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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO CAMPUS DE BAURU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO Eligiane Goréte Corrêa Godoy A COMUNICAÇÃO RURAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS – UM ESTUDO NO ASSENTAMENTO ITAMARATI, REGIÃO SUL DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. Bauru 2005

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE … · brasileira contemporânea. Para tanto, relata-se um estudo de caso desenvolvido junto ao Assentamento da Fazenda Itamarati (MS),

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

CAMPUS DE BAURU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

Eligiane Goréte Corrêa Godoy

A COMUNICAÇÃO RURAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS – UM ESTUDO NO ASSENTAMENTO ITAMARATI, REGIÃO SUL DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL.

Bauru 2005

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Eligiane Goréte Corrêa Godoy

A COMUNICAÇÃO RURAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS – UM ESTUDO NO ASSENTAMENTO ITAMARATI, REGIÃO SUL DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da Área de Concentração em Comunicação Midiática, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP/Campus de Bauru, como requisito à obtenção do título de Mestre em Comunicação, sob a orientação da Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo.

Bauru 2005

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Eligiane Goréte Corrêa Godoy

A COMUNICAÇÃO RURAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS – UM ESTUDO NO ASSENTAMENTO ITAMARATI, REGIÃO SUL DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru, para a obtenção do título de Mestre em Comunicação. Banca Examinadora: Presidente (Orientadora): Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo Instituição: Universidade Estadual Paulista – FAAC, Bauru/SP Titular: Prof. Dr. Eron Brum Instituição: Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, Campo Grande/MS Titular: Prof. Dr. Cláudio Bertolli Filho Instituição: Universidade Estadual Paulista – FAAC, Bauru/SP

Bauru, 12 de setembro de 2005.

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AGRADECIMENTOS

- A Deus pois, tudo posso naquele que me fortalece.

- Ao meu companheiro Henrique, pelo seu amor.

- Aos meus pais Francisco e Edela, pelo seu amor incondicional.

- Às minhas irmãs: Edilvane e Larissa, aos meus cunhados Jeferson e Oswaldo, à

minha “quase filha” Nara, e aos sobrinhos Nathan e Francisco Guilherme.

- À família Godoy, pelo apoio.

- A todos os professores do Mestrado em Comunicação Midiática que se fizeram

construtores do meu saber, especialmente minha orientadora professora Regina, e o

professor Eron Brum, grandes incentivadores.

- Aos assentados da Fazenda Itamarati que me convenceram que é possível um

sonho se tornar realidade.

- Às minhas amigas de mestrado, Bianca, Ana, Graziele, Gláucia, Camila e todos os

outros, responsáveis pelo meu crescimento pessoal e intelectual.

- Aos funcionários da UNESP (Antonio Carlos, Helder e Silvio), do IDATERRA, da

UCDB e de todas as bibliotecas visitadas, pela presteza.

- Às tias Flora e Rosângela e as amigas Bianca e Graziele e seus respectivos

companheiros, que me acolheram em suas casas.

- A todos os autores das obras consultadas, pelo registro de seus conhecimentos e

pelas contribuições.

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RESUMO

São apresentadas considerações acerca da necessidade do acesso às informações

a fim de se obter uma verdadeira inclusão na sociedade da informação, destacando-

se o papel da comunicação rural, seus desafios e perspectivas na sociedade

brasileira contemporânea. Para tanto, relata-se um estudo de caso desenvolvido

junto ao Assentamento da Fazenda Itamarati (MS), cujo objetivo foi obter uma visão

geral acerca da existência ou não da acessibilidade e utilização da informação

veiculadas por tecnologias de comunicação e informação, sob a ótica do produtor

rural e dos trabalhadores do campo. Ressalta-se que o referido estudo apoiou-se em

pesquisa de campo, de natureza exploratório-descritiva, com a aplicação da técnica

de entrevistas semi-estruturadas e que os principais resultados indicaram que os

meios mais utilizados para o acesso de informações no ambiente pesquisado, são o

rádio e a televisão. Desse modo, percebeu-se uma carência de assistência técnica

individualizada e da existência de uma grande demanda de assuntos de interesse

dos assentados, que, a maioria das vezes, acham-se impossibilitados de

esclarecimentos e do acesso às informações que possibilitem uma maior inserção

social a partir de sua realidade. Recomenda-se, ao final, a instalação de uma rádio

comunitária, a fim de que possam executar melhor a cidadania e fomentar a

educação, objetivando maiores condições de democratização da informação nesse

meio rural e de popularização do uso de outros meios de comunicação envolvendo

as tecnologias mais avançadas, destacando-se os telecentros.

Palavras-chave: Comunicação rural; Novas Tecnologias; Inclusão social.

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ABSTRACT

Considerations are presented concerning the necessity of the access to the

information in order to obtain a true inclusion in the society of the information, being

detached, the paper of the rural communication, their challenges and perspectives in

the contemporary Brazilian society. In such case, a study of a developed case at

Fazenda Itamarati's Establishment close to (MS) was reported, which objective was

to obtain a general vision concerning the existence or not of the accessibility and use

of the information transmitted by communication technologies and information, under

the optics of the rural producer and of the workers of the field. It is stood out that

referred study leaned on in field research, of exploratory-descriptive nature, with the

application of the technique of semi-structured interviews and that the main results

indicated that the means more used for the access of information in the researched

atmosphere, are the radio and the television. This way, was noticed a lack of

individualized technical support and of the existence of a great demand of subjects

from the seated’s interests, that, most of the times, are unable of explanations and of

the access to the information that make possible a larger social insert starting from

their reality. It is recommended, at the end, the installation of a community radio, so

that they can execute the citizenship better and to foment the education, aiming at

larger conditions of democratization of the information in that rural way and of

popularization of the use of other communication means involving the most advanced

technologies, standing out the telecentros.

Key words: Rural Communication; New Technologies; Social Inclusion.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras: Figura 1 Lotes e áreas coletivas (sequeiro e irrigado) 103

Figura 2 Infraestrutura da Fazenda Itamarati 104

Figura 3 Família, Assentamento Itamarati. Grupo 06 – horta (ANEXO G) 219

Figura 4 Família, Assentamento Itamarati. Grupo 17 – crianças (ANEXO G)

219

Quadros: Quadro 1 Respostas das entrevistas à questão 3.2 – Grupo 17 111

Quadro 2 Respostas das entrevistas à questão 3.2 – Grupo 06 112

Quadro 3 Respostas das entrevistas à questão 3.3 – Grupo 17 113

Quadro 4 Respostas das entrevistas à questão 3.3 – Grupo 06 114

Quadro 5 Respostas das entrevistas à questão 4.4 – Grupo 17 115

Quadro 6 Respostas das entrevistas à questão 4.4 – Grupo 06 115

Quadro 7 Respostas das entrevistas à questão 4.5 – Grupo 17 116

Quadro 8 Respostas das entrevistas à questão 4.5 – Grupo 06 116

Quadro 9 Respostas das entrevistas à questão 4.6 – Grupo 17 117

Quadro 10 Respostas das entrevistas à questão 4.6 – Grupo 06 118

Quadro 11 Respostas das entrevistas à questão 4.7 – Grupo 17 118

Quadro 12 Respostas das entrevistas à questão 4.7 – Grupo 06 119

Quadro 13 Respostas das entrevistas à questão 4.8 – Grupo 17 120

Quadro 14 Respostas das entrevistas à questão 4.8 – Grupo 06 120

Quadro 15 Respostas das entrevistas à questão 5.1 – Grupo 17 121

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Quadro 16 Respostas das entrevistas à questão 5.1 – Grupo 06 121

Quadro 17 Respostas das entrevistas à questão 5.4 – Grupo 17 122

Quadro 18 Respostas das entrevistas à questão 5.4 – Grupo 06 123

Quadro 19 Respostas das entrevistas à questão 5.5 – Grupo 17 124

Quadro 20 Respostas das entrevistas à questão 5.5 – Grupo 06 124

Quadro 21 Respostas das entrevistas à questão 6.2 – Grupo 17 125

Quadro 22 Respostas das entrevistas à questão 6.2 – Grupo 06 125

Quadro 23 Respostas das entrevistas à questão 6.3 – Grupo 17 126

Quadro 24 Respostas das entrevistas à questão 6.3 – Grupo 06 126

Quadro 25 Respostas das entrevistas à questão 6.4 – Grupo 17 127

Quadro 26 Respostas das entrevistas à questão 6.4 – Grupo 06 127

Quadro 27 Respostas das entrevistas à questão 6.5 – Grupo 17 128

Quadro 28 Respostas das entrevistas à questão 6.5 – Grupo 06 128

Quadro 29 Respostas das entrevistas à questão 6.6 – Grupo 17 129

Quadro 30 Respostas das entrevistas à questão 6.6 – Grupo 06 130

Gráficos: Gráfico 1 Escolaridade dos chefes de família – Grupo 17 131

Gráfico 2 Escolaridade dos chefes de família – Grupo 06 132

Gráfico 3 Idade dos chefes de família – Grupo 17 133

Gráfico 4 Idade dos chefes de família – Grupo 06 133

Gráfico 5 Número de Filhos por Família – Grupo 17 134

Gráfico 6 Número de Filhos por Família – Grupo 06 134

Gráfico 7 Tempo de Acampamento – Grupo 17 135

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Gráfico 8 Tempo de Acampamento – Grupo 06 135

Gráfico 9 Tempo de Assentamento – Grupo 17 136

Gráfico 10 Tempo de Assentamento – Grupo 06 136

Gráfico 11 Infraestrutura do Assentamento – Grupo 17 137

Gráfico 12 Infraestrutura do Assentamento – Grupo 06 138

Gráfico 13 Meios de transporte utilizados – Grupo 17

139

Gráfico 14 Meios de transporte utilizados – Grupo 06

139

Gráfico 15 Participação em Programas Sociais – Grupos 17 140

Gráfico 16 Participação em Programas Sociais – Grupos 06 140

Gráfico 17 Meios de Comunicação – Grupo 17 141

Gráfico 18 Meios de Comunicação – Grupo 06 141

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Número de Demandantes por Terra e Projeções por Unidade da Federação, Brasil – 1998, 2000, 2003 E 2005 66

Tabela 2 - Brasil – Assentamentos Rurais – 1979 - 1999 77

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

AMFFI Associação dos Moradores e Funcionários da Fazenda Itamarati

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CCCS Center for Contemorary Cultural Studies

CIC’S Centros de Informação e Convivência

CONCRAB Confederação Nacional de Cooperativas da Reforma Agrária Brasileira

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CONTAG Confederação dos Trabalhadores na Agricultura

CPT Comissão Pastoral da Terra

CUT Central Única dos Trabalhadores

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

FETAGRI Federação dos Trabalhadores na Agricultura

GIC Gestão da Informação e Comunicação

IBGE Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística

IDAC Instituto para a Ação Cultural

IDATERRA Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de MS

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MASTRO Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste do Paraná

MCM Meios de Comunicação de Massa

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MMTR Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais

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MPA Movimento dos Pequenos Agricultores

MR Micro Regiões

MS Mato Grosso do Sul

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MT Mato Grosso

ONG Organização Não Governamental

PIB Produto Interno Bruto

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PNAD Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios

PNRA Plano Nacional de Reforma Agrária

R.F.F.S.A Rede Ferroviária Federal S/A

SACI Rede de Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação

SD Departamento de Desenvolvimento Sustentável

SI Sociedade da Informação

SOMECO Sociedade de Melhoramentos e Colonização

TDA'S Títulos da Dívida Agrária

TIC’S Tecnologias de Informação e Comunicação

UCDB Universidade Católica Dom Bosco

UDR União Democrática Ruralista

UIT União Internacional das Telecomunicações

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNIDERP Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS 3RESUMO 4ABSTRACT 5LISTA DE ILUSTRAÇÕES 6LISTA DE TABELAS 9LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES 10 1 INTRODUÇÃO 13 2 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: DAS ORIGENS AOS IMPACTOS NA COMUNICAÇÃO

222.1 Aspectos histórico-conceituais 222.1.1 Projeto Sociedade da Informação e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s)

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2.1.2 Inclusão e Exclusão Social no Brasil: cenários e perspectivas 36 3 A COMUNICAÇÃO RURAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA 513.1 A zona rural brasileira e as políticas de assentamentos 603.2 O MST e a luta pela terra 703.2.1 O cenário do MST no Mato Grosso do Sul 813.3 Comunicação rural: conceituação, características e efeitos 873.3.1 Meios, mídias e estratégias 88 4 A COMUNICAÇÃO NO ASSENTAMENTO FAZENDA ITAMARATI (MS): UM ESTUDO DE CASO 1004.1 Caracterização do universo da pesquisa e população de interesse 1004.1.1 Definição da população de interesse 1064.2 Coleta de dados 1074.3 Resultados e interpretação. 1104.3.1 Dados iniciais 110 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 142 REFERÊNCIAS 152 APÊNDICE A - Questionário/roteiro de entrevista 158 ANEXO A - Decreto nº 3.294, de 15.12.99. 162ANEXO B - Pesquisa Nacional por Domicílios (PNAD) 164ANEXO C - Lei Nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. 178ANEXO D - Mapa das Micro Regiões do Estado do Mato Grosso do Sul 212ANEXO E - Mapa do Assentamento Itamarati - MST - por lotes 214ANEXO F - Mapa do Assentamento Itamarati - Divisão por Movimentos Sociais 216ANEXO G - Famílias entrevistas - Assentamento Itamarati - Fotos 218

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1 INTRODUÇÃO

Para que as novas descobertas contribuam para a sociedade como um

todo, são necessárias as observações específicas sobre cada setor desta mesma

sociedade, denominada como sociedade da Informação (TAKAHASHI, 2000). Um

olhar abrangente sobre a comunicação, por exemplo, é fundamental no momento de

se identificar os públicos e determinar a abrangência e a eficácia da produção

cultural. A comunicação rural, por sua vez, enquanto área tão específica e

importante, sem dúvida, deve merecer atenção nesse espectro.

O setor rural, em todo o mundo, é um grande incentivador e beneficiário

de várias descobertas científicas, pesquisas e avanços tecnológicos, acompanhando

as tendências mundiais de desenvolvimento. No Brasil, esse setor é responsável,

segundo entrevista realizada em julho de 2005, pelo Jornal O Estado de São Paulo

com o Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, por 34% do Produto Interno Bruto

(PIB) Nacional. Esse número envolve todo o setor agropecuário, incluindo as

indústrias de maquinários e equipamentos, os insumos, os processamentos de

alimentos, fibras e couros e a bio-energia. Responde, ainda, por 42% das

exportações do país.

Num mundo dinâmico e ágil, onde as inovações tecnológicas surgem

numa velocidade inusitada e há enorme quantidade de informações na mídia de

natureza vária, estar inserido na Sociedade da Informação1 é o diferencial no

momento das tomadas de decisões. Nesse cenário, é importante lembrar a

necessidade da inclusão digital, considerada como um processo de facilitação da

1 Takahashi (2000) conceitua a Sociedade da Informação como sendo, um novo mundo, repleto de novas concepções, onde a informação vem assumindo valores, tanto sociais, quanto econômicos, fundamentais e, em velocidades e em quantidades há pouco tempo inimagináveis.

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participação dos cidadãos na construção desta Sociedade da Informação.

Entretanto, enquanto as ações dessa inclusão se multiplicam nos centros urbanos,

as comunidades rurais brasileiras parecem permanecer à margem efetiva desse

progresso (www.gemasdaterra.org.br).

Para Castells (1999) a sociedade contemporânea é caracterizada como

sendo multifacetada, atingindo os mais diferentes níveis da vida cotidiana, tais como:

econômico, social, divisão do trabalho e relações de produção. Nesta sociedade, a

comunicação é de suma importância, tratando-se de uma construção social onde o

que agrega é a diferença, a partir das trocas e das novas possibilidades de

reordenamento. Todos os setores da sociedade, no entanto, devem ter a

oportunidade de participar da construção de uma “sociedade em rede”, como a

denomina Castells (1999, p. 497), para coletar e disseminar a informação em tempo

real. Isso é possível por meio da mediação do computador que, conectado a rede

Internet, provê a infra-estrutura de acesso ao conhecimento global e de exposição

do conhecimento local. Desse modo, “o processo de inclusão digital se inicia na

expansão capilar da Internet e na construção das ferramentas de viabilização do

ambiente de promoção do desenvolvimento humano e social”

(www.gemasdaterra.org.br).

Alguns aspectos dessa sociedade atual são apresentados também na

contribuição de Maraschin (2000, p.28), ao definir que:

Trata-se de uma construção social onde a inclusão recuperou a heterogeneidade. Não seria uma sociedade do consenso, onde apesar das diferenças, torna-se necessário que todos pensem da mesma forma, se não concordamos com o pensamento dominante não podemos estar naquele coletivo. Uma inteligência coletiva, ou uma sociedade do conhecimento, teria que dar sustentação a um tipo de laço social que agregasse pela diferença e não apesar da diferença. Em muitos coletivos, os laços sociais se constroem apesar da diferença. Seria uma construção de um laço social onde a diferença é o que conta já que é pela diferença

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que se produz informação, conhecimento. É a diferença que possibilita a troca (MARASCHIN, 2000,p.28).

A inclusão digital é um processo que, necessariamente, está inserido no

contexto maior da inclusão social. Promover a inclusão significa capacitar os

indivíduos para a cidadania2 e a visão estratégica para que eles mesmos sejam seus

agentes de desenvolvimento humano e social. Num contexto mais amplo, a inclusão

social pretende diminuir as diferenças sociais e econômicas, proporcionando um

acesso mais igualitário das condições essenciais para o desenvolvimento humano.

Segundo Sposati (1996), podemos considerar que:

[...] a definição de Exclusão está intimamente ligada à definição de Inclusão social, são processos sociais interdependentes que revelam desequilíbrios explícitos pela desigual distribuição de renda e oportunidades. Desta forma para se definir exclusão é necessário definir a dimensão utópica da inclusão social. A inclusão remete ao alcance de um padrão mínimo que garantiria acesso ao universo das quatro utopias básicas, autonomia de renda, desenvolvimento humano, qualidade de vida e equidade definidas abaixo: Autonomia de Renda é compreendida como a capacidade do cidadão suprir suas necessidades vitais, culturais, políticas e sociais, sob as condições de respeito às idéias individuais e coletivas relacionando-se com o mercado não importando apenas as responsabilidades do indivíduo, mas também do Estado. Qualidade de Vida envolve duas questões, a democratização dos acessos as condições de preservação do homem, da natureza e do meio ambiente, o que implica numa melhor redistribuição da riqueza social e tecnológica aos cidadãos bem como redução da degradação e precariedade ambiental. Desenvolvimento Humano é a possibilidade dos cidadãos desenvolverem seu potencial intelectual com menor grau de privação, ou seja, usufruir coletivamente do mais alto grau de capacidade humana. Equidade é a efetivação da igualdade e do acesso aos direitos da população, a possibilidade da manifestação das diferenças serem respeitadas sem discriminação. Condição que favorece o combate à subordinação e ao preconceito em relação às diferenças de gênero, políticas, étnicas, religiosas, culturais, de minorias etc. (www.dpi.inpe.br/gilberto/papers/patricia_sbsr2001.pdf).

2 A cidadania deve ser entendida sob uma dualidade social e política, sendo o relacionamento entre sociedade e seus membros (REZENDE FILHO;CÂMARA NETO, 2001). Compreende o seu conceito a inclusão de outros conceitos, tais como: igualdade, democracia, justiça, ética, política, condição humana, e informação (www.dhnet.org.br).

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No contexto nacional, a inclusão digital rural acha-se dificultada porque se

ressente da existência de expansão do atual serviço de comunicação de dados para

a zona rural (www.gemasdaterra.org.br). Apesar disso, é importante ressaltar que o

ambiente rural pode ser um campo fértil para o desenvolvimento da Sociedade da

Informação, propiciando uma vida mais digna ao cidadão rural, pois, com o

agravamento das condições de vida dos pequenos proprietários rurais que não

dispõem de técnicas e recursos para sua inserção no mundo das novas tecnologias,

e, com o êxodo rural acontecendo por várias décadas seguidas, criou-se uma

situação de enfraquecimento dos pequenos produtores rurais e ainda a miséria

espalhada pelo campo e nos centros urbanos. Com este ambiente de pobreza e

marginalização, surge a idéia de voltar para as origens na esperança que de um

pequeno pedaço de chão possa sair o sustento para sua família. Mas, como a

realidade tecnológica já chegou e, em decorrência, há uma mecanização e o avanço

tecnológico em substituição ao trabalhador rural, que, aliados ao sistema financeiro e

ao capitalismo, acabaram por criar a situação favorável aos latifúndios3, substituindo

a mão-de-obra do colono por máquinas modernas e computadorizadas. Ao longo

dos anos no Brasil, o rural sucumbiu ao desenvolvimento do capitalismo tecnicista

(www.gemasdaterra.org.br).

Para que haja uma ambientação do que se entende por rural e urbano, e

posteriormente, para que se possa compreender melhor o setor abordado, se faz

necessário uma diferenciação urbano/rural. Esta distinção teve início com o

surgimento e o desenvolvimento da máquina a vapor, permitindo que as indústrias

pudessem se instalar onde havia maior concentração de pessoas, os centros

3 “A palavra latifúndio vem do latim. Significa uma grande extensão de terras de propriedade de uma só pessoa. Depois do Estatuto da Terra, criou-se a definição jurídica que o latifúndio, por exploração, seria todas as propriedades que produzem, aquém de suas potencialidades e não geram progresso para a sociedade [...] não cumprem sua função social” (STÉDILE, 2003).

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urbanos. Na Idade Média, as pessoas já viviam em pequenas comunidades urbanas,

mas suas atividades eram essencialmente rurais (SIQUEIRA, 2005). Ressalta-se

que as realidades urbana e rural comungam de algumas características. A

necessidade de transformação nos modos de produção, a automação, a utilização

das novas tecnologias, fazem parte de processos ininterruptos que incluem todos os

setores da sociedade. Porém, o campo, embora participe efetivamente nestes

avanços, mantém as características que o diferenciam do urbano.

Ainda, segundo Siqueira (2005), o rural caracteriza-se com elementos,

tais como: tipo de atividade (produção de alimentos), diferenças ambientais (suas

atividades são predominantemente em conjunto com a natureza), é arredio às

técnicas (suas atividades dependem de fenômenos naturais não passíveis de

controle), e finalmente, a população seria em menor número, facilitando as relações

sociais interpessoais e a homogeneidade das pessoas social e culturalmente,

havendo menor mobilidade social.

O urbano traz uma organização espacial diferenciada do rural. Segundo

Corrêa (2000), o urbano é decorrente de:

Espaço de uma grande cidade capitalista constitui-se, em um primeiro momento de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outros, aquelas de reserva para futura expansão. Este complexo conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço fragmentado (CORRÊA, 2000, p. 07)

Diferente de outros países, no Brasil considera-se urbano as sedes

municipais caracterizadas pelas funções administrativas, independente do número

de habitantes, e de aspectos, tais como: econômicos, sociais, culturais e até mesmo

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geográficos (PONTE, 2004, p. 6). Compreendendo todas as facetas da vida social,

tanto as cidades podem caracterizar-se econômica, social ou politicamente pelas

relações pertinentes ao campo, como o setor rural pode apresentar traços que

poderiam denominá-lo urbano, tais como: agroindústria desenvolvida, ampla

utilização das tecnologias de mercado e desenvolvimento das relações sociais.

Segundo Ponte (2004, p.8), “considera-se que ao mesmo tempo em que os dados

quantitativos apresentam contribuições para se compreender o rural, a ênfase maior

se dá para as relações estabelecidas no campo”, possibilitando uma análise

qualitativa da realidade e a dinâmica social deste meio, que também está em

processo de transformação.

Na economia informacional, que caracteriza a sociedade contemporânea,

os cidadãos que habitam esse meio rural e que necessitam conhecer e exercer

novas atividades decorrentes da globalização e da inclusão digital, requerem

acessar e usar a informação para participar da modernização, não sendo esta uma

prerrogativa única das pessoas integradas socialmente ao meio rural.

O rural e o urbano se aproximam, à medida que se pode observar que os

fenômenos sociais que delineiam um, também influenciam ao outro. Além disso,

pode-se observar que os problemas sociais fazem parte dos dois eixos. Em algumas

regiões, encontram-se maiores diferenças, noutras, maior proximidade, o que não se

pode fazer é generalizações a partir dessas realidades distintas.

Para fazer parte de uma sociedade, seja ela urbana ou rural, e, estar

inserido no contexto da Sociedade da Informação, é necessário estar atento às

inovações, imprescindíveis ao tratamento, organização e gerenciamento da

informação, especialmente no que tange à sua acessibilidade por meio da

comunicação em ambiente rural. Tal é o objeto de atenção deste estudo, o qual tem

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importância se considerarmos que essa comunicação tem suas particularidades,

utilizando formas e canais próprios de condução e transmissão das informações.

A hipótese construída como parâmetro norteador do estudo centrou-se na

questão: até que ponto os cidadãos brasileiros, inseridos socialmente em meio rural,

têm acessibilidade e utilizam as informações veiculadas na mídia?

A partir desta hipótese procurou-se estudar in loco as especificidades de

acesso e uso das informações veiculadas pelos meios de comunicação em ambiente

rural brasileiro, representado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,

do Assentamento Itamarati (MST/MS), com os seguintes objetivos:

• Identificar junto à literatura especializada, os estudos e pesquisas

mais significativos sobre temas emergentes envolvendo a Sociedade

da Informação, desde suas origens aos impactos na comunicação

rural em contexto nacional.

• Realizar uma pesquisa de campo junto a uma realidade brasileira – o

MST/MS – a fim de obter uma visão geral acerca da existência ou não

da acessibilidade e utilização de informações veiculadas por

Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), sob a ótica do

produtor rural e dos trabalhadores do campo assentados na fazenda

Itamarati.

• Contribuir com subsídios à melhor compreensão da realidade rural

brasileira em relação à acessibilidade e utilização da informação

veiculada em mídia apoiado nas TIC’s.

Os resultados deste estudo são apresentados em diferentes seções, a

partir desta introdução (Capítulo 1). Assim sendo, inicia-se pela apresentação de

uma revisão bibliográfica, não exaustiva, sobre a qual apóiam-se os estudos que

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foram desenvolvidos abordando os principais temas emergentes envolvendo a

Sociedade da Informação (Capítulo 2), desde suas origens aos seus impactos na

Comunicação Rural no contexto brasileiro (Capítulo 3).

Em seguida, no Capítulo 4, relata-se a realização do estudo de caso,

apoiado em pesquisa de campo de natureza exploratório-descritiva, com a aplicação

de entrevistas semi-estruturadas, junto ao Assentamento Itamarati, município de

Ponta Porã, estado de Mato Grosso do Sul, mediante a observação das inovações

tecnológicas de informação e comunicação, sob a ótica do produtor rural e do

trabalhador do campo, considerando também a opinião do responsável pelo Setor

de Produção, regional Mato Grosso do Sul, do Movimento dos Trabalhadores Sem

Terra (MST).

Como contribuição final, são apresentadas considerações que envolvem

recomendações acerca da promoção da acessibilidade e utilização de forma

inteligente das informações, destinadas ao meio rural, por intermédio dos meios de

comunicação em contexto nacional.

Espera-se contribuir para o processo de inclusão social junto àqueles que

estão à margem da Sociedade da Informação, com o apoio da comunicação rural,

veiculada por meio de TIC’s, como facilitadora do acesso e favorecendo à

informação e ao conhecimento, o que, certamente é um processo que envolve uma

construção coletiva. Neste particular, o profissional da comunicação deve ser o

principal agente de mudança para o fortalecimento da democracia, da promoção, da

prosperidade e da realização dos cidadãos que compõem as comunidades rurais

brasileiras. Assim, é importante ressaltar que a comunicação rural pode ser fator de

desenvolvimento social e modernização rural, apoiando as ações individuais ou

governamentais nesse sentido, pois, sem dúvida, é ela que vai permitir a

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mobilização das capacidades humanas para o enfrentamento dos desafios que lhes

são impostos pela globalização dos mercados.

Acredita-se que investimentos na comunicação rural, com o uso de TIC’s

possam contribuir para a união de esforços e recursos que venham facilitar e

fortalecer o desenvolvimento socioeconômico no contexto nacional.

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2 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: DAS ORIGENS AOS

IMPACTOS NA COMUNICAÇÃO

Assistir à televisão, falar ao telefone, movimentar a conta no terminal bancário e, pela Internet, verificar multas de trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e estudar são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil. Rapidamente nos adaptamos a essas novidades e passamos - em geral, sem uma percepção clara nem maiores questionamentos - a viver na Sociedade da Informação, uma nova era em que a informação flui a velocidades e em quantidades há apenas poucos anos inimagináveis, assumindo valores sociais e econômicos fundamentais (TAKAHASHI, 2000. p.03).

2.1 Aspectos histórico-conceituais

Desde os primórdios, o homem tem buscado o melhor caminho para

transpor seus obstáculos. Sua preocupação fundamental sempre foi, sob risco de ter

inclusive sua sobrevivência ameaçada, a necessidade de desenvolver soluções que

pudessem auxiliar nas ações futuras. Em forma de registros rupestres que ajudavam

nas empreitadas posteriores, ou com o desenvolvimento de instrumentos adequados

para as atividades como caça e pesca, ou ainda, mais tarde com a necessidade de

se planejar as ações antes de concretizá-las, a tecnologia surge como tendência

mundial. Para a melhor compreensão da popularização das novas tecnologias e da

sua contribuição para a inclusão e a exclusão social e de como a sua utilização vem

se modernizando junto àqueles que não estão inseridos nos ambientes sociais e

economicamente favoráveis, intenta-se a estudar as conseqüências do uso dessas

tecnologias no ambiente rural.

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No mundo globalizado, notadamente as avalanches de informações que

estão disponíveis, podem promover a inserção social, ou ainda, podem contribuir

para aumentar o fosso das desigualdades sociais.

Comecemos o diálogo com o pensamento de MacLuhan (2002), que diz

que as tecnologias são meios de traduzir uma espécie de conhecimento para outra,

ou seja, é uma maneira de explicar as coisas.

Nesta era da eletricidade, nós mesmos nos vemos traduzidos mais e mais em termos de informação, rumo à extensão tecnológica da consciência. É justamente isto que queremos significar quando dizemos que, a cada dia que passa, sabemos mais e mais sobre o homem. Queremos dizer que podemos traduzir a nós mesmos cada vez mais em outras formas de expressão que nos superam (MACLUHAN, 2002. p 77).

A partir da busca pela melhor forma de resolver seus problemas, a

humanidade desenvolve necessidades e cria um ambiente favorável às novas

descobertas tecnológicas, ou ainda, procura meios para fazer melhor uso das

tecnologias disponíveis e adaptar-se às novas situações. O desenvolvimento da

área tecnológica traz benefícios para toda a atividade humana. Seja no

desenvolvimento das ciências e da medicina, seja no estreitamento das

comunicações nas mais remotas regiões geográficas do mundo. Que a humanidade

caminha no sentido da modernização tecnológica, isso não se discute. A discussão

que se propõe é repensar os propósitos destes avanços científicos no que se refere

à teia social.

A tecnologia tem o poder de influir no comportamento e na cultura da

sociedade. A utilização, bem como, o reconhecimento e a adoção de uma nova

tecnologia, implica em mudanças de costumes, hábitos e culturas. E certamente

estas transformações não passam despercebidas pelos governos e pelos que detém

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o poder heterogêneo da informação, por isso investem e se preocupam em conduzir

as tecnologias de modo a determinar o destino que a sociedade venha a seguir.

Com o oferecimento de um dispositivo tecnológico novo, acha-se subentendida a

pressão para se mudar a cultura. No âmbito social, é que determinada tecnologia se

torna popular ou não. São as organizações, inclusive as sociais, que desenvolvem

através da capacidade do aprendizado coletivo, as necessárias reconfigurações

para permanecerem inseridas neste ambiente de transformações permanentes.

Ao longo da jornada humana, a percepção de mundo dos seres foi

modificada pelo desenvolvimento da tecnologia. Durante muito tempo, as pessoas

acostumaram a perceber o mundo de uma forma simplificada e totalmente

dependente da comunicação pessoal. Com o advento das máquinas esta relação

mudou. Se, por um lado abriu-se uma janela para um mundo de possibilidades

infinitas, por outro lado, fecharam-se portas no que diz respeito às relações

interpessoais. O distanciamento das pessoas, o aumento e a banalização da

violência e as facilidades de acesso às informações, também foram responsáveis

pela disseminação das relações intermediadas pelos meios de comunicação,

fomentando ao mesmo tempo uma liberdade jamais vista na disponibilidade das

informações e uma dúvida constante sobre a veracidade e a confiabilidade destas.

Semelhante também, vale observar, à lógica não-seqüencial ou “caótica” do hipertexto cibernético, diante do qual a postura cognitiva mais adequada ao usuário é a da “exploração” interpretativa, em vez da dedução de verdades. Nenhuma hierarquia discursiva organiza os regimes heterogêneos de expressões da mídia, assim como não existe um agendamento homogêneo de seus conteúdos (SODRÉ, 2002, p.53).

O que mudou drasticamente, em muito pouco tempo, foram as dimensões

e a importância que os artefatos tecnológicos tomaram na vida cotidiana. Houve uma

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enorme disseminação, e porque não dizer, a emancipação da tecnologia. A

humanidade cresceu e se desenvolveu e, com ela os instrumentos tecnológicos,

também. Especialmente os que são responsáveis pela condução, disseminação e

propagação da informação. O raio de alcance das Tecnologias de Informação e

Comunicação – TIC’s – cresceu, aumentando também a capacidade da ação

humana, individual e coletiva, através da interação das informações. O perigo é fazer

com que a tecnologia seja transformada em pedra fundamental da nossa sociedade.

Isso porque, o fascínio e as possibilidades criadas são tantas e de proporções

tamanhas, que os efeitos dessa disseminação e dessas transformações ainda são

poucos conhecidos.

Com a grande massa da população concentrada nos grandes centros urbanos, metropolizados, hoje é difícil conceber a vida sem todo o aparato técnico que temos em nossas casas, em nossas cidades, e que está presente em toda parte, intermediando as relações sociais. As novas gerações já lidam com todas essas coisas como se elas sempre tivessem existido. Elas não só facilitam a vida, como também definem um modo ou um estilo de vida próprio. Ter e ser passam a significar quase a mesma coisa. Sabemos que um instrumento em si não tem autonomia, mas ele se autonomiza quando o homem por trás dele lhe dá essa significação (FREITAS, 1999, p.25)

No atual cenário da macroeconomia a informação é algo fundamental, e

está presente em todas as organizações. Os meios tecnológicos ao mesmo tempo

em que são transmissores das informações, eles próprios são pura informação.

Edgar Morin (1998) nos oferece exemplos simples e de fácil compreensão, ao

afirmar que, assim como os pensamentos do homem acham-se contidos em seu

cérebro, as informações e as organizações das células nervosas não fazem parte do

pensamento, mas estão lá mesmo que o indivíduo não tenha consciência de sua

existência. Onde há vida necessariamente existe informação, e ainda mais, troca e

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comunicação entre as informações disponíveis. E, nesse contexto, surge MacLuhan

(2002) considerando os meios como mensagem e como extensão do homem.

A informação tornou-se o combustível do mundo, o diferencial das

grandes potências econômicas mundiais. O acesso às informações é que determina

a participação de um sujeito na sociedade contemporânea. E, tão importante quanto

ter acesso às informações, é conseguir decifrá-las e selecioná-las de acordo com a

necessidade do momento.

O termo informação é ambíguo e difícil de ser conceituado. Morin (2001)

diz que não se pode dizer nada sobre ela, mas não se pode mais passar sem ela.

Considera-se que o conceito de informação apresenta grandes lacunas e grandes

incertezas. Isso é uma razão, não para rejeitá-la, mas para ir em busca de um

aprofundamento nessa questão. Segundo Castells (1999), “as informações são

dados que foram organizados e comunicados”. Para Takahashi (2000), o volume, a

relevância e a eficácia destas informações irão determinar a inserção das

sociedades nas decisões mundiais.

Numa era em que a facilidade e a disponibilidade de acesso aos mais

diversos meios de “tradução”, especialmente os eletrônicos, as informações são

abundantes, acentua-se a necessidade da seleção, causando um certo desconforto

entre o escolher e o descartar. Freitas (1999, p.22) cita: “É preciso estar sempre

descartando alguma coisa. O homem se torna um sem-limites, já que pode saber de

tudo, "acessar" tudo, viajar para qualquer lugar, simular qualquer coisa, conversar

com mil pessoas ao mesmo tempo”. Criou-se também a angústia permanente do

“descartar” algo que pudesse ter seu valor, ou até mesmo ser fundamental. É

sempre na dúvida que se abre um vasto leque de possibilidades, e normalmente, aí

que se descobre que a vida é uma grande questão dialética, envolvendo conceitos e

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questões fundamentalmente opostas. Na avalanche de informações disponíveis,

especialmente na rede mundial de computadores, é natural a obrigação da escolha.

A escolha de uma opção em detrimento de outra é que provoca esta constante

inquietação, este desequilíbrio contemporâneo.

Diante da abundância de informações e ofertas de todo o tipo, diz-se que o usuário poderá escolher entre uma miríade de alternativas. Optar é então, um ato volitivo que implica que se seja livre para exerce-lo. Todavia, não é seguro o postulado de que quanto mais numerosas sejam as possibilidades, mais livre será nosso arbítrio. O ato de escolher supõe, de imediato, o de abandonar. A seleção de um bem, uma pessoa ou uma idéia implica a declinação ativa ou passiva de muitas outras (CEBRIÁN, 1999.p. 56).

Se, por um lado as tecnologias facilitaram e agilizaram a vida da

humanidade, por outro representam uma forte tendência de ampla utilização dos

recursos tecnológicos nas mais diferentes áreas. Para que as pessoas possam

usufruir de serviços básicos e vitais à sua sobrevivência, é necessário que exista

disponibilidade de recursos tecnológicos. A ausência destes recursos tecnológicos

pode causar o caos. O ser humano se viu, num curto espaço de tempo, modificado

em sua concepção de mundo, em seus valores, em suas relações pessoais e

comerciais. A inserção das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s),

aos mais jovens é natural e, em alguns casos, parece que as tecnologias fazem

parte do seu mundo e de suas vidas (FREITAS, 1999). Aos de idade mais avançada,

resta correr atrás dos conhecimentos necessários ao manuseio das TIC’s, numa

constante busca de novas habilidades. Esta mudança no ambiente social transforma

a vida das pessoas. Como resultado, vive-se num mundo em constante

transformação e, a busca incessante pelo conhecimento, o oferecimento, a

disponibilidade e o volume de informações podem gerar angústias e desconfortos no

convívio social. Para Freitas (1999, p. 18) “as mudanças suscitam novas questões, e

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novas respostas são trazidas pela incerteza e pela complexidade da dinâmica dos

elementos e das forças sociais presentes, sendo a sociedade uma produção sempre

contínua e inacabada”.

Prigogine (2002) cita que o conceito geral do caos pode tentar

compreender e explicar a desordem provocada pelo excesso de informações que

contextualiza uma nova realidade.

[...] é do caos que surgem ao mesmo tempo ordem e desordem. Se a descrição fundamental se fizesse com leis dinâmicas estáveis, não teríamos entropia, mas tampouco coerência devida ao não-equilíbrio, sem nenhuma possibilidade de falarmos de estruturas biológicas e, portanto, um universo de que o homem estaria excluído (PRIGOGINE, 2002, p 80).

O caos está presente não somente nas equações das leis da natureza,

bem como em toda a vida social. Numa sociedade conectada por redes, a lógica

percebida nas relações sociais e econômicas passa por mudanças que ainda não

podemos prever. O problema mais evidente encontra-se na dimensão social. A

ordem e a desordem causadas pelas angústias dos excessos, ou ainda pela

escassez de informações é um dos problemas que a sociedade contemporânea

enfrenta. A confusão causada pelo excesso de informações não deve impedir o

direito ao seu acesso.

Dar condições para que as pessoas sejam, elas próprias, construtoras de

seu saber, torna-se eminente. A vantagem de incluir todos no mundo digital é fazer

com que todas as pessoas tenham as mesmas condições de acesso às informações

colocando o ser humano como sujeito partícipe do meio social em que vive. Nesta

consciência reside a responsabilidade de exercer a cidadania na construção e no

modernização da sociedade. Esta possibilidade coloca as pessoas inseridas no

processo de construção, portanto, cientes dos problemas e dificuldades, dando-lhes

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a oportunidade de compreendê-los e solucioná-los. Acima de tudo, desenvolvendo o

senso necessário para perceber que esta rede tecnológica da qual estamos falando

é um composto de emaranhados de informações livres, e que estão sujeitas à

mediação, seja do Estado, seja dos meios de Comunicação, portanto não são

inocentes em suas ações, nem tampouco querem que a massa, influenciada pelas

informações cuidadosamente selecionadas, desperte para uma releitura de suas

mensagens. A liberdade consiste em levar o conhecimento das mensagens,

inclusive as subliminares, para que o sujeito possa fazer suas escolhas, de modo

consciente.

Com o excesso de informações surge a dúvida, e é aí que se propõe não

somente o caos no sentido de verdadeiro-falso, mas também como fala Morin (2001,

p.90): “ a desordem tem duas faces: é, por um lado, a destruição e, por outro lado, a

liberdade, a criatividade.” O autor se refere à sociedade como organização viva,

funcionando com e pela desordem, o que nos faz refletir sobre a oposição “ordem X

desordem”, em relação ao montante de informações disponibilizadas pela rede

mundial de computadores. São indissociáveis, uma jamais existiria sem a outra.

A complexidade da relação ordem/desordem/organização surge quando se verifica empiricamente que fenômenos desordenados são necessários em certas condições, em certos casos, para a produção de fenômenos organizados, em que contribuem para o aumento da ordem (MORIN, 2001. p. 91)

À medida que as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC’s)

se expandem, uma idéia de liberdade e emancipação do homem as acompanham.

Esta idéia nem sempre corresponde a realidade cotidiana, porque a um só tempo,

liberta e também escraviza pelo poder de manipulação dos que detém o domínio das

TIC’s quando os receptores destas mensagens não conseguem recebê-las e

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interpretá-las levando em conta estas manipulações. Seja pela dificuldade de

acesso, ou inabilidade técnica, a lógica da globalização traz consigo a exclusão

social e os instrumentos que deveriam servir a inclusão social acabam aumentando

o fosso das diferenças. Perigo é acreditar poder estar num mundo homogêneo e

igualitário e esquecer das pessoas que não têm acesso à rede globalizada de

informações. E é aí que reside o maior problema da inclusão digital4. É fazer com

que as pessoas saibam sua função social, e ainda mais, a quem pode servir e a

quem serve. Compreender a necessidade da libertação das amarras da ignorância

para o mundo das informações via rede, mesmo conhecendo as limitações,

procedimentos e técnicas a que estão submetidas. Fomentar o conhecimento,

inclusive no que tange as técnicas das mensagens subliminares a serviço das

instituições de controle social, traz a compreensão da realidade mercadológica e

coloca os usuários das TIC’s conscientes das manipulações.

Inventamos com a tecnologia modos de manipulação novos e muito sutis, através das quais a manipulação exercida sobre as coisas implica a subjugação dos homens pela técnica da manipulação. Assim, fazem-se as máquinas ao serviço do homem e põem-se homens ao serviço das máquinas. E, finalmente, vê-se muito bem como o homem é manipulado pela e para a máquina que manipula as coisas a fim de libertá-lo (KERKHOV, 1995, p. 85).

Independentemente de positivas ou negativas a utilização das TIC’s é

uma tendência mundial e deve-se fomentar o conhecimento para capacitar as

pessoas (inclusive as do meio rural) para que possam participar desta dinâmica.

É importante salientar que a preocupação com todas as questões que

envolvem a inclusão digital é reconhecidamente de caráter internacional. Assim, o

Brasil, vem se manifestando mediante níveis de vontade política de participar e se 4 “Inclusão digital deve ser entendida como acesso universal ao uso das tecnologias de informação e comunicação e usufruto dos benefícios trazidos por essas tecnologias” (ASSUMPÇÃO,2003, p. 23).

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beneficiar, a exemplo dos outros países, do crescimento da Sociedade da

Informação, a fim de obter um processo mais democrático de desenvolvimento

eficiente, eqüitativo e sustentável, o que se configura em seu “Projeto de Sociedade

da Informação e as Tecnologias de Informação e Comunicação”, recorte intencional

apresentado a seguir.

2.1.1 Projeto Sociedade da Informação e as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC’s)

Neste contexto de turbulências, mudanças abruptas e incertezas surge a

Sociedade da Informação com a finalidade de promover a integração dos serviços

de tecnologia da computação, comunicação e informação e suas aplicações e

inserções na sociedade, planejando estrategicamente o desenvolvimento e a

utilização destes serviços (TAKAHASHI, 2000). A Sociedade da Informação (SI) foi

pensada não só como alternativa para se fazer um programa que envolvesse todas

as camadas sociais, é mais que isso. Diz respeito a um projeto de popularização da

tecnologia e, facilitando, democratizando o acesso às informações, envolver todos

numa só rede. É como se sempre as pessoas vivessem isoladas em casulos e

agora, pudessem desfrutar de uma grande colméia coletiva.

O objetivo do Programa Sociedade da Informação é integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologias de informação e co-municação, de forma a contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia do País tenha condições de competir no mercado global (TAKAHASHI, 2000. p.10).

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O Programa da Sociedade da Informação (SI) tem seu desdobramento

através de linhas de ações que buscam contemplar todos os aspectos pertinentes a

sua concretização. Estão subdivididas em: mercado, trabalho e oportunidades;

universalização de serviços para a cidadania; educação na sociedade da

informação; conteúdos e identidade cultural; governo ao alcance de todos; pesquisa

e desenvolvimento (P & D), tecnologias-chave e aplicações e infra-estrutura

avançada e novos serviços. Essas ações foram pensadas de modo a serem

passíveis de planejamento, com orçamentos, execuções e acompanhamento da

concretização de propostas.

Lançado em dezembro de 1999, este Programa conta com um grupo de

implantação formado por diversos setores da sociedade, tais como: o terceiro setor,

o setor privado, a comunidade acadêmica e representantes do governo. Conforme

termos do Decreto n.º 3.294/99 da Presidência da República, as atividades serão

coordenadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)5. É evidente que a

democratização do acesso às informações não é um processo simples e enfrenta

diversos problemas de ordem financeira e técnica, além da resistência diante das

mudanças. A ampliação dos meios de acesso às novas tecnologias de informação e

comunicação não pressupõe a homogeneização das idéias, mas sim o acesso às

informações que vão construir e formar estas idéias.

Os meios para o acesso às informações passam pela educação no meio

rural, que é fonte de discussões e alvo de debates de alguns setores da sociedade.

Mais do que capacitar para a cidadania é necessário incluir as pessoas num

processo educacional para que elas possam atuar como sujeitos críticos da

sociedade em que vivem. A utilização das Novas Tecnologias de Comunicação e

5 Anexo A: cópia do Decreto n.º 3294/99.

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Informação pelo meio rural é marcada por alguns problemas. Callou (2000) sobre

isto cita que:

[...] o rudimentar acesso das populações rurais (em várias regiões brasileiras) às novas tecnologias de comunicação e informação; o alto índice de analfabetismo do meio em questão; a inexistência de eletrificação em várias comunidades rurais do país; os riscos de uma repetição vertical, autoritária, de Comunicação Rural que, apesar de avanço teórico em sentido contrário, ainda “faz escola” em instituições públicas brasileiras (CALLOU, 2000, p.4).

O último Censo realizado pelo IBGE (2000) relata que, apesar da

população residente no campo ser em menor número, o analfabetismo no setor rural

é quase o dobro do ocorrido nas áreas urbanas. Dados do estado do Mato Grosso

do Sul, por exemplo, revelam que a população residente urbana é de 1.744.520

habitantes, e a rural chega a 330.357 habitantes. Já o índice de pessoas com 15

anos ou mais, analfabetas, na área urbana é de 9,1%, e junto a população rural este

número chega a 18,9%. Existem aí problemas da acessibilidade à informação e o

despertar de uma preocupação com uma educação que possa ser fonte de

conhecimento diferenciada do modelo extensionista6, numa comunicação de

imposição que vinha se desenhando até agora.

Com o acesso facilitado à informação, o conhecimento, por si só, passa a

não constituir um diferencial. A multidisciplinaridade, e mais, a conexão das várias

faces dos conhecimentos é que vão compor a vantagem competitiva, determinando

a trajetória de sucesso de uma organização. Numa visão mais idealizadora, surge a

tentativa de organização da informação, é o que propõe através da Gestão da

6 Freire (1992, p. 22) afirma que: “a ação extensionista envolve, qualquer que seja o setor em que se realize, a necessidade que sentem aqueles que a fazem, de ir até a ‘outra parte do mundo’, considerada inferior, para, à sua maneira, ‘normalizá-la’. Para fazê-la mais ou menos semelhante a seu mundo. E todos estes termos envolvem ações que, transformando o homem em quase “coisa”, o negam como um ser de transformação do mundo” .

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Informação e Comunicação (GIC), a Sociedade da Informação. É uma proposta que

vem para contribuir no sentido de oferecer um grau de organização para o caos que

se instala no ambiente social. Essa proposta se apresenta como o início de um

movimento mundial, porque, diante do fluxo de informações, é complicado pensar na

sistematização ou ordenação da desordem. Muitas organizações se apóiam na GIC

para tentar manter a vantagem competitiva, tentando antecipar problemas e prever

situações. Otimizando as informações, pretende-se tirar o melhor proveito possível

delas. São duas coisas que não poderiam existir sozinhas: o excesso de

informações e a GIC. É evidente que no processo de filtragem, ou ordenação das

informações, são desprezadas algumas que poderiam contribuir no ambiente

organizacional, mas o mercado exige uma lógica nem sempre compreensível.

Com o objetivo de ordenar o crescimento e promover programas que

contemplem a inclusão, a transparência, a igualdade e a democracia, o governo

brasileiro idealiza inúmeras ações no sentido da promover a Sociedade da

Informação. A maior preocupação é no quesito inclusão digital e a construção dessa

Sociedade. E, com este pensamento contribui ampliando as possibilidades das

organizações nacionais de concorrerem no mercado externo em situação de

igualdade. A questão mais importante é, como já foi citado, que em detrimento do

caos do excesso de informações, a sociedade contemporânea será capaz de

conseguir alcançar um grau tamanho de consciência de utilização dos meios para a

inclusão digital.

Esta é uma questão que tem dois tipos de resposta. A primeira é utópica,

quem opta por esta vê o mundo com um olhar romântico e certamente acredita que

pode transformá-lo num lugar de iguais, sem classes, sem diferença social. A

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segunda, propõe uma reflexão mais complexa e ampla dos meios, e, a opção pela

última, obriga o sujeito a pensar e travar uma batalha interior contra a primeira.

Além da criação da Sociedade da Informação existem esforços de

instituições governamentais ou não governamentais, no sentido de pensar a

comunicação rural como a proposta por Paulo Freire de que a educação é diálogo,

considerando que a comunicação é educativa e, portanto, a comunicação rural teria

este caráter educativo (CALLOU, 2000).

Entendendo-se que hoje se delineia um novo contexto agrário decorrente

das transformações mundiais nos âmbitos sociais, da economia e dos modos de

produção, e que deste novo contexto surge um sujeito que vive no campo mais

flexível e contextualizado, é que se pode pensar nas TIC’s e na Sociedade da

Informação como base para a estruturação educacional deste novo sujeito rural,

criando-se um ambiente favorável ao desenvolvimento da educação e do acesso a

informação e ao conhecimento, mediante a ação dos telecentros (CALLOU, 2000).

[...] é inegável o potencial educativo das novas tecnologias de comunicação e informação, na medida em que permite às populações economicamente desfavorecidas terem maior acesso ao conhecimento, particularmente através das tecnologias interativas no ensino a distância (CALLOU, 2000, p.05).

Na busca da inclusão digital e social são criados projetos e mecanismos

que possam favorecer o acesso à informação. A Rede SACI (Solidariedade, Apoio,

Comunicação e Informação) é um exemplo de organismo que permite ao portador de

necessidades especiais ter uma oportunidade de inclusão. Surgida em 1999, se

constitui numa rede eletrônica para a difusão de informações sobre deficiência em

âmbito nacional. Além de promover a inclusão dos portadores de necessidades

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especiais, seus focos temáticos são Educação e Trabalho, disponibilizando Centros

de Informação e Convivência (CIC’s) equipados com computadores, softwares

adaptados e monitores aptos ao ensino de informática para portadores de

necessidades especiais (www.saci.org.br).

Outro exemplo de trabalho contra a exclusão foi a criação da Organização

Não Governamental (ONG) Gemas da Terra, cujo objetivo foi criar telecentros livres

nas áreas rurais e levar a acessibilidade, promovendo a inclusão digital das pessoas

que moram no campo. Criada em 2001, no Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, essa

organização não governamental entende que somente a capacitação para utilização

das ferramentas de computação não é o suficiente. Sua missão maior é promover a

capacitação para a cidadania e o empreendedorismo como forma de

desenvolvimento social e econômico das pessoas, transformando-as em sujeitos

ativos na construção da sociedade onde vivem (www.gemasdaterra.org.br).

Estes são exemplos de como esta tendência mundial para o uso das

TIC’s influi na sociedade brasileira. A Sociedade da Informação torna-se uma

necessidade de inserção num mundo onde o processo de globalização se torna

irreversível. Na busca de um maior equilíbrio entre as forças endógenas atuantes

nas organizações sociais e econômicas e, propiciando o desenvolvimento de

posturas críticas da sociedade, a Sociedade da Informação tornou-se a tendência

com maior destaque no que tange o favorecimento do acesso às Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC’s), o que envolve também a melhor compreensão

do espectro da inclusão e exclusão social no contexto brasileiro.

2.1.2 Inclusão e Exclusão Social no Brasil: cenários e perspectivas

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Quando se define o caminho para se chegar a uma sociedade onde todos

tenham acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) deve-se ter

consciência de que esta promoção da acessibilidade não é automática e, muito

menos, se dá de forma homogênea.

É necessário que se favoreça o acesso às informações popularizando as

tecnologias e os equipamentos, bem como os conhecimentos técnicos de manuseio

destes recursos. Neste contexto, a Sociedade da Informação (SI) precisaria ser

democrática e disponível para as pessoas que se interessam pela inserção

tecnológica, sejam elas do campo ou da cidade, pobres ou ricas, letradas ou

analfabetas. De acordo com o ambiente social e as culturas vigentes onde as

pessoas vivem e nas quais estão inseridas, é que estarão pré-dispostas ou não para

se integrarem com as TIC’s.

Através das situações nas quais os indivíduos desempenham seus papéis

sociais, pode-se ter uma idéia das tendências do comportamento daquele grupo. As

experiências construídas ao longo do convívio em grupos sociais é que nutrem a

sociedade, determinando o comportamento e o pensamento de uma estrutura social.

Sendo o meio social o maior balizador de comportamentos do ser humano, através

das instituições sociais é que se exerce o controle social (LAKATOS, 1985).

As relações sociais e as significações dos indivíduos que compõem a

população rural são extremamente peculiares e nas comunidades menos

desenvolvidas, as tradições culturais e comportamentais são fatores que determinam

poder, influência e autoridade no contexto social. As recepções das mensagens são

carregadas de significações, que por vezes passam imperceptíveis aos olhos de

quem as produz ou direciona (www.cnpgc.embrapa.br).

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Parte-se do princípio que as TIC’s, especialmente as que compõem a

comunicação rural, por abordarem fluxos de dupla via, interligadas pelos diversos

setores sociais envolvidos e organizados para a inclusão no desenvolvimento rural

(BORDENAVE apud BRAGA;KUNSCH, 1993), não poderiam ser discutidas fora das

relações sociais. Separadamente, nem o campo nem a cidade garantirão a eqüidade

social. Os agentes sociais envolvidos no meio rural lá moram, trabalham, criam seus

filhos, rezam e interagem com a terra, com o mercado e entre si. São pessoas que

estão desempenhando seus papéis e não estão lá somente para ‘agregar valor ao

produto’, querem sim, ser elas mesmas valorizadas. Por isso, sob o enfoque da

comunicação rural, e para promover sua acessibilidade, o homem, inserido no meio

rural, deve vir integrado às paisagens, contextualizado.

Cabe ressaltar que no momento presente, “marcado pela moderna sociedade industrial”, onde a mudança tecnológica, a transmissão da informação e da cultura, os novos meios de transporte e, enfim, o processo geral de globalização, tendem a dissolver a estreita relação que existia entre os três universos (natural, rural e urbano-industrial) e seus respectivos territórios7 (TOLEDO, 1998, p. 172).

De acordo com Siqueira (2002) é preciso destacar uma construção de

olhares que contemplem as diferenças regionais no que diz respeito ao meio rural no

Brasil, incorporando-se desde o agricultor familiar mais tradicional ao mais moderno,

desde os mais subordinados às agroindústrias ao mais autônomo, desde os sem-

terra até o pequeno proprietário mais “capacitado” para a conversão aos padrões da

modernidade tecnológica. Ainda, em outro texto de Porto; Siqueira (1997), há a

indicação, a partir da segunda metade da década de oitenta, da dificuldade na

7 Tradução livre do autor.

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construção de novos conceitos-síntese que dêem conta do rural, o que ainda

permanece.

Para Wanderley (2000), a despeito da literatura indicar um conceito de

“novo rural”, onde o rural, o urbano e suas relações são interdependentes, tornando

praticamente impossível uma análise desses ambientes de forma isolada

(ABRAMOVAY, 2001; SILVA, 2001, p.32), deve haver uma insistência na

especificidade do rural, afirmando que “considera que este mundo rural mantém

particularidades históricas, sociais, culturais e ecológicas, que o recortam como uma

realidade própria, do qual fazem parte, inclusive, as próprias formas de inserção na

sociedade que o engloba” .

Para efeito deste estudo, considerar-se-á o conceito de rural descrito por

Siqueira (2005,p.9), como sendo um espaço específico em dupla dimensão: uma,

enquanto espaço físico diferenciado (ocupação de território, formas de dominação

social, conservação e uso social das paisagens naturais e construídas, das relações

campo-cidade) e, outra, enquanto lugar de vida (particularidades do modo de vida e

de referencial de identidade) e de onde se vê e se vive o mundo (cidadania do

homem rural e sua inserção na sociedade nacional e mundial).

Quando tratamos de acesso às novas tecnologias envolvendo etnias,

grupos religiosos, ou ambientes rurais ou urbanos, as representações sociais

parecem se destacar. Mais ainda, quando se refere a uma população cheia de

particularidades como as que caracterizam os pequenos produtores e trabalhadores

rurais. Segundo Siqueira (2002) existem, no Brasil polaridades:

[...] há uma parcela onde se localizam aqueles que detém os meios de produção e a riqueza, os que pensam, os escolarizados, os que desenham e gestionam as políticas e o dinheiro público. E há uma outra parcela, muito maior em termos quantitativos, mas desqualificada e desconsiderada. Aos primeiros as decisões, a apropriação da riqueza, o acesso à educação, as

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políticas públicas, os estímulos, os créditos subsidiados, porque estes compõem a “sociedade”. Aos segundos, o resto, as “políticas sociais”, algumas “ajudas” para aplacar as diversas fomes, os diversos “sem” (SIQUEIRA, 2002, p.16).

Siqueira (2002, p. 16) cita ainda que nesta polaridade rural/urbano, o rural

está na parcela do “resto”. O homem do campo ainda é visto como “o caipira,

tabaréu, brejeiro, peão, sertanejo. Relegados a pré-modernidade, ao velho, aos sem

educação”. Numa sociedade onde prevalece o uso indiscriminado da tecnologia

metropolitana, a cultura rural é, senão desprezada, subjugada e fadada a

preconceitos, alimentando as desigualdades e a discrepância social e cultural.

A rápida industrialização e a acelerada urbanização causaram um forte preconceito contra o setor rural. Os valores do mundo urbano ficaram tão dominantes, que a simples referência ao campo parece trazer a imagem do passado, ligada ao atraso colonial. O bom está na cidade. O campo é caipira (GRAZIANO, 2000, p.48).

Este setor, por possuir as particularidades com relação ao modo de vida e

das relações interpessoais, também é importante fonte de informações e de

referências culturais. O contexto em que a mensagem é produzida e emitida, bem

como o contexto social no qual o receptor está inserido, são fundamentais para que

a produção cultural dos media sejam eficientes e eficazes em seus objetivos,

participando da própria vida social.

[...] é a partir da análise da Sociedade enquanto tipo de organização coletiva que podemos entender, de um lado, a necessidade de comunicação do indivíduo moderno em seu afã de engajamento coletivo; e, de outro lado, a presença notória e crescente que adquirem os meios de comunicação em nossa sociedade de massa, como parte importante no processo de instrumentalização da atividade individual face ao seu desafio de engajamento numa coletividade complexa (MARTINO, 2001, p. 34).

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É impossível destacar um sujeito de seu mundo, negando-lhe

potencializar ou amenizar suas qualidades e defeitos, apartando-lhe de seu

contexto. É necessário avaliar o sujeito integrado em seu meio, interagindo com o

mundo. É isso que o distingue dos animais e das coisas, conferindo-lhe a chance de

não só viver em sociedade (os animais também o fazem), mas de ser responsável

pela construção e modernização desta.

A diferença fundamental entre o animal, cuja atividade não vai além da mera produção, o homem, que cria o domínio da cultura e a história através da ação no mundo, é que apenas o último é um ser de práxis. O homem, em sua permanente relação com a realidade, produz não apenas bens materiais, coisas sensíveis e objetos, mas também instituições sociais, ideologias, arte, religiões, ciência e tecnologia (FREIRE, 1968, p.167 apud LIMA, 2001, p.59).

O setor da agricultura tem se mostrado forte e é também responsável por

grande parte das pesquisas e avanços tecnológicos alcançados, impondo um ritmo

novo às formas de produção. Mas a lógica perversa do mercado trata todos nós

como clientes. As relações de imposição exercidas entre o mercado globalizado e o

cotidiano das pessoas determinam sua inserção e sua representatividade na

sociedade, Geertz (1973 apud SIQUEIRA, 2002, p.9) afirma que “somos incapazes

de dirigir nosso comportamento ou organizar nossas experiências sem a orientação

que é dada pelos sistemas de símbolos significativos”. Portanto, para inserir o setor

rural numa sociedade globalizada e predominantemente urbanizada, deve-se

observar as inovações tecnológicas e mercadológicas imprescindíveis no

tratamento, condução e gerenciamento da informação, especialmente no que tange

à comunicação rural, sem deixar de lado as preocupações da inclusão destas

pessoas no mundo digital. O acesso à produção cultural midiática na área rural é

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importante fator de inclusão e exclusão social. De fato, a maneira com a qual o

homem se relaciona com o mundo, com os meios de comunicação e com as

tecnologias, tem influência decisiva em seu comportamento, a medida em que a

comunicação constrói a realidade, colocando o sujeito inserido na sociedade ou

ainda, alheio a ela (GUARESCHI, 1991).

Apesar das dificuldades técnicas como falta de energia elétrica, ambiente

geográfico dificultado, falta de conhecimento técnico e outros tantos problemas que

a população rural enfrenta, o campo ainda é o provedor dos centros urbanos. O

homem do campo enfrenta em seu dia-a-dia uma rotina de muito trabalho e muita

esperança, também. O pequeno produtor que conta com um número reduzido de

investimentos em tecnologias, espera que a natureza contribua no processo de

produção (CALLOU, 2000).

As dificuldades no acesso à informação, as identificações entre os

sujeitos fazem surgir agrupamentos de indivíduos que de alguma forma se associam

uns aos outros para amenizar suas limitações ou, até mesmo, preservar suas

conquistas. As diferenças e as semelhanças são um fator aglutinador da sociedade

e são imprescindíveis para a manutenção destes grupos.

Para se fortalecer diante dos grandes produtores, os proprietários de

pequenos pedaços de chão optam por se organizarem em cooperativas ou

associações. Este tipo de organização favorece na compra e venda dos

implementos agrícolas e facilita o acesso a informações técnicas necessárias ao

manuseio dos equipamentos e produtos como inseticidas, adubos e sementes

especiais. Além de lutarem para preservar seus costumes e valores (FRANKEN et

al, 2005).

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Se os grandes proprietários de terra dispõem de investimentos

financeiros, podendo contar com financiamentos e créditos disponibilizados pelo

governo, para disponibilizar tecnologia de ponta, por que os colonos são impedidos

de desfrutarem do mesmo benefício? É evidente que os últimos não dispõem de

recursos financeiros para investir em tecnologia mas, quando organizados, não

precisam ficar contando somente com a sorte em suas lavouras (FRANKEN et al,

2005).

Presume-se que a organização é uma das muitas maneiras de se atenuar

as diferenças sociais do setor rural. A promoção do acesso à informação, sem

dúvida, também faz parte desta luta pelo equilíbrio social a medida em que, na

Sociedade da Informação, precisam ser criadas condições irrestritas onde todas as

pessoas tenham oportunidade de participar e gozar de seus benefícios.

No Brasil, um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE) retrata os números da exclusão digital. A produção editorial do

Brasil é a oitava no mundo em volume de publicação. No entanto, o Brasil tem

13,6% de analfabetos, segundo os dados oficiais do Censo 2000. Somente na

Região Nordeste essa taxa atinge 27%. E entre a população maior de 50 anos, o

índice chega a 29,4%. No cômputo geral, 86,4 milhões de pessoas possuem

habilidades de Ieitura, mas 61% da população adulta têm pouco ou nenhum contato

com livros; 73% dos livros estão concentrados nas mãos de 16% da população, a

maior parte localizada no Sul e Sudeste. Há apenas 1.500 Iivrarias em todo o

território nacional, estabelecimento que não está presente em 89% dos municípios.

Na média geral, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios8 (IBGE,

2003) apontou que 14,6% das residências brasileiras dispõem de um

8 Anexo B: Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD), IBGE, 2003.

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microcomputador, 10% dos quais têm conexão em rede. Entre os bens duráveis,

computador foi o que mais cresceu nos últimos anos.

O Distrito Federal é o estado que apresenta maior índice de inclusão

digital, em termos de usuários de internet, lado a lado com Rio de Janeiro, São

Paulo, Santa Catarina e Paraná. O Maranhão é o menos incluído do país, fazendo

companhia ao Piauí, Tocantins, Acre e Alagoas. Na América do Sul, países com

menor população que a brasileira registram mais usuários de internet: Chile

(20,02%); Uruguai (13,61%); Peru (10,73%) e Argentina (10,38%).

Estes números foram publicados pela Revista Tema (nov./dez. 2004) e

refletem a necessidade da implantação de programas e projetos de inclusão digital,

levando tecnologia e informação à população brasileira. Esse levantamento

realizado pelo IBGE deixa claro que existem as diferenças entre as regiões mais e

as menos desenvolvidas no país, bem como no setor rural e urbano.

Nos aglomerados urbanos estamos habituados às facilidades da vida

moderna. Ainda que numa simples lâmpada, a energia elétrica está presente na

grande maioria das residências, proporcionando maior conforto e aproximando as

pessoas da tecnologia. A utilização da tecnologia se diferencia entre as classes

sociais e, aquele indivíduo que dispuser de mais possibilidades financeiras pode

fazer maior e melhor uso das tecnologias disponíveis e têm mais acesso as

informações veiculadas nestes meios.

Por sua vez, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNDA), realizada pelo IBGE em 2003, 27,8% das pessoas que tinham alguma

ocupação ganhavam até um salário mínimo, enquanto 1,3% recebia mais de 20

mínimos. Regionalmente, a concentração de renda é menor no Sul e maior no

Nordeste, que continua com remunerações médias bem inferiores às das demais

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regiões. Ou seja, as desigualdades sociais ainda são maiores no nordeste brasileiro.

Em contrapartida, entre as regiões, a Sul continuou com o maior percentual de

domicílios com rádio, máquina de lavar e freezer, enquanto a Sudeste ficou com as

maiores proporções de moradias com geladeira e televisão. O percentual de

domicílios com freezer da Região Sul (34,5%, praticamente o dobro da média

nacional) foi bastante diferenciado daqueles das demais regiões. O que quer dizer

que as classes menos abastadas, entretanto, ficam à margem da utilização das

tecnologias (ainda que sejam bens duráveis, como geladeira e freezer). Ressalta-se

que o computador foi o bem durável que mais cresceu nos últimos anos. De 2001

para 2002, o crescimento foi de 15,1% e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que,

entre os que tinham acesso à internet, o aumento nos dois períodos foi,

respectivamente, de 23,5% e 14,5%. Em 2003, 15,3% das moradias tinham

microcomputador e em 11,4% este equipamento tinha acesso à internet.

Os sistemas de comunicação massivos nem sempre conseguem alcançar

toda a população, especialmente num país de extensões continentais como o Brasil.

A grande maioria das pessoas, de acordo com levantamentos da Pesquisa Nacional

por Amostra de Domicílios (PNDA), utilizam os aparelhos de televisão para compor

seu repertório de notícias, no dia-a-dia. Na área rural de Mato Grosso do Sul a

utilização de aparelhos de rádios à pilha, segundo Ota (2000) é favorecida pelo

baixo custo, disponibilidade de recepção em praticamente todos os lugares a toda

hora e a exigência de apenas um sentido, a audição. São comuns pela escassez de

energia elétrica e pelo fato destes serem acessíveis, economicamente, dentre os

meios de comunicação de massa.

EI medio que conecta a Ias poblaciones de Ia América Latina rural, con su comunidad y con el mundo, es una vieja TIC, Ia radio. La radio es el media de comunicación más accesible, más flexible y de mayor penetración. Las

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estaciones de radio Iocales se encuentran cerca de sus comunidades, gozan de su confianza, tienen un conocimiento íntimo de los problemas de Ia comunidad y de sus capacidades. Cuando estas radios disponen de acceso a Internet y del conocimiento necesario para su uso, pueden transformarse en excelentes "intermediarios", capaces de acercar el conocimiento del mundo a Ias comunidades más remotas9 (http://www.fao.org/sd/dim_kn1/kn1_040401a1_es.htm).

Para que a comunicação seja fator de desenvolvimento social é

necessário levar em conta os conteúdos das mensagens veiculadas, para que elas

possam ser fator de inclusão e não de alienação. Guareschi (1991) afirma que a

comunicação constrói a realidade, e nisto reside seu poder:

Não seria exagero dizer que a comunicação constrói a realidade. Num mundo todo permeado de comunicação - um mundo de sinais - num mundo todo teleinformatizado, a única realidade passa a ser a representação da realidade - um mundo simbólico, imaterial.[...] Como conseqüência lógica do que se viu, podemos também afirmar que quem detém a comunicação, detém o poder. Se for a comunicação que constrói a realidade, quem detém a construção dessa realidade detém também o poder sobre a existência das coisas, sobre a difusão das idéias, sobre a criação da opinião pública (GUARESCHI, 1991. p. 14).

Com uma estrutura influenciando os indivíduos para que não sejam

críticos frente a uma situação, o acesso à informação fica condicionado ao

oferecimento das mensagens. Estas são dificuldades que existem, tanto no campo

quanto nas cidades, mas a possibilidade de estar inserido no processo de

construção do conhecimento aumenta quando você está adaptado ao seu ambiente.

9 O meio que conecta as populações da América Latina rural, com sua comunidade e com o mundo, é uma TIC, o rádio. O rádio é o meio de comunicação mais acessível, mais flexível e de maior penetração. As estações de rádio locais se encontram próximas de suas comunidades, gozam de sua confiança, tem um conhecimento íntimo dos problemas da comunidade e de suas capacidades. Quando estas rádios dispõem de acesso a Internet e do conhecimento necessário para seu uso, podem transformar-se em excelentes “intermediários”, capazes de aproximar o conhecimento do mundo as comunidades mais remotas. (Tradução da pesquisadora).

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Pela escassez de oportunidades no campo, segundo Graziano Neto

(2000), as pessoas costumam acreditar que nos centros urbanos irão conseguir

respostas aos problemas surgidos e maior possibilidade de modernização. Ocorre

que, neste tipo de migração, campo/cidade, além de sofrer com a miséria de antes, o

indivíduo ainda terá de se adaptar às novas condições de vida. No setor rural, as

diferenças sociais também existem e se acentuam ainda mais quando retratamos a

situação das pequenas propriedades rurais. Estão presentes, especialmente

naquelas propriedades onde predominam o baixo nível de escolaridade, o pouco

acesso à informação, a infra-estrutura precária ou inexistente, e o ciclo de miséria

causado pelo enfraquecimento da produção de subsistência em detrimento da

estagnação econômica e tecnológica.

Pela mesma razão o incrível desequilíbrio da estrutura fundiária em favor do latifúndio não constitui escândalo. Embora a Constituição Brasileira, defina que "a propriedade atenderá a sua função social", a mentalidade brasileira está embebida pelos direitos inalienáveis de propriedade que herdou do período escravista. Com base em elementos de uma legislação variada, foi consagrada, a partir do fim do regime militar, a idéia de que apenas o latifúndio "improdutivo" - vale dizer, terras abandonadas seria passível de desapropriação para a reforma agrária. Esta idéia não leva em consideração que a existência em Iarga escala do latifúndio produtivo voltado para a exportação desequilibra a política agrária a seu favor, inviabilizando a pequena propriedade (ALMEIDA, 2000, p. 4).

Com um faturamento de cerca de R$ 160,65 bilhões no ano de 2004

(NAKASIMA, [publicação eletrônica – e-mail]), as atividades comerciais que

envolvem o meio rural brasileiro estão em franco desenvolvimento. Grandes

extensões de terras férteis e tecnologias de ponta disponíveis, os latifúndios, hoje,

têm status de grandes empresas, como cita Graziano Neto (2000), onde o que não

dá lucro é imediatamente substituído. As informações chegam através de satélites,

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os leilões são virtuais e os negócios circulam pelas bolsas de valores do mundo

inteiro em tempo real.

Para os pequenos proprietários, esta tecnologia é quase inatingível. Esta

população sofre com a falta de estrutura necessária para o acesso às tecnologias.

Em muitos sítios, lotes de assentamentos e pequenas fazendas a população não

possui infraestrutura necessária para a sua sobrevivência e muito menos para a

modernização de sua produção. Faz-se urgente a implantação de um programa

governamental para disponibilizar a infra-estrutura. Este é o primeiro degrau rumo a

promoção da cidadania através da inclusão digital. E esta situação se refere a

inúmeras pessoas que vivem na zona rural deste país:

A miséria continua, mas mudou e se faz presente na cidade também. Antes, a pobreza adivinha, principalmente, da terra improdutiva, da negação da produção. Agora, ela é gerada no próprio seio da produção capitalista, cuja expansão apresenta caráter excludente. A modernização do latifúndio e a urbanização acelerada alteraram completamente o quadro dos problemas agrários brasileiros (GRAZIANO NETO, 2000. p.31).

Para se conquistar uma sociedade justa, onde todos tenham acesso à

informação e a possibilidade de escolher conscientemente os rumos que devem

tomar, é necessário um repensar dos conceitos e visão de mundo tendo como

parâmetro as tecnologias de informação. Isto porque estas tecnologias estão

alterando a organização da sociedade. A proposta da inclusão social, por meio da

implantação da Sociedade da Informação, está sendo responsável por

transformações, dando origem a novas ações no âmbito social como o

fortalecimento da liberdade, modernização do trabalho cooperativo, democratização

do acesso ao conhecimento, identificação e valorização das multiplicidades culturais.

Da mesma forma, deve-se estar atento com esta nova situação e manter uma

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constante avaliação durante sua implantação, evitando o risco da perda dos direitos

já conquistados, além de outros problemas, tais como a exclusão digital e o

gradativo isolamento do convívio social, agravando o estabelecimento do diálogo

necessário nessa nova organização social.

As TIC’s e a comunicação têm um papel fundamental de promover esta

interação e de favorecer o acesso à informação. Juntamente com os programas

governamentais e as iniciativas isoladas, devemos estar conscientes da

responsabilidade com o outro. Promovendo o diálogo e o acesso às informações, a

comunicação é o meio de melhorar as condições de vida e o despertar da cidadania

destas pessoas, construindo uma sociedade cada vez mais crítica e incluída no

processo de modernização de todo o país.

As iniciativas governamentais e não governamentais de inclusão digital

trazem uma proposta para esta reflexão. Estes são os primeiros passos de uma

longa jornada na tentativa de compreender mais sobre as tecnologias, sobre o

conhecimento, sobre os meios e mais ainda sobre como os sujeitos se relacionam

na vida em sociedade. É o começo do desenvolvimento de uma nova consciência

preocupada com a modernização e a implantação da Sociedade da Informação,

levando em conta que esta sociedade deve ser de todos, e que acima de tudo,

envolve pessoas e não somente a modernização tecnológica. E, com este

pensamento, é que se acredita poder talvez atenuar as diferenças sociais presentes

na sociedade.

É importante lembrar que, se nas áreas urbanas existem dificuldades no

atendimento às demandas e necessidades de utilização de tecnologias de

informação e comunicação, certamente no meio rural isso se agrava e muito. Assim,

a comunicação rural, nesse cenário de mudanças e transformações sociais

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extremamente ágeis, é um tema de interesse novamente emergente e carente de

estudos. Tal é uma das dimensões da contribuição deste trabalho, apresentando-se,

a seguir, um recorte para uma breve sistematização desse tema no Brasil.

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3 A COMUNICAÇÃO RURAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Se alguém me perguntasse qual, hoje, é o maior problema da nossa agricultura, eu responderia sem pestanejar: sua imagem negativa e deformada. A sociedade urbana-industrial, por uma série de razões [...], vem tratando a atividade rural com menosprezo e certo preconceito (GRAZIANO NETO, 2000. p.11).

Com a imagem nem sempre valorizada, o setor agrícola no nosso país

funciona como um dos esteios da economia. Fragilizadas, todas as ações ficam à

margem e sujeitas a sansões e aprovações burocráticas que, nem sempre, estão

alinhadas com as necessidades específicas da agricultura e da pecuária e de seu

ciclo próprio de desenvolvimento, não sendo possível condicioná-la aos fluxos de

liberação de financiamentos e das vontades políticas. Além dos ciclos diferenciados

das outras atividades, é necessário perceber que o setor rural no país carece de

uma política econômica que possa favorecer seu desenvolvimento.

Mas como isto acontece, sendo que “a terra” sempre significou poder?

Sem pretender esgotar essa questão, busca-se oferecer esta resposta ao

acompanhar alguns momentos da história do Brasil, relatados em Graziano (2000),

Santos e Vieira (2000). Desde o governo de Juscelino Kubitschek, 1956-1961, o

Brasil passou por um significativo crescimento industrial. O mundo também passava

por transformações e acreditava-se que o desenvolvimento industrial fosse tido

como “o motor do crescimento”. As políticas econômicas, naquele momento,

deveriam favorecer o desenvolvimento da indústria. Porém, na política nacional, os

oligarcas rurais continuavam a ter seu poder.

Na década 60, o mundo começa a perceber que existem muitas

vantagens em se manter o setor rural em sintonia de crescimento com o setor

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industrial. Santos e Vieira (2000), citando Johnston e Mellor (1961), dizem que

existem cinco formas de contribuição da agricultura nas transformações estruturais

que a economia estava atravessando: mão-de-obra; capital; divisas externas;

alimentos e fornecimento de matéria prima para os produtos industrializados do

próprio país. No Brasil, infelizmente, as coisas não foram bem assim. Após o regime

militar, período que durou entre 1964 a 1984, as políticas de redemocratização e a

abertura econômica transferiram a representatividade política para os segmentos

sociais que conquistaram credibilidade, força e poder político. Para a sociedade

brasileira, novamente o campo representa lugar de atraso.

Nunca me conformei com a imagem distorcida com a qual o mundo urbano olha o campo, enxergando-o como local de atraso. Parece que tudo que é moderno ta na cidade. É incrível: a sociedade brasileira se urbanizou em 30 anos, criando megalópoles fantásticas. Tudo isso somente foi possível devido às enormes transformações ocorridas na base técnica da produção agropecuária. O aumento da produtividade do trabalho foi imenso; cada vez menos gente no campo alimentando mais gente nas cidades (GRAZIANO NETO, 2000, p. 12).

No entanto, existem algumas explicações para que a imagem do campo

tenha sido legada ao anonimato: explicação histórica (latifúndio, coronéis do sertão,

etc.); explicação pela inflação (patrimonialismo, especulação territorial, etc.);

explicação cultural (êxodo rural, rápida transição de uma sociedade agrária para

sociedade urbana, etc.); explicação de ordem ecológica (desmatamento, o uso de

agrotóxicos, etc.); explicação política (grupos sociais organizados; declínio das

cooperativas e associações dos pequenos proprietários, etc.); explicação do

endividamento recente da agricultura (inconsistência das políticas de crédito rural,

etc.). Nestas explicações, residem os motivos pelos quais a imagem do setor rural

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brasileiro está tão denegrida, enfraquecendo um dos principais pilares do

desenvolvimento do país (GRAZIANO NETO, 2000).

O setor rural na sociedade brasileira possui suas particularidades. O

campo tem se modificado mundialmente como parte integrante de uma sociedade

que também passa por transformações. No Brasil, o setor rural, ainda que isso não

aconteça a um só tempo em todas as regiões, também acompanha estas

transformações. A globalização do capital exige que se modifiquem os processos

mercadológicos de compra e venda de produtos e de técnicas que, desde o início

dos anos 70 começam a dar um novo formato às relações comerciais e sociais

(SIQUEIRA, 2002).

A modernização do campo torna-se imperativa para a sobrevivência de

seus produtores, num mercado cada vez mais competitivo. Seja por intermédio da

adoção de novas técnicas, ou ainda, na abertura de mercados para importação e/ou

exportação de equipamentos, produtos e insumos, a agropecuária tornou-se o esteio

da balança comercial brasileira, gerando U$ 11,3 bilhões de dólares no ano de 1997

(GRAZIANO, 2000). Com o avanço tecnológico, as relações de comércio passam a

ser fundamentais para a sobrevivência econômica da vida no campo. A

especialização e o acesso às informações tornam-se importantes para se reduzir

custos, aumentar a produção e na obtenção de vantagem competitiva:

As mudanças em curso no panorama econômico mundial vêm provocando transformações no agronegócio nacional e mundial. A procura pela diferenciação e diversificação de produtos, acarretando uma segmentação mais fina de mercados, tem como pano de fundo a exigência crescente dos consumidores quanto à qualidade dos produtos e serviços e a busca do estabelecimento de vantagens competitivas mais duradouras (BATALHA, 2000, p.12).

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Levando-se em conta a comunicação rural e todas as suas

particularidades, certamente que contribui para que as informações possam,

juntamente com as experiências adquiridas, compor a construção de um novo

conhecimento. Privilegiando as especificidades de cada região, a comunicação rural

corrobora para que não ocorra apenas uma comunicação verticalizada com a

disseminação de novos conceitos ou apenas transferências de novas tecnologias de

cultivo, mas uma comunicação essencialmente educativa que promova a construção

do senso crítico das pessoas.

O Desenvolvimento Rural é um complexo e harmônico processo de mudança que requer a intervenção coerente de um amplo número de fatores. Um deles é a Comunicação, entendendo-se esta como parte de um processo educativo e como um fluxo programado e sistemático de informações entre os diversos interlocutores ou setores sociais envolvidos no desenvolvimento, com a finalidade de fazer mais consciente, plena e efetiva sua participação (Relatório da Reunião-Oficina “A comunicação como fator de Desenvolvimento Rural”- Santiago do Chile julho de 1986. In: BRAGA, 1993).

As Tecnologias da Informação e Comunicação conseguem cumprir seu

papel a medida em que colaboram na acessibilidade das informações, promovendo

a inserção do sujeito que vive no campo neste novo contexto tecnológico. Se

produzida contemplando as identidades e as culturas regionais, abre-se a

possibilidade de transformar as relações sociais e, em especial, as organizações e

grupos sociais, e de contribuir para que o acesso à informação seja para todos.

Para Jovchelovitch (2000), a maneira com a qual o homem se relaciona

com as tecnologias e constrói seu contexto social, pode ser fator decisivo na tomada

de decisões e ainda influenciar todo o seu comportamento social, sendo o acesso à

informação, na área rural, determinante na inclusão e exclusão social dos sujeitos

pertencentes àquele ambiente.

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O sujeito constrói, na sua relação com o mundo, um novo mundo de significados. De um lado, é através de sua atividade e relação com os outros que as representações têm origem, permitindo uma mediação entre o sujeito e o mundo que ele ao mesmo tempo descobre e constrói (JOVCHELOVITCH, 2000, p.78).

No ambiente rural, pode-se dizer que tem sido presenciada, de alguma

forma, a utilização de tecnologias de ponta, bem como também tem havido alguma

contribuição na modernização tecnológica mundial. Isso parece estar ocorrendo em

virtude das relações de imposição exercidas entre o mercado globalizado e o

cotidiano das pessoas e determinam sua inserção e sua representatividade na

sociedade.

A comunicação rural, por tradição, caracterizava-se pelo contato pessoal:

técnico/agricultor. Esta comunicação apresenta algumas falhas, como por exemplo:

a comunicação era unilateral (o técnico fala, os agricultores escutam) e nem sempre

a mensagem era compreendida por todos. Hoje, mediados pelas tecnologias

disponíveis como telefonia móvel, rádios à pilha, computadores portáteis e outros, é

possível transmitir a mensagem à distância, sem a necessidade do contato

presencial do extensionista. A comunicação torna-se mais democrática a medida em

que possibilita o acesso às fontes de informação. Contudo, somente a

disponibilidade dos meios não é o suficiente para que as pessoas possam se

beneficiar dele. É necessário todo um trabalho de educação e conscientização da

população em questão, para que as TIC’s possam cumprir seu papel (CALLOU,

2000).

[...] a Comunicação Rural tradicionalmente se caracterizou por uma comunicação face a face entre extensionistas (organizações) e agricultores e seus familiares (população rural). Seja na perspectiva da difusão de Inovações, vertical, persuasiva, seja na perspectiva horizontal ou participativa. São famosos os "dias de campo", as demonstrações, os clubes de jovens, as reuniões, a assistência técnica, as visitas, as

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celebrações, as CEB (Comunidades Eclesiais de Base), os diagnósticos participativos, a pesquisa-ação, os mutirões, entre outras estratégias de comunicação realizadas por extensionistas governamentais e não governamentais e por laicos e religiosos da Igreja Católica. Portanto, havia, e ainda há, uma interatividade presencial na Comunicação Rural. O que não significa dizer que exista, necessariamente, uma comunicação horizontal nessa interatividade. Os processos verticais de comunicação na Extensão Rural, sobretudo governamental, são por demais conhecidos, cujos resultados foram nefastos para as populações rurais em vários aspectos da sua vida sócio-econômica e política (CALLOU, 2000, p. 3).

Para se entender este grupamento social tão singular, surgem nomes que

traduzem a preocupação de fomentar e disponibilizar informações para que estes

sujeitos possam construir seus conhecimentos e interagir com o mundo sem

fronteiras ou limitações. Um dos nomes mais respeitados no que se refere à

Comunicação Rural e de uma maneira especial na humanização do conhecimento

no setor rural é Paulo Freire, renomado educador brasileiro, para ele, as mudanças

radicais nas estruturas sociais promovem o despertar da consciência, e, desse

modo, propõe o diálogo como forma de libertação humana e sua forte sensibilidade

moral refletem seu compromisso integral com a sociedade. Afirmou que “o

trabalhador social que opta pela mudança não teme a liberdade, não prescreve, não

manipula, não foge da comunicação, pelo contrário, a procura e a vive” (1981, p.51).

Sua obra é uma importante contribuição para os estudos da comunicação,

principalmente na era da revolução digital, oferecendo-nos parâmetros para

enfrentarmos os desafios do mundo contemporâneo.

A partir de sua visão da natureza humana, Freire (Apud LIMA, 2001)

mencionou que os homens se diferenciam dos animais especialmente por possuírem

postura crítica, pluralidade, conseqüência e transcendência. O homem enquanto

sujeito criativo, interage com o mundo e com seu contexto, sendo tratado como

objeto somente pelos sistemas opressivos. O pensamento de Freire vem contribuir à

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medida que coloca os indivíduos como responsáveis uns pelos outros, amenizando

as diferenças sociais. A comunicação rural, quando considerada como co-produtora

da inclusão social, promove o diálogo, o respeito e o comprometimento com o outro,

facilitando o acesso às informações através da face educativa da comunicação.

A América Latina não é apenas o lugar de uma crítica radical das teorias da modernização aplicadas à difusão de inovações junto aos camponeses, no âmbito de tímidas reformas agrárias, à política de planejamento familiar ou o ensino à distância, mas produz também iniciativas que rompem com o modo vertical de transmissão das “ideais” de desenvolvimento. Um exemplo disso é a obra de Paulo Freire (1921-1997), Pedagogia de oprimido [1970], que exerceu profunda influência na orientação de estratégias de comunicação popular e alcançou difusão mundial (MATTELART, 2000, p.119).

Nas palavras de Freire “educação é diálogo”, constata-se que a

responsabilidade do comunicador vai além do transmitir informações, deixa de ser

“meio” e passa a ser a própria mensagem, interagindo com o outro, dialogando,

dando condições dos indivíduos compreenderem as mensagens (bem como suas

manipulações). Neste processo a troca de experiências é mútua e o processo de

ensino-aprendizagem é constante e multidirecional. Aprende quem ensina e ensina

quem aprende.

Um dos principais desafios da comunicação rural é exatamente levar as

informações pertinentes para inserção das pessoas do campo, e, ao mesmo tempo,

fazer parte do processo de educação, ensinando e aprendendo, transformando as

informações em conhecimento aplicado, trazendo a oportunidade de desvendar as

mensagens subliminares, e assim favorecer a modernização rural, que pode ser

entendida, segundo Bordenave como sendo “o resultado de uma série de

transformações quantitativas e qualitativas que se reproduzem no meio da

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população rural” e que, ao longo do tempo, pode melhorar o nível de vidas das

pessoas (BORDENAVE, 1988).

Aliadas às TIC’s, a comunicação rural tem um papel fundamental na

promoção da inclusão social, sem, no entanto, destituir o sujeito de suas

características culturais, frente a um mundo globalizado e cheios de atrativos

tecnológicos:

O que se pretende com esses estudos é encontrar novas formas de Comunicação Rural com o contexto popular agrário, no sentido de atender as necessidades da população frente aos atuais processos de exclusão social. Em última instância, o que se pretende é encontrar o lugar das populações rurais numa era marcada e estruturada pelas tecnologias do virtual (CALLOU, 2000, p.2).

Para a compreensão da realidade rural, bem como seus sujeitos e

contextos, são necessários conhecimentos que facilitam a compreensão de como se

constrói a organização social deste universo diferente do urbano. Faz-se relevante,

também, a observação de pensadores e pesquisadores da área para que a pesquisa

possa tornar-se produtiva e concreta. Freire (1992) assim como Guareschi (1999), e

suas concepções de responsabilidade não se limitaram a fomentar informações ou a

transferir ensinamentos, demonstram sim, que para transformar a sociedade num

lugar melhor de se viver sem dominados e dominadores, sem explorados e

exploradores, é necessário que todos enfrentem as mudanças com

comprometimento e amor pelo outro:

A luta para superar a dominação externa, quando o poder está fora da comunidade nacional, e interna, quando o poder é exercido por um pequeno grupo dominante – é o problema central no planejamento e regulamentação da comunicação em nossos dias, mesmo que isso não seja reconhecido. Tanto no campo internacional, como no regional e individual, essa luta, embora muitas vezes mascarada e obscurecida, trava-

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se entre as forças da dominação dum lado e os que resistem ou desafiam essas forças, do outro. Todos os problemas básicos no campo com essa confrontação fundamental e cada dia mais crescente (GUARESCHI, 1999, p.84).

Busca-se, a partir do envolvimento de mundos tão distintos entre si,

estabelecer elos entre a comunicação rural, a sociedade da informação, os

assentamentos e, ainda, os excluídos. Acredita-se, desse modo, atender à

necessidade de inserirmos essa área de comunicação como fator preponderante de

uma economia informacional, característica da sociedade contemporânea.

Os assentamentos, em especial, têm sido, em sua essência, a esperança

de muitos brasileiros que, pelo desemprego, e pela falta de oportunidade, estão

excluídos até mesmo de tentar reingressar no competitivo mercado global. É certo

que nesta miscelânea de excluídos, cria-se a oportunidade para aproveitadores, sem

nenhuma vocação para o campo, se misturarem e tirarem algum proveito daquela

situação de miséria nas quais, a maioria dos acampados, estão mergulhados. No

cenário geral, é difícil separar o joio do trigo. Mas a facilidade dos generalismos é

injusta, além de descaracterizar o cientificismo esperado numa pesquisa.

Tem-se aí, claro, o papel da Comunicação Social na promoção do acesso

às informações que sejam pertinentes e esclarecedoras, a fim que as pessoas

possam ser capazes de avaliar criticamente as mensagens relevantes para sua

realidade. Informar cidadãos para que possam ser construtores de sua própria

identidade. Este é apenas o início do processo de despertar, no sentido da

construção da sociedade que pretendemos e pela qual somos responsáveis. Diante

do exposto, é importante fazer um novo recorte para buscar saber como se

caracteriza a chamada zona rural no contexto brasileiro e quais as suas

características principais. Essa questão é de fundamental importância para que se

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possa fazer um estudo sobre o contexto atual da comunicação rural no Brasil,

pensando também que:

Se a agricultura realmente conseguir se comunicar através de uma nova linguagem, se melhorar sua representação política e, o mais importante, se se organizar, o resto acontece. Aí se poderá, enfim, criar uma verdadeira política agrícola, que deverá ser chamada de política dos agronegócios. Neste momento, a agricultura estará colocada no centro da política econômica do país (GRAZIANO NETO, 2000.p.19).

3.1 A zona rural brasileira e as políticas de assentamentos

A luta pela terra tem seu início juntamente com a história da humanidade.

Seja por maiores extensões de terra representando melhores condições de

sobrevivência com alimentação abundante, seja no sentido de delimitar território, o

homem sempre esteve em busca de um lugar ideal que pudesse prover as famílias

de suas necessidades básicas e ainda instalar-se com maior segurança dentro dos

limites de suas propriedades.

Para viver, todo o ser vivo tem que comer. Primeiro o alimento silvestre tornou possível a sobrevivência das sociedades primitivas e nômades; depois, ao perceber que uma vida mais estável e confortável exigia um mínimo de segurança alimentar, só conferida por uma macro-estratégia de produção, armazenamento e distribuição de alguns produtos de sua alimentação, estas sociedades evoluíram para o sedentarismo; em seguida, as sociedades sedentárias puderam expandir sua população de forma sustentável e seu poder de troca junto a outras sociedades através da produção de excedentes; e, finalmente, as sociedades em estágio mais avançado descobriram que a produção de excedentes fazia nascer uma espécie de por diferente entre esta e outras sociedades (BERNAL apud FLORES; SILVA, 1994, p. 18).

Com o passar do tempo, as necessidades começam a se diversificar e a

humanidade passa a querer não somente conforto, fartura e segurança para sua

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prole, mas também poder. O domínio que o homem exerce na terra faz dele o

senhor de todos os animais. Essa dominação começa a ser sinônimo de poder e,

quanto maior seu domínio, ou seja, suas terras, maior também seu poder.

As relações de poder sempre estiveram presentes nas relações sociais.

No que diz respeito às terras isso se potencializa pela exploração de recursos

naturais ou pela especulação fundiária. Já na Idade Média as terras eram motivos de

guerras e os povos derrotados eram subjugados e dominados. Os senhores feudais

também eram os donos das terras e do poder. Depois foi se descobrindo o comércio

e com ele o valor mercadológico das terras. Quem possuía terras, possuía também

dinheiro (MORISSAWA, 2001.p. 16).

A situação não mudou muito. Hoje, as pequenas propriedade rurais são

absorvidas pelas estruturas tecnológicas e pelos investimentos dos grandes

produtores rurais. A miséria do campo e os atrativos urbanos desestimulam as

famílias nas empreitadas rurais. Sem condições de oferecer uma infra-estrutura

adequada às suas necessidades, as famílias preferem viver à margem da sociedade

nos centros urbanos que perecerem por falta de recursos na zona rural (ALMEIDA,

2000).

As políticas públicas agrárias estão associadas freqüentemente aos

conflitos no campo e são, portanto, formas de intervenção para minimizar as tensões

sociais específicas, em busca de um consenso. A luta pela terra, presente desde o

Brasil Colonial, vem assumindo diferentes características ao longo dos anos sendo

evidenciada através dos vários conflitos que demonstram a dinâmica das

populações rurais. Assim, a implantação de assentamentos é um tipo de política

pública que, no caso brasileiro, está vinculada a uma tentativa de controlar e atenuar

a violência dos conflitos sociais no campo e que ganharam uma grande dimensão a

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partir do surgimento das Ligas Camponesas. Entretanto, através da implantação dos

assentamentos cria-se um locus para o exercício do controle e também de disputas

(SILVA, 2001).

Os conflitos no campo possuíram uma grande diversidade de parceiros e

atores envolvidos em uma grande diversidade de conflitos, que Bergamasco; Norder

(1996) observaram ao estabelecer cinco tipos de assentamentos rurais: projetos de

colonização formulados durante o regime militar, visando a ocupação de áreas

devolutas e a expansão da fronteira agrícola: reassentamento de populações

atingidas por barragens de usinas hidrelétricas: planos estaduais de valorização de

terras públicas e de regularização possessória, programas de Reforma Agrária10

através da desapropriação por interesse social e a criação de reservas extrativistas

para seringueiros da região amazônica e outras atividades voltadas ao

aproveitamento de recursos naturais renováveis.

A criação de assentamentos rurais envolve a concepção de como deve ser gerada a propriedade agrícola para os pequenos produtores rurais, projeto este que se relaciona com os diversos atores envolvidos e está vinculado a vários conflitos na luta pela terra ou pela permanência nela. Além das diversas instituições criadas em decorrência dessas lutas que se acirram principalmente a partir dos anos 80 propiciados pelo cenário de abertura política e que contaram com o apoio de diversos setores da sociedade inclusive da Igreja Católica (SILVA, 2001. p. 3).

Ainda, de acordo com Silva (2001) dentre essas lutas podemos destacar:

o movimento dos atingidos por barragens de Sobradinho e Itaparica, construídas

pela Companhia Hidrelétrica de São Francisco, que se organizaram através da

CONTAG (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura) e da CPT (Comissão

10 “Art.1 § 1° Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade” (Lei 4504 – Estatuto da Terra – Anexo C).

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Pastoral da Terra) exigindo terras próximas às margens do lago; os atingidos pela

barragem de Itaipu (1978/1982) e as do Rio Uruguai (1980/1992) pelas Centrais

Elétricas do Sul do País, a barragem de Tucuruí, construída pelas Centrais Elétricas

do Norte do Brasil, além da constituição do Movimento dos Agricultores Sem Terra

do Oeste do Paraná (MASTRO).

Essas lutas deram origem no Sudeste e no Sul do Brasil ao Movimento

dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que surgiu no Rio Grande do Sul durante o

governo militar como oposição das políticas agrárias desenvolvidas pelo governo

que visavam a modernização da agricultura. Sua origem se deve entre vários outros

fatores a expulsão dos arrendatários da Fazendo Nonai, dos índios kaigang, em

Santa Catarina que ficaram sem terra para trabalhar e se juntaram ao acampamento

organizado pelo MST, com o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de

setores progressistas da Igreja, no acampamento que reuniu mais de quinhentas

famílias na Encruzilhada Natalino, no Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1981

(MANÇANO, 1989).

Dentre os aspectos que foram decisivos para o surgimento do MST no Rio

Grande do Sul podemos destacar a liberalização política, os impactos da

modernização, e a ação de setores progressistas das Igrejas católica e luterana

criando um espaço de discussão, conscientização e formação política. O MST,

devido a ações ofensivas como as ocupações, propiciou a redefinição das políticas

públicas para o campo e a reorientação dos assentamentos rurais (SILVA, 2001).

Por outro lado, de acordo com Silva (2001), a desapropriação por

interesse social deixou de figurar como medida prioritária, privilegiando-se a

ocupação de terras públicas e a desapropriação negociada. Isso despertou o

interesse de muitos proprietários ante a possibilidade de ter suas terras inférteis

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indenizadas pelo governo. Além desses entraves, considerou-se que os imóveis com

grande incidência de parceiros, meeiros e arrendatários estariam cumprindo sua

função social e, a Reforma Agrária, passou então a ser considerada meta dos

governos que se seguiram, mas, os projetos envolvendo essa reforma, só foram

efetivados após intensa reivindicação dos movimentos sociais. Os movimentos

sociais e as outras entidades relacionadas com a luta pela terra passaram a utilizar

os conflitos como estratégias de luta para acelerar a implementação de novos

assentamentos. As invasões e ocupações passaram a ser duramente reprimidas

pelos proprietários que através de ações exemplares procuraram inibir novas

ocupações, o que acabou por resultar em enormes confrontos e em massacres

como os que ocorreram em Corumbiara e em Eldorado dos Carajás (SILVA, 2001).

Os assentamentos rurais são descritos por Ferrante (1999) como projetos

públicos, ações aparentemente não-políticas efetuadas pelo Estado, responsável

pela alocação das populações e pelo traçado das rígidas regras de vocação agrícola

e de produtividade, mas que representam interesses e relações de poder das

classes envolvidas. Nesse processo, os programas de assentamentos idealizados

pelo governo, esvaziam o assentado de suas experiências anteriores e de suas

aptidões, que não são considerados nem no planejamento nem na execução das

políticas, onde também desaparece o fato de que a maioria dos assentamentos é

fruto de um processo de luta, e os diversos interesses continuam a se defrontar no

interior dos assentamentos. Esse espaço de disputa indica que os resultados das

políticas sociais não podem ser definidos de antemão, mas que se definem no

decorrer do processo e dependem das relações de força e da capacidade de

organização dos interesses em jogo.

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O assentamento aparece como uma dádiva oferecida pelo governo a que

os assentados não têm o que questionar, os assentados são pensados como

agentes em mutação, numa concepção de mudança em que o comportamento dos

assentados ou a construção desse é orientada, sofrendo alterações na sociabilidade

e nas formas de organização políticas propiciadas através do associativismo e do

cooperativismo. Entretanto, esse processo não ocorre sem impasses e se faz

presente na relação dos assentados com o poder local, ora recusando, ora

aceitando as políticas a serem implantadas, o espaço social por sua vez é

permanentemente reproduzido o que permite a adaptação, aceitação ou assimilação

de forma diferente da que foi planejada pelo governo (FERRANTE, 1999).

Ferrante (1999) e Bergamasco apud Norder (1996), através de um estudo

realizado em assentamentos rurais no estado de São Paulo, concluíram que nos

assentamentos onde as pessoas estavam unidas por laços de parentesco ou por

experiências comuns vivenciadas anteriormente, os índices de evasão eram quase

nulos e possuíam um melhor desempenho econômico.

Além do mais, os técnicos governamentais avaliam o sucesso dos

assentamentos a partir de variáveis como geração de renda e desempenho

econômico dos assentados, que, considerados isoladamente, são insuficientes para

tal avaliação. Torna-se necessário incorporar outros fatores como autoconsumo,

assalariamento e a valorização patrimonial, além de confrontar tais índices no

tempo, com o tipo de sociabilidade construída no assentamento, entre outros.

Ressalta-se que os assentamentos rurais são muito importantes para a produção de

alimentos dos municípios onde estão localizados, e, a qualidade de vida da

população alvo da Reforma Agrária, encontra-se em nível superior ao restante dos

trabalhadores rurais, apesar das diversas dificuldades que os assentados enfrentam,

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como baixo nível educacional, falta de infra-estrutura que permita o avanço

tecnológico, assistência técnica inadequada e suficiente, dificuldade na

comercialização de produtos, etc. É fundamental contextualizar o sujeito rural e

suas particularidades. E ainda, considerar fatores como vocação para o

desempenho do trabalho no campo, suporte técnico e financeiro para iniciar suas

atividades, bem-estar da família e interação social periódica, além da necessidade

de acompanhamento e projetos educacionais constantes (SILVA, 2001).

Houve uma mudança na concepção do que seriam terras improdutivas,

para a destinação da reforma agrária. As grandes propriedades são administradas

como empresas adequando-se as novas tecnologias e as variações do mercado. É

inequívoca uma demanda numerosa por terras e assentamentos para fins de

reforma agrária no Brasil, conforme se pode observar na tabela (nº 1), a seguir:

TABELA 1. NÚMERO DE DEMANDANTES POR TERRA E PROJEÇÕES POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO, BRASIL – 1998, 2000, 2003 E 2005

Projeções Número de Demandantes por Terra

Unidades da

Federação

Número de demandantes

1985

Número de demandantes

1995/96 1998 2000 2003 2005 AC 25.450 9.849 16.106 13.597 10.546 8.903AP 4.957 1.647 4.247 3.719 3.047 2.668RO 46.478 20.852 29.300 25.192 20.085 17.269RR 3.663 1.972 3.765 3.499 3.136 2.915TO 23.992 18.808 18.380 17.575 16.434 15.715AM 73.849 45.629 34.472 29.958 24.272 21.094PA 144.034 82.520 72.485 62.634 50.311 43.474MA 473.089 344.147 308.785 288.597 206.764 243.716PI 210.380 146.163 157.286 147.238 133.357 124.838CE 257.245 283.785 224.005 228.004 234.136 238.316RN 91.015 71.944 77.609 74.657 70.438 67.759PB 160.388 102.684 132.607 123.563 111.140 103.506PE 307.189 210.782 228.459 213.361 192.564 179.839AL 146.299 103.986 106.328 99.712 90.551 84.917SE 85.851 74.591 73.208 71.476 68.955 67.324BA 516.242 405.115 367.839 350.571 326.177 310.864MS 46.669 33.451 16.119 14.004 11.342 9.854MT 53.282 38.916 5.717 3.497 1.674 1.024GO 86.793 62.633 34.585 30.742 25.763 22.901MG 330.108 241.353 222.293 208.413 189.202 177.388ES 36.354 25.644 0 0 0 0RJ 61.405 28.743 24.814 19.524 13.627 10.722SP 253.756 151.858 140.891 124.664 103.760 91.809

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TABELA 1. NÚMERO DE DEMANDANTES POR TERRA E PROJEÇÕES POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO, BRASIL – 1998, 2000, 2003 E 2005 cont...

Projeções Número de Demandantes por Terra

Unidades da

Federação

Número de demandantes

1985

Número de demandantes

1995/96 1998 2000 2003 2005 PR 290.632 172.663 168.576 149.811 125.506 111.535SC 89.343 58.836 37.803 32.927 26.766 23.313RS 192.609 137.663 113.671 105.034 93.293 86.204 Total 4.011.068 2.876.230 2.636.995 2.459.181 2.214.688 2.065.351FONTE: Buainain (2005, p. 29).

Quando o sonho de um pedaço de chão é levado adiante, normalmente

as pessoas optam em engrossar as massas que lutam pela terra. É possível

observar nos telejornais diários que os acampamentos à beira das estradas e

rodovias no interior do Brasil tem crescido em número de famílias e em quantidade

de acampamentos (MORISSAWA, 2001).

São favelas rurais à espera da Reforma Agrária. Estas famílias vivem

precariamente com os parcos recursos que o governo repassa, em forma de cestas

básicas de alimentação em períodos determinados. Como as propriedades nas

quais estão acampados são particulares ou do governo, as pessoas não podem

desenvolver os cultivos de plantas ou animais para seu consumo, limitando-se a

aguardar os proventos do governo. É uma situação de angústia e esperança que

move estas famílias que trocam as desilusões da cidade pela esperança da vida no

campo onde possam, pelo menos, cultivar hortaliças e pequenos animais para

subsistência (MORISSAWA, 2001).

Neste cenário, as famílias assentadas viveram um passado de lutas pela

terra e a esperança de uma vida mais justa e digna num pedaço de chão.

Atualmente, as famílias que já se encontram assentadas enfrentam uma situação

difícil. Nem todas fazem parte de grupos e comunidades organizadas de modo a

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contribuir nas tomadas de decisões que determinam o sucesso ou o fracasso de

uma colheita.

Para o responsável pelo Coletivo Estadual de Produção do MST em

Campo Grande, Mato Grosso do Sul11, por exemplo, as principais diretrizes nos

assentamentos é que as famílias possam produzir para seu próprio sustento,

restaurando a dignidade e a cidadania destas pessoas que ficam anos espremidos,

e por que não dizer oprimidos, entre as margens de rodovias e das cercas das

fazendas. Para que o sonho da terra se torne realidade é necessário um enorme

projeto de infra-estrutura na área dos lotes. As famílias devem ter um mínimo de

condições de permanência e sobrevivência naquela região, se não o programa de

assentamentos vira um remédio cujos efeitos colaterais são piores do que a cura.

Os problemas sociais brasileiros conjuntamente com as políticas

econômicas do país favorecem que a reforma agrária seja feita de modo a amenizar

pressões e não de efetivamente fazer uma divisão de riquezas. Assim, muitos

assentamentos surgem sem estrutura para seu desenvolvimento.

Para a promoção de uma verdadeira Reforma Agrária são necessários

alguns itens que certamente ultrapassam a distribuição de terras. Segundo Graziano

Neto (2000), estudos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA) mostram que o custo médio por família assentada é de R$ 30 mil, variando

conforme a região e o preço pago pela terra. Esse custo não é pouco se pensarmos

nas dificuldades enfrentadas por todos os contribuintes que pagam esta conta.

Mais que a terra, vale agora a tecnologia, para garantir produtividade e qualidade. E a interação na cadeia produtiva é que possibilita competição no mercado. Não adianta apenas produzir. Vender é o difícil. Basta ver as agruras que afligem os pequenos agricultores tradicionais, na terra há

11 Comunicação pessoal com a pesquisadora.

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décadas, para se entender os desafios da moderna reforma agrária (GRAZIANO NETO, 2000, p.27).

No assentamento da Fazenda Itamarati, município de Ponta Porã, estado

do Mato Grosso do Sul, é possível observar que as famílias foram contempladas

com um lote que tem, em média, 7 hectares. Desenvolvem as culturas coletivas e as

de subsistências, contando, para isto com sistemas de organização e gestão,

próprios de cada movimento ao qual pertence. Hoje, segundo o Instituto de

Desenvolvimento Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de MS

(IDATERRA), o Assentamento Itamarati é considerado um dos exemplos bem

sucedidos da reforma agrária no Brasil. Isto prova que são necessários altos e

adequados investimentos, bem como uma contínua assistência técnica e social as

famílias. Somente dessa forma será possível fazer uma Reforma Agrária condizente

com as expectativas sociais.

Para que, no Assentamento Itamarati, a competitividade possa ser fator

de crescimento econômico e social é necessário que a acessibilidade a informação

seja constante. Não somente a acessibilidade, bem como a promoção da

transformação das informações em conhecimento e a aplicação do conhecimento

desenvolvido ao cotidiano dos assentados. A necessidade de programas nas áreas

técnicas de cultivo e manejo no campo, de educação e, sem dúvida, de promoção

social devem contribuir para que as informações possam ser fecundas.

O papel do Comunicador está exatamente em ser o elo principal desta

corrente ininterrupta de conhecimento. Atuando como mediador e fomentador das

informações. Desse modo, fundamentados nos pensamentos de Freire citado por

Lima (2001, p.67), identifica-se que um dos principais desafios do mundo

contemporâneo é a transformação dos homens em seres plenos, libertos e mais

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humanizados, ainda que a lógica capitalista atravanque este processo. A forja de

seus pensamentos e teoria foi sua experiência pessoal. Sua obra consiste em

descobrir o caminho do diálogo para encontrar uma maneira de ajudar as pessoas,

que, não diferente de hoje, eram privadas de uma vida digna. Fazer com que o

sujeito se perceba enquanto indivíduo que concebe seu próprio conhecimento é o

primeiro passo a ser dado.

Atualmente, pode-se dizer que a Reforma Agrária no Brasil se tornou

polêmica em toda a sociedade devido ao MST, que tem sido considerado o principal

agente de reivindicação nessa reforma no país.

3.2 O MST e a luta pela terra

Vamos agora assumir nossa condição de brasileiros, para percorrermos a história deste pedaço de mundo que foi, por mais de trezentos anos, uma colônia de outro país e verificamos quais foram as origens e causas da situação que enfrentamos hoje enquanto cidadãos e por que a terra no Brasil permanece concentrada nas mãos de uns poucos, como nos tempos dos sesmeiros (MORISSAWA, 2001, p.55).

Em Morissawa (2001) encontram-se fontes para a explicação histórica do

problema da distribuição de terras no país.

Quando os europeus aqui chegaram, o Brasil e as Américas já tinham

donos havia muito tempo. Embora os índios não soubessem o que queria dizer este

termo, eram os legítimos proprietários das terras brasileiras. Terras cobiçadas pelos

europeus desde os primórdios de seu descobrimento. Terra farta e disponível.

Começa então a apropriação de terras pelos portugueses, a colonização de

exploração (MORISSAWA, 2001, p. 56).

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O Brasil foi logo dividido em fatias de terra, as chamadas capitanias

hereditárias. Estas capitanias eram entregues como concessão a nobres

portugueses, os donatários que, em contra partida, exploravam-na e pagavam

impostos à Coroa portuguesa. Cada donatário poderia entregar parcelas de terras às

pessoas que nela quisessem produzir, sendo estas parcelas chamadas de

Sesmarias. Mas as condições que eram impostas desencorajaram muitos

donatários. Os poucos que se arriscaram chegavam tomando as terras dos índios.

Muitos indígenas se revoltavam e se embrenhavam cada vez mais para o interior.

Os portugueses perceberam que pelo clima e tipo de solo, o Brasil seria ideal para a

produção de cana-de-açúcar, precisavam de mão-de-obra para a produção, começa

surgir a escravidão. Primeiramente dos índios, depois os africanos (MORISSAWA,

2001, p. 59).

A pirâmide social da época era dividida em senhores de engenhos ao

topo e como minoria, abaixo, uma multidão de homens livres e pobres constituídas

por pequenos agricultores, alfaiates, sapateiros, entre outros. E como alicerce, os

escravos.

Já no século XVIII, a mineração passou a ser a principal atividade

econômica brasileira, sendo que a maioria dos trabalhadores era composta de

escravos negros. O ouro, assim como vinha sendo com a cana-de-açúcar, só

poderia ser vendido para Portugal. A mineração do ouro contribuiu para o

desenvolvimento das Minas. Na segunda metade do século, começou a Revolução

Industrial na Inglaterra. Naquela época virou moda na Europa, fumar. Então por que

não plantar fumo? Foi uma pergunta que alguns latifundiários do Recôncavo Baiano

fizeram (MORISSAWA, 2001, p. 63).

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Ainda em Morissawa (2001) encontramos que, em 1759, com a

decretação do fim das capitanias hereditárias a Coroa passa a ser proprietária única

das terras. E, em 1822, após a Independência, foi suspensa também a concessão

de terras de Sesmarias. Embora durante o ciclo do ouro a agricultura tenha ficado

em segundo plano, jamais deixou de ser uma das principais alternativas para o país.

Com a abdicação de Pedro I, o Brasil fica sob o governo de uma

Regência, pois Pedro II ainda era uma criança e não poderia governar. Diante da

insatisfação de alguns setores da sociedade, surgem algumas revoltas populares

contra a Regência. Assim, Morissawa (2001) destaca:

- Cabanagem, que aconteceu entre os anos de 1835-1840, ocorreu na

Província de Grão-Pará, hoje, compreende a região Norte do país;

- Sabinada, de 1837-1838 ocorreu na Bahia;

- Balaiada, que ocorreu entre os anos de 1838 e 1841, no Maranhão; e

- Praieira, de 1848 a 1850 que aconteceu em Pernambuco.

Desde 1819, os europeus não-portugueses estavam imigrando para o

Brasil, com a promessa de terras. Assim, esses europeus (alemães, italianos, etc.)

vinham para trabalhar nas regiões sul e sudeste, especialmente a partir do ano de

1847.

Até 1850, a estrutura fundiária no Brasil foi se modificando. O fim das

concessões das capitanias hereditárias, deram às sesmarias as características de

uma propriedade particular, mas ainda eram da Coroa. Os sesmeiros aos poucos

foram se tornando donos de engenho, fazendeiros com privilégios quanto à

comercialização e às importações de Portugal. Sofreram limitações de áreas face ao

aumento da população em Minas Gerais no ciclo do ouro. Depois, passou a ser

exigida a demarcação judicial das terras, pois os sesmeiros não obedeciam à lei. Já,

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em 1822, quase todas as terras estavam repartidas, haviam latifúndios ocupando as

regiões economicamente importantes. Como já não havia mais as concessões (não

mais existiam terras disponíveis), começou a ocupação pelo sistema de posse. Em

virtude da expansão do plantio do café, os sesmeiros expulsavam os posseiros de

suas terras. Muitas vezes, esses posseiros estavam instalados nestas terras há

muito tempo, já haviam feito benfeitorias e viviam tranqüilamente em terras que para

os sesmeiros até então não interessavam (MORISSAWA, 2001).

Nesse contexto, o Império decretou a Lei de Terras (Lei 601), em 1850.

Esta lei veio a reiterar o que já acontecia, a terra continuou sendo propriedade

daqueles que a possuía ou de quem tinha capital.

Com a pressão internacional, o Império acabara de anunciar a abolição

dos escravos. Como os fazendeiros precisavam de mão-de-obra, muitas vezes

pagavam as passagens para europeus pobres e desempregados que haviam sido

substituídos pelas máquinas na revolução industrial (por vezes, as passagens eram

mais baratas que um escravo). Com a chegada em grande número de imigrantes os

fazendeiros utilizavam seu trabalho no sistema de meação ou de foro. Dos

imigrantes eram cobrados os pagamentos da passagem, do aluguel e da comida no

armazém. E após a colheita do café, o fazendeiro fazia as contas, quando e se

sobrava algum dinheiro não era suficiente para encorajá-lo a sair daquele círculo

vicioso. A Revolta dos Parceiros em 1856, na região de Limeira, São Paulo, fez com

que os fazendeiros começassem a pagar a passagem dos imigrantes, afinal eles

eram a principal força braçal da produção de café (MORISSAWA, 2001).

Durante o período chamado de República Velha foram duas as principais

lutas pela terra no Brasil, as chamadas Lutas Messiânicas: Canudos e a Guerra do

Contestado (MORISSAWA, 2001).

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Depois vieram as lutas Radicais Espontâneas, movimentos localizados

que lutavam por um pedaço de terra. Estas lutas aconteceram entre 1930 e 1954, e

tiveram como cenário Governador Valadares/MG (Rodovia Rio-Bahia), estado do

Espírito Santo (região noroeste, entre os vales dos rios Mucuri e Doce), Goiás

(região de Uruaçu), norte e sudoeste do estado do Paraná, sudoeste do Maranhão,

no estado do Rio de Janeiro, em São Paulo (principalmente no oeste) – desde o final

do século 19 (MORISSAWA, 2001).

Já as lutas organizadas aconteceram entre 1954 a 1964, onde os

camponeses se organizaram em três grandes movimentos na luta pela Reforma

Agrária: União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB); as

Ligas Camponesas e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER)

(MORISSAWA, 2001).

Em 1962, o governo de João Goulart regulamentou a sindicalização rural.

Mesmo acontecendo somente nas cúpulas das organizações com a maioria dos

trabalhadores ficando alheios à sindicalização, os sindicatos passaram a se

organizar, os que já existiam foram legitimados. Na primeira Convenção Brasileira de

Sindicatos de Trabalhadores Rurais, em julho de 1963, realizada em Natal/RN, a

ULTAB em acordo com as instituições católicas presentes no evento, se transformou

em Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG).

Em 1964, houve o Golpe Militar. Sob protestos, repressões, torturas e

ditadura militar de extrema direita, o movimento de luta pela terra também sofreu.

Embora tenha sido decretada, em 1964, a primeira Lei de Reforma Agrária no Brasil

(o Estatuto da Terra12), esta Lei nunca foi implantada. Pelo seu caráter progressista

que favorecia o interesse dos trabalhadores rurais, os latifundiários fizeram grande

12 Anexo C: Estatuto da Terra.

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pressão contra esta lei, que acabou sendo utilizada para controlar as lutas sociais,

promovendo algumas desapropriações para diminuir os conflitos entre os

trabalhadores do campo e os grandes proprietários de terras. Houve muitos conflitos,

exílios e mortes durante o Regime Militar. E a luta pela terra se transformou em

resistência e guerrilha ou desistência e êxodo rural (MORISSAWA, 2001).

Neste contexto de lutas e conflitos, surge o MST, como objetivo de

estruturar e organizar a luta pela terra no Brasil:

No princípio da formação do MST (1979-1984), os sem terra construíram suas primeiras experiências, cientes de que eram herdeiros da resistência camponesa. Desde essa época, sabedores de que a questão agrária não mudaria, a não ser por meio de suas ações, esses trabalhadores rurais começaram a construção de um movimento social que se tornaria, na década de 1990, uma das mais importantes organizações sociais do Brasil. Em janeiro de 1984, fundaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Na primeira metade da década de 1980, com o apoio da Comissão Pastoral da Terra - CPT, órgão vinculado à Igreja Católica, os sem-terra se organizaram em cinco estados: Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul (FERNANDES, 2005, p.1).

Em 1985, tomou posse o Presidente José Sarney, vice de Tancredo

Neves que morreu logo após ter sido eleito através de voto indireto. O Plano

Nacional de Reforma Agrária (PNRA) foi decretado em 10 de outubro daquele ano,

porém, era muito diferente da versão apresentada pela equipe do Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária (Incra) (MORISSAWA, 2001).

A União Democrática Ruralista (UDR) foi criada neste mesmo ano e foi a

principal responsável pelo fracasso do Decreto. Com representante no Congresso

Nacional, eles pressionavam contra a reforma agrária ora proposta. No fim do

mandato de José Sarney haviam sido assentadas 6% do total de famílias previsto

pelo Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA).

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De acordo com Morissawa (2001) veio, então, a chamada “era Collor”.

Durante seu curto mandato, os sem-terra só viram repressão. Após o impeachment

de Collor, assumiu Itamar Franco. No tempo em que governou, Itamar combateu

uma inflação altíssima, conseguindo conquistar seu maior feito, quando o então

Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real.

Em 1994, assume a Presidência da República Fernando Henrique

Cardoso, com sua política neoliberal, reduzindo a participação do Estado na

economia e propondo a reforma agrária como forma de desenvolvimento da

agricultura familiar. A meta fixada para assentamentos era de 20% do previsto no

PNRA, cerca de 280 mil famílias. Esse governo assentou 264.625 famílias

(MORISSAWA, 2001).

A história, daí em diante, fica mais próxima e mais recente. As

desigualdades sociais propiciam o ambiente ideal que os movimentos sociais se

proliferem e tomem força. É necessário lançar o olhar sobre toda a história para que

o problema da distribuição de terras seja entendido como um problema social de

solução difícil, mas necessária e urgente.

No ano de 1990, os problemas e as dificuldades levaram o movimento em

busca de soluções. Organizaram-se em associações e cooperativas, facilitando,

assim, a aquisição de insumos e maquinário, contribuindo também para a melhoria

do comércio dos produtos produzidos. Mas, neste momento, ainda sofriam com a

falta de infra-estrutura social, tais como: escolas, saúde, energia elétrica e até

mesmo estradas e meios de transportes (MORISSAWA, 2001).

Terminando o ano de 1992, o movimento contabilizava 32 novas

ocupações e 29 reocupações. Estimulou e contribuiu na formação e surgimento de

novos militantes participando de manifestações com outras entidades de trabalho. A

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maior conquista, neste ano, foi a criação da Confederação Nacional de Cooperativas

da Reforma Agrária Brasileira (Concrab) (MORISSAWA, 2001,p. 148).

No início do ano de 1993, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei

Agrária, que regulamentou a questão das desapropriações de terras para que fosse

realizada a Reforma Agrária.

Ainda, segundo Morissawa (2001), a partir de 1995 a 1998, durante o

primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, o MST contou 150 assassinatos e

aproximadamente 180 casos de prisões políticas. Em 17 de abril de 1996, aconteceu

o massacre de Eldorado dos Carajás. Este dia tornou-se o Dia Internacional de Luta

Camponesa, em memória dos mortos. O modelo de política econômica naquele

momento inviabilizava os pequenos agricultores. Priorizando a abertura dos

mercados de importações e estimulando a entrada de capital estrangeiro, a política

agrária ficou subordinada à econômica. Durante este período, foram assentados o

maior número de famílias, conforme Tabela 2, a seguir:

Tabela 2 – Brasil – Assentamentos Rurais – 1979 - 1999 Período Nº Assentamentos % Nº Famílias % Nº Hectares % 1979/1994 1.193 27,5 166.378 33,1 8.942.407 37,41995/1999 3.180 72,5 337.064 66,9 14.909.812 62,6Total 4.373 100,0 503.442 100,0 23.852.219 100,0

FONTE: DATALUTA – Fonte de dados da Luta pela Terra – UNESP/MST. Base de dados: INCRA-MSTA-ITESP-CPT. (apud FERNANDES, 2005.p 2)

De 1999 a 2000, houve uma grande mobilização, conhecida como Marcha

Popular pelo Brasil, coordenada por várias entidades, tais como: a Central Única dos

Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o

Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), o Movimento dos

Pequenos Agricultores (MPA) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

(MORISSAWA, 2001).

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La Marcha movilizó en forma directa mil trescientos trabajadores “sin tierra” que representaban a campamentos y asentamientos de todo el país, y se caracterizó por la valorización de lo simbólico: fue realizada a pie en su totalidad por los caminantes, hombres, mujeres, niños calzados con sandalias de suela de caucho y exhibiendo la pobreza. Duró dos meses y ganó espacio diario en los medios, despertando la curiosidad del público y mostrando la otra cara del país, poco conocida en los centros urbanos13 (MEDEIROS, 2005, p.3).

Os integrantes do MST ainda levantam bandeiras como as preocupações

ambientais, a produção de sementes agroecológicas e plantações consorciadas. A

marcha deste movimento retrata sua convicção nas reivindicações. A

conscientização de que todo o cidadão tem direito a ter uma vida digna vem,

cotidianamente, promovendo mudanças nos comportamentos e nas ações de toda a

sociedade, que juntos pretende alcançar o equilíbrio.

La constitución y expansión del MST representaron, en relación a experiencias anteriores, no sólo innovaciones en las formas de lucha, sino también en el plano organizativo. En efecto, uno de los trazos más significativos de ese movimiento es la concepción de que la demanda de tierra no se agota en la obtención de una parcela o lote, sino que implica la necesidad de organizar la producción, de obtener créditos con este objetivo, de formar líderes como modo de dar continuidad a las ocupaciones más allá de su lugar de origen. En sintonía con esto se verifica un gran énfasis en la organización de los asentamientos, tanto en el plano local como regional, estatal, nacional, de forma tal de hacer de la lucha por la tierra una reivindicación amplia, capaz de abarcar a diferentes sectores sociales14 (MEDEIROS, 2005, p.2).

13 A Marcha mobilizou de forma direta trezentos mil trabalhadores “sem terra” que representavam acampamentos e assentamentos de todo o país, e se caracterizou pela valorização do simbólico: foi realizada em sua totalidade pelos caminhantes, homens, mulheres, crianças calçadas com sandálias e exibindo a pobreza. Durou dois meses e ganhou espaço diário nos meios, despertando a curiosidade do público e mostrando a outra cara do país, pouco conhecida dos centros urbanos. (Tradução da pesquisadora). 14 A constituição e expansão do MST representarão, em relação a experiências anteriores, não só inovações nas formas de luta, mas também no plano organizacional. Com efeito, um dos traços mais significativos deste movimento na concepção da demanda por terra não se esgota na obtenção do lote, mas implica na necessidade de organização da produção, de obter créditos com este objetivo, de formar líderes como modo de dar continuidade às ocupações lá em seu lugar de origem. Em sintonia com isto, verificou-se uma grande ênfase na organização dos assentamentos, tanto em plano local como regional, estadual, nacional, de forma tal de fazer uma luta pela terra uma reivindicação ampla, capaz de abarcar diferentes setores sociais.(Tradução da pesquisadora).

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O MST entende que a Reforma Agrária por si só não pode ser colocada

como a solução dos problemas sociais brasileiros, que são crônicos. É necessário

que a sociedade civil, os políticos, a mídia, e ainda todos os cidadãos entendam que

é através de uma mudança de consciência que será possível distribuir melhor as

riquezas a fim de favorecer a sobrevivência harmônica, de todos os povos.

Procuraram formar a compreensão de que a luta não termina na conquista da terra. Essa é apenas uma fase. Desse modo, organizam simultaneamente a cooperação agrícola e as ocupações de terra, a formação técnica e a formação política. Essa concepção faz com que o MST atue diretamente na formação tecnológica, na educação e se preocupe com a socialização das conquistas com vistas à qualidade de vida dos assentados (FERNANDES, 2005,p.2).

A vocação primeira da terra é promover a vida. Na preservação dos

mananciais de água, no uso inteligente das riquezas naturais e ainda na aceitação

da exploração inteligente pelo homem para lhe prover o sustento. No artigo 12 da

Lei Nº 4.504, de 30 de Novembro de 1964, que dispõe sobre o Estatuto da Terra diz

que: “À propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu

uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na Constituição Federal e

caracterizado nesta Lei.”

Desse modo, parece estar assegurado a todos os benefícios trazidos

pela terra. Na prática, com a morosidade no trâmite dos processos de

desapropriação e de negociação das terras julgadas improdutivas, as constantes

brechas encontradas por advogados, a demora em se fazer cumprir um direito de

toda a sociedade, fazem com que problemas como desemprego, inchaço urbano,

déficit social se agravem cada vez mais, complicando a tomada de decisão por parte

do poder executivo.

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O fato é que o modelo de Reforma Agrária vigente está obsoleto. Os

grandes latifúndios não existem mais e as fazendas estão cada vez mais produtivas

utilizando as tecnologias disponíveis. O próprio MST percebe esta mudança. Não

basta o governo assentar as famílias sem lhes prover infra-estrutura, financiamentos

e projetos para a fixação destas famílias no campo. Também não adianta querer

sanar os problemas sociais com a distribuição de terras. A reestruturação do

processo de distribuição de terras passa, necessariamente, pelo desenvolvimento

cultural da partilha de riquezas e o repensar de todo, uma estrutura econômica.

Na realidade, na confrontação entre a exclusão causada pelo modelo de desenvolvimento econômico da agropecuária e a ressocialização causada pela implantação dos assentamentos resultantes das ocupações ou de projetos governamentais, os sem-terra estão perdendo. A exclusão é maior que a ressocialização. O número de famílias assentadas ainda é menor que o número de famílias expropriadas. A área destinada aos assentamentos ainda é menor que as áreas incorporadas pelos latifúndios, ou seja, continua a concentração fundiária. Até o presente, nem as ocupações dos sem-terra, nem os projetos do governo foram suficientes para mudar a estrutura fundiária (FERNANDES, 2005,p.35).

O mundo mudou e os paradigmas do pensamento rural, também. Então,

para o sucesso do campo, é fundamental que toda a sociedade entenda que o meio

rural é o responsável pelo alimento à mesa e que a tecnologia disponível nos

centros urbanos já chegaram ao campo para favorecer a produção. Essa produção

pode ser para subsistência ou para a exportação, com a globalização dos mercados.

É ingênuo afirmar que somente as grandes propriedades estão inseridas neste

processo. Todo o excedente na produção vai para a negociação e, dependendo da

inserção do produtor neste mercado e de sua organização é possível exportar a

produção, ainda que pequena. Os que levam maior vantagem neste processo são os

produtores organizados, ou ainda, que têm maior acesso à informação.

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3.2.1 O cenário do MST no Mato Grosso do Sul

Mato Grosso, como ainda era chamado, com seus recursos naturais

propícios para exploração agropastoril, a baixa densidade demográfica e o número

reduzido de núcleos urbanos favoreceram a concentração fundiária e a exploração

da pecuária extensiva até fins da década de 60.

Devido ao isolamento geográfico, às dificuldades em estocagens e

armazenamentos as produções agrícolas atendiam - como meio de garantir a

subsistência - as famílias e precariamente, os pequenos centros urbanos da época.

Com a abundância de pastagens naturais, o aumento da concentração

fundiária e o desenvolvimento da mecanização da agricultura é que se dá a

apropriação de grandes extensões de terras transformadas em propriedades

particulares. A interferência política em favor dos poderosos da época defendia a

dominação do latifúndio especulativo em detrimento do desenvolvimento regional.

Foi, e talvez seja até hoje, influência dos estados mais desenvolvidos da União, que

“emprestavam” suas idéias ao novo estado que estava para nascer.

Por ser um Estado novo, criado em 11 de outubro de 1977, o Mato

Grosso do Sul é uma miscelânea de influências diferentes. Cada imigrante trouxe

consigo seus costumes, valores e crenças compondo um estado heterogêneo.

No governo de Getúlio Vargas foram criadas as Colônias Agrícolas com o

objetivo de estimular as pequenas propriedades familiares. Surge a Colônia Agrícola

de Dourados, que veio como proposta para dar novos rumos para as terras da

Companhia Erva Matte Larangeiras que havia encerrado suas atividades (SOUZA,

1992. p. 17).

Para entender um pouco mais sobre a distribuição das terras do estado

do Mato Grosso do Sul é necessário uma breve incursão na história desta empresa.

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A Matte Larangeiras encontrou ambiente favorável a sua expansão capitalista. A

exploração, de mão-de-obra de baixo custo, de paraguaios vencidos de guerra e

índios, o arrendamento das terras devolutas do Estado favorecido pelas estreitas

ligações com os políticos, além do conhecimento topográfico que seu fundador, o

senhor Tomaz Laranjeira tinha, sendo também conhecedor de terras ervateiras, foi

fácil estender seus domínio em todo o extremo sul do estado do Mato Grosso. Suas

terras estavam localizadas desde o Rio Pardo até as divisas com o estado do

Paraná e a República do Paraguai (SOUZA, 1992, p. 13). Isto equivale a dizer que

praticamente metade do estado do Mato Grosso do Sul estava no poder de uma

única e soberana empresa capitalista. Considerando a divisão em Micro Regiões

Geográficas15 a área envolveria as Micro Regiões MR 04, MR 07, MR 08, MR09,

MR10 e MR11. Souza (1992) relatou que os domínios desta empresa chegaram a

5.000.000 hectares em 1890. Tudo explorado com a força da mão-de-obra de índios

e paraguaios, sob a proteção do governo. Tinham o aval inclusive para fiscalizar e

vigiar o trabalho e as terras com uma “disciplina de ferro” (SOUZA, 1992, p. 14).

Neste contexto de opressão do poderio, que a Companhia Erva Matte

Larangeiras exercia na região não tardaram a surgir descontentamentos por parte

dos trabalhadores explorados e dos posseiros que tentavam instalar-se na região,

chegando a acontecer conflitos armados.

Nas atividades capitalistas o objetivo maior é alcançar o lucro. Nas

atividades do campo não seria diferente especialmente em se tratando de

latifúndios. Com a população, até então escassa, a mão-de-obra se tornava cara e

inibia os investimentos na agroindústria capitalista. O governo federal oficializou o

programa de colonização, com o objetivo de atenuar estes e outros problemas

15 Anexo D: Mapa das Micro Regiões do estado do Mato Grosso do Sul.

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causados nos estados brasileiros que sofriam com a população rarefeita. Para isto,

contou com as dificuldades e a aridez com as quais os nordestinos conviviam em

seus estados, deslocando-os para as outras Unidades da Federação que contava

com baixo índice populacional. No Mato Grosso, depois de criado o assentamento

dos colonos nordestinos na Colônia Agrícola Nacional de Dourados, o problema da

mão-de-obra foi amenizado e houve um aumento significativo na produção de

alimentos em geral, já que se utilizavam das plantações e das criações de

subsistência (SOUZA, 1992).

Encontramos ainda em Souza (1992), que as dificuldades aumentadas

pela seca de 1958, fizeram com que o processo imigratório se acentuasse ainda

mais nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Paraná. Tal movimento, além de

desafogar as pressões sociais nas situações mais críticas de pobreza, ainda

contribuía para a continuidade da política populista de Getúlio Vargas, a política do

capitalismo ordenado, incentivando o minifúndio. Os latifundiários percebem que a

convivência e a dependência destes pequenos proprietários ao entorno das suas

grandes propriedades é benéfico: garantiam mão-de-obra em abundância, a

possibilidade de aumento na infra-estrutura local era também garantida pelo governo

e, ainda, a criação de uma “clientela” para seus produtos.

Com o passar do tempo e a necessidade de modernização do campo,

especialmente incentivada no final da década de 60, a mão-de-obra passa a não ser

mais tão necessária, pois havia sido substituída pelo uso das máquinas,

implementos. Também surgiram dois outros elementos: o uso de fertilizantes e o

crédito rural para aquisição dos mesmos. A modernização da agricultura estava

totalmente associada ao avanço do capital industrial no campo.

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Os prejuízos sociais do êxodo rural foi acontecendo à medida que a

sobrevivência dos colonos em suas pequenas propriedades, cada vez mais foi se

tornando impossível. Com a introdução de novas técnicas e a dispensa do trabalho

braçal, já não se faziam necessários tantos investimentos em infra-estrutura e,

conseqüentemente, as famílias já não contavam com o oferecimento de escolas,

postos de saúde e outros serviços fundamentais a sua permanência no campo. Isso

aconteceu não somente no Mato Grosso, mas em todo o Brasil. E ainda, pode-se

dizer que a situação brasileira era um reflexo das tendências mundiais (SOUZA,

1992).

De acordo com Souza (1992), nos centros urbanos, os ex-colonos se

sentiam expropriados de sua terra, mais ainda, de sua própria identidade. Seu

trabalho na terra não os qualificaria para as atividades urbanas. Antes, estas

pessoas conseguiam determinar seus destinos, porque sabiam o que e como fazer

para alcançá-lo. Agora, fazem parte de um exército de mão-de-obra desqualificada,

sem ter a chance e a mínima adaptação necessária para enfrentar esta nova

realidade.

Nos anos de ditadura militar no Brasil, os movimentos sociais organizados

durante o pequeno tempo de democracia no país, foram reprimidos. e ainda vamos

nos concentrar numa história mais recente, sem, no entanto, esquecer que esta luta

pela terra é tão antiga quanto à história da humanidade.

Desde as primeiras manifestações de descontentamentos dos sem-terras,

a burguesia local percebeu que não seriam ações isoladas ou ocasionais. Como

dominavam os meios de comunicação, passaram a divulgar mensagens que

lançavam dúvidas sobre os verdadeiros objetivos do movimento. As tentativas de

imobilização foram, desde considerar que por trás dos sem-terra haviam interesses

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internacionais de dominação, com agentes infiltrados, até dizer sobre a incapacidade

do povo de se organizar.

Em 1979, no município de Naviraí, sul do estado, o advogado Joaquim

das Neves Norte moveu uma ação em nome dos arrendatários, contra os

proprietários das fazendas Entre Rios, Água Doce e Jequitibá. Eles reivindicavam o

direito de permanência nas terras por mais três anos. Em 1980 a justiça dá ganho de

causa aos arrendatários, fato inédito que acendeu a primeira centelha de

organização dos sem-terra no estado. Em 1982, o advogado Joaquim da Neves

Norte foi assassinado a mando dos fazendeiros da região (SOUZA, 1992, p. 39).

No início da década de 80 o regime militar já dava sinais de falência,

haviam crises nos setores da economia e sociais. No estado de Mato Grosso do Sul

havia sido nomeado o Governador Pedro Pedrossian, amigo do então Presidente da

República o General João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Para apaziguar os ânimos dos sem-terra, o governador Pedro Pedrossian

lança o projeto “Guatambu” que tinha como objetivo incentivar a permanência e a

presença do homem no campo, assegurando-lhes assistência técnica, econômica e

oferecendo-lhes infra-estrutura social. Na ocasião a reação dos sem-terra foi

exatamente oposta, dando um novo ânimo para as organizações. Em menos de três

dias mais de seiscentas pessoas ocuparam a fazenda Baunilha no município de

Itaquiraí. O governo imediatamente ordena a retirada das pessoas sob um forte

esquema de policiamento ostensivo. O “Guatambu” havia nascido morto. As famílias

foram abandonadas num acampamento distante dois quilômetros de Itaquiraí sem

as mínimas condições. Segundo Souza (1992, p. 41), “a busca de diálogo dos sem-

terra com o governo se mostrou muito difícil, com várias tentativas de cooptação das

lideranças dos trabalhadores, através de promessas de duvidoso cumprimento.”

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Em 1983, a organização do movimento convocou as famílias para uma

caravana rumo à fazenda Santa Idalina. As pessoas sairiam dos municípios de

Eldorado, Iguatemi, Ivinhema, Itaquiraí, Mundo Novo, Naviraí, Caarapó, Fátima do

Sul, Dourados, Deodápolis, Angélica, Nova Andradina, Taquarussu e Bataiporã e

dos residentes da fazenda Santa Idalina, um latifúndio de 18.000 hectares no

município de Ivinhema. A Sociedade de Melhoramentos e Colonização (SOMECO)

era a empresa proprietária.

Em 29 de abril de 1984, as famílias que resistiram ao cansaço e as

adversidades da jornada, chegaram a Santa Idalina. Essas famílias foram

assentadas, provisoriamente, após cinco meses de manifestações e discussões com

o governo em 2.500 hectares no município de Nioaque. O assentamento foi

denominado Padroeira do Brasil.

Com a falta de assistência, o total abandono das áreas destinadas aos

assentamentos, as dificuldades na vida urbana, a crise do regime e outros fatos

políticos, econômicos e sociais, o terreno da luta pela terra foi se tornando cada vez

mais fértil. Estava nascendo no estado, em consonância com todo o país, um dos

mais expressivos movimentos sociais do país, o Movimento dos Trabalhadores Sem

Terra – MST.

Para Fernandes (2000) o MST amplia sua área de ação ao criar espaços

de mobilização para a participação em atos públicos, buscando tanto iniciar

precocemente a formação de líderes como também mostrar à sociedade a

preocupação com a formação de uma nova geração de atores do campo e de

agentes de incentivo às políticas agrárias. Certamente que essas linhas de ação têm

proporcionado a nacionalização desse movimento e ampliam sua força política.

Surge, então, em 1999, uma proposta ao Ministério Agrário, intitulada “Agricultura

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Familiar, Reforma Agrária e Desenvolvimento Local para um Novo Mundo Rural”,

tendo como ênfase principal a inserção competitiva dos assentamentos no “mundo

de negócios”, frente a um diagnóstico de pouca inclusão social das famílias

assentadas e com fundamento no pressuposto que a atividade agropecuária é cada

dia mais dinâmica, tanto do ponto de vista tecnológico como em relação ao

comportamento do mercado, requerendo agricultores com iniciativas e tomadas de

decisão mais empresarial (MEDEIROS, 2000).

É nesse novo contexto que se insere plenamente o papel da comunicação

rural, como uma das condições para a emancipação dos assentados e dos

agricultores familiares, permitindo o seu acesso à informação e conseqüente

produção do conhecimento aplicável à melhoria de sua própria condição de vida.

3.3 Comunicação rural: conceituação, características e efeitos

Antes de adentrar na comunicação rural propriamente dita, convém

lembrar que a comunicação por não possuir uma fórmula pronta, pressupõe uma

série de congruências e cruzamentos entre várias disciplinas. Emprestando

conceitos e definições de outras ciências que se dedicam ao estudo dos fenômenos

humanos individuais e coletivos, ao mesmo tempo em que dificulta uma definição

acabada e um conceito definitivo, promove a discussão e a construção de novos

paradigmas. São essas congruências e intercruzamentos que fazem com que a

comunicação seja interdisciplinar, despertando no pesquisador uma nova maneira

de desenvolver seu pensamento. Integrando disciplinas, tais como: sociologia,

psicologia, antropologia, história e outras, que emprestam contribuições na análise e

contextualização do sujeito.

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Sob o ponto de vista da comunicação como veículo de informação,

percebemos que nem sempre a mídia consegue alcançar seus propósitos. Para que

a produção e distribuição das mensagens estejam de acordo com as expectativas e

necessidades individuais e coletivas, é necessário, além de um conhecimento

considerável do público a ser atingido, levar em conta suas especificidades, suas

representações sociais e culturais e o momento social vivido por aquele grupo.

Para a realização deste trabalho, foram necessários estudos básicos dos

conceitos e teorias destas disciplinas. Ao estudar-se a comunicação é fundamental

concebê-la como processo cujo principal motivo de existir é o meio social. O sujeito

constrói seus signos através de suas experiências e os compartilha na medida de

suas necessidades. Na comunhão de suas dificuldades e para a manutenção de

suas conquistas, o homem se confraterniza com os seus semelhantes formando

assim seu grupo social.

3.3.1 Meios, mídias e estratégias

Não há como negar a evidência de que os meios de Comunicação passam, hoje, a envolver os seres humanos num novo espaço acústico que McLuhan (1962,1969,1967) chama de “mundo retribalizado”, onde eles passam a ser bombardeados, instantaneamente, por variadíssimas e inúmeras informações de todas as partes do mundo. Vivemos um ritmo de tempo e de vida extremamente rápido, acelerado (GUARESCHI, 1991, p.20).

Na sociedade contemporânea, a presença dos meios de comunicação

passou a desempenhar o principal vínculo entre as pessoas. Há tempo atrás, antes

das descobertas tecnológicas, especialmente as do último século, as pessoas

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utilizavam a comunicação pessoal para se comunicar. A facilidade da utilização das

novas tecnologias de comunicação e informação (TIC’s), “substituiu” uma grande

parte da comunicação pessoal pela transmissão de mensagens via satélite, o que

encurtou distâncias e integrou toda a comunidade global. Mas, por certo, as pessoas

que, por alguma razão não têm acesso a estas tecnologias, tornaram-se obsoletas

ou, ainda pior, incomunicáveis.

Não apenas os meios de comunicação de massa, TV, rádio, imprensa

escrita e outros, são responsáveis pela integração homem/mundo. Também as

próprias pessoas são responsáveis pela disseminação da informação. De um jeito

muito peculiar e próprio, cada sujeito social é, em sua essência, um ser

comunicativo. No que tange à comunidade rural, estes meios se tornam mais

escassos e menos eficazes. As mensagens nem sempre são elaboradas de modo

que sejam compreendidas, as distâncias, os terrenos acidentados, a escassez de

recursos financeiros, e especialmente, a falta de uma educação adequada e

inclusiva dificultam ainda mais o acesso a estas mensagens. Lembrando que, são

estas informações as responsáveis por inserir o homem no mundo e fazê-lo

participar ativamente da sociedade, tornando-o apto a desempenhar sua cidadania

com mais autonomia.

[...] encontrar novas formas de Comunicação Rural com o contexto popular agrário, no sentido de atender as necessidades da população frente aos atuais processos de exclusão social. Em última instância, o que se pretende é encontrar o lugar das populações rurais numa era marcada e estruturada pelas tecnologias do virtual (CALLOU, 2000, p.2).

Esta situação de falta de acesso às informações se dá pela pouca

importância dada ao setor da agricultura. Os meios de comunicação de massa não

estão aptos a se relacionar com o homem do campo. Salvo os grandes proprietários

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rurais que estão inseridos em outra realidade, os pequenos sitiantes vivem

abandonados a sua própria sorte, no que diz respeito às tecnologias. E essa

situação se relaciona não apenas aos meios de comunicação, mas de um modo

geral às políticas públicas relacionadas com o setor rural.

Dessa visão distorcida decorre a fragilização do setor agropecuário, distanciando-o das decisões maiores da política econômica do país. Claramente, a imagem negativa da agricultura a enfraquece politicamente, retirando do setor o necessário respaldo para suas justas demandas. Sem apoio na sociedade, inexpressiva no jogo político, marginalizada pelos governos, a agricultura capenga a sua própria sorte (GRAZIANO, 2000, p.11).

O acesso à informação como fator de transformação social só é possível

quando a comunicação é pensada e elaborada concordando com a realidade

contemporânea. O extensionismo deixa de ser a força máxima da manipulação para

se transformar, juntamente com a comunicação, em possibilidade de mudança e

inclusão social. Através das mensagens culturais adequadas, difusão expandida e o

favorecimento da compreensão destas mensagens com programas de educação

para os meios, o homem do campo pode ser capaz de tomar suas próprias decisões.

A comunicação rural, em conformidade com o contexto rural, pode ser decisiva na

inclusão social dos pequenos proprietários rurais.

A estratégia mais eficiente no combate à marginalização rural é, a

exemplo de Paulo Freire (1992), a utilização da “comunicação dialógica”. Sem

imposição de técnicas e procedimentos, as novas tecnologias disponíveis podem

agir na promoção do sujeito, entrando em consenso com o conhecimento empírico e

a experiência de vida dos agricultores, bem como respeitando sua cultura.

Contrariando os pressupostos de uma comunicação verticalizada, é possível

desenvolver o acesso à comunicação no setor rural? Esta é uma questão que só

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pode ser respondida quando o agrário conseguir mudar sua imagem e conquistar a

valorização merecida pelos diversos setores da sociedade. A comunicação tem um

papel fundamental na construção desta imagem:

Minha tese é muito clara: enquanto a agricultura não recebe a devida valorização social e passar a ser entendida como um caminho para o desenvolvimento brasileiro, continuará inexistindo uma verdadeira política agrícola, capaz de manter a renda e o emprego rural. Em outras palavras: ou o setor agropecuário consegue mudar a imagem que a sociedade tem dele, ou continuará reclamando da falta de uma política agrícola séria e duradoura (GRAZIANO, 2000, p.15).

A Comunicação Rural, segundo Bordenave apud Braga;Kunsch (1993), é

uma abordagem específica da comunicação que compõe o fluxo e a produção das

informações, envolvendo todos os agentes do setor rural, atingindo e influenciando

outros setores da economia que interagem com a agropecuária. Com o avanço

tecnológico permeando seu desenvolvimento, o setor rural é uma segmentação de

mercado promissor. Mas, a escassez de profissionais dispostos a abraçar esta fatia,

cria a possibilidade de descoberta recíproca de seu valor, tanto do sujeito que vive

no campo como dos profissionais da comunicação, para que estes venham a gerir a

informação de maneira a favorecer e melhorar as condições de desenvolvimento no

campo.

Existe uma clara diferença social entre o setor urbano e o setor rural em

nosso país, e entender a realidade, compreender as necessidades e peculiaridades,

realizar pesquisas, observar e atender às expectativas dos públicos envolvidos

nesse cenário é tarefa árdua. Para tanto, os profissionais da comunicação devem ter

um embasamento sólido e uma formação consistente em disciplina de Comunicação

Rural, levando-se em conta que as especificidades do tratamento e gerenciamento

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da informação passam inevitavelmente, pelo estudo das teorias, imprescindíveis

para a realização de um trabalho profissional e com credibilidade, facilitando e

promovendo o diálogo entre os diversos setores envolvidos. É necessário lançar um

olhar especial para este campo de atuação, que continua oferecendo possibilidades.

Com os conhecimentos específicos e cientes da responsabilidade de desenvolver

um trabalho que tem o potencial de promover a inclusão social e não só atender a

uma demanda do mercado, é importante demonstrar a toda a sociedade o valor do

espaço rural, colocando a comunicação a serviço do desenvolvimento justo e

humanizado.

O meio rural deve ser visto pelo prisma da dinâmica social, onde os atores sociais agem e interagem em conformidade com as contingências históricas e sociais mediados pelos processos comunicacionais, os quais podem fazer avançar ou retardar as mudanças sociais (SILVEIRA, 1988, p.50).

As novas possibilidades de redes planetárias, transmitindo informações

em volumes e velocidades inimagináveis há poucos anos, está mudando o mundo,

reorganizando nações e sociedades. Para reforçar essas novas formas de

relacionamentos o indivíduo passa a perceber que suas relações são muito mais que

meros acasos ou interesses. É agora uma questão de sobrevivência conseguir

conviver na adversidade, onde as novas tecnologias parecem abrir perspectivas

para uma nova concepção de tempo. As grandes corporações são beneficiadas por

estas mudanças graças ao tratamento das informações. O acesso, quase que

irrestrito aos meios midiáticos disponíveis, faz com que o conhecimento e a

informação sejam matéria-prima abundante nestas organizações.

Las Nuevas Tecnologías de Información y Comunicación (NTICs)s han alterado irrevocablemente el mundo en que vivimos, acelerando el ritmo y

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el volumen de Ia innovación y, fundamentalmente, cambiando Ia manera en Ia que transmitimos, recibimos, adaptamos y usamos el conocimiento y Ia información, lo cual ha generado cambios en los mercados, en los modos de producción, en Ia gobernabilidad y en Ias relaciones sociales 16 (http://www.fao.org/sd/dim_kn1/kn1_040401a1_es.htm).

As organizações menos privilegiadas com a facilidade e o acesso às

informações ressentem-se disso. Segundo a Sociedade da Informação:

O maior acesso à informação poderá conduzir as sociedades e as relações sociais mais democráticas, mas também poderá gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando as desigualdades e as exclusões já existentes, tanto entre sociedades, como, no interior de cada uma entre setores e regiões de maior e menor renda (TAKAHASHI, 2000, p.07).

As dificuldades no acesso à informação e as identificações entre os

sujeitos, fazem surgir agrupamentos de indivíduos que de alguma forma se

associam uns aos outros para amenizar suas limitações ou até mesmo preservar

suas conquistas. As diferenças e as semelhanças são um fator aglutinador da

sociedade e são imprescindíveis para a manutenção destes grupos:

A sofisticada tecnologia de comunicações, desenvolvida nos programas espaciais, militarmente orientados, usa técnicas de persuasão, manipulação e penetração cultural para vender excedentes da indústria, em geral produtos de consumo supérfluos; mas essa tecnologia vende, também, de forma global, idéias, gostos, preferências e crenças. Mensagens, objetos, estilos de vida e técnicas de informação, made in América, circulam internamente e são imitadas a nível global (GUARESCHI, 1999, p.73).

16 As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) têm alterado irrevogavelmente o mundo em que vivemos, acelerando o ritmo e o volume da inovação e, fundamentalmente, mudando a maneira que a transmitimos, recebemos, adaptamos e usamos o conhecimento e a informação, o qual tem gerado mudanças nos mercados, nos modos de produção, na governabilidade e nas relações sociais (Tradução da pesquisadora).

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Exemplo disso, no cenário internacional, é a criação de um Departamento

de Desenvolvimento Sustentável (SD) na Organização das Nações Unidas para a

Agricultura e a Alimentação (FAO), cujo foco de atenção primária tem sido trabalhar

com “Projetos de Comunicação para o Desenvolvimento”, tendo reunido inúmeros

textos sobre essa temática. Esses textos são resultados de um trabalho

desenvolvido desde 1966, por meio de reuniões, encontros, discussões e pesquisas

realizadas para a promoção de ações da comunicação e as novas tecnologias para

o desenvolvimento sustentável do setor rural da América Latina. Calvelo-Ríos (2000)

cita que existem vantagens e desvantagens na utilização dos novos instrumentos de

informação e comunicação:

[7.] Las ventajas básicas de Ios nuevos instrumentos de información y comunicación son: . masividad de Ios usuarios potenciales; . simultaneidad en el intercambio de mensajes; . homogeneidad de los mensajes; . rapidez en Ia generación y difusión de los mismos; . reducción persistente de los costos de equipas y sistemas; . incremento constante de Ia calidad y Ia capacidad de los instrumentos; . e incremento incesante de Ia disponibilidad de ellos, incluso al nivel de Ias poblaciones rurales. [8.] Las desventajas que suelen aparecer y que frenan su utilización son: escasa disponibilidad hasta el momento de instrumentos (Internet) en el área rural; utilización en general exclusiva para fines de lucro; usos no pertinentes para el campo del desarrollo rural y Ia seguridad alimentaria; mensajes con códigos no inteligibles para Ios destinatarios rurales; existencia de una real polución de datos e insuficiencia de información útil; costos de operación lejos del alcance de Ia población rural, al menos hasta el momento; y, por último, el diseño de Ios programas, procesos y procedimientos de acceso y retribución, tiene un carácter casi exclusivamente urbano. [9.] Pero Ia mayor de Ias desventajas, para estos y para cualesquiera otros instrumentos de información y comunicación que se pretenda utilizar para el desarrollo rural y Ia seguridad alimentaria, si pretendemos que el desarrollo rural, para serlo, debe ser endógeno, autogestionado y sustentable, lo que implica Ia participación plena y consciente de los sujetos de desarrollo tanto en Ia toma de decisiones como en Ia ejecución de Ias mismas, se encuentra en Ia escasez de sistemas, diseños, metodologías y personal formado en el ejercicio de Ia información y comunicación para el desarrollo17 (CALVELO-RÍOS, 2000,p.2).

17 [7.] As vantagens básicas dos novos instrumentos de informação e comunicação são:

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Para que as mensagens sejam eficazes em seu propósito, sob o enfoque

da comunicação rural, é necessário pensar o modelo ideal de transmissão destas

informações, considerando as especificidades e os ajustes necessários para que as

mensagens possam vir a contribuir no desenvolvimento do setor rural. Para que isto

aconteça, além de se fazer adequadamente o uso das TIC’s, é necessário

considerar que, nos países em desenvolvimento, as produções midiáticas são

realizadas nos grandes centro urbanos a fim de baratear os custos de produção.

Entretanto, o setor rural requer um estudo mais aprofundado e a utilização de mídias

específicas de maior aceitabilidade e, ainda, programas de educação para o uso

destas mídias e para a capacitação de cidadãos. Segundo Calvelo-Ríos (1998, p.3)

“los medios masivos de los países periféricos, con el fin de reducir sus costo,

. massividade dos usuários potenciais; . simultaneidade na troca de mensagens; . homogeneidade das mensagens; . rapidez na geração e difusão das mesmas; . redução persistente dos custos de equipamentos e sistemas; . incremento constante da qualidade e da capacidade dos instrumentos; . e incremento incessante da disponibilidade de elos, inclusive em nível das populações rurais. [8.] As desvantagens que podem aparecer e que freiam sua utilização são: escassa disponibilidade até o momento de instrumentos (Internet) na área rural; utilização em geral exclusiva para fins de lucro; usos não pertinentes para o campo e o desenvolvimento rural e a segurança alimentar; mensagens com códigos não inteligíveis para os destinatários rurais; existência de uma real poluição de dados e insuficiência de informação útil; custos de operação fora do alcance da população rural, ao menos até o momento; e, por último, o desenho dos programas, processos e procedimentos de acesso e distribuição, tem um caráter quase exclusivamente urbano. [9.] Mas a maior das desvantagens, para estes e para quaisquer outros instrumentos de informação e comunicação que se pretenda utilizar para o desenvolvimento rural e a segurança alimentar, se pretendermos que o desenvolvimento rural, para acontecer, deve ser endógeno, autogestionado e sustentável, o que implica na participação plena e consciente dos sujeitos do desenvolvimento tanto na tomada de decisões como na execução das mesmas, se encontra na escassez de sistemas, desenhos, metodologias e pessoal formado no exercício da informação e comunicação para o desenvolvimento. (Tradução da pesquisadora)

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dependen cada vez más de programas provenientes de las metrópolis, situación que

reitera en el interior de cada país periférico”.18

Uma estratégia que pode ser utilizada como uma possível solução do

problema da acessibilidade da informação no campo, são os telecentros19. A FAO,

preocupada com o acesso às TIC’s pela população rural, e, entendendo que existem

limitações da utilização das novas tecnologias, especialmente fora das áreas

urbanas, nos apresenta os telecentros como uma alternativa para a acessibilidade,

podendo contribuir nas cotações de preços e negociações das safras e produtos,

nas melhores aplicações das tecnologias, e ainda, contribuir na educação e nas

relações sociais.

The key element of course, in any Rural Development application is information. It is information that is being accessed for use as the Rural Development "service". In order for this information to be retrievable, understandable, and relevant to the Rural Development consumer there may need to be mediating structures linking the "service" available electronically with the end user. For example, a technologically trained Rural Development para-professional (Extension Worker) could translate the development support needs of a local rural community into the appropriate Internet search criteria; and sift, interpret and translate the returned information putting it in a form that is useable by the local community. One major role that an organized network of Telecentres could play is to create and maintain index web sites and search engines that meet the specific needs of the Rural Development service consumers in the respective regions.20 (GURSTEIN, 2000.p.4).

18 Os meios massivos dos países periféricos, com o fim de reduzir seus custo, dependem cada vez mais de programas provenientes das metrópoles, situação que reitera no interior de cada país periférico.(Tradução da pesquisadora) 19 Os telecentros são salas de trabalho equipadas com tecnologias que facilitem a inclusão digital. Os computadores tem grande destaques no acesso a rede mundial de computadores. Estas salas devem favorecer a educação, o convívio em meio aos ambientes tecnológicos e a promoção da cidadania, apoiadas nas tecnologias de Informação e Comunicação (www.gemasdaterra.org.br). 20 O elemento fundamental claro que, em qualquer aplicação de Desenvolvimento Rural é a informação. É informação que é o acesso para o "serviço" de Desenvolvimento Rural. Para que estas informações sejam disponibilizadas, recuperável, compreensível, e pertinente ao consumidor de Desenvolvimento Rural precisar estar mediando estruturas que eletronicamente unem o "serviço" disponível para o usuário fim. Por exemplo, um para-profissional de Desenvolvimento Rural tecnologicamente treinado (o Trabalhador de Extensão) poderia traduzir como apoio do desenvolvimento a uma comunidade rural local que procura critérios apropriados na internet; e peneira, interprete e traduza a informação devolvida que põe isto em uma forma que é usável pela comunidade local. Um papel principal que uma rede organizada de Telecentros poderia fazer é criar e manter locais de rede de procura que satisfaçam as necessidades específicas do Desenvolvimento Rural, de índice de preços a conserto de máquinas, os consumidores nas regiões respectivas. (Tradução da pesquisadora).

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No entanto, mesmo compreendendo que os telecentros são uma

ferramenta eficaz no tratamento das informações, não podemos deixar de considerar

que o acesso a estes telecentros devem ser facilitados. A educação e a “tradução”

destas informações podem ser o diferencial no acesso ao conhecimento. As pessoas

devem estar aptas a lidar com estas informações de modo a facilitar e desenvolver

sua produção. Então, são necessários mais do que equipamentos sofisticados e

investimentos tecnológicos, também faz parte da inclusão digital uma profunda

mudança de concepção. Tanto de quem ensina, como de quem recebe os

ensinamentos, sendo que a disponibilidade ao aprendizado é um elemento

fundamental ao desenvolvimento tecnológico. As novas tecnologias devem ser

constantemente apoiadas na contínua aprendizagem, que deve estar de acordo com

as particularidades de cada região, e ainda mais, de cada indivíduo.

O MST, segundo Siriaco (2005)21 pensando na promoção dos assentados

do estado do Mato Grosso do Sul, está desenvolvendo ações no sentido de

favorecer a educação e o acesso à informação, implantando quatro telecentros, nas

diferentes regiões do estado onde estão os assentamentos do movimento. O projeto

é realizado com o Banco do Brasil e, em parceria com a Embratel, que pretende

disponibilizar um sistema de comunicação via satélite. Serão instalados nas regiões

de Sidrolândia, Rio brilhante, Itaquiraí e Ponta Porã. A questão da comunicação nos

assentamentos do MST no estado, é uma questão complicada, e ainda é feita de

forma precária através de jornal impresso produzido pelo próprio movimento em

nível nacional, o escritório estadual contribui com algumas pautas e é responsável

pela distribuição no Estado. A presença e a utilização do rádio é fundamental na vida

do campo, segundo Siriaco (2005), mais ainda do que a televisão, o MST utiliza

21 Comunicação pessoal com a pesquisadora.

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alguns espaços das rádios que já estão instaladas, não possuindo uma rádio própria

no Estado. Ainda, segundo Siriaco (2005), no assentamento Itamarati os

equipamentos já foram instalados e os responsáveis técnicos estão fazendo o

treinamento para que se tornem multiplicadores, do uso dessas tecnologias junto

aos assentados. O movimento é responsável pelo treinamento dos jovens e grupos

de pessoas que serão capacitados, sendo, eles mesmos, multiplicadores das

tecnologias e na operacionalização desses telecentros, a fim de proporcionar o

acesso à internet por essas populações.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em conjunto com a

União Internacional das Telecomunicações (UIT) estão discutindo a questão do

acesso às TIC’s no mundo, especialmente nas áreas mais pobres dos países menos

desenvolvidos. Com o objetivo de diminuir o hiato digital entre ricos e pobres, e

permitindo aos indivíduos a integração global na sociedade do conhecimento, estas

duas instituições trazem propostas para promover a acessibilidade das pessoas.

Um dos programas idealizados pelo BID juntamente com a UIT se refere

aos telecentros rurais. De acordo com o diagnóstico da Organização das Nações

Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), será possível implementar

telecentros nas áreas rurais na América Latina e Caribe. As atividades previstas

para contribuir na melhoria das comunidades contempladas com os telecentros:

a. o desenvolvimento da conectividade rural e o equipamento dos telecentros com financiamento dos governos, do Banco, da sociedade civil e do setor privado; b. a prestação de assistência técnica para a formulação e implementação dos programas; c. o treinamento de operadores e administradores dos telecentros; d. a organização de eventos nacionais com a participação de entidades governamentais, promotores, operadores e usuários, para divulgar boas práticas, elaborar de forma participativa uma estratégia de apoio e capacitação rural e facilitar o estabelecimento de redes virtuais de caráter rural;

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e. a preparação de especificações de serviços governamentais voltados especialmente para as necessidades de comunidades rurais; e f. a implementação de programas de treinamento destinados ao habitante rural e, em especial, a populações tradicionalmente marginalizadas (povos indígenas, mulheres, jovens, portadores de deficiência e outros (http://www.iadb.org/sds/quebec/docs/quebec_ch5_br.doc.).

Com investimentos de aproximadamente U$ 25 mil, é possível estabelecer

um telecentro com tecnologia que possibilite o acesso à internet e disponibilize dez

computadores, de acordo com o BID. Este custo representa um investimento em

vários setores da sociedade. Podemos dizer que é um investimento social, pois

facilita as relações sociais, e, ainda um investimento econômico, pois se trata de

acesso às informações que possibilitariam que as cotações e negociações sejam

feitas em tempo real, aumentando a competitividade, antes impossibilitadas pela

escassez de tecnologia adequada.

Diante do exposto, embora não tenha tido a pretensão esgotar as

questões que envolvem o setor rural no Brasil, o cenário descrito permite dizer que,

sem dúvida, uma forma de integração do setor urbano com o setor rural é a

comunicação. Num ambiente dinâmico, onde a globalização está presente em vários

setores da sociedade e as tecnologias se expandem numa grande velocidade, o

acesso às mídias e, conseqüentemente, às informações é vital às tomadas de

decisões. Numa era em que os negócios mudam rapidamente e novos produtos e

processos surgem a todo o momento, é natural que a busca pela competitividade

seja também a busca da informação. Daí, a importância de se buscar uma melhor

compreensão de como ocorre essa comunicação e o acesso à informação nos

assentamentos do MST/MS e, em especial, no Assentamento da Fazenda Itamarati.

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4 A COMUNICAÇÃO NO ASSENTAMENTO FAZENDA ITAMARATI22 (MS): UM ESTUDO DE CASO

A compreensão das mensagens publicadas pela mídia, mediante leitura

crítica e, especialmente, o entendimento de inserção num contexto onde a economia

é baseada na informação, é o início do processo para entender a lógica dos

mercados produtivos. No entanto, fazer um recorte para o meio rural brasileiro,

implicou em operacionalizar os nossos objetivos de estudos e pesquisa por meio da

realização de um estudo de caso, apoiados metodologicamente em Marconi;

Lakatos (1999) e Gil (2002). Assim, segundo Young (1960) citado por Gil (2002), o

estudo de caso pode ser considerado como sendo:

[...] um conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma unidade, em suas várias relações internas e nas suas fixações culturais, quer seja essa unidade uma pessoas, uma família, um profissional, uma instituição social, uma comunidade ou uma nação. (YOUNG 1960,p.269. apud GIL,2002,p.59).

Para o desenvolvimento do estudo de casos, foram realizados passos

metodológicos que serão descritos a seguir.

4.1 Caracterização do universo da pesquisa e população de interesse

Como universo de pesquisa e população de interesse, buscou-se estudar

a acessibilidade e utilização da informação pelos pequenos produtores rurais do

Estado de Mato Grosso do Sul, através da comunicação apoiada nas TIC’s. A

22 Anexo E: Mapa do Assentamento Itamarati – MST – lotes.

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primeira dificuldade encontrada foi delimitar uma região geográfica que pudesse

concentrar algumas famílias relativamente próximas umas das outras. Ou, ainda,

para que esta pesquisa tivesse validade científica, como realizar entrevistas com os

pequenos produtores rurais, uma vez que, em geral, estão espalhados nas

diferentes micro-regiões do Estado, levando-se em conta que as facilidades ou as

dificuldades de deslocamento até suas propriedade são fatores que influenciam no

acesso e uso das mídias e informações. Foi necessário definir um grupo de famílias

que estivessem relativamente próximas e que, portanto, apresentassem as mesmas

condições de acesso físico e porém, com mínimas variações no tipo de solo e clima,

e, ainda, que estivessem em condições do acesso à informação de forma

homogênea.

Desse modo, optou-se pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-

Terra (MST), um dos movimentos que está mais em evidência em nosso país e

considerado de relevância nas questões agrárias. Com o seu histórico de lutas e

potencialidade de conscientização de seus militantes, decidiu-se por estudar a

realidade dos pequenos produtores rurais, escolhendo-se a um assentamento desse

movimento23 – a Fazenda Itamarati – que foi uma das maiores fazendas produtoras

de soja do país na década de 70, e que, no ano de 2000, foi destinada à Reforma

Agrária, consolidando um dos mais expressivos assentamentos do Brasil.

De acordo com dados obtidos junto ao Instituto de Desenvolvimento

Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de MS (2004), o

Assentamento Itamarati é um dos ícones da Reforma Agrária no Brasil. Simboliza a

transformação de um latifúndio de exploração agrícola em escala empresarial para

um grande projeto de assentamento de trabalhadores rurais. Com 25.062 hectares,

23 Anexo F: Mapa Fazenda Itamarati – Movimentos Sociais.

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é uma ex-propriedade do Grupo Itamarati, do empresário Olacir de Moraes, que na

década de 70 foi considerado o “rei da soja”. Em dezembro de 2000 o governo

federal através do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Instituto

Brasileiro de Colonização e Reforma Agrária (Incra) comprou 25.062 hectares,

metade da área total da Fazenda Itamarati, que pertencia a Tajhyre S/A

Agropecuária (que leiloaria a área como garantia de penhora), no valor de R$ 27,5

milhões, que serão pagos em 15 anos com Títulos da Dívida Agrária (TDA's). Em

outubro do ano seguinte o Governo do estado de Mato Grosso do Sul, em parceria

com o Incra e outras instituições como centros de pesquisas, universidades e

empresas privadas, iniciaram o assentamento das 1.143 famílias.

O Assentamento Itamarati está localizado no município de Ponta Porã

(fronteira com o Paraguai), seguindo pela rodovia estadual MS 164. Os limites

geográficos do assentamento são: ao norte a Fazenda Itamarati e Rio Dourados; ao

sul com a Fazenda Santa Virgínia, Córrego Tajhire e Córrego Santa Rita; ao leste

encontram-se os rios São João e Rio Dourados; a oeste a Fazenda Santa Virgínia e

Rede Ferroviária Federal S/A (R.F.F.S.A). Distante de Campo Grande cerca de

duzentos e trinta quilômetros.

No Assentamento Itamarati estão assentadas famílias de quatro

movimentos sociais diferentes: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

(MST), Central Única dos Trabalhadores Rural (CUT – Rural) e Federação dos

Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), e da Associação dos Moradores e Ex-

Funcionários da Fazenda Itamarati (Amffi). A Fetagri é a entidade que possui o maior

número de famílias assentadas, são 393 lotes em uma área de 7.727 hectares. Em

seguida vem o MST com 320 famílias em 6.571 hectares; a CUT – Rural com 280

em 6.287 hectares e a Amffi com 150 em 4.487 hectares (IDATERRA, 2004).

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O assentamento está organizado em 37 agrovilas - 17 do MST, 14 da

CUT, 05 da Fetagri e uma da AMFFI. Cada uma das 1.143 famílias assentadas

recebeu um lote que tem em média 17 hectares. Os movimentos sociais,

individualmente, assumiram sistemas próprios de organização e gerenciamento de

suas propriedades, em geral dividindo os lotes em áreas para a exploração coletiva

(onde o que é produzido visa à comercialização) e individual (nos quais a lavoura

objetiva a subsistência das famílias).

Figura 1: Lotes e áreas coletivas (sequeiro e irrigado) Fonte: IDATERRA, Ernesto Franco, 2003).

O sistema irrigado de plantio utiliza 58 pivôs centrais de irrigação,

totalizando uma área próxima de sete mil hectares, o que representa 50% da área

de produção do assentamento.

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Figura 2: Infraestrutura da Fazenda Itamarati Fonte: IDATERRA, Ernesto Franco, 2003).

Com a infra-estrutura disponível e na prestação de serviços de apoio e

extensão rural o Governo do estado de Mato Grosso do Sul, em 2002 investiu no

assentamento cerca de R$ 8 milhões e os projetos já dimensionados requerem mais

46 milhões.

A expectativa dos técnicos do IDATERRA é que com as 42 mil toneladas

de milho (710 mil sacas que devem ser comercializadas por R$ 19 cada) os

assentados obtenham R$ 13,4 milhões, enquanto que com as 10,7 mil toneladas de

soja (180 mil sacas que devem ser vendidas por R$ 30 à unidade) consigam R$ 5

milhões (IDATERRA, 2004).

Foram plantados para a comercialização 7.185 hectares de milho irrigado

e de sequeiro e 3.942 hectares de soja irrigada e de sequeiro. Para escoar a

produção total do assentamento destinada a comercialização seriam necessárias 1,9

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mil carretas. Também foram plantados nove mil hectares para a subsistência das

1.143 famílias. A primeira colheita do Assentamento Itamarati foi feita no primeiro

semestre de 2002 e resultou em 25 mil sacas de feijão e 30 mil sacas de milho

(IDATERRA, 2004).

Em síntese, percebendo-se que é responsabilidade de todos a inclusão

social e digital, houve grande interesse em pesquisar os assentados da Fazenda

Itamarati, que representa um ícone da Reforma Agrária no Brasil, por se tratar de

uma população específica de pequenos proprietários rurais que, pelo fato de

pertencerem a um movimento social, tem um senso crítico diferenciado

possibilitando o mapeamento da utilização das novas tecnologias de informação e

comunicação e como elas favorecem o processo de inclusão social.

As 1.143 famílias assentadas são organizadas em movimentos sociais

que lutam pela conquista da terra, onde o principal objetivo era a partilha dos

latifúndios, através Reforma Agrária, transformando estas grandes propriedades

rurais em pequenas glebas. Como o Assentamento Itamarati é composto por

famílias pertencentes a quatro movimentos sociais diferentes, optou-se por realizar a

pesquisa de campo num determinado grupo social previamente estabelecido,

considerando-se os objetivos específicos de sua formação.

Assim, destes movimentos sociais em busca da terra, um em especial,

tem se mostrado como um dos movimentos sociais de maior força e visibilidade no

nosso país. Realizando um processo de estratificação para facilitar a pesquisa,

observamos que as famílias que compõem o Movimento dos trabalhadores Sem

Terra (MST) no Assentamento Itamarati, poderiam representar melhor a realidade de

um movimento social tão notório no cenário nacional, como o MST e ao mesmo

tempo, retratar a rotina de um pequeno produtor do interior do estado de Mato

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Grosso do Sul. A escolha e a seleção deste grupo tão específico se deu por meio da

vontade de entender o processo da comunicação rural do estado do MS e também

pelo conhecimento da situação social das famílias assentadas no Assentamento

Itamarati.

A pesquisa de campo foi realizada com o objetivo de conhecer a realidade

in loco das famílias assentadas. O acesso que as mesmas têm à comunicação e a

informação e de que forma este acesso contribui para a tomada de decisões e,

conseqüentemente, quais as vantagens econômicas e sociais desta acessibilidade.

4.1.1 Definição da População de Interesse

Inicialmente, segundo dados fornecidos pelo Instituto de Desenvolvimento

Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de MS (IDATERRA),

conseguimos identificar a existência de um total de 320 famílias que compõem o

MST no assentamento. Considerando-se que não seria possível, dada a exigüidade

do tempo disponível, realizar pesquisa de caráter censitário com esse universo,

optou-se por utilizar o critério de estabelecimento de amostra intencional e

voluntária, porque também a seleção da população de interesse privilegiou aqueles

que apresentassem disponibilidade para realizar as entrevistas.

No assentamento estudado, os lotes distribuídos entre os militantes do

MST foram organizados por grupos e comunidades. Para efeito da pesquisa, foram

selecionados dois grupos em razão de sua maior representatividade. São eles o

Grupo 17, comportando o maior número de famílias (19 famílias) e sendo totalmente

coletivo e o Grupo 06, composto pelo menor número de famílias (16 famílias) e

sendo parcialmente coletivo.

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O Grupo 17, sendo totalmente coletivo, tem uma característica peculiar

em relação aos demais. Neste grupo, as dezenove famílias não têm lotes e a

produção é destinada a coletividade. As casas são próximas umas das outras e a

interação social é mais constante. Quando são necessárias as tomadas de decisões,

as negociações e todas as ações referentes à produção, os representantes das

famílias que fazem parte do grupo se reúnem e conversam e tomam o

posicionamento de acordo com a opinião da maioria do grupo.

Já o Grupo 06 é o que tem menos lotes, somando 16 famílias em sua

totalidade. Essas famílias têm seus lotes particulares e individuais e dependem das

produções, tanto das áreas coletivas como também das particulares. O espaço físico

entre as casas é maior dificultando as relações sociais freqüentes. As decisões são

tomadas em grupo somente quando se trata de assuntos relativos às áreas

coletivas, sejam elas áreas de plantio irrigado ou sequeiro. As famílias ficam sujeitas

à sua própria criatividade. Uns criam animais, outros, plantam hortaliças, outras

ainda utilizam a produção de grãos.

4.2 Coleta de dados

Para a realização da coleta de dados optou-se pela observação direta

intensiva, com o apoio da técnica de entrevista estruturada (MARCONI; LAKATOS,

1999; GIL, 2002). Apoiados nas diretrizes recomendadas por Marconi: Lakatos

(1999), fez-se um levantamento prévio das distâncias das residências, do horário

mais conveniente para efetuar a entrevista e a disponibilidade do técnico do

IDATERRA nos acompanhar, posto que sem o acompanhamento do técnico,

certamente teríamos nos perdido dentro do assentamento por falta de orientação

dos caminhos corretos a serem seguidos. Antes do início das entrevistas foi

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explicado aos entrevistados a relevância de suas respostas e acordado sobre o uso

do gravador e do registro fotográfico, bem como se o mesmo concordaria em nos

responder a entrevista. À medida em que eram realizadas as perguntas o clima de

cordialidade aumentava.

A entrevista foi preparada tendo em vista os objetivos da pesquisa,

contando-se com o apoio de dois técnicos cedidos pelo IDATERRA, que fizeram o

acompanhamento, nas incursões da pesquisadora, ao Assentamento em estudo

para um conhecimento prévio do ambiente. Para tanto, foi elaborado um

roteiro/formulário compreendendo o seguinte zoneamento:

• Dados iniciais: identificação do projeto de pesquisa, da

pesquisadora e da família entrevistada (lote, grupo e comunidade).

• Dados de identificação dos entrevistados (nome, idade, sexo, cargo

no assentamento, função na família, escolaridade, estado civil):

questões 1 a 1.7.6.

• Dados de identificação familiar (nome, idade, sexo, cargo no

assentamento, função na família, escolaridade e estado civil do

cônjuge, número de filhos, nomes, idade, escolaridade e estado

civil dos filhos): questões 2 a 2.12.

• Dados de identificação sobre o acampamento (tempo de

permanência no acampamento, se consideram que a vida no

acampamento era melhor ou pior, e se, no período de

acampamento houve algum tipo de educação ou politização):

questões 3 a 3.3.

• Dados de identificação sobre o Assentamento Itamarati (tempo de

assentado, com relação a infra-estrutura disponibilizada, se o

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assentado recebe algum tipo de assistência técnica, quem a

oferece, como o assentado considera o trabalho dos técnicos, como

é o relacionamento entre a equipe técnica e os assentados, se o

assentado considera importante e se ele gostaria de receber as

orientações técnicas): questões 4 a 4.8.

• Dados de identificação sócio-econômicos (renda mensal familiar,

participação em Programas Sociais, meio de locomoção próprio,

sobre qual é o procedimento de cotação dos preços e negociação

da produção e quem é o responsável pela negociação da

produção): questões 5 a 5.5.

• Dados de identificação do acesso à Informação (quais os meios de

comunicação que possui, identificação dos meios de comunicação

utilizados, opinião sobre relação entre recursos financeiros e

acessibilidade, formas de utilização das informações no cotidiano,

identificação da comunicação em contraponto ao isolamento):

questões 6 a 6.6.

Para a realização do pré-teste do roteiro/formulário foi escolhido o dia 22

de junho de 2004, tendo sido possível efetuar entrevistas com 8 pessoas de 8

famílias diferentes, dos dois grupos selecionados (1 do grupo 17 e 7 do grupo 06).

Como não houve a necessidade de ajustes ao instrumento de pesquisa, uma vez

que os entrevistados não apresentaram problemas de compreensão das questões,

essas respostas foram inseridas na amostra, ao final.

Para a aplicação em definitivo do roteiro/formulário nos assentados dos

grupos 17 e 6 (MST), acordou-se o dia 26 de agosto de 2004, em virtude das

necessidades do acompanhamento dos técnicos do IDATERRA e da impossibilidade

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da realização da pesquisa in loco em outros momentos por questões burocráticas.

Desse modo, naquele dia, previamente marcado, as entrevistas foram realizadas

com mais 4 famílias do grupo 17, sendo que uma das entrevistas realizadas junto

com o grupo 17 não pode ser analisada, pois o gravador apresentou problemas

técnicos, e, mais 4 famílias do grupo 06. Obtendo-se um total de 5 pessoas do grupo

17 (26,31%) e de 11 pessoas do grupo 06 (68,75%), as quais se encontravam em

casa, nos dois momentos das entrevistas realizadas (22 de julho de 2004 e 26 de

agosto de 2004), dispondo-se voluntariamente a participar da entrevista, totalizando

a amostra de 16 pessoas entrevistadas, representando as famílias dos grupos

selecionadas.

Os resultados e sua interpretação, são apresentados a seguir:

4.3 Resultados e Interpretação

Os resultados obtidos mediante a realização das entrevistas com a

população de interesse (assentados da Fazenda Itamarati, pertencentes ao MST/MS

e o responsável pelo setor de produção desse ambiente rural) são apresentados

gráfica e textualmente, à luz do referencial teórico construído por intermédio de

pesquisa/revisão bibliográfica inicial sobre os temas emergentes na Sociedade da

Informação e seus impactos na Comunicação Rural.

4.3.1 Dados Iniciais:

Para a interpretação das questões abertas, utilizou-se a técnica da

análise de conteúdo (BARDIN, 2000; MARCONI; LAKATOS, 1999; GIL, 2002),

buscando-se elaborar os instrumentos de análise a partir de: determinação das

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categorias de classificação das respostas obtidas (apreciação e forma) e escolha da

unidade de análise ou dos aspectos considerados mais importantes.

Famílias entrevistadas:

• Grupo 17 – MST

Lote: Coletivo

Comunidade: Núcleo de Resistência “Eldorado dos Carajás”

Nº de Famílias: 19

Total de Famílias entrevistadas: 5 (sendo que uma não pode ser considerada

por problemas técnicos)

• Grupo 06 – MST

Lote: Coletivo

Comunidade: “Nova Esperança”

Nº de Famílias: 16

Total de Famílias entrevistadas: 11

3.2 Questão: Você acha que a vida no acampamento era melhor ou pior? Por quê? Grupo17

Respostas Família/ Pessoas Vida Pior Vida Melhor Motivos %

F1 X

F3 X Falta de liberdade de ação

(não é o dono da terra)

50%

F2 X Dificuldades de moradia 25%

F4 X Dificuldades financeiras 25% Total 100% 0%

Quadro 1 – Respostas das entrevistas à questão 3.2 – Grupo 17

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Grupo 06 Respostas Família/

Pessoas Vida Pior Vida Melhor Motivos %

F1 X F2 X

Falta de liberdade de ação (não é o dono da terra) 18,18%

F3 X F8 X F9 X

Dificuldades financeiras 27,27%

F4 X F7 X

Sonho realizado 18,18%

F5 X Precariedade Infraestrutura 9,09%

F6 X Precariedade nas moradias (barracos) 9,09%

F11 X Sentimento de Propriedade 9,09%

F10 X No lote os recursos ficam mais escassos. 9,09%

Total 90,91% 9,09% Quadro 2 – Respostas das entrevistas à questão 3.2 – Grupo 06

Realizando a análise das respostas obtidas junto às famílias de ambos

grupos, percebemos que, a maioria das pessoas que estiveram acampadas, tinham

um objetivo maior, a conquista do lote. No período em que vivem acampadas, as

famílias não podem desenvolver o cultivo de plantas e animais. Observa-se que,

estar assentado significa ter liberdade para plantar e colher, deixando de ser

empregados, passam a ser os proprietários da terra.

Além disso, existem as dificuldades financeiras e de moradia nos

acampamentos. Outros aspectos foram observados, tais como: a busca de

realização de um sonho e melhores condições de vida. Somente uma pessoa

entrevistada considerou a vida no acampamento melhor. A justificativa foi de que no

início da mudança para o assentamento, além da falta de infra-estrutura

(principalmente energia e água), as condições eram muito precárias, pois, as

famílias já não seriam amparadas pelas cestas básicas e pelos auxílios

governamentais.

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114

Destaca-se, ainda, que esta pessoa faz parte de uma família pertencente

ao Grupo 06, isto quer dizer que, além das dificuldades, ainda se deve considerar o

distanciamento das casas. Outro aspecto importante a ser analisado é o fato de que

os lotes são sorteados, então, nem sempre as famílias que estão mais próximas se

conhecem.

Destacamos uma das respostas mais representativas:

- “Olha na minha avaliação essa história de vida realmente é muito melhor, né? Pode

existir pessoas que ache que acampamento é uma coisa até melhor, mas deve ser

pessoas que não tem assim, um objetivo na vida, não tem um sonho, né? Porque a

gente veve no acampamento por mais que tenha alimento que não precise fazer

nada, mas é como um animal confinado, você não tem como desenvolver nada, ce

pode pissui uma criação, ce não consegue crédito numa loja, você se torna um

pessoa assim, quase como um presidiário, você não tem objetivo nenhum, certo. E a

minha sorte é do movimento muito organizado. A gente fazia várias lutas, né? Por

que senão, se tornaria muito pior.” (Família 2- Grupo 06).

3.3 Questão: Analisando o seu desenvolvimento pessoal, você acha que o tempo que passou acampado contribuiu? (visão crítica) Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Contribuiu Não

Contribuiu Motivos %

F1 X

F3 X Aprendeu na militância do

Movimento (MST)

50%

F2 X Oportunidade de conquistar

sua própria terra e deixar de ser empregado

25%

F4 X Não justificou 25%

Total 100% 0% Quadro 3 – Respostas das entrevistas à questão 3.3 – Grupo 17

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Grupo 06 Respostas Família/

Pessoas Contribuiu Não Contribuiu

Motivos %

F1 X Foi um tempo de grande sofrimento 9,09%

F2 X F4 X F7 X

Aprendizado político do MST 27,27%

F5 X

F10 X

As pessoas sempre aprendem com as

situações 18,18%

F9 X F11 X A direção (do MST) foi boa 18,18%

F8 - - Não Respondeu 9,09% F3 X

F6 X Não participava das

reuniões 18,18%

Total 72,72% 18,18% Quadro 4 – Respostas das entrevistas à questão 3.3 – Grupo 06

Ao realizar esta análise percebe-se que os acampados têm a

oportunidade, durante o período em que aguardam serem assentados nas terras

demandadas, de participarem dos embates políticos e, também de desenvolverem

seus conhecimentos através de projetos educacionais. Vale dizer que, a educação

que recebem é balizada pelos conceitos que formam as bases estruturais do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Como as entrevistas foram

realizadas, em sua maioria com as mulheres, percebe-se que algumas, em seu

tempo de acampamento, não saíam do barraco, portanto, não participavam

ativamente do processo de politização de seus companheiros. Destacam-se dois

depoimentos:

-“Acho que o tempo que mais contribuiu com a gente, com as pessoas que é

acampado que fica militante é o período do acampamento que a gente tem uma

grande escola, principalmente dentro do Movimento dos Sem Terra, tem vários

curso, tudo quanto é curso que você imaginar... tem na área da produção, área de

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116

financia, a área de gênero direito da mulher, do homem, então dá toda a instrução

política a nível nacional e internacional então o período que mais se aprende é o

período que tá no acampamento.” ( Família 3- Grupo 17)

- “Ah, sei lá... eu não aprendi nada disso não... sei lá eu acho que ele aprendeu

alguma coisa, eu quase não saia, só ficava na barraca... mas ele pode ser que

aprendeu alguma coisa.” (Família 8 –Grupo 06)

4.4 Questão: Você recebe algum tipo de assistência técnica? Quem a oferece? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Recebe Não Recebe Quem/Motivos %

F3 X F4 X IDATERRA 50%

F1 X AMFFI 25% F2 X Não sabe 25%

Total 100% 0% Quadro 5 – Respostas das entrevistas à questão 4.4 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Recebe Não Recebe Quem/Motivos %

F1 X F11 X F10 X

Está faltando técnico e estrutura do IDATERRA. 27,27%

F3 X F6 X Não soube responder 18,18%

F7 X F8 X

Assistência técnica somente no Pivot 18,18%

F2 X

Está faltando técnico e estrutura, só recebe

assistência técnica nas áreas do Pivot

9,09%

F4 X F5 X F9 X

Técnicos de empresas particulares 27,27%

Total 36,36% 63,64% Quadro 6 – Respostas das entrevistas à questão 4.4 – Grupo 06

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117

A maioria das famílias entrevistadas do Grupo 06 recebem a visita dos

técnicos agrícolas somente nas áreas coletivas, o que foi alvo de reclamações e

observações por parte dos assentados. No Grupo 17, identificamos a presença

constante dos técnicos do IDATERRA. Esta área, por ser totalmente coletiva,

possibilita o desenvolvimento da assistência técnica, favorecendo os assentados.

Observa-se também que, no geral, as mulheres parecem não ter muito

entrosamento com a produção. Em sua maioria, acompanham os companheiros na

lida diária com a lavoura, cuidam das casas e dos filhos e, ainda, trabalham na

transformação das matérias primas como a mandioca, por exemplo, produzidas no

assentamento, fazendo a farinha de mandioca.

4.5 Questão: Como você considera o trabalho dos técnicos? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Satisfatório Insatisfatório Motivos %

F1 X AMFFI ajudou bastante 25%

F3 X O IDATERRA é a que tem mais atendido o povo 25%

F4 X F2 - -

Não sabe (os técnicos tratam com o marido) 50%

Total 75% 25% Quadro 7 – Respostas das entrevistas à questão 4.5 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Satisfatório Insatisfatório Motivos %

F1 XF2 X

Técnicos de empresas particulares – Pivot 18,18%

F5 X Não soube responder 9,09%F10 X Dificuldades na estrutura 9,09%F7 X Um ótimo trabalho 9,09% F3 X F4 X F6 X F8 X F9 X

F11 X

Não responderam 54,54%

Total 27,27% 72,73% Quadro 8 – Respostas das entrevistas à questão 4.5 – Grupo 06

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Com relação ao parecer dos assentados sobre o trabalho realizado pelos

técnicos, a maioria não recebe a assistência técnica, portanto preferiram não

responder à questão. No Grupo 17, identifica-se a presença dos técnicos, no

entanto, a assistência só é discutida com os homens, por este motivo, as mulheres

não souberam responder. No geral, os assentados entendem que os técnicos não

têm condições de atender a todos, lote por lote, separadamente. Faltam

combustível, carros, e o número de técnicos é reduzido, e, quando ocorre esta

assistência individual, normalmente as empresas particulares são quem o fazem,

sendo que esta prática é maior junto ao cultivo irrigado. Observa-se na resposta da

família 1 sobre o trabalho dos técnicos:

- “Não, por causa dos técnicos do IDATERRA, eles vieram eu acho que eles tão

trabaiando aí faz uns trêis mês, mais ou menos, há pouco tempo, né. Agora o outro

técnico era da firma né, esse “Goiaba” lá da parte do Pivô que nóis trabaiemo, né.

Agora assim, no mais, nóis tamo no mato sem cachorro como diz o outro, né”

(Família 1 – Grupo 06)

4.6 Questão: Como é seu relacionamento com a equipe técnica, existe o diálogo e a troca de experiências? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Existe

Diálogo Não Existe

DiálogoMotivos %

F1 X

F3 X

O Assentado não tinha experiência anterior na

lavoura 50%

F2 X A troca de experiências é constante 25%

F4 Não sabe Não sabe (os técnicos tratam com o marido) 25%

Total 75% 25% Quadro 09 – Respostas das entrevistas à questão 4.6 – Grupo 17

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Grupo 06 Respostas Família/

Pessoas Existe Diálogo

Não Existe Diálogo

Motivos %

F1 X Não conversaram ainda 9,09%

F2 X Explicou bem o PRONAF 9,09%

F10 X Procuram respeitar a opinião dos assentados 9,09%

F3 - - F4 - - F5 - - F6 - - F7 - - F8 - - F9 - -

F11 - -

Não responderam 72,73%

Total 18,18% 9,09% Quadro 10 – Respostas das entrevistas à questão 4.6 – Grupo 06

Na análise, parece existir o diálogo entre os técnicos e os assentados.

Quando existe a assistência técnica, esse contato é realizado junto aos homens do

assentamento, sendo normalmente considerado como proveitoso e respeitoso.

4.7 Questão: Você acha importante receber orientações técnicas? Por quê? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Considera

Importante

Não Considera Importante

Motivos %

F3 X Para auxiliar no planejamento do Pivot 25%

F1 X Nas técnicas específicas de análise do clima e solo 25%

F2 X Para aumentar a produtividade 25%

F4 X Não justificou 25% Total 100% 0%

Quadro 11 – Respostas das entrevistas à questão 4.7 – Grupo 17

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Grupo 06 Respostas

Família/ Pessoas Considera

Importante

Não Considera Importante

Motivos %

F1 X

F2 X F3 X F8 X F9 X F4 X F7 X F5 X F6 X

F11 X

Para auxiliar nas mudanças, desde a

semente ao plantio, tipos de pragas.

90,91%

F10 X

Além da assistência técnica, seria necessário

um trabalho de assistência social e educação, para

que as pessoas pudessem se desenvolver nos lotes.

9,09%

Total 100% 0% Quadro 12 – Respostas das entrevistas à questão 4.7 – Grupo 06

Os assentados percebem a importância da assistência técnica, e por este

motivo, se manifestaram descontentes no que tange à ausência da assistência nos

lotes individuais. Alguns assentados não tinham experiência anterior na lavoura,

outros não conheciam a região, o que dificultou o manejo e o cultivo, considerando

as variáveis: solo, clima, etc. Portanto, é justificável a opinião de todos os

entrevistados com relação às orientações técnicas. Percebe-se na família 10, Grupo

06, que o chefe da casa tem um maior grau de instrução, há clareza da necessidade

de um processo educativo junto aos assentados torna-se eminente:

“Eu acho que além da assistência técnica, deveria ter um trabalho de assistência

social também, porque muitas vezes as pessoas não acreditam muito nas técnicas,

por exemplo aqui no nosso grupo, tem pessoas que ainda usam taiá fogo na, junta

qualquer cisco que vê junta e ta queimando né, mas a gente sabe que isso aí é um

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prejuízo que futuramente vai trazer resultado então as vezes, um assistência social,

de como cultivar um horta por exemplo, ... que a gente acha que ... isso um trabalho

de educação, pra que a gente para que a assistência técnica e o trabalho técnico

seja efetuado , nos lotes.” (Família 10 – Grupo 6)

4.8 Questão: Gostaria de recebê-las? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Sim Não Motivos %

F1 X F2 X F3 X F4 X

Todas as famílias deste grupo já recebem assistência técnica

100%

Total 100% 0% Quadro 13 – Respostas das entrevistas à questão 4.8 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Sim Não Motivos %

F1 X F2 X F3 X F8 X F9 X F4 X F7 X F5 X F6 X

F10 X F11 X

Todos os assentados gostariam de receber a assistência técnica.

100,00%

Total 100% 0% Quadro 14 – Respostas das entrevistas à questão 4.8 – Grupo 06

Da mesma forma que na análise anterior, os assentados que recebem, ou

não, a assistência técnica têm consciência de que isto se constituiria num diferencial

nas produções de seus lotes.

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5.1 Questão: Renda mensal familiar: Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Valor Safra Motivos %

F1 Anual Colheita 25%

F3 De 1.500 a 2.000 (R$)

Recebe por hora trabalhada (neste grupo

coletivo) 25%

F2 X F4 X

Vaca de leite 50%

Total 25% 75% Quadro 15 – Respostas das entrevistas à questão 5.1 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Valor Safra Motivos %

F1 X Bolsa Família 9,09%

F7 X Bolsa Escola 9,09%

F2 5.500 (R$) Lucro final da primeira colheita, referente ao trabalho de 6 meses

9,09%

F3 X

F4 X

F5 X

F6 X

F8 X

F9 X

F10 X

F11 X

A renda só acontece na época da colheita. 72,73%

Total 9,09% 90,91% Quadro 16 – Respostas das entrevistas à questão 5.1 – Grupo 06

Nesta questão, percebe-se que o assentado teve um certo receio para

responder objetivamente. É compreensível, a medida em que, segundo Siqueira

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(2002), o homem do campo ainda é considerado como caipira e o campo como

sendo lugar de atraso, sendo então, seus sujeitos ingênuos e suscetíveis de

manipulações e golpes. Guardando as devidas proporções, o ambiente, seja ele

urbano ou rural, não se pode resguardar o indivíduo de sofrer estes delitos.

Relata-se, então, que esta questão foi uma das mais difíceis de se obter

respostas objetivas que pudessem corroborar para a análise sócio-econômica. Para

ilustrar as respostas obtidas, destaca-se o depoimento a seguir:

- “Oia, aqui auxílio mesmo aqui é a gente própria que leva controlado, que sabe se

controla, mas a renda não é grande não é uma rendinha mínima, que dá mal a pena

pra comer e o nosso trabalho em conjunto de dezenove, inclusive aí do Pivôr, de

tudo e tudo a gente por enquanto, nóis temo trabalhado e a gente não ta vendo

quase futuro nenhum, então ta vivendo mais na parte individual e assim...

trabalhando.” ( Família 4 – Grupo 06).

5.4 Questão: Quando é necessário vender a safra ou comprar implementos, qual é o procedimento de cotação dos preços e negociação? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas

Assentado faz a

negociação

Assentado não faz a

negociação

Motivos %

F1 X

F3 X

F4 X

Existe uma equipe de negociação e uma coordenação que trabalham com o

consentimento do grupo

75%

F2 - - O marido é que sabe 25%

Total 0% 75% Quadro 17 – Respostas das entrevistas à questão 5.4 – Grupo 17

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Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas

Assentado faz a

negociação

Assentado não faz a

negociação

Motivos %

F1 X X

Na parte coletiva – coordenador;

Na parte individual – assentado.

9,09%

F4 X F11 X F9 X

É o assentado que negocia 27,27%

F2 X F3 X F5 X F6 X F7 X F8 X

F10 X

São os coordenadores destacados do grupo,

normalmente dois. 63,64%

Total 36,36% 72,73% Quadro 18 – Respostas das entrevistas à questão 5.4 – Grupo 06

Na maioria das respostas obtidas nesta questão, as pessoas relataram ter

como facilitadores do processo de cotação dos preços, os coordenadores e/ou

responsáveis pela negociação da produção. Essas pessoas teriam maior facilidade

no acesso às informações pertinentes aos melhores preços e condições de

pagamento. A maioria dos assentados faz uso de alguma forma de organização para

se beneficiarem do acesso às informações, contando com os vizinhos, ou

conhecidos, ou ainda, com os coordenadores dos grupos, como é o caso do grupo

17, para trocarem experiência. Talvez, seja esta uma das formas de organização,

das quais os pequenos proprietários rurais se beneficiam, ao buscarem informações,

assistência técnica e, ainda, melhorar a negociação da compra dos insumos e para

conseguir melhores preços na venda de seus produtos.

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5.5 Questão: Quem é o responsável pela negociação da sua produção? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Assentado Coordenador Motivos %

F1 X F2 X

Financeiro: Gauchinho e Sebastião 50%

F3 X Coordenação: Luciano e Ramão 25%

F4 Não sabe Não sabe 25% Total 0% 100%

Quadro 19 – Respostas das entrevistas à questão 5.5 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Assentado Coordenador Motivos %

F1 X F2 X F3 X F4 X F5 X F6 X F7 X F8 X F9 X

F10 X

Os coordenadores ou equipe de negociação 90,91%

F11 X O coordenador não pára no assentamento 9,09%

Total 9,09% 90,91% Quadro 20 – Respostas das entrevistas à questão 5.5 – Grupo 06

Apenas em uma situação, uma família do grupo 17 demonstrou

desconhecer quem é o responsável pela negociação de sua produção. Já no Grupo

06, uma família revelou serem eles próprios os responsáveis pela negociação. As

demais famílias demonstraram que existem pessoas eleitas pelo próprio grupo, que

exercem esta função, sendo que este cargo é rotativo, ou seja, são eleitas pessoas

diferentes a cada safra.

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6.2 Questão: Quais os meios de comunicação que você utiliza no seu dia-a-dia? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Utiliza Não Utiliza Motivos %

F1 X F4 X

Rádio à pilha (emissora de Dourados) 50%

F2 X Utiliza o celular 25% F3 X Não utiliza todos os dias 25%

Total 75% 25% Quadro 21 – Respostas das entrevistas à questão 6.2 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Utiliza Não Utiliza Motivos %

F1 X Utiliza o celular 9,09% F2 X Tv e rádio 9,09% F3 X F8 X

F10 X Utiliza todos os dias 27,27%

F4 X Rádio 9,09% F5 X Com certeza 9,09% F6 X Utiliza quase todos os dias 9,09% F7 X Tv, rádio e celular 9,09% F9 X Rádio (AM,92- Dourados) 9,09%

F11 X Não utiliza todos os dias. 9,09% Total 90,91% 9,09%

Quadro 22 – Respostas das entrevistas à questão 6.2 – Grupo 06

Parece que, mesmo visualizando o grande benefício da utilização das

informações nas negociações, bem como no seu próprio desenvolvimento, alguns

assentados ainda não conseguem acessar estas informações todos os dias. No

entanto, o meio mais utilizado é o rádio, e a programação mais acompanhada é a da

Rádio AM 92 de Dourados, especialmente as notícias policiais e a Hora do Brasil.

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6.3 Questão: Você acha que quem tem mais recursos financeiros consegue mais ou melhores informações? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Consegue Não

ConsegueMotivos %

F1 X F2 X F3 X F4 X

Tem mais recurso 100%

Total 100% 0% Quadro 23 – Respostas das entrevistas à questão 6.3 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Consegue Não

ConsegueMotivos %

F1 X

F2 X

F3 X

F8 X

F9 X

F4 X

F7 X

F5 X

F6 X

F11 X

Maiores oportunidades 90,91%

F8 X A mesma coisa. 9,09%

Total 90,91% 9,09% Quadro 24 – Respostas das entrevistas à questão 6.3 – Grupo 06

Na questão acima, a maioria dos entrevistados percebe a relação direta

entre recursos financeiros e acessibilidade à informação, apenas uma família julga

ser a mesma coisa.

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6.4 Questão: Você acha que quem dispõe de mais informações consegue fazer melhor negócio? Comente. Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas

Mais/ Melhores Negócios

Menos/ Piores

Negócios

Motivos %

F1 X F2 X F3 X F4 X

Com mais informação consegue melhores oportunidades de

negociação

100%

Total 100% 0% Quadro 25 – Respostas das entrevistas à questão 6.4 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas

Mais/ Melhores Negócios

Menos/ Piores

Negócios

Motivos %

F1 X F2 X F3 X F4 X F5 X F6 X F7 X F8 X F9 X

F10 X F11 X

Tem mais oportunidades 100%

Total 100% 0% Quadro 26 – Respostas das entrevistas à questão 6.4 – Grupo 06

Na resposta unânime, parece que todos os entrevistados têm consciência

de que o acesso à informação é que vai oportunizar o desenvolvimento de suas

lavouras e criações, possibilitando maior inserção no mercado agropecuário. Tendo

demonstrado este pensamento, inclusive nas observações quanto à falta de

assistência técnica mais próxima e incisiva.

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6.5 Questão: Como você utiliza as informações das quais tem acesso no seu dia-a-dia? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Utiliza Não Utiliza Motivos %

F1 X F3 X

Discutem os assuntos com o grupo 50%

F2 X As famílias se reúnem para ver televisão 25%

F4 X Utiliza a estrutura do IDATERRA 25%

Total 100% 0% Quadro 27 – Respostas das entrevistas à questão 6.5 – Grupo 17 Grupo 06

Respostas Família/ Pessoas Utiliza Não Utiliza Motivos %

F1 X Para chamar o técnico do Pivot 9,09%

F2 X Discutir o plantio e a venda 9,09% F3 X Não utiliza todos os dias 9,09%

F4 X Ouvindo a rádio de Dourados e a Voz do Brasil 9,09%

F5 X Passando as informações para o grupo 9,09%

F6 X Não soube responder 9,09%

F7 X A equipe utiliza o celular para cotar os preços 9,09%

F8 X Não utiliza as informações. 9,09%

F9 X Cotação de preços pela Rádio de Dourados 9,09%

F10 X Acompanhando as informações 9,09%

F11 X Não utiliza todos os dias. 9,09% Total 90,91% 9,09%

Quadro 28 – Respostas das entrevistas à questão 6.5 – Grupo 06

Pelas respostas dadas à questão acima, percebe-se que a grande maioria

dos assentados compartilha as informações com os vizinhos ou pessoas mais

próximas. Isto acontece em todas as famílias entrevistadas no Grupo 17, que é

favorecido pela coletividade. No Grupo 06, a família 11 relatou que não dispõe de

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informações diárias. Percebe-se que as pessoas fazem uso das informações,

conseguindo estabelecer diálogos e discussões com os demais assentados. Este

fato pode ser constatado pela seguinte declaração:

-“Assim na verdade como eu fico informado né? Através da televisão. Tem um rapaz

que tem a televisão, a gente vai assiste quase todos os dias, talvez no rádio

também, né. Isso a gente também faz no grupo né a gente, vê a orientação técnica

aí se informa melhor dentro do grupo, depois a gente entra num acordo..” (Família 1

– Grupo 17)

- “Aqui nóis sempre temo que ouvido bastante mais é a radio, né. Rádio a pilha,

porque a televisão depende de energia outro tipo de som depende de energia, então

é o radinho né, que nóis tem. É a gente tem ouvido muito o rádio e a gente pega

muito informação, e informação boa, porque a gente fica sabendo que se passa aí

fora, então é onde a gente escuita o rádio e a gente sempre ta escuitando o radinho

aí a gente ta por dentro de alguma coisa.” (Família 4 – Grupo 06)

6.6 Questão: Você se sente isolado no que diz respeito à comunicação? Grupo 17

Respostas Família/ Pessoas Isolado Não Isolado Motivos %

F1 X

Poderia melhorar a comunicação com a

instalação de um centro telefônico

25%

F4 X Falta informação 25%

F2 X Tem liberdade 25%

F3 X Tem facilidade de

locomoção e acesso à informação

25%

Total 50% 50% Quadro 29 – Respostas das entrevistas à questão 6.6 – Grupo 17

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Grupo 06 Respostas Família/

Pessoas Isolado Não Isolado Motivos %

F1 X Falta assistência e infraestrutura 9,09%

F5 X Longe do centro urbano 9,09%

F6 X Necessidade de buscar

tratamento de saúde fora do assentamento

9,09%

F8 X Precariedade Infraestrutura 9,09%

F9 X Gostaria de melhor acesso às informações 9,09%

F10 X Sente falta dos parentes 9,09% F4 X

F11 X Está acostumado a viver

sozinho (sem família) 18,18%

F2 X Entrosamento com as outras pessoas do grupo 9,09%

F3 X F7 X A família está próxima 18,18%

Total 54,55% 45,45% Quadro 30 – Respostas das entrevistas à questão 6.6 – Grupo 06

Constata-se um equilíbrio dentre as famílias entrevistadas quanto ao

isolamento. Algumas mulheres reclamaram um pouco da falta dos familiares, ou

ainda, do distanciamento dos centros urbanos. Outros assentados relataram que a

comunicação poderia ser facilitada com a instalação de postos telefônicos dentro do

assentamento. Dos que não se sentem isolados, existem algum fatores que

contribuem para que estas pessoas tenham um convívio social saudável, podendo

citar: o convívio com os familiares, que também possuem seus lotes nas

proximidades; o hábito de viver sozinho; e, no Grupo 17, ainda há a coletividade.

Corrobora para a análise feita das respostas à questão acima as declarações de

duas famílias:

-“Não, eu gosto daqui, por que nóis vivia no Paraguai né, só que não é o país da

gente, no país da gente, a gente tá mais tranquilo, a gente sai a hora que a gente

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qué, aqui não tem isolamento, tem é... nois temo muito jeito de sair não temo que

recramar nada aqui.” (Família 2 – Grupo 17)

- “Sim... muito... eu me sinto muito assim, sozinha, não sei se é porque eu to longe

dos meus parentes, né...mas é mais assim... acho que é falta dos parente perto...”

(Família 10 – Grupo 06)

Dados como o nível médio de escolaridade e idade das pessoas que são

responsáveis pela família e o número de filhos que, em média cada família reúne,

bem como as idades e o grau de escolaridades deles, também foram aferidos neste

trabalho. Para melhor compreensão das questões objetivas, os dados foram

transformados em gráficos, proporcionando uma visão do nível sócio-educacional

mais amplo.

Analisado o grau de instrução dos chefes das famílias dos grupos de

assentados que foram estudados, percebe-se que existe uma correlação entre a

qualidade de vida e a educação.

Escolaridade dos Chefes das famílias G 17

11

12

2

1

2ª série 3ª série 5ª série6ª série 7ª série Ens. Médio

Gráfico 1: Escolaridade dos chefes de família – Grupo 17.

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Escolaridade dos Chefes das famílias G 06

22

3

52

2

21 1

Analfabeto 2ª série 3ª série 4ª série 5ª série 6ª série7ª série Ens. Médio 5º sem. Filosofia

Gráfico 2: Escolaridade dos chefes de família – Grupo 06.

Neste levantamento observa-se que no Grupo 17, a maioria dos

entrevistados estudaram, em média de seis a sete anos, identificou-se que apenas

uma pessoa cursou até o ensino médio. No Grupo 06, percebeu-se que embora

tenha se apresentado um caso de uma pessoa que iniciou o ensino superior,

também identificamos a presença de uma pessoa analfabeta, sendo que o maior

número de pessoas estudou até a quarta série do ensino fundamental.

Este cenário foi uma das questões abordadas pelo último Censo realizado

pelo IBGE (2000), relatando que, embora a população residente no campo seja mais

rarefeita em relação ao número levantado junto aos centros urbanos, o

analfabetismo no setor rural, é quase o dobro do ocorrido nas áreas urbanas. Parece

que existe uma correlação entre o grau de instrução e a qualidade de vida dos

assentados. No lote da família onde encontrou-se o maior nível de escolaridade,

observou-se também a presença de uma horta no fundo da casa. Corroborando com

nossa análise, esta família ainda observou outros aspectos da assistência técnica,

sugerindo um programa de educação aos assentados.

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Idade dos chefes das famílias G 17

11

4

2

16 à 20 21 à 25 26 à 30 41 à 45

Gráfico 3: Idade dos chefes de família – Grupo 17.

Idade dos chefes das famílias G 6

1 12

43

5

1 1 2

16 à 20 21 à 25 26 à 3031 à 35 36 à 40 41 à 4546 à 50 51 à 55 mais de 60

Gráfico 4: Idade dos chefes de família – Grupo 06.

Ao realizar o levantamento, percebeu-se a presença de pessoas muito

jovens em todo o assentamento. No Grupo 17 pode-se observar que a maior parte

das pessoas tem de 26 a 30 anos, enquanto que no Grupo 06, as variações das

idades foram, desde o mais jovem com 16 anos, até as pessoas mais velhas, com

mais de 60 anos, sendo que o maior número está compreendido entre 41 a 45 anos.

Foi comum entrevistar casais que se conheceram no acampamento e se

casaram, constituindo, assim outra família, que demandaria outro lote, que não o dos

pais. Talvez seja esse o motivo de contar com casais jovens.

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Quantidade de filhos por família G 17

1

1

2

5 filhos 3 filhos 1 filho

Gráfico 5: Número de Filhos por Família - Grupo 17.

Quantidade de filhos por família G 06

1

3

31

1

2

1 filho 2 filhos 3 filhos 4 filhos 5 filhos 6 filhos

Gráfico 6: Número de Filhos por Família - Grupo 06.

Das famílias entrevistadas nos Grupos 17 e 06, prevaleceu a presença de

um filho em 2 famílias pertencentes ao Grupo 17, e três filhos em 3 famílias do

Grupo 06, o que significa que a maioria das famílias são pequenas. Parece que os

assentados, no tempo em que viveram em acampamentos, tem alguns tipos de

treinamentos e educação. São cursos técnicos nas áreas de cultivo e manejo com

criação, orientações quanto à saúde e discussões de gênero. Talvez, este aspecto

tenha contribuído para o controle de natalidade junto aos assentados. Por outro

lado, a vida no acampamento foi, para a maioria das pessoas, muito difícil, então,

este fator pode ter sido determinante para as famílias.

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Tempo de Acampamento G 17

1

11

1

2 anos 1 ano 5 anos 8 meses

Gráfico 7: Tempo de Acampamento – Grupo 17.

Tempo de Acampamento G 06

1 1

31

3

2

7 meses 9 meses 2 anos 3 anos 5 anos 6 anos

Gráfico 8: Tempo de Acampamento – Grupo 06.

Considerado relevante para este estudo, perguntou-se também a cerca

do tempo de acampamento, acreditando ser uma informação importante no que diz

respeito a interação do grupo, bem como da politização e educação de cada

membro.

No Grupo 17, a família que ficou o maior tempo acampada, permaneceu

cinco anos vivendo nas barracas, já a que permaneceu menos tempo, viveu apenas

oito meses “debaixo da lona”. Muito semelhante com os números encontrados no

Grupo 06 em que, duas famílias permaneceram por mais tempo, ficaram 6 anos no

acampamento e o que permaneceu menos tempo, somente nove meses.

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Tempo de Assentamento G 17

3

1

2 anos 3 ano

Gráficos 9: Tempo de Assentamento - Grupo 17.

Tempo de Assentamento G 06

9

2

2 anos 1 anos

Gráfico 10: Tempo de Assentamento - Grupo 06.

A maioria dos assentados estão há dois anos no assentamento. O

processo de loteamento da Fazenda Itamarati é muito recente, e, quando existe

casos de desistências dos lotes sorteados, estes são sorteados novamente,

obedecendo-se uma lista de espera organizada por cada movimento social, presente

no Assentamento Itamarati. Ressalta-se que, no momento da entrevista, o

assentamento havia sido oficialmente concedido às famílias há dois anos. Algumas

famílias entrevistadas pareciam estar realizadas e, até mesmo felizes com a

conquista de seu pedaço de chão. Constata-se este fato, considerando o

depoimento a seguir:

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- “Pra mim contribuiu muito, certo? A educação que eu aprendi aqui dentro da

organização foi praticamente uma grande escola,certo? Uma coisa assim, que eu

aproveitei muito. Eu passei a me envolver com a política,sabe? Enfim com tudo

aquilo que se diz ao social que a gente era excluído de tudo isso, né? Viviam em

periferia de cidade, dentro da mesma cidade as pessoas que tinham uma renda

melhor eram procurados pelos políticos, eram procurados por aquelas entidades,

principalmente no lugar que eu morava não existia presidente de bairro era pra

incentivar as coisas, então você que não tem nenhuma renda, é uma pessoa assim,

que como diz, veve na bóia-fria como eu vivia, as pessoas enxergam com outros

olhos, sabe, por mais direito que eu ainda...você não tem crédito também, vive

quase que igual a um acampado, a pessoa não confia em quem trabalha diário de

bóia-fria...que choveu você não trabalha, deu um contratempo numa lavoura, não

tem serviço pra você. Então a pessoa veve na periferia ele veve muito mais ruim de

quem ta acampado, muito mais ruim, péssimo mesmo. E quando é acampado

depois que vem pro lote, a vida dele se transforma, desde que ele tenha objetivo,

queira trabalhar e desenvolver, por mais difícil que seja desenvolver hoje em dia,

mas sempre tem uma maneira de você fazer alguma coisa”. (Família 2 – Grupo 06)

Infraestrutura G 17

3

1

energia melhoria nas casas

Gráfico 11: Infraestrutura do Assentamento – Grupo 17.

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Infraestrutura G 06

7

13

12 1

Energia elétrica Médico em período integralÁgua encanada Melhoria nas casasMelhoria nas estradas Posto da APAE

Gráfico 12: Infraestrutura do Assentamento – Grupo 06.

A respeito da infra-estrutura encontrada no assentamento, as pessoas

também foram ouvidas. A maior solicitação verificada foi a falta de energia elétrica.

Algumas observações, no que tange à assistência médica com maior freqüência e a

melhoria das casas, também fizeram parte das solicitações, estas foram entregues

sem nenhum tipo de acabamento. No entanto, as condições das estradas de acesso

aos lotes, a grande distância entre a escola e os lotes, e, a falta de água encanada

foram observadas, inclusive na realização do pré-teste. Observa-se, que quando a

entrevista foi respondida por mulheres, elas sempre se referiam à energia elétrica e

à água encanada como infraestrutura que pudesse levar algum conforto à família. O

que mais chama a atenção, no entanto, é a solicitação de uma das famílias que a

filha do casal é portadora de necessidades especiais. Esta família era composta por

uma casal de “brasiguaios” (pessoas que nascem no Paraguai e moram no Brasil, ou

vice-versa), com relação à instalação de um posto da APAE:

- “Eu acho que falta né? Porque eu mesmo tenho que levar minha filha na APAE lá

em Ponta Porá e acho que isso aí era preciso aqui dentro, uma sala.” (Família 6 –

Grupo 06)

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Meios de locomoção G 17

2

1

1

Bicicleta Carroça não possui

Gráfico 13: Meios de transporte utilizados – Grupo 17.

Meios de locomoção G 06

7

7

3

12 1

Carrinho Cavalo Moto Carro Bicicleta Não possui

Gráfico 14: Meios de transporte utilizados – Grupo 06.

Os meios de transporte mais utilizados são o cavalo e o carrinho (carroça)

no grupo 6 e a bicicleta no grupo 17, destacando-se que, no grupo 17 existem

carroça e cavalo de uso coletivo do grupo. Talvez, pelo fato de a bicicleta ser movida

à força física, e não depender do consenso do grupo para ser utilizada, já que é de

propriedade particular de cada assentado, as pessoas do grupo 17 preferem este

tipo de transporte. Já os assentados que compõem o grupo 06, utilizam com maior

freqüência o cavalo e a carroça, para transportar suas pequenas safra, bem como

suas famílias. Talvez este tipo de transporte alternativo, possa vir a beneficia-lo pelo

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baixo custo e pela necessidade de fazer pequenos transportes de um lote para o

outro.

Programa social G 17

3

1

não PRONAF

Gráfico 15: Participação em Programas Sociais – Grupos 17.

Programa Social G 06

62

1 1

Não Bolsa Família Aposentadoria PRONAF

Gráfico 16: Participação em Programas Sociais – Grupos 06.

Tanto no grupo 17, quanto no grupo 06, observou-se que nenhuma

família recebe nenhum tipo de benefício junto ao governo, tais como: Bolsa Família

e Bolsa Escola como adicionais para influir na renda das famílias. O PRONAF24,

trata-se de uma linha de financiamento para as famílias assentadas, portanto, não

se inclui na categoria de programas assistenciais.

24 O PRONAF é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, se define como um tipo de crédito fundiário do qual as famílias têm acesso automático e que, permite o desenvolvimento e a consolidação das atividades produtivas iniciadas no âmbito do Programa (PNRA II, 2003).

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Meios de Comunicação G 17

1

3

1

TV à bateria Rádio à pilha Telefone Móvel

Gráfico 17: Meios de Comunicação – Grupo 17.

Meios de Comunicação G 06

8

10

3 1

TV à bateria Rádio à pilha Telefone Móvel Telefone Público

Gráfico 18: Meios de Comunicação – Grupo 06.

O acesso aos meios de comunicação dos quais as pessoas se utilizam

diariamente foi verificado também através de perguntas objetivas. Percebe-se que

em ambos os grupos, o meio mais utilizado é o rádio à pilha e, em segundo lugar, a

televisão movida à bateria. Pelo fato do rádio à pilha ser financeiramente o mais

acessível meio de comunicação, além disso, tendo recepção das mensagens a

grandes distâncias, o uso do rádio se destaca em meio à população entrevistada do

Assentamento Itamarati. Segundo Ota (2000) a utilização deste meio ainda se

favorece pela disponibilidade de recepção em praticamente todos os lugares a toda

hora, requer a utilização apenas da audição, e ainda, são comuns pela escassez de

energia elétrica.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendendo-se que o mercado global e as transformações

econômicas geraram uma demanda por informações jamais vistas, pode-se observar

que, tanto no meio rural quanto no urbano, as pessoas buscam por estas

informações. Para contribuir com o acesso e utilização otimizada dessas

informações é necessário compreender as especificidades do meio a fim de que o

conteúdo das mensagens seja eficaz.

É fundamental que as pessoas possam dispor das informações e,

principalmente, que elas possam entendê-las e fazer uso delas como meio para a

inserção social. Participar do processo de inclusão social é responsabilidade de

todos os cidadãos conscientes de que a sociedade é fruto daquilo que todos os

indivíduos desenvolvem.

Exemplo disso, podem ser os assentados da Fazenda Itamarati, os quais

sofrem com as agruras da marginalização social, pois representam um movimento

social acusado pela mídia de baderneiros, fazem parte de um contexto rural que, por

si só, já leva o estigma do preconceito e, ainda, sem o acesso às informações, são

considerados os eternos “Sem-terra”, significando o atraso do Brasil rural.

Nas transformações mundiais, a sociedade também se transforma,

modifica seus conceitos e trabalha para sua inserção no mercado global. O setor

rural brasileiro, por sua vez, tem sua notoriedade no mercado internacional, com

possibilidade de expansão. Com a utilização das novas tecnologias, o setor rural,

como tradicionalmente o concebemos, pode-se transformar numa nova proposta de

desenvolvimento: o agronegócio. O agronegócio é o termo utilizado para caracterizar

um conjunto de ações econômicas interligadas à produção agropecuária, inclusive,

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as organizações de suporte e apoio ao setor (RIBEIRO, 1997). Pode-se dizer que o

agronegócio é mais abrangente se considerarmos somente as produções

agropecuárias, isoladamente.

Nesse contexto, é de importância fundamental não apenas a existência

das tecnologias, mas, principalmente o acesso às informações que elas podem

disponibilizar e a conscientização dos seus benefícios. Daí a preponderância e a

necessidade da presença da comunicação rural como mediadora desse processo.

As abordagens da disciplina de comunicação rural nos cursos de

comunicação oferecidos no Brasil podem contribuir para que se desenvolva, nos

estudantes da área, uma nova concepção do setor rural, e conseqüentemente,

contribuir na construção de um novo olhar lançado a este setor. É necessário

trabalhar, sobretudo, na formação de um olhar crítico, também dos novos

profissionais da comunicação, à medida que estes profissionais buscam seu lugar no

mercado competitivo, abnegando-se, por imposição deste mesmo mercado, de

participar da busca de soluções para os problemas sociais brasileiros. Os egressos

dos cursos de comunicação devem estar aptos a realizar uma análise de conjuntura

do contexto, do qual está inserido, e pelo qual também é responsável.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a

Alimentação (FAO), as experiências com agricultores e profissionais das ciências

vinculadas ao desenvolvimento rural, focadas nos processos de capacitação, de

informação e de comunicação para a organização participativa, permitirão

desenvolver fórmulas de um novo paradigma de comunicação: o modelo

Interlocutor-Mídia-Interlocutor. Permitindo novos desenhos, sistemas e instrumentos,

esta nova concepção questiona a eficiência pedagógica do modelo tradicional, que

por ser vertical, impõe códigos e conteúdos. A construção conjunta das mensagens

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como produto de um diálogo entre interlocutores (I-M-I), se aproximaria da origem

etimológica da palavra comunicação (fazer juntos), permitindo que o emissor e o

receptor destas mensagens, possam construir juntos os conteúdos, a utilização das

mídias, e especialmente, como envolver as pessoas no momento de

recepção/construção das mensagens (GAVIRIA, 1998, p. 4).

Por outro lado, pode-se observar com a realização dos estudos e pesquisas

que, a fim de facilitar os parâmetros para o desenvolvimento rural, algumas

organizações governamentais ou não governamentais, mantém esforços contínuos,

no intuito de amenizar as diferenças sociais.

Gaviria (1998) aponta alguns indicadores determinados pela Organização das

Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que, aliados às

Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), podem contribuir para o

desenvolvimento rural, tais como: a)sustentabilidade econômica, para assegurar os

níveis de crescimento necessários e a inversão para a investigação permanente;

b)sustentabilidade ecológica, para assegurar o uso racional e durável dos recursos

naturais, em particular a água e as florestas, utilizando-os sem esgotá-los, por

exploração e capital; c) sustentabilidade energética, para não esgotar os recursos

energéticos não renováveis antes que a pesquisa científica nos assegure novas

fontes de energia limpa; e, d) sustentabilidade social, para que a modernização

alcance a todos e não isoladamente a um reduzido núcleo privilegiado, e evitar

conflitos sociais de magnitude inimagináveis.

Para que a viabilidade do acesso à informação e a comunicação possa

ser fator diferencial, é necessário compreender todo o contexto social no qual as

mensagens serão divulgadas. No contexto da ruralidade, com o avanço tecnológico,

as concepções mudaram e para que as pessoas estejam inseridas neste conceito de

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mudança, se faz urgente que se desenvolvam mensagens e conteúdos que sejam

entendidos pelas pessoas que compõem aquele grupo social.

A partir da revisão bibliográfica realizada, encontramos que, nas mais

diferentes sociedades, a utilização da informação disponibilizada pelo rádio, já é

uma prática constante (PERUZZO, 1998). Além disso, na pesquisa realizada no

assentamento do MST (Fazenda Itamarati-MS), verificamos que o meio de

comunicação mais utilizado foi o rádio, seguido pela televisão. Identificou-se junto a

esses assentados, a carência de assistência técnica individualizada por lote.

Percebendo que existe uma grande demanda de assuntos do interesse dos

assentados , que por vezes, por impossibilidade de deslocamento, ou ainda por falta

de esclarecimentos, estes assuntos deixam de ser discutidos, acredita-se que a

instalação de uma rádio comunitária25 poderia contribuir na inserção social dos

acampados.

A rádio poderia ser concebida pelos assentados e também pelos demais

grupos sociais que compõem o meio rural no Brasil, a exemplo daqueles existentes

na Fazenda Itamarati. As mensagens poderiam ser elaboradas de acordo com as

demandas desses grupos sociais, podendo contemplar áreas, tais como: assistência

técnica, educação, cotação de preços dos produtos, recados e informações dos

próprios assentados, e outros.

[...] a população, a comunidade ou o associado tem como participar ativamente de sua comunicação. Com isso, o meio não seria algo exteriorizado, mas criado, produzido e consumido por dentro. As pessoas envolvem-se diretamente, mantendo o controle do poder quanto às dimensões fundamentais. O como-fazer democrático, no processo comunicativo, é parte da construção do homem-sujeito (PERUZZO, 1998. p.290).

25 “Art. 1º Denomina-se Serviço de Radiodifusão Comunitária a radiodifusão sonora, em freqüência modulada, operada em baixa potência e cobertura restrita, outorgada a fundações e associações comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação do serviço” (Lei 9612/98).

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A criação desta rádio comunitária seria um local onde as pessoas que

residem no meio rural estariam exercitando sua cidadania e, ainda, fomentando a

educação, através de cursos, reuniões e palestras divulgadas pelo rádio. Fomentar a

educação, seria importante para a construção de um senso crítico diante das

informações veiculadas pelas TIC’s, além do favorecimento do acesso a estas

tecnologias. No entanto, não é possível a concretização de tal idéia se não houver

vontade política e, ainda, processos educacionais para operacionalizar e viabilizar o

funcionamento da rádio comunitária (PERUZZO, 1998).

A participação objetiva, ainda, a partilha da informação. Todos conhecem o ditado de que “informação é poder”. Socializa-la é, então, um primeiro passo no sentido de compartir o poder com o grupo, os membros e a comunidade. Como envolver-se ativamente nos debates de uma assembléia quando se está por fora dos assuntos em pauta? Ou na produção do programa de uma rádio popular se não se tem o domínio das técnicas mais elementares? Por meio dela, também se tem acesso mais fácil ao conhecimento científico e técnico. Este não fica restrito a umas poucas lideranças, mas é estendido ao grupo, potencializando-se as pessoas para uma ação entre iguais. Quer dizer, é preciso haver comunicação, sem a qual não pode existir a participação [...] (PERUZZO, 1998.p. 283).

É importante salientar que existem alguns mecanismos de facilitação no

acesso às informações, são eles: utilizar a representatividade, pela inviabilidade de

todos os envolvidos participarem simultaneamente de todo o processo, elegeriam-se

representantes, que estariam a serviço da população, com mandatos temporários e

revogáveis; fomentar a identidade dos veículos de comunicação, para que estes

possam desempenham suas funções de acordo com as expectativas da população e

para que possam estar à serviço dela; abertura de canais onde as pessoas possam

ouvir e serem ouvidas e atendidas em suas necessidades mais emergentes;

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democratização da equipe eleita, para que o produto desta equipe seja também

democrático; contar com mão de obra de especialistas na área, sem, no entanto,

ficarem subjugados à eles; promover o pluralismo nas relações sociais e nas

relações midiatizadas; compartilhar sempre, das idéias, ideais e objetivos, para que

a rádio seja democrática(PERUZZO, 1998).

Segundo o Decreto Nº 2.615 de 03 de junho de 1998, que aprovou o

Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitária, como anexo do disposto na

Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, da Presidência da República, a rádio

comunitária tem por finalidade:

I - dar oportunidade à difusão de idéias, elementos de cultura, tradições e hábitos sociais da comunidade; II - oferecer mecanismos à formação e integração da comunidade, estimulando o lazer, a cultura e o convívio social; III - prestar serviços de utilidade pública, integrando-se aos serviços de defesa civil, sempre que necessário; IV - contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação dos jornalistas e radialistas, de conformidade com a legislação profissional vigente; V - permitir a capacitação dos cidadãos no exercício do direito de expressão, da forma mais acessível possível.

A recomendação do uso de uma rádio comunitária, embora o rádio não

seja uma mídia massiva inovadora para a sociedade da informação, acredita-se que

esse veículo possa ser um instrumento de facilitação do acesso às informações.

Comprovadamente, é muito mais viável pelo baixo custo econômico, pela facilidade

de recepção e, principalmente, pela oportunidade da democratização da informação,

junto ao meio rural no Brasil. Em particular, percebe-se que é possível efetuar essa

construção pelos assentados e para os assentados de toda a fazenda Itamarati,

inclusive num segundo momento de loteamento da outra metade da fazenda

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destinada à Reforma Agrária. Embora não se possa efetuar generalizações a esse

respeito por se tratar de um estudo de caso específico, no entanto, entende-se que

novas pesquisas em outros grupos sociais semelhantes ou de outra tipologia que

constituem o meio rural no nosso contexto, talvez possam levar a tais

considerações.

A rádio comunitária poderia contribuir para a popularização dos

telecentros que já estão em processo de instalação e treinamento, sem, no entanto,

restringir sua utilização, pela facilidade do manuseio, e, pelo fato da maioria das

pessoas que estão inseridos no meio rural possuírem um aparelho de rádio. As

fronteiras das tecnologias poderiam ser estreitadas por intermédio do rádio, ou seja,

as pessoas poderiam utilizá-lo para educar e fomentar a utilização dos telecentros,

bem como, das novas formas do manuseio da terra e das criações, cultivadas pelos

grandes e pequenos proprietários rurais.

Os telecentros têm, em sua proposta, a inclusão digital, ou seja, facilitar o

processo de inclusão à Sociedade da Informação, por uma parcela da população

que ainda vive fora da realidade computacional, como, em algumas partes do país, a

comunidade rural. Por requererem conhecimentos prévios e específicos no

manuseio e operacionalização dos telecentros, o acesso a estas salas fica restrito às

pessoas que passaram por alguns tipos de treinamentos. Faz-se necessário, um

programa de educação e treinamento para que estas pessoas possam conhecer

melhor os telecentros e fazer uso de maneira eficaz, na promoção de sua cidadania.

Este processo de educação pode ser favorecido pelo rádio. Segundo Gaviria (1998),

para educar e capacitar é preciso que existam sistemas, instrumentos, processos e

metodologias de comunicação de natureza didática que tornem tais processos mais

eficientes e adequados ao usuário.

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Por sua vez, nas entrevistas realizadas junto aos assentados da Fazenda

Itamarati (MS), pode-se perceber que algumas impressões não puderam ser

quantificadas, tais como: os olhares de desconfiança e indagação iniciais que se

transformavam em tranqüilidade depois de uma apresentação. No momento que as

perguntas iam sendo respondidas, observamos que as pessoas, de um modo geral,

eram carentes de diálogo. Também percebemos que, embora retirem a maior parte

do seu sustento das áreas do Pivot, existe uma grande preocupação com a

produção e o desenvolvimento dos lotes individuais, o que foi confirmado pelas

observações feitas pela falta de assistência técnica individualizada. O convívio com

um dos grupos estudados (grupo 17), com área totalmente coletiva, nos pareceu ser

mais tranqüilo, até pela proximidade das casas, e pela oportunidade de receber

informações e assistência técnica em toda área de produção.

Acredita-se que poderia contribuir na questão da assistência técnica

individualizada, a implementação de técnicas, que poderiam ser desenvolvidas em

toda a área da Fazenda Itamarati (MS) como a agricultura de precisão, por exemplo,

e também, concomitantemente, o desenvolvimento de programas computacionais

que pudessem auxiliar o manuseio das informações. A adoção destes sistemas de

produção pelo agricultor, requer a utilização de tecnologias modernas, como as de

sensoriamento remoto, dos sistemas de informação geográficas (GIS), do sistema

de posicionamento global (GPS), de máquinas e de equipamentos para aplicação

localizada de insumos a taxas variadas. Os dados via satélite e a análise detalhada

de campos de produção fazem parte destas informações geradas por estes serviços

especializados, permitindo a verificação das variações de clima, solo, e outras

condicionantes, de forma quantitativa e qualitativa, disponibilizando os dados aos

assentados no processo de tomada de decisão.

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Estas técnicas modernas e avançadas necessitam de alguns pré-

requisitos para sua instalação e ótimo funcionamento. Tais requisitos, no nosso

entender, no entanto, se destinam a melhorar a vida e a produção não só da

população do assentamento Itamarati, podendo ser relevantes e justificáveis os

investimentos destes portes, junto aos governos, em todo o contexto do meio rural

brasileiro. Os fatores determinantes da agricultura de precisão são: disponibilidade

de bases cartográficas e informações dos recursos naturais em escalas adequadas;

especialização das áreas de produção; fatores sócio-econômicos.

A “re-educação” dos técnicos extensionistas também poderia vir a

corroborar todos os investimentos tecnológicos e econômicos, acima descritos. Com

uma nova concepção de ensino-aprendizagem, as técnicas trabalhadas no meio

rural podem transformar a sua comunidade em agentes multiplicadores das

informações e conhecimento, sendo necessário a participação de todos os

envolvidos.

Com este novo cenário se redesenhando cotidianamente, o principal

agente de mediação destes relacionamentos deve ser o profissional da

comunicação. Seja acompanhando os treinamentos e os processos educativos, ou

ainda, orientando sobre o papel dos meios de comunicação na construção deste

novo cenário, o comunicador deve ter consciência de que sua responsabilidade

reside no fato de possibilitar a promoção e o planejamento de ações para o

favorecimento do acesso e da utilização das TIC’s, como fator fundamental no

processo de inclusão social e de tomada de consciência na construção da cidadania.

Entendendo-se, no entanto, que a acessibilidade das informações no

ambiente rural, não diz respeito somente a disponibilização das tecnologias, é

necessário a compreensão regional e humana para que as tecnologias possam ser

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desenvolvidas conjuntamente com a consciência crítica, a educação para os novos

meios e a evolução cultural das pessoas envolvidas.

Finalizando, ressalta-se a importância da comunicação rural e o uso de

meios, quer sejam tradicionais e inovadores nessa área, enquanto tecnologias que

permitem o acesso e uso da informação com efetividade à comunidade rural,

considerando-se as afirmações dos autores Vendramin e Valenduc:

A verdade é que as tecnologias avançadas de comunicação, por si só, não levantam os obstáculos ao desenvolvimento local ou regional: é que estes podem estar ligados a fatores de natureza muito diferente, como por exemplo falta de cultura de inovação, atitudes de gestão mal adaptadas às mutações da economia, políticas públicas demasiado defensivas, lacunas em matéria de qualificação ou de formação, ou muito simplesmente as características de geografia física contra as quais as redes não podem fazer grande coisa. (VENDRAMIN;VALENDUC, 1997. p.4).

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APÊNDICE A – Questionário/roteiro de entrevista

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO

CAMPUS DE BAURU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

Título do Trabalho: A COMUNICAÇÃO RURAL E AS NOVAS TECNOLOGIAS – UM ESTUDO NO ASSENTAMENTO ITAMARATI, REGIÃO SUL DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. Entrevistadora: Eligiane Goréte Corrêa Godoy Data: Técnico IDATERRA:

Entrevista semi-estruturada

1. Identificação do entrevistado: (7) 1.1 Nome: 1.2 Idade: 1.3 Sexo: ( )M ( )F 1.4 Cargo no assentamento: Não 1.5 Função na família: 1.6 Escolaridade: 1.6.1 ( )Fundamental

1.6.2 ( )Médio

1.6.3 ( )Superior___________________1.6.4 ( )Técnico___________________

1.6.5 ( )Outros ____________________

C – Completo/ I – Incompleto

1.7 Estado Civil: 1.7.1 ( )Solteiro(a) 1.7.2 ( )Casado(a) 1.7.3 ( )Separado(a) 1.7.4 ( )Divorciado(a) 1.7.5 ( )Amasiado(a) 1.7.6 ( )Viúvo(a)

2. Dados Familiares: (12) 2.1 Nome do cônjuge: 2.2 Idade: 2.3 Sexo: ( )M ( )F 2.4 Cargo no assentamento: 2.5 Função na família: 2.6 Escolaridade: 2.6.1 ( )Fundamental 2.6.2 ( )Médio 2.6.3 ( )Superior________________ 2.6.4 ( )Técnico_________________

2.6.5 ( )Outros __________________

C – Completo/ I – Incompleto

2.7 Estado Civil: 2.7.1 ( )Solteiro(a) 2.7.2 ( )Casado(a) 2.7.3 ( )Separado(a) 2.7.4 ( )Divorciado(a) 2.7.5 ( )Amasiado(a) 2.7.6 ( )Viúvo(a)

2.8 Têm Filhos? Quantos?

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2.9 Nomes: 2.10 Idade:

2.11 Escolaridade:

2.12 Estado civil:

3. Dados Sobre o Acampamento:(3) 3.1 Quanto tempo você e sua família ficaram acampados? 3.2 Você acha que a vida no acampamento era melhor ou pior? Porquê? (perguntar sobre infra-estrutura, social, assistência, etc.) 3.3 Analisando o seu desenvolvimento pessoal, você acha que o tempo que

passou acampado contribuiu? (visão crítica) 4. Dados Sobre o Assentamento Itamarati: (8) 4.1 Há quanto tempo você e sua família estão no Assentamento Itamarati? 4.2 Infraestrutura: (S – Sim/ N – Não) 4.2.1 Saneamento: 4.2.3 Energia Elétrica: 4.2.4 Educação: 4.2.5 Saúde: 4.3 Na sua opinião, falta algo na infra-estrutura oferecida? Se sim, o quê? 4.4 Você recebe algum tipo de assistência técnica? Quem a oferece? (Se sim, continue. Se não pule para a pergunta 4.7) 4.5 Como você considera o trabalho dos técnicos? 4.6 Como seu relacionamento com a equipe técnica, existe o diálogo e a troca de experiências? 4.7 Você acha importante receber orientações técnicas? Porquê? 4.8 Gostaria de recebe-las? 5. Dados Sócio-econômicos: (5) 5.1 Renda mensal familiar: 5.2 Participa de Programas Sociais? Quais? 5.3 Possui meio de locomoção próprio? Qual?

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5.4 Quando é necessário vender a safra ou comprar implementos, qual é o procedimento de cotação dos preços e negociação? 5.5 Quem é o responsável pela negociação da sua produção? 6. Acesso a Informação: (5) 6.1 Meios de Comunicação: 6.1 ( )Televisão 6.2 ( )Rádio AM/FM 6.3 ( )Rádio amador 6.4 ( )Telefone 6.5 ( )Antena Parabólica 6.6 ( )Jornal e Revistas 6.7 ( )Correios 6.8 ( )Outros. Telefone Celular. 6.2 Quais os meios de comunicação que você utiliza no seu dia-a-dia? 6.3 Você acha que quem tem mais recursos financeiros consegue mais ou melhores informações? 6.4 Você acha que quem dispõe de mais informações consegue fazer melhor negócio? Comente. 6.5 Como você utiliza as informações das quais tem acesso no seu dia-a-dia? 6.6 Você se sente isolado no que diz respeito à comunicação? 7. Observações da pesquisadora: (total de perguntas 40 + obs.)

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ANEXO A - Decreto nº 3.294, de 15.12.99

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Decreto nº 3.294, de 15.12.99

Institui o Programa Sociedade da Informação e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1o Fica instituído o Programa Sociedade da Informação, com o objetivo de viabilizar a nova geração da Internet e suas aplicações em benefício da sociedade brasileira.

Art. 2o O Ministério da Ciência e Tecnologia será o responsável pela coordenação das atividades e da execução do Programa.

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 15 de dezembro de 1999; 178o da Independência e 111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Ronaldo Mota Sardenberg

Publicado no D.O.U. de 16.12.99, Seção I, pág. 8.

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ANEXO B - Pesquisa Nacional por Domicílios (PNAD)

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PNAD 2003 aponta redução de desigualdades , queda no rendimento, aumento na desocupação e mais empregados com carteira assinada

Nordeste foi a região que apresentou os maiores avanços em dez anos, com a taxa de escolarização das crianças de 7 a 14 anos de idade, chegando a 96,0% e quase igualando-se à do total do País, que era de 97,2% em 2003; o mesmo em relação à taxa de analfabetismo (de 10 anos de idade) que, caiu de 30,9% para 21,2% em 10 anos, embora ainda seja o dobro da do País (10,6%). Também o percentual de domicílios com bens duráveis teve grande aumento no Nordeste. Em 1993, pouco mais da metade dos domicílios (53%) tinha televisão e, dez anos depois, 80,1%.

Quanto às desigualdades entre homens e mulheres, a PNAD 2003 também registrou mudanças, com as taxas de escolarização de meninos e meninas de 7 a 17 anos, antes afastadas, se aproximando em 2003, o mesmo ocorrendo com as taxas de analfabetismo masculina e feminina na faixa de 10 a 14 anos, antes de 14,1% e 8,5%, caindo para 4,7% e 2,2%, em 10 anos. No que se refere ao rendimento das mulheres, que era de 59,0% do rendimento dos homens, houve igualmente redução desse distanciamento, passando a corresponder a 69,6% do rendimento dos homens.

Os dados da PNAD mostram ainda que o rendimento médio real dos trabalhadores caiu 7,4% de 2002 para 2003, no entanto, a perda real para a metade da população com as menores remunerações de trabalho foi de 4,2%, enquanto que para a outra metade da população, com os maiores rendimentos, a perda real foi de 8,1%, o dobro. A análise desses 10 anos, 1993 a 2003, mostra que os 10% dos ocupados com os maiores rendimentos, que detinham praticamente metade do total das remunerações (49,0%) em 1993, passaram, em 2003, a deter 45,3% do total. Na outra ponta, os 10% dos trabalhadores com os menores rendimentos, que ficavam com 0,7% do total das remunerações, passaram a receber 1,0% do total de todos os rendimentos, em 2003. O indice de Giní, que estava em 0,600 em 1993, registrou 0,555 em 2003, a melhor marca desde 1981. Quando considerado o rendimento domiciliar, que reúne a remuneração de todas as fontes de rendimento dos moradores, a PNAD registrou queda de 8,0% de 2002 para 2003. A taxa de desocupação, detectada pela PNAD, passou de 9,2% para 9,7% nesse período.

A comparação dos últimos dez anos da PNAD (1993 a 2003) mostrou melhoras generalizadas sob diversos aspectos: em 10 anos, a proporção de domicílios com telefone mais que triplicou, passando de menos de 20% para 62,0%; a proporção de habitações consideradas rústicas, aquelas com paredes feitas com material não-durável, como madeira aproveitada de embalagens, taipa, palha, etc. se reduziu à metade nesses dez anos, passando de 5,1% para 2,5%, um fenômeno ocorrido em todas as regiões; a parcela de crianças de 7 a 14 anos que não freqüentava escola, que era de 11,4% em 1993, ficou em 2,8% em 2003. No Nordeste, a redução foi de 16,6% para 4,0% no percentual de crianças nessa faixa de idade fora da escola. Outro indicador que reflete o nível de instrução da população é o número médio de anos de estudo e esse, passou de 5 anos em 1993 para 6,4 anos em 2003. Entre a população ocupada, a média de anos de estudo era de 7,1 anos em 2003, sendo maior entre as mulheres (7,7 anos de estudo).

A PNAD 2003 confirma ainda o movimento de ingresso da mulher no mercado de trabalho. Em números absolutos, de 2002 para 2003, entraram no mercado de trabalho 547 mil mulheres e 524 mil homens. Outro movimento importante na economia foi o aumento dos trabalhadores com carteira de trabalho assinada (3,6%). Na sociedade, o uso de computadores se disseminou e foi o bem durável que mais cresceu nos últimos anos, presente, em 2003, em 7,5 milhões de domicílios, sendo que 5,6 milhões dispunham de acesso à Internet.

Em dez anos, triplicou o percentual de domicílios com telefone

Com o aumento da oferta dos serviços de telefonia, a proporção de domicílios com telefone mais que triplicou em dez anos: de 19,8% passou para 62,0%. Apesar do aumento de 7,0% de 2001 para 2002 e de 3,9% de 2002 para 2003, a maior taxa de crescimento anual (28,9%) se deu de 1999 para 2001.

A partir de 2001, a pesquisa capta o tipo de telefone que o domicílio possui: fixo convencional, celular ou ambos.

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De 2002 para 2003, número de domicílios que só possuíam linha celular cresceu 31,3%, o dobro do ocorrido de 2001 para 2002

Observa-se que vem crescendo o número de domicílios somente com telefone celular. O percentual de aumento de 2002 para 2003 (31,1%) foi praticamente o dobro do ocorrido de 2001 para 2003 (15,4%). Em 2001, 3,6 milhões de domicílios (7,8% do total de moradias) tinham apenas telefone celular. Em 2002, já eram 4,2 milhões (8,8%) e em 2003, eram 5,5 milhões (11,2%).

Por outro lado, a proporção de domicílios com, pelo menos, telefone fixo convencional aumentou de 51,1% em 2001 para 52,8% em 2002, mas diminuiu em 2003 (50,8%). Em se tratando da proporção de domicílios somente com telefone fixo convencional, a queda foi ainda mais expressiva: de 27,9% em 2001 passou para 27,0% em 2002 e chegou a 23,4% em 2003.

Indicadores sobre condições de habitação revelam melhorias

Em dez anos, apesar de grandes avanços, os dados da PNAD 2003 revelam que ainda permaneciam as desigualdades regionais em relação a algumas características dos domicílios. O serviço com a maior cobertura continuou sendo o de iluminação elétrica, que já atingiu 97% dos domicílios brasileiros. Quando comparado com 1993, percebe-se uma grande evolução, pois apenas 90% dos lares dispunham de iluminação elétrica. No Sudeste, a melhoria já atingiu quase a totalidade dos lares, passando de 96,4% para 99,4% em dez anos. No Sul, esse percentual passou de 94,7%, em 1993, para 98,7% em 2003. No Centro-oeste, o crescimento foi de 90% para 97,1%. Já o Nordeste, apesar de ainda apresentar o menor percentual entre as regiões, teve o maior crescimento no período: de 75,7% passou para 91,7%.

A rede coletora de esgoto, apesar de ainda ser o serviço com a menor cobertura nos lares brasileiros, cresceu de 39,0% em 1993 para 48,0% em 2003. O percentual de domicílios que dispunham de esgotamento sanitário adequado (ou seja, que eram atendidos por rede coletora de esgoto ou tinham fossa séptica) cresceu de 58,8% para 68,9%, de 1993 para 2003. Nesse período, o Sudeste (de 78,2% para 86,3%) e o Sul (de 59,4% para 74,9%) continuaram apresentando os maiores percentuais regionais de domicílios com esgotamento sanitário adequado, e bastante distanciados daqueles do Centro-oeste (de 36,7% para 45,4%) e do Nordeste (de 32,4% para 44,1%).

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Em relação ao número de moradias que tinham serviço de coleta de lixo, em um ano, o crescimento foi de 4,3%. Em 1993, 30% das residências não tinham serviço de coleta de lixo, um percentual alto, mas que dez anos depois, cai para menos da metade (14,4%). Nesse período, novamente, a região Sudeste continuou se destacando com os maiores percentuais de domicílios atendidos por serviço de coleta de lixo (de 81,9% para 93,9%). O avanço na região Sul foi de 73,8% para 86,8% e na Centro-Oeste, de 68,9% para 86,1%. A região Nordeste teve o maior crescimento no período (de 48,6% para 70,1%), no entanto, quando comparada com as demais regiões, ainda foi a que apresentou menor cobertura desse serviço.

Quanto ao abastecimento de água, em 1993, um quarto das habitações não tinha o serviço. Em 2003, esse serviço não atendia 17,5% dos domicílios.

Regionalmente, observa-se que em dez anos, o Sudeste (de 86,9% para 91,0%) e o Sul (de 75,5% para 83,2%) continuaram apresentando os mais altos resultados do percentual de domicílios atendidos por rede geral de abastecimento de água, seguidos do Centro-Oeste (de 68,0% para 77,1%), enquanto no Nordeste melhorou a cobertura desse serviço (de 57,0% para 72,1%).

Em dez anos houve melhoria na qualidade da estrutura das moradias

Em relação à estrutura da habitação, verificou-se que, de 1993 para 2003 caiu pela metade (de 5,1% para 2,5%) o percentual de moradias rústicas, assim chamadas as habitações cujas paredes externas eram construídas com material não-durável (madeira aproveitada, taipa não-revestida, palha, adobe etc). Em 2003, nas regiões, esse indicador ficou em 6,5% no Nordeste; 1,6% no Centro-Oeste; 1,4% no Sul e 0,6% no Sudeste.

Pesquisa revela: diminuiu a proporção de domicílios com freezer, e a de geladeira de duas portas teve maior crescimento

Mesmo com o fim do racionamento que vigorou em parte do ano de 2001, a proporção de domicílios com freezer continuou a diminuir. De 2002 para 2003, o número de domicílios com freezer chegou a cair 1,1%. Em 1993, 13% dos domicílios tinham freezer e de 1998 (19,7%) para 1999 (19,6%), o percentual pouco variou. Foi a partir de 2001 (18,8%) que o percentual de domicílios com freezer começou a diminuir, tendo passado de 18,5% em 2002 para 17,7% em 2003.

Por outro lado, de 1993 para 2003, houve aumento contínuo na proporção de domicílios com geladeira: de 71,8% passou para 87,3%. Os dados da pesquisa indicam também se o modelo da geladeira tem uma ou duas portas. Os resultados mostraram a crescente opção das famílias pela geladeira de duas portas. Em 2001, 12,8% dos domicílios tinham geladeira de duas portas; em 2002, eram 13,6% e, em 2003, subiu para 14,8%. Já em relação à proporção de moradias com geladeira de uma porta, o movimento ascendente se interrompeu no último ano: era 72,3% em 2001, subiu para 73,1% em 2002, porém, caiu para 72,5% em 2003.

Quando se analisa o total de moradias com geladeira, também fica evidente o crescimento na proporção daquelas que tinham o tipo de duas portas: era 12,2% em 1993, passou para 15,0% em 2001 e chegou a 16,9% em 2003.

Entre os bens duráveis, computador foi o que mais cresceu

O computador foi o bem durável que mais cresceu nos últimos anos. De 2001 para 2002, o crescimento foi de 15,1% e de 2002 para 2003, de 11,4%, sendo que, entre os que tinham acesso à internet, o aumento nos dois períodos foi, respectivamente, de 23,5% e 14,5%. Em 2003, 15,3% das moradias tinham microcomputador e em 11,4% este equipamento tinha acesso à internet.

A proporção de moradias com máquina de lavar cresceu de 24,3% para 34,4% em dez anos. O crescimento no número de moradias com máquina de lavar, de 2001 para 2002, foi de 3,1% e, de 2002 para 2003, de 4,8%.

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Entre as regiões, a Sul continuou com o maior percentual de domicílios com rádio, máquina de lavar e freezer, enquanto a Sudeste ficou com as maiores proporções de moradias com geladeira e televisão. O percentual de domicílios com freezer da Região Sul (34,5%, praticamente o dobro da média nacional) foi bastante diferenciado daqueles das demais regiões.

Base da pirâmide etária vem se estreitando e população idosa continuou crescendo

Com a queda nas taxas de fecundidade e mortalidade, a estrutura etária da população do País vem mudando ao longo dos anos. Em 1993, a taxa de fecundidade era de 2,6%. Dez anos depois, chegou a 2,1%. Essa progressiva diminuição teve início em meados dos anos sessenta e se intensificou nas duas décadas seguintes, refletindo-se na estrutura etária.

Em 1981, o grupo etário que tinha mais pessoas era o de 0 a 4 anos de idade; em 1986, era o de 5 a 9 anos; em 1992, era o de 10 a 14 anos; em 1998, os maiores percentuais estavam concentrados nas faixas de 10 a 14 e de 15 a 19 anos; em 2001, o maior era somente o de 15 a 19 anos, mas a sua

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proporção já começava a diminuir. Em 2003, o grupo etário de 15 a 19 anos ainda era o maior, mas o seu percentual na população continuou em queda, aproximando-se daquele do grupo de 20 a 24 anos.

No outro extremo, a população de 60 anos ou mais de idade continuou crescendo gradativamente: representava 6,4% da população em 1981; subiu para 8,0% em 1993 e chegou a 9,6% em 2003. Em números absolutos, isso significa que, dos quase 174 milhões de pessoas, 16,7 milhões tinham, no mínimo, 60 anos de idade.

Entre as regiões, as maiores participações de idosos de 60 anos ou mais estavam no Sudeste (10,5%) e no Sul (10,4%), seguidos do Nordeste (9,2%), Centro-Oeste (7,4%) e do Norte urbano (6,0%).

Dentro da população idosa, 55,9% eram mulheres. Em 1993, esse mesmo percentual estava em 54,5%. Em 2003, na região Sudeste, por exemplo, 57,3% do contigente de idosos era formado por mulheres. Por sua vez, o menor percentual de mulheres entre os idosos estava no Centro-Oeste (51,6%).

Número médio de pessoas por domicílio caiu para 3,6

De 1993 para 2003, o número médio de pessoas por domicílio passou de 4,0 para 3,6. Um dos fatores que mais influenciaram essa queda foi a contínua diminuição do número médio de filhos por mulher.

Em 2003, cerca de 10% dos domicílios tinham um único morador

Em 10 anos, o percentual de domicílios que tinha apenas um morador cresceu de 7,5% para 10,2%.

Composição da região Centro-Oeste reflete correntes migratórias que recebeu nas últimas décadas

Em 2003, a proporção de pessoas não-naturais da Unidade da Federação de residência ficou em 36,3% na região Centro-Oeste, em contraste com a da região Nordeste (7,8%). Enquanto a composição do Nordeste mostrou os efeitos das saídas históricas de sua população em busca de condições de vida melhores em outras áreas do País, as composições das regiões Centro-Oeste e Norte urbana refletiram as correntes migratórias que receberam nas últimas décadas.

Como resultado dos movimentos migratórios, as pessoas não-naturais do município de residência representavam 40,5% da população do País e as não-naturais da Unidade da Federação de moradia, 16,2%.

Como as levas migratórias concentram, na maior parte, pessoas adultas que se deslocam, principalmente, em busca de melhores oportunidades de trabalho, os migrantes apresentam estrutura etária mais envelhecida. Em 2003, as pessoas de 18 a 59 anos de idade constituíam 54,4% na população de naturais da Unidade da Federação e 71,5% na de não-naturais.

Isso se reflete no trabalho. Em 2003, o nível de ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população de 10 anos ou mais de idade) do contingente de migrantes continuou superando o de não-migrantes. Este indicador situou-se em 58,1% para as pessoas não-naturais da Unidade da Federação e 54,8% para as pessoas naturais.

Percentual de crianças de 7 a 14 anos fora da escola caiu de 11,4% para 2,8% no total do País

De 1993 a 2003, houve melhoria acentuada no nível de escolarização, mas as desigualdades regionais permaneceram. No Nordeste, por exemplo, o percentual de crianças, nessa faixa etária, que não freqüentavam escola passou de 16,6% para 4%, enquanto na região Sudeste foi de 7,8% para 1,9%.

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A região Sul alcançou, desde 2002, esse patamar: 2% de crianças, no mesmo grupo etário, fora da escola.

Para o total de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, o percentual dos que não freqüentavam escola passou de 21,8% para 8,8%, em todo Brasil. Em 2003, o percentual mais alto de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade fora da escola foi encontrado na região Norte urbana (11,2%), seguida da Sul (10%). Nordeste e Centro-Oeste se igualaram em 9,5% e a região Sudeste ficou com 7,8%. É importante observar que a PNAD não abrange a área rural da região Norte.

Em 2003, as taxas de escolarização masculina e feminina se encontravam próximas, nas faixas etárias de 7 a 14 anos e de 15 a 17 anos de idade, ao contrário de dez anos antes.

O aumento da escolarização das crianças e adolescentes vem contribuindo para a redução do analfabetismo e elevação do nível de instrução da população. Em todo o País, taxa de analfabetismo das pessoas de 10 anos ou mais de idade caiu de 15,6%, em 1993, para 10,6%, em 2003.

Na faixa etária de 10 a 14 anos de idade, em que se espera que a criança esteja pelo menos alfabetizada, a taxa de analfabetismo baixou de 11,3% para 3,5%, nesses dez anos. No Nordeste, no entanto, este indicador estava em 26,7%, em 1993, e decresceu para 8,1%, em 2003. Apesar da expressiva melhoria na região, este último resultado ainda ficou muito distanciado do patamar alcançado pelas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste: 0,8%, 1,0% e 1,3%, respectivamente.

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Por gênero, no grupo de 10 a 14 anos de idade, a taxa de analfabetismo masculina declinou de 14,1% para 4,7% e a feminina, de 8,5% para 2,2%.

Houve considerável evolução na proporção de pessoas com 11 anos ou mais de estudo, ou seja, que concluíram pelo menos o ensino médio ou nível equivalente: de 14,4%, em 1993, para 24,9%, em 2003. Na parcela da população ocupada, o nível de instrução permaneceu mais alto que o do total das pessoas de 10 anos ou mais de idade e o contingente com pelo menos o ensino médio concluído cresceu de 19,0% para 32,5% em dez anos.

Aumentou o distanciamento no nível de instrução entre mulheres e homens. Em 2003, a proporção de mulheres com 11 anos ou mais de estudo atingiu 26,5%, ficando 3,4 pontos percentuais acima da taxa referente à população masculina. Em 1993, essa diferença era de 1,6 pontos percentuais.

O número médio de anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais de idade passou de 5,0, em 1993, para, 6,4, em 2003, permanecendo mais elevado para as mulheres: 6,6 contra 6,3 para os homens). Em 2003, o número médio de anos de estudo foi de 5,0 na região Nordeste e 7,1, na Sudeste.

A rede pública de ensino atendia, em 2003, a grande maioria dos estudantes, com uma cobertura nitidamente diferenciada em função do nível de ensino. Freqüentavam a escola pública, 27,3% dos estudantes do ensino superior, 84,9% do ensino médio, 89,5% do fundamental e 76,0% do pré-escolar.

Em termos regionais, as maiores diferenças na proporção de estudantes em escola da rede pública ocorreram no ensino superior. Enquanto no Sudeste, 19,8% dos estudantes de ensino superior freqüentavam escola pública, no Nordeste eram 44,2%. Para o ensino médio, a região Nordeste também apresentou a mais alta proporção na rede pública (86,4%). Já a região Sul apresentou as maiores proporções de estudantes em escola da rede pública no ensino pré-escolar (81,3%) e no ensino fundamental (91,2%).

PNAD 2003 detectou mais trabalhadores com carteira assinada

Nível da ocupação foi menor que o de 2002: o das mulheres manteve-se estável e o dos homens caiu. Cresceu em 4,0% o número de contribuintes para a previdência e em 6,4% o de trabalhadores sindicalizados. Rendimento médio real de trabalho caiu 7,4% e o rendimento domiciliar, 8,0%. País

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tinha 5,1 milhões de trabalhadores com entre 5 e 17 anos, mas o trabalho infantil continuou em queda.

Em 2003, o País tinha 79,3 milhões de pessoas ocupadas, sendo 46,4 milhões de homens e 32,8 milhões de mulheres. A População Ocupada representava 55,4% do total das pessoas com dez anos ou mais de idade. Esse percentual – o nível de ocupação – foi menor que o de 2002 (55,7%) e igualou o de 1997. Entre 1992 e 95, esse indicador encontrava-se num patamar bem superior ao atual (tabela 11) e atingiu seu percentual mais baixo em 1996 (55,1%).

A taxa de desocupação detectada pela PNAD passou de 9,2% em 2002 para 9,7% em 2003 e, analisando-o para cada um dos sexos, verificou-se uma maior pressão das mulheres para ingresso no o mercado de trabalho: em 2003, a taxa de desocupação delas foi de 12,3%, enquanto a dos homens ficou em 7,8%.

Nível da ocupação feminina se manteve em 2003

O acompanhamento a partir da década de 1990 mostrou que o nível da ocupação da população masculina manteve tendência de queda, com nítida retração em 1996. Esse indicador em 2002 superou somente o do ano anterior e atingiu o seu mínimo (67,2%) em 2003. O nível da ocupação da população feminina, apesar de ter apresentado, também, retração de patamar em 1996, já mostrava recuperação em 1999. No contingente de mulheres, o nível da ocupação de 2003, permaneceu igual ao de 2002 (44,5%), que praticamente havia alcançado o de 1995 (44,6%), o mais alto desde o início da década de 1990.

De 2002 para 2003 a contribuição feminina (547 mil mulheres) para o aumento no número absoluto pessoas ocupadas foi maior que o da masculina (524 mil homens).

Em 2003, eram mulheres 93,5% dos trabalhadores domésticos no País, bem como 69,0% dos trabalhadores para o próprio consumo, 55,6% dos militares e estatutários e 54,7% dos trabalhadores não-remunerados. Por outro lado, 47,5% das mulheres ocupadas eram empregadas e 25,6% o eram com carteira de trabalho assinada. Ainda dentro da população feminina ocupada, 17,3% eram trabalhadoras domésticas e 12,8% o eram sem carteira assinada. Ainda entre as ocupadas, 16,3% eram trabalhadoras por conta própria e apenas 2,5% eram empregadoras (Tabela 12).

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Os dois grupamentos de atividade com as maiores participações femininas (tabela 14) eram Serviços Domésticos (93,5%) e Educação, Saúde e Serviços Sociais (77,4%), enquanto as duas menores participações das mulheres estavam em Construção (2,3%) e em Transporte, Armazenagem e Comunicação (11,4%). Quanto ao número de horas trabalhadas, 42,2% da população feminina ocupada trabalhavam menos de 40 horas por semana, contra apenas 17,9% dos homens ocupados. Desde 1992 este indicador matem-se acima dos 41% para as mulheres, e abaixo dos 18% para os homens.

Estavam em atividade agrícola 20% da População Ocupada

Em 2003, cerca de 16,4 milhões de pessoas – ou 20,7% da População Ocupada – trabalhavam em atividade agrícola. Esse percentual pouco variou em relação ao de 2002 (20,6%), mas é bem menor que o de 1992 (28,4%). Entre esses trabalhadores agrícolas, 1,4 milhão (ou 8,3%) eram empregados com carteira de trabalho assinada e 3,2 milhões (19,3%) sem carteira assinada. Em relação a 2002, esses contingentes cresceram 4,0% e 1,7%, respectivamente (ou 53 mil trabalhadores, para ambos os percentuais). No entanto, em 1992, os dois indicadores representavam, respectivamente, 6,8% e 20,6% da população ocupada em atividade agrícola, indicando uma tendência de formalização, no período. Enquanto isso, o número de trabalhadores agrícolas por conta própria chegou a 4,2 milhões em 2003, crescendo 0,7% (ou mais 30 mil pessoas) em relação a 2002. Sua participação na população ocupada em atividade agrícola era de 24,6% em 1992, chegou a 26,1% em 2002 e caiu para 25,8% em 2003.

Em 2003, cerca de 23,4% dos trabalhadores agrícolas (ou 3,84 milhões) estavam na categoria dos não- remunerados, contra 24,6% (ou 3,97 milhões) em 2002. No período, esse contingente reduziu-se em 3,4%. Em 1992, sua participação na população ocupada em atividade agrícola fora de 27,6%,

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indicando um tendência de queda. Já a participação dos que trabalhavam na produção para consumo próprio no total dos ocupados na atividade agrícola caminhou no sentido inverso: atingiu 20,2% (ou 3,3 milhões) em 2003, contra 19,2% (ou 3,1 milhões) em 2002 e 17,3% em 1992 (tabela 5.5.1). Entre 2002 e 2003, o contingente cresceu 7,2%, quase igualando o crescimento ocorrido entre 2001 e 2002 (7,5%).

Cresce o número de trabalhadores com carteira assinada

Em 2003 o Brasil tinha 62,8 milhões de trabalhadores em atividades não agrícolas. Entre esses, cerca 24 milhões tinham carteira de trabalho assinada e 15,4 milhões trabalhavam sem carteira assinada, enquanto 13,5 milhões eram trabalhadores por conta própria (tabela 5.5.2).

Em relação a 2002, cresceu o número de trabalhadores com carteira assinada em atividade não-agrícola, tanto entre os empregados (3,3%, ou mais 720 mil trabalhadores) quanto entre os trabalhadores domésticos (5,5%, ou mais 87 mil trabalhadores). No período, caiu o número de trabalhadores sem carteira assinada, tanto entre os empregados (-3,4%) quanto entre os trabalhadores domésticos (-1,1%).

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O contingente de trabalhadores domésticos teve um crescimento muito pequeno (0,6%), de desde 2002 para 2003, mas vem apresentando uma tendência para a formalização. Neste contingente, o percentual dos trabalhadores com carteira assinada era de 17,2% em 1993 e subiu para 27,1% (6,1 milhões de pessoas) em 2003. Já o contingente dos trabalhadores por conta própria em atividades não agrícolas cresceu 2,1% no período, ganhando mais 80 mil trabalhadores, aproximadamente.

Ocupação cresce no Comércio e reparação, mas cai na Construção

O grupo que mais cresceu foi Comércio e reparação (4,7%, ou mais 633 mil trabalhadores) e nele, o número de empregados com carteira assinada cresceu 8,3%, enquanto os contingentes de sem carteira e empregadores teve um crescimento inexpressivo. Entre os que tiveram redução de pessoal estavam o da Construção (-7,2%, ou menos 400 mil trabalhadores), o de Alojamento e alimentação (-1,5%, ou menos 44 mil trabalhadores) e o de Outros serviços coletivos, sociais e pessoais (-5,4%, ou menos 169 mil trabalhadores). A queda no grupamento da Construção deu-se em todas as categorias de ocupação (empregados com ou sem carteira assinada, conta própria e empregadores) indicando que a retração atingiu tanto as grandes construtoras como as pequenas empresas de obras e reformas.

Em 2003, prosseguiu a tendência de queda no número de militares e estatutários, iniciada em 1998. Este grupamento representa a menor parcela (6,6%) do contingente de empregados da população ocupada do País. Dentro dele, em dez anos, a participação do funcionalismo municipal passou de 25,4% para 40,3% e a do estadual, de 53,4% para 44,3%, enquanto a dos funcionários federais caiu de 15,2% para 10,6%. Já o grupo dos militares, que vinha caindo desde 1996, aumentou um pouco e superou o contingente de 2002. Atabela 13 mostra as distribuições regionais da ocupação nos cinco segmentos da atividade econômica.

Sindicalização e cobertura previdenciária têm os maiores aumentos desde 1993

Cresceu em 4,0% o número de contribuintes para a previdência, de 2002 para 2003, e este foi o maior aumento desde 1993. Em 2003, cerca de 46,4% da população ocupada (36,7 milhões de trabalhadores) contribuía para a previdência - a maior participação desde 1992. Tal crescimento deve-se, em grande parte, ao aumento do contingente de trabalhadores com carteira assinada. O aumento do número de contribuintes com instituto de previdência no trabalho principal foi de 8,9% no setor agrícola – no qual há 1,8 milhão de contribuintes – e de 3,8% no setor não agrícola (34,8 milhões de contribuintes). No Brasil, 21,8 milhões de homens e 15,0 milhões de mulheres contribuem para a previdência, em qualquer trabalho.

A PNAD 2003 detectou 14,0 milhões de trabalhadores sindicalizados no Brasil. Este contingente aumentou em mais 842 mil pessoas em relação ao de 2002. Trata-se de um aumento de 6,4%, o maior ocorrido desde 1993. Educação, saúde e serviços sociais (29,2%) e Administração pública (26,6%) são os grupamentos com os maiores percentuais de trabalhadores sindicalizados, enquanto Serviços domésticos (1,6%) e Construção (6,9%) têm os menores percentuais.

Rendimento médio real de trabalho cai 7,4% e o domiciliar diminui em 8,0%

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Segundo a PNAD 2003, era de R$ 692 o rendimento médio real dos trabalhadores com rendimento do trabalho. Esse indicador sofreu uma queda de 7,4% em relação a 2002, a maior ocorrida desde 1997.

De 1996 a 2003, o rendimento médio real das pessoas com rendimento do trabalho teve queda de 18,8%, que estendeu-se a todas as categorias de ocupação: trabalhadores domésticos (-5,4%), trabalhadores por conta própria (-6,6%), empregados e empregadores (-7,5% para ambos). Na população ocupada, os 50% com os menores rendimentos sofreram uma perda real de 4,2%, enquanto que, para os 50% com os maiores rendimentos, a perda foi de 8,1%.

De 1993 a 2003, diminuiu a concentração do rendimento de trabalho. Em 1993, na população ocupada, o rendimento dos 10% com os maiores rendimentos representava 49% do rendimento total, e passou para 45,3% em 2003. No mesmo período, a participação do rendimento dos 10% com os menores rendimentos foi de 0,7%, para 1,0%. Com isso, o Índice de Gini do rendimento caiu de 0,600 em 1993 para 0,555 em 2003, o mais baixo resultado desde 1981 (tabela 6.3).

Em 2003, 27,8% dos ocupados ganhavam até um salário mínimo, enquanto 1,3% recebia mais de 20 mínimos. Regionalmente, a concentração de renda é menor no Sul e maior no Nordeste, que continua com remunerações médias bem inferiores às das demais regiões.

Em 2003, o rendimento médio real das mulheres ocupadas era R$ 547 e o dos homens, R$ 786. O rendimento feminino representava 59,0% do dos homens em 1993, e passou a representar 69,6% em 2003. Essa diferença é maior entre os trabalhadores por conta própria (64,0%) e menor entre os empregados (90,0%).

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Já o rendimento médio domiciliar – que agrega a remuneração de todas as fontes de rendimento dos moradores – teve queda de 8,0% de 2002 para 2003. As regiões Norte urbana (12,0%) e Centro-Oeste (11,4%) tiveram as maiores perdas, enquanto a região Sul (2,2%) teve a menor.

Tinham rendimento de até um salário mínimo 12,9% dos domicílios brasileiros, enquanto em 3,9% deles o rendimento superava 20 mínimos. As duas regiões com os maiores percentuais de domicílios nessa faixa de rendimento foram o Centro-Oeste (5,1%) e o Sudeste (5,0%). O percentual mais elevado de domicílios com rendimento de até um salário mínimo foi o do Nordeste (25,9%), e os menos elevados foram os do Sudeste (7,9%) e do Sul (7,2%).

Trabalho infantil continuou em queda

Em 2003, a PNAD detectou 5,1 milhões de crianças e adolescentes com de 5 a 17 anos de idade ocupadas no Brasil. Destes, 209 mil tinham de 5 a 9 anos e 1,7 milhão tinham de 10 a 14 anos, enquanto 3,2 milhões tinha de 15 a 17 anos. A atividade agrícola concentrava a maior parte desse contingente: 74,6% das crianças com entre 5 e 9 anos, 58,0% das com entre 10 e 14 anos e 33,4% dos adolescentes com entre 15 e 17 anos. Esse último percentual foi é superior ao dos ocupados com 18 ou mais anos de idade (19,3%) na mesma atividade.

Em 2002, os percentuais de ocupados nesses dois grupos etários eram 1,7%, 11,3% e 31,8%, respectivamente, e caíram para 1,3%, 10,4% e 30,3% em 2003. Manteve-se a tendência de queda detectada desde 93, quando aqueles percentuais eram 3,2%, 19,6% e 46,0%, respectivamente. O nível de ocupação das crianças e adolescentes (tabela 16) é maior nas regiões onde a atividade agrícola se destaca.

Todas as informações, inclusive as tabelas regionais, podem ser acessadas na página do IBGE: www.ibge.gov.br

Comunicação Social 29 de setembro de 2004

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ANEXO C - LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964.

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L4504Presidência da República Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964.

Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Disposições Preliminares CAPÍTULO I Princípios e Definições Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. § 1° Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. § 2º Entende-se por Política Agrícola o conjunto de providências de amparo à propriedade da terra, que se destinem a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do país. Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. § 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem. § 2° É dever do Poder Público: a) promover e criar as condições de acesso do trabalhador rural à propriedade da terra economicamente útil, de preferencia nas regiões onde habita, ou, quando as circunstâncias regionais, o aconselhem em zonas previamente ajustadas na forma do disposto na regulamentação desta Lei; b) zelar para que a propriedade da terra desempenhe sua função social, estimulando planos para a sua racional utilização, promovendo a justa remuneração e o acesso do trabalhador aos benefícios do aumento da produtividade e ao bem-estar coletivo. § 3º A todo agricultor assiste o direito de permanecer na terra que cultive, dentro dos termos e limitações desta Lei, observadas sempre que for o caso, as normas dos contratos de trabalho. § 4º É assegurado às populações indígenas o direito à posse das terras que ocupam ou que lhes sejam atribuídas de acordo com a legislação especial que disciplina o regime tutelar a que estão sujeitas. Art. 3º O Poder Público reconhece às entidades privadas, nacionais ou estrangeiras, o direito à propriedade da terra em condomínio, quer sob a forma de cooperativas quer como sociedades abertas constituídas na forma da legislação em vigor. Parágrafo único. Os estatutos das cooperativas e demais sociedades, que se organizarem na forma prevista neste artigo, deverão ser aprovados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.) que estabelecerá condições mínimas para a democratização dessas sociedades.

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Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se: I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada; II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros; III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior; IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar; V - "Latifúndio", o imóvel rural que: a) exceda à dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine; b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural; VI - "Empresa Rural" é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico ...Vetado... da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias; VII - "Parceleiro", aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária ou à colonização pública ou privada; VIII - "Cooperativa Integral de Reforma Agrária (C.I.R.A.)", toda sociedade cooperativa mista, de natureza civil, ...Vetado... criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, contando temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, beneficiar, preparar e padronizar a produção agropecuária, bem como realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente; IX - "Colonização", toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de Cooperativas ...Vetado... Parágrafo único. Não se considera latifúndio: a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante planejamento adequado; b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da administração pública. Art. 5° A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada zona de características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de exploração rural que nela possam ocorrer. Parágrafo único. No caso de exploração mista, o módulo será fixado pela média ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados. CAPÍTULO II Dos Acordos e Convênios Art. 6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão unir seus esforços e recursos, mediante acordos, convênios ou contratos para a solução de problemas de interesse rural, principalmente os relacionados com a aplicação da presente Lei, visando a implantação da Reforma Agrária e à unidade de critérios na execução desta.(Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24.8.2001) Parágrafo único. Para os efeitos da Reforma Agrária, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária representará a União nos acordos, convênios ou contratos multilaterais referidos neste artigo.

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Art. 7º Mediante acordo com a União, os Estados poderão encarregar funcionários federais da execução de Leis e serviços estaduais ou de atos e decisões das suas autoridades, pertinentes aos problemas rurais, e, reciprocamente, a União poderá, em matéria de sua competência, cometer a funcionários estaduais, encargos análogos, provendo às necessárias despesas de conformidade com o disposto no parágrafo terceiro do artigo 18 da Constituição Federal. Art. 8º Os acordos, convênios ou contratos poderão conter cláusula que permita expressamente a adesão de outras pessoas de direito público, interno ou externo, bem como de pessoas físicas nacionais ou estrangeiras, não participantes direta dos atos jurídicos celebrados. Parágrafo único. A adesão efetivar-se-á com a só notificação oficial às partes contratantes, independentemente de condição ou termo. CAPÍTULO III Das Terras Públicas e Particulares SEÇÃO I Das Terras Públicas Art. 9º Dentre as terras públicas, terão prioridade, subordinando-se aos itens previstos nesta Lei, as seguintes: I - as de propriedade da União, que não tenham outra destinação específica; II - as reservadas pelo Poder Público para serviços ou obras de qualquer natureza, ressalvadas as pertinentes à segurança nacional, desde que o órgão competente considere sua utilização econômica compatível com a atividade principal, sob a forma de exploração agrícola; III - as devolutas da União, dos Estados e dos Municípios. Art. 10. O Poder Público poderá explorar direta ou indiretamente, qualquer imóvel rural de sua propriedade, unicamente para fins de pesquisa, experimentação, demonstração e fomento, visando o desenvolvimento da agricultura, a programas de colonização ou fins educativos de assistência técnica e de readaptação. § 1° Somente se admitirá a existência de imóveis rurais de propriedade pública, com objetivos diversos dos previstos neste artigo, em caráter transitório, desde que não haja viabilidade de transferi-los para a propriedade privada. § 2º Executados os projetos de colonização nos imóveis rurais de propriedade pública, com objetivos diversos dos previstos neste artigo, em caráter transitório. § 3º Os imóveis rurais pertencentes à União, cuja utilização não se enquadre nos termos deste artigo, poderão ser transferidos ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou com ele permutados por ato do Poder Executivo. Art. 11. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária fica investido de poderes de representação da União, para promover a discriminação das terras devolutas federais, restabelecida a instância administrativa disciplinada pelo Decreto-Lei n. 9.760, de 5 de setembro de 1946, e com autoridade para reconhecer as posses legítimas manifestadas através de cultura efetiva e morada habitual, bem como para incorporar ao patrimônio público as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e as que se encontrarem desocupadas. § 1° Através de convênios, celebrados com os Estados e Municípios, iguais poderes poderão ser atribuídos ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, quanto às terras devolutas estaduais e municipais, respeitada a legislação local, o regime jurídico próprio das terras situadas na faixa da fronteira nacional bem como a atividade dos órgãos de valorização regional. § 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária imprimirá ao instituto das terras devolutas orientação tendente a harmonizar as peculiaridades regionais com os altos interesses do desbravamento através da colonização racional visando a erradicar os males do minifúndio e do latifúndio.

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SEÇÃO II Das Terras Particulares Art. 12. À propriedade privada da terra cabe intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na Constituição Federal e caracterizado nesta Lei. Art. 13. O Poder Público promoverá a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem sua função social. Art. 14. O Poder Público facilitará e prestigiará a criação e a expansão de empresas rurais de pessoas físicas e jurídicas que tenham por finalidade o racional desenvolvimento extrativo agrícola, pecuário ou agro-industrial. Também promoverá a ampliação do sistema cooperativo e organização daquelas empresas, em companhias que objetivem a democratização do capital.(Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24.8.2001) Art. 15. A implantação da Reforma Agrária em terras particulares será feita em caráter prioritário, quando se tratar de zonas críticas ou de tensão social. TÍTULO II Da Reforma Agrária CAPÍTULO I Dos Objetivos e dos Meios de Acesso à Propriedade Rural Art. 16. A Reforma Agrária visa a estabelecer um sistema de relações entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio. Parágrafo único. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será o órgão competente para promover e coordenar a execução dessa reforma, observadas as normas gerais da presente Lei e do seu regulamento. Art. 17. O acesso à propriedade rural será promovido mediante a distribuição ou a redistribuição de terras, pela execução de qualquer das seguintes medidas: a) desapropriação por interesse social; b) doação; c) compra e venda; d) arrecadação dos bens vagos; e) reversão à posse (Vetado) do Poder Público de terras de sua propriedade, indevidamente ocupadas e exploradas, a qualquer título, por terceiros; f) herança ou legado. Art. 18. À desapropriação por interesse social tem por fim: a) condicionar o uso da terra à sua função social; b) promover a justa e adequada distribuição da propriedade; c) obrigar a exploração racional da terra; d) permitir a recuperação social e econômica de regiões; e) estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e assistência técnica; f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais; g) incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural; h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias. Art. 19. A desapropriação far-se-á na forma prevista na Constituição Federal, obedecidas as normas constantes da presente Lei. § 1° Se for intentada desapropriação parcial, o proprietário poderá optar pela desapropriação de todo o imóvel que lhe pertence, quando a área agricultável remanescente, inferior a cinqüenta por cento da área original, ficar:

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a) reduzida a superfície inferior a três vezes a dimensão do módulo de propriedade; ou b) prejudicada substancialmente em suas condições de exploração econômica, caso seja o seu valor inferior ao da parte desapropriada. § 2º Para efeito de desapropriação observar-se-ão os seguintes princípios: a) para a fixação da justa indenização, na forma do artigo 147, § 1°, da Constituição Federal, levar-se-ão em conta o valor declarado do imóvel para efeito do Imposto Territorial Rural, o valor constante do cadastro acrescido das benfeitorias com a correção monetária porventura cabível, apurada na forma da legislação específica, e o valor venal do mesmo; b) o poder expropriante não será obrigado a consignar, para fins de imissão de posse dos bens, quantia superior à que lhes tiver sido atribuída pelo proprietário na sua última declaração, exigida pela Lei do Imposto de Renda, a partir de 1965, se se tratar de pessoa física ou o valor constante do ativo, se se tratar de pessoa jurídica, num e noutro caso com a correção monetária cabível; c) efetuada a imissão de posse, fica assegurado ao expropriado o levantamento de oitenta por cento da quantia depositada para obtenção da medida possessória. § 3º Salvo por motivo de necessidade ou utilidade pública, estão isentos da desapropriação: a) os imóveis rurais que, em cada zona, não excederem de três vezes o módulo de produto de propriedade, fixado nos termos do artigo 4º, inciso III; b) os imóveis que satisfizerem os requisitos pertinentes à empresa rural, enunciados no artigo 4º, inciso VI; c) os imóveis que, embora não classificados como empresas rurais, situados fora da área prioritária de Reforma Agrária, tiverem aprovados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, e em execução projetos que em prazo determinado, os elevem àquela categoria. § 4° O foro competente para desapropriação é o da situação do imóvel. § 5º De toda decisão que fixar o preço em quantia superior à oferta formulada pelo órgão expropriante, haverá, obrigatoriamente, recurso de ofício para o Tribunal Federal de Recursos. Verificado, em ação expropriatório, ter o imóvel valor superior ao declarado pelo expropriado, e apurada a má-fé ou o dolo deste, poderá a sentença condená-lo à penalidade prevista no artigo 49, § 3º, desta Lei, deduzindo-se do valor da indenização o montante da penalidade. Art. 20. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder Público, nas áreas prioritárias, recairão sobre: I - os minifúndios e latifúndios; II - as áreas já beneficiadas ou a serem por obras públicas de vulto; III - as áreas cujos proprietários desenvolverem atividades predatórias, recusando-se a pôr em prática normas de conservação dos recursos naturais; IV - as áreas destinadas a empreendimentos de colonização, quando estes não tiverem logrado atingir seus objetivos; V - as áreas que apresentem elevada incidência de arrendatários, parceiros e posseiros; VI - as terras cujo uso atual, estudos levados a efeito pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária comprovem não ser o adequado à sua vocação de uso econômico. Art. 21. Em áreas de minifúndio, o Poder Público tomará as medidas necessárias à organização de unidades econômicas adequadas, desapropriando, aglutinando e redistribuindo as áreas. Art. 22. É o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária autorizado, para todos os efeitos legais, a promover as desapropriações necessárias ao cumprimento da presente Lei. Parágrafo único. A União poderá desapropriar, por interesse social, bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios, precedido o ato, em qualquer caso, de autorização legislativa. Art. 23. Os bens desapropriados por sentença definitiva, uma vez incorporados ao patrimônio público, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. Parágrafo único. A regra deste artigo aplica-se aos imóveis rurais incorporados ao domínio da União, em conseqüência de ações por motivo de enriquecimento ilícito em prejuízo do Patrimônio Federal,

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os quais transferidos ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, serão aplicados aos objetivos desta Lei. CAPÍTULO II Da Distribuição de Terras Art. 24. As terras desapropriadas para os fins da Reforma Agrária que, a qualquer título, vierem a ser incorporadas ao patrimônio do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, respeitada a ocupação de terras devolutas federais manifestada em cultura efetiva e moradia habitual, só poderão ser distribuídas: I - sob a forma de propriedade familiar, nos termos das normas aprovadas pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; II - a agricultores cujos imóveis rurais sejam comprovadamente insuficientes para o sustento próprio e o de sua família; III - para a formação de glebas destinadas à exploração extrativa, agrícola, pecuária ou agro-industrial, por associações de agricultores organizadas sob regime cooperativo; IV - para fins de realização, a cargo do Poder Público, de atividades de demonstração educativa, de pesquisa, experimentação, assistência técnica e de organização de colônias-escolas; V - para fins de reflorestamento ou de conservação de reservas florestais a cargo da União, dos Estados ou dos Municípios. Art. 25. As terras adquiridas pelo Poder Público, nos termos desta Lei, deverão ser vendidas, atendidas as condições de maioridade, sanidade e de bons antecedentes, ou de reabilitação, de acordo com a seguinte ordem de preferência: I - ao proprietário do imóvel desapropriado, desde que venha a explorar a parcela, diretamente ou por intermédio de sua família; II - aos que trabalhem no imóvel desapropriado como posseiros, assalariados, parceiros ou arrendatários; III - aos agricultores cujas propriedades não alcancem a dimensão da propriedade familiar da região; IV - aos agricultores cujas propriedades sejam comprovadamente insuficientes para o sustento próprio e o de sua família; V - aos tecnicamente habilitados na forma dá legislação em vigor, ou que tenham comprovada competência para a prática das atividades agrícolas. § 1° Na ordem de preferência de que trata este artigo, terão prioridade os chefes de família numerosas cujos membros se proponham a exercer atividade agrícola na área a ser distribuída. § 2º Só poderão adquirir lotes os trabalhadores sem terra, salvo as exceções previstas nesta Lei. § 3º Não poderá ser beneficiário da distribuição de terras a que se refere este artigo o proprietário rural, salvo nos casos dos incisos I, III e IV, nem quem exerça função pública, autárquica ou em órgão paraestatal, ou se ache investido de atribuições parafiscais. § 4º Sob pena de nulidade, qualquer alienação ou concessão de terras públicas, nas regiões prioritárias, definidas na forma do artigo 43, será precedida de consulta ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que se pronunciará obrigatoriamente no prazo de sessenta dias. Art. 26. Na distribuição de terras regulada por este Capítulo, ressalvar-se-á sempre a prioridade pública dos terrenos de marinha e seus acrescidos na orla oceânica e na faixa marginal dos rios federais, até onde se faça sentir a influência das marés, bem como a reserva à margem dos rios navegáveis e dos que formam os navegáveis. CAPÍTULO III Do Financiamento da Reforma Agrária SEÇÃO I Do Fundo Nacional de Reforma Agrária Art. 27. É criado o Fundo Nacional de Reforma Agrária, destinado a fornecer os meios necessários para o financiamento da Reforma Agrária e dos órgãos incumbidos da sua execução.

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Art. 28. O Fundo Nacional de Reforma Agrária será constituído: I - do produto da arrecadação da Contribuição de Melhoria cobrada pela União de acordo com a legislação vigente; II - da destinação específica de 3% (três por cento) da receita tributária da União; III - dos recursos destinados em lei à Superintendência de Política Agrária (SUPRA), ressalvado o disposto no artigo 117; IV - dos recursos oriundos das verbas de órgãos e de entidades vinculados por convênios ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; V - de doações recebidas; VI - da receita do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 1° Os recursos de que tratam os incisos I e II, deste artigo, bem como os provenientes de quaisquer créditos adicionais destinados à execução dos planos nacional e regionais de Reforma Agrária, não poderão ser suprimidos, nem aplicados em outros fins. § 2º Os saldos dessas dotações em poder do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária ou a seu favor, verificados no final de cada exercício, não prescrevem, e serão aplicados, na sua totalidade, em consonância com os objetivos da presente Lei. § 3° Os tributos, dotações e recursos referidos nos incisos deste artigo terão a destinação, durante vinte anos, vinculada à execução dos programas da Reforma Agrária. § 4° Os atos relativos à receita do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária constituída pelos recursos previstos no inciso II, e pelos resultados apurados no exercício anterior, nas hipóteses dos incisos I, III e IV, considerar-se-ão registrados, pelo Tribunal de Contas, a 1° de janeiro, e os respectivos recursos distribuídos ao Tesouro Nacional, que os depositará no Banco do Brasil, à disposição do referido Instituto, em quatro parcelas, até 31 de janeiro, 30 de abril, 31 de julho e 31 de outubro, respectivamente. Art. 29. Além dos recursos do Fundo Nacional de Reforma Agrária, a execução dos projetos regionais contará com as contribuições financeiras dos órgãos e entidades vinculadas por convênios ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, notadamente os de valorização regional, como a Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste (SUDENE), a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF) e a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Região da Fronteira Sudoeste do País (SUDOESTE), os quais deverão destinar, para este fim, vinte por cento, no mínimo de suas dotações globais. Parágrafo único. Os recursos referidos neste artigo, depois de aprovados os planos para as respectivas regiões, serão entregues ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que, para a execução destes, contribuirá com igual quantia. Art. 30. Para fins da presente Lei, é o Poder Executivo autorizado a receber doações, bem como a contrair empréstimos no país e no exterior, até o limite fixado no artigo 105. Art. 31. É o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária autorizado a: I - firmar convênios com os Estados, Municípios, entidades públicas e privadas, para financiamento, execução ou administração dos planos regionais de Reforma Agrária; II - colocar os títulos da Dívida Agrária Nacional para os fins desta Lei; III - realizar operações financeiras ou de compra e venda para os objetivos desta Lei; IV - praticar atos, tanto no contencioso como no administrativo, inclusive os relativos à desapropriação por interesse social ou por utilidade ou necessidade públicas. SEÇÃO II Do Patrimônio do Órgão de Reforma Agrária Art. 32. O Patrimônio do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será constituído: I - do Fundo Nacional de Reforma Agrária; II - dos bens das entidades públicas incorporadas ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; III - das terras e demais bens adquiridos a qualquer título.

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CAPÍTULO IV Da Execução e da Administração da Reforma Agrária SEÇÃO I Dos Planos Nacional e Regionais de Reforma Agrária Art. 33. A Reforma Agrária será realizada por meio de planos periódicos, nacionais e regionais, com prazos e objetivos determinados, de acordo com projetos específicos. Art. 34. O Plano Nacional de Reforma Agrária, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária e aprovado pelo Presidente da República, consignará necessariamente: I - a delimitação de áreas regionais prioritárias; II - a especificação dos órgãos regionais, zonas e locais, que vierem a ser criados para a execução e a administração da Reforma Agrária; III - a determinação dos objetivos que deverão condicionar a elaboração dos Planos Regionais; IV - a hierarquização das medidas a serem programadas pelos órgãos públicos, nas áreas prioritárias, nos setores de obras de saneamento, educação e assistência técnica; V - a fixação dos limites das dotações destinadas à execução do Plano Nacional e de cada um dos planos regionais. § 1º Uma vez aprovados, os Planos terão prioridade absoluta para atuação dos órgãos e serviços federais já existentes nas áreas escolhidas. § 2º As entidades públicas e privadas que firmarem acordos, convênios ou tratados com o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, nos termos desta Lei, assumirão, igualmente compromisso expresso, quanto à prioridade aludida no parágrafo anterior, relativamente aos assuntos e serviços de sua alçada nas respectivas áreas. Art. 35. Os Planos Regionais de Reforma Agrária antecederão, sempre, qualquer desapropriação por interesse social, e serão elaborados pelas Delegacias Regionais do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.), obedecidos os seguintes requisitos mínimos: I - delimitação da área de ação; II - determinação dos objetivos específicos da Reforma Agrária na região respectiva; III - fixação das prioridades regionais; IV - extensão e localização das áreas desapropriáveis; V - previsão das obras de melhoria; VI - estimativa das inversões necessárias e dos custos. Art. 36. Os projetos elaborados para regiões geo-econômicas ou grupos de imóveis rurais, que possam ser tratados em comum, deverão consignar: I - o levantamento sócio-econômico da área; II - os tipos e as unidades de exploração econômica perfeitamente determinados e caracterizados; III - as obras de infra-estrutura e os órgãos de defesa econômica dos parceleiros necessários à implementação do projeto; IV - o custo dos investimentos e o seu esquema de aplicação; V - os serviços essenciais a serem instalados no centro da comunidade; VI - a renda familiar que se pretende alcançar; VII - a colaboração a ser recebida dos órgãos públicos ou privados que celebrarem convênios ou acordos para a execução do projeto. SEÇÃO II Dos Órgãos Específicos Art. 37. São órgãos específicos para a execução da Reforma Agrária: I - o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.); II - as Delegacias Regionais do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.); III - as Comissões Agrárias.

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§ 1° O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.), é órgão autárquico, dotado de personalidade jurídica e autonomia financeira, com sede na Capital da República e jurisdição em todo o território nacional, diretamente subordinado à Presidência da República. § 2º O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária tem as seguintes atribuições: a) promover a elaboração e coordenar a execução do Plano Nacional de Reforma Agrária, a ser submetido à aprovação do Presidente da República; b) sugerir ao Presidente da República as medidas necessárias à articulação e cooperação das três ordens administrativas da República para a execução do Plano Nacional de Reforma Agrária, inclusive as alterações da presente Lei, bem como os atos complementares que se tornarem necessários; c) promover, direta ou indiretamente, a execução da Reforma Agrária, no âmbito nacional, orientando, fiscalizando e assistindo tecnicamente os órgãos executivos regionais, zonais e locais, bem como coordenando os órgãos federais interessados na execução da presente Lei e do seu Regulamento; d) administrar o Fundo Nacional de Reforma Agrária, promover ou firmar convênios e colocar os títulos da Dívida Agrária Nacional, emitidos nos termos desta Lei e de seu Regulamento; e) promover a criação das Delegacias Regionais da Reforma Agrária e das Comissões Agrárias, bem como outros órgãos e serviços descentralizados que se tornarem necessários para execução da presente Lei; f) exercer quaisquer outras atividades compatíveis com as finalidades desta Lei, inclusive baixando os atos normativos tendentes a facilitar o seu funcionamento, nos termos do regulamento que for expedido. Art. 38. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será dirigido por uma Diretoria composta de cinco membros, nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros de notável saber e idoneidade depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal. § 1° O Presidente do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, também nomeado com prévia aprovação do Senado Federal, dentre os membros da Diretoria, terá remuneração correspondente a setenta e cinco por cento do que percebem os Ministros de Estado. § 2º O Poder Executivo estabelecerá na regulamentação desta Lei, as funções do Presidente e dos demais membros da Diretoria do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 3º Integrarão, ainda, a administração do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária: a) um Conselho Técnico, anualmente renovado pelo terço, constituído por nove membros de comprovada experiência no campo dos problemas rurais, com mandatos renováveis de três anos, tendo como Presidente o do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; b) uma Secretaria Executiva. § 4º Os membros do Conselho Técnico serão de nomeação do Presidente da República, e o Secretário Executivo, de confiança e nomeação do Presidente do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. Art. 39. Ao Conselho Técnico competirá discutir e propor as diretrizes dos planos nacional e regionais de Reforma Agrária, estudar e sugerir medidas de caráter legislativo e administrativo, necessárias à boa execução da Reforma. Art. 40. À Secretaria Executiva competirá elaborar e promover a execução do plano nacional de Reforma Agrária, assessorar as Delegacias Regionais, analisar os projetos regionais e dirigir a vida administrativa do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. Art. 41. As Delegacias Regionais do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (I.B.R.A.), cada qual dirigida por um Delegado Regional, nomeado pelo Presidente do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária dentre técnicos de comprovada experiência em problemas agrários e reconhecida idoneidade, são órgãos executores da Reforma nas regiões do país, com áreas de jurisdição, competência e funções que serão fixadas na regulamentação da presente Lei, compreendendo a elaboração do cadastro, classificação das terras, formas e condições de uso atual e potencial da propriedade, preparo das propostas de desapropriação, e seleção dos candidatos à aquisição das parcelas.

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Parágrafo único. Dentro de cento e oitenta dias, após a publicação do decreto que a criar, a Delegacia Regional apresentará ao Presidente do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária o plano regional de Reforma Agrária, na forma prevista nesta Lei. Art. 42. A Comissão Agrária, constituída de um representante do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que a presidirá, de três representantes dos trabalhadores rurais, eleitos ou indicados pelos órgãos de classe respectivos, de três representantes dos proprietários rurais eleitos ou indicados pelos órgãos de classe respectivos, um representante categorizado de entidade pública vinculada à agricultura e um representante dos estabelecimentos de ensino agrícola, é o órgão competente para: I - instruir e encaminhar os pedidos de aquisição e de desapropriação de terras; II - manifestar-se sobre a lista de candidatos selecionados para a adjudicação de lotes; III - oferecer sugestões à Delegacia Regional na elaboração e execução dos programas regionais de Reforma Agrária; IV - acompanhar, até sua implantação, os programas de reformas nas áreas escolhidas, mantendo a Delegacia Regional informada sobre o andamento dos trabalhos. § 1° A Comissão Agrária será constituída quando estiver definida a área prioritária regional de reforma agrária e terá vigência até a implantação dos respectivos projetos. § 2º Vetado. SEÇÃO III Do Zoneamento e dos Cadastros Art. 43. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá a realização de estudos para o zoneamento do país em regiões homogêneas do ponto de vista sócio-econômico e das características da estrutura agrária, visando a definir: I - as regiões críticas que estão exigindo reforma agrária com progressiva eliminação dos minifúndios e dos latifúndios; II - as regiões em estágio mais avançado de desenvolvimento social e econômico, em que não ocorram tenções nas estruturas demográficas e agrárias; III - as regiões já economicamente ocupadas em que predomine economia de subsistência e cujos lavradores e pecuaristas careçam de assistência adequada; IV - as regiões ainda em fase de ocupação econômica, carentes de programa de desbravamento, povoamento e colonização de áreas pioneiras. § 1° Para a elaboração do zoneamento e caracterização das áreas prioritárias, serão levados em conta, essencialmente, os seguintes elementos: a) a posição geográfica das áreas, em relação aos centros econômicos de várias ordens, existentes no país; b) o grau de intensidade de ocorrência de áreas em imóveis rurais acima de mil hectares e abaixo de cinqüenta hectares; c) o número médio de hectares por pessoa ocupada; d) as populações rurais, seu incremento anual e a densidade específica da população agrícola; e) a relação entre o número de proprietários e o número de rendeiros, parceiros e assalariados em cada área. § 2º A declaração de áreas prioritárias será feita por decreto do Presidente da República, mencionando: a) a criação da Delegacia Regional do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária com a exata delimitação de sua área de jurisdição; b) a duração do período de intervenção governamental na área; c) os objetivos a alcançar, principalmente o número de unidades familiares e cooperativas a serem criadas; d) outras medidas destinadas a atender a peculiaridades regionais. Art. 44. São objetivos dos zoneamentos definidos no artigo anterior: I - estabelecer as diretrizes da política agrária a ser adotada em cada tipo de região; II - programar a ação dos órgãos governamentais, para desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimitadas como de maior significação econômica e social.

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Art. 45. A fim de completar os trabalhos de zoneamento serão elaborados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária levantamentos e análises para: I - orientar as disponibilidades agropecuárias nas áreas sob o controle do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária quanto à melhor destinação econômica das terras, adoção de práticas adequadas segundo as condições ecológicas, capacidade potencial de uso e mercados interno e externo; II - recuperar, diretamente, mediante projetos especiais, as áreas degradadas em virtude de uso predatório e ausência de medidas de proteção dos recursos naturais renováveis e que se situem em regiões de elevado valor econômico. Art. 46. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá levantamentos, com utilização, nos casos indicados, dos meios previstos no Capítulo II do Título I, para a elaboração do cadastro dos imóveis rurais em todo o país, mencionando: I - dados para caracterização dos imóveis rurais com indicação: a) do proprietário e de sua família; b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e da forma de administração; c) da localização geográfica; d) da área com descrição das linhas de divisas e nome dos respectivos confrontantes; e) das dimensões das testadas para vias públicas; f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equipamentos e das instalações existentes discriminadamente; II - natureza e condições das vias de acesso e respectivas distâncias dos centros demográficos mais próximos com população: a) até 5.000 habitantes; b) de mais de 5.000 a 10.000 habitantes; c) de mais de 10.000 a 20.000 habitantes; d) de mais de 20.000 a 50.000 habitantes; e) de mais de 50.000 a 100.000 habitantes; f) de mais de 100.000 habitantes; III - condições da exploração e do uso da terra, indicando: a) as percentagens da superfície total em cerrados, matas, pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis; b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de proteção e comercialização dos produtos; c) os sistemas de contrato de trabalho, com discriminação de arrendatários, parceiros e trabalhadores rurais; d) as práticas conservacionistas empregadas e o grau de mecanização; e) os volumes e os índices médios relativos à produção obtida; f) as condições para o beneficiamento dos produtos agropecuários. § 1° Nas áreas prioritárias de reforma agrária serão complementadas as fichas cadastrais elaboradas para atender às finalidades fiscais, com dados relativos ao relevo, às pendentes, à drenagem, aos solos e a outras características ecológicas que permitam avaliar a capacidade do uso atual e potencial, e fixar uma classificação das terras para os fins de realização de estudos micro-econômicos, visando, essencialmente, à determinação por amostragem para cada zona e forma de exploração: a) das áreas mínimas ou módulos de propriedade rural determinados de acordo com elementos enumerados neste parágrafo e, mais a força de trabalho do conjunto familiar médio, o nível tecnológico predominante e a renda familiar a ser obtida; b) dos limites permitidos de áreas dos imóveis rurais, os quais não excederão a seiscentas vezes o módulo médio da propriedade rural nem a seiscentas vezes a área média dos imóveis rurais, na respectiva zona; c) das dimensões ótimas do imóvel rural do ponto de vista do rendimento econômico; d) do valor das terras em função das características do imóvel rural, da classificação da capacidade potencial de uso e da vocação agrícola das terras; e) dos limites mínimos de produtividade agrícola para confronto com os mesmos índices obtidos em cada imóvel nas áreas prioritárias de reforma agrária. § 2º Os cadastros serão organizados de acordo com normas e fichas aprovadas pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária na forma indicada no regulamento, e poderão ser executados centralizadamente pelos órgãos de valorização regional, pelos Estados ou pelos Municípios, caso em

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que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária lhes prestará assistência técnica e financeira com o objetivo de acelerar sua realização em áreas prioritárias de Reforma Agrária. § 3º Os cadastros terão em vista a possibilidade de garantir a classificação, a identificação e o grupamento dos vários imóveis rurais que pertençam a um único proprietário, ainda que situados em municípios distintos, sendo fornecido ao proprietário o certificado de cadastro na forma indicada na regulamentação desta Lei. § 4º Os cadastros serão continuamente atualizados para inclusão das novas propriedades que forem sendo constituídas e, no mínimo, de cinco em cinco anos serão feitas revisões gerais para atualização das fichas já levantadas. § 5º Poderão os proprietários requerer a atualização de suas fichas, dentro de um ano da data das modificações substanciais relativas aos respectivos imóveis rurais, desde que comprovadas as alterações, a critério do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 6º No caso de imóvel rural em comum por força de herança, as partes ideais, para os fins desta Lei, serão consideradas como se divisão houvesse, devendo ser cadastrada a área que, na partilha, tocaria a cada herdeiro e admitidos os demais dados médios verificados na área total do imóvel rural. § 7º O cadastro inscreverá o valor de cada imóvel de acordo com os elementos enumerados neste artigo, com base na declaração do proprietário relativa ao valor da terra nua, quando não impugnado pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou o valor que resultar da avaliação cadastral. TÍTULO III Da Política de Desenvolvimento Rural CAPÍTULO I Da Tributação da Terra SEÇÃO I Critérios Básicos Art. 47. Para incentivar a política de desenvolvimento rural, o Poder Público se utilizará da tributação progressiva da terra, do Imposto de Renda, da colonização pública e particular, da assistência e proteção à economia rural e ao cooperativismo e, finalmente, da regulamentação do uso e posse temporários da terra, objetivando: I - desestimular os que exercem o direito de propriedade sem observância da função social e econômica da terra; II - estimular a racionalização da atividade agropecuária dentro dos princípios de conservação dos recursos naturais renováveis; III - proporcionar recursos à União, aos Estados e Municípios para financiar os projetos de Reforma Agrária; IV - aperfeiçoar os sistemas de controle da arrecadação dos impostos. SEÇÃO II Do Imposto Territorial Rural Art. 48. Observar-se-ão, quanto ao Imposto Territorial Rural, os seguintes princípios: I - a União poderá atribuir, por convênio, aos Estados e Municípios, o lançamento, tendo por base os levantamentos cadastrais executados e periodicamente atualizados; II - a União também poderá atribuir, por convênio, aos Municípios, a arrecadação, ficando a eles garantida a utilização da importância arrecadada; III quando a arrecadação for atribuída, por convênio, ao Município, à União caberá o controle da cobrança; IV - as épocas de cobrança deverão ser fixadas em regulamento, de tal forma que, em cada região, se ajustem, o mais possível, aos períodos normais de comercialização da produção; V - o imposto arrecadado será contabilizado diariamente como depósito à ordem, exclusivamente, do Município, a que pertencer e a ele entregue diretamente pelas repartições arrecadadoras, no último dia útil de cada mês;

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VI - o imposto não incidirá sobre sítios de área não excedente a vinte hectares, quando os cultive só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel (artigo 29, parágrafo único, da Constituição Federal). Art. 49. As normas gerais para a fixação do imposto territorial obedecerão a critérios de progressividade e regressividade, levando-se em conta os seguintes fatores: I - os valores da terra e das benfeitorias do imóvel; II - a área e dimensões do imóvel e das glebas de diferentes usos; III - a situação do imóvel em relação aos elementos do inciso II do artigo 46; IV - as condições técnicas e econômicas de exploração agropecuária-industrial; V - a natureza da posse e as condições de contratos de arrendatários, parceiros e assalariados; VI - a classificação das terras e suas firmas de uso e rentabilidade; VII - a área total agricultável do conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário no país. § 1º Os fatores mencionados neste artigo, exceção feita dos indicados no inciso III, serão declarados pelo proprietário ou obtidos em levantamento cadastral. § 2º Todos os proprietários rurais ficam obrigados, para os fins previstos nesta Lei, a fazer declaração de propriedade, nos prazos e segundo normas fixadas na regulamentação desta Lei. § 3º As declarações dos proprietários, para fornecimento de dados destinados à inscrição cadastral, são feitas sob sua inteira responsabilidade e, no caso de dolo ou má-fé, os obrigarão ao pagamento em dobro dos tributos realmente devidos, além das multas decorrentes das despesas com as verificações necessárias. Art. 50. O valor básico do imposto será determinado em alíquota de dois décimos por cento sobre o valor real da terra nua, declarado pelo proprietário e não impugnado pelo órgão competente, ou resultante da avaliação cadastral. § 1° Levando-se em conta a área total agricultável do conjunto de imóveis de um mesmo proprietário no país, nestes consideradas as áreas correspondentes às frações ideais quando em condomínio, esse valor básico será multiplicado por um coeficiente de progressividade, de acordo com a seguinte tabela: a) área total no máximo igual à média ponderada dos módulos de área estabelecidos para as várias regiões em que se situem as propriedades: coeficiente um; b) área maior do que uma até dez vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente um e meio; c) área maior do que dez, até trinta vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente dois; d) área maior do que trinta, até oitenta vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente dois e meio; e) área maior do que oitenta, até cento e cinqüenta vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente três; f) área maior do que cento e cinqüenta, até trezentas vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente três e meio; g) área maior do que trezentas, até seiscentas vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente quatro; h) área superior a seiscentas vezes o módulo definido na alínea a: coeficiente quatro e meio. § 2º O produto da multiplicação do valor básico pelo coeficiente previsto no parágrafo anterior será multiplicado por um coeficiente de localização que aumente o imposto em função da proximidade aos centros de consumo definidos no inciso II do artigo 46, e das distâncias, condições e natureza de vias de acesso aos referidos centros. Tal coeficiente, variando no território nacional de um a um e seis décimos, será fixado por tabela a ser baixada por decreto do Presidente da República, para cada região considerada no zoneamento previsto no artigo. § 3º O valor obtido pela aplicação do disposto no parágrafo anterior será multiplicado por um coeficiente que aumente ou diminua aquele valor, segundo a natureza da posse e as condições dos contratos de trabalho, na forma seguinte: a) segundo o grau de alheamento do proprietário na administração e nas responsabilidades de exploração do imóvel rural, segundo a forma e natureza dos contratos de arrendamento e parceria, e à falta de atendimento em condições condignas de conforto doméstico e de higiene aos

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arrendatários, parceiros e assalariados - coeficientes que aumentem aquele valor, variando de um a um e seis décimos, na forma a ser estabelecida na regulamentação desta Lei; b) segundo o grau de dependência e de participação do proprietário nos frutos, na administração e nas responsabilidades da exploração do imóvel rural; em função das facilidades concedidas para habilitação, educação e saúde dos assalariados - coeficientes que diminuam o valor do imposto de um a três décimos, na forma a ser estabelecida na regulamentação desta Lei. § 4º Uma vez obtidos os elementos cadastrais relativos ao item III do artigo 46 e fixados os índices previstos no § 1° deste artigo, o valor obtido pela aplicação do disposto n o parágrafo anterior será multiplicado por um coeficiente que aumente ou diminua aquele valor, segundo as condições técnico-econômicas de exploração, na forma seguinte: a) na proporção em que a exploração se faça com rentabilidade inferior aos limites mínimos fixados na forma do § 1° do artigo 46 e com base no tipo, condições de cultivo e nível tecnológico de exploração - coeficientes que aumentem o valor do imposto, variando de um a um e meio, na forma a ser estabelecida na regulamentação desta Lei; b) na proporção em que a exploração se faça com rentabilidade superior ao mínimo referido na alínea anterior, e segundo o grau de atendimento à vocação econômica da terra, emprego de práticas de cultivo ou de criação adequados, e processos de beneficiamento ou industrialização dos produtos agropecuários - coeficientes que diminuam o valor do imposto, variando eles de um a quatro décimos, na forma a ser estabelecida pela regulamentação desta Lei. § 5º Se o imposto territorial rural lançado for superior ao do exercício anterior, mesmo que a área agricultável explorada do imóvel rural seja inferior ao mínimo necessário para classificá-lo como empresa rural, nos termos do artigo 4º, inciso VI, será permitido ao seu proprietário requerer redução de até cinqüenta por cento do imposto lançado, desde que, em função das características ecológicas da zona onde se localize o referido imóvel, elabore projeto de ampliação da área explorada e o mesmo seja considerado satisfatório pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 6º No caso de propriedade em condomínio, o coeficiente de progressividade referido no parágrafo primeiro serácalculado como média ponderada em que os coeficientes da tabela correspondentes à situação de cada condômino definida no corpo do mesmo parágrafo são multiplicados pela sua área ideal e ao final somados e dividida a soma pela área total da propriedade. § 7º Os coeficientes de progressividade de que tratam este artigo e os parágrafos anteriores só serão aplicados às terras não aproveitadas racionalmente. § 8º As florestas ou matas, as áreas de reflorestamento e as por elas ocupadas, cuja conservação for necessária, nos termos da legislação florestal, não podem ser tributadas. Art. 51. Vetado. Parágrafo único. Vetado. Art. 52. O proprietário rural que deseje pleitear os benefícios referidos no artigo 50, § 5º, ...Vetado... desta Lei, deverá solicitar da União o seu deferimento, anexando, ao requerimento, comprovante da aprovação do projeto pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 1° O projeto apresentado ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será por este aprovado ou rejeitado dentro do prazo máximo de noventa dias, sendo considerado aprovado se dentro desse prazo não houver pronunciamento do órgão. § 2° Aprovado o projeto, o proprietário terá prazo de noventa dias para assinar, junto ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, termo de compromisso de sua execução. § 3º Se ao final de dois anos, contados da data da aprovação do projeto, não estiverem executados no mínimo trinta por cento dos trabalhos nele previstos, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária fará à União a competente notificação, para efeito de ser cobrada a parte reduzida ou suspensa dos impostos lançados, acrescida da taxa de correção monetária, calculada na forma da lei que regula a matéria.

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SEÇÃO III Do Rendimento da Exploração Agrícola e Pastoril e das Indústrias Extrativas, Vegetal e Animal Art. 53. Na determinação, para efeitos do Imposto de Renda, do rendimento líquido da exploração agrícola ou pastoril, das indústrias extrativas, vegetal e animal, e de transformação de produtos agrícolas e pecuários feita pelo próprio agricultor ou criador, com matéria-prima da propriedade explorada, aplicar-se-á o coeficiente de três por cento sobre o valor referido no inciso I do artigo 49 desta Lei, constante da declaração de bens ou do balanço patrimonial. § 1° As construções e benfeitorias serão deduzidas do valor do imposto, sobre elas não recaindo a tributação de que trata este artigo. § 2° No caso de não ser possível apurar o valor exato das construções e benfeitorias existentes, será ele arbitrado em trinta por cento do valor da terra nua, conforme declaração para efeito do pagamento do imposto territorial. § 3º Igualmente será deduzido o valor do gado, das máquinas agrícolas e das culturas permanentes, sobre ele aplicando-se o coeficiente da um por cento para a determinação da renda tributável. § 4º No caso de imóvel rural explorado por arrendatário, o valor anual do arrendamento poderá ser deduzido da importância tributável, calculado nos termos deste artigo e §§ 1°, 2° e 3º. Admitir-se-á essa dedução dentro do limite de cinqüenta por cento do respectivo valor, desde que se comuniquem à repartição arrecadadora o nome e endereço do proprietário, e o valor do pagamento que lhe houver sido feito. § 5º Poderá também ser deduzida do valor tributável, referido no parágrafo anterior, a importância paga pelo contribuinte no último exercício, a título de Imposto Territorial Rural. § 6° Não serão permitidas quaisquer outras deduções do rendimento líquido calculado na forma deste artigo, ressalvado o disposto nos §§ 4° e 5°. § 7º Ao proprietário do imóvel rural, total ou parcialmente arrendado, conceder-se-á o direito de excluir o valor dos bens arrendados, desde que declarado e comprovado o valor do arrendamento e identificado o arrendatário. § 8º Às pessoas físicas é facultado reajustar o valor dos imóveis rurais em suas declarações de renda e de bens, a partir do exercício financeiro de 1965, independentemente de qualquer comprovação, sem que seja tributável o aumento de patrimônio resultante desse reajustamento. Às empresas rurais, organizadas sob a forma de sociedade civil, serão outorgados idênticos benefícios quanto ao registro contábil e ao aumento do ativo líquido. § 9º À falta de integralização do capital das empresas rurais, referidas no parágrafo anterior, não impede a correção do ativo, prevista neste artigo. O aumento do ativo líquido e do capital resultante dessa correção não poderá ser aplicado na integralização de ações ou quotas. § 10. Os aumentos de capital das pessoas jurídicas resultantes da incorporação, a seu ativo, de ações distribuídas em virtude da correção monetária realizada por empresas rurais, de que sejam acionistas ou sócias nos termos deste artigo, não sofrerão qualquer tributação. Idêntica isenção vigorará relativamente às ações resultantes daquele aumento de capital. § 11. Os valores de que tratam os §§ 8º e 10, deste artigo, não poderão ser inferiores ao preço de aquisição do imóvel e das inversões em benfeitorias, atualizadas de acordo com os coeficientes de correção monetária, fixados pelo Conselho Nacional de Economia. Art. 54. Vetado. Parágrafos: 1° - 2º - 3° - 4º - 5º - Vetados. CAPÍTULO II Da Colonização

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SEÇÃO I Da Colonização Oficial Art. 55. Na colonização oficial, o Poder Público tomará a iniciativa de recrutar e selecionar pessoas ou famílias, dentro ou fora do território nacional, reunindo-as em núcleos agrícolas ou agro-industriais, podendo encarregar-se de seu transporte, recepção, hospedagem e encaminhamento, até a sua colocação e integração nos respectivos núcleos. Art. 56. A colonização oficial deverá ser realizada em terras já incorporadas ao Patrimônio Público ou que venham a sê-lo. Ela será efetuada, preferencialmente, nas áreas: I - ociosas ou de aproveitamento inadequado; II - próximas a grandes centros urbanos e de mercados de fácil acesso, tendo em vista os problemas de abastecimento; III - de êxodo, em locais de fácil acesso e comunicação, de acordo com os planos nacionais e regionais de vias de transporte; IV - de colonização predominantemente estrangeira, tendo em mira facilitar o processo de interculturação; V - de desbravamento ao longo dos eixos viários, para ampliar a fronteira econômica do país. Art. 57. Os programas de colonização têm em vista, além dos objetivos especificados no artigo 56: I - a integração e o progresso social e econômico do parceleiro; II - o levantamento do nível de vida do trabalhador rural; III - a conservação dos recursos naturais e a recuperação social e econômica de determinadas áreas; IV - o aumento da produção e da produtividade no setor primário. Art. 58. Nas regiões prioritárias definidas pelo zoneamento e na fixação de suas populações em outras regiões, caberão ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária as atividades colonizadoras. § 1° Nas demais regiões, a colonização oficial obedecerá à metodologia observada nos projetos realizados nas áreas prioritárias, e será coordenada pelo Órgão do Ministério da Agricultura referido no artigo 74, e executada por este, pelos Governos Estaduais ou por entidades de valorização regional, mediante convênios. § 2º As atribuições referentes à seleção de imigrantes são da competência do Ministério das Relações Exteriores, conforme diretrizes fixadas pelo Ministério da Agricultura, em articulação com o Ministério do Trabalho e Previdência Social, cabendo ao órgão referido no artigo 74 a recepção e o encaminhamento dos imigrantes. Art. 59. O órgão competente do Ministério da Agricultura referido no artigo 74, poderá criar núcleos de colonização, visando a fins especiais, e deverá igualmente entrar em entendimentos com o Ministério da Guerra para o estabelecimento de colônias, com assistência militar, na fronteira continental. SEÇÃO II Da Colonização Particular Art. 60. Para os efeitos desta lei, consideram-se empresas particulares de colonização as pessoas físicas, nacionais ou estrangeiras, residentes ou domiciliadas no Brasil, ou jurídicas, constituídas e sediadas no País, que tiverem por finalidade executar programa de valorização de área ou distribuição de terras. (Redação dada pela Lei nº 5.709, de 19/01/71) § 1° É dever do Estado estimular, pelos meios enumerados no artigo 73, as iniciativas particulares de colonização. § 2º A empresa rural, definida no inciso VI do artigo 4°, desde que incluída em projeto de colonização, deverá permitir a livre participação em seu capital dos respectivos parceleiros. Art. 61. Os projetos de colonização particular, quanto à metodologia, deverão ser previamente examinados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, que inscreverá a entidade e o respectivo projeto em registro próprio. Tais projetos serão aprovados pelo Ministério da Agricultura, cujo órgão próprio coordenará a respectiva execução.

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§ 1° Sem prévio registro da entidade colonizadora e do projeto e sem a aprovação deste, nenhuma parcela poderá ser vendida em programas particulares de colonização. § 2º O proprietário de terras próprias para a lavoura ou pecuária, interessados em loteá-las para fins de urbanização ou formação de sítios de recreio, deverá submeter o respectivo projeto à prévia aprovação e fiscalização do órgão competente do Ministério da Agricultura ou do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, conforme o caso. § 3º A fim de possibilitar o cadastro, o controle e a fiscalização dos loteamentos rurais, os Cartórios de Registro de Imóveis são obrigados a comunicar aos órgãos competentes, referidos no parágrafo anterior, os registros efetuados nas respectivas circunscrições, nos termos da legislação em vigor, informando o nome do proprietário, a denominação do imóvel e sua localização, bem como a área, o número de lotes, e a data do registro nos citados órgãos. § 4º Nenhum projeto de colonização particular será aprovado para gozar das vantagens desta Lei, se não consignar para a empresa colonizadora as seguintes obrigações mínimas: a) abertura de estradas de acesso e de penetração à área a ser colonizada; b) divisão dos lotes e respectivo piqueteamento, obedecendo a divisão, tanto quanto possível, ao critério de acompanhar as vertentes, partindo a sua orientação no sentido do espigão para as águas, de modo a todos os lotes possuírem água própria ou comum; c) manutenção de uma reserva florestal nos vértices dos espigões e nas nascentes; d) prestação de assistência médica e técnica aos adquirentes de lotes e aos membros de suas famílias; e) fomento da produção de uma determinada cultura agrícola já predominante na região ou ecologicamente aconselhada pelos técnicos do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária ou do Ministério da Agricultura; f) entrega de documentação legalizada e em ordem aos adquirentes de lotes. §§ 5° - 6º - 7º - 8º - Vetados. Art. 62. Os interessados em projetos de colonização destinados à ocupação e valorização econômica da terra, em que predominem o trabalho assalariado ou contratos de arrendamento e parceria, não gozarão dos benefícios previstos nesta Lei. SEÇÃO III Da Organização da Colonização Art. 63. Para atender aos objetivos da presente Lei e garantir as melhores condições de fixação do homem à terra e seu progresso social e econômico, os programas de colonização serão elaborados prevendo-se os grupamentos de lotes em núcleos de colonização, e destes em distritos, e associação dos parceleiros em cooperativas. Art. 64. Os lotes de colonização podem ser: I - parcelas, quando se destinem ao trabalho agrícola do parceleiro e de sua família cuja moradia, quando não for no próprio local, há de ser no centro da comunidade a que elas correspondam; II - urbanos, quando se destinem a constituir o centro da comunidade, incluindo as residências dos trabalhadores dos vários serviços implantados no núcleo ou distritos, eventualmente às dos próprios parceleiros, e as instalações necessárias à localização dos serviços administrativos assistenciais, bem como das atividades cooperativas, comerciais, artesanais e industriais. § 1° Sempre que o órgão competente do Ministério da Agricultura ou o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária não manifestarem, dentro de noventa dias da consulta, a preferência a que terão direito, os lotes de colonização poderão ser alienados: a) a pessoas que se enquadrem nas condições e ordem de preferência, previstas no artigo 25; ou b) livremente, após cinco anos, contados da data de sua transcrição. § 2º No caso em que o adquirente ou seu sucessor venha a desistir da exploração direta, os imóveis rurais, vendidos nos termos desta Lei, reverterão ao patrimônio do alienante, podendo o regulamento prever as condições em que se dará essa reversão, resguardada a restituição da quantia já paga pelo adquirente, com a correção monetária de acordo com os índices do Conselho

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Nacional de Economia, apurados entre a data do pagamento e da restituição, se tal cláusula constar do contrato de venda respectivo. § 3º Se os adquirentes mantiverem inexploradas áreas suscetíveis de aproveitamento, desde que à sua disposição existam condições objetivas para explorá-las, perderão o direito a essas áreas, que reverterão ao patrimônio do alienante, com a simples devolução das despesas feitas. § 4º Na regulamentação das matérias de que trata este capítulo, com a observância das primazias já codificadas, se estipularão: a) as exigências quanto aos títulos de domínio e à demarcação de divisas; b) os critérios para fixação das áreas-limites de parcelas, lotes urbanos e glebas de uso comum, bem como dos preços, condições de financiamento e pagamento; c) o sistema de seleção dos parceleiros e artesãos; d) as limitações para distribuição, desmembramentos, alienação e transmissão dos lotes; e) as sanções pelo inadimplemento das cláusulas contratuais; f) os serviços que devam ser assegurados aos promitentes compradores, bem como os encargos e isenções tributárias que, nos termos da lei, lhes sejam conferidos. Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural. (Regulamento) § 1° Em caso de sucessão causa mortis e nas partilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em áreas inferiores às da dimensão do módulo de propriedade rural. § 2º Os herdeiros ou os legatários, que adquirirem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não poderão dividi-los em outros de dimensão inferior ao módulo de propriedade rural. § 3º No caso de um ou mais herdeiros ou legatários desejar explorar as terras assim havidas, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover no sentido de o requerente ou requerentes obterem financiamentos que lhes facultem o numerário para indenizar os demais condôminos. § 4° O financiamento referido no parágrafo anterior só poderá ser concedido mediante prova de que o requerente não possui recursos para adquirir o respectivo lote. Art. 66. Os compradores e promitentes compradores de parcelas resultantes de colonização oficial ou particular, ficam isentos do pagamento dos tributos federais que incidam diretamente sobre o imóvel durante o período de cinco anos, a contar da data da compra ou compromisso. Parágrafo único. O órgão competente firmará convênios com o fim de obter, para os compradores e promitentes compradores, idênticas isenções de tributos estaduais e municipais. Art. 67. O Núcleo de Colonização, como unidade básica, caracteriza-se por um conjunto de parcelas integradas por uma sede administrativa e serviços comunitários. Parágrafo único. O número de parcelas de um núcleo será condicionado essencialmente pela possibilidade de conhecimento mútuo entre os parceleiros e de sua identificação pelo administrador, em função das dimensões adequadas a cada região. Art. 68. A emancipação do núcleo ocorrerá quando este tiver condições de vida autônoma, e será declarada por ato do órgão competente, observados os preceitos legais e regulamentares. Art. 69. O custo operacional do núcleo de colonização será progressivamente transferido aos proprietários das parcelas, através de cooperativas ou outras entidades que os congreguem. O prazo para essa transferência, nunca superior a cinco anos, contar-se-á: a) a partir de sua emancipação; b) desde quando a maioria dos parceleiros já tenha recebido os títulos definitivos, embora o núcleo não tenha adquirido condições de vida autônoma.

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Art. 70. O Distrito de Colonização caracteriza-se como unidade constituída por três ou mais núcleos interligados, subordinados a uma única chefia, integrado por serviços gerais administrativos e comunitários. Art. 71. Nos casos de regiões muito afastadas dos centros urbanos e dos mercados consumidores, só se permitirá a organização de Distrito de Colonização. Art. 72. A regulamentação deste capítulo estabelecerá, para os projetos de colonização que venham a gozar dos benefícios desta Lei: a) a forma de administração, a composição, a área de jurisdição e os critérios de vinculação, desmembramento e incorporação dos núcleos aos Distritos de Colonização; b) os serviços gerais administrativos e comunitários indispensáveis para a implantação de núcleos e Distrito de Colonizações; c) os serviços complementares de assistência educacional, sanitária, social, técnica e creditícia; d) os serviços de produção, de beneficiamento e de industrialização e de eletrificação rural, de comercialização e transportes; e) os serviços de planejamento e execução de obras que, em cada caso, sejam aconselháveis e devam ser considerados para a eficácia dos programas. CAPÍTULO III Da Assistência e Proteção à Economia Rural Art. 73. Dentro das diretrizes fixadas para a política de desenvolvimento rural, com o fim de prestar assistência social, técnica e fomentista e de estimular a produção agropecuária, de forma a que ela atenda não só ao consumo nacional, mas também à possibilidade de obtenção de excedentes exportáveis, serão mobilizados, entre outros, os seguintes meios: I - assistência técnica; II - produção e distribuição de sementes e mudas; III - criação, venda e distribuição de reprodutores e uso da inseminação artificial; IV - mecanização agrícola; V - cooperativismo; VI - assistência financeira e creditícia; VII - assistência à comercialização; VIII - industrialização e beneficiamento dos produtos; IX - eletrificação rural e obras de infra-estrutura; X - seguro agrícola; XI - educação, através de estabelecimentos agrícolas de orientação profissional; XII - garantia de preços mínimos à produção agrícola. § 1° Todos os meios enumerados neste artigo serão utilizados para dar plena capacitação ao agricultor e sua família e visam, especialmente, ao preparo educacional, à formação empresarial e técnico-profissional: a) garantindo sua integração social e ativa participação no processo de desenvolvimento rural; b) estabelecendo, no meio rural, clima de cooperação entre o homem e o Estado, no aproveitamento da terra. § 2º No que tange aos campos de ação dos órgãos incumbidos de orientar, normalizar ou executar a política de desenvolvimento rural, através dos meios enumerados neste artigo, observar-se-á o seguinte: a) nas áreas abrangidas pelas regiões prioritárias e incluídas nos planos nacional e regionais de Reforma Agrária, a atuação competirá sempre ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária; b) nas demais áreas do país, esses meios de assistência e proteção serão utilizados sob coordenação do Ministério da Agricultura; no âmbito de atuação dos órgãos federais, pelas repartições e entidades subordinadas ou vinculadas àquele Ministério; nas áreas de jurisdição dos Estados, pelas respectivas Secretarias de Agricultura e entidades de economia mista, criadas e adequadamente organizadas com a finalidade de promover o desenvolvimento rural; c) nas regiões em que atuem órgãos de valorização econômica, tais como a Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste (SUDENE), a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), a Fundação Brasil Central (FBC), a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Região Fronteira Sudoeste

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do País (SUDOESTE), a utilização desses meios poderá ser, no todo ou em parte, exercida Por esses órgãos. § 3° Os projetos de Reforma Agrária receberão assistência integral, assim compreendido o emprego de todos os meios enumerados neste artigo, ficando a cargo dos organismos criados pela presente Lei e daqueles já existentes, sob coordenação do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 4º Nas regiões prioritárias de Reforma Agrária, será essa assistência prestada, também, pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, em colaboração com os órgãos estaduais pertinentes, aos proprietários rurais aí existentes, desde que se constituam em cooperativas, requeiram os benefícios aqui mencionados e se comprometam a observar as normas estabelecidas. Art. 74. É criado, para atender às atividades atribuídas por esta Lei ao Ministério da Agricultura, o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário (INDA), entidade autárquica vinculada ao mesmo Ministério, com personalidade jurídica e autonomia financeira, de acordo com o prescrito nos dispositivos seguintes: I - o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário tem por finalidade promover o desenvolvimento rural nos setores da colonização, da extensão rural e do cooperativismo; II - o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário terá os recursos e o patrimônio definidos na presente Lei; III - o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário será dirigido por um Presidente e um Conselho Diretor, composto de três membros, de nomeação do Presidente da República, mediante indicação do Ministro da Agricultura; IV - Presidente do Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário integrará a Comissão de Planejamento da Política Agrícola; V - além das atribuições que esta Lei lhe confere, cabe ao Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário: a) vetado; b) planejar, programar, orientar, promover e fiscalizar as atividades relativas ao cooperativismo e associativismo rural; c) colaborar em programas de colonização e de recolonização; d) planejar, programar, promover e controlar as atividades relativas à extensão rural e cooperar com outros órgãos ou entidades que a executem; e) planejar, programar e promover medidas visando à implantação e desenvolvimento da eletrificação rural; f) proceder à avaliação do desenvolvimento das atividades de extensão rural. Vetado; g) realizar estudos e pesquisas sobre a organização rural e propor as medidas deles decorrentes; h) vetado; i) atuar, em colaboração com os órgãos do Ministério do Trabalho incumbidos da sindicalização rural visando a harmonizar as atribuições legais com os propósitos sociais, econômicos e técnicos da agricultura; j) estabelecer normas, proceder ao registro e promover a fiscalização do funcionamento das cooperativas e de outras entidades de associativismo rural; k) planejar e promover a aquisição e revenda de materiais agropecuários, reprodutores, sementes e mudas; l) controlar os estoques e as operações financeiras de revenda; m) centralizar a movimentação de recursos financeiros destinados à aquisição e revenda de materiais agropecuários, de acordo com o plano geral aprovado pela Comissão de Planejamento da Política Agrícola; n) exercer as atribuições de que trata o artigo 88, desta Lei, no âmbito federal; o) desempenhar as atribuições constantes do artigo 162 da Constituição Federal, observado o disposto no § 2º do artigo 58, desta Lei, coordenadas as suas atividades com as do Banco Nacional de Crédito Cooperativo; p) firmar convênios com os Estados, Municípios e entidades privadas para execução dos programas de desenvolvimento rural nos setores da colonização, extensão rural, cooperativismo e demais atividades de sua atribuição; VI - a organização do Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário e de seus sistemas de funcionamento será estabelecida em regulamento, com competência idêntica à fixada para o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, no artigo 104 e seus parágrafos.

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SEÇÃO I Da Assistência Técnica Art. 75. A assistência técnica, nas modalidades e com os objetivos definidos nos parágrafos seguintes, será prestada por todos os órgãos referidos no artigo 73, § 2º, alíneas a, b e c. § 1° Nas áreas dos projetos de reforma agrária, a prestação de assistência técnica será feita através do Administrador do Projeto, dos agentes de extensão rural e das equipes de especialistas. O Administrador residirá obrigatoriamente, na área do projeto. Os agentes de extensão rural e as equipes de especialistas atuarão ao nível da Delegacia Regional do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária e deverão residir na sua área de jurisdição, e durante a fase da implantação, se necessário, na própria área do projeto. § 2º Nas demais áreas, fora das regiões prioritárias, este tipo de assistência técnica será prestado na forma indicada no artigo 73, parágrafo 2º, alínea b. § 3º Os estabelecimentos rurais isolados continuarão a ser atendidos pelos órgãos de assistência técnica do Ministério da Agricultura e das Secretarias Estaduais, na forma atual ou através de técnicos e sistemas que vierem a ser adotados por aqueles organismos. § 4º As atividades de assistência técnica tanto nas áreas prioritárias de Reforma Agrária como nas previstas no § 3º deste artigo, terão, entre outros, os seguintes objetivos: a) a planificação de empreendimentos e atividades agrícolas; b) a elevação do nível sanitário, através de serviços próprios de saúde e saneamento rural, melhoria de habitação e de capacitação de lavradores e criadores, bem como de suas famílias; c) a criação do espírito empresarial e a formação adequada em economia doméstica, indispensável à gerência dos pequenos estabelecimentos rurais e à administração da própria vida familiar; d) a transmissão de conhecimentos e acesso a meios técnicos concernentes a métodos e práticas agropecuárias e extrativas, visando a escolha econômica das culturas e criações, a racional implantação e desenvolvimento, e ao emprego de medidas de defesa sanitária, vegetal e animal; e) o auxílio e a assistência para o uso racional do solo, a execução de planos de reflorestamento, a obtenção de crédito e financiamento, a defesa e preservação dos recursos naturais; f) a promoção, entre os agricultores, do espírito de liderança e de associativismo. SEÇÃO II Da Produção e Distribuição de Sementes e Mudas Art. 76. Os órgãos referidos no artigo 73, § 2º, alínea b, deverão expandir suas atividades no setor de produção e distribuição e de material de plantio, inclusive o básico, de modo a atender tanto aos parceleiros como aos agricultores em geral. Parágrafo único. A produção e distribuição de sementes e mudas, inclusive de novas variedades, poderão também ser feitas por organizações particulares, dentro do sistema de certificação de material de plantio, sob a fiscalização, controle e amparo do Poder Público. SEÇÃO III Da Criação, Venda, Distribuição de Reprodutores e Uso da Inseminação Artificial Art. 77. A melhoria dos rebanhos e plantéis será feita através de criação, venda de reprodutores e uso da inseminação artificial, devendo os órgãos referidos no artigo 73, § 2º, alínea b, ampliar para esse fim, a sua rede de postos especializados. Parágrafo único. A criação de reprodutores e o emprego da inseminação artificial poderão ser feitos por entidades privadas, sob fiscalização, controle e amparo do Poder Público. SEÇÃO IV Da Mecanização Agrícola

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Art. 78. Os planos de mecanização agrícola, elaborados pelos órgãos referidos no artigo 73, § 2°, alínea b, levarão em conta o mercado de mão-de-obra regional, as necessidades de preparação e capitalização de pessoal, para utilização e manutenção de maquinaria. § 1° Esses planos serão dimensionados em função do grau de produtividade que se pretende alcançar em cada uma das áreas geoeconômica do país, e deverão ser condicionados ao nível tecnológico já existente e à composição da força de trabalho ocorrente. § 2º Nos mesmos planos poderão ser incluídos serviços adequados de manutenção e de orientação técnica para o uso econômico das máquinas e implementos, os quais, sempre que possível deverão ser realizados por entidades privadas especializadas. SEÇÃO V Do Cooperativismo Art. 79. A Cooperativa Integral de Reforma Agrária (CIRA) contará com a contribuição financeira do Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, durante o período de implantação dos respectivos projetos. § 1° A contribuição financeira referida neste artigo será feita de acordo com o vulto do empreendimento, a possibilidade de obtenção de crédito, empréstimo ou financiamento externo e outras facilidades. § 2º A Cooperativa Integral de Reforma Agrária terá um Delegado indicado pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, integrante do Conselho de Administração, sem direito a voto, com a função de prestar assistência técnico-administrativa à Diretoria e de orientar e fiscalizar a aplicação de recursos que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária tiver destinado à entidade cooperativa. § 3º Às cooperativas assim constituídas será permitida a contratação de gerentes não-cooperados na forma de lei. § 4º A participação direta do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária na constituição, instalação e desenvolvimento da Cooperativa Integral de Reforma Agrária, quando constituir contribuição financeira, será feita com recursos do Fundo Nacional de Reforma Agrária, na forma de investimentos sem recuperação direta, considerada a finalidade social e econômica desses investimentos. Quando se tratar de assistência creditária, tal participação será feita por intermédio do Banco Nacional de Crédito Cooperativo, de acordo com normas traçadas pela entidade coordenadora do crédito rural. § 5º A Contribuição do Estado será feita pela Cooperativa Integral de Reforma Agrária, levada à conta de um Fundo de Implantação da própria cooperativa. § 6° Quando o empreendimento resultante do projeto de Reforma Agrária tiver condições de vida autônoma, sua emancipação será declarada pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, cessando as funções do Delegado de que trata o § 2° deste artigo e incorporando-se ao patrimônio da cooperativa o Fundo requerido no parágrafo anterior. § 7º O Estatuto da Cooperativa integral de Reforma Agrária deverá determinar a incorporação ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo do remanescente patrimonial, no caso de dissolução da sociedade. § 8º Além da sua designação qualitativa, a Cooperativa Integral de Reforma Agrária adotará a denominação que o respectivo Estatuto estabelecer. § 9º As cooperativas já existentes nas áreas prioritárias poderão transformar-se em Cooperativas Integradas de Reforma Agrária, a critério do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. § 10. O disposto nesta seção aplica-se, no que couber, às demais cooperativas, inclusive às destinadas a atividades extrativas.

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Art. 80. O órgão referido no artigo 74 deverá promover a expansão do sistema cooperativista, prestando, quando necessário, assistência técnica, financeira e comercial às cooperativas visando à capacidade e ao treinamento dos cooperados para garantir a implantação dos serviços administrativos, técnicos, comerciais e industriais. SEÇÃO VI Da Assistência Financeira e Creditícia Art. 81. Para aquisição de terra destinada a seu trabalho e de sua família, o trabalhador rural terá direito a um empréstimo correspondente ao valor do salário-mínimo anual da região, pelo Fundo Nacional de Reforma Agrária, prazo de vinte anos, ao juro de seis por cento ao ano. Parágrafo único. Poderão acumular o empréstimo de que trata este artigo, dois ou mais trabalhadores rurais que se entenderem para aquisição de propriedade de área superior à que estabelece o número 2 do artigo 4°, desta Lei, sob a administração comum ou em forma de cooperativa. Art. 82. Nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, a assistência creditícia aos parceiros e demais cooperados será prestada, preferencialmente, através das cooperativas. Parágrafo único. Nas demais regiões, sempre que possível, far-se-á o mesmo com referência aos pequenos e médios proprietários. Art. 83. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, em colaboração com o Ministério da Agricultura, a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) e a Coordenação Nacional do Crédito Rural, promoverá as medidas legais necessárias para a institucionalização do crédito rural, tecnificado. § 1° A Coordenação Nacional do Crédito Rural fixará as normas do contrato padrão de financiamento que permita assegurar proteção ao agricultor, desde a fase do preparo da terra, até a venda de suas safras, ou entrega das mesmas à cooperativa para comercialização ou industrialização. § 2º O mesmo organismo deverá prover à forma de desconto de títulos oriundos de operações de financiamento a agricultores ou de venda de produtos, máquinas, implementos e utilidades agrícolas necessários ao custeio de safras, construção de benfeitorias e melhoramentos fundiários. § 3º A Superintendência da Moeda e do Crédito poderá determinar que dos depósitos compulsórios dos Bancos particulares, à sua ordem, sejam deduzidas as quantias a serem utilizadas em operações de crédito rural, na forma por ela regulamentada. SEÇÃO VII Da Assistência à Comercialização Art. 84. Os planos de armazenamento e proteção dos produtos agropecuários levarão em conta o zoneamento de que trata o artigo 43, a fim de condicionar aos objetivos desta Lei, as atividades da Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) e de outros órgãos federais e estaduais com atividades que objetivem o desenvolvimento rural. § 1° Os órgãos referidos neste artigo, se necessário, deverão instalar em convênio com o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, armazéns, silos, frigoríficos, postos ou agências de compra, visando a dar segurança à produção agrícola. § 2º Os planos deverão também levar em conta a classificação dos produtos e o adequado e oportuno escoamento das safras. Art. 85. A fixação dos preços mínimos, de acordo com a essencialidade dos produtos agropecuários, visando aos mercados interno e externo, deverá ser feita, no mínimo, sessenta dias antes da época do plantio em cada região e reajustados, na época da venda, de acordo com os índices de correção fixados pelo Conselho Nacional de Economia.

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§ 1° Para fixação do preço mínimo se tomará por base o custo efetivo da produção, acrescido das despesas de transporte para o mercado mais próximo e da margem de lucro do produtor, que não poderá ser inferior a trinta por cento. § 2º As despesas do armazenamento, expurgo, conservação e embalagem dos produtos agrícolas correrão por conta do órgão executor da política de garantia de preços mínimos, não sendo dedutíveis do total a ser pago ao produtor. Art. 86. Os órgãos referidos no artigo 73, § 2º, alínea b, deverão, se necessário e quando a rede comercial se mostrar insuficiente, promover a expansão desta ou expandir seus postos de revenda para atender aos interesses de lavradores e de criadores na obtenção de mercadorias e utilidades necessárias às suas atividades rurais, de forma oportuna e econômica, visando à melhoria da produção e ao aumento da produtividade, através, entre outros, de serviços locais, para distribuição de produção própria ou revenda de: I - tratores, implementos agrícolas, conjuntos de irrigação e perfuração de poços, aparelhos e utensílios para pequenas indústrias de beneficiamento da produção; II - arames, herbicidas, inseticidas, fungicidas, rações, misturas, soros, vacinas e medicamentos para animais; III - corretivo de solo, fertilizantes e adubos, sementes e mudas. SEÇÃO VIII Da Industrialização e Beneficiamento dos Produtos Agrícolas Art. 87. Nas áreas prioritárias da Reforma Agrária, a industrialização e o beneficiamento dos produtos agrícolas serão promovidos pelas Cooperativas Integrais de Reforma Agrária. Art. 88. O Poder Público, através dos órgãos referidos no artigo 73, § 2º, alínea b, exercerá atividades de orientação, planificação, execução e controle, com o objetivo de promover o incentivo da industrialização, do beneficiamento dos produtos agropecuários e dos meios indispensáveis ao aumento da produção e da produtividade agrícola, especialmente os referidos no artigo 86. Parágrafo único. Vetado. SEÇÃO IX Da Eletrificação Rural e Obras de Infra-estrutura Art. 89. Os planos nacional e regional de Reforma Agrária incluirão, obrigatoriamente, as providências de valorização, relativas a eletrificação rural e outras obras de melhoria de infra-estrutura, tais como reflorestamento, regularização dos deflúvios dos cursos d'água, açudagem, barragens submersas, drenagem, irrigação, abertura de poços, saneamento, obras de conservação do solo, além do sistema viário indispensável à realização do projeto. Art. 90. Os órgão públicos federais ou estaduais referidos no artigo 73, § 2º, alíneas a, b e c, bem como o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, na medida de suas disponibilidades técnicas e financeiras, promoverão a difusão das atividades de reflorestamento e de eletrificação rural, estas essencialmente através de cooperativas de eletrificação e industrialização rural, organizadas pelos lavradores e pecuaristas da região. § 1° Os mesmos órgãos especialmente as entidades de economia mista destinadas a promover o desenvolvimento rural, deverão manter serviços para atender à orientação, planificação, execução e fiscalização das obras de melhoria e outras de infra-estrutura, referidas neste artigo. § 2º Os consumidores rurais de energia elétrica distribuída através de cooperativa de eletrificação e industrialização rural ficarão isentos do respectivo empréstimo compulsório. § 3º Os projetos de eletrificação rural feitos pelas cooperativas rurais terão prioridade nos financiamentos e poderão receber auxílio do Governo federal, estadual e municipal. SEÇÃO X Do Seguro Agrícola

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Art. 91. A Companhia Nacional de Seguro Agrícola (C.N.S.A.), em convênio com o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, atuará nas áreas do projeto de Reforma Agrária, garantindo culturas, safras, colheitas, rebanhos e plantéis. § 1° O estabelecimento das tabelas dos prêmios de seguro para os vários tipos de atividade agropecuária nas diversas regiões do pais será feito tendo-se em vista a necessidade de sua aplicação, não somente nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, como também nas outras regiões selecionadas pela Companhia Nacional de Seguro Agrícola, nas quais a produção agropecuária represente fator essencial de desenvolvimento. § 2º Os contratos de financiamento e empréstimo e os contratos agropecuários, de qualquer natureza, realizados através dos órgãos oficiais de crédito, deverão ser segurados na Companhia Nacional de Seguro Agrícola. CAPÍTULO IV Do Uso ou da Posse Temporária da Terra SEÇÃO I Das Normas Gerais Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, nos termos desta Lei. § 1° O proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e gozo do imóvel arrendado ou cedido em parceria. § 2º Os preços de arrendamento e de parceria fixados em contrato ...Vetado.. serão reajustados periodicamente, de acordo com os índices aprovados pelo Conselho Nacional de Economia. Nos casos em que ocorra exploração de produtos com preço oficialmente fixado, a relação entre os preços reajustados e os iniciais não pode ultrapassar a relação entre o novo preço fixado para os produtos e o respectivo preço na época do contrato, obedecidas as normas do Regulamento desta Lei. § 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá preferência para adquiri-lo em igualdade de condições, devendo o proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da notificação judicial ou comprovadamente efetuada, mediante recibo. § 4° O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá, depositando o preço, haver para si o imóvel arrendado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de alienação no Registro de Imóveis. § 5º A alienação ou a imposição de ônus real ao imóvel não interrompe a vigência dos contratos de arrendamento ou de parceria ficando o adquirente sub-rogado nos direitos e obrigações do alienante. § 6º O inadimplemento das obrigações assumidas por qualquer das partes dará lugar, facultativamente, à rescisão do contrato de arrendamento ou de parceria. observado o disposto em lei. § 7º Qualquer simulação ou fraude do proprietário nos contratos de arrendamento ou de parceria, em que o preço seja satisfeito em produtos agrícolas, dará ao arrendatário ou ao parceiro o direito de pagar pelas taxas mínimas vigorantes na região para cada tipo de contrato. § 8º Para prova dos contratos previstos neste artigo, será permitida a produção de testemunhas. A ausência de contrato não poderá elidir a aplicação dos princípios estabelecidos neste Capítulo e nas normas regulamentares. § 9º Para solução dos casos omissos na presente Lei, prevalecerá o disposto no Código Civil.

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Art. 93. Ao proprietário é vedado exigir do arrendatário ou do parceiro: I - prestação de serviço gratuito; II - exclusividade da venda da colheita; III - obrigatoriedade do beneficiamento da produção em seu estabelecimento; IV - obrigatoriedade da aquisição de gêneros e utilidades em seus armazéns ou barracões; V - aceitação de pagamento em "ordens", "vales", "borós" ou outras formas regionais substitutivas da moeda. Parágrafo único. Ao proprietário que houver financiado o arrendatário ou parceiro, por inexistência de financiamento direto, será facultado exigir a venda da colheita até o limite do financiamento concedido, observados os níveis de preços do mercado local. Art. 94. É vedado contrato de arrendamento ou parceria na exploração de terras de propriedade pública, ressalvado o disposto no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. Excepcionalmente, poderão ser arrendadas ou dadas em parceria terras de propriedade púbica, quando: a) razões de segurança nacional o determinarem; b) áreas de núcleos de colonização pioneira, na sua fase de implantação, forem organizadas para fins de demonstração; c) forem motivo de posse pacífica e a justo título, reconhecida pelo Poder Público, antes da vigência desta Lei. SEÇÃO II Do Arrendamento Rural Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-se-ão os seguintes princípios:I - os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras temporárias cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas mesmas condições, até sua ultimação; II - presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o arrendamento por tempo indeterminado, observada a regra do item anterior; III - o arrendatário que iniciar qualquer cultura cujos frutos não possam ser colhidos antes de terminado o prazo de arrendamento deverá ajustar previamente com o locador do solo a forma pela qual serão eles repartidos; IV - em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário, até seis meses antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a competente notificação das propostas existentes. Não se verificando a notificação, o contrato considera-se automaticamente renovado, desde que o locatário, nos trinta dias seguintes, não manifeste sua desistência ou formule nova proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no competente Registro de Títulos e Documentos; V - os direitos assegurados no inciso anterior não prevalecerão se, no prazo de seis meses antes do vencimento do contrato, o proprietário, por via de notificação, declarar sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou através de descendente seu; VI - sem expresso consentimento do proprietário é vedado o subarrendamento; VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário, cláusula que permita a substituição de área arrendada por outra equivalente no mesmo imóvel rural, desde que respeitadas as condições de arrendamento e os direitos do arrendatário; VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, será indenizado das benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo locador do solo. Enquanto o arrendatário não seja indenizado das benfeitorias necessárias e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gôzo das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de arrendamento e nas disposições do inciso I; IX - constando do contrato de arrendamento animais de cria, de corte ou de trabalho, cuja forma de restituição não tenha sido expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou rescindido o contrato, a restituí-los em igual número, espécie e valor; X - o arrendatário não responderá por qualquer deterioração ou prejuízo a que não tiver dado causa; XI - na regulamentação desta Lei, serão complementadas as seguintes condições que, obrigatoriamente, constarão dos contratos de arrendamento:

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a) limites dos preços de aluguel e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente em produtos colhidos; b) prazos mínimos de locação e limites de vigência para os vários tipos de atividades agrícolas; c) bases para as renovações convencionadas; d) formas de extinção ou rescisão; e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias realizadas; XII - o preço do arrendamento, sob qualquer forma de pagamento, não poderá ser superior a quinze por cento do valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que entrarem na composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e recair apenas em glebas selecionadas para fins de exploração intensiva de alta rentabilidade, caso em que o preço poderá ir até o limite de trinta por cento; XIII - a todo aquele que ocupar, sob qualquer forma de arrendamento, por mais de cinco anos, um imóvel rural desapropriado, em área prioritária de Reforma Agrária, é assegurado o direito preferencial de acesso à terra ..Vetado... Art. 95-A. (Vide Medida Provisória nº 2.183-56, de 24.8.2001) (Regulamento) SEÇÃO III Da Parceria Agrícola, Pecuária, Agro-Industrial e Extrativa Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, observar-se-ão os seguintes princípios: I - o prazo dos contratos de parceria, desde que não convencionados pelas partes, será no mínimo de três anos, assegurado ao parceiro o direito à conclusão da colheita, pendente, observada a norma constante do inciso I, do artigo 95; II - expirado o prazo, se o proprietário não quiser explorar diretamente a terra por conta própria, o parceiro em igualdade de condições com estranhos, terá preferência para firmar novo contrato de parceria; III - as despesas com o tratamento e criação dos animais, não havendo acordo em contrário, correrão por conta do parceiro tratador e criador; IV - o proprietário assegurará ao parceiro que residir no imóvel rural, e para atender ao uso exclusivo da família deste, casa de moradia higiênica e área suficiente para horta e criação de animais de pequeno porte; V - no Regulamento desta Lei, serão complementadas, conforme o caso, as seguintes condições, que constarão, obrigatoriamente, dos contratos de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial ou extrativa: a) quota-limite do proprietário na participação dos frutos, segundo a natureza de atividade agropecuária e facilidades oferecidas ao parceiro; b) prazos mínimos de duração e os limites de vigência segundo os vários tipos de atividade agrícola; c) bases para as renovações convencionadas; d) formas de extinção ou rescisão; e) direitos e obrigações quanto às indenizações por benfeitorias levantadas com consentimento do proprietário e aos danos substanciais causados pelo parceiro, por práticas predatórias na área de exploração ou nas benfeitorias, nos equipamentos, ferramentas e implementos agrícolas a ele cedidos; f) direito e oportunidade de dispor sobre os frutos repartidos; VI - na participação dos frutos da parceria, a quota do proprietário não poderá ser superior a: a) dez por cento, quando concorrer apenas com a terra nua; b) vinte por cento, quando concorrer com a terra preparada e moradia; c) trinta por cento, caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia, galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso; d) cinqüenta por cento, caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea c e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de tração e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em proporção superior a cinqüenta por cento do número total de cabeças objeto de parceria; e) setenta e cinco por cento, nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a vinte e cinco por cento do rebanho e onde se adotem a meação de leite e a comissão mínima de cinco por cento por animal vendido;

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f) o proprietário poderá sempre cobrar do parceiro, pelo seu preço de custo, o valor de fertilizantes e inseticidas fornecidos no percentual que corresponder à participação deste, em qualquer das modalidades previstas nas alíneas anteriores; g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota adicional do proprietário será fixada com base em percentagem máxima de dez por cento do valor das benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro; VII - aplicam-se à parceria agrícola, pecuária, agropecuária, agro-industrial ou extrativa as normas pertinentes ao arrendamento rural, no que couber, bem como as regras do contrato de sociedade, no que não estiver regulado pela presente Lei. Parágrafo único. Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na lavoura cultivada, ou gado tratado, são considerados simples locação de serviço, regulada pela legislação trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos seja de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário, locatário do serviço a quem cabe todo o risco, assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção do salário-mínimo no cômputo das duas parcelas. SEÇÃO IV Dos Ocupantes de Terras Públicas Federais Art. 97. Quanto aos legítimos possuidores de terras devolutas federais, observar-se-á o seguinte: I - o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá a discriminação das áreas ocupadas por posseiros, para a progressiva regularização de suas condições de uso e posse da terra, providenciando, nos casos e condições previstos nesta Lei, a emissão dos títulos de domínio; II - todo o trabalhador agrícola que, à data da presente Lei, tiver ocupado, por um ano, terras devolutas, terá preferência para adquirir um lote da dimensão do módulo de propriedade rural, que for estabelecido para a região, obedecidas as prescrições da lei. Art. 98. Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, ocupar por dez anos ininterruptos, sem oposição nem reconhecimento de domínio alheio, tornando-o produtivo por seu trabalho, e tendo nele sua morada, trecho de terra com área caracterizada como suficiente para, por seu cultivo direto pelo lavrador e sua família, garantir-lhes a subsistência, o progresso social e econômico, nas dimensões fixadas por esta Lei, para o módulo de propriedade, adquirir-lhe-á o domínio, mediante sentença declaratória devidamente transcrita. Art. 99. A transferência do domínio ao posseiro de terras devolutas federais efetivar-se-á no competente processo administrativo de legitimação de posse, cujos atos e termos obedecerão às normas do Regulamento da presente Lei. Art. 100. O título de domínio expedido pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será, dentro do prazo que o Regulamento estabelecer, transcrito no competente Registro Geral de Imóveis. Art. 101. As taxas devidas pelo legitimante de posse em terras devolutas federais, constarão de tabela a ser periodicamente expedida pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, atendendo-se à ancianidade da posse, bem como às diversificações das regiões em que se verificar a respectiva discriminação. Art. 102. Os direitos dos legítimos possuidores de terras devolutas federais estão condicionados ao implemento dos requisitos absolutamente indispensáveis da cultura efetiva e da morada habitual. TÍTULO IV Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 103. A aplicação da presente Lei deverá objetivar, antes e acima de tudo, a perfeita ordenação do sistema agrário do país, de acordo com os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano. § 1° Para a plena execução do disposto neste artigo, o Poder Executivo, através dos órgãos da sua administração centralizada e descentralizada, deverá prover no sentido de facultar e garantir todas as atividades extrativas, agrícolas, pecuárias e agro-industriais, de modo a não prejudicar, direta ou indiretamente, o harmônico desenvolvimento da vida rural.

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§ 2º Dentro dessa orientação, a implantação dos serviços e trabalhos previstos nesta Lei processar-se-á progressivamente, seguindo-se os critérios, as condições técnicas e as prioridades fixados pelas mesmas, a fim de que a política de desenvolvimento rural de nenhum modo tenha solução de continuidade. § 3º De acordo com os princípios normativos deste artigo e dos parágrafos anteriores, será dada prioridade à elaboração do zoneamento e do cadastro, previstos no Título II, Capítulo IV, Seção III, desta Lei. Art. 104. O Quadro de servidores do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária será constituído de pessoal dos órgãos e repartições a ele incorporados, ou para ele transferidos, e de pessoal admitido na forma da lei. § 1° O disposto neste artigo não se aplica aos cargos ou funções cujos ocupantes estejam em exercício como requisitados, nos mencionados órgãos incorporados ou transferidos, bem como aos funcionários públicos civis ou militares, assim definidos pela legislação especial. § 2º O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá admitir, mediante portaria ou contrato, em regime especial de trabalho e salário, dentro das dotações orçamentárias próprias, especialistas necessários ao desempenho de atividades técnicas e científicas para cuja execução não dispuser de servidores habilitados. § 3º O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá requisitar servidores da administração centralizada ou descentralizada, sem prejuízo dos seus vencimentos, direitos e vantagens. § 4° Nenhuma admissão de pessoal, com exceção do parágrafo segundo, poderá ser feita senão mediante prestação de concurso de provas ou de títulos e provas. § 5º Os servidores da Superintendência da Política Agrária (SUPRA), pertencentes aos quadros do extinto Instituto Nacional de Imigração e Colonização (I.N.I.C.), e do Serviço Social Rural (S.S.R.) poderão optar pela sua lotação em qualquer órgão onde existirem cargos ou funções por eles ocupados. Art. 105. Fica o Poder Executivo autorizado a emitir títulos, denominados Títulos da Dívida Agrária, distribuídos em séries autônomas, respeitado o limite máximo de circulação equivalente a 500.000.000 de OTN (quinhentos milhões de Obrigações do Tesouro Nacional). (Redação dada pela Lei nº 7.647, de 19/01/88) § 1° Os títulos de que trata este artigo vencerão juros de seis por cento a doze por cento ao ano, terão cláusula de garantia contra eventual desvalorização da moeda, em função dos índices fixados pelo Conselho Nacional de Economia, e poderão ser utilizados: a) em pagamento de até cinqüenta por cento do Imposto Territorial Rural; b) em pagamento de preço de terras públicas; c) em caução para garantia de quaisquer contratos, obras e serviços celebrados com a União; d) como fiança em geral; e) em caução como garantia de empréstimos ou financiamentos em estabelecimentos da União, autarquias federais e sociedades de economia mista, em entidades ou fundos de aplicação às atividades rurais criadas para este fim; f) em depósito, para assegurar a execução em ações judiciais ou administrativas. § 2º Esses títulos serão nominativos ou ao portador e de valor nominal de referência equivalente ao de 5 (cinco), 10 (dez), 20 (vinte), 50 (cinqüenta) e 100 (cem) Obrigações do Tesouro Nacional, ou outra unidade de correção monetária plena que venha a substituí-las, de acordo com o que estabelecer a regulamentação desta lei. (Redação dada pela Lei nº 7.647, de 19/01/88) § 3° Os títulos de cada série autônoma serão resgatados a partir do segundo ano de sua efetiva colocação em prazos variáveis de cinco, dez, quinze e vinte anos, de conformidade com o que estabelecer a regulamentação desta Lei. Dentro de uma mesma série não se poderá fazer diferenciação de juros e de prazo.

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§ 4° Os orçamentos da União, a partir do relativo ao exercício de 1966, consignarão verbas específicas destinadas ao serviço de juros e amortização decorrentes desta Lei, inclusive as dotações necessárias para cumprimento da cláusula de correção monetária, as quais serão distribuídas automaticamente ao Tesouro Nacional. § 5º O Poder Executivo, de acordo com autorização e as normas constantes deste artigo e dos parágrafos anteriores, regulamentará a expedição, condições e colocação dos Títulos da Dívida Agrária. Art. 106. A lei que for baixada para institucionalização do crédito rural tecnificado nos termos do artigo 83 fixará as normas gerais a que devem satisfazer os fundos de garantia e as formas permitidas para aplicação dos recursos provenientes da colocação, relativamente aos Títulos da Dívida Agrária ou de Bônus Rurais, emitidos pelos Governos Estaduais, para que estes possam ter direito à coobrigação da União Federal. Art. 107. Os litígios judiciais entre proprietários e arrendatários rurais obedecerão ao rito processual previsto pelo artigo 685, do Código do Processo Civil. § 1° Não terão efeito suspensivo os recursos interpostos quanto as decisões proferidas nos processos de que trata o presente artigo. § 2º Os litígios às relações de trabalho rural em geral, inclusive as reclamações de trabalhadores agrícolas, pecuários, agro-industriais ou extrativos, são de competência da Justiça do Trabalho, regendo-se o seu processo pelo rito processual trabalhista. Art. 108. Para fins de enquadramento serão revistos, a partir da data da publicação desta Lei, os regulamentos, portarias, instruções, circulares e outras disposições administrativas ou técnicas expedidas pelos Ministérios e Repartições. Art. 109. Observado o disposto nesta Lei, será permitido o reajustamento das prestações mensais de amortizações e juros e dos saldos devedores nos contratos de venda a prazo de: I - lotes de terra com ou sem benfeitorias, em projetos de Reforma Agrária e em núcleos de colonização; II - máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, a cooperativas agrícolas ou entidades especializadas em prestação de serviço e assistência à mecanização; III instalação de indústrias de beneficiamento, para cooperativas agrícolas ou empresas rurais. § 1° O reajustamento de que trata este artigo será feito em intervalos não inferiores a um ano, proporcionalmente aos índices gerais de preços, fixados pelo Conselho Nacional de Economia. § 2º Os contratos relativos às operações referidas no inciso I, serão limitados ao prazo máximo de vinte anos; os relativos às do inciso II ao prazo máximo de cinco anos; e as referentes às do inciso III ao prazo máximo de quinze anos. § 3º A correção monetária ...Vetado... não constituirá rendimento tributável dos seus beneficiários. Art. 110. Será permitida a negociação nas Bolsas de Valores do País, warrants fornecidos pelos armazéns-gerais, silos e frigoríficos. Art. 111. Os oficiais do Registro de Imóveis inscreverão obrigatoriamente os contratos de promessa de venda ou de hipoteca celebrados de acordo com a presente Lei, declarando expressamente que os valores deles constantes são meramente estimativos, estando sujeitos, como as prestações mensais, às correções de valor determinadas nesta Lei. § 1° Mediante simples requerimento, firmado por qualquer das partes contratantes, acompanhado da publicação oficial do índice de correção aplicado, os oficiais do Registro de Imóveis averbarão, à margem das respectivas instruções, as correções de valor determinadas por esta Lei, com indicação do novo valor do preço ou da dívida e do saldo respectivo, bem como da nova prestação contratual.

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§ 2º Se o promitente comprador ou mutuário se recusar a assinar o requerimento de averbação das correções verificadas, ficará, não obstante, obrigado ao pagamento da nova prestação, podendo a entidade financiadora, se lhe convier, rescindir o contrato com notificação prévia no prazo de noventa dias. Art. 112. Passa a ter a seguinte redação o artigo 38, alínea b, do Decreto n. 22.239, de 19 de dezembro de 1932, revigorado pelo Decreto-Lei n. 8.401, de 19 de dezembro de 1945: "b) do beneficiamento, industrialização e venda em comum de produtos de origem extrativa, agrícola ou de criação de animais". Art. 113. O Estabelecimento Rural do Tapajós, incorporado à Superintendência de Política Agrária pela Lei Delegada n. 11, de 11 de outubro de 1962, fica, para todos os efeitos legais e patrimoniais, transferido para o Ministério da Agricultura. Art. 114. Para fins de regularização, os núcleos coloniais e as terras pertencentes ao antigo Instituto Nacional de Imigração e Colonização, incorporados à Superintendência de Política Agrária pela Lei Delegada referida no artigo anterior, serão transferidos: a) ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, os localizados nas áreas prioritárias de reforma agrária; b) ao patrimônio do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, os situados nas demais áreas do país. Art. 115. As atribuições conferidas à Superintendência de Política Agrária pela Lei Delegada n. 11, de 11 de outubro de 1962, e que não são transferidas para o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ficam distribuídas pelos órgãos federais, na forma dos seguintes dispositivos: I - para os órgãos próprios do Ministério da Agricultura, transferem-se as atribuições, de: a) planejar e executar, direta ou indiretamente, programas de colonização visando à fixação e ao acesso à terra própria de agricultores e trabalhadores sem terra nacionais ou estrangeiros, radicados no país, mediante a formação de unidades familiares reunidas em cooperativas nas áreas de ocupação pioneira e, nos vazios demográficos e econômicos; b) promover, supletivamente, a entrada de imigrantes necessários ao aperfeiçoamento e à difusão de métodos agrícolas mais avançados; c) fixar diretrizes para o serviço de imigração e seleção de imigrantes, exercido pelo Ministério das Relações Exteriores, através de seus órgãos próprios de representação; d) administrar, direta ou indiretamente, os núcleos de colonização fora das áreas prioritárias de Reforma Agrária; II - para os órgãos próprios de representação do Ministério das Relações Exteriores, as atividades concernentes à seleção de imigrantes; III - para os órgãos próprios do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, os assuntos pertinentes à legalização de permanência, prorrogação e retificação de nacionalidade de estrangeiros, no território nacional; IV - para a Divisão de Turismo e Certames, do Departamento Nacional de Comércio, do Ministério da Indústria e do Comércio, o registro e a fiscalização de empresas de turismo e venda de passagens; V - para os órgãos próprios do Ministério do Trabalho e Previdência Social: a) a assistência e o encaminhamento dos trabalhadores rurais migrantes de uma para outra região, à vista das necessidades do desenvolvimento harmônico do país; b) a recepção dos imigrantes selecionados pelo Ministério das Relações Exteriores, encaminhando-os para áreas predeterminadas de acordo com as normas gerais convencionadas com o Ministério da Agricultura. Art. 116. Fica revogada a Lei Delegada n. 11, de 11 de outubro de 1962, extinta a Superintendência de Política Agrária (SUPRA) e incorporados ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ao Ministério da Agricultura, ao Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário e aos demais Ministérios, na forma do artigo 115, para todos os efeitos legais, jurídicos e patrimoniais, os serviços, atribuições e bens patrimoniais, na forma do disposto nesta Lei. Parágrafo único. São transferidos para o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária e para o Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário, quando for o caso, os saldos das dotações orçamentárias e dos créditos especiais destinados à Superintendência de Política Agrária, inclusive os recursos financeiro arrecadados e os que forem a ela devidos até a data da promulgação da presente Lei.

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Art. 117. As atividades do Serviço Social Rural, incorporados à Superintendência de Política Agrária pela Lei Delegada n. 11, de 11 de outubro de 1962, bem como o produto da arrecadação das contribuições criadas pela Lei n. 2.613, de 23 de setembro de 1955, serão transferidas, de acordo com o disposto nos seguintes incisos: I - ao Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário caberão as atribuições relativas à extensão rural e cinqüenta por cento da arrecadação; II - ao órgão do Serviço Social da Previdência que atenderá aos trabalhos rurais, ...Vetado... caberão as demais atribuições e cinqüenta por cento da arrecadação. Enquanto não for criado esse órgão, suas atribuições e arrecadações serão da competência da autarquia referida no inciso I; III - Vetado. Art. 118. São extensivos ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária os privilégios da Fazenda Pública no tocante à cobrança dos seus créditos e processos em geral, custas, prazos de prescrição, imunidades tributárias e isenções fiscais. Art. 119. Não poderão gozar dos benefícios desta Lei, inclusive a obtenção de financiamentos, empréstimos e outras facilidades financeiras, os proprietários de imóveis rurais, cujos certificados de cadastro os classifiquem na forma prevista no artigo 4°, inciso V. § 1° Os órgãos competentes do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária e do Ministério da Agricultura, poderão acordar com o proprietário, a forma e o prazo de enquadramento do imóvel nos objetivos desta Lei, dando deste fato ciência aos estabelecimentos de crédito de economia mista. § 2º Vetado. Art. 120. É instituído o Fundo Agro-Industrial de Reconversão, com a finalidade de financiar projetos apresentados por proprietários cujos imóveis rurais tiverem sido desapropriados contra pagamento por meio de Títulos da Dívida Agrária. § 1° O Fundo, administrado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (B.N.D.E.), terá as seguintes fontes: I - dez por cento do Fundo Nacional de Reforma Agrária; II - recursos provenientes de empréstimos contraídos no país e no exterior; III - resultado de suas operações; IV - recursos próprios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico ou de outras entidades governamentais que venham a ser atribuídos ao Fundo. § 2º O Fundo somente financiará projetos de desenvolvimento econômico agropecuário ou industrial, que satisfaçam as condições técnicas e econômicas estabelecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e que se enquadrem dentro dos critérios de propriedade fixados pelo Ministério Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Econômica. § 3º Os encargos resultantes do financiamento, inclusive amortização e juros, serão liquidados em Títulos da Dívida Agrária. § 4º Dentro dos recursos do Fundo, o financiamento será concedido em total nunca superior a cinqüenta por cento do montante dos Títulos da Dívida Agrária que tiverem entrado na composição do preço da desapropriação. Art. 121. É o Poder Executivo autorizado a abrir, pelo Ministério da Agricultura, o crédito especial de Cr$100.000.000,00 (cem milhões de cruzeiros) para atender às despesas de qualquer natureza com a instalação, organização e funcionamento do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, bem como as relativas ao cumprimento do disposto nesta Lei. Art. 122. O Poder Executivo, dentro do prazo de cento e oitenta dias, a partir da publicação da presente Lei, deverá baixar a regulamentação necessária à sua execução. Art. 123. O critério da tributação constante do Título III, Capítulo I, passará a vigorar a partir de 1° de janeiro de 1965.

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Parágrafo único. Do Imposto Territorial Rural, calculado na forma do disposto no artigo 50 e seus parágrafos serão feitas, nos três primeiros anos de aplicação desta Lei, as seguintes deduções: a) no primeiro ano, setenta e cinco por cento do acréscimo verificado entre o valor apurado e o imposto pago no último exercício anterior à aplicação da Lei; b) no segundo ano, cinqüenta por cento do acréscimo verificado entre o valor apurado naquele ano e o imposto pago no último exercício anterior à aplicação da Lei, com a correção monetária pelos índices do Conselho Nacional de Economia; c) no terceiro ano, vinte e cinco por cento do acréscimo verificado para o respectivo ano, na forma do disposto na alínea anterior. Art. 124. A aplicação do disposto no artigo 19, § 2°, a e b, só terá a vigência respectivamente a partir das datas de encerramento da inscrição do cadastro das propriedades agrícolas e da de declaração do Imposto de Renda relativa ao ano-base de 1964. Art. 125. Dentro de dez anos contados da publicação da presente Lei ficam isentas do pagamento do imposto sobre lucro imobiliário as transmissões de imóveis rurais realizadas com o objetivo mediato de eliminar latifúndio ou efetuar reagrupamentos de glebas, no propósito de corrigir minifúndios, desde que tais objetivos sejam verificados pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária. Art. 126. A Carteira de Colonização do Banco do Brasil, sem prejuízo de suas atribuições legais, atuará como entidade financiadora nas operações de venda de lotes rurais ...Vetado... § 1° As Letras Hipotecárias que o Banco do Brasil está autorizado a emitir, em provimento de recursos e em empréstimos da sua Carteira de Colonização, poderão conter cláusula de garantia contra eventual desvalorização de moeda, de acordo com índices que forem sugeridos pelo Conselho Nacional de Economia, assegurando ao mesmo Banco o ressarcimento de prejuízos já previstos no artigo 4º da Lei n. 2.237, de 19 de junho de 1954. § 2º Caberá à Diretoria do Banco do Brasil fixar o limite do valor dos empréstimos que o Banco fica autorizado a realizar no país ou no estrangeiro para aplicação, pela sua Carteira de Colonização, revogado, portanto o limite estabelecido no parágrafo único do artigo 80 da Lei n. 2.237, de 19 de junho de 1964, e as disposições em contrário. Art. 127. Vetado. Art. 128. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 30 de novembro de 1964; 143º da Independência e 76º da República. H. CASTELLO BRANCO Presidente da República Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 31.11.1964

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ANEXO D – Mapa das Micro Regiões do Estado do Mato Grosso do Sul

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Fonte: Atlas Digital MS (http://www2.uniderp.br/Atlas/mrg.htm)

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ANEXO E – Mapa do Assentamento Itamarati - MST - por lotes

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ANEXO F – Mapa do Assentamento Itamarati Divisão por Movimentos Sociais

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Fonte: IDATERRA. FOLDER: ASSENTAMENTO ITAMARATI, 2003.

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ANEXO G – Famílias entrevistas - Assentamento Itamarati Fotos

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Figura 3: Família, Assentamento Itamarati. Grupo 06 – horta

Fonte: Francisco Antunes Corrêa. (agosto, 2004).

Figura 4: Família, Assentamento Itamarati. Grupo 17 – crianças Fonte: Francisco Antunes Corrêa. (agosto, 2004).