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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA HISTÓRIA E MEMÓRIA: A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CASCAVEL (1950 A 1980) VALDECIR ANTONIO NATH CASCAVEL 2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ · Governo”, conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Neste documento era apresentado o esboço de um programa

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTESPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO BRASILEIRA

HISTÓRIA E MEMÓRIA:A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA REDE MUNICIPAL

DE ENSINO DE CASCAVEL (1950 A 1980)

VALDECIR ANTONIO NATH

CASCAVEL2010

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VALDECIR ANTONIO NATH

HISTÓRIA E MEMÓRIA:A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA REDE MUNICIPAL

DE ENSINO DE CASCAVEL (1950 A 1980)

Monografia apresentada como requisito para a obtenção do título de Especialista em História da Educação Brasileira, sob orientação do Professor Dr. João Carlos da Silva.

CASCAVEL2010

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TERMO DE APROVAÇÃO

VALDECIR ANTONIO NATH

HISTÓRIA E MEMÓRIA:A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA REDE MUNICIPAL

DE ENSINO DE CASCAVEL (1950 A 1980)

Monografia orientada pelo Professor Dr. João Carlos da Silva, aprovada como requisito para obtenção do grau de Especialista do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em História da Educação Brasileira, do Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, pela seguinte banca examinadora:

____________________________

Prof. Dr. João Carlos da Silva

UNIOESTE

_____________________________

Prof. Dr. Paulino José Orso

UNIOESTE

___________________________________

Prof. Ms. Marco Antonio Batista Carvalho

UNIOESTE

CASCAVEL, 31 de março de 2010.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Irma, que trilhou pelos

caminhos da História da educação nestes tempos em que

busquei resgatar, tempos difíceis, de muitos desafios, mas

que ela teve competência para superar.

Ao meu pai, por ter sido companheiro nesta história e neste

tempo de aventuras nos muitos sertões de Cascavel.

À minha esposa Cleomara e minhas filhas Gabriela e Sofia,

que souberam compreender os momentos de ausência e

me impulsionaram para chegar até onde me propus.

Às minhas irmãs Margarete e Silvana, que sempre

renderam forças nos momentos de desânimo, para que

este trabalho se concretizasse.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me concedeu a vida e a condição de estar aqui neste tempo e

lugar.

À minha família, por ter me ajudado a superar os desafios.

Aos meus colegas de trabalho, pelas inúmeras contribuições que tive, pelo

apoio e compreensão durante todo o período de realização do curso, especialmente

meus colegas de trabalho na Câmara Municipal, que sempre estiveram ao meu lado,

auxiliando e contribuindo na realização da pesquisa.

Aos colaboradores, tantas pessoas que não é possível nominá-las, apenas

agradecer pela contribuição para a concretização deste trabalho: funcionários da

Câmara Municipal de Cascavel, da Secretaria Municipal de Educação e, em

especial, das escolas pesquisadas.

À equipe da Escola Municipal José Bonifácio, do Distrito de Rio do Salto,

pela grande contribuição e pelo desprendimento com que me auxiliaram,

disponibilizando os arquivos e documentos que foram fundamentais para que esta

pesquisa se realizasse.

Ao Professor Dr. João Carlos da Silva que, com grande competência e

dedicação, acreditou neste trabalho, contribuindo de maneira que pudéssemos

deixar aqui uma pequena, mas significativa contribuição para a História da Educação

de Cascavel.

A todos os professores do Curso de Especialização em História da

Educação Brasileira da UNIOESTE, pela contribuição para a minha formação de

educador.

A todos os educadores que fizeram parte da História de Cascavel, pela

forma sensível, dinâmica e competente com que a construíram, cada um no seu

tempo, fazendo sua parte para que este município chegasse até onde estamos.

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Escolas “velhas” me comovem,

especialmente aquelas que ainda se mantêm firmes

resistindo no tempo...

Escuto o eco das vozes de tantos professores,

Crianças em busca do saber, muitas vezes silenciados...

Eu olho para o passado

Ele está cheio de memórias...

O tempo passou,

Os sonhos, assim como as pessoas

Envelheceram e morreram...

Mas a escola ainda está lá,

Resistindo no tempo

Contando histórias que os próprios homens já esqueceram

De tempos que passaram

De novos tempos que vieram

De tempos que ainda virão.

Autoria própria

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1 - ACAMPAMENTO DE DEMARCADORES DE TERRAS ..... 16FOTOGRAFIA 2 - ACAMPAMENTO MILITAR NA REGIÃO DO BAIRRO

CASCAVEL VELHO ............................................................ 17FOTOGRAFIA 3 - CARROÇÕES QUE TROUXERAM AS PRIMEIRAS

FAMÍLIAS DE COLONOS ................................................... 23FOTOGRAFIA 4 - TEODORO TFARDOWSKI, JOÃO ALVES E MANOEL

FERREIRA (VIAGEM DE PONTA GROSSA A FOZ DO

IGUAÇU TRANSPORTANDO ALIMENTOS) ...................... 31FOTOGRAFIA 5 - A PRIMEIRA IGREJA DE CASCAVEL (IGREJA NOSSA

SENHORA APARECIDA), ONDE HOJE ESTÁ A IGREJA

SANTO ANTÔNIO .............................................................. 32FOTOGRAFIA 6 AO FUNDO, A PRIMEIRA ESCOLA, HOJE COLÉGIO

ESTADUAL ELEODORO ÉBANO PEREIRA ...................... 34FOTOGRAFIA 7 - DÉCADA DE 50 – CENA TÍPICA DA ÉPOCA: UMA

BOIADA EM PLENA AV. BRASIL, DEFRONTE AO

HOTEL AMERICANO, HOJE BANCO DO BRASIL ............ 56FOTOGRAFIA 8 - PRIMEIRA SEDE DA PREFEITURA E DA CÂMARA

MUNICIPAL ......................................................................... 59FOTOGRAFIA 9 - INÍCIO DA IMPLANTAÇÃO DA AVENIDA BRASIL ............ 61FOTOGRAFIA 10 - A MADEIRA, IMPORTANTE CICLO ECONÔMICO PARA

O DESENVOLVIMENTO DE CASCAVEL .......................... 68FOTOGRAFIA 11 - DÉCADA DE 60, CASCAVEL IMPORTANTE CENTRO

URBANO ............................................................................. 71

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE CASCAVEL. (DE 1950 A

2010).............................................................................................. 70GRÁFICO 2 - ESCOLAS MUNICIPAIS CRIADAS DESDE A EMANCIPAÇÃO

POLÍTICA DO MUNICÍPIO DE CASCAVEL EM RELAÇÃO AO

NÚMERO DE ESCOLAS CRIADAS NA DÉCADA DE 1950 E

1960 ............................................................................................. 72GRÁFICO 3 - TOTAL GERAL DAS ESCOLAS CONSTRUÍDAS E EM

FUNCIONAMENTO ATÉ O FINAL DA DÉCADA DE 1960 ......... 75

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE CASCAVEL, (DE 1950 A

2010)........................................................................................... 69QUADRO 2 - PREFEITOS DE CASCAVEL E GESTÃO ................................ 70QUADRO 3 - PORTE DOS GRUPOS ESCOLARES E VALORES DAS

GRATIFICAÇÕES PARA DIRETORA E SECRETÁRIA,

CONFORME LEI MUNICIPAL Nº 730/70 ................................. 84QUADRO 4 - PORTE DAS ESCOLAS E VALORES DAS GRATIFICAÇÕES

PARA DIRETORA E SECRETÁRIA DE GRUPO ESCOLAR,

CONFORME LEI MUNICIPAL Nº 1.014/73 .............................. 89QUADRO 5 - PORTE DAS ESCOLAS E VALORES DAS GRATIFICAÇÕES

PARA DIRETORA E SECRETÁRIA DE GRUPO ESCOLAR,

CONFORME LEI MUNICIPAL Nº 1.080/74 .............................. 89QUADRO 6 - ESCOLAS MUNICIPAIS CRIADAS, CESSADAS E EM

FUNCIONAMENTO DE 1953 A 1970 DA REDE MUNICIPAL

DE ENSINO DE CASCAVEL .................................................... 90QUADRO 7 - ESCOLAS URBANAS QUE FORAM AMPLIADAS ATRAVÉS

DE ABERTURA DE CRÉDITO ESPECIAL, CONFORME LEI

MUNICIPAL Nº 1.196/75 .......................................................... 92QUADRO 8 - ESCOLAS RURAIS QUE FORAM AMPLIADAS ATRAVÉS DE

ABERTURA DE CRÉDITO ESPECIAL, CONFORME LEI

MUNICIPAL Nº 1.196/75 .......................................................... 92QUADRO 9 - DEMONSTRATIVO DO QUADRO DE PESSOAL DA

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA,

CONFORME LEI MUNICIPAL Nº 1.421/79 .............................. 101

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10CAPÍTULO IANTECEDENTES HISTÓRICOS DA CONSTITUIÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CASCAVEL ............................................................................... 151.1 Aspectos sobre a ocupação do Oeste do Paraná no contexto da Primeira

República ............................................................................................................. 151.2 A Era Vargas e o processo de colonização do Oeste do Paraná .................. 201.3 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e a organização do Sistema

Nacional de Ensino .............................................................................................. 241.4 A Constituição da educação em Cascavel no contexto da Primeira

República ............................................................................................................. 291.5 A Gênese da escola primária pública em Cascavel ...................................... 32

CAPÍTULO IIOS SISTEMAS DE ENSINO NO CONTEXTO DO PROJETO REPUBLICANO . 372.1 Educação e modernização na Primeira República ........................................ 372.2 Aspectos legais da educação brasileira nas constituições ............................ 412.3 A Constituição de 1946 e a organização do Sistema Nacional de Educação 472.4 O conceito de rede e de sistema de ensino ................................................... 51

CAPÍTULO IIIGÊNESE DA CONSTRUÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO .................. 553.1 Organização do ensino público municipal ..................................................... 553.2 Aspectos legais da constituição da Rede Municipal de Ensino de Cascavel 643.3 Primeiras escolas no contexto da urbanização de Cascavel ......................... 673.4 O financiamento das primeiras escolas municipais ....................................... 733.5 Organização administrativa da Rede Municipal de Ensino ............................ 763.6 Aspectos históricos das primeiras instituições de ensino .............................. 793.6.1 Escola de Rio do Salto ................................................................................ 793.6.2 Escola Adolival Pian .................................................................................... 813.6.3 Escola Presidente Epitácio ......................................................................... 823.7 A Rede Municipal na década de 1970 ........................................................... 833.7.1 Expansão da Rede Municipal de Ensino .................................................... 853.7.2 O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, no município de

Cascavel .............................................................................................................. 923.7.3 A expansão da Rede Municipal de Ensino em cooperação com o estado

do Paraná ............................................................................................................. 943.7.4 Aspectos legais de estrutura e organização da rede na década de 1970 . 96

CONCLUSÃO ...................................................................................................... 103

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REFERÊNCIAS .................................................................................................... 107

ANEXOS .............................................................................................................. 115

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado de uma investigação preliminar, no qual

procuramos organizar de maneira cronológica as principais ações que foram

desencadeadas quanto à organização da Rede Municipal de Ensino de Cascavel a

partir da emancipação política do município, como se estruturou a Secretaria

Municipal de Educação ao construir sua rede de ensino e quais as primeiras escolas

que foram criadas entre 1950 e 1980.

Catalogamos fontes de pesquisa escritas localizadas nos arquivos da

Secretaria Municipal de Educação, da Câmara Municipal de Vereadores de

Cascavel e nos arquivos das escolas, principalmente das primeiras escolas criadas

e oficializadas no município: Escola Municipal José Bonifácio, localizada no Distrito

de Rio do Salto e Escola Municipal Adolival Pian, localizada na sede urbana do

município.

O arquivo de Leis da Câmara Municipal de Vereadores de Cascavel foi

uma das fontes mais importantes para esta investigação, uma vez que a partir da

análise destas leis foi possível reconstituir esta versão preliminar da história da

Educação pública municipal de Cascavel, bem como elementos indispensáveis para

compreendermos como se organizou o município, em relação à educação, após sua

emancipação.

Além de documentos que datam da década de 1970 na Secretaria

Municipal de Educação, também foram importantes os dados levantados junto aos

arquivos e relatórios que ainda hoje são expedidos pelo Departamento de

Documentação Escolar e Estatística, pois, nestes relatórios encontramos dados

importantes que auxiliaram na interpretação dos dados sobre como se desenvolveu

a trajetória histórica da Rede Municipal de Ensino e como foram se organizando as

primeiras escolas.

Este trabalho está organizado em três capítulos. Procuramos priorizar a

sequência histórica dos fatos que ocorreram e como estes influenciaram as

diferentes manifestações sociais, políticas e culturais do município.

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No primeiro capítulo, apresentamos uma análise sobre aspectos que

consideramos essenciais no processo de ocupação e colonização do Oeste do

Paraná e do Município de Cascavel no contexto da Primeira República. Além disso,

fizemos uma rápida análise sobre o projeto de desenvolvimento e industrialização,

que durante este período, determinou as principais iniciativas e realizações no

campo escolar, tornando a escola indispensável para o desenvolvimento econômico

da sociedade.

Muitas iniciativas educacionais tomadas a partir deste período produziram

um sentimento de euforia, expectativa e otimismo pela educação, sendo

considerada como indispensável e responsável pela unidade nacional e pelo

desenvolvimento do país.

Até a década de 1920 temos na região apenas a denominada “Estrada

Estratégica”, que ligava diferentes pontos da região com o país, vinculada à

existência da Colônia Militar de Foz do Iguaçu. E este é o ponto inicial para

entendermos o processo de colonização e ocupação do Oeste do Paraná e da

região de Cascavel.

Destacamos neste capítulo a Era Vargas e o processo de ocupação e

colonização do Oeste do Paraná, que através do Programa Federal denominado

Marcha para o Oeste, possibilitou a ocupação da região por colonos vindos do Rio

Grande do Sul e de Santa Catarina. Procuramos, de maneira rápida, explicitar que

esta política de Getúlio teve o intuito de promover a ocupação dos vazios

demográficos por meio da absorção dos excedentes populacionais que estavam

concentrados na região Sul do país. Este processo tinha como objetivo principal

corrigir os desequilíbrios regionais pela implantação de uma política demográfica

que incentivasse a migração.

É deste período que se inicia a ocupação efetiva do Oeste do Paraná e do

município de Cascavel. Consideramos importante ressaltar que a obra do historiador

cascavelense Alceu Sperança se constituiu num ponto de referência para que

pudéssemos aprofundar a compreensão de questões sobre a colonização e

organização dos primeiros grupos de colonizadores na região.

Elencamos ainda como parte fundamental deste capítulo o Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova e a organização do Sistema Nacional de Ensino,

processo este que se deu a partir de 1932, no contexto da urbanização e da

modernização do Brasil, quando Intelectuais e educadores brasileiros lançaram o

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documento “A Reconstrução Educacional no Brasil – Um Manifesto ao Povo e ao

Governo”, conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Neste

documento era apresentado o esboço de um programa educacional que previa um

sistema completo de educação, destinado a atender às necessidades de uma

sociedade que ingressava na era da técnica, da indústria e da urbanização. E é

justamente neste período que se inicia o processo de escolarização da população na

região.

A história da Educação em Cascavel iniciou no período denominado de

Primeira República. Datam de 1920 as primeiras ocupações da região com a

formação do povoado de Cascavel. De acordo com as fontes pesquisadas, em 1923,

José Silvério de Oliveira, “Nhô Jeca”, “passou” por Cascavel numa das suas

inúmeras viagens pela região indo a Foz do Iguaçu. Sua chegada na região

contribuiu efetivamente para a construção e consolidação do município de Cascavel

e também pela criação da primeira escola em 1932.

No segundo capítulo apresentamos, de forma sintetizada, um estudo

sobre o conceito de Sistema de Ensino no contexto do projeto republicano e os

principais objetivos atribuídos à escola neste período.

Este trabalho faz uma análise sobre como a Educação foi abordada nas

Constituições de 1934, 1937 e 1946, bem como as principais discussões que foram

deflagradas neste período sobre a constituição de um Sistema Nacional Articulado

de Educação. Os dados pesquisados apontam que a Constituição de 1934

apresenta um capítulo reservado à educação, enquanto a Constituição de 1937

define-se pelo conservadorismo, pelo autoritarismo e, como consequência, pelo

diretivismo em educação, à qual deu menos importância que a Constituição

anterior, por um favorecimento às elites e ao próprio processo de elitismo. O

enfoque dado anteriormente à educação de base, conforme propuseram os

Pioneiros, foi substituído em 1937 pelo foco no ensino profissionalizante

destinado a determinados grupos e limitado pelo Governo.

Apresentamos também alguns elementos que afirmam que a Constituição

de 1946 exigiu que fossem definidas as diretrizes e bases para a educação nacional,

quando um Projeto de Lei foi elaborado por uma comissão composta de educadores

de várias tendências que, ao concluírem os trabalhos, predominou no Projeto de Lei,

a tendência descentralizadora já prevista desde a década de 30 pela Associação

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Brasileira de Educação. Foi a Constituição de 1946 que apresentou, pela primeira

vez, a necessidade legal de organização de um sistema nacional de educação

articulado, embora tal constatação já estivesse elencada como necessária para o

desenvolvimento educacional do país pelos Pioneiros da Educação Nova.

Ainda neste capítulo também discutiremos algumas definições do termo

sistema. Evidenciamos a partir dos autores que analisamos que está constituído no

Brasil o Sistema Federal de Educação, onde cada Estado possui o seu Sistema

Estadual de Educação e os municípios possuem suas redes de ensino

jurisdicionadas aos sistemas estaduais de ensino, ou, então, constituirão seus

próprios sistemas de ensino, conforme preconiza a Constituição Federal e a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96.

O terceiro capítulo se constitui no objeto principal desta pesquisa. Nele

analisamos inúmeras leis que foram aprovadas no município a partir da

emancipação política, bem como analisaremos como estas leis foram aos poucos

organizando e estruturando a Rede Municipal de Ensino de Cascavel. São iniciativas

legais para organizar o quadro das primeiras escolas e dos primeiros professores,

assim como da estrutura da Secretaria Municipal de Educação.

Muitos documentos foram analisados, dentre eles destacamos as Leis

Municipais aprovadas entre 1953 a 1979, através das quais podemos perceber as

principais iniciativas do Poder Público Municipal em relação à abertura de escolas

para assegurar a escolarização da população e garantir a permanência dos colonos

na região, além das primeiras iniciativas que foram tomadas para estruturar a Rede

de Ensino.

O marco referencial de nosso estudo está centrado na Escola Municipal

José Bonifácio, localizada no Distrito de Rio do Salto, que foi a primeira instituição

criada e oficializada pelo Município de Cascavel, em 1953. Chegamos a esta

conclusão, após analisarmos documentos que estão arquivados na instituição como

Livros de Registro de Exames, Livros Ata, Livros de Chamada de alunos e

Relatórios expedidos pela escola.

O ápice da expansão física da Rede de ensino ocorre a partir da década

de 1960, culminando na década de 1970. Nestas duas décadas, foram construídas e

oficializadas a maioria das instituições de ensino do município de Cascavel, embora

a década de 1960 se caracterize pela expansão da Rede com a construção de

Escolas em toda localidade do município onde houvesse demanda. Na década de

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1970, percebemos várias iniciativas legais do Poder Público em organizar a Rede

Municipal de Ensino, através da aprovação de várias leis e decretos que começaram

a normatizar e legitimar o ensino primário público municipal.

Foi neste período, década de 1970, que se instituiu oficialmente a

Secretaria Municipal de Educação e esta passou a ter um papel decisivo nas

questões de ordem educacional em relação ao ensino primário, estendendo-se até a

conclusão da oitava série (Ensino Fundamental), principalmente nas escolas

urbanas e nas Sedes de Distrito.

Várias iniciativas ocorreram na década de 1970, principalmente para a

expansão da Rede de escolas, inclusive com um rápido crescimento do número de

instituições na área urbana do município, provocado pelo êxodo rural e pelo

processo de urbanização que se desencadeava no Brasil.

Limitamos nosso estudo até o ano de 1979 em razão de tempo hábil para

concluirmos este trabalho e porque entendemos que este se constitui numa versão

preliminar que precisa ser aprofundada e analisada, servindo como referência para

outras pesquisas na área educacional do Município de Cascavel. O estudo das

décadas posteriores demandará maior tempo e uma análise mais profunda, pois são

inúmeras as questões de ordem legal, política, cultural e social que permeiam a

educação na contemporaneidade.

Consideramos esta uma contribuição que efetivamente abre um grande

espaço de discussão para compreendermos melhor a nossa história e a história da

educação de Cascavel.

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CAPÍTULO I

ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA CONSTITUIÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CASCAVEL

1.1 ASPECTOS SOBRE A OCUPAÇÃO DO OESTE DO PARANÁ NO CONTEXTO

DA PRIMEIRA REPÚBLICA

Os primeiros registros sobre a ocupação e colonização do Oeste do

Paraná asseguram que esta ocorreu a partir da Proclamação da República, em

1889, quando por questões estratégicas e de segurança da fronteira, o Governo

Federal determinou a implantação de uma colônia militar na Foz do Rio Iguaçu, a

partir do projeto denominado de “abertura de caminhos rumo ao

interior” (SPERANÇA; SPERANÇA, 1980). Nesta primeira fase, ocorreu a formação

da Comissão de Estradas Estratégicas, criada em 1905, com o objetivo de organizar

a abertura de estradas que se tornariam importantes no processo de colonização.

No Oeste, destacou-se a construção da Estrada Estratégica Militar, que partia de

Guarapuava até Catanduvas, seguindo até Foz do Iguaçu, incluindo a instalação da

linha telegráfica em todo este percurso.

O objetivo principal do Governo Federal ao construir a Estrada Estratégica

e criar a Colônia Militar em Foz do Iguaçu era garantir a presença brasileira na

região, local de disputa pela presença estrangeira. Iniciou-se, a partir daí, o

intercâmbio entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, por meio do qual “estabeleciam-se

os deslocamentos humanos Leste-Oeste e Oeste-Leste” (SPERANÇA, 1992, p. 50).

Um levantamento da população da área, naquela época, comprovou que a

presença de brasileiros era mínima na região, sendo: “12 paraguaios, 95 argentinos,

9 brasileiros, 5 franceses, 2 espanhóis e 1 inglês na região” (Idem).

A atuação da Colônia Militar na região não atendeu, na totalidade, às

expectativas para a qual foi criada. Ao invés de imprimir costumes e leis brasileiras

aos estrangeiros, dobravam-se a esses exploradores do mate e da madeira.

Abandonada, nesses confins do Brasil, a Colônia dependia dos estrangeiros para

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sobreviver. A própria língua e a moeda do Estado brasileiro não tinham força para se

impor, uma vez que a maioria da população continuou sendo estrangeira.

Na época, o sistema obragero detinha o domínio da Região. Segundo

Wachowickz (1987), obrageros eram argentinos que possuíam a concessão do

Governo do Estado do Paraná para a exploração de madeira e erva-mate na região

que, após extraída, era levada até os portos do Rio Paraná e transportada para a

Argentina. No entanto, nem sempre as concessões eram legais, ou seja, autorizadas

pelo Governo do Estado. Muitos obrageros simplesmente invadiam determinadas

áreas da região e se dedicavam à extração e ao transporte ilegal da madeira e do

mate.

Fotografia 1 - Acampamento de demarcadores de terras (1905)Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro - 50 anos de História - Cascavel, 2002, p. 41

Em 1912, extinta a Colônia Militar, as responsabilidades e atribuições

desta foram transferidas ao Governo do Paraná. De acordo com Sperança (1992), a

extinção foi ocasionada por uma sequência de irregularidades e arbitrariedades

registradas na região, as quais forçaram o Ministério do Exército a tomar esta

providência1.1 Em 1916, Santos Dumont visitou a região e foi informado por habitantes de Foz do Iguaçu que o terreno das Cataratas do Iguaçu pertencia a um argentino, por concessão do Ministério da Guerra.

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A procura pelas terras devolutas da região crescia e começava a motivar não somente os caboclos de Guarapuava, mas empresas colonizadoras que se formavam com esta finalidade. Extinta a Colônia Militar de Foz do Iguaçu, restava adotar novos procedimentos de estímulo à povoação e potencialização econômica da área, de forma a assegurar a soberania nacional sobre a região (SPERANÇA, 1992, p. 64).

A criação e instalação do município de Foz do Iguaçu, em 1914, fez com

que se iniciasse uma nova etapa de desenvolvimento para a região. A cidade

assentada na estratégica foz do Rio Iguaçu facilitou o surgimento de Cascavel num

futuro próximo. Foi pelos caminhos de Foz do Iguaçu, através da estrada

estratégica, que os pioneiros de Cascavel iniciaram sua marcha rumo à construção

de uma cidade.Fotografia 2 - Acampamento militar na região do Bairro Cascavel Velho (1924)

Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro - 50 anos de História - Cascavel, 2002, p. 23.

É, portanto, no contexto da Primeira República, que se iniciou o processo

de ocupação e colonização do povoado de Cascavel.

Desde sua instalação em 1889, segundo Silva,

Indignado, pediu providências ao Governador do Estado do Paraná. Neste mesmo ano, foi publicado o Decreto nº 653, que declarava de utilidade pública 1.008 hectares na área das Cataratas, dando origem ao atual Parque Nacional do Iguaçu.

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sucessivos governos colocaram a educação como fator primordial para o desenvolvimento social e econômico, entendendo que a solução dos problemas educacionais passava pela educação. A passagem do Império para a República representou, no âmbito da educação, uma nova orientação pedagógica, indicando o enfraquecimento da pedagogia jesuítica, emergindo uma proposta educacional nutrida na concepção da economia livre (2009, p. 3).

A pedagogia republicana atribuiu à educação a responsabilidade pelas

reformas sociais, pela superação do atraso educacional herdado do império

brasileiro.

No campo educacional, a Primeira República significou um período de

industrialização e de produção de novas necessidades educacionais, a partir do

surgimento de dois movimentos denominados por Jorge Nagle (1977), como

“entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico”. Configurou-se, neste período,

na sociedade brasileira, um ambiente social e cultural no qual não proliferavam

apenas debates e polêmicas que discutiam a educação, mas também iniciativas e

realizações no campo escolar.

O Entusiasmo pela Educação se caracterizou por ser um movimento

ideológico da elite brasileira, no qual a educação era vista como redentora dos

problemas da nação. Surgiu nos anos de transição do Império para a República

(1887 – 1897), e foi retomado entre 1910 e 1920. Representou um movimento mais

quantitativo, por seu ideal de querer expandir a rede escolar no Brasil e, assim,

reduzir os índices de analfabetismo no país.

O Otimismo Pedagógico surgiu na década de 1920, quando começou a

haver uma preocupação com os aspectos qualitativos da educação. Refletiu uma

tendência dos anos 20, quando as discussões acerca dos problemas brasileiros

tomam o papel principal. Nesse sentido, a eficiência do ensino é relevante e se

encontra pautada nos princípios da Escola Nova. O otimismo Pedagógico insistiu na

idéia da melhoria do ensino e de condições didático-pedagógicas, enfatizando a

problemática escolar do país (NAGLE, 1977).

A escola foi vista, no contexto da Primeira República, como indispensável

para o desenvolvimento econômico da sociedade. As iniciativas que foram tomadas

a partir daí produziram um sentimento de euforia, expectativa e otimismo pela

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educação, como sendo a responsável pela unidade nacional e progresso do país.

Estava em curso a necessidade de construir e organizar um novo Brasil, uma nação.

As discussões em torno da educação, no período, evidenciavam a

preocupação dos educadores brasileiros no sentido de exigir um projeto nacional de

educação, projeto este que deveria estar vinculado às necessidades de civilizar o

homem nacional, objetivando consolidar o regime político e “civilizar o homem

nacional”.

A mudança do regime político, da Monarquia para a República, trouxe não

apenas a grande preocupação de criar a nação brasileira, mas também de incluir o

imigrante. O projeto objetivava formar o cidadão brasileiro, por meio de uma

educação comum. A educação era vista como responsável pelo fortalecimento da

unidade nacional.

No Brasil, a preocupação em torno da difusão da educação do povo e da organização de um sistema nacional de ensino, considerados como fundamentais para criar a unidade da nação, orientava os discursos da imprensa, dos educadores, dos publicistas e, sobretudo, dos parlamentares da época. Aos olhos desses homens, a educação poderia encaminhar a solução para os problemas que advinham da precária unidade nacional, através de uma formação comum, mobilizando nacionais e imigrantes em torno de uma idéia-força, de uma alma nacional, considerada como fundamental para conduzir o país ao desenvolvimento e à modernização (SCHELBAUER, 1998, p. 64).

Os discursos e os debates sobre a necessidade de criar um projeto

nacional de educação e da organização de um sistema de ensino, no Brasil, foram

intensas nos últimos anos da Primeira República. No entanto, essas discussões já

haviam iniciado nos últimos anos do Império, como uma crítica ao regime

monárquico, críticas essas que davam suporte à crença de que, ao se reformar o

sistema de ensino no país, este se encaminharia para “as transformações políticas e

sociais necessárias à consolidação de um novo regime político e à modernização do

país” (SCHELBAUER, 1998, p. 64).

É, portanto, neste período que a escola passa a ser vista como a instituição responsável pela formação do sentimento de cidadania necessário para colocar o país rumo ao progresso e à consolidação da democracia, nos moldes dos países civilizados. Pois, se antes, numa visão quase que consensual dos homens da época, o atraso em que o país se encontrava era atribuído à escravidão, com a sua

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abolição definitiva, esse passa a ser atribuído à educação, por não cumprir ou cumprir precariamente seu papel social (SCHELBAUER, 1998, p. 64).

No contexto da Primeira República é que são efetivamente iniciados os

movimentos de ocupação da região e é a partir do projeto republicano que começam

a ser delineadas as primeiras formas de ocupação no sentido de tornar a região

território brasileiro. Insere-se também este processo no conjunto de mudanças mais

amplas que estavam acontecendo no Estado brasileiro naquele momento.

1.2 A ERA VARGAS E O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DO OESTE DO

PARANÁ

O período denominado de Primeira República (1889–1930), foi marcado

pelo controle político do país pelas oligarquias rurais, predominantemente de São

Paulo e Minas Gerais. Dentre os fatores que levaram à Revolução de 1930, pode-se

considerar, em primeiro lugar, a emergência da classe média, do tenentismo, da

burguesia e do movimento operário, insatisfeitos com a forma pela qual a República

vinha sendo implementada no Brasil.

Os demais Estados da Federação estavam insatisfeitos com a exclusão

que São Paulo e Minas lhes impunha, através da política do chamado “Café com

Leite”2. Os outros setores econômicos - charqueadores, produtores de açúcar, de

cacau, de borracha, de arroz e os industriais não viam com bons olhos a política de

priorização do café, pois os incentivos oferecidos aos demais setores econômicos da

sociedade eram poucos, diante da supervalorização do café.

No entanto, além de toda a riqueza produzida pelo café durante o Império

brasileiro e início da Primeira República para a nossa economia, podemos

considerar também que o complexo cafeeiro auxiliou no processo de industrialização

do Brasil. As bases para o desenvolvimento industrial do Brasil foram construídas a

partir da crise do café e com os excedentes gerados por este processo de produção.

2 De 1889 a 1930, período denominado de Primeira República, alternavam-se no poder político do país representantes dos estados de São Paulo e Minas Gerais. A política do Café com Leite representava a organização a nível nacional. Nos estados estruturava-se a denominada “Política dos Governadores” e nos municípios o “coronelismo”. Buscavam, assim articulados, manter as “velhas” estruturas agrárias fundadas sob a política de valorização do café.

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O complexo econômico gerado pelo núcleo cafeeiro, onde incluíam desde as estradas de ferro aos bancos, o grande comércio de exportação e importação, assim como a própria mecanização crescente da produção, havia constituído a base de um crescimento industrial tímido e descontínuo, verificado desde o nascimento da ‘sociedade do café’. Germinava, assim, o processo brasileiro de industrialização, favorecido pela ruptura que a expansão cafeeira representara em relação às formas tradicionais de dominação e de reprodução do capital (XAVIER, 1990, p. 31).

A vitória da Aliança Liberal na Revolução de 1930, que conduziu Getúlio

Vargas ao poder, produziu uma mudança decisiva no plano da política interna,

enfraquecendo as oligarquias tradicionais que representavam os interesses agrários

e comerciais. Getúlio Vargas adotou uma política de industrialização, em

consonância com os interesses do capitalismo internacional, regulamentando o

mercado de trabalho urbano, limitando algumas importações e, mais tarde, dirigindo

investimentos estatais para a indústria de base3.

No Oeste do Paraná, a principal ação do governo Vargas caracterizou-se

pelo início do processo de ocupação por colonos vindos do Rio Grande do Sul e

Santa Catarina, denominada de frente sulista, através do programa do Governo

Federal, denominado “Marcha para o Oeste” (1940)4.

O projeto nacionalista de Vargas viabilizou o processo de ocupação e

colonização do Oeste e Sudoeste do Paraná, uma vez que a região era ocupada,

ainda na sua maioria, por estrangeiros. Um levantamento feito sobre a população

existente em 1920 confirmava que a região de Foz do Iguaçu “contava com 2.282

brasileiros e 4.148 estrangeiros” (SPERANÇA, 1992, p. 79).

A política varguista teve o intuito de promover a ocupação dos vazios

demográficos por meio da absorção dos excedentes populacionais que faziam

pressão no Centro-Sul do país, encaminhando-os para áreas que produziam

matérias primas e gêneros alimentícios a baixo custo para subsidiar a implantação

da industrialização no Sudeste do Brasil.

Este processo tinha como objetivo principal corrigir os desequilíbrios

regionais pela implantação de uma política demográfica que incentivasse a

3 Foram criadas grandes restrições à entrada de imigrantes, caracterizando a substituição de mão-de-obra imigrante pela nacional. Essa mão-de-obra era formada, no Rio de Janeiro e São Paulo, devido ao êxodo rural (decadência cafeeira). Vargas investiu forte na criação da infra-estrutura industrial: indústria de base e energia. Destacando-se inclusive a criação da Petrobrás.4 Este programa foi criado para incentivar o progresso e a ocupação do Centro-Oeste do Brasil, objetivando a migração das pessoas do extremo Sul do Brasil para o Estado do Paraná e centro do Brasil, onde haviam terras desocupadas.

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migração, na tentativa de diminuir os desequilíbrios existentes entre as diversas

regiões do país.

O ano de 1932 foi significativo para o desenvolvimento regional do Oeste

do Paraná. A Revolução Constitucionalista5 contribuiu para que a região se tornasse

conhecida, ocupando posições estratégicas fundamentais, uma vez que o Sul do

país envolveu-se diretamente no conflito.

Ainda neste ano ocorreu a chegada de migrantes poloneses oriundos de

Santa Catarina em direção ao Oeste do Paraná.

Foi nessa turma que chegou Jacob Munhak, filho de poloneses, que abriu estradas a facão para facilitar a passagem dos carroções de oito animais que conduziam milho e outros produtos aos portos do Alto Paraná e suínos a Foz do Iguaçu (SPERANÇA, 1992, p. 110).

A chegada de Jacob Munhak foi fundamental para desencadear o

processo de ocupação e colonização da região, principalmente para a formação do

município de Cascavel a partir da região ocupada pelo Distrito de São João D’Oeste,

onde se estabeleceram os descendentes de poloneses que vieram de Santa

Catarina.

Eles se estabeleceram em Catanduvas e, em 1932, mudaram para

Cascavel, inseridos também na política expansionista de ocupação e colonização do

Oeste, desencadeada pelo Governo Federal.

5 A Revolução Constitucionalista de 1932 caracterizou-se por ser um movimento armado que ocorreu no Estado de São Paulo, tendo como objetivo principal derrubar Getúlio Vargas do Governo Provisório e promulgar uma nova constituição para o Brasil.

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Fotografia 3 – Os carroções trouxeram as primeiras famílias de colonos (1924) Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro - 50 anos de História - Cascavel, 2002, p. 55

No entanto, para que a política de Getúlio atingisse seu objetivo, era

necessária a criação de uma base de apoio nos estados periféricos como Goiás,

Mato Grosso e Paraná, que ficariam encarregados da produção de alimentos e

matérias-primas capazes de abastecer o novo pólo industrial do Sudeste.

A partir da Revolução de 1930, com a criação do Ministério da Educação e

Saúde, a escola pública, necessária para a instrução da população, passou a ser

vista como uma “questão nacional”. Para atender às necessidades de uma

sociedade em processo de urbanização e industrialização, a educação deveria

passar por reformas que fossem capazes de superar os “atrasos” vivenciados até

aquele momento.

O governo Vargas se deparou, logo no início do seu governo, com uma

herança educacional precária quanto ao seu funcionamento e atendimento,

principalmente no que se referia ao ensino primário nos estados. A última década da

Primeira República foi marcada pela instabilidade e descontinuidade de políticas

públicas para a educação.

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1.3 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA E A ORGANIZAÇÃO

DO SISTEMA NACIONAL DE ENSINO

Em 1932, no contexto da urbanização e da modernização do Brasil,

intelectuais e educadores brasileiros lançam o documento “A Reconstrução

Educacional no Brasil – Um Manifesto ao Povo e ao Governo”, conhecido como

“Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova6”, redigido por Fernando de Azevedo

juntamente com Anísio Teixeira e seus signatários. Neste documento, propunham a

adoção de um sistema escolar público, gratuito, obrigatório e laico.

O Manifesto apresentava o esboço de um programa educacional que

previa um sistema completo de educação, destinado a atender às necessidades de

uma sociedade que ingressava na era da técnica, da indústria e da urbanização.

Esse sistema, segundo os idealizadores do movimento, deveria atender também a

toda a população, e não apenas a uma minoria privilegiada, constituindo um

instrumento de ampliação do acesso à escolarização.

Ora, se a educação está intimamente vinculada à filosofia de cada época, que lhe define o caráter, rasgando sempre novas perspectivas ao pensamento pedagógico, a educação nova não pode deixar de ser uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida. Desprendendo-se dos interesses de classes a que ela tem servido, a educação perde o sentido aristológico, para usar a expressão de Ernesto Nelson, deixa de constituir um privilégio determinado pela condição econômica e social do indivíduo, para assumir um caráter biológico, com que ela se organiza para a coletividade em geral, reconhecendo a todo o indivíduo o direito a ser educado até onde o permitam as suas aptidões naturais, independente de razões de ordem econômica e social (escolanova.net/pages/manifesto.htm).

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova abordava as diretrizes da

educação em uma sociedade em plena transição, da forma rural para uma forma

industrial de produção, focalizando a escola como espaço institucional, ou seja, uma

educação para todos, mas com qualidade, gratuita, obrigatória e financiada pelo 6 Foram Signatários do Manifesto: Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto, A. de Sampaio Doria, Anísio Spinola Teixeira, M. Bergstrom Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira de Almeida Junior, J. P. Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meirelles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Garcia de Rezende, Nóbrega da Cunha, Paschoal Lemme, Raul Gomes. (escolanova.net/pages/manifesto.htm)

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Estado. Neste contexto, os pioneiros visavam à necessidade da formação das

habilidades necessárias para uma participação efetiva e influente na sociedade, que

não poderia simplesmente saber ler, escrever e contar, mas formar para o trabalho.

Para tanto, era necessário organizar os sistemas estaduais e municipais de

educação com espaço físico que possibilitasse o funcionamento de escolas

responsáveis por mudanças na vida social, buscando construir uma sociedade

escolarizada.

O direito de cada indivíduo à sua educação integral decorre logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na variedade de seus graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais. A educação, que é uma das funções de que a família se vem despojando em proveito da sociedade política, rompeu os quadros do comunismo familiar e dos grupos específicos (instituições privadas), para se incorporar definitivamente entre as funções essenciais e primordiais do Estado. Esta restrição progressiva das atribuições da família, - que também deixou de ser ‘um centro de produção’ para ser apenas um ‘centro de consumo’, em face da nova concorrência dos grupos profissionais, nascidos precisamente em vista da proteção de interesses especializados’, - fazendo-a perder constantemente em extensão, não lhe tirou a ‘função específica’, dentro do ‘foco interior’, embora cada vez mais estreito, em que ela se confinou. Ela é ainda o ‘quadro natural que sustenta socialmente o indivíduo, como o meio moral em que se disciplinam as tendências, onde nascem, começam a desenvolver-se e continuam a entreter-se as suas aspirações para o ideal’. Por isto, o Estado, longe de prescindir da família, deve assentar o trabalho da educação no apoio que ela dá à escola e na colaboração efetiva entre pais e professores, entre os quais, nessa obra profundamente social, tem o dever de restabelecer a confiança e estreitar as relações, associando e pondo a serviço da obra comum essas duas Forças sociais - a família e a escola, que operavam de todo indiferentes, senão em direções diversas e às vezes opostas (escolanova.net/pages/manifesto.htm).

De acordo com o Manifesto, os encargos do sistema educacional

deveriam ser assumidos pelo Estado, com a cooperação de todas as instituições

sociais, evidenciando a responsabilidade da família nas atribuições que são de sua

competência no ato de educar.

Foi neste momento histórico que se iniciou o processo de valorização da

escolarização da população. De acordo com o Manifesto dos Pioneiros, seus

signatários entendiam que o Estado deveria se responsabilizar por educar o povo,

responsabilidade esta que era, em princípio, atribuída à família.

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O Manifesto propunha assim o ensino obrigatório e gratuito até a idade de

18 anos, custeado pelo Estado e coordenado pelo Ministério da Educação.

A estrutura do plano educacional corresponde, na hierarquia de suas instituições escolares (escola infantil ou pré-primária; primária; secundária e superior ou universitária), aos quatro grandes períodos que apresenta o desenvolvimento natural do ser humano. É uma reforma integral da organização e dos métodos de toda a educação nacional, dentro do mesmo espírito que substitui o conceito estático do ensino por um conceito dinâmico, fazendo um apelo, dos jardins de infância à Universidade, não à receptividade, mas à atividade criadora do aluno. A partir da escola infantil (4 a 6 anos) à Universidade, com escala pela educação primária (7 a 12) e pela secundária (l2 a 18 anos), a ‘continuação ininterrupta de esforços criadores’ deve levar à formação da personalidade integral do aluno e ao desenvolvimento de sua faculdade produtora e de seu poder criador, pela aplicação, na escola, para a aquisição ativa de conhecimentos, dos mesmos métodos (observação, pesquisa, e experiência), que segue o espírito maduro, nas investigações científicas (escolanova.net/pages/manifesto.htm).

Os pioneiros defendiam também a criação de fundos escolares ou fundos

especiais, constituídos de uma percentagem sobre as rendas arrecadadas pela

União, os Estados e os municípios. Sugeriram, ainda, que fossem criadas no país

universidades encarregadas de transmitir ciência, e reivindicando a reconstrução do

sistema educacional em bases que pudessem contribuir para a interpenetração das

classes sociais e a formação de uma sociedade humana, plural, mais justa desde o

jardim-de-infância à universidade.

A escola primária que se estende sobre as instituições das escolas maternais e dos jardins de infância e constitui o problema fundamental das democracias deve, pois, articular-se rigorosamente com a educação secundária unificada, que lhe sucede, em terceiro plano, para abrir acesso às escolas ou institutos superiores de especialização profissional ou de altos estudos (escolanova.net/pages/manifesto.htm).

O Manifesto dos Pioneiros apresentava como grande desafio a

construção de um Sistema Nacional de Educação, articulado e organizado como

instrumento de constituição de um Brasil moderno.

A organização da educação brasileira unitária sobre a base e os princípios do Estado, no espírito da verdadeira comunidade popular e no cuidado da unidade nacional, não implica um centralismo estéril

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e odioso, ao qual se opõem as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação crescente da escola aos interesses e às exigências regionais. Unidade não significa uniformidade. A unidade pressupõe multiplicidade. Por menos que pareça, à primeira vista, não é, pois, na centralização, mas na aplicação da doutrina federativa e descentralizadora, que teremos de buscar o meio de levar a cabo, em toda a República, uma obra metódica e coordenada, de acordo com um plano comum, de completa eficiência, tanto em intensidade como em extensão. À União, na capital, e aos estados, nos seus respectivos territórios, é que deve competir a educação em todos os graus, dentro dos princípios gerais fixados na nova constituição, que deve conter, com a definição de atribuições e deveres, os fundamentos da educação nacional. Ao governo central, pelo Ministério da Educação, caberá vigiar sobre a obediência a esses princípios, fazendo executar as orientações e os rumos gerais da função educacional, estabelecidos na carta constitucional e em leis ordinárias, socorrendo onde haja deficiência de meios, facilitando o intercâmbio pedagógico e cultural dos Estados e intensificando por todas as formas as suas relações espirituais. A unidade educativa, - essa obra imensa que a União terá de realizar sob pena de perecer como nacionalidade, se manifestará então como uma força viva, um espírito comum, um estado de ânimo nacional, nesse regime livre de intercâmbio, solidariedade e cooperação que, levando os Estados a evitar todo desperdício nas suas despesas escolares a fim de produzir os maiores resultados com as menores despesas, abrirá margem a uma sucessão ininterrupta de esforços fecundos em criações e iniciativas. (escolanova.net/pages/manifesto.htm).

Pode-se considerar que, pela primeira vez na História da Educação

Brasileira, foi apresentada uma proposta para a construção de um Sistema Nacional

de Educação Articulado, com princípios fundamentais amplamente defendidos pelos

seus idealizadores.

O Manifesto, neste sentido, defendia uma reforma integral da organização

e dos métodos de toda a educação nacional e propunha uma nova política

educacional para o Brasil, indicando diretrizes para a educação nacional em uma

sociedade em transição, focalizando a escola como espaço institucional que

promovesse uma educação popular.

O movimento escolanovista, no Brasil, considerou que o problema da

educação nacional estava na herança educacional oriunda do Império e buscando

superar este atraso educacional do país. Defendiam uma reforma integral

envolvendo aspectos gerais que iam desde o Jardim de Infância até a Universidade.

De acordo com Silva,

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Neste cenário destaca-se, no campo educacional, a discussão em torno das propostas educativas dirigidas pela União e pelos Estados federados. Aos Estados cabia a tarefa de legislar e organizar sua própria rede de ensino. À União, cabia criar e controlar a educação superior em todo o país, o ensino secundário e a instrução em todos os níveis no Distrito Federal (2009, p. 7).

Imbuídos do espírito liberal, positivista, iluminista, os Pioneiros da

Educação Nova concebiam a educação como sinônimo de progresso e

desenvolvimento. A partir do momento que começavam a ser definidas

competências e responsabilidades para os entes federados na oferta e manutenção

do ensino, pode-se considerar que estavam se originando as primeiras idéias de

organização da educação nacional. Embora de cunho meramente administrativo, a

estrutura educacional começou a ser delineada neste período ou, então, sentiu-se a

necessidade de articulação entre os entes federados para que fossem definidas as

respectivas competências em relação ao ensino.

O movimento escolanovista surgiu influenciado pela cultura norte-

americana no período pós-Primeira Guerra Mundial, através da divulgação das

idéias de John Dewey (1859-1952). Os princípios consagrados na legislação eram

os da laicidade, gratuidade e obrigatoriedade, e deveriam ser colocados em prática.

Fernando Azevedo, relator do manifesto, atribuiu à Velha República as

responsabilidades pelo fracasso do sistema educacional brasileiro. De acordo com

Silva,

A ausência de um sistema nacional de ensino organizado acabou sendo considerado o grande entrave para o progresso e a qualidade do ensino. A falta de objetivos educacionais e de competência administrativa também são apontados como fatores responsáveis pelo atraso educacional. Seu discurso expressava o movimento econômico e político de seu tempo. Buscava-se na estrutura escolar o caminho mais apropriado para se construir a unidade nacional, ameaçada pelo embates políticos entre a burguesia e o proletariado presentes no mundo (2009, p. 10).

Ao evidenciar a ausência de um sistema nacional de ensino, os Pioneiros

da Educação Nova apontavam a necessidade de construção desse sistema como

condição para superar o atraso educacional do país. Apresentando uma série de

fatores que impedem a construção de um ensino eficiente no país, considerando a

formação universitária dos professores como o “único meio de verticalizar a cultura”.

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A educação, neste contexto, é considerada o “elemento decisivo no processo de

modernização ou de reconstrução nacional”.

Os pioneiros acreditavam na expansão da escola pública e na

profissionalização do ensino como possibilidade de inserir o Brasil no conjunto dos

países industrializados e desenvolvidos, considerando a educação como o fator

principal de transformação da sociedade. Para eles, o Manifesto colocaria um fim no

atraso econômico e social, e a educação traria como conseqüência o progresso. Ou

seja, apresentavam a construção de um sistema nacional de educação articulado,

como solução para os próprios problemas educacionais.

No segundo capítulo aprofundaremos mais as discussões referente a

construção de um sistema nacional de educação articulado, considerando os

estudos de Dermeval Saviani sobre a questão.

1.4 A CONSTITUIÇÃO DA EDUCAÇÃO EM CASCAVEL NO CONTEXTO DA

PRIMEIRA REPÚBLICA

O período compreendido entre 1920 e 1938 foi caracterizado pela

ocupação esporádica ou dispersa, em alguns pontos da região, por famílias de

colonos ou em razão de construção de obras públicas, como a abertura e

manutenção da rodovia ligando Guarapuava a Foz do Iguaçu. Alguns núcleos de

povoamento vão surgindo na região e ao longo da estrada estratégica que ligava

Guarapuava a Foz do Iguaçu.

De acordo com Sperança (1992), data de 1921 a aquisição, por parte do

colono catarinense Antonio José Elias, o “Antonio Diogo”, das terras situadas às

margens do Rio Cascavel, no lugar também denominado de “Encruzilhada dos

Gomes”. A compra foi efetuada junto à Empresa Braviaco - Companhia Brasileira de

Viação e Comércio e, em 1922, veio juntamente com outras famílias, ocupar o

lugarejo denominado “Cascavel”. Este é considerado, por Sperança, como o

primeiro morador “oficial” de Cascavel.

A primeira leva de colonos sulistas que se distribuiu pelo interior do atual município de Cascavel chegou no final da segunda década do século, ampliando-se em 1920 e nos anos imediatamente subsequentes. Foram os poloneses, juntamente com os caboclos

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guarapuavanos, os oestino-cascavelenses pioneiros, responsáveis pelo estabelecimento das primeiras propriedades agrícolas, pecuárias, industriais e prestadoras de serviços. (SPERANÇA, 1992, p. 99)

Em 1923, José Silvério de Oliveira, “Nhô Jeca”, “passou” por Cascavel.

Esta foi uma das suas inúmeras viagens pela região indo a Foz do Iguaçu. José

Silvério era “safrista, criador, comerciante e empreiteiro, atividade que lhe dava a

condição de tropeiro...” (SPERANÇA; SPERANÇA, 1980, p. 59). O ano de 1924 é

considerado pelo autor como importante para Cascavel, uma vez que

Havia apenas cinco moradias às margens do rio Cascavel. O pioneiro Antonio José Elias prestava serviços, como tantos outros, à Companhia Barthe. Com exceção de pequenos povoados, de caráter essencialmente rural, a região era praticamente despovoada, só havendo sinais de civilização referentes às origens ervateiras (SPERANÇA; SPERANÇA, 1980, p. 83).

A região, neste mesmo ano, também apareceu no cenário nacional, uma

vez que a Revolução Paulista (1924) teve um dos seus momentos importantes na

região de Catanduvas7.

O final da década de 20 foi marcado, no contexto nacional, pela campanha

cívica e política da Aliança Liberal, culminando com a Revolução de 1930 e a vitória

da Aliança Liberal no processo revolucionário que conduziu Getúlio Vargas ao

poder. Este fato fez com que Cascavel não mais figurasse nos mapas como um

“antigo pouso ervateiro às margens de um rio com o mesmo nome” (SPERANÇA,

1992, p. 99).

A década de 1930 também se caracterizou pela ação das grandes

madeireiras de outras regiões do Estado e do País, que implantaram em Cascavel e

na região as grandes serrarias com objetivos comerciais, dando início ao ciclo

econômico da madeira, que se estenderia até 1970.

Em 1930, José Silvério de Oliveira, “Nhô Jeca”, arrendou terras do colono

Antonio José Elias junto ao entroncamento de trilhas que formavam a Encruzilhada. 7 É necessário considerar a importância da Revolução Paulista (1924), desde a sua origem até o seu desfecho, ocorrido na região de Catanduvas. Apresentando um saldo negativo para a região de Cascavel, com saques de mercadorias da população local, incêndio das moradias, entre outros atos cometidos pelos revolucionários. A Revolução Paulista contribuiu também com a história de Cascavel, pois seu nome apareceu pela primeira vez no mapa. João Cabanas, um dos líderes da revolução, chegou a dizer que “havia um “quartel general” em Cascavel”. Assim, Cascavel passou a aparecer nos mapas oficiais do Governo Federal com posição de destaque.

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Trouxe consigo um significativo número de parentes e amigos, também instalou no

vilarejo um pequeno armazém, coordenou as plantações e a criação de suínos,

atividades necessárias à sobrevivência, contribuindo efetivamente para a construção

do povoado e desenvolvimento da região.

A idéia de construir uma cidade era o objetivo maior de José Silvério de

Oliveira. Mudanças na forma de concessão de terras na região transformaram “Nhô

Jeca” de arrendatário a proprietário de terras e este passou a oferecer terras

àqueles com quem negociava, oferecendo vantagens. A intenção de construir uma

pequena cidade se tornava cada vez mais real.

Fotografia 4Fotografia 4 – Teodoro Tfardowski, João Alves e Manoel Ferreira (Viagem de Ponta Grossa a Foz do Iguaçu, transportando mantimentos - 1938Fonte: Acervo do Museu da Imagem e do Som de Cascavel (MIS)

Entre as décadas de 30 e 40, colonos sulistas de Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, descendentes de poloneses, alemães e italianos migraram para essa

região puxados por carroções, trazendo ferramentas, sementes e utensílios para o

trabalho.

1.5 A GÊNESE DA ESCOLA PRIMÁRIA PÚBLICA EM CASCAVEL

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Em 1932, ocorreu a construção da primeira igreja e consequentemente a

instalação da “escolinha” no local onde estaria sendo construído o primeiro núcleo

urbano do povoado denominado Cascavel. Foi neste ano que teve início o processo

educacional no então vilarejo de Cascavel. Com o passar do tempo, esta instituição

tomou forma e passou a se estruturar de acordo com as políticas que emanavam do

governo do Estado do Paraná.

A primeira escolinha de Encruzilhada, criada em 1932, é um pequeno rancho de pinho lascado, que também serve de capela religiosa, tendo entre seus primeiros professores Orozendo Cordeiro de Jesus e as irmãs Genoveva e Estanislava Boiarski (SPERANÇA; SPERANÇA, 1980, p. 118).

Fotografia 5 – A primeira igreja de Cascavel, Igreja Nossa Senhora Aparecida, localizada onde hoje está a Igreja Santo Antônio (1932)Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro – 50 anos de História de Cascavel, 2002, p. 17

A rapidez com que foi construída a “primitiva” escola em Cascavel deu-se

especialmente em razão das características humano-culturais do grupo pioneiro.

Tanto o grupo originário de Guarapuava (alguns deles comerciantes), como os

descendentes de imigrantes europeus, viam na escolarização de seus filhos

aspectos práticos para as relações sociais, na humanização de si próprios e de sua

cultura.

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A escola implantada em Cascavel era tipicamente uma “escola de

colonos”, como não poderia deixar de ser, sem nenhuma outra preocupação senão

com a escolarização das crianças de seu grupo social, isto é, a escola deveria

ensinar a ler, escrever e calcular. Dessa forma, em 1932, a capela passou a ser

utilizada também para a escolarização das crianças, na modalidade de “Casa

Escolar”, instituída e implantada sem nenhum ato oficial (EMER, 1991).

Segundo Emer (1991), nos primeiros anos a escola foi mantida pela

população local. O primeiro professor, Aníbal Lopes da Silva, era pago pela

população. Ele foi professor em 1932 e 1933. Em 1934, assumiu a Casa Escolar o

professor Orozendo Cordeiro de Jesus.

No entanto, há divergências sobre esta questão, uma vez que a pesquisa

realizada por Thomé (2005), quando da realização de uma entrevista com uma

pessoa que estudou na primeira escola de Cascavel, evidenciou que:

O primeiro professor da primeira turma de alunos da primeira escola foi o senhor Inácio Ramos, e que na primeira escolinha este foi o único professor. Aqui surge um fato novo, pois, pela primeira vez aparece o nome de um professor até então não citado. Já na escola que funcionava dentro da igreja os professores foram Orozendo Cordeiro de Jesus, juntamente com a professora Genoveva Boiarski (THOMÉ, 2005, p. 55).

As divergências sobre quem teria sido o primeiro professor de Cascavel

são muito claras, pois SPERANÇA & SPERANÇA (1980) atribui a Orozendo

Cordeiro de Jesus; EMER (1991) a Aníbal Lopes da Silva e THOMÉ (2005)

evidencia, a partir de uma entrevista, que teria sido Inácio Ramos. Obviamente este

fato requer um aprofundamento da pesquisa para que se consiga estabelecer quem,

de fato, foi o primeiro professor.

A professora Genoveva Boiarski assumiu a escola ainda na modalidade

de Casa Escolar e permaneceu no exercício do magistério no período de 1935 até

1938, ano em que, com a criação do Distrito Administrativo de Cascavel, a Casa

Escolar foi instituída mediante ato oficial e passou a ser mantida pelo poder público

municipal de Foz do Iguaçu. Neste período, a Casa Escolar passou a funcionar em

prédio próprio, segundo depoimentos coletados por Emer (1991), “uma casinha ao

lado da Capela Nossa Senhora Aparecida”8.

8 Idem, p. 237. A depoente é irmã da Professora Genoveva Boiarski. Deixou de exercer o cargo de professora na Casa Escolar de Cascavel por ter se casado com um militar da Aeronáutica, que foi

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Depois da oficialização da escola, as referências passaram a ser a

Inspetoria Municipal de Ensino, a supervisão do Inspetor, os programas de ensino

definidos pela Secretaria de Estado da Educação. O professor passou a ser

“avaliado” pela quantidade de alunos que ele conseguia preparar para serem

submetidos aos exames. Se seus alunos fossem aprovados nos exames,

receberiam o diploma de Escolarização Primária, um diploma que tinha um

significado social importante na época. As novas condições da escola e do professor

desencadearam o processo de inclusão da escolarização no “sistema” municipal e

estadual de ensino.

Em 1947, a escolarização e a estrutura educacional de Cascavel passou

por grandes transformações. Primeiramente, a Casa Escolar foi elevada à condição

de Grupo Escolar. Posteriormente, o Estado passou a manter a escola e a pagar os

professores, isto é, a educação no Distrito de Cascavel foi estadualizada e, por

determinação do governador do Estado, Moysés Lupion, no mesmo ano, foi

construído um novo prédio para a escola.

Foto 6 - Ao fundo, a primeira escola, hoje Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira (1946)Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro – 50 anos de História de Cascavel, 2002, p. 25

Essa transformação para a modalidade de Grupo Escolar gerou novas

implicações típicas da visão de educação existente no Estado do Paraná. Nessa

modalidade de escola, cada série tinha um professor regente de classe e passou a

transferido de Cascavel para Minas Gerais.

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existir a função de Diretor Escolar do Grupo Escolar, conforme determinações da

Secretaria de Estado da Educação, que nesse período era a mantenedora do

estabelecimento de ensino.

De acordo com Thomé,

O Grupo Escolar construído em Cascavel, não seguia os moldes e a grandiosidade dos grupos escolares construídos em São Paulo, por exemplo, que tinha toda uma arquitetura planejada para atender a demanda dos grandes centros urbanos. O Grupo Escolar de Cascavel era uma casa simples, de madeira, uma construção apenas um pouco maior, em condições de atender um número um pouco maior de alunos, já no sistema de séries separadas umas das outras ou então juntando terceira e quarta séries e primeira e segunda séries, no início. (2005, p. 58)

Relacionado ao Grupo Escolar, consideramos importante a citação de

SOUZA,

O grupo escolar fazia parte desse conjunto de melhoramentos urbanos, tornando-se denotativo do progresso de uma localidade. Ele era símbolo de modernização cultural, a morada de um dos mais caros valores urbanos – a cultura escrita. Entende-se dessa forma, por que esses estabelecimentos de ensino passaram a fazer parte dos interesses de diferentes grupos sociais e tornam-se um elemento de disputa política (1998, p. 92).

A origem do atual Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira está na

“escolinha” de 1932 que sofreu alterações ao longo do tempo e do próprio processo

colonizatório, e foi se adequando para atender à população urbana do município. O

colégio permaneceu como a única instituição de ensino pública na sede do

município até 1962, quando iniciaram as atividades da Escola Municipal Adolival

Pian, na época denominada de Escola Municipal Frei Henrique Soares de Coimbra.

Outro aspecto importante para entender o desenvolvimento educacional

de Cascavel é a escola dos colonos. De acordo com Emer (1991), esta era um

modelo de escola nascida do interior dos grupos ou núcleos de colonos

estabelecidos no Oeste do Paraná, com as características da cultura e da visão de

mundo dos colonos, uma escola primária que se antecipou ao posterior serviço

público educacional, quer fosse municipal, do estado ou do governo federal. Por

diversas razões históricas, foi uma escola que teve “vida curta”, mas deixou suas

marcas na história da população local e regional.

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Esta questão será melhor aprofundada no capítulo três, quando

constataremos que da chamada “escola dos colonos” é que se originou a primeira

escola pública municipal criada e mantida pelo Município de Cascavel, em 1953,

denominada Escola Isolada de Rio do Salto, no ano subseqüente à emancipação

política do município.

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CAPÍTULO II

OS SISTEMAS DE ENSINO NO CONTEXTO DO PROJETO REPUBLICANO

2.1 EDUCAÇÃO E MODERNIZAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA

O Movimento Republicano iniciado em 1870 no Brasil pregava o

federalismo com maior autonomia para os Estados, na medida em que passariam a

existir dois níveis de governo: a União e os Estados. A República significava divisão

e equilíbrio entre os poderes, representando a modernidade que o Império não

oferecia para a sociedade brasileira.

O projeto educacional que foi construído na Primeira República, no Brasil,

já aparecia no Manifesto Republicano de 1870, quando ficava claro que a

mentalidade predominante deste período seria liberal moderada, mas com uma

visão conservadora de democracia representativa. A implantação da República veio

acompanhada de outras mudanças significativas para a sociedade do final do século

XIX, dentre elas a abolição do trabalho escravo, a imigração, o trabalho assalariado,

a crise do café, o início do processo de industrialização e a urbanização, produzindo

novas relações de trabalho entre industriais e operários e, consequentemente, a

construção de um projeto de educação que pudesse atender às demandas dessa

sociedade em transição.

A conquista do poder político, proclamada no Movimento Republicano,

mostrava que seus signatários não almejavam mudanças radicais, mas lentas e

graduais para implantar o projeto proposto para a sociedade.

O importante, naquele momento, era reconhecer o regime monárquico como corrupto e atrasado, reconhecendo as vantagens da descentralização política e administrativa proposta pela República, essa amiga da ordem e do progresso modernos (HILSDORF, 2003, p. 60).

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O papel destinado à educação nesse contexto foi o de confirmar a ordem

estabelecida na sociedade e no projeto republicano.

A educação pelo voto e pela escola foi instituída por eles como a grande arma da transformação evolutiva da sociedade brasileira, e assim oferecida em caução do progresso prometido pelo regime republicano: a prática do voto pelos alfabetizados e, portanto, a frequência à escola que formaria o homem progressista, adequado aos tempos modernos, é que tornariam o súdito em cidadão ativo (HILSDORF, 2003, p. 60).

Aliado a um processo de mudanças no espaço produtivo do campo, surgiu

a organização da atividade industrial nas cidades e a urbanização, estabelecendo

novas relações de trabalho entre os detentores do capital e a classe operária que

surgia nos grandes centros urbanos. Neste contexto, foi construído o discurso

educacional que determinou formas de organização da escola pública, na Primeira

República. O debate educacional sobre a educação pública teve como centro o

analfabetismo que apresentava altos índices no país, a crise do sistema monárquico,

a abolição do trabalho escravo e a necessidade da formação do trabalhador livre

assalariado.

A proposta de educação do povo tinha como objetivo criar a unidade

nacional, uma proposta de educação com a função de qualificar mão-de-obra

necessária para efetivar a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado

livre e unificar a luta pela existência e consolidação da sociedade brasileira.

CARVALHO (1986) ampliou a concepção de escola existente no regime monárquico

para a escola republicana e explicita que

[...] seu afã pedagógico é uma alegoria da opinião imigrantista, pois trata-se de ter (transplantada) uma outra população – a imigrante – no lugar da escrava e, homologamente, criar (transplantada) uma nova escola/sociedade – a republicana – no lugar da monárquica (HILSDORF, 2003, p 60).

Pode-se compreender, assim, que a escola republicana tinha como

objetivo principal a instauração da nova ordem, estando presente o projeto dos

cafeicultores que vislumbravam uma “sociedade branca, imigrante, estratificada em

camadas, com direitos e deveres diferenciados, segundo a sua posição no mundo

do trabalho (HILSDORF, 2003, p 60).

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A escola do projeto republicano tinha como objetivo principal atender aos

interesses e necessidades da nova sociedade que passava a se constituir após a

proclamação da República.

Esse processo passou a exigir um projeto nacional de educação, tendo

em vista “civilizar o homem nacional, consolidar o regime republicano e integrar o

imigrante à cultura brasileira” (SCHELBAUER, 1998, p. 61). O homem, sujeito deste

processo, é visto como cidadão eleitor, pois a reforma eleitoral excluía os

analfabetos, suscitando então a necessidade de difundir a instrução pública

elementar, pois a condição para ser cidadão, ser eleitor, consistia em saber ler e

escrever. O analfabetismo, por sua vez, é visto como uma herança negativa do

império e os analfabetos como “entraves” para o progresso.

Assim, o objetivo principal da educação expressava-se no desejo de

conduzir o país ao desenvolvimento e à modernização. De acordo com

(SCHELBAUER, 1998, p. 65), Quintino Bocaiúva, ao escrever uma série de artigos

sobre a instrução pública nas províncias, enfatiza a “importância da educação como

instrução para desenvolver virtudes necessárias a um cidadão e país civilizado.”

A ideologia que marcou e impregnou a Primeira República foi o

Positivismo, inspirada na doutrina do francês Augusto Comte. Os positivistas se

opõem à intervenção do Estado na Educação do Brasil. A escola passou a ser vista

como instituição responsável pela formação do sentimento de cidadania necessário

para a construção do progresso do país e consolidação da democracia. Passou a

fazer parte dos discursos políticos como a responsável pelo desenvolvimento do

país.

A educação, assim concebida e praticada pelos positivistas, propôs o

ensino público obrigatório. No entanto, restrito a uma pequena parcela da

população. Educação voltada à população livre, na sua grande maioria crianças

pobres não incorporadas à sociedade; uma instrução voltada para a educação moral

e prática da criança a ser desenvolvida no lar, evidenciando a responsabilidade da

família pela instrução, principalmente a mulher.

Evidenciou-se neste período a preocupação com o ensino

profissionalizante, na obrigatoriedade do ensino agrícola e o ensino de ofícios

industriais, necessários para atender à demanda produzida pela indústria, pelo

comércio e pela agricultura.

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De acordo com SOUZA (1998), em relação às escolas graduadas no

município de Jundiaí/SP, considerou que para atender às necessidades da

escolarização em massa, foi implantada a escola graduada na cidade,

preferencialmente. No campo seriam organizadas as escolas isoladas. As primeiras

tidas como de excelência, dotadas de prédios e estrutura necessárias a assegurar

melhor qualidade, e as escolas isoladas sem cuidados mínimos e sem preocupação

com qualidade, uma vez que atendiam às camadas mais pobres da população.

Este modelo de escola proposto em Jundiaí-SP revelava um projeto de

cidadania excludente em vários níveis. A população rural era a maioria e foi

marginalizada nesse processo e, mesmo na cidade, o grupo escolar não conseguia

atender a todos. Situação que provavelmente não era diferente na maioria dos

estados brasileiros.

[...] a educação das crianças na escola pública primária não podia ser vista como desnecessária na produção e transformação das cidades na transição do século XIX para o século XX. As escolas desempenharam na vida urbana, um importante papel social e cultural (SOUZA, 1998, p. 116).

Ainda, de acordo com Souza (1998), a escola graduada tornou-se, na

Primeira República, nas cidades, um espaço de encontro, de solenidades, de

comemorações, e também um espaço onde se transmitia e reproduzia o saber

histórico. A partir dos centros urbanos, os grupos escolares disseminavam sua

dimensão educativa para toda a sociedade republicana brasileira.

Os republicanos deram à educação lugar de destaque, sendo o grupo escolar representante dessa política de valorização da escola pública; dessa forma, eles conferiram a um só tempo: visibilidade à ação política do Estado e propagação do novo regime republicano. Criar um grupo escolar tinha um significado simbólico muito maior do que a criação de uma escola isolada, cuja precariedade mais se assemelhava às condições das escolas públicas do passado imperial, com o qual o novo regime queria romper. Em certo sentido, o grupo escolar, pela sua arquitetura, sua organização e suas finalidades aliava-se às grandes forças míticas que compunham o imaginário social naquele período. Isto é, a crença no progresso, na ciência e na civilização. Não podendo universalizar o ensino primário, optou-se por privilegiar as escolas urbanas com maior visibilidade política e social (SOUZA, 1998, p.91).

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Neste sentido, as cidades se tornaram espaços propícios à

modernização social. Grandes transformações ocorreram no final do século XIX e

início do século XX como: o crescimento urbano, o desenvolvimento do comércio, as

melhorias no saneamento básico, iluminação, transportes, entre outros.

O grupo escolar estava incluído nesse conjunto de infra-estrutura que

apontava progresso e modernidade, em atendimento às novas demandas de

escolarização.

Desde a instalação da República brasileira, a educação foi colocada

como fator essencial para o desenvolvimento social e econômico, numa sociedade

que estava transitando do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Novas

perspectivas de desenvolvimento social e econômico faziam parte do processo n

qual o Brasil estava inserido. Estava-se passando por uma ruptura em relação ao

modelo de educação que prevalecera durante o império e buscavam-se novas

propostas que viessem de encontro ao ideal desencadeado pelo Movimento

Republicano. De acordo com Silva,

]...] a passagem do império para a República representou, no âmbito da educação, uma nova orientação pedagógica, indicando o enfraquecimento da pedagogia jesuítica, emergindo uma proposta educacional nutrida na concepção de economia livre (2009, p. 3).

Na última década da Primeira República, eram precárias as condições

de funcionamento e de atendimento do ensino primário no país. Este período foi

marcado por reformas educacionais que foram caracterizadas pela descontinuidade

e instabilidade no setor educacional.

Após a Revolução de 1930, a instrução pública popular é colocada como

um dos problemas próprios de uma sociedade que começa a se modernizar e

urbanizar a partir do projeto de industrialização do país.

2.2 ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NAS CONSTITUIÇÕES

A Constituição de 1934 apresentou, pela primeira vez, um capítulo

específico destinado à educação e cultura. Estava explícito no texto constitucional

que educação era direito de todos e responsabilidade do Poder Público. Esta

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constituição apresentou um caráter mais liberal, uma vez que foi criada nos anos

anteriores ao Estado Novo Varguista.

Art. 149 – A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, D. O. U., 16 de Julho de 1934).

A Constituição apresenta também as responsabilidades da União, dos

Estados e dos Municípios no que se refere à educação. Apresentamos na íntegra os

artigos 150, 151 e 152, para que possamos fazer uma análise mais detalhada de

como se estruturou legalmente a educação no Brasil a partir do Manifesto dos

Pioneiros da Educação e quais anseios fizeram parte do discurso educacional da

época e que foram contemplados no documento.

Art 150 - Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; b) determinar as condições de reconhecimento oficial dos estabelecimentos de ensino secundário e complementar deste e dos institutos de ensino superior, exercendo sobre eles a necessária fiscalização; c) organizar e manter, nos Territórios, sistemas educativos apropriados aos mesmos; d) manter no Distrito Federal ensino secundário e complementar deste, superior e universitário; e) exercer ação supletiva, onde se faça necessária, por deficiência de iniciativa ou de recursos e estimular a obra educativa em todo o País, por meio de estudos, inquéritos, demonstrações e subvenções. Parágrafo único - O plano nacional de educação constante de lei federal, nos termos dos artigos. 5º, nº XIV, e 39, nº 8, letras a e e , só se poderá renovar em prazos determinados, e obedecerá às seguintes normas: a) ensino primário integral gratuito e de freqüência obrigatória extensivo aos adultos; b) tendência à gratuidade do ensino educativo ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível; c) liberdade de ensino em todos os graus e ramos, observadas as prescrições da legislação federal e da estadual; d) ensino, nos estabelecimentos particulares, ministrado no idioma pátrio, salvo o de línguas estrangeiras;

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e) limitação da matrícula à capacidade didática do estabelecimento e seleção por meio de provas de inteligência e aproveitamento, ou por processos objetivos apropriados à finalidade do curso; f) reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino somente quando assegurarem a seus professores a estabilidade, enquanto bem servirem, e uma remuneração condigna. Art 151 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal organizar e manter sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as diretrizes estabelecidas pela União. Art 152 - Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Educação, organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar necessárias para a melhor solução dos problemas educativos, bem como a distribuição adequada dos fundos especiais. Parágrafo único - Os Estados e o Distrito Federal, na forma das leis respectivas e para o exercício da sua competência na matéria, estabelecerão Conselhos de Educação com funções similares às do Conselho Nacional de Educação e departamentos autônomos de administração do ensino (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, D. O. U., 16 de Julho de 1934). .

Um dos avanços desta Constituição está explicitado no artigo 151, em

que afirma a responsabilidade dos estados de “organizar e manter” sistemas de

educação em seus territórios, de acordo com as diretrizes da União. Questão

essa que envolve o presente trabalho de pesquisa, no sentido de

compreendermos como se estruturou e organizou o sistema de educação no

Município de Cascavel.

O texto deixa claro quais são as responsabilidades dos entes federados no

processo educacional do país, apontando a necessidade de articulação entre a

União, os Estados e os Municípios, no que se refere às suas atribuições. Também

fica evidente, no documento, que as normas e procedimentos deverão ser feitos de

acordo com as decisões emanadas da União, articulando-se aos estados e

municípios, ou seja, “compete aos Estados e ao Distrito Federal organizar e manter

sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as diretrizes

estabelecidas pela União”.

Fica, portanto, evidente que a Constituição apresenta uma noção de

sistema nacional articulado de educação que começava a ser construído. Podemos

perceber que há uma tendência em considerarmos que o movimento escolanovista,

de certa forma, pode ter influenciado na elaboração dos artigos em relação á

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educação, pois muitas das aspirações dos Pioneiros da Educação Nova começavam

a ser delineadas.

Outra característica da constituição de 1934 que destacaremos é a

previsão de recursos financeiros para a educação, que não fora previsto nas

constituições anteriores (1824 e 1891).

Art 156 - A União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos. Parágrafo único - Para a realização do ensino nas zonas rurais, a União reservará no mínimo, vinte por cento das cotas destinadas à educação no respectivo orçamento anual. Art 157 - A União, os Estados e o Distrito Federal reservarão uma parte dos seus patrimônios territoriais para a formação dos respectivos fundos de educação. § 1º - As sobras das dotações orçamentárias acrescidas das doações, percentagens sobre o produto de vendas de terras públicas, taxas especiais e outros recursos financeiros, constituirão, na União, nos Estados e nos Municípios, esses fundos especiais, que serão aplicados exclusivamente em obras educativas, determinadas em lei. § 2º - Parte dos mesmos fundos se aplicará em auxílio a alunos necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudo, assistência alimentar, dentária e médica, e para vilegiaturas (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, D. O. U., 16 de Julho de 1934).

Podemos considerar que a Constituição de 1934 estava em

concordância com muitas das reivindicações e propostas que constavam no

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. As reivindicações do movimento só

não foram atendidas de maneira mais ampla devido ao artigo 153, que restringiu

as matrículas, para não investir na criação de mais vagas e oportunidades nos

estabelecimentos de ensino, limitando assim a expansão das mesmas.

A Constituição de 1937, outorgada após o golpe de Estado de Getúlio

Vargas, difere em muitos pontos da Constituição de 1934. À Educação e Cultura

não foi destinado o enfoque, nem o espaço anterior. Se na Constituição de 1934,

Getúlio Vargas era visto como um governo mais liberal, pode-se perceber um

efeito totalitarista marcado por uma ditadura, estendendo este efeito também na

educação, uma vez que o papel mais importante para a educação, naquele

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momento, passou a ser o controle da mão-de-obra em vez de formá-la, criando e

separando cada vez mais as classes, através de um processo de formação

essencialmente voltado para as necessidades do mundo do trabalho.

A Constituição de 1934 estabeleceu o direito individual e de sociedades

de iniciativa pública ou particular. Ocorreu aí um afastamento bastante

considerável em relação à Constituição de 1934, que estabelecia

categoricamente que a educação era dever da família e da União. A

responsabilidade do governo é, sutilmente, diminuída. Reduz-se a um

suplemento educativo para aqueles que não pudessem financiar a própria

educação.

Entre os objetivos explicitados por esta nova ordenação jurídica e administrativa (Estado Novo), estavam as perspectivas de ordenamento da educação; a definição de competências entre os diferentes estratos de governo (Municípios, Estados e União); a articulação entre os diferentes ramos de ensino e a implantação de uma rede de ensino profissionalizante (CUNHA, 1981, p. 122).

Evidencia-se a partir daí, que a Constituição de 1937 define

responsabilidades, principalmente no que se refere ao Ensino Profissionalizante

e à necessidade de serem estabelecidas no país as respectivas competências

entre as unidades federadas, em relação à educação.

O artigo 129, que apresentamos na sequência, complementa a citação

acima, uma vez que inserido no texto da constituição de 1937, confirma a

questão do atendimento educacional, principalmente àqueles que não tiverem os

recursos necessários para mantê-lo e ao mesmo tempo define questões

importantes em relação ao ensino profissionalizante, objetivando atender às

demandas daquele período.

Art 129 - A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos

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Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais. É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público (CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. D. O. U., 10 de novembro de 1937).

Percebe-se que o texto constitucional deixa claro o papel da educação

enquanto formadora de mão-de-obra necessária para atender à demanda para a

atividade industrial do país.

Se analisarmos mais profundamente, podemos considerar o caráter

centralizador da educação, o controle sobre ela está centralizado na União que,

neste período, continuou controlando todo o processo educacional do país, uma vez

que esta constituição instituiu o Estado Novo, denominado de “Ditadura de Vargas”.

Outra característica fundamental dessa constituição está exposta nos

artigos 130 e 132, que evidencia no primeiro a descaracterização da escola pública

e, no segundo, mais uma vez é reforçado o papel da educação como formadora de

operários para a industrialização do país.

Art 130 - O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar. Art 132 - O Estado fundará instituições ou dará o seu auxílio e proteção às fundadas por associações civis, tendo umas; e outras por fim organizar para a juventude períodos de trabalho anual nos campos e oficinas, assim como promover-lhe a disciplina moral e o adestramento físico, de maneira a prepará-la ao cumprimento, dos seus deveres para com a economia e a defesa da Nação (CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. D. O. U., 10 de novembro de 1937).

Não há evidências no texto oficial que apontem para a necessidade de

criação de um sistema nacional de educação articulado, mas sim o caráter

centralizador da União no que se refere à educação e seu papel de formar cidadãos

capazes de contribuir para o desenvolvimento do país.

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É evidente que a Constituição de 1937, por ter sido produzida em

tempos de ditadura, foi menos flexível em vários pontos. O projeto de Educação

nela apresentado é bastante restritivo e determinador no que diz respeito ao

âmbito social. A prova disto é que destina aos “menos favorecidos” um tipo de

ensino próprio, restringindo assim a possibilidade de ascensão dos indivíduos

das classes mais baixas e, ao mesmo tempo, controlando este ensino, já que era

o Estado quem deveria prover os meios para a educação profissional.

Pode-se concluir que a Constituição de 1937 definiu-se pelo

conservadorismo, pelo autoritarismo e, como conseqüência, diretivismo da

educação, à qual deu menos importância que a Constituição anterior, por um

favorecimento às elites e ao próprio processo de elitismo. O enfoque concedido

anteriormente à educação de base, conforme propuseram os Pioneiros, foi

substituído em 1937 pelo foco no ensino profissionalizante destinado a

determinados grupos e limitado pelo governo.

2.3 A CONSTITUIÇÃO DE 1946 E A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE

EDUCAÇÃO

A Constituição Federal de 1946, no capítulo da Educação, define que:

Art 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Art 167 - O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos Poderes Públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem. Art 168 - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I - o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional; II - o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos; III - as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que trabalhem mais de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino primário gratuito para os seus servidores e os filhos destes; IV - as empresas industriais e comerciais são obrigadas a ministrar, em cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores, pela forma que a lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores; Art 169 - Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos

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de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino. Art 170 - A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios. Parágrafo único - O sistema federal de ensino terá caráter supletivo, estendendo-se a todo o País nos estritos limites das deficiências locais. Art 171 - Os Estados e o Distrito Federal organizarão os seus sistemas de ensino. Parágrafo único - Para o desenvolvimento desses sistemas, a União cooperará com auxílio pecuniário, o qual, em relação ao ensino primário, provirá do respectivo Fundo Nacional. Art 172 - Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. D.O.U., de 18 de setembro de 1946).

A Constituição Federal de 1946 apresenta como proposta, nos artigos

170, 171 e 172 a importância da organização de um sistema federal de ensino,

assim como da organização dos sistemas de ensino nos Estados e no Distrito

Federal.

De acordo com Saviani (2005) ao se propor a organização de um sistema

de ensino, precisava-se definir as diretrizes e bases para a educação nacional, ao

que um Projeto de Lei foi elaborado por uma comissão composta de educadores de

várias tendências, visando a criação de um sistema nacional de educação. No

entanto, após a conclusão dos trabalhos desta comissão, predominou, no Projeto de

Lei, a tendência descentralizadora já prevista desde a década de 30 pela

Associação Brasileira de Educação.

O próprio Ministro da Educação expôs os motivos que levaram o Ministério

da Educação a aprovar a idéia de descentralização.

Descentralização do ensino é princípio fundamental adotado pela Constituição, como decorrência, por um lado, de conhecimentos elementares do processo de ensinar e, por outro, da variedade e extensão do país, que já haviam imposto, em sua organização, a forma federativa (SAVIANI, 2005, p. 8).

De acordo com Saviani (2005), ao falar em sistema contínuo e articulado

de educação, o ministro referia-se a um sistema nacional de ensino e a sistemas

locais, os chamados sistemas estaduais de educação. Empregou, ainda, as

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expressões “sistema de ensino superior”, “sistemas estaduais de educação” e

“sistema federal de educação”.

No relatório geral desta comissão, Almeida Júnior concluiu que:

Haverá no Brasil, é certo, um todo orgânico formado pela totalidade de seus sistemas de ensino – um supersistema coordenado e vitalizado pela diretrizes e bases nacionais e, mais ainda, pelo que de comum já existe, de norte a sul, nas tradições, nos sentimentos e nos ideais da nacionalidade. Mas o sistema de ensino de cada Estado será, por assim dizer, “individual”, terá estrutura e vida próprias, em harmonia com as peculiaridades econômicas, sociais e culturais do ambiente que o produziu (SAVIANI, 2005, p. 9).

Ficou evidente, portanto, a concepção descentralizadora do sistema

educacional em consonância com o regime republicano que se tornara vitorioso em

1889, justamente pela característica da descentralização e autonomia administrativa.

Esta era a concepção do que significava descentralização para o Ministério da

Educação.

Saviani (2005) afirma que o texto do Projeto de Lei que definiria as

Diretrizes e Bases da Educação Nacional apresentava também as competências

para a União, os Estados e o Distrito Federal, sendo que era de competência da

União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, organizar o sistema

federal de ensino com caráter meramente supletivo, e que os estados e o Distrito

Federal organizariam seus sistemas de ensino em concordância com as diretrizes

educacionais oriundas do Sistema Nacional de Educação.

No entanto, Saviani destaca que a concepção de descentralização

colocada pelo relator não foi interpretada da mesma maneira pelo ex-ministro da

Educação do Estado Novo, Gustavo Capanema. Este teria reinterpretado a

expressão “diretrizes e bases”, dando um significado mais amplo do que aquele

dado pela comissão que elaborou o Projeto de Lei.

Capanema atribuiu à palavra “diretrizes” um significado que inclui leis, regulamentos, programas e planos de ação administrativa, orientações traçadas pelos chefes e subchefes de serviços para a execução dos mesmos. Esta interpretação do termo “diretrizes”, reforçada pelo acréscimo da palavra “bases”, ensejou uma concepção centralizadora da organização da educação nacional (SAVIANI, 2005, p. 10).

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Quanto à expressão “sistemas de ensino”, no texto do Projeto de Lei,

Gustavo Capanema assim definiu:

Sistema, neste caso, significa, precisamente, sistema administrativo. Sistema de ensino é aí a organização de serviço público constituída pelas atividades e instituições educativas de cada Estado ou do Distrito Federal. A Constituição quer que, em cada unidade federativa, exista e funcione, consoante às exigências locais de educação e cultura, um adequado sistema de repartições e estabelecimentos de ensino, sob a gestão, o controle ou a assistência do respectivo governo (SAVIANI, 2005, p. 11).

O debate entre Almeida Júnior e Gustavo Capanema foi fundamental para

compreender que o conceito de “sistema” pode ter significados diversos, desde que

sejam consideradas as questões político-ideológicas no estudo do conceito e sua

definição. Neste caso, consideravam que o conceito estava sendo discutido sob as

posições político-ideológicas caracterizadas pela centralização e descentralização

do sistema educacional brasileiro.

Foi o texto da Carta Constitucional de 1946 que apresentou, pela primeira

vez, a necessidade legal de organização de um sistema nacional de educação

articulado, embora tal constatação já estivesse elencada como necessária para o

desenvolvimento educacional do país pelos Pioneiros da Educação Nova.

O Projeto de Lei em discussão deu origem, em 1961, à Lei 4.024, em 20

de dezembro de 1961, na qual prevaleceram as reivindicações da Igreja Católica e

dos donos de estabelecimentos particulares de ensino, no confronto com os que

defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros. A Lei

4.024 foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

2.4 O CONCEITO DE REDE E DE SISTEMA DE ENSINO

De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra “sistema’ significa:

Reunião de princípios coordenados de modo a formar uma doutrina: o sistema filosófico de Descartes. / Forma de organização administrativa, política, social ou econômica de um Estado: sistema eleitoral francês. / Modo, forma, maneira. (Novo Dicionário Aurélio, 1986)

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O Dicionário Michaellis UOL, por sua vez, apresenta o seguinte significado

para a palavra “sistema”:

sm (gr systema) Conjunto de princípios verdadeiros ou falsos, donde se deduzem conclusões coordenadas entre si, sobre as quais se estabelece uma doutrina, opinião ou teoria. Corpo de normas ou regras, entrelaçadas numa concatenação lógica e, pelo menos, verossímil, formando um todo harmônico. Conjunto ou combinação de coisas ou partes de modo a formarem um todo complexo ou unitário: Sistema de canais. Método, combinação de meios, de processos destinados a produzir certo resultado.

De acordo com Saviani (2005), Anísio Teixeira, em 1952, quando

perguntado sobre o que seria sistema educacional, assim se expressou:

Considero a palavra “sistema”, sem dúvida alguma equívoca, pois tanto pode significar sistema de idéias, quanto conjunto de escolas ou instituições educativas. Deixemos, porém, o debate semântico ou, digamos, lógico sobre a palavra “sistema”. A verdade é que, à luz da Constituição, os Estados passam a ser responsáveis pela educação primária, pela secundária e, parcialmente, pela superior, porque esta, em virtude de outro artigo constitucional, que dá ao Governo Federal o Direito de regular o exercício das profissões, a ele pertence em parte. O que os legisladores, a meu ver, deverão, portanto, defender, relativamente ao problema do que se chama sistema estadual de educação, é que toda educação ministrada dentro do território do Estado fique sob a ação do respectivo governo estadual. Toda a ação federal deverá ser, apenas, supletiva (SAVIANI, 2005, p. 14).

Em Saviani (2005), ao analisar a estrutura do termo “sistema” em sua

etimologia e semântica, este considera que:

tal enfoque levaria a considerar a educação sistemática como uma pluralidade de setores unificados entre si harmonicamente: um conjunto de partes organicamente relacionadas entre si. Fazendo abstração dos problemas concretos e das formas específicas que determinam o relacionamento entre as partes, essa concepção denuncia o seu caráter intelectualista (SAVIANI, 2005, p. 27).

Quanto à conceituação, Saviani (2005) designa “sistema” como sendo:

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Um sistema é um conjunto de concepções coerentes, porém não verificadas, ou inclusive desmentidas pela experiência.Ao sistema, entretanto, não se pode exigir mais do que aquilo que sua índole organizadora e sintética pode subministrar. Sua missão não é explicar ou demonstrar, mas coordenar e unir.Reunião de princípios verdadeiros ou falsos, ligados uns aos outros de maneira a formar um corpo de doutrina.Conjunto de noções, de princípios verdadeiros ou falsos, coordenados e encadeados de modo a formar uma doutrina.Um conjunto ou reunião de coisas ligadas, associadas, ou interdependentes, de modo a formar uma unidade complexa; um todo composto de partes num arranjo ordenado de acordo com algum esquema ou plano (SAVIANI, 2005, p. 27, 28).

De acordo com Saviani (2005), não temos um sistema educacional no

Brasil, uma vez que

Todas as soluções apresentadas até hoje, salvo raras exceções, foram ou transplantadas, sem levar em conta as exigências reais da situação ou improvisadas, o que caracteriza pela falta de planejamento, que cada vez mais enfraquece as esperanças depositadas na educação. Ora, se a educação brasileira se baseia em “teorias”, métodos e técnicas importados ou improvisados, isto significa que o Brasil não tem sistema educacional (SAVIANI, 2005, p. 2-3).

A fundamentação que leva o autor à pesquisa sobre a existência ou não

de um sistema nacional de educação no Brasil está no fato de que se age como se o

“sistema” existisse e estivesse funcionando adequadamente, de forma a atender

plenamente as questões educacionais. No entanto, se constatada a inexistência do

sistema, é necessário propor a construção de um sistema nacional de educação

articulado.

Saviani (2005) considera que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, LDB 9394/96, não preenche as condições e características próprias da

noção de sistema, concluindo então que não existe sistema educacional no Brasil.

O autor sugere que a palavra “sistema” seja substituída pela palavra

“estrutura”, destacando como ponto de partida para a construção do sistema o

aprofundamento das estruturas.

É preciso tomar consciência das necessidades situacionais, aprofundar o conhecimento da situação de modo a poder intervir

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nela, transformando-a no sentido da promoção do homem. E como não pode haver sistema sem atividade sistematizadora, por aí é que se deve começar. Impõe-se, pois, atuar de modo sistematizado nas estruturas, tanto ao nível micro-educacional quanto da macroeducação. Essa atividade sistematizada exige capacidade de reflexão e fundamentação teórica. Desde que se faz necessário responder a problemas existenciais concretos, torna-se inviável a adoção pura e simples de uma teoria já existente tal como o pragmatismo, psicologismo, naturalismo, sociologismo, etc. (SAVIANI, 2005, p. 119).

Ainda, de acordo com Saviani (2005), para se chegar à construção de

um sistema educacional é levantada uma questão de fundamental importância:

“refletir sobre os problemas que estão exigindo resposta”. Assim, podemos

considerar que ao construir o sistema educacional não devem ser levadas em

consideração apenas questões de ordem política e administrativa, mas

principalmente considerar os problemas educacionais do país numa perspectiva

radical, rigorosa e de conjunto para, a partir daí, se construir uma teoria sobre a

educação brasileira e consequentemente o próprio sistema.

O autor também propõe que, na construção do sistema, devem ser

verificados alguns aspectos:

Será feita uma análise fenomenológica da estrutura do homem brasileiro, buscando captar seu caráter dialético. Serão examinadas a situação do homem brasileiro nos seus diversos a priori, suas condições de liberdade e de consciência. Esse exame acarretará a definição dos objetivos básicos da educação brasileira, indicando-se, a seguir, os meios para alcançá-los. Estão preenchidas assim as condições fundamentais para a construção do sistema (SAVIANI, 2005, p. 119).

Procurando analisar mais profundamente o termo sistema de ensino ou

sobre a construção de um sistema nacional de educação articulado, Saviani (2008)

recorre à interpretação dada ao tema na Constituição de 1988 e na LDB 9394/96,

salientando que o termo “sistema” é utilizado na educação de forma equivocada,

assumindo diferentes significados.

Ao que tudo indica, o artigo 211 da Constituição Federal de 1988 estaria tratando da organização das redes escolares que, no caso dos municípios, apenas por analogia, são chamadas aí de sistema. Com efeito, sabe-se que é muito comum a utilização do conceito de

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sistema de ensino como sinônimo de rede de escolas (SAVIANI, 2008, p. 5).

A partir dos documentos analisados até aqui, podemos considerar que

está constituído no Brasil o Sistema Federal de Educação, no qual cada Estado

possui o seu Sistema Estadual de Educação e os municípios possuem suas redes

de ensino jurisdicionadas aos sistemas estaduais de ensino, ou, então, constituirão

seus próprios sistemas de ensino, conforme preconiza a Constituição Federal e a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº 9394/96.

Como não aprofundamos o estudo em relação ao tema, é complexo

fazermos aqui uma conclusão, pois alguns apontamentos foram levantados e

analisados e consideramos que estes não são suficientes para chegarmos a uma

conclusão sobre um tema relevante como este.

Nesse contexto, podemos considerar que efetivamente o município de

Cascavel, no decorrer de sua trajetória educacional, constituiu-se numa rede de

ensino subordinada ao sistema de ensino do Estado do Paraná, uma vez que os

documentos analisados comprovam haver a necessidade de que o Sistema Estadual

de Ensino autorize a reconheça o funcionamento das instituições escolares,

principalmente a partir da década de 709.

9 O Município de Cascavel ainda não tem implantado o Sistema Municipal de Ensino. Estudos foram realizados em 2003 e 2004 para organizar o Projeto de Lei que deveria ser encaminhado à Câmara Municipal para instituir o sistema, no entanto por questões políticas não teve continuidade o projeto.

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CAPÍTULO III

GÊNESE DA CONSTRUÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

3.1 ORGANIZAÇÃO DO ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL

Neste capítulo, analisaremos as fontes levantadas junto aos arquivos

escolares das primeiras instituições de ensino do município, arquivos da Secretaria

Municipal de Educação, da Prefeitura Municipal e do arquivo da Câmara Municipal

de Vereadores de Cascavel. Este levantamento de fontes foi realizado a partir de

pesquisas junto a estes órgãos públicos, com a colaboração dos profissionais que

atuam nestes setores. Juntou-se também a esta documentação, relatórios expedidos

pela Secretaria Municipal de Educação, onde constam dados históricos da educação

desde a emancipação do município até os dias atuais, assim como documentos que

foram construídos ao longo da história da educação de Cascavel e que são

importantes para esta análise.

Nesta pesquisa, dois arquivos são fundamentais, pois apresentam

documentos importantes da História da Educação de Cascavel, bem como das

instituições de ensino: cópias de leis municipais que começaram a ser aprovadas e

implementadas no município a partir da emancipação e os arquivos da Escola

Municipal José Bonifácio, localizada no Distrito de Rio do Salto, que apresentam

dados fundamentais para a interpretação da história da educação e constituição da

Rede Municipal de Ensino de Cascavel, objeto central deste estudo. Também foram

fundamentais para esta análise os dados encontrados nos arquivos da Escola

Municipal Adolival Pian, considerada pelos registros históricos como a primeira

escola urbana a ser criada pelo Município de Cascavel.

O primeiro ato legal que encaminhou Cascavel para a futura emancipação

político-administrativa se caracterizou pela transformação da vila com este nome em

Distrito Administrativo de Foz do Iguaçu, em 1938, através do Decreto-Lei nº

7.573/38 (Anexo I), tendo como primeiro sub-prefeito, José Silvério de Oliveira, o

“Nhô Jeca”.

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A partir do início da década de 50, a população do distrito de Cascavel

iniciou a luta pela emancipação política do município em relação a Foz do Iguaçu, o

que efetivamente ocorreu em 14 de novembro de 1951, num contexto de políticas

administrativas mais amplas do governo do Estado, ocupado por Bento Munhoz da

Rocha Neto. Cascavel adquiriu a emancipação político-administrativa e passou a se

constituir num município cujo território se estendia desde o Rio Iguaçu até o Rio

Piquiri.

Fotografia 7 – Década de 50 - Cena Típica da época: uma boiada em plena Avenida Brasil, defronte ao Hotel Americano ( 1 ), onde hoje funciona o Banco do Brasil. No início do Calçadão.Fonte: Acervo do Museu da Imagem e do Som de Cascavel (MIS)

A emancipação do município de Cascavel ocorreu mediante a Lei

Estadual nº 790/51 (Anexo II), e a implantação do município em 14 de dezembro de

1952, com a posse do primeiro prefeito eleito, José Neves Formighieri, quando

efetivamente são implementadas as primeiras ações para a estruturação do ensino

primário no município de Cascavel.

O município, emancipado, nunca recebeu os recursos que estavam

previstos na Lei de Criação para implementar as primeiras ações e organizar a

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administração municipal10. Muitas das primeiras ações de prefeitos como José

Neves Formighieri e também dos outros municípios emancipados à época,

estiveram vinculadas às possibilidades, no caso de Cascavel, do prefeito conseguir

imediatamente, inclusive crédito pessoal, para iniciar as atividades no município

recém-criado.

O documento que dá origem legal e jurídica ao município de Cascavel é

sua Ata de Instalação (Anexo III), onde consta o relato da posse do primeiro prefeito

eleito, José Neves Formighieri, no dia 14 de dezembro de 1952, na presença do

Presidente da Câmara Municipal - Dimas Pires Bastos, do Prefeito de Foz do Iguaçu

- Francisco Guaraná de Meneses e do Primeiro Secretário da Assembléia Legislativa

do Estado do Paraná - Divonsir Borba Cortes, confirmando oficialmente a instalação

do município. Nesta mesma data, também foram empossados os primeiros

vereadores do município, num total de 9 eleitos.

Assinaram a Ata de Instalação do Município os vereadores da Primeira

Legislatura do Município, a saber: Helberto Edvino Schwarz, Donato Matheus

Antonio, José Bartinik, Jacob Munhak, Antonio Alves Massaneiro, Dimas Pires

Bastos, Francisco Stocker, Adelino André Cattani e Adelar Bertollucci, este

Secretário da Câmara de Vereadores que redigiu a Ata de Posse do Prefeito

Municipal.

Conforme registro em Ata, o município de Cascavel foi oficialmente

instalado a partir da posse do primeiro prefeito e da Primeira Legislatura da Câmara

de Vereadores, em 14 de dezembro de 1952, nas antigas instalações da Câmara

Municipal de Vereadores que se localizava próximo à região da atual Igreja Santo

Antonio.

Termo Especial de compromisso e posse do cargo de Prefeito.Aos quatorze dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e cincoenta e dois, nesta cidade de Cascavel, Estado do Paraná, no edifício onde funciona a Câmara Municipal de Cascavel, presente o senhor Dimas Pires Bastos, Presidente da Câmara e demais vereadores que esta subscrevem comigo secretário e contando com a presença do Senhor Francisco Guaraná de Meneses, Prefeito Municipal de Foz do Iguaçu, Dr. Divonsir Borba Cortes, Primeiro Secretário da Assembléia Legislativa do Estado e com a presença de demais autoridades civis, militares e municipais de Cascavel, aí compareceu o cidadão José Neves Formighieri, Prefeito deste município, eleito por maioria de votos, ao qual depois de apresentar

10 A Lei 750/1951 previa a doação de CR$100.000,00 (cem mil cruzeiros) pelo Governo do Estado para auxílio aos Municípios que foram criados naquela data.

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o respectivo diploma expedido pelo Juiz Eleitoral da 46ª Zona Eleitoral, deste Estado, o Sr. Presidente deferiu o compromisso regimental, convidando-o a prestar o seguinte compromisso – ‘Prometo exercer com lealdade o cargo para o qual fui eleito, cumprir a Constituição da República e do Estado, observando as leis e promover o bem geral do Município’. Prestado o referido juramento, o Sr. Presidente declarou o Sr. José Neves Formighieri empossado no cargo de Prefeito deste Município. A seguir, pelo Sr. Presidente foi dada a palavra a quem da mesma quisesse fazer uso, tendo então falado o Sr. José Neves Formighieri, Prefeito empossado, depois fez uso da mesma o Vice-presidente da Câmara, Sr. Adelino André Cattani; e em seguida, falou o Sr. Dr. Divonsir Borba Cortes, Primeiro Secretário da Assembléia Lesgislativa do Estado, que exteriorizou uma mensagem de congratulações, mandada pela Assembléia Legislativa do Estado por seu intermédio. Nada mais havendo a ser tratado, mandou o Sr. Presidente, fosse lavrado o presente termo especial que subscrevo e vai assinado pelo Sr. Presidente, pelo compromissado, que ora se empossa, e pelos demais vereadores presentes. Eu, Adelar Bertolucci, Secretário da Câmara o escrevi (Ata de Instalação do Município de Cascavel).

Segundo Sperança (1992), o primeiro orçamento do município de

Cascavel foi elaborado no final de 1952, sendo um montante de CR$900,00

(novecentos cruzeiros) que foram utilizados para construção das primeiras

instituições que passaram a constituir a Rede Municipal de Ensino de Cascavel. Este

montante de recursos também foi direcionado para o pagamento dos salários dos

primeiros professores que foram contratados e passaram a fazer parte do primeiro

quadro do magistério público municipal de Cascavel.

[...] adaptação de um prédio para funcionamento da Prefeitura, construção de seis escolas municipais, pagamento de quinze professores e de dez funcionários (...) O primeiro Secretário de Educação foi Celso Sperança, uma espécie de Supersecretário porque acumulava todas as funções inerentes à sua Pasta, menos a Tesouraria (SPERANÇA, 1992, p. 151-153).

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Fotografia 8 – Primeira sede da Prefeitura e da Câmara Municipal (1953). Localizada nas proximidades da atual Igreja Santo Antonio.Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro – 50 anos, 2002, p. 9

Com a emancipação político-administrativa de Cascavel, algumas

secretarias ganharam importância. Celso Formighieri Sperança11 foi o primeiro

Secretário Municipal de Educação. É importante destacar que este não era apenas o

Secretário de Educação, mas o “Secretário da Prefeitura”, ou seja, respondia por

todas as secretarias, como o Secretário de Administração, uma vez que a maioria

das secretarias não contava com secretários específicos para cada pasta, ficando

subordinados os chefes dos departamentos a Celso Sperança.

Com a emancipação, as escolas construídas pelos colonos no interior do

município e providas de professores escolhidos dentre os membros de suas

comunidades, passaram a se constituir nas escolas rurais do município de Cascavel.

11 Celso Formighieri Sperança veio para Cascavel em 6 de março de 1953, a convite do Prefeito José Neves Formighieri, para ocupar o cargo de Secretário de Educação, na verdade foi um supersecretário do Município de Cascavel, pois acumulava várias funções importantes no município. Devido a pressões sobre o prefeito, exercidas pelos Vereadores Dimas Pires Bastos e Adelar Bertolucci, Sperança foi exonerado da Prefeitura e se lançou ao trabalho de implantar uma gráfica destina à publicação de um jornal. Com a eleição de Herberto Schwarz, em 1956, Celso Sperança retornou ao Secretariado Municipal, permanecendo até o final do governo. Celso Sperança é pai dos autores citados neste trabalho, sendo: Alceu Sperança e Carlos Sperança.

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A primeira escola oficial criada e mantida pelo Município foi uma escola rural, a

Escola Isolada de Rio do Salto, hoje Escola Municipal José Bonifácio.

Como o ensino no meio rural era de competência do Município e considerando as dispendiosas necessidades de abertura e conservação de estradas, só se construía escolas onde houvesse um certo número de crianças em idade escolar (PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL, 2004, p. 36).

De acordo com Sperança (1992), após a eleição do primeiro prefeito de

Cascavel, em 1953, o Grupo Escolar urbano foi transferido para propriedade do

município de Cascavel e passou a ter denominação oficial – “Grupo Escolar de

Cascavel” – tendo como primeira diretora a professora Aracy Lopes Pompeu.

No contexto político nacional do governo de Getúlio Vargas, no

denominado “populismo”, foi criado o município de Cascavel. A educação do

município iniciou seus primeiros passos contribuindo para o desenvolvimento da

região. Podemos perceber, em nossas pesquisas, que as primeiras iniciativas do

governo são de caráter educacional, primando pela construção de escolas,

organização do quadro de professores e de sua remuneração.

Foi neste cenário que foram criadas as primeiras escolas do município de

Cascavel, contexto em que a escola dos colonos, no meio rural, pouco a pouco foi

desaparecendo e assumindo a condição de escola pública urbana, destinada a

educação de uma clientela específica. Tal instituição tinha como objetivo principal o

atendimento das demandas populacionais emergentes e, conforme esta demanda

aumentava, ela ia se transformando e outras instituições de ensino foram sendo

construídas.

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Fotografia 9 – Início da implantação da Avenida Brasil (1956) Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro – 50 anos, 2002, p. 27

No entanto, não era somente a educação pública que começava a se

organizar neste período. Em 1957 foram criados três novos estabelecimentos de

ensino de importante significado para o desenvolvimento educacional de Cascavel:

a Escola Normal Regional, criada e mantida pelo Governo do Estado; o Colégio

Auxiliadora e o Colégio Rio Branco, cuja propriedade passou, em 1964, para o

município e este, através de Lei aprovada pela Câmara de Vereadores, transferiu o

prédio para a Associação Brasileira de Educação e Cultura, sendo criado o atual

Colégio Marista de Cascavel. Este ato se confirmou através da Lei Municipal nº

292/64 (Anexo IV), sancionada pelo Prefeito da época, Octacílio Mion, em 10 de

setembro de 1964, conforme segue:

Art. 1º - Ficam transferidos à Associação Brasileira de Educação e Cultura, todos os direitos sobre o Ginásio Rio Branco, desta cidade, adquiridos pelo Município de Cascavel do Sr. Antonio Cid, independentemente de qualquer indenização.

O ano de 1957 foi de fundamental importância para o desenvolvimento

educacional de Cascavel. Nesse ano chegou a Cascavel a Professora Irene Rickli,

formada pela Escola Normal Colegial. Neste mesmo ano, foi criada a Escola Normal

Regional Carola Moreira, por iniciativa da Professora Irene Rickli. Esta escola foi

extinta em 1967 e transformada em Escola Normal Colegial Irene Rickli que, de

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acordo com a Lei nº 4.024/61, tinha como objetivo a formação de professores

primários, habilitados para atuarem nos grupos escolares.

A Escola Normal Regional é criada em 1957 sob orientação da Professora Irene Rickli, também sua primeira diretora, recebendo a designação de Escola Normal Regional Carola Moreira em 1959. Em seus primeiros anos de atividade, a Escola Normal Carola Moreira possuía em seu corpo docente apenas as professoras Cecília Lemos Martins, Genoveva Trindade e Marilda Binder. O educandário, em 1963, foi extinto. Reviveu a Escola Normal Secundária Irene Rickli, tendo na direção a Professora Elci Santos de Oliveira, que dedicou muito de seus esforços para a criação do estabelecimento. A Escola Irene Rickli será em 1974 incorporada ao Complexo Escolar Irene Rickli, do qual também faz parte o Colégio Wilson Joffre (SPERANÇA, 1980, p. 118-119).

Em 1956, foi criada a Sub Inspetoria de Ensino de Cascavel, órgão da

Secretaria de Estado da Educação, que tinha como principal objetivo supervisionar o

desenvolvimento da educação no município. A Rede Municipal de Ensino de

Cascavel ficou jurisdicionada à Sub Inspetoria de Ensino, uma vez que esta estava

subordinada ao Sistema Estadual de Ensino.

A Sub Inspetoria de Ensino de Cascavel foi transformada na 45ª Inspetoria

Regional de Ensino, com sede em Cascavel, no ano de 1963, surgindo na sequência

a Inspetoria de Ensino Primário e de Ensino de Segundo Grau.

Em dezembro de 1959, de acordo com Sperança (1992), apenas com

cunho eleitoreiro, foi criado o Ginásio Estadual de Cascavel, atual Colégio Estadual

Wilson Joffre12, que só começou a funcionar em 1965 pelo fato de ser também ano

eleitoral, o que teria motivado o Governo do Estado a autorizar o funcionamento da

instituição para o ano de 1966. Sperança (1980) considera que a justificativa do

Estado para o atraso no início das atividades ocorreu devido ao fato de que o prédio

do Colégio Wilson Joffre só foi construído em 1965.

Assim, as aulas somente irão começar em março de 1966, sob a direção do Professor Luiz Antonio Bruscatto, com a Secretaria Geral aos cuidados da Professora Margott Carmen Voss Fauth. Bruscatto,

12 Ainda na década de 60, o Ginásio Estadual de Cascavel passou por várias transformações. Os movimentos estudantis passaram a reivindicar melhorias nas condições de ensino e várias mudanças de ordem administrativa e pedagógica começaram a ocorrer. Dentre vários nomes ilustres, o nome do médico, jornalista e empresário Wilson Joffre foi escolhido para a denominação oficial do educandário. A nova designação foi oficializada através do Decreto Estadual nº 14.678, de 17 de março de 1969, então sob a direção do Professor Juarez Manuel Fernandes, que coordenou o estabelecimento até 1973.

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que permanece na direção até o final de 1967. O Ginásio Estadual de Cascavel inicia o ano de 1968 alcançando a condição de Colégio, através do Decreto Estadual nº 8.931, de 14 de fevereiro de 1968 (SPERANÇA, 1980, p. 121).

Esta análise é fundamental, pois, a partir dos documentos analisados,

podemos evidenciar que desde a emancipação política do município de Cascavel a

Rede Pública Municipal de Ensino foi se constituindo com responsabilidade dos

entes federados.

Neste caso, podemos considerar, pelos documentos analisados, que o

Município administrava o atual Colégio Eleodoro Ébano Pereira, pois este ofertava o

ensino primário e o Colégio Estadual Wilson Joffre estava sob responsabilidade do

Estado, ofertando o ensino ginasial (5ª a 8ª séries), a partir da sua instalação oficial

em 1965, tendo passado a ofertar posteriormente o Ensino Médio (2º Grau).

Na década de 1960 o Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira

definitivamente ficará sob responsabilidade do Estado do Paraná, não fazendo parte,

portanto, deste estudo e da própria constituição da Rede Municipal de Ensino.

Documentos levantados junto à Secretaria Municipal de Educação

comprovam que a Rede Municipal de Ensino de Cascavel teria se estruturado a

partir de duas instituições de ensino; de um lado o Colégio Eleodoro Ébano Pereira,

de outro a Escola Municipal Adolival Pian, situadas na sede urbana do município.

Ofertavam atendimento aos alunos do ensino primário, pois ao que parece esta era

a atribuição do município de acordo com o Sistema Estadual de Ensino.

No interior do município se organizaram as escolas isoladas para

atendimento dos filhos dos colonos, tendo sido, na década de 1950, implantadas

oficialmente três instituições.

Muitas outras escolas estavam em funcionamento neste período no

interior do município, mas sem autorização oficial. A autorização foi sendo concedida

posteriormente, pois quando a escola era criada e autorizado o seu funcionamento,

esta se tornava também responsabilidade do Município quanto à sua manutenção,

funcionamento e contratação dos professores.

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3.2 ASPECTOS LEGAIS DA CONSTITUIÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

DE CASCAVEL

São poucos os documentos que se encontram no Poder Público Municipal

e também nos arquivos sobre os primeiros anos de Cascavel, uma vez que um

incêndio13 queimou as instalações da Prefeitura Municipal em 1960 e destruiu a

maioria destes documentos.

Analisaremos alguns documentos que foram encontrados e os aspectos

legais que levaram à organização administrativa de Cascavel, principalmente no que

se refere à estrutura organizacional do ensino primário.

A Lei nº 03 (anexo V), de 06/04/53, aprovada pela Câmara de Vereadores,

de autoria do Executivo Municipal, dispõe sobre a composição dos órgãos de

Administração Municipal e dá outras providências, no que se refere à estrutura

organizacional do município.

Art. 1º – Ficam criados para a Prefeitura deste Município os seguintes Órgãos da Administração:a) Gabinete do Prefeito (G.P.);b) Secção de Expediente e Protocolo (S. E. P.);c) Serviço de Receita e Fiscalização (SRF).Art. 2. – Dentro do prazo de 90 (noventa) dias, deverá o chefe do Executivo Municipal, aprovar o regulamento dos órgãos a que se refere o artigo anterior, para o integral funcionamento dos serviços da municipalidade.

Evidencia-se que os primeiros órgãos que vão compor a administração do

município já começaram a entrar em funcionamento e pela conjuntura política,

econômica e social da época, eram suficientes para que o Município começasse a

se organizar administrativamente e assegurasse o atendimento à população.

A Lei nº 04/53 (Anexo VI), de autoria do Executivo Municipal, aprovada

pela Câmara de Vereadores, criou o primeiro quadro próprio de pessoal fixo da

Prefeitura Municipal de Cascavel e a respectiva escala padrão do funcionalismo

público municipal.

13 O ano de 1960 foi ano de eleições no município de Cascavel. Dois grupos políticos disputavam o controle político da cidade. Na noite do dia 12 de dezembro, às vésperas da posse do prefeito eleito Octacílio Mion, o prédio da prefeitura foi incendiado. O incêndio destruiu grande parte da documentação da Prefeitura Municipal e da Câmara de Vereadores, criando sérios transtornos à nova administração.

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Esta Lei criou os primeiros cargos de Provimento em Comissão e os

Cargos de Provimento Efetivo, ou seja, os primeiros foram contratados como cargos

de confiança do Executivo e os outros como servidores públicos da municipalidade,

dentre eles destacavam-se os cargos de: Contador, Tesoureiro, Fiscal Geral, Fiscal

de Rendas, Escriturário, Contínuo e Servente. Consta da Lei que o único Cargo de

Provimento em Comissão criado foi o de Secretário da Prefeitura.

Nesta mesma Lei, foi aprovada também a escala padrão que determinou o

salário destes servidores que foram contratados e, como podemos observar no

documento, quase que especificamente para atuar na área de finanças do

município. Fica, portanto, evidenciado que após a emancipação organizou-se a

administração e principalmente o setor financeiro, visando a arrecadação de

impostos, fundamental para organizar o orçamento do município e a administração

financeira deste como um todo. Neste contexto, buscava-se assegurar as condições

de atendimento à população e implementação das obras necessárias para dotar o

novo município de infra-estrutura capaz de atender as necessidades mínimas de

seus habitantes, conforme estabelece a referida Lei:

Art. 4º - Além dos cargos criados por esta Lei, poderá haver no serviço público municipal, pessoal extra-numerário que será sempre admitido a título precário, para funções determinadas e com salário fixo. Parágrafo Único – Esse pessoal extra-numerário será assim dividido:I – Mensalista;II – Diarista;III – Tarefeiro;IV – Contratado.Art. 5º - O Chefe do Poder Executivo Municipal é a autoridade única e competente para expedir atos de provimento de cargos públicos, bem como admitir pessoal extra-numerário.

Embora esta mesma Lei criasse o quadro próprio de pessoal fixo da

Prefeitura de Cascavel, não encontramos neste documento a criação do cargo de

Professor. Este cargo teria ficado à parte, em outra legislação ou então era

entendido de outra maneira. Não há evidências de como o cargo de Professor foi

tratado ou porque ficou excluído do referido projeto, nem mesmo de uma legislação

que, naquele momento, fizesse referência ao assunto.

Podemos considerar, entretanto, que estas duas leis são fundamentais

para iniciarmos nosso entendimento sobre a organização administrativa municipal

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como um todo. Na Lei nº 80, de 16 de setembro de 1957 (Anexo VII), na gestão do

Prefeito Helberto Edwino Scharz, encontramos dados fundamentais para esta

pesquisa, pois na referida Lei, de autoria do Executivo Municipal e aprovada pela

Câmara de Vereadores, foram fixados os subsídios do Chefe do Executivo

Municipal, de acordo com o que determinava o artigo 50, alínea III, parágrafo 1º da

Lei Orgânica dos Municípios14.

Além de fixar os salários, a Lei nº 80 fixava também o valor máximo em

diárias que o Prefeito Municipal poderia receber durante um ano, sendo a

importância de 36.000,00 (trinta e seis mil cruzeiros) que consignar-se-ia no

orçamento vigente.

O artigo 3º da mesma lei autorizou o Prefeito a promover modificações no

Quadro de Pessoal Fixo da Prefeitura Municipal para os seguintes cargos:

Secretário em Comissão, Servente, Oficial Administrativo, Tesoureiro, Fiel

Tesoureiro, Fiscal Geral, Fiscal de Rendas e Agente arrecadador.

Não encontramos documentos da época que tratassem da existência de

um Plano de Cargos para os Servidores Públicos do Município sendo, portanto, a

questão de alterações no quadro de servidores feita através de leis municipais

específicas, conforme a situação assim o exigisse ou de acordo com o interesse da

Administração Pública Municipal.

O artigo 4º da Lei 80/57 trata especificamente da questão do Magistério,

do Cargo de Professor Municipal.

Art. 4º – Fica alterado o Quadro do Pessoal Fixo do Ensino Primário que passará a ser o seguinte:1 – Inspetora Municipal Padrão L;8 – Professoras Padrão D;8 – Professoras Padrão .C.

O item um, que se refere ao cargo de Inspetora Municipal, embora sendo

um cargo fixo do magistério, é o cargo que deu origem, mais tarde, ao de Secretário

Municipal de Educação, cargo de Confiança do Executivo Municipal. Quanto ao

Padrão das professoras no item 8, não cita no texto da lei o que diferenciava uma

professora Padrão D e uma professora Padrão C, o que pode estar relacionado à

14 Não foram encontradas cópias do texto da Lei Orgânica dos Municípios. Por essa razão não conseguimos aprofundar o estudo da questão, uma vez que faltam fontes para pesquisa.

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formação das mesmas, pois eram poucos os professores da época que possuíam a

formação Normal, a maioria eram leigos.

A partir do texto da lei não há possibilidade de aprofundarmos nossa

interpretação sobre o assunto, uma vez que este não apresenta maiores dados, mas

podemos considerar que a Lei estabelecia Padrões diferenciados de tratamento e

remuneração aos professores e que isso só poderia ser feito a partir de critérios que

devem ter sido estabelecidos na época.

Mesmo não constando no texto da Lei, podemos considerar, a partir de

todos os documentos analisados, que a Inspetora Municipal de Ensino tinha como

função principal organizar todo o sistema educacional do Município de Cascavel,

fazer cumprir a legislação, supervisionar e acompanhar o desenvolvimento das

atividades educacionais nas escolas que estavam sendo criadas. A esta também era

atribuída a responsabilidade de autorizar, inclusive, a abertura e funcionamento de

novas escolas no município.

3.3 PRIMEIRAS ESCOLAS NO CONTEXTO DA URBANIZAÇÃO DE CASCAVEL

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação, constam

apenas três escolas que foram criadas e autorizadas a funcionar durante a década

de 1950, sendo a Escola de Rio do Salto (1953), Escola Coelho Neto, em Cruz

Grande (1954) e a Escola Presidente Epitácio, na Fazenda Salvatti (1955),

localizadas no interior do município. Na sede urbana, o ensino estava centralizado

no Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira, pois a partir de toda documentação

analisada, esta era a única escola de ensino público primário em funcionamento na

sede urbana do município até o final da década de 1950.

As demais escolas que estavam em funcionamento, principalmente no

interior do município, provavelmente continuavam sem reconhecimento oficial nessa

década, pois nos documentos analisados não encontramos dados que comprovem

que as mesmas faziam parte da Rede Municipal de Ensino que começava a se

estruturar.

Nessa primeira década de emancipação política do município de

Cascavel, período de 1950 a 1960, a economia madeireira teve grande impulso.

Entraram em funcionamento grandes serrarias que exigiram mão de obra nos

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diversos setores do processo produtivo, fazendo com que um grande número de

trabalhadores e suas famílias migrassem para Cascavel.

Por outro lado, as terras de onde era retirada a madeira passavam a ser

ocupadas com a agricultura. Este fator propiciou a vinda de muitos migrantes das

mais diferentes regiões do país, fazendo com que o município tivesse um

crescimento populacional significativo.

Fotografia 10 - A madeira: importante ciclo econômico para o desenvolvimento de Cascavel Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro - 50 anos de História, 2002, p. 21

Nessa década ocorreram melhorias também na chamada Estrada

Estratégica, denominada de BR-35, que mais tarde foi denominada de BR-277 e que

conforme a cidade cresceu, a rodovia foi deslocada do trecho da atual Avenida

Brasil, localizada no centro da cidade, e construída na Região Sul, fora do perímetro

urbano do município, à época.

Quanto à população, o Censo do IBGE, de 1950, apontava a existência de

4.411 habitantes no município, ao passo que em 1960 foram computados 37.346

habitantes. Evidencia-se um crescimento populacional significativo, o que exigiu do

Poder Público maiores investimentos, principalmente na área educacional. Isto pode

ser comprovado a partir das leis que foram aprovadas destinando mais recursos

principalmente para a construção e ampliação de escolas.

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O quadro mostra a evolução da população do Município da década de

1950 até o ano 2000, com projeção para o ano 2010.

Evolução da População – Município de CascavelAno Urbano Rural Total1950 4.411 4.4111960 5.274 34.324 39.5981970 34.961 54.960 89.9211980 123.698 39.761 163.4591990 177.766 15.224 192.9902000 228.673 16.696 245.3692010* 300.000 300.000

*ProjeçãoQuadro 1 - Evolução da população do Município a partir da década de 1950 e projeção para o ano 2010Fonte: Portal do Município de Cascavel. www.cascavel.pr.gov.br - Secretaria Municipal de Planejamento: Plano Diretor, Perfil Municipal 2003-200415.

Podemos analisar também o gráfico que demonstra a evolução

populacional do município desde a década de 1950 e projeção para 2010,

permitindo uma visualização mais completa do crescimento populacional nesse

período.

Gráfico 1 - Evolução da População de Cascavel no período de 1950 a 2010.

15 Por divergências de informações em relação à população de Cascavel, optamos por considerar os dados que constam no site da Prefeitura Municipal de Cascavel, no link Secretaria Municipal de Planejamento – Plano Diretor, Perfil 2003 – 2004, uma vez que os dados disponíveis neste portal contêm como fonte de informação o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

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Para uma compreensão melhor da Administração Pública Municipal,

consideramos importante relacionar na seqüência deste trabalho, através de um

quadro, a ordem cronológica dos Prefeitos de Cascavel e sua gestão, de forma que

permita um entendimento melhor quanto às ações que foram desenvolvidas em

cada gestão.

Prefeito GestãoJosé Neves Formighieri 14/12/1952 – 14/12/1956Helberto Edwino Schwarz 14/12/1956 – 14/12/1960Octacílio Mion 14/12/1960 – 14/12/1964Odilon Reinhardt 14/12/1964 – 31/01/1969Octacílio Mion 21/01/1969 – 31/01/1973Pedro Mufatto 31/01/1973 – 31/01/1977Jacy Miguel Scanagatta 01/02/1977 – 31/01/1983Fidelcino Tolentino 01/02/1983 – 31/12/1988Salazar Barreiros 01/01/1989 – 31/12/1992Fidelcino Tolentino 01/01/1993 – 31/12/1996Salazar Barreiros 01/01/1997 – 31/12/2000Edgar Bueno 01/01/2001 – 31/12/2004Lisias de Araújo Tomé 01/01/2005 – 31/12/2008Edgar Bueno 01/01/2009 - ...

Quadro 2 – Prefeitos de Cascavel e GestãoFonte: Assessoria de Imprensa - Prefeitura Municipal de Cascavel

A década de 1960 representou um marco para o desenvolvimento da

educação na região ocupada pelo município de Cascavel. Várias instituições de

ensino foram criadas, evidenciando uma preocupação do governo com a educação e

escolarização da população. Com o crescimento populacional do município, passou-

se a exigir uma atenção maior do Poder Público em relação à oferta de educação

para a população, haja vista que o município estava se urbanizando, com um

crescimento populacional urbano significativo.

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Fotografia 11 – Década de 1960 – Cascavel, importante centro urbano (1962)Fonte: Prefeitura Municipal de Cascavel, Livro Ouro - 50 anos de História, 2002, p. 31

Nessa década, de acordo com os relatórios emitidos pela Secretaria

Municipal de Educação de Cascavel, das 255 escolas municipais que foram criadas

desde a emancipação do Município de Cascavel, 94 escolas foram construídas

nesta década e estavam espalhadas por toda a região que compreendia o município

de Cascavel.

O gráfico a seguir apresenta um comparativo entre a totalidade de escolas

que foram criadas no município de Cascavel desde a emancipação política, em

relação ao número de escolas criadas na década de 1960. Observamos que 36%

das escolas foram criadas nessa década, evidenciando a necessidade devido à

demanda de alunos e crescimento populacional, produzido principalmente pelo

processo de migração.

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Gráfico 2 – Demonstrativo de Escolas Municipais criadas desde a emancipação política do Município de Cascavel em relação ao número de Escolas criadas na década de 1950 e 1960

Das 94 escolas construídas e criadas na década de 1960, apenas 7 estão

em funcionamento atualmente no município de Cascavel, sendo: Escola Adolival

Pian, Bairro São Cristóvão (1962); Escola Carlos de Carvalho, Distrito de São

Salvador; Escola Tereza Périco Bernardini, Distrito de Juvinópolis (1966); Escola

Manoel Ludgero Pompeu, Bairro Alto Alegre; Escola Nossa Senhora da Salete,

Bairro Brasmadeira; Escola José Silvério de Oliveira, Distrito de São João do Oeste

(1967) e Escola José de Alencar, Distrito de Espigão Azul (1968) (Anexos VIII e IX).

Este fato não significou que todas as demais escolas criadas foram

extintas, pois vários municípios foram se emancipando administrativamente de

Cascavel e muitas destas passaram a fazer parte de suas respectivas redes de

ensino, conforme a sua localização.

Sobre as escolas criadas na década de 1960, devemos também

considerar que apenas cinco eram escolas urbanas, as demais eram escolas

localizadas no interior do município. Ou seja, das 94 (noventa e quatro) escolas

criadas na década de sessenta, cinco eram escolas urbanas e 89 eram escolas

rurais, localizadas no interior do município. Justifica-se esta situação uma vez que a

maioria da população, nesta década, ainda era predominantemente rural.

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3.4 O FINANCIAMENTO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS MUNICIPAIS

Em 1962, foram aprovadas sete leis criando dotações orçamentárias,

suplementando orçamento ou abrindo crédito especial para a construção de escolas

no município de Cascavel. As Leis Municipais nº 195, 196, 197, 198, 204, 214 e 215,

de 1962, autorizavam o Executivo Municipal a construir respectivamente escolas nas

localidades de Rio Melissa, Boa Vista da Aparecida, Aparecida D’Oeste,

Pinhalzinho, construção de duas salas de aula em grupo escolar de Cascavel,

localidade de Alto Alegre e localidade denominada Roda de Carro.

Evidencia-se que há crescimento populacional e demanda por escolas,

conforme já explicitado anteriormente, embora a quase totalidade destas estejam

localizadas no interior do município, onde se concentrava, na época, a maioria da

população.

Em 1963, a Lei nº 225/63 (Anexo X) abriu um crédito suplementar de três

milhões e quinhentos mil cruzeiros para atender ao pagamento dos vencimentos das

professoras municipais durante o exercício de 1963.

Este fato estaria relacionado ao aumento do número de professores para

atender à demanda populacional, haja vista o número de escolas e ampliações que

foram realizadas no ano anterior e que provavelmente devem ter iniciado suas

atividades em 1963.

Precisamos considerar que, em todo este período, havia orçamento

aprovado no município, cujas leis propunham o remanejamento, a abertura de

crédito especial e suplementação de orçamento.

Eram proposições aprovadas para solucionar situações que ocorriam, uma

vez que a realidade social do município começou a mudar de forma muito rápida.

A Lei Municipal nº 310/64 (anexo XI), no mandato do prefeito Octacílio

Mion, criou a Taxa Escolar e disciplinou sua cobrança e aplicação.

Art. 1º - Fica criada a Taxa Escolar de 20% (vinte por cento), que incidirá sobre todos os Impostos Municipais que sejam cobrados ou lançados, a partir de 1º de janeiro de 1965. Art. 2º - Esta taxa deverá ser utilizada única e exclusivamente para o custeio do Ensino Público Municipal.Art. 3º - O Serviço de Arrecadação Municipal destacará em parcelas separadas a Taxa em questão, improvisando como for possível os talões em uso e alterando-os em novas confecções.

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A lei foi publicada em 16 de novembro de 1964 e, de acordo com a

mesma, pode-se perceber que eram previstos recursos mínimos da arrecadação

municipal para investimento na educação, o que evidencia que a educação, naquele

momento, estava sendo pensada como fundamental e necessária para o

desenvolvimento do município.

Foram importantes as ações que implementaram a sua execução de

forma a atender às demandas existentes e, para que isso ocorresse, foram

destinados recursos que possibilitaram a ampliação da rede em razão da demanda

populacional.

Nos anos seguintes, continuava a expansão da rede de ensino, uma vez

que a Lei Municipal nº 335/64; Leis Municipais nº 349, 350, 354, 368, 369, 371, 375,

381, 386, 389, 390, 391/65; Leis Municipais nº 484, 492, 514, 515, e 521/67, na

administração de Odilon Reinhardt destinaram recursos públicos para construção,

reforma e ampliação de escolas municipais, comprovando que a expansão da Rede

Municipal de Ensino se deu através dos investimentos que foram realizados pela

Administração Pública Municipal.

Através dos termos legais encontramos documentos que comprovam os

dados que ainda hoje são fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação quanto

à expansão da Rede de Ensino na década de 60 que, conforme já relatamos, foram

94 escolas criadas nesta década. Através destas leis foram destinados recursos

para construção e ampliação de escolas nas localidades de Cafelândia, Anta Gorda,

Água da Serra, Castelo Branco, localidade de Jaboticabal, localidade de Granja

Cristo Rei, localidade de Rio Verde, Madeireira Cafelândia, localidade de Água da

Bananeira, localidade de Barro Preto, Linha Nossa Senhora Aparecida – Rio

Saltinho, localidade de Alto Central, Cascavel Velho, Rio D’Oeste, São Roque, Rio

Saltinho e Cerâmica Wilson Joffre, Colônia São Lourenço, Fazenda Santo Antonio,

localidade de Água Grande e construção de uma Escola Normal na sede do

Município, respectivamente.

Ressaltamos ainda que a Lei nº 386/65 (anexo XII), citada acima, destinou

recursos para a construção de dez escolas municipais, nos lugares a serem

designados a critério do Executivo Municipal.

Em 1969, através da Lei nº 698/69 (Anexo XIII), encontramos evidências

que comprovam que a expansão do ensino continuava, pois esta Lei autorizou o

Executivo a construir dois grupos escolares na sede do município. Cada um deles

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deveria conter: quatro salas de aula e demais dependências, ficando a edificação

dos dois grupos orçada em CR$410.000,00 (quatrocentos e dez mil cruzeiros

novos).

Através dos documentos analisados, constatamos que a década de 1960

representou um grande avanço para a educação do município. Assim como, que a

constituição da Rede Municipal de Ensino foi, de maneira muito rápida, sendo

estruturada. 94 escolas foram construídas nessa década e 7 foram cessadas no

mesmo período, sendo que ao final da década o município já contava então com 90

escolas municipais que estavam em funcionamento no município, sendo que dessas

85 estavam localizadas no interior do município e 5 na Área Urbana: Escola

Municipal Adolival Pian, Escola Municipal Nossa Senhora da Salete, Escola

Municipal Manoel Ludgero Pompeu, Grupo Escolar Municipal Professora Júlia

Wandeley e Casa Escolar Washington Luiz.

O gráfico abaixo demonstra o número de escolas urbanas e rurais no

município ao final da década de 1960.

Gráfico 3 – Total Geral de Escolas construídas e em funcionamento até o final da década de 1960 – Escolas Rurais e Escolas Urbanas

3.5 ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO

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A Lei Municipal nº 362/65 (Anexo XIV), aprovada no governo do Prefeito

Odilon Reinhardt, criou uma nova organização da estrutura administrativa da

Prefeitura Municipal de Cascavel. Dentre as mudanças em relação às legislações

anteriores, a Lei organizou a administração em secretarias, departamentos, setores,

e a organização das subprefeituras nos distritos, muitos dos quais mais tarde se

tornaram municípios emancipados. Este é o caso de Cafelândia D’Oeste, Nova

Aurora, Boa Vista da Aparecida, Lindoeste e Santa Tereza D’Oeste, entre outros.

Também constava na Lei as competências de cada setor, departamento e secretaria

que faziam parte da estrutura administrativa do município naquele momento, assim

como questões de ordem administrativa que ficaram reservadas exclusivamente ao

Prefeito Municipal.

Analisando o texto da referida lei, podemos considerar que a

administração pública foi se modernizando e se definindo conforme as necessidades

e desafios que foram sendo impostos aos gestores públicos naquela época.

O primeiro item da nova estrutura administrativa da Prefeitura Municipal

tem necessidade de um estudo mais detalhado, pois tratava-se do Conselho

Municipal de Educação e no artigo 2º e 3º da Lei estão expostas as incumbências

desse conselho e sua composição:

Art. 2º - Ao Conselho Municipal de Educação incumbe elaborar o Plano Municipal de Educação e assessorar o Governo Municipal quanto à sua execução.Art. 3º - O Conselho Municipal de Educação tem a seguinte constituição:a) Um membro nato, o Prefeito Municipal, que será o seu

Presidente;b) 6 (seis) membros designados pelo Prefeito Municipal e

escolhidos dentre cidadãos da comunidade que satisfaçam os seguintes requisitos:

I – Possuírem idoneidade moral intocável;II – Tenham relevado interesse ou possuam experiência em assuntos de educação;III – Não exerçam atividades político-partidárias.Parágrafo Primeiro – O mandato dos conselheiros designados pelo Prefeito Municipal será de 4 (quatro) anos, renovando-se os seus membros pela metade, de 2 anos.Parágrafo Segundo – No caso de ocorrência de vaga, o novo membro designado deverá completar o mandato do substituto.Parágrafo Terceiro – O mandato dos conselheiros será exercido gratuitamente e suas funções são consideradas como prestação de serviços relevantes ao município.

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Parágrafo Quarto – O conselho reunir-se-á por convocação direta do Prefeito Municipal, de preferência nos meses de janeiro, junho e novembro de cada ano (Lei 362/65, Art. 2º e 3º, p. 2).

Não foram encontradas evidências sobre o funcionamento ou não deste

Conselho, nem mesmo do Plano Municipal de Educação a que esse se refere. No

entanto, pode-se considerar que havia preocupação da Administração Pública em

colocar a educação como uma das questões que envolvia a participação da

sociedade como um todo, mesmo que ficando atrelada ao Prefeito Municipal na

presidência e sua convocação. Também estava explícito o caráter do Conselho de

elaborar o Plano Municipal de Educação e assessorar o Governo Municipal quanto à

sua execução.

Podemos levantar uma questão sobre o Plano Municipal de Educação a

que se faz referência, pois, pelo teor da lei, esse pode ter se constituído unicamente

no projeto de governo para a educação de Cascavel, uma vez que estas mudanças

ocorreram no início do governo de Odilon Reinhardt. Não há maiores evidências

sobre essa questão, o que não nos permite aprofundar o estudo.

Esta mesma Lei criou, no Artigo 1º, Inciso IX, o Departamento de

Educação e Cultura, que passa a ter as seguintes competências, conforme

explicitado no artigo 11 da Lei: Ao Departamento de Educação e Cultura compete

executar o Plano Municipal de Educação, bem como manter a Biblioteca Municipal,

estimular a cultura artística, a educação física e os desportos em geral (Lei nº

362/65, art. 11, p. 3).

As incumbências atribuídas ao Departamento são questões específicas na

área de cultura e esporte. O caráter educacional ficava atrelado unicamente ao que

estava exposto no Plano Municipal de Educação, que deveria ser executado pelo

respectivo departamento, uma vez que a esse também estavam vinculadas as ações

de cultura e esporte.

Ainda na gestão de Odilon Reinhardt, foi criada a Lei nº 690/68, que

instituiu “horário obrigatório para aulas cívicas nas escolas municipais”, conforme

segue:

Art. 1º – Ficam, a partir da sanção da presente Lei, todas as escolas municipais, ou sujeitas à inspeção do Município, obrigadas a incluir no seu currículo semanal, uma aula dedicada à instrução cívica dos alunos.

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Art. 2º – Fica também por força desta Lei escolhido o sábado, para as atividades de que determina o artigo primeiro desta Lei.Parágrafo 1º – Na instrução cívica de que trata o artigo 1º desta Lei (primeiro, deverá obrigatoriamente constar o hasteamento da Bandeira Nacional no pátio da escola, canto do Hino Nacional Brasileiro com exaltação à Pátria feita através de oração ou declamação por parte dos alunos ou professores na presença de todo o corpo discente e docente da escola).Art. 3º – Esta Lei deverá ser regulamentada dentro de 30 (trinta) dias após a sua publicação pela Inspetoria Municipal de Ensino.Art. 4º – Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Fica evidente, neste documento, que as escolas municipais deveriam

obrigatoriamente atender ao disposto na Lei, instituindo horário especial para aulas

de civismo, tema que fez parte do discurso e das práticas no Brasil todo durante a

ditadura militar.

Em 1968, foi criada a “Fundação de Ensino Superior de Cascavel”, através

da Lei Municipal nº 620/68 (Anexo XVI). Um passo adiante no processo educacional

do município, dando origem, mais tarde, à FECIVEL (1972) e posteriormente à

UNIOESTE (1994).

Em 16 de dezembro de 1968 foi aprovada a Lei Municipal nº 626/68

(Anexo XVII), que “fixou novos níveis de vencimentos” para o funcionalismo público

municipal do quadro da educação, conforme exposto:

Art. 1º – Ficam, a partir da publicação desta Lei, elevados os vencimentos das professoras municipais, de acordo com o que reza a tabela:a) Professora Municipal Normalista: 2/3 do salário mínimo da

região.b) Professora Municipal Regionalista: 25% menos que o item acima

(a).c) Professora Municipal Leiga: 1/2 salário mínimo.Art. 2º – Fica também determinado que o cargo de Inspetora Municipal de Ensino e de Supervisora da Merenda Escolar, passarão a receber os vencimentos no momento de 2 (dois) salários mínimos mensais.Art. 3º – Para ocorrer com as despesas de que trata o artigo anterior, fica o Senhor Prefeito Municipal autorizado a suplementar verbas do Orçamento em vigor, anulando dotações orçamentárias.Art. 4º – Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

A Lei estabelecia padrões mínimos de salários que foram pagos aos

professores conforme sua formação. Quanto à professora normalista, tratava-se da

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professora que tivesse habilitação em magistério. Não encontramos dados que

fizessem referência à professora regionalista, para que pudéssemos fazer uma

análise mais profunda sobre o assunto. Porém, mais uma vez fica claro, através da

legislação, que haviam critérios estabelecidos pelo Município no que se refere à

formação dos professores que atuavam na Rede Municipal de Ensino.

Quanto à Inspetora Municipal de Ensino e à Supervisora da Merenda

Escolar, segundo informações da Secretaria Municipal de Educação, eram estes os

dois cargos de maior relevância na estrutura da Secretaria Municipal de Educação

da época e se tratavam de cargos de confiança do Executivo.

3.6 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Para melhor compreensão do processo histórico de constituição da Rede

Municipal de Ensino de Cascavel, apresentamos, na sequência, um breve histórico

das três primeiras instituições de ensino, sendo duas originadas no meio rural e a

primeira escola municipal urbana do município, que até hoje encontram-se em

funcionamento.

3.6.1 Escola de Rio do Salto

A primeira escola da comunidade de Rio do Salto, segundo dados

encontrados no Projeto Político-Pedagógico da escola, funcionou antes de 1953, na

casa da senhora Lala Hack, considerada a primeira professora da localidade.

Os primeiros registros encontrados datam de 1953 e, “funcionava como

escola particular com uma única turma de alunos formada por três séries, sendo 1ª,

2ª e 3ª série”. Nos documentos encontrados no arquivo da escola, constam dados

referentes a este primeiro ano de funcionamento oficial da instituição, sendo a Ata de

Exames, realizada em 10 de dezembro de 1953, o primeiro documento oficial da

instituição de ensino. Nesta Ata consta que:

Aos 10 dias do mês de dezembro de 1953 procedeu-se ao exame da Escola de Rio do Salto, regida pela professora Maria da Conceição Borges, presentes os senhores Paulo Hach de Souza, Sebastião Hack, Francisco Cardoso, Pedro Antonio Boeira, Antonio Boeira, Anna

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Barabas, Olga Barabas e Felicidade Clemência Boeira. Verificou-se que a escola estava neste mês com 27 alunos matriculados, sendo 25 do 1º ano, 1 do 2º ano e 1 do 3º ano. Feita a chamada, verificou-se a presença de 24 alunos do 1º ano, 1 do 2º ano e 1 do 3º ano. Não entraram no exame 17 alunos do 1º ano por não se acharem suficientemente preparados. Terminado o exame apurou o seguinte resultado: foram promovidos para o 2º ano: João Barabas, Wenceslau Schoffer, Ana Schofer, Ana Boeira, Alcídio Müller, Catarina Schofer e Maria Santa Cardoso. Foram promovidos para o 3º ano: José Ovande Barabas. Foram reprovados: José Boeira.

Na continuidade do documento, estão citados os nomes dos alunos que não

fizeram o exame por não estarem suficientemente preparados. Constam 10 alunos

do sexo masculino e 6 do sexo feminino, bem como uma aluna que não compareceu.

O examinador foi o senhor Paulo Hach de Souza.

Ao analisar o documento, constatamos que, de fato, não há evidências que

comprovem ser a escola pública, pois isso só aparece na Ata de Exames de 1954,

quando consta: “Na escola pública de Rio do Salto, Município de Cascavel”, ano em

que o município deve ter assumido a escola e o exame contou com a presença da

Inspetora de Ensino Municipal, Elma Samways. As examinadoras também faziam

parte da inspetoria de ensino, sendo: Aracy Lopes Pompeu, Stanislava Boiarski

Bartiniki e Lucia Galeski. A escola contava neste ano com 32 alunos matriculados e

freqüentando, tendo sido aprovados 17 alunos. Consta ainda na ata que a comissão

examinadora verificou a existência de material escolar, quadro negro, mapas,

carteiras, giz e livros.

Ainda de acordo com documentos da escola, constatamos que a partir de

1965, esta foi denominada de Escola Isolada José Bonifácio, sendo alterada esta

denominação em 1969 para Escola José Bonifácio, desaparecendo o termo isolada,

e que, a partir de 1977, a escola passou a ofertar a 5ª série, sendo implantado

gradativamente, nos anos posteriores, até a 8ª série.

Nos documentos analisados, aparecem os nomes das primeiras professoras

da escola: Maria Conceição Borges, Olga Odivani Baraba, Lindolfo Barbosa, Flori

Ferreira, Edilha Maria Stapassola, Natalina Gertrudes Denardi, Odete Rigas e Ines

Stapassola, professoras que atuaram desde a implantação da escola até a década

de 70 (Projeto Político Pedagógico).

3.6.2 Escola Adolival Pian

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A escola foi autorizada a funcionar pelo Decreto nº 801/75, de 18 de

setembro de 1975 e ratificado pelo Decreto nº 813/75, de 9 de outubro de 1975,

situada à Rua Capanema s/nº, Bairro São Cristóvão. O fundador foi Acir Boza e o

primeiro prédio da escola foi construído na primeira gestão do Prefeito Octacílio

Mion.

Iniciou seu funcionamento em 1962 com o nome de Escola Municipal Frei

Henrique Soares de Coimbra. Tinha uma sala de aula, com três classes: 1ª, 2ª e 3ª

séries. O corpo docente era composto por Maria Santin, Lindolfo Góis e Avani Bagai.

Em 1963, foi construída uma sala de aula e contratadas duas professoras, sob a

responsabilidade de Maria S. Santin, até 1966.

Foi elevada à categoria de Grupo Escolar em 1967, passando a chamar-

se Grupo Escolar Municipal Frei Henrique Soares de Coimbra, tendo como diretor o

Prof. Frederico Fischik e secretária Erxi Pilatti. Em 1968, passou a ser diretora a

Profª Joroslava Sdebski, que passou a direção para a Profª Irides Alves Mendes,

ficando como secretária a Profª Jandira Dolinski, que permaneceu no cargo até

1970, quando foi diretora a Profª Elizabeth L. Batista.

Em 1971, assumiu a direção da escola a Profª Maria Fany Quessada de

Araújo; a secretária era Doroti Terezinha Casagrande e a orientadora Ellarita

Sagmeister. O corpo docente era composto por 18 professores, com 600 alunos e 5

salas de aula. Assim permaneceu até 1972, com o mesmo corpo administrativo e

docente. A escola funcionou amparada pela Lei 5.692/71, tendo como secretária a

Profª Ana Luiza Castanhel.

Em 1975, foi construída mais uma sala de aula e uma sala para

orientação. Foi iniciado o atendimento da 5ª série, de acordo com o Decreto nº

801/75, que denominou a instituição de Escola Municipal de 1º Grau “Adolival Pian”.

Iniciou o ano com um número de alunos superior a 1.000, corpo docente e

administrativo composto por 30 profissionais, tendo a mesma direção; a secretária

de 1ª a 4ª série era a Profª Diná Machado da Luz e secretária de 5ª a 8ª série a Profª

Rosangela Maria L. Pian; a orientadora de 5ª a 8ª série era a Profª Neve Maria

Malacarne.

Em 1976, iniciou o atendimento à 6ª série e em 1977 a escola passou a

funcionar em prédio novo, localizado na Rua Capanema, Bairro São Cristóvão,

construído na gestão do Sr. Pedro Muffato, em convênio com a Fundepar/Prefeitura.

Foram matriculados 1.700 alunos, já com a 7ª série em funcionamento. A estrutura

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física contava com 10 salas de aula, 1 biblioteca, 4 salas administrativas, 1 gabinete

odontológico, 6 banheiros, 1 cozinha, 1 cantina e 2 áreas cobertas, conforme anexo

dos dados extraídos do Histórico escrito em 18 de abril de 1977, pela Secretaria

Municipal de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal de Cascavel.

3.6.3 Escola Presidente Epitácio

Consta no Projeto Político Pedagógico da escola que, segundo o relato de

Dona Xavier Rego, moradora em Colônia Centenário há mais de 50 anos, e que teve

seus 12 filhos alfabetizados na escola, ela não se recorda bem da data de criação

da escola, mas Cascavel ainda não era município. “Eram proprietários da colônia os

irmãos Linksmaier. A pioneira relata que no local funcionava uma serraria. Por volta

dos anos 50, foi construída a primeira escola, onde estudavam os filhos dos

funcionários da fazenda, serraria e demais moradores da localidade”.

De acordo com documentos encontrados nos arquivos da Secretaria

Municipal de Educação, constatou-se que a primeira professora chamava-se D.

Leonilda, que lecionou por algum tempo. Também, de acordo com informações

encontradas no Projeto Político Pedagógico da escola, outras professoras também

trabalharam nesta escola. “A escola funcionou sempre com duas turmas de aula, de

manhã e à tarde”.

A fazenda passou para a família Formighieri, que construiu uma escola um

pouco melhor no local. Anos depois, a família Salvatti comprou a fazenda e, em

parceria com a Prefeitura e a comunidade, foi construída a última escola.

Em 1997, a Copel comprou a fazenda para reassentamento de

agricultores atingidos pela barragem de Salto Caxias. O prédio da escola não

apresentava condições adequadas para o ensino e foi desmanchada, mas a escola

continuou funcionando no porão da casa da sede da fazenda.

No ano de 1998, eram professoras: Marizete Monosso dos Santos, Liria

Terezinha Bilch e Luzia da Silva. No início de 1999, a escola sofreu pressões para o

fechamento devido à nuclearização das escolas rurais, indo esta para a Escola São

Marcos, em Catanduvas; mas uma comissão de pais foi à prefeitura e, em reunião

com a Secretaria Municipal de Educação, garantiu-se que a escola voltasse a

funcionar. Durante esse ano, a escola atendeu 36 alunos no centro comunitário e

uma sala no posto de saúde, construídos pela Copel.

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No ano 2000, a Escola Presidente Epitácio voltou a funcionar na casa da

sede, com 2 salas de aula, 35 alunos e dois professores: Luzia da Silva e Dejair

Márcio de Oliveira, com a mesma zeladora. Em outubro do mesmo ano, a prefeitura

iniciou a construção de uma nova escola, com duas salas de aula, banheiro e

almoxarifado. Foi inaugurada em dezembro de 2000. Atualmente, funciona com uma

turma de alunos de primeira a quarta série multisseriada, no período da tarde

(Extraído integralmente do Projeto Político Pedagógico da Escola, 2008).

3.7 A REDE MUNICIPAL NA DÉCADA DE 1970

A década de 1970 representou, no contexto educacional de Cascavel, um

período de estruturação da rede de ensino como um todo. Muitas instituições que

permanecem até hoje em funcionamento foram criadas e organizadas para atender

às demandas educacionais desse período. Se na década de 1960 predominou a

abertura de escolas no interior do município e na sede urbana, na década de 1970

encontramos elementos importantes que comprovam que a preocupação do Poder

Público na área educacional estava voltada para a ampliação da oferta e também

para a reorganização das instituições de ensino e da estrutura administrativa como

um todo. Novas escolas foram criadas tanto no interior como na área urbana,

ampliando significativamente o número de escolas mantidas pelo município.

A partir dos documentos analisados, verificamos que a preocupação era dotar

estas escolas de estrutura mínima de funcionamento, assim como a organização dos

documentos nas respectivas instituições e distribuição de pessoal necessário para

atender as atividades administrativas e pedagógicas, criando inclusive funções

inerentes ao magistério, tais como: Diretor de Grupo Escolar, Inspetor de Ensino e

Secretário de Grupo Escolar.

Uma das primeiras leis aprovadas em 1970, a Lei nº 730/70 (Anexo XVIII),

tratava da organização das escolas municipais no que se referia à definição do porte

para conceder gratificação para as diretoras e secretárias das instituições. A referida

Lei estabelecia que:

Art. 1º Fica o Executivo Municipal, por força desta Lei, autorizado a conceder função gratificada para Diretoras e Secretárias de Grupos

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Escolares Municipais, obedecendo a tabela, independentemente de seus vencimentos mensais, a partir de 1º de março do corrente exercício. Art. 2º Para cobertura das despesas de que trata o artigo primeiro desta Lei, fica o Executivo Municipal autorizado a usar dotação orçamentária constante do Departamento de Educação e Cultura.

De acordo com a Lei, foram estabelecidos cinco portes de grupo escolar com

as respectivas gratificações para os cargos de Diretora e Secretária, conforme

demonstramos no quadro a seguir:

Porte dos Grupos Escolares

GratificaçõesDiretora do Grupo Secretária do Grupo

100 a 199 alunos CR$30,00 CR$30,00200 a 399 alunos CR$50,00 CR$40,00400 a 699 alunos CR$70,00 CR$50,00700 a 999 alunos CR$80,00 CR$60,00Acima de 1.000 alunos CR$100,00 CR$70,00

Quadro 3 – Porte dos Grupos Escolares e valores das gratificações para Diretora e Secretária, conforme Lei Municipal nº 730/70.

A Lei previa também que a dotação orçamentária para cobrir as despesas

deveria ser oriunda do orçamento do Departamento de Educação e Cultura. Ao que

evidenciamos, até aquele momento ainda não havia na estrutura da Administração

Municipal a nomenclatura de Secretaria de Educação, o que, evidentemente, deve

ter ocorrido nos anos seguintes. É importante salientar que além das funções, não há

evidências, nos documentos analisados, de como era realizada a escolha dessas

pessoas para serem nomeadas nestes cargos de chefia. O que se sabe, a partir de

professores que atuaram na década de 1970, é que o processo de escolha dos

Diretores das escolas públicas municipais só foi desencadeado a partir de meados

da década de 1980, ainda com a participação de representantes da comunidade

escolar e da própria Secretaria Municipal de Educação.

Ainda em 1970 foram aprovadas as Leis Municipais nº 741, 743, 760, 774 e

759/70 que autorizavam, respectivamente, o Executivo a construir escola primária no

Distrito Administrativo de Santa Tereza, Isenção de Impostos para a Escola João

XXIII no Distrito de Cafelândia do Oeste, compra de livros didáticos para a Escola

Irene Rickli e construção de um Grupo Escolar no Loteamento Boa Vista.

3.7.1 Expansão da Rede Municipal de Ensino

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A expansão da oferta do ensino no município de Cascavel se fazia notar a

partir da década de 1970, inclusive no que se refere ao Ensino Superior. As Leis nº

881/71, nº 883/71 e nº 885/71 tratavam respectivamente de contratação de serviços

técnicos especializados destinados à instalação de uma Faculdade de Ensino

Superior em Cascavel, compra de uma Biblioteca e um Laboratório destinados aos

cursos de Química, Letras, Licenciatura em Ciências e Pedagogia e autorizavam o

Poder Executivo a instituir a Fundação Universidade do Oeste do Paraná. Foram

estes os documentos legais que deram origem mais tarde à UNIOESTE.

As Leis 901/71 e 905/71 referiam-se à construção e ampliação de escolas

municipais, uma vez que a demanda continuava em expansão devido ao crescimento

populacional do município e da sua região de abrangência. Em 1970, o Censo

apontava 89.921 habitantes e em 1980 este número havia aumentado

significativamente, contando com 163.459 habitantes, o que ocasionou o aumento no

número de instituições de ensino, tanto no interior como na cidade. Em uma década

evidenciamos um crescimento populacional de aproximadamente 80%, o que

significa que nesta mesma proporção crescia a demanda por educação, não apenas

a educação primária, mas sim a continuidade dos estudos, por parte daqueles que

ao ensino primário tinham acesso.

A Lei nº 953/72 (Anexo XIX), Fixou o quadro de servidores do Município de

Cascavel necessários para a execução dos serviços do município. Nesta Lei,

constatamos a existência de sete secretarias municipais, sendo: Secretaria Municipal

de Educação e Cultura, Secretaria de Saúde e Assistência Social, Secretaria de

Administração, Secretaria da Fazenda, Secretaria de Viação e Obras Públicas,

Secretaria de Turismo, Secretaria de Agricultura. Os demais serviços prestados pelo

município estavam vinculados a estas secretarias, denominados de divisão ou

órgãos de assessoramento. A Lei não deixa claro, mas pode ter sido esta que

estabeleceu a nomenclatura de Secretaria Municipal de Educação.

Faremos uma análise mais detalhada do item 11 da Lei, que refere-se à

organização da educação, conforme segue:

11 - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA11.0 – ADMINISTRAÇÃOa) Secretário – 1b) Assessor – 111.1 – DIVISÃO DE ENSINO PRIMÁRIO

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11.1.0 – INSPETORIA MUNICIPAL DE ENSINOa) Inspetora Municipal – 1b) Auxiliares de Inspetoria – 311.1.1 – MERENDA ESCOLARa) Supervisora – 1b) Auxiliares – 311.1.2 – ENSINO PRIMÁRIOa) Supervisoras de Ensino – 4b) Professores Nomeados – 50c) Professores Contratados – 300d) Serventes – 50e) Orientadoras – 811.2 – DIVISÃO DE BIBLIOTECA11.2.0 – BIBLIOTECA PÚBLICAa) Bibliotecária – 1b) Auxiliar de Biblioteca: 311.3 – DIVISÃO DE ENSINO MÉDIO11.4 – DIVISÃO DE ENSINO SUPERIOR11.5 – DIVISÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS11.5.0 – ASSISTÊNCIA EDUCACIONALa) Assistente de Educação Física - 1

A Lei nº 953/72 (anexo XIX) criou o primeiro organograma da Administração

Municipal, de acordo com a legislação e documentos analisados. O item 11 detalha

especificamente a estrutura da Secretaria de Educação, ou seja, a estrutura de

pessoal que atuava na educação municipal, pois se considerarmos toda a estrutura

da Lei, podemos verificar que a grande maioria dos servidores públicos estavam

lotados na Educação. Fica evidente também a hierarquia dos cargos existentes e,

além dos cargos relacionados, vinculados especificamente à educação, a lei cria

dentro da estrutura da Secretaria Municipal de Educação o Setor de Merenda

Escolar, indicando que este serviço já estava sendo implementado no município.

É fundamental que ao analisarmos a estrutura da Secretaria de Educação,

mencionada anteriormente, observemos com mais critério como está organizado o

organograma quando da sanção da Lei Municipal nº 1.421/79 (Anexo XXXVI), que

trataremos mais à frente. Fica evidenciado que, conforme crescia a demanda exigia-

se uma nova organização para que o atendimento fosse realizado.

A mesma Lei também definiu as responsabilidades do município para com o

Ensino Primário, pois, conforme está exposto, podemos verificar que para o Ensino

Médio e Superior não há pessoal designado para atuar, uma vez que esta

responsabilidade provavelmente não estava atribuída à Secretaria Municipal de

Educação. Como já constatamos anteriormente, o sistema estadual de ensino

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também foi construindo e constituindo sua rede de ensino no município, com o

funcionamento do Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira e o Ginásio Wilson

Joffre, provavelmente instituições que se tornaram responsáveis pela continuidade

dos estudos após o ensino primário.

Além destas instituições, outras foram criadas posteriormente, o que significa

que a Rede Estadual de Ensino, no âmbito do município, também foi se estruturando

à medida que as demandas educacionais foram surgindo, tendo atuado o Estado na

oferta do ensino primário e também das séries posteriores para conclusão do

primeiro grau e logo depois o segundo grau (hoje Ensino Médio). Muitas instituições

foram sendo criadas e mantidas pelo Estado do Paraná, como Escola Estadual

Washington Luiz e Escola Estadual Robert Francis Kennedy.

É necessário considerar que não havia legislação que definisse as

competências para com a Educação, pois a Lei nº 961/72 Autorizou o Poder

Executivo a conceder auxílio à Associação Paranaense de Escolas Superiores –

APES. Assim, podemos considerar que muitas iniciativas no campo educacional

começaram a surgir e foram sendo organizadas nesta década. O Poder Público

Municipal estabeleceu diversas formas de parceria, provavelmente para ampliar a

oferta de educação e continuidade dos estudos para a população que concluía a

Educação Básica. As iniciativas foram de toda ordem, desde o ensino primário ao

Ensino Superior.

Várias Leis foram aprovadas em 1972 e, na sua maioria, concedendo auxílio

para fins de ampliação, construção e aquisição de equipamentos necessários à

oferta da educação. Transferência de recursos públicos inclusive para instituições

privadas de ensino. Ao analisarmos as leis deste período, podemos perceber que o

Poder Público tinha autonomia para transferir recursos para instituições mantidas

pelo Estado ou mesmo privadas, além daquelas de sua responsabilidade. Ou seja,

não havia impedimentos legais que proibissem a aplicação dos recursos públicos em

instituições mantidas por outras redes de ensino.

A Lei nº 1.014/73 (anexo XXI) que “Dispõe sobre a nova estrutura

administrativa da Prefeitura Municipal de Cascavel, fixa o quadro de funcionários da

administração direta e indireta, atualiza as tabelas de vencimentos e dá outras

providências”, pode ser considerada como uma das primeiras formas de organização

da Administração Municipal de maneira completa, uma vez que tratou da totalidade

estrutural da administração pública, apresentando definições específicas da

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administração e principais atribuições, assim como o pessoal necessário para

realização das atividades. Diferente do que previa a Lei nº 953/72, já analisada, e

que tratava especificamente das questões de servidores públicos, a Lei nº 1.014/73

organizou e atribuiu as funções de cada secretaria e departamento, destacando

inclusive alguns conceitos da administração pública.

O artigo 15 da Lei, na Sessão III, estabelece os Órgãos de Administração

Específica, onde estão relacionadas cinco secretarias municipais, dentre elas a

Secretaria de Educação e Cultura. Importante também o contido nos artigos 20 e 21

da referida Lei,

Art. 20 - Todo e qualquer órgão da Administração Municipal, direta e indireta, está sujeita a supervisão da Secretaria competente, excetuados unicamente os órgãos diretamente subordinados à supervisão direta do Prefeito Municipal.Art. 21 – O Secretário ou Assessor é responsável perante o Prefeito Municipal pela supervisão dos órgãos da Administração Municipal enquadrados em sua área de competência.

A Lei definiu as responsabilidades de cada um dos órgãos que compõem a

Administração Pública Municipal, evidenciando as questões que levantamos ao

iniciar o estudo sobre este período da história de Cascavel, momento de organização

e estruturação da administração como um todo e no que se refere especificamente à

educação a Lei trata no Anexo II Quadro Próprio do Magistério – Parte Suplementar

e Permanente, Cargos Efetivos e Suplementares, onde são estabelecidos treze

níveis de vencimentos com salários mensais que variavam entre CR$148,50 (cento e

quarenta e oito cruzeiros e cinqüenta centavos) para o nível 1 a CR$890,00

(oitocentos e noventa cruzeiros) para o nível 13.

A Lei estabeleceu também uma nova tabela de Funções Gratificadas para

Diretoras de Grupos Escolares e Secretárias, conforme porte das instituições,

revogando as gratificações constantes da Lei Municipal 730/70, ficando assim

definido:

Porte dos Grupos Escolares

GratificaçõesDiretora do Grupo Secretária do Grupo

100 a 199 alunos CR$50,00 CR$40,00200 a 399 alunos CR$100,00 CR$70,00400 a 699 alunos CR$130,00 CR$100,00700 a 999 alunos CR$200,00 CR$150,00

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Acima de 1.000 alunos CR$240,00 CR$200,00Quadro 4 – Porte das escolas e valores das gratificações para Diretora e Secretária de Grupo Escolar, conforme Lei Municipal nº 1.014/73.

A Lei Municipal nº 1.080/74 (Anexo XXII), Alterou os valores dos símbolos,

padrões e níveis de vencimentos, concedeu aumento aos servidores públicos

municipais, alterando valores dos símbolos, padrões e níveis, da Tabela de

Vencimentos de todos os servidores públicos municipais.

Na tabela de Vencimentos do Quadro Próprio do Magistério foram alterados

os vencimentos a partir dos treze níveis criados pela Lei nº 1.014/73, alterando o

salário inicial, nível 1, para CR$240,00 (duzentos e quarenta cruzeiros) e o salário

para o nível 13 para CR$1.250,00 (Hum mil, duzentos e cinqüenta cruzeiros).

Também foram realizadas alterações na tabela de Funções Gratificadas para as

Diretoras e Secretárias de Grupos, conforme segue:

Porte dos Grupos EscolaresGratificações

Diretora do Grupo Secretária do Grupo100 a 199 alunos CR$100,00 CR$90,00200 a 399 alunos CR$150,00 CR$120,00400 a 699 alunos CR$200,00 CR$150,00700 a 999 alunos CR$250,00 CR$200,00Acima de 1.000 alunos CR$300,00 CR$250,00Quadro 5 – Porte das escolas e valores das gratificações para Diretora e Secretária de Grupo Escolar, conforme Lei Municipal nº 1.080/74.

No que se refere à expansão da Rede Municipal de Ensino, consideramos

importante ressaltar que, após analisarmos os relatórios da Secretaria Municipal de

Educação, na década de 1970 foram autorizadas a funcionar no município 122

escolas, sendo que destas 28 já estavam extintas ao final da década, permanecendo

em funcionamento 94 escolas.

Outro dado importante é que destas 122 escolas que foram autorizadas a

funcionar nessa década, 24 estavam localizadas na sede do Município e as demais

(98) na Zona Rural do Município. Das 94 escolas criadas e em funcionamento nessa

década, 29 continuam funcionando até hoje.

Ao final da década de 1960 concluímos, a partir dos dados analisados, que

permaneciam em funcionamento 85 escolas rurais e 5 escolas urbanas e,

considerando a década de 1970 e as escolas que foram extintas nessa mesma

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década, apenas 94 estavam em funcionamento, sendo 70 escolas na Zona Rural e

24 na Sede do Município.

Observando por este ângulo, teríamos um dado definitivo quanto ao número

de escolas ao final dos anos 1970, mas precisamos considerar que muitas das que

foram criadas na década de 1960 foram extintas na década de 1970, o que alterou

significativamente este dado para o número de escolas em funcionamento ao final de

1970.

A tabela a seguir apresenta os dados já discutidos, evidenciando o número de

escolas criadas e cessadas nessas três décadas, sendo que ao final da década de

1970 estavam em funcionamento 183 escolas.

Dessas, 29 localizadas na sede urbana do Município e 154 na área rural,

reforçando ainda a questão de que a maioria da população era rural e que, no

entanto, de maneira lenta, porém gradual, estes dados vão sendo alterados

significativamente, provocados pelo êxodo rural e pelo intenso processo de

modernização da agricultura e industrialização dos grandes centros urbanos.

DécadaEscolas Criadas Escolas Cessadas Total de Escolas Total Geral

Urbanas Rurais Urbanas Rurais Urbanas Rurais1950 00 03 00 01 00 02 021960 05 89 00 07 05 82 871970 24 98 00 28 24 70 94Total 29 190 00 36 29 154 183Quadro 6 – Escolas Municipais criadas, cessadas e em funcionamento de 1953 a 1970 da Rede Municipal de Ensino de Cascavel.

Podemos considerar que é significativa a expansão da construção de escolas

na área urbana, pois na década de 70 evidencia-se na região o processo do êxodo

rural que vai, pouco a pouco, expulsando o homem do campo e aumentando a

população urbana.

Podemos observar também que o número de escolas cessadas nos anos 70

é significativo, se considerarmos o crescimento populacional. Porém, ao mesmo

tempo em que vão cessando mais escolas no espaço rural, novas escolas vão

surgindo na cidade. Há necessidade de considerarmos também que as escolas

rurais eram, na sua maioria, escolas com poucos alunos, muitas multisseriadas,

enquanto que as escolas urbanas que estavam sendo criadas já estavam dotadas de

uma estrutura maior de salas de aula, haja visto o aumento da demanda,

considerando ainda que nas escolas urbanas estava se organizando um quadro de

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suporte e apoio técnico-administrativo e pedagógico, vinculado à Secretaria

Municipal de Educação e responsável pela implementação das políticas

educacionais oriundas da Administração Municipal.

Em 1975, analisando a Lei nº 1.187/75 (anexo XXIII), encontramos dados que

precisam ser considerados, pois esta Lei autorizou o Poder Executivo Municipal a

firmar Convênio com a Fundação Educacional do Estado do Paraná - FUNDEPAR ,

para construção de escolas, sendo autorizado pela Câmara de vereadores que o

Município complementasse com recursos próprios o que fosse necessário para

concretização das obras. Evidenciamos que a proposição aponta outra realidade: a

participação do Estado na ampliação da Rede Municipal de Ensino, destinando

recursos para construção de escolas nos municípios.

No que se refere à participação do Estado através da FUNDEPAR para

construção de escolas, a Lei nº 1.195/76 (Anexo XXIV), na administração de Pedro

Muffato, autorizou o Executivo a firmar convênio com a FUNDEPAR para construção

de 46 salas de aula em alvenaria, Plano FAS – Fundo de Apoio ao Desenvolvimento

Social. Na referida Lei são relacionadas as escolas que seriam contempladas com as

ampliações, sendo que todas as escolas relacionadas no Quadro 7 estavam

localizadas em área urbana do município e aquelas localizadas na Zona Rural

encontram-se no Quadro 8. Transcrevemos a seguir a síntese dos quadros

elencados no texto da Lei para uma melhor compreensão:

ZONA URBANAG. E. Júlia Wanderley Vila Cancelli Ampliação 2 SalasG. E. Quintino bocaiúva L. São Francisco Ampliação 2 SalasG. E. Diva Vidal Jardim Maria Luiza Ampliação 3 SalasG. E. Manoel Ludgero Pompeu Alto Alegre Ampliação 3 SalasG. E. Maria Montessori Vila Cancelli Ampliação 3 SalasG. E. Rubens Lopes Neva – Jardim Guanabara Ampliação 4 SalasG. E. Almirante Barroso Vila Claudete Ampliação 5 Salas

Quadro 7 – Escolas Urbanas que foram ampliadas através de Abertura de Crédito Especial, conforme Lei Municipal nº 1.196/75.

ZONA RURALG. E. Bartolomeu B. da Silva Cielito Ampliação 3 SalasG. E. Santa Tereza Ampliação 3 SalasG. E. Rio do Salto Ampliação 4 SalasG. E. Juvinópolis Ampliação 4 SalasG. E. Agapito Maltozo Cafelândia D’Oeste Ampliação 4 SalasG. E. Visconde de Mauá Alvorada D’Oeste Ampliação 5 Salas

Quadro 8 – Escolas Rurais que foram ampliadas através de Abertura de Crédito Especial, conforme Lei Municipal nº 1.196/75.

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É importante frisar que naquele momento este tipo de auxílio financeiro por

parte do Estado para construção de escolas foi considerado um ponto fundamental

para a ampliação da oferta, uma vez que os municípios dependiam unicamente da

parceria com o Estado e a União. Na sequência, outras medidas foram tomadas

tanto pelo governo do Estado como pelo Poder Público Municipal para, numa ação

conjunta, dar encaminhamento às necessidades educacionais do município, as quais

trataremos de maneira mais detalhada na continuidade deste trabalho. Buscaremos

explicitar mais claramente esta política de cooperação entre o Estado do Paraná e o

Município de Cascavel na construção e ampliação das estruturas físicas das escolas

para atendimento à crescente demanda educacional.

3.7.2 O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL no Município de Cascavel

O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, foi criado pelo governo

brasileiro através da Lei Federal nº 5.379/67, de 15 de dezembro de 1967, e tinha

como objetivos proporcionar a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando

conduzir as pessoas a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como elemento

indispensável para integrar o cidadão à comunidade e objetivando ainda a melhoria

da qualidade de vida.

Integrando-se ao movimento nacional, em 1975 é criada a Lei Municipal nº

1.203/76 (anexo XXV), sancionada em 14 de junho, que autorizou o Executivo

Municipal a firmar convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização –

MOBRAL, cuja Lei transcrevemos a seguir, dada a sua importância e o momento

histórico em que ela ocorreu:

Art. 1º - Fica o Executivo Municipal de Cascavel autorizado a firmar Convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, visando o desenvolvimento da Ação Integrada na Execução de Programas que visa suprir em nível equivalente as quatro séries do ensino de 1º Grau, às necessidades dos evadidos da escola ou desprovidos de escolarização adequada em caráter de suplência e em dinâmica acelerada.

Art. 2º - O Município de Cascavel participará com vistas à execução do Convênio de que trata o artigo anterior, com o pagamento de 22 professores, num período de 10 (dez) meses a contar da data de início das aulas, a saber do dia 17 de fevereiro de 1976.

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Ficou, portanto, estabelecido, a partir da referida Lei, que no ano de 1976

seria implantado o MOBRAL para atendimento à população não escolarizada, pois

se tratava de um programa de alfabetização, diferente do que preconizava a Lei

Municipal, pois temos consciência de que o programa, durante dez meses, não tinha

condições de oferecer conclusão do ensino primário às pessoas que não tinham tido

acesso à educação na idade apropriada.

A intenção do Governo Federal ao instituir o programa foi reduzir os

altíssimos percentuais de analfabetos existentes no país. No entanto, segundo

informações junto à Secretaria Municipal de Educação, o programa foi implantado no

município, não apenas nas escolas urbanas, mas também nas rurais, porém não

existem arquivos que comprovem quantas ofertaram este “programa” de ensino e

nem mesmo quantos alunos foram alfabetizados ou fizeram parte deste processo.

No entanto, precisamos considerar o que se refere a Lei Municipal nº

1.284/77 (anexo XXVI), pois esta Lei mais uma vez trata da celebração de convênio

entre o Município de Cascavel e o MOBRAL, do Ministério da Educação e Cultura.

Porém, traz em seu texto novas informações que não estavam presentes na Lei

anterior (1.203/75). Em seu artigo primeiro acrescenta a seguinte informação em

relação à Lei de 1975, visando a implantação do Programa de Educação Integrada

para 841 alunos, evidenciando então que havia uma demanda cadastrada e que

seria ou pelo menos deveria ser atendida pelo programa no município de Cascavel.

Ainda tratando sobre o mesmo assunto, encontramos a Lei Municipal nº

1.355/78 (anexo XXVII) que, no seu artigo segundo acrescenta a seguinte

informação:

Art. 2º - O Município de Cascavel participará com vistas à execução do convênio de que trata o artigo anterior, com o pagamento de 14 normalistas e 5 sem habilitação, num total de CR$ 181.840,00 (cento e oitenta e um mil, oitocentos e quarenta cruzeiros), num período de doze meses, a contar da data de início das aulas, em 23 de fevereiro de 1978.

É importante salientar que nos demais artigos esta Lei não foi alterada, se

relacionarmos com as anteriores que tratavam do mesmo assunto. Apenas ficou

evidente a responsabilidade do município para contratação dos professores para

atuarem nas turmas de alfabetização, conforme preconizava o Programa do Governo

Federal.

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Estes são, portanto, os dados encontrados referente ao programa no

município de Cascavel, ou seja, aqueles dados que constavam das Leis, sem que,

no entanto, existam arquivos na Secretaria Municipal de Educação que possam

comprovar, através de relatórios, o número de alunos que foi atendido, bem como,

de escolas e professores envolvidos.

3.7.3 A expansão da Rede Municipal de Ensino em cooperação com o Estado do

Paraná

No ano de 1975, a Lei Municipal nº 1.175/75 (Anexo XXVIII), de 20 de

dezembro autorizou o Executivo Municipal a celebrar Convênio com o Estado do

Paraná, para execução de reparos das unidades integradas de 1º Grau Estaduais,

do Município. Tratou-se de uma Lei que autorizou a realização de convênio para

repasse de CR$ 255.399,52 (duzentos e cinqüenta e cinco mil, trezentos e noventa e

nove cruzeiros e cinqüenta e dois centavos) para reforma das escolas: Robert

Francis Kennedy, Eleodoro Ébano Pereira, Almirante Barroso, Arthur da Costa e

Silva, Diva Vidal e Marilis Farias Pirotelli.

A Lei tem como foco a melhoria da estrutura física das escolas, mas traz em

seu bojo o princípio das competências entre os sistemas de ensino para manutenção

de suas redes. Como as instituições citadas eram de responsabilidade do Estado e

situadas dentro do município, este, transfere, através de recursos, a competência

para que o município realize as melhorias que são necessárias, ou seja, a

contrapartida do Estado na manutenção de sua rede de ensino, num processo de

expansão populacional, com rápido crescimento demográfico, acentuadamente

urbano, devido ao êxodo rural.

No ano de 1977, as Leis Municipais nº 1.302, 1.319, 1,320, 1.332/77

autorizavam o município de Cascavel a Firmar convênio com a Fundação

Educacional do Paraná – FUNDEPAR, para construção de escolas, sendo

respectivamente: Uma escola com oito salas de aula na localidade de Alvorada

D’Oeste; uma com onze salas de aula na Escola Municipal José Henrique Teixeira,

Bairro Morumbi; uma a com dezessete salas de aula na Escola Municipal Emília

Galafassi e outra com seis salas de aula no Distrito de Cafelândia D’Oeste.

Em 1978, as Leis Municipais nº 1.357, 1.358, 1.359, 1.260, 1.395, 1.396,

1.397, 1.398, 1.399, 1.400, 1.401 e 1.402/78, autorizaram o Executivo Municipal a

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Firmar Convênio com a FUNDEPAR para construção e ampliação de unidades

escolares, sendo que foram realizadas obras nas seguintes instituições,

respectivamente: Construção de salas de aula nas seguintes escolas: Escola

Municipal Aloys João Mann; Escola Municipal Nossa Senhora da Salette; Escola

Municipal Ginásio Alberto Santos Dumont, em Cafelândia D’Oeste; construção de

uma escola nova no Bairro Aclimação; Construção de salas de aula no Loteamento

Nova Itália; construção de salas de aula na Escola Municipal Juscelino Kubitschek;

Escola Municipal Ana Neri; Escola Ieda Baggio Mayer; Escola Municipal Arthur

Carlos Sartori; construção de unidade nova no Conjunto COHAPAR e construção de

salas de aula na Escola Municipal Terezinha Picoli Cezarotto.

Evidenciamos a partir da aprovação destas leis que, ao mesmo tempo que se

expandia e se estruturava a Rede Municipal de Ensino de Cascavel, é notória a

presença do Estado buscando assegurar escolarização para a população, uma vez

que, provavelmente o Município, com seu crescimento acelerado e por possuir uma

grande extensão territorial, não conseguia atender todas as necessidades da

população no que se refere à escolarização, como também muitas das escolas

urbanas não atendiam apenas a educação primária, mas também o ensino até a

oitava série, o que aumentava significativamente o número de alunos nas instituições

de ensino.

3.7.4 Aspectos legais de estrutura e organização da rede na década de 1970

Evidenciamos várias questões preliminares de como se constituiu a Rede

Municipal de Ensino de Cascavel, no aspecto físico e na expansão de escolas na

cidade e no interior. No entanto, conforme já mencionamos, a rede como um todo foi

se estruturando nessa década e, faremos agora uma análise de como se estruturou

a carreira de professores, como se construiu o quadro de professores municipais

para dar conta das questões pedagógicas desta rede em expansão.

Consideramos importante analisar a Lei Municipal nº 1.281/77 (Anexo XXIX),

que Fixou os vencimentos do pessoal do Magistério Público Municipal, a vigir desde

Primeiro de Abril de 1977, estabeleceu os valores das aulas suplementares e das

funções gratificadas das Diretoras dos Grupos e deu outras providências.

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Art. 1º - A partir de 1º de abril de 1977, o vencimento do Pessoal do Magistério Público Municipal, do quadro permanente e contratados, serão fixados na forma dos artigos subseqüentes.Art. 2º - Os Professores Habilitados que exerçam seu mister por 4 (quatro) horas de aulas ministradas, receberão o aumento de 50% (cinqüenta por cento), passando a perceber os vencimentos de CR$ 1.080,00 (Hum mil e oitenta cruzeiros) mensais.Parágrafo Único – Aos mesmos professores habilitados que exerçam seu mister em mais de um turno, ou seja em oito ( 8 ) horas de trabalho, será concedido o aumento de 70% (setenta por cento), além dos seus atuais vencimentos, passando a perceber CR$1.836,00 (Hum mil, oitocentos e trinta e seis cruzeiros) mensais.Art. 3º - Aos professores não habilitados que exercem seu mister em apenas um turno de quatro ( 4 ) horas, passarão a perceber CR$700,00 (setecentos cruzeiros) mensais.Parágrafo Único – Os professores não habilitados que exercem seu mister em dois ( 2 ) turnos, perfazendo oito ( 8 ) horas de trabalho, passarão a perceber mensalmente os vencimentos de CR$1.050,00 (Hum mil e cinquenta cruzeiros) mensais.

Ao analisarmos a Lei percebemos que há uma organização no que se refere

ao Cargo de Professor, para aqueles habilitados e aqueles não habilitados, assim

como remuneração definida para uma determinada jornada de trabalho. A Lei

estabelecia uma jornada de 4 horas diárias de trabalho, assim como a possibilidade

de ampliação desta para 8 horas diárias. No entanto, podemos perceber que a

remuneração não dobrava, apenas ficava acrescida de um determinado percentual, o

que efetivamente dobrava era a jornada de trabalho do professor, ou seja, para uma

segunda jornada ou segundo padrão o professor era remunerado com

aproximadamente 70% do total dos vencimentos do primeiro padrão.

Em 29 de dezembro de 1977, a Lei Municipal nº 1.348/77 (Anexo XXX),

Aprovou o Plano Educacional do Município de Cascavel e a Reestruturação da

Secretaria Municipal de Educação e Cultura, no governo do Prefeito Jacy Miguel

Scanagatta e da Secretária Municipal de Educação Maria do Rocio dos Santos

Junqueira. No entanto, não conseguimos encontrar cópia deste documento para que

pudéssemos fazer uma análise mais profunda de como estava estruturada a

Secretaria Municipal de Educação de Cascavel naquele período, em razão de todas

as demandas educacionais que surgiram e foram sendo organizadas no município.

Porém, faremos uma análise de outro documento encontrado nos arquivos da

Secretaria Municipal de Educação, documento este que data de 15 de dezembro de

1977, também na gestão desse Prefeito e a da Secretária Municipal de Educação

mencionada. Documento este endereçado ao Secretário de Estado da Educação e

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da Cultura, Francisco Borsari Netto. Transcreveremos a seguir parte do Ofício nº

616/77 (Anexo XXXI):

Vimos através deste apresentar a Vossa Excelência a realimentação do Plano de Implantação das Escolas Municipais de Cascavel da Zona Urbana e das Sedes de Distritos, para aprovação e autorização de funcionamento, sendo que o mesmo vem substituir o aprovado em caráter precário para o ano de 1977, pelo Parecer nº 102/76.

O documento está organizado em 240 páginas e nele encontramos cópias de

vários outros referentes às escolas da Rede Municipal de Ensino, ou seja, podemos

considerar que o documento REALIMENTAÇÃO DO PLANO DE IMPLANTAÇÃO

DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CASCAVEL DA ZONA URBANA E

IMPLANTAÇÃO DAS ESCOLAS DAS SEDES DE DISTRITOS, de 1977, é nosso

ponto de referência para estudo e análise da Rede Municipal ao final da década de

1970, de como a mesma estava composta, assim como de sua estrutura.

Como mencionamos no decorrer deste trabalho, nem todas as instituições de

ensino foram estruturadas e organizadas de acordo com as normas que hoje são

necessárias para que uma instituição de ensino seja autorizada a funcionar. Devido

ao crescimento populacional e necessidade de atendimento educacional, muitas

instituições foram sendo criadas na cidade e no interior do município de Cascavel,

muitas vezes, sem critérios, pois o fundamental era dar atendimento à população no

primeiro momento, depois, então, se organizava a rede.

Constam do documento vários decretos que criavam e oficializavam as

escolas que foram criadas até aquele período. O primeiro Decreto que encontramos

data de 19 de fevereiro de 1970 (Anexo XXXII), durante a Gestão do Prefeito

Octacilio Mion. Neste, o Executivo “No uso de suas atribuições legais, Resolve criar,

em conformidade do que dispõe o artigo 33 da Lei nº 4978/64, os Grupos Escolares

relacionados no Decreto nº. 022/70.

Tratava-se da criação oficial de 15 (quinze) escolas, sendo que apenas cinco

delas estavam localizadas na Sede do Município, enquanto que as demais

encontravam-se no interior e em Distritos Administrativos que mais tarde se

emanciparam de Cascavel e também passaram a ser municípios, como é o caso de

Santa Tereza e Cafelândia.

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No entanto, muitas outras unidades escolares, criadas através de decretos, já

estavam em funcionamento, porém não conseguimos encontrar cópias destes

decretos. O certo é que todas as instituições de ensino em funcionamento no

município até aquela data e aquelas que foram criadas a partir daí foram autorizadas

a funcionar por meio de Decretos Municipais que criaram as instituições e

autorizaram seu funcionamento. Fato este que evidencia a preocupação do Poder

Público para com a organização técnica e legal de sua rede de ensino.

Na sequência do documento encontramos também cópia do Decreto

Municipal nº 465/72 (Anexo XXXIII), de 13 de setembro de 1972, cuja justificativa

transcrevemos, dada a importância da mesma para nosso estudo e análise:

Octacilio Mion, Prefeito Municipal de Cascavel, Estado do Paraná, no uso de suas atribuições legais e nos termos do artigo 23 do Sistema Municipal de Ensino, eCONSIDERANDO que o Ensino Primário, cuja educação qualifica-se de primeiro grau, tem por objetivo a adoção de um processo que valorize progressivamente o estudante, partindo para um sistema educativo voltado para a necessidade do desenvolvimento;CONSIDERANDO que a readaptação implantada na Reforma Educacional, planejada para o próximo exercício, concentra a síntese do econômico e do social para a configuração de um desenvolvimento centrado no Homem e para ele dirigido;CONSIDERANDO que o enquadramento da Rede de Ensino Municipal, na preconizada reforma educacional, dentro das disposições emanadas pelo diploma legal em vigor, exige a oficialização de seus estabelecimentos escolares;CONSIDERANDO que, por proposta da Secretaria de Educação e Cultura do Município, essa mencionada oficialização se materializa em ato baixado pelo Executivo Municipal, nos termos da regulamentação do ensino aprovado pelo Decreto nº 173/70, de 28 de agosto de 1970.DECRETA:Art. 1º - Ficam oficializadas as Casas Escolares do Município, constantes da relação que a este acompanha, destinadas à organização administrativa, didática e disciplinar, com observância das diretrizes do seu regimento próprio e das normas fixadas pelo respectivo Conselho de Educação.

Através deste Decreto foram criadas oficialmente mais 43 escolas integrantes

da Rede Municipal de Ensino do Município de Cascavel, estando todas estas

localizadas na zona rural do município.

Ao destacarmos a íntegra do Decreto, há elementos significativos que

precisam ser analisados, uma vez que nosso trabalho tem como objetivo principal o

resgate histórico da Rede Municipal de Ensino de Cascavel e, como já deixamos

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claro no início deste capítulo, a década de setenta se caracteriza também pela

expansão das instituições de ensino, mas principalmente pela organização destas

instituições no município.

O texto do Decreto procura detalhar ao máximo possível a necessidade da

educação, bem como de organizá-la; aponta evidências de Plano de Educação e de

organização a partir do Sistema de Ensino, da preocupação do governo com a

escolarização da sua população, elementos que não iremos aprofundar aqui, mas

que ficam aí evidenciados para que futuras pesquisas possam analisar mais

cuidadosamente esse período e como ele se configurou no cenário educacional.

Da mesma natureza do Decreto anterior, temos ainda em 1975, o Decreto de

nº 813/75 (Anexo XXXIV), que oficializa nove Casas Escolares em Cascavel, todas

localizadas no perímetro urbano do município. Também é relevante o Decreto nº

1.008/77 (Anexo XXXV), que oficializa no município de Cascavel 13 ( treze ) escolas

urbanas e 63 ( sessenta e três ) escolas rurais.

O documento em análise ainda apresenta um histórico de todas as

instituições localizadas na sede do município e nas Sedes de Distrito em

funcionamento, informando os principais dados que naquele momento compunham o

histórico da unidade escolar. Anexo ao documento ainda encontram-se cópias das

Plantas de localização dos edifícios nos terrenos, juntando-se aí toda a

documentação necessária para que o Estado do Paraná autorizasse o

funcionamento das escolas.

O Plano de Implantação das escolas municipais solicitava autorização de

funcionamento para 27 escolas municipais, sendo 23 localizadas na área urbana do

município e 4 em Sedes de Distritos. A denominação das escolas citadas no

documento foi autorizada pelo Decreto nº 0040/75, do Conselho Estadual de

Educação, sendo esta a denominação das instituições até a atualidade.

No que se refere à estrutura e organização da Rede Municipal de Ensino,

analisaremos a Lei Municipal nº 1.421/79 (Anexo XXXVI), de 17 de abril de 1979 que

dispõe sobre a reorganização do quadro de servidores do município de Cascavel,

fixa a remuneração e dá outras providências. Transcrevemos a seguir o capítulo 7

que trata da Estrutura e Vencimentos do Quadro, Item A – Serviços de Educação e

Cultura, conforme quadro abaixo:

Quantidade de Denominação do Cargo Nível de

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Servidores Vencimento200 Professores sem habilitação (um período) 01300 Servente de escola 02350 Professores sem habilitação (dois períodos) 03300 Professor habilitado (um período) 0375 Guardião de escola 03

500 Professor Habilitado (dois períodos) 0510 Músicos 05

100 Supervisor de Escola 0610 Inspetor auxiliar de ensino 06

100 Diretor de escola 06100 Secretário de escola 0604 Técnico em Educação 1110 Supervisor de Ensino 1104 Orientador Educacional 1105 Professor de Educação Artística 1101 Diretor de Museu 1110 Instrutor de Educação Física 12

Quadro 9 – Demonstrativo do Quadro de Pessoal da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, conforme Lei Municipal nº 1.421/79.

A Lei não tratava apenas da organização do pessoal nas diversas secretarias,

setores e departamentos, mas também de outras questões como: dos cargos em

comissão, da promoção e acesso dos servidores efetivos, das funções gratificadas,

do pessoal contratado, das diárias, das aulas suplementares dos professores e do

treinamento de todo o funcionalismo público.

Pelas nomenclaturas dos cargos fica transparente o período a que se refere, ou

seja, durante a vigência da Lei nº 5692/71, em que imperava o tecnicismo e a

preocupação com uma educação profissionalizante.

Quanto às Aulas Suplementares dos Professores, a Lei estabelecia que:

Art. 23 – Os professores contratados a lecionarem as disciplinas que compõem os currículos das quintas às oitavas séries do primeiro grau, receberão por aulas ministradas, obedecendo as normas da Consolidação das Leis do Trabalho, que prevê legislação própria ao caso.Art. 24 – O valor de cada aula suplementar varia de acordo com a qualificação do professor, conforme segue:Qualificação Valor da Aula SuplementarProfessor não Habilitado ...........................................CR$ 32,00Professor Habilitado com Licenciatura Curta .............CR$ 42,00Professor Habilitado com Licenciatura Plena: ........... CR$ 56,00

Podemos considerar esta Lei fundamental para a compreensão da

Administração Pública ao final da década de 70, uma vez que após outras leis serem

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sancionadas, verificamos que gradativamente, conforme o município foi crescendo, a

administração pública sentiu necessidade de organizar seu quadro de pessoal e

estabelecer critérios de forma a organizar as diferentes funções e atribuições do

Poder Público.

Não adentraremos em nosso estudo a partir dos anos 80, uma vez que, numa

pré-análise das Leis que foram sendo aprovadas a partir daí, podemos considerar

que o estudo seria demasiadamente amplo, haja vista o número de documentos que

temos e podemos analisar, permitindo um entendimento maior e melhor do que foi e

como se estruturou a Rede Municipal de Ensino de Cascavel até a atualidade.

Nos propomos a fazer este estudo preliminar e contribuir com o resgate do

processo histórico desde a emancipação do Município de Cascavel até o final da

década de setenta e, creio que temos aí uma contribuição importante que pode

levantar outras possibilidades de pesquisa ou até mesmo de que tenhamos a

pretensão de completar a construção deste processo histórico que foi e é a Rede

Municipal de Ensino.

Quanto ao questionamento inicial que levantamos sobre a existência ou não

do Sistema Municipal de Ensino, podemos considerar que, mesmo já exposto

anteriormente, o Sistema Estadual de Ensino do Paraná é quem normatiza e autoriza

o funcionamento das instituições pertencentes à Rede Estadual de Ensino, às Redes

Municipais de Ensino (com exceção daqueles municípios que já constituíram seus

próprios sistemas) e das Redes Privadas de Ensino.

Como percebemos, ainda há muito que pesquisar se quisermos dar conta de

resgatar, reconstruir e preservar a história da Rede Municipal de Ensino de Cascavel.

Deixamos aberto o caminho para aqueles que tenham a iniciativa de dar

continuidade a este estudo e que possam contribuir para melhorar nossa

interpretação, acrescentando informações e fundamentando este trabalho de forma

que não percamos este aspecto tão importante da Educação da nossa região e

principalmente do Município de Cascavel.

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CONCLUSÃO

A Rede Municipal de Ensino de Cascavel é resultado de todo o processo

histórico de ocupação e colonização do Oeste do Paraná. Muitas das ações que

foram desencadeadas no decorrer do tempo primavam pela garantia de escolarização

à população, princípio apontado pelos pioneiros da década de 30 quando da

construção da “igrejinha” que serviu também como escola para os filhos dos primeiros

moradores do povoado de Cascavel.

A preocupação na oferta de escolarização para a população que

gradativamente ocupava a região fez com que, em muitas comunidades que foram se

formando no interior, se constituísse a chamada escola dos colonos, que deu origem,

mais tarde, às escolas rurais do município.

A construção do primeiro grupo escolar de Cascavel, o atual Colégio

Eleodoro Ébano Pereira foi, de acordo com os documentos investigados, o único

estabelecimento urbano a ofertar o ensino primário até a emancipação do município,

em 1952. Até este momento não encontramos registros de outras instituições que

tenham sido oficializadas para atender as demandas por escolarização do município,

principalmente na zona urbana.

Com a emancipação, percebemos que gradativamente as instituições foram

sendo criadas, muitas ainda sob iniciativa privada, mantidas pelos colonos, aos

poucos sendo absorvidas pelo Poder Público Municipal. Nesta condição identificamos

a Escola de Rio do Salto, onde em 1953, constam das Atas de Exames realizados na

presença do Poder Público, embora a escola tenha funcionado naquele ano sem

reconhecimento oficial, o que só ocorreu em 1954. Esta foi a primeira escola pública

criada e oficializada pelo município de Cascavel após a sua emancipação e estava

localizada no interior do município. Está aí a gênese da História da Rede Municipal de

Ensino de Cascavel, uma vez que buscamos enfatizar nesse trabalho a origem das

primeiras escolas criadas após a emancipação do Município, enquanto que o atual

Colégio Eleodoro Ébano Pereira teve sua história a partir de 1932 e quando foi

oficializado estava sob administração do Estado do Paraná, fato pelo qual o mesmo

não faz parte desta pesquisa, na dimensão que buscamos trabalhar.

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Ainda na década de1950 foram oficializadas mais duas instituições de ensino

na zona rural do município, evidenciando que na Zona Urbana permanecia em

funcionamento apenas a Escola Eleodoro Ébano Pereira, certamente com condições

de atender toda a demanda populacional urbana, uma vez que a maioria da

população naquele período era rural.

É necessário considerar que para realização desta pesquisa, principalmente

na década de 50, encontramos algumas dificuldades no detalhamento das ações que

foram sendo desencadeadas, de forma que ao analisarmos os documentos

pudéssemos compreender de forma mais convincente como a Rede Municipal de

Ensino foi sendo construída logo no início. O incêndio no prédio da Prefeitura, em

1960, destruiu a maioria da documentação que estava arquivada e que neste

momento seria fundamental para esta pesquisa.

No entanto, podemos considerar que a década de 50 caracterizou-se como

um período de organização da Administração Pública de forma geral, atendendo às

particularidades da época, evidenciando-se que alguns documentos analisados

apresentam a preocupação com a educação, principalmente no que se refere ao

pagamento de professores para que as atividades fossem desenvolvidas e as escolas

entrassem em funcionamento.

A escolarização da população ficou evidenciada nos documentos analisados

como uma das grandes necessidades da população. Para os migrantes que estavam

chegando o fator fundamental para se instalarem na região era a construção da

escola e depois da capela religiosa, ou então a possibilidade de aliar as duas

situações.

A década de 1960 se caracterizou por um período de grandes avanços, de

expansão da Rede de Ensino tanto no meio rural como na sede do município, uma

vez que um número significativo de escolas foram criadas e oficializadas, sendo a

maioria delas na área rural do município, onde efetivamente se encontrava a maioria

da população.

Como fonte básica para o entendimento de como se estruturou e organizou a

Rede de Ensino, recorremos ao conjunto de Leis que foram criadas e aprovadas

visando assegurar a expansão da oferta de escolarização para a população.

Importante ressaltar que a década de sessenta se configurou como um período de

expansão, sem grandes evidências de preocupação do Poder Público em organizar

as instituições, mas sim garantir a abertura de escolas de forma a atender a

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população. Criar os mecanismos necessários para que ocorresse a ampliação da

oferta de ensino tanto na área urbana como na área rural, evidenciando-se aí a

criação de 87 escolas nesta década, sendo 82 na área rural e 5 na sede do

município.

É fundamental destacar que na década de 1960 os documentos comprovam

a existência de um Departamento de Educação e Cultura, no qual a Inspetora de

Ensino era a responsável por toda estrutura e funcionamento das escolas municipais.

Porém não encontramos dados que comprovem a existência de uma estrutura

organizacional no comando da educação do município.

A Rede Municipal de Ensino de Cascavel foi se constituindo, primeiramente,

com a abertura de escolas e posteriormente com a organização e estruturação

enquanto rede. Já a década de 70 caracterizou-se pelo momento em que o Poder

Público Municipal, através da Secretaria Municipal de Educação, começa a organizar

as escolas rurais e urbanas, definindo critérios, porte de escolas e também um

quadro efetivo de professores para atuar nas instituições, inclusive dotando os grupos

escolares de Direção de Grupo e Secretária.

Essa década consistiu também num processo de expansão, pois o

crescimento populacional foi de aproximadamente 70% em relação a 1960, sendo

criadas 70 escolas rurais e 24 escolas urbanas, totalizando mais 94 instituições de

ensino. Nota-se que, em função da introdução de tecnologias na lavoura,

gradativamente vai se acentuando o êxodo rural e a demanda por mais escolas na

zona urbana em razão do aumento da população urbana que vai se inserindo no

processo de urbanização e industrialização pelo qual passa o país como um todo.

Foram fundamentais inúmeras Leis aprovadas nesta década, que

evidenciaram a preocupação do Executivo Municipal em definir um conjunto de

medidas para a educação, inclusive contando com a participação do Estado do

Paraná na construção e ampliação de escolas para atendimento à demanda

educacional, contando também com a ampliação do tempo de escolarização, pois

muitas escolas passaram a ofertar não apenas o ensino primário, mas também o

ensino de quinta a oitava série.

Ao final da década, a maioria das instituições de ensino já estava

regularizada, oficializada e autorizada a funcionar dentro dos padrões exigidos pelo

Sistema Estadual de Ensino, ao qual a Rede Municipal de Ensino de Cascavel estava

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e está subordinada e do qual emanam as diretrizes básicas para a educação pública

no Estado do Paraná.

Documentos desse período demonstram a preocupação que o Poder Público

Municipal passou a ter enquanto responsável pelas escolas a este jurisdicionadas. A

Secretaria Municipal de Educação estava inserida num processo de grande expansão

e para isso precisava se organizar e estruturar para atender as necessidades

educacionais que foram sendo criadas a partir desse período.

Sendo também nosso objeto de pesquisa neste trabalho, a questão da

existência ou não de um sistema municipal de ensino no Município de Cascavel,

concluímos que está constituída a Rede Municipal de Ensino e que esta continua

jurisdicionada ao Sistema Estadual de Ensino, embora com um grau significativo de

autonomia, objeto de discussão, estudo e aprofundamento. Teve início em 2003 e

durante o ano de 2004 um estudo objetivando apresentar uma minuta da Constituição

do Sistema Municipal de Ensino de Cascavel, no entanto, por questões políticas, este

projeto não chegou até a Câmara de Vereadores. As discussões podem ser

retomadas e efetivamente pode-se constituir o sistema de ensino a partir daquela

proposta.

Nosso objetivo principal era iniciar um estudo preliminar para

compreendermos como se organizou a educação pública municipal em Cascavel,

como se constituiu esta rede de ensino. Entretanto, ainda restam muitas dúvidas e

lacunas, as quais pretendemos sanar com futuras pesquisas que temos a intenção de

realizar.

Muitos dados e elementos importantes foram levantados e evidenciam a

necessidade de que esta pesquisa seja aprofundada, tendo em vista uma melhor

compreensão deste objeto de estudo. Por ora, consideramos ter iniciado uma

investigação que deve ser objeto de novas conquistas, descobertas e, principalmente

de um grande desafio para compreendermos melhor nossa história e a história da

educação de nossa região.

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REFERÊNCIAS

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CASCAVEL. Lei Municipal nº 3, de 6 de abril de 1953. Dispõe sobre a composição dos órgãos de administração municipal e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 4, de 6 de abril de 1953. Cria o quadro próprio do pessoal fixo da Prefeitura Municipal de Cascavel e respectiva escala padrão.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 80, de 16 de setembro de 1957. Fixa subsídios para o Chefe do Executivo Municipal e altera o Quadro do Pessoal Fixo do Ensino Primário.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 183, de 15 de maio de 1962. Aprova o Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de Cascavel.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 195, de 6 de junho de 1962. Autoriza o Prefeito Municipal a construção de uma casa escolar na Melissa.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 196, de 6 de junho de 1962. Autoriza o Poder Executivo Municipal a construção de uma escola em Boa Vista da Aparecida.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 197, de 6 de junho de 1962. Abre um crédito especial no valor de Cr$100.000,00, para a construção de uma escola na localidade denominada Aparecida do Oeste.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 198, de 7 de junho de 1962. Autoriza o Poder Executivo Municipal a construir uma escola na localidade denominada Pinhalzinho.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 204, de 6 de novembro de 1962. Abre crédito especial no valor de CR$150.000,00, para atender despesas na construção de duas salas de aula.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 214, de 6 de novembro de 1962. Autoriza o Poder Executivo Municipal a construir uma escola, na localidade denominada Alto Alegre.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 215, de 6 de novembro de 1962. Autoriza o Poder Executivo Municipal a construir uma escola na localidade denominada Roda de Carro.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 225, de 10 de maio de 1963. Abre um crédito suplementar de três milhões e quinhentos mil cruzeiros para atender ao pagamento dos vencimentos das professoras municipais.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 257, de 10 de dezembro de 1963. Autoriza desapropriar e doar terreno ao Instituto Brasileiro do Café.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 292, de 4 de setembro de 1964. Autoriza o Poder Executivo a transferir à Associação Brasileira de Educação e Cultura todos os direitos relativos ao Ginásio Rio Branco, que o Município houve por aquisição ao Sr. Antonio Cid.

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CASCAVEL. Lei Municipal nº 310, de 10 de novembro de 1964. Cria a Taxa Escolar e disciplina a sua cobrança e aplicação.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 335, de 11 de dezembro de 1964. Abre um crédito especial de CR$200.000,00 para auxílio ao Colégio das Irmãs Catequistas de Cafelândia.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 349, de 11 de maio de 1965. Autoriza o Senhor Prefeito Municipal a abrir crédito suplementar de CR$4.000.000 para construção de casas escolares e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 350, de 11 de maio de 1965. Autoriza ao Senhor Prefeito Municipal a abrir crédito suplementar de CR$800.000 para reforma da Escola de Castelo Branco e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 354, de 12 de maio de 1965. Autoriza o Executivo Municipal a abrir um crédito especial de CR$1.600.000,00 para construção de duas escolas municipais.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 362, de 8 de junho de 1965. Reorganiza a estrutura administrativa e dá outras providências. CASCAVEL. Lei Municipal nº 368, de 10 de agosto de 1965. Autoriza o Executivo Municipal a abrir um crédito suplementar na importância de CR$ 800.000 para construção de casa escolar.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 369, de 10 de agosto de 1965. Autoriza a construção de casa escolar e abre crédito suplementar.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 371, de 10 de agosto de 1965. Autoriza o Executivo Municipal a abrir um crédito suplementar na importância de CR$ 800.000 para construção de casa escolar.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 375, de 10 de agosto de 1965. Autoriza o Executivo Municipal a abrir um crédito suplementar na importância de CR$ 800.000 para construção de uma casa escolar.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 381, de 16 de agosto de 1965. Autoriza a construção de casa escolar e abre crédito suplementar e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 386, de 18 de agosto de 1965. Abre crédito suplementar para construção de 10 escolas municipais e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 389, de 20 de agosto de 1965. Autoriza construção de escola e abre crédito.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 390, de 20 de agosto de 1965. Autoriza o Executivo Municipal a abrir um crédito suplementar de CR$ 800.000 para construção de escola municipal e dá outras providências.

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CASCAVEL. Lei Municipal nº 391, de 20 de agosto de 1965. Abre crédito suplementar para construção de escola municipal e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 415, de 6 de dezembro de 1965. Dá nova redação ao código tributário do município de Cascavel, Estado do Paraná, revogando as leis 220 de 13.12.62, 116 de 09.05.61, 157 de 31.08.61, 255 de 04.12.63, 310 de 10.11.64, 311 de 10.11.64, 219 de 08.05.63 e 158 de 11.12.61.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 484, de 11 de maio de 1967. Autoriza o Chefe do Poder Executivo Municipal a abrir crédito especial de NCr$1.200,00 e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 492, de 16 de maio de 1967. Autoriza abrir crédito especial para construção de escola.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 514, de 9 de agosto de 1967. Abre crédito especial e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 515, de 8 de agosto de 1967. Autoriza a abertura de crédito especial para construção de escola e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 521, de 16 de novembro de 1967. Autoriza o Poder Executivo a firmar convênio com o Estado para construção de escola normal.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 590, de 9 de agosto de 1968. Institui horário obrigatório para aulas cívicas nas escolas municipais.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 593, de 14 de agosto de 1968. Autoriza a regulamentação dos novos salários aos servidores públicos municipais de nível universitário e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 620, de 6 de dezembro de 1968. Cria a Fundação de Ensino Superior de Cascavel e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 626, de 6 de dezembro de 1968. Fixa novos níveis de vencimentos e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 698, de 21 de novembro de 1969. Autoriza a construção de dois grupos escolares e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 701, de 25 de novembro de 1969. Autoriza conceder auxílio financeiro ao Educandário Sagrada Família, abre crédito especial e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 706, de 21 de novembro de 1969. Estatuto dos funcionários públicos do município de Cascavel.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 730/70. Autoriza pagamento de função gratificada para diretoras e secretárias de grupos escolares municipais e dá outras providências.

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CASCAVEL. Lei Municipal nº 741/70. Autoriza construir no distrito administrativo de Santa Tereza, uma escola primária, em alvenaria, com duas salas de aula e demais dependência, referente ao convênio especial firmado com o Ministério da Educação e Cultura em 13/12/67, abre crédito especial e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 743/70. Dispõe sobre isenção de impostos a Escola São João XXIII, localizada no distrito administrativo de Cafelândia do Oeste, neste município e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 760/70. Concede auxílio à Escola Irene Rickli para compra de livros didáticos, abre crédito especial e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 774/70. Autoriza construir em terreno do Estado um Grupo Escolar e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 881/71. Dispõe sobre a contratação de serviços especializados destinados à organização e instalação de Faculdade de Ensino Superior em Cascavel e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 883/71. Autoriza adquirir, por compra, uma biblioteca e um laboratório destinados ao funcionamento de estabelecimento de Ensino Superior e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 885/71. Autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação Universidade Oeste do Paraná e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 901/71. Autoriza construir, em terreno do Estado, 4 (quatro) salas de aula e da outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 905/71. Autoriza firmar termo de ajuda financeira com a Escola João XXIII e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 953/72. Fixa o quadro de servidores do município de Cascavel e dá outras providencias.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 961/72. Autoriza o Poder Executivo a conceder auxílio à Associação Paranaense de Escolas Superiores – APES, e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.014/73. Dispõe sobre a nova estrutura administrativa da Prefeitura Municipal de Cascavel, fixa o quadro de funcionários da administração direta e indireta, atualiza as tabelas de vencimentos e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.080/74. Altera os valores dos símbolos, padrões e níveis de vencimentos, concede aumento aos servidores públicos municipais e dá outras providências.

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CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.175/75. Autoriza o Executivo Municipal a celebrar convênio com o Estado do Paraná para execução de reparos das unidades integradas de 1º grau estaduais, deste município.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.187/76. Autoriza o Poder Executivo Municipal a firmar convênio com a Fundepar para construção de escolas e dá outras providencias.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.196/76. Dispõe sobre abertura de crédito especial ao pagamento de licença-prêmio, em consonância com a legislação municipal e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.203/75. Autoriza o Executivo Municipal a firmar convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.281/77. Fixa os vencimentos do pessoal do Ministério Público Municipal, a vigir desde 1º de abril de 1922, estabelece os valores das aulas suplementares, das funções gratificadas de diretoras e secretárias de grupos, e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.284/77. Autoriza o Executivo Municipal a firmar convênio, através da Secretaria de Educação e Cultura do município com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, do Ministério da Educação e Cultura e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.348/77. Aprova o Plano Educacional do município de Cascavel e a reestruturação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.355/78. Autoriza o Executivo Municipal a firmar convênio, através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do município com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, do Ministério da Educação e Cultura e dá outras providências.

CASCAVEL. Lei Municipal nº 1.421/79. Dispõe sobre a reorganização do quadro de servidores do município de Cascavel, fixa a remuneração e dá outras providências.

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ANEXOS

1 Decreto – Lei Estadual nº 7.573/38. Elevação de Cascavel à

categoria de Distrito Administrativo do Município de Foz do Iguaçu.... 1182 Lei Estadual nº 790/51. Lei de Criação do Município de Cascavel...... 1193 Ata de instalação do Município de Cascavel,

14/12/1952............................................................................................ 1204 Lei Municipal nº 292/64. Autoriza o Poder Executivo a transferir à

Associação Brasileira de Educação e Cultura todos os direitos

relativos ao Ginásio Rio Branco, que o Município houve por

aquisição ao Sr. Antonio Cid................................................................ 1215 Lei Municipal nº 3/53. Dispõe sobre a composição dos órgãos de

administração municipal e dá outras providências............................... 1226 Lei Municipal nº 4/53. Cria o quadro próprio do pessoal fixo da

Prefeitura Municipal de Cascavel e respectiva escala padrão............. 1237 Lei Municipal nº 80/57. Fixa subsídios para o Chefe do Executivo

Municipal e altera o Quadro do Pessoal Fixo do Ensino Primário ...... 1258 Relação de Escolas Municipais criadas e cessadas no Município de

Cascavel a partir da década de 1950................................................... 1279 Relação das escolas municipais criadas e em funcionamento no

município de Cascavel a partir da década de 1950............................. 13210 Lei Municipal nº 225/63. Abre um crédito suplementar de três

milhões e quinhentos mil cruzeiros para atender ao pagamento dos

vencimentos das professoras municipais............................................. 13511 Lei Municipal nº 310/64. Cria a Taxa Escolar e disciplina a sua

cobrança e aplicação ........................................................................... 13612 Lei Municipal nº 386/65. Abre crédito suplementar para construção

de 10 escolas municipais e dá outras providências ............................ 13713 Lei Municipal nº 698/69. Autoriza a construção de dois grupos

escolares e dá outras providências..................................................... 13814 Lei Municipal nº 362/65. Reorganiza a estrutura administrativa e dá

outras providências ............................................................................. 13915 Lei Municipal nº 690/69 ............................................................................ 14316 Lei Municipal nº 620/68. Cria a Fundação de Ensino Superior de

Cascavel e dá outras providências ...................................................... 14417 Lei Municipal nº 626/68. Fixa novos níveis de vencimentos e dá

outras providências ............................................................................. 14718 Lei Municipal nº 730/70. Autoriza pagamento de função gratificada

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para diretoras e secretárias de grupos escolares municipais e dá

outras providências ............................................................................. 14819 Lei Municipal nº 953/72. Fixa o quadro de servidores do município

de Cascavel e dá outras providências ................................................. 14920 Lei Municipal nº 901/71. Autoriza construir, em terreno do Estado, 4

(quatro) salas de aula e dá outras providências .................................. 15821 Lei Municipal nº 1.014/73. Dispõe sobre a nova estrutura

administrativa da Prefeitura Municipal de Cascavel, fixa o quadro de

funcionários da administração direta e indireta, atualiza as tabelas

de vencimentos e dá outras providências ........................................... 15922 Lei Municipal nº 1.080/74. Altera os valores dos símbolos, padrões e

níveis de vencimentos, concede aumento aos servidores públicos

municipais e dá outras providências ................................................... 19223 Lei Municipal nº 1.187/76. Autoriza o Poder Executivo Municipal a

firmar convênio com a Fundepar para construção de escolas e dá

outras providências ............................................................................. 19624 Lei Municipal nº 1.195/76. Dispõe sobre abertura de crédito especial

ao pagamento de licença-prêmio, em consonância com a legislação

municipal e dá outras providências ..................................................... 19725 Lei Municipal nº 1.203/75. Autoriza o Executivo Municipal a firmar

convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL .. 19826 Lei Municipal nº 1.284/77. Autoriza o Executivo Municipal a firmar

convênio, através da Secretaria de Educação e Cultura do município

com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, do

Ministério da Educação e Cultura e dá outras providências ............... 19927 Lei Municipal nº 1.355/78. Autoriza o Executivo Municipal a firmar

convênio, através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do

município com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL,

do Ministério da Educação e Cultura e dá outras providências .......... 20028 Lei Municipal nº 1.175/75. Autoriza o Executivo Municipal a celebrar

convênio com o Estado do Paraná, para execução de reparos das

unidades integradas de 1º grau estaduais, deste município ............... 20129 Lei Municipal nº 1.281/77. Fixa os vencimentos do pessoal do

Ministério Público Municipal, a vigir desde 1º de abril de 1977,

estabelece os valores das aulas suplementares, das funções

gratificadas de diretoras e secretárias de grupos, e dá outras

providências ........................................................................................ 20230 Lei Municipal nº 1.348/77. Aprova o Plano Educacional do município

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de Cascavel e a reestruturação da Secretaria Municipal de

Educação e Cultura e dá outras providências ..................................... 20331 Ofício nº 616/77. Secretaria Municipal de Educação e Cultura de

Cascavel para o Secretário da Educação e da Cultura do Estado do

Paraná, Francisco Borsari Netto ......................................................... 20432 Decreto nº 022/70. Prefeitura Municipal de Cascavel, em 19/02/1970 20533 Decreto nº 465/72. Prefeitura Municipal de Cascavel, em 13/09/1972 20734 Decreto nº 813/75. Prefeitura Municipal de Cascavel, em 09/10/1975 20835 Decreto nº 1.008/77. Prefeitura Municipal de Cascavel, em

05/05/1977 ........................................................................................... 21036 Lei Municipal nº 1.421/79. Dispõe sobre a reorganização do quadro

de servidores do município de Cascavel, fixa a remuneração e dá

outras providências ............................................................................. 21437 Histórico da Escola Adolival Pian ........................................................ 22238 Planta baixa da Escola Adolival Pian .................................................. 22439 Histórico da Escola José Bonifácio ..................................................... 22640 Planta baixa da Escola José Bonifácio ................................................ 22941 Atas de exames da Escola de Rio do Salto ........................................ 23042 Livro de Chamada do Grupo Escolar José Bonifácio .......................... 23843 Ata de reunião da APP da Escola José Bonifácio ............................... 24044 Ata de Reunião Pedagógica da Escola José Bonifácio ....................... 24245 Atas de Conselho de Classe da Escola José Bonifácio ...................... 245