existência de estabelecimentos que comercializam os insumos e

objetos técnicos específicos para a reprodução da atividade salineira os quais

servem não apenas para a produção salineira mossoroense, mas para toda a região

salineira potiguar, consolidam a delimitação e especialização de Mossoró como um

espaço produtivo salineiro, consolidando e beneficiando as grandes empresas

salineiras em utilizarem de Mossoró, Areia Branca e Grossos, como articuladores da

produção salineira potiguar e nacional, e centralizando a distribuição e circulação

salineira em sua dimensão espacial regional de influência.

Desta forma, Mossoró organiza economicamente “mais de 40 municípios

ao redor, dinamizando essa região em seu entorno, o oeste potiguar” (BRITO, 1987,

p.31). E essa articulação regional também influencia Macau, pois a produção

salineira macauense depende dos insumos comercializados em Mossoró para a sua

respectiva reprodução, constituindo, assim, o consumo produtivo da atividade

salineira macauense com a primordial contribuição do espaço comercial

mossoroense.

Paralelo à ampliação na dimensão econômica regional e nacional da

produção salineira mossoroense, a cidade de Macau consolida sua

multidimensionalidade, ao se evidenciar, a partir da modernização e mecanização

salineira, sua relevância numa dimensão produtiva nacional no que se refere à

produção salineira.

Apesar de Mossoró possuir a maior produção salineira potiguar, com

37,2% da produção nacional (FIERN, 2015), a produção macauense, com 36,8% do

total nacional, merece notoriedade, a partir da ampliação da modernização e

mecanização salineira macauense na década de 1970, com o advento do meio

técnico-científico-informacional.

Embora Macau, anteriormente, correspondia ao grande produtor salineiro

nacional até a década de 1960, reduzindo sua participação no total produtivo

regional, com a ascensão da produção salineira na planície flúvio-marinha do Rio

Apodi-Mossoró, a cidade macauense consolida, dialeticamente, sua relevância na

dimensão produtiva salineira nacional, uma vez que as duas maiores indústrias

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salinas brasileiras, a SALINOR e a Henrique Lage possuem suas plantas industriais

no município de Macau.

Essa consolidação da relevância macauense pode ser demonstrada nos

dados secundários, uma vez que no início dos anos 1970, anteriormente à

consolidação da modernização e mecanização salineira, o Brasil produzia 1,5

milhões de toneladas de sal.

Tal número, além de ter quadruplicado em 2015, alcançando mais de 6

milhões de toneladas, também era constituído em um cenário produtivo salineiro

oligopolizador e monopolizador, com o Rio Grande do Norte, sendo responsável por

mais de 90% da produção salineira nacional, num quadro mais concentrador do que

o existente na década de 1970, onde o estado potiguar representava cerca de 70%

da produção nacional (IBGE, 2015).

Nessa perpectiva, o Rio Grande do Norte amplia sua dimensão produtiva

nacional no que se refere à produção do Sal, com Macau possuindo uma dialética

estagnação na multidimensionalidade comercial regional e uma ampliação,

dimensional produtiva nacional, com a ampliação da produção salineira e da

participação da mesma no total de sal produzido no espaço brasileiro,

correspondendo, se considerada toda a planície fluvio-marinha do Rio Piranhas-

Assu, a 40% do total produzido no país, com a outra metade sendo produzida pela

Planície Fluvio-Marinha do Rio Apodi-Mossoró.

Apesar das mudanças na dimensão regional macauense, a partir da

estagnação das relações comerciais de Macau com os municípios vizinhos, após a

modernização e mecanização salineira, a pesquisa secundária, associada à

pesquisa bibliográfica, destacou que o setor terciário macauense, na atualidade,

possui uma tendência de incremento.

Esse incremento pode ser sintetizado a partir da constituição de novos

objetos técnicos, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte – IFRN, evidenciando uma ampliação da importância educacional

do espaço macauense, também influenciando em outras atividades do terciário,

inclusive no comércio regional, uma vez que o IFRN possui um fluxo diário superior a

1.000 pessoas em sua sede macauense.

Também merece destaque, a partir da pesquisa primária realizada com os

trabalhadores da SALINOR, maior indústria de sal marinho macauense e nacional,

com 110 salineiros diretamente relacionados à atividade, a relevância da renda

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obtida pelos mesmos para a dinâmica econômica macauense, uma vez que esses

servidores correspondem aos cerca de 20% de trabalhadores de Macau que

possuem rendimentos superiores a 1 salário mínimo (IBGE, 2010), constituindo,

assim, um considerável mercado consumidor.

Para consolidar as discussões realizadas na presente pesquisa,

evidencia-se que o processo de mecanização e modernização na produção do sal

marinho foi dialeticamente desigual e combinado, impulsionando o crescimento de

alguns espaços para a distribuição e circulação, ao mesmo tempo em que reduziu o

papel de outros espaços nesse processo produtivo, numa evidente

multidimensionalidade.

Assim, na multidimensionalidade produtiva macauense, embora a referida

cidade tenha uma estagnação em muitos setores relativos às suas dinâmicas

espaciais regionais, particularmente no comércio, Macau ganha importância na

produção salineira nacional, constituindo, assim “uma nova dimensionalidade

espacial, delimitada pelas transformações decorridas da realidade” (HAESBAERT,

2004, p.109).

Essa relevância dimensional produtiva nacional de Macau também é

evidenciada a partir da análise dos aspectos naturais para a produção salineira

potiguar, uma vez que a planície flúvio-marinha do Rio Piranhas-Açu “tem potencial

produtivo levemente superior que o litoral setentrional potiguar para a produção

salineira” (DINIZ, 2013, p.202).

Entretanto, a maior produção de sal marinho nos dias de hoje é registrada

na área da planície flúvio-marinha do Rio Apodi-Mossoró, a partir da constituição dos

objetos técnicos ali instalados, como o Porto-Ilha de Areia Branca, além da

centralidade dimensional regional econômica de Mossoró, a qual favorecia a uma

maior concentração do capital salineiro em Mossoró, articulando, além da produção

mossoroense, a distribuição e circulação salineira de toda a região salineira potiguar.

Mas essa situação de liderança da produção salineira na planície do Rio

Apodi-Mossoró pode sofrer modificações de aspectos físico-naturais, uma vez que

há “uma saturação nas áreas propícias para produção de sal na planície fluvial

do Rio Apodi-Mossoró, pois quase 95% delas já estão ocupadas e não tem mais

para onde expandir” (DINIZ, 2013, p.202).

Sobre essa especificidade natural do sal, a qual reforça a relevância

da planície do Rio Piranhas-Assu para a produção salineira, uma vez que essa

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área produtora ainda não está nessa situação, Santos (2010, p.119) afirma que

“a atividade possui uma produção mais extensiva, e, mesmo com a

mecanização em larga escala, a quantidade de sal produzida está diretamente

relacionada com a quantidade de terras disponíveis para a construção dos

tanques”.

Consolidando a presente pesquisa, buscou-se realizar uma análise da

mecanização e modernização salineira que compreendesse a realidade numa

perspectiva dialética, a partir da multidimensionalidade do espaço produtivo

macauense, o qual estagnou sua dimensionalidade produtiva terciária regional e

amplia consideravelmente sua dimensionalidade produtiva salineira nacional.

Também se torna perceptível a ampliação da centralidade mossoroense a

partir da modernização e mecanização salineira, com a ampliação da centralidade

de Mossoró como um dos maiores distribuidores de sal do estado, a qual, além de

situar numa área adajacente ao porto-ilha de Areia Branca, há uma convergência de

relevantes estradas estaduais e federais do estado, como destacado na presente

pesquisa.

Assim, sintetiza-se concluir que a maior produção de sal marinho do Brasil

se concentrar no Litoral Setentrional Potiguar não se deve a um fator isolado, mas à

interação complexa e dialética de condicionantes naturais associados aos fatores

socioeconômicos, notadamente a mecanização da produção, a instalação de fixos

que garantam os fluxos produtivos salineiros, como o Porto-Ilha e rodovias.

Portanto, a construção de uma análise que se privilegie a realidade e

possa superar a mera análise pragmática, demonstra a relevância da Ciência

Geográfica, como uma ciência social que analisa o mundo e seus respectivos

fenômenos a partir da compreensão baseada num sistema coerente de idéias, como

evidenciou Milton Santos, com a Geografia Nova, a partir do movimento renovador

dos anos 1970, sendo possível, assim, compreender efetivamente como a

modernização e mecanização das salinas se relacionaram com as transformações

do espaço produtivo de Macau/RN nas dimensões regionais e nacionais.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS FUNCIONÁRIOS DA SALINOR E HENRIQUE LAGE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA DOUTORADO EM GEOGRAFIA

DOUTORANDO: IAPONY RODRIGUES GALVÃO ORIENTADOR: PROFESSOR Dr. JOSÉ MENELEU NETO

NOME DO PESQUISADO__________________________________________ ENDEREÇO DO PESQUISADO______________________________________ 1. SEXO Masculino_________ Feminino__________ 2. IDADE________ 3. LOCAL DE NASCIMENTO Macau__ Outro Município. Qual?____________ 4.NUMERO DE MORADORES NA RESIDÊNCIA__ 5. RESIDÊNCIA Própria__ Alugada__ Cedida __ Outra__ 6.TEMPO DE MORADIA NA RESIDÊNCIA MENOS DE 1 ANO__ 1 A 5 ANOS__ 6 A 10 ANOS__ MAIS DE 10 ANOS__ 7. GRAU DE ESCOLARIDADE DO TRABALHADOR SALINEIRO Ensino fundamental incompleto___ Ensino fundamental completo___ Ensino médio incompleto___ Ensino médio completo___ Ensino superior incompleto___ Ensino superior completo___ Pós-graduação___ 8.OCUPAÇÃO NA SALINOR/HENRIQUE LAGE Trabalha apenas na produção e Extração___ Trabalha no empilhamento do sal___ Trabalha no transporte do sal até os caminhões___

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9.POSSUI CARTEIRA ASSINADA? SIM_____ NÃO_____ 10. PARTICIPAÇÃO NA RENDA FAMILIAR ÚNICO RESPONSÁVEL_______ CORRESPONSÁVEL (Há a participação de outros familiares) _____ 11. QUEM SÃO OS OUTROS RESPONSÁVEIS PELA RENDA FAMILIAR? Filho_____ Esposa______ Mãe_______ Pai_______ Outros_______ 12. TRABALHA EM MAIS DE UM EMPREGO? SIM____ NÃO_______ 12.1. QUAL?_______________________ 13. POSSUI REGISTRO EM CARTEIRA DESTE OUTRO EMPREGO? SIM_____ NÃO______ 14. QUAL A SUA RENDA? Menos de 1 salário mínimo___ 1 a 2 salários mínimos___ 2 a 3 salários mínimos___ 3 a 4 salários mínimos___ 4 a 5 salários mínimos___ Mais de 5 salários mínimos___ 15. QUAL SUA RENDA, INCLUINDO O OUTRO EMPREGO, SE TIVER? Menos de 1 salário mínimo___ 1 a 2 salários mínimos___ 2 a 3 salários mínimos___ 3 a 4 salários mínimos___ 4 a 5 salários mínimos___ Mais de 5 salários mínimos___ 16. QUAL A RENDA FAMILIAR? Menos de 1 salário mínimo___ 1 a 2 salários mínimos___ 2 a 3 salários mínimos___ 3 a 4 salários mínimos___ 4 a 5 salários mínimos___ Mais de 5 salários mínimos__

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APÊNDICE B – ENTREVISTA CONCEDIDA PELA SECRETARIA DE

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MACAU, EM

27.10.2016.

Iapony Galvão - Qual a relevância da atividade salineira em Macau?

Secretária Municipal – A atividade salineira sempre foi importante para a cidade. É bem

verdade que a atividade salineira passou por uma crise nos anos 1970, quando muitas

empresas foram definitivamente transferidas para Mossoró e Areia Branca, e muita gente

por aqui ficou desempregada, mas Macau busca retomar a dinâmica econômica que existia

anteriormente com a atividade salineira.

Iapony Galvão - Sabemos que o sal potiguar abastece todo o Brasil e gera divisas para o

município. Você tem idéia de quanto gera em recursos para o município?

Secretária Municipal – Sabemos que realmente há essa importância para o estado a

produção de sal, embora poderia gerar muito mais lucro do que gera hoje. Sabe-se que

Macau é responsável por cerca de 35% dos mais de 6 milhões de toneladas de sal

produzidos anualmente no Rio Grande do Norte e, consequentemente, no Brasil, pois nosso

estado produz 9,5 em cada 10 quilos de sal no país. Mas ainda há muitas dificuldades no

escoamento, basicamente terrestre. Preferiram concentrar tudo em Areia Branca e Mossoró.

Aqui basicamente produz sal, mas a distribuição e comercialização ficam concentradas em

Areia Branca, Mossoró e Natal. Em 2015, os quais são os dados mais recentes, dos 914

milhões de reais do PIB de Macau, mais da metade, 488 milhões de Reais, advém da

Indústria salineira.

Iapony Galvão – Como a prefeitura tem aplicado estes recuros advindos com a produção

salineira?

Secretaria Municipal – Nós sabemos que a produção salineira possui influência em outros

setores, como os serviços, os quais geraram uma renda superior a 356 milhões de reais no

PIB de 2015. A pavimentação de ruas, acordos com o governo estadual e federal para a

melhoria das vias, como a BR 406, nossa única rodovia federal, são algumas das

contrapartidas do município frente às necessidades que a indústria salineira possui. Mas

sabemos que ainda necessitamos realizar mais melhorias, com os 39 milhões de reais

arrecadados em impostos e 875 milhões ficam para as empresas.

Iapony Galvão - E quantos empregos diretos e indiretos são gerados?

Secretaria Municipal – Há a geração de 750 empregos, entre diretos e indiretos, o que

impacta bastante uma cidade com um pouco mais de 28 mil habitantes. Diretamente, pelos

nossos dados, são quase 250 pessoas que trabalham nas Salinas e outras 500 são

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beneficiadas indiretamente. Ainda há 500 funcionários que atuam nas empresas, em seus

escritórios de Areia Branca, Mossoró e Natal.

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APÊNDICE C – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DIRETOR GERAL DA SALINOR –

SALINAS DO NORDESTE S/A NO RIO GRANDE DO NORTE, EM 28.10.2016.

Iapony Galvão - Qual a função desse escritório da SALINOR – Salinas do Nordeste S/A na

capital do Estado do RN? É a mesma função do escritório que esta localizada no Estado do

Rio de Janeiro?

Diretor da SALINOR – No RJ está a administração geral da empresa, onde fica a sede da

empresa. Em Natal e MOSSORÓ ficam escritórios regionais da empresa que tem função de

representação da empresa.

Iapony Galvão - Sabemos que a Indústria SALINOR abastece tanto o mercado nacional

quanto internacional. Assim, quais as regiões do Brasil são abastecidas pela indústria

SALINOR? E sobre o mercado internacional, quais países compram a produção salineira da

Indústria SALINOR? Voltando ao mercado nacional, quais são as indústrias ou empresas

que compram o sal do nosso estado? O senhor possui dados que possa ajudar na

compreensão acima exposta?

Diretor da SALINOR – Tanto a Salinor quanto as demais empresas salineiras do estado

abastecem todo o território nacional de sal em seus três segmentos: indústria de

transformação, consumo humano e consumo animal. As exportações se limitam aos

excedentes de produção, sendo muito raras. Quando ocorrem, o que já não acontece desde

2013, os países importadores são basicamente: Nigéria, Estados Unidos e alguns países da

Europa, como Portugal e Espanha, mais próximos ao Brasil. É mais compensador o

Mercado interno e a nossa produção é suficiente, felizmente. Desde os anos 1970 não

importamos sal aqui no Brasil, mas também não há grandes excedentes. Ou seja: é

suficiente apenas para o Mercado interno.

Iapony Galvão - Sr. Airton Torres, devido à amplitude do mercado salineiro, quais são as

formas de escoamento da produção para abastecer a demanda nacional e internacional? E

qual dessas formas tem mais vantagem para a indústria salineira SALINOR? O senhor tem

posse de dados sobre essa situação acima exposta?

Diretor da SALINOR – O escoamento da produção do estado se faz da seguinte forma: a)

sal grosso granel, destinado basicamente à indústria nacional e à exportação, pelo Terminal

Salineiro de Areia Branca; b) sal refinado e moído (consumo humano e animal), por carretas

contratadas por fretes. Não existem alternativas de escoamento que permitam optar-se por

outro eventualmente mais vantajoso.

Iapony Galvão - Como é realizada a forma de contratação dos transportes (caminhões)

para essa função?

Diretor da SALINOR – As carretas são de terceiros e as contratações, via de regra, são

feitas individualmente.

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Iapony Galvão - A produção salineira do estado do RN é comercializada de várias formas,

ou seja, comercializada tanto na forma a granel quanto empacotada. O Senhor poderia

explicar essas formas de comercialização?

Diretor da SALINOR – Como já foi mencionado temos o sal grosso a granel, destinado às

indústrias e à exportação que são comercializadas diretamente junto aos compradores e

embarcadas pelo Terminal salineiro de Areia Branca. Quanto ao sal refinado e moído são

comercializados por extensa rede de vendedores e distribuidores espalhados pelo país

inteiro e embarcadas por carretas.

Iapony Galvão - O senhor tem conhecimento de quantas indústrias salineiras existe no

território do Estado do RN? E no município de Macau? Quais são elas?

Diretor da SALINOR – No estado existem cerca de 25 grandes indústrias produtoras de sal

sem contar com os empreendimentos familiares de pouco produção. Em Macau existem

umas 6 empresas produtoras de sal, sendo duas grandes: Henrqiue Lage e Salinor. As

outras 4, dado a mecanização e a produção menor delas frente a nossa, só possui 20

funcionários, no máximo, embora uma delas seja uma pequena representação da F.Souto,

grande industria salineira de Mossoró. A nossa possui 290 funcionários, incluindo os que

trabalham em escritórios de Mossoró e Natal.

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APÊNDICE D – ENTREVISTA CONCEDIDA PELO DIRETOR GERAL DA HENRIQUE

LAGE, NO RIO GRANDE DO NORTE, EM 31.10.2016.

Iapony Galvão - Sr. Erivaldo de Souza, como funciona administrativa mente a Henrqiue

Lage?

Diretor da Henrique Lage – Embora seja uma empresa de capital italiano, a administração

salineira está completamente concentrada no RN. Temos escritórios operacionais em

Macau e Mossoró, e nossa sede administrativa fica em Natal.

Iapony Galvão - Sabemos que a Henrique Lage alcança mercados nacionais, e mesmo

internacionais. Assim, quais as regiões do Brasil são abastecidas pela indústria Henrique

Lage? E sobre o mercado internacional, quais países compram a produção salineira da

Indústria Henrique Lage? Voltando ao mercado nacional, quais são as indústrias ou

empresas que compram o sal do nosso estado? O senhor possui dados que possa ajudar

na compreensão acima exposta?

Diretor da Henrique Lage – Posso garantir que a Henrique Lage abastece o Mercado

brasileiro, correspondendo a mais de 10% da produção nacional, se aproximando de 1

milhão de toneladas anuais, das cerca de 6 milhões de toneladas produzidas anualmente

pelo Brasil, o que coloca o nosso país entre os 10 grandes produtores mundiais. Somos a

segunda maior empresa nacional e atuamos fortemente em Macau. Dado o grande Mercado

brasileiro, há poucas exportações, que, quando ocorrem, são para os Estados Unidos,

Nigéria, Espanha e Portugal.

Iapony Galvão - Quais são as formas de escoamento da produção para abastecer a

demanda nacional e internacional? E qual dessas formas tem mais vantagem para a

indústria salineira HENRIQUE LAGE? O senhor tem posse de dados sobre essa situação

acima exposta?

Diretor da Henrique Lage – O escoamento da produção do estado se faz da seguinte

forma: a) sal grosso a granel, destinado basicamente à indústria nacional e à exportação,

pelo Terminal Salineiro de Areia Branca; b) sal refinado e moído (consumo humano e

animal), por carretas contratadas por fretes. O refinado e moído possui este escoamento,

pois os grandes consumidores, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande

do Sul, Bahia, Goiás e Paraná, estados populosos e com grande consumo salineiro. Assim,

escoar por estradas, terceirizado o escoamento da produção, é mais vantajoso. Durante a

década de 1990 chegamos a escoar 30% da nossa produção via marítima, mas saia muito

caro, sendo melhor o uso dos caminhões.

Iapony Galvão - Como é realizada a forma de contratação dos transportes (caminhões)

para essa função?

Diretor da Henrique Lage – As carretas são de terceiros e as contratações, via de regra,

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são feitas individualmente. São 500 carretas mensalmente, com uma media de 40 toneladas

em cada, distribuídas entre Macau e Mossoró, que possui mais vantagens, por ficar entre as

rodovias BR 304 e, principalmente, a BR 110, que vai até a Bahia, levando a produção para

o sudeste.

Iapony Galvão - A produção salineira do estado do RN é comercializada de várias formas,

ou seja, comercializada tanto na forma a granel, quanto empacotada. O Senhor poderia

explicar essas formas de comercialização?

Diretor da Henrique Lage – Há o sal grosso a granel, destinado às indústrias e,

esporadicamente, a exportação, comercializadas junto aos compradores pela internet,

telefone e embarcadas pelo Terminal salineiro de Areia Branca. Como já explicado, o sal

refinado e moído são comercializados por vendedores nos esxritórios de Macau e Mossoró

e distribuidos no restante do país via rodovias, a partir do uso de carretas.

Iapony Galvão - O senhor tem conhecimento de quantas indústrias salineiras existe no

território do Estado do RN? E no município de Macau? Quais são elas?

Diretor da Henrique Lage – No Rio Grande do Norte há 25 a 30 grandes indústrias

produtoras de sal, mas no total há mesmo 76 indústrias salineiras, Segundo dados que eu

tenho de 2015, quando a FIERN lançou nossa estrutura no atlas da indústria potiguar. As

outras 45 a 50 indústrias menores são empreendimentos com menos de 30 funcionários,

uma vez que as máquinas utilizadas reduzem a necessidades de muitos funcionários. Aqui

em Macau há 6 indústrias, sendo a nossa e a Salinor as maiores da cidade e do estado,

além da F.Souto, pequena aqui, mas grande no cenário estadual. Nossa indústria possui

241 funcionários, juntando os três escritórios, com cerca de 150 funcionários, e aqui na

salina, temos uns 90, sendo a segunda maior empregadora salineira potiguar, inferior

apenas à Salinor.