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EXCELÊNCIA EM GESTãO GERAçãO EDUCAçãO PREPARAR AGORA OS TALENTOS QUE CONDUZIRãO O BRASIL NO SéCULO 21 Ano IV | nº 05 | Outubro | 2012

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EXCELÊNCIA EM

gEstão

gErAção EduCAçãopreparar agora os talentos que conduzirão o Brasil no século 21

Ano IV | nº 05 | outubro | 2012

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A EXCELÊNCIAdA EduCAção

As soluções para a melhoria da educação no Brasil não são simples, especialmente porque acabamos de sair de patamares de subdesenvolvimento socioeconômico.

somos, atualmente, o 6º maior pIB do mundo, mas também o 84º IdH (índice de desenvolvimento Humano) no ranking global. Bastam esses números para demonstrar que a distribuição desigual de renda é um dos principais entraves ao avanço dos indicadores da educação no Brasil.

É bom que se diga: não estamos parados. os números da área mostram uma evolução contínua, mas em passos lentos e distantes dos objetivos de uma nação que pretende ser protagonista no cenário mundial.

No Brasil, a diversidade de contextos e sua dimensão continental fazem coexistir verdadeiras ilhas de excelência educacional ao lado de escolas com infraestrutura totalmente precária, baixa remuneração e qualificação deficiente de professores, evasão escolar, falta de vagas e - perplexidade maior - a existência de bolsões de pobreza em que crianças vão à escola mais para se alimentar do que para aprender.

Enquanto não resolvemos questões elementares como essas, o mundo não para e já discute os impactos que as tecnologias de informação e conectividade produzirão nos métodos de ensino e até no futuro formato da sala de aula.

uMA EduCAção dE QuALIdAdE É A prINCIpAL EstrAtÉgIA pArA gArANtIr o dEsENVoLVIMENto dE QuALQuEr pAís. todos sABEM dIsso. ENtão, por QuE o BrAsIL CAMINHA A pAssos LENtos pArA dECoLAr No sEtor E gANHAr CoMpEtItIVIdAdE ENtrE As NAçõEs EMErgENtEs?

ANÁLiSe

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ANÁLiSe

os números da educação no Brasil são massivos. segundo o último Censo Escolar da Educação Básica 2011, divulgado pelo Instituto Nacional de Ensino e pesquisas (Inep), temos 50,9 milhões de alunos matriculados, sendo 43 milhões (84,5%) em escolas públicas e 7,9 milhões (15,5%) em escolas da rede privada. Já no Censo da Educação superior 2011, o número de matriculados totaliza 6,5 milhões, dos quais 6,3 milhões em cursos de graduação e 173 mil na pós-graduação. Como se observa, há um grande afunilamento de vagas no ingresso ao ensino superior, a ser enfrentado pelo jovem brasileiro que conseguir superar os obstáculos para concluir a educação básica. É o que aponta também um estudo da organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico (oCdE), com dados do Brasil em 2010: entre pessoas da faixa etária dos 25 aos 34 anos, apenas 9% concluíram o ensino superior, número muito distante, por exemplo, dos 65% na Coreia do sul.

É necessário criar um plano nacional contínuo e responsável, que envolva a sociedade e perdure mesmo após a troca de governos.

linHa do teMpo da educaÇão no Brasil

1932Lançado o Manifesto dos pioneiros da educação nova, um dos primeiros a chamar a atenção para a necessidade de planejar a educação e organizá-la em todo o território.

1934Constituição cria o primeiro conselho nacional de educação, determinando a formulação de um plano nacional, elaborado em 1937, mas que não chega a ser implantado em razão do golpe do Estado Novo.

1948projeto da lei de diretrizes e Bases da educação nacional (ldB), com foco financeiro, dá entrada no Congresso Nacional e tramita por 13 anos. Em 1961, a lei é sancionada e passa a vigorar no país.

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Em cenário de crise econômica mundial e de expectativa de crescimento dos países emergentes, os números da oCdE mostram que o Brasil ainda não está preparado sequer para atender à sua demanda interna por maior produtividade, quanto mais para exercer um papel protagonista no mercado global. Embora exista a garantia por lei de vagas no ensino fundamental, o que representa um ganho quantitativo nos primeiros anos da formação educacional, a massa de crianças que sai dessa etapa não encontra vagas suficientes no ensino médio ou estímulo para prosseguir os estudos e – o que é pior – não conta com uma educação de qualidade nas escolas públicas. A tendência, para as famílias que podem pagar, é recorrer ao ensino particular. Mas também nesse setor há sérios problemas de qualidade, especialmente quando o foco do negócio deixa de ser a educação e passa a ser o lucro puro e simples. Em um quadro como esse, conhecer os problemas do setor e propor soluções são medidas urgentes e necessárias para recuperar as décadas de atraso no desenvolvimento da educação em nosso país.

1996Em determinação à Constituição de 1988, a LdB de 1996 estipula um ano para a elaboração de um plano nacional, concebido com a junção das propostas do governo federal e de um grupo de educadores.

2001os dois textos são unificados e o plano nacional de educação (pne) é convertido em lei, com vigência até janeiro de 2011.

2007Lançado o plano de desenvolvimento da educação (pde), uma política pública por decreto, que não substitui o pNE e vigora relacionado ao pAC (programa de Aceleração do Crescimento).

taxas de atendiMento na educaÇão inFantil A oferta de vagas gratuitas em creches e na pré-escola é garantida por lei, e é responsabilidade dos municípios. Veja alguns números do atendimento à educação infantil:

de 2010 a 2011: � aumento de 3,3% no atendimento da educação infantil, com 11% a mais de matrículas em creches e -0,2% na educação infantil*

crianças matriculadas em creches e �educação infantil: 6,9 milhões

crianças de 4 a 5 anos fora da escola**: � 1,1 milhão ou 18% da faixa etária

* Segundo o INEP, o decréscimo ocorre pela redistribuição do público no ensino fundamental, que passou a receber crianças com 6 anos de idade. Fonte: Censo Escolar da Educação Básica 2011 INEP. ** Unicef aponta 1,4 milhão

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LdB, pNE, pdE, Ideb, pronatec, Enem, Enade. A educação no Brasil tem muitas siglas criadas ao longo do tempo e dos governos, na tentativa de organizar, avaliar e buscar melhorias na educação. Contudo, mesmo com tantas iniciativas, as políticas educacionais parecem ser desconectadas entre si e da realidade do mundo em transformação. As mudanças no mercado, nas relações e no modo de adquirir informação e conhecimento avançam de forma espantosamente veloz, ao passo que a educação no Brasil segue devagar e com metas pouco ambiciosas. Na verdade, temos dois grandes planos para a área. o primeiro foi criado em 2001, na gestão Fernando Henrique cardoso, quando o MEC (Ministério da Educação) lançou o pNE (plano Nacional de Educação), um conjunto de metas e ações para elevar, até 2022, o nível da educação brasileira aos patamares dos países desenvolvidos. o pNE continua valendo e está, atualmente, na pauta do Congresso Nacional com uma proposta de elevação do investimento em educação dos atuais 5,5% para 10% do pIB (veja pág. 17).Em 2007, no governo luiz inácio lula da silva, o MEC lançou o plano de desenvolvimento da Educação

(pdE), que também dá atenção à educação básica, mas prevê incentivo à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e relaciona algumas iniciativas ao pAC (programa de Aceleração do Crescimento), como garantir energia elétrica às unidades escolares e transporte escolar na zona rural, entre outras. os dois planos procuram impulsionar melhorias na educação, mas não foram suficientes até o momento para alavancar os indicadores. um relatório do unicef (fundo das Nações unidas para a Infância), divulgado em agosto de 2012, mostra que o Brasil possui 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos fora da escola, com causas identificadas em situações de pobreza, algum tipo de deficiência, falta de interesse, repetência, gravidez precoce e necessidade de trabalhar. Entre crianças de 4 e 5 anos, o número chega a 1,4 milhão fora da escola (ver pág. 13), sendo 56% delas negras. A mesma pesquisa revela que há 1,5 milhão de adolescentes, entre 15 e 17 anos, em evasão escolar no ensino médio, provavelmente não relacionada à falta de vagas, mas ao desinteresse pela escola e à necessidade de entrar para o mercado de trabalho.

pLANos pArA sAIr do pApEL

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alFaBetizaÇão x desigualdade

segundo o indicador de analfabetismo Funcional (inaF) de 2012, 27% da população brasileira acima de 15 anos não consegue ler e compreender um texto simples. é um número grave, que afeta a qualidade da formação no ensino superior e o desenvolvimento dos jovens no mercado de trabalho. não é incomum encontrar estudantes em universidades sem qualquer domínio de questões simples de gramática ou matemática. a pnad 2011 (pesquisa nacional por amostra de domicílio), do iBge, confirma o índice do inaF, mas mostra que a taxa de analfabetismo total no país caiu de 9,6% em 2009, para 8,6% em 2011. o analfabetismo tem predomínio nos estados do norte e nordeste – o que confirma a estreita ligação com a desigualdade social – e na população acima de 50 anos. seu combate vem de longa data. em 1996, a então primeira-dama Ruth Cardoso criou o programa alfabetização solidária, que posteriormente se tranformou na organização

não-governamental alfasol. até 2010, esse programa atendeu 5,5 milhões de alunos em 2.205 municípios brasileiros, além de capacitar 257 mil alfabetizadores, por meio de parcerias com empresas e instituições de ensino superior (ies). em 2003, o Mec lançou o programa Brasil alfabetizado (pBa), voltado a jovens, adultos e idosos e atendimento prioritário a 1.928 municípios com taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%. um dos resultados do pBa foi divulgado na pnad 2011: o piauí conseguiu reduzir o índice de analfabetismo de 30% em 2003, para 17,2% em 2011. em outra medida, o Mec está lançando, em 2012, o pacto nacional pela alfabetização na idade certa, que busca alfabetizar efetivamente todas as crianças ao fim do 3º ano do ensino fundamental, aos 8 anos de idade (meta do pne, em tramitação no congresso). até o momento, 5.182 municípios (93,2% do total) aderiram ao pacto e receberão material didático e cursos de formação docente.

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A situação do ensino superior é particularmente agravada, pois afeta diretamente a produtividade e a competitividade das empresas e do país. de acordo com o MEC, o Brasil tem 17% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados nas universidades ou já com cursos concluídos. Entre 2000 e 2010, o número de matrículas passou de 2,7 milhões para 6,4 milhões, segundo o MEC, em razão de programas de bolsas de estudo e financiamento, como o prouni, fies e reuni. os investimentos públicos na educação, de fato, aumentaram. No ranking geral do relatório da oCdE, o Brasil ocupa a segunda posição no crescimento do

tornar a escola mais atrativa e alinhada à realidade dos jovens é um dos desafios das políticas educacionais.

algumas medidas no âmbito da legislação procuram alavancar os indicadores da educação no país. em 2009, por meio de emenda constitucional, a matrícula dos 4 aos 17 anos de idade tornou-se obrigatória e as redes de ensino têm até 2016 para se adaptar à nova regra. poder público e pais que não cumprirem seus deveres, respectivamente de ofertar a vaga e de matricular a criança, podem ser responsabilizados civil e penalmente.

em outra iniciativa, em agosto de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou o projeto de lei que reserva 50% das vagas nas universidades federais a alunos da rede pública. dessa porcentagem, metade será destinada a estudantes cuja renda familiar é igual ou inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa. também serão aplicados critérios raciais e a seleção deverá ser feita com base no exame nacional do ensino Médio (enem).

a lei não modifica o sistema de adesão nas universidades estaduais nem nas particulares, que poderão continuar a escolher se adotam ou não algum sistema de cotas. as universidades federais terão até quatro anos para se adaptar às novas regras, mas até um ano para adotar ao menos 25% do que a lei prevê.

percentual do pIB gasto com o setor: saltou de 3,5% para 5,5%, entre 2000 e 2009. No entanto, desse total, o país investiu em média 0,8% na etapa do ensino superior – o que o coloca em quarto lugar entre os piores. o investimento brasileiro em universidades também caiu 2% e não acompanhou o crescimento de 67% do número de alunos. Nos resultados em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil é o pior de uma lista de 36 países, com 0,4% do pIB investido. A conclusão é que, nessa etapa da educação, estamos longe de reduzir o déficit e, principalmente, de mitigar a questão mais importante: a falta de qualidade no ensino.

ForÇa da lei

ENsINo supErIor

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Em entrevista à revista excelência em gestão, o ex-presidente Fernando Henrique cardoso afirma que o Brasil precisa encerrar a obsessão pela quantidade e sublinhar a qualidade na educação. “É bom e necessário ter recursos, mas é preciso saber como usá-los. Isso implica gestão mais eficiente em todo o mecanismo da educação”, recomenda.

fHC conceitua a educação como um processo encadeado. “Exige currículo renovado e alinhado ao que os estudantes desejam aprender, treinamento de professores e avaliação de resultados. outro ponto é mudar a mentalidade e aceitar que a grande tarefa da educação é pública – e deve ser pública. o importante é envolver o setor privado na busca de soluções para melhorar a eficiência do setor público. Isso pode ser feito por meio da transferência do conhecimento e das práticas, em um grande esforço nacional que integre todos os setores da sociedade”, propõe. o ex-presidente afirma ser impossível desconhecer que a expansão das empresas encontra dificuldades para obter profissionais qualificados. “Cabe à organização o aperfeiçoamento de seus profissionais, mas a formação é tarefa das escolas. É óbvio que as empresas podem e devem cooperar nesta formação, seja mantendo escolas para profissionais nas áreas de seu interesse, seja ajudando o poder público a melhorar a gestão e a qualidade do ensino universal e técnico”, afirma fHC.o empresário Jorge gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração da gerdau e presidente da Câmara de políticas de gestão, desempenho e Competitividade do governo federal, defende um sistema educacional que prepare profissionais e cidadãos com condições de competir no mundo globalizado. sugere, igualmente, uma grande

parceria pelo avanço na educação, com definição de metas e amplo debate por meio de uma agenda de reuniões e núcleos de estudo, convocando as organizações já envolvidas no tema. “As empresas são as mais interessadas, pois só existem produtividade e competitividade em um país com acesso à educação em todos os níveis”, assinala o empresário.

envolviMento de todos No âmbito do investimento, a educação tem um nível de retorno demorado, ou seja, os resultados somente se manifestam a médio e longo prazo. “Mas, certamente, empenhar gastos com educação é o principal investimento que uma nação deve fazer no contexto da sociedade do conhecimento”, observa o professor Julio cesar godoy Bertolin, doutor em Educação e pesquisador nas áreas de Avaliação e Qualidade da Educação na universidade de passo fundo (rs). para o especialista, integrante da Comissão Especial de Avaliação que elaborou a proposta original do sINAEs (sistema Nacional de Avaliação da Educação superior), a falta de qualidade no setor envolve variáveis e diferentes grupos de interesses. “A escola, seus professores e os governos são os sujeitos mais importantes do debate, mas não são os únicos responsáveis pela deterioração do ensino. A família, o meio social e a própria mídia, que promove o materialismo exacerbado e o individualismo extremo em nossas crianças e adolescentes, são partes importantes na formação e desempenho dos estudantes”, lembra o professor. Bertolin salienta que a própria ideia de qualidade varia de grupo para grupo. “Avaliar e julgar no campo da educação é uma das tarefas mais complexas no âmbito das políticas públicas. requer responsabilização, respeito à diferença, visão pluralista, responsabilidade

QuALIdAdE dEVE sEr o foCo

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novo pne eM deBate no congressoNo final de 2010, o governo federal enviou ao Congresso Nacional o novo plano nacional de educação (pne), para vigorar de 2011 a 2020, com 10 diretrizes objetivas e 20 metas em todos os níveis, modalidades e etapas educacionais. Ainda em tramitação no Congresso, o pNE pretende envolver a sociedade no monitoramento das ações e criar estratégias para a inclusão de minorias, como alunos com deficiência, indígenas, quilombolas, estudantes do campo e alunos em regime de liberdade assistida. Confira as principais metas do pNE:

universalização e ampliação do acesso e atendimento �em todos os níveis educacionais

Incentivo à formação inicial e continuada de �professores e profissionais da educação em geral

Avaliação e acompanhamento periódico e �individualizado de todos os envolvidos na educação do país – estudantes, professores, profissionais, gestores e demais profissionais

Estímulo e expansão do estágio �

universalização do ensino de 4 a 17 anos, prevista na �Emenda Constitucional nº 59 de 2009

Expansão da oferta de matrículas gratuitas em �entidades particulares de ensino e do financiamento estudantil

Aumento da taxa de alfabetização e da escolaridade �média da população

Elaboração de currículos básicos e avançados �em todos os níveis de ensino e diversificação de conteúdos curriculares

Investimento na expansão e na reestruturação das �redes físicas e em equipamentos educacionais – transporte, livros, laboratórios de informática, redes de internet de alta velocidade e novas tecnologias

Ampliação progressiva do investimento público em �educação até atingir o mínimo de 10%* do produto Interno Bruto (pIB) do país, com revisão desse percentual em 2015

* Este percentual é alvo de controvérsias entre o Congresso e o governo federal, que estipulara 7% no projeto original

social e comprometimento coletivo”, pondera. Com relação à educação superior, o professor acredita que o país ainda precisa criar um sistema de indicadores com aspectos de contexto, de entradas, de processo, de saídas e de resultados. Ele explica que os indicadores de qualidade, divulgados atualmente pelo MEC, não estão estruturados como parte de um conjunto maior de aspectos que permita uma análise ampla e mais detalhada do desenvolvimento do sistema da educação superior como um todo.

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Buscar qualidade na educação significa garantir o ingresso na escola e também a conclusão. A fim de diagnosticar esse processo, o pdE instituiu o Ideb (índice de desenvolvimento da Educação Básica), que avalia o desempenho de escolas, municípios, Estados e do país, e define a política de investimento. o índice é uma composição do resultado das avaliações nacionais, como a prova Brasil e o sistema de Avaliação do Ensino Básico (saeb), com as taxas de aprovação e evasão de cada escola. A vantagem do indicador, segundo o MEC, é refletir a realidade das unidades de ensino nos municípios, permitindo a identificação de pontos críticos e adoção de melhoria. se o argumento é válido, há uma imensa tarefa pela frente. A meta do pdE é chegar à média 6 em 2021, ou seja, o Brasil pretende evoluir para o nível educacional que os países desenvolvidos tinham em 2005. ”Isso é insuficiente para o que precisamos. o mundo não vai esperar o Brasil fazer o seu dever de casa para nos dar uma chance”, adverte gustavo ioshpe, economista especializado em Educação. diante de resultados ruins no Ideb para os anos finais do ensino fundamental (ver quadro ao lado), o ministro da Educação, aloysio Mercadante, anunciou, em agosto de 2012, a intenção do governo federal de promover uma mudança curricular, distribuindo as atuais 13 disciplinas sob quatro mais abrangentes:

ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática. A proposta será levada para aprovação do Conselho Nacional de Educação, mas alguns educadores preveem dificuldades na implementação devido à formação específica dos professores. o pdE pretende confrontar os resultados do Ideb com a média dos resultados em matemática, leitura e ciências obtidos nas provas do programa Internacional de Avaliação de Alunos (pIsA).

INdICAdorEs dA EduCAção No BrAsIL

rEsuLtAdos do IdEB 2012 (CoM EsCALA dE AVALIAção dE 1 A 10)

MÉdIA BrAsILEIrA do ENsINo fuNdAMENtAL

5 nos anos iniciais (primeiro ao quinto ano)

3,9 nos anos finais

39% dos municípios e 44,2% das escolas estão

abaixo da meta do MEC, com situação agravada

nos Estados do Nordeste

Meta do pde: chegar à média 6 em 2021

lançado em 1997 pela ocde, o pisa monitora, a cada três anos, os sistemas educativos dos países. o indicador procura medir a capacidade dos jovens de 15 anos para usar o conhecimento adquirido nas escolas no enfrentamento dos desafios da vida real. na avaliação geral do período 2000-2009, nas notas em leitura, matemática e ciências, o Brasil subiu de 368 para 401 pontos, ficando entre os três países que mais evoluíram, porém ainda abaixo da média dos países da ocde, que é de 473 pontos. uma boa notícia é que, na comparação entre escolas públicas e privadas, a pontuação aumentou de 109 para 121 pontos, o que significa um pequeno avanço na qualidade do ensino público em relação ao particular.

resultados do pisa

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enade (exame nacional de desempenho dos estudantes) - desde 2004, substituiu o Exame Nacional de Cursos, antigo provão. Avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, em relação aos conteúdos programáticos. É obrigatório para os alunos selecionados e condição indispensável para a emissão do histórico escolar. A periodicidade máxima de avaliação de cada área do conhecimento é trienal.

eneM (exame nacional do ensino Médio) - criado em 1998, avalia o desempenho do estudante no final do ensino médio. A partir de 2009, passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso no ensino superior. Em respeito à autonomia das universidades, os resultados podem servir como fase única de seleção ou combinados com seus próprios processos seletivos. também é utilizado para o acesso a programas do governo federal, a exemplo do prouni.

ideb (Índice de desenvolvimento da educação Básica) - criado em 2007, é um dos eixos do pdE. Mede a qualidade da escola e da rede de ensino a cada dois anos. É calculado com base no desempenho do estudante e em taxas de aprovação. para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. pais e responsáveis podem acompanhar o desempenho da escola de seus filhos, verificando o Ideb da instituição, apresentado numa escala de zero a dez.

ldB (lei de diretrizes e Bases da educação) - define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios da Constituição, desde 1934. A primeira LdB foi criada em 1961, seguida por nova versão em 1971 e da mais recente, em 1996. Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LdB de 1996 incluiu a educação infantil (creches e pré-escolas) como a primeira etapa da educação básica.

pronatec (programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego) - procura expandir a oferta de cursos técnicos e profissionais de nível médio, e de cursos de formação inicial e continuada para trabalhadores. Visa formar mão de obra qualificada por meio de capacitação técnica e profissional de alunos do ensino médio, beneficiários do Bolsa família e

as siglas da educaÇão no Brasil

reincidentes do seguro desemprego. prevê linhas de crédito do BNdEs, para o setor empresarial oferecer cursos de formação técnica a seus trabalhadores através do sistema s.

prouni (programa universidade para todos) - criado em 2004, tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. As instituições que aderem ao programa recebem isenção de tributos.

prova Brasil - avalia as competências construídas e habilidades desenvolvidas nos dois níveis do ensino fundamental, considerando a diversidade e especificidade das escolas brasileiras. possibilita detectar dificuldades de aprendizagem e adotar medidas de melhoria. seus resultados compõem uma das bases do Ideb.

provinha Brasil - desde 2011, avalia o nível de alfabetização das crianças matriculadas no 2º ano das escolas públicas brasileiras, a fim de oferecer às redes de ensino um diagnóstico da qualidade da alfabetização e colaborar para a melhoria da qualidade de ensino com redução das desigualdades educacionais.

reuni (programa de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades Federais) - busca ampliar o acesso e a permanência na educação superior, com meta de dobrar o número de alunos nos cursos de graduação em dez anos, a partir de 2008. todas as universidades federais aderiram ao programa e apresentaram ao MEC planos de reestruturação. As ações preveem, além do aumento de vagas, medidas como a ampliação ou abertura de cursos noturnos, o aumento do número de alunos por professor, a redução do custo por aluno, a flexibilização de currículos e o combate à evasão.

sinaes (sistema nacional de avaliação da educação superior) - analisa as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes, levando em consideração aspectos como ensino, pesquisa, extensão, responsabilidade social, gestão da instituição e corpo docente. o sinaes reúne informações do Enade e das avaliações institucionais dos cursos. As informações são utilizadas para embasar políticas públicas e como referência para estudantes sobre as condições de cursos e instituições.

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ANÁLiSeANÁLiSe

A IMportâNCIA do ENsINo tÉCNICo

No cenário de retomada de crescimento do mercado interno no Brasil, há um consenso entre setores empresariais e organizações de qualificação do trabalhador sobre um “apagão da mão de obra” e a baixa qualificação dos profissionais, especialmente pela falta de investimentos robustos no ensino técnico e tecnológico. As carências atingem áreas de engenharia ligadas à infraestrutura, indústria da construção civil e naval, área tecnológica de prospecção de petróleo, agricultura empresarial, turismo e gastronomia, informática e call center, entre outras.

o ensino técnico, que corresponde ao ensino médio, padece ainda de um preconceito de valor ao ser comparado ao ensino superior, inclusive entre os empregadores. No entanto, a formação técnica resolve a urgência do primeiro emprego, garante os custos de um curso superior e atende às necessidades do país por uma mão de obra qualificada e inovação tecnológica. Vale ressaltar que as escolas técnicas se sobressaem no ranking do Enem, algumas delas ocupando os primeiros lugares.

de qualquer forma, os números mostram uma tendência de crescimento contínuo. segundo o Censo da Educação superior 2012, a quantidade de matrículas nas instituições federais de educação tecnológica aumentou 481% no período de 2001 a 2010. para diminuir o déficit de mão de obra, o MEC lançou, em 2011, o programa Nacional de Acesso ao Ensino técnico e Emprego (pronatec), voltado à profissionalização dos trabalhadores e à população jovem desassistida pelas políticas públicas de longo prazo. Com meta de chegar a 8 milhões de vagas nos próximos quatro anos, o pronatec ofereceu 816 mil em 2012, contando com apoio do programa Bolsa-formação para cursos na rede federal de Educação

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No Brasil, a matrícula nos cursos técnicos representa menos de 10% do total de alunos do ensino médio regular. Em grande parte dos países da Europa, atualmente, essa taxa é de 30%.

profissional, Científica e tecnológica e no sistema s (senai, senat, senar, senac). No lançamento do programa, em 2012, a presidente dilma rousseff disse que a proposta do governo é vincular parte dos mais de 11 milhões de beneficiários do Bolsa família aos cursos de capacitação por meio do pronatec. outro programa federal, o Brasil profissionalizado, criado em 2007, já repassou mais de r$ 1,5 bilhão em recursos federais para que os Estados invistam em suas escolas técnicas.

educaÇão técnica x educaÇão HuManista A tese de uma educação voltada ao crescimento econômico do país, com especial foco nos cursos técnicos e tecnológicos, não atende completamente às expectativas de alguns especialistas. o professor Humberto Mariotti, da Business school são paulo, advoga a necessidade de uma educação técnica, pragmática e quantitativa, mas complementada por

Presidente Dilma Rousseff quer vincular o Pronatec a uma parte dos beneficiados pelo Bolsa Família

uma educação humanística. “A educação no Brasil e no mundo inteiro transformou-se em um negócio, uma commodity e as disciplinas humanistas estão em segundo plano. Hoje não se educa o indivíduo para a cidadania e sim para competir no mercado”, afirma.

o professor Julio Bertolin vai na mesma direção e entende que o desenvolvimento da educação não deve ter como objetivo principal formar “capital humano” para o crescimento da economia. “Esse é apenas um entre tantos outros objetivos. Educar para a vida, desenvolvendo nos alunos a capacidade de aprender sozinhos e de viver em sociedade, bem como formar cidadãos com consciência crítica, ética e responsabilidade social, são mais importantes para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país do que formar apenas profissionais técnicos, sem visão de mundo e com leitura limitada da conjuntura social, política e ambiental”, defende.

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o uso dA tECNoLogIA NA EduCAção

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A dIsCussão soBrE o uso dAs pLAtAforMAs dIgItAIs No sIstEMA EduCACIoNAL tEM sIdo frEQuENtE ENtrE EduCAdorEs, goVErNos, soCIEdAdE CIVIL E sEtor EMprEsArIAL. A prEoCupAção É QuE o BrAsIL Não AproVEItE As oportuNIdAdEs do MErCAdo gLoBAL EM rAzão dE BAIXos INVEstIMENtos EM NoVos tALENtos E NA gEstão dE INoVAção.

A simples presença de computadores nas escolas não resolve a questão da educação. por outro lado, o uso da tecnologia como veículo de acesso, intercâmbio e disseminação de conhecimento, já faz parte da rotina diária de grande parte das crianças e jovens brasileiros. sem dar a devida importância às novas ferramentas, o sistema educacional do país corre o risco de ficar distante da realidade.

Não se pode mais pensar na formação de mão de obra qualificada e do cidadão sem um projeto que alie e amplie as possibilidades de adquirir e aprimorar informação e conhecimento, tornando-os mais adequados às novas ocupações, que foram e ainda serão criadas pelo mercado.

o grande desafio está em saber utilizar esses recursos com criatividade, de forma a instigar no aluno a vontade de ir além em suas pesquisas e reflexões, dentro e fora do ambiente escolar. E isso demanda mudança na estrutura da instituição de ensino, em seu modelo pedagógico e no papel do professor.

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NoVos pArAdIgMAsEconomista e pesquisador na área da Educação, o professor claudio Moura e castro parte da convicção de que existem maneiras eficazes e criativas de usar o computador e outras tecnologias digitais para promover o aprendizado. o problema é onde e quando.

Ele lembra que praticamente todos os experimentos de introduzir a informática nas escolas, em rede, falharam. Isso porque a sociologia da escola, sua organização, seus hábitos e sua rigidez criam barreiras insuperáveis. Quebrar essas barreiras é fundamental. Mas, de que modo?

Existe mundo afora uma série de teorias e proposições de modelos pedagógicos que vêm sendo testados. Mas, por enquanto, são apenas tendências, observa o professor. É possível que os teóricos cheguem a um modelo ideal, ou que cada país ou região crie o próprio modelo, mais adequado à sua realidade. Nesse momento, marcado pela transição, as tentativas, em sua maioria, não têm surtido o resultado esperado, especialmente quando se pensa no processo educacional como um todo.

para Moura e Castro, não cabe atualmente a proposição de um único desenho de sala de aula, e sim fórmulas cada vez mais variadas de levar o aluno ao aprendizado. A prática de ter um professor falando aos alunos não vai desaparecer, mas a escravidão de repetir a mesma aula, por anos a fio, sim.

o armazenamento eletrônico das melhores aulas, de quem quer que seja, tende a ganhar popularidade, mas não destruirá o carisma e o magnetismo de um bom professor. “No bom ensino, a grande mudança é que esse formato (professor falando) será apenas um segmento de aula. Ela terá muitos outros componentes, como discussões com ou sem professor, e apoios digitais de imagens.”

Moura e Castro questiona a ideia de que o professor, em tempos de alta conectividade, seja apenas um indutor e não mais o detentor do conhecimento. o que muda é a estratégia de ensinar. “o professor pode, de fato, agir como indutor do conhecimento, mas é justamente o saber mais que lhe dá condições de provocar o aluno com perguntas e, dessa forma, conduzir o seu raciocínio”, diz.

dito isso, ele observa que o chamado desinteresse dos alunos não é, como alguns apontam, pela aula convencional, “mas pelo que o educador alfred north Whitehead chama de conhecimento morto.” se o assunto é fascinante, não é necessário recorrer à máquina para torná-lo mais interessante. “A vida está nas ideias, no uso da inteligência para entender o mundo. Mas, sem dúvida, um bom conteúdo ganha mais vida com os recursos oferecidos pelas novas tecnologias”, conclui.

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o projeto Hole in the Wall foi realizado inicialmente com crianças das favelas de Nova déli, na índia. sugata Mitra e sua equipe de pesquisadores instalaram um computador em um muro de uma via pública, que dava para a parte interna de uma favela. por meio de câmeras escondidas, acompanharam a reação das crianças.

Movidas pela curiosidade e sem conhecimento anterior, elas passaram a manipular a máquina e ainda ensinaram os amigos a utilizá-la. demonstraram que o computador não representa, para as crianças, um “bicho de sete cabeças” e que, além de aprender com a ferramenta, elas são capazes de compartilhar intuitivamente o conhecimento com seus pares.

para Mitra, que há cinco anos corre o mundo disseminando seu experimento e testando a curiosidade e a capacidade das crianças que vivem

em comunidades pobres, existem dois problemas a serem resolvidos pelos governantes, no que diz respeito à tecnologia na educação.

o primeiro, que atinge países com grandes desigualdades como é o caso do Brasil, é a falta do acesso pleno à educação e aos computadores. E o segundo, em países que dispõem desse acesso, é a abordagem, pelos professores, de temas e conceitos distantes da realidade.

Mitra defende a ideia de que um único computador em sala de aula é capaz de desenvolver o conhecimento, o que significa que não é necessário fazer grandes investimentos por escolas. Basta oferecer alguns equipamentos para estimular a curiosidade das crianças e repensar uma nova dinâmica para a sala de aula.

o poder da curiosidade é consenso entre os educadores que a chave do conhecimento está na curiosidade. um professor, diante de uma lousa ou de um microcomputador, que sabe como despertar o interesse do aluno, permite que ele avance em suas pesquisas de forma mais prazerosa e produtiva.

esse combustível (a curiosidade) foi o mote do experimento Hole in the wall (buraco no muro), difundido na mídia brasileira por ocasião da vinda ao Brasil do indiano Sugata Mitra, docente da universidade de newcastle, inglaterra, e professor visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos estados unidos.

Mitra esteve na 5ª edição da campus party para falar de seu experimento, realizado inicialmente com crianças que vivem nas favelas da Índia, e reafirmou que a curiosidade continua sendo a mola propulsora do saber. ele também sinalizou a necessidade de o professor converter matérias e assuntos, muitas vezes “maçantes”, em questões interessantes. e deixou claro que o seu método é eficaz se aplicado a crianças de até 12 anos, pois até essa idade a curiosidade é inata e elas não têm medo de errar, lançando-se mais facilmente na busca por respostas e na formulação de hipóteses, ainda que erradas ou incompletas.

BurACo NA pArEdE

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novas relaÇões de saBer e poder

um fato interessante e relativamente recente na história da educação é a troca de papéis entre alunos e professores. ainda que o docente seja o detentor e condutor do conhecimento, hoje é bastante usual o aluno levar para dentro da sala de aula temas que estão na mídia e nas redes sociais, mas ainda não foram inseridos nos livros escolares.

a recente discussão sobre a partícula de Bóson de Higgs, a qual os cientistas creditam a capacidade de fazer com que outras partículas ganhem massa, é um exemplo. vários alunos levaram à sala de aula o tema repercutido nos sites e redes sociais, e deram um “show” de informação para professores que desconheciam o assunto ou não estão conectados.

a troca de saberes entre alunos e mestres, em contraposição à tradicional fórmula, na qual o professor fala e o aluno apenas escuta, é cada vez mais estimulada. Mesmo porque a falta de conhecimento e a resistência de alguns docentes ao uso das tecnologias ainda são grandes, cabendo ao aluno o papel de buscar as informações e introduzir o tema.

esse novo paradigma tem provocado mudanças no discurso dos estudantes. além de clamar por infraestrutura adequada nas escolas, eles também passaram a exigir qualidade de ensino, via redes

sociais. é o que aconteceu recentemente em uma escola da rede pública de Florianópolis (sc). com apenas 13 anos e muita disposição para “lutar” por uma escola que ofereça instalações adequadas e um ensino de qualidade, isadora Faber criou o seu Diário de Classe no Facebook, uma página online para denunciar a precariedade dos equipamentos de sua escola e a baixa eficiência de alguns professores.

isadora posta textos e fotos que mostram portas deterioradas, falta de papel higiênico, bebedouros quebrados e outros itens. também questiona a discriminação e represália que sofreu, sendo obrigada a comparecer em uma delegacia de polícia por conta da queixa de uma professora.

o fato é que, em curto prazo, a menina viu a escola ganhar nova pintura e equipamentos, ao mesmo tempo em que o país inteiro testemunhou uma revolucionária redistribuição das relações de poder dentro da sala de aula e na escola.

Há controvérsias sobre o uso de imagens sem autorização. Mas não é exatamente essa a grande discussão que o mundo inteiro faz em relação à informação que circula na internet? sinal de que isadora está alinhada aos novos tempos.

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Mec distriBui taBlets coM vÍdeoaulaso Mec está disponibilizando tablets para o ensino público, como uma de suas ações para inserir material didático-pedagógico das tecnologias da informação e comunicação (tic) no cotidiano escolar. inicialmente, os tablets serão distribuídos para professores de escolas de ensino médio localizadas em zona urbana, com acesso a internet de banda larga e rede sem fio (wi-fi). todos os equipamentos serão programados com vídeoaulas da Metodologia Khan, traduzidas para o português, nas áreas de física, matemática, biologia e química. em 2012, foram adquiridos 409.793 tablets, que serão repassados aos estados.

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tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes tem sido a preocupação de vários professores que utilizam a tecnologia para explicar raciocínios científicos de forma mais clara e simples. uma das metodologias que está ganhando o mundo é o Método Khan, criado pelo engenheiro e matemático indiano salman Khan, que reside nos Estados unidos. outra é o QMágico, desenvolvido pelo aluno de Engenharia Mecânica do ItA (Instituto tecnológico de Aeronáutica), thiago Feijão, que se inspirou em Khan para dar forma ao seu projeto para ensinar matemática, química, física e biologia via vídeoaulas.

os dois projetos contam com o apoio da fundação Lemann, que atua em parceria com o Instituto Natura e o Instituto península. o diretor executivo da organização, denis Mizne, explica que as iniciativas pretendem introduzir, em caráter experimental, os materiais de Khan e feijão em escolas de ensino fundamental. são vídeos que reproduzem um quadro negro, com um narrador-professor explicando de maneira simples as disciplinas dessa etapa da educação.

No site da fundação (www.fundacaolemann.org.br), já estão disponíveis mais de 400 vídeos com aulas traduzidas para o português. Com acesso livre aos estudantes e interessados, o site já foi acessado mais de 1,4 milhão de vezes.

outra iniciativa da Lemann abrange seis escolas da rede municipal de ensino da grande são paulo, com crianças de 8 a 11 anos. No total, 1.260 alunos são beneficiados no ensino da matemática básica, atendendo a uma demanda da educação no Brasil, que aponta um maior grau de dificuldade nessa área.

Além das vídeoaulas, a plataforma contempla uma série de outras ferramentas que permitem aos alunos realizar exercícios e conferir, na hora, se erraram ou acertaram. Em caso de acerto, eles recebem incentivos para realizar novos exercícios e avançar no aprendizado. do contrário, são orientados a assistir vídeoaulas que ajudam a compreender onde está o erro e superar as dificuldades. Essa mesma plataforma, informa Mizne, oferece uma série de informações para o professor, como, por exemplo, saber em que nível de aprendizagem está cada um dos alunos e, assim, elaborar planos de aulas individuais.

desenvolvido no Brasil

o QMágico, que possui configuração bastante semelhante ao Método Khan, está sendo aplicado, também em caráter experimental, em uma escola municipal de são José dos Campos (sp) e envolve 200 crianças da mesma faixa etária. o acesso ao conteúdo é totalmente gratuito (www.qmagico.com.br).

thiago feijão conta que os professores do projeto estão entusiasmados com as funcionalidades da plataforma. “Estamos aprendendo em conjunto. fazemos capacitações com troca de aprendizado e acompanhamento constante. A receptividade é surpreendente: alunos, professores, diretores e inclusive os pais demonstram vontade de conhecer todos os recursos disponíveis”, relata.

A tecnologia, acredita feijão, será elemento fundamental para o desenvolvimento da educação. “os professores terão acesso a ‘novos gizes’, instrumentos de extremo valor para a sala de aula”, completa.

KHAN E QMÁgICo NAs EsCoLAs dA rEdE MuNICIpAL

Mec distriBui taBlets coM vÍdeoaulaso Mec está disponibilizando tablets para o ensino público, como uma de suas ações para inserir material didático-pedagógico das tecnologias da informação e comunicação (tic) no cotidiano escolar. inicialmente, os tablets serão distribuídos para professores de escolas de ensino médio localizadas em zona urbana, com acesso a internet de banda larga e rede sem fio (wi-fi). todos os equipamentos serão programados com vídeoaulas da Metodologia Khan, traduzidas para o português, nas áreas de física, matemática, biologia e química. em 2012, foram adquiridos 409.793 tablets, que serão repassados aos estados.

Mec distriBui vÍdeoaulaso Mec está disponibilizando tablets para o ensino público, como uma de suas ações para inserir material didático tecnológico no cotidiano escolar. inicialmente, serão distribuídos para professores de escolas de ensino médio em zona urbana, com acesso a internet de banda larga e rede sem fio. todos os tablets terão vídeoaulas da Metodologia Khan, traduzidas para o português, nas áreas de física, matemática, biologia e química. em 2012, foram adquiridos 409.793 tablets, que serão repassados aos estados.

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