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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA MESTRADO E DOUTORADO EM ECONOMIA MAÍRA LIMA SILVA O EFEITO ESCOLA MELHORA DESEMPENHO? UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DA BAHIA Salvador 2020

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

MESTRADO E DOUTORADO EM ECONOMIA

MAÍRA LIMA SILVA

O EFEITO ESCOLA MELHORA DESEMPENHO?

UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DA BAHIA

Salvador

2020

MAÍRA LIMA SILVA

O EFEITO ESCOLA MELHORA DESEMPENHO?

UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DA BAHIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Economia da Faculdade de Economia da Universidade Federal da

Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em

Economia.

Área de concentração: Economia aplicada.

Orientadora: Prof.ª Dra. Cláudia Sá Malbouisson Andrade.

Co-orientadora: Prof.ª Sílvia Regina Ribeiro Lemos Morais.

Salvador

2020

Ficha catalográfica elaborada por Vânia Cristina Magalhães CRB 5- 960

Silva Maíra Lima.

S586 O efeito escola melhora desempenho? uma análise da educação básica no estado da Bahia./

Maíra Lima Silva. - 2020.

95 f. il.; tab.; fig.; quad.; graf.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Economia, Salvador,

2020.

Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Sá Malbouisson Andrade.

Co-orientadora: Sílvia Regina Ribeiro Lemos Morais

1.Avaliação educacional. 2. Escolas públicas – Eficácia no ensino. 3. Educação básica -

Bahia. I. Andrade, Claudia Sá Malbouisson. II. Morais, Silvia Regina Ribeiro Lemos. III.

Título. IV. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Economia.

CDD 371.26098142

TERMO DE APROVAÇÃO

MAÍRA LIMA SILVA

O EFEITO ESCOLA MELHORA DESEMPENHO? UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO

BÁSICA NO ESTADO DA BAHIA.

Dissertação de Mestrado aprovada como requisito parcial para obtenção do Grau de

Mestre em Economia no Programa de Pós-Graduação em Economia da Faculdade de

Economia da Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

(Orientadora – UFBA)

Profa. Ma. Silvia Regina Ribeiro Lemos Morais

(Coorientadora – UFBA)

Prof. Dr. Stélio Coelho Lombardi Filho

(UFBA)

(UFBA)

Aprovada em 15 de dezembro de 2020.

Praça Treze de Maio, nº 6, 2º Andar, Sala 206– Centro – Salvador – Bahia – CEP: 40.060-300. Website: http://www.ppgeconomia.ufba.br – E-mail: [email protected] – (71) 3283–7542 / 7543

Prof. Dr. Vinícius de Araújo Mendes

Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Economia

Programa de Pós-Graduação em Economia Mestrado e Doutorado em Economia

Profa. Dra. Cláudia Sá Malbouisson Andrade

Dedico este trabalho a minha família e ao meu

noivo que tanto me apoiou para realizá-lo.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, eu agradeço a Deus por ter me acompanhado até aqui, sempre me dando força

através das minhas orações.

Agradeço com carinho a minha orientadora, professora Cláudia Sá Malbouisson, pela

paciência, atenção, afeto e por todo o incentivo nesse processo de orientação. Agradeço

também a professora Silvia por toda a ajuda.

À Vânia, pela paciência e ajuda.

À minha família por todo apoio, dedicação, amor e por sempre me incentivar a realizar os

meus sonhos. Ao meu noivo, Lucas, por ter ficado ao meu lado em todos os momentos.

Aos grandes amigos que fiz na pós graduação, em especial, Aline, Inara, Joelma e Rachel. Eu

pude compartilhar momentos incríveis com vocês, tenho certeza de que as coisas seriam mais

difíceis se eu não tivesse cada uma ao meu lado.

À CAPES, pelo apoio financeiro concedido ao longo do mestrado.

Enfim, agradeço também a todos que, de alguma forma, fizeram parte dessa conquista e

torceram por isso.

RESUMO

As evidências empíricas apontam que o desempenho do aluno é influenciado por diferentes

fatores, sendo classificados em três grupos: os associados ao background familiar, ao próprio

indivíduo e os relacionados à escola. Os fatores escolares, mostra-se de extrema relevância, já

que a escola é o principal instrumento de intervenção de políticas públicas que impactam

sobre a educação de uma sociedade. O efeito escola é definido como a capacidade das escolas

afetarem os resultados de seus alunos dentro de um determinado contexto. Neste sentido, o

objetivo geral desta dissertação é verificar se o efeito escola melhora o desempenho dos

alunos. Para tanto, será utilizado o Modelo Linear Hierárquico de dois níveis a fim de

analisar os dados do Saeb do 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio no

período de 2007 a 2017 da rede pública do estado da Bahia. Os resultados indicam que o

efeito escola tende a implicar em melhores oportunidades de aprendizado para os alunos,

minimizando os efeitos adversos das condições socioeconômicas em que eles estão

submetidos. Além disso, existe uma heterogeneidade no efeito entres as unidades escolares da

rede pública da Bahia, sendo esta variação maior para o 5º ano do ensino fundamental.

Palavras-chave: Efeito escola. Desempenho. Modelo hierárquico.

ABSTRACT

Empirical evidence points out that student performance is influenced by different factors,

being classified into three groups: those associated with family background, the individual

himself and those related to school. School factors are extremely relevant, since school is the

main instrument for the intervention of public policies that impact on the education of a

society. The school effect is defined as the ability of schools to affect the results of their

students within a given context. In this sense, the general objective of this dissertation is to

verify if the school effect improves the students' performance. For this purpose, the two-level

Hierarchical Linear Model will be used in order to analyze data from the 5th and 9th grades of

elementary school and 3rd grade of high school in the period from 2007 to 2017 of the public

network of the state of Bahia. The results indicate that the school effect tends to imply better

learning opportunities for students, minimizing the adverse effects of the socioeconomic

conditions in which they are submitted. In addition, there is a heterogeneity in the effect

between school units in the public school system in Bahia, this variation being greater for the

5th year of elementary school.

Keywords: School effect. Performance. Hierarchical model.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 ‒ Evolução da taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais de 2001 a

2015 .......................................................................................................................................... 31

Gráfico 2 ‒ Evolução das matrículas por etapa de ensino da rede pública de 2007 a 2017 ..... 32

Figura 1 ‒ Evolução de matrículas por rede e etapa de ensino do estado da Bahia de 2007 a

2017 .......................................................................................................................................... 33 Gráfico 3 ‒ Número de Estabelecimentos por rede de ensino no período de 2007 a 2017 ...... 34

Figura 2 ‒ Evolução do IDEB da rede pública do Brasil e do estado da Bahia para os anos

iniciais do ensino fundamental de 2007 a 2017 ........................................................................ 35 Figura 3‒ Evolução da taxa de rendimento e Ideb para o ensino fundamental e o ensino médio

de 2007 a 2017 .......................................................................................................................... 38 Gráfico 4 ‒ Evolução da proficiência média em língua portuguesa no SAEB para o Brasil e

estado da Bahia, no período de 2007 a 2017 ............................................................................ 41

Gráfico 5 ‒ Evolução da proficiência média em matemática no SAEB para o Brasil e estado

da Bahia, no período de 2007 a 2017 ....................................................................................... 42

Gráfico 6 ‒ Taxa de distorção idade série no estado da Bahia de 2007 a 2017 ....................... 43

Figura 4 ‒ IDEB e taxa de distorção idade-série para a educação Básica de 2007 a 2017 ...... 44 Figura 5‒ IDEB e percentual de docentes com ensino superior ............................................... 45 Gráfico 7 ‒Evolução da média de alunos por turma e IDEB da rede pública do estado Bahia,

no período de 2007 a 2017 ....................................................................................................... 46

Quadro 1 ‒ Número de alunos e escolas públicas participantes do SAEB por edição e série –

Bahia 2007 a 2017 .................................................................................................................... 49 Figura 6‒ Exemplo de uma Curva Característica do Item........................................................ 52 Quadro 2 - Níveis de aprendizado dos estudantes de acordo com os escores da escala Saeb .. 54

Quadro 3 - Número de alunos por edição e série ..................................................................... 54 Quadro 4 - Codificação dos itens que compõem o INSE ......................................................... 55 Figura 7 ‒ Estrutura aninhada de dados para um modelo de regressão de dois níveis: alunos e

escolas ....................................................................................................................................... 58 Quadro 5 - Descrição das variáveis incluídas no modelo ......................................................... 64

Figura 8 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua

portuguesa segundo ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017...... 67 Figura 9 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática

segundo ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017 ........................ 68 Figura 10 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua

portuguesa segundo sexo por ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a

2017 .......................................................................................................................................... 69 Figura 11 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática

segundo sexo por ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017 ......... 69 Figura 12 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua

portuguesa segundo a cor/raça por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 ..................... 71 Figura 13 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática

segundo a cor/raça por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 ....................................... 71 Figura 14 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua

portuguesa segundo o atraso escolar por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 ........... 72 Figura 15 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática

segundo o atraso escolar por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 .............................. 73 Figura 16 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua

portuguesa segundo o NSE por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 .......................... 74

Figura 17 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática

segundo o NSE por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017 ............................................ 74 Figura 18 - Efeito escola em matemática ................................................................................. 77 Gráfico 8 ‒ Evolução da heterogeneidade das escolas em matemática, por série, no período de

2007 a 2017 .............................................................................................................................. 78

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estimativas dos coeficientes segundo a proficiência em matemática ..................... 76

Tabela 2 – Percentual de escolas com u0j (efeito da escola) inferior ou superior a 20 pontos,

no SAEB de 2007 a 2017 ................................................................................................... 77

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

2 CARACTERIZAÇÃO DO EFEITO ESCOLA ................................................... 15

2.1 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO EDUCACIONAL ...................................................... 16

2.2 EFEITO ESCOLA .................................................................................................... 18

2.3 QUALIDADE DA ESCOLA ................................................................................... 22

2.4 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DO EFEITO ESCOLA SOBRE DESEMPENHO .... 25

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA BAHIA .................. 29

3.1 CONTEXTO EDUCACIONAL DO ESTADO DA BAHIA ................................... 30

3.2 INDICADORES EDUCACIONAIS ........................................................................ 34

4 METODOLOGIA .................................................................................................. 48

4.1 DADOS................. ................................................................................................... 48

4.2 TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM (TRI) ............................................................ 50

4.3 ESCALA DE PROFICIÊNCIA DO SAEB .............................................................. 51

4.3.1 Distribuição dos estudantes por níveis de proficiência ..................................... 53

4.4 INDICADOR DE NÍVEL SOCIOECONÔMICO ................................................... 54

4.4.1 Construção do Indicador de NSE ........................................................................ 55

4.5 MODELO LINEAR HIERÁRQUICO ..................................................................... 57

4.5.1 Modelo Anova com 1 fator e efeitos aleatórios ................................................... 60

4.5.2 Regressão de médias como respostas .................................................................. 61

4.6 APLICAÇÃO DO MODELO .................................................................................. 62

5 RESULTADOS ....................................................................................................... 67

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DA PROFICIÊNCIA DO ALUNO EM LÍNGUA

PORTUGUESA E MATEMÁTICA SEGUNDO SUAS CARACTERÍSTICAS

INDIVIDUAIS ......................................................................................................... 67

5.2 ESTIMAÇÃO DO MODELO LINEAR HIERÁRQUICO DE DOIS NÍVEIS ........ 75

5.2.3 Efeito escola ........................................................................................................... 77

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 80

REFERÊNCIAS.....................................................................................................82

APÊNDICES...........................................................................................................88

APÊNDICE A- Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas ........................ 89

APÊNDICE B- Percentual de escolas com 𝑢0𝑗 inferior ou superior a 20 pontos, no saeb de

2007 a 2017 .............................................................................................................. 94

APÊNDICE C- Evolução da heterogeneidade das escolas em língua portuguesa, por série,

no período de 2007 a 2017................................................................... 95

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1 INTRODUÇÃO

As evidências empíricas mostram que a escolaridade além de gerar retornos para os

indivíduos (RESENDE; WYLLIE, 2006; BARBOSA FILHO; PESSÔA, 2008) é uma variável

significativa na determinação do desenvolvimento e crescimento econômico de um país

(MINCER,1974; MANKIW et al.,1992; CANGUSSU; SALVATO; NAKABASHI, 2010).

Barbosa Filho e Pessôa (2008) afirmam que a educação pode implicar externalidades

positivas para a sociedade, como redução da criminalidade, facilidade na comunicação,

melhores oportunidades no mercado de trabalho e maiores salários. A importância da

educação para o crescimento econômico pode ser vista pelo aumento das habilidades dos

trabalhadores, elevando de tal forma a produtividade da economia. O reconhecimento do

papel da educação tem levado, de uma maneira geral, ao aumento do investimento na área,

sobretudo na ampliação do acesso e melhoria da qualidade da educação pública. No ano de

2000, o total dos gastos públicos com educação no país representou 4,6% do PIB; no ano de

2017 esse percentual cresceu para 6,3% (BRASIL, 2020).

Uma vez identificada a importância da educação, torna-se fundamental compreender os

fatores, apontados pela literatura, que podem afetar o desempenho do aluno. Em geral,

entende-se que o desempenho educacional é influenciado por diferentes fontes: a família, o

próprio aluno e escola (BARBOSA; FERNANDES, 2001; HANUSHEK, 1986,1989;

SOARES, 2004). Esta última fonte mostra-se de extrema relevância por ser o principal

instrumento de intervenção de política pública que impacta sobre a educação de uma

sociedade. Neste sentido, tem-se a necessidade do compreender e definir da melhor forma

possível os efeitos que a escola gera sobre seus estudantes, sobretudo em termos dos

resultados obtidos no processo educacional. Esta dissertação está voltada para a análise e

discussão deste tema com foco nas escolas da rede pública do estado da Bahia.

Desde o início do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), 2007, o estado da

Bahia tem apresentado desempenho do abaixo da média nacional nos três níveis avaliados

(anos iniciais e finais do fundamental e ensino médio). Ainda que melhoras em termos

absolutos ao longo da série histórica sejam observadas, a posição relativa às demais unidades

da federação tem piorado, principalmente para o ensino médio. No IDEB de 2017, para a rede

pública, o estado teve o pior resultado do ensino médio do país, obtendo nota 2,7, abaixo da

12

meta projetada de 4,1. Nos anos finais do Ensino Fundamental, o seu IDEB foi de 3,4 e se

manteve estagnado quando comparado com o de 2015, assumindo a 25ª posição no ranking

nacional. Nos anos iniciais, apesar de ter cumprido a meta e ter aumentado de 4,4 para 4,7 em

relação a 2015, obteve a 21º pior nota entre os estados brasileiros. Portanto, a Bahia tem

registrado níveis preocupantes de desempenho escolar, expressando a necessidade de mais

estudos e pesquisas que possam contribuir para melhoria do desempenho do estado no Ideb.

É dentro dessa perspectiva que este trabalho se enquadra e busca analisar o efeito escola no

estado da Bahia. Define-se como efeito escola a capacidade das escolas afetarem os resultados

de seus alunos dentro de um determinado contexto. As pesquisas que abordam o efeito escola

sobre o desempenho dos alunos foram estimuladas após a publicação do Relatório Coleman

em 1966. Este estudo abrangeu seiscentos mil alunos em cerca de três mil escolas e tinha

como objetivo de investigar a desigualdade de oportunidades educacionais nas escolas dos

Estados Unidos. Os resultados do Relatório indicam que a escolaridade de uma criança parece

estar mais relacionada com a sua origem socioeconômica do que com os insumos escolares.

O Relatório Coleman chamou atenção não por causa da sua extensa descrição de escolas e

estudantes, mas pelas suas conclusões, gerando inúmeras críticas e pesquisas sobres os

insumos escolares e seus efeitos. Este relatório é considerado como o estudo de abordagem

empírica que inaugurou o debate sobre a função de produção educacional (HANUSHEK,

1989). Desde então, a função de produção educacional tem sido objeto de grandes discussões,

já que na literatura não existe um consenso do efeito escola sobre o desempenho dos alunos e

muitas vezes as conclusões encontradas são diferentes e até contraditórias.

Na literatura internacional não há consenso sobre a existência ou não do efeito escola.

Verifica-se estudos em que os insumos escolares parecem ter pouco efeito sobre os resultados

dos alunos, sendo o efeito da família mais significativo (JENCKS, 1972; HANUSHEK, 1986,

1989, 1997; HOXBY, 2001). Outros concluem que uma série de insumos escolares está

positivamente relacionada a um melhor desempenho dos alunos (MORTIMORE et al., 1988;

GREENWALD et al., 1996).

As evidências encontradas na literatura nacional refletem os resultados observados na

literatura internacional. Por um lado, encontra-se evidências de que os atributos escolares tem

pouco efeito sobre o desempenho escolar em relação às características familiares

13

(ALBERNAZ; FERREIRA; FRANCO, 2002). Por outro lado, tem estudos constatando que

existe o efeito escola e ainda observando que há escolas cujos alunos têm desempenho muito

melhor, evidenciando que seus projetos pedagógicos e formas de gestão são mais eficazes que

as demais (FELÍCIO; FERNANDES, 2005; SOARES; CANDIAN, 2007; ANDRADE;

SOARES, 2008).

Além do efeito escola, outro aspecto que merece destaque é a qualidade da escola, a qual pode

afetar significativamente o desempenho dos alunos (BARBOSA, 2005; BERNAL et al., 2016;

HANUSHEK; RUHOSE; WOESSMANN,2016). Entende-se por escola de qualidade aquela

que tem a capacidade de cumprir corretamente seus deveres propriamente escolares como, por

exemplo, desenvolver as competências para letramento e numeramento além de estimular o

pensamento científico e crítico na solução de problemas da sociedade (BARBOSA, 2005).

Desta maneira, essas escolas tendem a possibilitar aos seus alunos maiores ganhos de

aprendizado, amenizando os impactos de condições socioeconômicas desfavorecidas a que

estão submetidos (BARBOSA, 2005; RIANI; RIOS NETO, 2008; EGALITE, 2016).

Vale ressaltar que a relação entre qualidade da escola e desempenho escolar é difícil de

demonstrar, já que os dados disponíveis para representar a qualidade da escola podem ser

inadequados para dar conta de um conceito bastante amplo como é o de qualidade, o que

envolve muito além da infraestrutura escolar. Isso significa que as variáveis escolares

importantes para a qualidade da escola podem ser não observáveis ou não mensuráveis pelos

métodos estatísticos tradicionais.

Em vista disso, esta dissertação busca responder o seguinte problema de pesquisa: Existe o

efeito da escola sobre o desempenho dos alunos da educação básica?

Para tanto, parte-se da hipótese que o efeito escola existe e que uma escola de qualidade pode

implicar em melhores resultados de aprendizado para os alunos, reduzindo os efeitos adversos

das condições socioeconômicas a que estão submetidos. O objetivo geral é verificar se o

efeito escola melhora o desempenho dos alunos da rede pública do 5º e 9º ano do ensino

fundamental e 3º ano do ensino médio no estado da Bahia nos anos de 2007 a 2017. Os

objetivos específicos são verificar se a heterogeneidade entre as escolas aumenta ou diminui

quando se compara o ensino fundamental e o ensino médio, e analisar a heterogeneidade entre

as unidades escolares na medida que se adiciona variáveis explicativas ao modelo.

14

A relevância deste trabalho pode ser vista em razão da escola ser o principal instrumento de

intervenção de política pública que impacta sobre a educação da sociedade. Cabe mencionar

que existem fatores externos a escola que definem o seu limite de atuação, como o local, a

violência e os recursos financeiros, os quais influenciam no aprendizado do aluno. Mas há

também os fatores internos, por exemplo, a gestão da escola, que podem amenizar os

impactos desfavoráveis dos fatores externos, contribuindo para melhorar o desempenho

escolar (SOARES, 2004). Adicionalmente, porque não tem estudos sobre o efeito escola

aplicado para o estado da Bahia e o reconhecimento do papel da educação para o indivíduo e

para a sociedade como um todo.

Com a finalidade de responder os objetivos propostos, realizou-se uma análise a partir dos

dados do SAEB de 2007 a 2017, que permite avaliar o desempenho dos alunos e das escolas.

Para tanto, utilizou-se o modelo hierárquico de dois níveis, já que as pesquisas sobre efeitos

da escola são usualmente hierárquicas pela própria estrutura dos dados. Esse modelo

possibilita que cada um dos níveis da hierarquia seja especificado separadamente e, depois,

agrupado em um único modelo. Dessa forma, cada nível é formado por uma amostra aleatória

das unidades consideradas, por exemplo, o primeiro nível pode ser um grupo de alunos em

cada escola e o segundo nível, um grupo de escolas (NATIS, 2001).

Além desta introdução, esta dissertação possui mais cinco capítulos. O capítulo 2 apresenta

uma revisão da literatura sobre o efeito escola e a qualidade da escola. O capítulo 3 apresenta

uma contextualização sobre a educação básica na Bahia. O capítulo 4 apresenta a metodologia

utilizada e o capítulo 5, os resultados encontrados. Por fim, o capítulo 6 apresenta as

conclusões.

15

2 CARACTERIZAÇÃO DO EFEITO ESCOLA

O conceito de efeito escola surgiu a fim de caracterizar o impacto da escola no desempenho

dos alunos (SOARES; CANDIAN, 2007). As discussões sobre este efeito foram estimuladas

em reação aos resultados obtidos pelo Relatório Coleman, o qual encontrou que as diferenças

de desempenho entre os alunos são consequências de suas diferenças socioeconômicas e que

uma melhor distribuição dos investimentos em educação não resolveria o problema da

desigualdade racial (BROOKE; SOARES, 2008).

Contudo, este Relatório é considerado como falho devido a metodologia adotada, input-

output, em que a escola é vista como produtor automático de resultados e os processos

escolares internos tratado como se fossem uma caixa-preta (BROOKE; SOARES,2008).

Desta maneira, as pesquisas desenvolvidas sobre o efeito escola acentuava a necessidade de

abrir a “caixa preta” da escola com o intuito de estudá-la como uma organização social e

entender os processos escolares que podem gerar diferenças de eficácia de uma escola para

outra (BRESSOUX, 2003; ALVES; SOARES, 2007).

No Brasil, os estudos nessa linha começaram a se desenvolver a partir de 1995, com a

consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). O Saeb tem permitido a

análise dos sistemas educacionais em relação a sua capacidade de atendimento às crianças em

idade escolar, mas também, pela primeira vez, avaliar as características da escola em relação

ao aprendizado de seus alunos (BROOKE; SOARES, 2008; ALVES, SOARES, 2007;

SOARES; ALVES, 2013). Com base nos dados fornecidos pelo SAEB, foi criado, em 2007, o

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que é um indicador de qualidade da

educação.

De um modo geral, uma educação de qualidade busca oferecer os recursos e o devido apoio

para que todos os alunos alcancem o maior desempenho possível, de acordo com suas

capacidades (UNESCO, 2008). Dentro da perspectiva da educação de qualidade é importante

identificar os elementos que caracterizam uma escola como sendo de qualidade. De maneira

mais ampla, entende-se por escola de qualidade aquela que tem a capacidade de cumprir

corretamente seus deveres propriamente escolares como, por exemplo, desenvolver as

competências para letramento e numeramento além de estimular o pensamento científico e

crítico na solução de problemas da sociedade (BARBOSA, 2005; SOARES, 2009).

16

Em vista disso, este capítulo tem o objetivo de apresentar uma revisão de literatura do papel

da escola, assim como a sua qualidade sobre o desempenho escolar dos alunos, definindo e

verificando se existe o efeito escola e em que medida este efeito pode minimizar os impactos

das condições socioeconômicas do contexto familiar. O capítulo está dividido em quatro

seções: a primeira seção é a função de produção educacional, a segunda seção trata do efeito

escola, a terceira é sobre a qualidade e a quarta apresenta as evidências empíricas do efeito

escola sobre desempenho.

2.1 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO EDUCACIONAL

A discussão por detrás do efeito escola refere-se à função de produção educacional, em que o

resultado do processo educacional é função de um conjunto de insumos definidos no âmbito

da escola e outros fatores exógenos a escola. Uma função de produção relaciona as diferentes

quantidades de insumos com a quantidade máxima de produto que pode ser obtido. Segundo

Hanushek (1979, 1986), a importância da função de produção em sua forma básica pode ser

vista por ser uma considerável ferramenta pedagógica e por se mostrar aplicável em uma

diversidade de indústria, desde a petroquímica até a educação. O autor ainda afirma que,

provavelmente, a maior diferença entre a aplicação de funções de produção à educação a

outras indústrias está relacionada às suas implicações políticas.

Uma vez entendida o que é função de produção, a função de produção educacional pode ser

definida como uma combinação dos insumos escolares e não escolares ou inputs com os

resultados dos alunos ou outputs, buscando o uso eficiente dos recursos. Os resultados dos

alunos podem ser medidos pelo escore do teste, que é o mais utilizado; atitudes de estudantes;

taxas de frequência escolar e taxas de continuação ou abandono escolar. O primeiro estudo de

abordagem empírica a explorar a ideia de função de produção foi o Relatório Coleman,

publicado nos Estados Unidos em 1966 (HANUSHEK, 1989).

O Relatório Coleman abrangeu seiscentos mil alunos em cerca de três mil escolas em todo o

país e foi elaborado com o objetivo de investigar a desigualdade de oportunidades

educacionais nas escolas dos Estados Unidos. Os seus resultados indicam que a escolaridade

de uma criança parece estar mais relacionada com a sua origem socioeconômica do que com

os insumos escolares. Contudo, este estudo é considerado como falho e chamou atenção

devido as suas conclusões, gerando inúmeras críticas e pesquisas sobres os insumos escolares

e seus efeitos (HANUSHEK, 1979,1986,1989).

17

A função de produção educacional tem sido objeto de intenso debate, já que existem

pesquisas em torno dela que não encontram uma relação clara entre os insumos escolares e os

resultados dos alunos, sendo comum encontrar conclusões diferentes e até contraditórias. Para

Hanushek (1979) tal fato está relacionado mais aos insumos medidos, nível de agregação de

variáveis dependentes e independentes e os métodos estatísticos adotados do que a ausência

de relação entre inputs e output.

Hanushek (1979) representa a função de produção educacional da seguinte forma:

𝐴𝑖𝑡 = 𝑓(𝐵𝑖 𝑡 𝑃𝑖

𝑡 , 𝑆𝑖𝑡 , 𝐼𝑖 ) (1)

Para o estudante i, A é a realização no tempo t, 𝐵𝑖 𝑡 é o vetor de antecedentes familiares

cumulativos ao tempo t, 𝑃𝑖𝑡 o vetor de influências de pares cumulativos ao tempo t; 𝑆𝑖

𝑡 o vetor

de insumos escolares acumulados no tempo t; e 𝐼𝑖 o vetor de habilidades inatas dos

estudantes.

Hanushek (1979) descreve uma versão alternativa do modelo, muitas vezes chamada de

especificação de "valor agregado". Dessa forma, se a equação (1) se mantém em diferentes

pontos no tempo, pode-se considerar a mudança na realização entre t e t * como na equação

(2):

𝐴𝑖𝑡 = 𝑓∗(𝐵𝑖 𝑡−𝑡∗

, 𝑃𝑖𝑡−𝑡∗

, 𝑆𝑖𝑡−𝑡∗

, 𝐼𝑖,𝐴𝑖𝑡∗ ) (2)

onde os inputs são medidos ao longo do período t * a t.

O conjunto de insumos podem ser reunidos em três diferentes grupos: o contexto familiar,

representado pelas características sociodemográficas, como educação dos pais, renda e

tamanho da família; efeito dos pares são, geralmente, associados as características

sociodemográficas de outros alunos da escola; e insumos escolares que incluem formação do

professor (nível de escolaridade, experiência, sexo, raça), organização escolar (tamanho das

turmas, instalações, despesas administrativas) e os fatores comunitários (níveis médios de

gastos) (HANUSHEK, 1986, 1989). Vale ressaltar que o processo educacional é cumulativo,

ou seja, os insumos empregados em algum momento no passado tendem a influenciar os

níveis atuais de realização dos indivíduos (HANUSHEK, 2003).

18

Todd e Wolpin (2003), sinalizam que os pesquisadores ao estudarem a função de produção

educacional fazem uma analogia entre o processo de aquisição de conhecimento dos

indivíduos e o processo de produção de uma firma, buscando a combinação de insumos

escolares para criar resultados de desempenho. Essa analogia permite uma orientação sobre as

escolhas de variáveis e sobre a estimação da função de produção que pode ser por diversos

métodos, como o DEA e a fronteira estocástica. Entretanto, a estimação da função de

produção educacional apresenta dificuldades, já que muitas vezes não há informações

completas sobre os insumos escolares e familiares passados e presentes (TODD; WOLPIN,

2003).

2.2 EFEITO ESCOLA

O termo efeito escola não tem uma definição única, podendo significar os efeitos de

determinadas políticas adotadas pela escola ou a diferença entre o nível médio de desempenho

de uma escola, mantendo constante as características que os alunos têm quando entram na

instituição (RAUDENBUSH; WILLMS, 1995). Desta maneira, cada escola no sistema exerce

um efeito único sobre os resultados dos estudantes (WILLMS, 1992; TEDDLIE;

REYNOLDS, 2000). De um modo geral, o conceito de efeito escola surgiu a fim de

caracterizar o impacto da escola no desempenho dos alunos (SOARES; CANDIAN, 2007).

Uma expressão bastante confundida com os estudos da área de pesquisa de efeito escola é a

de “escola eficaz1”, que embora as duas definições sejam parecidas, influenciou no

desenvolvimento das pesquisas sobre o tema. Os estudos do efeito escola estão relacionados a

análise do impacto da escola no desempenho do aluno, pelas suas políticas e práticas internas.

Por outro lado, as pesquisas da escola eficaz têm o foco nos processos organizacionais e

pedagógicos de escolas que possuem alunos de nível socioeconômicos desfavorecido, mas

que apresentam desempenho positivos, em outras palavras, a escola eficaz agrega mais

aprendizado aos seus alunos (TEDDLIE; REYNOLDS,2000; ALVES, 2006; BROOKE;

SOARES, 2008).

Na escola eficaz, o nível de aprendizado dos alunos após certo período na escola, deve ser

maior caso o aluno estivesse fora dela, e considerasse somente o conhecimento adquirido no

1 O conceito de escola eficaz adotado neste trabalho é no âmbito educacional.

19

seu contexto familiar, amigos e das escolas anteriores (MORTIMORE, 1991 apud SOARES;

CANDIAN, 2001). O campo das pesquisas do efeito escola é mais comum nos Estados

Unidos e está mais associada a Sociologia da Educação e da Pedagogia, enquanto a de escola

eficaz é mais encontrado no Reino Unido e tem o foco maior nos modelos teóricos

provenientes da Economia e da Administração. Embora diferenciar as duas linhas seja

importante, não tem como classificar a maiorias dos trabalhos como pertencentes somente a

uma ou outra categoria (SOARES, 2004).

Pode-se identificar quatro estágios da pesquisa em eficácia escolar: o primeiro estágio,

compreende a metade da década de 1960 o até o início da década de 1970,baseou no

paradigma de insumo-produto e com foco no efeito dos recursos humanos e físicos da escola

nos resultados; o segundo estágio, do início ao final da década de 1970, introduziu variáveis

de processos escolares e variáveis adicionais de resultados; o terceiro estágio, do final da

década de 1970 até metade da década de 1980, deu ênfase a geração de programas de

melhoria escolar; o quarto estágio, do final da década de 1980 até os dias atuais, adotou os

fatores de contexto como, por exemplo, a composição do corpo discente, tipo de comunidade

da escola e tamanho da escola além de metodologias mais aprimoradas (TEDDLIE;

REYNOLDS, 2000).

As pesquisas sobre o efeito escola foram estimuladas em reação aos resultados obtidos pelo

Relatório Coleman, o qual encontrou que as diferenças de desempenho entre os alunos são

consequências de suas diferenças socioeconômicas e que uma melhor distribuição dos

investimentos em educação não resolveria o problema da desigualdade racial (BROOKE;

SOARES, 2008). Todavia, as conclusões do Relatório são alvo de controvérsias devido ao seu

desenho teórico-metodológico, baseado no modelo input-output. Este modelo ao utilizar a

regressão linear múltipla para medir o efeito das variáveis de input dos alunos e das escolas

nos resultados dos alunos não leva em conta as interações entre os dois tipos de variáveis

além de não as considerar pertencentes a diferentes níveis, micro e macro, respectivamente

(ALVES, 2006).

A metodologia adotada por Coleman é considerada como de input-output, pois existe uma

relação direta entre os insumos e os resultados, sem passar pelos processos escolares, ou seja,

as características sociais e culturais da instituição não são consideradas, assim como as

especificidades de cada escola na produção dos resultados. Neste caso, a escola é vista como

produtor automático de resultados e os processos escolares internos tratado como se fossem

uma caixa-preta (BROOKE; SOARES, 2008). Desta maneira, a pesquisa sobre o efeito

20

escola acentuava a necessidade de abrir a “caixa preta” da escola com o intuito de estudá-la

como uma organização social e entender os processos escolares que podem gerar diferenças

de eficácia de uma escola para outra (BRESSOUX, 2003; ALVES; SOARES, 2007).

Os estudos sobre os estabelecimentos de ensino aumentaram na metade dos anos 80, sendo

estimuladas pelas reformas educacionais que ocorreram em alguns países e pelo surgimento

de novas metodologias de análise, como os modelos de regressão multiníveis ou hierárquicos.

Diferentemente dos modelos de regressão múltipla que consideram os indivíduos como

unidades independentes, os modelos multiníveis medem a heterogeneidade nos resultados dos

alunos que pode ser explicada por diferentes níveis de análise como, por exemplo, a sala de

aula e a escola. Estes modelos conseguiram solucionar os problemas teóricos e metodológicos

das pesquisas educacionais produzidas nas décadas anteriores, que eram bastante criticados

(ALVES; SOARES, 2007).

No Brasil, os estudos nessa linha começaram a se desenvolver a partir de 1995, com a

consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). O SAEB tem permitido a

análise dos sistemas educacionais em relação a sua capacidade de atendimento às crianças em

idade escolar, mas também, pela primeira vez, avaliar as características da escola em relação

ao aprendizado de seus alunos (BROOKE; SOARES, 2008; ALVES, SOARES, 2008;

SOARES, ALVES, 2013). Os primeiros trabalhos publicados no Brasil são de suma

importância pelo fato de trazer novas metodologias de análise para os dados educacionais, por

exemplo, a Teoria de Resposta ao Item e os Modelos Hierárquicos que possibilitam estudar o

efeito das escolas assim como, os fatores associados ao desempenho escolar (ALVES;

FRANCO, 2008).

A Teoria de Resposta ao Item (TRI) é uma metodologia que propõe representar as

características latentes dos indivíduos, isto é, caraterísticas que não podem ser observadas

diretamente, a partir de modelos matemáticos. A proposta é representar a relação entre a

probabilidade de um aluno responder corretamente a um item e seus traços latentes, ou

habilidades na área de conhecimento a ser avaliada. Um dos pontos positivos da TRI é a

possibilidade de fazer comparações entre populações, contanto que tenham sido submetidas a

provas com alguns itens comuns, ou entre indivíduos da mesma população que fizeram provas

completamente diferentes, visto que esta metodologia considera os itens e não a prova como

um todo (VALLE,2000; ANDRADE, TAVARES; VALLE, 2000).

21

O Modelo Linear Hierárquico também pode ser encontrado na literatura como Modelo Linear

Multinível, Modelo de Efeitos Mistos, Modelos de Efeitos Aleatórios, Modelo de Regressão

com Coeficientes Aleatórios e Modelo de Componentes de Variância. Contudo, a

denominação de Modelo Linear Hierárquico reflete a estrutura dos dados. Os dados com

estruturas hierárquicas são encontrados em diversos estudos, principalmente em sistemas

educacionais, que se tem alunos agrupados em turmas, que por sua vez são agrupados em

escolas (NATIS, 2001).

Verifica-se dois conceitos de efeito-escola com base nos modelos hierárquicos. O primeiro se

refere ao modelo proposto por Raudenbush e Willms (1995), em que o cálculo do efeito-

escola é feito pelos resíduos, observando o impacto de cada escola incluídas na análise. O

segundo diz respeito a magnitude da variação entre as escolas em relação aos seus resultados,

ou seja, verifica se as escolas são mais homogêneas ou mais heterogêneas entre si (ALVES,

2007; SOARES, 2008).

De acordo com Raudenbush e Willms (1995), o efeito escola está relacionado a desempenho e

pode ser definido de duas maneiras: efeito A e efeito B. A estimação dos efeitos Tipo A e

Tipo B se baseia em um modelo que considera os diferentes fatores que afetam o resultado de

um aluno particular, medido pelo escore em algum exame. Eles descrevem o modelo da

seguinte forma:

𝑒𝑖 = 𝑓(𝑒𝑚𝑗 , 𝑏𝑖, 𝑝𝑜𝑙𝑗, 𝐸𝑗 , 𝐶𝐸𝑗 , 𝐹𝑆𝐸𝑗 , 𝛼𝑗 , 𝜀) (3)

Onde, 𝑒𝑖 é o escore do aluno; 𝑒𝑚𝑗 é o escore médio para todos os alunos no sistema escolar

distrito escolar, região, país; 𝑏𝑖 é o background do aluno; 𝑝𝑜𝑙𝑗 é a política e práticas da

escola; 𝐸𝑗 são as características da escola; 𝐶𝐸𝑗 é a composição da escola; 𝐹𝑆𝐸𝑗 são os fatores

sociais e econômicos; 𝛼𝑗 características não medida, peculiares à escola do aluno e 𝜀 o erro

aleatório.

O efeito A abrange os efeitos das políticas e práticas escolares, os efeitos da composição do

alunado da escola, os efeitos de fatores sociais e econômicos exógenos, e quaisquer efeitos

não medidos associados à escola X. Os efeitos das características básicas do background dos

alunos e o erro de medida não são inclusos. Enquanto, o efeito B considera apenas os efeitos

de políticas e práticas da escola e efeitos não medidos associados à escola X. Ademais, as

estimativas do Tipo B são obtidas por meio de modelos estatísticos, controlando as

22

influências decorrentes dos fatores sociais e econômicos que fogem do controle do sistema

escolar (RAUDENBUSH; WILLMS, 1995).

Na segunda definição, a estimativa do efeito escola é feita através do coeficiente de correlação

que varia entre 0 e 1, quanto mais próximo de 1, mais as escolas são heterogêneas entre si.

Neste sentido, Andrade e Soares (2008) destaca que essa medida era para se chamar de

heterogeneidade e não de efeito, uma vez que um aumento desse percentual não implica um

aumento do impacto provocado pela escola, mas na variabilidade dentro do grupo de escolas.

Para esta dissertação, será adotada as duas definições de efeito escola com base nos modelos

hierárquicos apresentadas acima, sendo que para a abordagem proposta por Raudenbush e

Willms (1995), a utilizada será o efeito do tipo B. A escolha do efeito do tipo B se justifica

por incluir os efeitos de políticas e práticas da escola e excluir os fatores fora de seu controle

além de ser mais adequado para a formulação de políticas públicas educacionais.

2.3 QUALIDADE DA ESCOLA

A definição de qualidade no âmbito educacional é bastante ampla, controversa e abrange três

fatores correspondentes ao processo escolar, a eficiência, a eficácia e a equidade. A escola

eficaz agrega maior aprendizado aos seus alunos, ainda que pertençam a um contexto

socioeconômico desfavorecido, ao passo que a equidade está relacionada a igualdade tanto

nas de condições de acesso à escola quanto na qualidade de ensino, não existindo diferenças

entre os indivíduos, dado o seu background familiar, gênero e raça (CASTRO, 2008). De um

modo geral, uma educação de qualidade busca oferecer os recursos e o devido apoio para que

todos os alunos alcancem o maior desempenho possível, de acordo com suas capacidades

(UNESCO, 2008).

Dentro da perspectiva da educação de qualidade é importante identificar os elementos que

caracterizam uma escola como sendo de qualidade. Na literatura, a qualidade da escola

apresenta várias definições. Alguns autores colocam que está relacionada as distintas

habilidades do professor (HANUSHEK, 1986), outros, ao nível de recursos disponíveis na

escola, distrito ou estado em que o aluno cresceu, como gastos por aluno ou a razão aluno-

professor (CARD; KRUEGER, 1992a, 1996). De maneira mais ampla, entende-se por escola

de qualidade aquela que tem a capacidade de cumprir corretamente seus deveres propriamente

escolares como, por exemplo, desenvolver as competências para letramento e numeramento

23

além de estimular o pensamento científico e crítico na solução de problemas da sociedade

(BARBOSA, 2005; SOARES, 2009).

Segundo Mello (1994 apud BARBOSA, 2005) existem nove pontos que caracterizam uma

escola como sendo de qualidade: o primeiro se refere a função do diretor da escola, que a

deve conduzir tecnicamente; o segundo diz respeito a expectativa de desempenho dos alunos

por parte dos professores e demais funcionários; o terceiro corresponde ao ambiente escolar,

que deve ser favorável ao ensino; o quarto trata dos objetivos que devem ser estabelecidos

claramente; o quinto é como o tempo está organizado na escola, já que quanto maior o tempo

gasto em atividades de ensino, maior será a sua qualidade; o sexto se refere a superação das

dificuldades; o sétimo tem como foco a qualificação dos professores; o oitavo diz respeito a

assistência do governo a escola; por fim, o nono trata da importância da participação dos pais

no processo escolar.

A criação de sistemas de avaliação educacional no Brasil permitiu que a qualidade da escola e

o aprendizado dos alunos em determinadas séries pudessem ser avaliadas. Em 1995 foi criado

o SAEB, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofertado. Em 2005, o SAEB

foi reestruturado e passou a conter a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e

Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), conhecida como Prova Brasil. O

principal objetivo da ANEB é avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência da educação

básica brasileira e o da prova Brasil é avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das

redes públicas de ensino. Em 2007, com base nos dados fornecidos pela prova Brasil, foi

criado o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), indicador de qualidade da

educação.

A qualidade da escola apresenta forte relação com o retorno econômico, pois, a partir do

momento em que os alunos aprendem mais na escola, tendem a permanecer por um tempo

maior no sistema educacional e se tornar trabalhadores mais capacitados para o mercado de

trabalho. Esse retorno parece ser superior para aqueles que frequentam a escola há mais

tempo, demonstrando que a qualidade da escola pode ser a responsável pelas diferenças de

salário (CARD; KRUEGER, 1992A, 1992B, 1996; HANUSHEK; RUHOSE;

WOESSMANN, 2016).

Os estudos sobre efeito da qualidade da escola no desempenho dos alunos têm sido bastante

discutidos após a publicação do Relatório Coleman, e tem apresentado resultados ambíguos.

Por um lado, alguns autores não conseguem encontrar impacto significativo dos insumos

24

escolares nos resultados dos alunos (CLARK, 2010). Por outro lado, vários estudos verificam

que a qualidade da escola impacta no desempenho dos estudantes (BARBOSA, 2005;

BERNAL et al., 2016; HANUSHEK; RUHOSE; WOESSMANN, 2016). Além disso, as

evidências sugerem que as escolas de boa qualidade ao possibilitar aos seus alunos maiores

ganhos de aprendizado podem compensar as condições socioeconômicas desfavorecidas do

contexto familiar (BARBOSA, 2005; RIANI; RIOS NETO, 2008, EGALITE, 2016).

Hanushek (2016) vai colocar que o Relatório Coleman mudou substancialmente a forma

como os analistas, formuladores de política e a população avaliam as escolas. Pois, antes de

Coleman, a definição de uma boa escola era dada pelos seus insumos, como gastos entre

alunos, tamanho da escola, abrangência do currículo, volumes por aluno na biblioteca,

instalações do laboratório de ciências, uso de rastreamento e indicadores similares dos

recursos alocados para a educação dos alunos. Enquanto, depois de Coleman, essa definição

se baseia nos outputs, nos ganhos de aprendizado, anos de pós-graduação em educação

continuada além de oportunidades de empregos e salários.

Bernal e outros (2016) revelou que existem duas dimensões latentes da qualidade da escola

que afetam o desempenho escolar, quais sejam a qualidade do ensino e dos recursos. Depois

de utilizar os dados do Estudo Longitudinal da Primeira Infância, observou-se uma relação

significativa entre a qualidade da escola e o desempenho do aluno se as características da

escola, como tamanho da turma e escolaridade dos professores são analisadas como medidas

ruidosas de qualidade da escola. Eles destacaram também sobre a relevância em compreender

o papel da qualidade da escola, uma vez que ignorar o seu efeito pode superestimar as

habilidades dos indivíduos.

No que se refere a construção do conceito de qualidade escolar sob a perspectiva dos pais,

Atamturk (2018) observou que esses agentes consideravam a formação acadêmica dos

professores e seu profissionalismo além dos resultados de aprendizagem dos alunos. Ansari e

Pianta (2018) apontaram que apesar dos programas pré-escolares prepararem as crianças para

o jardim de infância, os seus benefícios tendem a diminuir com o tempo em escolas de baixa

qualidade. Isso significa que se as crianças acabarem em escolas de qualidade inferior, os

benefícios escolares iniciais podem ser reduzidos.

Vale ressaltar que a relação entre qualidade da escola e desempenho escolar é difícil de

demonstrar, já que os dados disponíveis para representar a qualidade da escola podem ser

inadequados para dar conta de um conceito bastante amplo. Isso significa que as variáveis

25

escolares importantes para a aprendizagem podem ser não observáveis ou não mensuráveis

pelos métodos estatísticos tradicionais. Diferentemente para o efeito do background familiar

que é identificado por bons indicadores das condições de vida das crianças (GREMAUD;

FELÍCIO; BIONDI, 2007).

2.4 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DO EFEITO ESCOLA SOBRE DESEMPENHO

As pesquisas a respeito do efeito da escola foram estimuladas após os resultados do Relatório

Coleman indicarem que as escolas trazem pouca influência sobre o desempenho do estudante,

independentemente de seu contexto social. Essa falta de efeito significa que as desigualdades

impostas às crianças pela sua família, vizinhança ou ambientes frequentados se transforma na

falta de oportunidades que elas vão se confrontar na vida adulta (COLEMAN et al., 1966). À

vista disso, nesta seção se propõe apresentar as principais evidências empíricas encontradas na

literatura internacional e nacional do efeito escola sobre o desempenho do aluno.

Na literatura internacional, verifica-se estudos em que os insumos escolares parecem ter

pouco efeito sobre os resultados dos alunos, sendo o efeito da família mais significativo

(JENCKS, 1972; HANUSHEK, 1986, 1989, 1997; HOXBY, 2001). No entanto, outros

observam que uma série de insumos escolares está positivamente relacionado a um melhor

desempenho dos alunos (MORTIMORE et al., 1988; GREENWALD et al., 1996).

As evidências encontradas na literatura nacional também apresentam resultados ambíguos.

Por um lado, verifica-se que os atributos escolares tem pouco efeito sobre o desempenho

escolar em relação às características familiares (ALBERNAZ; FERREIRA; FRANCO, 2002).

Por outro lado, tem estudos constatando que há escolas cujos alunos têm desempenho muito

melhor, evidenciando que seus projetos pedagógicos e formas de gestão são mais eficazes que

as demais (FELÍCIO; FERNANDES, 2005; SOARES; CANDIAN, 2007; ANDRADE;

SOARES, 2008).

A respeito das escolas eficazes, Mortimore e outros (1988) apontam que essas escolas

proporcionam aos seus alunos um melhor desempenho em diferentes áreas da aprendizagem,

como leitura, escrita e matemática. Eles encontraram que as escolas que promoviam um maior

progresso em matemática tendiam a afetar positivamente os resultados em leitura, e as que

promoviam maior progresso da escrita, tendiam a influenciar nos efeitos sobre a leitura e

matemática além da frequência. Além disso, os autores chamam atenção que os efeitos dos

26

estudantes frequentarem uma determinada escola durante três anos de escola primária podem

acompanhar o aluno ao longo da sua vida educacional, refletindo no mercado de trabalho.

No debate acerca do efeito significativo dos insumos escolares no desempenho, pode-se citar

o de Greenwald e outros (1996a) com Hanushek (1996). Greenwald e outros (1996a) afirmam

que uma série de insumos escolares está positivamente relacionada aos resultados dos alunos,

já que a magnitude dos efeitos indica que aumentos nos gastos podem implicar aumentos

significativos no desempenho. Sobre este estudo, Hanushek (1996) faz uma crítica

justificando que a abordagem estatística utilizadas por eles na investigação sobre como os

recursos interferem no desempenho dos alunos é falha. Pois, algumas vezes os recursos são

utilizados de forma eficaz, enquanto em outras são empregados de forma prejudiciais para o

desempenho.

Entretanto, Greenwald e outros (1996b) rebatem dizendo que Hanushek (1996) interpreta de

forma errada o significado da variação nos efeitos dos recursos entre os estudos. Eles

observam que o dinheiro e os recursos importam para a qualidade da educação de uma

criança, logo, as políticas devem garantir que todas elas tenham oportunidades.

No estudo feito por Lee e Barro (2001), os resultados mostram que tanto os insumos

familiares quanto os recursos escolares estão relacionados com os resultados dos alunos,

medidos por pontuações de testes comparáveis a nível internacional, taxas de repetição e taxas

de abandono escolar. As características familiares, como renda e escolaridade dos pais,

apresentaram relações significativas com o desempenho dos estudantes, bem como mais

recursos escolares, por exemplo, classes menores, salários mais altos de professores e maior

duração da escola. Segundo Lee (2008), embora as conclusões de muitas pesquisas apontem

que os sistemas escolares sozinhos não são capazes de influenciar o desempenho dos alunos,

existem indícios de que algumas escolas propiciem aos indivíduos um melhor aprendizado.

No Brasil, Fletcher (1997) foi o primeiro a realizar um estudo usando dados do SAEB, de

1995, e aplicar os modelos hierárquicos de dois níveis. Ele concluiu que parte da variação dos

resultados dos indivíduos da 8ª série em matemática deve ser atribuída a heterogeneidade

entre as escolas, após o controle do nível socioeconômico. Em seguida, Soares, César e

Mambrini (2001), usando os dados da edição de 1997 e aplicando o modelo de três níveis,

aluno, escola e Unidades da Federação, encontraram que o impacto das escolas brasileiras em

relação ao ensino Matemática na 8ª série foi de 12 e 25%, variando muito entre os estados.

27

Na sequência, Ferrão e outros (2001) usando a edição do SAEB, de 1999, para a 4series do

ensino fundamental encontraram que o efeito escola varia entre as regiões. Sem o controle do

nível socioeconômico, o efeito é maior no Sudeste (39%) e menor no Norte e Sul, com 21%.

Após o controle desta variável, o efeito escola passa a ser maior no Nordeste (17%) e menor

no Sul (7,6%). Soares (2004) a partir dos dados do SAEB de 2001 fez uma análise dos

resultados do teste de matemática da 8ª série do ensino fundamental e concluiu que os

insumos escolares podem explicar 12,3% da variância total.

Felício e Fernandes (2005) também utilizou o SAEB de 2001, mas referentes às 4as séries do

Ensino Fundamental do Estado de São Paulo e observaram que o efeito escola explica entre 0

e 28,4% da desigualdade total de notas de Língua Portuguesa e entre 8,7 e 34,44% para as

notas de Matemática. Soares e Candian (2007) com base nos dados do Pisa e do SAEB de

2003, sendo este apenas para os alunos de 8a série em Matemática, mostraram que após o

controle do background familiar, existem escolas cujos alunos têm desempenho superior que

os de outras.

Gremaud, Felício e Biondi (2007) ao construírem um indicador de efeito escola (IEE)

baseados nos dados da prova brasil de 2005, definiram como efeito escola a parcela residual

da estimativa da nota média das escolas depois de controlada as características

socioeconômicas dos alunos e as características dos municípios. Eles observaram que as

escolas que alcançaram um melhor desempenho na Prova Brasil estão situadas nas regiões

que possuem condições econômicas relativamente melhores, deixando claro uma correlação

entre o desempenho dos alunos com suas com questões socioeconômicas.

Andrade e Soares (2008) ao estimar o efeito escola, verificaram quão diferentes são as escolas

brasileiras em relação ao desempenho em Matemática e Língua Portuguesa (Leitura) de seus

alunos, com base nos dados do SAEB de 1995 a 2003. Eles encontraram que para a 4ª série,

as escolas da rede particular brasileira são mais homogêneas, e a rede municipal é a mais

heterogênea de todas. Na 8ª série do fundamental, a rede particular começa a agregar escolas

mais distintas quanto ao impacto produzido por elas sobre o desempenho cognitivo de seus

alunos. Por fim, na 3ª série do ensino médio as diferenças entre o público e o privado são as

maiores que as series anteriores.

Portanto, pode-se concluir que embora exista uma série de razões para que os fatores

familiares exerçam efeito sobre o desempenho dos alunos, os efeitos escolares também têm o

seu papel. Em relação aos fatores familiares, os estudantes que possuem pais com níveis altos

28

de escolaridade e materiais de leitura sempre disponíveis são mais propensos a terem lido

livros além de terem maiores expectativas acadêmicas quando ingressam na escola. No

entanto, se as próprias escolas conseguissem compensar as diferenças do contexto familiar,

existiriam maiores chances de alcançar uma sociedade mais igual (EGALITE, 2016; SOUZA

et al., 2018).

29

3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA BAHIA

Como o objetivo geral desta dissertação é verificar se o efeito escola é relevante para o

desempenho do aluno, este capítulo propõe discutir os resultados e aspectos educacionais que

podem estar associados a este efeito para o estado da Bahia. Neste sentido, faz-se necessário

apresentar uma caracterização do sistema educacional, abordando o público alvo, a evolução

no número de matrículas, estabelecimentos de ensino, bem como os indicadores educacionais

(IDEB, taxa de distorção idade série, taxa de aprovação, reprovação e abandono, docentes

com ensino superior e média de alunos por turma) para as escolas.

Os indicadores educacionais são importantes pelo fato de trazer informações a respeito do

aprendizado dos estudantes, assim como do desempenho da escola, sendo fundamentais para a

formulação de políticas públicas com foco na melhoria do ensino escolar. Para além desta

análise, torna-se relevante averiguar as condições socioeconômicas dos alunos.

A educação básica abrange três etapas: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino

médio. A educação infantil atende as crianças de zero a três anos na creche e de quatro e cinco

anos na pré-escola. O ensino fundamental tem duração de nove anos, sendo dividido em duas

fases: a dos cinco anos iniciais e a dos quatro anos finais. O ensino médio tem duração

mínima de três anos. No Brasil, a criança deve ingressar aos 6 anos de idade no ensino

fundamental, com a expectativa de conclusão desta etapa até os 14 anos de idade, iniciar o

ensino médio com 15 anos e conclusão aos 17 anos (BRASIL, 2013).

É importante destacar que, de acordo com a Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDB) 9394/96, existe uma descentralização na oferta do ensino básico por parte dos entes

federativos: União, Distrito Federal, Estados e Municípios. A União tem o papel de coordenar

a política nacional de educação; os Estados e o Distrito Federal tem o papel de assegurar o

ensino fundamental e têm como prioridade ofertar o Ensino Médio; o Distrito Federal e aos

Municípios compete ofertar a educação infantil e como prioridade, o Ensino Fundamental.

Contudo, para o Ensino Fundamental, observa-se que na prática os Municípios estão

atendendo aos anos iniciais e os Estados os anos finais (BRASIL, 2013).

Uma vez compreendido as etapas da educação básica e a forma como é ofertada entre os entes

federativos, é pertinente entender o cenário educacional no estado da Bahia. Desta maneira, o

capítulo está dividido em duas seções. A primeira seção apresenta o contexto educacional no

estado da Bahia, abordando as condições socioeconômicas e um panorama do sistema

30

educacional, estabelecendo comparações com o Brasil. A segunda seção analisa os

indicadores educacionais para as escolas da rede pública do estado da Bahia.

3.1 CONTEXTO EDUCACIONAL DO ESTADO DA BAHIA

Faz-se necessário abordar as condições socioeconômicas do estado antes de analisar os

indicadores educacionais, visto que podem implicar nos resultados dos alunos e das escolas.

Conforme os dados do IBGE, o estado da Bahia possui uma população estimada para 2019 de

14,9 milhões de habitantes, sendo a quarta maior população do Brasil. A sua extensão

territorial é a quinta maior do país com 564. 722,611km², abrangendo 417 municípios, sendo

que 17 tem mais de 100 mil habitantes, concentrando 41,1% da população total, e o

rendimento nominal mensal domiciliar per capita é de R$ 913,00.

Em 2017, a Bahia teve uma participação relativa de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB)

brasileiro, ocupando a sétima posição. No que se refere ao PIB municipal, verifica-se que

apenas dez municípios respondem por mais 50% do PIB baiano. Além disso, os municípios

com maior PIB per capta são os que possuem um forte setor industrial e a maioria estão

localizados na Região Metropolitana de Salvador, que concentrou 44% da atividade

econômica em 2017. Este resultado evidencia a desigualdade econômica no estado que pode

implicar na heterogeneidade educacional entre os municípios.

Haja vista que a origem social dos estudantes pode refletir nos seu desempenho, é necessário

contextualizar os resultados dos indicadores educacionais (ALVES; XAVIER, 2016). Neste

sentido, vale destacar o percentual de analfabetos no estado, já que a sua existência gera

consequências ao longo da vida dos indivíduos, afetando o ambiente familiar e restringindo os

benefícios do desenvolvimento. O esperado é que pais analfabetos tenham baixas expectativas

educacionais para si e para seus filhos, já que normalmente eles priorizam o trabalho. Os

alunos de pais que não conseguiram concluir o ensino primário tendem a fazer o mesmo

(MARTINEZ; FERNANDEZ, 2010).

A taxa de analfabetismo2 apresentada neste estudo se refere a população de 15 anos ou mais

na Bahia para o período de 2001 a 2015. Os dados mostram que esta taxa reduziu

significativamente entre 2001 a 2015, caindo de 22,8% para 13,5%. No Brasil, o percentual

era de 12,5%, reduzindo para 8%. Portanto, o Gráfico 1 mostra que apesar do percentual de

2 A taxa de analfabetismo é o percentual de analfabetos (de determinado grupo etário) em relação ao total de

indivíduos (do mesmo grupo etário).

31

analfabetos no estado estar reduzindo ao longo do tempo, ainda é bastante elevado quando

comparado ao Brasil.

Gráfico 1 ‒ Evolução da taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais de 2001 a 2015

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do Observatório do PNE (2020)

O Gráfico 2 apresenta o número de matrículas na rede pública (municipal, estadual e federal)

em cada etapa de ensino. O total de matrículas na educação infantil diminuiu de 405.900 em

2007 para 352.923 em 2011 devido aqueda de matriculas na pré-escola. Este movimento pode

ser explicado pela ampliação do ensino fundamental para nove anos, em 2006, transferindo os

alunos de seis anos da pré escola para o primeiro ano do ensino fundamental.

Contudo, entre 2012 a 2017, o número de matrículas nesta etapa aumentou de 355.555 para

402.003, com a entrada significativa de alunos tanto na pré escola quanto nas creches. A

elevação dessas matrículas pode estar associada a meta do Plano Nacional de Educação (PNE)

de matricular todas as crianças de 4 a 5 anos na pré-escola até 2016 e atender, no míninimo,

50% das crianças de 3 anos na creche até 2024. Além disso, o aumento para a pré-escola pode

ter sido resultado da Lei Nº 12.796, de 4 de abril de 2013, determinando obrigatória a

frequência dos alunos a partir de 2014.

No ensino fundamental e médio houve uma redução do número de matrículas durante o

período de análise. O número de matrículas passou de 1.397.963 para 929.009, nos anos

iniciais do ensino fundamental; de 1.083.040 para 817.491, nos finais, e de 620.278 para

519.106, no ensino médio, entre 2007 e 2017. Observa-se que o total de matrículas nos anos

finais do ensino fundamental e ensino médio é inferior ao dos anos iniciais, sendo menor

ainda, no ensino médio.

0

5

10

15

20

25

Ta

xa

de

an

alf

ab

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mo

Brasil Bahia

32

Gráfico 2 ‒ Evolução das matrículas por etapa de ensino da rede pública de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do Observatório do PNE (2020)

De acordo com o estudo do Instituto Ayrton Senna, “Enfrentando os Desafios Educacionais”

de (2019), esse declínio do número de matrículas é esperado, uma vez que as Unidades da

Federação têm passado por um declínio na taxa de fecundidade, reduzindo o número de

crianças e adolescentes. Além do mais, como na maior parte das etapas a cobertura da

educação básica já é próxima à universal, com exceção das creches e do ensino médio, o

declínio da população em idade escolar e a melhora no fluxo educacional implica na queda

das matrículas. Para o ensino médio, a redução das matrículas pode estar relacionada a

diminuição de matrículas no ensino fundamental e do baixo desempenho de alguns alunos,

gerando uma menor chance de ingressar no ensino médio e de concluir esta etapa

(GREMAUD et al., 2010).

A Figura 1 mostra a distribuição dos alunos entre as redes de ensino e etapa, no período de

2007 a 2017. A rede municipal é a que atende a maior quantidade de alunos, sendo

principalmente os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental e em proporção menor os

anos finais, creche e pré-escola. Na estadual é majoritariamente o ensino médio, mas atende

também os anos finais do fundamental. Na federal, verifica-se o atendimento mais voltado

para o ensino médio. Esse resultado é esperado, visto que, com base na LDB 9394/96, a oferta

do ensino fundamental e médio é prioridade do Distrito Federal e do Estado, respectivamente.

A rede federal ainda que oferte a educação básica, atende principalmente o ensino superior.

-

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

mer

o d

e m

atr

ícu

las

Pública Creche Pré escola

Anos iniciais Anos finais Ensino médio

33

Figura 1 ‒ Evolução de matrículas por rede e etapa de ensino do estado da Bahia de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do Observatório do PNE (2020)

Na medida em que os dados mostram um decréscimo do número de matrículas, a averiguação

do número de estabelecimentos é pertinente, já que pode ter uma redução. Neste sentido, o

Gráfico 3 mostra o número de estabelecimentos de ensino por rede no período de 2007 a

2017. Como esperado, as redes municipais e estaduais apresentam um maior número, pois,

possuem uma maior quantidade de matrículas. Além disso, observa-se que houve uma

redução significativa do número de estabelecimentos da rede municipal. Essa redução do

percentual de estabelecimentos de ensino pode estar relacionado tanto a queda do número de

matriculas devido ao movimento demográfico quanto ao aumento do número de alunos

alocados nas turmas. Ressalta-se que o ideal é que a oferta de escolas seja ajustada a

quantidade de matrícula a fim de que os recursos não sejam alocados de forma desnecessária,

mas para melhoria da qualidade escolar.

0%

20%

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Rede estadual

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ícu

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Rede federal

0%

20%

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1

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5

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6

201

7

Per

cen

tual

de

matr

ícu

las

Rede municipal

34

Gráfico 3 ‒ Número de Estabelecimentos por rede de ensino no período de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do Observatório do PNE (2020)

Cabe mencionar que existe diferenças entre as redes de ensino como, pública e privada ou até

dentro da mesma rede, que podem implicar em diferenças de desempenho. Nos anos 1990 e

2000 foram adotadas medidas para reduzir as desigualdades entre os sistemas estaduais e

municipais de ensino. Tais quais, a LDB de 1996 que regulamentou as finalidades dos níveis

de ensino e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação (FUNDEB), de 2007 com o objetivo de homogeneizar os

valores custo/aluno em cada estado (ALVES; SOARES; XAVIER, 2016). Mais recentemente

teve a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), regulamentando quais as

aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras públicas e particulares da

educação básica.

3.2 INDICADORES EDUCACIONAIS

A qualidade da educação básica é medida pelo o Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica (IDEB), que é composto por dois indicadores, o de fluxo escolar e o aprendizado. O

fluxo escolar está relacionado à taxa de aprovação das escolas e é obtido através dos dados

do censo escolar. O aprendizado corresponde as médias de desempenho de língua portuguesa

e matemática nas avaliações do SAEB. Segundo Fernandes (2007), o uso destes dois

indicadores se explica por existir a possibilidade das escolas melhorem um indicador, mas

piorarem em outro, por exemplo, aumentar a aprovação, mas sem se preocupar com o

aprendizado. Desta maneira, para elevar as notas do IDEB, as redes de ensino e as escolas

precisam melhorar simultaneamente a sua taxa de aprovação e o aprendizado.

0

5000

10000

15000

20000

25000

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

mer

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tab

elec

imen

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Total Rede municipal

Rede estadual Rede federal

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1

2

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6

2007 2009 2011 2013 2015 2017

Ideb

Anos iniciais do Ensino Fundamental

Bahia

Brasil

Bahia-Meta

Brasil-Meta

As notas do Ideb são medidas a cada dois anos e podem ser calculadas para escolas,

municípios, estados, regiões e país. A forma geral do Ideb é representada da seguinte maneira:

𝐼𝐷𝐸𝐵𝑗𝑖 = 𝑁𝑗𝑖 𝑃𝑗𝑖 0 ≤ 𝑁𝑗 ≤ 10; 0 ≤ 𝑃𝑗 ≤ 1 𝑒 0 ≤ 𝐼𝐷𝐸𝐵𝑗 ≤ 10 (4)

em que,

𝑖 é o ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar;

𝑁𝑗𝑖 é a média da proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, padronizada para um

indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade escolar j, obtida em determinada edição do

exame realizado ao final da etapa de ensino;

𝑃𝑗𝑖 é o indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos alunos

da unidade escolar 𝑗;

Desde o início do SAEB, que permite avaliar a educação básica, o estado da Bahia tem

apresentado desempenho do Ideb abaixo da média nacional nos três níveis avaliados (anos

iniciais e finais do fundamental e ensino médio). Ainda que melhorias em termos absolutos ao

longo da série histórica sejam observadas, a posição relativa às demais unidades da federação

tem piorado, principalmente para o ensino médio. A Figura 2 mostra as notas do IDEB para o

ensino fundamental e médio, no período de 2007 a 2017 para Bahia e Brasil. É possível

observar que para os anos iniciais do ensino fundamental o Ideb tanto do estado da Bahia

quanto do Brasil evoluiu no período e conseguiu cumprir as metas. Todavia, na posição

relativa, o estado da Bahia em 2017 obteve a 21º pior nota entre os estados brasileiros.

Figura 2 ‒ Evolução do IDEB da rede pública do Brasil e do estado da Bahia para os anos iniciais do ensino

fundamental de 2007 a 2017

Ano Posição

2007 23º

2009 24º

2011 22º

2013 23º

2015 21º

2017 21º

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5

2007 2009 2011 2013 2015 2017

Ideb

Ensino médio

Bahia

Brasil

Bahia-Meta

Brasil-Meta

0

1

2

3

4

5

6

2007 2009 2011 2013 2015 2017

Ideb

Anos finais do Ensino Fundamental

Bahia

Brasil

Bahia-Meta

Brasil-Meta

Ano Posição

2007 22º

2009 23º

2011 23º

2013 23º

2015 24º

2017 25º

Ano Posição

2007 17º

2009 15º

2011 20º

2013 21º

2015 24º

2017 27º

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do Observatório do PNE (2020)

Para a rede pública, nos anos finais do Ensino Fundamental, as notas do IDEB do estado da

Bahia cresceram entre 2007 a 2015, mas se manteve estagnado em 2017, com a nota de 3,4,

assumindo a 25ª posição no ranking nacional. No Brasil, embora as notas do IDEB tenham

crescido no período, as metas para esta etapa também não foram alcançadas, obtendo a nota

4,4 em 2017. As metas tanto da Bahia quanto do Brasil só foram alcançadas entre 2007 a

2011.

Por fim, para o ensino médio, a Bahia só cumpriu as metas nos três primeiros anos de análise,

além de não ter mantido a tendência de crescimento das notas, obtendo em 2017, o pior

resultado do ensino médio do país, com a nota 2,7. No Brasil, encontra-se um resultado

semelhante, cumprindo a meta apenas nos três primeiros anos, e na última avaliação, a nota

foi de 3,5 e se manteve estagnada em relação a nota da avaliação do ano anterior. Portanto, os

dados evidenciam que os alunos estão obtendo um desempenho crítico nos anos finais do

ensino fundamental, que por sua vez, chegam ao ensino médio com o desempenho também

aquém do desejado.

Em razão dos resultados obtidos, faz-se o questionamento se o processo de transição entre as

três etapas de ensino pode gerar implicações sobre o desempenho do aluno. A passagem do 5º

ano para o 6º ano, por exemplo, está associada a uma série de mudanças vivenciadas pelos

alunos que muitas vezes é camuflada ou confundida com problemas da escola, principalmente

37

a pública (HAUSER, 2007). Existe a questão de a criança precisar se adaptar a um novo

espaço, as questões emocionais, biológicas e sociais. Além disso, o aluno passa por

modificações significativas no ambiente escolar como, aumento no número de professores,

sendo cada um com sua metodologia de ensino; ampliação dos conteúdos curriculares e dos

deveres de casa (ANDRADE, 2011).

A transição dos alunos para o ensino médio também é um grande desafio, já que é uma etapa

composta por adolescentes e jovens que vivem o momento da construção de suas identidades

e da sua sexualidade. Logo, o ideal é que a escola dê suporte aos seus alunos para que eles

passem por essas experiências de forma que não prejudique o seu aprendizado (UNICEF,

2018). Vale lembrar que os alunos que têm um bom aprendizado nas etapas iniciais tendem a

ter um melhor desempenho no ensino médio, reduzindo a distorção idade série e elevando o

nível de proficiência (GREMAUD et al., 2010).

Deste modo, a fim de entender o que está por trás dos resultados das notas do IDEB para o

ensino fundamental e médio é importante analisar os indicadores que compõe este índice, a

taxa de aprovação e as notas de língua portuguesa e matemática obtidas na avaliação do

SAEB. Ademais, é relevante considerar outros indicadores relacionados a escola, indicados

pela literatura que podem afetar o desempenho do aluno como, a formação de professor e a

média de alunos por turma (KRUEGER, 2001; LAZEAR, 2003).

A taxa de aprovação, reprovação e abandono compõem a taxa de rendimento nas etapas de

ensino e são calculadas com base nas informações de rendimento e movimento (aluno

falecido, deixou de frequentar ou transferido) coletadas pelo Censo Escolar. As matrículas

utilizadas para o cálculo das taxas de rendimento são aquelas relacionadas ao ensino

fundamental, ensino médio da modalidade regular e ao curso técnico integrado (ensino médio

integrado), para as quais foram informadas as situações de “aprovado”, “reprovado” ou

“abandono”. Portanto, o resultado será igual a soma dessas matrículas, obtendo 100 %

(BRASIL, 2020).

A Taxa de aprovação mostra o percentual de alunos que, ao final do ano letivo, conseguiram

obter os critérios mínimos para a conclusão satisfatória da etapa de ensino na qual se

encontrava. Logo,

𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎çã𝑜 = [

𝐴𝑃𝑅

(𝐴𝑃𝑅 + 𝑅𝐸𝑃 + 𝐴𝐵𝐴)] 𝑋 100 (4)

38

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Ideb

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Anos finais do ensino

fundamental

0

1

2

3

4

5

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20

40

60

80

100

Ideb

Tax

a d

e re

nd

imen

to

Anos iniciais do ensino

fundamental

Onde, APR é o número de matrículas aprovadas; REP é o número de matrículas reprovadas;

ABA é o número de matrículas que deixaram de frequentar.

A Taxa de reprovação mostra o percentual de alunos que, ao final do ano letivo, não

alcançaram os critérios mínimos para a conclusão da etapa de ensino na qual se encontrava.

Logo,

𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑝𝑟𝑜𝑣𝑎çã𝑜 = [

𝑅𝐸𝑃

(𝐴𝑃𝑅 + 𝑅𝐸𝑃 + 𝐴𝐵𝐴)] 𝑋 100

(5)

A Taxa de abandono mostra o percentual de alunos que deixaram de frequentar a escola após

a data de referência do Censo. Portanto,

𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑏𝑎𝑛𝑑𝑜𝑛𝑜 = [

𝐴𝐵𝐴

(𝐴𝑃𝑅 + 𝑅𝐸𝑃 + 𝐴𝐵𝐴)] 𝑋 100 (6)

A Figura 3 mostra a evolução das taxas de rendimento e Ideb para o ensino fundamental e o

ensino médio no período de 2007 a 2017. Observa-se que para os anos iniciais do ensino

fundamental, a taxa de aprovação aumentou de 73,7% em 2007 para 86,9% em 2017 e as

demais taxas diminuíram, sendo que a de reprovação reduziu de 18,5% para 10,7% e a de

abandono de 7,8% para 2,4%, em 2007 e 2017. Uma suposição para essa melhora do fluxo

escolar pode estar associada a uma menor distorção idade série e melhor desempenho.

Figura 3‒ Evolução da taxa de rendimento e IDEB para o ensino fundamental e o ensino médio de 2007 a 2017

39

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

Nos anos finais do ensino fundamental, a taxa de aprovação foi de 67,8% em 2007

aumentando para 74,4% em 2017. A taxa de reprovação foi de 19% em 2007 e 19,1% em

2017, variando pouco ao longo do período. A taxa de abandono foi de 13,2% em 2007 para

6,5% em 2017, reduzindo um pouco mais que a metade em relação ao início do período. As

notas do IDEB parecem acompanhar a trajetória das taxas de rendimento, pois, embora

tenham aumentando no período, ainda continuam aquém do desejado, da mesma maneira que

as taxas de aprovação. As taxas de reprovação e abandono continuam elevadas e são piores

que as dos anos iniciais.

No ensino médio, os resultados são ainda mais críticos, a taxa de aprovação oscilou durante o

período, aumentou de 67,6% em 2007 para 72,9% em 2017, sendo que o maior percentual foi

em 2013 com 75,8%. A taxa de reprovação foi menor em 2007 com 11,6%, atingindo 10,7%

em 2017. A taxa de abandono reduziu de 20,8% em 2007 para 9,2% em 2017, embora ainda

seja significativa. Analisando a nota do Ideb, observa-se que no período em que as notas do

Ideb diminuíram, a taxa de reprovação aumentou.

Os estudos mostram que os alunos que já foram reprovados têm um desempenho pior em

comparação aos que nunca foram reprovados (FERRÃO; BELTRÃO; SANTOS, 2002;

KARINO; LAROS, 2017; KLEIN, 2006). Assim, o aluno que é reprovado tem mais chance

de ser reprovado novamente (CRAHAY, 2006; FERRÃO; COSTA; MATOS, 2017) e de

abandonar a escola sem concluir a educação básica (SIMÕES, 2016). O abandono escolar

pode ser influenciado pelas características familiares; desinteresse nas atividades escolares; a

baixa expectativa de retorno de seus estudos; atração ao mercado de trabalho, como forma de

complementar a renda familiar ou seu desejo em ter o seu próprio dinheiro; a gravidez

0

1

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Ideb

Tax

a d

e re

nd

imen

to

Ensino médio

40

precoce ou a necessidade de cuidar de familiares. Deste modo, deve haver o controle de faltas

e a busca ativa3 dos alunos para identificar os motivos de não permanecerem na escola.

Tendo em vista os impactos da reprovação sobre o abandono, é importante verificar os fatores

que melhoram o fluxo escolar, elevando a taxa de aprovação. A melhora na taxa de

aprovação e continuação dos estudos está associada as características individuias do aluno; do

ambiente familiar, destacando a escolaridade dos pais e o nível socioeconômico; e a qualidade

da escola (ALBERNAZ; FERREIRA; FRANCO, 2002; SOUZA, PONCZEK, OLIVA, 2011).

Ademais, é fundamental políticas tanto públicas quantos escolares que façam com que os

alunos se sintam motivados e que o aprendizado lhe trará benefícios ao longo de sua vida

(SOARES, 2015).

Em relação as notas do SAEB, estas são obtidas a partir das avaliações que medem a

proficiência dos alunos em língua portuguesa e matemática para o ensino fundamental e o

ensino médio. A escala do SAEB de língua portuguesa para o 5º ano varia de menor que 125

pontos a maior que 325; 9º ano varia de 200 a maior que 375; 3º ano do ensino médio varia de

225 a maior que 400. Em matemática a escala do 5º ano varia de menor que 125 a maior que

350; 9º ano varia de 200 a maior que 400; 3º ano do ensino médio varia de 225 a maior que

450. Os testes de língua portuguesa para o 5º e o 9º ano do ensino fundamental e para a 3ª ano

do ensino médio têm foco em leitura. Para matemática, os testes do 5º e do 9º ano do ensino

fundamental e do 3ª ano do ensino médio o foco é na resolução de problemas (SAEB, 2017).

O Gráfico 4 mostra a proficiência média dos alunos no ensino fundamental e médio para o

Brasil e estado da Bahia em língua portuguesa. No estado da Bahia, observa-se que no 5º ano

do ensino fundamental, ainda que tenha apresentado alguns períodos de queda, a média

aumentou de 162,08 em 2007 para 190,52 em 2017. No Brasil, as médias nos dois primeiros

anos foram parecidas com as da Bahia, mas entre 2011 a 2017, as médias para o Brasil

atingiram valores maiores. No 9º ano do ensino fundamental, a proficiência média no estado

da Bahia aumentou de 223,88 em 2007 para 235,71 em 2017. As médias para o 9º ano no

Brasil foram maiores que as da Bahia em todo o período. No estado da Bahia para o 3º ano do

ensino médio, a média diminuiu de 250,13 em 2007 para 242 em 2017. No Brasil, apesar da

média ter aumentado de 254,07 em 2007 para 259,68 esse crescimento foi pequeno.

3 A Busca Ativa Escolar é uma plataforma gratuita, desenvolvida pelo UNICEF, para ajudar os municípios a

combater a exclusão escolar. Através da plataforma é possível identificar as crianças ou adolescentes que estão

fora da escola e tomar as medidas para garantir a matrícula e a permanência desses alunos na escola.

41

Gráfico 4 ‒ Evolução da proficiência média em língua portuguesa no SAEB para o Brasil e estado da Bahia, no

período de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

O Gráfico 5 mostra a proficiência média dos alunos no ensino fundamental e médio para o

Brasil e estado da Bahia em matemática. No estado da Bahia, para o 5º ano do ensino

fundamental, a média aumentou de 177,23 em 2007 para 198,84 em 2017, superando a

proficiência média em língua portuguesa em quase todas as edições analisadas do Saeb. No

Brasil, a média foi maior em todo o período de análise comparado com o estado da Bahia. No

9º ano do ensino fundamental, diferentemente do resultado encontrado em língua portuguesa,

a proficiência média no estado da Bahia diminuiu de 234,53 em 2007 para 233,76 em 2017.

As médias para o 9º ano no Brasil foram maiores que as da Bahia em todo o período, obtendo

240,56 em 2007 a 250,07 em 2017. Por fim, para o 3º ano do ensino médio, a média diminuiu

de 261,30 em 2007 para 242,87 em 2017, resultado análogo ao obtido em língua portuguesa.

No Brasil, as médias foram de 263,66 em 2007, caindo para 259,69 em 2017, sendo esta,

próxima a encontrada em língua portuguesa.

0

50

100

150

200

250

300

2007 2009 2011 2013 2015 2017

Pro

fici

ên

cia

dia

5º ano EF-Bahia 5º ano EF-Brasil 9º ano EF-Bahia

9º ano EF-Brasil 3º ano EM-Bahia 3º ano EM-Brasil

42

Gráfico 5 ‒ Evolução da proficiência média em matemática no SAEB para o Brasil e estado da Bahia, no

período de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

Uma melhora nos resultados da taxa de aprovação e nas notas do SAEB, e por conseguinte,

nas notas do Ideb tendem a refletir nos resultados de outro indicador, a distorção idade série.

A distorção idade-série é um indicador que permite identificar o percentual de alunos em cada

série com idade superior à que seria recomendada. Neste sentido, este indicador é definido

como a proporção de alunos com mais de 2 anos de atraso escolar, seja porque foi reprovado

ou por ter abandonado a escola. Assim, o aluno acaba repetindo a mesma série e ficando com

uma defasagem em relação a idade adequada para cada ano escolar. A fórmula deste indicador

é descrita da seguinte forma:

𝑇𝐷𝐼𝑘 =

𝑀𝐴𝑇_𝐷𝑘

𝑀𝐴𝑇𝐾 × 100 (7)

Onde 𝑀𝐴𝑇_𝐷𝑘 é a soma das matrículas na série k, acima da idade recomendada; 𝑀𝐴𝑇𝐾 é a

matrícula total na série k e k é a série, ou grupo de séries.

O Gráfico 6 mostra o comportamento da taxa de distorção idade série, evidenciando que

embora esteja reduzindo ao longo do tempo, ainda é significativa, com mais de 40% dos

estudantes em atraso escolar para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio.

0

50

100

150

200

250

300

2007 2009 2011 2013 2015 2017

Pro

fici

ên

cia

dia

5º ano EF-Bahia 5º ano EF-Brasil 9º ano EF-Bahia

9º ano EF-Brasil 3º ano EM-Bahia 3º ano EM-Brasil

43

Gráfico 6 ‒ Taxa de distorção idade série no estado da Bahia de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

A Figura 4 relaciona o IDEB das escolas da rede pública com a distorção idade série para

cada etapa de ensino da rede pública, no período de 2007 a 2017. A combinação entre as duas

variáveis tem o propósito de averiguar se uma melhora (piora) na nota do Ideb pode refletir

em uma melhora (piora) da distorção idade série, já que é apontado pela literatura

(GREMAUD et al., 2010; FRANCO; MENEZES FILHO, 2017). As notas do IDEB para os

anos iniciais mostram crescimento ao longo do tempo, avançando de 3,2 para 4,7 e, como

esperado, a taxa de distorção idade-série reduziu, atingindo 24,5% em 2017, sendo 17% a

menos que em 2007.

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2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017Tax

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Anos iniciais do EF Anos Finais do EF Ensino Médio

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Ideb

Ensino Médio

Figura 4 ‒ Ideb e taxa de distorção idade-série para a educação Básica de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

Nos anos finais do ensino fundamental, em geral, as notas do IDEB aumentaram passando de

2,8 para 3,4, a distorção idade série diminuiu 54,4% para 45,2%, entre 2007 a 2017, mas esses

resultados ainda estão aquém do desejado. No ensino médio, as notas do IDEB e a taxa de

distorção idade oscilaram, com alguns períodos de queda ou de crescimento. A nota do IDEB

diminuiu de 2,8 em 2007 para 2,7 em 2017. A distorção idade série reduziu de 64,1% em

2007 para 46,9%, mas continua bastante elevada, com quase 50% dos alunos do ensino médio

em atraso escolar.

Em relação a formação de professores, o Art. 62 da Lei Nº 9.394 de 1996, assegura, que os

docentes, para atuar na educação básica, devem ter nível superior em curso de licenciatura

plena admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e

nos cinco primeiros anos do ensino fundamental (BRASIL, 1996). Adicionalmente, em 2009,

o Ministério da Educação lançou o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação

Básica (PARFOR), com o objetivo de permitir a professores em exercício na rede pública de

educação básica o acesso à formação superior exigida na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB).

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Ideb

Anos iniciais do ensino

fundamental

A Figura 5 mostra a evolução da nota do Ideb e do percentual de professor com curso

superior. O percentual de professores com ensino superior aumentou de 29,5% para 61,1%,

nos anos iniciais do ensino fundamental, de 50,8% para 75,9%, nos anos finais, de 70,4% para

90,5%, no ensino médio, em 2011 e 2017. Os resultados encontrados no gráfico corroboram

com a literatura no sentido que um maior nível de escolaridade do professor faz com que se

eleve o desempenho médio dos alunos que a frequentam (ALBERNAZ; FERREIRA;

FRANCO, 2002). Além do mais, espera-se que professores mais motivados e talentosos

contribuam no aprendizado dos alunos.

Figura 5‒ IDEB e percentual de docentes com ensino superior

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

A média de alunos por turma é um indicador que permite avaliar o tamanho médio das turmas

em diferentes etapas de ensino, redes de ensino e níveis territoriais (escolas, municípios,

unidades da federação). Este indicador é o resultado do quociente entre a matrícula inicial e o

total de turmas informadas na data de referência do censo escolar. Embora tenham estudos

não encontrando impacto significativo sobre o tamanho da turma (HANUSHEK,1998, 2005),

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fundamental

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Anos finais do ensino fundamental

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Ide

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turm

a

Ensino médio

outros apontam que os alunos matriculados em turmas menores tendem a ter um melhor

desempenho (URQUIOLA, 2000; KRUEGER, 2001; LAZEAR, 2003).

De acordo com a Portaria Nº 854 de 2019 emitida pela Secretaria da Educação do estado da

Bahia, o número de estudantes por turma deve ser 25 para 1º e 2º ano do fundamental, 30

alunos do 3º ao 5º ano e 35 alunos do 6º ao 9º ano. Para o ensino médio a portaria estabelece

40 alunos por turma (BAHIA, 2019). O Gráfico 7 apresenta a trajetória da média de alunos

por turma e Ideb nas três etapas avaliadas. Observa-se movimento descendente entre 2007 e

2014, para o conjunto, mas estabilizando ou crescendo entre 2014 e 2017. Esta redução do

número médio de alunos por turma pode ter sido influenciada pela queda do número de

matrículas. O aumento da nota do Ideb acompanha a redução da média de alunos por turma,

todavia, a partir de certo patamar, essas reduções podem ser pouco eficazes no impacto sobre

o aprendizado (OLIVEIRA, 2010).

Gráfico 7 ‒Evolução da média de alunos por turma e Ideb da rede pública do estado Bahia, no período de 2007 a

2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do INEP (2020)

47

A proposta deste capítulo foi contextualizar os resultados dos indicadores educacionais a

partir de informações do sistema educacional e das condições socioeconômicas do estado da

Bahia. Existe uma disparidade econômica dentro do estado que podem implicar na

desigualdade educacional entre os munícipios e até na heterogeneidade entre escolas. Isto é,

podem ter escolas muitos boas ou muito ruins nas diferentes redes de ensino ou até dentro da

mesma rede. Os resultados dos indicadores educacionais estão aquém do desejado,

principalmente para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio, em que mais de

40% dos estudantes estão em atraso escolar.

Considerando que a melhoria do desempenho da etapa anterior reflete no aprendizado da

etapa seguinte e que os alunos que são reprovados tendem a abandonar a escola, é importante

garantir que os alunos obtenham o aprendizado adequado para o seu ano escolar. Dentre os

fatores que tendem a gerar um melhor desempenho do aluno estão os relacionados ao próprio

indivíduo, ao ambiente familiar e os fatores escolares. Os fatores escolares mostram-se de

suma relevância, já que a escola é principal instrumento de intervenção de política pública

para melhorar a educação de uma sociedade. Neste sentido, a escola pode garantir um

desempenho adequado dos alunos e amenizar os impactos dos contextos familiares

desfavoráveis.

48

4 METODOLOGIA

O capítulo propõe descrever a metodologia utilizada neste estudo, discutindo as características

da base de dados e do modelo de regressão. Primeiramente é apresentada a base do SAEB, em

seguida é discutido a teoria da resposta ao item, já que é feita a comparação do desempenho

dos alunos em diferentes edições DO SAEB. Ademais, é apresentada a escala de proficiência

do Saeb e o cálculo do indicador do nível socioeconômico. Como o INEP já disponibiliza o

cálculo da proficiência no banco de dados, será construído apenas o indicador do nível

socioeconômico, que só é disponibilizado a partir de 2014 e não tem informações para os

alunos, apenas para as escolas.

4.1 DADOS

Este estudo utiliza os microdados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),

conjunto de avaliações realizadas em larga escala, que permite monitorar a educação básica

brasileira e os fatores que podem afetar o desempenho dos estudantes. O SAEB é coordenado

pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),

autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação. Por meio de testes e questionários,

aplicados a cada dois anos na rede pública e uma amostra da rede privada, o SAEB avalia os

níveis de aprendizagem demonstrados pelos estudantes, explicando esses resultados com base

em informações contextuais.

A primeira edição do SAEB foi de 1990, avaliando uma amostra das escolas públicas para 1ª,

3ª, 5ª e 7ª séries do ensino fundamental, das disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática,

Ciências Naturais e Redação. Desde então o Saeb tem passado por algumas modificações,

como nas disciplinas avaliadas, público-alvo e nas Matrizes de Referência, definida como

conjunto de conteúdo e habilidades a serem avaliados em cada área do conhecimento.

Contudo, umas de suas mudanças mais significativas dizem respeito a estrutura, abrangendo

três avaliações: ANEB (2005), Prova Brasil (2005) e a ANA em (2013), bem como na

metodologia de análise, incorporando a Teoria de Resposta ao Item.

Outra importante mudança do SAEB foi o levantamento de dados contextuais por meio de

questionários (1995) e a criação do IDEB (2007). Por fim, na sua edição de, 2017, a avaliação

torna-se censitária para a 3ª ano do ensino da rede e as disciplinas avaliadas são língua

49

portuguesa e matemática. Neste sentido, a criação do SAEB permitiu avaliar as características

da escola em relação ao aprendizado de seus alunos.

Uma desvantagem do SAEB é que seu formato não é longitudinal, o que permitiria comparar

o conhecimento do aluno no momento inicial até o fim da sua trajetória escolar, sendo o mais

adequado para estimar o efeito escola. No entanto, os dados do SAEB são os melhores dados

brasileiros existentes para esse tipo de estudo, sendo bastante utilizados em diversas pesquisas

(BARBOSA; FERNANDES, 2001; SOARES, 2004; SOARES; CANDIAN, 2007; ALVES;

FRANCO,2007; ANDRADE; SOARES, 2008).

Para esta dissertação serão utilizados os dados do SAEB de 2007 a 2017 para o 5º e 9º do

ensino fundamental e 3º do ensino médio da rede pública do estado da Bahia4. Considerou-se

como rede pública as escolas municipais e estaduais, excluindo-se as federais em razão de ter

uma parcela pequena de alunos e um perfil diferenciado das demais redes5. O Quadro 1

mostra o número de matrículas e escolas abrangidos nas análises conforme a série e o ciclo do

SAEB para os alunos da rede pública do estado da Bahia, visto que são o foco desta pesquisa.

Quadro 1 ‒ Número de alunos e escolas públicas participantes do SAEB por edição e série – Bahia 2007 a 2017

Edição do

Saeb

Número de

alunos do

5º ano

Número de

alunos do 9

º ano

Número de

alunos do

3º ano do

EM

Número de

escolas do

5º ano

Número de

escolas do

9º ano

Número de

escolas do

3º ano do

EM

2007 124.968 95.189 - 2.556 1.436 -

2009 224.015 203.541 - 3.268 2.247 -

2011 188.280 171.691 2.686 3.439 2.351 44

2013 181.394 174.699 2.963 3.298 2.306 47

2015 172.511 167.928 2.824 3.219 2.280 46

2017 181.979 171.118 90.884 4.036 2.541 901

Fonte: Elaboração do autor (2020)

A comparação do desempenho dos alunos das diferentes séries e edições do SAEB é possível

devido a técnica utilizada nesta avaliação, a Teoria da Resposta ao Item. O INEP já

disponibiliza o cálculo da proficiência de língua portuguesa e matemática dos alunos na escala

única do SAEB, com média = 250, desvio = 50 (do SAEB/97), deste modo, neste estudo será

feito apenas o cálculo do indicador do nível socioeconômico.

4 Nas edições de 2007 e 2009 foi utilizado os dados da Prova Brasil, que contempla os alunos do 5º ano e do 9º

ano do ensino fundamental, em todas as escolas públicas com 20 ou mais alunos nas séries testadas. Dessa

forma, as estimações para o 3º ano do ensino médio foram realizadas baseada nas edições do SAEB de 2011 a

2017.

5 As escolas federais normalmente possuem um rigoroso processo de seleção de alunos na entrada e respondem

por pequena participação das matrículas (ALVES, 2007). Além disso, o nível socioeconômico dos alunos das

escolas federais se assemelha mais com o dos alunos das escolas privadas (ALVES; SOARES; XAVIER, 2014).

50

4.2 TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM (TRI)

A Teoria de Resposta ao Item (TRI) propõe representar a relação entre a probabilidade de um

aluno responder corretamente a um item e os seus traços latentes, proficiência ou habilidades

na área de conhecimento a ser avaliada. A TRI surgiu nos anos 50, mas somente na década de

80 passou a ser aplicada nas avaliações educacionais a fim de aprimorar a Teoria Clássica. A

principal característica da Teoria Clássica é que as análises sobre os indivíduos estão

relacionadas a prova como um todo, limitando a comparação entre indivíduos que foram

submetidos às mesmas provas.

De outra maneira, a TRI, baseia-se nas análises dos itens e não de toda a prova, permitindo a

comparação entre os indivíduos da mesma população que tenham sido submetidos a provas

com alguns itens comuns ou comparação entre indivíduos da mesma população que tenham

sido submetidos a provas totalmente diferentes. Esta é considerada umas das grandes

vantagens da TRI em relação a Teoria Clássica (VALLE, 2000; ANDRADE et al., 2000).

Dentre os estudos que deram origem a TRI, um dos mais importantes foi o de Lord (1952,

1953), visto que além de construir um modelo teórico, elaborou métodos para estimar os

parâmetros dos itens dentro da nova teoria, a partir do modelo da ogiva normal. Lord (1952)

introduziu o modelo unidimensional de dois parâmetros para respostas dicotômicas e

posteriormente propôs o modelo de 3 parâmetros (PASQUALI; PRIMI, 2003).

Mais tarde, o estudo de Lord foi sucedido por outros como Birnbaum (1968), que utiliza a

função logística em vez da ogiva nominal; o de Rasch (1960), que trabalhou num modelo

unidimensional de um único parâmetro e o de Samejima (1969), o qual apresenta um modelo

de resposta gradual, entre outros modelos. (ANDRADE et al., 2000; PASQUALI; PRIMI,

2003; PARANHOS, 2016). Devido à complexidade matemática da TRI, a sua difusão foi

favorecida pelo avanço da informática, sendo desenvolvido nos anos 80 softwares apropriados

para esses tipos de cálculos (PASQUALI; PRIMI, 2003).

Em geral, a TRI apresenta duas suposições básicas: a unidmensionalidade e a independência

local. A unidimensionalidade pressupõe que existe uma habilidade encarregada pela

realização de todos os itens da prova, embora faça sentido que qualquer desempenho humano

seja determinado por mais de um traço latente. A outra suposição é a independência local, a

qual assume que para uma dada habilidade as respostas aos diferentes itens da prova são

51

independentes. Esta suposição é fundamental para o processo de estimação dos parâmetros do

modelo (ANDRADE et al., 2000; PASQUALI; PRIMI, 2003).

Ademais, é importante explicar o conceito de equalização da TRI, visto que é um dos mais

relevantes desta teoria. A equalização permite colocar os parâmetros de itens de provas

diferentes ou das habilidades de indivíduos pertencentes a grupos distintos, numa mesma

métrica, ou seja, numa escala comum, tornando os itens ou habilidades passíveis de

comparação. Existem duas maneiras de equalizar, a equalização via população e a via itens

comuns. Na primeira, se um único grupo de indivíduos é submetido a provas distintas, basta

que todos os itens sejam calibrados conjuntamente para que todos estejam na mesma métrica.

Na segunda, as populações envolvidas terão seus parâmetros em uma mesma escala através

dos seus itens comuns, que servirão de ligação entre elas (VALLE, 2000).

No Brasil, a TRI foi usada pela primeira vez em 1995 para analisar os dados do SAEB,

permitindo que os desempenhos de alunos de 4a. e 8a. séries do Ensino Fundamental e de 3a.

série do Ensino Médio pudessem ser comparados e colocados em uma mesma escala de

conhecimento. O SAEB, por ser uma avaliação aplicada nacionalmente e tentar cobrir

completamente a Matriz de Referência, acumula inúmeras quantidades de itens diferentes em

cada disciplina. Neste sentido, a aplicação de todos esses itens a um único aluno seria

inviável, assim, as provas são montadas sob o esquema de Blocos Incompletos Balanceados

(BIB). No BIB os itens são divididos em blocos, que então são reunidos em cadernos, e estes

cadernos são as diferentes provas que são aplicados aos alunos. Os diferentes cadernos

aplicados aos alunos podem ou não ter itens comuns e os blocos não possuem itens comuns

entre si. (ANDRADE et al., 2000; SAEB, 2017).

4.3 ESCALA DE PROFICIÊNCIA DO SAEB

A proficiência do aluno pode assumir, em termos teóricos, qualquer valor real entre −∞ e +∞,

sendo necessário estabelecer uma origem e uma unidade de medida para a definição da escala

(VALLE, 2000; ANDRADE et al., 2000). Em geral, a escala mais utilizada é (0,1), de modo

que um indivíduo com habilidade 1,20 está 1,20 desvios-padrão acima da habilidade média

(VALLE, 2000; ANDRADE et al., 2000). No SAEB, em cada área do conhecimento, há uma

única escala de proficiência para todos os anos escolares e todas as edições da avaliação,

variando de 0 a 500 pontos, com média de 250 e desvio padrão de 50 (SAEB, 2017).

52

O modelo utilizado no Saeb é o modelo logístico unidimensional de 3 parâmetros (ML3), que

é dado por:

𝑃(𝑈𝑖𝑗 = 1|𝜃𝑗) = 𝑐𝑖 + (1 − 𝑐𝑖)1

1 + ℯ−𝐷𝑎𝑖(𝜃𝑗 −𝑏𝑖

) (8)

com 𝑖 = 1, 2,· · · , 𝐼, 𝑒 𝑗 = 1, 2,· · · , 𝑛, onde:

𝑈𝑖𝑗 é uma variável que assume os valores 1, quando o indivíduo 𝑗 responde corretamente o

item 𝑖, ou 0 quando o indivíduo 𝑗 não responde corretamente ao item 𝑖.

𝜃𝑗 representa a habilidade (traço latente) do 𝑗-ésimo indivíduo

𝑃(𝑈𝑖𝑗 = 1|𝜃𝑗) é a probabilidade de um indivíduo 𝑗 com habilidade 𝜃𝑗 responder corretamente

o item 𝑖 é chamada de Função de Resposta do Item – FRI.

𝑐𝑖 é o parâmetro do item que representa a probabilidade de indivíduos com baixa habilidade

responderem corretamente o item 𝑖 (também conhecido como a probabilidade de acerto

casual). 𝑏𝑖 é o parâmetro de dificuldade do item 𝑖, medido na mesma escala da habilidade.

𝑎𝑖 é o parâmetro de discriminação (ou de inclinação) do item 𝑖, com valor proporcional à

inclinação da Curva Característica do Item — CCI no ponto 𝑏𝑖 .

𝐷 é um fator de escala, constante e igual a 1.

É importante ressaltar que a curva característica de um item (CCI) é a representação gráfica

dos valores do modelo em função de θ, enfatizando as propriedades de seus parâmetros. Os

indivíduos com maior habilidade tendem a ter maior probabilidade de acertar o item, além do

que esta relação não é linear, com a CCI em formato de “S”

Fonte: ANDRADE; TAVARES; VALLE (2000)

Figura 6‒ Exemplo de uma Curva Característica do Item

53

4.3.1 Distribuição dos estudantes por níveis de proficiência

Assumindo que a obtenção de informações a respeito de todos os pontos da escala de

proficiência é uma tarefa infactível, a distribuição dos alunos por níveis de proficiência torna-

se uma solução. Cada nível de proficiência possui um intervalo de 25 pontos, abrangendo

itens relacionados a capacidades dos estudantes de realizarem determinadas tarefas que fazem

parte daquele intervalo. Assim, parte-se da hipótese que os alunos de um dado nível, além de,

provavelmente, terem desenvolvido as habilidades descritas nele, desenvolveram as

habilidades associadas aos níveis anteriores.

Entretanto, dado que a TRI se baseia em probabilidades, vale destacar que o fato do aluno

estar posicionado em um nível não significa que ele não tenha desenvolvido alguma

habilidade do nível seguinte (SAEB, 2017). A descrição dos níveis de proficiência de

português e matemática para cada série (5° e 9° ano do ensino fundamental e 3ª ano do ensino

médio) é divulgada pelo Inep.

Neste estudo, para fazer a interpretação pedagógica das escalas classifica-se as proficiências

em quatro níveis: abaixo do básico, básico, adequado e avançado (SOARES, 2009). Por

detrás de cada classificação existe uma interpretação importante em que, segundo Soares

(2009), os alunos com proficiência em um dado nível são capazes de fazer tarefas implícitas

dos itens localizados nos níveis menores. O Quadro 2 descreve os níveis de aprendizado dos

alunos conforme os escores obtidos pelos estudantes na escala SAEB.

Quadro 2 - Níveis de aprendizado dos estudantes de acordo com os escores da escala SAEB

Níveis de

aprendizado

5º ano do ensino

fundamental

9º ano do ensino

fundamental 3º ano do Ensino médio

Língua

portuguesa Matemática

Língua

portuguesa Matemática

Língua

portuguesa Matemática

Abaixo do

básico Até 150 Até 175 Até 200 Até 225 Até 250 Até 275

Básico Mais de

150 a 200

Mais de

175 a 225

Mais de

200 a 275

Mais de

225 a 300

Mais de

250 a 300

Mais de

275 a 350

Adequado Mais de

200 a 250

Mais de

225 a 275

Mais de

275 a 325

Mais de

300 a 350

Mais de

300 a 375

Mais de

350 a 400

Avançado Mais de

250

Mais de

275

Mais de

325

Mais de

350

Mais de

375

Mais de

400

Fonte: Elaboração do autor (2020)

Os alunos que estão no nível abaixo do básico possuem domínio limitado na competência

avaliada, necessitando de acompanhamento imediato para melhorar o desempenho. No nível

básico estão os alunos com domínio parcial da competência, o que requer atividades atreladas

ao nível de ensino e as preferências de cada aluno. Por sua vez, os alunos do nível proficiente

54

dominam os conteúdos e habilidades esperados para o seu estágio escolar. Por fim, no nível

avançado se concentram os alunos que dominam a competência totalmente, superando o

esperado para o seu estágio escolar (SOARES, 2009).

4.4 INDICADOR DE NÍVEL SOCIOECONÔMICO

O indicador de nível socioeconômico (INSE) foi divulgado pela primeira vez pelo Inep em

2014, com base nas respostas dos estudantes aos questionários contextuais do Saeb e do

Enem. Este indicador tem o objetivo de contextualizar o desempenho das escolas nas

avaliações e exames realizados pelo Inep e por ser considerado um construto latente, sintetiza

informações sobre o nível socioeconômico dos estudantes. As questões utilizadas estão

relacionadas à renda familiar, à posse de bens e contratação de serviços de empregados

domésticos pela família dos estudantes e ao nível de escolaridade de seus pais ou

responsáveis.

Para construir este indicador, o INEP adotou a Teoria da Resposta ao Item devido a

determinadas vantagens, tais quais, a mensuração de construtos latentes, estimação da medida

mesmo com dados faltantes e a comparação dos resultados para diferentes grupos e em

períodos diferentes, contanto que o instrumento seja preservado, parcial ou totalmente (INEP,

2018). Neste trabalho, o cálculo do nível socioeconômico dos alunos tem como base o modelo

de Samejima (1969), por assumir que as categorias de resposta de um item podem ser

ordenadas entre si.

Para fazer o cálculo do indicador de nível socioeconômico e por conseguinte, as estimações,

tornou-se necessários excluir do banco de dados os alunos que não responderam nenhuma das

questões do questionário contextual do Saeb. Em relação às escolas, foram mantidas as que

tinham informação de pelo menos 10 alunos. No Saeb, as escolas públicas com pelo menos 10

alunos matriculados no 5º ano e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio

participam da Prova Brasil. Após a filtragem na base de dados, obtiveram-se os seguintes

números, ilustrados pelo Quadro 3.

Quadro 3 - Número de alunos por edição e série

Edição

do Saeb

Número de

alunos do 5º

ano

Número de

alunos do 9 º

ano

Número de

alunos do 3º ano

do ensino médio

Número

de escolas

do 5º ano

Número

de escolas

do 9º ano

Número

de escolas

do 3º ano

do EM

55

2007 97.691 86.589 - 2.556 1.435 -

2009 103.089 93.958 - 3.005 2.136 -

2011 128.874 114.693 1.516 3.401 2.327 41

2013 130.125 122.855 1.501 3.272 2.293 45

2015 128.660 123.639 1.553 3.207 2.272 42

2017 136.502 123.151 87.729 3.833 2.445 889

Fonte: Elaboração do autor (2020)

4.4.1 Construção do Indicador de NSE

A metodologia adotada para construir o indicador de NSE neste trabalho será semelhante a

utilizada pelo Inep. A base de dados utilizada foi o Saeb de 2007 a 2017 para 5º ano e 9º ano

do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio. Neste sentido, uma vez definido o universo

de respondentes, foi feita a escolha das questões para compor o indicador, as quais são

relacionadas à posse de bens e contratação de serviços de empregados domésticos pela família

dos estudantes e ao nível de escolaridade de seus pais ou responsáveis. Assim, 13 questões do

questionário contextual foram escolhidas e recodificadas, assegurando as mesmas categorias

de respostas nas diferentes bases de dados, estando descritas no Quadro 4.

Em relação aos dados faltantes, excluiu-se da análise os estudantes que não responderam

nenhuma das questões selecionadas do questionário contextual. As alternativas das questões

foram dispostas de maneira ordinal e crescente e as categorias com falta de respostas ou

respondidas “não sei”, recodificou-se para “NA” (“Not Available”). Os itens da Questão 5

(Q5) foram agrupados em uma única categoria, já que é possível em um único item medir o

construto. Algumas questões tiveram categorias agrupadas para as mais próximas devido a

baixa frequência de respostas, tais como Q1, Q2,Q3,Q4,Q5,Q6, Q7,Q8 e Q11.

Quadro 4 - Codificação dos itens que compõem o INSE

ITENS CATEGORIAS

Q1-Na sua casa tem televisão em

cores?

1- Não tem

2- Sim, uma

3-Sim, duas

4-Sim, três ou mais

Q2-Na sua casa tem videocassete e/ou

DVD?

1- Não tem

2- Sim, uma

3-Sim,duas

4-Sim,três ou mais

Q3- Na sua casa tem rádio?

1- Não tem

2- Sim, uma

3-Sim,duas

4-Sim,três ou mais

56

Q4-Na sua casa tem geladeira?

1- Não tem

2- Sim,uma

3-Sim,duas

4-Sim,três ou mais

Q5-Na sua casa tem freezer (parte da

geladeira duplex)?/Na sua casa tem

freezer separado da geladeira?

(mesmas opções de reposta)

1- Não tem

2- Sim,um ou mais

Q6-Na sua casa tem máquina de lavar

roupa (O tanquinho NÃO deve ser

considerado)?

1- Não tem

2- Sim,um ou mais

Q7-Na sua casa tem carro?

1- Não tem

2- Sim,uma

3-Sim,duas

4-Sim,três ou mais

Q8-Na sua casa tem computador?

1- Não tem

2- Sim,uma

3-Sim,duas

4-Sim,três ou mais

Q9-Na sua casa tem banheiro?

1- Não tem

2- Sim,uma

3-Sim,duas

4-Sim,três

5- Sim, quatro ou mais

Q10-Na sua casa tem quartos para

dormir?

1- Não tem

2- Sim,uma

3-Sim,duas

4-Sim,três

5- Sim, quatro ou mais

Q11-Em sua casa trabalha empregado

(a) doméstico (a) pelo menos cinco

dias por semana?

1- Não tem

2- Sim,um ou mais

Q12 - Até que série sua mãe, ou a

mulher responsável por você,

estudou?

1-Nunca estudou

2-Ensino Fundamental

incompleto

3-Ensino Fundamental completo

4-Ensino médio completo

5-Ensino superior completo

6-NA

Q13 - Até que série seu pai, ou o

homem responsável por você,

estudou?

1-Nunca estudou

2-Ensino Fundamental

incompleto

3-Ensino Fundamental completo

4-Ensino médio completo

5-Ensino superior completo

6-NA

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB (2020)

O passo seguinte é a estimação dos itens via TRI, também chamado de processo de calibração

dos itens, utilizando o modelo de reposta gradual de Samejima (1969). Como este trabalho

analisa diferentes ciclos do SAEB, de 2007 a 2017, é necessário fazer a equalização entre as

57

bases dados. Desta forma, as bases foram equalizadas por série, sendo realizada

conjuntamente com a calibração dos itens. Após as estimações, analisou-se os resultados dos

parâmetros, bem como os seus gráficos de curva de informação do item, curvas características

dos itens e curva de informação do teste. Para fazer as estimações dos parâmetros dos itens,

utilizou-se o software R.

Após as estimações e análises dos itens foram feitos os cálculos dos escores do nível

socioeconômico para os estudantes do 5º ano e 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do

ensino médio. Dessa forma, os itens utilizados para construir o indicador de nível

socioeconômico foram substituídas por uma única medida. Aplicou-se uma escala no escore

do NSE, com base na metodologia descrita em Alves, Soares e Xavier (2014), de modo que o

valor mais baixo passou a ser 0, e o valor mais alto, 10. A escala utilizada para o NSE final é

obtida com a seguinte equação:

𝑁𝑆𝐸10 =

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑜𝑟𝑖𝑔𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑁𝑆𝐸 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 (9)

O NSE do aluno incluído nos modelos foi centralizado na grande média, pois, segundo Alves

e Xavier (2017), é o nível do aluno em uma hierarquia socioeconômica que importa para

explicar seu desempenho e não sua posição relativa na escola em que estuda. Por conseguinte,

calculou-se o nível socioeconômico médio das escolas a partir da média dos alunos de cada

escola.

4.5 MODELO LINEAR HIERÁRQUICO

O Modelo Linear Hierárquico, tornou-se conhecido na literatura sob uma variedade de nomes,

como o Modelo Linear Multinível, Modelo de Coeficiente Aleatório, Modelo de Componente

de Variância, Modelo de Efeitos Mistos e Modelo de Efeitos Aleatórios. Contudo, o nome

hierárquico remete a uma característica importante da estrutura dos dados (NATIS, 2001).

O Modelo Hierárquico pode ser encontrado em diversos estudos, principalmente na área

educacional, já que cada nível é formado por uma amostra aleatória das unidades

consideradas, por exemplo, o primeiro nível pode ser um grupo de alunos em cada escola e o

58

segundo nível, um grupo de escolas. As variáveis relacionadas aos indivíduos, como sexo do

aluno, nível socioeconômico, grau de escolaridade da mãe é inserida no primeiro nível do

modelo. Enquanto as variáveis relacionadas às escolas que esses alunos estudam, por

exemplo, se a escola é pública ou privada, se possui ou não biblioteca, a verba disponível por

aluno integra o segundo nível (BARBOSA; FERNANDES, 2001; NATIS, 2001). A Figura 7

mostra o aninhamento entre os dados segundo um modelo de dois níveis:

Figura 7 ‒ Estrutura aninhada de dados para um modelo de regressão de dois níveis: alunos e escolas

Fonte: Elaboração do autor (2020)

Haja vista que os estudos empíricos a respeito do efeito escola são hierárquicas pela própria

natureza dos dados, o Modelo Linear Hierárquico mostra-se o mais adequado. O uso de

métodos com um único nível tende a implicar em viés de agregação, erros padrão mal

estimados e heterogeneidade de regressão. O viés de agregação pode acontecer quando uma

variável adquire significados diferentes e, por consequência, tem efeitos diferentes em

diferentes níveis de agregação. Os erros padrão mal estimados se devem ao tratamento dos

casos individuais como se eles fossem independentes. Por fim, a heterogeneidade dos

coeficientes de regressão é quando as relações entre as características de estudantes (tais

como, raça, etnia, NSE) e desempenho acadêmico podem variar entre as escolas e podem ser

funções das variáveis de nível de grupo (LEE, 2000).

Raudenbush e Bryk (2002) descrevem o Modelo Linear Hierárquico de dois níveis da

seguinte forma: primeiramente, eles consideram uma variável no nível do aluno (nível

socioeconômico) e uma variável de resultado no nível do aluno (desempenho em matemática),

em uma única escola hipotética. Esta relação é descrita a partir da equação 1:

𝑌𝑖 = 𝛽0 + 𝛽1𝑋𝑖 + 𝑟𝑖 (10)

...

...

Nível 1: Alunos

Nível 2: Escolas

59

Onde 𝑌𝑖 é o desempenho em matemática do i-ésimo aluno; 𝑋𝑖 é o nível socioeconômico

(NSE) do i-ésimo aluno; 𝛽0 é definido como o desempenho em matemática esperado de um

aluno cujo nível socioeconômico é zero; 𝛽1 é a mudança esperada do desempenho em

matemática associada a um aumento unitário no NSE; 𝑟𝑖 é o termo de erro associado ao i-

ésimo aluno. Supõe que 𝑟𝑖 é normalmente distribuído com média 0 e variância σ², ou

seja, 𝑟𝑖 ~ 𝑁(0, 𝜎²).

Analisando a relação nível socioeconômico com desempenho em matemática em j escolas, a

equação 2 é descrita da seguinte maneira

𝑌𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝛽1𝑗(𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗) + 𝑟𝑖𝑗 (11)

Onde, 𝑟𝑖𝑗 é normalmente distribuído com variação homogênea entre escolas, ou seja, 𝑟𝑖𝑗

~ 𝑁(0, 𝜎²). Neste caso, o intercepto e a inclinação estão subscritos por 𝑗, logo, cada escola

possui um único intercepto e inclinação.

Os autores também citam um modelo alternativo para o nível 2, tal qual, considerando uma

variável 𝑤𝑗 que assume um valor de um para escolas católicas e um valor de zero para

escolas públicas. O esperado é que 𝑤𝑗 esteja positivamente relacionado ao intercepto, ou seja,

escolas católicas têm desempenho médio mais alto do que as escolas públicas. Além de ser

negativamente relacionado à inclinação, o efeito do NSE no desempenho em matemática é

menor em escolas católicas do que em escolas públicas. Assim, essas duas hipóteses podem

ser representadas pelas seguintes equações de regressão:

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝛾01𝑤𝑗 + 𝑢0𝑗 (12a)

𝛽1𝑗 = 𝛾10 + 𝛾11𝑤𝑗 + 𝑢1𝑗 (12b)

Onde 𝛾00 é o valor esperado para as escolas públicas; 𝛾01 é a difereença entre os valores

esperados dos interceptos de escolas públicas e católicas; 𝛾10 é o valor esperado das

inclinações nas escolas públicas; 𝛾11 é a diferença entre os valores esperados das inclinações

de escolas públicas e católicas; 𝑢0𝑗 é o efeito único j na conquista média mantendo 𝑤𝑗

60

constante (ou condicionando em 𝑤𝑗); 𝑢1𝑗 é o efeito único j na inclinação da conquista do NSE

mantendo 𝑤𝑗 constante (ou condicionando em 𝑤𝑗).

Portanto, assume-se que 𝑢0𝑗 e 𝑢1𝑗 são variáveis aleatórias com média zero, variâncias 𝜏00 e

𝜏11, respectivamente e covariância 𝜏01. Em vista disso, esses componentes de covariância de

variação representam a variabilidade em 𝛽0𝑗 e 𝛽1𝑗 restantes após o controle para 𝑤𝑗.

Substituindo as equações 3a e 3b na equação 4:

𝑌𝑖𝑗 = 𝛾00 + 𝛾01𝑊𝑗 + 𝛾10(𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗) + 𝛾11𝑊𝑗(𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗) + 𝑢0𝑗

+ 𝑢1𝑗(𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗) + 𝑟𝑖𝑗 (13)

A equação 4 não pode ser estimada por MQO, visto que os erros aleatórios precisam ser

independentes, normalmente distribuídos e tenham variação constante. No entanto, os erros

aleatórios na equação, 𝑢0𝑗 + 𝑢1𝑗(𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗) + 𝑟𝑖𝑗 , são dependentes em cada escola, já que os

componentes 𝑢0𝑗 + 𝑢1𝑗 são comuns a todos os alunos da escola 𝑗. Além disso, os erros

apresentam variações desiguais, pois dependem de 𝑢0𝑗 + 𝑢1𝑗 , que varia entre escolas, e do

valor de (𝑋𝑖𝑗 − �̅�𝑗), que varia entre os alunos. Contudo, esses modelos podem ser estimados

por procedimentos iterativos de máxima verossimilhança6. Verifica-se que se 𝑢0𝑗 +

𝑢1𝑗 forem nulos para cada escola, a equação 4 seria equivalente a um modelo de regressão

MQO (RAUDENBUSH; BRYK, 2002).

Com base no modelo descrito na equação 2 e 4, podem ser obtidos submodelos como o

modelo da análise de variância (ANOVA) e o da análise de covariância (ANCOVA). Neste

estudo será apenas descrito o modelo ANOVA em razão de ser o utilizado para fazer as

estimações. Para maiores detalhes ver Raudenbush e Bryk (2002).

4.5.1 Modelo Anova com 1 fator e efeitos aleatórios

Este submodelo é o mais simples do modelo linear hierárquico de dois níveis, pois, não possui

nenhuma variável explicativa, apenas intercepto. A equação do nível 1 é dada por:

𝑌𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝑟𝑖𝑗 (14)

6 Ver Andrade, Tavares e Valle (2000).

61

Onde 𝛽0 é resposta esperada para a 𝑗-ésima escola, supondo 𝑟𝑖𝑗 ~ 𝑁(0, 𝜎𝑟2) e 𝑟𝑖𝑗 's

independentes.

A equação do nível 2:

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝑢0𝑗 (15)

Onde 𝛾00 é a resposta esperada para a população; 𝑢0𝑗 o erro aleatório associado a 𝑗-ésima

escola e supõe que 𝑢0𝑗 ~ 𝑁(0, 𝜎𝑢02 ), 𝑢0𝑗 's independentes e 𝑢0𝑗 's independentes dos 𝑟𝑖𝑗 's.

Assim, a variância é composta pela variação entre as unidades do nível 1 e entre as unidades

do nível 2, e é dada por:

𝑉𝑎𝑟 (𝑌𝑖𝑗) = 𝑉𝑎𝑟(𝑢0𝑗 + 𝑟𝑖𝑗) = 𝜎𝑢02 + 𝜎𝑟

2 (16)

O parâmetro útil associado a ANOVA com 1 fator e efeitos aleatórios é o coeficiente de

correlação intraclasse 𝜌:

𝜌 =

𝜎𝑢02

(𝜎𝑟2 + 𝜎𝑢0

2 ) (17)

O coeficiente de correlação representa a proporção da variância da resposta explicada pela

variabilidade entre as unidades do nível 2.

4.5.2 Regressão de médias como respostas

Neste submodelo são incorporadas as variáveis explicativas do segundo nível do modelo a

fim de explicar a variabilidade dos coeficientes de 𝛽0𝑗, entre as unidades do nível 2. O modelo

do nível 1é igual ao caso do ANOVA com 1 fator e efeitos aleatórios, dados pela equação 5.

A equação para o modelo do nível 2 é dado por

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝛾01𝑊𝑗 + 𝑢0𝑗 (18)

Note que agora 𝑢0𝑗 corresponde ao resíduo da regressão do nível 2, e a variância de 𝑢0𝑗(𝜎𝑢02 )

é a variância residual ou condicional de 𝛽0𝑗, corrigida pela variável 𝑊𝑗.

62

4.6 APLICAÇÃO DO MODELO

A primeira definição do efeito escola a ser estimado se refere ao efeito de dada unidade

escolar sobre o aprendizado dos seus alunos, adotando a lógica do efeito do tipo B proposto

por Raudenbush e Willms (1995). A representação do Modelo Linear Hierárquico neste

estudo segue os passos propostos por Hox (2002), iniciando com o modelo nulo, somente com

intercepto. O modelo nulo é especificado da seguinte forma:

𝑃𝑅𝑂𝐹𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝑟𝑖𝑗

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝑢0𝑗 (19)

Onde

i = 1, 2, ..., n alunos;

j = 1, 2, ..., m escolas;

𝑃𝑅𝑂𝐹𝑖𝑗 é a proficiência do aluno do i-ésimo aluno da escola j;

𝛽0𝑗 é a proficiência média dos estudantes da escola j;

𝑢0𝑗 é o termo aleatório associado à escola j;

𝑟𝑖𝑗 é o termo aleatório associado ao estudante i, da escola j;

𝛾00 é a proficiência média dos alunos da população em questão;

O modelo nulo serve como uma referência para a comparação com os outros modelos e

permite uma estimativa da correlação intraescolar (HOX, 2010). O passo 2 e 3 é adicionar as

variáveis de controle do nível 1 (alunos) e nível 2 (escolas), respectivamente. Na literatura

não existe um consenso de quais variáveis de controle utilizar para medir o efeito escola

(ANDRADE; SOARES, 2008). Deste modo, adotou-se, a lógica do efeito do tipo B proposto

por Raudenbush e Willms (1995), na qual verifica-se o desempenho da escola X em

comparação com outras escolas com contextos semelhantes.

Considerou-se como variáveis de controle no modelo do nível 1, o nível socioeconômico do

aluno, as características sociodemográficas, como sexo, a cor/raça e o atraso escolar por

serem importante em qualquer estudo educacional. As variáveis incluídas no nível 2 foram o

nível socioeconômico médio e o atraso escolar médio. Este modelo foi definido como modelo

2, descrito pela equação 11.

63

Nível 1:

𝑃𝑅𝑂𝐹𝑖𝑗 = 𝛽0𝑗 + 𝛽1𝑗𝑁𝑆𝐸𝑖𝑗 + 𝛽2𝑗𝐹𝐸𝑀𝑖𝑗 + 𝛽3𝑗𝑃𝐴𝑅𝐷𝑂𝑖𝑗 + 𝛽4𝑗𝑃𝑅𝐸𝑇𝑂𝑖𝑗

+ 𝛽5𝑗𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑖𝑗 + 𝑟𝑖𝑗 (20)

Nível 2:

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝛾01𝑀𝑁𝑆𝐸𝑗 + 𝛾02𝑀𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑗 + 𝑢0𝑗 (21)

Onde:

i = 1, 2, ..., n alunos;

j = 1, 2, ..., m escolas;

𝑃𝑅𝑂𝐹𝑖𝑗 é a proficiência do aluno do i-ésimo aluno da escola j;

𝛽0𝑗 é a proficiência média dos estudantes da escola j;

𝛽1𝑗 é o efeito do NSE do aluno na sua proficiência;

𝑁𝑆𝐸𝑖𝑗 é o NSE do aluno centrado na média do grupo;

𝐹𝐸𝑀𝑖𝑗 , 𝑃𝐴𝑅𝐷𝑂𝑖𝑗 , 𝑃𝑅𝐸𝑇𝑂𝑖𝑗 e 𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑖𝑗 são variáveis dummys e estão descritas no quadro

5;

𝑢0𝑗 é o termo aleatório associado à escola j;

𝑟𝑖𝑗 é o termo aleatório associado ao estudante i, da escola j;

𝛾00 é a proficiência média dos alunos da população em questão;

𝑀𝑁𝑆𝐸𝑗 é o NSE médio da escola j centrado na média total;

𝑀𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑗 é a média do atraso escolar dos alunos que compõem a escola j;

𝛾01 é o efeito do NSE da escola na proficiência do aluno;

A inclusão das duas variáveis no nível 2 segue a ideia de Willms e Somers (2000), em que

escolas ou salas de aula com alunos de maior nível socioeconômico e cognitivo tendem a

usufruir de externalidades positivas associadas ao contexto criado por esses alunos. Em

média, essas escolas têm maior envolvimento dos pais, menos problemas disciplinares e um

clima propício a obtenção de melhores resultados. Conforme destaca Andrade e Soares

(2008), o efeito coletivo das características tem um impacto ainda maior na proficiência dos

alunos em comparação com o das variáveis individuais.

64

Considerando que existe uma disparidade econômica dentro do estado da Bahia que podem

implicar na desigualdade educacional entre os munícipios e na heterogeneidade entre escolas

foi inserido dummies de mesorregião no nível dois para tentar controlar este efeito. Com a

inclusão dessas variáveis foi definido o Modelo 3. Deste modo a equação do nível 2 é dada

por:

Nível 2:

𝛽0𝑗 = 𝛾00 + 𝛾01𝑀𝑁𝑆𝐸𝑗 + 𝛾02𝑀𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑗 + 𝐸𝑂 + 𝑉𝑆 +

𝑁𝑂𝑅𝐷 + 𝐶𝑁 + 𝐶𝑆 + 𝑆𝑈𝐿 + 𝑢0𝑗 (22)

Onde: EO é a dummy de Extremo Oeste Baiano; VS é a dummy de Vale São-Franciscano da

Bahia; NORD é a dummy de Nordeste Baiano; CN é a dummy de Centro Norte Baiano; CS é

a dummy de Centro Sul Baiano; Sul é a dummy de Sul Baiano.

O Quadro 5 apresenta uma descrição mais detalhada das variáveis incluídas no modelo.

Quadro 5 - Descrição das variáveis incluídas no modelo

VARIÁVEL DESCRIÇÃO FORMA DE MEDIDA

PROF Proficiência em Língua Portuguesa

ou Matemática

Resultado do estudante no

Saeb

NSE Nível socioeconômico Escala variando de 0 a 10

FEM Sexo do aluno 1 = feminino

0= Masculino

PARDO Autodeclaração da cor “parda”

Variável indicadora:

0 – Não pardo

1 – Pardo

PRETO Autodeclaração da cor “preta”

Variável indicadora:

0 – Não preto

1 – Preto

ATRASO Atraso escolar

0 = sem atraso

1 = atraso de um ou mais

Anos

MNSE Média do nível socioeconômico

Nível socioeconômico

médio dos alunos de uma

mesma escola

MATRASO Média do atraso escolar Atraso escolar médio dos

alunos de uma mesma escola

EO; VS; NORD:CN;

CS e SUL Dummies de mesorregião

Variável indicadora:

0 – MS

Fonte: Elaboração do autor (2020)

𝑃𝑅𝑂𝐹 é a Proficiência em Língua Portuguesa ou Matemática do i-ésimo aluno da escola j,

sendo obtido a partir do resultado do Saeb.

65

𝑁𝑆𝐸𝑖𝑗 é o NSE do aluno centrado na média do grupo. O indicador foi calculado com base nas

respostas dos questionários contextuais do SAEB pelo método da TRI.

𝑀𝑁𝑆𝐸𝑗 é o NSE médio da escola j, centrado na média total, isto é, quão distante da média

geral o NSE da escola está. A variável NSE foi centralizada na média da escola, quando

medida no nível do aluno, e na média geral, quando medida no nível da escola.

A variável FEM foi obtida diretamente por meio do item sexo (masculino ou feminino). As

variáveis 𝑃𝐴𝑅𝐷𝑂𝑖𝑗 𝑒 𝑃𝑅𝐸𝑇𝑂𝑖𝑗 foram obtidas do item cor ou raça.

𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑖𝑗 é a diferença do número de anos entre a idade do aluno e a idade esperada para

uma trajetória regular. No Saeb, os alunos do 5º ano do ensino fundamental preenchem a

idade em anos, logo, considerou-se como regular os que responderam que tinham 11 anos de

idade ou menos. Contudo, os alunos do 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino

médio informam apenas o mês e ano de nascimento, assim, o atraso foi calculado com base

nessas informações. Para os alunos que não apresentavam essa informação, o atraso foi

calculado a partir das variáveis reprovação e abandono. No 9º ano, classificou-se com regular

os que tinham 14 anos ou menos e como atrasados os que tinham idade acima desta. No 3º

ano do ensino médio, classificou-se com regular os que tinham 17 anos ou menos e como

atrasados os que tinham idade acima desta.

𝑀𝐴𝑇𝑅𝐴𝑆𝑂𝑗 é a média do atraso escolar dos alunos que compõem a escola j.

As variáveis EO; VS; NORD:CN; CS e SUL foram obtidas tendo como base a mesorregião

Metropolitana de salvador.

As variáveis incluídas no modelo, exceto as de mesorregião, têm como base os trabalhos de

Soares e Candian (2007), Soares e Alves (2013), Andrade e Soares (2008), Xavier e Alves

(2015), Alves e Xavier (2016).

A segunda definição do efeito escola é obtido como medida da proporção da variância da

resposta explicada pela variabilidade entre as unidades do nível dois. Em outras palavras, o

objetivo não é atribuir uma parcela do desempenho do aluno à escola na qual ele estuda, mas

atribuir a responsabilidade de uma parcela da variação dos desempenhos de todos os alunos às

características internas de todas as escolas do grupo considerado. Portanto, esta é uma medida

de grupo e não individual como na primeira definição (SOARES, 2008). O coeficiente de

correlação intraescolar que mede a proporção da variação no resultado entre as unidades de

nível 2 é dado por:

66

𝜌 =

𝜎𝑢02

(𝜎𝑟2 + 𝜎𝑢0

2 ) (23)

Onde 𝑢0𝑗 é o termo aleatório associado à escola j; 𝑟𝑖𝑗 é o termo aleatório associado ao

estudante i, da escola j; 𝜎𝑢02 é a variância de 𝑢0𝑗 e 𝜎𝑟

2 é a variância de 𝑟𝑖𝑗. O coeficiente de

correlação 𝜌 indica a variabilidade do efeito entre as escolas e varia entre 0 e 1, sendo que,

quanto mais próximo de 1 mais a variabilidade na proficiência dos alunos deve-se à diferença

entre as escolas.

Assim, se ρ for próximo de 1, as escolas são muito heterogêneas, indicando que a variância

do desempenho dos estudantes deve-se praticamente à escola. Se ρ assume o valor zero,

significa que as escolas são totalmente homogêneas e que a variância do desempenho do

aluno não depende da escola que frequenta. Deste modo, sendo o valor de ρ não desprezível,

é fundamental estudar os fatores que contribuem para certas escolas serem mais eficazes que

outras, dado as mesmas características socioeconômicas e culturais dos alunos.

O software utilizado para fazer as estimações do modelo foi o Hierarchical Linear Models

(HLM8), já que é um programa voltado aos modelos hierárquicos. A descrição detalhada do

modelo e as propriedades técnicas do programa são encontradas principalmente no livro de

Bryk e Raudenbush (2002). Este software além de estimar os coeficientes do modelo em cada

nível também prevê os efeitos aleatórios associados a cada unidade de amostragem em cada

nível (NATIS, 2001).

67

0

20

40

60

80

100

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

0

20

40

60

80

100

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

0

20

40

60

80

100

2011 2017

3º ano do ensino médio

5 RESULTADOS

Neste capítulo é inicialmente realizado uma análise descritiva da proficiência do aluno em

língua portuguesa e matemática segundo as suas características individuais, identificando as

relações entre desempenho e condições socioeconômicas. Em seguida é apresentado os

resultados das estimações para as duas medidas de efeito escola.

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DA PROFICIÊNCIA DO ALUNO EM LÍNGUA

PORTUGUESA E MATEMÁTICA SEGUNDO SUAS CARACTERÍSTICAS

INDIVIDUAIS

As Figuras 8 e 9 mostram a distribuição dos alunos do 5º ano e 9º ano do ensino fundamental

e 3º ano do ensino médio por níveis de aprendizado para língua portuguesa e matemática,

conforme a metodologia utilizada por Soares (2009). Os alunos foram distribuídos em quatro

níveis de desempenho: abaixo do básico, básico, adequado/avançado. Contudo, neste trabalho,

unificou os dois últimos níveis devido ao baixo percentual de alunos no nível avançado e por

eles já terem alcançado o desempenho esperado (ALVES; XAVIER, 2016).

Figura 8 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua portuguesa segundo ano

escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

68

0

20

40

60

80

100

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

0

20

40

60

80

100

2011 2017

3º ano do ensino médio

0

20

40

60

80

100

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

Figura 9 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática segundo ano

escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Destaca-se que em português os alunos estão concentrados majoritariamente no nível básico

para o 5º ano e 9º ano do ensino fundamental, somando mais de 40% entre 2007 e 2017 e no

abaixo do básico para o ensino médio. Em matemática, a situação é semelhante a encontrada

em português, no entanto, há mais alunos com desempenho inferior. No SAEB de 2017, com

exceção dos alunos do 5º ano, em torno de 40% estavam no abaixo do básico e nem 10%

conseguiram alcançar o nível adequado. O ideal, conforme aponta Soares (2009) é que apenas

5% dos alunos estejam no nível abaixo do básico, uma vez que precisam de atenção especial e

solução imediata para melhorar o desempenho.

A distribuição dos alunos de uma mesma etapa em diferentes níveis de aprendizado permite

verificar a heterogeneidade entre eles, pois, ainda que estejam no mesmo ano escolar,

encontram-se em diferentes fases de aprendizagem, necessitando de diferentes soluções para

melhorar o desempenho. A concentração dos alunos nos níveis mais baixos, principalmente

nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, pode ser reflexo do aprendizado

insuficiente, implicando na reprovação ou no abandono da escola. Em vista disso, os alunos

devem ter desempenho satisfatórios desde as etapas iniciais a fim de que cheguem as etapas

seguintes com mais condições de aprendizado, dominando os conteúdos e habilidades

escolares.

Após a análise da distribuição dos alunos por níveis de desempenho, associou-se o

desempenho dos alunos segundo suas características individuais. A primeira análise associa a

proficiência dos estudantes em língua portuguesa e matemática com sexo, conforme é

ilustrado pelas Figuras 10 e 11. Considerou-se abaixo do básico como (AB), básico (B),

adequado/avançado (AD/AV).

69

0

20

40

60

80

100

AB B

AD

/AV

AB B

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2011 2017

3º ano do ensino

médio

020406080

100

AB B

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/AV

AB B

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AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

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/AV

AB B

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/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

Figura 10 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua portuguesa segundo

sexo por ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Observa-se que em português, para todas as séries avaliadas, o percentual de alunos no nível

abaixo do básico é superior ao das alunas. Ao longo do período, para o 5º ano e 9º ano do

ensino fundamental, a diferença entre alunos e alunas nesse nível se reduziu e para o 3º ano do

ensino médio se elevou. No 5º ano, por exemplo, em 2007 havia 19,2% a mais de alunos no

abaixo do básico em relação as alunas, em 2017 essa diferença foi de 7,4%. No ensino médio,

em 2007, havia 4,3% a mais de alunos nesse nível comparado a alunas, em 2017 essa

diferença aumentou para 7%.

Figura 11 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática segundo sexo por

ano escolar e edição do SAEB em percentuais – Bahia 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Em matemática, diferentemente de português, há mais alunas no nível abaixo do básico

comparado aos alunos. Para o 5º ano essa diferença se manteve um pouco mais de 1% entre

0

20

40

60

80

100

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AB B

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2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

0

20

40

60

80

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/AV

AB B

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AB B

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2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

70

2007 e 2017. No 9º ano, em 2007, havia 10,6% a mais de alunas no abaixo do básico e em

2017 essa diferença foi de 8,8%. No 3º ano do ensino médio, em 2011, o percentual de alunas

nesse nível era de 15,3% a mais de alunos e em 2017 foi de 9,9%. No ensino médio a

diferença entre os grupos se reduziu, mas o número de estudantes com nível abaixo do básico

se elevou.

Desta maneira, verifica-se que enquanto as alunas têm um desempenho melhor em português,

os alunos são melhores que as meninas em matemática, o que corrobora com a literatura

(EURYDICE, 2010; ALVES; SOARES; XAVIER, 2016; XAVIER; ALVES, 2015;

MARTÍNEZ; SERNA, 2018). As alunas tendem a ter um desempenho melhor em português

em relação aos alunos, já que, em média elas leem mais e dedicam um tempo maior a ler

livros ou revistas. Ressalta-se que as meninas obtêm resultados melhores na leitura de textos

de cunho literário, no entanto, na leitura dos textos de cunho informativo essa diferença entre

os gêneros é pequena, ou não tem (EURYDICE, 2010).

A lacuna de gênero no desempenho em matemática pode ter como explicação a hipótese de

estratificação de gênero proposta por Baker e Jones (1993). Neste caso, se os alunos

perceberem que um melhor desempenho nesta disciplina acarretará mais oportunidades

educacionais e de trabalho futuras, eles poderão se esforçar mais e ter um maior incentivo dos

professores, pais e amigos. Em contrapartida, as alunas por enfrentarem menos oportunidades

podem considerar a matemática como menos importante e serem avisadas disso de várias

maneiras pelos professores, pais e amigos (BAKER; JONES, 1993). Ademais, as alunas

possuem mais ansiedade nessa disciplina enquanto os alunos acreditam mais em suas

competências (EURYDICE, 2010).

No que se refere a cor ou raça, os alunos respondem ao questionário contextual se

autodeclarando branco, preto, pardo, amarelo ou indígena. Neste estudo serão apresentados

apenas as análises para as três primeiras cores, já que o percentual de alunos nas demais

classificações é bem menor, representando menos de 10% dos casos. Conforme ilustra a

figura 12 e 13, a diferença de desempenho entre alunos brancos e pardos é pequena em

relação aos alunos pretos, indicando que as características socioculturais influenciam na

aprendizagem (SOARES; ALVES, 2013).

71

0

20

40

60

80

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

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2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

Figura 12 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua portuguesa segundo a

cor/raça por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Observa-se que, para as três séries, o percentual de alunos brancos e pardos no nível

adequado/avançado é maior que o de alunos pretos e essa diferença é mais evidente no ano de

2017. Em 2017, para o 5º ano 40,5% dos alunos brancos estavam no nível

adequado/avançado, 48% dos pardos e 32,9% dos alunos pretos. No 9º ano, 24,8% dos

brancos, 24,2% dos pardos e 19,7% dos pretos. No 3º ano do ensino médio, o percentual foi

de 17,5% para os brancos, 14,2% dos pardos e 13,4% dos pretos.

Figura 13 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática segundo a

cor/raça por ano escolar e edição do Saeb 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Em matemática, verifica-se uma situação análoga a encontrada para língua portuguesa, mas

com uma proporção menor de alunos no nível adequado/avançado para as três etapas de

ensino. No 5º ano em 2017, 26,8% dos alunos brancos estavam nesse nível, 32,2%, dos

pardos e 19,9,% dos pretos. No 9º ano esse percentual foi de 9,9% para os brancos, 8,4% para

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

72

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

pardos e 5,9% pretos. No 3º ano do ensino médio, o percentual foi de 2,7% para os brancos,

1,8% dos pardos e 1,2% dos pretos.

A relação entre a composição racial do indivíduo e a desigualdade de aprendizado evidencia a

vantagem entre os estudantes de cor branca (SOARES; ALVES, 2003; SOARES et al., 2012;

ALVES; SOARES; XAVIER, 2016; ALVES; FERRÃO, 2019). De acordo com Soares e

Alves (2003), as melhorias das condições escolares não exercem o mesmo impacto sobre

todos os alunos, favorecendo mais os alunos brancos. Além do mais, as escolas em geral

tentam obter bons resultados para todos os alunos, mas o ideal seria haver políticas tanto

públicas quanto escolares que proporcionem melhor aprendizado e minimize o impacto da

origem socioeconômica e da raça do aluno no seu desempenho escolar.

As Figuras 14 e 15 apresenta o percentual de alunos em língua portuguesa e matemática por

níveis de aprendizado segundo atraso escolar, que é a diferença entre a idade do aluno e a

idade esperada para uma trajetória regular. Verifica-se que os alunos atrasados possuem um

desempenho inferior aos alunos regulares. Em 2017, no nível abaixo do básico, a diferença

entre os alunos com e sem atraso para o 5º ano e 9º ano foi de 17,1% e de 15,2%,

respectivamente. Para 3º ano do ensino médio, o percentual de alunos neste nível com atraso e

sem atraso é bastante elevado correspondendo a mais de 40%, sendo a diferença entre os

grupos de 25,9%, em 2017.

Figura 14 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua portuguesa segundo o

atraso escolar por ano escolar e edição do Saeb 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Em matemática, a situação é semelhante a encontrada em português, mas o desempenho dos

alunos se mostra inferior. No o 5º ano em 2017, a diferença do percentual de alunos abaixo do

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

73

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

básico com e sem atraso escolar correspondeu a 18,6%. Para o 9º ano, a diferença foi de

25,1%. Para o 3º ano do ensino médio, a diferença do percentual de alunos no nível abaixo do

básico com e sem atraso escolar foi de 18%.

Figura 15 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática segundo o atraso

escolar por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

A literatura indica que existe uma relação negativa entre o atraso escolar e desempenho, já

que a repetência não contribui para melhorar o aprendizado dos alunos com dificuldade, além

de influenciar no abandono da escola antes de completar o ensino básico (CRAHAY; 2007;

RIBEIRO, 1991; MENEZES-FILHO, 2007; ALVES; XAVIER, 2016). Em geral, os alunos

mais atrasados são aqueles que entraram tarde na escola, que possuem maior dificuldade de

aprendizagem, e de menor condição socioeconômica (MENEZES-FILHO, 2007). Conforme

destaca Soares e Alves (2013) não é satisfatório para o aluno estar atrasado, assim como estar

em uma escola com um número elevado de alunos fora da idade correta.

As Figuras 16 e 17 apresenta a distribuição dos alunos por nível de aprendizado em língua

portuguesa e matemática segundo os quartis do NSE. O primeiro quartil concentra os alunos

com escores do NSE mais baixos e o último os alunos com os escores mais altos. Verifica-se

que há uma maior concentração dos alunos de menor NSE no nível abaixo do básico, em todo

período de análise, para todas as etapas de ensino.

74

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

Figura 16 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em língua portuguesa segundo o

NSE por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Para língua portuguesa, no 5º ano em 2007, havia 3,7% a mais de alunos do primeiro quartil

de NSE no nível abaixo do básico em relação aos alunos do último quartil de NSE, e em 2017

essa diferença foi de 6,7%. No 9º ano, em 2007, havia 13,1% a mais de alunos do primeiro

quartil de NSE comparado aos alunos do último quartil e em 2017 essa diferença foi de 7,9%.

No 3º ano do ensino médio, em 2007, havia 1,6% a mais dos alunos do último quartil estavam

no nível abaixo em relação aos alunos do primeiro quartil. Em 2017, havia 20,7% a mais dos

alunos do primeiro quartil de NSE no nível abaixo do básico comparado aos alunos do último

quartil de NSE.

Figura 17 - Distribuição dos alunos da rede pública por níveis de aprendizado em matemática segundo o NSE

por ano escolar e edição do SAEB 2007 – 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Em matemática, é possível notar um resultado semelhante, isto é, os alunos do primeiro

quartil de NSE são os que possuem um pior desempenho. Para o 5º ano, em 2007, havia 6,4%

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

5º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2007 2011 2017

9º ano do ensino

fundamental

020406080

100

AB B

AD

/AV

AB B

AD

/AV

2011 2017

3º ano do ensino

médio

75

a mais de alunos do primeiro quartil de NSE no nível abaixo do básico em relação aos alunos

do último quartil de, e em 2017 essa diferença foi de 12,8%. Para 9º ano, em 2007, havia

19,1% a mais de alunos do primeiro quartil nesse nível em relação aos alunos do último

quartil de NSE, e em 2017 essa diferença foi de 16,4%. Para o 3º ano do ensino médio, em

2011 havia 4,2% a mais de alunos do primeiro quartil no nível abaixo do básico em relação

aos alunos do último quartil de NSE, em 2017 a diferença foi de 20%.

Como esperado, existe uma relação positiva entre o nível socioeconômico dos estudantes

sobre sua proficiência em Língua Portuguesa e matemática, ou seja, a proficiência dos alunos

é maior à medida que seu nível socioeconômico aumenta (ALVES; SOARES, 2007;

SOARES et al., 2012; ALVES; XAVIER, 2017). Segundo Alves e Soares (2007) em

qualquer contexto, é observado que os alunos de melhor nível socioeconômico possuem uma

probabilidade maior de alcançar melhores resultados, já que se beneficiam de suas vantagens

extraescolares. Ademais, as escolas que têm as maiores proporções de aluno com NSE mais

alto também apresentam maiores desempenho.

5.2 ESTIMAÇÃO DO MODELO LINEAR HIERÁRQUICO DE DOIS NÍVEIS

Nesta seção é realizado a estimação das duas medidas de efeito escola a partir do modelo

hierárquico de dois níveis, discutidos ao longo do estudo. Na primeira etapa, estimou-se o

efeito escola dado por 𝑢0𝑗 que mede o impacto de uma escola específica sobre o desempenho

do aluno. Na segunda etapa, estimou-se a heterogeneidade entre as escolas dado pelo

coeficiente de correlação intraescolar (ICC). Nesta seção será apresentado apenas os

resultados para matemática, já que o desempenho em matemática tende a ser mais afetado

pelas características da escola, enquanto o estudo em linguagem é mais sensível às variáveis

familiares (BARBOSA, 2005). Os demais resultados se encontram no apêndice.

A Tabela 1 apresenta os resultados das estimativas dos coeficientes segundo a proficiência em

matemática, no Saeb de 2017. Os resultados para os demais anos estão no apêndice, em razão

das estimativas serem semelhantes. De acordo com a tabela todas as variáveis deram

estatisticamente significantes a 1%, exceto a média do nível socioeconômico (MNSE) para o

5º ano do ensino fundamental.

76

Tabela 1 - Estimativas dos coeficientes segundo a proficiência em matemática

5º ano do

ensino

fundamental

9º ano do

ensino

Fundamental

3º ano do

ensino

médio

Intercepto 216,09

(0,92)***

243,3

(1,48)*** 261,05***

Fem ‐3,88

(0,33)***

‐14,7

(0,53)***

‐9,53

(0,55)*

Atraso ‐19,63

(0,43)***

‐20

(0,56)***

‐20,21

(0,6)***

NSE 2,32

(0,17)***

2,75

(0,24)***

3,18

(0,25)***

Preto ‐4,26

(0,48)***

‐0,85

(0,64)***

‐1,56

(0,85)

Pardo 4,95

(0,4)***

3,69

(0,48)***

2,38

(0,7)***

MNSE ‐0,88

(0,67)

15,57

(0,8)***

19,17

(1,8)***

Matraso ‐16,82

(2,01)***

‐2,09

(2,5)***

‐18,86

(3,88)***

Fonte: Elaboração do autor (2020)

Em relação ao sexo, observa-se que os alunos tem vantagens comparado com as alunas em

matemática, já que eles se sentem mais seguros nessa disciplina. O 5º ano foi o que

apresentou a menor vantagem dos alunos, com a diferença 3,88 entre os grupos e o 9 º ano a

maior, com 14,7 pontos. Em portugês, as alunas em geral tem um desempenho melhor. O

atraso escolar foi a variável que apresentou maior coeficiente e indicou que os alunos

atrasados tem em média 20 pontos a menos na proficiencia que os alunos regulares. O atraso

médio também mostrou que não é vantajoso estar em uma escola com muitos alunos

atrasados.

Os alunos pretos tem um desempenho inferior aos alunos brancos, sendo a diferença maior

para o 5º ano em torno de 4 pontos. O coeficiente para os alunos pardos apresentaram efeito

postivo, o que pode ser explicado em razão de uma parte considerável da população do estado

da Bahia ser parda. Por fim, como esperado, o nível socioeconômico do aluno e o nível

socioeconômico médio apresentaram efeito postivo, já que quanto maior a renda do indíviduo

maior tende a ser seu desempenho, assim como quanto maior o percentual de alunos de nível

socioeconomicos elevado na escola, melhor o desempenho.

77

0

100

200

300

Fre

que

ncy

-40 -20 0 20 40

Efeito escola

5.2.3 Efeito escola

A primeira medida de efeito escola a ser estimada é dada pelos resíduos e pode ser definida

como o número de pontos na proficiência de cada aluno atribuído ao fato de ele frequentar

uma escola específica. Por construção, o número de pontos na proficiência tem média zero no

conjunto de escolas consideradas e pode assumir valores positivos ou negativos, conforme

ilustra o histograma para o 9º ano. Observa-se que a maior parte das escolas possuem valores

próximos a zero, todavia, existem um percentual considerável de escolas que exercem o

impacto de 20 pontos tanto positivos quanto negativos, o que equivale, segundo Andrade e

Soares (2008), a aproximadamente um ano de escolaridade na escala SAEB.

Fonte: Elaboração do autor (2020)

O valor de 20 pontos tem como base o número de pontos na escala do SAEB que cada

estudante deveria acumular em quatro anos de escolarização. Isto é, para que o aluno do 5º

ano com nível de desempenho adequado chegue ao 9º ano com o mesmo nível de

desempenho, ele deve obter 75 pontos entre uma série e outra, o que equivale, a

aproximadamente a 20 pontos em cada ano (ALVES; SOARES, 2008; ALVES; SOARES;

XAVIER, 2016). A Tabela 2 mostra o percentual de escolas que alcançaram esse resultado

para o modelo 3.

Tabela 2 – Percentual de escolas com u0j (efeito da escola) inferior ou superior a 20 pontos, no SAEB de 2007 a

2017

u0<= -20 u0>=20

Ano 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM

2007 0,4% 0,5% ‒ 1,8% 2,0% ‒

2011 2,2% 4,6% 7,3% 5,3% 6,0% 4,9%

2017 5,0% 4,1% 2,8% 7,0% 5,6% 3,7%

Fonte: Elaboração do autor (2020)

Figura 18 - Efeito escola em matemática

78

É importante ressaltar que quando se obtém um valor alto e positivo para uma determinada

escola, significa que esta possui práticas internas que possibilitam aos seus alunos resultados

melhores do que era esperado, comparando-se com as demais escolas de características de

entrada semelhantes, incluídas na amostra (SOARES; ALVES, 2013). Entretanto, quando se

obtém valores negativos para esse efeito da escola, não quer dizer que os alunos dessa dada

escola estejam “desaprendendo”. Neste caso, a medida sinaliza um desempenho abaixo da

média das escolas incluídas no estudo (ANDRADE; SOARES, 2008). Conforme Andrade e

Soares (2008), as escolas que obtiveram um efeito alto e positivo precisam ser mais bem

analisadas por metodologias qualitativas, a fim de compreender os fatores que impactam na

aprendizagem

A segunda medida de efeito escola estimada foi a de heterogeneidade entre as escolas com

base no coeficiente de correlação intraescolar, que mede o quanto da variação do desempenho

escolar entre os alunos é explicado por diferenças existente entre as escolas. O Gráfico 8

mostra a evolução da heterogeneidade entre as escolas da rede pública de 2007 a 2017 em

cada série, segundo a proficiência em matemática para o modelo nulo, com apenas intercepto;

modelo com as variáveis explicativas e o modelo 3 incluindo as dummies de mesorregião.

Gráfico 8 ‒ Evolução da heterogeneidade das escolas em matemática, por série, no período de 2007 a 2017

Fonte: Elaboração do autor (2020) com base nos dados do SAEB de 2007 a 2017

Analisando o SAEB mais recente, de 2017, a partir do modelo nulo é possível inferir que pelo

menos 14% da proficiência do aluno podem ser atribuídos às características das escolas. Para

o modelo 2, 16,4% do desempenho do aluno pode ser explicado pelas diferenças entre as

escolas no 5º ano ensino fundamental; 12,5% no 9º ano e 9,3% para o 3º ano do ensino

médio. Para o modelo 3, com a inclusão das dummies de mesorregião, 15,6% do desempenho

0

5

10

15

20

25

30

2007 2011 2017

Per

cen

tua

l

Modelo 1 (nulo)

0

5

10

15

20

2007 2011 2017

per

cen

tua

l

Modelo 3

0

5

10

15

20

25

2007 2011 2017

Per

cen

tua

l

Modelo 2

79

do aluno pode ser explicado pelas diferenças entre as escolas no 5º ano;11,2% no 9º ano e 8%

no ensino médio.

Teddlie e Reynolds (2000), na sua revisão de literatura encontrou valores entre 11 e 12% para

as escolas da Holanda, de 12% para a Alemanha e de 10% para os EUA. No Brasil, Fletcher

(1997), usando dados do SAEB de 1995 encontrou a heterogeneidade de 14% para o 9º ano

em matemática. Andrade e Soares (2008) ao analisar as escolas brasileiras, para o SAEB de

2003, obtiveram a medida de heterogeneidade para o desempenho em matemática em torno de

15% a 20% no 5º ano e de 10% a 15% no 9º do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio.

Portanto, à medida que se adicionou variáveis no nível da escola, como o descrito pelo

Modelo 2 e 3, as diferenças de desempenho dos alunos se reduziu em relação ao modelo com

apenas intercepto, para as três etapas de ensino. Como esperado, a variabilidade entre as

escolas foi maior para o 5º ano do ensino fundamental, já que esta etapa é majoritariamente da

responsabilidade dos municípios, sendo os resultados influenciados pelas políticas locais de

educação e investimento, ou seja, algumas prefeituras podem dar um maior peso a educação.

Os resultados evidenciam a heterogeneidade entre as escolas, o que pode implicar nas

diferenças de desempenho entre os alunos, inclusive os de mesma rede de ensino. Ademais,

verifica-se a desigualdade educacional entre os grupos de alunos definidos por sexo, cor/raça,

nível socioeconômico e que estão em atraso escolar. Deste modo, faz-se necessário políticas

que melhorem o aprendizado de todos os alunos da escola e que minimize os impactos de

origem socioeconômica desfavorecida a fim de reduzir as desigualdades educacionais.

80

6 CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como objetivo geral verificar se o efeito escola melhora o desempenho dos

alunos do estado da Bahia com base nos dados do SAEB do ensino fundamental e médio da

rede pública, no período de 2007 a 2017. Inicialmente foi apresentado uma revisão da

literatura sobre a influência da escola no desempenho, seguida da contextualização dos

indicadores educacionais no estado da Bahia, da discussão do modelo usado nas estimações e

dos resultados encontrados.

A literatura tem apontado que o desempenho do aluno pode ser influenciado por diferentes

fontes: ao próprio indivíduo, ao ambiente familiar e os fatores escolares. Os fatores escolares

mostram-se de suma relevância, já que a escola é principal instrumento de intervenção de

política pública para melhorar a educação de uma sociedade. Neste sentido, a escola pode ser

o canal de assegurar um desempenho adequado dos alunos e de amenizar os impactos das

condições adversas do contexto familiar.

Com base nos resultados da análise descritiva para o estado da Bahia foi possível observar a

distribuição dos alunos de uma mesma etapa em diferentes níveis de aprendizado. Isso

significa que embora os alunos estejam no mesmo ano escolar, encontram-se em diferentes

fases de aprendizagem, necessitando de diferentes soluções para melhorar o desempenho.

Ademais, observou um percentual elevado de alunos no nível abaixo do básico,

principalmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Desses alunos que

estão nesse nível há uma maior proporção de alunos pretos, em atraso escolar e de menor

nível socioeconômico.

A partir do uso do Modelo Linear Hierárquico de dois níveis foi possível calcular o efeito

escola, tanto o efeito de cada escola sobre o desempenho do aluno quanto a variabilidade

entre elas. Em relação a primeira medida, verificou-se que um percentual significativo de

escolas com efeito alto, maior que 20 pontos positivos, equivalendo a um ano de escolaridade.

Sobre a segunda medida, encontrou uma heterogeneidade entre as escolas da rede pública de

ensino do estado da Bahia e, como esperado, as escolas do 5º ano do ensino fundamental

foram as que apresentaram maior variabilidade.

Diante disso, foi possível concluir que a escola pode melhorar o desempenho dos alunos e

amenizar os efeitos das desigualdades socioeconômicas. Deste modo, espera-se com esta

pesquisa contribuir nas discussões do efeito escola sobre desempenho e na orientação de

81

estudos para identificar mais claramente as características das escolas que podem melhorar a

aprendizagem. A partir das políticas e práticas internas da escola é possível evitar problemas

como abandono, evasão, assegurar o aprendizado adequado aos estudantes e reduzir as

desigualdades educacionais.

No que se refere as limitações desta pesquisa, destaca-se que não foi identificado os fatores

internos a escola que podem estar impactando na aprendizagem e não se considerou as

diferenças entre zona urbana e rural, mas se pretende fazer essas análises em trabalhos

posteriores. A segunda limitação se refere que o ideal seria o uso de dados longitudinais, ou

seja, que acompanhassem os estudantes ao longo do tempo.

82

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APÊNDICES

89

APÊNDICE A- Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas

Tabela A- 1 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 5º ano do ensino

fundamental em Matemática segundo as edições do SAEB

2007 2009 2011 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1 (nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 179,32

(0,26)

183.,43

(0,72)

187,32

(0,88)

178,98

(0,32)

181,04

(1)***

183,94

(1,17)

187,45

(0,3)

192,83

(1,18)

194,9

(1,4)

Fem

‐3,2 (0,24)

‐3,2 (0,24)

0,256 (0,28)

0,256 (0,28)

‐3,3

(1,11)** ‐3,3

(1,11)

Atraso

‐0,57

(1,68)*

‐10,8

(0,29)*

‐0,6

(0,29)

‐0,6

(0,29)

‐13,27

(1,65)

‐13,3

(1,65)

NSE

0,1 (0,13)

0,1 (0,13)

‐0,14 (0,14)

‐0,14 (0,14)

3,16

(0,61) 3,16

(0,61)

Preto

‐1,45

(0,34)

‐1,59

(0,34)

‐0,85

(0,38)

‐0,85

(0,38)

‐4,56

(1,85)***

‐4,56

(1,85)***

Pardo

3,67

(0,28)

3,64

(0,28)

‐0,22

(0,29)

‐0,22

(0,29)

1,91

(1,37)***

1,90

(1,37)***

MNSE

9,93

(0,73)***

8,11

(0,8)

10,06

(0,99)***

8,07

(1,09)***

15,37

(0,63)

14,34

(0,7)

Matraso

‐0,57

(1,68)

‐2,94

(1,7)*

‐6,24

(2,38)*

‐6,24

(2,38)*

1,26

(2,44)***

‐0,18

(2,45)***

MESO_

EO

‐8,49

(1,4)***

‐5,77

(1,4)***

‐4,94

(1,25)***

MESO_

VS

‐5,66

(0,93)***

‐7,42

(1,16)***

‐7

(1,16)***

MESO_NOR

‐3,54

(0,9)***

‐2,57

(1,04)

‐0,81

(1,05)

MESO_CN

‐3,07

(0,81)***

‐3,59

(0,94)***

‐4,99

(0,86)***

MESO_CS

‐1,53

(0,80)

1,85

(1,21)

2,96

(0,99)**

MESO_

SUL

‐6,09

(0,75)***

‐2,44

(1,09)

‐1,46

(0,9)

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

2013 2015

Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 184,89

(0,37)

189,45

(2,5)

195,47

(1,61)

196,98

(0,3)

203,87

(0,7)***

204,79

(0,93)

Fem

‐0,94

(3,06)

‐0,94

(3,06)

‐5,1

(0,32)***

‐5,1

(0,32)***

Atraso

‐14,99

(3,16)***

‐14,99

(3,16)***

‐15,36

(0,43)***

‐15,36

(0,43)***

NSE

4,85

(1,22)***

4,85

(1,22)***

2,25

(0,21)***

2,25

(0,21)***

Preto

‐0,53

(2,36)

‐0,58

(2,36)

‐0,81

(0,57)

‐0,77

(0,57)

Pardo

4,54

(2,35)

4,54

(2,35)

3,81

(0,47)***

3,81

(0,47)***

MNSE

17,88

(0,69)***

17,82

(1,51)***

14,98

(0,6)***

14,27

(0,64)

Matraso

‐3,49

(3,68)

‐4,92

(3,66)

‐4,2

(1,8)

‐4,1

(1,8)

MESO_

EO

‐3,73

(1,48)

‐1,89

(1,33)

MESO_

VS

‐3,68

(1,31)

‐2,23

(1,16)

MESO_

NOR

2,39

(1,31)

‐2,24

(0,95)

MESO_

CN

‐5,26

(1,04)***

‐4,65

(0,81)***

MESO_

CS

6,73

(1,06)***

3,54

(0,89)***

MESO_

SUL

‐0,33

(1,06)

‐1,16

(0,82)

90

Tabela A- 2 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 5º ano do ensino

fundamental em Língua portuguesa segundo as edições do SAEB

2007 2009 2011 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo

3

Intercepto 164,36 (0,26)

164,07 (0,68)***

168,71 (0,82)

162,17 (0,29)

163,56 (0,9)

167,39 (1,93)

171,16 (0,29)

168,63 (1,14)

172,42 (1,34)

Fem

7,34

(0,24)***

7,33

(0,24)***

‐0,29

(0,27)

‐0,29

(0,27)

11,05

(0,81)***

11,05

(0,81)***

Atraso

‐13,47 (0,28)***

‐13,47 (0,28)***

‐0,28

(0,29) ‐0,28

(0,29) ‐12,38

(1,83)*** ‐12,38

(1,83)***

NSE

‐0,29

(0,28)

‐0,29

(0,13)

‐0,26

(0,14)

‐0,26

(0,14)

1,94

(0,6)***

1,94

(0,6)***

Preto

‐1,42 (0,33)***

‐1,59 (0,33)***

0,21

(0,37) 0,13

(0,37)

‐2,97

(1,59) ‐3

(1,59)

Pardo

3,78

(0,28)***

3,74

(0,28)***

0,05

(0,31)

0,03

(0,31)

2,92

(1,14)***

2,9

(1,14)

MNSE

11,47 (0,7)***

9,26 (0,72)***

11,44

(0,88)*** 8,78

(0,97)*** 16,28

(0,58)*** 14,44

(0,64)***

Matraso

‐0,74

(1,61)

‐3,38

(1,61)

‐3,47

(2,16)

‐4,9

(2,19)**

0,33

(2,52)

‐1,94

(2,16)

MESO_ EO

‐10,19 (1,29)***

‐5,44

(1,27)***

‐6,24

(1,08)***

MESO_

VS

‐6,72

(0,89)***

‐7,63

(1,09)***

‐9,07

(1,07)***

MESO_ NOR

‐4,64 (0,87)***

‐4,44 (0,95)

‐2,8

9(0,95)**

MESO_

CN

‐4,78

(0,78)***

‐5,53

(0,85)***

‐7

(0,82)***

MESO_ CS

‐2,54 (0,77)***

0,35

(1,1)*** 0,27

(0,89)

MESO_

SUL

‐5,81

(0,72)***

‐2,93

(1,1)*

‐1,59

(0,82)

2013 2015 2017

Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo

3

Intercepto 170,76

(0,33)

171,75

(1,82)

173,44

(1,40)

185,22

(0,33)

186,23

(0,71)

189,7

(0,93)

191,79

(0,34)

197,99

(0,78)

206,6

(0,96)

Fem

8,73 (2,01)***

8,73 (2,01)***

8,02 (0,4)***

8,02 (0,4)***

8,89 (0,37)***

8,9 (0,37)***

Atraso

‐15,68

(2,14)***

‐15,68

(2,14)***

‐18,91

(0,42)***

‐18,91

(0,42)***

‐22,34

(0,49)***

‐22,34

(0,49)***

NSE

3,42 (1,31)***

3,42 (1,31)***

1,69 (0,21)***

1,69 (0,21)***

1,88 (0,2)***

1,88 (0,2)***

Preto

2,95

(1,83)

2,95

(1,83)

‐0,05

(0,57)

‐0,52

(0,57)

‐4,86

(0,58)***

‐4,96

(0,58)***

Pardo

4,43 (1,89)***

4,43 (1,89)***

4,84 (0,49)***

4,84 (0,49)***

5,33 (0,44)***

5,35 (0,44)***

MNSE

16,52 (0,58)***

15,78 (0,64)***

19,17 (0,63)***

17,54 (0,67)***

‐0,71 (0,71)

‐0,79 (0,69)

Matraso

‐6,53

(2,86)

‐8,29

(2,84)**

‐2,99

(1,93)

‐4,28

(1,92)

‐18,42

(2,12)***

‐17,96

(2,1)***

MESO_ EO

‐4,24

(1,32)***

‐3,93

(1,43)*

‐12,65

(1,6)***

MESO_

VS

‐3,97

(1,12)***

‐6,03

(1,25)***

‐14,56

(1,29)***

MESO_ NOR

‐0,82

(1,09)

‐5,02

(1,01)***

‐14,97

(1,03)***

MESO_

CN

‐6,39

(0,94)***

‐8,22

(0,89)***

‐13,79

(1)***

MESO_ CS

4,13

(0,96)***

0,6

(0,91)

‐5,54

(0,95)***

MESO_

SUL

‐0,61

(0,93)

‐1,82

(0,87)

‐8,53

(1)***

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

91

Tabela A- 3 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 9º ano do ensino

fundamental em Matemática segundo as edições do SAEB

2007 2009 2011 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1 (nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 227,26

(0,37)

240,98

(1,17)

235,83

(1,42)

224,54

(0,33)

236,87

(0,78)

233,62

(1,01)

228,16 239,55

(1,56)

233,07

(1,9)

Fem

‐11,9 (0,3)

‐11,9 (0,3)

‐13,16

(0,29)*** ‐13,16

(0,29)***

‐12,9

(1,11)*** ‐12,9

(1,11)***

Atraso

‐16,9

(0,3)

‐16,9

(0,3)

‐15,9

(0,32)***

‐15,9

(0,32)***

‐18,8

(0,88)***

‐18,8

(0,88)***

NSE

1,74 (0,11)

1,74 (0,11)

2,18

(0,11)*** 2,18

(0,11)***

2,24

(0,28)*** 2,24

(0,28)***

Preto

‐1,9

(0,4)

‐1,6

(0,4)

‐1,98

(0,37)***

‐1,81

(0,37)***

‐1,52

(1,45)

‐1,36

(1,45)

Pardo

0,36 (0,33)***

0,43 (0,33)***

0,54

(0,31) 0,6

(0,30)

2,18 (0,9)

2,18 (0,9)

MNSE

7,36

(0,51)

9,67

(0,6)

7,16

(0,46)***

8,26

(0,53)***

10,32

(0,55)***

12,13

(0,63)***

Matraso

1,99 (2,4)***

3,4 (2,4)***

‐1,74 (2,25)

‐1,3 (2,18)

7,07

(2,7)** 8,88

(2,7)***

MESO_

EO

1,4

(1,6)***

‐0,99

(1,39)

1,4

(1,83)

MESO_ VS

0,25

(1,32)***

‐0,53 (1,12)

0,41

(1,45)

MESO_

NOR

6,32

(1,31)

4,7

(1,04)***

8,71

(1,3)***

MESO_ CN

5,83

(1,03)

2,85

(0,95)**

5,64

(1,18)***

MESO_

CS

11,86

(1,12)

10,65

(1,06)***

12,96

(1,28)***

MESO_ SUL

1,93

(1,0)***

0,02

(1,17)

5,06

(1,19)***

2013 2015 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 228,46

(0,38)

241,23

(1,35)

234,68

(1,63)

237,43

(0,32)***

256,39

(1,15)

257,53

(1,33)

Fem

‐10,69

(0,67)***

‐10,69

(0,67)***

‐12,04

(0,42)***

‐12,04

(0,42)***

Atraso

‐18,57

(0,61)***

‐18,57

(0,61)***

‐15,57

(0,5)***

‐15,57

(0,5)***

NSE

1,56

(0,2)***

1,56

(0,2)***

1,74

(0,2)***

1,74

(0,2)***

Preto

‐0,8

(0,79)

‐0,7

(0,79)

‐1,21

(0,62)

‐1,23

(0,62)

Pardo

3,65

(0,55)***

3,67

(0,55)***

1,06

(0,53)

1,05

(0,53)

MNSE

9,17

(0,67)***

11,31

(0,75)***

0,86

(0,52)

0,99

(0,52)

Matraso

‐3,8 (2,87)

‐0,61 (2,87)

‐14,73

(2,46)*** ‐14,73

(2,44)***

MESO_

EO

2,49

(1,48)

‐4,53

(1,52)**

MESO_ VS

1,51 (1,36)

‐5,63

(1,67)***

MESO_

NOR

8,33

(1,21)***

‐4,10

(0,96)***

MESO_

CN

4,19

(1,11)***

‐2,27

(0,93)

MESO_

CS

12,97

(1,26)***

3,62

(0,92)***

MESO_ SUL

3,77 (1,11)***

‐0,82 (0,97)

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

92

Tabela A- 4 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 9º ano do ensino

fundamental em Língua portuguesa segundo as edições do SAEB

2007 2009 2011 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 218,36

(0,4)

217,5

(1,15)

214,19

(1,53)

221,6

(0,38)

219,81

(0,84)

218,96

(1,17)

222,44

(0,39)

217,61

(1,33)

213,6

(1,67)

Fem

9,36 (0,3)***

9,36 (0,3)***

10,96 (0,3)***

10,96 (0,3)***

12,09 (1,03)***

12,09 (1,03)***

Atraso

‐17,54

(0,35)***

‐17,54

(0,35)***

‐17,6

(0,35)***

‐17,6

(0,35)***

‐16,02

(0,88)***

‐16,02

(0,88)***

NSE

1,6 (1,12)***

1,6 (1,12)***

2,47 (0,12)***

2,47 (0,12)***

2,58 (0,26)***

2,58 (0,26)***

Preto

‐0,84

(0,45)

‐0,67

(0,45)

‐1,84

(0,41)***

‐1,77

(0,41)***

‐2,12

(1,13)

‐2

(1,13)

Pardo

0,62

(0,37)

0,66

(0,37)

0,57

(0,34)

0,59

(0,34)

1,03

(0,78)

1,04

(0,78)

MNSE

9,32

(0,53)***

10,85

(0,63)***

9,37

(0,48)***

9,6

(0,56)***

12,72

(0,5)***

13,71

(0,56)***

Matraso

6,24

(2,4)*

6,84

(2,4)*

‐0,76

(2,52)

‐1,3

(2,52)

9,7

(2,52)***

10,55

(257)***

MESO_

EO

‐0,80

(0,72)

‐3,76

(1,6)

0,19

(1,64)

MESO_

VS

‐2,17

(1,54)

‐3,9

(1,3)

‐1,57

(1,4)

MESO_

NOR

4,6

(1,43)***

2,84

(1,24)

6,29

(1,25)***

MESO_

CN

3,61

(1,15)**

0,4

(1,1)

2,9

(1,12)

MESO_

CS

8,12

(1,13)***

6,04

(1,18)***

7,99

(1,2)***

MESO_

SUL

2,43

(1,1)

0,38

(1,38)

5,46

(1,13)***

2013 2015 2017 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 224,73 (0,39)

225,76 (1,32)

220,68 (1,61)

233,56 (0,4)

239,77 (1,34)

243,49 (1,61)

235,91 (0,41)

239,17 (1,19)

232,93 (1,54)

Fem

9,5

(0,84)***

9,5

(0,84)***

10,18

(0,55)***

10,18

(0,55)***

8,38

(0,57)***

8,38

(0,57)***

Atraso

‐19,81 (0,67)***

‐19,81 (0,67)***

‐19,6

(0,63)*** ‐19,6

(0,63)***

‐21,18

(0,57)*** ‐21,18

(0,57)***

NSE

2,21

(0,3)***

2,21

(0,3)***

1,41

(0,3)***

1,41

(0,3)***

2

(0,26)***

2

(0,26)***

Preto

‐0,89 (0,78)

‐0,78 (0,78)

‐0,83 (0,75)

‐0,9 (0,75)

0,34

(0,67) 0,5

(0,67)

Pardo

3,1

(0,69)***

3,1

(0,69)***

1,9

(0,56)***

1,9

(0,56)***

3,43

(0,58)***

3,43

(0,58)***

MNSE

11,6 (0,64)***

13,02 (0,72)***

0,4 (0,65)

0,47 (0,66)

15,59

(0,71)*** 17,27

(0,76)***

Matraso

‐1,82

(2,9)

0,36

(2,97)

‐10,18

(0,55)***

‐12,15

(2,92)***

‐2,73

(2,5)

0,55

(2,53)

MESO_ EO

1,14 (1,42)

‐7,64

(2)***

1,3

(1,71)

MESO_

VS

0,28

(1,4)

‐8,35

(1,67)***

4,23

(1,43)**

MESO_ NOR

5,89 (1,23)***

‐6,69

(1,22)***

6,38

(1,32)***

MESO_

CN

2,74

(1,14)

‐6,7

(1,22)***

1,33

(1,14)

MESO_ CS

10,25 (1,96)***

0,84

(1,13)

12,3

(1,13)***

MESO_

SUL

5,85

(1,14)***

‐0,05

(1,27)

5,43

(1,21)***

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

93

Tabela A- 5 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 3º ano do ensino médio

em Matemática segundo as edições do SAEB

2011 2013 2015 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo

1(nulo)

Modelo 2

Intercepto 244,22

(4,44)

299,48

(10,32)

315,41

(9,4)

236,69

(2,04)

253,42

(3,55)

244,63

(1,82)

262.43

(4,97)***

Fem

‐22,42 (2,87)***

‐22,51 (2,83)***

‐10,54 (2,55)***

‐8,19 (2,53)***

Atraso

‐29,11

(3,39)***

‐29,11

(3,39)***

‐14,89

(2,94)***

‐10,27

(2,29)***

NSE

‐0,48 (0,75)

‐0,48 (0,75)

0,61 (0,87)

‐0,15 (0,72)

Preto

‐10,34

(3,6)**

‐10,58

(3,68)**

‐2,68

(4,35)

‐2,22

(2,72)

Pardo

‐2,4 (4,13)

‐2,4 (4,17)

‐7,22 (3,29)

‐4,3 (2,31)

MNSE

3,34

(10,36)

11,72

(7,62)

9,43

(3,7)

8,51

(2,72)**

Matraso

‐51,5 (15,78)**

‐50,25 (15,4)**

3,14 (11,04)

‐13,65 (7,32)*

MESO_

EO

‐36,6

(8,18)

MESO_ VS

‐16,32

(8,34)***

MESO_

NOR

‐40,40

(15,57)***

MESO_ CN

‐22,43

(7,40)**

MESO_

CS

‐4,94

(12,39)***

MESO_ SUL

‐21,85 (7,3)**

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela A- 6 Estimativas dos coeficientes das variáveis explicativas dos modelos para o 3º ano do ensino médio

em Língua portuguesa segundo as edições do SAEB

2011 2013 2015 2017 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo

1(nulo)

Modelo 2 Modelo 3

Intercepto 243,93

(3,75)

276,79

(8,64)

292,04

(6,39)

231,25

(2,59)

237,86

(6,55)

243,82

(2,99)

255,54

(6,72)

243,05

(0,64)

259,06

(2,03)

250,45

(2,82)

Fem

3,3

(2,89)

3,19

(2,89)

7,27

(2,19)***

4,35

(3,5)

7,73

(0,59)***

7,73

(0,59)***

Atraso

‐29,73

(2,17)***

‐29,73

(2,17)***

‐16,55

(4,47)***

‐21,53

(3,67)***

‐23,68

(0,73)***

‐23,68

(0,73)***

NSE

‐0,48

(0,71)

‐0,48

(0,71)

0,22

(0,82)

1,12

(1,14)

3,62

(0,32)***

3,62

(0,32)***

Preto

‐0,73

(4,17)

‐0,87

(4,31)

1,72

(2,98)

0,69

(4,14)

0,19

(0,75)

0,31

(0,75)

Pardo

‐0,38

(3,09)

‐0,42

(3,1)

1,68

(5,37)

0,88

(3,06)

1,5

(0,7)

1,52

(0,7)

MNSE

‐5,06

(8,04)

1,52

(6,16)

11,02

(3,27)**

15,95

(3,85)***

17,8

(1,47)***

21,55

(1,63)***

Matraso

‐44,07

(11,51)***

‐42,54

(7,69)***

‐9,98

(11,3)

‐13,77

(12,52)

‐22,35

(4,1)***

‐14,58

(4,45)***

MESO_

EO

‐33,74

(6,98)***

1,26

(2,24)

MESO_VS

‐17,46

(5,03)**

1,48

(2,17)

MESO_

NOR

‐35,64

(9,03)***

11,31

(1,92)***

MESO_CN

‐21,74 (4,75)***

3,57

(1,63)

MESO_CS

‐5,19

(0,5)

10,79

(1,67)***

MESO_ SUL

‐23,56 (5,46)***

5

(1,77)**

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

94

APÊNDICE B- Percentual de escolas com 𝒖𝟎𝒋 inferior ou superior a 20 pontos, no

SAEB de 2007 a 2017

Tabela B- 1 Percentual de escolas com 𝑢0𝑗 (efeito da escola) inferior ou superior a 20 pontos em língua

portuguesa, no SAEB de 2007 a 2017 para o modelo 2

u0<= -20 u0>=20

Ano 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM

2007 1,2% 2,0% ‒ 2,4% 2,2% ‒

2009 2,6% 4,9% ‒ 4,9% 3,9% ‒

2011 1,7% 3,7% 4,9% 3,6% 5,0% 7,3%

2013 3,0% 2,8% 0,0% 6,4% 4,3% 0,0%

2015 3,2% 5,4% 2,4% 5,7% 6,4% 2,4%

2017 6,5% 4,8% 3,5% 8,5% 5,9% 5,0% Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela B-2 Percentual de escolas com 𝑢0𝑗 (efeito da escola) inferior ou superior a 20 pontos em matemática, no

SAEB de 2007 a 2017 para o modelo 2

u0<= -20 u0>=20

Ano 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM

2007 0,4% 1,0% ‒ 1,7% 3,3% ‒

2009 4,5% 2,9% ‒ 6,0% 4,0% ‒

2011 2,4% 5,8% 7,3% 5,8% 7,2% 14,6%

2013 5,8% 3,4% 0,0% 8,9% 5,2% 0,0%

2015 1,6% 1,2% 0,0% 5,8% 3,5% 0,0%

2017 5,6% 4,7% 3,7% 7,8% 6,4% 5,3% Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela B-3 Percentual de escolas com 𝑢0𝑗 (efeito da escola) inferior ou superior a 20 pontos em língua

portuguesa, no Saeb de 2007 a 2017 para o modelo 3

u0<= -20 u0>=20

Ano 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM

2007 0,5% 1,7% ‒ 1,0% 1,5% ‒

2009 2,1% 4,5% ‒ 4,3% 3,2% ‒

2011 1,2% 3,5% ‒ 2,9% 4,1% 2,4%

2013 2,7% 2,8% ‒ 6,1% 3,7% ‒

2015 270,0% 4,8% ‒ 490,0% 6,4% ‒

2017 5,9% 4,5% 3,4% 7,2% 5,4% 3,3% Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela B-4 Percentual de escolas com 𝑢0𝑗 inferior ou superior a 20 pontos em matemática, no SAEB de 2007 a

2017 para o modelo 3

u0<= -20 u0>=20

Ano 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM 5º ano EF 9º ano EF 3º ano EM

2007 0,4% 0,5% ‒ 1,7% 2,0% ‒

2009 4,2% 2,5% ‒ 5,7% 2,6% ‒

2011 2,2% 4,6% 7,3% 5,3% 6,0% 4,9%

2013 5,4% 3,0% ‒ 8,2% 4,3% ‒

2015 130,0% 1,1% ‒ 540,0% 3,3% ‒

2017 5,00% 4,10% 2,80% 7,00% 5,60% 3,70% Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

95

APÊNDICE C- Evolução da heterogeneidade das escolas em língua portuguesa, por

série, no período de 2007 a 2017

Tabela C- 1 Evolução da heterogeneidade das escolas para o Modelo 1 (nulo)

Língua portuguesa Matemática 2009 2013 2015 2009 2013 2015

5º ano do ensino

fundamental 14,01 17,70 15,35 15,80 20,65 14,77

9º ano do ensino

fundamental 13,39 13,01 12,28 11,99 14,65 10,69

3º ano do ensino

médio ‒ 7,92 14,68 ‒ 7,27 9,55

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela C- 2 Evolução da heterogeneidade das escolas para o Modelo 2

Língua portuguesa Matemática 2009 2013 2015 2009 2013 2015

5º ano do ensino

fundamental 12,76 13,13 10,64 14,91 16,50 11,18

9º ano do ensino

fundamental 10,36 10,32 11,77 9,99 12,80 10,00

3º ano do ensino

médio ‒ 2,85 6,76 ‒ 4,28 4,39

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017

Tabela C- 3 Evolução da heterogeneidade das escolas para o Modelo 3

Língua portuguesa Matemática 2009 2013 2015 2009 2013 2015

5º ano do ensino

fundamental 12,39 12,49 10,07 14,58 15,70 10,73

9º ano do ensino

fundamental 9,91 9,70 11,26 9,05 11,76 9,54

3º ano do ensino

médio ‒ ‒ ‒ ‒ ‒ ‒

Fonte: Elaboração própria (2020) com base nos dados do SAEB 2007 a 2017