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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

    ReitoRJos Jackson Coelho Sampaio

    Vice-ReitoRHidelbrando dos Santos Soares

    editoRa da UeceErasmo Miessa Ruiz

    conselho editoRialAntnio Luciano Pontes

    Eduardo Diatahy Bezerra de MenezesEmanuel ngelo da Rocha Fragoso

    Francisco Horcio da Silva FrotaFrancisco Josnio Camelo Parente

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  • 1a Edio

    Fortaleza - CE

    2017

    Maxmiria Holanda BatistaMarselle Fernandes Fontenelle

    Mariana Aguiar Alcntara de Brito Carlos Victor Leal Aderaldo

    (Organizadores)

    TRABALHO E SADE:DESDOBRAMENTOS E DESAFIOS

  • TRABALHO E SADE: DESDOBRAMENTOS E DESAFIOS

    2017 Copyright by Maxmiria Holanda Batista, Marselle Fernandes Fontenelle, Mariana Aguiar Alcntara de Brito e Carlos Victor Leal Aderaldo

    Impresso no Brasil / Printed in BrazilEfetuado depsito legal na Biblioteca Nacional

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    Editora da Universidade Estadual do Cear EdUECEAv. Dr. Silas Munguba, 1700 Campus do Itaperi Reitoria Fortaleza Cear

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    Editora filiada

    Coordenao EditorialErasmo Miessa Ruiz

    Fotografia da CapaMiguel . Padrin

    Diagramao e CapaNarcelio Lopes

    Reviso de TextoEdUECE

    Ficha Catalogrfica Meirilane Santos de Morais Bastos - CRB-3/785

    T758 Trabalho e sade: desdobramentos e desafios / Maxmiria Holanda Batista... (Coordenadores). Fortaleza, CE: EdUECE, 2017. Bibliografia 312p. ISBN: 978-85-7826-535-9

    1. Trabalho e sade. I. Fortenelle, Marselle Fernandes. II. Brito, Mariana Aguiar Alcntara. III. Aderaldo, Carlos Victor Leal.

    CDD: 361

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    APRESENTAO

    O livro Trabalho e sade: desdobramentos e repercusses sur-ge num momento oportuno, onde ambas categorias so revisitadas aps um perodo de relativa vocao social que as atrelava aos pro-cessos de identidade, bem-estar e qualidade de vida.

    Tanto o trabalho como a sade so dimenses que se consti-tuem a partir de diversos olhares, o que se coaduna perfeitamente com a ideia dos desdobramentos contido no ttulo. Superando as-pectos restritivos, as categorias denotam a potencialidade da inter-disciplinaridade como processo de aproximao da realidade. Vimos de um perodo onde a repercusso dessa multiplicidade de olhares garantia diversos ngulos de pensar e investigar a relao entre o tra-balhar, como categoria antropohistrica e a sade, como categoria biopsicossocial, onde emergiria o prprio sujeito contemporneo.

    Os textos aqui apresentados trazem um panorama amplo de aspectos relativos sade ocupacional, mas revelam tambm desa-fios na abertura de novos horizontes de atuao e apontam para a multiplicidade de ambientes e atividades onde o trabalho e a sade se articulam e produzem uma ressignificao do trabalhador.

    possvel ver, a partir da leitura dos textos, que o cotidiano de quem labuta se revela pelos afetos, mas tambm pelas dores e sofrimentos que configuram a ao, independente da formao, do nvel de qualificao, do espao de atuao ou do tempo dedicado ao seu agir.

    As diversas formas de pensar o trabalho e o lugar que o mesmo exerce no delineamento da sociedade, tm impacto na relevncia que essa relao de bem-estar ou sofrimento, derivado de uma dada ocupao, adquirem no plano poltico, social e econmico. Se ao princpio do sculo XX era o corpo, em sua dimenso orgnica,

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    o grande depositrio das preocupaes do campo da sade, ratifi-cando a vinculao com o modelo de organizao produtiva preva-lente, a saber o taylorismo-fordismo, o final do sculo promoveu a ascenso da dimenso psquica, revelada como prioridade a partir da emergncia da acumulao flexvel advinda com a reestruturao produtiva.

    As experincias aqui relatadas, entretanto, demonstram que no houve uma superao da primeira dimenso pela segunda, mais certo seria conjecturar que houve uma superposio entre ambas, conduzindo a complexificao do saber que aproximava trabalho e sade.

    Um trao interessante revelado no conjunto de textos aqui re-unidos sua diversidade de contextos, ressaltando que a atividade analisada e a representao que cada trabalhador constri na rela-o com seu ato de produzir exercem papel preponderante na com-preenso do que pode lhes causar sofrimento ou potencialidade de vida.

    Cada captulo tambm revelador de uma ao compreendida na dimenso do trabalho e expe cada uma das experincias sob a lgica de uma produo onde cada autor imprime sua marca e dialeticamente se recria no ato de escrever seu texto. Seu conjunto , entretanto, mais profundo que a configurao de contribuies isoladas. um rico conglomerado de vivncias e pesquisas que ga-nham potncia pela fora do coletivo.

    justamente no coletivo, preservando as singularidades de cada produo, que reside a fora da iniciativa dessa publicao.

    Infelizmente, no momento onde a obra torna-se pblica e aces-svel, vivemos a conjuno de fatores que tm um impacto bastante negativo sobre as duas categorias basilares atravs das quais se arti-culam os textos: a sade e o trabalho. As artimanhas econmicas, polticas e miditicas, somam-se na tentativa de barrar avanos que

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    comeavam a ser consolidados na dimenso da garantia de um m-nimo bem-estar. As perdas das garantias laborais e as consequncias sobre a sade do trabalhador so propostas como caminho natural para sada da nossa situao de crise, uma crise que certamente no foi fomentada pelo trabalho, mas pelos interesses escusos que o ca-pital alimenta diante de sua prpria ganncia.

    Atravs da banalizao do sofrimento dos trabalhadores algu-mas das evidncias levantadas pelas pesquisas tendero a ser tomadas como intrnsecas s atividades que aqui so investigadas e, portanto, devero ser reconhecidas como componentes da vida laboral. Cami-nhvamos para uma compreenso de que cada uma das ocupaes que inspiraram os autores em seus respectivos trabalhos geravam possibilidades de risco queles que as executam e, por isso mesmo, deveriam ser devidamente reconhecidas e enfrentadas, atravs de in-tervenes propiciadas pelos estudos desenvolvidos.

    Apesar do temor de um retrocesso, o esforo do trabalho rea-lizado atravs da consolidao das pesquisas aqui publicizadas sur-gem como sopro de esperana que nos fazem eleger os estudos do campo do trabalho e sade como obra de resistncia. No pode-mos submergir diante da crise, trabalhando... sem agirmos critica-mente, estaremos retrocedendo no caminho j trilhado. Os textos aqui publicados so exemplo vivo de que trabalhar revelar sade e possibilitar formas dignas de enfrentamento a essa simplificao do discurso.

    Cassio Adriano Braz de Aquino

  • SUMRIO

    1. A VIVNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO ENTRE PORTURIOS .10Isaac Bastos de Andrade, Regina Heloisa Maciel, Tereza Glaucia Rocha Matos, Luciana Maria Maia, Marselle Fernandes Fontenelle.

    2. CONDIES DE SADE OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES DA LIMPEZA URBANA ............................................................................ 33Amlia Romana Almeida Torres, Jos de Ftima Arajo, Antnio Rodrigues Ferreira Junior, Francisca Alanny Arajo Rocha.

    3. CONDIES DE SADE E DE TRABALHO EM MADEIREIROS DE UMA REA PORTURIA NA REGIO AMAZNICA ............................ 46Emanoely Castelo Gouveia, Helencarla dos Santos Ferreira, Maria Virgnia Filgueiras de Assis Mello, Zlia Maria de Sousa Arajo Santos e Anneli Mercedes de Crdenas

    4. CONDIES DE TRABALHO E RISCOS OCUPACIONAIS EM AGEN-TES DE COMBATE S ENDEMIAS. ......................................................... 60Antnio Rodrigues Ferreira Junior, Amlia Romana Almeida Torres, Francisca Thalita Santana de Morais e Alanny Arajo Rocha. ..........................................................................

    5. ESTILO DE VIDA DE TRABALHADORES E O RISCO DA HIPERTEN-SO ARTERIAL ......................................................................................... 77Zlia Maria de Sousa Arajo Santos, Helder de Pdua Lima, Mirna Albuquerque Frota, Paula Dayanna Sousa dos Santos, Maria Vieira de Lima Saintrain e Janaina da Silva Feitoza Palcio.

    6. ESTRESSE E QUALIDADE DE VIDA EM DOCENTES DE UMA ESCO-LA DA REDE PBLICA DE ENSINO....................................................... 95Francisco Jairo Gonalves dos Santos, Maxmiria Holanda Batista, Christina Cesar Praa Brasil, Anna Karynne da Silva Melo, Marselle Fernandes Fontenelle, Mariana Aguiar Alcntara de Brito.

    7. OBESIDADE MRBIDA E TRABALHO: VIVNCIA DE HOMENS NO PR-OPERATRIO DE CIRURGIA BARITRICA................................ 114Vanina Tereza Barbosa Lopes da Silva, Marilene Calderaro Munguba, Carminda Goersch Lamboglia, Ana Paula Antero Lbo, Carlos Antnio Bruno da Silva.

    8. ODONTOLOGIA DO TRABALHO: UMA NOVA REA DA SADE OCUPACIONAL ...................................................................................... 131Aldo Angelim Dias, Paulo Leonardo Celestino, Paulo Leonardo Ponte Marques e Sandy Kaena Soares de Freitas.

  • 9. PREVALNCIA DA SNDROME DE BURNOUT EM PROFESSORES FI-SIOTERAPEUTAS DE UMA INSTITUIO DE ENSINO SUPERIOR ...153Luclio Oliveira Loureno, Andra da Nbrega Cirino Nogueira, Ismnia de Carvalho Brasileiro, Cleoneide Paulo Oliveira Pinheiro, Antnio Brazil Viana Jnior e Denilson de Queiroz Cerdeira.

    10. PREVALNCIA DE ALGIAS DA COLUNA EM CARTEIROS MOTORI-ZADOS ..................................................................................................... 164Daniela Maria Silva Maia, Ismnia de Carvalho Brasileiro, Eriza de Oliveira Parente, Cleoneide Paulo Oliveira Pinheiro

    11. PROCESSO DE TRABALHO DOS CONSELHEIROS TUTELARES QUE INFLUENCIA NA SADE DO TRABALHADOR .......................... 190Samira Valentim Gama Lira,Luiza Jane Eyre de Souza Vieira, Tamires Feitosa de Lima, Virna Piera dos Reis Carvalho e Vernica Maria da Silva Mitros.

    12. REFLEXES SOBRE O TRABALHO DOCENTE NA CONTEMPORA-NEIDADE ................................................................................................ 207Rosita de Lina Paraguass

    13. RELAO ENTRE TRABALHO E SADE MENTAL NA ATENO BSICA: REFLEXES, DESAFIOS E POSSVEIS INTERVENES .... 227Mariana Ramalho de Farias, Jos Jackson Coelho Sampaio, Jacques Antnio Cavalcante Maciel e Lucianna Leite Pequeno.

    14. RISCO SADE DO TRABALHADOR DE UMA FBRICA DE CHA-PU NA ZONA NORTE DO CEAR: ESTUDO DE CASO .................... 246Cleoneide Paulo Oliveira Pinheiro, Samy Loraynn Oliveira Moura, Francisco Antonio da Cruz Mendona, Germana Maria da Silveira, Marcelo dos Santos Feitoza, Francisco Rosemiro Guimares Ximenes Neto e Rafaelle Pereira Lima.

    15. SADE PSICOLGICA NOS CONTEXTOS DE TRABALHO: A PO-LCIA MILITAR DO ESTADO DO CEAR .........................................260Ldia Andrade Lourinho, Fbio Rodrigues Paulino, Ana Maria Fontenelle Catrib, Maria Salete Bessa Jorge, Fbio Rodrigues Paulino, Cristiane Sales Leito e Maxmiria Holanda Batista

    16. VNCULOS ORGANIZACIONAIS E SADE DO TRABALHADOR: REFLEXES SOBRE UMA INTERVENO JUNTO A LIDERANAS DO SEGMENTO DE CONSTRUO CIVIL ................................................ 282Mariana Aguiar Alcntara de Brito, Carlos Victor Leal Aderaldo, Marclia de Oliveira Simeo e Maria Alessandra Soares de Sousa

    SOBRE OS AUTORES ............................................................................ 305

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    Captulo 01

    A VIVNCIA DE ACIDENTE DE TRABALHO ENTRE PORTURIOS

    Isaac Bastos de AndradeRegina Heloisa Maciel

    Tereza Glaucia Rocha MatosLuciana Maria Maia

    Marselle Fernandes Fontenelle

    1. INTRODUO

    O mercado internacional, com suas exigncias de produtividade, somadas a uma economia extremamente competitiva, favoreceu uma reestruturao produtiva em escala mundial que alia os avanos tecno-lgicos a novas modalidades organizacionais e de gesto de trabalho, incluindo o transporte de mercadorias e, nesse contexto, os portos.

    Dentre outras aes, visando melhorar sua posio no compe-titivo mercado internacional, o Brasil iniciou um processo de rees-truturao dos portos, que culminou em um novo ordenamento jurdico-organizacional, chamado Lei de Modernizao dos Portos (BRASIL, 1993). As razes que provocaram a reestruturao dos portos brasileiros foram as mesmas que levaram pases como o Chi-le, os Estados Unidos e a Argentina a tomarem essa iniciativa, an-terior deciso do Brasil. A modernizao dos portos brasileiros ocorreu como resposta insero do pas no processo de globaliza-o da economia, caracterizada pela intensificao do comrcio, da competio internacional e pelas mudanas tecnolgicas no proces-

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    so de transporte martimo. Tal processo envolveu investimentos em tecnologia e mudanas na gesto do trabalho, que incluem opera-es privadas, modernizao de equipamentos e procedimentos, au-mento na produtividade e reduo de custos (MEDEIROS, 2005). Mais recentemente, a Lei n 12.815/2013 (BRASIL, 2013) revogou a lei anterior, estabelecendo novos critrios para explorao e arren-damento para a iniciativa privada de terminais de movimentao de cargas em portos pblicos, bem como novas regras que facilitam a instalao de novos Terminais de Uso Privado (TUPs). As leis de modernizao porturia acarretaram mudana nas relaes de traba-lho. No caso dos TUPs, a lei flexibilizou essas relaes, favorecendo as prestadoras de servio porturio de tal forma que pudessem gerir a mo de obra, se utilizando de alternativas que viabilizassem a re-duo de custos e maior competitividade (BRITTO et al., 2015).

    A nova configurao da organizao do trabalho decorrente da modernizao dos portos, embora tenha reduzido alguns riscos sade do trabalhador, devido s inovaes tecnolgicas, trouxe outros riscos ocupacionais e agravos sade. Soares et al. (2008) ressaltam que, como reflexo da reestruturao capitalista, o ritmo de trabalho nos portos se intensificou aps a modernizao e que essa reestruturao modifica a maneira de realizar o trabalho com respeito sua organizao e controle, podendo acarretar problemas de sade e acidentes de trabalho.

    Os trabalhadores porturios relatam ser o trabalho que rea-lizam muito desgastante, pois exige grande concentrao, fora, ateno, preocupao com a tarefa, com o ambiente e, principal-mente, com os demais membros da equipe (DIGUEZ, 2009). Os principais riscos percebidos pelos trabalhadores do porto do Rio Grande, no Rio Grande do Sul (SOARES et al., 2008) vo desde condies fsicas inadequadas e equipamentos inapropriados at fa-tores relacionados gesto do trabalho. Os autores concluem que o

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    trabalho porturio , em geral, realizado em um contexto insalubre e perigoso, onde interagem velhos e novos riscos. Cezar-Vaz et al. (2014) levantaram os principais diagnsticos de doenas ocupacio-nais de trabalhadores desse mesmo porto, concluindo que as afec-es consequentes a acidentes de trabalho se sobressaem, com uma alta incidncia em relao aos outros diagnsticos. Em outro estudo realizado no mesmo porto (SOARES et al., 2007) foi investigado o uso de drogas pelos trabalhadores porturios, concluindo-se que 94,7% dos trabalhadores do porto so usurios de lcool e 77,3% so usurios de maconha. Estes resultados so preocupantes e indi-cativos de condies precrias de trabalho e vida.

    Em relao ao trabalhador porturio foram tambm relatados problemas relacionados ao sono em razo de jornadas alternadas e duplas, bem como trabalho em turnos (SOARES et al., 2008; HANSEN; HOLMEN, 2011). Alm disso, os novos ritmos de tra-balho, que em muitas situaes so determinados por exigncias externas ao trabalhador, podem acarretar estresse (CARDOSO; PA-DOVANI; TUCCI, 2014).

    Cavalcante et al. (2005) analisaram os riscos da profisso do estivador do porto do Mucuripe em Fortaleza. O estudo foi baseado na aplicao de 60 questionrios e os resultados mostraram que os principais problemas de sade inerentes profisso de estivador so os distrbios osteoarticulares (hrnia de disco e desgastes na arti-culao do joelho) e metablicos (diabetes e hipertenso arterial). Os autores concluem que os riscos no so decorrentes apenas do trabalho, mas refletem as condies de vida desses estivadores. Ob-serva-se que esta investigao no se aprofundou em outros tipos de doenas e sintomas indicativos das condies precrias de trabalho, como o fez Soares et al. (2008).

    legtimo supor que esses riscos contribuem para a ocorrncia de acidentes de trabalho no contexto porturio. Essa relao foi es-

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    tudada por Bourguignon e Borges (2006) ao analisarem as Comu-nicaes de Acidentes de Trabalho (CAT), arquivadas no sindicato dos trabalhadores porturios do Esprito Santo. A anlise mostrou um aumento do coeficiente de acidentes de trabalho a partir das mudanas relacionadas primeira Lei de Modernizao dos Portos (1993). Segundo os autores, a reestruturao produtiva provocou uma reduo dos postos de trabalho devido s inovaes tecnol-gicas e administrativas. Os componentes das equipes em menor nmero podem acarretar um aumento do risco no trabalho, pois o desgaste fsico avaliado como um dos elementos que pode provo-car problemas de sade e incidentes. Alm disso, o ganho por pro-duo constitui uma forma de presso que provoca a acelerao da produtividade, trazendo como consequncia um aumento da fadiga que, aliado com os demais riscos ocupacionais, podem potencializar a ocorrncia de acidentes e doenas ocupacionais.

    As condies de trabalho e outros aspectos relacionados ge-rncia dos riscos do trabalho porturio so estabelecidos pela Norma Regulamentadora 29 (NR-29), (MTE, 2001). A NR-29 estabelece uma srie de diretrizes de segurana e sade referentes aos trabalha-dores que exercem atividades no contexto porturio e apresenta me-didas obrigatrias com o intuito de prevenir os acidentes e doenas do trabalho. Esta norma foi elaborada a partir da constatao de que o trabalho porturio implica em risco vida e sade dos trabalha-dores. No entanto, como ocorre com as demais NRs, as condies mnimas de segurana previstas na norma, no garantem ambientes de trabalho totalmente livres de riscos e, no Brasil, nem sempre as instncias de fiscalizao e controle estabelecidas funcionam ade-quadamente. Alm disso, as NRs, seguidoras das abordagens tra-dicionais da medicina e segurana do trabalho, muitas vezes no alcanam a complexidade da multicausalidade dos acidentes e doen-as do trabalho (SOARES; CEZAR-VAZ; SANTANNA, 2011).

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    A falta de fiscalizao e a complexidade do fenmeno so fato-res que podem concorrer para responsabilizar os trabalhadores nos casos de acidentes. Esse aspecto parece ser sugerido no estudo de Lu e Shang (2005), baseado na reviso dos relatrios sobre acidentes porturios, que indica que mais de 50% dos acidentes ocorridos em vrios portos do mundo so atribuveis aos trabalhadores.

    Fabiano et al. (2010) advogam que, em relao modernizao porturia, como em outras atividades industriais, os avanos tecno-lgicos podem levar a melhorias na produtividade e nas questes de sade e segurana, mas no necessariamente ao mesmo tempo e em todas as situaes. Na pesquisa foram analisados os acidentes porturios ocorridos no Porto de Genova (Itlia) de 1980 a 2006, tomando o cuidado de no levar em conta exclusivamente os relatos oficiais. Aps a anlise, concluram que o aumento na utilizao de contineres e a consequente mudana na infraestrutura porturia para as atividades de embarque e desembarque desses volumes, que denotam o incremento da tecnologia e consequente modernizao porturia, tambm trouxeram modificaes no nmero e caracte-rstica da fora de trabalho, com uma diminuio de quase cinco vezes no nmero de trabalhadores e um aumento de pessoal sem experincia, de 28% a 74%. Alm disso, o aumento significativo de trabalhadores jovens, sem experincia nas operaes porturias de manuseio de contineres e das novas tarefas relacionadas a esse manuseio, levou a um aumento dos agravos sade relacionados ao trabalho. No porto estudado, houve um aumento no risco de aci-dentes de 13,0 para 29,7 (acidentes por 100.000 horas trabalhadas).

    No caso especfico do estado do Cear, h dois portos que aten-dem demanda de comrcio porturio. O primeiro e mais antigo tem sua mo de obra administrada pelo rgo Gestor de Mo de Obra (OGMO) e no segundo, um terminal porturio, as atividades so geridas por operadoras credenciadas. Neste ltimo, a prestao

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    de servios feita por meio de empresas denominadas Prestadores de Servios Operacionais que se utilizam de mo de obra prpria e de contratos individuais de trabalho por tempo indeterminado (MEDEIROS, 2005).

    Em relao aos acidentes ocorridos nos portos estudados, esta-tsticas fornecidas pela Superintendncia Regional do Trabalho do Estado do Cear1, apontam um aumento no nmero de acidentes entre os anos de 2010 a 2012, de 12 para 25 acidentes, respecti-vamente, sendo um desses, ocorrido em 2011, fatal. Os acidentes de trabalho, sendo fatais ou no, so situaes traumticas para os trabalhadores vitimados, familiares, e seus colegas que geralmente esto expostos a riscos semelhantes.

    Tende-se a culpabilizar o prprio trabalhador pelo acidente ocorrido, esquecendo-se as causas relacionadas ao ambiente de tra-balho e s mquinas e equipamentos, bem como organizao do trabalho (VILELA; IGUTI; ALMEIDA, 2004). Essa atribuio de culpa, geralmente resguarda empresas e profissionais de segurana, da sua aceitabilidade social (JACKSON-FHILO et al., 2013). As-sim, as metodologias tradicionais de anlise dos acidentes no levam em conta uma srie de fatores que esto por trs da ocorrncia de acidentes e tampouco as consequncias destes para os trabalhadores e suas famlias.

    importante ressaltar que poucos acidentes derivam apenas de uma causa e, na maioria das vezes, as investigaes visam identificar e distribuir a culpa, nem sempre levando em conta a perspectiva dos trabalhadores envolvidos. No caso do contexto de anlise deste estudo, o trabalho porturio, a situao agravada pela carncia de estudos e publicaes cientficas sobre os acidentes de trabalho (SOARES et al., 2008).

    1 SUPERINTENDNCIA REGIONAL DO TRABALHO DO ESTADO DO CEAR. Fortaleza, 2013. Comunicao pessoal.

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    Considerando as discusses possveis a partir das pesquisas apresentadas e tendo como base a realidade especfica de porturios do estado do Cear, com enfoque na experincia do acidente de trabalho, este estudo se prope a investigar as vivncias de um grupo de trabalhadores, vtimas de acidentes de trabalho. Busca-se, com isso, verificar a percepo desses trabalhadores sobre as causas dos acidentes nos portos e suas consequncias para a sade e condies de vida desses indivduos.

    2. METODOLOGIA

    A pesquisa realizada caracteriza-se como qualitativa, explorat-ria, com a realizao de entrevistas narrativas episdicas (MURRAY, 2007).

    Participantes:Os participantes da pesquisa foram acessados por meio da tcnica de bola de neve, que per-mite a escolha dos participantes por meio de referncias feitas pelas pessoas que compar-tilham ou conhecem outras que possuem as caractersticas de interesse da pesquisa. Esse mtodo usado principalmente em estudos qualitativos com populaes que no esto em tanta evidncia. A seleo do primeiro participante da pesquisa se deu por meio da indicao de um representante sindical e, em seguida, os demais foram sendo indicados pelos trabalhadores j entrevistados.Os critrios de incluso foram ser trabalha-dor porturio e ter sofrido algum tipo de acidente, recente ou no. Foram entrevista-dos um total de quatro trabalhadores aci-dentados no terminal porturio do estado, seguindo-se a tcnica de ponto de saturao

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    para delimitar o nmero de participantes. A tabela 1 mostra as principais caractersticas scio demogrficas desses participantes.

    Tabela 1 Caractersticas dos trabalhadores acidentados que participaram da pesquisa.

    Trabalhador Idade Sexo Tempo de Servio (anos) FunoGrau de

    InstruoT1 36 M 4 Vistoriador de

    ContinerEnsino Mdio

    T2 35 M 10 Conferente de ptio

    Ensino Mdio

    T3 31 M 1 Auxiliar de Operaes

    Ensino Mdio

    T4 33 M 6 Supervisor de Manuteno

    Ensino Fundamental

    Fonte: Dados de pesquisa

    2.1 Tcnica de coleta de dadosPara a coleta dos dados, foi utilizada a entrevista episdica

    (MURRAY, 2007; SANTOS; OSTERNE; ALMEIDA, 2014). O foco dessas entrevistas foi a descrio da experincia do acidente. Para isso foi elaborado um roteiro de entrevista com perguntas nor-teadoras visando, essencialmente, compreender o significado da ex-perincia vivida aps os acidentes de trabalho no porto.

    As entrevistas foram realizadas durante visitas domiciliares aos participantes da pesquisa, depois do contato inicial realizado pessoalmente ou por telefone, excetuando-se um trabalhador que preferiu ser entrevistado no prprio local de trabalho. Na primeira visita, era apresentada a cada participante a finalidade da visita e da pesquisa e a importncia da colaborao pessoal do entrevistado. As entrevistas foram gravadas e transcritas na sua totalidade para a pos-terior anlise e todos os entrevistados leram e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas da tica em Pesquisa com seres humanos.

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    2.2 Anlise dos dadosPara a anlise das entrevistas percorreu-se o caminho proposto

    por Flick (2007) para a interpretao de dados narrativos. Para isso, o material transcrito foi interpretado, organizando-se o contedo dos discursos por meio de seu agrupamento em determinadas cate-gorias. Isto significa descrever as categorias de pensamento presentes na realidade e o contedo discursivo de cada categoria, analisando o sentido das respostas abertas e agrupando-as. Na categorizao discursiva, o carter sinttico de uma categoria tem a funo, no de resgatar e expressar o sentido completo do pensamento, mas de servir como rtulo que permite separar um conjunto do outro.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Na anlise dos dados buscou-se recuperar as experincias vivi-das pelos trabalhadores porturios acidentados no ambiente laboral, posicionando-as como elementos no processo de identificao dos riscos da atividade porturia. Assim, as categorias emergentes foram:

    a) ambiente de trabalho e segurana;b) treinamento e capacitao;c) produtividade, tenso e medo;d) o acidente sofrido;e) consequncias do acidente.

    3.1 Ambiente de trabalho e seguranaO porto considerado uma rea perigosa que requer muita

    ateno dos trabalhadores, como mostra o relato:

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    Olha, o ambiente de trabalho que a gen-te tem que se vigiar e ter bastante cuidado, por ser uma rea muito perigosa. Trabalhar a bordo do navio, ali sempre prximo do pe-rigo em relao a carretas carregando conti-ner em cima do navio e tendo bastante cui-dado em relao os contineres sendo iados, tem que ter bastante ateno (T3).

    Essa fala refora o encontrado nas pesquisas sobre o ambien-te porturio brasileiro que, mesmo depois da lei de modernizao, continua inseguro (SOARES et al., 2007; SOARES et al., 2008; TORRES, 2008; SOARES et al., 2011; CEZAR-VAZ, 2014), com muitos riscos e acidentes.

    A responsabilidade pela segurana e fiscalizao, no caso do porto analisado, compartilhada entre os prestadores de servio porturio e a companhia que gerencia o terminal porturio. Mas falta fiscalizao no que se refere segurana do trabalhador, como indica o trecho:

    A empresa tem um tcnico de segurana para 200 funcionrios. A como que um tcnico de segurana vai olhar para 200 funcion-rios? Eu falei a verdade, l dentro do porto no tinha segurana. Que os trabalhadores estavam trabalhando com sucata. Tanto ope-rador de mquina, caminho, de guindaste. Perigo! tanto que morreu uns colegas da gente l dentro. Ta a prova [...] (T1).

    Nascimento (2000) afirma que a segurana fica somente res-trita ao uso do Equipamento de Proteo Individual (EPI), no h uma ateno s modificaes no ambiente de trabalho, o coletivo

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    tem sido esquecido, no se reduz a sujeira nem os rudos, no se direciona a preveno para o que gera esses problemas devido aos custos altos. O trabalhador tem sido sacrificado em nome do ga-nho financeiro dos prestadores de servio porturio. Outro ponto importante a ressaltar aqui que no terminal, as responsabilidades pelas condies de sade e segurana ficam, teoricamente, dividi-das entre a administrao central do porto e as operadoras mas, na prtica, essa responsabilidade fica diluda e pouca clara, podendo levar ao acidente organizacional que, resumidamente, deriva da falta de coordenao entre os vrios agentes do sistema no que se refere segurana, como o caso do terminal em questo (ALMEIDA; VILELA, 2010; AREOSA; DWYER, 2010).

    3.2 Treinamento e capacitaoAtualmente os profissionais do porto podem exercer mais de

    uma atividade sendo necessria uma melhor qualificao e capaci-tao para atender ao requisito de multifuncionalidade. Entretanto, os trabalhadores tm sido contratados e aprendem suas atividades no dia-a-dia, sem suporte de treinamento e, quando o fazem, por iniciativa prpria: Tinha essa funo que eu no conhecia. A o rapaz perguntou se eu gostaria de aprender e eu fui aprendendo aos poucos no dia-a-dia (T2).

    Outra questo relativa ao treinamento, refere-se necessidade de qualificao com o objetivo de prevenir a ocorrncia de acidentes de trabalho. Este aspecto confirmado pelo entrevistado:

    Se a empresa tivesse capacitado mais a gente, acho que no teria acontecido acidente no. [...] Cursos, t entendendo? Maneiras de se trabalhar. Porque l tinha cursos, mas cada

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    ano que passa muda, a empilhadeira. O cur-so de vistoriador, ela s deu depois do meu acidente, porque iam botar mais pessoas na funo. (T1).

    Segundo as diretrizes da Organizao Internacional do Traba-lho (OIT) sobre a formao no setor porturio, a capacitao de-veria ter como objetivo promover e proteger a sade e a segurana no portos; desenvolver as competncias dos porturios e aumentar o bem estar profissional; garantir maiores vantagens sociais e econ-micas; melhorar a eficincia da manuteno de cargas e a qualidade dos servios oferecidos aos clientes; e proteger o ambiente natural em torno da rea do porto, promovendo o trabalho decente e em-pregos sustentveis (ILO, 2012).

    Por outro lado, nos trechos de discurso relatados acima subjaz a noo de culpabilidade do trabalhador, como se a capacitao e o treinamento isoladamente pudessem prevenir os acidentes relata-dos. Como j apontado por Jackson-Filho et al. (2013) essa noo quase hegemnica entre os gerentes e, de certa forma, internalizada pelos prprios trabalhadores.

    3.3. Produtividade, tenso e medoOs trabalhadores se submetem a fatores estressores nos locais

    de trabalho, na tentativa de dar conta de um volume produtivo. Eles tm que administrar a presso da chefia e conviver com o medo da demisso e problemas com outros trabalhadores. A fala de um dos entrevistados ilustra bem essas questes.

    E, por muitas vezes, eu passei por presso psicolgica. No caso, o cara chega l com ig-norncia, a eu tenho que ir l falar com ele,

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    a ele rebate. Em relao s folgas, se tivesse na safra, tem que brigar com a diretoria para pedir folga, tem que brigar... discutir: eu vou folgar, se quiser dar falta, que d[...]. Estava na empresa ainda, mas devido assdio mo-ral do meu gerente que muitas vezes gritou comigo, me chamou de nome, eu j discuti com ele, gritei com ele. Me chamava de [...], me esculhambava. Solta os cachorros em cima da peozada que trabalham nas ope-radoras. At dos prprios vigilantes, manda o cara atravessar a p uma ponte de 2 km depois do almoo. Havia muita discusso internamente, era pouco funcionrio para muito servio. Ele num quer nem saber se o cara tem filho, se o cara tem famlia. Tem que ir e pronto, e se voc no for, voc per-de o emprego. Rapaz... medo, qualquer um fica. L eu era ofendido, humilhado, mas quando precisaram de mim, eu ajudei (T1).

    Na perspectiva dos porturios, a presso sofrida durante a exe-cuo dos servios constitui-se de desgastes psquicos que podem favorecer o aumento do estresse e, consequentemente, os acidentes de trabalho como indicam Cardoso et al. (2014). Alm disso, o novo papel atribudo aos sindicatos, a partir da Lei de Moderni-zao dos Portos, minimiza o suporte e a proteo social que eram proporcionados por essa instituio aos trabalhadores (MACHIN; COUTO; ROSSI, 2009).

    O sofrimento desse trabalhador pode estar relacionado, tam-bm, ao sentimento de injustia e indignao que resulta da per-cepo de que seu esforo na execuo das tarefas no reconhecido pela organizao. Em relao ao medo vivenciado pelos trabalhado-

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    res, Mendes (2007) afirma que este pode favorecer sentimentos de revolta e raiva no ambiente de trabalho.

    Outro ponto destacado diz respeito ao ritmo de trabalho que bastante acelerado, tendo em vista que o empregador busca uma diminuio de despesas de atracao: quanto mais tempo o navio passa no porto maior a carga tributria paga (TORRES, 2008). Segundo um entrevistado (T2): , o nosso ambiente de trabalho muito puxado porque a gente trabalha muitas vezes sob estresse, sob presso.

    Santos (2009) ressalta que o ritmo do trabalho porturio defi-nido pelos empregadores e que esse ritmo justificado devido a alta produtividade exigida no setor, gerando fadiga e levando os traba-lhadores ao estresse.

    3.4 O acidente vividoOs depoimentos permitiram aos entrevistados um momento

    de reflexo sobre o seu sofrimento em relao ao acidente vivido. As falas mostram que os acidentes aconteceram, na maioria das ve-zes, por causa das condies inseguras do ambiente porturio e da organizao do trabalho. Identificou-se, tambm, uma situao de descaso mdico com o trabalhador.

    O acidente foi em 2007, no final do ano, mais ou menos. E eu ca da escada, fui fazer a vistoria do continer e ca da escada e senti meu joelho. Isso foi de manh. Comecei a sentir dor no joelho, sentir dor, e quando foi a tarde no aguentei mais, ca em p com a perna assim meio aberta. Na hora, eu senti aquela fisgada, eu fui ficando pior, pior, a foi piorando mais ainda, piorando mais ain-

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    da, e quando foi antes de cinco horas, no tava mais nem podendo andar. A fui para o hospital l em [cidade, distante aproxima-damente 45km do terminal], a mdica tirou um raio X e disse que deslocou meu joelho e botou gesso. Depois de uns dias fui fazer uma consulta mdica no Hospital do con-vnio mdico, a pediram uma ressonncia. A foi quando eu soube que estrangulou o menisco. (T1)

    A prxima fala de um trabalhador que se acidentou, mas o acidente foi antecedido por um desgaste fsico por causa do esforo repetitivo das tarefas que costumava realizar e da falta de equipa-mentos necessrios, como uma simples escada.

    O meu acidente foi assim, eu tava setando o continer refrigerado. Setar voc sobe e coloca no grau que ele vai, na geladeira, pra poder congelar, a voc imagina carregar cem carros por dia, era cem vezes que voc subia ligava e descia, fazia esse mesmo proce-dimento, subia, ligava e descia. s vezes voc chegava em casa com o brao todo dolorido, t entendendo? A tu imagina o joelho fa-zendo esse movimento a nesse movimento que eu fazia todo dia durante esses ltimos sete anos juntando com o corre-corre do dia-a-dia. Pra completar, numa dessas descidas, que eu tinha que subir no continer, e subir mais trs metros do cho, levei uma pancada no joelho e no cuidei de imediato inchou, inchou! (T2)

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    Confirma-se por meio da fala dos entrevistados o que Diguez (2009) especifica sobre o descaso com a aplicabilidade da legislao com os trabalhadores e a falta de fiscalizao.

    Era 4h da manh... simplesmente deslizei devido o piso do navio um pouco oliento e tinha acabado de ter uma pequena neblina, ai deslizei, cai de costas de uma altura de dois metros e oitenta centmetros, a veio fazer um estrago na coluna, n? No tava andando em cima do convs, tava guardando o mate-rial, pois a gente tava terminando a opera-o, os contineres tinham sido retirados. A faltava as varas que prendem os contineres de operao, por ter chovido e o piso com um pouco de leo, cai e o impacto foi todo nas costas. (T3)

    Nos portos, os riscos de acidentes e doenas ocupacionais se do de acordo com as cargas movimentadas e mesmo as que se utilizam de tecnologias no se dispensa o trabalhador. Tambm quando os equipamentos falham so eles que vo para a linha de frente. Esses trabalhos exigem fora fsica, habilidade no manuseio e equilbrio.

    Diguez (2009) mostra que o intervalo de onze horas coloca um empecilho para a sobrevivncia do trabalhador. Fazendo-se ne-cessrio uma escala de trabalho com mais tempo de descanso para os trabalhadores. A carga horria excessiva prejudicial ao estado fsico e mental. O prximo trabalhador ressalta isso e discorre ainda sobre os fortes ventos no ambiente laboral.

    O acidente aconteceu comigo e como a gen-te tem um cargo de confiana n? Que diz que de confiana. Era umas cinco horas da

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    tarde mais ou menos. A empresa disse eu preciso que voc fique pra liberar este equi-pamento e, como s vezes j ficava at mais tarde pra resolver estes problemas de equipa-mento, no vi problema. Eu fiquei at mais tarde. Era umas dez horas da noite pra libe-rar o equipamento e a acabei escorregando. As mquinas trabalham com bastante leo. A, qualquer coisa ali tem muito leo, acabei escorregando e caindo de um metro e meio mais ou menos e a eu vi que fraturei o tor-nozelo. Fiquei uns trs meses afastado. Eu trabalho no ptio. noite tem muito vento. No meu caso fui levantar a placa, bateu o vento, deslizei, e a a placa caiu nas costas ainda. (T4)

    3.5 Consequncias do acidenteCada acidente, por mais simples que seja, deixa marcas. Os

    depoimentos tratam sobre o que foi afetado no corpo e como esses trabalhadores se percebem aps terem sofrido o acidente.

    3.5.1 Consequncias para a sade fsicaEm relao s consequncias fsicas, o relato a seguir ilustra a

    realidade vivenciada por um trabalhador:

    Eu no sou mais a mesma pessoa. Eu sou uma pessoa que no sou mais 100%. [nes-sa hora os olhos lacrimejaram] talvez seria se no tivesse parafuso no joelho [...] Se eu sair desse emprego de encarregado e no pin-tar outro e surgir um emprego de pintura,

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    ajudante geral, gari eu no posso fazer, nada disso eu posso fazer. Se eu fizer vou ter rea-o trgica, vou ficar aleijado, deficiente. A capacidade fsica no me permite mais. (T1).

    3.5.2 Consequncias para a sade mentalNo que se refere s consequncias psicolgicas, o trecho a se-

    guir ilustra essa questo:

    Psicologicamente eu fiquei abalado. Quando voltei para a empresa j no era mais a mes-ma coisa. Eu que tinha que buscar o servio, eu que tinha que ir atrs, eu tava como se fosse um cachorro jogado l, t a s porque tem estabilidade mesmo, porque foi aci-dente de trabalho. Eu me senti humilhado, me senti totalmente humilhado. Os geren-tes no olham mais para voc como aquela pessoa que tinha aquela dinmica de traba-lho. Mas, at hoje, eu tava pensando nesse acidente que aconteceu comigo, que minha vida mudou. Eu mesmo acho que no sou mais a mesma pessoa. (T1)

    A fala desse participante parece evidenciar os impactos e a re-lao entre os danos fsicos e psquicos para a sade do trabalhador.

    3.5.3 Consequncias familiares e financeirasDiguez (2009) mostra que os trabalhadores avulsos mantm

    laos sociais que vo alm da convivncia do local de trabalho. A fala a seguir ilustra esse aspecto:

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    Financeiramente eu tive um prejuzo finan-ceiro que tive que vender moto pra dar uma ajuda n? A ento tive alguns prejuzos so-bre isso a. E o desgaste familiar teve muito isso a tambm. A esposa olhar e dizer vai trabalhar, sai de casa, vai fazer qualquer coi-sa, quase me separei nesse tempo. (T4)

    4. CONCLUSES

    Os resultados mostram a gravidade dos acidentes porturios e suas consequncias para a vida dos trabalhadores, tanto no que se refere sade fsica quanto a aspectos psicolgicos, sociais e fi-nanceiros. Alm disso, verifica-se que os trabalhadores so capazes de identificar com preciso as condies inseguras que levaram ocorrncia dos acidentes. Na descrio de seus acidentes, em ne-nhum momento os trabalhadores se identificam como culpados por eles, contrariando o que normalmente acontece quando da anlise oficial de acidentes de trabalho (JACKSON-FILHO et al., 2013). Embora identifiquem a falta de treinamento individual como uma possibilidade para evitar os acidentes, o que, em ltima instncia, parece culpar o trabalhador pelo acidente ocorrido.

    Alm disso, as entrevistas e sua anlise permitiram identificar os acidentes mais comuns ocorridos no porto e as suas possveis cau-sas. O estudo evidenciou que fatores relacionados ao ambiente de trabalho tais como a exposio ao calor, iluminao deficiente noi-te, transporte de cargas elevadas e manuseio de substncias perigosas se constituem como riscos eminentes e constantes de acidentes de trabalho no ambiente porturio.

    Assim, pode-se dizer que a modernizao porturia, com suas novas instalaes e equipamentos, introduziu novas condies de riscos, cargas excessivas de trabalho e presso psicolgica nas rela-

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    es entre empregadores e empregados, levando ocorrncia de aci-dentes graves com prejuzos para a vida e sade dos trabalhadores.

    Com intuito de ampliar as anlises nesse campo, sugere-se no-vos estudos que possam investigar as consequncias dos acidentes em um maior nmero de participantes, possibilitando avaliar essas consequncias ao longo do processo de afastamento do trabalhador. Alm disso, considera-se importante investigar como trabalhadores, gestores e representantes sindicais avaliam as causas desses acidentes e que estratgias estabelecem para evita-los e, quando for o caso, enfrenta-los.

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    Captulo 02

    CONDIES DE SADE OCUPACIONAL DOS TRABALHADORES DA LIMPEZA URBANA

    Amlia Romana Almeida TorresJos de Ftima Arajo

    Antonio Rodrigues Ferreira JuniorFrancisca Alanny Arajo Rocha.

    1. INTRODUO

    Nas ltimas dcadas mundialmente perceptvel o adensa-mento populacional nos centros urbanos e o aumento do consumo de produtos descartveis, o que tem contribudo significantemen-te para a grande produo de resduos slidos (KUCHIBANDA; MAYO, 2016).

    O lixo refere-se aos materiais slidos descartados das ativida-des humanas ou pode ser gerado pela natureza. Podem ter origem diversa de acordo com o tipo de resduo produzido: residencial, co-mercial e pblico bem como pode ser classificado como lixo especial hospitalar, radioativo, entre outros (GOUVEIA, 2012).

    No Brasil, assim como em outros pases, existe a necessidade de um planejamento dos recursos econmicos para o investimento no setor de limpeza urbana (COELHO, 2012).

    Os resduos slidos urbanos, ou lixos orgnicos e inorgnicos so acumulados de forma contnua no ambiente, podendo amea-ar a populao, e especialmente os profissionais que trabalham na limpeza das ruas, conhecidos popularmente como garis. Estes tra-balham exclusivamente com o lixo, assegurando a limpeza da via pblica (LOURENO, 2011).

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    Durante o processo de trabalho da coleta de lixo urbano, os trabalhadores andam, correm, sobem e descem ruas, levantam di-ferentes pesos e suportam sol, chuva, frio e variaes bruscas de temperatura realizando suas atividades de trabalho de forma rdua (LAZZARI; REIS, 2011).

    Esses profissionais da limpeza pblica mantm contato com todo o lixo coletado, sendo expostos a muitos fatores que ameaam sua sade. Apesar da importncia da coleta de lixo, este servio apre-senta outra questo importante a ser tratada, como o fato de que a rotina de trabalho dos garis apresenta os mais variados riscos queles que o executam. Dentre os riscos a que esto expostos destacam-se: fsicos, qumicos, biolgicos, ergonmicos e mecnicos (SILVA et al., 2009).

    Dessa forma os trabalhadores diretamente envolvidos nos processos de manuseio, transporte e destinao final dos resduos formam uma populao exposta. A exposio se d, notoriamente, pelos riscos de acidentes de trabalho provocados pela ausncia de treinamento, pela falta de condies adequadas de trabalho e pela escassez de tecnologia utilizada, sobretudo nos pases em desenvol-vimento (VELLOSO; VALLADARES; SANTOS, 2008).

    O contato frequente com agentes nocivos sade torna o reco-lhimento do lixo um trabalho arriscado e insalubre, executado nor-malmente por pessoas que recebem pouca considerao por parte da sociedade (SANTOS, 2008).

    A sade ocupacional destes trabalhadores merece uma ateno maior, pois tambm entram em contato direto com produtos peri-gosos, como pilhas, baterias, lmpadas, embalagem de agrotxicos e medicamentos, sendo uma das grandes preocupaes quando se trata de manuseio com esses resduos, pois a contaminao geral-mente imperceptvel em um primeiro instante, mas acumulativa, podendo tambm causar danos irreversveis sade humana (LAZ-

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    ZARI; REIS, 2011). Ento todos esses perigos, que podem levar a doenas, ferimentos ou morte do trabalhador, so includos como riscos ocupacionais.

    Alm dos riscos de contaminao, os trabalhadores tambm es-to sujeitos a sofrer acidentes de trabalho, principalmente devido precariedade da segurana no servio dirio e a falta de treinamento. Podem sofrer quedas, atropelamentos, cortes, mordidas de cachor-ros e ratos, picadas de insetos, entre outros.

    A Sade do trabalhador visa a melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho buscando evitar os acidentes e as doenas ocupacionais, assim torna-se necessrio a preocupao pblica e das empresas com a obrigatoriedade de atender a legislao trabalhista e os princpios da vigilncia em sade do trabalhador, resguardando a sade dos seus profissionais, no sentido de diminuir a exposio dos mesmos aos riscos potenciais a sua segurana e sade (BRASIL, 2012a).

    Nessa perspectiva o fortalecimento da Vigilncia em Sade do Trabalhador (VISAT) e a integrao com os demais componentes da Vigilncia em Sade um dos objetivos da Poltica Nacional de Sade do Trabalhador e da Trabalhadora (BRASIL, 2012a).

    As medidas de preveno dos riscos ocupacionais visam prio-ritariamente melhoria da qualidade de vida do trabalhador e um ambiente de trabalho saudvel. Ressalta-se que essas medidas no dependem somente do poder pblico ou das empresas responsveis por este servio, mas incontestavelmente tambm dos trabalhadores que devem ser os mais interessados nesta efetivao de segurana do trabalho.

    A relevncia da discusso sobre as condies de sade ocupa-cional de trabalhadores da limpeza urbana ocorre no contexto da sade coletiva, calcada nas medidas de vigilncia aos riscos, preven-o de danos, e proteo da sade dos profissionais.

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    2. METODOLOGIA

    Trata-se de pesquisa de carter exploratrio descritivo com abordagem quantitativa, realizado com 96 profissionais de limpe-za urbana escolhidos por amostragem aleatria simples, em cidade polo da regio norte do Cear, no ano de 2015.

    Questionrios individuais foram aplicados na sede da empresa responsvel pelos profissionais para facilitar a coleta dos dados e permitiu visualizar dados scio-demogrficos, bem como percepo sobre doenas e riscos ocupacionais. Os dados foram digitados no software EPI INFO, que os organiza para serem analisados e for-necerem informaes importantes acerca do objeto em questo. A tabulao dos dados ocorreu a partir da frequncia das respostas e propiciou a anlise descritiva, com discusso luz da literatura pertinente.

    A aprovao pelo Comit de tica e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acara sob o nmero do CAAE: 46776315.3.0000.5053 propiciou o desenvolvimento do estudo, que respeitou os princpios da Resoluo n 466/12 do Conselho Nacional de Sade (CNS), regulamentadora de pesquisas envolven-do seres humanos no pas (BRASIL, 2012b).

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1 Caracterizao dos trabalhadores de limpeza pblicaA maioria dos garis possui entre 20 e 39 anos (54%), sexo mas-

    culino (97%), cor parda (39%), com ensino fundamental incom-pleto (62%) e trabalhava h mais de seis anos na funo (44%).

    Estes dados so similares aos encontrados por Motta e Borges (2014), em estudo realizado com os trabalhadores urbanos em Belo

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    Horizonte, uma vez que a populao era quase totalmente compos-ta de homens, na faixa etria de 34 a 63 anos e a maioria possua tambm o ensino fundamental incompleto. A prevalncia do sexo masculino no estudo pode ser atribuda a profisso, visto que exige um esforo fsico desgastante.

    A populao economicamente ativa formada por pessoas com idades entre 15 e 59 anos, cujo intervalo etrio abarca as maiores taxas de atividade, exercendo grande influncia sobre o mercado de trabalho (ALVES; VASCONCELOS; CARVALHO, 2010). Isso torna esses indivduos mais propensos a distrbios relacionados s atividades laborais.

    O menor nvel de educao formal entre os garis pode ser visto como reflexo da representao social da ocupao na sociedade, visto que se encontra na base da pirmide social, causando pouca procura entre os que possuem maior anos de estudo (LOPES et al., 2012).

    Acerca de informaes sobre os hbitos dos trabalhadores da limpeza pblica, a maioria no pratica atividade fsica (73%) e a parcela que admite uso de bebidas alcolicas (12%) e tabaco (10%) similar.

    O fato de no realizarem atividades fsicas pode agravar as con-dies de sua sade e consequentemente gerar problemas relaciona-dos ao trabalho, pois por falta de bom condicionamento fsico h facilidade de apresentar exausto muscular.

    H maior prevalncia entre os trabalhadores das dores mscu-lo-esquelticas, com a regio lombar sendo a mais afetada. Tambm cansao fsico, dor de cabea, oscilao de humor, indigesto e di-ficuldade de se concentrar, so relatados por quem trabalha com coleta de lixo. Alguns sintomas referidos indicam sinais de sobre-cargas no trabalho, como a dor lombar, que condiz com a maneira que o trabalho realizado nas ruas e as longas jornadas de trabalho (REDDY; YASOBANT, 2015).

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    Quando a limpeza urbana realizada de forma manual, expe o profissional que realiza a limpeza a vrios fatores de riscos ocupa-cionais, principalmente aos riscos relacionados sobrecarga fsica podendo resultar em acometimento musculoesqueltico resultante da frequente flexo e rotao do tronco, levantamento e transporte de materiais e vibrao do corpo (PATARO; FERNANDES, 2014).

    Acerca do uso de bebidas alcolicas, o quantitativo encontrado difere de estudos realizados que apresentam 98% dos garis fazendo uso, sendo 15% dependentes do lcool. Os principais motivos cita-dos para tal prtica so os fatores estressores relacionados ao servio de limpeza como odor do lixo, falta de reconhecimento no traba-lho, elevada carga horria e discriminao social (BARBOSA et al., 2010; MABUCHI et al., 2007).

    Os agentes danosos sade podem ter sua ao aumentada por certas posturas e hbitos adotados pelos que lidam com lixo, tais como o horrio e a qualidade da alimentao, o consumo de cigarros e lcool que resultam em efeitos nocivos sade, assim como aumentam os riscos de acidentes (CAVALCANTE; FRAN-CO, 2007).

    A prtica de exerccios fsicos entre trabalhadores, aliada ao no uso de substncias nocivas como o lcool e o tabaco, potenciali-zam melhora da sade individual com ganhos laborais significativos (HUANG et al., 2015). Possibilidades de acidentes e adoecimento relacionados ao trabalho.

    H riscos de adoecimento inerente ao cotidiano de trabalhado-res da limpeza pblica, sendo referido por um importante quantita-tivo (28%) que j desenvolveu distrbios da sade devido s ativi-dades laborais, bem como a maioria possui conhecimento dos riscos de trabalhar na rea de limpeza (84%).

    Os acidentes e adoecimento de trabalhadores da rea de res-duos slidos so muito comum, devido ao tipo de exposio a que

  • 39

    estes cotidianamente so submetidos. A percepo dos profissionais sobre este risco alta, porm o trabalho necessrio para a manu-teno de suas necessidades bsicas individuais e familiares (HOE-FEL, 2013).

    Referente aos riscos os quais trabalhadores esto expostos, possvel destacar: os fsicos, os qumicos, os biolgicos, os ergon-micos e os de acidentes. A maior parte dos acidentes consiste em cortes, contuses, fraturas e leses articulares, tendo, na maioria, como causas imediatas dos acidentes a falta de ateno ao trabalho, a inobservncia das normas e procedimentos de segurana, a ausn-cia de Equipamento de Proteo Individual (EPI) e a falta de ma-nuteno de mquinas e equipamentos (PINHO; NEVES, 2010).

    Consoante Estevo (2012) o nmero de horas dirias de tra-balhos ultrapassa oito horas e os coletores acomodam nos braos sacos de lixo e levam at o caminho. As posturas so inadequadas para o corpo e os movimentos so bruscos e exigem fora fsica. Alm disso, os trabalhadores correm para alcanar o caminho o que ocasiona desgaste fsico, pois a carga pesada traz riscos para a regio da coluna vertebral. J o contato direto com o lixo favorece a contaminao com agentes fsicos (objetos cortantes, por exemplo), qumicos e biolgicos, alm dos riscos de acidentes j que o trabalho realizado em vias pblicas.

    Os garis so profissionais que esto expostos a riscos e conse-quentemente podem sofrer acidentes em seu ambiente laboral. Po-rm, no s os acidentes podem causar prejuzos sade desses pro-fissionais de limpeza. As condies de trabalho podem causar um impacto negativo para a sade (PATARO; FERNANDES, 2014).

    As mudanas no mundo do trabalho, caracterizado nos ltimos anos pela globalizao e introduo de novas tecnologias, tm reper-cutido na sade dos trabalhadores. Essas mudanas estabeleceram novas relaes entre o trabalhador e o seu contexto laboral, o que

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    tem demandado conhecimento cientfico-tecnolgico, dinamicida-de nos processos de trabalho, capacidade de enfrentar situaes ad-versas e certa adaptabilidade s condies de trabalho para atender demanda da populao (SILVA et al., 2015).

    Acerca das possveis doenas oriundas do trabalho, os garis apresentam uma longa lista, denotando a importncia dessa dis-cusso para a manuteno da sade destes. O Grfico 1 apresenta os principais problemas de sade referidos espontaneamente pelos trabalhadores da limpeza pblica, destacando-se os riscos de atrope-lamento, cortes e quedas entre os mais citados.

    Grfico 1 - Informaes sobre provveis problemas de sade dos trabalhadores da limpeza urbana (n=96*), Regio norte do Cear, Brasil, 2015.

    Fonte: Primria.* Os trabalhadores citaram espontaneamente mais de um problema.

    A exposio ocupacional a agentes biolgicos causa infeces agudas ou crnicas, parasitoses, reaes alrgicas e txicas. Os mi-crorganismos patognicos esto presentes, nos resduos slidos mu-nicipais, em lenos de papel, papel higinico, curativos, absorven-tes, agulhas e seringas descartveis e camisinhas, originados da po-pulao; nos resduos de pequenas clnicas, farmcias e laboratrios e, na maioria dos casos, nos resduos hospitalares, misturados aos

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    resduos domiciliares. Para que os patgenos entrem em no orga-nismo e causem infeco, so necessrias portas de entrada como a inalao, a ingesto, a penetrao atravs da pele e o contato com as mucosas dos olhos, o nariz e a boca. De uma forma geral, a trans-misso dos agentes biolgicos ocorre por contato direto ou indireto, transmisso por vetor biolgico ou mecnico, pelo ar (LAZZARI; REIS 2011).

    Na coleta de lixo, so comuns acidentes com materiais perfuro-cortantes, como vidro, latas, plantas com espinhos, pregos, espetos e at mesmo agulhas de seringas. As luvas dos trabalhadores geral-mente oferecem pouca proteo. Esses materiais acabam por provo-car leses nos trabalhadores, atravs do contato das sacolas com os membros superiores e inferiores. Essas leses so portas de entrada para microrganismos presentes no lixo (LAZZARI; REIS, 2011).

    No s os acidentes podem causar prejuzos sade desses pro-fissionais da limpeza. As condies de trabalho podem causar im-pacto negativo na vida dos trabalhadores da limpeza pblica, pois os desconfortos e adoecimentos esto geralmente relacionados a prti-cas no processo laboral (PATARO; FERNANDES, 2014).

    Diversos fatores de risco podem ser responsveis pela ocorrn-cia de acidentes de trabalho como: no observao das normas de segurana, falta de ateno durante as atividades, falta de equipa-mento de segurana, manuteno dos equipamentos e treinamen-to, bem como o excesso de trabalho. Um grande agravante para a ocorrncia de acidentes de trabalho a postura do empregado que adota atitude negligente ao no respeitar as normas de segurana (PINHO; NEVES, 2010).

    A exposio s demandas fsicas desses profissionais como ma-nuseio de carga, flexo e rotao do tronco compatvel com a expo-sio de profissionais da rea da enfermagem, e superior dos traba-lhadores da indstria de plsticos (PATARO; FERNANDES, 2014).

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    4. CONCLUSES

    Os profissionais da limpeza urbana desempenham um papel fundamental para a sociedade, contudo no recebem ateno ne-cessria para as suas precrias e insalubres condies ocupacionais, acarretando como consequncia desse fator uma srie de doenas relacionadas ao trabalho.

    O poder pblico tem a obrigao de atentar para aes que visem melhoria das condies de trabalho dessa categoria, geran-do otimizao da qualidade de vida para os trabalhadores. Deve-se ressaltar que o uso de EPI de extrema importncia nessas ativi-dades laborais para evitar o contato direto com resduos e possvel adoecimento.

    A necessidade de discusses aprofundadas sobre a temtica fun-damenta-se na perspectiva da importncia da sade do trabalhador como rea do conhecimento que possibilita dilogo sobre os riscos e medidas de proteo para estes profissionais, na tentativa de reduzir o nmero de acidentes e doenas.

    Portanto, urge que alguns cuidados sejam tomados, ancorados na promoo da sade dos garis, em contraponto a facilidade de doenas ocupacionais a que estes se encontram expostos.

    REFERNCIAS

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    Captulo 03

    CONDIES DE SADE E DE TRABALHO EM MADEIREIROS DE UMA REA PORTURIA NA

    REGIO AMAZNICA.

    Emanoely Castelo GouveiaHelencarla dos Santos Ferreira

    Maria Virgnia Filgueiras de Assis Mello Zlia Maria de Sousa Arajo Santos

    Anneli Mercedes de Crdenas.

    1. INTRODUO

    No Brasil, as aes de governo destinadas a garantir a sade dos trabalhadores esto explicitadas na Poltica Nacional de Sade do Trabalhador (PNST) (BRASIL, 2004), e na Poltica Nacional de Se-gurana e Sade do Trabalhador (PNSST) (BRASIL, 2005). Disso decorrem que, a ateno integral sade do trabalhador permea-da pela construo de ambientes e processos de trabalho saudveis, tanto quanto, pelo fortalecimento da vigilncia desses ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho.

    Por esta razo, a implementao dessas aes com efetividade, eficcia e eficincia pressupe a adequao e ampliao da capacida-de institucional, de modo a permitir que este conjunto de aes seja desenvolvido com competncia e resolubilidade pelo Sistema nico de Sade (SUS) (BRASIL, 2006).

    Considerando a problemtica que envolve os acidentes de tra-balho e as restries laborais temporrias ou permanentes de acordo com o dano sofrido, a Organizao Internacional do Trabalho-OIT

  • 47

    (2013), aponta que, a cada ano, 2,02 milhes de pessoas morrem em virtude de enfermidades relacionadas com o trabalho. Isso sig-nifica que, a cada 15 segundos um trabalhador morre de acidentes ou doenas relacionadas com o trabalho, e que a cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral.

    Em face da alta prevalncia de acidentes de trabalho, no Brasil, com o advento da Rede Nacional de Ateno Integral Sade do Trabalhador (RENAST) em 2002, desencadeou o surgimento e am-pliao dos Centros de Referncia Especializados em Sade do Tra-balhador (CEREST), com o objetivo de articular aes de melhoria das condies de trabalho e da qualidade de vida dos trabalhadores por intermdio da preveno e vigilncia (LEO; CASTRO, 2013).

    No mbito das condies de sade e de trabalho, este estudo destaca a atividade madeireira, ocupao que emergiu em virtude da abundncia de florestas naturais e pelo surgimento e desenvolvi-mento da indstria madeireira.

    Nesta direo, evidencia-se o potencial produtivo do setor flo-restal no territrio brasileiro, em que a Amaznia constitui uma das principais regies produtoras de madeira tropical no Brasil e no mundo (VERSSIMO; PEREIRA, 2014).

    Decorrente de tal fato, os mesmos autores ressaltam que, no final da dcada de 1990, o setor florestal madeireiro esteve no centro das discusses de polticas pblicas por ter se configurar como ativi-dade catalisadora do processo de ocupao predatria.

    Por conseguinte, destaca-se a importncia da Amaznia como principal regio produtora de madeira no Brasil, e a evidncia eco-nmica e social que o setor industrial madeireiro tem para os Esta-dos. Tal fato requer ateno referente a aes estruturais, assisten-ciais e preventivas, que possibilitem aos trabalhadores deste setor, desenvolverem suas atividades laborativas com qualidade e reduo dos riscos potencias ou agravos sade.

  • 48

    Neste contexto, evidencia-se Santana, municpio brasileiro localizado no sudeste do Estado do Amap pertencente regio amaznica, com rea geogrfica de 1.542.201 km, densidade de-mogrfica de 69,03 hab/km, e populao estimada em 112. 218 habitantes (IBGE, 2013).

    O Sistema Porturio que inicia nas Docas de Santana-AP e es-tende-se at o Porto da MMX, desempenha importante funo na rede urbana regional, tendo conectividades com cidades como, Be-lm-PA, Santarm-PA e o Polo Industrial de Manaus-AM.

    Ressaltando o trabalho desenvolvido pela Equipe Sade da Fa-mlia (EqSF) da Unidade Bsica de Sade (UBAS) da rea Por-turia de Santana-AP, suscitou-se a necessidade da avaliao das condies de sade e de trabalho dos madeireiros, considerando o desgaste fsico e psquico aos quais estes trabalhadores esto subme-tidos diariamente.

    No Canal dos madeireiros da rea Porturia de Santana-AP, a extrao de madeira configura-se como fonte de renda dos trabalha-dores. Todavia, na realizao desta atividade, esses trabalhadores so expostos a movimentos repetitivos e ambientes de insalubres.

    Ento, mediante a importncia econmica da explorao ma-deireira e a problemtica que envolve as condies de trabalho entre os trabalhadores, optou-se por este estudo com o objetivo de anali-sar as condies sanitrias e laborativas dos trabalhadores madeirei-ros no Canal da rea Porturia de Santana-AP.

    2. METODOLOGIA

    Estudo descritivo com abordagem quantitativa, realizado no Canal dos madeireiros da rea Porturia de Santana-AP.

    Coletou-se os dados durante os meses de junho e julho de 2014 por meio da entrevista estruturada, cujo roteiro conteve os dados

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Unidades_federativas_do_Brasilhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Amap%C3%A1https://pt.wikipedia.org/wiki/Quil%C3%B4metros_quadradoshttps://pt.wikipedia.org/wiki/Densidade_demogr%C3%A1ficahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Densidade_demogr%C3%A1fica

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    sciodemogrficos, sanitrios e laborais. O instrumento foi aplicado aps a realizao do pr-teste. A coleta aconteceu no local de traba-lho aps aprazamento em consenso com o trabalhador.

    Organizou-se e representou-se os dados em quadros, e a seguir procedeu-se a anlise estatstica descritiva. Para a discusso dos da-dos, fundamentou-se na literatura pertinente.

    O estudo foi realizado com base na Resoluo n 466/12 da Comisso de tica em Pesquisa (BRASIL, 2012). Os participantes foram informados quanto natureza, objetivo, relevncia do estudo e anonimato; e que o consentimento poderia ser retirado no mo-mento em que desejassem. Ressalta-se que a coleta de dados foi rea-lizada aps a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclare-cido (TCLE) e o parecer favorvel do Comit de tica. O estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal do Amap (UNIFAP) sob o protocolo de n 455935/011- CEP.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    Para o processamento da anlise, agruparam-se os dados em caracterizao sociodemogrfica dos trabalhadores, e descrio das condies sanitrias e laborativas dos trabalhadores.Caracterizao sociodemogrfica dos trabalhadores

    De acordo com O Quadro1, houve predomnio dos trabalha-dores na faixa etria de 18 a 39 anos (64,2%), com ensino fun-damental incompleto (46,4%), unio estvel com a companheira (42,8%), e possuam imvel prprio (71,4%).

    O gnero e faixa etria condizem com o estudo de Silva et al. (2011) que evidenciam a atividade madeireira ser desenvolvida pre-dominantemente por trabalhadores do sexo masculino e com a faixa etria jovem, por ser uma ocupao que exige maior esforo fsico e manuseio de mquinas e equipamentos pesados.

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    A construo do Porto de Santana-AP s margens do Rio Ama-zonas, foi iniciada em 1980 e a inaugurao oficial de suas insta-laes ocorreu em 6 de maio de 1982, com a finalidade inicial de atender a movimentao de mercadorias por via fluvial, transporta-das para o Estado do Amap e para a ilha de Maraj, entretanto, por sua posio geogrfica privilegiada, tornou-se uma das principais rotas martimas de navegao, permitindo conexo com portos de outros continentes, alm da proximidade com o Caribe, Estados Unidos e Unio Europeia, servindo como porta de entrada e de sada da regio amaznica.

    Quadro 1 Distribuio dos trabalhadores segundo as caractersticas sociodemogrficas. San-tana-AP, 2014 n = 28

    Caractersticas sociodemogrficas f %

    Idade (anos) 18 39 40 - 59 60 ou maisEscolaridade Analfabeto Ensino Fundamental completo Ensino Fundamental incompleto Ensino mdio Estado civil Solteiro Casado Unio estvel VivoCondies de moradia Prpria Alugada Cedida

    18 64,2 08 28,5 02 7,1 06 21,4 07 25,0 13 46,4 02 7,1 09 32,1 06 21,4 12 42,8 01 3,5 20 71,4 06 21,4 02 7,1

    Fonte: Elaborado pelas autoras a partir dos dados primrios

    A maioria dos trabalhadores no concluiu o ensino fundamen-tal. Britto et al. (2015), e Ruffato e Godarth (2015) declaram que este ramo de atividade tem concentrado trabalhadores com nvel de escolaridade baixo, podendo implicar em maiores dificuldades para lidar com equipamentos com tecnologia mais sofisticada ou difi-

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    culdades para melhor apreenso durante treinamentos. Ainda neste mbito, Britto (2012) ressalta que a baixa escolaridade dos trabalha-dores madeireiros pode estar relacionada com a origem rural ou pela necessidade de ingressar no mercado de trabalho precocemente.

    Em relao ao estado civil, houve o predomnio de trabalhado-res com companheira, seja por unio oficializada ou unio estvel. Neste mbito, Ruffato e Godarth (2015) apontam este dado como de grande significncia no momento do recrutamento das empre-sas, tendo em vista que, os trabalhadores com famlia constituda demostram grande responsabilidade nas atividades por eles desen-volvidas.

    Vinte (71,4%) trabalhadores possuam imvel prpria. Tal conquista constitui uma das prioridades entre os objetivos que as pessoas buscam alcanar. A casa prpria a certeza de que em qualquer situao o seu espao e da sua famlia estar garantido. Para estas pessoas, adquirir a sua residncia conquistar um status diferente de sua posio anterior. Esse achado foi condizente com os estudos de Britto (2012) e de Fiedler (2012), demonstrando o esforo empreendido por esta classe de trabalhadores madeireiros para o alcance deste objetivo.

    3.1 Descrio dos hbitos, sintomas apresentados e condies laborativas

    No Quadro 2, evidencia-se que os trabalhadores praticavam exerccio fsico regularmente (100,0%). Todavia, detinham hbitos insalubres, pois 24 (85,7%) se automedicavam, 14 (20,0%) consu-miam bebidas alcolicas, e 08 (28,5%) eram tabagistas.

    Ressalta-se que a atividade laboral desempenhada pelos madei-reiros envolve considervel gasto energtico, pois as tarefas manuais eram bastante desgastantes e de grande esforo fsico. Neste mbito,

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    ressalta-se a importncia dos cuidados relativos sade e a seguran-a no trabalho, no desenvolvimento de atividades em que ocorre a intensificao de tarefas que exigem sobrecarga de movimentos envolvendo determinados segmentos corporais, tais como: mos, braos, ombros, regio cervical, dorsal, lombar em conjunto com os membros inferiores, considerando o aumento dos riscos de leses quando envolvem posturas inadequadas.

    No que condiz a automedicao, esta se configura como um dos maus e perigosos hbitos difundidos em todo o mundo. Visto desse modo, a automedicao, faculta ao risco de mascaramento de problemas de sade que poderiam ser diagnosticados e tratados.

    Na realidade brasileira, Almeida e Santos (2013) apontam que esta prtica no se limita as pessoas com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo e ressaltam que esta prtica disseminada por todo o Pas.

    A preocupao em se quantificar os trabalhadores que faziam uso de substncia alcolica deve-se s consequncias negativas que o etilismo causa aos indivduos e suas implicaes no ambiente de tra-balho, tais como, absentesmo, atrasos e maior envolvimento com acidentes de trabalho e conflitos.

    Por essa razo, Quaranta, Joaquim Filho e Silva (2012) cha-mam ateno ao fato de que o alcoolismo deprime o sistema nervo-so central, causando prejuzos concentrao, memria, raciocnio, reflexos e coordenao motora, elementos indispensveis para me-lhor qualidade e produtividade no ambiente de trabalho.

    No que diz respeito ao tabagismo, ressalta-se os apontamentos da Organizao Mundial de Sade (OMS) em que, entre os quatro principais fatores de risco modificveis que respondem pela maioria das mortes por Doenas Crnicas no Transmissveis (DCNT), o tabagismo, se configura como um desses fatores (WHO, 2011a).

    O tabagismo um importante fator de risco para o desenvolvi-mento de uma srie de doenas crnicas, tais como cncer, doenas

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    pulmonares e doenas cardiovasculares, de modo que o uso do ta-baco continua sendo lder global entre as causas de mortes evitveis (WHO, 2011b).

    Desse modo, a no prevalncia de fumantes entre os madeirei-ros deste estudo se configura como fator positivo considerando o seu potencial etiolgico para diversas enfermidades e predisposio a afastamentos dos trabalhadores por invalidez e morte.

    Os desconfortos fsicos informados pelos trabalhadores, basica-mente estavam relacionados s queixas lgicas, tais como, mialgias (77,8%), lombalgia (42,8%), e dorsalgia (35,7%).

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR, 2011), qualquer tipo de trabalho mal executado ou que no respeita os limites biomecnicos, juntamente com a predisposio consti-tucional da pessoa, pode desencadear Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

    As DORT so desencadeadas por esforos repetitivos (sobre-carga dinmica), sobrecarga esttica (uso de contrao muscular por perodos prolongados para manuteno de postura); excesso de fora empregada para execuo de tarefas; uso de instrumentos que transmitam vibrao excessiva e trabalhos executados com postu-ras inadequadas, todavia considerando que atualmente, alm dos fatores mecnicos, tambm esto envolvidos fatores sociais, familia-res, econmicos, assim como, graus de insatisfao no trabalho, de-presso, ansiedade, problemas pessoais entre outros, o diagnstico de LER ou DORT em muitos trabalhadores torna-se questionvel (SBR, 2011).

    Os trabalhadores relataram ser portadores das doenas crni-cas: pulmonar (39,2%), e artrose na coluna vertebral (35,7%).

    Os trabalhadores do setor madeireiro esto expostos, rotineira-mente, a uma variedade de fatores de risco ocupacionais, entre eles o p de madeira e considerando que depois da pele, o trato respira-

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    trio sistema orgnico em maior contato com o meio ambiente, a poluio ocupacional e ambiental na forma de poeiras constitui fator de risco importante para o sistema respiratrio.

    3.2 Condies laborativasConforme o Quadro 2, a maioria dos trabalhadores informa-

    ra uma jornada diria de trabalho inferior a 08 (oito) horas, e 9 (32,1%) declararam absentesmo ao trabalho. Quanto exposi-o aos riscos ocupacionais, predominaram os rudos excessivos (100,0%), iluminao insuficiente (82,1%), aclimatizao deficien-te (82,1%), e presena de poluentes (64,2%).

    No estudo realizado por Simes e Rocha (2014), com traba-lhadores de uma empresa florestal, foram identificados agravos re-ferentes ao aparelho osteomuscular e do aparelho respiratrio como os mais presentes entre os trabalhadores, apontando que ativida-des que requerem grandes esforos fsicos e condies desfavorveis no trabalho contriburam para absentesmo-doena conferidos por meio de atestados mdicos. Em vista disso, estudos sobre adoeci-mento no trabalho por meio de absentesmo-doena tm revelado altas prevalncias e forte relao com atividades laborais.

    As atividades laborais exercidas pelos trabalhadores exigem es-foro fsico e movimentos repetitivos, estes adicionados a fatores externos como o p da madeira (poluente), calor ambiental, ocasio-nam prejuzos sade, fazendo com que estes trabalhadores recor-ram ao uso de medicamentos para alvio dos desconfortos fsicos, e que frequentemente os levam prtica da automedicao.

    Ressalta-se que o trabalhador exposto ao rudo excessivo pode ter dificuldade em se comunicar, manter a ateno e concentrao, assim como iluminao deficiente e o calor podem provocar cansa-o, queda na qualidade do trabalho, e adoecimento.

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    Para Simes, Rocha e Souza (2012), o processo de desgaste pode levar o trabalhador a se ausentar dos seus compromissos de trabalho para se recompor fsica e/ou psiquicamente.

    Quadro 2 Distribuio dos trabalhadores segundo as condies sanitrias e laborativas. Santana AP, 2014. n = 28

    Condies sanitrias e laborativas f %

    Condies sanitrias Hbitos Exerccio fsico regular Consumo de bebidas alcolatras Tabagismo AutomedicaoDesconfortos fsicos Mialgias Lombalgia Dorsalgia Astenia LER/DORT Insnia Dficit auditivoDoenas Pulmonar Artrose na coluna vertebralCondies laborativasJornada diria de trabalho (em horas) Inferior a 08 08 Superior a 08AbsentesmoAcidentes de trabalhoExposio a riscos ocupacionais Rudos excessivos Iluminao insuficiente Aclimatizao deficiente Poluentes Umidade excessiva Vibraes frequentes

    28 100,0 14 50,0 08 28,5 24 85,7 19 77,8 12 42,8 10 35,7 07 25,0 06 21,4 05 17,8 04 14,2 11 39,2 10 35,7 17 60,7 09 32,1 02 7,1 09 32,1 05 17,8 28 100,0 23 82,1 23 82,1 18 64,2 05 17,8 03 10,7

    Fonte: Elaborado pelas autoras a partir dos dados primrios

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    Cabe destacar que entre as causas para afastamento do traba-lho, o acidente de trabalho inclui-se como fator significativo, ob-tendo-se um percentual 17,8%, tendo como causas elencadas: corte nos dedos, corte no punho, toro no brao e tornozelo. Neste as-pecto, Balbo (2011), ressalta o papel dos Equipamentos de Proteo Individual (EPI) no que concerne a segurana dos trabalhadores e o papel da empresa em zelar pela segurana destes, tendo em vista a diminuio da produtividade ocasionada por acidentes de trabalho.

    Assim, ao considerar a segurana na indstria madeireira, a dis-ponibilizao pelo empregador e uso pelos trabalhadores dos EPI, se configuram com aspectos imprescindveis segurana do trabalho. Adicionalmente se evidencia a importncia da Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA) e do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO), para preveno, rastreamento e diagnstico precoce dos agravos sade relacionados ao trabalho, inclusive de natureza subclnica e constatao da existncia de casos de doenas profissionais ou danos irreversveis sade do trabalha-dor (PONTELO; CRUZ, 2011).

    4. CONCLUSES

    Os resultados evidenciaram que os trabalhadores dispunham de condies laborativas desfavorveis manuteno de sua sade e de seu bem-estar, pois estavam expostos aos fatores de risco ocu-pacionais, tais como, esforo fsico excessivo, exposio a rudos, m iluminao e calor ambientar intenso. Cabe destacar que alm da exposio ao risco ocupacional, identificou-se trabalhadores com hbitos insalubres alcoolismo, tabagismo, etc.

    O estudo permitiu a visualizao do processo de trabalho de-senvolvido por