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Universidade Federal da Bahia
Instituto de Cincias da Sade
Lorena Marcelino Cardoso
Disfuno temporomandibular: prevalncia e efeitos da terapia laser de baixa potncia na dor miofascial crnica
Salvador
2014
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PESQUISA E PS-GRADUAO DOUTORADO
PROCESSOS INTERATIVOS DE RGOS E SISTEMAS
LORENA MARCELINO CARDOSO
DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR:
PREVALNCIA E EFEITOS DA TERAPIA LASER DE BAIXA
POTNCIA NA DOR MIOFASCIAL CRNICA
Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e Ps-
Graduao em Processos Interativos dos rgos e
Sistemas, Instituto de Cincias da Sade,
Universidade Federal da Bahia, como requisito
parcial para obteno do ttulo de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de
Arajo
Co-orientador: Prof. Dr. Durval Campos Kraychete
Salvador
2014
2
LORENA MARCELINO CARDOSO
DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR:
PREVALNCIA E EFEITOS DA TERAPIA LASER DE BAIXA
POTNCIA NA DOR MIOFASCIAL CRNICA
Salvador
2014
3
Ficha Catalogrfica elaborada pela BUS Biblioteca Universitria de Sade da UFBA
C268 Cardoso, Lorena Marcelino
Disfuno temporomandibular : prevalncia e
efeitos da terapia laser de baixa potncia na dor miofascial
crnica / Lorena Marcelino Cardoso. Salvador, 2014.
144 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Paulo Correia de Arajo.
Co-orientador: Prof. Dr. Durval Campos Kraychete.
Tese (doutorado) Universidade Federal da Bahia. Insti-
tuto de Cincias da Sade, 2014.
1. Dor crnica. 2.Sindromes da dor miofascial . 3.Sndro- me da disfuno da articulao temporomandibular. 4. Terapia
a laser. 5.Terapia a laser de baixa intensidade. I. Universidade
Federal da Bahia. Instituto de Cincias da Sade. II. Arajo,
Roberto Paulo Correia de. III. Kraychete, Durval Campos. IV.
Ttulo.
CDU 616.8-009.7
4
LORENA MARCELINO CARDOSO
DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR: PREVALNCIA E EFEITOS DA
TERAPIA LASER DE BAIXA POTNCIA NA DOR MIOFASCIAL CRNICA
Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e Ps-Graduao em Processos Interativos dos
rgos e Sistemas, Instituto de Cincias da Sade, Universidade Federal da Bahia.
Banca Examinadora
Roberto Paulo Correia de Arajo Orientador ______________________________________
Doutor em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal da Bahia
Durval Campos Kraychete Co-orientador ________________________________________
Doutor em Medicina e Sade pela Universidade Federal da Bahia
Universidade Federal da Bahia
Francisco Prado Reis ________________________________________________________
Doutor em Cincias Biolgicas pela Universidade de So Paulo
Universidade Tiradentes, Sergipe
Martha Simes Ribeiro _______________________________________________________
Doutora em Tecnologia Nuclear Aplicaes pelo Instituto de Pesquisas Energticas e
Nucleares
Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares, So Paulo
Paulo Vicente Barbosa da Rocha ______________________________________________
Doutor em Odontologia pela Universidade de So Paulo
Universidade Federal da Bahia
5
A minha filha querida, Jlia Cardoso Rocha, por todo carinho e compreenso.
O amor mais despretensioso e sincero.
6
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Roberto Paulo Correia de Arajo, sempre disponvel em
orientar e concretizar todos os anseios necessrios viabilizao da pesquisa.
A Durval Campos Kraychete, meu co-orientador, por abrir as portas do Servio de Dor
no Ambulatrio Magalhes Neto HUPES e pelo aprendizado.
Ao Professor Maurcio Cardeal, por toda sua disponibilidade em colaborar nos
momentos de dvidas.
querida colega, Janana Trench, pela realizao das eletromiografias de superfcie e
pela solidariedade.
Ao colega Paulo Lopes, por toda colaborao junto aos estudantes e funcionrios da
UNIJORGE.
Aos colegas de ps, funcionrios e estudantes da UFBA e UNIJORGE, que
colaboraram na composio do grupo de indivduos assintomticos para DTM na pesquisa.
Aos meus queridos pacientes, por toda boa vontade no seu voluntariado e pela troca de
respeito e confiana.
A Marcelo Andrade Silva Santos, pelo apoio e eficincia.
Aos colegas e funcionrios do Servio de Dor do HUPES, pelo acolhimento e
presteza.
A Alfredo Costa, por toda assistncia ao termovisor FLIR e software.
A ABO BA, nas pessoas do seu presidente Prof. Dr. Antstenes Albernaz e Prof.
Maria Rita Sancho por toda receptividade.
UNIJORGE, por ter franqueado o espao e acesso a funcionrios e estudantes.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ) e
Fundao de Amparo Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pelo apoio ao Projeto.
A meus pais e amigos, pelo incentivo e carinho dedicados. Especialmente a Suzana
Cardoso, minha me, por ter me possibilitado a formao que tive e pelos helps atendidos.
7
Quem no sabe o que busca, no identifica o que acha.
Todo conhecimento humano comeou com intuies, passou da aos conceitos e terminou
com ideias.
Immanuel Kant
8
CARDOSO, Lorena Marcelino. DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR: PREVALNCIA E EFEITOS DA TERAPIA LASER DE BAIXA POTNCIA NA DOR
MIOFASCIAL CRNICA. 2014. 144 f. il. Tese (Doutorado) Instituto de Cincias da
Sade, Universidade Federal da Bahia, 2014.
RESUMO
Introduo: A dor miofascial (DMF) uma disfuno muscular que causa difundida de dor
e comumente ignorada pelos profissionais de sade. Sua prevalncia entre os pacientes
atendidos em clnica mdica geral e de especialidades varia de 21% a 93%, sendo comumente
encontrada na investigao diagnstica da cefaleia, da dor lombar, cervical e de ombro, assim
como, tambm constitui um dos subgrupos diagnsticos das disfunes temporomandibulares
(DTMs). Seu diagnstico eminentemente clnico, no qual o exame fsico soberano.
Objetivo: Identificar a prevalncia de DTM em pacientes de clnica de dor e avaliar os efeitos
da terapia laser em pacientes com DMF em DTM. Metodologia: O presente estudo foi
realizado em duas etapas, a primeira, constituiu-se em levantamento baseado nos pronturios
do Hospital Universitrio Professor Edgar Santos HUPES, objetivando o perfil dos
pacientes com dor atendidos no seu Servio de Dor e, a segunda, triagem, atravs do ndice
Anamnsico de Fonseca e exame fsico, para pacientes portadores de DTM miofascial para a
etapa experimental. A segunda etapa, um ensaio clnico, simples cego e placebo controlado,
versou sobre os efeitos da terapia laser no tratamento de portadores de DTM miofascial
crnica. Como ferramentas avaliativas foram empregados: questionrio de qualidade de vida
sf-36, escala de ansiedade e depresso (HAD), escalas visual anlgica (EVA) e numrica (EN)
de dor, algometria de presso, eletromiografia de superfcie (EMGs) e imagem por
termografia infravermelha. Resultados: O percentual dos pacientes portadores de DMF com
indcios de DTM (8,3%) superior ao percentual geral do servio (5,8%), evidenciando casos
subdiagnosticados. Em relao ao ensaio clnico com terapia laser nos pacientes com DTM
miofascial, o questionrio sf-36 no apresentou mudana significativa do quadro inicial e, em
relao escala HAD, detectou-se um nvel de ansiedade discretamente reduzido durante a
terapia. A terapia laser promoveu reduo na EN (p=0,016), melhoria na algometria de
presso (p= 0,010, masseter, e p=0,028, temporal) e melhoria na EMGs dos msculos
estudados (p
9
CARDOSO, Lorena Marcelino. DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR: PREVALNCIA E EFEITOS DA TERAPIA LASER DE BAIXA POTNCIA NA DOR
MIOFASCIAL CRNICA. 2014. 144 f. il. Tese (Doutorado) Instituto de Cincias da
Sade, Universidade Federal da Bahia, 2014.
ABSTRACT
Introduction: Myofascial pain (MP) is a muscle dysfunction that is cause widespread pain and commonly ignored by health professionals. Its prevalence among patients seen in general
medical and specialty ranges from 21% to 93%, and is commonly found in the diagnostic
investigation of headache, lower back pain, neck and shoulder pain, and also is one of the
diagnostic subgroups of temporomandibular disorders (TMD).The diagnosis is mainly
clinical, in which the physical examination is sovereign. Objective: To identify the
prevalence of TMD in patients treated in specialized clinic in treating pain and evaluate the
effects of laser therapy in patients with MP in TMD. Methodology: This study was conducted in two stages. The first stage was constituted in a survey based on hospital records,
aiming the profile of patients with pain treated in the Pain Service - HUPES and in the second
stage sorting through Anamnesis Index Fonseca and physical examination for patients with
myofascial TMD for the experimental phase. The second stage, a clinical trial, single-blind,
placebo-controlled, was about the effects of laser therapy in the treatment of patients with
chronic MP in TMD. As evaluative tools were employed: quality of life questionnaire SF-36,
anxiety and depression scale (HAD), visual analogical scale (VAS), numerical scale, the
pressure algometry, surface electromyography and image for infrared thermography. Results:
The percentage of patients with MP and signs of TMD (8.3%) is higher than the overall
percentage of service (5.8%), showing undiagnosed cases. For the clinical trial with laser
therapy in myofascial TMD was observed that in the SF-36 questionnaire there was no
significant change in the initial framework and for the HAD scale was detected a level of
anxiety slightly reduced during the therapy. Laser therapy promoted significant reduction of
numerical scale (p = 0.016), improvement in the algometry (p = 0.010, masseter, and p =
0.028, temporal) and improvement in surface electromyography of the muscles studied (p
10
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS
C = graus centgrados
A = rea
ACTH = hormnio adrenocorticotrfico (Adrenocorticotropic hormone)
ATM = articulao temporomandibular
CGRP = peptdeo relacionado ao gene da calcitonina
CIVM = contrao isomtrica voluntria mxima
DE = densidade de energia
DFA = dor facial atpica
DMF = dor miofascial
DOMS = dor muscular de incio tardio (delayed-onset muscle soreness)
DP = densidade de potncia
DR = dor referida
DTM = disfuno temporomandibular
E = energia
EMGs = eletromiografia de superfcie
EN = escala numrica
EVA = escala visual analgica
HAD = escala de ansiedade e depresso
HD = hrnia de disco
HUPES = Hospital Universitrio Professor Edgar Santos
IAF = ndice Anamnsico de Fonceca
IASP = Associao Internacional para o Estudo da Dor (Internacional Association for the
study of Pain)
IL = interleucina
IV = infravermelho
11
J = joules
K = kelvin
Kg = quilograma
Kgf = quilograma-fora
KHz = kilohertz
KPa = kilopascal
LASER = luz amplificada pela emisso estimulada de radiao (Light Amplification by
Stimulated Emission of Radiation)
Laser sham = laser placebo
LDP = limiar de dor presso
LED = diodo emissor de luz (light emitting diode)
LILT = terapia laser de baixa intensidade (low intensity laser therapy)
LLLT = terapia laser de baixa potncia, ou baixa intensidade (low-level laser therapy)
MCP-1 = protena quimiottica de moncitos-1
mW = miliwatts
nm = nanmetros
NHP = perfil de sade de Nottingham (Nottingham Health Profile)
NT = neuralgia do trigmeo
P = potncia
PG = ponto gatilho
r = raio
RCL = resposta de contrao local, twitch
RDC/TMD = critrios diagnsticos para pesquisa em disfuno temporomandibular
(Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders)
ROS = espcies reativas de oxignio (reactive oxygen species)
SCDR = sndrome complexa da dor regional
SDM = sndrome da dor miofascial
SF = sndrome fibromilgica
12
Sf-36 = questionrio qualidade de vida
SNC = sistema nervoso central
SNP = sistema nervoso perifrico
SP = substncia P
TENS = estimulao eltrica nervosa transcutnea (Transcutaneous Electrical Neural
Stimulation)
TGF-1 = fator de transformao do crescimento 1 (transforming growth factor 1)
TLBP = terapia laser de baixa potncia
TNF- = fator de necrose tumoral (tumor necrosis factor )
US = ultrassom
UFBA = Universidade Federal da Bahia
UNIJORGE = Centro Universitrio Jorge Amado
W = watts
WALT = Associao Mundial de Terapia Laser (World Association for Laser Therapy)
= comprimento de onda
13
LISTA DE FRMULAS
DE = E(J) /A(cm2) = [P(W) x t(s)] / A(cm
2)
A = x r2
E = P(W) x t(s)
14
LISTA DE ILUSTRAES
Quadro 1 Critrios para identificao de PG latente ou de PG ativo............ 30
Quadro 2 Aspectos diagnsticos para SDM.................................................. 32
Figura 1 Regio da placa terminal disfuncional, hiptese integrada........... 33
Quadro 3 Sistema de classificao para diagnstico das DTMs................... 38
Quadro 4 Classificao taxonmica das DTMs............................................ 38
Quadro 5 Parmetros e resultados de artigos sobre TLBP em DMF............ 56
Figura 2 reas de dor irradiada (em vermelho) por PGs (X em preto)... 63
Quadro 6 Grupo de estudo............................................................................. 68
Figura 3 Esquema teraputico e avaliativo.................................................. 69
Figura 4 A, partes integrantes do algmetro de presso e B, calibrao e
C, imagem em tela do grfico de um exame.................................
72
Figura 5 Eletromigrafo.............................................................................. 73
Figura 6 A, Termovisor FLIR T420 e B, imagem infravermelha frontal
de paciente do grupo de estudo.....................................................
75
Figura 7 A, Equipamento laser e B, Laser Check....................................... 76
Figura 8 culos de proteo........................................................................ 77
Figura 9 Perfil scio-demogrfico dos pacientes atendidos no Servio de
Dor.................................................................................................
81
Figura 10 Resultado da aplicao do IAF nos pacientes com diagnstico
de DMF.........................................................................................
84
Figura 11 Grfico de percentuais resultantes do IAF para composio do
grupo referncia sem DTM (n = 164).........................................
86
Figura 12 Termografias do voluntrio 3, sem DTM.................................. 88
Quadro 7 Perfil do grupo de estudo.............................................................. 89
Quadro 8 Resultado do IAF para o grupo de estudo, S = sim (valor 10), N
= no (valor zero) e AV = s vezes (valor 5)..............................
90
Figura 13 Escala HAD para ansiedade (tratamento placebo e tratamento
real)............................................................................................
91
Figura 14 Escala HAD para depresso (tratamento placebo e tratamento
real)............................................................................................
91
15
Figura 15 Termografias do paciente 5. Linha 1 (topo), antes do incio,
linha 2 (meio), entre fases, e linha 3 (abaixo), aps o trmino.
Os pontos Sp1, Sp2 e Sp3 correspondem a aferies de
temperatura em regies homlogas...........................................
96
Figura 16 Termografia da paciente 4 com vrios pontos hiperradiantes
devidos acne............................................................................
98
Figura 17 Termografias da paciente 11: A, sem pico hipertensivo e B, com
pico hipertensivo.......................................................................
99
16
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Percentuais das principais causas da queixa de dor..................................... 82
Tabela 2 Algometria de presso no grupo R, de acordo com o sexo......................... 86
Tabela 3 EMGs no grupo R, de acordo com o sexo.................................................. 87
Tabela 4 Diferena de temperatura entre regies homlogas no grupo referncia..... 88
Tabela 5 Qualidade de vida (SF-36).......................................................................... 92
Tabela 6 Escalas EVA e numrica no grupo de estudo.............................................. 93
Tabela 7 Algometria de presso (grupo referncia x grupo de estudo)....................... 93
Tabela 8 Algometria de presso no grupo de estudo.................................................. 94
Tabela 9 Resultados da EMGs do grupo de referncia X grupo de estudo............. 95
Tabela 10 Resultados da EMGs no grupo de estudo................................................ 95
Tabela 11 Diferena de temperatura entre regies homlogas por paciente................ 97
17
SUMRIO
1 INTRODUO..................................................................................... 19
2 JUSTIFICATIVA................................................................................. 23
3 OBJETIVOS.......................................................................................... 25
3.1 OBJETIVO GERAL............................................................................... 26
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS................................................................. 26
4 REVISO DA LITERATURA............................................................ 27
4.1 DOR........................................................................................................ 28
4.2 DOR MIOFASCIAL.............................................................................. 29
4.2.1 Fisiopatologia........................................................................................ 32
4.2.2 Diagnsticos diferenciais e comorbidades.......................................... 34
4.2.3 Fatores predisponentes e perpetuadores............................................ 35
4.2.4 Tratamento............................................................................................ 36
4.3 DOR MIOFASCIAL E DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR.... 36
4.4 ALGOMETRIA...................................................................................... 41
4.5 ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE............................................. 42
4.6 TERMOGRAFIA................................................................................... 45
4.7 TERAPIA LASER DE BAIXA POTNCIA......................................... 48
5 METODOLOGIA................................................................................. 60
5.1 DESENHO DO ESTUDO ................................................................... 61
5.2 SERVIO DE DOR HUPES .............................................................. 61
5.3 ETAPA I LEVANTAMENTO DO PERFIL DE PACIENTES COM
DOR........................................................................................................
61
5.3.1 Anlise dos pronturios mdicos dos pacientes atendidos no
Servio de Dor (HUPES)/histrico mdico ........................................
62
5.4 ETAPA II ESTUDO DOS EFEITOS DA TLBP EM PACIENTES
COM DMF CRNICA EM DTM ........................................................
62
5.4.1 Critrios de incluso ........................................................................... 62
5.4.2 Critrios de excluso ........................................................................... 63
5.4.3 Composio do grupo de estudo ....................................................... 64
5.4.3.1 Aplicao do IAF em pacientes com diagnstico de DMF, com ou
sem registro de DTM,e nos pacientes com diagnstico de DTM em
pronturio ............................................................................................
65
18
5.4.3.2 Triagem.................................................................................................. 66
5.4.3.3 Exame clnico......................................................................................... 66
5.4.3.4 Exames laboratoriais............................................................................... 66
5.4.3.5 Aplicao do questionrio para pesquisas em disfuno
temporomandibular RDC/TMD...........................................................
67
5.4.4 Formao de um grupo de referncia assintomtico para DTM
(grupo R).............................................................................................
68
5.4.5 Protocolo experimental......................................................................... 68
5.4.5.1 Grupos..................................................................................................... 68
5.4.5.2 Esquema teraputico e avaliativo........................................................... 69
5.4.5.3 Instrumentos empregados na avaliao do tratamento........................... 70
5.4.5.4 Tratamento com laser placebo e TLBP.................................................. 75
5.5 TRATAMENTO ESTATSTICO........................................................... 78
6 RESULTADOS E DISCUSSO......................................................... 79
6.1 PERFIL SCIO-DEMOGRFICO E PERFIL DA DOR..................... 80
6.2 PREVALNCIA DE DTM EM PACIENTES DE CLNICA DE DOR
COM DIAGNSTICO DE DMF..........................................................
83
6.3 TRIAGEM.............................................................................................. 84
6.4 ESTUDO DOS EFEITOS DA TLBP EM PACIENTES COM DMF
CRNICA EM DTM..............................................................................
85
6.4.1 Grupo de referncia sem DTM (grupo R).......................................... 85
6.4.1.1 Constituio do grupo R......................................................................... 85
6.4.1.2 Algometria de presso no grupo R......................................................... 86
6.4.1.3 Eletromiografia de superfcie no grupo R............................................... 87
6.4.1.4 Termografia no grupo R......................................................................... 87
6.4.2 Grupo de estudo.................................................................................... 89
6.4.2.1 Perfil do grupo de estudo........................................................................ 89
6.4.2.2 Caracterizao do grupo de estudo quanto ao IAF................................. 89
6.4.2.3 Escala de ansiedade e depresso (HAD) e questionrio qualidade de
vida (SF-36) ........................................................................................
90
6.4.2.4 Algometia................................................................................................ 92
6.4.2.5 Eletromiografia de superfcie.................................................................. 94
6.4.2.6 Termografia............................................................................................ 96
19
6.4.2.7 Dirio da dor....................................................................................... 99
6.4.2.8 Limitaes do estudo............................................................................. 99
6.4.2.9 Perspectivas futuras............................................................................ 100
7 CONCLUSO...................................................................................... 101
REFERNCIAS.................................................................................... 103
APNDICES......................................................................................... 114
APNDICE A ....................................................................................... 115
APNDICE B ........................................................................................... 117
APNDICE C ....................................................................................... 118
APNDICE D .......................................................................................... 119
APNDICE E ....................................................................................... 120
ANEXOS................................................................................................ 121
ANEXO A ............................................................................................. 122
ANEXO B ............................................................................................. 123
ANEXO C ............................................................................... 124
ANEXO D . 134
ANEXO E.............................................................................................. 138
ANEXO F ........................................................................................... 142
ANEXO G ........................................................................................... 144
20
1 INTRODUO
21
A dor uma experincia individual, nos mbitos sensitivo e emocional, influenciada por
aspectos sociais e sua percepo envolve, portanto, questes de ordem cultural, emocional,
gentica e relativas experincia prvia, o que torna complexa sua avaliao. A mensurao
da intensidade da dor feita, habitualmente, com o auxlio de diferentes tipos de escalas,
apresentando limitaes especialmente em crianas, idosos e pessoas com dficit visual ou
cognitivo (BOTTEGA; FONTANA, 2010). Outra forma de avaliao da dor, sem a
subjetividade peculiar aos instrumentos supracitados, a algometria de presso, que se baseia
na sensibilidade presso da regio avaliada e vincula a essa sensibilidade um registro de
quantidade de presso aplicada (FISCHER, 1987), buscando traduzir, de forma objetiva, algo
que, por definio, subjetivo.
Conforme sua durao, a dor pode ser classificada como aguda ou crnica, sendo
considerada como crnica quando perdura por mais que seis meses, ou quando o sintoma
persiste alm do tempo habitual de cura da leso tissular (MERSKEY; BOGDUK, 1994) e,
consequentemente, como aguda, quando se trata do oposto. Quadros dolorosos crnicos
podem estar associados sensibilizao central, fato que est intimamente relacionado com a
resistncia a tratamentos e a perpetuao da condio, alm de ser causa de absentesmo ao
trabalho e implicar em elevados custos, o que se constitui num problema de sade pblica
(ROCHA et al., 2007; S et al., 2009; WOOLF, 2011; BASI et al., 2012). As dores de origem
musculoesqueltica constituem uma parcela significativa desses quadros e, dentre elas, a dor
miofascial (DMF) uma disfuno muscular que causa difundida de dor e comumente
ignorada pelos profissionais de sade (HASSELSTRM et al., 2002; SIMONS, D. G.;
TRAVELL; SIMONS, L. S., 2005; CAKIT et al., 2010; SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012;
GERWIN, 2014).
O diagnstico da DMF eminentemente clnico, baseado no histrico e no exame fsico
respaldado em critrios como identificao de bandas tensas, pontos-gatilho (PGs), dor
referida ou reconhecimento da dor, mas outras formas diagnsticas complementares vm
sendo sugeridas, tendo-se, como exemplos, a termografia infravermelha, o ultrassom e a
eletromiografia. Sua etiologia multifatorial e inclui, como fatores implicados no seu
desenvolvimento, traumas, hbitos parafuncionais orais (ROCHA et al., 2007; ROSSETTI et
al., 2008), desequilbrios posturais, distrbios do sono, estresse psicossocial, alteraes
nutricionais, dentre outros (FRICTON; DUBNER, 2003). H relatos frequentes de DMF em
regio de cabea e pescoo em virtude de comprometimento no equilbrio dinmico entre
msculos do crnio, da mandbula e do pescoo (SVENSSON et al., 2004; MICHELOTTI et
al., 2010). O termo DMF tem sido empregado de forma equivocada no meio odontolgico;
22
em muitas situaes, sua definio deixada de lado e o termo empregado como sinnimo
para disfunes temporomandibulares (DTMs) musculares em geral ou DTMs miognicas
(OKESON, 2008; KOUTRIS et al., 2013; UEMOTO et al., 2013).
As DTMs implicam um conjunto de problemas clnicos envolvendo os msculos e ou
articulaes do sistema estomatogntico, em muitas situaes apresentando dor persistente e
consideradas de alta prevalncia entre as dores crnicas orofaciais (CAMPOS, M. I. G;
CAMPOS, P. S. F., LINE, 2006; OAKLEY; VIEIRA, 2008; BASI et al., 2012; SCHIFFMAN
et al., 2014). Na extensa lista de DTMs encontra-se, tambm, a DMF ou DTM miofascial,
uma vez que essa disfuno muscular tambm pode acometer os msculos mastigatrios.
Os procedimentos teraputicos propostos tm como objetivo a reduo na intensidade
da dor, inativao de PGs, reabilitao muscular e remoo preventiva de fatores
perpetuadores. A literatura sobre tratamentos cita o uso de frmacos, aplicao de toxina
botulnica, agulhamento seco e com injeo de anestsico, acupuntura, terapias manuais,
ultrassom, estimulao eltrica nervosa transcutnea (TENS), estimulao magntica e terapia
a laser (CRISCUOLO, 2001; DUNDAR et al., 2007; CHANDOLA; CHAKRABORTY,
2009; KUAN, 2009; VZQUEZ-DELGADO; CASCOS-ROMERO; GAY-ESCODA, 2010;
DESAI; SAINI, V.; SAINI, S., 2013).
Entre as vrias terapias propostas para a DMF, a terapia laser de baixa potncia (TLBP),
tambm conhecida por outras expresses, se apresenta como uma das formas de terapias
alternativas consideradas no invasivas. Essa terapia se utiliza de um equipamento emissor de
LASER, no sendo uma radiao ionizante na faixa empregada e, sim, um feixe de luz com
caractersticas peculiares e parmetros limitados a valores que no produzem elevao
significativa de temperatura nos tecidos irradiados (< 1C). A opo pela TLBP se deve
atribuio para si de efeitos bioqumicos, bioeltricos e bioenergticos, efeitos esses que
podem resultar em aumento na microcirculao local, analgesia e modulao do processo
inflamatrio, podendo ser coadjuvante na reduo de edema e reparao tecidual
(GENOVESE, 2007; GARCEZ; RIBEIRO; NUEZ, 2012). Em sntese, a TLBP atua na
normalizao da funo celular, aspecto importante para o entendimento de algumas
variaes nos resultados de experimentos mencionados na literatura disponvel, ressaltando-se
que os efeitos biolgicos induzidos pela luz so tambm dependentes dos parmetros de
irradiao (GAO; XING, 2009; HUANG et al., 2011; GARCEZ; RIBEIRO; NUEZ, 2012).
Especial interesse manifesta o presente estudo no que concerne ao uso da TLBP para a
DMF em DTM, uma vez que diversos estudos clnicos, randomizados e controlados, sobre a
utilizao da TLBP em dor msculoesqueltica tiveram incio por volta de 1980 (GUR et al.,
23
2004) e, at ento, no h consenso sobre sua efetividade, ou no, no tratamento da DMF
(AL-SHENQITI; OLDHAM, 2009; CARRASCO et al., 2009; UEMOTO et al., 2013).
Esse contexto, to rico em adversidades, como a dificuldade de avaliao de um
sintoma to subjetivo e complexo quanto a dor, principalmente a crnica, aliada a uma
morbidade frequentemente subdiagnosticada e, consequentemente, subtratada, e com uma
proposta teraputica alternativa como o laser, motivaram a realizao deste estudo que buscou
investigar a prevalncia de DTM em pacientes de clnica de dor e os efeitos da TLBP no seu
subgrupo diagnstico DMF.
24
2 JUSTIFICATIVA
25
A escolha deste tema foi motivada por dois aspectos, o primeiro, a percepo do vcio
em se considerar as disfunes temporomandibulares (DTMs) como uma morbidade nica
designada por disfuno temporomandibular (DTM), consequentemente subdiagnosticada,
subtratada e carente de centros especializados para atendimento da populao. O segundo
aspecto foi a grande inquietao gerada pela controvrsia em torno da efetividade da terapia
laser de baixa potncia (TLBP). Diante do exposto, seguem-se as justificativas para a
realizao deste estudo:
1) A literatura cientfica registra que a prevalncia da dor miofascial
(DMF), entre pacientes atendidos em clnica mdica geral e de especialidades,
varia dentro de uma ampla faixa que vai dos 21% aos 93% (SE et al., 2007;
SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012), e que a prevalncia de DTMs na populao em
geral de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Dental e Craniofacial
dos Estados Unidos da Amrica est em torno de 5% a 12%, entretanto so
escassas as informaes sobre a prevalncia de DTMs nos pacientes com DMF.
2) O diagnstico da dor miofascial de carter eminentemente clnico,
entretanto, a investigao do sistema muscular por meio da algometria de presso,
da eletromiografia de superfcie e da termografia pode trazer subsdios ao
diagnstico e ao tratamento a ser proposto.
3) Habitualmente, para o controle da dor miofascial, so prescritos
frmacos e procedimentos fisioterpicos, como TENS, terapias manuais,
agulhamento e acupuntura. Uma alternativa a ser considerada a terapia laser de
baixa potncia no infravermelho.
Em face desses registros, plenamente justificvel a implementao de projetos de
pesquisa que investiguem a prevalncia de DTMs em pacientes com DMF, a consolidao do
diagnstico e a possvel efetividade da TLBP no seu tratamento.
26
3 OBJETIVOS
27
Conhecer o perfil do paciente atendido no Servio de Dor do Ambulatrio Magalhes
Neto no Hospital Universitrio Professor Edgar Santos (HUPES) fundamental para
evidenciar necessidades dessa populao, bem como necessidades do prprio servio. Por
outro lado, investigar possveis benefcios advindos de uma terapia no invasiva no
tratamento de uma parcela dessa populao pode ser esclarecedor quanto sua indicao.
Portanto, so objetivos do presente estudo:
3.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar a prevalncia de DTMs em pacientes com dor atendidos no referido
Servio de Dor e o efeito da TLBP no tratamento da DMF em DTM.
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Mensurar o impacto da DMF em DTM na qualidade de vida e nos nveis de
ansiedade e depresso, antes e aps a realizao da TLBP.
Mensurar a intensidade da DMF em DTM, por meio da algometria de presso
e das escalas visual analgica e numrica, confrontando-as, e correlacionar os
dados obtidos aos efeitos da TLBP.
Determinar, a partir da eletromiografia de superfcie, o funcionamento dos
msculos masseter superficial e temporal anterior e correlacionar os resultados
DMF e aos efeitos da TLBP.
Identificar, por meio de imagens por infravermelho, possveis alteraes nos
padres da temperatura de superfcie das regies estudadas.
28
4 REVISO DA LITERATURA
29
Uma reviso da literatura sobre os aspectos envolvidos no estudo de extrema
relevncia para a elucidao e fundamentao em todas as suas etapas. Assim entendendo, so
feitas consideraes sobre dor, dor miofascial, dor miofascial em disfuno
temporomandibular, algometria, eletromiografia de superfcie, termografia e terapia laser de
baixa potncia.
4.1 DOR
Entende-se por dor uma experincia sensitiva e emocional desagradvel associada a
dano tecidual real ou potencial ou descrita tal como se o dano estivesse presente, segundo a
Associao Internacional para o Estudo da Dor (International Association for the Study of
Pain IASP). A dor pode ser classificada em trs grandes grupos: neuroptica (neurites,
neuropatias e sndromes compressivas dos nervos); somtica (alteraes musculoesquelticas)
e visceral (crescimento tumoral ou processos inflamatrios), sendo seu diagnstico baseado
em critrios clnicos e confirmado com exames laboratoriais. Do ponto de vista da durao,
define-se como crnica a dor que existe h, pelo menos, seis meses, ou quando o sintoma
persiste alm do tempo habitual de cura da leso tissular (MERSKEY; BOGDUK, 1994).
Piguet e Allaz (2009) salientaram que a durao mnima da dor de seis meses para defini-la
como crnica mais aplicada em pesquisa, ao passo que, na clnica, o tempo considerado o
de trs meses, limite de tempo no embasado em um marcador biolgico, psicolgico ou
social, mas muito provavelmente como resultado de um consenso ligado experincia dos
experts no assunto.
A dor crnica est associada a mecanismos neurofisiolgicos complexos, tendo sido
descritas vrias alteraes em nvel de sistema nervoso perifrico (SNP) e sistema nervoso
central (SNC), e pode ser definida como um estado de constante facilitao da conduo
nervosa, quando estmulos que outrora eram incuos podem ser interpretados como dor
alodinia ou quando a resposta ao estmulo doloroso exacerbada, no proporcional
intensidade da agresso hiperalgesia (KRAYCHETE; CALASANS; VALENTE, 2006;
IASP). Em outras palavras, quadros dolorosos crnicos podem estar associados
sensibilizao central, o que implica a ocorrncia de reduo do limiar de dor ou de aumento
da resposta, descargas persistentes aps estmulos repetidos e ampliao dos campos
receptivos, fato que pode estar intimamente relacionado com a resistncia a tratamentos e
perpetuao do quadro (ROCHA et al., 2007; WOOLF, 2011).
30
Relatos de experincias profundamente desagradveis, como distrbios do sono, baixa
autoestima, fadiga, comprometimento da libido, depresso e perda do apetite, so registrados
pelos indivduos que sofrem de dor crnica. Essas condies interferem, sobremaneira, no
convvio social e no desempenho no trabalho, repercutindo, negativamente, na qualidade de
vida. Um nmero relevante de indivduos se enquadra nessa descrio, representando uma
parcela expressiva de consumidores de medicamentos e, at mesmo, de sujeitos incapacitados
para o trabalho (CAMPARIS; SIQUEIRA, 2006).
A dor crnica considerada um problema grave e crescente no mundo e em nosso meio,
tornando-se, inclusive, um problema de sade pblica. Esse entendimento confirmado em
funo da frequncia cinco vezes maior com que pacientes com dor crnica recorrem aos
servios de sade. Desse modo, a dor crnica compromete o bem estar fsico, psquico e
social do indivduo, implicando incapacidade e absentesmo no trabalho (CHAPMAN;
GARVIN, 1999).
4.2 DOR MIOFASCIAL
Dores de origem musculoesqueltica so responsveis por mais de 2/3 dos estados
dolorosos atendidos em cuidados de sade primrios (HASSELSTRM et al., 2002),
consistindo em um significativo problema de sade pblica em todo o mundo (BASI et al.,
2012). A DMF uma disfuno muscular que se constitui numa causa difundida de dor em
tecidos moles, comumente ignorada pelos profissionais de sade por falta de conscientizao
e treinamento, mas de diagnstico relativamente simples obtido pelo histrico e exame fsico
palpao (SIMONS, D. G.; TRAVELL, J. G.; SIMONS, L. S., 2005, CAKIT et al., 2010;
SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012; GERWIN, 2014). A mialgia que tem durao igual ou
superior a trs meses considerada crnica (GERWIN, 2005), e a DMF frequentemente est
relacionada dor crnica, assim podendo envolver sensibilizao central (CRISCUOLO,
2001; KUAN, 2009; SRBELY, 2010; WOOLF, 2011; GE; FERNNDEZ-DE-LAS-PEAS;
YUE, 2011; SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012; DESAI; SAINI, V.; SAINI, S., 2013). Sua
prevalncia entre os pacientes atendidos em clnica mdica geral e de especialidades varia de
21% a 93%, sendo comumente encontrada na investigao diagnstica da cefaleia, da dor
lombar, cervical e de ombro (SE et al., 2007; SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012).
A sndrome da dor miofascial (SDM) est associada presena de PGs, reas com
caractersticas prprias que do incio sensao dolorosa, encontrados em um ou mais
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Ge%20HY%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Fernndez-de-Las-Peas%20C%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Yue%20SW%2231
grupos musculares, gerando padres variveis de dor. Critrios diagnsticos incluem presena
de banda tensa palpvel no msculo, presena de ndulo hipersensvel palpvel na banda
tensa PG, resposta de contrao local (RCL twitch) palpao na banda tensa (quando
adequadamente estimulada), reproduo de padro tpico de dor referida (DR) em resposta
compresso dos PGs, presena espontnea de padro tpico de DR e/ou reconhecimento dessa
dor como familiar. A SDM pode estar relacionada com limitaes de movimentos, efeitos
autonmicos (lacrimejamento e vermelhido nos olhos, corrimento nasal, atividade
pilomotora e zumbido, entre outros), efeitos motores (co-contrao protetora) e efeitos
sensitivos (DR, hiperalgesia secundria e alodinia). No h necessidade de que todos esses
aspectos estejam presentes para o estabelecimento do diagnstico (SIMONS, D. G.;
TRAVELL; SIMONS, L. S., 2005; GERWIN, 2014).
A nica maneira de fazer-se o diagnstico definitivo de um PG pelo exame fsico. Os
PGs podem estar ativos ou latentes: os ativos so aqueles relacionados queixa clnica de dor,
ou seja, sempre dolorosos, j os PGs latentes, como a prpria designao sugere, esto
quiescentes, silenciosos em relao dor espontnea, apresentando-se dolorosos somente
quando palpados (SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S., 2005; SHAH et al., 2008;
GERWIN, 2014). Critrios recomendados para identificao de PGs ativos e de PGs latentes
encontram-se reproduzidos no Quadro 1.
CRITRIOS ESSENCIAIS:
1. Banda tensa palpvel (se o msculo for acessvel)
2. Sensibilidade local intensa de um ndulo em uma banda tensa
3. Reconhecimento por parte do paciente de queixa atual de dor por presso no
ndulo sensvel (identificao de um PG ativo)
4. Limite doloroso para a amplitude de movimento em alongamento pleno
OBSERVAES CONFIRMATRIAS:
5. Identificao visual ou ttil de RCL
6. Imagens da RCL obtida por penetrao de agulha no ndulo sensvel
7. Dor ou sensao alterada (na distribuio esperada de um PG naquele
msculo) durante a compresso do ndulo sensvel
8. Demonstrao eletromiogrfica de atividade eltrica espontnea caracterstica
de locais ativos no ndulo sensvel de uma banda tensa
Quadro 1 - Critrios para identificao de PG latente ou de PG ativo
(Fonte: SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S., 2005)
32
Os PGs miofasciais podem tambm ser caracterizados como PG primrio (principal),
aquele provavelmente ativado de forma direta por sobrecarga (independentemente da
natureza) e no aquele ativado como resultado de atividade de PG em outro msculo
satlite. Ou seja, clinicamente, o PG primrio pode ser identificado quando sua inativao
tambm inativa PGs em outros msculos, ou caracterizado como PG satlite, aquele que se
desenvolve em um msculo sinrgico sobrecarregado, ou em um antagonista, ou mesmo em
um msculo aparentemente correlacionado apenas de forma neurognica. Como exemplos de
PGs principal e satlite podem ser citados: a) PG principal em esternocleidomastideo
ativando PGs satlites em temporal, masseter, pterigideo lateral, digstrico, orbicular do olho
e/ou frontal; b) PG principal em trapzio superior ativando PGs satlites em temporal,
masseter, esplnio, levantador da escpula, semiespinhal da cabea, romboide menor e/ou
occiptofrontal (SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S., 2005).
Alm do diagnstico clnico, baseado no histrico e exame fsico, soberano, outras
formas diagnsticas, complementares, vm sendo sugeridas para PGs miofasciais, uma vez
que no h anormalidades no diagnstico laboratorial especficas para a SDM, a saber:
imagem por termografia infravermelha (SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S.,
2005; BALBINOT, 2006; BRIOSCHI et al., 2007; HADDAD, 2011);
imagem por ultrassom (US), observando-se que os novos aparelhos possuem alta
resoluo de imagem, sendo capazes de permitir a visualizao de regio hipoecoica, focal,
relacionada com o PG, no US bidimensional, e, como regio focal de reduzida amplitude
de vibrao na sonoelastografia por vibrao, indicando um ndulo denso localizado
(SIKDAR et al., 2009);
imagem por ressonncia magntica de elastografia, que pode fazer a diferenciao de
tecidos de densidades variadas;
eletromiografia com agulha, que pode revelar sinal de baixa amplitude e alta frequncia na
regio de PG conhecido como atividade eltrica espontnea e associado placa motora
terminal;
eletromiografia de superfcie, evidenciando resposta aumentada, relaxamento retardado e
fadiga aumentada nos msculos com PGs (SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S.,
2005; GERWIN, 2005; GE; FERNNDEZ-DE-LAS-PEAS; YUE, 2011; GERWIN,
2014).
Ainda existem lacunas quanto especificidade dos critrios para diagnstico da SDM
(FLECKENSTEIN et al., 2010; SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012; DESAI; SAINI, V.; SAINI,
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Ge%20HY%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Fernndez-de-Las-Peas%20C%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Yue%20SW%2233
S., 2013; GERWIN, 2014) e, portanto, seu estabelecimento baseia-se, exclusivamente, no
histrico clnico e nos achados do exame fsico, devendo ser preciso, para no ser confundido
com o de outras doenas que tambm cursam com a presena de PGs, a exemplo da
fibromialgia (YENG; KAZIYAMA; TEIXEIRA, 2003; VZQUEZ-DELGADO; CASCOS-
ROMERO; GAY-ESCODA, 2010; ALONSO-BLANCO et al., 2012; GERWIN, 2013).
Gerwin (2014) props critrios diagnsticos na forma evidenciada no Quadro 2.
1. Banda tensa no msculo
2. Extrema sensibilidade em um ponto na banda tensa
3. Reproduo da dor do paciente
4. Resposta do pulo local (twitch)
5. Dor referida
6. Fraqueza
7. Restrio na amplitude de movimento
8. Sinais autonmicos
Quadro 2 - Aspectos diagnsticos para SDM (os trs primeiros so essenciais
e os cinco ltimos no so pr-requisitos (Fonte: GERWIN, 2014)
4.2.1 Fisiopatologia
Dentre as tentativas de explicao para o que ocorre na regio de PG j registradas, a
hiptese atualmente aceita a integrada. Na hiptese integrada, as linhas de evidncias
eletrofisiolgicas e histolgicas, quando combinadas, indicam que o PG essencialmente uma
regio de muitas placas terminais disfuncionais, cada uma delas associada a uma fibra
muscular contrada ao mximo. Como pode ser evidenciado em figura esquemtica (Figura 1)
apresentada por Simons, D. G., Travell e Simons, L. S. (2005), uma produo e liberao
acentuadas de acetilcolina pela regio terminal do nervo motor na fenda sinptica ativa seus
receptores na membrana ps-juncional, produzindo nmeros muito aumentados de potenciais
de placa. Tal contexto responsvel pela atividade eltrica espontnea da placa terminal e por
uma despolarizao parcial sustentada da membrana ps-juncional da fibra muscular,
implicando a liberao e absoro contnuas de ons clcio do retculo sarcoplasmtico local e
produo de um encurtamento (contratura) sustentado dos sarcmeros, gerando um aumento
na demanda de energia. A contrao sustentada comprime os vasos sanguneos locais,
resultando na reduo dos suprimentos de nutrientes e oxignio, que satisfariam a demanda de
energia, e acarretando uma crise de energia local com liberao de substncias neuroativas
34
que podem colaborar para um processo cclico autossustentado (SIMONS, D. G.; TRAVELL;
SIMONS, L. S., 2005; SHAH et al., 2008; SIMONS, 2008; GE; FERNNDEZ-DE-LAS-
PEAS; YUE, 2011).
Estudo realizado por Shah e colaboradores (2008) comprovou a presena de substncias
associadas com a dor e a inflamao nas proximidades de PG ativo, as quais incluram
elevada concentrao de prtons, substncia P (SP), peptdeo relacionado ao gene da
calcitonina (CGRP), bradicinina, fator de necrose tumoral- (TNF-), interleucina-1 (IL-1),
IL-6, IL-8, serotonina e norepinefrina. Os autores tambm observaram que a alterao nos
nveis dessas substncias no est restrita vizinhana do PG ativo nos indivduos com DMF,
os quais a apresentaram em stios mais afastados em algum grau, quando comparados a
pacientes sadios.
Figura 1 - Regio da placa terminal disfuncional, hiptese integrada. RS =
retculo sarcoplasmtico (Fonte: Simons, D. G., Travell e Simons, L. S., 2005)
Segundo Gerwin (2014), a dor em PGs miofasciais se deve liberao de
neuropeptdeos, citocinas, SP, CGRP, IL-1, bradicinina e prtons, que geram acidez local, e
pacientes com PGs miofasciais, assim como outras fontes fsicas de dor crnica, referem dor
em locais distantes e conduzem sensibilizao do SNC, a qual resulta em baixo limiar de
dor, sensibilidade e expanso de reas dolorosas. A compresso da zona de gatilho por, no
mnimo, cinco a dez segundos pode induzir DR ou dor distante do ponto de estimulao
porque a DR tipifica ativao central ou sensibilizao central, o que requer a ativao de
Fibra
muscular
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Ge%20HY%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Fernndez-de-Las-Peas%20C%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Fernndez-de-Las-Peas%20C%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Yue%20SW%2235
interneurnios, e a propagao do sinal demanda certo tempo (os referidos cinco a dez
segundos). A desativao de um PG ativo resulta no desaparecimento da DR. Algumas
bandas tensas, mesmo no se apresentando dolorosas palpao, podem implicar
consequncias funcionais como a alterao da sequncia normal de ativao de um msculo
(LUCAS et al., 2010; GE; FERNNDEZ-DE-LAS-PEAS; YUE, 2011; GERWIN, 2014). A
resposta local de twitch, por sua vez, suscitada por estmulo mecnico na banda tensa,
causando contrao local por uma descarga eltrica polifsica breve (25-250 ms) e de alta
amplitude, caracterstica do PG miofascial e no observada em msculo sadio (GERWIN,
2014).
4.2.2 Diagnsticos diferenciais e comorbidades
Simons, D. G., Travell e Simons, L. S. (2005) chamam ateno para uma extensa lista
de diagnsticos com sintomas relatados que podem estar associados a PGs negligenciados de
acordo com o(s) msculo(s) envolvido(s). A ttulo de exemplos, so citados: angina de peito
atpica PG em peitoral maior; neuralgia facial atpica PG em masseter, temporal,
diviso esternal do esternocleidomastideo, trapzio superior; ombro congelado PG em
subescapular; radiculopatia/C6 PG em peitoral menor, escaleno; bursite subacromial
PG em deltoide mdio; epicondilite PG em extensores do carpo, supinador, trceps
braquial, etc. Portanto, as queixas na DMF podem levar a confundi-la, por exemplo, com
radiculopatias ou dores viscerais e, no que se refere regio de cabea e pescoo, devem-se
examinar os sinais e sintomas de desordens regionais como: caractersticas da cefaleia,
presena de sinais neurolgicos, limitaes de movimentos (GERWIN, 2014). Cuidados
semelhantes devem ser adotados em relao s demais reas. Outras condies a serem
consideradas no diagnstico diferencial incluem: polimiosite, sndromes compressivas
perifricas, neuropatias centrais e afeces metablicas, entre outras (SIQUEIRA;
TEIXEIRA, 2012).
Condies comumente encontradas como comorbidades, citadas por Gerwin (2014), na
sndrome da DMF so: cefaleia do tipo migrnea, cefaleia tipo tensional, DTM, fibromialgia,
sndromes de hipermobilidade, sndrome do intestino irritvel, sndrome da bexiga dolorosa,
sndrome da dor plvica, vulvovaginite, prostatite, endometriose, dismenorreia,
hipotireoidismo, deficincia de vitamina D, deficincia de vitamina B12, deficincia de ferro,
infestaes parasitrias e doena celaca.
http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Ge%20HY%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Fernndez-de-Las-Peas%20C%22http://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Yue%20SW%2236
Ateno especial deve-se dar fibromialgia, em especial no que diz respeito SDM ser
a condio que, mais comumente, deve ser considerada como diagnstico diferencial, ao
tempo em que tambm podem coexistir. A fibromialgia apresenta dois componentes maiores:
dor crnica generalizada/difusa e um conjunto de sintomas somticos, ao passo que a SDM
apresenta, de modo geral, aspecto mais localizado (GERWIN, 2013). Autores como Chandola
e Chakraborty (2009) argumentaram sobre a possibilidade da SDM ser considerada um
subtipo da fibromialgia, enquanto Cakit e colaboradores (2010) sugeriram que a SDM pode
conduzir fibromialgia ou precipitar/piorar seus sintomas. Wolfe, Walitt e Huser (2014)
referiram a dificuldade de estabelecer-se um diagnstico correto, salientando que a contagem
dos pontos dolorosos raramente realizada nos cuidados de sade primrios, quando se
estabelece a maioria dos diagnsticos de fibromialgia, pois muitos mdicos no sabem como
realizar o exame para pontos dolorosos, e alguns simplesmente se recusam a faz-lo, o que
pode favorecer a ocorrncia de diagnsticos equivocados, fato tambm salientado por Cakit e
colaboradores (2010), para os quais tcnicas inadequadas de palpao no so capazes de
perceber a presena de bandas tensas e DR. Muitos casos diagnosticados como fibromialgia
so, em realidade, SDM. Por outro lado, a existncia da fibromialgia como comorbidade da
SDM pode afetar o curso clnico dos pacientes com SDM e ser a causa de resistncia ao
tratamento (CAKIT et al., 2010).
4.2.3 Fatores predisponentes e perpetuadores
A etiologia multifatorial da DMF inclui como fatores possivelmente implicados no seu
desenvolvimento, traumas, hbitos parafuncionais orais (ROCHA et al., 2007; BRANCO et
al., 2008; ROSSETTI et al., 2008; CARDOSO et al., 2011; RAPHAEL et al., 2013),
desequilbrios posturais, distrbios do sono, estresse psicossocial, nutrientes inadequados,
dentre outros (FRICTON; DUBNER, 2003; SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS, L. S.,
2005). Foram elencados como fatores predisponentes ao seu aparecimento a presena de:
deficincia de ferro, hipotireoidismo, deficincia de vitamina D, deficincia de vitamina B12,
doena de Lyme, hipermobilidade, espondilose e infestaes parasitrias (GERWIN, 2014).
A identificao de fatores perpetuadores de PGs pode ser o diferencial entre a terapia
bem-sucedida e a malsucedida. Simons, D. G., Travell, e Simons, L. S. (2005) ressaltam
situaes que podem constituir fatores perpetuadores, como, por exemplo: o estresse
mecnico, inadequaes nutricionais, metablicas e/ou endcrinas (hipometabolismo) e
infeco crnica (por causa viral, bacteriana ou parasitria), alm de fatores psicolgicos
37
(ansiedade, depresso). Muitos dos fatores citados fazem parte tambm dos fatores
relacionados com o desenvolvimento da DMF ou com a sua predisposio.
4.2.4 Tratamento
Os procedimentos teraputicos propostos tm como objetivo a reduo na intensidade
da dor, inativao do PG, reabilitao muscular e remoo preventiva de fatores
perpetuadores. Simons, D G., Travell, e Simons, L. S. em 2005, j ressaltavam que, quando
PGs ativos, em qualquer msculo, falharem em responder ao tratamento, com algumas
excees, um ou mais fatores perpetuadores precisam ser identificados e resolvidos. Na
literatura sobre tratamentos da DMF so citados tratamentos farmacolgicos, como o uso de
agentes anti-inflamatrios, relaxantes musculares (tizanidina, ciclobenzaprina,
tiocolchicosdeo), antidepressivos (amitriptilina, duloxetina) e anticonvulsivantes,
procedimentos de aplicao de toxina botulnica, agulhamento seco e com injeo de
anestsico, acupuntura, terapias manuais, ultrassom, estimulao eltrica nervosa transcutnea
(TENS), estimulao magntica e terapia a laser (CRISCUOLO, 2001; DUNDAR et al.,
2007; KUAN, 2009; CHANDOLA; CHAKRABORTY, 2009; VZQUEZ-DELGADO;
CASCOS-ROMERO; GAY-ESCODA, 2010; DESAI; SAINI, V.; SAINI, S., 2013).
A base lgica para o uso de relaxantes musculares na DMF foi fundamentada no
conceito equivocado de dor causando espasmo e, consequentemente, mais dor no mesmo
msculo. Frequentemente, a tenso muscular aumentada, identificada como espasmo,
gerada pelas bandas tensas dos PGs, e os relaxantes musculares no tm efeito sobre as fibras
musculares em contratura em razo das placas terminais disfuncionais, embora eles possam
ser aplicados em outras situaes, o que traduz a importncia da identificao precisa da fonte
de dor para que seja indicado o tratamento adequado (SIMONS, D. G.; TRAVELL; SIMONS,
L. S., 2005).
Segundo Gerwin (2014), um PG ativo pode ser inativado manualmente, com uso de
laser, agulhamento seco ou injeo, e sua significncia clnica esclarecida aps a sua
inativao.
4.3 DOR MIOFASCIAL E DISFUNO TEMPOROMANDIBULAR
38
A DMF apresenta-se com frequncia em regio de cabea e pescoo (MICHELOTTI et
al., 2010) em virtude de comprometimento no equilbrio dinmico entre msculos do crnio,
da mandbula e do pescoo. Tal sistema de msculos se destina no s manuteno da
estabilidade esttica, quanto em movimento, havendo, portanto, evidncias de uma interao
ntima entre os sistemas neuromusculares craniofacial e cervical no ser humano (SVENSSON
et al., 2004). O termo dor miofascial tem sido empregado de forma a gerar certa confuso no
meio odontolgico (OKESON, 2008; KOUTRIS et al., 2013; UEMOTO et al., 2013). Em
funo disso, aps terem sido abordados os conceitos referentes DMF de forma geral,
discutir-se- a DMF em disfuno temporomandibular.
As DTMs implicam um conjunto de problemas clnicos envolvendo msculos e/ou
articulaes do sistema estomatogntico (Quadros 3 e 4) que, em muitas situaes, causam
dor persistente, colocando-as como de alta prevalncia entre as dores crnicas orofaciais
(CAMPOS, M. I. G; CAMPOS, P. S. F., LINE, 2006; OAKLEY; VIEIRA, 2008). Segundo
dados do Instituto Nacional de Pesquisa Dental e Craniofacial dos Estados Unidos da
Amrica (apud BASI et al., 2012; SCHIFFMAN et al., 2014), as DTMs so a segunda
ocorrncia mais comum em termos de condies musculoesquelticas que resultam em dor e
incapacidade, situando-se atrs apenas da lombalgia crnica, e afetam 5% a 12% da
populao, com um custo anual estimado em quatro bilhes de dlares. A dor pode ocorrer
espontaneamente ou associada funo ou carga. Sua percepo envolve questes culturais,
emocionais, de experincia prvia, genticas, etc. As mulheres da faixa etria de 30 a 49 anos
so mais propensas a essa sndrome dolorosa (SVENSSON et al., 2004). Foi observado que
os polimorfismos em genes que codificam as enzimas envolvidas com o metabolismo dos
estrgenos so considerados elementos coadjuvantes da DTM (OAKLEY; VIEIRA, 2008;
RIBEIRO-DASILVA et al., 2009).
Em Fricton e Dubner (2003, p.485), no captulo Tratamento Interdisciplinar da Dor
Miofascial dos Msculos Mastigatrios, encontra-se a seguinte definio para DMF:
desordem de dor muscular, caracterizada por: a) sensibilidade dentro dos feixes firmes de
msculos esquelticos denominados PGs, b) DR local ou distante do PG e c) padres de dor
compatveis com os de outros pacientes com localizaes semelhantes de PGs. Os autores
consideram diferentes graus, desde a intensidade branda e tratamento mais simples, at sua
verso de intensidade elevada, mltiplos sintomas associados, diagnsticos sobrepostos e
maior complexidade no tratar.
39
DESORDENS DOS MSCULOS
MASTIGATRIOS:
DESORDENS DA ARTICULAO
TEMPOROMANDIBULAR (ATM):
a) Co-contrao protetora a) Desarranjos do complexo cndilo-disco
b) Sensibilidade dolorosa muscular local I - mau posicionamento do disco
c) Mioespasmo II - deslocamento do disco com reduo
d) Dor miofascial III - deslocamento do disco sem reduo
e) Mialgia mediada centralmente b) Incompatibilidade estrutural das superfcies articulares
f) Fibromialgia I - desvio na forma
g) Desordens motoras mediadas centralmente II - aderncias e adeses
HIPOMOBILIDADE MANDIBULAR: III - subluxao
a) Anquilose IV - deslocamento espontneo
b) Contratura muscular c) Desordens inflamatrias da ATM
c) Bloqueio do processo coronoide I - sinovite e capsulite
DESORDENS DE CRESCIMENTO: II - retrodiscite
a) Desordens sseas congnitas e de
desenvolvimento III - artrites
b) Desordens musculares congnitas e de
desenvolvimento IV - desordens inflamatrias das estruturas associadas
Quadro 3 - Sistema de classificao para diagnstico das DTMs (Fonte: OKESON, 2008)
DESORDENS DA ATM IV - Fraturas
I - Dor articular: V - Desordens de desenvolvimento / congnitas:
1. Artralgia 1. Aplasia
2. Artrite 2. Hipoplasia
II - Desordens articulares: 3. Hiperplasia
1. Desordens do disco: DESORDENS DOS MSCULOS
a) Deslocamento de disco com reduo I - Dor muscular: b) Deslocamento de disco com reduo e
travamento intermitente.
1. Mialgia:
c) Deslocamento de disco sem reduo e com limitao de abertura.
a) Mialgia local
d) Deslocamento de disco sem reduo e sem limitao de abertura.
b) Dor miofascial
1. Desordens de hipomobilidade no relacionadas ao disco:
c) Dor miofascial com referncia
a) Aderncia 2. Tendinites b) Anquilose: Fibrosa ou ssea 3. Miosite
2. Desordens de hipermobilidade: 4. Espasmo
a) Deslocamentos: - Subluxao - Luxao
II - Contratura
III - Doenas da articulao: III - Hipertrofia
1. Degenerativas: IV - Neoplasia
a) Osteoartrose V - Desordens de movimento: b) Osteoartrite 1. Discinesia orofacial
2. Artrites sistmicas
2. Distonia Oromandibular
3. Reabsoro condilar idioptica
VI - Dor muscular mastigatria atribuda a desordens
dolorosas sistmicas / centrais:
4. Osteocondrite dissecante
Fibromialgia / dor generalizada
5. Osteonecrose
CEFALEIA
Cefaleia atribuda a DTM
6. Neoplasia
ESTRUTURAS ASSOCIADAS
Hiperplasia coronoide
7. Condromatose sinovial
Quadro 4 - Classificao taxonmica das DTMs (Fonte: SCHIFFMAN et al., 2014)
40
Okeson (2008, p.247) define a DMF como uma condio de dor miognica regional
caracterizada por reas locais de feixes rgidos e hipersensveis nos tecidos musculares,
conhecidas como pontos de gatilho, contextualizando-a de forma semelhante indicada por
Simons, D. G., Travell e Simons, L. S. (2005). Ressalta que, no entanto, a Odontologia vem
se utilizando do termo para designar qualquer desordem muscular, empregando-o de forma
inadequada.
Em Siqueira e Teixeira (2012, p.564) l-se: O termo SDM refere-se ao conjunto de
sinais e sintomas dos msculos e estruturas associadas decorrentes de pontos de sensibilidade,
tambm conhecidos como PGs, os quais so focos de hiperirritabilidade muscular e
amplamente modulados no SNC.
Segundo o eixo I dos critrios diagnsticos para pesquisa de disfunes
temporomandibulares (Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders
RDC/TMD), internacionalmente aceito e validado (na sua verso traduzida para o portugus
por Pereira et al., 2004), a DMF se apresenta como um de seus subgrupos, podendo gerar duas
possibilidades diagnsticas: dor miofascial sem limitao de abertura da boca e dor miofascial
com limitao de abertura (DWORKIN; LERESCHE, 1992; BRANCO et al., 2008).
O RDC/TMD, na verso supracitada, traz questes que permitem determinar a presena
de dor muscular na face ou tmporas, a mensurao da abertura de boca, para indicar a
existncia de limitao ou no, e os nveis de dor presso nos seguintes grupos musculares:
temporal, masseter, estilo-hiideo, digstrico, supra-hiideo e pterigideo medial. Com base
nas informaes obtidas a partir desses itens, o questionrio pode resultar em diagnstico de
dor miofascial, ou seja, DMF em DTM. Em nenhum momento investiga-se a presena de
bandas tensas, PGs, twitch, dor referida compresso dos ndulos ou reconhecimento do
padro da dor como familiar, aspectos que, de fato, caracterizam a DMF por definio.
Koutris e colaboradores (2013) realizaram um estudo para avaliar o possvel papel do
uso excessivo dos msculos da mastigao na patognese da dor muscular. Com a utilizao
de um protocolo envolvendo contraes musculares concntricas e excntricas para provocar
um estado de dor muscular de incio tardio (delayed-onset muscle soreness, DOMS),
verificaram que, na aplicao do RDC/TMD, obtm-se o resultado diagnstico de dor
miofascial. Nas suas concluses, os pesquisadores destacaram o fato de que a DMF em DTM
diagnosticada pelo RDC/TMD (na verso supracitada) pode ser uma manifestao de DOMS.
Ressaltando-se a importncia do tema, em Simons, D. G., Travell e Simons, L. S. (2005,
p. 46) l-se: Todo autor que relata um estudo de PGs miofasciais deve identificar, na seo
41
dos mtodos, especificamente que exames de PG foram usados como critrios diagnsticos e
deve descrever em detalhes exatamente como eles foram realizados.
Estudos sobre a prevalncia de fatores etiolgicos em pacientes com DMF em regio
orofacial foram produzidos por Rocha, Mendona e Alencar Jnior (2007), utilizando-se de
critrios clnicos de localizao de PGs em grupos musculares mastigatrios e cervicais,
ficando constatado que os hbitos parafuncionais foram os fatores mais relevantes (87%).
Analisando-se uma amostra constituda de 23 pacientes com DTM, diagnosticados com
DMF e artralgia do mesmo lado, coletou-se material (bipsia de masseter, lquido sinovial e
sangue) para pesquisa de biomarcadores (fator de crescimento neural, bradicinina, leucotrieno
B4, prostaglandina E2, isoprostano F2 e substncia P) que foi comparado com o material de 14
pacientes com deslocamento de disco com reduo e sem dor e com o de 13 pacientes sem
DTM e sem dor. Os diagnsticos foram estabelecidos por profissionais experientes na rea
com base no histrico, em questionrios, exame clnico e exames de imagem. Os resultados
obtidos sugeriram que o estresse oxidativo do msculo est envolvido na DMF e que o
isoprostano F2 pode ser um biomarcador para DMF (BASI et al., 2012).
Em pesquisa sobre a terapia laser e o agulhamento na desativao de PGs miofasciais
em pacientes com DTM, Uemoto e colaboradores (2013) justificaram a no utilizao do
RDC/TMD para a seleo de pacientes por sua impreciso para esse diagnstico. Os autores
constataram que a falta de critrios padronizados prejudica a qualidade do trabalho,
corroborando com Simons, D. G., Travell e Simons, L. S. que, em 2005, j afirmavam que um
documento de consenso estabelecendo os critrios diagnsticos oficiais seria uma necessidade
urgente. Dessa forma, mais estudos controlados tornam-se necessrios.
Assim sendo, o diagnstico de DMF em regio orofacial com base exclusivamente no
RDC/TMD, na sua primeira verso, que coloca a DMF como um de seus subgrupos
diagnsticos, falho (REITER, 2012; KOUTRIS, 2013; UEMOTO et al., 2013). Buscou-se
corrigir tal fato na verso remodelada atualmente proposta, na qual o algoritmo do eixo I do
RDC revisado prope sensibilidade de 0,82 e especificidade de 0,99 para DMF, e
sensibilidade de 0,93 e especificidade de 0,97 para DMF com limitao de abertura. No novo
RDC, diagnsticos combinados com qualquer DMF apresentaram sensibilidade de 0,91 e
especificidade de 1,00, sendo recomendado para o diagnstico da DMF por Schiffman e
colaboradores (2010, 2014). Essa nova verso, at ento, ainda no estava apta utilizao no
Brasil.
4.4 ALGOMETRIA
42
A dor crnica um sintoma difcil de ser avaliado, por ser uma experincia subjetiva
que pode sofrer influncia de vrios fatores, entre eles os ambientais, emocionais,
comportamentais e sociais, que interagem para formar a resposta dolorosa final (SANTOS;
PEREIRA; RESENDE, 2006).
A mensurao da intensidade da dor feita, habitualmente, com o auxlio de diferentes
tipos de escalas, dentre as quais a escala visual analgica (EVA), a escala numrica, a escala
de faces e a de descritores verbais, todas no mbito unidimensional, e, para avaliao
multidimensional, o questionrio de dor McGill. O uso de escalas apresenta limitaes,
especialmente em crianas, idosos e pessoas com dficit visual ou cognitivo. Alm disso,
algumas pessoas adaptam-se dor desenvolvendo um elevado autocontrole, suprimindo, com
isso, os sinais de sofrimento ou apenas permanecendo prostradas ou mais quietas que o
habitual (BOTTEGA; FONTANA, 2010).
Outra forma de avaliao da dor, sem a subjetividade peculiar s escalas mencionadas,
a algometria de presso, tcnica que consiste na utilizao de um dispositivo que registra,
analgica ou digitalmente, a presso que est sendo aplicada superfcie por meio de uma
ponteira com rea circular padronizada de 1 cm2. A mensurao da dor por algometria de
presso, especificamente pelo teste de limiar de dor presso (LDP), um parmetro til nos
estudos de dor musculoesqueltica (PARK et al., 2011) e est relacionada com o nvel de
presso suportada pelo indivduo at comear a sentir dor, ou seja, quanto mais presso o
indivduo suporta em determinado local antes de comear a sentir dor, melhor a condio,
sendo o inverso tambm verdadeiro, isto , quanto menor a presso necessria para causar
dor, mais sensvel o local. Fischer, em 1987, j descrevia o teste, salientando que a
confiabilidade do mtodo particularmente boa quando cada indivduo funciona como
controle de si prprio, e apontando a existncia de diferenas nos nveis entre os sexos, com
patamares em geral mais elevados no homem que na mulher.
Silva e colaboradores (2007) realizaram estudo sobre a quantidade de presso e padro
de dor referida nos msculos masseter, temporal, esternocleidomastideo e trapzio, em
pacientes portadores de DMF, e concluram, de forma geral, sem relacionar com grupo
muscular e sem informar o sexo dos indivduos da amostra, que o LDP nesses pacientes
significativamente menor que nos pacientes assintomticos, tendo sido de 3,84 kg/cm2 o LDP
obtido nestes ltimos.
43
Estudo que avaliou a influncia do ciclo menstrual no limiar de dor presso, em
msculos mastigatrios de pacientes com DMF nos mesmos, concluiu que as diferentes fases
do ciclo no tiveram influncia no LDP, ao passo que o uso de contraceptivo oral foi
associado ao decrscimo nos nveis referidos de dor. Os autores argumentaram que, com as
variaes hormonais durante o ciclo, ocorrem substanciais flutuaes no aspecto emocional, a
exemplo de irritabilidade, tristeza e fadiga, alm de clica, dor e inchao, que poderiam
contribuir para um aumento na EVA (VIGNOLO et al., 2008). Por outro lado, a relevncia do
estresse no limiar de dor foi confirmada em pesquisa que determinou seu impacto e o da
ansiedade no LDP de pacientes com DMF, a partir da avaliao de msculos mastigatrios
(VEDOLIN et al., 2009).
4.5 ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE
A eletromiografia de superfcie (EMGs) um exame complementar que se destina ao
estudo dos potenciais eltricos das fibras musculares. O registro da atividade eletromiogrfica
realizado com o posicionamento de sensores na pele, sobre o tecido muscular esqueltico
que se deseja estudar. Apresenta-se como um mtodo de fcil execuo e no invasivo. Essa
ferramenta promove a identificao e a descrio do funcionamento das unidades motoras,
com base em modelos de ativao muscular, da amplitude eltrica de ativao, assim como
nas frequncias que constituem a atividade muscular. Em funo das caractersticas do sinal
de EMGs e da dependncia da sua morfologia com a tarefa motora em estudo, o
eletromiograma bruto precisa ser processado para permitir a quantificao de parmetros
clnicos (FERREIRA; GUIMARES; SILVA, 2010).
A anlise da funo muscular por meio da eletromiografia tem sido amplamente
empregada no diagnstico clnico e em pesquisas de diversas reas da sade, tais como
Odontologia, Medicina, Fisioterapia e Fonoaudiologia, dentre outras, reas que podem incluir
a avaliao eletromiogrfica de superfcie como exame complementar visando definio de
diagnsticos. Alm disso, o mtodo possibilita estabelecer prognsticos mais elaborados dos
casos em estudo (RANCAN, 2008). O uso da EMGs nos msculos temporal, masseter e no
grupo dos suprahiideos foi apontado como possibilidade para estimar e, at mesmo, validar
os modelos mecnicos do sistema mastigatrio (GONZALEZ et al., 2011). Dentre os vrios
44
grupos musculares que podem ser avaliados pela eletromiografia, destacam-se os msculos
mastigatrios em atividade, bem como no repouso da mandbula.
Em 2008, Pies, Alves e Brzin analisaram a simetria da atividade eletromiogrfica dos
msculos masseter, temporal e esternocleidomastideo em voluntrios distribudos nos grupos
controle e de portadores de DTM. Registros de EMGs foram obtidos durante a posio de
repouso mandibular, a posio de mxima intercuspidao e durante a mastigao. As
atividades simtricas dos msculos temporais, masseter e esternocleidomastideo foram mais
reduzidas no grupo de portadores de DTM, em comparao com o grupo controle. A ativao
assimtrica dos msculos do pescoo e mandibular foi interpretada como uma estratgia
compensatria para alcanar-se a estabilidade do sistema mandibular e cervical durante a
funo mastigatria.
O entendimento da hiperatividade muscular relacionada com as DTMs, por exemplo,
indica que a EMGs tem grande relevncia na avaliao da fisiologia muscular, no diagnstico
diferencial e no monitoramento dessas disfunes com relao s medidas empregadas no seu
tratamento. A teoria de que msculos mastigatrios de pacientes disfuncionais apresentam
hipertonia no repouso e fadigam facilmente sob a demanda de esforos largamente aceita
(ARDIZONE et al., 2010). Em contrapartida, a atividade eletromiogrfica de superfcie de
indivduos sem DTM, durante o apertamento dentrio, exibe ativao significativamente mais
alta (MANFREDINI et al., 2011).
Para investigar se o contato oclusal influenciaria o comportamento muscular orofacial,
considerou-se a atividade eletromiogrfica dos msculos temporal e masseter na posio de
repouso, em mxima intercuspidao e durante a mastigao. Os indivduos da amostra foram
distribudos em dois grupos: 14 indivduos apresentando ocluso normal constituram o grupo
controle, e o grupo experimental reuniu 10 voluntrios que apresentavam um elemento dental
com restaurao alta. No grupo experimental, houve desequilbrio da atividade do msculo
temporal durante o apertamento dentrio mximo e hiperatividade desse msculo durante a
mastigao, podendo essa contrao muscular acentuada causar dor nos msculos do aparelho
mastigatrio (ADHIKARI et al., 2011). Por fim, constatou-se que a reao dolorosa muscular
regrediu aps a remoo do ponto de contato prematuro produzido pela restaurao dental,
evidenciando-se a importncia de os dentistas estabelecerem o equilbrio oclusal na sua
prtica diria.
Vrios estudos demonstraram que o msculo dolorido caracterizado por uma reduo
da atividade eletromiogrfica, a qual tem sido interpretada como um mecanismo inibitrio que
reflete adaptao dor, fato comprovado, por exemplo, com a medio da atividade
45
eletromiogrfica, durante o apertamento dentrio, dos masseteres de indivduos sadios
submetidos dor induzida por injeo de glutamato (CASTROFLORIO et al., 2012).
A partir de reviso sistemtica sobre a EMGs na DTM (CELINSKI et al., 2013),
salientou-se que a EMGs, por sua baixa sensibilidade e especificidade, no deve ser indicada
como forma nica para o estabelecimento de diagnstico, no se recomendando seu uso
clnico com finalidade diagnstica nas DTMs, ratificando-se o j apontado por Manfredini e
colaboradores (2011). A EMGs pode ser empregada com o intuito de realizar o
acompanhamento para avaliar-se a efetividade de uma terapia e como ferramenta de pesquisa.
A referida contraindicao pode, tambm, ser observada em Santana-Mora e colaboradores
(2014), que realizaram estudo em pacientes com DTM crnica, comparando-os com
indivduos sem DTM, e concluram que a EMGs apresentou moderadas sensibilidade e
especificidade para diferenciar os indivduos com DTM dos sem DTM, podendo o resultado
ser atribudo variabilidade nos dados da EMGs ou DTM subclnica em alguns indivduos
considerados sem DTM.
Como exemplo de aplicabilidade da EMGs, pode ser citado o estudo que avaliou os
msculos da mastigao de indivduos com DTM tratados com acupuntura e concluiu que ela
foi capaz de reduzir a atividade eltrica dos msculos temporais na posio de repouso
mandibular, proporcionando melhor equilbrio entre eles e os masseteres (BORIN et al.,
2012).
Especificamente com relao DMF, j foi relatado que a EMGs pode evidenciar
resposta aumentada, relaxamento retardado e fadiga aumentada nos msculos com PGs. A
resposta aumentada indicada pela amplitude anormalmente alta da atividade da EMG
quando o msculo contrado e sobrecarregado de forma voluntria; o relaxamento retardado
se evidencia pela perda de intervalos limpos com perda de coordenao muscular; e a fadiga
aumentada pode ser atribuda ao aumento da amplitude e diminuio significativa da
frequncia da potncia mdia, o que permite que se aceite a frequncia de potncia mdia
como critrio vlido na avaliao de fadiga muscular (SIMONS, D. G.; TRAVELL;
SIMONS, L. S., 2005; SIQUEIRA; TEIXEIRA, 2012).
Avaliando-se a atividade eletromiogrfica de superfcie de PGs miofasciais com o
objetivo de detectar alteraes da sua atividade neuromuscular em situaes de repouso e
contrao isomtrica voluntria mxima (CIVM), concluiu-se que a melhor situao para se
detectar a atividade muscular dessas regies a de repouso. Nessa situao, o sinal
eletromiogrfico em PGs mostrou-se significativamente maior do que nas demais reas no
afetadas de msculos nos indivduos com dor e nos indivduos do grupo controle. Por fim, os
46
PGs ativos exibiram maior intensidade do sinal do que os latentes, do mesmo modo que os
que apresentaram fenmenos autonmicos (BIGONGIARI et al., 2008).
Por outro lado, Manfredini e colaboradores (2013) estudaram os achados da EMGs em
pacientes com DMF unilateral, em comparao com seu lado sem dor. O quadro de dor foi
caracterizado como crnico, e o diagnstico de DMF dos pacientes baseou-se no RDC/TMD.
Foi possvel concluir que, na EMGs realizada com os equipamentos disponveis
comercialmente, no houve diferena detectvel entre o lado com dor e o sem dor de um
mesmo indivduo, e sugeriu-se que mecanismos de mediao central da dor podem estar
envolvidos na explicao desse achado.
Determinando-se, por meio da EMGs, a atividade dos msculos mastigatrios durante o
sono em pacientes com DTM miofascial, ficou evidenciado que a atividade eletromiogrfica
elevada, em funo do bruxismo do sono nesses pacientes, se constitui num caminho para o
melhor entendimento da causa e da perpetuao da DMF em DTM (RAPHAEL et al., 2013).
A EMGs, portanto, representa um recurso relevante em virtude da possibilidade de
serem obtidas valiosas informaes sobre a fisiologia muscular, in vivo, podendo contribuir
para o diagnstico diferencial e o monitoramento de possveis disfunes, mas, sobretudo,
para determinar a evoluo de tratamentos empregados.
4.6 TERMOGRAFIA
Conhecida popularmente como termografia, a imagem infravermelha (IV) obtida pela
captao, sem contato, da radiao infravermelha emitida por todos os corpos acima do 0K,
ou zero absoluto, que corresponde a -273C. O infravermelho uma faixa do espectro
eletromagntico no visvel ao olho humano e est relacionado com o grau de agitao
molecular. O exame por imagem IV um mtodo diagnstico que proporciona uma imagem
da distribuio trmica da superfcie alvo, capaz de captar, nos termovisores mais modernos,
diferenas de temperaturas por volta de 0,05C (BRIOSCH et al., 2007). Essa tecnologia j
vastamente empregada na indstria e na manuteno de sistemas eltricos, entre outros, vem
crescendo em aplicabilidade na rea biolgica como, por exemplo, em Medicina (avaliao
em neuropatia diabtica, em cncer de mama), Veterinria, Odontologia.
Os estudos sobre a aplicabilidade da termografia na rea mdica foram iniciados por
volta de 1952, na avaliao de mama com cncer pelo Dr. Ray N. Lawson. At incio dos
47
anos 80, as imagens ainda possuam baixa resoluo espacial, e os sensores tinham baixa
sensibilidade trmica, mas, a partir dessa dcada, a tecnologia para captao da imagem IV
tem evoludo muito e os progressos na resoluo, sensibilidade, portabilidade e capacidade de
leitura sem contato permitiram grandes avanos em pesquisas (HADDAD, 2011).
O fator predominante no padro termogrfico de animais e seres humanos o sistema
circulatrio, com alteraes no fluxo sanguneo influenciando na obteno de imagens hiper-
radiantes, implicando temperaturas mais elevadas, ou, ao contrrio, imagens hiporradiantes.
Trata-se de um mtodo diagnstico seguro, indolor, sem radiao ionizante, sem contato, sem
contraste, que evidencia tanto a atividade circulatria cutnea, por sua perfuso, quanto a
atividade do sistema neurovegetativo simptico. A imagem obtida est relacionada com a
camada drmica ou profundidade de at 6 mm, contudo, podem ser avaliadas estruturas mais
profundas em funo dos reflexos neurovegetativos somatossomticos ou vscerocutneos
(BRIOSCH et al., 2007; DIAKIDES; BRONZINO; PETERSON, 2012).
Cuidados especiais como evitar a exposio ao sol, o uso de cremes, bloqueadores
solares e descongestionantes nasais, o consumo de bebidas alcolicas, entre outros, nas 48
horas que antecedem o exame, alm de ambiente adequado, com temperatura, umidade e
ventilao controladas, so essenciais para evitar artefatos de imagem. consenso que as
regies homlogas do corpo so consideradas semelhantes em ambiente termoneutro, com
uma margem para pequenas diferenas em torno de 0,3C. Podem ser empregadas
diferentes paletas de cores para a imagem captada pelo termovisor, mas a mais utilizada na
rea de sade a arco-ris, na qual branco/vermelho indicam temperaturas mais altas, e
azul/preto, temperaturas mais baixas (BRIOSCH et al., 2007).
H pouco mais de duas dcadas, estudos vm sendo realizados com o intuito de
investigar a aplicabilidade da termografia na avaliao de PGs. Diakow (1992) investigou a
diferena entre PGs ativos e latentes, concluindo que a termografia pode ser uma ferramenta
til nessa distino. J Swerdlow e Dieter (1992) avaliaram a sensibilidade e a especificidade
da termografia mdica na documentao de PGs miofasciais e, com base em seus resultados,
sugeriram que os hot spots (pontos quentes), observados na parte superior das costas, no
esto associados a PGs ativos. Por outro lado, diferenas trmicas maiores ou iguais a 0,5C
entre o PG miofascial e seu ponto simtrico do lado oposto so consideradas de relevncia
diagnstica (BRIOSCH et al., 2007).
Em funo dos avanos na qualidade da imagem adquirida pelos termovisores, o
exame por imagem IV vem sendo sugerido como diagnstico auxiliar de PGs miofasciais, por
se ter constatado que os mesmos produzem imagens caractersticas frequentemente chamadas
48
de hot spots ou reas hiper-radiantes, constituindo uma rea discoide, isotrmica, podendo se
apresentar de forma isolada, confluente ou multifocal (BALBINOT, 2006; BRIOSCH et al.,
2007). Mas existem tambm relatos de obteno de cold spots (pontos frios) ou reas
hiporradiantes associadas regio de PG (HADDAD, 2011; HADDAD; BRIOSCHI; ARITA,
2012). O mecanismo fisiopatolgico envolvido nessas imagens ainda no foi totalmente
elucidado, mas importante que se tenha em mente que hot spots podem ser visualizados
tambm, a ttulo de exemplos, em funo de disfunes articulares ou inflamaes
subcutneas localizadas, reiterando-se a relevncia do histrico e do exame clnico