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Glênia Costa Aguiar A RODA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA SOBRAL-CE 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ UVA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

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Glênia Costa Aguiar

A RODA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:

SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE

DA FAMÍLIA

SOBRAL-CE

2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

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Glênia Costa Aguiar

A RODA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:

SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE

DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Saúde da Família da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família/Nucleadora: Universidade Estadual Vale do Acaraú, como requisito necessário ao título de Mestre em Saúde da Família.

Orientadora: Prof.a PhD. Maria Socorro de Araújo Dias

Linha de Pesquisa: Educação na Saúde

SOBRAL-CE

2016

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Dedico este trabalho a todos os colegas,

profissionais da Estratégia Saúde da

família de Sobral-Ce, em especial, aos

que compartilham comigo o aprendizado

contínuo, no Centro de Saúde da Família

- Alto da Brasília, a quem considero parte

essencial na construção da minha

vivência do Mestrado Profissional em

Saúde da Família.

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AGRADECIMENTOS

Entendendo esta conquitsa, como uma vitória ouriunda de várias mãos,

agradecer se faz essencial, posto que vejo em cada um que percorreu comigo esta

trajetória, um instrumento enviado por Deus para que fosse possível concluir esta

etapa.

Não podendo ser diferente, inicio meus agradecimentos louvando e

bendizendo a Deus, que escolheu para mim a graça de cursar o Mestrado

Profissional em Saúde da Família, cruzando caminhos, na época, com a acadêmica

de enfermagem, Flávia Martins, que tão disponível e atenciosa se dispôs a acreditar

e construir comigo o projeto utilizado na seleção, bem como meus colegas de

trabalho que, sempre com palavras de confiança e encorajamento disseram: “vai”,

“você consegue”... Devo a vocês ter dado o primeiro passo...

Depois, já mestranda, precisando abdicar de tempo ao lado da família,

contei com a compreensão dos meus filhos e marido que sentiram minhas ausências

nas noites e finais de semana, quando, tantas vezes eu dizia: “tenho que estudar”...

Hoje lhes digo que, cada vírgula deste trabalho tem a presença de vocês. Aliás,

vocês são a principal razão pela qual eu não me dei o direito de fraquejar e desistir,

nem deste, nem de qualquer outro desafio da vida.

Aos meus pais que foram e sempre serão minha base, meu porto seguro,

minha referência de vida... Vocês me ensinaram a falar, a pensar... E é só por isso

que hoje fui capaz de escrever um Trabalho de Conclusão de Mestrado.

Aos professores que conduziram cada módulo, de forma encantadora

que, muitas vezes, nos soaram como carícia a alma, porém, nos munindo de todo

conteúdo necessário para fortalecer a nossa práxis.

A minha brilhante orientadora Professora PhD Maria Socorro de Araújo

Dias, que, literalmente segurou minha mão, a quem não encontro palavras para

descrever tamanha admiração e carinho.

Enfim, termino como comecei, louvando e bendizendo a Deus porque Ele

sabe a razão de ter me conduzido até aqui, e eu confio que, os planos d`Ele são os

melhores pra nossa vida. E concluir esse Trabalho foi plano e cuidado d`Ele para

nós.

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RESUMO

O processo de co-gestão de coletivos proposto por Gastão Wagner simbolizado pelo

dispositivo da Roda é adotado pelo sistema de Saúde de Sobral, desde 2001. O

desafio deste estudo foi apreender os sentidos e os significados da Roda enquanto

estratégia de Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce. Para

isso, realizamos uma pesquisa exploratório-descritiva, com abordagem qualitativa,

que realizou-se em três centros de saúde que compõem uma macroárea da

Estratégia Saúde da Família de Sobral-Ce. O instrumento utilizado para coleta de

dados foi o Mapa Afetivo. A análise de conteúdo, do subtexto, do sentido e do

motivo, propostos por Bomfim (2010) constituíram o referencial teórico-metodológico

para a análise dos resultados. Estes conduziram a inferência que o Método da Roda

constitui-se em espaço significativo para o coletivo de participantes por permitir um

encontro de sujeitos/poderes que possibilita avaliação da própria ação produtiva,

aumentando assim a capacidade dos sujeitos para analisar e operar sobre a práxis.

Quando buscamos apreender os sentidos (privado) da Roda enquanto estratégia de

EPS, identificamos a relevância do método por possibilitar a expressividade dos

sujeitos que, além de avigorar vínculos, oportuniza a co-produção de projetos, o que

os motiva a co-gestão dos processos de trabalho, fortalecendo o sentimento de

segurança na tomada de decisões pela consistência do aprendizado. Em vista disto,

concluímos que a EPS e Método Paidéia ou Roda são estratégias complementares

ou interdependentes, posto que oportunizam a equipe a um relativo distanciamento

do cotidiano de afazeres, a fim de refletir sobre o mesmo, permeado pelos

componentes administrativo, político, pedagógico e terapêutico que o método

propõe.

Palavras-chave: Atenção Primária a Saúde. Cogestão. Educação Permanente.

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ABSTRACT

The co-managing groups proposed by Gastao Wagner symbolized by the wheel

device is adopted by the Health System sobral since 2001. The challenge of this

study was to understand the meanings and the meanings of the wheel as a strategy

of Continuing Education in Health municipality of Sobral-Ce. To this end, we

conducted an exploratory and descriptive research with a qualitative approach, which

was held in three health centers that make up a macro area of the Health Strategy

Sobral-Ce family. The instrument used for data collection was the Affective Map. The

content analysis of the subtext, the meaning and reason proposed by Bomfim (2010)

were the theoretical and methodological framework for the analysis of results. These

led to the inference that the wheel of the method constitutes a significant space for

the collective of participants to allow a meeting of subject / powers that enables

evaluation of own production share, thereby increasing the ability of the subjects to

analyze and operate on the practice. When we seek to grasp the way (private) wheel

while EPS strategy identified the relevance of time by allowing the expressiveness of

the subjects that in addition to invigorate ties, gives opportunity to co-production

projects, which motivates them to co-management processes work, strengthening

the sense of security in decision making by learning consistency. In view of this, we

conclude that the EPS and Paideia or wheel method are complementary or

interdependent strategies, since it will foster team a relative detachment from the

physical everyday to reflect on it, permeated by the administrative, political,

educational and therapeutic components that method proposed.

KEYWORDS: Primary Attention. Health Administration.Education. Continuing.

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LISTA DE SIGLAS

PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

CIB Comissão Intergestores Bipartite

CIES Comissão de Integração Ensino- Serviço

EPS Educação Permanente em Saúde

EFSFVS Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia

ESF Estratégia Saúde da Família

CSF Centro de Saúde da Família

PMAQ – AB Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da

Atenção Básica

SSASS Secretaria de Saúde e Assistência Social

UBS Unidades Básicas de Saúde

RMSF Residência Multiprofissional em Saúde da Família

NASF Núcleo de Apoio ao Saúde da Família

eSF Equipes de Saúde da Família

PEEPS Política Estadual de Educação Permanente em Saúde

CGTES Coordenadoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde

UVA Universidade Estadual Vale do Acaraú

SUS Sistema Único de Saúde

TCM Trabalho de Conclusão de Mestrado

CNS Conselho Nacional de Saúde

NEPS Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde

PNAB Política Nacional da Atenção Básica

ACS Agente Comunitário de Saúde

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Esquema ilustrativo dos quatro eixos estruturantes do Sistema Saúde

Escola de Sobral ................................................................................... 37

Figura 2 – Divisão territorial por macroárea de Sobral ............................................ 42

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 - Comparativo entre mapa cognitivo e mapa afetivo................................. 46

Quadro 2- Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do

mapa afetivo .......................................................................................... 57

Quadro 3 - Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro

Fissionais do CSF A. Sobral-Ce, 2016 ................................................. 65

Quadro 4- Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro

fissionais do CSF B. Sobral-Ce. ............................................................ 65

Quadro 5 - Desenhos da roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos pro

fissionais do CSF C. Sobral-Ce. ............................................................ 66

Quadro 6- Sentimentos e qualidade citados pelos profissionais do CSF A ............. 73

Quadro 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B ........... 74

Quadro 8- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF C ........... 75

Quadro 9- Imagens da roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos pro

fissionais ............................................................................................... 76

Quadro 10- Imagens da roda pedagógica conforme respostas dos profissionais .... 80

Quadro 11- Imagens da roda pedagógica conforme respostas dos profissionais .... 84

Quadro 12- Imagens da roda política conforme respostas dos profissionais ............ 86

Quadro 13- Imagens da roda administrativa conforme respostas dos profissionais . 89

Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade So

bral-Ce, 2016. ........................................................................................ 59

Tabela 2- Distribuição dos participantes, segundo categoria profissional e tempo

de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016 ................................................ 62

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SUMÁRIO

1 INTROUDÇÃO ........................................................................................... 12

2 OBJETIVOS ............................................................................................... 20

2.1 Objetivo geral ........................................................................................... 20

2.2 Objetivos específicos ............................................................................... 20

3 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 21

3.1 A roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos ............................. 21

3.1.1 Poderes- o componente gerencial/administrativo e político das rodas ......... 23

3.1.2 Afetos- o componente terapêutico .............................................................. 25

3.1.3 Saberes- o componente pedagógico .......................................................... 26

3.1.4 A roda e sua incorporação no sistema de saúde de Sobral ........................ 27

3.2 Educação permanente em saúde ............................................................ 33

3.2.1 A política nacional de educação permanente em saúde .............................. 34

3.2.2 A trajetória da educação permanente em saúde em Sobral ....................... 36

3.3 Sentidos e significados ............................................................................ 39

4 METODOLOGIA ........................................................................................ 41

4.1 Abordagem do estudo .............................................................................. 41

4.2 Tipologia da estudo .................................................................................. 41

4.3 Cenário do estudo .................................................................................... 42

4.4 Período do estudo .................................................................................... 44

4.5 Participantes ............................................................................................. 44

4.6 Descrição das etapas de coleta de dados .............................................. 45

4.6.1 Apreensão dos sentidos e significados –o mapa afetivo ............................. 45

4.6.2 Elaboração dos instrumentos ..................................................................... 47

4.6.3 Aplicação dos instrumentos ........................................................................ 49

4.7 Análise dos resultados ............................................................................ 51

4.7.1 Análise do conteúdo para a construção de mapas afetivos ................. 53

4.8 Princípios éticos ....................................................................................... 57

5 IMAGENS AFETIVAS DA RODA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCA

ÇÃO PERMANENTE PARA OS PROFISSIONAIS DA ESF DE SOBRAL 59

5.1 Caracterização dos participantes deste estudo ..................................... 59

5.2 Significado(s) da roda da ESF ................................................................. 64

5.2.1 Significações visuais da roda ...................................................................... 65

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5.2.2 Significações da roda a partir das explicações dos desenhos .................... 69

5.2.3. Significações da roda a partir das qualidades e sentimentos expressos

pelos participantes ...................................................................................... 73

5.2.4 Imagens da roda conforme significações construídas pelos participantes .. 76

5.3 Sentidos da roda para seus participantes .............................................. 79

5.3.1 Construção de mapas afetivos pelos profissionais da ESF de Sobral ........ 80

5.3.1.1 Roda pedagógica ....................................................................................... 80

5.3.1.2 Roda terapêutica ........................................................................................ 84

5.3.1.3 Roda política .............................................................................................. 86

5.3.1.4 Roda administrativa .................................................................................... 88

5.3.1.5 Roda fragilidade ......................................................................................... 91

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 92

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 96

APÊNDICE A- INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SIGNIFICADOS

(GRUPO) .................................................................................................. 104

APÊNDICE B- INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SENTIDOS

(INDIVUDUAL) ......................................................................................... 105

APÊNDICE C- ELABORAÇÃO DO MAPA AFETIVO .............................. 106

APÊNDICE D -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECI

DO ........................................................................................................... 107

APÊNDICE E- CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO ........................... 109

ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ..................................... 111

ANEXO- B – DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ORTOGRÁFICA ............ 113

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1 INTRODUÇÃO

Educação Permanente “é um lugar de debate e decisão política e não o

lugar executivo da implementação das ações” (BRASIL, 2004, p.53). Examinando

esta concepção infere-se que a educação permanente configura-se como diretriz de

gestão que perpassa todo o processo de trabalho, não se constituindo em atividades

pontuais e ou direcionadas apenas a uma determinada categoria profissional, por

meio de transmissão de conhecimentos. Configura-se, portanto, em um processo

contínuo de ensinagem1, no qual profissionais e comunidade se envolvem na busca

da consecução de transformação/qualificação de práticas. O que se correlaciona

com o que traz Vygotsky (1984) quando conceitua aprendizagem como uma

experiência social que resulta na aquisição de conhecimentos a partir de um elo

intermediário entre o ser humano e o ambiente, mediada pela interação entre a

linguagem e a ação.

Tendo como base o ensino problematizador e a aprendizagem

significativa, a educação permanente é contrária ao ensino-aprendizagem mecânico.

Se alinha a concepção que orienta-se pela crença de que não existe a educação de

um ser que sabe para outro que não sabe, mas sim a troca e o intercâmbio entre

ambos, exigindo o estranhamento de saberes e a desacomodação com os saberes e

práticas vigentes a fim de entrar em um estado ativo de perguntação (RIOS, et al.,

2010).

Educação Permanente em Saúde é um conceito desenvolvido no campo

da educação para pensar a conexão entre educação e trabalho (SOUZA, et al.,

2008). Tem como ponto de partida a necessidade de se buscar soluções para

problemas vivenciados na prática. Considera que as necessidades de formação e

desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde

das pessoas e população, levando em consideração não somente a necessidade do

território como também as experiências e vivências anteriores de cada profissional e

da equipe em geral (BRASIL, 2009).

1 Termo adotado para significar uma situação de ensino da qual necessariamente decorra a aprendizagem,

sendo a parceria entre professor e alunos, condição fundamental para o enfrentamento do conhecimento,

necessário à formação (ANASTASIOU, 1998).

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Para Merhy (2015), a prática de Educação Permanente ocorre como parte

construtiva do mundo de trabalho em todas as suas dimensões: no campo da

política, da organização e do cuidado, com efeito sobre o próprio trabalhador de um

modo geral. Como uma Escola permanente, esse mundo sempre implica em

processos formativos, em exercício da própria prática de si, conduzindo a formação

de novos conhecimentos, ou atualizando alguns, no ato de cuidar.

Reconhece-se que a Educação Permanente destacou-se no contexto

internacional em cenários industriais com vistas à otimização de resultados de

metas. O cenário brasileiro, convergente com o orientado pela Organização

Panamericana de Saúde, assume novas conotações. Mantém o foco no processo de

trabalho e seus resultados, mas focaliza no trabalhador enquanto sujeito ativo do

processo e agente de mudanças. Tal premissa pode ser visualizada no texto

institucional do Ministério da Saúde do Brasil, ao afirmar que a Educação

Permanente em Saúde visa a transformação das práticas de formação, de atenção,

de gestão, de formulação de políticas, de participação popular e de controle social

no setor saúde (BRASIL, 2004).

Com base neste entendimento, em setembro de 2003, o Ministério da

Saúde, por meio de seu Departamento de Gestão da Educação na Saúde,

apresentou e aprovou, junto ao Conselho Nacional de Saúde, a “Política de

educação e desenvolvimento para o Sistema Único de Saúde (SUS): caminhos para

a educação permanente em saúde” visando à integração entre ensino e serviço,

formação e gestão setorial e desenvolvimento institucional e controle social. Sendo

que, em 2004 implantou a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

(PNEPS), instituída pela Portaria GM/MS Nº 198, de 13 de fevereiro (BRASIL, 2014).

Para Ceccim & Feurwerker (2004), a qualidade da atenção à saúde está

relacionada com a formação de pessoal específico visto que novos enfoques

teóricos e de produção tecnológica no campo da saúde passaram a exigir novos

perfis profissionais.

Para implementação da PNEPS foi idealizado um dispositivo de

pactuação denominado Polos de Educação Permanente em Saúde. Estes se

constituíam em espaços nos quais atores de diversas origens se encontravam e

pensavam a Educação Permanente em Saúde, como em uma mesa de negociação.

Participavam desses Polos, os gestores estaduais e municipais de saúde, as

instituições de ensino com cursos na área da Saúde, os hospitais de ensino, as

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organizações estudantis da área da Saúde, os trabalhadores de saúde, os

conselhos municipais e estaduais de saúde, os movimentos sociais ligados à gestão

social das políticas públicas de saúde e todos aqueles que, de alguma maneira,

estavam envolvidos com as questões de saúde (BRASIL, 2005).

No estado do Ceará, a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovou 04

Polos de Educação permanente, distribuídos nas macrorregiões de saúde. O

município de Sobral sediou o Polo 3, compreendido por 62 municípios (SOUZA, et

al., 2008).

Em 2007, a PNEPS passou por uma revisão, sendo reeditada sob

Portaria Nº 1.996/GM/MS, a qual trouxe novas diretrizes, objetivando disparar um

processo de planejamento que priorizasse e qualificasse as ações do SUS

subsidiando a tomada de decisão por parte do gestor da saúde (BRASIL, 2009).

Nesta, o dispositivo de princípio colegiado que busca integrar formação, gestão,

atenção e controle social é a Comissão de Integração Ensino- Serviço (CIES). O

Ceará conta com cinco CIES de atuação macrorregional e uma CIES estadual

(CEARÁ, 2014).

Se no âmbito nacional registramos estes movimentos, no cenário local, ou

seja, em Sobral vamos encontrar registros de seu protagonismo em desenvolver

estratégias para qualificação dos trabalhadores orientados pelas necessidades

sanitárias, o que viria, mais tarde, ser denominado como ações de educação

permanente (LIMA, 2014).

Para a autora antes referida, a construção de uma proposta de Educação

Permanente em Saúde (EPS) em Sobral foi desencadeada em 1997, concomitante

com o processo de reorganização do Sistema Municipal de Saúde e a implantação

da Estratégia Saúde da Família (ESF), reorientando o Modelo de Atenção à Saúde,

trazendo daí a necessidade de desenvolver competências aos trabalhadores para

atuarem no sistema local de saúde, com ênfase na atenção básica.

Como traz Souza, et al.(2008), representando a institucionalização de um

espaço físico para amparar a EPS dos profissionais de saúde do município de

Sobral e da região norte do Estado do Ceará, foi concebida em 1997 a Escola de

Formação em Saúde da Família Visconde Sabóia (EFSFVS), no intuito de responder

a necessidade de desenvolvimento e aprimoramento dos conhecimentos,

habilidades e posturas dos trabalhadores da ESF. Em 1999, como ação estruturada

desta escola, deflagra-se a primeira turma da Residência Multiprofissional em Saúde

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da Família (RMSF), resultante de uma fértil parceria com a Universidade Estadual

Vale do Acaraú (UVA), a qual se mantém coesa após 15 anos.

A organização dos processos de Educação Permanente, no âmbito do

Sistema de Saúde de Sobral, parte da compreensão de um Sistema de Saúde

Escola, onde cada espaço se configure e desenvolva processos de trabalho em

saúde a partir de permanente reflexão e transformação desses processos (SOUZA,

et al., 2008).

Ao curso destas quase duas décadas, Sobral vem incorporando diversas

estratégias com vistas à interposição da educação permanente enquanto estratégia

de gestão. Recentemente, após ter vivenciado diferentes movimentos de EPS, o

município, ao construir seu plano municipal de EPS, elegeu três estratégias como

orientadoras, a saber: tutoria do sistema saúde-escola, vivências teórico-conceituais

e método de co-gestão (SOBRAL, 2015).

Para Souza, et al.(2008), a tutoria do sistema saúde escola se refere ao

tutor como um profissional que, em permanente interação com as equipes de saúde

da família, tem como papel gerar um processo reflexivo em relação aos processos

de trabalho. Entre as contribuições da tutoria, como dispositivo de educação

permanente, Lima (2014) aponta algumas ações e resultados tais como: a

mobilização e participação da comunidade nas ações coletivas, de territorialização,

de planejamento, de educação em saúde, de controle social; a motivação dos

trabalhadores, sua satisfação e felicidade, seu compromisso e amor ao trabalho; a

criação, ampliação e fortalecimento dos espaços de acolhimento, diálogo, cuidado,

educação permanente e educação popular em saúde.

Os momentos de vivências teórico-conceituais, eleito também como

estratégia no Processo de EPS em Sobral, são traduzidos como uma ação que visa

apoiar o trabalho realizado pelas equipes em um processo de ensino-aprendizagem

a partir da problematização da realidade concreta do processo de trabalho. Esta

estratégia vem possibilitando a discussão dos profissionais de saúde diante da

diversidade e dinamismo do mundo do trabalho e permitindo que cada um dos

profissionais desenvolva um olhar próprio e se coloque pró-ativo diante desta

complexidade. (RIOS, et al., 2010).

A Roda, expressão do método de co-gestão de coletivos, é reconhecida

como uma tecnologia leve para desenvolver a EPS em Sobral. Esta deve ser

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entendida como espaço de diálogo e encontro dos profissionais de diversas

categorias da Estratégia Saúde da Família (ESF) (SOARES, et al., 2009).

Para Campos (2003), a saúde é um campo interdisciplinar. Porém, ainda

que considere como importante o intercâmbio de saberes, o trabalho em equipe não

deve eliminar o caráter particular de cada profissional ou de cada profissão. A co-

gestão é um modo de articulá-los em um campo que assegure saúde à população e

realização pessoal aos trabalhadores. Sugere para isso a utilização do espaço

coletivo da Roda configurado como um arranjo onde exista oportunidade de

discussão e de tomada de decisão e como um lugar onde circulem afetos e vínculos

que são estabelecidos e rompidos durante todo o tempo. É também um espaço para

a elaboração de contrato e de Projeto de Intervenção, bem como de humanização,

alegria e vínculo, objetivando, portanto o fortalecimento do coletivo.

O método propõe que sejam trabalhados no coletivo os componentes

administrativos, político, pedagógico e terapêutico, com o intuito de fomentar o

exercício da participação com maior democratização nos processos de decisão,

constituindo, ao mesmo tempo, espaços de ensino-aprendizagem, de elaboração e

de organização de processos de trabalho e de atenção às subjetividades, desejos

e relações interpessoais.

A adesão a este método no município de Sobral se deu, a partir de agosto

de 2001. Partiu do pressuposto que não bastava ampliar a assistência à saúde, mas

repensar os processos de trabalho em saúde diante as mudanças na organização e

gestão, com o fim de torná-los mais eficazes, eficientes e resolutivos (PAGANI,

2007).

Para sua implementação, ocorreu o Encontro das Rodas de Saúde de

Sobral, sendo o primeiro em 2001, com todos os profissionais para sensibilização e

socialização da proposta. A partir deste, passaram a acontecer encontros semanais

e, em 2003, na perspectiva de avaliação dos primeiros dois anos de sua

implantação, ocorreu um segundo encontro, tendo uma análise positiva e uma

intensificação pelo município desse novo modelo de co-gestão (PAGANI, 2007).

Assim, cada Centro de Saúde da Família (CSF) incorporou na sua

dinâmica de trabalho a roda. Esta ocorre semanalmente, às quintas-feiras no horário

a partir das 13h30min, com a presença de todos os profissionais do CSF, e duração

média de 3 horas. Utiliza o espaço físico da própria Unidade de Saúde. A roda

vivenciada no interior dos CSF assume diferentes singularidades a partir das

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equipes, no entanto, passamos a descrever a partir de nossa vivência a estratégia

metodológica que tem norteado nossa prática. A roda é demarcada em quatro

momentos: no Primeiro momento é realizado o acolhimento do coletivo,

cotidianamente denominado de “dinâmica e/ou reflexão”, no segundo momento se

constitui um espaço de socialização de informações ou “informes”, em seguida, são

acordados os itens de pauta e por ultimo uma rápida escuta como pretensa

avaliação, seguida de lanche solidário.

Desde 1999 atuando como enfermeira na Atenção primária a Saúde em

alguns municípios do estado, observei que, em nenhum destes se utilizava o método

da roda ou qualquer outro espaço em que tivéssemos a oportunidade de discutir o

processo de trabalho, dificultando na condução do processo de trabalho, por não se

ter um espaço de co-gestão.

Ao ser inserida no sistema de saúde de Sobral, em 2001, me deparei

com tal experiência, o que me causou encantamento. Passei por 2 outras unidades

de saúde até chegar na que me encontro agora, e a vivência tem sido de uma

constante avaliação, construção e reconstrução desse espaço.

Atuando, desde outubro de 2013, como gerente do CSF Alto da Brasília,

temos, em equipe, experimentado e reconstruído esse espaço, de forma que,

vivenciamos a dinâmica de, semanalmente, trazemos temas que nos permitem

aprofundar de forma mais direcionada cada componente proposto pelo método.

Dessa forma, contemplamos, na primeira semana de cada mês, um momento de

alinhamento teórico-conceitual onde, a partir da avaliação dos indicadores realizada

no mês anterior, identificamos a necessidade de discutir sobre alguma temática; na

segunda semana denominamos de roda de avaliação de indicadores e registro de

gráfico, conforme sugerido pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da

Qualidade da Atenção Básica (PMAQ – AB), e cada equipe discute a situação atual

dos indicadores e metas a ela imputada, definindo, a partir daí, a temática para

alinhamento teórico do mês seguinte, segundo necessidades de aprendizagem; na

terceira semana, baseados nos indicadores e no que foi acordado no planejamento

anual da equipe, realiza-se o planejamento estratégico para o mês seguinte e, por

fim, na quarta semana, vivenciamos o que denominamos de “Roda Terapêutica”,

momento em que primamos pelo cuidado com os vínculos e relações interpessoais.

Vale ressaltar que essa estrutura foi construída e pactuada entre a equipe, que tem

aderido, buscando primar e aprimorar cada dia mais, com a finalidade de fazer com

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que esse momento de alinhamento e organização dos processos de trabalho

possam fazer-se refletir na melhoria do cuidado e qualidade de vida da comunidade

que está sobre a nossa responsabilidade sanitária.

Apesar de utilizarmos tal divisão por temas, esta disposição somente

organiza as discussões sem prejuízo na utilização dos componentes propostos pelo

método em todas as rodas, visto que esse é sempre um momento que oportuniza a

equipe a criação de vínculos, discussão do processo de trabalho e de demandas

administrativas, bem como de aprendizagem significativa, o que não se contempla

apenas nas rodas direcionadas ao estudo de determinada temática, já que o

conhecimento é construído na discussão e construção do cotidiano.

No entanto, tenho refletido e inferido que, nem sempre usufruirmos do

potencial que este espaço pode ter na direção de transformação dos processos de

trabalhos. Reconhecê-lo, também, como um processo de ensinagem que contribua

para o desenvolvimento dos trabalhadores é relacioná-lo aos pressupostos da

educação de adultos. Entende-se que a roda pode gerar aprendizagem crítica a

partir do significado que este processo possa ter, junto aos trabalhadores.

Visualizar a roda como estratégia de educação permanente em saúde

requer o envolvimento de todos e um examinar acurado para o interior de nossos

processos de trabalhos. Situação que é desafiadora, uma vez que seu brilho muitas

vezes é ofuscado diante da grande demanda de informes ou inabilidade do coletivo

de atribuir sentidos e significados a este momento.

Para Silva e Sousa (2010), apesar do método já ser utilizado há algum

tempo em Sobral e de trazer uma estrutura definida, “a dinâmica desta roda varia

entre os CSF, haja vista que cada unidade tem sua forma de condução devido a

seus arranjos profissionais”. Em muitas situações, esse espaço tem se restringido

apenas como momento de repasse de informações, sem a participação e

envolvimento da equipe, reduzindo a capacidade de co-gestão pela equipe e

deixando de ser um dispositivo de co-gestão de coletivo para tornar-se um espaço

instituído formal, não muito diferente de qualquer outro espaço administrativo.

Gomes et al (2013), em trabalho intitulado Retrato das Rodas na

Estratégia Saúde da Família em Sobral-CE, relatou que, em sua maioria, as rodas

apresentem tímidas ações de planejamento, sem no entanto, se ater a avaliação.

Constatou ainda que, o processo é fragilizado, uma vez que não articula os

componentes político, pedagógico, gerencial e terapêutico.

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Direcionando o olhar para a vivência atual, trago o questionamento de

como a Roda, enquanto dispositivo de co-gestão, tem se configurado como uma

estratégia de Educação Permanente. Indaga-se, quais sentidos e significados a

Roda traz para a qualificação da práxis na ESF. Estes questionamentos se justificam

a partir da reflexão de Merhy (2015) de que é preciso aguçar a possibilidade de se

reconhecer o mundo do trabalho como um processo constitutivo, que em si já é uma

escola de formação, das mais fundamentais.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar os sentidos e significados da Roda enquanto estratégia de

Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce.

2.2 Objetivos específicos

Identificar elementos de EP nas vivências da roda, no interior da ESF de

Sobral;

Compreender os sentidos e significados da roda para os profissionais da

ESF de Sobral;

Examinar as potencialidades e limitações da roda enquanto dispositivo de

EP.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

Este capítulo foi desenvolvido enfocando as três categorias conceituais

que ancoram o estudo: Roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos; Educação

Permanente em Saúde; e os Sentidos e Significados na perspectiva da escola

Vygotskyana.

3.1 A Roda enquanto dispositivo de gestão de coletivos

Fazer Saúde Coletiva é fazê-la com as pessoas e não sobre elas.

Produzir-se um aumento da capacidade de análise e de intervenção dos

agrupamentos humanos, melhorando a sua capacidade de reconhecer uma situação

sanitária, de identificar os determinantes envolvidos e, ampliar as possibilidades de

intervenção sobre o quadro considerado nocivo é o labor da saúde coletiva. “Saber

sobre os problemas e agir sobre eles. Saber e fazer” (CAMPOS, 2003. p. 23)

Nasce dessa necessidade, um método de agir denominado pelo médico

sanitarista Gastão Wagner de Roda ou Paidéia que propõe um desenvolvimento

integral de pessoas e configura-se como um espaço de politização da gestão, uma

vez que traz a ideia permanente de co-produção e construção de autonomia dos

sujeitos, visando assim a democratização das relações de poder, constituindo-se

também como espaço de ensino-aprendizagem, de elaboração e de organização de

processos de trabalho e de atenção às subjetividades, desejos e relações

interpessoais.

“Paidéia significa desenvolvimento integral das pessoas; um passo adiante em relação ao “Agir Comunicativo”. Não somente melhorar a informação, mas também assegurar a capacidade de compreensão e de decisão aos vários setores envolvidos em um projeto, e, além disso, preocupar-se com a construção de novos padrões de relação entre as pessoas.” (Campos, 2003. p.25)

A criação desses espaços coletivos de co-gestão entre sujeitos

implicados com algum projeto ou algum interesse ou tarefa comum traz o desafio de

que, gestão e planejamento assumam a tarefa de trabalhar não somente a produção

de coisas, mas também a constituição de pessoas e de coletivos organizados,

repensando e resignificando o trabalho não apenas com a finalidade de assegurar o

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sustento material, mas também implicado com a constituição de pessoas e de sua

rede de relações (CAMPOS, 2005).

Nestes espaços de co-gestão, como nos traz Cunha e Campos (2010), se

faz necessário a utilização do instrumento de co-produção que possibilita a

transformação do sujeito, a partir da composição e da construção de um

conhecimento singular e novo, sem negar os recortes disciplinares, sem deixar de

fazer escolhas e definir prioridades.

“É por isto que o Método Paidéia, também conhecido como método da roda, sintoniza-se com muitas tradições libertárias da educação e da política ao apontar que: ninguém sai da roda (de co-gestão) da mesma forma que entrou” (CUNHA E CAMPOS 2010. p.36).

A mudança simultânea concreta dos sujeitos que habitam estes espaços

a partir da reconstrução das estruturas, saberes, normas e valores trazem uma

crítica ao Taylorismo2. Porém o método não se atém a isso e pensa novos modos

para analisar e operar Coletivos Organizados para a Produção, reconstruindo os

arranjos estruturais, as linhas de produção de subjetividade e os métodos de gestão,

tratando de combinar compromisso social com liberdade (CAMPOS, 2005).

Entendendo sujeito como um ser biológico com um grau relativo e variável

de autonomia para realizar desejos, interesses e necessidades, no entanto, imerso

na história e na sociedade, e o Coletivo Organizado para a Produção como uma

rede de relações entre os sujeitos que a compõem e destes com o contexto, o

método objetiva o aumento da capacidade de análise e intervenção, lidando com as

forças internas e externas, reinventando-se. “Produzir-se no processo de produção”

(CUNHA E CAMPOS 2010. p.36).

“Essa educação para a vida teria como escola a própria vida, mediante a construção de modalidades de co-gestão, que permitam aos sujeitos participarem do comando de processos de trabalho, de educação, de intervenção comunitária e, até mesmo, do cuidado de sua própria saúde”(CAMPOS 2006. p.30).

2 Taylorismo sistema de organização do trabalho concebido pelo engenheiro norte-americano Frederick

Winslow Taylor, com o qual se pretende alcançar o máximo de produção e rendimento com o mínimo de tempo e de esforço.

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Como um método de co-gestão de coletivos que supõe que em todos os

espaços institucionais estão em jogo os poderes, os afetos e os saberes, Gastão

Wagner propõe que a Roda deve conter os componentes administrativo, político,

pedagógico e terapêutico.

3.1.1 Poderes - o componente gerencial/administrativo e político das rodas

A roda traz consigo um componente gerencial por constituir-se como um

espaço democrático onde se discutem as rotinas do grupo, bem como se definem e

redefinem as ações de forma coletiva (BRANDÃO, 2006).

Este espaço permite o envolvimento das bases das Organizações com a

discussão e definição de objetivos, do objeto e dos métodos de trabalho, partindo da

elaboração de temas relacionados ao trabalho e construindo, a partir deles, sentidos

e significados para os Coletivos. Nesta são criados fluxos de idéias, de debates, de

negociações e de compromissos que contribuem para o desenvolvimento das

pessoas e agrupamentos, implicando assim no sucesso da instituição. “Discutir o

umbigo e o mundo” (CAMPOS, 2005. p. 51).

Para Gastão Wagner Campos (2005), o meio de produzir esse fluxo

viabiliza-se quando todos os membros do Coletivo se reúnem periodicamente no

próprio local de trabalho para repensar o próprio trabalho e sugerir rumos para a

organização como um todo, bem como para as suas relações com a sociedade,

exercendo-se assim formas compartilhadas de direção.

Ver-se então a importância de se trabalhar no coletivo a idéia de

construção e respeito mútuo, como nos traz Gastão Wagner quando diz:

“Privilegia-se a noção de Co-Gestão considerando a existência legítima de outros agrupamentos de interesse... Aprender a discordar e a divergir da formulação alheia sem desconsiderar cabalmente a pertinência de parte das reivindicações alheias; sem projetar a destruição de todos os diferentes da ordem vigente”(CAMPOS 2005. p.158).

Com a finalidade de fazer valer suas decisões, o colegiado deve cumprir

determinações democraticamente compostas e, em caso de desacordo, só se

deverá modificar o que antes resolvera, depois de experimentar por algum tempo a

ação e reavaliá-la criticamente (CAMPOS 2005).

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Portanto, a tarefa da co-gestão seria viabilizar contratos e compromissos

sempre provisórios e sujeitos a revisão entre estes atores, possibilitando alguma

viabilidade aceitável do ponto de vista de cada um deles (CUNHA E CAMPOS

2010).

Neste intuito, Campos (2003) reforça a necessidade de se reconhecer a

diferença de papéis, de poder e de estabelecimento, buscando estabelecer relações

construtivas, com formas democráticas para coordenar e planejar o trabalho,

devendo envolver os próprios avaliados tanto na construção dos diagnósticos como

na elaboração de novas formas de agir.

Ao reconhecer que toda gestão é produto de uma interação entre

pessoas, faz-se necessário que o gerente da unidade de saúde assuma o papel de

apoiador com a necessidade de colocar-se na roda, buscando incluir-se ativamente

no processo.

”A proposta de equipe de referência parte do pressuposto de que existe uma interdependência entre os profissionais da equipe e prioriza a gestão do time referenciado a uma clientela. Uma das funções importantes da coordenação da equipe é justamente cuidar da construção de uma interação positiva entre os profissionais, construindo objetivos e objetos comuns, apesar das diferenças (e não contra as diferenças)” (CUNHA E CAMPOS, 2010. p.41)

Finalmente, o método procura organizar-se como instância de gerência

propriamente dita, “comprometida com a operação concreta do cotidiano, a exemplo

da gestão de processos de trabalho, de correção de problemas, de redefinição de

rumos e etc.” (CAMPOS 2005. p.158).

Quanto ao componente político, o método substitui as hierarquias e os

papéis sociais, garantindo uma comunidade reflexiva e solidária (BRANDÃO, 2006),

politizando a gestão por reconhecer os conflitos e buscar não moralizar os

interesses em jogo e apostando na ideia de que é possível não ignorar os interesses

dos trabalhadores entendendo este tipo de organização apenas como uma

construção histórica dentre outras possíveis e não como sendo de arranjo

necessário (CUNHA E CAMPOS 2010).

Campos (2005) nos alerta de que o método trabalha com a ideia de

organização de redes de poder co-gerido, compartilhado, e não exercido de forma

solitária e isolada, entendendo que, mesmo os com menos poder, desde que

tenham habilidade para reconhecer a correlação de forças ou o principio de

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realidade, são capazes de inventar modos para fazer avançar os próprios projetos e

articulá-los aos de outros agrupamentos, formando blocos potentes para operar em

contextos antes tidos como desfavoráveis.

Entende-se, portanto, que o método, por possibilitar ao trabalhador de

saúde que se reconheça como “co-autor” de um projeto construído que propõe o

desenvolvimento de um trabalho coletivo por meio de decisões participativas,

vivenciem o trabalho em equipe de maneira a canalizar energias para o alcance de

melhores resultados, sendo estimulados a realizarem “ações respaldadas na

responsabilidade, liberdade e criatividade, em meio a um clima organizacional volta-

do para motivação, inovação e introdução de novos valores para tomada de

decisões” (XIMENES NETO, 2007. p.313).

Sawaia apud Bomfim (2010) afirma que os afetos podem libertar o

indivíduo das imposições e do conformismo, dependendo da sua capacidade de

transformar paixões em ações.

3.1.2 Afetos - o componente terapêutico

Ao contemplar o componente terapêutico, Brandão (2006) ver a Roda

muito mais do que uma mera reunião de pessoas, mas antes disso, um bom

encontro de sujeitos, e que esse bom encontro ocorre quando a afetividade resulta

em alegria capaz de fortalecer a potência de ser em cada indivíduo.

Diz-nos,também, que esse espaço da roda condiz com o ponto de vista

de Vygotsky quando aborda a não dicotomia entre pensar, sentir e agir, pois, ao

sentarem em círculos, as pessoas têm a oportunidade de olharem-se diretamente,

discutirem seus problemas comuns e confrontarem suas diferentes visões do mundo

e de si, com uma educação voltada “não apenas para a aprendizagem, mas capaz

de transcender a indiferença que marca a sociedade moderna” (BRANDÃO, 2006.

p.3), construindo vínculos e desenvolvendo uma solidariedade que refletirá no ato de

fazer.

“Quando a Roda acontece a busca da paixão é substituída pela paixão da busca, porque ideia e sentimentos não estão dissociados.É, portanto, importante que a Roda tenha um momento de clínica das paixões, cujo único objetivo é fomentar alegria no simples ato de estar no grupo. Os vínculos grupais conquistados ajudam a fazer do coletivo um espaço nutritivo e, por assim dizer, fortalecem a autopoiésis da equipe”.(BRANDÃO, 2006)

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Este momento terapêutico permite tanto desenvolvimento das relações

interpessoais da equipe como, também, o crescimento individual de cada um dos

participantes e é extremamente necessário para a criação de vínculos entre os

profissionais da equipe.

Campos (2003) diz que vínculo é a circulação de afeto entre as pessoas e

que o manejo adequado deste vínculo apóia o grupo a enxergar a própria impotência

e a descobrir novas maneiras de enfrentar velhos problemas. Para ele, a roda é um

lugar onde circulam esses afetos e esses vínculos que são estabelecidos e rompidos

durante todo o tempo, e o componente terapêutico é a forma de realizar o manejo

destes.

3.1.3 Saberes - o componente pedagógico

A Roda, também, tem seu componente pedagógico, uma vez que objetiva

o estudo e a aprendizagem significativa e esse componente acontece de forma

transversal por todos e em todos os momentos de sua realização.

Merhy (2015) diz que o agir em si provoca uma formação do próprio

coletivo e, mesmo sem ser visto, esse movimento vai acontecendo como prática e

com seus efeitos “sem que precise ser denominado como processo formativo para

ser de fato lugar de formação” (MERHY, 2015. p.9).

O método busca construir condições favoráveis para a reflexão sobre a

atuação dos sujeitos no mundo, procurando sempre meios para que essa reflexão

rebata sobre a imagem que os sujeitos têm de si mesmos, produzindo-se no

processo de produção e reinventando-se, sem negar forças internas e externas, mas

justamente lidando com elas (CUNHA E CAMPOS, 2010).

Possibilit, com isso, a composição e a construção de um conhecimento

singular transdisciplinar nas equipes multiprofissionais, constituindo-se assim como

um processo de co-produção que pretende estabelecer contratos entre os

envolvidos, de forma a permitir que a abordagem das questões relativas à clínica e à

gestão possa ser construída considerando os diferentes saberes e interesses

(CAMPOS et al. 2014).

Este compartilhamento de saberes, competências e responsabilidades se

faz de extrema importancia para o trabalho em equipe, levando em conta os

conceitos de núcleo e campo. Falando em núcleo, nos voltamos pra os saberes,

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práticas e responsabilidades peculiares de cada categoria profissional enquanto que,

o campo é o lugar que independe da categoria profissional, onde se sobrepõem os

limites entre cada especialidade, formando um espaço de interseção de saberes e

práticas, de interdisciplinaridade (CAMPOS et al., 2014).

O agir Paidéia traz então um desafio que é o de “propiciar um

aprendizado vivencial auto-analítico que crie possibilidades, inclusive, de aprender a

sentir diferente” (CUNHA E CAMPOS, 2010. p.40).

3.1.4 A roda e sua incorporação no sistema de saúde de Sobral

Em 1997, a partir da realização de um diagnóstico de saúde que

aconteceu com um Seminário de Planejamento Estratégico Participativo organizado

pela então Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Saúde, iniciou-se a

construção do Sistema Municipal de Saúde de Sobral com um conjunto de serviços

coordenados pela gestão local, distanciando-se do modelo vigente até então, que

era centrado em ações curativas e em serviços hospitalares (ANDRADE, 2004).

Incitado por essas mudanças, o município de Sobral foi aperfeiçoando

diversos aspectos no sistema de saúde e, em agosto de 2001, realizou o I Encontro

das rodas e implantou o modelo de gestão baseado nos princípios da co-gestão de

coletivos tendo como dispositivo principal o método da roda. Este objetivou

promover a autonomia das pessoas e grupos, fomentar os processos de democracia

institucional e de descentralização de poder, criando espaços para a participação de

profissionais e usuários nos processos de trabalho e de gestão (PAGANI, 2004).

Inicialmente, a roda acontecia em um encontro semanal com toda a

equipe técnica e os profissionais com formação universitária do então PSF,

realizados na terça-feira, à noite, em substituição ao período de trabalho da sexta-

feira à tarde.

A partir dessa metodologia, a então Secretaria de Saúde e Assistência

Social (SSASS) instituiu as Rodas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) formadas

por todos os seus trabalhadores; o colegiado de gestão da SSASS formado por

todos os seus coordenadores; como também a Roda dos gerentes dos serviços que

dão suporte à ESF (PINTO et al., 2008).

No intuito de melhor conhecer esta experiência vivenciada em Sobral,

realizou-se uma busca na literatura a respeito do tema, partindo da consulta nos

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arquivos da revista SANARE, na biblioteca do Campus do Centro de Ciências em

Saúde e arquivos da Comissão Científica do curso de Enfermagem, biblioteca da

EFSFVS, bancos de teses e dissertações da Universidade Federal do Ceará e

banco de dissertações da RENASF/FIOCRUZ.

Dessa forma, identificamos a produção de 5 trabalhos escritos

discorrendo sobre a dinâmica das rodas no município de Sobral os quais

discorreremos a seguir:

O primeiro deles, escrito por Soares et al (2007), intitulado de Co-gestão

de coletivos: o movimento das rodas nos Centros de Saúde da Família de um

município do interior do Ceará, Brasil - identificou que a roda acontecia nas

unidades de saúde, em espaços com boa iluminação e ventilação razoável, na sala

destinada a educação em saúde e, em unidades que não possuem esse espaço

específico, ocorrem nos consultórios ou, ainda, quando necessário, utilizam-se os

espaços comunitários (SOARES et al, 2007).

Neste período específico, por conta dos processos de educação

permanente que acontecia quinzenalmente para os enfermeiros, odontólogos e

médicos da atenção básica do município organizado pela EFSFVS e SSAS que

aconteciam, também, no mesmo dia e horário, intercalavam às quintas-feiras, à

tarde, quinzenalmente, com horário que variava entre 13h30min às 17h00. No

horário em que a Roda acontece não há atendimento direto aos usuários, ficando na

maioria das vezes, um funcionário para fazer o acolhimento, quando necessário

(SOARES et al., 2007).

A quantidade de pessoas que participava das rodas variava entre quinze

a sessenta participantes, a depender do CSF, fato este que dificultava, segundo

Soares et al. (2007), “o processo de construção coletiva e de pactuações, pois

necessita contar com a conscientização das pessoas e de uma metodologia que

propicie à participação e construção de consensos”. Acrescentam ainda que era

possível observar muitas conversas paralelas bem como posturas de desinteresse

de um número considerável de pessoas. A participação ativa era minoria.

Os autores apresentaram a necessidade de organizar melhor o tempo

destinado aos informes, cuidando para que os mesmos não se transformem em

pautas e que seja estimulado, a partir dos conteúdos trazidos, reflexões sobre

políticas de saúde, planejamento e avaliações das ações de saúde. Quanto à

metodologia é sugerido que seja aquela que favoreça a exposição de ideias por

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todos, visto que alguns sujeitos expressaram que a manifestação através da fala

deveria acontecer mais (SOARES et al., 2007).

Identificamos também o artigo: “A roda como espaço de co-gestão da

residência multiprofissional em saúde da família do município de Sobral –

Ce”., escrito por Silva e Sousa (2010). Trata-se de um relato de experiência que

propõe descrever e refletir sobre o método da roda nos diversos espaços coletivos

da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) bem como no

cotidiano dos serviços de saúde. Este artigo teve como fonte de coletas o diário de

bordo que continha as percepções vividas pelos autores durante o período em que

fizeram parte da Residência durante o período de 2008 a 2010.

Concluíram que a roda tem sido um dispositivo que tem fomentado a

participação de forma dialógica, reflexiva e construtiva de processos de trabalho,

sendo de extrema importância a garantia desse espaço para o exercício da

participação e do fomento às relações interpessoais através da convivência

saudável. Destacam, ainda, a percepção da construção de práticas e saberes

despertada a partir dos encontros de categorias e de equipes multiprofissionais

(SILVA E SOUSA, 2010).

Porém, foram identificadas algumas lacunas como a necessidade de

revitalização das rodas a partir da EPS com o coletivo de gerentes com abordagens

em metodologias ativas e valorização das experiências, além de reforçar sobre a

estrutura do método da roda (administrativa, política, pedagógica e terapêutica)

ressaltando o caráter pedagógico na superação da lógica tradicional de formação

(SILVA E SOUSA, 2010).

Em 2012, Brasil et al fez a: “Análise das contribuições do método da

roda no gerenciamento de um Centro de Saúde da Família”. Colheu através do

auto-relato estruturado, as falas dos trabalhadores de saúde de duas equipes

multidisciplinares do CSF Maria Adeodato bem como Núcleo de Apoio a Saúde da

Família (NASF) 5 e profissionais da RMPSF inseridos na equipe, sobre o método da

roda. O estudo foi realizado no período de outubro de 2006 a janeiro de 2007 e

objetivou analisar as contribuições proporcionadas pelo método da roda no

gerenciamento de um CSF (BRASIL, 2012).

Identificaram com as falas dos sujeitos que a roda é interpretada como

uma reunião para tomada de decisões onde se debatem, problematizam, buscam

opiniões e soluções no enfrentamento do desenvolvimento das ações de prevenção

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às doenças e à promoção da saúde, de forma individual, coletiva e institucional além

de assegurar a resolução de conflitos e a elaboração de contratos, projetando-se

reformas estruturais e funcionais de caráter democrático em conformidade com a

proposta de plano político-social do método (BRASIL et al., 2012).

Registraram que, aquelas ocorriam em espaço fechado, cuidando da

proteção das falas e criando uma circulação de afeto e confiança entre os

participantes. Tendo duração aproximada de 2 a 3 horas. Concluíram que a roda

possibilita que o trabalhador da saúde se reconheça como autor do projeto

assistencial que está sendo construído, resgatando seu papel de sujeito e

aumentando a taxa de felicidade e de realização profissional estando em sintonia

com o que é proposto por Gastão Wagner Campos (BRASIL et al., 2012).

Gomes et al. Realizaram, em 2013, uma análise dos espaços de roda nos

CSFs de Sobral em trabalho intitulado: “Retrato das Rodas na Estratégia Saúde

da Família em Sobral-Ce: espaço de planejamento e construção de coletivos”.

A coleta de dados deu-se por meio da técnica de observação participante realizada

em 14 CSFs, com duração de um mês em cada CSF, e utilizou como instrumentos o

roteiro de observação e os registros do diário de campo.

Identificaram que as rodas continuam acontecendo em todas as unidades,

as quintas-feiras, no período da tarde, com duração média de 3 horas, nos próprios

CSFs. Referiram que a metodologia está estruturada em quatro etapas: 1. Momento

dinâmico e/ou reflexivo (71% dos CSFs); 2. Repasse de informes (100% dos CSFs);

3 Discussão das pautas apresentadas (100% dos CSFs) e 4. Lanche e distração

(58% dos CSFs) e, em alguns CSFs o momento 3 é conduzido por cuidadores

(GOMES et al 2013).

Detectaram, também, que, as ações de planejamento, acontecem de

forma pontual e desarticulada, não contemplando as etapas de definição de metas e

avaliação, fragilizando o processo, porém sendo de grande importância por abrir

espaço para os profissionais expressarem suas opiniões, possibilitando a formação

de compromisso, a elaboração e gestão de contratos de Projetos (GOMES et al

2013).

Ponte (2013), em sua dissertação de mestrado escreveu sobre o assunto

em: “Do dispositivo ao instituído: O Método da Roda em Sobral-CE promove a

Co-Gestão de Coletivos?”. Esta pesquisa objetivou analisar o método em Sobral-

CE, enquanto promotor de espaços de co-gestão, averiguando entre os

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trabalhadores e Sistema Municipal de Saúde, e descrever os componentes

gerencial, político, pedagógico e terapêutico que são implementados nas rodas dos

CSF.

Os atores sociais desse estudo foram os trabalhadores da saúde que

compunham dois CSF, os Gerentes dos CSF e um gestor da Atenção Primária da

SSASS. Os CSF escolhidos foram o primeiro a implantar o método da roda e o CSF

com maior número de equipes. Adotou como técnicas da coleta de dados entrevistas

(individuais e coletivas semi-estruturadas) e a observação sistemática (PONTE,

2013).

A referida autora constatou em sua observação que a lógica Taylorista

continua imperando nestes espaços, sem diferenciar-se de uma reunião

administrativa qualquer com o predomínio do componente administrativo em

detrimento do político, pedagógico e terapêutico.

“As decisões vem a nível central da gestão ( secretaria da saúde e/ou de outras instituições parceiras da prefeitura), unidirecionada, com os profissionais de níveis técnicos intermediários, responsáveis pela supervisão (Coordenador/ Enfermeiro/ Gerente), e controle (indicadores de saúde e entrega de planilhas, etc) e o trabalhador atuando na execução, numa lógica não-espontânea, com base em estímulo moral.” (PONTE,

2013.p.96).

Percebeu, também que, ainda, é incipiente a ocupação deste espaço pelo

trabalhador que poderia utilizá-lo para construção de novos fluxos de gestão e

fortalecimento político, tencionando a gestão por novos modelos de organização do

sistema, avaliação e monitoramento de indicadores locais de saúde, como, também,

avançar nas discussões de desprecarizações de seus vínculos (PONTE, 2013).

Outro destaque feito por este estudo foi a precária infraestrutura do espaço em

que acontecem as rodas, sem boa ventilação e com superlotação, o que ocasiona

dispersão pelo incômodo e pela dificuldade na escuta por conta de conversas

paralelas (PONTE, 2013).

Refletindo, a partir da visão dos trabalhadores, a autora conclui que o

espaço da roda constitui um excelente dispositivo de gestão, mas tornou-se, com o

tempo, algo instituído e enfraquecido pelos sujeitos que o compõem devendo-se

internalizar novas práticas, visando não continuar reproduzindo novas formas de

submissão, fragmentação e alienação (PONTE, 2013).

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32

E, por fim, trago o que Brandão (2006) escreveu em “A roda como

espaço de recriação da universidade” apesar de ter sido produzido anteriormente

a alguns estudos aqui mencionados, traduz uma imagem objetiva do que deve ser a

roda. Além de ter sido a única referência, ao nosso encontro, que relaciona o espaço

da roda como dispositivo de educação permanente, coadunando com o objeto de

nosso estudo.

Trata-se de um relato de experiência, a partir da observação de uma roda

vivenciada em uma unidade de saúde do distrito de Patriarca, Sobral-CE, em que o

autor discorre cuidadosamente todos os momentos daquela tarde de quinta-feira,

numa pequena casa onde funcionava a unidade de saúde e, pelo menos, uma vez

por semana, todos paravam suas atividades corriqueiras de atendimento para

discutir sobre suas rotinas e sobre a vida daquele grupo.

O relato detalha a acolhida dos profissionais realizada por uma Agente

Comunitária de Saúde tendo como fundo musical uma ciranda, constituindo, em sua

visão, um forte elemento de coesão grupal. Continua descrevendo que, logo em

seguida, foi proposto um momento de estudo feito de forma criativa conduzido pelo

profissional dentista, conforme tema pactuado em reunião anterior. Para finalizar, a

gerente da unidade de saúde convidou os participantes a problematizar sobre o

tema debatido. Nesse momento, cada um expôs o seu ponto de vista, apresentando

aspectos positivos ou negativos e elaborando um plano de ação, em parceria com

as escolas e outras organizações existentes no lugar. Concluído o encontro, “a

cozinheira da unidade propôs uma dança circular, de modo que todos pudessem

vivenciar a alegria de estar no grupo, pela flexibilidade do movimento e pelo prazer

inefável do transe musical” (BRANDÃO, 2006.p.2)

Para este autor, o fato das pessoas sentarem-se em roda possibilita a

troca de olhares, a construção de vínculos e desenvolve, assim, uma solidariedade

que também existirá no ato de fazer, fazendo da roda não apenas uma mera reunião

de pessoas, mas um bom encontro de sujeitos quando a “afetividade resulta na

alegria, entendida aqui como sentimento duradouro, capaz de fortalecer a potência

de ser em cada indivíduo” (BRANDÃO, 2006.p.2).

O autor reconhece a importância de todos os componentes da roda,

identificando dentre estes, como vital o espaço de educação permanente:

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“Ainda que o estudo individual seja imprescindível na nossa formação, é igualmente relevante fomentar a reflexão coletiva sobre a realidade que nos cerca. A Roda de estudo ajuda, por um lado, a alinhar conceitos e, por outro, a construir um forte compromisso entre os participantes do grupo”. (BRANDÃO, 2006.p.3)

Atualmente esses espaços se mantêm, especialmente, nas equipes de

Saúde da Família (eSF), e tem sido alvo de avaliações e discussões por parte da

coordenação e conselho gestor de gerentes, a fim de buscar o aprimoramento da

metodologia na prática das equipes de saúde, e constitui-se como um instrumento

valioso de co-gestão e co-participação dentro do sistema de saúde do município.

É neste clima dialógico, de participação, de troca de saberes, valorizando

o espaço como incentivador de reflexões e de discussões que o coletivo se

empodera, visto que somos, ao mesmo tempo, aprendentes e educadores.

3.2 Educação permanente em saúde

Tradicionalmente a formação para trabalhadores é vista como se estes

pudessem ser administrados como um dos componentes de um espectro de

recursos, como os materiais, financeiros, infraestruturais, dentre outros. Está

embutida nesta concepção a ideia prescritiva de habilidades, comportamentos e

perfis aos trabalhadores para que as ações e os serviços sejam implementados com

a qualidade desejada (CECCIM, 2005).

Para o mesmo autor, as reformas setoriais em saúde trazem a

necessidade de dar à formação um lugar central, ao invés de secundário ou de

retaguarda, sendo a Educação Permanente uma estratégia fundamental para a

recomposição das práticas de formação, atenção, gestão, formulação de políticas e

controle social no setor da saúde, estabelecendo ações intersetoriais oficiais e

regulares com o setor da educação.

Ceccim (2005) diz que o papel das práticas educativas deve ser crítica e

incisivamente revisto para que almeje a possibilidade de pertencer aos

serviços/profissionais/estudantes a que se dirigem, de forma que os conhecimentos

que veiculam alcancem significativo cruzamento entre os saberes formais previstos

pelos estudiosos ou especialistas e os saberes operadores das realidades – detidos

pelos profissionais em atuação – para que viabilizem autoanálise e, principalmente,

autogestão. Daí a necessidade de se implementarem espaços de discussão, análise

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e reflexão da prática no cotidiano do trabalho e dos referenciais que orientam essas

práticas.

Sendo assim, para ocupar o lugar ativo da EPS, o autor antes referido nos

traz a necessidade de abandonarmos (desaprendermos) o sujeito que somos, por

isso, mais que sermos sujeitos (assujeitados pelos modelos hegemônicos e/ou pelos

papéis instituídos) precisamos ser produção de subjetividade.

Para tal, necessita tornar-se sensíveis e abertos a serem arrancados do

instituído e abrir-se para as situações vivenciadas no dia-a-dia do mundo do

trabalho, permitindo um movimento que procure reconhecer os fatos e

acontecimentos como processo formativo, a fim de tornarem-se, de fato, um espaço

de formação, colocando-nos em permanente e contínua produção.

3.2.1 A Política nacional de educação permanente em saúde

Em 2004, o Ministério da Saúde implantou a PNEPS, instituída pela

Portaria GM/MS Nº 198, de 13 de fevereiro, apresentada e aprovada em 2003 pelo

Departamento de Gestão da Educação na Saúde, junto ao Conselho Nacional de

Saúde, como “Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para

a educação permanente em saúde”, visando à integração entre ensino e serviço,

formação e gestão setorial e desenvolvimento institucional e controle social

(BRASIL, 2009).

Em 2007, a PNEPS foi reeditada sob Portaria Nº 1.996/GM/MS, que

trouxe como proposta a ruptura com o conceito de sistema verticalizado para

trabalhar com a ideia de rede. Considerando a necessidade de articulação dos

serviços de saúde, as possibilidades de desenvolvimento dos profissionais, a

capacidade resolutiva dos serviços de saúde e a gestão social sobre as políticas

públicas de saúde, a EPS foi trazida como a proposta mais apropriada para trabalhar

a construção desse modo de operar o Sistema, por permitir articular gestão, atenção

e formação para o enfrentamento dos problemas de cada equipe de saúde, em seu

território geopolítico de atuação. Constitui a realização do encontro entre o mundo

de formação e o mundo de trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao

cotidiano das organizações e ao trabalho. (BRASIL, 2009)

No texto da PNEPS, o Ministério da Saúde (Brasil, 2009), registra o

entendimento de aprendizagem, enquanto desenvolvimento de novos critérios ou

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35

capacidades para resolver problemas ou a revisão de critérios e capacidades

existentes que lhes inibem a resolução.

A PNEPS propõe que os processos de educação dos trabalhadores da

saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho e considera

que as necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores sejam

pautadas pelas necessidades de saúde das pessoas e populações (BRASIL, 2009).

Ancorada na proposta das novas diretrizes da PNEPS de 2007, a

Secretaria de Saúde do Estado do Ceará aprova, em 10 de julho de 2008, pela

Portaria N°955/SESA, a Política Estadual de Educação Permanente em Saúde

(PEEPS) que tem como objetivos transformar as práticas institucionais; melhorar a

qualidade da atenção proporcionada; atuação comprometida da equipe com o

processo de trabalho e com a comunidade; e melhorar as relações nas e entre as

equipes de trabalho (CEARÁ, 2008).

Tem sido gerida em âmbito estadual pela Coordenadoria de Gestão do

Trabalho e Educação na Saúde (CGTES), com o apoio e envolvimento da CIB

estadual para homologação e discussão dos planos e estratégias de cada

macrorregião, que deverá ainda ser apoiada pelas CIES composta por

representações de gestores, profissionais da saúde, instituições de ensino e controle

social (BRASIL, 2009).

Como instâncias intersetoriais e interinstitucionais as CIES devem

responsabilizar-se pela formulação, condução e desenvolvimento da PNEPS,

acompanhando e avaliando suas ações (BRASIL, 2009).

Vasconcelos et al (2013), ao considerar a necessidade de que a PNEPS

seja avaliada para dar visibilidade as potencialidades e fragilidades das ações

desenvolvidas, bem como perceber os resultados oriundos e desencadeados por

esta política, identificaram em seu estudo que alguns fatores ainda precisam ser

discutidos e aprimorados a partir do processo de implantação e implementação da

PEEPS.

3.2.2 A trajetória da educação permanente em saúde em Sobral

Envolvido pelo cenário nacional e ancorado pela necessidade de revisitar

as práticas dos profissionais inseridos no serviço em decorrência da reorganização

do Sistema de Saúde, em 1997, inicia-se em Sobral, o desenvolvimento de uma

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série de ações que se converteria mais a frente numa Política Municipal de

Educação Permanente em Sobral como uma das estratégias de consolidação do

novo paradigma. (SOUZA, et al.,2008).

Em 1999, com o objetivo de formar e preparar os profissionais do sistema

municipal de saúde para a atuação na ESF, a então, SSASS, de Sobral-CE em

parceria com a UVA cria o programa de RMSF. O curso abrigou para o momento

todos os profissionais com formação universitária que, além do título, contribuiria de

maneira decisiva para a transformação do modelo assistencial (PINTO et al., 2008).

A RMSF utiliza abordagens metodológicas inovadoras de ensino-

aprendizado que capacita profissionais da saúde para uma atuação crítica, reflexiva

e propositiva na ESF, visando à integralidade e resolutividade do cuidado em saúde

como aspectos necessários à garantia de qualidade no processo de mudanças das

práticas sanitárias voltadas para a efetivação do SUS (SILVA E SOUSA, 2010).

Este movimento de EPS no município, a partir de 2008, passou a ser

denominado Sistema Saúde Escola de Sobral tendo como premissa a integração

entre serviço-ensino e ensino-serviço, e buscando qualificar o processo de gestão

participativa e democrática. (SOARES et al., 2008).

Compreende, assim, uma estratégia e um modo de conceber os

processos de trabalho e de formação dentro de uma lógica em que as experiências

e trocas ocorridas no território, bem como na rede de equipamentos de saúde

constituem uma dimensão pedagógica quer no âmbito da gestão ou da assistência.

Esta aprendizagem é potencializada pelos pressupostos da educação permanente e

da educação popular, resultando, portanto em um método que gera uma

comunidade aprendente (PARENTE, 2010).

Tais Comunidades aprendentes têm como membros todos os agentes

locais do SUS que “compartilham de uma mesma visão e trabalham e aprendem de

forma interdependente, afetando e sendo mutuamente afetados uns pelos outros”.

(SOARES et al., 2008. p.9).

O Sistema Saúde Escola de Sobral alicerça-se em profundas concepções

filosóficas e pedagógicas e opera com a categoria denominada de vivências de

aprendizagem onde a educação permanente acontece para além das estruturas dos

processos ensino-aprendizagem tradicional, fazendo-se presente em diferentes

espaços do sistema e transformando toda a rede de serviços de saúde existente no

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município em espaços de educação contextualizada e de desenvolvimento

profissional (SOARES et al., 2008).

Nesta perspectiva avança então para se constituir como um sistema

aprendente onde:

“O território, os Centros de Saúde da Família, os grupos sociais, as lideranças populares, os movimentos sociais, os momentos formais de instrução, o dia-a-dia de trabalho nos diferentes espaços organizacionais, as rodas de co-gestão, as situações de tensionamentos e de conflitos existentes nos territórios são geradoras de novas e significativas aprendizagens” (SOARES et al, 2008. p.9).

Quanto à operacionalização, o Sistema Saúde Escola de Sobral articula-

se em quatro eixos estruturantes que são: “um de natureza jurídico-institucional;

outro, éticopedagógico; o terceiro refere-se ao caráter político e o quarto

compreende a integração gestão, atenção, ensino e pesquisa”. (SOARES et al.,

2008. p.8).

Figura 1. Esquema ilustrativo dos quatro eixos estruturantes do Sistema Saúde Escola de Sobral.

Fonte: Soares et al (2008).

Com a missão de promover ações educativas na área da saúde junto ao

sistema de Saúde Escola de Sobral e demais municípios que compõem a

macrorregião de saúde de Sobral e pelo somatório de esforços do Governo do

Estado do Ceará, UVA e Prefeitura Municipal de Sobral-CE, através da então,

SSASS, em 2001, foram inauguradas as instalações da EFSFVS que se institui

como um espaço físico definido para a Política de Educação Permanente dos

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profissionais de saúde do município de Sobral e da região norte do Estado do Ceará

(PINTO et al, 2008).

“A fundação da EFSFVS veio sedimentar o compromisso da gestão municipal em reconhecer seu estratégico papel de impulsionar e estimular o desenvolvimento do sistema regional de saúde, na construção de tecnologias e competências para a qualificação do serviço, atuando principalmente nos processos formativos de Recursos Humanos para o SUS.” (PINTO et al, 2008.p.65)

Visando fortalecer o SUS a partir da estratégia de educação

especializada, permanente e contextualizada em Saúde, a “EFSFVS é um espaço

institucional que acolhe, planeja, organiza, desenvolve tecnologias e dissemina

ações educativas” (PARENTE, 2010. p. 2), inserindo-se, ainda, na perspectiva da

escola cidadã por ser “pública quanto a sua clientela (é para e de todos), estatal

quanto a sua fonte financiadora (opera com recursos públicos), e democrática e

comunitária quanto ao seu modelo de gestão (princípio da participação)”.

(PARENTE, 2010. p. 2).

Atualmente, a EFSFVS trabalha na perspectiva de promover em seus

processos educativos uma concepção ampliada e integral de saúde, assumindo

tanto na sua identidade institucional como nas suas práticas pedagógicas a ESF

como marco central. Isso implica reconhecer a importância e o impacto desta

estratégia para a organização, desenvolvimento e transformação da realidade

sanitária local.

Vivenciando um constante aprimoramento da EPS a partir de diversas

experiências vivenciadas e em consonância com a PNEPS do Ministério da Saúde,

Sobral assume seu o papel de formulador de políticas públicas, oferecendo uma

experiência municipal concreta para a formação de Recursos Humanos voltados

para a área de saúde, incrementando o desenvolvimento científico e tecnológico dos

profissionais que atuam na ESF (SOUZA, et al., 2008).

3.3 Sentidos e significados na perspectiva da escola Vygotskyana

Entendendo a roda como um espaço de movimento e recriação

permanente da coletividade, faz-se necessário que cada participante não se sinta

apenas interagindo e sim implicado, formando, com a coletividade uma totalidade.

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Isso exige, para Bomfim (2010), um exercício de motivação individual em que o

sentido de ação e transformação pode ter a afetividade como eixo integrador.

Tais relações humanas são mediadas por sistemas simbólicos – a

linguagem – que constitui a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento,

fornecendo os conceitos e as formas de organização do real, ou seja, a linguagem é

o meio pelo qual o ser humano constitui-se sujeito, atribui significados aos eventos,

aos objetos, aos seres, tornando-se, portanto, ser histórico e cultural (COSTAS &

FERREIRA, 2010).

Vygotsky diz que “são os significados que vão propiciar a mediação

simbólica entre o indivíduo e o mundo real”. Tal significado constitui-se como

componente indispensável da palavra onde o pensamento e a fala encontram-se em

uma verdadeira unidade. É no significado, portanto que o pensamento e o discurso

se unem em pensamento verbal, ficando clara a conexão entre aspectos cognitivos

e afetivos do funcionamento psicológico (DE LA TAILLE et al., 1992. p.81).

De La Taille et al, (1992), ainda , nos trazem que na concepção de

Vygostsky a medida que o significado constitui um núcleo estável de compreensão

da palavra compartilhado por todas as pessoas que a utilizam, o sentido, por sua

vez, liga o significado da palavra ao contexto de uso e aos motivos afetivos e

pessoais de cada indivíduo.

Este “sentido”, segundo Barros et al (2009), é concebido como

acontecimento semântico particular, constituído através de relações sociais e que,

assim, como os signos, são produzidos nas práticas sociais através da articulação

dialética da história de constituição do mundo psicológico com a experiência atual do

sujeito.

Sendo o sentido a soma de todos os fatos psicológicos que despertam em

nossa consciência, o significado constitui-se em apenas uma dessas zonas no

sentido que a palavra adquire no contexto de algum discurso. A mais estável,

uniforme e exata (BARROS et al 2009).

Para compreender o discurso do outro, não basta entender apenas as

palavras e sim o pensamento, além de ser necessária ainda a compreensão do

motivo que o levou a emiti-las, visto que, a palavra, pode mudar de sentido

facilmente a depender de diferentes contextos, e é sempre uma “formação dinâmica,

fluida, complexa, que tem zonas de estabilidade variadas” (VYGOTSKY apud

BARROS et al.,2009 . p.179).

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Disso decorre na perspectiva de ygotsky e que se traz aqui, em uma idéia

acerca desses dois conceitos: o do significado e do sentido. O primeiro

representando a instância coletiva, ou seja, aquilo que é apreendido e compartilhado

pelo conjunto de indivíduos de um dado grupo social. Já o segundo, o sentido

implica na compreensão que se manifesta do ponto de vista privado acerca de um

dado fato ou processo social, apreendido a partir das vivências pessoais e

particulares. Portanto, o sentido é singular enquanto o significado ganha uma

dimensão contextual sendo aceita e compartilhada no âmbito do grupo.

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4 METODOLOGIA

4.1 Abordagem do estudo

O estudo constitui-se em uma pesquisa com abordagem qualitativa que,

segundo Minayo (2010) procura investigar melhor os grupos e seguimentos

delimitados e focalizados, por meio de histórias sociais sob a ótica dos atores;

assim, como as relações dos sujeitos envolvidos.

Cassab (2007) diz que a pesquisa qualitativa preocupa-se em

compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que são depositárias de

crenças, valores, atitudes e hábitos, que não podem ser quantificados.

Partindo da necessidade de compreender tais relações, lançamos mão da

abordagem metodológica baseada no compreensivismo que consiste em entender

os sentidos que as ações de um indivíduo contém, e suas relações sociais,

entendendo que o ser humano é subjetivo e que esses sentidos seriam, para ele,

permeados de valores, motivações, intenções e interesses próprios e particulares,

visto que o ser humano não age apenas por agir , mas pensa sobre o que faz e

interpreta suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus

semelhantes (MINAYO, 2010).

Para a mesma autora, os teóricos de inspiração compreensivista não se

preocupam em quantificar ou em explicar e sim em compreender. Atuam com a

matéria-prima das vivências, experiências e cotidianeidade, sem deixar de analisar

as instituições e estruturas, porém entendendo-as apenas como ação humana

objetivada.

4.2 Tipologia do estudo

Trata-se de um estudo exploratório-descritivo. Para Gil (2010), as

pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Isso nos

trouxe a possibilidade de ter uma visão geral, do tipo aprimorativa das vivências do

método da Roda na unidade, a fim de identificar, nesta imersão, as nuances da EPS,

identificando os sentidos e significados dos profissionais que a constroem em seu

cotidiano.

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Já sobre o estudo descritivo Gil (2010) diz que complementa essa

imersão na realidade pesquisada a partir do registro e análise das características,

fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo. O que nos

permitiu descrever tais registros da Roda de forma apreciativa, conforme nos

propomos.

4.3 Cenário do estudo

O lócus da pesquisa foi a Estratégia Saúde da Família de Sobral/CE que

é composta por sessenta e três equipes distribuída em trinta e cinco Centros de

Saúde da Família, contando com uma cobertura assistencial de 96% da população

de cento e cinquenta mil, quinhentos e sessenta pessoas (SOBRAL, 2015).

Sobral considera, ainda, uma divisão de território a partir de 04

macroáreas de saúde que são compostas por CSF da sede e distritos com uma

média de 16 equipes de Saúde da Família cada uma. A divisão dos CSF nas

macroáreas respeita características semelhantes entre si, como quantidade de eSF,

geografia, condições sócio-econômicas do território e da população, entre outras

(SOBRAL, 2014).

Figura 2. Divisão territorial por macroárea de Sobral.

Fonte: Sobral (2014).

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O estudo se deu mais especificamente na Macroárea 3 que é composta

pelos CSF Expectativa, CAIC, Novo Recanto, Pedrinhas, Tamarindo, Centro,

Estação e Alto da Brasília,. Contêm quinze eSF, e atende a uma população de

cinqüenta e três mil, duzentos e vinte e seis pessoas, correspondendo a vinte e

quatro por cento da população total do município (SOBRAL, 2014).

Dentro deste quantitativo, elegemos 03 Centros de Saúde da Família que

foram escolhidos de acordo com sua estrutura física, visto que, o referencial para a

coleta e análise de dados utilizado, Mapa Afetivo, busca correlacionar os sentidos e

significados a tal aspecto. Adotamos, portanto, o CSF Alto da Brasília por funcionar

em uma Unidade de Saúde com estrutura física que não se encontra dentro dos

padrões do município, aguardando a construção de uma unidade padrão, já em fase

de conclusão; o CSF Tamarindo por funcionar em uma Unidade padrão, porém,

ainda nos moldes utilizados pelo município para a construção das primeiras

unidades logo após a implantação da ESF, portanto, já um pouco ultrapassada do

padrão atual; e, finalmente, o CSF Novo Recanto por ser contemplado com um

espaço físico bem moderno, dentro dos modelos construídos mais atuais.

O CSF Alto da Brasília, no qual me encontro atualmente inserida na

função de gerente é composta por 2 eSF, tendo em seu quadro um quantitativo de

trinta e oito profissionais. Acompanha mil trezentos e setenta e seis famílias, com

uma população de cinco mil e cinquenta e seis pessoas. Assiste aos bairros Alto da

Brasília, Coração de Jesus, Betânia e Conjunto Habitacional Cesarina Barreto Lopes

(SOBRAL, 2015).

O CSF Tamarindo também é constituído por 1 eSF, com trinta e um

profissionais compondo a mesma. Responsabiliza-se por mil, cento e setenta

famílias, e quatro mil e cem pessoas compreendendo os bairros Centro e Tamarindo

(SOBRAL, 2015)

O CSF Novo Recanto, Assiste ao bairro Novo Recanto,

responsabilizando-se por novecentos e quarenta e duas famílias constituídas por

uma população de três mil, quatrocentos e trinta pessoas, com um quadro vinte e

cinco profissionais cindido em 1 eSF. (SOBRAL, 2015)

Preservando o anonimato dos participantes dos estudos, identificamos

cada equipe com uma letra diferenciada A, B e C.

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4.4 Período do estudo

O estudo desenvolveu-se de março de 2015 a outubro de 2016. A partir

da vivência do módulo Metodologia do Trabalho Cientifico, onde nos foi proposto

realizar um pré-projeto do que seria o Trabalho de Conclusão de Mestrado (TCM)

para apresentação em Seminário de Acompanhamento.

A coleta de dados realizou-se no período de 31 de março a 26 de maio de

2016, logo após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética, liberado no dia 7 de

março do ano corrente. E a interpretação e análise de dados aconteceram nos

meses de junho a setembro de 2016.

4.5 Participantes

Os participantes deste estudo são os profissionais da ESF inseridos nas

eSF definidas para o estudo – CSF Alto da Brasília, Tamarindo e Novo Recanto. As

equipes básicas são constituídas de acordo com portaria PORTARIA Nº 2.488/2011

MS, por categorias como Agentes Comunitários de Saúde, Técnicos de

Enfermagem, Enfermeiros, Médicos, Cirurgião-Dentista, Técnico em Saúde Bucal,

Agentes administrativos e apoiados por profissionais do NASF.

O NASF foi criado pelo Ministério da Saúde através da Portaria GM nº

154, de 24 de janeiro de 2008 objetivando atuarem em conjunto com os profissionais

das Equipes de Saúde da Família, compartilhando as práticas em saúde nos

territórios em que estão cadastrados e de responsabilidade destes. São constituídos

por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento como

Assistente Social, Educador Físico, Fisioterapeuta, Nutricionista, Terapeuta

Ocupacional, Psicólogo, entre outros.

Além desses profissionais, fazem parte do estudo os Residentes inseridos

na RMSF, tutelados pela ESFVS em parceria com a UVA, e mais alguns acadêmicos

do Curso de enfermagem desta mesma universidade que se encontravam

vivenciando o período de Internato, no qual os mesmos acompanham os

profissionais da equipe por 560 horas distribuídas em quatro meses. Vale ressaltar

que, o momento da coleta de dados coincidiu com o período de inserção destes

estudantes nas equipes, o que trará para o resultado do estudo a riqueza de ser

contemplado, para além da visão do vivido, pelas expectativas trazidas por estes

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para com o processo da Roda enquanto estratégia de EPS, visto que eles, apesar

de em alguns casos ser este o primeiro contato com tal estratégia, vivenciaram um

momento de acolhida no Sistema de Saúde em que tiveram a oportunidade de

aprofundar-se teoricamente sobre o tema.

Ressalto, também, a inserção neste processo, dos profissionais Serviços

Gerais e vigilantes que, apesar de não estarem contemplados na lista dos que

devem fazer parte das eSF, estão inseridos no funcionamento da unidade, portanto

sendo de grande importância para os processos de EPS.

4.6 Descrição das etapas de coleta de dados

4.6.1 Apreensão dos sentidos e significados – o mapa afetivo

Considerando o indivíduo como possuidor de uma referência cultural e

histórica que interfere nas suas formas de pensar, sentir e agir buscamos

compreender que sentido(s) e significado(s) esse espaço da Roda traz como

dispositivo de Educação Permanente para cada profissional.

Considerando que EPS leva em conta não somente a necessidade do

território como, também, as experiências e vivências anteriores de cada profissional

e da equipe em geral, identificamos como apropriada a aplicação do Mapa Afetivo

como instrumento utilizado para a coleta de dados. Ao passo que, entendemos que

encontrar meios para acessar tais sentimentos é um grande desafio por estarmos

diante de um tema abrangente e que parte de uma linguagem interior que são

emoções não tão fáceis de serem exteriorizadas.

Bomfim (2010) em seu trabalho intitulado “Cidade e Afetividade” pensou

em uma metodologia que pudesse facilitar tal processo apontando a utilização de

um instrumento metodológico que se utiliza de desenhos, metáforas e palavras,

direcionando uma compreensão da relação da pessoa com o entorno físico, de

forma menos elaborada e mais sensível com o desafio de se chegar as sensações e

sentimentos sem correr o risco de acessar somente processos racionais.

Os mapas afetivos propiciam a aproximação dos sentimentos à realidade

da vida cotidiana por propor uma inter-relação sintética das várias dimensões

relacionadas à representação ou imagem, sendo um processo de (re)produção que

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avança em sentimentos que não estavam acessíveis, relacionando-se como

resposta afetiva, a partir da utilização de recursos imaginéticos.

Diferencia-se do conceito de mapa cognitivo por voltar o olhar para o

afeto e não para a cognição como descreve o quadro a seguir:

Quadro 1 – Comparativo entre Mapa cognitivo e Mapa afetivo

MAPA COGNITIVO MAPA AFETIVO

Objetiva o conhecimento do

ambiente como expressão espacial e

geográfica.

Pautados em imagens

coletivas

Priorizam os elementos da

estrutura física do ambiente, dando

pouca ênfase à dimensão de

significado, aos afetos.

A representação da cidade

permite o acesso à estrutura da

cidade que está no habitante.

É uma resposta à solicitação

do investigador a uma

representação da cidade em termos

de orientação espacial.

Funções: organizar

experiência social e cognitiva; influir

na organização do espaço; gerar

decisões acerca de ações e

planificações.

Objetiva o conhecimento do

ambiente como expressão do afeto e

da orientação espacial.

Pactuados em imagens

psicossociais.

Revelam os significados do

ambiente pelos afetos. Alem dos

aspectos da estrutura, incluem os

aspectos metafóricos e abstratos.

A representação da cidade

permite o acesso à estrutura da cidade,

mediada pela afetividade.

É uma construção que se dá na

inter-relação do pesquisador com o

respondente, mediada por um

instrumento de pesquisa.

Funções: Além das funções

dos mapas cognitivos, visa reconhecer

a implicação do indivíduo com a cidade

(ética e ação) e superar as dicotomias

subjetividade e objetividade, individual

e coletivo; cognição e afetos.

Fonte: Bomfim ( 2010).

Para a autora, a metodologia ancorada na perspectiva histórico-cultural

de Vygotsky, compreende as funções psicológicas superiores como processos em

movimento e mudança, que busca basear-se na “articulação entre significados,

qualidades e sentimentos atribuídos aos desenhos” (p.137), tendo nas metáforas um

recurso importante para a revelação dos afetos.

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“Os desenhos e metáforas são recursos imaginéticos reveladores dos afetos que, juntamente com a linguagem escrita dos indivíduos pesquisados, nos dão um movimento de síntese de sentimento.”(BOMFIM, 2010. p.139) “Pretende ser um método de análise de sentido que, de forma heurística, articula afeto (motivo, vontade), cognição (pensamento, linguagem-falada e escrita) e imaginação (criatividade e sonho)” (BOMFIM, 2010. p.219)

Para ela, os desenhos têm a função de aquecer a expressão de emoções

e sentimentos para facilitar a compreensão de subtextos que não são facilmente

captados, e a escrita traduz a dimensão afetiva dessa projeção da imagem.

Já a metáfora, por ser capaz de ir além da cognitividade, tem como alvo a

conquista da intimidade, sendo de grande importância também pela capacidade de

fornecer informações intraduzíveis, refletindo “a experiência da vida cotidiana e

permitindo o insight comunitário e o contato com a coletividade” (BOMFIM, 2010.

p.137). Como expressão da afetividade, a metáfora rompe com o significado literal e

é vista como um sentido que o indivíduo constrói para a análise do motivo que está

implícito em sua resposta.

Embora, originalmente, o método tenha sido desenvolvido para aferir

relação de afetividade da pessoa para o espaço físico, entende-se que as fases

delineadas podem também apreender relações entre sujeitos (profissionais) e

determinados processos que estabeleçam implicação direta com o espaço

(território), mostrando-se adequado para atingirmos os objetivos propostos pelo

estudo.

4.6.2 Elaboração dos instrumentos

Diante da abrangência da metodologia proposta, elaboramos os

instrumentos a serem aplicados no estudo, embasados nos que foram utilizados

pela autora, adaptados a necessidade do tema.

Fundamentados na necessidade de acesso aos afetos refletidos na

realidade do cotidiano dos profissionais, nos ancoramos no que propõe Bomfim

(2010) quanto a aplicação de um instrumento que contemple “imagens e palavras,

pela formulação de sínteses ligadas aos sentimentos, de forma menos elaborada e

mais sensível.” (BOMFIM, 2010. p.137).

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Concatenando este aspecto ao objetivo de identificar o significado coletivo

dos profissionais quanto ao espaço da Roda enquanto estratégia de EPS,

adaptamos o instrumento a ser aplicado em grupo, no qual os profissionais

elaborassem um desenho que expressasse o que a Roda significa para eles

enquanto EPS. Bomfim (2010) sugere que o desenho, ao constituir-se como primeiro

item do instrumento, possa facilitar a expressividade de emoções, deflagrando um

processo representacional imaginético, antes mesmo da representação escrita.

Ao lado do desenho, designamos um espaço para que os participantes

pudessem descrever, por ordem de importância, 6 palavras, que poderiam variar

entre sentimentos, qualidades, substantivos ou outras expressões que

descrevessem a significação do desenho para o grupo. Para Bomfim (2010) espera-

se desta síntese de palavras que, os participantes, afirmem com clareza e precisão

os sentimentos, resinificando e saturando o que foi despertado pelo desenho. A este

denominamos de Instrumento para apreensão dos significados (APÊNDICE A), que

conteve, também, em seu introito espaço para identificação do grupo, bem como das

categorias profissionais que o compuseram, a fim de facilitar a identificação no

processo de análise dos resultados.

Aplicando a ideia da autora, elaboramos o segundo instrumento a ser

utilizado, o qual denominamos de Instrumento para apreensão dos sentidos

(APENDICE B), visando captar respostas que possam remeter o sujeito, agora não

mais por desenhos, a uma nova construção de seus sentimentos (BOMFIM, 2010),

intentando acessar quais sentidos a Roda traz para os profissionais da ESF de

Sobral-Ce, levando-os a descrever sobre o que pensam da Roda enquanto EPS;

fazendo-os recordar tais momentos que lhes chamou mais atenção e quais

sentimentos esses momentos despertaram; impelindo-os, também, a relembrar

quais resultados estes momentos tiveram para a equipe. Só depois de oportunizar

tais reflexões, fizemos a pergunta final que representa a metáfora ou comparativo

que o remete a Roda enquanto estratégia de EPS. Bomfim (2010) reflete, ainda que,

a metáfora, tem como principal alvo, a conquista da intimidade, o que promove a

categorização do afeto sobre o espaço vivido.

Além das perguntas, este instrumento também conteve a descrição de

informações individuais como nome, idade, escolaridade e sexo dos participantes,

além da numeração que o identifica no instrumento de coletivo, a fim de possibilitar a

caracterização da amostra, na etapa de análise dos dados.

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4.6.3 Aplicação dos instrumentos

Para a aplicação do estudo foi feito um agendamento prévio com os

gerentes de cada CSF, a fim de organizarmos cronograma que contemplasse a

todas as equipes envolvidas na pesquisa, após aval da Coordenação da Atenção

Primária a Saúde de município. Tal cronograma foi construído em um momento

exclusivo com os gerentes destas Unidades onde foi apresentado o projeto para

compreensão dos mesmos, e pactuado as datas da aplicação nos territórios.

Enfrentamos nesta ocasião algumas dificuldades de agendamento devido a

programação já pré-definida de temas para as Rodas das equipes, tanto por

demandas do próprio CSF, como por demandas da SMSS, que promovem, com o

apoio da EFSFVS, momentos de EPS específico por categorias profissionais como

médicos, odontólogos, atendentes de farmácia e enfermeiros, nos fazendo buscar

definir uma data, para cada CSF que não confluísse com a ausência destes

profissionais da unidade. Porém, conseguimos um acordo que fosse viável pra

todos, mas que, mesmo pactuado, sofreram alguns víeis devido a demandas que

surgiram no decorrer do tempo.

Foi utilizado o momento da reunião de roda, que, antes do seu início teve

ambiente preparado com música e organização do espaço físico respeitando o que é

habitual da vivencia da equipe. Orientamos que os participantes colocassem-se em

seus lugares de costume. Ao estarem todos em seus devidos locais, respeitando

inclusive a euforia inicial da chegada e do encontro, instruímos para que fechassem

os olhos e trouxessem à memória a última roda a qual participaram, recordando

desde a sua chegada a unidade, à sua acomodação, acolhida, discussões do

momento, pauta, à conclusão do dia, a fim de colocá-los em sintonia com o tema

proposto. Logo após, seguimos os passos que foram explanados de forma clara, por

meio de apresentação de slides em Power Point, contendo cada passo que seria

seguido:

Passo 1 - No primeiro momento foi solicitado que os participantes

construíssem um desenho que traduzisse a sua forma de ver e sentir o espaço da

roda como estratégia de EPS. Os grupos foram constituídos por um total de 4 a 7

pessoas (um ou mais grupos), tendo a consigna de elaborar uma imagem da roda

enquanto estratégia de EPS. Os participantes receberam pincéis e papel madeira;

refletiram um pouco entre si, e com um fundo musical, passaram a elaboração da

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tarefa. O resultado foi um desenho que traduziu o significado que o grupo atribui à

roda. Teve como objetivo deflagrar um processo representacional imaginético antes

de uma representação escrita, para identificar o sentido do desenho, que fora

interpretado pelo próprio sujeito.

Passo 2 - Em seguida, pedimos a cada participante que explicasse o

significado do desenho, esclarecendo o que ele quis representar através do mesmo,

considerando a sua estrutura e respondendo que sentimentos vinculam-se ao

desenho. Neste momento foi solicitado que o sujeito expressasse e descrevesse os

sentimentos suscitados a partir do desenho, tendo como estímulo inicial o

instrumento de pesquisa que é a EPS no espaço da roda.

Passo 3 – Neste momento foi aplicado o roteiro do Instrumento para

apreensão dos significados (APÊNDICE A), em que orientamos para que fossem

escritas palavras que representassem uma síntese dos sentimentos provocados

pelo desenho, na ordem de 1 a 6, podendo variar entre sentimentos, substantivos ou

outras expressões, sendo permitido repetir o que já respondeu, demonstrando a

interferência do participante no processo de elaboração de sua resposta, de modo

que pudesse ter maior clareza e superação do instrumento, projetando-o para as

etapas posteriores.

Passo 4 - Por fim, aplicamos o roteiro do Instrumento individual: “Caso

alguém lhe perguntasse o que pensa da “roda” enquanto estratégia de EP, o que

diria?; Você lembra de um momento de EPS vivenciado na roda do seu CSF que lhe

chamou atenção? Por quê? Descreva-o passo-a-passo; Que sentimentos despertam

em você ao lembrar-se desse momento?;Qual resultado esse momento trouxe para

a equipe? E o que isso pode ter significado para a mesma?; Se tivesse de fazer uma

comparação desse momento, com o que compararia?”. Seguidas de algumas

perguntas de identificação do participante, como idade, sexo, função que exerce

entre outras. (APENDICE B).

Vale lembrar que todos os momentos aconteceram em grupo e foram

registrados a partir de gravação de voz com esclarecimento e autorização dos

participantes conforme o que regem os princípios éticos da pesquisa. Os

instrumentos individuais registrados de forma escrita foram recolhidos ao final para

categorização.

No CSF A, participaram da Roda vinte e três pessoas que se dividiram em

4 grupos, sendo 3 destes compostos por 6 participantes e 1 composto de 5. O

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primeiro contato com o campo permitiu que eu identificasse nuances que

necessitariam de melhor clareza ao explicar o processo. A equipe envolveu-se de

forma a contribuir, inclusive com sugestões como a de explicar melhor sobre a

construção do desenho e deixar exposto, durante o preenchimento do questionário o

slide com elucidações sobre as perguntas. Palpites tais que foram acatados e

utilizados nos momentos com as outras unidades. Recebi preenchidos vinte e três

questionários e 4 desenhos construídos pelos grupos.

Com o intervalo de 1 semana, realizamos a coleta no CSF B que contou

com a presença de dezenove participantes, dividindo-se em 2 grupos de 7

participantes e 1 grupo de 5, totalizando 3 grupos. Foi possível observar a

expressividade de alguns profissionais que não se interessaram em envolver-se com

a proposta, o que me levou a esclarecer mais fortemente sobre a liberdade de

participação no estudo. Porém, ao iniciar a acolhida com a proposta do relaxamento

e reflexão, tal situação foi contornada. Tive um retorno dos dezenove questionários

respondidos e 3 desenhos. Nesta aplicação, corrigi as falhas cometidas no momento

da primeira coleta, obtendo excelente êxito na condução do mesmo.

Somente 3 semanas depois, foi possível realizar a coleta no CSF C,

devido as dificuldades de agenda já mencionadas anteriormente. Participaram da

roda do dia dezessete pessoas, que constituíram 3 grupos, sendo 2 grupos de 6

participantes e 1 de 5. Também configurou-se em um momento de grande

importância, com o envolvimento e participação de todos. Ressalto o fato de aqui, ao

final da roda, alguns participantes agradeceram a oportunidade de permiti-los refletir

sobre o método, o que trará para eles a visão de maior valorização deste espaço.

Recolhi dezessete questionários respondidos e 3 desenhos produzidos pelos

grupos.

4.7 Análise dos resultados

Ao principiar o processo de análise dos resultados obtidos a partir da

coleta de dados, partimos da caracterização da amostra na qual consideramos as

variáveis: idade, sexo, escolaridade, tempo de inserção na equipe e categoria

profissional, por serem estas de maior relevância e significado para os resultados do

estudo. Dividimos as informações em dois quadros respeitando a similaridade entre

eles: o quadro 1 contendo os dados das informações mais pessoais (idade, sexo e

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escolaridade), enquanto o quadro 2 traz informações mais profissionais e

relacionadas à equipe (categoria profissional e tempo de inserção na equipe). Tais

informações foram obtidas das respostas do instrumento para apreensão dos

sentidos (APENDICE B) e, somente a informação relacionada a categoria

profissional foi colhida do instrumento para apreensão dos significados (APENDICE

A).

Quanto aos dados que se referem à idade dos participantes, que variou

de vinte e dois a cinquenta e sete anos, foram agrupados em 5 classes a partir da

primeira idade, respeitando o intervalo de 8 anos entre estas. Procuramos manter tal

intervalo com o intuito de definirmos equivalência entre um agrupamento e outro, a

fim de conferir maior isonomia à comparação. Dentre o total, 2 dos participantes não

responderam a este quesito. Os dados que representam o sexo dos participantes

foram divididos nas categorias masculina e feminina. Para análise do grau de

escolaridade, nos utilizamos do que rege a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, quando define que a educação escolar compõe-se da educação básica

formada pelo ensino fundamental e médio, enquanto que a educação superior não

se fragmenta (BRASIL, 1996), porém subdividimos ainda com os termos completo

ou incompleto, visto que este foi um aspecto bem presente nas respostas dos

participantes. Quanto a categoria Especialização, apesar de, para esta mesma lei

dever estar inserida na categoria de ensino superior, achamos relevante destacar

visto que foi um dado citado nas respostas que diferencia-se dos demais. Nesta

categoria, apenas 1 profissional não respondeu a este quesito.

Utilizamos como referencial para a análise do conteúdo produzido

coletivamente e individualmente a análise do subtexto, do sentido e do motivo

utilizados por Bomfim (2010). Vygotsky (1993) refere-se à leitura e a análise de

subtexto não apenas como procedimentos metodológicos de análise, mas como

conceitos fundamentais presentes na teoria da relação entre pensamento e

linguagem, por considerar que, por ser o pensamento sempre mediado pelo

significado e não imediatamente expresso por palavras, sempre está presente na

fala do sujeito, um pensamento oculto e, no texto, um subtexto.

Descreveremos a seguir o percurso utilizado, adaptado conforme

necessidades do estudo atual.

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4.7.1 Análise do conteúdo para a construção de mapas afetivos

Bomfim (2003) sugere as seguintes etapas principais para análise dos

mapas afetivos, as quais adaptamos de acordo com as necessidades do estudo.

Embora, originalmente, o método utilize a Escala de Likert, não a utilizamos, por

entendermos que intentamos aqui, acessar os sentidos e significados que se

correlacionam com o espaço/lugar que a Roda ocupa, e não apenas como espaço

físico no qual ela acontece.

A) Pré-análise

Digitação dos questionários em dados brutos para posterior leitura

sucessiva e exaustiva dos mesmos. Fase esta que requereu bastante atenção,

especialmente, pela necessidade de transcrição das falas trazidas durante as

explicações dos desenhos.

B) Codificação

Transformação dos dados brutos, em úteis, momento em que, sempre

tendo em vistas o referencial por onde embasamos o estudo, construímos quadros e

tabelas que trouxessem de forma clara e organizada os resultados colhidos a partir

dos instrumentos utilizados na coleta de dados.

a) Fragmentação do texto

Unidades de registro: Aqui obtivemos, do quantitativo de grupos

formados (10), todos os desenhos com as devidas explicações e palavras sínteses,

devolvidos adequadamente, obtendo assim os 10 desenhos construídos pelos

grupos. Quanto aos instrumentos individuais, os respondentes, que totalizaram em

cinquenta e nove, devolveram todos, portanto, 4 destes encontravam-se incompletos

pela falta de resposta a uma ou duas das perguntas, não mais que isso.

Após a fragmentação, passamos para catalogação dos dados na qual se

buscou organizar o texto de forma a extrair das respostas os subtextos que

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expressem os sentidos e significados atribuídos a Roda como estratégias de EPS,

de forma mais nítida.

b) Catalogação das unidades

No item onde analisamos as Significações Visuais da Roda, nos

ancoramos na catalogação dos tipos de desenho que apresentamos na análise, de

forma descritiva, caracterizando-os quanto aos seguintes aspectos:

QUANTO A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO

ESTRUTURAL – Mostrou o espaço físico do local onde acontece a Roda,

profissionais e seus respectivos locais de costume;

REPRESENTATIVO – Não mencionou o espaço físico e sim um desenho

representativo da Roda.

QUANTO A EXPRESSIVIDADE DE SENTIMENTOS

EXPRESSIVO - Expressam, através de palavras ou desenhos,

sentimentos que vivenciam nas rodas;

NÃO EXPRESSIVO - Não expressam, através de palavras ou desenhos,

sentimentos que vivenciam nas rodas.

QUANTO A IDENTIFICAÇÃO DE ELEMENTOS DE EP NO DESENHO

REPRESENTATIVO – Utiliza palavras ou desenhos que se relacionem

com a Educação Permanente;

AUSENTE - Não expressam, através de palavras ou desenhos que se

relacionem com a Educação Permanente.

Para Vygotsky (2001) apesar de o significado e o sentido se expressarem

na linguagem, não se reduzem nela. Ancorado nesta tese, Bomfim (2010), ao propor

a metodologia que objetiva captar o significado da cidade para os indivíduos

pesquisados, valoriza os desenhos como uma estratégia de aquecimento para a

expressão de emoções que irá ser traduzida, enquanto dimensão afetiva, na escrita.

Assim, ao concluirmos a etapa de identificação dos tipos de desenhos

trazidos pelos profissionais, analisamos as explicações que os grupos atribuíram aos

mesmos e buscamos identificar aqui os elementos de EPS citados. A partir das

falas, fomos especificando as que apresentavam similaridades e agrupando-as.

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Sobre isso, Vigostky (2010) ainda diz que, na busca de entender os

discursos, torna-se incompleta a compreensão se nos voltarmos apenas para as

palavras, fazendo-se necessário sempre entender os pensamentos, o que não se

faz suficiente, necessitando ainda compreender o motivo que o leva a emiti-lo.

Nesta busca, nos conduzimos para a construção das Significações da

Roda a partir das qualidades e sentimentos expressos pelos participantes.

Produzimos um quadro para cada CSF trazendo as palavras sínteses que foram

citadas pelos grupos no passo 3, catalogando-as entre sentimentos e qualidades,

além de destacar a primeira palavra citada, visto que o grupo foi orientado a

escrevê-las conforme a ordem de importância. Bomfim (2010) propõe que a

construção da metáfora sintetiza-se a partir da relação aglutinadora entre

sentimentos e qualidades, o que nos faz analisar esta como uma etapa de

planificação para as seguintes.

Ao avaliarmos o constructo acima podemos identificar que as primeiras

palavras citadas pelos grupos por ordem de importância remetem-nos aos

componentes da Roda: administrativo, político, pedagógico e terapêutico, o que nos

conduziu a categorizamos as expressões trazidas pelos grupos, dimensionando

cada componente definido pelo método, a fim de identificá-los e classificá-los

ancorados na representação da totalidade dos sentimentos e qualidades

encontrados nas unidades de registro que inferiram significados a partir dos

objetivos investigados. Apresentamos, também, a categoria que agrupa as

qualidades e sentimentos que se referem às fragilidades deste espaço.

Catalogamos em outro quadro (QUADRO 7), agora não mais por CSF,

mas pelas categorias já definidas (administrativa, política, pedagógica, terapêutica e

fragilidade), todos os sentimentos e qualidades relacionados a cada categoria,

considerando as presenças e frequências de aparecimento.

Na categoria Pedagógica encontramos as seguintes qualidades:

Educação permanente (1), Pedagógica (1), Educativa (1), Discutir (1), Compartilhar

(3), Informação (1), Conhecimento (1), Ensino (1), que, somados, totalizam 10;

seguidas dos sentimentos de: Aprendizado/aprendizagem (6), Troca de

saberes/conhecimento (2); Alinhamento (1), totalizando 9 qualidades. Ao somarmos,

encontramos dezenove respostas, que representaram a maioria das respostas

dadas (32%).

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Na categoria Terapêutica foram descritas as qualidades: Terapêutica (2),

Acolhimento (1) e Momento de aproximação (1) que, somados, totalizam 4; além dos

sentimentos de União (5), Cuidado (2), Descontração (1), Motivação (1), Integração

(2), Alegria (1), totalizando doze qualidades. Ao somarmos, encontramos dezesseis

respostas, que representam 27% das respostas.

Na terceira categoria por ordem de aparecimento e frequência, a

Administrativa, foram descritas as qualidades: Planejamento (6), Administrativa (1),

Realizar (1), Metas (1), Evolução (1), Rotina (1) e Resolução (1) que, somados,

totalizam 12 ; e os sentimentos de Compromisso (1) e Continuidade (1) que somam

2 qualidades. Ao total, encontramos quatorze respostas, sendo um percentual de

24%.

A Categoria Política foi caraterizada pelas seguintes qualidades: Co-

participação (1), Enfrentamento das dificuldades (1), Reflexiva (1), Trabalho em

equipe (1) e Fortalecimento (1), somando 5; e os sentimentos de: Desabafo (1),

Igualdade (2) e Parcerias (1) que somam 4. Totalizam juntas, sentimentos e

qualidades, 9 palavras, que representam 15% do total.

A categoria menos citada foi a Fragilidade, representada pela qualidade:

cobrança (1) e pelo único sentimento de dispersão (1), representando 3% apenas do

total de respostas.

A partir de, então, fomos relacionando as categorias com algumas falas e

com a literatura pertinente, o que nos permitiu explicitar os significados que a Roda

tem para os Profissionais da ESF enquanto Estratégia de EPS.

C) Categorização

Antes de avançarmos para a construção dos Mapas Afetivos,

propriamente dita, construímos, para cada categoria definida, um quadro

apresentando as imagens trazidas como metáfora pelos profissionais, de forma a

mencionar todas as citadas, visto que, trazemos para o corpo do trabalho, apenas as

que apresentam características peculiares e diferenciadas, com o intuito de não nos

tornarmos redundantes nas discussões.

Seguimos, então, transcrevendo as respostas dadas pelos profissionais,

aos instrumentos aplicados individualmente, classificando-as e condensando-as no

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quadro proposto por Bomfim (2010) que apresenta as dimensões de identificação do

respondente; significado; qualidade; sentimento; metáfora e sentido.

Quadro 2 – Síntese do processo de categorização voltado para a elaboração do mapa afetivo Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°:

Sexo:

Idade:

Escolaridade:

Função:

Tempo que

trabalha na

equipe:

Explicação do

respondente

sobre o que

significa pra ele

a Roda

enquanto

Estratégia de

EPS - Questão

1 do

Instrumento

individual .

Atributos do

espaço da Roda

enquanto

estratégia de

EPS extraídos

das questões 2

e 4 .

Expressão

afetiva do

respondente ao

espaço da Roda

enquanto

estratégia de

EPS nas rodas

– Resposta a

questão 3

Comparação do

espaço de EP

das rodas com

algo pelo

respondente,

que tem como

função a

elaboração de

metáforas –

Resposta a

questão 5

Interpretação

dada pelo

investigador à

articulação de

sentidos entre

as metáforas e

as outras

dimensões

atribuídas pelo

respondente

(qualidade e

sentimentos).

Fonte: Bomfim, 2010.

A última dimensão do quadro (Sentido) foi construída partindo da

explicação ou definição da imagem apontada pelo respondente a partir da metáfora,

de forma a articular a imagem da metáfora com o sentimento e a qualidade atribuída

pelo respondente ao desenho.

Denomina-se, portanto, a esse processo de articulação dos sentidos, de

construção de Mapas Afetivos e, a partir deste é que se formam as imagens a serem

atribuídas à roda como espaço de EP que foram classificadas a partir da escolha de

categorias por saturação, à medida que, se repetiram e que serviram para a

ordenação do aparecimento destas categorias.

4.8 Princípios éticos

No que diz respeito aos procedimentos éticos, a pesquisa atendeu à

Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que normatiza os

aspectos éticos relativos à realização de pesquisas envolvendo seres humanos.

Buscou-se a permissão da Secretaria da Saúde do Município de Sobral-

CE, por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde (NEPS), também anuído

pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UVA, com parecer de numero 0148/2015, em 8

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de dezembro de 2015 e pela Comissão Científica, em 2 de março do mesmo ano,

com parecer de número 52246015.6.0000.5053.

Considerando que, todo o progresso e seu avanço devem, sempre,

respeitar a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano a participação da

pesquisa será de livre escolha dos sujeitos assim como a liberdade para desistir

dessa participação em qualquer estágio que ela se encontre sem trazer prejuízos ou

ônus aos participantes. Foi garantido, também, a retirada de toda e qualquer

informação ou ato que possa ferir a dignidade ou expor indevidamente os sujeitos da

pesquisa, sempre que a garantia do anonimato não for suficiente para tal.

Em respeito aos princípios de respeito à autonomia dos sujeitos e da

beneficência e não maleficência oferecemos o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (APENDICE D), documento no qual é explicitado o consentimento livre e

esclarecido do participante e/ou de seu responsável legal, de forma escrita, devendo

conter todas as informações necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil

entendimento, para o mais completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se

propõe participar.

Pretendeu-se com isso respeitar as questões éticas que perpassem todos

os processos desta pesquisa, assegurando a preservação dos dados, a

confidencialidade e o anonimato dos indivíduos pesquisados.

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5 IMAGENS AFETIVAS DA RODA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO

PERMANENTE PARA OS PROFISSIONAIS DA ESF DE SOBRAL

5.1 Caracterização dos participantes deste estudo

Os participantes deste estudo, profissionais da ESF, residentes e internos

do Sistema Saúde Escola, correspondem aqueles que desenvolvem seus processos

de trabalho e vivências de aprendizagem, nos CSFs Alto da Brasília, Tamarindo e

Novo Recanto e que participaram das rodas no momento da coleta de dados.

Destes, 50 (85%) compõem as equipes mínimas, equipes de saúde bucal e NASF,

enquanto que 9 (15%) são residentes e internos , que se inserem de forma orgânica

nas eSF no Sistema de Saúde considerado como um Saúde Escola, totalizando 59

participantes, os quais se dividiram em 10 grupos: 4 no Alto da Brasília, 3 no

Tamarindo e 3 no Novo Recanto; os quais denominaremos nesta pesquisa de

Centro de Saúde da Família A, B e C, não correspondendo, necessariamente, a

sequências dos CSF tipificados.

Para fins de caracterização foram consideradas as variáveis: idade, sexo,

escolaridade, tempo de inserção na equipe e categoria profissional, conforme

Tabelas 1 e 2.

Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade. Sobral-Ce, 2016. ( Continua)

VARIÁVEL/CSF A B C TOTAL

N° % N° % N° % N° %

IDADE

22 a 30 10 3% 7 38% 6 35% 23 39%

31 a 39 2 9% 4 21% 6 35% 12 20%

40 a 48 8 35% 5 26% 4 24% 17 29%

49 a 57 3 13% 1 5% 1 6% 5 8%

Não respondeu 2 10% 2 4%

SEXO

Feminino 21 91% 16 84% 13 76% 50 85%

Masculino 2 9% 3 16% 4 24% 9 15%

ESCOLARIDADE

Ensino fundamental

incompleto - - 1 5% 1 6% 2 3%

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Tabela 1- Distribuição dos participantes, segundo idade, sexo e escolaridade. Sobral-Ce, 2016. ( Conclusão)

Ensino fundamental

completo

- - - - 1 6% 1 2%

Ensino médio

incompleto - - - - - - -

Ensino médio

completo 9 39% 7 37% 8 47% 24 41%

Ensino superior

incompleto 1 4% 2 11% 2 11% 5 8%

Ensino superior

completo 11 49% 7 37% 3 19% 21 36%

Especialização 1 4% 1 5%

2 3%

Não respondeu 1 4% 1 5% 2 11% 4 7%

TOTAL 23 100% 19 100% 17 100% 59 100%

Fonte: Primária.

Quanto a idade dos participantes, esta variou entre 22 a 57 anos,

agrupadas em 4 classes, a partir da primeira idade, com intervalo fechado de 8 em

8 anos. A maioria encontra-se dentro da faixa etária de 22 a 30 anos, o que

corresponde a 35% do total, demonstrando que há uma predominância de adultos

jovens. Estudo realizado por Nunes et al ( 2015) sobre Perfil dos Profissionais das

Equipes de Saúde da Família em municípios de pequeno porte de uma Regional de

Saúde do Paraná, identificou que 40% do total de profissionais apresentavam idade

inferior a 30 anos. Tomasi et al (2008) reforça também, que os trabalhadores da ESF

são significativamente mais jovens que os vinculados ao modelo tradicional,

concentrando-se nesta mesma categoria de idade.

No que concerne a variável sexo, identifica-se que o sexo feminino

prevalece, correspondendo a 85%. Este resultado se assemelha, ao que foi

encontrado, por Assis et al (2010), que afirma que a proporção de mulheres

trabalhadoras na ESF é superior a quantidade de homens, chegando a 93,3%.

Sobre isso, observa-se que a participação das mulheres no mercado de trabalho em

saúde vem se expandindo e sendo estudada nas últimas décadas, visto que se

busca compreender melhor a especificidade da saúde, que abriga um contingente

expressivo de mulheres em seu quadro, que vem representando cerca de 70% de

toda força de trabalho em saúde (MACHADO; OLIVEIRA; MOYSES, 2011).

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61

Ao analisar o grau de escolaridade, sobressaem os profissionais que

informam ter concluído o Ensino Médio completo (41%), seguido dos que concluíram

ensino superior (36%). Os que declaram ter Ensino superior incompleto somam 8%,

enquanto 3% tem Ensino fundamental incompleto, o que se equipara aos que

declaram ter Especialização (3%). Além desses, 7% não responderam a este

quesito.

Direcionamos a análise desta variável com o perfil de escolaridade

requerido para os profissionais que integram as eSF. Assim, este resultado é

condizente com o que é preconizado pela Política Nacional da Atenção Básica

(PNAB), que define que a eSF seja composta por 03 categorias profissionais de

nível superior (enfermeiro, médico e odontólogo), ainda, acrescido dos profissionais

do NASF, somando, em média, oito profissionais, o que corresponde a 36% dos

profissionais na equipe. Na composição de profissionais com nível técnico que

requer uma formação de ensino médio temos o indicativo de 14 profissionais, nas

categorias de: Agente Comunitário de Saúde (ACS), Auxiliar ou técnico de

enfermagem e auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal correspondendo a 63%.

(BRASIL, 2012).

As categorias profissionais mais presentes, conforme mostra a Tabela 2,

são as de nível técnico, sendo o ACS o que representa um maior quantitativo (31%),

seguida dos profissionais de enfermagem representados por 22% destes, entre

técnicos e auxiliares de enfermagem, e enfermeiros. Dado que vai de encontro aos

resultados da pesquisa realizada por Assis et al (2010), a qual identificou que 56,7%

dos profissionais de saúde que atuam na ESF, são Agentes Comunitários de Saúde,

coadunando com o que traz a PNAB (BRASIL, 2012). Direcionando a análise para o

quantitativo de profissionais de enfermagem identificamos que os resultados se

comparam com o que foi encontrado por Machado; Oliveira; Moyses (2011), quando

identificou que, nas últimas duas décadas, a contratação de profissionais

enfermeiros para o mercado de saúde sofreu um acréscimo de 179,8%, enquanto

que a contratação de técnicos e auxiliares de enfermagem aumentou em 110,2%.

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Tabela 2- Distribuição dos participantes, segundo Categoria Profissional e Tempo de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016. (Continua)

VARIÁVEL/CSF A B C TOTAL

N % N % N % N %

CATEGORIA PROFISSIONAL

Atendente de Saúde

Bucal

2 9% - - 1 6% 3 5%

Agente Comunitário

de Saúde

8 35% 6 32% 4 23% 18 31%

Assistente de

administração

1 4% 1 5% 1 6% 3 5%

Atendente de farmácia - - 1 5% - - 1 2%

Auxiliar de

administração

- - - - 2 12% 2 3%

Auxiliar de

enfermagem

2 9% - - 1 6% 3 5%

Enfermeiro 1 4% 2 13% 3 20% 6 11%

Médico - - - - - - - -

Odontólogo - - 1 5% 1 6% 2 3%

Auxiliar de Serviços

Gerais

- - - - 2 12% 2 3%

Técnico de

enfermagem

- - 2 11% 2 12% 4 7%

Vigilante - - - - - - - -

Educador Físico

(Residente)

- - 1 5% - - 1 2%

Fisioterapeuta

(Residente)

1 4% 1 5% - - 2 3%

Fonoaudiólogo

(Residente)

- - 1 5% - - 1 2%

Nutrição (Residente) 2 9% - - - - 2 3%

Psicólogo (Residente) 1 4% - - - - 1 2%

Serviço Social

(Residente)

1 4% - - - - 1 2%

Terapeuta

Ocupacional

(Residente)

- - 1 5% - - 1 2%

Psicólogo (NASF) 1 4% - - - - 1 2%

Serviço Social (NASF) 1 4% - - - - 1 2%

Internos de enf. 1 4% 1 5% - - 2 3%

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Tabela 2 - Distribuição dos participantes, segundo Categoria Profissional e Tempo de inserção na equipe. Sobral-Ce, 2016. (Conclusão)

TEMPO DE INSERÇÃO NA EQUIPE

0 a 2 11 48% 8 42% 9 53% 28 48%

2 a 10 4 17% 6 31% 6 35% 16 29%

Maior que 10 6 26% 3 16% 1 6% 10 17%

NÃO RESPONDEU 2 9% 2 11% 1 6% 5 8%

TOTAL 23

19

17

59

Fonte: primária.

Além das categorias profissionais estabelecidas pela PNAB, para o bom

desenvolvimento dos processos de trabalho, os Centos de Saúde da Família em

Sobral, contam, também, com o serviço de outras categorias que são: Agente

Administrativo, Atendente de Farmácia, Auxiliar de serviços gerais e vigilantes.

Dentre estes, não esteve presente em nenhuma Roda o vigilante, ausência

justificada por uma das equipes pela necessidade de controlar e orientar a

população que ainda busca os serviços da unidade, durante o turno da reunião, o

que, em parte, desvirtua o objetivo deste espaço de Roda por não permitir que esse

profissional vivencie a construção de conhecimento e de contratos, visto que o

mesmo é peça chave na transmissão de informações e orientações aos usuários,

por ser o profissional que primeiro os acolhe na chegada da UBS. Quanto a

ausência do profissional médico, nenhuma das equipes fez referencia a tal situação

porém, isto, também, se faz ver como um aspecto que fragiliza os processos de

aprendizagem por este profissional não vivenciar a construção dos projetos

pactuados, não se sentido corresponsável pelos mesmos.

Ainda como uma especificidade do Sistema de Saúde de Sobral, vimos a

figura do gerente, que é um profissional selecionado, responsável pela dinâmica e

processos administrativos do CSF. Os dois gerentes presentes durante a pesquisa,

são da categoria profissional de enfermagem, apesar de, dentro do cenário do

município, em outras unidades de saúde, outras categorias como educador físico,

fisioterapeuta, entre outros, assumam essa função estratégica.

Quanto ao tempo de inserção dos participantes da pesquisa nas equipes

temos que 48% a integram num período inferior a 2 anos. Considerando a

prerrogativa do município se constituir como um sistema de saúde escola, os

profissionais residentes e internos de enfermagem estão contidos neste percentual.

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Entendemos ser necessário a participação deste na pesquisa, visto que, se inserem

de forma orgânica no serviço e consequentemente participam diretamente dos

processos de trabalho. Sendo assim, teremos sempre um quantitativo expressivo de

profissionais que se encontram há menos de 2 anos inseridos na equipe, uma vez

que o curso da RMSF ocorre em um período de 24 meses, conforme Portaria 2.117,

de 3 de novembro de 2005, (Brasil, 2005) e os internos de enfermagem, um período

de 560 horas, distribuídas em 4 meses de acordo com Manual de Internato do Curso

de Enfermagem da Universidade Estadual Vale da Acaraú (UVA, 2014).

Ainda, assim, é possível identificar a predominância de profissionais com

vínculos recentes. Para Nunes et al (2015), em estudo realizado sobre a atenção

básica, 70% dos profissionais da ESF estavam atuando a menos de cinco anos na

ESF.

Alguns fatores têm sido registrados como responsáveis pela alta

rotatividade, a exemplo da precarização do trabalho com vínculos frágeis, bem como

baixa oportunidade de progressão profissional, exigência de carga horária integral,

entre outras (MENDONÇA et al., 2010). O que gera, além do aumento de custos

devido a necessidade de reposição de pessoal, a insatisfação dos outros

profissionais no ambiente de trabalho, dificultando o atendimento ao usuário que

sofre interrupções e descontinuidade do cuidado (SCALCO et al., 2010).

Registra-se que, este estudo, não investigou, por não ser seu objeto, a

rotatividade dos profissionais que integram as eSF em Sobral.

Após conhecermos as principais características dos participantes,

seguimos a etapa de catalogação das unidades onde construímos, a partir da

explicação dos profissionais quanto ao desenho, o significado que os mesmos

atribuem ao espaço da roda.

5.2 Significado(s) da roda na ESF

Dada a dificuldade de acessar sentimentos, os desenhos construídos

pelos grupos nos trazem a possibilidade de avaliar afetos e emoções ligados a Roda

como estratégia de EP, a partir do simbolismo do espaço construído por cada equipe

(BOMFIM, 2010), conforme já mencionado nos procedimentos metodológicos.

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65

Neste sentido, seguiremos os seguintes passos interpretativos: descrição

do desenho considerando o espaço físico, a expressividade dos sentimentos e a

relação da roda com a educação permanente em saúde.

5.2.1 Significações visuais da roda

Quadro 3 - Desenhos da Roda enquanto Estratégia de EPS construídos pelos Profissionais do CSF A. Sobral-Ce, 2016

QUADRO 4- Desenhos da Roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos profissionais do CSF B. Sobral-Ce, 2016

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QUADRO 5- Desenhos da Roda enquanto estratégia de EPS construídos pelos profissionais do CSF C. Sobral-Ce, 2016.

Os desenhos realizados pelos participantes da Roda dos CSF A1, A2, A3,

A4 e B1 nos permitem inferir que há uma similaridade na representação visual deste

espaço. As imagens exprimem um simbolismo da Roda caracterizado pela

circularidade e que nesta, os participantes se colocam como elo ao juntarem as

mãos, o que nos leva a confirmar o que diz Campos (2005) quando aborda a

importancia das pessoas terem a oportunidade de se olharem, com a tarefa, não

apenas de produzir coisas, mas de constituição de pessoas e de sua rede de

relações.

Já os participantes dos grupos B1 e B2, representam o espaço circular

formando uma interligação contínua que traz em seu interior, células e elos que

unidos, formam o círculo em sua totalidade, corroborando também com o que nos

diz Campos et al (2014) quando fala que o método Paidéia busca ampliar a

capacidade das pessoas de compreender a si mesmas, aos outros e ao contexto, o

que traz como consequência a necessidade de criação de vínculos entre os sujeitos

fazendo-se necessário que se análise o desejo e interesse próprios, ao tempo em

que se considere o desejo e interesse do outro, bem como toda a dinâmica histórica

e social.

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Nos desenhos dos grupos B3, C2 e C3, os participantes expressaram o

espaço físico onde ocorre semanalmente a Roda e neste a delimitação do local que

cada profissional “ocupa” - local que geralmente senta - delimitando a apropriação

do espaço onde vivenciam a Roda. Bonfim apud Prochansky (2010) define

apropriação como um sentimento de pertencimento do indivíduo ao seu lugar, a

ponto de despertar nele o sentimento de apego, defesa e cuidado. Como

consequência, torna-se capaz de gerar afetividade, por ser este cenário palco de

suas experiências de afetos e emoções, mediando às construções e descobertas

(BONFIM, 2010). No entanto, refletimos que tal apropriação de espaço pode

representar demarcação de poder, o que segue em contramão ao que se entende

da Roda enquanto circularidade.

Campos 2006 reflete, ainda que, por ser co-gestão definida como espaço

de compartilhamento de poderes onde a cidadania e a democracia constituem

ambiente favorável ao desenvolvimento das pessoas, tal disputa pelo poder torna-se

essencial à esta democracia, desde que se configure como um meio para um bom

governo e não um fim em si mesmo.

É notório, entretanto, a expressão da Roda como espaço vivo

sobrepondo-se a concretude do espaço físico. Campos (2006) reforça que, para que

o método Paidéia possa ser implementado, não exige espaços pedagógicos ou

terapêuticos especiais, dependendo muito mais da constituição de espaços de

compartilhamento de poderes, o que define-se como co-gestão. Ao intérprete fica a

leitura que o significado da roda se expressa pelo que ela é, ou seja, pelo vivido e

não pela estrutura física na qual se instala.

As palavras que permeiam as imagens expressam uma unidade de

significações entre os componentes das equipes, ao referirem palavras sinônimas ou

afins, a exemplo de união, integração, parcerias; mas, ao mesmo tempo, denotam o

lugar da singularidade, do particular na totalidade. Tal configuração nos conduz a

inferência do espaço da roda enquanto espaço de expressão da autonomia do

pensar/interpretar dos participantes. Para Campos (2006) esse espaço assegura,

tanto ao indivíduo como a coletividade, a possibilidade de ampliarem a autonomia,

partindo da liberdade da expressividade de interesses, desejos e valores particulares

ou singulares. Não significando autonomia como descompromisso ou independência

absoluta, ao contrário, implicando na capacidade de se firmarem contratos e

compromissos entre atores sociais envolvidos, criando assim uma rede de

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dependências que partem da construção de vínculos, considerando o mundo que

intervêm sobre eles (CAMPOS, 2006).

O grupo B3 express, simbolicamente, por meio de nuvens diferentes

expressões apresentadas pelos participantes, ao se colocarem em Roda

demonstrando que o método da Roda permite que os sujeitos impliquem-se com

projetos de interesse ou tarefa comum de forma a valorizar os saberes, mesmo dos

que, institucionalmente, tenham menos poder, reconhecendo que todos são capazes

de trazer para esse espaço coletivo modos de se fazer avançar os próprios projetos

e articulá-los aos do agrupamento, potencializando as soluções para contextos

vistos como desfavoráveis (CAMPOS, 2005).

Considerando que o objeto de análise deste estudo é a roda enquanto

estratégia de EPS, reconduzimos nossas lentes às imagens (visuais e textuais) na

busca de capturar as significações da Equipe acerca desta assertiva, qual seja a

roda enquanto espaço de aprendizagem. Num primeiro relance já é possível

identificarmos a expressão “Educação Permanente”. Seguimos a busca e

identificamos, sem dificuldade, outras palavras que se associam diretamente a esta,

tais como: ensino, nivelamento, aprendizagem, educação em saúde, ideias,

compartilhamento, informação, conhecimento (trocas), qualificação e alinhamento.

No grupo B1 os participantes citam palavras como cogestão e

coparticipação, termos que encontram-se relacionados a EPS por esta propor

espaços em que se reúnam os coletivos com o intuito de discutirem a reformulação

da estrutura e do processo produtivo em si, fazendo do sujeito um ator ativo das

cenas de formação e trabalho (CECCIM, 2005). Campos et al (2014) vem fortalecer

esta afirmativa quando conceitua cogestão como “exercício compartilhado do

governo de um programa, serviço, sistema ou política” (p.986) enquanto que

coparticipação implica no envolvimento de sujeitos com distintos interesses e

inserções sociais em todas as etapas do processo de gestão, integrados em sistema

de gestão participativa (CAMPOS et al., 2014).

Documentos institucionais do Ministério da Saúde conceituam educação

permanente como processo de educação dos trabalhadores baseado na

aprendizagem significativa, onde o aprender e o ensinar acontecem no cotidiano das

pessoas e das organizações. Propõe que parta da problematização dos processos

de trabalho, bem como das necessidades de saúde das pessoas e da população,

levando em conta as necessidades de formação dos trabalhadores, e sua bagagem

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de conhecimentos e experiências (BRASIL, 2009). Situação que nos remete a

valorizar a expressividade dos participantes quando trazem, na construção de suas

imagens, as expressões relativas à Educação Permanente, reforçando o quanto a

Roda se constitui como espaço propício a esse processo.

5.2.2 Significações da roda a partir das explicações dos desenhos

Apresentamos agora a significação que os grupos atribuem a Roda

enquanto estratégia de EPS, a partir da explicação que eles trazem dos desenhos.

Quando solicitado que fosse externada, através da fala, qual significado o

desenho teve para o grupo, observou-se que os participantes veem o espaço da

Roda como um momento de construção coletiva, a exemplo dos trechos discursivos

que segue:

“[...] Aí a gente trouxe a ciranda como uma representação desse momento de construção coletiva do conhecimento...” A1 “[...] Toda a equipe aprende junto e de forma igual, formando um momento de construção coletiva, que tem influência direta na conduta dos profissionais.” B1

Esse processo de construção do conhecimento a partir do

compartilhamento da prática e da problematização dos processos de trabalho

proporciona a atualização de saberes na produção dos sentidos no agir (MERHY,

2015) caracterizando-se assim como um processo de aprendizagem significativa

que desemboca não somente na atualização dos aportes teórico-metodológicos,

mais ainda em uma necessária construção de relações e processos que vão do

interior das equipes às práticas organizacionais.

Sobre isso, Campos (2005) reforça que o Método da Roda, por ser um

método de apoio a co-gestão de processos de produção, amplia a capacidade de

direção dos grupos, aumentando assim sua capacidade de analisar e operar sobre a

práxis. O que conferimos nas falas:

“Momento... de trocas de conhecimentos e a gente passa conhecer mais o trabalho, o nosso serviço, a nossa organização... a gente planeja pra organizar. O que mais? Proposição... É a questão de trazer proposta, sugestão, dar ideias...” A1 “Trabalhamos numa equipe que é como um dominó: se um não faz o seu trabalho direito, todos caem e aí fica muito ruim. Também digo que a roda é

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um desafio de procurar resolver os problemas que aparecem no nosso trabalho, mas é bom que todos resolvem juntos” B2 “[...] porque durante o dia a gente só se ver de relâmpago né, só pra tratar de problemas da área ou coisas parecidas e na roda... é que agente interage...” C2

Nas falas observamos a importância do encontro que o espaço da Roda

traz para que se oportunize a reflexão a partir da prática de si e do outro, visto que,

no cotidiano, esse encontro se faz sem o tempo necessário de se permitir afetar. Se

fazendo necessária a implementação desses espaços de análise e reflexão da

prática, que tomem o cotidiano como lugar aberto a revisão contínua, que gere

desconforto e produza subjetividade (CECIM, 2005). O fato de se desinstalar gera

reflexões capazes de co-produção de sujeitos, que constitui-se como um dos

conceitos de sustentação do Método da Roda. O que podemos atestar nos discursos

dos grupos:

“A Roda é um momento de aprendizagem e de ensino... de integração... onde todo mundo fica na mesma igualdade, todo mundo tem direito de falar... É um momento de união e de fortalecimento de conhecimento.”A2 “O desenho demonstra um circulo onde todo mundo pode se olhar e ficam todos iguais, independente da profissão. Todos podem falar e participarem para articular as estratégias e melhorar o nosso trabalho, no dia a dia. Mesmo quando tem as opiniões diferentes...”B1 “[...] é um espaço de evolução enquanto profissional e até mesmo enquanto ser humano [...]” C1 “É um lugar onde tende a haver a igualdade, não tem ninguém nem maior nem menor... todos se ajudando, realmente um apoiando o outro.” C3

O sentimento de igualdade e o direito da fala expressado pelos grupos

denotam a importância deste espaço no fortalecimento de vínculos que geram trocas

de experiências fundamentais para a aprendizagem significativa. Quando a Roda

acontece como um espaço de diálogo, os trabalhadores têm a possibilidade de falar

sobre suas realidades e ouvir de outros trabalhadores suas experiências e vivências,

possibilitando trocas simbólicas e afetivas que o fazem reconstruir o sentido do

trabalho, revertendo o que antes era angústia em proposta (Torres et al, 2012), e

esse é o desafio que a EPS propõe: o aprendizado que precisa fazer sentido, para

operar no campo de ação individual e afetar o coletivo.

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Portanto, a Roda enquanto espaço terapêutico oportuniza a

aprendizagem, e inferimos das falas dos participantes, o quanto a Roda se coloca

como tal:

“[...] tem também os momentos de cuidado com a gente né, de fazer as terapias, que são show de bola, são massa.” A1 “Aí a gente trouxe a ciranda como uma representação desse momento de construção coletiva do conhecimento [...]” A1 “[...] também um momento de se confraternizar, de cuidar, de se unir né, porque durante o dia a gente só se ver de relâmpago né, só pra tratar de problemas da área ou coisas

parecidas e na roda a gente tem aquela parte da acolhida né, que a gente interage, que a gente brinca, acha graça, manga, enfim, é um momento que ajuda com que a gente interaja melhor do que no dia a dia.” C3

O comparativo da Roda com uma ciranda, trazido pela fala dos

participantes do grupo A1 nos remete à circularidade, à alegria do encontro, às

brincadeiras da infância, principalmente quando nos reportamos às brincadeiras de

roda que, uma vez que exigem o olhar frente a frente, o toque corporal, à exposição,

ajudam a sociabilizar e desinibir, potencializando o senso rítmico e organização

coletiva, sendo também um dos elementos importantes para a integração e o lazer

(Gaspar, 2009), o que possibilita ao profissional sentir-se sujeito ativo no processo

de Educação Permanente, permitindo afetar-se e modificar-se, colocando-se em

permanente produção (CECCIM, 2005).

Os participantes também trazem em suas falas a expressividade de

sentimentos que o momento da Roda possibilita e a influência que este tem sobre a

significação do mesmo.

“[...] A gente quis mostrar aqui no desenho que a roda é uma mistura de sentimentos. Muitos chegam muitas vezes com raiva, tristes, alegres, e isso acaba se misturando e dando esse sentido da roda, a ser esse círculo[...]” A4 “Observando agora, vejo como fizemos o desenho que mostra pequenas células que forma um círculo todo. Assim somos nós, nesse espaço da roda: cada um com seus pensamentos, sentimentos, conhecimentos... e, juntando tudo, fazemos o círculo único.” B1 “Essa nuvenzinha diz que todos nós estamos pensando em alguma coisa diferente pra falar aqui e ensinar e aprender também... Cada um traz um pensamento e um sentimento e, aqui, um aprende com o que o outro traz.” B2

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Colocar-se em Roda é colocar-se por inteiro, com ideais, afetos, ilusões e

outros sentimentos pertinentes ao ser, ao ponto em que também nos colocamos

sensíveis as afecções do outro em nós. Passa-se a ser, não mais o indivíduo, mas o

coletivo que move a Roda (RUIZ, 2010).

O grupo A3 inicia sua apresentação trazendo um olhar diferente do que

até agora foi aqui apresentado e analisado neste estudo.

“Roda não presta, que é só perda de tempo... Porque todo

mundo vai dizer que é uma maravilha, mas eu digo o que eu escuto.”

Campos (2005) diz que, para que se legitime a existência de outros

agrupamentos, deve-se privilegiar a discordância e a divergência de formulações

alheias, sem, portanto desconsiderá-las. Para ocuparmos o lugar de atores ativos

nos processos de EPS, precisamos muitas vezes, desaprender os padrões de

subjetividade hegemônicos que somos e permitir que os problemas reais nos

afetem, a ponto de nos colocar como sujeitos produtores de subjetividade (MERHY,

2015). Portanto, respeitar e acolher os diferentes olhares impulsiona a gerar

reflexões que levem o processo de trabalho a diferentes movimentos.

Esta fala deve ser considerada. É preciso reconhecer as diferenças de

percepções e buscar reconhecer o que a condiciona. Entretanto, faz-se necessário

registrar que a fala que complementa este discurso apresenta contradições. Para

este mesmo participante, representando o discurso de seu grupo, reconhece a Roda

como um processo que tem como propósito o permitir afetar-se para transformar

palavras em ideias, e ideias em atos de intervenção que produzam mudanças.

“[...] A partir do momento em que se dão as mãos, a gente luta junto e, se eu separar e fizer só uma reta, tem um começo e tem um fim, o círculo ele não tem. A roda é um momento de... continuidade, exatamente porque, a continuidade, a gente nunca termina e está sempre aprendendo coisas novas. Pensar também de não ter começo, meio e fim ... pra se chegar na comunidade. Não ter que ter a visão de estar se rodando no mesmo lugar e não ir pra canto nenhum...quando eu imagino uma roda, eu imagino ela rodando e indo a algum lugar e não rodando em torno de si[..].” A3

Outras falas, também, fortalecem esse sentimento de que a Roda sempre

propõe um processo de continuidade que não se finda em si, mas se coloca em

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73

movimento, refletindo nos atos produzidos no cotidiano, o que, para Ceccim (2005),

se retrata como uma característica da Educação Permanente.

“[...] um momento de construção coletiva, que tem influência direta na conduta dos profissionais”. B1 “Porque a gente percebe que, no decorrer da roda... esse espaço... ele vai desaguar ne, na melhoria da qualidade da Estratégia saúde da família, que é o nosso objetivo né que é prestar realmente uma promoção da saúde melhor pra comunidade.” C1 “É onde a gente aprende, planeja ações pra comunidade, pra dentro mesmo do posto...” C3

Pensar na Roda como um processo que não acaba em si, traz significado

a esse espaço. Esse encontro de sujeitos/poderes possibilita que se tome o mundo

do trabalho como escola e traga para o coletivo suas tarefas e conhecimentos,

propiciando a avaliação da própria ação produtiva a fim de se visualizar como uma

esfera de construção de novas possibilidades de fazer (MERHY, FEUERWERKER,

CECCIM, 2006)

5.2.3 Significações da roda a partir das qualidades e sentimentos expressos

pelos participantes

Após a etapa de explicação do desenho, foi solicitado, conforme descrito

na metodologia, que os grupos trouxessem, por ordem de importância, as palavras

sínteses (sentimentos e qualidades) que se relacionassem ao desenho.

QUADRO 6- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF A (Continua)

GRUPO PALAVRAS

SÍNTESES

PRIMEIRA

PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES

A1

Educação

Permanente

Planejamento

Acolhimento

Troca de

conhecimentos

Enfrentamentos de

dificuldades

Cuidado

Educação

Permanente

Troca de

conhecimentos

Cuidado

Educação

Permanente

Planejamento

Acolhimento

Enfrentamentos

de dificuldades

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74

QUADRO 6- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF A (Conclusão)

Fonte: Primária

QUADRO 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B. (Continua)

GRUPO PALAVRAS

SÍNTESES

PRIMEIRA

PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES

A2

Integração

Aprendizagem

União

Ensino

Fortalecimento

Compartilhamento

Integração

Integração

Aprendizagem

União

Fortalecimento

Compartilhamento

Ensino

A3

Compromisso

Conhecimento

Aprendizagem

Integração

União

Continuidade

Compromisso

Aprendizagem

Integração

União

Compromisso

Conhecimento

Continuidade

A4

Planejamento

Cuidado

Parcerias

Compartilhamento

Alegria

Equipe

Planejamento

Cuidado

Compartilhamento

Alegria

Planejamento

Parcerias

Equipe

B1

Administrativa

Planejada

Terapêutica

Pedagógica

Igualdade

Co-participação

Administrativa Igualdade

Administrativa

Planejada

Terapêutica

Pedagógica

Co-participação

B2

Compartilhar

Planejar

Realizar

Discutir

Desabafar

União

Compartilhar União

Compartilhar

Planejar

Realizar

Discutir

Desabafar

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75

QUADRO 7- Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF B. (Conclusão)

Fonte: Primária.

QUADRO 8: Sentimentos e qualidades citados pelos profissionais do CSF C

GRUPO PALAVRAS

SÍNTESES

PRIMEIRA

PALAVRA SENTIMENTOS QUALIDADES

Fonte: Primária.

Observamos que, as primeiras palavras citadas pelos grupos por ordem

de importância, remetem-nos aos componentes da Roda: administrativo, político,

pedagógico e terapêutico, por ser este um método de co-gestão de coletivos que

supõe que em todos os espaços institucionais estão em jogo os poderes, os afetos e

os saberes (CAMPOS, 2006).

Ancoradas por tal pressuposto, categorizamos as expressões trazidas

pelos grupos, dimensionando cada componente definido pelo método, a fim de

identificá-los e classificá-los, a partir dos sentimentos e qualidades citados,

evidenciando entre as principais características da Roda o seu potencial enquanto

B3

Aprendizagem

Educativa

Troca de saberes

Reflexiva

Dispersão

Momento de

aproximação

Aprendizagem

Aprendizagem

Troca de saberes

Dispersão

Educativa

Reflexiva

Momento de

aproximação

C1

Aprendizagem

Planejamento

Metas

Evolução

Alinhamento

Terapêutica

Aprendizagem

Aprendizagem

Alinhamento

Planejamento

Metas

Evolução

Terapêutica

C2

Aprendizado

Informação

União (trabalho em

equipe)

Descontração

Cobranças

Rotina

Aprendizado

Aprendizado

União (trabalho

em equipe)

Descontração

Informação

Cobranças

Rotina

C3

União

Planejamento

Motivação

Igualdade

Aprendizado

Resolução

União

União

Motivação

Igualdade

Aprendizado

Planejamento

Resolução

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76

educativo, com os respectivos sentimentos que a representam, bem como trazemos

as qualidades e sentimentos que se referem às fragilidades deste espaço.

5.2.4 Imagens da roda conforme significações construídas pelos participantes

Como descrito na metodologia, neste quadro catalogamos por ordem de

frequências e aparecimentos, todos os sentimentos e qualidades descritos pelos

profissionais, conforme categorias já definidas enquanto administrativa, política,

pedagógica, terapêutica e fragilidade.

QUADRO 9- Imagens da Roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos profissionais (Continua)

IMAGEM

(Por ordem de

importancia)

Qualidades Sentimentos

Pedagógica

(Q – 10 + S – 9 =

19)

32%

Educação permanente(1)

Pedagógica (1)

Educativa (1)

Discutir (1)

Compartilhar (3)

Informação (1)

Conhecimento (1)

Ensino (1)

Aprendizado/aprendizagem (6)

Troca de saberes/conhecimento

(2)

Alinhamento (1)

Terapêutica

(Q – 4 + S – 12 =

16)

26%

Terapêutica (2)

Acolhimento (1)

Momento de aproximação (1)

União (5)

Cuidado (2)

Descontração (1)

Motivação (1)

Integração (2)

Alegria (1)

Administrativa

(Q – 12 + S – 2 =

14)

24%

Planejamento (6)

Administrativa (1)

Realizar (1)

Metas (1)

Evolução (1)

Rotina (1)

Resolução (1)

Compromisso (1)

Continuidade (1)

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77

QUADRO 9 - Imagens da Roda conforme sentimentos e qualidades citados pelos profissionais (Conclusão)

Política

(Q – 5 + S – 4 = 9)

15%

Co-participação (1)

Enfrentamento das dificuldades

(1)

Reflexiva (1)

Trabalho em equipe (1)

Fortalecimento (1)

Desabafo (1)

Igualdade (2)

Parcerias (1)

Fragilidade

(Q – 1 + S – 1 = 2)

3%

Cobranças (1) Dispersão (1)

Fonte: Primária.

A imagem da Roda pedagógica foi a que demonstrou ser a primeira em

grau de importância para equipe, por agregar a este dispositivo as características de

educativa, reflexiva e a oportunidade de discutir, compartilhar saberes e

informações, alinhando-se ao que requerido em processos de educação permanente

que tensiona o vivido nos processos de trabalho e busca transformá-lo para

qualificá-lo. É uma imagem que associada aos sentimentos de aprendizagem,

alinhamento e troca de saberes, considera a relevância do espaço da Roda

enquanto momento em que a equipe volta o olhar para a atualização do

conhecimento técnico a partir da discussão e reflexão da produção do mundo do

cuidado e da prática. Amparemo-nos em Merhy (2015) que reforça a importância de

se ter um olhar ampliado de modo intencional para o mundo do agir do trabalho que

“atualiza o conhecimento e o produz ali na produção dos sentidos no agir” (MERHY,

2015. p.10). Tal aprendizado, não se faz visível no cotidiano de prática da equipe,

que se encontra permanentemente produzindo e reafirmando conhecimentos,

enquanto age tecnologicamente no campo do cuidado (MERHY, 2015).

Campos (1988), ainda, valoriza esse espaço como um “sistema informal

de Educação Continuada do estilo paidéia (educação integral)” por oportunizar, a

partir de oficinas, discussões de casos e elaborações conjuntas de projetos

terapêuticos ou de programas coletivos, o intercambio de saberes (CAMPOS, 1998,

P. 869).

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78

A segunda imagem3 encontrada foi a Roda terapêutica por proporcionar

momentos de aproximação, acolhimento e compartilhamento, associando-se aos

sentimentos de união, cuidado, descontração e motivação.

Para Torres et al (2012), a existência de um espaço coletivo como um

lugar de encontro, fortalece e instrumentaliza a equipe para lidar com as

complexidades do cotidiano e do processo de trabalho. Brandão (2006) ver para

além, quando diz que a Roda é um bom encontro onde a afetividade resulta em

alegria capaz de fortalecer a potência de ser em cada indivíduo, potencializando a

construção de vínculos que, para Campos (2006), se manejados adequadamente,

apoia o grupo a enxergar a própria impotência e a descobrir novas maneiras de

enfrentar velhos problemas.

A terceira imagem encontrada é de que a Roda administrativa é

caracterizada por ser um espaço de planejamento, construção de rotinas e metas

para a evolução da equipe e resolução das dificuldades, vinculada aos sentimentos

de continuidade e compromisso. Para se configurar como tal, o método Paideia

propõe que esse espaço coletivo, onde ocorrem encontros entre diferentes sujeitos,

siga etapas do processo de gestão, que são: definição de objetivos e de diretrizes,

diagnóstico, interpretação de informações, tomada de decisão e avaliação de

resultados; integrando-se em sistema de gestão participativa para análise e tomada

de decisões sobre temas importantes (CAMPOS et al., 2014).

A dimensão Política da Roda é definida pelas características de co-

participação, de reflexão e de enfrentamento das dificuldades, e da potencialidade

de se realizarem os projetos idealizados. O sentimento de desabafo, igualdade e

oportunidade de se trabalhar em equipe permeia essa dimensão política. O método

da Roda busca o efeito Paidéia que visa ampliar a capacidade das pessoas de

tomarem decisões, lidarem com conflitos e estabelecerem compromissos e

contratos, a partir da interpretação das informações, da compreensão de si mesmo,

dos outros e do contexto (CAMPOS et al., 2014).

O método objetiva aumentar a capacidade de compreensão e de intervenção das pessoas sobre o mundo e sobre si mesmas, contribuindo para instituir processos de construção de sociedades com grau crescente de democracia e de bem-estar social. (CAMPOS, 2006).

3 Metáfora, processo pelo qual se tornam mais vivas as ideias, emprestando-as uma forma sensível e visível.

(BOMFIM, 2010)

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79

A equipe A2 representa esta imagem quando expressa-se sobre a Roda como:

“E a gente finaliza... com essa frase aqui que diz que nenhum de nós é melhor que todos nós juntos. Todos nós, juntos e misturados, fazemos muito melhor.” A2

Como menos importante, de acordo com a ordem, a imagem de Roda

fragilidade, foi apenas citada com a caracterísitica de ser um momento de cobranças

e representada pelo sentimento de dispersão. Como observou Ponte (2013) em seu

trabalho “Do Dispositivo ao Instituído: O Método da Roda em Sobral-Ce, promove a

Co-Gestão de Coletivos?”, a ocupação da Roda como espaço de efetivação desta

prática democrática é incipiente por parte dos profissionais, necessitando assim de

serem instituídos pelo Sistema de Saúde práticas de gestão que permita a equipe ter

mais conhecimentos teóricos e filosóficos sobre o método, bem como sobre os

princípios de co-gestão. O que não foi demonstrado pela fala da maioria dos

participantes.

Trabalhar – problematizar os processos de trabalho - conhecer

necessidades de saúde da população – colocar-se em coletivo – afetar-se e afetar

(constituição do sujeito) – identificar necessidades de aprendizado a partir das

necessidades dos outros profissionais e de si mesmos, considerando bagagens de

conhecimentos e experiências - construir novas possibilidades – pactuar contratos -

atuar na prática. Ciclo que vai sempre partir da prática e reverberar-se nesta mesma

após passar por um processo coletivo de estranhamento, reconhecimento,

aprimoramento e pactuação. E a Roda se constitui em um espaço apropriado por

trazer em sua organização, pontos que proporcionam a equipe o momento de

afastar-se um pouco do cotidiano a fim de refletir sobre o mesmo, permeado pelos

componentes administrativo, político, pedagógico e terapêutico que o método

propõe.

5.3 Sentidos da roda para seus participantes

Sendo sentido a compreensão que se manifesta do ponto de vista privado

acerca de um dado fato ou processo social, apreendido a partir das vivências

pessoais e particulares e tendo este trabalho como um dos objetivos compreender

os sentidos e significados da roda para os profissionais da ESF de Sobral

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80

discorremos aqui os resultados dos instrumentos individuais aplicados, a fim de

ancorados pela metodologia proposta de construção dos Mapas Afetivos, extrair

este sentido a partir da expressividade da metáfora aliada aos sentimentos e

qualidades atribuídos a Roda, pelos profissionais.

5.3.1 – Construção de mapas Afetivos pelos profissionais da ESF de Sobral

A título ilustrativo, mostraremos aqui os quadros, trazendo as metáforas

que representam suas respectivas imagens extraídas dos instrumentos individuais

respondidos pelos profissionais dos CSF participantes.

Embora reconhecendo que a inserção de alguns profissionais na equipe

seja recente – provável até que seja a sua primeira experiência da Roda –

valorizamos aqui a visão de estranhamento/perspectiva destes como fator que vem

a contribuir com o constructo.

5.3.1.1 Roda pedagógica

O quadro 10 nos mostra as imagens de Roda Pedagógica com as

respectivas metáforas, entendendo aqui como o pedagógico como componente

potente nos processos de EPS que permeia o espaço da Roda.

Quadro 10: Imagens da Roda Pedagógica conforme respostas dos profissionais

CSF A CSF B CSF C

Roda Troca

Roda Cordas afinadas

Roda Planta

Roda Reciclagem

Roda Aprendizagem

Roda conhecimento,

compartilhamento e

descoberta

Roda Vassoura

Roda Escada

Roda Megafone

Roda Tempo de colégio

Roda Rio

Roda Porta

Roda livro

Roda nó

Roda caderno

Roda Pássaro livre

Fonte: Primária.

A primeira imagem da Roda expressada pelos profissionais, mais

fortemente nos CSF A e B, define-se a partir de características típicas do processo

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81

formativo que o espaço propõe, alinhadas as metáforas comparativas expressadas.

Trazemos o Mapa Afetivo de alguns respondentes:

Grupo CSF A 2

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 02

Sexo: M

Idade: 24

Escolaridade

: Superior

Função:

Psicólogo

Tempo que

trabalha na

equipe: 1

semana

Estratégia

importante

de

alinhamento

conceitual e

prático para

as ações no

CSF. É

importante

que a equipe

esteja em

sintonia para

que possa

atender as

demandas

do território

Sintonia

e

Integração

da equipe

Pertenci-

mento a

equipe

Cordas

afinadas de

um

instrumento

musical

A Roda

Cordas

afinadas é

uma estratégia

de

alinhamento

conceitual e

prático para as

ações da

equipe,

colocando-a

em sintonia e

reforçando nos

profissionais o

sentimento de

pertencimento

a esta.

Olhando para o Mapa Afetivo construído pelo respondente 2 do grupo A2,

o mesmo refere-se a metáfora Roda Cordas afinadas valorizando a importância da

integração da equipe e de ser essa uma estratégia que permite alinhar as práticas

aos conceitos, de forma a nivelar o conhecimento e envolvimento dos profissionais

da equipe para atender melhor as necessidades do território.

Um dos princípios Tayloristas rebatidos por Campos (2010) é o de que

haja uma típica separação entre quem pensa, sabe e decide, de quem executa o

trabalho como quem não sabe e apenas obedece. O Método Paideia, ao contrário,

pressupõe que exista uma interdependência entre os profissionais da equipe,

ocorrendo a construção de uma interação positiva entre os profissionais, construindo

objetivos e objetos comuns, respeitando inclusive as diferenças e não contra as

diferenças.

O respondente reconhece que esta construção emerge da discussão das

questões que não encontram espaço para serem debatidas no cotidiano,

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82

encontrando na Roda uma ocasião favorável para tal conversa o que irá refletir na

qualificação do serviço ofertado. Merhy (2015) fala da importância de nos

debruçarmos intencionalmente sobre as discussões do mundo do trabalho a fim de

reconhecer tal processo como uma escola de formação, das mais fundamentais, de

onde surgem não somente produção de novos conhecimentos construídos

coletivamente como também implicando em processos formativos necessários para

a atualização da própria prática.

Grupo CSF B 1

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 05

Sexo: F

Idade: 26

Escolaridade

: Superior

completo

Função:

Dentista

Tempo que

trabalha na

equipe: 2

anos

Concordaria

e diria que é

m momento

muito

importante

para

aprendizado

de toda a

equipe, de

forma a

interligar

todos os

profissionais

de forma

interdiscipli-

nar.

Traz

conheci-

mento para

todos os

profissionai

s

Sentimen

-tos de

alerta em

relação a

ações

preventivas

da saúde da

mulher, que

necessita de

atenção e

cuidado com

a minha

própria

saúde

também.

Como um

megafone

A Roda

Megafone é um

momento

importante para

aprendizado de

toda a equipe,

de forma a

interligar todos

os profissionais

de forma

interdisciplinar

proporcionando

sentimento de

alerta em

relação as

ações

preventivas com

a saúde da

população, bem

como da própria

saúde.

Perceber a Roda como uma ocasião onde se desperta não somente para

as necessidades de cuidado da população como também para a importância do

auto-cuidado, induz o profissional a sentir-se parte importante do processo. A

imagem de Roda Megafone nos remete a necessidade de se falar em uma altura

que seja ouvida por todos, colocando-os em alerta para as necessidades em

comum.

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83

Outro aspecto notável trazido na fala é o fato da Roda ser vista como um

espaço que promove interdisciplinaridade por fomentar a interação entre os

profissionais e seus saberes sem “diluir as especificidades dos saberes e práticas

peculiares a cada profissão” (CAMPOS et al., 2014. p. 989).

Grupo CSF C 1

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 02

Sexo: M

Idade: 39

Escolaridade:

Superior

completo

Função:

Enfermeiro/ge

rente

Tempo que

trabalha na

equipe: 1ano

e 8 meses

A Roda é um

momento

precioso

para o

desenvolvi-

mento de

EP, pois

nesta

ocasião a

equipe está

reunida e o

compartilha-

mento de

experiências

se torna mais

interativo,

qualificando

o

aprendizado

Trans-

formação

do olhar

da equipe

para o

conheci-

mento que

se traz

Confia-

nça diante

das

indispensá-

veis

informações

recebidas,

ocasionando

um

aprendizado

consistente

acerca do

assunto

Um

pássaro,

livre para

voar

A Roda Pássaro

livre é um

momento

precioso para o

desenvolvimen-

to de EP, pois

nesta ocasião a

equipe está

reunida e o

compartilhamen

-to de

experiências se

torna mais

interativo,

qualificando o

aprendizado e

permitindo

transformação

do olhar da

equipe para o

conhecimento

que se traz

proporcionando

Confiança

diante das

indispensáveis

informações

recebidas,

ocasionando um

aprendizado

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84

Nesta imagem, o respondente atribui o mérito da qualificação do

aprendizado ao compartilhamento de experiências, convertendo-se em aprendizado

consistente, o que confere ao profissional maior segurança acerca do que se é

discutido. Merhy (2015) identifica que a formação individual e coletiva é provocada

pelo agir em si, agenciada pela presença do outro e do campo do cuidado. E o

imbricamento entre o conhecimento e a sua atualização no ato da produção gera o

cuidado, como exercício da própria prática de si.

5.3.1.2 Roda terapêutica

A imagem da Roda Terapêutica é expressa pelos respondentes a partir

de metáforas que nos remetem aos aspectos afetivos, de leveza e de criação de

vínculos que se relacionam a Roda. Nestas respostas, o CSF C foi o que se

sobrepôs aos demais.

QUADRO 11 - Imagens da Roda Terapêutica conforme respostas dos profissionais

CSF A CSF B CSF C

Roda Coração

Roda Toque

Roda Corações unidos

Roda Rosa

desabrochando

Roda Cantinho da

Equipe

Roda Imagem de Deus

Roda Pessoas de mão

dadas

Roda Edifício

Roda Pluma

Roda Música

Roda Mesa de

banquete

Roda Cortina

Fonte: Primária.

Nos Mapas Afetivos abaixo trazemos as imagens que se destacam na

caracterização da Roda como espaço terapêutico, extraídos dos que estão descritos

no quadro 11.

Grupo CSF A 1

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 06

Sexo: F

Idade: 21

É um

momento de

discussão

para melhorar

o meu

trabalho como

ACS.

Lazer Relaxamento

Descontração

Relaxa-mento

Descontração

Alegria

Integração

Pessoas

tocando

umas nas

outras e e

sentiam as

mãos umas

das outras

A Roda Toque

é um

momento de

adquirir

conhecimento

como uma

preparação

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85

Grupo CSF A 1

Escolaridade:

Ensino

Superior

Função: ACS

Tempo que

trabalha na

equipe: 21

anos

Adquiro

conhecimento,

fortalecimento

para os

momentos de

dificuldades

para o

enfrentamento

das

dificuldades

proporcionan-

do

relaxamento,

descontração

e alegria.

A imagem de Roda Toque trazida com uma metáfora de pessoas tocando

umas as outras, nos remete ao fato de que este espaço de aprendizado, incorpora o

seu componente terapêutico por ser, também, um momento de encontro entre a

equipe, que desperta os sentimentos de relaxamento, descontração e alegria, além

de avigorar vínculos que servirão para tonificar à equipe para o enfrentamento das

adversidades que surgirão. O que coaduna com Cecim (2008) quando diz que no

ambiente de trabalho em saúde o fato de se viverem em grupo constantes

atualizações das experiências éticas e estéticas, pela repetição dos atos vividos,

afetos e sentimentos são gerados que, por sua vez, catalisam o funcionamento dos

processos cognitivos de aprendizagem.

Grupo CSF C 2

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 02

Sexo: F

Idade: 21

Escolaridade:

Nível superior

incompleto

Função:

Auxiliar

administrativa

Tempo que

trabalha na

equipe:3 anos

Que é bom para pensarmos nos problemas diários, pensarmos como vamos desfaze-los. Ótimo para o aprendizado dos profissionais

Significa que somos seres humanos, apesar de profissionais, por isso precisamos ser cuidados

Sentimentos bons, como de importância e de sermos importantes; relaxamento, leveza, etc

Pluma: gostosa de pegar

A Roda Pluma é momento bom para pensarmos nos problemas diários, e como vamos desfaze-los. permitindo sermos cuidados como seres humanos e não só como profissionais

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86

Grupo CSF C 2

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

permitindo sermos

cuidados como seres

humanos e não só

como profissionais

cuidar do outro como

gostaria de ser cuidado

proporcionan-do

relaxamento e leveza.

A leveza da imagem da Roda Pluma, quando trazida pela respondente

relacionada à relevância do cuidado ao profissional como ser humano, move-os a

alegria de sentir-se parte essencial na reciprocidade do cuidado com o outro.

5.3.1.3 Roda política

No quadro 12, as metáforas atribuídas à imagem da Roda Política

retratam esta como importante espaço de co-produção de sujeitos de forma a

contribuir fortemente para o estímulo à democratização do trabalho em saúde.

QUADRO 12 - Imagens da Roda Política conforme respostas dos profissionais

CSF A CSF B CSF C

Roda

Complementaridade

Roda Parceria

Co-responsabilização

Roda Árvore jovem

Roda Interação e

participação

Roda Importância

Roda Porta

Roda Abacaxi

Fonte: Primária.

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87

Mostramos aqui as principais metáforas que caracterizam esta imagem, a

partir da construção dos Mapas Afetivos.

Grupo CSF A 3

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 01

Sexo: F

Idade: 28

Escolaridade

: Ensino

Superior

Função:

Enfermeira

Tempo que

trabalha na

equipe: 4 dias

É um espaço

de

discussão,

aprendizado,

planejamento

e de cuidado

para a

equipe de

saúde da

família. É o

momento em

que a equipe

tem de

planejar suas

atividades e

discutir

assuntos

referentes as

necessida-

des da

comunidade

Resolu-

tividade

Traba-

lho em

equipe

Cuidado

Atenção

Integra-

lidade

Respon-

sabilidade

Co-

responsa-

bilização

A Roda Co-

responsabilização é um

espaço de discussão,

aprendizado,

planejamento e de

cuidado para a equipe

de saúde da família

proporcionando

cuidado, atenção,

integralidade

responsabilida-de.

O Mapa Afetivo que traz como metáfora a imagem de Roda Co-

responsabilização, nos faz pensar no quanto o profissional se entende como sujeito

ativo na produção dos resultados dos processos de trabalhos da ESF. Campos

(2005) descreve o Método da Roda como proposta de constituição de Coletivos

Organizados onde tais agrupamentos possam ter a capacidade de análise e co-

gestão, a ponto de lidar tanto com a produção de bens e serviços, como também

com sua própria constituição enquanto Sujeito. O que faz com que a Roda signifique

para os profissionais um espaço político, por promover a subjetividade, cultura e

práxis de Sujeitos e Coletivos.

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Grupo CSF B 1

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 06

Sexo: M

Idade: 32

Escolaridade

: Superior

completo

Função: Ed.

Físico -

Residente

Tempo que

trabalha na

equipe: 1

semana

A “roda”

constitui-se

como um

momento de

construção

coletiva.

Onde todos

tem direito a

voz, voto e

influência e

corresponsa

bilidade

direta na

conduta dos

profissionais

em exercício.

Sintonia

com os

profissio-

nais

Colabo-

ração

individual

no

processo

de saúde

idealizado

pelo SUS

Sentimen

-to de

satisfação

Engran-

decimento

pessoal e

profissional

Uma

árvore

ainda

jovem,

mas cheia

de força e

vitalidade.

A Roda Árvore jovem é

um momento de

construção coletiva,

onde todos tem direito a

voz, voto e influência e

corresponsabili-dade

direta na conduta dos

profissionais em

exercício, permitindo

sintonia entre os

profissionais e

colaboração individual

no processo de saúde

idealizado pelo SUS,

proporcionando

Sentimento de

satisfação e

engrandecimen-to

pessoal e profissional.

O encontro que permite a equipe sentir-se com direito a voz e ao voto

reforça uma característica do “Agir Paidéia” que traz em seu conceito o fato de que o

desenvolvimento integral das pessoas exige não somente a exposição de

informações, mas o aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre as

realidades postas, potencializando o saber, pensar e fazer (CAMPOS, 2003).

5.3.1.4 Roda administrativa

A Roda como um espaço que possibilita a estruturação administrativa

dos processos de trabalho se faz percebida a partir das metáforas trazidas pelos

respondentes descritas no quadro 13.

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QUADRO 13- Imagens da Roda Administrativa conforme respostas dos profissionais

CSF A CSF B CSF C

Roda Companheirismo

Roda Coisa boa

Roda Integralidade

Roda Trabalho em

equipe

Roda Lâmpada Roda Porta de entrada

Fonte: Primária.

Os Mapas Afetivos construídos a partir das metáforas trazidas nos

remetem a relevância da Roda para tal estruturação.

Grupo CSF A 4

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 04

Sexo: F

Idade: 40

Escolaridade

: 2° grau

Função:

A.C.S.

Tempo que

trabalha na

equipe: 18

anos

Planejar

Aprender

Conhe-

cimento

Um

sentimento

importante

Trabalho

com

equipe

A Roda

Trabalho em

equipe é um

momento de

planejamento e

aprendizagem e

proporciona um

sentimento

importante

Por ser um espaço que reúne sistematicamente todos os profissionais da

equipe, possibilita a realização do planejamento onde todos os sujeitos tem a

oportunidade de expressar-se de forma a colaborar na construção de projetos que

farão parte do processo de trabalho da equipe. Planejar é um importante passo para

que o trabalho tenda a fluir de forma interdisciplinar e integrada.

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Grupo CSF C 3

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°: 01

Sexo: F

Idade: 37

Escolaridade:

Pós-

graduação

Função:

Dentista

Tempo que

trabalha na

equipe: 2

anos

Penso que é

um momento

de bastante

aprendizado,

planejamento

para metas,

momento de

união, apoio.

Informações

importantes

para que os

resultados da

estratégia d

equipe sejam

sempre

acima do

esperado

(TOP )

Alcance

de metas

Motivação

Atitude

positiva

Organiza-

ção

Meta

atingida

“etapa

superada”

Vitória

União

A porta

de

entrada a

um

templo de

informa-

ções que

trazem

resulta-

dos

positivos,

supera-

ção, força

e vontade

de

continuar

trabalhan

do unidos

A Roda Porta

de entrada é

aprendizado,

planejamento

para metas,

momento de

união, apoio.

Para que os

resultados da

estratégia da

equipe sejam

sempre acima

do esperado

proporcionando

motivação,

organização,

superação e

união

Uma das ambições do Método da Roda consiste na construção coletiva

de projetos que partam da co-produção de Objetos de Investimento. Projetos estes

que cuidem de prover os meios indispensáveis para reorientar a prática a partir da

análise de elementos internos e externos, visando o fim almejado. Para tal, faz-se

necessário que se considere, nesta co-gestão o próprio desejo, interesse e

necessidade, bem como o do coletivo, implicando em produzir sentido para a ação.

E quando Sujeitos e Coletivos conseguem construir e ligar-se a um Objeto de

Investimento, torna-se possível o estabelecimento de tarefas que os aproximem do

objeto almejado. (CAMPOS, 2005).

Concordando como autor o profissional retrata a Roda Porta de entrada

como este processo de co-gestao, onde se pactuam metas e se planejam

estratégias organizadas para que se possa atingi-las, fomentando na equipe os

sentimentos de motivação e união.

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5.3.1.5 Roda fragilidade

Não foi citado, em nenhum dos questionários individuais, nenhuma

qualidade ou sentimento que caracterizasse a Roda como um espaço que trouxesse

experiências negativas para a equipe.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisar os sentidos e significados da Roda enquanto estratégia de

Educação Permanente em Saúde do Município de Sobral-Ce, não foi tarefa difícil.

Ao vivenciar as Rodas de algumas equipes, com o olhar apurado, identifica-se

facilmente que a EPS e Método Paidéia ou Roda são estratégias complementares.

Na busca de identificar elementos de EPS na Roda analisamos, em um

momento inicial, os desenhos construídos pelos grupos e percebemos que a Roda

significa para as equipes espaço de circularidade e elo, não somente em sua

estrutura física, visto que, em algumas equipes, esta não acontece em espaço físico

apropriado para tal, mas ainda pela constituição de espaços de compartilhamento de

poderes.

Observamos que, alguns desenhos, trazem a Roda com delimitação de

locais específicos de cada profissional, podendo assim significar demarcação de

poder, que contradiz a expressividade dos demais desenhos e do próprio conceito

proposto pelo método, porém, ao aprofundarmos a análise, principalmente, na

expressividade das palavras sínteses que permeiam as imagens, inferimos que tais

desenhos expressam muito mais o sentimento de pertencimento a este lugar,

facilitando o estabelecimento e fortalecimento de vínculos, ao tempo em que

estimula os sentimentos de cuidado.

Ao caminhar na análise dos Significados, obtidos a partir das construções

dos grupos, fortalecemos a ideia da íntima relação entre a EPS e as dimensões do

Método da Roda (Pedagógica, Terapêutica, Política e Administrativa), que se

confirma nas construções dos Mapas Afetivos, criados a partir dos Sentidos

extraídos das respostas dadas aos questionários individuais, o que nos conduziu a

categorizar as qualidades e sentimentos citados pelos profissionais respondentes a

partir das imagens que se relacionem a tais componentes.

Quanto à imagem de Roda Terapêutica, observamos que este espaço

representa grande significação para o coletivo por permitir o acolhimento

viabilizando cuidado mútuo entre os profissionais da equipe. O comparativo com

uma Ciranda reforça o significado de circularidade e da alegria do encontro que a

Roda traz para a equipe.

Quando buscamos apreender o sentido (privado) da Roda enquanto seu

componente terapêutico, identificamos a importancia de ser este um momento que

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possibilita a expressividade dos sentimentos e de ser oportunizado viver o azo de

descontração e alegria, que além de avigorar vínculos, tonificam a equipe para o

enfrentamento das adversidades vivenciadas no cotidiano. Relacionando esta

imagem a EPS, nos valemos de Cecim (2005) quando diz que a geração de afetos e

sentimentos catalisam o funcionamento dos processos cognitivos de aprendizagem.

Por ser a Roda um encontro sistemático de profissionais (sujeitos)

significa também a oportunidade de distanciarem-se da prática cotidiana para

identificar as dificuldades, refleti-las alinhando e compartilhando saberes, projetar

soluções coletivamente e pactuar contratos para a execução destes projetos nesta

mesma prática, aumentando assim sua capacidade de analisar e operar sobre a

práxis, significando então produção de conhecimentos embasada tanto na realidade

vivida pelos profissionais quanto nas experiências desses atores, o que se configura

como processo de EPS, coadunando com as características do que se entende dos

componentes administrativo e pedagógico do método.

Ainda sobre a imagem da Roda Pedagógica os profissionais veem como

significado do Método o merecimento de que a troca de saberes fomenta a

interdisciplinaridade e ao alinhamento entre a teoria e prática.

Os sentidos expressos quanto à compreensão de a Roda ser educativa

desperta também no profissional o interesse para o auto-cuidado, e o faz sentir-se

parte importante do processo. Outro sentido mencionado foi o fato de também

conferir aprendizado consistente ao tempo em que aviva o sentimento de segurança

na tomada de decisões.

A imagem de Roda Administrativa significa para os profissionais

respondentes, espaço de planejamento, construção de rotinas e metas que

promovem o desenvolvimento da equipe, situação que favorece a resolução das

dificuldades, concedendo a continuidade dos processos.

Os sentidos apresentados, relacionados a esta imagem referem-se à

oportunidade de expressar-se de forma a colaborar na construção de projetos,

motivando-os ao compromisso com os processos de trabalho da equipe.

No que tange a Roda Política o fato de aguçar neste espaço a reflexão

sobre os processos produtivos fomentando a uma visão crítica da práxis com a

finalidade de aprimoramento do trabalho em equipe, faz-se fator de importante

significado para os profissionais respondentes.

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Ressalta-se, também que, para estes, os sentimentos de desabafo e

igualdade viabilizados pelo direito a voz e a vez permeiam essa dimensão política,

na medida em que traz o sentido de isonomia e co-gestão de poderes. E a busca da

compreensão de si mesmo e dos outros facilita a promoção da subjetividade, cultura

e práxis de Sujeitos e Coletivos, trazendo sentido individual para os profissionais da

ESF de Sobral.

A imagem da Roda Fragilidade, apesar de não ter sido retratada em

nenhuma das respostas que nos remetem a obtenção do sentido individual, nas

expressividades do significado como construção do coletivo, surgem falas que

colocam o momento como “perda de tempo”, momento em que os profissionais se

colocam em uma postura de dispersão, além do sentimento de que este também se

constitui como um espaço de cobrança. Apesar de tais falas terem sido bem

pontuais e se contradizerem pelos próprios respondentes, merecem ser valorizadas,

visto que expressam que ainda, alguns profissionais da ESF precisam entender este

como um espaço de co-gestão das relações de poder, espaço em que se torna

possível o investimento em sua autonomia enquanto Sujeito que compõe um

Coletivo, ou ainda, expressa a necessidade de se fazer deste, um espaço de

reflexão sobre o que o método propõe e a utilização fidedigna do mesmo no

cotidiano das equipes.

Quão rica é para a obtenção de resultados favoráveis ao que se propõe a

ESF, poder vivenciar esse encontro, onde a equipe, que se constitui pelos sujeitos

que a compõem, vivencia em um espaço sistematizado, o aprendizado de forma

pedagógica, a convivência de forma terapêutica, a política de forma a enxergar-se

como Sujeito ativo, enfim a oportunidade de administrar seu processo de trabalho de

forma co-gerida.

De outro lado, registra-se que esta pesquisa não se fazendo diferente da

maioria registra limitações. No que concerne ao processo de coleta de dados,

entendemos que poderíamos ter ampliado o quantitativo de CSF estudado, mesmo

reconhecendo que a natureza desta investigação é qualitativa e zela, portanto, pela

intensividade e não extensividade. De todo modo, poderíamos ter contemplado um

CSF na zona rural para explorarmos limites e potencialidades. No processo de

análise também nos inquietamos com ausência de questões no instrumento

individual que instigasse aos profissionais a apontarem as fragilidades da Roda

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como estratégia de EPS, visto que este também se constitui como um dos objetivos

do estudo.

Futuras investigações podem ampliar o escopo dos cenários e

redimensionamento dos questionamentos de modo a apreender outras leituras sobre

o espaço da Roda.

Por fim, este estudo constituiu um contributo para o entendimento da

Roda enquanto Estratégia de EPS, em Sobral-Ce, visto que este método é adotado

pelo município como uma estratégia sistemática, tornando-se assim um tema

relevante levando-nos a considerar que ainda há muito o que percorrer no campo da

investigação nesta área sendo, portanto, um campo fértil de trabalho para outros

investigadores.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SIGNIFICADOS

(GRUPO)

Grupo: ___________________

Participantes:

NOME CATEGORIA

01

02

03

04

05

06

07

1. Construa um desenho que traduza a sua

forma de ver e sentir a roda como estratégia de

EPS

Escreva palavras que sejam

uma síntese dos

sentimentos provocados

pelo desenho, na ordem de

1 a 6, podendo variar entre

sentimentos, substantivos

ou qualidades e sendo

permitido repetir o que já

respondeu.

1-

2-

3-

4-

5-

6-

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APÊNDICE B - INSTRUMENTO PARA APREENSÃO DOS SENTIDOS

(INDIVIDUAL)

GRUPO N° __________ PROFISSIONAL N° ____________

IDADE:_____________ TEMPO QUE ATUA NESSE CSF: ____________

ESCOLARIDADE:________________________________ SEXO: ( )M ( )F

1. Caso alguém lhe perguntasse o que pensa da “roda” enquanto estratégia de EP,

o que diria?

2. Você lembra de um momento de EPS vivenciado na roda do seu CSF que lhe

chamou atenção? Por quê? Descreva-o passo-a-passo.

3. Que sentimentos despertam em você ao lembrar-se desse momento?

4. Qual resultado esse momento trouxe para a equipe? E o que isso pode ter

significado para a mesma?

5. Se tivesse de fazer uma comparação desse momento, com o que compararia?

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APÊNDICE C – ELABORAÇÃO DO MAPA AFETIVO

Identificação Significado Qualidade Sentimento Metáfora Sentido

N°:

Sexo:

Idade:

Escolaridade:

Função:

Tempo que

trabalha na

equipe:

Explicação do

respondente

sobre o que

significa pra ele

a Roda

enquanto

Estratégia de

EPS - Questão

1 do

Instrumento

individual .

Atributos do

espaço da Roda

enquanto

estratégia de

EPS extraídos

das questões 2

e 4 .

Expressão

afetiva do

respondente ao

espaço da Roda

enquanto

estratégia de

EPS nas rodas

– Resposta a

questão 3

Comparação do

espaço de EP

das rodas com

algo pelo

respondente,

que tem como

função a

elaboração de

metáforas –

Resposta a

questão 5

Interpretação

dada pelo

investigador à

articulação de

sentidos entre

as metáforas e

as outras

dimensões

atribuídas pelo

respondente

(qualidade e

sentimentos).

Fonte: Bomfim, 2010

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APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Estamos desenvolvendo a pesquisa: A RODA COMO ESTRATÉGIA DE

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS

TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA. Seu objetivo geral é:

Analisar a roda enquanto a estratégia de Educação Permanente em Saúde no

município de Sobral. O estudo tem como orientadora a Profa. Dra. Maria do Socorro

de Araújo Dias. Sua participação consistirá na autorização para a realização de uma

entrevista contendo questões abertas que poderá ser gravada. Gostaria de deixar

claro para o(a) Senhor(a), que:

- todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos

dados;

- A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Porém podem

provocar um desconforto pelo tempo exigido ou até um constrangimento pelo teor

dos questionamentos;

- A sua participação é voluntária e o(a) Sr.(a) poderá se recusar a responder a

pergunta caso não sinta à vontade;

- Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer motivo, durante o

andamento da pesquisa, resolver desistir, tem toda a liberdade para retirar seu

consentimento;

- ao participar desta pesquisa o(a) Sr.(a) não terá nenhum benefício direto.

Entretanto, esperamos que este estudo possa proporcionar uma reflexão em equipe

sobre a importância da Roda como Educação Permanente em Saúde, de forma que

o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa contribuir para

analisar a Roda enquanto estratégia de Educação Permanente, onde a

pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos;

- o(a) Sr.(a) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa,

bem como nada será pago por sua participação;

- Sua colaboração e participação poderão trazer benefícios para o

desenvolvimento da ciência e para a melhoria dos processos de Educação

Permanente em Saúde neste município;

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- Estarei disponível para qualquer outro esclarecimento no endereço: Av. Dr.

Guarany, 1028, Centro, Sobral-CE. Telefone: (88) 9207-4261 ou pelo e-mail:

[email protected].

Informações adicionais podem também serem obtidas no Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú - Centro de Ciências da Saúde:

Rua Mauro Célio Rocha Ponte, nº 150 – bairro Derby, Sobral-CE. Fone: (88) 3677-

4255.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre

para participar desta pesquisa.

Atenciosamente,

__________________________________________

Glênia Costa Aguiar

Pesquisador

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APÊNDICE E - CONSENTIMENTO PÓS-INFORMADO

Eu, _______________________________________________, A RODA COMO

ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: SENTIDOS E

SIGNIFICADOS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA,

aceito participar da pesquisa. Seus resultados serão tratados sigilosamente e, caso

não queira mais participar da investigação, tenho liberdade para retirar meu

consentimento.

__________, __________________ de 2016.

_________________________________________

Assinatura do Sujeito

_________________________________________

Assinatura do Pesquisado

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ANEXOS

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ANEXO A- PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA

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ANEXO B – DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ORTOGRÁFICA