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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS ANA PAULA PEREIRA DIOGO O EFEITO DAS REGRAS DO FIES SOBRE AS MATRÍCULAS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR PRIVADAS NO BRASIL NOS ANOS DE 2014, 2015 E 2017 Salvador 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

ANA PAULA PEREIRA DIOGO

O EFEITO DAS REGRAS DO FIES SOBRE AS

MATRÍCULAS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

SUPERIOR PRIVADAS NO BRASIL NOS ANOS DE 2014,

2015 E 2017

Salvador

2019

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ANA PAULA PEREIRA DIOGO

O EFEITO DAS REGRAS DO FIES SOBRE AS

MATRÍCULAS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

SUPERIOR PRIVADAS NO BRASIL NOS ANOS DE 2014,

2015 E 2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de

Ciências Econômicas da Universidade Federal de Bahia

como requisito final à obtenção do grau de bacharel

em Ciências Econômicas.

Área de concentração: Economia da educação.

Orientadora: Prof.ª Dra. Cláudia Sá Malbouisson Andrade.

Coorientador: Prof.º Dr. º André Luís Mota dos Santos.

Salvador

2019

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Ficha catalográfica elaborada por Vânia Cristina Magalhães CRB 5- 960

Diogo, Ana Paula Pereira

D591 O efeito das novas regras do FIES sobre as matrículas das instituições

de ensino superior privada no Brasil nos anos de 2014, 2015 e 2017./

Ana Paula Pereira Diogo. – 2019.

73 f. il. graf.; tab.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Federal

da Bahia. Faculdade de Economia, Salvador, 2019.

Orientadora: Profa. Dra .Cláudia Sá Malbouisson Andrade.

1.Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior. 2.

Educação (Superior) – Financiamento. 3. Economia da educação. I.

Andrade, Cláudia Sá Malbouisson. III. Universidade Federal da Bahia.

Faculdade de Economia.

CDD – 379.118

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ANA PAULA PEREIRA DIOGO

O EFEITO DAS REGRAS DO FIES SOBRE AS

MATRÍCULAS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO

SUPERIOR PRIVADAS NO BRASIL NO ANO DE 2014, 2015

E 2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado no curso de Ciências Econômicas da

Universidade Federal da Bahia como requisito final à obtenção do grau de bacharel em

Ciências Econômicas.

Aprovado em 13 de dezembro de 2019.

Banca examinadora

——————————————————————————————

Prof.º Dr. º André Luís Mota dos Santos - Coorientador

Universidade Federal da Bahia – FE/UFBA

——————————————————————————————

Prof.ª Dra. Diana Lúcia Gonzaga da Silva

Universidade Federal da Bahia – FE/UFBA

——————————————————————————————

Prof.ª Me. Verônica Ferreira Silva dos Santos

Universidade Federal de Sergipe - UFS

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AGRADECIMENTOS

Durante essa caminhada inúmeros foram os pedidos. É chegada a melhor hora, a de

agradecer. Aprendi que não se chega a lugar algum sozinho e que muitas pessoas

contribuem para que a caminhada seja mais leve e ao mesmo tempo firme, mais alegre

apesar de ter momentos de tristezas.

O primeiro agradecimento vai para ele, o pai de todas as coisas, de todas as criaturas, para o

Deus que em sua infinita misericórdia sustentou-me até a conclusão dessa etapa e que

continuará a me sustentar por toda a minha caminhada nessa jornada, denominada vida.

Agradecer a minha querida avó, que tenho como meu porto seguro e o pai que nunca

conheci. Com ela aprendi que a humildade, a simplicidade e a empatia são virtudes que

entre tantas outras se sobressaem para serem praticadas no nosso caminhar. Essa avó

maravilhosa, que apesar de não ser alfabetizada incentivou todos os seus filhos a buscarem

o estudo. A ela meus sinceros agradecimentos e meu eterno amor.

A minha mãe Eliene, por todo apoio dado, em orações, em palavras e ações. Essa sábia

mulher, que apesar de não se ter sentado nos bancos de uma universidade, instruiu-me a

seguir o caminho da educação e a buscar melhorias para o futuro. A minhas irmãs, por todo

afeto e carinho.

A meu companheiro, que há 12 anos me incentiva em meus objetivos e, pacientemente

compreendia meus momentos de solidão para escrita desse trabalho.

A minhas amigas Mai, Gi, Lila, Mari e Jaque. A todos os colegas em especial a Altair, Yuri

Barreto e Adermes. Gratidão!

Às professoras Dra. Diana e Me. Verônica, por terem aceitado fazer parte da banca e, ao

professor Dr. André Mota pela coorientação.

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À minha orientadora Cláudia Sá Malbouisson Andrade, por acreditar em meu potencial na

confecção deste trabalho. Obrigada por todos os esclarecimentos, sugestões e correções que

resultaram nesse trabalho de conclusão.

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RESUMO

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), foi criado em 1999, mas passou a figurar

como importante instrumento de acesso ao ensino superior após as reformulações das

condições de financiamento ocorridas em 2010. A partir de tais mudanças o Fies

experimentou uma significativa expansão no número de contratos firmados, passando de 76

mil, em 2010, para 2,18 milhões, em 2015. Frente a esse cenário, decorreu a necessidade de

ajustes desse Fundo ao contexto orçamentário do país. Assim, por meio das Portarias

Normativas nº 21 e nº 23 implementadas em dezembro de 2014 e da Portaria Normativa nº

08 de 02 de julho de 2015, o financiamento passou a ser mais restritivo, o que impactou na

redução do número de financiamentos concedidos. Esse estudo tem como principal objetivo

analisar o impacto trazido pelas regulamentações por qual passou o FIES no segundo

semestre do ano de 2014 e de 2015 sobre a taxa de matrícula das instituições de ensino

superior (IES) privadas. A hipótese levantada é que com a nova regulamentação houve uma

redução no número de matrículas das IES privadas a partir de 2016, quando as novas regras

do FIES foram de fato sentidas. Os dados utilizados na pesquisa foram obtidos no Censo da

Educação Superior, levando-se em consideração os anos de 2014, 2015 e 2017. A

metodologia escolhida propõe estimar um modelo econométrico para analisar o efeito da

variável Matrícula sobre a variável FIES, usando o Método dos Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO). Os resultados sugerem uma correlação positiva ente o número de

financiamentos concedidos pelo FIES e a quantidade de matriculas efetuadas nas IES

privadas.

Palavras-chave: FIES. Financiamento da educação. Novas regras. Matrículas nas IES

privadas.

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ABSTRACT

The Student Financing Fund (FIES) was created in 1999, but has become an important

instrument for access to higher education following the reformulation of financing

conditions in 2010. Since these changes, FIES has experienced a significant expansion in

the number of students. contracts signed, from 76 thousand in 2010 to 2.18 million in 2015.

Given this scenario, the need for adjustments of this Fund to the budgetary context of the

country. Thus, through Normative Rulings No. 21 and No. 23 implemented in December

2014 and Normative Ruling No. 08 of July 2, 2015, financing became more restrictive,

which impacted the reduction in the number of loans granted. The main objective of this

study is to analyze the impact of FIES regulations in the second half of 2015 on the

enrollment rate of private Higher Education Institution. The hypothesis raised is that with

the new regulation there was a reduction in the enrollment of private HEIs from 2016, when

the new FIES rules were actually felt. The data used in the research were obtained from the

Higher Education Census, taking into consideration the years 2014, 2015 and 2017. The

chosen methodology is Ordinary Least Squares Method (OLS). The results suggest the

confirmation of the influence of funding to increase or decrease in enrollment rate.

Keywords: FIES. Financing of education. New rules. Enrollment in private HEIs.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Número de IES por categoria administrativa, 1990-2017.................................. 16

Gráfico 2 - Evolução das IES por categoria acadêmica, 2000-2017 .................................... 17

Gráfico 3 - Matrículas em IES por categoria administrativa, 1990-2017 ............................ 18

Gráfico 4 - Ingressantes por categoria administrativa, 2001-2017 ....................................... 18

Gráfico 5 - Concluintes por categoria administrativa, 2001-2017 ....................................... 19

Gráfico 6 - Taxa de titulação nos setores públicos e privados,2004-2017 ........................... 20

Gráfico 7 - Taxa bruta e Taxa líquida de matrícula .............................................................. 21

Gráfico 8 - Taxa bruta matrícula e percentual por sexo ....................................................... 22

Gráfico 9 - Taxa bruta matrícula e percentual por raça ........................................................ 23

Gráfico 10 - Taxa bruta matrícula e percentual por renda .................................................... 23

Gráfico 11 - Evolução de Bolsas PROUNI (2005-2018)......................................................31

Gráfico 12 - Evolução dos contratos de financiamento, 1999-2017 .................................... 32

Gráfico 13 - Quantidade de ingressantes nas IES Privadas em relação ao número de

bolsas do PROUNI...........................................................................................32

Gráfico 14 - Quantidade de ingressantes nas IES privados em relação ao número de novos

contratos do FIES.............................................................................................33

Gráfico 15 - Gastos com o ProUni, 2009-2017 .................................................................... 34

Gráfico 16 - Despesa paga pelo Governo Federal com o FIES e proporção do PIB (2004 a

2014)................................................................................................................34

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Percentual de ingressantes com bolsas PROUNI e contratos FIES .................... 30

Tabela 2 - Critérios de definição do percentual de financiamento ....................................... 40

Tabela 3 - Estatísticas descritivas das variáveis da equação ................................................ 53

Tabela 4 - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2014 ............................................ 58

Tabela 5 - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2015 ............................................ 59

Tabela 6 - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2017 ............................................ 60

Tabela 7 - Médias e desvio padrão das variáveis em 2015 .................................................. 71

Tabela 8 - Médias e desvio padrão das variáveis em 2017 ......................................................... 72

Tabela 9 - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2017. Regressão robusta.............73

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10

2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 13

2.1 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 13

2.2 EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: A PREPONDERÂNCIA DO

SETOR PRIVADO 15

2.3 ACESSO AO ENSINO SUPERIOR 20

3 FINANCIAMENTO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 25

3.1 FINANCIAMENTO DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS 25

3.2 O FUNDO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES) 35

4 REFERENCIAL TEÓRICO 42

4.1 JUSTIFICATIVA TEÓRICA PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR 42

4.2 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL 46

5 METODOLOGIA E DADOS 51

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES 54

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 61

REFERÊNCIAS 63

APÊNDICES 70

Apêndice A - Médias e desvio padrão das variáveis em 2017 71

Apêndice B - Médias e desvio padrão das variáveis em 2017 72

Apêndice C - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2017. Regressão 73

robusta

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1 INTRODUÇÃO

A educação é um fator primordial para o aumento da produtividade e diminuição das

desigualdades entre países e indivíduos, sendo considerada como uma das principais fontes

do crescimento econômico (SCHULTZ, 1973). Atribui-se também a educação o papel de

dinamizador de externalidades positivas, ou seja, além dos retornos privados a educação

gera os chamados retornos sociais. Melhoria na saúde, longevidade, diminuição da

criminalidade e aumento da qualidade de vida são apenas alguns dos benefícios decorrentes

da educação superior já identificados pela literatura em economia da educação

(BARBOSA-FILHO; PESSÔA, 2008; DYNARSKI, 2015).

O dilema existente na educação superior, no entanto, não é sobre sua relevância do ponto

de vista individual e social e, sim sobre a melhor forma de financiá-la. Os países podem

adotar diferentes arranjos para arcar com os custos decorrentes do ensino superior. No

Brasil, o modelo de financiamento adotado é majoritariamente privado. Além das

universidades públicas gratuitas que são financiadas pelo governo, por meio dos impostos

arrecadados dos contribuintes, o país possui atualmente duas modalidades principais de

compartilhamento dos custos: o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Fundo

de Financiamento Estudantil (FIES) (RESENDE, 2018).

O PROUNI foi criado em 10 de setembro de 2004 por meio da Medida Provisória n.º 13,

convertida na Lei n.º 11.096 de 13 de janeiro de 2005. O programa tornou-se a principal

fonte de financiamento público (indireto) direcionado ao setor privado. Através dele, o

Governo Federal estabelece parcerias com instituições de ensino superior (IES) privadas

para que estas forneçam bolsas parciais (25% a 50%) e integrais a alunos de baixa renda e

sem ensino superior e, como contrapartida, sejam isentas de alguns tributos (BRASIL,

2005).

O FIES constitui-se em um fundo de natureza contábil, e tem como objetivo principal

financiar a graduação de estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não

gratuitos, de instituições cadastradas no programa, que tenham obtido resultado positivo

nas avaliações do Sistema Nacional de Avaliação da Educação (SINAES). Criado no

primeiro semestre de 1999 por meio da Medida Provisória nº 1.827, posteriormente

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convertida na Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, o FIES substituiu o Programa de

Crédito Educativo para Estudantes Carentes (CREDUC) de 1992, originado do Programa

de Crédito Educativo (PCE) de 1975 (BRASIL, 2001).

Garcia (2015) considera o FIES como uma das formas que o governo tem de investir em

capital humano. Ao financiar o estudante no período da graduação, o governo tem

esperança de maiores retornos da renda; aumento da consciência política; redução da

criminalidade, dos vícios e da desigualdade; além do controle da fertilidade.

Desde sua implementação até o período atual, o programa passou por diversas

modificações em suas regras normativas e operacionais, sobretudo em 2010, ano em que o

FIES adotou regras mais flexíveis e como resultado, ganhou expressiva visibilidade ao

passar por significativo crescimento no número de contratos financiados. Tal situação

perdurou até 2015, quando o programa precisou passar por alguns ajustes para se adequar a

realidade econômica do país, sendo para tanto adotadas regras mais restritivas. Tais

mudanças impactaram na quantidade de contratos financiados, provocando uma expressiva

redução deles.

Diante disso, essa monografia pretende responder a seguinte pergunta de pesquisa: qual foi

o impacto das novas regras adotadas no FIES no ano de 2015 sobre a taxa de matrículas no

ensino superior privado brasileiro?

Para tanto, parte-se da hipótese de que com a nova regulamentação houve uma redução no

número de matrículas nas IES privadas a partir de 2016, quando as novas regras do FIES

foram de fato sentidas. Nesse sentido, o objetivo desta monografia é analisar quais foram os

impactos causados pelas novas regras do FIES, trazidas pela Portaria Normativa nº 08 de

02 de julho de 2015, sobre as taxas de matrículas no ensino superior.

A investigação sobre esse programa federal torna-se relevante na medida em que o papel da

educação no que se refere à inclusão social vem sendo amplamente discutida nas agendas

governamentais. Ademais, a análise sobre o FIES torna-se relevante em virtude da

dispendiosa soma de recursos públicos, principalmente entre 2010 a 2015, destinados ao

financiamento dos empréstimos estudantis.

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O tema também se justifica tendo em vista a reduzida produção acadêmica sobre um

assunto de extrema importância para o entendimento das políticas educacionais que é o

financiamento da educação superior privada via Estado. Cabe destacar, que o objeto de

estudo aqui proposto, foi abordado em poucas pesquisas acadêmicas, o que reforça ainda

mais a importância dessa pesquisa para a área da educação.

Espera-se que esta pesquisa possa contribuir para os estudos sobre ensino superior

brasileiro, nas suas dimensões de expansão, acesso e financiamento, sobretudo dos que

objetivam analisar o acesso de alunos que pertencem a famílias de baixa renda, visto serem

estes alunos que mais enfrentam dificuldade no acesso e permanência na educação superior.

Além desta parte introdutória, feita neste primeiro capítulo, esta monografia está

estruturada em mais 6 capítulos, além das considerações finais. No segundo capítulo é feito

um apanhado histórico do ensino superior no Brasil, desde sua criação até o ano de 2017. O

terceiro capítulo é responsável por esclarecer como a política de financiamento para o

ensino superior, adotada pelo Governo, permitiu que esse nível de ensino passasse a ser

mais democrático no que se refere a questão do acesso. Ainda no terceiro capítulo é feito

uma contextualização do FIES, descrevendo a estrutura organizacional que o compõe, bem

como as principais alterações nas regras e os impactos dessas mudanças no quantitativo dos

contratos de financiamento. O quarto capítulo se encarrega de trazer o referencial teórico e

as evidências empíricas que mostram como o acesso ao crédito pode impactar no ingresso e

na permanência do estudante no ensino superior. A base de dados e estratégias empíricas

são apresentados no capítulo cinco. No sexto capítulo é descrita a metodologia adotada na

pesquisa. Já o sétimo capítulo se encarrega de apresentar os resultados alcançados com a

pesquisa. Por fim, no oitavo capítulo são feitas as considerações finais.

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13

2 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

Para compreender o contexto em que se insere esta pesquisa, farei, de início, um breve

panorama do ensino superior no Brasil nas últimas décadas, destacando, principalmente, o

processo de expansão pelo qual vem passando, com o aumento da oferta de vagas,

sobretudo no sistema privado, e a vagarosa inclusão de um novo público, pertencente aos

estratos socioeconômicos mais baixos da população. Será mostrado que a participação

dessa parcela da população no ensino superior, que até o início da década de 1990 era

diminuta, passou a crescer significativamente após as mudanças na política educacional.

2.1 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

As primeiras escolas de ensino superior foram fundadas em 1808. Data dessa época a

criação da escola de Medicina, na Bahia e a de Engenharia, no Rio de Janeiro. Importante

ressaltar que a criação destas escolas era de iniciativa exclusiva da Coroa, a qual mantinha

o monopólio do ensino superior e, como consequência, sua expansão se deu de forma lenta,

chegando a pouco mais de 24 escolas de formação profissional ao final de 1889

(DURHAM, 2003).

A diversificação e ampliação do sistema de ensino superior tem início em 1891, quando

passa a ser permitido pela Constituição que outras instâncias do poder público (estaduais e

municipais), bem como a iniciativa privada, fundassem suas instituições de ensino. Tal

medida possibilitou a criação de 56 novas escolas de ensino superior, em sua maioria

privada (DURHAM, 2003). Para o autor, data dessa época a diversificação do sistema que

define até hoje o ensino superior brasileiro: instituições públicas e leigas, federais ou

estaduais, ao lado de instituições privadas, confessionais ou não.

Cabe destacar que o surgimento das instituições privadas partiu da iniciativa das elites

locais e confessionais católicas. Contados 30 anos após o surgimento destas primeiras

instituições, o sistema de ensino superior apresentou uma considerável expansão, saindo de

24 escolas isoladas para 133, sendo 86 destas criadas em 1920. A par das primeiras

estatísticas educacionais, Martins (2002) destaca que em 1933 as instituições privadas

respondiam por 64,4% dos estabelecimentos e 43,7% das matrículas do ensino superior.

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Entre 1946 e 1960 foram criadas 18 universidades públicas e 10 particulares, sendo a

maioria destas últimas confessional (DURHAM, 2003). A partir de então, tem-se início

uma significativa expansão na quantidade de Instituições de Ensino Superior (IES),

chegando em 1964 a um total de 372 IES, das quais 65,3% estavam no setor privado, no

entanto o setor apresentou um menor número de matrículas em relação ao setor público.

Dos 142.386 estudantes matriculados no ensino superior, 38,4% estavam a rede privada,

enquanto mais da metade, 87.665 estudantes, localizavam-se no setor público (CHAVES;

AMARAL, 2015).

Nos anos 1970, as instituições privadas passaram a responder por 63,6% do total de

341.000 mil matrículas efetuadas no ensino superior, invertendo as posições do

atendimento público em relação ao privado verificada na década anterior. Em termos de

instituições, de um total de 860 IES, apenas ¼ eram públicas, as demais 645 eram privadas

(CHAVES; AMARAL, 2015).

Na década de 1980, verificou-se uma estagnação no ensino superior, em termos de

matrículas e de instituições, em ambos os setores, resultado da expressiva crise econômica

por qual passara o país naquele momento. Apesar do não crescimento do ensino superior, o

quadro de predominância alcançado pelo setor privado não se altera (MARTINS, 2009).

Este, já respondia por cerca de 64,3% das matrículas e por 77,3% dos estabelecimentos

(SAMPAIO, 2011).

O ensino superior retoma seu crescimento na década de 1990, principalmente após a

criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n.º 9.394/1996. Em

seu artigo 20, tal Lei estabelece a existência de dois tipos de instituições privadas de ensino,

sem fins lucrativos e com fins lucrativos, e que deu aval ao crescimento destas últimas, o

que resultou segundo (CHAVES; AMARAL, 2015) numa redução da participação

percentual das instituições públicas.

A participação do setor privado no ensino superior foi reforçada em lei pela Constituição

Federal de 1988, que, em seu Art. 209, estabelece que “o ensino é livre à iniciativa privada”

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15

(BRASIL, 1988, p. 118) e, pelo artigo 1º, do Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 19971,

prevendo a participação da iniciativa privada na oferta do ensino superior e permitindo que

as entidades mantenedoras das instituições de ensino superior assumissem natureza civil ou

comercial. Com base nesse Decreto, “as entidades mantenedoras puderam optar em ser

entidade mantenedora de instituição sem fins lucrativos ou com fins lucrativos”

(SAMPAIO, 2015, p. 12).

É nítido que alterações no marco legal repercutem de forma direta na estrutura

organizacional do ensino superior. De tempos em tempos, novas normas substituem as

antigas e, cada alteração no marco legal, por meio de constituições, leis, decretos, bem

como os demais tipos de regulamentação, resulta em novas configurações ao sistema de

ensino superior. Desde que a Constituição da República do Brasil de 1891 disciplinou a

possibilidade de existência do ensino superior privado, passa a existir, no sistema de ensino

superior, a organização dual que temos hoje, de um lado, o setor público e gratuito e do

outro o setor privado.

A próxima subseção detalha o processo de expansão do ensino superior brasileiro, com

destaque para o setor privado, levando em consideração a atual divisão do sistema: o

público, composto por universidades federais, estaduais e municipais; e o privado, formado

por instituições particulares com e sem fins lucrativos (confessionais, comunitárias e

filantrópicas). Essa estrutura de ensino superior encontra-se formalizada na Constituição

Federal e normatizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996.

2.2 EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: A PREPONDERÂNCIA DO

SETOR PRIVADO

Ao longo das últimas cinco décadas, o ensino superior brasileiro apresentou um

extraordinário crescimento. Desde os anos 1970, quando ocorreu a primeira expansão do

ensino superior, o setor privado passou a ser majoritário tanto na oferta de vagas, cursos e

instituições, como na quantidade de matrículas. Ao longo desses quase cinquenta anos,

1 Última revogação em 15 de dezembro de 2017 por meio do decreto n/ 9.235. Ver:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9235.htm#art107.

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16

períodos de maior crescimento do número de matrículas alternavam-se com outros de

diminuição – e até de estagnação – no seu ritmo de crescimento.

Uma vez que na seção anterior foram trazidos dados para a evolução ensino superior até os

anos 1980, esta seção dá prosseguimento à análise dessa evolução, utilizando como corte

temporal o período que se estende de 1990 a 2017. Os dados utilizados foram extraídos do

Censo da Educação Superior, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e do ‘ do Plano Nacional de Educação (OPNE).

Conforme dito, o setor privado expandiu significativamente nas últimas décadas. No

entanto, é a partir dos anos 1990 que esse setor passa a apresentar um crescimento mais

expressivo, reflexo das mudanças na política educacional, com destaque para os programas

implementados pelo governo com o intuito de torná-lo acessível a uma maior parcela da

população, principalmente aos de baixa renda. Destaque para o Programa de Financiamento

Estudantil (FIES) e o Programa Universidade para Todos (PROUNI).

Conforme pode ser visto no Gráfico 1, o setor público vem perdendo espaço no sistema de

ensino superior brasileiro no que diz respeito ao número de instituições. Das 918 IES

existentes em 1990, 75,8% eram privadas, enquanto apenas 24,2% estavam no setor

público, o que diz respeito ao número de 222 IES públicas.

Gráfico 1 - Número de IES por categoria administrativa, 1990-2017

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Brasil (2019c)

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A expressiva diferença entre os setores se manteve ao longo das três últimas décadas e, em

2017, das 2.448 IES existentes, apenas 12,1% eram públicas, enquanto as 87,9% eram

privadas, o que corresponde a 2.152 instituições. O crescimento do total de IES atingiu o

percentual de 166,7%.

Quando analisados os dados da evolução das IES, tomando como base a categoria

administrativa, observa-se que a maior expansão é de instituições privadas com e sem fins

lucrativos. Estas, apresentaram uma expressiva evolução de 226,4%, enquanto o número de

instituições com fins lucrativos passou de 698 em 2000 para 1.153 em 2017, um

crescimento de 65%, (ver GRÁFICO 02).

Gráfico 2 - Evolução das IES por categoria acadêmica, 2000-2017

Fonte: Elaboração própria (2019) com base em Brasil ( 2019d)

No que concerne à evolução das matrículas, observa-se que das 1.540.080 matrículas

efetuadas em 1990, 62,4% pertenciam ao setor privado, enquanto 37,6% estavam

concentradas no setor público (ver GRÁFICO 03).

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Gráfico 3 - Matrículas em IES por categoria administrativa, 1990-2017

Fonte: Elaboração própria ( 2019) com base no Brasil (1996)

Em 2017, o setor privado foi responsável por 71,2% de um total de 6.529.681 matrículas,

enquanto o setor público matriculou 1.879.784 alunos, 42,4% a menos que o setor privado.

Levando em consideração a evolução do total de matrículas para o período analisado,

verifica-se um crescimento de 323,98%.

O número de ingressantes, por sua vez, seguiu a tendência de crescimento do número de

matrículas, no que se refere à sua significativa concentração na categoria administrativa

privada, passando de 931.457 ingressos em 2001 para 1.650.131, um crescimento de

77,1%, (ver GRÁFICO 04).

Gráfico 4 - Ingressantes por categoria administrativa, 2001-2017

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019) e Brasil

(2019c)

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Já o número total de ingressantes que era de 1.206.273 no início do período, atingiu a casa

dos 2 milhões em 2017, crescimento de 78,4%. No setor público, essa evolução foi de

82,9%, passando de 274.816 ingressos para 502.621. Ao analisar os dados da evolução dos

concluintes no ensino superior, observa-se mais uma vez a preponderância do setor privado.

Apesar de em alguns períodos o setor apresentar uma redução nesse indicador, em 2014 por

exemplo, nos demais anos a grande predominância foi de crescimento no número de

formandos. Em 2017, o setor privado foi responsável por 74.8% de um total de 9.476.060

milhões de concluintes, enquanto o setor público formou 2.380.61, (ver GRÁFICO 05).

Gráfico 5 - Concluintes por categoria administrativa, 2001-2017

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019) e Brasil

(2017)

No que diz respeito à taxa de titulação, a qual é calculada a partir da divisão do número de

concluintes pelo número de ingressantes de quatro anos anterior, constata-se que em todo

período da análise, a taxa de titulação da rede pública é superior à da rede privada. Outra

observação importante, é o fato de que em ambos os setores essa taxa vem declinando,

destaque para o setor público, que saiu de um percentual de 73,6%, em 2004, para 47,2%,

em 2017. A taxa de titulação também apresentou queda no setor privado, saindo de 45,6%

em 2004 para 38,7% em 2017. Ver Gráfico 6.

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Gráfico 6 - Taxa de titulação nos setores públicos e privados, 2004-2017

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019) e Brasil

(2017)

Depreende-se que a expansão do ensino superior teve um caráter notadamente privado, no

que se refere a maioria dos indicadores observados. Com exceção da taxa de titulação, que

como mostrado, foi de predomínio do setor público.

Apesar dessa expansão por qual vem passando o ensino superior brasileiro, acessá-lo ainda

é tarefa difícil para uma parcela significativa dos discentes, principalmente os que se

encontram em situação socioeconômica desfavorável. Alguns indicadores usados para

análise do ensino superior revelam o tamanho da desigualdade que persiste tanto no acesso

quanto na permanência nesse nível de ensino.

Nesse sentido, a próxima seção se encarrega de fazer uma análise de como tem sido o

acesso ao ensino superior, levando em consideração indicadores como a taxa líquida e bruta

de matrículas e variáveis socioeconômicas, como renda, cor/raça e gênero. E, assim, busca

compreender por que a igualdade no acesso ao ensino superior está longe de se tornar uma

realidade.

2.3 ACESSO AO ENSINO SUPERIOR

A taxa de matrícula é o principal indicador de acesso ao ensino superior e pode ser

distinguida em duas formas - taxa bruta e taxa líquida de matrícula. A primeira é obtida

dividindo o total de alunos matriculados no ensino superior pelo total de pessoas com faixa

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etária entre 18 e 24 anos existentes na população. Já a taxa líquida de matrícula, é adquirida

dividindo o total de alunos de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior pela quantidade

de jovens de 18 a 24 anos existentes na população (OPNE, 2019).

Os dados para a população brasileira do último Censo demográfico (IBGE, 2019)

contabilizaram 190.757.799 habitantes dos quais 23.878.190 eram jovens com idade entre

18 e 24 anos e que, portanto, estariam na idade adequada para cursarem o ensino superior.

Os Dados do Censo da Educação superior do ano de 2017 informa que 8.286.663

brasileiros estão matriculados em cursos de graduação presencial e à distância, dos quais

5.594.607 estão com idade entre 18 e 24 anos. Assim sendo, a taxa bruta para o ano de

2017 foi de 34,7%, enquanto a taxa líquida foi de 23,4%2.

Cumpre destacar que a Meta 12 do Plano Nacional da Educação (PNE) 2014-2024, Lei n.º

13.005 é conseguir elevar ambas as taxas de matrícula no ensino superior. A taxa bruta para

o patamar de 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos assegurada a

qualidade da oferta (BRASIL, 2014).

O Gráfico 7 traz a evolução das taxas de matrículas na educação superior para os anos de

2001 a 2015. Os dados foram adquiridos no site do Observatório do Plano Nacional da

Educação.

Gráfico 7 - Taxa bruta e Taxa líquida de matrícula

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação ( 2019) e Brasil

(2019c) e IBGE (2019)

2 Cálculo feito a partir dos dados para a população do Censo Demográfico e do número de matriculas

disponibilizado no Censo da Educação Superior, divulgados pelo INEP.

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No entanto, foi possível calcular as taxas de matrículas para o ano de 2016 e 2017, tomando

como base os dados do Censo da Educação dos respectivos anos e a quantidade da

população de 18 a 24 anos informada pelo Censo Demográfico de 2010.

A desagregação da taxa bruta de matrícula por sexo permite avaliar como tem sido o acesso

ao ensino superior entre os homens e mulheres com idade entre 18 e 24 anos. O Gráfico 8

mostra que o maior acesso ao ensino superior tem sido de mulheres, saindo de 18,6% em

2001 para 40,3% em 2015. Entre os homens, essa taxa passou de 14,2%, em 2001, para

29,2%, em 2015, evidenciando, assim, tamanha diferença no acesso à graduação quando

analisado o indicador gênero.

Gráfico 8 - Taxa bruta matrícula e percentual por sexo

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019)

O acesso ao ensino superior, segundo a variável raça, também evidencia profundas

desigualdades entre os jovens brasileiros. O hiato existente entre brancos, de um lado, e

pretos/pardos, de outro, que estão matriculados no ensino superior, pode ser constatado no

Gráfico 9.

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Gráfico 9 - Taxa bruta matrícula e percentual por raça

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019)

Em 2015, enquanto 46% das matrículas foram efetuadas por alunos que se auto declararam

brancos, esse percentual entre os pardos e pretos foi de 25,7% e 28,7%, respectivamente.

Tomando como indicador de análise a variável renda, observa-se que, em 2015, a

porcentagem de matrículas no ensino superior em relação à população de 18 a 24 anos era

85,2% para os 25% mais ricos, segundo a renda familiar per capita, enquanto para os 25%

mais pobres era de apenas 12,3%.

Gráfico 10 - Taxa bruta matrícula e percentual por renda

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Observatório do Plano Nacional da Educação (2019)

Conforme visto, o aumento no número de matrículas não significou, necessariamente, um

aumento no acesso ao ensino superior, sobretudo quando levado em consideração os

indicadores socioeconômicos e o perfil dos alunos aptos a ingressarem no ensino superior.

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Verificou-se que o ensino superior brasileiro é composto em grande parte por estudantes

brancos, pertencentes a famílias com renda elevada, o que confirma que as condições

sociais e raciais são fatores determinante para o acesso à educação.

As condições socioeconômicas, em particular a renda, têm sido apontadas por grande parte

dos estudiosos do ensino superior como fator de alta correlação com o desempenho

educacional dos estudantes (CORBUCCI, 2014). Importa destacar, que o acesso ao ensino

superior se dá de certa forma no momento em que grande parcela dos jovem tem que

escolher entre continuar seus estudos ou ingressar no mercado de trabalho ou, ainda,

conciliar as duas atividades (estudo e trabalho), o que pode se tornar um empecilho para a

continuidade dos estudos.

Em análise feita para os anos de 1995, 2005 e 2011 no que se refere à ociosidade das vagas

e a relação candidatos/vaga, Amaral (2016) encontrou indícios de que a população

brasileira havia atingido um limite no qual não seria mais possível as famílias financiarem

uma educação superior para os seus jovens, ainda que a graduação fosse em instituições

públicas. Isso, porque os custos relacionados à obtenção de um diploma de ensino superior

não se limitam ao pagamento das mensalidades do curso escolhido. Ainda que ingressem

em uma instituição pública, os estudantes incorrem em custos como transporte, materiais

didáticos, dentre outros.

Nas últimas décadas, alguns programas foram implementados com o objetivo de atuar na

principal causa produtora de exclusão do acesso ao ensino superior, a renda. Nesse sentido,

o governo não só criou como também ampliou alguns programas que passaram a atuar

como políticas de democratização do acesso ao ensino superior, com destaque para o FIES

e o PROUNI. Como será mostrado na próximo capítulo, foram estes programas de

financiamento estudantil, o primeiro reembolsável e o segundo não reembolsável, que

permitiu o acesso ao ensino superior de grande parte dos brasileiros, principalmente os de

baixa renda.

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3 FINANCIAMENTO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

O principal objetivo desse capítulo é fazer uma análise das principais políticas de

financiamento do ensino superior direcionadas ao setor privado. Busca-se entender, como

funciona o financiamento de IES privadas por recursos públicos através de programas como

o PROUNI e o FIES. Além disso, este capítulo apresenta a estrutura e a evolução do

principal programa de financiamento do ensino superior brasileiro, o Fies, destacando as

principais mudanças no programa e como estas estão relacionadas com a expansão e

retração no número de financiamentos concedidos entre os anos de 2010 a 2017.

3.1 FINANCIAMENTO DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS

Antes de trazer a discussão a respeito do financiamento das IES privadas, cabe destacar de

maneira breve como funciona o financiamento do ensino superior público no país.

A gratuidade e a qualidade do ensino superior por parte do Estado, são garantidos pela

Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB). Nos

termos constitucionais, o direito à educação deve ser assegurado a todos os cidadãos (artigo

205), alicerçado nos princípios da “liberdade, gratuidade, igualdade de condições para o

acesso e permanência, da gestão democrática e da garantia de padrão de qualidade do

ensino público em estabelecimentos oficiais” (artigo 206). Concomitantemente, parte do

princípio de que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e

de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre

ensino, pesquisa e extensão” (artigo, 207) (BRASIL, 1988).

Nessa direção, a LDB, estabelece em seu artigo 55 que no Orçamento Geral da União deve

está assegurado, anualmente, os recursos suficientes para que as instituições que são de sua

responsabilidade sejam mantidas e desenvolvidas (BRASIL, 1996).

A principal fonte de recursos para o financiamento das instituições de ensino superior

públicas provém do Fundo Público Federal (Tesouro Nacional), que reúne os recursos

financeiros arrecadados da população mediante tributos, impostos e taxas. Soma-se a essa

fonte, os recursos oriundos do setor privado, vinculados aos convênios e contratos firmados

com órgãos públicos e com o setor empresarial. Além dessas duas fontes citadas, as

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instituições também contam com os recursos próprios no financiamento de suas despesas,

os quais são obtidos através da prestação de diferentes serviços por essas instituições

(FÁVERO; BECHI, 2017).

Ao contrário das universidades públicas que tem maior parte de seus custos financiados

pelo Tesouro Nacional, o financiamento das instituições privadas depende principalmente

da cobrança de mensalidades, anuidades e taxas pelos cursos oferecidos (FÁVERO;

BECHI, 2017). No entanto, segundo o autor, o setor se viu obrigado a recorrer a fontes

alternativas de financiamento, uma vez que vêm enfrentando fortes restrições orçamentárias

e financeiras em função das altas taxas de evasão, inadimplência e ociosidade de vagas

registrados nas últimas décadas. Frente a essas dificuldades, o setor recorreu ao

financiamento junto ao campo empresarial, ao mercado de capitais (bolsa de valores) e ao

governo federal. Assim, foi possível manter suas atividades e a lucratividade frente ao

competitivo mercado educacional (FÁVERO; BECHI, 2017).

Em se tratando recursos públicos direcionados ao financiamento das IES privadas, Fávero e

Bechi (2017) destacam que a receita de tais instituições tem sido complementada com a

ajuda de várias fontes diretas (subsídios, bolsas, empréstimos, crédito educativo, dentre

outras) e, sobretudo, indiretas (isenções tributárias e previdenciárias). Com esse apoio, as

IES privadas aumentaram sua disponibilidade financeira, ao passo que reduziram, ainda

que indiretamente, suas despesas de ordem fiscal, o que contribuiu para sua manutenção e

expansão.

A concessão de subsídios e de incentivos a instituições particulares de ensino superior não é

uma prática recente no Brasil. Santos Filho (2016) destaca que esse processo que já esteve

presente nas Constituições de 1934 e na de 1946, bem como em outros normativos legais é

hoje respaldado pela atual Constituição Federal. Em se tratando de isenções fiscais às IES

privadas, Davies (2012) destaca que estas tiveram poucas alterações nas Constituições de

1946 e 1967, sendo a diferença mais significativa trazida na atual Constituição.

O art. 150 da Carta Magna instituiu que, sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar

tributos das IES de educação sem fins lucrativos, atendidos aos requisitos da lei (BRASIL,

1988).

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No que se refere à destinação de recursos públicos às IES, o art. 213 da CF institui que

esses recursos podem ser direcionados tanto às IES públicas quanto às IES comunitárias,

confessionais ou filantrópicas. A LDB/96 reforça o direcionamento de recursos públicos às

IES privadas, ao instituir em seu art. 77 que, as verbas públicas serão destinadas tanto às

escolas públicas, quanto às escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que

comprovem não possuir fins lucrativos, apliquem seus excedentes financeiros em educação,

prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos e, em caso de encerramento de

suas atividades, assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária,

filantrópica ou confessional (BRASIL, 1996).

As medidas adotadas foram na direção de ampliar a oferta de ensino superior, frente a uma

crescente demanda por esse nível de ensino. Nesse sentido, Santos (2018) destaca que a

partir da década de 1970, foram implantadas políticas educacionais estratégicas para

expansão de ambos os setores do ensino superior, com o fortalecimento do segmento

privado.

Um dos mecanismos que proporcionou o crescimento do setor privado foi o Programa

Crédito Educativo (PCE), criado em 1975 com base na Exposição de Motivos n.º 393, de

18 de agosto de 1975 e implementado em 1976. O programa surgiu como uma tentativa de

manter ativa a demanda por educação em relação às IES privadas (SANTOS, 2018).

O Crédito Educativo constitui-se um auxílio indireto às instituições do ensino superior, tal

auxílio era efetivado por meio de dois tipos de empréstimos: por anuidade, que equivalia ao

valor da mensalidade cobrada pelo estabelecimento privado em que o aluno beneficiário

estivesse matriculado; e, o empréstimo por manutenção, que tinha o objetivo de cobrir

despesas de alimentação e alojamento de estudantes dos estabelecimentos particular ou

público. Em 1983, devido às dificuldades financeiras do programa, o contrato de

manutenção foi extinto e apenas os contratos por anuidade continuaram a ser financiados

(CARVALHO, 2002).

Entre em 1976 e 1982, o programa foi operacionalizado com recursos da Caixa Econômica

Federal (CEF), do Banco do Brasil (BB) e de bancos comerciais. Porém, em 1983, ano em

que o programa já se apresentava com um déficit elevado, fator que provocou a saída do

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BB e dos bancos comerciais do programa, apenas a Caixa continuou na condição de agente

financeiro responsável pela intermediação do programa, sendo os recursos para financiá-lo

provenientes das parcelas das loterias previstas para aplicação no Fundo de Apoio ao

Desenvolvimento Social (FAS), bem como, das verbas orçamentárias do MEC (QUEIROZ,

2018).

Até o ano de 1983 as regras para contratar o financiamento eram as seguintes: prazo do

contrato equivalente ao tempo de duração do curso; reembolso deveria ser efetuado até o

dobro do período de utilização do contrato, a partir de um ano de carência, sem correção

monetária e a uma taxa de juros nominal fixa de 12% a.a., acrescida de 3% a.a., a título de

fundo de risco e, não exigência de fiador. Ainda em 1983 as condições para contratar o

financiamento foram alteradas no intuito de reduzir os prejuízos financeiros. Assim, a taxa

de juros nominal foi reduzida para 6%, no entanto, foram estabelecidas a cláusula de

correção monetária de 80% da variação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional

(ORTN) e a exigência de um fiador (CARVALHO, 2002).

Carvalho (2002) aponta dois fatores como responsáveis pela inefetividade do programa e

que levou a prejuízos logo nos primeiros anos de sua existência. O primeiro é inerente ao

próprio contrato de empréstimo, havia uma discrepância entre as taxas de inflação

ascendentes e o percentual de 15% fixado para a remuneração dos empréstimos, ou seja,

não havia mecanismos adequados de correção dos débitos pela inflação. Soma-se a isso, as

dificuldades no processo de cobrança das dívidas, já que não existia a garantia efetiva da

devolução dos recursos concedidos. A crise econômica por qual passava o país naquele

período, é o outro fator citado pelo autor. Somados, eles levaram a crise do programa

ocorrida em 1991.

Em 1992, o programa foi reformulado por meio da Lei n.º 8.436 de 25 de junho, sendo

instituído o Programa Crédito Educativo para Estudantes Carentes (CREDUC) (BRASIL,

1992 apud QUEIROZ, 2018). Porém, conforme destacado por Barros (2003), essa Lei em

nada ajudou na sustentação do programa, pois mesmo com todo esforço do Governo para

mantê-lo em atividade (a exemplo das várias medidas provisórias para a renegociação das

dívidas), em 1999 o programa foi extinto. Em 2001 o saldo devedor dos contratos era de R$

2,1 bilhões e o índice de inadimplência de 83%.

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Apesar de todos esses problemas, o CREDUC foi de fundamental importância para os

alunos, financiando em seus dois primeiros anos de funcionamento cerca de 25% dos

alunos do ensino superior privado, e para as instituições privadas que receberam os recursos

do programa. Entre 1976 e 1980, o programa manteve um percentual de 10% dos alunos

financiados (KLEIN, 1992 apud QUEIROZ, 2018, p. 13).

Atualmente duas importantes políticas atuam como financiadoras das instituições de ensino

superior privada: o FIES e o PROUNI. Tais programas foram criados com o intuito de

ampliar o acesso ao ensino superior, ainda que pela via privada, de uma parcela da

população, que por disporem de um baixo nível de renda, não tinha oportunidade de

ingressar no nível superior (SAMPAIO, 2015).

O FIES foi criado em maio de 1999 pelo Governo Federal através da Medida Provisória n.º

1.827, posteriormente convertida na Lei n.º 10.260, de 12 de julho de 2001. O FIES

substituiu o CREDUC e é destinado à concessão de financiamento a estudantes

regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos, habilitados para o FIES por

instituições cadastradas no Programa, que tenham obtido resultado positivo nas avaliações

do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) (BRASIL, 2001).

Após cinco anos da implementação do FIES, é criado o Programa Universidade para Todos

(PROUNI), por meio da Medida Provisória n.º 13, de 10 de setembro de 2004, convertida

na Lei n.º 11.096 de 13 de janeiro de 2005. O programa tornou-se a principal fonte de

financiamento público (indireto) direcionado ao setor privado. Através dele, o Governo

Federal estabelece parcerias com IES privadas para que estas forneçam bolsas parciais

(25% a 50%) e integrais a alunos de baixa renda e sem ensino superior e, como

contrapartida, sejam isentas de alguns tributos ( BRASIL, 2005).

O Programa possui também ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas

instituições, como a Bolsa Permanência e ainda o FIES, que possibilita ao bolsista parcial

financiar parte da mensalidade não coberta pela bolsa do programa. Segundo Fávero e

Bechi (2017), o PROUNI atendeu a dois interesses básicos: o social, mediante a concessão

de bolsas de estudos a alunos de baixa renda e o econômico, ao garantir a isenção fiscal às

instituições privadas com ou sem fins lucrativos.

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A possibilidade de financiar a graduação por meio do FIES e/ou concorrer a uma bolsa de

estudos do PROUNI, possibilitou o ingresso de uma significativa parcela da população

nesse nível de ensino. Na Tabela 1, é possível acompanhar a evolução dos ingressantes no

ensino superior privado por modalidade de financiamento, PROUNI ou FIES, de 2005 a

2017. É possível observar que o total de bolsas do PROUNI foi superior ao número de

financiamentos concedidos FIES até o ano de 2011. Nos três anos seguintes esse quadro se

reverteu e, o FIES passou a atender a um maior número de alunos, voltando a perder

expressividade em 2015, quando o número de ingressantes financiados pelo programa passa

a decrescer. Em 2017, enquanto o percentual de ingressantes no ensino superior via bolsa

PROUNI foi de 21,9%, o percentual de financiados pelo FIES foi de 10,7%.

Tabela 1 - Percentual de ingressantes com bolsas PROUNI e contratos FIES

Ano Ingressantes

IES Privadas Contratos FIES

% de contratos do

FIES em relação aos

ingressantes

Total de

bolsas

PROUNI

% de bolsas

PROUNI em

relação aos

ingressantes

2005 1.346.723 77.212 5,70 112.275 8,3

2006 1.417.301 58.741 4,10 138.668 9,8

2007 1.472.747 49.049 3,30 163.854 11,1

2008 1.521.191 32.384 2,10 225.005 14,8

2009 1.353.479 32.594 2,00 247.643 18,3

2010 1.366.191 76.133 5,50 240.441 17,6

2011 1.458.463 154.222 10,50 254.598 17,5

2012 1.705.086 377.899 22,10 284.622 16,7

2013 1.732.605 559.910 32,3 252.374 14,6

2014 1.878.483 732.686 39 306.726 16,3

2015 1.721.625 287.477 16,7 329.117 19,1

2016 1.637.461 203.634 12,43 329.180 20,1

2017 1.650.131 175.925 10,7 361.925 21,9

Fonte:Brasil ( 2005), Brasil (2018) e Brasil (2019g)

Para uma melhor visualização da quantidade de bolsas ofertadas pelo PROUNI, o Gráfico

11 traz de forma desagregada a evolução das bolsas parciais e integrais concedidas desde a

criação do programa até o ano de 2018. É possível observar que, apesar das oscilações,

houve um maior predomínio de concessão de bolsas parciais, as quais evoluíram em

480,9%. Já o número de concessão de bolsas integrais teve uma evolução de 154,1%.

Levando em consideração o total de bolsas, o programa atendeu, desde sua criação até o

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processo seletivo do segundo semestre de 2018, mais de 2,47 milhões de estudantes, uma

evolução no número total de bolsas de 73,1%.

Gráfico 11 - Evolução de Bolsas PROUNI (2005-2018)

Fonte: Brasil ( 2019g)

No que tange ao FIES, a evolução de contratos firmados apresentou dinâmica diferente da

evolução das bolsas PROUNI. Como pode ser observado no Gráfico 12, desde o ano em

que foi criado, até o ano de 2010, o FIES passou por oscilações no número de contratos

firmados, ora esse número apresentava um crescimento, ora apresentava decréscimo.

No entanto, o programa ganha destaque e passa por um expressivo crescimento entre os

anos de 2010 e 2014, passando de pouco mais de 76 mil contratos para mais de 730 mil, um

crescimento na ordem de 862,4%. A partir de 2015, o número de contratos passa a cair,

sendo firmados neste ano pouco mais de 280 mil contratos. Em 2016, esse número cai para

cerca de 203 mil e, em 2017 atinge os 175 mil.

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Gráfico 12 - Evolução dos contratos de financiamento, 1999-2017

Fonte: Brasil (2019c)

O número de ingressantes no ensino superior por meio de bolsas do PROUNI cresceu nos

últimos anos. Em comparação ao primeiro ano de vigência do programa, quando foram

atendidos pouco mais de 112 mil estudantes, o ano de 2018 apresentou um crescimento

significante no número de alunos participantes do programa, contemplando mais de 1,5

milhões de alunos.

No Gráfico 13 é possível visualizar esse crescimento. Enquanto em 2005, 14,9% dos

ingressantes eram bolsistas do PROUNI, em 2018 esse percentual quase que dobrou,

ficando em 26,8%. O crescimento total de bolsas atingiu o percentual de 73,1% para o

período observado.

Gráfico 13 - Quantidade de ingressantes nas IES Privadas em relação ao número de bolsas do PROUNI

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Brasil (2019c) e Brasil ( 2019g)

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No que se refere ao FIES, o Gráfico 14 evidencia que houve um crescimento ascendente no

número de ingressantes entre 2011 e 2014, causado em grande parte pelas regras mais

flexíveis adotadas em 2010. Tais regras, fez com que o programa se tornasse uma fonte

relevante de financiamento do ensino superior (DUARTE, 2014). A partir de 2015, o

número de ingressos no ensino superior por meio do programa passa a decrescer, reflexo

das medidas restritivas que foram implementadas no segundo semestre de 2014 e em

dezembro de 2015. A justificativa para a adoção dessas condicionalidades mais rígidas para

o programa, as quais serão explicitadas na seção sobre o FIES, é a necessidade de adequá-

lo à realidade econômica do país (BRASIL, 2017).

Gráfico 14 - Quantidade de ingressantes nas IES privados em relação ao número de novos contratos do FIES

Fonte: Elaboração própria (2019) com base no Brasil (2019c) e Brasil (2017)

No que diz respeito aos dispêndios governamentais com esses programas, observa-se que,

em se tratando do PROUNI os gastos saíram de um patamar de pouco mais de 500 milhões

no ano de 2009 para mais de 1 bilhão no ano de 2017. Representando uma evolução de

164% dos recursos destinados ao programa.

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Gráfico 15 - Gastos com o PROUNI, 2009-2017

Fonte: Adaptado de Fávero e Bechi ( 2017)

Já os gastos governamentais com o FIES mantiveram-se estáveis entre os anos de 2004 a

2009, passando por uma leve queda em 2010, retomando o crescimento a partir de 2011, e,

em 2014, passam a representar, em termos reais, 12,5 vezes o valor gasto no primeiro ano

da série. Pinto (2016) destaca que o volume do subsídio para financiar o programa é

significativo, uma vez que o governo federal lança títulos assumindo o compromisso de

pagar um valor mais alto do que será cobrado quando os estudantes formalizarem os

contratos de financiamento. O Gráfico 16 abaixo mostra os dispêndios governamentais com

o FIES no período de 2004 a 2014.

Gráfico 16 - Despesa paga pelo Governo Federal com o Fies e proporção do PIB (2004 a 2014)

Fonte: Adaptado de Prestes e Sousa Júnior (2018)

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Por ser objeto de estudo deste trabalho, na próxima subseção discorre-se sobre o

surgimento do FIES, bem como sobre as alterações normativas no período de 2000 a 2017,

a partir da legislação que rege o programa e dos relatórios de gestão, publicados pelo

Ministério da Educação.

3.2 O FUNDO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES)

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa de natureza contábil criado

pelo Governo Federal através da Medida Provisória n.º 1.827 de 27 de maio de 1999,

posteriormente convertida na Lei n.º 10.260, de 12 de julho de 2001. Como sucessor do

Programa de Crédito Educativo para Estudantes Carentes (CREDUC), é destinado à

concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores

não gratuitos, habilitados para o FIES por instituições cadastradas no Programa, que

tenham obtido resultado positivo nas avaliações do Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior (SINAES) (BRASIL, 2010).

As competências relacionadas às instâncias de governança do Fundo – Ministério da

Educação e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - em seus diferentes níveis e

funções foram estabelecidas pela Lei n.º 10.260/2001, alterada pela Lei n.º 12.202, de 14 de

janeiro de 2010. Após a implementação da citada Lei, passou a ser responsabilidade do

MEC a supervisão das normas do programa, a administração dos ativos e passivos do

Fundo e a formulação da política de ofertas de vagas e seleção de estudantes (BRASIL,

2010).

Até 2009, a operacionalização do FIES era de responsabilidade da Caixa Econômica

Federal. No entanto, com a publicação da Lei n.º 12.202, de 14 de janeiro de 2010, que

outorgou ao Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) o encargo de agente operador

dos novos contratos de financiamento firmados no âmbito do FIES, coube a CEF gerir os

contratos anteriores a data da publicação desta Lei, isso até 30 de junho de 2013. Pois a

partir de 1º de julho do referido ano, o FNDE assumiu a gestão de todos os contratos

existentes (BRASIL, 2010).

Nesse sentido, entre o ano de 2013-2017, coube ao FNDE “operacionalização dos

processos de concessão e manutenção do financiamento, [...] efetuar os repasses financeiros

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às mantenedoras das instituições de educação superior, [...] gerenciar e manter o sistema

informatizado do FIES (SISFIES), bem como os demais procedimentos operacionais do

FIES” (BRASIL, 2018a, p. 6). Os recursos do FIES são oriundos de variadas fontes, de

acordo com o Artigo 2º, da Lei 10.260/2001 constituem receitas do FIES:

(...) dotações orçamentárias consignadas ao MEC [...]; II - trinta por cento da

renda líquida dos concursos de prognósticos administrados pela Caixa Econômica

Federal [...]; III - encargos e sanções contratualmente cobrados nos

financiamentos concedidos ao amparo desta Lei; IV - taxas e emolumentos

cobrados dos participantes dos processos de seleção para o financiamento; V -

encargos e sanções contratualmente cobrados nos financiamentos concedidos no

âmbito do Programa de Crédito Educativo, [...]; VI - rendimento de aplicações

financeiras sobre suas disponibilidades; e VII - receitas patrimoniais. VIII –

outras receitas. (Incluído pela Lei nº 11.552, de 2007). (BRASIL, 2001).

Além desses aportes, o artigo 7º da Lei n.º 10.260 autorizou a União “a emitir títulos da

dívida pública em favor do FIES” (BRASIL, 2001). Não há transferência direta de dinheiro

à instituição, mas sim através dos Certificados Financeiros do Tesouro (CFT-E) – Série E,

título público remunerado pelo Índice Geral de Preço do Mercado (IGP-M). Esses títulos

vinculados ao FIES podem ser usados somente para quitar obrigações junto ao Instituto

Nacional do Seguro Social (INSS).

Os critérios normativos e operacionais do programa já foram modificados várias vezes,

desde sua criação, o que possibilita dividi-lo em três fases distintas: a) 2000 a 2009 – pouca

expressividade, sem grande representatividade financeira nos cofres públicos da União; b)

2010 a 2014 – consolidação do segmento privado devido à formalização em massa (e sem

critérios) de contratos; c) 2015 a 2017 – estabelecimento de regras restritivas devido à

insustentabilidade do programa frente ao cenário de restrição econômica do país (SANTOS,

2018).

Na primeira fase, destacam-se as regras decorrentes da Lei n.º 11.522/2007, por meio da

Portaria Normativa n.º 02 de 31 de março de 2008, que estabeleceram novos percentuais de

financiamento, tanto para estudantes regulares como para bolsistas do PROUNI, passando

de 50% para 100%. Buscou-se também incentivar o aumento da demanda por cursos

considerados prioritários para o desenvolvimento do país e priorizar a oferta de

financiamento nos cursos com melhor qualidade nas avaliações efetuadas pelo Exame

Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) (BRASIL, 2001).

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Nessa primeira fase, o FIES contemplou um pequeno número de alunos. De um total

aproximado de 1,3 milhões de ingressantes no ensino superior privado, apenas 2,42%

financiaram sua graduação por meio do programa (BRASIL, 2010).

A fase expansiva do FIES tem início com a aprovação da Lei n.º 12.202/2010, da

Resolução CMN n.º 3842/2010 e demais normas legais, que trouxeram inúmeras inovações

ao programa, objetivando ampliar cada vez mais o acesso e a permanência do estudante no

ensino superior. Uma dessas modificações foi o critério para inscrição. Enquanto antes

havia um processo seletivo em período estabelecido por portaria do MEC (geralmente no

começo de cada semestre), após a Portaria Normativa n.º 10, de 2010, as inscrições

passaram a ser efetuadas exclusivamente pela internet, em qualquer período do ano, por

meio do Sistema Informatizado do FIES (SISFIES) (BRASIL, 2010).

Houve também alterações importantes na proporção passível de financiamento das

mensalidades. Até 2010, era possível financiamento de até 100% para alunos bolsistas

parciais do PROUNI e para estudantes de cursos considerados prioritários; até 75% para

estudantes não bolsistas do PROUNI, matriculados em cursos prioritários ou com conceito

de avaliação 4 e 5 no ENADE; até 50% pelo bolsista complementar matriculados em cursos

com conceito 3 (BRASIL, 2010).

A partir de 2010, esse percentual passou a levar em consideração a renda familiar bruta per

capita do aluno. Nesse sentido, era possibilitado o financiamento de 100% da mensalidade

para alunos de cursos cujas mensalidades comprometesse 60% ou mais da renda; 75% da

mensalidade para alunos cujo curso escolhido comprometesse entre 40% e 60% da renda, e,

50% para o estudante que tivesse entre 20% e 40% da renda comprometida com a

mensalidade do curso escolhido. A renda familiar mensal bruta exigida para a contratação

do financiamento era de até 20 salários mínimos. O prazo de amortização e de carência

também foram alterados. A carência passou de 6 meses para 18 meses para início da fase de

amortização e, esta última, que antes era de duas vezes o período financiado passou para

três vezes o período financiado (BRASIL, 2010).

No entanto, a mudança na taxa de juros foi provavelmente a mais relevante para a questão

do acesso. No início do programa, a taxa de juros era de 9,0% ao ano, em 2006 com a

Resolução n.º 3.415 do Banco Central do Brasil (BACEN) essa taxa é reduzida para 6,5%

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ao ano, exceto para cursos considerados prioritários, que tinha uma taxa ainda menor, de

3,5% ao ano. Porém, essa configuração terminou em 2010, quando a Resolução n.º 3.3842

do BACEN fixou a taxa efetiva de juros dos contratos dos FIES em 3,4% ao ano para todos

os cursos de graduação. A partir de então, essa também seria a taxa para o saldo devedor

dos contratos antigos (BRASIL, 2010).

Cabe ressaltar que apenas após a ocorrência dessas modificações, o programa passou a

figurar como fonte relevante de financiamento do ensino superior, adquirindo assim uma

dimensão histórica. Uma vez que, diante de regras mais flexíveis para a concessão de

financiamento, um maior número de egressos do ensino médio pôde ingressar no ensino

superior privado, tendo sua mensalidade custeada pelo FIES. Considerando o total de

aproximadamente 4,6 milhões de matrículas em cursos de graduação presencial e os

aproximadamente 1,9 milhões de estudantes com contrato de financiamento pelo FIES, no

período de 2010 a 2014, observa-se que o número de financiamento representa 41% desse

contingente matriculado.

No entanto, essa fase expansiva do programa permaneceu até que entrassem em vigor as

regras trazidas pelas Portarias Normativas MEC n.º 21, de 26 de dezembro de 2014, n.º 22

e n.º 23, de 29 de dezembro de 2014 e n.º 8 de 02 de julho de 2015, que tornaram esse

financiamento mais restrito, na justificativa de manter maior controle sobre o programa e

frente a um período de orçamento apertado pelo qual passou o país. Assim, tem-se início a

terceira fase do programa.

Em se tratando das Portarias de dezembro de 2014, a principal mudança que vale destacar é

a que diz respeito à exigência de nota mínima de 450 pontos na média do ENEM, além de

nota diferente de zero na redação para o estudante concluinte do ensino médio, a partir do

ano letivo 2010, interessado na contratação do FIES. É importante destacar que já fazia

parte das regras do FIES o aluno ter participado do ENEM, porém sem exigências de

pontuação na prova objetiva e na redação. Exceção dada aos solicitantes na condição de

professor da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da educação básica,

regularmente matriculado em cursos de licenciatura, normalmente superior ou pedagogia

(BRASIL, 2010).

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No segundo semestre de 2015, o FIES passou a ser regulado pela Portaria Normativa MEC

n.º 8, de 2 de julho de 2015. O programa passou a priorizar as regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste para a concessão de vagas, visando contribuir na correção das desigualdades

regionais existentes no país. Passou a dar prioridade aos cursos pertencentes às áreas de

saúde, de formação de professores e das engenharias, com o objetivo de suprir a oferta de

profissionais para áreas consideradas estratégicas ao desenvolvimento econômico e social

do país. As vagas nos cursos com conceitos 5 e 4 do Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior (SINAES) passaram a ser priorizadas pelas mantenedoras no momento

da oferta (BRASIL, 2018e).

As condições de financiamento também sofreram consideráveis mudanças. O estudante

passou a ter que pagar durante as fases de utilização e de carência, o valor máximo de R$

150,00, referentes aos juros incidentes sobre o financiamento. Além disso, houve redução

no período de amortização, passando a ser equivalente a três vezes a duração do curso.

As modificações mais fundamentais foram as que alteraram a taxa de juros e a definição do

percentual de financiamento e do teto de renda familiar. Com a Resolução n.º 4.432, de 23

de julho de 2015, a taxa de juros retornou ao patamar de 6,5% ao ano, o teto da renda

passou a ser 2 salários mínimos e meio de renda familiar per capita, e o percentual de

financiamento dependerá de uma alíquota fixa – diferente entre as cinco faixas de renda -

de comprometimento de renda per capita da família. Dessa forma, o valor a ser pago pelo

aluno fica determinado a cada ano, respeitando a capacidade de pagamento de cada faixa

salarial. A Tabela 3 traz os critérios de definição do percentual de financiamento segundo a

faixa de renda.

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Tabela 2 - Critérios de definição do percentual de financiamento

Renda familiar

bruta per capita

(RFB-PC)

Comprometimento

da RFB-PC (com

encargos

educacionais)

Com financiamento

(parte a ser paga

pelo aluno da faixa

superior -R$)

% de financiamento

Curso Médio

% de financiamento

Medicina

Até 0,5 SM 15% 59,1 93,8 98,5

>0,5 SM a 1 SM 21% 165,48 82,7 95,8

>1 SM a 1,5 SM 27% 319,14 66,6 91,9

>1,5 SM a 2 SM 32% 504,32 47,2 87,2

>2 SM a 2,5 SM 38% 748,6 21,6 81,00

Fonte: Brasil (2018e, p. 17)

Com estabelecimento de uma alíquota fixa de comprometimento da renda, o valor a ser

pago pelo aluno passou a ser determinado pela proporção entre o valor da mensalidade do

curso e a renda familiar, levando em consideração a capacidade de pagamento de cada faixa

salarial. Assim, as famílias com menor nível de renda, passaram a pagar um valor menor,

independente do curso financiado. Ainda em 2016, objetivando promover a

sustentabilidade do FIES, foi publicada a Medida Provisória n.º 741, convertida na Lei n.º

13.366 de 1º de dezembro de 2016, que trouxe, dentre outras melhorias, a maior

participação das entidades mantenedoras no compartilhamento do custeio do programa.

Em 2017, por meio da Medida Provisória n.º 785, de 6 de julho de 2017, convertida na Lei

n.º 13.530, de 7 de dezembro de 2017, adveio novas regras na política do programa ao criar

uma sistemática de oferta e de amortização do financiamento. O prazo e a forma de

pagamento das prestações do financiamento passaram a ser mediante vinculação do valor

da prestação à renda efetiva do financiado. Essa medida se tornou importante mecanismo

de mitigação da inadimplência (BRASIL, 2018c, p. 3).

Houve também a inserção da modalidade denominada Programa de Financiamento

Estudantil, e a criação por meio do Decreto s/n, de 19 de setembro de 2017, do Comitê

Gestor do Fundo de Financiamento Estudantil (CG-FIES), o comitê gestor interministerial,

alterando o quadro de gestão do FIES. Por se tratar de um programa que envolve recursos

públicos, o FIES sempre passa por modificações nas suas regras, mudanças estas que estão

ligadas ao cenário econômico por qual passa o país. Em 2018 o programa passou por novas

mudanças referentes entre outras coisas a taxa de juros incidente sobre o financiamento.

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Além disso, passou a ser dividido em três modalidades, cada uma segundo a faixa de renda

do beneficiado (BRASIL, 2018c).

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo deste capítulo é apresentar a literatura teórica e empírica que trata sobre o tema

do financiamento ao ensino superior, mostrando as principais justificativas para a existência

de tal política, bem como os resultados encontrados por diferentes autores quando

analisados os programas destinados a financiar a graduação de parte dos estudantes.

4.1 JUSTIFICATIVA TEÓRICA PARA O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR

A literatura econômica remete aos autores clássicos, o interesse pelo papel da educação e

qualificação dos trabalhadores sobre a produtividade. Shitm (1976 apud SANTOS, 2014)

afirmava que indivíduos escolarizados poderiam ser comparados a uma máquina sofisticada

de autovalor. Marshall (1890 apud SANTOS, 2014) defendia que qualidades e habilidades

são capital humano e é uma responsabilidade do estado e dos pais incentivar e investirem

em educação.

Apesar das primeiras ideias da Teoria do Capital Humano terem sido apresentadas na

Economia Clássica, é a partir das décadas de 1950 e 1960, dentro de um grupo de estudos

coordenado por Theodore Schultz juntamente Gary Becker e Jacob Mincer, que essa teoria

é formalizada (SANTOS, 2014). Surgem então os primeiros estudos que ligam o

investimento em educação, a melhor distribuição de renda e crescimento econômico.

A inovação da teoria formulada por Schultz (1973) está no fato de o gasto com educação

ser considerado um investimento, pois os indivíduos tomam suas decisões de investir em

mais educação quando se cria a expectativa de que os ganhos financeiros serão maiores que

os investimentos. “Ao investirem em si mesmas, as pessoas podem ampliar o raio de

escolha posto à sua disposição. Esta é uma das maneiras por que os homens livres podem

aumentar seu bem-estar” (SCHULTZ, 1973, p. 33).

Outro importante autor, trouxe contribuições fundamentais para a Teoria do Capital

Humano. Becker (1975 apud SANTOS, 2014) destaca que o capital humano é como

qualquer atividade que tenha determinado custo durante um período, e que proporcione um

aumento da produtividade e da renda no futuro. Nesse sentido, a decisão do investimento

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em capital humano é influenciada pela rentabilidade ou taxa de retorno e, o ganho líquido

obtido com o investimento dos agentes em educação é definido pela diferença entre salário

real, que ele pode auferir no mercado de trabalho, e os custos diretos para educação

(BECKER, 1975 apud SANTOS, 2014).

Mincer (1974) utiliza uma equação de salários, conhecida como equação minceriana, para

mostrar o quanto o rendimento dos indivíduos está correlacionado com o nível de

escolaridade e experiência no mercado de trabalho. Para o autor, a escolaridade do

indivíduo está positivamente relacionada com seus ganhos futuros e tal evento explica o

reflexo da educação no aumento da produtividade (MINCER, 1974 apud SANTOS, 2014).

A educação gera além dos retornos privados, os que podemos denominar de retornos

sociais da educação. Ou seja, ela gera externalidades positivas para a sociedade. Resende

(2018) destaca que os ganhos públicos e privados de uma sociedade mais educada são

inegáveis. Aumento da renda, melhoria na saúde, longevidade, diminuição da criminalidade

e aumento da qualidade de vida são apenas alguns dos benefícios decorrentes da educação

superior já identificados pela literatura em economia da educação.

No entanto, o dilema existente na educação superior não é sobre sua relevância do ponto de

vista individual e social e, sim sobre as formas de financiá-la. A discussão a respeito da

ideia de adiar pagamentos para cursos pós-secundários até depois de concluídos é discutida

na literatura econômica desde pelo menos a década de 1950 (NASCIMENTO, 2018).

Devido às restrições de crédito, faz-se necessário que o governo ou as empresas financiem

estudos pós - secundários, como uma forma de evitar baixo investimento em capital

humano. Entretanto, investir em capital humano envolve riscos consideravelmente maiores

do que investir em capital físico, quando se leva em consideração que os indivíduos que

incorporam o investimento geralmente não dispõem de nenhuma garantia a oferecer além

dos seus ganhos futuros (FRIEDMAN, 1955 apud NASCIMENTO, 2018).

Segundo Nascimento (2018), o raciocínio econômico não fornece uma base conceitual ou

empírica para resolver o dilema sobre os serviços educacionais serem pagos ou gratuitos. O

autor destaca que a decisão sobre qual maneira deve ser adotada é de responsabilidade do

governo e, que existem argumentos que justificam as duas formas. Dentre os argumentos

teóricos que justificam o papel ativo do governo na provisão e financiamento de serviços do

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ensino superior, destacam-se: “falhas no mercado de capitais, incerteza sobre resultados

trabalhistas futuros, igualdade de objetivos de acesso, assimetrias de informação e presença

potencial de externalidades e repercussões positivas” (NASCIMENTO, 2018, p. 33-34).

O principal argumento econômico dos subsídios públicos à educação pós-secundária é o

pressuposto de que os mercados falham em fornecer níveis socialmente ótimos de

financiamento estudantil, levando a restrições financeiras e de empréstimos que impedem

alguns segmentos da população de se matricular e concluir os estudos pós-secundários.

Conforme defendido por muitos economistas (VISCUSI; VERNON; HARRINGTON,

2005), falhas de mercado ocorrem nas situações em que o mercado sozinho não consegue

alcançar uma alocação social ótima dos bens e dos recursos na economia. Esse argumento

é, geralmente, utilizado para políticas de oferta de educação superior, já que não apenas os

estudantes se beneficiam da educação superior e, sim a sociedade como um todo. Assim, o

mercado livre tenderia a ofertar uma quantidade de graduados abaixo do ótimo desejado

(RESENDE, 2018).

Dynarski (2015) destaca que há uma incompatibilidade no momento da chegada dos

benefícios advindos da graduação e seus custos. Como os estudantes não conseguem

apresentar colaterais (eles não podem entregar seu trabalho futuro em troca de um

empréstimo), um bom negócio deixaria de ser feito caso não houvesse o Estado. O que

resultaria numa falha de mercado. O financiamento estudantil, enquanto política pública,

corrige essa falha do mercado de capitais. Como consequência, a maioria dos países, em

maior ou menor grau, possuem mecanismos de financiamento do ensino superior.

Sem o apoio governamental, muitas pessoas seriam incapazes de desenvolver todo seu

potencial, porque seriam financeiramente impedidas de investir em sua educação pós-

secundária. A perda social tende a ser ainda maior do que apenas a barreira de acesso

imposta por restrições de crédito, se também for válida a suposição de que a educação gera

externalidades positivas e gera repercussões econômicas e não econômicas para a sociedade

(NASCIMENTO, 2018).

Considerando que em teoria, quanto mais alto o nível de escolaridade, maior a

possibilidade de o indivíduo adquirir melhores retornos no futuro, entende-se o porquê do

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aumento na demanda por educação superior. No entanto, a teoria também oferece

evidências robustas de que a restrição de crédito afeta substancialmente a participação no

ensino superior (BELLEY; LOCHNER, 2007) evidencia tal situação para escolas nos EUA,

especialmente entre alunos menos capacitados e com níveis socioeconômicos mais baixos.

Nascimento (2018), enfatiza que para as famílias mais ricas a educação também seria uma

mercadoria, enquanto para as famílias mais pobres, a educação representa um investimento

em capital humano. Nesse sentido, para algumas famílias, a justificativa para manter seus

filhos estudando é a expectativa do aumento nas oportunidades futuras da criança,

permitindo-lhes ganhos salariais mais elevados e um melhor padrão de vida.

Se as perspectivas de maiores retornos não compensarem, os indivíduos que pertencem aos

estratos socioeconômicos mais baixos serão sub-representação no ensino superior, mesmo

que haja vagas e mesmo gratuitas ou financiadas por esquemas de empréstimos estudantis

abundantemente disponíveis e fortemente subsidiados. Isso porque, existe um consenso

justo na literatura econômica de que a capacidade e as habilidades são os determinantes de

primeira ordem, não apenas do nível de escolaridade, mas também de retornos da educação.

Tais características são resultantes de um processo que começa nos estágios iniciais da vida

(HECKMAN; MOSSO, 2014 apud NASCIMENTO, 2018).

Apesar de Heckman defender que os esforços do governo devem se concentrar na primeira

infância, isso não implica necessariamente que o governo não deva investir na educação

pós-secundária. Mesmo afetando pequenas proporções da população, políticas públicas

destinadas a remover as restrições de crédito no financiamento do ensino pós-secundário

são justificáveis em termos de patrimônio, pois favorecem mais os alunos de baixa renda.

Além disso, a economia convencional costuma atribuir à educação pós-secundária

(particularmente a educação superior) um papel de aquisição de habilidades ou um papel de

sinalização (WEISS, 1995 apud NASCIMENTO, 2018).

O papel de aquisição de habilidades é importante para aumentar a produtividade e,

portanto, molda um grau superior como um ativo digno de investimento da sociedade e dos

indivíduos. O papel de sinalização implica que um diploma de nível superior estaria

simplesmente medindo a capacidade de desempenho (não aprimorando as habilidades),

reforçando o argumento da equidade, pois subsídios públicos emergiram nesse contexto

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para evitar a exclusão de alunos talentosos com restrição de crédito que não seriam capazes

de arcar com os custos da educação na ausência de iniciativas de ajuda estudantil.

Outra justificativa para a participação do governo no financiamento do ensino superior é a

noção de educação como um direito de todo cidadão. Assim, havendo segmentos da

população para os quais as restrições de crédito são uma barreira ao acesso ao ensino pós-

secundário, o governo deve fornecer os meios para que ninguém seja deixado de lado por

razões financeiras, mesmo que, no conjunto, essa questão não pareça um problema de

primeira ordem (NASCIMENTO, 2018).

Nesse sentido, há em teoria, fundamentos que justificam a intervenção do governo no

mercado de educação superior, de modo a oferecer incentivos financeiros que reduzam os

efeitos negativos provocados pela presença de informações assimétricas e diminuam os

custos do ensino superior para os interessados (RESENDE, 2018 apud TOUTKOUSHIAN;

PAULSEN, 2016).

Os formuladores de política pública criam os sistemas de crédito educativo com o objetivo

de ajudar aos estudantes que no momento da matrícula, bem como durante o período da

graduação, não tenham condições financeiras de arcar com tais custos. Conforme

destacado, essa é uma forma de corrigir não apenas as falhas de mercados, como também

de garantir o direito à educação a todos os indivíduos, possibilitando assim seu

desenvolvimento e sua capacitação e, em contrapartida a aquisição de melhores e maiores

rendimentos no futuro, bem como retornos sociais advindos da presença de externalidades

positivas.

4.2 EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL

Muitos estudos empíricos buscaram captar os efeitos da renda familiar sobre o ingresso no

ensino superior. Alguns desses estudos apontam que esta relação estaria menos relacionada

à restrição ao acesso ao crédito e mais relacionada a fatores que não podem ser mitigados

por políticas de financiamento a educação superior, como por exemplo herança genética ou

desenvolvimento na primeira infância (CAMERON; HECKMAN, 1998; CARNEIRO;

HECKMAN 2002). Nesses estudos é utilizada a base de dados National Longitudinal

Survey of Youth 1979 (NLSY79), e a conclusão é que os trabalhos nos Estados Unidos que

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relacionam renda familiar e escolaridade pouco têm a ver com restrições de crédito no

ensino superior. Essa relação seria efeito da influência de renda e demais aspectos

familiares na formação de características cognitivas e não cognitivas no decorrer da vida do

indivíduo, características estas mensuradas na forma de habilidades.

Belley e Lochner (2007) utilizam estratégia similar à de Carneiro e Heckman (2002) para

analisar indivíduos que decidiram ingressar na educação superior no início dos anos 2000.

Eles utilizam os dados de 1979 e os dados de 1997 e usam como controle as habilidades e

características familiares relevantes. Para o primeiro ano analisado, os autores não

encontraram efeitos significativos da renda familiar sobre o acesso no ensino superior. Já

para o ano de 1997, os autores encontram um aumento substancial na influência de renda

sobre ingresso no ensino superior, além de uma relação positiva entre da variável e a

qualidade da instituição de ensino superior frequentada. Os trabalhos que foram destacados

são apenas alguns exemplos de uma ampla literatura com foco em investigar empiricamente

a existência de restrições no mercado de crédito estudantil. Outros estudos investigam,

ainda, quais os impactos das intervenções governamentais em Educação Superior sobre

seus beneficiários diretos.

Em teoria, o acesso a empréstimos deveria aliviar as restrições financeiras de curto prazo

que impedem os estudantes ingressarem no ensino superior (RAU; ROJAS; URZÚA,

2013). Dados os fatores limitadores, pessoas que obtiveram um suporte financeiro teriam

maior chance de se formar do que aqueles que não tiveram.

Desjardins e outros (2002) enfatizam que bolsas e ajudas financeiras reduzem a

probabilidade de trancar o curso, existindo efeito significativo sobre a obtenção da

graduação. Além disso, o efeito das ajudas financeiras aparenta ser maior sobre estudantes

que estão no início do curso (ainda no primeiro ano) que sobre aqueles que estão mais

próximos de obterem o título de graduação.

Sobre a efetividade das bolsas de estudo, Singell (2001) verifica que estas são menos

efetivas que empréstimos subsidiados para a permanência e conclusão do curso pelos

beneficiários. No entanto, na visão de Dowd e Coury (2006), empréstimos têm efeitos

negativos sobre a permanência e efeito nulo sobre a conclusão do curso. O aumento da

dívida de financiamento é o que justifica esse efeito negativo, uma vez que a

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obrigatoriedade de arcar com os custos faz com que os estudantes abandonem o curso por

não poderem fazer frente a dívida.

Dynarski (2003) investigou os efeitos da concessão de auxílio financeiro a estudantes têm

sobre o ingresso no Ensino Superior e sobre a probabilidade de conclusão. Segundo a

autora, é desafiador analisar essa relação, visto que, em geral, as variáveis que determinam

a elegibilidade de um indivíduo a auxílio financeiro são correlacionadas com diversos

outros fatores observáveis e não observáveis que influenciam ingresso e conclusão. A

autora utiliza uma metodologia de diferença em diferenças, em que a morte de um dos pais

durante a infância é utilizada como proxy para elegibilidade ao auxílio financeiro e conclui

que a eliminação do programa foi responsável por uma redução superior a um terço no

ingresso e de jovens elegíveis no Ensino Superior.

Kane (2003) avalia o impacto do programa de subsídios ao ensino superior, o Cal Grant,

financiado pelo governo da Califórnia sobre o ingresso no ensino superior utilizando uma

regressão descontínua. Os resultados indicam que os estudantes elegíveis ao auxílio eram

de 3% a 4% mais propensos a ingressarem no ensino superior.

Estudos que utilizaram a metodologia diferença em diferença encontraram resultados

divergentes. Long (2004) não encontra evidências de que matrículas universitárias

aumentaram mais rapidamente entre grupos elegíveis e Turner (2011) encontrou efeitos

positivos, as matrículas em tempo integral de alunos entre 18 e 19 anos aumenta em

resposta à ajuda estudantil federal baseada em impostos em 2,2 pontos percentuais.

Dynarsky (2000) examina o impacto do programa Georgia HOPE's Scholarship na entrada

na faculdade de jovens de dezoito e dezenove anos usando dados de 1989 a 1997 da CPS de

outubro. Ela utiliza a estratégia diferença em diferença e conclui que o programa elevou as

taxas de ingresso à faculdade entre 7 e 8 pontos percentuais.

Rau, Rojas e Urzúa, (2013) analisam o impacto de curto e longo prazo dos empréstimos

para o ensino superior nas matrículas, decisões de abandono e rendimentos. Como

resultados, observa-se que o programa CAE aumentou a probabilidade de matrícula em

24% e reduziu a taxa de abandono do ensino superior em 6,8% no primeiro ano para alunos

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matriculados em cursos de cinco anos e em 64,3% para os matriculados em cursos de dois

ou quatro anos.

Além disso, foram encontrados resultados que indicam que o programa tem sido mais

eficaz na redução da probabilidade de abandono de pessoas com baixa qualificação que

pertencem a famílias de baixa renda. No entanto, os rendimentos dos beneficiários foram

inferiores aos dos não beneficiários. Este resultado pode estar relacionado ao desempenho

do programa, o qual incentiva as IES a reter estudantes, mas à custa de não garantir a

qualidade da educação.

Para McCowan (2007), diversos países que expandiram seu ensino superior sofreram algum

nível de deterioração na qualidade do ensino. O autor analisa as políticas de expansão no

acesso ao ensino superior brasileiro e conclui que o FIES não é adequado a estudante de

baixa renda, uma vez que famílias pobres são relutantes em acumular dívidas muito

maiores que seus rendimentos, porém podem assumir dívidas em IES de qualidade

duvidosa com custos mais acessíveis. Nesse sentido, há um comprometimento do potencial

do Fies em aumentar o acesso e qualidade do ensino superior.

No contexto de amplas desigualdades sociais como o brasileiro, Sguissardi (2015)

considera que políticas como o FIES e o PROUNI teriam efeitos pontuais, pois não atuam

sobre os aspectos estruturais do sistema político-econômico ou as causas da desigualdade

social produtora da exclusão. Essas políticas, por serem consideradas focais e de curto

alcance, não logram garantir a condição de igualdade no acesso, nem de sucesso no

mercado de trabalho.

Em relação ao PROUNI, os resultados são diversos. Há quem afirme que as IES podem

estar distribuindo seus subsídios de forma desigual entre os programas, o que levaria

possivelmente a uma concentração de estudantes bolsistas em cursos de baixa demanda ou

de baixo custo (MCCOWAN, 2007). Já Nunes (2012) utiliza o método diferença em

diferença para estimar o impacto do PROUNI na composição das coortes ingressantes no

ensino superior em 2007 e conclui que houve aumento na proporção de baixa renda e no

desempenho acadêmico.

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No que se refere ao FIES, Duarte (2014) utiliza dados do Censo da Educação Superior de

2009 a 2012 e a metodologia de diferenças em diferenças para mostrar que o programa teve

impacto positivo sobre as mensalidades cobradas nos cursos de graduação das IES privadas

habilitadas ao programa. A autora também conclui, por meio de um modelo estrutural logit

de demanda, que o aumento foi devido a uma diminuição da elasticidade-preço da demanda

por educação superior, reduzindo a sensibilidade da demanda a aumentos de mensalidade.

Pontuschka (2016) utiliza dados do Censo da educação superior de 2009 a 2012 e dados do

ENADE de 2009 a 2010 e a metodologia diferenças em diferenças para avaliar o impacto

do FIES na quantidade de matrículas e nas taxas de evasão nos cursos presenciais de

instituições privadas brasileiras de ensino superior. Os resultados encontrados indicam que

o FIES tem impacto positivo no aumento de matrículas e impacto negativo na taxa de

evasão. Cursos de graduação presenciais, habilitados ao FIES, apresentaram, em média, um

aumento, relativo de 6,3% a 9% sobre as matrículas.

Castro (2017) realiza um estudo visando analisar quais foram os efeitos das mudanças

decorrentes das novas regras que passaram a vigorar no FIES a partir de dezembro de 2014

(Portarias Normativas n. º 21, de 26 de dezembro de 2014 e Portarias Normativas n.º 22 e

n.º 23 de 29 de dezembro de 2014). No estudo de caso desenvolvido durante a pesquisa, a

autora analisou quais foram as soluções de gestão implementadas pelas IES privadas do

estado do Ceará após a nova regulamentação do FIES e chega à conclusão que tanto as

Instituições de Ensino Superior que apresentaram um alto grau de exposição ao FIES

quanto as que apresentaram um baixo grau de exposição ao FIES foram impactadas

negativamente no que se refere ao número de ingressantes, as estratégias de gestão e ao

nível de crescimento previsto no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) após a nova

regulamentação.

Observa-se que é variada a análise empírica sobre o FIES, no entanto, apenas um desses

trabalhos se dedicou a fazer uma análise do impacto desse programa sobre a quantidade de

matrículas. O citado trabalho levou em consideração para a análise o período de expansão

do FIES, este trabalho, ao contrário, busca analisar o impacto do FIES sobre a quantidade

de matrículas num período de restrição das regras do programa. Os dados utilizados são do

Censo da Educação dos anos de 2014, 2015 e 2017.

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5 METODOLOGIA E DADOS

A metodologia utilizada nesta pesquisa consiste em um Modelo de Regressão Linear

Clássico. Nesse modelo, os parâmetros de interesse são estimados a partir de uma

minimização da soma dos quadrados dos resíduos. Tais estimadores, são conhecidos como

estimadores de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) (ANDRADE, 2017).

O MQO é o mais conhecido dentre todos os métodos de estimação, pois além de sua

facilidade computacional, é de fácil interpretação e possui certas propriedades desejáveis. O

modelo permite identificar uma relação de causalidade entre duas variáveis, ou entre um

conjunto de variáveis e um determinado fenômeno de interesse representado por meio de

uma variável e, pode ser especificado pela seguinte equação:

(1)

Em que o é a variável dependente, ou seja, o fenômeno que o pesquisador pretende

analisar. Os 1, 2, representam as variáveis explicativas que provocam variação em y. O

parâmetro de intercepto é representado por 0 e, o parâmetro de inclinação por 1. A

relação de causalidade é dada pelos coeficientes dos , é ele que quantifica o impacto da

variável sobre a variável , ou seja, quanto é explicado por cada parâmetro das

variáveis explicativas do modelo. Entretanto, essa relação não é determinística, ou seja, ela

não é exata, sendo afetada por outros fatores além de . Esses fatores, são representados na

equação pelo termo de erro, µ (ANDRADE, 2017).

Conforme destacado, a presença de fatores implícitos na equação de regressão que

influenciam a variável dependente, faz com que haja uma imprecisão na relação entre e .

Nesse sentido, o MQO não é o modelo mais indicado para estimar o impacto de mudanças

ocorridas em políticas públicas, uma vez que, para tal analise, é necessário que o

pesquisador acompanhe os dados referentes a sua análise ao longo de um determinado

período de tempo. O modelo de efeitos fixos (EF), é destacado por Wooldridge (2011)

como sendo o mais adequado para tal análise. No entanto, devido a dificuldades em montar

o banco de dados, visto que a base do Censo da Educação Superior é composta de um

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número muito grade de observações, sendo necessário uma memória computacional de

igual magnitude, essa pesquisa fez uso do modelo acima descrito para estimar o efeito do

FIES sobre a taxa de matricula.

Nessa direção, foram coletados dados do Censo da Educação Superior (CES) referente aos

anos de 2014, 2015 e 2017, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP). O CES permite a obtenção de informações ao nível

de aluno (como idade, gênero, cor, ano de ingresso, etc.); instituição (informações a

respeito da infraestrutura, como acessibilidade para portadores de deficiência, presença de

biblioteca, laboratórios); curso (tempo de duração e turno das aulas) e docentes

(qualificação dos professores, regime de trabalho, etc.).

Para cada ano, foram agregadas as bases de instituições, cursos docentes e alunos. A partir

das bases agregadas, composta em média por 12 milhões de observações para cada ano,

foram mantidas apenas as IES privadas com cursos presenciais. Ao final, a base utilizada

contou com 10 milhões de observações, em média, levando em consideração os três anos.

As variáveis utilizadas foram separadas em quatro categorias: aluno, docente, curso e

instituição, e são descritas a seguir. Posteriormente, agregou-se a nível de instituição como

médias as variáveis referentes a alunos e a docentes utilizadas na equação de regressão, por

exemplo, para cada instituição foi calculada a proporção de alunos que se autodeclararam

pretos, a proporção de alunos que receberam bolsa integral do PROUNI, assim como a

proporção de docentes com título de doutorado, dentre outras.

A variável dependente utilizada para mensurar o quantitativo de matrículas nas instituições

superiores é representada pela variável TX_MATRICULA e, expressa a quantidade de

matriculas efetuadas nas IES privada em cada ano. Como o que se pretende verificar é o

efeito que o programa FIES tem sobre a quantidade de matriculas, a variável independente

é representada pelo FIES, a qual informa em média o número financiamentos concedidos

pelas IES em cada ano analisado.

Além da variável de interesse, foram incluídos controles para as características de alunos e

docentes; bem como para as características das instituições e dos cursos. Para o caso dos

estudantes, escolheram-se variáveis que apresentam características pessoais, como cor/raça

e sexo, e outras que indicam a sua situação socioeconômica. Dentro desse último caso,

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estão as informações a respeito da concessão de bolsas de estudos e de financiamentos

concedidos pelo governo, bem como financiamento concedidos pelas instituições.

Para a categoria docentes, foram utilizadas as variáveis que representam o nível de

escolaridade; para categoria curso, utilizou-se as variáveis referentes à modalidade de

ensino e ao turno em que o curso é ofertado. No que diz respeito às variáveis da base de

instituição, foi utilizada a variável que indica a que região pertence cada instituição, sendo

necessário para tanto, categorizá-la e transformá-la em dummy. Assim, a especificação

econométrica utilizada nesse trabalho será:

(2)

A partir da equação especificada, foi feita a regressão ano a ano de 2014, 2015 e 2017, no

intuito de captar o efeito do FIES sobre a taxa de matrícula. O modelo é estimado a nível de

instituição, ou seja, para cada ano, pretende-se observar o efeito do FIES sobre as

matriculas de cada uma das IES particulares. A Tabela 3 descreve as variáveis utilizadas na

equação de regressão. Foi utilizado o ano de 2014; em anexo, constam as Tabelas referentes

aos anos de 2015 e 2017.

Tabela 3 - Estatísticas descritivas das variáveis da equação

Variáveis Descrição N.º de observação Média Desvio padrão

TX_MATRICULA Total de matrículas 6689166 0,7154227 0,4512129

FIES Número de financiamentos do Fies 2719659 0,5351895 0,4987603

PROUNI_INTEGRAL Bolsas ProUni integral 2719659 0,1252032 0,3309492

PROUNI_PARCIAAL Bolsas ProUni Parcial 2719659 0,0389876 0,1935655

FINANCIAMENTO_IES Financiamentos concedidos pelas IES 2719659 0,0095023 0,0970155

ACESSIBILIDADE_CURSO Acessibilidade a portadores de deficientes 6689166 0,9632355 0,1881832

Turno a que pertence o curso

CURSO_MATUTINO 6683731 0,473784 0,4993123

CURSO_VESPERTINO 6683731 0,0726666 0,2595885

CURSO_ NOTURNO 6683731 0,8817075 0,3229541

FEMININO Se o aluno é do sexo feminino 6689166 0,5522895 0,4972583

Continua

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Conclusão

Variáveis Descrição Nº de observação Média Desvio padrão

Cor/raça do aluno

ALUNOS_PRETO 0,3046797 0,4602717

ALUNOS_PARDOS 6689166 0,0375292 0,1900546

ALUNOS_BRANCOS 6689166 0,3778525 0,4848505

Formação dos docentes

DOCENTES_GRADUADOS 6689166 0,001688 0,04105

DOCENTES_ESPECIALIZAÇÃO 6689166 0,2844078 0,4511319

DOCENTES_MESTRADO 6689166 0,4947165 0,4999721

DOCENTES_DOUTORADO 6689166 0,219187 0,4136956

Região a que pertence a IES

CENTRO_OESTE 6689166 0,0880652 0,2833898

NORDESTE 6689166 0,1678574 0,3737396

NORTE 6689166 0,0500846 0,2181195

SUDESTE 6689166 0,536268 0,4986829

SUL 6689166 0,1577247 0,3644827

Fonte: Elaboração própria (2019)

Os principais resultados obtidos na estimação do modelo são apresentados no capítulo

seguinte.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos neste estudo estão em consonância com os resultados encontrados na

literatura, de que políticas de financiamento e bolsas de estudo para o setor privado de

ensino superior, impactam positivamente nas matriculas desse setor.

A análise descritiva realizada no capítulo três já apontava para essa relação positiva.

Conforme demonstrado, o aumento no número de contratos do FIES provocou um aumento

no número de matriculas efetuadas nas IES privadas para os anos de 2014 e 2015, quando

as regras vigentes no programa eram mais flexíveis. Em 2017, observou-se um efeito

inverso, uma redução no número de matriculas, que é explicada, em parte, pela redução dos

financiamentos concedidos pelo FIES, provocada pelas regras mais restritivas

implementadas no decorrer de 2015.

Observa-se que, em todos os anos analisados, as regressões apontam uma correlação

positiva entre o FIES e a taxa de matrícula. A variação no coeficiente da variável de

interesse é um importante indício dos efeitos das mudanças no programa sobre as

matriculas. A análise para o ano de 2014, indica que em média, tudo mais constante, um

aumento nos financiamentos concedidos, resulta num aumento de 0,13 pontos percentuais

na taxa de matrícula. Importante destacar a robustez do coeficiente associado a variável.

FIES, que se mostra estatisticamente significante a 1%.

Importante destacar também, a expressiva diferença entre os coeficientes das variáveis que

representam a cor/raça dos alunos. Ser branco, causa um efeito positivo de 0,12 pontos

percentuais na taxa de matrícula, ao passo que para alunos pretos esse efeito mostra-se

negativo em – 0,44pontos percentuais. Tal resultado corrobora com a literatura, que destaca

que apesar das políticas de acesso para o ensino superior implementada nas últimas

décadas, alunos negros ainda são minoria nesse nível de ensino.

Os resultados para o ano de 2015 se assemelha ao do ano anterior. Com destaque para a

queda do coeficiente da variável FIES que passa a refletir em 0,2 pontos percentuais o

crescimento no número de matrícula, em caso de um aumento no número de

financiamentos concedidos, tudo o mais constante.

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Enquanto o fato de ser branco continuou a impactar em 0,12 pontos percentuais no aumento

das matriculas, houve alteração no coeficiente para alunos pardos, o qual equipara-se ao de

alunos brancos e, queda na representatividade dos alunos pretos, que passou a explicar em –

0,48 pontos percentuais, ou seja, ao passo que ocorre um aumento do número de pessoas

que se autodeclaram pretas, há um impacto negativo nas matriculas.

Para o ano de 2017, cabe destacar a superioridade do impacto da variável PROUNI frente a

variável FIES. Observa-se que em média, mantidos os demais fatores constantes, um

aumento na oferta de bolsas do PROUNI leva a um acréscimo de 0,16 pontos percentuais

na taxa de matriculas, no caso de as bolsas serem integrais e, de 0,25 pontos percentuais,

caso as bolsas sejam parciais. Importante lembrar que, alunos que não são financiados

totalmente pelo FIES, podem complementar o financiamento concorrendo a bolsa parcial

do PROUNI.

Para todos os anos, as variáveis referentes ao turno do curso, bem como a variável que

informa se o mesmo possui infraestrutura que possibilite acessibilidade para pessoas com

deficiência, mostraram-se estatisticamente insignificante. As variáveis que representam a

formação dos docentes mostraram-se estatisticamente significantes para os anos de 2015 e

2017. Em 2014 tais variáveis não se mostraram relevantes para explicar a taxa de matrícula.

Conforme destacado, as alterações nos coeficientes da variável. FIES é um indicativo de

que as regras adotadas no programa levaram a uma redução na taxa de matrícula. Isso

porque, enquanto no ano de 2014, um aumento nos financiamentos concedidos levaria a um

acréscimo de pouco mais de 13% na taxa de matrícula, subindo para 0,21 pontos

percentuais no ano de 2015; em 2017, esse valor cai pela metade, o que permite afirmar que

o FIES tem efeito sobre a variação na taxa de matrícula.

Cabe destacar que, o número de financiamentos concedidos pelas instituições apresentou

significativo crescimento no ano de 2017, explicando que, em média, o aumento nesses

financiamentos impacta em 0,58 pontos percentuais no crescimento das matriculas. Nos

anos de 2014 e 2015, a variável que representa esse tipo de financiamento, apresentou

coeficientes de 0,16 e 0,25 pontos percentuais, respectivamente. Tais resultados corroboram

com a visão de Chaves (2015), quando destaca que a redução dos financiamentos

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concedidos pelo FIES, fez com as IES adotassem uma linha de financiamento próprio no

intuito de captar estudantes inaptos as novas regras do FIES.

As estimativas mostram também que a variável feminino tem efeito positivo sobre as

matriculas, de maneira que um aumento na quantidade de mulheres leva a um acréscimo de

em média 0,9 pontos percentuais no número de matriculas em ambos os anos.

Para o ano de 2014, com exceção da região Sul, as demais variáveis referentes as regiões a

que pertencem as IES tiveram efeito positivo sobre as matriculas, explicando

conjuntamente em 0,10 pontos percentuais o seu acréscimo. Para os demais anos, com

exceção da região Nordeste, que se mostrou significante a 1%, as demais regiões não se

mostraram relevantes para explicar a taxa de matrícula. Com as mudanças implementadas

no FIES, no final de 2015, o programa passou a priorizar as priorizar as regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste. No entanto, na regressão apresentada para o ano de 2017, foi

possível comprovar apenas o efeito da região Nordeste sobre as matriculas.

O conjunto de variáveis utilizados na regressão explica entre 19,76% e 22,95% a variação

na quantidade de matriculas no ensino superior para os anos de análise. O p-valor da

estatística F, que informa qual o menor nível de significância que a hipótese nula deve ser

rejeitada, foi zero para ambos os anos analisados. O que confirma o resultado da estatística

F, que tem como objetivo rejeitar a hipótese nula de que todos os parâmetros são

simultaneamente iguais a zero.

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Tabela 4 - Efeito do Fies sobre as matrículas no ano de 2014

TX_MATRICULA Coeficiente Desvio Padrão. Estatística

t >t P 95% Intervalo

FIES 0,1333677 0,0002414 552,49 0.000 0,1328946 0,1338409

PROUNI_INTEGRAL -0,0272416 0,0010342 -26,34 0,000 -0,0292687 -0,0252146

PROUNI_PARCIAL 0,2318784 0,0008895 260,69 0,000 0,230135 0,2336217

FINANCIAMENTO_IES 0,1617015 0,0014222 113,70 0,000 0,1589141 0,1644888

ACESSIBILIDADE_CURSO -0,0620852 0,0001987 -312,49 0,000 -0,0624746 -0,0616958

CURSO_MATUTINO -0,0094456 0,0000781 -120,92 0,000 -0,0095987 -0,0092925

CURSO_VESPERTINO -0,0132817 0,0001506 -88,18 0,000 -0,0135769 -0,0129865

CURSO_NOTURNO -0,0440685 0,0001208 -364,67 0,000 -0,0443054 -0,0438317

FEMININO 0,0946323 0,0004382 215,94 0,000 0,0937733 0,0954912

ALUNOS_PRETOS -0,4484805 0,0011642 -385,22 0,000 -0,4507624 -0,4461987

ALUNOS_PARDOS 0,0850793 0,0002548 333,92 0,000 0,0845799 0,0855787

ALUNOS_BRANCOS 0,1209396 0,0001723 702,02 0,000 0,1206019 0,1212772

DOCENTES_GRADUADOS -0,4263376 0,0947795 -4,50 0,000 -0,6121021 -0,2405731

DOCENTES_ESPECIALIZACAO -0,4839494 0,094767 -5,11 0,000 -0,6696894 -0,2982094

DOCENTES_MESTRADO -0,4591444 0,094767 -4,84 0,000 -0,6448844 -0,2734044

DOCENTES_DOUTORADO -0,4538106 0,0947671 -4,79 0,000 -0,6395507 -0,2680705

CENTRO_OESTE 0 -

NORDESTE 0,0494551 0,0001576 313,87 0,000 0,0491463 0,0497639

NORTE 0,059959 0,0002151 278,69 0,000 0,0595373 0,0603807

SUDESTE 0,0012301 0,0001445 8,51 0,000 0,0009468 0,0015134

SUL -0,0387672 0,0001799 -215,53 0,000 -0,0391197 -0,0384146

CONS 1,161129 0,0947665 12,25 0,000 0,9753899 1,346868

Fonte: Elaboração própria (2019)

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Tabela 5 - Efeito do Fies sobre as matrículas no ano de 2015

TX_MATRICULA Coeficiente Desvio Padrão. Estatística t P>t 95% Intervalo

FIES 0,021571 0,000271 79,71 0.000 0,0210409 0,0221018

PROUNI_INTEGRAL 0,308806 0,000924 334,15 0,000 0,3069946 0,3106173

PROUNI_PARCIAL 0,245465 0,000894 274,72 0,000 0,243714 0,2472165

FINANCIAMENTO_IES 0,259726 0,001493 173,99 0,000 0,2568004 0,2626518

ACESSIBILIDADE_CURSO 0,018156 0,00021 86,6 0,000 0,0177453 0,0185671

CURSO_MATUTINO -0,01383 8,11E-05 -170,48 0,000 -0,0139903 -0,0136723

CURSO_VESPERTINO -0,04891 0,000147 -333,25 0,000 -0,0491941 -0,0486188

CURSO_NOTURNO -0,00985 0,00014 -70,42 0,000 -0,0101215 -0,0095733

FEMININO 0,088273 0,000465 189,69 0,000 0,0873607 0,0891848

ALUNOS_PRETOS -0,48663 0,000991 -491,3 0,000 -0,4885678 -0,4846851

ALUNOS_PARDOS 0,127223 0,000259 490,55 0,000 0,1267147 0,1277313

ALUNOS_BRANCOS 0,120815 0,000191 632,2 0,000 0,1204404 0,1211895

DOCENTES_GRADUADOS 0,124657 0,002414 51,63 0,000 0,1199249 0,1293885

DOCENTES_ESPECIALIZACAO 0,090398 0,002307 39,19 0,000 0,0858768 0,0949189

DOCENTES_MESTRADO 0,080955 0,002306 35,1 0,000 0,0764342 0,0854748

DOCENTES_DOUTORADO 0,101755 0,00231 44,05 0,000 0,0972279 0,1062824

CENTRO_OESTE -0,04551 0,000221 -205,82 -0,0459397 -0,045073

NORDESTE 0,020303 0,000198 102,78 0,000 0,0199161 0,0206905

NORTE 0 - - 0,000

SUDESTE -0,04381 0,000194 -226,44 0,000 -0,0441891 -0,0434307

SUL -0,08892 0,000234 -379,61 0,000 -0,0893758 -0,0884576

CONS 0,538897 0,002343 230,03 0,000 0,5343054 0,5434887

Fonte: Elaboração própria (2019)

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Tabela 6 - Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2017

TX_MATRICULA Coeficiente Desvio Padrão. Estatística t P>t 95% Intervalo

FIES 0,1024292 0,0003443 297,46 0.000 0,1017543 0,1031041

PROUNI_INTEGRAL 0,1609398 0,0007374 218,25 0.000 0,1594944 0,1623851

PROUNI_PARCIAL 0,2508505 0,0006338 395,79 0.000 0,2496083 0,2520927

FINANCIAMENTO_IES 0,0580972 0,0007806 74,43 0.000 0,0565672 0,0596271

ACESSIBILIDADE_CURSO -0,0313888 0,000258 -121,64 0.000 -0,0318946 -0,0308831

CURSO_MATUTINO -0,0251147 0,0000838 -299,78 0.000 -0,0252789 -0,0249505

CURSO_VESPERTINO -0,0491003 0,0001543 -318,15 0.000 -0,0494028 -0,0487978

CURSO_NOTURNO -0,0204524 0,0001297 -157,63 0.000 -0,0207067 -0,0201981

FEMININO 0,092947 0,0004922 188,82 0.000 0,0919823 0,0939118

ALUNOS_PRETOS -0,326415 0,0008812 -370,41 0.000 -0,3281422 -0,3246878

ALUNOS_PARDOS 0,0991196 0,0002725 363,74 0.000 0,0985855 0,0996536

ALUNOS_BRANCOS 0,1246368 0,0002189 569,28 0.000 0,1242077 0,1250659

DOCENTES_GRADUADOS 0,5587561 0,020676 27,02 0.000 0,518232 0,5992802

DOCENTES_ESPECIALIZACAO 0,409189 0,0206151 19,85 0.000 0,3687841 0,4495938

DOCENTES_MESTRADO 0,3982616 0,0206151 19,32 0.000 0,3578568 0,4386664

DOCENTES_DOUTORADO 0,3939125 0,0206152 19,11 0.000 0,3535075 0,4343175

CENTRO_OESTE 0 -

NORDESTE 0,0009214 0,0001892 4,87 0.000 0,0005507 0,0012921

NORTE -0,0330294 0,0001919 -172,15 0.000 -0,0334055 -0,0326534

SUDESTE -0,1018378 0,0002427 -419,53 0.000 -0,1023136 -0,1013621

SUL -0,0548123 0,0002178 -251,66 0.000 -0,0552392 -0,0543855

CONS 0,2679001 0,0206154 13 0.000 0,2274946 0,3083056

Fonte: Elaboração própria (2019)

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como principal objetivo analisar o impacto trazido pelas regulamentações

por qual passou o FIES no segundo semestre do ano de 2014 e de 2015 sobre a taxa de

matrícula das instituições de ensino superior privadas. A metodologia escolhida estimou

um modelo econométrico para analisar o efeito da variável Matrícula sobre a variável FIES,

utilizando-se do Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO).

O crédito educativo tem sido apontado em diversos trabalhos empíricos como um dos

fatores que contribuem para a expansão do acesso ao ensino superior. Em teoria, o acesso

ao crédito tende a aliviar as restrições financeiras de curto prazo que impossibilitam os

estudantes de adentrarem no ensino superior.

Os principais resultados empíricos reportam a influência dos empréstimos subsidiados, bem

como da concessão de bolsas de estudo no aumento das matrículas do ensino superior

privado. Neste trabalho, os resultados corroboram com a literatura ao encontrar uma

correlação positiva entre o financiamento concedido pelo governo aos estudantes e a

expansão no número de matrículas.

A análise descritiva mostrou que nos anos de 2014 e 2015, ano em que as regras para

elegibilidade de alunos para a aquisição de financiamento estudantil eram mais flexíveis,

houve um aumento no número de matrículas. Já em 2017, houve uma redução desse

número de matrículas, consequência em parte das regras mais restritivas do FIES.

Os resultados das estimações econométrica apontam na mesma direção da análise

descritiva. Enquanto no ano de 2014, o FIES teve um maior impacto na quantidade de

matrículas efetuadas, em 2015 e em 2017 esse impacto foi reduzido. Ressalta-se que em

2015, o FIES respondeu a apenas 0,2 pontos percentuais no aumento das matriculas, sinal

das regras implementadas em dezembro de 2014, que deixou de fora alunos que não

obtiveram 450 pontos no ENEM e que zeraram a redação. Assim, é confirmada a hipótese

inicial de que as mudanças nas regras do Fies impactam diretamente na taxa de matrícula.

De tal modo que regras mais flexíveis levam a um aumento no número de matrículas,

enquanto que mudanças mais rigorosas tendem a provocar um efeito contrário.

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No entanto, é preciso destacar que existem outros fatores associados à expansão da taxa de

matrícula e, que, portanto, não devem deixar de ser destacados. É o caso das bolsas

concedidas via PROUNI, do financiamento estudantil próprio da IES, o gênero e a cor/raça

do aluno, dentre outros. Assim como existem fatores que estão associados a queda dessa

taxa. As restrições na política de crédito, a falta ou a baixa renda da população, a baixa

expectativa quanto aos retornos da aquisição de maior grau de escolarização, etc.

Esta pesquisa tinha como propósito inicial, avaliar o impacto do FIES sobre o acesso dos

estudantes negros no ensino superior. No entanto, como a política do Fies é de cunho social

e não racial, decidiu-se apenas pela análise de impacto do programa sobre a taxa de

matrícula. A intenção era criar um painel com os dados dos anos de 2014 a 2017 para poder

prosseguir com o objetivo traçado inicialmente. No entanto, devido a dificuldades em

montar o banco de dados, visto que a base do Censo da Educação Superior é composta de

um número muito grande de observações, sendo necessário uma memória computacional de

igual magnitude, essa pesquisa fez uso do método de MQO para estimar o efeito do FIES

sobre a taxa de matrícula.

Como desdobramentos futuro deste trabalho, destaca-se a necessidade de uma análise feita

com o modelo de regressão utilizando dados em painel. Segundo a literatura, esse é o mais

indicado quando o pesquisador dispõe de informações sobre unidades fixas de interesse

(indivíduos, famílias, firmas, cidades, bairros, municípios, escolas, etc.) que podem ser

acompanhadas ao longo de um período delimitado de tempo (mês, semestre, ano, etc.).

Além disso, o uso de dados em painel permite analisar os impactos advindos de políticas

públicas, ao serem observados dados anteriores e posteriores a uma intervenção.

Outra sugestão é que futuros trabalhos voltem o olhar para a análise do impacto do FIES

sobre o valor das mensalidades cobradas nas IES privadas. Ou ainda, pesquisas que visem

analisar qual o impacto do FIES nas contas públicas e, se de fato o programa vem

atendendo ao objetivo a que se propõe, que é o de democratizar o acesso ao ensino superior.

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APÊNDICES

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Apêndice A - Tabela 7 - Médias e desvio padrão das variáveis em 2017

Variáveis Descrição Nº de

observação

Média Desvio Padrão Min Max

tx_matricula Total de

matrículas

6900498 07078973 0,4547293 0 1

Fies Número de

financiamen

tos do Fies

2859912 0,5341182 0,4988347 0 1

Prouni_integral Bolsas

Prouni

integral

2859912 0,1275277 0,3335632 0 1

Prouni_parciaal Bolsas

Prouni

Parcial

2859912 0,0406596 0,1975005 0 1

Financiamento_ies Financiame

ntos

concedidos

pelas IES

2859912 0,0128158 0,1124791 0 1

acessibilidade_curso Acessibilida

de a

portadores

de

deficientes

6900498 0,9633596 0,1878773 0 1

Turno a que

pertence o

curso

curso_matutino 6895228 0,4627732 0,4986123 0 1

curso_vespertino 6895228 0,0861132 0,2805311 0 1

curso_ noturno 6895228 0,909892 0,2863364 0 1

feminino Se o aluno é

do sexo

feminino

6900498 0,5532443 0,497157 0 1

Cor/raça do

aluno

alunos_pretos 6900498 0,367642 0,4821632 0 1

alunos_pardos 6900498 0,049223 0,2163333 0 1

alunos_brancos 6900498 0,3206251 0,4667169 0 1

Formação

dos

docentes

docentes_graduados 6900498 0,0030914 0,0555141 0 1

docentes_especializaç

ão

6900498 0,4229347 0,4940253 0 1

docentes_mestrado 6900498 0,483045 0,4997125 0 1

docentes_doutorado 6900498 0,0906385 0,2870944 0 1

Regiões a

que pertence

às IES

Centro_Oeste 6900498 0,0872314 0,2821739 0 1

Nordeste 6900498 0,1734652 0,3786489 0 1

Norte 6900498 0,0559345 0,2297952 0 1

Sudeste 6900498 0,5275563 0,4992401 0 1

Sul 6900498 0,1558127 0,3626777 0 1

Fonte: Elaboração própria (2019) com base em Observatório do Plano Nacional da Educação ( 2019) e

Brasil (2019c)

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Apêndice B - Tabela 8 - Médias e desvio padrão das variáveis em 2017

Variáveis Nº de

observação Média Desvio

Padrão

Míni

mo

Máxi

mo

tx_matricula Total de

matrículas

6585614 0,7083159 0,4545377 0 1

Fies Número de

financiamento

s do Fies

2679257 0,4491805 0,4974108 0 1

Prouni_integra

l

Bolsas Prouni

integral

2679257 0,1527703 0,3597661 0 1

Prouni_parcia

al

Bolsas Prouni

Parcial

2679257 0,05689 0,2316324 0 1

Financiamento

_ies

Financiamento

s concedidos

pelas IES

2679257 0,0361552 0,1866762 0 1

acessibilidade

_curso

Acessibilidade

a portadores

de deficientes

6585614 0,9765358 0,1513724 0 1

Turno a que

pertence o

curso

curso_matutin

o

6276990 0,5451172 0,4979603 0 1

curso_vesperti

no

6276990 0,0855861 0,2797519 0 1

curso_ noturno 6276990 0,9285403 0,2575912 0 1

feminino Se o aluno é

do sexo

feminino

6585614 1,443879 0,4968405 1 2

Cor/raça dos

alunos

alunos_preto 6585614 0,4119355 0,4921836 0 1

alunos_pardos 6585614 0,0591758 0,2359535 0 1

alunos_branco

s

6585614 0,2508679 0,4335126 0 1

Formação dos

docentes

docentes_grad

uados

6585614 0,0006665 0,0258071 0 1

docentes_espe

cialização

6585614 0,2216642 0,4153664 0 1

docentes_mest

rado

6585614 0,5939859 0,4910872 0 1

docentes_dout

orado

6585614 0,183679 0,3872222 0 1

Regiões a que

pertence às

IES

Centro_Oeste 6585614 0,0578932 0,2335413 0 1

Nordeste 6585614 0,1879799 0,3906961 0 1

Norte 6585614 0,5141188 0,4998007 0 1

Sudeste 6585614 0,1552068 0,3621017 0 1

Sul 6585614 0,0848014 0,2785859 0 1

Fonte:Elaboração própria ( 2019) com base em Observatório do Plano Nacional da Educação ( 2019) e Brasil

(2019c

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Apêndice C - Tabela 9: Efeito do FIES sobre as matrículas no ano de 2017. Regressão robusta

Variáveis tx_matricula Variáveis tx_matriculas

Fies 0.102*** alunos_brancos 0.125***

(0.000371) (0.000219)

Prouni_integral 0.161*** docentes_graduados 0.559***

(0.000692) (0.000826)

Prouni_parcial 0.251*** docentes_especializacao 0.409***

(0.000555) (0.000659)

financiamento_ies 0.0581*** docentes_mestrado 0.398***

(0.000622) (0.000658)

acessibilidade_curso -0.0314*** docentes_doutorado 0.394***

(0.000329) (0.000660)

curso_matutino -0.0251*** Centro_Oeste -

(8.58e-05)

curso_vestpertino -0.0491*** Nordeste 0.000921***

(0.000154) (0.000253)

curso_noturno -0.0205*** Norte -0.0330***

(0.000130) (0.000266)

feminino 0.0929*** Sudeste -0.102***

(0.000577) (0.000307)

alunos_pretos -0.326*** Sul -0.0548***

(0.00142) (0.000277)

alunos_pardos 0.0991*** Constant 0.268***

(0.000316) (0.000646)

Observações 6,585,614

R-quadrado 0.198

Erros padrões robustos nos parênteses

*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1 Fonte: Elaboração própria ( 2019)