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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ENFERMAGEM CRISTIANE SILVA DOS SANTOS CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA EM UNIDADE DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA Salvador 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ENFERMAGEM

CRISTIANE SILVA DOS SANTOS

CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA EM UNIDADE DE

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA

Salvador

2016

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CRISTIANE SILVA DOS SANTOS

CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA EM UNIDADE DE

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em

Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade

Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de

Bacharela em Enfermagem.

Orientadora: Prof. Dra. Cristina Maria Meira de Melo

Salvador

2016

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CRISTIANE SILVA DOS SANTOS

CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA EM UNIDADE DE

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título

de Bacharela em Enfermagem, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em 26 de outubro de 2016

Cristina Maria Meira de Melo - Orientadora__________________________________

Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo

Professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia

Tatiane Araújo dos Santos ______________________________________________

Mestra em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia

Professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia

Mariana Costa da Silva_____________________________________________

Mestra em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia

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AGRADECIMENTOS

Onze anos de escola pública e dois anos de cursinho em uma ONG que tinha como lema:

“Feito a revolução nas escolas, o povo fará nas ruas” (Florestan Fernandez), adentrei um espaço

que não foi criado para mim, a tão almejada Universidade Federal da Bahia.

Passaram-se cinco anos, com muitas sensações e questionamentos. E perguntam: Por

que Enfermagem? Porque acredito que com a prática do cuidado é possível um melhor estado

de saúde. Entretanto, temos um sistema de saúde com uma organização do trabalho que robotiza

o trabalhador, com condições de trabalho que impedem a prática do cuidado, um mundo do

trabalho onde predomina a precarização.

Agradeço ao Grupo de Pesquisa Gerir por me permitir ter a consciência dessa realidade,

o de ser enfermeira, para além da habilidade em executar procedimentos. Agradeço a Deus,

pelas suas graças. A meus pais, minha base, meu aconchego. Aos Coroinhas, que

compreenderam meus momentos de ausência.

As amigas que ganhei, na graduação, para a vida, quando dividimos momentos em

bibliotecas, reuniões, almoços corridos para outra aula para pegar o famoso BUZUFBA.

Sentirei saudades. O tempo da graduação passou, mas a luta no campo da enfermagem por

melhores condições de trabalho continua, e assim vou me lançando nesse mundo do trabalho,

desafiador, mas acreditando que na vida nada é estático, a mudança pode ser lenta, mas sempre

ocorre.

E, por fim, agradeço principalmente a minha orientadora, por toda paciência, puxões de

orelha, uma mulher que parece muito dura, mas é um ser humano incrível. Com ela não tem

meia conversa, o que você precisa ouvir, você vai ouvir, e isso me fazia mais ainda querer ser

orientada por ela. Obrigada Professora Cristina. Enfim, TCC concluído, graduada em

Enfermagem.

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SANTOS, Cristiane Silva dos. Condições de trabalho da enfermeira em unidade de

prestação de serviços de emergência. 32 f. il. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso

(Bacharelado) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

RESUMO

Introdução: O trabalho em saúde consiste na aplicação de conhecimentos e técnicas

especializadas para atender necessidades humanas. As condições de trabalho são um conjunto

de variáveis que influenciam a atividade, o trabalho e a vida do trabalhador. No setor de

prestação de serviços de emergência, essas condições de trabalho são ainda mais importantes

uma vez que a dinâmica do serviço não segue uma rotina, como outros setores, o que gera

estresse pela imprevisibilidade das demandas, ressaltando, assim, a importância de se ter

condições de trabalho favoráveis. Objetivo: Caracterizar as condições de trabalho da

enfermeira em unidades de prestação de serviços de emergência. Metodologia: Estudo

descritivo com abordagem quantitativa. O lugar de estudo são unidades de emergência dos

hospitais da rede pública de saúde sob gestão da Secretaria Estadual da Saúde do Estado da

Bahia. A população da pesquisa está constituída de enfermeiras. As variáveis selecionadas para

este estudo são: sociodemográficas (sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, situação

conjugal) e das condições de trabalho (jornada de trabalho, salário, vínculo). Resultados: Como

resultados das 34 enfermeiras entrevistadas (21 com vínculo estatutário e 13 com vínculo

terceirizado) de 13 hospitais sob administração direta e sob administração indireta da Secretaria

da Saúde, a maioria das enfermeiras é do sexo feminino (90,5% com vínculo estatutário e 76,9%

com vínculo terceirizado), destacando entre as enfermeiras com vínculo terceirizado 23,1% de

homens. Em ambos os vínculos (estatutário e terceirizado respectivamente) predomina a faixa

etária de 25 a 35 anos (35,29% e 26,47%); a cor preta/parda (90%) e como maior escolaridade

a especialização (81% e 76,9%). Em relação as características das condições de trabalho:

cumprem jornada diária de 12 horas em ambos os vínculos (66,7% e 61,5%); a maioria das

estatutárias (47,6%) possui uma carga horária mensal de 30 horas e as terceirizadas (61,5%) de

36 horas. O salário das estatutárias variou de R$ 3 152,00 a R$ 3 940,00 entre 20,58% delas,

enquanto o das terceirizadas variou de R$ 2 364,00 até R$ 3152,00 entre 17,64% delas.

Discussão: Destaca-se a faixa etária mais jovem entre as enfermeiras com vínculo terceirizado,

bem como a proporção maior de homens (23,1%), o que deveria ser investigado. As enfermeiras

com vínculo terceirizado recebem menores salários que o grupo com vínculo estatutário, o que

as coloca em condições ainda mais precárias de trabalho. Ainda que a maioria das enfermeiras

nos dois grupos tenham qualificação como especialistas, os baixos salários persistem nos dois

grupos. Conclusão: As enfermeiras são jovens, negras, qualificadas, porém seu trabalho em

ambos os vínculos é precário, com baixos salários e destacando-se a maior jornada entre as

enfermeiras com vínculo empregatício terceirizado.

Palavras Chaves: Trabalho; Enfermagem; Emergência e Urgência

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Lista de quadros

Quadro 01: Relação dos hospitais lócus da pesquisa...................................15

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Lista de tabelas

Tabela 01: Caracterização sociodemográfica da amostra de enfermeiras no setor de

emergência na rede estadual de saúde SUS/Bahia, Brasil, 2016........................................17

Tabela 02: Caracterização das condições de trabalho da amostra de enfermeiras no setor de

emergência na rede estadual de saúde SUS/Bahia, Brasil, 2016.........................................18

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8

2 TRABALHO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA NA UNIDADE

DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA ............................................ 11

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 14

3.1 TIPO DE ESTUDO .................................................................................................... 14

3.2 LÓCUS DE ESTUDO ................................................................................................ 14

3.3 POPULAÇÃO DA PESQUISA E CÁLCULO AMOSTRAL ...................................... 15

3.4 VARIÁVEIS, COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................... 166

3.5 PRESSUPOSTOS ÉTICOS ........................................................................................ 16

4 RESULTADOS ............................................................................................................... 17

5 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 20

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 212

REFERENCIAS ................................................................................................................ 223

ANEXOS .................................................................................................................... 256

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho consiste na aplicação de conhecimentos e técnicas especializadas, por meio

da interação com os elementos presentes na natureza, de forma a transformá-la, tendo como

objetivo atender às necessidades humanas. Para que o trabalho se realize precisa-se estabelecer

um processo que é composto por diversos elementos: agentes, meios, finalidade e objeto de

trabalho (MARX, 1987).

Segundo o mesmo autor, na produção capitalista o trabalho não possui como objetivo

principal atender uma necessidade específica do ser humano ou da sociedade, mas sim atender

algo determinado por interesses econômicos advindos do próprio sistema econômico

capitalista, em que as atividades realizadas pelo trabalhador são controladas pelo empregador,

em que é estabelecido as relações de poder baseadas na relação de compra e venda da força de

trabalho, já que a venda da força de trabalho é o principal meio de sobrevivência do trabalhador

(MARX, 1987).

Considerando os elementos do processo de trabalho, no campo da saúde podemos dizer

que tais elementos são: os trabalhadores da saúde (agentes), os conhecimentos, saberes

estruturados, equipamentos e insumos (meios de trabalho), as necessidades de saúde

socialmente referenciadas do usuário ou de outros trabalhadores de saúde (objeto de trabalho),

objeto esse que é transformado no processo de trabalho (MARX,1987).

Segundo Mendes Gonçalves (1992), o trabalho em saúde, diferente do trabalho em

outros campos, nem sempre gera uma mercadoria palpável ou um bem de consumo, pois o

produto que se caracteriza como consequência do trabalho em saúde é utilizado em ato, não se

transformando em algo materialmente dado como mercadoria.

Segundo o mesmo autor, ao invés de ser um trabalho para produzir bens materiais e,

consequentemente, aumentar a produção da mais valia e acumulação do capital, o trabalho em

saúde se caracteriza por visar a recuperação da força de trabalho do ser humano, que após

recuperada será vendida, pois esta é seu principal meio de sobrevivência. Consequentemente,

isso gera movimentação na produção capitalista, retornando assim a um ciclo: trabalho que

recupera a força de trabalho para o trabalho (MENDES GONÇALVES, 1992).

Para que ocorra a realização do trabalho, é necessário que se estabeleça condições

adequadas para tal, denominada como condições de trabalho. Ainda não se registra na literatura

um conceito consistente de condições de trabalho. Carneiro (2012, p. 23) afirma que as

condições de trabalho estão relacionadas a “um conjunto de fatores que atuam direta ou

indiretamente na qualidade de vida no trabalho e na assistência aos usuários”. A Norma

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Regulamentadora 17 (BRASIL, 1990), define que “as condições de trabalho incluem aspectos

relacionados a levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos

equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do

trabalho”.

Sendo assim, nesse estudo assume-se a definição de Silva (2016, p. 18) que afirma que

as condições de trabalho são um conjunto de variáveis que influenciam a atividade, o trabalho

e a vida do trabalhador. Algumas dessas variáveis dizem respeito aos aspectos ergonômicos,

salariais, de autonomia e satisfação no trabalho, bem como à estabilidade do trabalhador no

emprego e a flexibilização do trabalho, que são características do cenário de mudanças no

mundo do trabalho.

Considerando que essas condições de trabalho podem se diferenciar, a depender das

características do setor onde se insere o trabalhador, o setor onde são prestados serviços de

emergência se caracterizam por ser um ambiente com alto grau de estresse, pela própria

natureza do serviço prestado, onde são atendidas pessoas em situação de risco de morte, sendo

gerada uma tensão permanente para a(o)s trabalhadoras(es) devido ao estado clínico do usuário.

Aliado a isso, registra-se, no caso dos serviços de saúde no Brasil, condições permanentes de

superlotação, ritmo acelerado e sobrecarga de trabalho (DAL PAI e LAUTERT, 2008).

Segundo Dal Pai e Lautert (2008) também existe uma saturação de usuários nos serviços

de emergência. Essa saturação se explica por vários motivos como: número insatisfatório de

leitos e a hegemonia do modelo biomédico, que condiciona o usuário a procurar o serviço de

saúde quando doente e não para prevenção da doença.

Além disso, hoje convive-se no mundo do trabalho com a precarização. Sobre a

precarização do trabalho, destaca-se que esta é fruto de uma “vontade política e não de uma

fatalidade econômica” (DRUCK, 2011 p. 44). “A precarização expressa-se como um regime

político baseado na instabilidade e insegurança, de adaptabilidade e de fragmentação dos

coletivos de trabalhadores” (DRUCK, 2011 p.41).

Diante disso, e considerando que a precarização do trabalho é uma política que rege o

mundo do trabalho, uma política que repercute nas condições de trabalho em saúde,

influenciando no resultado do serviço prestado, define-se a seguinte questão de pesquisa: O que

caracteriza as condições de trabalho da enfermeira na unidade de prestação de serviços de

emergência?

Desse modo, esse estudo tem como objetivo geral caracterizar as condições de trabalho

da enfermeira em unidades de prestação de serviços de emergência.

Como objetivos específicos define-se:

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Descrever o perfil sociodemográfico das enfermeiras com diferentes vínculos de

trabalho (estatutárias e terceirizadas);

Descrever as condições de trabalho das enfermeiras com diferentes vínculos de

trabalho no que se refere a jornada de trabalho, salário e vínculo.

Sendo assim, este trabalho justifica-se porque o resultado de todo e qualquer serviço

prestado é determinado pelas condições de trabalho existentes no local. Além disso, as

condições de trabalho estão relacionadas à motivação do(a) trabalhador(a) frente ao serviço

prestado.

No caso do trabalho da enfermeira, dentre as diversas atividades que esta é responsável,

destaca-se as atividades para articular o processo de trabalho em saúde e coordenar o processo

de trabalho em enfermagem, permitindo, assim, que o trabalho do médico e de outros

trabalhadores da saúde e das técnicas e auxiliares de enfermagem seja operado (MELO, 1986).

Este lugar assumido pela enfermeira no processo de trabalho em saúde a coloca como a mais

exposta a diferentes condições de trabalho.

Caracterizar as condições de trabalho das enfermeiras nas unidades de prestação de

serviço de emergência dos hospitais da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia

contribui para conhecer dificuldades encontradas para realização de suas atividades. Este estudo

também poderá contribuir p a r a a l e r t a r o s gestores das organizações de saúde sobre a

necessidade política de intervir no processo de trabalho, ofertando condições adequadas de

trabalho para permitir a prestação de serviços que atendam às necessidades de saúde da

população.

Por parte da autora, o interesse por pesquisar este tema se deu pela aproximação, durante

a graduação, com o campo de trabalho em serviços de emergência, diante da convivência frente

as dificuldades encontradas pelas trabalhadoras da enfermagem na assistência à população e na

própria organização do processo de trabalho, além da participação na coleta de dados da

pesquisa “Análise do Processo de Trabalho em Enfermagem”, coordenada pelo Grupo de

Pesquisa Gerir da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.

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2 TRABALHO E CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMEIRA NA UNIDADE DE

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA

O trabalho desenvolvido nas organizações hospitalares, particularmente nas unidades de

prestação de serviços de emergência, tem como finalidade atender usuários que chegam em

estado diário grave, acolher casos não urgentes e proceder sua reordenação para serviços

ambulatoriais básicos ou especializados da rede de atenção à saúde (GARLET et al, 2009).

As unidades de prestação de serviços de emergência assumem o papel de única “porta

de entrada” do usuário na maioria dos hospitais, evidenciando as dificuldades de atendimento

e acesso das pessoas aos demais serviços de saúde. Esta evidência contribui, decisivamente,

para a superlotação destas unidades (OLIVEIRA e FERREIRA, 2005).

Em uma unidade de emergência encontra-se situações complexas trazidas pelo usuário

frente ao seu processo saúde-doença, até as condições de trabalho vivenciadas para o

desenvolvimento das ações para uma assistência satisfatória (BAGGIO et al, 2008).

Organizadas para disponibilizar atendimento imediato e facilitar a execução de

procedimentos diagnósticos e terapêuticos, as unidades de emergência configuram-se, muitas

vezes, como a principal referência da população que busca assistência médica, em decorrência

da insuficiente estruturação da rede assistencial e da baixa resolutividade encontrada em outros

níveis de atenção da rede de serviços do sistema de saúde (GARCIA e FUGULIN, 2010).

Almeida e Pires (2007, p. 619) indicam que:

Esses serviços possuem uma especificidade que os distingue de todos os outros

serviços de saúde. Exigem uma assistência imediata, eficiente e integrada e amplo conhecimento técnico, habilidade profissional e o emprego de recursos tecnológicos.

Para Duarte et al (2013), a unidade de emergência é um lugar onde os profissionais são

submetidos à pressão do risco de morte do usuário, a tensão com os mesmos e seus

acompanhantes, que chegam a agredir os profissionais quando confrontados com as

dificuldades estruturais e organizacionais no percurso do atendimento.

Dentro deste contexto, as enfermeiras das unidades de emergência devem estar sempre

atentas, pois além de desempenharem suas atividades em um ambiente de imprevisibilidade e

incerteza, o que exige conhecimento, rapidez de raciocínio e prontidão no desenvolvimento do

processo de tomada de decisão, contam com um número insuficiente de pessoal para atender as

necessidades dos pacientes (DUARTE et al, 2013).

Nesse cenário, o dimensionamento de pessoal de enfermagem é importante, na medida

em que procura adequar o número de trabalhadores disponível às necessidades assistenciais dos

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usuários, aos objetivos institucionais e às expectativas dos que devem ser atendidos no âmbito

interno e externo aos serviços (GARCIA E FUGULIN, 2010).

As precárias condições de trabalho relacionadas ao espaço físico e aos problemas

administrativos também podem gerar sofrimento, assim como pode levar à improvisação,

impossibilitando uma adequada assistência de enfermagem. Além disso, a falta de recursos

humanos e materiais em qualidade e quantidade são condições impróprias para o trabalho,

interferindo negativamente no processo de trabalho em enfermagem, gerando sensação de

impotência, frustração, angústia, desgaste físico e emocional. Isto pode agravar o sofrimento e

o desgaste psíquico das trabalhadoras e trabalhadores da enfermagem (BRAGA et al, 2015).

Pesquisa realizada por Furtado e outros (2010) em um setor de emergência de um

hospital público, referência no atendimento a pacientes politraumatizados, concluiu que as

péssimas condições de trabalho a que as enfermeiras estão submetidas conduz a desmotivação,

insegurança e baixo rendimento, o que vem repercutir não somente na sua vida profissional,

mas sobretudo na sua vida pessoal.

Carvalho e Lopes (2006) discutem que as condições insatisfatórias do trabalho em

enfermagem se relacionam com extensas jornadas de trabalho, ausência de períodos de

descanso, plantões aos domingos e feriados sem justa compensação, períodos de trabalho

incômodos ou fatigantes. Outro fator referido é o fato das trabalhadoras em enfermagem não

serem ouvidas quanto ao planejamento e à tomada de decisões na prática profissional, além de

fatores relacionados à formação.

Isto se torna ainda mais grave na unidade de prestação de serviços de emergência,

devido algumas características deste processo de trabalho, como por exemplo, a dinamicidade

e a superlotação da unidade.

Pesquisa realizada por Braga, Torres e Ferreira (2015) em um setor de emergência de

um hospital público de grande porte na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, descreveu que

o atendimento a um número elevado de pacientes e a realização de inúmeras tarefas são fatores

que interferem nas condições de trabalho e nas práticas de saúde vivenciadas pela enfermeira,

verificando-se uma dificuldade em assistir ao usuário na sua integralidade.

Na unidade de emergência, as enfermeiras vivem expostas a constantes fatores que

desencadeiam o estresse, entre eles destacam-se: o número reduzido de trabalhadoras da

enfermagem; falta de respaldo institucional e profissional; carga de trabalho; necessidade de

realização de tarefas em tempo reduzido; indefinição das atribuições. Assim, é possível

relacionar todos esses fatores como agravantes para o desempenho no trabalho, dado que o

trabalho na unidade de emergência exige condições adequadas para uma assistência de

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qualidade ao usuário, assim como a satisfação da trabalhadora para com seu trabalho

(OLIVEIRA et al, 2013).

O trabalho, quando executado em condições insalubres e inseguras, influencia

diretamente o bem-estar físico e psíquico do indivíduo. De tal modo, entende-se que os

problemas que existem nas unidades de emergência afetam mais o comportamento dos

trabalhadores (SILVA, 2012).

Em suma, conforme Costa e outros (2006), a formação da enfermeira é uma formação

generalista, exigindo posteriormente especialização para atuar em áreas técnicas específicas.

No campo de trabalho em enfermagem, é reduzido o número de enfermeiras especializadas para

atuar na área de urgência/emergência hospitalar, causando um déficit no atendimento às

necessidades dos usuários. Soma-se a este cenário a estrutura física inadequada de muitas

organizações, a escassez de materiais, equipamentos, medicamentos, enfim as inadequadas

condições de trabalho, que dificultam ainda mais o processo de trabalho da enfermeira, exigindo

dela mobilização e organização para obter melhorias, apesar que:

Quando nos mobilizamos para pedir melhores condições de trabalho, os detentores do

poder (muitos deles são nossos colegas!) jogam a população contra nós. Se nos

resignamos às precaríssimas condições de trabalho, somos massacrados pela mídia

por negligência, recusa de atendimento, cúmplice das más condições da estrutura e do atendimento que as pessoas recebem. Estamos na linha de frente recebendo toda a

fúria da artilharia de uma sociedade que está em colapso, perdida tanto quanto nós,

que somos parte integrante dela, mas ao mesmo tempo, alheamo-nos dela ou por ela

somos alheados e colocados no papel de bodes expiatórios dos males que a assolam

(CHIATTONE; SEBASTIANI, 2002, p. 180).

Para tanto, entende-se que as condições de trabalho da enfermeira são danosas à saúde

da trabalhadora, principalmente na unidade de emergência, que na maioria das vezes exige da

trabalhadora um ritmo de trabalho acelerado, determinando um processo de desgaste que a

expõe ao adoecimento, uma vez que ela se submete às longas jornadas de trabalho, grande

intensidade de trabalho, esforços físicos, além de estar em constante contato com riscos que

podem causar danos à sua saúde (BARBOSA et al, 2009).

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3 METODOLOGIA

Este projeto é parte do projeto matriz intitulado “Análise do processo de trabalho em

enfermagem no SUS/Bahia” apoiado financeiramente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado da Bahia.

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem quantitativa, permitindo a formulação

de hipóteses a partir dos seus resultados.

A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados

brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa

quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um

fenômeno, as relações entre variáveis, etc. (Fonseca, 2002, p. 20).

Aliado a isso, a pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações

sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de

determinada realidade, no caso desse estudo as condições de trabalho da enfermeira em

unidades de prestação de serviços de emergência (TRIVIÑOS, 1987).

3.2 LÓCUS DE ESTUDO

O estudo tem como campo as unidades de serviços de emergência dos 13 hospitais sob

administração direta e sob administração indireta da rede hospitalar pública de saúde da

Secretaria Estadual da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que concordaram em participar da

pesquisa matriz.

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Quadro 1: Relação dos hospitais lócus da pesquisa

3.3 POPULAÇÃO DA PESQUISA E CÁLCULO AMOSTRAL

A população da pesquisa está constituída por enfermeiras que trabalhavam nas unidades

de prestação de serviços de emergência dos hospitais da Rede Sesab. A amostra é intencional e

de conveniência, totalizando 34 enfermeiras.

Como critério de inclusão adotou-se: a trabalhadora ter tempo de serviço igual ou

superior a 06 meses, independentemente do tipo de vínculo. Foram incluídas na pesquisa todas

as trabalhadoras encontradas nas unidades de produção de serviços no momento da coleta e que

aceitavam responder o questionário aplicado, após assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas aquelas que não se encontravam presentes nas

unidades ou que se recusavam a participar da pesquisa, ou que estavam de férias ou licença.

1. Hospital da Criança

2. Hospital Eládio Lassérre

3. Hospital Geral Clériston Andrade

4. Hospital Geral de Camaçari

5. Hospital Geral do Estado

6. Hospital Geral Ernesto Simões Filho

7. Hospital Geral João Batista Caribé

8. Hospital Geral Luís Viana Filho

9. Hospital Geral Prado Valadares

10. Hospital Geral Roberto Santos

11. Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira

12. Hospital Regional Dantas Bião

13. Hospital Regional Deputado Luiz Eduardo Magalhães

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3.4 VARIÁVEIS, COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Variável é definida como uma característica que pode ser medida ou observada numa

população, em um determinado momento e em determinadas condições (BAQUERO, 2009).

As variáveis selecionadas para este estudo são:

i. Sociodemográficas: sexo, faixa etária, escolaridade, situação conjugal.

ii. Condições de trabalho: jornada de trabalho, salário, vínculo.

Foi utilizado para a coleta de dados a entrevista das trabalhadoras por meio de um

questionário composto de perguntas fechadas. Cada entrevista teve em média duração de 15 a

30 minutos.

A coleta de dados foi realizada por docentes, doutorandas, mestrandas e graduandas da

Escola de Enfermagem da UFBA, no período de janeiro do ano de 2015 a janeiro do ano de

2016. O questionário foi composto por variáveis sociodemográficas, informações sobre outros

vínculos de trabalho, sobre o próprio trabalho desenvolvido na unidade de emergência, processo

e condições de trabalho, bem como informações sobre atividades domésticas e salário.

A análise dos dados foi realizada com cálculo das frequências, com o auxílio do

programa de planilhas e com programa estatístico.

3.5 PRESSUPOSTOS ÉTICOS

Este estudo foi desenvolvido de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisas que envolvem seres humanos, recomendadas pela Resolução 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde (CNS).

Como dito, este projeto é parte do projeto de pesquisa “Análise do processo de trabalho

em enfermagem no SUS/Bahia”, e utiliza-se da mesma metodologia e técnica de levantamento

de dados. Assim, o projeto guarda-chuva foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, protocolo (CAAE)

Nº17813413.0.0000.5531. Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, sendo assegurado o anonimato e o sigilo das informações

recebidas. Para o desenvolvimento da pesquisa também se obteve o consentimento do gestor

máximo da Sesab e dos gestores máximos de cada hospital. Não se identifica riscos ou

constrangimentos para os participantes da pesquisa.

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4 RESULTADOS

Os resultados apresentados a seguir correspondem tanto a caracterização

sociodemográfica quanto as condições de trabalho das enfermeiras.

Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica da amostra de enfermeiras no setor

de emergência na rede estadual de saúde SUS/Bahia, Brasil, 2016.

Fonte: Banco da pesquisa Análise do processo de trabalho em enfermagem SUS Bahia.

Elaboração da autora.

Os resultados apresentados na Tabela 1, referente à caracterização sociodemográfica das

enfermeiras estudadas, mostram que a maioria das 34 trabalhadoras entrevistadas era do sexo

feminino, com um aumento do sexo masculino no vínculo terceirizado (23,1%).

CARACTERÍSTICA

TIPO DE VÍNCULO

Estatutária (n=21)

Terceirizada (n=13)

Sexo

Feminino 90,5 % 76,9 %

Masculino 9,5 % 23,1%

Faixa etária

25 à 35 35,29 % 26,47 %

36 à 45 8,82 % 5,88 %

46 à 55 17,64 % 6 %

Situação

conjugal

Solteira (o) 38,1 % 53,8 %

Casada(o) ou

possui

companheiro

42,9 % 23,1 %

Separada(o) ou

divorciada(o) 14,3 % 23,1 %

Viúva(o) 4,8 % -

Escolaridade

Superior Completo 14,3 % 23,1 %

Especialização 81 % 76,9 %

Residência - -

Mestrado 4,8 % -

Raça/cor

Branca 9,1 % 0 %

Preta 22,7 % 33,3 %

Parda 68,2 % 66,7 %

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A faixa etária de 25 a 35 anos registrou maior frequência nos dois tipos de vínculo. A

raça cor predominante foi parda e negra em ambos os vínculos. Em ambos os vínculos as

enfermeiras tinham majoritariamente a qualificação de especialista.

Tabela 2 – Caracterização das condições de trabalho da amostra de enfermeiras no setor

de emergência na rede estadual de saúde SUS/Bahia, Brasil, 2016.

Fonte: Banco da pesquisa Análise do processo de trabalho em enfermagem SUS Bahia.

Elaboração da autora.

Em ambos os tipos de vínculos das enfermeiras trabalhando no setor de urgência

predominou a jornada de trabalho diário de 12 horas. No vínculo terceirizado, predomina a

jornada de trabalho semanal de 36 horas (61,5%) e no vínculo estatutário a jornada semanal de

30 horas (47,6%). O salário variou de R$ 2 364,00 até R$ 3 152,00 para o vínculo terceirizado

(79,41%) e de R$ 3 152,00 até R$ 3 940,00 para o vínculo estatutário (58,83%).

CARACTERÍSTICA

TIPO DE VINCULO

Estatutária

(n=21)

Terceirizada

(n=13)

Jornada de

trabalho semanal

30h 47,6 % 15,4 %

36h 19 % 61,5 %

40h 26,6 % 7,7 %

44h - 7,7 %

Outra 4,8 % 7,7 %

Jornada de

trabalho diário

6h 4,8 % 7,7 %

8h 4,8 % 7,7 %

12h 66,7 % 61,5 %

24h 23,8 % 23,1 %

Faixa salarial

R$ 788,00 à R$ 1576,00 2,95 % -

Acima de R$ 1576,00 até R$

2364,00 14,70 % 8,82 %

Acima de R$ 2364,00 até R$

3152,00 11,76 % 17,64 %

Acima de R$ 3152 até R$

3940,00 20,58 % 8,82 %

Acima de R$ 3940,00 até R$

7880,00 11,76 % 2,95 %

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5 DISCUSSÃO

A partir dos dados sociodemográficos encontrados podemos afirmar que o campo da

enfermagem continua predominantemente feminino, o que guarda relação com o lugar ocupado

historicamente pela mulher na divisão social do trabalho.

A divisão social do trabalho existe desde os primórdios da constituição da propriedade

privada, em que o papel da mulher posto pela sociedade de classes era o de ser responsável pelo

desenvolvimento de atividades domésticas, procriação e cuidados com crianças, e para os

homens era reservado o papel social de procriador e provedor dos meios de sobrevivência

(MELO,1986).

Ainda assim, destaca-se que no vínculo terceirizado se registra uma proporção maior de

homens (23,1%), o que deveria ser investigado.

Se destaca também a faixa etária mais jovem encontrada entre as enfermeiras que

trabalham no setor de emergência, o que pode estar relacionado ao aumento da abertura de

leitos hospitalares em unidades de tratamento intensivo e de serviços de urgência/emergência

durante o governo Wagner, gerando assim novas contratações. Esta abertura de leitos ocorreu

em 27 de outubro de 2009, sendo que em 15 de março de 2009 foi realizado concurso pela

Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, com 54 vagas, sendo convocadas 30 enfermeiras em

29 de setembro de 2009 (BAHIA, 2008).

Constatou-se que 90% são trabalhadoras de cor/raça parda e negra, o que contribui na

explicação para os baixos salários recebidos, tendo em vista que mulheres negras recebem

salário menor que mulheres brancas. No Brasil relacionando-se o gênero e a raça/cor, são as

mulheres negras as mais desfavorecidas no mundo do trabalho, como mostra o estudo de

Marques e Sanches (2010).

Em relação ao vínculo empregatício, observa-se maior frequência do vínculo civil ativo

(estatutário) (N=21), ainda que seja expressivo o número de enfermeiras com vínculo

terceirizado entre as que trabalham no setor de emergência (N=13).

Aliado a isso, tem-se ainda os baixos salários, que é uma das formas mais comuns de

precarização no trabalho, o que, no caso do trabalho da enfermeira, a obriga a assumir múltiplos

vínculos e a ampliar a duração da jornada e a intensidade do seu trabalho.

As enfermeiras com vínculo terceirizado possuem o mesmo nível de escolaridade

que as enfermeiras com vínculo estatutário, cumprem uma jornada de trabalho semanal maior

que estas e em sua maioria recebem menores salários, o que coloca essas trabalhadoras em uma

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situação propensa a aceitar condições de trabalho precárias, dado a fragilidade do vínculo

empregatício e a permanente possibilidade de demissão.

Isso pode até levar a conflitos internos entre as próprias colegas, tendo em vista

que a terceirização se comporta como uma:

modalidade de gestão e organização do trabalho, que explica-se pelo ambiente

comandado pela lógica da acumulação financeira que, no âmbito do processo de

trabalho, das condições de trabalho e do mercado de trabalho, exige total flexibilidade

em todos os níveis, instituindo um novo tipo de precarização que passa a dirigir a

relação entre capital e trabalho em todas as suas dimensões. De forma a estar exigindo

e transferindo aos trabalhadores a pressão pela maximização do tempo, pelas altas

taxas de produtividade, pela redução dos custos com o trabalho e pela “volatilidade”

nas formas de inserção e de contratos (DRUCK, 2011 p. 49).

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6 CONCLUSÃO

Confirma-se, a partir dos dados descritos neste estudo, que as trabalhadoras das

unidades prestadoras de serviços de emergência da rede SUS/Bahia são majoritariamente

enfermeiras jovens, pretas/pardas, qualificadas com o título de especialistas e com baixos

salários.

Destacam-se os baixos salários das enfermeiras, tanto entre aquelas com vínculo

estatutário quanto entre aquelas com vínculo terceirizado. Isso revela, para além da

precarização, a violência dos empregadores contra estas trabalhadoras qualificadas, que

ocupam no processo de trabalho em saúde a dupla atuação de prestadoras de serviços

assistenciais e de coordenadoras do processo de trabalho em enfermagem e articuladoras do

processo de trabalho em saúde, trabalho esse ainda hoje com pouco valor nas organizações de

saúde no Brasil.

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ANEXO 1 – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DE PESQUISA

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ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Termo de consentimento livre e esclarecido

Prezada(o), Meu nome é Cristina Maria Meira de Melo, sou enfermeira e professora da

Escola de Enfermagem da UFBA. Estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada Análise do

Processo de Trabalho em Enfermagem no SUS/BA. O objetivo geral da pesquisa é analisar o

processo de trabalho em enfermagem no SUS/Bahia. Inicialmente agradeço a sua concordância

em participar dessa pesquisa. Sua participação é fundamental para alcançar os objetivos e

resultados da pesquisa. O material respondido poderá ser devolvido via correio o e-mail.

Garanto que as informações obtidas serão utilizadas exclusivamente para a execução

desta pesquisa, com garantia do sigilo das respostas. Você terá acesso as informações caso as

solicite. Asseguro que você será informada(o) quanto aos procedimentos e benefícios do estudo,

sendo esclarecidas possíveis dúvidas que possam ocorrer. Além disso, você tem a liberdade de

retirar o seu consentimento a qualquer momento e não participar da pesquisa sem qualquer

prejuízo para você. Solicito a sua colaboração para que nos envie o material respondido de volta

em um tempo máximo de 30 dias. Para qualquer contato conosco informo-lhe meu nome,

telefone, endereço postal e endereço eletrônico:

Cristina Maria Meira de Melo

Escola de Enfermagem da UFBA

Rua Basílio da Gama, S/N

Campus Universitário do Canela, Salvador, Bahia,

CEP: 40110-907

Telefone: (71) 32837623 Endereço eletrônico:

[email protected]

Dados do Comitê de Ética ao qual foi

submetido o projeto (endereço e

telefone)

____________________________ _________________________________

Coletador de dados Participante (Cod. Identificação)

__________________________________

Pesquisador responsável

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ANEXO 3 - INSTRUMENTO DE COLETA

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