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i UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL MODELO DE SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA PROATIVO EM CANTEIROS DE OBRA BASEADO NA ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA (ER) E ASSISTIDO POR VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO Roseneia Rodrigues Santos de Melo Salvador 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

MODELO DE SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA PROATIVO EM

CANTEIROS DE OBRA BASEADO NA ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA (ER) E

ASSISTIDO POR VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO

Roseneia Rodrigues Santos de Melo

Salvador

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

MODELO DE SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA PROATIVO EM

CANTEIROS DE OBRA BASEADO NA ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA (ER) E

ASSISTIDO POR VEÍCULO AÉREO NÃO TRIPULADO

Roseneia Rodrigues Santos de Melo

Projeto de Pesquisa apresentado ao PROGRAMA

DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

como requisito parcial à obtenção do título de

DOUTOR EM ENGENHARIA CIVIL

Orientador: Profª. Drª. Dayana Bastos Costa

Agência Financiadora: CAPES

Salvador

2018

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RESUMO

Os projetos de construção podem ser compreendidos por sua natureza complexa e

dinâmica, destacando a indústria da construção civil como um dos setores com maior

representatividade nos índices de acidentes de trabalho. A gestão da segurança é

responsável pela identificação, controle e avaliação dos perigos que possam

ocasionar em acidentes. Entretanto, devido as altas taxas de eventos adversos

(acidentes/incidentes), questiona-se a eficiência dos sistemas de gestão baseados em

métodos reativos. Em vista disso, observa-se a necessidade de novas abordagens

para impulsionar a segurança em projetos de construção, como a aplicação de

Engenharia de Resiliência (ER) e tecnologias visuais para monitoramento do canteiro.

A RE está relacionada a capacidade intrínseca de uma organização ou sistema em

manter ou recuperar um estado dinamicamente estável, permitindo continuar as

operações após eventos inesperados ou na presença de um estresse contínuo. Do

ponto de vista tecnológico, destaca-se o potencial dos Veículos aéreos Não Tripulados

(VANT) no monitoramento proativo da segurança. Assim, este trabalho tem como

objetivo propor um modelo de sistema de gestão da segurança proativo por meio da

adoção de princípios da RE associada ao uso do UAS, visando melhorias no processo

de gestão e da compreensão do trabalho normal. A estratégia de pesquisa adotada

nesta tese é a Design Science Research, envolvendo as seguintes etapas: (a)

conscientização do problema real de pesquisa; (b) proposta do estudo através de um

estudo de caso A; (c) desenvolvimento do artefato a partir de dois estudos de caso B

e C; e (d) avaliação do artefato por dos estudos B e C. Como contribuições, destaca-

se que o uso de tecnologias visuais associado a RE pode auxiliar no processo de

gestão da segurança em canteiros de obra, corroborando no gerenciamento das

atividades a fim de antecipar e controlar as ameaças ou conflitos.

Palavras chaves: gestão da segurança na construção, engenharia de resiliência

e Veículo Aéreo Não tripulado (VANT).

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Proactive safety management system model in construction sites based on resilience

engineering and assisted by Unmanned Aerial Systems (UAS)

ABSTRACT

Construction projects can be characterized by its complexity and dynamism,

highlighting the construction industry sector as one of the more representative in

accident rates. The construction safety management is responsible for identifying,

controlling and evaluating the safety hazards. However, due to the accident evidences,

the efficiency of the management systems based on reactive methods is questioned.

In view of this, the need of new approaches to leverage the construction safety is noted,

such as the application of Resilience Engineering (RE) and visual technologies for site

monitoring. The RE is defined as the intrinsic capacity of an organization or system in

maintaining the regular operations after unexpected events or in the presence of

continuous stress. From a technological standpoint, the potential of Unmanned Aerial

Systems (UASs) for proactive safety monitoring can be pointed out. Therefore, the goal

of this work is to propose a Proactive Safety Monitoring Model (PSMM), adopting the

RE principles in association with the use of UAS, aiming at improvements in the

management process and the understanding of normal work. The research strategy

adopted in this thesis is Design Science Research, involving the following steps: (a)

awareness of the actual research problem; (b) study proposal through a case study A;

(c) development of the artifact from case studies B and C; and (d) evaluation of the

artifact. As contributions, it is highlighted that the use of visual technologies associated

with RE can help in the process of safety management in beds, corroborating without

management of the activities in order to anticipate and control as threats or conflicts.

Key words: construction safety management, resilience engineering Unmanned Aerial

Vehicles/Systems).

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SUMÁRIO

Pág. RESUMO ........................................................................................................... iii

ABSTRACT ....................................................................................................... iv

SUMÁRIO ........................................................................................................... v

ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................... vii

ÍNDICE DE QUADROS .................................................................................... viii

SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ....................................................................... ix

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1

1.1 Justificativa ............................................................................................... 1

1.2 Problema de Pesquisa ............................................................................. 3

1.3 Questões de pesquisa .............................................................................. 6

1.3.1 Questão principal ................................................................................... 6

1.3.2 Questões secundárias ........................................................................... 6

1.4 Objetivos .................................................................................................. 7

1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 7

1.4.2 Objetivos secundários ........................................................................... 7

1.5 Delimitação da pesquisa .......................................................................... 7

1.6 Estrutura do Trabalho ............................................................................... 7

2 GESTÃO DA SEGURANÇA EM SISTEMAS COMPLEXOS ........................ 9

2.1 Contextualização dos modelos de análise de acidentes .......................... 9

2.1.1 Modelo Sequencial ................................................................................ 9

2.1.2 Modelo Epidemiológico ........................................................................ 10

2.1.3 Modelo sistêmicos ............................................................................... 11

2.2 Sistemas Sociotécnicos Complexos (SSC) ............................................ 16

2.3 Engenharia de Resiliência (ER) ............................................................. 19

2.3.1 Conceitos ............................................................................................. 19

2.3.2 Pressupostos e princípios da Engenharia de Resiliência .................... 21

2.3.3 Diferenças entre o trabalho normal e o trabalho prescrito ................... 25

2.4 Sistemas de Gestão da Segurança com enfoque na ER ....................... 28

2.4.1 Conceitos básicos ................................................................................ 28

2.4.2 Sistema de Gestão da Segurança (SGS) ............................................ 29

3 TECNOLOGIAS VISUAIS APLICADAS A SEGURANÇA EM CANTEIRO 33

3.1 Tecnologias visuais ................................................................................ 33

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3.1.1 Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) .................................................. 33

3.1.2 Building Information Modeling (BIM) .................................................... 37

3.1.3 Realidade Aumentada (RA) ................................................................. 42

3.1.4 Técnicas de visão computacional ........................................................ 44

3.2 Considerações sobre a atuação de tecnologias para segurança ........... 45

4 MÉTODO DE PESQUISA ........................................................................... 48

4.1 Estratégia de Pesquisa........................................................................... 48

4.2 Delineamento da pesquisa ..................................................................... 51

4.2.1 Tecnologia adotada ............................................................................. 52

4.2.2 Seleção de empresas e empreendimentos.......................................... 52

4.3 Detalhamento das etapas da pesquisa .................................................. 53

4.3.1 Conscientização do problema real de pesquisa .................................. 53

4.3.2 Proposta do estudo .............................................................................. 55

4.3.3 Desenvolvimento ................................................................................. 61

4.3.4 Avaliação do artefato ........................................................................... 61

4.4 Estudo de Caso A .................................................................................. 64

4.5 Cronograma do desenvolvimento da tese .............................................. 67

5 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 68

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ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.

Figura 1 – Modelo de acidente sequencial ................................................................ 10

Figura 2 – Modelo epidemiológico “queijo suíço” ...................................................... 10

Figura 3 - Modelo dinâmico de ocorrência de acidentes ........................................... 12

Figura 4 - Adaptação do modelo dinâmico ................................................................ 14

Figura 5 – Hexágono de representação de uma função no FRAM ........................... 15

Figura 6 - Protocolo de inspeção de segurança em canteiro de obras com VANT ... 36

Figura 7 - Delineamento da pesquisa ........................................................................ 51

Figura 8 - DJI Phantom 3 Advanced ......................................................................... 52

Figura 9 – Itens e Critérios do MASST ...................................................................... 54

Figura 10 - Protocolo de inspeção de segurança com VANT .................................... 55

Figura 11 – Etapas adotadas na proposição de soluções ......................................... 56

Figura 12 – Fluxo de atividades para a proposição do sistema ................................ 57

Figura 13 - Fluxo de atividades para a proposição da prototipagem de processos

críticos ................................................................................................................ 59

Figura 14 – Planta do empreendimento .................................................................... 64

Figura 15 – Cronograma de desenvolvimento da tese .............................................. 67

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Fatores positivos e negativos das tecnologias visuais ........................... 46

Quadro 2- Definição preliminar dos constructos, variáveis e fontes de evidência ..... 62

Quadro 3 – Descrição das visitas realizadas no empreendimento A ........................ 65

Quadro 4 - Resumo dos dados coletados pelo VANT ............................................... 65

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SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

ER Engenharia de Resiliência

VANT Veículo Aéreo Não Tripulado

UAV/UAS Unmanned Aerial Vehicles/Systems

FRAM Functional Resonance Analysis Method

SSC Sistemas Sociotécnicos Complexos

ESC engenharia de sistemas cognitivos

OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Services

SGS Sistema de Gestão da Segurança

SST Saúde e Segurança do Trabalho

PCS Planejamento e Controle da Segurança

PCP Planejamento e Controle da Produção

BIM Building Information Modeling

RA Realidade Aumentada

EPI Equipamento de Proteção Individual

DSR Design Science Research

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

Os acidentes de trabalho comprovadamente constituem um problema social,

econômico e ambiental (FINNERAN; GIBB, 2013). A indústria da Construção Civil está

entre as indústrias com maior representatividade nos índices de acidentes de trabalho

no mundo. Nos Estados Unidos, o número de óbitos relacionados ao trabalho na

construção em 2014 representou cerca de 27% do total de acidentes no país (WANG;

LARGAY; DONG, 2015). Enquanto no Brasil, a indústria da construção representou

16% dos acidentes fatais ocorridos em 2013 (AEAT, 2015). Tais dados são chocantes

e explicitam a necessidade de um esforço coordenado e focado para desenvolver,

implantar e avaliar novas abordagens em prol da resolução desse problema

(LINGARD, 2013).

Durante a etapa de construção, a gestão da saúde e segurança é responsável

pela identificação, controle e avaliação dos perigos que possam ocasionar acidentes.

Enquanto a segurança é tradicionalmente definida como uma condição em que o

número de resultados adversos (acidentes / incidentes) é tão baixo quanto possível,

a gestão da segurança é responsável por criar meios para alcançar e manter esse

estado (HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015).

Essa visão de segurança, também conhecida como Safety-I, baseia-se

principalmente em métodos reativos, ou seja, buscam identificar as causas e fatores

que causaram eventos adversos, e, em seguida, eliminar as causas e/ou melhorar as

barreiras (ZHOU; WHYTE; SACKS, 2013; PATTERSON; DEUTSCH, 2015;

HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015). Além disso, promove uma visão

bimodal do trabalho e das atividades, em que quando as coisas dão certo, é porque o

sistema funciona como deveria e o trabalho é executado como imaginando ou

prescrito. E quando as coisas dão errado é porque houveram falhas, seja no

funcionamento do sistema ou na execução do trabalho (HOLLNAGEL; WEARS;

BRAITHWAITE, 2015).

Esta abordagem analisa pessoas, tecnologia e contexto de trabalho de forma

independente, considerando apenas relações de causalidade e desprezando as

interações entre os subsistemas (CLEGG, 2000; COSTELLA et al., 2009;

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HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015), e, como consequência, desconsidera

o dinamismo e a complexidade dos projetos de construção.

Guo, Yu e Skitmore (2017) levantam outros problemas enfrentados pelo sistema

de gestão da segurança tradicional (Safety-I), como: (a) treinamento de segurança

ineficientes, devido à ausência de métodos de treinamentos práticos capazes de

melhorar a consciência de segurança dos trabalhadores; (b) falhas no planejamento

de segurança, em especial, na identificação dos riscos, que ocorrem devido à

ausência de métodos que favorecem a compreensão do processo real, como

realizado; (c) monitoramento do canteiro ineficaz, em que geralmente são utilizados

checklist para identificação e registro de desvios e não conformidades, e devido ao

dinamismo e complexidade do canteiro é impraticável o monitoramento de todas as

atividades sem o suporte tecnológico.

Em vista dos problemas identificados, Hollnagel, Wears e Braithwaite (2015)

argumentam que a abordagem Safety-I é simplificada demais, rejeitando a hipótese

de diferentes causas (para ocorrência de eventos adversos ou não) e, em vez disso,

propõem que os fatores que levam a ocorrência de eventos positivos ou negativos são

basicamente os mesmos (HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015). Neste

sentido, uma nova abordagem, denominada Safety-II ou Engenharia de Resiliência

(ER), traz uma mudança de perspectiva, buscando ressaltar a capacidade de sucesso

sob diferentes condições, de modo que o número de resultados pretendidos e

aceitáveis (atividades diárias), seja o mais alto possível (HOLLNAGEL, 2006).

Segundo Hollnagel, Wears e Braithwaite (2015), a gestão Safety-I e Safety-II

não diferem em seu objetivo geral, que em ambos os casos, deseja-se que se tenha

o menor número possível de eventos adversos. Enquanto a Safety-I busca alcançar o

objetivo por meio da eliminação do que pode dar errado, a Safety-II é alcançada pela

tentativa em fazer as coisas darem certo. Portanto, para uma visão no qual se busca

uma meta de zero acidentes, a gestão de segurança reativa apenas não é suficiente

(ZHOU; WHYTE; SACKS, 2013), além de não fornecer embasamento no

entendimento de como a adaptação humana contribui para um resultado bem-

sucedido (PATTERSON; DEUTSCH, 2015).

Portanto, para a Engenharia de Resiliência, um sistema é seguro se puder

“ajustar seu funcionamento antes, durante ou após mudanças e distúrbios,

sustentando as operações necessárias em ambos as condições, esperadas e/ou

inesperadas” (HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015). Hollnagel (2010)

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complementa que para ser considerado resiliente, o sistema ou organização precisa

desenvolver quatro habilidades básicas, a de monitorar, antecipar, responder e

aprender.

A engenharia de resiliência baseia-se na teoria dos sistemas sociotécnicos

(STS) (SHAEFER et al., 2000), no qual busca-se dar ênfase nas interfaces entre os

fatores, proporcionando uma análise mais próxima da realidade complexa de

interações mútuas e adaptações entre pessoas, tecnologia e trabalho (PASMORE;

SHERWOOD, 1978 apud COSTELLA et al., 2009; CLEGG, 2000). Esta abordagem

proporciona que a identificação dos riscos seja realizada de forma mais realística,

visto que considera o elevado grau de complexidade e dinamismo enfrentado no

ambiente da construção civil (SAURIN et al., 2008).

Conforme destacado por Lingard (2013) e Zhou, Whyte e Sacks (2013), a

mudança de abordagem é um dos caminhos que podem impulsionar a segurança na

indústria da construção. Neste sentido, observa-se a necessidade de estudos que

explorem a gestão da segurança proativa na construção civil, tomando como base os

princípios discutidos na Engenharia de Resiliência.

1.2 Problema de Pesquisa

Segundo Perrow (1984), os sistemas complexos podem ser identificados pelo

alto grau de interconectividade e interdependência entre os componentes, cujas

interações nem sempre são visíveis e facilmente compreendidas. Por esse motivo, os

projetos de construção podem ser considerados sistemas de natureza complexa e

dinâmicas, caracterizados por um elevado grau de fragmentação e especialização

(BERTELSEN, 2003), o que explicita a necessidade de uma abordagem capaz de lidar

com tal complexidade e dinamismo.

A Engenharia de Resiliência é uma abordagem proativa de segurança, que

pode ser compreendida como, a capacidade de responder e adaptar-se a mudanças

inesperadas em ambientes organizacionais (SCHAFER et al., 2008). A ER vem sendo

aplicada em diferentes sistemas complexos, como plantas petroquímicas, usinas

nucleares, os hospitais e indústria de aviação, no entanto, na construção civil tais

discussões vêm sendo pouco exploradas (RIGHI; SAURIN; WACHS, 2015).

Em vista dos problemas enfrentados pela gestão da segurança tradicional,

Saurin, Formoso e Cambraia (2008) discutem a oportunidade de pesquisa para a

concepção de sistemas inovadores de gerenciamento de segurança na construção,

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destacando a conscientização do status atual de operação e das defesas do sistema,

juntamente com o desenvolvimento de um conjunto de métricas proativas e reativas,

capaz de fornecer feedback para o planejamento de segurança.

De modo semelhante, Famá (2010) destaca a necessidade em desenvolver

meios de monitorar os perigos menos visíveis, notadamente os perigos

organizacionais, perigos à saúde no trabalho e perigos vinculados à segurança de

processos. No caso do monitoramento de processos, uma das lacunas discutidas pela

ER refere-se as diferenças encontradas entre o trabalho real (trabalho normal) e o

trabalho prescrito (SAURIN; FORMOSO; CAMBRAIA, 2008; BORYS, 2012;

HOLLNAGEL; WEARS; BRAITHWAITE, 2015).

O estudo do trabalho normal busca compreender as habilidades desenvolvidas

pelos trabalhadores quando em zona limites de operação e os “desvios necessários”

para que as atividades planejadas sejam realizadas (RASMUSSEN, 1997). O

desenvolvimento de habilidades de resiliência tem sido objeto de estudo nas áreas de

distribuição elétrica e construção civil (SAURIN et al., 2014; PEÑALOZA et al., 2017).

Entretanto, na construção civil são necessários estudos com maior profundidade para

identificar as habilidades de resiliência para trabalhadores na linha de frente, assim

como no âmbito gerencial, visto o estudo realizado por Peñaloza et al. (2017) dá

ênfase apenas as habilidades de resiliência para trabalhadores na linha de frente no

processo de montagem de estruturas pré-moldadas de concreto por meio um caso

exploratório.

O estudo do trabalho normal também possibilita entender como ocorre a

acomodação das demandas emergentes e o gerenciamento dos trade-offs entre

produção e segurança (WOODS, 2006a; WOODS, 2006b; HALE; HEIJER, 2006).

Contribuindo com o aprendizado a partir das estratégias bem-sucedidas (SAURIN;

FORMOSO; CAMBRAIA, 2008), constata-se, então, o potencial de aplicação da

engenharia de resiliência na indústria da construção frente as lacunas de

conhecimento quanto as melhorias dos processos operacionais e gerenciais

relacionado à segurança.

Saurin, Formoso e Cambraia (2008) discutem que à medida que os perigos são

numerosos, dinâmicos e espacialmente dispersos, é praticamente impossível projetar

dispositivos visuais para abranger todos os perigos. Em vista disso, o desempenho da

segurança não pode ser coletado e exibido de forma totalmente automática,

necessitando da visão humana para coletar e interpretar dados, especialmente devido

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à dificuldade de previsão dos possíveis comportamentos inseguros (SAURIN;

FORMOSO; CAMBRAIA, 2008) e identificação das zonas de perigos, em que perda

de controle é irreversível (HOWELL et al., 2002).

Tais dificuldades são intensificadas com o tamanho do canteiro e a quantidade

de atividades executadas simultaneamente, podendo vir a comprometer a eficiência e

eficácia do processo de monitoramento, visto o elevado tempo dispendido para avaliar

todas as atividades e carência de recursos tecnológicos e de pessoal (CAMBRAIA;

SAURIN; FORMOSO, 2010; IRIZARRY et al., 2012).

Em razão disso, estudos recentes apontam o crescente uso de tecnologias

emergentes aplicado a segurança (ZHOU; WHYTE; SACKS, 2013; GUO; YU;

SKITMORE, 2017). Ainda assim, existe uma necessidade latente do uso proativo de

tecnologias para monitoramento das condições de trabalho (IRIZARRY; COSTA,

2016), principalmente quanto à execução do trabalho em zonas de riscos, como,

trabalho em altura e na periferia das construções, visto a dificuldade de visualização

e avaliação do risco de forma factual (SAURIN et al., 2005). Contudo, destaca-se a

necessidade do uso de tecnologias integrado ao sistema de gestão, e como estas

impactam no desempenho do sistema. Percebe-se também uma convergência na

busca por melhorias nas condições de segurança dos processos por meio da adoção

da ER quanto pelo uso das tecnologias visuais.

Em vista disto, acredita-se o uso de tecnologias visuais podem auxiliar no

monitoramento dos processos se trabalhadas de forma integradas ao processo de

gestão da segurança, contribuindo no fornecimento de informações nas etapas de

monitoramento, antecipação dos riscos, resposta às não conformidades e conflitos

entre produção e segurança e uso para aprendizagem.

Diante da diversidade de tecnologias visuais utilizadas em canteiro de obras

para a segurança, destaca-se o uso de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), em

inglês, Unmanned Aerial Vehicles/Systems (UAV/UAS), definidos como toda aeronave

não tripulada, pilotada a partir de uma estação de pilotagem remota que tenha

qualquer outra finalidade que não seja recreativa (ANAC, 2017). O uso desta

tecnologia vem sendo utilizado para atividades relacionadas a inspeção e

monitoramento, visto o elevado potencial de visualização das condições de segurança

por meio dos ativos (fotos e vídeos) coletados (IRIZARRY et al., 2012; IRIZARRY et

al., 2015; IRIZARRY e COSTA, 2016; MELO et al., 2017). Esta tecnologia vem

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contribuindo com o aumento da transparência dos processos, melhoria na facilidade

de identificação dos problemas, agilidade no processo de tomada de decisão e

redução do tempo de inspeção (IRIZARRY et al., 2015; KIM e IRIZARRY, 2015; MELO

et al., 2017).

Devido aos problemas práticos e lacunas apresentadas, percebe-se a

necessidade de um modelo de sistema de gestão da segurança de maior eficácia, que

contribua com a melhorias das condições de trabalho, atuando de forma proativa na

prevenção de acidentes. Diante da perspectiva de uma segurança mais proativa, o

uso de tecnologias visuais é de suma importância, visto a grande demanda de

atividades, necessidade de tornar explícito as condições inseguras, os conflitos entre

segurança e produção e o monitoramento dos processos críticos (redução das

distancias entre o trabalho real e o trabalho prescrito).

O estudo proposto se justifica pelo caráter inovador, devido a proposição de um

modelo de sistema de gestão da segurança baseado nos pressupostos da Engenharia

de Resiliência assistido por VANT. Acredita-se que o uso combinado dessas duas

diferentes soluções pode contribuir de forma significativa com a melhoria do sistema

de gestão da segurança em canteiro de obras, e, consequentemente, com a qualidade

das condições de trabalho e redução de eventos adversos (acidentes).

1.3 Questões de pesquisa

1.3.1 Questão principal

De que forma o uso dos princípios da Engenharia de Resiliência e de Veículos

Aéreos Não Tripulados podem contribuir com o Sistema de Gestão da Segurança em

canteiro de obras?

1.3.2 Questões secundárias

• Quais as principais dificuldades e barreiras enfrentadas pelo sistema de

gestão da segurança tradicional?

• Como identificar as principais diferenças entre o trabalho prescrito e o

trabalho normal com o uso do VANT?

• Quais os parâmetros e conceitos a serem utilizados para a avaliação do

modelo proposto?

• Quais os requisitos para aplicação do modelo proposto e como aplicá-

lo?

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1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho em desenvolver, implantar e avaliar um modelo

de Sistema de Gestão da Segurança Proativo em canteiros de obra assistido por

Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) baseado nos pressupostos da Engenharia de

Resiliência (ER).

1.4.2 Objetivos secundários

Como objetivos secundários tem-se:

a) Identificar as principais barreiras enfrentadas pelo sistema de gestão da

segurança tradicional em canteiros de obras;

b) Estabelecer um conjunto de práticas visando a melhoria do sistema de gestão

da segurança por meio da integração entre ER e VANT;

c) Identificar requisitos para monitoramento do trabalho normal de processos

críticos com o uso do VANT e da ER;

d) Definir métricas para a avaliar o modelo de sistema de gestão da segurança

proposto;

e) Propor diretrizes de uso segundo o escopo de aplicabilidade do modelo.

1.5 Delimitação da pesquisa

Para o presente trabalho, será avaliado apenas a segurança em canteiros de

obras, com ênfase nos itens de segurança situados na área externa da edificação e

nos processos críticos sob a perspectiva de segurança. Além disso, serão obedecidos

os requisitos de segurança do espaço aéreo recomendados pela Agência Nacional de

Aviação Civil (ANAC, 2017), visto que o presente trabalho busca integrar o uso do

VANT ao sistema de gestão da segurança da obra.

1.6 Estrutura do Trabalho

Este projeto de tese está organizado em seis capítulos visando apresentar os

aspectos relevantes relacionados à gestão da segurança com ênfase em Engenharia

de Resiliência, além de uma breve abordagem sobre as tecnologias emergentes

aplicada à segurança em canteiros de obras.

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No capítulo 1 foi discutido a justificativa e problema de pesquisa, assim como

os objetivos e delimitação do estudo.

O capítulo 2 tem por objetivo apresentar os principais conceitos relacionado a

gestão da segurança em sistemas complexos, com ênfase na engenharia de

resiliência.

O capítulo 3 apresenta uma abordagem das tecnologias visuais na segurança

em canteiros e o desempenho das mesmas no processo de gestão da segurança.

No capítulo 4 são apresentadas as informações relativas ao método de

pesquisa a ser utilizado, definições, estratégia e coleta de dados.

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2 GESTÃO DA SEGURANÇA EM SISTEMAS COMPLEXOS

Este capítulo visa apresentar o processo de gestão da segurança em sistemas

complexos, destacando o setor da construção civil. Será apresentada uma breve

evolução dos modelos de análises de acidentes, ressaltando as principais diferenças

entre o sistema de gestão da segurança tradicional (Safety-I) e o sistema de gestão

da segurança baseado na engenharia de resiliência (Safety-II).

2.1 Contextualização dos modelos de análise de acidentes

Ao longo do tempo, diversos autores têm buscado discutir a ocorrência de

acidentes por meio de modelos (REASON, 1998; REASON, 2000; DEKKER, 2003;

HOLLNAGEL, 2006). Entretanto, nota-se que além de tentar explicar as razões pelas

quais os acidentes acontecem, os modelos contribuem com a evolução filosófica

quanto ao pensamento e os fatores considerados nas análises dos acidentes,

avançando de sistemas simples e lineares a sistemas complexos.

2.1.1 Modelo Sequencial

O modelo de Dominó, também conhecido como modelo sequencial, é

considerado o modelo de acidente mais simples, no qual apresenta o acidente sob

uma perspectiva de causalidade linear, como um conjunto de peças de dominó que

caem um após o outro (HOLLNAGEL, 2006; MIGUEL, 2010).

Este modelo, conforme Figura 1, considera que o acidente ocorre devido às

relações de causa e efeito entre cinco elementos (ambiente social/personalidade,

falha humana, atos e condições inseguras, acidente e a lesão propriamente dita),

sendo que a manifestação de um elemento necessariamente implica a manifestação

em cadeia dos elementos (HEINRICH, 19311 apud MIGUEL, 2010). De acordo com a

lógica desse modelo, o objetivo da análise de eventos é encontrar a causa raiz do

acidente (HOLLNAGEL, 2006).

1 Heinrich, H. W. 1931. Industrial accident prevention: a scientific approach. New York: McGraw-Hill

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Figura 1 – Modelo de acidente sequencial

Fonte: Heinrich (1931) apud Miguel (2010)

O modelo de Dominó tem como base a causalidade, no qual acredita-se que

todos os efeitos adversos têm causas, e que as mesmas podem ser encontradas,

significando que todos os acidentes podem ser evitados.

2.1.2 Modelo Epidemiológico

Os modelos simples e lineares foram substituídos pelos modelos lineares

compostos, como modelo epidemiológico, mostrando as barreiras em analogia à

teoria do “queijo suíço”, conforme apresenta a Figura 2 (REASON, 1998). Neste

modelo, os acidentes podem ser vistos como a inter-relação entre atos inseguros e

condições latentes. Hollnagel (2006) discute que embora este modelo seja mais

complexo que o modelo dominó, no qual a causalidade não é provocada apenas por

propagação linear de efeitos, um acidente ainda é o resultado de uma combinação

relativamente clara de eventos, e a falha de uma barreira ainda é considerado a falha

de um componente individual. No qual, defesas e barreiras (sejam elas, tecnológicas

ou procedimentos e controles administrativos) ocupam uma posição chave na

abordagem do sistema (REASON, 2000).

Figura 2 – Modelo epidemiológico “queijo suíço”

Fonte: adaptado de Reason (2000).

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Segundo a interpretação do modelo, a falha de uma barreira qualquer apenas,

normalmente não causa um mau resultado. Para isso ocorrer, deve-se existir uma

sequência de eventos (combinação entre falhas ativas ou atos inseguros e condições

latentes) que permitam o surgimento de uma trajetória de acidente. Outro diferencial

destacado por Reason (1998) é que as falhas não são estáticas, elas estão

movimentando-se em um fluxo contínuo de acordo com as circunstâncias locais.

Reason (1998) classifica os acidentes como eventos individuais ou

organizacionais. Os organizacionais têm múltiplas causas envolvendo muitas pessoas

que operam em diferentes níveis dentro de suas respectivas atividades, além disso,

possuem uma grande quantidade e diversidade de defesas, a fim de tornar estes

sistemas à prova de falhas humanas ou técnicas.

A cultura de segurança é outro fator de extrema importância na redução dos

acidentes. Segundo Reason (1998), os erros de linha de frente são mais prováveis

em organizações que negligenciam as condições de trabalho, por meio de treinamento

inadequado, má comunicação, maus procedimentos e problemas com o projeto da

interface homem-máquina. Até mais além, uma cultura de segurança deficiente

poderá incentivar uma atmosfera de não conformidade a práticas operacionais

seguras (REASON, 1998; REASON, 2000).

Embora seja fundamentado na teoria da causalidade, o modelo do Queijo Suíço

apresenta uma maior complexidade se comparado ao modelo dominó, visto que

considera a possibilidade de múltiplas causas e fatores organizacionais.

2.1.3 Modelo sistêmicos

Rasmussen (1997) questiona se realmente existem modelos adequados de

causalidade de acidentes na sociedade dinâmica atual. De modo semelhante,

Leveson (2004) discute que os modelos lineares não levam em consideração o caráter

dinâmico do contexto sociotécnico das organizações. No qual, segundo a Engenharia

de Resiliência, os erros humanos são inevitáveis devido a constante pressões

organizacionais, sejam eles de carga de trabalho, econômica ou de desempenho

(RASMUSSEN, 1997).

O modelo proposto por Rasmussen (1997) apresenta uma nova abordagem,

não focada em erros e violações humanas, mas na dinamicidade dos sistemas e no

mapeamento do ambiente em zonas de trabalho. Esta abordagem ressalta a

importância para o controle do desempenho do sistema, no qual, invés de se esforçar

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para controlar o comportamento de combater os desvios de um caminho previamente

planejado, deve-se buscar o controle do comportamento, tornando os limites explícitos

e conhecidos. Segundo o autor, treinar as pessoas a trabalharem próximas ao limite

de perda de controle e aumentar a consciência do limite por meio de campanhas de

instrução e motivação são meios para melhorar a segurança.

O modelo apresentado na Figura 3 mostra que todas as organizações estão

sujeitas a constante pressões de custo, carga de trabalho e desempenho, que as

levam a trabalhar próximas a áreas perigosas, com maior possibilidade de ocorrência

de acidentes.

Figura 3 - Modelo dinâmico de ocorrência de acidentes

Fonte: Rasmussen (1997) apud Costella (2008)

Incentivado pelo modelo apresentado por Rasmussen (1997), Howell et al.

(2002) discutem a necessidade de uma nova abordagem de segurança para a

compreensão dos acidentes na construção civil. Uma das questões levantadas por

Howell et al. (2002) trata da ausência de programas de segurança que avalie a

qualidade do planejamento da pré-tarefa contra a análise da causa raiz. Normalmente,

a análise da causa raiz fornece informações para a compreensão dos incidentes e a

sua prevenção, determinando muitas vezes que o incidente resultou de um erro

humano.

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Segundo os referidos autores, o conceito de erro como um o desvio da prática

normal faz sentido em sistemas bem estruturados, onde os procedimentos são

sequenciados, no entanto, para o contexto da construção civil em que os

procedimentos são muito difícil de prescrever, principalmente pelo dinamismo e

complexidade das condições de trabalho, este conceito não é adequado. Sendo, a

rastreabilidade da causa raiz quase impraticável (HOWELL et al., 2002).

Howell et al. (2002) discordam que o modelo de causa e efeito centrado no

trabalhador, aliado à violação de procedimentos, explica como ocorrem os incidentes

ou fornece a influência necessária para futuras melhorias. Em vista disso, o modelo

apresentado na Figura 3 considera que pessoas são levadas a trabalhar em situações

de risco devido a tendência individuais e fatores organizacionais, evidenciando a

necessidade do desenvolvimento de habilidades para se trabalhar além do limite de

perigo, como também destacado por Rasmussen (1997).

No modelo adaptado de Rasmussen (1997) proposto por Howell et al. (2002),

o ambiente de trabalho é divido em três zonas, conforme ilustra a Figura 4. Para cada

zona, Howell et al. (2002) propõem estratégias de gestão específicas. A zona de

segurança, embora as atividades sejam exercidas sob as condições previstas nos

procedimentos de segurança, a resultante do desempenho ocorre em função das

pressões de custo e trabalho. A condição de segurança pode ser ampliada

empregando-se first run studies (HOWELL et al., 2002). Segundo Ballard (2000), “first

run studies é o planejamento das futuras operações seguido de estudo metódico, no

qual existe um redesenho e julgamento da operação, até que o padrão desejado seja

estabelecido processos”.

A zona de segurança é envolvida pela zona perigo, no qual se está mais

susceptível a ocorrência dos desvios previstos ou não, em relação a execução dos

procedimentos. Nesta zona, deve-se tornar visível o limite além do qual o trabalho não

é mais seguro, e ensiná-los a reconhecer essa situação. Na zona de perda do controle,

a perda do controle é irreversível, devendo então, estabelecer previamente formas de

limitar o efeito do perigo, uma vez que não há controle sobre a situação (HOWELL et

al., 2002).

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Figura 4 - Adaptação do modelo dinâmico

Fonte: Howell et al. (2002) apud Costella (2008).

Hollnagel (2004) discute como os “links de causa e efeito” são considerados

nos modelos de lineares de análises de acidentes (sendo eles, o sequencial, o

epidemiológico e o sistêmico).

[...] acidentes são fenômenos resultantes, no sentido de que as

consequências são previsíveis [...] do conhecimento sobre suas partes

constituintes. Em contraste [...] o modelo sistêmico vê os acidentes

como fenômenos emergentes, como alguma coisa que surge de

complexo de condições, mas que não pode ser previsto de modo

similar (HOLLNAGEL, 2004, p. 66).

Em vista da necessidade em explicar os fenômenos mais complexos, a

Engenharia de Resiliência busca por meio do princípio da ressonância, representar

como a variabilidade de desempenho normal pode combinar dinamicamente em

modos que podem levar a efeitos (não lineares) desproporcionais (HOLLNAGEL,

2006). Tendo assim, como produto o Método de Análise de Ressonância Funcional,

em inglês, Functional Resonance Analysis Method (FRAM).

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Este método refere-se a um modelo ou a uma representação de funções

individuais e/ou organizacionais, utilizadas para descrever sua potencial variabilidade

(HOLLNAGEL, 2013). Segundo Hollnagel (2004), a variabilidade de desempenho é

induzida pela complexidade e pelas demandas do sistema, em que devido a

impossibilidade de redução dessa complexidade, o caminho para a prevenção é tentar

gerir essa variabilidade.

Segundo Hollnagel (2013), o princípio da ressonância é utilizado para explicar

que grandes efeitos podem surgir de pequenas ou mesmo insignificantes variações,

dando ênfase nas dependências e acoplamentos entre as funções, ao invés da

probabilidade de falha. Cada função (Figura 5) refere-se a uma atividade ou processo,

no qual, os acoplamentos entre elas são descritos em termos de seis diferentes tipos

de relações de dependência (entrada, saída, tempo, controle, pré-condições e

recursos), buscando assim, proximidade com as condições reais, ao invés de relações

de causa-efeito pré-definidas, como apresentado nos modelos lineares.

Figura 5 – Hexágono de representação de uma função no FRAM

Fonte: Adaptado Hollnagel (2013)

O FRAM é baseado em quatro princípios, segundo Hollnagel (2013):

a) Princípio da equivalência de sucessos e falhas

O FRAM reconhece que o sucesso é uma consequência da capacidade de

antecipação a mudança antes da ocorrência do dano e o fracasso é simplesmente a

ausência disso. Além disso, acredita-se que as coisas dão certo e dão errado

basicamente da mesma maneira. O fato dos resultados serem diferentes, não significa

que os processos subjacentes devam ser diferentes.

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b) Princípio da inevitabilidade dos ajustes aproximados

A variabilidade do funcionamento normal pode ser justificada pelas diferenças

entre o trabalho real e o trabalho como imaginado ou prescrito. Outro fator relatado

são as constantes mudanças nas condições de operação, e isto significa que é

praticamente impossível preparar instruções antecipadamente, logo, deve-se fornecer

diretrizes e procedimentos apoiados por treinamento profissional extensivo e realizar

o planejamento do curto prazo, sendo estes, constantemente revisados para estar

alinhados as condições atuais.

c) Princípio da emergência

A variabilidade do desempenho normal raramente é bastante grande para ser

a causa de um acidente, mas as variabilidades de múltiplas funções podem se

combinar de maneiras inesperadas, levando a consequências que são

desproporcionalmente grandes, portanto, produzem efeitos não lineares. Portanto,

para os sistemas sociotécnico é impossível descrever todos os acoplamentos no

sistema, sendo assim, praticamente impossível antecipar mais do que os eventos

ordinários.

d) Princípio da ressonância funcional

A variabilidade de um número de funções pode, de tempos em tempos, entrar

em ressonância, no sentido de que podem reforçar-se mutuamente e, assim, fazendo

com que a variabilidade de uma determinada função exceda os limites normais. As

consequências podem se propagar através de acoplamentos fortes, por meio de

ligações de causa-efeito identificáveis e enumeráveis.

2.2 Sistemas Sociotécnicos Complexos (SSC)

De acordo com Baxter e Sommerville (2011), o termo sistemas sociotécnicos

surgiu em 1960 por Emery e Trist, para descrever sistemas que envolvem uma

interação complexa entre humanos, máquinas e os aspectos ambientais do sistema

de trabalho. Atualmente, essa interação é uma realidade para a maioria dos sistemas

organizacionais.

A abordagem de sistemas sociotécnicos considera que as condições para o

sucesso ou fracasso do desempenho organizacional são criadas pela interação entre

os fatores sociais e técnicos. Esta interação compreende tanto eventos de causa e

efeito linear, quanto eventos emergentes, "não-lineares" (HOLLNAGEL, 2013).

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Perrow (1984) descreve alguns sistemas sociotécnicos, no qual apresenta um

conjunto robusto de evidências de vários tipos de acidentes e desastres de alto risco,

incluindo as áreas de usinas nucleares, plantas petroquímicas, aeronáutica, marinha,

entre outras.

Segundo a perspectiva de Perrow (1984), os diferentes tipos de acidentes

podem ser caracterizados em duas dimensões: interações e acoplamento. As

interações podem ser lineares ou complexas, enquanto os acoplamentos podem ser

“loose ou tight” 2, ou seja, fracamente ou fortemente acoplados.

Em sistemas com interações complexas há um alto grau de interconectividade

e interdependência entre os componentes, ocorrendo assim interações inesperadas,

como por exemplo, em plantas petroquímicas, usinas nucleares, hospitais e a aviação.

De forma distinta, sistemas lineares são aqueles com baixo grau de interconectividade

entre os componentes ou funções, nos quais as interações têm claras relações de

causa e efeito, sendo facilmente compreensíveis.

O acoplamento significa o quão os subsistemas ou funções estão conectados

ou dependem um do outro em um sentido funcional. Os sistemas fortemente

acoplados podem ser caracterizados pela existência de buffers e redundâncias, não

permitem atrasos no processamento, as sequências são invariantes, existe pouca

folga em suprimentos, equipamentos e pessoal e existe apenas um método para

atingir o objetivo. Por essas e outras razões, os sistemas complexos são considerados

de difícil compreensão, além de se apresentarem instáveis, no sentido de que os

limites para uma operação segura são bastante restritos (PERROW, 1984).

Segundo Perrow (1984), sistemas altamente acoplados e com interações

complexas são ainda mais difíceis de controlar e também são mais difíceis de analisar.

Em sistemas complexos, o processo de tomada de decisões ocorre sob considerável

incerteza, visto que as informações vêm de inferências ou fontes indiretas. Portanto,

é impossível descrever e controlar completamente um sistema complexo (PERROW,

1984; WOODS; HOLLNAGEL, 2005).

2 Loose, segundo Perrow (1984) refere-se às atividades que possuem um com menor vínculo de dependência com as atividades predecessoras, enquanto tight, representa as atividades fortemente acopladas, ou seja, possuem elevado nível de dependência com às atividades predecessoras.

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Dekker et al. (2012) discutem que um sistema sociotécnico é por natureza

complexo e não complicado. Os sistemas complicados possuem relações de causa e

efeito evidentes, logo, podem ser descritos e modelados, enquanto os sistemas

complexos (sociotécnicos), por outro lado, não podem ser descritos nem precisamente

modelados, pois possuem uma infinidade de relações não lineares e fenômenos

emergentes.

Hollnagel e Woods (2005) apontam alguns fatores que afetam a complexidade

dos sistemas, sendo eles: (1) treinamento insuficiente e falta de experiência, visto que

podem levar a uma incompleta ou parcial compreensão da situação; (2) o tempo e

conhecimento insuficiente, no qual podem influenciar na correção da condição,

mesmo quando essa for reconhecida; (3) à complexidade da interface, se de difícil

uso, pode levar a uma ação de implementação incompleta ou incorreta, resultando em

resultados inesperados e não desejados.

Saurin e Gonzalez (2013) identificaram quatro caraterísticas da complexidade

por meio da revisão da literatura, destacando:

a) Um grande número de elementos interagindo dinamicamente – os SSC

mudam ao longo do tempo, suas interações podem ser não-lineares. Além disso, as

interações ocorrem entre elementos fortemente acoplados, o que favorece a rápida

propagação de erros e dificulta criação de barreiras;

b) Grande diversidade de elementos – implica em uma grande variabilidade de

categorias, influenciando na natureza das relações entre os elementos, tais como,

grau de cooperação, grau de objetivos compartilhados e grau de troca de informações;

c) Variabilidade não prevista – é resultado da incerteza (devido, a riqueza das

interações entre os elementos, e pelo uso informações de fontes de informação

indiretas ou inferenciais), além disso, os SSC são sistemas abertos, o que significa

que eles interagem com seu ambiente, que é, por si só, uma fonte importante de

variabilidade;

d) Resiliência – é a capacidade dos sistemas de ajustar o seu funcionamento

antes, durante ou após mudanças e distúrbios. Este ajuste de desempenho significa

preencher as lacunas de procedimentos, devendo ser orientado por feedback, tanto

de eventos recentes quanto passados. Esta característica/habilidade vem sendo

objeto de estudos em diversos setores, visto a importância dos sistemas em manter

um fluxo de operações contínuo, apesar dos imprevistos não esperados.

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2.3 Engenharia de Resiliência (ER)

2.3.1 Conceitos

A engenharia da resiliência baseia-se nos avanços na modelagem e na

medição de sistemas adaptativos complexos, nas ideias obtidas das observações de

organizações de alta confiabilidade e nos resultados de estudos de como as pessoas

se adaptam para que os sistemas funcionem, apesar da complexidade na engenharia

de sistemas cognitivos (ESC) (WOODS, 2006b).

Segundo Hollnagel (2006), a resiliência está relacionada a capacidade

intrínseca de uma organização ou sistema em manter ou recuperar um estado

dinamicamente estável, o que lhe permite continuar as operações após eventos

inesperados ou na presença de um estresse contínuo. Além de ser capaz de sustentar

as operações necessárias e manter a sua capacidade para responder a eventos

inesperados também na ausência de pressão externa ou stress (REIMAN;

OEDEWALD, 2009).

Woods (2006a) critica que como todos os sistemas se adaptam ao longo do

tempo, a resiliência não pode ser simplesmente a capacidade de adaptação de um

sistema, considerando, então, a resiliência como uma capacidade mais ampla de quão

bem uma organização ou sistema consegue lidar com as interrupções e variações.

Logo, a resiliência tem como propósito monitorar as condições de contorno do modelo

atual de competência (como as estratégias são compatíveis com as demandas) e

ajustar ou expandir esse modelo para acomodar melhor as demandas (WOODS,

2006a; DINH et al., 2012).

Hale e Heijer (2006) discutem que a resiliência está relacionada com a

capacidade das organizações em gerenciar as atividades a fim de antecipar e

controlar as ameaças ou conflitos, inclusive os conflitos entre segurança e produção.

Esta característica da resiliência busca dar ênfase na prevenção da perda de controle

sobre o risco, em vez da recuperação dessa perda de controle.

Woods (2006a) ressalta que a ER também tem o propósito de compreender

como as organizações lidam com os conflitos de metas que surgem a partir da pressão

para ser " faster, better, cheaper ", ou seja, “mais rápido, melhor e mais barato”. Em

função disso, para gerenciar o risco de forma proativa é necessário em alguns

momentos atenuar a pressão sobre os objetivos de produção e eficiência, ou seja,

fazer um julgamento de sacrifício. No qual, a ER busca dar suporte às organizações

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como decidir quando atenuar a pressão da produção para reduzir o risco de acidentes,

por meio da prática do julgamento de sacrifício em condições de incerteza, a fim de

manter um nível de risco aceitável (WOODS, 2006a).

Na engenharia de resiliência, a segurança não é vista como uma propriedade

do sistema, mas "... como algo que um sistema ou organização faz, em vez de algo

que uma organização tem" (HOLLNAGEL; WOODS, 2005). A ER busca dar ênfase

aos fatores organizacionais como as principais causas dos acidentes ao invés de erros

humanos ou mau funcionamento de máquina (HOLLNAGEL; WOODS, 2005).

A adoção de procedimentos, diretrizes, equipamentos de proteção pessoal e

barreiras não tornam o sistema resiliente, mas sim o monitoramento contínuo do

desempenho do sistema de "como as coisas são feitas" (SHAEFER et al., 2008).

Surgem, então, a necessidade em monitorar o trabalho normal, ou seja, as atividades

que são realizadas diariamente, a fim de compreender os atos e fatores que

contribuem ou favorecem no ajuste do sistema (resiliência).

Segundo a perspectiva de segurança tradicional (modelos de acidentes

lineares), os desvios do trabalho prescritos são usualmente considerados violações,

atos intencionais, e são corrigidos por meio de treinamentos para que as regras sejam

seguidas corretamente. Nesta perspectiva, não é comum a discussão acerca da

redefinição do trabalho prescrito (COSTELLA et al., 2015). Em função disso, a ER

busca por meio do monitoramento contínuo, minimizar a distância entre o trabalho

prescrito (“work as imagined”) e o trabalho normal (“work as done”), a fim de

compreender os fatores que levam os trabalhadores a praticar “tais violações” e

reduzir a incidência das mesmas (COSTELLA et al., 2015). Para Polet et al. (2003)

apud Costella et al. (2015), em sistemas complexos, as violações são subprodutos

inevitáveis para alcançar o desempenho desejado.

Portanto, a Engenharia de Resiliência surge como um novo paradigma para o

estudo da segurança, buscando entender como as pessoas, sob pressão, lidam com

a complexidade e com a variabilidade de um sistema, e ainda obtém sucesso quando

se encontram sob condições adversas (HOLLNAGEL, 2006). Costella (2008) destaca

que a ER pode ser utilizada em qualquer nível de agregação do sistema cognitivo,

desde o enfoque de um único trabalhador no seu posto de trabalho até o enfoque na

organização como um todo.

Este trabalho considera a Engenharia de Resiliência como sendo a capacidade

das organizações em gerenciar as atividades a fim de antecipar e controlar as

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ameaças ou conflitos, que possam vir a causar interrupções e variações nas

operações. Buscando por meio do monitoramento contínuo compreender como as

atividades são realizadas, levando em consideração os trade-off entre segurança e

produção.

2.3.2 Pressupostos e princípios da Engenharia de Resiliência

Os princípios da ER vêm sendo discutido por diversos autores, entretanto

observa-se a ausência de definição de um conjunto de princípios na área de

segurança, acabam gerando uma variedade de princípios e conceitos relativamente

próximos, mas sem consolidação definida. Em vista disso, este estudo busca

apresentar os princípios até então discutidos na literatura de modo geral.

No método proposto por Costella (2008) para avaliar a saúde e segurança em

indústrias de manufatura com foco em engenharia resiliência, foram adotados os

seguintes princípios:

• Comprometimento da alta direção: está relacionado na capacidade da alta

direção em demonstrar uma devoção à segurança acima ou do mesmo modo

que a outros objetivos da empresa;

• Aprendizagem: está relacionado a retroalimentação dos processos

gerenciais da segurança e saúde com foco na identificação da distância

entre o trabalho prescrito e o trabalho real;

• Flexibilidade: capacidade de adaptar-se às mudanças a fim de manter o

controle em termos de SST, resistindo às pressões da produção;

• Consciência: todas as partes interessadas devem estar conscientes do

limite da perda de controle e do seu próprio desempenho no sistema.

Em especial, complementa-se que o princípio da conscientização requer que

se esteja atento ao status atual do sistema quanto ao status das defesas, sendo tais

conhecimentos fundamentais para antecipar futuras mudanças que podem vir a afetar

o funcionamento do sistema (RESILIÊNCIA REDE DE ENGENHARIA, 2008 apud

COSTELLA, 2008). Além da importância para avaliar os trade-offs entre a produção e

segurança, conforme mencionado por Hale e Heijer (2006).

Embora não tenha sido considerado um princípio, Woods (2006a) discute que

o monitoramento é um fator chave da resiliência, no qual deve levar a intervenções

para gerenciar e ajustar a capacidade de adaptação à medida que o sistema enfrenta

novas formas de variação e desafios. Enquanto, para Hollnagel (2010) são quatro os

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fatores chaves para uma organização para ser considerada resiliente, sendo elas as

habilidades em monitorar, antecipar, responder e aprender:

• responder a variabilidade, distúrbios e eventos inesperados ou não, sabendo

como e quando fazê-lo, habilidade de abordar o atual;

• monitorar o que acontece e reconhecer se algo muda a ponto de afetar a

capacidade da organização de realizar operações atuais ou futuras,

habilidade de abordar o crítico;

• considerar os possíveis eventos futuros, condições ou mudanças de estado

que possam afetar a capacidade da organização de funcionar, habilidade de

abordar o potencial; e

• aprender com as experiências corretas, habilidade em abordar o real.

Apesar da diferença de nomenclatura, é possível visualizar algumas

semelhanças entre os princípios adotados por Costella (2008) e as habilidades

discutidas por Hollnagel (2010). Para ambos os autores, a aprendizagem está

relacionada ao trabalho real, as experiências e fatores de sucesso tão enfatizados na

ER. O princípio da consciência pode ser relacionado as habilidades em monitorar e

antecipar discutidas por Hollnagel (2010), visto a necessidade em estar atento ao

status atual do sistema, afim de antecipar futuras mudanças que podem vir a

comprometer o funcionamento do sistema. E a flexibilidade, pode ser relacionada com

a capacidade em responder, uma vez que para adaptar-se as mudanças é necessário

saber quando e como responder aos distúrbios esperados e inesperados,

considerando que estes já tenham sidos identificados.

Outros princípios são discutidos por Dinh et al. (2012), sendo eles: flexibilidade,

controlabilidade, detecção precoce, minimização de falhas, limitação de efeitos e

controles e procedimentos administrativos.

O princípio da minimização de falhas busca evitar que algo ruim aconteça por

medidas preventivas, seja por meio de um projeto mais seguro ou uso adequado de

equipamentos de proteção, quando as mesmas não forem suficientes, então a

detecção precoce entra em vigor (DINH et al., 2012). Uma falha pode ser

compreendida como um estado que não atende um objetivo desejado ou pretendido,

ou que cria potencialmente uma situação perigosa para as pessoas (por exemplo,

liberação de gás tóxico) e danos ao equipamento (por exemplo, vazamento, ruptura e

aumento brusco de temperatura) (DINH et al., 2012).

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Para tal, os trabalhadores devem ser treinados para reconhecer condições

anormais ou estados que pode ocorrer (DINH et al., 2012). Para Steen e Aven (2011),

muitos eventos adversos não podem ser atribuídos a uma quebra ou mau

funcionamento de componentes e funções normais do sistema, sendo melhor

entendidos como o resultado de combinações inesperadas da variabilidade de

desempenho normal. Em vista disso, o fator humano tem um papel importante na

detecção de situações inesperada, atuando na minimização das falhas, limitando os

efeitos e no planejamento das respostas de emergências (DINH et al., 2012). Segundo

os autores, o plano de resposta de emergência deve ser bem preparado uma vez que

uma resposta rápida e adequada geralmente resulta em um menor tempo de

recuperação.

O princípio da limitação de efeitos está relacionado ao uso de medidas

preventivas ou mitigadoras para limitar os impactos de um distúrbio. Além disso,

destaca-se a importância de sistemas de gerenciamento por meio de controles e

procedimentos administrativos (DINH et al., 2012). A controlabilidade refere-se ao

estado dinâmico e a capacidade do sistema em atingir os pontos-alvo em um

determinado momento, ou intervalo de tempo.

De modo geral, os princípios de minimização de falhas, limitação de efeitos,

controle e procedimentos administrativos e controlabilidade destacados por Dinh et al.

(2012) apresentam-se de maneira ambígua, visto a dificuldade em explicitar os

conceitos dos mesmos de forma clara e independente. Ao contrário, do princípio da

flexibilidade, em que um processo pode ser considerado flexível, se consegue operar

sob vários distúrbios, ou seja, se os outputs permanecem dentro de um intervalo

desejado, apesar da variação dos inputs (DINH et al., 2012). O princípio de detecção

precoce estabelecido por Dinh et al. (2012) pode ser associado a capacidade de

monitorar discutida por Hollnagel (2010).

Além disso, a visão convencional sobre a gestão de segurança (risco)

considera a variabilidade de desempenho, de qualquer tipo, como uma ameaça e algo

que deve ser evitado. Na ER a variabilidade do desempenho é considerada tanto

normal quando necessário, visto que é a fonte de resultados positivos e negativos

(STEEN; AVEN, 2011). A segurança não pode ser obtida pela restrição da

variabilidade de desempenho, uma vez que isso também afetaria a capacidade para

alcançar os resultados desejados. A solução é, em vez disso, amortecer a

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variabilidade que pode levar a resultados negativos e ao mesmo tempo reforçar a

variabilidade que pode levar a resultados positivos (STEEN; AVEN, 2011). Portanto,

embora não seja descrita como um princípio, a gestão da variabilidade é essencial

para o funcionamento dos sistemas complexos. Sendo mais pertinente discutir a

minimização da variabilidade que leva a resultados negativos, em vez da minimização

das falhas discutido por Dinh et al. (2012), visto a dificuldade em atribuir eventos

negativos à ocorrência de falhas.

Azadeh e Zarrin (2015) buscaram mostrar que a implementação de princípios

da ER pode melhorar no gerenciamento da saúde, segurança, meio ambiente e

ergonomia, em inglês, Health, Safety, Environment e Ergonomics (HSEE) de uma

planta petroquímica. De forma semelhante a Costella (2008), os autores também

consideraram o compromisso da alta direção, a aprendizagem, a conscientização e a

flexibilidade. Além destes, Azadeh e zarrin (2015) incluíram como princípios da ER a

cultura de relatórios e a prontidão. A cultura de relatórios busca favorecer no aumento

da vontade da equipe em relatar problemas e a prontidão, está relacionada a

preparação de uma equipe de emergência eficaz para responder situações

rapidamente.

Dessa forma, os resultados da implementação dos princípios da ER

representados por meio do mapa cognitivo de números Z gerados através de análises

fuzzy, mostraram que os princípios da RE têm um alto impacto nos fatores de HSEE.

A análise realizada consistiu na determinação do grau de influência que os princípios

ER têm sobre os fatores HSEE. Os resultados indicaram que o compromisso da alta

direção tem o maior impacto no ambiente (0.827), a aprendizagem tem o maior

impacto em saúde (0.792), a prontidão tem o maior impacto em ergonomia (0.786) e

a consciência tem o maior impacto em segurança (0.776). Segundo os autores, a

abordagem proposta neste estudo pode contribuir com a melhoraria seu desempenho

em termos de HSEE usando fatores RE.

Em um outro estudo, Azadeh et al. (2016) buscaram avaliar por meio de

questionários o desempenho de segurança em sistemas resilientes com o uso dos

métodos de análises estatísticas como Fuzzy Data Envelopment Analysis (FDEA) e

Análise de Variâcia (ANOVA). Este trabalho adotou os mesmos princípios levantados

Azadeh e Zarrin (2015), sendo eles: compromisso da alta direção, aprendizagem,

conscientização, prontidão, flexibilidade e a cultura de relatórios. Estes princípios

foram então correlacionados com as variáveis/habilidades do sistema, como, auto-

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organização, trabalho em equipe, redundância e tolerância a falhas. Os resultados das

análises de FDEA e ANOVA mostraram que as variáveis de trabalho em equipe e

redundância têm a maior influência em sistemas resilientes (AZADEH et al., 2016).

Como apresentado acima, os estudos realizados por Azadeh e Zarrin (2015) e

Azadeh et al. (2016) buscaram avaliar o desempenho da segurança de sistemas

resilientes, levando em consideração os princípios da resiliência considerados pelos

autores. Isso corrobora com o apresentado por Woods (2009), no qual o autor

argumenta que não é possível medir a resiliência, mas o potencial de resiliência. Como

a resiliência é definida pela capacidade da organização de ajustar seu funcionamento

a condições esperadas e inesperadas, uma "medida" de resiliência será diferente das

medidas tradicionais de segurança. Observando assim, a necessidade em sistemas

de medidas que possam avaliar a resiliência dos sistemas de uma forma sistemática.

2.3.3 Diferenças entre o trabalho normal e o trabalho prescrito

Segundo Dekker (2003), existem dois caminhos para avançar na segurança:

(1) aplicação de procedimento como sequência de regras, e (2) a aplicação do

procedimento como atividade cognitiva.

No primeiro caso, o ato de não seguir os procedimentos não significa que irá

ocasionar uma situação insegura, ou seja, os procedimentos devem representam a

melhor forma de realizar a atividade de forma segura, fato este, também discutido por

Besnard e Greathead (2003). Além disso, o trabalho normal ocorre em um contexto

de pressões e múltiplos recursos e objetivos, em alguns casos, a incerteza e a

ambiguidade envolvidas na atividade fazem os procedimentos emergir da prática e

experiência em vez de precedê-los (DEKKER, 2003). Segundo o autor, quando os

procedimentos são tratados apenas como uma sequência de regras, pode ter efeito

contrário para segurança.

Embora os procedimentos sejam um investimento em segurança, nem sempre

conseguem ser eficientes em alcançar uma prática segura. No qual, sua criação não

evita necessariamente o próximo incidente, entretanto, procedimentos com o objetivo

de padronização, podem desempenhar um papel importante na formação de práticas

seguras (DEKKER, 2003).

No segundo modelo apresentado por Dekker (2003), se discute que a

segurança não é o resultado da sequência dos procedimentos, e sim, é resultado da

capacidade das pessoas em utilizar os recursos disponíveis para alcançar os objetivos

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desejados. Acredita-se que os procedimentos são recursos para ação e nem sempre

são aplicáveis a todas as situações, em que o resultado depende da habilidade das

pessoas em julgar quando e como adaptar procedimentos para eventuais

circunstâncias.

Em vista disso, Hollnagel et al. (2015) critica que o ‘trabalho imaginado’, é uma

visão idealista da tarefa formal, que ignora como o desempenho da tarefa deve ser

ajustado para corresponder às reais condições de trabalho. Enquanto, o ‘trabalho

realizado’ ou trabalho normal, descreve como o trabalho realmente é executado pelos

operadores.

O estudo do trabalho normal tem buscado compreender as habilidades

desenvolvidas pelos trabalhadores quando em zona limites de operação, como

destaca por Rasmussen (1997). Segundo Saurin et al. (2014), as habilidades de

resiliência podem ser definidas como habilidades individuais e de equipe, necessárias

para ajustar o desempenho, a fim de manter operações seguras e eficientes durante

situações esperadas e inesperadas. Os referidos autores também destacam que “o

ajuste de desempenho significa preencher as lacunas de procedimentos

padronizados, qualquer que seja sua extensão e razão”.

Segundo Costella et al. (2009), a ER ressalta a compreensão do trabalho

normal para aprender e promover estratégias de trabalho bem-sucedidas, ao invés

apenas do aprendizado baseado em acidentes. No entanto, para que haja

aprendizagem baseada no trabalho normal, é imprescindível a criação de um

ambiente organizacional que encoraje o relato de incidentes e que reconheça as

estratégias adaptativas (WREATHALL, 2006)

Para o progresso em segurança, as organizações devem monitorar e

compreender as razões por trás da lacuna entre procedimentos e práticas,

desenvolver formas que apoiem a habilidade de adaptação das pessoas (DEKKER,

2003) e elaborar procedimentos que condizem com a realidade, reduzindo a lacuna

entre o trabalho, como imaginado pelos gerentes e o trabalho como realizado pelos

operadores (SAURIN; FORMOSO; CAMBRAIA, 2008; COSTELLA et al., 2009).

Dada natureza dinâmica e em mudança do trabalho de construção, Borys

(2012) discorre sobre a necessidade de estudos para avaliar as diferenças entre o

trabalho imaginado e o trabalho realizado em canteiros de obras para atender os

requisitos de segurança. Além disso, o referido autor crítico que tais estudos vêm

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27

ocorrendo em uma variedade de indústrias (petroquímica, aviação, nuclear, entre

outras) e categorias ocupacionais, mas menos no setor de construção.

O estudo realizado por Saurin et al. (2014) investiga como o treinamento

baseado em cenário pode contribuir com o desenvolvimento de habilidade de

resiliência de trabalhadores em uma empresa de distribuição de eletricidade, segundo

a perspectiva da engenharia de resiliência. Entre as contribuições do presente estudo,

o debriefing destaca-se como um meio de discussão de oportunidades de melhorias

que vão além do desempenho individual dos trabalhadores, um mecanismo de

melhoria contínua.

O estudo realizado por Peñaloza et al. (2017) buscou propor diretrizes para a

concepção de medidas preventivas, considerando o paradigma de Engenharia de

Resiliência por meio da identificação de habilidades de resiliência utilizadas pelos

trabalhadores envolvidos no processo de montagem de estruturas de concreto pré-

moldado. Os autores consideraram como uma habilidade de resiliência qualquer

ajuste de desempenho adotado pelos trabalhadores da linha de frente com o objetivo

de compensar, criar condições ou evitar situações.

Durante o estudo, levantou-se diversas situações na qual, os operadores

tiveram a necessidade de realizar ajuste para evitar retrabalhos, mantendo a produção

com segurança. Como por exemplo, após a montagem da coluna, um montador teve

que ajudar a remover o pino usando uma plataforma de trabalho aéreo com exposição

ao risco de queda de altura.

Os resultados provenientes da investigação demostraram que os trabalhadores

experientes foram capazes de realizar ações competentes no ambiente de trabalho,

como forma de superar situações inesperadas, afirmando as habilidades de resiliência

têm uma influência considerável no desempenho e no resultado final de segurança.

Com base nas categorias de habilidades de resiliência, foram propostas três

diretrizes para a concepção de medidas preventivas, com base na perspectiva da

Engenharia de Resiliência (PEÑALOZA et al., 2017):

(a) identificar e analisar os riscos específicos de cada projeto em canteiro, a fim

de reduzir ou eliminar restrições locais;

(b) estabelecer treinamento específico para processos críticos para

desenvolver habilidades de resiliência chave (por exemplo, criar condições,

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28

compensar ou evitar) e atualizar programas de treinamento à medida que os eventos

ocorrem; e

(c) redesenhar e atualizar procedimentos com base na experiência dos

trabalhadores.

2.4 Sistemas de Gestão da Segurança com enfoque na ER

2.4.1 Conceitos básicos

O acidente é um acontecimento inesperado, não planejado e não controlado. A

ocorrência destes eventos indesejados resulta em lesões corporais, danos à

propriedade, falha de equipamento, ou alguma combinação destes (SAURIN, 2002).

Acidentes não acontecem por acaso, eles são causados por atos inseguros,

condições inseguras ou ambos (HAMID; MAJID; SINGH, 2008).

De acordo com o modelo de proposto por Howell et al. (2002), os acidentes

ocorrem quando os trabalhadores ultrapassam o limite de perda de controle, ou seja,

devido à constante pressões de custo, carga de trabalho e desempenho (Rasmussen,

1997).

Cambraia, Saurin e Formoso (2010) conceituam quase acidentes como um

evento imediato, que tem potencial para gerar um acidente. Hinze (1997) define os

quase acidentes como, eventos que não envolveram lesão aos trabalhadores ou dano

à propriedade, mas que apresentaram potencial para tanto. Reason (1997)

complementa que os quase acidentes podem gerar feedbacks positivos ou negativos.

O positivo refere-se às medidas preventivas que funcionaram conforme planejadas ou

como operador pode conseguir recuperar o controle em uma situação de risco. Já o

feedback negativo ocorre quando as medidas preventivas não funcionaram ou não

existiam (REASON, 1997).

Segundo a OSHAS 18001 (2007), o perigo é uma fonte ou situação com

potencial para dano em termos de lesões humanas ou problemas de saúde; dano à

propriedade; dano ao ambiente de trabalho ou uma combinação destes. Enquanto, o

risco é a combinação da probabilidade de ocorrência e das consequências de um

determinado evento perigoso.

Além dos termos básicos, para este trabalho observa-se a necessidade em

conceituar violações e desvios, que na visão de tradicional são diretamente

associados a atos intencionais, no qual o trabalho realizado não condiz como o

trabalho prescrito (COSTELLA et al., 2009). Enquanto a ER enfatiza que em sistemas

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complexos, violações e desvios são muitas vezes necessários para que haja um ajuste

na variação da demanda, visto a ocorrência de eventos inesperados (WOODS,

2006a).

Segundo Reason (1990) e Besnard e Greathead (2003), as violações podem

ser comuns ou rotineiras e excepcionais. As violações comuns acontecem quando os

operadores atingem os objetivos por vias que diferem dos procedimentos prescritos.

Neste caso, na maioria das vezes, a violação está tão inserida na prática diária que

não é mais identificada como um ato ilegal. Enquanto, as violações excepcionais,

ocorre quando um operador realiza uma ação em um contexto identificado como não

rotineiro, e não são tolerados pela organização.

Segundo Dekker (2003), o erro humano não é uma causa de falha, ele é o

efeito, ou sintoma, de problemas mais profundos. Além disso, o erro está

sistematicamente ligado a recursos das ferramentas, tarefas e ambiente operacional

das pessoas.

2.4.2 Sistema de Gestão da Segurança (SGS)

Barreiros (2002) define o Sistema de Gestão da Segurança como um conjunto

de iniciativas da organização executado por meio de políticas, programas,

procedimentos e processos integrados, cujo propósito consiste em auxiliar a

organização a estar em conformidade com as exigências legais, realizando suas

atividades com ética e responsabilidade social.

Os elementos do sistema de gestão da segurança podem ser procedimentos,

programas, definição de responsabilidades, controles, diretrizes, recursos físicos,

financeiros e humanos com diferentes graus de complexidade, sendo o nível de

complexidade e a eficácia dos elementos estabelecidos pela organização (BENITE,

2004).

Segundo o autor, o SGS apresenta características orgânica e dinâmica, no qual

os elementos devem reagir e se adaptarem aos desvios (reais ou potenciais) que

ocorrem em relação aos seus objetivos ou propósitos. Dessa forma, o SGS pode

contribuir com a melhoria contínua do desempenho, devido a existência de

mecanismos sistêmicos de melhoria, atuando de forma proativa.

Dentre as normas de gestão da saúde e segurança utilizadas, destaca-se a

Occupational Health and Safety Assessment Services (OHSAS) 18001 (2007). Esta

norma internacional, que tem como principal propósito apresentar os principais

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requisitos para a implantação de um sistema em saúde e segurança do trabalho,

permitindo a uma organização controlar seus riscos e melhorar seu desempenho,

podendo vir a ser aplicada a qualquer tipo de organização (OHSAS 18001, 2007).

O estudo desenvolvido por Benite (2004) e Costella (2008) apresentam de

forma detalhada os requisitos abordados pelas normas de gestão da segurança

OHSAS 18001 (2007) e pelo guia ILO-OSH (2003). Tais requisitos devem ser

entendidos como boas práticas de administração voltadas para a melhoria de

desempenho em SST.

O modelo de gestão proposto pela OHSAS 18001 (2007) é dividido em cinco

fases: políticas de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho, planejamento,

implementação e operação, verificação e ação corretiva e análise crítica dos

resultados. Essas etapas em conjunto buscam promover a melhoria contínua do

sistema de gestão, conforme apresentado sucintamente a seguir.

a) Política de Saúde e Segurança do Trabalho (SST)

A política de saúde e segurança do trabalho tem como propósito definir um

direcionamento geral para a empresa, assim como os princípios e sua atuação em

relação à segurança e saúde do trabalho (BENITE, 2004). Esta política deve

contemplar os requisitos de segurança a ser efetivamente cumpridos pela empresa.

Dessa forma, um programa de gestão da segurança deve contar com a

participação de gestores e trabalhadores na formulação de políticas condizentes com

as necessidades do projeto e no estabelecimento de um sistema de feedback que

promova a melhoria contínua (ABUDAYYEH et al., 2006).

b) Planejamento

O planejamento deve ser fundamentado, com base na política de SST

estabelecida pela empresa, os objetivos e os respectivos meios para atingi-los. Além

disso, é de competência do planejamento da SST, a identificação de perigos, a

avaliação e controle dos riscos e o cumprimento das exigências legais (BENITE,

2004). O planejamento e controle da segurança é um requisito obrigatório segundo as

normas de segurança, além de ser uma prática frequente por empresas líderes em

gestão de segurança (SAURIN, 2002; CAMBRAIA; SAURIN; FORMOSO, 2010).

Na construção civil, embora a segurança esteja diretamente relacionada à

produção, ainda se observa o planejamento da segurança sendo desenvolvido de

forma independente da gestão da produção (SAURIN, 2002). Visto essa necessidade,

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31

Saurin (2002) propõe um modelo de Planejamento e Controle da Segurança (PCS)

que pudesse ser integrado ao sistema Planejamento e Controle da Produção (PCP)

existentes.

Cambraia (2004) buscou aperfeiçoar o modelo de PCS desenvolvido por Saurin

(2002), com ênfase no ciclo participativo, no planejamento e controle da segurança

(PCS) em todos os níveis hierárquicos através de uma definição mais clara das

principais decisões tomadas e do grau de detalhamento em cada nível, e na difusão

das informações do PCS.

Howell et al. (2002) discutem que um fluxo de trabalho mais confiável pode

contribuir na redução dos eventos inesperados que levam a incidentes. Uma das

opções seria trazer para a segurança os conceitos aplicados no Last Planner System,

como o critério de qualidade “solidez”. Por exemplo, para que uma tarefa fosse

liberada, seria necessário análise de risco prévia, resultando assim em melhorias no

processo de inspeção e análise de causa raiz.

Além disso, a engenharia de resiliência busca explorar e discutir os trade-offs

entre segurança e produção enfrentado pelas organizações (HALE; HEIJER, 2006;

WOODS, 2006a). No qual, para um sistema de gestão proativo, o planejamento tem

um papel importante na acomodação das eventuais demandas e antecipação dos

riscos, corroborando com a ampliação da zona segura a que os trabalhadores estão

expostos (WOODS, 2006a; DINH et al., 2012; HOWELL et al., 2002).

c) Implementação e operação

Os sistemas de gerenciamento de segurança devem ser uma combinação de

medidas reativas e proativas. Na visão de gerenciamento tradicional a variabilidade

de desempenho é considerada um perigo que deve ser controlado, podendo levar a

consequências tanto positivas como negativas (AZADEH; ZARRIN, 2015). Para

Reiman e Oedewald (2009), a ER trabalha com o entendimento da variabilidade,

focando no seu controle, visto que a variável desempenho humano está sempre

presente dentro do sistema, sendo fonte de sucesso e insucesso. Um processo é

chamado controlável se os parâmetros de saída a ser controlado podem ser ajustados

para atingir os requisitos desejados em tempo aceitável (DINH et al., 2012).

Entretanto, a contingência da variabilidade do desempenho pode resultar em

falta de segurança, podendo vir a prejudicar a organização em alcançar resultados

desejados. Durante a etapa de implementação e operação, segundo os conceitos da

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ER deve-se buscar reduzir a variabilidade que pode causar consequências negativas

e reforçar a variabilidade que pode resultar em consequências positivas.

Outro ponto discutido durante a fase de operação é a falta de procedimentos

estruturados, situação comum no ambiente da construção, em que a decisão de como

fazer o ajuste decorre da iniciativa dos trabalhadores na maioria das vezes, sem o

apoio organizacional adequado (SAURIN; SANCHES, 2014). Em função disso,

algumas orientações podem ser implementadas para promover a resiliência na SST,

como, o dimensionamento de folga, o aumento da visibilidade dos processos, o

encorajamento da diversidade de perspectivas na tomada de decisões e de relatos de

incidentes e o monitoramento contínuo de como as atividades são feitas (SAURIN;

SANCHES, 2014; SCHAFER et al., 2008).

d) Verificação e tomada de medidas corretivas

Segundo a OHSAS 18001 (2007) a organização deve estabelecer e manter

procedimentos para monitorizar e medir, periodicamente o desempenho em SST. A

engenharia de resiliência enfatiza a importância do monitoramento e a detecção

precoce dos riscos para um sistema de gestão proativo (HOLLNAGEL, 2006; 2010;

DINH et al. 2012).

Wehbe, Al Hattab e Hamzeh (2016), o rastreamento e monitoramento de

indicadores de desempenho de segurança permitem a identificação de problemas de

forma precoce, atuando em melhores medidas de prevenção de acidentes, e

consequentemente na melhoria contínua dos processos. Entretanto, em sistemas

complexos Dinh et al. (2012) ressaltam que nem todos os riscos podem ser previstos

através de um sistema de detecção, sendo de extrema importância o controle por meio

de procedimentos. Os autores complementam que as medidas preventivas não

podem impedir uma falha de ocorrer, o que torna o papel de detecção precoce ainda

mais importante.

Portanto, segundo a Engenharia de Resiliência, para que haja sucesso na

melhoria da segurança, esforços multidisciplinares são necessários para promover a

integração entre as atividades de gestão da SST, aparentemente desconexas, tais

quais: o comprometimento da alta direção com a segurança e saúde, a aproximação

entre o trabalho real e o trabalho prescrito, o monitoramento proativo, o gerenciamento

do trade-off entre produção e segurança, a visualização dos limites seguro para o

trabalho e a capacidade de adaptação à variabilidade do ambiente (WREATHALL,

2006).

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3 TECNOLOGIAS VISUAIS APLICADAS A SEGURANÇA EM CANTEIRO

Este capítulo tem como objetivo discutir as principais tecnologias visuais

aplicada a segurança do trabalho em canteiro de obras, seus impactos e a integração

com o processo de gestão. Serão apresentados os principais estudos com o uso

tecnologias visuais na segurança, destacando as seguintes tecnologias: Veículo

Aéreo Não Tripulado (VANT), Building Information Modeling (BIM), Realidade

Aumentada, além do uso de objetos e vídeos para detecção automática de padrão.

Além disso, buscou-se posicionar a atuação das tecnologias visuais estudadas na

gestão proativa da segurança.

3.1 Tecnologias visuais

3.1.1 Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT)

Irizarry et al. (2012) foram os pioneiros no uso do VANT para a segurança em

canteiros de obras. Neste estudo buscou-se realizar uma avaliação inicial da utilização

do VANT como uma ferramenta para auxiliar na gestão da segurança dentro do

canteiro de obras. Foi utilizado uma câmera de vídeo acoplada ao VANT e ao longo

do canteiro foram coletadas diversas imagens e vídeos, de diversos ângulos e

perspectivas, como forma de melhorar e facilitar o serviço de inspeção de segurança.

Com base nos dados coletados, duas análises distintas foram realizadas, a

primeira baseia-se na avaliação heurística que visa à análise da interface (design e

sistema) e a segunda consiste em uma avaliação com participação do usuário para

análise da quantidade de capacetes visualizados por meio das imagens, como item

de segurança inspecionado. No geral, as avaliações obtiveram bons resultados

quanto à eficácia durante o processo de visualização, mostrando-se uma ferramenta

eficiente para atuar no processo de inspeção.

Irizarry e Costa (2016) e Irizarry, Costa e Kim (2015) identificaram por meio de

estudos exploratórios, potenciais aplicações para os ativos visuais (fotos e vídeos),

obtidos com o VANT, envolvendo a coleta de dados em quatro diferentes canteiros de

obras, três nos Estados Unidos e um no Brasil. O monitoramento da segurança

destacou-se entre as potenciais áreas de aplicação segundo os engenheiros e

gestores entrevistados. Entretanto, por ser um estudo exploratório e qualitativo, cujo

objetivo foi identificar as áreas de aplicação da tecnologia, nenhuma intervenção foi

realizada junto a segurança do canteiro com base nos ativos coletados.

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No estudo realizado por Kim e Irizarry (2015) buscou-se avaliar o potencial, a

utilização e o desempenho do VANT para atividades de monitoramento de canteiros

em obras de construções de estradas, levantando os benefícios e os fatores críticos

que contribuem ou influenciam no desempenho de VANT para inspeção de

segurança. Os fatores críticos foram classificados segundo as características da

equipe, do projeto e do sistema. Dentre os principais fatores destacam-se: a facilidade

de interface do usuário, a qualidade dos ativos obtidos e a confiabilidade do sistema,

para os aspetos relacionados ao sistema VANT; a localização, o tamanho e o custo

para os aspectos relacionados às características do projeto; e a experiência da equipe

com VANT, atitudes com relação à aplicação do VANT em projetos, a adequação dos

recursos para uso VANT (seja, recurso financeiro, tempo, pessoal, etc.) e o

treinamento para o uso do VANT, para os fatores associados à equipe do projeto.

Quanto aos benefícios ao processo de gestão da segurança, Kim e Irizarry

(2015) destacam a gestão do comportamento dos trabalhadores, a inspeção de

equipamentos de proteção individual, o monitoramento eficaz do local de trabalho,

incluindo áreas de difícil acesso, o controle de tráfego de pessoas, veículos e

equipamentos pesados, além da fácil identificação dos problemas e agilidade na

correção de potenciais perigos em canteiros (KIM; IRIZARRY, 2015).

Neste estudo foram levantados diversos benefícios quanto ao uso da tecnologia

VANT para segurança em canteiro de obras, entretanto, tais benefícios foram

avaliados por meio de survey e análise estatística, não havendo nenhum estudo de

campo para a validação das mesmas.

Gheisari e Esmaelli (2016) identificaram algumas práticas de segurança que

podem ser melhoradas com o uso do VANT, a fim de facilitar o trabalho de técnicos e

gestores. No total foram levantadas 16 situações de riscos, no qual 15 situações estão

relacionadas às atividades de monitoramento e inspeção e uma relacionada a

investigação de pós-acidente. Dentre as atividades de maior potencial de aplicação

do VANT, destacam-se: trabalhadores em áreas próximas a içamento de carga (gruas

e guindastes), trabalhadores próximos a bordas desprotegidas (sem guarda-corpos

ou outras proteções contra queda), realização de investigação pós-acidente, inspeção

de uso adequado de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e sistema de proteção

contra quedas, entre outros.

Além do potencial de aplicação, os autores avaliaram as características

técnicas do sistema VANT requisitadas pelos potenciais usuários em segurança,

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destacando a comunicação em tempo real por meio de vídeo, precisão durante a

navegação (confiabilidade do sistema), a existência de sensores para evitar colisões

durante o voo, piloto automático e a comunicação via rádio em tempo real.

Melo (2016) e Costa et al. (2016) avaliaram o uso do VANT para inspeção de

segurança em canteiro de obras por meio dos constructos: utilidade, desempenho do

equipamento e riscos associados ao uso da tecnologia. Para isso, foram realizados

dois estudos de caso em empreendimentos residenciais. Para a coleta dos dados

adaptou-se para a realidade brasileira o conjunto de formulários desenvolvidos por

Irizarry, Costa e Kim (2015), principalmente, o que se refere a normas de segurança

na construção civil.

Segundo Melo (2016), em um primeiro momento buscou-se a geração de um

checklist de segurança com os itens possíveis de serem visualizados externamente

com o uso do VANT, baseado nos requisitos descritos na norma de segurança NR-18

(Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Industria da Construção). Em seguida foi

realizada uma survey para avaliar o grau de importância dos itens coletados em

campo para a gestão da segurança (no total foram avaliados na survey 25 itens), estes

itens foram classificados segundo o tipo de captura (overview3, medium altitute view4

ou close up view5), desenvolvido no estudo realizado por Irizarry, Costa e Kim (2015).

Dentre os itens de maior importância pode-se destacar nas capturas em

overview, a visualização das condições do tapume e perímetro do canteiro, rotas de

acesso de pessoas, materiais e equipamentos e áreas de armazenamento de

materiais; na medium altitude view a visualização das condições das plataformas de

proteção (bandejas) e escadas, rampas e passarelas; e na Close Up, a visualização

das proteção para pontas verticais de vergalhões de aço expostas e sistemas de

proteção contra quedas (MELO, 2016; COSTA et al. 2016).

Quanto a análise dos ativos visuais coletados (fotos e vídeos), primeiramente

observou-se a possibilidade de visualização dos itens de segurança nas imagens,

sendo estes classificados em visualizados e não-visualizados (justificados segundo

3 Overview – captura realizada em altas altitudes, por volta dos 100 metros. 4 Medium altitude view – captura realizada em altitudes intermediárias, por volta dos 50 a 60 metros. 5 Close Up View – captura realizada próximo ao objeto de interesse, por volta de 20 a 30 metros, a depender da necessidade do maior nível de detalhes nos ativos (fotos ou vídeos) coletados.

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as seguintes razões, inspeção incompleta, limitação da tecnologia e imagem sem

detalhamento suficiente). Com base nos resultados, percebeu-se um alto potencial de

aplicação, visto que para o estudo A (dos 34 itens avaliados, 29 foram visualizados

nas imagens) e no estudo B (dos 34 itens avaliados, 21 foram visualizados nas

imagens) (MELO, 2016).

Melo (2016) e Melo et al. (2017) buscaram avaliar a aplicabilidade do uso da

tecnologia VANT para inspeção de segurança em estudo de casos de obras

residenciais. Para tal, forma realizadas 4 inspeções com aplicação de checklist de

segurança baseado na NR 18, sendo os itens avaliados em conforme, não conforme

ou não visualizado. Como principais contribuições do requerido estudo, tem-se o

desenvolvimento de um protocolo de inspeção de segurança em canteiro (Figura 3),

contemplando as etapas de planejamento, coleta de dados, processamento e análise,

além da proposição de diretrizes de como se utilizar o VANT para inspeções em

canteiro.

Figura 6 - Protocolo de inspeção de segurança em canteiro de obras com VANT

Fonte: Melo (2016)

Os resultados mostraram que os ativos visuais coletados com o VANT podem

colaborar com o processo de inspeção por meio da melhor visualização das condições

de trabalho. No qual, foi possível identificar com clareza diversas situações inseguras

difíceis de serem monitoradas segundo o método tradicional, tais como, trabalhadores

e equipamentos sobre a plataforma de proteção secundária, trabalhadores em altura

sem proteção contra queda, entre outros (MELO, 2016; MELO et al., 2017).

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Além disso, os autores destacam como principais barreiras do uso da

tecnologia, a necessidade de integração do VANT ao sistema de gestão da segurança

do canteiro, assim como, a análise dos dados de modo mais automatizado, a fim de

proporcionar um feedback das condições de trabalho em tempo quase real. Como

benefícios pode-se ressaltar, a redução do tempo de inspeção, o aumento de

transparência dos processos visto a melhor visualização das condições e atos

inseguros e a melhoria no comportamento dos trabalhadores.

Costa et al. (2016) e Melo (2016) avaliaram o risco do uso da tecnologia em

canteiro por meio de entrevistas com trabalhadores do campo e a equipe de gerência.

De modo geral, o VANT apresentou um baixo impacto quanto a distração do

trabalhador durante a realização das atividades, assim como, a preocupação quanto

ao risco de queda do equipamento e a privacidade dos mesmos.

De forma semelhante, Tatum e Liu (2017) realizaram uma survey para

identificar as atividades em que se está utilizando o VANT em canteiro de obras e os

riscos do uso dessa tecnologia. No total foram distribuídas 400 survey, entretanto,

apenas 167 foram validadas. Dentre as reais aplicações com o uso do VANT, das 167

empresas que estavam utilizando o VANT em canteiro, apenas 31 eram para inspeção

visual e destacando 14 para monitoramento da segurança. Quanto ao risco do uso da

tecnologia, 17% das respostas indicaram que nenhum risco foi percebido e 83%

identificaram algum risco (risco de causar dano físico a funcionários ou a civis, risco

de preocupação com a privacidade e risco de causar dano a propriedade).

3.1.2 Building Information Modeling (BIM)

Segundo Kasirossafar e Shahbodaghlou (2012), ferramentas de visualização

com base no Building Information Modeling (BIM) pode contribuir na redução dos

riscos e perigos e desempenhar um papel importante no planejamento de segurança

antes da fase de construção.

Dentre os potenciais uso do BIM para a segurança pode-se destacar a

aplicação de checklist de segurança baseado em regras e simulações de processos

construtivos. Além disso, o BIM pode atuar como uma plataforma de gerenciamento

de segurança proativa, visto a possibilidade de identificação e redução de possíveis

riscos (KASIROSSAFAR; SHAHBODAGHLOU, 2012).

Park e Kim (2013) propõem um sistema de gerenciamento e visualização da

segurança (SGVS), integrando as tecnologias BIM, sistemas de rastreamento,

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realidade aumentada e games (uso de jogos para aprendizados). Para tal, foi

desenvolvido e testado um protótipo (Microsoft Studio XNA 4.0 Game Studio) com

base em um cenário ilustrativo e a implementação em um estudo de caso. Os

resultados apontam que o SGVS tem um grande potencial para melhorar a

identificação de riscos, aumentar a capacidade de reconhecimento do risco pelos

trabalhadores, além de contribuir na comunicação entre gerente e trabalhadores.

Embora esse sistema tenha sido aplicado apenas a tarefas específicas

(processo de forma e armação de estruturas de concreto armado) buscou-se utilizar

de jogos educativos e modelagem virtuais do canteiro para controle da segurança. O

principal diferencial do estudo é a integração das tecnologias no processo de gestão,

ou seja, a existência de um sistema unificado, possibilitando a visualização das

condições do canteiro e as informações de localização em tempo real de forma

interativa (PARK; KIM, 2013).

Os riscos identificados e informações relativas à segurança, tais como

materiais, equipamentos, condições inseguras, casos de acidentes e checklist são

extraídos de um banco de dados de informações de segurança e, em seguida,

interagem com o modelo virtual do canteiro para o uso em educação e inspeção. Os

fatores de risco de cada atividade identificada durante o planejamento são utilizados

para treinamentos usando jogos de perguntas e respostas. Durante a inspeção é

possível verificar a eficiência das medidas de prevenção de acidentes, permitindo o

armazenamento de fotos e informações relativos aos novos riscos encontrados no

banco de dados durante o processo de inspeção (PARK; KIM, 2013).

Os resultados indicam que o uso do SGVS pode efetivamente colaborar na

comunicação e identificação de ambientes de trabalho inseguros e ação insegura em

canteiro por meio da simulação de cenários no modelo virtual. Embora, os gerentes e

os trabalhadores possam obter as informações automaticamente depois de se

conectarem ao sistema através de um dispositivo móvel, a comunicação efetiva com

os trabalhadores no campo permanece sem solução, visto a dificuldade de interação

direta com o trabalhador e a dependência do uso de dispositivos móveis.

Hammad et al. (2012) propõem um método para identificar de forma automática

as áreas de riscos de quedas (aberturas na laje e bordas da laje) em projetos BIM 4D,

no qual quando detectadas são geradas barreiras virtuais (como, guarda-corpo) para

a mitigação do risco. Além disso, os autores desenvolveram em conjunto um sistema

de localização em tempo real (Real-time Location Systems-RTLS), em que alertas de

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segurança são emitidos quando os trabalhadores se aproximam das áreas de riscos

identificadas no projeto BIM 4D.

A modelagem de informações da construção pode ser usada para visualizar e

simular medidas de segurança em canteiros, podendo ser modeladas no BIM a cada

etapa do projeto de construção. Enquanto isso, os sistemas de localização em tempo

real podem ser usados para monitorar os trabalhadores durante a execução da

atividade, de modo a dar-lhes avisos de segurança quando necessário, tomando como

base seus locais relativos em relação às zonas perigosas especificadas no modelo

(HAMMAD et al., 2012).

Hongling et al. (2016) apresentam um método para codificação de regras de

segurança, por meio da combinação entre os componentes ou atividades do BIM com

os regulamentos e códigos de segurança relevantes. Segundo os referidos autores, a

comparação entre as regras de segurança e as informações de projetos armazenadas

no modelo BIM possibilitam a identificação e a visualização de condições inseguras

em projeto. Com base nos resultados da identificação dos potenciais riscos, os

projetistas podem melhorar a proposta de projeto ou compartilhar os resultados com

os contratados para melhorar o planejamento da construção.

Kim e Teizer (2014) desenvolveram um sistema baseado em regras pré-

definidas para planejamento automático de andaimes fachadeiro, por meio do

reconhecimento automático das condições geométricas das edificações em BIM. As

regras utilizadas baseiam-se nos critérios apresentados nas normas de segurança.

Segundo os referidos autores, a visualização das instalações provisórias e a

simulação 4D pode aumentar a conscientização dos trabalhadores sobre tarefas que

ocorrem simultaneamente e que provavelmente causam conflitos de tempo ou espaço

entre equipes concorrentes. Ao aumentar a consciência dos colaboradores, os erros

de planejamento e as situações perigosas decorrentes de usos temporários das

instalações podem ser identificados e corrigidos antes que tais situações ocorram.

Takim et al. (2016), assim como Hongling et al. (2016) e Hammad et al. (2012),

propuseram um método denominado Automated Safety Rule Checking (ASRC) para

identificar de zonas de perigos contra quedas por meio de regras baseada em critérios

de segurança. Segundo os referidos autores, a integração do sistema ASRC no

projeto BIM pode ser realizada durante todo o processo de desenvolvimento do projeto

(ou seja, design e construção). Na fase de projeto, a integração da verificação por

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meio de regras de segurança e o modelo 3D-BIM podem contribuir com o

planejamento e execução de projetos. Na fase de construção, o sistema ASRC pode

ser utilizado como suporte na inspeção de segurança.

O uso de regras de verificação para a segurança associado ao projeto BIM

pode proporcionar três vantagens significativas, segundo Takim et al. (2016), sendo

elas: (1) a eliminação dos perigos conforme o projeto avança, (2) a possibilidade em

combinar as normas de segurança e as boas práticas em BIM, e (3) a melhoria

contínua do sistema de regras de verificação de segurança ao longo das fases do

projeto. No entanto, apesar dos benefícios foram levantadas por meio de entrevistas

as razões pelas quais tais recursos ainda não foram incorporados nas organizações

públicas e privadas, destacando: a falta de conhecimento em cultura de segurança, a

falta de consciência de segurança e o maior custo do projeto.

O estudo realizado por Zhang et al. (2015) propôs o uso do BIM integrado a

tecnologias de sensoriamento remoto, visando melhorar a segurança da construção.

O método apresentado estabelece a visualização do espaço automatizado no BIM,

utilizando tecnologias de sensoriamento remoto e modelagem de espaço de trabalho

como parte integrante do planejamento de segurança da construção.

Neste estudo, Zhang et al. (2015) utilizaram GPS anexados aos capacetes dos

trabalhadores e desenvolveram algoritmos para extrair parâmetros de espaço para a

atividade de execução de colunas de concreto armado. Na plataforma BIM foi possível

visualizar os espaços de trabalho, permitindo assim, a detecção de potenciais conflitos

de espaço de trabalho entre equipes concorrentes ou equipamentos de movimentação

de material (por exemplo, uso de grua para concretagem das colunas). Para a

identificação automática dos conflitos, foi necessário o cálculo de parâmetros de

espaço, sendo estes fundamentados em experiência anteriores. Além disso, utilizou-

se o cronograma da construção para a detecção dos conflitos (ZHANG et al., 2015).

O método proposto por Zhang et al. (2015) foi validado por meio de um estudo

de caso, no qual verificou-se algumas situações críticas quanto a otimização os

espaços de trabalho, destacando: o congestiomento durante o processo de forma e

vazamento de concreto da construção de colunas; risco de queda ou de ser atingido

durante a execução da atividade e a identificação de uma sequência de construção

mais segura. Neste estudo duas simulações 4D no BIM foram executadas para

identificar potenciais perigos na execução da atividade. Por meio dos resultados foi

possível determinar o nível de desempenho de segurança esperado no campo para

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cada sequência, facilitando na tomada de decisão sobre qual oferece menor risco ao

trabalhador.

Park, Kim e Cho. (2016) buscaram desenvolver e avaliar um sistema de

monitoramento de segurança automatizado de baixo custo para canteiro de obras. O

sistema proposto integra tecnologia de detecção de localização baseada em Bluetooth

low-energy (BLE), plataforma BIM e uma plataforma de comunicação baseada na

nuvem. Além disso, propôs o uso de realidade aumentada para educação e

treinamentos dos trabalhadores. Neste estudo os potenciais riscos foram identificados

de forma automática e manual através do modelo BIM, o monitoramento da segurança

foi feito por meio de sensores nas áreas classificadas como de potencias riscos e o

sinal transmitido por meio do BLE para a nuvem.

Foram realizados um conjunto de experimentos para avaliar a capacidade do

sistema de monitoramento automatizado de segurança em tempo real. A informação

contendo a localização dos trabalhadores em tempo real foi continuamente

monitorada e registrada no servidor de nuvem configurado, permitindo a visualização

das informações contextuais para monitorar o comportamento dos trabalhadores em

relação às condições inseguras identificadas. Segundo Park, Kim e Cho. (2016),

embora o sistema proposto tenha apresentado desempenho aceitável com base nos

resultados da análise de armazenamento e transmissão das informações, o sistema

apresentou baixo desempenho para os cenários que exigiram detecção precisa,

principalmente os situados em limites de zonas de perigo.

Entretanto, vale ressaltar que esse tipo de sistema é aplicados apenas para

requisitos de segurança parametrizáveis, como por exemplo, trabalho em borda de

lajes, no qual é possível detectar a necessidade de barreiras nos modelos 3D por meio

de regras, no qual são instalados sensores no limite de acesso dos trabalhadores e

quanto ultrapassado esse limite, os sensores são acionados enviando sinais de

alertas local, além de mensagem para um sistema geral para que alguma medida seja

acionada pelos responsáveis.

Collins et al. (2014) buscaram com o uso do BIM 4D vincular os riscos de

segurança de andaimes e o cronograma do projeto. Os resultados mostraram que o

método aplicado favorece a conscientização do risco por parte do técnico de

segurança, devido a melhor visualização do mesmo no nível da construção.

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3.1.3 Realidade Aumentada (RA)

De acordo com Behzadan, Dong e Kamat (2015), a Realidade Aumentada (RA)

preserva a consciência do usuário sobre o ambiente real através da composição do

mundo real e dos conteúdos virtuais em um espaço 3D misto (misturado). Para isso,

a RA não deve apenas manter uma relação espacial correta e consistente entre os

objetos virtuais e reais, mas também sustentar a ilusão de que eles coexistem no

espaço aumentado.

Cheng e Teizer (2013) buscaram analisar as condições de segurança em

canteiro utilizando um conjunto de laser scanner para levantamento 3D associado a

recursos de Realidade Aumentada, permitindo a visualização de dados em tempo real.

A ideia dos referidos autores foi de avaliar simulações em diferentes cenários, levando

em consideração a identificação dos riscos durante a movimentação de equipamentos

pesados ou cargas próximas durante as operações de elevação do guindaste.

O método proposto consistiu em quatro etapas: (1) coleta de dados, (2)

processamento de dados, (3) visualização de informações e (4) tomada de decisão e

aplicação de campo (educação e treinamento). Os resultados mostraram que

importantes informações relacionadas à segurança e atividade em operações de

campo podem ser monitoradas e visualizadas automaticamente em tempo real,

proporcionando benefícios, como o aumento da consciência dos trabalhadores

(CHENG; TEIZER, 2013).

Han et al. (2009) propuseram a aplicação do modelo D4AR (realidade

aumentada 4-dimensões), no qual o modelo planejado em 4D é sobreposto com

fotografias retiradas no canteiro. Os dados fotográficos foram coletados por meio de

câmeras fixas, bem como de câmeras em modo walk-through, e o modelo 3D como

planejado foi disponibilizado pelos arquitetos e engenheiros de projetos.

O modelo proposto por Han et al. (2009) para gerenciamento de segurança,

com base nas estratégias de controle do projeto, envolveu sete etapas principais.

Sendo eles, (i) identificar categorias de atividades inseguras; (ii) atribuir pesos a cada

categoria de atividade insegura; (iii) determinar e visualizar o índice de perigo inicial.

Uma vez que o peso para cada atividade foi avaliado, o índice de perigo inicial da

atividade é obtido a partir da distribuição de frequência dos pesos; (iv) desenvolver

uma lista de verificação consistindo em disposições adequadas para cada categoria

de atividade para avaliar o risco de atividades em um local de construção; (v) marcar

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cada atividade no intervalo de 1 a 5 usando, segundo o grau de risco; (vi) avaliar o

gerenciamento de segurança usando o registro de acidentes; (vii) desenhar um gráfico

de controle para gerenciamento de segurança.

O modelo D4AR busca investigar como uma técnica de visualização pode

contribuir para o gerenciamento da segurança do canteiro (HAN et al., 2009). Segundo

os referidos autores, as fotografias fornecem informações úteis que podem ser usadas

para segurança, especialmente quando sobreposta ao modelo 4D (as-planned). O

sistema proposto se concentra na visualização de problemas (por exemplo, a

identificação de condições insegura), todavia também espera influenciar as ações e

comportamentos dos trabalhadores, porque tem a vantagem de informá-los sobre as

condições do site através da visualização (HAN et al., 2009).

Dando continuidade ao estudo, Golparvar-Fard et al. (2011) apresentam alguns

potenciais usos do modelo D4AR, dentre eles o gerenciamento da segurança e

educação e treinamento dos trabalhadores. No estudo realizado em canteiro de obra

real, foi possível visualizar detalhes como a ausência das tampas das proteções dos

vergalhões, assim como, escavações no terreno sem proteções contra queda. Em

vista disso, os autores discutem que a capacidade de zoom das imagens coletadas

permite que em alguns casos, a inspeção de segurança seja realizada remotamente,

além de diminuir a frequência das inspeções no local. Os ativos coletados podem ser

utilizados como registro, atuando como evidência na tomada de decisão perante as

irregularidades detectadas.

Kim, Kim e Kim. (2017) propõem um sistema de prevenção de riscos baseado

na visualização proativa de situações potencialmente perigosas. O sistema em

questão é composto por três módulos: (i) módulo de monitoramento de canteiro (busca

por meio de dispositivo de captura de imagem e dispositivos portáteis identificar os

perigos do canteiro); (ii) módulo de avaliação da segurança (utiliza os dados de

imagem capturados e raciocínio baseado em fuzzy para avaliar o nível de segurança

de cada objeto; e (iii) módulo de visualização (fornece informações como orientação

de perigo, distância e nível de segurança aos trabalhadores).

Para o monitoramento do canteiro utilizou-se uma câmera estacionária,

especificamente, uma televisão de circuito fechado (CCTV) e um dispositivo portátil.

A localização e a direção dos trabalhadores foram extraídas das imagens e dos dados

de orientação adquiridos a partir do dispositivo wearable (neste caso, utilizou-se o

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Google Glass). Com base nos dados coletados múltiplos objetos foram rastreados por

meio de algoritmo, gerando informações sobre potenciais perigos (tais como,

orientação e distância entre equipamentos e trabalhadores). Como variáveis de saída

tem-se os em níveis de segurança, variando de 0 a 10 (sendo 10, o nível mais seguro),

além da representação por uma seta com escala de cores (representando o vermelho

alto nível de perigo, e o verde, baixo nível de perigo) (KIM; KIM; KIM, 2017).

Segundo Kim, Kim e Kim. (2017), o método desenvolvido permite que os

trabalhadores visualizem as situações perigosas por meio do dispositivo wearable de

forma efetiva, em que os elementos perigosos, como os equipamentos, são

visualizados em forma gráfica com uma cor apropriada. A visualização das condições

de perigo permite que os trabalhadores reconheçam e, consequentemente, evitem o

perigo antes que ocorram acidentes

3.1.4 Técnicas de visão computacional

Muitos pesquisadores têm utilizados os vídeos como instrumento base para o

uso de tecnologias de detecção automática, realizada por meio da padronização de

objetos, pessoas e equipamentos em canteiro.

O estudo realizado por Yang et al. (2010) propõem um método de rastreamento

de múltiplos trabalhadores utilizando câmeras de vídeos associado a técnicas de visão

computacional, ou seja, algoritmo de rastreamento com base em métodos de

aprendizado de máquina. Neste estudo buscou-se avaliar a viabilidade da técnica para

rastreamento de diversos trabalhadores simultaneamente, a fim de otimizar o

processo de monitoramento da segurança. Este método foi testado em diferentes

cenários, entretanto, apesar da confiabilidade do desempenho, o algoritmo de

rastreamento apresentou falhas devido à mudança da aparência do trabalhador em

diferentes exposições de iluminação e sombreamento (YANG et al., 2010).

Seo et al. (2015) buscaram analisar aplicações de técnicas de visão

computacional baseada em vídeos e imagens para monitoramento da segurança em

canteiro de obras. Segundo os autores, os principais desafios do uso dessa técnica

incluem compreensão abrangente da cena, precisão de rastreamento variável pela

posição da câmera e reconhecimento de ação de múltiplos equipamentos e

trabalhadores. Além disso, algumas questões práticas foram levantadas, como, a falta

de métricas quantificáveis para avaliar as informações extraídas no contexto da

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segurança, além de problemas técnicos devido à condição dinâmica do canteiro e a

privacidade dos envolvidos (SEO et al., 2015).

Segundo Seo et al. (2015), embora as câmeras de vídeo ou de vigilância sejam

cada predominante em canteiro, o uso dessas câmeras para monitoramento de

segurança pode ser limitado devido a: (1) mudança no layout de canteiro, conforme

avança o projeto, (2) acessibilidade limitada aos espaços de trabalho e (3) frequente

oclusões quando múltiplas tarefas são realizadas em um espaço limitado. Por estas

razões, o número e a posição das câmeras devem ser cuidadosamente determinados

antes do início das atividades.

Zhu et al. (2017) apresentam um método para detecção e rastreamento de mão

de obra e equipamentos simultaneamente em canteiro de obras. Os referidos autores

discutem que a análise manual das informações contidas nos vídeos demanda tempo

e esforço, entretanto, isso não significa que os vídeos devem ser processados em

tempo real. O processamento dos vídeos está relacionado ao seu potencial de uso, e

da necessidade da informação para a tomada de decisão, podendo ser um limitante

para o uso da tecnologia (ZHU et al., 2017).

Outra dificuldade levantada pelos autores refere-se as oclusões, visto o

dinamismo das atividades nos canteiros de obras. Os resultados dos testes realizados

apontaram que a integração entre técnicas de detecção e rastreamento melhora

significativamente a recuperação dos dados, mantendo alta precisão, evidenciando o

potencial das técnicas computacionais de detecção automática.

3.2 Considerações sobre a atuação de tecnologias para segurança

No Sistema de segurança tradicional o uso de tecnologias visuais vem sendo

aplicado de forma pontual, percebe-se que apesar do potencial das tecnologias para

o planejamento, monitoramento e detecção de não conformidades, tais tecnologias

não são utilizadas de modo integrado ao sistema de gestão, de forma a contribuir

efetivamente com a melhoria dos ambientes de trabalho e redução de acidentes.

Em vista disso, buscou-se realizar levar os fatores positivos e negativos das

tecnologias BIM, realidade aumentada, técnicas de reconhecimento automático e

VANT, conforme apresentado no Quadro 1.

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Quadro 1 – Fatores positivos e negativos das tecnologias visuais

Tecnologia Fatores positivos Fatores negativos

BIM + sensores

de rastreamento

• Uso do modelo 3D para identificação dos riscos por meio de regras ou simulações de diferentes cenários;

• Uso do modelo 3D para planejamento da segurança –proteções coletivas e layout de canteiro;

• Monitoramento em campo das condições de trabalho;

• Uso de simulações no suporte ao treinamento dos trabalhadores, corroborando com o reconhecimento de zonas inseguras.

• Monitoramento apenas de objetos ou situações parametrizáveis;

• Impossibilidade de identificação de riscos relacionados a fatores humanos/organizacionais

• Dificuldade de interação direta com o trabalhador;

• Não permite a identificação das adaptações e boas práticas realizadas para a execução das atividades.

Realidade

Aumentada

• Identificação dos riscos por meio de simulações em diferentes cenários;

• aumento da consciência dos trabalhadores por meio de treinamentos;

• Impossibilidade de identificação de riscos relacionados a fatores humanos/organizacionais;

• Não permite a identificação das adaptações e boas práticas realizadas em campo para a execução das atividades.

Técnicas de

reconhecimento

automático

• Identificação dos riscos de forma automática;

• Identificação e monitoramento apenas itens parametrizáveis;

• Dificuldade de transformar as regras de segurança em linguagem de programação.

Veículos Aéreos

Não Tripulados

(VANT)

• fornecimento de informações em tempo real sobre as condições de trabalho, inclusive atos e condições inseguras (fatores humanos);

• Análise subjetiva realizada por especialista;

• capacidade de visualizar uma maior quantidade de elementos em um menor tempo;

• uso dos ativos visuais (fotos e vídeos) para promover o aprendizado baseado em fatos reais/experiências vivenciadas pelos trabalhadores em campo;

• Identificação e registro de boas práticas – monitoramento do trabalho como é realmente realizado.

• Dificuldade de interação direta com trabalhador;

• Demanda de tempo na análise dos dados;

• Dificuldade de visualização de ambientes internos;

Fonte: A autora

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Dentre as tecnologias com maior potencial de aplicação, pode-se destacar o

BIM e o VANT. O BIM tem como maior diferencial a aplicação do modelo 3D para o

planejamento da segurança alinhado à produção. Além da possibilidade de integração

com outras tecnologias favorecendo o monitoramento das condições de trabalho e a

antecipação de riscos. Entretanto, apesar dos benefícios está tecnologia tem seu

potencial limitado a aplicação a situações parametrizáveis, ou seja, a identificação de

áreas com risco de queda, como a periferia das lajes. O monitoramento atua da

mesma forma, o uso de sensores é aplicado a essas situações alertando os

trabalhadores a potenciais riscos naquele local. As tecnologias de realidade

aumentada e reconhecimento automático (visão computacional) também tem como

características principais a aplicação a situações parametrizáveis.

Observa-se que embora tais tecnologias tenham caráter proativo, é

praticamente impossível projetar dispositivos automatizados para monitorar todos os

perigos, especialmente os relacionados a fatores humanos e organizações. E diante

da complexidade e dinamismo das atividades realizada em canteiros de obras, as

tecnologias que necessitam de regras e parametrizações, como a identificação

automática por meio de visão computacional, não são suficientes no monitoramento e

antecipação dos riscos, visto a constante mudança e adaptações a situações

esperadas e inesperadas enfrentadas pelos sistemas, pessoas e organizações.

Ao contrário das demais tecnologias, o VANT atua principalmente no suporte a

coleta de dados em tempo real, podendo seu processamento ser automatizado por

meio de técnicas de reconhecimento de imagens, ou então manual, no qual a análise

das condições de segurança ocorre segundo a percepção de um especialista de

segurança. Essa característica, até então não discutida pelos estudos já realizados,

permite o uso do VANT para a identificação de zonas e atos inseguros em diferentes

contextos, levando em consideração os fatores humanos e organizacionais, sendo

possível monitorar o trabalho como é realmente executado, registrando não apenas

as não conformidades, como também os fatores de sucessos e experiências positivas

provenientes de adaptações durante a execução das atividades. Dentre as dificuldade

encontradas destaca-se a necessidade de interação direta com os trabalhadores,

especialmente em situações de perigo.

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4 MÉTODO DE PESQUISA

Esse capítulo discute sobre o método de pesquisa a ser utilizada para o

desenvolvimento do presente estudo, além de apresentar o delineamento da

pesquisa, com a descrição das etapas a serem desenvolvidas.

4.1 Estratégia de Pesquisa

O presente trabalho adotou como estratégia a pesquisa construtivista

(construtive research), também conhecido como Design Science Research (DSR),

sendo esta amplamente utilizadas em pesquisas das ciências sociais, devido ao

desenvolvimento e avaliação de artefatos visando resolver problemas do mundo real

(VAN AKEN, 2004; DRESCH, 2013). Em vista disso, a DSR tem sido aplicada em

pesquisas em gestão, devido à necessidade de descrever, entender, explicar e, se

possível, predizer soluções de problemas em um contexto real.

Para Lacerda et al. (2013), a Design Science Research é responsável por

conceber e validar sistemas que ainda não existem, seja criando, recombinando,

alterando produtos/processos/softwares/métodos visando propor soluções para os

problemas existentes. Segundo Simon (1996)6 apud Vaishnavi e Kuechler (2007), a

DSR é um campo de conhecimento sobre objetos e fenômenos artificiais projetados

para atender as metas determinadas.

Dresch (2013) discute que a DSR busca a solução de problemas específicos,

não sendo necessariamente a solução ótima, mas sim, a solução mais adequada para

os problemas em questão (DRESCH, 2013). No qual, as soluções geradas devem ser

passíveis de generalizações, favorecendo o enquadramento de problemas de uma

mesma classe (VAN AKEN, 2004; DRESCH et al., 2015).

Além disso, a DSR destaca-se como um método de pesquisa cujo domínio de

aplicação consiste nas pessoas, sistemas organizacionais e sistemas técnicos que

interagem para trabalhar em direção a um objetivo (HEVNER, 2007). Esta

característica é de extrema importância nas pesquisas aplicadas na área de gestão

da construção e segurança, visto que considera os sistemas como sociotécnicos,

mantendo as interações entre os subsistemas (pessoas, organizações e tecnologia).

6 SIMON, H. A. The Sciences of the Artificial. 3rd ed. Cambridge: MIT Press, 1996.

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49

O artefato é a organização dos componentes do ambiente interno para atingir

objetivos em um determinado ambiente externo (SIMON,1996 apud LACERDA et al.,

2013). Segundo March e Smith (1995), uma vez definidos os artefatos podem ser

classificados em: construtos, modelos, métodos e instanciações, e teoria do design

segundo Vaishnavi, Kuechler e Peter (2011).

• Constructos: também conhecidos como conceitos formam o vocabulário de

um domínio. Eles constituem uma conceituação usada para descrever

problemas e especificar suas soluções (MARCH; SMITH, 1995; VAISHNAVI;

KUECHLER; PETER, 2011).

• Modelo: é um conjunto de proposições que expressam relações entre os

constructos. March e Smith (1995) identificam modelos como declarações

de problemas e soluções.

• Método: é um conjunto de etapas (um algoritmo ou diretrizes) utilizado para

executar uma tarefa (VAISHNAVI; KUECHLER; PETER, 2011). Os métodos

são planos orientados por objetivos para manipulação dos constructos, a fim

de que proposições do modelo seja realizado (MARCH; SMITH, 1995).

• Instanciações: é a concretização de um artefato em seu ambiente. Instanciações

operacionalizam constructos, modelos e métodos (MARCH; SMITH, 1995).

• Teoria do Design: compreendido com um conjunto prescritivo de

proposições sobre como fazer algo para atingir um determinado objetivo.

Uma teoria geralmente inclui outros artefatos abstratos, como constructos,

modelos, métodos, entre outros (VAISHNAVI; KUECHLER; PETER, 2011).

Com o avanço da DSR, outros artefatos abstratos foram adicionados, tais

como, framework, arquitetura e princípios de design (VAISHNAVI; KUECHLER;

PETER, 2011), que ainda são pouco discutidos na literatura.

No que se refere a condução da DSR, diversos autores discutem sobre a

estrutura lógica ou passos do processo utilizado para a resolução dos problemas

(VAISHNAVI; KUECHLER; PETER, 2011; LACERDA et al., 2013; DRESCH et al.,

2015; WIERINGA, 2009). Segundo Lacerda et al. (2013), os passos do processo

podem ser estruturados em:

• Conscientização do problema - diz respeito à compreensão da

problemática envolvida, buscando entender os problemas de uma

perspectiva mais abrangente (ROMME, 2003; LACERDA et al., 2013);

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• Sugestão de algo (etapa de criação – protótipo) - está vinculada às

atividades de desenvolver uma, ou mais, alternativas de artefato para a

solução dos problemas, justificando os parâmetros utilizados (LACERDA et

al., 2013);

• Desenvolvimento do artefato - corresponde ao processo de constituição

do artefato em si. Entretanto, necessita-se destacar que o artefato não se

refere apenas ao desenvolvimento de produtos, incluindo a melhoria de

sistemas já existentes e criação de novas soluções e teorias (VENABLE,

2006 apud LACERDA et al., 2013);

• Avaliação do artefato - pode ser compreendida como o processo de

verificação do comportamento do artefato no ambiente para o qual foi

projetado, em relação às soluções que se propôs alcançar;

• Conclusão – esta etapa consiste na formalização geral do processo e sua

contribuição do ponto de vista teórica (acadêmico) e prático (profissional)

(LACERDA et al., 2013).

Para este trabalho, o uso do Design Science Research pode ser justificado

devido à resolução de problemas reais a partir do desenvolvimento e avaliação de

artefatos. Contudo, destaca-se que está metodologia de pesquisa busca a resolução

de um problema prático associado a uma lacuna de pesquisa levantada na literatura.

Em vista disso, este trabalho tem como problema real a ineficácia do sistema

de gestão da segurança na construção civil, especialmente nas etapas de

monitoramento e antecipação de riscos, no qual tecnologias visuais vêm sendo

aplicadas de forma pontual, não corroborando de forma efetiva com o processo de

gestão. A literatura evidencia a necessidade da adoção de novas abordagens para

impulsionar o sistema de gestão da segurança em canteiro, como o uso da engenharia

de resiliência. A engenharia de resiliência vem sendo aplicado em diversos tipos de

sistemas complexos, tais como, indústria, aviação e sistema de saúde, entretanto,

para a construção civil está abordagem ainda é pouco discutida. Além disso, este

estudo busca integrar o uso de tecnologias visuais ao sistema de gestão da

segurança, atuando no suporte a tomada segundo os pressupostos da engenharia de

resiliência.

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51

4.2 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa será conduzida com base nas seguintes etapas: (a)

conscientização do problema real de pesquisa; (b) proposta do estudo; (c)

desenvolvimento do artefato; (d) avaliação do artefato, conforme apresentado na

Figura 7. Inicialmente será realizada uma revisão da literatura sobre os seguintes

tópicos: gestão da segurança em canteiros de obras, engenharia de resiliência e uso

de tecnologias visuais (VANT, BIM, Realidade aumentada, vídeos, entre outros)

aplicado à segurança em canteiro de obras.

Figura 7 - Delineamento da pesquisa

Fonte: A autora

A etapa de conscientização do problema real tem como propósito compreender

o sistema de gestão da segurança em canteiro de obras por meio da literatura e de

estudo de caso, buscando identificar o problema real prático e teórico a ser estudado.

A partir da identificação do problema será proposto soluções visando melhorias no

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sistema de gestão da segurança por meio da integração do uso da ER e do VANT. A

etapa de desenvolvimento e implantação do artefato, que neste caso consiste no

modelo de sistema de gestão da segurança proativo assistindo por VANT, este modelo

irá levar em consideração os conceitos e princípios da engenharia de resiliência. Por

fim, o artefato será avaliado segundo o desempenho e impactos no processo de

gestão da segurança do canteiro, assim como segundo a sua utilidade.

4.2.1 Tecnologia adotada

O VANT selecionado para o projeto é um DJI Phantom 3 Advanced (Figura 8),

já adquirido pelo projeto de pesquisa em 2015. O equipamento é acoplado com

câmera Sony EXMOR ½.3”, com 12,76 pixels, gerando fotos nos formatos JPEG e

DNG, e vídeos em MP4. Tal escolha justifica-se pelo fato de ser uma tecnologia

acessível e amplamente comercializada.

Figura 8 - DJI Phantom 3 Advanced

Fonte: Projeto de Pesquisa GETEC/UFBA

4.2.2 Seleção de empresas e empreendimentos

Empresa – Construtora 1

A empresa construtora selecionada é uma empresa de grande porte com

segmento de imóveis residenciais para a classe média e média baixa, atua na

construção civil desde 1979. A empresa realiza atividades nas áreas de concepção

do projeto, incorporação e construção. Ela possui importantes certificações na área

de gestão, sendo elas, a ISO 14.001 (Gestão de meio ambiente) e a OHSAS 18.001

(Gestão e saúde e segurança do trabalho). É a primeira vez que a empresa está tendo

contato com o uso do VANT para a segurança em canteiro.

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Empreendimento A

O empreendimento A, consiste em um conjunto Habitacional de Interesse

Social (Programa Minha Casa Minha Vida), composto por 20 edificações (blocos) de

5 pavimentos cada, com 4 apartamentos por andar, totalizando 400 unidades, com

área total de 22.800 m². O prazo para execução é de 18 meses. Dentre as tecnologias

construtivas utilizada destacam-se a execução da fundação em hélice contínua e

estrutura em parede de concreto. A obra possuí um jogo completo de forma de

alumínio para a execução da estrutura em parede de concreto, o que corresponde a

1 pavimento com 4 apartamentos. Vale destacar que este empreendimento busca a

certificação de segurança OHSAS 18001.

Os empreendimentos B e C ainda não estão definidos.

4.3 Detalhamento das etapas da pesquisa

A seguir serão detalhadas as etapas da pesquisa.

4.3.1 Conscientização do problema real de pesquisa

A fase de Conscientização visa identificar o problema real a ser estudado,

buscando um melhor entendimento de como a adoção dos princípios da engenharia

de resiliência e o VANT podem contribuir com a melhoria do sistema de gestão da

segurança em canteiros de obras. Será realizado um estudo de caso em obras de

empresa parceira, com o objetivo de realizar um diagnóstico do sistema de segurança,

levantando as atividades realizadas pelo sistema de gestão.

Diagnóstico do sistema de gestão

O diagnóstico do Sistema de Gestão da Segurança será realizado levando em

consideração os requisitos utilizados no Método de Avaliação de Saúde e Segurança

do Trabalho (MASST) desenvolvido por Costella (2008), no qual leva em consideração

os critérios da OHSAS 18001 e dos princípios da ER (consciência, aprendizagem,

comprometimento da alta direção e flexibilidade). O MASST é constituído por 28 itens

distribuídos entre sete critérios de avaliação, conforme apresentado na Figura 9. No

entanto, vale ressaltar que o MASST será utilizado como instrumento de orientação

sobre quais as informações a serem coletadas para o diagnóstico, sendo adaptado ao

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contexto da construção civil e a realidade do estudo, não sendo o objetivo do

diagnóstico auditar o sistema de gestão conforme desenvolvido por Costella (2008).

Esse estudo será conduzido por meio de visitas ao canteiro para aplicações de

questionários, análise de documentos (procedimentos de segurança, checklist, entre

outros), entrevistas com todos os intervenientes (engenheiros, técnicos e

trabalhadores do campo) a fim de identificar as necessidades reais da segurança sob

a perspectiva dos envolvidos no processo de segurança.

Nesta etapa, também será realizada a identificação dos processos críticos,

buscando inicialmente levantar os principais riscos de acidentes e os procedimentos

de segurança adotados para a execução dessas atividades.

Figura 9 – Itens e Critérios do MASST

Fonte: Costella (2008)

Protocolo de coleta com VANT

Para o desenvolvimento do protocolo de coleta com VANT, serão realizados

voos com VANT em canteiro para análise das condições de segurança buscando

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analisar os fatores positivos e as não conformidades em nível operacional de canteiro,

buscando inserir de forma gradual o uso do VANT no convívio dos trabalhadores e

equipe de segurança. Busca-se nesta etapa, refinar o protocolo de inspeção

desenvolvido por Melo (2016), apresentado na Figura 10.

Figura 10 - Protocolo de inspeção de segurança com VANT

Fonte: Melo (2016)

Com base nos resultados do diagnóstico será possível identificar pontos de

melhorias no sistema de gestão da segurança por meio da integração entre

Engenharia de Resiliência e VANT.

Como produto desta etapa, espera-se: (a) gerar um framework do sistema de

gestão da segurança; (b) identificar as fontes de resiliência e fragilidade do sistema

de gestão da segurança; (c) propor um plano de ação com base nos pressupostos da

Engenharia de Resiliência buscando integrar o uso VANT de forma efetiva no

fornecimento de informações.

4.3.2 Proposta do estudo

Nesta fase do estudo, busca-se propor e testar diferentes soluções para a

resolução do problema. A proposição de soluções é fundamentada nos problemas

identificadas no diagnóstico do SGS e nas lacunas de conhecimento levantadas na

literatura. Para isso, será desenvolvido um estudo de caso visando aplicar o plano de

ação com base nos pressupostos da ER integrando o uso VANT no suporte a tomada

de decisão pela equipe de gestão da segurança.

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Busca-se com o presente trabalho propor duas propostas de estudo integrado,

sendo a primeira relacionada a proposição de um modelo de sistema de gestão da

segurança, visando fornecer uma visão macro de como o uso dos pressupostos da

ER integrando o uso VANT pode contribuir com o aumento da eficácia do sistema. A

segunda proposta é uma subdivisão da primeira proposta, no qual busca-se

desenvolver e implementar uma sistemática para o monitoramento do trabalho normal

dos processos críticos, por meio da aplicação de prototipagem com o VANT.

Ambas as propostas compreendem as etapas de: (1) planejamento das

políticas e ações de segurança; (2) monitoramento das condições de trabalho; (3)

antecipação dos riscos e conflitos entre segurança e produção; (4) capacidade de

responder aos eventos e situações identificadas em tempo hábil segundo o grau de

risco ou emergência e (5) aprendizagem com as experiências positivas e negativas,

conforme apresenta a Figura 11.

Figura 11 – Etapas adotadas na proposição de soluções

Fonte: A autora

4.3.2.1 Proposta 1 – modelo de sistema de gestão da segurança proativo

A Figura 12 apresenta o fluxo de atividades a ser desenvolvido no estudo de

caso A, a fim de testar soluções para o desenvolvimento do sistema de gestão da

segurança proativo assistido por VANT.

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Figura 12 – Fluxo de atividades para a proposição do sistema

Fonte: A autora

A etapa de planejamento consiste no alinhamento dos pressupostos da

Engenharia de Resiliência ao sistema de gestão adotado pela empresa, tomando

como base os dados provenientes do diagnóstico. O diagnóstico também contribuirá

com a compreensão da dinâmica entre segurança e produção, como as atividades

são planejadas, a integração entre as áreas e como quais os critérios adotados na

resolução de conflitos. O modelo de sistema de gestão da segurança proativo buscará

promover melhorias no planejamento entre produção e segurança, visando a

integração dos mesmos.

No monitoramento, busca-se por meio dos ativos visuais coletados com VANT

extrair informações visando o controle das condições gerais do canteiro, buscando

identificar as zonas de trabalho segura e as zonas de perigo. As zonas de perigos

sempre que identificadas, serão comunicadas aos técnicos ou responsáveis com a

maior brevidade possível, evitando situações de perda de controle que possam afetar

a continuidade das operações. A frequência do monitoramento será determinada

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segundo a complexidade do projeto e necessidade de informação para a tomada de

decisão pelo SGS e produção.

Nesta etapa é essencial o uso de checklists e procedimentos relativos aos

processos construtivos e atividades realizadas no canteiro, visto a dificuldade em

antecipar aos eventos adversos, tais como, condições inseguras e atos

comportamentais. A cada monitoramento com VANT serão enviados relatórios com o

feedback das condições gerais do canteiro e a atualização dos indicadores utilizados.

O sistema a ser desenvolvido buscará analisar os processos de tomada de decisão,

a resolução de conflitos entre produção e segurança, avaliando o tempo para a

correção ou mitigação do problema identificado e o fluxo de informações.

A aprendizagem é um dos fatores chave da Engenharia de Resiliência, logo,

serão realizados debriefing com a equipe de gestão da obra (produção e segurança)

para a discussão dos resultados encontrados, destacando as experiências de sucesso

e as oportunidades de melhorias. Será realizado debriefing com os trabalhadores, em

um nível mais operacional, a fim de promover a conscientização quanto aos riscos e

zonas seguras.

Como produto deste estágio da pesquisa propõem-se a geração de

procedimentos e protocolos a serem utilizados no sistema de gestão de forma

integrada, compreendendo as etapas de planejamento, monitoramento, antecipação,

resposta e aprendizagem. Também será definido o escopo de aplicabilidade do

modelo, levando em consideração a variabilidade e complexidade do sistema de

gestão.

4.3.2.2 Proposta 2 –prototipagem de processos críticos

A Figura 13 apresenta o fluxo de atividades a ser desenvolvido no estudo de

caso A. Esta proposta tem como propósito o monitoramento do trabalho normal por

meio de prototipagem com VANT.

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Figura 13 - Fluxo de atividades para a proposição da prototipagem

Fonte: A autora

Os processos críticos serão definidos conforme a complexidade e grau de risco

das atividades, no qual o principal objetivo consiste no monitoramento do trabalho

normal, ou seja, buscar compreender como as atividades são realizadas na prática,

identificando as diferenças entre o trabalho normal e o trabalho prescrito (baseado no

procedimento operacional utilizado pela empresa). Para facilitar a compreensão, será

utilizado o método de análise FRAM (Functional Resonance Analysis Method). Este

método busca a representação de um modelo por meio da representação de um

conjunto de funções necessárias para a execução da atividade, utilizado para

descrever a variabilidade dos processos.

Durante o planejamento da prototipagem serão realizadas entrevistas com

engenheiros de produção e técnicos de segurança visando a identificação de

experiências passadas para desenvolver boas práticas. Sistematizar as etapas que

compõem o processo crítico, classificando em atividades referentes a produção e

atividades referente a segurança. Com base na organização das etapas e metas a

serem alcançadas, será realizada uma sessão de brainstorm com equipe da

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segurança e produção visando discutir os possíveis conflitos entre produção e

segurança durante a execução do processo crítico, assim como os potenciais riscos

de acidentes. Além disso, o planejamento compreende as etapas de antecipação dos

perigos e especificação das prevenções e atribuição de recursos. Os passos adotados

para o planejamento foram baseados nos estudos de first run studies realizados por

Ballard e Howell (1997).

O monitoramento do processo crítico será realizado principalmente com o uso

do VANT, no qual, será coletado ativos visuais de todo o processo, seguindo as etapas

definidas no planejamento. Nesses casos, serão geradas sistemáticas de

monitoramento de acordo com as particularidades do processo analisado.

Por meio do monitoramento do trabalho normal, será possível identificar as

experiências de sucessos que contribuem para a finalização da atividade no prazo

determinado. O monitoramento do trabalho normal inclui a descrição das etapas,

sequência e duração do processo; das improvisações, omissões e retrabalhos

realizados pelos trabalhadores; dos acidentes, quase-acidentes e situações de

perigos que possam influenciar na operacionalidade do processo; e os recursos

utilizados (mão-de-obra, ferramentas, equipamentos, manuais de apoio, etc.).

A etapa de antecipação consiste na identificação de riscos ou conflitos futuros

que possam a vir a afetar as operações, sejam eles positivos ou negativos. Para tal,

serão utilizados os dados coletados durante o planejamento semanal ou mensal, os

dados coletados durante o monitoramento com VANT, a análise de documentos como

a Análise Preliminar de Risco (APR), a fim de reduzir ou eliminar restrições que

possam vir a influenciar na execução das atividades.

Durante a prototipagem buscará fornecer feedback sobre os riscos e situações

indesejadas identificadas durante a etapa de monitoramento e antecipação, a fim de

agilizar o processo de decisão pela equipe de segurança e produção.

Na etapa de aprendizagem será realizado sessões de debrienfing com a equipe

de gestão da obra (produção e segurança) para a discussão dos resultados

encontrados, destacando as experiências de sucesso e as oportunidades de

melhorias. Também buscará promover uma maior conscientização dos trabalhadores

por meio do uso dos ativos visuais coletados com o VANT (fotos e vídeos) em

treinamento e/ou workshop, buscando reduzir a distância entre o trabalho normal e o

trabalho prescrito e promover melhorias nas condições de segurança por meio das

experiências de sucesso em nível operacional e organizacional.

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4.3.3 Desenvolvimento

A fase de Desenvolvimento visa à construção do artefato, que no presente

trabalho envolve o desenvolvimento, implantação e validação de um modelo de

sistema gestão da segurança proativo apoiado por VANT com ênfase em processos

críticos. O desenvolvimento do modelo será baseado no refinamento dos resultados

provenientes do plano de ação, integrando todas as etapas que envolvem o sistema

de gestão. Além disso, esta etapa envolve a implantação do modelo em dois estudos

de caso em canteiros de obras com diferentes níveis de complexidade.

Nesta etapa, tem-se como principais produtos têm-se a geração de um banco

de dados de segurança (práticas de resiliência e indicadores de segurança) e o

modelo sistema de gestão da segurança proativo assistido por VANT.

4.3.4 Avaliação do artefato

A etapa final da pesquisa consiste na avaliação de desempenho, que buscará

avaliar o modelo do ponto de vista de melhorias de desempenho das condições de

segurança em canteiros e aumento da resiliência do sistema de gestão, considerando

os indicadores de segurança proativos e reativos coletados. Além de identificar o

funcionamento prático do modelo proposto, destacando as contribuições práticas e

teóricas do estudo.

Para avaliação do desempenho do modelo será proposto um conjunto de

construtos e variáveis com base na revisão da literatura e na experiência adquirida

com os estudos de caso. Os constructos possuem um significado construído

intencionalmente a partir da literatura, com o objetivo de ser traduzido em proposições

particulares observáveis e mensuráveis (MARTINS; PELISSARO, 2005), além de

serem considerados um dos tipos de artefatos segundo a Design Science Research

(MARCH; SMITH, 1995).

Para uma definição prévia dos constructos levou-se em consideração alguns

pressupostos da engenharia de resiliência, tais como: comprometimento, flexibilidade,

consciência, aprendizagem, controlabilidade, transparência e utilidade do artefato.

• Comprometimento: Nesta pesquisa, o comprometimento está

relacionado na capacidade da alta direção em priorizar à segurança

acima ou do mesmo modo que a outros objetivos da empresa;

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• Flexibilidade: está relacionado a capacidade de adaptar-se às mudanças

a fim de manter o controle em termos de SST, resistindo às pressões da

produção e externas;

• Consciência: refere-se à conscientização por todas as partes

interessadas do limite além do qual o trabalho não é mais seguro e do

seu próprio desempenho no sistema, seja em nível organizacional ou

operacional;

• Aprendizagem: está relacionado a retroalimentação dos processos

gerenciais da segurança com foco na identificação da distância entre o

trabalho prescrito e o trabalho real, na melhoria contínua dos processos

por meio das experiências corretas positivas;

• Controlabilidade: refere-se ao estado dinâmico e a capacidade do

sistema em monitorar, antecipar e responder, ou seja, ser capaz de

atingir os pontos-alvo em um determinado momento, ou intervalo de

tempo, levando em consideração a variabilidade dos processos;

• Transparência: nesta pesquisa, transparência está relacionada a

melhoria do processo de gestão visual entre segurança e produção;

• Utilidade: está relacionado com o uso e aplicabilidade do artefato

segundo o nível de complexidade do projeto e a aderência entre o uso

de tecnologias visuais, neste caso o VANT e os princípios da engenharia

de resiliência.

O Quadro 2 apresenta as variáveis e as fontes de evidência consideradas em

cada constructo.

Quadro 2- Definição preliminar dos constructos, variáveis e fontes de evidência

Constructos Variáveis Fontes de evidência

Comprometimento

• Eliminação das restrições de segurança antes do início das atividades;

• Redução dos conflitos entre segurança e produção durante a execução das atividades;

• Autonomia da segurança na tomada de decisão.

Análise documental; entrevistas, observação direta; planejamento médio e curto prazo, ativos visuais coletados com VANT e checklist de Segurança.

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Flexibilidade

• Autonomia dos trabalhadores para a adoção de medidas adaptativas.

Análise documental; entrevistas, observação direta, ativos visuais coletados com VANT e checklist de Segurança.

Consciência

• Redução de condições e atos inseguros;

• Redução de incidentes e acidentes.

Análise documental; entrevistas, observação direta, ativos visuais coletados com VANT e checklist de segurança.

Aprendizagem

• Redução da distância entre o trabalho normal e o trabalho prescrito;

• Aumento de experiência positivas.

Análise documental; entrevistas, observação direta, ativos visuais coletados com VANT, horas de treinamento/homem, checklist de segurança.

Controlabilidade

• Redução das demandas emergenciais de segurança;

• Aumento da detecção precoce de eventos adversos;

• Redução do tempo de monitoramento/itens verificados;

• Redução do tempo de intervenção da segurança;

Análise documental; entrevistas, observação direta, ativos visuais coletados com VANT, checklist de segurança.

Transparência

▪ Melhor comunicação entre a segurança e a produção;

▪ Simplificação das etapas; ▪ Facilidade de disponibilização

das informações; ▪ Agilidade na identificação dos

conflitos.

Análise documental; entrevistas, observação direta, ativos visuais coletados com VANT, checklist de segurança.

Utilidade

▪ Atendimento as necessidades de informações;

▪ Facilidade de uso do artefato; ▪ Amplitude de aplicabilidade do

artefato.

Análise documental; entrevistas, observação direta.

Fonte: A autora

Como produtos finais desta etapa têm-se a proposição de métricas para avaliar

a resiliência do sistema de gestão por meio dos constructos escolhidos; o

desenvolvimento de framework comparativo entre o sistema de gestão da segurança

tradicional e o sistema de gestão da segurança proativo e a proposição de diretrizes

para uso do modelo proposto em canteiros de obras.

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4.4 Estudo de Caso A

O estudo de caso A teve início em julho de 2017, no qual foi realizado uma

parceria com a construtora responsável pelo empreendimento. Logo após foram

realizadas algumas entrevistas e análise dos checklists de segurança já realizado pela

obra. Sendo assim, buscou-se inicialmente realizar um diagnóstico preliminar do

sistema de gestão da segurança, que consiste na compreensão preliminar do sistema

de gestão da segurança e levantamento dos pontos críticos sob a perspectiva de risco.

Além de adaptar os procedimentos de coleta de dados com VANT levando em

consideração os itens de segurança já coletados pela obra durante o monitoramento.

Cabe destacar que ainda está sendo realizado o diagnóstico mais aprofundado

do sistema de segurança, segundo os itens proposto por Costella (2008). Visto a

necessidade de coletar dados mais consistente acerca do sistema de gestão da

segurança, a fim de propor um conjunto de práticas visando a melhoria do mesmo por

meio da integração entre ER e VANT, conforme apresentado em um dos objetivos

específicos deste trabalho.

A coleta de dados com VANT teve início em outubro de 2017 durante a fase de

fundação, e teve por objetivo principal refinar o procedimento de coleta com VANT

durante as fases iniciais do empreendimento, como apresentado na Figura 14.

Figura 14 – Foto do empreendimento (overview)

Fonte: A autora (2017)

O Quadro 3 apresenta um resumo das visitas realizadas até janeiro de 2018. O

Quadro 4 apresenta o resumo dos dados coletados pelo VANT na Obra A.

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Quadro 3 – Descrição das visitas realizadas no empreendimento A

Período/ Quant. Visitas

Objetivo Atividades Realizadas

na Visita Produto

01/08/17 a 16/11/17 (3 visitas)

Diagnóstico Preliminar

(1) Entrevista com Eng. de Segurança (uma vez) e Técnico de Segurança (duas vezes).

(1) Identificação dos pontos críticos;

(2) Adaptação de checklist de monitoramento

04/10/17 a 24/01/18

(14 visitas)

Refinamento do Procedimento de coleta de dados

com VANT

(2) Monitoramento das condições de segurança com VANT;

(3) Feedback – envio de checklist de segurança.

(3) banco de dados com as boas práticas e não conformidades;

(4) indicador de conformidade/visita;

(5) Percepção dos engenheiros e técnicos sobre o uso de ativos visuais para o monitoramento e antecipação de riscos.

24/11/17 Debriefing - segurança e

produção

(4) Apresentação e discussão dos resultados preliminares

11/12/17 Debriefing com trabalhadores

(5) Workshop para apresentação das boas práticas e não conformidades observadas com VANT durante a execução das atividades

Fonte: A autora

Quadro 4 - Resumo dos dados coletados pelo VANT

Fase do Projeto

Data Quant. Fotos Duração de vídeos (min)

Duração dos voos (min)

Fundação

04/10/17 72 00:01:01 00:20:26

16/10/17 44 00:04:00 00:13:33

24/10/17 72 00:01:46 00:18:44

01/11/17 89 00:02:09 00:11:12

06/11/07 42 - 00:08:29

16/11/17 99 00:01:12 00:20:36

24/11/17 109 00:02:01 00:20:00

01/12/17 63 00:01:02 00:15:02

Lajão e instalações

06/12/17 73 00:01:33 00:13:31

15/12/17 69 00:01:39 00:14:00

21/12/17 73 00:01:39 00:12:57

11/01/18 84 00:01:13 00:18:42

19/01/18 79 00:02:33 00:14:30

24/01/18 86 00:01:52 00:15:50

Total 1054 00:23:40 00:15:32

Fonte: A autora

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66

Até o momento, foram realizados 14 voos com VANT para o monitoramento

das condições de segurança, a fim de validar o protocolo de coleta preliminar e

checklist de segurança adaptado segundo as características do canteiro. Também

foram realizadas três entrevistas com a equipe de segurança, conforme demonstrado

no Quadro 1. No total foram registradas 1.054 fotos e 23min de vídeos, no período

entre outubro de 2017 a janeiro de 2018. Os voos tiveram tempo médio de 15minutos

(Quadro 2) e foram realizados no período da manhã.

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67

4.5 Cronograma do desenvolvimento da tese

Figura 15 – Cronograma de desenvolvimento da tese

Fonte: A autora

Etapas

Início do Doutorado (Novembro 2016)

Revisão da Literatura

Disciplinas

Conscientização do problema real

Diagnóstico (Estudo de caso A)

Protocolo de Coleta com VANT (Estudo de caso A)

Defesa de Projeto

Proposta do Estudo

Implantação do plano de ação (Estudo de caso A)

Desenvolvimento do artefato

Desenvolvimento e Implantação (Estudo de caso B)

Desenvolvimento e Implantação (Estudo de caso C)

Qualificação de Projeto

Avaliação do artefato

Avaliação do artefato

Proposição de diretrizes

Ajustes finais da tese

Previsão Defesa da tese (Agosto 2020)

2016.2 2017.1 2017.2 2018.1 2018.2 2019.1 2019.2 2020.1

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