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Brasília a. 36 n. 144 out./dez. 1999 111 1. A importância da empresa na sociedade contemporânea Na sociedade contemporânea, em que, na ordem econômica, o capitalismo preva- leceu sobre o socialismo, a empresa passa a exercer função preponderante, principal- mente levando-se em conta o questiona- mento acerca do papel a ser desempenha- do pelo Estado nessa nova ordem, no caso de o mesmo não conseguir enfrentar os problemas sociais e econômicos atuais. A propósito, é oportuno citar, de plano, Arnoldo Wald 1 , que salienta: “uma vez ultrapassada a concepção de Estado-Previdência, que desapa- receu em todos os países, com a fa- lência das instituições de previdên- cia social e a redução do papel do Estado nas áreas que não são, neces- A empresa: uma realidade fática e jurídica Jorge Rubem Folena de Oliveira Jorge Rubem Folena de Oliveira é Mestran- do em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Advogado. Sumário 1. A importância da empresa na socieda- de contemporânea. 2. Da evolução histórica da empresa. 3. Da dificuldade em se definir ou conceituar a empresa. 4. Asqui e os perfis da empresa. 4.1. Perfil subjetivo. 4.2. Perfil funcio- nal ou dinâmico. 4.3. Perfil objetivo ou patrimonial. 4.4. Perfil institucional. 5. Nature- za jurídica da empresa. 5.1. A empresa como objeto de direito. 5.2. A empresa como sujei- to de direito. 6. A empresa e sua função social. 7. A grande empresa capitalista e o processo de concentração econômica. 8. A empresa rural. 9. A empresa no projeto de Código Ci- vil brasileiro. 10. Conclusão.

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Brasília a. 36 n. 144 out./dez. 1999 111

1. A importância da empresa na sociedadecontemporânea

Na sociedade contemporânea, em que,na ordem econômica, o capitalismo preva-leceu sobre o socialismo, a empresa passaa exercer função preponderante, principal-mente levando-se em conta o questiona-mento acerca do papel a ser desempenha-do pelo Estado nessa nova ordem, no casode o mesmo não conseguir enfrentar osproblemas sociais e econômicos atuais.

A propósito, é oportuno citar, de plano,Arnoldo Wald1, que salienta:

“uma vez ultrapassada a concepçãode Estado-Previdência, que desapa-receu em todos os países, com a fa-lência das instituições de previdên-cia social e a redução do papel doEstado nas áreas que não são, neces-

A empresa: uma realidade fática e jurídica

Jorge Rubem Folena de Oliveira

Jorge Rubem Folena de Oliveira é Mestran-do em Direito pela Universidade Federal do Riode Janeiro e Advogado.

Sumário1. A importância da empresa na socieda-

de contemporânea. 2. Da evolução históricada empresa. 3. Da dificuldade em se definir ouconceituar a empresa. 4. Asqui e os perfis daempresa. 4.1. Perfil subjetivo. 4.2. Perfil funcio-nal ou dinâmico. 4.3. Perfil objetivo oupatrimonial. 4.4. Perfil institucional. 5. Nature-za jurídica da empresa. 5.1. A empresa comoobjeto de direito. 5.2. A empresa como sujei-to de direito. 6. A empresa e sua função social.7. A grande empresa capitalista e o processode concentração econômica. 8. A empresarural. 9. A empresa no projeto de Código Ci-vil brasileiro. 10. Conclusão.

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sária e exclusivamente, de sua com-petência, amplia-se a missão da empre-sa, como órgão intermediário entre o Po-der Público e o Estado, e como criadorade empregos e formadora de mão-de-obraqualificada, produtora de equipamentosmais sofisticados sem os quais a socieda-de não pode prosseguir, e interlocutoraágil e dinâmica que dialoga constan-temente com os consumidores deseus produtos”. (nossos grifos)

Nesse novo cenário econômico tomadopelo avanço tecnológico e pelo processo deglobalização, é imperioso destacar “a im-portância crescente da empresa como co-ração da vida econômica e social da socie-dade contemporânea”2, estando ela no cen-tro da economia moderna, chegando mui-tos a afirmar que a empresa constitui o lu-gar de eclosão da força vital de uma naçãoou a célula base de toda economia indus-trial.

Igualmente está refletido no direito, emque, na seara mercantil, o centro é a em-presa3, chegando muitos autores a comen-tar que o direito comercial moderno é odireito das empresas4.

Na opinião de Orlando Gomes, a em-presa não deve ser vista apenas no campodo direito comercial, mas “se coloca no cen-tro do sistema do direito privado, toman-do corpo justamente quando mais agudase torna a crise do direito de propriedadee, por conseguinte, a da categoria do direi-to subjetivo”5.

Porém, apesar de todo o destaque atual,não é de hoje que se vem debatendo a im-portância da empresa no cenário eco-nômico e jurídico, pois, como manifestaWashington Peluso Albino de Souza6,

“para muitos, foi na proporção queo Estado passou a atuar no domí-nio econômico que os juristas senti-ram-se na necessidade de desenvol-ver o que se convencionou chamar deTeoria da Empresa”.

Com efeito, realça-se que a empresa éum instituto em constante evolução, deven-

do o direito acompanhá-la, em cada época,conforme as mutações econômicas ocorri-das na sociedade.

Nesse sentido, o senador Josaphat Ma-rinho7 manifestou que

“as normas sobre o direito da empre-sa, além de amplas e flexíveis, devemser interpretadas de acordo com adiversificação da atividade negocial,as condições econômicas e os costu-mes do meio.”

Portanto, o direito, como captador dasrealidades e das transformações sociais,deverá acompanhar tais mudanças ocorri-das nas relações empresariais contemporâ-neas, fazendo as mesmas refletirem na suaaplicação no meio social8.

Tudo isso, conforme acima destacadopor vários doutrinadores, serve para real-çar que a empresa, e a teoria dela advinda,é uma realidade na sociedade contempo-rânea, sendo a sua expressão máxima re-presentada pela macroempresa, a qualconstitui-se, na atualidade, verdadeira ins-tituição com vida e destino próprio.

Nesse cenário de destaque da empresacontemporânea, iremos apreciar, nas linhasa seguir: (i) a dificuldade encontrada peladoutrina para se definir ou conceituar aempresa; (ii) a sua evolução histórica; (iii)os diversos perfis em que ela se apresenta;(iv) sua natureza jurídica, em que ela éapresentada como objeto ou sujeito de di-reito e ainda como exercício do direito depropriedade; (v) a função social desempe-nhada pelas empresas nos dias atuais pe-rante a coletividade em que atua; (vi) osprocessos de concentração e as macroem-presas que atuam no mundo globalizadopor meio das grandes transnacionais e (vii)as empresas rurais, uma realidade que seapresenta no campo em prol do desenvol-vimento do interior e do esvaziamento doscentros urbanos.

Levando-se em consideração todos ospontos acima destacados, consideramosoportuno manifestar que a empresa deveser vista, hoje, pelo direito, como uma rea-

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lidade cuja história está intimamente liga-da ao desenvolvimento do capitalismo con-temporâneo.

2. Da evolução histórica da empresaO primeiro registro da expressão em-

presa, segundo Francisco Wildo LacerdaDantas9, foi encontrado nos Estudos deEconomia Política de 1803 de Jean Bap-tista Say, para quem a empresa se apre-sentava em diferentes tipos de indústrias,tais como a agrícola, a manufatureira ecomercial10.

No entanto, é imperioso salientar que,durante os séculos XVII e XVIII, não se ti-nha um esboço do conceito ou definição deempresa – a exemplo dos moldes atuais –,porque, naquela época, ainda predomina-va o pequeno comércio e as indústrias demanufaturados com poucos empregados,permanecendo a agricultura como a prin-cipal fonte de riqueza das nações11.

A empresa, de fato, é um fenômeno quesurgiu com a Revolução Industrial, com odesenvolvimento econômico e dos proces-sos de produção12.

Pode-se afirmar que a empresa é umacriação do capitalismo da Idade Contem-porânea, mesmo sabendo-se que existiramcompanhias anteriores a tal período, noentanto desprovidas de organização pro-dutiva, na forma almejada no sistema libe-ral-capitalista.

No direito positivo, a empresa apareceupela primeira vez no Código Napoleônicode 1807, por meio das enumerações dosatos de comércio, em que estavam incluí-das:

“todas as empresas de manufaturas,de comissão de transportes por terrae água” e “todas as empresas de for-necimento, de agência, escritório denegócios, estabelecimentos de vendasem leilão, de espetáculos públicos”.

Porém, como assinala Rubens Re-quião13, o estudo sobre a empresa não sedesenvolveu muito à época do Código de

1807, pelo fato de os doutrinadores se pren-derem mais à teoria dos atos de comércio.

A consagração da empresa, no direitopositivo, deu- se no Código Civil italianode 1942, de concepção fascista14.

No Brasil, a empresa foi introduzida pormeio do Regulamento 737/1850, dentro dasenumerações dos atos de mercancia previs-tos naquele regulamento.

Porém, em nosso país, foi o direito dotrabalho o primeiro a regulamentar a em-presa, o grupo de empresa e sua respecti-va responsabilidade15.

O primeiro conceito legal de empresaque surgiu no país se deu mediante o De-creto-Lei nº 7.666/45, conhecido como “LeiMalaia”, e, posteriormente, por meio da jáab-rogada Lei nº 4.137/62, em seu art. 6º,como citado pelo professor Theophilo deAzeredo Santos16.

3. Da dificuldade em se definir ouconceituar a empresa

A dificuldade em se definir ou concei-tuar o que seja empresa decorre de sua pró-pria natureza jurídica, pois uns a conside-ram como mero objeto de direito, uma ver-dadeira abstração sem vida própria, e ou-tros a consideram como sujeito de direito,tendo vida independentemente da vonta-de de seus sócios17.

Além disso, a expressão “empresa” éutilizada, no dia-a-dia, com uma varieda-de numerosa de significados, que vão des-de o sentido de organização, passando pelanoção de estabelecimento e chegando, decerta forma, à de sociedade comercial, oque, como alude Waldirio Bulgarelli18, nãocontribui para a certeza e segurança carac-terísticas do ordenamento jurídico.

Essa situação contribui, acentuadamen-te, para não se ter uma fluente definiçãoou conceituação da empresa, o que, inclusi-ve, levou Georges Ripert19 a afirmar que“o legislador usa o termo empresa quandolhe é cômodo fazê-lo, sem se preocupar emempregá-lo sempre no mesmo sentido”.

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Dessa forma, verifica-se, a princípio,uma falta de cientificidade para se definirou se conceituar a empresa.

Todavia, a empresa é vista como fenô-meno econômico e, como tal, deve-se par-tir daí a sua observação.

Com efeito, sob o aspecto econômico, aempresa comercial (business enterprise), se-gundo lição de Willian H. Wesson20, pode-se referir:

a) a uma forma de produção tra-tada na teoria unitária da produçãocapitalista;

b) a um fator de produção;c) ao sistema de produção e dis-

tribuição capitalista;d) ao espírito ou atividade do sis-

tema ou do empresário individual21.Nesse contexto, a idéia de empresa é vista

como organização dos fatores de produção comvistas ao lucro.

Para Despax22, no que se refere à defi-nição econômica, há duas correntes: (i) umarestritiva, em que o termo empresa é em-pregado no sentido capitalista, ou seja, aempresa é vista como unidade voltada parao lucro e (ii) outra extensiva, em que a em-presa é vista como unidade de produçãode bens e serviços, sem depender de outroórgão para financiá-la.

Verifica-se que, com as macroempresase os crescentes processos de concentraçãoempresarial, a empresa como unidade deprodução está desvinculada da figura doempresário capitalista.

As empresas estão entregues a adminis-tradores responsáveis pela consecução dobom andamento de seus negócios e, porconseguinte, do interesse de seus investi-dores. Assim, sob o aspecto econômico, aempresa vem-se libertando da figura doempresário, o que para muitos, como Eva-risto de Moraes Filho23, faz com que elapasse a ter personalidade econômica.

De uma forma geral, a definição jurídi-ca de empresa está intimamente vinculadaà sua definição econômica. Essa concep-ção trata-se da teoria monista, em que há

uma coincidência do direito e da economiana definição de empresa, i.e., a noção eco-nômica da empresa é a mesma que a jurí-dica.

Dentro dessa linha monista, J. X. Car-valho de Mendonça24 expôs que a empresaapresenta alguns pressupostos que, paranós, são de grande importância para suadefinição jurídica:

a) uma série de trabalhos ou capi-tais, ou de ambos combinados;

b) uma série de negócios do mes-mo gênero de caráter mercantil; e

c) a assunção do risco próprio daorganização25.

Realmente, como se pode depreenderdesses pressupostos, a noção de empresapoderá ser considerada como predominan-temente econômica e não jurídica26.

Com efeito, mesmo com toda a dificul-dade existente quanto à natureza jurídicada empresa, J. X. Carvalho de Mendonça27

lançou a seguinte definição de empresa:“Empresa é a organização técni-

co-econômica que se propõe a pro-duzir, mediante a combinação dosdiversos elementos, natureza, traba-lho e capital, bens ou serviços desti-nados à troca (venda), com esperan-ça de realizar lucros, correndo os ris-cos por conta do empresário, isto é,daquele que reúne, coordena e diri-ge esses elementos sob a sua respon-sabilidade”.

Além disso, a empresa pode ser vistapor diversos ângulos econômicos para sechegar a sua definição jurídica, a exemplodo que fez Alberto Asqui28, que conside-rou a empresa como um fenômeno econô-mico poliédrico, a qual deve ser analisadasob vários perfis, quais sejam: a) subjetivo= empresário; b) funcional = atividade em-presarial; c) patrimonial ou objetivo = pa-trimônio comercial e estabelecimento e d)corporativo = instituição.

O fato de a empresa ser apresentada pordiversos perfis, segundo Asqui29, foi o mo-tivo que levou o legislador do Código Ci-

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vil italiano de 1942 a não defini-la naqueleestatuto legal.

4. Asqui e os perfis da empresa

4.1. Perfil subjetivo

O perfil subjetivo da empresa está inse-rido no empresário. Asqui, destaca quetanto no Código Civil italiano de 1942,como na legislação extravagante, a empre-sa é sinônimo de empresário. Nessa mes-ma linha, o projeto de Código Civil Brasi-leiro de 1975 adotou o perfil subjetivo daempresa, apenas definindo, no art. 969, afigura do empresário.

O Código Civil italiano, em seu art.2.082, define empresário “quem exerce pro-fissionalmente uma atividade econômicaorganizada, tendo por fim a produção outroca de bens ou serviços”.

Ressalta-se, por imperioso, que o autorem referência destaca os seguintes caracte-res dessa definição, segundo a disposiçãolegal aludida: a) o empresário poderá serpessoa jurídica ou física, i.e., o sujeito dedireito, que exerce atividade empresarialem nome próprio30; b) o exercício da ativi-dade econômica deverá ser de forma orga-nizada; c) a produção destina-se à troca debens ou serviços.; d) exercer a atividadeeconômica de forma profissional, i.e., nãoocasionalmente, mas em caráter de conti-nuidade.

Em decorrência do perfil subjetivo, to-das as atividades econômicas desenvolvi-das de forma organizada e produtiva se-rão consideradas como empresariais.

4.2. Perfil funcional ou dinâmicoO perfil funcional da empresa é visto

como a atividade empresarial, i.e., dirigi-da para um determinado fim produtivo.

Segundo o autor italiano,“o conceito de atividade empresarialimplica em uma atividade voltada, deum lado, a recolher e organizar a for-ça do trabalho e o capital necessário

para a produção ou distribuição dosdeterminados bens ou serviços, e, dooutro lado, a realizar a troca dos bensou serviços colhidos ou produzidos”.

4.3. Perfil objetivo ou patrimonial

Em tal perfil, segundo Alberto Asqui, aempresa é vista como patrimônio ou esta-belecimento.

Para o autor, o fenômeno da empresaprojeta tudo sobre o terreno patrimonial,dando lugar a um patrimônio especial dis-tinto, por seu escopo, do restante do patri-mônio do empresário, que é o estabeleci-mento.

Em contraposição a essa característica,desenvolveu-se uma teoria tendente a per-sonificar tal patrimônio, identificando aempresa como sujeito de direito distinta dafigura do empresário. Destaca que tal teo-ria não foi adotada no direito italiano, noCódigo Civil de 1942.

Para Asqui, esse patrimônio especial édinâmico, resultante de um complexo derelações organizadas e que tem o poder dedesmembrar-se do empresário e de adqui-rir por si mesmo um valor econômico, sen-do conhecido como estabelecimento ou uni-versitas iurium.

O estabelecimento é o complexo de bensmateriais e imateriais, móveis e imóveis e,segundo alguns, os serviços aí tambémestão incluídos. Dessa forma, o estabe-lecimento é composto dos instrumentosque o empresário se vale para o exercícioda atividade empresarial, ou seja, “o com-plexo de bens organizados pelo empresá-rio para o exercício da empresa”, confor-me preceitua o art. 2.555 do Código Civilitaliano.

Na forma prevista no Código Civil ita-liano, segundo o autor, o estabelecimen-to, a azienda, é considerada como “res”(coisa). Em outras partes daquele códi-go, o estabelecimento é disciplinadocomo patrimônio aziendal (art. 2.112),complexo das relações jurídicas.

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4.4. Perfil institucional

O perfil institucional é aquele em quese considera a empresa uma instituição.

Nesse perfil, a empresa é consideradacomo organização de pessoas formadapelo empresário, pelos empregados e cola-boradores. Tal união forma um núcleo or-ganizado, em que todos vêem como objeti-vo mútuo a obtenção de resultados melho-res na produção.

Segundo Asqui, nesse perfil a empresaé enquadrada, juridicamente, como insti-tuição31.

Com efeito, instituição é toda organi-zação de pessoas que voluntariamente oucompulsoriamente – em relações de hierar-quia e cooperação entre seus membros –agem em função de um escopo comum.

Destarte, a empresa como instituição éum ente apresentado com forma própria,na busca dos objetivos dos empresários,dos empregados e todos que dela depen-dem, seja de forma direta ou indireta.

5. Natureza jurídica da empresaA natureza jurídica da empresa, ou seja,

a sua localização no contexto jurídico, estácentrada em ser ela titular ou não de direi-to, i.e., ser sujeito de direito ou objeto dedireito.

Para tanto, nessa análise é curial a no-ção de empresa em relação ao perfil objeti-vo e institucional, salientado por Asqui.

Além disso, Orlando Gomes32 propõeuma terceira posição, qual seja: a empresacomo exercício do direito de propriedade.

A seguir examinaremos cada uma des-sas correntes.

5.1. A empresa como objeto de direito

Para os que vêem a empresa como ob-jeto de direito33, ela seria totalmente depen-dente da figura do empresário. Sem este, aempresa não respiraria, não teria vida.

Então, a empresa seria uma mera abs-tração na qual o empresário, mediante oexercício da atividade econômica,

impulsiona-a para buscar os resultadospara os quais foi concebida.

Nas palavras de Rubens Requião34, “aempresa somente nasce quando se inicia aatividade sob orientação do empresário”.

Assim, sob esse prisma, a empresa é vis-ta como integrante do patrimônio do em-presário, confundindo-se com a noção deestabelecimento ou de fundo de comércio.Nesse ponto revela-se o seu perfil patrimo-nial ou objetivo35.

Para essa corrente, os elementos corpó-reos e incorpóreos que constituem o fundode comércio ou o estabelecimento, e queforam constituídos e desenvolvidos peloempresário, caracterizam a empresa, porserem os instrumentos de exercício da ati-vidade empresarial produtiva.

Desse modo, para essa concepção obje-tivista, a empresa é mera unidade de pro-dução, sendo a sociedade, formada pela união evontade dos sócios, a titular de direitos e obri-gações perante o direito.

5.2. A empresa como sujeito de direito

Como salientado por Orlando Gomes36,foi no direito do trabalho que se formou ateoria de se personificar a empresa parajustificar a atribuição de determinados di-reitos aos empregados, mas, como adver-tia o saudoso professor baiano, “essa téc-nica resultou de superestimação dos ele-mentos humanos, em razão das novas di-retrizes adotadas para a organização do tra-balho”.

Porém, deixando de lado as críticas dosaudoso professor Orlando Gomes quantoa essa corrente personalista, cumpre real-çar que, no atual estágio, a empresa, paramuitos autores37, tem vida própria, inde-pendente da pessoa dos empresários.

E isso pode ser observado por meio dasgrandes empresas que comandam a econo-mia capitalista mundial, em que seus sóci-os são meros investidores, que confiam osdestinos dessas megaorganizações nasmãos de administradores contratados paratal fim.

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Nessas organizações, pouco se percebea ação dos sócios sobre os negócios da em-presa, agindo esta com vida e luz própria,pelas mãos de seus executivos.

Essa é a realidade que se apresenta nosdias atuais e precisa ser enfrentada pelodireito, ou seja: a empresa ser vista como pes-soa jurídica.

Como explicado por Pontes de Miran-da38, a expressão pessoa jurídica, nos mol-des atuais apresentados, é relativamentenova, vinda do começo do século passado,sendo empregada pela primeira vez porVon Savigny39.

Como narrado pelo saudoso jurista pá-trio, o direito romano desconhecia o con-ceito de pessoa jurídica40, somente o cida-dão romano era titular de direitos e deve-res, sendo reconhecido como pessoa física.“Os collegian e as sodalitates não eram pes-soas. A res publica era o bem do povo ro-mano; e esse não era pessoa privada. Coisado povo era extra comercium.”

Na Idade Moderna, com o desenvolvi-mento das concepções liberais burguesas,com a criação da figura do Estado e de seusórgãos e das demais formas de uniões eco-nômicas, por meio das associações e socie-dades comerciais, necessitou-se dar plenacapacidade jurídica (personalidade jurídi-ca) para que essas instituições pudessem,nas relações por elas travadas, produzirdireitos e contrair deveres ou obrigações.

Nesse contexto, surgiram as pessoas jurídi-cas.

O Direito brasileiro41, seguindo a linhaadotada pelo Direito germânico, atribuiuaos integrantes dos órgãos que compõemas pessoas jurídicas o poder de expressar avontade em nome dessas entidades42.

A personalidade jurídica da pessoa ju-rídica decorre do posicionamento ou von-tade dos seus membros ou associados, sejamediante decisões diretas, tomadas porestes, ou por pessoas indicadas pelos seusmembros para representá-los.

No entanto, por outro lado, as pessoasjurídicas têm vida totalmente independen-

te dos seus representantes legais (art. 20 doCódigo Civil brasileiro).

Particularmente quanto à personalidadejurídica das sociedades comerciais, esta foicentrada na pessoa dos comerciantes (só-cios) que integram tais sociedades. Daí ocaráter eminentemente pessoal dessas pessoasjurídicas, que dependem de seus membros ousócios para praticarem seus atos jurídicos.

Entretanto, a realidade que se apresen-ta, com o desenvolvimento do capitalismoe o surgimento das grandes organizações em-presariais, em forma de sociedades anôni-mas, é no sentido de se dissociar, cadavez mais, a figura do empresário “donoda empresa” da “do mero investidor decapitais”.

A propósito, Suzy Elizabeth Cavalcan-te Koury43, explicando a dissociação ocor-rida entre empresa e empresário, manifes-tou que

“essa dissociação, inconcebível natécnica jurídica clássica, na qual so-mente o empresário aparecia no ce-nário jurídico e se confundia o con-trole empresarial com a propriedadecapitalista, ficou bem clara com oadvento do livre acesso à formaanônima para os grandes empreen-dimentos”.

Nesse cenário, em que cada vez maisproliferam as grandes organizações empre-sariais, conforme as palavras de AlfredoLamy Filho44, “os donos perdem o poderde gerir sua propriedade, que se transfereaos administradores, pessoas que passama dispor da propriedade alheia como pró-pria”.

A esse respeito é oportuno citar a liçãode Fábio Konder Comparato:

“Com o advento da macroempre-sa moderna, não é apenas a ‘proprie-dade’ do empresário que desaparece,mas a sua própria hegemonia jurídica.Empresa e empresário se dissociam. Aexistência daquela não mais se subor-dina ao interesse deste, e independeportanto da sua vontade.(...)

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Paralelamente a essa linha de evo-lução, nota-se uma acentuada des-personalização da vida social, nagrande empresa. O empresário dei-xou de ser aquela personalidade pres-tigiosa, cujo nome as multidões pro-nunciavam com ódio, temor ou ad-miração.

Em seu lugar, vão surgindo equi-pes gerenciais anônimas, titulares doefetivo poder de decisão, e alguns‘medalhões’ encarregados de rela-ções públicas, recrutados entre mili-tares, políticos ou intelectuais apo-sentados.

Por outro lado, a composição docorpo acionário da grande empresatem ainda mais acentuado o seu ano-nimato. (...) Atualmente, os grandesacionistas não são mais indivíduos,mas sociedades, fundações, fundosde investimentos, fundos previden-ciários”. (Comparato, 1970. p. 10, 23-24)

Com o fenômeno das grandes concen-trações econômicas, ocorrido principal-mente após a 2ª Guerra Mundial, observou-se que a empresa, até então mero objeto eco-nômico, ficou totalmente desvinculada da fi-gura do empresário.

Com isso, a empresa, principalmente amacroempresa, passou a exercer um papelinstitucional, assumindo uma função socialperante a coletividade.

A conclusão decorrente da empresa, vis-ta como instituição e praticante de funçãosocial, é no sentido de que ela tem vida pró-pria independente da vontade dos seus sócioscapitalistas, assumindo ela compromissos comtoda a coletividade onde atua.

Nesse momento, a empresa, indepen-dente da figura dos seus donos, assumiu ogrande papel de agente produtor de direi-tos e obrigações.

Dessa forma, deve a empresa ser vista,no mundo real, como sujeito de direito. A essefenômeno o direito não pode-se omitir, de-vendo reconhecê-la, seja por meio de leispróprias ou por meio da jurisprudência45.

A vantagem de se reconhecer persona-lidade jurídica às empresas reside na suamanutenção e conservação, em benefício detoda a coletividade – passando pelos em-pregados, seus fornecedores, seus consu-midores, etc – em detrimento à vontadeexclusiva dos seus sócios.

Nesse sentido, várias legislações concur-sais46 têm disposto sobre a manutenção é re-cuperação de empresas em dificuldades.

Portanto, ressaltamos que a empresavista como instituição, dotada de persona-lidade jurídica, é um fenômeno próprio dasgrandes organizações capitalistas.

5.2.1. A disregard doctrine e as pequenas emédias empresas

As pequenas e médias empresas, emque ainda se percebe diretamente a figurado empresário em suas ações, deveriam sertratadas da mesma maneira que as macro-empresas, como sujeitas de direito?

Pensamos que não.Um dos grandes avanços da teoria con-

temporânea do direito foi o reconhecimen-to da disregard doctrine, ou seja, a desconsi-deração da personalidade jurídica.

O reconhecimento da personalidade ju-rídica indistintamente a qualquer tipo deempresa, seja grande, média e pequena,prejudicaria totalmente o reconhecimentoà aplicação da teoria da desconsideração dapersonalidade jurídica, a qual objetiva atin-gir diretamente os sócios que se escondemna personalidade jurídica das associaçõesou sociedades para praticarem fraudes con-tra terceiros.

Essas situações negativas podem ocor-rer com maior freqüência nas pequenas emédias empresas, em que os seus capitaiscirculantes são, muitas vezes, insuficientespara garantirem as relações econômicaspraticadas por estas com seus credores. Jáas macroempresas têm, geralmente, notó-ria capacidade financeira para suportarqualquer impacto negativo sobre suas tran-sações.

Por tal particularidade, consideramosque deve ser mantido o mesmo tratamen-

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to dispensado pela legislação vigente às pe-quenas e às médias empresas, ou seja: a so-ciedade comercial detendo a personalidade jurí-dica.

Com isso, os sócios dessas empresaspoderão responder pelos prejuízos causa-dos a terceiros, nos casos de fraude e simu-lação, por meio da disregard doctrine, o quenão ocorreria caso as pequenas e médias empre-sas fossem dotadas de personalidade jurídicaprópria, pois a personalidade jurídica destas étotalmente distinta dos seus sócios, como prevêa lei (art. 20 do Código Civil brasileiro).

Sendo assim, o direito empresarial deve-se enquadrar nessa realidade em que asgrandes empresas, principalmente as dotipo sociedade anônima, devem ser reco-nhecidas como sujeito de direito perante omundo jurídico e as pequenas e médiasempresas recebendo o mesmo tratamentoatual, em que a sociedade detém a perso-nalidade jurídica, de modo a ser mantidotodo o avanço realizado pelo direito quan-to ao reconhecimento da teoria da descon-sideração da personalidade jurídica.

5.2.2. A personalidade jurídica da empresa àluz do direito do trabalho

Como acima mencionado, foi no direi-to do trabalho, segundo Orlando Gomes,que se desenvolveu a tese de personifica-ção da empresa, com o objetivo de garantirdireitos aos trabalhadores.

Para o direito do trabalho, conforme li-ção de Orlando Gomes e Elson Gottschalk47,três elementos são suficientes para carac-terizar a empresa no âmbito das relaçõestrabalhistas, ou seja:

“do ponto de vista trabalhista, inte-ressa, em primeiro lugar, que a insti-tuição, econômica ou não, desenvol-va certa atividade. Em seguida, quepossa agir e exercer um poder dedireção, que é a autoridade organi-zativa, encarnada no seu chefe. Porfim, a formação de pessoal. A em-presa unipessoal, a artesanal ou a fa-miliar, que não possuem emprega-

dos, não interessam ao direito dotrabalho, embora sejam relevantespara a ciência econômica e para o di-reito comercial”.

Dito isso, cumpre salientar que, no âm-bito trabalhista, a personalidade jurídica daempresa é vista nas normas dos arts. 2º e448 da CLT, que procuram colocar a em-presa como ser autônomo em relação à fi-gura do empresário.

Independente de qualquer controvérsiaacerca da natureza jurídica da empresa nodireito do trabalho, as normas da CLT bra-sileira acima citadas deixam claro a natu-reza de pessoa jurídica da empresa, colo-cando-as com vida independente da figura doempresário, dono daquelas organizações.

Apesar desses dispositivos legais reco-nhecerem a personalidade jurídica da em-presa48, há autores que negam sua nature-za de pessoa jurídica na seara trabalhista,reconhecendo-a como objeto de direito49.

A personalidade jurídica das empresasdeve ser observada apenas para as macro-empresas, sob pena de afastar a aplicaçãoda teoria da desconsideração da personali-dade jurídica no âmbito trabalhista.

Com efeito, as pequenas e médias em-presas apresentam uma relação de interde-pendência com a figura dos seus sóciosempresários. Dar a essas empresas a cate-goria de pessoa jurídica seria o mesmo queafastar do âmbito de aplicação do direitodo trabalho a tão válida disregard doctrine,que está a serviço do direito para combateras possíveis fraudes praticadas pelosempregadores em detr imento dosempregados.

Dessa forma, no direito do trabalhotambém é identificada a personalidadejurídica da empresa, observadas as limi-tações com relação às pequenas e médiasempresas, em que a figura do empresário/empregador é sentida com mais força; sen-do, nesses casos, a empresa ainda vistacomo propriedade (objeto de direito) dosseus donos.

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5.2.3. A personalidade jurídica da empresa àluz do direito tributário

O direito tributário, ao lado do direitodo trabalho, é um dos ramos que mais ob-servou a evolução da empresa50.

A empresa, nesse ramo do direito, é con-siderada contribuinte independente da fi-gura do empresário.

A propósito, assim está previsto no art.146 do Regulamento do Imposto de Ren-da, Decreto nº 3.000/99:

“art. 146. São contribuintes do impos-to e terão seus lucros apurados deacordo com este decreto:

I. as pessoas jurídicas;II. as empresas individuais”.

Portanto, a empresa, no direito tributá-rio, é vista, também, como pessoa jurídica.

5.3. A empresa como exercício do direito depropriedade

Para o saudoso professor Orlando Go-mes51, a natureza jurídica da empresa seriao mero exercício do direito de proprieda-de, e para justificar sua posição manifes-tou o seguinte:

“A empresa não pode ser objeto,porque atividade não é objeto de di-reito, e não pode ser sujeito, porqueé o modo de atividade do titular. Aempresa seria um dos modos do di-reito de propriedade”. (Gomes, s.d.)

Para nós, a empresa vista como direitode propriedade é muito próxima da noçãoda empresa tida como objeto de direito,uma vez que ela está identificada ao con-junto de bens pertencentes ao empresário.

Essa concepção está vinculada às noçõesliberais clássicas, em que a empresa é ummero conjunto de bens organizados queintegram o patrimônio do seu proprietário,o empresário.

Com efeito, o direito de propriedade não serestringe apenas aos direitos reais. Como ex-põe Maria Helena Diniz52, a expressão pro-priedade pode significar, em três acepções,o seguinte:

“1) na linguagem jurídica em geral,pode ter o sentido de: a) qualidade doque é próprio; b) o que é próprio dealguma coisa, distinguindo-a de ou-tra; (...) 2) no direito civil. a) O QUEPERTENCE A UMA PESSOA; (...) d)PODER QUE SE EXERCE SOBRECOISAS; e) DIREITO QUE TEMUMA PESSOA DE TIRAR DIRETA-MENTE DA COISA A SUA UTILIDA-DE JURÍDICA (Tito Fulgêncio apudDINIZ) (...). 3)Direito comercial. ESTA-BELECIMENTO COMERCIAL.” (Di-niz, 1998.)

Entre os vários sentidos da palavra pro-priedade acima destacados, vê-se que amesma não se restringe apenas a uma jusin re; nela se inclui, entre outros, no campodo direito civil, “o poder que se exerce so-bre coisas” e “o direito que tem uma pes-soa de tirar diretamente da coisa a sua uti-lidade jurídica” e, no direito comercial, elapode ser vista como estabelecimento.

Esses sentidos são fundamentais na con-cepção de empresa como exercício de umdireito de propriedade, pois:

1) ela se apresenta como um con-junto de bens organizados para seatingir um fim (o lucro), por meio doestabelecimento;

2) o empresário exerce seu poderde propriedade sobre os bens inte-grantes do estabelecimento; e

3) sobre o estabelecimento, o em-presário tem o direito de tirar umautilidade pessoal e jurídica.

Nota-se, então, que a empresa pode servista como exercício de uma propriedade,por meio da qual se busca o lucro, fim maiorda organização empresarial.

No entanto, a empresa não pode ser vis-ta como mero exercício do direito de pro-priedade, como manifestam os defensoresdessa corrente, pois, nos dias atuais, a uti-lidade que o empresário tira da empresanão está limitada somente ao lucro. Cabe aessas organizações exercerem também umafunção social, que é extensiva ao interessede toda a coletividade.

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6. A empresa e sua função social

A função social da empresa deriva doconceito de função social da propriedade53.

A noção de função social da proprieda-de despontou, no cenário jurídico e ideoló-gico, no final do século passado e iníciodeste, como oposição à idéia de livre exer-cício do direito de propriedade, como de-fendido pelo pensamento liberal individu-alista, até então vigente54.

Como adverte José Afonso da Silva55, afunção social da propriedade não se con-funde com as limitações ao direito de pro-priedade. Essas limitações, segundo o fes-tejado constitucionalista pátrio, dizem res-peito ao exercício do direito do proprietá-rio; enquanto a função social da proprie-dade diz respeito à propriedade, ou seja,ela não pode mais ser tida como um direi-to individual56.

Especificamente no caso da empresa, afunção social a ser desempenhada por elaestá relacionada ao fato de não caber ape-nas aos sócios/empresários, de forma in-dividual e exclusiva, o seu destino, mas,sim, a toda a coletividade.

Daí, observa-se a intervenção cada vezmais constante do Estado sobre as empre-sas, de modo a tutelar e garantir não só asatividades concorrenciais por elas desem-penhadas no seu dia-a-dia, como tambémtoda a coletividade que dela depende dire-ta ou indiretamente.

Com efeito, Modesto Carvalhosa57 ex-põe que são três as modernas funções soci-ais da empresa:

“A primeira refere-se às condiçõesde trabalho e às relações com seusempregados, em termos de melhoriacrescente de sua condição humana eprofissional, bem como de seus de-pendentes. A segunda, volta-se aointeresse dos consumidores, diretosou indiretos, dos produtos e serviçosprestados pela empresa, seja em ter-mos de qualidade, seja no que se re-fere aos preços. A terceira, volta-se aointeresse dos concorrentes, a favor

dos quais deve o administrador daempresa manter práticas equitativasde comércio, seja na posição de ven-dedor, como na de comprador. Aconcorrência desleal e o abuso dopoder econômico constituem formasde antijuridicidade tipificadas”. (Car-valhosa, s.d.)

Nessa linha, a Lei nº 6.604/76 (Lei dasS/A brasileira) prevê a função social daempresa, nos seus arts. 116, parágrafo úni-co, e 154, normas essas a serem observa-das, respectivamente, pelos sócios contro-ladores e pelos administradores das empre-sas:

“Art. 116.(...)Parágrafo Único. O acionista con-

trolador deve usar o poder com o fimde fazer a companhia realizar o seuobjeto e cumprir sua função social, etem deveres e responsabilidades paracom os demais acionistas da empre-sa, os que nela trabalham e para coma comunidade em que atua, cujos di-reitos e interesses deve lealmente res-peitar e atender”.

“Art. 154. O administrador deveexercer as atribuições que a lei e oestatuto lhe conferem para lograr osfins e interesses da companhia, satis-feitas as exigências do bem público eda função social da empresa”.

Lei nº 6.604/76 (Lei das S/A bra-sileira).

As normas acima, quanto à aplicação dafunção social da empresa, são destinadasdiretamente a seus acionistas controlado-res e administradores. Todavia, estes, emseus misteres, não podem deixar de lado oobjetivo almejado por suas empresas, queé o lucro.

Sem o lucro, as empresas perdem o seusentido, principalmente na economia ca-pitalista, em que a empresa é sua molamestra.

A doutrina58 e jurisprudência pátrias,em diversas oportunidades, mantêm a

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posição de que o lucro é necessário às com-panhias, sob pena de não atingirem o seufim e estarem passíveis de dissolução59:

“Sociedade comercial – Anônima– Dissolução, a requerimento da me-tade dos seus sócios, pela inexistên-cia de lucros – Admissibilidade e pro-cedência da ação – Sentença confir-mada – Inteligência e aplicação doart. 43, ‘b’ do Decreto-Lei n. 2.627, de1940.

A sociedade comercial que não dálucro não preenche o seu fim e, con-seqüentemente, poderá ser dissolvi-da”60.

“Sociedade comercial Anônimaholding - Objetivos não atingidos –Lucros nunca distribuídos – Prejuí-zos constantes – Discórdia – Dissolu-ção pleiteada – Ação procedente.

A discórdia entre acionistas emsociedade anônima constituída porelementos da mesma família e, ain-da, a impossibilidade de atingir seusobjetivos e os prejuízos justificam suadissolução”61.

Como se vê, nos julgados acima, o lu-cro é fundamental às empresas, principal-mente nas sociedades anônimas62.

Entretanto, é necessário haver a concilia-ção entre a obtenção de lucros, como metadas empresas, e a realização de suas fun-ções sociais. Tal situação, segundo FábioKonder Comparato63, caracteriza-se comouma verdadeira incongruência, pois, a princí-pio, são totalmente antagônicas.

No atual estágio, em que o Estado, comoinstituição política, encontra-se esfaceladoe onipotente, a empresa, como agente eco-nômico e político, deve, na consecução desua função social, auxiliar o Estado no de-senvolvimento de suas políticas sociais, sobpena de aumentar cada vez mais as dife-renças sócio-econômicas e ampliar a basedas concentrações empresariais.

Nesse cenário, ao nosso ver, não cabe-ria apenas ao Estado o desenvolvimento depolíticas sociais, mas, também, às empre-

sas, na consecução de seus negócios, com amissão de colaborar com o desenvolvimen-to social junto às coletividades em que atu-am.

Realça-se que, a princípio, todos podemimaginar que as empresas não teriam res-ponsabilidade alguma sobre a crise vividapelo Estado, como instituição política or-ganizada.

Em verdade, as empresas ou seus do-nos contribuíram e muito para tal crise,pois, nos momentos mais agudos do capi-talismo, o Estado esteve a serviço do po-der econômico para solucionar as crisesvividas por aqueles agentes, o que o levoua intervir na economia, atuando em searasque não seriam de sua competência, pro-vocando verdadeiros desajustes orçamen-tários em suas contas públicas, sendo umdos motivos da crise vivida pelo Estado noatual momento.

Portanto, o lucro, a ser obtido pelasempresas, tem que estar conciliado com afunção social a ser desempenhada por es-tas, o que as torna verdadeiras instituições,integradas por seus donos, por seus em-pregados e por seus colaboradores (forne-cedores e consumidores), em busca de re-sultados melhores para elas e as socieda-des às quais pertencem.

Realmente, o lucro é o que se espera deuma empresa na economia capitalista, sobpena destas não representarem o instru-mento de captação de investimentos e pou-pança, em relação aos acionistas que inves-tem seus capitais nos papéis daquelas em-presas.

Entretanto, o destino e a vida das em-presas não deve estar apenas na vontadedos seus sócios – os quais estão desejososem obter o lucro –, mas também no com-prometimento social que a empresa desem-penha na sociedade, junto àqueles que, di-reta ou indiretamente, dela dependem.

A preservação da empresa não está ape-nas nas mãos dos seus donos, os quais po-derão sair ou retirar-se das empresas semque interfiram na sobrevivência daquelas.

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Os empresários são fundamentais para asempresas, porém o destino destas não de-pende apenas deles. Com o reconhecimen-to cada vez maior da função social que asempresas desempenham na sociedade, apreservação delas está relacionada comessa função.

Essa situação levou o saudoso João Eu-nápio Borges64 a manifestar que “a necessi-dade de preservar a empresa, defendendo-a contra os interesses dos próprios sóciosque a constituíram, é dogma consagradono moderno direito comercial e econômi-co”. (Borges, 1969)

O dogma a que se refere Borges (op. cit.)é a necessidade de se preservar a empresaem decorrência da função social que ela de-sempenha na sociedade, o que reconhecea vida da empresa, após a sua constituiçãoe funcionamento, independente da vonta-de dos sócios.

A propósito, nesse sentido tem-se posi-cionado a jurisprudência, preservando asempresas e vedando as suas dissoluções atémesmo contra a vontade dos seus empre-sários, em respeito à função social desem-penhada por elas:

“Sociedade comercial – Limitada– Dois sócios – Morte de um deles –Apuração de haveres na forma pre-vista no contrato – Continuidade daempresa pelo sócio remanescente –Admissibilidade.

(...)Lição de tratadistas e jurisprudên-

cia moderna no sentido de se mantera empresa, que representa interessecoletivo, pois dá empregos, paga im-postos, entre outras vantagens gerais.Evita-se, também, a intervenção doliquidante judicial, sempre onerosa edemorada”65.

“Sociedade comercial – Responsa-bilidade limitada – Dois sócios – Dis-solução pedida por um – Continua-ção da empresa – Apuração de have-res – Inexistência de decisão extrapetita.

Numa ação de dissolução de so-ciedade composta de dois elemen-tos, a decisão que nega a dissoluçãoe assegura a retirada do autor, comcabal apuração de haveres, não é ex-tra petita, mas provimento parcial dopedido e ajustado ao interesse socialde preservação das empresas”66.

“Sociedade comercial – Responsa-bilidade limitada – Falecimento desócio – Divergência entre os demais– Dissolução – Pedido não acolhido– Prevalência do contrato.

(...)A tendência moderna é de preser-

vação da empresa, permitindo suacontinuação por um determinadoperíodo mesmo os que não admitema sociedade unipessoal. A redução dasociedade a um sócio não lhe traz adissolução de pleno direito. A lei querege a sociedade por cotas (Lei 3.708/19), em seu art. 18, manda observaras disposições da Lei das SociedadesAnônimas. Hoje, a Lei 6.604/76 dis-põe que a redução do número de só-cios a um só será causa de dissolu-ção se o número de dois não for re-constituído até a assembléia geralordinária do ano seguinte”67.

A preservação da empresa, nos diasatuais, está diretamente relacionada com afunção social que ela desempenha junto àcoletividade em que está radicada.

Sendo assim, os empresários, mesmo re-alizando o objeto social das empresas – queé o lucro –, devem sempre levar em consi-deração o bem público e a função social quecumpre a elas desempenhar na comunida-de onde estão atuando.

Por tal motivo, como adverte Fran Mar-tins (1984. V. 2, p. 3719), os donos e admi-nistradores das empresas deverão desem-penhar suas atribuições não com o intuitoexclusivo de obter lucros para a sociedade,mas, igualmente, de atender às exigênciasdo bem público, visto que cabe às empre-sas desempenhar, também, função social.

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7. A grande empresa capitalista e oprocesso de concentração econômicaNeste final de século, o capitalismo

vem-se apresentando de uma forma cadavez mais concentrada, em que poucos – osacionistas – detêm o controle das empre-sas em suas mãos.

O fenômeno da concentração econômi-ca empresarial vem-se intensificando des-de a Segunda Guerra Mundial, como regis-tra Fábio Konder Comparato (1970, p. 4),sendo que o salto tecnológico ocorrido apartir daí acrescentou novas razões justifi-cadoras do movimento concentracional.

Esse fenômeno de concentração econô-mica é próprio da grande empresa capita-lista, que atua em todo mundo globaliza-do por meio de suas filiais transnacionais68.

A esse respeito, Waldírio Bulgarelli(1996, p.25) salienta que

“é inegável que a grande empresaconstitui, em nossos dias, a base daeconomia dos países desenvolvidos,com influência marcante sobre osdemais, e domina o panorama davida econômica de nossa época”.

Por isso, a sua importância para o direi-to, ao qual cabe regular as relações advin-das da grande empresa capitalista.

Está-se observando em todo mundo,inclusive em nosso país, os crescentes pro-cessos de fusões, cisões e incorporações, emque várias empresas do mesmo segmentoestão-se unindo ou sendo incorporadas poroutras.

Os processos de concentração empresa-riais estão criando macroempresas, maio-res que as grandes empresas existentes an-teriormente, as quais têm o monopólio emsuas áreas de atuação, impedindo o avan-ço da concorrência e eliminando os seuscompetidores.

O fenômeno concentracional está ali-nhado com o avanço tecnológico, poisquem consegue deter novas técnicas lan-çará modernos produtos no mercado, afas-tando os que não conseguiram, no mesmoperíodo, apresentar esses avanços.

Somente consegue ingressar na corridatecnológica quem dispõe de capitais sufi-cientes para tanto. Dessa forma, terá con-dições de desenvolver novos projetos ouadquirir de terceiros novas técnicas para odesenvolvimento de seus produtos e ser-viços.

Theotonio dos Santos (1987, p. 107) aotratar da grande empresa e eficiência tec-nológica, com base em estudo desenvol-vido por Betty Bock e Jack Farkas para oNational Industrial Conference Board como título “concentration and productivity”, che-gou às seguintes conclusões proporciona-das pelo avanço tecnológico:

“...1º) concentrar a produção em al-

gumas empresas;2º) que estas poucas empresas

apresentem, no futuro, taxas de pro-dutividade mais altas;

3º) acentuar a desigualdade entreos diversos ramos industriais, emfunção da introdução de novas téc-nicas em alguns ramos mais dinâmi-cos e o atraso em outros;

4º) que os lucros brutos e os exce-dentes disponíveis para novos inves-timentos se concentrem também nasempresas maiores de maior produti-vidade;

5º) que a porcentagem dos salári-os no conjunto do valor agregado dosprodutos diminua enquanto aumen-ta a do lucro;

6º)ao aumentar de maneira tãosignificativa a produtividade do tra-balho e a concentração econômica,passa a diminuir o número de traba-lhadores ou as horas de trabalho ne-cessárias para produzir um determi-nado volume de bens.

...”(Santos, op. cit.)

Verifica-se, desse modo, que o avançotecnológico e a concentração econômicaempresarial proporcionam: (i) a eliminaçãoda concorrência, (ii) altas taxas de lucros a

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pouquíssimos investidores e (iii) o esma-gamento crescente das forças de trabalho.

No capitalismo contemporâneo, essequadro negativo está muitas vezes associ-ado à grande empresa globalizada, que vaide um país para outro em busca de melho-res oportunidades para seus investimentos.

Portanto, a macroempresa, no atual ce-nário, deve ser vista com muito cuidadopelo direito, devendo o Estado intervir noscasos de abuso de poder econômico, demodo a proteger os interesses da coletivi-dade e principalmente dos consumidoresfinais dos produtos e serviços fornecidospor essas empresas.

Neste trabalho, apenas gostaríamos derealçar a preocupação existente com rela-ção ao fenômeno atual da macroempresa,especificamente quanto aos processos deconcentração econômica, hoje exaustiva-mente estudados pelo direito antitruste,não sendo nosso objetivo fazê-lo por meiodestas linhas.

8. A empresa rural

As atividades rurais – a agricultura e apecuária –, por estarem relacionadas à ter-ra, à propriedade imobiliária, por força desua natureza jurídica, sempre foram colo-cadas fora do campo de ação do comércio69,não sendo, por isso, estendidos aos agri-cultores e pecuaristas os direitos e vanta-gens inerentes aos comerciantes.

Todavia, a revolução industrial e cien-tífica, que se intensificou após a metadedeste século XX, atingiu o campo, transfor-mando as relações de produção no setoragrário.

Em decorrência dessa revolução, osmeios de produção no campo se amplia-ram, tornando-se cada vez mais intenso oinvestimento de capitais no setor agrário.

Com a ampliação desses investimen-tos, a figura da empresa rural ou agráriaganhou maior expressão, com a teoria daempresa sendo aplicada às formas deprodução organizadas desenvolvidas nocampo.

A esse respeito, Waldírio Bulgarelli(1980, p. 33-35) manifestou que:

“A verdade é que da mesma for-ma que a industrialização tomou po-sição na economia, absorvendo o ar-tesanato e outras formas rudimenta-res de produção que nem por issodesapareceram de todo, permanecen-do ao lado das grandes empresas,assim também vem ocorrendo na agricul-tura, onde a mecanização e a organiza-ção vêm substituindo as empresas rudi-mentares e de métodos de administração,organização e produção.

(...)Entretanto, a evolução do sistema

de produção e comercialização naagricultura vem gerando a criação deempresas e, até grandes empresas emseu meio, adotando-se, com as adap-tações indispensáveis, aos mesmosmétodos e técnicas de organização dosetor comercial e industrial”. (Bulga-relli, op. cit.)

Além disso, é notória e incontestável afunção social relevante que é desempenha-da pelo setor agrário junto à sociedade or-ganizada, pois o destino da sua produção(alimentos) é direcionado para a manuten-ção e sobrevivência biológica dos sereshumanos.

Esse papel é fundamental, principal-mente nesses momentos de crise que ahumanidade vem atravessando, em que,em decorrência de diferenciações sociais eeconômicas existentes em todo o globo, sãoelevadas as taxas de desnutrição e fome.Dessa maneira, exige-se a produção cadavez maior de alimentos, a preços mais con-vidativos.

Essa notória função social do setor agrá-rio é captada por suas empresas. Porém, asempresas capitalistas desse setor, como asdo meio urbano, têm, também, como meta,em decorrência dos investimentos empre-gados na produção, o lucro. Esse é o objeti-vo almejado pelo empresário rural, o qualproduz e comercializa espécie vital para asobrevivência das pessoas.

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Contudo, realçamos que, nas empresasrurais, a busca do lucro não deve ser vistade forma isolada, ao lado dela deve cami-nhar a função social que desempenhamessas empresas junto à sociedade, princi-palmente em relação à destinação de suaprodução.

As empresas rurais, quanto aos seuscaracteres básicos, em nada diferem dasempresas urbanas, disciplinadas sob a óti-ca do direito comercial e econômico70.

O ponto diferenciador das empresasagrárias em relação às comerciais e indus-triais está ligado ao objeto de sua produ-ção. No caso das agrárias, elas produzemvegetais e criam animais, os quais estãorelacionados à terra.

Com efeito, Fernando Campos Scaff(1997, p. 46) define a empresa agrária como

“a atividade organizada profissional-mente em um estabelecimento ade-quado ao cultivo de vegetais ou à cri-ação de animais, desenvolvida como objetivo de produção de bens parao consumo”.

Para o citado autor71, são três os requi-sitos da empresa agrária:

O primeiro diz respeito a organi-cidade, ou seja, a empresa agrária temque apresentar uma atividade produ-tiva organizada; o segundo requisitodiz respeito a economicidade da pro-dução, i.e., as atividades produtivasdestas empresas visam a obtenção delucro, porém devendo ser observadaa função social a ser cumprida porestas empresas; o terceiro requisitoestá relacionado com a profissionali-zação no desempenho das atividadesprodutivas. A produção rural deve-rá ser realizada de forma profissio-nal, estável e continuada. (Scaff, op.cit.)

Portanto, deixando de lado as caracte-rísticas próprias do setor rural (produçãode alimentos), os requisitos das empresasagrárias são semelhantes aos das empre-sas comerciais: realização de uma ativida-

de produtiva organizada, exercida de for-ma profissional, na qual se busca o lucrocomo resultado do trabalho e investimen-tos feitos na produção.

Apesar de as atividades agrárias orga-nizadas apresentarem estrutura própria ecomum das empresas comerciais, o trata-mento estendido a elas pelo direito positi-vo não é igual às demais.

Essa diferenciação de tratamento decor-re da origem histórica das empresas rurais,as quais estão intimamente vinculadas àterra (agricultura e pecuária). Desse modo,as atividades rurais eram reguladas pelodireito civil e não pelo direito especial doscomerciantes72.

Somente aos empreendimentos em-presariais rurais que adotassem a forma desociedade anônima, por imperativo legal,aplicavam-se as regras do direito comerci-al e as vantagens inerentes aos comercian-tes, tais como a possibilidade de requere-rem concordata preventiva ou serem decla-rados falidos.

Todavia, as empresas agrárias tambémsão uma realidade evidente que não pode-ria ficar de fora das regras do direito em-presarial.

Por causa disso e pelo fato de o direitopositivo não reconhecer genericamente asregras do direito comercial para empresasagrárias, os produtores rurais desgarram-se do âmbito do direito civil, sendo criadoum ramo do direito próprio para regularsuas relações, que é o direito agrário73, oqual apresenta institutos próprios dessesetor.

O direito positivo agrário em nosso paístem na Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra)sua maior expressão legislativa. Nessa lei,a empresa rural é conceituada, em seu art.4º, como

“o empreendimento de pessoa físicaou jurídica, pública ou privada, queexplora econômica e racionalmenteimóvel rural, dentro de condição derendimento econômico da região emque se situe e que explora área míni-

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ma agricultável do imóvel, segundopadrões fixados, pública e previa-mente, pelo Poder Executivo. Paraeste fim equiparam-se às áreas culti-vadas, as pastagens, matas naturaise artificiais e as áreas ocupadas combenfeitorias”.

Como acentua Waldírio Bulgarelli(1980. p. 38), o critério adotado pelo Esta-tuto da Terra para conceituar a empresa“foi o da rentabilidade da dimensão, inse-rida que foi entre minifúndio e latifúndio”.Esse conceito não está relacionado direta-mente com a visão de empresa como uni-dade de produção, o que, de certa forma,pode ser explicado pela natureza do bem aser tutelado por aquela norma de proprie-dade rural e sua devida utilização social,sob pena de desapropriação para a refor-ma agrária.

Independente de o setor agrário regula-mentar a empresa rural e suas atividades,o empresário agrário não pode ser tratadode forma diversa do empresário comerciale industrial. Sendo a empresa um fenôme-no real, seja nas cidades ou no campo, nãopode existir tratamento diferenciado entreessas empresas.

O projeto de Código Civil brasileiro, naredação primitiva do art. 973, dispensavada inscrição as empresas rurais, bem comodas restrições e deveres impostos aos em-presários comerciais inscritos e definia taisempresas conforme a seguinte redação:

“Art. 973. São dispensados de ins-crição e das restrições e deveres im-postos aos empresários inscritos:

I. O empresário rural, assim con-siderado o que exerce atividade des-tinada à produção agrícola, silvícola,pecuniária e outras conexas, como aque tenha por finalidade transformarou alienar os respectivos produtos,quando pertinentes aos serviços ru-rais.

(...)”.Projeto de Código Civil brasileiro

Todavia, após o referido projeto trami-tar pelo Senado Federal, a redação do art.973 ficou vazada nos seguintes termos: “Alei assegurará tratamento favorecido, dife-renciado e simplificado ao empresário ru-ral e ao pequeno empresário, quanto à ins-crição e os efeitos daí decorrentes.” Isto é,uma lei especial irá regulamentar a situa-ção das empresas rurais e dos pequenosempresários.

Entretanto, no projeto (art. 974) foi man-tida a possibilidade de o empresário “cujaatividade rural constitua sua principal pro-fissão” poder requerer sua inscrição noRegistro de Empresa, ficando, após a ins-crição, “equiparado para todos os efeitosao empresário sujeito a registro”.

Como se vê, o projeto do Código Civilbrasileiro, na regulamentação da empresarural, dá a possibilidade, conforme o inte-resse e conveniência do empresário rural,de adotar um regime especial ainda a serregulamentado em lei própria ou se valerdos mesmos efeitos estendidos a empresascomerciais e industriais.

Portanto, a empresa rural é uma reali-dade que não deve ser tratada de formadiversa das demais empresas, inclusiveconsideramos que a jurisprudência pode-ria, desde já, reconhecer tal situação, esten-dendo os mesmos direitos aplicáveis aosempresários comerciais e industriais aosempresários rurais que exerçam suas ati-vidades produtivas de forma organizada eprofissional.

9. A empresa no projeto do Código Civilbrasileiro

Em 1972, a Comissão de juristas convo-cada pelo Governo Federal em 1969, super-visionada pelo professor Miguel Reale ecomposta pelos professores José CarlosMoreira Alves, Agostinho de Arruda Al-vim, Sylvio Marcondes, Ebert Chamoun,Clóvis do Couto e Silva e Torquato Castro,entregou ao ministro da justiça AlfredoBuzaid o anteprojeto de Código Civil bra-

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sileiro que atualmente se encontra em de-bate no Congresso Nacional.

Este anteprojeto foi encaminhado peloExecutivo à Câmara dos Deputados em1975, tomando o nº de projeto de lei 634/75, sendo enviado em 1984 ao Senado Fe-deral, onde tomou nº 118/84, retornandoà Câmara dos Deputados em novembrode 1997, após parecer final aprovado na-quela casa, em que se destacou os traba-lhos do seu relator, o senador e eminentejurista Josaphat Marinho.

No anteprojeto de Código Civil, a partereferente à atividade negocial, no Livro II,em que se encontra inserida a empresa,coube ao professor Sylvio Marcondes, queintegrou a Comissão do anteprojeto doCódigo de Obrigações, de 1965.

O projeto de Código Civil em debate,seguindo orientação que vinha desde osprojetos brasileiros de códigos de obriga-ções de 1941 e 1965, teve como meta maior,na parte da atividade negocial, por meioda empresa, disciplinar de forma unitáriao direito das obrigações, ou seja, regulan-do em único código as obrigações de direi-to privado, comerciais e civis, assim pro-pondo o fim da diferenciação entre obriga-ções civis e comerciais e as conseqüênciasdaí decorrentes.

A tentativa de unificação do direito pri-vado, por meio do projeto de Código Civil,não representa, como manifestamos emoutra oportunidade neste trabalho, o fimda autonomia do direito comercial74 e nemdos seus institutos consagrados ao longodos séculos. Trata-se, na verdade, de umaforma racional de se pôr fim às discussõesacerca das distinções entre as obrigaçõescomerciais e civis existentes durante mui-tos anos, decorrentes da inexata definiçãoda prática dos atos de comércio.

Especificamente no que se refere àempresa, de uma forma mais direta, oprojeto em referência a trata sob os per-fis do empresário, da atividade e do es-tabelecimento.

A exemplo do Código Civil italiano de1942, não há uma definição direta de em-

presa. O que há é uma definição indireta,por meio da figura do empresário, confor-me pode-se verificar na redação do art. 969:

“Art. 969. Considera-se empresá-rio quem exerce profissionalmenteatividade econômica organizada paraa produção ou a circulação de bensou serviços.”

Adotou-se, assim, o perfil subjetivo paradefinir empresa.

Na definição do empresário está paten-te, também, o conteúdo econômico que giraem torno da definição de empresa, ou seja,a empresa é vista como unidade organiza-da dos fatores de produção de bens e ser-viços, que tem no empresário a pessoa res-ponsável por seu desenvolvimento.

Na sistemática adotada no projeto, nãosão considerados empresários os que exer-cem profissão intelectual, científica, literá-ria ou artística, salvo se o exercício dessasprofissões ocorrer na forma organizada deempresa (parágrafo único do art. 696).

Também estão excluídos do campo em-presarial os pequenos empresários e osempresários rurais, os quais, inclusive, con-forme nova redação dada ao art. 973 doprojeto, quando de sua tramitação no Se-nado Federal, terão regulamentação pró-pria em lei especial, sendo-lhes assegura-do tratamento diferenciado e simplificado.Portanto, as regras aplicáveis aos empre-sários em geral não serão aplicadas aospequenos empresários e aos ruralistas.

No entanto, os empresários rurais cujaprincipal profissão seja a ruralista poderão– não é obrigatório – inscrever-se no regis-tro próprio das empresas, situação em queficarão equiparados, para todos os fins, aosempresários em geral, como está previstono art. 974. Assim, os ruralistas que se ins-creverem no registro das empresas pode-rão ser declarados falidos, requerer concor-data e demais conseqüências estendidasaos empresários em geral.

Portanto, para efeito do projeto, são con-siderados capazes de ser empresários aspessoas que exercerem, em nome próprio,

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devidamente registradas, profissionalmen-te, atividade econômica organizada para aprodução ou circulação de bens ou servi-ços com fim de obter lucro ou resultadoeconômico.

Outro ponto importante do projeto,quanto à empresa, é a regulamentação doestabelecimento empresarial. Pela redaçãoapresentada, a empresa e o estabelecimen-to têm conceitos diversos. A empresa é vistade uma forma mais ampla, como a unida-de organizada de produção, administradaprofissionalmente pelo empresário, e o es-tabelecimento é o local onde aquela se de-senvolve, isto é, o complexo de bens orga-nizados para exercício da empresa, do em-presário e da sociedade empresarial (art.1.142). Ou seja, a primeira pode ser vistacomo um ser e o segundo, como um meroobjeto.

A conseqüência prática da definição deempresa e estabelecimento no projeto,como alude Waldírio Bulgarelli75, é que oconceito do combalido ato de comércio serásubstituído pelo de empresa76 e o de fundode comércio pelo de estabelecimento.

No que se refere ao registro, o projetomantém dois tipos, o Registro das Empre-sas e o Registro das Pessoas Jurídicas (art.1.150), sendo o Registro das Empresas paraas sociedades empresárias e o Registro dasPessoas Jurídicas para as sociedades sim-ples.

O registro no órgão próprio e compe-tente é umas das principais obrigações dosempresários no regime do projeto, confor-me previsto no art. 970.

Quanto ao regime societário, o projetoregulamentou os seguintes tipos de socie-dades: a) as não-personificadas – (i) emcomum e (ii) as em cota de participação; b)as personificadas: (i) as sociedades simplese (ii) as empresárias, sendo que estas po-dem adotar os seguintes tipos – em nomecoletivo, em comandita simples, limitada,anônima, comandita por ações.

Apesar de o projeto propor o fim da di-cotomia entre sociedades civis e comerciais,

mediante a unificação das obrigações dedireito privado, por meio dele criou-se adiferenciação entre sociedades empresari-ais e sociedades simples.

Com efeito, simples seriam todas aque-las sociedades que não são empresariais,isto é, as que o exercício da atividade não épróprio dos empresários, como ficou pre-visto no art. 985:

“Art. 985. Salvo as exceções ex-pressas, considera-se empresária asociedade que tem por objeto o exer-cício de atividade própria de empre-sário sujeito a registro (art. 970) e,simples, as demais.

Parágrafo único. Independente-mente de seu objeto, considera-seempresária a sociedade por ações e,simples, a cooperativa.”

Assim, verifica-se que, de fato, as socie-dades simples serão as sociedades profis-sionais que não adotarem a organizaçãoempresarial e as cooperativas.

As sociedades que adotarem a forma desociedade anônima, a exemplo do regimevigente, sempre serão empresárias.

Ressaltamos que a dicotomia propostano projeto, quanto às sociedades personi-ficadas em sociedades empresárias e sim-ples, não deveria ocorrer, para não existi-rem tratamentos diferenciados, a exemplodo que ocorre hoje entre as sociedades ci-vis e comerciais. O projeto poderia esten-der os efeitos das sociedades empresáriasa todos que exercerem atividades denatureza econômica, com ou sem fins lu-crativos, sejam profissionais ou por meiode cooperativas, assim evitando tratamen-to discriminatório com vantagens para unsem detrimento a outros.

Em linhas gerais, pode-se dizer, em sín-tese, que o projeto de Código Civil em deba-te final no Congresso Nacional, no que serefere à empresa:

a) propõe a unificação das obriga-ções de direito privado, para pôr fimà dicotomia entre sociedades civis ecomerciais;

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b) dá tratamento jurídico para ofenômeno econômico da empresa,conceituando o empresário e o esta-belecimento;

c) impõe ao empresário a obriga-toriedade do registro de suas ativi-dades, escrituração dos livros comer-ciais próprios, da sujeição à falênciae a concordata, proteção ao nome,bem como demais efeitos inerentesaos empresários comerciais nos diasatuais;

d) criou um regime duplo de so-ciedades personificadas, as quais po-dem ser empresariais e não-empre-sariais (as simples).

10. ConclusãoA empresa não deve ser vista como

mero fenômeno econômico, mas principal-mente como uma realidade fática e jurídi-ca em que reluz a vida do capitalismo nasociedade contemporânea.

Com efeito, a empresa está no centro dasatividades econômicas, sendo a base daeconomia dos países capitalistas desenvol-vidos.

Nesse momento em que ocorreu umaredução do papel de interventor do Estadono cenário econômico, a missão da empre-sa se ampliou junto à sociedade, principal-mente como criadora de empregos e for-madora de mão-de-obra qualificada, pro-dutora de equipamentos mais sofisticadose como interlocutora ágil e dinâmica peran-te os consumidores de seus produtos e ser-viços.

Pode-se, com total segurança, afirmarque muitas empresas se assemelham, emforça econômica e até mesmo política, a umEstado-nação.

Daí a importância que as empresas pas-saram a dispor na sociedade contemporâ-nea, tomada pelo avanço tecnológico e pelaconcentração de riquezas.

Por tudo isso, é cada vez maior a preo-cupação do direito com a empresa, chegan-do ao ponto de muitos afirmarem que o

direito comercial transformou-se no direi-to das empresas.

No campo jurídico, a teoria da empresaganha cada vez mais força, com várias le-gislações regulamentando a empresa e areconhecendo como instituto jurídico.

Além disso, como realçou Fábio Kon-der Comparato (1970, p. 10),

“com o advento da macroempresa,não é apenas a ‘propriedade do em-presário’ que desapareceu, mas suaprópria hegemonia jurídica, aquelanão mais se subordina ao interessedeste, e independe portanto da suavontade”.

Com o surgimento das macroempresas,os empresários saíram do centro de deci-são daquelas organizações, passando asempresas a terem vida própria, indepen-dentemente da decisão dos seus donos, quesão vistos e tidos como meros investidoresde capitais.

Porém essa conseqüência fática ainda épouco percebida nas legislações vigentes,as quais tratam a empresa, não como umente titular de direitos e obrigações, mascomo mero objeto de direito, isto é, comoum elemento de propriedade do empresário.

A empresa vista como sujeito de direitoé um fenômeno próprio das grandes em-presas capitalistas, as quais têm patrimô-nio e vida independente da vontade dosseus sócios, os investidores de capitais.

Nas pequenas e médias empresas, poroutro lado, a figura do empresário ainda éfundamental, é por meio da ação pessoaldeles que as pequenas e médias empresasse desenvolvem e expandem.

É necessário que o direito disponha deregulamentos específicos para as grandes,as pequenas e as médias empresas, em queas realidades acima apontadas, como su-jeitos ou objetos de direito, sejam refleti-das de forma clara, conforme as caracterís-ticas de cada tipo de empresa.

Ademais, enquanto as alterações legis-lativas referentes ao reconhecimento geralda teoria da empresa não sairem do papel

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junto ao legislativo, caberá à jurisprudên-cia torná-la real e válida em nosso direito.

O direito, como manifestamos em ou-tra oportunidade77, não se expressa ape-nas por meio das leis, mas também pormeio da doutrina e, acima de tudo, da ju-risprudência.

É por meio dessas fontes auxiliares queo direito se realiza, seja por meio dos pare-ceres dos juristas, ou dos contratos elabo-rados pelos advogados, ou pelas sentençasproferidas pelos magistrados.

A sentença é a lei concreta, é o momen-to em que o Estado-juiz soluciona, pacificaou põe a verdade para os integrantes dasociedade onde atuam.

Assim, vemos, nesse momento, que ca-berá à jurisprudência, por meio de seu “de-cisum”, observar e aplicar essa realidadeque é a teoria da empresa e as conseqüên-cias dela advindas, estendendo a todos osseus efeitos, sem qualquer distinção de-corrente da prática ou não de atos decomércio.

Essa foi a nossa principal preocupaçãopor meio deste trabalho, cuja meta foi des-pertar para um assunto fortemente debati-do no passado pela doutrina, mas que oLegislativo e a jurisprudência, apesar desua importância e evidência, pouco têmtornado real em nosso sistema jurídico.

Por fim, cumpre realçar que, em nossopaís, muito já se evoluiu para o pleno reco-nhecimento da teoria da empresa, como sepôde observar nos projetos de Código Ci-vil e da nova lei de falência, ambos em tra-mitação no Congresso Nacional, o que de-monstra a força da empresa como um ins-tituto jurídico.

Notas 1 WALD, Arnoldo. O espírito empresarial, a em-

presa e a reforma constitucional, p. 53.2 Id., ibid., p. 52.3 TORRES, Carlos y LARA, Torres. Hacia una con-

ceptualización y regularización de La empresa en el Peru.4 BARRETO FILHO, Oscar. op. cit. p. 23, manifesta

que “deve-se a Wieland a formulação da teoria que iden-tifica o direito mercantil com o direito da empresa; ...”

5 GOMES, Orlando. Comercialização do Direito Ci-vil, Direito Econômico. p. 66.

6 SOUZA, Washington Peluso Albino de. op. cit.,p. 224.

7 MARINHO, Josaphat. Parecer final, no Senado Fe-deral, no projeto de lei da Câmara nº 118, de 1984, quepretende instituir o novo Código Civil brasileiro.

8 A propósito, KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcan-te. Desconsideração da personalidade jurídica (disregarddoctrine) e os grupos de empresas. p. 26., expôs que “...a empresa faz parte da realidade contemporânea e odireito não pode ignorá-la. Assim, a empresa, que in-discutivelmente domina o mundo moderno, deve tersua existência e seu funcionamento regulados atra-vés de normas jurídicas que visem o seu ajustamentoao interesse social”.

9 DANTAS, Francisco Wildo Lacerda. Lineamen-tos jurídicos da empresa e o código de defesa do consumi-dor, p. 61.

10 SAY, Jean-Baptiste. Tratado de economia política.p. 71.

11 LOBO, Jorge. A empresa: novo instituto jurídico.p. 69.

12 SANT’ANNA, Rubens. A Falência da Empresa.p. 34.

13 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial.p. 49.

14 BULGARELLI, Waldírio. Perspectivas da empre-sa perante o direito comercial. p. 01.

15 SILVA, Clóvis do Couto e. El concepto de empre-sa en el derecho brasileño. p. 46.

16 SANTOS, Theophilo de Azeredo. A comerciali-dade das sociedades de objeto civil, fins econômicos e lucra-tivos, p. 03.

17 Sintetizando a dificuldade em se definir a na-tureza jurídica da empresa, FERREIRA, Waldemar.A elaboração do conceito de empresa para extensão no âm-bito do direito comercial, p. 40-41, manifestou que a em-presa não se enquadra no direito, salientado acercadela o seguinte: “Não é do mar; nem da terra. Pareceque é do ar, por isso mesmo volátil, indeciso, ora cla-ro, ora escuro, como nuvem...”.

18 BULGARELLI, Waldírio. op. cit., p. 17.19 RIPERT, George. Aspects juridiques du capitalis-

me moderne. p. 265-6.20 WESSON, Willian H. Dicionário de Ciências So-

ciais, p. 394.21 Sob o aspecto sociológico, WEBER, Max. Eco-

nomia e sociedade, p. 32., define empresa como “umarelação contínua que persegue determinados fins. ...”

22 DESPAX, L’, Michel. entreprise et le droit. p. 06.23 MORAES FILHO, Evaristo de. Sucessão nas obri-

gações e a teoria da empresa. p. 276-8.24 MENDONÇA, Carvalho de. Tratado de direito

comercial brasileiro. p. 493.25 SARAIVA, Oscar. Repertório enciclopédico do di-

reito brasileiro. p. 99., indica que são elementos inte-grantes da empresa: os homens, tanto na direção como

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os da mão-de-obra, os bens e direitos e o capital, alémda finalidade de sua constituição, que é o lucro.

26 SILVA, Clóvis do Couto e. El concepto de empre-sa en el derecho brasileño. p. 9.

27 MENDONÇA, J.X. Carvalho de. op. cit., p. 492.,que considera esse conceito econômico também comojurídico.

28 ASQUI, Alberto. Perfis da empresa. p. 9 e ss.29 Id., ibid., p. 10.30 É importante se notar que as pessoas que exer-

cem atividade econômica em nome de terceiros nãosão consideradas empresários, segundo esse perfilsubjetivo, pois não assumem diretamente os riscos ine-rentes da produção. Além disso, aqueles que exer-cem profissões intelectuais, tais como engenheiros,médicos, advogados, que não sejam de forma organi-zada em estrutura empresarial, não são tidos igual-mente como empresários. A propósito, o Projeto deCódigo Civil brasileiro adotou a mesma sistemática(par. único do art. 969).

31 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcate. p. 37, ma-nifesta que “... a teoria da instituição está ligada àempresa, principalmente à grande empresa, que de-sempenha função social que, por isso, suplanta aidéia meramente contratual” .

32 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. p.214.

33 FERRARA JÚNIOR, Francesco. Empresarios ysociedades. p. 22.

34 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial.p. 57.

35 Conforme expõe GOMES, Orlando. Introduçãoao direito civil. p. 212, para a concepção objetivista aempresa seria uma universalidade de fato ou de di-reito.

36 Id., ibid., p. 212.37 Nesse sentido, ENDEMANN, Guglielmo. Ma-

nuale di diritto commerciale, maritimo, cabiario, p. 157;SAVATIER, René. Les métamorphoses économiques etsociales du droit civil d´aujourd´hui, p. 71-72; DESPAX,Michel. L´entreprise et le droit, 414; TISSEMBAUM,Mariano. La empresa: un nuevo protagonista del derecho,p. 761; CRISTIANO, Romano. Personificação da empre-sa, p. 73; SOUZA, Washignton Peluso Albino de. Pri-meiras linhas de direito econômico. p. 233; KOURY, SuzyElizabeth Cavalcante. Desconsideração da personalida-de jurídica (disregard doctrine) e os grupos de empresa. p.41.

38 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito priva-do. p. 284.

39 Id., ibid., p. 283.40 Id., ibid., p. 283-284.41 No direito civil brasileiro, as pessoas jurídicas

são classificadas como de (i) direito público, interno (aUnião, os Estados e o Distrito Federal, os Municípios,as autarquias, as fundações públicas, os partidos po-líticos) e externo (os estados estrangeiros e as enti-dades representativas internacionais das nações), e de

(ii) direito privado (associações, as sociedades civis ecomerciais e as fundações privadas). Cf. arts. 13, 14 e16 do Código Civil brasileiro.

42 MIRANDA, Pontes de. op. cit., p. 286.43 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. op. cit., p.

43.44 LAMY FILHO, Alfredo. A empresa, o empresário

e a nova Lei de S/A. p. 43.45 A jurisprudência tem um papel relevante pe-

rante o direito, devendo referendar, por meio de seusjulgados, os fenômenos ocorridos e evidentes no meiosocial, de modo a tornar o direito instrumento demudança social. A esse respeito, OLIVEIRA, JorgeRubem Folena de. O direito como instrumento de con-trole social ou como instrumento de mudança social? p.380-381.

46 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. p. 52-53.,cita a esse respeito a Lei nº 19.551/72, da Argentina, eLei 67.563/67 e Ordenação n. 67.820/67, ambas naFrança.

47 GOMES, Orlando, GOTTSCHALK, Elson. Cur-so de direito do trabalho. p. 67.

48 KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. p. 55.49 Nesse sentido, SAAD, Eduardo Gabriel. CLT

comentada. p. 32., MARANHÃO, Délio, CARVALHO,Luis Inácio B. Direito do trabalho. p. 68-69., e SILVA,Neves. apud KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. op.cit., p. 55.

50 BULGARELLI, Waldírio. Perspectivas da empre-sa perante o direito comercial. p. 3.

51 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. p.214.

52 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. p. 822.53 COMPARATO, Fábio Konder. Estado, empresa e

função social. p. 41 e ss.54 Nesse sentido, MARTIGNETTI, Giuliano. Dici-

onário de política (org: Norberto BOBBIO). p. 1.034.,manifestou que, após o século XIX, “o conceito de quepropriedade de um bem, especialmente quando ins-trumental, só seria legítima se cumprir uma funçãosocial”.

55 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-cional positivo. p. 249.

56 Id., ibid., p. 251.57 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de

sociedades anônimas. p. 150.58 MARTINS, Pedro A. Batista. O direito do acio-

nista de participação nos lucros sociais. p. 40., cita nessesentido, além de sua opinião, Rubens Requião e Wal-demar Ferreira.

59 Art. 206, II, “b”, da Lei nº 6.404/76.60 RT 468/207.61 RT 554/74.62 COMPARATO, Fábio Konder. Reflexões sobre a

dissolução judicial de sociedade anônima por impossibili-dade de preenchimento do fim social. p. 70., manifestaque “o chamado ‘interesse da companhia’ nada maisé do que o interesse abstrato e comum dos acionistas

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enquanto acionistas. E este se realiza, logicamente,como produção e partilha de lucros pelo exercício daatividade empresarial definida no estatuto”.

63 COMPARATO, Fábio Konder. op. cit. Estado,empresa e função social. p. 45.

64 RF 217/56.65 RT 555/191.66 RT 565/174.67 RT 566/170.68 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Direito in-

ternacional econômico. p. 106., expôs que: “se for reali-zado um quadro comparativo do produto nacionaldos estados internacionais e o volume de negóciosdas empresas multinacionais, ver-se-á que entre os100 maiores entes econômicos, 51 serão empresas e49 estados.”.

69 CASADEI, Ettore. Diritto Agrario. p. 29., salien-ta que “o agricultor não é um intermediário na trocade bens, mas o produtor que coloca em circulação obem novo gerado pela terra”.

70 LONGO, Mario. Profili di diritto agrario. p. 177.,manifesta que toda a doutrina geral da empresa valepara a empresa agrária.

71 Id., ibid., p. 53-58.72 BULGARELLI, Waldírio. Tratado de direito em-

presarial. p. 258, cita que o fato de as regras dos co-merciantes não serem extensíveis aos ruralistas signi-ficou durante algum tempo vantagens aos mesmos:“O fato de o proprietário ter sido subtraído do Códi-go Comercial não o prejudicava, ao contrário, sob ou-tros aspectos se apresentava como situação de favo-recimento, como, por exemplo, não estar sujeito à es-crituração e nem à falência, e com vantagens reflexasde ordem fiscal e salarial”.

73 Como expõe IBARROLA, Antonio de. Derechoagrario. p. 280. “Autores há que afirmam que, assimcomo o direito comercial seria o direito da empresacomercial, o direito rural seria o próprio a empresaagrícola....”.

74 Como manifestou, em sua tese sobre este tema,PONT, Manuel Broseta. La empresa, la unificación delderecho de obligacione y el derecho mercantil. p. 227., aunificação obrigacional não tem por efeito eliminar aautonomia científica do direito comercial.

75 Idem, ibid., p. 202.76 O qual denominamos de ato empresarial, que

envolve todos as cadeias do ciclo produtivo, desde aprodução e o fornecimento de mercadorias até asprestações de serviço.

77 OLIVEIRA, Jorge Rubem Folena de. O direitocomo instrumento de controle social ou como instrumentode mudança social? p. 380.

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Revista de Informação Legislativa136