79
UNIVERSIDADE ESTATUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS DE BOTUCATU ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES COMERCIALIZADOS NO BRASIL BRUNO DA SILVA JUBILEU Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) BOTUCATU SP Março 2015

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UNIVERSIDADE ESTATUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS

CÂMPUS DE BOTUCATU

ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES

COMERCIALIZADOS NO BRASIL

BRUNO DA SILVA JUBILEU

Tese apresentada à Faculdade de Ciências

Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu,

para obtenção do título de Doutor em Agronomia

(Energia na Agricultura)

BOTUCATU – SP

Março – 2015

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UNIVERSIDADE ESTATUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS

CÂMPUS DE BOTUCATU

ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES

COMERCIALIZADOS NO BRASIL

BRUNO DA SILVA JUBILEU

Orientador: Prof. Dr. Waldemar Gastoni Venturini Filho

Tese apresentada à Faculdade de Ciências

Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu,

para obtenção do título de Doutor em Agronomia

(Energia na Agricultura)

BOTUCATU – SP

Março – 2015

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO

DA INFORMAÇÃO – SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - UNESP – FCA

– LAGEADO- BOTUCATU (SP)

Jubileu, Bruno da Silva, 1980-

J91a Análise isotópica do gás carbônico de espumantes comer-

cializados no Brasil / Bruno da Silva Jubileu. – Botucatu

: [s.n.], 2015

xii, 65 f. : il. (alguns color.), grafs., tabs.

Tese(Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Fa-

culdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2015

Orientador: Waldemar Gastoni Venturini Filho Inclui bibliografia

1. Vinho. 2. Carbono - Isótopos estáveis. 3. Bebidas - legislação 4. Adulterações. I. Venturini Filho, Waldemar

Gastoni. II. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes-

quita Filho”(Campus de Botucatu). Faculdade de Ciências

Agronômicas de Botucatu. III. Título.

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III

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho principalmente aos meus filhos e minha esposa, pelo

companheirismo e dedicação para que eu conseguisse concluir o doutorado.

Aos meus pais pelo apoio integral.

Ao meu irmão que mesmo estando longe me incentivou muito.

E a todos que me ajudaram tanto no trabalho braçal como intelectual.

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IV

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Waldemar Gastoni Venturini Filho, pela orientação na elaboração e

condução deste trabalho.

Agradeço à Faculdade de Ciências Agronômicas e à coordenação do curso de Pós

Graduação Energia na Agricultura, por me proporcionar essa oportunidade de estudo e

desenvolvimento profissional.

Aos Professores Doutores Carlos Ducatti e Maria Marcia Pereira Sartori, pela

disposição em discutir os meus resultados e estar sempre à disposição.

Ao CNPq pelo auxílio de bolsa de doutorado.

Aos meus companheiros de laboratório.

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V

SUMÁRIO

Página

LISTA DE TABELAS.......................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS........................................................................................... X

LISTA DE EQUAÇÕES....................................................................................... XII

RESUMO.............................................................................................................. 1

ABSTRACT.......................................................................................................... 2

CÁPITULO I......................................................................................................... 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................. 4

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... 5

2.1. Mercado de espumantes................................................................................. 5

2.2. Legislação brasileira de espumantes.............................................................. 6

2.2.1. Espumante................................................................................................... 6

2.2.2. Vinho moscatel espumante......................................................................... 7

2.3. Matérias primas.............................................................................................. 7

2.3.1. Variedades de uvas utilizadas para elaboração de espumante.................... 8

2.3.2. Variedades de uvas utilizadas para elaboração de vinho moscatel

espumante..............................................................................................................

9

2.4. Processo de elaboração de vinho espumante................................................. 9

2.4.1. Elaboração do vinho base............................................................................ 9

2.4.2. Formação de espuma................................................................................... 11

2.5. Processo de elaboração de vinho moscatel espumante.................................. 13

2.5.1. Operações pré-fermentativas....................................................................... 13

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VI

2.5.2. Fermentação Alcoólica................................................................................ 14

3. ANÁLISE ISOTÓPICA DE BEBIDAS........................................................... 15

3.1. Isótopos estáveis............................................................................................. 15

3.2. Plantas do ciclo fotossintético C3 e C4........................................................... 17

3.3. Diluição isotópica........................................................................................... 17

3.4. Fracionamento isotópico................................................................................ 18

3.5. Aplicação da análise isotópica em bebidas.................................................... 19

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 21

CÁPITULO II....................................................................................................... 25

QUALIDADE DE ESPUMANTES COMERCIALIZADOS NO BRASIL

13C DO DIÓXIDO DE

CARBONO........................................................................................................... 26

RESUMO.............................................................................................................. 26

ABSTRACT.......................................................................................................... 27

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 28

2. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 29

2.1. Planejamento experimental............................................................................ 30

2.2. Desenvolvimento da metodologia.................................................................. 30

2.2.1. Análises isotópicas...................................................................................... 30

2.2.2. Análise do gás carbônico em espumantes, espumantes moscatéis,

espumantes elaborado em laboratório e CO2 comercial....................................... 31

2.2.3. Fracionamento isotópico............................................................................. 31

2.2.4. Otimização.................................................................................................. 32

2.3. Análise estatítica............................................................................................ 33

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 33

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VII

4. CONCLUSÃO.................................................................................................. 45

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 46

CÁPITULO III...................................................................................................... 49

QUAL TIPO DE DIÓXIDO DE CARBONO CONSUMIDO NO BRASIL?..... 50

RESUMO.............................................................................................................. 50

ABSTRACT.......................................................................................................... 51

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 52

2. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 53

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 54

4. CONCLUSÃO.................................................................................................. 63

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 63

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VIII

LISTA DE TABELAS

Página

CÁPITULO I........................................................................................................ 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................ 4

Tabela 1. Padrões de identidade e qualidade dos vinhos espumantes

brasileiros.............................................................................................................

6

Tabela 2. Padrões de identidade e qualidade do vinho Moscatel espumante

brasileiro...............................................................................................................

7

Tabela 3. Razão isotópica absoluta dos padrões internacionais........................... 12

Tabela 4. Abundância natural dos isótopos estáveis (átomos %) e suas

moléculas gasosas comumente utilizadas em espectrometria de massas.............

13

CÁPITULO II...................................................................................................... 19

QUALIDADE DE ESPUMANTES COMERCIALISADOS NO BRASIL

13C DO DIÓXIDO DE

CARBONO......................................................................................................... 20

Tabela 1. Analise isotópica de espumantes elaborados em laboratório............... 28

Tabela 2. Analise isotópica de açúcar fermentado em água................................ 29

Tabela 3. Análise isotópica de açúcar.................................................................. 30

Tabela 4. Análise isotópica de espumantes comerciais........................................ 32

Tabela 5. Análise isotópica de sumo de uva........................................................ 33

Tabela 6. Análise isotópica de CO2 industrial...................................................... 34

Tabela 7. Porcentagem de contribuição de cada componente da mistura, para

o intervalo de valores de delta de carbono-13 encontrados nos espumantes

comerciais analisados...........................................................................................

35

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IX

Tabela 8. Análise isotópica de vinho moscatel espumante.................................. 38

Tabela 9. Porcentagem de contribuição de cada componente da mistura, para o

intervalo de valores de delta de carbono-13 encontrados nos espumantes moscatéis

comerciais analisados..................................................................................................... 38

CÁPITULO III..................................................................................................... 41

QUAL O TIPO DE DIÓXIDO DE CARBONO CONSUMIDO NO BRASIL.. 42

Tabela 1. Análise isotópica de açúcar.................................................................. 46

Tabela 2. Análise isotópica de CO2 industrial...................................................... 47

Tabela 3. Análise isotópica do gás carbônico em vinho frizante

comercial.............................................................................................................. 48

Tabela 4. Análise isotópica do gás carbônico em bebida composta gaseificada

comercial.............................................................................................................. 48

Tabela 5. Análise isotópica do gás carbônico em água mineral gasificada

comercial.............................................................................................................. 49

Tabela 6. Análise isotópica do gás carbônico em água tônica

comercial.............................................................................................................. 50

Tabela 7. Análise isotópica do gás carbônico em bebida energética

comercial.............................................................................................................. 50

Tabela 8. Análise isotópica do gás carbônico em cerveja

comercial.............................................................................................................. 51

Tabela 9. Análise isotópica do gás carbônico em refrigerante

comercial.............................................................................................................. 52

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X

LISTA DE FIGURAS

Página

CÁPITULO I .................................................................................................. 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS....................................................................... 4

Figura 1. Fluxograma do vinho base para elaboração de espumante.............. 5

Figura 2. Fluxograma de espumante pelo método Champenoise.................... 12

Figura 3. Fluxograma de espumante pelo método Charmat........................... 13

Figura 4. Fluxograma de espumante moscatel................................................ 15

Figura 5. Distribuição da composição isotópica de CO2 e DIC (carbono

inorgânico dissolvido) nos sistemas de carbonato...........................................

20

CÁPITULO II.................................................................................................. 25

ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES

COMERCIALIZADOS NO BRASIL.............................................................

26

Figura 1. Valores isotópicos, médios, de açúcar e do CO2 de espumante, das

amostras de Açúcarlito Cristal (1), Alto Alegre Refinado (2), Barra Refinado

(3), Colombo Cristal (4), DIA% Cristal (5), Orgânico Native Cristal

(6),Orgânico União Cristal (7),Pateko ExtraFino (8),Qualitá Cristal (9),Santa

Isabel Cristal (10),Twister Cristal (11), União Cristal (12), União Premium

Refinado (13), Valle Branco ExtraFino (14)...................................

36

Figura 2. Médias de 13C, - Gás Industrial; - Açúcar in natura; -

Sumo de uvas; pontos sem formas espumantes comerciais............................

41

Figura 3. Intervalo de confiança 13

C, -13,7 ≤ p ≤ -23,65‰. Pontos vermelhos

são de espumantes fora do intervalo de confiança.........................

42

Figura 4. Médias de 13

C, - Açúcar in natura; - Sumo de uvas;

- Gás industrial; pontos sem formas – moscatel espumante comercial...........

44

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XI

Figura 5. Intervalo de confiança 13

C, -21,84 ≤ δp ≤ -26,35‰. Pontos

vermelhos são de espumantes moscatéis em desacordo com a legislação

brasileira.......................................................................................................... 45

CAPÍTULO III............................................................................................... 49

QUAL A ORIGEM DO GÁS CARBÔNICO DE NOSSAS BEBIDAS........ 50

Figura 1. Distribuição da composição isotópica do CO2 e DIC (carbono

inorgânico dissolvido) nos sistemas de carbonato........................................... 56

Figura 2. Origem do gás carbônico em vinho................................................ 58

Figura 3. Origem do gás carbônico em bebida composta............................ 59

Figura 4. Origem do gás carbônico em água mineral gaseificada................... 59

Figura 5. Origem do gás carbônico em água tônica........................................ 60

Figura 6. Origem do gás carbônico em bebida energética.............................. 61

Figura 7. Origem do gás carbônico em cerveja............................................... 62

Figura 8. Origem do gás carbônico em refrigerante...................................... 62

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XII

LISTA DE EQUAÇÕES

Página

CÁPITULO I......................................................................................................... 3

CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................. 4

Equação 1. Mensuração do enriquecimento isotópico relativo entre a amostra e o

padrão.................................................................................................................

16

Equação 2. Diluição isotópica............................................................................... 17

Equação 3. Fracionamento isotópico.................................................................... 18

CÁPITULO II....................................................................................................... 25

ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES

COMERCIALISADOS NO BRASIL................................................................... 22

Equação 1. Mensuração do enriquecimento isotópico relativo entre a amostra e o

padrão.................................................................................................................

30

Equação 2. Fracionamento isotópico.................................................................... 31

Equação 3. Otimização.......................................................................................... 32

CÁPITULO III...................................................................................................... 49

QUAL A ORIGEM DO GÁS CARBÔNICO DE NOSSAS BEBIDAS.............. 50

Equação 1. Mensuração do enriquecimento isotópico relativo entre a amostra e o

padrão.................................................................................................................

54

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1

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi analisar isotopicamente o gás carbônico de

espumantes para detectar adulteração, utilizando o método de análise isotópica para

determinar a origem deste gás; se proveniente de plantas dos ciclos fotossintéticos C3 (uva),

C4 (açúcar de cana) ou de outra fonte. Para isso, foram analisadas amostras comerciais de

espumante e espumante moscatel, espumantes elaborados em laboratório, sumo de uva,

açúcar e gás carbônico comercial. Também foram analisadas outras bebidas carbonatadas

(água mineral, refrigerantes, vinhos, etc.). Os resultados foram submetidos à análise de

variância e teste de Tukey para a detecção de possíveis diferenças entre as médias das razões

isotópicas de 13

C/12

C, ao nível de significância de p <0,05. Seguindo a legislação brasileira

para vinhos espumantes determinou-se o intervalo de valores possíveis de δ13

C para que as

bebidas estivessem em acordo com as normas. Em relação aos espumantes, quatro estavam

fora do intervalo de valores estabelecido; para os espumantes moscatéis, nenhum estava em

desacordo com a legislação brasileira.

Palavras-chave: Vinho, isótopos estáveis do carbono, legislação de bebidas, adulteração.

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2

ISOTOPIC ANALYSIS OF SPARKLING WINES SOLD IN BRAZIL.

Botucatu, 2015. 65p. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura) Faculdade de

Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.

Author: BRUNO DA SILVA JUBILEU

Adviser: WALDEMAR GASTONI VENTURINI FILHO

ABSTRACT

The objective of this study was to analyze isotopically carbonic gas sparkling

to detect tampering using the isotopic analysis method to determine the source of carbon

dioxide (whether from plants the photosynthetic cycles C3 (grape and beet), C4 (sugar cane)

or from another source. For this purpose, samples were analyzed Muscat commercial

sparkling wine and sparkling wine, sparkling prepared in the laboratory, grape juice, sugar

and commercial CO2. They also analyzed other carbonated beverages (mineral water, soft

drinks, wines, etc.). The results were submitted to ANOVA and Tukey test for the detection

of possible differences between the means of the isotopic ratios 13C / 12C, at a significance

level of p <0.05. Following the Brazilian legislation for sparkling wines determined the

possible range of values of δ13C for the drinks were in accordance with the rules. Regarding

sparkling, four were outside the range established; for muscat sparkling, none was at odds

with Brazilian law.

Keywords: Wine, stable carbon isotopes, beverages legislation, adulteration.

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3

CAPÍTULO I

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4

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. INTRODUÇÃO

O Brasil tem um grande potencial para a produção de vinhos

espumantes finos de qualidade, com ênfase na região da Serra Gaúcha. Este fato é consensual

no setor e reforçado pelo grande e crescente número de prêmios que o “espumante brasileiro”

vem conquistando no exterior. Uma evidência ainda maior é o fato de o segmento de

espumante ser o único em que o Brasil vem conseguindo manter uma fatia de

aproximadamente dois terços do mercado, no mesmo período em que a fatia nacional do

vinho fino caiu de dois terços para menos de um terço. Com o aumento do consumo de

espumantes, novas marcas estão aproveitando a situação favorável para se lançarem no

mercado, acirrando a disputa com os principais fabricantes do país (FENSTERSEIFER,

2007).

Para conseguirem redução de custos e consequente competitividade, ou

até mesmo para obterem maiores lucros, algumas empresas praticam ações fraudulentas em

prejuízo da qualidade das bebidas produzidas. Os principais problemas de autenticidade são

aqueles que surgem da substituição do ingrediente autêntico por componentes mais baratos

(JEZEK; SUHAJ, 2001). Os tipos de adulteração incluem diluição com água, adição de

açúcar, ácido cítrico e tartárico acima do permitido e adição de CO2 de outra fonte que não

seja a natural, ou seja, de plantas C3 (uva) e de plantas C4 (açúcar de cana) (OGRINC et. al.,

2003).

A fraude acompanha as transações comerciais ao longo dos séculos. A

qualidade duvidosa de alimentos e bebidas tornou-se um problema mundial; quem perde

nessas situações é o consumidor que tem de se basear no rótulo do produto para obter

informações. Contudo, tem-se que garantir a veracidade dessas informações, detectando a

introdução de produtos adulterados e de qualidade inferior no mercado (EGITO et. al., 2006).

O desenvolvimento de diferentes técnicas para a autenticação e

validação de alimentos e bebidas obteve um aumento considerável com os avanços

científicos, a crescente consciência do consumidor e o interesse de empresas que não desejam

a competição injusta com empresários oportunistas que ganham vantagens econômicas por

meio de práticas fraudulentas observadas em algumas indústrias. Dentre esses métodos

destaca-se a técnica de espectrometria de massa de razão isotópica, que emprega isótopos

estáveis dos elementos carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e enxofre. Em alguns casos

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5

específicos, as técnicas isotópicas são métodos oficiais usados para resolver disputas

nacionais e internacionais no comércio vinhos e de bebidas destiladas (REID et. al., 2006;

SLEIMAN, 2006; DUCATTI, 2007).

No caso do Brasil, o CO2 dos vinhos espumantes resultante da segunda

fermentação provém do açúcar de cana que é introduzido no vinho base para a tomada de

espuma; para vinhos espumantes moscatéis, a tomada de espuma é feita em uma única

fermentação que pode ou não conter açúcar de cana. Com a utilização da técnica de análise

isotópica é possível saber se o CO2 é proveniente de plantas C3, C4, outra fonte de carbono e

ou mistura destas fontes.

O objetivo deste trabalho foi analisar isotopicamente o CO2 de

espumantes comercializados no Brasil e detectar possíveis adulterações.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Mercado de espumantes

A comercialização de vinhos elaborados no Rio Grande do Sul –

responsável por cerca de 90% da produção nacional – alcançou um crescimento de 12% em

2009. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) foi vendido 240

milhões de litros de vinhos finos e de mesa de janeiro a dezembro em 2009, ante 214,5

milhões de litros produzidos em 2008 (MELLO, 2010). Atualmente a produção de

espumantes no Brasil, representa aproximadamente 2% do volume total de vinho elaborado

no Brasil, cujo mercado tem absorvido toda produção gaúcha, pelas características e elevada

qualidade. Em 2009 o percentual de aumento de consumo foi 14,57%, em relação aos

espumantes moscatéis, de sabor e leveza atraentes, especialmente, para os consumidores do

sexo feminino, obtiveram aumento de 31,42% (RIZZON et. al., 2000; MELLO, 2010).

Atualmente, os principais municípios responsáveis pela oferta de

espumantes são Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Flores da Cunha e Farroupilha

(FENSTERSEIFER, 2007).

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6

2.2. Legislação brasileira de espumantes

2.2.1. Espumante

A Lei n° 10.970, de 12 de novembro de 2004, altera dispositivos da Lei

n° 7.678, de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre a produção, circulação e

comercialização do vinho e derivados da uva e do vinho, e fornece outras providências

(BRASIL, 2004).

Segundo a legislação brasileira, “Champanha”, Espumante ou

Espumante Natural é o vinho cujo anidrido carbônico provém exclusivamente de uma

segunda fermentação alcoólica do vinho em garrafas (método Champenoise/tradicional) ou

em grandes recipientes (método Chaussepied/Charmat), com uma pressão mínima de quatro

atmosferas a 20ºC e com teor alcoólico de 10% a 13% em volume” (Tabela 1).

Tabela 1. Padrões de identidade e qualidade dos vinhos espumantes brasileiros.

Fonte: Brasil (2004).

Padrões Mínimo Máximo

Teor alcoólico (% v/v) 10,0 13,0

Acidez volátil (meq/L) - 20,0

Acidez total (meq/L) 55,0 130,0

Extrato seco reduzido (g/L) 14,0 -

Relação álcool em peso/extrato seco reduzido - 6,7

Cinzas (g/L) 1,0 -

Dióxido de carbono (atm a 20°C) 4,0 -

Dióxido de enxofre total (mg/L) - 350,0

Sulfatos totais (g/L em sulfato de K) - 1,0

Cloretos totais (g/L em cloretos de Na) - 0,2

Álcool metílico (mg/L) - 350,0

Ácido sorbico (mg/L)

Teor de açúcar (g/L): extra brut

brut

seco

demi-sec

doce

-

-

6,1

15,1

20,1

60,1

200,0

6,0

15,0

20,0

60,0

-

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7

2.2.2. Vinho moscatel espumante

O vinho Moscatel Espumante ou Espumante Moscatel deve ter no

mínimo três atmosferas de pressão a 20ºC, com anidrido carbônico proveniente de uma única

fermentação e graduação alcoólica entre 7 a 10% v/v (BRASIL, 2004) (Tabela 2).

Esta vinificação tem por objetivo conservar as características

aromáticas tão singulares das variedades moscatéis, bem como parte do açúcar natural da uva.

Essas práticas conferem à bebida leveza e jovialidade, tornando-a distintamente frutada e

adocicada.

Tabela 2. Padrões de identidade e qualidade do vinho Moscatel espumante brasileiro.

Fonte: Brasil (2004).

2.3. Matérias-primas

2.3.1. Variedades de uvas utilizadas para elaboração de espumante

Chardonnay: É uma uva branca originária da Borgonha, França.

Possui película branca e sabor simples a adocicado, dependendo do clone. É resistente à

antracnose, sensível ao oídio e às podridões, e moderadamente sensível ao míldio. Seu cacho

é cônico, médio e solto, bagas esféricas amareladas e transparentes, com um pequeno ponto

preto na posição do bico. Produz vinho branco, varietal, fino, frutado, de médio

envelhecimento ou espumante (RIZZON, et.al., 2000).

Padrões Mínimo Máximo

Teor alcoólico (% v/v) 7,0 10,0

Acidez volátil (meq/L) - 20,0

Acidez total (meq/L) 55,0 130,0

Extrato seco reduzido (g/L) 14,0 -

Relação álcool em peso/extrato seco reduzido - 6,7

Cinzas (g/L) 1,0 -

Dióxido de carbono (atm a 20°C) 3,0 -

Dióxido de enxofre total (mg/L) - 350,0

Sulfatos totais (g/L em sulfato de K) - 1,0

Cloretos totais (g/L em cloretos de Na) - 0,2

Álcool metílico (mg/L) - 350,0

Ácido sorbico (mg/L) - 200,0

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Riesling Itálico: É uma cultivar do norte da Itália, onde é cultivada

principalmente em Veneza, Pavia, Udine, Treviso e Bolzano. Foi trazida para o Rio Grande

do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre em 1900. A Companhia Vinícola

Riograndense foi pioneira na elaboração de vinho varietal desta cultivar no Estado e

estimulou sua difusão na Serra Gaúcha. A partir de 1973, houve grande incremento na área

cultivada, tornando-se uma das principais uvas finas brancas da região. É uma cultivar de

médio vigor, fértil e produtiva, muito bem adaptada ao ambiente da Serra Gaúcha. Em anos

favoráveis, proporciona colheitas abundantes de uvas que chegam a 20°Brix na plena

maturação (RIZZON, et.al., 2000).

Pinot Noir: Originária da Borgonha, França. Possui película tinta e

sabor neutro. É resistente à antracnose, sensível ao míldio e altamente sensível às podridões.

Apresenta cachos pequenos cilíndricos, compactos, de bagas medianas e esféricas. Produz

vinho tinto, deficiente em cor. Vinificado em branco pode ser usado na elaboração de vinhos

espumantes. Apesar do alto potencial de produção de açúcar, dificilmente atinge a completa

maturação nas condições climáticas do sul do Brasil, pois a uva freqüentemente apodrece

antes de estar com todo o seu potencial desenvolvido. Seu melhor uso é na elaboração de

vinhos espumantes (RIZZON, et.al., 2000).

Prosecco: Estudos ampelográficos, realizados a partir de 1979,

mostram que a cultivar encontrada nos vinhedos de Bento Gonçalves, com o nome de

'Biancheta Bonoriva', é, na realidade, a 'Prosecco'. Não há registros sobre sua difusão, mas,

segundo informações dos viticultores, ela é plantada há muitos anos neste município. Mais

recentemente, no final da década de 1970, Ítalo Zanella, empresário e viticultor de

Farroupilha, importou mudas de 'Prosecco' da Itália para plantio em sua propriedade. Este

material serviu de base para novos plantios na região a partir de 1980. É uma cultivar do norte

da Itália, onde é utilizada para a elaboração de conceituado vinho espumante (GUERRA,

et.al., 2005).

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2.3.2. Variedades de uvas utilizadas na elaboração de moscatel espumante

Moscato Branco: Originário da Grécia, amplamente cultivado na Itália,

principalmente na região detentora da denominação “Asti”. No Brasil é uma das viníferas

mais plantadas. Possui cachos de tamanho médio e compactos. Produção de 20-23 t/ha e grau

de açúcar entre 12-14ºBrix (RIZZON, et.al., 2005).

Moscato Giallo: Uva com película mais resistente e maturação mais

completa que o Moscato Branco. Possui cachos de tamanho médio a grande com polpa um

pouco carnosa. Grau médio de 14- 16ºBrix e produção relativamente baixa, podendo chegar a

15 t/há (RIZZON, et.al., 2005).

Malvasia de Cândia aromática: Possui cachos de tamanho médio,

porém longos e soltos. Exige poda longa, já que as gemas frutíferas encontram-se entre o 3º e

4º entrenó. Produção média de 13-15 t/ha e grau de açúcar de 12-14ºBrix (RIZZON, et.al.,

2005).

Malvasia de Lipari: Com aspecto semelhante à Malvasia de Cândia,

seu cacho porém é mais solto e de coloração verde. Também chamada de Malvasia Verde,

pelo fato de suas bagas permanecerem dessa cor mesmo depois de bem madura. Produção

média de 13-16 t/ha, porém com safras irregulares (RIZZON, et.al., 2005).

2.4. Processo de elaboração de vinho espumante

O processo de elaboração de vinho espumante compreende duas

etapas distintas: uma é a obtenção do vinho base e a outra é a tomada de espuma (RIZZON et.

al., 2000).

2.4.1. Elaboração do vinho base

O vinho espumante é feito de vinho branco de qualidade, obtido do

mosto extraído por prensagem da uva, tanto branca quanto tinta. No caso da utilização de uva

tinta é preciso extrair o mosto, o quanto possível, isento de pigmentos da película (RIZZON

et. al., 2000).

Esta operação deve ser realizada considerando os diferentes tipos de

uva, o grau de maturação e o tipo de equipamento disponível, procurando-se evitar sempre a

maceração da parte sólida da uva e a oxidação do mosto. Neste sentido, as práticas pré-

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fermentativas são realizadas considerando conservar a uva inteira até o momento da

prensagem; reduzir o máximo o número e intensidade dos tratamentos mecânicos da uva;

limitar ao menor tempo possível a duração do contato entre o mosto e a parte sólida da uva e;

evitar a lixiviação da parte sólida. A seguir, a clarificação do mosto deve ser feita utilizando

um baixo teor de dióxido de enxofre (RIZZON et. al., 2000).

A fermentação regular é garantida com a utilização de levedura seca

ativa (Saccharomyces cerevisiae) na proporção de 20g/hl, a qual deve ser previamente

hidratada em água morna a 33°C-35°C. A fermentação é realizada em recipientes de aço

inoxidável, equipados com dispositivo para controle de temperatura e deve-se desenvolver

regularmente, à temperatura inferior a 20°C, até a transformação de todo o açúcar em álcool,

deve ser acompanhado diariamente por intermédio da medida da densidade, teor de açúcar e

da temperatura do mosto (RIZZON et. al., 2000). Na figura 5 está representado o fluxograma

do vinho base.

Figura 1. Fluxograma do vinho base para elaboração de espumante.

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O vinho base para espumante deve apresentar grau alcoólico

relativamente baixo, entre 10,0% v/v e 10,5% v/v; acidez total elevada, entre 80,0 meq/l e

90,0 meq/l; pH abaixo de 3,2; acidez volátil inferior a 10,0 meq/l; açúcar total inferior a

1,5g/l; e teor de dióxido de enxofre total inferior a 50,0 mg/l. Uma das características do

vinho base é apresentar estabilidade adequada, por isso não deve conter quantidade elevada de

substâncias protéicas e elementos minerais, especialmente ferro e cobre, que provocam

turvações. Recomenda-se reduzir o teor de potássio e de ácido tartárico e de seus respectivos

sais por meio de refrigeração (RIZZON et. al., 2000).

2.4.2. Formação de espuma

Esta etapa da elaboração do vinho espumante é responsável por uma

das características principais que é a formação do dióxido de carbono, por meio de uma

segunda fermentação alcoólica. O processo inicia na escolha do vinho base, o qual é

selecionado entre os disponíveis em função da cultivar e da safra, sempre considerando as

características definidas pela empresa produtora. Depois da escolha dos vinhos é feito o

“assemblage’’, que corresponde ao corte dos vinhos (RIZZON et. al., 2000).

A seguir, para dar condições de fermentação, deve ser adicionado ao

vinho, nitrogênio amoniacal na forma de fosfato de amônio na quantidade máxima de

30,0g/hl. É recomendável adicionar também vitamina B1 (tiamina), na proporção de

6g/hl,para reduzir o teor de aldeído acético do vinho espumante, e caseinato de potássio

(4g/hl), para precipitar os compostos fenólicos (catequinas), protegendo o vinho da oxidação.

Recomenda-se também a aplicação de bentonite na proporção de 4 g/hl para facilitar a

operação de precipitação das células de leveduras, no final do processo fermentativo

(RIZZON et. al., 2000).

O açúcar de cana é o responsável pela segunda fermentação, ele é

adicionado ao vinho base por intermédio de uma solução concentrada chamada licor de

“tirage”. O licor de “tirage’’ é um xarope com 50% de seu peso de açúcar e o vinho deve ser o

mesmo utilizado para a tomada de espuma (RIZZON et. al., 2000).

A quantidade de licor de “tirage” a adicionar deve ser calculada de

modo a permitir a formação da quantidade de dióxido de carbono suficiente para produzir a

pressão mínima necessária. A legislação brasileira estabelece um mínimo de quatro

atmosferas a 20°C. No entanto deve-se considerar a pressão mínima de cinco à seis

atmosferas, visto que ocorrem perdas no decorrer do processo. Considerando-se que uma

atmosfera de pressão (100 ml de dióxido de carbono) é produzida pela fermentação de 4,25 g

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de glicose, o equivalente a 4 g de sacarose, para seis atmosferas de pressão são necessárias

24g/L de sacarose. Essa quantidade de açúcar aumentará o álcool do vinho, depois de

fermentado, em 1,4% v/v (RIZZON et. al., 2000). Nas figuras 1 e 2 estão representados os

fluxogramas da tomada de espuma pelos métodos champenoise e charmat respectivamente.

Figura 2. Fluxograma de espumante pelo método Champenoise

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Figura 3. Fluxograma de espumante pelo método Charmat

2.5. Processo de elaboração de vinho moscatel espumante

A elaboração do vinho Moscatel espumante compreende duas etapas

distintas: uma que corresponde à obtenção do mosto, abrangendo as operações pré-

fermentativas e outra que é a fermentação alcoólica, incluindo a tomada de espuma (RIZZON

et. al., 2005).

2.5.1. Operações pré-fermentativas

A extração do mosto pode ser realizada com a utilização de prensas

horizontais e de esgotadores que podem ser estáticos ou dinâmicos. A prensagem da uva é

realizada com prensas horizontais de pratos de 4 a 6 toneladas de capacidade e também em

prensas pneumáticas. Os mostos obtidos nos três primeiros níveis de pressão, que

representam entre 85 a 90% do total, são vinificados separadamente daqueles obtidos com

pressões mais fortes (RIZZON et. al., 2005).

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2.5.2. Fermentação alcoólica

A fermentação alcoólica corresponde à transformação do açúcar do

mosto em álcool, dióxido de carbono e outros componentes secundários pela ação das

leveduras (Saccharomyces cerevisiae). Para garantir a normalidade do processo fermentativo

e a produção de compostos aromáticos agradáveis, além de obter um bom rendimento

açúcar/álcool, é recomendável utilizar leveduras selecionadas, que estão disponíveis no

comércio na forma de levedura seca ativa (l.s.a.), na proporção de 20 g/hL, a qual deve ser

previamente hidratada em água morna a 33-35°C. A fermentação pode ser realizada em

autoclaves ou em tanques de aço inoxidável, sempre com dispositivo para o controle da

temperatura. A fermentação deve ocorrer sempre à temperatura baixa 13-15°C, de modo que

o tempo de fermentação seja sempre superior a um mês. No mosto, no início da fermentação

alcoólica, geralmente é utilizada bentonite e caseinato de potássio na proporção de 50 g/hL e

100 g/hL, respectivamente, para proteger da oxidação e contribuir com a estabilidade do

vinho Moscatel espumante (RIZZON et. al., 2005).

Nessas condições, a fermentação segue normalmente até a formação de

6% v/v de álcool; neste momento, quando o processo se desenvolve em autoclave, é

necessário fechar a válvula para aproveitar o dióxido de carbono. Caso o processo de

fermentação tenha se desenvolvido até aqui em tanque de aço inoxidável, é necessário passar

para autoclave a fim de adquirir a pressão necessária. A tomada de espuma do vinho moscatel

espumante é um tipo particular de fermentação, que acontece em ambiente fechado com

aumento progressivo de pressão, devido ao dióxido de carbono (RIZZON et. al., 2005).

Quando o vinho Moscatel espumante alcançar a pressão esperada de 5

atmosferas e a graduação alcoólica de 7 a 9% v/v, a temperatura é reduzida para -3°C para

provocar a parada de fermentação e favorecer a estabilização tartárica (RIZZON et. al., 2005).

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Figura 4 – Fluxograma de espumante moscatel

3. ANÁLISE ISOTÓPICA DE BEBIDAS

3.1. Isótopos estáveis

Isótopos são espécies atômicas de um mesmo elemento químico que

apresentam diferente número de nêutrons e mesmo número de prótons em seu núcleo.

Possuem, portanto massas atômicas distintas e números atômicos iguais. A expressão

“estável” significa que não emitem radiação (MARTINELLI et. al., 2009).

Isótopos estáveis de interesse biológico como o carbono, hidrogênio,

oxigênio, nitrogênio e enxofre ocorrem naturalmente, cada elemento apresenta um isótopo

leve, mais abundante (12

C, 1H,

16O,

14N,

32S), e um ou mais isótopos pesados, menos

abundantes (13

C, 2H,

17O,

18O,

15N,

33S,

34S,

36S) (MORRISON e BOYD, 1990; KELLY,

2003; DUCATTI, 2007).

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As concentrações naturais e suas variações são determinadas por meio

da espectrometria de massa (espectrômetro de massa de razão isotópica – IRMS ou

espectrômetro de massa de razão isotópica com dupla entrada – DI-IRMS), onde a amostra é

analisada a partir de um padrão, obtendo resultados expressos em átomos % (amostras

enriquecidas) com desvio-padrão de 0,1% ou em enriquecimento isotópico relativo, expresso

em delta per mil (amostras com abundancias isotópicas naturais), com desvio-padrão de 0,2‰

ou menos (MEIER-AUGENSTEIN, 1999; CALDERONE et. al., 2007; DUCATTI, 2007).

Contudo, para se realizar as leituras isotópicas, é necessário que tanto as

amostras como os padrões de referencia internacionais sejam transformados em suas formas

gasosas, para a análise do carbono a forma mais comum utilizada é o dióxido de carbono

obtido por combustão. Os valores de enriquecimento do carbono-13 são expressos em delta

per mil da razão isotópica 13

C/12

C (δ13

C) da amostra em relação a um padrão internacional

definido, PeeDee Belemnite PDB (DUCATTI et. al., 1979; BOUTTON, 1996; MEIER-

AUGENSTEIN, 1999; SILVA et. al., 1999; ROSSMANN, 2001; COPLEN et. al., 2002;

OLIVEIRA et. al., 2002; KELLY, 2003; OGRINC et. al., 2003; QUEIROZ, 2005;

DUCATTI, 2007).

A mensuração do enriquecimento isotópico relativo entre a amostra e o

padrão é determinada pela equação (1):

(amostra, padrão) = r amostra – r padrão

(1)

r padrão

A simbologia empregada na equação (1) significa:

(amostra, padrão) = enriquecimento isotópico da amostra em relação

ao padrão internacional, expresso em per mil (‰) (adimencional);

r = razão entre o isótopo pesado sobre o isótopo leve (13

C/12

C) da

amostra e do padrão, respectivamente (adimensional).

As amostras podem obter resultados positivos e negativos em relação ao

padrão, quando apresentam mais isótopos pesados (13

C) o resultado é positivo e quando a

amostra apresentam menos isótopos pesados o resultado é negativo (SLEIMAN, 2006;

DUCATTI, 2007).

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3.2. Plantas do ciclo fotossintético C3 e C4

As plantas apresentam uma abundância ou assinatura isotópica de

carbono que varia de acordo com o modo de fixação do CO2 atmosférico durante seus ciclos

fotossintéticos. As duas principais vias bioquímicas para a fixação de carbono são as de

plantas com o ciclo fotossintético de Calvin-Benson que reduzem o CO2 a fosfoglicerato, um

composto com 3 carbonos, via enzima ribulose bifosfato carboxilase/oxigenase (denominado

C3) e de Hatch-Slack que reduzem o CO2 a ácido aspártico ou málico, compostos por 4

carbonos, via enzima carboxilase fosfoenolpiruvato (PEP) (denominado C4) (DUCATTI,

2007).

A uva é uma espécie vegetal do ciclo fotossintético C3, que apresenta

uma razão isotópica em torno de -28‰, a cana-de-açúcar, milho e sorgo são espécies vegetais

do ciclo fotossintético C4, com valor isotópico próxima a -12,5‰, diferindo também do valor

apresentado pelo CO2 atmosférico, que é de -7,5 ‰. Esta diferença também e observada nos

seus respectivos produtos industrializados, como suco, açúcar, álcool, etc. podendo verificar,

com precisão, qual origem botânica do carbono em determinado produto (BOUTTON, 1996;

PUPIN et. al., 1998; SILVA et. al., 1999; COPLEN et. al., 2002; OLIVEIRA et. al., 2002;

QUEIROZ, 2005; DUCATTI, 2007).

Dessa forma, as espécies C3 e C4 apresentam valores de δ13

C distintos

entre si, que não se sobrepõem, sendo possível, portanto, a utilização desses valores na

determinação da fonte de carbono (OLIVEIRA et. al., 2002).

3.3. Diluição isotópica

Quando duas fontes isotópicas diferentes entre si são misturadas

uniformemente, o produto gerado compreende a contribuição isotópica destas duas fontes e

sua quantidade relativa de cada uma delas. Este é o princípio básico da diluição isotópica

(OLIVEIRA et. al., 2002).

A mensuração quantitativa pode ser obtida pela Equação 2, cujo valor

de 13

C do produto reflete a proporção de 13

C de cada fonte (DUCATTI, 2007).

a * A + b * B = produto (2)

A simbologia empregada na equação (2) significa:

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a e b = enriquecimento isotópico relativo (13

C) das fontes de

carbono derivados de plantas C4 e de C3, respectivamente (adimensional);

produto = enriquecimento isotópico relativo (13

C) do produto

(adimensional);

A e B = proporções relativas das fontes de açúcar de cana e uva no

produto, para as quais A + B = 1.

3.4. Fracionamento isotópico

A utilização das razões isotópicas em estudos ambientais baseia-se na

existência de diferenças na composição isotópica dos compostos em estudo, sensíveis para

serem detectados pelo espectrômetro de massa. Tais diferenças ocorrem na natureza e são

frutos de reações físico-químicas e ou biológicas, possibilitando, deste modo, a discriminação

de um dos isótopos. Esse processo de discriminação isotópica é chamado de fracionamento

isotópico, e pode ser resumido como um enriquecimento ou empobrecimento do isótopo

pesado da amostra que é o produto em relação a sua fonte (MARTINELLI et. al., 1988;

LOPES, 2002). Onde o valor numérico da discriminação isotópica se dá por meio da equação

3.

i fonte, produto)=‰ (fonte) – ‰ (produto) (3)

103 + ‰ (produto)

A simbologia empregada na equação significa:

i (fonte, produto): discriminação isotópica da fonte em relação ao

produto.

‰ (fonte): enriquecimento isotópico da fonte, expresso em per mil (‰)

(adimencional);

‰ (produto): enriquecimento isotópico do produto, expresso em per

mil (‰) (adimencional);

Um exemplo bem conhecido é o fracionamento isotópico do carbono na

fotossíntese. Análises de pesquisas sobre os ciclos fotossintéticos mostram que as plantas C3

têm uma média de 13

C de -27‰ (produto) e a média do 13

C do CO2 atmosférico é -8‰

(fonte) (MARTINELLI et. al., 1992; PEREIRA e BENEDITO, 2007; DUCATTI, 2007).

O valor numérico da discriminação isotópica para o ciclo fotossintético

de plantas C3, obtém-se da equação:

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C (CO2, planta) = ‰ (CO2) - ‰ (planta) =

103 + ‰ (planta)

(-8‰) – (-27‰) = 19 = 0,0195272

103 – (-27‰) 973

Como este valor é pequeno, costuma-se multiplicar e dividir por 1000,

obtendo-se: ∆13

C(CO2, planta) = + 19,53‰, ou que, o CO2 atmosférico é comparativamente

+19,53‰ mais pesado (contém mais 13

C) do que a planta (DUCATTI, 2007).

‰13

C (CO2, planta) = 19,53‰

3.5. Aplicação da análise isotópica em vinhos.

Em diferentes países da Europa, análises da razão isotópica 13

C/12

C do

etanol, que é um importante constituinte orgânico do vinho, bem como a razão 18

O/16

O da

água contida em vinhos, têm sido desenvolvidas para garantia da autenticidade, detecção de

adulterações ou substituições e para a distinção da natureza biológica e origem geográfica do

vinho (BREÁS et. al., 1994; ALBERTINO et al., 2009).

A adição de açúcar de beterraba (Europa) ou de cana (Brasil) ao mosto

de uva ou no vinho, antes ou durante a fermentação é uma prática enológica muito utilizada

chamada de chaptalização, onde as condições naturais de cultivo da videira não permitem o

acumulo de teores adequados de açúcar na uva madura, com o intuito de aumentar o conteúdo

natural do etanol em vinhos ou tomada de espuma em espumantes (KOSIR, et. al., 2001).

O “headspace” de uma garrafa de vinho espumante contém CO2 na fase

gasosa balanceado com o CO2 dissolvido na fase líquida. Este gás é proveniente da segunda

fermentação, induzida pelo açúcar da uva, acréscimo de açúcar de beterraba, açúcar de cana

ou de milho. No entanto, o CO2 dos vinhos espumantes, também pode ser de carbonatação

artificial com CO2 comercial. Na figura 4 é apresentado um gráfico com a distribuição

isotópica do carbono e suas possíveis fontes (Raco, et. al., 2013).

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Figura 5. Distribuição da composição isotópica de CO2 e DIC (carbono inorgânico

dissolvido) nos sistemas de carbonato.

Segundo Martinelli et.al. (2003) valores de 13

C encontrados em vinhos

espumantes brasileiros variaram de -28,1‰ a -9,5‰, evidenciando uma mistura de CO2

produzido pela fermentação natural a partir de açúcar de cana C4 e CO2 comercial. Entretanto

em vinhos espumantes europeus a variação dos valores de 13

C do CO2 é de -31,7‰ a -

9,62‰, em que um único vinho espumante obteve o valor mais leve, ou seja, este vinho

espumante pode ter recebido açúcar de cana ou milho para a tomada de espuma (GONZÁLEZ

et.al.,1997; MARTINELLI et.al., 2003; CABAÑERO et.al., 2007).

O Centro de Isótopos Estáveis Ambientais em Ciências da Vida (CIE)

do Instituto de Biociências da UNESP, Campus de Botucatu, utiliza-se da diferença isotópica

na origem botânica do álcool (plantas C3 X plantas C4) na autenticidade de vinhos e

fermentados nacionais. Essa metodologia foi adotada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (MAPA), para detectar fraude em vinhos, vinagres de vinho, fermentados e

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outros; O CIE é um dos laboratórios credenciados pelo MAPA para realizar análises

isotópicas e emitir laudos oficiais (BRASIL, 2001).

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTINO, A.; BARGE, A.; CRAVOTTO, G.; GENZINI, L.; GOBETTO, R.;

VINCENTI, M. Natural origin of ascorbic acid: validation by 13

C NMR and IRMS. Food

Chemistry, v. 112, p. 715-720, 2009.

BOUTTON, T. W. Stable carbon isotope ratios of soil organic matter and their use as

indicators of vegetation and climate change. In: BOUTTON, T. W.; YAMASAKI, S. Mass

Spectrometry of soils. New York: Marcel Dekker, 1996. chap.2, p.47-82.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Aprova a Metodologia de

Analise da Razão Isotópica 13

C/12

C em Produtos e Subprodutos das Plantas do Ciclo

Fotossintético C3 e C4. Instrução Normativa no 04, de 05 de fevereiro de 2001. Diário Oficial

da União, Brasília, DF, 08 de fevereiro de 2001. Disponível em:

<http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualiz

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CAPÍTULO II

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ANÁLISE ISOTÓPICA DO GÁS CARBÔNICO DE ESPUMANTES

COMERCIALISADOS NO BRASIL.

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi analisar isotopicamente vinhos espumantes e espumantes

moscatéis comercializados no Brasil, visando detectar adulteração, tendo como base a

legislação brasileira. Foi empregada a metodologia de análise isotópica utilizando os isótopos

estáveis do elemento carbono. Foi analisado o CO2 dos espumantes comerciais, o sumo de

uvas, açúcares e CO2 comercial. Os resultados encontrados de δ13

C variaram de -10,41 à -

23,08 ‰ para espumantes comerciais; para espumantes moscatéis, a variação foi de -21,13 à -

26,30 ‰. De acordo com a legislação brasileira, para vinhos espumantes e espumantes

moscatéis, determinou-se o intervalo de valores possíveis de δ13

C para que as bebidas

estivessem em acordo com as normas. Concluiu-se não se pode afirmar se houve ou não

adição exógena de CO2 comercial nos espumantes, mas acredita-se que os valores de δ13

C do

CO2 dos espumantes comerciais seja resultado de misturas de gás carbônico proveniente da

fermentação de açúcares de plantas C3 (uva) e plantas C4 (cana de açúcar).

Palavras chave: Espumante, isótopos estáveis, IRMS, adulteração.

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ISOTOPIC ANALYSIS OF SPARKLING WINE OF CARBON DIOXIDE SOLD IN

BRAZIL.

ABSTRACT

The objective of this study was to analyze isotopically carbonic gas sparkling to detect

adulteration of muscat sparkling and sparkling wines sold in Brazil and to detect possible

tampering, based on Brazilian law. It used the isotopic analysis method using stable isotopes

of carbon element. The CO2 was analyzed commercial sparkling wines, the grape juice,

sugars and CO2 trading. The results of δ13

C ranged from -10,41 to -23,08 ‰ for commercial

sparkling; for muscat sparkling, the change was -21,13 to -26,30 ‰. According to Brazilian

law, to sparkling and muscat sparkling wine, it determined the possible range of values of

δ13

C for the drinks were in accordance with the rules. It is concluded we can not say whether

or not exogenous addition of commercial CO2 in sparkling, but it is believed that the δ13

C

values of commercial sparkling CO2 is the result of mixtures of carbon dioxide derived from

the fermentation of C3 plant sugars (grape ) and C4 plants (cane sugar).

Keywords: Sparkling wine, stable isotopes, IRMS, adulteration.

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das sociedades e a conseqüente elevação dos

padrões de vida têm levado ao aumento da demanda em relação à qualidade dos alimentos e

bebidas, sua tipificação e aquisição. Neste contexto, os brasileiros estão começando a

vislumbrar novos horizontes, em especial a dos espumantes, que são consumidos

principalmente em ocasiões especiais como festas de fim de ano, aniversários, casamentos,

etc. (GONZÁLEZ, et.al., 1997; FENSTERSEIFER, 2007).

No cenário internacional, a vitivinicultura brasileira ocupou o 13° lugar

em produção de vinhos, segundo dados da FAO. Dentre os vinhos produzidos e

comercializados se destacam os espumantes com 11.278.858 litros em 2012 contra

10.308.834 litros em 2011 (MELLO, 2013a). Em relação às importações de espumantes no

mesmo período, foram importados 5.316.000 litros em 2012 contra 4.923.000 litros em 2011

(MELLO, 2013b), o que evidência um aumento na comercialização e consumo deste produto.

Segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2004), “Champanha,

Espumante ou Espumante Natural é o vinho cujo anidrido carbônico provém exclusivamente

de uma segunda fermentação alcoólica do vinho em garrafas (método

Champenoise/tradicional) ou em grandes recipientes (método Chaussepied/Charmat), com

uma pressão mínima de quatro atmosferas a 20ºC e com teor alcoólico de 10 % a 13 % em

volume”.

O vinho Moscatel Espumante ou Espumante Moscatel deve ter no

mínimo três atmosferas de pressão a 20ºC, com anidrido carbônico proveniente de uma única

fermentação e graduação alcoólica entre 7 a 10 % v/v (BRASIL, 2004). O limite máximo da

relação álcool em peso / extrato seco reduzido estabelecido pela legislação brasileira

(BRASIL, 2004) tem a finalidade de controlar os excessos de correção do mosto com

sacarose. Atualmente, o controle analítico da chaptalização dos vinhos brasileiros é feito por

meio da análise da razão isotópica 13

C/12

C (BRASIL, 2000), sendo o máximo permitido de

3% v/v de álcool, convertidos em açúcar (RIZZON, 2005).

A qualidade de alimentos e bebidas tornou-se um problema mundial e é

cada vez mais importante detectar a introdução de produtos adulterados e de qualidade

inferior no mercado (EGITO et. al., 2006). Diferentes técnicas estão sendo utilizadas para a

autenticação de alimentos e bebidas, entre esses métodos destaca-se a técnica de análise de

isótopos estáveis, mais especificamente a espectrometria de massa de razões isotópicas

(IRMS) (REID, 2006). Em relação ao espumante, a técnica de isótopos estáveis com o auxílio

de IRMS se dá na mensuração do δ 13

C do dióxido de carbono da bebida.

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As plantas em geral apresentam um enriquecimento isotópico relativo

de carbono que varia de acordo com o modo de fixação do CO2 atmosférico durante seus

ciclos fotossintéticos, sendo as duas principais vias bioquímicas para fixação de carbono o

ciclo fotossintético C3 (uva, valor médio de δ 13

C de -28‰) e ciclo fotossintético C4 (cana de

açúcar, valor médio de δ 13

C de -13‰) (FARQUHAR et al., 1982.; MARTINELLI et al.,

2009). No caso do Brasil, o CO2 do espumante é resultante da segunda fermentação do açúcar

de cana que é introduzido no vinho base para a tomada de espuma (RIZZON, et.al., 2000)

Dessa forma, o valor isotópico do gás carbônico dos espumantes deve ser próximo dos

valores isotópicos do açúcar de cana. No caso dos moscateis espumantes, este valor deve ficar

entre os do açúcar de cana e os da uva.

Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar isotopicamente

o CO2 dos espumantes, para detecção de adulteração.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho foram analisadas isotopicamente as seguintes

matérias-primas:

• uvas Isabel, Bordô, Niágara, Máximo, Lorena, Rainha, Syrah,

Moscato, Chardonnay e Pinot Noir.

• açúcar cristal das marcas: Açúcarlito, Orgânico Native, Twister, Santa

Isabel, Colombo, Qualitá, União, Dia%, Orgânico União; açúcar refinado das marcas: Barra,

Valle Branco, Pateko, Alto Alegre e União Premium.

• amostras de espumantes brasileiros das marcas: Lacave, Almadén,

Aurora, Chandon, Miolo e Salton. Espumantes internacionais das marcas: Nieto Senetiner,

Cava, Santa Helena, Veuve du Vernay e Cinzano. Todos vendidos no Brasil.

• amostras de espumantes elaborados em laboratório.

• amostras de espumantes moscatéis brasileiros das marcas: Garibaldi,

Peterlongo, Terra Nova, Aurora e Salton. Espumantes internacionais das marcas: Villa

Fabricia, Menestrelo e Zonin. Todos vendidos no Brasil.

• CO2 de cilindros comerciais das marcas: Air Products, Horto

Oxigases, Air Liquid, Linde e White Martins.

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2.1. Planejamento experimental

O trabalho foi desenvolvido em 6 fases: a) análise isotópica do sumo de

uvas; b) análise isotópica de açúcares comerciais (cristal e refinado); c) análise isotópica do

gás carbônico de espumantes comerciais, d) análise isotópica do gás carbônico de espumantes

elaborados em laboratório, e) análise isotópica do gás carbônico de espumantes moscatéis, f)

análise isotópica de CO2 comercial,

2.2. Desenvolvimento da metodologia

2.2.1. Análises isotópicas

O sumo das variedades Bordô, Isabel, Máximo, Niagara, Lorena,

Rainha, Syrah, Moscato, Chardonnay, Pinot Noir foram analisados isotopicamente, com

amostragem de 0,4 microlitros em cápsula de estanho. Foram realizadas as análises isotópicas

dos açúcares com amostragem de 50 microgramas e colocadas em cápsulas de estanhos. As

amostras foram colhidas em triplicata e as análises isotópicas foram realizadas em

Espectrômetro de Massas de Razão Isotópica, modelo Delta S. Finnigam Mat. acoplado à um

analisador elementar Fisons Instruments, modelo EA 1108 CHONS.

As amostras do dióxido de carbono contido no “headspace” de

espumantes comerciais, espumantes elaborados em laboratório, espumantes moscatéis

comerciais e CO2 comercial foram colhidas em triplicata por meio de alíquotas de gás que

foram coletadas com a seringa modelo GAS SYRINGE – SERIE A-2 – 1ml, marca – VICI

Precision Sampling, Inc. – LA US. As análises isotópicas foram realizadas em Espectrômetro

de Massas de Razão Isotópica modelo Delta V. Advantage acoplado à um analisador

elementar modelo FLASH 2000 EA. THERMO SCIENTIFIC.

Os valores de enriquecimento do 13

C foram expressos em delta per mil

da razão isotópica 13

C/12

C (δ13

C) da amostra em relação a um padrão internacional definido,

PeeDee Belemnite PDB (DUCATTI et. al., 1979; BOUTTON, 1996; ROSSMANN, 2001). O

valor isotópico de todas as amostras foi quantificado, conforme a equação (1):

(amostra, padrão) = r amostra – r padrão

(1)

r padrão

A simbologia empregada na equação significa:

(amostra, padrão) = enriquecimento isotópico da amostra em relação

ao padrão internacional, expresso em per mil (‰) (adimencional);

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r = razão entre o isótopo pesado pelo o isótopo leve (13

C/12

C) da

amostra e do padrão, respectivamente (adimensional).

2.2.2. Análise do gás carbônico em espumantes, espumantes moscatéis,

espumantes elaborados em laboratório e CO2 comercial

As garrafas de espumantes foram abertas e imediatamente após foi

colocado um filme plástico (Parafilm M- PM 9966) no entorno da boca da garrafa para

aprisionar o gás no seu “head space”. Alíquotas de gás foram coletadas no “head space” das

garrafas com seringa modelo GAS SYRINGE – SERIE A-2 – 1ml, marca – VICI Precision

Sampling, Inc. – LA US. Posteriormente, o gás foi introduzido em um frasco de vidro com

tampa de borracha e lá foi armazenado até o momento da análise isotópica.

2.2.3. Fracionamento isotópico

A discriminação isotópica do fracionamento foi calculada por meio da

equação (2).

‰ fonte, produto)=‰ (fonte) – ‰ (produto) (2)

103 + ‰ (produto)

A simbologia empregada na equação significa:

‰ (fonte, produto): discriminação isotópica da fonte em relação ao

produto, expresso em per mil (‰) (adimencional);

‰ (fonte): enriquecimento isotópico da fonte, expresso em per mil (‰)

(adimencional);

‰ (produto): enriquecimento isotópico do produto, expresso em per

mil (‰) (adimencional);

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2.2.4. Otimização

O Solver é uma ferramenta que possibilita encontrar um valor ideal

(otimizado) para uma determinada equação. Para resolver problemas lineares e de números

inteiros, o Solver utiliza o algoritmo Simplex com limites sobre as variáveis e o método de

desvio e limite. Esse método foi implementado por John Watson e Dan Fylstra, ambos da

Frontline Systems, Inc. (ROJAS, 2002).

A otimização foi realizada para determinar a quantidade possível de

13

C advinda do açúcar e do sumo de uva para o intervalo de valores do 13

C de espumantes

(produto). Esse método possibilita determinar as misturas da composição do CO2 de

espumantes, levando em consideração o açúcar que é utilizado para a 2° fermentação de

espumantes e o sumo da uva que é o produto principal da produção de espumantes.

O modelo descrito a seguir tem como função objetivo a função de

mistura isotópica (equação 3) sendo esta maximizada e minimizada, utilizando a ferramenta

Solver do programa Microsoft Excel.

Função objetivo:

(Max, Min) produto = a * (Xc4) + b * (Xc3) (3)

Restrições para espumantes:

Xc4, Xc3 ≥ 0

Xc4 + Xc3 = 1

pi ≤ produto ≤ pf,

Onde:

Max= maximizar , Min= minimizar

a e b = enriquecimento isotópico relativo (13

C) das fontes de

carbono derivados de plantas C4 e de C3, respectivamente (adimensional);

produto = enriquecimento isotópico relativo (13

C) do produto

(adimensional);

Xc4 e Xc3 = frequência relativa das fontes de açúcar de cana e uva.

pi = menor valor de produto do espumante fabricado em laboratório.

pf = maior valor de produto do espumante fabricado em laboratório.

Não há restrição com relação a quantidade de açúcar, pois a legislação

brasileira de espumantes estabelece que a segunda fermentação, para formação de espuma

(CO2), portanto pode ser elaborado com açúcar de cana e possíveis resíduos de açúcar da

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própria uva. Portanto optou-se por determinar os possíveis valores de p com a quantidade

mínima e máxima de açúcar (planta C4) e uva (planta C3), determinando assim os valores de

pi e pf.

Restrições para espumantes moscatéis:

Xc4, Xc3 ≥ 0

Xc4 + Xc3 = 1

Xc4 ≤ 0,4

Xc3 ≥ 0,6

Como a legislação brasileira de vinhos estabelece a adição de no

máximo 3% v/v em álcool proveniente de açúcar de cana na composição de vinhos, o restante

do álcool seria da fermentação dos açúcares da própria uva. Assim a quantidade das variáveis

de plantas C4 (açúcar) e C3 (uva), restringem o valor de XC4 o qual deverá ser ≤ 0,4, portanto o

valor de Xc3 deve ser ≥ 0,6.

2.3. Análise Estatística

Os resultados da análise isotópica do gás carbônico das bebidas foram

submetidos à análise de variância e complementados pelo teste de Tukey para a detecção de

possíveis diferenças entre as médias do δ13

C. Considerou-se significativo quando p <0,05.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra os valores de 13

C do gás carbônico dos espumantes

elaborados em laboratório, com diferentes marcas de açúcares comerciais. Os valores do

enriquecimento isotópico variaram de -12,99 à -13,95‰, havendo diferença estatística

significativa entre os resultados.

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Tabela 1. Análise isotópica do gás carbônico de espumantes elaborados em laboratório a

partir de diferentes marcas de açúcares comerciais.

Açúcar usado no espumante Origem do açúcar usado no

espumante

13

C*103

Desvio padrão

Orgânico Native Cristal Sertãozinho – SP -12,99 a 1,32

DIA% Cristal Santa Cruz do Rio Pardo - SP -13,12 a 0,96

Valle Branco ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -13,16 ab 1,42

Açúcarlito Cristal Bariri – SP -13,21 abc 1,34

Twister Cristal Cascavel – PR -13,22 abc 0,98

Colombo Cristal Ariranha – SP -13,37 abcd 1,43

Qualitá Cristal Ariranha – SP -13,40 abcd 1,18

Orgânico União Cristal Sertãozinho – SP -13,41 abcd 1,44

Barra Refinado Barra Bonita – SP -13,43 abcd 1,55

Pateko ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -13,53 abcd 1,25

União Cristal Tarumã - SP -13,59 abcd 1,27

União Premium Refinado Sertãozinho - SP -13,77 bcd 0,99

Alto Alegre Refinado Colorado - PR -13,83 cd 0,60

Santa Isabel Cristal Novo Horizonte - SP -13,95 d 1,77

Médias seguidas de letras iguais, na coluna, não diferem pelo teste de Tukey (p>0,05).

Os resultados da análise isotópica dos açúcares comerciais estão

descritos na Tabela 2. Da mesma forma que ocorreu com a análise do CO2 dos espumantes

(Tabela 1), aqui os valores de 13

C também variaram em torno de uma unidade per mil,

havendo também diferença estatística significativa entre os resultados.

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35

Tabela 2. Análise isotópica dos açúcares comerciais usados na produção dos espumantes.

Açúcar Origem 13

C*103 Desvio padrão

Barra Refinado Barra Bonita - SP -13,82 a 0,20

Açúcarlito Cristal Bariri – SP -13,86 ab 0.11

Orgânico Native Cristal Sertãozinho - SP -13,87 ab 0,16

Valle Branco ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,08 abc 0,07

Twister Cristal Cascavel – PR -14,11 abc 0,07

Santa Isabel Cristal Novo Horizonte - SP -14,14 abc 0,27

Colombo Cristal Ariranha – SP -14,17 abc 0,02

Pateko ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,23 abc 0,06

Qualitá Cristal Ariranha – SP -14,25 bc 0,06

União Cristal Tarumã – SP -14,30 c 0,23

Alto Alegre Refinado Colorado – PR -14,35 c 0,25

DIA% Cristal Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,39 cd 0,24

União Premium Refinado Sertãozinho - SP -14,42 cd 0,27

Orgânico União Cristal Sertãozinho - SP -14,79 d 0,21

Médias seguidas de letras iguais não diferem (p>0,05), pelo teste de Tukey.

Comparando os valores isotópicos da Tabela 2 com aqueles publicados

por Queiroz et al. (2009) e Nogueira (2011), que analisaram diferentes tipos de açúcar

(refinado, cristal, invertido, líquido e xarope de caramelo), observa-se que os valores de 13

C

estão decrescendo, isto é, tornando-se mais negativos, o que significa carbonos mais ricos no

isótopo mais leve.

Foi elaborado um gráfico (Figura 1) evidenciando o fracionamento

isotópico dos açúcares quando estes estão in natura e transformados em CO2 por meio da

fermentação alcoólica. Foram calculados a discriminação isotópica () dos valores de 13

C

para o fracionamento de cada marca de açúcar utilizado para a elaboração de espumantes em

laboratório com o auxílio da Equação 2. O gás carbônico dos espumantes elaborados em

laboratório está enriquecido em 0,8‰ em relação ao açúcar (Tabela 3).

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36

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

-12,5

-13,0

-13,5

-14,0

-14,5

-15,0

-15,5 Açucar

CO2 de espumante

13C

Amostras

Figura 1. Valores isotópicos, médios, de açúcar e do CO2 de espumante, das amostras de

Açúcarlito Cristal (1), Alto Alegre Refinado (2), Barra Refinado (3), Colombo Cristal (4),

DIA% Cristal (5), Orgânico Native Cristal (6),Orgânico União Cristal (7),Pateko ExtraFino

(8),Qualitá Cristal (9),Santa Isabel Cristal (10),Twister Cristal (11), União Cristal (12), União

Premium Refinado (13), Valle Branco ExtraFino (14).

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37

Tabela 3. Discriminação isotópica da fonte (açúcar) em relação ao produto (gás

carbônico do espumante).

Açúcares utilizados Discriminação isotópica (‰

Orgânico Native -0,9‰

Valle Branco ExtraFino -0,9‰

Barra Refinado -0.4‰

Orgânico União Cristal -1,1‰

Açúcarlito Cristal -0,7‰

Colombo Cristal -0,8‰

Santa Isabel Cristal -0,2‰

União Cristal -0,7‰

Qualitá Cristal -0,9‰

Pateko ExtraFino -0,7‰

Twister Cristal -0,9‰

Dia% Cristal -1,3‰

União Premium Refinado -0,7‰

Alto Alegre Refinado -0,5‰

Média -0,8‰

A Tabela 4 mostra os resultados da análise isotópica do gás carbônico

dos espumantes brasileiros e estrangeiros comercializados no Brasil. Os valores de 13

C

variaram de -10,41 até -23,08‰, havendo diferença estatística entre os resultados.

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38

Tabela 4. Análise isotópica do gás carbônico de espumantes comerciais.

Origem Média 13

C*103 (CO2) Desvio padrão

Espumante

Nieto Senetiner Argentina -10,41 a 0,33

Lacave Brasil -12,44 b 0,17

Almadén Brasil -12,51 b 0,19

Cava Espanha -13,06 b 0,50

Sant German/Aurora Brasil -13,75 b 0,31

Chandon/Baby Brasil -16,42 c 0,28

Santa Helena Chile -16,89 c 0,80

Prosecco/Aurora Brasil -17,05 c 1,68

Miolo Brasil -17,09 c 0,41

Veuve du Vernay França -21,03 d 0,75

Grand Valle/Salton Brasil -21,89 de 0,54

Cinzano Itália -23,08 e 0,49

Médias seguidas de letras iguais não diferem (p>0,05), pelo teste de Tukey.

Os vinhos espumantes europeus em geral apresentaram valores mais

leves: 13

C = -21,03 ‰ na França e -23,08 ‰ na Itália, com exceção de um espanhol cujo

valor foi de -13,06 ‰. Os vinhos espumantes provenientes da América do Sul apresentaram

as médias mais pesadas em relação aos europeus, com exceção de um brasileiro (-21,89 ‰)

que teve média parecida com os espumantes da França e Itália. Calderone et al. (2007) em seu

trabalho com bebidas carbonatadas natural ou artificial obteve para vinhos espumantes e sidra

resultados próximos aos encontrados neste trabalho: 13

C entre -9,68 à -22,17‰, sendo todos

espumantes e cidra europeus (Itália, Portugal e França). Contudo em uma gama maior de

espumantes da Europa, América do Sul e do Norte, Martinelli et al. (2003) encontrou valores

de 13

C variando de -7,7 à -29,1‰. Já Cabañero et al. (2007) obteve resultados de 13

C

variando de -9,62 à -25,08‰ em vinhos espumantes espanhóis e um português. González et

al. (1997) encontrou valores de 13

C variando de -9,05 à -20,98‰ em vinhos espumantes

espanhóis.

A elaboração de vinhos espumantes em laboratório foi feita para se ter

uma referência do 13

C (Tabela 1) do gás carbônico que poderia ser encontrado em

espumantes comerciais, utilizando o açúcar de cana (C4) para a segunda fermentação. Os

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resultados obtidos variaram de -12,99 à -13,95 ‰. Os espumantes comerciais, que obtiveram

resultados de 13

C do gás carbônico mais leves que essa faixa de valores, foram

provavelmente “contaminados” com açúcar residual da uva (C3) ou adição de gás carbônico

exógeno.

A Tabela 5 mostra os valores isotópicos do suco de uvas produzidas no

Brasil.

Tabela 5: Análise isotópica de sumo de uvas.

Média 13

C*103 (suco) Desvio padrão

UVAS

Bordô -25,56 a 0,21

Isabel -25,60 a 0,17

Máximo -25,65 ab 0,07

Niágara -26,05 b 0,06

Lorena -26,60 c 0,10

Rainha -26,65 c 0,25

Syrah -27,13 d 0,18

Moscato -27,20 d 0,16

Chardonnay -27,47 de 0,02

Pinot Noir -27,65 e 0,02

Médias seguidas de letras iguais não diferem (p>0,05), pelo teste de Tukey.

Em relação ao sumo de uvas, observou-se que houve diferença de

valores isotópicos dentro das variedades da espécie Vitis labrusca L. (Bordô, Isabel e

Niagara), das variedades hibridas (Máximo, Lorena e Rainha) e das variedades Vitis viníferas

L. (Syrah, Moscato, Chardonnay, Pinot Noir). Os valores isotópicos das variedades híbridas

são intermediários aos das variedades Vitis labrusca L. e Vitis viníferas L., com exceção da

cultivar Máximo que não difere das variedades Vitis labrusca L.

A análise isotópica do gás carbônico comercial é mostrada na Tabela 6.

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Tabela 6. Análise isotópica de gás carbônico comercial.

Média 13

C*103 (CO2) Desvio padrão

GÁS COMERCIAL

Air Products -18,49 a 0,21

Horto Oxigases -23,53 b 0,01

Air Liquid -25, 91 c 0,01

Linde -38,15 d 0,60

White Martins -38,55 d 0,46

Médias seguidas de letras iguais não diferem (p>0,05), pelo teste de Tukey

O processo de produção comercial de CO2 é obtido das seguintes

formas: gás de combustão (carvão, petróleo, gás natural) contendo de 10 à 18% de CO2, gás

de cervejarias contendo cerca de 99% de CO2 e gás coproduto das operações dos fornos de

cal, contendo de 10 à 40% de CO2. Sendo os dois primeiros processos os mais utilizados na

produção do CO2 (SHREVE E BRINK, 1997). Os valores de 13

C do CO2 comercial das

marcas vendidas no Brasil tiveram diferença estatistica entre si variando em média de -20 ‰,

indicando que os três primeiros resultados provavenmente vieram de indústrias de

fermentação e os dois últimos são provenientes de gases de combustão.

Gonzalez et al. (1997) também analisaram CO2 industrial e obtiveram

os seguintes resultados de δ 13

C: -20,37, -28,56, -29,53, -32,40, -36,11 e -36,22‰,

corroborando com os resultados obtidos neste experimento.

A Figura 2 apresenta os dados (média) das tabelas 2, 4, 5 e 6 juntas para

a visualização das possíveis composições do gás carbônico dos espumantes. Por meio desta

representação, acredita-se que não se utilizou os gases das marcas Linde e White Martins na

composição do gás carbônico dos espumantes. Entretanto não se pode afirmar se houve ou

não adição exógena de CO2 comercial nos espumantes aqui analisados, pois visualiza-se um

gradiente de 13

C que vai desde o -10,41 até -23,08‰, demonstrando que há provavelmente

uma mistura de gases provenientes da uva (C3) e de cana de açúcar (C4) ou de gás carbônico

comercial.

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41

-40

-35

-30

-25

-20

-15

-1013C

Figura 2. Médias de 13

C, - Gás Industrial; - Açúcar in natura; - Sumo de uvas;

pontos sem formas espumantes comerciais.

Com a otimização encontrou-se o intervalo de confiança do 13

C, sendo

este de -13,7 ≤ p ≤ -23,65‰ (Tabela 7). Na figura 3 estão representados os valores do 13

C

dos espumantes comerciais, ressalta-se que os valores em vermelho estão fora do intervalo de

resposta viável para esse produto, utilizando como base os açúcares testados neste trabalho

(Tabela 2). Observa-se que 8 dos espumantes analisados estão neste intervalo de confiança,

portanto em acordo com a legislação brasileira (5 brasileiros, 1 francês, 1 italiano e 1

chileno), no entanto 4 desses espumantes (2 brasileiros, 1 espanhol e 1 argentino) estão em

desacordo com a legislação brasileira, que variaram de -10,41 à -13,06‰.

Tabela 7. Porcentagem de contribuição de cada componente da mistura, para o intervalo de

valores de delta de carbono-13 encontrados nos espumantes comerciais analisados.

a b pi Xc4 Xc3 pf Xc4 Xc3

-13,70 -27,66 -13,70 1,00 0,00 -23,65 0,70 0,30

-13,70 -25,33 -13,70 1,00 0,00 -23,65 0,85 0,15

-14,93 -27,66 -14,93 1,00 0,00 -23,65 0,68 0,32

-14,93 -25,33 -14,93 1,00 0,00 -23,65 0,84 0,16

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42

Figura 3. Intervalo de confiança 13

C, -13,7 ≤ p ≤ -23,65‰. Pontos vermelhos são de

espumantes fora do intervalo de confiança.

Martinelli et al. (2003) encontraram em sua pesquisa valores próximos

aos quatro espumantes fora do intervalo de confiança e que segundo ele seriam provenientes

de plantas C4 (açúcar de cana).

No Moscatel espumante a produção de gás carbônico é feita em uma

única fermentação, e não na segunda fermentação como os espumantes comuns. Assim, o

CO2 da bebida deve provir dos açúcares da uva (carbono C3), respeitado aquele da

chaptalização (carbono C4), o que corresponde a 3% v/v de etanol na forma de açúcar de cana.

Os valores isotópicos do gás carbônico dos moscatéis espumantes,

comercializados no Brasil, são mostrados na Tabela 8.

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Tabela 8. Análise isotópica do gás carbônico de vinho moscatel espumante comercial.

Origem Média13

C*103 (CO2) Desvio padrão

MOSCATEL

Garibaldi Rose Brasil -21,13 a 0,28

Peterlongo Brasil -22,25 ab 0,14

Villa Fabricia Itália -22,40 ab 0,10

Terra Nova Brasil -23,18 abc 3,69

Menestrelo Itália -24,07 abc 0,32

Aurora Brasil -24,29 abc 0,12

Zonin Itália -25,01 bc 0,64

Club des Sommeliers/Aurora Brasil -25,41 bc 0,11

Grand Valle/Salton Brasil -25,43 bc 0,16

Salton Brasil -26,30 c 0,04

Médias seguidas de letras iguais não diferem (p>0,05), pelo teste de Tukey.

Os únicos dados sobre análise isotópica do gás carbônico de moscatel

espumante na literatura especializada foram elaborados por Martinelli et.al. (2003). Neste

trabalho, os valores isotópicos do CO2 variaram de -12,8 à -24,3 ‰, estando em parte

próximo aos resultados encontrados pelo pesquisador, exceto dois espumantes brasileiros que

obtiveram resultados de 13

C de -12,8 e 13,3‰.

Com as médias das quatro tabelas (Tabelas 2, 5, 6 e 8) elaborou-se um

gráfico para visualização das possíveis fontes de gás carbônico contidas nos espumantes

moscatéis comerciais (figura 4).

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44

-40

-35

-30

-25

-20

-15

-10

13C

Figura 4. Médias de 13

C, - Açúcar in natura; - Sumo de uvas; - Gás industrial;

pontos sem formas – moscatel espumante comercial.

Com a visualização deste gráfico, é possível inferir que provavelmente

os gases comerciais das marcas Linde e White Martins não compõem o CO2 dos espumantes

comerciais. Contudo não se pode afirmar que não houve adição exógena (CO2 comercial) nos

espumantes. O mais provável é que o gás carbônico analisado seja uma mistura de CO2 de

plantas C3 (uva) e CO2 de plantas C4 (cana de açúcar), produtos da fermentação alcoólica dos

açúcares da uva e do açúcar de cana usado na toma de espuma, ou utilização de CO2

comercial.

Utilizando a ferramenta de otimização foi determinado um intervalo de

confiança de δ 13

C, sendo este de -20,68 ≤ δp ≤ -27,66‰ (Tabela 9).

Tabela 9. Porcentagem de contribuição de cada componente da mistura, para o intervalo de

valores de delta de carbono-13 encontrados nos espumantes moscatéis comerciais analisados.

a b pi Xc4 Xc3 pf Xc4 Xc3

-13,70 -27,66 -22,08 0,40 0,60 -27,66 0,00 1,00

-13,70 -25,33 -20,68 0,40 0,60 -25,33 0,00 1,00

-14,93 -27,66 -22,57 0,40 0,60 -27,66 0,00 1,00

-14,93 -25,33 -21,17 0,40 0,60 -25,33 0,00 1,00

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Assim, os valores situados fora deste intervalo estariam em desacordo

com a legislação brasileira, ou seja, os resultados mais pesados que -20,68‰ e mais leves que

-27,66‰ (figura 5).

Figura 5. Intervalo de confiança 13

C, -20,68 ≤ δp ≤ -27,66‰. Pontos vermelhos são de

espumantes moscatéis em desacordo com a legislação brasileira.

Não houve nenhum valor de δ13

C dos espumantes moscatéis

comercializados no Brasil que estivesse fora do intervalo de confiança. Dessa forma, todos os

espumantes moscateis estavam de acordo com a legislação brasileira.

4. CONCLUSÃO

Os espumantes comerciais e os gases carbônicos comerciais analisados

apresentaram valores isotópicos (δ 13

C) que não permitem predizer que existiu adulteração das

bebidas por injeção de gás comercial.

A ocorrência de adulteração por injeção de gás carbônico industrial nos

espumantes apenas seria possível de se detectar quando uma bebida apresentasse valor

isotópico menor (mais negativo) do que os valores isotópicos das uvas utilizadas na

elaboração do espumante.

A análise isotópica do carbono apresenta limitações para detectar a

injeção de gás carbônico industrial em espumantes.

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46

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49

CAPÍTULO III

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QUAL A ORIGEM DO GÁS CARBÔNICO DE NOSSAS BEBIDAS?

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi de detectar a origem do dióxido de carbono em bebidas

carbonatada, por meio de análise isotópica, utilizando o isótopo estável do elemento carbono.

As bebidas comerciais analisadas foram refrigerantes, cervejas, vinhos, águas, bebidas

energéticas e bebidas compostas vendidas no Brasil. Foi empregada a metodologia de análise

isotópica utilizando os isótopos estáveis do elemento carbono. Houve uma variabilidade

muito grande dos resultados de enriquecimento relativo do carbono (13

C), variando de -5,15

à -38,58‰. Conseguiu-se identificar três padrões de resultados isotópicos (13

C) do dióxido

de carbono: CO2 de fermentação alcoólica, CO2 de gás de combustão e CO2 de água

gaseificada naturalmente na fonte. A metodologia dos isótopos estáveis é uma ferramenta

importante, eficaz e rápida para a caracterização de bebidas carbonatadas.

Palavras chaves: Bebidas carbonatadas, isótopos estáveis, IRMS.

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WHAT IS THE ORIGIN OF THE BEVERAGES OF OUR CARBON DIOXIDE?

ABSTRACT

The objective is to detect carbon dioxide source and if possible to characterize fraud in

carbonated beverages by isotopic analysis using stable isotope of carbon element. Industrial

sugars and CO2 were analyzed to be a reference of what might be found in carbonated

beverages. The commercial beverages were analyzed: soft drinks, beer, wine, water, energy

drinks and mixed drinks sold in Brazil. There was a great variability of 13

C of results,

ranging from -5.15 to -38.58 ‰. It was possible to identify three patterns results carbon

dioxide 13

C CO2 fermentation flue gas CO2 and CO2 naturally carbonated water source for

the preparation of beverages. The methodology for stable isotope is an important, effective

and quick tool for the characterization of carbonated beverages.

Keywords: Carbonated Drinks, stable isotopes, IRMS.

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52

1. INTRODUÇÃO

O processo de produção comercial de gás carbônico é obtido das

seguintes formas: gases de combustão (carvão, petróleo, gás natural) contendo de 10 à 18% de

CO2, indústrias de fermentação contendo cerca de 99% de CO2 e coproduto das operações dos

fornos de cal, contendo de 10 à 40% de CO2. Sabe-se que as grandes cervejarias do Brasil

recuperam gás carbônico em suas plantas de produção. A recuperação deste gás envolve

questões econômicas e ambientais. O gás carbônico é utilizado não somente na carbonatação

de cervejas como também de outras bebidas carbonatada, como refrigerantes, águas

gaseificadas, vinho, entre outras (SHREVE E BRINK, 1997).

Os consumidores estão cada vez mais exigentes de certificação de

origem e qualidade com os produtos adquiridos, principalmente os alimentos e bebidas

(GONZÁLEZ et. al. 1997).

Bebidas carbonatadas ou gaseificadas são populares em muitos

mercados e são consumidas por uma variedade de grupos sociais e econômicos. O dióxido de

carbono é usado para conferir sabor mais agradável às bebidas por meio de bolhas de gás,

naturalmente produzido ou artificialmente incorporado. Dentre as diversas bebidas

carbonatadas mais consumidas estão os refrigerantes, cervejas, vinhos, água mineral, água

tônica, energy drinks, além de vodka e cachaça (CABAÑERO et al., 2007).

Segundo Ferreira et al. (2009), “o Brasil é um dos maiores produtores

de refrigerantes carbonatados, com mais de 800 fábricas, e um mercado consumidor de mais

de 13 bilhões de litros por ano, que é o terceiro no mundo”.

O grupo japonês Kirin Holdings (2010), observou que o Brasil é o

terceiro maior produtor mundial de cerveja (13,2 bilhões de litros), ficando atrás da China

(44,7 bilhões de litros) e Estados Unidos (24,1 bilhões de litros). Os maiores consumidores

per capita de cerveja são República Checa (151,2 litros/ano), Alemanha (108,3 litros/ano) e

EUA (77,2 litros/ano). O consumo per capita no Brasil é de 64,4 litros/ano.

Com o auxílio da técnica dos isótopos estáveis pode-se identificar qual

a origem do dióxido de carbono das bebidas, se originária de plantas C4, C3 ou da combustão

de derivados de combustíveis fósseis ou uma mistura desses gases. As cervejarias do Brasil

recuperam o CO2 das fermentações apenas com malte e também com as misturas de malte

com milho ou malte e açúcar ou malte e arroz ou malte, milho, açúcar, etc. Obtendo assim

uma variação do 13

C (CO2) muito grande. O uso da técnica dos isótopos estáveis para

detectar a origem do dióxido de carbono de bebidas gaseificadas é pouco usada no Brasil.

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O objetivo deste trabalho foi detectar a origem do dióxido de carbono

em bebidas carbonatadas por meio da análise isotópica do elemento carbono.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho foram analisadas isotopicamente as seguintes

matérias-primas:

• gás carbônico dos açúcares das marcas: Açúcarlito, Orgânico Native,

Twister, Santa Isabel, Colombo, Qualitá, União, Dia%, Orgânico União e açúcar refinado das

marcas: Barra, Valle Branco, Pateko, Alto Alegre e União Premium.

• amostras de refrigerantes: Antártica, Pepsi, Coca-Cola, Belco, Schin,

Jah! Fresh, Dia%.

• amostras de cervejas: Antártica, Caracu, Liber, Xingu, Kaiser e

Heineken.

• amostras de vinhos: Almadén, Cereser, Aurora, Góes e Del Grano.

• amostras de águas: S. Pellegrino, Schin, São Lourenço, Minalba,

Nestlé, Dia%, Crystal, Vermont, Classic Dillar’s e Shweppes

• amostras de bebidas energéticas: Over Night, Super Power, Fling

Horse, Red Bull, Burn e All Night.

• amostras de bebidas compostas: Blue Spirit, Smirnoff e 51

• gás carbônico de cilindros industriais das marcas AIR Products, Horto

Oxigases, AIR Liquid, Linde e White Martins.

Foi realizado a análise isotópica dos açúcares com amostragem de 50

microgramas e colocadas em cápsulas de estanhos. As amostras foram recolhidas em triplicata e

as análises isotópicas foram realizadas em Espectrômetro de Massas Modelo Delta S.

Finnigam Mat. Acoplado à um analisador elementar Fisons Instruments. Modelo EA 1108

CHONS.

As amostras (alíquotas de gás foram coletadas com seringa modelo

GAS SYRINGE – SERIE A-2 – 1ml, marca – VICI Precision Sampling, Inc. – LA US.) de

CO2 industrial foram recolhidas em triplicata e as análises isotópicas foram realizadas em

espectrômetro de Massas modelo Delta V. Advantage acoplado à um analisador elementar

modelo FLASH 2000 EA. THERMO SCIENTIFIC.

Os valores de enriquecimento do carbono-13 são expressos em delta per

mil da razão isotópica 13

C/12

C (δ13

C) da amostra em relação a um padrão internacional

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definido, PeeDee Belemnite PDB (DUCATTI et. al., 1979; BOUTTON, 1996; ROSSMANN,

2001)

O valor isotópico das amostras foi quantificado, conforme a equação

(1):

(amostra, padrão) = r amostra – r padrão

(1)

r padrão

A simbologia empregada na equação significa:

(amostra, padrão) = enriquecimento isotópico da amostra em relação

ao padrão internacional (PDB), expresso em per mil (‰) (adimencional);

r = razão entre o isótopo pesado sobre o isótopo leve (13

C/12

C) da

amostra e do padrão, respectivamente (adimensional).

As amostras foram recolhidas em triplicata e as análises isotópicas

foram realizadas em espectrômetro de massas modelo Delta V. Advantage acoplado à um

analisador elementar modelo FLASH 2000 EA. THERMO SCIENTIFIC.

Alíquotas de gás foram coletadas com seringa modelo GAS SYRINGE

– SERIE A-2 – 1ml, marca – VICI Precision Sampling, Inc. – LA US. Os recipientes foram

abertos e imediatamente após foi colocado o Parafilm M- PM 9966 entorno da boca do

recipiente para segurar o gás e possibilitar a retirada do mesmo com a agulha de aço que foi

introduzida através do parafilm, coletando assim a amostra, e posteriormente introduzido o

gás no espectrômetro de massa através de um septo para a análise isotópica do gás.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados quatorze marcas diferentes de açúcar dos estados de

São Paulo (12 marcas) e Paraná (2 marcas), vendidos no estado de São Paulo. Foram

analisados isotopicamente os açúcares em laboratório, sendo seus valores de 13

C expostos na

tabela 1.

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Tabela 1. Análise isotópica de açúcar.

Origem Média 13

C*103

(Açúcar)

Desvio

padrão

Açúcar

Barra Refinado Barra Bonita - SP -13,82 0,20

Açúcarlito Cristal Bariri – SP -13,86 0.11

Orgânico Native Cristal Sertãozinho - SP -13,87 0,16

Valle Branco ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,08 0,07

Twister Cristal Cascavel - PR -14,11 0,07

Santa Isabel Cristal Novo Horizonte - SP -14,14 0,27

Colombo Cristal Ariranha - SP -14,17 0,02

Pateko ExtraFino Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,23 0,06

Qualitá Cristal Ariranha - SP -14,25 0,06

União Cristal Tarumã – SP -14,30 0,23

Alto Alegre Refinado Colorado - PR -14,35 0,25

DIA% Cristal Santa Cruz do Rio Pardo - SP -14,39 0,24

União Premium Refinado Sertãozinho - SP -14,42 0,27

Orgânico União Cristal Sertãozinho - SP -14,79 0,21

Os resultados obtidos nas análises variaram de -13,82 a -14,79‰. Em

outros resultados de análise isotópica de açúcares de anos anteriores obteve resultados mais

pesados do que estes apresentados. Queiroz, et.al., 2009 obteve valores de açúcar entre -12,30

à -13,57‰. Nogueira, 2011 em sua tese de doutorado obteve valores próximos ao de Queiroz

variando de -12,62 à -13,10‰. Indicando que com o passar dos anos a média dos açúcares

estão cada vez mais leves.

Na tabela 2 estão às análises isotópicas do CO2 comercial coletados

para o experimento, variando de -18,39 à 38,55‰. Estes resultados corroboram com o que foi

descrito por Shreve e Brink (1997) sobre a origem do gás carbônico comercial, sendo os três

primeiros resultados proveniente de recuperação de fermentações de cervejaria e os dois

últimos proveniente de gases de combustão (petróleo, gás natural). Segundo Raco et.al. 2013

na figura 1 é apresentado um gráfico com a distribuição isotópica do carbono e suas possíveis

fontes.

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Tabela 2. Análise isotópica de CO2 comercial.

Média 13

C*103 (CO2) Desvio padrão

Gás comercial

Air Products -18,49 ± 0,21

Horto Oxigases -23,53 ± 0,01

Air Liquid -25, 91 ± 0,01

Linde -38,15 ± 0,60

White Martins -38,55 ± 0,46

Figura 1. Distribuição da composição isotópica de CO2 e DIC (carbono inorgânico

dissolvido) nos sistemas de carbonato.

Foram feitas análises isotópicas do gás carbônico de vários tipos de

bebidas carbonatadas. Os resultados estão dispostos nas seguintes tabelas:

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Tabela 3 – vinhos frisantes

Tabela 4 – bebida composta gaseificada

Tabela 5 – água mineral gaseificada

Tabela 6 – água tônica

Tabela 7 – bebidas energéticas

Tabela 8 – cerveja

Tabela 9 – refrigerantes

Há uma variabilidade muito grande nos resultados de 13

C, cujos

valores ficaram dentro do intervalo de -5,15 à -38,58‰. O dióxido de carbono (CO2) em

vinhos espumantes devem ser originários a partir da segunda fermentação única. Christoph,

et.al. 2015 diz que o CO2 comercial, a partir da combustão de combustíveis fósseis (acima de

-29‰) é diferente do CO2 de fermentação (entre -7 à -26‰). Segundo Calderone et.al. (2007),

em seu trabalho com bebidas carbonatadas, relatou que valores entre -29‰ e -54‰ seriam

tipicamente de gases comeciais da combustão de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural).

A partir das informações de Christoph et.al., (2015) e Calderone et.al.,

(2007) e dos resultados obtidos por meio de análises isotópicas do CO2 comercial e açúcar

foram realizadas sete figuras para caracterizar os dados obtidos nos diferentes tipos de bebidas

análisadas.

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58

Tabela 3. Análise isotópica do gás carbônico em vinho frisante comercial.

Amostra Vinho Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Sunny Days Frizante

White

Almadén Santana do

Livramento/RS

-11,51 0,04

Chuva de Prata Rose Cereser Jundiaí/SP -21,59 0,06

Chuva de Prata Cereser Jundiaí/SP -21,97 0,12

Marcus James Frizante

Happy Hour Rose

Aurora Bento Gonçalves/RS -23,41 0,37

Keep Cooler Classic

Citrus

Aurora Bento Gonçalves/RS -24,60 0,14

Grape Cool (Chopp

de Vinho)

Góes São Raque/SP -33,57 0,02

Vaio Frizante Del Grano Farroupilha/RS -34,20 0,16

Vinho Tinto Frizante

Suave

Del Grano Farroupilha/RS -35,03 0,04

-11,51 -21,59 -21,97 -23,41 -24,60 -33,57 -34,20 -35,03

13

C

CO2 DE FERMENTAÇÕES CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 2. Origem do gás carbônico em vinho.

Os dados obtidos nas análises de vinhos frisantes evidenciam carbono

de CO2 provenientes de fermentações (plantas C3 e C4) e CO2 de gás de combustão (petróleo,

gás natural), porém não se pode caracterizar especificadamente a origem de cada análise, a

não ser o resultado -11,51‰ que é de um vinho frisante gaseificado naturalmente com açúcar

de cana, relatado em seu rótulo.

Em vinhos carbonatados com CO2 comercial na Espanha, todos

estavam abaixo de -29‰ variando entre -29,91 á -41,50‰ (Cabañero, et.al. 2007).

Corroborando com que foi descrito por Christoph et.al. 2015 e Calderone et.al. 2007.

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Tabela 4. Analise isotópica do gás carbônico em bebida composta gaseificada comerciai.

Amostra Bebida

composta

Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Ice Blue Spirit Boituva/SP -19,34 ± 0,30

Ice Smirnoff Leme/SP -34,71 ± 0,27

Ice Kiwi 51 Pirassununga/SP -36,49 ± 0,17

-19,34 -34,71 -36,49

13C

CO2 DE FERMENTAÇÕES CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 3. Origem do gás carbônico em bebida composta.

Para as bebidas compostas observa-se que houve apenas um resultado

de CO2 de fermentação e dois resultados de CO2 de gás de combustão.

Tabela 5. Análise isotópica do gás carbônico em água mineral gaseificada comercial.

Amostra Água mineral Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Gasosa Natural S. Pellegrino Itália -5,78 ± 0,10

Natural com gás Schin Itu/SP -22,34 ± 0,02

Gasosa Natural São Lourenço São Lourenço/MG -23,91 ± 0,23

Natural com gás Minalba Campos do Jordão/SP -28,60 ± 0,05

Natural com gás Minalba Campo do Jordão/SP -31,42 ± 0,06

Natural com gás Nestlé Águas de S. Barbara/SP -32,48 ± 0,09

Natural com gás DIA% Cotia/SP -32,85 ± 0,07

Natural com gás Crystal Bauru/SP -34,20 ± 0,09

Natural com gás Crystal Mogi das Cruzes/SP -35.24 ± 0,06

-5,78 -22,34 -23,91 -28,60 -31,42 -32,48 -32,85 -34,20 -35,24

13

C

NATURAL CO2 DE FERMENTAÇÕES CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 4. Origem do gás carbônico em água mineral gaseificada.

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As águas minerais gaseificadas apresentaram três amostras com CO2 de

fermentação e cinco amostras com CO2 de gás de combustão, entretanto obteve um resultado

de -5,78‰ que foi utilizada água mineral gaseificadas naturalmente direto da fonte, relatado

em seu rótulo.

Redondo e Yélamos (2004) encontraram valores de 13

C em água

mineral gaseificada variando de -2,3 à -35,6, sendo dois (-2,3 e -6,2‰) resultados gaseificada

naturalmente na fonte e outros 11 resultados variando de -21,7 à -35,7‰, sendo gaseificada

artificialmente.

Cabañero et.al. (2007) utilizando também água carbonatada obteve

valores de 13

C variando de -5,59 à -43,43‰, sendo três (-5,59, -6,84, -6,87‰) carbonatada

naturalmente e sete (-29,36, -35,62, -36,03, -39,09, -42,00, -42,09 e 43,43) carbonatadas

artificialmente com CO2 comercial, corroborando com os resultados obtidos nesta pesquisa.

Tabela 6. Análise isotópica do gás carbônico em água tônica comercial.

Amostra Água tônica Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Água Tônica de Quinino Schin Itu/SP -24,76 ± 0,12

Água Tônica de Quinino Vermont Águas de

Lindóia/SP

-30,06 ± 0,07

Água Tônica de Quinino Classic Dillar’s Leme/SP -33,17 ± 0,03

Água Tônica de Quinino Schin Itu/SP -33,47 ± 0,06

Água Tônica de Quinino Schueppes Jundiaí/SP -38,58 ± 0,18

-24,76 -30,06 -33,17 -33,47 -38,58

13

C

CO2 DE FERMENTAÇÕES CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 5. Origem do gás carbônico em água tônica.

Os resultados encontrados para água tônica foi de apenas um com CO2

de fermentação, possivelmente de recuperação de CO2 em cervejaria que utilizou somente

malte para a elaboração da cerveja. E quatro valores com CO2 de gás de combustão.

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Tabela 7. Análise isotópica do gás carbônico em bebidas energéticas comerciais.

Amostra Bebida

energética

Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Bebida Energética Over Night Austria -5,15 ± 0,12

Bebida Energética Super Power Tietê/SP -31,28 ± 0,10

Bebida Energética Fling Horse Leme/SP -34,01 ± 0,19

Bebida Energética Red Bull Austria -34,07 ± 0,48

Bebida Energética Burn Linhares/ES -34,45 ± 0,12

Bebida Energética All Night Sorocaba/SP -36,31 ± 0,43

-5,15 -31,28 -34,01 -34,07 -34,45 -36,31

13

C

NATURAL CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 6. Origem do gás carbônico em bebida energética.

As bebidas energéticas obtiveram cinco resultados de CO2 de gás de

combustão e apenas um resultado que utilizou-se água naturalmente gaseificada diretamente

da fonte, para a elaboração da bebida energética, relatado em seu rótulo.

Tabela 8. Análise isotópica do gás carbônico em cerveja comercial.

Amostra Cerveja Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Cerveja Antártica Sub

Zero

Antártica Sub

Zero

Jaguariúna/SP -19,00 ± 0,15

Cerveja Escura Caracu Jacareí/SP -19,06 ± 0,18

Cerveja Sem Álcool Liber Jaguariúna/SP -19,69 ± 0,29

Cerveja Extra Escura

Premium

Xingu Jacareí/SP -22,49 ± 0,17

Cerveja Kaiser Kaiser Jaguariúna/SP -22,68 ± 0,17

Cerveja Heineken Heineken Holanda -26,94 ± 0,30

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-19,00 -19,06 -19,69 -22,49 -22,68 -26,94

13

C

CO2 DE FERMENTAÇÕES

Figura 7. Origem do gás carbônico em cerveja.

Os resultados de cerveja, todos obtiveram CO2 de fermentação em sua

composição. Pois segundo Shreve e Brink (1997), o CO2 produzido em cervejarias é

armazenado e reutilizado para a carbonatação de bebidas em geral tanto de cervejas como

outras bebidas gaseificadas, como foi observado neste trabalho.

Mardegan, et.al., 2013 (corrigir), em seu trabalho estudando cervejas de

grandes e pequenas cervejarias obteve resultados de 13

C do liquido variando de -15,10 à -

27,40‰. Com dados muito próximos, Oliveira, et.al., 2002 (corrigir) relatou que o 13

C do

liquido da cerveja variava entre -18,40 à -27,30‰. Corroborando com os dados obtidos neste

trabalho para o 13

C do CO2 de cervejas comerciais vendidas no Brasil variando de -19,00 à -

26,94‰.

Tabela 9. Análise isotópica do gás carbônico em refrigerantes comerciais.

Amostra Refrigerante Origem Média 13

C*103

(CO2)

Desvio

padrão

Guaraná Antártica Jundiaí/SP -15,50 ± 0,12

Pepsi Pepsi Jundiaí/SP -19,81 ± 0,09

Pepsi Pepsi Jundiaí/SP -19,89 ± 0,09

Sprite Zero Coca - Cola Rio de Janeiro/RJ -24,20 ± 0,03

Limão DIA% Sorocaba/SP -25,00 ± 0,06

Graraná Belco São Manuel/SP -31,09 ± 0,09

Limão Tahiti Jah! Fresh Águas de Lindóia/SP -32,29 ± 0,28

Guaraná Schin Itu/SP -32,35 ± 0,20

Soda Antártica Jaguariúna/SP -33,20 ± 0,07

Tubaina Schin Itu/SP -33,60 ± 0,16

Coca - Cola Coca - Cola Sorocaba/SP -38,49 ± 0,09

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-15,50 -19,81 -19,89 -24,20 -25,00 -31,09 -32,29 -32,35 -33,20 -33,60 -38,49

13

C

CO2 DE FERMENTAÇÕES CO2 GÁS DE COMBUSTÃO

Figura 8. Origem do gás carbônico em refrigerante.

Observou-se dentre os 11 resultados de CO2 encontrados 5 são de CO2

de fermentação, variando de -15,5 à -25,00‰, sendo estes resultados provenientes da

recuperação de CO2 de cervejaria. E seis resultados são de CO2 de gás de combustão tendo

sua variação de -31,09 até -38,49.

4. CONCLUSÃO

A metodologia dos isótopos estáveis é uma ferramenta eficaz para se

descobrir a origem do gás carbônico das bebidas carbonatada. Ficou evidenciado neste

trabalho 3 diferentes padrões para o CO2 encontrado nas bebidas carbonatadas, que são:

1. CO2 obtido de fermentações.

2. CO2 obtido de gases de combustões.

3. CO2 de águas gaseificadas diretamente da fonte para elaboração de

bebidas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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